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1 PALMAS-TO/ 2005 DIREITO CIVIL I Graziela Tavares de Souza Reis Josefa Wieczoreck Paulo Benincá 1º PERÍODO

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EaD UNITINS – DIREITO CIVIL I – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS

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PALMAS-TO/ 2005

DIREITO CIVIL I

Graziela Tavares de Souza ReisJosefa Wieczoreck

Paulo Benincá

1º PERÍODO

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APRESENTAÇÃO

Destina-se esta disciplina de Direito Civil I a apresentar breves noções

acerca do direito civil. Para tanto, condensamos o conteúdo da disciplina,

procurando destacar o mais importante e usual sobre o tema.

Não temos aqui a pretensão de elaborarmos um trabalho de cunho

altamente filosófico ou científico, tampouco pretendemos criar escola de

direito. Nosso objetivo é o mais didático possível, além de sermos fiéis às

noções já estabelecidas sobre os mais importantes institutos do direito civil

atinentes a este semestre e ao conteúdo programático do curso.

Enfim, nos comprometemos com a clareza e objetividade para que vocês alunos e alunas possam aprender e apreender o conteúdo, no seu essencial.

Leituras complementares e exercícios serão apresentadas na web-

aula, além das bibliografias indicadas, o que poderá contribuir para o

aperfeiçoamento do seu estudo.

Fazemos votos de que essas lições sejam agradáveis e que sejam

bem aproveitadas por vocês, mas, lembremos: o estudo é indispensável !!

Bons estudos rumo ao sucesso profissional!!

Os autores.

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CURSO: Fundamentos e Práticas Judiciárias DISCIPLINA: Direito Civil I ANO/SEMESTRE: 2005/02 PROFESSORES: Graziela Tavares de Souza Reis Josefa Wieczoreck Paulo Benincá EMENTA Noções e raízes históricas. Fontes de direito. O Código Civil. Sujeitos do direito. Objeto do direito. Pessoas. Fatos e atos jurídicos. Bens. Prescrição e decadência. Noções gerais das obrigações. Conceito. Elementos. Classificação. Efeitos e modalidades das obrigações. Cessão de crédito. Mora. Cláusula penal. Contratos. Conceito, classificação, condições e conclusão. Contratos em espécie. Contratos previstos no Código Civil e em leis esparsas. Novas formas contratuais.Contratos no código de proteção do consumidor. OBJETIVOS

Apresentar o conteúdo do direito civil, introduzindo ao aluno as breves noções históricas de seu desenvolvimento;

Levar ao seu conhecimento a lei de introdução ao código civil, verdadeira “normas sobre normas”, que define os vários ramos do direito;

Apresentar as primeiras lições do direito civil em si, definindo os institutos de sua parte geral;

Demonstrar as noções de contratos. CONTEÚDO Noções e raízes históricas Fontes do direito Lei de introdução ao Código Civil Sujeito de direito: pessoas Dos bens Fatos, atos e negócios jurídicos Validade e invalidade do negócio jurídico

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Prescrição e decadência Noções gerais da obrigação: conceito, elementos e classificação Modalidades das obrigações: 1.ª parte Revisão Prova BIBLIOGRAFIA BÁSICA: DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro 1. 22ª edição.São Paulo: Saraiva, 2005. DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro 2. 20ª edição.São Paulo:Saraiva, 2004. DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro 3. 21ª edição.São Paulo: Saraiva, 2005. MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil 1 – Parte Geral. 39ª edição. São Paulo: Saraiva, 2003. MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil 4 – Direito das Obrigações. 32ª edição. São Paulo: Saraiva, 2003. MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil 5 – Dos Contratos. 34ª edição. São Paulo: Saraiva, 2003. RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil 1 – Parte Geral. 34ª edição. São Paulo: Saraiva, 2003. RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil 2 – Parte Geral das Obrigações. 30ª edição. São Paulo: Saraiva, 2002. RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil 3 – Dos Contratos e das Declarações Unilaterais da Vontade. 30ª edição. São Paulo: Saraiva, 2004. WALD, Arnold. Direito Civil – Introdução e Parte Geral. 10ª edição. São Paulo: Saraiva, 2003. WALD, Arnold. Curso de Direito Civil – Obrigações e Contratos. 14ª edição. São Paulo: Saraiva , 2000.

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BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR: GAGLIANO, Pablo Stolze, PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 2003; GONÇALVES, Carlos Roberto; Sinopses Jurídicas: direito civil – parte geral. volume I. São Paulo: Editora Saraiva, 1997; LISBOA, Roberto Senise. Manual Elementar de Direito Civil. 2ª edição. Revista Atualizada em conformidade com o Novo código Civil. Editora Revista dos Tribunais. São Paulo, 2002. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil; vol. I e vol. III, Rio de Janeiro, Editora Forense,1990; VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: parte geral. 5.ª ed. São Paulo:Atlas, 2005.

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SUMÁRIO

Tema 01 – Noções e raízes históricas e o Código Civil

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Tema 02 – Fontes do direito

13

Tema 03 – Lei de Introdução ao Cód. Civil

19

Tema 04 - Sujeitos de direito e pessoas

25

Tema 05 – Objeto do direito: bens

33

Tema 06 – Fatos e atos jurídicos

40

Tema 07 – Validade e invalidade do negócio jurídico

47

Tema 08 – Prescrição e decadência

52

Tema 09 – Noções gerais das obrigações: conceito, elementos e classificação das obrigações

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Tema 10 - Efeitos e modalidades das obrigações – 1.ª parte 64

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NOÇÕES E RAÍZES HISTÓRICAS

OBJETIVO: Apresentar breves considerações sobre a origem de nosso direito civil, para que você aluno possa compreender os conteúdos da disciplina e assim saiba situa-la dentro das ramificações do direito. INTRODUÇÃO: Passaremos, portanto, a apresentar noções do que seja o direito, sua evolução histórica e especificamente, como surgiu o próprio direito civil brasileiro. Vale lembrar que nosso curso tratará dos fundamentos do direito, e um estudo mais aprofundado de seu histórico e de seus institutos poderá ser realizado através de leitura complementar pelas bibliografias indicadas.

Em todo o tempo, desde os primórdios da sociedade, onde quer que o homem coabite, ali está presente o direito, como forma de organizar a sociedade. Quando o direito é negado, seja por uma ofensa, através do desrespeito as suas regras, é facilmente percebida sua existência. Como já definido na doutrina por Pereira, Caio Mário da Silva Pereira, 1990, pág. 5, “ o direito é o princípio de adequação do homem à vida social”.

O vocábulo direito comporta o direito civil, direito penal, direito administrativo, entre outros, de acordo com o tipo de relação que discipline (se disciplina relação entre particulares; se disciplina relação do Estado com o particular; se determina regras para o poder público etc).

O Direito Romano, ou seja, o complexo de normas, de regras, que vigoravam em Roma, influenciaram todo o direito europeu, que se desenvolveu a partir dele. O direito brasileiro foi influenciado pelo direito europeu, que por sua vez, influenciou-se pelo Direito Romano, tanto que, é comum encontramos expressões em latim (língua falada entre os romanos) para designarem institutos do direito brasileiro.

Lembremos que o direito se desenvolve de acordo com a evolução da civilização a qual faz parte. Se há alterações políticas, econômicas e sociais, tais alterações refletirão no direito, de modo que, normas serão legisladas para fazer cumprir a ideologia política dominante, ou para atender necessidades econômicas ou sociais da época. Exemplo: com a evolução da tecnologia na área da informática, foi criado o direito cibernético ou digital.

Tema 01

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Um marco do direito foi a codificação da Lei das XII Tábuas, do período arcaico do direito romano. Era a lei do “olho por olho, dente por dente”, caracterizada por sua rigidez.

A preservação do direito romano para a posteridade deu-se graças à codificação conhecida por “corpus juris civilis”, que significa, conjunto de leis civis, onde foram compiladas todas as leis e regras vigentes, as obras dos jurisconsultos (os juristas da época) e um manual de direito para estudantes ( Institutiones).

Estas primeiras leis civis influenciaram o direito europeu. No Brasil, à época do império, utilizávamos as ordenações, que eram as normas de Portugal, até que, após a República, finalmente, passamos a ter uma lei civil própria.

Mais adiante, neste mesmo módulo, estudaremos o histórico da lei civil no Brasil. Seguiremos agora com o conceito de direito:

A palavra direito origina-se do latim “directum” e significa o que é reto, o que está de acordo com a lei.

Para ajustar-se a uma boa convivência social o homem precisou que regras fossem estabelecidas, impostas a todos de igual modo, a fim de garantir o respeito mútuo e a pacificação social. Tais regras são de moral, educação e religião etc.

A natureza traduz o mundo do “ser”, enquanto que o direito traduz o mundo do “dever ser”. Ou seja, a sociedade organiza-se, estabelecendo normas que devem ser seguidas por todos, pois desta forma torna-se mais fácil e ordenada a convivência, uma vez que está claro e definido o que é o certo – agir de acordo com o que impõe a norma - e o errado, agir contrariamente à norma.

Uma definição que traz um bom sentido para o nosso entendimento sobre o tema é a de Radbruch (Introducción a la Filosofia Del Derecho, pág. 47 citado in Curso de Direito Civil de Washington Barros Monteiro, Curso de Direito Civil, pág. 01, 15.ª edição, editora Saraiva): “

Antes de se legislar o direito, ou seja, antes de determinar as regras as quais submeter-se-ão a sociedade, cada qual deve ter em si a consciência da idéia do justo absoluto. Aqui reside a idéia do direito natural. Direito Natural: é o que a própria natureza ensina aos animais

O jusnaturalismo, como também é conhecido o direito natural, foi defendido por Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, doutores da igreja e

Direito é o conjunto das normasgerais e positivas∗, que regulama vida social

Normas destinadas a todos, postas em determinado tempo para determinado povo. É o direito imposto.

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pensadores dos séculos XVII e XVIII. É o paradigma em que se inspira o legislador, que por sua vez edita o Direito Positivo, que segundo Pereira, 1990, pág.06 , é o: “conjunto de princípios que pautam a vida social de determinado povo em determinada época”.

Antes de ser escrito o direito, o homem já tinha em si noções do que seria o correto em sua convivência social. A vida em sociedade exige que obedeçamos muitas regras, não só as jurídicas, como as morais, as religiosas, as de saúde, dentre outras. Passemos agora a distinção entre o direito e a moral, para que percebamos a diferença entre regras de direito e regras de moral:

moral Direito O campo da moral abrange os deveres do homem para com Deus, para consigo mesmo e para com seus semelhantes.

O direito é mais restrito: abrange os deveres do homem para com os semelhantes

A moral é incoercível. Aliás, tem sanções, mas são de foro íntimo, tais como remorso, arrependimento, desgostos, ineficazes sob o ponto de vista social. A moral é unilateral e o direito, bilateral

O direito é coercível. Se não cumprir o direito, sofrerei sua sanção. Esta sanção é que atribui segurança jurídica e o sentimento de justiça

A moral visa à prática do bem O direito evita a lesão ou prejuízo a outrem

A moral é interna O direito, externo As normas morais tendem a converterem-se em normas jurídicas.Ex.: dever do pai zelar pelo filho.

O direito positivo, legislado, por sua vez, comporta divisões. Passemos à: 1 – Divisão do Direito 1.1 - Direito Objetivo: conjunto de normas impostas pelo Estado, de caráter geral, a cuja observância os indivíduos podem ser obrigados mediante coerção (norma agendi) 1.2 - Direito Subjetivo: faculdade individual de agir de acordo com o direito objetivo (facultas agendi) O direito ainda pode se dividir em: 1.3 - Direito Público: é o destinado a disciplinar os interesses gerais da coletividade.

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1.4 - Direito Privado: é o que disciplina as relações entre os indivíduos, em que predomina o interesse de ordem particular. Faz parte do direito privado o Direito civil, disciplina sobre a qual iniciaremos nossos estudos. TENTATIVAS DE CODIFICAÇÃO DO DIREITO CIVIL PÁTRIO

No período colonial vigoravam no Brasil as Ordenações Filipinas. Mesmo após a proclamação da independência em 1822, a legislação portuguesa continuou a ser aplicada. A Constituição de 25 de março de 1824 - Constituição do Império - referiu-se à organização de um Código Civil e Código Criminal – art. 179, n.º 18.

O primeiro trabalho preparatório do Código Civil, a consolidação do direito privado comum em vigor, foi confiada a Teixeira de Freitas e concluída em 1858 sob a denominação de Consolidação das Leis Civis.

Posteriormente, o jurista Teixeira de Freitas foi contratado pelo Ministério da Justiça para elaborar um Projeto de Código Civil, isto em 1865. Desgostou-se, porém, com a comissão revisora e interrompeu a obra. Todavia, tal trabalho constituiu a base do Código Civil Argentino.

A terceira tentativa de confecção de um código civil coube à Joaquim Felício dos Santos, que denominou sua obra de “Apontamentos”, apresentada em 1881 e tendo recebido parecer desfavorável. Antônio Coelho Rodrigues encarregou-se de elaborar novo projeto, e apesar de ter se tratado de “ trabalho de incontestável merecimento, em condições de se converter em lei” , não foi aprovado pelo Poder Legislativo.

Finalmente, o projeto de Clóvis Beviláqua foi aprovado. Com recomendação de aproveitamento do projeto Coelho Rodrigues.

Para o direito romano, era o direito das cidades destinado a reger a vidados cidadãos independentes. Na atualidade, sustenta-se que o direitocivil não é só um ramo do direito privado, mas trata-se de um direitocomum, por trazer regras relativas às instituições de direitoprivado, aos atos e às relações jurídicas.

"Nas férias eu nada farei, isto é, farei o Código Civil". Ruy Barbosa

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Foi duramente criticado por Rui Barbosa, sob o aspecto literário, através de um parecer de 500 páginas. Rui Barbosa apresentou várias emendas de redação sobre os dois mil artigos do Código, corrigindo nuances gramaticais.” A polêmica envolvendo os dois juristas tomou conta das ruas, cafés, salões e rodas literárias. Beviláqua chegou a escrever um livro de 558 páginas, em 1905, para defender o seu anteprojeto. Ao final, o Código Civil foi aprovado com 1.027 emendas.” Todavia, foi louvado o rigor científico do Código Civil Brasileiro pelo direito comparado, uma vez que afirmado “o código civil brasileiro chama a atenção pela clareza e precisão”.

Nasceu, portanto, o Código Civil de 1916.

O Código Civil de 1916 foi influenciado pelo Código Civil Francês (1804) e o Código Civil Alemão (1896). Continha uma parte geral da qual constava conceitos, categorias e princípios básicos, aplicáveis a todos os livros da Parte Especial, e que produzem reflexos em todo o ordenamento jurídico.

Entretanto, como revelava conceitos, idéias e noções

predominantes em fins do século retrasado e início do século passado, passou-se a ser considerada a idéia de uma reforma da Lei Civil em vigor, “em decorrência das profundas alterações havidas no plano dos fatos e das idéias, tanto em razão do progresso tecnológico como em virtude da novadimensão adquirida pelos valores da solidariedade social” .

Além do que, muitas leis trouxeram modificações ao Código de 1916, especificamente no ramo do direito de família – Lei 4121/62 (Estatuto da Mulher Casada); a Lei n.º 6515/73 (Lei do Divórcio) e as leis que reconheceram direitos aos companheiros e conviventes (Lei n.º 8971/94 e 9278/96). A própria Constituição de 1988 trouxe inovações ao direito civil, em relação à filiação, em relação ao direito das coisas, ao reconhecer a função social da propriedade.

Atente-se que a Lei dos Registros Públicos – Lei 6015/73, a Lei de Locação – 8245/91, o Código de Defesa do Consumidor e outros diplomas, revogaram dispositivos e capítulos do Código Civil antigo. O novo Código Civil – Lei n.º 10.406 de 10 de janeiro de 2002, segundo a sua exposição de motivos , traz uma compreensão como lei básica, mas não global; conjuga as obrigações civis e mercantis; considera elemento integrante seu o Direito Empresarial, como desdobramento natural do Direito das Obrigações; preserva, na medida do possível, a redação da Lei Civil antiga, pelo reconhecimento de seu preciosismo; supera o individualismo que condicionava a época da elaboração do Código de 1916; previsão de institutos novos,reclamados pela sociedade atual; aproveita as valiosas contribuições anteriores dos Anteprojetos de Código das Obrigações de 1941 e de 1965, revisto pela Comissão constituída por Orosimbo Nonato; Caio Mário Da Silva Pereira; Sylvio Marcondes, Orlando Gomes, Theophilo De Azevedo Santos E Nehemias Gueiros e o Anteprojeto de Código Civil, de

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1963, de Prof. Orlando Gomes; elimina as regras de direito processual; acolhe os modelos jurídicos validamente elaborados pela jurisprudência; dispensa formalidades excessivas, e.g., dispensa a escritura pública, se bastante documento particular devidamente registrado. EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

1. Antes de entrar em vigor o Código Civil Brasileiro de l916, qual a legislação que regulava as relações civis?

2. A lei 10.406/203 possui 2.046 artigos, regulando um ramo autônomo

do Direito Brasileiro, qual seja o direito Civil. Ela foi sistematizada sob a forma de código que apresenta divisões e subdivisões para facilitar o seu entendimento. Dos termos a seguir descritos, transcreva seqüencialmente a ordem de sistematização adotada pelo Código Civil: a) parágrafo ou inciso ___________ b) parte geral ___________ c) título ___________ d) artigo ___________ e) livro ___________ f) seção ___________ g) capítulo ___________

3. Explique em que consistiu o fenômeno de “descodificação do direito

civil?”

4. O direito positivo pode atentar contra o direito natural? Justifique. Referências Bibliográficas GONÇALVES, Carlos Roberto; Sinopses Jurídicas; Direito Civil: parte geral; São Paulo: editora Saraiva, 1997. PEREIRA, Caio Mário da Silva; Instituições de Direito Civil.vol. I, Rio de Janeiro : Editora Forense, 1990. MONTEIRO, Washington de Barros; Curso de Direito Civil.15.ª edição, São Paulo: Editora Saraiva, 2003; Revista Isto é; “ O brasileiro do século” in http://www.terra.com.br/istoe/biblioteca/jutica/jus4.htm, consulta realizada em 07.06.2005;

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FONTES DO DIREITO OBJETIVO: Conceituar e classificar as fontes do direito e os meios disponíveis para a integração do direito quando as normas se mostrarem insuficientes para serem aplicadas a um caso concreto. INTRODUÇÃO: Na Antigüidade, antes que fossem codificadas as leis, residia nos costumes a principal fonte do direito. Posteriormente a lei ganha foros de fonte principal. Sob esses dois aspectos, decorrem os dois principais sistemas atuais: o sistema do direito costumeiro e o sistema romano-germânico, que é o nosso, dois quais nos ocuparemos mais detidamente. 1. FONTES DO DIREITO

Fonte é a origem do direito e o modo pelo qual a regra jurídica se exterioriza.

As fontes do direito podem ser classificadas, segundo as formas

abaixo indicadas:

- Fontes diretas ou imediatas são aquelas que, por si só, pela sua própria força, são suficientes para gerar a regra jurídica. São a lei e o costume.

- Fontes indiretas ou mediatas são as que não têm tal ânimo, porém dirigem os espíritos, mais cedo ou mais tarde, à elaboração da norma. São a doutrina e a jurisprudência”.

Vejamos, resumidamente, cada uma.

1. Lei:

Para dirimir um tema submetido à apreciação do Poder Judiciário, a primeira fonte de que se lança mão é a lei. Em países como o nosso, em que o Direito é escrito, a lei adquire papel de suma importância, figurando como a principal fonte do Direito.

Caracteriza-se por ser uma norma dotada de generalidade,

editada por um poder competente dirigindo-se a todos os membros da coletividade, sem exclusão de ninguém, provida de coação, visando tornar o preceito inviolável.

É abstrata, pois regula uma situação jurídica abstrata, onde o legislador

Tema 02

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tem em mira condutas sociais futuras a serem alcançadas pela lei, também tem caráter de permanência e deve ser emanada de um poder competente (conforme a estrutura do Estado).

Quanto à origem legislativa, as leis podem ser federais,

estaduais e municipais. Quanto à duração, as leis são temporárias e permanentes. As leis temporárias são a exceção no ordenamento jurídico, já nascem com um tempo determinado de vigência. Geralmente surgem para atender a uma situação de emergência.

Quanto à sua intensidade ou alcance, as leis são gerais,

especiais, excepcionais e singulares. Gerais, são as leis que disciplinam um número indeterminado de pessoas e atingem uma gama de situações genéricas. Especiais são as leis que regulam matérias com critérios particulares, são as que cuidam especificamente de determinado tema. As leis excepcionais, são aquelas que regulam de forma contrária ao estabelecido na lei geral.

Quanto a sua força obrigatória, as leis são cogentes e dispositivas, cogentes são as que se impõem por si mesmas, ficando excluído qualquer arbítrio individual. As normas dispositivas são as que impõem supletivamente às partes. Cabe aos interessados valerem-se delas ou não.

Quanto à sanção, as leis são perfeitas, menos que perfeitas e

imperfeitas. Perfeitas são aquelas cuja infringência importa em nulidade do ato. Menos que perfeitas são as leis que trazem sanção incompleta ou inadequada, onde o ato vale, mas como sanção parcial. Imperfeitas são as que prescrevem uma conduta sem impor sanção alguma, não existe nulidade para o ato nem qualquer punição.

Segundo a sua natureza, as leis são substantivas ou adjetivas.

As primeiras são chamadas de materiais, porque tratam de direito material. As segundas são chamadas de processuais ou formais e tratam dos meios de realização dos direitos.

Quanto à sua hierarquia, classificam-se as normas: a) Normas Constitucionais; b) Leis Complementares: tratam de matérias especiais, que não podem ser deliberadas em Lei Ordinária e cuja aprovação exige quorum especial; c) Leis Ordinárias: elaboradas pelo Poder Legislativo; d) Leis Delegadas: elaboradas pelo Executivo, por autorização expressa do legislativo. Tem a mesma hierarquia das ordinárias.

2. Costume: É a prática de determinados atos com a convicção de estar seguindo uma norma jurídica que não existe (Lisboa, 2003, P. 76).

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Para que um costume seja reconhecido como tal, é preciso:

• ser contínuo; fatos dispersos, que se verificam vez por outra não são considerados costumes;

• ser constante, vale dizer: a repetição dos fatos deve ser diuturna, sem dúvidas, sem alteração;

• ser moral; quer dizer: o costume não pode contrariar a moral ou os bons hábitos, não pode ser imoral;

• ser obrigatório, isto é, que não seja facultativo, sujeito a vontade das partes interessadas.

ATENÇÃO: Portanto, enquanto o costume é espontâneo e se expressa oralmente, a lei deriva de um órgão do Estado (o Legislativo), através de um processo próprio de elaboração, e se expressa por fórmula escrita. Essas as principais diferenças entre eles. Pode o julgador decidir com o costume contra a lei? É inconveniente aplicar-se o costume aplicado contra a lei, por tirar do aparelho jurídico a supremacia da lei, o que traz insegurança jurídica. Porém, há casos em que o costume pode preponderar se as forças vivas da sociedade se divorciarem das normas estabelecidas na lei. EX.: o reconhecimento da união estável, o costume impôs condição de lei no mesmo sentido. 3. Doutrina: É o entendimento ou o ensinamento dito por juristas sobre questões relativas ao direito. São investigações e reflexões sustentadas pelos autores no estudo das leis. O principal valor, além de apontar as falhas ou inconvenientes da lei a todos os aplicadores dela, acaba encaminhando o legislador para feitura de lei mais perfeita. É pela doutrina que se formam os conceitos jurídicos para compreensão da ciência, que influencia a aplicação do direito pelos Tribunais, tornando importante fonte subsidiária. 4. Jurisprudência: É o direito dito com prudência. São decisões reiteradas que provém dos tribunais sobre questões controvertidas do direito. A reiteração dos julgados sobre o mesmo tema pode originar a edição de súmulas, que correspondem à síntese do entendimento pacificado sobre a controvérsia. Vale lembrar que ainda que existam várias fontes do direito, há fatos que não estão regulados pela lei. Neste sentido o aplicador dela deverá efetuar a integração do direito, buscando nele mesmo, mecanismos para suprir esta lacuna. Tais mecanismos são a analogia, a eqüidade e os princípios gerais do direito.

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Os julgados não têm força vinculativa, entretanto, um conjunto de decisões sobre uma matéria, no mesmo sentido, influenciará o julgador que tenderá a decidir de igual maneira. Atente-se que as leis envelhecem, distancia-se dos fatos sociais para as quais foram editadas. Cumpre à jurisprudência atualizar o entendimento da lei, dando-lhe uma interpretação atual. Nesse sentido afirma-se que a jurisprudência é dinâmica. Não é competência dos Tribunais ditar normas, mas há expedição de súmulas de jurisprudência dos tribunais, que são enunciados que resumem uma tendência sobre determinada matéria, o que na prática, é verdadeira fonte formal. Súmula Vinculante: vantagem: permite o julgamento rápido e simultâneo de centenas de processos; desvantagem: provocam acomodação do juiz, prejudicando o seu poder criativo, o que é ruim, principalmente nos julgados de primeira instância, primeiros responsáveis pelas modificações sociais. Como o legislador não consegue prever todas as situações para o presente e para o futuro e como o juiz não pode deixar de julgar um processo por que a lei é omissa, ele deve lançar mão dos meios de “integração das normas jurídicas”. Atente-se agora aos meios de integração das normas jurídicas. São eles: 5 - Analogia: A analogia é o procedimento que consiste em aplicar a um caso não previsto em lei os efeitos de uma norma que regula um caso análogo (parecido), pois fatos semelhantes exigem regras semelhantes. Para uso da analogia faz-se necessário que haja lacuna na lei e semelhança com a hipótese não prevista pelo legislador. Para tanto o aplicador não pode fugir à razão da lei aplicada, para evitar julgamento contra lei. 6. Eqüidade: A eqüidade é a justiça do caso concreto. Por vezes o juiz se encontra em face de um caso em que a lei lhe impõe determinada decisão, quando a consciência lhe dita uma solução contrária. Entretanto, o julgador deve subordinar-se à lei, e só excepcionalmente, quando expressamente autorizado pelo legislador e aí poderá socorrer-se da eqüidade (art. 127 do CPC). Em síntese, a equidade traduz-se na busca constante e permanente da melhor interpretação legal e da melhor decisão para o caso em concreto.

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Ressalte-se que se não autorizado expressamente pela lei o julgador não poderá decidir somente pelo critério do justo e do equânime, abandonando o direito positivo. Se agir assim, faz às vezes de legislador. No Estado do Rio Grande do Sul há uma forte corrente da aplicação do direito denominado Direito Alternativo, o qual se prima pelo legítimo e não pelo legal. 7 - Princípios gerais de Direito: Os princípios gerais do direito são regras que estão na consciência dos povos e são por todos observados ainda que não escritas. Também são parâmetros que inspiram o legislador na criação das normas jurídicas. Servem para suprir a falta de norma escrita e também para auxiliar na interpretação dela. A lei não os especifica, já que seus enunciados são manifestações do próprio espírito de uma legislação. A título de exemplo, podem ser mencionados os seguintes princípios gerais de direito: 11..NNiinngguuéémm ppooddee ttrraannssffeerriirr mmaaiiss ddiirreeiittooss ddoo qquuee tteemm;; 22..NNiinngguuéémm ddeevvee sseerr ccoonnddeennaaddoo sseemm sseerr oouuvviiddoo;; 33.. NNiinngguuéémm ssee eessccuussaa ddee ccuummpprriirr aa lleeii aalleeggaannddoo qquuee nnããoo aa ccoonnhheeccee.. 44.. AA bbooaa--fféé ee aa hhoonneessttiiddaaddee ssããoo pprreessuummiiddaass.. EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

1. Explique por que uma decisão judicial isolada não constitui jurisprudência e nem tem força vinculante.

2. Considere todos os pontos atinentes à analogia e responda: a) O que é analogia? b) Ela pode ser considerada fonte do direito? c) Ela é utilizada para suprir que espécie de lacuna?

d) O emprego da analogia pressupõe a inexistência de uma lei regulando um determinado fato e outra lei regulando um fato similar e a aplicação desta para aquele fato. Dê um exemplo prático em que se possa observar o emprego da analogia como forma de suprir a falta de regulamentação de um fato.

3. A existência de sanção, isto é a possibilidade de execução forçada da norma, é o traço que a distingue das normas morais e religiosas.

Afinal, quais são esses princípios gerais?

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Entretanto, existem normas jurídicas sem sanção. Como justificar a existência em nosso ordenamento de normas sem sanção?

4. O costume jurídico é fonte do direito. No entanto, pode ser

considerado fonte do direito o costume que é contrário à lei?

Referências Bibliográficas VENOSA, Sílvio de Salvo; Direito Civil – Parte Geral; 3.ª Edição; São Paulo: Editora Atlas, 2003. GONÇALVES, Carlos Roberto; Sinopses Jurídicas: direito civil – parte geral. volume I. São Paulo:Editora Saraiva, 1997.

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LEI DE INTRODUÇÃO AO CÓDIGO CIVIL

Objetivo: Conhecer e especificar os modos de interpretação e aplicação das normas jurídicas, através da análise e compreensão dos dizeres da Lei de Introdução ao Código Civil. INTRODUÇÃO: Vamos iniciar nosso estudo sobre esta importante legislação, anexa ao Código Civil de 1916, mais autônoma, dele não fazendo parte, de caráter universal e aplicável a todos os ramos de direito. LEI DE INTRODUÇÃO AO CÓDIGO CIVIL

Ainda que se refira ao Código Civil, o Decreto-lei n. 4.657/42 não

é parte integrante dele. Este Decreto-lei revogou a Introdução ao Código Civil de 1916 (Lei 3.071/16). Ela não se aplica exclusivamente ao Direito Civil e não regula relações sociais. Sua a finalidade é disciplinar a aplicação das leis e indicar o modo de interpretá-las. Regula a vigência e eficácia das normas, fixando critérios de solução dos conflitos dessas normas, no espaço ou no tempo, garantindo a eficácia do sistema jurídico.

Para compreender o que a referida lei quer dizer, é preciso

compreender alguns conceitos básicos. Vejamos: A) VALIDADE DA NORMA JURÍDICA: A noção de validade

revela que se deve observar todas as condições estabelecidas pelo ordenamento jurídico para a criação das normas, sob pena de inconstitucionalidade ou ilegalidade, reconhecendo-as como não integrantes do próprio sistema.

A validade da norma pode ser: - FORMAL: diz respeito à observância de todas as regras que

regulam o processo de criação de leis, daí por que, “vigente será a norma que emanar do poder competente com obediência aos trâmites legais” (DINIZ, 2005).

A)- MATERIAL: diz respeito à observância da matéria possível

de regulamentação por parte dos entes federativos, de modo que seriam inconstitucionais quaisquer normas que invadissem a competência legislativa dessas entidades. Veja-se, por exemplo, que no art. 22 da

Tema 03

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Constituição Federal, as matérias constantes nos incisos I a XV, são de competência legislativa privativa da União Federal.

B) VIGÊNCIA: diz respeito ao período em que a lei produz os

efeitos que lhe são próprios, ou seja, a força vinculante. Refere-se ao lapso de tempo que vai do início da vigência (força vinculante) até o momento em que é revogada ou no momento em que expira o prazo de duração (para normas temporárias).

C) EFICÁCIA: a eficácia refere-se em saber se os destinatários

da normas, cumprem ou não seus comandos, se ajustam suas condutas à lei ou não. Daí ser correto dizer que vigência e eficácia não se confundem, visto que algumas normas podem ter vigência mas não demonstram eficácia. Da mesma forma, algumas normas se demonstram eficazes mas não têm mais vigência.

D) VIGOR: (força da norma) diz respeito à força vinculante da

norma ainda que revogada. Trata-se da ultratividade que determina a aplicação da lei aos fatos praticados durante sua vigência. 3. APLICAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS

As normas jurídicas são abstratas, genéricas. Definem situações hipotéticas que se verificadas em concreto, definem a incidência das normas jurídicas e determinando as conseqüências. As normas estão aí para serem aplicadas pelos órgãos competentes: juizes, tribunais, autoridades administrativas e pelas próprias pessoas.

O enquadramento dos fatos individuais à norma jurídica

denomina-se subsunção. Para a tarefa de subsunção, necessário é interpretar adequadamente os dizeres da norma jurídica. Não é tarefa fácil nesse emaranhado de normas editadas em nosso país.

A compreensão do que seja “interpretar” as normas jurídicas e

ainda o que são “meios de integração do direito” é indispensável para a atividade de subsunção.

a) Interpretação das normas jurídicas: para a aplicação é

necessário interpretar as normas jurídicas, para buscar o seu significado e a regra que elas exteriorizam. O estudo sistemático de todas as técnicas de interpretação ficou a cargo da HERMENÊUTICA JURÍDICA.

É a interpretação das normas e do direito. As funções da interpretação podem se resumir a: - demonstrar o sentido da norma jurídica; - fixar aplicabilidade e seu alcance; Os métodos (técnicas) mais conhecidos são os seguintes:

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A vacatio legis é o período em que não se observa seu vigor, em funçãode se fixado uma data posterior para início de seus efeitos ou por que nãohouve disposição expressa, valendo a regra geral (45 dias) ou por que alei não é auto-aplicável dependendo de complementação ouregulamentação.

- Literal ou Gramatical: consiste em buscar o sentido da norma pelos sentidos das palavras do texto legal, de acordo com as regras do vernáculo.

- Lógico: que consiste na utilização de raciocínios lógicos (de

dedução ou indução) para uma análise criteriosa de todos os dispositivos da lei na busca de seu sentido.

- Sistemático: buscar o sentido da norma confrontando-a com

todas as outras de mesmo objeto encontradas no ordenamento jurídico. - Histórico: diz respeito à averiguação dos antecedentes da

norma (DINIZ, 2005), isto é, a justificativa de sua criação e os passos do processo legislativo que lhe deu origem.

- Teleológico: é a análise da norma segundo a sua finalidade

tendo por fim a adaptação dela às novas exigências sociais. b) Integração do Direito: na ausência da lei aplicável ao caso

(lacuna normativa), o aplicador da norma deve se valer de outras fontes do direito, aplicando, nos termos do art. 4º da LICC, a analogia, os costumes e os princípios gerais do direito, para a solução do caso sub judice, tópicos vistos anteriormente.

c) Aplicação da Norma no Tempo: de regra, a norma é

aplicável enquanto vigente, ressalvada a hipótese de ultratividade dela. A vigência surge com a publicação em Diário Oficial, fazendo

presumir seu conhecimento por todos, nos termos do art. 3º da LICC, ao preceituar que ninguém se escusa de cumprir a lei alegando que não a conhece.

Sua obrigatoriedade surge com a publicação, mas seu vigor pode

não se imediato, visto poder não estar expresso na norma a data em que entrará em vigor. Assim, nos ternos do art. 1º LICC, não havendo disposição em contrário, a lei começará a vigorar somente 45 (quarenta e cinco) dias depois de oficialmente publicada. Tal período é denominado de vacatio legis.

Em regra, as normas jurídicas são editadas para vigência indeterminada, razão pela qual, não sendo criadas para vigência temporária (o que é exceção), a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue (art. 2º LICC).

Neste sentido, revogação diz respeito à perda da vigência,

deixando de pertencer ao sistema jurídico.

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Nos termos do parágrafo 1º da LICC, a revogação pode ser: - Expressa: quando expressamente se define a revogação de

dispositivos anteriores. - Tácita: quando não mencionando a revogação a nova lei se

demonstra incompatível ou por que regula toda a matéria da lei anterior . Nos termos da LICC, algumas regras sobre a revogação deverão

ser observadas: - Hierarquia: as normas superiores se sobrepõem formal e

materialmente, sobre as demais, especialmente se for a norma fundamental (Constituição).

- Cronologia: em sendo de mesma escala hierárquica, as normas mais novas se sobrepõem às mais antigas.

- Especialidade: a norma especial revoga a geral no que esta dispuser especificamente.

Vale lembrar que a revogação poderá ser total ou parcial. No

primeiro chamamos de ab-rogação e no segundo de derrogação. Por fim, preceitua o parágrafo 3º do art. 2.º da LICC que a lei

revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência, salvo disposição em contrário, ou seja, quando houver pronunciamento expresso do legislador nesse sentido. .

d) Conflito de normas no tempo: se uma nova lei vier a regular de forma diferente uma matéria prevista em norma anterior, podem surgir conflitos entre essa nova lei e as relações jurídicas ocorridas na vigência da lei antiga. A nova lei só atinge situações novas ou pode regular situações ocorridas antes de sua vigência?

Visando a segurança jurídica, o art. 6º da LICC dispõe que as leis em vigor terão “efeito imediato e geral, devendo respeitar o ato jurídico perfeito (parágrafo 1º), o direito adquirido (parágrafo 2º) e coisa julgada (parágrafo 3º)”.

O respeito à coisa julgada e o direito adquirido também têm

previsão constitucional (art. 5º XXXVI). Tal previsão exterioriza que as leis civis são irretroativas, isto é, não poderão retroagir para atingir situações já

Observemos o exemplo invocado por Gonçalves (1997, p. 19/20): “ Revogada a lei n.º 01 pela lei n.º 02, e posteriormente revogada a leirevogadora ( n.º 02), pela lei n.º 03, não se restabelece a vigência da lein.º 01, salvo se a n.º 03, ao revogar a revogadora (n.º 02), determinar quea n.º 01 volte a vigorar.” Este fenômeno é denominado de repristinação

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consolidadas antes da sua vigência. Não se desconhece a retroatividade benigna reconhecida em outros ramos do direto. De outro norte, pode o legislador criar disposições transitórias (disposições de direito intertemporal), no próprio texto da lei nova, para conciliar a nova lei com as relações ocorridas na vigência da lei anterior. O art. 2.028 do Novo Código Civil é um exemplo disso, onde o legislador fixou disposições transitórias para regular a aplicabilidade do Código Civil antigo ou do novo à contagem de prazos de prescrição.

e) Aplicação da norma no espaço: o tema nos remete ao

conceito de soberania para esclarecer que as normas devem ser aplicadas nos limites territoriais do Estado que criou. A territorialidade é a regra. A extraterritorialidade indica a possibilidade de aplicação no território nacional de leis de outro Estado, segundo convenções e acordos internacionais.

Da leitura da LICC, é fácil verificar que o Brasil adota a

territorialidade moderada (GAGLIANO, 2003), ao admitir a territorialidade (arts. 8º e 9º) e a extraterritorialidade (arts. 7º, 10, 12 e 17).

f) Conflito de normas no espaço: saber qual é a legislação

estrangeira aplicável no território de um Estado é tarefa do Direito Internacional. Algumas regras são definidas na LICC, a saber:

- Quanto ao começo e fim da personalidade, o nome a

capacidade e os direitos de família, deve ser aplicada a lei do país de domicílio da pessoa (art. 7º);

- Em questões que envolvam bens, deve ser aplicada a lei do país onde estão situados (art. 8º);

- Em questões envolvendo obrigações, de forma geral, deve ser o aplicada a lei do país onde foram constituídas (art. 9º):

- Em questões envolvendo sucessão por morte (real ou presumida), deve ser aplicada a lei do país de domicílio do falecido. Ao cônjuge brasileiro e os filhos serão aplicadas as lei do Brasil, em relação aos bens de estrangeiro situados no território nacional, salvo se a legislação do país do falecido for mais favorável a eles (art. 10 e parágrafos);

- As empresas estrangeiras devem ter autorização para funcionar no Brasil com filiais, sucursais ou agências e estas últimas devem se submeter à lei nacional.

- Aquele que invocar direito estrangeiro para ser aplicado no Brasil deve provar o teor e sua vigência (Art. 14 da LICC e 337 do Código de Processo Civil);

- O artigo 12 regula a competência da autoridade judiciária Brasileira para julgar casos relativos a imóveis situados no Brasil, de pessoas aqui residentes ou de obrigações que aqui devam ser cumpridas. No art. 102, I, “h”, da C.F. de 1988, compete ao Supremo Tribunal Federal homologar as sentenças estrangeiras e determinar a execução às cartas rogatórias e o art. 15 da LICC define os requisitos para que a lei seja executada no Brasil;

- O art. 13 determina que a prova dos atos ocorridos no estrangeiros se fará de acordo com as leis daquela nação, não sendo admitido como meio de prova aqueles que lei Brasileira não reconhece;

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- As regras sobre o casamento têm previsão nos arts. 7º e parágrafos e 18 da LICC.

- A extraterritorialidade pode ser limitada, pois direitos estrangeiros não podem ofender a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes, na forma do art. 17. Exercícios de fixação

1. Quando se considera derrogada uma lei civil? 2. João é um espanhol casado com Maria, que é Brasileira. Ambos

residem em Madri, capital da Espanha. O casal possui inúmeros bens imóveis tanto na Espanha como no Brasil.

Deste pequeno enunciado, tendo por base o que dispõe a Lei de Introdução ao Código Civil, responda as questões a seguir: Se João vier a falecer na Espanha, qual a lei a ser aplicada para regular os direitos sobre os bens imóveis situados no Brasil? Justifique. Por ser brasileira e alguns dos imóveis estarem situados no Brasil, Maria pode invocar a aplicação da lei brasileira em alguma circunstância? Justifique.

3. O direito brasileiro admite o efeito repristinatório da lei? Fundamente. 4. Considerando os aspectos relativos à interpretação das normas jurídicas, tendo por fonte de consulta a bibliografia indicada, elabore uma redação (máximo 25 linhas) sobre a atitude do intérprete e do aplicador do Direito, frente às leis manifestamente injustas.

Referências Bibliográficas DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, v.1.Teoria Geral do Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 2002. GAGLIANO, Pablo Stolze, PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 2003; GONÇALVES, Carlos Roberto; Sinopses Jurídicas; direito civil – parte geral, vol. 1. São Paulo: Editora Saraiva, 2005.

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SUJEITOS DE DIREITO: PESSOAS Objetivo: classificar as pessoas como sujeitos de direito. INTRODUÇÃO: este capítulo é dedicado ao estudo daqueles que são titulares de direitos e também de deveres sob a ótica civil: as pessoas. Além de conceituar e o estudo está direcionado para elucidar questões a respeito da personalidade e capacidade civil das pessoas. 1. DA PERSONALIDADE E CAPACIDADE

Antes do estudo específico das pessoas que o Código Civil define, é importante ter a noção de Personalidade e Capacidade Civil. Personalidade: TELINHO Capacidade:

A capacidade pode ser dividida em: - capacidade de direito ou de gozo: todos os sujeitos possuem

desde o início de sua existência para aquisição ou gozo de direitos. - capacidade de fato ou de exercício: diz respeito à

possibilidade da pessoa praticar os atos da vida civil, por si própria, segundo os critérios definidos pela lei civil. Definidas estas questões preliminares, passaremos ao estudo dos sujeitos de direito, o início da personalidade e as questões relativas à capacidade das pessoas.

Tema 04

É a aptidão para o exercício dos atos e negócios jurídicos. É a medida da personalidade.

Toda a pessoa é dotada de personalidade, desde o início de suaexistência. Isto significa dizer que toda a pessoa tem aptidão genéricapara adquirir direitos e obrigações. São sujeitos de direito e de deveres.

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2. DAS PESSOAS:

Como sujeitos de direito, o Código Civil define duas espécies de pessoas: a pessoa física ou natural e a pessoa jurídica.

Analisemos cada uma delas: 1.1- Pessoa Física ou Natural:

A existência legal, e por conseqüência, o início da personalidade civil, se dá com o nascimento com vida. Considera-se a respiração como a melhor prova do nascimento com vida. O código faz ressalvas à hipótese de resguardar direitos de quem está por nascer (nascituro)

O Código Civil protege os direitos do nascituro, afirmando que se

ele nascer com vida os direitos a ele serão estendidos. Do contrário, considera-se que os direitos, para ele, nunca existiram. Assim o nascituro é herdeiro, pode receber doações ou legados, reconhecido e legitimado. Para resguardar seus direitos, há necessidade de nomeação de um curador, pessoa que irá agir em seu nome. Pode figurar como sujeito passivo de obrigações. Entretanto, todos os atos praticados em seu nome ficarão na dependência do nascimento com vida. A existência da pessoa natural termina com a morte. Entretanto, esta morte pode ser real ou presumida.

A morte real pressupõe a ausência de sinais vitais (falência dos

órgãos). A morte presumida ou ficta é a extinção da pessoa física assim

declarada por uma decisão judicial, ante a ausência do corpo da pessoa.

A declaração da ausência se dá por decisão judicial, como dito, que deve observar a seguinte ordem: – A declaração da ausência; – A sucessão provisória; – A sucessão definitiva.

Especificando as fases, verificamos o seguinte:

- Ausência: trata-se do caso da pessoa que desapareceu de seu domicílio, sem deixar representante ou procurador, sem que se saiba doparadeiro e não se tem notícias dela.

É o ser humano considerado como sujeito de direitos e deveres. Para ser pessoa basta existir.

Vamos conceituar o que éausência, para depois trabalhar assituações em que a morte pode serpresumida.

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a) – A declaração de ausência: Nesta fase, a requerimento de qualquer interessado ou do

Ministério Público, o juiz declara a ausência, precisando a data provável do óbito, nomeando em seguida um curador e determinando a arrecadação dos bens deixados pelo ausente. São publicados editais de dois em dois meses por um período de um ano.

b) - A sucessão provisória: Um ano após o primeiro edital (ou 3 anos se o ausente tiver

deixado procurador, art. 29 CC) poderá ser aberta a sucessão provisória (inventário e partilha), passando aos herdeiros a posse dos bens, se prestarem garantia de devolução integral, em caso de retorno do ausente (art. 30 CC).

c) – A sucessão definitiva. Dez anos depois de aberta a sucessão provisória, poderão os

interessados requerer sucessão definitiva, com o cancelamento das cauções (garantias) prestadas.

O prazo de 10 anos poderá ser dispensado ao tempo em que a

pessoa, se viva tivesse 80 anos e há mais de 05 anos não se tenha notícia dela.

Se o ausente reaparecer nos 10 anos seguintes, receberá ele os

bens no estado em que se encontrarem (art. 39 CC). Depois desse prazo, não havendo sucessor, os bens serão consideradas heranças jacentes (art. 39, par. Único) e passarão ao domínio do Estado.

Aberta a sucessão definitiva, presume-se a morte e se dissolve o

vínculo conjugal (arts. 6º e 1.571, par. 1º, CC). - Morte presumida: como dito acima, na morte presumida não

há índicos da materialidade do fato, visto não existir o corpo. Entretanto, a morte pode ser presumida em dois casos:

- Morte presumida decorrente de declaração de ausência na fase

da sucessão definitiva. Autorizada esta presume-se a morte (art. 6º, segunda parte. CC).

- Morte presumida por indícios veementes (independente da

declaração de ausência). É caracterizada quando for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida, ou se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra (art. 7º CC). Ex.: caso do Ulisses Guimarães

Como dito acima, a sentença deve fixar a data provável do

falecimento, para produzir os reflexos nos negócios jurídicos e na sucessão dos bens deixados pelo desaparecido.

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Os principais efeitos decorrentes da sentença que reconhece a morte presumida de alguém são: sucessão definitiva quanto aos bens e a dissolução do vínculo conjugal.

Outra situação que precisa ser analisada é a possibilidade de

duas pessoas morrerem simultaneamente, sem que se saiba quem morreu primeiro. Tal situação é definida pelo direito civil como comoriência.

É muito importante saber do momento da morte das pessoas,

uma vez que a ordem da morte pode alterar o quadro sucessório (herdeiros). Assim se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu os outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos (art. 8º do CC). A conseqüência do preceito é que não se estabelece sucessão entre os comorientes (um não herda do outro).

Outro ponto a ser estudado, para verificar até que ponto uma

pessoa pode exercitar seus direitos por si própria ou se necessita de alguém que o represente, diz respeito à capacidade. Neste sentido, faz-se necessário a compreensão de capacidade plena, incapacidade absoluta e incapacidade relativa.

Vejamos cada uma delas: - Capacidade civil plena: Capacidade civil é aptidão da pessoa

para exercer direitos e assumir obrigações. São plenamente capazes para praticar os atos da vida civil os maiores de 18 anos, não impedidos por outra circunstância previstos na lei civil (art. 5º CC).

- Incapacidade civil absoluta: Esta incapacidade revela a

impossibilidade de praticar qualquer ato da vida civil por si própria. São absolutamente incapazes os menores de 16, os que por enfermidade ou deficiência mental não tiverem o necessário discernimento para os atos da vida civil, e também os que, mesmo por causa transitória não puderem exprimir sua vontade (art. 3º CC).

- Incapacidade civil relativa: Esta circunstância revela que

alguns atos da vida civil a pessoa pode praticar sozinha, outros não. São considerados relativamente incapazes para certos atos, os menores entre 16 e 18 anos, os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, os que por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido, os excepcionais sem desenvolvimento mental completo e os pródigos (art. 4º CC).

- Pródigo é o que esbanja sua fortuna. Sua interdição limita-se à

esfera patrimonial (art. 1.782 do CC). - As deficiências físicas ou doenças não influem na capacidade

civil, salvo se impedirem a manifestação ou transmissão da vontade. - O mudo e o surdo podem manifestar-se por escrito, por sinais,

por intérprete ou por procurador. Estes e os cegos só não podem intervir em atos que dependem diretamente dos sentidos que lhes faltam. Da mesma forma, a idade avançada, por si só, não é causa de incapacidade.

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Observação: Os menores de 16 anos são representados e os entre 16 e 18 anos são assistidos pelos seus pais, tutores ou curadores (art. 1.634, V e 1.747, I, CC).

Na representação o pai ou o tutor pratica o ato jurídico sozinho,

em nome do menor, ou pelo menor; na assistência o responsável coloca-se ao lado do menor, auxiliando-o na prática do ato jurídico e integrando-lhe a capacidade.

Aos 18 anos cessa a menoridade. Entretanto, a legitimação para todos

os atos da vida civil pode ser adquirida antes: - Tendo o menor 16 anos completos, pode ser emancipado, por

concessão dos pais, ou de um deles na falta de outro, mediante escritura pública, independentemente de homologação judicial. Faltando o pai e a mãe, pode dar-se a emancipação por sentença do juiz, ouvido o tutor.

- Considera-se também legitimado o menor pelo casamento,

pelo exercício de emprego público efetivo, pela colação de grau em curso superior, pelo estabelecimento civil ou empresarial ou por emprego, dede que, nos dois últimos casos, sejam geradores de economia própria (art. 5º, par. Único, CC). É importante salientar que não retorna à incapacidade civil quem foi emancipado; se legitimou pelo exercício do comércio e depois faliu; se casou e depois ficou viúvo ou se divorciou, nem no caso de casamento anulado, se estava de boa-fé.

Muito se falou em “direitos” que decorrem da personalidade. Mas vamos esclarecer o que eles são:

Os direitos da personalidade abrangem a intimidade, a vida

privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurando o direito à indenização por dano material ou moral (art. 5º, X da CF, art. 12 CC). Abrangem também o nome e o pseudônimo (art. 18 e 19 CC). Protege-se a vida privada, os escritos, as palavras e também a imagem da pessoa, pela proibição da divulgação e pelo estabelecimento da indenização cabível (arts 18 a 21 do CC). Importante frisar que se estendem à pessoa jurídica, “no que couber”, a proteção dos direitos da personalidade (art. 52 do CC).

Concluídos os assuntos relativos à pessoa física, passemos ao

conceito e classificação das pessoas jurídicas.

1.2 - Pessoa Jurídica:

É uma entidade constituída de homens ou bens, com vida, direitos, obrigações e patrimônios próprios. Vale dizer, trata-se de um ente criado para ter direitos e obrigações distintos de quem a criou. É o efeito da personificação. Elas podem ser assim classificadas:

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a) Pessoas jurídicas de direito público externo: são elas os Estados (países) estrangeiros, organismos internacionais, como ONU, OEA etc.

b) Pessoas Jurídicas de direito público interno: são elas, a União, os Territórios, os Estados, o Distrito Federal, os municípios e as autarquias.

c) Pessoas jurídicas de direito privado: nesta categoria encontram-se as associações, as organizações religiosas e os partidos políticos (art. 44 CC), as fundações privadas e as entidades estatais, representadas estas, pelas empresas públicas e as sociedades de economia mista.

Especificamente as pessoas jurídicas de direito privado são

assim conceituadas: - Associações são organizações sem fim lucrativo

(impossibilidade de divisão do resultado), em regra, exercendo atividades culturais, religiosas, assistência social, recreativas e outras mais.

- Sociedades são organizações com fins lucrativos, podendo ser

personificadas ou não personificadas. As sociedades não personificadas (sem personalidade jurídica) são a sociedade em comum e a sociedade em conta de participação. Sociedades personificadas (com personalidade jurídica) são as que têm registro, constituindo-se, portanto, como pessoas jurídicas. Podem ser simples ou empresariais. A sociedade simples (antiga sociedade civil) é a que exerce atividades profissionais ou técnicas, como a sociedade de engenheiros ou advogados (art. 997 CC). A sociedade empresarial é a que exerce atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou serviços (art. 966 do CC). São empresariais, por exemplo, a sociedade limitada e a sociedade anônima.

- Fundações: são pessoa jurídicas compostas pela organização

de um patrimônio (conjunto de bens), destinados pelo seu instituidor para uma finalidade específica. Não tem proprietário, nem titular, nem sócios. Tem apenas um patrimônio, gerido por curadores. A fundação pode ser criada por escritura pública ou testamento, devendo o instituidor doar os meios necessários e especificar o fim a que se destinam, declarando, também, se quiser, a maneira de administrá-la (art. 62 do CC). As fundações privadas só podem constituir-se para fins religiosos, morais, culturais ou de assistência (art. 62, par. Único, CC). Fundações públicas são criadas pelo Poder Público, por lei ou por escritura autorizada em lei. Tem natureza pública, embora lhes seja atribuída personalidade jurídica de direito privado.

A existência legal da pessoas jurídica varia de acordo com a

classificação da pessoa jurídica. Ao estudo do Direito Civil, interessa o estudo das pessoas jurídicas de direito privado. O que se verifica é que a existência legal (e daí os direitos de personalidade) só se verificam com o registro dos atos constitutivos (contrato social, estatuto social) que deram origem à entidade no cartório público competente.

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Durante a vida das pessoas jurídicas, elas são sempre representadas por pessoas físicas, segundo as regras de sua criação ou de seus atos constitutivos.

A pessoa jurídica de direito privado se extingue com a baixa do

registro, por: - Dissolução (distrato), término do prazo previsto, falta de cumprimento do objetivo social ou a impossibilidade de sua realização. - Cassação da autorização de funcionamento. - Por determinação legal. - Por dissolução judicial (falência por exemplo). - pela dissolução amigável.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

1. É correto afirmar que a personificação da pessoa jurídica identifica a impossibilidade dela ser chamada a pagar por dívidas das pessoas físicas dos que a criaram?

2. Contrapondo ao efeito jurídico da “personificação” da pessoa jurídica,

explique os efeitos decorrentes da “desconsideração” da pessoa jurídica.

3. Em decorrência de um acidente de trânsito, pai e filho faleceram sem

que ninguém tivesse visto em que circunstância. Pai e filho possuíam muitas propriedades. Pergunta-se, a determinação do momento da morte tem relevância para fins de herança dos bens deixados pelo pai e pelo filho? Qual a conseqüência jurídica decorrente da presunção de morte simultânea do pai e do filho?

4. O Código Civil esclarece no artigo 2º, que a personalidade civil, isto é,

a aptidão para ser titular de direitos, inicia no nascimento com vida. Entretanto o mesmo artigo diz que “a lei põe a salvo os direitos do nascituro”. O referido artigo está se referindo apenas aos direitos patrimoniais (direito à herança, por exemplo) ou a proteção se estende aos direitos da personalidade, como o direito à vida? Justifique.

Referências Bibliográficas DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, v.1.Teoria Geral do Direito Civil. São Paulo:Saraiva, 2002. GAGLIANO, Pablo Stolze, PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 2003. GONÇALVES, Carlos Roberto; Sinopses Jurídicas; direito civil – parte geral. vol. 1.São Paulo: Editora Saraiva, 2005.

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LISBOA, Roberto Senise. Manual Elementar de Direito Civil. 2ª edição. Revista Atualizada em conformidade com o Novo código Civil. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002.

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DOS BENS

OBJETIVO: Conhecer e classificar os bens. INTRODUÇÃO: Todo direito tem um objeto sobre o qual a pessoa exerce o poder que lhe é garantido. Abordaremos, neste capítulo, a classificação dos bens. Exata classificação é necessária para verificar quais os direitos que conferem o modo de aquisição, transferência e sua extinção.

Antes de tratar especificamente do assunto é importante salientar que podem ser objeto de direitos coisas corpóreas e incorpóreas, cujos conceitos serão definidos a seguir. Nestas “coisas” incluem-se os direitos decorrentes da propriedade intelectual, ou seja, os direitos autorais (obras artísticas, científicas ou literárias) e os decorrentes da propriedade industrial (marcas, patentes, invenções, sinais de propaganda etc).

Assim, num sentido amplo, o objeto do direito se denomina “coisa”

(do latim: res). Entretanto, quando incorporadas ao patrimônio da pessoa (como propriedade ou crédito) elas são classificadas como “bens”. Daí a importância de qualificar todas as espécies de bens, para verificar o direito que conferem ao titular, o modo de aquisição, transferência e extinção dos direitos sobre eles. 1. CONCEITO: 2. CLASSIFICAÇÃO:

O Código Civil classifica os bens, considerando:

a) a sua individualidade, isto é, considerando-os em si mesmo. Nesta categoria incluem-se as seguintes categorias de bens: - corpóreos e incorpóreos - móveis e imóveis - fungíveis e infungíveis - consumíveis e não consumíveis - divisíveis e indivisíveis - singulares e coletivos

TEMA 05

Bens são as coisas que podem ter avaliação econômica e que compõem o patrimônio das pessoas (físicas ou jurídicas).

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b) a relação com as outras categorias de bens, ou seja, considerando-os reciprocamente. Nesta categoria, incluem-se os bens: principais e acessórios

c) o titular da propriedade. Nesta categoria, incluem-se os bens:

públicos ou particulares e bens fora do comércio

- Corpóreos ou materiais: são os bens que existem materialmente e podem, por isso, cair sob os nossos sentidos (são visíveis, palpáveis). São aqueles que ocupam lugar limitado no espaço, daí o motivo pelo qual os planetas, as estrelas não podem ser objetos de direitos.

- Incorpóreos ou imateriais: são os que têm uma existência

imaterial, não podendo, por isso, cair sob os nossos sentidos. Não são visíveis ou palpáveis, como por exemplo, os créditos, a qualidade de autor, o nome empresarial, os direitos sobre as marcas, entre outros.

- Bens imóveis: são as coisas que não se podem ser

transportadas de um lugar para outro sem alterar sua estrutura (sem destruição), como um terreno, uma casa etc.

O Código Civil menciona quatro classes de imóveis:

I - Imóveis por natureza. O solo com a sua superfície, seus

acessórios e adjacências naturais, compreendendo as árvores e os frutos pendentes, o espaço aéreo e o subsolo. As águas são regidas por uma lei especial, o Código das Águas, bem como as jazidas e demais riquezas do subsolo estão sujeitas ao Código de Minas;

II - Imóveis por acessão física artificial. Tudo quanto o

homem incorporar, permanentemente, ao solo, como a semente lançada a terra, os edifícios e construções, de modo que se não possa retirar, sem destruição, modificação ou dano.

III - Imóveis por destinação - Tudo quanto, no imóvel, o proprietário mantiver, intencionalmente, empregado em sua exploração. Compreende aquelas coisas móveis que integram um prédio e nele são colocadas permanentemente para a sua exploração industrial, como as máquinas de uma indústria; utensílios agrícolas ou os bens destinados para o seu aformoseamento ou comodidade, como estatuas, lustres, vitrais, chaves etc.

IV – Imóveis por determinação de lei: a) os direitos reais

sobre imóveis (hipoteca por exemplo) e suas ações (direito de defesa). b) o direito à sucessão aberta (abrange direitos reais ou de crédito, na herança).

Vale lembrar que o Código menciona claramente no art. 81 que

não perdem o caráter de imóveis

Vejamos cada uma das classificações acimamencionadas:

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I - as edificações que, separadas do solo, mas conservando sua

unidade, forem removidas para outro local; II – os materiais provisoriamente separados de um prédio, para

nele se empregarem. Os materiais para construção, enquanto não empregados, são,

por natureza, coisas móveis, como veremos no ponto seguinte. Uma vez empregados na construção adquirem a qualidade de imóveis, e não perderão essa qualidade quando, provisoriamente, separados do prédio, se destinem a nele mesmo serem reempregados. Art. 46 CC.

- Bens móveis: são aqueles suscetíveis de transporte de um

lugar para o outro sem alterar sua substância. Podem ser:

a) Móveis por natureza: são aqueles que têm movimento próprio (semoventes), como os animais ou de remoção por força alheia (coisas inanimadas como moedas, mercadorias, cadeiras, frutos colhidos etc).

b) Móveis por determinação legal: diz o art. 83, que se consideram móveis para os efeitos legais:

- as energias que tenham valor econômico; - os direitos reais sobre objetos móveis (penhor) e ações correspondentes; - os direitos pessoais (crédito pessoal) e as ações correspondentes.

Vale lembrar que os materiais destinados para construção,

enquanto não forem empregados, conservam a sua qualidade de móveis. Assim, as pedras, as madeiras, canos, torneiras etc, destinados a qualquer construção, enquanto não estiverem empregados, são consideradas coisas móveis. Os materiais provenientes da demolição de algum prédio, desde que não

estejam provisoriamente separados para nele mesmo serem reempregados, readquirem a qualidade de coisas móveis.

• Bens Fungíveis e Infungíveis: São os que podem e os que não

podem, respectivamente, serem substituídos por outros de mesma espécie, qualidade e quantidade nos termos do art. 85 CC.

Os bens fungíveis são coisas pertencentes ao mesmo gênero e se indicam

pelo gênero, qualidade e quantidade ficando suscetíveis de número, peso e medida (dinheiro, por exemplo).

As coisas infungíveis são individualizadas, consistentes em corpo

certo, que não podem ser substituídas por outras. Importante é esta classificação, pois algumas relações jurídicas

têm seu fundamento na idéia de fungibilidade e infungibilidade das coisas,

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como o mútuo (que trata do empréstimo das coisas fungíveis), ou ainda, o comodato (onde se fala do empréstimo de coisas infungíveis).

• Bens Consumíveis: os consumíveis são aqueles cujo uso

importa destruição imediata da própria substância, considerando-se também como tais os destinados à alienação (venda). Podem ser:

• Naturalmente consumíveis quando, do seu uso, resulta a

destruição imediata da própria substância, como os gêneros alimentícios, a lenha, a cerveja.

• Juridicamente consumíveis quando destinados a

alienação como o dinheiro, o livro enquanto na loja etc.

• Bens divisíveis e indivisíveis: as coisas divisíveis são as que podem se partir em porções reais e distintas, formando cada qual um todo perfeito. Esta é a divisão real ou material e se aplica somente às coisas corpóreas. Exemplo: Um terreno é coisa divisível, porque, separado em lotes, cada um destes forma um todo completo, sem dependência do prédio de que foi destacado.

• São indivisíveis os bens que não se podem se partir sem

alteração na sua substância.

É importante lembrar que tal disposição deve ser aplicada tanto às coisas corpóreas quanto às coisas incorpóreas. Também é importante lembrar que a lei ou a vontade das partes pode tornar indivisíveis bens que sejam naturalmente divisíveis.

- Bens singulares ou coletivos:

• singulares são aqueles que se consideram de per si, independentemente das demais, mesmo quando reunidas (cavalo, navio, casa);

• Coletivos são um agregado de coisas corpóreas da mesma

espécie (rebanho, biblioteca) ou são um conjunto de unidades abstratas de coisas e direitos (patrimônio, herança, massa falida).

Até agora nós falamos dos bens quanto à sua própria individualidade. Passaremos a observar os bens uns em relação aos outros:

• Principal é a coisa que tem uma existência própria e independente de qualquer outra, como o terreno, a mesa, um crédito.

• Acessório é aquele cuja existência supõe o do principal, ficando

ligado a esta por uma relação de dependência, como a casa em

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relação ao terreno, gaveta à mesa, o penhor ou a hipoteca em relação ao crédito. Eles podem ser:

• Frutos que são as utilidades que a coisa, periodicamente, produz. São três as suas espécies:

- Frutos naturais são os produzidos espontaneamente pela coisa,

como o leite, a lã, os frutos das árvores, as crias dos animais. - Frutos industriais são os que se obtém pela cultura, resultando, portanto, da indústria humana sobre a natureza, como os cereais, o algodão, o café. - Frutos civis são os rendimentos que se podem obter de uma coisa pela utilização por outrem, que não o proprietário, como o aluguel de uma casa, o arrendamento de terras, os juros de uma quantia de dinheiro emprestado.

É importante lembrar que quanto ao seu estado os frutos podem ser pendentes (quando ainda unidos à coisa que os produziu), colhidos (quando já separados da coisa), e percebidos (quando, com relação aos civis e industriais, depois de separados, já estão com o possuidor). Os frutos colhidos se subdividem em estantes (quando depois de separados ainda existem), consumidos (quando já foram utilizados pelo possuidor), e percipiendos ( quando deviam ser, mas não foram colhidos).

A classificação acima será utilizada de forma prática quando do estudo do Direito das Coisas (posse, propriedade, usufruto etc.) - Benfeitorias.

• São as obras ou despesas feitas num móvel ou imóvel para conservá-lo, melhorá-lo ou simplesmente embelezá-lo. É importante lembrar que a benfeitoria pode ser na coisa alheia ou na coisa própria, mas é na coisa alheia que ela pode tomar aspectos jurídicos importantes.

As benfeitorias são divididas em três espécies:

• Necessárias são as que têm por fim conservar a coisa ou evitar que se deteriore.

• Úteis são as que aumentam ou facilitam o uso da coisa. • Voluptuárias que não aumentam o uso habitual da coisa, ainda que a

tornem mais agradável (benfeitorias supérfluas). • Existem ainda as pertenças, que são bens que, ainda que possam

ser individualizados , se integram a outros de forma duradoura tendo por fim, melhorar o uso ou serviço, como a antena parabólica, o rádio do automóvel, os móveis de um hotel etc.

Importante: o acessório segue o principal. Entretanto, o contrato sobre um bem principal não abrange a pertença, a não ser que se diga o contrário ou pelas circunstâncias do negócio.

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Dando prosseguimento, agora vamos estudar os bens em relação às pessoas a quem pertencem. Vale dizer, a quem pertence o domínio (propriedade) dos bens. Eles se dividem em públicos ou particulares. - Públicos e particulares: os primeiros são os que pertencem às pessoas jurídicas de direito público interno e bens particulares são os que pertencem às pessoas jurídicas de direito privado e às pessoas naturais, que delas podem usar, gozar e dispor, segundo as leis civis. Os bens públicos se subdividem em: - Bens de uso comum do povo: são aqueles cujo uso, por característica natural ou jurídica, destina-se ao uso público, sem qualquer discriminação, entre os quais inclui - se, o mar, as praças a ruas etc. - Bens de uso especial: são aqueles cujo uso ocorre com certas e determinadas restrições legais e regulamentares, haja vista que se destinam a satisfazer uma utilidade ou necessidade pública especial, nos quais se destacam: edifícios ou terrenos destinados a serviço (teatros, universidades públicas, museus ou estabelecimento da administração pública, inclusive de autarquia, navios e aeronaves de guerra, e veículos oficiais). - Bens dominicais: são aqueles que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma delas (bens declarados vagos, quedas d’água para construção de hidrelétricas, terrenos de marinha). Dentre as características dos bens públicos está a inalienabilidade (impossibilidade de venda, salvo casos especiais) e a impossibilidade de usucapião. Ainda falando dos bens relativamente aos respectivos proprietários, é importante frisar que existem coisas fora do comércio, que não podem ser adquiridas ou alienadas (vendidas). São divididas em duas categorias: a) insuscetíveis de apropriação: aqui se incluem aquelas coisas que, por sua própria natureza, estão fora da circulação econômica e, por isso, não são suscetíveis de apropriação individual, como o ar, o oceano e as de uso comum do povo. b) as legalmente inalienáveis: são as coisas que por força de lei não podem ser alienadas o bem de família (bem destinado ao uso familiar) e quaisquer outros sobre os quais recaia a cláusula de inalienabilidade (impossibilidade de venda por disposição das partes envolvidas). Exercícios de fixação:

1. É permitido ao município vender um terreno destinado a uma praça pública? Justifique.

USUCAPIÃO- forma de

aquisição dapropriedade,

peladecorrência

do tempo daposse, de

boa-fé,mansa epacífica.

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2. É correto afirmar que os bens públicos não são suscetíveis de

apropriação por meio de usucapião?

3. Os navios e aeronaves que transportam mercadorias e pessoas para outros países são classificados como que espécie de bens?

4. João adquiriu um automóvel de Pedro, pagando R$ 20.000,00 à vista.

João Antes de licenciar o veículo em seu nome, João atropelou um pedestre que atravessava uma faixa de segurança da rua central de uma cidade. Do fato resultou a morte do pedestre. Os familiares do pedestre, entendendo se João o responsável pelo acidente, querem dele indenização por danos morais e materiais. Sabendo que não só o condutor do veículo responde pelos danos mas também o proprietário e sabendo que os bens móveis se transferem por tradição, contra quem deve ser dirigida a ação indenizatória? (Pesquise e responda com base na doutrina e na jurisprudência).

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, v.1.Teoria Geral do Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 2002. GAGLIANO, Pablo Stolze, PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 2003; GONÇALVES, Carlos Roberto; Sinopses Jurídicas; direito civil – parte geral, vol. 1. São Paulo: Editora Saraiva, 2005; LISBOA, Roberto Senise. Manual Elementar de Direito Civil. 2ª edição. Revista Atualizada em conformidade com o Novo código Civil. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002.

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FATOS, ATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS OBJETIVO: Conhecer o que são fatos, atos e negócios jurídicos. INTRODUÇÃO: como a pessoa, o direito também tem um ciclo de vida: criação, desenvolvimento e extinção. Todas estas circunstâncias são determinadas por fatos. Tais fatos são considerados jurídicos por produzirem efeitos jurídicos. Entretanto, alguns deles dependem do agir humano para uma determinada finalidade outros não. Todos produzem conseqüência jurídicas. A qualificação de cada um deles é o trabalho reservado a este capítulo. 1. FATO JURÍDICO:

Fato jurídico é qualquer acontecimento que possa produzir conseqüências jurídicas. Pode decorrer da natureza, como os efeitos de uma chuva ou de um incêndio. Pode decorrer da ação humana como a compra e venda, elaboração de um contrato, assinatura de cheques etc.

Quando o fato jurídico decorre da ação humana, ele se denomina

ato jurídico, que se subdivide em ato jurídico em sentido estrito e negócio jurídico. 2. ATO JURÍDICO:

O ato jurídico é o evento decorrente da vontade humana, cujo objetivo é a criação, a modificação ou a extinção de direitos, de acordo com as leis vigentes. O ato jurídico em sentido estrito é delineado pela lei, na forma, nos termos e nos efeitos, com mínima margem de deliberação (vontade predeterminada na lei), como no reconhecimento de filho, na interpelação judicial entre inúmeros outros exemplos. 3. NEGÓCIO JURÍDICO:

O negócio jurídico é um evento decorrente da vontade humana que se exterioriza por uma série de atos dispostos pelos negociantes para obtenção do resultado ou interesse pelas partes. Ao contrário do ato jurídico,

Tema 06

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caracteriza-se pela maior liberdade de deliberação, na fixação dos termos e das decorrências jurídicas, como nos contratos em geral. É a norma concreta estabelecida pelas partes.

A validade do negócio jurídico exige agente capaz, objeto lícito e possível, determinado ou determinável e forma prescrita ou não defesa em lei (elementos essenciais) (art. 104, CC). São os chamados elementos essenciais do negócio jurídico. Vejamos cada um deles especificamente:

- Agente capaz: diz respeito à possibilidade de participar da celebração do negócio jurídico por si só, como definido pela lei civil. A incapacidade de exercício é suprida pelos meios legais: a representação e assistência em se tratando de absolutamente incapaz ou relativamente incapaz, respectivamente.

- Objeto lícito: é o que não atenta contra a lei, a moral e aos

bons costumes. O objeto do negócio jurídico não pode atentar contra estas circunstâncias.

- Objeto possível: o objeto deve também ser possível, visto que,

quando impossível, o negócio é nulo não produzindo qualquer efeito. - Objeto determinado ou determinável: o objeto do negócio

jurídico deverá ser determinado. Ainda que não possa ser determinado poderá ser determinável isto é pode ser indeterminado ou determinável quando o negócio jurídico deverá ser cumprido. Daí por que se admite a venda de coisa incerta, indicada apenas em gênero e quantidade (art. 243, CC), que será determinada pela escolha.

- Forma: o negócio jurídico só pode ser celebrado pela forma

prescrita (prevista) ou não defesa (proibida) em lei. Além dos elementos essenciais do negócio jurídico, acima

nomeados, que constituem pressupostos de existência e validade dele podem ser adicionados elementos acidentais pela vontade das partes. Tais elementos são: condição, termo e encargo.

Vejamos, pois, os elementos acidentais do negócio jurídico.

a) Condição: é situação estipulada pelas partes que subordina o

efeito do ato jurídico a um evento futuro e incerto (art. 121 do CC). A condição pode ser classificada em: - Causais: são as condições que dependem do acaso, de um fato

alheio à vontade das partes. (Dar-te-ei 100 reais, se amanhã chover). - Potestativas: são as que ficam ao arbítrio relativo de uma das

partes (darei 100, se tiver que viajar para São Paulo). É importante salientar que são ilícitas aquelas puramente potestativas.

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- Puramente potestativas: são as que ficam condições cujo acontecimento fica ao inteiro arbítrio de uma das partes (darei 100 se quiser). Tais condições estipuladas invalidam o ato jurídico por que não estabelecem vínculo ou compromisso entre as partes.

- Suspensivas: são as condições em que a aquisição de um

direito fica na dependência de um evento futuro e incerto. Vale dizer, o ato fica suspenso até que o evento futuro e incerto ocorra (dar-te-ei 100 reais, se venceres a corrida).

- Resolutivas: são aquelas em que o direito adquirido se desfaz

quando ocorrer determinado evento. É a que extingue o direito transferido pelo negócio quando ocorrer o evento futuro e incerto. Como, por exemplo, podemos citar a constituição de uma renda para um menor enquanto ele estudar. Ao parar de estudar extingue-se o direito ao recebimento dos valores.

b) Termo: É o dia em que começa ou termina a eficácia do negócio

jurídico. É a indicação do tempo pelo qual se verificam os efeitos do ato jurídico. O termo inicial denomina-se dies a quo. O termo final denomina-se dies ad quem. Termo não pode ser confundido com prazo que é o intervalo entre o termo a quo e o termo ad quem. Difere da condição, pois esta subordina a eficácia do ato a evento futuro e incerto.

c) Modo ou Encargo é a atribuição ou ônus que o disponente

impõe à pessoa favorecida (art. 136 do CC). É cláusula acessória às liberalidades (doações e testamentos) pela qual se atribui obrigação ou ônus ao beneficiário. Ele se diferencia da condição suspensiva porque esta impede a aquisição do direito, enquanto que o encargo não suspende a aquisição nem o direito. Difere também da condição resolutiva porque, por si só, não leva à revogação do ato praticado. 4. DEFEITOS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS:

Este tema retrata as hipóteses em que a vontade das partes envolvidas no negócio jurídico se manifestam com algum vício que torne o negócio anulável.Os negócios jurídicos são anuláveis se forem viciados pela ocorrência de seis defeitos:

- erro - coação - lesão

- dolo - estado de perigo - fraude contra credores

Vejamos as definições e as diferenças entre cada um deles:

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a) Erro ou ignorância: é a falsa noção sobre alguma coisa. Nesta situação, o agente engana-se sozinho.

Só anula o ato jurídico o erro substancial ou essencial que diz

respeito ao erro sobre circunstâncias e aspectos relevantes do negócio. Ex.:ccoommpprraarr uumm qquuaaddrroo ddee uumm ppiinnttoorr ffaammoossoo ppeennssaaddoo sseerr ddee oouuttrroo..

Não acarreta a nulidade o erro acidental ou secundário, pois se

refere a circunstâncias de pouca importância que não geram efetivo prejuízo, até porque se conhecia a realidade quando o negócio foi realizado ((ccoommpprraarr uummaa jjaanneellaa ccoomm 66 vviiddrrooss ppeennssaannddoo qquuee hhaavviiaa sseettee))..

b) Dolo: é o artifício usado para enganar alguém. É o induzimento malicioso de alguém a praticar um ato que lhe prejudica, mas é proveitoso ao autor do dolo ou de uma terceira pessoa. Só anula o ato, o dolo de certa gravidade (dolus malus), exercido com o propósito de causar prejuízo.

Não se considera dolo o dolus bonus que é o dolo tolerável no

comércio em geral, como o elogio exagerado sobre uma determinada mercadoria que está à venda.

c) Coação: é a violência física ou psicológica que impede alguém de agir livremente. É a ameaça ou pressão exercida sobre um indivíduo para forçá-lo a praticar um ato ou negócio jurídico contra a sua vontade.

Como no dolo a coação também deve ser de certa gravidade

(art. 151 do CC), não se considera coação a ameaça ao exercício normal de um direito, nem o simples temor reverencial (respeito profundo por alguém) (art. 153 do CC).

d) Estado de perigo: é a circunstância em que alguém assume

obrigação excessivamente gravosa, para salvar-se, ou a pessoa de sua família, ou a outrem, de dano grave (art. 156 CC). Aparece naquelas situações em que o indivíduo em situação equiparada ao estado de necessidade, e em função disto assume obrigação muito onerosa como por ex. pprroommeetteerr ssuuaa ffoorrttuunnaa ppaarraa sseerr ssaallvvoo..

e) Lesão: Ocorre quando uma pessoa, sob permanente necessidade ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta (art. 157). Ela se configura quando alguém obtém lucro exagerado, porque aproveitou-se da inexperiência ou da situação de necessidade da outra parte.

A lesão se diferencia do dolo, por que a parte não induz a outra à prática do ato lesivo, mas apenas tira proveito da situação.

Toda a ameaça configura coação?Nos termos no art. 151 do CC, vamos ver quenão.

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Também não se confunde com o estado de perigo, pois ela ocorre quando não há estado de perigo, decorrente da necessidade de salvar a sua pessoa, da família ou de terceiros.

f) Fraude contra credores: pratica fraude contra credores o

devedor insolvente, ou na iminência de o ser, que desfalca seu patrimônio, onerando ou alienando bens, subtraindo-os à garantia comum dos credores (art. 158 do CC). A finalidade é prejudicar os credores:

- se a alienação for gratuita a fraude é presumida. - se onerosa, só haverá fraude no caso de anterior insolvência notória, ou se havia motivo para ser conhecida do outro contraente. A insolvência é notória, por exemplo, quando há protestos contra o

devedor, anteriores ao negócio que se reputa fraudulento. E certas circunstâncias podem indicar que o outro contraente não ignorava a insolvência do devedor, como por exemplo, o parentesco próximo, amizade íntima, o preço vil, a venda ou doação de único bem do devedor etc.

Caracteriza-se também a fraude quando o devedor simula a existência de dívida ou simula o pagamento de dívida não vencida etc, desde que estes atos agravem a insolvência do devedor. É importante lembrar que o ato praticado em fraude de credores pode ser anulado através de ação judicial específica, chamada ação pauliana ou revocatória.

Importante é diferenciar a fraude contra credores da chamada fraude

à execução, visto que a anulação dependerá de atos específicos. Veja que existe “fraude à execução”, quando o devedor aliena seus

bens quando já corria contra si uma ação (processo) ou demanda capaz de reduzi-lo à insolvência. Neste caso, o credor não precisa mover ação pauliana, pois o ato é ineficaz perante o processo de execução que é matéria regulada pelo processo civil. A venda pode ser anulada por simples petição ao juiz que cuida do processo. ATENÇÃO: Embora o Novo Código Civil tenha deixado de tratar a matéria envolvendo a simulação ao lado dos demais vícios afetos ao negócio jurídico, deslocando-o para o capítulo referente à invalidade do negócio jurídico (artigo 167), por questão didática é importante tratar do assunto junto com as demais circunstâncias que viciam o ato jurídico. A simulação é uma declaração enganosa de vontade, visando a produzir efeito diverso do ostensivamente indicado.

Espécies: a simulação pode ser: - Absoluta: nesta hipótese, o negócio se forma a partir de uma

declaração de vontade emitida para não gerar efeito algum senão apenas de ludibriar um terceiro não participante da avença, criando-se, por conseqüência, uma situação jurídica irreal, lesiva do interesse do terceiro por meio da prática de ato jurídico aparentemente perfeito, embora substancialmente incapaz. Exemplo: para livrar bens da partilha imposta

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pelo regime adotado no casamento, ante a iminente separação judicial, o cônjuge simula negócio com amigo, contraindo falsamente uma dívida com o objetivo de transferir-lhe bens em pagamento, prejudicando, assim, sua esposa.

- Relativa: esta se subdivide em duas outras categorias: a) simulação relativa objetiva: emite-se uma declaração de

vontade ou confissão falsa com o propósito de encobrir ato de natureza diversa, cujos efeitos perseguidos pelo agente são proibidos por lei. Exemplo: um homem casado pretende doar um bem a sua concubina; ante a proibição legal, o alienante simula uma compra e venda que, em seu bojo, encobre o ato que efetivamente se quer praticar;

b) simulação relativa subjetiva: quando a declaração de vontade

é emitida aparentando conferir direitos a uma pessoa, mas transferindo-os, em verdade, para terceiro, não integrante da relação jurídica. Exemplo: por força da referida proibição, o homem casado aliena o bem a um terceiro, em face de quem não há restrição legal, o qual, em seguida, doa o mesmo à concubina. Exercícios de Fixação:

1. No art. 122 do Código Civil está dito que são ilegais as condições que sujeitam o negócio jurídico ao puro arbítrio de uma das partes. Pergunta-se: que espécie de condição é esta? Em qualquer circunstância elas serão consideradas ilegais?

2. Simule um negócio jurídico em que se verifica a existência de

condição suspensiva.

3. O marido, às vésperas da separação judicial, emite uma nota promissória a favor de um parente e que não representa qualquer negócio jurídico, mas apenas a intenção de subtrair bens da partilha. Pergunta-se que espécie de vício (defeito) jurídico se observa nesta situação? Qual a conseqüência decorrente do reconhecimento desse vício?

4. Segundo a lei Civil, de que maneira são contados os prazos

estipulados nos atos negociais? Referências Bibliográficas. DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, v.1.Teoria Geral do Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 2002. GAGLIANO, Pablo Stolze, PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 2003;

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GONÇALVES, Carlos Roberto; Sinopses Jurídicas; direito civil – parte geral, vol. 1. São Paulo: Editora Saraiva, 2005; LISBOA, Roberto Senise. Manual Elementar de Direito Civil. 2ª edição. Revista Atualizada em conformidade com o Novo código Civil. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002.

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VALIDADE E INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO

OBJETIVO: Compreender a validade e invalidade do negócio jurídico INTRODUÇÃO: as expressões validade e invalidade são empregadas para designar o negócio jurídico que produz ou não os efeitos desejados pelas partes. A não produção dos efeitos depende dos graus de imperfeição que ele tiver. Neste capítulo o assunto a ser tratado diz respeito à inexistência, nulidade e anulabilidade do negócio jurídico. 1. ATO INEXISTENTE:

Ato inexistente é aquele que, embora presente no mundo dos fatos, não representa qualquer interesse para o direito. Diz-se inexistente o ato quando falta algum elemento estrutural, como o consentimento (manifestação da vontade), por exemplo.

A noção do que seja um ato inexistente não tem relevância para o

direito. Entretanto, é importante esclarecer que para declarar um ato inválido é necessário que se o reconheça existente. 2. DA INVALIDADE DO ATO E DO NEGÓCIO JURÍDICO:

Apesar de existentes para o direito, os atos podem não ter sido celebrados com todos os requisitos necessários. Podem ter sido celebrados com violação da norma jurídica de ordem pública. Ato inválido é ato nulo. Ato nulo é aquele que não produz efeito jurídico. 3. NULIDADE E ANULABILIDADE:

No capítulo dedicado à invalidade do negócio jurídico, o Código Civil trata da nulidade absoluta e da nulidade relativa (anulabilidade) (arts. 166 a 184).

Tema 07

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São casos de nulidade absoluta de um negócio jurídico (art. 166, CC): - quando for celebrado or pessoa absolutamente incapaz; - quando for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; - quando o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito; - quando não se revestir da forma prescrita em lei; - quando for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para sua validade; - quando tiver por objetivo fraudar lei imperativa; - quando a lei taxativamente o declarar nulo ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção.

São casos de anulabilidade (nulidade relativa) - (art. 171, CC): - todos aqueles declarados pela lei; - aqueles praticados por pessoa relativamente incapaz; - naqueles casos em que se verificar erro, dolo, coação, estado de perigo lesão ou fraude contra credores.

Algumas diferenças podem ser apontadas entre a anulabilidade e a nulidade:

a) a anulabilidade é reconhecida no interesse privado da pessoa prejudicada. Não há interesse público a ser preservado.

b) A nulidade é de ordem pública e é decretada no interesse da própria

coletividade.

c) a anulabilidade pode ser suprida pelo juiz, a requerimento das partes (art. 168, par. único) ou sanada pela confirmação (art. 172). Se a anulabilidade do ato resultar da falta de autorização de um terceiro, ela poderá ser validada se este a der posteriormente (art. 176).

d) A nulidade não pode ser suprida pelo juiz nem confirmada pelas

partes.

A confirmação dos atos pode ser expressa ou tácita, produzindo seus efeitos desde a celebração do ato. Assim, para diferenciar uma da outra, temos:

- Confirmação expressa: verificada quando há uma declaração

explícita (art. 173) devendo observar a mesma forma do ato praticado. - Confirmação tácita: quando a obrigação foi cumprida em parte

pelo devedor, mesmo sabendo do vício (art. 174) ou quando deixou transcorrer em branco o prazo (prescrição) que a lei estipulava para requerer as ações contra o negócio anulável (art. 175).

Atenção: a confirmação não poderá ser efetivada se prejudicar

terceiros (art. 172)

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e) a anulabilidade não pode ser reconhecida imediatamente pelo juiz. Ela depende de pedido dos interessados (art. 177) e não produz efeito algum enquanto não for reconhecida em sentença. O efeito do seu reconhecimento é ex nunc (de agora em diante).

f) a nulidade deve ser pronunciada de oficio pelo Juiz (art. 168, par.

único). Seu efeito é ex tunc (desde então), pois retroage á data da celebração do negócio para retirar-lhe todos os efeitos.

g) a anulabilidade só pode ser alegada pelos prejudicados (o

relativamente incapaz e o que manifestou a vontade viciada) e o seu reconhecimento só produzem efeitos em relação aos que a alegaram (art. 177)

h) a nulidade pode ser alegada por qualquer interessado, em nome

próprio, ou mesmo pelo Ministério Público, nos casos em que é obrigado a intervir (art. 168, caput).

O relativamente incapaz, não pode, para se livrar de uma obrigação, invocar a sua incapacidade se no ato da celebração do negócio declarou para a outra parte ou se espontaneamente declarou que era maior (art. 180). i) o negócio anulável produz efeitos até o momento em que a sua

invalidade foi declarada. A natureza dessa sentença é desconstitutiva. j) o negócio jurídico nulo não produz efeito nenhum. A sentença que

assim o declara é declaratória e produz efeitos desde o momento da emissão da vontade.

k) a anulabilidade somente pode ser argüida, pela via judicial em prazos

decadenciais de quatro (regra geral) ou dois anos (regra específica), salvo norma específica em sentido contrário.

l) A nulidade pode ser reconhecida a qualquer tempo, não se sujeitando

a prazo prescricional ou decadencial.

4. CONVERSÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO:

Trata-se de uma medida sanatória dos atos nulos e anulável. Embora seja medida que possa ser invocada para os atos anuláveis, seu maior campo de aplicação é maior nos casos de nulidade dos negócios jurídicos.

Veja-se que os atos anuláveis permitem a confirmação o que não

é possível nos atos nulos. O novo código civil no art. 170, expressamente admitiu a conversão como medida para sanar os negócios jurídicos nulos:

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“Art. 170. Se porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro, subsistirá este quanto o fim a que visavam as partes permitir supor que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade.

Conclui-se que é possível aproveitar como outro ato jurídico válido aquele inválido, nulo ou anulável, para o fim a que ele foi realizado.

Retira-se da categoria de ato inválido, aquele negócio jurídico

assim considerado, colocando-o em outra categoria, na qual a nulidade absoluta ou relativa que o vicia será considerada sanada, segundo o princípio da conservação. Não se admite conversão se o negócio jurídico pretendido pelas partes tinha por finalidade ilícita ou imoral. A confirmação não pode ser dada pelo assistente legal em prejuízo aos direitos de terceiros

Alguns pressupostos segundo Gagliano (2003, p. 414), deverão ser observados para que se confirme a conversão:

a) pressuposto material: aproveitam-se os elementos fáticos no

negócio inválido, convertendo-o para a categoria jurídica do ato valido.

b) pressuposto imaterial: a intenção dos declarantes direcionados à

obtenção da conversão negocial e conseqüente caracterização jurídica do negócio inválido.

O autor acima citado menciona alguns exemplos de conversão:

- a nota promissória nula por inobservância dos requisitos legais de validade é aproveitada como confissão de dívida. - a doação mortis causa inválida converte-se em legado, desde que respeitadas as normas da sucessão testamentária, e segundo a vontade do falecido. - o contrato de compra e venda imóvel valioso, firmado em instrumento particular, nulo de pleno direito por vício de forma, converte-se em promessa irretratável de compra e venda, para qual não se exige forma pública.

Outra situação observada diz respeito à fungibilidade ou conversibilidade dos interditos, no campo das ações judiciais relativas à posse, nos termos do art. 920 do Código de Processo Civil:

“Art. 920. A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela, cujos requisitos estejam provados”.

Assim, embora protocolada a ação de manutenção de posse, visto ter

havido turbação (ameaça de invasão), se o juiz se convencer que houve

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esbulho (invasão) ele não indeferirá a ação, pois por força da conversibilidade dos interditos (fungibilidade), poderá expedir mandado de reintegração de posse. Exercícios de fixação:

1. Um menor, entre 16 e 18 anos, pode eximir-se do cumprimento de uma obrigação que assumiu invocando sua menoridade? Justifique.

2. Qual a razão prática de se permitir a confirmação pelas partes de um

negócio jurídico anulável?

3. As nulidades podem ser “conhecidas de ofício” pelo juiz. Esclareça o significado técnico dessa frase:

4. Simule uma situação em que se verifica a possibilidade de conversão

de um negócio jurídico nulo. Referências Bibliográficas DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, v.1.Teoria Geral do Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 2002. GAGLIANO, Pablo Stolze, PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 2003. GONÇALVES, Carlos Roberto; Sinopses Jurídicas; direito civil – parte geral.vol. 1 . São Paulo: Editora Saraiva, 2005. LISBOA, Roberto Senise. Manual Elementar de Direito Civil. 2ª edição. Revista Atualizada em conformidade com o Novo código Civil. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002.

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PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA

OBJETIVO: Compreender as diferenças entre prescrição e decadência. INTRODUÇÃO: O presente capítulo se destina ao estudo de duas situações que implicam na perda do direito de uma pessoa, por deixar passar “em branco” um prazo definido pela lei sem exercer o seu direito. Trata-se das causas de extinção de direito pelo advento de prescrição ou decadência. 1. DIFERENÇAS ENTRE PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA Prescrição: No sentido jurídico atual, exterioriza o modo pelo qual o direito de ação se extingue, em vista do não exercício dele, por um certo período de tempo. Prescrição é o meio de defesa, ou de exceção, com base no decurso de tempo, na inação do titular do direito e no interesse social de pacificação das demandas. A prescrição extingue a pretensão, possibilidade de se exigir um direito, em juízo ou fora dele. A perda do direito à pretensão implica na perda da ação judicial correspondente. É a negligência ou inércia do titular na defesa desse direito, através da ação judicial dentro de um prazo fixado pela lei para que o mesmo não se perca nem se extinga. Ela possui dois sentidos: sentido amplo (lato sensu): compreende a decadência; sentido “strictu senso”: contrapõe-se à decadência. Em razão do decorrer de um determinado prazo, a extinção do direito de ação é tida, em termos gerais, como prescrição. Dizer-se que um certo direito é imprescritível, significa que nem a prescrição (em sentido estrito) nem a decadência importam em seu desaparecimento, contudo, é mister, no tocante à diferenciação entre ambas, suprimir-se o sentido amplo vislumbrando unicamente o sentido estrito da expressão. Prazos de Prescrição:

Os prazos de prescrição estão relacionados na Parte Geral. O prazo geral é de 10 anos (art. 205). Os prazos especiais variam de 1 a 5

Tema 08

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anos (art. 206). A prestação alimentícia, por exemplo, prescreve em dois anos (art. 206, parágrafo segundo). 1.2. Decadência:

Na terminologia jurídica, o termo exprime a queda ou o perecimento do direito em si pelo não exercício no prazo de tempo assinalado pela lei. Como visto, a decadência traz semelhanças com a prescrição, por via da qual indiretamente, o direito pode se extinguir, desde que, tendo por objeto a ação, cujo exercício extingue, mediata e indiretamente faz perecer o direito, em que mesma se funda.

A decadência extingue não só a pretensão, mas o próprio direito,

pelo não exercício do mesmo no prazo fixado em lei ou em convenção. A prescrição e a decadência, em sendo causas de extinção de

direitos, convergem: – mediante o fator subjetivo, isto é, a inércia do seu titular em exerce-lo; – mediante fator objetivo, ou seja, o decurso do tempo.

“Convém a todos que, decorrido tempo mais que razoável para o sujeito exercer seu direito, perca-o quem permanecer inerte. As demais partes da relação jurídica não podem permanecer na angústia de uma indefinição advinda de uma situação infindável. “Além disso, não fossem as regras de extinção do direito por decurso do tempo, os documentos de quitação de qualquer negócio jurídico deveriam ser guardados pelo devedor (e seus sucessores) para sempre”. (citação de Fábio Ulhoa Coelho in Gagliano, 2003)

Estando presentes os dois pontos convergentes – inércia do titular e decurso do tempo – o direito, por prescrição ou decadência, é extinto. Desse modo, os fatores padronizados que diferem prescrição e decadência são vários, porém insuficientes, uma vez que, em sendo estipulado que certo prazo é uma ou outra natureza, deve-se, entretanto, primar pelos critérios de diferenciação e pelos regimes jurídicos (fluência, disponibilidade e decretação de ofício pelo juiz). Diante do exposto, concorda-se com o ponto de vista de Coelho (2003, p.130), ao enfatizar que o ideal, “seria a lei trazer cláusula de fechamento, estabelecendo, por exemplo, que o prazo não definido expressamente como decadencial seria tido por prescricional”. Prazos de decadência: Os prazos de decadência encontram-se esparsos na Parte Especial, junto ao artigo a que se referem ou na convenção em que foram fixados. Para anular o casamento realizado sob coação, por exemplo, o prazo de decadência é de 04 anos (art. 1.560, IV, CC).

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– Critérios de diferenciação da prescrição e decadência O critério de diferenciação mais difundido na doutrina brasileira enfoca a prescrição como sendo a extinção da ação para a defesa do direito violado, e a decadência, a extinção do próprio direito. Nesse contexto, considera-se, que o titular do direito não o perde mesmo depois de transcorrido o prazo prescricional. Em o devedor cumprindo com sua obrigação, uma vez prescrito o direito, não poderá reclamar a restituição posteriormente. Esse critério não se sustenta, pois o devedor de obrigação caducada não pode reclamar a restituição se o cumprimento foi verificado após o decurso do prazo decadencial. Percebe-se que a redação do art. 189 do Código Civil pretende diferenciar os institutos: “violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição...”. Esse dispositivo assevera que o direito à ação surge com a violação ao direito material. Vejamos: “A” passa a ter o direito de cobrar seu crédito contra “B” em juízo (direito de ação) depois que este deixou de pagar o devido no vencimento (violando o direito material do credor). Esse direito à ação, extingue-se por si só com a fluência do prazo prescritivo. No ordenamento jurídico brasileiro, destarte, a prescrição diz sempre respeito à pretensão do titular do direito violado. Em síntese, não há critério consistente de distinção entre prescrição e decadência se a própria norma jurídica não fixar a natureza do prazo extintivo do direito, como se encontra disposto no Código Civil. Os regimes prescricionais e decadenciais são diferentes: os prazos prescricionais suspendem-se e podem ser interrompidos; os decadenciais, não; os prescricionais são renunciáveis; os decadenciais, irrenunciáveis. O ponto comum entre a prescrição e a decadência é a questão do tempo. A diferença: na prescrição é a extinção do direito de ação e na decadência é a extinção do próprio direito subjetivo material. - Uma vez citado o réu, a prescrição não mais correrá, isto é, o prazo começará a fluir a partir do instante em que o sujeito teve um direito agredido por alguém, ou seja, a partir da lesão ao seu direito. - Exemplificando: AA vvííttiimmaa ddee uumm aacciiddeennttee ddee ttrrâânnssiittoo ppooddeerráá eexxeerrcceerr oo ddiirreeiittoo ddee aaççããoo ddee rreeppaarraaççããoo ddee ddaannooss aa ppaarrttiirr ddoo mmoommeennttoo eemm qquuee ooccoorrrreeuu oo eevveennttoo.. EEmm nnããoo

Para fixar:

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eexxeerrcceennddoo oo sseeuu ddiirreeiittoo ddeennttrroo ddoo pprraazzoo pprreessccrriicciioonnaall pprreevviissttoo eemm lleeii,, eessssee ddiirreeiittoo sseerráá eexxttiinnttoo ee aa aaççããoo nnããoo ppooddeerráá mmaaiiss sseerr aajjuuiizzaaddaa.. Reforçando: Art. 178, CC – no CC antigo, a exceção da cumulação era caso de anulabilidade, no CC atual é caso de nulidade. Os casos de anulação de negócios jurídicos em decorrência de vícios, quais sejam dolo, coação, lesão, erro, fraude contra credores e estado de perigo são casos de anulabilidade do negócio jurídico e têm que ser ajuizados num prazo de quatro anos, logo, este prazo é de decadência, isto é, este prazo não é para ajuizar uma ação, mas um prazo para exercer um direito de pleitear a anulação de um negócio jurídico. É mister frisar que a anulação de um negócio jurídico só pode ser feita por meio de uma ação (por isso que o prazo é de decadência). O prazo de 120 dias para impetração de um Mandato de Segurança é também decadencial. A citação tem efeito de interromper a prescrição. No exemplo simplório do acidente de veículo, a partir da data do evento, a vítima do acidente já poderá ajuizar a ação de reparação de danos. A partir daí começa a correr o prazo prescricional para o ajuizamento desta ação. Uma vez promovida a ação, a citação do réu irá interromper o curso da prescrição, ou seja, enquanto o processo tramita, não vai correr o prazo prescricional. Imaginemos que amanhã esse processo seja extinto sem julgamento do mérito, logo, o prazo prescricional voltará a correr pela sua integralidade, sendo desconsiderado o prazo anterior. É importante, entretanto, diferenciarmos interrupção de suspensão. Nesta última o prazo corre apenas pelo restante do tempo que faltar. Três aspectos básicos para diferenciarmos prescrição e decadência: quanto à fluência – só a prescrição suspende-se ou interrompe-se; quanto à disponibilidade – somente a prescrição é renunciável, mas apenas os prazos decadenciais podem ser alterados por vontade das partes; quanto a possibilidade de conhecimento judicial de ofício – a decadência pode ser decretada independentemente de alegação da parte, mas a prescrição, não. - Impedimento suspensão e interrupção da contagem de prazos prescricionais: Não se deve confundir suspensão com interrupção da prescrição. No caso de suspensão, o prazo deixará de correr enquanto eficaz a causa suspensiva, voltando a fluir pelo tempo que faltava para se completar. Na interrupção, o prazo voltará a fluir em sua totalidade a partir do instante em que cessarem os efeitos da causa interruptiva. No impedimento da prescrição a contagem do prazo não pode iniciar, como entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal (art. 197, I, CC). A contagem do prazo da prescrição pode ser impedido, suspenso ou interrompido. Na decadência não há essas hipóteses (salvo disposição legal em contrário – art. 207).

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Na suspensão a contagem do prazo é bloqueada por determinado fato, e volta a correr, por outro fato, somando-se o prazo anterior e o posterior. A prescrição é suspensa, por exemplo, em relação àquele que se ausenta do país, em serviço público, e volta a correr por ocasião de seu retorno (art. 198, II). Na interrupção o prazo decorrido não computado, voltando a prescrição a correr novamente, por completo, na data do ato que a interrompeu (art. 202, par. único). As situações que interrompe a contagem de um prazo de prescrição encontram-se arroladas no art. 202 (citação inicial, protesto, etc). A prescrição só pode ser interrompida uma vez, inovação do novo Código Civil, uma vez que esta limitação inexistia no anterior. Vale lembrar que existem ações que não prescrevem e não decaem nunca, por que a lei não lhes fixa o prazo de exercício ou de postulação, como as ações de estado da pessoa ou de exercício facultativo. Em relação aos prazos prescricionais, é importante mencionar o critério exposto pelo legislador no art. 205 do CC, criando soluções para um conflitos de normas no tempo. Isto diz respeito ao fato de que o Novo Código acabou com prazos exíguos de prescrição e reduziu o prazo máximo de prescrição de 20 para 10 anos. Qual a questão daí decorrente? Exercícios de Fixação:

1. O dispositivo do Código Civil que proclama que “a todo o direito corresponde uma ação que o assegura”, é compatível com as disposições que consagram a prescrição e a decadência?

2. O art. 177 do Código Civil de 1916 estipulava que os prazos máximos

de prescrição eram de 20 anos. O novo Código Civil que entrou em vigor em 11.01.03 reduziu os prazos máximos para 10 anos. Tendo por base essa informação, responda:

A questão é saber qual dos prazos prescricionais seriam aplicados,solucionando problemas de direito intertemporal, quanto àqueles prazosque já haviam iniciado seu curso sob a vigência da lei anterior. Daí por que a norma do art. 2028 : “serão os da lei anterior os prazosquando reduzidos pelo Novo Código Civil e se, na data de sua entrada emvigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na leirevogada”.

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Se quando da entrada em vigor do novo Código Civil, já tivessem transcorrido 12 anos de um fato que ensejaria reparação de danos a alguém, é correto afirmar que o direito de ação foi atingido pela prescrição? Justifique.

3. Segundo o Código Civil qual o prazo previsto para o pedido de

anulação de um casamento celebrado sob coação? Este prazo é de decadência ou de prescrição?

4. O direito de ação prescreve nos prazos previstos pelo Código Civil, segundo o disposto nos arts 205 e 206. Entretanto em que prazo prescreve o direito à execução de uma sentença condenatória oriunda de uma acão já julgada? Qual a fonte do direito que exterioriza esse Direito?

Referências Bibliográficas: DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, v.1.Teoria Geral do Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 2002. GAGLIANO, Pablo Stolze, PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 2003. GONÇALVES, Carlos Roberto; Sinopses Jurídicas; direito civil – parte geral, vol. 1. São Paulo: Editora Saraiva, 2005. LISBOA, Roberto Senise. Manual Elementar de Direito Civil. 2ª edição. Revista Atualizada em conformidade com o Novo código Civil. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002.

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NOÇÕES GERAIS DAS OBRIGAÇÕES – CONCEITO- ELEMENTOS E CLASSIFICAÇÃO

Objetivo: Estudar as noções gerais das obrigações, seus conceitos, elementos e classificação. INTRODUÇÃO: O direito também se exerce fora da pessoa humana. Nesses casos, sempre envolve questões patrimoniais. O direito das obrigações, estudo que iniciaremos agora, apresenta-se com esse caráter econômico. Tais lições são importantes para, à frente, firmarmos o entendimento sobre os demais negócios jurídicos. Entendendo bem o direito das obrigações, compreenderemos as regras dos contratos. Iniciemos as primeiras lições:

O direito das obrigações consiste num complexo de normas que regem relações jurídicas de ordem patrimonial, que tem por objeto prestações de um sujeito em proveito de outro.

Os direitos patrimoniais versam sobre conjunto de bens, direitos

e obrigações de uma pessoa natural ou jurídica, sendo suscetíveis de estimação pecuniária, dividindo-se em direito pessoal e direito real.

Nas Institutas de Justiniano A obrigação era definida como "o vínculo jurídico ao qual nos submetemos coercitivamente, sujeitando-nos a uma prestação, segundo o direito de nossa cidade".

Como podemos observar este conceito das Institutas estava relacionado a um vínculo de sujeição pessoal, isto é, a exigência do cumprimento da prestação se dava sobre o corpo do devedor como se coisa fosse.

Os livros do velho testamento, na Bíblia, já cuidavam de retratar o mau

hábito de não saldar as obrigações, pagando o bem com o mal e os perigos decorrentes do ato de assumir dívidas naquela época, fossem pessoais ou de terceiros.

TEMA 09

Justiniano -Imperador

romano queempreendeugrande obra

legislativa,mandandocolecionar

as regras dedireito em

vigor naépoca. Tal

obradenominou-

se Institutas.

“ Se são muitos os credores, é permitido depois do terceiro dia da feira,dividir o corpo do devedor em tantos pedaços quantos sejam os credoresnão importando cortar mais ou menos; se os credores preferirem, poderãovender o devedor a um estrangeiro, além do Tibre”.

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Lei das XII Tábuas, na sua tábua III, previa a responsabilidade corporal do devedor.

Somente com o advento da Lex Poetelia-Papiria, em 326 aC, o

devedor passou a responder apenas com os seus bens, deixando de ser a responsabilidade pessoal e passando a ter conotação apenas patrimonial.

No direito contemporâneo, o Brasil é signatário do tratado

internacional conhecido como “ Pacto de San José da Costa Rica” que impede que se promova a prisão de devedores por dívida civil.

Com a evolução do direito, que acompanha as transformações

sociais, impôs-se uma nova consciência moral, e então, o Direito das Obrigações – que é um direito pessoal (jus ad rem), exige adequação às mudanças da sociedade.

É o que vamos tentar explicar, começando com o CONCEITO DE

OBRIGAÇÃO Obrigação é o vínculo jurídico que confere ao credor (sujeito

ativo) o direito de exigir do devedor (sujeito passivo) o cumprimento de determinada prestação. Corresponde a uma relação de natureza pessoal, de crédito e débito, de caráter transitório (extingue-se pelo cumprimento), cujo objeto consiste numa prestação economicamente aferível. É o patrimônio do devedor que responde por suas obrigações, tornando-se a garantia do adimplemento com que pode contar o credor.

Na conceituação de Washington De Barros Monteiro, (citado in

www.direitoemdebate.net; 10.06.2005; 11h); A obrigação nasce de diversas fontes. O Código Civil Brasileiro

considera fontes de obrigações: Não podem ser confundidas obrigações e responsabilidade. Esta

só surge se o devedor não cumprir espontaneamente a obrigação. A

"obrigação é uma relação jurídica, de caráter transitório, estabelecida entredevedor e credor e cujo objeto consiste numa prestação pessoaleconômica, positiva ou negativa, devida pelo primeiro ao segundo,garantindo-lhe o adimplemento através do seu patrimônio".

a) os contratos; b) as declarações unilaterais da vontade; c) os atos ilícitos, dolosos e culposos. Quando tal não ocorre e

sobrevém o inadimplemento, surge a responsabilidade.

Atualmente, só pode ser privado da liberdade no âmbito civil, o devedor da pensão alimentícia e, com muita controvérsia, o depositário infiel.

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responsabilidade é, pois, a conseqüência jurídica patrimonial do descumprimento da relação obrigacional.

Mesmo havendo a correlação entre ambas, uma pode existir sem

a outra. EXEMPLO: AAss ddíívviiddaass pprreessccrriittaass ee aass ddee jjooggoo ccoonnssttiittuueemm

eexxeemmpplloo ddee oobbrriiggaaççããoo sseemm rreessppoonnssaabbiilliiddaaddee,, oonnddee oo ddeevveeddoorr nnããoo ppooddee sseerr ccoonnddeennaaddoo aa ccuummpprriirr aa pprreessttaaççããoo,, iissttoo éé,, sseerr rreessppoonnssaabbiilliizzaaddoo,, eemmbboorraa ccoonnttiinnuuee ddeevveeddoorr.. OOuuttrroo eexxeemmpplloo éé oo ccaassoo ddoo ffiiaaddoorr,, qquuee éé rreessppoonnssáávveell ppeelloo ppaaggaammeennttoo ddoo ddéébbiittoo ssoommeennttee nnaa hhiippóótteessee ddee iinnaaddiimmpplleemmeennttoo ddaa oobbrriiggaaççããoo ppoorr ppaarrttee ddoo aaffiiaannççaaddoo,, qquuee tteemm oorriiggiinnaarriiaammeennttee oobbrriiggaaççããoo aaoo ppaaggaammeennttoo ddooss aalluugguuééiiss..

2 - ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA OBRIGAÇÃO A obrigação compõe-se de três elementos essenciais:

Para melhor compreensão dos elementos constitutivos da

obrigação, vamos estudar alguns exemplos: Ex.: do elemento subjetivo: ccoonnttrraattoo ddee ddooaaççããoo,, eemm qquuee oo

ddoonnaattáárriioo,, ààss vveezzeess éé iinnddeetteerrmmiinnaaddoo,, mmaass ddeetteerrmmiinnáávveell nnoo mmoommeennttoo ddee sseeuu ccuummpprriimmeennttoo,, ppeellooss ddaaddooss nneellee ccoonnssttaanntteess ((vveenncceeddoorr ddee uumm ccoonnccuurrssoo,, mmeellhhoorr aalluunnoo ddaa ccllaassssee,, eettcc))..

Atente-se para o fato de que se os sujeitos não forem capazes,

serão representados ou assistidos por seus representantes legais, dependendo ainda, em alguns casos, de autorização judicial.

O vínculo jurídico resulta de diversas fontes e sujeita o devedor a

determinada prestação em favor do credor. Divide-se em débito e responsabilidade. O primeiro, também chamado de vinculo espiritual ou pessoal, decorre da união do devedor ao credor exigindo que o devedor cumpra pontualmente a obrigação. O segundo, vínculo material, é aquele que confere ao credor não satisfeito o direito de exigir judicialmente o cumprimento da obrigação, submetendo àquele os bens do devedor.

Existe de um lado o dever da pessoa obrigada e de outro a

responsabilidade, em caso de inadimplemento. Assim, o sujeito passivo deve e também responde de forma coativa (forçada) pelo cumprimento da obrigação. Pode existir, entretanto, o desmembramento desses elementos, como no caso da fiança já citado anteriormente.

O objeto da obrigação é sempre uma conduta humana (dar,

fazer ou não fazer) e se chama prestação ou objeto imediato. O objeto mediato da obrigação se descobre perguntando: dar, fazer ou não fazer o

a) subjetivo – relativo aos sujeitos ativo e passivo (credor e devedor), b) vínculo jurídico - existente entre eles;

c) objetivo - atinente ao objeto da relação jurídica.

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quê? Há de ser o objeto lícito, possível, determinado ou determinável (art. 104, II, CC) e apto de apreciação econômica.

Destarte, objeto lícito é o que não contraria a lei, a moral e os

bons costumes, sendo nula a obrigação se o objeto for ilícito, impossível ou indeterminável (art. 166,II). A impossibilidade pode ser física, sempre que a prestação avençada ultrapassar as forças humanas e a impossibilidade jurídica ocorre sempre que se disser proibida por lei: Ex.: AA aalliieennaaççããoo ddee hheerraannççaa ddee ppeessssooaa vviivvaa oouu aa aalliieennaaççããoo ddee bbeennss ppúúbblliiccooss ((aarrtt..110000 ee aarrtt.. 442266 ddoo CCCC)).. A impossibilidade deve ser real (não se tratar de mera dificuldade) e absoluta, que atinja a todos. Não se considera como tal a impossibilidade relativa do devedor (art.106, CC). Se o devedor não puder cumprir a obrigação, mas, a prestação puder ser realizada por terceiro, embora não seja o devedor, não será invalidado o negócio jurídico. EExx..:: CCoommppaaddrree qquuee ppaaggaa uummaa ddíívviiddaa ppeelloo oouuttrroo.. O objeto pode ser também, determinado ou determinável (art. 104,II). O art. 243 do CC preceitua que “a coisa incerta será indicada, aos menos, pelo gênero e pela quantidade”. EExx..:: ccoonnttrraattoo ddee ssaaffrraa ffuuttuurraa,, ccuujjaa eexxtteennssããoo ee vvaalloorr sseerrããoo aappuurraaddooss ppoosstteerriioorrmmeennttee ((aarrttss.. 445588 ee 445599)).. Exige-se que o objeto da prestação seja economicamente apreciável, portanto:

3 - CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES Como já vimos anteriormente, três são os elementos constitutivos da obrigação (sujeito – ativo e passivo, vínculo jurídico e objeto). Relacionados a eles, dividem-se as obrigações em simples e compostas (ou complexas). 3.1 - Obrigações simples – são as que se apresentam com um sujeito ativo, um sujeito passivo e um único objeto, ou seja, com todos os elementos no singular. Se algum deles, portanto, estiver no plural, a obrigação passará a ser composta ou complexa. Ex: Joaquim obrigou-se a entregar a José um veículo e um animal (dois objetos). A obrigação neste caso é composta pela multiplicidade de objetos.

Obrigações jurídicas, mas sem conteúdo patrimonial (como o dever defidelidade entre os cônjuges e outros direitos de família), são excluídas dodireito das obrigações.

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Se a pluralidade for de sujeitos, ativo e passivo, concomitantemente ou não, a obrigação será composta pela multiplicidade de sujeitos. 3.1.2 – As obrigações compostas subdividem-se em obrigações cumulativas (ou conjuntivas) e alternativas (ou disjuntivas), pela multiplicidade de objetos. As cumulativas: são objetos apresentados pela ligação da conjunção “e”, como a descrita anteriormente, na entrega de um veiculo e um animal, os dois cumulativamente. A obrigação somente será efetivada pela prestação de todos eles. Alternativas – os objetos estarão ligados pela disjuntiva “ou” podendo haver duas ou mais opções. No exemplo acima se substituirmos a conjunção “e” por “ou”, o devedor libera-se da obrigação se entregar o veículo ou o animal, ou seja, apenas um deles e não ambos. Esta modalidade de obrigação se extingue com a simples prestação de um dos objetos. 3.1.3 - As obrigações compostas pela multiplicidade de sujeitos podem ser divisíveis (objeto que pode ser dividido entre os sujeitos), indivisíveis e solidárias. As Obrigações divisíveis e indivisíveis podem ser ativas (vários credores) ou passivas (vários devedores). Só haverá interesse em saber se uma obrigação é divisível ou indivisível quando houver multiplicidade de credores ou devedores, caso contrário não há necessidade. Ex.: “Joaquim obrigou-se a entregar a José duas sacas de café”. Neste caso, o devedor somente se exonera da obrigação mediante a entrega de todas as sacas. O mesmo acontece se o objeto for indivisível (um cavalo, por exemplo). Porém se dois forem os credores, ou dois os devedores, as conseqüências serão diversas. Nas obrigações divisíveis, cada credor só tem direito a sua parte, podendo reclamá-la independentemente do outro e cada devedor responde exclusivamente pela sua quota. Assim, na entrega das duas sacas de café acima mencionadas, o credor exigirá de um dos devedores a entrega de uma delas. Se quiser as duas, deve exigi-las dos dois devedores (art. 257, CC). Nas obrigações indivisíveis, cada devedor só deve, também, a sua quota-parte. Mas, em razão da indivisibilidade física do objeto (um cavalo, por exemplo), a prestação deve ser cumprida por inteiro. Se dois os credores, um só pode exigir a entrega do animal, somente por ser indivisível o objeto, devendo prestar contas ao outro credor (arts. 259 e 261, CC). CURIOSIDADE: A solidariedade independe da divisibilidade ou indivisibilidade do objeto da prestação, porque resulta da vontade das partes ou da lei, podendo ser ativa ou passiva. Não se esqueça disso: a solidariedade não se presume, decorre da lei ou da vontade das partes. Assim, não espere a solidariedade alheia com freqüência... Se existirem vários devedores solidários passivos, cada um deles responderá pela dívida inteira. Havendo cláusula contratual dispondo que a

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obrigação assumida por dois devedores, de entregar duas sacas de café, é solidária e o credor pode exigi-las de apenas um deles. O devedor que cumprir sozinho a prestação pode cobrar, regressivamente, a quota-parte de cada um dos co-devedores (art. 283, CC). Exercícios de fixação:

1. Justifique se é correta ou não a afirmação de que “o pagamento feito pelo devedor de uma obrigação, a qualquer um dos credores solidários, extingue a obrigação, ainda que os demais reclamem que não receberam a sua parte”:

2. Esclareça as conseqüências jurídicas que pode o devedor sofrer se o

objeto da prestação de obrigação de dar coisa certa se perder por sua culpa.

3. Esclareça os direitos do credor em relação ao devedor quando este

não cumpre com uma obrigação de fazer: 4. Pesquise e responda a diferença entre obrigação solidária decorrente de Fiança e obrigação solidária decorrente de aval?

Referências Bibliográficas GONÇALVES, Carlos Roberto, Direito das obrigações, V. 5. Sinopses Jurídicas. São Paulo: Editora Saraiva, 2004. MONTEIRO, Washington De Barros (citado in www.direitoemdebate.net; 10.06.2005; 11h).

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MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES – 1ª Parte

OBJETIVO: Conhecer as modalidades das obrigações. INTRODUÇÃO: Iniciaremos agora o estudo das modalidades das obrigações, para melhor compreendermos o instituto.

Dentre as modalidades de obrigações, estão a de DAR - coisa certa ou incerta-, FAZER e NÃO FAZER.

1 - A obrigação de dar ou restituir coisa certa é aquela em que

o devedor está obrigado a entregar ou devolver um bem infungível (que não pode ser substituído por outro de igual valor, qualidade ou quantidade. Ex.: uumm qquuaaddrroo oorriiggiinnaall ddee MMoonneett,, aa pprriimmeeiirraa eeddiiççããoo iimmpprreessssaa ddaa BBííbblliiaa,, aauuttooggrraaffaaddaa ppoorr GGuutteennbbeerrgg eettcc..

A coisa é certa, determinada, única, porque não pode ser

substituída por outra, ainda que hipoteticamente mais valiosa. 2 - A obrigação de dar coisa incerta consiste em dar ou restituir

coisa fungível, que admite a substituição por outra de igual valor, qualidade ou quantidade. Ex.: eennttrreeggaarr 110000 ccaabbeeççaass ddee ggaaddoo ddaa rraaççaa hhoollaannddeessaa,, uumm aauuttoommóóvveell ggooll aannoo 22000011,, 330000 ssaaccaass ddee ssoojjaa,, ppaaddrrããoo ccoonnssuummoo)) oouu aaiinnddaa ppoorr ccooiissaa mmaaiiss vvaalliioossaa ssee hhoouuvveerr ccoonnsseennssoo ddoo ccrreeddoorr..

3 - Por obrigação de fazer, entende-se a obrigação em que a

prestação consiste em realizar obra ou serviço, como no caso da pintura de um edifício, a construção de um depósito de frios, etc. Pode ser que a obrigação seja personalíssima ((cciirruurrggiiaa pplláássttiiccaa ppoorr IIvvoo PPiittaanngguuii,, sshhooww mmuussiiccaall ccoomm CCaaeettaannoo VVeelloossoo,, ppaalleessttrraa ddee AArrnnoollddoo WWaalldd etc.), proposição em que não se admite substituição.

Se, ao contrário, o que se impõe for um dever negativo de

conduta, uma abstenção de praticar determinado ato, diz-se que é uma obrigação de não fazer. Ex.: nnããoo rreevveellaarr uumm sseeggrreeddoo ccoommeerrcciiaall,, nnããoo ccoonnssttrruuiirr uumm nnoovvoo aarrmmaazzéémm eemm áárreeaa rreessiiddeenncciiaall,, nnããoo jjooggaarr lliixxoo eemm uumm tteerrrreennoo bbaallddiioo,, nnããoo ttooccaarr vviioolliinnoo eemm uunniiddaaddee ddee ccoonnddoommíínniioo ddee aappaarrttaammeennttooss aappóóss aass 2222::0000 hhoorraass eettcc..)).. OBRIGAÇÕES DE DAR COISA CERTA

Tema 10

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O devedor obriga-se a dar a coisa individualizada, que se distingue por características próprias, móvel ou imóvel, não podendo o credor ser obrigado a receber outra, ainda que mais valiosa.

Assim como o devedor não pode modificar unilateralmente o

objeto da prestação (CC.art. 313), o credor não pode exigir coisa diferente ainda que menos valiosa, entretanto, pode haver concordância do credor em receber uma coisa por outra, como ocorre na dação em pagamento (entrega de um objeto em pagamento de dívida em dinheiro), pois depende unicamente do expresso consentimento do credor (CC, art.356).

A obrigação de coisa certa confere ao credor simples direito

pessoal e não real, como se pode verificar como exemplo no contrato de compra e venda, onde o vendedor não transfere desde logo o domínio: obriga-se apenas a transmiti-lo (CC, art.481), se não cumprida a obrigação, não pode o adquirente reivindicar a coisa, por não lhe ter o domínio, tendo que se contentar com ação de perdas e danos e com a resolução da avença (CC. Arts. 389 e 475).

Quanto à extensão o art. 233 do Código Civil aduz que é uma

decorrência da regra geral de que o acessório siga o principal. Nada obsta que se convencione o contrário. No silêncio do contrato quanto a este aspecto, a venda de um terreno com árvores frutíferas inclui os frutos pendentes; a alienação do imóvel inclui, como acessório, o ônus dos impostos.

DAS OBRIGAÇÕES DE DAR COISA INCERTA

Nesta modalidade de obrigação, como facilmente se pode inferir, a coisa a ser entregue será fungível, ou seja, substituível por outra de igual ou assemelhada espécie, quantidade e quantidade.

Preceitua o art. 243 do Código Civil que “ a coisa incerta será

indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade”. Já vimos que coisa certa é a individualizada, determinada. A expressão coisa incerta indica que a obrigação tem objeto indeterminado, mas não totalmente, porque deve ser indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade.

Se faltar também o gênero, ou a quantidade, a indeterminação

será absoluta e a avença, com tal objetivo, não gerará obrigação. Não pode ser objeto de prestação, por exemplo, a de “entregar sacas de café”, por faltar a quantidade bem como a de entregar “dez sacas, por faltar o gênero. Mas não constitui obrigação de dar coisa incerta a de “entregar dez sacas de café”, porque o objeto é determinado pelo gênero e pela quantidade. Falta determinar somente a qualidade do café. Enquanto tal não ocorre, a coisa permanece incerta.

A determinação se dá pela escolha. Feita esta, e, cientificado o

credor, acaba a incerteza e a coisa se torna certa. O ato unilateral de escolha denomina-se concentração. Porém para que esta exista, não basta a escolha, há necessidade de que se exteriorize através da entrega, do depósito em pagamento, da constituição de mora ou por outro ato jurídico

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que importe a ciência do credor, que se encontra conduzida pelos arts. 629/631 do CPC. DAR OBRIGAÇÕES DE FAZER

Chamadas obrigações positivas, a obrigação de fazer ocorrerá naquelas hipóteses em que ao invés de ter a prestação da coisa, ter-se-á a prestação de fato, que se traduz ordinariamente na realização de um serviço.

Nas obrigações de fazer, a prestação consiste em atos ou serviços a serem executados pelo devedor. Quando estiver convencionado que o devedor cumpra pessoalmente a prestação, ou a própria natureza desta impedir a sua substituição, estaremos diante de obrigações de fazer personalíssima (intitui personae), infungível ou imaterial (CC, arts.247 e 248). A infungibilidade pode derivar da própria natureza de prestação de serviço, que dependem de qualidades artísticas (pintor famoso) ou profissionais do contratado (famoso cirurgião plástico).

Se não houver necessidade desta exigência ou qualificação

pessoal, diz-se que a obrigação é impessoal, fungível ou material (CC.art. 249).

Pode derivar, ainda, de um contrato preliminar (pacto de contrahendo), que consiste na emissão declaratória de vontade, como ocorre quando se outorga escritura definitiva em compromisso de compra e venda ou ao se endossar o certificado de propriedade de veículo etc.

CUMPRIMENTO E DESCUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES

As formas de cumprimento das obrigações do tipo positivo (dar ou entregar, coisa certa ou incerta e fazer) podem ser classificadas como Principal (consistente no pagamento e entrega da coisa) e Acessórias (novação, transação, confusão, remissão, compensação e compromisso).

As formas de cumprimento das obrigações de dar e fazer são, ao mesmo tempo, formas de extinção das obrigações, uma vez que com o cumprimento, as obrigações deixam de existir. PAGAMENTO é o cumprimento de uma dada obrigação, em dinheiro ou coisa (entrega). O credor, por força de lei, pode recusar o pagamento parcial (art. 889 do Código Civil). Na dívida monetária, poderá ocorrer a dação em pagamento, quando o credor aceitar a entrega de coisa no lugar de dinheiro. NOVAÇÃO é a substituição de uma obrigação por outra, extinguindo-se a primeira. A novação pode ser subjetiva, ocorrendo pela troca do credor (cessão de crédito, pagamento com sub-rogação), ou do devedor (A deve 100 para B e é credor de 100 de C. B aceita receber diretamente de C) ou objetiva, onde as partes permanecem inalteradas e o que se modifica é a própria obrigação (extingue-se a obrigação e surge uma nova em seu lugar – ex: operação mata-mata, onde o devedor toma recursos junto ao credor, paga a dívida velha e nessa operação contrai nova dívida com o mesmo credor, geralmente com encargos diferenciados). Em todos os casos, sempre haverá uma nova obrigação.

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COMPENSAÇÃO. Ocorre quando dois contratantes são reciprocamente credor e devedor um do outro. As obrigações se extinguem na proporção em que se confrontam e equivalem, enquanto dívidas líquidas e certas. Se A deve 50 a B e B deve 40 a A, A, conseqüentemente, fica devendo somente 10 para B (CC, arts. 1009 e segs.). TRANSAÇÃO. Ocorre quando as partes fazem concessões recíprocas para pôr fim a um processo. A afirma em juízo que B lhe deve 200, mas B só reconhece dever 100. Fazem um acordo, ou transação, por 160 com vistas a extinguir o feito. No caso sob análise as concessões recíprocas se manifestam da seguinte forma: A concorda em receber 40 a menos do que pretendia; B aceita pagar 60 a mais do que reconhecia dever e nesse mútuo consenso, dão por encerrado o litígio. COMPROMISSO. Ocorre quando as partes de comum acordo elegem um árbitro para mediar e resolver suas divergências, ao invés de recorrerem ao Poder Judiciário. As partes assumem o compromisso de respeitar a decisão do árbitro, que via de regra é irrecorrível. CONFUSÃO. Dá-se quando devedor e credor passam a ser uma só pessoa, extinguindo-se também a obrigação. A deve R$ 1.500,00 a B, mas B morre e A é seu único herdeiro. Outro exemplo pode ocorrer no caso de união de empresas: uma empresa deve para a outra, mas é por ela incorporada ou ocorre uma fusão de ambas, surgindo no lugar uma terceira empresa, que passando a ser titular tanto do ativo (créditos) como do passivo (débitos), faz com que se confunda numa única pessoa (jurídica) as figuras de credor e devedor. REMISSÃO. É o ato pelo qual o credor perdoa ou dispensa graciosamente o devedor de pagar a dívida. É um ato bilateral, pois exige a anuência do devedor. Pode ocorrer que o devedor, por imperativos íntimos, não aceite o perdão da dívida, insistindo em pagá-la quando obtiver recursos, caso em que não se operará a remissão e, caso o credor se recuse a receber o valor, poderá o devedor consigná-lo em pagamento. A remissão pode ser total ou parcial, isto é, atingir toda a dívida ou apenas uma parcela desta.

Não se deve confundir a remissão com a remição. A primeira significa perdão da dívida, enquanto que a segunda equipara-se a pagamento ou quitação. ÉÉ eexxeemmpplloo ddiissssoo oo ddiirreeiittoo qquuee oo ddeevveeddoorr tteemm ddee rreemmiirr ((ddee rreemmiiççããoo)) aa ddíívviiddaa aappóóss eeffeettuuaaddaa aa aarrrreemmaattaaççããoo,, ddeeppoossiittaannddoo oo pprreeççoo ee rreessggaattaannddoo sseeuu bbeemm.. MMaass ssee oo ccrreeddoorr rreemmiittiirr ((ddee rreemmiissssããoo)) aa ddíívviiddaa,, eellaa eessttaarráá ppeerrddooaaddaa,, ssaallvvoo ssee ddiissssoo ddiissccoorrddaarr oo ddeevveeddoorr.. DAS OBRIGAÇÕES DE NÃO FAZER

Menos freqüentes do que as prestações positivas, podem ter como objeto abstenções economicamente importantes, que lhes emprestam destaque na vida jurídica. Entre muitas temos a proibição de concorrência, o impedimento de alienar determinado bem, as limitações ao exercício do direito de propriedade contratualmente assumidas.

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Tem por finalidade impedir que o devedor pratique um ato que teria o direito de praticar se não tivesse obrigação a privar-se.

O objeto da prestação negativa consiste numa abstenção ou num

ato de tolerância. A obrigação de não fazer exige do devedor uma omissão, compreendendo-se nesta a tolerância, entendida como abstenção da resistência ou oposição a que estaria autorizado, se a obrigação não proibisse.

Uma questão correspondente à prestação negativa diz respeito ao dever de tolerar, que alguns autores sustentam não ser um dever por não estar contido no dever de omitir.

O tolerar, nesse contexto, pode estar no lado passivo, como

também no lado ativo. Se aquele que deve prestação negativa, obriga-se a não fazer, deverá tolerar o exercício do direito pelo seu titular, sem realizar qualquer conduta impeditiva. Assim se dá em relação ao proprietário de imóvel gravado com servidão de passagem: tem que tolerar o uso da servidão pelos que dela se utilizam para ter acesso ao prédio encravado, obrigando-se a manter aberto o acesso e abster-se de impedir a passagem, mas tendo ainda que tolerar a presença do vizinho na área de servidão, muito embora faça parte de sua propriedade.

Da mesma forma estará gravado com o dever de tolerar o titular

do direito, agora, no pólo ativo da relação processual, quando partilha mesmo que momentaneamente o seu direito com outrem, concedendo-lhe permissão para desfrutar do seu direito. O dever de tolerância tem aqui conteúdo positivo.

O titular do direito, que terá que tolerar, deverá ainda agir de

forma comissiva. ÉÉ oo ccaassoo ddoo pprroopprriieettáárriioo qquuee pprroommeettee ddeeiixxaarr qquuee aallgguuéémm ddêê ffeessttaa eemm sseeuu ssaallããoo.. SSeeuu ddeevveerr ddee ttoolleerraarr oo uussoo ddoo ssaallããoo ccoonntteerráá uummaa aaççããoo ppoossiittiivvaa,, ppooiiss ddeevveerráá aabbrriirr ee eennttrreeggaarr oo ssaallããoo.. OOuu,, eennttããoo,, ssee oo vveennttoo lleevvaa oo cchhaappééuu ddee AA ee eessssee ccaaii nnoo tteerrrreennoo ffeecchhaaddoo ddoo vviizziinnhhoo.. OO aauuttoorr aaffiirrmmaa qquuee AA nnããoo ppooddeerráá ppuullaarr oo mmuurroo ppaarraa bbuussccaarr sseeuu cchhaappééuu,, ppooiiss ssee oo ffiizzeessssee eessttaarriiaa ddeessccuummpprriinnddoo sseeuu ddeevveerr ddee rreessppeeiittaarr aa pprroopprriieeddaaddee.. MMaass BB tteemm oo ddeevveerr ddee ddeevvoollvveerr oo cchhaappééuu,, jjáá qquuee aa ddeessppeeiittoo ddee sseerr pprroopprriieeddaaddee mmóóvveell,, eessttáá pprrootteeggiiddaa ppeellooss mmeessmmooss mmeeccaanniissmmooss ddee ddiirreeiittoo qquuee sseeuu jjaarrddiimm ee ppeerrtteennccee aa AA.. NNããoo ppooddeennddoo rreettêê--lloo,, BB,, nnoo eexxeerrccíícciioo ddee ssuuaass pprreerrrrooggaattiivvaass pplleennaass ssoobbrree aa pprroopprriieeddaaddee ddoo jjaarrddiimm,, ppooddeerráá aaddoottaarr dduuaass ppoossttuurraass ddiiffeerreenntteess,, aa ssuuaa lliivvrree eessccoollhhaa:: ddeevveerráá eennttrreeggaarr oo cchhaappééuu aa AA oouu aabbrriirr oo ppoorrttããoo ppaarraa qquuee AA vváá bbuussccáá--lloo.. SSee ppeerrmmiittiirr qquuee oo bbuussqquuee,, ddeevveerráá ttoolleerráá--lloo eemm sseeuu jjaarrddiimm aattéé qquuee AA oo aappaannhhee ee ssaaiiaa..

Por tais considerações, é de se concluir que o dever de tolerar é decorrente do dever jurídico e encontra-se por este monopolizado, operando-se na forma omissiva, de não oposição ao exercício de direito, mesmo que um outro direito seu se lhe contraponha.

A tolerância será exigida do titular de um direito, portanto, na

forma de abstenção, por não poder se opor à permanência temporária de outrem em sua propriedade, podendo ser acrescida de um dever de forma

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comissiva, quando se obrigue a praticar certos atos que propiciem ao titular de outro direito, o exercício deste.

EExxeemmpplloo qquuee bbeemm ppooddeerriiaa eessccllaarreecceerr eessttaa tteemmááttiiccaa éé oo ddoo

eemmpprreessáárriioo qquuee,, ssoobb ffiissccaalliizzaaççããoo ddee aauuttoorriiddaaddee aaddmmiinniissttrraattiivvaa,, ddeevvee ppeerrmmiittiirr oo aacceessssoo ààss ddeeppeennddêênncciiaass ddee ssuuaa eemmpprreessaa oouu pprroopprriieeddaaddee,, ccoomm oo ddeevveerr ddee ttoolleerraarr ttooddaa aa aattiivviiddaaddee iinnvveessttiiggaattiivvaa ee,, aalléémm ddiissssoo,, ddaarr aacceessssoo aa ttooddooss ooss ddooccuummeennttooss qquuee ffoorreemm ssoolliicciittaaddooss,, ppooddeennddoo ooppttaarr ppoorr eexxiibbii--llooss pprroonnttaammeennttee oouu ttoolleerraarr aa bbuussccaa ((iinncclluussiivvee ccoomm rreemmooççããoo ddee oobbssttááccuullooss)) ppoorr ppaarrttee ddooss aaggeenntteess ffiissccaaiiss..

O dever de tolerância, ao que nos parece, nada mais é que uma

forma de dever jurídico, decorrente do exercício de um direito por seu titular, impondo uma abstenção acrescida de uma conduta, ou só uma abstenção.

Ao contrário da obrigação positiva, que exige um comportamento

comissivo do devedor obrigado, na obrigação negativa o comportamento que se lhe impõe é de inércia, de não fazer, logo, omissivo. Enquanto na obrigação positiva a omissão importa em descumprimento, na obrigação negativa a omissão revela obediência.

A obrigação do tipo não fazer no ato de abstenção de realização

do agir, ou na tolerância forçada em relação a certos atos e fatos, sem reação. A Matéria é versada no novo Código Civil nos artigos 245 e 246. A este último se acresceu o parágrafo único, que permite ao credor, em caso de urgência, sem autorização judicial, desfazer ou mandar desfazer o que se realizou em detrimento da lei, sem prejuízo de posterior ressarcimento.

Em se tratando de obrigação de não fazer, esta se extingue,

ainda, quando verificada a hipótese prevista pelo artigo 250 do Código Civil Brasileiro, que estabelece: "Extingue-se a obrigação de não fazer desde que, sem culpa do devedor, se lhe torne impossível abster-se do ato, que se obrigou a não praticar".

A obrigação de não fazer impõe como pressuposto a existência de um dever de abstenção lícito e válido, tanto jurídica quanto moralmente. São contrárias ao Direito, portanto, as obrigações de não fazer que cerceiam a liberdade individual de tal modo que venham a infringir a ordem pública.

Exercícios De Fixação

1. Nas obrigações de dar coisa certa o devedor pode ser responsabilizado se a coisa se perder por uma situação que ele não deu causa? Justifique.

2. O pagamento em dinheiro ou pela entrega de bens é meio mais usual

de cumprimento da obrigação. Entretanto não é a única forma de

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liberar o devedor. Comente duas situações, diversas do pagamento, que implicam em liberação do devedor do cumprimento da obrigação.

3. Esclareça as conseqüências que pode o devedor sofrer pela

inexecução das obrigações de dar coisa certa.

4. A remissão é um dos modos de extinção das obrigações. Entretanto, por que ela não pode ser confundida com Remição?

Referências bibliográficas: Gonçalves, Carlos Roberto, Sinopses Jurídicas “Direito da Obrigações”, parte Geral. Volume 5. , 6ª edição, São Paulo: Editora Saraiva, 2004. Barros, Ana Lúcia Porto, “O novo Código Civil Comentado”. V. 1. Rio de Janeiro: Ed. Freitas Bastos, 2002. Pereira, Caio Mario da Silva – Instituições de Direito Civil. vol II.São Paulo: Editora Forense, 19ª, 1999. Venosa, Silvio de Salvo. Direito Civil – Teoria Geral das Obrigações e Teoria Geral dos Contratos, São Paulo: Ed. Atlas, 2001.