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Page 1: Direito Civil, F.C. Andrade de

F. C . A N D R A D E D E Q O U V E I A E

M A R I O R O D R I G U E S N U F I E .

(Aliinos da FecaIdede do Dixeito de Lfehoa)

S E G U N D O A S M A G I S T R A I S P R E L E G ~ ~ E B

PGITAS A 0 C U , &C) DO I . ' A N 0 J U R ~ D I C O UE 1939.40 PEL0 EX."'" PROFESSOR

DOUTOR JAIME DE GOUVEIA

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D I R E I T 0 C I V I L

1." Conceito e definipao de Di- reito

a)-Segundo Von T uhr b)-Entre positivistas c)-Sob t~ ponto dm vista logico dl- R )) ) t8cnleo e)- n )) clentifico f ) -0 nosso conceit0

2." C a r a c t e r e s diferenciais entre Direito e Moral

a)-Doutrina de Ripert

b)- n Emlle Bouterou c)- Y posltivista d)-hlossa doutrina

1. Conceito e definigao de Direito-A pregunta que taoras vezes tendes post0 a V ~ S praprios : - 0 que 6 D~reito? - vai ser abject0 da nossa ii@o de hoje.

al Segundo Von Tuhr: -0 professor alernao Von Tuhr, que ialeceu professor de Civil na Faeuldade de Zurich, es-

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creveu urn livro iatitalado Nocbes Oerals de Direito Civil. Primeirarnente, escreseu-o em tres tomos que forma-

ram o grande tratado d e Bieyng; depois, pouco antes d e morrer, etn 1923, esireveu um livro peqneno sintetizarido o que esta uos trCs volutnep. b e livro, que esta iraduzido e m espanhol com o Hbulo d e Nociones generules de Due- cho C~v i l , e clPssico e, por isso, o recornendo. Se bem que eu nao esteja em rnuitos pontos d e acbrdo corn &le, podem consulla-lo para obter napes gerais d e direito civil.

Von Tuhr, nas suas N u ~ 6 e s Gerais d e Direito Civil, co- meGa assim : .Em dois sentidos s e usa a palavra Direito.

Em sentido objectivo, Direito 6 ulna regra ou conjuato d e regras que, no seio de urna cofectividade hurnana orga. nizada, se acatam como obrigatirrias para a conduta dos in- dividuos; ao passo que, em senlido su5jectiv0, Direito s i - $nifica uma faculdade que ao individuo se oferece como de r iva~go dos preceitos do Direito objec t ivo .~

Como v&trn, estames perante uma nts~%o abstracta e , como dissemos, n6s temos d e concretrizar, pbr claras 5 acessiveis as tais n o ~ 6 e s abstractas, a s tais aoqBes funda- mentais. Depois, a o concordamos muito e m dar urna noqao sem a explicar.

Durante todo o sdculo XIX - e eu fui educado nessa escola - por prinafpio de oposi@o a todos os dogmas dis- se-se que a s definig5er eram inliteis e, por vezes, prejudi- ciais.

A lese n ib e verdadeira. Mas, dentro dela, ha urna coisa que merece a nossa considera@o. Nas citncias ex- perirnentais, mais ou meoos experimenlais - e o Direito C urna cidncia algum ianto experimental,-uma definitZo n3o deve ser o ponto de partida duma investigacPe, antes deve ser a ab6bada dessa investiga~Zo.

Aparece uln problema. Esluda.sc o problerna. E, depois, co~no coroa~nento d&sse estudo, vern uma definicZo, que e urns sintese, a 6ltima no~ao , a no~Zo f!indamenlal.

Naa ci&ncias exactas, isto e, aas cltnoias maternitica s . no estado idesenvolvi~~~ento) actual da C~tfncia, n%o se compreende o s t u estudo sen1 pa~tulados. Mas, ~ n e s m o nas eitncias experimentais, quando oBo se trata de ulna inses- Iiga~Bo original, q u a n d : ~ e trata apen;is da iaicia@o durn sistema - e o nosso casn - n%o s%o descabidas as defini- p e s .

Ngo f facil, porem, dar urna defini~ao compieta, firme, de Direilu. Nos, professores; t en~os inuitas vezes a noqao do vazio intelectuai, da vacuiiiade, quando numa prova pre- guntarnos a um aluno o yuc k o L j i re i l n . Esta dificuldade resulta d e duas raz6es prinii-pais: de nrna razgo de forrna e d e ullla razao de fundo.

A razz0 d e forma d es ta : a terminiilogia varia muito no ernprkgo da palavra Direito. Emprega-se a palavra Di, reito e m muitos sentidos :

a) p n r , i sigriijicar disciplirza social, b) ., a prec~~itos jilridicos, C) * a filntrs rerri lie riireilu, d) P direltus, e l ,, I r t s t i ~ n , f ) I equidade, e ate gi * d:reilos snl~jrctivos.

Ha direito e direitos. Direit ; e 2 [email protected] do direilo : di- reitos S ~ O os tais direitos subjectivos.

dntigarnentc, empregava.se a palavra dfrcitos para significar direilos sribj,-rfivos, facutdades, prerrogativas de- rivadas do direito objectivo.

NO f im do sCc~ilo passado, comecou :! distinguir-se el:- tre direito objectivo, seg:iado a ttcnica alem2, que ici adoptada e m Fran~a, depois por n6s, e que ainda hoje i seguida.

N o ~~gr l l f i cado disc ip l ina s o c i i r i , Direito e urna ins-

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tilult$o que se estabelrce eotre t~omeos, eillre os grupos hu~nanos para estabelecer a harmol~ia social.

No signijici~rlo fclrrfei jorrnais (if, Ilcreito-, Direr10 e a lei no sentido generico .. 1.1 ilri r o costitme que r r - Q U ~ a couduta dos homens.

Entre &stes dois siguiiicados h a um certo parentescrr, mas h i , tambem, evidente~nentc, uma oerla diferesciaqao, que resulla da distiu~ao que st f a ~ a entre o direito.discipli- na social e o direito-regm de condula. E' unla diferen~a que traduziren~os desla ruaneira ; a disciplina social e o continente, 2 regra de direito o conteudo. Por virtude dessa f d r ~ a chamada disciplina social, surgem manifeslaq6es que s8o as tais normas, regras de coliduta externa.

6) Entre pooiiivistas : - blas eutre positivistas e tre- qiiente empregar~se a expressao Direito pare sif~zificrlr s& m e n t ~ as fonit,s farniais do Direifo.

Essas regras nem sempre cnrrespondem, porem, as necessidades sociais e caducam.

Nas instituY~6es juridicas acostece como em ludo. Ha institui'~8es juridicas que vem de antanho, consesvarn o seu vigor, correspondern ainda as necessidades sociais e tOm aplica~go activa e freqiiente. Ha inslitui~6es juridicas que v&m de antanho, Inas ja sHo po~lco vigorosas, ja n%o se adaptam as uecessidades da vida, as realidades da vida. Ha, tambem, institulq6es juridicas, que a ~ n d a est%o no papel, ainda fazein parte do corpo de leis, mas ji nHo currespon- dem dc modo nenhum as necessidades sociais, j i uCo se aplicam, estao caducas. P:lo conlrario, ha outras institui- ~ 6 e s que surgem, comecam agora a vigorar, currrspondem as necessidades do mornento, t o n ) tni curpo, imp0em-se. Essas intitu'l~ijes (ou essas regrn5 t3e direito). qus c rres- pondem as necessidades do rnilme~~ttr e cotneCslr1 e impol -:e i soaiedade, aules, porem, de sere111 converlid;~h ein leis, siio apenas regras Je conduta externa, corresponde~r~ as so-

licita~6es da vida so ial, mas sao regras de conduta, tazem parte do Direito, 520, tambdm. Direito, em nosso calender.

Esturnos nesse po*llo ern iiiscordkncia corn os positi- vistos.

Pais bem : a express20 Direito usa-se em tcdos Csses signilicados. A tecnica juridica ernprega a expressso Dlrei- to para significar tudo isso, e dai uma dificuldade grande em definir o que e Direito.

A essa dificuldadc temos de acrescentar outras, que resultam, prbpriamente, de fui>damentos cientificos. E' que o Direito pode tornar-se em varios sentidos, - no sentido 16gico ou material, correspondendo ao fim do Direito, por eremplo.

0 Direito [em um fim indiscutivel- a harmonia sociai, 0 Direlto surge, imp6e-se, mantim.se, para estabelecer a harrnonia social. N%o pode haver sociedade sem Direito, qualquer que ela seja.

Ha varias zonas sociais. 0 Estado e uma zona: dentro do Estado ha muitas outras sociedades. Uma sociedadeco- mercial tamhem e um circulo social. Tern o seu direito que i fixado pelas nttrmas estabelecidas na escrilura social.

c ) Sob o ponto de vista Ibgico : - Mas se u referir- mos sob o ponto de vista 16gic0, o Direito toma um con- seito pue poderemos traduzir por estas express6es: Direito debaixo do ponto de vista 16gic0, k o conju/rto u'e rtrgras de conduta lrbinemtes a esfabeircer a harmonia social,

Nesta defini~zo, nao encontramos nem a s fontes for- mais do Direito, nem as footes reais do Direito, uem a dis- t in~%o entre Direito e Moral, mas encoatramos uma defini- q%o que correspoode ao fim social do Direito, A barmonia social, que i o seu iudisautivel escopo.

dl Sob o ponto do vista tbcntoo :-Se considerarmos Direilo sob outro aspecto, pel0 criterie tecnico, vemos que

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o Direito se rnanifesta, ttcnicamente, pela lei e pel0 ws- tume.

Por conseqlibncia, defiuilnus Direito como sendo 0 5

preceifo~ iegais e costunlelros utinentes a estab.?ltcer a hurrnonia social.

e) Sob o ponto de vlstn clent~flao: - Se, ~ e l o con- t r i r ~ o , encararrnos o Dlreito peIo aspecto cietitifico, pel0 aspecto das Lontes renis. definimo.10 assim : Direito s%o as r ig ra r de con-lisla derdi~adas dns solic.ifarOrs sacrais 8 i i lz

p r d p r ~ a no~Go de Diredo, q l rp i~ndern a e i t a b r . 1 ~ ~ r a lid.-

rnnnia social.

f) 0 nosso concelto ; - Qualquer desta5 defin1~6es e insuficiente. Para definirmos Direito, ttrnos de conside- rar todos aqueles prismas - fontes reais, [ontes formais do Direito, o prhprio 6m do Diretto, e , simultiueamenle, dife renca entre Direito e Moral temos de arranjar ulna defi- ni@o cientifica, integral, plena, e, dai. a dificuldade em en- contri-la.

Nos, para definirmos Direito conscientemente, com urn critkrio cientiiico, tinhamos de entrar nestes problemas to. dos, tinhamos de resolver prkviamente muitas questaes, como estas: h i fontes reais do Direito a par de fantes for- mais? a s fontes reais do Direito s8o 56 as solicita~aea da vida social? ou. simult8ueameote, corn estas fontes expe- rimentais do Direito, ha tdmbdrn ulna fonte racional do Di- reito correspondendo a nocZ~ e ao fim do Direilo? o Direi- to serP uln ram0 da Floral ou destaca.se dela con1 uma es, stacia diversa? E muitas outras questces.

Si , resolvidas elas, surgiria. como abobada do nosso estudo, a defiaiqLo de Direito. Mas 1 utn problema de or- dem psico16gica, que eu me dispenso de tratar, para so ao fim apreseatar a definiqao de Direito.

0 moral e o nervo de todes os empreendimentos.

0 s soldados sem moral perdem a guerra, os homens sen1 nioral sfio os vencidos da vida. Porisso e urn problema psicoldgico, que, para n6s, reveste a forma e os aspectos de questgo pedagogica, darmos, agord, a def in i~ao de Di- rcito.

Se eu gastasse uma serie de sess6es a estudar essas qusitaes tbdas, na espectativa ldgica da definiqio de Direito, os Srr. dirjam: que maqada, e que dificuldade!

Vamos, pois, dar j i a deiiniga de Direito para, em se- fuida, estudarmos essas quest8es tbdas, como problemas derivados da pr6pria no~Uo de Direito. 0 crittrio cienlitico era t e t e : estudar tbdas aquelar quest6es e, depois disso, dizer : por conseqfl&ncia, o Direito e cisto*. N63, porkm, sacrificaremos o metodo, visto que jfi dissemos o suficiente para se comprcender a definiqao; isto 6 , daremos j5 a (ie- l n i ~ 2 o de Direito e estudaremos depois aquelas quest6es rtferidaa, coma quest6es deriradas da propria deftnicao de Direito.

Direito 6 , pois, o conjunto de rezras de condula ex- f c r l~a , consagradas oe n j a p e l ~ lei crn srrrtido gprelrico, glte ef<cli~~arn a harmonin sociul nirrn cerfo meio s cia1 e em rcrta Ppi~ea, ernonadas das uspira~des dos grupos e dos indiviti~ltls, isto 6, correspandenfes as solicifa~di s sociais, t impostas d obedidncia por uma autoridi:de constituidu.

Como v&em, h i uma certa diferenqa entre esta defini- $30 e a de voo Tuhr. Von Tuhr fala-nos em regras au con- junto de regras. Nor, ilem do mais, faiamos em regras dc cnnd!tta eslerna. E , aqui, es t i implicita uma quest30 - saber se o Direito faz ou nZo parte da Moral. Consa,rrradas orr nrio peia lei n i m sentilo gmir ico. E aqui estd implicita ou t~a questge: no Direito, haver6, altm das fonles tormais, fontes reais? E estas liltimas o que sRo? As fontes reais sao s6 as solicitac8es da vida social ou, aldm delas, h a tambkm um elemenlo racional?

Como as primeiras liq8as constiiuem 1niciaqBo d a ma-

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tiria, e uma inicia~ao k sempre urn process0 dificil para o ioiciatido n8o iremos hnje d i m da def in i~ to dada, insistin. do, porim, em que ela e fundamental para o ooaco estiido. Que esta d e f i ~ l i ~ a o seja corllo viitico que us acumyanhe na longa viagem atraves o curso juridico que empreenderam.

2. Caracteres diferenciais entre Direito e Moral- Direito 6 , pois, Eomo vimos, o ccmplexn das re- gras de conduta externa, consagadas ou n8o pela lei em senlido geral. tendentes i reaIiza~9o da barmonia social num cerro meio e nunla certa Cpoca, mediatile as solicila- c6es da vida social, impostas a obedieneia por urna autori- dade constituida.

Ora, a primeira parle (iesta defioi~%o - cornplexo de regras de condula externa - importa urna quest%o. que eu, por razdes psicol6gices e pedagcjgicas, como lhes disse, con- s i d e r ~ urea quest20 derivada, eiuanente da gr6pria definicso de Direito.

Forrnulo assim essa quest80 : u Direito serd urnti ciencia indrpandcnde da Miry!? Em q i ~ v rela(2o esld a Moral corn o Direido ?

Da propria definiqgo que demos de Direitu, se conclui q u t &le e uma ciencia independente da M o r ~ i : e um coni- plexo de normas de conduta externa que buscanl efectivar a harmonia social. Corn efeito, a Moral prociira a p e ~ f e i p o interna do hornem, ao passo que o Direito procura a con- duta externa do homem. 0 Direito sd tern por f i m impor urna atitude e urn proceder correctos ao homem, para obter ns- sim a barmonia social, enguanto a 1vlora1 procula a perfei- qgo interoa do hotnem.

Da segunda parte da deiini~Bo - que buscam efectivar a harrnonia social - a mesma conclusao se tira.

Que e a harmonia social? A harmonia durn grupo sociaf corn outro grupo social, grupos pertenceotes a nlesma so- ciedada mais ampla. Mas os hornens que vivem en1 socie-

dade sIo correcios uns com os outros e estabelecem entrt s i harmonia social, se porventura os seus actos externos e as suas atirudes exiernas lambenl forem correctas,

POF consequCncia, esta def in i~zo inlplicitarnente confern a af i rma~8o de que o Direito e a Moral s%o duas coisas di- versas. Mas i verdade, como h%o-de notar, que o Direito se ocupa por vezes d e actes internos, de actos de vonlade. Pode, por isso, parecer que a Meral n8o e absolutamente estranha ao Direito, exercendo uma iunq%o tal ou qua1 no Direito. Por vezes, urn acto juridico k correcto, quere dizer : ioi feilo de harmonia com as regras do direito No entanto, por haver altera@o da vontade dos agentes, porque a von tade dos agentes ngo correspondell inteiramente a conduta- eslerna, &ssc act0 C ct~nsiderado ineficaz.

E' assirn que acontece corn os vicios da vontade, que C elemento esseocial dos actos juridicos, e corn a simu1ar;lo. Quando a acto juridico i Seito corn krro do agente, quando o act0 juridico 6 leito corn fraude de quem o pratica para enpanar terceiros ou o Estado, quaado o acto juridico i feito em co~t ra r io da vontade interrja de quem o praticuu, quando o acto juridico e feilo corn viol&ncia. coaetivameote, &sse facto jurrdico e susceptive1 de ser ani~lado.

Tarnbem acontect, por vezes, que o mesmo acto juri- dico, sobretudo em tnateria penal, t e~n san;Ges diversas contor:ne a atitude inierna de quem o praticou. Por ePem plo, dois homi;idiop, urn praticado corn premeditacio, outro sem preri: t a ~ g o , i&w sanq6e.s diversas.

Pode tambem urn acto juridico, leito conforme o Dtreito. ser coosiderado iciexisienle. Por exernplu, urn crime corne- lido por ilnl louco, urn delito civil cortlerido por um louco 6 aoiisiderado inexistente, poryue se alende a falta de inle- lighncia do agente.

Por consequencia- preguntar-me-h8o.-se assim 6 ; se as atiludcs internas exercem funqao no Direih, como e que podemos distinguir a Moral de Direito?

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- Primo cunsprctn, dirtmos o mwinte : para qar a atitude interna do agente seja relarank no Direito, d ns. cershrio, primeiramente, que haja um act0 externo. S6 d e p i s de realizado t s se acto externo e que, por vezes, no dominio do Direito se atende P rontade e lnteligencia do agente.

A questgo da dilerencia~80 de Moral e Direilo tern rid0 object0 de muita polkmiea, em que tCrn gasto resmas de papel e potes de tinla.

a) Ooutrlne de Ripert: - Em 1925, Gearges Ripert escreveu urna monogralia que se intitula: La r&le moral: duns irs obllgatlons civiles*. Nessa tese, cujo pensamento se vC pel0 titulo, diz-se que, embora a doutrina francesa se d& no seotido de o Direlto e a Moral terem circulos diver. sos, usando da frase de Bentham, o que e cerlo 15 que oa opini%o dele, Ripert, o Direito e a Moral t&m o mesmo do- minio. NBo se compreendia o Direito sern a seiva da Moral. Se separassemos o Direito da sua origem, a Moral, corta- riamos cerce o tronco do Direito, que, por isso, morria.

Nesla monogralia, que L relativa a todo o direito clvil em gerar, e em especial as obriga~Ges, que sgo urn capi. tulo do Direito Civil a estudar no 2.' auo, diz Riperi: i verdade que ha vinte anos a esta parle as obrigac6es tern sido tratadas pelos nussos escritores sob o ponto de vista ticnico, sem considera~aes pelo aspecto moral. Separa-se a obrigaqzo dos seus sujeitos, considera-se a nbrigaczo como o activo ou paasivo dum patrlmbnio, mas isto n8o corres. ponde ?I realidade. N6s ngo podemos bem compreender uma obr1ga~20-uma obrigaqilo de divida, por extmp10,- sern que haja urn homem que seja o devedor e outro o crkdor: n3o podemos abstrair de crbdor e devedor, consi- derar sdmente o patrimbnio do credor e o do devedor, e dizer que o dtste esta diminuido em importancia da dirida e que o daqubie esta acrescido na rnesma importincia.

& Ripert continua a tralar do assunto pelo livro adeante Eu admito, oomo tle, que o Direito e a bloral tern

m esmo dominio, mas caracteristicas especiais. Segundo a minha doutrina de Direito, isto expllia-se assim: 0s homens sao solidirios, $6 podem viver em sociedade. 0 bomem que vive numa iiha isolada, sem ter relacoes, comercio

cornunica~5es corn os oufros homens, nao existe, Um homem relaciona-se sempre corn oulros hotneos. Unl hornem vive do convivio corn as outros homens. O hotnem C essential: mente sociavel-e uma das suas qualidades. E, porque vive e m sociedade, o homem tern que fazer tudo que seja ne- cessirio para o progress0 e desenvolvimento da sociedade, deve fazer tudo para evitar o prajuizo da sociedade. Ate aqui, o dominio do Direito e da Moral sso comuns.

*NPo fagas aos outros o que nHo queres te facam a ti,,: Isto 6 urn principio de moral, e C tambein urn principio de direito.

Em que se disiingue a Moral do Direito? Nisto apenas; e que o preceito, quando rnuito necessario, quando assaz util ao desenvolvimento da sociedace, recebe urna injunezo, e impost0 coactivarnenle pela autoridade conslituida. E' a itdus@o, e a coac$rii> social, 6 a uutoriliurl , r r n s f i l u i d a que faz distinguir a norma de direito (la nortna de moral. E us Srs. estrlo a ver. Ha ~nuitas normas de moral: ~Respeita a mulher do prbximo* - 1 uma nvrlna de moral. Nas, se porventura houver o desrespeito, que se traduza em actos previstos pela lei, aparece uma sanqao. Entgo, nesta hip6te- se, a autoridade constituida, usando urnainjun~$a, imp&-se, e temos urn principia de direito.

aNHo cobices as coisas alheias* - otltro preceito dc @oral; mas, se a c o b i ~ a atinge o grau de furto proibido, apl- rece ent%o a injun~zo, a coac~80, a sanqgo inlposta pela ac- toridade, surge o Direito.

De maneira que, como veem, o dominio da moral e do direito s%o o mesmo, mas as caracterislicas diversas.

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0 Direito esta de alguma maneira relacionado corn a Moral, nlas n5c1 devem estranhqr isso. !a Cicero, num dos seus discursos, dizia que tbdas as artes bumanas (nrles corresponde aqrti a ciCrrcias) t21n entre si urn pnrenlesco. uma cogua~ao: *In tlovum organum scie~rtiarum. de Bacon repete a mestna ideia.

Em .De casibis perplexis in jurep de Leibniz os Srs. encontram a nleslwa afirma~Ho : o Direito esta relacionado corn muitas cieocias. E no ,(Discours prelitiiinaire de I'En- cyclopedic:> de D'Alemhert a mesma a f i r n ~ a ~ g o se encontra.

De luaneira que u Direito relaciona-se con1 a Moral, cotno com a Filosafia em geral e corn ouiras ciancias.

Pelo Fin1 do Direiko e da Moral e qne se faz bem adis- tinc3o entre ambos.

Quai e n iirn da Moral ? A perlei~go interna do humem. Qua1 o fim do Direito? A cunduta externa do homem

para obter a harmonia social. Se 116s considerarmos em que consiste essa perfeic%o

interna do home~n, confirmar-nos,hemos na dis t in~ao que fizemos.

Em que cynsiste a perleipo interna? Vinha aqui a- -proposito talar do positivism0 e de outras escolas filos6fi- cas, a que nos referiremos na pr6xima I ~ q a o . Hoje, apenas lbes direi que, segu~ido urna aoutrina traditional, e sutra rnulto actual~zaria. a perlei~ao interna do ho~nem consiste nos destinos deste uuma vida super tcrrestre. E, sendo assim, ao passo que a bloral pl-ocura a conduta do homem atinente a utna vida super lerrestre e so acessbriamente se ocupa da conllula d i ~ homeir~ neste nlundo, na vida tbrres- Ire, u Direilo, pelo contrario, s6 sa ucupa da conduta exter- na do hornerii pal-a obter a harmonia social, isto e . da con- duta do homerri na vida terrestre.

b) Doulrina de Ernile Bouterotl - Urn livro, nBo muito antigo, durn fii6sufo Erances, Emile Bouierou, intitula-

do ,Vorale e t Rili,no,n versa essa doutrina de que a Moral procura o hem esiar do homern na vida super terrestre. Mas o Direito iicupa.se da cucdllta externa do honlem, da cenduta nesla vida terrestre.

0 proi. d e Direito Irances, Jacques Chevalier, numa comunica~30 feita 3 Academia de Ciencias blorais, intitula- da ~ L e s deuv cunceptio~ls de Morale*, p6e em contrasle os dois conceitoc de rnorai : o tradicionalista e o positi~ista.

Como lhes disse j i , o conceito tradiciunal de: moral d hole niuiio seguidlr ; i urn conceito muilo dominante.

c) Doulrina positiva - 0 positivisti~o de Augusto Conte, pelo contrario, sustenta que a Moral e iitnii especie de citncia dos costumes, um capitulo da sociologia ; ocupa- -se, portauto, da peifeisao do hotneiu mas atinente a vida terrestre.

Na Filosufirl d e Challey os Srs. vdern que este cooceito positivista de moral nao e de aceitar e: bem assi~n, que a moral, elnbora n8o seja ulna cidncia, iodavia, $0 e excluida por esta.

rl matematica, a fisica, a qnimica, a biologia, a psico. logia, qua sao cikncias, nso escluem a bIoral.

Vejamos o argumentr~. A s ciencias dizem-nos o qve e! mas nzu nus d~zem o

que deve ser. As citncias dizen1,nos o que i o. i \ o n ~ e n ~ , mas n2o nos dizern o que &le deve scr, Nae impede^^, porim, as ciencias que a Mural nos diga o que deve ser o homem.

Por consequencia, a ciencia positiva 1150 exclue a No- ral, que nos diz o que deve ser W homein.

Ponhamos exemplos. A histiria c a sociulogia d iz tm~ -nos que os povos viveram sempre em guerra. A Moral diz-nos que se deve viver em ilaz, que deveni iazer se ar- raujos, combina~aes para qrre os honrens e os povus se to- lerem, se perdoem, ~ i v a m em bsm.

A sociologia exclue a moral? Nao.

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Oukro exemplo : A bioiogia diz-nos que os seres mais prtparados para a vida destroem os oubros. Mas isto poderP excluir a ideia moral de que o homem deva ser tolerante,, altruists, carita~ivo ? Por Cstes exemplos, mais claramente se V & que a C i P ~ ~ c i a ngo exclue a Moral.

A Illoral nZo e a Cikncio, mas a cieacia positiva nHo a exclue, antes a admite. Purque, repetimos, a Cikncia diz-nos o que i, a Moral o que deve s t r .

Tambkm o Direitn e urna cihncia normativa algurn tanto experitnenlal, diz-nos o que i necessario lazer, o que o holrlem deve fazer para a harmonia social.

Ulna das fontes do Direito 15 a experibncia e assenta nos dados fornecidos pela hist6ria e peia sociologia.

As passo que a Moral, sobretudo nesta concepglo de moral que procura a perfeiqgo interna do bornem para a vida super terrestre, ngo t experimental, e metafisica.

Por consequdncia, Direilo e Moral s8o disciplinas di- versa$. Podem ter a mesma oridem, mas possuem caracte- risticas diferentes.

O Direito i ciencia, a Moral e uma discipIina. Direito e Moral est%o relacionados, como o Direito esta relacionado corn inuitas outras cikocias ; corn a filosofia, a ciencia administrativa, a psicologia, etc.. A moral, porim, t uma ancila, urna auxiliar do Direito.

Esta e a doutrina traditional.

di Nassa dolrfrina : - A doutrina que hoje qustento 6 esla: o direito P urna ci&ncia e n%o urn ramo da moral. A mcral ten1 relacgo corn o Jireile, mas como auxiliar sim- plestnenle. A leologia, por exe~r~plo, tern relaq%o corn a li. losofia, mas siio coisas diversas ; a filosofia 6 uma auriliar da teologia.

Depuis de ponderadamente ter estudzdo o assunto, cheguei a conclusZo de que o Djreito i independente da Moral.

Nn direito, como na literatura, como na filosofia, como na pr6pria teologia, ha uma escola que n6s costumamos cha~nar rom8atic.a. H i o r~mant i smo juridico, como h i o romantismo feol6gic0, cotrlo ha o romantismo literaria.

Que t que caracteriza essa escola? 0 romantismo ju- r id ic~ , o que n6s chamamos ~romantismo juridico t , t uma escola em que predornina o sentimento e a sensibilidade, em oposiq%o ao ~ l a s s i c i s ~ n o juridico, que k uma escola em que predomina o raciocinio.

E o mesmo em teologia: de urn lado, estXo os agosti. nianos, -. Sanio Agostinho resolvia as qilestaes com muita sensibilidade e sentimento;-doulro Iado, e s t k os tornislas, que discuteru com a raeao.

Em Direito, e a aeslna eoisa - ha os rorn&nticos e os classicos, digamos assinl.

Urn euemplo. Ma quest20 da responsabilidade civil, h i os que dizern: qgern causa o dano deve indemnizar o que o safreu, quer aquele tenha culpa quer nZo; e ha outros que dizem: a culpa 8 urn dog elementos essenciais da respon- sabilidade civil. Para uns, para haver responsabilidade, t n~cesssr io haver prejuizo, fact0 ilicito e culpa, Para outros, basta o prejuizo e o laclo ilicito.

Urn individuo tern unla fibrica, onde emprega vhrios operarios, e urn deles sinistra-se fora do s e r v i ~ o da fibrica, Nlo obstante, o patrPo dtve urna indemnizaq&o civil, em- bora n3o tenha culpa. Ourros, porCm, eotendem que tem de haver cu'pa da parte do patrgo. 0s primeiros s8o os ro- minticos: resolvem a questgo pelo sentimento e pelo corz- $So, e dizem assim: eubi commoda ibi incommoda- (quem tem os proveiitos deve sofrer os prejuizos),

0s outros, discutindu elm a razgo, dizem: niogudm pode ser respons6vel por urn acto cometido sem culpaisua

Pois ai tdm o que eu hoje quaria Jizer lhes, 0 Direito distingue-se da Moral. Esta distin~Bo estii compreendida na defini~ao que demos d t Direilo. No entanto, ha partidos:

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Hk quem sustente esta doutrina que esta implicita oa nossa defini~80, e ha quem sustente a doutrina de que o Direito 6 urna parte da Moral - por exemplo, Ripert. Para 06% o Direito 6 urna citncia distinta da disciplina da Moral e a Moral t urna serva do Direito.

3." Das Fontes do Dkaito

a)-As fontes reais do Dlreito va- riam conforrne a escola tilos6- fica que adotamos

b ) - 0 problema do conhecimento humano segundo as varias es- colas

c)-As fontes do Direito segundo a escola do positivisrno juridic0

d) As fontes do Direito segundo a escola do pregmatismo

e)-Quanto a n6s, s%o fontes reais do Direito: as solicitacBes do amblente social, a natureza per- manents do homem e a pr6pria noqBo do Direito que vai radi- car-se na nog%o do absoluto, da justlca.

3. Oas Fontes do Direito:

a) As fontes reals do Direito variam conforrne a escola filosbfica que adotamos - Na li@o anterior, conexo con1 o assunlo que vamos tratar, levantou-se a ques- tao de saber quais sPo as fontes reair do Direito.

Surge agora o problerna, que tern grande li#a$Ho corn o anterior, que, como sabem, foi saber se a Moral c o Di- reito s%o disciplinas distintas ou se, pelo contririo, o Di- reito e urn ram0 da Moral. E, como essa questao s e preode bastante corn assuntos filos6ficos de alguma Iranscendencia, temos necessidade de o estudar corn o precis0 cuidado.

Vamos ver se as fonbes reais do Direito s3o oBo s6

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as solicila~des da vida social e a natureza petmaneate do hotnem, mas, tambem, a pr6pria noqZo de Direito.

b) 0 problema do conhecimento humano segundo a s verias escoles - 0 problema oBo e simples, palo cootririo, tem uma grande dificuldade, porque temos de passar em revista as varias escolas que, atravis dos sdculos, se tdm preocupado corn a Teoria do Conheci- mento Humano, e, par isso, temos de elupregar um grande poder de siolese. E' misler sintetizar, em poucas paiavras, o que sbbre kle tem sido dito; dai a dificuldade da matiria. Varnos ver se conseguimos versar e ~ t e proble- ma e para verificar as suas dificuldades, basta-me citar-lhes alguns livros em gue &ste assuoto foi (ratado:

La Croix-Essai du misticisme des Sciences Juridiques. Boonecase-Notions du Droit en France au XIX siecle, BruyCre-Le Rornantisme luridique. No siculo XIX, ja existiam as lutasentre o posidvismo

de Duguit e Rippert e o pcagmantismo de Jeny. Conhe- ceodo-as, ja podemos compreepder o sumo alcance, a suma importancia desta materia, que 6, pela primeira vez, tratada nas nossas escolas. Vamos ver como psdemos tentar verser tste assuoto.

A Teoria do Conhecimeoto Humaoo ou a Filosofia do Coohecimento Humano vem da mais velha aotiguidade. Po- demos classificar em tr&s as es~olas que dtla se ocupavam: a Elcola Dogmatica, a Escola Agn6stica e a Escola das Crencas. Segundo a Escola Dogmatica, o absolutopode ser atingido pela inteligtncia humana. Levanla-se aqui uma pre- guota natural: mas qua1 6 u absoluto em Direito?

EL a jus t i~a , a no~Bo de justita. Por conseqii&ocia, se- gundo esta teoria, a filosofia dogmitica, a justi~a, pode ser abrangida, atingida pela jnteliglncia humana.

Segundo a Escola Agnbstica, o ahsulufo 330 pode ser atingido pela inteligencia humana. 0 hornen), perante o co.

nhccimeoto do Absolulo, 6 como um verme Se urn verme quizesse agis bavia de servir-se de documentos de vermes, havia de tomar solu.$5es de vermes. Pois a mesma coisa acontece corn o homem se procura atingir o Absolute.

H i vhrias esp6cies de agnoshicismo; a mais crassa e o pirronismo,

Eotre as duas escolas, dogmatislno e agoosticisrno, aparece uma ioiermddia, a das crenqas, c r e o ~ a s que nzo coostituem a cbrteza absoluta nem produzem , a certeza mattmatica, Segundo esta escola, podemos ter urna certeza matemhtica, cieatifica, mas sdbre o absoluto s6 podemos obter uma crenpa. Desta maoeira, se a escola dogmatics diz aJe s a i s ~ - e a Agnbstica ~ n Z o conheto n tm posso co- nhecer o absolulor, a Escoia das Crengas diz: ~ t u a30 co- nheco o absoluto mas creio no absolutor. Estas trts escolas renovaram-se e aclualizaram.se : na tpoca moderna temos o Positivismo, o Pragmatismo, o Bergsonismo e o Neoio- mismo.

0 Fositivismo, que i uma citncia formada por Augusto Comte, depois seguida com brilho por Littrc, e que fez fu- ror no siculo passado - pois gaohou os melbores espiritos dessa Cpca - C uma tese do relativismo objectivo que dis- tingue o absoluto do relaiivo, daquilo que se rb, daquilo que actua sbbre a aossa snnsibilidade.

0 Pragmatismo, que t uma filusofia moderna fuodada por William lames, parle do princfpio da ac@o.

0 Evaragelho de S. JoZo diz: aoo principio era o verbon. 0 *Fausto de Goethe, eouncia: *No principio era a

ac@o*. A acqgo d ou a80 verificada pela nossa emotividade, e por conseqii&ncia chegou a esta afirmaczo que pde como postulado de tbda a filosofia: -60 que e dtil e verdadeiron. - Para melhor compreensZo vou dar-vos urn exernplo : as morais - ideol6gisas, relifiosas, meramente filusbficas -- a moral cdtolica e ate a pkssimista de Schapenhauer, tbdas terminam pel0 lnesrno preceito: en20 facas a outrem aquilo

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que ubo queres que te faqam a ti,, principio &ste que se lraduz nos dez preceitos ou nlandarnentos da moral cat6lica ou aatna o pr6ximo como a ti mesrnoe. Sa assim C, dir.se-i qde as morais sZo p~iticamenle iguais. Nao acontece pre- cisamente assim, porque a sanpo dos preceitos morais varia conforme a s diierentes escolas de moral.

Por exemplo: a moral solidarista diz: uama o pr6ximo como a ti mesmon - unao f a ~ a s aos oulros aquilo que ago queres que te lacam a ti porque tu vives em sociedade e o rnal dos outros e o ten ma1 e o seu bem-estar em ti s r re- fleten. E' a maxima s a n ~ a o desta filosofia.

A moral da honra diz: - LiSe nZo amares o pr6xirno como a t i mesmo t u deshonras-tell. E' tambtm utua sanq%o.

A moral catolica diz: $Ha Ceu e Inferno: se pralicares 0 bem vais para o Ceu. se praticares o malvais para 0 In- ftrnom.

Ora quai des!as s a n ~ a e s 6 que serl mais eticiente? Evidentemente, para o grande vulgo, o receia do lnieroo, o desejo de ir para a bemaventuraa~a eterna e um estimulo maior do que o da moral da honra.

Por sonsequ&ncia, eu concluo, pragmaticatuente, que a moral cat6lica i maislitil do que a moral da honra e por isso mesmo d a verdadeira.

Segue-se depois o Bergsooismo que nos diz: G O abso- lute pode ser conhecido por intui'@o,. 0 que vem a ser intu'iqfio? E' urn conhecimento d~recto e imediato da reali- dade.

Conhecemos uma cbr, uma dor, pelas sensacSes, mas 0 Absoluto $6 o podenlos conhecer pela intui$io, e o rela- tivo, o fenomenico, esse 6 que pode ser cvnheuido pelos metodos de que disptie a CiCncia.

Mas n6s ngo podemns na Ciencia abstrair do Absoluto, pois o homern exige da ciencia conhecimenfos do absolulo.

Segue.se depois o Neo-intelcc?ualis~no que eytuda 1 1

Absoluto ja sem ser por meio da intuicao, sem se,r por meio

da Cren~a,estudao AbsoIuto como sendo Cle proprio object0 da ciencia.

Para a Metafisica dogmdtica, o Direito o que vem a s6r? Urn 'complexo de normas de conduta reveladas por Deus ao legidador.

b) As foctes do Direito segundo a escola do posi- t i v i s m ~ jurldico - Para o Posilivismo, o Direiio i umcon- junto de normas d e condula impostas pel0 governante (0 Estadof ams governados {Duiuit).

o) As fontes do Dlreito segundo a escola do pra- gmat ism~ - Para o Pragmatismo, o Direiio t urn corn- plexo de regras de conduta emanadas da vida social. 0 homem viva no uleio da sociedade ; produzem-se fendme- nos religiosos e outros de varias ordens; pois todos tsses fen61nenos s3o solicita~6es, sBo desejos, aspiraq6ts do hpmeru, e essas aspira~aes iraduzem-se em directrizes de normas de conduta e depois em n o r m s de Direito.

Como j6 dissemcs. t e ~ n sido renhida a luta entre posi- tivistaa, dogmatistas e pragmatistas. Em 1923, ja eu estava lormado, veio a Coimbra Dnguit e fez u~il escola de Direito que negava o direito subjective e yue punha em ddvida o conceit0 de personalidade.

Ja fui educado nessa escola e encontrei nos principios da minha formatura urn professor, Sr. Doutor Fezas V~tal, imbuido do ideal realista de Duguit.

Abracei esna Escola. 0 professor Fezas Vital introduziu-a no Direito Publico

e eu procurei introduzi-la, em Porthpal, no Direito Privado. A minha tese de formatura *Constru$io Juridica da

Propriedade* abunda nessas ideas. Hoje estou urn pouco afastado dt alguns principios de Duguit, Nos evolucionamus e lnau e que fiquemos sempre com as rnesmas aspiracdes

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e o mesrno pensamento: i sinal de que n%o trabalbamos, de que ngo pensamos. Quem peasa, quem reffete, ou arre- donda ou lima as artstas dos seus conhecirnentos, evoluciona.

Na confertncia a qne aludi. 4L.e Pragrnati'sme Juridi- quer, proferida no dia 3 de Dezernbro de 1923, Duguit disse que admitir a noqiio de direito subjective e de per- sonalidade s6 como processo tbcnico, ou processo de orga. nizaqgo, o mesmo 1 que negar ksses conceitos, como Iazia a escola dele.

No fundo, digs-se a verdade, essas noc6es aceilam.se porque s l o ~iteis a a g l o . Nao 4 pelo seu valor, e pela sua utilidade.

Quand? se trata d e principios cientificos, ha certas no- c ik s que t tm de ser respeitadas, mas , quando se trata de meios de aplicaFgo ou de rea l iza~lo do Dlreite, ba uma certa faculdade, uma liberdade de seguir dste ou aquelt meio t i- cnico, canforme seja mais fhcil ou a20 a realiza~ao e a apli- cacao do Direito.

d) Nossa oplniao - Camo vdsm, estou um pouco vi- rado para os horizontes pragmatistas. N5o cheguei ainda ao neo.iatelcctualismo talvez porque a minha falta de estudo, ou o meu passado cientlfico, seja como for, me tenham im- pedido de 18 cbegar.

Mas sou bastante bergsoniano. Cornpreendo, ao contrC rio do que diz Duguit, que se nBo pode dispensar a fiencia do cstudo do Absoluto.

H6 alguem que se dispense d t pensar na idea d e Deus 7 Hi alguem que se dispense de pensar na idea d t Iusti~a ?

Ouvirnos a cada passo dizer: *a lei 6 assim, mas n8o i justa!. Ca esta a ideia de Jus l i~a proclamada!

Par conseqiitncia, aampreendo perfeitamente que seja pretziso que a ctdncia tarnbenr encare o Absoluto, niZo para

obter uma certeza maternatica, mas para ior~nar uma certeza moral, uma probabilidade maior ou menor,

i? porque assim 6 , e porque em eertos aspeotos repa. gna aceitar o conceit0 d e que o Direiio k o camptexo de normas de conduta impostas pelos governantes aos gorer- nados, porque, s e ha governantes bons, hl, iambem, gover- uantes maus, iirdnicos, dispotas, pelos quais poderu ser ditadas m l s normas de aonduta, destinadas antes a vexar e escravizar do que a estabelecer a harmonia social, eu quelo que no Direito haja, alem do fundo experimental, tambim, utn fundo racional.

Eu quero que o Direito, para ser legitimo e para ser respeitivel, passa oer acatado cotn respeito por quem obe- dece, possa ser aceite pelos membros individuais e colec- tivos dos proprios governados, pelos shbditos. E porque assirn e, eu quere que no Direito, que tem duas fontes ex- perimentais, haja, tambbm, uma fonte racional, que k a pr6pria no@e de Direifo, e qua1 s e encontra corn a noc%o de Jus t i~a , corn essa nocao absoluta, a jusrica.

Eis a razao porque dissemos que o Direito e umcom- plexo de normas consagradas ou nLo pelas leis alate sen- suo para efectivar a justiga social mediante as aspira$6es dos grupos de individuos em ohediencia a nocaes de Di- reito e impostas a nossa obediencia pot uma autoridade constituida.

As !antes experimentais do Direito 880, por cranse- qiibncia, us sollcihcaes on aspiracoes de tndividuos e de grupos de irrdividuos e u natcrrezn permanente do hamem. Mas, alem dessas fontes experimentais, ha uma fcnte ra- ciooal que i a prdpria t r o f l i ~ d o Direito gue se vai encon- l t a r corn a rt06do de Justi6o.

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4." Dasfontes do Direito (cod.) a ) - - . . . . . . . . . b . . . . . , . . cl- dj- . . . . . . . . . - . . . - . . . . . . f !-AIbm das fontes formais o Di-

relto tern fontes reais. -Uma escola de Direito que pre-

domlnou em todo o s4culo pas- sado e ainda hoje ten1 adeptos s6 admite as fontes formals do Direito.

- Presentemente, suryiu na Ale. manha a ~Doutrina da lei lo- gicamenle sulicientesp.

-Nenhurn dos argurnentos por ela ofereaidos B procedenle.

-0 artigo 16." do Cbdigo Civil d B ao 'Julz poderes para resolver as questoes sBbre direitos e obrigsqoes pelos principios do Direito nafural ccnforme as cir. cunstancias do caso.

-Estes princlpios v8m a ser os elementos geradores do Dlreito ou fontes riais do Dlreito,

---As fontes rials seo : os elemen- tos riais ou naturais geradores do Dlreito e o elemento ratio- nal. 0 s elementos rlais ou na- turais deduzem-se do compor- tarnento do homem que vive em sociedade segundo os fins que o indivlduo tern necessidade de atingir e , albm disso, da natu. rsra permanente do homem.

-0 elernento racional a qua Jeny chama elemenlo ideal, 6 a pro- prla nocao de Uireito que se encontra corn a nocao abso- luta d r Jusliqa e qua 4 conhe- cido pelr intuicao.

A'lLm das fontes formais de Direito, haveri foates reais de Direito ? E' &ste o problema que vatnos tratar.

Que existem fontes formais e fnra de duvida. Existirzo, a par dessas Iontes formais, ouiras chamadas fontes reais?

Hi mllitos escritores que p6em em duvida a afirmativa. Ha jtlriacoasultos que ainda hoje consideram despicieildo o estudo das foates reais de Direito.

0 s i c . XIX foi intluen~iado por uma e s ~ o l a de Direito, c h a ~ i ~ a d a a Escola de Exegese, que ainda hoje subsiste en- tre n6s, segundo a qual, a Lei e a linica fu~rte do Dirsibo,--. a Lei *lato sensu>a. A Escsla da E.regese ou o mglodo de exegese 6 uma das duas Eases extremas que se notam no mCtodo tradicional. A outra 6 conhecida por gramaticfsmo.

Na prirneira fase, na fase do gramnticismo, a lei tinha uma origern mistica e feolbgica; a lei derivava ou directa- rnente dos deuses, dos seres supremos, ou, entlo, era urn produto do leeislador, por sua vez,inspirado pela d~vindade. A lei, por consequdncia, era infalivel e indefectivel, porque o legisladoc era omniciente e omnipotente; coahecia tudo, sabia tudo, tudo tinha preseate, tudo havia previsto.

Esta fase do gramaticisrno nZo ramonta a uma epoca tao afaslada d a Histdria do Direito, que nZo possamos en- contra.la em llluitos escritores, cujtl leitura era o rnaior re- curso do saber dos nossos prorimos antepaesados.

Entre ruuitos lratadislas franceses e a l en~ l i s , em cujas ebras s e verlfica dste faclo, temos : Demolombe, Proudbon e Taullier.

Proudhon afirmava que a interpreta~Ho do Codigo Na- polebnico se fazia no proprio C6digo Napoleonico.

Taullier, por sua vez, dizia - rEu interpret0 o Cddqo

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NapoIe6nic0, sem me importar com a jurisprud&ncia antiga nein con1 a jnrisprnd&ncia nloderna nem corn a Hist6ria do Direilo Roaano,

Jfi s3o u m pouco diversos os principios em que assenta o Metodo Traditional na sua fase exegetica, a-pesar-de no- tarmos, nesta, tarutem, o culto do texto da lel, isto C, o cullo do texto da lei substituido ao culto do Direito.

Por exemplo, o professor Brunet disse num dos seus 1ivros:-aEu nIo conheqo o Direito, eu interpret0 o C6digo Napole6nic0, eu ensiuo o Cbdigo de Napolesoo . . .

Qoere dizer, para ele, o Direito Civil era todo contida no C6digo Napole6nica.

0 C6digo Frances chama-se C6digo Napole6nic0, por. que foi discrltido sob a presid&ncia de Napoleao quando Consul ; pela mesma razPo o nosso C6digo Civil s e chama, par vezes, o Cddigo do Visconde de Seabra. ( i )

( I ) 0 uosso Cidigo Civil apareoeu, coma sabemos, urn pouco alrazado em rela~zo aos c6digos de outras naq8es europeias.

Em 1822. criou.se urn premio para quem apresentasee um pro- jec to do C6digo C i ~ i l .

Como ninguCm tivesse metido ombros i empresa, na sessZo das constituinies de 8 de Fevereiro de 1826 repetiu-se a oferta durn prt- rnio para o autor do C6digo Civil e ronovou-se a inicialiva na pr6prin Carta Consiitucional l i e 1826, art.O 145.", 5 17.'

Seguiu-se urn period0 de agita~Bo politics, de guerra civil, lutas entre libcrais e absolu~isias que terminaram pcla vit6ria dos primeims.

Por decreto de 8 de Agosto de 1830, fo i encarregado o Dr. Anti- nio Luiz de Seabra, juiz da Relac30 do Pbrto, de redigir o projecto do novo C6digo Civil. senda nomeada pelo m e m o Decreto a Comissiio Revisora, composia de Viceale Fer~er Neto Pai ta , Coelho da Rocha, Pais da Silva e Sousa RagalhBes

So a 22 de Junho d e 1857 o visconde de Seabra apresmtou C5mara dos Deputados a primeira parte do sen projecto, intitulada = B a eupacldade ctoilu.

Em 1858, porem, apareceu i~ primciro projzcto completo, p u b l i ~ c ~ d o pela lmprensa da Univcrsidade d e Coimbla.

A ComissXo Revisora j i referida, a que um Dzcrelo atrepou, en1

nlerlin, que e um outro grande professor e escriior franc&, emprega uma expressio na sua obra que e por assim dizer o Iema da Escoia de Exegese, .avant lout, la Lois--eu s6 me importo con] a Lei.

Laurent, escritor e jurisconsulto belga, disse que a lei nao deixa ao interprete qualquer arbitrio na interpretaqso das leis.

Podia citar-ihes inde[enidamenle escritores que seguiarn a escola exegttica, mas, se quizerem fazer urn estudo que lhes d& conhecimentos nlais vsstas sbbre o assunto, yodem consultar o livro de ~onnecase-aL'Ecole de I'Exegese en Droit Civil*. ( 4 ) HA, tambem, entre nos. positivistas que s6 consideram direito positivo o estabelecido na lei.

Julho de 1858. Alexandre Herculano, Anlouio rie Melo e Carvalho. Siiva FerrCu, Filipe de Soure, Levy Faria JordBo, Ant6nio GI] , Jzrd- nimo da Silra, Oliveira Marrcca e Carvalho Martins, comecou. entjo. os seus trabalhos rcvisiooistas.

Em 1859, Seabra publicou ulna seguada edr+ do scu projecto com algumas correccaes, n qua1 foi mandada submeter i Comissio Revisora a qtie fornm agregados novos vogais.

Em T863, 1864 e IS&, foram apresentados 0 5 irabaihos da Co. missHo, em succssivas ediqcies, aiC qur, em 9 rlc Novembru de 1865, o Ministrn da Jus t i~a , Auguslo Cesar Barjona de Freitas, levou o pro. jecto h Canlar;~ don Dep:ttados, sendo o parecer da ComissBo de Le. gislacHo da mesma CPmara dado em 2! de Junho de 1867 e o projzcto aprovado ap6s ripida dascussZo.

Em 26 dz ~ u n h o , do ~nesmo nno, a Chmara dos Pare. ratirirava aqnela aprova~io e o C6~ligo era tornado lei do Pais em I de Julho de 18t7.

0 Legislador do Codigo Clri l foio parlamento,mas, a-pesar disso, 6 muito conhecido pelo Cddigo do Visconde de Seabra.

(]) Nessa sua obra interersanliscjima. Bounecase rsduz us prinii- pios da escola exegitaca aos cinco seguinles:

1." - Culto do lexto da Lei ; 2." - 0 predomfn~o no pensamento do legislador sBbre o concci-

to livre do Diredo ; 3 . O 0 espirito mclafisico;

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Na Alemanha, essa doutrina foi defelidida por Brinz e Ziielmann.

Brinz escreveu urn litlro i lDip Iogische geschlosscnhaii , des Keclr.ts* - eDoutrina das leis lbgicarnente suficientes*,

s raciocina pouco mais ou menos assim: - A lei i suficien- temente vasta para formar o direito, porque a lei interpre- ta-o coln lodas os recursos d e que pode servir-se o espiri- to. E' suficiente para regular as rela~6es da vida social, acrescentando que nem pode ser de oulra maneira. 0 Direito esta consubstanciado na lei. 0 que 6 que distingue o Direito da moral? ou por outra: qual t o elemento espe- cifico do Ilireito? Segundo alguns i a coac@io; ora a coac- qao e atribuida h norma pelo Estado que e a auioridade normalmente constituida. Por isso 6 razoavel que s6 a norma traduzida em lei pel0 ore20 legislative do Estado possua a coaqxo, que C o elenlento especifico do Direito. Por conse- qu&ncia, lei que nZo tenha sido lormuiada por espirito, ou

4 , O - A doutrina da o~nniciencia e da omnipatincia do legislador; 5." - 0 respeito pelos psecedentes dz interprela~Zu e d s auto-

ridade dos interpretes ; (enuuciado par Bonnecase como seado o prin- cipio do respeilo pelos precedcntes e wela autoridade)~.

Culto do texto da lei, como ja dissernos, quere dizer o cullo da let ~ u b s t ~ i u i d o ao culto do Direito.

Conforme Bste pr~ncipio, o Direito positivo d e ~ e seT a preocupa. c I o exclusiva do jurisconsulto: idet~tilicatido-sc o direito positivo in- ttiramente corn a lei.

0 predorninio do peusarnento do legislador s6bre o conceito ii. are do direito signih'ca que urn texto nZo vale riada ern si ptbprio, mas todo o seu valor e s t i na intenszo do legislador, q u e o iaterprete deve procurar tradueir.

0 espirito tnetallsico, isio e . a caricier il6gic0, parodoxal, quanto ii doutrina esegdlica e yuanto i existencta c funciio do direito.

Fiiialmente, a doutrilia da ulunicitncia e da amnlpotPncia do le - gislador O N o cacaiter proluudatueute estadisiico da doutrina e~egltica.

direito que nso tenlla sido f o r n ~ u l a d o por u m a lei nZo pode, ter coac$lo de urn Estado.

Arguments mais : o que vem a ser o Direito ? Kant diz que 6 o conjunto de preceito que r e s t r i n g m o lihelrdade Individual ; por conseqii&ncia, onde ngo ha preceilos, ha pleno dominio de liberdade, cada urn Iaz o que quere, sem estar vinculado por nenhuma regra.

0 s fautores da Doutrlna dus leis logilglcamentb su f i - cs'entess, (a que Geny charna q5teoria da plenitude Idglca- 112ents necessdria da legisla~rio escrita* a paginae 193 do seu *i\ltthode d'interpretation), dizem : - ~ S E o Iei e s c ~ l t a nBo for a slndca Jorrce de direilo, n8o pode existlr a liber- dude. Se nao existirem preceitos rorrcretos e normus co- nltecldas que 160s d f g a m a t i onde cuda qsal pode excrcef a sua actc'vldade, sen6 rnenosprdxo pelos direitos de dutrenr, sconfeca que Jica scru se saber yual a extensno da hber- dude de cad@ Irm, qual u dmbilo ena qlse coda qual se podc mover*.

Mas isto o%o e assim. Esses argumentos sgo realmente de algum valor : a tradi~Xo nssse sentido e forte. Este con- ceito do exclusi~.ismo da lei como fonte do direito, qae a iescoia exeg6tica~ propugna. 6 urn eonceita que tern pro- Iundas raizes histdricas. E' urn conceito que Ihe foi empres- tado pelo fil6sofos e enciclopedistas, pelos homens que orientaram a Filosofia da RevolugZio ~rancesa .

Entre esses fil6sofos, foi Montesquieu quem melbor o ennunciou, tanto no seu esprit des Lois . , como nas suas ~ L e t f r e s P e r s a ~ t n e s ~ , e a sua afirma~ao Loi domi~ante em relac% a todos os escritores do siculo XIX.

Se lermos o nEsprit de s L o b & , encontraremos, varias vezes, o conceito de que a lei deve ser ionte exclusiva do direilo e qcie o interprete, mesmo que seja juiz, nunca, em caso algum deve criar o direito. ( 1 ) --

(') No livro I \ do .Esprit des I.ois8.. Floutesquieu diz que *o juiz 6 apetras a boca da tei ; o ju i z 6 urn sec iuanimado qoe n8o pode aiterar neul a f 6 r ~ a nem o valor da lei ..

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Nao i , p o r i m , assim, pois reconhecidamente a lei nZo 6 suficieule para julgar as rela~ges na vida soc ia l . Ha ate ulu raxo dedireito-o Direito Interoaciona!,-em que a lei apa- rece por excep~go, sendo a maiuria das rela~6es discipli- uadas pela doutrina e pelo coukuine. Os senhores, quando estudarein o Direito International hlo-de vei que as con. ven~ties $20 poucas, sendo, purisso, o direiio normativo muilo reskrjto, e que a maioria das reIac6es eotre Estados e a i i ellire si~iadaos de diIercnies Esiados s2o reguladas, prin- palmente, pelo costume e pela doulri~ia. Por cooseqiidbncia, ve-se que, a16111 da lei, lato sensuk, alem da norma, h i uru direito yue n8o esta coutlda em normas escri~as.

Pensando bem, o Direito, no estado actual da Cikncia. nEo e ja aquilo que Kant deiiniu na sua mix i i~ a - sO Di- rcito r' I J P P I ~ U S u ~ n car~jijilnlo de greceitos r e s t r i t i ~~os an 11- berdn,ir?m. Hole, a funqau du Direito 1120 e, apenas, uma funcLo restriliva da liberdade. N u conceito ~noderno de Di- reito. a finalidade 6 diversa. O Direito imp& deveres e dh poderes legais para que o honleii~ possa desempeohar-se b e n ~ da [un@o que Ihe 6 impusla dentro da sociedade em que vive. Estudadas as oritens do Lire~io, encoutramus outro conceito diverso, fazeluos concepq6cs diferenles e po- detrios cotisiderar a le: iosuiiciente. 0 principio especifico da lei pude encoritrar-se iora da 'oaccaa e pode 5er uma simples tendsncia para a coacqPo.

Hi quetn Jiga, coin0 lellinek, que o elemento especi. fico do Direito e o ~ni l~ in to dtica.

For cooseqii&ncia, aioda que nso possanios entrar de- senvolvida~nente no estudo da doutrina de Brinz, conclui- i i ~os , tia verdade, que, a!em das fontes forrl~ais de Direiio, eristetii outras, as fontes leais de Direito.

Se admiiissemos, por hipokese, a ndoutrina das leis lbgicawente suficientes r , ainda subsistia o problems.

A lei i, fora de dlivida, uma express20 de direito, Mas pregunio : 0 que e que forma a substincia do Direito? 0

que 6 que deterrnina estas normas de-conduta que estao expressas na lei? A lei nasce. porventura, como Minerva nasceu do cdrebro de J~ipiter? Ou, pelo contririo, a lei foi produzida por elementos geradores ?

Seguramente, a lei nRo msce abruptamente da c a b e ~ a dos governantes.

Aos governantes silo subm~nisirados elemcntos de for- rnaW das leis, elementos estes determinadus por circuns- tiacias economicas, politicas, religiosas, morais, soc~o- Ilig~cas.

E' verdade que, s e n6s pretendermos aplicar 16gica abstrata, relilicames que no caso ela n8o existe. 0s coman- dos ou normas de conduia siio imperativos impostos aos sPbdilos, e as tais solicita~6es da vida social a que nos te- mas referido, que sso elementos experimentais das Lontes reais de direito, seriam pretensses dos pr6prios sCbditos.

De maneira que, se a i6gica abstracta, exigc que a norma itnposta aos cidadzos venha de fora, n%o existe no caso lirgica abstracta. Mas a verdade e que o Direito nasce no mdo social, nlo pode existir sem ele. 0 meio social, que d urn ser vivo e consciente e urn principio da Gonser- vaGio ddbste, que k presidido pelo governante, exige que as leis, as normas de conduta, sejam determinadas por pretens6es ou solicita~6es do pr6prio meio social, por individuos que o tormatn. Concluitnos por c~nseqii2ncia. que, alem das fonies formais de Direito, existem fontes reais de Direito. Precisamos, agora, saber quais s%o essas fontes reais. Ja dissemos, mas n i b explichmos, que os ele- mentos geradores de Direito on fontes reais de Direito, que existem ilem das fontes formais, s8o dois e!ementos expe- rimentais e urn elernenlo racional. 0s elementos experi- mentais sao: as solicita~6es do meio s o ~ i a l e a natureza permaoente do homem. 0 elemento racional 6 a pr6pria no@o do Direito, que vai enconbar o conceito absoluto de

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lustifa. Vamos ver ci111u i q1:e nos dfdu.iimos us elemeotos experimentais do Diteilu.

Esses eiementos experimentais silo uns variaveis e outro fixo. Uns sgo forn~ados por circunstincias diversas a cada mo~iiento e em cada pais, como s e cosiuma dizer, di. versas em cada epoca e em cada latitude. 0 outro e o ele- mento fixo, porque a natureza, da especie humana, confor. me nos ensitaa a Historia, desde ha muitos seculos, desde uma epoca milenaria, e invariavel, ou quisi invariavel. 0 homein, desde epocas milenarias, apresenta tendencias aprorimadas, as inestnas ou quasi a s mesmas. Isto fez com que cstudando essa natureza permanente a luz da biologia s e criasse uma ciencia nova intitulada Biologia humana. ( I )

Essa ciencia veritiia o dado e m que assentamos, se. gundo o yual a natureza humana e quasi permanente. Mas, varnos agora vet quais sPo os e l e~~ len tos geradores de Di- reito. Para isso temos de nos socorrer da sociologia.

Nauret tern urn lirrso il~titulado ~lltatroduction i la So- cielogie:, em que estuda o que &le chama l o s co;ltportn- mefltus hurnanos::

Vou dar-lhes urna idea, .,per suma capita,, do que se deve en!ender, por ~comportamentos hurnanos*.

Mauret diz que as sociedades humanas sZo como que urn vaso fechado, que comporta o sentimento e as ideas dos individuos, e da.nos outra imagem : ~ s s o como urn ecran onde s e desenrola o cinernatografo Jos ideais dos sen- timentos humanosx.

0 s ho~oeos, que vivern ern grupos, tern em geral os mesrnos pensamentos, os mesmos sentimentos e a mesma acp%o, Uniformizam-se os seus pensa~nentos no setatitnento

( 1 ) Se qui'erem mais pormrnorcs s6bre esse estudo podem con- bui tar o llvru de Grasset, piiblicado ha 21 anos. ~ ~ ~ t ~ t u l a d o ( La Btolog~c Wumarnt~.

r na a c ~ g o . E 6 a sua ac~i lo , pensanlentss e sentimentus, que t l e chama comportamentos humanos.

0s comportamentos humanos, 1raduzem.se em noq6es e acq8es; noqBo, idea, creasa, pensameuto e ac~Zio que s8o o modo d e sentir d&sses grupos. Ora, esses c.omportamentos liumanos podem classificar-se; os Ilomens procuram alin- gir fins, e esses fins e que nos dPo o critkrio para a classi- ficagBo dos cornportamentos. Umas vezes, os homens pro- curam satisfazer necessidades; surgem entzo, a ind6stria a arte, a economia, a vida das coisas. que sso m a vida f i* sica, urn fen6rneno econ6mico revelado por circunsllncias, de facto, economicss.

Ha circuastPncias, ern que o homem que frequenla a casa de outro bomem, taz politica nesse sentido. Uma outra espkcie d e circuustancias s%o as que resultani da vida das relaqaes do homem corn os seus sernelhantes : sgo os fe- n6menos sociais que geram a vida politica ou a vida das re la~i ies ,

Outras vezes, o homem por uara necessidade intima, recbndita do seu ser, precisa de comunicar corn o hletu- .tjmulo, corn o super bumano e surgem, entno, outros fe- nbrnenos religiosos ou misticos, etc., cemo diz Mauret. Corn- preende a religigo e a magia, que determinam a s normas de conduta do homem. Sao, por consequ&ncia, segundo &le diz, esses fen6menos que correspondem aos comportamentos humanos para o hlem-tdmulo. Temos os fen6menos econ6- rnicos, politicos, religiosos, sociol6gicos, morals, que sXu deterrninantes do comportamento humano, porisso, el^. mentos geradores do Dire~to , elementos variaveis e ewpe- rimentais, geradores do Direito. A doutrina de Mauret e aceite pelos jurisconsultos.

.La science et la teehmique e n Droit Positif)) de Jetay, dmyen da Faculdade de Nancy e fundador da esco!a clenti- Hca, urn livro, cuja leilura e bastanie dificll, n%o sendo, por enquanto, de aconselhar a alunos que comeqam agora

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us seus estudos juridicos. tambtm admite eletnentos gera- dures de Direito, elemeotos reais, a que ctrama exactd- inente naturais e elementos ideais ( I ) .

Para &le, os tais elementos naturnis sgo as circunstaa- cias de facto qne rodeiam o homem, que determinam a sua norma de conduta. SZo elementos ecnn6micos, psicologicos, climaliricos, fisiol6gicos, religiosos ou imateriais e, depois, exemplifica:

0 homem sente a rnulher. tein necessidade de unir se a rnulher; dtsse.fen6rneno fisio'hgico, que t espiritual e na- tural, resulta a necessidade do casamento. A sociedade tern necessidade de que o s filhos sejam recoohecidos pelos seus pais, sejam dirigidos por eles, e assirn d que a lei re- comeoda, de certo modo, a investiga@o de ~a te rn idade~

A lei presume que os filhos do casamento sLo fiihos legitimos cpater is est quem nzipfiae dernonsl'ranfx.

Outro exemplo: E' mais facil demonstrar a materni- dade do que a paternidade, porque a maternidade i e v i - denciada pelo facto da gravidez, ao passo que a paterni- dade resulta de urn acto secret0 e dificil de observacZo.

(1) 0 Metodo Clentifico P ulga escola fundada por Jcnp, sendo seus representantes lauitos escritores ou c l ~ ~ l l i s t a s franceses, belgas c alguns ~talldnos

Na Escola Cientif~ca, encoalramos, entre outras, as segu~litea caracter~siicas

1.'- A ajzr,~?n$ao ill* yxe, l z ~ t m d t z i foizte~ j l ~ r n ~ f f l ~ ( / L

U ITP I~O , t / P ) ~ ~ ~ + ? P ~ L I S g i r a ( f o r , , ~ do pt @ T I @ Dirt l fo , ~ N C . s(' (it'. ~ ~

rr i l rrz ixo~ir fcoztrr rcai 110 Dk;r.pito. E' e q t : ~ a primrira idea cnmum a todos os mdtodos da Escola

Cientifica. Ha fontes formals de Direito, mas, i16m delas, ha eiemdu- tos g-radores do Dircito, eienlentos don ' e promana o Dircito, que sc chamam funtes rcais.

A Escola Cienlifica ou Mitodo Positiso parte, pula, do principio que existem, i l h das fontzs fortnais, as fontcs teais ou eletuentos garadarcs do Direito, sendo estes elemenkos geradures a e:cperiEncia labraniendo, nesta elamellto cxpcriEniia, as esigencias do meio svciai

No Direito Privado, h a dois rarnos-Civil e Comercial. 0s elementus experi~nel~lais variiveis du Direito apa~ecem rnais nu Direito Comercial, e o elernellto experimental. fixo. o elemento que resulta da natureza permanente do homem, actua mais no Civil, I5 ficil~neate se v&, pois o tomercio estabelece*se entre iildividuos em virtude de uma indlistria.

O comerciaote, que exerce unia indfistria, 6 mais in- fluenciado pelo fenomeno economico, isto e, por um fen6- meno experimental variavel, gerador de Direito, ao passo que o Direito Civit regula a s relaf5es do homem com a fa- milia, corn o seu semelhaate: sao fen6meoos que mais in- teressatn a natureza permaaente do humem. Mas JCny diz que? Aldm d&sses fenomenos naturais, a que nos chamamos sxp:pprirrtcn!niais, h a quem acrescente o elemento histbrico, Mas, aIem dbskes. existe outro elernento na terminulogia de Jtny o ideal : elernento que nhs vimcs curresponder k no@o de Direito, que vai encontrar o Absoluto da Just i~a. Aleru desses eleulentos euperimentais e histbrico,'hA urn outro faclor que fornece dados ao Direito.

Se n6s examii~arrnos uma gues[3o juridica muiio deba- tida. vemos que. alem dksses elernentos geradares do Di-

e o escudo d4 yr6pria nature1.a do ljornem t .r l coino el2 uub 6 revrlada pelas Ciencias Naturais e pelas CiEncias Plorsis e :t raz%o, quc con- troia a experiE~cia e n io dcixa que esaa conirarie a funcdo du Direito e a prbpria n o ~ B o de Dlreito,

2.'- 7'trL!r7.r os irzi;!u,Z~.i / / r ~ L ~ . ~ c a ! n Lierztr/il-a i t / ~ i i i ~ c . ~ i ~ ,foinatizr fo+nlLris (re. /,)irt*ii, I, fro l c z / i i dm jotontes T ~ L E ~ S .

3.' - f l / ? n u b s f n ~ z f ~ a . ~ I . ~ ~ t l i f i c l r / d ~ ~ , 12.7 1bnte.i rcazs it? L ii. 7eito t-ofztirinraili fz nifirdr, qrrer para c ~ i a r Dircito i ?itnt,yt-?ri n'ta i ~ i , yucr ,b ,~ra io/ii?a), izs irroiid,ts do Direit(?.

4 . O -- '4 i(,i uijo / s ~ / i ~ : i t 9 ~ t t : plz~u ~ & < q ? f / ( ~ r tod(i.~ (I.\ 7 ria. gdcs sai:iazs. A lei .r:; /Irei.j~( wr t r> i / . I~so.~. e $6 r . ~ . ~ ~ . ~ L . , ~ I O . C ?r ' -

gaia, Heas (2 ici d t n e st.? i i ~ t ~ r p ~ e f a ( i a , avres dc a ~ P C I U ~ ~ I I I I I I C ~ S irzsu)icient~.

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reito, experimenlais e histbrico, exisle urn outro elemento, que corresponds ao sentimento publico.

S e peiarmos no relalbrio de urna lei, na exposic30 dos mofivos, par exemplo, do C6digo Alemao d e IS%, vetifica- mos que o legislador atendeu rnuito a esses *desiderata..

Esses desejos e sentimenlos pliblicos, esses anelos da civiiizagiio C o que Jeny chama o elcmcnfu ideal, e, dcpois, diz que esses .desiderata# n%o equivalern a opinigo p ~ b l i c a .

A epiniao p6blica pode ser, as vezes, determinada por esses *desiderata>, por esses desejos, mas, a maior parte dae veaes, e determinada pot sentimeatos baixos, inferiores, e, entiio, destaca.se perfeitamente das tais ndesiderata~, dos iais elementos ideais do Direito.

Esse elemento ideal do Direito adquire-se e adita aos outros tlemenlos geradores do Direito o elemento novo que faz corn que o Direito vP encontrar-se com o Absoluto da Jus t i~a .

Esta li@o tinha necessidade de urn outro desenvolri- mento, mas eu tenho o meu programs, que d o de corres- ponder a cada quest30 uma l i~8o .

Rccapit!cllmdo : Pelo que acabo de ;.xpor, ao Iado das fontes tormais do Direito, existem a s iootes reais, que sZo constituidas por elementos naturais a qce eu chame expe- rimenlais e por urn elemenlo racional. Por sua vez, os ele- mcntos experimentais geradores do Direito s2o uns variC veis e outro fixo. SZo variiiveis os fentimenos econ6mic0, politico, sociologico, religiose, moral, fisiologico.

E' fixo, o que resulta da natureza permanente do h ~ - mem, mas ha, alkm disso, o elemento racional gerador de Direito, que corresponde a prbpria no~Zo do Direito, a que niio C estranha a i n t u l ~ S o da Justiqa.

5."Dasfontes do Direito (cont.).

GI-. . . . . . . . . dl- . . . . . . I .

0 ) - . . . . . . . . . - f ;I- , . . . . . . . . g)-A lei n8o B tinice lonle formal

do Direito. -Escoias de Dtreito que afir-

mam que a Lel 6 a unlca fonte formal do Direlto.

-A escola cientltlca do Direito sustenta, pordm, a tdse de que Albm da Lel, hB outras fontes formais do Dlrdto.

-Diverg&ncirs actentro da Esco. la Clmntlfica sdbre quais sejam as fontes formals do Olrelto.

-A opinido de JCMY e BONNE- CASE que n&s adotarnos se. gundo a quai as fonles formais do Dlreito sao : a Lei 6 o Cos- tume.

-0 que & o costume? -Elementos meteriais do coa-

-Elemento psicoi6gico do cos- tume.

Continuando a quesrao tralada na li$%o anterior que consiste em saber se, alem daq fontes formais d e Direito, existem fontes reais de Direi~o, vamos hoje ver quais s l o rsoas fontes formals.

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N i n t u e ~ n duvida que existarn fontes farmais de Direi- to. Mas quantas silo ? Quais sHo ? Eis o probletna de que hole nos vamos ocupar. A que.itZo . loaga e 1120 podemos, certament~, versa-la numa so l i ~ a o . !'rocuraremos continua- -la na li@o seguinte.

0 Diraito, corno ja vimos, tern fontes reais, isto e, ele- nlentos geradores d? propria Direito, tem revsstimentos dksses elemeutos geradores, reveslirnentos cancretos, seu- siveis, aos quais chamar~los fol~tes formais d o Direito. Se- gundo algurnas escolas de Direito, ou n~elhor, a Escola de Exegese e a Escola Hist6rica Evolutiva, numa palavra, se- gundo os posilivistas de Direito, existem si, Eontes formais de Direito sendo a Lei a ~inica fonte formal.

A lonte fornlal de Direito ser i so a lei, a lei -lato sensuu, abrangeado v5rias espicies de normas escritas hie- rarquizadas-a lei e as diversas especies de regulamentos constituindo sd isso fontes formais de Direito.

Segundo a Escola Cientifica, a161n [In lei corntl ionte formal de Direito, existea outras fontes formais, encon- trando.se apenas divergencia entre os seus sequazes.

Ao passo que uns, cotnlo Geny e Bouuecase, querem que as fontes Lori~~ais de Direito s e j m a lei e o costume, oulros como Lambert. que Eoi eminente professor ae Dlrei- to em Lyon, querem que sejatn a lei, o costu~ne e a juris- prud&ncia, outros, ainda, cotno \\'ander Eycken, querem que sejam a lei, os actos preparatorios da lei, o costume. o uso, a jurisprudbncia, a doutrina e a t~adic8o.

As fontes formais do Direito estfio para as lontes reais do Direito, Eomo a forma esia para a substincia.

As fsntes formais de Direiio s8o o revestimento exher- no, sensivel e concreto por que se uos revelam e imp6em as directrizes do L)irei:o. As Iantes formais representam a materializaq30 da subskincia do Direito.

Saber, conseqiientemenle, quais s8o as fontes formais

do Direito, i o problema que consiste em determiaar quais sao as maoeiras como se revela o Direito.

-Revelar-se-h apenas sob a Eorrna de lei, como pre. tendern os exegelas ?

-Revelar-se-i tambem sob a torma de costume ? -.Podera, tambim, o Direito revelar.se atraves da ju-

risprudtacia ? -Ha~era , ainda, oulras formas por que o Direito se

revele ? E' ksle o problema das fontes formais de Direito, em

cuja soluqBo existe diecrepiin'cia entre os varios sequazes da Bscola Cieo~iEica.

Geny, no resumo por & I t elaborado, no final da sua obra, (I) Eaz a s seguintes considera~aes :

1." A ordem juridica durn pals ndo k nrrnca plena. niente satisfeita pelas dlsposigdes das suas leis eseritas.

2." E', pols, mister encontrar outras vlas k pesquiza das regras de Dirtito.

Quere dizer que h i direito fora da lei. 3.0 - ALtm da lei, tarnbkm a costume P fonte formal

dc Dlreilo. 4.O-A l e i 6 , todavla, a principai fonte formal ds

Direito. Para J i n y , como &em, existe a lei, mas a lei B insu-

ficiente e, conseqiientemenle, te~nos de e~lcontrar outra faote formal de Direito. Jdny encontrou o costume.

0 mitodo de Jiny existe consagrado no artigo 1 . O do Codigo Civil Suisso : A lei ddscipllna todos os casos a que se rejere p ~ l a sua letra e esoirilo. A' falta de disposb @o legal o jtziz apliea o costume. A' falta de Dlrelto cos- turngiro dedd- segutido regros que fie prdprio estabelece- ria se jdsse legislador, inspirando-st nos decbdes consa- gradas peia doufrina r pela jurlsprudtncla.

(1) La Methode, ediclo de 1919.

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J&y diz tatiibdtn : a lei e ins!!firlente e por conse- qiiencia, 6 precis0 que exisia 0utl.a fonte lora~al de Direito - 0 costu~ue. Pode acontecer, porem, que o costume n8o contemple o caso e , entiio, o juii: tern o poder de decirlir conforme a0 tip0 ideal do legislador, segundo as directilfas da Ciencia e da Tecuica do Direito, ( A Ci&ncia ocupa-se dos dados ou dos elenlentos geradores do direito, isto e , das fontes reais ; a Tecnica tern yor object0 as lontes formais do Direito, ou as tornlas por que o Direito se pode re\lelar).

Por conseqih5uiia, o problema que se p6e, a primeira sub-quest80 que se IIOS impbe, 6 saber quantas sZo as fan, tes formais rle Ijireito, Ja dissemos que eram duas, para nos ; a Lei e o Cvstici~re, e que oio era s i a Jei conlo que- riam os exegetas e os historico-eeolucioaisias, em suma, os pasitivistas do Direito.

fisse problema dt: saber quais sgo as fontes formais de Di!.eito 6 , primeiro que tltdo, uma quastgo de posiqlo entre direito escrito e niiu escr-ito. 0 direito llgo escrito h i , an- tiganlente, llas ip i lcas relnotas, o predon~inaote. A s socie- dades regulavam se outrrbra, sobretudo, pelo costunle. De- pois, a evoIu@o fez-se nrr sentido do direito escrito predc- mioar em absoluta sobre o n%o escrito. aid haver quern eutenda que nBo b l sen80 o riireito escribo e as leis.

0 problema podia ter utn graade desenvolvilnento, n ~ a s 1130 nlerece a pena, porque C urn facto ca~:liecido hrqe. que o direito escrilo predomina sobre o direito nao escrito. Mas o que e certo C que ha uma zona legal e u m a zona iuridica,

Suporihamos dois ci~.culos concCut~.icos de rairis dife- rentas, tendo o que representa a ordem juridica o maior. Essa ordem juridica, na zona que fic;i lo:a da ordenl legis- laliva, e preenchicia pelo costume. I) centre e o mesmo, mas o cfrculo legal, e mais peq~le~lo que o juridicu. Onde oiio cbega o circulo legal, p i s 116s supoms a doutriua u r l a s leis Io_oicufnenti. suficii.ntes* tima doulrina iuaceila- p e l , sera preenchido pelo cosiume. 0 circulo juridic0 e

~onstituido pel~r it..cnl e jwlo rt,ilumt:i~.o. 1 1 1 : ~ e~ubora o cir- culo do I bireito seja rnaiur que o legal, o cerlu 6, porkm, qne e constitaido sir pela legal e o costuineiro, segundo a aossa opini30,

No enlanlo, e precis0 notar que o circulo costuruei~,~ 1180 corresponde exaciamente ao circuio de direito nzo cs- crito, porque tem havido costumes escritos.

Houve Inonarcas em Frauca e Pottugal, e, alem de moniircas, houve j urisconsultos, que t n a d a r a n ~ fazer 011 fi- zeratn, colecq6es de costumes.

Em priucipio, e assim. Costunle-Direito nZo escrito Lei-Direilo escritr~; mas, coruo dissemos, houve monarcas e juri5peritos quc n1andar:im essrever o direilo costumeiro e , entilo, fica~nos a ler u r n direito costumeiro escrito,

E m 1924, apareceu urn Livro em Francs, de De Clareil(l1 que Logo, no priiicipio, st ocupa do costulne colno fonte de Direito. Suslent:. uma tese, cuja apreciaqso nZo quero agora fazer, scgundo 3 qklal o costurne 6, ailenas, uin facto, facto que consiste, ~nuiias vezes, nutua sentenqa, ou decisao, que toram seguidas e que s e impuzeram ao povo,

Na prririma IiGBo, quando tivcrmos de falar ao uso couvencional e n9 diferencia~go entre uso e costume, nova- mente nos reieriremos, lalvez? i douiriua de De Clareil, para mostrar conio o uso conventional, que 6 uma qunesfio furti pode gerar o costume.

0 co.;Iume n5o era escrilo, mas as leis eram escritas, gravadas em tabcas de marmore ou de bronze, e colocadas no Tabulariuil~ do Capitdio. Por conseqiitncia, assentemos nisto hoje: o d i r~ i to escrifo predori~ina. actuairnente, E

muito, stbre o direilo n%o escrito, e , segundo uiua tese, que n6:: vatno? rlemonstrar enr seguida, o ftireito ten1 camo fontes fririnais nZo s j a Lei, co:i~o querialn os exegetas e - --

i , ) Roluc e l la Organization !uriiIiqrie.

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historico~evolucirlaistas !positivistas de IJireito), rnas tarnbkrn o Costume. 0 Direito modifica-se selupre e etita em perpttua l a b -

r a ~ 3 o . No seu eterno *deven i r~ o Direito, antes d e cbegar h foxma de lei ja, pur vezes, s e irnpae corn f b r ~ a coersiva, ]a conslitui normas de conduta externa.

Essas normas, que ji s e imp6em obrigaloriamente, mas que ainda nZo t&m expressaes de lei, sBo o Costume.

0 nosso C6digo Civil foi Leito numa ipoca em que es- tava no auge, em pleno prestigio, a ideologia da RevolucBo Francesa e, por conseqfl&acia, nZo podia deixar d e a ex- primir,

A filosofia da Revolu~Zo Francesa, que, segundo ups, (e C a opioiao que prevalece) e s t i ilubuida do Direilo Na. tural e, segundo outros, tern, como fundamental, o princi- pio da soberania da Naglo e o principio da independkncia d e urn Eftado dos outros Eslados, pode levar i convic@o de que 96 a Lei C fonte formal de Direito.

Parece averiguado que foi o Direito Natural que levou a concepc20 das ideas da KevoLucBo Francesa; mas pode afirmar-se, iambem, que os principios politicos da organi- ea@o esiadoal, saida d&ste movimento revolucionario, sao antes ideas dos politicos daquela ipoca, do que corolfirios durn conceit0 jurisnaiuralista.

0 s principios da soberania da NaFBo, em r e l a ~ a o aos seus nacionais, e da independ&ncia da Nacao, em r e l a ~ a o aos outros Estados, sfio conceitos estranbos ao Direito Na. tural.

Pelo primeiro pr i~cip io , o Estado imptie-se aos cida- d%os que compSem a NaqPo. 0 Esiado C soberano; s6 ele 6 que pode impor a s suas ordens e, assim, so a vontade do Estado, tradtlzida nesses coinandos e expressa nas fondes abstraclas, e que s e podia considerar coruo fonte de Di- reiio. Desta forma, so a iei era fonte de Direilo.

N6s ja d~monst ramos que, a16m das fontes formais de

Direilo, havia, tambtm, as reais, elementos geradores d e Ljireito, e que, portanlo, a lei 1180 e urn produtu expontAneo d a vontade do Estado, pois que 6 imposta ao pr6prio Es- tado, y

Ha eleruetitos geradores de Direito que diztm ao Es- tado: promulga ulna medida, urn comando neste sentido. O que C certo, porem, P: que no tempo d a l t evo lu~%o Fran- cesa, no tempo da cbdif ica~so do Codigo Napolebnico, s e considerava uma in ica Lonte formal de Direito, a Lei, im. posta pela vontade do Estado (1).

S e lereln a grande e volumosa quest20 que no telilpo da cbdifica~ao se levanlou entre os que defen- dial11 o principio cia cbdifica~go, e aqueles que eratu opos- tos a esses principios, sentirgo perfeitamente o que acabo de lhes dizer. Savigny, que foi urn grande jurisconsulio, opunha-se a idea da codif1ca~50 - que no s su tempo tam- bem tinha um grande defensor : Tibaud.

Foi, talvez, mais por ~uotivos d e ordem yolitica do que por quaisquer outros, que Savigny, de principios conserva- dores (era filho de conservadores e fbra educado segundo a ideologia do seu pai), nZo querendo aceiiar os principios dos homens d a Revoluggo Francesa, fez a campanha contra a cbdificaqgo, contra o espirito da cbdifica~%o que era, nessa Cpoca, lnuito deLendido For Tibaud e pelos seus adeptos.

Para Savigny, a lei ntio era a vontade de todos os ci- dadaos. Seguado o emiuente escritor, a lei adquire fbrqa, porque todos os principios s e podem aonverter em uideas. -fbrmsm e , colno tal, impor-se aos cidadgos, traduzinds-se em p~ecei tos legais quando o Estado se convence da vir-

(,) So cnianto, f o i n Conveuclo ftauccsa que fez us ..Direit05 do H o ~ ~ l e m e do CidadZo*, quc sSo principios dc Direiio Naiirral que se impdcm a0 [.rrt)prio Estado, na c o n f e r ~ Z u das leis constitucionais e or- dinidas.

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iude d&sses mes~nos principios ; mas, de modo i1ei11111ii1, s lei L mera i m p o s i ~ ; ? ~ da vontade d:r Estado.

Evidentemenie que, seguudo esla concepl;lo, a par d;l lei e antes da lei e como ge~ador da lei, existe o custome,

Como ji dissemos, o nosso CIjdigo Civil foi influen. ciado pela ideologia da Revolu~80 Francesa. E, na verdade, aiguns dos artigos do seu Tit1110 I.", revelam-nos a influen- cia d&sse ideal e a preocupa~%o de o traduzir, podendo as- sererar-se, que o nosso legislador nZo quiz admitir sulra fonle formal de Direifo que nilo fbsse a lei.

0 s ariigos 4.', 5.0, 9," e 16.", dao-nos esta impsess20. Alrsim o artigo 5.' diz : ,4 lei cirlil recnnhect? E especi-

fica tados e sRs dirrilos c obr iga~ i i e s ; n~unfP:jr P assegurrl a frui'cao dnqrdeles e o cumprlnietzto destns; dec lwa os casos en1 que o cfdarllEo pode ser iriibido liu ~xercic io dss seus direitos, e drterrnilza o modo cocr~o detle ser su/?ridn a jncapncidnde d d e .

De maneira que, parece que n8o ha direitos llem obriga~6es, que n3o sejaln contemplados na Lei Civil ; donde prirneira vista, se pode concluir que a uoica fonte forrual de Direito e a Lei.

0 artigo 4.qdiz: Estes direitos e obripcO.iics 12erivamt:- I.'' Da prdpria tantureza do horntiti; 2.' De facto e vontade p r d p r i ~ , i~zdependerlterntafr dil

cooperquo de oulrert~ ; 3." De facfo e vontade prd~irin 8 d e outvem corqiirl-

famcntc ; 4," De I I J E ~ O f iz~fo e vontade dl? o r ~ f r e t ~ i ; 5," D n rnera disgosip?o da lei. E d a a o s , assim, a en-

tender que todos esses direitos e obrigaqSes derivam da lei e que, portanto, a fonfe formal riu direiio sera a lei.

O arligo 9.", por sua vcz, preceitna: N i n g l ~ d m podp exiinir-se de cnrilprir ns obrigtzirl.lirs inrpllstn5 />or lei, corn! 0

pretexlo de ignordr~cia destfi , o i ~ conr o do sell d ~ s r c ~ o . Yor

couseqii&ncia, o desuso on costume em contririo n%o podem revogar a lei, a20 havendu, assim, direito sen20 na lei.

O arligo 16.", a que vatias vezes nos referirernos, tam- bem nzo recorre ao costume como fonte formal de direito, Diz Cle: s e as griirstdes sabre direilos e obr iga~ f i e s ado pu- dereriz ser. resolvidtrs, netir pelo te.vlo da lei, itern pel0 selr

es/drifo, rlenl pelos cesos r~rzuloyos, prcvenidos eot ontras Ieis, serri, derididns peios prirrcinios d s direit0 natural, rolifornze ns n'rcunsfrivcias d o caso.

Por conseqiitiicia, aparece uma questgo, urn litigio, urn ~diferendum\) entre liljgantes. S e 6sse xdiferendum~ nSo piider ser resolvido, nern pela lei, nem pelo seu espirito, neni peios casos aoilogos, prevenidos em outras leis, h i d e ser resolvido pelos principios do direito natural, conforme as circunstdacias do caso, mas nZo pelo costume.

Porissu, , primo compeclou, pode entender-se que o costume nSo serve para decidir quest6es, que o costume FSO inlervern oa soluq?io de coatlitos, isto 6 , o costume nzio C fonte formal de direito, pois os artigos referidos, a0 me- nos ao priniciro exame, negam a existencia de outra fonte de direito que n%o seja a lei.

N6s serernos que n lo e assim.

No entanto, enconlramos, em varias outras disposiqBes do Cidigo Civil, referkncias ao costume.

Assitrr, o arligo 4 3 8 . 9 i z ; 0 que flcn disposl'o lros arligos \~recrti.ntes nuo pr .~j~t i i , tar i i 0 s dircilos adquiridos c r : : tempo da prornulga~ria dCstd cridigo, sBbrs certas c de- f~rtrtinadus uguos por Lei, uso e costume, conc~ssdo ex- pressa, senten@ ou presc! iguo.

Neste artigo, fala-se, pois, em lei , uso e costnme. Tambim nos artigos 444.", 448," e 451.", s e fala

em iiso. No artigo 704." fala-se ens coasrqiitncias rcsiiais c

Legais.

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Em materia de prestaqgo de se rv i~os , a respeito do s e r v i ~ o domistico, no artigo 1373." diz.se tambd:n: -- flsulvo se Irouver costume d a terra enl contrdriora. E no artigo se- guiufe, 1374." a respeito da retrrbul~ao dos se rv i~a i s , man- da-se observar a costum~ da terra,

No artigo 1623:, verifica-se a mesma expressiio e, ii- ualmente, no artign 1628.", preceitua o legislador:

iVdu tendo sldo declnrado u pram de arrendnmentu erdtcnder-sew6 qrce b t e se fiaera pelo tempo costurnado na t ~ r r a ,

De inaneira que, ao passo que os artigos 4.", 5 . O , 9.' e 16.0 nos diio a entender, qprirno cornpeeto*, que sci a lei e Eonte Iormal de Direito, os artigos, que acabamos de exa- minar, impGem, pel0 contririo, o costume corno tonte for. ma1 de Direito.

Estamos, pois, perante esta pos i~%o do legislador do nosso Ccidigo Civil. Por um lado, nos principios gerais con- signados no capitulo I, parece que repele em absoluto o costume como foule formal de direito. Por outro lado, nas disposj@~es agora compulsadas, laz reterkncia ao costume o ao uso como reguladores das r e l a ~ 6 s s juridicas,

E' verdade que temos de distinguir duas calegorias nas disposi~6es do Cbdigo Civil por n6s analisadas: uma, a que periencern a s dispasi~6es dos artigos 438," e 444.O, em que se faIa de costume como ionte formal de direilo sub- iectivo; outra, que abraage a s restantes disposjciies men- cionadas, e em que se fala em cosiutne como criador de regras gerais de direito objectivo.

Na prilneira catetoria, o costunle d i origem apenas a poderes subjectivos ou poderes legais, segundo Duguit,

Eu , ao falar em costume coruo fonte formal de direito, quero dizer costume que crla regrns de direito obj;cbivo.

E' ~ e r t o que h i quetli diga, (como o falecido Prof. Jose

Tavares) ( r ) que o costume C apenas i o n t e h ~ e d i a t a do Di reito, porque $15 obriga quando a lei o indica e lhe dB fbrqa obrigatbria. Na verdade, &ste professor diz a pig. 126 do li- vro citado : qO costume nPo e, pois, actualrnenle norma ou fonte de direito, aplica-se apenas nos casos especiais de- terminados na lei, por mandado desta, e para suprir o si- lCncio das parks , cuja vontade se deve presumir ser con- forme ao que era o uso no local e no momento em que a relargo juridica s e formourn.

H i tambem qtrem d ~ g a que o costume formaria direi- tos subjectivos, ao passo que o direito objectivo s6 seria criado pela lei,

0 costume 6 tarnbem fonte de direito objectivo, e urn exame, que faremos, do art. 16." - 02 pri~lcip:us do direlto natural, conforme as cirsunstrinciks do cuso - levar.nos B a conclusao d e qlle o juiz tambgm pode aplicar o costume para decisso de pleitos, decisaes das questfies entre in. dividuos. (2) .

A questgo de saber se o costume cria clireitos subjec- tivos ou direitos objectivos resulta da confusiio qqus, muilas vezes, se estabelece entre usos convencionais e costume.

Cotno veremoq, porbm, o uso conventional 6 diierente do costume. 0 uso depende da vontade Bas partes ; o cos- tume eslabelece regras de conduta externa impostas coa- t ivamente.

Mas, chegados a &sle ponto, imp5e-se uma def in i~so do que seja o costume.

('1 Priaclpios Fundamentais do Dircito Civil. (?) 0 juiz quando nlo tenha i i , ou casos anilogos previstos em .

outras leis, forma hie e l nunc, urn preceito apenas aplicivel ao caso concreto que h sujeito i sua aprecia~Bo para decidir.

A sua deciszo tern a f 6 r ~ a obrieat6ria precisa para a enecutio do caso julgado.

Uecistes uniformes geram uma norma de conduta que i consi- derada obrigat6ria pelo povo, c que, porlsso, tern a ooplnio juris..

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0 costume, segundo o Direito Romano, era o r t n ~ i f r ~ s canscnsus popli f i Iorrga c ilsuetudi~ze irzr'et(mtus~.

Para meihar ankiise do conceito de costume temos de considerar isto no campo sociol6gico o u da Filosofia do Direito, e sob o aspecto apenas juridico.

No scu conceito rnetamente juridico, abstraindo do modo da sua formaqgo e das causas do seu aparecimento, o costume d a aregra d s direlto objective nau e s c r i f a ~ .

Sob o aspecto da Filosofia do Uireito, sob o ponto de vista sociol6gic0, o costume pode definir-se como uma rcgra que 6 produzida For actus repelidos durante muilo lempo e que t acornpanhada do qua se charna a opirlio juris* ou uopinio /tecessitalisr.

Na Lcl da Boa Razrio, 3 14." diz-se quais s%o os re- quisitos para o costunle se itnpor o u ter fbcqa de Lei: -

1," NPo ser o costume conlrario a le i escrita, coirtra k z e / I ! ,

2." Revia aer geral e conforme a boa razio ; 3.' Devia ter mais de 100 anos de durag%o, 0 costume tern de ser, pois, u/tUor~iie, drcradoiro

e geral. Durrr~uo, Gemernlidade e Unlvcrsnlihde sIo os tres

requtsitos do costume. Dese ser durndairo ou coma sa diz na Lei da Bua

Ri~zilo qlle seja costume prescrito. E' necessario qtle o cos t~lrue tenlla determioado a repeti~ilo dos actos durante rnui. l os auos.

Deve ser gernl porque n8o basla a pratica repelida, ainda que por muito tempo, de actos praticados For duas ou trCs pesseas. Para que surja a ceyra de ciiceito e preciso que a sociedade, tbdas as pessoas que a iomp6ern prati- quem repetidas vezes os actos yue estgo, na sub-suntpq%o de tal regra costumeira,

E' preciso, tan~bim, yut scja rtniforme, isto e , qne esses acbos sejam pratjcadus sempre da n~esma Iorrna.

Esses requ-sitos que eride a Lei da Boa Kazao, S o requesitos do concello sociologico do costume, s3o requesi- tos da Filosofia do Direito.

0 costume pode considerar-se sob o ponto de vista rneterial e psicaldglco. A repetiqa'o de actos, unitorme, ge- ral e duradoira, constltui o que se charna o elemleiltu rrtok- rial do costume. Sob Cste aspecto - material - deve ter, pois, os segaintes requesitos : -

a) Dara~lio - (deve ser de pritica duradoura); br Oenernlidade - (tacitus consensus populi) ; c) Unifornzidnde - ideve ser seguido por todos es quc

constituem o povo e sempre da mesma formal. NLo bas!a que seja seguido s6 por dois ou tr&s indivi-

duos, e necessario que seja uma pratica do povo, de mui- tos individuos e seguido uniformemente por esses indi- viduos.

0 requisit~ psicoldgico designa.se pelas express8es : w p i n i o necessitatisj> e ibopinio jaris);. E' preciso haver a convic~ao de que C bbrigatorio e essa obrigaloriedade, essa convic~%o de que C impost0 1 que se traduz pelas expres- s6es .ropinio necessilafis* e ~ ~ o p l ~ t i l ; jrrrlsl~.

0 que dcve entender-se por nopinio neccssitafis~ ou qopltiio j u r i s ~ n8o 6 ponto assenle na doutrina.

H i duas teses: uma diz que deriva da voatade e outra diz que deriva do sentimertto.

A primeira diz que e a vontade do povo, que praticaa regra, que da a coac@o,

Ha ainda a opinizo de que ksse eopinio necessitrrlisr deriva da Autoridade de quem aplica o costume.

Ha ainda a opiniao do Proi. Cabral Moncada, (I) que. nos diz que k a vontade do Eslado que da A regra costu- meira, que da pratica costumeira a aopirrio necessilntisu.

(') No~Ges Elernen tares de Direiro.

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N%o eslou muito de acbrdo corn a opiuiBo do Prof. Ca- bra1 Moncada, prJrque me parece que esia opinizo impcjrta a eliminapo do Costl~me coma fonte formal do Direito.

Se C o Estatin que d l a regra costumeira, a pritica coslu~neirn a jldpinio necessilalisl~ ; se 6 t l e que torna a Costume obrigatbrio, 6 o p r 6 ~ r i o Estado, a quem cumpre fazer leis, que cria a nortnrt de conduta costumeira, donde ficilmente s e pode tirar a ilac@o de que o Costu~ne o8o 6 fonte formal do Direito, Quere d~zer , o costume so tern 0 oainio nec~ssitatism por vonbade da lei ou do autor da lei.

NZio enconlramos esta opinizo do ilustre professor de. fendida por quaisquer outros escritores, nern mesmo pelos escritores alernfiis que s8o os partidirios da doutrina da vontade constituliva da aopinio necessitatls*.

Se a *opinio ntcessi tat is~ reside na vontade do Estade que manda aplicar a regra costuneira, pode parecer neces- sario que, para o costume surgir como fonte formal de di- reito, urn outro comaode do Estado o imponha como tal, isto 6 , que s6 exista o costume quando a lei o re~onhecer e mandar aplicar, Assim, o costume deixaria de ser fente directa e imediata d e direilo.

A teoria cia ~ o n t a d e geradora da regra, que diz que 6 o povo que tern a vontade de quz a regra costuneira tenha aopinio nece~s i t a t l s~ , e de Kelseo e L a que reputamos certa.

Quem defende a teoria d- que a fopinio necessitotis. deriva da vonlade da Auto:.idade quc pratica a lei i Hei- neccerus. Esta doutrioa e a da vontade preceptiva da regra ja cxisterite.

A4as para Savigoy, a $opLio necessitalis* e a convic- CXO dogmati~a em que e s t i constituido o povo, todos os membros da sociedade, os que praticam o costume, de que a regrir c 7stnmeirn r! obrigrrtdrin. Para &sie escrilor, a ~op in io ize:cssitatis* 6 um sentimento.

Mais tarde, porem, Savigny, fugindo ao dogmatismo

da sua douirina, mudou de parecer, passando a considerar a ~ o p i t ~ i o necessitafisc como a convic@o, ern que eslao os que praticam a regra, de ser esta obrigatsria pnr virtude da doutrina~8o feita pelos jurisconsultos nesse sentido.

Resumindo: - Sela coino for, vCem que temos que distinguir en!re costume jurirricarrtente e soriuli~gicait~ent~.

Sob o ponto J e vista jrdridico, o costume 6 uma regra de conduta externa, nPo escrita, com f b r ~ a coactiva,

Sob o aspecto socioldgIco, o costume 6 o *taclfus con- sensus populi longa coirsu~tudinc inveteratrcs*, C uma regra produzida por actos repetidos, durante muito tempo, e q u e i acompanhada do que se chama a '~apinio jurism ou c:opinio ncc~ss i~n l i s> ,

Tern elerric~tios rnateriais e eierlzenfo psicoldgico. 0 elcmclzdo ~rraterial 6 constituido pela repeticgo de

actos, uniforme, geral e duradoira. 0 elrrneillo psicoldgica cousiste na jB cilada uopitiio

necessilafis*.

Quanto ao que deve entender-se por xoplrrio necessita- f i b , nada esta assente na doutrina.

Uns dizem yue e urn acto de vonlade; e em rela~Bo a estes ainda encontramos dois aspectos diferentes:

Segundo um, a *opinlo necessifnfisn r' o acfo de von- tnde do povs gerador dn regra;

Segundo ouiro a vopinio itecessitatis~ 6 a vontade de se i r p o r , coaclivart~cnte, li regra d t dircifo j d e.rlsfeate.

A teoria da vontnde geradora da rezra e de Kelsen. A teorir da rlontadc prccepliva da regra ju rristsrtte

e de Heineccerus. Para Savigiiy, a ~op in io ~tecess i tn t i ,~ e urn sentiinento;

e a convic@o em que vive o POVJ , os que praticam o costu- me de que a regra costumeira C obrigatoria.

0 professor Cabral Moncada faz ainda referkntia A vari-

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fade do Estado. (,\ NLO e. porem, de aceitar a sua opinizo pois, se a ~~opinio n~ccss i ta t is ,~ reside na vontade do Esla- d o que manda aplicar a regra costumeira, pade parecer que para o costume surgir corm fonie formal de direito, teln de existir um outro comando do Enstado a imps-lo como tal, 0 costume n8o seria fonte directa e imediata de direito.

(:) $icaes de S i r e i l o Cluil, 1931-1932 r E' realmeute o Estado quem Iha (obriga toriedade juridica coativs) a trib~u (ponto de vista juridlcu,. Assim surge, pois, a uteoria da vonfade do Estado. como fuudameulo da obrigatoriedade do costume, que, coma sc v & logo, nega priclsa- mente, romo ditemos, rio cortume, como t a l , a qualidade de ufonte de direito aut6norna~.

3~Com efeito, o costame uiu 8 hojc por si s6 ofuntr: da diritom aut6noma em Portugal : nLo C direlio por 51 ; nAo obrlga, sen50 quan- do uma lei Ihe atribue esse caracter. Quere diz,:r, por outras palavras, hoie em ilia, entre nGs, neal mesmo podz dizer-se que o costume. quaudo vigora. re~~resent: urn u ~ o c i ~ u s cansensor 1cgialulen.a. I'elo coulri- rio, &le n l ~ vigora, seoFo em v~rtudr durn ~ r n o n ~ f e s l u s consensus ie#islo-

Irrrlra.

4." Das fontes do Direito(cont.)

b ) - . . . . . . . . . , GI-. . . . . . . , , . d l - . . . # . . . . , . el-. . # . , < # . . . f ) - . . . . . , 1 , . . 9)-- . 8 . . * . . . . . h) -- Ha trbs espeoias de costume

nas reiaqlres corn a lei :--ase- cundum legem., upraeter le. gama e %contra legem*.

- 0 costume .secundurn Isgem* 6 irrelevante. O nosso CCldigo Civil admite o costume gpraeter legemu, porque so este 12 que tern o papel de suprir as deficibncias do sistema Iegislalivo.

- A d m i f e - o subsidibrfarnente para colmar as lacunas da lei.

- N2o admite o costume acontra legem., jh porque Ble B pro'ibl- do pel0 art." 9." jjB porque Bste ultrapassaria a funqao que ao costume atribui o art." L6.", a qunl 6 a de colmar as lacunas da lei.

do D i r e i t o ~ do art.' 3." do an. tlyo c6diga italiano e os wprln. clpios do direito naturallj do art." 16.0 do nosso Oodlgo C1- vil.

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- A opiniao d o eminente escrifor italiano, Pacchioni, a dos nos. s o s jurisconsultos e 2 da es- 601~ neo ju r i~na fu r~1 i~ ta ,

-- 0 s ~princlplos fundarnantaisr de Direltom nao sao, segundo Pacchioni, correspondentes a eqiiidade ou a urn concelto e s treito de dlreito njturai. Segundo nossa interpretaclo d o art 1 6 . O do Codigo Civil, a expressao tprlnclpios de direi- t o natural conforme a s cir- cunstancias do ceso quere direr conforme o costume, sen- do, assim, este uma fonte for. ma1 de Direito.

-0 us0 conventional nao B o costume.

Na iliirna licgo, ocupituo-nos do Costume. Definimos o que 6 o Costutue, deterniina~ilos us elementos que o cons- rituem e a natureza d&sses eiementos. Hoje, trafal.enlos das esptcies de Costume.

0 costume, nas relagdes con1 a lei, pode ser setu/zdum 1rg~l11, practer legem ou contra legem.

Ha u1n coslume que vai alem da lei naquela imagem que Iantasiamos dus criculos conc&ntricos ; h a o costume que 6 contririo a lei; ha o costume que d conforme a lei.

0 costume conforu~e cum a lei i irrelevante, ngo tem nem deixa de ter autoridade juridica.

O costume prizeter i.ge!~z e, na opiniso de notaveis ju. risconsultos, fonte formal de Direito.

Quanto ao costume co/ztriz L~gern, as dificuidades s8o muito maiores, as opini6es nlais divergentes, parecendo, na

verdada, pela anilise do art. 9.' do Codigo Civil que essa especie de costume n3o pode constituir fonte formal do Direito.

O ark." 9." dispfie, como sabernos, que nA:6'/1pPrn pode exir~l i - j e ( fe cromariv as obrig-ocdt3s impostas par lei, cona n prefrxto de igrnardncla drsta on corn u saa d e s u s o ~ , pa- recendo, p,,is, que repele o costume contra legern.

Querz d:zer, a h l ta de uso da lei, o costume, que de- terminar o esquecimento da lei, n8o e elemento que possa dispensar p seu cumprimento.

H i , ainda, a tal respeito, opinices varias. Geny, por exempio, entende que 6le n8o e fonte formal

de Direito, mas outros, sobretudo na Alemanha, entendem pelo centrario, que o costume coratra legem 6 fonte formal do Dlreito.

Poohamos, porem. de parte o costume contra lcgern e securrdurn Legern que nlo nos intcressam e vejamos o cos- tume pratter 6egerrz, qpe k fonte formal do Direito.

\irimos, portanto, que as especies de costume s8o trks. hlas , pregunta-se : - 1."- Sera o costume admitido como fonte formal do

Direito 7 2."-Sera, apenas, a costume, llCrn da lei, fonte for-

mal do Direito? 3.O - Sera o costume admilido pelas nossas leis posh

iivas como fonte formal do Direito? Dissemos que sim. Trataremos agora a concep~Ho

desta tese. Ternos de nos socorrer do art."6,", que e urn arligo

ssmeihaate ao art." 3." do C6digo Clrril ~laliano. A Italia, no dia 1 de Jukbo do ano passado, apareceu

corn a pritaeira parte de urn Codigo Civil, estando a oufra parte por publicar. Mas, o C6digo Civll anterior a tste, em

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vigor ate ao dia 1 de Sulho de 1938, dispunha no art." 3.0 o Ineslno que o uo:;so no art." 16."

0 A r t . 9 6 . ' encerra urn caooll dc interpretago daq leis; os litigios, as questKes sPo resolvicias pel0 t xla rrlr

lei, pelu serf espiriio, p ~ l u s 1:~sos rzncilogos pt erl~nidos no@- f ras leis. Iia falta da lei, o juiz decid id prios pri~~cip ios i;o direito rzalurnl, corzf~vr~ie us circumsliincius rio caso.

0 Cadigo antiyo italiano emprega a expressao ..pri!f- c<oios Jurtdarnrr~t~rs do Direito* .

Pacchion~ ( I ) procurou interpretar o q u e queria dizer essa expressao d e *principios f~xnri~mu~rlnis d o I)ireito.. 0 s nossos jnrisconsultos costumanl fazer currespi!nder ssla expresszo do nosso Cddigo Civil - =prirzcipios tfe Dirvifo iVat:~rnl wft fornte as ~irl:urisflincius do cirso.), corn essa ou- tra - oprirtcipios furrda~tze/ilnis do Direito- .

E, assim, os nsssos jurisconsultos fazem coincidir o art.' 16." corr~ o art." 3." do antigo Codigo Civil italiaco.

Chefavam a tal cor~clusao por, durante muito tempo, sr. haver entendido que nZo havia Direito Natural.

A Escola de Exegese e a dos histbrico-evolucionistas diziarn qlre havia Direilo Natural, mas coma elemento infnr- n~ad:)r e como idea1 do direiio positiro.

Se se parlir, portanto, do principio de quz ngo havia Direito Natural. o tal principio do direila nnt~ool configr,nt- as circ~instiitzcias (lo case k uma expressfio equivalente, aos /~rincipios jundarrzsntnis do Dirttito, principios estru- turais do Oirelto. qlie, segundo u isse alg?tem, 720 as vigas, os pilares. as parelies mestras do edificio do Cddigo Civil.

b t a equivalkncia era estabelecida, pcla escola positiva. Hoje ha ulna escola nsi~jurisrrilfurr?listii rlue atlnlite o Direilo Nalural, nao pelo conte~ido, nso pelo teor do Uireito N3tt1-

ra1 ilBssico, mas segundo urn conceito que faz corresponder

I Cur511 dl Dlrj:Lo C ~ v l l , a u o l i e 1'726.

o Dire110 Natu~dl JU djrello clue cler~v;~ da prbgria nalureza das coisas.

Lendo Pacchiori~, oa sua obra ciiada, ellconlratuos urn capitrilo it~lcrcssante s6h1e cl q11c dcvc entender-se pela eupr-esszu : - ;,o iricipios frrrldarnenttiis GO dirtilo.).

Piiccbioni procura cJeolunstrar que : 1.' E s s ~ s ,urincc)~ios funrirtf~lfniais dr i / i i r i to ; mi0

slii? os L ~ P e . r i y i i i nil&., porque a eijuiri;lde n8o e uma regra diversa, disl inia da ]el oa p~ece i t c de direilo.

2." -. Ti~~tibc'rn rz rb.t,or~,s,iio nprinripios J~i~zdanlt-~~lat's 12. i iireiio. i13o p9de ser correspondente a urn ; ~ ~ c e i l o estreito de direito natural.

N%o sail equiva!enles i equidaile, porquc esla t apenas umn qua i id~de que o preceito deve ler, e, segundo ncres- centa (J n~es i l~o escritor, olhada par outto Pngi lo, a eq~iidade deve considerar-se como um seatlmeuto.

Assin], a apl ica~8o do lnesmo Frcceito s6 pode laze]-se a casos idu"iis; a casos drsiguais nao se pode aplicar o nleslrio preceilu.

N ~ I J h a sitlla~6.s da vida real perfeitamente iguais, mas ha porruenores, h i circunstincias diversas. N%o ha casos concretos precisamenie i iui i i s , e , pol conseqil&ncia, a30 devell~os aplicar a norma abstracts, pura e simples. mas h i que ter em conta as caractcrisiicas que individua- lizarn cada caso.

( I . I'BLias as J o u i ~ i n a s neojurisnaiura~istas sao cot~cnrdes em Allrmar a e:;isiFocis rlu Drrelto N a t u r a l cmbora dlscurden~ n o processo que adutaw e nas f u n ~ 8 e . que lhe atrihuem.

A Joatrina do D ~ r c ~ l a Natural v.,m de !ii~rgp. m;l\ ~ r ~ c o n t ~ a r n o - l a f . i r tcmet~te Ael~neada Ila; ocr:iorcs da id:lLtc n16.lia. 1.n) lodus or t:il~>b.os r, fi!6sufus, r pr:nripalmcnte i la Sunlala Thaolbpicn de S. Tomat de Aqulnu, dn qt.al disse Ihcriol: ~ i n s u s ~ c i t o , purqae era protestsutel, aepolq de ter procur.ido e,labelecer as conaepcBer ali- ocnics ao fundameutu do direlto . bja nPo t c r i : ~ escrito o luru iivro se co11hece;a u ~ t r s ;I I U U u b r a - (Zweck 1,: Rccht, 2. eiijZa, 158n. 1611.

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hun;ana ou cool o ide~il social. 0~let .e dizer, o direito b justo q n ~ n d o proporeinna uma o rdena~ao on n l o d ~ l a ~ a o regular da r~ida'social.

Flas, lconio a substincia tla ~..*jiulinwntnqPo social s e r e a l i z ~ pur modos diversos, a t ~ a v e s dos ts m p s , pnde diier-se q ~ i d I a m \ n l e r admite o ~ n 11ircito !!atural irnlltivel qnanto $ forma mas variiivel no seu t l~ndo.

Resumindo, a filosofia do direito para Stat~itnier tem p0r object0 a iuvestigaqso durn criierio atinente a deter- minar a justiqa duma norma de direito. fisse critirio reside na conforrnidade da regra corn o ideal social. que. prossegoem todos us hornens quando, esquecendo o sea inter&sse prd. prio, cartii qual, s.alidarininenle corn ns r c ~ t a n t ~ s , procura o bem co~uurn Iia luta conjunta pela viJa.

?ortanto. para Stammler, os priocipios de dircito natu- ral sSo principios que, em cada e'poca, coi'ncidem corn a Jus t i~a , corn a noqgo absoluta de J i ~ s t i ~ a , sendo, assim, prinzipios que mudam confornie a noran de J u s l i ~ ? , mudam iooiorme a intui~iio que em cnda ipoca i.e tern de Jus t i~a . .!I minha opiuiao nZo esta ainda Oeln formada. Eu, por urn lado, io!lzi lwo a natr~reza hurnana qu'asi imctdvel coaiorme a considcrava a histdria naluralicta classica. Por outro lado, admito, tamblm, a noqBo de J n s t i ~ n de Stammler. Hesito, pnis, entre a e;cr:la classica do ilaturalismo e a escola de Stammler. Mas, na verdride, inclino-me mais para a n o ~ % o d2 J u s t i p de Sti~mliiler; e , sem chegar a tal irnut~bil idade da nn iu r~za hcrnana cumprre~ido, For uutru lado, que a intui$io. q.ie c:rl cada epoca a 11atureza hulnana tern de J u s t i ~ a , faqa coiu que os princi,:ios d e Dircito natural sejain diversos de epoia para dp:>ca. b l i i ~ . Pacchioni, ind~ca . nos t a n ~ b i ~ ~ i , ulna escoia de Direito natural neojn.rlsnulirr.alisbo, g l r p J Z Z ~~~rr t r sponr i~ ' r P S prtncipios de direilo nrlt~rriil nos prirrcipi , ;~, aa d ! re l tn , cjac qirivii~n drr prriprin rrotareza d t ~ s coisas.

Tambim podemo!: adn~i t i r es5a escola. E' utn pouco

dotmatica, envuli,e um collceito pouco tangivel. {so lugitivo que um eicritoi itatiaoo chegou a afirmar que esle u~odo d e dizer k ulna expressso elipiica, que ngo podernos chegar a urn conceito conpreeo:.ivel de direito nalural correspondeote

nalureza das coisas sen) atenderrnos, afjnal, ao ambiente social do iuomento, conforme a s conclus6es da jurispru- dincia de cadd ipoca.

Mas, o que d certo d que os principios do direito natu- ral s2o os priucipios ou a s directrizes indicndas peios ele- meatos gzradores de direito. SBo principius derivados das circust2ucias da natureza das coisas.

Ss nos vincularmos, pordrn, a esta no@o de direilo qne ~ d ~ ~ r i r n du pro'prB rLatsrezzl dus coisas, chegaremos i con- clusHo de que este direito natural e variivel de Cpoca para ipoca e idkntico i pr6pria Citncia do Direiio que nos re- vela, em cada momento, qua1 15 o direito que deriva da propria natureza das coisas, ou confi~rrn? as circunstlirrcias do caso !das coisas;, conforme dispse o nosso art.' 16.' e verifisarelnrls que t s s e principio de direito natural coincide corn aqu?le que n6s chama~nos facitrrs consenslls ionpa czr~snetrsdine i,rlvettrntus.

Segundo Cste comentario d e Pacchioni, vern a ser o prbprio costume gerado pela Ciencia do Direito o qce n6s encontramos corno constituindo os tais principios fundamen- l a i s de direHo a que faz referkncia o art.' 3.0 do Codigo Ci- v i l ilalizno antigo.

I ) probletna, k face da lei potlaguesa, e quasi o mesmo, porque a esta express20 prlnrip2.s dc dirt9ito fiofuril ou fazemos corresponder esta oulra -- princ lp ios f~ndaazentu~s d. direito - ou a interpretatnos no seu significado e acep- qgo gramatical.

Na primeira hipbtese, caimos na lelra do ark." 3.' do antigo C6digo Civil italiano e, assim, o raciocinio que aca- barrius d e lazer, acompanhando Pacchioni, e absolutalnente ajustado ao nosso preceito.

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Ngo pode ser a e q ~ ~ i d a d e , nao pede ser o direito natu- ral, na sua concepq%o ciissica, mas pode ser, como vimos, o direito natural, oa concep~ lo d e Stammler ou no conceilo d e direito con[orme a propria natureza das coisas,

Contudo, conlo Cste direilo natural 56 pode ser revelado pela C i t n d a do Direito, e os principios da Ci&ncia do Did reito, quando se traduzem na pratica d e actos repetidos acompanhados da copinlo neccssiialis*, nada mais s2o do que o costume, acabaremos por fazer corresporrder us prim ciplos de direifo nafural no costume.

Na segunda hipitese, interpretando a letra a txpressso -- ~lprincipios de direito natural conforme as circonstincias do c a s o ~ , - tnmbkm nos podera servir a demonstra~2o d e Pacchioni, na parte que diz respeito ii corresponddncia do direito natural com o costume<

De mod0 que, quaisquer que sejam as hip6teses d e que partarnos, quer nos culoquemos em presenca do art." 3.0 do antigo C6digo Civil italiano, quer do art." 16." do nosso C6digo Civil, podemos iogicamente chegar a esta con- clusgo : - par estas evaresstjes, rzds ~rerificamos gae, subsi- diliriarnente, para o prerchimento das lacunas da nossa ordem legislnfiva. o nosso dirt i lo adrnite o costrtrne, o cos- lrrnzc consagrado peli~ jlrrispruddrlcla que Ilie d s ~ ~ irrigem prlr viriuds drm prc-itlca repetida de crrlos acfos, rrcornpa- t~hrldos da flopinio necessilatis.~.

O povo habitua-se a normas nas circunstancias e m que vive. O homem pratica essas normas longamente, aom a convic~zo de que e obrigado a essa pratica. Temos, as- sim, os principios fundamentais do direito conformes corn o costume.

Seguudo a interpreta~go que acabamos d e dar do artno 16.", a s questges, os conflitos 590 resolvidos pela lei, pel0 espirito da lei, pelos casos analogos, prevenidos em outras leis, Na ialta de idea legal, de lei, sBo, entzo, resolvidos

pelos principios d e direito natural coniorme a s circunstan- cias do caso, quere dizer conforme o costume.

E, assim, concluimos que o costume, segundo a inter- prela690 dada a &ste artigo, e uma fonte forma! d e Direito. E chegamos, d&sie modo, a demonstra~go da tese que, alem da lei, o costume 6 fonte formal de Direiio.

Mas temos, entio, urn costume que e fonte formal d e Direito, um costume que supre as faltas do Direito, costu. me 6praeter leg ern^ que preenche a s lacunas da lei.

So quando o costume e necessitrio pars colmar a s la* eunas da lei e que o art.O 16." o adopta, n%o admitindo, portanto, &ste artigo o ccstume contra Iqenz.

S6 admile costume quando e precis0 colrnar as deli- ci&ncias da lei.

Podemos, assim, sintetisar as respostas relaiivas A so- luc%o do problema que d e inicio apresentamos e que deu margem a tbda esta exposif%o, o qua1 consiste e m saber s e o noxso Codigo Civil admile o costume como fonte d e di- reito, do no do seguinte:

1."0 nosso Cddigo Clvil adrnite o casfrrrne cof~ro fonte de direito.

2."--Admife-o, sabsldidriafnente, para co1~1~as as l a w - fzas da lei ;

3."-Adwitc o coslsme ~praeier Legena~, porglae sci b t c tern o pupel de suprlr as defic2ncias do sistcma lcgis- lativo ;

4."-Nrio adrnltc o sistenra *contra l egem>, j d porque Ble & proibido pel0 9.", j d porque isle ultrapassnria a funqrio qne ao costume atribul o art." 16.0, a qua1 P n d@ colrrtar as lacunas du lei, se the f6sse corrcedido tan~bknz drrrognr n prdpria lei.

Surge agora outra questao -a d e saber se, apenas, a lei e o cortume s3o fontes formais de direito.

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contralo tenha certos efeitos, desempeuhando, assim, o pa- pel de lei supletiva.

Mas, n80 e hem assim ; entre o uso convencional, se- gundo o nosso conceito, e o costume entendido cclmo 116s 0

entendernos, ha esta grande di leren~a: - o uso ~6 pllr J d r ~ a da vontude, sd por f6rfa da aulottontla do vonlade que & jitrrtlnr?ierrta! ern materia de ubriga<Ofs, tacifarnente se odrnite no cnnterido dos coritratos.

0 coslrrme, pel0 contririo! POT si sd irnpdb-se uo prd prio contrato.

Ora, sZo desla natureea muitos dos usos a que se re- ferem algumas disposi@ies do nosso C6digo Civil, assim como sao desta natureza os usos cam que a cada passo to- pamos em matkria comercial, designadamente as us09 da Bolsa, os usos ern rnatiria de transportes, de arrendamen- tos e de contratos de trabalho.

Vou dar-lhes urn exernplo ja citado num livro meu (11. Por Cle veremos como os usos geram os coslumes.

~Dominado pelo cora~Po e sob a influkncia dum senti- mento generoso e bumanitario, Eauzet, em Franqa, e Sainc- telette, na Belgica, a-fim-de sonseguirem para o operirio urna situaqBo mais favoravel, do que aquela que criava a aplica~zo do direito cornurn, comecaram a sustentar que o contrato de presta~ao de servj~os continha uma clausula 18. cita de obrigapo de seguraqa. De maneira que, o operilrio sinistrado no se rv i~o nzo tinba que preocupar.se corn a produ$%o da culpa do patrso. Ao invks, kste d que, para evitar a responsabitidade emergenle do sinistro, tinha de provar que executara a sua obrigacio, que fizera tudo o que podia e devia Iazer para evifar o desaslre e que este era atrihnivel a urn caso de f b r ~ a maior.

A dautrinia d&stes escritores nao logrou convencimento, mas ooasionou urna campanha humanitiria a lavor da s o ~ ~ e

Da Res~oncabilzd.~de Contratual, Pip . 4U3 e 41:4

70

dos operarics, a qual preparou as l e ~ s sbbre acidentes de trabalho, que em todos os paises foram prornulgadas.

fiste sistema doutrinario conseguin, oo enbanto, adep- los, que, alguns anos depois, inlpressionados corn a Ere- qiidncia de desastres ocorridos na indislria de transprles de pessoas, ltvanlaraur novamente a tese.

0 prncesso, que estes seguiram, fni o rnesmo. Repeli- ram a afirrna~Po de que, no contrato de transporles de pes- soas a semelhan~a do que se dii no cont~ato de traosporte de mercadorias, exisle ulna claus~~la tlcita de seguranca, seguodo a qual, servindo nos das express6es dum aresto da Cour de Cassation francesa, o transportador tern a obri- g a ~ s o de conduzir o viajante sgo e salvo ao desliao; a en- trega dum bilhele ao viajante imporla, por si mesrne, sem que haja necessidade duma estipukqzo expressa, a obriga- g8o para o transportador, [no saso sub-juciice era urna corn- panhia de caminhos dc ferro) de levar o viajante livre de perigo, ao ponto em que termina a viagem.

A jurisprudkncia francesa, assim como a italiana e a belga, por f b r ~ a das constantes lepetiqaes da doutrioa, que e mdis generosa do que sabia, deixaram convencer-se.

Alea lacto est. Passado que foi o RubicIo da relutlo- cia que at6 ali manifes~avani 05 lrlbunais, pela doutrina da clausula de seguranFa, foi urn outurn genuit interminivel de novas aplicat6er da sedutora doutrinal*.

Peia passagem cilada, v&em os senhores que se aca- bou por criar um uso convencional, segundo o qual, todo o conlmto de trabalho tinha sub,entendido, no seu conleido, a clausula de seguranca.

A segunda parte da campanha foi rnais ficil. Tbdas as legislaq6es e, at6 mesmo, enlre n6s o C6digo Comercial, art." 283.", inseriam disposiq6es relativas a responsabilidade do traosportador pelas perdas e danos que as mercadorias transporladas sofressem,

No transporle de pessoas, contudo, n%o existia seme-

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lhante clausula; porisso. nZo ad~n i r a , dado Esse prece~leqte, que a segunda parte da campanha tivesse mais exi .0 e que, em breve, a jnrisprudCncia frances;i adti~itisse o principio de que ern todos os contratos dc trai lspcrle de pessoas, es- la sernprz incluija, ernbora nZo tenha siiio expressa, a clau- su /a de seguranca.

A jurispruS?ucia e a douirina criaram, primeiramente, o uso convencio~~al, segundo o qua1 a estipula~20 da res. p~nsabilidade d o transpustador Iicvu fazend~ parle do con- teudo dos coutralos de transporte. Depois, Cste ~lso , geral mente seguido e aceite conio obrifat6ri0, est:~beleiea a regra costurneira, segundo a qua1 a resporlsabilidade do transpclrtador g elemento especifico do contrato.

0 mesmo se aplicou, tambe'm, a or~ t ros coulralos : - contratos, per exemplo, que as empresas teatrais fazem com os seus atlistas; contratos de alhergaria ou pousada; con- tratos de prestaqao de servicos de ensino e educa~Ho; elc.

De lnaneira que, temos, neste exemplo, nm us0 con- veucional, que, pela fbrca da repeti~go e devido B apl ica~zo drt jurisprudencia, passou a ser u r n costume.

E, assim, ficamos o6sa saber que, se 6 cerio que o us0 convencional e uma figura distinta do costume, e igualmen- te certo que o uso convencional gera, muitas vezes, o pro- prio costume.

0 uso convencional supre, colno jk se disse, a norma supleiiva, ( h i nortnas supIetirras e i~nperativas, como vere- mos em breve) quando preenche o contralo, quaudo faz parte do cunteudo do contralo.

Mas, uma caracteristira importante do castullle i a d e que Cste, fan~ado Jza sua aeepfria iicnico-jrrrMica, nrfo pre- cisa i i e ,ccr alegad9 pelas partes, ail passo que os usos con- t~sncicnalspre~isa~~z iie ser alegadas e provados pelas pnrtes.

Na verdade, em qualquer acqso n8o precisatvos de ale- gar o direito, i necessaric apenas, alegar os faclos segundo o prol6quio - - Da mild filctlsmz, dfabo tibi jas.

0 costume 6 , tarnbem, uma quaeslio jurls e, porisso, nso prerisa de ser alegado.

0 uso convencional 6 urn facto, e uma qulrestio facti e, portanto, precisa de aet alegado.

Hd ainda unla oulra noia d~ferencial muito importante eotre o costume e o us0 convencional . - a cosfrsme intpde- -se a todos oindn mesmo que o nao conhecam ; o uso con- venclonal precisa de ser conkccido das portes, para ser in- te,orado a o confed lo dos conlralos.

Assim como a ignorancia da lei, a que faz referCncia o art." 9: do nosso C6digo Civil. a ningukm nproveiia, tam- bdm, a ninguirn aproveila a ignorincia do costume.

Como nZo i facil provar e estado dos conhecimentos de cada individuo, esl i a ver.se a dificil iacerteza e fun& das dhvidas que srrrgiriam no espirito do julgador.

Ja aasitn ago sucede quanto aos factos. Pode admitir-se a alega~go do seu desconhecimento.

Ora, ss usos mnvencionais s8o ~qrraestiones pctir e, por- tanto, admite.se a alega~ao do conhecimento deles.

Mas, 91th das duas, j6 citadas, h i ainda uma terceira caracteristica diferencial, cuje conhecimento d muito impor. taate e necessirio para quem se destina adrocacia. E' a seguinle ,

aSegunda a organiza~lio judicidria da ~naiuria dos paises eraropeus, existe urn tribunal superior gue sd conhcce das questaes dc dlreito, Entre nds dsse tribunal t? o Supre- mo Tribune1 de Jusflga; em Francs, Bilgica, Suigia, ttc., i o tribunal de Cassafdo.

As quesfires de facto siio relrgados aas tribrlnais de inrtiincla, (julgadns municlpais, juizes de dlreito e reEa~6er) nrio se podenlo recorrcr para o suprerno tribunal de justl- Fa, para que 2sfe conlzega dos factos que consts'fuern as circunstbnclas em que se basela o pedido, mas sd para que cleclda quest&s de direito*.

Ora, estao os senhores a ver, porque o costume d umn

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~quaestlo lurlsr, pode recorrsr-se para o Supremo Tribe- nai de Jusfica corn o fundamento de que as tribunnis de instkncla julgaram contra a regra costutneira.

Pela mesma razzo, nrEo se pode recorrrr para o Sue prerno Tribunal de Jus t i~a corn o fundamento de violafdo dos usos conlr~n~ionais.

Ainda a titulo de curiosidade, n8o quero terminar &ste assunto sem lhes apresentar, tambem, sma nota diferencial entre os usos convencionais e os costumes e que i apre- sentada pot Geny.

SegundoEste iluslre escritor, ocostume derroga as Leis, revoga-as, ao passo que os usos convencionais nzo tern esse poder, nPo tBm essa fbrga revogatbria da lei.

Ora, para n6a, que aceitamos a tese de qua 6 admissivel o costume contra legem P face do nosso direito, nlo e necessiria esta oota de diferencia~Bo apresentada por Geny.

Devemos, contudo, estar atentos, porque, ate mestno enlre 1165, a doutrina confunde, muitas vezes, o costume corn os usos convencioaais.

5." as fontes do Direita (cont.)

a)- . . . . , , . . . , b) - , . . , . . . . , , 0 ) - . . . , . . . . . , d l - . , . . . - . . . . e l - . . . , . , . , , . f)-- . . . 6 , . , . . 0

g)- - . . , . . * . . h - , . . . . . . . , , I) -Nem a jurlsprudlncla nam adou.

trinl nem a tradiqBo s l o fontes formals de direlto.

-Conceito de autoridade e sua dis. t inwo do costume e da tradlplo.

-Entre a t r a d i ~ l o e a autoridade a Onlca caracterlstlca diferencfal B a idade ; a autoridade velha, vene- rada straves doa anos, nimbada pela .patinen dos s8euios, cha- ma-se tradlceo.

-Em 1826, pelo Dec. n.' 1.383 surge uma anomalia em a nossa Isgislaqao - os Rssentos do Su. premo Tribunal de Justipa-con- sagrada, tambbm, no A r t o 7B3.O do actual Codigo do Processo Civll.

Estivamos na demonstraqfio de que o uso conveucio. nal n6o t fonte formal de Direito. Tinbarnas ist to a dife- rencia~ao entre uso conventional e costume, e uotado que essa diferencia~2o vem dutn punto de vista principal, durn teorema de que os pootos de diterenciaqgo s8o corol&rios :

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o costume d uma quaesfio juris ao passo que o uso i ulna qunestio facti.

Modernamente, h i quern pense que o uco conreacional d tambim nma Eonte formal de Direito, e essa a f i rma~ao derira de duas conclus6es.

A primeira, deriva da confusao que os oponentes t&m ao verem que o Juiz resolve certas questaes sem ser pela aplica~%o da lei. Se ele as resolve sem aplicar a s leis, con- cluem que na verdade os usos s io Ionte formal de Direilo.

A outra conclus%o deriva de nBo distinguirem bem entre uso e costume.

Pode ainda aparecer urna terceira conclus~o, que de- riva do misticismo corporatiro. Na rerdade, estamos numa epoca de misticismo corporatiro, por exernplo, o fen6meno dos sindicatos dos operirios, como Loi reconhecido peio fa- lecido professor da Faculdade de Lyon, Lambert,

Lambert pretendeu descobrir urn Direiro Cor porativo que cnrra parelhas corn o Direito Legislatiro, um direito qus d& vias noras, que db metodos novos, um Direito em que tenha influkncia principal a codi€icagZo do3 usos con- vencionais, por meio dos quais os 6rgaos jurisdicioaais do Direito Corperativo regulem os conflices.

Mas, o que i cerio, 6 que tudo isso silo confus6es, e e igualmente certo que a%o compreendo o D~reito Corporativo i maoeira de Lambert - que se oponha ao Direito Legis- lativo -e nZo o compreendo em nome do Estado.

Por conseqiitncia, os usos convencionais 1180 sso fontes formais de Direito.

Mas, ser%o a Doutrina, a Jurisgrnic'ncZn e a Tradigio fontes formais do Direito?

ITimos ja que d o . Vamos ver, agora, qua1 o conceilo de Doutrina, de

JurisprudLncia e de Tradiqzo, e o que deve entender se por Auloridade.

A Douirlna e o estado actual de Direito que se revela

ou que se traduz na opiniPo de entidades de reconbecida competkncia na literatura juridica.

A Jurisprudtincia e o estudo do Direito traduzido atra. ves as decis6es dos tribuaais.

For vezes, emprega-se Bste tkrmo, jurisprudEncia, para englobar n8o s6 a doutrina, mas ainda a s decis6es dos tri. buoais. Quaodo designa, porkm, as decis8es dos lribunais cbama-se jurisprudencia prdtica.

A Auforidade, de que ianto se fala na Escola de Exe. gese, 6 a f b r ~ a ernprestada a uma resoluqHo juridica, por virtude do alritre de conformidade com essa resoluq%o dado por entidades de reconbecida competbncia, ou por virtude de outras decis6es juridicas conlormes.

E, assim, a autoridade pode porvir ou duan alv~tre de conformidade de entidades particulares de reconhecida csmpelCncia, e entiio tern a designado de doutrina, ou pode porrir de outras decis6es juridicas coniormes, tendo, nsste caso, o nome de j~irisprudincla.

A Tradi~iro eacontra-se na autoridade nimbada pelo cacftet dos stculos, aureolada pela patine dos tempos.

Mas, em qualquer deslas especies - doutrinz, juris- prudtncia e tradi~8o - a autoridade dis tingue.se perfeita- menle do costume.

0 costume e o uso do povo que e acornpaahado duma convic$%o de direito, da chamada ~ o p i ~ t o juris*, ao passo que a autoridade 6 o alvitre de certas entidades competentes consentaneo a determinada resolu~Eo.

Enquanto que a aulrridade nao e acornpanhada da topinlo juris ,, o costume e imposto pela convicg%o da abri- gatoriedade.

Apresentados os conceitus de costume e de autoridade e analizadas as suas caracteristicas diferenciais, verificamos que ao ceatrario do costume que d fonte formal de direito, a autoridade n%o o d.

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Antes, porem, de irmos adiante, vamos distinguir bem o que seja a doutrina e a jurisprudincia prdfica.

A duutrina nunca loi considerada fonte formal de Di- reito. E certo qu? se lerem uma decisHo dos juizes, uma santenga, podern ver qne o juiz se guiou pela autoridade, podendo derivar a confus[Io d e se concluir que uma dou- irina 1.5 fonte formal de Direito, Niio e assim. Essa decisiio, provida d e cita@es, simplesmeote revela que o juiz quis acompmhar na opiniIo de escritores de Direito.

Aptsar, porem, da opini%o rlesses escritores, o juiz nEo foi coagido a decidir p e h autoridade dos escritores que ci- Lou, de onde se deduz que essa autoridade, essa op in fo d d significa cermando d e direito, d o significa itnperadvo, nTo e fonte formal de direiio.

E o que dizemos a respeito da doutrina de hoje, pode. mos, igualmenk, afirmar da doutrina de antanho, aque!a que e aureolada pela plathe dos seculos.

Nunca, no Direito Portugu&s, pbde ser considerada como fonte formal d e Direito.

Em tbdas as Cpocas, o juiz pbde decidir contra a dou- trina d e qualquer escritor o mais celebre, o mais afamade, e, na Histiria do Direito, saindo da Hi~t6r ia do Direito Portuguto, n6s lernos de recuar muito, para encontrar a opiniio dos autores, a doutrina eomo fonte formal de Di- reito.

No direito antigo, a autoridade loi, de facto, fonte for- mal de Direito. No Direilo Romano, cam0 sabem, n%o s6 havia jurisconsultos que tinham o cjus respondendl. o (qus publice respondendi ex autorilate principis*, cria@o de Augusto, ( 4 ) isto e, havia urn certo nlimero d e juriscon- sultos, cujas respostas Bs consultas que lhes ieziam obriga-

(,) L. I , 1 49 (471, D . , de orig jur., 1,2 .. Primus Civus Au- iustur, ut major juris auctoritas haberrtur, constituit ut ex auclo- ritate ejus rtspondcrent.. .

vam os tribunais; mas havia, tambtm, os aedlcta* os aman- datlzr, os cdecretus e os arescripfar, que se podem abran- ger sob a desigoa~Xo genirica de carrs t l luf~a~s imperiais e que tbdas eram ou se convertiam em fontes de direito. (!)

0s redicta* eram fontes de direito, porque continham regras, f?itas pel0 imperador, regras impostas a todo o Impirio e durante tdda a vida do imperapor.

0s adecretau, pordm, eram sentenqas praferidas pelo imperador nos processes subn~etidos ao seu julgamento.

0 s ..rescrLpta~ eram respestas dadas pelo imperador aos magistrados ou aos particulares, sbbre poafos de direito que h e eram apreseutados.

0s umandata-s eram, por sua vez, ordeus de service dadas pelo imperador aos seus fuocionarios.

Parece que, sendo os Decrefla decisaes que os princi- pes tomavam nos casos concretos que eram levados i sua presenqa, para t les resolverem, e sendo os mnnduta ordens de caricter admioistrativo, dadas pel0 principe aos seus funciouarios, e sendo os e s c r i ~ t a consultas autorizadas corn o nome do imperador, n2o continham regras perais e im- pessuais para serem fontes de Direito.

Acontecia, contudo, que esbas resoluq6es relativas a casos particulares eram depois generalizadas aos cams se- melhantes, rnerc& da autoridade donde emanavam e, assim, con~er t i am~se em regras d e Direito.

Antes da Codifiaac~o a autoridade, no seu duplo as.

( I ) Gaius, 1, S 5 : Constitutio principis cst quod imperator de- creto vel cdicto vei epistola coustiiuit; usc unyuam duhilalum esl quin id legis vicem obtincat, cum ipse imperator per legeq imoerium accipiat.

Upiano, L . 1 , pr. , D . , de constitut., I , 4 : Quod principi pla- cuit, legis habet vigorem : utpote cum kege regis quae de impcnio ejus lata est, populus ei et in eum omae suum rmperium.et potesta- tern conferat.-Gf. Pomponio, I.. 2, 5 11, D., de orig jur., I, 2.

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pecto de doutrina e de jurisprudbncia, era aceite pelos tri. bunais. Depois da codifica~ao deixou de o ser.

Podc, na verdade, a autoridade, pclas cspecies luris- prudenaiais determinar urn uso que, corn o decorrer do tem- po, scja acornpanhado de copinlo j r ~ r i s ~ .

A' f d r ~ a de rnuilas decis6es, no mesrno sentide, pode acontecer que, corn o decorrer dos tempos, se estabele~a a c o n v i ~ o de que essas decisgts represeatarn aplicaqaes durn uso obrigatbrio.

Mas, como se v t , n8a 6 a autoridade que e Ionfe de direito, L o costume, pmque, neste caso, a autoridade 6 apenas uma fonte geradnra do costume, um farol que deve orientar o interprete na aplica~go das leis, ilumioaado-lhe o caminho, nHo para o obrigar a seguir por determinada rota, mas, apeoas, para que o interprele considere &sse facho como um clarao orieotador do caminho que pode trilhar, mas por onde pode deixar de scguir. (t)

E' esta a fungo que lhe atribue Geny, ao dizer; - A autoridade e a Iradirurio nao constibucriz utna fonle formal indesendenle e #csui generis*, do direito privado posil~vo, Podem, C certo, preparar a lei escrifa, lnsplrando as sass disposiga~s a, prlncipalmente, c-nbibuir para a c f i a ~ l i o do costume, servindo de base, enlte os interessudos, aos uses apoiados num senlimento luridlco. Em si mesmas, a aulo- ridude e a tradl~rio scis uperras facf~os glre ilufninnrn o ca.

(,) Depois de Bacon e dc Descariles. a autoridade ow o argu' mento de autoridade deixou dc ser, por si s6, para a CiLncia Juridica. assim coma para t6dss as outras ci&ncias, urn argumento categbrico,

0 *magiabr B r l h deixou de ser urn argumento. Hoje .o argu~t'ento de que =r e doulrina dumu autoridade, duma com-

pclrncio,?, ainda que i l e seja do mais compelente dos mestres 6, apenas nm argurnento quc sc pode aumentar b fdrqa de convic~%o dos outros, mas que 090 d decisive,

Acima do argumento de autoridade f i eam, por mais cat tgorisado que raja o mestrc. os argumentos da erperiincia c da 16pica.

minho do inderprel~, sem [he imporem nma direyrio r , tarnbe'~n, dewem ser considerudas coma pfecedent~s que ~ux i l iam n r.ozdo do itrferprete, sern 1Ae llrarem o livre uu toridndc d s interaretar.

As trndirfies nntlgas, relnUvas a rn,ltPrius etigloba.'as nas codificczgdes, representom, apenas, urn valor moral. As arriorldades re;entes oa relalivas n matkrias nrEn com- preendidas nas codlficagdcs t lm umn. fdrgu mais positiva e podern ate' dltar smlucfles, considerando-se cnmplemento rat - cess4rs'o d ~ l direito novo, a fulta dc onfro razdo superior*.

Para o eteito da distin~ao que a$ora vou Eazer, consi- dero como tradi~zo a doutrina e a jurisprudencia prhtica, aateriores ao Codipo Civil. -

Na verdadt, o mais alto m;lrco, que separa a nassa tpoca legislativa da passada, P. a codifica~20.

E a autoridade anterior ao Codigo Civil que charno, aqui, a tradi~so.

A razao de irrnos buscar t b perlo de 116s a tradiczu 6 simples. As codificag8es estabeleceran~ uma outra base leeal, de mod0 que se tornou iaduca a opiniso dos doulores que ensinaram antes.

Bastou, pois, s p6 de trCs quartos de seeula para dar car de t rad i~ lo a doulrina dos nossos escritores anieriores ao C6digo Civil.

A autoridade consiste nu~n alvitre sbbre a solu~ao dos problemas empiricos, uniformemarlte ou suficientemente apoiado, ou na decisao dada pelos tribunais, ou na doutrina constaote.

Nesta expressgo iautoridadep, repetimos, enflobamcs quer as solu~6es dadas aos casos concretes pela doutrina, quer p e b juriaprudkncia,

Vatnos ver agora se a tradi~zo, considerada nos termos expostos pode ser fonte de direito, para, em seguida, vermos se ela tern ou nZo notas caracteristicas que a diftrenciern do costume.

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A autoridade mBo ten1 nem nunca teve, mesrno no tempo anterior A codifisa@o, f6rga de lei.

Evidentemente que, antes das codihca@es, nos paise: em que s e seguia o regime das leis extravagantes, a opiniao dos doutores teve uma influtncia enorme; mas, nern assim, por maior que ibsse o seu prestigio, ebrigava a decidir conforme os seus ditarnes.

A autoridadt n8o constituia, portanto, uma regra objec- tiva e gem1 e nunca foi, consequentemente, fonte formal de direito.

NBo obstante, a aatoridade, na ipoca anterior As codi- fiza~Ges, embora nao fdsst fonte formal de direilo, embora n8n coostiluissa urn imperativo juridico quc coartasse a interprelaqgo feita pelo juiz, tinha uma importsncia que n2o dtve ser esquecida.

Mas, dir-se-a, se a tradicao nzo iem fdrga obrigatbria, para que interessa ae jurisperito estudar a Hist6ria do Direito ?

la Portalis dizia que a Histiria do Direito era a Fisica Erperimeatal do Direito e da Legislacgo; a Hist6ria do Direito 0 , pois, urn campo de experiencia e de observacgo.

E' pel0 estudo da legi~la@o antiga que 116s podernas verificar a eficibncia dos varios sistemas legislativos com que sc tern procurado diseiplinar as rcla~6es sociais. A Histkia, dado o a r i c t e r objective que tern, alarga conside- ravelmente os boritontes do legislador e do jurisconsulto,

Como se distingue a tradiflo do costume? Distingue-se do costume, porque, enquanto 6sle con-

siste na pritica constante e invetcrada d t actos acolnpanhada da coplnio necessitatisb, a tradi@o a20 se rnanifesta par actor repelidos.

TamMm a tradigb nL e irnposta pela uopinio jur isa. E' a uniformidade de vistas em relago as s o l u ~ 6 t s

dos tribunais e k opiniro dos dmutores, que conslitue; como

dissemos, a auloridade, que engloba a dout r i~a e a juris pruddncia.

Vejamos ainda se a jurisprudencia pratica pode a r fonte formal de direito e quais szo as suas notas distintiv~s do costume.

Quanto a esta questao n80 C uniforme a doutrina. Se h i quem diga, como Geny, que a jurisprudhncia

pratica nunca pode ser Bonte formal de direito, podendo apenas fun~ionar como fonte geradora do costume, sendo este fonte formal de direito, hi, tambim, quem defenda, como Planiol, Lambcrt e Bartin, a opioigo de que a juris- prudhncia i fonte formal de direito,

Geoy diz que a jurisprudkncia 1120 pode ser fonie for- ua l de direito, porque C instPve1, pode atingir uoiformidade num dado momeoto, mas i variivel de ipoca para ipoca.

Pela sua talta de fixidtz, a jurisprud&ncia nunoa pode ser fonte formal de direito, diz o mesmo eminente escritor. E acrescenta que nPo hi a menor utilidade em considerar a jurisprudencia como folate formal de direito.

Esta considera~zo da utilidadt &, tambim, apresentada pelos sequazes da doutrina oposta.

Urn outro argument0 de Geny, em defeaa da sua dou- trina, e de ordem coostitucional e assenta no principio da divisso dos paderes.

Se se desse ao poder judicial, cujas decisfies eonstituem a jurisprudencia, a faculdade de criar regras abstractas de direiro conceder-se-lhe-ia, ipso Lcto, a f u n ~ I o do poder Legis- lativo.

Na sua argamenta~go,Geny concede que, em palses cotno a Inglaterra e os Estados Unidos, a jurisprudtncia possa ser fonte formal de direilo, porque, na verdade, a rcornum law>!, -as decisaes dos tribunais-ngo pode dei- xar de ser considerada come fonte formal de direito, com o carader de regras objectivas que regulam as relag6es sociais.

Mas, se i assim na Inglaterra e nos Estados Unidos,

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nos outros paises em que h i codifica~6es, continuou Gbny, a jurisprudtocia n3o deve ser tida como fonte formal de direilo.

A afirmaqgo de que a jurisprudencia k fonte formal de direito resulta da cuuIusSo que se estabelece, freqiiente-

.mente, enfre o poder dado ao juiz para criar regras do di- reito para os casos que lhe s lo presenles e ngo estgo na subsump~go da lei e a poder de dar ao juiz a cria~Zo de re- g ~ a s abstractas de direito.

Na verdade, a lace de certas legisla@es, o juiz tern o poder de criar regras de direito para os casos cuja soluqZo Ihe 15 pedida e que n8o estao contemplados no direito es. crito.

Mas, &sse poder nao t o d e criar normas gerais. 0 juiz tem, neste caso, o chamado ~jrrs praet~riumi: tomado na acepgin que a esla express30 k dada pela doutrina, ou me- Ibor, um crjus praetorium~ semelhante ao do pretor do Di- reito Romano, ( I ) islo e, o direito de criar regras solucio- oadas dos casos que ihe sao presentes e que n2o foram previstos pefo legislador.

Seguindo opiniao opoata, Planiol diz que a jurispru. dCncia 6 fonte de Direito, porque a caracteristica essential das regras de direito e a coacto.

(,) Papiniano, L, 7, 5 1 , D., de justit., I: I:-lus praelor~um est quod praetores introduaerunt adjuvandi. vel supp!eadi, vel corribendi juris civilis gratia, propfer utililatem publicam. .

Eugkue Petit, Droit Romain, p ig , 30:--Podc causar admira~Ho que rnag~strados eocarregados de aplicar n lei tivessem tamhkrn o po- der de apresentar um direito novo, o qut parece contrario ao uosso principio moderno da s epara~Io de podcreb; p~lucipio gue era desco. rihccido, ent i , ) , dos romanoi, como de todos 0s povos antigos. Elas. a pretor n8o tinha o poder I ~gislativo prbpriamente dito. Encarrepado de prover aos inierEsses derais da justica, 2le tomava, em virlude do eel] nimperium.,, tljdas as medidas que Ihe pareciam proprias para assegurar uma bda adrninistra~20.

Esta pode ser estabelecida pel0 Estado, por qualquer dos seus 6rgZos esecutivo oil judicial. S6 o juiz, portanto, pode dar a umn regra d e Direito, que o3o seja direito es- crito, ulna fbrga coactiva. 0 juiz da a regra essa Ldr~a pela senten~a.

E, assim, a jurisprud&ncia pode aparecer como uma f d r ~ a criadora de direito, urna verdadeira fonie de direito.

Bartio e Lambert opinam no mesmo sentido, embora corn argurnentos diversos,

Lambert sustenta a tese de que o costume moderna tern um conceit0 diverso do costume do direito romano e canonico.

0 costume moderno, segundo Lambert, e criado pela jurisprudkncia. Esta fern a fuocao d e renovar o direito e de o adaplar as exighcias do ambiente social de cada epoca. Tern, assim, a funqiio de criar regras que s e impoe~n coacti- varnente e yue adquirem a caracteristica de costume.

A sucessiva apl ica~ao pelos tribunais d e certas regras consagradas por soiirfoes unitormes desses mesruos ~r ibu- nais, alribui as regras aplicadas o caracter de costume.

Perante esta divergencia d e opiniijes, qlie alitude de- vemcns tomar ?

Devernos negar B jurispxudbcia a f b r ~ a de fonte for- mal de direite ou, pelo contrario, devemos consideri-la fonte de direito?

Entendo que a soluc$o exacta consiste numa transi- gencia estabelecida entre as duas opini6es.

Essa lransig6ncia iaz-se considerando o costume corn0 fonte formal do direito a par da propria lei, mas dando k jurisprudbncia o pader de converter uma ceria regra, prati- cada durante muito tempo, em fonte formal de direito, em regra costumeira,

E' atraves da jurisprudkncia que a reg'ra adquire obri- gatoriedade ou aquele elemento chamado u opinio necessi- fatis*.

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Presentemenle, pelo menos, parece ser assirn; se qua]- quer prlitica. embora repetida rr~uilas vezes e duraate largo tempo, n8o for consagrada por um tribunal que a declare obrigatbria, nunca assumiri o vulto de costume.

Dentro deste e~lel ismo por 116s proposto, a jurispru- dkncia n8o s e r i fonte formal de direito, mas e atraves da jurisprudSncia que a regra se torna obrigatbria, adquire a qualidade de regra costurneira.

Varn~s ver sa, corn urn exemplo, coa3eguimos com- preender o meu eclelismo.

Ji lhes disse, na l i ~ a o passada, que o uso cooveacional gera o costume, e citei lhes o exernplo do contrato de tra- balho, que incluia a clPusula de parantia. Disse-lhes, ent50, que a opioi%o de Sauzet nlo foi aceite, n%o ganhau os h i - mos, mas que, ainda assim, foi eficaz, porque determinou essas leis de acidentes de trabalho que apareceram em le- gislagfies, como, por exemplo, na nossa.

0s tribunais comecaram a dizer que no contrato de transportes havia a cliusula de earantis,

Apareaeu na F r a n ~ a , Belgica e ItAlia uma jurispruden- cia uniforme, e dentro dessa jurisprudCacia, hoje quem faz um contrato de transportas, quem chega ao aguichetr de uma estaC%o dos caminhos de ferro, es t i convencido que a Gompanhia transportadora, ou outra entidade qualquer, se compromete a levi-lo a pbrto seguro.

Por sua vez, por rirtude dessa decisgo constante, uni. forme, o transportador, ao vender o biIhete, vends-o conven- cido de que s e obriga a ievar pel0 seguro a pessoa que lhe compra o bilhete. Conseqiieolemente, eraa urn costume. acornpanhado do elemenlo psicol6gia0, corn a convic~ao de que t obrigatorio por via da jurisprudkncia. 0 mesmo dire- mos em relaqgo a doukina. A ucornlanis oplnio doctorur..a* rile pode ser considerada fonte formal de direito.

Tem, sem divida, uma f b r ~ a moral grande ; p6de exer- cer in[lu&ncia maior ou meoor na erolu$o do direito, con.

forme o prestigio dos autores, que a constituem, mas ngo constitue preeeito a que os interpretes da lei devam obt- dikncia.

E' vulgar ver-se o juiz, nds suas decisGes, citar a opiniao dos doutores; mas, iusistimos, essa citaqzo n;Zo i mais do qlle uma documeata~ao da opioi~o do juiz, que pre- tende valorisar a sua decisiio corn o pareoer de jurisconsul- tos consagrados.

0 juiz procura, apenls, alicerpr-se corn aquele valor moral e doutrinal,

A doutrina tern aiada a virtude de, quanda a autoridade dos doutriniirios d grande, poder inclinar o juiz em certo sentido na apreciaggo do caso concreto que lbe I? submetido.

Se ha uma corrente doutriniria grande, o juiz pode, mesmo, dispensar-se de transcrever a opini5o dos doutores em determimado senitdo e resolver o caso que 6 submetido a sua apcecia~ao segundo essa corrente doutriniria avassa- ladora.

Mas assentemos nisto: nem a opioiao dos doutores corcta a liberdade do juiz em decidir em contrario, num tern mais do que uma f b r ~ a influeale, n3a constituindo jh- mais urn imperative.

Se relabivamente a jurisprud$ncia as opin16es se divi- dem, quanro i doutrina, oinpuim ousa apresenta-la como fonte formal de direito

A respeito da jurisprudtncia, embora a nPo aceite eamo foate formal de direito, considero-a, coatudo, como instru. meoto criader do costume.

E, assirn, se nIo funciona como fonte formal de direita, funciona como insrrumento criador de costume que, por sua rez, e fonte formal de direito.

Basla uma jurisprudencia, quer judicial, quer extra. -judicial, consistindo a pri~neira nas decisces des tribunais e a segunda na pratica de certos actos da vida juridica

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(como, por euernplo, o fact0 do notirio praticar actos de certo modn'l, para qne se possa criar urn costume.

Na noimalidade da v i d ~ juridica, nIo e preciso recorrer aos tribunais, porque a estes so st r=corre quando surge a desarrnonia social.

Mas, se os tribunnis jutgarem, durante urn certn tempo, Umd certa espicie juridica, da mesma forma, criarn o ces- lume.

Do mesme modo, s e os doutores sustentarern, na dou- trina, a int5ma solu~ao para o mesme caso, durante muito tempo, e sem discrepancia, naturalruenteesta opioiilo, assirn formulada, poderi gerar a pratica de actos conformes h dou- trina; pois ninguim de born sense e prudente i r i praticar nm act0 contririo i opiniso dos doutores, que foi consagra- da pelos tribunais.

Aparece, dtste modo, uma pratica uaiforme e prolon- gada visto que tbda a gente procede da mesma maneira, por irem adquirindo a convic@o de que sd per meio daquela pritica se podem conseguir dctermioados efeitos de direito.

Assirn se geralll 0s costunies por meio da jurisprudtn- cia e da doutrina.

N%o 6 , pois, s6 a jur+iprud&ncia que :era costumes, tambOm a doutrina, apoiada pelos tribunais, pode criar o costume.

Mas, qua1 sera a distioq30 entre o costume e estas duas figuras - a jurisprud&ncia e a doutrina 7

0 elemento material do costume e, como sabemos, a uniformidade do dever juridtco, resultaole da pratica cens- tante e durddoira de certos actos sempre os mesmos.

Na jurisprudencia tambem existe a uniformidade do dever luridico, viodo nHo do povo, como a do costume, mas des tribunais. dos 6rgSos que aplicam a justiqa. N3o deve- mos, contudo, esquecer que aq~iela un~forrnidade da aplica- $So da regra por parte dos tribunais pode gtrar a uniformi- dade do dever juridic0 por parte do povo.

Quanto ao elemento psicolhgico -a coaydo, os tribtl- nais estabeiecem uma cvaqEo, mas, para cada caso cancreto e particular.

No costume ha, n3o aquela coacc%o real e efectiva dada pelo tribuqal ao caso que lhe i apresentado, mas a convic- CSLO da obrigatoriedade, aqnilo qut se chama, como sabem, a aopinio necessitalis~.

E, assim, vtem que, enquanto o element3 psicol6fice do costume e a aoplnlo necessifalis,, a respeito duma re- gra, o da jurisprndkncia 15 a coacgao do tribunal apenas re- latira ae caso sujeito a dtlibera@o.

E qua1 a di3tinqZo eatre a doutrina e o costume? Quanto ao elemento material, a doutrina tambem pode

ser uniforme e canstante e ier uma pr8tka prolongada, Mas, falta-lhe o elemento psicol6tic0, que oaracteriza o costume.

A minba tese e, portanto, esta: Nem a jurisprudhcia nem a doutrina sgo Fontes Eormais do Direito. H i , portm, uma anomalia em a nossa Iegisla~ao.

Pelo Oecreto n." 1353 criou-se entre nos urn recurso da uniformizaciio da jurisprudencia. Por Cste recurso. o Su- premo Tribunal de Justica pode proferir em Pleno uma de- cis30 que tenha a forma de Asscnte e que se imp6e ii obe- di&ncia des outros Tribunais.

Essa decisio, uma vez tomada em forma de Assenfo, obriga os oubros tribunais e ate o Supremo Tribunal de Jus- t i ~ a i obrigado a seguir o Assento. Apareceu tsse recurso em 22 de Setetnbro de 1926 e, hoje, exisie no actual Cidi- go de Processo Civil na artigo n.° 763.'. Explicar-lhes.ei, agora, a anomalia dCste recurso, que, no verdade, $6 tern pre- cedenbe muito recuado na Hfst6ria.

A anomalia consiste em que, na organiza~go moderna dos Estados, ha Poderes, h i divisao de Poderes : h i o poder E~eclltivo, o poder Legislative e o poder Judicial.

0 poder legislatiro, e o poder de Iazer leis, e o Execu- Qvo, 6 o poder de lazer executar as leis. Ora, por tsse re-

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curso de uaiformiza~~o atravds dos Assentos, vernos con- fundidos os dois Poderes : o Lcgislativo e o Judicial. Quem faz leis, quem faz normas que s e imp6em a obedi&ncia dos cidadgos i o Poder LesgisIativo. Quem aplica as leis e o Judicial e quem as executa e o Poder Execulivo. Mas, nesse Decreto, i o Poder Judicial que sai da sua esfera, para fazer nsrmas de conduta que se irnpaem a obedikncia dos cidadlos.

Eu prefiro, talvez, o sistema francts, Woje, em Franca h i arrets de prfncipes e arrels de rs-

pkces. Nos urrcts (-P principes, o Tribunal comeca por fazer urna combinag80; depois chega a utna soluclo pritica que resolve o conflito como conseqlf&ncia dessa teoria. Nos ar. rtts de cspi.ces, o Tribunal $6 cuida de aplicar a lei ao que esta sujeito i sua decisiio. 0 s arrels de principes, porque siio urna C O O ~ ~ U S ~ ~ de urna teria desenvolvida, em regra, sao acatados pelos outros Tribunais, mas esies podem dtixar de acati-10s. Por conseqii&ncia, nao sao fontes for. mais de Direito.

Mas, deixando essa teoria, nos concluiremos que a ju- risprud&ncia 1180 i fonte formal de Direito, porque nos tri- bunais n8o faz norma de conduta, nso se deneralisa em principios qu t se possam aplicar a decis6es de outras cau- sas semelbantes.

Voltando, porem, ao nosso assunto. E' p r e ~ i s o terem bem presente que na nossa jurispru-

d&ncia ha a anomalia dos Assentos do Supremo Tribunal de Just i~a. Por conseqfi&ncia, segundo o6s, as tontes for- mais de Direitos sBo a Lei e o Costume. Mas, bgora, uma advertencia. M6s considerarnos no nosso estudo a s fontes formais de Direito no sentido tdcniso, porque essa expres- $80 entendt-se mais n b s e sentido. Ha fontes essendi e fon- tea rognoscendi. Fontes essendl sgo os org%os do Estado de ondt derivarn as normas de coaduta impostas coactiva- mente aos cidadHos.

Fontes cogndscendi sf40 os rnodos d t formacao do diraito e, tambem, os org8os que diio a conhecer o Direits. sZo, por exemplo, fontes de direito, o Poder Legislativo, a Bsse~nblea Nacioaal que taz leis, o Poder Executive que faz Decretos-Leis, o Governador Civil que faz Regulamentos, as Aotarquias kocais que fazem Kegulamenlos e Posturas. Mas, nesse sentido restrito em que 116s empregamos a express20 fonte formal de direilo, k wlato sensu., para significar os rnodos de forma~so e de revelatlo do direito, os modos porque o dircito se lorma e se reveia t, entao, dizernos que as lontes formais de direito sPo a Lei e o Costume,

Ainda ha quem ernpregue a expresslo ofonte de direitom para significar as circunstPncias que determinam a terma$%o de uma regra de condula.

Insisto. Empreguei r expressno Ionte de direito para significar o mod0 de formaq3o do direiio, o modo como se revela o direito.

Ha, tambkm, queln distinga entre fonte imediata ou directa do direitr, e fonte mediata ou indirecta do direito.

Conforme o que lhes disse, as fonles imediataa ou did- rectas do direilo sgo a lei e o costume. As Iontes indirectas ou medialas do direito seriarn, sntao, a jurisprudkncia, a doutrina e tambim os usos convencionais.

0 d~reito revela-se por meio do costume e p r meio de leis, mas o costume, como ja dissepos, pode ser gerado pelos usns convencionais, pela jurisprudencia e pela dou- trina, Como sabem, a doutrina e a documenta~%o do juiz que decide, Ha doutrina uniiorme e essa doutrina influen- cia juiz, o que decide conforme essa doutrina e, por sua vez, a jurisprudencia gera a opinio 1uri.s do costume. Vemos, assim, que sfio fontes formais directas ou imediatas a Lei e o costume, e que s%o fontes formais indirectas au mediatas os usos convencionais, a doulrina e a jurisprudkneia.

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6." Das fontes do Direito (cont.)

Conoelto cientlfico e concelto legal da lel.

- Hlersrquia da lei.

- lnconstltucionalidade das leis.

- Poder dos trlbunals conhece- rem da lnconstituclonalldsde das leis.

- llegalidade dos regutamentoe e a facuidade dos trlbunals conheoerern desta Ilegelidade.

Vamos hoje ocupar-nos da l e i , das virias espicies de leis, que formam a hierarquia das leis.

Para a defini~zo de lei ha sempre urn con~eito cicnti- fico e urn conceit0 racional, sendo o primeiro o que resulta dos termos legais, sobretudo, 0s constitucionais, e o segundo o que decorrt de uma nocPo cientifica de lei

Para nos determinarmos sbbre a hierarquia das leis, temos, antes de mais nada, qur definir Iei sob o canceito cientifico ou sob o conceilo racional.

Para a definiflo de lei surgem vhrias doutrinas, de que se bPo-de ocupar mais especialmente na cadeira de Dires'to Constituclanai, mas, que, aqui, por r a a o Ligica, nlo temos remtdio sengo abordar, ainda que ligeiramente.

A s escolas que procuram definir lei sgo, umas, monish tay--doutrina formalista e doutrina rousseauniana-e outras dualistas, islo e, doutrinas que dso dois conceitos de lei, e que vkm a ser a doulrina da teneralidade t a doutrina da novidade,

For eonseqll&ncia, temos qtialro doutrinas : lormalista, rrousseauniana~l, da peoeralidade e da novidade.

Para a doutrina Lormalista 56 e lei o diploma emanado do QgCro iegislativo. Em todos os paises, M urn 6 r g h legis. lativo, que t, enire ribs, a Assemblea National, setundo a Constituiq%o de 1933.

Yois bem: as deliberaq6es desse or250 legislativo de- viam chanlar.se le&, segundo a doutrina lormalista.

Para a doutrina ,~rousseauniana* a Lei e o diploma de caracter geral, quanto a sua origem e quaoto ao seu con- telido. Para haver lei e necessPrio que haja um diploma que emane da vontade geral, da vontade national, e que tenha urn conte~ido tatnbem gerai e impessoal.

Isto quanto as doutriaas monistas. Vejanuos, agora, o que vem a se r lei para as douhinas dualistas.

Para a doutriga da novidade ha, iambem, ieis formais e leis materiais, sendo leis formais os diplomas emanados do 6rgHo legislativo, e leis materiais os diplomas que v&m alterar a esfera jurldica da personalidade.

Ha diplomas gerais e irnpessoais que n%o sHo regras de direito, que n8o sgo leis, e, pelo contrario, ha dipiomas individuais e concrelos que sHo leis, regras de direilo. Tudo depende de o diploma alterar ou n3o a esfera juridica das pessoas e do Estado, que pessoa iuridica t tambem.

Diz o art. 1.' do C6digo Civil: 8Sd o humem k susceptivel de direitos e obriga~ues.

Nisto consiste a sua capacid& jurs'dtca uu a sun perso- naliduder .

De maneira que. todo o homem tern direitos e obriga- @es. Esse somatorio de direitos e obrigac6es constilui a sua eslera juridica. Mas o homem e uma pessoa fisica. HA oulras pessoas que tbm suseeptibilidade de direilos e obri- gaqles, que tern esferas jurid~cas e que nlo s%o pessoa flsica-s~o pessaas colcctivas,

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0 Estado C urna pessoa co1ectir.a constituida por urn nBmero de cidados; o concelho e urna pessoa clolectiva constituida pelos niunicipes : a lreguesia 6 uma pessoa co- lectiva; a sociedade comercial e uma pessoa colectiva cons- tituida pelos s6cios.

Na verdade, tanto as individuos, or1 pessoas lisiaas, comi) as pessoas colectivas tktn fodos urn somatbrio de di~eilos e obrigac8es que constitui a sua esfera juridica,

I'Bsto isto, digamus: sob o ponio de vista da doullir~a dualista da navidade, quando aparece urn diploma que venb modificar a esfera juridica das pessozs, esse diploma 6 uma lei, @sse diploma inova direito. Nas, se urn diplurna, embora de ~arac te r geral e impessoal, niio altera a esfera juridica dos cidadaos u u das pessoas colectivas, a pesarda sua generaiidade e impersooalidade, Bsse diploma ngo C urna lei. S6 6 lei o diploma que modifica a esfera juridica dos cidadgos ou das pessoas colectivas.

Qua1 deslas doutrinas se adoptou na nossa Constitui- Fa0 ?

Sou obrigado a confessar.lhes que, nesse ponto, como em muitos outros, a nossa Constitui~Zo nem e formalista, nern adoptou de um mod0 absoluto a doufr~na da geoerali- dade da lei, nem chegou a adnptar inteiramente a doutrina da novidade.

NSo adoptou a doutriua formalisla, como se vP da dis- posi~ao do art." 91.0 confrontada corn a du a1t.O 99.0, 5 unico.

Diz u n." 1. do arb. 91," da nossa actual Constitui~Sio tratando da func3o legislat~va da A5sembtea Nacional, que a esia compete:--.Faazrr lei?, interprelb-la;, su,pendd IGS e revogd las*.

E o 8 unico do art." 99." dispde:

Sdo pra~tiulgadus como resolug8es :

a ) As ratifica@es dos ds cretos-his e.rpedidos nos casos i:e ~rrpdncia e necessidndc L ~ i b l i i - n ; ) ~

Raciucinemos. Segundo a doutrina formalista, todo o diploma que ernanv do or230 legislativo e urna lei. 0 ortito legislativo, seg~rndo a nossa Cunslilui'~50, 6 a Assernblea Nacional. Por conseqii&ncia, se a Constitu?@o adoptasse a doutrina formalista, todo o diploma que saisse da Assem- hlea Nacioiial t~avia de ser urna lei. Mas, confrontando o art. 91.", con1 o 5 unico do art. 99.", v&-se que da Assern- blea Nacional saieln leis e resolu~6es. Portanto a nossa Constitu'i~Xu n%o adoptou a doutrina formalista,

Mas , se lermos rnais artigos da Constitni'qilo, verifica- 11ios que, por vezes, ela chama leis, 1180 so aos diplomas emanados da Assernblea Nacioaal, mas tamb6m aos regu- lamentos, as posturas, aos diplomas de caracter geral e i~upessoal. Mas, neln por isso ela adoptou ioteirarnente a doutrina da generaiidade. E, segundo o art. 14.", pode pa- recer que ela adopton a doutriua da novidade.

Em surna: segundo me parece, a uossa Constitui$30 n 3 ~ teve unl crittrio firme na defini~Po de lei.

T3mhem na dot~trina n2o erlcontrarnos upin120 assente.

Para Duguit, por exemplo, o regulamentc~ t urna lei matcriai, porque contem disposiqfie? $erais e impessoais. Elas para Berthelelnp e para Hauriou o reiulamento distin- gue.se da lei: a lei C a dectara~30 da vont;rde d.1 autorida. de adrninistrativa corn poder goveinamental.

E m conckusZo, nos iizemos estas cansidera~des para ver quais s%o os membros da hieraryuia de leis. Ja veritrcamos que. 1120 ha opiui%o assente; que a nossa Constitui~ao nZo seguiu uma teorin so a respeito do con::eila d t Lei; todavia, 15 certo que para a nossa Constitr~.i~do os men~hros da hierarquia s k : lei constitucioaal, lei urdiuaria, decrelo-lei, regdarnen- to geral, regalamento do governador civil, regularneuto,e

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postura da cBmara municipal c postura da junla de frbgue- sia.

0 s diplomas quc saem da Assernblea Nacioaal podem ser leis- di-lo o art." 91.". 1) GuvCrno (em poderes de fazer diplomas que tern o vigor e a eficiencia juridic& da lei, di. plomas que se chamam decretos-leis.

Diz-nos o art.e 99.' que o Govern0 faz decretos-leis, faz regulameatos. E o C6digo Admioistrativa, no seu diz: *Para dcsempsnho ifas srses atribu$Bcs, conrprte as cilmnms :

I.' Fazer, intrrpretar, rnodijicar e rpvo~~ar os regu- lententos ncccssdrios ri boo o rd~m dos servi~os e tsfabe- lccimenfos municipais ;

2.' F o z ~ r , int~rpretar, rnod~jlcor P rf1rogar ~ O S ~ U ~ Q S

F reg!zfnrnpntos pohctais pfrmitidos OIL im/losfos pof lei ou decretn*.

E logo a segu~r, no art.O 52:, diz, tamhdru, o C6digo Adm~nistrativo que ens deliberarrPs ilns r&rnarns rnnnici- pnis podern ravesfrr rr .torma d~ posturn OIL reg'lslamento poldnal, ssnipre qfzr contenhnrn dlsposi~fies prcventivas de carlicfer _ir~/fkrico e C S B ~ I C C ~ ~ L ) psrr~~an~ntr .

E no art~go 201 ", ao tratar da cornpettncia das luntas de trkguesia, diz que .para o desempenho das snaq afri- baic&s, compete as junfns d'E frey/wsta :

I." fnrer, mterprctar, modijlcar P revn:lnr posturas sfidre os obj~cfos comprendidos nos n." 3.", 7." P 8: do n r t l ~ o 189." L. os reyizfrllarn~~lfos necrsrdrios a administm- fdo pamquial*.

Por conseqiitocia, d e tbda? essas disposi@es n6s ve- mos o seguinte: segwndo a nossa legislac%o, sIu membros da hierarquia legislativa, primeiramente, a lei constitucio- nal, segundo, a lei ord~naria, terceiro, o decreto lei, quarto, o regulamenka geral, quinto, o regulamenro do governador

civrl, sexto, o tegulameuto e a postura municipal, sktimo, a postura da junta de frtgaesia.

Ora tste panorama da hierarquia legislatlva tern efei- ios que nos interessarr,. Esses efcilos sPo : 1.O quando uma lei ordiniria e contraditiria dos principios da lei constitu- cional, essa lai ordidria pode ser argu'ida de inconstitucio- nalidade, pode alegar-se a e x c a ~ E o de inconstitucionalidrde; 2.' quando urn regulamento de execueo de lei e contrario a lei, ou a urn decrecto.lei, &sse regulamenk - ou seja urn regularnearo geral, ou seja urn regularnento do goveroador civil, ou seja uma postura ou urn regulamento municipal, ou stja uma pmtura da junta de frkguesia - i ilegal; 3.' quando urn regulamento do governador ctvil, urn regula- meoto ou uma ps lura municipal ou uma posten da junta de trtguesia s%o cootririos a urn regulamento gcral, a urn decretoalei, ou a uma lei ordinaria, todos esses regularnen- tos ou pesturas aUo tambirn ilegais.

Vejamos o prnblema da inconstitucioaalid& das Ieir. Podera str excepcionada a inconstilucionalidadt &s

leis para o efeito de o juiz nao aplicar uma lei quc seja contraria aos principios constituciaoais? Em face do nmw direito positivo pode.

Basta ICr o Art.* 123.O da ConstitnIgPo, que diz: <Nos leifos submalidos a julgarnento ncio podern 0s

iribunnis apllcar lei^, dccretos 3u qunisgrirr nutros dip&- ma* qrcc i n j r i n j ~ m o disposdo nesla Constituigdo ou ofcn- dam os prtnclpios neLo c nsignadm*.

Por conseqai3nc1a, face da notsa lei nllo hA drivida de gut 0s tributtais nil* podem aplicar uma lei ordingria que scja iaconalitactonal.

N6a piecisamos, em virtude do disgosto no art. 123.*r dt distingair d a ~ s espdcies de inconstituciooalidrdc: a inconstilasianalirtaSs substantial e a isconstitucionalid;Pde organica PU tormal.

Uma lei ordiairia podt ser inconstibnrianal; primeiro,

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parque c o n t h doutrina cootriria aos principios da Consti- tu!f%o (inconstitucionalidade substancial): segundo, porque foi emanada de urn orgao que ngo tinba poder para a emi- tir (inconstitucionalidade formal ou orginica).

Quando a inconstitucionalidade 6 substancial, a lei nSo pode ser apiicada; o tribunal que apreciou o caso eoncreto sujeito 4 sua jurisdig80, enconttando uma lei que substan- mialmente i contradit6ria des principios constituciooais, n8o a aplica, deciara essa lei inconstitucional: e o Iitiganle con- tra quem 6 cilada a lei substancialmente ioconstitucional pode alegar a exceppPo de incoostitucionalidade. E islo porque n6s estamos em face de urna Constilui~ilo rigida.

Ha duas especies de constilui~ao ( is te tambem e ma- t6ria de Direito Constitutional, mas ngo podemos avnncar, sem ter umas no@es, ainda que ligeiras, do assunlo). Ha consti tuiq6es rigidas e const i td~6es flexiveis.

Uma constitmi'@o i rigida, qwando o Brg%o pue faz a lei c~nstitucioi~al d diverso daquele que fag as leis ordini rips, ou quapdo as leis ordinariar sBo feitas por processos e metodes diversos da lei constitucional, que 6 o nosso sis- tema.

Em F r a n ~ a a lei oonstitucional 6 feita pela Assernblea Nacional, ao passo que as leis ordinhias sao feitas pela Chmara dos Deputados e ptlo Senada, funci~oando aepara- damente. Portanlo, o org%o que faz leis constitucicrnais e di- verso do que taz leis ordioarias. For isso os vrgaos das leis ordinirias n8o deveol poder rnodificar a Constitui'clo.

Entre n6s, a Constitui$Bo 6 revista de 10 em 10 anas, de 5 em 5 se a Asmcmblea Nacional o resolver por dois t e r ~ o s dcls seus membros, s e o Presidente da Repliblica, ouvido o Conselho de Estado, der poderes coustituintes a Assemblea Nacional para a rever em certos e determinados pontos, ou pode o Presidenie da Rbpliblica sujeitar urna nova Constitut~Ho ao plebtscila da Na~%o.

E' o que dizem os arts. 134." e 135.0 da ConstituiqTe.

Na verdade, diz o art. 1 3 4 . O que *a Constil l~i'~do scrd

.\v I." A rf*visnlo podf ser a~itrcil~rrdn d~ t~inl-o em cinrr~ nnos, S P for apmvndrl f ~ a r chi.? tgryos (10s ~liernbr-~?s

ilata du r~vi9iTo n/~tecipnlKa o rrovo perii~do iff dez UIZOS. 2.' N Z o poden1 ssr nd/niffdas como objecfa 1Z.t de-

libcrapTo /lrrnpnsfas an pro]eefos de revisifo cotrzsfituciosal (jlre ~ B o d e j l n a ~ t ~ precisa~nente us alfern[$es projectadas*.

E o art. 135.0: *I~zdepe~zdentemente do preceibuado no arf i~ro nlrfcrior, yl/andn o bern pribiico imperiosamenfe o rwi~rir, r ile/~ors cir orivido o Consell70 (fe Estado, pode a Presidentr liu Replihlrca, em decrefo n s s i ~ a d o par todos os Ministros :

I," Determi)rar qae a Asscrnblea Nacional a e l e ~ e r assrrrnn porleres consfitoin fes e reveja a Consfitui'cEo em ponfos esperiais indicados no respective decreto ;

2." Sahmefer a plebiscite nacionul as nlteruq6es da Constilui'~Bo PUP se re-firam a Jranc&o Zegislativn 011 seus drgEos, utgorund~ us ultera~6es aprovadas logo gut o apuramento de#initiva do plebiscitu seja prrhlicado no Dierio do Gov l rno .~

Per conseqiikncia, o mhtodo, o process0 de fazer a lei constitucional 6 diverso do metodo ou do process0 de fazer as leis ordinkrias. E urna Assernblea Nacional qualquer, que 080 tenha poderes constituintes, nos termos dos arts. 134." e 135." n&o pode rever a Constituit$o. E, quando faz urns lei ordinaria que contraria o s principios constilucio- nais, fara, portanto uma lei que irnporta a revisgo da Cons- tilu~+o; e, como ela nzo podia, porque n%o tinba poderes para tal, essa lei ou essa disposicgo da lei ordiniria e in consti tucional.

Pode acontecer, no entanto, que urn Estado tenha uma

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Coastitui~$io que dlo seja rigida. Pode acontecer que 0

6tgao iocumbido pela Consiilui$ao de [azer a lei copstitu- clonal spja o prdprlo 6rgBo que faz a lei ~ r d i d r i a pelos mesmos rnetsdos, corn os rnesmos processes. E , sntiro, campreeode-se que oso hap incoljsti~uci~pplidade das l e ~ s , visto que o orgiio que faz a lei ordioaria k m podia fazer a lei canst i tucional.

Tamb61n pode acostecer que numa Constiluicao baja a proiblcgo dos tribunais conhecerem da exceg~Bo de incons- titucionalidade das leis.

Na nossa Constitui~Bo de 1933, cumo j6 ouvirarn ler no ar t , 1 2 3 . O , hi uma esptcie de inconst~tucionalidqrle, que se chama organics, que Mo pode ser apreciada pelos tribunais. Mqs a inconstitucionalidade substandal, essa pode ser apre c~ada pelos lribunais. Pois d admissivel uma Constitu'i~zo que proiba conhecer da incoistitucionalidade das lcis, quer seja substantial, quer formal, E, eatgo, os tribunais nBo podem tomar coahecimeoto da excep~zo de ineonstituciona- lidade das leis.

Mas, se u q is tiver urna CqastituTflo rlgida, Cawo a ups@, a da Franqa, a dos Estadps Unidos, e'pgo hpvver prelbi@o constitucionql qua inbiba os k~ibanais dq agrecier a excepcgo da inconstitucionalidade, e m h a nao bh dis- wi#@ canio a do nasso art. 123 a que expressaaent t de claf* que os tribunais nBp podem aplicar leis inconstitucio- nws, eal%o entendo eu que as tribunais, nao obstante a omiss%o, deverao coabtcer da inconstitycioaalidade das leis, E' a fun& tambim, prepria do tribunal.

(3 juiz, quando aplica a lei. tern necessiriarnente d e discernir se h i mais do que uma lei que se aplique si- tUa~go concreta que ele val apreciar. Por v~rtude deste dia- cernlmento, quando por venlura &le encontre ema let cons- tttucional que seja contraditbria da lei o r d i ~ r i a , ou vice- -uersa: urn& lei ordinaria que seja contraditiria da lei cons-

titocional, o juiz deve julgar procedeole a excep~ao de in conslilucioi~alidade da lei.

0 s tribunais rnuitas vezes bcsitdm; ficam esrnagddns debaiwo da respensabilidade de conbecer a incon?tituciona. lidade de urn diploma emanado d o ergso legislative, que enire nbs se cha~na Assernhlea Nacional, e , por isso, iergi- versam. Por vezes, defendenbse, dizeodo que n%o quereiri urn papel polit~co --e apreciar se unl diploma etnanado da Assenlblea Nacional e co~~s l i tu~ ioua l nu iaconstitocional, e maltria politics; mas o que 1 certo 1 que, a-pesar-da sua magnitude, o conhecrr da inconstitucionalidade das leis i fuaqao natural de julgar. Nao se j~llgit seln se apreciar a constitucionalidade de uirra lei.

Em 191 2 - o ano e m que entrei para a Faculdade ie Direito, o ano em que fui acaloiro-, cotno os Srs. agora sso, -publicou-se ma *Rerue de Droit Public;) uma consulta a quatro administrativistas de Paris feilas nos seguinles ter- mos: uma cornpanhia de .tramways* de Bucareste pregun- tava se poreeatura o tribunal supremo de Sucareste-a +Lour de Cassation~ de Bucartste-podia ou n8u julgar da inconstilucionalidade duma lei, pbsto que na ConstilulcBo da Kominia n8o bavia disposi~Bo alguma que d e u e aos ~ribunais o poder de julgar da inconstltucianalidade das leis.

Apareceu a sonsulta na citada revista redigida por Jbze e Berthelemy, ouvidos, tambim, Esmein e outras admi- nistrativistas.

Nessa consulla diz-se que, embora a Constitu~cZo da Romknia n8o de expressamente sos juizes o poder de apre- ciar a inconstituc~onalidade das leis, o que e certo d que, por f u n ~ a o natural do pr6prio juiz, que e jujgar, que t dis- ceroir o caso concreto sujeito a sea apreciacao, Cle tern de apreciar se uma lei 15 coastitucionat on iaconstitucional.

0 juiz conhcce o conIlito dc teis iaieroacionais; conhe- ce o conflito entre duas leis nacionais; porque e g u t Mo

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h i de conhecer o coailito entre urna lei constitucional e uma lei ordinaria? E, se enconliar essa crmtradi~ao emtre urna lei constitucioual e uma Ici ordinaria, comn a lei cons- titucional esta so primeiro piano da I~ierarquia das leis, prefere a lei cunstilucional, e por isso ienl de julgar incons- lltucional a lei ordinaria.

A inconslituciooalidade das leis pode scr apreciada petas just i~as ord~narias, pelos tribunais ordinaries, ou pode ser apreciada, cotno nos Estados Unidos, por utu alto tribu- nal encarregado especialmente de julgar a inconstitucionali- dade das leis.

E Larnberi estudou a orgsnica d&sse alto tribunal das Eslados Uaidos e chegou a couclusZo de que n%o ha vanta- gens de maior em a constitucionalidace das leis ser juIgada por urn tribunal corn essas f u n ~ a e s especiais em vez d e ser julgada, em cada caso concreto, pelos tribunais ordinirios.

Ora, paralelo a Cste primeiro corolirio do problema da hierarquia das leis - o da inconstitucionalidade das leis or- dinirias quando contrairem a lei constitucional - ha o co- rolario da legalidade dos regulamentos.

Pode acontecer - muitas vezes acontece - que um re- gulamento couttm disposicaes cootradit6rias de urna lei. E entgo d ilegal. Se, havendo contradi~go eofre uma lei ordi- naria e urna lei constitucional, a primeira e declarada in- constilucioual, pela rnesmo razgo. qltando houver coniradi- $go entre urna lei ordinaria e urn regulamento, ou entre urn decreto-lei e urn reguliamento, o juiz deve julgar ilegal o regulamento.

Entre nhs, isso n3o pode ser muito freqiienle, por vir- tude do expbslo no art. 92.O da Constituf$Ho, que diz:

*As Leis votadas pela Assernblelr Nucional devern rcs- trdngir-sc d oprovacoo dos bases gerals dns regimes jwi- dfcos, ndo podhdo, pordrn, ser contesfada, corn fundamento na viola~rio d i s k principio, u legits'midade constltucior~ul d t quaisqu;r prfceidos nelas conlidus,>.

Como se vB por Csbe artigo, as leis sZIo votadas nas bases ierais, a Assernblea Nacional vola a s bases gerais das leis. 0 resto e regulameniar. Mas nso pode ser argiiida a legitirnidade constitucional de quaisquer preceitos cunti- tidos no regulamento,

Pelo facto de o regulamento ser conlrirlo as bases gerais da lei ordinkria, n%o se pode alegar a ilegititnidade constilucioual dCsse regulameoto. Apesar desta disposig%o consti!ucional ainda pode ser possivel a argui'@o da ilega- Iidade durn regulatuenlo, pxque ha diplomas em que a As- semblea Nacional tetn de esgotar o poder iegislativo. Essas disposiqses s& aquelas a que se refere o art." 93.0 da nos- sa Constitui~Zo Politics, que diz:

*Constifne, porktn, necrssririarn~nff mat@iin de 1ci : a ) A orpznizo~rfo da dcfesn naciunnl; 6 ) A criuf@o i7 sr~pressao dc sbrvips ptiblicos ; c) 0 p&o, vnlor P dersorninu~o das rnoedas; d) 0 padriTo dos pesos e medidas; e) A criugcTo dc bancos au institutes de emiss6o t- as

normns 12 UP detv obedecer a circulnmfio fiducidria; f) A orgarrizng-Zo dos t?ihrrnaism. Nassas materias referidas no art.' 93.", a Assemblea

Nacional tem de enrrar e m disposi~aes regulamenlarea. TanlhPlm d corolirio da bierarquia das leis o seg~liote

principio: quando um regulamente distrital, utu regulatnen- to municipal, urna postura municipal ou uma pestura da junta de frkguesia forem contradit6rios durn regulamento geral, duma lei ordiniria ou durn decreto-lei, aqueles regu- lamentos ou posluras tambtm s8o ilegais,

Em suma : segundo o nosso direito positivo a hierar. quia das leis e constituida:

a ) pela lei constitucioua1; 6) pela lei erdinsria ; E ) pelo decreto-lei ; d ) pel0 regulamento geral de execuqgo das leis;

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e) pel0 regulamento do governador civil; j i pelos regulamentos e posturas muoicipais : gl pela postura da junta de frkguesia. Per virtude desza hietarquia, quando uma lei ordioaria

6, zubstancialmente, c ntrhria a unla lei constitucional, a lei ordinaria e inconstilucional ; quando urn re#lamento gerat e cootrariu a uma lei ordinaria ou a urn decreto-lei, o regulamento geral p6de ser ilegal; quando urn regu1amento distrital, u r n regula~nento municipal, uraa postura municipal ou uma postura da junta dc frkguesia forem contririos a urn regulamento geral, a urn decreto-lei ou a uma le i ordi- niria, esses regulamentos s%o tambirn ilegais.

7." Das Fontes do Dlreito (cont.)

lLClassificaq&o das normas jurldicas. -RalaqZ[o entrs as normas de inte-

r l sse s ordern piblloa e de inte- r6sse prlvado e nulidades abs tu- tas e relativas.

-Tdda a norma jurldica contern urn Imperallvo.

-Sugast8o atinante a substltuir par oufra a designapao do normas jurldicas imperativas.

- 0 imperatlvo da norma jurldioa B oategorico e nBo hipotetlco.

J i dissemos que a lei 6 uma fonte formal do Direito, e , conseqiientemente, tambtm uma regra de conduta exter- na. Mas, essa rsgra de conduta 1180 aparece sempre corn a mesma designaqh: dai, a necessidade de terrnos de classi- ficar as leis.

fIa umas leis que se imp8em obeditncia, proibindo ou preceituando certos actos : na terrnin>logia doutrinal sha- mam se leis irnpcrativtls-- imperativas proi'bitivas ou impt- rativas p~ eceytivas.

Ha outras leis q o e n io imp8em, mas permilem, facul- tam a pratica de certos actos : chamam-se lris permissivas ou jacultalivas.

Ha outras normas que nos definem conceitos : 320 nor- Inas 011 leis declarativas ou explicativas.

H i outras normas que dizem: ase as partes n%o esti- pularem d e modo diverso, iaz-se assim, o conteddo do acto juridic0 e assim constituido : charnam-se leis supletivas+ Suprein (dai a expessao *supletlvas-) a vontade das par- tes.

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Ha outras leis que nos dcfinem os termos que se em- pregam nos actos juridicos ou nas leis.

E, finalmente, ha !eis ou normas de conduta que, con- trariadas, irnporla~n sempre a nulidade do acto, ainda que as partes niIo queiram apiicP.las.

Ao contriirie, ha leis que as partes podern eliminar, que as partes podem determinar nZo aplicar: as primeiras 520 as &b de intrrbse e ordem phblica, em oposiqZo as segundas que $80 leis de in terhe parbliwlar.

Por exemplo, a iei que diz que o pai tem de prestar alimentos aos filhos menores e uma lei imperativa precep- tiva.

E' uma lei imperativa proibitiva, por exemplo, o art. 1764,"ddo Cbdigo Civil que dispbe : cE' pro'lbido tester- :

1.' - Aos ~ U L ' silio esfiveretn em . S ~ E I /?~rfeito juiio>; 2.'- Aos menores de caforze anas de ur~z E orrlro

scxo* . E' urna lei facultativa a que permite praticar certos

actos, nHo os impundo, facultando-0s. Por exemplo, o art. 1763." qut determina: .Podem testar todas agueles a quem a lei expressamenfe o n~?o profbe,.

,podcm te.sbr.lrw. Ngo obriga a testar, mas faculta que fa@ testamento aquele a quem a l e i nao proibe.

Outras normas de conduta definem conceitas. Por exem- plo, a regra de conduta do art, 18." que nos da urn exemplo duma norma deelarafiva ou expllcatrvn, ao indicar quais s8o os cidadaos portugueses.

Que e que se entendt por rcidaduor portuguesess ? Di-lo Lste artigo. Por conseqiibncia, Psle artigo defime,

explica urn conceit0 ; i uma norma decinrntivtl ou cxplica- Llva.

Outras vezes, a norma diz: use as partes nirn convcti- rionurcm em codrario, fuz.se ass im~. ?or exemplo, o art, 7 1 1 . O :

* U ga? SE r?hri.y~/l 11 pn'cfor. nlpzm Ibcto, e dri,rarr ~ i r o prestar, (7;1 11170 / J T ~ S ~ O N ~.on.forrrr~ (1 ~stipuln,/,l, rrsf)or/lJ~ p ~ l n irrdrnlnizrr~iZo de pperdas P l tu~/os, nos ter- mos seguin fps :

I." Se n obri~aqcio foi corn prazo e dlu: rerfo, rorrr n responmbriidudr, dcsdr qlir expirn 0 /~rnxo, am o ifin r r T -

sinnrlu ; 2.' Sr n obri.yopio mio dcpe~de de p m z o ~ ~ r f o , a rps-

ponsnhilidadt corrr sd desde o din em qlre aqlrrlc, g u ~ esfd sujeito r i ohrirapTo, i inferprrtndo:

Algudrn contraiu uma obriga$iio; por exemplo, a obri- gag80 d e pagar uma divida. As partes podem fixar o dia em que o devedur tern de pagar a divida; e entIo a obri- gacfio vence-se nesse dia prefixado. Mas pode aconfecer que a s partes n8o estipulassem a tal respeito; podem as partes, por exempla, laze; urna escritura em qne o devedor se obrigue a pagar 50 contos, sern fimarem o din 2e paga- mento. NBo ha dia de pagamento determinado: entzo, con- forme disptie o art. 71.1.', a obriga~ao rence-st no momento da interpela~Lo,

Trata-se, portanto, de ulna norma supletiva. Outras vezes, urna norma limita-se a dizer o significa-

do durn term0 que se encontra numa lei ou num act0 iuri- dico-6 urna norma interpretatira de que temos urn extm- plo, no art. 377.0 :

*Quando nu lei civil ou nos acfils P ~ n t r a f 0 ~ se rrsnr dn e~pressgo - bens OII coisas irnobiliarias - sern oufrn quattfica~iio, compreender.s~-Eo ~nela, fanfo 0s que 540 imoveis par natrrreza on mcdiante a acpio do homrm, catno os que o $80 por disposicao da lei Qrrando se usnr sirnplesrnenfe dn express5il-inrdveis. coisas on bens irnd- veis-, esta expressko significnrb sd 17s qrze o SZO por ~zatr~rezn, uri tnedian fa a rac~&l do komem:

18 v@em que essa norma diz aimptesmente o que s t

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deve entender por ncoisas imabilidrias~ e por ,~rnisns imch vels*.

Filialrueote, o art. 10.0 diz-nos que, a-par-de l ~ i s de in- terPssc e ordern priblica, Gomo ali sgo classificadas, ha outras que n8o s3o de interksse e ordem pihlica, e a que nos chamamos de intert;sse parbiculur.

Preceitua a art. 10." do C6dieo Civil:

nos acfns ptatjcados I-onfm o disposi#o drl lei , ylirr estn st-jci pmyhit~vn, iruar p~rrept ira, envolr~cm niclidad~, saivo nos cnros r'n~ quc a nresrna iei O T C ~ I J C I I o coritrcir~o.

# tini~-o Esta 12 uiidade podp, contudo, sanar-st- pain consentimerrto dos interessndos, s e a ki infrDz&'a ndo f or de inkr&sse e ordem pub l lca .~

Essa classlfica@o de normas de interesse e ordem ptiblica e normas de interksse particular e , sobre.ludo, rele- vaote em Direito Civil. Ngo quere isto dizer que aos outros ramos do Direilo n8o interesse la1 classificaq80.

Pelo contrario, no Direilo Conslitucional tbdas as nor- mas $80 de intergsse e ordem publica. E o mesmo se deve dizer para o Dirciio Penal, Administrative e Processual.

Por cooseqiilncia, visto serem todas a s normas dtsses ramas de Direito de interksse e ordem phbllca, ngo tern re- levancia a distin~ao entre normas de interbsse e ordtm pdblica e oorrnas de interesse particular.

Mas, no Direito Civil, que acautela os interesses parti. culares, p~der ia parecer que todas as normas sZo d e inte- resse particular. Nao obstaote, aparecem oormas que s8o feitas para deiender, acautelar, prevenir os interbsses ria colectividade, os interesses gerais.

Ha, portanto, em Direito Civil, a par-de normas de in- tertsse particular, normas de intertsse e ordem pfiblica. E e por isso que, aqui, neste ramo de Direito, e mais relevan- te esta distioqao entre norlnas de inter&sse e ordern pibli- ca e oormas de interksse particular.

A defioicso de normas de intertsse e ordem pdblica e basbante dogmatics.

Ce lerem livros que lratam do assunto, verificar30 que, pouco mais ou menos, dizem assirn : ~Norrtrus d . itllcri,we e ofdent pu'blica sdo as normur que dizern rcspeilo aos fin- clamentos nu basts econdmiras, socii~is e politicas durn Es- fado. . Mas, como deotro desla defini~ao podem caber mais ou menos normas, por isso tnesnlo en lhes dig0 que a deFi- ni@o 6 baslante dog~nalica.

Volraremos a, distinqao entre normas de i n t e r h e e order11 ppJblica e nurmas de ioterscse particuIar na proxima iiqlo, porque ha ligaqgo entre normas de i n t e r h e e r-rdenl pliblica e nulidade absoluta e entre nor~nas de intercsse particular e nulidade relaliva.

A violaqSo das normas de inler@sse e ordem publica produz sempre nulidade absoluta, ao passo que a violaPo das normas de iotertsse particular produz nulidade relativa. Eis a razao por que en disse qoe voltaremos ao estudo das normas de intertsse e ordern pliblica e das normas de in- teresse particular, a.prop6sito-de nulidade absoluta e nuli- dade relativa,

Mas - preguotar-me.Zo todas as oormas juridicas contkm urn imperativo? Pode parecer que nao; porque, se h i normas supIelivaa, islo d, nornlas que deterruinam o conteJdo dos contratos, quando a rontade das partes se niio manifesta, nermas que, por conseqfiencia, a vontade das partes pode excluir ; se ha normas permissivas ou faculta. tivas, islo i, normas que n2o se itup6elu a vontade das partes, preceilos que as parles podern elimioar ou ago, conforme lhes cooveoba - parece que, pelo rnenos, essas normas n8o s3o imperalivas.

Contudo, se assirn peosarmos, entendemos mal, pois que tddas as aormas coot&m um irnperativo. Se n%o, vejamos.

Nurmas facut~ativas ou permissivas sao as que contem um preceito, que da urna Iaculdade ars cidadnos. 0 art.'

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Se lerem, tarnbim, as leis de acidentes de trabalho, encontram disposiq6es que proibem estipuia~des em contra- rio do que nelas se eslabelece. A i desapareceu tambem o principio da autonomia da vontade.

E, se sairmos do camro dessa ordem legislativa Wra o da dialictica juridica, compreenderemos bem que lbda a Lei e imperativa, eonhim urn irnperativo - mesmo a lei su- pletiva e a lei Iacultativa-porque tbda a norma, antes de ser facultativa ou supleliva, e disposiliva ou organics; e , na sua qualidade de dispositiva ou organics, ha-de conter ne- cessariamente um imperativo.

Por esta ordem de ideas concluimos; t6da a norma de con iuta , CBda a lei, quer itnperariva, qlier jacultativa oa permissha, qaer deciarabiva ou erplicativa, quer supletiva, quer de irtterCsse L ordem pdblica ou de in terbse porticu- lar, contk~n sernpre urn Irnperaf[vo, E , dai, esta observaqfs que agora vem a-propbsito.

E m vetdade, a doutrina consagra essa classificaq%o de leis imperatiras, nas suas dnas formas de preceplivas ou pro'ibilivas; mas, se tbda a lei contem urn imperativo. pa- rece que essa designacgo de irnperativras couvim a todos os membros da classificaqtio e u8o a urn so grupo, a nao ser que queiramos chatnar .leis imperativas. por antono- rnisia. Tambern se diz: 00 Poetae, para significar Camties. Mas, se ngo quisermos empregar a linguagem tropol6gi- ca, deveremos, a-pesar-da terminologia doutrioal, em con- tririo, empregar outro termo para significar a que ate hoje se kern chamado <.leis imperativasn. Podemas, por exemplo, designa.las por .leis cogentes*., conforme lhes chama a doutrina italiaoa.

TambCm hB quetn classifique estas leis de vincalativas e descriciondrias. Essa classificaq20, porem, interessa pouco ao Direito Civil ; pode interessar mais ao Direito Adminis- trativo, onde ha autoridades com poder descricionirio e au-

toridades corn poder vinculado e normas, poi conseqii&ncia, que atrtbuem eqses poderes. Mas, se repararmos bem, essa classifi:aq8o de leis em vinculallvas e descriciondrias bem pode reduzir,se a ctassificaq2c que tizernos en; leis impera. tivas ou cogentes.

Surge agora urn problems, que 6 o de saber se o im- peralivo das leis B imperativo categbrico ou irnperativo hi- potdtico,

Irnperativo categbrico quere dizer imperanvo absolute; imperalivo hipotetico quere dizer imperattvo conditional.

E fur~nulo oulra vez a pcegunta : o irnperativo das leis P, categ6rico ou hipotdtico?

Lavra grande divergkncia entre as opini6es dos sutores. Se lerem, por exemplo, o Prof. Marcelo Caetano, logo

no primeiro nlimero de liq6es de Direito Penal, os Srs. ve- rificam que &le diz que a lei e irnperativo hipotetico.

Se lerem as No~Bes Elementares de Direito Civil do Proi. Cabral Moncada, os Srs. taybCm notam que $le clas- sifica a nrrrma de conduta como um imperativo hipotetico.

Se lerern o Prof. Fbzas Vital, nas liqaes de Direito Constitutional, as Srs. notam que $le, embora nZo o diga expressamente, da a entender que o imperativo da lei e urn imperativo categbrico.

Nas l i ~ 6 e s desla Cadeira, do ano passado, tambern n3o se diz expressamsnte, mas da-se a perceber, que o impe- rativo da lei 4 categhrico,

Se nds quizessemos figurar erudito dir Ihes-iamos cb- modamente: RE, e S. dizem que o imperativo da lei 6 hi- potetico e E, e B. ilizem preeisamentt o contrkria-que o imperativo da tei e um i~nperativo categbrica, 0s Srs, sigam a opioiao que lhes parecer. *Mas nso i essa a fun- @o do professor; Cste tem de emilir a sua opinizo. Ainda que me cusle, vou emiti-la tambem.

Esta quest20 e velha; rem de Sant. Kant escreveu varios livros: um ciamadse .A Critica

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da Rado Pura p , eutro a A Critica da Rado Pratica*, outro a A Critica do luizo~.

Na ~Critica da Razao Pura*, ele diz q3e os principios que governatn a r a a o especulativa sPo imperativos hipo- tdticos. Mas, depois, escreveu a aCritica da Razlio Praticas e, ai, ja sustenta que os principios que governam a raziio pr6tica sPo imperativos categbricos. 05 principios que o levam a c~ncluir que o homem e livre, que Deus existe, que a alma i imortal, sf30 principios que &le classifica de imperativos categbricos.

Houve quem visse contradi@o entre o que t le escre- creseu na (~Critica da Raziio P u r a ~ e o que depois esoreveu na ~Critica da Razz0 Priticah NSo me parece que baja tal contraditiio. Tem de se arranjar outra explicag50, porque Kant era urn homem que merecia bem a designaqao de super.homern; nZo se contradizia cem facilidade.

Ele afirmou na aCritica da Raz%o Pura* que os princi- pios que governam a rszao especulaiica eram imperativos hipotiticos. e tambim afirmou a razao por que antendia que os principios que governam a razz0 pratica eram im- peratirros categbricos.

Notem bem: Kant na rCritica da Ra&o Praiicar lala das regras de conduta moral. Como sabem, as regras de condata moral sao diferentes das regras juridicas. Eis a ra. d o por qne a Moral i diLerente do Direito.

Mas, o que 6 certo i que contiauou durante muito tempo a dizer-se e ainda hoje se diz que o Direito era urn r a m da Moral; e, por isso, o que Kant disse a respeito do im- perativo da raziio prat i~a hoave quem o aplicasse ao impe- rativn da regra juridica; houve quem entendesse que esse imperatiro era categorico-e suponho que bem.

0 Prof. Cabral Moncada p6e-se dentro do campo de Kant, porque diz o seguinte: iNa verdade, a regra de con- duta imp6e-se h conscienaia de urn rnodo absoluto, isto e, como imperativo categbrico; mas, porque nbs, fora do cam- po dm teologia e da metafisica, n8o podemos saber o que e

o adever sew e o que e o Bem. por isso dizemos que a regra de conduta ioclue urn imperativo hipotitico. Como proble- ma do coohecimento humano, 6 urn imperatiro hipot6tice ; como.regra de conduta, regra pratica que me imp6e a cons- ciencia. e urn imperativo categbrieo. D

0 Prof. Marcelo Caetano, talvez ialluenciado pelas leis penais, diz; Tbda a lei contem duas partes.'um pressuposto ou condi~ao e urna conseqii@ncia, aSe fazes isto, tens esta sancZo*. For conseqiihcia, o imperativo da lei e um impe- ratieo hipotetico, condicionado. A lei penal e assim conce. bida, diz: nSe tnataree voluntPriamente, tens tantos anos de pris5or; tSe furlares, tens tantos anos de prisgo*.

Mas, aqui, ha uma miragem. 0 pressuposio e a sanggo formarn a norma, a regra de conduta, constituent ambos o contelrdo da regra de eonduta. No Direito Civil, por exem- ple, encontramos muitas normas de conduta sem o tal pres. suposto. For exemplo, a do art. 1." do CLdigo Ciril, que, como jri vimos diz :

4Sd o 'lzornern P suscepfivel dr direifos e obripagces. Nisfo consisle a slrn ~apacidnde jufidicn on n slta perso- nalidade. n

4 0 homern e' suscepfivel dr direitos e obrigug8ess - onde estd ai o pressuposto?

E, por ai fora, tantas e tantas oulras. E, quando h i pressuposto, tste forma com o resto do dispositivo o pr6prio contelido da disposi~%o, do comaodo da regra de conduta. A autoridade preceitua de mod0 absoluto, niio coodicional- mente. Porisso, concluimos, porque 1180 temos tempo para mais digress8es, que o irnperativo da lei e! urn lmperativo cotl go'rico.

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7." Das Fontes do Direito (oont.)

m)-Gorrelaqao entre a s leis $per- fectae m e u irnparfeclae r d a c l a s s i f i c a ~ a o rurnana e a s leis d e interBsse e ordem ptiblica e interbsse privado da moderna classificacao.

-0 conceit0 d e leis d e interhsse e ordem pirblica.

-A classificapao de nulidades absoluta e relatlva.

-A classificacao modernatripar- tlda. 0 nosso ponto de vista.

-0 regime das nulidades ebso- lutas s das nulidades relatlvas.

Na tiltima l i~go , classifiquei as normas juridicas em normas imperativas, nas suas duas formas d e perceplivas e proibitivas, em normas facultativas, normas declarativas ou e ~ ~ l i c a t i v a s , normas supktivas, normas inlerpretativas, nor- mas de interksse e ordem pliblica e normas d e interksse privado,

Segundo uma classiFicaqZo do Direito Romauo, havia alegas perfectae*, uleges mlnns quam perfettue~ e tleges irrrperfeclaeo.

Podemos estabelecer urn certo paralelismo eutre esta classificafZo em lcges perfectae*, s minus qnam perfcelnc*, e ~s'tnperfecta D e a classifica@o das normas de'interbsse e ordem plihlica e normas de interksse privado, Por outras palavras : podemos estabelecer urna correlacZo entre esta c l a s s i f i ca~~o do Direito Romano e o art. 10." do nosao C6- digo Civil, que, como ja tivemas ocasigo de verificar, trala

das s a o ~ a e s da violac%o da lei e, no seu 5 linicc, refere s e 9s leis de interesse e ordem pdhlica.

.iLeges perfectae,) eram aquelas que tinham uma san- gZo; .ieges imperfectae*, a s que o2o tinham s a u ~ 8 o ; .mi- nus quam perfectae- eraln leis que u2u tinham uma s a n ~ a o efectiva, completa, mas tiuham uiua tal ou qua1 sangBu.

Ora, segundo o art. lo.", quando um act0 juridic0 viola uma lei de interdsse e ordem p6blica, 1 nulo; e as partes n8o podern dar-lhe validade.

As leis d e intcrtsse e ordem publica sZo a s tais gleges perfectae.. Todavia, q~rando a nornla riolada nao 6 de iu- tertsse e o rden~ phblica, mas sim de interesse privado, podem as partes, por acbrdo, dar validade a uru acto viwla- dor duma norma juridica de i n t e r h e privado. S2o as tais uleges minus quam perfectae.. .

~ L e g r s imperfectaea,, hoje, uo Direito moderno, n3o existe m.

0 s Srs., sabem, porque ja Iho disse aqui, que a nota especifica, caracteristica das norrnas juridicas l a sanj%o. Tbda a norma juridica tern ulna sanggo, ou eiectiva ou ten- dencial, ao menos.

Eu dig0 fcnrie/iclnl, ao trLi/iOs, purque, por exernplo, as norrnas de D~reito lnternacional nBo ism s a n ~ a o efectiva; o que tern d uma teodsncia para a sancao; e , no eutanto. $80 normas juridicas, corn sancao tendencial, repito,

Par cooseqhiincia, uo Direito n~oderno nao pode haver ~ l e g e s imperiectae~.

Sucede, porim, que, por vezes, n6s e~lcontramos nor- mas ou leis a que n%o foi ertabelecida sang50 direcia e imediata, Mas, s e bem rep:lrarmos, encoatrarnos uma san- ~$o indirecta, mediata para essa norma. Por exemplo, se 0s Srs, tivessem ai o Decreto o . O 1, de 25 de Dezembro de 1910, chamado a Lei de Furr~iliil, n." I . ieudo o art. 3K0, verificavam o seguinte : que os cbnjuges tern os deveres

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reciprocos de fidelidade, co~habilapZo, auxilio e socorros m6tuos. For Icoaseqiikncia, segundo esta norma, os cdnju- gues tCm de co-babitar, t&m de viver juntos. Mas, segundo outra disposiclo do rnesmo decrelo, o marido nunca pode regucrer que a mulher Ihe seja iudicialn~ente entregue para viver corn Cle. Pareceudo, assim, que essa norma de co- -habitagio n3o ten] sanqBo: seria uma alex imperfectas, se- gundo a dassificag5o do Direito Komano, E eu diria, meamo, que nSo seria uma norma juridica, porque nao Ihe cabe sangao.

Vendo, porem, bem as coisas, n6s observamos que esta falta de co-habitacPo, s e se der num certo tempo e fbr compleia, imporla o abandono do domicilio conjugal; e Oete abandono, por mais de tres nnos, quando complelo, d fun- damento de div6rci0,

Conseqirentemente, ai temos uma san~lIo indirecta. 0 marido nao pole pedir que a mulher lhe seja judicialmente entregue para viver corn t le , como acontecia no regime do Cddigo Civil e do Cbdigo de Proccsso Civil de 1576: rnas o marido o que pode, s e o abandono do domicilio conjugal da rnulher [Or por mais d e irks anos e far completo, d re- querer o div6rcio - sangit0 indirecta.

1Yais: por vezes, qnand:, se trata de furmaiidsldes ex- ternas dos aclos juridicos, algumas sPo secundirias, n8o s?Io essenciais.

Sem sairmos para f o h d~ casamento : quando dois uoiros s e querem casar, corneqarn pela seguinte formalida- d e preliminar : vSo ter corn o oficial do Registo Civil do dornicilio de urn deles e , ali, fazem a declaragso de querer casar, dec l a raeo que pode ser verbal ou por escrito, assi- nada por ambos os nubentes.

Depois disto, a maquina adrninistrativa, isto 6, a ma- quina do Registo Ciril entra em f u n ~ a o . Va declara~gu s& extraidos editais, que s i o afixados durante cerco tempo, se- guindo-se o casamento e as formalidades do registo, eic.

Suponbarn que o%o houve declaragso ou que houve defeito da declaraqao dos conjuges para casar. A falta ou deficikncia desta dec l a ra~qo n2o importa nulidade do ca. samento.

a Pr im J consp fun, parece. pois, que es taeos e m face duma norrna sem sao@io, porque o casameuto n lo pode ser anillado. Mas o certo 6 que, se o oficial do Registo Civil faltar aos s e w deveret;, ornitindo esta forrnalidade preliminar, Cle incorrcri elr responsabididade disciplinar. E aqu i esta a sangzo.

Em conclus?io, diremos : hoje, no direito moderno, nao exislem .Ieges imperfectaen ; existem 8leges perfectae* e <minus quatn perfectaev, correspondenles, respectivamente, a normas de intertsse e ordem phblica e normas de inte- resse privado.

Esta classificaqiio d e normas de intertsse e ordem phblica e normas de interdsse privado obriga-nos a entrar agora ao esludo das niiliilndes nbsolutns e das nulidadcs rtludvas.

Este assunto poderia ser tratado quando construisse- n o s a nossa teoria sbbre o acto juridico, porque, afinal, h i nulidades, quando o acto e feito sem aguele condiciona- tnento, com falta daquelas condip3es que a lei exige, e t! nulo entso. Mas, iambem. a-prop6sito das leis de interCsse e ordem p~iblica e das d e interksse privado, podemos fazer o estudo das nulidades,

As nuiidades, segundo o nosso modo'de ver, s8o d e duas categorias : nul idad~s r~b~olnlas e rrulidod s relativas.

A Doutrina nIo e uniiorme nesta rnatkria. H a qucm queira fazer urna classiticagDo fri-partida em actus inexis- tentes, acfo. ferldos de rralidude ubsolrdfa e actos ferldos de nalidqde relatius. N6s, porem, repetimos, s6 admititnos urna class1ticaq3t1 bi-partida actos viclados dt. nuiidade absoluln e actos viciados de nulidade rclat i~~a.

Entrc nis, a classificaq80 t r i partida dos acfos irregu-

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lares ?In actos inexistenbes, feridos de uulidade absoluta e feridos de nulidade relativa d segl~ida, apenar, (que eu saiba) pelo Prtit. Paulo Cuuha, cu ja opiniao merece a nossa consi- d e r a ~ % o , e peto Sr. Doulor C . l n l ~ ~ Gon~aives. Todos os outros segueni urr~;~ classitica~2o b~ partida em actos vicia- dos de nulidade absoluta e. actos vic~aiius de nuiidade relativa.

Como lhes disse, tambim e kste o meu parecer. No entanto, peqo ihes que estudein o assunto, porque u8o me incomoda nada que urn aluno discorde do m r u mod0 de ver. 56 o que quero e que discorde corn a cabeca, -corn os p i s oucom ;s m%os, ion] apiausos ou pateada, nao me serve.

Vamos, entso, prcnunciar-110s sbbre esse assunto. A classifilraq?io deve ser bi-partida ou tsi.parkida? De-

vemos estabelecer a categoria de actos inexisterites, actos absolu:arnente nulos e actos relativamente nulos, ou, ao contrario, derrelnos estabelecer a Joutrioa bi-partida de azlos absoiuta~nente nulos e actos relalivamente nulos?

No Dircito Romano, nzo aparecau a categoria dos actos inexistentes; i j s actos ou erarn absolutainente nuios ou re- Lativan~ente nulos.

No ire1110 Direito Portu:u&i, tambCjn 5 6 havia actos absolutarnente nulvs e a c h s relativamente nulos.

E, no pr6prio velho Direito Frances, (refire-me ao Di- reito Franc&s, p~rqut: a di)utriua 11.i-parlida nasceu em Franqa entre rls juriscousultos tr,irlceses) tambdm, s6 havia ilctos absolutarnenle nulos e actos reiativa~nente nulos. Mas a outra categoria, a dos ac!os inexistentes, apareceu a-pro- posito do iasamenio.

E m Franqa, havia urn aIoris~no juridico que dizia assiril; a Pus de nulit2 slins lext:~.! -'.',NZo h i nulidade sem textoo. Mas nzo havia nenhuma norrna juridica que disses- se, por exemplo, que o casamellto enire dois individuos do mesrno sex0 era nulo; e , por cooseqii&ncia, isto trouxe di- ficuldades aos jurisconsultos.

S e nao hinulidade sem texlo. se nao h6 texto que diga que o casamento dt dois maocebos e nulo, 6 porque &sse casamenlm t vilido. E isto era urn contrasenso.

Q ~ a o d o apareceuum j urisconsullo-Zacariae-que a u r a sua obra d e Direito Civil defendeu a categoria dos aclos inexisteotes, esta doutrina foi bem recebida, porque resol- via as dificuldades.

0 casamento de dois mancebos n%o era nulo, porque era mais do que isso: era inexistente.

Quando foi a discusslo do C6digo Civil, feita sob a presidkncia do 1." CBnsul, como sabem, NapoleBo, este tambtm disse coisa que valia a inexistencia do casamenlo.

Dizia &LC: eQuando uma mulher, no acto do casamento, diz: ~ N a o ~ , e, apesar disso. o oficial do Registo Civil es- creveu; ~ S i m u , nIo ha casamento. E' o contririo do que acontece, quando uma mulher diz: ~ S i m * . mas foi levada a dizer : ~ S l m n , por coac(%o, po.rque ent%o o caramenta exis- te, mas 6 aoul8vel~ .

Daqui como estgo a ver, nasceu a tal teoria dos actos inexistentes.

Para os psrtidarios desta doutrioa s Io actos inexisten- tes aqueles a que falta urn elemenio essential, urn drgrio vital, como eles t*mbdm diziam. Por exemplo: num contra. to sgo elementos essenciais a capacldsde dos contraentes, o mlltuo consenso e o object0 possivcl.

S e falta um d&sses elementos esseooiais, o acto seria inexistente. S e se conjugam todos os ele~nentos essenciais, todos 0s drglios vitilis, inas apenas ha viola~Bo d e uma lei d e interesse e ordem pliblica, o act0 exisle, mas seria vi- ciado de aulidade ab~o lu t a ,

Se existem a s elementoa essenciais, n8o h a violag%o d e oocma de interesse e ordem priblica, mas sim viola~ao de norma de interesse privado, e o acto seria ferido de nu- lidade relaiiva.

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Esta distinqgo tri.partida en actos inexislentes, actos feridos de nuiidade absoluta e actos feridos de nulidade rclatira 4 apenas ulna distin~Bo teBrica.

Como diz Planiol, no seu Truite' klerncntaire de droif civil, a distin~ao entre inexistdncia e nrrlidadrr absoluta e uma distin~zo te6rica. Pritic~mente, e irrelevanle, porque o regime juridico dos actos inexistentes 6 o mesmo regime juridico da nulidade absoluta. 56 causas que delerminam que urn acto inexistente seja inexis tente ou ferido de nulidade absoluta, 6 que seriam diversas.

Estamos, portanto, perante UmR distinqao meramenle te6rica. E Trouchet diz: ~Dentro de todo o act0 juridico ha uma apartncia que e precis0 destruir. Por consequ$ncia, ngo h i actos juridicos inexistentes perante o Direito. E' ne- cessario que o tribunal declare sempte a sua nulidade-.

Ora, n6s somas pela doutrina clissica da classihcaqBo bi-partida, perque, como jfi sabemos, o regime i o mesmo, quer para a nulidade absoluta quer para o aclo inexistente. S%o as mesmas as pessoas que padem pedir a declaragio de inexistencia do acto e as que podem requerer a decla- ra~Po da nulidade absoluta; podc ser pedida na mesma ocasiso tanto uma como oatra; tanto uma como outra s2o insanlveis ; tanto num casa como ooutro e necessaria a de- clara~ilo do iribunaI.

E, assim, sendo o regime o mesmo. por que mohiro havemas de dislinguir entre inexlstincia t rlulidwie abs - lufa ? NBo vejo.

Depois, oem mesmo o la1 aforismo juridico, qce tanto preparou o ambiente para a nova doutrina em P r a n ~ a , exis- te em Portugal. Em Portugal ngo existe coisa parecida com o aforismo: # P u s de nulitd sans lexte*. Hi nulidade corn texto e sem texto; h i nulidade, quando falta algum 20s ele- menlrs essenciais, como h i nulidade absoluta quando se viola uma norma de interesse e ordem p6blica.

Alem disso, ainda, segundo o nosso CBdigo Civil, quando

lahe urn elemento essencial durn contrato ou durn act0 ju- r idic~, declara-ie Qse contrato ou acto nulo, e n8o inexis- tente. Portanto, o CBdigo n8o reconhece a categoria de actos inexistentes.

Ora, vejarnos o art.D 643.", que trata das condigBes de validade dos contra tos :

* P a r a o contrnto ser vdlido devcm dar-se ~ e l e us sc- gnitttes cofzdicfies -'

I." Capacidade dos contracntes; 2.' Mdfuo consenso ; 3." Objecto posslvelm.

Para o cuntrato ser ralido C necessirio que se verifi- quem eslas tr&s condi~aes ou elemeotos essenciais: capact. dude dos conlrasntes, rndluo consenso, objecto possivtl.

No dizer dos partidarios da classificag% tri-partida, a falta durn dtsses elementos determinaria a inexist&ncia do acto. Mas a oossa lei diz que o act0 n8o i valido. Om, qua1 o ant inbmico de uvhlido 3 ? sll'ulo a .

Quere dizer: o acto 6 nulo, quando e ftito sem c a p - cidade dos contraentes, sem mutuo consenso ou quando n%e tem objecto possivel. Como v&em, a nossa lei nzo con- sidera a categoria de actos inexistentes ; considera o acto : ou absolutatnente nulo, ou relativamente nulo.

Isso mesmo pode verifcar-se pela leitura dos arts. 687.0 e seguintes do Cbdigo Civil, que tratam da rescisao dos cootratos. Na verdade, segundo o art.O 687 ", # a acca"o de rescisgo por nnlidade, resultanbe da incapacidade dos confraeates, nos m s o s em quc 6 permitida nos titulos d i s f e cddigo, rrspectivos aos rncsrnos irzcapazes, P arkmis- sivel peia forma deciarada no artigo segiifnte.

E preceitua o art 688.": .A a g g o cie rescisiio por incapacidade prescreve, contra os mcapazes, pelo 1 4 ~ ~ 0 de cinca anus*. . -

E o art.& 689.0: * A acclio de r e s c i s a por calrsa de

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trro prescreve peio pram dc rirn ano, confado desdc o dra . em qrre o engarza~fo feve co~~Iiecirn~~ito do h o p .

Dclermlna o arl ' 690.' : * A accJo de r~ssisf lo por causa de coacrrio l~resmevt~, se o coapido a tiiio propds denfro d ~ n m ano* .

E, dcpois, o art." 691." da nos exernplo de uma null- dade absoluta * A acrdo de rescisiio por nulidrrde restif- tante de aclrar-se a coisa, qut7 faz objecfo do corrfrafo forrr do comFrcio P inzprescritiveL, solvo nos casos em que n Lei dispuzer expressament~ o contrdrio~.

Nos primeiros artigos trata se de casos de nul~dade relativa, e entgo diz o Codigo: a ac@o de rescisiio por nu- Iidade, por incapacidade, etc.. No art '' 6 9 1 . O lrata se de uma nul~dade absolula. Mas, num caso como noutro, o 110s- so Udigo chama nulidadr. E, em todos esses arligos, nunca emprega a expressgo Lnrxistt!ncia, o que mais prova que o nosso Cod~go Civil reconhece a categoria de qulidade abso- luta e nulldade rclativa, mas nZo corntempla a cutegoria de inexistdncia do acto juridic0

POT lbdas estas raztits, cu defcndo a doatrina clissica, a doutrioa quc diz que h6 duas calegorias dc actos feitos em contrario das condi~Bes exigidas poi. lei, isto 6 , actos irregulares, actos feridos de nulidade absoluta e actos feri- dos de nulidade rclativa.

Actos feridos de nulidade absoluta srfo aqueles que violam uma iri de interisse e ordem publica ou aqueles a gite faltn itm elrmr~zto essenc~al ou rspeclfi'co.

Actos feridos de nulidrde relatlva sdo aqneles que violam urna l e ~ dr intcrAse privado.

Mas, agora, surge uma quest;ro delicada: que v&m a ser aormas de inter&sse e ordem priblica e normas de in- tergsse privado? J;i outro aia dissetuos que leis de interesse e ordem oliblica eram as relativds as bases, econ6micas, sociais e politicas dum povo. E disse, aiada, que essa defi- niqso era algum tanto dogmalica, porque, pela sua elastici-

dade, Ihe podem coovir oa deixar de convir muitas normas, Mas, n8o podemos, (voltamos, 'por conseqii@ncia, ao

estudo, que promclemos, das normas d e interssse e ordem pliblica c das normas de interdssc privado) u80 podemos, nem isso t mitodo, dizer, coucreta e casuisticamente, quais s%o as normas de inler&sse e ordem ptiblica e quais as de inter6sse privado.

Ha umas certas normas que s%o por todos consjderadas normas de inter&sse e ordem pliblica. For exeluplo : as nor- mas que dizem respeito a erganizacao, constitui'c30 e disso- lugBo da familia, ao poder paternal, ao podtr marital, a sucessb legitima. i s formas externas de publicidade dos actos, ao regime da propricdade, ou estatulo proprictario. Tbdas tstas normas sPo, evidentemente, normas de inte- rCsse e ordem publica.

Eu vou dizer por, que s%o norrnas de intestsse e ordem pliblica. SZo de interesse e ordem publica, porque visam o ioteresse geral, o interksse da colectividade, embora, em casos concretes, s t possam aplicar a interesses privados, Mas contemplam, acima dos intcresscs privados, es interes- scs gerais ou da ~olectividade.

H i , porem, outras normas que a dialtctica juridica mandaria f6sscm normas de lntertsse c ordeln pfiblica, mas que n6s rerificamos ngo o serem.

Raciocinemos agora com a dialectica juridica. As nor- mas quc dizem respeito ao estado das pessoas sao normas de intertsse c urdem ptiblica, mas a-fim do estado das pcs- soas? i a capacidadc juridica das ruesluas. Fortailto, as leis relativas maioridadc, a emancipa~Zo, deviam ser consi- dcradas, lbgicamente, leis de ioterdsse e ordem publica. Mas diz o art." 99." : (:Os ronfrafos c~lebrados ilegitima- mentt pelos rnenores, nuo podem folfnvia SL'T ir~iplignados pelus otltros estipr~lanies, corn o fund~rrna/zto da incrrpaci- dude do menor*.

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P3rlanto, a-pesar desca deduq%o lbgica, diz-nos o a r t . 99.0 que os actos celebrados pelo menor s8o fcridos d e nu- lidade relativa apenas : pois, como havemos d e ver, em breve, ao estabelecer n:regirne dtts ntilidades absolulas e das nulidades relativas, 56 quando urn acto e ferido d e nu. ljdade rdativa, e qtle,>. ode apenas ser pedida a anulaqgo por aquela parte, que a lei quis proteger.

Ora, aqui, no caso do art,:99.O, ailei:sb permite que o menor peqa a nulidade do acto ; n%o consente que a nulida- d e seja pedida :peia outra parte. S e o acto fbsse absoluta- rnente nulo. por ofender uma lei de interesse e ordem pfibli- ca, as partes nlro podiam.fconcordar em que o act0 fdsse valids, a-pesar de violador da norma do art. 99.0 rin proc m i o l . Trafa-se, pois, de uma nulidade relativa.

I!, o nlesmo se conclue da doulrina do art . 299.". Se fbsse umarnulidade absoluta, uma nulidade resul-

tante de se ler violado uma uorina de ioterksse e ordem pliblica, o aclo era nulo, quer o menar requeresse, quer d o , a nulidade: a nulidade s t r i a superior a vontade do menor.

Mas nPo acontece irso. Tratando-se, portanto, deluma nulidade relativa.

E ' p r e c i s o , : em cada~caso,~considerarmos (e conside- rarmos bern), para concluirmos se se trata de nulidade hbsoluta ou d e nulidade relaliva : por outras palavras : se a norma vtolada C uma aorma de in t e rbse i e ardem phblica ou uma norma d e interksse privado.

Hi casos correntes de estado das pessoas, organiza~so da familia, sucessBo da familiii, pitrio podqr, poder,mari- tal, organiza~Po da propriedade, tormas de ,publicidade, todos casus de norrcas de interesse e ordem pdblica.

H i outros casos duvidosos que preciso~considerar bem para s e verificar se se esla em face dunla uulidade absolula ou dullla nulidade relativa. E u dilo um exe~np lo :

Quando alguCm vende o q;t n8o i seu, a venda t nula.

H i uma nulidade do acto. Mas, nulidade absoluta ou relativa? S e pregunthrem ;\ algudm que n8o seja perito em di-

reito, a resposta serii: i nma nl~lidade absoluta Quem vende o que ngo k seu, pratica 11113 act0 juridic0 absoluta- meote dulo, Mas, o que e certo i que nPo e uma nulidade atsoluta. Trata-se de um acto reiaiiramenle nuin.

Levaria muito loode erltrar eru considerag5es para de- monstrar que o act0 e absolutamcnte nulo. 0 assunto est6 tratado (mais ulna razail para nos dispensarmos de o tratar aqui) por Capiiant no seu livro ~Lerr Causes des Obliga. lions*.

Yamos, agora, ver quai o regime juridic0 das nulida- des absolutas e d a s nulidades relativas. Devemos, para isso csnsiderar urn texfo, que 15 o arl. I . 191.' e o seu 5 2.'.

Diz esle arligo : *N& 6 llcit17 uo rnarido nlienur bens imobilidrios, nrin estnr ern juizo poi- causa i f f quesf8es iIe propriednde, orr poss~ de hens iaobilidrit~s, scrn oufor- za da mul/zer*.

E 0 seu 2.': *As alienayFcs, porEil1, dos btm prd- prios j c ~ f o s pr'lo marido, torztra o dispusi~sn distt artigo, sn'pndem crr nrrulao'as n reqcrrrimerlfi7 tla n/r/ller ou rtlls srns herrlciros, ncl1ando-st o mariii'o rorastitrrido em res- ponsa6iLidade parn corn ein, oil parn corn f " l ~ s , r nfio fen- do outros bens pclos quais respondna.

E diz o ar t , 1.201." : .A rrnlidade por .fulta de auto-

proposta ern jufzo, por terceiro, ar@o npnhi:ma a Fsfe respeito :

2."Se ndo far arpuidu rl~ntro de urn nno, confado desde a ddissoiuqdo do matr~mdrrio ;

3." - Se 0 nctu honver prescrito, conforme as regras p ra i s Q .

0 art. 1.191.*, 5 2.", trala de uma especie de nulida- des, nulidade que so pode scr arguida pelamulher ou ptlos

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seus herdeiros, nulidade que s6 pode ser arguida em certo prazo, diz o 3rt. 1.191.': nulidade que, se n8o fdr arguida, e sanada diz o art. 1.201.*

Trata se, por conseqdencia, de uma n~tlidade que 36

certas pessoas podem arguir, urna nulidade que s6 pode ser arguida em cfrto prazo, Itma n ~ l i d a d e que pode set sa- nada por ratificaqao, expressa ou tacita, e uma nulidade cuja accao d e anulaqfio prescreve num certo prazo. E de umn nulidads telativa 7ue se trata

Fazem parte do regime da nuhdade relativa: o sopoder ser requerida a d e c l a r a ~ ~ o de nulidade por certas pessoas, o s6 poder ser requerida em certo prazo - prazo qua varia, segundo os arts 687." e segs. - . o poder ser sanada, islo e, ralificada ou ticita ou expressamente, e prescrever o di- reito de pedir a acqao de a n u l a ~ l o depois de certo prazo.

Este 6 o regime da nulidade relativa. Em oposic%o a este regime, ha o da aulidadt absoluta. S e a nulidade 6 absoluta, pode ser pedida a declara-

go de nulidade por todos as ~nteressados. N%o C apenas par certos, co~ilo alem apenas pela mulher ou ptlos seus h d e i r o s . Pode ser requetida em qualquer prazo, coniorme se polie ver no artigo 693 O : A ~rulidade [lo confrato pode sev oportrz, pilr virr <Itn t.+rct/~gEo, n todo o tentpa m t que o rurnprirnento do cofitralo nulo f6r pedidm.

E no art. 694.': @ode scr pvoposfu a accdo, ou de- cluzidn a exc~pcilo de nnlidrzde, tlrnfo pelos qcwixosos e ~ r f r s repv~~sertfantes, COIUO pelos seus fiadorrs, salvo nos cnsos em que n lei expressarnente ordenar n contrhr~on.

Pode ser requerida a todo o tempo a declara~so do nu- hdade. E' insanavel, isto e , n % ~ st pode rat~ficar o acto absolutameote nulo,

Repetimos, A ) - Notas do regime da nulidade relativa: a) - Sb p ~ d e ser pedida a declaracao de nulidade em

certo periodo, e por pessoas determinadas pela lei;

b) .- Pode ser sanade o acto, ou expressa ou tgcita- meule. Expressamente, por meio da ratiticacgo. Ticitamen- te, por unl acto donde s t deduza a ratificaqIio,

c) - E s6 pode ser pedida a declaraqse de nulidade em certo periodo. Passado esse periodo, caduca o direito de pedir e anulaqgo.

3) - Motas do regime da nulidade absolula : a) - Pode ser pedida por todos os interessados em

lodo o tempo. b) - E' iosanivel, quere diztr : ngo pode ser ratificada, Mas nos dissemos: a declara~go de nulidade do acto

abs4ntarnente nulo pode ser pedida por todos os interes- sados.

Chamamos a voasa a tengo para dois pontos. 1.' pooto: quando se trata de nulidadc rclativa, diz-se

que o tribunal anula o ucto; quandu se trata de nulidude absolrsfn, die-se qud o tribunal deolara o acfu nub.

2." ponto: quem s%o es interessados que podem pedir a declara~iio de nulidade absoluta? N6s dissemos: s lo todos. Mas, todos que tiverem qualquer inter&sse, ou s6 aqueles que t&m interksse patrimonial?

Nlis opinamos que 66 podem pedir a declara~go de nulidade ahsoluta 0s que t&m interksse patrimonial, e exclul- mos, por conseqllSncia, o interesse moral e o ia terhse so- cial.

E' certo que h i casos excepcionais em qus, quem tern ou representa interewes sociais, pode pedir a declara~Ho de nulidade durn acto.

Mas, s6, ex~epciooalmente~ Porque, em regra, so podt ped'r a declaraq30 de nulidade durn aclo absolurarnente nu 1' 0 queln tern intergsse pafrimonisl.

Por exemplo : em matbii de casamento, a citada Led & Famflia n." I diz no seu art." 13." que o MinistCrio Pu- b l i c ~ pode pcdir a declaracSo de nulidade durn casamento fe ib contra o disposto no art."? da mesrna Lei. Oral o

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MinistPrio PlibIico nao representa interkses patrimoniais, mas sim sociais.

Neste caso, por excep@o, tambdm quem tem inter&- ses sociais pode pedir a declara~Zo de nulidade. Mas, repe- tirnos, 50 excepcionalmente. E m regra, $6 quern tem inte- r&sse patrimonial 6 que pode pedir a declaraqso c?e nulidade.

E quando, repitn, se trata de nulidade relativa, s6 pode pedir a declaragao de nulidade aquele a quem a lei quis proteger, N3o h qualqner interessado; C sd aqilele a quem a lei quis proteger.

O acto relativamente nu10 e vilido ate ao momeato da anuia~Ho, e ate que o tribunal o declare nulo. Mas, uma vez anulado, a anulaqgo retroage ao momenlo da forrna~go do acto juridico.

Por exernpIo : faz-se urn contrato de compra e venda relativamente orlo, Psse conlralo e vblido, at6 que o tribu- nal o anule. Mas, logo que o tribunal o anuIe, a anulaqao retroage ao momenlo em que se fez o contrato, ao mornento da forma~%o do cootrato d e compra e venda.

E' CI que s e pode ver, lendo o art " 697,O, que diz : ~Rescindido o contrato, hnverk cada am dos con-

traentes o qrre N i ~ r presfarlo, on seu valor, se n restitui- CEO em esphcie ngo for possive l~ .

Quer dizer ; o c~ntrato de tompra e venda C vilido ate que o tribunal o anule. Mas, logo que o tribunal o anule, considera-se tal, desde o momento Ja sua formag%o ; e o comprador vai buscar 0 dinheiro que deu ao vendedor, e este a ~ o i s a que lhe rendeu.

9." Oas fontes do Direito (cont]

n)-Conceitos clhsslcos de instllul- 900, dado por Ssvigny, won Ihe- ring e pel0 professor Qutlherme Morelra, Blem doutros.

-Conceito de institu'lpao dado por Hauriou.

-AproximecBo dhstes dols con- eeltos.

-A opiniao de George Renard.

Vamos falar hoje das instituY~~es juridicas. Numa l i ~ g o anterior falimos na classificag%o das nor-

mas juridicas. Anles, linharnos definido o qu t era norma juridica. E agora vamos ver o que s e deve entender por institulqso. Vamos dar o conceito classico e urn conceito moderno dessa expressPo institui'@es e procurar relacionar nm com o oulro.

0 conceito de norma juridica 6 dado superiormeute por von Ihering no seu livro aLresprit du Droit Romain dans les Diverses Fases de son DeveIeppemeot. N&sse livro diz von Ihering pouco mais ou menos o seguinte:

a A regra juridica deduz-se da relaqAo social. Mas acontece, por vezes, que para regular a mesma relaqgo so. cia[ h i diversas segras juridicas. E, enlgo, o ponto de con- tacto, de convergkncia de tbdas essas diversas normas juri- dicas, que regulam u n ~ a relaqzo social, i o fim. Acontece, aioda, que un~as regras juridicas t&m relataes corn oulras. De maneira que essas regras juridicas formam sistimas. Esses sistemas das regras juridicas s%o a ossatura do Di- reito, ossalura que i coberta pelas normas singulares, assim comu os ossos do esyueleto G o cobertos pelos mliscuIos, nervos e outros tecidos* .

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0 s Srs. estilo a ver ji o que von lhering entendia por i n s t i t u i . ~ ~ ~ juridica. E' instilui@o juridica, por conseqiiencia, urn complexo de regras juridicas que se penelram umas hs outras, formando urn corpo orgaoico, que se difundem por diversas regulameataq6es e que t@m por base urn Eacto cen- tral, que preside ao seu desenvolvimeuto.

For conseqii&ncia, para haver uma institu'icgo 6 precis0 have^ um compltxo de regras, regras que (em ligav20 umas corn as outras, r e g a s que formam urn corpo orgbnico, re- gras que se difundem por uma serie iudefinida de regula- menlaqaes, regras que tPm por base urn facto central que preside a sua elaborac30. Esti a ver-se, adeniro d&ste con- c e i t ~ , a rela~2o sntre a regra de direito e a institui'~80.

A lei e urn elemento, como esltio a ver, da instituiqZo. A lei e o elemento simples, a institu'i~30 e o cornposto. A lei combina-se corn outras leis para formar urn sistema, urn curpe organizado. Porque n8o e qualquer facto que d a ori- gem a urna regra de direito. S6 certos factos relevantes e que determinam uma regra de direito.

H i relaqGes sociais e ha r e h ~ a e s juridicas, Um facto de hornem para homern 6 uma relaglo social. Mas, se @ste facto de homem para homem esl6 disciplinada por uma regra de direito, cenverte-se de relac%o social em relacgo juridica.

De madeira que, a regra juridica 6 uma regra da vida social regulada pel0 Direito.

Mas essas regras n8o eslao espalhadas por urn corpo de Leis, por urna ordem dispersa : essas leis ttm conexgo por vezes, umas com as outras, tim ligacgo. Csmo diz voo Ihering: ha muilas leis pala disciplinar urn Lacto social; e, quando essas leis, regms de direito dispersas, obedecsm a um sistema, formam urn corpo organizado, entao 6 que se diz baver uma jnstiluii;%o.

Tambtm h i instituiqbes abslracfas e concretas, ccmo

h a relras de direito abstractas e repras de direito,concre- tas.

a 0 hornem e sus~eplivel de direitos e obr iga~des~ , diz o art." I." do C6digo Civil. E' uma regra abstracta, Eu, hornem, tenko, por isso, direitos e obrigacaes, E' uma regra concrela.

A sucesszio legitima, por exemplo, e urna institu'i@io. Ai, h i urn cornplexo de regras furmando urn corpo organi- zado. E' uma institu'i@o. Morre o autor da heranca, abre-se urna sucessio. E essa instituiqiio, que C abstracta, que i tebrica, que 1 apenas, urna vocaqao, passa a aplicar.se a urn individuo ou a individuos, concretizase, passa a per

uma institui'~80 concreta. Eu sou filho do autor da heran~a , sou, por conseqii&n-

cia, herdeiro legitim5rio; surgiu urna situa$%o concreta, onde havia, antes, u a a situaqgo abstracta, isto e, uma vo- caqiio, uma situacgo te6rica.

Vamos, agora, corn urn eremplo, tornar mais claro o qae devemos entender por institui:@o.

Repetitnos: institui'6rio jlcrllllca e urn complexo de regras de direito que se penetram umas ks outras formando urn corpo organizado, que se difundem nurna serie inde- finida de regulamenta~des e que tern por base um facto central que preside i sua elabora~ao e desenvolvi~nento.

Vejamos uma instilui&Zo. Seja o casamento, embora o estudo desta instiiu'i~as nga perten~a ao curso em que eslamos.

Eu vou erplicar. Ha ycaJamento* e *casamentoa. Quere dizer : ha casamenlo.institufqTio e casan~ento-acto juridico,

HL um grupo de regras juridicas que regulam o estado de casado. Isto d o que se chama uma institui~ao. Mas, tambem, ha urn acto por virtude do qua1 o individuo entra no estado de casado : & o que o nosso Decreto-Lei n.O 1 de 25 de Dezembro de 1910 chama o conlrato de casamqnlo, e d o que eu chamo urn aclo juridico wsui gmeris*. {Fui cu

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quem primeiramente, enbre nos, chamou ao casamento um aclo juridico * s u i g e n r ~ i s * , negsndo-lhe a natureza wotratual).

Mas vamos ao casamento-instituicKo, que 1 Bsse que nos interesaa.

Dissemos que a ihstitu'i~80 14 um complexo de regras. Umas dizem respeilo a capacidade para m a r , outras h forma exlerna do casamento, outras aos efeitas do casamen. to, outras ao poder marital, outras ao regime de bens, etc..

Tbdas essas regras t&tn entre si relaqgo, conexgo, pe- netram-se, formam urn todo orgAnico que se difunde por uma serie indefinida de regulamenta~aes, e que derivam dum faclo central que Ihes serve de base e preside ao seu desenvolvimento, que 6 a uniHo sexual.

Que 6 a unizo sexu.~l? E' urn facto socialmente re l t . vante.

E' necessario disciplinar &sse facto da uniao stxual, para bem da saciedade, para o desenvolvimento da huma- nidade e do priigressu social. 8, enlPo, surge uma str ie de regras que diz respeito a angulos diversos, a prismas dile- rentes desse facto central, regras que iormam u m todo or- gAnico e a que preside o fact0 central uoifio sexual. E' isso que se cbama urna institui~go.

0 que digo do casameuto, poderia dizer de varias outras instituigaes. Par exempla: de avarias, em mat8ria de navegacso, de obriga~fies, em materia de Direito Civil, de propriedade, etc.

Ora, &ste 6 o conceilo de instifui'~Liu de von Iheriog, &ste e o conceito que de instituyqao teve, por exemplo, o faiecido prafessor Guilberme Alves Mareira.

es le professor escreveu urn livro intitulado aInsti1ul'- @es do Direito Civilu, No 2." colurne ocupa.se de Ohriga- cats, Que C que &le enlendia por obriga~ties, segundo se depreende do seu livro? Eutendia u n corripos(o de regra: que tinham entre si conexso, tarmando um corpo arganizado que se difundia em virias regulameotaq6es e tinha par base

filctos. Esses factos sociais que eram base das obrigapes eraln os [actos que se chamam fon~es das obrigagaes.

ksse conceito de institu'iq6es e urn conceito comum, i:NZo digo vulgar, porque e urn conceito cientilico) k o con- ceito de instituYqd;es, que at6 hoje, mais freqiientemente, se t e ~ u dado aos alunos.

Eu, porem, sou obrigado a dar.lhes outro conceito e a relacionar o norro conceito que vou dar corn este conceito ciissico.

Apareceu hltimamente, quere dizer, ja neste seculo, 'nas duas dltimas decadas, lerceira e quarta, urn movimento juridico chamado o movimenlo institucional. E' o ~novimeato de qne foi priccipal sequaz, e talvez inventor, Hauriau, fa- lecido professor de Direito Administrativo em Toulouse.

Esse movimento ten1 engrossado dia a dia, e cada dia apareceal novas obras, novas teses sbbre esse mov'imento juridic0 chimado institucional.

Ora, Hauriou deliniu ins6ilni'pZo, em 1925, quisi no fim da sua vida, numa obra intilulada *La leorie de l'insti- tution et de la fondationu? que apareceu nos cadernas %La nouvelle journ6el~, de 11lodo seguinte : *insiit~i'~:fia e ~rma idea cEc obra ori ile cwprcsa ( / l i e se rt:nliza e durn no meio social, r!lerlr'n~rte ant pohr cjne a r ~ a l i z n , P Izat7endo erzfre os i)~dividnos, qne furmni)~ o rneio ~ o c i o l , rnantfes- tnqfles dt? cnman/tcTo~~.

Para Hauriou, cotne estao a ver, para que haja urna institui'q80 i necessirio : 1.' elemento, uma idea dc obra su de elnpresa ; 2." elemeato, realiza~%o dessa idea de obra ou de empresa medianfe poderes; 3." elemento, a existen- cia, entre 0s individuos que cornpaem o meio social oade s e realiza a obra ou a elnpresa, de rnanifesta~ties de comu. nhao.

Hauriou, nessa mesma obra, dislingue entre irsstitui'- goes-pesscas e institrti'g8es-coisas. Ha inslitui$Ties que s e personificam - par exemplo, o Estado, urn sindicato, urn

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municipio - e iastitui'qaes que nfio ganham a qualidade de p a s o a s ; por exemplo, a propriedade, uma obra de bene- fi~Cncia que nunca foi personilicada, cuja realizaqilo est i coniiada aos beofeitores.

A primeira calegaria de institu'i~8es chama-se institun i$es.pessoas : a seguuda categoria, iostitu'i~6es-coisas.

Bgora, e posto isto, vamos ver que relaqHo poderi haver entre a primeira noq80 de instituifio - gtupo de re- gras juridicas organizado - e a segunda definiqgo de insti. IuY~iio, aquela que nos e dada por Hauriou.

qPrirno conspcc tu~ , parece que esses conceitos sao inteiramente diversos. Mas a n6s, afigura.se-nos que n2o e assim. Esses diversos conceitos de institui~go resultam s6 da posi@o que toma o juris~onsulto.

Von Ihering, Guilherme Moreira, Savigny, olharam a instituYcio de fora para dentro. Hauriou colocou-se no cen- tro da institui'@o, para surpreender a i o movintento da ins. tituPq2o. Dai, a diversidade de conceilos.

Vejamos se assim 8. Yamos outra vez a ins t i tu f~ lo do casa mento.

Van Ihering exall~inou o casamenta, como disse, de fora para dentro. E que viu? Viu urn cornplexo de regras, regras que sso entre si ligadas, que sZo canexas, regras que se difudem por ama sir ie de regulamenta~6es indefinida, regras que t k m um facto central que lhes serve de base e preside ao seu desenvfilvimeoto - - a uniao sexual -- regras, afinal, que regulameniam o casamento. Fez um exame ex- terno da ins t i t uic8o.

Hauriou, por sua vez, que fez ? Tomou posi~Zo denlro da institu'ic30 e viu, realmenle, uma idea, que 6 a idea da uai3o sexual, que se efectiva no meio da sociedade, ideia- -obra que [em reaiizaqae por intermedio de 6rgaos- o 6rgso do registo civil, etc. - idea que importa a manifesta~%o d e comunh%o entre os individuos que comp6em o meio social.

Re maneira que, no fim de contas, tudo depende da

posi~flo do jurisconsulto. Ou se vkem as instifnQ6es de [ora para dentro, ou de dentro para bra. No primeiro caso, i t . lnus um cornplexo de regras organizado; no segundo caso, temos uma idea-obra ou uma idea-empresa que se realiza num meio social.

Ora itste conceit0 de institui~go t que ainda, que eu saiba, ngo foi Iancndo nas nossas escolas. E, no enianto, imp6e-se a sua anhlise, porque, como disse, o chamado mo- virnento instituciooal ptrdura.

Hauriou escreveu, como disse, #La Teorie de L'inslitu- tion et de la Fondation3 ; Reynaud escreveu ul'iastitution dt la Dotl ; Georges Renard escreveu (La Teorie da L'institu- tion, Essai d'ontologie Juridiques, e muitos outros tern es- crito obras que podernos integrar nesse movimento institu- cional.

Eu rtBro.me, agora, A obra de Renard - #La Teorie d e L'institution, Essai dlontologie Juridique..

e s s e Iivro i curioso e recente. 0 primeiro volume foi publicado em 1930 e o segundo creio que d de 1932.

Ntssa obra, Renard, que tambdm era professor de Toulouse, como Hauriou, mas que hoje suponho ser frade, diz o seguinte :

~Cheghmos, meus senhores, A t e s t central da minha obra, Aquela em pro1 da qua1 eu venho alegar - plaidoyer - a existencia de urn dualism0 de sujeitos de direito. A par do direito do homem, h i o direito da institu'i~80. A par do direito individual, h6 o direito social.

Isto que eu lhcs vou dizer nZo i idealism0 juriilice, e psicologia pritica.

N6s observamos todos os dias que, ao lado do homem, existe a flrmilia, a phtria, a religiao, 0 bomem morre, passa, e a familia perdura ; a pitria tern urna fbrca de conserva~So que nso tern a familia nem o individuo ; il teligigo e eetroa.

Pot conseqii&ncia, ao lado da rcalidade-individuo, hi4 a realidade-institui'@o.

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Por funqgo individual, eu tenho de conservar, defender o saneue que corre nas minhas veias; mas bsse sangue que corre oas minhas veias lem muitas parhieulas do sangue da mioha familia. Eu tenho de defender o meu ideal pr6pri0, mas tambem o meu pensamento ou a idea da civilizagio a gue pertenfo. Teoho os meus sentimentas, mas estes foram insuilados peia religiilo que eu perfilho.

Par conseqii&ncia, eu tenho de ter amor h minba fami- lia, B minha patria e a religizo.

Se puder defender simultaoeamente o meu .ego*, a minha familia, a minha Fatria e a ReligiBo, t conveniente que o Laqa. Mas, se esses interesses se n%o puderem bar- monizar. Se para defender a minha pessoa, tenho de causar prejuizo A minha familia, a Pabria ou i ReligiSo, entBo devo ser sacrificadd: o bem individual, pessoal, deve ceder pe- rante o bem comum, o bem colechlvo, como diz S. Tomis*.

Mas, ae su fiz uma digresrHo pel0 livro de Renard, n8o era isse que nos interessava. 0 que oos interessava i o con- ceito que 61% dh de institui'~Po.

Ele dit no 1." volume do seu livro: *O Conceito de ins- t i tul~Io esta aioda hoje cercado de neblina. Se eu me pu- desse servir de uma irnagem fotogrfiiica, diria que o conceito de instilui'po, coIno hoje nos aparece, foi retirado da subs- tgncia plastica da chapa; mas, para fazermos urn conceito nitido, perfeito de institui'go, d necessirio tirar a chapa para tora da camara escura, traz&.la para a luz do dia, e pbr assim, em reltro, o nosso criteria. So ent%o, fazendo o que at6 hoje nzo foi feifo, e que poderemos encontrar urna nocb exacta, uitida do que d a instituh;Sov.

De maneira que. vejam: para von Ihering, para o pro. fessor Guilherme Moreira, para as nossas professores, a ins- Iitu'igHo era apenas uca conjunto de regras de direilo, que formavam urn corpo organizado, que se baseavam num fact0 central que presidia ao s e u desenvoivirnento. Como Ihes disse, i o coneeito de instituiqIo vista de fora para dentre

Para Hauriou, a institui'$io 6 unla idea de obra otl de empresa que se realiza no meio social. E' o conceito de ins- tituiqso visto de dentro para fora.

Para Renard, ainda n%o est i nitido, perfeito, D conceit0 de instiiui'$80; o conceit0 de iristituiqao ainda est i envolvido na neblina. Sente-se o que C institu~q~u, v& se, palpa-se a instituic%u ; esta e ja urn fen6meno da psicologia experi- mental, mas ainda ngo temos de insUtrrLguo urn conceito verdadeiramente nitido.

Este assuntn t u:n pouco transcendente: mas, porque e novidade o que &le trouxe ao ensino, gostatia que os Srs. o esfudassern convenientemente.

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10." Das fontes do ~ i r e i t o (cont.)

0)-- Bivisao do Diraito

-Direit0 pubtlco. - D~reito privado. -0 Dire110 p6blico subdlvi-se em:

D l r e l t o consiitucioral admlntstrattvo penal processual

-0 Direita prlvado subdivide-se em: . -9ireiio civil

Jterrestre comercial

rnarftirno de trabalhi e prevl- dbncta social.

As leis agrupam-se dum mod0 organizado em insfltuf- c6es - disse eu na ultirna aula ; institui'~aes, no sentido qus lhes davam Savigny, von lhering e o professor Guilherme Moreira.

Mas eotas regras juridicas, que s e absorvem em insti- tui'$8es, aioda se dividem em ramos de Direito,

A primeira divisso do Direito, a divis%o classica que nos vem do Uireilo Romano, 6 es ta : regras dc direito pu- blico e regras de direito privado.

Ulpiano definia assim : apublicum jus est quod ad ula- frrrn rei romarrae specCaf~ (o direito pGblico t o que con- templa o eslado da coisa romanal ; privatum quod ad sin. gulorum ntititatem pertineta (o direito privado d o que pertence a autortdade dos particulares), ( I )

(I) Uipiano, L. i , 5 2, D., de J U ~ I I ~ . , 1, 1.

146

Segundo essa definiqZo, direito piblico era o que visava o inlertsse publico e direito privado o que risava o inter&. se dos particulares.

Nem todos fbm admitido esta definig80 de direito p u blico e de direito privado, Mas o que e certo - para eacur- tarmos aprecia~6es - C que na pr6pria organiza~Bo de es- tudns da nessa Faculdade de Direito s e faz distingso entre direito pdblico e direito privado.

Assim, h i doutoramenlos de citncias hist6rico-juridicas - doutoramentos de direito privado, e ha doutoramentos de cieacias econornico~politicas - doutoramentos de direito pliblico.

Mas, quanto ao criterio que possa servir para definir- mos o que seja direito publico e o que seja direito privado, ha discordiincia entre os eseritores.

Uns dizem: direito pu'blico i o que visa o interbsse publico, h maneira da definiqao de Ulpiano; direito privado L o que visa os interksses privados, tambim & maneira do qire dizia o mesmo juriscoosulto romano.

Outros, seguindo critirio diferente, dizem : direito pd- blico t o que regula as relacties do Estado com os particu- lates, e direito privado e o que regula as r e l aces dos psr- ticulares enire si,

Qualquer destes critirjos d rigido. No fundo, bern no fundo das coisas, o Direito prosura sempre a utilidads p& blica, o k m colectivo, o bem comum.

Uma lei votada pela Assemblea Nacional e promulga. da pela Presidente da Rhpublica, urn decrcto,lei emanado do Govkrno nunca procuram os interksses de A, de B, ou d e C, procuram sempre regular a s r e l a~ges sociais da ma- neira mals conveniente ao inieresse p~bl ico , ao bem comum.

Por conseq~&ncia, &sse critirio que s e cifrava em dizer : o direito publico visa o interbsse pdblico e o direito privado visa os interewes particulares, e urn critdrio que, delinido nestts precisos termos, ago pode ser aceite.

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Tambem o outro critirio, o que diz que direito pilblico e o que regula as r e i a~6es do Estado com os particulares e direito privado o que regula as relac6es dos particulares entre si, n2o e aceitavel. Porque o pr6prio Estado, muitas vezes, entra em re l a~6es corn os particulares, reguladas pelo direito privado. Muitas vezes, o Estado despe-se da autoridade p~b l i ca , aparece nas r e l a~6es sociais corn os cidadfios, como igual aos pr6prios cidadaos.

Basta ler o art. 3." do C6digo Civil: *Se as direifos e oDri6a~Ze.s se limifar/r lis ruiacges

reciprocas dos cidadcos erztre si, cotno meros partiullarrs, orr cntre 0s ridndEos e o Esfndo, en1 quesfZes de proprie- dude ou de drrcifos pntnniente indrr~ra'riais, k s e s direifos P oI~riga@cs constz t~en~ n cn/)acidnr~e civrl dos cidaddas, de~rorn~narn-se diraifos t, obrt~acfies C ~ V I S , e sdo s r ~ r ~ r d o s pelo d i r ~ i f o privudo contrdo no Cddr~fo C~vil , ex~pp fo flu parte que 6: reguladn par ler cspecraip.

Como os Senhores tstao a ver, e consla da pr6pria disposi~go do art 3 . O do C6d1go Civil, o nirwto CIVII regula r e l a~oes entre o Estado e os particulares relat~vas a pro- priedade.

Por consequtncia, o criterio que acabamos d e expor e inaceitavel. E, entao, procuram os escritores mitigar Psse crilerio rigido, e dizem, seguindo o primeiro crittrio : di- reito pliblico i o que visa, directa e imedialamente, o iute- resse public0 e direito privado i o que visa, directa e ime- diatamente, o interesse dos particulares.

Com esta plasticidade ja sc compreende. Aparece uma lei a regular uma relaqzo social, por

txemplo, a regular o contrato de compra e venda. No fundo, e bem no fuodo, o que esta lei procura i reguIar uma rela- cao social da maneira mais conveniente ao ioteresse p i . blico. blas o que, direcca e imediatamente, a lei regula e uma relagao enlre particulares, entre o comprador e o vendedor.

E tambtm procurarn certos esciileres mitigar o segundo

critbrin assim: direito pliblico e o que reguia a s relatdes entre o Estado como tal e os particulares, eutre o Estado guarnecido do poder publico e os particulares : direito pri. vado 6 o que regula as rebag6es entre os particulares ou enire o Esiado, despido do prestigio da autoridade, e os particulares.

Esie critirio ti uma mitigacao do segundo critirio, acirna ieferido.

0 primeiro crittrio mitiga se assim : direito pliblico e o quc visa, diretla e imediatamente, o ioterksse publico, e di- reito privado 6 o que visa, directa e imediatamente, o in- ier6s.e dos particu1are.s.

0 segundo criterio mitiga s e assim : direito piblico e o que regula a s r e l acks entre o Estado como tal, o Estado- -lutoridade, e os particulares, e direilu privado 6 o que re- gula as relacaes entre os particulares, on entre o Estado, despido de poder ptiblico, e os particulares.

Chttgalnos, assim, a primeira grande divisgo do Di- reito: dirililo pribl!'ca, de uru lado, e direifo prlvado, doulro lado.

Cada ulna dessas grandes divis6es ainda, por sua vez, se sub-divide, hsriim,

0 direito pllblioo pode ser ; Direito c~)n.stituci~nal, dl'- reito adrni~zi.;frniivo, dircifo processusl, dirdlo penal ou crirrtinnl.

0 diteito privado pode se r : Direifo ciilil, direito comercinl e, modernamente, apareceu urn outro ram0 de di- xeilo, o diriita do frabaiho e presidincirx social, que, tam- bQm, se ch31na e dirtifo operririo e indu5frial.

De maneira que temos ja a prirneira grande divis8o: direito p~iblico e direito privado.

Ramos do direito piblico ; direiio constitutional, direito administrative, direito processual e direito penal ou cri- minal.

0 direito privada ta!abkm tern djvisaes : direit0 civil,

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diraito comercial, que, ainda, pode ser terrestre ou mari- time, e direito do trabalho e prcvid6ncia social (6 a primeira vez que, entre n6s, aparece Cste terceiro termo), chaman- do.se, tambelu, direito operirio e industrial,

0 direito pfiblico, como vbem, tern os ramos do direito constitutional, administrativo, processual e penal.

A-respeito do direito constikucional c do direito adrni- nistralivo, nso h i dividas : s80, evidentemente, ramos do direito piblico.

A-respejto do direito processual e do direito penal, j i n8o acontece assim.

Ao passo que todos os escritores ou professores dos modernos lempo~, que ribs coobecemos, sustenlam qne o di- reilo processual e o direilr penal ou criminal szo ramos de direito pliblica (e, na verdade, a tradig8o didiictica portn- guesa i nesse sentido), h i , tambem, quem sustente que, tanto urn corno outro, s8o ramos de direiko privado. E, com efeito, se nos socorrermos tambem da organiza~go dos es- tudos de Dircito, verificamos o seguinte ;

No tal ramo de citncias juridicas, hi4 dois doutora- mentoa: em cikncias histbrico-juridicas e em cikncias econd mico~admi~~islrafivas. G, depois, esses dois doutoramentos ramiiicam.se em qualro grupos de professorado : professo- rado de eiOncias histbricas, protessorado de ciencias juri- dicss, professorado de ciencins ecendmicas e protessorado de ciencias adminislrativas,

0 douloramento em cikncias hist6rico.juridicas dh con- curso para os grupas de ciencias hist6ricas e ciencias juri* dioas, e o douloramento em citncias economico-administra. tivas da concurso para as ciencias econ6micas e adminis- trativas.

Pois bem, as ciincias juridicas s8o ciencias de direito privado. Ora, no grupo dzssas ci&ncias, estao o Civil. o Comercial, o Processo (ou os Processes), o Penal e o Inter- national Privado.

Por conseqiitncia, socorrendo-nos da organiza~Bo dos nossos estudos, podsria parecer que o leg~siador quis consi- derar o Direito Criminal ou Penal e o Direito Processual como direito privado.

Mas, repito, na r rad i~ io didactics portuguesa sustenta-se opini%o contraria, sustenta set e com sdlido fundamento, que os direilos processual e penal 330 ramos do diroilo pGblico e ngo do direito privado.

Na Liltima sess$o, dissemos que as institui~6es e re- gras de direito objeclivo se dividiam t m dois grandes gru- pos; direilo publico e direito ~ r i v a d o . E estabelecemos criterios de diferenciaqfio entre direito pliblico e direito privado.

Prosseguindo, diremes, bojt, que tanto o direitcr ptiblico como o direito privado se sub-dividem em outros ramos.

0 direito pdblico tern os seguintes rarnos: direito cons- titucional, direito administrativo, direito penal ou criminal e direito processual, compreendende a organiza~go judiciaria.

Por sua uez, o direifo privado tern os seguintes ramos: direito privado cornurn su civil, direilo privado especial comercial e especial do trabalho e previdencia social, que, tambbm, se chama direito operario ou, ainda, legisla@io in- dustrial.

0 direito pliblico, em geral, vem a ser o complexo de reitas de direito que se ocupa da estrutura do Estado e das pessoas colectivas de direito pliblico, das relataes que guardarn entre si easas enkidades, Estado e pessoas colccti- vas de direito pliblico, das relaGBes delas com os particu- lares.

Quando estas r e p s dizem respeito k estrulura do Estado, mbrmente aos cirggos superiores do Estado - cnns- titui o chamado direito comtrlucional.

Quando essas regras dizem respeito P estiutura e ao funcionamento dos brggos inferiores do Estado-coastitui o chamado direito traliuo.

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Quando essas regras dizem respeito a tutela, isto 6 , ?I deiesa da existbncia e do palrirn6nio do Estado e a defesa da existencia e do patrim6nio dos particuiares, sancionando penas para qu t esta tutela se efective-constitui o charnado dirrifo penal.

Quando essas regras dizem respelto a organiza~%o dos tribunais, B cornpet&ncia d&stes e As formalidades que se tern de guardar na pratica dos actos processuais, desigoa- damente na priitica dos actos pelos quais os particulares se dirigem aos tribunais - c~nstitui d que se charna dirclto processual.

0s dois primeiros ramos de direito pliblicu sao o di- reito constitucional e o direito administrativo.

As l i n h s divisorias do direito conslitucional e do di- reito administrativo ngo s%o nitidas. Ha uma cerla hesita$lo ao defimir os limites d&sses ramos de direilo phblico.

HA uma doulrina, que e sedutora, por ter 16gice e sim- plicidade: e a doulrina que diz que o direito constitucional trata da estritica do Estado e o direito administratiyo trata da dinarnica do Estado.

Assitn como, na Medicina, ha uma ciencia que des- creve os brgrros do corpo humano, que se charna Anatomia, s ha outra ci&ncia que se ocupa das fun~5es de cada urn dos orgaos do corpo humano, que se charna Fisiologia, tam- bbm, no Direito baveria urna cikncia que se ocuparia da anabomia do Estado, da esirutura dos 6rgPos do Estado, da esthtica do Estado - o direito constitucional, - e haveria outra ci&ncia que se ocuparia das funcees dos varios 6rgaos do Estado. &as relag6es dos rarios orggos do Estado corn os particulares-o direito administrativo.

Mas, o qlte 6 certo e que essa sedutora doutrina lem a contrarii-la tantr a tradi~Po didaclica como a i radi~%o le- gislatjva.

Se os Seuhores pegaterr! Rum livro de direito politico ou constitucional e noutro livro de direito administrativo,

ambos da aclualidade ou do principio dtste sieuio, ou do fim do seculo passado, ou do meado do seculo passado, veem que o direito constitucional oil politico se ocupa tanto da estatica como da dinPrnica de alguns 6rgaos do Estado.

E, entao, temos de arranjar a seguintt distiagao: Como lhes disse, ha limites hesitantes entrc o direilo

constitucional e o direito administrativo. 0 direito constitu- cional ocupa-se da estatica, isto e, da estrutura e do funcio- namento dos drgaos superiores do Eslado. 0 direito admi- nislratiro ocupa-se da eslrutora e do funcionamento dos drgrlos inferlores do Estado.

Por exemplo : o chefe do Estado elege-se de uma certa maneira, lem umas certas atribuq6es; o Govkrno tem tan- tos melnbros, tern certas atribui'g6es; a Assrmblea Nacional tern um mcrdo de eleiqio, tern atribuP~8es definidas. Tudo isso silo disposi~aes contempladas pela Constituf@Io, tudo isso e materiil do direito constitucional, portanto.

0 direito administrativo diz quais 5x0 as atribufqfjes do governador c iril, quais s%o as a(ribui'c6es do municipio, quais sao as atribui'q6es das juntas de frkguesia, como s t elege a junta de frhguesia, como se elege o municipio, etc.

Mas, quais sejam oe orgzos superiores do Estado e quais os orgaos inferiores, quais sejam os bg%os de cuja estitica e dinarnica se ooupa a Constitui'flo e quail os de cuja estatica e dinami~a se ecupa o direilo administrativo - eis os lirnites hesitantea.

0 direito processual e o direilo penal s2o ramos. como lbes disse, do direito p6blico.

Ha uma Iradiqao diditica no sentido de os escrltores de dire it^ desta epoca, do principio do siculo, do fim do seculo passado, do rneado do sdculo passado e ainda de an- tanho, considerarern tanto o direito processual como o di- reito penal ramos do direito pliblico. No en ta~ to , ba ainda raros escritores de opinigo contraria.

E, se n6s, mais utna vez, formos analizar a organiza-

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Cao da nossa Faculdadc de gireito, verificzren~os que h i quatro concursos correspondestes a dois doutoramentos nas Faculdades de Direito (o dou(oramento de ciencias Hist6ri- co.juridicas e o doutoramento de cienc~as econ6micu-poiiti- cas): concurso para cikncias hislcirjcas, concirso para ciCn- cias, juridicas, concurso para cieociss econcimicas e concurso para ciencias polilicas.

0 doutorameuto de cihcias histhrico-juridicas corres- po~rde a direito privado; o doutoramento de ci&ncias econ6- mico.politicas correspoude a direito priblico. E aos concur- sos para citncias hist6ricas e para ~igncias juridicas pare- ceria que devia corresponder o direito privado ; no entanto, nas disciplinas que constituetn o grupo das cigncias juridi- cas, compreende-se o direito penal e o direito processual, o que podia dar a entender, em rela~?io ao legislador que tra- lou da organiza@o dos estudos juridicos, que o Processo e o Direito Penal erarn ramcs de direito privado e ngo de di- reito pd6lico.

Mas, o que i certo e que, a l im do t radi~zo didactics, que, como lhes disse, 6 n&sse sentido, tarnbim a 16gica nos leva a opinar dc igual maneira.

De que d que trata o direito penal? Da defesa da exis. t&ncia e do patrim6oio do Estado, e d a dtfesa da exislbncia e do patrim6nio dos particulares,

Quando se ocupa da defesa da existencia e do patrimb- nio do Estado, evidentemente que 15 direito pdblico. Quando se ocupa da defesa da exisl&ncia e do patrim6nio dos par- ticulares, ainda o faz por motivos de ioteresse geral, para bem comurn, para bem da coiectividade. POF conseqiikncia, ainda o, faz como direito p6blico.

0 mesrno diremos a respeito do direilo processual, 0s tribunais sgo 6rgBos do Estado. Por con~eguinte,

tratar da cornpettncia dos tribunais, do formdlismo que se deve guardar nos tribunais, parece que t tratar de urn raruo de direilo pdblico.

Assim, em nosso enteoder (e, na verdade, no de quisi todos os e~critores), o Jireito ptiblico divide-se, conio dis- semos, em direito constitucional, direito adtriinistratiuo, di. reito penal ou criminal e direilo processual, cornpreende~ldo a o r g a n i z a ~ a ~ j udiciaria.

Tambem o direito privado tern sub~divisdes, como ja ficou dito.

0 direilo privado e constituido pelo complexo de re- gras que, directa e imediatamente, visam os ioter&sses dos particulares ou os intertsses do Estado desprovido de poder ptiblica, de irnperirsn~.

Essas regras, que dizem respeito a constiluiq%o da fa- milia, a capacidade juridica das pessoas fisicas e colectivas, a apropria~so da riqueza e a utiliza~Ho dos serviqos, formam o direito privado comum, que lambkm 3e chama direito civil.

Mas, acontece que, por virtude de circunsrincias espe- ciais, por virtude de necessidades de profisszo, em certos casos, essas regras cotnuns de direito privado s8o ioapli- caveis.

0 direito privado, por exemplo, estabelece rigidamente os rneios de prova de certo5 contratos. 0 emprkstimo de certas i m p o r t h i a s s6 s t , pode provar por meio de escritura priblica: a compra e venda prova.se de certa maneira.

Mas a profisszo comercial pratica freqiientemenle estes acios; e, por conseqii&ncia, n8o se pode sujeitar a essas normas rigidas do direito privado comum; precisa de um ritmo .mais acekerado e, porlanto, de dispensa de formali- dades.

Ora, estas regras, diferen tes mas paralelas .As regras de direito privado comurn, formam o direito privado espe- cial comercial, qlre se sub-divide em dois grupos-o direito comercial terrestre e o direito comercial rnaritirno.

0s actos du comLrciu s2o abjectivos e subjectivos. HA uns actos que se consideram coinerciais. porque

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estao especialmen te regulados no CAdigo Co mercial r s90 0s aclos objectives de comircio.

Outros actos consideram-se comerciais, por serem pra- ticados por cotnerciantes : silo os actos subjec1i~:os de co. mercio.

0s actos cornerciais nZo s3o sempre, em todos os seus pormenores, regulados pel0 direito comercial. 0 direito co- mercial estabelece regras especiais, diversas das do direilo civil.

#as, naqueles pormenores em que o direito comercial nZo estabele~a regras especiais, entgo, subsidiariamente, aplicam-se as regras do direito privado comum, as regras do direito civil.

Pela mesma razao, porgm, que ao lado do direito pri- vado comuu~ - o direito civil - apaTeceu o direito privado especial co nercial, tarnbi.11, modernamente, as circunstkn. cias detcrminaram a forma~go de eetras regras de direito especial.

0 Estado cernecou a olhar com carioho para as rela. $Bas entre operarios e pntraes, para proteger os primeiros Comecou a impor aos patt6es uma certa orienta~ao no tra- balho, a tornai obrigatbrias os seguros sociais, etc.. E o complexo dessas ragras, que s3o paralelas ks do direito privado camum ou civil, mas diversas, porque tendem a re gular rela~aes entre operarios e palr8es, ~onstituem moder- namente um outro rain0 de direito prirado especial, direito que pela primeira vez, entre n6s, eu aponto come ramo do direito privado. E' o direito do trabalho e prevideocia social, que, tambkm, podemos chamar direilo operario ou, aioda, legisla@io industrial.

gsfe noso termo da classificaqito do direilo privado im- pGe.se, pela necessidade de acornodar o Direito vida social.

JI hoje temos tribunais de trabalho, e , no Sapremo Tribunal Adminirtrativo, existe uma secqzo que trata dos

Portanlo, legislalivamenle, esta reconhecido que existe, ao [ado do direito privado comum, e do direito privado especial, chamado comercial urn outro ramo de Direito pri- vado especial - o direito do trabaiho e previd&ncia social.

Atk aqui, 06s temo-nos ocupado do Direito, adentro de cada Estado. Mas, as relacBes e as silua~Bes juridicas podem exislir de Estado para Estado, aasim como podem existir enlre membros de diversos Estados.

Ao lado do direilo inlerno ternos,, pois, de considerar o direito internacional, que, tambim, como aquele, 6 pGblico e privado.

Lbgicamente, n6s fizemos uma distinqao entre direito pliblico e direiio privado, e considerhmos que fanto um como outro podem regular relac6es enlre individuos do mesmo Estado, ou entre urn Estado e os cidad%os dtsse mesmo Estado, ou eotre Estados diversos, ou entre cidadaos de Estados diversos. E temos, assim, uma classificaglo: direito pliblico interno e direito privado interno, direito in- ternacional pliblico e direito internacional privado, Esta 6 a distinqgo tradiciooal, Eom a qua1 oos conforrnamos, por esta razZto sitnples : P: qus as inova~Ges, quando ngo sejam ne- cessarias, s%o perturbadoras.

O direi.to internacional, tnmbkm, se chama direito ex- terno e direito interestadual.

Segundo uns, tanto faz djzer direito internacional, como direito externo, como direito interes!adual. Seguodo outros, h i difcren~a entre direito exterao E direito interuacional.

0 direito seria internacional, quando criado pela von- t ~ d e de dois ou mais Estados, colaborando uns com os ou- tros para regular siluacaes e relaqaes juridicas; e seria ex- teroo, quando ii rela~go juridica 18sse regulada pelas normas de direito internu, internacional~~~e~~te, relevantes.

Eu vou explicar corn exetnolos. Diz o art-" 24." do C6digo Civil : ~ 0 s r~ortugrteses, qur

vinjnrn ou rcsidena em pnis est rar rg~ i ro , conscr~mm-se su- confliios de trabslho.

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jeitos (is iris porfuguesas coricernerztes d szla crrpacin'ade citlil, an seu estado e d sun propriedade i rnohi l idr ia si- tuadn no rcino, elaql~arzfo aos octos quc horrver&m u'c pro- duzir nele os seus ejeitos. . . %

0 s Senhores v&em ~ q ~ t i uma regra que se aplica aos portugueses que vivern no estrangeiro. Uma reira d e direilo interno, porque e de direito civil. E' uma regra criada pelo Estado porluguts, ,mas tern aplicac80 em rela~Bes inierna- cionais. E', pois, urna regra de direilo interno, ioleroacio- nalrnente, relevank, porque tern apl ica~ao international.

Vou, ainda, dar-lhes outro exemplo. Para regular o casdmento Eet-ss uma coaven~50 : a Con-

v e n ~ l o da Haia de 12 de Juuho de 1902. Esta convencao aplica-se aos casameotos de cidadaos

de virios Estados aderentes. Hoje, os Eslados aderentes sgo oito ou nove, entrc os quais s e enconlratn Po<lupal e a Italia.

Se urn portugu@s casa corn urna italiana, ou vice-versa, aplica-se a cunvenflo da Haia.

Como a conven~ao da Haia teln regras que resultaram da c o i a b o r a ~ ~ o de virios Es tados, teriatnos uma relac50 juridica regulada por u:na nortna internac1on:il.

Mas, h i Estados qile nso sPo aderentes da conven~5o da Haia. Por exemplo, a F r a n ~ a , depojs da guerra de 1914.1918, renunciou a conven@u. A Bdlgica, idem. A Es- p a n b nunca chegou a aderir. A cr)nven~Bo s6 s e aplica aos individuos pertencentes a Estados aderentes.

Suponham que casa urn eapanhol corn urna fra cesa. P NBo se aplica a conven~80. T & m de aplicar.se normas d e direito interno. E, entgo, segundo aqueles que querem dis- tinguir entre direito internacional e direito externo, eslamos perante uma rela~Ho regulada pel0 direito externo e nllo pelo direito ioternacional.

Tnmbem, o Ejtado pode aparecer nas ri.'ia~6?s inter: nacionais como urn simples particular, isto e, desprovido de

Irnperiurn, sem o fastigio da autoridadt pliblica. Se, assim, acontecer, da tnesma maneira que a s relaq6es entre o Es- fado desprovido de imperillm e urn simples particular $80 relaciJes de direito privado, tambim as relaqaes de urn Es- tado corn urn particular de outro Estado, quando o Estado intervem sem lmperium, s8o relaq6es :de direito interna- cional privado.

Suponharn os Senhores: o Estado brashleiro resolve comprar em tisboa urn palicio para a sua emljajxada, e compra-o a urn dos Senhores.

Quando o Estado brasileiro compra o palicio a urn dos Senhores, que o vende, aparece despravido de i m p e r i ~ m , sem o fastigio da autoridade pliblica, aparece como parti- cular.

A relacgo, que se estabeleceu, e regulada por normas de direito i~ternacional privado.

N ~ o t absolutamsnte indiscukivel a defini@e~ de direito mternacional.

Uns dizem que o direito internacional i o dirtito que rcgula as rela~6es de Estado para Estado, ou a s r s l a ~ a e s entre individuos pertencentes a diversos:Estados.

Outros - hoje poucos - dizem : o Esfado, nBo tern per- sonalidade juridica. Por conseqiitncia, nPo pode ter relq6es juridicas. Ngo i susceptive1 de direitos e obrigacaes. De rnaneira que, o dire~te internacional p~ ib l~co ngo i o direito que regula as relagGes de Estado para Estado, C o direito que regula a s re la~6es entre os governantes de diversos Es- lado s.

Seja conlo lor-c o assunto n%o interessa considerAvei- meute aqui, porque estamos numrt cadeira d s Direito Civil, e n8c (le Direito International,-seja como Eor, as Senhores verificam, desde jA, que. ao lado do direito interno, .que i plibllco e privado, tendo cada um deles virjos ramo& hB, tambim, o direito internacional, que t, do mesrno modo, public0 e privado.

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0 direito international estava, antes da guerra actual, na ordem do did, em graode parte devido a essa instituiqZo chamada a Socidade das Na~iJes, criada pelo tratado de Versailles, que foi celebradn depois da chamada Grande Guerra, a guerm de 1914 1918.

E, no cdmpo do direito internasional, tambem se pro- eurou fazer uma grande renova~so.

Por virtude da tal tlaboraq%o institucional, de que e a ja Ihes falei, ate h i pouco entendia-se que uma convenpo ou um tratado normativo cntre Estados era um acto contra- tual. E, por ser um aclo contratual, podia urn Esrado reti- rar se da conven~go, dennrlciar n convencdo, corno s e diz em termioologia juridica.

Assim, aconteceu corn a conrren~ilo a que ha pouco lbes fiz retertncia. A Espanha e a Rrissia, por exemplo, estive- ram eln Haia, discutiram a conveng30, mas nunca aderiram. A Franqa e a Btlgica aderiram, mas, durante a grande guerra, denuociaram a convengZ~, desaderiram. A Alema- nha ficou Lora da conven@o, por virtade do tratado de Ver. sailles.

Por conseqri&ncia, estabe1ec:u-se na convenG%o uma cILusula, que dizia: cada uma das altas partes contrataates - tambkm C terminologia juridica - pode denunciaf a coo- ven~lio, notificando as oulras altas partes contratnntes a sua resola@o c o n aatecedencia de tantos mcses.

Por virtude da dita elabora~Ho institucional, assim corno s e admitiu a existencia da institul$so nacional, assim se admitiu a exisl&ocia de inslilui~8es inteiuacionais. E admi- tiu.se a exis thcia de uma iastituj'qgo de tbdas as insti- tuit$6es, que era a conailas genliurn, a sociedade das na~6es .

E, segundo esta coucepc80, as conven~6es que fixavam uma regra ou regras reguladaras de institui'~6es ngo eram aotos subjectivos, n8o ariavam obriga~6es subjectivas para as partes contraentes. Da institui~%o resultava um poder de autoridade, priocipios de direiro que se impunham aos con-

traentes. Por conseguinte, as regras seriam regras de direi. to objeotivo e nPo obrigac~es subjectivas.

lsto e importante. Se os senbores quizerem Ier um livro que lh5s d& noticia dessa elaboraqze doutrinal, vejam rLa Societi Internalionale et les Principes de Droit PubIica, de Delos,

E m su:ua, resumindo um pouco da l i ~ g o anterior e a li@o de hoje, direi:

As inslitui'q6es juridicas, formadas por regras juridicas, agrupam-se em dois granden ramos de direito - o direito p6blico e o direito privado.

Cada unl dksses glandes ramos tern silb-divis6es. 0 direito pdblico subdivide-se em direito constitucio-

nal, direito adrninistraliv~, direito penal ou criminal e di- reito processoal, cornpreendendo a organiza~%o judicihria.

0 direilo privado sub-divide.se em direito privado co- mum ou civil, direito privado especial ou cornercial, nos seus dois ramos de direito cornarcial terrestre e direilo cornercial maritime, e direito privado especial do trabalho e previd&ncia social, tambem chamado di~ei to operirio ou legisla~ao induslrjal.

E tanto o direilo publico corno o privado podem ser interno e interoacional,

1 ]adminislratiso ; I pdeisco Intern0 ) Interns- \penal ou criminal ;

2 1 I nacional (processual e organiz. judiciaria ;

,cornurn ou civil ;

I j terrestre especial ou comercial

Interno ] marititno especial do trabalho e prtvidko-

lnterna cia social-direito operario ou le- cional gislaqgio industrial.

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11." Das fonfes do Direito (conf]

p)-Fases da vida da Lei :

1.')-A Iormacao da Lei. 2 . 7 - A promutgac80 da Lei. 3.")-k publicaqao da Lei. 4.")--0 perlodo da evacatto-legisr: no

Continente, nas llhas adjacentes, nas llhas das Flores e do Corvo e nas Colbnias,

5.'j-A vigbncia da Lel. %. l ) -A Lei obrlga a todos sem exce-

PFBO. 7.a)-Considera~go dos artigos 9 . O e

858.* do Codigo Civil. 8,") - A obrigetoriedade da Lel ratifi-

cada oomsqa depols da pub l i~a - @o da ratlficapilo.

9.')--0 oocaso da Lei, por virtude da revogapao ou por cirounst8ncias intrInoeoas da mesma Lei.

10.")-Espbdes de revogaplo da Lei.

A prop6sito da lei como fonte Iormal do ~ ~ r e i t o , ialg- mos de institoY~6es como urn complexo organizado de leis. Dissemos que h a dois ramos de direito. 0 s ramos de Di- reito silo, tambem, um complexo de leis, ou antes, de ins. tituicaes juridicas,

Voltamos agora a falar das leis para tstudar a sua vida.

A lei atravessa diversas fases, a primeira das quais 6 a da sua formafdo, a segunda a da prornufgnpio, a terceira a da p n b l i c u ~ d , depois hit a nvasatiu leglsll, e, pol finr, a lei entra em vigor e acaba por ser abrogada, atiogiudo, assim, o seu fim.

E' ds vida da lei, pois, que hoje nos vamos ocupar. 0 primeiro periodo da lei e n f o r m a ~ f o ; 6 , por assim

dizer, a situacfio de feto. Oc~pa-se da formav%o da lei o 97.Vda Constihi-

$20, que diz: a A rn i c ia t i~~o d a lei c o m p e f ~ indisbitltarnenfe ao Gorirrzo arJ a yuaiqner dos rnernbros dn Assemblea Nacional; nao poderao popern estes aprcsenrar projectos !lent j a z r r proposlas d e a l f e f a ~ d o que t'trvolvarn aumctrfo de despesa orr derninzrigia de r ~ c e i t a do Esfado.

3 rinicc?. A rsprese/rfa~do de projertos dr lei serd con- dicionada peln vat0 .r'avordvel de utna comlss6o especiulfi.

Em suma: uma lei comeFa por na Assemblea Ndc~o- nal se apresentar uln projecto ou urna proposla de lei.

Ha distincao entre projecfo e proposta. Quando a iniciativa da lei e tomada por um membro

da Assemblea Nacional, chama se um project 1 de lei. Quando a iniciativa da Iei e lomada por urn nembro

do Govkrno, chama-se uma proposta de le i . Esta dtst~nqao entre projecto e proposta j i vem da

Constitu~~Po de 1911 e perdura. E' urna terminologia que a Constitul~go de 1933 aceitou.

Depols de apresentado o projecto (ou a proposta) vzi B Cirnara Corporativa. A Cimara Corporatira estuda.0 e dB o seu parecer. Volta outra vez A Assembles Nac~oual o pro- jecto (ou a propasta) corn o parecer da Camara Corporativa.

E' entilo disculido. Recai sdkre essa discussb uma vota~so ; c, quando aprovado o project0 (ou a proposta), surge enHo uru texto de lei, uma lei corn o sea conielido.

Mas, ainda ngo estamus em face da lei. Essa proposta (ou &sse projecto) discutida e vokda pela Assemblea Na- cional continua a ser uma proposta, ja cdm mais sacramen- tos do que tlnha a proposta do Govkrno, ou o projecto da Asserub!ea Naclonal porque ja leol urna vota~Ho. Mas, nao t lei, porque, para haver lei, t precis0 mais algurna coise.

No tempo da Carta Constitutional, chatnava.se ao di.

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ploma assirn votado pelas Cbrtes um decrelo das C6rles. Hoje, continua a chamar.se um projecto ou urna proposta de lei.

Depois de discutido e votado o projecto (ou a proposta) pela Assemblea Nacional, vai ao Presidente da Rtp6blica.

Corn efeito, diz o art.98.' da Constituiqao : .Os pro- jectos aprovados pela Assemblea Nacional d o enviaca'os a@ Presidcnfe da Repiblica, para serem promulgados corn0 lei dentro dos quinre dias irnedialos~.

Entramos, assim, na segunda fase da vida da lei: o projecto (ou a proposta) vai ao Presidente da Rkpliblica, para este fazer a promulgoc@o.

0 Presidente da Rkpriblica promu!ga au pode deixar de promulgar. Porquanto, o Presidente da RBp6blica tern eveto*, mas n3o avelo* definitivo. Em todo o caso, tern svetoa.

Se $Le resolve nZo promulgar no prazo de 15 dias, volla o project0 ou a proposta de lei a Assemblea Nacional. E, se a Assernblea Nacional par $ dos seus membros em excr- cicio votar novamente o projecto de lei, en130 o Presidente da Rbpriblica j i nZo pode deixar de promulgar, tern de pro- mulgar.

E' a doutrina do 5 h i c b do art? 98.'. A promulgaqeo t! om acto pelo qua1 o Prrsidente da

Repiblica ou o Chefe do Estudo autentica a existPncia de lei, ordena ks autoridades quc a f a ~ a m cornprir e manda 00s cldadags que a observern.

E', pois, a promulga~lo a segunda fase da vida da lei. Mas, ent80, ainda a lei nfio obriga. NTio se pode obrigar

ao que i desconhecido. Para qile os cidadgos Gumpram uma lei, e preciao que a ' c o ~ h e ~ a r n ; e, para que a conheqam, e precisa a sua pal~licagdo.

So por meio da publica~go 15 que 0s cidadzos tomam conhecimento da lei. E aparece a terceira fase da vida da lei - a pnblicra~rio.

0 s tertuos da publica~Ho, o efeito da publica~%o das lei4 e as conseqii&ncias desles actos s3o determinados pelo decreto n." 22.470, de 11 dz Abrii de 1933, que trata do -- Formularia cLas dblorilos ojiciais - Disposigces sbbre publicacEu de leis e datns em qlce cotnepm a vigorar.

Diz o art. 1," : # A s leis come~ardo a vigorar, snlvo thclara~do especial, nos prazos seguinfes :

I." - No continente rinco dias, nu Madeira e A ~ o r e s qulnze dias, ram ~xcepg.uo das ilhns do Cdrvo c Flo'r~s r,rn qrre o pmzo sera dc qrmrentn dias, depois de publica- dns no DiBrio do boverno;

2." - Nas coldnias da Guing, Mocau e Timor, nus fllzns de Srrntiago e de 6. 7omP e nos dlsfrttos das ca- pifais das coldntas de Angoln, Mocarnbique e india cinco d i a ~ , e nos resfantes ferrifdrios das coldnias de Cabo I/ m f e , S. Tor~tP, A rrgolrr, Mo~ambique e ftzdia tr info dias, depols ~ l e prcblicndas no respeci'ivo Boletlm Oficlal;

3.' - Nos paises esfrangeiros sesseltfa diss depois da stra plrblirnqria no Dierio do Govbrno.

9 rinico. O din du prdbliiX~d0 dn lei n8o se contan. Diz o art. 3.': ? A s leis rntrnnz ern Y L ~ O P nus rolrinias

zndrpcndentemenfc dn sun publicq-60 rzos re~ppcfivos letins Ofiola~s guundo nelaq se deciarw grte ~e nplicnm o todo o territLirro da R?p.plibiica, devendo em tal caso os prnzos nrirnn referidas ser confados a pnrfir da publica- pie no Dldrio do Govhrno.

l i~ ico . U S diplonlas que forern publicadas no 018- rio d o Govern0 para vigornre~rl ~nns cold~rias, Le~~arQo a i~iilicapio: Pam ser publlcado no ~Boletirn Oficl~I* de. . .~ .

Diz o art. 3: : * A o&r~.qatoriedad~ dns leis ou dos diplomas publicados no DtBrio do Governo on no Bole- tim Oficial de cada colrinia fiau depende da sun inscrcao ern qrtnisquer outras publicag5@s*.

De maaeira que uma lei, para ser obrigatbria, C precis0

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que seja publicada no b g a o oticial, chamado, hoje, Didrio do Govkno.

Durante ddcadas de anos, o 6rgZo oficial, o jornal 013- cia1 cbamou-se B Diirio de Lisboaa. Hoje o ~Diar io d e Lisboan, como sabem. t urn jornal particular.

S e lerem a citado decreto n.* 22.470, verificarzo que uma lei i conhecida e designada pela data da publica~fio e nKo pcla data da promulgaflo.

Embora tbda a lei tenha de ser promulgada e a data da promul tenba de ter a rubrica do Presidenle da Y RkpJblica, o que t cerlo i que uma lei B conhecida pela data da publica$Zo.

Por exemplo, no decreto que estamos a attalisar, n6s dissemos: o decreto de I I d e Abril de 1933, foi nesta data publicado no aDiirio do Gov&rno*. Podia ser promulgado antes, mas a data que o designa 6 a da publica~ao no eDii. rio do Governon.

Por exemplo ; uma lei t pramulgada hoje, 11 de De- zembro, mas publicada no ~Diiirio do Gov&mor no dia 15 do mtsmo mts. Diz-se que t uma lei dt 15 e nBo de 11 d c Dezelnbro.

E ha um preceito no decreto n.O 22.470 que diz q u t as Ieis sZo publicadas sem indica~2o da data da prom ulga@o, precisamente para que a Iei seja conhecida pela data da publica~Zo, e 1.180 p d a da promulga~ao.

Depois de publicada, a lei n8o entra logo em vigor, Surge urn periodo chamado da uvacatio legis..

Cornpreende-st a existencia d&ste 0s cidadaos para cumprir uma lei, tern de a conhecet. Para a conhecer, tern de a Itr, estudar, analisar. Por conseqir6ncia, nio e admissivel que, no pr6prio dia em que a lei t publicada no (Diario do GovCrno-, antes de cbegar Ps miaos de muitos cidadios, e n t e logo em vigor. E! assim, da-se um periodo entre a publicaq30 da lei e a sua obrigatoriedade. b e pe. riodo i o chamado ptriodo da avacatio Iegb*.

e s s e periodo esta determinado no art." 1.' do citado decreto.

Portanto, quando C que as leis comeqam a vigorar ? Depois do periodo da *vacatio legisll.

Qua1 6 &sse periodo? Para a s leis publicadas no Diirio do Gov&rnon, em

r e l a ~ % o 6 parte continental do pais e, normalmente, de cinco dias.

E m relac20 Is Ilhas adjacentes i, normalmente, de 15 dias a contar da publicacso, corn e x c e p ~ i o das ilhas do CBrvo e das Flbres, do arquipelago dos A~bres , purque, ai, elas entram em vigor 40 dias depois da sua pubiica~30 no ~ D i i r i o do Governo.

Em re la~30 As col6nias : quanto i s de Macau, Timor, Guini, S. Tomi , e S. Tiago, do arquipilago de Cabo Verde, e aos distritos das capitais de provincia de Angola, Mogam- bique e India, no prazo de 15 dias depois da publica~IIo no respectivo * Boletim Oficialz.

Quanto aos o ~ ~ t r o s ponlos, quere dizer, quanto a todo o arquipdlago de Cabo Verde, except0 S. Tiago, yuanto ?I Ilha do Principe, quanto aos pontos das col6nias d e Angola, Mo~ambique e India que n8o sejarn distritos das capitais dessas provincias, o periode da entrada em vigor das leis i de 30 dias ap6s a sua publica~go, podendo, ainda assim, o Ministro das ColGnias, em relagso a ponto? mais afastados, estender &sse periodo de 30 para 50 dias.

Ngo foi sernpre as3in1. A lei de 9 de Outubro de 1841 dizia que a s leis entravam em vigor, em Lisboa e nos seus termgs, trks dias depois da sua publicag%o no uDidrio de Lisboa; quanto ao resto da parte conlinental do Pais, 15 dias depois da publicac30 na fbiha oticial; quanto i s Ilhas Adjacentes, 8 dias depois de cbegdr o respectivo paquete : e, corn re la~go i s colhnias, a lei nso dizia coisa alguma, mas aplicava-ss psr analogia a mesma dispositzo, fazendo-se a publicagao no *Boletim Oficial*.

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Adoplava-te o mktodo sucessivo. H i dois mitodos relatives i entrada das'leis em vigor

num pais. Ha urn metodo, chamado o rrre'todo slmnlfr2ne0, scgundo

o qua1 a lei entra em vrgor, no mesmn momtnto, em tbda a parte do pais; e h i o chamado :,qkludo slicesstvo, seguudo o qua1 a lei enlra ern vigor, en1 mementos diversos, nos vhrios pontos do pais.

Comprtendia-st o 'inktodo s u c e ~ ~ i v o ern 1841, porqut os meios de comunicafgo eram dificeis, -ngo havia Com- boios, ngo havia automoveis, fazia-se a viagem do hlgarvt ao Minho escarranchado aas costas durn muar.

Por conseq0&nuia, nzo era o period0 de tr&s dias sufi- ciente para se tomar conhecinlenlo de uma lei. E, entao, distinguia-se enlre Lisboa e seu terrno e o resto do Conti- nente. Em tisboa e s t u terit~o entrava a lei ern$uigor tres dias depois da sua publica@o na [blha oficial. No resto do Contineate, 15 dias depois dessa publieaqlo.

E, corn relaqgo as Ilhas Adjacentes. tsta bern de ver que, s6 depois de 18 chegar o paquete, i que a lei podia tntrar em vigor.

Dtpis , Osse sistema foi modificado pela lei orFamental de 30 de Junho de 1913, publicada no qDiario do Governon de 1 de Julho de 1913.

Stgundo tsse diploma, a lei entrava em vigor no ler- ceiro dia, apbs a sua publicaqio, em kodo o Pais, e, COm

rela~Bo Ps Ilhas Adlacenles, ficou o mestno sistema. Tinham mudado as c o n d i q ~ ~ s . 0s meios d t comunica-

$20 no Pais eram mais ficeis. 36 havia cornb6ios, autom6- veis e camionetas. Era facil, pois, tornar as leis obrigatbrias no prazo de tres dias em todo o Pais.

E substituiu-se, em parte, 0 mdtodo sucessivo da lei de 9 de Outubro de 1841 pelo rnhtodo simult$neo. E: digo: em parfe, porque, em reIa~3o as Ilhas Adjacentes e Co16- nias, ngo se aplica o metado sirnulflueo, a lei nZo entrava

em vigbr n o niesrno dia em que comeFava a vigorar no Confinente.

Depois, 'modificou-se ainda o sistetna por aquele de- creto n." 22.470, de. 11 de Abril de 1933. Em vet de as leis entraren ern vigor no terceiro dia, para cuja contagem apareceram dificuldades, eotram em vifor, em todo o Pais, cinco dias depois da sua publica~ao no ~Diar io do Gov2r- no., e nas llhas Adjacentes, com exceppo de Flares e Cbrvo, do arquipilago dos J ~ b r e s , quinze dias depois da gublicaqZo no ~Ditirio do Gov&roon.

NZO Eoi capriiho nem favoritismo o que presidiu a essa disposi@o. E' que, hoje, as v i a s de cornunica~Bo entre u Curitinznte e as Ilhas Adjacentzs, que em regra s io reali- zldas pela Colnpanhia Insnlana, e s t h organizadas de ma- neira que nem todos os vapores, que v%o para as Ilhas, fatem e s ~ a l a pelas ilhas do Cbrvo e das Flbres, corno o re- gime da navega~go d assim : urn vapor vai as Flbres t outro vai ao C6rv0, e corno, durante urn m&s. so ha duas carrei- ras, por isso se estabeleceu qwe, em re la~ao a estas ~ l h a s , as leis eiltreln em vigor 40 dias depois da sua publica~3o no [(Diario do Goi@rno~.

Com relaq3o a s col6nias, setundo aquele dtcreto: dis. tingue-se ent1.e colbnias pequenas - Macau, Titnor, GuinC - e coldaias ~naiores ; e nestas ainila se distinguern pontos d t mais facil comunica~2o e pontos de mais dificil comuni- cacao. Distingue-se: do hrquipdlago de Cabo, Verde a ilha d t S. 'riago, e na colduia tle S. Tcmt e Principe a ilha de 5. 'rornt, ern Angola, ,Vlo~an~bique e India, cs distrilos das capitais de provincia E, ail 3s l ~ i s entram etn vigor 5 dias depoic da sua publica~go n o ~Boletitn Oficia1. $a respectiva provincia.

Nos outros pnntos eotrarn ern vigor 30 dias dtpois da p ~ b l i c a ~ g o no Boletim Oficialu, podendo o ministro das Colbuias - diz o artigo 9 5 . 2 a Carta Drgdnica do Imperio Colonial -espacar a entrada em vigor de uma lei para 50

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dias depois da sua publicaqao no ~Bolet im Oficial~, q u a n d ~ s e irate de urn siiio de dificil acesso.

Em relag20 i s coldnias, k precis* ainda aieeder ae que dizem os artigos 25." e 27." do Acto Colunial.

No art: 25." estabelece-se o principio de que as co16 nias $30 reguladas por uma organiza~go especial; e depois, diz-se: ha casos, porem, (e diz qaais sao) em que a legis- lac50 colonial kern de ser aprovada pela Assemblea Na- cional. Desde que 6 aprovada pela Assernblea Naciunal, e pubticada no ~Diar iu do Gov&rno~. Mas, a-pesar-de publi- cada ai, tern de ser publicada tambkrn no *Boletim Oficial. da respectiva colonia. E, por coaseqiiCncia, o pel-iudo da entrada em vigor conta-se desde a publicaqao no ~Bolet im Qficial~ da respectiva coljnia.

No estrangeiro, a s leis porlugueses entram em vigor 60 dias depois da publicac%o na fblha oficial.

Poderao os Senhores estranhar que n u m pais estran- geiro, em Espanha, F r a n p , Italia ou Inglaterra, etc. entrem em viaor as Leis portuguesas. Mas deixarso de fazer reparo! s e considerarem que Fortugal ten1 os seus agenkes diploma- ticus e consulares nos paises estrangeiros. Esses agentes diplorniticos e consulares tEm fun~des notariais e de registo civil, e, para exercer essas fun~cies, tEm de apliaar a lei portuguesa.

De maneira que, a lei portuguesa tambim entra em vigor no eatrangeiro ; e , cotno diz o na0 3.' do art.' 1." do decreto n." 22.470, ela entra em vigor 60 dias depois da publica~ao na fblha oficial.

AlBm disso, por vezes, Lima s i t ~ i a ~ g o juridica tem cone- x3o com as leis de virios paises. A's vezes, surge o que e m Direito Internaciunal s e chama urn conflito de leis, e isLe oonflito de ieis e regdado pela lei do Pais ou por ou- tra corn a quai a relac30 juridica tern conexZo.

De maneira que pode acontecer, e acoiltece, que os

prbprios tribunais estrangeiros e as aut r idades estrangeiras hsjain de aplicar a lei pol luguesa.

Depois disto tudu, deixam de-certo de estranhar que u n." 3." do art." 1.' do decreto n." 22 470 diga que no es- trangeiro as leis port~iguesas entrain em vigur EO dias de- pois da sua publica~2o na fblha oficial.

Mas o prazo da entrada em vigor de unla lei, que vem indicado no art." 1." do citado decreto, C o pram normai. Todavia, as leis, por vezes, estabelecem outro prazo.

A razao da .<vaca/io l g i s * ja eu a disse. E' porque nao se cotnpreende que os cidadgos sejarn obrigados a cumprir uma lei sem a conhecerem. Pretende-se, portanto, dar tempo aos cidadaos para !erem, estudarem, conhecerem as leis.

Nas, por vezes, accntece que uma lei i rnuiro grande, e o prazo normal de 5 dias nao t suficiente para os cidadzos ton~aretn conhecimento da lei. E , quando isto suceda, a pripria lei marca um prazo maior.

Aconteceu isto, por exemplo, com o C6digo Civil. Diz o art.0 2,' da Carta d e Lei que pbs em vigor o C6-

digo Civil : * A s d i S / ~ 0 S i ~ ~ t 3 do d i fo cddibro comepv6o a tep. v lqor,

ern todo o conflnente do reino F nas l lhas adjacentes, szis rnesps de/~ols drr p r ~ b l i c n ~ ~ i o da preserzfe lei fro Dlhrio de Lisboav.

Como vQm, nesse cam, pot s e tratar d e urna lei muitu grande, ernbora estivesse em vigor a lei d e 9 de Outubro de 1843, que dizia qlre as leis entravam em vigor, em Lis- boa e seu termo, tres dias depois da sua publlca@o oa fb- Iha oficial, e no resto do Pais 15 dias depois, o que i certo e que a pr6pria lei estabeleceu urn prazo maiur, urn Frazo que o legislador supbs ser necessirio para os cidadaos to- marem conbecirnenlo do Cddigu Civll.

Mas, por ocasi%o da publicag%o do C6digo C~vi l , surgiu esta dificuldade :

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Sbbre a disposi$io do a r t . O 9." e a sua re la~ao corn o 0 C6digo Civil d urn diploma grande, n%o podia ker pu- blicado num s6 n61nero da fblha oficial. Foi publicado em ndmeros sucessivos. E, depois, preguntava-se : quaodo 8 que a C6digo Civil entra em vigor? Seis meses depois da publicagio da primeira parte ou seis meses depois da pu- bl ica~ao da 6ltima parte?

Houve hesitag6es e, por fim, resolveu-se que entrassa em vigor seis meses depois da publica~ao da i t i m a parte.

Para evitar estas dificuldades, jP o CBdigo Comercial de l8B8 e o C6digo de Processo Civil, receotemente publica- do, em vez de estabelecerern um praza de seis meses eu pa- recido, marcaram o dia fixo da sua eutrada em vigor. E , as- sim, o C6digo Comercial de 1888 eatrou em vigor em 1 de Janeiro de 1889 e o CBdigo de Processo Civil em 1 de Outub~o de 1939,

Oulras vezes, d i se o contrario. Uma lei contim uma rnedida urgente, e entao o legislador elirnina o periodo da .~rucatiu legfsx ; a lei eutra imediatarnente em vigor. Acon- tece isto corn muitas leis em cujo text0 se diz: .Esla lei enlra imediatamerrle em vkpr .

De maneira que o preceito do art.O 1 . O do decreto u." 22.470 contem 0 periodo normal em que a lei entra em vi- gor. Mas, pode acoutecer que urna lei estabele~a urn pe- riodo maim para a entrada em vigor da lei e, ao conhririo, que ulna lei diga que entra imediatamente em vigor.

Depois de a lei entrar em vigor, obriga todos os cida- dZos, sem que ninguim se possa eximir ao seu cumpri- mento, com pretexlo de ignorgucia dela su do seu desuso- diz o art." 9.0 do Cbdigo Civil.

tc Ni~zgu6rn exirni $-st rL curnprir ns obrig-ar&s impostas pur L7i, rim 0 pref&.rfo de i.pnoriincia d ~ s t a , ou corn o do sell des~rso*.

E' o velho principio . *lgnororifla jrris neo i a ~ m ex- cusats.

ai-I." 659." temos de falar novamente, Na verdade, diz &ste artigo que co i r r , ] de direito

acBrca cia cousa produz nulldude, salvo nos casos em quz n lei ordenar o contrarioo.

Parece haver uma aparente contradigSe. NSo ba- como mostraremos.

Depois de feita uma lei, de promulgada, de publicada e de passado o periodo da uvacatio legisr, ela entra em vigor dum mod0 absoluto, nZo podendo nioguim eximir.se

sua fbrqa obrigatbria, corn fundamento na ignoriocia desta ou no seu desuso, como ja dissemos, ao iolerpretar o artieo 9." do C6digo Civil.

Antigamente, no nosso Direito e, ja antes, no Direilo Romano, deternrinadas categorias de pessoas esiavam dis- pensadas do couhecimento da lei: eram as cr ian~as, as mu- Iheres, os rlisticos e os soldados.

Mas isko trazia petturbaqties sociaij, porque quem se via acusado de 1150 cumprir a lei tinha sempre .uma defesa - a de que nao conhecia a lei. E, para evikar ess-AS pertur- ba~6es , us C.63igos moderoos, desigoadamente o oosso C6- digo Civil, no seu art. 9.", diz que ninguCui pode eximir-ae ao cu~nprirr~ento da lei cum fu~danleato na jgnorivcia desta ou no seu desuso.

Para a compreeusPo desta disposiqilo, quero falar-lhes do sigoificado da express20 pretuxla.

Poderia parecer que, se ninguem pode exirnir-se ao curnprirnento da lei con1 o pretext0 da iguorincia desta, quando a ign3raucia fbsse verdadeira, real, 050 seria pretex. tada e, por conseqiiCacia, u m s ignorancia verdadeira erimi- ria da obrigaCao d e cutuprir a lei, Mas o3o e sssim.

A palavra prete?ctcl eucoutra-se no arligo 9 . O para signi- ficar fulladarrrcnto. Corn prett!xlr~ du ignflrnncia desfa quere dizet cotn fundamento na ignilrancla desta.

Em segundo lugar, quero dizeh-lhes que o desuso nZo

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revoga a lei, 0 desuso e urn costume contra Isgem; e, como ja lhes disse, o costume contra legem ngo e font= de direi. lo. 560 costume secuadurn legem e o costume praeter legem 0 sao,

Na direilo franc&, n%a ha urn preceih expresso como o do artigo 9 . O do nosso Codiga Civil, mas, ainda assim, a generalidade dos escritores de Direito diz que o desuso nZo revopa a lei,

Eu disse : a generalidade dos escritores de Direito, por- que n8o e essa a opiniao de todos eles. Ha, por exemplo, urn, que Loi professor de Direito Civil na Sorbonne, na Fa- culdade de Direito de Paris, -- Beudanl - que, no seu I Cours de Droit Civil Fran~ais*, ensina que o desuso revoga a lei, e cita exemplos.

Assim, diz &le: no seculo X7II foi promulgada urna lei, em F r a n ~ a , que prolbia fumar. Essa lei nunca foi revogada por outra lei ; no entanto, hoje, fuma quem quere em Franqa, e ainda ruais a s mulheres que os hornens,. ., prova de que o desuso revoga a lei.

Tambkm, no tempo da Revolu~go Francesa, aparectu uma lei que impunha ao Estado a obrigaqFio de educar os filhos das lan~ilias que livessem mais de seis, lei que hm- bkm nunca Ioi revogada. Mas, quando, ha pouco tempo, urn deputado pediu a e ministro que iizesse corn que o Estado cumprisse essa obrigaqgo, o ministro respondev que n b havia verba no orGamento para isso, e que essa lei tinha caido em desuso, isto e, tinha sido revogada pelo desuso.

NZu obstante a opiniHo autorizada de Beudanl, eu sustento, sobreludo, com fundamento no artigo 9." * i n f ine*, que o desuso nzo revoga a lei.

Mas, o que nesta allura do nosso curso e necessirio, i oonveniente, embora tenhamos outra oportunidade para o fazer, 6 o tratarmus da teoaria do acto juridic0 e fazer a conciliaq%o enkre o art," 9.' e o art." 659.',

0 art." 9." diz : .Error juris rrerrtinem excuralr-rNin- guem pode desculpar-se cam a ignorancia cia I e i ~ ,

O art."59." diz : 11 Erroz jr~ris excrrsat.9 - - a ignorancia da lei e de~culpadav.

Eu vou dizer o que 4, Orro de direito hc&rca da causa. Haje, depois de um decreto de 1933, nos arrendamen-

tos novos D senhorio pode aumentar as rendas, o senhorio n%o esta limitado por ~ q u e l a s restrip% impostas pel0 de- creio n.O 5 41 1, autonomia da vontade das partes.

Suponham que havia, como de facto )I&, muitos seuho- rios que deseonhecem essa disposi~30, e que urn senhorio, s~lpondo que ainda estava eln vigor o decreto n." 5.411, fazia urn contrato de arrendanlenlo corn uma renda igual it randa antiga, coru a renda igual ao mriximo da renda que podia levar de harmonia corn os diplomas aniigos.

esse contrato pode ser anulado nos lerluos do art." 659.", e pode st-10, porque o senhorio foi determinado pe!a ignorgncia da lei, por 6rro de direito, e o err0 de direito i urn vicio que annla oa contratos.

S~rrge, agora, o problema corn loda a nitidez. EnlLo o irro de dircilo, a ignorsncia da lei, escusa ou

nZa escusa ? NBo chega a haver contradigao entre 0 art.0 9 . O e o

art.O 659.0, porque, na verdade, a s coisas passarn-se em planos diversos.

A lei obriga a todos, objectivamente, e um imperativo para todos e, coma lhes disse, urn imperaiivo categhrico, mesmo para cr iagas, para mulheres, para r6sticos e para soldados--para todos. E o plano do art." 9.".

Mas a lei defende interesses criados pela vontade das partes. Assim como h i efeitas juridicos qile 530 produzidas por factos juridicos, ha efeilos juridicos que sS[o prodirzidos por actos juridicos ou neg6cios e s%o determinados pela von- tade.

Ora, para os negdcios juridicas, a vontade e urn ele- mento eqsencial, assim coma para os contratos e mdtuo consenco, que vontade e, C elernento essential, como podem

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verificar pela doutrina do artigo 643.0, ja atraz apresenlado.

Notem isto: o nosso C6digo Civil tern uma lenria geral dos contratos, n8o contirn uma teoria geral do negicio juri- dico ou do aclo juridico; mas, por analogia, aplicamos a teoria geral dos coniratos aos negbcios jnridicos, ernelatis mrdtandisn. isto e , fazendo as aitera~iies necessarias.

No contrato, o elemento essencial B o mdtuo consenso, isto 6 : no contrato h i mais do que urna vontade (ou mais do que duas vontades), vontades antag6nicas1 voutades com que cada uma das partes defende os seus interhses, vontades que se encontram para fazer o contrato, constitufndo o mu- tuo consenso. 0 mlituo corrsenso 6 a vonfade de um e de outro. B o que a expressgo quere dizer.

No negdcio juridico ou no act0 juridico, pode haver uma sS vontade. Por exemplo, um lestamenta e urn negocio juri- dico unilaleral. Ha so a vonlade do testador a considerar.

?or conseqii&ocia, uos actos juridicos, o elemento essen- cia1 u3o 6 o m6tuo consenso, como diz o art. 643." a-respeito dos contratos, mas s i m a vonlade.

A vontade porPm, 6 urn elemento essencial, urn presu- posto necessario. Faltando a vontade, deixa de ser d i d o o neg6cio j uridico.

For isso, quando no negbcio juridico ou no contrato (art. 649.0) a vontade es t i viciada por Erro de direito qut a determinou, falta e presuposto vontude, falta urn elemeoto essencial do neg6cio juridico, e, conseqlentemente, a art. 659." permite a anulaq3o do centrate. N6s diremos mais: permite a anula~ilo do neg6cio juridico, porque ha urn &rro de direito que determinou a vontade.

As coisas passam-se neste plano : abjectivamente, coma imperativo categhrico, a lei obriga a todos (ark 9 . O ) ; subjec- tivamente, quando ha necessjdade de considerar a vontade das partes, entiio, se a vontade foi viciada por Crro de di-

reito, compreende-se que &sse krro de direito possa deter. minar a nulidade do act0 juridico.

Curno vsem, nBo h i nenhuma contradi~zo entre o art. 9." e o art. 659 ' e a lei, passado o period0 da avacatio le- g i s ~ , entra em vigos para todos, sem exeepq8o.

Ha, porem, uma situaq8o confusa. 0 s Senhores, se abrirem uma coleccgo do aDiario do

Gov&rno*, enconlram Ireqiientes vezes uma publica$lo reclificada : *l-'ubls'ca~do rcctificada da lei tol*, .Publicrr. @o rectificada do ddcreto t a l a . . .

Antigamente, isso fazia.se de mod0 cadtico. Apareciam no ~Diar to do Gov6roo~~ diplomas rectlficados sern assi- natura de ninguim, anonimos. Outras vezes, apareciam di- plomas rectilicados corn a assinalura do chefeda reparticso, outras vezes, corn a assinalura do Secretario Geral do Minis- terio, outras vezes, corn a assinalura do Ministro respective.

Ora, tudo isto 6 incorreto. E, para evitar esta anarquia, que mereceu t3o rigorosxs criticas so falecido pro~essor'losb Tavares nos 6Principios Fuodamentais de Direito Civil., apareceu o art. 6." do decreto n.O 22.470 a dizer :

~ Q u a n d o haever divergincia entre o lexfo decretado e o publicado, cornpets ao Presidente do Conselho ordenar e assinar as ~tecessdrias rectifitagOes~.

Hole, seguuio esta disposigao, as rectifica~8es t&m de ser ordenadas e assinadas pel0 Presidente do Conselho. la nao 6 o cbele da repartiqao, nem o Secretario Geral do Mi- nisteris, nem o M~nislro respeclivo, mas, apeoas, o Presi- dente do Conselho, quem pode ordenar e aasinar as rectifi- cagaes.

0 Presidente do Conseiho da uma cerha autenticidade i rectificaq8a.

mas vamss ver quando 6 que ha Illgar as rectifica~fies. 50 devia haver rect~ficacao, quando a publicaqiio no

~ D i i r ~ o do Govbrnos n8o correspondesse ao texto original da lei.

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Urna lei, cclrno as Senhores sahem, d formada, depois iiisciltida e voiada pela Assernblea Nacional e em seguida p~~oruulgada e assinada pelos Ministros, assim como um de- cl.eto e votado e assinado pelos minislros. Depois, vai para o ~Diario do GovCrno* e, par frm, o texto original e arquivado.

56 quando houvesse diverghcia enlre o tevto original e a publicaq~o do aUi6rio do Gorernou C qne devia haver, na verdade, iectifica@o.

E essa dirlere&ncia podia ser mais ou menos prolunda, Podia ser ulna divergencia de orlografia: de pontua~Zo, ern suma: uina graiba tipografica, e podia ser uir~a divergencia de texlo, que 6 uma divergbncia ~nais fundamental.

Mas, o que e certo e que estalnos rio coriume dc fiizer as rectificaq8es, ainda mesrno quando o pensamento do le- eislador nLe foi traduzi~io fielrnente na lei. Quere dizer: em- bera n2o hhja divergencia entre o kxto originai arquivado e a publicaf30 do *DiBrio dc Gove~no:, se, porventu~a, se veri- iicar que a lei nZo correspondeu ao pensamento do legisla- dor, faz-se urna rectifisa$io,

E' uma falsa rectifica~$lo. Assim como h i pkrolas falsas, tambern ha rectifica@es

falsas. Mas, e m suma, chamam.se rectificac6es. Ora, a quest30 que surge 6 esta : Quando h i urna rectificaqgo, desde quando eotra a :ei

em vigor? Depois de passada a avacatio legis1 da primeira publica~Bo ou depois da segunda publicaqzo?

Houve quem sustentasse que, a maneira do que o art. 8." diz, a-respeito das Leis interpreiativas, qile ttm efeito retroactive, tambim a lei rectificada passava a vigorar desde a pri~neira publicagZo, porque a rectifica~so e ama interpre- la@o da pritneira publicaqgo.

Diz o art. 8." do C65igo Civii ao trakar da aplica@o das lcis no lt1ilp3, o u cia sucessSo das redras de direilu civil:

A ki civil I ~ Q O tern efeito rrlronctl~~o. Exczptaa-s: rl lei

ifit, rprefatira, n qitul i uplicudu retroactivarnetite, salvo se &ssa uplccn~u'cin resrclta ufetisu de idlreitos adqnir idos~.

Mas essa doulriaa nZo e exacta, pel0 que n8o a pode- mus aceitar,

Vamos ver que e, assirn, como eu digb. H i , mmo virarn, duas especies de rect i f ica~?~, ou an-

tes: urna verdadeira rectificasPo e uma falsa rectificacao. A recHTicaq.Ro d verdadeira, quando h i divergbncia en.

tre o texto original e a publicaflo do 4Diario do Governom. Mas, cotno o que da fbrqa a lei nZo e a pubblieaqgo no

~ D i i r i n do Guv&rtio~~, Inas sim a sua promulgaqgo e a sua publica~%o, conforme, poreln, o oridiaal assinado pel0 Presi- denle da AeplibIica e peios ministros, quando se trata de urna verdadeira reciificaqgo, isto 6, quando ha divergLncia enire o original e a pubIica$io no *DiPrio do Gov$rnoa, a le i puhlicada nZo tern validade : i urna lei que n2o foi pro- mulgada ; e uma lei, para ser vilida, precisa de ser prsmul- gada. Por conseqlitncia, a rectifica~go n8o 6 urna interpre- taqHo.

A segunda publicaqzo, a publicaqao rectificada, vem a ser a verdadeira publicaq80 conforme o original; e sem pu- blica~go, b e n ~ o sabem, n2o ba lei.

Portanto, s6 a partir do momento da segunda publica- @o, da publicaqgo de harlnonia corn o texto original, que tenlos lei ; so a partir dPsse mornento 6 que a lei fanha vi- gor, vigcncia, ibrqa obrigatbriia.

Mas vamos ao segundo caso, ao caso da falsa rectifica- Go.

Fez-se urna lei, que foi assioada peIo Presidente da Re- pdblica e pelos ministros e publicada no ~Diario do Governon confor~ne o original, fielrnente ao origiual. Mas verificou-se, depois, que essa lei nZo correspoodia ao pensamento do le. gislador, aquilo que o legislador quiz, A sua vontade. E fez- -se, eiifio, uma faisa rcctiiica~3o. Fez-se urna lei em que se mudou o texto, o contelido da primeira, islo 6 , urna lei que

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alterou a primeira. Estariios perante unla nova lei. E, Goma uma lei tern de ser feita, promulgada, publicada el so depois disso e ap6s a avacatia legis., e que entra em vigor, tra- tando-se de uma nova iei, como s e trata, k sb a partir da seguoda publica~8[o que a lei entra em vigor.

Seja como for, nunca podemos apIioar a rectifica~lo o disposto no arb. B.', nunca podernos considerar a nova publi- ca@o rectificada urna interpretaq80, uma lei interprelaliva da lei antiga. Sempre, em arnbos os casns, eta sh enlra em vigor depois da publica~go rwtificada

A lei para entrar em vigor, como se disse. e feita, pro- mulgada, publicada. Mas o vigor da lei tarllbem caduca. A obrigatoriedade da lei tern termo.

E m regra, a vigencia da lei termioa pela revogaqno da prcipria lei.

Eu digo em regro, porque, excepcionalmente, a lei pode vm caducada a sua obrigatoriedade, por virtude de circuns- idrlcias intrioseas i mesrna lei. Isto, porim, asontece e x c e p cionalmente.

Suponbarn os Senbores que Loi agora publicado urn di- ploma legislativo para vigorar durante a guerra.

Evidentemente, logo que termine a guerra, &sse diplorna deixa de vigorar em virtude de uma circunslAncia intrinstca ao pr6prio diploma, sem ser necessiria uma revogaqao.

Mas a revoga~go duma lei pode ser total ou pnrcial, Se e total, chama-se abrogaqgo ; se parcial, chama.se derro- gaq3o.

E a revoga~Ho, em regra, faz-se par meio de diploma que r t g d a oo disciplina diversamente aquela r e l a ~ % o que estava diseiplinada por uma lei anterior.

Mas, tambim, pode acontecer, embora exceptional mente, porque nXo 6 costume, que a revogaqiio se limite ao facto da revogaqao. Quere dizer : pode haver um diploma que Jiga: ~ D e s d e A t a mamento, jica sem vigor a lei talb,

t nso se disciplina diversalnente a re la~go social. A lel an- terior revogou.se por urn diploma que se limitou a fazer revoga~8o.

A revogaqso pode ser exprersa ou tacita. A revogaC%o e exprtssa, quando o novo diploma diz:

* Flca rt v o ~ a d a a lei lu la . a Ficn revogado o drcretir t a b ; quando no novo diploma s e indicarn os diplomas que ficam sdm vigor, por virlude d a sua publicaflo.

fi A revogaGXo i tdcitn, quando o novo diploma e incorn-

pativel corn outro diploma antigo. 0 s diplomas anteriores que sejam ~ i n ~ o r n ~ a t i v e i s cam o novo diploma ficam tacita- rnente revogados,

A t i ao decreto n." 22.470, de 11 de Abril de 1933, aiada havia uma outra especie de revoga@o: era a revogapn tacita por modo expressso. Havia, portanto, a revoga~Ze, expressa, a revogafZo tacita e a revogaq%o tacifa por mod0 expresso. .

Era freqtlente - os Seuhores conhecem a f6rmula -- dizer- se no lim do diploma : FLca revogadn a legisia~ao em contrdrlo~ .

Isto e urna revogarBo tacita por modo expresso. N%o se diziam a s diplomas revogados, dizia-se que ficava revogada Ibda a legisla~zo em contraria, quere dizer, lbda a legisla- @o incorn~ativel com o novo diploma. Mas a incompatibili- dade entre o diploma anterior e o posterior C que faz a re vograqao tacita. Tratava-se, assim, d e urn modo expresso d t revoga~Po taciha. Era urna revogaqao superflua, porque, se havia incampatibilidade, havia, conseqiicntcmente, revoga~lo.

No entanio, esse mod0 expresso de revoga~go tacita foi baaido pelo art. 10." do decreto n." 22.470, que diz :

aSd podenr ernpregar.se nos dipionirls de curacter 1 - gisktivo fdrnlulas de r e v o p $ l i n expressao.

Par conseqU&ncia, nos actuais diplomas ja ngo se encon- Ira a fbrmula: <Pica rt17ogrPda a Legtslagas ertz c o n k d r i o ~ .

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12." Oas tontes do D i r e i t o (cont.)

q) - A doutrlna da n€io.retroactividade dh lei.

-Varlas teorias que procuram ex- plicar o concelto da n80-refroac- tlvidade das leis.

- As teorlas recenfes mals precio. 98% : A teoria d o direito adquirido e da mera espectatlva ; A teoria do dlrelto e d o interbsse; A teoria da s i t u a ~ a o jurldica ob- jectlva e da situaceo jurldica sub- Jectlva ; A teoria do facto passado.

- Motivos da nao a c e i t a ~ a o destas teorias.

Na ultima sessgo qqu precedeu as ferias, se bcm me recordo, falamos da vida da lei,

A lei forma-se; 6 prornulgada; 6 pablicada; surge a avaeatio Iegis~; enlra em vigor, e, por fim, i revogada Regra geral, i revopada por incompatibifidade corn outra lei, que vem regular as mesmas situaqaes juridicas.

Surge, agora, urna outra questgo, A lei nova aplicar-se ha a todos os efeilos do facto

pasrado, isto i, praticado na vig&ncia da lei velha, contanto que se tenha realizado aa sua vipencia ?

Esle problema i o da ngo-retroactividade da Iei, pro- bletna que, no dizer de Merlim, levanta unla das questBes mais complicadas e dificeis do Direito.

Na verdade, se estudarem tsta mattria, encontram teo. rias is dezenas para resolver a tal questao da nZo-retroacli- vidada da lei.

Logo ap6s a ptiblicac%o do Cidigo Civ~l, em 1870, me Prece, se publico~i uma tese s6bre esta questzo.

A teae chama-se nQrlesldes transitdrias do D i r~ l to Clvlda, feiia pelo que Loi mais tarde professor Dr. Paiva Pita, vulgo d o Padre Pita*, que ainda conh2ci em Coimbra nos meus tempos de estudante, ja professor jubilado.

Ai encontrarao noticia de dezenas de teorias sbbre esta questao da n%o-retroactividade da lei.

De entre as muitas teorias, h6 qualro que moderna- menle tern tido mais celebridade.

S%o elas : n) a teorl'rr: ria direito adqurrido t , da mPra expectatiira ; 0) n korra do direito e do interbssr; c) a teorio dns sitrra~ii~>s jnridicns subjectivas e

objectivas; d) a teoria do facto pnssodo. E poderei acrescentar ainda, a essas teorias uma outra,

que me parece a preferivel, e) n fear-ia du sdfrra@o juridicu a6structa e da sifna-

g&o jrcridica concretu.

a) A teoria do direito adquirido e da mera espectativa i uma teoria que encheu todo o sicuIo passado, que ainda hoje lem rnuita voga entre 116s. E' a teoria que, em regra, i susteolada nos nessos tribunais e delendida pelos nossos hornens do fbro.

Partiu-se do pressuposto de que eqta teoria B que tioha orientado s legislador do Cidigo Civil portuguts, no artigo 8." que, come ja sabernos, trata da nso-retroactividade das leis, da aplicavgo das leis no tempo, i s b C, da sucessao das regras de direiro civil, pois preceitua que na Id civil nEo tern ejrito refroacfivo. Exccptrca-se a lei infrrpretnti~~a, a qual i aplicada r~froactivamente, salvo st= dtssa aplrca- 680 reslzlta ofensu de direifos adguirrdos.~

Na verdade, aqui, fala-se de direitos adquiridos. Mas,

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se aliaiisarem bem este artigo, verificam que nZo t esta teoria que pode ser aceite por n6s a face da referida dispo- si@o legal,

0 arligo 8 , O tern tr&s partes. Primeira parte: * A lei n%o tern efeito retroactivo.. . r Segunda parte: K.. .exceptua-se a lei interpretativa, que tem aplicaf20 retroacliva . . P Ter- ceira parte: =. . .salvo se da sua aplicag%o resultar ofensa dos direitos adquiridos>,.

Como v&em, ha irks partes nesseartigo. E tarnben~ nkle h i dois conceitos diversos de retroactividade.

Ha urn conceito para as leis interpretativas, Segundo o artigo, as leis interpretativas tern aplicaqao

retroactiva, salvo se da S U P aplica~go resultar ofensa para os direitos adquiridos.

E ' urn conceito. H i urn conceito mais amplo da retroactividade para

as keis em geral. Para tbdas as outras leis o art'go apenas diz que nso L&m efeilo retroactivo.

Por conseqiiCncia, a doutrina do direito adquirido e da mera espectativa k urna doutrina adequada ao conceito de nih.retroactividade em relaggo as leis em geral.

NLO obstante, -repito- esta teoria dos direitos adqui- ridos e das meras especlativas t teoria ainda hoje domi- nante entre n6s.

Eu preciso, aqui, de lhes dar uma informaggo. Ja numa l i ~ a o anterior, disse o que deve eniender-se por

leis inlrprelafivas. S%e leis que dPo o significado durn termo ernpregad~ na lei ou nos actos juridicos. E , como exemplo de leis interprelativas, citei lhes, ate, o artigo 377.0, onde vimos que eqrrantlo na lei clvrl ou rros artus F confratus se usrrr da e.upressdo-b~ns e coisas rrnobifiurias-, sern oufra y un[if?cnrZo, catttprerr/de?'-sr-do ~lclrr, tanto os qnc sfiu irnu'lqt>is por niiflircza ou mcrlinrlfe a n r ~ d o (lo i~omern, rorno os qltc o s@o por rlisposi~nh da lei. Qrranda sc r m r

s,!mplesrnenfe da e.t/~)essZo -inlLtr,ris, roisns orr bens ifnd- veis-, eslrz e.rprPss@o si~r/tificicnma sd os qrlc o s8o por rratureza ou tnedinnfe a acpio do fionzetrr B.

Como vbem, essa disposiqgo kinterprelativa, porque nos diz o significado da expressgo bsns ou coisas Imobili~rias e irndveiri.

Mas, quando no artigo S se fala ern leis inlerpretati. vas, quere-se dizer urna coisa urn pouco diferente.

Segundo o arligo 8.", lei interpretativa deve ser a que interpreta de modo auttntico uma outra lei anterior,

N%o podia passar adiante sem Ihes dar esta informa+o.

Como ficou dito hP, modernamenie, quatro teoriag que se propoem definir o que deva entender-se por nrio-refroac. UvIdade das leis.

18 vimos que a teoria do direito adquinido e da mera espectativa nLo convim, conborme o dispbsto no artigo 8 . O

do nosso Cbdigo, embora nesle artigo se fale em direitos adquiridos.

Mas, nlo e essa a inica razlo. E' que h i uma certa imprecisgo em distinguir entre

direitos ndquiridos e meras esptctalivas. E ate se pode d i z e ~ mais: pode chegar-se a dizer que todos os direitos sPo adqu~ridos, que n%o ha direitos que ago suponham a sua aquisiq%o por parte de urn sujeito e que o direito n%o adquirido ainda nBo i direiio.

Se n b fbssem estes inconvenientes, um de ordem legal, que e o artigo 8.0, o outro de ordem 16gica, que k a imprt- cisso, esta teoria seria uma teoria aceitivel. Assim, teremos de a pbr de reserva, o que Ihe faren~os desde j i .

b) - Vem depois outra teoria: C a teoria do direito e do inieresse.

Esha ieoria tern a imprecis30 da anterior. Mas, alCm dessa imprecisso, ha uma outra raz%o para a pbr de resex. va tambim. E' que na maior parte dos casos o direito n%o

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L sen30 o interksse juridicamente protegido, e, portanto, confunde-se o direito com o interbsse *Ipso facto., 1130

p~demos estabelecer uma teoria que se baseic na distincgo entre direilo e inter&sse.

c) -Temos, entao, uma terceira teoria: a teoria das siluas6es juridicas subjectivas e objectivas.

Esta teoria surgiu na escola realists, de que t chefe Duguil.

Esta escola nega a existencia de direitos subjectivos. Direlto slcbjzctivo 6 o poder de uma vonlade sbbfe

outra rontade. 56 se pode admitir metafisicamente, Esta bierarquia de vontadea nza e urn conceito cientifi-

60. Devemos, par conseqiitncia, regeitar, dizem, a no@o de direito subjeetiro.

Em rez de direito subjective e ohjectivo, criaram as s i tua~aes juridicas subjectivas e objeclivas ; umas, gerais, as objeclivas, outras, parti~ulares, as subjeclivas, E criaram sbbre esta distioqPo enire situag6es juridicas subjectivas e objectivas uma teoria de aplicaq~o da lei no tempo, criaram a doutrina que serve de criterio para determinar o conceito da nao-retroactividade da lei.

Tambim, esta doutrina merece hoje os meus reparos. Digo: umerece hoje os meus reparosb, parque nem sempre fui da mesma opinizo.

E' a doutrina seguida pelo vosso professor de Dirtito Constitucionai, que a defendeu primeiramente no acto juri; dico, uma das suas teses; que a defeudeu depois no Bole- tim da Faculdade de Dirello, ano IV, em artigo por @le feito, e creio que a deleude ainda nas Ll~ars de Direito CosslitrrcionaL

Para &sse professor, como alias para Duguit, a situa- @o juridica subjectiva i emergente de urn acto de vontade praticado ern exercicio d u n poder legal. E' esle acto de vonlade que faz a subjectiva~ao da situaczo jaridica. Mas, bste facto e conlestavel. Nem todos os actos de vontade

pratiaados no exercicio de urn poder legal criam s i tua~aes juridicas subjectivas e, ao contrkio, hA situa~Bes juridicas subjectivas que parece ernergirem dum facto juridico, quere dizer, duma eveutualidade material, sem qut seja precis0 em acto de vontade.

N6a deveremos no decurso deslas lic6es, quando tra- tarmos da teoria do acto juridico, referir a dis t in~ao que ha entre facto juridico e acto juridico.

0 act0 juridico i urn act0 de vontade dirigido no sen- tido de produzir efeitos juridicos.

0 facto juridico e uma emergencia, urna tveotualidade que produz efeitos juridicos. Por exemplo, o nascimento produz efeitos juridicos, no entanto n%o bB aqui urn acto de vontade. A morte produz efeitos juridicos, no entanlo n%o ha aqoi, tambhm, acto de vontade.

0 mero decurso de tempo, lambdm produz efeitos jurf- dicos, indepemdentemente de qualquer acto de vontade. Este evenlo material, produtor de factos juridicos 6 o que se chama urn facto juridico, ao passo que no acto juridico h i sempre urn acto dir igid~ no sentido de prodezir urn efeito de direito;

Notem be^, no entanto, que b6, tambim, a not$o gee- nirica de facto juridico, compaeendendo todos os erentos materiais ou actos humanos produtores de efeitos juridicos, sendo, por csoseqGocia, o Iacto juridico, o gtnero, de qae o aclo juridico sera uma especie, pois ba situag6es juridi- cas subjectivas que emergem do pr6prio facto juridico, sem que haja necessidade, contra a teoria a que nos virnos refe- rindo, de urn acto de vontade.

Vou dar-lhes um exemplo. Morre urn ade cujusu set11 testamento. 0 ~ d e c ~ j l c s ~ quere dizer caulor da heranpar. Como estamos numa cadeira do 1.0 ano, nurna cadeira

de iniciacao, eu quero dizerslhes porque e que re chama sde cujusr ao autor da heran~a.

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No direito romano empregava-se muitas vezes esta fbrmula: 8 1 s d t cujus snr~esslone agitilrr: caqutle de cuia sucesslo se t r a t a ~ .

Comn v&em, essa expressao, que at6 parece latim bar- baro - uma preposi~Bo a reger genitivo (!) - mas que d t facto 6 latim correto, porque a prepoai@o rege ablativo SUC.

cessionc, i urna abrerialura daquele texto latina e significa autor da heranga.

Com dizia, rnorre urn ~ d e C U J U S ~ sem testamento. Tinha mulher e tinha irmlos.

No dia em que morreu, vigorava uma lei, que eslabele- eia prefercncia dos irrn%os sbbrt a rnulher.

No dia seguinte, veio uma lei que dava preferkncia A rnulher sbbre os irmHos.

Isto sucedeu enlre nos. At6 31 de Outubro de 1910 havendo irmacls e mulher, hsrdavam 0s irmgos de prefergn- cia Zi mulher Depois do decreto de 31 de Outubro de 1910, e ate ao decreto 19.126 a mulher passeu a ter preferkncia sbbre os irmsos.

Hoje, depois dkste Cltimo decreto, que entrou em vigor no dia 1." de Janeiro de 1931, os ireiios tornaram a tcr pre- fertncia sdbre a mulher. No entanlo, a rnulher ficou com o direito de usufruto.

Mas, vejam: No dia em que morreu o ade cujus*, cram herdeiros legitimos os irmiios. No dia seguinte, veio uma lei que deu preferencia ?i mulher.

fois bem. essa lei nova n8o s t aplica a essa heranqa ; iporque o direilo dos irm%os esla subjectivado, os irmaos estlo numa situac%o juridica subjectiva, proveniente dum acto de vonlade?, n%o, porque ngo havia testamento por vir- tude apeuas durn facto juridico-a morle do xde CU~USI.

Admitamos, por hipblese, que niia 6 ppreciso acei ta~so POP parte dos herdeiros.

Essa subjectiva$Zo nasceu durn facto juridico, indcpen- dentemente de qualquer acto de vontade. E, portanto, por

tsse !ado, a doutriua das situaqties juridicas suhjeclivas e objeckivas mete agua.

Mas, h a mais. Quisi sempre, as siluaq6es juridicas subjectivas, existem a-par-de situag6es juridicas objecli. vas, n;lo podendo existir si tuaqso j uridica subjectiva sem situa$iIo juridica objectiva. E isto 6 uma diFii.uldade para a aplica~go desta tzoria a questgo da aplicaqao das leis no tempo.

Vou dar-lhes outro exemplo. Eu coapro uma propriedadc. Pratico urn acto de von.

tade. Crio uma siiua~%o juridica subjectiva. Por virbude do aclo que eu pratiquei, o vendedor obrigou-se a entregar,rne a propriedade e eu obriguei-me a entregarlhe o preFo.

Mas, a-par-desta situa~go juridica subjecbiva, surge urna situaqao juridica obje~tiva, a situa$%o juridica objectiva do proprietario, fico sendo o propritt6ri0, fico ooostifuldo no eslado de proprietirio, fico tendo os poderes d t uso, de frufczio, de defesa, de exclusao, que tern qualquer ouiro pro- prielirio: fico, portauto, tambem, uuma situa@o juridica geral, objectira.

For essas razfies, eu creio que e convenieute pbr de reserva, tambetn esla teoria.

d) - Vamos A quarta teoria : a teoria do facto passado (fncburrr prneterifurn}.

Esta teoria, aprimo couspectu~, pode enunciar-se assim: a lei nova s6 se aplica a factos novos, nlo tern aplicac8o a facios passados.

Mas, exposla assim, corn esta simplicidade, corn esta quasi inge~luidade, esta teoria d uma superIacta~%o, uma banalidade.

Que a lei nova se apiica a factos prestntes 6 evidente. O faclo passado t um laclo morto. 0s jurisconsultos n%o podiam criar urna teoria para Bste efeito, para dizerem que urna lei nao se pode aplicar ao que ja e morlo.

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For conseqii&ncia, esla teoria deve ter uma outra con. cepqZo.

0s factos passado3 produzem efeilos, IBm conseqiikn- cias que se projectam na ipoca da vigkncia da lei nova, Esta doutrina procura resolver exactamenle esta quest30 : a lei nova aplicar-se-ha, por ventura, aos efeitus, as conse- qfiencias durn facto passado que se projech na Cpoca da vigencia da lei nova ?

E, vista a queslao atravis esta concep~20, oferece ja muitas hssitap3es.

Corn eleito, os sequazes desta teoria, que sHo muilos, - Planiol, Vareilles-Somier, na Franp , Daneburg, na Ale- manha, Ruggiero, Ferrara, Abello e Coviello, na Italia -, tern cada urn deles a sua concep@o diversa a-respeito da aplicaqao da lei nova 8s conseqii$ncias da fact0 passado, e dai resulta uma certa hesi ta~so e incerteza.

Planiol, 1 4 ) por exemplo, ten1 esta concepq3o limitada : a lei nova nio se aplica aos factos passados, o que e evi- dente, e nao se aplica, tambem, as conseqii&ncias jB pro- duzidas do fasto passado,

Mas, ji, por exemplo, Abello e Coviello nZo tLm esla concepq80. E o nosso prof. Cabral Moncada tern esta outra concepcgo a-respeilo da aplicaqZo da lei nova as conse- qiikncias do facto passado: a lei nova n8o s t aplica As conseqii~nclas directus do facto passudo, (2) quando da sua

apliea~%o resultaria urn novo conhecimento da validade ou da relevancia juridica do facto passado.

E, assim, a teoria do facto passado oferece essas hesita~fies.

Mas, tern, ainda, urn outro defeito : tanto na concep~Lo de Planiol, como na do prof. Cabral Moncada, parcce-me que ela e uma mera superfactaqao. Que a lei nova nao se aplique aos factos passados, pwque eles jP est%o mortos, C evidente, 020 k necessiria teoria para explica-10. Que ela nzo se aplica, como diz Plaoiol, as conseqii@ncias ja produ- zidas dos facfos passados, porque lambCm s%o mortas, C uma oulra banalidade. Que ela n8o se pode aplicar As con- seqfikncias direclas dos factos passados que irnporlem novo conhecimento da validade ou da relevhcia juridica do faclo passado, isto equivale a ' dizer quz oBo se aplica ao acto passado.

Fior conseqiikncia, por estas raz6es n63 pomos tambdm de reserva esla teoria, a teoria do facto passado (fucfrim pri&rah V I ) .

e) - Vamos, agora, estudar a outra teoria, a teoria que apresentamos pela primeira vez entre n6s, pbsto que oZo seja da nossa autoria e csnstru~3o -a teoria da situag%o juridica abstracta w da situaqao juridica concreta.

(I) Planiol sustenta que a lei nova sb CnSa deve aplicar-st aos iactos passados nem 2s suas consequCncus jb produridos, mas pode aplicar-st: i s ionseqii6ncias e efcitos futuros.

(2) For econseqG6ncla~ director dr fmctor passadosn, diz o prof. Ca- bra1 Moncada, n a obra cit., uZo deve entender-se que 550 quaisquer factos novos que possam vir a achar-se numa qualquer rela~Bo de coarvZo corn 6s primeiros, ou de qoe estes sejam inciusivamente o pressuposto, por fortna quc, se n2o fcissem os passados, os novos liPo se produririam. N%o; por cconleqbenriei da factos po~sados. enteu- dem-se aqui apenas quaisquer ouiros factos que representam uma

~constqiidncia juridica dirccta~~ dos antigos, uma 3espansHo dos seus efeitosa, ou melhor ainda, novos faclos que en20 poderiam scr toma- dos em oonsideraqZo, ou apreciados de novo pela lei nova, sem que essa aprcciaGo (ao regula-10s ela) envolvesse urna aprcciaczo directa da realidade do facto relho.,, de que eles s%o a projegso ou a con- seqiitncia.

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13." Das fontes do Direito (cont.) r)-A doutrina da nao.retroactividads

da lei (cont.).

-I\ teorla d a s situagdes jurldicas abstractas e concretas .

-Prooesso de que se deve servir o interpret0 para qua a lei n%o ienha efeito retroactlvo.

-Conceito de direitos adquiridos determinado pelo conceito de si- tuaQ&es jurldjcas subjectivas.

-0 nosso conceito d e rituapdes jurldicas subJectlvas e situaqbes jurldicas objsotivas.

Notimos atgumas deliciencias das teorias dos direitos adquiridos e das rneras espectativas, do direito e do inte- r$sse, das s i t u a ~ a e s juridicas subjectivas e objectivas e do fact0 passado.

Varnos hoje ver uma oulra teoria-a das s i tua~aes ju- ridicas abstractas e Goncretas, - qwe, prerentemente, t a que mais me satisfat.

Esta mattria esta em evoluq80, ou antes, em elabora- cI0,

Por con.seqd&ncia, e possivel que, amanhi, haja uma outra teoria que rue satisfaqa mais do que esta que vou apresenfar.

Qualquer teoria preferivtl n%o deve cer aquela que satisfaca o nosso sentimento LeBrico ou a nossa especula- qgo pura. E' preferivel a teoria que, satisfazendo o fim da disposiplo do artigo 8.", se case melhot corn o pensamento do legislador. Aqni, o h g d a d e r nZo tern que Lazer mais do que faz qozrddo Tnierpeta oulra disposi~Zo qualquer.

A que melhor quadre, a que melbor st case corn a letra e o espfrito da lei, e a teoria que 116s deremos pre- ferir.

Pode haver, na verdade, teorias que mais satisfa~am a nossa especula$io, a nossa Idpica. Mas, se prventura n8o se poderem enquadrar dentro da lei, nos iemos d t afar. tfr-las.

A mesma coisa acontece, aqui, quanto questao da aplicaflo da lei no tempo ou h teoria chamada da nlo-re- troactividade da lei.

J i lemos o artigo 8.". mas n30 sera excessivo qut o volkmos a ler e a aaalisar.

Pela anAlise deste artigo, verificamos que ele tern ires partts e contem dois conceitos diversos de nao.rtlroactivi- dade.

Primeira park do arligo: a let civil ndo tern cfelto re- troacflvo.

Segunda parte : cxceptua-sc a Lei inlcrpretaliva, que tern aplica@io rttroactiva.

Terceira parte : salvo SE dessa aplica~rfo rcsultar ofctl- sa dos direitos adquirldos.

E, assim, como este artigo contdm trCs partes, que aoabamos de enunciar, tambim tern duao noqaes ou dois conceitos distintos de n%o.retroactividade: urn conctito mais amplo, outro conceito mais reslrito.

Vamos aa conceito mais restrito: excepto a Iei infer- pretativa, que se aplica ratroactivamente, salvo se dtssa aplieaqzo resultar ofensa dos direitos adquirjdos.

Hi urn oonceito de nlo-retroactividade para a lei in- terpretativa : excepto a Lei interpretativa, que se aplicn re- troactiramente, salvo se dessa aplica~fio resultar ofensn de direitos adquiridos.

H i urn conceito mais amplo, contraposto a bste con- ceito mais restrito, que se deduz desta parte do artigo: a lei civil nSo tern efeito retroactive.

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Como estgo a ter, se n8o houvesse dois con- ceitos de nso-retroactividade, a regunda e ierceira partes do artigo eram inGtcis; o artigo 8.0 limitava-se a dizer : a lei civil ago tern efeito retroactivo; e aplicava-st t s te prin- cipio a todas as leis, quer fbssern inttrpretativas, quernno; fbsse qual fbsse a natureza delas.

Mas a lei estabelece urn conceito de ngo-retroactivi- dade para as leis interpretativas.

( J i dissemos na outra liqzo o qut s e devc enteader pot leis inlerprelativas, - aquelas que dao uma interpreta- 6% autbntica de oulras leis mais antigas, hnteriores).

E lem outro conceito, mais amplo, que k o que consta da primeira parte do artigo 8.",

Ora, qual seria o senlido em que o legislador empre* gou a express30 anao-rerroaclividade, 7

Com r e l a g o A segunda e ierceira partes do artigo, corn relafio As leis interpretativas, o legislador quis significar corn o seu eonceito de n%o-retroactiridade q u t a lei se re- troaativava qaando ofendesse direitos adquiridos.

For conseqii&ncia, em rela~Oo a esia parle do artigo, e evidente que a legislador teve presente a teoria dos direitos adquiridos e das meras expectativas.

Mas, qual foi o conceito que o legislador teve presente de n%o-retroactividade na primeira parte do artigo-a lei ci- vil n30 tern tfeilo rttroaclivo - ?

Claro que nZo foi o conceito que nos dB a teoria dos direitos adquiridos e das mzras expectativas, porque D pri- meiro conceito de n%o.retroactividade-repito-C mais am- plo, i mais extenso. E, se nBo foi o signiFicado que nos da a teeria dos direitos adquiridos e das meras expectativas, qual seria o signiflaado que o legislador teve presente

Havia de ser o significado mais amplo -isto C indubi- tavel. Mas qual foi 3

Temos d e excluir a teoria dos direitos adquiridos e das meras expectativas, que s6 s e aphca d segunda e ter-

ceira partes do artigo, que aplica ao arligo 8.' quaado em relettncia h s leis inlerpretativas.

Qua1 sera uma oulra teoria que nos d& urn conceito mais amplo, mais extenso de n3o-relroaclividade ?

A teoria dos direitos e dos interbsses tkm a mesma amplitude, o mesmo horizonte que tem a teoria dos direitos adquiridos e das meras expeclalivas.

A teoria das s i tua~6es juridicas subjectivas e objecti- vas pode-se fazer coincidir, como viramos, corn a teoria dos direitos adquitidos e das meras expectativas,

Ficar-nos-ia, por exclllsao, a teoria dos factos passa- dos. Mas a teoria dos [actos passados, cotno lhes disse, con- siderada aprimo conspectu*, e uma teoria banal, tauto16gica.

Que a lei ngo se podt apriaar a urn facto passado t por d e m a ~ s evidente, 0 facto passado-disse eu e k verdade- e urn faclo morto, Ora, uma lei s6 se aplica i s realidades vivas, nZo s e aplica as realidades mortas.

Considerada, pois, aprlmo conspecbun, esta teoria e tautolbgica, banal, 6 unla teoria tam pouco relevante que n3o merece que o juriscons~~lto gaste tempo corn ela. * claro que essa tearia compreende-se, depcis, como abrangzndo taoto os factos 0omo a s conseqiicncias juridicas directas dksses Eactos passados. E, tnt%o, ja essa teoria ganba importancia, relCvo, jA mercce a consideraqSo dos jurisconsullos. Mas o que deve entender se por ucouse- qiikncias juridicas directas* ?

*Tot capita, quot sententiaeb - ~ s i o tantas as cabccas como as seatenGasp. Por conseqii$ncia, essa doulrina resulta imprecisa E, segundo 6 opiniao de alguns, s t consequ&ncias juridicas directas s2o aquelas que, aplicaodo.se a lei nova, equivaleria a tomar conhecimento novo da validade e da eticiencia do faclo passado, ainda voltarnos novamente a ba- nalidade, A irrelevdncia da doutr~na, pel0 facto de uma lei so se poder aplicar hs realidades vivas.

Lembrei-me, pois, de uma outra doulrina. NSo fui eu

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que a criei, - nao quero empavonar-me corn essas penas. E,' uma doutrina de Bonnecase, que eu adopto, a-pesar.de

. tambem ter inoonveuientes e estabelecer confus6es. Ado- pto-a, porque ela se adapta perfeitamente ao nosso artigo 8.0, dando-nos um conceito de n%o.retroactividade mais amplo, do que o conceito da segunda e terceim parks do arligo como convim ao espirito da lei. Em segundo lugar, porque, a-pesar de confusa, ainda assirn t muilo mais rimples do que qualquer das outras.

Mas, a nossa funcd0 nPo f ia r% par aqui, n8o ficara em dizer que na primeira park do artigo 8.' o conceito de nSo- -retroactividade nos C dado pel0 conceito de situagaes juri- dicas abstractas e s i tua~6es juridicas con~retas , isto 6 , que serd rciroaciiva a lei que se aplica a silua~ties jurfdicas con- crelas existentes e nZo setti retroactiva se se aplicar sim- plesmente a s i tua~aes juridicas abstractas.

N%o C isso 5 6 a nossa fun~ao. Temos, ainda, de expli- car o que s e deve entender por dircitos adquiridos,

0 conceito de direito adquirido e urn conceito bastante coniuso, muito pouco preciso, como ja dissemos. Precisamos d e enconlrar uma Mrmula que nos dC mais precisZo, que nos elimine tbdas as confusaes, que nos ernpreste rnais rigor juridico a esta expressgo xdireitos adquiridas* .

Lembramo-nos d t traduzir o significado de direitos adquiridos pelo das siluaqaes juridicas subjectivas.

Vamos ent%o ao nos; tmpreendimento.

Que vlrtio a ser slfuaeaes jurldicrms abstrnctas e sikua- Goes jurldcas concreias?

39 fal4mos da lei. Uma lei forma-se, 1 promulgada, C: publicada, entra em vigor. Quando esta em vigeucia i urn elemtnto d c direito objectivo, C direito objectivo, e d l facul- dadcs, e dai deriram iaculdades para os homens.

Pois bem : as situa@es eventuais. tebricas, que resultam da lei como voca~Ke e siro capazes de se aplicar aos homens,

mas que n8o foram aplicadas, sZCo charnadas situaqaes j u r i dicas abstractas.

Mas a lei vigente pode aplicarse merce d e urn acto juridic0 ou de um faclo juridiso. Depois de aplicada, cria ulna situaqiio positiva, ji 1180 abslracta, ji naoeventual, mas ap l i~ada a um hornern ou a urn grupo de hornens, i o que s e chama uma s i tua~%o juridica concreta.

Vejamos a quest30 mais devagar corn exemplos.

Diz o nosso CBdigo Civil no arligo 1 8 . O , no tratar da aquisi~go da nacionalidade portuguesa, quais s2o es cidadgos portugueses.

Esta disposi~ao considerada em si, como lei vigente e sem aplicacao a nenhum homem, cria uma ai tua~3o juridica abstracta em relacgo a todos 04 hamens. Mas d9-se o facto do nascimento. Pox virtude dtsse facto-nascimento, esta dis- p o s i ~ I o aplicou-se a u111 homem que nasceu em Portugal, filho de pai e m5i portugueses. Imediatamente esta situacao juridica abstracda, teirica, passou a ser ama situagzo juridica concreta relativamente ao que nnsceu em Portugal fiiho de pai e rnai portugueses.

Uma outra disposicao: ~Casamento P. o conlrato entre individuos de sexos diferenles corn o fim de constituir l ed- timamente familia$.

lsto 6 uma disposicZo legal, e uma regra de direito, 6 elemento de direito objectivo.

Todos os homens e tbdas as rnulheres podern casar.

Qualquer hornern, desde que tenha a idade nupcial, se pode casar. Mas, enquanto s e n3o casa, enquanto ntlo aplicqu a lei, a regra juridica, a si proprio, esta numa situa- $Bo juridica abstracta, teirica, eventual. E' uma maneira de ser que se pareee com uma vocac3c3.

Todo o homem s e pode casar ; mas, se urn dia casou, se praticou o acto juridico de inlrodu~50 no eslado de casr- do, imediztamente a situaqZo juridica de abstracla passou a

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congreta, a tnaneira de ser te6rica passou a ser ulna ma- neira de ser positiva.

Como 6 enl%o que de uma situa~ao abstracla se passa p a n urna concreta?

E' por w i o dum Iacto juridico ou de urn act0 juridico, Urn facto ou UIR acto juridico apiicados a uma si tua~%o abs- tracts de urn homem ou de urn grupode bomens convertem- -na em situa~Lo juridlca concreta.

Havemos de esludar adiante a teolia do aoto juridico, e, enao , veremos, com precislo, que o acto juridlco e urn act0 de vontade dirigido no sentido de produzir efeitos juri- dicos que podem ser situac6es juridicas subjectivas ou objec- tivas, e que facto juridico t urn acontecimento que tern o mesmo efeito d8 ariar situa~ces juridicas objectivas ou si- tua~ces juridicas subjectivas, numa palavra: situacaes juri- cas concretas. E havemos de ver que entre facto juridico e aclo juridico h i esta relac%o ; urnas vezes -e e o uormal- considera-se o facto juridic0 como genero, ginero que e uma especie o aclo juridico ; outras vezes, considera-se o act0 juridico urn acto de vontade e o facto juridico um acon- tecimento material, ambos produtores de efeitos juridicos, ambos criadores de situagges juridiaas concretas.

Por exemplo: o nascimeato 1180 d urn aclo de vontade, i um acontecimento material, t urn facto juridico.

A rnorte 6 urn facfo juridico. Urn oontrato t urn act0 de vontade, e urn acto juridico. Mas, quando se torna facto juridico como geoere e acts

juridico como especie, en180 facto ju~idico 6 todo o aconte. cimento criador de situltc6es juridicas concretas, ao passo que o act0 juridic0 e o acontecimento voluntirio criador de situa~ties juridicas concretas. Pois o facto juridico ou o acto juridico, ou, de urn modo genkrieo, o facfo juridico com- preende tambem o acto juridico, o que faz que uma maneira de ser tedrica, um poder legal crie direitos e deveres, se aplique a um bornem ou a urn grupo de homeas.

Segundo a nossa teoria, para interpretar o sentido de n%o.retroactividade oa primeira parte do.artigo 8.O, temos a seguinte hirmula : serd retroactiva a lei que se aplique a situaq6ss concretas, ja existentes, sera nSo-retroactiva a lei que 96 se aplique a situac8es abstractas e que respeite situac6es concretas, j i existentes.

Temos, claro, de caminhar corn cuidado, porque, por exemplo, A casou, criou, por isso, uma situay8o juridica concreta, aplicou, criando para kie prbprio direitos e deve- res, a regra juridica que Ihe permitia casar-se.

E casou quando era permitido o divbrcio. Depois, por hipltese, reiu uma lei que p~orbiu o divdrcio. E poderh pa- recer a primeira vista que, se a lei nova nao se aplica a si- tuaCiJes juridicas concretas, se casamento est4 feito, se, quando fez o casamento, havia divbrcio, a lei nova, que proi'biu o divbrcio, nZo se pode aplicar a esla s i tua~ao jnri- dica concreta. Mas temos de considerar, nEo a inrtitujiClo em si, o complexo organizado das regras, mas reara par r e p ; e, entilo, encontrarnos conexas com o casamento muitas outras intitu1~6es; o divbrcio, a separa~lo, o poder marital, etc. Quando A aasou na vigkncia de uma lei que permitia o divbrcio, n%o concretizou a situa#o juridica re- lativa ao divbrcio, s6 mncretizou a,situa@a j n r i d i a relali- va ao casamento. Porque, se &le cxsou ainda na vig&ncia da lei, e pediu o divbrcio e o.div6rcio foi declarado, ainda que, depois, venha unla lei nova que proiba o divorcio, aquele sidad%e &st& divorciado para todos os efeilos, porqne a situa@o jurfdioa dele a-resptito de div6rcio tornou-re coocreta.

Como vbem, ainda assim, a-pesar deste critkrio ser bern claro, i ncctssirio andar corn cuidado, reflectir bem nas soIuq6es.

De maneira que, conforme &ste criterio das situaqBes juridicas abstractarr e das situa~ties juridicas concretas, n6s lemos de ver o seguinte :

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Aparece um easo. Temos de ver, primeiramente, se se trata de uma lei interpretativa. Se se trata de lei inter. pretativa, aplica-se o critirio dos direitos adquiridos e das meras expcctativac. Se ngo se trata de lei interpretativa, aplica se o critkrio das situac6es juridicas concrelas e abstractas. Mas, por um raciocinio la minore ad majus*, corno o que proibe o menos prolbe tambiln o mais se porventura, quando estamos a refletir sbbre se nos en- contramos parante uma si tua~go juridica abstracta ou con- creia, descobrirmos que a ap1ica~Zo da lei Iiova vem ofen- der direilos adquiridos, embora o critkrio 56 seja para leis interpretativas, porque &sse critCrio t mais acanhado, mais limitado, aplicamo-lo lambem a qualquer outra lei.

No art. 8.O, hA duas concep~fies de ago-retroactividade : uma ~nais ampla, outra mais limitada, corno dissemos. A mais limitada aplica-se lei interpretatira.

Mas, se n6s, interpretes, enquanto retlectimos, desco- brir-mas que, embora se trate de uma lei que nil0 6 inler- pretativa, todavia a aplicacgo da lei nova importa olensa de direitos adquiridos, corno o oulro conceito a aplicar 6 mais amplo, e a lei que proibe o ~nenos proibe o mais, nvs fica- mos por ail nlo precisamos de enlrar em mais cogitacbes, porque o conaeito de ago-retroactiridade que se aplica h lei civil em geral C; um conceito mais amplo do que aquele que se aplica i lei interpretativa.

Mas, se o pldprio conceit0 de nXo.retroactividade da lei interpretativa tambtm se pode aplicar ao conceito da lei em geral, escusamos de entrar em mais eogitacaes, em vir- tude do principio - ro que proibe o menos proibe o ma is^. Mas, se n8o virmos ofensa de direitos adquiridos, entao vamoo aplicar o outre critCrio- o criterio das s i tua~aes ju- ridicas abstractas e concretas, 0 que Iaremos do modo se- guinte se aplicando a lei nova, oiendermos s i tua~aes juri- dicas concretas, faremos uma aplica~go rectroactiva da lei.

Ainda neste passo tenho de lhes dizer o seguinte:

Houee quem pcnsasse, yuer no campo da Iegisla~Bo, quer no canlpo da doutrina, que o eleito nPo-retroactive da lei era um preceito cons!itucional, que obrigava, ~r cense- qiitncia, a todo o legislador. Mas, n%o t rtssim. 0 preceito nHo B constitutional, o preceilo C do artigo 8 . O do C6digo Civil. 0 legislador pode respeita-lo ou ngo. Por consequkn. sia, o legislador pode dizer : essa lei aplica-se retroactiva- mente, coniorme a concepcao dele. Mas, se n%o disser nada, enl8o i que se aplica o artigo 8.0.

Esla a primeira parte da f u n ~ % o dtsempenbada. Vamos h seguada parte.

Cotno ja vimos, quando a lei C interpretaliva, o critirio a aplicar 6 o dos direitos adquiridos. A pr6pria lei inter- pretati~a nao se aplica quando da sua aplicacIo resulte ofensa de direitos adquiridos.

Mas o que se deve entender par direitos adqalrld#s? Tern-se escrito bastaule para precisar, expliear esta

n-20. Quem mais claramente escreveu sbbre o assunto foi Gabba, a-respeito da nWrttroactividade das leis.

E Gabba serviu-se do conceito de palrim6nio para es- clarecer o que se devia entender por nll0,retroactividade das leis. No entanto, a-pesar-de todos os.esforcos, sempre ticou irnpreciso, corno ja lhes disse, o conceito de direitos adquiridos.

Mas n6s, em virtude do critirio da nossa lei, em virtude do espiriro do artigo 8.' do nosso C6digo Civil, temos dr. definir, tao precisamente quanto possivel, o que sPo direi- 10s adquiridos.

E, entHr), como atraz ja dissemos, vamos socorrer.nos, para precisar &sse coaceito, daquela outra teoria das situa- ~ 6 e s juridicas subjectivas e objeclivas, e ficark os direitas adquiridos correspondendo as situa~6es juridicas subjectivas e ficarso as rneras expectativas sendo aquilo que na outra teoria se chama situaqBes juridicas objectivas,

Mas isfo ainda nao t a suficiente. Precisamos de dizer

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mais, porque j6 mostramos algumas defisiencias da teoria das siiua~ties juridicas subleclivas e objectivas, tal corn0 geralmente e apresentada.

E, entlo, temos de dar urn outro conceit0 de fiituagabs juridicas subjectivas e de situa~aes juridicas objectivas.

M o k s6 a vo~ktade posta em rnovimenlo, para aplicar a lei, no exercicio durn poder legal, que cria situa~&es ju- rfdicas subjecliras. Parece que a situaqgo juridica subjes- tiva que resulta de Iaclo juridica, isto 6 , de acontccirnento mattrial, neste sentido, resulta da lei sem mamfestapo de voutade.

Tamb6m se dB a iorersa. Por vezes, a.vontade mani- festa-se no exercicm durn poder Iegal, criando, n8o situa- CBes juridicas subjectivas, mas apenrs situap3es juridicas objectivas.

Coao v$sm, winas de modificar o conceit0 de situa~6es juridicas subjecti-as e objtctivas.

Tdda a situaeo juridim que imparta urna aliera@a no tslado civil ou no patrirubio durn cidad%o 6 uma s i tua~lo juridica onbjectiva.

Tbda a situago que awnas determina o quantum de poderes abshctos dam ci&& iavestido num situago ju- ridirra 4 que d.uma sit- juridka objectira.

Como sabem, esta grande questao - porqne C uma rnNrwt questUo - - da apiica~aa da lei ao tempo ou da nlo- -retroactividade da lei tern-par fim, por f undslmento klica- ju- r i d i c ~ , . ~ respeito da esfera juridica de cada urn.

Suponham que uma lei nova podia p.ir tirar a qualidde qae urn cidaAao tern na familia au no Estado, ou que urn lei nova padia vir tirar bens patrimooiais durn c i dadgo. Diriamos que essa lei era perturbadora, que essa lei roubava os direitos do cidadb-

Admitam, mais concretamente, que Amanha vinha unla lei nova que dizia: todo aquele que possua casas na cidade de Lisba, perde-as em faror do Estado. Essa lei diriamos

o b s , diria tWa a gente - prejudicava, roubava o cidadLo E' corn bsse Iundamento dtico+juridico que se diz que a

lei. nso dtve ter efeito retroactive. Pois bem: em virtude destas considerac6es, i qua eu

dksrcque t8da a s i t u w o que trez urna modifica~lo no esta- do civil ou ao pafrimSaio do cidadBo i sabjectiva, e e n t P a lei nova niro se aplica. Essa situa~zo subjectiva, t o que o nosso C6digo chama direitos adquiridos, para a qua1 a Iei nova n8o 8e aplica.

Tbda a situa~go que apenas determine o quantum de direilos qne pertence ao indiuidro investido numa situa#o, 6 urna situaqao juridica objectiva.

0 propriethrio tern testes. e aaqnelesn poderes legnis, o proprietbri) esta investido .numa situagao juridica subjec- tifa.

0 rnarida tern lestes*, qaqueles* e routros* podere82 legais e derercs - esti inveslide numa sitgap20 juridica objectiva,

E entso adireitos adquiridos* seri correspondente5a (siiua~6es juridiuas subjectivas~ e 4 merasexpectativas* serI correspondenfe a gsitua~6es juridicas objealivass.

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14." Das fontes do Direito (cont.)

s)-be aplicagao des lels no espapo ou d o conflito das lels no erpapo.

-Concelto, oonteudo e relevancla do Direita lnternaclonal Privado.

- Crithrlo da a p l l c a ~ a o das leis nor. rnalmente cornpetentes,

--LlrnItaq30 h apllcapao das leis norrnalmente competentes.

Nas iltimas sess6es, ocupamo-nos da aplicaqso da lei no tempo, problerna que tambem se chama do conflito das leis no tempo ou ainda problema da nZo-retroastivadade das leis.

Hoje, vou falar-lhes do problema da aplicaqao dss leis no espaqrr, farnbem designado por probIema do conflito das leis no espaqo.

*Prim0 conspectun, pode parecer que o Estado iaz leis para os seus cidadzos, para os seus sibditos, e para serem aplicadas pelos seus tribunais e pelas suas autoridades ou 6rgaos.

Sendo asaim, a lei seria territorial e a problema da aplica~Bo das leis no espaqo seria sirnplic~ssimo.

Uma lei ap1ica.se no terrilbrio do Estado que a fez. Mas, assim como h i uma ordern juridica national, que tern por fim estabelecer a harmonia social entre os cidadgos durn Estado, hd, em virtude das relac6es dum Estado corn outro Estado ou de cidadaos durn Estado corn cidadIos doutro Estado, uma ordem juridica internacional. E, enlio, o pro- blema da aplicaqKo das leis no espaqo ganha relevancia e complicaqZo.

Uma r e l a ~ ~ o juridica pode ter conex20 corn as leis de varios Estados. Uma relaqto juridica pode ligar-se corn as

leis dos Estados, (um ou mais). a que pertencem os sujeilos de certa rela~ao, corn a lei do Estado da situa~tio do object0 da mesma relagb, cam a lei do Estado onde 6 feito o acio juridico, coru a lei do Estado onde produeirh efeitos o rmtco juridico. Podem, como se v&, ser varios os Estados corn que a relacgo juridica tem conexao.

Diz-se, entso, que t uma r e l a ~ t o juridica que lem co- nexso corn virias leis, corn leis de varios Estados, E pre. gunla-se: se assirn fbr, qua1 a lei competente para regular a relaq%o juridisa? A lei do objeclo da relaggo juridica 1 A !ti do sujeito da re la~ao juriaica? A lei do !tifar onde foi feilo o act0 juridico? A lei do Estado onde produz efeitos o aclo juridica? A lei da situacao do object07

EslBo a ver a relevlocia. Pste problema C estudado corn mais pormeaar, com

mais profundidade, no Direito International. Mas n k pode. mos deixar de o versar perfunctbriamente, ligeiramente, aqui, porque 6 problema que diz respeito a f d r ~ a obrigaibria da lei.

0 Direilo Internac~anal ocupa-se das virias categoclan de soluqaes : a categoria ~elatlva a capacidade dos estran- geiros, a cakgoria relativa ao confUto das lels, a categoria relativa aos efeitos juridicos do acto ou actos praticados no estraugeiro.

Mas, de tbdas essas categorias de sollr~aes do proble- ma, a calegoria ceniral, a categoria que, por alsirn dizer, constitue o centro do Direito Inltmacional, t a teoria do conflib das leis, esla teoria que agora abordarnos singela. tnente.

Falei-lbes em Direito Inlernacional, como se houvera urn direiio internacional prirado haico.

NLO 6 assim. Para que cheguem B conclusBo que nZa M am direit0 internacional privado dnico, basta que aten- tern nas fcmtea do Direito Iaternacional.

SSo fontes do Direto Inlernaciomal os t r a t a h s norma-

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tivos, a s leis internas internaciooaImente relevantes e o costume internacional.

De tbdas estas fontes de Direito lnternacional a mais abundante d a lei interna internaaionalmente relevante, como YEO ver,

SHO desta espdcie os dois arligos, 24." e 25.", do titulo IV - Doc cldadaus portugueses em pals estrangeiro - e os arligos do till110 V - 00s estrangeiros em Portugal -na pante I do nosso Cbdico Civ i l e, ainda, o artigo 9 6 4 . O --dm hipotecas contraidas em p n h pstrcngeiro s~?bre bens e x i s t m f t . ~ no reitzo; o artipo 1.106." - sdbre as con- wnrFes an te -~r~~pc ia i s , estipaladas em /lais estrungeiro, entre sibditos portrqoeses ; o artigo 1.107." - do cnsa- ?nento cot~fratdo ern pais esfra/~geieiro ~rrfrp porfugitis e esirnngcira, on entre e~trmngeiro P portug~cesa; e os arli- gos 1,961.' e 3.965." que lratam riu kstarnento e.rtenzo oa

A eslas disposipes posso acrescentar outras do De- creto n." 1, de 25 de Dezernbro de 1910, dos Cbdigos Co- mercial e do Processo Civil, do Regulamenlo Consular, etc..

Como "&em, tddas eslas disiosiCaes sgo djsposifdes internas de varios diplomas porlugueses inlernacionalmente relevantes, isto e, que rtgulam as re la~aes juridicas prati- cadas pur portugueses no eslrangeiro ou por eslrangeiros em Portugal.

Esta i a fonte mais abundante do Direito Internacional, Destas fontes-tratados normatiros, leis internas inter-

nacionalmente relevanres, coslume international-a fonte mais abundante, a que contern mais disporic6es, a que re- gula mais situacties, el pois, a lei interna internacionalmente relevante.

Mas, como a lei interna internacionalmente relevanbe portuguesa nso I! igual a lei interna inlernacionalmente re- Ievante espanbola ou francesa 04 italiana ou alema, por

isso eu Ihes digo: os co;nplexos de regras que rtgulam os conllilos de leis sZo diversos conforme 0s Estados.

Ha muitos direitos internac~onais : o direilo inlernacio- nal portugues, o espanhol, o francks, o iialiano, o alemzo, etc..

Muito embora exisla uma tendencia para unilormiza~fio, muito embora, tambem, haja aspira~aes humanas para esla uniformiza~iio, o cerlo e que no estado actual aiada h i mui- tos direilos internacionais privados.

Estes direitos internacionais privados n%o cot~ttrn nor- mas materiais ou substlnciais, islo 6, normas que regulem a s relac6es sociais.

Se analisarem aqueles arbigos, aquelas normas de di. reilo interno internacioaalmente relevantes, o que encoa- t ram? Isto: regras que lhes dizem qual a lei que deve ser aplicada-a lei nortuguesa ou a estrangeira.

Por conseqiikncia, o Direito Internacional Privado i um conjunlo de regras d e aplica~xo, isto e, de regras que nos dizem qual a lei que deve ser normalmenle aplicada para regular a rela~Ho social que tern conex20 corn as leis de virios Estados< E' urn coajunto de regras de conflitos, nias nZo de regras substanciais ou materiais.

Por isso mesmo, ha quem sustente que o proprio Direito Internacional Privado 6 um ramo do Direito Pdblico.

Se a s normas de Direito Iuternacional Privado fbssem substanciais, reguInssem as relaqaes particulares entre urn portuguts e urn estrangeiro ou entre estranpeiros, podia mais flcilrnente dizer se que o Direito Internacional Privado era direito privado. Mas, como o Direito Internacional Pri- vado apenas nos diz qual a lei que se deve aplicar quando ha um conflito de leis, seodo sbmente constituido par nor- mas de apl ica~go ou normas de conflito, pois que essas nor- mas visam o interksse predominante da colectividade, ha quem suslente que o Direito Internacionsl Privado 6 urn ramo do Direito PAblico.

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Em suma: os Snrs, vbem ja qua1 P o ambilo do pro* blema da aplicaqao das leis no espaGo.

Ha muitas relaqfies que tell1 l iga~so - conexio t o term0 que se emprega em direito interoacianal privado- corn as leis dos ~a r ios Estados. Qual a lei que se deve aplicar? A lei portuguesa ou a lei de outro Estado? Oual a lei que o juiz tern de aplicar? Qual a let que o 6rgao ou a autoridade do Estada tern de aplicar?

0 problema 15 Este. E, como subsidtarios dCste proble- ma, v&m estes Ir&s:

1.0 problema subsidiario: q u a l a lei que se deve aplicar como regra e qual a que se deve aplicar como ex- cepcgo? A lei territorial ou a lei extra-territorial?

2." problerna subsidiiio: qual o criterio a adopiar para o interprete [azer a averigua@o se deve aplicar a lei terri- torial ou a exlra-territorial?

3." problerna subsidiirio: a lei norrnalmtnte competenle tera alguma lirnitaqao ?

Vamos ver cada urn destes problemas. Qual a lei que se dave aplicar coma regn e qual a que

se deve aplicar como excepqse? h a lei territorial ou a lei extra.lerritorial?

E' este o prirneiro problema, A solu~ilo a d a ~ l h e tern tido vicissitudes na historia do Direitv.

Prirneiramente, entendla-st que a Iei que se devia apli- car como regra era a lei territorial e que s6 como e x c e p ~ b se podia aplicar a lei extra-territorial ou pessoal.

0 racioclnio era Cste: 0 Estado faz uma Ici para ser aplicada pelos seus tribunais, pelas suas autoridades. Em regra, os tribunais e as autoridades do Estado si podem aplicar a lei dtsse Estado. S6 excepcionalrnente e que po- derao aplicar outra lei.

Foi esta soluqBo que dominou as escolas estatut&rias, que s%o escolas de Direito International, corn comkqo no

stcula XI11 e que loratn ate ao aicuio X V I I l corn vir iaa oricota~6es.

Depois, apareceu no sdculo XVIII Savigny, romanista alerngo, que criou a escola da con~unidade do dirtito.

Sustentava &le que, no actual eslado de civiliza~go, 08

povos que pertsncem a urn mesrno tipo de civilizago tern, em regra, os mesmos principios e sistemas e regulam.se pelas regras aemelhantes.

Consequenttmente, C iadiferente a aplica~Lo da lei ter- ritorial ou da exlra-territorial. 0 que o intkprefe deve averiguar, em cada caso, 15 qua1 a lei mais id6nea de bar- moaia com a relaqao que se pretende disdplinar,

No entanta, Savigny nBo nos disse qual era o crittrio para a determina~Xo da lei mais idbnea, mais consentllnea ; e, por isso, fazia cair os intdrpretes do Direito na arbitra- riedadc, no alvedrio mais complete, mais absaluto.

Depois, jA no stculs XIX, aparsceu a escola ilaliam de Mancini, qne como teoria de direito inlernacioaal defendeu a doulrina de que a lei rnais idbnea, iotrfosecarnente mais Barmbnica com as relapies juridicas, era a lei necional.

Dt maneira qae, por ebra dessas duas escolas, - da escela da comunidade do direlto ds Savigny e da escola da Iei nacional de Manciai -- o qut C aerto i qlre hojt deve considerar-se coma regra a aplica~ao da lei extra-ierriterial ou ptssoal e corn0 erceppo a ap l i ca t l da lei territorial.

ISSO mesmo acontece conforme o direito internasional partaguh, como j i dc segnida veremou, as estudar o segun- do problema, islo 6, ao averiguar qual B e critkrio juridicto gtral que n6s &rcmos segnir para a delerminago da lei normalmeate competente. E entilo temos de vollar a leitura daqueles artigos do C6digo Civil.

Diz art. 24.O: NOS porfug~ieses, qlze viajam on resi&m grtt p pats estrangeiro, conser vam-se sujeifos d s leis portu- guesns concernentes 6 stan rapacirlade civil, ao sev edado e Q sua propriedade inlobilidria sifuada no reiflo, enqrcanto

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nos ncfos qlce holsver~rn de produziv nl~le os seus cfeitos: a j'orma erterna dos ncfos ~erCi, todu~va, rc~rida pela lei da pais, on& forem cekbrados, salvo nos cnsos Ern ylZE u lei expressnmente ordenar o contrdrion.

E preceitua o art. 2 7 , O . ~0 estndo e a capacidade ci- vil dos estran.yei~.os szo reg~i lados pela l e i do sru paism.

0 s Snrs. deduzem da anillse dkstes dois artigos o se- guinte o estado e a capacidade de portugueses que viagern no estrangeiro ou de estrangeiros que viagem em Portugal sZo regulados pela lei nacional respecliva, lei extra territorial,

Vgo veer, ja, como a lei riaclonal corresponde a lei ex- tra- ferritoriul.

Se os lribunais portugueses aplicassem a lei po-tuguesa, aplicariam a lei territorial, mas, se os lr~bunais portugueses aplicam a lei doutro Estado, a lei que n%o 6 do seu territi- rio, aplicam a lei extra-territorial, ou seja: a lei nacional de cidadllos de oulros Estados os quais viajam ou residem em Portugal. Nesse caso, lei extra territorial I?, pois, igual a lei aacional.

For consequencia, o eslado e a capacidade dos portu- gueses que viajam ou residem no estrangeiro ou dos estran- geiros que viajam ou residern e m Portugal s&o regulados pela lei exira-tertitorial ou nacional (arts. 24 O e 27." do C. Civil).

Qcem diz estodo e capucidade diz taolbem rela~6es de jamilia e sucessaes.

Nao h i , a-respeilo das re la~6es de familia, urn preceito calegbrico, vigoroso, energico, como os dos arts. 2 4 . 9 27.": mas verso mais tarde que as relaaaes d e familia se reduzem a csiados e crapacidtdes. Portanto, se o estado e a capaci dade $80 regulados pela lei extra-territorial, tambtm as re- l a~Bes de fatnilia o devem ser.

Casudo, di~lorciado, soltriro ou vrrivo - tudo isto sfio estados, Pai de furnilla, ,filho, marldo , mnlher cusuda - tudo istu sso estados, tambem.

Verso, depois, corn mais conhecimento de causa, que, na verdade, as rela~aes de familia se Iraduzem, como disse- mos, em estados e capacidades; e, por consegainte, tern de se lhes aplicar o disposto nos artigos 24." e 27.", tbm as re la~6es de familia de ser reguladas pela lei extra-territorial*

0 mesmo diremos quanto 6s sucess6es. Estas s2o re- lac6es de familia lato sensu. Portanto, aplica se-lhes o que djssemor a-respeito das r e l a ~ a e s de lamilia.

Temos, entao, os seguiolea capitulos do direi!~ privado: estado, capacidade, relactles de farnilia, sucessises-regula- dos pela lei extra-territorial.

Depois, temos as relaqaes emergentes da propriedade imobiliaria (artigo 24."), que FSO reguladas pela lei da si- tuaqiio. E', como se diz em terrninologia de Direito lnterna- cional, pela LPX rei slkae - Iei terrilorial.

Corn re la~%o h Iorma externa dos acios, tratada no fim do artigo 24.", 6, tambem, regulada pela lei territorial.

Se o acto d praticado em Portugal, a lei que regula a sua forma 6 a portuguesa: se em Espanba, a espanho1a Por- tanto, a lei e a do local onde o acto e' celebrado.

E', como se diz em terrninologia de Direito Interuacio- nal, locus r ~ g l t ocfum.

Subsiiincia e efeilos das obrigu~oes : - Estes s%o regulados, como d ~ z o n.' I , do art " 4." do

C6digo Comercial, pelas expressfie8 salvo conveagao em coalrlirio, pelo principio ou lei da autooomia da vontade

Dire1 o que isto 6. Em materia de obriga~5es o principio superior, estru-

tural d o principio da autonomla da vontade. 0 s conlratos, quanto h sua substancia e efeitos, regu-

lam se pela voncade das partes (L o que se chama autorro- mia da vuntu r'e das pnrtes~, t&m 0s efeitos, que as partes quizerem, valern o que a s partes determinaram.

Ora, &ste principio da autonotnia da vontade das partes transbordou do direito nacional para 0 direilo internacional:

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e o n."." do art.O 44 do C6digo Comercial die: salvo a con- ven~l io dos partes, Quere dizer: prefere a lei que a s partes uacolbtram.

Mas, agora, em alnlese vernos o seguinte : estado, ca- paeidade, relac6es de familra, sucess6es s8o reguladas pela lei extra.territorial ou nacional ; propriedade itnobillhria e forma externa dus actos pela lei terribrial; substAnci8 e efeitos das cbriga~aes pel0 principio da aulonomia da von- tade das partes, islo 6 , pela lei que as par-tes escolhcram.

Portanlo, podemos concluir que hole, conlorme a dou- irina geralmente aceita e ainda conforme as principios do nosso Codigo, a regra e a aplicaflo da lei extra-territorial ou nacional e a e x c e e o a aplicagzo da lei territorial.

Vamos, agora, ver o terceirv problema subsidifirio, isto e, s e havera algurna limitas80 a lei normalmente compe- tente para regular as re la~6es juridicas que tdm conexgo com leis de virios Estndos.

As leis normalmente competeotes siio: para regular o estado, a capacidade, as relagaes de familia, a s r e l a ~ d e s de suce~s%o-a lei nacional ou extra-terilorial ; para disciplinar ns relacfits derivadas da propriedade imobilihria-lex rei sl- tae, lei territorial; para regular a [orma externa dos actos-se- guodo o princlpio l o w s regit a c b m , e a !ex loci. lei terri- torial; para regular a subslincia e efeilos das obrjgaqo"es- a lei escolhida pelas parles.

Estas s%o as Ieis normalmente competentes. Mas haverh alguma iimita@o A sua aplica~Ho ? Hi a

ordem publica internacional, Aa leis normalmente compelentes s3o a s rebridas ; mas,

se psrvenlura a ordem ptiblica internacional durn Eslada D

sxigir, pode, em vez da lei normalme~te cornpetenbe, a ex- tra-territorial, por txempla, aplicar-se a lei territorial.

Ja fzllkmor da ordem piblica; quando qnalificamos as aerraas juridicas, as leis, e tamblm a proflsito do art, 10."

do Crjdigo Civil, que, como sabernos, trata das s a n ~ d e s da violaq30 da lei.

Esla e a ordem pdblica nacional. A-par dela, h i a or - dem p6blica internaciooal.

Eu, quando lhes falei das leis de ordenl p~ ib l i ca nacio- nal (enteuda-se agora: n 1ci7nal), disse-lhes que o seu con- reddo era impreciso. Disse-lhes tambim qme a ordem pdblica nacional (nuci(7nal: entenda-se agora) i dogmhtica.

N%o tenbo nada que alterar ao que disse entso. 0 q s e dime a-respeito da ordem pdblica nacional, re-

pito a-respeilo da ordem pdblica internacional : o cante6do da ordem pdblica inlernaciona1 e impreciso.

Mas, tenho que acrescentar que ordern pribUcn na- cional e ordem pkblica hternacionril sZo coisas diversas, A's vezes, comuns, mas tambim, por vezes, diversas,

Podcmos representar ordim pdbilca indcrnacional por urn cftculo e orddm pciblicu nacionai por outro circulo maior, mas con~tntrico.

De maneira que ha principios da ordem pliblica nacie- nal que n3o sgo principios de ordem pliblica internacional.

E compreendem bem que assim seja. 0 s nacionajs tern os mesmos deveres que a s estrangeiros, mas nem sempre os estrangeiros tkm on deveres dos nacionais.

E, dapui, resulta o seguinte como carol5rio : ordem p ~ i - blica internacional a mais reslrit do que ordem publicn oacional, mais extensa ; h5 principios de ordem ptiblica na- cional que n3o szo principios de ordem p ~ b l i c a interna- cional.

Vou dar-lhes urn exemplo que bem esclarega o assunto. Em Ilalia, por eremplo, n8o ha div6rcia; os tribunaia

italianos n50 podem deccelar o divbrcio, el conseqiiente- mente, n8o podem libertar os cidadaos dos vincukos matri- monia l~ contraidrs.

Mas, se nHo h6 divbrcio, h i casarnento por virtude de divbrcio.

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Suponhamos, porkm, que urn portugu0s se divor~iou em Portugal, em Franqa ou noutro pais, onde seja pertnitid0 o divbrcio, e que, depois de divorciado, foi para a Itaiix e la s t tornou a casar.

As leis italianas ~errnitern o casa~~lento do portuguts divorciado, tnas nlo podem permitir o casamento do italiano divorciado, porque em ltalia aZo ha divorcio.

For censeguinte, como v&em, os estrangeiros podem ter menoa deveres que os nacionais, embora Cstes tenham+ em regra os deveres dos estrangeiros,

Quere dizer : os devcres dos estrangeiros podemvs re- preaenti-10s por x e os deveres dos naciooais por x + y .

De maneira que a ordem p6blica internacional sera x e a ordern pdblica nacional x+y, i ~ t o el mais extensa que aquela.

0 que i certo e necessiria saber, k que o Estado con- sidera certos princlpios de ordern moral, ou juridica como necessirios para poder coordenar as actividades individuais, sem que consinia que qualquer lei esbraogcira seja aplicada pelos seus tribunais, pelas suas autoridades, em cantririo a esses principios. E' esta a ordem p6blica interaacional. As- sim como considera certos principios e cerlas normas cs- senciais ao i n t e r h e da coleclividade, ao interksse feral, sem que or particulares possarn convancionar em conlrario deles. E' csta, tambim, a chamada ordem p6blica uacional, a que se refero 0 art." 10," do C. Civil,

Mas o que fundamentalmente 6 necessario saber, por- que ha muita geote que o tern esquecido e o devia ter pre- sente por isso ser conueniente pwa tiluitas soluqll;es juri- dicas, 6 que a ordem pdbIica internacional, que serve de lirnite as leis normalmente competentes, e diversa da ordem p i blica nacional.

Chsgamos, assim, ao fim do estudo da fbrqa obrigatbria da lei. Em seguida, vamos entrar no estudo da interpreta-

da lei.

15." Das fontes do Oireito (cont

t) - lnierpretaqao d a ~ leis.

- - A inferpretapeo das leis n l o se fa r determinando o pensamento ou a vontade do legislador.

- Interpretapao autlntlca e dou- trinal. - S6 a doutrinal 4 que 6 a verda- delra interpretagho,

-Interpretaplo astricto sensun e .lato sensup, lnterpretapao mhramente decla- rativa, axtensiva, restrltiva, enun- oirtiva e revogatdria ou aabro- gans.n

Na vida do Direito h i duas fases distintas. Na primeira fase, trata-se da criacao da lei - e a que n6s temos cstu- dado a t e aqui. Quere dizer: antes de faiarmos da rida da lei, da sua forma~%o, promulgaqSo, publica$lo, rvacat io~ e vigtncia, esludamos, como presuposto, como questgo previa, as lootes formais e reais do Direilo.

Mas, depois de criada a lei, ouira fase imporrante t a aa aplicac%o da lei criada aos casos da vida real.

A lei e feita para se estabelecer a harmonia social, Mas, para que haja harmonia social, n?io basta a

existbncia da lei. E' necessario que a lei se apliqas aos casos concretes da vida real.

A estas duas fases correspondem 6rgBos diversos do Estado.

A criac%o das leis pertence aos brgtios que tern a fun- qBo legislaliva; hoje, o legislative e o executive : o leiisla-

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tivo, que laz leis, a execubivo que faz decretos-leis e regu- lamentos.

A apl ica~ao da lei perteoce a outros o r g ~ o s : aa 6rgao execulivo e , principalwente, ao brpao judicial, s e quizer- mos considerar &ste dislinto do poder executivo, e nBs sim- ples r a m dele,

Quando ha urn caso da vida real que levante urn con- flito, o iotirprete da lei, seja o juiz, seja aquelt que os in- teressados consuitam, (1s advogados e os priticos do fbro, sejam os prbprios ioteressados, faz uma serie de ope. r a ~ 8 e s .

Primeiramenre, procura saber se ha lei que regule o - caw; depois, s e essa lei, existindo, e vilida; em seguida, qua1 15 o sentido a dar a essa lei : el ainda, se n3o ha lei? como C que se ha-de resolver o caso concrelo.

Tudo isto s i lo opera~8cs intelectivas. Algurnas delas eslao a margem da interpretrcao das leis ; por exemplo : a opera020 d e determioar a vrlidade da lei, que jd esludamos a-propbsito-da hierarquia das leis.

Ha leis que est2o em oposiqgo corn os principios cons- titucionais, lem, portanto, iocons(ituciooais, leis, conseqfien- temcnte, que nZlo s%o validas.

Ha regulamenlos que n&o estio de harmonia cum a lei; s%o, lambem, ilegais.

O problema cia converg&ncia das varias leis, no tempo ou oo espaco, para regular a mesma situacao juridioa, tam- bim ja o estudamos, a-prop6sito dos problernas da aplica- @o da lei no tempo e no espaqo.

Agora, restamnus versdr o problema da interpretacao das lcis.

Essa express20 - interprctaccio das leis - toma-se em dais sentidos : * strict0 sensul e nlato sensur .

~St r ic to sensuD, interpretar uma lei i Jeterminar o sectido correct0 dessa lei, e significado exacto dela.

iLato sensun, interpretar uma lei naa e, apeoas, deler.

minar o seu e x a ~ t o signifi~ado; C lambtm rrr como se hzo- -de colmar ou ~ntebrar as lacunas da lei

Perque, por vezes, nSo ha uma lei qur se aplique a urn caso concreto, e, ago obslante, o juiz nao pode dtixar d t decidir, como dizia o art. 97.' do Codigo do Processo Civil de 1876 e o preceilua, lambem, o actual C6dige do Processo Civil,

Com lei ou sem ela, pois, o juiz tern de julgar. Mas julgar como ? Que principio hi-de aplicar?

0 juiz tern de colmar ou integrar, nesta hipbtest, a3 lacunas da lei. E, entao, como veremos depois, vai buscar ao nosso sisterna de legislagao uma norma, urn principio que aplica a cada caso concreio.

fisle, o problema da inlegra~ito ou da colmaq30 das lacunas das leis e tarnbtnl, .lato sensup, urn problema da iolerpreta~30.

Vamos estudar Csse problema: e fazemo.10 em trts tempos: oo prirneiro, potnos o problema; d e p ~ i s , diremos o nosso crilirro para a interprelaqBo das leis; e l finalmtnte, faremos urn Ilgeiro bosquejo de todos o s sislemas, de tbdas as teorias que s e prup6em fnzer a interpretaqgo.

A aplicacZo da lei tern sido, muitas vezes, comparada a urn raciocinio silogistico.

Como sabem, o raciocinio silogistico i urn raciocinio de deduqilo, em que b6 trbs proposi~i3es coordenadas entre si, estando a conclus~o contida nas premissas maior e menur, s e forem verdadeiras.

*Todo o animal racional e homem: Joaquim i animal racional; por conseqfitncia, e hornem#.

No pfocesso judicial a premissa maior e a lei, a pre- missa rncoor e o facto concreto da vida real e a conclus3o i a decisso do juiz.

A lei diz que e proibido matar, sob p&na de o aasassi- no ser condenado em x anos de prisao maior celular.

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Ankrjnio rnalou: dtve ser. prrlanto, condenado a x anos de prisPo maior celular.

A premissa rnaior e, por eonseqli&ncia, a lei. E' precis0 determinar corn ctlrrec680, corn exa~tidgo, o

significado, o senlido dessa premissa maior. A premissa menor. o [ado concreto da vida real, tam-

bern tern de 9er provada; mas, essa, por qualquer meio de prova aceitavel.

A premissa maior tern de ser delermiuada e provada. A couclusiSo e lirada pel0 raciocinio silogistico.

Durante muito tempo - ainda lloje h i quem o entenda assim - supbs-se que inlerpreiar unla lei era determioar o pensamento e a vontade do legislador dessa lei.

Tal opiai$io, porbm, tern sofi.ido reacgces, tem sido con- iraditada, e corn rado.

Primeiramenle, uma lei C uma norma que contdm utna idea; e a vida das ideas, depois que saiem do cdrebro de quem as pensou, i autonoma e independente.

Pregunto aos Srs.: quem d que hoje se preocupa corn s inrestiga~Po do que pensava aquele que concebeu a cdlebre trilogia da Revoluq%o Francesa: liberdade, igua!dade e fra- ternidade? Quem d que hoje se preocupa corn investigar o que pensava quem teve a idea da econornia corparativa?

As ideas surgiram, apareceram ua sociedade e ganha- ram autonomia, destacando.se do eirebro de quem as pro duziu, ganfiaram independtncia, hoje s%o o que sgo ; inde- pendtntes de quem as criou.

TambCm, assim, quantu i s leis. As normas de c o ~ d u t a aparecem, aulonomizam se, independentizam-se, tanhain vontade prbpria, independentemente da do legislador,

E assim deve ser. Porque, h jje, ali6s como sempre, C impossivel determinar n pensamento do legislador.

Jh sakem como se cria uma lei. hparece urn projecto ou uma proposla de lei, que e mandado para a Assembl~a Nacional. Quem fez o projecto tinha, evidenternenle, urrl

pensamento, uma finalidade. Mas, mandado para a Assem- blea Nacional, o projecto vai depois a Cdmara Corporalivar onde uma ou mais secCBes L. estudam e fazern urn parecer sbbre kle.

Quem e que tne pode afirmar que, depois do pensa- mento do relator do parecer, quer este seja aceile, quer ngo, o peosamento inspirador do projecto fiia inalledvel?

Depois, con; o parecer, volts o projecto B Assembles Nacional, para ser discutido e, possivelmente, emendado.

Qual fol o peasatilento de qnetn fez uma proposta de emenda'? Sera o mesmo pensameulo do legislador? I? pos- sivel que ago, pois etol capita, quot sententisle>, sZe tantas as c a b e ~ a s , quantas as sente~qas.

Depois, ha a vota@o. Quem garante aos Srs. que o pensamento e a vontade de cada urrl dos Deputados quc aprovaram o parecer e fizeram a lei sso a rontade e o pen- samento do autor do projecto?

Ve-set portanto, que e impossivel delerminar o pensa- mento do legislador Hoje, corno sempre

Quando a lei era feita pelo monarca, pelos reis, alguns deles nerri sequer a liam. Andavam us jurisconsultos a sua volta, os seus conselheiros, que era quem fazia as leis que o rei assinava, algumas vezes de cruz (-f ).

Pregunto: qua1 foi o pensamento do monaraa, que fez a le i? Nenhum.

Saiamos do canlpo das leis singulares e vamos ao calupo das compila~6es de leis.

Qua1 seria o pensamtnlo de D. Afonso V, D, Manuel I e Fliipe I de Portugal nas OrdennqEes que tiveram n seu nome ? fi possivel que nenhutu, que nem sequer couhecersem as leis, e que, por conseqti&ncia, nZo livessem nenhum pen- samenlo, nenhuti~a vontade.

Modernatnente, foi promu!gada o C6digo Civil. De fazer o C6digo Civii loi incumbido Luiz Anl6nio de

Seabra, que depois foi o visconde de Seabra e, igualmtute,

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ioi nomeada uma Comissgo revisora para estudrr o trabalho daquele jurisconsulto. Mas nem o visconde de Seabra nem a Comissao revisora foram legisladores. 0 legislador do Cbdigo Givil foram a CAmara dos Pares e a Cfimara dos Deputados, que eram ao tempo a s duas casas do Parlamento<

Se lerem o Dia'rio das Sessdes das Cimaras de entZo, verificam queo Codigo Civil quasi n8o foi discutido, p ~ i s tevt uma ligeira discussgo em matiria do casamento civil, mas, na sua totalidade, nao foi discutido.

E agora pregunto: qua1 foi o pensamento dos parlamen- tares de entPIo sbbre o Codigo Civil que aprovaram? Que vontade tinbam e les? Alguim a poderi descortinar?

Per conseqiikncia, seria uln contrasenso interprdar a lei segundo o pensamento ou a vontade do leiislador. Nem ha conveni&ncia social em isso ser assim.

0 s Srs. sabetn que a humanidade progrjde; o progres- so 6 um facto. Hoje, t tm-se condicdes de rida diversas das conditaes de vida d e ha cincoeuta an2s, de ha cem anos. Por exemplo, no carnpo dos transportes,

Quande foi Leito o Codigo Civil, ha t r t s quartos d e sC- culo, os transportes eranl feitos por meio de carros de Irac- gHo animal ou por muares e , poucas vezes, por caminhos de ferro, que eram raros enl%o.

Depois, rieram os autom6reis e as scarnionettesm, que hoje d o tgo freqiientes. Mais tarde, vieram or aviBes, pue tambern t ransprram merc rdorias.

0 nosso Codigo Civil, bem como o C6dido Comercial, tern uma regulameotac%o de transportes. Sobrttudo, o Co- mercial.

Evidentemente, que o legislador do C6digo Civil, assim como o do CBdigo Comercial, n%o pensaram no transporte de avigo, nem de uaamionettesr, nem de aubom6veis.

S e quizessemos interpretar a lei, segundo o. pensamen- to e a vontade do legislador, ngo podiamos aplicar as dispo- ri56es dos reteridos C6dieos a esses transportes modcmos.

E estavamos perante esta ai tua~ao: esses transportes mo- dernos nLo era!n disciplinados por nenhuma norma de con- duta geral e impessoal.

Mas, se quisermos interpretar a lei pela vontade da prdpria lei, considerando a lei a u t h o m a e independente, ja n8o acontece assim.

A lei l e ~ n urn conte~do . E esse conteudo atrai a s rela- q6es da vida rocial, atrai os casos da vida real, para a sua aplicaqzo poder projectar-se, porque a l e i tem uma vontade pr6pria que se d e s t a ~ a da vontade do legisladnr. 0 lcgisla- dor fica apenas um instrumento da eroluqao do Direito - mais nada.

De rnaneira que, nesta altura, podemos dizer que in- ierpretar a lei, *strict0 senen*, nao e procurar determinar o pensamento do legislador, mas, aim, determioar a vontade da lei, vontade que nZo resulta simplesmente das palavras da lei, voatade que resulta, como havemos de ver, sobretn- do, do fim social da lei. Porque jA a s romanas diziam: .Scireleges non est rerba earum tenere, sed vim ac potes- tatem~r -4onhecer a s leis n8o C: dominar a s suas palavras mas compreender-Ihes a f b r p e o podero.

0s romanos tambim chamavam a essa avis ac potes. ias* roluntas legis - % a vontade da lei*.

Mas ha varias espccies de interpretaqiio, Quanto i entidade donde a interpretaqzo emerge, esta

i auf2nflca ou doufrinnl. Interpretaqzo aulbntica e a feita pela pr6pria autorida-

de, que criou a lei, por meio de leis interpretativas, JP falimos de leis interpretativas a-prop6sito da aplica-

qao (la lei no tempo, a-propbsito do arligo 8 . O , que, como vimos entso, trata da teoria da ngo retroactividade das leis, isto d, da sucessEo das regras de direito civil, da aplica~%o das leis no,tempo.

Portanto, interpretaqgo aulkniica e a que e feita pela autoridade que criou a lei por meio de leis interpretativas.

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Aquilo que se chama interpretaqgo autkntica a80 6, prbpriamente, uma inlerprelaq30.

Corn efeito, inlerpretar uma lei (ja o disssmosj e de. terminar a vontade da lei, isto e, a sentido, o significado da lei.

Mas, quando a autoridade, que tern fun~Lo legisiativl, inlerpreta a lei que ela fez, niio procura eru regra, sb~nente, determinar o sentido ou o significado da lei, procura escla- rece-la, alterando-a ou corrigindo-a. Mas esta n3o e a fungito da interpreta~go.

A interpreta~zo verdadeira e quando falarmos de in- terprctapfo C a ela que nos referimos - i a interpretafBo doutrinal, aquela que d feita pelo juriscousulto, seduodo os preceitos da ciEncia do Direito.

E esta interpreta~ao doutrinal, segundo as efeitos dela, segundo a conclusao a que chega o inttrprete, pode ser mi- ramenk dcclaratlva, extensiva, resiritha, ~nunciativa ou revogatdr(a.

Varnos ver o que 6 cada uma destas esptcies de inter- pretagso.

Por vezes, o interprete, depois de feita a eperag%o in- telectual da interpretaqlo, conclue sa~nplesmente por deter- minar o seotido, o significado exaeto da lei, a vontade da lei. E, quando assim acontece, esta interpreta~ao e rnhra- rntnle rlcclurativu.

E' certo que tanto a interpreta~iio extensiva, coma a restritiva, a enuneiativa e a revegatbria, sso tanlhim decIa- rativas. Mas, quando o interprete conclue, simplesmeate, por achar o sentido, o significado, a vonlade da lei, essa interpretaq80 diz-se mlrnmente dcclaratlrln.

Outras vezes, o interprete, depois da sua operaq%o in- telectuai, verificou que o legislador disse *minus quam vo- luitr, menos do que quis; e, entao, iaz uma interpretapo que alarga, para AlCm das palavras do iexlo lcgal, o signi- ficado da pr6pria lei. Essa inlerpretagio chama-se extensiva,

Diz o art." I." do C.. Civil, jd nosso canhecido, que *sri o homem P suscepfilr~l de direitos c obrigizgdes, Nlslo corrsist~ (1 sua capacidad: j r l r fd i c~ ou a SUQ pr?rsonalidadr*.

E o art," 32.'' dispiie : ~Dircrn-se pcssoas morals as associa~oes ors corporngdes tenzporn'rias ou perpktuas, fun- dadlzs corn ulgurn flrn on por ulgum nzativo de atilldude pdhliccr, ou de rrtilidade pliblica e pnrticular conjuntortlente, que nos suas relnp7cs civls representam urrta inddviduall- dude juridka*.

Por censeguinte, confrontalldo a art," 1," com o art.' 32.' e oulros, n6s chegamos a conclusXo de que nao C s6 o homem que tern capacidsde civil, personalidade juridica; que tambini h a grupos de homens, agrupamentas ~hamados pessoas colectivas, que, igualmente, gosam de personalidade juridica, que sZo susceptiveis de direiros e obrigaq6es. E, chegados a esta conclus80, afirrnatnos que o que legislador quis dizer tui que o homem e os agrupamentos hamanos com personalidade colectiva s lo sujeitos de direitos e obri- gaf6es.

Temos aqui uma interpreta~go extensiva. 0 legislador quis dizer mais do que aquilo que est i no art.O 1,'.

E ja daqui podemos lirar uma ilagZo titi1 a pratica forense.

Diz o art.' 11.' do C. Civil que urna lei excepcional 86

pode ser aplicada aos casos contemplados na lei e nso a outros quaisquer casos por analogia.

.A lei, que f a z excepcdo ds rcgras gcrais, ndo pode ser apilcada a ne~ihurrs casos, quc tido esiejasr especifia- dos na mesma diz o artigo 11." ao tratar das leis de excep~go, preceiluando, assirn, que a analogia nPo pode ser aplioada a estas leis.

Mas &sse artiga nCro quere diztr, contra a opiniXo quisi geral, que uma lei, ainda rnesmo P lei excepcional, n8o pessa fer interpreta~go extensiva.

A lei excepcional aplica-se aos caror conten~plados na

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lei, n%o se aplica por analogia. Mas a lei excepcional e sus- cep t i~e l tie unla ioterpretaqao extensiva, la1 qua1 como ou- tra lei.

Vou dar-lhes um caso tipiao, dus que melhor se fixam, e que vem relatado num livro alemao de Ihering e que vou reproduzir para lhes dar idea do que i uma inlcrpretaq8a extensiva:

*Numa esta@o de caminho de ferro ha uma tabuleta que diz: cE' proibida a eolrada de podenfis.. Urn indivi- duo quere entrar na estagzo levando cvnsigo d o ~ s galgos, porkm, repara na tabuleta e hesita. Depois de considerar, durante algum tempo, reilcte que a proi'bi~lo 36 se destina aos podengos e 020 aos ealgor e l portanto, nao e abrangido por ela.

Ora, a tabulela destinava.se a proibir a entrada de cBes r.a referida estacIo ; mas as suas expressoes 6 que oga estavam suficientetnente claras para, sem hesitscRo, tal se compreender.

Empregou-ae um lermo que nPo compreendia todos os Gasos que s e pretendiam incluir naquela proibi@o.

Ora, se nos io'terpretarmos a tabuleta afirmando que a disposicS[o se destioa a falgos, podengos e a todos os dies, n%o fazernos uma interpreta~ao por analogia, partinde da semelhan~a entre podeagos e galgos e todos ns individuos da especie cbnina; fazernos, apenas, urua interpreta~ao ex- tensiva do preceito prolbitivo #.

Por conseqiitncia, aquela ordem entender-se-ha assim : RE' prolbida, aqui, a entrada de cHes de qualquer varie- dade v .

0 fedislador, no wso presente a auioridade que fez a tabuIeta, disse (minus quam volui t~, nirnos do que qu i z .

For conseqiiSocia, quando o interprete B levado B cot]- clusao de que o legislador disse meoos do que quiz, faz uma interpreta~ao exlensira.

Como vtern, o interprete pode chegar A concluslio de

que o legislador disse tnais do que q ~ r l r , e entgo, verifica que a lei tem de ser interpretada coln urn significfdo mais estreito, lnais limilado do que aqoele que se contelll aas suas palavras.

Da.se entao a iaterpreta~ao restritiva. Alim, era extensiva, aqui, i restritiva. Querem ver conlo t assim ? Diz o art." 31.O: t As senten~as proferldas nos fribrr-

nais estrarrgeiros sdbre Dirtllos clr'is, enlrr cstrangeiros e porlugrd+ses, podem ser ex:cuiadas perante os lribunais partugueses, nos terntas prescrilos no cddigo do pro- CCSSO' .

0 art." 52." preceitua: *Os mill fares arreglmrniados S2m riorniciiio no !agar, onde o corpo a guc perfencem estd de guarn i~do . Us militares niio arregin!entados i im domC clllo no lugar otide estao de serv ip , se nrio tivtrem ulguln estabelccime/zto Oi6 morada perntanente ; porque, nessc caso, ai serd o seu domicliio~.

E o art." 47.O determina : ~ 0 s rnenores, nao ematzcipa- dos, tbm por dornicflio o do poi ou d a mhi, a c~rja autori- dude sc acharn sujettos, e, na Jalta an irnpedirnento legal dlstcs, o do tutor..

Quere dizer : da conjuga$go dos art." 525 e 4747," do C. Civil nSs cooclui~nos que o legislador disse rnais do quc qrrlr. potius quam roluit; o legislador quiz diztr que o mili- tar, e o funcionirio piblice civil, se forem maiores, tern o seu dornicilio no lugar onde o regimen10 estiver de guaroi- ~ a o e onde o fuocionirio pfiblico civil exercer a sua iuoq~o.

Mas a lei n%o distingue entre militares e funcionirios civis, maiores ou de menoridade.

No eotanto, pel0 confronto dos artigos citados, verifi- 31-se que s6 militares c funciooirios civis, maiores, 6 quc

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I t m domicilio no local onde o regi~nento esfa de gunrni~%o cu ~iaquele e m que exercer a sua Iu11~5o-

Conclui-se, pois, que cr IegisiaJor disse +polius quam voluita.

Imp8e.se, par consequbncia, a interprela~Xo restritiva.

16." Das fontes do Direito (cont.)

ul- Da lnterpretapdo das Isis: icont.}

- Clasoiflcapao da lnterpreta- cao enunciatlva e revogetbria.

- Processes lbgicos de que se servem estas espbcies de in- terpretapao.

- OperaqHo dr que se serve o lntbrprete na deterrnlnaqlo da vontade da lei.

-0 fim social da lei.

O mado de dstsrmlnar a flm social da lei.

Na liltima sessgo, classificamos a interpreta~so, quanto 9s conclusBes a que cbega o intirprete, em mkrarnente de- clarativa, extensiva, restritiva, enunciativa e rerogaioria ou aabrofanr w .

Fizemos consideraq6es sbbre a inlerpreta~ao mbramente declarativa, a-respeito da inlerpreta@o extensiva, relatira- rneutt: a iuterpreta@o rebtritiva. Hoje, varuos fazer cousi- d e r a ~ a e s quanto a interpretacgo enuuciativa e quanto 2 in- t trprela~Ho revogat6ria on uabrogans*,

Por vezes, o intkrprete, ao determinar o sentido, o ai- gnificado exacto ou a vontade duma lei, veriiica lbgicamtnte gue nessa lei, nzssa nwma d e conduta estao implicilas ou- tras nrlrmas. E, entilo, d iz . estas normas de conduta eucer- ram em si estoutras normas de condula.

E' isto que s e chama uma interpretagso euunciativa

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Para isso, o inthrprete serve-se de processos de pura 16gica abstracia, mas que tkm uma relevancia especial neste processo inteleclaal da interpretaqao das Ieis.

0 interprete pode encoatrar urna lei per~nissiva e ram ciocinar assirn : se essa lei permite o mais, ha-de perrnitir o menos; por conseqiibncia, essa lei inclui em si, lbgica- menle, estoutra.

E' o processo 16gico que se chama : a majore ad mi- nu 9.

Outras vezes, o intirprete eski a deter~ninar o signifi- cado duma norma proi'bitiva e conclui assim : se essa norma praibe o menos, h i de proi'bir o mais; se a lei proibe, por exemplo, a ofensa corporal, ha-de proibir a fortiori o homi- cidio. E, entao, emprega urn processo l6gico que se chama : R ntinore ad majus.

Ouhras vezes, o intkrprete esta a detsrminar o signifi- cado duma lei excepcional e raciocina decta maneira: se a , lei excepcional n2o tern aplicaflo por analogia a outros ca- sos nao expressos-como diz o artigo 1 1 . O do C6digo Civil, ja nosso conhecido e por n6s comentado-se esta lei 8 ex- cepcional, se 1120 pode aplicar-se a casos diversos dos con- templados nela, todos os outres cjsos estao sujeilos a urna outra norma, a uma norma-regra.

E' o que ss chama a ioterpretaqao ((a contrario sensul. Notem, porem, que esta interpretacao u u contrario sen-

sun exige muitos cuidados, por ser muito delicada. Primeiramente, sb se pode usar corn norlnas excepcio-

nais. Em segundo lugar, L necessario verificar se essas nor-

mas nao t t m interpretaqgo exteasiva, porque nbs ja dissemos que as normas excepcionais n;Co se aplicam por anaiogia a outros casos, mas podem ter interpretaqgo extensiva.

Constqiientemente, 36 quando verificarrnos que se trata de urna lei excepcional a de urna norma que n%o tern inter-

preta~ao extensiva, t que podemos fazer a interpreta~ao n a

contrario sensu., Vou dar-lhes um exemplo duma interpretaqgo l a con.

lrario sensn* correcta. 0 artigo 1191." diz : m Ndo k licito uu mnrido alienar

bens Imobdlldrios, nem eslar e n jutzo por causa de guestaes dc propriedade, ou posse de bens imobilllidrios, sem ~.u#orga da mulher.

5 1." Esto outorfa pode ser suprido judiciaimente, st o mulhcr a recusar sem justo muflvo, ou se estlver impos- sibililada pura a d a r ~ .

Estamos perante urna lei excepcional: o artigo 1191.O ; e eslamos perante urna norma que d o pode ter urna inter. pretacao extensiva : o artigo 1191,'

Entao, raciocino assim aa contrario sensu* : Sc o marido n80 pode vender bens imobiliArios, e s6

estes, - diz a art ." 1.191." - ele pode, r a contrario stnsn*, render bens mobiliPrios do u s a l .

Eu peg0 na regra que diz qua o marido a30 pode vender bens itnobiliarios e , aa contrario sensua, e, pdo contrdrlo, infiro estoutra normr : por conseqii&ncla, o mar4do podeven* der bens mobllidrlos do casal.

Esta interpretagzo *a contrario mensub, 6 correcta; e tzo reconhecidamente correcta, que o legislador do Codigo Civil, porque enlendeu que assim era, a coasagrou numa outra dis- posicZo-a do art.' l . lf8,u que nos diz: 10 marido pode dis- por Ehrremente dos bens rnobilidrios do cusal; rnas s f , sern consenfimenh da mulher, os alhear, ou obrigar por con- tratos gmki fos , serif a importdncia dos hens assim alhea- dos, levada etn conta na meag&o delea.

gste artigo t uma interpretaczo ra contrario sensun da disposiq%o excepcional do artV0 2.191.'.

SSo, pois, estesf oa proctssos- .a majore ad mireus,, *a minore ad majus* e <a contrario sensrrw - a que o in- ttrprete vai buscar a norma interpretanda, expressa por

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normas que estao Ibgicarnenfe, implicrtamente, cool~das nela, E' isso o que se chama a interpretnciio elzi~ncintivn. Vejamos agora a outra especie de ~nterpleta@o-a in-

terpretacEo reevogatdritr ola ~abrogalrs*. Pode parecer, prittfu consprifr~, que o iuttrprefe, cuja

funcHo 6, apenas, determinar o sigoificado exacfo duma lei, nlo possa rerogar a lei. A revogaq%o da lei e fun~%o do le- gislador, que ngo do ,i~tdrprete A' Assemblea Nacional e que pertence fazer e r9vogar lels.

Todrvia, o inlerprete, j i o dissemos, pode verif~car que a lei disse *poti[rs quafn ~ ~ o l u i t ) j , disse rnais do que quis; e, ent80, faz ulna interpreta~gio reslrihva.

Pois, esla iaterpreta@o revogat6ria n8o k mais do que a interpretaqso r~str i t iva ievada an tillimo lim~te.

Tambdm, o legislador pode co~icluir que urna lei, que esta interpretando,-n%o slgnifica nada, ou porque est i em con- tradifio, porque e ~nconciliivel corn urna oulra oorma que contdm um principio mais geral, ou porque e inwnciliirel corn uma rutra norma de igual couteudo, igualnlente acess6 ria.

Quando a intdrprete encontra urna norma acessoria que i inconciliavel, contradithria duma norma rnais gerai, Cle declara essa norma acessbria r e ~ o g a d a ~ f a z uma inlerpreta- GO aabrogans,.

Quando o inlbprete encontra urna norms acessoria que e ~nconciliavel corn outra norma lgualmente acessbria, eni3.o declara ambas revogadas-laz, tambem, urna interpretaflo ~ a b ~ o g n n s ) * .

Exemplo Diz o art," 1.201.'; ..A nltlidade por faltlz dtz autoriaa-

do podt ser sanada : 1.' Pel# cofzfirrna~uo do rnarldo, ntio se achando pro-

posta em julzo, por tercelro, acgiio nerrhurna a t s t e respello; 2." Se nao jbr argulda dentro dc urn arro, contadn

desde a ~ ~ S S ~ ~ U E Q O do ~nulrt~r~drain ;

3." Se o acfo horiver prescrr'lo, cortforme as regras g r ~ i s * ,

I'or couseqii&ncia, pelo que diz &ste n.* 1." do art." 1.201.", os terceiros poderiam pedir a aoulaqPo duma alie- na@o leila pelo nlarido sem oulorga da mulher.

Vejamos agora, o 52,' do art.' 1.191." : .As laliena~de~, pore'rn doi bens prdprios feitlas pelo marido, contra a dis- ~ l s i g d o diste a tigo, sd podem ser anuladas a requeri- mento da rnrilher oft dc seus faprdsiros, achando-se o ma- n d o constihido em responsa6illTducl'e pdre corn ela, on para cotri P l e ~ , e ndo tendo outros ber~s peios quai9 respondax.

Conforme o h 1: do ar1.O 1.191.0. s6 a mulher e os her- deiros dela, oas condi~6es ali referidas, podem pedir a anu- lacgo da alieuaqBo dos bens do marido sem outorga da rnulher.

E a 5 3."0 rnesmo artigo diz que so a mulher, ou os seus herdeiros ou 0s herdeiros legitituarios do marido d que podem pedir a aoulag%o, ao passo que o artigo 1.201.' per- mite que terceiros, tambCrn, peqam a anulaqao, ou antes, diz que a anulac%o nao pode ser sanada quaudo ja tenha sido pedida par terceiros.

Qual dessas norrnas t mais geral? A primeira diz : o marido ngo pode alienar bens imo.

biliirios da tnulher sern outorga desta, e, se o fizer, essa alieoa~no d nula. A anulaggo pude ser pedida pela mulber e pelos seus herdeiros.

O artigo 1,201." diz: essa anulaq20 pode ser sanada, se hourer sido pedida em tempo por terceiros.

0 prirneiro art.'', o 1.191.', fala de anulag?[o: o segundo arligo, o 1.20f.", fala de ratifica~ao da nulidade.

0 prilneiro principio e, pois, mais geral q u e u segundo. Portanto, nds concluimos: &sse n." 1." do ariigo 1 2111.U,

que esta em cuulradi@o, que 6 inconcilihvel com o art."

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1.191.*, que contim urn principio mais gtral, n%o tern signi- ficado, e como se n3o existisse.

E temoo feito, assim, uma interpreta~ao revogatdria ou aabrogansp.

Ia falamos do estado em que deve ser posla a qutstao da inttrpretagao; ja lelamos das espicies de inferpreta~%o, quanto 1 foate doude emergem : interprelaglo autentica e interprelac8o doutrinal, e quanto irs conclusaes a que chega: rnerarnente declara tiva, extensiva, reslriilva, enonciativa e revogaloria ou aabrogans P .

Vamos, agora, entrar, prbpriamente, no processa da in- terprelaq20.

A interpreta~Ho das leis e feita segundo um canone, segundo uma repra estabelecida no C6digo Civil. Essa re gra d o artigo 1 6 . O , que disc e seguinte: # S t us queslbes sd- &re diwitos e obrigofbes nao poderern ser resobidas, m m pclo text0 & lei, nem pel0 ssu egpirlto, nem pc l~s casos anhlogos, prevealdos em oulras lels, serdo decididas pebs princIpfos dc direito natuml, confarmd as cdrcunstdncks do caso..

Como ~Cern, nesfe artigo b& duas paries: urna, que diz que a s quest6es sdbre direitos e obriiaqfjes d a decidi- das pelo texto da lei e pelo seu esplrlro. ( 4 )

Esta parle diz respeito B inierpreta*~ gsfrkto scnsu*. Depois, diz o art,* 16 quc se essas questaes nao pu-

derem ser resolvidvs nem pelo lexto da lei nem pels seu

( I ) Esta express50 eespirito da lei* L bastaotr dribia, porque iaolo prde stgnificar o pensameoto do lcgisladar, como a sua vonta- de, como unia voutade diferrnie da do legislador. uma vontade con. ~lderaaa objectivarnente.

?rlas, qua1 o seu verdadeiro sigaificado7 Muitoo ercrilores cntcnderam, duranle muito tempo, que dsse

cspirito da le i era, apenas, o pen>a~uento do legislador.

espirilo, s to no pelrs cusos anUogos contldas em outras I r is e pelos principios do direifo nuturnl, conforme as clr- cunstaacias do caw .

Trata, portanto, esla segunda parle da interpreta~ao das leis &to sensu*, daquela inlerprela~Bo das leis gue se chama integra~ilo ou colma@o das lacunas da lei

Quando falte uma lei quc resolra urn caso, vai-se buscar fora uma outra lei (for0 quere diztr a outrn coadiflcagdo) ou vai-se buscar urn prinsipio de direito natural, conforme as circunstAnsiss do caso.

Como, hoje, apenas vamos tratar da primeixa parte d a iaterpretaflo das leis, da interpreta~go das leis ustricto sensun, s6 no9 ocuparemos, conseqiientemente, daquela parte do artigo 16: que diz: as questfies s6hre direitns s obriga~des suo resalvldus pel0 lexfo da lei e pelo sea es. pirifo.

Aqui temos urn d n o n e : para interprelar as leis i ne- cessirio, prirneiramente, apreciar o texto e, depois, apreciar o sentido mais profundo da lei, buscando o espirilo da lei.

Notem, pordm, que nso ha duas interpreta~aes : uma, literal, e outra, lopica. Hi uma s6 interpretaflo correspon- dente ao lexto, h 16gica ou ao espirito da lei.

Hi, apenas, dois momentos da interprcta~%o : a inter- pretacfi comeqa pela letra da lei e acaba pela apreciaflo do espirito da lei.

Para apreciar a letra da lei n3o basta conhecer a lirgua em que a lei estd redigida, ngo basta conhecer a dicionlrio, o lexicon.

As palavras, hs vezes, tern urn signilicado vulgar, que

Era freqiiente entrc nds, nas dijcuss6cs relativas A interpretacBo do C6digo Civil, espiritos dos mail cminentes, procurartm o pmsa- mcnlo do legislador, que consideravam o nespirilo da lei., atrayis os rarios projectos, as actas das comissaes revimras c at6 as oplisculos em que o risconde de Seabra pretcndeu justificar os seus pontos de vista, ou refuiar a atgumenla~Ho dos adversirlos.

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nos da o lexicon, e tCm um sifniftcado tecn~co-luridico, que nos d6 a ci tnc~a do Direiio.

Para iolerpretar llteralmeute urna Iei t necessario co- nbecer, pois, a tecoica juridica. Ate asontece que, por vezes, uma palavra s6 tern significado juridico, ngo tem rignificado vulgar- o que mais nos p6e em evideocia que, para inter- prelar uma lei cootorme o seu texto, e necessario conhecer a ciencia do Direito,

Mas, interpretado o texto da lei, feira a chamada inter- pretacgo literal, que, como disse, e apenas um nwrnento da operacZo intelectual cia interprela~fio m a , a20 se pode con- siderar perfeila a interpreta~2o. E' precis0 descer at6 ao sentido profondo da lei, o que nos i dado pela charnada in- terpreta~iio lbgica, que, comb se conciut do que ]a Ibes dis- s t , e apenas uma opera~ao da ~nterpreta@o.

A interpreta~ao 16grca C feita coln uma operaqao ra- cional, que pode ser acrescids. duma operaqgo s~stelnatica e durn6 opera~zo histbrica. Quere duer: nos, para interple- tarmos o sentido profundo da l e ~ , para determinarmos o sen tido, o significado exacto da lei ou a vontade da lei, por vezes, podemos confinar-nos, lirnitar.00~ a h e r a interpre. tac%o racional. Mas, se a operapso racional nzo nos dfi esse sentido exacto, essa vontade da lei, socorrer-nos-hemos da operacao sistcmatica, que consiste na aprec~aqiio de todo o contexto da lei, isto e, dos antecedentes e conseqiientes da regra interpretanda, daquiio que esta aotes e depois da re- gra interpretanda, e tambern da interpretacao dos lugares paralelos, quere dizer, de normas que regulam a mesma rehq%o social ou rela~bes sociais afrns - e n~uito aflos. Istu s8o os lugares parilieias.

E quando a~oda a vontade da 1e1 ngo seja revelacia por essa opzraqXc, ~ r s t e ~ n a t ~ c a , nos podemos socorrer-nos do elernento Iristdrico.

O elemeoto histor~co consiste na aprecid~so do projecto ou da proposta de lei, da discuss30 da lei, de todos os actos

e operacaes (discuss6es e comentarios) que acompanharam a lei na sua forrnac%o,

De todos esses actos, hit uns que tiveram relevancia especial. SBo os chamados odtls preporuidrit s da lei: o projecto ou a proposta, a discuss80, us motivos da lei.

Disse-lhes acirna : tiveram relevdncia especial, porque, colno ja sabem, ale ha pouco tempo entendeu-se q u t inter- pretar a lei era descobrir, revelar a mens a vduntas leglsh- toris--o pensamento e a voatade do I~gisladar. Mas, hole, que opinamos em seotido diverso, ktoje, que, como jf sabern, af~rmamos qlie a lei tem vontade diveraa da vontade do leeislador, hole, poe nos destacamos a lei do pensapento do Iegislador, saber o que o Iegislador pensa tern uma im- porMncia somenos para n6s.

Portanto, os actos preparatbrios das leis s$o elementos muito secundirios para a iaterprelaqBo da lei.

De tbdas as operacfies, pois, da chamada inlerpretaflo Ibgica, a mais relevante C a operagiio racional, tambdm, de- signada p9r interpreta~lo racional.

Essa interpretagio racional consisle em determioar a .ratio legis v . Mas a *ratio l e g i s ~ , quanto a 1163, nao & ape- nas o principio geral e fundamenla1 donde deriva a norma interpretanda.

Bern veern que u a a norma, uma regra de conduta que disciplina uma rela~go social tern, superior a t l a , urn prin- cipio geral, um principio fundamental, E, quanto a mim, a opera~ao racional n8o consiste-repito-ern descobrir ksse principio. Tambtm, nao consiste, nem pode consistir, em deterrninar a -occaslo l eg f s r , isto e, sa causa dettrrninnnle da lei*, r que os ilalianos chamam *fati espezien.

Urn Iacto da vida social pode tomar reiedncia ate ao ponto de o legislador entender ser necesskia uma regra ju- ridica para o disciplinar. E enrHo esse facto da vida real passa a ser urn facto juridico.

Pois a determina~lo dCsse iacto juridico constitui a

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occasio Idgis, qut tamhim nao 6, quanto a mim, a radio Icgts.

A ratlo Legis C dettrminada pela occaslo legis compre. cndida de harmonia corn o principio fundamental de direito dondc a regra emerge, constitutndo o que cu cbamo o Jim suclal da lei

Assirn interpretada a primeira parte do artigo 16.", n6s di- remos o seguiate : se as quesrats sdbrt dirtitos e obrigafles n%o poderem ser detcrminadas nem peio texio da lei ntm ptlo fim social deata (c lazcmos, portanto, corrtsponder fim socQl d 4 lef a esplrifo da hi], sb-lo-hso peios casos ando- ges, prevc~ides em outras leis tpelos prin~ipios do direito natural, conforme as circunstancias do caso.

Como vkcm, peias considera~6es que acabamos de fa- mr, para mirn, inttrpretar uma lei t detwminar o scntido dtla conforme o texto e o fim social da Ici.

Q texto, o elemento literal, i o eltmento fixo da lei. 0 fim social 6 o elemento plistico da lei, mas n&a N o

plhstico, qu t permits que uma Iti s e possa aplicar a todos os casos da vida social, que todos os casos da vidn social, tddas as rcla~a; ts da vida social possam ser rcguladas por lei estabtlccida.

Ha momcntos da evolu@o social em que surgem uses da vida real que nao podtm ser cornpreendidos no fim so- cial da lei cxistente e que hzcm rcbtntar o texto da Iti, que n%o cabem, pois, dentro do texto da Iti . E temos, cn- tEo, de passar & inttrprcta@o lado scnsu, temos de fazer a i n l t f r a ~ o ou c o l m a ~ l o das l a ~ u n a s da Lti, temos d e nos servir das fontes e regras d e Direito para arnnjar nma norma de aonduta quc sc aplique ao caro concreto sujeito

apreciago do juiz.

17." D a s fantes do Direito (cont.)

v) - Da inierprelagao das leis. (cant.)

- A inlerpretapao ',lato sensu*,

- A analogia e os mktodos da 16- gica sbstracta.

- A Analogla, s6 B mbtodo cientifico quando 6 urna slntese da inducao e da deduqgo.

- A Analogla 6, a maior parie drs vezes, emplrica e, por isso, nao 6 sconselhdvet eomo metodo cien t lfico.

- 0 pensamento de vBrlos esari- tores estrangelros e nationals s8bre a analogla.

- A obrlgaqiio que tern o Julz de decidir as questbes, ainda que n8o haja [el.

- 0 process0 do que o Julz deve l a n ~ a r mao para criar urna regra que aplique aos c a s o s *sub ju- dice. nao dlsciplinedo? por re- gras de' conduta pre-estabeleol- das.

- Slntese das operapden suoessl- vas que o julgador tern de usar.

Podt acantecer que ulna lei nem peio seu texto nern peiu seu espirito psssa regular utila relaqao juridica ou que,

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como diz o art.' 16.O do C6digo Civil, seja iosuficicnte para regular certn quest20 sbbre direitos e obriga~6es. Sendo assim, continua a seguada parte do citado artrgo, regular- -se-ha0 essas questaes sbbre direitoa e obriga~6es pelos casos anilogos prevenidos nas outras lei8 ou pelos prin- cipios do direito natural conforme a s circunslincias do caso.

Na primeira parte do art." 16.", temos o problema da. ioterpretaq%o das ieis *strict0 sensu*; na segunda, quaodo o interprete i chamado a lanqar rug0 da analogia ou dos principios do direito nalurat conforme as circu~ist$ncias do caso, eslarnos perante o problema da interpreta~so das leis .lato sensup, isto e, o problema da iotegra~ao ou da colrna. ~ a o das lacunar da lei.

0 primeiro instrumento ou processo para colmar ou integrar as lacunas da lei e a analogia - diz o art." 16.'. Quando a analogia a20 basta, temos os principios do direito natural canf~rme as circunst&ncias do caso.

Estamoa em pleno campo da exegese. Eotra nos, no Idro, na rida dos tribunais e . ate, na doutrioa, ainda hole reiua no que respeila a esta mrteria a escola exegetica.

E' certo que a lei e a lei e iodos Ihe devem obedidocia. E por isso L mister aplicar o canone do artigo 16.0. Mas te- mos de interpreti-lo hkbilmente, ioteligeotemente: usando. pois, da analogia s6 quando esla fbr urn processo cientiHco.

E, a.prop6sit0, vem dizer paradoxalmente que a ana- logia, quanda O urn processo cientifico, nPo 6 analngia. Ex- plico-me.

A 16~ica abstracts 36 conhece dois mitodos para des- cobrir a verdade e adqairir conhecimentos cieolificamente: o mitodo indutivo t r mitodo dedutivo, par outras palavras: a iodugo e a dtduflo.

A analegia e urna indll~iio incompleta ; conseqiiente- mente, nunka pode ser admitida como proctsao cientifico de descobrir a verdade,

Na ir~dufao partirnos do particular para o geral, averi-

guamo9 que a certos individuos pertenctm dettrminados atributos, agrupalnos esses individt~os em classer, e m grupos, e, depois, dizeruos quc tbda aquela classe, todo aquele grupo, tern os mesmos alributos que recooheccmos existirem em cada um dos indiuiduos.

Parti~nos, assim, do individuo, que e o particular, para o grupo, para a classe, para o gknero, que i Q geral.

Esbe mktodo e cien~ifico, queodo Ieito corn cuidado. Por exemplo: o gato C mortal : o c3o e mertal; o cavalo

t mortal; a homem k mortal. ConcluslCo: todos os animais sPo mortais. Pste i o mttodo indutiro. 0 dedutivo, ao contrhrio, parte de urn priocipio geral

para atribuir certas qualidades, certos alributos aos indivi- duos.

Par eremplo : todo o homtm i mortal ; Pedro e bomem : logo, Pedru i mortal.

Stlo esres os mktodos cientificos que a 16gica tern para descobrir a verdade, para adquirir coahesimentos- a indu- tivo e o dedutl~o.

Mas a analogia oBo parie do particular para atingir o geral: parte do sernelhatile para o semelhante.

Portanto, a analogia i uma indu~so incompleta, L cien- tlficamentc inaceitavel, 1-130 6 meio recomeodivel para des- cobrir a verdade.

Para que em Direito possamos aplicar a analogia, t preciso, prirneiramente, que encootremos o que os alemties ddignam por tatbestand ou, como dizem os italiaoos, o fo- ti espezie da norma que contempla o caso previslo ; e , de- pois, st eocantrarmos o tntbesfand ou o fa(aliesptzle ou, em portugues, o caso-tipo, no caso omisso, podemos aplicar a analogia.

Mas, se aplioarmros a analogia, sem ter descoberto, primeiramente, o fatbedtund, ou o fati espezi? ou, como di-

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ria~rlos em portngues, i, criso-tipo, dtsrespeitan>os, infringi mus a lei iia causalidade.

Ora, quando o iuterprele, para aplirar ci~nlifisarneutt a analogia, de~cohre primeiro o tixtbtstrrrrd. ou o futi rsjezie, ou o caso.tipo, procede, priineirameote, pelo rnetodo indu- tivo e, depois, a p l i ~ a a regra ao caso omisso por d e d u ~ 5 0 , i.to i, serve-fie de h i s mitodos que a l6gica aceita : a in- du@o e a dcduc;go So entso, irnprbprian~ente, chamamos a este ~tielodu ar~alugia.

Eis a razau Isor yuz eu lties disse : so podemos apliasr cieuiificarnente a a~a iog ia , quando \ la n%o i prbprian~ente analofiia.

Mas, yuaodo, - e u qus acontece nos tribunais, na noss:i vitla Lorens*. -- aplicames a analogia sem prirneirs rnenle dcscohrir o ia t t~ t~s lar d ol; o fi l t i psp: z i r I ;U o caso-fipa, fazemos o que iVander Eyckeo chama atzalogiu urn/llrica por isso rnesrno que 1180 t processo cientifice.

Dzsia opiniso, ilue eu tenho, sao rnuitos esctiturts es- trailfeiro';. Mas, porqi~e esta e, eutre ubs, doutrina rwva que vai de eoconlro aos cooccitos feilos, e porque aveillar urn conceilo leito k ctiisa dificil e perigosa (!), yuero mostrar- -1hes a opinizo de alguns escrilores.

A paginas 45 d ~ s nlinhas liq6es -Mt!/odo de ittlerprela. ~ i r ~ r14s ltis - f e i~as a0 curso conlplementar de ciEncias ju- ridicas em 1934-1935 encontra-se o seguinte :

Consideranios portarrto que a ~ ~ n s l o g i a csiricto sensuw

(i) Teuham, por exemplo, em vista o due nconleceu corn Pasleur. Baseou a Ci&ncia em priucipios 11ovos que iam de encontro a conceitos f ~ r m a d o s e, porisso, teve impugoa~Lo, lutas, disrabores, e 56 a muito cu;to conseguiu fazer 1riunf;ir a sua Doutrina

Aojc. acontece o coulrbrio. Quando a ciCncia mtdics ir~culca a1 gun] prificipia que L ronlr.irio B doulr~oa dc Fasteur, dai vl'm nGvas drticu!dad=s, porqua a dourriar de P.~stkur impBs-se. tornou-se coo. ceitos feitos, em que foram educn*ius o, tsvir i to~, pel0 que i niuito di- ficil e peilpuio duutrinar em sentido cunlrartu.

nLo e itnl io~ t rumer i t~~ 16gico de 111lerprela~Zo das leis : can. ludo, 6 letitlroo elnp~.ega-Ia colno processo d t interpretaqao desde q u e se conhe~a , previamente, o 4 Tutbes to~~dn ou o -Fat i e s p e i e * da lei que querelnos apiicar a urn caso nso con!emplado pzlo l e g ~ s l a d o ~ ; puis se eplicartnos a aaalogia sem coohacermos o u TaSbeslandr, o tnotivo determioante do preceito, L~?zetiios apenas urna analopia empirica.

Parece haver con(radi~2o nas nossas afirmaqaes, porque, pur ulrr lado, considera~nos a analogia como umcrilkrio des- tituido do caracter cientifico e, por outro lado, lazemos a afirrnlrfiio de que para a b:la aplica~Po da analogia e neceq- sario conhecer o 6 Tatbestand*, o caso l i p 0 detcrminador da norma.

Surge assiw u:na aparente cotllrad~qao Corn efeito, de duas uma : -- ou u avolugia k u~it processo Idgica de aplj- cardo r e ror r t c i i d~v~ l , un o p r o m s o ndo P ldgico e rida L li- c i t ~ por isso usa- lo .

Mas, observando bem, nao h a realmeole nenhuma con- tradiq3~.

Se. para apticarnios a analogin, procuratnos antes cu nhecer qua1 Loi o facto que dekerminclu o legislador a esta- belecer o caso que: consideramos aniloto ao omisso, empre- gamos apen.is urn processo que da ana1ogia s6 iem o nome.

Neste caso, o que fazemos e indu~ao para determioar o preceito, a regra, e depois dedupso para aplicar a mesma regra a novo caso ou oasos anfilogos.

Quere dizer. quau-lo usainos &ste processo a que, pur e npreitimo, charnames an?logia, servimo-nos verdadeira- mente diis dois proccsqos da logics,

Ora c artalogia, no sentido rtdororo do termo nso d nada disto.

j i dissemc;c que a arkalcfiia e os dois processos da 16- & ' a s2o dhids coisas be:!] ciisiin!as. I'odernos, se qulzerrnos, porqut. nada a is:,o obsta, c:,l~ti~;uar a rtiai~iar onrzuiogian a este prucesso de interpretar a lei : mas. e precis0 ter pre-

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de casos originhriarnenle previstos, contanto que se trate de supostos sirnllares ou afins e ssrnpre que B .ratto legis> v a l h ~ ~gualmeote para uns e para out ros

E' caodi$io para que se aplique a analodia que haja supostos si~nilares ou afins e que estes supostos conslituam a .ratlo k g i s ~ , a razao yue dclermino~t o !egislador a fazer o preceita.

Vander Eycken, explica :--$Em r~uuifns cnsos ipnnra- -se qlluk 6 n mzn'o cl~rmn dispnsicao, or! porcjir~! nCn se proct~rorr, O I L porgile rib0 s e poriE C O I I S C ~ I I I ' P u ~ ~ e r f g ~ ~ d . Z n . ficlnsia, nn prrifica, nincln neste caso, s f con.firzrin ( I nrpci- menfur por artnlo.yin.

I.imitarn-st? n rorztetrzl)iar n aspecfo esfi.rior das ilipii- fesrs, por "torma ;1lo6rtl, r , se rrrrontrnrrz se/nelhrrjr~a apa- renfe, ntribnem u hipdtese ndo ront~rr~plnda pc.ia iri, lrrntl

ronsrqiikr~rrl.in ar~dloga ri dn hfpdtese conlrrnplailrr 0.

Wander Eycken chama a esta analugia-a conoepqlo emplrlca d a analogle.

Segui~do esles empiristas, o iulkrprete, a.fim-de aplicar urn preceito legdl a urn C ~ S O nau co:lte~l~plilil~ pelo legis- lador, pode litnitar-se i simples aprecia~go duma seme. lhaoqa aparente eutre os dois factos,

Esta 6 a analogia inadmissivel. Se o interprele 1130 faz uma aproxima~ao mais perleiia, exa~ninanda cuidadosamente ss elementos coinuus aos dois capos, entao a analobia n2o 6 processo cientilico oem aceitivel.

Para que a analogia ganhe for03 de processo cientilico e mister quc nos dois casoa o contentpiado e o r~bo dls- ciplinatio existam elementos cotnuns e sejanl estes as que determioaram o legislador a fazer a lei.

Gianturco afirma que - *.A nnalug~a da lei S U P ~ P plena identidade de razlio enfre n qlrostrio a reso1v.r t, a lei que se Ihe nplica ; se asfii se haseiu en1 va'rins raad-s, fRdns da- venL concorrer no c )so rontrovertidou.

Para Gianlurco, a analogia e a identidade s2o uma e a rnesrlia coisa.

Ora o processo qlre parte do igual para o igual e o processo de iodut$r; 6 , p i s , urn processo 162ico. Consla- la-se que Gi,inturco, nil sua delini~iio, coofuiide i n d u ~ s o con) arralogia, 011 rnelhor, d i o norne de analogia a uln pro- c ~ 5 s o iudutivo.

Mas acrescerlta : Sc as ruzdes que detcrtliirrom o 1 . - gislndor u laze7 o prcceito, siio certus c deferr~ti/~..das, C ~ r e c i i o que tat~thCi)z essas razdes se fnconlrem tro ca,o nao contemplodo e ao yicat s . quere aplicar a I p i nor anolopia~.

Guido Capitani , no Digeato Itatiano, afirrna: - .A ona. logia C a conrbinu~ao ilt. dois element s cdfilrurios : - a identidude e a dii~ersidurlr; na uplie-gao rln le i , o p:oresso da anologia result'n da diversidade dos tosos e d a ldd?!fi- dadc dos principios prrrtl resolvd. los* .

Para Capitani, o fundamento ou base da analogia, re- side na ooerancia d e motivos, oo concor~?ncia cos ma tivos determinantes do caso c o n t e t n ~ k d o , no oulro caso orrrissa.

Todos estes escritores sao concordes que so se pode aplicar o inslrumenlo da analogia, quando se aonhe~am os elemenlos quc levaram o legislador a fazer a regra e desde que esses elementos se encontfem tambem ns caso que se quere contemplar.

A esias opiniaes podelnos acrescentar o ensinamento do professor Cabral Moncada, nas L 4 O t s elementorcs de Direito Civil, que diz o seguinte :

&:Para que st possa aplica: a analogia e necessirio, primeiramente, que haja um caso omisso; em segundo iu. gar, que haja urn caso previsto noulra lei ou no sistema de direilo: ern derceiro lugar, que llaja uma senjelhan~a n3o superficial, mas essenciaL, entre o casu omisso e o caso contemplado ou previsto noutra lei>>.

NPo d iz tstc professor que Q urro da analogia, fora dks.

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tes casos da semelhanca essencial, 15 o uso empirica da ana- lotia, como 1120 diz tanibem o que e precico fazer para que se empregue cienlificamente a analogia.

Mas diz o que aqui fica transcrito e issn, supotuos o b ~ , e correspondente a oossa opiniio.

Para que se vela, com mais desenvolv~n~euto, o que enleudo sbbre a analogia, consintam que se leiam mais n s

seguintes passos a pags. 45 das l i ~ a e s acima referidas: A analogia, no sentido tilosofico do termo, e uma ic-

ducHo incornpleta. Conlo ha pouco dissemos, pela induciio atribuitllos a

uma colecf.80, a um ginero, a uma espkcie, a urn grupo, em suma, cerlas qoalidades, determinados atributos, cons- tatados como peculiares a cada iedividuo dessa espicie, dtsse ginero, desse grupo, ou dessa coltc~Zio

Na analogia, ao inves, nZo se faz qualquer coostata@o. NZo parlimos do particular para o geral, n%o parlimos do identico para o identico, mas sirn do semelhante para o se- melhante.

Stuart Mill ( I ) diz oos : - *Rd-st' a a~rulogi ,~ quando afirnianlos n respeito dnftr sujeit I ltnr atrlbuta qrte fxiste noutro sujeito, plrque rros dois encantranios algurttas pro- prlellades comunsr, Serve-se ate desta f6rmula para expor melhor o seu pensamenlo : - a St encontramos no I ~ n d m e -

B -, embora os fendmetros - A - e - B - sejant dl - versos, considerarno 10s nndl lpos, porque l i f n consuqij2n- cias coiserms~,

Mas para que es ta alirma~ao de que se trata, por con- seqiidncia, de ienbmenos anilogos seja urna afirmacao 16gi- ca, ternos de estabelecer prirueiramente a conexgo eotre o atributo, a propriedade e as condiq6es dos feoomenos.

Sisterua de Logica Dedutiva e Indutiva

Se o atributo i ulna constqiikncia de prnpriedades cu- muus dos Jois sujeitos-A e - - R-. enl5o a alirrna~ao e exacta ;--A-f: semtillanfe a-n-!. . .

Stuart Mill apreseota.nos aibda urn exemplo mais cou- crefo.

Afirma-se que na Lua h i habitantes exactarnente por- que a lua ten] uma forma parecida cotn a dd Terra e movi. mentos sernelhanles aos do nosso planeta. Isto porim, C absolutarnente erroneo,

Para qlle, na verdade, da forma e dos movimentos Ja Lua, se pudesse concluir a exisitocia de habitantes na h a , era necessario que, prkviamente, se estabelecesse a relaeao de, causalidade entre a forma t os movimeolos da Terra e a existencia do holnern. Mas, sem que possamos fazer tal demoustraq%o, antes de enconlrarmos essa relacgo de cau- salidade, oiio podenlos chegar a sernelhante cooclus8o.

Stria preciso, primeiramenle, demonstrar a causa da existencia do homem na Terra, para depois podermos tirar, da semelhanqa das formvs e dos movimentos do piaoela ter- raqueo e do seu saleltte a conclus8a de que na Lua existern selenitas.

Como Oste, todos os argumeotos da analogia, s8o argu. mentos que repugnarn ao principio da c;~usalidade; na ana- lofia concluimos cia semelhan~a de certos atributos ou pro- priedades para a das causas ; da aparbncia dos fen6meuos para a das leis que 0s regem, preterindo a re la~ao coostan. te entre as causas e os efeitos.

,~Ser e ttuo ser nao pode no nresrtao tempo sera. Tudo aquilo que conlrarie o priocipio da identidade i falso e absurdo, traduz a neeacao do proprio pensamento.

No proiesso da analogia, para suprir as lacunas da lei partiudo sempre da alirrna~rTo de que oBo exisle urti p ~ i o - cipio legal, tlplicavel ao caso em ques lh , chegamos scmpre a afirr~ta~So contradil6ria tie que ao caso s e aplica u m pre- ceito legal.

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N6s dizemos : - .o Irgislniinr t i d o ronternplori i s t f cusolr P , POI. O U ~ ~ U lado, v : \ l ~ ~ o s apliiar-lhe urll preceilo e5-

tabelecidu peio legislador: -- ~L'sse i t !ton rssel . Para n8o causarmos confus~o, imy6e-se dizer desde ja

que os argutnenicls r n /ortiorin e # a pnrin, ngo s3o prbpria- ~nenle srgu~ilentus de analrrgia. Sgo argunlentos de ideati. dade, 380 ar t l~meotos em que partimus do identico para o idkntico, do mesnro para o mesmo, cotn u tla precisgo c i ~ n - tifica e com ut11 rigor ~natematico.

Por coqsequkncia, desta merecida acusaCao contra a anohjgia, vatnos desde ja erciuir o; argumentos apont;~dus.

Mas a anai?gia, alern de todos os defeitos, tem urn ou. tro, resultante da apl.ca@o qlle dela se faz na pritica.

A :uaior parte das vezes oPo podenlos conhecer o con- dicihnamento, o deter,uinativo do pensaniento do legisladur. A rttaior parte das vezes o ~ o conhecemss o charnado *Tut. bestan. /# , como dizem os ale~uges 0u o (Fat i ejptzziea, dos italiznos.

0 que rem a ser o a Ta tbc : tu t td l . . . E' o caso concreto que determina u legisl+dor a fczer o

preceito legal que Ibe deve ser aplicadcl. Um exe~ilplo para esciarecer : -0 Ieghslado~ verificou

em dad,^ nom men to que us nluluanhes levavan1 juros exage- r a h ; esbabeleceu um prece~to que lirnita a taxa do ]uro.

0 .Ttltbesfandtl d aqut le easo concielo que o legisla- do^ con~iderou para fazer o preceito da l e ~ , iimibativo da baxa de juro.

Pois, m u i t ~ s vezes, como iamos dizendo, ngo podemos conhecer qua1 seja o n Tafbesfnt id* durn preceilo, o caso tip:'. cha i lc~iios Ihr assirn , que i e v i i u u legisiadrir a f a z r r o precriro.

N%;I obstanlc, L~zetn b i aplic;rc;G?s do lrrrceito pot. aria,

jogid. N2o u);~lheiendo o ,J T[i lbri tuvi i~~ rl%o podernos conhe-

cer R arnfio-lpgiitl e st ngo conhece~nos a *rot lo- legis*, nao podenlos fazer uso da analogias.

Por consequencia, em meu entender, s6 podemos em- pregar o processo anaiogico, quando, prirueirameate, d e s cobrirmos o caso . i ip~ que determinou o letislador a fazer a regra que disciplina o caso contemplado.

Fora desta hiphlese, ounca podemos lanqar mgo do proceqsu atlalogico, ao contrario do que em geral se faz, que k aplicar a lei que disciplioa urn caso contemplado a oulro E ~ S O nZ? contemplado ou omisso simplesmente por seme. l h a o ~ a s aparenles, supcrlicjais, sem c o n b c e r da folio legis- Dai, tambem, a razao de dizermos que sir 6 admissivel o prucesso analbgico aconselhado pelo canone do artm0 16,", quando tal processo ngo i prhpria~nenbe analogia, posto con- venhamos em que analotia se champ a @ste processe.

Agora, aqui, p6e-se a seguinte questgo:

Mas a analogia serve para descobrir leis irnplicitas n:rm sistema legisltitivo ou serve para criar leis?

Se a analogia, como ensina Ferrara. e urn processo de descobrir teis gue esl%o implicitas num sistema legislative, \ entao a analogia faz parle do problema da interpretaqgo das leis astriclo seosun.

Se, pel0 contrario, a analngia serve para criar leis, en- LBO ela f a r parte do problema da interpreta~gu das leis luto serrsu, ou antes, d9 problema da integra~ao ou colmaqgo das lacuna3 d d lei.

I I

0 modern0 pensamenfo alernHo, corn o qua1 me con- formo, ensin:< que a ani.logia 6 unl pr-ocessn par-a cr-iar leis, e n5o apenas para descobrir leis implicitas nuln sistema de legis lnC~o: cmseqiientemente, para 1169, a a ~ a l o g i a e um processo de integrq30 ou c{)lil)a~80 das lacunas da lei, f a z parte do problenla da interpreta~Zo das leis lafo sensu.

Acontece, por vezes, que tl%o podemos servir-nos do

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process0 analdgico: ou por ago conhernlos a delerminante do leiislador, a rat io l~gis , bdbzs lui~d, 011 o j u t i espezic ou o caso-t ipo, ou porque se trata de leis escepcionais, clue n%o Itm apl ica~zc anal6gica, O M porque, finalmente, ago ba lei algurna que contemple llnl caso semelhanle ao caso omisso, neln lei ou institute algum qur regule uma institu'i- q%u parecida corn a iostitu'i@o nmissa.

Quat~do assim aconteqa, para integrar a s lacunas da lei o art." 1 6 . O maoda recorrer aos principios do direilo natural conforine as ciucunstincias do caso.

A apli;a@o dos principios da dire~to natural conforme as circun<taocias do caso, u.uas vezes, ja o dissemos, eq111- vale a aplic3~;To dd regra costumeira, do cuslume.

Mas pode acontecer que n3o llaja costutne formada, que n2o haja redra de conduta ccstumeira, e, rntao, a apiicagTio dos principios do direito natural conforme as circunsr$ncias do caso leva o juiz, que nBv pode deixar de julgar con1 fun damtinlo de que n2o ha l e ~ , a tazer uma regra que aplica s6 ao caso que tern de decidir, que n%o e lei porque n%o 6 ge- ral e impessoal, que s6 se aplica-repito-aqueie caso que o juiz e obrigado a decidir. D&ste modo, o juiz decide con. fortne os principios do direito natural, que ainda nau sgo costume, de harmonia cotn as circuntancias du caso, isld e , decide conforme as fontes reais do Direilo que silo os ele- mentos geradores das regras de conduta que ainda nZo exis tern.

Se bem se recordam, nos dissemos, seguindo o racio cinio de Pdcchioni, que os principios do direito nalul-a1 con. forme as oircunstrincias do caso podiam ser o coslunte.

Para haver costume, como dissemos, i oecessario haver uma regra de conduta geral acompanhdda dd , upinio oeces. sitatise, ou xopinio juris*.

Quando ainda nIo se tenhatn kortnado essas regras de

c ~ n d u t a costumeiras--39 principios do direito natural, essas r8gras imutaveis qae constituem o Jireito naturhl na concep- cao classics, dire111 a decisao que o j ~ i z ha de tomar no caso p~rticular que e obrigado a resolver.

Giny, no seu livro, ( r ) ja citado, qurisi no final, conclui, assim, conlo ] a virnos :

* A lei e insufic~enle para regular as relaqfies sociais; por conueqii&ncia, e precis0 eats nlrar outra fonle formal do Direilo. Essa fonte formal do Direito 6 o costutne.

Qrrcre direr h i d i r~ i t o jora du l c i . A lei deve ser interpretada (aqui nLo concordarnos)

segundo a vontade do 'legislador oa epoca em que ela foi feita.

Quando a interprete a20 tern lei que regule a relacgo juridica, nem costume ou regra costumeira que se aplique, podera criar uma regra s6 para o caso que tern de decidir, conforme os principios da cigncia e da tlcnica do Direito- da ciencia, que Irata das fonles reais do Direito. e da tbcoi- ca, que trata das fonles furrnaisr. E' &ste o mdtodo de Geny, e pritneiro que, etn boa forma e corn posiffio solida fez fog0 contra a Escola da Exetese.

Como v e e m , Geny, admitindo, tambem, outras fonles de direito 916111 da lei, interprets a lei pela menle do legis- lador e em relacso ao momento ern que a lei loi feita, do que n6s discordamos.

A i l tm o quadro : Quando se nos apresenta uma ques(%o, vamos ver se

ha lei que a regule. Haveoda, aplica-se a lei, consideran- do-a no seu ext to e no seu espiriio. N%o havendo lei, tetnos de suprir a sua falta lanqando mao da analogia.

(Ja dissetnes o cuidado qne se deve ter no us0 da ana- logia: 5 6 a devemos e~npregar quando eta t uma sintere dos processes logicos de indu$ilo e de deduf%o).

(I) La Methode, e d i ~ a o de 1910.

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Nao havendo lei nem costume nem se pojendo aplicar a analogia eatPo o l u i z deci je a qt~estgo su~eita a sua ~ u r i s - d i ~ B o , criando uma regra que 5 6 sz apl~ca aquele caso, regra que n8o i lei porque n?io 1 gcral e inlpessual, regra que vai buscar foutes reais do Direito : as solicitaq6es da vida social, a naturezd per~nanente do homem, A pr6pria noqgo do Direito.

Mas julga, porque a isso 6 (:brigado pela lei positiva.

18." Das fonies do Direito (cont.)

x) - Da interpretagao das lels, jounl.)

- - Classltlcaqeo dos mbtodo* da lnterpretaqilo dss lels.

- 0 s crtegorrmas do m l todo tra- diclonallsta, no grrmatlolsmo s na escola de exaese.

-- 0 s aategoremos do m4lodo fib- tbrioo-evolutlvo.

- A o l a s r l f l c a ~ l o em slstemas dos vbrlos sequazes do metodo hls- tbrlco-evolutlvo.

- Categorem~s do metodo posiflvo ou escala alentllloa ou da Inter- pretagao das lels.

- Cotagorrmns do rn4todo do di- relto Ilvra,

Slstemas que sdrntro dbste mbto do procuram orlentar b Juiz.

Vamos hoje falar, neste terceiro tempo das nossaa coa- sideraq8es sbbre interpretaqBo das leis, das *arias escolaa que se ttm ocupado dtste magno problema,

0 nosso esibr~o, primeiro, 14 no sentido de agrupar as vdrias opini6es dos diversos escritores, sbbre a interpretaqae das leis, em escolas,

Dualde, qne toi professor da Faculdade de Direito de Bircelona c miciistro d i Instru~ao do pah vizinbo, antes do movi mento nacionalista, dizia que bavia a6 duas escolas

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da interpretapflo das leis: a tradicionalista e a riel tiireito l i - vrc.

Geralmente, agrupam-se as opinifies em irks e s r o l ~ s ou m6la;los ; mktodo tm iicionnlistn, me'tudu histdrico-evoluliva e mtlodo do dirr l ta livre.

N6s, pore~u, considerando que enlre a e:ct:la a l ~ m % charnada do direito livre e a escola f~ancesa iunctada pnr Geny h i ulna disparidade t a l de c r i t t r ro~ , que niio perm~te, Iacilmente, reduzir a escola franccsa ao mitodo do direito livre, afrupdnloi, por isso, essas opiniaes em quatro escolas ou mitados :

I.*, o mbtodo tradiolonallst~ ; 2:, o m8lodo hlstorico-evolulivo ;

3.", o metodo pnsitlvn ou ascola clfntlfica da interpreta- oBo das leis ;

4.: 0 mbtodo do dlreitd Ilvre. Dentro de cada utna destas escolils, h i opini6es rnuito

diferentes, qucre dizer, deotro de cada uma destas ~sco las , ha sisttnias diversos; mas, quando encootramos noras co- muns nos diversos sislemas, formamos corn elas uma escola.

Assim, no mktodo trod donolista, ha t irios sistemas, entre os quais o gmrnaticlsmo e a escola da exegeae, mas, como esses sislemas tern caracteristicas comuos, fazemos corn todos eles o metodo tradicional~sta da inlerpreta~ZIo d a s leis.

No nrktndo histdrico-evolutivo, tarnbem, encootramos vi.rios sisternas, cnnlo depois veremos.

Na escoln cient i ic,l do inferprata~do das Leis, h i opi- nia;es, tambem, muito divergentcs.

Desde Wander Eycken ate Geny. quc diferen~a d e sis- lemas! No entanto, colno encontramos em todos esses siste- mas caracteristicas eornuns, lazemos con1 elas urna tscola.

No entaoto, ern tadas essas upinia~s h a nolas cumuns e com tbdas elas lormarnos o chamado nlPtodo do direilo Livre ou, como dizem os alemais, a Free & ! c c f ~ t ~ .

Mas, p r e c e ser indispensdvd distinguir a cscola cicn- iica da ioterpreta~ao das leis do rnelodo do direito iivre, p3rque ha duas notas da prtn~eira que 11310 convtm ao se- gundo; notas ituportantes que avolurnam de tal rnaneira a diferen~a desses dois melodos, que tornam indigpensavel iriar ulna ouvb escola. E' a escola cientgica da interpreta- f d o ifas leis.

No rnetodo do direito livre, em geral, s o se admite a lei cotno foole fortnal do Direito.

Na escola cientifica da interpretaqgo das leis admite.se sempre mais que uma fonte formal do Qireilo Wns querem que sejam a lei e o coslume, outros a lei e a jurisprudkncia e outros, ainda, como ja vimos, Wander Eycken, a lei, as actos preparaldrios da lei, o u ~ o , o costume a jurispruddo. cla, a dautrina e a t rad i~ lo .

Na ercola do direito livre opina-se que o j ~ j z decide Alem da lei e: contra a lei : alem da lei, quando a lei e ornissa: contra a Iei, qulndo a lei e obscura ou quaodo ofo corresponde as necessidades da vida real,

Na escola cienlifica da interprela~60 das leis, se d uer- dade que se admile que o juiz crie regras para disciplinar o caso sujeito sua aprccia~ao, quando n%o h i nem lei nem outra foole Larmal do Direito, ainda assim, exige-se que o juiz crie estas regras coflforme as Iontes reais do Direito,

Essas duas notas s3o tZo importaotes, que, repito,'$. zem com que nZo possamos iocluir a escola cientifica ou ejcola francesa da interpretac80 das leis no metodo do di- reito livre ou esc0ld austro-atema.

Yor isso, para n6s, us ~ndlodss J e interpretacao das leis s8o quatro : n~etodo tradicionalista, n~etodo hislorico-evolu-

0 lnesmo diremos do mClodo ado direilo Ilvre : desde Ehrlich, Helwig ate Iianlorowicz, que distaacia tambtm !

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tivo, metodo positivo ou escola cientifica da interpreta~go das leis e metodo do ~ ~ r e i t o l i v ~ e .

Vd~dos Ocupar nos de cada um deles.

Corno jP lhes disse, no metodo lradicionalista h i varios sirtemas. Referim~-n03 apenas ao primeiro e t o dllimo, isto i , o grovazticism? e a cscoia tx?gt!tica, que ambos, re- pito, estao iacluidas no mttado lradiciooaiisla.

0 sistema gramaticista ou gramaticismo assentava nos aeguinles principios :

1 .' a lei I precisa e per ' t i ta ; 2." na lel ndo hd lucunas, porque a legislador 4

o-nniciente c omnipotenl- ; 3.' a inkrprtla&ao das leis consisle, sdmente, em

declarar o lexto d a lcl. Esle sistema C muito antigo, rtmonta a uma idade

ahstada, mas veio atC ao sLculo passado ate dpoca recente. J i na Biblia encontramos o ensinamento d e que Deur

-1eovah-deu urn texto de lei a Moists. Se a lei tioha essa origcm divina, havia de ter natural.

rnente a r caracteristicas de omniciencia e de omnipol&ncia, que perlencem A Divindade.

Deus previa tudo. N a d podia haver cases ornissos, por- que Deus regulava tudo, e regu[ava tudo corn precisso. A lei devia ser precisa e p e d e ~ t a , cumo perfeita era a Divin- dade donde el.) dimaoava,

Q u a d o a lei 11ao prornmava da Divindad?, pro.nanava do Iztlsla 101, q u * era urn ilcr 111nad0, que erd urn super-ho-

tnern, que tilllla a r p , v c l a ~ ~ o tlivit~a que o cotiduzia na Leitura da lei, que tinha, pot tdn to , a omnicilucid e ir oulnipotincia, islo e, que nus dava a mesrna lui precisa e perfeita, a Ines- ma lei quc nXo adrnitia lacunas, a inesma lei cuja ioterpre- tacgo consistia, apenas, em declarar o sentido do texto.

E' certo que ao iritlrprete n%o podia passar despcrcc- bido que, por vezes. a lei n%o previa casos da rida real que era mister resulver, Mas , entso, a habilidade humana criou urn bw,lZu--borci8o que se traduzia oestas palarras latiuas: aUbi lex voluib, dixit ; ubi noluit, non dixitm, islo e, wonde a lei quis, disse ; oode n%o quis, caioum.

Ora, esse bordgo ocultava, encobria, ~camouflavar~ a s lacunas da lei.

Uma lei regulava, contemplava, dizia ? Entso aplicava-se a lei. Mas a lei nao previa, n8o dizia? Nesse caso, e como s e

ngo quizesse, 6 como se proibisse, e conio se bouvesse uma lei proi'bitiva.

Tambim, havia urn afotismo latino que dizia que a in- t e rpre ta~ao coosislia s6 em declarar o seotido do texto. Esse aforisrno dizia assim : *In claris nou fit interprelalios, islo 6 , *Nos lextos claros nBo h a iaterpreta~ilor.

Mas veio a reconhecer se que o legislador nan P1 omni- cieitte nem u!nuipoleote, u que se verifica hoje corn os mi- nistros, que fazem decretos-leis, e con1 os deputadbs, que fazem leis, que ianto uns como ou ros , sem sombra de dli- vida, ngo sao on~nipoteales, s3o humanos e tam ignorantes ou rnais que os sells semelhantes, pele rnenos como os seus semelhankes. E. se u legislador oso e otnniciente nem omni- poteute, la se destruiram II se desiizeram esses principios em que as5enlava o sisietna. S e ele nao i ornnicieale, a lei pode deixar de ser precisa e perfeila, a lei pode ( t r lacunas.

Ao rilesuno tempo, averiguou se que o legislador, que legislou porventura h i l ~ ~ u l t o s aom, podia ter deixado d e

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conternplar casos rlue o progresso trouxe a supuracgo; doode a interpreiacao da lei ago pirder consi>tir so em determinar o selltido dn (exto.

Escnla exegktico: Drotro da evoluqao d&ste rnitodo lradicionillista ;lpare

aeu a escola exegitica que tern os rnesluos deteitos do s i s - tema Qramalicista. -

5' urn progresso, lnai ainda a ~ s c n t a nas mesnlas b a s e s ou em bases parecidas

Segundo a escola da exegese, a interpreta~ao faz.se de harmonia com estes principios:

1.". corn o culfo do text0 da /pi:

4.", se.p~~ndo o principio iiu onrrripotPncin F otnrnirie^~l- cia do le~islnlior;

5" , de hnrrnoni~z con! n arrforirlncle da interpretofdo prel-ederite e r l ~ s intirprefes.

Como eslao a ver, estes principios sofrem da rneslna deficieacia das principios do gramaticisrno e, ;%tC em parte, s?Io os mesmos.

0 cltlto do fexto dn lei : - Quere dizer : h a s6 u rrla fonte formal do Dirtito: a lei, porque esta prev& tudo, re- gula todos os casos.

- con~es'to rrovo do dlreito: - Islo 1 : a inte;pretacZo faz-se descobrindo o pensamenlo do legislador o que re.vela que este e omoi,iente e omnipolente, contra aquilo que se ve- rifica na vida real.

Segusdo o prrvcipia contemporlzi~!~di~ o r r ~ o ilog smro da doutrln r : - Quere dtzer : tanto a escold da e x 2 g r s e

como o gramdt~cismu admtt~am prtncipios do direrio uatu

rai, hso!utos, imulaveis, mas, a-pesar disso, cunlinuaram a consider;.r cuino dnica foutc formal do Direiio a lei ; islo i, aceilavarr~ o dirrits que 1180 era nor ma de conduta, que nHo tinha aplicac?io. P.)r issa, ssscntavam rlun~ ilogisrno.

Afribnia umu usrrgrm(/n bnportri/rcin ci opinido dos inl,:rprufes r ii infi.r/~reto~-iio ,jli e s f a b t - l ~ r i i h na k i : - E' o principio que 1165 costumamos criticar dizendu que passou o tcrnlc~ do ~ i n a g i s ~ c r dixitl ; priocipio, pnrem, que tinha raizec profundas n a vida juridica.

Rsse principio k que explica que as alegacGes, as sen- tenfas, apareca~n ainda hole reclleadas de cita~ijes! citaqaes conformes co:n a opinigo do inttrprete, que e aulor da sen- tenca ou da minuts.

Na teologia catblica, relativamente a inialibilidade do Papa, h i urn alorismo que diz: nLocuta esl Rotua finita est causa

Pois na escola d:i e x c g ~ s e bavia um alorismo paralelo, o emagister dixita, o qua1 se pode traduzir por esta expres- sao: *Faleu i j Mestre, calaram-se tbdas as bbcasn.

Na escola da enegese, de que o nosso artigo 16." e um rebeato, a interpretacao fazia.se assim : determinava se o pensarnenlo do legislador e, para isso, u inttrprete servia-se do texlo da lei combinado corn n espirito da I t i ; e para tn- contrar o espirito do legislador servia-se o inttrprete nHo SO do texlo, mas cios achy preparatorios, da opinih traduzida pelo legislador, das criticas levantadas no nlomento da fei- tura da lei, do cootexto, do6 lugares paralelos. Assim se procurava ver quai era o pensarnento do legislador.

Se, porventu~.a, a Lei nao previa a h~pbtese, sendo pre- ciso colrnar a lacuna da lei, entao o intkrprete lrnqava m8o da analagia, da analogia etnpirica, a que jP 110s referin~os; e , quando a analugia 11x0 dava aioija tuaneira de iazer a in- tegraqno, o intirb)tete servia se dos principios estruturais do Direito! porque wssiiu eutendia a Escola da Exegese que se

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devia traduzir a expressgo do artigo 16." : as principioi do direito rtn!arol confor/ne as clrcu/i5ldncias do crrsa.

Mas, corno 1h.s disse, verjficou se que o legislador n2o e ornnicieobe nem omnipotente, que a lei 6 insuficienle, que o argument0 da auloridrde d prscirio ; r, enlao, f4z.se reac- c;Jo contra a Escola da Exegese, que encheu todo o seculo passado, veio a dominaraos no siculo n c l u a l e ainda hoje procara influenciar o inttrprete.

Essa reac~Ho fez-se q ~ a s i si~lultineamente em F r a n ~ a e na Alemanha. (1)

Em F r a n ~ a , Gdny escreveu em 1889 urn ltvro iutitu- ladc uLu methode d' in! rprstati?n et scrurces en droit privl p3sitif.r

Na Alemanha, Ehrlich escreveu, jP neste seculo, urn livro ~otitulado ~ L i v r e Invesl~gu~do do Direil s C I ~ I I C ~ J li. vre do D l r ~ i t o ~ ,

Nesscs livros, Gdny e E h r l i ~ h reagiram vrslenta e frau- ca~nenle contra a escola da exegese.

Cronolbgicamenle, depo's da escola trsdicionalista, de- viarnos referik-nos, primeiro, P escola cientifica da interpre-

das leis, depois, ao mdtodo do direito livre, e, final- menle, ao mefode his~6rico~evolutivo. Mas, Ibgicamente, quere dizer, por haret mais aproximaclo entre o metodo hist6rico-evolu~ivo e o ttadiciona1ista do que entre a escola cieokifica da inlerpreba~ao das leis e o mitodo do direito livre, referir-nos.emos, am primeiro luear, ao mitodo his- tdrico-evolutivo.

h t e rndtodo, cotno j4 lhes disse, nEo inierpreta as leis segundo o pehsainento do legislador; mas para ele hi4 s 6 urna fonle format d o Direito, que d r lei, Por isso, C mais prhximo do mdtodo tradicisnalista.

Mas, n e s b metodo hlst6rico-tvoltittro hh vhrios siste- mas, que 116s redaziremos ainda a trbs:

I , O - u s is tcm~ subicctivo do mitodo hlstbrico-tvola- tho ;

2.' - o sislcnan finollsta uu dskoldgicu do mklodo his- 56 ,ice evoluti~'o ;

MBtodo histbrico - evolutivo

Mas, logo depois, apareceu tarnbdm na Aiemanha e na ItPlia uma outra escola, urn oulro mdtodo, o mttodo hisl6ri- co~evolu~ivo, que la : bem procurara interpretar a lei sem ser conforme o p e n s a ~ ~ e n t o do legislador.

( 2 ) Nfo sc pode dettrminar corn precisao o momento em que se iniciou o morimento de discordBncia e reaccXo, Sabe-se, apenas, qut ale foi assinalado em Frar~qa pelo apzretimento do litrro d e (+tny, pu- blicadu em 1889, c na Alemanh<t pela obra de Ehrlich, em que se baseiam os que reivind~car~rn para a litsr,atura alema a primaziada luta contra o Mktodo Tradicionai,

0 3istema suhjeetiva do rnblodo bistbrico-trolukivo t tve como prostIito principal o italiano Cimbali, e chama-se sis. tema ~ubjoctivo porque parte realmenle do pensamento do legislador, como a escola exegbtica, para st tbegar a urna 'vontade da lei diferentc da vontade do legislador, vontade da lei que, corno ja lhes disse, n3o i uma vonlads psico- lbgica, porque nlo pods existir tlma apsichk* na lei , cha- mando n6s vontadc du Id ao contcddo da prdpr/a Ici.

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Cimbati ( 4 ' 1 diziq que, quando a lei foi feita h6 pouco tempo, quando a aplicagao da lei e confemporanea da feitu- ra da lei ou quando a tpoca da aplicaclo da lei C prirxima da epoca da teitura da lei, ent80, porque o legislador con, tsmplou o caso e coabecia a neceesidade da vida real, apli- carnos a I t i stgundo o pensamenlo do legislador Mas, quando a aplica~go da lei se faz ern epocn distaote daquela ern que foi ftila a lei, entao as necessidades sgo outras cu podem ser outras, o pensamento do legislador jd n%o podia t t r conaiderado as necessidades da vida sociaI, e, entao, te. n o s de interpretar a lei, nPo conforme o pensamento do le- gislador, mas segundo as so~ici la~t ies do sistema d@Ittisla- $20. Interpretamos a lei harmonizando-a cam o sidlema de legisln~ao e corn as necessidades da vida real , isto e, faze. mos urn1 inlerprela~go objectiva da lei.

Segundn o sistema teleologico ou finalista, a lei e in- terpretrda conlorme o seu fim social.

Notem hem: n8o estamos corn esta doutrina ; nso sornos hist6rico~evolutivos, porque admitimos, aletn duma fonte formal do Direito: a lei, outra ionte formal: o costume, por- que admitimos que o inttrprete ou o juiz, quando n%o haja fonte formal do Direito que regnle o caso que kle !em dc

(1) *Stud. di Diritto Civil" : - ,,A lel c ~ n s t i t u i urn institute rivo e um ceniro diulmico de fareas, que obedece c manda ao mesmo tem- po; obcdece i s altas ncccssidadrs 16picas e histbricas das relac$cs de direito em garal, mas, por outro lado, comaada as rela~6es concretas do direito c as obr igama qut re dcscnvolvem em um dado period0 s sob o imphrio de determinadas circunstaucias~.

For Lstr conccito de Cimbali, ja n6s ven~os quc dsle escritor nXo se limita, apeaas, dctarminacSo dn vontade ou da in ten~30 do lefis- lador, pois, dlz,nor quc a lei comanda e 6 comandada.

apreciar, possa criar uma refra para o resolver n8o podt. mas ser histirico~evoluti~o~. Somos do milodo do direito livre, mas, eclkticamtote, aceitamos o prioclpio finalisla, B

principio social do fim da lei, para Iazer a interpretaflo do lei.

Slstema abjectlvoi Finalmente, o sisterma ebjectivo do melodo hist6rico.evo-

lulivo, que tern como principais representantes o italiano Ferrara (3 e o alemao Kohler, diz que a lei pode ter virios sentidos, virios conle6dos, varios pensamentos, conforme a s necessidades da vida real -ora urn, ora outro.

O contelido da lei 15 urn contelido actual e n8o contem- poranto do pensamtoto do legislador que o interprete dA A lei, conteudo que as exigtncias da vida social realamam contor me o ratio 'legls.

Nao podemos aceitar &ste sislama, porque ble d& ao juJz o poder de atribuir a uma bi um ~ o n t e i d o direrso, r m pen- samento diverse. Conforme ts te sistema, dCsc ao inlkrprete o arhilrio e, ao mesmo tempo, despeja-se o prdprio texlo da

(1) F e n r a , apud traducio feita pclo Prof, Manuel de Andrade, di7: A chamada inteipretacLo cvolativa 6 scmprc mcra aplicaqzo do dircito e repousa em dois canones : o r d i o l r g t I ~ b j e ~ ~ a (n3o a ratio

;ubjectira do c redor da I t i ) c i ociuel (nzo a ratio hist6rica do tcmpu em que a lei foi f r i tn ) . Asrim pode aurntecer que ma norma ditada para c e ~ t a ordem d e relaqtits, adquira mais tarde um destino e f u n ~ i o diversa. E' um fen6meno biolo~ico que tem correspondencil no c a q o do direito. Dc sorte q u c uma disposi@o jnridica pode ganhar com o tempo urn sentido now qu.: os intdrprctes nuncalhc tinham atribnido e que t a m b h nio estava nas previs6es do leaisiadnr, rcssal~ando, jk se eutende, que dai nZo venha cantradicQo c o n ontras disposiqks ou desharmonia corn o *istamam A interprctacHe evaluciuna e satisfax no- ,

vas necessidades, scm todavia mudar a lei. A iei 6 a nlesma; mas, porque a sua rulto conlo fares vivente m6re1,adquirc como tempo cola- bwaggo diversa, o int4rprele -saga2 colhe dai novas apl icage*.

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lei, poi5 pade aconiecer que um certo texto de lei nao possa comportar urn tieterminado contelido, e nao podtrdos den- prezar, na inlerpreta$Bo, o texto da lei.

Mas, como lhes disse, na F r a n ~ a e aa Altrnanha apa. receram oulras reac~6es coo Ira a escola exege lica : na Franw, fundowse a escola cienlifica da ioterprelaflo das leis, na Alemanha, rr mttodo do direilo lirre.

Tumbtm cada urn d t s ~ e s rnitsdos comporta muitas opini6es e; A3 vezes, tam dirergeotes que nos htsitamos em Rxar urn certo tratadista na escola cienrifica. For exemplo, Wander Eycken cx@e o seguinre sisterna de interp eta@o dar leis, no seu lirro La rnlthode scientifique de I'intet-

Na iolerpreiagiXo M dois mom en to^ : no primeiro, o in- terprete, consultaudo a sua cooscibncia. remolrre o caso coo- torme a solncIo que a sua conscitncia 1he ditou, sem s t preoeupar corn fonter formais do Direito. Depois, o intbrprete, passa a confrontar a scIuflo qut encontrou corn o fim sacid da' lei, gu t 6 revelado ,par qualquer das fonks formais : ou a lei, ou o uso, s u a jurisprudencia, ou a doutrina, ou a tradi flo. E, quando encontrar concordancia entre a solu~Bo que obtevc cawaltando a sua mnsciencia Bnicamenb e a solu- CZO dada pdo fim social da lei que 6 rerelado por qualquer das foutes formais do Direito, es t i feita a interpretaqao.

Wander Eycken e o Bartalo moderoo, Barlolo foi urn eminenle jurisconrulto do Direito inter.

mCdio. RPrtolo tarnMm interprttava assim as Itis : apresenta.

va-se-lhe urn caso p.ma resolver e Cle re:olvia-o consultanda a sua consci@ncid juridica. Uepois de e o c ~ n i n r solu~So,

chamava o seu sacrelhrio, que tinha o nome d e Tigrinius e pregunlava-lbe : i Corno e qve o Dlrelto !Zom;ino resolve ts te caso?,, ao que Tigrinius, respondia.

Ebcontrando c o u c o r d ~ ~ c i a entre a fonte do Direito Romano e a soluFao que t i nha achado, estava o caso re. solvido.

Ora, 116s. quando Piernos ts te process0 de in te rpre la~L de Wander Eycken, hesitarnos se devemos met&-lo ua es cola mentiiica da ioterpretaflu das leis. Mas ele prbprio d qut deu ao seu livro a norne de Melhode scienfifique de f'interpre'tation des lois; Cle pr6prio d que se meteu aa es- cola. Por isso, nBo ternos direilo nenbum d t o afastar.

Geop, oo seu livro j i citado, diz que a lei e insuficien- le. Por conseqikcia, alem da lei, h&de bavet outm lonte formal do Dirello, que ele diz ser o costume,

Para Gtoy, bl pois duas fontes formais: a lei a o cos- tume, e a lei deve interprttar.se ~egundo o pensamento do legisiador. Quaado aem a lei aem a regra costurneira con- tetnplem o caso que deve ser apreciado. o juiz pode criar uma regra para regu!amenta@u dCsse caso-

Mas, entre Wander E y c h o e Giay ha, portanto, urna dim- ancia enorme. No aatanto, urn e oulro perteacem A mesma escola. segundo a apssa classificagPo, porque num e noutro eacontramos cstas notas comuos, que tambirn encontramos em kudos aqueles que ioctuitnos nessa escola:

1." Nota - hlem cia lei, h i outra fonte formal do Di- reito, que, seguodo UQS (G6ny e Sonnecast) t o costume, stgundo oulros e a jurisprudtocia (Lambert) e ainda se- gundo outros $30 a uso, a jurisprudtncia, a doutrina e a Ira- di@o (Wander Eycken).

2.' Nota - Todos admitem, aldm das fontes formais, fonles reais.

3.' Nota - Todos eles admitem que o juio poee criar

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urna regra quando o caso sujeilo B sua a p r e c i a ~ L n8o d contemplado em nenbuma fonte formal du Direito.

MBtodo do direlto livre

Esta e ~ c o l a clentifica da interpreta~80 das Ieis ou me- kdr, positivo de interpretacao, como jB lhes disse, distin- gu-e do milodo do direito livre, porqtie neste, em regra, 96 se adm~te uma foute formal do direlto - a lei, e, potque o mitodo do direilo livre coosenle que o juiz julgue alem da lei e contra a lei: alCm da lei, quando hourer caso on~is- so ; contra a lei, quando esta e obscura ou n8a correspoade i f realidades sociais.

Esta escola tere urn paladin0 : Kantorowicz, que escre- veu, em 1906, dtiendendo corn todos os excessos e arreba- tamentos durn apostolo a sua doutrroa.

Xantorowicz, no seu @ Combafc pclu Cibcia do Di- rtkto* dizmos :

10 direiio livre, em oposi~ao ao direito do Estado, d uma especie de direito natural rejuvenescido ,diferindo do di- reito natural classico em ser friigil e mulive1 como a s es- trelas que, tamMm, sao object0 do estudo da citncia mo, derna e ein ago peder imporse ns orde~n pratica aeoEo depois de erigido em direito positivo por urna circunsl&ncia externa, potencia, vontade, reconhecimeolo.

A Ciencia do Direito deve ser essencialmente activa, urna rerdadeira fonte do ~ d e prornanem regras. Nao deve admitir a anaiogia, nem as ficcties, nem a intetpretaqilo ex. tensiva, nem consideraq6es sbbre o espirito da lei. Deve aliar se h psicologia e a 18das as cibocias sociais. 0 juiz deve ter poderes ngo $6 para suprir as lacunas da lei, mas ainda pdra se emauclpar dela quando se lhe af~eure iovero sirnil que o legislador de hole plrdesse preceituar crmo o

faz a leir.

Vemos, assirn, seguodo esta ddutrina-austro-alema- que o juiz tern poderes n8o so para ioierpretar a lei, ma4, atd, para a elim~nar, quanllo verifiquaque ela 1180 seria feita pel0 legislador, se ele vivesse oa i p c a da interpre. tago.

Este metodo foi criticado por Covaellu numa oracKo de sapitucid proierida na Uairerstdads de Palerrno e que se encontra pubiicada em folhbto existenle na b~bl~oteca da nossa Faculdade Nesse opdsclllo, 116s eacontramos, entre outras, a seguinte passagem

* A incond~ciobal obsarvPncia da l e ~ , por parte do juiz, 6 urn principio fundamental da organimgso do Estado Mo- derno que o20 pode ser despre~ada ; B uma regula jurlr - qaae simul cum In &quo vltlatu est, ptrdrf trfficirsrn auurn. -E' inritil recordar o exemplo da pretor romano ou do jeiz iaglts, pols a sonslituig~o plftica do nosso Estado 4 , pte- fundameate, diversa, vista que SG inspira 40 priacipia dp d:- visao dos poderes, hlCm de que a nossa organizac#o judicii- ria C tambkm inteiramente diferente.

Mas o pr6prro pretor romano n&o tioba poderes arbi- trarios, pois estava vrnculado quer pel0 costume, quer pclo edito, que publiava quando tomava posse da funclo, quer pelos ed~tos dos predessessores.

Note-se aiada que o juiz iogles observa rigorosa e es- crupulosamente o juramen!~ de cumprir a common law, revelada pelos precedentes judiciirios que conskituem a ju- risprud&ncia cartacea escaroeoida por Cneus FIavius e, ain- da, a cguity, n8o a eqiiidade cerebrina, mas urn complexo de solup3es lii consagxadas, para temperar as rcgras da an- t~ga tradic9om

OurirZo falar muitas vezes da ~scola ~~ati lral isfa da interprcta~da das leis, no mdfodo socloldgico da i~terpre- targo ddns I&, nu jurisprudt?~zeia dos inferisscs, no r n t fodo dos valores ideals rla inferpretaflio das leis, 0 qw

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lhes pode d i r a entender se trata de outras tantas esculas nao enum2rddas por n6s. NBo C assim, pork~n.

Corno vCem, go mCtodo d o direito livre, o juiz prde julgar aEm e contra a lei, mas, para isso. tern d e crear re- gras que aplique. Qua1 6 a critkrio que deve presidir ii apli- ca@o desras regras, que dere dirigir o juie na creaqgio d& regras que deve aplicar para juigar Al6m da lei e contra a lei? Ha rsrios sistemas : 0 sistema: nataratista, fundado pelo alemao Bosi, que diz que o juiz na interpretaCao daa leis deve seguir os metodos dos cultores da cilncia natara- lista-a observac%o e a exptri@ocia ; o slslema da jurlqpru- dbcia dos Interbses, segundo u qual o juiz nao se deve imp~r ta r nem corn abstracaes, nern corn teorias, ncm corn solu~6eses, visto qoe, tendo diante de si intertssea, tern de julgar conforme os inierCsses, equilibrando os o mals possi- v t l ; o *.Mema soclo!dgica, segundo o qual o juiz deve apli- car nu interpreta~ao das leis D que the par determioado pela Soeiologia. Por conseqiitncia, quando ouvhem falar em juris- prudCncia dos ipterksses, escola naturalists da interpretaqao, metodo sociol6diq, metodo dos valores ideais da interpre- tag8o-ficam sabendo que tudo isto ?,go critkrios para orien- tar o juiz adentro do metodo do direiio livre.

(,) Gtny difine. assim. esta doutrina : " A jdrisprudincia dos in. I c ~ s s c s abstrai dos conceilos t das abstraqfiea qut procura bank para considerar, sbmente, face a face, as in.clJssds a-fim dc or compa- rar e equilibrarm.

19." Das fontes do Direito (cant:)

(z -0 pensamento das cbdlfieapdes.

- Mcikos que levaram h cbdlfloagao.

- A codificagao do nosso Cbdlgo Civil-

-A Incumbbnela dado ao jurlseonsulto Antbnlo Luiz de Senbra.

-As fontes do nosso dlrsito Clvll.

-A siutmatitagad do nose0 CQdlgo Clvll e o crlfb~lo a que obedece.

--Slstemat~zaqAo modrrna d o Codlgo mvl t

--Slstematlzag80 rnoderna dos now@ Cbdlgas Clvls.

-Detict8nclas da sistemattxaglo do nbssb Cbdigo Chrtl,

Ternos, at6 aqui, falado da lei corno a principal fonte formal do Direito.

Urna lei pode ser pequena ou grande : pode ocupar-st s6 de nma r e i a ~ a o social ou pode ocupar-se das relacWm sociais que formam urn capitalo de todo o Direitrr.

Ao lado das leis pequenas, h i os Gdigos.

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Estamos numa ipoca da evolu~Po juridica que podcmas charnar de cbdificacao.

A aMificaq3Io nasccu nos fins do skculo XVIIl, aumen- tou no prhcipio do sk~ulo XIX el hoje em dial qudsi todos 08 poros civilizados (porque eu abro excep~6es para a In- glatcrra e Estados Unidos da America do Norte) est%o em pleno period0 de cbdificaflo.

As cbdifiaq6es sHo determimadas nos povos par cir- cunstdncias diversas,

Umas vezes, hfr necessidadc de simpliflcar e ordenar o Direito; e, entso, faz-se uma codifica~20, isto C, um corpo sistematico d t leis que s e ocupe de todo urn ramo de Di- reite.

Antes da cbdificaqilo, havia leis diversas, costumes di- ferentes, cujo complexo regulava as re la~aes sociais.

Mas isto fazia contus20. E, por isso, se comeqou a qucrcr um C6dip que re-

gulasse todo um ramo de Direito, que simpIificasse e or- denasse as r d a ~ 8 e s juddiaas.

Oulras vezes, aparccc um fen6men0, Cste mais politico, a determinar o apacecimento do C6digo.

H6 um Pstado que se formou de muitos Estados ante- riores. Por exemplo: a Itilia, hoje, t um Estado unificado, mar at6 ao meado do siculo passado bavia muitos Estados no territ6rio da Itklia actual. Feita a unificago, foi preciao dar uma Lei uniforme a todos os Estados e, entlo, fez.se urn Ghdigo, que tstabelectu a mesma disciplina secial para todos es cantos do pais.

Outras vezes, ainda, e isso aan teceu um pouco con- nosco, (digo que aconteceu urn pouco connosco, porque n8o fgi factor exclosivo) entrou-se no campo das odificaq6es1 n5o 36 pot espirito de imita~ao mas tambim por necessi- dade de simplicidadc ms eormas de direito,

Mas, em grande parle, entre rids, abxa~ou-se a idea da cbdificapo, porqut se viu que ela produzira boos resulrados nouiros povos, Entso, por espirito de imilagtio, qaisemos tambtm lazer cbdifica~6es.

Seja como far, o que e certo O que hoje a principal fonte formal do UOSSD Direito Civil 6 o C6digo Civil. E era aqui onde eu queria chegar.

E' claro, convergindo corn o C6digo Civil ha outras leis de maior ou menor importancia, mas o olicleo prioaipal, o astro & volta do qua1 gravitam outros satilites e o Gdigo Civil.

0 nosso C6digo Civil tern hoje modifica~6cs, a prin- cipal das quais foi introduzida pelo decreto n,O 19.125, que entrou em vigor no dia 1.' de Janeiro de 1930, cbamado a Reforma do Cddigo Civil.

Alim dessa, ternos outms leis: as leis de jamilia de 25 de Dczembro de' 1910, a lei do divdrcio, os divers03 decrctos sfibre o inquilfnafo e muitos oattros.

Mas, repito, a prinoipal fonte formal do nosso direito civil 6 o C6digo Civil,

0 nooso C6digo Civil foi urna aspiraflo nacional logo derde os primeiros alvores do movimento liberal.

Loge em 8 de Fevereiro de 1821 as Conslituintts de entao deliberaram fazer urn C6digo Civil.

Entre Csse momento e o ano de 1822 decidiram as Cbrtes dar urn primia ao autar durn projecto de C6digo Civil.

E a Carta Constitutional, no seu art.9455. ",7.O, pro- mete um C6digo Civil e um C6digo Penal.

Em 25 de Abril d t 1835, novamentt as Gbrtes delibe- raram dar urn primio a quem apresentasre urn projecto de C6digo Civil aceit8vel.

Em 10 de Dezembro de 1845, nomeararn as Cbrles uma corni~s%o encarregada da elaboraflo do Udigo Civil.

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Mas sempre debalde: nem corniss30, nem jurisconsulto ai- gum apareceu com um projecto do C6digo Civil desejado.

JA eram dewrridos mais de 20 anos, ate que, enfim, em 8 de Agosto de 1850, foi Antonio Luis de Seabra encar- regado de fazer um projesto de C6digo Civil e nomeada uma comissao revisora, que fbsse analisando as rnalkrias h medida que iam sendo apresentrdas.

Essa comissao teve reaniiies, chegou a faaer urn plan0 do Cbdigo, chegou a determinar as matlrias que, segundo esse plano, deviam constituir o C6digo Civil, chegou a aaa- lizar, a apreciar alguns artigos, mas, depois, veio a disc6r- dia ou o amuo.

E: o que 6 certo e que Antinio Luis de Seabra resol- r ea fazer o C6digo Civil por t i e prbprio, independeatemente da Comiasfio.

E, em 1855, apresentou urn projecto de C6digu Civil. Em Julho do mesmo ano, foi alargada a comissBo revi-

sora do Gdigo. A primeira comissao, a que foi nomeada quando ern

1850 Ant6nio Luis d e Seahra fbra tnwrregado de fazar o projecto do Cbdigo, era contituida por Viaente Ferrer Nelo, Coelho da Rocha, Pais da Silra, Sousa MagaMis e pele priprio A . L. de Seabra.

Agora, em 1855, foi cssa comissao atnpliada com navQs membros.

Em 1858, foi puklrcada uma portaria em que se convi- dava a Universidade de Coimbra. - enlBo a h i c a , - os tri- bunais, a Academia das Cibncias, o Conselho de Estado e a Associa~go dos Advogados a dar parecer sbbre o projecto do C6digo CIvil.

E, em Marco d e 1860, comecoua trabalhar a comiasHo revisora, que estendeu o seu labor at6 1865.

Durante todo dsse periodo, apareceram cinco prejectos

de Cbdigo Civil : os dois primeirof, de Ant6nio Luis de Sea. bra, s%u de 1858 e 1859; os tr&s i!timos, da comissgo re- risora. s%o de 1863, 1864 e 1865.

A comissHo revisora introduziu nlodificag6es notiveis no projecto de Aot6nio Luis de Seabra, mais tarde Visconde de Seabra,

Depois, foi o projecto do visconde de Seabra revisto, mandado para as Cbrtes, que o votaram qu6si rem discus- slo. Apenas discutiram o casamento civil.

E, aprovado o projecto, ficSmos corn o C6digo Civil. que Iui promulgado pela lei de 1 de Julho de 1867, da qua1 laz parte o pr6prio C6digo Civil.

Assiro, diz o art,' 1." da carta da lei: f aprovado o proj~clo do Cddlgo Civil, que faz pa-fe

da presmte lei. 0 C6digo Civil entrou em vigor, no Contiaente e Ilhas,

em 23 de M a r p de 1868, e na Col6nias no dia 1 d s Julho de 1870, coniorme se dispunha no decreto de 13 de No- vembro de 1869.

0 Cidigo Civil revogou tbda a legisiagiio anterior sbbre matdrias reguladas nOle pr6prio e qae eram mattrias d e Direito Civil.

E' isso que se mnclui da aproxima~50 do art."." da Carta da lei de 1867 com o art.' 3 . O do C6digo.

Art.o 5." da Carta de lei: a Desde que principlar a trr vigor o Cddigo Civrt, f h r d

revogrrda t6da a Legisla~lio anterior qne recair nos maM- rlas qac o mesma Cddigi) abrangc, quer essa 1~glslncdo seja geral, quer seja ~spccia1.o

Art." 3.' do Cidigo Civil : aSc os direitrs e obriga~Bes sc lirnltnm ds rLln(aes re.

clprocas doj cidaddos crzlr~ sI , comv meros porticrslures, ou enire os cidadaos r o Estudo, em questass de oroprie-

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dude oa de direitos pnramenfe irrdlviduais, isses dteilos e obrignfdes consfltuem a capacidadc: civil dos cidaddos, de- nornlnarn.se direilos e obrigu~aes dvis, e sdo re~idrrs prlo direito privado corttido no Cddlgo CMI, except; na parfe que G regulada por led especial#.

De maaeira que, do confronte dkstes dois artigos, s e verifica o seguinte: o C6digo Civil revogou tbda a legisla- Go anterior sbbre materias nele reguladas e que cram de direito civil.

Mas isto e dito claramenle pelo art." 8." do decreto d t 13 de Novembro de 1869.

0 C6digo Civil teve como fonle principal a legislaqiio anterior, que, nesse tempo, eram as Ordena~oes Flliplnas (Livro IV ) , que haviam sido publicadas em 1603, dadas por Filipe I1 de 1Sspanha a Portugal c, depois, confirmadas por lei de 29 de Janeiro de 164.3 por D. Jo%o IV.

AIem dessas leis, foram fonte do C6digo Civil : a) us leis extruvagmfes anteriores, quer fbssem ofioial-

mente compiladas quer nao ; b) os cddgos drrs naCOes modernas ; c) o direito romano; d) o diredto cundnico. Coma reem, tambkm a nossa Cbdificaqao de Direito

Civil, hlim do espirifo de imitaflo, teve a determini-la o fa~tor da simplifica@o e ordenacPo do Direito.

AM ai havia ordena~Ges, leis extravagantes (nmas, compiladas, outras, nPo), direito romano, direite can6nico e c6digo das nogaes modernas.

Depois, porque isto trouxe confus80, apareceu urn C6. dido a substituir &sse estado de coisas e a simplilicar e or- denar o Direito.

Mas, alem desse, houve urn outro factor a determinar a cbiifi~ac80 do direito civil, entre 116s: a imitaqzo.

0 nosso C6digo sefue urn sistema que ntm e citnti- ficarnente defensive], nem priticarnente litil.

0 Visconde de Seabra (e assirn que passamos a chamar a Antonio Luls de Seabra) tinha o critirio de que o Direito Civil devia ter uma sistematizagao que fbsse conforme com a natures juridica das re la~aes do Direito Civil.

An relag6ee d t direito civil estabeltctm-se entre par- ticulares e o E S S ~ O considerado como particular. Por con- seqiltncia, dizia tle, o elerntnto principal d e s ~ a s rela#es i o sujeito do direito.

Tambim b l sujeitor de obrigapo e h i objecto do di- reito e das obriga~6es.

Mas, o suieilo da obriga@o n8o pode ser elemento de sistematiza@o, porque ha muitas relaq6es juridiaas em que I le t indcterminado.

E o objecto da rela~$io juridica tampouco pode servir de crittrio de sistematiza~Zo, porque o objecto da relago jnridica sao coisas, silo servi~os, e as coisas s%o inclassifl- d v e i s e os servi~os indefinidos.

Por conseqiibncia, at6 por exclus%o de partes, temos de seguir o criterio do sujeito do direito.

Oxa - dizia &le - o sujeito do direito pode ser conside- rado tstaticamente ou dinamicamente. Pode ser considerado na sua faeuldade imanente ou na sua actua~Bo juridica.

Considerado na forma estitica, o sujeito do direito tra- ta-se na primeiro livro, aquele que s e ocupa da apacidade civil.

Considerado na sua actuaq8o juridica, o sujeito do di- reito trata~se em outros livros; porque o sujeito do direito, na sua actuaqse juridica, ou adquirt direitos-e temos entao uma parte que se chama da aquislgdo dos direltos - ou, depois de adquirir direitos, gosa-os, usufrui-os - e tntao temos outra parte, chamada do direito da propriedade -- ou

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detalhado de todas essas mathrias, porque, como sabem, h i Direito Civil no 2.", 3.", 4." aros e a16 no 5." ano.

A sistematiza@o do nosso C6digo Civil nilo i prlitica- mente 6iil, como dissemos, primeiro, porque h i regras que sso comuns a tbdas as rala~iles juridicas e, por conseguinte, dcvia haver uma parte geral do Cddigo, que foi banida par virtude da sistematizaQo adotada.

Nao i prhiicamtnte litil, porque gerou uma defcituosa distribuq%o de matirias,

Querem ver cemo assim C ? Awnas corno exemplo lho vou dizer. 1.. - A segunda parte do C6dido trata da aquisi~%o de

direitos, mas Gomega a ecupar-se dos direitos originirios St s lo originhios, n8o sBo adquiridos. Portanto, d o havia rado alguma para, ntste ponto, se ocupar dos direitos originirios.

2." - Logo a seguir, ocupa-se o Cidigo, nesta scgunda parte, da classilido das coisas.

As coisas s$io objteto de virias rela~&s juridicas: por canseqfiencia, n8o deviam ser ali tratadas.

3." - Dtpois, ocupause o Cbdigo da prescri~go. Nesla, oao h i s6 direitos adquiridos par facto prbprios -h i , lam- bCm, direitos adquiridos por virtude &a lei.

De maneira que n%o devia ser ai tratado dste institute. 4." - Na primeira parte, o C6digo Civil ocupa se do

phlrio poder e da tuttla. Om, o pitrio poder e a tutela n%o deviam ser tratados

aa parte da capacidade civil, mas, sim, na das rela~6es de famflia.

Ted03 estes cxemplos e ouhos, que poderia citar, ser- vem para demonshar que a sistematizagBo do nosso C6digo nao i p-kticamente 6iil.

- Elementos da obrigaqho : a) - Sujeifo acfivo; b) - Sujeito pasalvo; c) - Objeoto ; d) - Vlrrculo.

- Fontes das obrlgap5es : a) - Contralos; b) -Deolara~ao unilaleraldo vontade c) - Looupletamento h ovsta alhela; d) - Pagamento Indevido ; 0) - Gestao de negbalos; f) - Delito;

g) - Qudsl-delito.

A - Classificaglo das obrlgapdes qunnto ao sujelto.

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Prometi, na ultima li~tio, estudar perfuncthrirmentt, per summa capita, as institui~6es do Direito Civil, segunda a divisgo que estava feita no C6digo Civil alemzo, DO s u i ~ o e no brasileiro, passando is nbriga~Bes, aos direitos reais, aos direitos de familia t, depois, Bs sucessiles.

No nosso C6digo nao ha principios gerais, como no C6- digo alemgo, e foi, por isso, que na liltima Licao lhes li todo o capitulo da capacidade civil, p i s que a capacidade C re- lativa a tbdas as instituI~6es. NZo h6 instituiqzo nenbuma em que o%o seja preeiso lidar com u instituto da capacidade.

A capacidade, par conseqiitncia, diz respsito aos prin dipiw gerais carnuns de fbdas as ,institu~~Bes. Mas, porque no nosso C6digo nao h i urna introd~~qgo, comeGamas, hoje, pelas obriga~aes, que s l o objeclo especial do esludo de utra aadeira do 2." ano da Paculdade de Direilo, cbamada cadeira de Obrigaqaes.

A .palavfa obrig4tdo tern em Direito Civil urn signifi- cado tkcnico-juridico, mas, iambem, por vezes, se emprega sum sigoiticada qne 4110 i o prbprio, o estricto. Por exern- plo: no art.' 2 . O do.C6digo Ciril enaontramos a palavra obri- g a ~ % o tomada no ~i@ificado de dsuer juridim:

Entende-se por d h l t o , nesfe scntido, a fncaldade moral de prdzicar ou de,d&mr de praticar crrtos factos; e por obrigac6o a necessidade moral de praticar ou de nnab praticar cerfos factos.

Obriga~uo, ai, k , ~ o i s , u cwce;sidade moral, o drver juridico.

Mas nPo d nessa acep~&o que se emprega a palavra obrigagdo no significado %onico.juridico.

No siinificado tdcoico-juridico, obrigapfo i urn ~incalo 111ridido de card~ter pessoai, aatdnorno e patrimonial pro-

vgnierlfe d~ urn jacfo volunfdrio, por virfr~de do qual Irma O[J mais pessons, clramadas d~vedores, se obrtanr a zrma presta~60 para corn outra ou outras pessoas, chamadus c~idores.

Exemplificando : A obrigou-se para corn B a pagar, no fim do aao, 100

contos. Ha aqui urn vinculo juridico, uma obriga~80, urn corn-

prdmis30 de A para corn B; de caracter pessoal, quere dizer, foi A que se obrigou, que assumiu a respo~sabilidade para corn B ; de caracter aut6nom0, purque a obriga~ao deriva do pr6prio tacto asaumido pessoalmenie, e n8o de uma outra s i tua~go juridica; de caricter palrimonial, isto e, se A nBo pagar a B os 100 contos &ste executa-104 nos seus bens, no seu patrimlnio e veoderii, em hasta pliblica, os bens precisos para se pagar, para receber os 100 conros; proreniente d t um fact0 voluotarin, porque A, obrigaodo-se para corn B, praticou urn acto voluntiirio, porvirtude do quirl se compro- meteu a eniregar a B uma prestaflo,

Agora, A obrigou-se a vender a B urn autom6vel. Temos aqui tambern urn vfnculr, juridlcu - a obriga~go

de vender o autom6rel; pessoal- foi o sujeito passivo da obrigado, aquele que se obrlgou a veoder o autom6vtl, que trrnou a respunsabilidade da venda; d c cathckr aut6nomo e patrimonial, porvirtude do qua1 aquele qrie 5e obrigou a vender o autombvel, assume a reaponsabilidade de entregar a pre~ta@o a B, que k o promitente carnprador.

Que a t e vlnculo t pessoal- jB o mostrei. Que k patri- monial - j6 o disse. Que resulta de urn facto volnnkirio - jd o piram.

Mas tambern d urn vfncuIo aut6uomo. Hk deveres juridicos promaoantes, emergentes de si-

tua~6es juridicas criadas. Por exemplo :

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A tern uma propriedade, que est& desdobrada em dm- minio ritil a dominio directo, quer dizer que ha urn fbro, 0 Loreiro i obrigado a pagar urn cloone ao sedhorio directo. Bsse derer juridlao resulta de que? De urn fact0 aut6nomo3 NLo. Resulta da situaqgo de proprietdrio do dominio litll. Por congegoinie, e um dever juridico promanante de uma si tuago juridica de propriedade, e n%o urna obrigaqao ou vinculo autbnomo.

Outro exemplo: urn proprietirio C obrigado a pagar a dicima. 0 crbdar e o Estado,

Isto n8o e uma ohrigaqso, mas sim um dever juridico prove~ienie da situaq%o do propriethrio. N&o i um vincule juridica autbnomo, i urn vinculo juridico resultante de uma situa~fio de outra especie. Falta-lhe, poi$, autonomia.

0 s elementos das obriga~aes sao: o slrjeidn activo, o sujeito passbvo, n objecto o vincuio jurtdico.

0 sujeito activo, que se ehama cridor, e aquele que iem de receber a prestaCPo

0 sujeEto passivo, que se chama d vedor, e aquele que tern de pagar a presta~8o.

0 objecto pode ser rmediafo ou medialo: o Imedialo i sempre uma prestag8s; o medinto d o facto ou coisa em que consiste a prtsta@o.

O virtculo jur i l r~o 15 a prbpria obrigaqso despida dos outros elemeotos.

A8 obriga~6es amergem de factos ou de circunstincias que lhes d3o origem. Esses iaclos ou circunstitncias de qne procede a obrigaqao chamam-se fontes das obriga~8es.

Quero fazer-lhes notar qua nesta cadeira eu nso tenho de discutir opini8es, porque isso levar-me-ia muito longe e faria confundir esta cadeira corn a cadeira de ObrigagBes do 2." ano. Etnito uma opinifio e, depois, os Srs. discutirlo esta ou outra opiniZo nas oulrds cadeiras-em Obriga~des, Direitoa &erris, Direitos de Farnilia E Sucessbes.

Isto vem a prop6sito das fontes, porque nessa matiria tenho uma opinigo pessoal, dirergente da oplniao dos outros escritores.

Para mim, as fontes das obrigaqties szo: a) os cantmtosi b) as declora~Ors unilaferais da vontilde; c) o locupletamento a custa alheio; d) o pngameneo indevido; . e) a ges f io d d aegbclos ; f ) o delito; g) o qudsi-delito. Para o professor Guilherme Moreira as fontes das obxi-

ga@s s%o: o contratc~, a d e c b r a ~ d o unilateral da vontadc, o delilo e o qudsi-delito.

0 professor Josi Tavares admiiia, como fontes de obri- gaqaes, tambkm, o facto Involuntdrlo. N6s, como vimos, apenas consideramos obriga@o o vi.mculo juridiro prove- nienfe d~ urn fncto valuntdrio.

E, no estraogeiro, passa.se o mesmo. Estii e matiria, em que se pode dizer: tot capita, qnof senlestiae.

a ) 0 contrato: 0 contrato i uma fonte de obriga~6es. Eu f a ~ o um contrato de mhtuo ; surge a obriaa$io de

o sujeito passivo pagar, em tempo dekerrninado, a quantia emprestada.

Faqo um contrato de cornpra e venda ; surge a obriga. $a0 de entrcgar a coisa vendida e o p r e p desta.

F a m e urn contrato de arrendamento ; surge n obriga- qBo de o seohorio entregar ao uso e fruiqso do inquilino a coisa arrendada e a obriga~ao de tste pagar a renda. '

Faz-se urn contrato de prestaqao de serviqas, e surge a obrigaplo de prestar um serviqo determinado.

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E, assim, sucessivamente.

Mas, ae por virtude dos contralos emergem obriga~iies, tambdm pode baver obrigag~es quo n a w w Ele uma simples declara@o da vontade, ds uma declara$%o unilatorirl ds von- tade. For exemplo : nas ofertas fsitas ao piblico, uao pro- messas de recompensa, nas fuodag5es.

A perdeu um c2o e publisa urn anliacio, diwndo ! dou 500$00 a quem me entregar um c20 de tal raca, de tal cbr, perdido nas alturas ds tal.

A fez ulna declaraflo ioilateral da voi&.de. No dia seguinte, aparece um individuo cow o seu a.

restilui-o, e A tern obrigaflo de antreBr a dsse individuo 0s 500$00.

His ume obrigq~ib nascida de uma de~laraf io unilate ral da von tade.

Eu f a ~ o a pramsssa de dar 5 cantos a quem escrerer o melhor poema sbbre a heroicidads da FinlBndia. Apargcew quatro ou c i n ~ o concerrentes e eu tenho obrigagPo de dar os 5 cantos aquele dos poetas que melhor interpretou o meu sentimento-

c) 0 lacupletamento ti cus fa la lheia : Mas, tambem, h i obrigaqfies que nasoem do locupleta-

msnto a ~ u s t a alheia. Ha um patrimooio que enriqueceu e outro patdm6nio

qua empobreceu. NBo e x i ~ t e mum de ettriquecim~ltn nem d s smp&r~cimento.

Pelri simples facto do anriqwimsnto sem causa sur* a obrigiiflo de o dona do p;itrimooio snriquscido dar urna indemniza~20 ao dono do p a t r i d n b qus bi ~mpobrgcido.

Cilarei enemplos tirades da jurisprudCncia, para me- lhor compreensXo.

Uma rapariga namorava um homem que tinha uma ffibrica.

A rapariga passou a trabalhar na fabrica sem havcr contrato nenhum.

Passado tempo, meses ou anos, o nambro acabou e a rapariga viu-se nesla situa~fio : trabalhara durante tantos aoos scrn recompensa na expectativa do casamento, que d o fim do nambro ; o namdro estava rbto, o casamento jB n8o podia fazer.se,

0 patrim6nio do dono da fabrica ficava enriquecido corn os ordenados que a rapariga deixara de receber e o patriminio da rapariga ficava empobrecido, porque traba- lhara sem remunerag30. A rapariga pediu ao tribunal que lhe desse uma indemnita@o que a locupletasse dos pre- jufzos sofridos, e o tribunal atribuiu-Iha.

Trata-se de uma obriga~Z@ proveniente do locupleta- mento A custa alheia, resultante do fecto de o patrim6nio do dono da tdbrica ter enriquecido sem causa a custa do patriminio da rapariga.

Outro exemplo: urn indiriduo arrendou uma herdadu e, depois, comprou adubos, que nEo pagou, e fez a sementeira. E, jP quandr tinha semeado e os frutos aslaram crtscidos, o seuhorio, porque o inquilino m o tinha satisfeito a quais- quer requisites do arrendarnento, @-lo fora, despejou-o.

0 rendedor dos adubos n%o pbde ir contra o rendeiro, pbrque este era pobre. NZo tinha contrato nenhum feilo corn o dono do predio, porque quem comprira os adubrs flrr o rendeiro.

Propbs uma ac@o de nso-lecupletamento k custa alheia contra o dono do prddio, e os tribunais obrigaram tste a pagar uma i~demnizafio de locupletamento P ~ u s t a alheia ao rendedor dos adubos.

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Ik mmelra qut o loeupkfamento h custa albcia 6 tam%m fonte de obrigaq6ts.

dl - 0 pagumento indcvido : 0 art.' 7 5 8 . O diz-nes que o pagamento indevido tamMrn

6 fontt de ob r ib~ ihs . Diz o art.' 733.': ~Quando, por b r o de jucto on dc

dircffo, nos termos dos arf? 657," e seguintes, afguirn pagu o que realmenk n80 dcve, pode recobrar o que houver dado, nos seguinfes termos :

9 1." - 0 que de nd fP rr~ceber coisa tndevida, deve restifmi-la corn perdas e danos. Se a fransrnitiu a oatrern, que flisse t~uatrnersfe de md fk, pode o lesado reivindicd- la. Mas, se o adquirente foi de bda fi, sd a pode reivin- dicar o lesado, tendo sido transferida por tffulo gratuito, G achando-se o alheador insolven te.

3 2.0-Enquanto a benfeitorias, observar-se-d o que fica dsposfo nos a r m s 499.0 e seguinfrs~.

Diz tste artigo: o qut pagou por trro de fado ou de direito pode recupmar aquib que pagou inderidarneatt. De maneira quc o pagamento indevido k uma hlt das vbriga- flea, 0 que recebeu inkidatr , tn& tern obrigaflo de en- trtfir nqdo q a t rmctbeu.

c) A fed& & atgddas : Tsnrbdm n gas tb dc w i c m s L ~ p s l JoII.te de obxiga -

#its, a que s Wl Rt lcittura dm a&*" 1.723.O c safs. Be CB- di& Civil.

Diz o art.' 1723." : a Aqukle, que, sem autoriza@ G vp.

k r f l l b r b n b r , sc h.tmd# aa gcsiiSe de mg- de 0l.P km, tornmsc r ~ p o n d w l W r a &nm o p q d e t d r b &S

dbao ~ t p f c i o b , c F a nna uq&a mnr wm con&stw #p nomc dPlcm.

0 art." 1724.0; Sc o proprletdrio, ou aquele a qutm per- t~ncc o nepdcll, rotiflcor a gfstdo, c qulzer aprovcitar.sc dos comodo.~ e proveitos qut dela provierem, serd obrlgado a biernnlaar o gesfor das desprsas necessdrias qrre houver f ~ i f o , e dos prejuizos que tivcr padecldo por causa da dita gesldo*.

E o art.' 1725.' : aSe o proprletdrio ndo ratqicur a ges. fdo, e esta tlver par object^, ndo obter urn lucro, mas cvifar algum dano eminente c manifesto, devcrd em fodo o caso indrmnirar o gcstor pelas despezas feitos ~Cssr In- tuito . .

For virtude da leitwra dos art."' 1723." c seguintes, reri- fica.sa que da intremissae de aiguCrn nos neg6cior de on- trem, salisfeitas as condi~aer precisas para resultar a figura juridica da gestDo de aegbcios, ernergem obriga#ies, tanto para o gtstor de negbcios, isto 6, para aquele que s t iotrs- meleu nos negicios de outrern, como pan o gestionado, para o adominus negotii*.

f) 0 delito e g) 0 qudpi-delito: Tambem o delito e o qu6si-delito sgs fontes de obriga-

@es. Basta, para isso, ler os art."' 2.361." e segnfnlts: Din o art,' 2361.' : Todo agucle, qars vdob ou

ofende as dlrclbs de adrcm, canslirul-sc nu obrigagdo de indemniaar o lesodo, par todus us prcJufzos que ihc caasa*.

Portanto, concluimos: sXo fontes das obrigaqas o con* trato, as declara~6es unihterais da vontadt, o looupleta- menfo A custa albeia, o pagamento indevido, a gestao de ne- ghcios, o delito e o qadsi-delito.

No Direito Romano do tempo de Justiniano dizia-st que as obriga~Pes nasciam do contrato, do quisi-wntrnto, do delito e do quisi-delito.

Mas nHo aceitamoe bb conceit0 clissico, eatrt outras

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rgzces, porque esta figura juridica do qussi-contrato 6 uma figura insoerente, o conlelid~ desta Eigura jnrldica ogo i cientifico e repugna i 16gica. Dentro dbste couceito, me- tern-se iostitulos que n3o tbm nada de cornurn uns corn os outros. Por conseqti&ncia, nso ha razlo nenhuma para se criar esta esptcie de fonte de obriga~aes que se chama o quisi-contrato,

Recanhecendo issa mesmo, Demogue. falecido hi pouco, e que escreveu recentemeote um livro em muitos volumes - ThGorfe gkndrale des obdgatlons --, reslabeleceu, no en- tanto, o conceit0 de quilsi-contrato por comodidade - sim- plesmente por comodidade.

As obri$a~aes dassificam-se segundo os seus elernenles constitutivos.

Na obriga~ao ha sujeitos, objecto e vinculo juridico. Pois bem : h i uma ~ l a s s i i i c a ~ ~ o das obrigataes segundo o sujeito, outra wntorma o objecto e outra segundo o vincule jnddico.

A) - ClassiflaapELo das obrigapbms quanlo ao sujelto : Segundo o sujeito, uma ohrigago pode ter sujeito

conhecido, determiuado e sujeilo indeterminado. Melhor: a obridapo pode ter sujeitos actiros determinados e sujeitos activps indeterminados, porque o sujeito passiro tem de ser sempre determinado. E, conforme a obriga~ao tern sujeito activo dererrninado ou indeterminado, mas detsrminhvel, assim s e diz uma obrlgordo d e snjelto acdivo dekrmlnado ou de s ~ l e i t o activo Indettrminodo.

Exemplificando: A obrigou-se a paear a B no f ~ m do ano 100 wntos.

Temos uma obrlgogi20 de sujelto actlvo determiwdo. Mas A cornprou ou rnandou comprar a qualquer teatro

um bilhete de carnarote. A empresa ou o bilheteiro entre- pou-lhe o bilhete.

0 sujeito passivo i conhecido. Por virtude d&ste contrato

surgiu urns obrigaeb: a obr iga~io de a empresa do teatro tranquear a entrada a quem Ihe apresentar o bilhete. 0 su- jeito pdssivo e, pois, conhecido- i a emprtsa do teairo.

Mas, quem sera o sujeito acbiro? Seri o A ? Serf o m&o que foi comprar o bilbete? NSo. A pode tcr dado o bilhete a uma pessoa conhecida. 0 sujeito active i a pessoa, que na ocaaigo do espectaculo, quiser tomar assenlo no ca- marote corn aquele bilhete.

Temos aqui uma obrigagdo de sujeito octivo indeter- mintado, mas dttermlndve.el.

0 sujeito aclivo d determiniivcl pela apresentafio do bilhete.

0 Banco de Portugal emitiu urn rnilhgo de notas de conto, Por virtude dessa emissso, o Banm obrigou-se a lrscar aque1as notas a quem as apresentasse.

0 sujeito passivo d o Banco de Portugal, t i conhecido, e determinado - nao h i obr iga~lo de sujeito passivo inde. terminado.

Mas o sujeito activo serI aquele, agora indeterminado, que apresentar as notas, uma nota ou qualquer das notas ao g ~ l c h r t do Banco de Portugal. A determiua~io t feita pela apresentacgo da nota.

Eu emito uma ietra, como sacador: npor esta minha linica ria de letra pagara V. S.* a A a quantia de X*.

0 principal sujeilo passivo e o aceitante. 0 sujeim activo sere aquele que apresentar a letra ao aceitante para receber o montante dela. Mas, na vida da letra pode harep eodossos

De maneira que o sujeito activo ou o portador da. lctra pode variar, conforme cada urn dos endossos, sendo a-final o que apresentar a letra a pafamento,

Eis outro exemplo de urna o b r i t a ~ b de suieito activo indeterminado.

Mas, tambem, as obriga~6es p d e r n ter urn s6 sujeito

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activo e urn s6 sujelto passivo, ou muitos sujeitos aciivos e urn s6 sujeiio passiro, au muitos sujtitos passi~es e um s6 sujeito activo, ou simultilwamenle muitos sujeitos activos e muitos sujeitos passivos.

Quando a obrigag~o tern urn 96 sujeito activo e utu s6 sujeito passivo. diz-se obrrigap?o singular.

Quando a obrigapo tern mais que urn snieito actiro, ou mais que urn sujeito passivo, ou simull~nearnente muitos sujeitos actiros e muitos sujeitos passivos, dizsc uma obrl g a ~ d o p~uto l .

Portanto, temos outra olassifica~io segundo o sujeito : obrlgafdcs slngalares e obrigagaes plurals.

Mas as obrigagaes piarais - itamMm C minha a clas. sitica~ao e parece-me que s6 minha, nSo s6 em Portugal, mas no mundo juridico) - podem ser disjunt s e conjarstas, e as conjrrntas podtm set comuns e soltdirias.

Exemplifiquemos : A, 8, e C obrigam.se a patar-me 9 contas no fim do

ano. Temos aqui uma obrigaflo plural, porque A, 6, e I:

a o virios sujeitos passiros, que se obrigaram para arnigo a pagar 9 conios.

Essa obrigaqiro sbama-se coajunta comum nos iermos do art." 731.' do C. Civil.

Diz o art.' n.0 731.0; asendo varios as obrigados a prestur a mesma coisu+ rbsponderu cada um deles propor- cionalmente, except0 .

1.') Se cada urn deles se responsablliear soUddrla- menk ;

2.') Se n presiagrio cons~stir em cdsa certa c determi- nada, que se nche em podsr d e algurn d e k s , ou s* depender d e fucdo que sd urn deics possa preslar ;

3.0) Se pilo contrato oatra colsa tiver sido determi- nada* .

Qusrc dim : mnfwme o art." 731iL, st& vhrios as obrigados, os sujeitos passivos, cada urn deleti obriga-se a W r - m a proprcioualmtute: A. trks aontos, B. trts contos e C. trQ contos. 9 : 3 - 3,

Porlanto, tsse vincula obrigaciooal dacornpbs-at em t r t s vinculos : urn vinculo de A para comiga, outro vioculo de B para comiio e outro viaculo de C para comigo.

E' o que sc chama urna obriga~do conjunfa comum. Agora vejamos as obrr'ga@es conjuntas soltddrlas. Se A, B, e C se obrigaram solidhriamente, eu posso

pedir a qualquer deles crs 9 contos, embora aqulele qw me pagou os 9 contos teoha, depais, o dirt& de rfgresso Q reccber de cada urn deles tr&s cantos.

E' o que sc diz nos art.O' 752.D e sseguiates. Diz o art.' 752.O : *O credor de u r n pr.e&~do, a que sdo obrigudos

soliddriamenfe vdrt'os devedores, pode e x l g i - k de fodus

dado possa implorar o bemficio da div isdo~. Art." R3.O : rO cridor yue exigir de algum dos condevederes soli-

ddrios a totalidude ou parte da presfacao devida, niio fica por isso inibido de proceder contra os oufros, 80 caso de insolv2ncie daqrreles.

Art." 7 5 4 . O : e O deveder soUddrio, qur pagar peios oufros, serd

indernnizado por cada urn deles na parte respecfivn; c, se algurn for insolvenfe, serd a sua quota repartida rntre ~ O ~ O S * a

E art,' 755," : ~ S E a coisa, que 6 objecfo da presta~do sr perder par

cutpa de a l ~ u m dos condevedores solidtirios, ntiu ficardb os outros desobrigados; mas o que deu causa li: pcrda scrd o drzico responsdvel par perdas e danos*.

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Suponham, porbm. atoral esta hip6bsel que foi o que me levou a criar outra esptcie de obr~gacaes plurais :

Eu depositei no Banco de Lisboa & Aqores 100 contos em meu nome e no de A.

0 Banco tern a obrigago de pagar 100 wntos quer eu lhos peta ou passe urn cheque, quer lhos pega A ou este passe am cheque; obnga-se para cada urn d e 116s pela tota- lidade da obriga~ao, quc t isso que eu cbamo obr iga~ lo disjunta.

A demonstragio desta tese 6 para autra cadeim. Portanto, as obrigagfies, quanto aos sujcitos, sao singu-

fares e plurais, ou plurais 080 conjuntas ou disjuntas e a s conjuntas s%o comuns ou solidhias.

o b r i g ~ ~ l i e s deaujeito indeterminado, maa cornnne

conj on tas Betarmintire1 solidhriae

21." - Das obrigagbes (cont.)

B) - Classifioapso d a t obrlgapbes quanto no objecto :

1: - Obrlgapdes d e objecto dderml- nado ;

2.'- Obrlgaqaes do objecto Indeter- mlnado.

1." - Obrigaqdes do objscto determi- nado :

- a) simples, b) oumulmtlvrs e c ) com- plexas, d) dlvislvsls e e) indivislvels.

- I) obrlgaq6es faoulfntlvas ; b) obrl- geqbs r alternativrs ; c ) obrlgagaas genBrloms; d) obrigagees pacunl8- rlas.

C) -Classlficapeo das obrlgrqbes qnrnto ao,.vlnculo :

- a ) abrlgapdes puras 0 b) slmples; 0) obrigrg6es condlctonals; d) obrige- q6es a termo; 8 ) obrigapdes madals.

No liltlmo dial depois de definirmos obriga~ao, depois de dizermos os tlementon canstitutiros da obriga~1[0, depois

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de nos referirmos, ainda, i s fontea das obriga~iies, entrdmos aa clavifica@ das ~ b r i g a ~ a e s , t fizemss eesa clasaifica~ao quanto ao sujeito; dissemos que as obrigat2lts cram de su- jeilp actigr dekezm~ngdo c de syjeito actiro indeterminado, mas dekrminhvel, sia@[ares ou plurais, eslas d~sjuntas ou coojuntas e estas, por sua vez, comuns ou solidirias.

0) - Qusnto PO object0 : Hoje, vamos continuar a cIassifjca~30 das obrigac6es

quanto ao outro elernento, quanto ao objecto. Quanto ao objeato, as obrigacaes sZo de fazer ou de

d w . Como os rornarves diziam: obrigacbs de dare vcl facerc. 0s romanos ainda admitiam urna oulra esp tde de obri-

gagfies : as de praeslare, isto e, as obriga~oes de indemni- za@o de perdas e danos.

Mas, na terminologia moderna, as obriga~aes de praes- tqre faze= g r t s das de dar t , e, por conseguinte, estamos reduzidos a obrigacaes de dare ou obriga$bes tie calsas e obriga~Bes de faccre ou obriga~ties de servicos ou de factos.

ha verdade, esta classificagqo de obrigac6es esta auta- rizada pel0 art." 710" do C. Civil, que diz: a 0 contralo re- solve-~@ oa na prcstafdo ds facbos, ou nu presfdflio dc C O ~ S ~ S D .

E o aa.O 714.' diz-nos que upCsies de obriga~6es de dare pod8 haver : * A prestaqdo dc coisas por efcito de codrato podc conslslfr .

I.' -Nu aticyaf do dp prqp&dade de ccrta coisa. 2,'-Na a l ( c w @ & p q ~ Q l o do u ~ o , au jrulcE.o de

cerfa colsa. 3."-,%'a restltu?$&o de celsa alheia, ou no pagamento

dc colsa dcvidn t ,

H i certas espkcira de obrigac6es que oferecem dlivi- das quanto a saber se s8o de facto ou servi~o, se de coisa.

?or exerqplv : ~ p l ipglheiro a i g p - s t a f ~ w um colar de pirolps.

Como nesta obrigaqiio o principal s%o as pirolas e como 0 servico represenfa pouco no colar, inclinamo-nos a ver no fundo desta obrigafio urna obriiaeao de dart., de coisa. Porque o principal arrasta o accss6rio - saccessorium s t - quitur principate.

Ora, a coisa em que consiste a preslacLo, - quer seja um faclo, um servi~o, ou urna coisa, -pode ser determina- da ou indeterminada, mais ou menos indetermhada.

E' aerto que uma coisa indeterminada ngo pode ser otjecto durn contrato; mas, quando falamos duma coisa in. detcrminada, qukremos fiilar de uma cloisa iddeterminada mas deterdinarel por circunstAucias qne se acentljam no momento da formaqao do acto juridico.

E pode ser uma coisa simples ou um acerto de coihb. Porianlo, tcmos a seguinte clissifica~ao das obriga~Bes

quanto ao ebjecto : obrigufdes de coisa dctcrmlnuda e obri- gaf8es de coisa inlctcrmlnada mas defermlndvcl.

Porvirtude de haver vhrios fraus de indtterminag%o, temos : obHgafa;cs altcrnal iva~, obrigafdcs fucultativus, o#i'iigatbcs geniricns, obrigafaes quantifativas e obrigafdes pecuh?@tlas.

E lemoy, depois, as obrigaq6ei de coisas dbterminadas, que s8o simples, complexas, cuiiulatlvas divi$ivets G fndl- vishcis.

Sintelizdndo, temos o seguinte quadro : Quanto ao objecto (mcdlala, isfe 6, aquilo em q6e con-

sidte a presta~go) a obrigaqio po& str : d c dar ou de fbzer; tanto umas camo oukras podem ser dc coisa oa servldo itt- detcrmlnado mas delerrnindvel, ou de corsa ou servito dc- tcrminndo; como a coisa indeterminada pode ter uma rnaior ou menor indelermina~Zo, conforme o grau desla indeter- miaaqao, assim aparzce a seguinte classificagZo : obriay8cs aifernativas, obr iga@~s fucultativ~s, obrigafaes gznkrlcns, obrlgaffies quanlitallvas, obrigofdes pecunldrias; quando a

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coisa C S L ~ determinada, tcmos esta classificacao : ohriga(des simples, obrlgacdes com~lexas, obrigafdes cumuttivas, obrlgacdcs d t colsa divisive1 e obrlga~dcs dc coisa indi- visivel.

E aiada o facto pode set urn facto positivo ou negativo. Assim :

to indirecto nu

madiato

I alternativan ;

facultativar ; de rooisa indgitrmina-

I geo6ricaa ;

da man determinhrei qusntitstivse ; pec~~nitlriae.

clc coisa dctrrmit~rzdu '

de dorr 9

Alim dessa classificaq%o, temos obriga~des clvis, obri- gacdcs cornerciais, obriga~oes Ifquidas e obriga@es U f - quldas.

J6 dissernos o que C uma obrignggo de fticere. Mas eu acrescentei, agora, que o facto pode ser pod-

tivo ou ncgatlvo. 0 devedor pode-ss obrigar a fazer urn4 coisa; urn co-

iar de pdrolas, uma casa, etc. ; ou pode obrigar.se a nBo

bimptee ; mmplexar ;

oumulativaa ; divisiveis ;

indeviaivaia.

fazer certr coisa: por exernplo, a nzo tocar piano para n%a incomodiir o vieinho.

E' o que dB a entender o art.' 713.', dizendo : a O que se huuvtr obrigado a nao pralicar ulgunt Jnclo, ittcorrs nu responsabilld~de de perdas e danos, desde a momento da ~untravinfido, e pode o crkdor exigir, qee a obra feila, se obra fedla houver, seja deinolida d custa do que sc obtigou a ndo a faterm.

Ternos, aqui, uma obriga~Bo de facto negativo.

Oar obrigapaas de cotsa Indetermlnada : A indeterminaqHo-dissemos- tern grrrus. Assim, a obriga~so alternativa e menos determinada

que a facultativa. Mas, como o ooaso Codipo 56 faia de obriga~6es alter-

nativas e 1, depois, por meio de urn raciocinio derivative, que nos podtmos falar das obrigqdes jacultativas, por isso, fnlamos primeiro das allernativas.

Deyois, nas ubrigwdes centricas jB II indelermiaaQo 6 maisr; igualrnente, nas quantilalivas.

Vejamos cada urna dessas espkcies de obrigac6es.

Das obrigacfies allernatlvas : Das 0brigo~iie.s alternutfvas ocupa-se o art.O 7 3 3 . O que

diz : u s e o devedor estiver obtlgado o urn de dois faclos,

ou a umu de duas coisa~, a sua escolha, cumprird prestarzdo qualquer desses factos ou coisas, mas n8o poderd, contra a vontade ao ct,tdor, prestor parlc dc Irma codsa r purle de ouka B.

0 s romanos deRqiam assirn as obriga~aes alternativas: nquelas em que sunt plrirae rcs i n vinculo, una In solutione. isto e , as obriga~6es em que estao muitas coisas no viaculo r uma s6 no pagamento.

gealrnente, aceito essa detinaqao, mas vou explicar-lhes corn urn txemplo o que t: uma obrigaqCio alternativa.

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Obriguei-me a dar a A urn livro, urna bengala ou urd relogio. Cumpro esta obrigacao, dando a escolher a A - (a escblha pode pertencer ao crkdor) - urn destes tres objec- tos : urn livro, urna bengala ou urn rel6gio.

For conseqiiencia, nrr ~Inculo estao rnuitas coisas, estao trbs aoisas : urn livru, urna bengala e urn rel6gio : mas, in soblime. para p@msnto, e u entrego apenas urna coisa,

lsto 6 o chamado fendmeno da concenfru~do, que sk faz por elei#ia a qnai pode perbencer ao crkdor on ao deoe- dor, conforme fbr determinado.

Das obriga@cs gendrs'cns : Agora, nas obrigac8es genkricas jB a indelerrnina~Io 6

maior, pois consisle ern dar uma coisa durn gLnero. A obriga-se a dar a B 100 moios de trigo rijo, com o

peso especifico de 84. A, aqui, indica urna qnantidade - 100 moios - u a a

qvalidade - rijo - urn peso especifico + 84 - mas nfIo diz mais nada.

0 devedor, A, pa@, eMre'gaido aquela qnadtidade d e trigo referido.

A indetermina~ao 4, pois, maior.

Das obrlgafles quantltaiivus : Na obrigapio quantibativa hi , tarnbkrn, uma indetermi-

naw mhkr que na alteraativa. A vendt 100 pipas de vinho da sua adega. 0 genero aqui d menor, porqne 6 o vinho da sua adtga. Mas, a indeterrninaaao e rnaior que na alternatira. A coisa, na obriga~ao quantitativa, deterrnina-se pela

contngem, pelo pbo ou pela tnedida. 100 mktros de Pam, do que A teceu na sua fabrtca:

pela medida; 100 c a b e ~ a s de gado do seu rebanho: pela contagem ; 100 quilos de carne do seh acougue : pelo pkso.

Pur vezes nso sabernoS se estamos peranfe urna obri ga@o alttrnariva, se ptraote urna obriga~%o gene"rica.

-A pode obrigar-se a dar urn cavalo da sua coudelaria. S e r i urna obrigaclo gendrica ? SerB urna obriga~ao al-

terpativa ? Por vezes, hesita-se, duvida-se e , assim, temaa de fixar

o seguinte critdrio : quando as partes podern representar f ig spa Imagincr~40 6odos os objecios qqe estdo no vincula, trqla-se de urna obnga6do alfernatlva; qunsdo n i o podem, trata-se de urna obrlgu~rio gen&rlca.

Das obriga~des p~cunidrias : As obrigrqdes puunidrius sPo aquelas cujo objech da

pres ta~ lo consists numa quanlia de dinheiro. Hssas obrigacoes B o muilo importantes. 80°/, das ve-

zas, que nos ocuparnos de urna obrigago, trata-sa de obri- gaC6ea pecunihrias.

Redula-as a art.* 723.0 e saguintes, que nos dizem : Art," 7 2 3 . O : a As prestu@es em dlnhelro scrrio feifcss

M forma coavencIonada W .

Art.' 724." : u Quanto re tlver convenclonado qae o pa- gamtndo seja fel fo em moeda metdllca dc certa e determi- nada bspJcie, serd dsse pagamento felto na espkle conven- cionada, exlstlndo ela lcgalmenle, cmbora Icnh.r vlrrfado de valor entre o tempo do cilntrdfo e o do prrgamenlo e ainda que rssa varlnfiio haja resulfado da disposipio da lei.

5 1.') NQO ss encontrando a moeda eslipdada nu g u n - tidad8 necess&ria, poderd srr feilo o pagomento em mot& corrcnte e q d ~ ~ k n t c , stgundo a cotngbo que uquela live^ na Balsa no dla do vcnclmento da obrigacEo.

5 2.") Tendo-se estipulallo qae o pagomento dtverd scr J d t o em moedas, de ouro e prata, sent se fixar a pro- p ~ @ de umas e de oufras, serd esta prrpor~rio regahda pela da divlda oriplndrla, e, ndo sendo isto possCvd, pa- pard o devedor mefade em oura e metade ern prata.

3 3.') U carso for~ado ds nota banrdria nlio prcju-

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dependentes d e nenhu~na clausula acems6ria do acto juridi- co, dc nenhurn dos accidenfalia negotii.

Por exemplo, eu obrip-me a dar 100 contos, sem dizer em que condi@es, t m que prazo, com que encargos para o donalarir.

Estamos perante urna obrigu~do pura e simples. Obrigacn'o conds'cionnl e aquela em que existe uma

cliusula que consiste num facro futuro e incerto de que de- pcnde a eflcacia do act0 juridico que e fonte de obriga~go.

For exemplo: A obriia-se a dar um autom6vel a B, se passar no seu exame.

Esta obrigacao de A de dar um autom6vel esta subor- dinada k clausula sc passar 110 exame.

Ora, s e passar no exame e urn facto fuluro e incerlo, Tbda a ohrigacPo t s ta dependendo d&ste facto futuro e in. certo. A eficicia da obriga~go, a produ~Ho de efeitos desta obriga~go es t i dependente do facto futuro e inorrto.

As condi~6es s8o suspmskvs ou resolutivas. Suspen- sit.os, se a ef~cacia do neg6cio juridico fica dependente d t sse facto futuro e incerto que aunstilui a condipo: reso- lutivns, se a obriga~go produzir logo efeitos, mas deixar de produzi.103 se s e verificar o facto futuro e incerto quc cons- titue a condi~Ho.

0 s anglo-sax8as, em 7ez de usar esta terminologia - condi@o suspensiva e condig30 resolutiva,-empregam esta o utra: condipTo prcccdent c condi~fio subseqiimte; e com aerta razao, pois essa terminologia i rnais directa, mais si- gnificativa, quanto a mim.

S e ngo vejamos. A dara urn autom6vtl a B, s t &Le passar no exame. Esta okrigaq2o s6 tern eficibncia depois d e se verificar

o facte luture e incerto da passagem no exame. Portanto, essa condi+o 15 prtcedenk; o facto futuro e incerto precede a tficacin da obrigaG80. Por isso mesalo os ingleses lhe chamam condiq%o precedente.

A d6 desde j i a B uma herdadc. Mas f i cad s e m eieito cssa obriga@o, se A liver filhos.

0 s ingleses chamam a esta condi~fio subseqiienle. Queredizer: a obriga~iio produziu ji efeitos. Mas, se se

realizar o facto futuro e incerto de A ter filhos, entgo fica sera efeito a obriga~80. Essa condi~ao i, pois, uma condi- cao subseqiiente.

Aparecem, ainda, ua Doutrioa classifica~6es da con- d i ~ % o tais como: condiqgo potestaliva, condi~%o causal, con. diqao mixta, condigtio licita, condi@o ilicita, condi$Lo possi- vel e condi~%o irnposslvel.

Em meu entender, porem, essa classifisa~30 nasce duma coniusfio da Doutrina.

0 facto em que consiste a c o n d i ~ l r tern que ter requi- sites.

0 facto deve ser: a) Ikito ; 6) posstvd. Ngo deve ser : cJ rneramente volanC8rlir. Por isso, s e d i r i que o facto futuro e incerto i licit0

ou ilicito, posslvel ou impossivel, causal, meramente potes- tatiro ou mixto,

Mas a condipPo n l o C o fatito; a condiglio C uma cldu- sula que consiste num facto futuro e incerto.

Eis por que me limitci a bze r a c l a s s i f i c a ~ ~ o de con- di~ries suspensivas e resolutivas ou, seguindo a termlnologia saxbnica, condi~aes precedenks e subseqiicntes.

Dissemos que a s obriga@es, quanto ao vinculo, podiarn ser obrlgacilss a Iermo.

No nosso Direito, umas vezes, apareee a expressfio terrno, eutras vezes, pruzo, outras veeto, ainda, dla,

Na Doutrina tarnbdm, por vezes, ae Laz a distin~Ho entre termo voluntririo, termo legal e termo judicial.

E' outra confusko, em rneu entender.

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Estarnos aqui a tratar das cliusulas acess6rias de ne- gocios juridicos, isto e, das clausulas que voluntiriamente a s parles p6em no con tekh dos negocios juridicos. Portaoto, esses termos-jurticiale legal-nao interessam ao sentido de termo oa aeeg@o t6cnico.juridica, porque n8o dependem da vontade das partes. So o ierrno q u t depende deCaC que no3 inlcressa aqui.

Assim como a condiq%o 15 suspensiva e resolutiva, tam. bim o termo -d ies lfie chamavam os romaaos - pode scr inicial ou exlintion ou, como eies diziam, dies a quo ou dies ad q u m ,

A obriga-se a entregar a 6 10 contos no dia em que ele bzer 21 anos : cis am termo lnicial.

A obriga-se e pagar, meosalmtnte, a B 1 conto, ale que Ble f a ~ a 21 aoos: eis urn termo extirrtivo.

0 primeiro 15 o dies n quo, o dia desde G qual comeca a obriga@o, 0 setundo 6 o dies a i quem, o dia, praso ou termo, ate ao qual subsiste a obrigac20.

0 conceito de termo e dislinto do de cond;@o. Ao passo que a condicuo 6 a clausula que consiste num

facto fufuro e incerto de que depende a efickcia do neg6cio juridic0 q u t e fonte de obrigaqso, pelo coutririo, o t ~ r r n o 6 uma c lhsu la que censisle, tambim, nuol facto fututo, mas certo, de que depende, &o a eiichcia, mas apenas n txigi- bilidade $a O ~ ~ Z ~ L T F ~ O .

Exemplifiquemos : A d l urn autom6vel a B, s e passar no exame. H i aqui

uma condig*, isto 6, uma clausula que coasiste aum facto fuluro e incerto. E' incerta e Iutura a passagem no exzrne e dela depende a eficicia da obrigacSio,

At6 que s e verifique o iacto, a dec ia ra~so de A u3o produz efeitns, pelo menos eieitos normais.

A d i urn automovel a B no dia em que ts te fizer 21 anos. Temos aqui hima obrigacb subordinada a uma cliu-

sula, tambtm, que consiste num facto futuro o t l e fazer 22 anos - mas certo (ele ha-de Lazer 21 anos ; pode morrer mas Isz 21 anos que nasceuj, de que depende, nzo a efici- cia da obrigac%o, porque A ja esta vinculado, mas apenas a exigibilidade da obrigaqZo. B 6 que n8o pode exigir a A o autombvei sen50 no dia en) que fizer 21 anos.

Esta 6 a diferenca entre c . .ndi~&o e termo. Vejamos, agora, as cbrlgacdes modais: A express30 mcdus, no Direito romano, era de signi-

ticado mais amplo que na Doutrina moderua. Pot essa ex- pressan, significavan~ os rolnaoos taato a coridi~Eo como o termo, como aquilo que n6s hoje chamamos o tnodo ou en- Gargo.

Mas, a express20 mono sig~ifica, apenas, na ticaica juridica medsrna, a re s t r l~ao de urna Uberolidaiie,

0 nosso CSdigo Civit nunca emprega a express8o i~modo., mas sim, e sempre, .onus> ou leucargo* Bomo se pode ver no art: 14?4.': * A doof60 pode ser pura, condl- cional, osreroso nu remuneratdrla.

5 1."- Psra 6 a doa~rio mkramenk bme'fica, e inde- pendenh de qnalquer condican.

3 2: - D o a ~ a o conditional C a que depenlie de ccrlo evento ou clrcurrstdrscia.

5 3."- Doaglo onerosa L a que l raz consigo cerfos mcargos.

5 4," - Dnagao remuneraldria t: a quc i ftitu errt aten- pio n serrdcos recebidos pelo dnndor, qne nao teaham n na- tureza de divida exigiveln.

Assim: deixo a qaantia de X a A, corn o encargo d e ele dar ao meu criado, JosC, mensalmente, 300$00.

E' islo que se chama o ernodon - uma reshri~%o de ulna liberalidade

Ha quem enteuda que nao sao apenas os neg6cios a tikulo gratuito, mas tambPm os negbcios juridicos a titulo

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bneroso, que admitem o amodo I. Sou de opiniao contrlria. Para aqueles, o ~ rnodo)~ e urn encargo impofiio ao adqui. rente.

For sezes, o intdrprete fica na duvida se esta perante urn cmodo* ou perante uma rcondifZo~~.

Por exernplo, nesta bip6tese : A deixa a sua herdade a B, contanto que Cle de mensalmtnte ao seu criado, Jose 300$00.

Serd uma .rcondi~llo= 7 Serd urn ~trnodo" ? Pois em caso de divida, corno o anodor 6 mais faro-

r6rel. ao devcdor-in dubio pro debitore-o interprete deve entcnder que 6 de urn urnado* que se trala.

quanto ao vinculo 1 a temnto , . . . .

O B R I O A C ~ E S

) iniciaia;

] eutiotivaa.

J auspenaivas ; cot~il'icio~rair , , .

' 1 rssolutivas.

22:-Das obrigagoes (oont.]

-Efeitos das obrigap6es.

1.'-Efeltos dlrectos s conseqU6ncias resultantes do n8o cumprlmento da obrigapao.

-Casos em qua o devedor B dlepsn- sado do cumprimento da obrlgagiio,

-A ucondltlo non adlrnpletl con- t r a c t ~ ~ ~ e o diraito de retenpao.

2."-Eleltos indirectas dali obrlgapdes.

-A acpao da anulrplo por sirnu- iepeo.

-A acpao revogatbrla ou prullena, quando o acto juddico d oneroso e quando o actolurldico B gratulto.

-A acpgo subrogatdria.

-Modos d r extlnq8o d m obrlga- ~ b e s : a) o papamento; b] a pro- posla ds pagarnento; e c) a con- signa~8o em deposito; d) a oorn- penrrapro; s) a oonlur8o; 1) rn no- vaGao; g) o perdiio; e h) a rs- nirncla,

--Modos de transferbncia dos orb- ditos au sucessao dos cridltos r tliulo rlngulsr: a) r cessao; b) a subrogapko.

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- A s obrigapoes em especial ou o s contratos especialmente rsgulados no C6digo Civil.

-0 cassmento, que nos n8o con- s lderamos urn contrato,a.pesar.da termlnologia usada na leglslaq8o.

-A parceria rustlca s pecusria,

Vamos hoje ocupar.nos dos efeitos das obrigac6es. Ha efeifos directos e ejeitos indirccfos.

Dos efeilos dlrectos das obrlgaposs : 0 s efeifos direztos das obri.~nc5es 580: u cumpri-

niento a que k relufivo o estirdo das conseqiiincins provc- nienies do nio cnrnprimcnfu du obrigag80.

0 cumprimenlo da obrigapo, norli~almente, faz-se pel0 pagamento. A propria express20 paparnerrfo da obripn~rZo quere dizer curnpri~~~entu dn obricacdo.

Mas, por vezes, a obrigaflo ngo t curnprida. A falta de eunrprirnento da obriga~Po traz responsabi-

lidades patrimouiais, Quere dizer : quando, voluntariamente, o ,devedor nHo pata, nLo curupre a obrigapao, responde pela falia do patamento o patriindnio do proprio devedor.

Umas vezes, a obriga~ao nZo 6 cumprida por culpa ou neglig&ncia do devedor ; oatras vezes, n8o t cumprida por facto do proprio crkdor.

Ainda a abr iga~ao pode deixar d e ser cumprida per ocorrer urn caso fartufto ou de fbrpa maior e, tambem, por se verificar algilm daqueles c a s ~ s em que o devedor nzo i obrigado a cumprir, isto 6, os casos de o crkdor, por sua

vez? nso ter cumprido aquilo a que se obrigou, veriffcando- -se a cond i~ lo nun adimpleti contractus ou quando o de- vedor tern o direilo de relenc%o.

S e o devedor nXo Gumpre par culpa ou negligtncia pr6pria - dizem os artifos 702 e reguintes - t responsive1 por perdas e daaos, consislindo es:a responsabilidads em ter de pagar as lucros cessantes e os danos emergentes. Na verdadt, o art.' 702 .q i z : *Os contratos, l e ~ u l r n e ~ t e cele- brados, devem ser pontualmenk cumpridos; nem padem ser revogados ou nlterados, sentio por rndtuo consenti- mento dos contruentes, salvas as excepg8es especijicadas nu lei*.

Art." 703." : 0 s direitos e obriguc6es, resultantes dus contratos, podem ser transmifidos entre os vivos ou por rnorl~, salvo se rsses direitos P ob~iga(o'ps forem purumente pessoais, por sun natureza, por efeitu do con- trato, ou por disposi~do da lei*.

Art.' 704." : * 0 s contratos obrigam tunto ao qur G n t k s expressu, rumu 2s suas conseqii8ncias ~ ~ s n a i s e Iegais*.

(Sbbre o mesmo assunto vide mais as arligos 705.O, 706.", 707.O, 708.', 709." e 710.O do C6digo Civil).

Mas, s e o devedor falta ao cumprimento da obriga~ao por Iacto de outrem para q u ~ de nenhurn modo tenha con- lribuido ou por caso forlu~to ou de fbrca maior, ja nao d r e sp~ns ive l por perdas e danos.

Na Doutrina costumava distinguicse entre caso for- fulto e caso d e f e r ~ a malor. N6s, porim, no nosso livro Dn responvabllidade confrotunl ( r ) sustentamos que A face da

;t) Encontra-se a p6gs. 464: No nosso direito prcvigente, s6 en- contramos as txprers4es #a10 foriutto ou a.m., c nunca a expressZo f d r p mofer.

k o C6digo Comercia1 de Ferreira Borges o primciro diploma LC-

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comprador os levar para o estrangeiro E de os demolit. nossa legislac%o nZo ha distinfao entre caso fortuito e case de fbrsa maior.

Caso jertuito e caso de f 6 r p maior sdo uma e a Jnesrna coisa.

Tambem a vendedor pode estar a coberlo da obriga- @o de cumprir, em virtude da condiqao non adirnpleti con- tractus, a que se refere o art."709.0, que diz:

@Se o co!lfrnio fo*r brlatcrni e nlprlrn dos cot~irai-ntt-s deinar de crrnzprir pela sua paric, podtwi 0 outro con- frnenfe fer-se i.~ullnlmentc, p ~ r desobrigan'u air e.xlp.fr yne o refnisso seja rornpeliilo jirdrciulmemte n cnJit/Jrlr nquilo n que se obriyau ou n ~nr/cmnizJ-lo de prrrias E darlos.

link@ - Igualme/zb. se pode frr cur110 desobrrgaifo urn dos coritrarnfes, se o or~fro se acilar fisica ou I P A ~ I - rnente impossibihtado de ~ I I I I T ~ ~ I T o conf~afo* .

Ha urn contrato de compra e venda, por exemplo. 0 vendedor obrigou-se a cenla e determinada colsa,

mas a%o cumpriu: o comprador fica a coberto da obrigaqzq de entregar o dinheiro.

Ou rice-versa: o aomprador obriga-se a cerba e deter- minada coisa, mas nZo cumpriu. Nesse caso o vendedor fica a coberto da obrigacso de entregar a coisa vendida.

Um exemplo: a Cumpanhia Nac~onal de Navega~Zu, em 18 de Agoslo, vendeu 2 barcos con1 a c~briga~zo de o

gislativo onde aparece a 1ocu~Zo mcaso forluito ou f 6 r ~ a maiorr. Par infludncia dos cadigo3 estrangeiros quc lhe serviram dc fonte, o Cadi- go Cornercial.de 1833, ofercce-nos esta locucHo, em que os dois termos cam fortuito e f d r ~ a malor aparecem como sin6oimo9, como bem se in- fere da disjuntiva ou que liga os dois voc8bulos e ir[ualmente de todo e l es to do artigo 932.".

E a pigs. 466: AS erprersaes ceaofor iui~o e f8rp motor, quand* usadas riault3neamentc pelo Codigo, sZo plaouisticas. pois a locu- cIo f b r ~ n malor tern um signiflcado quc j i es t i cornpreendidu na ;tccp- cSo tdcnico-juridica do ~ocabulo taro torluito.

l'assaram meses - Setembro, Outubro, Novembro e quasi Dezembro - e o conlprador nBo campriu a sua obriga~ao, isto C, levar e demolir os barcos.

Pet0 oontrario, foi a Compantiia Nacional de Navegasso informada de que o comprador pretendia revender os tarcos em Portueal - o que ago convinha, porque era vend@-10s a urn concorrente. EntZo, dispensou-se a Companhia da obri- : a ~ P o de etltregar os barcos, em virtude da dita condi@o mon ndinipiefi contracfns, em virtude do disposto no art,' 709.". E consignamos em depljsito o dinheiro.

E o comprador foi obrigado a levanfar o dinheiro que Linha depositado e a deiwar os barcos,

Quere dizer : a Companhia que tinha a obriga@o de entregar os barcos n3o o fez porque o comprador nLo cum- priu aquilo a que se havia obrigado, porvirtude da exceptio ngn adirnplell contractrls, a que SE rekere o art." 709.'.

Outras vezes, o devedor tern o direito de reten~ifo. Quere dizer; o devedor da obrigaqfio 6 crkdor do seu crkdor, porvirtude da coisa que @le tem em seu poder. E, eat502 enquanto o devedor do devedor. que vem a ser o crkdor do devedor, n8o cumprir, o devedor, porvirtude do direito de retencBo, nZo C obiitado a entregar a coisa.

Estes siio os efeilos das obrigac6es e as conseqii&ncias que resultam do n8o-cumprimento da obrigaqiio.

Mas, alem dtstes efsitos directos, ha os efeitos indirec- tor. a que se referem as art."' 1030.O e reguintes.

Por vezes, o devedor, para o%o cumprir a sua obriga~lo, pratica os actos de al iena~io patrimonial que resultam em prejuizo do crkdor. E entao o crl.dor pode revopar esses actos por meio de uma acp3o qne se ha ma ~ J C F ~ O revago- t d r i ~ ou rrcgao paallana.

Esses actos ou s%o simulados, ou silo onerosos, ou slo gratuilos.

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Se s%o simuiados, o crhdor pode anulh-los, nos tarmos dos art.*".030.", 1.031: e 1.032.", que nos dizem :

Art." 1030.': NOS actos c contratos, celebrodos em prejuizo de terceiro, podem ser rescindidos a requerimmto dos interessados, nos termos seguinfesn.

Art.O 1031.?:Os actos ou Controtos, simuladamentece- lebrados, pelos conkaenfcs corn o fim de dcfraudar os di- reitos de tercciro podem ser anulados e rescindldos a fodo o t m p o , a requerimpnto dos prejrrdicndos.

5 dnico-Sirr~~ilado diz-se o acfo ou contrato, em que as partes duclaram, oil cofijessant falsarnente alguma coisa que 11a verdade ss nEo passorr, on que entre elas ndo foi convencs'onadn*.

Art.' 1032." ~Rescindido o acto ou contrato sirnulado serd restituia'a a coisa ou o direito, a quem perfencer con1 seus frutos ou lucros, se frrrtos ou lucros houver*.

Mas, Iambem, am partes podein praticar actos uerdadei- ros que resullem em ptejuizo dos crkdores : tsses acbs ou s b onerosos ou gratuitos, e t a m k m uns como os outros se podem revogar.

Se sCio onerosos, revogam-se quando o credito do crEdor 6 anterior ao aeto, quando o devedor age de ma ft e qnando da actuac%o das partes no aato resultou a insolvhcia do devedor.

Isto t : ainda que o a d o seja verdadeiro, se o crkdor tiver urn credito anterior, se as partes procederem de r114 ft, se do acto resullou a insolvencia do devedor, pode Csse act0 scr anulado por meio de uma acggo revogatdrIa ou pauliano.

Sendo o acto fratuito, para ser anulado basta qut o dim reito do crbdor seja anterior e que do acto gratuilo resulte a insol~tncia do devedor. Nso e preciso a m i fk.

E o que se encontra regulado nos art." 1.033.' e se- guintes.

0 ar1.0 11033.a diz; a 0 acto olr torltrato verhdeiro, mas celebrado pel# devedor em prejuizo do sea crhdor, pode ser rescindido a reyuerimento do mesmo cridor, se o cr6 dito f6r anterior an di fo acfo nu contrato, e d&te resultar ~ n s o l v t ~ c i a do dcvedorr.

0 art." 1034.": dSe o ncto ou contrato f6r oneroso, sd poderd ser r~scinllido havendo md f i , fanto da parte do devedor, como ca'n outra parte*,

0 ar to 1035." : *Se 0 acto cu contrato for gratuiio, podc dar-se a relcis80, ainda yue os estipulantes ndo pro- cedessem dc md I k * .

E o art." 1036.': *Dd-se insolvbcia, quando a soma dos Bens e crbdltos do dcvedor, esllmados no Justo vnlor, n&o LguaIa a soma das sues divldus, A rnd f k , em t a l caso, conslste no conhecrmento disse estadon.

Mas, alim desta acgao revogatbria, pode o crkdor tam- bim exercer uma accao chamada subrogaldria.

Segundo a doutrina a t t h4 pouco estabelecida entre nbs, o crEdor s6 podia exercer a ac@o subrogatbria no caso do art." 2.040.'. que nos diz:

*Os crtdores duquelc, que repudra a heran60 em pre- juko deics, podem ser uulorizados judiclalmenle a aceitd- -la no l q a r ern nome do devedor; mas o remanescenfe d a heraya, 3 70s os crldores, ndo oproveitard uo repu- diante, mas sim aos hsrdtiros tinedialos=.

A ac@o subrogaf6ria consiste em o crbdor poder ocu- par o lugar do devedor para exercer direitos que &ste nlo quiz exercer.

Mas, conforme eu sustento, n%o i 56 neste caso que bA accao subregatbria. E m materia de prescri~ao e de socie- dade pur quotas, como mais tarde verao, h i casos expres- sos d ac@es subrogat6riar.

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Entendo, pois, que a ac~Tio subragathria 6 a regra t ago, apenas, excep@o.

Portanto, 0s efeitos indirectos do nao-cumprimenlo das obrigac6es s5o :

a) - a a y u o revogiatdrla e 6) - a acccio subrogatdrin. Cumprida uma obrigaciio, esta extingue-se, pois tudo

q u t nascc morre. A obrigatao extingue-se pelo pagamento, pela proposta

de pagamtnlo ou consignacZo em deposilo, nos lertnos do art,' 759.7 qut diz: 00 devedor podc livrur-se, fazendo de- posltar jadicialmentt+, corn cila~rio do cr?dor, a coisn devida nos cnsos seguinles :

1."-Se o crtdor rtcasar recebd /n : 2:-Sc a cridur nko vier, uu ndo iiinndar recebi-la

na ipoca do paga~ncnlo, on no lugar para tsso designado; 3."-Se o cridor ado qtrrzcr, dar qui ta~Bo; 4.0-- Se o crddor /fir i!tcerlo. 9 unico-l\ro cnso do !rrimero 4," dPsee artigo P dlspen

sadn a cila~rio do crkdor.. Pade acontecer que o devedor queira pagar e o credor

n%o apareca, ngo se saiba quern 6 ou nzo queira receber, c ent%o o devedor livrd.se fazendo a proposla de pagamenlo c a consigna~Zo em dephsito.

Depois, o credor e citado para irrr,ougnar. ( I ) I m ~ u g n a ou n8o impugna. Se impugna, ha casos em que o devedor tern u dirsito de resposta, e responde. Se nZo impugoa, o juiz julda lugu beru consignado o dep6sito e extingue a sbri- gaFao.

Se o crkdor impugna, vai, depois da itnpugnaq30, o processo concluso ao julz, e Cste aprecia se o devedor depo- sitou bem ou mal. No caso de decidir que o dep6sito foi btm consignado, extingue se tamblrn a obriga~ao.

(,) o t lrmo empregada pelo noro Cbdigo de Proccsso Civll

Tambem se extiague a obrigaqao por meio da compcn- sacPo, como preceilua o art." 756,": a 0 delwa'or pod# &so- brlgnr-sc da suit divida por meio dc compeasa(lio corn outra, quc o crddor Ihc deva nos ternaos scgrrlntes:

1 . O - Sc unta e oulra divida forem liqufdss; 2." -- Se uma e outra divida forcrn igualmente e x i ~ i -

veis ; 3."-Se as dfvidas consislircm em sonros de dlnhelro,

ou em coisas fungivet?, d a mesma espkie c gualldadr: ou se unaus forem soaras dc dinhelro e outras forem coisas cujo valor possa Icqu~dnr-se, conforrtde o d~spos fo na lillimn par. te do 5 I." do presente artigo.

5 I."-Divida liqrilda diz-se agucla cuja importdncia se ucha datermimoda, ou pode dcterminar-\e dentro io prnzo de nove dias.

8 2." -Diz-se dividn exlgivel aquela cujo pagamento podc ser pedido em julroa.

Por vezes, aconlece que o devedor i lambem crkdor do seu crtdor.

Suponhamos que A empreslou a B 10 contos, mas que B 6, por sua vez, crkdor de A por 8 contos.

Ambas estas divldas est%o nas condi~aes do art." 765.". Da-se a cornpensso, que produz efeilos ips0 fncto, islo 6, A apenas i devedor d t I< por 2 contos.

Se as importancias devidas fbssem iguais, a obripa~ao extinguia-se complelamen~c, No caso presente, a obriga$i[o extindue-se at6 sos 8 contos.

TambEm a obrigafao se extinguc por confusao. ( I )

Da-se a confusao, quando, porvirtudt de urn facto qualquer, por exe~nplo : de urn fendmeno de heranp, se con- fundem na mesma pessoa o crkdor e o devcdor,

- --

(1) Vide os arts. 706.0, 797.0, 798.'. 794.O. 8111Lu e SI)I: dt Cddigo Clvil.

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Exemplo: A pediu emprestado ao seu tio B 10 aontos. B n%o tinha frlhos. Morreu com testamento, em que instituia A sen herdciro universal. Quere dizer: A i devedor de 6 a l i a morte d&ste; depois da morte de 6 , passa a ser crkdor de si mesmo.

Deu se, portanto, a conjusrio. Suponha-se, portm, que o testamento vem a ser anulado

e que A, que tinha sido iostituido herdeiro universal de 6, deixou de o set.

Entao, verifica-se o caso do art.' 801.': renasceua obri- jaq8o.

Tambitn se extingue a obrigaflo por novago. ( I )

D i m a novaqHo quando a divida fica subslituida por outra, ou purque se subsfitui o object0 da obrigasao ou por- que se substitui o devedor ou o crkdor, isto e, os sujeitos da obrigaMo. Morrc a divida antiga e aparece uma dirida nova Extingue.se a divida antiga.

Exemplifiquemos. A emprestou 10 contos a 3, mas B vai ter corn A e

diz-lhe: gdevo-lhe 10 contos, mas tenho um aufom6vel que Ihe convkm; obrigo-me, no acto do vencimento, a dar-lhe, em vez dos 10 contos, o autom6vel~.

Se A aceita, morre a divida antiga, que consistia no pagamento de 10 contos, mas surge uma divida nova, cuja prestafBo conriste na entrega de urn autom6vel.

DB se, aosim, a extinglXo de uma obriga~ao ppor novac3o abjectiva.

Oulra hipotese: A empresia a B 10 contos, mas C, pai de B, quere tsmar a responsabilidade da divida do seu filho. A aceita txpresrarnente a substituifao e, por conseqfiencia, C Q quejfica vendo o deveder.

Desaparece, assim, a obrigafao antiga e surge outra obrigaqgo que consiste num vinculo juridic0 que se estabe- leceu entre A e o pai daquele a quem A tinha emprestado o dinheiro.

Di-se, portanto, ai 'a exlin~3o de uma obrigaqgo por no- v a ~ % ~ subjectiva porvirtude do devedor.

Mas pode acontecer, ao contriria, que A tenha necessi- dade de 10 contos e os pepa a B. A, porem, i crkdor de C

Se B aceitar expressamenle que passt C a ser seu deredor por 10 contos, e nao A, visto que C tern obriga~Bo para com A igual 21 que esre lem para aem B, dh-se a ex- t i n ~ a a de uma obrigaflo por novaflo subjsctiva por sabsti- tu ieo do crLdor

A obriga~Io ainda se pode extinguir par perddo ou re- raincia, camo determina o art.' 815.', ae dizer : *E ' Iicito a qualquer renunciar o selr direlto ou rcmlllr e pdrdoar as prsrta~des que Ihe sdo devldns, excepfo nos casos em que a l ~ i o prorbir.

5 tiuico-A rendncla sd pods provar-se por docurnento escrito e assinddo pel0 renunciaate, devendo, no caso de ile nao saber ou ndo poder ssctrver, intervir duas trste- munhas com reconhecimento notarial..

0 crkdor pode perdoar o seu direito ou renuociar a dle, e entzo extiaguese a obrigacao por perdao ou por rentincia.

Mas, antes da extincao da obripa~ao, pad6 esta ser transferida. Pode haver uma sucessao a tilulo singular na obrigaflo. E essa transmiss20 da obriga~ao pela lado activo (s6 os criditos i que se transmitem) pode fazer-se por cessdo ou por subragacdo.

A cessao e rtgulada nos art.@ 785.O e seguintes. ( I )

( I ) Vide os art.05 desde o n6mero 802: ate no art." 814.O do C6- dig0 Civil.

(I) Vide os artigos nPS 785.O, 7&.*, 787.O, 7&.0.'789.b, 790.0, 741.0, 792.O, 793.O, 7Y4.O e 795.'

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Por meio de cess~o , como por meio de subrega~go, o cridito transmite-se inteero, com tbdas as suas quaiidades.

Tem penbor a garanti-lo? Transmite-se corn o penhor. Tem hipoteca a garanti-lo? Transmite-se corn a hi-

poteca. Em suma, transmite-se integro. A cessio faz-se par meio dum acto juridic0 per0 qua1

o cridor transfere os seus direitos a outra pessos, que fica sendo o crtdor. Mas, para que se d t essa translerdnoia, i preciso que o devcdor seja notificado ou tome conhecimento da cessgo por modo aulkntico.

A subrogapo t regulada nas art.0"77%.0 e seguintes. Estes artiges dizem-nos : Art.* 7 7 8 . O : ~Aquele, que paga pelo devedor corn seu

consentimento, expressarnentc rnanifcstudo, ou pnr fuclos dondc la1 conscalimento cloramente se dcduz!~, jlca subrg- gad0 nos direitos do c r i d o r ~ .

Art." 779.O : lr3quele, que pirgu pelo devedor, sem seu consentimenfo, rd adquire os dcreitos do rr2dor nos ca- sos seguinfts :

1,"-Sc a pessou, quc fez o pugamenfo, e fladur ou inlcressado, por uigum outro m o b , em que e'le s t faga.

2."-Se o crddor, que reccbc o pagumento, ceder os scus direitos nos lermos, da aegninbc secgao5 ou subrogar guern houver pago nos seus direitus, conhnto qde a subro- gacao seja jcita expressamede, c no acfo do pagamento*.

Art.' 780.' : c Se a divlda for paga pclu prdprio dcvs dor, corn dinheiro quc tercelro Ihe ernprestassc para Csse f lm, 2stc s6 podcrd jicar subrogado nos dlre,tos do credor se o emprtstimo conslur de tilulo ant&ntico, em quc se declare, que o dinheiro fol pedldo para pagarnento daquclu dlvlda*.

C m o ja disse, pela s u b r o g a ~ ~ a tambem o crtdito s t transmite integro.

A subrogacLo pode ser legdl ou convcncional. E' consencional. quando o credor recebe o pagamento

de ouira pessoa a quem subroga, ou quando o devedor pede dinheiro emprestado para pagar ao crbdor deklarando-se ex. pressamente o fim para que contraiu o emprestimo.

E' legal, quando algu6m tern intertsse no pagamento- por exemplo, o tiador - e paga a obrigatao, porque eatgo fica subrogado nos direitos do crkdor, a quem pagou.

Repito : tanto pela cessso como pela subraea#o l14 uma sucessSo a titulo singular pelo lado aciivo.

Vanos, agora, ocupar-nos das obrigaq6es em especial. 0 nosso Gdigo trata, nos art."Y.856." a 1,722,', de ri-

rios actos juridicos a que t l e chama contratos, que s%o fon- tes de obriga~6ss.

Ex3minar a natureza juridica, per surnna capita, sem. prt pertunetbriamente, dtsses actas juridicos - i o que n6s chamnmos tratar das obriga@es em especial.

Logo ne ar t .~.856." , o C6digo ecupa-se do casamento, como scndo urn contrato.

A mesma definipo se encontra na Lei de Familia n." i , de 26 de Dczembro de 1918, que substitui os artifss do C6digo Civil em mattria de caramento,

Mas, na verdade, o casamenk, quanto a mim, nZo 6 urn contralo.

E' certo que ao casamento convCln a definiqzo do art,' 681d0, a definiqgo legal de contrato ; mas o que e certo, tarnbim, e que a defiui~ao do art." 641.O n%o e defini~ao de contrato no sentid:, teanico-juridico. E' urna definiQo de conven@o.

Corno mais tarde veremos, ha actus jrrridicos unilafe- rais e aetos ~urirlicos plrcrilaterais, e estes podem ser con- ~renges ou c~ntra fos .

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Que distingue a ennvent%e do contrato 9 Numa e noutro ba o acbrdo de duas o u mais vontades,

-nesse ponto encontram-se a convenC%o e o contrato. Mas, ao passo que do contralo resultam obrigaqGes, da convenqZo resulta simplesmente a c r i a ~ l o , allera@o ou modificaqiCo de direiks, e nso obriga~tiej.

Do casamenk nZo resultam obriga~aes. Do casamento resultam estados e capacidades. Por conneqfitncia, ao casa- mento nil0 convCm a defiaiggo tecnico-juridica de conlrato, mas, simplesmente, a designa~io de conren@o.

Depois, o C6digo ocupa-se, nos art." 1240.*, 1241.", 1242.' e seguintes, da outra especie de conlratos, - a socie- dade.

0 art." 1240." preceitua : RE' ljiito a todns os que po- dem dlspor de seus bens e lndlisdria associnr-se corn oulrern pondo em comum toabs os seus bens ou parte deles, a sua indlistria, simplesm~nte, ou os seus bens t indristria con- jurztamente, com o intuit0 de repardirem entre si os provel- tos oa perdas, qse possum resultar dessa cornrmhrio. E' o que sc chama sociadaden.

Art." 1241."; u A sociedade pode existir por convengdo exprcssa, ou por fattos, de que se deduza necessariarncnle a sua ~xist2ncia*.

E o arLo 1242.O: aSsrd nula a socledade, nu qual se estlpular, que todos os proveitos perdengam a algum, ou alguns dos sbclos, e t6das as perdas a oubro, ou outros

No art." 1.298.O p s s a o C6digo a tratar da paroeria rural.

Que vem a ser a parceria rural? Encontram esta matirh tratada no meu livro - Da

responsabilidade contratltul~ - a pigs. 331 e segs. :

- E m seguida B sociedade, o C6digb Civil regulamenta a parceria rural, que subdivide em dois ramos: a parceria agricola, e a parceria pecuiria.

A parceria agricoia e o contmto pel0 qual o possuildor durn predio rhstico o d6 a cultivar, por certo e dclerminado tempo, a urn lavrador, que se encarrega da cultura dble, mediante o encargo da partilha dos frulos segundo uma per- centagem convencionada. E' urn contrato consensual, sina- lagmatico e de execu@o continua.

Surge, a-proposito da regulamenla@o subsididria dbste conlrato, a questao de saber se a parceria agricola e uma sociedade ou urn arrendamento. Por urn lado tern tbda a aparencia duma sociedade : urn dos contraentes entra com o uso e frui~8o do prkdio rhstico, o outro entra corn o seu trabalho ou indlistria, e dividem entre ambos os fralos. No direitr romano ja se estabeleeia esta aproxirnaflo entre o colonato, designa~go porque ainda hoje 15 conhecida a par. ceria agricola, e a sociedade, como pode deduzirse de Gaio ; Alioquin colonus partiarius, quasi sociefntis jure, et danrnum et lucrum cum domino fundi partitw. (4)

Por outro lado, existe uma velha doutrina que conside- ra a parceria agricola como urn contrato a fim do arrenda- mento.

0 nosso legislador, ao que parcce, teve hesita~io, pois se e certo que regulamenta a parce~ia, logo ap6s a s ~ i e d a - de, como para nus signiffcar a semelhan~a que existe entre estes dois conlratos, tambairn, para aproximar a pareeria do armndamento, disp6e no artigo 1.303.O do C6digo Civil serem aplicdveis aos parceiros as disposigdes dos Urtigos rclativos aos direitos e obrigap7es dos locadores c arren- datdrios em iudo o que nic f i r rcgulado por d ispas ip~s fsp ciais.

{ I ) Gaius, S igcr~o XIX, 2 , 25 .

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Ociipat nos.smos aqui sbmenlc das ohrigac6es especiais dos parceiros.

0 parceiro lavrador tem obri2aqd;as distintas das do arreadatirio :

1." Nao pode ceder a outrem a sun s i tua~go juridica coma hem s e erideacia desta expressso que entra na de- finiqaa legal da parceria agricola - *para ser cultivado por quem o r e ~ e b e r .

3,' 0 parceiro lavrador n%o pode levanlar o p8o da eira, nem tirar o vioho do lagar, nem recolher quaisquer outroa tutos , de que deva partilha, %em que o f a ~ a ~ a b e r ao proprie~irio, w a quem as suas vezes fizer, estaado na mesma ireeuesia, ou sem fazer medir us frutos oa presenp d c duas testernunhas insuspeitas, se o propriettirio nZo se achar na mesma ireguesia, incorrendo, se assim nLo pro- ceder, na obriga@o de pagar em dbbro a parte que leria a dar (artigo 1301.0) ;

3." 0 parceiro lavrador niio pode deixar o pridio sern cultura ou cultivi-lo de modo diverso do conrencionado, ou de rnodo diferente do que e coslurne leal, se nada houver side estipulado no contrato, e , se infringir bsie preceito, fiaa responslvel pelas perdas e danoa a que der causa (ar- tigs 1302.').

Par sua vez, o propriethrio, se outra cousa n%o fSr es- tipdada, t t ra de adiantar as sementes, que depois serZo deduzidas & quinhh do cullltivador (artigo 1301.", 5 3.").

A16m destas obriga~fies, tanto o colono como o pro- priethi-io ainda ficam vinculados a tbdas aquelas que teem o arreodatario e o senhorio e que 030 seiam cootrarias As especialtnente esialuidas no contralo de parceria agricola.

Se fallarem ao cumprimenlo destas obrigaqfies, res- poodem os obrigados pelos prejuizos causados.

No artige 1 3 0 1 . O , 8 2 , O , o legislador Iixou o pagamento em dbbro, para a hipotese do lavrador nBo medir os frutos

perante o proprietirio, se tste estiver na freguesia, ou pe rante duas teetemunhas insuspeitas, se o proprietario nao se achar na parbquia, Esta regra loge ao priocipio b a s k da respoosabiIidade civil, segundo o qua1 a iademoiza@o C semprt igual ao prejuizo causado. E' uma disposi~Bo ex- cepcional, que estabrlece urua peoa civil em substituico da reparaglm pelos prejulzos causados. NHo considtramos t s te caso como sendo de indemoizaqZo finada por lei, por- que a indernniza~Bo s6 i derida, quaodo hd prtjuizo certe, e o padamento em dbbro i5 exigivel, ainda que da cooduta incorrersta do lavrador nLo baja resultado qunlquer dano para o proprietario.

E' mister nao esquscer qltt tbdas estas disporiq6cs legais ssu supletivas, por isso s6 se aplicarn quando 0s con- traentes a80 tenham feito estipula$6es diversas. Convem ter sernpre presente, coma j6 dissemos, que o csnte~ido dos contratos d estabelecido preferenlemeote pelos ttrmos da prcipria convta~Zo.

0 direito romaoo ~onsiderava a parceria como uma es- pdcie de sociedade. 0 legislador do nosso Udigo Civil hesilou entre considera-lo urn contrato de axrendamenlo. porque ao art." 1.303.O rnandou aplicar 5 parceria agricoia as disposiqi5es relativas ao arrendarnento, o que prova que se ioclinou a considerar a parceria agricola tarnbirn como ulna especie de arrendarnento, conbrine podtrn ver a pigs, 334 e sefs. do rneu lirro ja citado: -

- No C6digo Civil 56 estS regulada a parceria pecu6ria simples. Mas nos costumes locais do nosso pais existern ontras cotnbioag5es de parceria peculria. S2o freqiientes as combinaqBes desta corn os contratos d e arrendamente e de para r ia agricola. Tambem C vulgar urn ouiro conbrato, em que o parceiro pensador eolra corn capital para a cempra dos animzis que Ihe s%o eatreguts para criar, pensar t

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vigiar, contrato que o cidigo civil francbs denornina de cheptel d moitik. '

Bem fez. em nosso enlender, o legislador portugaks, regulando sbmente a parceria pecuaria simples, pois o con- trato de parceria em que o pensador entra corn capital, 6 uma verdadeira sociedade, e as outras combinag6es da parceria, porque s%o contratos mixtos de parceria pecuaria e arrendamcoto ou de parceria pecuiria e parceria agricola, regulam-se simultanearnente pelas redras de cada um dos contratos qne entrarn na cornbinaGo, na parte respectiva- mente aplidvel.

0 artigo 1304." do Cddigo Civil define parceria pecuh- ria o contrato em que unla ou mais pessoas entregam a ou ra ou outras cerfos onlrnais, on cerfo nrimero d?ies, para os criarem, pensorern e vigiarem, con1 o u.~uste de reparsirem entre si os lucros futlsros em c ~ r t a proporcZo.

Afigura.se-nos esta defini~Po imperfeita, pois, como logo se deduz do preceito do artigo 1310.', n#o sno 56 os lucros futuros qne teem partilha, mas tambkm pode haver partilhr das perdas pojs t q u e &ste artigo proibe i t%o sbmente que tadas as perdas resultanks do caso forbuit jfquarn p r conta do parceiro pensodor. Podem, e certo, os contraentes estipular que tbdas as perdas sejam a cargo do proprietirio, mas tambem podem convencionar, e d csia a regra, que as perdas sejam sofridas tanto pelo proprietdrio como pel0 parceiro pensador.

Mais aceilivel nos parcce a defiuipao do ar~igo 1800." . do c6digo cirrl frincea, regundo a qual, parceria pccudria L o contrato ern que urna das parfes entrega d ollfra cer- tos aninlais para rriar, alimtntar e viginr, s66re U S con- diczes que entre si convenrionam.

Conforme disposipo expressa, aliis desnecesraria, do

artigo 1305.", as condi~6es deste contrato sera0 regutadas a aprazimento dos interessados e , na Ialta de acbrdo, obser- var-xe-6 o costume geral da terra, sa!vas as disposi~8es que a seguir estabclece.

Pela redac~go d&ste artigo in fhe podera parecer que tbdas a s disposi~6es subseqiienter aquele artigo 1305.' sPo preceptivas. Nao entendemos assim, pois afigura-se-oos que as regras dos artigos 1307.O, 1308.O e 1312,", ao menos es- tas, s%o de carscter supletivo e, per isso, a s partes podem estipular em coatrhrio do que elar regulam.

Se os conlraentes outra coisa n8o estipularem, quando isso lhes seja permifido. o parceiro pensador 6 obrigado:

1.O A empregar, na guarda t tratamento dos admais, aquele cuidado que ordin~riarnente emprega nas suas cousas (artigo 1309.') ;

2 . O A entregar ao propriethrio, diligenciaodo que niIo s e perca, todo o proveito gue sc possa tirar don animais que morrerem (artigo 1309.O) ;

3." d n%o dispor de cabega alguma de gado, quer do principal, quer do aarescido, sem consentimento do proprid- tdrio (arligo 1311.') ;

4." A nso fazer a tosquia do gado Lanigcro, sem que previna o proprietario (artigo 1312.");

5." A dar aviso ao proprietirio, quando o gad0 fbr pt- ahorado e a final arrematado em praqa por diridas do pen- sador.

Entendemos que esta mesma obriga~ao de dar ariso ao propriet6rio existe, pBsto que a penhora tenha sido feita em execu@o requerida contra outrem, porque o fim da lei, impondo tete dever ao parceiro pensador e a~autelar os inttrtsses do proprietario, para que Cste embaeue a pe- nhara, quando para isso tenha fundamento legttimo.

Por seu lado, o proprietirio tern obriga~go: I." De assegurar, ao parceiro industrial, a pmsse e uso

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dos animais referidos na contrato, e a substituir por outros,. e m caso de eriscao, os animais evictos (artigo 1307.O);

2," A nZLo dispor de cabeqa alguma de gado, sem con- sentimento do parceiro traiador (artigo 1311.? ;

3 . O A manter o contrato pel0 iempa convencionado e, na falta de convencZo, por todo e tempo que, conforme o uso g e r d da terra, costumarem durar tais parcerias, salvo s e o tratadmr ngo cumprir as suas obrigac6es (artigos 1313." e 1314.').

Pefo n8o cumprimento d e qualquer destas obr iga~8es , ou de ontras que as parles est~pularem, incorre o devedor em responsabilidade de perdas e danus, salvo, quanto a obrigatao do parceiro tratador prevenir o proprietirio da tosquia do gado lanigero, p r q u e , em r e l a ~ % o a es ta , a lei substitue a reparago civil d e perdas e danos pelo paga- menlo em dbbro do valor da parte que havia de pertencer ao propriatirio, o que n6s, por motivos expostos, conside- ramos uma pena civil.

-Conceito jurldlco de mandslo : man- date representative mandato gem representaptio.

--EspBcles de prestrqbes de so rv l~os que sao object0 do estudo do Di- relto Clvil.

-EupBcies de prestapdes de ssrviqos da quo aa ooupr a Iegisla~do operh- ria ou leglolapso industrial.

-0 contrato de emprrltada.

-0 sxerclcio das proflssdes liberals,

- 0 s contratos do recovagem, barcr- gem e alquiiarla.

-0 contrato de aibergaria ou pousads.

-0 contrato de deposito.

--Dorgbas a suas esp8;ies.

-De rmvoga$$lo drs doapbes.

-DO emprbstlmo e suas espboies: o rnllluo e comodato.

- 0 s contratos aleatbrios e suas rs- p8cies : contrato de r lsco ou seguro

jBgo ou nposla.

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Em seguida aos coatratos de parceria, quer agricolat quer pecuaria, ocupa-se o C6digo Civil do mandato, nos art.*".318.* e seguintes.

Sbbre o nrandako iranscrevemos, a seguir, du nosso livro -Dn responsabllidade contratu~l-mais os seguintes passos :

Passernos ao exarne das o b r i g a ~ ~ e s que, segundo a re- gularnenta@o do C6digo Civil, emergem do conlrato do mandato.

E' nosso propbsito, fixar, em relag20 a cada contrato, sbmenle as no~6es indispensiveis para a delitnitagiio do seu contetido. Doutro rnodo, este capitulo do nosso estudo, s6 ele, constituiria urn tratado de direito civil.

0 mandato regulade no Cidigo Civil C o mandato re- presentwiivo. Depreende-se este conceit0 de virias disposi- $ties legais, principarmente do artlgo 1350.', pois preceitua que uo constituinte d responsiivel para corn qualquer pzs- soa, nos termos do artigo 1345:, pel0 que o rnandante ti- ver feito, como tal, em relaq%o a essa pessoa: mas o man* datario n%o tern acGao para exigir dela, em nome do cons- tituinte, o cumprimento das obriga~aes contraidas peia mesma pessoa. Este direito compete ao constiiuinte~.

0 instituto da representa@o n8o foi conhecido de di- reilo romaao, que nb admitia que o acto juridic0 reaIizado por uma pessoa idsse vincular outra.

As realidades da vida social impunham ji entgo que, em determinadas circunstAncias, os actos juridicos fbssem praticados por pessoas diversas daquelas a quem &Les iolz ressavam. Mas, quando tal acootecid, u direilo romano des- dobrava a operatilo : o iotermediario traasferira, por novo acto juridico, para o interes5ad0, a situaqSo juridica que tinha obtido. E' claro que tste compiicado sistetnd oferecia graves inconvenieotes, entre outros, o de sujeitar o inieres-

sad0 e o intermediario is conseqii&ncias da reciproca itlsot. veacia e da rna~ft nos negicios.

Para remediar estes efeitos malkficos, o direito pre- toriano crion uma acfda 31il rntre o inttressado e a p a - soa corn quem o intermediario contratava, mtiouando, todavia, a respeitar s principio de que o acto juridico so produzia efeitos entre os pr6prios que interrieram na sua realizaflo.

h m o se v&, s6 posteriormente ao direito romano C que surgiu, apercebida de todos os elemento que hoje a constituem, a figura juridica da representaflo, cujas carac- teristicas s%o a s seguintes : o que realiza o act0 juridic0 actua em nome duma terceira pessoa, o representado, e dB ronhecimento desta sua inten~ao hquele corn quem contrata; o representante deve ter poderes, conferidos por lei ou por contrab, para actuar em norne do representado.

Muitos s%o os trabalhos aparecidos, mbrmente na AIe. manba, sbbre a censtru@o tecnico-juridica do instituto da represeataCZo. Alhetmo-nos dtsseo estudos, que bem lmge nos Ievariam, para apontarmos sbmeote os efeitos da repre- sentat$o, que todos se reduzem a este coroiario: os efeitos do act0 realizado pelo representante projectam-se sbbre o representado, de mod0 que ele s6 i que tica joridicamente vincuhdo. Desta proposi~klo derivam dois outros corolirios ; Como o representado C que assume as obrlgagaes do act0 feito pelo rep~esentante, k na pessoa daquele que devem concorrer as condipaes de capacidade necessarias para a validade do acto; porque e o representante que reakiza o act0 juridico, sem por &Is Rcar obrigado, precisa Cste de possuir discernimento pari poder manifestar a sua vontadc, sem que seja mister que ienha capacidade de obrigar-se.

Estes priocipios estao aancionados no art~go 1334.0 do nosso Cidigo Civil, qne disp6e: .As mulherao casadas e 05

menores o%o emaocipados podem ser mandalarios.. . mas

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o mandante s6 terd ac@o contra o rnenor ou conlra a mulher casada, em conformidade das regras gerais que regulam a responsabilidade dos aatos destas pessoas, except0 se o mandato, seodo escrito, tiser sido autorizado pelo marido, pai ou tutor do mandatirio*,

Ainda que, conforme o sistema do nosso C6digo Civil, o mandato e sempre representatiro, nada obsla a que o eonstituiote e o mandatirio estipulem que Lste actue em nome pr6prio e sem revelar a sua qualidade. Evidente. mente que, nmta hipblese, o mandatario sincula-se a si pr6prio. NSo ha representa@o, mas aem porisso deixara de haser mandato,

E' o que acontece na figura juridisa da cornissilo, re- gulada no Codigo Comercial : na comissiro existe urn man. dato sem representaflo, c o ~ o c ~ se averigua da anilise dos artigos 266.", 2 6 7 . O e 268.O deste C6Jig0, que conteem as seguintts regras .

*DL-st o contrato de comissSu quando o mandab5rio executa o mandato mercantil s tm meneao ou alusao alguma ao mandante, contratando por si e em seu nome, como principal t dnico contraenter (artigo 266.').

cornissirio fica directamente obrigado cam as pes- soas corn quem contrata, como se o negocio fbsse seu, Mo tendo estas a c g o contra o comitente, nem este contra elas, ficando, porim, sempre salvas as que possam competir, tntre ri, ao comiteote e ao comissirio (artieo 268.").

Tambtm oa inttrposi@o de pessoas ha urn mandato sem representa@o. A interposigBo de pessoas kern por fim, na feneralidade dos casos, a fraude da lei ou o prejuim de bercciros. Mas pode visar, Goica e exclusivamente, a ocul- tacilo da pessoa dum dos coniraenies ao outro. NCste caso k respejtivel. A ioterposi~ao de pessoas s6 e conternplada pel0 nosso direito positivo para reprimi-la, quando tern uma finalidade ilegal. A' face do nosso direito, a interposi~go de

pessoas tem urn regime semelhante ao da interreng80 no direito romano: os actos praticados pela pessoa interpostr s6 por meio duma transfertncia da s i t l ~ a ~ a o juridica que esta adquiriu t que podem reverter para a pessoa oculta.

U intermediario, que realizou em nome prbpr~o urn contrato de compra e venda, s6 por meio de outro contrato e qu& pode imnsferir a propriedade da cousa para o seu constituinte.

No entanto, existe urn vioculo juridic0 eotre a pessoa interposta e o constituiate, que e, em nasso entender, idCn- tico ao Rue resulta do mandato sem representaflo.

Como se re , o rnaodato 6 , em regra, representativo, mas pode haver mandato sern representaqlo; assim como existe, por f b r ~ a de Lei, representag80 sem maadalo*

Josserand suttenta que s6 os actor juridicos sZo sus- ceptiveis de constituir objecto do mandato, com e x d u s ~ o dos factos materiais. Diz t t e : ~ N a o Je dB procura@o a ulna pessoa para construir urn muro ou para fazer uma viagem : a opera~ilo realizada neatas condiq6es i uma empreitada ou uma presta~go de se r r i~os , que k preciro distinguir do mandaio* (I).

Planiol e Ripert tambim distinguem o rnandatn da prerta@o de serviqos pela natureza do objecto de cada um dtstes contratos e afirmam que o maadato tern por objecto aetos juridicos, enqu~nto qut o objecto da p r e s t a ~ a d t snrsicos t um iacto de ordem material (9 ) .

Colin e Capitant (3) nao aceitam Bste triterio de dife- rencia~go, porque, afirmam, d contraditado pela dtflnigao que o Cbdigo Civil d a de mandato.

( I ) Joss~rand : emurr dr arolr eioll 8,11ij , 11, n.* 141M. (2) g rs t~d P1&nwtairc, 2.a ed., 11, n.O 2293. (3) Coura &Idmentatre, 4.. ed., 11. pig . 707.

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E m verdade, o artigo 1318." do nosso C6digo diz : ~~D5-se o contrato de maodato o11 procuradoria, quando alguma pessoa se encarrega de prestar, ou fazer alguma cousa por maodado e e m nome de outremn.

Na expressgo da lei, naa se distingue entre actos juri- dicos e Iactos materiais, porque algurna coasa e uma lo- cugzo que, lileralmente, abrange o acto juridi~o e o simples facto,

Mas o sentido a atribuir aquela expressao al~urna couso e, logo a seguir, dado pelo ariigo 1322.", que se en- contra na s e y l o iotitulada: Do obJecto do mandato e das pessoas que podem coraJerL c aceibar procura~iio, e que estatue: ~ P o d e qualquer mandar fazer pot outrem todos os actas juridicos, que por si pode praticar, e que n8o forem meramente pessoaiss.

De maneira que aquela express80 algurna coasa, do artigo 1318.', e, segundo o artigo 1322.", equivalentc a aclo jur fdlco.

De faclo, n%o se d a procuracao a ninguim para pra- ticar urn acto material: a construgao duma casa, urna ope- ra$Ko cirlirgica, l i p 0 aus filhos, etc.

Passa se procuracao a uma pessoa para outorgar per ouira em uma escritura que dP forma a um acbo juridico (compra e venda, confissao de divida, distrate, ete.), mas nlo st coafere mandato a urn notirio para lavrar a escri- turn, que C urn acto material.

Por isso, o midico, o arquiteclo, o notario a80 s8o mandat6rios dos seus clientes, mas apenas lbes presiam serricos.

Aquele ctiMrio de distingo, que consiste na natureza do object0 do aontrato de mandato e do da prestafio de serviqos, podemos ainda juntar aulro, de ordem subjectiva, a saber: rnandatdrio 6 aquele cuja voniade se aubsiitue A

do mandante, .querando o aclo juridico e prestada.lhe a consentimento.

A diferencia~go eotre estas duas espiciea de contra. .tos e, juridicamsnte, relevante, primeiro, porque os coos- tiluintes que passaram procuraCZo ao mesmo mandakifiio para tratar durn neg6cio comum stIu solidhnamente res- poosiveis pot lbdas as obriga~aes que resultarsm da eae- CU@O do mandato (artigo 1348 "), o que nPo amniece oa ptestagao de serviqos; em segundo lugar, porque o manda- tario d o se obriga pessoalmeake para corn terceiros aom quam contrata, a0 conlrfirio do qm presta serriqos,~pois bsle vincula-se pessoakmente corn tarceiros pelos actos corn eles realizados.

Pbsto isto, .podamos determinar as ~obri&q&ss reci- prectts do rnandatdrio e do constituinte e aid4stes para corn terieirtis

0 mandatario i obrigado ; 1.' A aumprir o mandato nos tevmos t pelo tempo por

que Ihe foi cenferido (artigo 1335.') : 2." A dedicar gerdncia de que i encarmgado a dili-

gtncia e ~uidado de qua e capaz, para o b ~ m desempenbo do mandato (artigo 1386.') ;

3 . O A marrter-se deotro do lirnitt dos seus podem (ar- tigo 1338.O) ;

4.0 A nao praticar actos, que, embora contidos nos po- deres conferidos, sejam contraries ao fim do mandato iar- tigo 1353.') ;

5.' A n2o disirair, em proveito seu, o dinheiro do seu conslituinte (artigo 1340.') ;

6.' A nao substabele~er noulrem o mandato. Be para isso d o Ihe tiverem sido dador poderes (atrigo 1342.').

7.' A responder pelo subtabslecido, quanda @ate fbr notirriamente inhibil uu insolrtate (nrtigo 1342.e in fim):

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8 . O A prestar contas exactas da sua gertncia (ar- tito 1339.O).

Pela inexecuqBo destas obriga$6en incorre o manda- taris em responsabilidade civil contratual para corn o cons- iituinte. Por virtude da natureza do rnandato representative, o mandathritr, normalmente, 56 tern de responder perante o mandante. No caso, porim, de exccder os poderes qu: Ihe S ~ O conleridos e , aolaogamente, no de haver praticzdo aetos contrArios ao fim do mandato, incorre tambbm em respon- sabilidade para coln terceiros, porque desaparace o stan- dard da representaggo. No enianto, os actos praticados corn excess0 de poderes vinculam o consiituinte em duas circunstaacias especisis : quando o mandante raiifica a actua- qtio do rnandatario e quando o constituinte induz o terceirs em &rro, passando a procuragLm em terrnos ambiguos ou dando-lbe a sntender, por quaIquer meio, que os poderes do procurador sZo bastantes para o acto juridi~o corn t i e realizado, pois nenhum contraenbe pode alegar trro para que haja contribuido (art." 695." do Codigo Civil).

A resp~nsabilidade do mandatario que excedeu os po- deres ou d&les usou corn desvio do firn por que Ihe foram conferidos i, em r e l a ~ a o ao constituinte, evidenternente con- tralual; mas, para crom o terceiro com quem pretendeu contratar, n80 nos parece que tenha de responder contra- tualmente, por isso que n3o teve vontade de vincular-se a si mesmo. Ora sum o mdtuo consenso nso ha contrato pos- sivel. Todavia, se cometeu delito civil, e como tal deve considerar-se o doln de que, porveutura, haja usado, emerge a responsabilidade civil delitual para corn o ttrceiro que prejudicou.

Havcndo mais do q u t urn mandatario para a realiza. g20 do mesmo acto, n io 630 estes solidgriamente respon- saveis, pois a lei s6 estabeiece a solidariedade em relacso POS constitulntes que deram procuraqPo a urn 6nico manda-

thrio para net6cio comum. Mas, nu mandalo cornercial, por virtude do disposto ne artigo 100." do respective cbdigo, existe solidariedade entre os procuradores.

Quando o mandatario f6r uma ~nulher casada, que nso tenha auloriza~20 do marido, ou um menor, a responsabili- dade deles i condicionada pela sua incapacidade.

0 constituinte assume obrigaq6es para aom o man- datario e para corn o terceito corn quem &ste contratau.

As obrigapes do mdndante para con1 o mandataria s i o as seguintes :

1." Indemniza-lo de todaa as dtspesas que fizer e de todos os prejuizos que Ihe provierem do cumprimento do mandato (artigo 1.344.') ;

2.* Paiar-lhe os salarios estipulados, ou que lhe sejam devidos, ainda que o rnandato nao tenha sido vantajoso, ex. cepto quando isso acoateceu por culpa ou negli#ocia do mandatirio [arttfo 1.347.")

3.' Executar as obriga~aes que t l e contraiu em seu nome (artigo 1.346) ;

4." Fornecer.lhe os meios necessiriou A execucgo do mandato jartigo 243.O do C6digo Comercial).

0 maddato era, no direito romano, um contrato gratui- to. No fim da dpoca clfissica, tolerava-se que as partes po- dessem prhviamenie convehcinnar uma remunerago, cba. mada s.zlarbm e honor, que o mandatario pedia exigir judicialmente, ngo pQr meio da actio marrdufi, mas poi- meio duma persecutio extra ordinem.

0 nosso C6digo Civil ainda estabelese a p r e s u n ~ l o de que e mandato C graruito, quando n3o houver sido estipula- da rernuneraG3o e quando n2o e daqueles que o mandatario trala por eficio ou profissan lucrativa Iartigo 1,331."). 0 C6- dig0 ~ o m e r c i a l , pordrn, estabelece presnivgo contriria, em xelacao ao mandato colnercial (iirtigo 232.').

A jurisprudC~icia francesa permite aos tribunais reduzir

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a rernuneraq&o do mandatirio fixadrr entrt as partes (4).

Para justifiuar esta intcrven~ao no dominio das cooreo~6es, em que o principio da autonomia da vontade dtve ser so berano, partern do cooceito da que, em regra, o mandato e gratuito. Tbda esta aonvtru~gu I?, porem, indetensavel, se- gundo o apotegma que din que o contrato faz W entrc as prs~.tes.

R exccuGo das obrigagGes, que o mandante, por iater- rnedio do maodatario, contraiu para corn terceiros, afecta o interksse do procurador, que Acaria desprestigiado, desa- creditado e, porventura, impossibilitado d e intervir em outros contratos, se os s e w coastituintes nHo cumprissem os jd efectuados. Eis u motivo, poi que a lei considera a execuflo dos conbratos uma obrigacao do mandante, quer para lerceiros, quer para o mandatirio.

As obriga~ses do mandante para corn terctirop resultam do caracter representativo que actualmente tern o manEato e sintetizarn-st nesta f6rmula :

0 constituinte e responsavcl para corn qualquer pessoa pelu que o mand&+drio tiver leito, como tal, em relac20 a essa pessoa (artigu 1350.").

Pela inexecucao destas obriga~aes ecte quaisquer outras convencionalmente estipuladas, assumem o mandatario e o constituinte, resptcHvamente, a obriga~Io d t reparaqao civil dos prejuizes causados,

Daqui se tiram as seguioteq n o & % : Dejinipio de mandato: - A definiqgo ledal vem no

art.' 1318.', que diz: Dd-se o contmfo dc rnns(lnto ov procuradorin, quanrio

nlguma pcssoa se encarrtrga d e p esfilr, uu fnzer algurna

coisa, par malrdnto r err1 nnme de outrem. 0 nr~zndsfn mde ser vfrbal ou c\crito:r

Espdcles d~ mundiiCo : - Ha o rnacdalo corn rep eyen tu@o e e mandato scm r ~ p r ~ s z n t a ~ ~ i o .

E m regra, o rnandato i representativa Q mandatado pratica urn acto qse vai projectar se no mandanto. Por exemplo: A pdssou a B uma procurapo para comprar urn predio : o act0 de compra d s B vai groduzir ckeibs, criw direitos e obr~ga@es para o ~nandante, A.

Mas tambem h i maniato sem representaw. l'or exemplo: a comiss30, que Fern regulada no Cddlko Comer- cial, a interpos~qIo de pessoas.

Entso, guando o [nandato e sem represeniaqZo, n u h i prolac~2n de efertos na pessoa do mandante,

0 mandato prova-se por m ro de proeuracdo, que pode ser - diz o art." 1323 - geral ou tspsuial.

E acrescenta o ark." 1324 : * A procura~do gcral t a p i e reprefenia o mandolo para Codos e qualsquer acfos, scm as especiffcar ; a procuropfe especial k a que represfn- ta o mandato para ccrtos e determinados neg6cdos.n

0 mandato pode ser verbal ou escrtto. Diz nos, corn o efeilo, o art." 1326.': 4 0 mondato

verbal provu-se por gaalquer rneio de pvovn: o escrlto, nos casos em gicr a Icr n exige, sd pelos meros estabelccidos nos arllgos 1320.", 1321.O e 1322.O*

Ainda a procura$%o por tscrito pode ser pPbilca ou kovida pqr phblica, coma nns drz n art." 1327.O:

d? necessaria procibrn~rio pdbllca, ou havraa por pd- bllca, para os actos que $dm de rralizar.se par mado a s t b f r c o , ou para cuja provia i ex ig~do docurnento aatblicor.

( 8 ) Josscrand. Cours d t %oil gosirif, 11. n . O 1414. Colin e Capi- tant, a d . , 11, pig . 706.

-Em seguida ao contrato do mandato, regula o ~osso C6dieo Civil o coatrato de presta$% de sc rv i~ol , do q d

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individualiza a3 especies seguintes : o serviqo domistico, o servqo salariado, a s empreitadas, o kerv i~o prestado no cnercicio das artes e proFiss6cs liberais, a recovagem, bar. cagem e alquilaria, a albergaria ou pousada, a aprendiza- gem e o dep6sito.

Dcstas especies enumeradas, tres delas - o s e r v i ~ o domlstico, o s e r v i ~ o salariado e a aprendizagem -fogem, no estado actual da Icgislacao, ao quadro d o nosso esludo.

Estes contratos, s t contratos ainda s e podem cbamar, deixararn de ser cornandados pelo principio da autonomia da vontade. A regulamentac%o deles, na 1egisIago dos povos mais progressives, deixou de ser feita pelo C6digo Civil e foi transferida para o C6digo de Trabalho, que limita os dias e as horas de servico, proibe o pagamento do salirio em gineros, estabelece regras especiais de reparaq%o oiril pelos acidentes ocorridos no trabalha, etc.

0 estudo do efeito dbstes conlratos, que, umas vezes, s2o negociados entre o sindicato e o indusirial ou ainda enlre o sindicato de operirios e o sindicato de patr6es, e, oulras vezes, sit0 condicionadus pelos regulamentos das firbricas e oficinas, que o salariado nlo discute e, porvcn tura n%o eonbece, pertence ii economia social, poslo-que, seaundo o nosso direito positivo, n8o tenha sido ainda inlei- ramente irradiado do Codigo Civil.

Devem estar lembradus de que dividimos o Direito Privado em direilo civil ou comum, direito comercial (nas suas duas tormas d e tcrrestre e maritimu) e direito operi- io (legislago operiria, Iegisla$io industrial ou CBdigo do

Trabal he). Pois ao direito operirio pertence a regularnenta~ao

destas trCs especies do contrato de prestacao de se rv i~os : serviqo domestico, serviqo assalariado e aprendizagem. Por- tanto, segundo a divisao que fizemos, e imprbpriamente que

os considcramor csntratos de direilo civil. For isso mesmo. passarnos desde ja a ocupar-nos da empreifada.

DBste contrato trata o CXdigo Civil nos arl.as 1396.0 e seguinles.

- Empreitada i u contrato sinalagmitico, por virtude do qua1 uma parte se encarrega, setn que entre ao serviqo da outra, de fazer certa obra, subtniniskrando ou ngo mpte- riais, mediante uma retribui'g%o proporcionadn ebra que executa.

Nos tCrmes do artigo 23U.", n.OD 1: e 6.0 e 5 I? do C6digo Comercial, or empreiteiros podem ser comercianles, quando fazern dos contratos de empreitada a sua profissgo habitual e exercem essa em conformidade corn os preceitos ali estabelecidos.

Coma se depreende do artigo 1 4 0 1 . O do C6digo Civil, preco da empreitada pode ser fixado por modos diversos, pois neste artigo se diz que o ernpreltciro que se ancarregar dc executar. certa obrlr por prero determinudo, nlio ferd dirdto de exl@r mnls cousa nigumrr, ainda que os mafe- rials ou os jornab aumcnfcm, e ainda que se tenha feita algurna altcrapio nu obra.

Corn efeito. na pritica, umas vezes fixa-se o prefo de empreitada em globo, determi~ando.se uma quantia tioica para todos os se rv i~os e trabalhos a executar, sem discri- minaqgo : outras vezes organiza-se urn orcamento, em que s e discrirninam a s virias partes da obra e se atribne, por previszo, um preco a cada parcela ou a cada unidade.

Como s e v t da disposiqLo do artigo 1401.0, nPo i in- diferente o sisterna de fixa~ilo do p r e p , pais que, no caso de existir orcamento, o empreiteiro pode exigir mais, se houver alteraeao na @bra, ainda que esta e o custo dela n%o hajam sido convencionades; ao invis, quando a remune- ra@o fbr estabelecida, sem orcamento c em globo, o em. prtiieiro nada rnais pode pedir ao dono da obra, Bltm do

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. p q o dstsrminab, satva ~ o u v e n ~ a e posterior :POT escrito. Planiol * R.iperl dizem, a &ste respeito: <O preqo

pock ser lbiaado por eaecuqeo cornpletn ( d forfait), isto 6 , em globo e determinado por urn3 dnica c~fra, que oio he- veri ser excedida, suceda o que suceder. 0 contrato con- tkm, r~este caso uma verdadtira cIau\ula de seguro *gundo a qua1 o dono da obra fica garantido contra as insrrflciencias e imprevides que ooorrerek na avalia~go do custo dos ,Ira- balhos a efectuar.. . e pode ser estabelecido por urn mCa- mento (deilis), isto i, pot simples preris80, ficando, neste caso, susceptivel de variar e , sebretudo, de aumenlar, -par .acrescentamento de novos porrnenores ou de trabalhos su- plementares , . . (I).

Para a deierminag%o da responsabilidade contratual do ,empreiteiro (locatur operis) 6 rnisler, de harmonia corn as disposi~6as dos ariigos 1397.0 e 1398.' do C6digo Civil, dis- tioguir os casos &m-que ts te se obriga a snbrninistrar lavor .e materiais e aqueles am qne a empreilada i hnicamente de lavor.

Como ja noulro passo d&ste estudo dissemos, o risco esta anlitbticamente relacionado com a responsabilidade civil, de rnaneira que ditninue a responsabilidade do locator aperis, quando o risco corre por corlia do dono da obra e, rice-versa, aumcnta a r e ~ ~ o k a b i l i d a d e do locator operis, quaadu o risco i da sua conta. Ora, segundo o disyosto no artigo 1397.", iodo o risco da obra ale ao act0 da entrega e a cargo do ernpreiteiro, nas empreitadas em que Csle subrninistra lavor e materiais. Ao contririo, quando o lorator opcris 'Lornece s6 o Iavor, diz o artigo 1398.0, o risco sera por oonta do dono da obra, excepto se houver mora, culpa ou irnpericia do ernpreiteiro. ou re Bste, cuuheceado a mi

qualidade dos materiais, nfio tiver prevenido a dono da obra do risco a que, empregando-os, ela ficarja exposta.

A justificapo deskas disposic6es e feita por Colin e Capilant, nos seguintes termos, que parfilharnoa : use o empreiteir~ iornece 0% mattriais, permanece, como disse- mos, propritldrio da cousa at6 que seja recebida (pelo dooo da obm) ; a sua situag%o t comparlvel 1 do vendedor duma cousa genbricamente determinada. De mod0 que, se esta cousa perece, ainda que seja scm sua culpa, a perda corre por conta dele; ntio tern nada que reclamar do dono da obra, nem em relaqzo aos materiais, nem em rela@ ao lavor, a n%o ser que kste tsteja ern mora quanto ao recebi- meute. . . res perit domino. . . Se o locator operis fornece apenas a m3o de obra, por exemplo, urn industrial a quem i enviada cerla quantidade de la para cardar, o moleiro a quem s? entrega trig0 para farinar, contknl enHo distinguir entre o risco da mathria pritna e o da remuneraq%ol~ (1).

Deixemos aqui a li@o de Colin e Capitant, porque, no caso da empreitada ser sbmente de lavor, o nosso Gdigo n%o encerra preceito identico ao do Cddigo napoleinico. fiste preceitua q n t o ernpreiteiro perca a sua rtmunera~So, salvo se a cousa perecen par viclo do matkrla, e o dono da obra sofra a perda do material. 0 nosso C6dig0, porkm, acolhendo a tradi~ao do direito romano ( a ) , estalue qae todo o rIsco seja por contrr do dono dn obm, excepto sc 66uver mora, culpu ou impsricia do empreileiro, on se, conhe- csndo n md qualldnde dos materiais, nda tiver prevcnido o dono da obra do risco a que, empregandu-os, llcaria ex- posh (artigo 1398.'). Como a expressPo to& o risco abrange, eridentemeote, o risco da rernuneraC20 do lavor, afirmamos que o nosso Cidigo, como acontecia no direito romano, p6e

(1) &urn ~ldmeaiatre, 4.' ed., 11, pits. 566 t 567. . (2) 59, g i g , eoc. Po*$, XIS, 2.

(i) .TMNL Pl~rned ldrcg 11, Q.* 191111.

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a cargo do dono da obra o risco do custo desta, o qual, conseqiienternenie, tern de pagar ao empreiteiro de simples lavor a rernuneragio que lhe fbr devida.

No caso do locafor operls se encarregar s6 do lavor, os materiais e o trabalho que, por acessao industrial, neles foi encorperado, pertcncem ao doao da obra. Ainda, nesta hipbiese, tern aplica~Bo o principio ree peril domino.

Do exposto resulta que o ambit0 da responsabilidade do empreiteiro 6 maior, quando subminisira materiais e lavor, pols tem de responder pela perda da cousa.

Nas empreitadas em que o lorlator operls subrninistra materiais e lavor, ha ulua especie, alias muito freqiente na pritica da vida real, que ofereae dlividas. l'erifica-se quando o cmpreiteiro se obripa a levantar uma constru~go ssdbre urn terreno que pertence ao dono da obra. Por um lado, o locafor rperis fornece os materiais, parecendo, por iseo, que deve aplicar-sa o artigo 1397.".

Sob outro aspecto, o proprietario do solo, desde o inicio das obras, e o dono delas, porque os materiais e tra- balho incorporados no terreno aderiram a tste por acessgo industrial (artigo 2298." do C6digo Civil). Ora, res parit domino.

13everB, neste caso, aplicar-se o artigo 1397.O, a -pear da regra contida neste principio, consagrado no liosso di. r t i t ~ positiro, seguodo j i tentarnos dtmonstrar?

ALigura-se-nas que podemos couciliar a disposiqao do artigo 1397: corn o priacipio rcs pcrit domino, nesta espe- cie agora contemplada, pela sefuinte censideraqZo: o risco so corre por conta do locator operia at6 o act0 da enlrega da abra, mas neste caso a entrega vai-st fazendo i medida que o trabalbo e os mattriais vlo sendo incorporados e confun- didos no solo. E' lama enlrega continua e sucessiva. Por isso, seja qual fbr o momento e m qut a cousa pareca, este.

ja ou n8o a obra acabada, o risco corre por conta do dono do terreno.

Para que assim n8o aconteGa, 6 mister que as partes no contrato de etnpreitada estipuiem coisa diversa, o qae. beni podeta fazer, porque a disposi~%o do artigo 1397.O e meramente supletira.

0 empreiteiro, alem da responsabilidade pela perda da cousa, quando se obrigou a subministrar material e la- vor, B ainda obrigado para corn o deno da obra :

1." A garantir, duranle cinco anos, a seguran~a e soli- dez do edificio ou outras sonslruf6es consideravcis, ranto ern razao da qualidade dos materiais, colno da firmesa do solo, excepto se houver prevenido com tempo o dono da obra de n3o a c b r o dito solo suficientemente firme, mas esta garantia s6 existe em rela~fio h empreitadas de mate- rials e de execu~ao (artigo 1399.O);

2." A concluir a obra no prazo assinado ou, na falta de estipulaq30, no tempo que razoavelmeilte fbr necesskrio para &sse fim jartito 1400.");

3." A fazer a obra conforrne o rism 6 medidas que Ihe forem dadas e a n8o inutii~zar ou deteriorar os materiais subministrados pel0 dono da obra (artigo 1408.").

A garantia a que ss refere o artigo 3399.O dura pel pram de cince aaos, que, segmdo nos parece, devem co- meCar a correr do mornento da entrega da obra 80 dono,

Na doutriaa tranctsa, porque, paralelamente ao ertipo 1792.0 do C6digo napoIe6nic0, correspondenle ao artigo 1399." do norso C6dig0, existe o artigo 2270.Ao mesmo CBdigu, que diz prcscrever por dcz anos a responsabilidade do arquitecto e do emprelteira pelas obras importantes que hajam feito e: diriaido, existem tres sistemas diversos : con- fame uns, o prazo de dez anos estabelec~ilo nos artigos 1792.' e 2270." tio C6digo napole6nic0, no artigo 1399." do nosso C6digo e apenas de cinco anos, e urn periodo de

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prova de solidcz de conslruqio, s e dbrante Cste decurso s~ der algnm acidtole, o dono da obra pode exigir a reparapae civil, que 36 prescrelre nos termus gerais do direito.

Segundo outros, o ar t~go 1792.' fixa um pwzo de pro- va, a que se segue outro de dez anos estabelecido no ariigo 2270.", para se poder exigir a responsabilidade civil.

Finalmente, segundo outros, s6 no periode de prova e durante Ole e que se pode pedir ~eparap%o civil ao loca- tor operh. 0 s dois prazos fixados nos artlgos 1792.' c 2270.0 do c6digo napole6nico decorrem simultineamente,

A' face do artigo 1399." do nosso C6digo ~inico que re. g u k a s i tua~ao, somos de parecer que o prazo de cinco anos n&le fixado e, apenas, urn perlodo de prova. S e du. rante &le se verificar qualquer acidente, o dono da obra poderi exigir reparapso civil nos termos gemis de direilo e por rneio da acqgo que 96 prescreve a longo prazo.

0 prazo esiabelecids no artigo 1399: i de garantia e n b de prescrido.

Ua inexecus& de qualquer destas o b r i g a ~ h s , que a lei, sapletivamente, impOe ao localor operis em re lapo a0 dono da obra, emerge a responsabilidade civil contratual do empreiteiro.

0 dono da obra, por sua vez, i obrigado: 1." A pagar o preqo da empreitada no momeoto da en*

trega da obra, salro o costume da terra ou qualquer con- veng%o em contrhrio (arligo 1406.') ;

2." ngo rescindir o contrato, salvo s e o empreiteiro falecer ou nso puder ultimar a obra, por impediment0 inde pendenle da sua vontade, devendo ainda uesies cases, em qae a rescisgo Ihe e permitida, indemnizar o locator optris ou os seus herdeiros do irabalho e das despesas feitas (ar- tigo 1403.' e 5 inico) ;

3." A ngu desistir da empreitada comecada (artigo 1402.').

Se o dono da obra deixar de cumprir qualquer destai obriga~fies, responde pelos prejuizos causados ao locator opens.

Aldm deslas obriga~ties conlratuais, iambtm o emprei- teiro incorre em responsabilidade civil delitual para corn terceiros a quem prejudicou corn a ruina ou qutda da construq30.

Independenlemente da responsabilidade assumida para cum o empreiteiro tarnbkm o dono da obra tern obrigago de pagar aos que nela trabalharam ou para ela subminis- lraram materias, o qus a estes dever o locator op rk e at6 o montante de que Mr crkdor do dominus opcris, e, s t &ste antecipou os pagamentos, responde pelas importancias antecipadas perante os opedrios e fornecedores (artigo 1405,O).

Esta ac@o directa dos speririos e fornecedores cons- titue urn caso exceptional no sisiema do nosso direito ps i - tho , pois faz que o contrato de empreitada produza eteitos entre pessoas que nele nao intervieram, e tem, Plkm dou- tras, a s seguintes conseqiitncias : pelo crPdito do emprei- teiro sbbre o dono da obra nPo se estabeleae conauxso entre os operarios e hrnecedores de materiais e 0s outros cre- dores: o crkdifo do locator opcrh sabre o dano da obra n%o entrari na massa falida do empreiteiro, enquanto nZo forem pagos os operarins e fornecedores de materiais-

Uma portaria de 20 de Fevereiro de 1879, citada pel0 professor Carr~eiro Pacheco (I ) , permite As respectivas enti- dades ofi~iais deduzir, das caup6es ou das quantias devidas aos empreiteiros dos se rv i~os pliblicos, a s importfiucias oecessarias para pagamentos de joraais, maleriais e expro- pr ia~aes, e entregar-se-lbes s6 o resto.

Esta 21cp%0 dirtcta pertence, segundo a letra d* ar-

(,) @or srt~lrisrar Crcdilorioz, 5 .a ed. , n.' 43.

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ligo 1402', ans ~ U E tmhnttzarprn por contu do ~ m p r p i t ~ i r o oa lhe subm~nisharern materiais. N%o term, pois, esta ac@o us empregados de escritbr~o, embora fagam a escrita da empreitada, nem os sub-ernpreiteiros ou pessoas a quem o locator operis encarregau de fazer uma park da obra, mediante ceria relribJflo proporcionada ao trabalho que executam, sem tntrar no servico do empreiteiro.

A IocugZLo os quc trabalharem quere significar os que execulam a obra de empreitada. Ora os empregados de es- crit6rio aSo trabalham no obra, e m b r a possam prestar am servig~ que tenha certa r e h a o corn a empreitada.

A expressgo os gue trubutharem por contn d o crnprei teiro, exclue da acqao directa os sub-etupreiteiros, que, par nao entrarem ao servico do loctalar operis, niio trabalham sob a direccao dele.

Ficam, assim, prslcisados os limites da responsabili- dade r e c i p r o ~ do empreiteiro e do dano da abra, a respoa- sabilidade do empreiteiro para corn terceiros, e ainda a respmosabilidade do dono da obra para corn cs que nela trabalbarem ou para ela fornecerem materiais, seeundo a disposi@o do artigo 1405." qque e de interksse e ordem pdblica.

Trata, depois, o Codigo dos s e r r i ~ a s prestadas no exer- cicio das artes e protissks liberais, nos artPS 1 . 4 G 9 . O e se- guinles.

- Para a regulameataqHo dos contratos de serviqes presiados no exercicio das artes e profissGes liberals, o Udigo Civil n3o eestabeleceu disposiqbes, que, suplecliva- mente, os disciplinassem. Apeaas uma rpgra relativa aos honorarios: Em falta de ajuste, os tribunais arbitrarno as vencimentos, conforme o costume da terra. A verba dos vencirnentos regulada por este costunle podera, conludo,

ser modificada, tendo aten@o ii iimportAacia especial do ser- vi~o, reputaczo de quem o howvet prestado, e as posses & quem o houver recebido~ (artigo 1400.', 5 Slnico).

0 Iegisiador, por coosidera@o para corn as cultorex das profiss6es e artes liberais, d~spensou-se de adoplar dis- posi~6es legair Uma so regra Ihe pareceu bastante: impor aos servidos a obriga~30 de pagar a quem lhes prtatou seroi~os,

Mas as necessidades sociais reclamam uma maior re- gularnenla~Za, tanto mais imperiosa quanto i certo que, na graade luaioria dos casos, os que exercem as yroiissfies Iiberais prestam os seus servigos, indepeodentemenle de quaisquer prbvias esttpulap5es,

Vamos contemplar aqui, sbmente, as obrikafles con- tratuais do medico, pois na impossibilidade material de snalisar cada uma dds profiss6es liberais, escolhemos esta, por ser aquela cujos servi~os mals interessam rl sociedade e, eqpecial~ncnte, aos que reclamam a interven~ao mkdicr.

Na falla de contrato a de rtgras juridicas supletiras, quc supram a dilicibncia da coavencXo das partes, teazos de socorrer.nos dz natureza da obrigaGo que o medico, normalmente, assume perante o seu cliente, para desta ti. rarmos tbdas as consequ&ncias que comports.

0 medico tern uma fun60 social meito viocada, q u ~ Ihe importa desernpenbar. Se a n%o cumpre, podera at6 in- correr em reqponsahilidadc peqal. E' assim que o artigo 93.", parte 2.', do c6digo penal hungaro, pune o mddico ou cirur$iSo e m exercicro. que, e m caso de perigo, se recusa ou se de~nora, sem motivo sutioiente, a prestar socorras medicos ao que lbos reclama Esta pena e agravada, se o ddico e facultative municipal ou do Estado.

Com igual orientaciio, o clidigo penal prussiano cw- dena am rnulta o medico quo, em case de urgbnch, r e c u b

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sa, sem rnotivo ruficiente, a sua intervene0 (artige 200; de &dig0 penal prussiano).

Do mtsmo modo, o artigo 114.' do c6digo penal aus- triaco prevb expressamente o delito do mkdico que se re. cusa a assistir a urn doente: 10s que, tendo obriga~Pe de prestar assisl&ncia a urn doentc, quer por dever natural, quer por virtude duma obrigaggo contratual, o deixaram desprorido dos socorros atcessarios que podiam dar-lbe, serPo considerados, segundo as aircuost$ncias, corn prisPo de urn a sais mesesn.

Tambtm o nosso Cddieo Penal, no ariipo 250:, pune corn prisao correctional de dois meses a urn ano e multa correspndente, o facultative que em caso urgente recusar o auxilio da sua profissilo.

Nao e, porim, da responsabilidade criminal que aqui oos devemos ocmpar.

0 mtdico que exerce a profisao, pelo facto de trazer anlinoie nos jornais, de ter tabuleta h janela ou placa h porta do consull6ri0, etc., faz uma proposta ao pliblico, que e obrigado a manter, nos tkrmos do arligo 651.@do C6digo Civil, allds fica responsdvel por y r d u s c danos que pos- sam resuflar da 3110 retrafardo.

Mas esta rerponsabilidade, que d civil delitual, como jB noutro passo dissemos, tambem nXo nos interessa por agora,

0 midico, que, procurado au chamado por urn doente, consente em trath.10, vincula-se por urn contrato de presta. cao de servigos, em que se obriga a emprtgar todos os meios de que possa dispor para carrl-lo e, ronseqiientemen- te, a ser atento, cuidadoso, prudente e diligente.

Se, por d i s t rawo, deixou de fazer e verdadeiro dia- gnost ic~ da d o e n ~ a ou cometeu uma falta grave durante urna opcraqio; se, por falta.de cuidado, deiwou de visitar o drenle a quem prometcu aova visits e dessa omissaa resul-

b u o z@avamtnto tda d o e n p ; se, por ktta de pnr&tlciu, fez urna operaqBo ourada, que nao eslara aconselhadaa nenbum churg&o consci~ncioso ,faria, ou se, por eao%ncia, optmu urn loente que a80 precisava de ser optrado ; st, por falta dr diligkncia, deixou de obmvar no doente as evolu~Oss da doenva, corn prejuizo da cure do seu clieak ; em todos ssks casos que, exempliflmtivamente, reierimtu, dtixou o mtdico de cumprir a bbrigagao contrakual qwe ass~rmiu +c, por isso, provade q u e seja o nexo caudl que liga o dano solrido pelo dotnte h inexecuflo da obrigaeo m r g e n t e do .co#rato de prsstaflo da se rv i~or , rerifiam- -st ltotlos m ielementos de condisionamento da mpousabili- dade civil conlratual

St& fkil encontrar na jurisprudhcia franasm, italiana e alemz, cem reftrCacia a urn direito positivo muito seme- lhanle ao namo, westos que confirmam cada urn .das pro- posi~6es que deiaamos estabelec~das.

E m seguida, dash o art.O 1.410,0 a Y.'418.*, o Ohligo ocnpa-9e da ,maovagem, h r a g t m 'e alquikria.

Sob a nikvica da rscovngem, barcagarn c ulquilmda, designa o norw CQdigo Civil o contralo que modernamente sk ahama transporfe e que ja t cam wta denornioa@o re- gulado ne C6d1go Gomercial.

Tern harido hesitac6es, oa doutrina, quando se precura deierminar a naturew d$ste conlrato.

Dlrranb mnito tempo foi censidamdo urn contrato mixto, qwebpartictpavs simuiFilmamnte da naturaa do man* .e da prestafio de serwlcas. A'figura-se-nos que foi esta a icon- cepg& do legislador do nosso Cbdige Civil, pois, se, por urn lado, o reguhmentou no capitulo.destimdo am antratas de presta$ao Ioe sersi~os, a%o dellmu, por:uutro larto, de dt&- rar, no art~ga 1.412,", que os recovelros e barquetros *fardo hauidos, pirrrl 13d r ; U J efellm, por dsposildrlos.rdos ubjec-

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fos conduzldos, dasde o memento em gue lhes /&ram enlre- gues.

Mae ao contrato de traaporte nPo assente btm a natu- reza do conlrato de depbsito. Servindo-nos das palavras de Josserand, csemeibantk concep~ao repugna tanto ao caricter aaturalmente gratuito do depbsito, como ao prbprio conteudo das obrigaghs que oneram o depoeitirio, pois &sle encarre. ga-se sbmente de vigiar a cousa que Ihe foi conliada, se~n ter que dcsloca-la ; o depbsito i. um contrato de execup0 sedentiria, ao passo que o transporte, conforme o pr6prio nome indica, i uma opera~iio de deslocamento: o depbsito i um aclo sem significado econbmico, o transperte aumeata o valor do objecb transportado*. (i)

Tambem n%o devemos relacionar o trlrnsporte corn o mandoto, pois, tom0 jA referimcs, o rnandatt~ Iem por ob- jecto a realira~iio de actos juridicos, eaquanto que o trans- p r t e e urna operer~Eio material.

Nlo podemos iaualrnente identificar a fransporte com a simples brestaC% de services, porque o transportador nso executa o seu trabalho por conta o sob a direcflo do expe- didor, e e ~ t a sutordina~lro 6 urn elemento do serviqo sala- riado.

Eoaontrarnos, porbm, grander pontos de contrato entre o lrangporte e a empreitada, a locatlo opsris dos romanos.

0 transporte i o contrato pelo qua1 uma entidade, cba- mada transportador, se obriga, rnediante uma remunera~ao fixada, a transportar, durn sitio para outro, pessoas ou mer- cadoriss, que fara entregar, no lugar do dtstino, ao expedi- dor ou a outrem par &ste, directa ou indirectamente, indi- cado.

0 conlrato de transporie 6, quisi sempre, comercial, pois o transportador 6 , ordinhriamente, uma entidade que

faz do exercicio destas ,?pera@es a sua profiss%o habitual e est i cornpreendido no arligo 230.", n: 7.0 do Cbdigo Comer. cial.

0 contrato de transporte 6, em grandc parte dos cssos, sujtite aos proctssos do servi~o pliblico, pois nkste regime sgo hoje explorados os caminhos de ferro.

0 p r e p do transporte, ntste regime, i fixado por tari- $as e as obriga~aes do expedidor e do transportador sao estabelecidas pelos cadernos de encargos e pelms rcgula- mentos admioistrat~vos. A autonomia da ventade dos con- iraentes e preterida pelas regras do serviqo. Do contrato apenas resta a designa@o, a nZo ser que se queira conside- rar como pura manifestaqBo da vontade a deliberaqao q u t o expedidor de mercadorias ou o passageiro toma de despa- char as suas coisas ou tomar lugar no comMio duma enti- dade que, sob a forma de monop6li0, faz fansportes, entre duas localidadts.

0 artigo 1411.* do C6digo Civil, prevenindo a intrornis- s lo das regras administratiras na regulamenta@o do ser- v i ~ o de transporte, estatue : 0Rste contralo serP regulado pelas leis comerciais, e pelos reguhmentos sdministrativos, se os condutores tivertm constituido alguma empresa ou companhia regular e permanenle. Em qualquer outro caso observar-se.80 as repras gerais dos contralos civis, com as modifica~ties expressas na presenle secgBetr.

Para a delertninaflo das responsabilidades emergentes do contrato de trantporke 6 mister distinguir entre o Irans- portt de mereadorias e o de pessoas.

O contrato dc transporte de mercadorias d de execu~Bo sucessiva, pois comporta uma serie de fases que, por sua ordem cronolbgica s%o as reguintes : cnrregamefito, exptdi- 660, lransporte prbsrsamcnts dito e cnlrega das merca- dorias.

E' evidenle que 96 consideramos as fases da execuglIo,

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porque os actos que pitcedern ou acornpanbarn a ferrnado do contrato n8o nos interessam, vista que a responsabilida- de contratual 06 surge no period0 do cumprimento das o h i - g9~6es contratuais.

O nassa C6digo Comercial n%o contampla quaiviler casos de respoosabilidade do traospor.tador durante a.perio- do do carregamento, mas. & evidants que, se o carregamen- to e faik pelo tran~portador, &sle teri d s responder pelos ~cidenlea que acontwam durante a oparaq%o.

Em relacno As faces de expedi~ao, transporte slrWo sensu e catrega, o C6digo Comercial imp6e as seguintes obrigagats ao transpottador :

1.' De axpedir or objetos pda ordem por que as rece- bw, a qua1 s6 podera alterar, se a conseng20, natureza ou deslino dos objectos a issa o obrigarem, ou quando caso forhito oa, de fbrga maior o impeqam. do a observar (arii- go 378.*) ;

2.' De a v i ~ r imediatamente o expadidor, quando o transporte s e nao pessa eftctuar ou esteja axtraordinhria- meate demorado (artigo 379);

3." De transporiar as merodorias pslo caminho indiu- do no cootrato [arligo 3 8 1 . O ) ;

4." Da fazer entrega das mercadorias no p m a fixado g d o contrato ou petos regulamentos especiais,. el na aua falta, pelos usos comerciais (artigo 382.') ;

5.' De conservar, sem perda uem deteriorygo, as mer- cadorias, desde que as receba ale que as entregue (arti$o 383.") ;

6.' De nao ter omissties no culn~rimento das leis fis- cais, duraate todo o curso da viagem e na entrada do l w r do destiuo (artigp 336:).

0 C6digo Civil, no artigo 1 415,0, apeaas refere a obri- g a p 0 do recoveiro ou barqueiro fazer o servi~o no tempo conxutcionado.

para o transportador a responsabil~dnde civil contratual, No, caso de ~luralidada do transpor~ulores, i a pvimeiro

dtles responsa.~al~ (artiep 37JS0). O qpantitaivo da indemnizaHa d e w sar, de b o n i a

cam os priocipios, equivalsnts w prejuizo causado. Pode ser fixado por conveuflo e ainda pelos regpl~nento+ do se rv i~o publico da transpaztes,

0. ax~edidor: ou o, destinatario licam, por sua vez, obd- gados ao pagamento do preco do transporte das mercadorias, o quaC pode s e ~ firadolpor oonmnqilo entre as partcsou por tarifad; quet a h o regulamento das condiqses em q u s x efectuam as traaaportes, pdo quala m fixern as taxas do ser- rip4

0s Cidigos Civil e Comarciai oBo regulm o transporte de passageiros. Mast os cadernos d e encargos das eatidad& coaoesrioniltiaa 4 os regularneatas adrninistratiws conteem, dgumas vcltes, dlsposiqaes re la t iw a esla-eqdci tdt trans- porte. Quando o transporiador 6 urn particuiar, podcm,os contraentas estipular as clausutas do contratw

Josserand diz o seguintt a respeito das obriga~6es do traasporlador e Resumem-se em uma breve fir mula, a saber: o transportador dcve efectuar o tranuporte nas condlc6es Ii- xadas pela convenqZo e pelos regulamentos. Convkm, no entanta, portuenorizar estas condlcties no que dlz respeito ao tempo, a duragETo de validude do bilhete, ao itirzerdrio, ao conf8rto1 a franqiiilidade do viajanfs e a sun segu- ranen*. ('I

Relativamente ao tempo, continua Josserand, a cornea. ahia tern ngo so obrigago de assegurar lugar no combiio para que se tirou bilhete, mas ainda de coIocar o viajantt

, I ) f i r Srarupar~a, 2.8ed;, n." 382,

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ha esta~aa do deslino a horas dele perdtr outro cornb6io que tenha correspundtnaia cam o primeiro.

A respeito d r d u r a ~ 5 o de ralidade do tailhete, nao pode a companhia restringir o prazm que concedeu.

Quanto ao itinerario, nBo pode ser alterado o indicado. E m relacso ao confbrto do passageiro, deve a entidade

transportadora assegurar, a l tm das condiqKes geraio de hi- giene e bem-estar, lugar na classe correspondente ao bilhete que foi comprado e a posse pacllica dtste lugar durante Ibda a viagem.

A-prop6sito da tranqiiilidade do viajante, deve o trans- portador empregar os meios precisos para a viagem se fazer normalmente e com esta fiaalidade dari as indica~aes pre- cisas, a.fim-de d o haver engano no combbio, nem equivoco na hora da partida, nem coafus%o no nome das e r ta~aes , nem &rro sbbre o destino das carruagens.

A'ctrca da seguranqa, entende a jurisprudencia fraacesa contrariada por Josserand, que o transportador assume, pel0 contrato d e transporte, a obriga~iio de revar o viajante, SZO e salvo de quaisquer acidentes, ao lugar do destino. Vcre- mos adiante a aaolhimento que nos merece esta obriga~Bo de seguraoga.

Pela falta de cumprimento de qualquer destas obciga- @es, incorre o transportador em responsabilidade civil,

Sera mntratual ou delitual a rtspnsabilidade civil emergente do prejuho causado pelo transportador a pessoa do outro cootraentt ?

A resposta ja por n6s foi dada. Ei contratual, se resul- ta da inexecu~Po duma obrigaqzo do contrato de transporte. Fore Peste caso. 6 delitual, pouco importando que o contra- to haja sido a causa ocasional da les%o.

Para a determina~ao do regime de responsabilidade aplicavel, e que toma vulto a quest50 dde saber se a clausuia do seguranca taz partc do conte6do do transporte, p i s , se

esta cliusula constituir object0 do contrato, os acidaotes do transporte que produzarn lesao na pessoa lrnnsportado, por- que importam a inexecn@o de uma obrigagiio convcncional, geram responsabilidade contratual.

Tamblm OP regulzmentos de s e r r i ~ o de transportes imp6em ao viajante um certo nlirnero de obriga~6es, das quais as mais importantes sZo a d e n%o enlrar nas carrua gens gem bilhele, a de ngo totnar lugar de classe superior

correspondente ao b~lhete comprado, a de apresentnr o bilhele ao revisor e a de niio ocupar indevidamente o lugar de outro passageiro,

A infrac~ao dtstas obrigaqaes poucas vezes e suscepti- vel de ocasionar repanqgo civil, mas irnporta freqiiente- mente a apiicapao de s a n ~ 6 e s penais previslas pelos referi- dos regulamentos,

0 contrato de mlquilaria, que o C6digo Civil regula jun. tamente com o de recovagem e barcatem. n%o tern moder- nameate importdneia que o imponha a uma especial consi- deraczo. 0 legislador tambim s6 Lhe destioou tres artigos: em dois dos quais se responsabiIiza o alquilador pelos pre- juizos sofridos pelo slufador por causa d r s manhas on defei- tos d o declarados das cavalgaduras (artigo 1416.*), e por pama da Qlta de pristime destas para os servips para que fbram alugadas (artigo 1438,'), e num tercciro se declara, s e g u n d ~ o prineipio res pcrid domino, que e risco da perda das caraltaduras, salvo se vier a provar-se que houve culpa do alugador, corre por conta da alquilador (artige 1417:).

Nos art,"' 1429.0 e seguintes acupa-ut a CLdigo Civil do contrato de albergaria ou pousada.

Outro contrato perlencente ao ginero do3 de prestagPo d e servi~os, C o de albergaria ou pousada, que se realizat quando uma pessoa, mediante r t t r ibuipo ajustada ou cen-

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f o m ao wslnm.e, pmta a outra habi ts00 t alirneato, ou s6 altmeoto (artigo 1419.3.

E', m a resnlta d~ pr6pris definiq80, urn eodlrato one roso e sinalagoliitico perfeibo. NBo ctepende de formalidades, %gundo determina a artigo i419.". 9 uniao.

Por Ahte Goalrato o albergueiro contrai a s aeguinbs obrigav5es :

I." 4De guadar e restituir a bagagem e dlfaias do h6s. pede, como se f6ra depositario, mtdmnk m s o r n e n d a ~ o &ste sr: forern d t mqutno valor e.fieeis de snmir (artigo 1420.', 5 linico) ;

2.' B e dar ao hispede M i t w o e alimanto, ou s6 ha- bitapio, conkrms 0 wutralo.

'0 b p d e obriga-se: A pagar a retribui'gao ajastada ou de costume. .Rdlo rr%o eumprimmto d e s k s obrigac&s, o atbergueiro

e o hbspedt, m c i p r o ~ m e n k , inrtomm em rmpmsabtlidade civil codtratual,

&yois da apmdiapgern, .uma das cspicies do omtrato de prestago ck sernbps, de que deto nos ooopamos mais c t e t c a l h ~ l e pela rmb n t r h expoeta, t m i o noam5L%- 4 g o do contrat to tk depkito.

IkpSsito C o contrata pelo quai alguCtn ~ tc tbe um objeato mdul .de , o a l m s se9obrip a guarda-10 e resti- tui-lo .ao depositante ou a quem bste represente, qmnto I b t seja exigido.

O dep6sito e urn contrato formal e sinalagmat~co im- perfeira, ~ q m n d o gratuito,

0 dep6sito mtrcantil.6 um aoulrata oneroso, poi3 que o depisithrb terl diraito a uma grati~ica@o pdo .dap8sito. s a h a u o n m a ~ 8 o expreasa ern contdrio, a qual, s e uZo hou- v t r ~sido p r ~ ~ ~ n t e : a c o r d a ~ h&de regular-se p l o s mi16

da p r a p em que o dep6sito houver sido constituido, c, na falta dtstes, por arbitramento (arliio 404.", 8 inico, do C6- digo Corneraial).

Mas, ao envts. o dep6sito civil presume-se scmprc fratuiio, o que a80 impede, todavia, que o depositanle possa convcncianar a prestagao de qualquer gratiticag%o (artigo 1432." do C6diga Civil).

Por t s t a considerac%o da gratuitidade do defisito 4 pue os codigos civis francts t italiano, qu t apreciam a culpa contratual em abstrato, tstatuiram gue-fdsse conside- rada em concrtto a culpa do depositario.

0 nosso C6digo 1120 teve que ertabelecer semelhanle exctpgSo, pois em relaqao a tudos os cuntratos s6 erige do dertdor uma diligtncia quam In ~ u i s rrbus.

0 depositirio contrai a s seguintes obtigac6es : 1.' De guardar e conservrr a cousa depositada, corn o

cuidado e dili@ncia d e que t capaz jartigo 1345.O, n." 1."); 2.a De restituir o dep6sito quando lhe fbr exigido pel0

depositante, corn todos os seus frutos e acrescidos (artigo 1345.", n . 2 . O ) ;

3." De nao s e servir da cousa depositada aem permis- silo expressa du depositante (artigo 1437.7;

4." De avisar, sern detenga, o depositante, dc qualquer perturba~ao ou esbulho da posse da coisa depositada, e de tomar a defesa dLxte, ai t que Cle proveja no caso como cumprir (artigo 1451.").

A r ts t i tul~ao da cousa depositada deve ~ e r feita ao depositante ou aos s e w represenlantes : se o depositante falectr, a entrtga faz-se aos herdeiros, cada urn dos quais receberd a sua iuota parte, contantoque seja indivist~el o object0 do depkito; se o depositante st tornar incapaz, ou se, sendo mulher, casar, a cousa depositadm serA eetregue, no primeiro caso, a queru Ieeitimarnenle representar o in- capaz, e no segundo, ao marido, r u i tnulher cam autoriza-

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Go dtste (artito 1446.0); vise-versa, se o depisito, feiio em neme de algurn incapaz, por seu legitimo representante, ainda subsistir, quando a incapacidade cessar, s e d resti, tuida a cousa deposihda A peosoa em cujo nome o depGsito liver sido feito (artigo 1445.").

Do mesmo modo, no case de venda ou doago, a rer- titui~ilo deve ser feita ao cornprador ou donatirio. No caso de furto, o depositirio pode restituir o dep6sito ao verda- deiro dono (artigo 1442,").

No degsito ehamado irregular, a que o C6digo n2o faz referencia, o deposiihio n8o se obriga a restituir a cousa em espdcit, mas oulra do memo gknero, em igual quali- dade e quantidade. Nesie contrato, o depositirio torna-st proprietdrio da cousa deposifada. Por isso n%o s t Ihe aplica a disposi~ao do artigo 1436.0 : 0 risco corre por conta dele. 0 dep6sito de dinheiro leito nos bancos I! irregular. 0 C6- dig0 comercia) reiere-se ao depisita irregular, nos artigos 406: e 407.'.

0 depositantt, pur sua vez, i obrigado ; 1." cuando se convencianar remuneragzo, ou esla ibr

devida por se tratar de dep6sito comercial, a pagar a era- tificago respcctiva ;

2." Em todos os casos, a indemoizar o depositaria de tbdas as despesiis que haja feito na conservaao da cousa depositada, ou por causa dela jartigo 1450.').

0 sdlvens, que deixar de cumprir qualquer destas obri- gapes, responsahiliza-se por perdas e &nos para corn o outro contraente.

Ocupa.se depois o nosso Wdipo da daaguo. Diz o art? 1452.* : *Doagffo C urn contrato, pot que

qsalqurr pessoa transfere a outrem grabitrrmente rtma parfe, ou a Eotalidade de seus bens presentesa.

0 art.' 1.453." dizaos que a doaggo n30 pode ser de bens futuros e que por b ~ n s futuros se enlendm as dskeni do* no mesmo artigo, que nos diz :

<A donrio mfo pode abranger berrs f Ufuros. titlico. Pur bans futuros entendem-se aguAes, que

n60 se acham em poder do doador, ou 4 qne k f e niro fern direito ao tempo da doacrlo*.

E o art.' 1454." die: .A dorrcau podc ser pura, condi- cional, onerosa, oir ternuneratoria.

5 I." furs E' a doacrio rneram~nte bent!jica, e inde- p~ndente dc qualqaer condi@a.

§ 2." Doqxfo conditional d a que depend8 de cerfo evenfo ou circunst6ncia.

5 3: Doa~Eso onerosa i a IJUP trds consigu certos en- cargos.

5 4.' Doa~do remuneraforia a que i f e i f a corn aten- 650 a servkos recebidos ptlo doador, que ndo tenham a nafureza de divida exigivel~.

As doa~ues silo contratos e, portanto, regulam-se pelas regras dLsWs. Mas, porque as doa~6e.s sRo Iiberalidades, h i casos especiais em que elas sao rtvo$adrs, e dtsses casos tratam os art." 1482." e seguinhes.

Art. 1482.': sAs doago'es consuntadas sd podem ser revogadas, ciltrn dos casos em que o pode ser qualquer contrato :

1."-Por superveni2ncia de f ilhos, legifimos, sendo o doador casado do tempo da dorrcdo;

2.0-Por lngrafiddo do donatdrio ; 3."-Por inofitiosidadea .

Oepois das doag6es trata o C6digo Civil do empristima no art.' 1506.*, que diz:

O contrato de empr8sbimo consisfe na crtdlncia gra-

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tuika de quolguer coisa, para que n pc?.?soa n guem e' ce- dida ss sirva deia, cotlr a obrigq-60 de n restifrrir em espd- cie ou em coisa eqnivalente.

0 contrato de emprCstiruu tem duas espkcies: Diz o art." 1507,": *O emp~estimo diz-se comodato,

quando versa sdbre coisn que deva sar resfiduida na ntesma espkie, e mlituo, qunndo versa sdbre coisa qut deva ser restifizida por outva do mestfzo gktzsro, qualidode c quanfidade..

0 emprestimo e o contrato pelo qua1 urna ptssoa cede a outra uma cousa, para que o cessionario dela se sirva e depois a restitua em especie ou genera.

Se a restitul~tio dese ser teila em espicie, o etaprb. timo toma o oome de cornadado; se a restitui'~80 e ieita corn outra cousa do mesmo gknero, qualidade e quantidade, o emprkstimo chama-st mdtuo (artigo 1507.").

As cousas consumiveis pelo uso, emprestam,se pelo m6tuo; as nao consumiveis, 'pel0 comodato.

Convem, no enlanto, notar que por acbrdo das partes se pode considerar inconsumivel urna cousa naturalmente consumivel e vice-versa.

Se os contraentes convenciouarem que aqutle a quem loram emprestadas duas nolas do Banco de Porttlgat, de mil escudos cada uma, perfeitamente identificadas, teri de resiituir esaas mesmas duas notas no fim do prazo do em. pristimo, estas, por sua natureza consumiveis, passam a ser cousas inconsumiveis pelo uso. Ao envCs, se o que em- presta urn livro, estipula com o que reeebe de emprtstimo que &ste restitulra outro qualquer exemplar da mesma obra, estaremos perante urn caso de mlituo, pbsto - que o livr-o seja naturaltneote urria cousa inconsumivel pelo uso.

0 certo, porbrn, O que, no comodato, a pessoa que faz o emprdsti~no conserva a propriedade e mesmo a posse do

objecio emprestado, pois sb perde a de ten~%o material da consa; o mntcio 12, ao coalrario, translative da propriedade.

Mas urn e outro contrato sao unilaterais, no seatido de que s6 o comodatario c o rnutuiriu e que assumem obri- gaqaes.

6 certo que, nos ttrmos do artigo 1521.0, o comodante 6 obrigado a indetnnizar o comodatario das despesas ex- traordinirias iaeritiveis que fizer corn a a u s a emprestada, e a reparar os prejuizos que o comodatArio padecer em ra- zao dos defeitos ocultos da cousa, se o carnodante o nZo preveniu, tendo conhecimento d&sses defeitos.

Se considerarmos estas ohriga~ties emanentes do con- lrato, entHo fazemos-lhe perder a natureza de unilateral, para termos de considera.10 sinalagmhtico imperfeilo.

Planiol e Ripert, para salvarem a natureza do contrato de comodato, opinam: aEm principio, o comodante ngo tern obriga~go nenhuma: antes da cousa ernpreslada ser entre. gue, nenhum ccontrato vincula as partes; depois da entre- i a , o comodatirio 1130 tern mais nada a exigir, 0 comodato e, pois, um contrato unilateral. No entanto, e pss ive l que o comodante venha, a contrair alguinas obriga~aes, mas es- tas nao derivarn do contrato.

A obriga~Po de reembolsar o comodatario das despesas por ele feitas corn a conservacao da cousa, nasce duma test80 de negbcios.

A obrigaqgo de indemaizar b comodatdria dos prejui- nos que lhe causaram os vicios da cousa ernprestada, de que o coaadante conhecia a exist&ncia, derira do dolo do meslno corn odante.

Finalmente, 1180 pode considerar-se uma obrigaggo a necessidade que o comodanbe tern de aguardar o fim do prazo do comodato, para receber a cousa emprestada: isto

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6 urn elemenlo do coatrato, qup. estip~llou I reslilui'~50 a ttrmo em benelicio do comodatario.. ( 1 : .

Actite por nljs esta doatrina, que alkis nLo e pacilica, vamos determinar as obriga~6es do comodatario e do mutuirio.

0 cornodatario tem as obriga~ties seguintes : 1." De restituir a cousa emprestada, fiudo o prazo con-

vencionado ou indispensivel para o uso concedido, e, se nPo bouver pram nem uso determinados, quando o como- dante Iha exigir (artigos 1510.", 1511.0 e 1512:);

2.' De velar pela conserva@o da cousa emprestada, como se fbra sua pripria (artigo 1514.'):

3." 1)e dar aviso, sem detenga, ao comodante da per- turba$io ou esbulho da posse da cousa emprastada, e de tomar a defesa dos direitos dtste, a t i que & I t proveja no caso como cumprir (artigo 1515.0);

4<' De tazer as despezas qua a conservagao da cousa naturalmente exige.

0 risco da cousa emprestada corrt, em regra, por conta do comodante, segundo o prin~ipio res perit durnirzs, salvo eslipula@o em contrario.

Mas se ?I cousa foi dado um uso dilerenle daquele para que foi emprestada, se o ulmodatArio, podendo salvar a cousa, r ~ l o a salvou ou preferiu salvar as suas, deixando psrder a emprestada, s t o comodadrio estava em mora, se o caso fortuito ou f b r p maior fbr tal que nzo se teria dado, se P cotsa estiresse em poder do seu dono, nos tr&s pri- meiros casos o comodatArio responde por perdas e danos wrrespondentes a todo o prejuizo, no quarto responde por metade das perdas e danos (artigos 1516.a1 1517.0, 1518.' t 1519.0).

No case em que o perigo corre por conta do crkdor, verifimse a figura juridica do risco.

Quando o prejuizo d suportado pelo devedor, desapa- rece a figura juridica do risco, para em sau lugar aparecer a da resoonsabilidade civil.

De maneira que, para sermos Idgicos no exposiflo, diremos :

0 comodatLrio e respons&rel pela inextcu~iio das obri- gaCties acima referidas e amda pela peada da cousa em- prestada, nos casos referidos nos artigos 1516.* a 1519.".

0 mutuari~ C obrigado: A restikuir, no lugar convencionade ou determinado

por lei, a cousa, entregando outra equivalente em ndmero, quantidadt e qualidade, dentro do prazo convencionado ou fixado suplttivan~ente por lei (arligos 1524.O a 1529.");

Se ac lautuhrio n8o fbr possivel enlregar coisa equi valente, satisfaz pagando o valor do mlituo no tempo do vencimento, e no lugar onde o empriatimo liver sido feilo (artite 1530.").

A reparaga0 civil, devida ptlo mutuirie que deixou de cumprir, consisle no pagamento de juros, desde que se achar constituido em mora (artigo 1533.").

A respeito da obriga~ao do mutuante reparar os pre- juizos que o rnaluirio sofrer em r r d o dos defeitos ocullos da cousa emprestada, por Cle conhecidos e ocultados, dire- mos, corn Planiol e Ripert, que esk4 subordinada ao regime da responsabilidade civil delitual, qut emerge do dolo.

Vem, em seauida, o Codigo tralar dos contratos aka- t6rios.

Contralo aleatcirio e aquele pel0 qua1 daas pessoas convencionam que urna delas pagarai urna prestagio certa e a outra pagara uma presta~ao dado certo evento incerto, ou

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cornbinam que a presta~ao sere paga por uma ou por outra conforme o acontecimento incerlo.

No primeiro caso, o contrato ateatbrio chama,se seguro ou risco. No segundo crso, chama-se jdgo ou aposta.

Cnrn efeito, diz-nos o art.' 1537.' : r E' contruto U ~ M -

tdrlo aquele pe/o qua1 unto p ssoa se nbriga para cum ou- fra, on ainbas se obrigam reciprocumente, a prtstar ou fater ccrla coiss, dado certo facto ou aconteJmento fuluro incur do B .

U ar t " 1538.": cSe a presfu~du L e m todo o caso obri- gato'ria e cerla para urna das p ~ r t e s , e a outra sd .? obrl- gada a prestar ou jazer algurna colsa em refribufglio, dado urn delerminado ev~nlo irrcfrto, o contrato aleatdrlo diz-se de rise0 ou de seguroa.

E: o art." 1539.7 u s e a obrlgacdo de fuxer ou prestar algurna colsa L comum, c deve necessariam~nte rccair em urn@ das p a r k s conforme a alternativa do eventn, a t e can- trato alealdrlo chama sc jogo ou aposta..

ExempIo de aposla ou jbgo : numa currida de cavalos, uns apostam no cavaIo prtto, outros no cavalo hranco. S e f6r o cavalo preto yue chegau mais depressa, ganharu nus; se fbr o cavalo branco o primeiro, ganharn outros.

Quem [ern de dar a prestaeo sao uns ou obtros, con. forme o evento futuro e incerlo, isto i, conforme chegar o cavalo braocu primeiro que o pr&to, ou o contrario.

Agora, suponharn o caso do seguro de mckndio. Ha o segurado, que e sempre obrigado a pagar o pri.

mi0 d? seguro, que e uma presla~ao certa, e a companhia seguradora, que s6 t obrigada a pagar urna indemniza~to se houver inc&ndio.

Aqu~ temos, pois, duas especies de coutrato alealorio: u scguro ou rlsco e u j6gu ou aposlu.

Ha, porem, urn art.' no Codi& para que eu quere

jB chamar-lhes a atengiro e dt qut jA me ocupei quando lalei nss obriga~bes nalurais. E' o art.' 1 542." que dispae :

,,As d i v i d ~ s IW ,kjgo n& p e d m ser pedldas judicial- msnle, embora se disfarcem corn as apar t~c ios de ouiro qanlquer cos t r~bo cu novaCs7g. Mas sc o jagador tiver pago o que p e r d m rr&l pnderd hornar a pedu o que assirn po- go#, excepto :

I.' - h'o casn do dolo ou fraude dn oulro parte, ou quartdo se der algun~a outra circunstJncia das que, con, furme as rezrus ~ e r a l s , obstam o que O F conlrndos pro duram efeito.

2."- Se a soma ou coisu fiver sido puga e m resulbndo dg pen$# em ]&go de o m

5 1."- Dlz-sk ];go de azar uyuelt, era ~ I I G a perda, oa o gnnho depende icnEearnentc da sorte e n00 das conrhi nacdes, do c&uio ou & ps~&iu & fagodor.

8 2.'- A resfifui'gdo dc dinbedro, emprestado para jdgo de m a r no ad& de rrtcsmoj&go, #do pode igualmcitte scr cxigldas ,

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24:-Das obrigaoaes [cont.)

-0 con\rato de oomprr e venda,

-0 oonireto d e esormbo ou Iroaa.

-0 contreto drt locaqbo e sues es- p8clas : a) 0 arrendamento. b) 0 aluguar.

-0 contrato de usura.

-A renda ou aenso conslgnrtlvo.

-0 oontraio do ernprazamanio.

-0ulras lantes de obrlgapder que U o aao 0s oontratos.

-0 contrato de prastapao de flange.

-0 contrrlo par que 8s conrrtitul a penhor.

-0 conlrato por que se faz conslgna- gao de rendlmentos.

-A hlpoteoa : a) Atributos da hlpoteba. b) 0 reglsto da hipotsca.

O contrato de compru c vvnda vem regulado no artido 1544," do Cddieo Civil, que diz :

UO contrato de compra 4 vendn P aqudle em que urn dos contraentes se obrlga a entregar certu coisa, e o outro SL obriga a pagar por elu cerfo prego em dinheiro~.

Esta defini@o e omissa sbbre a obriga~Po d e garantia, que t devida pelo vendedor, e, hltm dirso, n3o contempla os bens irnateriais, pelo que se nos afigura que rnelbor de- tinirernos dontrato de compra e venda, aquele em que uma das partes, chamada vendedor, s e rbriga a transferir e ga- rantir a outro, chamado comprador, uma propriedade, cor- p6rea ou incorpirea, mediante o pagamenta de certo prqo ern dinheiro.

O contrato dc compra e venda foi aquele que raais cuidados dc regulamenlacSo mereceu ao legislador, por vir- tude da itnportancia que assume aas relagoes da vida sacial.

E' consensual ou formal - conforme o seu objecto sXo m6veis ou imiveis-oneroso t sinalagmitico. ( I )

Preteriodo todos DS desenvolvimentos de doubioa, que a-propdsiio, mas sem interksse para &ste trabalho, podiam fazer.se, vamos estudar Ha sbmente os efeitos produzidos

( , I Distinguirnas entre conlrato siaalagmitico e oneraso: o con- trato siaalagmtitictr L carkterizado pela reciprocidade ds obripacfies: cada urn dog conlraentes 15, simu!tlaeamente, crkdor e devedor ; o con- trato oneroso t aatitttico dt contrato gratuilo; 6 , pois, aqd le que 6 celebrado corn fins interesseiros, sem itrtuito de liberdade, sem anhrrr

donend/, 0 contrato sinilagmAtico oHe-re ao unilateral; o oueroro ao gratuilo.

Ha contratos unilaterais que sBo onerosos, se tb ipra lh , a usura

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A deulrina caracleriza os viciss redibitbrios corn a s se- guistes nohs :

Devem ser ocriitm, pols, s e sso aparentes, s6 a sua imgrud&naia C que o comprador pode imputar a h os ter descoberto, e ainda descanhecidos do comprador, yorquanh se, a-pesar.de oculios, ts ie os conhecia, n2o [ot dim-sa engapado. Devem tamurn ser prejudicids a utilrdade da cousa, p i s , se apenas Ikedimiouem a beleza ou o atractivo, a%o s l o tornados em considera~ao, e, finalmeate, ~rtteriarcs h vcnda, visto que, a pardr do momento ern que a proprie- dade da cousa foi transferida para o comprador, todo o risce corre por conta d&le.

Haje, porem, o contrato de compra e venda n3o pode ser resoindido corn o pretext0 de less0 ou de vicios redibi- tirlos da coasa, salvo s e essa lesao ou Csses vicios envol- verem Crro que anule o consentimento, nos t&rmos declara- dos nos artigos 656," a 668 " e 687.' a 701.0, on se houver estipialaflo exprersa em contrhrio (artigo 1582:).

2 Quarera esta disposigao sidnificar que a garantia do vendedor pelas qualidades da cousa fica restrifa h resciszo do contrato por vicio de consentimento?

Se assim fdsse, bem acauhado resultaria o irnbito desta garantia, pois tratando-se & Crro sbbre as qualidades da aousa, o comprador 96 podia anular 0 contrato nos ttr- mos do artigo 661.'. Mqs nzo e assim, como varnos averiguar.

Lamentivet t que a parcimdnia dispositiva do Iegis- lador d t aso a poder fazer-se esta interpretaqgo, assirn como a estabelecer-sc confuszo entrr a ieoria do &rro e a dos vicios redibil6rios.

0s vicios redibitbrios facultava~n ao eomprador uma acpZo alternativa, otc yarn desufazcr a venda, encanzpando a cou sn verzdida, ou para pedir n restitrtipTo da pnrte do prego em proporgh dm dqfeitos ( q ~ n t i ruinoris). E ulim

d6 w e @ , sr o vended&, sabeddo cs defiitos, deixorr.mn- liciosamente de os CkPclarar, pode a cornprador pehrlv perA Ed&$ e inl&ri:sst?9; sJ o l ' igdormh, sd pode pedir d$ d t s ~ e - sas ocaSibhatlas'pefa' vend& ( I ) ,

Ota ' a ' ttbrfa ' dd erto 'nab bdde cbndnzir a tais codYL: qiiencias- De iaclo, a garantia dos vicaos redibitorios cob& tituh' uma 'categoria*jtirfdic& difeiihleVdh dos vidlos do ton- satttfB~~!frtox, c o d tdl, foi'seinpre conbiderada pekddodtr~- na' t%bfdirKtbpajitlvo.

A . aCmo ' redibtthria foi rtsMkltcida,' ehl' r e l a t h 'i' cdifipd"e vend&deE GerPos antmais; pCld decreb de 1 6 d t ITdieb~tiro.' di'' 1886; dt ts fol rehYbilitadit nb nosdti'C6dtgo Citric piloliektnt$ dekefo'qat .a!te'rou t' intetpretou bastah: i t s 'das % d i i 'd&$os&d& 'aipe~ar do inciljirneuto 'das c69iids' civis altm11d e-bhstlttro:

O nd*o"C&Sgb, depois de prckeltukr; no.aftipo 1568:", n? 2:O, qUY 0' veodtdbr ' i 'nbri~atio h 'rdspobtier 'pelas qualj. daaes ' da'conm, disp~k, nd ar8do ISS.', qtte'.o 'contratij ht ' conrpra e rebha n& ppsde s e t 'rehdndidU pbit vfcieb 'rddii1' t6rios.

C o d b codciiikr ehfbs 'dispir$f#i~#$? As qualidades da"cons!i'~dt4tt"adr, od d o , e ip t t s rb-

mi&&, refetlda9 nd 'cbdtrato-, n& * havdirtfo que dt6tinkuir set a , refdCnt"ia e feita' p&'afirkuA&6 oh ndgawa. kdfih,'. lanto impotta dizer que urn im6vet'E 'livrd e alddibl,' cehfb'' res~ondbt ' qdl" nab ieb 6nh$.'ocr ehtatgd'; tdfito 'vslh'esu- mlfar as qnatld* pbkidva~" dtim'cafifbt c a b aflkhW que n8o tern quaisquer vicios ou defeitos.

Se os contraeates ~onvencionam as qualidades da wusr, o vendedor respon~iabiliza-se por tssas qualidades, e, s t o objectd tern car&ncfa dela8, deixa de cuhprir o contrato,

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pelo que responde por perdas e danos. Eis o alcance do artigo 1582.", n," 2.".

Se as qualidades da ceusa nZo sao referidas e esta tern vlcios ocultos, desconhecidos do comprador, que dimi- nuem a sm utilidade, aplica-se a disposigo do artigo f 582.'.

Alves Moreira escreveu a prop6sito deste artigo: ,,No artigo 1582.", n.' 2.0, deciara-se que o rendedor i ebrigada a responder pelas qualidades da cousa, e essa respousabili- tem de Lornar-so efectivr, no caso que nXo existam nr cousa as qualidades prometidas, pela resc i s~o do contrato ou pela indemniza~B0 de perdas t danos. Desde que a prer- t a ~ P o n8o se efectuou nas aondiG6es fixadas no contrato, o rendedor n%o cumpriu, e tern cooseqiientem~nte que apli- car-se o disposto no artigo 709:. A indemnua@o de perdas e danos, a que o conyrador tern direito pelo facto de o vendedor nZo barer cumprido, consistira, se a cousa tirer proreito para o adquireate, na restitui~ao do preco corres- pondenle ii diminui'do do seu valor econdmico pela ausdncia das qualidades gamutidas pel0 vendedorv (i).

A terdeira das obrigaq6es do vendedor, referida pelo artigo 1568.*, t a de pres tar a evicq80.

0 vendedor d t r e garantir ao comprador a propriedade e a posse pacifica da couva vendida (2). Eis o conceit0 da garantia contra a evicgio,

0 conteido da tarantia da evic~zio desdobra-se em trka obriga~ees distintas : a garantia do facto pessoal, a obri-

(a) Institui~Qes do Direito Civil, 11, pAg. 64). (2) A cvic~Po d clcmcnto natural, hICm cia compra e venda, de

outros contratos. W importa ao cedentc (arfiga 709."); ao locador ~artigos 16Uh.~. n . O 4.O, 1b13,u e 1643." do Cddigo Civil, c artigos lLO, n." 4.", r 19.' do decreto n.' 5411); ao renhorio directo (a r - tieo 1674.@); ao alheador do usufruio (artigo ZZIY.o, $ 2.").

qacZo de defender o cornprador nn acyGo dc rcivindica~do contra tie propostn, a obri_~-a~ido de repara~io civib dos prejuizos causados ao cvicto.

Por rirtude da garan t l do facto pessoal, o rendedor n%o pode pralicalr qualquer acto que perlurbe a poase, a propriedade e o uso que o comprador faz da coisa que lhe foi rendida.

NBa pode cometer simples ptrturbaq.6es de facto, que feitas por terceiros resultariam juridicamente indiferentes- Por isso se tern enkendido que o comerciante que trespassou o seu eslabelecimento pode estabelecer-se de uovo corn igual rama de comercio, na vizinllan~a do esiabelecimento trespassado, pois que, iado corn a sua concorrtncia arreba- tar parte da clienrela da anterior casa comercial, perturba o tomadot do lrespfisse no gdze da cousa adquirida.

A obrigacgo de garantia pelo facto pessoal impae-se, sem necess~dade de considera~6es~ pois, s e o vsndedor s e obriga a defender o comprador das perturba~5e.s de tercei- ros, a fortiori se deve abster de quaisquer actas iurbativo~. Esta mesma idea esta conlida no brocardn latino : Qaem de evictlone tenet actlo, cum ;em ageatem repellit exceptio. Quem deve garaniia &o pode tentar a e r lc~go .

A garantia do facto pessoal t sempre devida pelo ?en. dedor, pbsto que as partes convencionem dispensar a res- poasa bilidade da evic~Lo.

Compreendt-se qne assirn seja, pois o vendedor, que levasse o comprador a dispensa-10 dn garantia da e r i c ~ I o l a-fim-de poder depois retirar lhe o que havia vendido, co- meteria urn dolo.

0 veadedor deve tarnbem defender o comprador dos facbos de terceiro. 0 devedor pode ser dispensado desta obrigaq.30, por vi~tude de conven~30 feita entre os COW

fraentes. Se as parlea, porem, nada estipnlarem, verifica,se

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a ,evic#o, w i s esta e u p pkmepto n~lyra l dos contq\os sjpq4gq4tiqos. No cnpnlo, a ,faculdade de der{o~?@o da evicqao Iem liiniles irnpos{os ,pylo,,legls@or, pa@ dcfasa @I pccJsm .socal e dos bpns watg~es: os,Cqplracntes n6a p~&@ r e q ~ u ~ i q r k responaabiliflqde que possa fesultqr do

,qan dolo p,u 4 f E iartigo $,Q55."). Alem do caso de rendncla, o comprador,&&&n,#o

ppde fazer ~ a l e r p , g w t i a da,fiviq3o,.nas ~ ~ q t r , p ctrcuns- ,tAscias seguinbea : Se, , sqqdo o ad~uirente adygrlido .do r ~ s c o qa evi$gio,,o t~prop @jare si ; s t , .con&u:endo,o ad~qi- ~tp.te ,o djqj to 40 qviclgr, d q l o s a m ~ t e , ~ , liver .oquItado so al&e$+i~r; $,e ,a , tvjc$io,pcoge~~r de qpsa gost~ripr ap ycjo ,& trir~gfer+acia,,pirb, ipli.rq14~~1 go alheadpr, ou, Q l a c p 40 a&ui;en!~, qqer sei8 past~rior, ,qptr aatacjor ; s e oa%i- mote pjCo t iyw cbayp#o h.av\o,opa o al4eaPor (arljjo \Psi.'),

For ,qua chreza, a di$posi@o legal dispepsa .puaisquer . c q q & ~ ~ ~ ~ p e s , a ,430 3,er as gpe pr?qos.fpztq rqgqitqpfes ao c k p q p p t p A.a~toria.

0 cb;rrpsmento a puforia d urn .iucid.k~te da wusa. -0 r t u que gretcPder t i b a r aL@trp A autqria,dweza &cia- 48:Jo .40 .prwo de cinw diaa $ coqtar da ~ita@,o, e o jqiz mandari, s.u,qpnso ,p . ~ R ~ ~ w R ? O &I ac@io, ciqr a m p a ~pdiwd?, m%rr;an&-se ap,riu, ppra&terfip, .w pram qua .Ma aoded axcedr;r,a q p r w dias, Q W ~ P , P a i ta~po ra id i r na comaroa, pois, s t residir fora, 9 <pmg~ ~erh ms temps: do ~ ~ ( i g p 17.',.p." 2."h C/Q$igo dt Pcquyiso Civil. Se o citado RjCo cumpqrecer qp G o aceilar a antoria, o pri- pqjro r)ep Pqre setplr a g * ~ c,m t o d ~ s os stys ter.plas e lnterpor e seguir o recurso de apelaflo, para ficar ,com,o dirgita d.e propor a p q o de evic@o e iadcmnizafla iar. tigo 322.b do C6digo cle ,Processo ,Civil a artigo 43." do de- creto n.2f.287).

.@pro se vb, o adquirepke, gue peja arrtor, Go ,p~d.e

.&aplar ,o tendedor a aut,qria.e,,a;peanr dispo,.@sta.~eCi rts- p ~ ~ $ i y e l ,no mso da accbo ser klgsda ilaprwedmle e de,

,wnsep,iiq~~pmqate,.se ver i f iqr ,.a qvi~flo. 5.6 per&, o direfie. de,gai.q,n!ia 9. rvictao o! cwpr&r

..q8e , d o . $ b e IP. v60dedwi&, auhria, 90s ca$os.!gq :me: a hi ,fwulia .a. hag1pto . .Ora~&s!e~ ,s6 e.ptr~it*:qaaado ,.o; w n l ~ ~ ~ ~ d R r i , . r i u .

:Nos contrator .gratuilos, o~benefioiadp.a~otkm,. em. ~ t -

<gra, a garanria da4evimo. :Ras tant~~aestes-wnlrahs,como .nos sioalagdtkw am que ,Mr dispensada a-@ar@tia da evic@o, o.+dquirente ppde,.por airtude. daqualasnb?rogag#o a .que -expe@soamcnte st . .~rfare o artigo ld&.q;§.inico, <oxigir respsabi l idade . pela e v i q & o aos que.tcanumitiram .a .p~oprkdade d a . c o w a o . a l i m t e , o.qae.em tkcni~a juddica, cost4 ma chamar-se respodl l ida i#e .asc~qdeate.

~Explica-w a s j m Cste -p&ar -1 do.srricio: .o ~ e l r d t - dor, lpso facto da veoda, indapendtntemeate d t . q w i ~ p u t r

.cqlii)~leW, trawmitiu .+to .c~mp~.adClr , t ~ d g +g ,diwitos e W C ~ M ,qw ;Ib? ~eftienciqpl ,rchtivam@te:4 wwsa l ~ W d g . 'Fr.awpitju?lpc, censeqiieqkwqate, ,a:aMo,I;lC,levi%~~ :gee

,tinha cwtra .a,que Ihe trapsqitiu B ~ p u ~ i r , w d l e , : r w r ~ s M a 'vz, awsu. 0 primiipip - @ce~sori~rn qsqudiur :winctmle, , c ~ ? f i r ~ p &sta . d ~ ~ t r i s a .

Parece.nos. podm, que o t v i r to hfa q t a -fttcuk@de 9910 , R ~ ~ R G ~ R ~ Q <% VP~WW~N%P. 9 ~ e ; @ o ? ~ d o : a * 8 n b N a @ ~ 1 a que a lei ss refere.

~Realizsda ,a ,ewi~FT(p, ,nos woa $m :we sltbiste a .fa- amlia, ~tem 0 .lrcdedsr de ~rr&nlaizar .o .~qmprfrdor.

.A Asp . r e s ~ i @ .dispqt ID .%tigo 1947:" : :0 alM#pr, !ainda <pne baja procedido de bo+li, d;qbr ig&p.@Ir t i n b g r g ~ w l e : o ,.prt:v .QP ,qw ~a ~ectbi&J dp $Wiw rente ericto ; os gastos que o mesmo adq~ire&e .te@p k i l o ,qqy o swtrpto . . $e , q m ,Q pleito .da epjcpgo, $aha 4 .e%ceMo

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do artigo 1053: (referente ao caso do alheador s e oferecer para salisfazer a importiincia da sua responsabilidade para corn o evicto, injependenternente do pleito) ; tbdas a s des- pesas liteis e necessirias, que ngo sejam abonadas ao adqui- rente pelo evicto ou pelo vencedor, e ainda os rendimentos ou i~terksaes da cousa ou soma. que tiver de re~ l i tu i r por virlude da condenaqSo. Mas, s e o adquirenle houver tirado da cousa algum proveito, por deteriora~6eo, a cuja iodemni- za@o n8o f8sse condenado, set-6 encontrado esse pro~ei to nas quantias que deva receber do alheador ; se o adqui- rente fbr condenado p ~ r deteriora~ties, nzo respondera por elas o alheador, salvo s e Jverem acontecido p o ~ culpa sua . e s e o alheador tiver ieito benfeitorias antes da alienaeo: e estas forem abonadas pelo vsncedor, sera0 encontradas na quantia que o mesmo alheador tiver de pagar. 0 alhea- dor nlo responde ptlas despesas voluptuPrias que o ericto haja teilo.

A clareza do preceito legal dispensa comentario. 0 principio que domina esla disposiqao e o seiuinte: se o vafor da cousa, ao tempo da evicqilo, fbr superior ao valor prestado, respondera o alheador por essa diferenga. SerP ainda responsavel por tbdas as perdas e danos que resul- tarem da evic~Zo, n%o excepluando sequer as despasas ro- luptuirias (artigo 1048.0).

Na hipdtese de mCf4 do alheador, o principio 6 outro: o da responsabilidade de perdas e danos.

No caso da ericflo ser parcial, o evicto tern a faculdade alternativa d t rescindir o contrato ou d e exigir iodemnira- Fgo pela parte em que sofreu a evic~iio. Se optar pela in- demnizaflo, aplioam-se as mesmas regras da e v i c ~ a o total. havendo, p i s , a fazer a dis t ia~go enlre alheador J e h a - f 6 e alheador de mB-fC.

A eviccao parcial pode ter variadas causas, mas as

mais freqiientes szo a! seguinbes : a perda duma parle da cnusa por o alheador ser apenas urn compropriclario d e cousa indivisa, ou por harer coofuedido a sua cousa corn outra; a perda duma servidao activa, que lai atribuida ao prtdio, no instrurneuto de venda: a existencia durn 6nus real sbbre urn im6ve1, qut foi vendido livre e alodial.

0 comprador, disp6e o artigo 1583.", i obrigado a cumprir tudo aguilo que eslipukoa, e tspecialmente a pagar o preqo da cousa no tempo, no lugar e pela forma con- veacionada.

Mas no artigo 1552.0, imp6e-se-lhe oulra obrigagga: a de pagar as despesaii de eseritura e de registo, havendo-as, na falta de declara~%o em conrrario.

A'lim disso, correlatira da obriga~ao, imposta ao ven- dedor, de frzer a entrega da cousa vendida, tern o compra dor n de receber essa cousa.

De rnaneira que a t r ts podemos reduzir a s obrlga~lie do conlprndor : pagar o preqo da cousa veodida, pagar a despesas de escritura e regista, reseber o objeclo quo com- prou.

0 preFo deve ser pago no momenla da entregb da cousa, se n80 fbr feita estipulac%o em contrhrio. 8 e entrar em duvida qua1 s e far6 primeiro, se a entrega da cousa ven- did#, s e o padarnento do preGo, tanto aqucla como esta sc- r30 post03 em depbsito na m%o de terceiro (artigo 3583:4 $5 1." e 2.7,.

S e o comprador. corn espera de prep , fbr perturbado no seu direito e posse, ou se tiver just0 receio de o ser , de mod0 que tsnha, ou venha a ter, direifo de demandar o vendedor pela eric$5o, pode depositat iudicialmente o preto, tnquaoto o vendedor n80 fizer cessar a turba~ao, ou lhe n8o der cauqao, salvo se outra cousa fiver sido eslipulado (arti- ge 1584.0),

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Para que',o camprad~r pdssa usar d t i t t melo t'prkclsb que tehba s6fios mdtbos' deL recdo de' tticidZa. A lei eM- prqg a exprkssao justb riccir/, que querk'sigtii$kal"reEeld fuhddh&dtada. Nad"basfa,' p&, qualqutr reaeio qui'mCAcb" od pdr&tWnfd" imagldris. O ven&ddt', mtdhtl' qlib e5w' iminen!eUo ptdgo. dh 'etfCtao, podk'eHtar o'cbij5dsrYo~lttHtiP1, pt.e&tando4 cauqai, pbr meio de 'fian#a'hipgleb %a ddep6sito. Not: casod em' que o' vbodedor' n2o sG]a re9po;ttbillrefJpbk' e~b$o;'nEd C1lici.to aolcaktpradtlr deposi t~r o pr2e.v

Depois da entrtga da coisa veodida, quer etttr:st$au mo biliiria, quer imobilltlria; nHe .ptide2 o qvendedor fatrf 'res- cindir o csntrak; par fallf de paaamento-{art. 1535.').

Esta disposic%o C contdria.ans printipiosi que domiham- os mntratos si~lagmiiticos, tais como a aompraJe v e ~ d a .

Nestes contratos, diz Saleillts ('1, as duas obrigag6sr. n%o s2o sbments dividas canexas : a o diridas Lao relacia- nadas, que cada uma delas d a causa juridica da outra;.

Por isso mesmo 6 que o campo de aplicaqao, por exce- l&ocL, da condillo non adimpLett cbntratus sso os conlraios sioalag mdticos.

De rnaneira que, nestescontractos, par principio, o con- traeafe pode recusar a sua p r e s h q b , tbdasvs vCzes que a oulra parte deixou de executar, total ou parcialmente, a sua obrigq30.

Teriamos apenas que discernir se a inexecn~ko parcial foi duma o b r i g a ~ o principal ou aaess6r1al se quisessetnos acompanhar as acesas discusses que na Alemanha st levad:' raia'm sbb're o assuhlo a qua 'sifo'reieridas 'pbr Saleilit's ( t ) .

(11 *lhnde S U ~ IwThkone Gtn6ralt de llObligattoo,. n.' 171 ( 7 ) "Les thkories allemandes sur lcs drolts q u ~ , au cas da conttat

synallagmatiquc, apparliennent i La partlc poursuivis en paiement, lorsquc son adversaire de son c66 n'exicutc poibt ses cn&t'gernenlS apud Annairs de Drvit Comerc1a1,- I 892- 3 8'43

Mas disso nZo temos n e c ~ s i d a d e , porque o gagamento do p r q o e uma preslapso principal : a pr6pria r a z % ~ de s t r da obriga~zo assumida pelo vendedor.

Coreo s e disse, esta disposi~ao do artigo 13hn b a negaqao do principio estabtlecido no artigo 709.O, a irradia. ~ % o do contrato de compra e venda da condiqao resolqtiva tdci la.

Ngo [era esta disposi~lo qualquer precedeate na legis- lag50 pitria, pois, como se v t em Coelho da Rocha (4). a cl5usula da lei comissoria, em rnatdria de compra e venda, era admitida pelas Urdeno~bes (L, 4, tit. 5, !j 2) e bem aco- lbida por &$te essritor. 0 Gdiga Civil frances, que em tan- tos passos foi guia do legislador do nosso, tambCm permite a rescisao do contrato de venda por virtude da ialta de pa- gamenb,

Ngo descortinarnos as, cerlamente, imperiosas raz6es que determinaram o legislador a proibir, corn desprtzo dos principios, a resciszo do contrato, a-pesar da inexecug%o da obrigacao principal do cornprador.

Ds falta de cumprimtoto das obriga~6es que a lei imp& ao vendedor e ao cornprador emerge, nos termos p r 116s referidos, obrigaqgo de reparacHo civil para o devedor re. misso.

Depois do contrato de compra e venda lrata o Chdigo do contrato de troca ou escanzbo, nos artigos 1592," ,593.' e f599.0. 0 contrato de troca ou escambo verifiaa-se quando se da unla coira por outra ou uma espicie de tuorda por outra espicie de moeda.

Daqui, a express30 tclmbiaa, a que o CCdigo chama %escambou.

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Art.0 1592P ~Escambo ou troca b o contrato, por qua se dd urna soba por outra, ou uma espPcie de moeda por outra espkie dela.

5 uaico. Dando-se dinheiro por ontra coisa, serd dc venda ou escarnbo, segundo o disposto nos ariigos 7544." e 1545.'~

Trata, ern seguida, o C6digo do contrafo de bca~do , que podt ter a forma de alugusr ou de arrcndarncnto.

Se a coisa c ~ j o uso ou frlii~go se aliena duranle ctrto tempo, mediante ccrta retribui~lo, fbr urn im6re1, o contrato de locafio toma o nome de tarrendamento* ; se a aoisa cujo use on iru.iG30 s t atiena durante certo temps, mediante certa retribuY~B0, IBr urn mduel, entzo o contrato chama-st de

0 saluguers distinpue-se do *comodato*, porque neste se transftre o uso duma coisa, mas sem relribui@o, ao passo quc aaquele h i retribuiqgo ; assirn como o -arrcndamenlo~ se distingue do acontrato d t parceria rural>, porque, em nosso enteader, a parceria rural B sempre uma especit d t socitdade, ao passo que o arrendarneuto o nZo e.

Hoje, o contrato de arrendarntnto n%o estd regulado no Gdigo Civil, mas aim em varies diplomas, sendo os princi- pais o decrrto n,O 5411, d t 17 de Abril d t 1939 e a iel n." 1662.

0 Cddigo Civil ocupa-se, depois, do contrado de asnra. 0 contrato de usura di-se quando alfuim empresh

dinheiro ou coiaaa fungireis mediante certa r c h r i b u ~ ~ ~ o cha- r UtOSa. mada j

Diz. corn efeito, o art.' 1636.': +Dd-se coatrat0 de usura, quando aEguGm cede u outrtrn dinheiro, ou qual- quer outro objecto frmgCvel, corn olirigacdo de resflfuir

&ria soma equivaEente an am objecfo igl~at, mediante certirz retribsi'~80 em dlnheiro on ern coisas de ooutra espk- cie*.

0 contrato de usura distiopue.se de rnlituo, porque n&ste h l o emprdstimo de dinheiro ou de ceisas fungiveir, mas sem retribui~ao, ao passo que oaquele ha retribuipgo,

Depois do conbrato de usura, trata e Gdigo da renda O K senso consignativo.

Diz o art.' 1644." : 0 contrato de cerzso consigtzativo , ou renda, P aqulle, pel0 qual uma pessoa prtsfa a outrra certa soma on capital, para sempre, obrigando-se aquile que o recebe a pag-ar certo intertsse anual, em gtneros oa em dinhairo, consignande 8rn alguns, certos P determi- nados imdoeis, a obrigaco de satfsfazer o encargoa.

h t e contrato t hoje pouco usado. Do cgntrato dc empmzamento, aforamenta on enfi-

teuse trata o arLO 1653.' e seguintte. E' urn cantrato porvirtude do quai o dono durn pr#io

separa o dominio titi1 do dorninio directo, entregande s do- minio util ao foreiro, que Ihe pagarP anualmente uma certa renda chamada cdnone.

Diz o art,O 1653.": .Dd-se o ca/zlrafa de empraza- mento, aforamento ou enfileuse, quando o proprlctdrdo dc gualgaer prddlo kunsjere o seu domlnlo rifil para ontra pessoa, obrlgando-se esda a pagar-llre unrtlalmente terta pensdo determinada, aqur se chama fdro an canon*.

Quaado a propriedade 6 desdobrada em dominio dtil e domhio directo, aquele que Hca corn o uso e fruf~ilo do prtdio ohama-se foreiro, e aquelt que tica simplesmente corn o direito de receber urn canone ou uma preshc%o anual chama-st senhorio directo,

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O foreiro, tambim chamado eririteutu, podia sub-edfi- teuticar, podia, por sua vez, passar o domlnio litil para ou- trem, que se c b a ~ a r a sub-enflteule, mediante o pagamento de urn ~Pnone ao eafiteuta, que, por sua vez, pagarl outro d n o o e ao senhorio directo.

A enfiteuse era urn contrato perpitno. Alas o decreto de 23 de Maia de 1911, estabeleceu a remissibilidade do fbro.

Db maneira que a eaHteuse deixon de ser urn contrato perpdtuo.

Depois da enfiteuse trata o nosso C6digo do tenso re- servotlvo - sbnfrato porltirtude do qua1 algaem empresta a outrem urn pr6di0, reservando para si uma certa renda, que C constituida por frutos do mesmo prkdio.

Este contrato, hoje, e s t i banido, nzo i permitido, e , depois do Codigo Ciril, e considerado urn contrato de en- fiteuse.

- 0 dono durn pridio passava-o a outrem. Tinha uma quiata, entregava-a a outrem mediante o pagamento de m a certa renda que consistia em frutos produzidos por &sst prkdio; vinho, rnilho, trigo.

A isto se chamava cenw reservativo. Traia deste assunto o nosso C6digo Civil nos artigos

1706.', 1707.", 1708.' e 1709,O. Art.' 1706,": 6Di.z-se censo reservatjvo o cotttrafo

por qae qualqrzer pessoa cede nlg~im prEdio, corn a sim- ples reserva de certa pensgo ou prestargo, anual, qcce deve ser paga pelos f r ~ ~ f o s e retidimrnfos do rnesmo prc'dio*.

Art.' 1707.": ~Ficarn proi'bidos para o firtaro os con- trnfos de cctrnso teservafivo ; os que S P estiprrlarern com Btu Rome sergo fzavidos por e~fite"aficosa.

Art." 1708 : aAos crlzsos rescrvafivos de prethri.ito k aplicdv~l o disposfo nos nrtigos 2678.", 167qT0, 1680." e 2681.Os,

Art." 1709.": afiavendo dkvida dcErca do confrafo, se d censifico, ou se d enf i f t~ i f ico , presumir-SP-6 que d cenis- tico, enqaanto tad0 se provar o contrdrio*.

Depois, e tinalmente, o nosoo C6digo ocupase do con- troto de traasaqdo, porvirtude do qua1 dois litigantes pre- vinern urn liligio ou paem fim a uma coatenda cedendo um e outro psrte de seus direitos ou dando urn uma coisa ao outro pelo reconhecimeoto dos seus d~reitos.

Pode haver uma transaccZo, quer quando haja urn li- tigio em juizo, e entao a transaqZo serve para terminar o litigio, mas apenns urn diferendo t, ent%o, antes de ir para juizo, os traosigentes prerinem &sse llligio, fazem urn coa- trato para n%o ir para juizo.

E' o que se depreende do art." 1710 O do nosso C6digo Civil : * A kansncpTo h o contrato pelo qulzl os fransl- gentes pwvinem ou t~rrninarn rima contestayao, cedendo urn deles, on ambos, de pparte das srcns pretens&s, ou prornetendo rim ao ouko algama coisa em troca do reco- n hecrmen to do dlreito contestado*.

A transacczo pode ser judlclal, isto 6 , pode ser feita por auto no processo, ou extra-judleial, isto 6, feita por instrumento fora do processo.

A transacqRo extra+judicial d i m sempre, eltidenle- mente, quanjo se previoe urn Iitigio, quando hA apenas urn diferendo.

Estes s%o os contratos donde promanam obrigag6ds. Mas, como lbes disse, tambkm ha obripa~aes que prodnu- nam de declarapes unilaterais da vontade, bem como da

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gestgo de neglcios, do pagarnento indevido, do locapleta- mento h custa alheia, do delito e do quisi-dtlito.

0 nrsso Cddigo ocupa-se da gestbo de negdclos nos art." 1723.0 e seeuiotes t define aI o que 6 uma gestZo de negdcios. Mas f6-lo l o imperfeitamente, qne vamos trans- crever aqui os seguintea passos do nosso iivro - Da res- ronsabiIldadc corrtmtual.

- A intromissao duma pessoa nos negdaios de outra 6 um act0 licito ou urn delito? Esta questlo, posta assim em tgrmes amplos, tern dado origem a discussao entre os es- critores de direito, que n8o cbegam a urn entendimento. Leia-se o que a ts te respeito diz o professor Jose Tavarts : n A intromissio nos neg6cios alheios, gem que uma auiori- zacllo do inleressado ou um dever impost0 por lei a jus- tifique, t em principio uma usurpaqzo dos direitos de ou- trem, pensameato traduzido nnm fragment0 do Digesio, hlri- buido a Pompdnir : Culpa esf imrnisccre se rei ad se norr pcrtlnenfi. Mas re este principio Ibsse aplicado em todo o seu rigor, seria contrariada, em vez de ser protegida, a uti- Iidade social de a o deixar perder ou deteriorar qualquer patrimbnio que num dado momento se encontre abandonado da acFPo administrahiva do seu titular. A ordem juridica n?io pode oem deve proibir a intervenciio de teraeires quando destiaada a beneficiar urn patrimrjnio desprovido de admi- nistra~ao, e por isso sujeiko ao risco de se perder. Se por urn lado pode haver ingertncias ilicitaa, por oulro lado pode haver interwen~ties benkficas, e portanlo licitas, inspiradas pel0 desejo altrulsta de olhar pelos interbsses de outrem.. , Para que a gestgo de neg6cios alhsias seja licila, 6 pois ne- ce rdr io que o gestor proceda no interesse do proprietario,

e ngo em proveito pr6prio ou a n h o deproenderzdl~, (4)

0 ilustre professor indica o recto catninho para a r ts- posta a dar & questHo. A intromissPo duma pessoa nos ne- g6aios de outra 6, em principio, urn acto ilicito de ururpa- sao. Mas a gestgo de negdcios t, por excepcgo, urn acto licitr. 0 problema fica, pais, reduzido a saber-se quendo, de direito, a intramiss%o toma o caricter de gestgo de Re- g60ios.

Se nos fbsse permitido fazer, neste trabalho, uma anl. lise demorada do instiluto da ncgotiorunt gestio, haviamos de demonslrar a tese que aqui enunciames ; a intromissgo nos neg6cios alheios, a-fim-de poder revestir o conceit0 ttcnico-juridic0 de gestgo de neibcios, 6 limitada por trks condi~6es : - ncio ~ G V G ser delerminada por uma inten~do puramente egoisla ; ndo deve realdzar-se contra a proi'biclio do dono do's neg6clos; n&a deve ser lndlil c, rnulto menos, noclva.

Estas trks condi~tles ou eltmentos fazem parte do conteido da testa0 de negdcios, que, por isso, definimos ; a intromissLo dtil nos negbcios de outrem feita corn intencao altruistn e sem proi'bigb formal do dono dos mesmos oe- gbcios.

Posto isto, diremos que a mera iotromissao nos nee& cioa alheios e urn delito, que gera a rerponsabilidade deli- tual,

A gestito de negdcios t urn acie juridic0 unitateral, dande emerge uma responsabilidade, que tamMm 6 aqui- liana, pois, coma ja temos dito, a reaponsebilidade civil pro- reniente dos actos juridicas unilaterais e sempre deli- t ual.

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O nosso C6digo Civil, sob o litulo Da gesfrio de negd- clos irata, tanta da mera intromissHo, como da gesl%o em sentido tecaico~juridico. O artigo 1723.O e 1731." i urna dis- posi~Bo de caricter geral. 0s artigos 1730." e 1731." con- templam: o primeiro, a hip6tesc da iatrotniss30 inuiil; o segundo, a da interven~lo corn proibi$Io formal do domlnrrs negotiorum, dois casos de men intromissao.

0 arrigo 1724.0 prev@ o cajo da gestao ratilicada. 0 artigo 1725,konsidera a hipblese duma gestao rer-

dadeira, embora nlo ratilicada, porque a intromissio foi feita corn urn fim altruista e 6til (evitar algum dano imi. nentt e manifesto do dominus negddlorum).

Pela anilise desbas disposi~aes avbrigua-se que o legis lador exige, para haver gestgo que atribua ao dominus ne- gotioram a responsahilidede de perdas e danos, as irks condi~ties : i n t e n ~ o altruista, resuLtado ;ti1 e aquiescencta do proprietirio. Estes trts elementos convergem na disposi- ~ % o do artigo 1724.', por isso o datrritrus negotlorum fica obrigado a indemaizar o gestor, das despesas Leilas e dos prejuizos que tiver padecido ~ d e ptrdas e danps).

Na hip6tese do arttgs 1725.0 so coincidern dois dos trCs elementos-o fim altruista 6 o resultado ritil,-por isso o legislador so impGem a e dorfidnus a obriga~Bo de iodemni- zar o gestor, das despesas ititas, mas ~o dos prejuizos.

Na hipdtese do artigo f730.0, a-pesar-de haver urna atitude do dominus que a lei presume consentimcnto, dste nlo fica obrigade a qualquer repnracao, s e o efeifo da in- tramissilo for lntilil. Na espkcie contemplada no artipo 1731," o interveniente ngo pode receter qualquer reparaglo civil, salvo a hipbtesc considerada In fine do artigo.

De modo que na actio negotiorua gcsforu,~ contraria (a acgZo do gestor contra o dono do neg6cio), sd ha aplica- g5o dos principies da responsabilidade civil, quaadc, pela

aonrergCncia dos t r t s elententos, existe u r n gestao de ne- g6cios perfeita.

Na actio negotiorum gwtarlsm dirtcta (a acgle do dono do nef6cio contra o gestor) teem sempre apliaagito os prin- cipios da responsabilidade civil. Mas csta responsabilidade civil k a deliturrl,

A obrigaqPo de reparaflo civil emergenle da testgo de negicios esta lora do dominio de apIicag80 da responsabili. dade contratual.

Mas o nosso C6digo tambim se ocupa de outros con- tratos, a quc jB nos referimos.

Assim, ocupa-ce de am contrato, chamado a cessau dc crldilos, no seu art, 785.", que diz:

a 0 crjdor pode kansmidlr a outrcm o seu dirclto ou crkdilo, oor tflulo gratuita ou uneroso, independentemsntr de const~tirnenlo do devcdor.

9 ~ n i c o . Mas, ss os dirtitos ou crkdlfos forem Utigio- sos, ndo p-)derao ser cedldos de qualquer jorma a jubss slngulnres ou C D ~ ~ C ~ J V O S , nem a outras auloridades, st 2s- ses dirdilos ou crkailos prcm disputados nos limidrs em gus clns exerccrem as suns alribu@Oes. A cessdo ft lta corn quebro do que flca dlsposco rrtste 5 sera de direito nula..

Tambem, o C6digo fala de outro contrato, per rirlude do qua1 se cria uma obriga~ao nova extinguindo-se urna obriga~ao anliga e de que jB nos ocnpimos quaudo be tnos referhcia ao mod0 de ertin~ao das obrigaqlles : o confr ado da fioro@o.

Diz o art. 8022 : * A novoCrio efetba-se : f .*- Quando o devtdor confrai para cotn o crktior ama

mva dlvlda ern l u ~ u r da miiga, qrte j&a axtinta;

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2:-Qnando urt~ novo devrdor 6 subsliluldo ao antlgo, que jica exonerado ;

3."-Quando urn novo crZdor t! substituido uo antigo, obrlgando.sc para corn Pe o antlqo dtvedor*.

E ainda o C6digo Civil se ocupa de contratos que criam garantias das sbriga~6es: da flanca, que se constitue por urn contrato; do ptnhor, que se constilue por ouiro con- trato : da consignagLio de rendlntentcis, que se constitue por outro contrato ; da hipoteca, que pode ser legal e volunlfiria e que, sendo voluntiria, pode constituir.se par urn centrato ou por urn testamento,

Ocupa-se da fianca no art. 818,0, que diz: a 0 curnprlmenlo das obrlgacfics, quc resultam dos

contrafos, pode ser assegurado por U* terceiro, qu? res- ponds peio devedor, st a s - d ~ a s obrfgap7cs ndo fcrenr cnm- prldas. 2 o que se charnu fianca~.

A f i a n ~ a k , pois, urn contralo porvirtude do qua1 uma pesssa, que se fica a chamar fiador, assegura o cumpri-

cumprir. A tianca, que se constitue por um contrato, C uma obri-

fa@o acesr6ria. pois a obrigaggo principal L a do devedor. Se A a f ian~a B pelo pagameato duma divida de 10

contos, que essa mesmo B eontraiu, a obrigaq~o principal C dele. A obrigr~ao de fiador de A , a obrigaq8u pela qua1 A se cornpromete a curnprir se o devedor B, ngo pagar, C uma obrigaflo aceadria.

El porque assim C, dai rasultam como coroliirios os seguintes principios consagrados no nosso C6Jigo :

1." coroiirio: ndo pods havcr f ian~a sendo n u l ~ a obrigacdo principal.

Di-lo o arb." 822.' : * E' nula a fianca, que recdi em

o6rLsa~rio qne rin'o seja vdlida, excepfo se a nufddade da obrignpio proceder inic~rrnenk de iincapacidade pessoal.

5 1." - Nesfr iiltimo cnso n fianca subsktr, ainda que o devedor principal f q a rescindir a sun obrigafbo.

6 2."- Esfa excepgao ndo abrarigge a Jianga por em- prkiinro fe i io a fifi'to jamflias, romo sc dirk nr? titulo respspbctivo, artigos 1535.' e 1536."1~.

2." corolhrio : ncio pode lzarer f ianp que exceda a obr~gu~ao principal neni qua stja nzais onerosa que ela.

E' a doutrina do art." 823.": * A f i a n ~ a niZo pode ex- c~ t i@r a dividra principal, nein ser confralda sob condip?es rnais onerosas Pode contudo confrair-se por qnanfidade menor, e corn manos onerosns condi~fies- Sc exceder n i f f -

sida ou se conkair mais oncvosa, a ti'anpiz ndo serd nula, riias sirn redtrtfvei aos precisus fermos da dfvida afian- gadae,

3 " corolirio : Da fianpi resultam obriga~bes ou rela- t6es enlre o fiador e o crkdor, entre o fiador e o devtdor e enlre os con-fiadores (porque pode haver mais que urn fiador).

Entre fiador e ~ r k d o r hP as seguintes re la~6es ! o fiador obriga se a cumptir a obriga~30, se o devedor n8o cumprir. Mas o crkdor n30 poJe exigir o 6rlmprimento da obriga~ao ao fiador sem primeiro serem execulidos todos os bens do devedor principal, a nso ser que o fiador s t tenha obrigado como devedor prinuipal, leuha renunciado ao beneficio da excussso ou se o devedor principh ngo poder ser deman- dado no Pais.

&' o que dsspoe o artma 830.' que nos diz: +O firrdor na^o pode ser cornpelido a pagnf ao cr2-

dor, sern pre'via t ~ c n s s ~ o de fodos os bcns do devcdor, e.rcepto :

1.' - Se o findor se olrrigou Lono principal pagador;

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2.' - Se renuncio/, no bpneficio dn r x r u s s ~ o ; 3.' - Se o devedor nlro pode ser damandndo dentro

do reino:. Entre fiador e d e ~ e d o r estabelecem-se as seguintes re-

laq6es: se o f~ador pagar em lugar do devedor, Lste obri- pa-se par sua vez para corn o fiador a entregar-lhe o di- nheiro que t l e pagou, os juros deste dinheiro e a iademni- za.10 de perdas e danos.

E isto porque o fiador fica subrogado nos direilos do crbdor e, a16m disso, pagando, adquire direitos novos.

Assim, o Jetermina o arteo 838." : 0 f iador, quc for' obrigudo u pagar pel0 devetlclr, fern o direito de ser por 2.k indemnizado .-

1 .* - Dn av id& prirrcipaL ; 2." - Dos juros respccfivos ri qrrantla paga, con-

tados d ~ s d e gue n pngoa, ainda gue a divlda os nZo oren- cess- para o cridor ;

3 . O - Das perdns e dnnos, que ihc tenharn sobre- vlndo por causa do devpdcr.

5 ~inico - 0 que fica disposto neste an~figo cum- rrir-st-#, ainda quando a tdnn~a tenha sido prestndn scm conhecimento do a'evedor; mas, nrste cnso, 0s juros sd sergo contados, desde qrze 0 fiador nobciar o paga- mento ao devedor~.

Entre os vkrios con-fiadores e~tabelecem-se eshs rela- ~ 6 e s . o crtdor pode pedir o cumprimento de tbda a obri- g a ~ a o a urn sb dos fiadores, ainda que sejam dois, ires ou quatro; mas aquele que pagou tem o direito de pedir aos outros con.fiadores a sua quota-parte na responsabilidade, segundo o preceiluado no ar1.O 835.0 do C6dieo Clvil:

<Sendo vdrios as tiadores do mrstno d e ~ e d o ~ t peta rncsma dilrido, cads um dt'ies rdspondc pela totahdade, ndo hatvndo declamfdo em contrdrio ; mas, sendo deman-

dado sb algum deles, pode fane^ citar os oairos p a f a c@m 2 1 ~ st def'e~derern orc serent conjtlrzhnlen fe condena - dos, cada urn na szza parie; q nestc crrso, resporiderti sd nu f a l t a deEes.

5 Jnico - 0 benejicio (la div~s&o e d r e os con-jin- dores nrio se rlerifrcu nos casos am que se ndo dd a ex- cuss& confra o principal ~lerredorr.

A f i a n ~ a estabelece ulna garantia pessoal Nao SKO

bens cerlos e determinados que ficarn responsiveis pel0 cumprimento da obrigag80; s8o todos os bens, todo o patri- mlnio d o fiador. Por consequkncia, a fianga e uma garantia pessoal.

Antes dos aonfratos que vtm referidos na parle espe- cial das obriga~oes do Codigo Civil, b$ urn, a que j i nos ~eferirnos, que vern na parte final e diz respeilo i4 tranle- rkncia das obrigaqaes: a cessuo, e ha outro, que vem tam- bkm tratado na parte deral das obriga~aes e diz respeito a extingo das obrigaqees . a novog8a. E ainda na p a r k geral d a ~ obrigag6es se kaz referencia a outros contralos a-prop& sito-da garantia das obriga~6es.

A s garantias s8o reais e pessoais. Garantia pessoal t a fianqa: e a iianqa b constiluida

por meio dutn conlrato-contrato pelo qua1 uma pessoa se responsabil~za pelo cumprimento da abrigacao, quando o devedor a n%o cumpra, e responsabiliea.se por todos oa seus bens.

E' uma darantia pessoal, A ela se refere os arto: 8lP. e seguintes.

ArLo 818'. : e 0 camprirncnto da sobrdg~~bes, gut resuG tarn dos contratos, pod@ ser asstpurado por Ism krceire, que respondla pelo devcdor, s , as dilas obrign~Oes nao forcrn cuotpridas. E' n q~sc se chlma $ancab.

0 art." 818.\:.Pudem afianpr todos os que podern

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dontrnbar, except0 as !nu1 f~eres, ndo sen l o comerciantes. * 0 art." 820." :*As nlulheres ca sad~s sd padern ajiungar

cam consentimento express0 e por cscrilo do marido~>. E o art." 821,": (14 fiuncu pode ser eslipulada entre o

fiador e o crtdor, alnda sem consentlmento do devedor, ou do primeiro fludor, se ella se referir n i s b a .

Como v&ern, C a fianga um ~ua t ra lo que produz uma obriga~8o acessbria. A obriga~ao principal i a do devedor. A obrigaqzo do liador e ulna obriga~zo aceas6ria,

Portanto, a obrigafaodo Bador assegura o cumprimento da obriga~ao no caso de o dtvedor nit0 cumprir, E, porqlat a obrigaflo do fiador e uma obriga~ao acessbria, dai resulta que, porvirtude do art.' 822.", n%o pode haver uma f i a o ~ a vilida sendo nula a obriga~fio, corco j i vimos.

Ainda porque a obriga~ao do fiador d uma obrigacao acessbria, naa pode ela ser major nem maia onerosa do que a obriaa~po principal,

0 Liador nbo se pode obrigar por 100, quando o deve. do^ se obrigou por 8 0 ; o fiador n3o se pode obrigar corn encargos de juro de 10J ,o , s e 9 devedor principal se tiver obrigado com o encargo de juro de 8o/,.

E o que nos diz o art. 823." que ha pouco analizamos. Da fianca resultam relacaes juridicas, entre o crbdor e

o fiador, entre os varios fiadores, se forem diversos os fia- dares, e entre o liador e o devedor.

Varnos, sucintamente, dizer quais s8o essas r ela~ties. 0 fiador ebriga-se a assegurar a obriga~go no caso de

o devedor nZo pagar. Mas o crkdor nunca podt exigir o pa- gamento do tiador sem primeiro exculir todos os bens do devedor, salvo s e o fiador se obrigou como principal deve. dor, ou se o fiador renunciar ao beneficin de excuss30, ou, ainda, se o devedor n%o puder ser demandado no Pais.

E' o que diz o art. 830.' : . O fiudor nuo pode str

cumpelldo a pagar no crEdor, sem prkvia excussdo de todos os bcns do devedor, cxcepto:

1 . O Sc o fiador se obrigou como principal poglador; 2 . O S P renunciou ao beneficlo da .excussdo ; 3." Se o devcdor ndo pode ser demandado dentro do

r e i n o ~ , Estas sao as r e l a ~ 6 t s entre o crbdor e o fiador. Mars, sendo virios os fiadores, tambdm resultam rela.

goes enlre eles. Assim, a crkdor pade ptdir tbda a obrigag%o, quando

a pode exigir do fiador, a urn s6 dos fiadores, embora exis- tam virios fiadores; mas o fiador que pagou tbda rt obriga- ~ i o , existindo outros fiadores, tern direito de regress0 con- tra os outros con-fiadores,

E' o que diz o art." 835." := Scndo vdrios us fLudorcs do rnesmo devedor e pela rnesnla dtvida, cuda um deles responde peln totalldrrde, ndo havcnda declara@o em con- frdrlo; mas sendo de.:nandado sd afgurn deles, pode fazcr cltar os outros para corn ale s t defenderem oa sfreria con- luntamcnte condenudos, c ~ d a urn nla sun parte; e, nesle caso, responderd sd nn fulta deles.

5 6nico. 0 benefkio da dlvisdo cntrc os con-jiudores ndo s verifica nos casos f rn gue se nria dd a cxcnsscio codru o prlraclpal devedor*

Tambtm da f i a n ~ a resultam relaq6es cntre o devedor e o fiador.

0 Iiadar responsabiliza-se pelo devedor; mas, s e pagou pelo devedor, pode exigir dkste n8o s6 o que pagou, mas tambim os juros da importancia que pagou e ainda a inde- mnizaq%o de perdas e danos, pois o fiador fica subrogadl nos direitos do cridar.

E' o que dizem os art.'' 838: e 839 .O. . Preceitua o art.' 838.° :u0 fiador, que 101 obriigado a

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pagur ad 3 dfvedgr , tern o direlto de ser por $le lendem nlzado:

1,'-DP dlvida principal ; 2." - DJS juras rcspectivos d quanfia paga, contudos

d ~ s d e que a pagou, ainda que a divida os n~io vencesse para a crrdor;

3." -D IS perdas e danos, que the fenkam s J brpindo por causa do Qcvedor;

5 ~inico-0 que fica dlsposfo neste arllgo cutnprlr-se- d , aiada quaado a ,fianca tenha sldo prestada sem coahc- clmertto do dtvedor; mas, nsstc caso, os juras sd serdo conladas, desiie q a e o flador n?ldciar o pagarnento a0 devedoro.

E o arto 839.": '0 flador que pafou Q D crhdor ,ha subrogado em lodos 0s dipeltos gue o mermo crkdor iinha contra o devedor.

Q 6nico. Se o fiador, porim, trrrnsiglu con3 o credor, n i o po !e ~ i g l r do devedor sendo o que na realidude desernbolsou, exceplo se o credor [he fez a d~acdo de qualquer abatlrrtenlo feita nu dlvlda.

Mas, a-par-desta garantia pessoal das obrigaq#es, h4 garantias mais, que sLo constituidas pelo penhor, pela consigna~?io de rendirneotos e pela hipoteca.

Ora, o penhor e a consignaqZo d t rendimeot;~sfazem se por meio de contratos. A hipoteca, por sua qez, pode cons- tituir se e u par urn contrato, ou por urn testamento, ou ser deierminada por lei. For conseqileoaia, pode a hipoteca Mo resullar dum contrato; mas u peehor e a consigna@o de rendimeotos, resultam, necessiriamente, de contratos.

0 penhor dl-se quando a devedor nu a l g d a p r &la garante a obriga~Ia entreeando urn objecto m6vel ao credor au a alguem que o representt.

E' o que resulta do disposto no art." 8 5 5 . O , que dii: *O drvedor pode asscgurar o cumprimento d~ sua obrl- gacao, entregarrdo ao crddor, ou a quem o represente. algum abjeclo mdvel, para que Ihe slrva de YeguranGa. E' o que sc charna penhor.*

Do penhor lambem resultam relm~aes jurididas tntre o crtdor pignoraticio e o devedor, relaq6es que se tradueem nag obrigagaes consideradas no art." 860.', que determina: 4 cr2dor adquire pelo penkor o direito :

1.' - De ser pago dc sua dfvida pelo vaEor do pe- nhor, corn prejerincia aos demais credores do devedor ;

2." - De asap de dodos os meios cor%servatdrios de sua posse, ate' de reguerer proccdintento criminal contra paem Ihe furtar a coisa empenhada, ainda que seja o prdprko dono :

3.' - De ser iudemnizado das despesas necessdrias e tite~s, qae fizer corn o objecto empenhado ;

4." - De exigir do devedor outro penhor ou o cam- primenlo da obrigaycio, ainda antes do praao convencdo- nado, se o objecto do penhor se prrder ou diminair, sem culpa saa, ou se f6r exigido por terceiros, a qaem pcr- tenca, e quc n8o huja ~orrslrnfs'do no penhor*.

Por sua vez, o crkdor pignoratiaio contrai as scguintes obrigaCIes :

Art.' 861.' : 0 cridor .4 obrigado : 1.'- A censervnr a coisa tmpenhada, comu se f6ra

sua prdpria, e a responder pelas deferiorapTes ou prejuizos, qae ela padecer por culpa aa nrgligincia sua ;

2."- A restifair a coisa empenhada, logo que se cumpra infeiramente a obrigagifo, sendo-lhe p a p s t6das as drspesas, que fenlta feito coln a co&ervagCo de rnesma coise*.

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0 c r ~ d o r pignoraticio d o se pode pagar pel0 objtsto dado em penhor.

Suponhamos que A enlregou a B urn penhor para ga- rantir urn8 obriga~ao que contrafu: B n%o se pode pagar pel0 objeclo. Se A nao pagar, B ngo pode dizer: uTu n20 pagask; lego, &sse objecta 1 mew. Mas pode vendb-10 em basta pliblica, t pel0 valor do m6vel dado em penhor pode tazer-se pagar de preferencia aos outros crkdores.

0 penhor extingue-sc corn a obrigaflo principal. E' a coudigPo da obrigaea acessbria : acessoriu/n seqait prlnci- pakm (0 acessirio segue o principal).

S t a obriga~ao se extindue, o penhor extingue.se tam- bem. E o crkdor pignoralicio pode renunciar ao penbor. Supfie-se que Clt renuncia ao penhor, quaado entregue ao devedor a coisa que Ihe foi dada em penhor.

Tambim a ~onsignaqZo de rendimentos se constitue ptlo contrato.

Quande o delredor eonsigna os rendimentos de aerto imovml para pagamento dos juros ou do capital da sua obrigaqgo (ou do capital e juros simultaneamenie), diz-st que h i uma consignaqilo d t rendimentos.

E' s que nos diz o art. 873.- : ~ D r i sc o contrato dc consdgna~dria de rendinrenfos, quando o devedor estiprrla o pugamenfa sucessiva da divlda e seas juros, ou sd do ca- pitnl, oa sd dos luras, por mcio da nplica(bo dos rendl mcdor de cerlos e determinados bens Imobilidriosw,

A consignat$o de rtndimenios pode ser por certo nu- tnero de anos e pode ser por urn ournero ilimltado de anos ate padamento do aapital ou do6 juros ou de capital e iuros simultSneamente.

Mas, quando fbr por urn n ~ m e r o ilimitado de anos, tern

que no contrato de censiguaq30 de reudirnentos estipular-re quanto e letado em cada aao conta do pagamento ou da arnortiza~%o da obrigaq80.

Assim, preaeitna o art. 876: : - A consignagdo de rcn- dimentos pode fazer-se :

1." - Por determinado ndnleros dc anos; 2.0 - Sern numero determinodo de anos, mas aft! o pa-

gamcnto da guantia devida, que nestc caso serd especiji- cdrs, c tanibt'm dr seus juros, sc se devertm.

Ej unico. N o caso do ndmero 2.' dPste urtlgo, a con- signopao so' pode fdzer se, determlnando.se pr2rinmente a quantin guc em cada ano deve scr levada em conta no po- gamenfu, quer e rendimento seja srrpcrior, qucr inferhr d difa quaniia~ .

A-par.destas duas garantias reais - o penhor, consti- tuido por urn mbvel, e a consignaqgo d t rendiment, n ~ , c ~ n s - titulda pelo rendimento durn im6vel- hi ainda a hipoteca, que pode ser constituida, corno atrPs ficou dito, ou por urn contrato ou por urn teslamento ou, ainda, par disposicao da lei.

0 art. 888.0 define hipoteca corno en do o direilo pelo qua1 urn crkdor C pago, de preferencia aos outros cr&dores, psr certos im6veis dados em hipoteca, contanto que esta seja registada.

Art. 888.' : * Hfpofeca i o direito, concedido a certos crddorcs, de rercm p q o s pelo valor de &ens :mobllldrios d o devedor, c corn prejertnciu, n oulros crtdores, achnrr- do-se o.s seus criditos devidarneade registadosr .

Como dissemos, a hipoteca pode ser cooslituida por contrato ou por testameuto (art. 910.") ou por lei (art. 906.").

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0 art. 910.@ddiz: aAs hlpotecas twlntttdrlas nascem de corzlrata, ou de dispusigrio de ultinzu vontade*.

ti o art. 306.' preceitua: u 0 s crddores, gut t2m hipo- teca Lqal, para reguronca do pagamento das suas divl- das, sdo:

1." - A fntsnda naciorral, as cdmaras municipais e 0s estabelecirnenfos pu'blicos nos bens dos rrspectivos funcio- ndrios responshvels, e nos bdns de scus fiadores, na confor- rnidade das leis fiscais ou udministratlvos, para paga- mento das quaafias em qrre Jicaram alcangados, oa pelus quais se t o r ~ a r a m raspensdveis;

2." - 0 n t m r , o ausenie, o Inferdito, e, em geral, tddas us pcssoas prlvadus d a admlnistragrio de seus bens, nos dos seus lulurcs, curadores ou adminbfradores, para pagamento dos vnlores a que deixararn ds dar a aplicacrio dtvlda, qtre ndo entregararn compcfentcmcnte, ou que d d - xaram perder por culpa oa dolo ;

3.'- A mulher cnsoda por contrado dotal, nas bens d o marldo, para pngamsnfo dos valores mobilidrios aotais e dos aljlneks estipulados ;

4.'- 0 cdnjuge sobrevivo nos bens d o cBnjuge falc- cldo, para pagarn?nfo do apandglo o quc Icnha dircito;

5."- 0 c~kdor por allmentos, nos bens cujo rendimen- to se deslgnou para os satisfazrr, ou cnz quaisguer bens do d-vedor, quando nrio haja designa~rio;

6," - 0 s esla6elccimenfos de cre'dilo predial, para pn- gnt~rento de seus tttulos, n i s &ens que ou rnesrnos tilulos desigrzam ;

7." - 0 s co-herdeiros, para pugurnento das rcspcctivas lurnas nos bens da heran~a su]eifos a isse pagamento;

8 . O - 0 s legatdrics de quantia ou valor drberminudo, ou de prestncGes periddicas, nos bens sujeitos do rncargo do Legndo, para puganento do mesmor.

0 que disscmos a respeito do penhor, repdImo.lo a respeito da hipotec:i : 0 rrddor hipotccirio n2o pode, no caso de faita ds cumpriniento da obriga~ao, pegar no imb- vtl que lhe foi dado em hipoteca e racionar dtsta maneira . u Como nao ine pagaste, fico coln o prkdio Tern de mow ver urna execu~Ho hipatechria e, depois, nessa exeaugzo b yendido o pre'dio dado em hipotdca, e peIo prcqo qae pro- duzir esse im6vel em hasta publica. Lle tern preferencia sbbre e s oulros cr6dores do devedor. E' a doulrina do artigo 903.", que nos diz :

0 cridor niTo pode, s o fa l fa do pagamento, apro- priar-se do pre'dio hipofecado, excepto arremata~d0.0 em p r a p od sendo-Ehe adjndicado; mas esfa arrernatac&o ou adjudicapfo far-se-d scmprc, seja qua1 fdr o valor do prkdio e o dn divida asse@rada por hipobcca, salvo st o crkdor consenfir em oufra coisa X. .

Mas os atrlbutos da bipoteca sEo a publicidade e espe- cialidade.

Para que a hipoteca possa prrrduzir estes efcitos, pre- ~ i s a d e tet publicidade, ('publicidade que O dada pelo re- gist0 ) e precisa de recair sbbre im6veis certos G determi- nados, ao menos aproximadameate : e o que se cbama o aiributo ou repuesilo dr especialidade.

Vou explicar esta express80 : ao menos aproxi- madamenit 3.

Por vezes, quando se constitue urna hipoteca, hipolecam. -se todos os bens. O devedor hipoteca os bens que j i tern e os que venha a adquirir por titulo gratuito ou oneroso,

Claro t que quem hipoteca os bens qlte venha a ad- quirir, nZo faz hipoteca de bens certos e determinados. Donde, parecer que n&o h i nessa hipoteca o requesito da especialidade.

Mas e precis0 notar que, quando vern os bens ao pa-

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trim6nio do devedot, o crCdor tetn necessidadt de fazer o registo d&ssts bens. 0 titulo conslitutivo da hipoteca diz : Todos os bens do devedor * , isto t, os bens que ele pos-

sui e todos aqueles qut veaha a adquirir a titulogratuito ou oneroso. Mas, depois de o devedor os adquirir, o cridor nesst caso j i rai registar certos e determinados bens adquiridos.

De maneira que, porvirtude do registo, ficam deter- minados os bens, verifica.se o requisito da especialidade. E, sem se fazer Lsse registo, tsses bens n8o dHo prefe- rtncia ae crkdor.

A hipoieca esta sujeita a registo, como se p d e ver da leitura dos art."" 949." e 951." :

Art." 949." : Esddo sidjeitos 00 registo : 1."- 0 s dfreiios reais sabre coisas imdvels ; 2,"-0s dnus reais ; 3 . O - - ~ s acgaes reals sabre designados bens fmoblilb-

rios e guaisquer oulras quc se dirlgem a lraver o dominio c posst deles ; as ar~aes sabre nulidade do re,olsto ou o seu cancelamtnto; e as senten~as proferidas e passadas em juiqado sabre quulqmr destas accacs;

4."-As dransmissiies de propriedade imdvcl por tftule gratudto ou oneroso e todas as Crlrnsmissdes de bens ou direitos imobiIbWos ;

5.' - A mera posse, 5 1,"-Sd se repidtam dlreitos reds, para os efeitis do

n." 7." dbte arifgo, o dom&nio ou proprfedade tmdv~l e as praprtdades Lmperjelfas ou imabilidrias, enumerndas nu art: 2187.' do Cddigo Chil; mgs o repsto do dominio e o das scrvidaes apiarentes, cujos slnafs exterlores scio per- mmentes, serd facultatlvo,

5 2." - Apenas se considemm dnus rcais, para os efeifos do n .9 ." diste urfigo :

a) As hipofecas; k! A perihora e 0 nrresfo s6bre bens imbilidrios on

cridifos hipofeca'rios ; C) 0 penkur em crdditos hipoteedrios ; d) O dote ; e) O arre~damento por mais de urn ano, havmdu

adiame!lfo de renda, or^ par muis de quatro, nko o ha- vendo :

f ) ' A consignagEo de rerrdimentos, para tiagamenfo de guanfia deferminado oa por determinudo nlintero de anus ;

8) A adjudica~a"~ de rendimenlos; 5 3.'- Na hipofecn das fdbricas, alh dos edifieios,

logr~dorrros e perteapus, considerados imdveis, cornpreen- der-se-80 tambPm os mflquinismos e moveis, desfinndos a resper fiva exploragdo, in ventariados no f ttulo cons f l f ~ t i v o

aliefiar, oaerar ou refirar dos respectivos edificios sem licenga, por escrito, do cridor, sob as penas e responsa- bilidades cios itzfieis deposit6rios.

5 4." - 0 rcgisto de sert.rd6es milifares continua a refular-se peIa lei de 24 de Maio de 1902, coprr ns alfe- ra&s introduzidas pcla legislago pcsterior ( I ) .

0 registo pode ser provisbrio e definitivo. Diz o art." 967." n 1." : *Poddm ler regisfo provisdrio: T6das as hipoiecns volunbdrhs, e as legais ntenciona-

das nos n." 3 . O e 6.' do arligo 906.".* 0 retisto providrio pode fazer-se ou ir cautela cu por

dBvidas. Faz-se a cautela, quando o aridor hipotecirio, para fi-

car bem garantido, exige que antes de emprestar o dinheiro se faga o registo provis6rio da hipoteca.

(1) Vide na plg. ZW] do C. Civil.

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Como hao-de ver, depois, os registos ralem pela data da prioridade.

Num registo de hipoteca feito depois do registo de outra hipoteca, qnem tem a preferdncia C o primeiro crMor hipoteciirio, aquele que registou primeiro o reu crtdito.

Uma hipote~a ieita depois durn rtgista de alienapo j6 nio pode ser registada.

Suponhamos que A tinha um predio e o alienou, e g u t o adquirente foi registar essa transmiusao. Quando o crLdor hipotecirio vai fazer a registo da hipoteca feita pel0 vcnde. dor, eacontra ja o prCdio trans~nitido a outrem, e, por isso, 16 nLo pode fazer o registo.

De maneira que, a cautela, muitos estabelecimentos de credit0 (por ex ; a Companhia dn Cridito Predial, Q Monte- pio Geral ou a Caixa Geral de DepSsitas) n90 emprestam corn garantia hipoteciria sem qua primeiro seja registada prorisdriamenle a bipoteca, que 6 para evitar uma fraude.

Suponham que aquele que pediu dinbeiro amprestado, veodeu urn pridio e quc o adquirente d&sse prCdio ia re- gistar a transmissZo. Suponham que aquele que pediu urna quantia emprestada corn garantia hipotecaria ia registar uma outra hipo~eca antes do crkdor que emprestou o dinbeiro. E~identemente que havia uma fraude, t o crbdor ficava prejudicado, Ficava a sua hipateca em segundo lugar eu entao ficava uma hipoteca que nzo podia registar e aao produzia efeitos.

Por conseguinte, muitos crbdoreu, i cautela, pedem o redisto provisirio da hipoteca antes de fazerem emprkstimos. E ntsae caso & o prtlprio devedor, o dono do predio hipo- tecado, que vai pedir o registo provisbrio,

Outras vtzes, faz-se urn contrato ou de alienaq8o ou de hipotcca ou qualquer outro contrato sujeito a registo, mas esse contrato tern deficikucias, irregularidades d e que resul-

tam dirvfdas a n s p t i t o - d a sua validade-e o conservador do registo predial nao faz o registo temes entPo o registo provisijrio par d6vidas.

0s rtgistos a30 hoje disciplinados num diploma especial charnado C6digo do Redisto Predial, mas tambtin se laz refertocia ~ D S registos no C6digo Civil. B, como n6s, aqui, n3a podelnos estar a ocuparms do C6digo do Rtgisto Predial, par isso citamos a Codigo Civil. Mas, o que precisam d e saber B is lo: os registos s2o hoje disciplinados por urn drploma chamado C6digo do Rtgisto Predial; 6 ai que se vHo buscar as disposi~7Jes que se apliaam em mattria dc rcglsto.

Pais o registo provisbrio, d t que lhts venha dt falar, s e fdr convertido em definjtivo no pram durn ano, dL a favor de quern Ibr feito a prioridade no regirfo.

Se o registo definitivo nao fbr ftito dentro durn ano, o registo proris6rio cadnca. Eat@, o registo definitivo i teito sem prejuizo dos registos feitos por sua rez antes do registo prorisdrio.

N6s partimes dtsta regra : o registo dB prioridade coa- forme a rrdem par que foi feito.

Exemplicando : Hii irLs orbderes : A, B e C. 0 primeiro que cmprtstou

foi A, o segundo fai B e o tcrceiro loi C. Mea C, apesar de ser o dltimo que tmprestou, loi a primeiro que fez o rcgisto.

0 primeiro crtdor hipotecirio, aquele q u t ttm priori- dade, i C , a-pcaar-c?e ter empreslado depois da B 6 de A. E' que tern o seu registo Ieite antes du B c de A.

Pnrtimos desle priacipio. Fez-st urn reiisto provia6rlo. ksse registo provio6rio foi ao praro durn ano convertido em definitivo? Entia, a prioridade do registo 6 a prioridade quo deu o registo providrio.

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Se, porkm, o registo provisdrio 1120 se conver~ei em defiuitivo no pram durn ano, perdeu.se tbdd a prioridade para o registo provisoria.

Suponham que A, B, C. sBo orbdorea. A , que foi quem emprestou primeiro, tinha urn regiuto provisbrio. Dtpois, emprestou B e fez urn registo definitivo. Depois, emprestou C e fez urn registo definitivo, A esqueceu-se de 110 pram durn ano converter ern definitivo o scu reglsfo provisbrio, Quande acordou tinha passado urn ano; foi fazer o registo definitivo, jB. depois de 6 e C.

Foi o prirnciro que emprestru; era o que tinha a prio- ridade do registo provisirir. Mas, porque n8o converteu o registo provir6rio em definitivo no prazo durn ano t, entre- tanta, B e C fizeram os seus retistos, A, qnanda ra i fazer o registo delinitivo, j6 nUo consegue a prioridade.

Pois bem: tambtm a hiputeca dd uma tarantia real as obriga@ss.

T a m E m a hipoteca, por rezes, e constituida por urn conlrato e, cnlgo, chama-se hipoteca vo1untiri~-ainda que hd hipotecas voluntarian constituidas por testamento.

€'or vezes, a hipoteca, conseqiientemtute, t consti- tuida por urn contrato que i tratado nas disposi~Bes perais.

Astim, chegamos ao fim do estudo das.obriga~6es.

-Canceito e defIniqw de direito real.

- Cancslto olassico.

-0 nosso conceit0 db direito real.

-Crltica da doutrina cl8sslca,

-Determinap80 e classificapho dos direitos reais.

-Propriedade e posse.

-Jura in r e aliena.

-Poderes do proprietPrio ;

a) no Direlto romrno;

b) nos codigos modernos.

-Justificaqao das llmitaqdes dos po- deres do proprietArio.

--Orlgem e natureza jurldica da posse.

-Elementos constitutivos da posse.

-Conceits de posse no Cddlgo Civil portugues e legislacao posterior,

--Qualidedes ou requisites da posse.

V l o l o s da posse.

-E fe i to~ da posse,

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Vamos, agora, entrar num outro ram4 de rela~6es juri- dieas : os direitos reais.

Na doutrina classica dizia-se que os direitos reais eram relaqfies direetas e imediatas duma pessoa sdbre uma coisa para tirar dessa colsa as utilidades que ela preslava e que cram conformes h lei.

Modernamente - e Planiol foi dos primeiros a atacar aquele conceito - entende.se, e iustamente, que, sendo a relapiio juridica rela~go da vida ~oc ia l e sendo as relaq6es da vida social re la~6es de hornem para homem, a80 pode haver uma relaqBo juridica que seja uma relacgo directa e imediata sabre uma coisa, porque isso equivalia a elerar uma coisa a sujeito passivo duma obriga~go. E, desbe modo, tCm.se formado virias doutrinas de direitos reais: a) dou- trina monista personalists, que ~onsidera o direito real como uma obrigaq80 passivamentt universal; b) doiltrina monista objectivista, que, PO contrar~,, idealifica a obriga- qLo corn o direito real; e c) outras doutrinas, entre as quais a que defendernos. (I)

Eu, por mim, defino os direitos reais como aendo a re- lagao juridica em virtude da quai uma pessoa (sujeito acli- vo da relacao) lira duma coisa a s utilidades que esta pode prestar conforme a ordem juridica obrigando-se tbdas as ou- tras pessoas a respeitar o direito do sujeilo activo da rela- ~ H o juridica.

Examino, assim, a re la~ao juridica de direilos reais pel0 lado externo e pelo lado interno.

Pelo lado interno, estou de harmonia corn a doutrina classica : urn direito real i uma rela~Bo juridica duma pes- soa sbbce urna coisa para aproveitar as utilidades dessa coisa.

(I) Loglo na prloeira parte das 1ico"es quz fix em 1936-1237 ao curso de Direitos Reaio ataco este problema

Sob o .ponto de vista externo, urn direito real i urna re la~%o juridica entre urna pessoa, dum lado, sujeito activo, e todas as outras pessoas, doutro lade, sujeitos passives.

Exemplificando, para melhor compreensPo : Eu tenho urn autorn6vel. Tenho o direito de proprie-

dade sobre urn autom6vel. Seeundo o conceito otassico, esse direito era uma rela-

GO j~~rfdica sdbre uma coisa, sbbre D autom6ve1, para tirar dCde lbdas as utilidades que t l e pode prestar.

Mas, sendo assim, iarnos ficar corn uma relaqgo juri- dica sem sujeito passiva, urna reIaq5o jurldica amputada, e urn homem nao pode ter urna r e I ~ ~ % o juridica corn urna coisa, A coisa [em de ser sempre o obiecto e n%o o sujeito duma rekaQo juridica.

Corn a distiqBo que eu f a ~ o , o rneu direito de proprie- dade e uma relagso juridica entre mim, como sujeito acti- vo, e os outros homens, eomo sujeito passivo, que tem por objedo urna coima- urn autom6vel- e por fim o prcstar. -me o aufomovel as utilidades que &Is pode dar de harmo- nia corn a lei.

Proprledade e posse. Dirc,itos reais ssbre cousa prd- pria e dlreitos reais sBbre coma alheia. Ji examinimos anleriormenle o conceito e os caracteres dos direios reais. Agora, varnos proceder a sua determinac%o e clas- sificacao para em seguida examinarmas os princfpios fun- damentais da figura jurfdica de cada urn deles.

Sendo o tipo mais completo e mais caracteristico do direito real o dlreila d t prop ledade, 15 da definicao d&ste que deremos partir para a execu@o da tareia a que neste parigrafo nos propolnos a determinac%o e classificac~o dos direitos reais. 0 direito de propriedudc e o poder que uma pessoa tem,

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sbbre as cousas qne lebitimarnente adquire, de lirar delas tbdas as utilidades econ6micas, que a urdem jl~rldica lhe consente.

Muito semelhante a bste, e que como direito real ngo pode deixar de considerar-se tambtm, e o d i r ~ i l o de posse, isto i, o poder que o homem exerce sbbre as cousas, de que se apoderou, mas que ainda Ihe nHo pertencem em pro- priedade.

Tanto o proprietaxio como o possuidor tiram da cwsa as utilidades que esla forneae: mas, enquanto o proprietdrie adquiriu ji, legitirnamente, a cousa que disfruta, o possuidor exerce o seu poder (juridiso e certo, pois que &le e reconhe- cido e defeodido pela ordem juridica) sdbre llma cousa que Jhe ngo pertence em propriedade, isto t: que ainda n3o rd - quiriu ligitimarnente ( I ) .

10 poder de faclo exercido sbbre cousa alheia, quando C acornpanhado do animus sibl habendi, ou seja, a inteng%o de censervar H cousa pos~uida como propria, e muito especi- mente sendcpela boa-jd, qae e a idnorlacia do direito alheio, constitue uma situa~ilo juridica inteirarnente aoaloga a do dirtito de propriedade, e de tal modu que corn o decurse do tempo ntle se converte pela usuc~pido ou prescrifdo adgaisi- fiva.

aE, assim, os tipos principals do dlreilo real dao lugar a classifica~lo em direitos reais sbbre cousa prbpria e direi- tos reais sdbre cousa alheia (Iura in re nlienaj.

c Mas os juts in re aliena n8o s%o os direitos derivados da posse.

( 1 1 D i ~ c u t ~ + s e st? a possz podcri ser considerada urn d ~ r e ~ i o real POI agora L~rnitar uos-emos a dizer que como t a l s conslderamos risto ser garaniida e recanhecida pela ordem juridica.

Mats adtante, vollaremos a ocup ~r-nos dEste problema e entao cola mais detalhts e.;amlnaremos a natureza lurldica da pusse.

*S?o rnuito~ e variados, de natureza e intensidade muito diversa, pois que Cles sao o resultado d l decomposi@o ou desdobramente, lemporiirio 011 perpdtuo (dos diversos poderes juridicos que re conteem no direito de propriedadt, e consistem na atribai'qgo de alguns dksses poderes a titu. lzres diferentesa ( I ) ,

Na verdade o direito de propriedade engloba em si di- versos outros poderes ou direilos (Y) %uja descrirninaqBo i feila pelo nosso C6digo civil, nos seguintes termos: K O di- reito de propriedade abrange :

1." 0 direito de fruigilo; 2." direiio de transkorma@o; 3.' 0 direito de excluslo e defesa; 4 . 9 direiio de restitui~iio e indemnisaGo, nos casoe

de riolaqgo, dano ou usurpafao: 5.. 0 direito de alienaqlos (Art. 2169."). Nesta descri~l~inaqao segue o nosso C6digo uma tecnica

especial, que em nenhum oulro C6digo a encontramos e~ita- belecida em idknticos tcrmos.

No direito romano, ou melhor, no direito post-justinia- neu, trCs e r a n ~ os direitos fundamentais em que o direito de propriedade se decornpunha: o /us utendi, o jus fruendi e n jus abrrtendi.

Nos c6digos franc& e italiano o jus sfendi e o jus frubndi, aglutinando-se, derarn origem ao dlreito d e ga^zo,

0 ]us abutmdl, merct dos limites que da teoria do abuso do direito resultaram para os poderes dos proprieta- rios, passou a designar-se, lnais correctamente, ddrelfo de

dlsposf (do.

! I ) Prof. Dr. Jose Tavares. 0s Pr~ncipios. I, 1 a ediqzo, pig. 5Y9 ('J Empregarnos indistiulrmente as expreSs6es podc? s ddralo

aquelc 6 o termo apropriado A tdcaicl da escola realista franccsa; Cste termo que conrCm i ticnica clissiea .

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Deste tnodo, h face dus c6digos franc& e ilaliano, o direito de propriedade decornpae-se nos direitos de g6zo e de disposigo.

Nos c6digos mais recenks--suisso, alemaa e brasileiro - 8ambkm esta descrirnina~Zo 6 diterente do estabelecido no art, 2169.' do C6dito civil portugu&s.

Mas quer se diga que o direito de propriedade se de. compBe nos direitos de uso, trui'~8o e abuso, quer se diga que d conslituido pelos direitos de gbzo e disposi~80, ou quer se diga ainda que se decompae nos direitos de frui'flo, de transformac%o, de exclusao e dtieza, de restitunflo e de indemnizaqgo t de alienaqio, sempre a idea traduzida por essas palavras sere a mesma.

Assim, relacionando a tecriica do nosso C6digo cam a dor c6diios Lraoc&s e italiano, verificamos que 80 direito de gbzo corresponde o direito do frul~%o e que o direilo de dis. posiqgo encontra e seu equivalente no direito de transfor- ma~ao .

0s direitos de exclusio e defeza, restitui'g30 e indemni- zaq30 e de al iena~ao nPo s3o poderes especificos dos direi- tos de propridade, p i s existe relativamente a qualquer ou- tro direito.

Ora tstes poderen contidos no direito de propriedade ttm por titular, umas vezes, a mesma pessoa juridica e, ou- tras rezes, ptssoas dilerentes : no primeiro caao temoa o que se chama a propriedade perfeilr que oconsiste na frui'flo de todos os direitos, contidos no direito de propriedadt* (art." 2187.* do Cbdigo civil) e no segundo caso temos a propriedade imperfeita que ~consiste na frui'qilo d t parte dCsses direitos* (art.' 2187." in fins do C6digo civil).

eSiIo propriedades imperfeitas (art," 2189."), as se* guintes :

1." enliteuse e a subenfiteuse; 2." 0 censo;

3 " 0 quinhao; 4." 0 usefruto, e o uao e babita~go; 5." O compascuo; 6.' As serridfies*,

Esta enumera~Qo do C6digo civil L defeituosa: n8o por- que seja incompleta, mas porque considera propricdadcs inst. ~ U ~ O S juriricos que deviarn ser antes considerados jui6a in re alietru, visto que nelas nlIo encontramos a element0 especifico do direito de propriedade.

Este elemento especifico do direito de propriedade c o direito de disposiqgo : onde ts te faltar existira tudo menos urn direito de propriedade, mesmo imperfeilo que seja,

Ora, excluindo a enfiteuse, em nenhuma das outras f i - guras juridicas indicadas no art. 2189." eocontramos aquele poder de disposi~%o, pelo que a s consideramos nzo proprit. dades imperfeilas mas jura in re ~ l l e n a .

E tanta assim 6 que os art." 2196.", 2266." e 2267.'. que se referem ao usufruto, comphscuo e servidso, nao nos dizem que o titular desses direitos possa dispor da cousa mas sim que & I t pode ~convert t r em utilidade pr6pria o uso ou produto de cousa a lhe ia~ , ou en120 falam-nos e m [pro- priedadtr oneradas~. (1)

Jure I n re aliena. Direklos reais de gdzo e direitos

I I) Art.O 2197.': *Usufruto 6 o dircito de canner& em ulllidadc

p~6Wia o uso ou produt~ de cousa alheia, mobiliatia ou imobilidriau. Art.' 2266 " : .As propriedades onarodos corn c e q s pctpuua de pas-

tagcm, por algum titulo particular, poderao ser isentas dZsse encargo, medhnte o pagamento do justo valor dele".

Art.0 2267 o : oSertidPo t 4 tirrgo irnporta em qualqucr prtdio, em proveito ou scrr i~o de outro pridio pertencenle a dono diferentc ; o prtdio suieito a servidio diz-ss -serrieate-e u que dela se utiliza - domisaute -

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rP )is de dlspasipio. Dos direitos yue recaiem sbbre cousa alheia nos dizem respeiko ao direito de g820, outros BO di- reito de disposi@o, e que nos conduzem a elassifica~Zo dos jura in re alien0 em direitus reais de gbzo e dirertos. reais de disposi@o, a que alguas escritores c.ha~nam direitos sb- bre o valor do usa das cousas e direiios ~ b b r e o valor de troca e qiie o nosso C6,iigo denotnina de direitos reais de gbzo e direitos reais de garantia.

NHo seguitnus a ierminologia do oorso C6digo porque hoje os chatnados direitos reais de garanlia n%o ieem como Jnica funqSlo a de garunlif urn direito.

ho lado da hipoteca adjecliva ou acess6ria dlrtn credito surge.nos hoje, em alguiuas legislac6es, uma ouira espdcie de hipoteca --a substaotiva - autonoma e independenie do cr&dito que garante.

No dircito civil suisso, por exemplo, h a trbs espdcies de hipotecas: a hipoteca prbpriameule dita ou adjectiva, a hipoteca renda fundiaria a a cddula hipoteciria.

0 aparecimenlo destas trks espicies de hipoiecas no C6digo civil suisso explica se por ulua r a d o histdrica ; ante- rior~nente a sua elabora~ao cada canti%o regia-se por normas prrj+~rias, de modo qua era possivel o aparecimento daquelas tr2s especies de hipoteca.

Nos cant6es do ocidenle vjgorava a hipoteca adjecliva, a que. se encontra em todos os cadigos de tipo napolebnico ; nos cant&% do cerltro vigorava a renda fundlaria ; e nos cant6es do oriente usava-se a cednla hipotecaria.

0 Codigo C'ivtl tuanteve a existencia dkstes Irks tipos de hipoteca sujeitos a regiiiles juridicos diversos.

A iripoteca adjectiva C urn direito real qoe garaute uma obrigaq%o pnssoal. A sua cessHo faz se como a de qualquer outro direilo real, ficaudo o cessioniirio stj corn i s direitos do cedente. Se a cousa dada em garantia real 1120 :Br nufi- cisnte para o pagarnento da obrigd~ao pessoal, v crbdot hi-

patecirio pade, na qualidade de cikdor cornurn, exigir que lhe seja paga a parte que falta, pelos outros bens do de. vedor.

0 maior inconvenienke desta prirneira espCcie de hipo- teca estii ern que o cessionar~o. no caso de cessgo, s6 ad. quire os direitos do cedente ; ozo pode adquirir mais.

A rcnda fundidria e itnpessoal e irresgallvel. Quern deve nao d a pessoa mas a cousa, o im6vel.

Por out o Lado, o crtdor nPo pode exigir o pagamcnto do seu cridilo, salvo se o im6vel se liver desvalorizado por tal forma que seja iosu~icien~e para o pagarnento da obri- g a ~ P o ou se o devedor faltar ao pagatnenta dos descontos, isto e, dos juros da obriga@o. Fora d&stes casos -repeti- mos - o crkdor hipolecarlo, porkador iia rellda fundidria, nllo pode exigir o pagaruenio do credito,

0s 'tilulos d3 renda fuodihria sso emitidas pelo conser- vador do registu predial, no momento em que eiecrua o re- gislo da hipoteca em presenca da escritura respectiva, oa qual se declarou qual o tip0 de hi~oleca conveucionado entre o crkdor e o devedor.

0 s iitulos representatives da renda [undiaria s8o de duas espdcies : a ordem e an portador. 0 s primeiros trans- mitern-se por endosso e os segundo~ pcla silnpes fradi l io,

seodo os juros da obriga@o ou a priipria divida, ern qual- quer dos casos j4 iodicados, exigidos por quem s e encon- trar na posse dos litulos, no momento do seu vencimento,

Este segundo tip:, cie hipoteca d, como fAcilmenle se conclue do que lica expoato, vr\ntajosissimo para a cirr:ula- G o comercial. Tern no entanto o inconveniente de ser sb- rnente real e n8o tatnbem pessoal, pois que se por ql.~al- quer motivu ou ciriunst&ncia a cousa se desvatorizar ou dtixar de ser sulicienle para o pagamente do crkdito, o por- tador do titulo d o pode exigir mais do que o valor da cousa.

Para evitar o inconveniente da renda fundiiria exisle o

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outro tipo de bipoteca-a cidula hipofecaria. Esta e tam- bem de duas especies: a ordem e ao portador, transmitin- do-se no pri~neiro capo por endosso e no yeguode pela sim. ples lradigso. Aquelc a quem a cCdu1a tiver sido endossada ou que a liver em seu poder, se a cedula t ao portador, d a pessoa legftima para crigir do devedor aquiio que do ti- tulo conste,

Mas, contrariamenie ao que acontece corn a renda fun- diiria, este tip0 de hipolem t , al tm de real, pessoal, dt mod0 que se o imovel sbbre que recai o 6nus se tornar in- suficiente para o patamento da dirida, o credor hipotecario pode, como crkdor cornum, exigir do deredor o pagamtntu do restante.

Alem das diierenqaa j i indicada~ eatre os trks tipos de hipotcca, oufra existe resultante das nalurezas juridicas res- pectivas : na hipote~a edjecti~a pode, urna vez que ela e pessoal, o imdvel onerado perlencer a urna pessoa que nPo seja o devedor; nas outras duas esptcies k necessPrio que o devedor seja o possuidor do im6vel dado em hipoteca em virlude do caricter da realidade que esta reveste.

No direito alcmao o regime juridico da hipoieca 6 muito semelbantc a este. Tambem 11ele existe a renda fundiaria e a hipotica adjsctiva.

De todos ester tipos de hipoteca o dnico existente en- ire nos C o da hipoteca adjectira.

Estas considera~fks sbbre o direite cornparado v&m mos- trar-nos a evolup%o que o regime juridico da hipoteca tern sdr ido e o seu conhecimeoto e para n6s part~cularrnente in- teressante, nurn momeuto e m que s e fala na modificacao da eslrulura juridica da hipoteca. Por outro lado corrobora a afirma~fio, par 06s feita, de que boje a fun~iio da hipoteca nil0 e de simples gdraotia. Corn efeito, o credor hipoteca- rio, segundo o lipo da relida fnndiaria, mais do que cr rri-

reito de garantia, iem antes urn direito de disposi~so da cousa.

Assentarnos pois na terminoloiia seguinte : as lura in re alitnu classificam-se em direilos reais de gbzo r: direitos reais de disposi@o.

SBo direitos reais de gbzo o censo, o quinhzo, o usu- fruto, o uso e habita~30, o compascuo e as servid6es.

Ntste poslo estarnos em desacbrdo corn o Prof. Dr. J O S ~ Tavaret para quern os direitos reais d e gbzo se redu- rem an usufruto e a servid8o. Nega a qualidade de direitos reais de gbzo ao us0 e habita$Qo porque --djz - silo ape- nas modalidades reslritas do usufruto. Nega-os tambim ao compiiscuo e ao quinhso porqlre s lo modalidades d e com- propricdade e ago a reconhece, tarnbbm, as ctnso porque bste, sendn de duas esp6cies - o reservativo e o consigna- tiqo- o primeiro C equiparado a enfiteuse (art.f1707.0j e o segundo (art." 1644.O e segs.) pela sua analogia corn a consigna~iio de reodimenios e porque e D efeito e garantia duma obrigapgo, nZo deve qualificar+se como direito real (1).

Nao concordamos cam a opiniiio do ilustre prolessor, porque se o usufruto e a cornpropriedade s8o direitos reais como fa1 devemos tambirn considerar as suas modalida- des: o uso e habita~iio, o compascuo e a quinmo.

0s direitos reais de disposi~io sao: o peahor, a hipo. teca, a anlicrese c as figuras processuais - arresto, pe- nhora e adjudicaqiio de rtndimentos.

A natureza da realidade dkstes direitos parece nZo dt- ver levaatar du'vidas, porquanlo, tanlo o crkdor fiipotechrio camo a pignoralicio, coma o anticrk~ico podem, em certbs casos, fazer qut seja veodida a coma dada em garaotia. Teem pois o poder de disp;)siqao sdbre a cousa, embora la1

( I ) Prof. Dr. Josh Tawares, ob. cit , 1 .a e d i ~ i o . p ig 602.

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poder shmente. possa ser exercido desde que sc rerioquem cerlas coadi~ijes.

Corn a -arresto, perrhora e adjudicagao de rendimentos 0 mesmO acontece, o que i~lias nPo e de admipar pois.sgo figuras d t direito adjeotivo rnuito parecidas corii a bipoteca, penhor e anticrese.

Mas, akuns aulores consi&eram ainda entre os direitas reais de disposi~ao o direito de retencgo e os priviligios credifbrios.

l Que pensar duma la1 doutriaa ? Julgamo-la errada, pois entendemos que nem o direib de reteygo nem os ~rivi lk- gios crtditbrios podern ser considarados direitos reais.

0 direito de reten~%o que definimos cotno senda ~o di- reito de conservar a cousa de outrem que ja possuimos par titalo legititno at6 que tste satisfa~a alguma obrigaqao q u t nos .deve relativa a mesma cousa. e urn direito pessoal e nil0 real, coino prelenctem alguns escrilores, A r a d o por que nssirr; o considcramos C intuitiva. Corn eieito, embora as dircitos de seqiiela e de prefirtncia uao sejam ~aracterislica essencial, especifica dos direitos reais ( pois tais direitos acornpanham, por vezes, cerlos direitor pessoais), a verdade C que nSo ha direita real algkm que seja dzsscompanhado daqueles direitos.

Ora, o direito de relen~go nlo e garantido nem pelo di- reito de seqlela nem pelo direi~o de preferencia. Nso o acompanba o direito de seqiiela porque logo que o crkdor corn direito de retengo larga a rn%o da cousa j i a nBo pode retomar; nZo o acornpanha o direilo de preferkncia porque no concurso de credorrs, o crhdor corn direito de re ten~Io t considerado credor cmnum e crkdor pririlegiado. l? cel-to que, par VCZUS, o cridito do cddor corn direito de reten~iio goza d e privilegio (art. 882,") mas esle embora apareja CIJ-

mulativamenle corn o direifo de reteoq8o 0x0 tern &ste di- reito por migem.

T a m E m n8o consideramos as priviligios credidrios direitc~s reais, porque, embora sejaru acompanhados pel0 di- reito de preferencia, o que i certo t que o privilegiado ngo tern o poder de disposi~3o. nPo pode, can l r~ iameate ao qua aconlece em cerlas circunslkcias corn o crMor hipotecirio, exigir que a cousa ceja vendida para pagarnento da divida.

Se o crbdor privilegiado quiser intentar uma ac@o para se fazer pagar, tera que a propsr nos mesmos termos em que a proporia urn crhdor comum: o seu priviltgio s o Ihe garante, quando e n concursa de credores, o ser pago de prefercncia a todos os credores comuns.

0 s poderes do proprietbrlo no direito rorneno. 0 s jurisconsullos romsnos siotttiza~am os phderes Iegais do proprietiric nos tr&s elementos seguintes : -o usus, o fructus e o abusus. Esles trCs elementos fbrarn depois Iraduzidos pelos cornentadores eu post-$losadores noutras tantas facul- dades !--o ]us utendl, o ]us frrrendi e o j u s abutrndi (+).

0 jus utendi era o direito que o proprietdrio tem de se serrir das cousas que estZo no seu dorninio, retirando delas t6das as vantagens que oSo s e j m os frutos. Pode oferecer os aspeclos maia variados caosoanle as diversas utilidades r que as cousas se p:,dem prestar.

0 . j ' ~ ~ fruendi era o direito de perceber todos os frutos daa cousas (2).

O jus abutendi era o direito de coasumir a s aousas c,

dt) As express6es jur vteodt, rruendi e obutend~ nZo s i lo romanas foram os comentaderes que as invenlaram. 0s antigos emprcgaram simplesmenle os substantives-uru~ f r u ~ t u s e a6urus ou os verbos U I I ,

far1 e aabuif IPlanr.1, 06. cit. 12 ed1680, t 1, pig. 8011. i 2 i 0 nossr, C6dago Clvil adw~te, como se sabe, Ires esgisies d t

frutvs : ndurarr, mdirrlriab e cram (C6d. civ. art. 495.' 5 3.9.

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por extensgo, d e d i s p r delas de maneira definitiva, des- Iru1ndo.a~ eu alienando as.

D&stes elernentos, aquele que constituia a faculdade es- sencia1 e tspecifica do direito d t propriedade, distinguindo-o de trdos os outros direitos reais, era r, ]us abutendi,

0 s podares do proprlst~rio nos Cddlgos modernos. Nos Codigos modernos t s tes trts elemeatos apareeem-nos representados de maneira diversa,

0 s C6digos civis francds, htspanhol e italiano sinteti- zam os poderes do proprietario nos dais direitos subjectivos de gozar e dlspur das cousas. (0 Concordam, mais ou me- nos, neste ponto os oulros chdigos de que o napole6aico foi fonte.

0 s legisladores destes codigcrs redllziam assim a trilogia romat~ista a um b idmio , e com uma certa r a a o pois o di. reito de uso nZo existe na vida real, nas relac6ea juridicas de todos os dias, aomo urn direit3 independente, separado do direilo de tru1~5o.

0 direito d e uso do individuo, sem o direito de frui'flo, sem o direito de colher ou receber os frutos e rendimentos do prddlo, cornportaria, apenas, a faculdade de passear a a quinta - s e se trattrsse dum prCdio rh t ico - ou de entrar ou sair de casa, se s e tratasse durn prddio urbano. Nada mais.

Corn a i n o v a ~ ~ e iotroduzida por aqueles chdigos, apro- ximou-se o direito objective da t realidade dos factos, o que deve constituir aspiraqzo dda ciencia jutidica.

E corn efeito os pr6prios direitos de uso e habita~go-

(0 Propriedade 6 o direito de p z a r e dIrn8r das cousas (C6d- civil frands. art. 544; C6d. civ. itatiano, ar t . 436." e Cbd, civ. espa- nhal, art. 438.9

direitos reais i n re sliena-nIo comprsendem apeoas o uso duma cousa: cornportam tambCm a fxui'~iio, Disiinguem.se taisdireitosda usufruto apenas pela circunstancia de o direito do llsufrutuhrio abrangcr todos os Irutos da cousa, emquanto que a Lrui~Io do usuario, d restrita as suas nectssidades. 0 facto, porbm, merece ser pbsto e m relevo, poit nos mostir como at6 os pr6prios jurn in re nllenn atribuem ao seu titu- la r o direito de f ru i~go e como o mero uso, separado da frul- ~ f i o nzo passa duma abstracqao: durn cenceito priticatnents irrealizivel.

0 C6digo civil alemao enumera os poderes dc disposi- cdo e ~xclzrsgo, mas subentende o de g8zo. A esta conclu- la0 se chega pela comparaC%o do art. 903.", que enumera os direitos do proprietario, corn o art. 906.0. ( t )

0 C6dido civil suisso aponta como elementos do direito de propriedade, os direitos de disposigdo, relvindicapio e defesa, mas supoe tambem o de gbzo, ao qua1 s e refere no art. 644:, slinea b. (2)

( I ) C6d. civil alemzo, art. 903 : u O praprietirio duma cousa p d c ,

salvo o efeito das prescri~ties da lei e 03 direitos de terceiro, dlaper desta Cousa A sua vontade c axcluir tddas as outras peosoas de praticar actos s4brc e1a.r

C6d. civil a l e d o , art. 9.16: nO Proprietario dum im6vel nHo pode impedir a iu t rodu~&o d e gaz, vapor, chtiro, ruido, fumo, fuli- gem, calor, abalos e outros efeitos emaneules de outro prkdio, se estes eftitos 1130 prejudicarern d e mod0 esscncial o gsrr, do seu im6- vel, ou forem o resultado do 8610 normal de outro imovel, como t de uso na localidadr para hem da mesma n:lrureza.u

(2) C6d. c iv i l saisso, art. 641 : 60 proprietario duma cousa tern o direilo de dizpor livremente dela, nos limites da lei. Pode ntoindlcd-

l a , contra quem a detenha sem dircito, c rrpciir tdda a usurpa~Z0.o.. C6J. civil suisso, art. 644 : =SHo accss6rios os objectos mobili-

irios quc segundo o coslumc local ou vontade claramente manifes- tada doproprietirio da couss prinmpal, cstHo afectados de maneira duradoura iZ rxp lc ra~ao , ao gdno ou B guard* da mesma cousa. u

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Tanto no C6diio alemHo como no suimso os direitos de uso e fru~gao do direito romano s3o englobados no d i re~to de gbzo.

0 que fica exposto autoriza.nos a fazhr a afirmatiio ge- nirioa de que em todos os cddigos moderoos o direito d e gbzo rngloba o uso e a fruiqBo

0 nosso C6digo civil usou uma ierminologia prbpria, fa- zendo abranger na propriedade os dlreitos d e fru$$o, de fransformap~o, de rxclusfio e defeza, de resfituT@o r in- ciem/!izncio e de izli~rrgpio. (,) Apreciadas bem a s cousas, porem, no fundo, veri11ca-se que os linicos elementos do di- reito de proprledade sZo os dois prirneiros referidos-o di- reito de froicrio que comporta tambim o direito da uso e correspond% ao denominado nus oufros Codigos, direito d e gdzo, e o direito de trans,fort~~ucrfo, correspondente ao d i r e~ to de disposi~Ho, ttcnica dos c6digos estrangeiros.

Com efeito, os poderes de e x c l u ~ % o e defeza, de resti. fuic%o e indernnizacao e de a l i ena~ao ngo podem ser consi. derados neru sgo ele~nentos especificos da propriedade.

0 s poderes de exdusXo e defeza s%o comuns a todos 0s desmembramentos da propriedade e que em dircito civil re chamam direitos rtais.

0 s puderes de restilui'$8o e indemniza~iio (quc o Cidigo civil designa por reivindicagxo) exislem em muilas situa@es juridicas n%o relacionadas corn a propriedade : todo aqut le que fbr esbulhado dum direito patrimonial, quer seja real,

(i) C6d civrl. Art :2.169. COO direito de propriedade abrange: 1 ." 0 dircito de IruYcZo ; 2.0 0 direito de trausformaq5a ; 3 . O 0 direito de csclusHo e defesa ; 4 .0 0 direlto de rastitur~Ho de iodemnisaqiio, nns rasos de riola-

cSo, dano ou usurpacBo ; 5." 0 direito de alienac9a.

quer seja pessoal, tern direito h restitui'@o e i i~ldemoiza~So pelos prejuizos sokidos.

O mesme se diga tambim do poder d e alitnaqgo, pois que tambim os criditos se cedem e se alienam e se perdem pela prescr i~zo outros modos.

Em rusumo: os poderes especiiicos do proprietario re- duzenl-st, corno preteodiatnos demonstrar, aos dois elemen- tos q u t o nosso Cddigo chama direito de frui'pdo e direito d e bransforma~uo e que correspondein aos direitos de gdzo e disposi~?io de pue nos falam os c6digos franc& italiano e espanhol, terminologia esta que julgamos preferivel por s e r mais comprcensiva e exacta.

I s b ngo quere dizer, porem, que os outros direitos in- dicados no art. 2166,' nZo f a ~ a m parte dos podere5 Legais do proprietario: com isto, simplesmenle queremos inculcar que tais direitos n8o $30 especiflcos do direiro de proprietP- rio, pois $80 comuns a iodos os d i r e ~ ~ o s reajs, uns ; a todos os direitos patrimoniais, outros.

Tanto o direito d e f ru i~ao corno o direito de disposiqao s e desdebram por sua vez em outros elementos. Urn e outro sZo deliuidas no c6digo civil.

No art. 2287.' diz-se: cco direila ds jrni'~do abrange : 1.' 0 direito de perceber todos os frutus naturais, indus-

triais ou civis da cousa pr6pria ; 2 . O 0 direito d e acessgo : 3." 0 dircitu de acesso-. NO art, 2315." indicarse o contelido do direite de trans-

fo rma~go que abrange ..a faculdade de modificar ou alternr, por qualquer maneira, em todo ou em park , e , ate, destruir a substincia de- cousa propria.

3 irnico. Este dircito perlance ao dono da cousa, quer esta seja m~bi l i i r ia , quer imobililrier.

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fiale direito de transformaq50 que, fora a vontade do proprietario ou a disposi~iIo da lei oBo conhece limites (art. 2316) i o direito especiEico do direito da propriedade, A sua existbncia alribui ao respeclivo titular a qualidade de pro- priathrio. Qilando os diversos e tnJltipulos direilos contidos na dirtito de propriedade st encontrarem em kitularas dife- rentes, aqu&le que 1Br titular do direito de transforma~%o ou de disposi~30 - como dizem os cridigos estraogeiros - erse sera o prop~ietirio da cousn -- donsinus proprlelatis ou sd dominus, proppietartus, ritldus praprictarlus, proprie. tarlus minus plenus.

0 usufruluario, por exemplo, 0x0 pode s t r considerado proprietario, porque nos termos dos arls. 2167.' e sets. &le tem o direito de converter em ulilidade prripria o uso ou produto da cousa alheia, percebendo todos os frutns que a cousa usufruida produzir, quer tsses frutos sejam indus- triais, quer nalurais, quer civis, rcasalvande sempre o direito de alterar ou modificar a subslancia da cousa, direilo hate que pertence no propriethrio da dira cousa.

Por isso, consideramos incorrecta a expressao do C6digo qaando considera como propriedades imperftitas o usulruto, o uso, o co~llpiscuo e a servidgo.

De tbdas as propriedades imperfeitas enumeradas UG

art. 2189." s6 a enbiteuse se pode considerar como tal. f que a enfiteuse enploba pederes de gBzo e poderes

de disposicao, pois o enliteuta pode fruir a cousa empregada e pode aliena-la, hipoleci-la, transtniti.la por sucessLo here. ditdria, etc.. 0 s poderes do enfileuta nao s e devem consi- derar br re alienn, mas in re proprin (I), -. - -

( 1 , 0 art. 1673.Qispae que o foreiro tern o dlreilo de usufruir o prtdio e de l ispor dele como c ~ w a m a , salvas as restri~aes expressas na l e i : os arts 890. I 677 dZo ao enfiicuta o poder de hipoteca, de onerar corn qcaisquer encargos o u scrv~dties, de doar c frocar o pridio. Tudo islo corrobora a af~rmativa de que s90 m r s propr i~ os paderes do forrlro.

Na mesms cousa aforada, o enfiteuta e Q emprazador teem a m b ~ s ~ropriedade imperfeita, como diz o nosso Cddigo.

Todos estes elementos componentes do dir t i lo de propriedade teem as mesmas caracteristicas dtsle.

S6 podem ser considerados absnlutos quando iislos ern rtlapao ds pessoas vincutadas pela obriga~go nepatira de nada fazerem que possa prejudicar o lilular do direito na faculdade que tern de tirar dsl cousa tbdas as utilidadts que a ordem juridica Ihe consinta. ['orem, soh qualquer outro aspeclo por que s e examinern ntnhum ddsles elemer~los pode ser considerado um direito absoluto, outro sim todos elea teem as rnesmas caracteristicas que alrlbulmos ao direito de propriedade: s imult~otameote individuals e sociais s b relaHvus, varidveis, condicionndos e llmitudos.

Sao relntiijos, porque so sera0 d~reitos enquanto csti- rertm de har~nonia com a utilidade social ; s%o os correspon- dentes A f u n ~ a o social que o seu propritlario desempenha na sociedade.

S%o varld~els , porque s lo modifichveis, de momento para momento, conforme s t torne necessdrio e a s solicitaqbes do rneio social o exigirern.

S l o condtdonndos, porque est%o sempre dependentes da condie30 Jt utilidade social.

Sao linsitadus, porque os diraitos dt proprittario silo sempre definidos pela f u n ~ a o social que Ihe incumbe.

Flnalrnente, s~osimult&neamentt indivrduats e colecllvos porque a l u n ~ l o sooial desempenbada pela propriedade k relatlva aa bcrn estar e descmvolvimento da colectividade ; iadlviduals, porque dksses direilos resultam beneffcios para o individuo.

Diversldade e nalureza das lirnitap6es a'os poderes do proprletario. O notavel econornisla Leroy-Beaulieu es-

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creveu, a prophsito das limitaq6es do direito de propriedade, a s segulntes palavras : adurrlnte rnuito tempo a propriedade privada esteve sujeita a serviddes aolectivas e gravames cujo nimero foi pouco a pouco diniinuindo e aliviando-se : as presta@es leudais, a obrigaqao para todos os vizinhos d e tazerem as mesmas culluras, o preg20 das vindirnas,, . Tbdas estas l imita~aes da propriedade teem desaparecido. . . Por um processo de rrnancipa~go lenta, mas ininterrupta chegou-se, em nosso tempo, a propriedade cornpleta e absrs- Iuta, que reconhece ao proprictirio urn pleno direito d e uso sbbre a cousa e, a l i m disso, como corolario, os dire~tos d e d e transmiss80, de doa~Ho t a h e r a n p . ~

0 Pro[. Dr. Jaime d e Gouveia n%e considera, porim, esla assercao exacta potque, contrariamente ao que Leroy- Beaulieu afirma, as limita;&e da propriedade privada nao teem gradual e sucessivamenle diminuido. S e dsls leis mo- dernas desapareceram rnuitas I~mitscfies - sebrerivencias d a ipoca feudal - foi para seaem substituidas por outras de diferenle natureza, das quais, umas impostas pelo direito pitblieo, outras pelas exigensias do tnterbsse social, isto e, pela funcgo social que, hoje, o Estado vai tomando para s i por irnposi~ilo ds prbpria consci&ncia colectiva e, finalmente, oulras impostas pel* intcrksse dos parlicuhres ou pela aon- sisltncia do dirtito d e propriedade, como s t diz no C6digo germgnico.

Explicaudo melhor : .AJ medida que a civilizacIo loma incremento, aumenla

tambdm o nlimero de actividades susceptiveis d e serem su- porte de s e r v i ~ o s p6blicos e, pot consequknoia, a intervea go dos governos torna se mais Ireqiiente, a-fim de satisfazer a s necessidades de interksse geral,

* A actividade do Estado vai estendendo-se a novas es- feras, vai exercendo novas f u n ~ a e s , que j i n8o sao apenas as de defeza externa, e de seguranca e ordem iuternas. A

consci&ncia moderna ilnpae aos governos o dever de mode rar os excessos de egoism0 entre a s classes, d e conker em justos lirnites a a c ~ a o dos poderosos para a50 tiranizarem os fracos, d e prevanir a barmonia entre os elementos sociais. E* a f u n ~ a o social do Estado, para cujo txercicio os gover- nos t & ~ n impostos vPriaa restrigfies A propriedade, e para cuja efectivaqao vivemos na espectativa rnuito fundada de lirnitagces sucessivamenle maiores.

*Aparecem-nos, por &ste modo, tr&s cakgorias de res- tri~i5es da propriedade: limifa~dss de dlrrido pliblko, fitni- tagfles dr ds'reito prs'vado social r limltagaes de direito ci- v i l ~ . ( 4 1

As principais limitap3es do direito p6blica a o direito de propriedade 620 as relativas a B expropria@o por utili- dade pliblica, aos regimes das minas, das-quedas de hpua, fIoresfal, e das zonas de servidao milila concernentes As fortifica~fies, ao alinhamento na construcao dos edificios si. tuados na8 sidades e povoados, aos scrviqos d e higiene e inckndio e ae exercicio de industrias insalubrear,

Denominamos estas restri@es de direito pliblico por o reu fundemento'ser o interhsst piblico gcral, (2)

1 ) Prof. Dr. Jaime de Gouveia, ob. cit . , pig. I It). (2 ) SO nhmero de l i m i t a ~ a e s estabel~cido no intertsse geral era,

na primeira merade do s ~ c u l o passado, ins~pnificante. Pcnsava.sc que a subordinagPo do interksse individual ao interlsse geralera a conse- qutncia nacessaria de uma potitica d t ati tudes impostas aos homenr pelo pr6prio cgoismo, e quc, portanio, o i n t e r h e gcral rtsultava automHticamante do livre j6go dos intertsses individuais.

4 tempo desmentiu o principio P ratos espititos se Ihe mateem hoje fitir 0 desencantamento inradiu o prbprio Estado que, par tdda a part?, tern tornado inrimeras providbndas destinadas a impor ao proprittdrio o nao dos seus poderes em harmonia corn o inrerdssc c~lectivo .

rEstas l l m i t a ~ a e s , quc na expropria~ao rZo at& i prira~Ho da propriedade, rcferem-st a todos os podtres do proptictario-aos po-

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*AS limitac8es de direito privado imposslvel d referi- .las porque, a respeito delas, aioda o direito positivo nao entrou no period0 de sisternalizaq80. Encontramo-las em dis. posi~8es dispersas por muilos dos diplomas legislatiros re- Gentes. A esta categoria pertencern as imposi~6es feitas aos proprieiar.ios de n8o aumentartm as rendas das casas, de ngo despedirem os inquilinos, de n%o s e recusarem a arren- dar os seus prCdios, de fazerem on deixarem de fazer certa e determinada cultura, de venderen] os produtos da sua in. dintria por preGos f ixados~ (i), a s resultantes das recentes leis que restringiam as sementeiras de trigo e o plantio de vinha e tantas outras todos os dias decretadas.

Quaiificamos es restrii$Jes de direito privado soeial por- que resultam, de algum modo, da funqgo social do Estado,

A s limilaq6es de direito civil, resultantes da pr6pria na- lureza do direito de propriedade, cbamam os c6digos c h i s f rands , espanbol e itaIiano, assim como muitos escriiores, servidaes Iegais. 0 s tratadistas alemais, bem como muitos italianos e o c6digo civil brasileira dgo-lhes a desipnag%o de direibos de vizinhan~a.

Estas l imita~aes s lo d e duas e s p k i e s : dumas encon- tram.se explicihmente enumeradas nos cbdigos ; outras, ou estao implfcitas nos prlncipios gerais estabelecidas em alguns

deres de uso e f ru l~%o, de transIorma~iio e d i s p o s ~ ~ % o , rtferem.se tanto a propriedade mobiliaria como a propriedade imobiliiria (em- bora as limita@es a essa forma de propriedade sejam, pela sua im- porllncia t eslrutura, muito mais numerosas) e sPo iaspiradas nos mais viriados intessses. Umas justificam-se com necessidades da reguranca, higieae e estktica, ontras s8o impostas pela v i s inhan~a das vias de comunicaq&s ou por motivos dt caricter ecoa6mico ou finauceiru, uutras financeiro, oulras finalmsnte pela nccessidade dt dcieza d. p ~ i 5 . u IFrof. Dr. Manuel Kodrigues, r~ Boletim da Facnl- dade de Direito, Ano VIII. N.OS 71-80).

(I) Prof. Dr. Jaime de Goureia, idcm, p i g , 114.

cddigos, ou sSo meras cr ia~t ies da jurispliud@ncia, em rela- @Q aos povos cuja legislagao civil n8o contCm essas leis norma tivas.

As l i m i t a ~ ~ e s expressamente eslatuidas no C6digo cis vil podem agrupar-se do rnodo seguinte: r e a b i ~ ~ e s que tern por object0 obrigar e proprietirio a alienar urna parte do seu terreno; restr i~6es que obrigam o proprbtdrio u tolerar que o vizinho utilize uma parte do seu predio; rtstric6en que teodetu a obrigar o proprietario a tomar certas precau- pjes em relaqOo ao predio limitrofe~. (,)

Entr t a s limitaq~es criadas pela jurisprud&ncia contam- -se proibi~des de iodos os actoa nacivos aos vizinhos p n t i c a dos: corn violaqtio da lei, ou corn desprbzo das preaau~des q u t a lei raaomenda, ou corn o mtro intuit0 de prtjudicar os outros, oq corn prejuiao extraordibQio dos proprietlrio* eontiguos.

Idha da posse. Posse cuusnl e posse formal. 0 homtm ao apropliar.se das cnusas do mundo externn tern comn fina- lidade a utilizaq%a econimica das vantagens que deIas pode obter. Mas para, que bem se possa aproveitar dessas vanla- gens, necesssirio s e rorna que o homem tenha a faculdade, d e actuar sbbre as cousas, de exercer sbbre elar os poderes necteshries para a slta u t i l i z a ~ b econbmica. Sem esla facul- dade, a propriedade seria, na frrse elucidativa d t Ihering, uum tesouro sem a chave para o abrir, uma Arvore Lrulifera sem a escada necessArio para Ihs colher 0.9 frutosr (2).

E' pois bern certo que .a r e l a d o em que o homem se encontra corn a s cousas do mundo externo, destinadas a eatisfazer as suas necessidades, pode soncebtr-se por dois

( I ] Prof. Dr. Jaime de Gsuvein, idem, pig, 114. ,2) Ihering, Possession, pig. 217.

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modos substancialrnenbe diversos : a ) - ou como umarela- ~ 3 o de poder geral ou particular, juridicamente organizado, satisfazendo em tudo aos requisilos fundamentais exigidos pela ordem juridica para o seu recot~hecimento e garantia ; b)-oo como uma tnera relaqao de facto, em que o homem se uhliza no todo ou em parte da cousa sujeita ao seu poder, c que 6 protegida em si e w r sit independentemente da legitimidade objectiva daquale poder. A relacgo da prirneira espCcie t o direiio de prapriadade ou utll jus in re allena, conforme o caricier geral ou pariicular do podtr juridico. A segunda i a posse propriameole dita, que pode encontrar.se coojunta com o direilo na rnesma pessoa, coma em regra acankece (ex, o proprietdr~o 6 tarnbitn possurdor das suas clousas), mas pode encontrar-se separada, quando o poder de facio reside numa pessoa div5rsa daquela a qutm pertence o pader juridica; e pode ser suparada por vontade do pr6- prio titular do poder juridico (ex. o crkdor penboraticio pos- sui a cousa penhorada) e seln ou contra a sna vontade (ex. o ladrgo possui a cousa roubada ou furtada).

Por isso, conclui beni Ruggiero, a posse nada lem de comum corn a propriedade e com os outros direitos reais- embora possa dar lugar i adquisi~30 delee -como nada tern a sua defeza provis6ria (aa~6es posses~6rias) corn a defeza abseluia dos outros direitos reais --embora o propriethrio ou titular do jus In r e nlhna possa utilizar.se das a c ~ 6 e s pesstss6rias, se tern tarnbkm o poder de facto da posse.

Eassim se mostram bern distintos os dois direitos, que os romanistas clissicos denominavam ]us possidsndl t jus passssslonds e a que alguns autores modernos chamam posse casual e posse farmal; o primeiro designa o direilo que tern o titular durn poder juridiaa a possuir a SUP couaa; o segundo o conjunto de direitos que o lacbe da posse s6 por si produz, e sobretudo o direito 6 deleza possess6ria.

% O jus posscsslonis ou posse formal k que constitui

precisamente o iostituto juridico autonorno da posse. 0 jus p~ssldendi ou posse cilsual e apenas o sxercicis, efeila ou conseqiikncia duma relacgo juridica preexistenter (,).

Origem da Posse. 0 instituto da posse surgiu em Roma : mas saber qua1 14 a causa que Ihe d i origem e pro- blema ainda hoje muito debatido e, porventura, ain'da rnuito longe duma solu~Bo definitiva,

Diversas sPo as teorias que procuram resolver a ques- tIo; aqui, portm, limitar-nos-emos a apresentar as de Sari- gny, Von Iheriog e Niebubr, jB parque nos parecem ser as principais, ja porque resumem corn pequenas alterag6es to- das as outras.

a) Teoria de Savigny. Para Saviguy a posse era urn instituto absolutbmente estranho ao dirtito, era um instituto meta-juridico.

Mas, porque algutm s6 podia ser esbulbado das consas que possuia mediante um aclo de fbrca, pertubador da paz social, para defender esta o pretor foi levado, indireota- mente, a proteger a possa ao expedir as irrbrdicta. (2)

(1) Prof. Dr. JosC Tavaras, ob. cit., pig. 646 e legs. 1 1 ) Cabe aqui recordrrem-se alfumaa no~llcs aprendidns na cn.

deira d l Hiatb ia dar InstitliYc6es d o Direito Romano. 0s inirrdic~a cram ordans qut, a rtqurrimento do interassado, o

pretor dirigia a uma pessoa, proibiadu-lhe que Inasre or f n t u C s ~ c s do rtqucrentc.

Esta ordam ern dada scm verifica~Po dos factos; e, de duas, ulna : ou ela era obtdecida, ou nZo era. Ntsta iiltimo caso abria-ss urn in- quktito cujo objective era o de pmuurar saber se o interdict0 tinha sido ou n8o repularmentc enriada L conforme a solac50 I que se chepassc assirn re condenaria em perdas e dmnos a pasoa a quem i l e haria sido dirigido ou o requertote.

Eram dc duas especies us interdictas ; ratinanduo posncsrfonis .aura r

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Deste modo se alribuirarn efeitos juridicos i posse e se introduziu esta nos do.miflios do :mundo jurldico-.

b) - Teorla d s Ihering. Rejeitando a doutrina de Savi- gny por n3o explicar os interdicta r~llncndae possessionis, Ihtring forrnulou uma nova teoria, segundo a qua1 a posse teria lido origem na ne~essidade social de proteger a pro- priedade.

0 Prof. Dr. Manuel Rodrigues (3 sintetiza admirivel- tbente a doutrina d e lhering, nos termos segulntes : .a hi- p6tese de Ihering (2) postula o seguiore princfpio: a pedra angular de tbda a teoria possess6ria i u interdito uti possl- detis, Foi este o interdito quc primeiro exisliu e d&Ie salu. por desenvolvimento I6gico ou nbo, a teoria da posse. ('1

a Ora o interdito uti possldeiis na sua origem denuncia- se como urn incidente prefiminar de urn litigio sbbre a pro- pritdade e n%o como um processo de evitar a violkncia, porque, como adiante se d id , Q pretor pndia tntregar a

rcsup:rand~ poastsrionb eausa ; os primtiroc cram dtstinados a fazcr ccrsar a turba~Ic da perat ; o: regundos a racuperi-la.

0 3 intardictos r e l l ~ n d a e portcartonir caum ainda se dividiam ern etrubt posaiblh c uti pe:rtdsl/# : o primeim era usado qaando ae tratasrc dc im6rcis t a rtguado qmando so tratasst d t m6vtis ; as resvpwandi wrreasinir eram dc trts cspkics : undo mi, do Lrtaardo c rlandarfinm poa-

rualona. 0 prheiro rplicado s6 lor m h c i s era dado AqucIcs q,.c haviam mido esbulhados por mcio dnnr violcoda normal !#is totidim.) ou duma riolbncia Q m3o armada (air a r m a t a ) ; o scgundo era &do Bquelc quc, tcado traskrido a rua porse para outrcm oom a condicIo de lha ser novamentc trasferida quaodo a requidtasse, cncontrasse oposi~Po a e l t a tntrsga. U tcrctiro L d t eristEncia duvidosa.

(1) Prof. Dr. Hanucl Rodrigues, A posse, pats. 16 e sgs.

( $ 1 Interditr, pig. 66 e ses. Esmein Nour. rev. hist. dc droit rancair e l etranger, 877, p ig . 493.

(3) Podem vet-se em comil, Traite de la possession 4ans le droit romain, 1 s razalr corn qut s t dcfende a prio~idade dLste interdito.

quern quisesse e, porlanto, ao perturbador, a posse da cousa. a No sntigo processo reivtndicat6rio o pretor concedia

as vir~ddclae -- (a posse das cousas litiglosas) .-. a urna das partes, a qua1 se era obrigada a prevtar cau~8o e responsa- vel pela perda, tinha tamb6m as vantagens que da retengo der~varam - o uso e a fruiq8o do objeclo em litigio.

~Seguia-se a esta fase a virzdicatlo e a contravirr~icatlo em que ambos 0s Jitigantes eram obrigados a fazer a prova dos direitos que alegavam - o processo reivindlcatirio era entiio urn judicium duplcx

Cemo as tantagens juridicas da retenggo eram ntnhu- mas porque ambos 0s liligantes linham de hzer a prova do seu direito, o pretor n2o estava ligado por qualquer regra na escolha do possuidor. Entregava-a a urn dele8 P sua es. colha. Mais tarde o precess0 rcivindicat6rio da legls aclio sacramentl in rsm-judkium duplex-parece ter-te trans- formado no processo formu1irio per sponsionsm judicdum simplex.

Ncsta a c e 0 96 o reivindimnte Iicava obrigado 4 prova, o pessu~dor limitava-se a negar o direito daquele porque estava dispensado da prova do direito de propriedade. Desde aquele momtoto o possuidor, hlem das vantagens de facto, tinha uma verdadeira vantapem juridica - a dispensa da prava. POT con~equbncia, devia acabar tamhdm o erbftrio que a lei dava As partes na escolha do possui'dor, E na ver- dade acabou, porque a posse passou a ser rnotivo de uma decis%o em seguida a ua processo preparatorio, pela qua1 se atribuia a urn dos litigante~ o comodunl possessionis.

~ P o r riltimo, e C o termo da evoluf3a, Cste processo preparatbrio adquitiu independencia pela sua desintegra~IIo que se cleu do mod0 seguinte : aquele que susttnta o pro- cesso petitbrio, ngo teodo obtido a posse e n8o confiando na provsl do petitdrio, logo que decai'sse no primeire, abando- nava a questPo, marcando corn kste abandon0 urn periodo,

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Tambem aquele que intentava o processo potifbrio se ga- nhava o possess6rio multas vezes a h o contiaaava. Como o objocto Ihe era entregae, ficava esperando que o antagonists a fizesse prosseguir. Houve assim um processo pocessrjrio i h p e n d t n t e - o interdito uti possidells. 3

c) - Teoria de Niebhur. Dos terrenos coaquistados, uma parte era distribui'da pelus cidadgos romaoos e a outra rcservada para a cidade e dtstinada P constru@o das ruas, prapas, ctc,, constituindo tstes terrenos o uget publicas.

Mais tarde, como as conquistas aumentassem, o ager pablicar deixou de ser absorvido pelas obras de utilidade pu'biica. Mas, em certo memento, para que tais terrenos n8o ficassarl~ improdutivos, resolveu-se conceder a sua fru&%o aos particulares, depoie de repartidos em pequenas pro- priedades chamadas possessioni is. m

Mas como estas concessBes eram feitas a iitulo precarie, a defeza do respetivo direito n%o podia ser feita pela reivin- dicatio: mas porque tal direiro nzo podia ficar sem defeza, c~,iou-se para Lle urn processo pr6prio e inspirado nas nor- mas da deiesa da propriedado. Gste processo f o i o interdilo prossessbrio.

Nas obras da especialidade outras doutrinas se podem encontrar. De todas elas, a que 110s parece mais completa e justificativa t a d t Niebhur.

Como vLem, fala-se aqui e m trks opini6cs a.respeito da origem da posse. A opiniao de Savigny, qnt diz: a posse loi criada pelo p~etor para evitar uma perfurba~iio social. A opiniBo de von Iberind, que diz : a posse nao foi criada, como Savigny diz, para evitar urna per tu rba~la social, porque, quaodo algukm re servia de utn interdito de detencgo {la

posse, i porque n3o tinha sido perturbado. For conseqii&ncia, isto demonstra que nPo C exacta a opiniso de Savigny.

Depoie, aparece, a opiniao de Nieburg, que diz: quaado havia conquistas do povo romano. uma partc de territ6rio conquistado era para agcr publicus, para f i n s sociais, a coas. truq?io de cidades, estradas, etc.. Mas, aumentanda essas conquistas, o ager publicus veio a ser grande, a abraoger rnuitos terridrios, que ja nEo podiam todos caber na utili- dade social. E, para que tsses territhrios n8o Fieassem sem aproreltamenlo, os pederes publicos dividirarn o oger publ& cas em parcelas chamadas posrrssiones e distribuiram-nas precariamente pelos oidadrtoa,

0s cidadgos, quaodo cram perturbados na posse das passessiooes, n9[o podiam servir-se da ac@o reivindicatbria, porque apsnas tinham uma posse preciria. Entso, o pretor criou 03 interdifos possessdrios (interditn possessionis.

%lo estas as tits o p i o i k s priucipais.

Yaturera da Posse. - t Qual a natureza jurldica da posse?

Sera urn facto 1 SerA urn direita ? 0 s escritores romanistas e a doutrine francesa conside.

ram a posse urn simples facto, situado para ilCrn do Direito, embora produza certos efeiros juriuicos, como a presuo~%o de propriedade, etc. (,I

(I) h posse d urn facto ; aada tern de jutidiao e de institu?sHo sendo os meios empregados psla lei para protcger dcte fact. ou para o destruir.

0 faclo da posse d geralmmtc dcfendida pela lei, mas nSo sem- prc; a lei condena-o, por vezes, em noms da reivindicafKo (Planial. Ripert. Picard, 111, n.' 143).

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a)-Uma, subjectiva, tendo comoprincipal representante Savigny ;

61-Outra, objectiva, detendida por Ihering. Qualquer destas doutrinas, porem, reconhece que para

a farmagllo da posse concarrem dois elementes essenciais:

a)-Urn elemento maleriai e fisiao, consislerite na rela- cao exterior em que a cousa s e enrontra cnm a pessoa e detignado por carpus;

6) - Outro, inttncional ou psic~logico, consistenle na inten~Bo de ter a cousa 2 slla livre disposi~llo, denominado canin~us.

Para Savigny, o anirnus era o elemento determinante da posse, a vontade, o factor soberano que transforma a de- tenqao em posse, enquanto que o artiinus era a intenqao de reter a causa para si-anc'mus domini-ou --animus rsnl sibi habendi-em oposi~Bo ao anirnus definendr ou inleo@o de deter a cousa por ou para oulrem, que reduz o possu'idor a urn simples detentor.

56 a posse, isto e, o corpus acornpanhado do animus damini ou posse nomine propriv era protegida pel0 direilo.

A detengga nHo era juridicamente prolegida, salvo trts casos excepcionais : o credor penboraticio, o precarista (detanlor por concessLo gratuita e revogdvel) e o secretirio (dtpositirio da eousa litigiosa), que savigny explica pelo csnceito duma posse dcrivadn, transferida hquele dttentor pelos verdadeiros possuidores.

Ihering, oombatendo esta teoria, mortrou quc a ventade

nio era o elemento decisivo para dintinguir a posse d a deleuc%o.

N%o se suprime o elemento intentional, pois que sem &le n8o teriamos rela~l[o possess6ria. mas apenas o facto material e irreleeante de uma cousa posta am contact0 corn a pessoa : mas afirma-se que kal elemento eslP implieits- rneute contido no poder de Iaclo exercido sbbre a coma : n8o h i diferenpa entre o animrrs de ter a cousa para si - animus domini ou ianl~nus rem slbi habendi - e o de a ier por ou para outrem.

A r t l a ~ B ~ corpora1 aaompanbada da inteng8o de guercr rnantsr uma tal rela$30 6, segundo Ihering, suficiente para cmnsliluir a posse ; e, durn modo geral, pode mesmo dizer-re que tbda a detenqIa t posse, poi$ ao sonaeitodeposse basta a existellcia durn podex fisico exercido e manlido voluntii- riamente sbbre a cousa.

Se algurnas vezes i necessdrio distinguir enlre simples deteaqBo e posse verdadeira, uma la1 distinflo laz-sc nHo em virtude durn animus diverso mas por outra cousa bem diferente.

6 que a ordem juridica n!io confect a tutela poasess6ria a todos 0s casos de deten~%o : ha casos em que a causa possessionls, ou seja, a rela~go entre aquele que tern a cousa em seu poder e aqucle de quem a recebeu, e de la1 natureza qua, ou revela que a cousa t i retida no interbsse de outrem, ou que por quaisquer outros rnotiros n8o pode considerar+se digna de protecgzo directa. Este elerntn!o acidental desem- penha enl%o uma f u n ~ a o uegativa : reduz a posse a uma relafao de mera detenfgo, a utua causa dctentionia.

6 o que acootece corn o localirio, corn o comodat5ri0, corn o depositario e corn o mandalario.

Do exposto se FC quHo profunda 6 a divergkncia que afasta as daas leorias : enquantn para Savigny o animus

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domini P. o clemento deterrninaote da posse, a ponto da sua lalta importar inexistencia de posse, como acontece corn o comodatirio, a depositirio e o locatbrio, que P o conside- rados meros detentores, para Ihe,iug o elemento determi- nante encontra-sc no poder flaico, voluotariamente mnntido e exercido sbbre a cou-a, devendo o juiz deciarar a exis- t&ncia da posse sempre que tal poder exista, conquantu se nso verifrque a causa destituitiva da posse - calrsa r l~ l t t i - fionis - ; enquanto para Savigny constitue ewcepcZo a pro- tecc%o ioterdltal concedida at, crkdor penharaticio, ao pre- carista e ao sequestralario, para Iberiog a txcepgo eollsiste em serern exluidos dessa proteqZc o comodaiArio, o locathrie e o dtpositario.

Ihering iraduziu por formav algebricas a diferen~a entre a aua teoria t a de Savigny.

Designando por P a posse, por D a deteocgo, por C o corpus, por A o animus, por a a particular vontad'e que quali- fica o animus possidendi, e por N a dispusi@io da lei que exclui certas relac6es possess6rias da protecGHo interdital, teremos :

- Na doutrina de Savigny :

P - A -I n + C,

Seja, porCm, como fbr, o certo d que a existencia cu- mulativa do elemenlo material do poder de facto sbbre a cousa e d o elemento psicol6fico de querer utilizar tsse poder, se considera xlecessiria, na dou!rina cotnum dns civi- listas, oomo no sistenia de 1Bdas a s legislaf6es 0) para o estabelecirneu~o da relac50 possess~ria. Se a existkncia do elenlellto psi~016gico se n i b verificar temos a20 a posse mas a de ten~ao (2).

O conceito do posse no C6digo civil portugu4s e IegislaqBo posterior. O art. 474,"do CQdigo define posse * a deten~Ho on frui~Ho de qualquer causa ou direitor,

Nao ubstaete a clareza da disposigHo nPo tern d e i ~ a d o de ser forinulada, e corn certa raz80, a sepuinte pregunla: qua1 e o conceito dt posse no sistema do nosso Cridigo! A este respeito irks opiniGes diierenter teeru sido entre nbs defendidas.

H;i quem afir~ne que, a Lace do Cbdigo, a posse con. siste na reten~ao ou fru1~8o duma coisa ou direito quando

; I ) 0 S6d1io civi l alemho consagrou a doulrina l e Ihering, no art. 854." : * a posse duma cousa adqu~re-se pela vhteu~%a do podrr de faclo sdbrc a meoma cousa..

Mas, urn tanto ou q u a n t ~ incoerznten~eufe acrescenta poucu de- pois qi le ccposruidor prbpridmcute e aquele qne possu~ a cousa flcomo se Ihs pertenceese~~ o que equtvale a af~rmar a necessidads do *anl- mus domint.

,a) .As palavras crposseb~ e adeteu~Zoa substitueru aa lerminologia moderna as expreus6es muito usadas antipamrote : -posse c iv ib c

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acompauhada da inttnqao de retcr eu fruir a eouya como tre

fbra o seu tilular. E a do~ltrina do Codige civil Irancks. Seguado c u t r ~ s , tbda a rela~5o material, ou poder ffsico

qualquer que seja s sua causa, constilue posse. '1) Outros, finalmente, aftrluam qua a posse e todo o poder

de tacto sbbre as couses quando exercido no pr6prio infe- rksse do detentor, quer tenha a sua base D u r n direito red. quer numa relaq%o de obriga~ze.

Vejamos os ~rgumentos corn que s t procura defender cada uma destas opini6es:

a) - Os deiensores da p~ i~neira opiniRo dizem trn seu favor :

1.") - A doutrina anterior ao C6digo limilava a posse aos direitos reais e o c6digo nso lntroduziu altera~6es nas bases e principios do institute possessorio.

2.")-Sempre assim o teem entendido os jurisconsultos franceses, ao inlerpretarerr~ o art. 2228." do cbdigo napoleo- nico, fonte do art. 474.0 do CGriipo civil portugues.

3.") - Cornparando os arts. 479.' c 506.*, ("j indicando aquele o objecto da posse e & s i t o da prescri@o, notanlos entre eles uma coi'ncidencia que nos auboriza a afirrnar que a extensso da posse e a da prerctipgo. Ora esta 96 se aplica 80s direitos reais.

4.0)-3?ste ultimo argumente P. ainda fortalecido corn o art. 51Qp0. Disp6e tste arrtigo que aQuem possui em nome de outrem n8o pode adquirir por prescri~ao a cousa possui-

( 1 ) Almcida Azeredo. Revista dos Tribunais, XXXIV, p i g . 118. [J Dispae o art. 479.- :So podem ser objecto de I.osse cousas e

direilos certos e det~smiuados, c quu sejam susceptiveis de apropria- C30 B .

Diz o art. %6." : ,)Podem ser objtcto de p r c s c r i ~ i o tb3as as cousas dinitos e obrigag6cs que estZo em comLrcio, e que nSo f8rem excep- tuadas por lei..

da, . . . o que significa que quem possui em nome prbprio, pode adquirir por prescriq%o a cousa poss~ifda. Ora se a posse se aplicasse aos direitos de credito, estes dir~i tos po- diam adquirir.se por prescri@o, o que oinguim admitt.

S.o~-As disposi~6es dos arts. 478.O e 489.0 (') corrobo- ram a assercao de que o inst i tu:~ da posse C limitado dirtc- tamente pela proptitdade.

6.") - Se a posse nao Ibsse limitada aos direitos reais n8o se compreenderia a distin~ao entre pcsse em rrorne prd- prio e posse em nome nlh~io nem se justilicaria a presun- @o de que a posse e exerciila ern nome ~rbpr io , nem teria aplica@o o Iaclo de o brb. 480." 36 conceder a adquisiggo da posse aos qne teem o uso da raz8o.

7." ) -R doutrjna de qut a posse i paralela da proprie- dade C ainda confirmada pel0 art . 27 . "~ Dec. de 30 de Agbsto de 1907 que deu aos arrendathrios de pridios rJsli- cos a LacuIdade de defenderem os seus direitos pelas acq6es possessbrias, depuis generalizado aoa prCdios urbanos pelo Dec. 5411.' de 17 de Abril de 1919 que no ari. 20." deter- mina : uo inquilino que foi ilegalrnente perturbado nu esbu- lhado da posse doa direiios que, pel0 arrendamento, tern sbbre o respective predio, pode usar das acq6es possessbrias ou dos embargo^ de terceiro a.fitn-de ser manfido ou resti- tuido na sua posse durante o praso de arrendamenlon.

Ora, se os direitos sbbre as cousas, que teem por base obriga@es, a pudessem ser objeclo de posse, desnecessaria seria essa disposiqSo expressa, em reIa@a ao locat4rio.

I,) Dispdt o ark. 478.": - A posse presume-ss Ae hoa-fl enquanto o conirdrio se n3a pmvar, salvo nos casos ern qur a le i expressamente nZa admitir tal presunF9ou.

E o art. 489." : nSe a posse tiver durado por mais de urn aao, seri o passufdor sumhrjamente mautido r u rcatiluido, enquanto nPo fbr convel~cido na qucrlTo de propriedade* .

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6)-A segunda opioiZo, que diz constitair posse todo e poder fisico, tern a apoili-la urna rioica raz8o: o art 474." do C6digo civil s b faz referlocia h d e t e n ~ a o ou frui@o, isto 6, reIa$%o material, ao poder Lisico.

Por consequ&ncia, qualquer d e t e n ~ s o conslitui posse,. c)-Aquelas que atirmam aer a posse iodo o poder de

facto, sbbre as cousas, exercido no pr6prio interksse, quer tenha na sua base um direilo real, quer urna relac80 de obrigaqfio, defendem a sua tese coin ~t argulnenta~30 se. puinte :

1.")-Coelho da Rocha r Correia Telles, os dois juris- consultos que mais i n h i r a m na elabora~ao do Codigo, de. fendiam o ~.econhecimento da defeza possess6ria aos poscr~i:. dores iaiperfeltos: o locat61i0, o superficiario, etc.

2.O)-Era este o pensatnento do Visconde de Seahra o qual, justificando a el imina~go da segunda parte do art. 2.238." do Cbdigo Napoleirnico escreveu na r e d a c ~ a o do actual art. 474.' que t o colont! e o arrendatdrio oxo tern sem d ~ v ~ d a a posse da cousa em si ~nesrna: mas teem certa- mente a posse do direito, que adqliirem pelo seu arrenda- mento, e i fora de dlivida, que possuem em seu nome o tisufruto; e , por conseqii&rliia, pod~rrr , lzesfa pnrle, uhur d i ~ s rnelos poss~ssa'rios, tanto contra terceiros como contra aque- les, de quem houveram o seu direito. Agora preguntaremo8: para que 520 precisas ns defioi@o a s palavras nnimo sibi hoben ~ l ? Esse an i~no aparecera, quando seja preciso, nos factos ; alids B IndefPrente, e s6 podc servir para dar lugar a disputas,~ . I I )

E a rneslna razPo que levou Seabra a excluir a expres- s%o nnirno sibi haberldi levou tarnbdm a comissao revisora a rejeitar tbdas as propostas te.i~dentes a introduzir uo art.

562,"o projeclo-actual art. 474.,-as palavras anirno sibi habendi. (I)

3.")-As uecessidades exigem que cerios direitos, que eslabelecem rela$Ciss sbbre cousas e coin base numa rela- FZO de obiigacao, sejam defsadidos pelos meios possessbrios tanto contra terceiros como contra o pr6prio dominus da cousa detida.

(Ira quando as necessidades reclamam uma determi- nada soluq30, esta deve se r adoptada quando os textos le. gais a ela se n8o oponharn.

E purque assim 6 , uma vez que as necessidades sociais reclatuam a extensilo do instituio possess6rio a certos dirci- tos pessoais, uma tal extensgo devr ser admiticia, porquanto os textos legais a t s se alargamento s e n8o op5em

4.7 - Aldm disto, o art, 1606." n." 4 obriga o senhorio ma assegurar o uso da cousa arrendada contra os embare~os e tu rba~8es provenientes de direito que algi~m terceiro teoha com relacgo a ela, mas n3o contra os errzbaraps c t u r b a ~ d . ~ nnscldos de rnero fa t to de terceiro..

Ora, s e artigo ago obriga o senhorio a defender o lo- catirio eontra as turba~6es de tsrceiro, irnplic~lamente auto- riza o locat6rio a defender o seu direito em nome pr6prio.

5.")--S%o poucos consistentes os argumentos tirades de alguiis preceitos do CBdigo e corn os quais se defende a pri- meira s o l u ~ ~ o e, assim, quanto ao art. 480aD, a posse tal conlo aqui 3e define 15 sempr t urn contrsto lntencional e nHo urn puro conlacto material.

Qusnto ao art. 4S9,", nele s e forinula apetlas a forma por que em geral a posse C venoida.

Quanto ao art. 51 O.', deve notar-se que a posse t m nome alheio a que o artigo se re f t re 6, rigorosarnents, s6 a des

( I ) Seabra, Resposta no Dr. Pais da Silva, pig . 11. (1) Actas da Co~lissPo Rrvisora, phis. 99 a 103.

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detentores desintercssados (serviqais, mandatarios, etc-) e ; gor lillimo do Deoreto que conaedeu expressamente nos arreu- lirios o recurso Ps acc6es possesserias nenhum argumento se pode tirar contra esta doutrioa, antes a aiona pois o le- gislador veio consagrar de maueira clara aquilo que ss en- contrava na doutrina e lei extstentes.

6.") - Do mesmo mod0 e improcedtnte o argumento tirado do srt. 474.' a favor da segunda solu~%o porque a posse s6 exirte quando se frui e rettm urn dirsilo.

E 6 evidente que nZo frui nem retkrn no sentido normal quem axerce estes poderes para outrem,

lnclinamo~nos para esta liltima opiu~ao que nos parece ser a que mais se harmoniza corn as disposi~des do Chdigo e corn as solicita~6es do meio ambiente.

E' poi9 a posse, no sistema do nospo Cddigo, formada por doia elementas : o corauj e o animus.

0 carpus 6 todo o poder aut6norn0, independente da causa jurldica, de uma pessoa sbbre uma cousa e consiste na prAticr de actos de usufruisZo e tran~forma@o em inte- resse pr6prim a de harmonia corn a nafureza do direito que se invoca ou da coasa que se possui.

0 anlrnos consiste na intenflo de exercer urn poder gbbre as cousas no pr6prio inlertsse.

A posse tern por objeclo o direiio de propriedade, os direiton reair e os direitos pessoais que, tendo na sua base uma re la~ao de obriga~Bo, recaiern sdbre as cousas e se exercein no proprio interbsse do seu titular.

Entramos assim na concepCIo objectiva do patrimbnirt. Do exposto se deduz fhcilmente que o locatirio, o como-

datirio, etc, , derem sel considerados possui'dorts. Mais se deduz que sempre que alguim exerca abbre

urna cousa poderes maleriais e possuidor, except0 se exer cer esses poderes no interkssc exclusiro de outsem porque,

em tais casos e por tal facto, a lei n8o protege a relaqgo do individuo com R cousa.

E' assim a posse do gerente, do dom6stico ou do mo- torista, que apenas exercern os seus poderes no inlerbsse do cornercianfe ou do comiteote.

Sao os detentares da teoria de lhering ( I ) . Porkm, aquele que exerce sbbre uma cousa poderes 030

s6 no intertssa de outrem, mas tambkm no proprio intertsst, i possuidor j i em nome albeio, j5 em name prbprio.

E' o que acontece corn o usufrutuario, comodatario, t t c < Excluimos da ambit0 da posse todos os direitos pue

ten,do por base umu relaplo de obrigac8o n8o tstabelecem uma relaclo de pessoas corn as cousas.

A posse durn s e r r i ~ a ou duma presta~80 em dinheiro n8o 6 admislivel.

T~rnbkrn ni?o coosideramos a defeza possesskia apli- sivel is relac6es de familie.

E' certo que os canonistas ~otenderam poderem eer object0 de posse certos direitos que nao recaiam sbbre cousas, v. g . , a posse do bispo em relaqgo '4 Se, a do c6- nego em relapo h cadcira e a do estado das pessoas, so- breiudo, o eatado de casado e de filho.

Portnr, s6 excepcionalmente a defeza possessciria se aplicou As relapses de faruilia.

Hojs, como sempre, a posse do estado tern sbrnenle urna fuaggo probat6ria supleiiva (arts. IS." e 48: do Dec. n.° 2 de 25 de Dezetnbre de 1910) ou conrtitui urn obsta- culo rl contesta~aa do estado que consta do registo, colno no Deareto a,' I de 25 de Dezembro de 1910 se declara.

Corn efeito, no art. 47," dCste Dea, declara-se que anin- gukm pode, porem, contestar o casamento de pessoas fele- cidas na posse dCsse estado, em prejuizo dos filhos das

(1) Planiol, Riperf (Pica d ) , 111, pigs. 1B c aegs.

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t s t e conceito do boa,fd, n2o 6 um conceiio moral, mas sim urn coaceifo juridico, urn estado psicol6gico para o qua1 contribuem dois elementos :

a) -Urn, objective - o titulo ; b) - Oulro, subjective - a igooriiucia dos vicios por:

ventura exlstentes nesse titulo. Esh igoorancia dos vicios do titulo pode resultar de

t r ro de direilo ou de t r ro de facto. Resulta durn trro de direito s e a cousa foi doada ao

possuidor, por litulo particular, par desconhecer que a lei exigia escritura pliblica.

Resulta dum trro de facto se o doador tiver sido algutm que o possuidor julgav~ ser o dono da cousa, mas que oa realidade o nso era.

8) - Posse em nome prdprio. Posse em nome priprio 15 aquela em que o possuidor detdm e Irui a causa sem re- conhecer qualquer poder superior ao seu pbbre a cousa (C6- digo civil, art. 481).

C) - Posse Pdbiica. Posse pliblisa B aquela que foi registada, quer seja conhecida quer n%o por aqueles que li- nbam interesse em fazer oposiqzo aos actes da posse ou que, n%o tendo sido registada, tern sido no enlanto exercida d e modo que pode ser conhecida pelos intereasadcs (C6digo Civil, artigo 523.').

Mas a posse 56 pode ser registada mediante uma sen- tenca corn trinsilo em julgado, que o possu~dor a exerceu pibllco, pacifica e cootinradamente por tempo de cinco anos.

Compreende-se ihcilmente a razgo por que em caso de registo n&o se exige o conhecimento direct0 dos inleressa-

dos : como o registo 6 urn aato de publicidade, se os inte. ressados n l o tiveram conhecimento da posse 6 porque nao agirarn corn o necessario zblo e diligdncia.

E, *cotno dizia Dunod, quem O negligente e n5o s e in. formou, podendo inlormar se, nao soube, podendo t b l o sa- bido, 96 de s i podera queixar-ses ( r ! .

0 conceito de posse publica do nosso C6dipo 6 dife- rente do conceito romanista e mesmo do direito intermbdio.

Assin, nos costumes de Melin, fonte do direito irancks e que nos aunca devemos esquecer por este ter sido lonte do nosso direilo, coosidera-se posse pribllca aquela de que todos tioham conhecimento ou de que todos podiam tt-lo.

No nosso C6digo 030 ss exige que tbda a gente tenha ou possa ter caohecimento : basta que os inleressados na oposi#o A posse tenharn ou possam ter conhecimento dela para logo se considerar pliblica.

Assim, se alguirn no dasejo de arnpliar a cave da sua casa perfurar o solo por debaixo do quinlal do vizioho, logo que n&ste suceda qualquer facto, v. g., urn esboroameoto, a abertura durn respiradouro, que revele a usurpaqao, a posse sed pliblica.

E' que o vicio da claudestioidade C tempor8ri0, ista 4, uma posse que comece por ser dandestina pode tornar-se pliblica, 96 ent2o adquirindo a qualidade precisa para ca- racterizar a posae de modo que esta possa produzir os efei- tos de que 6 capaz.

EL que, ao cantririo do que o arl. 5 1 7 O parece querer indicar, as qualidades da posse ndle indicadas n8o s8o 9 6 ne cessarias para os efeitos da presori~ao ndquisitiva, mas tambCrn para qsolsquer outros efelfos, nomeadamente para o exercicio das a g 6 e s possesshlas.

( I ) Citado prlo Dr. Cunha Goncalves, ob cit . vol. 211, pbj!s,511.

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S6 a posse pliblica, em oposi~zo it clandestina, i acorn+ panhada pela garantia juridicrm.

A posst pliblica, porim, d que nunca pode tornar-se clandestina porque uma vez adquirida a publicidade jimais a perderi, a nao ser que o possuidor perca a posse, mas, n&ste caso, esta n%o passou de pliblica a olandeslina: ex. tinguiu-se.

Pode, na enlanto, acontecer que sendo vdrios os inte. ressados na oposiq%o da posse, s6 urn deles adquira conhe- mento dela (4) e, n&ste caso, pregunta-se: pelo facto de u m 96 dos interessados tomar conhecimento dos actos clandee- tinos de posse passari esta esta a ser p~iblica em re lago a todos os outros ?

NZO. Em relaqHo aos outros interessados continua a set clandestina, podendo opbr se h posse logo que esta adguira a qualidade de publicidade: etn relacgo iquela que teve conhecimento dos actos clandestinos ter i que se opbr k posse, pelos rneios possessorios, no prazo de urn ano, sob pena de mais tarde ja s e n8o poder opbr.

Urn outro problema que aqui se levanta consiste ern saber Gomo considerar os actos possess6rios praiicados de noite :

Clandestinos ? NZo clandestinos ? Tern-se dito que tais actos sSio actos de posse clandes-

tina. N#io nos parece, porem, acerlada esta asserqzo porque

h i casos em que os actos possess6rios s6 podem ser piati- cados de noute.

1,) 0 que pode fliilmente acontecer risto qua a publicidadc pode ser objectiva ou subjectiva; no primeiro caso a posse C conhs- cida por inlercssadus e n%o iotercssados ; rio seeundo caso s6 06 inte- rersades teem conhecimento da posse.

Ora, so ssguissarnos aquele criteria, nunca em tais ca- sos poderia haver posse, o que ngo d verdade.

0 requisito da publicidade interessa i s garantias da posse, B sua defesa e at6 mesmo a sua nattlreza.

Porkm, quanto a natureza n%o se deve entender que a pablicidade f a ~ a parte danu.tureza da posse pois que, se as- sim acontecesse, faria parte do ~oncei to abstract0 de posse, o que alias so 11x0 verika.

d)-Posse Paclflca. Posse pacifiaa i a que se adquire s t m violtncia (C6difo civil, art. 521.O).

No direito romano sbrneate se considerava a violencia em relac& ao momento em que s e tomava a posst, e idtn- tica doutrina parece ser a consqrada no.CQdiga, c o r n ma- n i f w t a m t s e d e d m da p a l a m *adquire*.

Or escritores madwnos exi-, porbm, qne a posse seja pacifica ~htanto ao m m e a t o da adquisiqh om na hmpo da aua dura~ao.

Assim, a20 poderB ser considerada padfka a p i w e d t qubm e ~ t 4 em constaste luta armada, ja rep l ink , j i sendo rspelida, de m d o q m cmbora nio esbalhdo da coma C evidentemente privade dos seas frutoe e d o integral exerci- cio do seu direito.

Uma tal posse t inserta, t riciew.

e) - Passe Contfma. Posse continna 6 a qw sen8 tern sido interrornpida (C6digo civil, art, 522.")-

ALguns cbdigos, coma o italiaao e o Irances, exigtm ao lado deda qualidade a da ininterruptabilidade : a posse dtd, prdutora .d6 efeitos, h18m de contfnua, tsm de ser ininter- rupta.

0 legislador, talvez para evitar as discurs6sr q u t en-

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la0 se levantavam i voita daqueles dois conceitos, reeolveu falar s6 de posse continua.

PorQm, dlo.nos desta o conceiko daquela os cbdigos francts e italiano, englobando assim os dois conceitos num 96.

Ora, enquarito a conlinuidade se refere aos actos do preprio possuydor, a ininterrupcao refel e-ae a actos de ter- ceira.

Logo, para o C6digo posse continua 6 aquela que i exer- cida sem intermiitncias, quer provadas par facto de tercei- ros, quer por absten~6es do possuldor.

fJ-Posse Tidainda, Note-se derde ji que para os efei- tos da p r e s c r i ~ ~ o adquisitiva (usucapiito) n8o 6 necessirio, como o art. 517.O parcce indicar, que a posse seja titulada t de boa-fi; verificando-se as outras tr&s qurlidades exigi- dws -pacificidadt, centinui'dade e publicidade-veriiica-se a prescriq70 adquisiiiva,

Esla prescri~rlo simplesmen~e i facilitads pela existen- cia da boa-fe e do titulo juslificativo da posse, eocurlando os prazos necessarios para que ela se verifique (C6digo civil, arts. 527.", 528." e 532.").

Posse titulada e a que se Lunda em justo titulo, ern causa juridica (Codigo civil, art. 518.0).

Justo titlala ou cousa jurfdica diz.nos qualquer modo legititno de adquirir, independentemente do dirtito do trzns- mitente (art, 518.").

A posse tituIada verifirra-st, pois, sempre que um indi- viduo exerce um poder fisico sbbre uma cousa legitimamente adquirida, por um modo origlnario ou derivado, por ocupa-

ou cejfifio, por beranfa ou doapzo, etc. 0 que p ~ s s u i porque ocupou uma cousa abandonada

lern titulo; o que possui porque comprou tern titulo tambim. Quando a cousa se adquiriu por u r n modo derivado, a

posse e titulada independenternente do direito do transmi. tente (Art . 518." do C6djgo civil).

Assim, se Ant6nio possui ulna cousa que Joaquim Ihe doou, a sua posse e titulada.

Mas, por hip6lese Joaquim n8o era o proprietario da bourra, mas sirn Manuel que a vem rtivindidar, corn txita de Antooiu. Este, porque a posse era titulada, ficou cam os di- reitos do evicto, ngo contra Joaquim, mas sim contra aquele que transmitiu a Joaquim a prapriedade quc n3o tiaha.

A' posse tiiulada op6e.se a posse n3o titulada.

Vlcios da Posse. Dize~nos que por vezes as qualida. des da posse sZo e s l ~ ~ d a d a s do forina negativa, islo e, estu- darn-se os ricios da posse. Yejarnos &ste aspecto do es~udo,

A posse existc, como j i afirmamos supra, desde que se encontrem reiiaidos o c ~ r p u s e o anlrnus: mas, para que ela produza efeitos, e preciso que seja isenta dos ~ i a i o s de que por vezes enferma.

Urn vicio da posse 6-como dir Picard-qualquer cousa que, sem destruir a posse, a torna juvidicamente in6til.

A mi 16 e a posse e m nome albeio n3o s3o vicios da posse, pois que a !lei atribui efeitos jurldicos i posse com aquelas caracterislicas.

0s vicios da posse sZo : ; clandestinidade, a violencia e a descontinu'idade, a que correspondeln a posse clandcs- tina, a posse vioienta e a p0si.e descontinua.

A)-Posse Clandsrtina. A posse clandestina upae-se i posse ~ i b l i c a .

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Posse clandestina e aquela em que o possufdor procura encobrir os actos das vistas de todos e, nomeadamenh, da- quele que tinha interisse em iazer a oposigao h posse,

0 vicio da clandestinidade 6 : 0 ) - Temporrfrio, porque a clandestinidade pode cessar

e deede Bste momento a posse 6til comeqa a correr; b)-Rel~tivo, porque o possuidor pode encohrir os seus

actos sbmente das visfas de algudrn e, nestes casos, a posse se r i clandeslina em re lago a Bstes e p6blica relati- vamente aos resianles.

3)-Posse Vioicntu. A posse violenta op6e-se A posse pacifica. 0 vfcio nascida da viol&ncia e : a) - Ternpordrlo-pois que, uma vez cessada a violen-

cia, a posse 6til comecara a correr. 0 prazo para rt prescri- gfIo ser i , porem, de 30 anos pois n%o se concebe que aqutle que violenkmenle adquiriu a posse duma cousa tenha es- tado de boa fk.

Este requesito da posse estabelece uma di teren~a entre o direito portugues e o direito romano, pois que, neste, a posse adquiridd peia violbncia continuava viciosa mcsme depots de terminada a vialbncia. 0 vicio da violencia s6 de- sapareda quando a cousa voltasse novamenie 9s mgos do seu proprietArio,

b)-Yclntivo-porqne a posse pode ser violenta em re- i a ~ 3 o a umas pessoas e pacifica em relacgo a outras. Assim, :,e Aot6nio se tiver apossadn violentamente duma cousa que joaquim possuia mas que pertencia a Manuel, o vicio nasci- do da viokncia existe em relaqao a Joaquim, ex.possuidor, mas n%o etn rela~Bo a0 proprietario.

Afirmamos ]P que ulna posse s e considera pacifica tloto quanto ao rnotnenlo da adquisiq%u como no tempo da d u r a ~ s o .

Ora, neste segundo aspecto, 09 escritores flcctem a m pouco a rigidez do principio nos dois casos segnintes:

1." - Para a qualificagn da violencia posterior ao mo. mento d e adqnisigao sZo indiferentes os aetds de viof&nria passiva, isto i, os actos praticados pelo possuidor para repe- lir a turba~fio de terceiros; e isto porque - diz-se - seria inadmissivel fazer depender durn terceiro o earacter vicioso on nSo da posse.

2 . O - 0s pr6priaa actos da violtneia activa silo indife- rentes para a qualifica~go da posse quando tenham sido pra. ticados de longt em longs.

A violbacia de que aqui se fala ngo L s5 a do ark. 660," 5 6nico do Cddigo, cansistente no emprego de u tbr~a fisica, ou de quaisqner outros meios que produzam danos ou h r t e s reocios deles, relativamenle A passoa, honra ou fazenda do contraente ou de terceiross, isto e, a vls obsolula dos romp- nos que gera nulidade absoluta (,), mas tamb4m tbda a rio. ldncia que fica iqudm destes limites sxtrernos.

c)-Posse Descorsfdnua. A pwse descontinua ap&-se h passe continua,

0 uso conslante e permaneale da ceusa seria impossl- v t I e absurdo. Quande se diz que a posse d e r s ser contfnua quere signibicar-se que 0 possuidar deve praticar os a c k s d t posse de maneira repular e corn espacos suficientementt curtos de modo a PHO constituir lacunas,

Uma posse que ninguern iaterrompeu mas-que o possnl- dor nSo mostre ter exercido por actos passerrdrios e'coeii-

6 ) 0 Dr. losd Tavares diz que o $ hnico do art. 666.O do C6d. civil abrange fanto a fdqa fjsica, como a coaccZo moral c que, seja qua1 f6r a violencia empregada, sempre a nulidade dni resultante iera uma nulidade rcla tiva, por no direito portnputs nHo eristircm nulida- dts absolatas

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nuos n2o t uma posse continua, nem mesmo uma posse exis- teote.

A questgo de saber se os actos pralicados fbrarn espa- pedos de forma a dever considerar-se ou nHo continua a posse e, porem, uma quest80 de facto que se dtve resolver a prop6site de cada caso concreto e segundo a natureza da ' cousa possuida.

~ A s s i m , num monlado de sobreiros, s6 e extraida a cor- t i ~ a que tiver nore ou dez anos de cria@o, e, por isso, re as arvores forem lbdas da mr.sma idade, s6 em intcrvalos de nove ou dez anos se realizarao a s tiragens ; mas, nestes intarvalos, outros actos possessdrios podem ser praticados, como a criaggo de porcos, carte de lenha, limpeza de mato, culturas intercalares anuais, lavoura do lerreno, etcn. I+)

Efeltos a a passe-Explicu~3o prhia. A eficicia jurC dica da posse traduzsse na concessHo das acg8es possessd- rias ao possuidor e uuma strie de vantagens ou ctirnodos quc para Cstt resultam direotamente do f a ~ t o da posse, ou que sZo por ele condicionados.

Ngo siio, porem, udnimes as ascrilores Bc&rcrr do mi. mero e natureza dessas rantagens ou cbrnodos. Emquanto Auby e Rau itribuem h posse urn Jnico efeito, Tapla enu- merou nada menos de setenta e dois cornmoda possessionls.

A questgo tern, porZm, uma importaosia mais acade- mica do que pratica, pois results de modo diferente de en- carar o problema : emquanto uns consideram efeilos da posse sbrnente os que drscfamente prornanam do faclo da posse, outros consideram tambdm, corn rnais ou ruenos am- plitude, 0s que de algutn modo corn 6le se prendem,

(1) Exemplo tirado do vol. III do Tratadu do Dr. Cunha Goncal- ves, gig. 507.

0 nosso legistador nao ~istemalizou convenienternente esta mattria : pordm, das diversas disposig8es do C6digo parecennos que podemos indicar, como sendo os mais carac- teristicor mfeitos da posse, os scguiutes:

1,')-Ao possu'idor pertence a posiqro rnais cdrnoda de rtu oas acpaes em que o titular do dirtito ou o preprietkrio da cousa possuida reclame como seu o direito ou a cousa, vanlagrm esta rraduzida no aforismo causa melllor est con- ditio possldmfis.

Vejarnos em que consisle esta vantagem. E' conhecido o princlpio de que o onus da prova recai sbbre quem alega 0s factes-arzrrs probandl fit auctori.

Ora, o autor nSo tern que provar a sua posse; a80 tern mesmo necsssidade doutra defeza alCm da invocag%o da sua posse - prr~s id~o qula possldeo; t ao adverskio que com- pete provar o seu direito; e se o n%o cooseguir o possufdor Pence a dernanda-auctor Ron probandi, reus absalvltur.

2."-0 possuYdor tem o d~te i to de fazer cessar todos es aclos perturbadores da sua posse, repelindo-os por sun prri pria f b r ~ a , desde que o faqa em acto conseeutivu e nao Ihe seja possivel recorrer a f b r ~ a ptiblica-vim vl repellere licef (arts. 486." do Codigo civil).

3 .LN.3 defeza do sell direito tern ag a c ~ 6 e s possess6- ria9 ( 4 ) que Ihe s8o conleridas por lei (arts. 484.' a 493,"). Estd a posse protegida lambCm pela a c ~ a o criminal, v i s~o que segundo a disposto aa art. 445.O do C6digo Penel, B crime o facto de alguOm por meio de violtnda ou de amea- Ca para corn as pessoas ocupar cousa irn6re1, arrogando-se o dorninio ou a posse ou o uso dela sem qae lhe pertenca,

(1) Coviello enteode qua as acczes posmssbr~as nPo sr podsm con- siderar como urn efeiia de posse, porqu* elas constituem-d~z-r tu tcla ou proteccHa legai do institulo possesborio.

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4,') - 0 possuldor de boa-fi tern direito aos frutos da ceusa. Erta adquisiflo esli , porim, dependenle de regras diversas ctraforme a naturtza dos frulos. Assirn, a possu~dor de boa-fi faz stua os frulos naturais e industriais colhides at4 ao dia em qw cmsou a boa-it; mas tern, no entanto, direito a ser indemnizado dar despezas que hale feilo corn a produf* daqudes que se eacoafrarem ainda peodenter c, Aka dism, a uma partt do produto liquid0 proportional ae tempo da colheita (art. 495.7.

Os frutos ciris sUo adquiridos par quem tenha a posse da ~ o u s a no momento em que s2o produzidos : e , par isso, bles sHo repartidos proporoionaLmente ao tempo em que a cousa foi possuida pelos divtrsos ritulares. Asslm 6 q u e o possutdor d t boasf6 faz seus os frutos civis correspondentes h durafio da meama posse.

5.")-Tanto o posswfdor de boa fe c o w o de m i . f i t tm direito a ser iademuhdos pelas benfeitorias necessarias fart. 498.O). Porim, na importaucia destas serd encuntrado o r t u d i m t o liqnido dos frutos recebidos (art. 498." 5 1:) de mod0 que o possuidor so ter5 direito ao saldo, havando-o, a SCU f l l ~ 0 ~ .

S6 o reembblso do possu'idor de boa-fe esti garantido corn o direito d t retengo, podendo o mesmo recular a ras- tiiul~go da conpa enquanto tail beafttitoria8 nao lha syam pagas.

Tanto o pos8ddor de h a 4 i como o d t mil-it t t m di. reita a levantar as benfeitorias iteis, podendo la&-lo sem delrirncalo da wusa (499.0). A possibilidade de detriment0 13 uma quest30 de facto que deve ser resolvida simplesmente para cada cnso concrete.

Havendo detriment0 da consa o possu'idor ter i direito a wr indernnizado per qma8 benfeitoriar (art. 499.' 5 2.") ;

p o r i m , 56 o reembbtso do possuYdor de boa fC esti garan- tido coru o dire140 de reten~Bo (art. 499.O g 2.").

S6 o possui'dor de boa-ft tern direito a Ievanlar as ben- teilorias vo1uptuirias desde que dai nlo resulte detrimeoto da cousa; havtodo.~, o?fo as poderi levanlar nem harer o valor delas (art. 500.").

A passibilirlade de tais casos sera nos ttrmos do fj 2.' do art. 500.9preciada por lauvado ercolhido a aprazimepto das partee.

6.") - A posse produz em favor do possuidor a prcsun- @o de propriedadt, qut pode sar mais ou menos atendida coofortue a s circuostdncias (art. 477.').

Desk presunt%o lagal i que alguns tscr'itores liram a conseqll@ncia de fjcar o possuxdor exonerado do cargo da p r o w na acqao de reivindica~lo de domiaio, qua contra dt venha a ser intentada.

0 art. 477." tern de ser confrentado CQm o disposto no art. 952.', que nx nova redacq%o que Ihe foi dada pe1o Dec. 19 126 de 16 de Dezembro de 1930 determina que a posse podt ser invocada em jufzcl para prola da propriedade t da- fendida.pelos meios porsess6rios, independentemtnte d t re- gisto, saivo o disposlo nos arts. 524.", 525.' t 526.0 ne0 I.", ou seja no caso de prescriqBo fundada em mera posse,

Ora, como a mera posse s6 pode ser registada medi- ante a apresenta~io de sen ten~a corn transit0 em julgado, donde conste que o possu'idor tern exercido a posse durante o pram de ~ i a c o aoos, ,pel0 meaos, resulla que a prtr- criqao de propriedade ago pode tundar-se em posse dc me- nos de cinco aees,

7.")- A posue, desde que st ja em nome pr6prio (art.

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518.") ( I ) e relina as qualidadcs axifidas no art. 517.", ctn- ftre ao possuidor a propriedade da cousa porsuida, decor- ridos que sejam os prazoB exigidos por lei jprescrlgdo ad- ouisitiva ou usocao~bol.

Note-st, que as cinco qunlidades exididas pel0 art. 517." para qus se reriiique a prescri~lo ndquisitiva - 1.' tituiada, 2.' boa fC, 3.' pacifica, 4.' continua e 5.' pd- blica- nEo sao sempre nrctsslrias, embora as txcepg6es scjam Pbrsente as expressas na lei (art. 517." 5 linico). Com efeito, de leitura dos arts. 517.' (*) e 529.0 (3) resulta qua aquelns condi~Bes s6 s2o neaessdrias para a prspriedade se adquirir pelas prescri~tits de 5, 10 a 15 anos, sendo disper siveis as dual primeitas qualidades para as prcecri~tiw de 20 e 30 anos. Por rutro lado, dispondo o art. 532,' que *as cousas rn6lein podem ser prescritas pela posse de trds anos, seode continua, pucffico e acornpanbada de Inslo llirrlo e bou j d ; ou pela de dez iadepentcmcnte dc boa fC e just0 titulo parecc excluir a qualidade da publicidade em relago a prescripSo dos m6vcis. E, contudo, a publicidade t coma ja ahha re disst, uma qualidade indispensivel da porme.

(1) A fixQinck da posse em nome pr6pria para quc re rmrifique a prcscri~Zo encontra-se feita d r mod0 indirrcto no Cbd. civil, art. 510.": hqaem possui em nome de outrem nlo pode adqnirir par presrdf3o 4 cousa possuida-. L

(d Art. 527.O : *Tanto num ccwo nouira do$ doir rasos espccifi- cador no artigo antecedentc, ra a ponse tivcr dnrado por dcz anos ou mair, AlLm dos prazoa est4belecidos no mermo artido, dat-sc.6 a prw- crl~%o. scm que pussm alegar-se m6 ft, on a faktr de titula salvo o qat fica disporto no arligo 510."*.

(1) Art . 529 .O : eQuando, porem, a posse dos imirds ou direiios imobikirios, menciorudos no artigo anteccdenle, tirer durado pclo ternpa dc trinta anoa, dar-se-a a presuiclo, sem que possa a1egar.s~ a mi ii ou a falta 1e tftulo, salvo o qua fica disposto no art. 510.0,.

36."-Do Direito de Farnllia

-Conceit0 de farnllla no Direito Romano. -Conceit0 de fsmllia no Direlto moderno. -Agragado famlllar. --Casamento: - bport8ncia e evolu~ao. --Breve embe90 do catismento no Dlrello

Romano -Naturezs jurldica do caramento. -0 problema da nntureza jurldica do

oasanrento e a doutriaa. -As dlversas soluqdes qur tbm sldo

dadas ao problema da nalurera jurldlca do caramento :

el--boutrina contratuel ; l.O-ExposipBo da doutrina ; 2:-Aprecla~lo da mathla contratuallsta.

c)-Outras doutrlnas : 1:-Dautrlna de Llcu ; 2.'-Doutrlna de Portalls.

d)-Solug80 proposta. -HarmonlzapBo da solupEb dada ao pro-

blema de natureza j~~ r i d loa do cesa- msnto pel0 prof. Doutor Jalrne de Gouveir, corn a deflni~i40 legal de ca- samento.

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--Elementos constitutlvos do casamento - - condiqoes de validade do casa- mento : --

ConaiqBes ernergentes da prbpria natu- reza do casemento;

Condiqdes relatlvas B capacidade dos contraentes - impedimenlos;

Condlcdss cornuns a todos os actos jurtdicos ;

Condlqaes de valldade intrlnseca e con- digoes de valldade extrlncecil.

Concelta de famllia no Direito Romano : - Ji no ni- reito Romano se arribuiam a palavra farni'lia dois siguifi- cados diversos :

1) -Num sipificcldo msis restrilo designava o cou- junto de individ~ios ; I ) que estavam sob o mesmo pLtrio pa- der, sob a meslna urnanus, (farnilia jure proprio).

2 ) - Nurn outro significudo abrangia fodos os indivi- duos que ernbora submetidos, em dado motnento, a patrios poderes difcrentes eslariam no entanto snberdinados ao mesrno apater-familiasn se tste fbsse ainda vivo (Janrilia jure comuni),

Conoeito de famllia no Oireito rnodarno: - TarnbCm no dtreito modernoa palavra f u v i l i J tern diversos sigoificados:

I) -- Num srgnijicadn nt?lplo abrange tbdas as pecsoas que t&m om progenitor cemurn.

(1) Iudividuos e n i l ~ psscoas, porque ncm a kudos as indiv idu, ;~ u

Direitu Romano rccouhecia a qualidade de pessoa.

2) Num sentido rtrsfrito abrange sbmente 0s esposos e os seus imediatos descendentes.

3) - Num signl'icado inlerrne'dio, que e o pr6pr1o ou juridico, abrange as pessoas que promanando durn proge- nitor comum, se e~lconlram llgadas pel0 faclo da sua orlgem por urn vinculo juridico.

(!orno vemos, os elementos de guja eonjuga~%o reselta o cooceito juridico de famiiia sLo :

a) a orlgtm coma~n. 6 ) o vim~ulagda'o jtlridicii, sendo kste 6I1imo elemento

que nos permrte disrioguir a famiha legitirna da ilegitima, pois enhe 0s elementos desta n?io existe tal viocufa@o.

Assim, poaque enlrz nos o ;inculo jurjdico s6 produz eieitos at6 ao 6 * grau (vid., por cxemplo o art,* 1969." do C'6digo Civ~l, relalivo B sucessZiu Iegiiima: it).

0 s parentes em 1 2 . O . 1 0 . O ou mesmo 8." grau ja nZo iazern pnrte da familia no sentido juridico, ji 1180 tern uns ern re1aqao aos outros os direitos e obriga~6es quc a lei atribue as pessoas por rirtude da r e l a ~ I o de parentesoo que elitre etas existe.

Agregado famlliar : - Na sua evoltI$%0 o grupo fami. liar tern sofrido modifica~6es em urn duplo sentido : no sen- tido da dirninui~ao do vinculo de pessoas que o constituern e no ssntido do alargalnento da intensidade da vincula@o que prenlle as pessoas do grupo em beneficio da actividade individual de cada ulna das partes que cornp6em o agre- gado lamiliar.

Esta IimitaqIu da rincula~io iuridica 6 rrcente : data do de- cretv de J!-IV-9lil, art."= 7 e 1'1. Atb e n t h , o Bmbito da iamilia :;a malor.

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Bstas modifiu#ies, porern, sao maim de caricter aci dental do que essesciaI. Por isso, elas naa modificaram it

naturczr do grupo: a familia ainda hoje coastitue urn apru- pamcnto n a t m l , Corn efsito, a s pessoas que compdem o a r t g n d o familiar d o s t enoontrrrn rinculadas por virtmdt de urn acla de ~oatadt , de urn acto arbildrio, mas POT fbr~m da prhpria nalursza. E' urn agrupamento neoees~do, no dizer d t fi16solos e juristas.

Coma diz Duguit, 496 ousadamente st poderia coacrber sma organizagh social em que o l a ~ o familiar nZo tbsse recaabecido nein pelas cosiumt~ nem pelas leis*. (I)

G m eieito, ngo s t compreenderia Ihcilmente o agregado nacional sem a existhcia d t am prupo que fbsse o cltmento & coed0 entrt todos 08 elementos que lormam a naciona- lidadc.

Ora asta tun90 de aoesao i desempcahada pela lamilia: a6 que a institu~~Po da farnilia C o laboralirio mais perftito de todos os sentimentas, ideas e qualidadea prdprias para fuer do individuo urn ente verdadairamento social, apto para cooperar na harmonia e na solidariedade bumnna que $30 indispansareis & conserva$io e aperfeigoamento da ~ i d a co- ltctirar. t')

Daqai resulta a importllucir que lrgislaflo da familia stropre tern sido dada pelos Estados, e ainda a imporcancia que tssa kgisiaflo assume em norsos dias.

Rrkrn, a obserrac?io mostra-nos qua hojc tsse g r u p i l u i ~ a -a tamilia-atra~ersa uma agudrt wise.

A organizal;%o da famflia, caracteriaada nos tcrupos an- tipoa, ger urn poder absoluto do cbefc sbbre as d e m ~ i s

( 1 ) Duguit, Maauel tie Dmit Coastittrdonnel, phg. 247. ?I Dontor Jose Tavarcs, 4 s priocipios fundarnentaia dodireit0

civill~, I, ed. 1932, pig. 693,

mtmbws do apegado familiar d r e u por vLtYBt dt el*. mentos divtrsos, profundas alterrcdes,

O poder absoluto do chefe, w m o ltrdar don tt-, tornou-st mais moderado. Posteriormenk, sab a influenda das ideas da igualdade e da liberdads foi c e a r i d ~ h v e l . mtnts reduzido.

Flram ainda estas ideas que p r o v o a a n o spiwaci- mtnto d t problemas virios come, por exemplo, o da iglnl- dade de todos os mernbros da familia, a da igualdade de sexos, tsie rillimo originando o merimenlo femioista.

E, a verdade i g u t a organiza@e actual da famitia rdo assenta jd oum poder absoluio do chefe, mas nos priacfpios da igurldade e da liberdade, de tal forma que urn escrker e jurisconsulto poude dim1 corn jumteza que o aaiual r q i r n t da familia era urn regime de rtpribiica familiar.

Pordm, os Estados procumm hojc resconstituir a fami. lia em bases mais sblidas, e nesta atitude dor Eslrdos vai uma das razties por qne a rth$@es da iamilia camsCam a ser consideradas, por muites jurisconsuItos, Apartc des w. tros capltulos do direito privado.

CASAMENTO

Y o ~ a o de oasammnto : A palavra casamento pode s t r tomada em dois sentidos: rrum sfd ido amplo, significmdo o conjunta d e regras juridicas que rtgukm o estado de ca- ardo ; num setrlldo mats restrtto, mas tambim mais tionico, significando o rcto jufidico de caracter particttlar que inrestt os nubentes DO estada d t crsado.

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Importancia do casamento : 0 casamento 6 , sem d~ivida, de tbdas as inslitui~6es de direiio p:ivado a mais importante e a mass grave.

E' o casamento a base, a oridem da familia legitima; e se a familia i , como jd tivemos oc~.siao de dizer, a base mais firme: de lbda a organizqao social, o acto que a ori- giaa n%o pade deixar de ser uma das mais importantes ins- liluy~$es juridicas.

Porim, a importaucia do casamrnho nao C mkramente luridica, mas tamben~ social e religioja; por isso 6le e regolado, n3o s6 por norrnas juridicas mas tambim rnorais e religiosas.

IJm facto curioso que nos mostra a grande importincia do institute: - o poder temporal e a Igreja travaram uma prolongada luta para a regulamentaqao exclusiva do marri- m6niu.

Referindo.se a iinportfincia do matrim8nio dizia Cicero, e n65 podernos repeti-lo hoje, que o crrsamenlo era .grin- cipiurn urbis e l scminarlrztn rei pubilcne- - o principio da oidade e o viveiro dos 1':stados.

Breve ssb8qo da evolup%o hlstbrica do casarncnto Eyolu~lfo do casa~nento rro Direifo Romano: - .I evoiuqno seguida pelo regime juridico do casamento no direilo romano Ioi 130 profunda e radical, que pode.mos afirmar n5o ser 0

matrimbnio do direito justianeu m a ~ s do que uma palida imagem do casemento arcaico.

Porkm, 020 obstante t&da ~ s t a esolu~%o, o casamento manteve sempre, atraves de todo o direito romano, urn traco cooslanke - a existkncia de dois elementos conslilut~vos : a .cconjunctio maris et Iaeminaer e a crafkectio maritalis*.

As duas definigaes classicas do casamento - urna atri- buida a Modestino e a outra provhvelmeott d e Ulpiano, -

que at6 116s chegaram pel0 Digestu e pelas Institutas de Justiniano, fazem refertncia expressa iqueles dois elementos.

Modestino deiinia o casamento : rconjuntio maris et hsminae et ~onsorl ium omnie vitae, divini et humani juris communicatio ( I ) (tr. S. d. 23,2); nas Institutas IO-se: unup- tiae autem sive matrimoniutn est viri ef mulieris conjunctio individuam consuetudiaem vilae continens 1 .

(5 1.. Instit. I, 9).

Mas, o que era a rconjunctio ~naris el faeminne e a affcctio maritalisr 7

A *conjunclio maris et faeminae. consistia, n lo na naiao carnal do marido corn a muiher, mas, na convivtncia, na cohabitaqzo. Adquiria.ne tsfe element0 pela sdeductio in doraum mariti*, qus consistia em o marido ir buscar a rnulher a cnsa de seus pair Isvaado-a em seguida para sua casa.

A a deductio uxoris domurn mariti*, era acompanhada de cerlas cerimonias domistieas, duraale a s quais a rnulher pronunciava a reguinle formula : Ubi tu, Gaius, e t o Gnia (2).

A partir da ~deduct io in dornum mar i t i~ a mulher fi- cava sob a mansrs do marido ; passava a oooviver corn tle, partilhrnde das suas honras, di#nidndes e pogi~ lo social, In- dependentemtnte de qualguer [ormalismo ou solenidade (que nunca foi emigida pela direito romano) ou de qualquer interwen680 do Estado. E, csmo a rconjun~fio maris et faemi- n a c ~ nEo consistip na uniao carnal de maride aom a mulher esla u n i k trimbdm n8o era necesdria para a raiidade do caaamento ; a ~conjunctio maris el heminlea subsistia ainda mesmo que marido e mulher eslivesstm separados.

(1 ) 0 c~samento 6 a coojun~Io do rnarido e da mulher, o cens6rcio por tdda a vida e a cornuuidade ds direito dlviuo e humano.

( Onde Lu foms renhor, eu serei senhora.

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Delta forma o que fixava o momento em que o casa. mento se iuicitva era hnicrmente a dsdudlo,

A ~affectio maritalis* consistia na i n t e n ~ b da ambos os cdnjuges riverem na conviv&ecia am do oubro.

Onde s t verifirasse a cumuabao da ~conjunctio maris t t fatminaes t da ~alfectio marilalis~~ ai existia urn casamento.

Deve, portm, notar-st que para a subsisttncia do aasa mentr n!io baslava a existencia inicial da uaffectio marilal is~; a ioten~IIe, que eata expressao tradux, deyia acomp;xnhar os cbnjuges em todos 0s rnomeutos dr dllra~20 do estado d t casados, numa como que conrtante reuovac8o. Nisto s e dis- tingrria o casamento dos contratoa, noa quais baslava o con- sentimento iulcinl para qus surpisse o vinculo juridico, para pue o aontrato ficasst perfeito. Por iaso podemos dlzer que no dircita roman0 o casamento nunca foi um contrato.

Logo que urn do$ cbnjuges perdesse a cafftctio mari- talir*, muit0 embora ela tiveose existido no momento da udeductio in domum rnariti*, o casamento dis~olvia-se (d.

nesta forma, o div6rcio era, pode dizer-se, da prdptia esstncia do casamento, pois para que tla Liresse lugar nada mais rra necsssiirio do que Urn dos cbojugte pzrdcr a aaf. fectio mnrilalir 8 .

0 dircito eldssico precurou rtstringir esta ampla kcul. dadt que as partes tioham de s e divorciarern. Tomaram-st medidas mais oa menos restritivas do dir6rci0, mas a ver- dpde e qae subs~ancirlmente estc ptrmaneceu sernpra como iastituigao inlciramente ligada no matrimoaio.

(I) O que aqui, no casamento, ss passa coma ~affuctio maritalis* d *mutatis rnutandia* o mcsmo que se passa na posse corn o elemento enlmut. Cam Jeito, tanta o aninus como a. aaffectio maritalis. s8o ncccssbr~os ; o primairo, para a e?cistdncia da posse, a scgunda par a ' a existEncia do casamento ; st, para a perda da posse basta a pcrd do unimur, para que o casamenio se dissolva e suiicientc a perda da afleclio marllalh.

Natureza Jurfdica d o Casamento. 0 problema da nrtureza jurldica do casarnento s a

doutrlna.-Ati ao fim do s6colo passado n%o se levantou o problema da oalureza juridica do casamento, porque era doutrina corrente, mesrno incontestada, a seguinte: o casa- mento civil 6 urn cootratn. Mar, a partlr de 1902. esta con- c e p ~ a o tem sido rudemente criticada.

Foi Lefebrtre quem iniciou o ataque ao conceit0 do ca- %mento-canltato, num trabalho publiaado na nNouvelle Revue Hislotique* sob o titulo seguinte: *Le mariagt civiI n'est~ii qu'un contrat? E , desde entZol numerosos jurie- consultos estrangeiros ( 4 ) t&m ronhnuade a tarefa encelada por Lefebvro.

Eatre n6s, o problema sd tern sido versido pelos Pro- fessores das Faculdades de Direito, nas IiqBes pr~lferidas a06 respectivos cursos e publicadas por aIuuos.

E, tanto o Prof. Doator Pinto Coelho, em Lisboa, como os Professores Doutores Beleza dos Santos e Pires d t Lima, em Coimbra, tbm defendido a doutrina do casamento-con- trato

Supornos, pordm, que o Prof, Doutor Pinto Coelho, a araliar pelo pirecer, que relatou, da C%mara Corporativa acerca do project0 de lei nlirnere 111 (:I, jB hoje sustenta opini3o contriria. Corn efeito, n&sse parecer I t se a seguio- te :*. . . corn base no conceit0 do casamento.conlrato, pois

(I) Duguit, l'Etat, Ie droit objectif el la 101 positive, 1, pig. 205 e sets. ; Japiot, Desnullites en maliere $'actes juridiques, 19f'Y*, p i g 255 e segs. ; Emmanuel LCvy, Mariage et contrzt, in Revue de Meta. physique a t de morales, 1911, p ig . 806, Gounot, Le principe 3e l au- tonirm~c dc. la volot~tC en droit privC, 1912, pig, 255 e segs ; Bonnt- case, La philosophie du Code NapolCon appliqudt au droit de fami* l l as in Rev, ginerai du droit, I93 f , p i $ 261) e segs., elc, etc,

(7) D~Crio das Secc6es de 29-4-93?, 4." Suplemento ao 0.' 127.

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a &ste conceit0 antiquado, fruto da viciosa ideologia indivi- Jualista dus seculos XVIII e XIX, devia substiluir,se a no- @lo mais racional e reaiista do casamento-instiiui~30, a h i c a que correspondia a verdadeira natureza das relaq8es juridicas que no casamento tetn a sua origemlf.

As diversas soluqdes que t l rn sfdo dadas ao pro- blema de natlrrera juridlca do casamenta.

Diversas tern sido as sokuq6ca dadas ao problema da oatureza juridica do casamento.

Vejamo-las :

a) Doutrina conlratunl : E m geral entre n65, quando se procura caracterizar o

casamento atribuem-se-lhe as notas seguintes : contratuali- dade, incondicionalidade e solenidade. Contratuulidadc, quere dizer, o casamento i urn confrato ; incorrdicionolidadc quere dizer, o casarneoto i urn contra10 civil .qne sc regula pel0 direilo civil e ngo pelos cioones, regras ou costumes de qualquer rito religiose; solenidadc, quere dizer, o casa- mento 6 utn contra10 solene.

E', afiaal, a aceita@o de uma opiniso, que vem jft do direito canbnico e que, ainda. boje conta inurneras simpatias, sobretudo entre os sscritores italianos e franceses, segundo a qua1 o casamenlo i um contrato de nalureza especial, corn caracteres e notas especfficas que o diferenciam dos contra- tos comuns.

1. Expasifao d o doutritin.--0s jurisconsullos parrida- rios da doulrirra do casam~nto~contrato afirmam que n%o obstanle t b i ti: a s notds ecpeciiicas que separam o casamento dos coolratus comuns, substailciaimente, i a idea de contra- tos que durn~na no casamento.

Baseiam-se nas raz6es seguiotes : I...) I! o conse~ltimeuto dos cbnjuges que origina o vinculo ; 2.") e suficiente para a sua celebrs~8o o conseutimento inicial ; 3,a) o acbrdo entre os nubentes tern pot fitlalidade a constituQ%o e reguIamen- t a ~ d o de uma rela~go juridica, que C , afinal, a finalidade d t lodos es contratos.

2. Aprccdagio crlticn da matkrda contrafualista. - A aproximn~Bo entre o casamenlo e os contratos nEo Co exacta nem rigorosa, porque coniraria as ral idades e nunoa estas podem ser venctdas ern luta corn r s f ia~aes .

Corn efeito, examioaodo as disposiq6es reguladoras do casnmeato, veriFicarnos que, quer quanto ao mod0 de for- mapko, qucr quaato aos efeitos tacontnmos 3empre uma dileren~a grande 8 substancial enlre o casarneato e os conlratos.

Assim, quanto B formaqgo do casamento, devemos notar que o acbrdo dos nubentes para a celebrag40 do casamtnto e necessdrio, mas d o e suficknte; e indispeos6vel ainda a interven~go do Estado, representado pelo fuocionario pliblice i1), cumprida a lei e'czsados os nubentes. S6 pela reunigo destas trCs vontstdes - as dos nubentea - e a do Estado - fica formada a vontade do auto juridico ; as vontadts dos nubentcs, sem mais uada, nLo h s t a m para quc exista o

(1) Esta f u a ~ s o especial desempcnbada peio funcionirio d* Es- tado que enirevent na celebraczo do casamento foi noiado por Pio X.

Corn efeilo, no decrelo pontificio Aelcmcre, Pio X modificou os canonas que estabelcciarn szrem os minislros do sacramento domatri- m6nio os pr6prios nubentcs, figurando o piroco encarregado de assist~r ao casamento religiose. apenas como simples testernunha. Alterou, pois, cum &ste decreto o que a respeilo do casiimeoto se encontrava iixado no dtreito caotjoico do couziliu tridzntino. Depoir do decrcto .%e remere, o s3ctrdote passou a desempenhar uma funcZo activa.

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casameolo. =Ex adverso. poder.se-a, porem, objectar : - a necessidade da intervensiio do funcionirio pdblico n%o se manitesla s6 em rela~Bo ao casamento ; muitos outros con- tratos h i para a celebracZo dos quais e formalidade iodis- pensive1 a inlerven~go notarial; deste modu, tudo :e reduz afinal a uma simples m u d a n ~ a de funcionarios : - no acto juridico do casamento iatervem o oficial do registo civil e, nos oubros ~onlratos, o notbrio.

A objec~;lo 4 de todo i~nprocedente. A funqge desem. penhada pel0 notario d inteirameale diferente da do oficial do registo civil, 0 nothrio desempenha uma funqtio passiva, pois limita-se a aceitar e a exarar as deciara~aes das partes ; pelo contririo, o oficial do regista civil desempenba ulna f u n ~ b activa, constitutiea da vontade de acto juridico, cha- mado casamtnto.

Pelo simples facto de os nubentes declararem perante o oticiai do registo civil, que de sua livre vontade sasarern urn corn o outro, n&o fica o aeto juridico de casart;enlo per' feito. Ksta perfeicso s6 se atinge quamdo o funcioniri* do regido civil disser em voz al ta : .b:m nome da lei e da Ekpirblica Portuguesa declaro F.. . (nome complelo do ma- rid#) e F. . . (nome compleio da mulher) unidos pelo casa- mento, (Cddigo do Reg. Civil, art,' 305." n.' 4),

~Declaro unidos pel0 asamento 11 : - Esta expressfo rnostr~-nos, corn grande clareza como, na realidade, a fun~Ho do oficial do registo civil 6 constitutiva da voatade do pr6- prio aclo juridico. NBo i desta natureza a fungBo desempe- nhada ptlo notario, que se limita a receker as declara~6es das pessoas que a ele se dirigem e a exarar, pura e simples. mente essas mesmas declaraq6es : neste casb s2o $6 a s von- tades dos contratantes que, declaradac d r harmonia corn a lei, constituern a vontade do acto juridico a celebrar (veja-se

o artigo do Cod. do Notariado, aprovado pelo decreto- Iei n.' 26.118 de 24.11-935. (1)

Em resumo n5o C verdade serem semelbantes as fun- ~ 6 e s desempenhadas pelo notirio e peIo oficial do registo ci- vil : - o pr6prio lexto legal nos diz que n fungao dCste 6 consiitutiva, activa; emquanto a daquele e mkramente pas- siva. Sendo assim, i igualmente err6neo que o casam&ato resulte, linica e simplesanante, do m6luo consenso das von- tades dos nubentes.

E, n%v se procure urn arturnenlo a favor da dautrina coniralual, no fack dt o casamento #in exlremis,, que tern lugar quando urn dos nubentes esteja em perigo de vida ou seja arna parturitnte, se poder realizar mesmo sem a inter- venc%o do conservador do regislo civil, porque, c o m ~ vere- mos, o casamento realizado naquelas condiqties sbmtnte se forna definitive depois de ratificado pelo juiz de direito e fi- car6 nulo de pleno direito ae a sua r a t i f i e a ~ ~ o nao for requt. rida no prazo de 60 dias (Chdigo do Regislo Civil, - rrtigo 309.0)

0 Prof. Doutor Pires de Lima apresenta ainda cemo argument0 a favor da doutrina contratnal a circunstdncia de a doutrina ean6nica considerar o casamento um contrato, sendo certe que a f u ~ ~ a r do funzionario do regista civil d ern tudo scmelhantt a do sacerdote, pois 15 IamMm s6 depois ddste ter proferido as palavras :-laconjugo ros in nomine Patri, Filii et Spiritus Sanctir --que se considera celebrado o casamento. Mas iambem este argument0 t insubsistente

(1) Corn efeito, o nothi0 iirnlta-sc a conaignar num instrumento pirblico que num certo dia dc determinado mts c ano comparecrram perantc t l e F.. , c F. . que declararam (seguem-se as declarac6es); e teraina por dizer--1oi assinado perante mim peIos pr6prios outor- gnotcs c pelas testernunhas l i . . . e F. .

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mormente boje, depois da publicaq20 do decreto aNe temere* j i referido.

Quanto ao seu regime juridico tambitn u casamento se n?Io pode confundir corn os contratos.

Cum tleito, as normas reguladoras dos contratos n8o s%o aplicdveis ao casatnento, a n%o ser aquelas que por re- gularem a categoria mhis amp'a dos neg6cios juridicos bi- lateritis, j i n % ~ silo prbprias dos conlratos.

Assim, contrariarnente a. que oa realidade acontece, o art. 709." dever.se-ia a p l i ~ a r ao casamento que dkste modo fiiaria sujeito a gconditio ooo ailimplet1 contractuw.

For outra lado a9 rela~Bes que resuitam do casamento 680 de caracter pessoal, e estas nso podem ser-objecte de convenc8o.

Pelo contrlrio, a3 r e i a ~ 5 e s que resultam dos contratos tern contelido econ6mico patrimonial, e podem ser object0 dc convengilo.

For dltimo, note-se que o princfpio da aulonomia da vontade, dominante em matkria de contratos, nenhuma influCncia exerce na regularnenta~lo do casamento: os nu- bentes nfio podem opor condi~aes nesses terrnos, nern qual- quer outra ~lkusula , nem por qualquer ouira forma, disci- plinar as relacges resultanhes do casamento, qlle $30 regu- ladas pelo que nas leis s e dispBe. Por outras palavras : - enquanto as normas dispersas pelo C6digo Civil e relativas aos sontratos sHo normas suplectivas, isto 6, s6 aplichveis na falta de alausulas expressas contratuais esiabelecidas pelas partes, as obriga~ces ou devcres, de caracler peasoal, resultantes do casarnentm sZo todos, expressa e taxativa- mente, regulados na lei, por preceitos injuntiros, por aormas de intertsse e ordem publica ; regras a que a vontade das partes n%o pode substituir.se. A vontade das partes mani- festese, por vezes, e oerto, mps a6 qpande se trata de in-

tereoses patrimoniais, da escoIha do regime matrimonial, e, mesmo aqui, C iotensameute limitada.

Esta maniftstac30 da vontade das partes, porem, nada prova em abono da doutrina con~ratualista, porque o regime dos bens do8 cdnjuges resulta, u3n do casametlto, ma* dam acto jurfdico diverso, durn contrato, que em F r a n ~ a se cha- ma - contrato d t casamento, e n6s denominaremos escri. tura ante-nupcia1. Rste contrato i regulsdo nos art.'5 1108.O t sets . do C. Civil.

Ainda quanto aos seus efeitos c finaIidade o casa- mento s t d i~ t inguc dos contratos, poi3 nao podemos dizer que o acto juridico cbamado casamento, tenha por fioalidade a produgao de uma simplts relaggo jurldica de direito pri- vado entre os contraentes, como os sequazes da doutrina contratual afirmam e, 16gicamente, deveria aconlecer s e o casamento fbsse um simples contrato,

Com eteite, um qualquer coutrato forrna-ne evldente- mente, para criar 'relaqaes entre os contraentes : -num ne- g6cio de compra e venda entre compradar e vendedor ; en. Ire senhorio e inquilino num arrendaments. Porim, n f o 6 isto o que aeonlece no momenta. 0 fim dts te aclo juridic0 nPo C rrbrarnenie de interesse privado 15 tarnbim de inte- r tsse social e ale de interksse p6blico. 0 casamento nZo s e destina irnicamente a criar rela~Ge9 entre os cbajuges : des- lina-se, tarnbim, a urn fim social mais elevado - a coosti- tui@o da familia, base dos Estados. As rela~Bes juridicas rtsultanles do casamento interessam, C certo, aos cbnjuges, mas dizem respeito, tambkm, a ouiras pessoas, coma por exem lo, Bs filbas-

&tarnbdm certo que 0 casamento produz os eleilos tam- tivamente marcados na Iei ao passo que os contratos s6 produzem aqueles efeitos que a s partes querem. 0 conteudo do contrato i determinado pela vontade das partes e s6 por falta d e manifesla@o de vontadt das partes e que s e se-

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guern disposi~ties de carlcler supletivo ; pelo contrfirio, os eleilos produzidos pel0 casamento s8o aqueles que a lei indica e n%o aqueles que as partes querem, pois as regras que estabelecem lais eftitos sso de iotertsse e ordem phblica.

Note-se aiuda, como ullilna diferknFa tntre o casarnento e os contratos que, eaquaoto esles sc podern dissolve^ por um acbrdo das partes coutrkrio ao primitive, o casamento mesmo nas legislag6es que, como a nossa, admitem o divbr- cia por mtituo consentimento-nuoca se dissolve pela so von- tade das partes, sendo sempre necessaria a interven~%o do Estado, por intermedio dos tribunais, controlando, digamoj, a vontade das partes.

Concluindo : o casamento nso pode considerar-se urn contrato, pois que a sua f o r i n a ~ ~ o , a seu regime juridico, os deveres luridicos que dele resultam, a sua natureza parti- cular e a sua fioalidade propria sao outras tantas netas quc o distioguem e diferenciam do8 contratos.'

b) Douirina do casnrnento - c'nstikrri'@o : - Segundo uma corrente doutrinaria, qus eonta hoje numerosos ade. plos ( I ) , o casamento i uma Inst!'ful~do, no sentido de ser constituldo par urn conjunho de regras impostas pelo Eslado, e Iormando urn todo, ao qua1 a3 partes tttn nesess6riamente que adtrir.

Esta doutrina e verdadeira naquilo que diz ; pordtn, incompleta por aquilo q u t cala.

Corn efeito, 4 necessirio a80 esquecer que o casamento e algtlma coisa mais do que ulna institui~go ; que C tam- bim urn acto juridico.

Por isso, n6s, ao dar-mos a definic%o de casamento,

(0 Leiebvre, tnbalho sit. Bonnecare, trabalho ciiado, e outror.

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disjemos que, vistu por um prisma, o casamenlo, era urn ~onjuntcl de regras que regulavam o estado de casado.

Ora, a doulrina do casamento - iostilulgao deixa no esquccimsnto dste aclo que inreste os nubcntes no estado dt ctasados. N%o eeduz, pois.

C) Outras doutrinas: - - Altm das doutrioas referidas, outras t$m aparecido procurando descortioar a verdadeira natureza juridica do casamante.

Assim temos :

1. Douirina de Clcn, - Para Cicu o aasam~nto i urn acto adiuinistrativo DO senlido de que o acbrdo das vontades dos nubentes i apenas mcra condi~aa para se pronunciar o oficial do regislo civil,

- Se n8o consideramos o casamento como um contrato, t amEm nZo wamos consider&-la urn aclo adtninislra'ivo ; j i t pcrque, para a sua celebra~aa, n8o basta a declara~ao do oficial do legisto civil, aa sua qualidade de representante do Estado, pois e necessCio que hquzla declaraqao se jlinte o acdrdo dos cbnjuees; ja porque, embora a casamento vise urn ioter0sse social, &ste nao conslitue a sua exclusiva titla- lidadt. Ao la60 do iaterbsse social, temos a cousiderar, tambem, o inler&sse particular dos cdajages. Por bste lacto, 1130 podemos de~xar de dar ao casamento, pel0 menos par- cialmeote, a natureza de direito privadu.

2. Doutrlna ds Portalls : - Portaiis, urn dos juriscon- sultos que intervieram nos trabalhos preparat6rius do C. Civil francls, detiniu assim o casamento : 16 a sociedade do hornern corn a mulher, que se unem para propaga~go de especie, e para se ajudarem corn socorros m~ituos, parti- lhando em cornurn os seus destinosll.

Nao podemos aceitar esta apini8o p r q u e nern selnpre

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o casamento tem por finalidade a prcpagag%o da esptcie:- assim acontece, por exemplo, quandu se casam dois sexa- genhrios ; e &ste casamento 6 permitido pela lei, visto esta nao fazer qualquer restri~go relatjvamente h idade.

d'i Solu~tio proposta: -0 casamento, nacto sul g e n e r i s ~ , C a nuiiio entre duas pessoas de sexo diferenle, fe ih de uma rnaneira solenel e cooformemenle aos fins da lei.

J i dis3emos que o easarnenlo tinha 2 senlidos diferen- ies :-No primeiru sentido o casan~ento e uma institui'flo; resta determinar a natureza juridica do casamento, quando significa o act0 juridico que invesla os nubenles na estado de casados.

Ora, oeste segundo sentido, o casarnenro 15, para u Sor. Prof. Doutor Jaime de Gouveia, urn act0 jaridico complexo, rsul generlst, que participa s~mullfinearnente da natureza de direilo p6blico e da natureza de direilo privado, pois que resulta da combinafgo da vontade do Estado corn a vontadt dos nubentes, e visa sirnultioeamente fios de inleresse so- cial e fins de interesse privado. Por isso mesmo, i impossi- vel inclui-10 dentro de qualquer das categorias de actos jurl- dicos.

Podemos defini-la: a unlao mfre duas pessoas de sexo diferente, ferta de umn rnaneirn soiene, e conformentente aos !ins da lei.

Dlzemos conformemente aos fior da lei-porque seodo mt i i t~p lo~ os fins viiados pelos oubeotes, o oasamenta s6 nzu e vdt~do, quando t a i s fins sejam proibidos pela lei.

A defini~go que damos de casamento 6 urna adapta~go da que uos e apresentada por Josserand : .a uniao entre duds pcssoas de sero dderente, caoJratnda e contraida por uma forma soiene, e realizda couiurrnemei te aos f ~ n s da lei *.

N ~ O concordamos corn t s ta definiq30, porque nso con- sideramos o casarntnto urn contrato.

fiarrnonizaccio da solngrSo dadn ao problema da na- furcza juridica do casarnenro pelo Prot. Dr. Jaime de Goaveia corn a definicgo legal de casarne~to~ - Corno ji dissemos, o decrelo n o 1 de 25 de Dezembro de 1910, no seu art. I.", define o casamento da seguintt forma :- 12 urn contralo celebrado eotre duas pessoas de sex0 diferente, corn o fim de oonsiituirem legitimamente iarnilia.

Parece assim uma evidente antimooia entre a so lu~go dada ao problema pelo Prof. Dr. Jaime de Gouveia e o cri- terio do nosso legislador, para quem, nos precisos lermos do decrero n ' 1, o casamenlo t urn contrato. Portm, e pos- sivel uma concilia~io entre aqutlas dnas posi@es, aparente- mente irredutiveis.

Cora efeito, se n6s considerarmos que a noc%o legal de contraio, tal cam0 nos e dada no art. 6 4 1 . O do C, Civil ( I ) , C uma no@o larga, ampla, pouco ttcnica, que abraoge ngo s6 o contraio pr6priamente dito, mas tbdas as conren- ~6es-poi5 na definifzo do art. 6 4 1 . 9 a v t r l contrato sempre que haja urn acbrdo entre duas ou mais vonlades, destinsdo a criar obriga~aes e a permutar inlertsses ou dlreitos - e, por outro lado atentarmos e m qlle numa n o p o Iicnica de caa~.eo~8o cabe perfejlamentt o acto do casamento. pois nble hB o acdrdo d e tres vontades, terernos conciliado o conceito legal de casamento corn o concelto do casamento - a d o juridico sui generls.

( I ) C6digo Cfvil, art. 611.'' "Contrato C o acdrdo, par que duas ou mais pessoas trausferem entrc si aleurn direito, ou se :ujeitam a algurna obriga~Zom,

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ernen en to* constltutlvos do casamento. 0 leguludor ao f lxnr as cot&di@es de validndk do casarnento tomou urna rltitndc diferentc da que o norteou quando flxou as condicdes Be validade d ~ s negdcios juriddcos.

Ao dizermos elemenios constitutivos do casamcnto que- remos referir nos, evidenternente, As coodi@es de validade do casamento, isto 6, aos requesitos exigidos por lei para que se possa celebrar validamente o casamento.

Em qualquer neg6cio juridic0 h i , muitas vezes, 916m dos eiemenfos essenciais comuns a todos os negccios juri- dicos, elementos especificos dele. Assin], por exemplo, no neg6cio jurldico da compra e venda, a16m daqueles elemen 10s essenciais, -capacidade, mlituo consenco e object0 pos- sirel - ha elementos especificos, sem os quais se nso pude realizar urn contrato de compra e venda, como sejam a cousa e o preqo ; uma c o u ~ ou ob je~to que sexom re, e um preco ou retribui~so dessa cousa.

Ora, ao jndicar os element09 essenciais dos negocios juridicos, o legislador f&-lo, salvo raras excep~ties, durn& maneira te~ierica, pela indicaqIo dos elernentos essenciais e de alguns dos naturais e acideutais, sem descer A regula- menta@o cuidada de cada negocio jurldico de per-si, palo cstabelecimento de elementos pr6prios B ralidade deles.

NBO aaonteceu assim em malkria de casamento. h e , por virtuds da importAncia socihl que j6 vimos ter e da infIutncia poderosa qne tem na constitui'cao da farnrlia e at6 do pr6prio Estado, e regulado corn cuidados especiais pelo Legislador, que, a-pesar-de o considerar urn contrato, m o se cootenta em aplicar sua vald-tde as condiqaes ge- rais estabelecidas para a validade dos confratos. AIim des- IPS condi~6e3, estabrleceu outros requisites especificos para a validade do casamento.

Variedade das condicdes dc validnde d o casa- metato. Ddversldade de class(fica~6es exlsfentes.

Diversas ago a s cond1~6es exigidas pot lei para e .validade do casamento :

a ) dlversldlrde ds sexos; b) cekbra~ l io peran'le o funcionario do regisfo civil; c) idode do$ coatra:ntes; dl inexistEncia de cerlas relacdes entre eles, ctc, e k , Nao admira, pois, que os jurisconsulfos tivessern pro-

curado classific6-lss. E, corn efeito, diversos critkrios t&m aparecido. Mas para nLo demorarrnos mais o nosso estudo basta que lhes apresente a soluqao adotada. -

Clasvifica~do udobnda. Aproximando-nos tnnto quanto possivel da doutrina can6nica e da tradiq%o da nossa litera- tura juridica classificarernoa as cclndi~6es de validade do casamento da ~eguia te forma :

a) - Condiqaes emergenteir da pr6pria aatureza do m a - me'nto. ( Pertencem a esta categoria a diversidade de sexos, pois, nos termos da lei, o casamento d urn contrato leito enir t duas pessoas de sexo diferente) e a celebra~ao pprante o funcionhrio do registo cirii (pois, como rimos a prop6sito da natureza juridica do casamento, a vontade matrimonial resulta da ~onjugaclto das vontades dofuncionirio db registo civil e dos nubentes.

b) - Condi~tiea relativas h capacidade dos cotllraentes. Esta categoria de condi~8es denomina-ae, em lingua-

gem canonica impedimentos, que, como veremos, se clas. sifiaam em d e r l m c n l ~ s e irnpedlmtes, sub-dividindo-se os primeiros em absolutes e relrrtivos.

c ) - Condigaes comuns a todon as actos jur icos.

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Condlpics emergm- Diversidadrs dos sexos. tes da prdprla nn- I Ce ebraqao perante o fun, turezado Gas ,mento I cionirio do Regislo Civil.

Condicdrs redalivas I absolutes dcrintentrs I ci capacidade dog t relalivos ~(~ntrarntes cu im- pedlmentos I i m p ditndes

Condi@eu curnuns a todos os actos ju- rfdicas

Condlpoes do valldade lntrlnseca e c o n d i ~ d e s do valldade extrins 7 ca.

Das condiq6es de validade do casamento esquernatica- mente indieadas no n6mero anterior, 96 a da celebraq%o do casamerlto peranle o Luncionario do Retieto Civil diz, tam- bkm, respeito a forma do act0 do casamento ; tbdas as outras s2o relalivas ao fundo. Por isso, as formalidades relativas a interven~go do EuncionArio do Registo Civil s t dizem condi. q6es de validade extrinseca do casamento, enquante tddas as outras se denominam condieBes de validade intrinsrca.

'27."-Efeitos do casamentb.

-Classlflcapao. -Deverea de fidelldade conlugel. --SenpBo civi l - 0 divdrclo ou a separa-

080 :

a) Sistema vlgents entes da publlcap80 da lei dc dlvbrcio ;

b) Slstema vlgenle depois da publicapeo da lei do divbrclo,

-Oever da vlda em comum ou cohabits- c$o.

-Dever de socor ro s auxlllo reclprocos:

b)-Dever dm ajuda reclproon.

D l r e l t o de publioaglo, -0lreito do estar em Julzo. -Dlreitos s deveres prdpr ios de cada

urn dos obnjuges. -Oireltos e deverss da mulher :

c)-Direito ao norne e honras do marldo.

Efeitos d o casamanto - Razao de ordem. Cele- brado o casamento, e suposto que neohurn vicio capaz de determinar a sua anula~ao o inquina, t l e praduziri lodos os seus efeitos.

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Ora, estudadas as condi~aes intrfnsecas e txtridsecas de cuja cumulaqKo resulla a regularidade do casamenlo, es- tudada tambtm a forma como operava a enexislencia de algumas delas e as consequencias dai resultanlea, logico 6 que averigueulos agora quais os eleitos do casamento ~a l ido .

E' a que varnos fazer nesle capitulo.

Classlf ica~i io dos efeitos do crsamento.-Ds casa- mento vilidu resulhm muitos s importantfssimos efeitos. Enibora Cste capitulo se inlilule .efeitos de casarnento*, n8o estudaremos aqui todos os efeitos do ofisamento, mas apenas alguns dtles : o t efeitaa relativas aos cbnjugts, quer as rela- tivoa i s pessoas, quer 0s relativos aos bens. 0 s outros efei- tog, comb, por exemplo, relativos no poder paternal, aor de- veres dos pais para corn os filhos, A afioidade, etc., etc., +erllo estudados em oulros mementos.

Mas, os tfeitus, que resultam do casamento quanto 80s cbnjuges, nao sao, como ja dissemos, da mesma natureza: uns, sso relativos As pessoas dos cbnjuges--sdo 03 efeitos pessoais: oatros. siio relalivos ao ptrimbnio da seoiedade conjugal-sra'o os efeitos pnlidmoniais. Dividircmos, por isso, o presente capitulo em duaa segUes : na primeira tratarernos dos eleitos pessoais e s e d inlitulada llDireilos e dcvrrcs pessoais dos cJtljuges* : na segunda ocnpar-nos-emos dos eisitas patrimoninis e rtrii iotiiulada ~ ~ c l a ~ ~ e s palrimoniads enlre os cdnjugesr .

Direitos e devsrss persoals dos cbnjuges.

C~ass i f i ca~do dos dircilos e deverer pessoois dos cdn. jrrgcs. - 0 s direitos s deveres de natureza ptssoal, que r t - sultttm do ca~rmtn to , nSo revesitm todos o menmo caracter,

H i uns, que s l o comuns a ambos os dnjuges: por exemplo, o dever de mntua fidelidade, o derer de assisttncia, o dever de cohabitag%o. Hd onlros, que s i o prhprios, ercluairos d e cada urn dos cbnjuges, exemplo: o direito de fixar a nacio. nalidadf-, que e pr6prio do marido, o direilo do poverno do. mtstico, que e pr6prio da mulher. Na seqi tncis do noaso estudo tralaremos pripltiro dos direitos e deveres comuas ou reciprocos e depois do3 pr6prior de cada urn dos cboju- ges,

Dlrellos 4 deveres reclprocoe d o s cbnjuges.

0 s deveres reciprocos dos cbnjuges encantram-se toub

merados no art.' 38.O do Decreto n." 1. SLo t l e s :

Lo--Dever de fidelidade conjugal ; 2.0-Dever de cohabitqKo ; 3."-Dever de svcbrro e assisttncia mutua,

Claro q u t do facto do casam~nlo resultam phra os cbn- juges outros deveres: deveres rnorais que n2e fbram eleva- dos A categoria de dereres legais por abseluta impossibili- dade de lbes assegurar u m a sanflo. Foi, por certo, esta a raz%o purque se regeitou a progosta de Puul /jervlcu no sentido de introduzir a obriga~go do amor ao cbojuge en. trc as obriga~Bes prerislas no art. 212: do C6dip Napoleb- nico, ( j )

A' enumcra~?io feita no art,n 38.' temos, no entanto, que acrescenlar ainda o direito de publica~30 e o direito de estar em juizo.

(1) LC Temps dc 16 de Marco dc 1905.

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bever d e fldelidade conjugal. (Caracler leg01 ddste dtverj 0 dever de frdelidade conjugal a50 C apeoas um dever moral : Cle e tambem urn dever legal Impasto aos cbnjuges pelo n o 1 ' do art." 38.' do Decrelo n." 1.

A violag%o dCsk d e v e ~ constitui o que se chama o adulttrio, reprimido por sangties legais, ciris e penais, que, dentro em pouco, estudaremos.

b:sla matdria, cotno reremos, mais tarde, tern sido hap-

tanle altcrada, do C6d1do Civil para cfi.

Sanfuo civil. 0 divdrcio ou a s paragdo: - TambCm neste ponto e profunda a diferenqa eotre os sistemas viaen tas, antes e depois da publicaplo da lei do div6rcio.

a ) Sisternu vlgenie antas du pub l i ca~ jo da lei do divdrcin.

Quer o cbajuge adriltero f8sse o marido, quer lbsse a mulher a sanqgo civil do adullirio era sempre a separaqiio de pessoas e benj, nos termos do art.qZ04.O n." 1.' e 2." do C6digo Civil. Purim, ao passo que o adulterio da mulher era scrnpre fundamento para essa separaqao, o rdullerio do marido s6 o era y uando acornpanhado de t s ~ a n d a l o pribllco ou co.nplcCo desomp iro da mulhrr, ou carnctldo corn concu. bina 6eu'da e rnunftridn no onzicilio conjugal.

Umaoutra diIerenqa distincuia os casos de adullCrio do marido s adulterio da mulher. Da separaqao de pessoas de- riva necessariamente a separacao de bens, 6 a regra consigna- da no art.' 1210.0 do Cddigo Civil. Ora, quandoo adullero fbs- se o marido, e o adulterio praticado nos lermos do n." 2." do ar!." 1204.", havia sempre lugar B separa~Bo d e pessoas P. bens ; mas, quando o c8njuge addltero Lbsse a mulher po dcria hrver lugar 46 a separa~go de pessoas desacompa nhadas da separaqao de ben:, pois que, para lal caso, dis- punlia o 5 uriicn do art." 1210." do C6Jigo Civil, que aseja

qua1 fbr o regime, em que o matriminio tivesse sido con- traido, a ir~ulher rrZo tera direito a separa@o de bens, mas s6 a alimentos, salro se provar, que, ao tempo e m que co- meteu o adultdrio, podia requerer a sepam~%o contra o mari. do, por algurnas das causas rneocionadas no n V a 2.' do artso 1203.'. Quere dizer : em lugar de se proceder a partilhas, cada cbnjuge ficara adminis~rar aquilo que Ihe riesse a cabtr, os bens continuaram todos sob a adrnioislra~30 do marido, que s6 tinha obriga~no d e dar alimentos a mulher.

b) sisternu vigerrte depois du publlca~do da lei do divdrcio :

A lei do divdrcio. fez do mesmo mod0 a equipars~go enbre o adultirio do marido e o adultirio da mulher para efeitos de aplica~aa da sanqfo civil. Esta e nos termos dos art."' 4.' n.'' 1 e 2, 43.' t 44.O do Dec. de 3 de Novembro dc 1910, ou o div6rcio ou a separa~%o de pessoas ou bens, conforme fbr requerido pelo cbnjuge inoceate.

Cum ekito, dlzendo o art." 4.' que o adulterio do ma- rid0 ou da mulher t: fundamento do divorcio, e o art." 43.' que re permitido aos c8ojuges a separacBo dc pessoas e bens pelos mesmas fuuda~nenlos do dis6rcio litigioso*, o art.' 44.' disp6e que ae a o cbnjuge inocente como autor da acq80, que aompete a faculdnde de o+tar pelo div6rcio ou pela separa@e de pessoas e bensr.

Dever de vlda em comum ou cohabllrrplo. - Ca- rdctrr legal d h t e dever. Tan~bCm kste dever tern caricter legal, nZo seado urn simples dever moral, pois e impbslo aos conjuges pelo n." 2 . O do art." 38.' do Uec, n: 1.

- E.~tenjlio de'stc d e v f r . Este derer de vida em comum n3o imp6e aos cbnjvges apenas a vida debaixo do mesma

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Itcto, mas tambZm, e sobretudo, o devcr conjugal, isto i, que vivam rin eodem thoro, na linguatern tilo precisa dcs aanonistas.

A residhcia comum nao tern que s t r escolbida pelos cbojuges de comum acbrdo ; C ao marido que compete t s - colber a rasidtucia, p i s a mulhsr, como ja vimos, deve adoptar a res~dbncia do marido nos tbrmos do art.' 48: do Dec. 0." 1,

Dever de soobrro e ruxillo reclprocos : - Cardct, r legal dPstc dever. 0 dever de socbrro e

auxilio recfprocos t estabdecido no n.' 3." do art." 38." do Dec. n.O 1, o qua1 disp6e que sos c4oiugcr t tm obriga@o de sooorrer.se e ajadar-se reciprocarnente..

.- Exlensdo ddsde drver. A expressgo socorrer.se e njudar-se reciprocarnente abraoge, evidentemente, dois de- veres distintes: o dever de socbrro e o devtr de ajuda re- ciproca.

a) Drvtr d~ socdrro - 0 dever de socbrro consiste na aisistenda que cada urn dos cb juges dtve ao outro, pres- tanda-lbe 0s cuidados necessaries, materiais ou morais, quer na vida quoiidiana, quer no tratamento das d o e o ~ a s que advierem a qualquer dtles.

b) Devcr de aju la reclproca - O dever de ajuda rtcl- proca consiste no que muitas vezer, em linguatern juridica re lraduz por prestav%o de alimentos, que, nos lermos do art.' 171.' do C6digo Civil, consiste em prestar utudo o qut C indispensiivel ao sostento, habita~%o e vestu4rio.n

A forma como deve efectuar-se t s te dever de prestapo

de alimentos varia de C ~ S O para caso. Analizaremos, aqui, spenas as hip6teses principais.

Se 08 cbnjugeo cohabitam, C an cbnjuge qur estk na administra~lo dos beos do casal (o marido - hipbtese normal, - ou a mulher) que pertence o dever de prestar alimentos, pois 15 Clt quem recebe os rtndimentos do casal.

Ss h6 repara~ao de facto C ao cbnjuge outpado clue pertence o dever de prestar alimentos, e, correlalivamente, 6 b cbnjuge inocente que tern o direilo a exigir alitnenlos do outro cbnjuge.

St ha s e p a r a ~ l o judicial ou divbrcio, aqualqutr dos cbnjuges tern direito a exlgir do outro que Ihe preste ali- mentos, se dtles carecer* (art." 29.' da lei do divhrcio), SO quantitative d&sses alimentos - acrtscenta 5 linico do citsdo art." 29.' - e i i x a d ~ em harmonia com h necessidade !do cbnjuge que or recebe, e corn as circunsllncias do que os presta ; mas nunca podera exceder urn terco do rendintanto Iiquido do segundo .~

Se o casamento foi dissolrido por morte de urn dos cbnjuges, o clnjuge sobrtviro mantCm, contra 09 herdairos do lalecido, o direito de ssr alimenaldo com os rendimtntos dor btns deixados pelo talecido, sejam de que natureza fbrem, se deles carecer. Jk o chamado direito de apaoagio, que s e encontra consagrado no art: 123I.' do C6digo Civil e que, nos termos do art.' 1232." do mtsnlo ~ d d i g o , d u n r ~ enquanlo o alimentado precisar doa alimentus, ou oBo pas- sar a segundas nupciar. '

Estk dever db prestar alimentos ctrsa em detcrrnina. das ciraunst&nolas, indicadas no art.' 32," da lei do divircio e que n6s estudaremos quando lratarmos d r dissolu~ao do casamenko

Direito de publior98Lo :--Em q#e conslote-Urn outro

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direito e derer reciproco dos cdnjudcs, 6 o direito de publi- caqZo, que, consiste em cada urn dos cbnjuges poder publi- car os seus escr i lo~, sen) avtoriza~30 do oulro.

-0ireito de estar em julzo :-Dispnsi@es legair apll- cdt~eis - 0 direito de cada urn dos cbnjuges de poder estar, em juizo i estabelecido nos arts 1191.'do C6digo Civil para o marido e 44." do Dec. n.* 1 para a mulller.

Dlreitoe e deveres pesaoeis prbprios de cada urn dos cbn]uges : - Ao iado dos direitos e deveres pessoais comuns a alnbos os cbnjuges tern03 a notar os direitos t de- veres pessoais enclusivos de oada urn dos cbnjugcs.

Ocupar-oos.emos em 1." lugar dos direitos e devtres da mulber; em 2.' lugar dos direitos e deveres do marido.

Dlreltos e deveres da rnulher: a) Quvirno dorn,4stic0.-0 art. 39.' do Dec, n.O 1 dis-

p6e qut pa sociedade cbnjugal baseia.se oa libcrdade e igualdade, incumbindo ao marido, especiaimente, a obriga- ~ 3 0 de defender a pessoa e os benr da mulher e dos Hlhos, e ?I mulher, priucipaln~ente, o govtrno domistico.. . a .

Esta dispasic;3o tern urn largo aicance, pois veio a aca- bar corn certas dlividas que o art. 1193.0 do C6digo Civil suscirava. Essas dlividas eram as seguintes : segundo o art. 1193 " a mulher nRo pode, sem sutarizag8o do marido edqui- rir o u alienar hens, nem oontrair obriga~6es; mas, por outro Indo, como a mulher se encontra i frente do govtrna da casa contrai por vezes obriga~tics Bern autoriza~ao do maride para prover a &ssa gov$rno, e, dai, o pregunfar-se se as ebriga~i5es ~ontraidas nessas condil;ties sariam vaiidas e

obrigari~m o marido, ou, se, pelo coutdrio, se devia raco- nbecer ao maride o direito de revogar os actos, origem des- sas obrifa~fics.

A prilneira s o l u ~ a o era a mais jusla, poi3 as obriga~aes haviam sido contraidas para o pr6prio sustento do tnarido ; a 2.' solup8o. etnbora iniqua, era a que resultava directa. mente da lei.

A doutrina e a jurisrud2ocia francbras resolveram esta diticuldadc, afirlnando que o marido n8o tinha o direito de anular e s s e s aclos, porque ties eram praticados pcla mulher por virtgde de um mandato tLcito legal e necessario, fundado na obriga~au do tnarido de a h e n t a r os filhos e a tnulher e de prcstar a esta todo o auxflio de que ela necessite. ( 4 )

Ih t re nSs, nao 'temos, heje, que invocar o mandato 18- aito para defsnder a validade de tais actos, porque o art. 39." do Dee, n." I irnpondo a mulher o devcr do govern0 domeslico, impiiait~mcnle Ihe reconhece capacidadt para praticar os actoa neccssirios para conseguir else firu.

E, quaufo ao ambit0 da express30 lgov&rao domtstico*, devamos d~zer que i; amplo, pois naquela express60 se deve considerar abraragido iudo o que diga renpeilo a alimenta- cBo, vestuaria, calcado, lavageor, a ~ u a , luz e combustivel, doen~as , roupas, crjador, etc . .

b) Asslst2flcla nloral:-0 artigo diz ainda que incumbe tambkm ii mulher :(. . . uma assistencia moral tendenle a ferialecer e aperfei~oar a unidade familiar*.

Esta parte do art. 39.. pouca ilnportrZacia tem: a viola- gBo dtste dever por par!e da ~nulher n8o tem uma sancPo imediata a nZo ser que seja de ta1 forma saliente t escan- dalosa, que possa fundamentar o div6r~io por inj6rirs graves.

( I ) Vid. Planiol, Ripert e l Rovast, 11 N." 351 e segts., p i t . 313 e ssgtu.

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c\ Direlta ao noma e honras do marido.--0 art. 4 3 . O do Dec. n," 1 disp6e que a mulher gosa drs honras do marido que ngo sejam meramente inerentes ao cargo que tle exerce ou tenha exeraido, e conserva-as, bem como o direita de usar o seu nome, at6 ser proferido div6rcio ou, em caso de viuvez, at6 passar a segundas n6pcias.

98.0- Do oasamento (cont.)

-Dlreltos e deverss prbprloa do mrrldo:

a ) - 0 marldo Hxe a nacionalidsde da mulher ;

b)-0 marldo flxa o domiclllo da mulher;

6)-A rnulher segue a condlpiio clvll do marldo.

--Efeitos patrimoniais do crsamento. -EvolupBo histbrica doa regimes matri-

monlais :

a)-No Direlto Romano ;

b)-No diralto do5 povos bbrberos :

c)-No dlrelto rnoderno ;

dl-Slstema seguldo pelo norso Chdlgo na dstermlna~lo do reglme garel dos bens.

-Adminlstreg%o dos bens do crsal:

a)-Prlncfpio geral: a adminlstrapao dos bens do ceaal perlence ao marldo, qualquer qua seje o rsglme de benn adotados pelos obnjugsa;

b)-Existbncla de casos em que nao B 0

marido quern adutinlrtra os bens do oasal.

a)-Prlnclplo geral ;

b)-Excepplo ao prlnoiplo geral.

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Dlreltos a deveres prbprics do marido:

a) 0 rnnrido f isa n naciunolidnde d o tnulher : - E' o marida que fixa a nacionalidade da mu1bp.r. Isso resulta do ari." 18.", n.' 6 e do arl." 22." n." 4 do C.!odigo Civil.

Corn efeito, diz o art." 18 n." 6 : *SXo cidadzos portu- gaeses :. . . 6." a mulher estrangeira que casa corn cida- dtio portuguis. . :*

E o art.' 22.' diswe que uperde a qualidade de cida- dao portugues:. . . 4.'- a mulher portuguesa que casa com estrangeiro. . . : I

A atribui'qao a mulher da nacioaaiidade do n~arido kde grande vaotagenl prhtica, porque, evitando cuntlitos de le- gisla~aes, facilita a regulamen!aqZo das relaqaes entre os c,bnjuges e eotre esles e lerceiros.

Deve eotar-se que a lnulher estraupeira que pelo casa- mento adquiriu a nacionalidade do marido niIo a perde pela dissolu~%o do easatnento, por morte ou divdrsio, psis que entre as musas que fazem perder a qualidade de cidadHo poriuguts nao menciona o art." 22." a de dissoluqao do ca- samsnto que atribuiu essa nacionalidade.

b) - 0 murido fixa o dornicllio da mrclizer: - 0 art. 49." do Cddigo Civil estabelece que : *a nlulher casada tern por domicilio o do marido, u8e se achando judicialmente se- parada de pessoas e hens salva a disposi~ao do 5 2.' do art. 53,"hipbtese de o marido ir depredado para as ~016- aias).

E, como j i vimos, d tanibem o marido que fixa a resi- dtncia da mulher.

c)-,4 rr~rr l i~r- squrr n condig20 civil iio ~ ~ l a r i d o : - A mulher part~cipa da condiq3o c~vil do marido. Este facto era

mais saiiente no tenlpo da monarqtrin em que a mulher que Casava corn urn ~itular o ficava sendo tambetn.

H i , no entanlo, certas ~ ~ l e r c k s honoriticas, colrio conde. cora~fies, por exeiaplo, q i ~ e se ilao coi~lunicanl h rtiulher, por serem atribuiiiks ao homem por virtude dos seus meritos pessoais. Assim, a muihel' dum cavalriro da Ordem de San- tiago n%o pude intitular.se cavaleira.

Efeiios patrimoniais do cas'amerto. - Hatdo de nr- d ~ ~ r a ; Urna vex estuJados os efeitos pessoais do casatneoto 6 rnistt r ocupartno-no: dus seas eieitos patriinoniais.

Antes, poriol, coin0 6 3 s - s afeitos estao iotimamente depeodeuirs do regime de k;us adoplado ptios cbnjuges, convtm, para ~uelhtrr escldrecimeoto desta nlalCrir, fazer urn breve erame relrospeclivo d d el oluv%~ liist6rica dos regimes matrimuniais.

-Evolucao historica dos repimes matrimonlais.

all hio Direitn Rornaao: No antigo Direito Romano, ha- via duas especies de casamento: ocasatllento kcurn manus* e o casameulo "sine manus..

No casatncnto *cum Inanus!!, pel0 qua1 a mulher *in loco iiliae hnbebatv, os bens dela passavnm s ser proprie- dade da *domus*, ficaudo por isso em regime de compro- priedade fan~iliar.

No casaul~entir siue o~anusl~, us be~is da nlulher fica- varn obrig;rtbria!nenle sepsrados Jus do n~arido, nsu elitran60 mesrno para a aldolnus;, pois ficava~ll na guarda dos tutores aguadof, que nelpls sucediam i ~nulber.

lsto t : no anl i io Direito Polnano, encontramos dois re- gimes d e bens, que, em linguagem nltrderna, pudemos clan-

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sificar de regime de compropriedade ou coinunhHo geral (,), e o regir~le d e s e p a r a ~ a o d e bens.

Na evolugao do ilireito Rotr~ano encontramos ainda um outro regime, que depois se enralzou nos costumes don ro- manos-o regime dotat,-que surgiu como o meio de obslar aos inconvenientes do casamento *sine mauus,: entendia-se que a ~nu lhe r , nesta forma de casamenlo, n%o devir ir au- mentar os encargos matritnoniais sen1 q u e uma liberaiidnde, feita por ela ou por outrem, viesse engrossar os bens do marido. Esta libcralidade era o dote.

0 s bens do dote, a principio, entravam em propriedade plena e de i i~ i t ivamente para o patrimiaio do marido, mas, mais tar&, entendeu.se que deviam continuar a perlencer h mult~er , quer a propriedade, quer o uso e a a d m i n i s t r a ~ ~ o d e tais bens. PorCm, a fbrpa d a t r ad i~%o, era tal que o ma- rido cootinuou a se r chamado *dominus dotislr.

Ale~ll disto, a ~ l iu lher podia reservar para s i oulros bens em r e l a p ~ o aos quais conservava a propriedade e administra- $60 e que se deeti~iavam a conseguir a indepeoddncia eco- n6mica da mulher em relacgo ao marldo. (')

Simultaneamente, permitia-se tambirn que os conjugts fizessem uma osocietas omnium bonorumu, sociedade que se entendia corresprruder objectivarneute ao fitn do casamento, mas que niio chegou a criar raizes nos costumes dos roma. no%.

( , ) -A idea da existencia da comunh%o garal enirc os rornanos dclendida ;lor ~ O C U , o matrirn6nai. sua lei n a t u r a l e histbrica, e POT

i t ~ ~ , n n , c~acordi l ic ias , motiros y conentbr~os de1 c6diga civilespaTiol, tomo ILL, p i g . 252 ; tern sido combatida par untras escritores, como f o u r a n a e . Saeooli, e , entru ndq. 3Ir l l o 3rsire .

(z i -gabba, Dclla coildizionc della donne, pig . 387, chcga a ahr- mar q o e mcsmo no casamentu *cum maouss, a muiher apoteva obbli. garsi ed anchc avert uu pr jpr io p~cill io. Este pecdlio t , lalvez, a tnanisfestaqio iuais remota da paraicfi~alidnde.

b) NO dlrcllo dos povo.7 bdrbriros : - No direilo dos barbaros ou dos povos germBnicos, vigorava, COIIIO regra geral, a comunhao de bens, regime quc era o mais conferme corn os seus Costumes.

Xa verdade, j i nas leis dog Sax6es se encontrava a seguinte disposiG3o : cde eo quod vir et mulier simul con- quisierint, mulier medium partionem accipiafu. isto e, daquilo que o hoinem e a mulher adquirirenl simultineamente, tenha a mulher melade.

Nas leis dos R,ipuarios, tambem a rnulher adquiria urna parte daquilo que na const%ncia do matrimanio viesse a ser pertenGa da sociedade conjugal, sitnplesmente t m vez d e metade resebia apenas urn terCo.

C) Nu dlrelto tnoderno :-Em virtude desta diversidade d e costumes que s e arreigaram nos varios poros da Europa, e que, n3o sofre dlividas, bastante influencia exerceram na determinaqao do regime d e bens admitido3 pelas legislap3cs modernas, grandss dtficutdades surgiram em alguns paises -sobretudo nos paises formados por poves que remontavam a diversas origens-quando s e Lornou ilecessirio detert l~inar qua1 o regime matrimonial geral a adoptar.

Fol priacipalmente e m I ' r a n ~ a - que foi por assim di- zer, o pontode reuniao daa mais diversas raGas e conseqiien- temente dos costulnes rnais diversos - quando da discus- sBo dos projectos do cddigo uapole6nic0, onde maior celeu- ma s e levanhou entre os juristas, prouocada, sobretedo, pela rivalidade que sempre existiu enlre os paises do norte e os do Meio-dia d a Fran~a , isto 6 , entre os paises em q;e pre- dominava o direito cnsturneiro e aqueles e m que predomi- nava o direito tscrito.

Naqueles, o regime enl3o e m vigor era o da comunhBo d e bens, n ts las vigorava o regime dolal.

Ora, como, precisamente, uma das finalidades do Codigo

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Napole6nico era acabzr con1 a dislinqiio nas diversas regi6es fraucesas, erilre direito costumciro e direito escrilii, ~yifi- cando-se. assim, o direitn, dai a dl!icuidade que si~rgiu quando se pretendeu dcter~r~lniir qua1 o regime de bens que havia de vigorar cvtilo legal peral.

A discuss$o loi rirdlla entre UtzmbnciCrt-s, - aulor dos prt~jectos do Codigo Napolconico -- Mciviiie, e outros, pois emquaolo uns entelldiam qlle o regime lecal devia ser o da conlunbao de bens, ouiros enltndiam qlie se devia adopiar o regime dotal, havenlo tantbem queln defendesse que o regime pr-elerivel sei-ia o da comunh30 des miveis e dos adquiridos, ou eot%o, que se estabelecessem regimes legais diversos, ~onsc~ante nas t a l i a s regi6es pradolllinasse o di- reito escrito, -oude o regime era o dotal-ou predoniinasse o direito costunieiro-rmde o regime era o da comunhgo.

E' urn reflexo desta discbydia o difarente t ~ ~ o d o como foi regulada esta rnateria nos varios prolectos do C6digo Napolrb!lico, apresentado pot Carnbaciirus. dssim, enquanto no prirneirtl projecto se estnbelec~a coma regillie geral, urn regime el11 que a d .u in i J t r~qau , rendimentos e alienafao doe hens pertencia . ~ u rnarliio e mulher : no segundo e ter- ceiro projectos a adminisbra~ao e rsndirncutos periencian~ ao marido, que ntio podia no entanto alienar sem consentimen- to cia muiher.

A dissossao terminou, purerlr, par se estabclecer que o regime legal geral seria o de ~otnuilhao de moveis e adqui- ridos, Permitia-se, no entanto, qtie em contratc ante-nupcial os nubentes pudessem adoptar qualquer outro regime.

Ngo se adoptou a so!uqiio de eslabelecer reginies di- versos censoante as regi6es, porque isso era oposto g fina- lidade do C6digo Napoleinico, que visava unificar o direilo.

Pbs-se de parle o regime da comunhao uuiversal, por- que @sse regime conionne se apurou na discu~%c do pro-

j e c t ~ do Chdigo, faaia corn que os bens duma familia pasaas- scm para outra familia eslranha.

TambCm n8o se actitou o regime dotal, por dele pode- rem resultar s i tua~6es injuslas, sobretudo em relaflo a ler- ceiros, por via da inalienabilidade do dote.

d) Sisterna seg.uldo pelo nosso Cddlyo no deterrnina~fio do regime de bens: - Enlre 1163, como livernos por fonte do C6digo Civil o Codigo Napole6nic0, astabeleceu-se tam- bim - como depois veremos melhor - mais de um regime legal, estabslecendo-se, porCm, como regime legal geral o da comunhao gerai de bens.

Compreende.se que assim seja; i que os costumes dos p o ~ o s germ5nicos que inradiram a Peninsula e s t a ~ a m t8o radicados, nrreigaram-se tanto no nosgo modo d t vida qua, na verdade, o regime mais gerat era o da oomunhilo de bens. No entanto, e h semelhan~a do que se fer no C6djgo Napolc6- nico, deu-se aos cbnjuges a faculdade de por escritura ante- nupclal estabeleaerem outro regime, como o da simples co- munh8o de adquiridos, o da separagBo absoluta ou o regime - dotal.

-Irtdica~do da seqfikncla : - Conhecida, embora su- mhiiameate, a evolug8o hist6rica dos regimea matrimoniafs, podemos antrar agora no estudo dos efeitos patrimoniais do casamento, que sao diIerentes conforme a regime de bens adoptado pelos cbnjuges. Isto faz corn que e estudo dos efeitos patrimoniais do rasamento venha a colncidir, afinal, corn o estudo des regimes matrlmoniais,

Porim, hd certas mattrias qua, ou ptlo s t u caricter de generalidade ou pela rela~Eo intima em gue se encontram corn os retimes matritnoniais, melhor 6 estudh-Ias anlesde se entrar no exame de cada urn do$ regimes de bens. Re-

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ferims.no~ A administrafilo do3 brns do casal s is conren- c6es anle.nupciais, que v8o constituir, agora, o object0 t o nosso cstudo.

Admlnlstraqao do% bens do casal :

rJ Princfpto geral : A adrninistra~80 dos bens do casal pet tence ao marido, qualquer que seja o regime de benn adeptado pelus cbnjugei:

0 principio geral sbbre a administraqao don bens do casal encontra-se farmnlado no artigo 1189." do C6digo Ci- vil que disp8e ; jl A adminisIraq20 dos bens do casai perten- ce a I marido 0 sd pertence a mulher na falla ou impedi- mento dLLe.. E e m complemento dests dispesic%o diz o art.* 1104,' quc * A mulher n%o pode. prirar o marido por convenGZo ante-nupcial, da sdministreq~o dos bens do casal, mas pode reservar para ai o direito de rectber a lflulo de alfioetes, uma parte dos rendimentas de seus bens (i), e dispor dela livrelnente contando que oHo exceda a teqa dos ditos reudimentos liquidosl.

Gerificamos, assim, que o direito de adrninistraqgo dos bens do casal pertence ao nllariao e que nem por con- venq5o ante-nupcial u rnuiher pode privar o marido dbsse direito, que a ble perteacc qualquer que seja o regime de de bens adoptado.

b) Exis t inc ia de casos em que nlio e o nlarido guem admirristra os bens do cosol : - Se o priucipio geral k o dc os bens do casal seretn adil~iniotrados pelo marido, acon- tece, conludo, que h i casos em que tal adrninistraqgo n%o

pertence ao marldo, mas ao squ repreaenlante legal ou ?i

mulher coniorme os caws. De todos Cstes casos - administra~2o pelo marido 6

administra@o pelo seu representante legal ou peia mulher- nos vamos de seguida ocupar, comecando pelo estudo da bip6tess mais frsqlltnte : a da administra~Ue pel0 marido.

AdmtnlstrapBo pelo marido : - Determina~do dns bens, q u e se cacontram so6 a

adrnlnistra~da d o marldo :

a ) Prlnciplo : - E' poia ao marido que pertenat n administratgo dos bens do casal, nzo importando, para tal eteito, o regime matrimonial em que os cbnjuges ne encon- trem msados, pois que o art.' 1189." encontraodo ae numa seccao do Cddigo, iniitulada a dos direitos e obriga~des gcrais dos cbnjuies~, deve apliaarse s e r p r e , independentemente do regime de bens adoptado.

Mas, qua1 a extensgo de tal dtreito ? Por outras pala- vras: qua1 a amplitude da expressso abens do casals ? Na exprersao sbens do casal* abrangem-se nib apenas os bens cornuns, mas tarnb6m os bens pr6prios. quer do marido, quer da mulher, coma 16gicamente se conalui da parte final do art.' 1104." e do art: 1117.0

Corn efeito, dizendo o art.' 1104.' quc a mulher 4pade reserrar para sI o direito de receber a tCtulo de allinetes, uma parte do rendimento de seus bens, e dispor dela livre- mente, contanto que n%o exceda a terqa dos ditos rendi- mautos liquidus*, logo lnculca que se a mulher 0 6 (em o direito de dispor apenas de urn terqo dos rendimenlos dos seus bens, 6 porque tais bens sBo administrados tambim pel0 rn;rido, nos termos gerais do art.' 1189:

Mas, i m a i ~ claro aiada, no seotida da cornpreenslo

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dos bens pr6prios da ~nulher na express50 cbens do casall, o a r t o 1117." estabelecendo q u s n . . . a adminislra~ao, porCm, dos bens do casal, sem excepcrio dos proprios da mulhh, pertence ao marido ..

Conclui-se, pois, qus e o maride quem adminislra tam- b t m os bens pr6prios da mulher que apenar tem o direito de reserrar para si ou dispot livremenle de um terc;o dos rendimentos desses bens.

b) Excepc8ea ao princlplo geral: A regra geral, acaba- mos de ver, d realmente a de que sob a administra~lo do marido se encontram todos os bens do casal, abrangendo se nesta express80 tanto OS bens comuns, como os bens pr6- prios de qualquer dos cdojuges. Devemos notsr, no entanto, que a regra geral enunciada sabre duas excep~6es, que se enaontram expressamente consignadas no nosso Cbdigo, isto 15, h i certos bens, que apssar de o marido cstar nr txerclaio efectivo da administragBo dos bens do caral, n&e e3o administrados por &le.

A primeira excepC3o encontra-se no art.' 1104.: a se- iunda excepczo resuIta do que fie digp6e no art.* 1128.'.

1) A cxcep~do do art." 1104."- 0 artiie 1 1 0 4 . O disp6e que a mulher pode reservar para si o direite d e receber a lftullrlo dr aljlnetes a t&rca parle do rendimento dos seus bens e dispor dela livremenlc,

Lbgicamenie, cooclui-re, poir : se a mulher pode dispor dessas rendimentas, deve poder tambdrn administr8~los come quizer.

Quere dizer: ao contririo do que se disp6e no art." 1189.', a mulher pertence a administrac;Zo da tLrc;a parte dus rendimentos liquidos dos seus bens, dtsde qua assim se estipule.

E podera surgir a seguinte dlivida: per virtude do dis-

pbsto na parte final do art," 1104.U a mulber pudera, tambdm, administrar a parte dos hens que Ihe h b d e d a r tsse rendi- menlo, ou sbmente Ihe e permilido adminislrar os rendi. mentos conferidos a litulo de altinetes, Licando a adminis- traflo dos beas entregue ao marido?

A solu~3o que ao Prof. Dr. Jairnt de Oenveia se afi- pura ,preferivel 6 a de que a mulher so e IIcito adrninistrar os rendimentos qae Ihe 380 consigoados a tltulo de alfiaeles, por virtude dtste raciocinio simples ! o art+a 1189.' oontdm urn principio geral que s6 pode sofrer as excepC6es expres- samente consignadas na lei. Ora, o arl: 1104.0 n8o estipula nenhuma excepgio em relactio A administra~fio dos bens, que pertence ao marido, pois diz, simplesruente que a mu- lber pode dispor livremente daquilo que lhe 6 dado a litulo de allinetes I couseqiientemenle, aquilo de que a mulher pode dispor e administrar Iivremente 6 os rendimentos e n8o os bens que Ibe dao esses rendimentos.

A confirma~go d&ste raciocinio caconlramo-In no art.' 1240.' do C6digo Espanhol, tontt pr6xima do dispbsto no artaJ 1104.'.

Corn efeito, dispde eIe : *Seri igualmeate nulo qual- quer faato que privare directa 6 indirectamente al maridr de la administration de Ios bisnes del malrimbnio.

Sim embargo, padra estipularse en favor de la mujer la faculdad de percibir directamentt, y en virlud ds simple recibo suyo una parfc de h s reutas para sus atencioner personaies, comprendidas lajo el nombre de alfilerear.

Iato i, 1 lei diz expresramente que a mulher p d e dis- pbr lirremenle daqullo que Ihe foi dadoh conla dealfinetes- alfileres - mas que nao pode adminislrar os bens que Ihe d%o Lsse rtndimento.

Ssgundo o Cidigo Espaahol, a mulher poderb, quande muito, estipular na escritura ante.nupcia1 q u e quere receber direotamen~e a irnportin~ia que constitui os seus alflnetcs.

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ksto 6 , 03 rendimentos sEo-Ihe imediatarnente entregues sem que t~vessern passado pela mlo do marido, que k ! no eatanro, o admiaistrador dos bens do casal ( I ) .

-- (I) - Cfr. Dr. DIlS FERREIRA, iu, C6digo Civil PortuguC~

Anotado, I . a edivlo, rol. 111, pag. 63 e rtgts.

-Regimes de bens permitidos pela legis. lagso portuguesa - Nopilo de reglme matrimonial.

-Caracteres gerais do regime de bens confugals.-Em mat4rla de regimes ds bens vigoram dois prlnclplos de ori. gem t& longinqua :

a)-Vsrledades d% regimes ;

--Reglmes supletlvos.

-Regimes Imperativos.

- 0 s slotemas legistrtlvos e 0s regimes matrimonlais.

Reglmes de bens permltldos pela Iegisla~Uo por- tuguesa Nogrio dc regime rnadrirnotiini : - Podemos defi- nir regime de bens o estatuto pel0 qua1 os cbnjuges se h ~ o . de rater nas suas relaqaes patrirnoniais, estatuto Lste qne C o obrigatdrio tambkm quer para os herdeiros dos cbnjuges, quer para lerceiros.

A necessidade ds existbncia dtste estatuto i maoiferta: o ca~amenlo faz surgir enlre 0s cdnjuges c entre estes e terceiros relaq6ts juridicas de carhcter patrimooial, cuja regularnenta.q%o ss6 corn graves inconvenitntes poderia str ieila pelas regras dos ~ontratos em geral.

-Caractares garais do regime dos bens conlugals : Em matiria de regimen de bcns vigoram dcls print/-

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pios de orlgm ja' longinqua : a) variedada de regimes, b) l lberdade de convenp?o.

t Corn efeito, em primeiro lugar, a lei nil0 consagra urn

linico regime de bens, antes olerece fi livre escolha dos nubentes diversofi regimes, que denlro em pouco verernos quantos szo, normalrnente, e, s6 quando ngo fa~amia l escolha, I! que o leaislador a faz por eles.

E m selfundo lugar, nos lermos do ar1.O 1095.O i licito is partes estipular, denlro dos limites da lei, tudo o que lhes aprouver relatiramente aos seus bens. Islo e : os nubea- tas podem ~nodilicar o regime tipo escolkido, pela inversgo de cl6usulas acessrirlas, quer para regular o que na lei 6 omisso, quer para alastar a s suas disposiq8es suplktivas, quer para qualpuer outro [im que n%o seja contririo h lei.

0 s regimes tlipos consagrodos no Cddigo : - 0 C6d+ Civ,, jA o dissemos, coosapra diversos retimes que coloca a lime escolha das parLes.

Sgo 0s chamados regimes convenciouais tipos ou sim- plesmente os regimes tipos.

Qual o nhmcro do9 regimes tipos 6 questgo que tern sido, e ainda hoje 6 , debatida na doutr i~a e jurisprud&ncia. Analisernoala :

a) - Opiniao dominante : 0s regimes tipos szo quatro- Cornunhao geral de bens, simples comunh~o de adquiridos, separaqBo absoluta de bens e regime dotal.

Segundo a opioiso dominante, que e tambim a sustea. tada pelo Prof. Jaime de Oouvdia, a nossa lei consagra quatro regimes tipos : comu~lhio geral de bens, simples comunh%o de adquiridos, separaflo absoluta de beus e regime dotal.

Assim parecem dar a antendt l o os artigos 1099.0, 1100,", 1101.* e 1102." do Cdd. Civ i l , que disp6em :

Art.YO99": dSe 05 esposos daclararem simplesmente em seu contrato que pretendetn casar-se segundo o costume do Re lno , observar-se-So as disposic6es dos arts. 1108." a 1124 'n.

Art." 1100.": *Se os esposos declararem simplesmente que querem casar-se corn simples comunhdo ds adquiridos, obserrar.se3o a s disposjgties dog artigoa 1130." a f133.".

Ar1.O 1101.': *Se os esposos declararem simplesmente que pretendem casar-se Goln stporopio de bens, observar .se-go a s disposi~aes dos arb. 1125." a 1129.5.

Art." 1102.": nSe os esposos pretenderem casar-se se- gundo o regime dotal, 0bservar.s~-ao ar disposi~bes aos arts. 11 34." a 1165."~.

b) - OpiniZo segundo a qua1 os regimes tipos sa;o sb mente trC: comuuhao geral de bens, separacgo de bens ou simples comunhao de adquiridos e regime dolal.

36 s e susientcu, porkm, que os regimes tipos nZo eram qualro mas Ires.

E argumentowse assim : 1.") 0 C6digo regulando em sub-seccaes distintas os

retimes de comunh%o geral e o regime dotal (11 e I V reg- pectivamentc), eaglobou numa rnesma crub.sec~no {a It[) os regimes referidos nos zrls. 1100." e l l O 1 . o , intilulando essa sub-seu~%o aDa separag8o de bcns ou simples comunh%o de adquiridos*, o que pareca inculcar que o legislador identi Hcou estes dois regimes.

Esta identifica~ao 6 ainda real~ada pela dfsjuotira ou. 2.') Estabelecendo o 5 3." do artigo como sanq%o aos

casamentos viciados por impedimeuios dirimentes relat i~os h aeparacgo de bens, o artigo 1098.*, para o mesmo casol

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impbs o regime de simples comunh%o de adquidas. Ora, este emprego de expressaes dilerentes s i s e c o m p r e e ~ d e ~ pela identidade dos dois regimes.

Esta doutrina nao encontrou eco nern na doutrioa nem na jurisprudtncia.

E , na verdade, s%o frouxos os argumeatos em que as. senta.

Corn efeiio, se e certo que es regimes da separa~go. absoluta e da simple: comuoh%o de adquiridos es@o cnglo- bados na mesma sub.sec@o, a verdade e que Ihe 680 apli- cIveis disposiq6e.s distintas. De resto, a aplica~iio simultA- ilea de todas as disposicaes que coastituem a referide sub- seccao 111 k. como logo veremos mais detalhadamente, - imposslvel, pois lais disposig6e: arrumam-st em dois gru- pos contrad1t6rios: durn lado as disposi~6es dos rrtigos 1127.O a 1120.", do outro as disposigtjes do8 arligos 1130.O a 1133.'.

c) - Opiniao segundo a quai os regimes tipos sEo cinca: comunh~o geral de bens, simple3 comunhao de adquiridos, separa~ao absoluta de bens, s tparago de bens sem expressa exclusao da comunhZo nos adquiridos c re- dime dotal,

- Expasifdo desta oplnido :-Segundo uma outre cot- reote doutritliria, o C6d. consagra cioco regimts tipos: a comunh%o geral de bens, a simples comunh~a de adquiridos, a separaqao absoluta de bens sem expressa exclusao da co- muahgo d e adquiridos e o regime dotal.

certo que estes escritores afirmam *una rocem que o Cbdigo estabelece hnicarnente quatro regimes tipos - a co- munh%o geral de bens, a simples comuoh%o de adquiridost a separaCao de bens e o regime dotal-mas, no desenvolvi.

rnealo do stu medo de ver, difertnciem o regime d t sepa- rafao em regime de separa~%o absoluta e regime de sepa. ra@o com comunbiSo de adquirido~, e, como consideram tste ultimo regime dis~into do regime da simples comunhao de adquiridos, vtem, priticarnente, estabelecidos no CBdigo os cinco regimes de b e ~ s a que nos referimos logo na rrjbrica da preseate alinea. E, para desfazer erta realidade, nSn basta dizer que a s t p a r a ~ a o completa nao e qurn sislema rnatrimouiill priprio, independeale daquele t m que a sepa- ra@o reune acess6riamentt a comunkio de adquiridos* como faz Silva C~rvnlho . ( 4 )

Argurntn!am os partiddrios desta opini%o :

a) O art" 1101."iz que ase os esposos pretenderem casar-se cam separa~ao de beds, observar-se4o as disposi- q6es dos arks. 1125.O a 1129.0~.

0 art."l25: diz por sua vee que GP 03 esposos decla. rarem que querem casar.se corn separaFgo de bens, nEo ssc have15 por txcluida a comunh%o nos adquiridos sem expres- sa d t c l a r a ~ a o ~ .

0 arLo 1126." referindo-se ao contra10 estabelecido 110

art: 1125,*-sep3ra~~o sem exclusLo da comunhho nos ad- quiridos - diz que ns3o aplidveis a bsle contrato as subse- qieutef d i ~ p o s i ~ 6 e s dos arts. 1130.; 11131.\ 1132.'*.

t,)--Pelo menos a ~ s i m re deve entender tm Lace do quc se IL em =As farmas do reglme matrimoaiaIv volume 11, n.O 25 pig 57 nota 3.

Aldm de 8 1 0 0 Caroalho sustentaram faluhkrn esta doutrina Slur

Scr~e~r, , C6d. Civ. Anot., vol. 111, pap. 53, 9 r l j i m i l laim, in ~ t C o l e c ~ i b rclecta de tscr~ tos juridicos~, pag 8t e as Revistas de Legislac30 e Jurisprudtncia, vol. V, pat. 68 c do$ Tribunais. vol, VI, pag 31'9 O Sr. Dr. Cunha #onfolrrar apresenta uma modaltdade ioteressaute desta doutrina no volume VI do seu tratado de Direito Cir., a pig. 332 e se-

guintes.

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Porianlo, ao regime de separaqno de bens sem expressa excluszo da co1nunb2o nos adquiridom aplicar-se-ia as dis- posi~des doa arts. 1125.' a 1132.'; os arts. 1125.' a 1129." por i b r ~ a do disposto no art. 1101 .o$ os arts, 1130." a 1132." por f d r ~ a do disposto no art." 1126.".

Temos assim na sub-sec@o I11 trts regimes de bens : u regime de separaqao absoluta a que se aplicam a s dispo- s i ~ 6 e s dos arts. 1125.' a 1129.0; o regime da simples co. muahgo de adquiridos subordinados As disposi$8es dos arts. 1130.* a 1132.", e o regime de separacHo sem expressa ex- clus3o da cornunhao nos adquiridos regulado pelos arts, 1125." a 1132.'.

b) - 0 art." 1128.. diz que u d aplicivel h mulher qllanto aos seus bens tnobiliarios separados da comunhao e a t e r ~ a parte das s t u s rendimenlos, o que no arb." 1113." fica dis- posto, relativamenle ao marido, hchrca dos bens mobiliarios comuns*.

Ora, dizem os partidhrios dtsta correate, segundo a opinifio uo8nime, &sle art." aplica.se a separaqao absoluta, o qua faz surgir uma contradiqao, porque o art . fa1a em abens mobiliirios separados da comunhgo~ e no regime da sepa. raqao absoluta oBo h i beas cornuns, e, consqiienremente bens separados da co tn unhao.

O liaico modo de evitar esta contrrdi~Ho 6 admitir a existeacia do regime de separa~%o sem exclusLo da comu. nhao nos adquiridos bio qua1 o arL0 1128: seria tambCrn aplicavel ; e, desta forma, ja se compreenderia a relerkn- cia a bens comuns, pois esta categoria de bens podt existir tamhem aeste regime,

c) - KO projecto primilivo havia mestno disposic6es exclusivas do rkgirne de separa@o e do repirne de simples

comunhao de adquiridos, e ao tnestno tempo disposi~6es cornuns aos dois regimes.

Assirn : ao regime de simples comunhao de adquiridos aplicavam.se os art." 1169.' a 1172." ; ao regime de sepa. r a ~ s o de bens, os art.'" 1173: a ll77.', e ainda os art."' 1169.", 1170." e 1171.', por f b r ~ a do disposto no art." 11J4.0. Desla forma -- diz-se-e compretnsivel a existkncia da re- gime regulado pelus art." 1125." a 1132.".

Crltiea desta opiniao : - TambCm os escritorer que assim areurnenism nPa thu razgo.

Corn efeito, improcede o pritneiro argumento porque corn os art.*' 1125.O e 1126.Q~z pretendeu o legislador criar urn 5." regime mas apenas inferprelar a expressgo Ssepara- cXo de bensn, quando os cbnjuges deelararn querer eaaar segundo Csse regime.

Por outras palarras : o art." 1101.' dispae que sr os esposos declararem que pretendem casar-se oom stpara080 de bens, obserrar-se-20 as disposiqaes dos art.OB 1125.' a 1129.O. Vem a ar t .Vl25 .0 e diz que : use os esposos dtclararem que querem casar se coln sepanq80 dr bens, o t o se haverP por excluida a comunhao nos adquiridos sem exprtssa declara$Io~), mas a t s te conlrato - acresctnta e art." 1126." - *sZo apliclvejs as subseqijentes disposi$8es dos arts, 1130, 1131, e 1132, isto 6 , a s disposic5es regula- doras do regitne de simples comunh%o de adquiridos, e n3o as dos arts. 1127 a 1129. Estas disposi~6es, sgo a6 apli- caveis quando os nubentes declhrarem que querem casar-se corn separaqfio de bens sem comunh30 nos adquiridos.

Desta forma se v6 como o regime rtferido nos ark. 1125 e 1126 e afiual o regime da simples comuohao de adquiridos.

Esta interprelacLo que fazemos dos arts. 1125 e 1126

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pode fazer surgir urna linica dlivida, li:' a stgninte : sendo o regime da simples comunhao de adquiridos regulado pclos arts. 1130 a 1132, e, remetendo o art, 1126 apenas pbra os arts. 1130 a 1138, 6 porque s e quiz reterir a urn outro re- gime de bens diferente do da simples comunh~o de adquiridos.

Esta objecqao afasta.se, portm, iacilmente, porque o art. 1133 conltm uma disposi~ao que teria s tmpre que ser aplicada uma vez que se tratasse durn regime em que hou- vesse cemunhao nos adquiridos.

S6 per lapsa, pois, st expllca que e art. 1126 n8o ta- nha mandado aplicar lambem o art. 1133.'

&' igualmente improcedente o segundo argumento, por- que o art, 1128,"ao lalar em bens separados da comunhao quere referir-se aos bens que pertencem a cada um doa cbnjuges em propriedade singular, em oposiqao aos bens sujeitos a urn regime de compropriedade, o que i; Inleira- mente adrnissfvel e alC frtquente na s e p a r a ~ a o absoluta de bers.

Par liltimo, nBo calhe o argumento hist6rico porque 14 flagrante a semelhan~a eaire as d i s p o s i ~ i e s do projeclo c da redac~ilo definitiva do C6dig0, dando, por isso, lugar As malmas d l r idas que oripinaram a questgo que estamos tratando.

d) Opiniao do Prof. Dr. jaime dc Oouveio:-0s retimes tipos e~tabelecjdos no C6digo s8o realmeate 06 quatro que dcixamos indicados na altnea a).

0 Sr. Prof. Dr. Jaime de Gouvcla enteode que os re- gimes d t bens sPo na verdade quatro - comunb8o geral, simples - comunhao de bens, simples comuohao de adqui- ridos, separaF%o absoluta e regime dotal.

Nao podendo, corn efeito, equiparar os regimes regus lados na sub-segao 111, como jd vimos.

Nso podemos tambCm estabelecer distinqao eotr t as regimes de separaq8o sem expressa e x ~ l u s i ~ o da comunhao nos adquiridos e o regime de simples comunhixo d e adqui- ridos, poi$ urn e ouko 380 regulados pelas meamas dispo- s i~aes . E nlo se diga, como Iazem os pariidarios dos cioco regimes, q a e enquanto o regime da aimples comunhlo de adquiridos 6 regulada pelos arts. 1130." a 1133.", o regime de separaggo k regulado pelas disposiqaes dos arts 1127." a 1133,O, poi8 que os arts. 1127." a 1129." e os arts. 1130," a 1133.", iormam dois grupos de disposiqaes contradil6rias, cuja a p l i c a ~ I o simullPuea 6 irnpossivel: emquanto os pri- m e i r o ~ 3a0 relativos a urns s e p a r a a o absoluta, os seguo- dos s8o relativos I urna separaflo incoapleta, e ou bem que bO uma s e p a r a ~ a o iocompLeta, corn comunhlo nos adquiridos.

Vejamos algumas manifeataqiles dessa inaompatiblll- dadc :

Em primeiro ludar, verificamos que da ap l ica~ao do8 arts. 1130: a 1132." resulta que os rendimentos dos bens pr6prios s l o comuns, pois o art.* 1130." mands regular or bens pr6prios como t les s e regulam na comunhao geral de bens, e ncsta, setundo o 5 liniao do art.' l l O O . O , os rendi. mentos dos bens prdprios sPo comuos; pel0 contrlrio, no retime d t separapo absoluta d e beos, tsses rendimentos nao die aomuas, pois qua s e o fbasem, os bens corn tie$ adquiridos tambtrn o seriam, e a Bsses bens comuns terla o legislador de referir-se no art,"120.0 em que determinou a responsabilldade dos cbojuges por dividas. Ora, o art." 1129.Qm nenhum dos seus ndmeros fala em bens comuns, por isso, forqoso 6 concluir-se, que nlo hh bens cornuns no regime de separaqao absoluta de bens, e conseqiientemenie fambtm oQ s l o somuos os rendimenlos dos bens pr6prios.

Em segundo lugar, vtrificamos que enquartto o art.' 1128.' permite it mulber a livre al iena~ao dos mobiliPrior

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que se achem separados da comunb&o, o arl."l130.", man- d:ndo regular t rses bens pelas disposi~6es relativas 4 co- munhao geral de bsns, implicitamenle proibe essa alieaa- F ~ o .

H i , pois, entre os arts, 1 1 2 7 , O a 1129.O e os arts. 1130.' a 1133.O difereo~as fundamentais que n8o permitem a sua aplicaqXo con junta,

Respondem a islo os defensores da existkncia durn quinto regirn*, direndo que ha realmeate incompatibilidade entre os arts. 1127." a 1129.0 e or arts. 1230: a 1133.O, mas que a verdada i que os arts. 1130." e seguintes s6 se aplicam naquilo e t a que n%o forem incornpatireis com os arts. 1127." a 1129'.

Mas esta doutrina n5o pode facilmente admiaistrar-se, em primeiro lugar porque o art. 1126: manda aplicar o s arks. 1140,' r seguintes irr totam e nho aperas In parft : e, em segundo lugar, porque qualquer tentativa de barmonizaqlo dos doig grupos de disposig6es legais e absoiuiamente ina- dimissirel, purqr~e corn ela fizaria completamente desrirtuado o regime de sepaia~3o incornpleta.

Se s t trata duma separaq2Io corn comunhEo de adqui- ridos, oompreende-se que em re la~go aos adquiridos quu s lo comuns, se npliquem as regras dos arts. 1130 e seguin- ies, mas quanto aos bens prbprios, ou se hZo-de aplicar as disposi~6err referidas no art. 1130.', ou st hgo.de aplicar as disposi~6es dos arts. 1127.O a 1129.".

Aplicar os doh grupos de disposi~aes simul~aneamente e que C impossivel,

Em terceiro lugar, verihcamos ainda que enqunnto pelo art. 1129.0as dividai contraidas pela mulher corn autcriza~Zo do marido s8o dividas pr6prias da mulher, pelo art. 1130, q ue rnanda apiicar o artigo 1114, tais dividas sXo cornuns,

Em vista do que iica expesto devetnos portanto concluir

que os regimes tipos estabeelcidos n o S6ljgo s80reatmenie quatro.

Alim disto, u!n outro argurnento noa conduz a mesma soluc8o da equipara~go das expressties useparaqgo de b e n s ~ e llcomunhZo de adiluiridoss : i que esta doutrina C a 6nica quepermile perfeitamente a aplicacgo do art. 1098.0 do Co- dido, complela har~nonia corn o disposto no art. 1080.' 3." hoje substituido pelo art. 53 do L)ec, n." 1 de 21 de Outu- bro de 1910,

Na verdade, o art. 1098.", depois d e dizer que na falta de acbrdo se considera o casarnento celebrado com comu- nh%o geral de bens, airescenta ,excepto se tdr conlraido corn qusbra das liisposi$fies dua arts. 1058." 11." 1 e 2 , Forqua nesse caso, entender-se-a que as cbnjuges stZo casados corn simples romunhdo de odyuiridosr. Mas o 5 3 * do art. 1060.0, rzterindo-se aos casamentes celebrados corn quebra do dis- posta no n." 1 do art. 1058." diz que esses casamentos se consideram sempre corno coolratados com separagiio dc betis; o mesmo dispondo o art. 58 do Decreio n.' 1, pel0 qua1 foi substituido aquCle parigrafo.

Ora, s t para a nlesma hipotese o art. 1098.* fala em csimples ~ornunbao de adquiridos* e 0 arligo 1050." 5 3 . O em ~ s e p a r a ~ g o de bens*, e porque as duas express6es silo eguivalentes. Compreende-se, por isso, que o art. 1125." mande aplicar a simples comunhao de adquiridos quando es nubentes declarare~n que pretendem casar-se corn sepa- ra@o de bens.

Regimes suplectlvos-0 nosso Cbd. ao estabsleeer as vhrias modalidades dos regimes matrimoniais, que colocou i livre escolha dos nubentts, teve o cuidado, a semelhaaga do qlle acontece nos c6digos modernos, de indicar urn oomo

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suplectlvo, para a hipitese de os cbnjuges n8o iadicarem expressamente o redime que querem adoptar. t

Cum efeito, o arl. 1098.* do C6d. Civ. disp6e que na falta cle qualuuer acdrdo, ou convengZo, entende-se que o casamento L feito rregundo o costume do reino.. .

Qilere djzer: quando os nuben'es u3o leoham estabe- lrcidu por forma expressa qua1 o regime de bens que de. s e j ~ m adoptar, a lei substitui-se vontade dtles e estabe- l e ~ e que as suas reIaq6es patrimoniais serio reguladas pelas disposi~6es da cutnunhao gerai de bens, poi9 outro o?io k o redime segundn o cosiurne do Reino.

Foi so a partir das Ordenag6es Manuelinas que o regi- me da cornuoh;to gzral passou a ser considerado no nosso d~reito, co111o suplecliro. h k e s destas OrdenacBes, se havia regiaes oilile o regime suplectivo era o da comunhao geral de bens, ouiras havia onde para que tal regime v igor~ss t era necessario que as partes o iivessem declarado expregsa- mente na carte de amctade, como se desigoava ent%o o cohlrato onde tal regime era estipulado.

todo o Ileino vigorava ji como regime suplectivo o da co- munhao geral de t ens. E' por isto que o legislador, ao refe- rir-se s tal regime no arligo 1098.O se refere a c a r a m e ~ ~ l o segundo o costume do Reino.

NBo C kste, porem, o dnico regime suplectivo, que exis- le no nosso dil-eilo. Corn efeito, 9 art. 53." do Decrelo n." 1 estabeleceu como regime suplectivo o da separacAo incom- pleta ou simple? comutrhao J e adquiridos. E' certo que nevse artigo s e diz: 4Consideram.se sernpre como contrai- dos corn separacao de benso mas estas palavrae devem in. terpretar-se hhbilniente, pois sendo o Fim da disposi~io pra- teger e defender o menor-eritando que alguim se locupltte h cusla dele--partce que se ndo deve proibir os nubentes de estipuiarem urn regime da kens que melhor proteja e dt-

tends os ioteresses do rneuor. t. For isro, que e n t e ~ ~ ~ l e m o s 3er o retime suplectlvo, pois os nubentes podem e ~ t i p u l i t ~ uln a separa~Zo absotuta or1 o regime dolal. A comunhLu absoluka e que n%o pode ser eslabelecida.

Finalrneute, no caso do artigo 312."~ C6digo do Ile- gi,to Civil, que dispae: use alguol dos uuber~tes falecer ac- les da ratifica~iio do casamento, entender-se-a 6ste leito, a falltt de escritura ante-nupcial, corn absoluta separa~go de bens. . *, o regime suplectivo e o da absoluta segaraggo de beaa e nPo o da comunh~o geral.

Regimes lmperstivos - HI, po r im , casos em que o Izgislador, longe de permilir as parks a tscolha do regime matrimonial, lhes imp& itnperativarrrenCe um.

E' esta a r~z3o porque lhe cbamamos regimes impera- livos.

H i casos em que o regime itnperativo k o dotal. E' o que acontece nos casamentos de menores de 18 e 16 aoos, mas maiores de 16 e 14, quando o juiz, ocorrendo molivos ponderosos os autorize. Diz, c o n efetto, o art. 294." do C6. digo do Registo Civil que em tal hip6tzse * . . . deve o ca- sameato fazer-se segundo o regime dotal, setnpre que o noivo ou a noiea tenham bens. 0 quantitative do dote serd fixado pel0 juiz sob informaqao do conservador~,

Podemos tambCm considerar como imperativo o re- gime estabelecido no art, 53." do Decreto 0." 1.

Rste regime sera suplect~vo em relacgo ao regime do- tal e a separag%o absoluta, como ja Gzemos notar, mas im- ptrativo em rela~ao ao regime da oomunhiio geral de bens.

0s slstemas leglsfatlvas e os regimes matrlrnonlale -1Cstudada a orienta~lo do nosso Cvdigo, sbbre regimes

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matrimoniais, vamos agdra dar conhecirnento das prirlcipais construC6es que sbbre regimes de bens se encontram na legislaqtio comparada, ankiga e moderna 1 ' 1. Repois d ~ s s b verificaremos quais dessas constru~8es podem ser adotadas pelos cbnjugea porlugueses.

No direito romano, ji o dissemos, surgiram trks con- c e p p e s de regimes d e bens -- casarnenko cum manus, ca- samento sloe t n a ~ ~ u s e regime dotal - e esho~ou-se uma quarta coucep.~Eo, que ago chegou a criar raizes - a socie- dade omniutn bonorum - correspondenle, mais ou menos, h comunhao gerat dc bees.

No direito gerrnpnico, domiuado ainda pela idea se- gundo a qua1 os poderes s80 dados aos mais fortes, a mu- lher enconbrava.se sujeita a uma lutela protectors - o mun- dium - que, no dizer d t Lagrange, mrrespondia ao poder do ahete de lamiiia ou A UmanusP dos romanos.

Pelo ~asarnento S O mundiumm passava a ser exercido pel0 marido, que fazla a mulher uma doasZio nupcial--dotem non uxor marilo, sed uxoris maritus oftert -diz Tacito, re- ccbsndo em troca alguns presentes. D a i a designa~Bo de casamento muo odium#, segundo o qua1 a mulher ficava na lamilia, como no direito romano, din loco [iliaen, pas- sando IS seus bens par i o marido.

No direilo moderno diversas concept6es de regimes malrimoniais nos surgem.

- . A

(1) Sbbre e5ta rnatdris psde ~ e r - s c Charles G ~ d e . l:.tude sur In r o n d ~ t ~ ,n prlvCe de l a femme.

Encontrando primeirarllente a coocepsao da comunhao de ben5, com1roh3o que vode sel nla is r j u n~euos exteosa. Assim, euquanto em alguns caises nos aparece sob H forma de comunhZo univtrsal (Paises Raixos, Dinamarca e No- ruega!, noutros aiuda aparece*nos sob a Iorma de comunhao de mtjveis e adquiridos (Franva, Belgica e Luxemburg01 e noulros, ainda, sob a forma de comunh%o de adquiridos sb- tnenle (Espanha, Brasil. Xile, Perii e Venezuela).

Encontramo~ uma segunda concepCLo deuerninada de comunhBo de bens o u de cornunhgo de administra~$.o, ou ainda de usufruto do marido, c o n c ~ p ~ 3 0 seguado a quai os c8ojuges concedetn a propriedade dos seus bens, mas em que a administra~%o d cooferida, em princlpio, ao rnarido. k o regime legal admihido pelos Cadigos Civis Alen~lIo e Suisso de 1912,

Segundo a terceira concepCHo, dita de separst~go de bens, 0 s cb~ijuges conservam a propriedade dos respectivos bens e tambem a administra@io. E' o que acontece na b'usiria. Italia, Mexico, (Cbdigo Civil Federal de 1917j, Inglatsrra e nas legisla~iies de varios Estadoa da America do h'orte. Esta concepqao estd de harmonia coru a evolug8o legislativa moderna, que se faz no sentido de atribuir h tnulher casada anais direitos e de Ihe asseeurar uma maior independencia na familia,

A lei sueca de I 1 de Junho de 1920 r I\ astabeleceu urn regime diferente de qualquer dos que apootirnos ate agora. Segundo ksse regime, 0s cdnjuges conservam a propriedade dos respectivos beas ; mas os bens sao divididos em duas categorias ; bens proprios e bans cooj ugais, bstes dltimos, que consliluem a regra, s e r a partiibadas enlre os esposos as seus herdeiros e m caso de d i s s o l u ~ & ~ do casamento ou

(1) Annuaire de leg. itrangere, 1920, p i p . 100 e seds.

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T b d a ~ a s concessaes dirieidas de bens que ficaro indi- cadas poderzo ser astabelecidtls pchs cbojuges portugueses?

A' primeira vista poderia parecer quc sim, dada a I% culdade de liberdade de estipula~Ao, ;attigo 1096.0) que a lei contere aos nubeole e o principio da varie3ade de sistemas.

PorCm, quem tal pensasse errara. Corn efriio, a concepc10 que qualiiicamos d e separa-

$30 de beos, n%o cabe ileiltro do sistema do nosso c6dige nern e por Cie permitido, porque oessa concepqSo cada c b o juge conserva a adtninistra~ao dos respectivos bens, e entre 116s acontece que, como ja tivemos ocasiac de rer, a rnulber nBo pode privar o marido da adm~nistraqao dos bens do ca- $31, nern mesmo por convenqgo ante-r;upcial (art." 1104.@1.

30.0-Do casamento (cont.)

--Dlssolug80 d o cas smen to , --Da separapBo do p e s s o s s e bans -

Evolup$io hlstbrica da separacHo de pes soas e bens :

a)-No Dirslto Romano ;

bi-No Crlstianisrno :

c)-Na Revolupao Frsncssa ;

f ) -No Dscre to de a de Novembro de 1910.

D I s s o l u ~ a o do caramenlo - Razdo dc otdem : - Estudada a forrna de constituiflo-da sociedade conjugal, os efeitos por ela produzidos, e a forma porque se prova a sua existencia, resta-nos ver agora como s e dissolve essa socie. dade, para cumpletarmos o seu esludo.

Surpreendida no seu nascimento, observada na sua constincia, na sua vida, falta averipuar as causas da sua morte, para que o estudo da sociedade conjuial fique corn- pleto. E' essa averigua~Bo que vai constituir o objecto ddsle capitulo.

Mnfkrirlas a estudar teeste capitulo . - Nes te novo ca- pitulo, que agora abrimos, u8o vamos estudar, aptnas, como a primeira vista poderia parecer os casos de dissolu~Bo da zociedadc conjugal.

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Melhar seria falvCs que este capilulo tivesst por epi- grafe rda dissolu~ao da sociedade conjugal e da sua inter- r u p ~ s o por virtude de separafao de pessoas e hens., pois neste momento vamos e s ~ ~ r d a r 090 apenas os casos. em quc a sociedade oonjugal electivamente se dissolve, mas tanhem aquele ern que ela apenas se interrompe, por virtude de s e p a r a ~ i o de pessoas e bens.

A raz%o por que aqui, a-prop&sito.da JissolugSio do caga- menlo, nos ocupamos tamhem da separaq8o de pessoas bens, e a seguiule : a separacao de pessoas e ben9 lem as mesmas causas que o div6rcio - fosina J e dissolu~Po de casameolo - , e pode converter-se neste, nos lerrnos dos arts. 47." 418.0 da lei do divorcio (Dec. de 3 de Nur~errrbro de 1910); pelo que se pude considerar urn prelridio de dlv6rcio.

/r~dicacao du sequiniia : -- Em virtude das materhs que neste capitulo varnos es!udar - separagPo de pesdoas de bens s dissolu~Sio da socje.dade conjugal - divid' r lremos este capitulo em duas sec~Bes : na pr ime~ra estudaremos a separa~to de pessoas e bans: ; e n segunda sera reseivada aa estudo do divdrcio, pois das causas de d i ~ s 0 1 ~ ~ 2 0 da socie- dade - rnorte e div6rcio - , s6 o estudu dests oferece iolerksseq

Da separapko de psssoas e bens - Evo lu~uo histd rlca da sepnrec8o de pc.,soas e br'ns : - No direito romano, con:o sabenlc~s, nPo haria a separa~ao judicial de pessoas e bens ; havia somenle o replidio, Quando havia deseotendi- mento entre as cbnjnges, estes divorciavam-se, ou repudia- vqm-se, divbrcio e repddio que erarn leitos corn tbda a lacilidade.

Mais tarde, portm, quaodo na sociedade romana, no tempo do Imptrio, surgiu a di~solu@o dos oostumas, mult i -

plicararn-se extraerdinariamente os divorcios, pelo que ae comeqou a desenhar umR reacao contra e[e, r e a g o que au. meatou quando os imperadores romanos se convertcram ao Cristianismo.

Como sucedeu a outras, iostitt11~6es, os imperadores ro- manus, em rela@o ao divbrcio, adoptaram a seguinle atitude: mankiveram.no, mas corninaram penas graves, contra aque- les que fizcssem o divorcio sem causa. tnconrraodo-se as czusas estabelecidas nas leis.

0 Cristiaoismo veio estabeltccr a doutrina da indis. solubilidade do casamento, consideragdo o casamento urn sacramento e , como tal, indissol6vel. Por esla razso, nas sociedades cristls posteriores ao irnperio romano, Loi abo- lido o div6rcio.

%as, porque na vida real surgiaru casos de sociedades conjug;iis em que o vinculo do casamento tinha de ser de alguma maneira alenuado, porque 3e apresentava impossisel a c o h a b i t a ~ % ~ dos c&njuges, e tarnbim porque aLo era lidto desconhecer ewes casos, estabeleceu-se a separaqgo de pessoas e bens, ou, corno se dizia em lioguagern can6nica cgieiraratio quoad tarum et habitatlonem~, que punha termo a vida em comurn dos cbnjuges e, vinha a subslituir o dj- vorc~o romano.

Maa enquanto no divtircio o casamento se dissolvia, oa separapo de pessoas e bens o vfoculo matrimonial man- ttnhase -0 que nzo admira, vislo nessa ipoca prednminar a doutrina da indissolubilidade do casamenlo - e apeaas libertava os cdnjuges da obriga~ao d e cohabitaqlo.

E m caaones que o concilio kiderrtino, urn dos maiores concilios de Igreja catblica, uma das maiorts assembleias do5 doulotes da Igreja, aprovou: distinguiu-se entre separa- $30 perptliia a separaqIo ternpodria, distin~go esta que se reftelia nas catlsas que davam lugiir a uma e ostra dessas esptcies de seplragao: as causas para a separa~lo per-

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petua eram mais graves do que as exigidas para a separa- @lo temporhia. I

Mais tarde, a RevoluqlZo Francesa acabou c o ~ n a sepa- ra@o, elimioando-a das instituicaes lrancesas e restabele- ctndo o djv6rcio.

No Cod. Cir, franets, porem, a-par-do dirdrcjo man- teve-se a separa~ao de pessoas e bens, - separation de corps -, e tal inalituYcgo passou dal para o Cod, Civ. par- tuguks, que mao admitia o divdrcio. Enire n63, 56 mais tarde, quasi meio seculo depois, em 1910, se restabeleceu a inslitui'q80 do d~vorcio pelo Decrelo do Govtrno Previ- sdrio da Rdpubiica, publicado em 3 de Novembro de 1gi0.

Temos, pois, que o nosso C6digo Civil apenas reconhe- cia a separa~go judicial de pessoas e beus, e o&o, lambim, o divorcio.

A separa~so de pessoas e bent, tal como a admlf-la o Cddigo Civil. ern perpbtua; e , conquanta o art. 1210." do Cbdigo Civil eslipulasse que da separa~ilo de pessoas deriva necessuriamenle a separag8o de bens, um oaso bavia em que o legislador reconhecia, admitindon, a simples separa, ~ $ 0 de pessoas. Era o caso de adultdrio da ~nulher, no qual, fbsse qua1 fbsse o regime em que o roatrim6nio tivesse sido contraido, a mulher nao tinha direilo a separa@o de bens, mas s6 a alimento, salvo s e provasse que, ao tempo ern que co~neteu o adulttrio, podia requerer a separaqso contra o marido, por algurna das causas ruencionadas no n.* 2 do art. 1204." do C6d. Civ. (C6d. Civ, art. 1210." 5 Joico).

Este sistema foi alto alterado pelo C6d. de Proc. Civ. de 1876, que no ark. 469." adinitiu a separafao judicial de pessoas e beos temporiria. Corn eftito, dispbe ksse artigo que fro conselho de lamilia ou as justiqas ordiuhrias jul- gando improcedenle e nao provada a accao d t separa@o de pessoas e bens, padem, lodavja, autorizar Icmpordrkmenfe,

a seu arbitrio. a separaqxo provis6ria de pessoas, arbi- lrando alimentos h mulher, se houver lugar a L l e s ~ .

Por dltirno, quer a inslituit$o de separaqgo de pessoas e bens tsmpor8riaI quer a de simples separaqao de pessoas faram abolidas pela lei de dir6rcia : a separacla de pessoas e bens tempordria pel0 art. 51." que proibia para o luturo a separacao temportiria de ptssoas autoriaada peko art. 469.' do dito C6d. de ['roc. Civ.: a simples separacao de pessoas pel0 art, 50." assirn redigido: afica revogado para todos os efeilos e $ uaico do art. 1210.' do Cod. Civ.11.

Em sfntese : na legislac30 pr6-vigente ao Dec. de 3,11,1910 n2o havia div6rcio: a sociedade cooju~a l dis. solvia.se por morte, e admitia-se a interrtipqZo dessa so- ciedade, interrupqzo qu- se fazia ou pela separaqilo judicial de pessoas e bens, que podia ser perpCtutl ou lempodria, ou pela simples separaqgo de bens ( I ) , ou ainda ptla sim- ples separa~ao de pessoas.

Corn o Dec. de 3111j1910 institu~u.se o div6rcio e ell- minaram-se ou extinguirarn-se a separapo judicial ds pes- soas e bens tempordria ou provisdria e a simples separago de pessoas.

Gorrelagao entre 0 dlvbrolo 8 a separaglo de pes- Boas e bens: A instiluiqrlo do divhrcio, que represents uma reaccilo contra a doutrina catdlica da indissolubilidade do matrimbnio tern surgido mais cedo ou mais iarde; em kpo.

(I) Note-se, todavia, que a simples separac;lo de bens 16 iatrt. rompc a sociedade conjugal qnauto aos bens c nzo, lambdm. quanto is pesseas; e u contrar~u se deve dizer pelo que diz retpeito i sim- ples wparagzo de perloas.

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cas diversas, nos vhrios paises da Europa ( 1 ) : mas em rela- <So Aqueles paises que o estabelecera~n e que. ao nlesmo tempo, rnantirerarn a separa~go de pessoas e bens, a curre-

1 lagPo eslabelecida entre unla e uuira insiitui~ilo C diversa.

Primelranlente, terucls a concep~Io da sepsragao divor- cio : em certos palses, onde dominava a doutrina canbnica e a relcgigo catolica, a separa~ao de pessoas e bens era con- siderada o divbrcio dos catolicos. Normalmeote, nestts pai- ses, acimitia-se para os nao catolicos, o divbrcio, que era vedado aos calblicos a queru s6 a separacao de pessoas e beos era permilida pata dissolver o casamenlo (.)

Outras legislag6es adoptall1 uma concepfho diierente: a lepara@o de pessoas e bens desempanhava a f a n ~ I u de prellidio do div6rcio (concep~Tio da separuCZo prel6dio do divbrcio). Quando houver desbarmonia eatre os membros d t sociedade conjugal, estabelece-se, primeirarnente, a 3e- paraggo de passoas e bens e, depois, se a separago de pessoas e bens n3o vier a acabar pela conciliaqlo, permite- -ae a sua conversfio em divhrcio, a requerimenlo de qual- qutr dos cbnlutes.

A separaflo k , por conseqiibncia, a ante-dmara do dirbrcio.

Finalmente, segundo o tsrceiro grupo de legisla$8e6, a conversKo da separa@o em div6rci0, fica ao prudeate arbi- trio do julgador. Volvido o lapso de tempo de experiencia sbbre m possibilidade da conciliagSo, t permitido realmente nos cdnjuges sepradoa requererem a ccnversio da seyara-

t$o em didrcio, rnas esta conversAo nenl sernpre I conce. dida, porque o juiz, ~preciando as circonsttiacias, podera declarar ou 1180 a conversgo. Nestas legislagiies 6, pois. outra a corrcepqao da correlacBo existcute enlre a ieparacilo de pessoas e bens e o divoroio: a separa~SIo e urn diminui- tivo de divorc~o.

Quere dizer, essas IegislagBes exigtm causas lnenos graves para a separa~ao do que para o divorcio,

E $80 estas as Ires co11cepq6es principais quc encon- tramos nas lefislap5es sBbre a correla~ao das inslilui~ties do div6rcio e da separa~ao: a concep~8o da separaqgo di- vbrcio dos cat6licus, a concep@o da aepara~ao prelljdio do div6rcio e a ooncrpclo da separac20 diminuifivo do divbrcio.

( $ 1 Em alpuns paiscs, coma a Ilalla, ainda nSo existe o dir6rcro; mutros coma a Espanha 36 rcctntcmcntt o primitiram. Em Francs o drr6rcio foi estabelecido pclo S15d1go Napoleoniro, suprfm~do em 18!6 r restdbeltcido ern 1684

1,) E', fundamzntamcntc, a concepci?~ do projecto da l e ~ do di- vorcio, Gbre a qua1 ja deu o szu parecer B Cgniara Corporativa.

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f t,sfr~rrl,,nti~i s, ir fohr [itio cn P P I . ~ ~ r /act-arii o frsf17nrtrnfo, Irr- ~~,orir/il 1111 / i l i ~ . r~tdriiir riu ,fri l l in yrre so'rir dr tfr~rtoli!cro i ~ i r i i ~ I I I I ~ ~ Z {/atJ ilri./ar~. ( 1 !lussr~u ri I/llam pcr'lenci' 1.1 trsbrr- f/trt/io { [ I f l.on/t/ido, 0 t i~tddot ' / f m i ~ ~ 11ri~.~cif?r/1'~ dest i~s ,lur///aliii(~iies ~ > . y t f 1141s ; //!iJs, rrn ti![ c(rso+ lnr-se-6 / t f t2 t~ -

rtTo 110 ~rrtfo lie n~irur.nqZo, ( / P OI I~ ' clussr ar~itotrrm [lor 1,011fnil'r flu ftsfariirr*.

AI 1.0 1923.0: I Us qiie n8o sobem, ou nju podern ler, s@n irrl~ab~is purn dispar ern iestamc?zto cerrudar. -

Art,' 1924.": srirda-mudo pode jazer testamento cerrado, cor~fantrr ( ~ I P SIC S Z ~ ~ I 1cdo ~?scrito, assinado e [lalado d e sua moo, C gae, n .I rzpres:ntd.!u izo tobelido p=- rnrrte ~lrtco l e ~ t e ~ r ~ u r ~ f z a ~ , o t s lndur escreva rrn presenGa de fodos, slibrt n fnce exdertin do testame/ito, qlse aqueln 6 a su,t iiltirtia uorilodt, e qne rlaj pur Eie rsrrila P ussinadn

5 i n k o . 0 fabelitio deciararli, na auto de aprovnCL?o, c ~ m o o f,stadur trssinz o escrsveu, c se nbservard o rnais que , f i n disposto ni? art. I922,"a

TBdas estas d i s p o s i ~ d e s t tm de ser estudadas de har- lnonia coln o ultiulo C6dig9 do Netariado, que data de 1936.

H6 tamhern o tcstamento militar (de que faia o artigo 1.944.") que e teito pur militates un por funciunirios civis do evtrcito quando estao no estrangeiro, ou numa cidade cercada que n8a tenha coiz1unicaq6es cum urn local ende I~a ja notario.

Gste testatnento s6 vale ate urn nits depois do regres- so do corpo do exercilo :lo sitio onde haja, ~iotario ou depois de terininar o ckrco ou depois do regresso do estrangeiro.

Uiz o att.O 1944.5 : Testartzetzto rrlilitnr O o qrre pndern firzr: i.s /railitare.,, e os errrpre~ados civis de e . r i r c i t ~ ern carrtp~z~ll~ r f ' r o ,la rein,?, ou nlndn dttztrcl ~ l u reltri), e~tnndo c~rcados rm p r o p fer:hada, oic r i s i i i i n d a 4 tri ter o, cr~jjos cu:f~naicu~des {.an ir!~tril~ e s ~ ? j t ~ f i z c o r t d u s , se nessa p r q o ou tt'rra ndo irclrrvrr Cnbeliriu*,

Art." i945 " *0 n~llittrr air o empregodo civil do extr.. cite que quizer jrrzer lestnrnrnto, declr~rard a sua iltdma vcrntadc na p r r s f n p de f r k lesfernunfias iddneas. c do au- d i t ~ do dvisdo respecfiva, ou, tra la!ta disle, nu dc ulgarn ofidid de ~ r l l t n f e . 0 auditor, ou o oficlal que suprlr a sua f d l a escreverd o disporl~rfo testatfie~zhiria.

5 1.". Se o iestndor se uchar fdrida aa doenle, a falta d~ audllor nu de oflclul poderf ser siipridu pelo copduo ou pelo fulcrrlfativo do hospital onde estivsr doentf ors fe- rido.

5 2.'. A disposit-iio s ~ r d lida, dntada P nssinada, mrzfurlne fica disposto rrns nrf "V194.' e 1915.0,

8 3.". ~ s t e tesfumenfo serh remefido, conr a possivel bl'ft9!dladt, an qrfartcl p n s m l , P dnli an rninislLr'rio du guerra, qne o fara dtposifar no arprtho testlarnentdrio do distrito ndminisfmfivo, onrle o ditn testarnentc hli-de ter eje ito .

5 4.". Falecendo n testador, jar6 o govimo noticiciur a sua rnorfe no pcriddlro oficial, ' des i~nando o arguiro onde o testamenfo se acha depositado.

9 5.'. Esfe f ~ s f a m m t o f icard sen1 t j e i fo pussado urn mPs depois do regresso do testador a0 rcina, 011 de Ier cessndo o tho, ou a incomunicabilidade da ferrn onde o fnesrno testamento foi feitou.

Arb." 1946.' ; :Se o militar oli entpr~gado civil souber cscrever, pndvrd fazer festamenfo por seu prdprio punho, confunto qrte o d a f ~ e assine por tx fenso, e o aprfsenfe, aberto ou ccrrado, ~ r r r presenp dp dnns tes~ernunhas, uo nnditor, on no ojirial de pnfente gue porn tsse jirn @

substituir. 5 1.' O nrrdrdor orr o oficinl, a qupnt o dito testamen-

to f ~ r a/rrfsenfndo, e s c r e ~ ~ ~ r a , ern quaigrrrr parte dele, unliz tcotn do lagar, dia, m?s e cano em que joi apresen- turln ; estn no fa serri assi/tada pnr d e e pelas sottreditffs

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testerni/rrlrns, e ilar-sr-li ao te.sti~trirnta n dirrcfa'o Indica- ria no ,$' 3." 110 arfigrr nnlec:tdenle.

5 2 . O . S P I ) f~s tu l io r t s f i ~ e r d~renfr oil ftarido. l ln~fi ,ru 11 t :a j )p /&~ O I L f u ( ~ u / t t ~ t z ~ ~ o ft~zti- us i l tzt~s do ~ ~ u l f i f or U I J . do ojicinl.

5 3.". E' uplicdve1 rr rsftr r spk i r (kt t~sfanrct~ft? o fjue ficu disposfo nos #s 4." r 5." iiu nrtiga ar~teci.denta*.

Ampar do testamento tniiilar ha tambem o testameuto maritinlo, de que trata o art," 1958." e seguintes.

Art." 1. ?58.*. 40 ft'srizme)~fo trtllrifimi~ st; prrm'uzird yloi fo. -fnlecerrtii~ o festnri~lr no n~irr-, nli 11et~tm i i p I I I ~ mcs contcrdo r/esdr n r l r . s t 'mhnvq~~ Jo d i f o t~s fn i lo r rut f ~ r r i t d - rio j~or t [ tg~~P^s~ .

Art.Q 19.59." .Sr n feslndor futi7:~;~r IIO inor, ohservnr- -sf-d o qlre l i r a ~l!sposto no $ 4.0 do art." 1935.'3.

Arb.' 1960." cU f~!sfunrmto nlrr!ifirna, (7 que Jaitar nlgumn d a s solanidadas ~.eqrseriu'ns nos articos 1949.'. 1950." e f951.", rrifa proditzird r:faito ol~rrnr*.

Tambim ha o testatnento externo, isto C, o testamento feito em pais esfraogeiro. Dele se ocupa o art." 1.961.", que diz : 0 s trstcrmentos, f'eitos por I orfugueses em pais es- frnt~griro, prodirzirzo os seus t f e i tos l c c n i ~ no rrino. ssmdo ~ivmufndos a~i trnt i~~nmenfe, rnl ron.formidada diz Iri do pais uttde .foferm calab~arz'os~,.

0 s cbnsules podem casar ns cidadaos do seu pais, po. dem fazer registos, podem fazer testa~uentos J i lhes disse ate, a-proposito da data da vigencia da lei em pais estran- geiro, que e p rec i~o saber quando C qut a lei porlugue~a ent:a em vigor no estrangeiro (110 prazo de 60 diasi, e isto por duas raz6es: em virlude de as auloridades diplomaticas e consulares lersm Lt~ncfies notirias e de registo c ~ v i l e por- que a lei porbuguesa pode ser aplicada 110s tribunals estran- geiros qua~tdo ha urn coallito de leis no espago,

Gi Itm a m caso em que as auturidades consularee tkm knu~i5es notariais : podem exarar testamentos.

Entre oulras disposipks legais que importa conhear esta e mais importante: urn testamento feito no estrangeiro por docun~ento autentjco, segundo a lei estrangeira, tern vi- gor e m Portugal, ernbora haja discordPocis entre a lei es- trangeira, quanto a forma externa, e a lei porluguesa.

Pcrque a forma erterna do acto e contrato regula-ae pela lex lol l nctus, isto 2 , pela lei onde o acto e praticadn.

Mas tambem h i a sucessfio legitima. Nem serilpre o de cujus pode fazer testamento em que

disponha de todos os seos hens, Por exemplo. h i herdeiros legilimarios ou herdeiros corn direito a uma legftima

E, quando tal acontece, o autor da heranga so pode dispor dos b e ~ s que estao i lem da legltima, que exccdem a legitima, sd pode disp8r da saa cola disponivcl. Nbsse caso, quando ha um testameato que n2o disp6e de todor os bens da heranca, ficatn a-par a sucessh tesiamentAria e a sucessis legitima : a auceasao testamentaria, reglrlada pelo testamento, em relac30 a cota disponivel, a sucessio legiti- ma, deferida pela lei, em r e l a ~ a o a legltima.

\[as, outras vezes, o de cujns n3o faz disposi@o terta- mentltria; e, quando nlo hai testamento, claro C q u t a he- ranqa h deferida a quem a lei manda deferir.

Temos, por conseqiiencia, de saber, primeiro, a que t a legitima, em segundo Iugar, qua1 d a cota legitimaria aor- relariva corn a cola disponivel, em terceiro iugar, quem tern direito i legitii~a.

Ora, isso 6-nos diio nos artigos 1.784.0, 1.785.", 1,786.0, 1.787." do Cbdifo Livi l . (+,I

( ) Art " 1764." =E:itende-sa por leg~trrua a porcHo de bens d t quc o tastador nZo pode dispor, por net aplicada pela lei dos herdcirus em liuha recta descetlde~te ou ascundente.

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Em virtu& destes artigos, vb-se, primeiro, o que d a le- gitima: d a cota de que o autor dz heran~a n5o pode dispbr<

Isto e a redac~ao dc antes do dec.relo n.* 19.126, que e a reforma do C6digo Civil.

Antes dkste decreto, dizia.ae: rpor ser destinada aos ascendentes e descendentes*.

Mas, como os descendentes em linha rec!a preierem aos ascendentes, - enquanto houver fillios nao hcrdam o s pais, - por isso a ordem leg i th i r ia e *par str destinada aos descendenles e ascendenles=, e ngo como estava no Gddigo Civil.

A legiiima, hoje, bavendo descendentes de qualquer -

grau - filhos, netos, blsnetos -ou havendo pais, e de me- tade: e, como a uola disponivel est i em iorrela~ao corn a legitima, tamMrn a cota disponfvel i metade.

5 dnico. Esta p o r ~ a o consiste em mttade dos benr do testador, salvo a disposicZo dos ar t i tas 1785.[' o . O 2.' e :76;'.",.

Art.O I585.* nSe o testador tivcr, ao n~esmo tempo, ftlhos legiti- mos ou Legitimados, ou desceudtnies d t l e s corn direito de rcpresenta- cap, e filhos perf~lhados Ou descendentes dGles corn direito d r repre- sentacZo, observar-st-k o seguintr :

1 . ' - Se os filhos pcrfiihados o esiavam a o tempo em q u c o icsia- dor contraiu o matrim6nio dc quo vtio a ter os filhor legitimos, a le- gitima daquelcs s e r i igual a legilima dtstes menos um teryo :

2.'-Sc as filhos forem perfilhados depoic de contraido o matri- m6ni0, a sua legitima nao txcedt a legitima do.: outros menos urn ttr- GO, calculadn nos termos do n.O 1.O, e saira s6 da quota disponivel dc heranca, considerando-se iuol.+cirrsas as disporicacs ou doacaes feitas em prejnizo desta l eg i tma , antrriores e posteriores L pcrfilhag%o, conforme as regrrs gcrais.

Art.' 1786.O *Se o testador, aa tempo da s u a martc, oHo tiver f~lbos on descendentes, man tircr pal ou m i i vivos, contistird a lcgi- tima do$ pais ern mctade d l herancav.

Art.* 1787.* *Se a t tstador 5 6 tiver, ao tempo na 5ua mortc. OU-

tros ascendeote qnc nZo sejam pai ou mZi, consistiri a iegitirna dLlcs na t e r ~ a pnrte dor bcns da herangas,

Mas, se n2o houver descendentes, se houver ascanden- t%s que nXe srjam pai nem mai, cslHe a legilima 6 9 6 $ e a quota dlspbnfvtl, corrslativa, C $.

Isto tambdm foi modificado, primeframentes, peio de- crete de 31 de Outwbro de 1910, depois, pelo decreto a,' 19.126.

Na vigbncia do CBdigo Civil 40 era assim. Como jtl I k s disse, a cota disponivel estir sempre em

oor~ela@o corn H legitha. Se a legitima i de matade, a cota disponivel i de me-

t lde; se a Icgitima t de $, a cot6 disponivp;l e de $. Mas pode aconteeer que o aubr da heranca ugIo passa

dispor por lestamenlo da sua melade. E' a wso, ds -ter filhos periilhados depois do casamtnto, a-par~de filhos legitirnos.

O n.* 2.' do art. 1785,' diz: US# os filhos Joren~ per- fllhados dspuis dd cofitrczldo o rnafrlrndttio, a sun legltlmu ndo sxcrderh a iegitima das outros menos urn tergo, calcu-

lras frrrnos do n.' I,", e r a i ~ d s b dn cola disportivsl de heranp, cnrrslddrando-sc lnoflclosnv as dlsposi~des ou ooa- Faes feifns em prejubos desrts I~~ i t in sa , arrttrior-:s e poste- r i ~ r e s a xler filhagda, cenfornls as regras gerais I .

0 autor da heran~a tern fllhos leditimos e frhas perfi- lhados Deixou, por exemplo, 90 contos. Segundo o disposto no artigo 17840, a legitma dos f~lhos era de metade, 45 contos, a aota d!sponivel era tambdm de 45 cootos.

Mas o autor da heran~a tern frlhos perf~lhados. 0 s filhos perfrihados, depols do casamsnto, herdam

tanto como es filhos legitimos menos +, mas as suas cotaa heredittitias s6 podem sair da mctade dispenfvel.

Suponhamos que o aytor da heranqa tinha dois filbos legititnos.

Mctade de 45.000$00 980 22.500$00; dB, pois, a cada urn dkles 22.500$00.

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Mas o autor da h e r a n ~ a tinha, tarnbtm, trCs fllbon per. filhados : cada urn dsles herdava

Mas 15.@00$00 X 3 = 45.000$00. Como a eota here- ditiria dos Illhos ptrlilbados $6 pede sair da cota disponi. vel, esta ficou exgotada, De mod0 que hie, em vez de 45.00@00, nao pude dispor de ~ o i s a net~huma porqut 15 OO@$OO, 15,000$00 15.000$00=45.000$00 que'rem r str tbda a cota disponivel.

A sucessgo legitima 6 delerida segundo a ordem indi- cada no art. 1969.', que diz:

11 A sncessdo iegMlnra deftre-sc nu ordem scguinfe: 1.'- Aos descendentes ; 2.0- Aos ascendentes, salvo o dtsposto no art. 1236,O; 3."-Aos irnilaos e seus descendentrs; 4." - Ao conjuge sobrevlvo ; 5."-Aos transversals rldo cotnpreendidos no n,' 3..

ate 0 6.* grdu ; 6.0-Ao Esfodo, salvo o disposto no art. 1663.", Ej Gnico --Nos casos dos nlimeros I.", 2." e 3.", con-

sideram-se coino &ens prdprios do cdniuge sobrevivo os gb neros e frulos colhidos ou ptndcnt~s, desdz que a data d d

aberfura dn herartfa nil0 hqja pcndente ou julgarla acguo de divdrcio au ds seperlapto de pessoas e belisr .

E o art. 1970." : 0 parelrte mais prdxirno e m grdu exctuirri, dentro de ~ n d a grrrpo u gut se refere o artigo anterior, o ntais rern;!to, salvo o direifrl di: reprcszntagao, 110s l-asos em gut iste vigoraa.

Curno reem, por consequtncia, as ordens de sucess8o esMo estabelecidas neste art.'.

Enqllanto bouver herdeiras dunla ordem, nso sgo cha-

de viirios griius da mesma ordem, s5o cliamados os de grau mais prbximo, canforme dispfie o art." 1970.' nos termos

O parenle tnais pr6xirno em grau exclu'ira, denlro de cada t rupo a que se relere o artido anrerior, o mais remo- to, salvo o direito de representaqlio, nos casos em que $ste

Esta e a ordem d e sucessao legitima do C6digo Civil e do decreto 19.126 :

a) descendentes b ascendentes C) ir~naos e seus descendentts d) obnjuge sobrevivo e) transversais f ) Estado Mas entrc o Cbdigo Civil e o decreto 19.126 houve o

decreto-lei de 31 de Outubro de 3910, srgundo o qua1 o cbnjuge sobrevivo preferia aos irmaos na ordem da suces- sao legitimm.

Encontratnos, porim, denlro daart . 1.969," duas excep- @es, auma das quais se refere o art." 1.236.". Quere dizer: os ascendentes, o pai e a mEi, preferern aos irm8os: art,' 1.969.", mas, quando o pai ou a nlai 980 casados t m se- gundas ndpcias, binubos, e bouver filhos do primeiro ma- trim6ni0, en120 os bens deixados por urn dtsses filhos, ha- vendo irmaos germanos, s8o herdados pelos irmLos, o o ou a mgi, ayuele de quen~ se tratar, so tern o usufruto: C o que diz o art." 1.236.0 :

use ao lritlubo ficaieml de a l g u n ~ dos ji6/1os dr! quai- qucr mntfirno'nio &ens gue Ate jilho houvesse Irerdrzdn do seu Jnlecido poi ou nsdi cis llas nsce~tdenfes disies e exis- firen1 irmaus germanus do Jiiho falccldo on descendentes de irmfios gcrmanos jalecidos, a 2stes yertcncerd a pro- mados herdtiros doutra ordem. E quando hourer berdeiro:

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priedade lies rrrrsmos beas, P o pai ou mai sd k r d usu- f rrttil~.

k preoiso que o fllho falecido tenba irmaos germanos, isto e, irmRes filhos do niesmo pai e da aesrna m8i.

Esta' i, uma das excep~Ces. A outra excepq$io reiere.ae so caso de repreB&laq%o. Da representa~ao falam os arligos 1.980." a 1982.". Art. 1910." Dri-se o dlreifo de re/~resonfapTo; quaoda

ci le i cftnmo crrios parentcs duma pessoa falecdda a su- cecl~r t i l l todos os dirritos rm qrir essa pessoa sncederira, S E viva J ~ s s P * .

A r f . 1981 . '~. u N a linhm transversal, dd-se o dlreito de r~presenfacto em Jirvor das descnedcntes do irmdos do f alecido*.

Ngo i 56 no caso do art. 1 . 2 3 6 . O quc s t deixa de res. peitar a urdem do arligo 1,969.". k latnbtm no caso da representag80.

Havendo diirito de represenlago, os herdeiros do her- deiro faiecidu vLo OCUQRr o lugar do que faleceu.

A represeataGiv da-se na linha recta deroeadeote, Ma8 tambhm s e dB na linba colatsral.

Diz o art. 1981.0 : *O liireito de reprcsentag&o dd-se sempre no li~iha recfa d~scendente, mas nirnca ns as- cefidenfe*.

Diz o art. 1982.': %Nu Iinha transversal, dii-se o dl- rd fo rlr reprssentngab ern favor dos descendenfes de ir- maos do faialrcido~.

O tnesmo artigo na r e d a c ~ l o antiia dizia: Na linha transversal sb se da o direito de represenla-

$Xd em favor dos Filhm de irmgos do falecido, quando con- correm corn algum irtu80 do dito falecido.

Partanto, mone urn' irnlilo que t t m ouiros irmlos. Urn d&les, porCm, n3d deixon.fiihas, Inas deixou netos.

hlorre A; ; tinha, porhm. irrniios : B., C. e V., mas D: e

prc-morto, jfi tinha Ealecido, quando morreu h., e tioha,E., F., G. nelos. 0 filho de D. fakaeu e tern.agora a6 netos.

Na vigtasia do C6digo Civil, tssrr netos do irmao p r e -rnorto nao finham o direilo de representacgo, mas, segundo a redac~Po que ao respective artiga dtu o deoreto 19.126, ja Itm direito de representa~flo. 0s netos a20 destendentcs. 'TinhS mthrida o filho, mas tinham liaadii 0s nebs.

0 saber se algukm hCrda por dlreito de rtpresents;~go

0 direito de representaq20 C um capitulo muito corn- plicado do Direito Civil. Mas para 1163, nosta cadeirn, bastam estas nopcs ligeiris que lher vou dar,

0s cieitos da represcnta~3o $80 mliltiplos, mas eu s6 vou dar os seguintes.

Quem herda por direito de representago herda par es- tirpes. Qusm herda por direito pr6prio srm ser por direito de representat$o, herda per capita.

Vejamos: Morreu A.; ago tinha desmndeotes; tinha irrnaos, B., C. e D ; D. e pre-morto, ista t i , falecido antes de A, t deixou filhos, E., F., ti,. E:, F., G. v8o herdar por direito de representacao; porkanto, berdam per stirpes e nbo per capita, Iato i, os Irks filhos de D. herdam e que herdaria o pai,

Por outras palavras, eram ires irm3os. B tern C tern +. D, pre.morto, deixou trer filhos, E., F., G., que htrdam r que herdaria o pai, isto 4, cada urn herda $.

Chama-se isto herdnr per stirpes, e nao prr coplta. Chegamos, assim,. ao fim do capitulo gue se intitula es-

tudo dcscritlvo das instltuigdls juridicas. Vamos no prbximo dia eotrar no estudo durn novo eapitula.

0 jurisconsulto, em regra, e urn conservador. Habi. tuado a viver corn leis e corn inslituiqtiss, criamlbes amor. Por conseqiikncia, quaado h i uma reforma, uma renova$3o

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de institui@ea, o jurisconsuita fica apegado As instituic6es corn que rivtu, lidou e trabalhou.

I! csta a razz0 psicol6gica e natural por que o juris- consul t~ 6 em regra conscrvador.

Por isso, quando se faz uma reforma de Legislagao, por virtudc, repito, do seu instinlo conservador, do seu atnor ao passado, o jurisconsul~o, nbste caso o legislador, nao faz a reforma das instituiv6es ou das leis de harmonia corn o estaiuto politico.

Assim aconteceu quando se fez o nosso C6diio Civil. Embrra st: estivesse em pleno pertodo do regime liberal, o nasso C6digo Civil tern inatituipties que nao correspondem h filosafia pelitica da tpoca em que ioi leito e rnuito menos, por conseqUtncia, 21 filnsolia do Eotado politico vifeote.

0 aosso C6digo Civil e iliso que acabo de dizer des- critiramente.

0 q u t devia ser o nosso C6digo Civil para estar em tquaflo com o Estado Liberal 8 , depoio corn a filosefia po- lirica actual? Eis o que varnes dizer, pela primeira vez, en. tre n6s, nas prbximss lig6es.

ALTERACOES A FAZER NO C ~ D I G O CIVIL PARA FlCAR EM EQUACAO COM OS PRINCIPIOS DO DIREITO

POLITICO

32," - A mlstica da Rsvoluqao Franeesa e os princlploe da fguatdade, Llberd~de e Frrternldade.

- Reziio por que Inverternos a ordem dos elemenios da trllogla da Reva- Lupho Franoesa.

-- 0 princlplo da lgualdade B o mais re- Ievante d o ~ trds, sendo o prlnclplo de Liberdede ou o da lgualdade quando h& contrarledada entre os dois.

- Alteraqdes que B mister lntroduzlr na trglslaq8o clvll para harrnonlxar corn o prinolplo da Igueldads.

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E' na triloiia da liberdade, igualdade e fraternidadt que a rnfstica democritica se funda.

Cotnepremos pur nos referir DO seguodo d&sles elc- mentos, a igualdade, vende a intludncia que esle prioclpio extrceu aa legishflo civil

Montesquieu, em L' espri t dts lois' \livro V, capituio 6."), diz que o amor da dernocracia i o amor da igualdade, e o autor do projecto do C6digo Napole6nico pretendeu fazer urn C6digo Civil q u t assenfesse nos prrncipios da igualdade e. da tibtrdadt eatxe os indiiduos. E assim fo~ .

Em relacgo ao CBdigo 5ivil frances, Gomo em r e l a ~ ~ o ao G6digo Civil portuguts, houre3a preocupa~%o de..estabev lbctrrr jgualdade civil errtre os cidadUos.

Diziase . tcidos 0s cidad~os nascem ~guais : todos 0s cidrdHos dalram ser jguais pcla vida fora por fbrcl drt lei ; e, portanto, todos t&m igual capacidsde.

No direilo aivilgortugut?s, como no direito cirl l francds, aao h i iucapaeidades de 8620 ; as incapacidades ~ l t o , em regra, de exercicio. Todos t8m iguais direitos ; mas aconta- ce que alfuas a o as podem erercer, e dai resuita a inmil- pacidade dc exercicio. Porisso, esses direifas sao exerc idr~ por outras pcssoas e m nome daquele que os nHo pode exerctr.

E' o que acontece corn o meoor, que tern capacidade d e gbzo, mas nao tern capacidade de exercicio, pelo que e uecessdria a iotervei$b do pai, do tutor ou de quem a lei

. m a d e ; e +! a que sucede coma o dernente, que tam capa. cidade de, gbzo, mas 080 pode exercer os scus direitos, e , entao, a lei faz intsrvir nos actos que se projectam sbbre a dempnte. uia tutor ou outra entidaae fixada pela lei.

Esta preocupaC%o do legislador do C6digo Civil aceniua- -se em, bdos 9 s capituhs do Codigo.

Ma obstanle tal p r ~ s a p w n o , o quo t certo e que a igualdade aivil Mo foi abseluta no C6digo Civrl. K assirn

aconlece, por exempln, logo no principio do C{digo, artigos 47.', 48.", 49." e 50.", em matiria de domiciliu, pois hB pes- soas que t&m o domicitio ds oulras.

Uiztm tstes artigos: Art. 47," : - a 0 s mcnares, ndo emr~nciparf;l~, fcer~z anr

domlcilio a do poi ou da mdi, a cuja out rddade st? acham siJjcitos, e, na falfa ou irnprdjrlaento l e e 1 d$+tes, o d o f i 1 fOT ,, , t

Art. 48." : - n 0 s rnniores, sujcltos u tnit la, teen! gar domirfliu a do trilor..

lii-t. 49.0 : - a A mrilhcr rasada f ~ r m par dornicflin do nzarido, ndo se achnndo s e ~ n m d a judiciaimer/te de pessna e bens, salve a disposfpio do 5 2.O'do nrtigo 53.01r.

At!. 5.0: - wOs rnalorts ou ntstlorss entnnclpados, que serum or1 Irabnl'hanr habltrralmentc em roso de arifrern, t ~ e m por doinici/io o do pesso.r a qu?w servem, se corn e!a hub/tarern, solvn o que tdca disprldlo nos rfols urtigos pre. cedanlesr.

Por conseqiikncia, nern toll06 os cidadgos s8o iguais perinte a iei; alguns tam o seu dotnicilio subordinado ao domicflio de ouiros,

E m trrateria de conlratoa, as vontades dss tiontraentes ern principio, sib, juridicamente, iguais ; mas as circuns- tLncias sociais fazem q u ~ a vonfade durn dos contratantes, por vtzss, seja darninante.

A vontade do dono duma labrica domina a do opera- rio, sujailando-o a urn regulamento por a q ~ ~ e l e irnposio.

E' asdm que nos aparecem os cbamados c o ~ f r a t o s de adesao, isto e, aqueles contratos que se fazem pela adeslo da vontade do mais fraco a o redularnento imposto pela voo- tade do mais torte.

Em rnaterla de rela~6es de famllia, ha, por e.xemplo, a svbordina~80 da ~nulher ao marido, quanto A admiaistrafHo

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dss ben.~. O rnar id t 6 que ten1 a dministra~Ro dos bens colno nos preceitunm o i artigos 1104.0. 1189." e 1117.".

Na vetdade, diz o art. 1104.': 4 nlulher nrto pude

f r l 1 ~ 1 i 9 d*s Betis LIO tagal, r ~ , ~ , pode rzscrvaf parir ss o di-

rrllo de receber, u t i fulo d~ alfineteb, i ~ t n a parle do> r e r ~ - dintentss de itus $ens, e dispor deiii tivrrmrnle, cdnfrlnto qi ie nuo rxceda a rtrcti dos dlfos rcnd i~ t i j ntos liyui 10s..

0 a r t . 1189." diz * A iaJrninistsa~ao dr todos oa benu, do r~:snl pcrfen2e rle rndrido, P sd pettrrice muliier nn f d l t u 011 rlo f n ip rd i v i~~ i t r i dPle*.

i.1 rl at t , I1 17," : O doml~tlo e u posse do, hrris cotrrnrts estd f 17: au~bos os cdnjugts, enqllnnio Sl ib~i8fe o nratimd- ~ i i o : rz rz l'mlrihlrnpo, porbrn, das berzr do casal, sel?c dx-

rq+z8a t ins p~dprios da ~jiolher, pertenre ao marrdo. 5 ~inico. A ntu lh~r s6 pods urjrtllr~i~trar JiOF cdnseizti.

mtlntn d o n~ar ldn, ou no S C ~ L inipc iirnerlfn oil trui8ncins. Portrntrp, ja veem que (I ~narido na, sociedadc conjugal,

teairo a admintqlraqIu dos hem, tetn ulna r i i u a ~ a v desigual por set prevalente.

,4 geueralidade dos ;lulores vC nesle fenomeoo ulna de- sigualdade. Eu, porem, explico Csta fenomeuo da maneira seguinte: na sociedade conjugal ha uma sociedade civil coin personalidode juridiaa, CUI'J diriienla, pela propria oecessidade dp. existbncia da iamilia, e o I~olnem. I'orquo e Cle qucln tern a pritica dos negbcios, que anda fora de casa, que esia mais en) cont;rclo corii as realidades da vida de todos os dias, por isso e &le que deve ser o gertnie da sociedade, o que nao cluere diees que a in3lher nfio teoha. tanibtrrl, as sua4 atribuiv6es dentso da sociedalle conjugrl. ?'emunap no govlrnc, domesticu -- art. 39." do I>ecreto u . ~ 1 de 25 da Deze~nhro de 1910.

NBo se trata, pots, de desigualdede entre o marido e a

Eln niateria rie sucessdes, o Irgi.s:adnr teve tarntrim preocupa~i l :~ de estabelecer u principio dc idualdade, quis que todos o s liel.ile!ros recthesjem cutas hcredi!lrias iguais, quando herllassern *per capita n , prciibiudo 11s pac.tos hercdi- tarlos renunciativus, pelos quais, a!itigamente, os pais de fa~uii~as nobres obrigavain os fillios ~nais novos a re~iuociar en1 iavor do t l~ais velbo. o que se fazia para que it casz passasse, inledr: o u quasi iolegra de gera~8o em gcraqho, para s e lnanter o presiigio das casas fidalgas,

Pois o Codigo Civil proi'biu tstes pacios. Nao olrstanie, a desigualdade I i ticou, pois os filhos

naturais n8o llerdarn o mesrrlo que 0s lilhos legitimas. Uiz o arl. 1.785.": x S e tcstador l i ve r , no rnes.mo

t t ~ ~ p o , $ / J 7s Izgltirrros or1 lep.itiirrados, au descenderites dt1r.s corn riirrilo dr represcnr'ugiio, observur.se-ri o se- p i n t e .

I.".% os filhos perfilhados a estarsmz no fcrnpo Ern que o iesfiz~ilrr corrtruiu o ~~utr i rnbn lo d e gut v i i u a tzr us jidhas legrtirnoi, a 1egibi11ia daqusies serli igud d Iegifirna i i i t e s rtlcrlos urn l e r ~ o ;

2." -- Se us j d h o forem pcr.filhudos dcpois de condraido o malrimrinio, u Aua lepilirria ndo excederd n l q i f i m a ilos outros rrrenos nnt fercn, ca/~uli;rda rros tsrmos do n." 1.*, e sairii sd dn cola lilsponivel fie herunp , considcrundo s e lnofkiosas as dlsposl~i7es o i ~ dou66es j e i ius ern prejnizo derta legitimp, anterlorcs c. poslrriores a perfllkugao, con- fornre as rcgrus g e r u l a ~ .

Xbpesar-de os filhos adulterinos, irto 6 , os tilhos do pes. sans casadas, nascidos fora do ~liatrimonio ji hoje poderem ser perfilhados, no entaulo us filhos incestuosos, isto 6 os filhos de parcnlcs em consatigiiinldade', emqua lquer gr iu de linha rec!a e em 1." 2.' grau de linha colateral, &sses ainda nZo o podem ser. EJ outra desigtualdade.

U ~ I I outro oaso de desigualdade lies e dade pelo art.

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130," do C6digo Civil, onde sir por excepcao se admite a a c ~ I o de investigag??~ de paternidade.

Diz o art. 130.": E pirri'biln n U G C ~ D de irrvesfdga~fio de paternidutie iiegitima, ex cepfo ncs casos segilinl:,s :

1."- E.ristindo escrito do pai, en1 que cxpressarnenfe drclare a sun pafernidodr;

2." ---4chn11do.s~ [ I frlho enz posse de sta ado, nos ter- mos d~ ar t . 115.'.

3 . O NII caso de psfnpro violento on de tapto, cai'nci- dlnilo u &,ooin do noscimento, nos termos i r i d i c a d ~ s nu art . IOI.', E m a Ppocn do facto criminoso*.

Hoje, o assunto esld regulado pelo Decreto n . O 2 d e 25 de Dezen~bro de 1910.

E ouiras desigualdades ha no nosso C6digo. A-pesar, pois, desla preocupa~iio de estabelecer a

igualdade civil dos cidadCos correspondente a sua igualdade natural, o que e certo e que, ou seja pelas circunstAucias sociais om seja pela fbrga da riadicgo, a igualdade c iv i l dos cidadlos e discrepante da igualdade social dos cidadgos.

Cbdipu Civil quis. e~nholra ngo conseguisse de modo absolute, estabelecer a iguardade civil dos cidadzos ; mas a essa relativa igualdade civil dos cidadaos corresponde uma desigualdade social que e cada vez mais relevaate e fla- grante.

0s hotuens viveram sempre em situacao d e desigual- dade, desde lodos os tempos. 0s Estailos tern reagido corn toedidas iiscais, estabeleoendo urn minimo de i sen~ao fiscal, criando o direito corporativo ou o direito profissional.

A genese dksse direitu corporativo de cardcter profis- sional tern a sua explica~ao nu facto de o principio da igual- dade ser determinado por urn sentido de eqiiidade e tam, bin1 de ddio.

(j que fez acahar corn os privildgios de que gozavam os berrhores icudais, os iasielfies e us clcirigos, que oprimiam

o povo, mtes da Kevol l~~ao Fraocesa, nZo Ioi sb o stnti- rneolo nobre de eqiiidade, o sentimen&o que se baseava na igualdade natural de lodos os homens, mas, lambem, o esta- lar do hdio vesgo qlle terminou em viol&acias de tbda a espicie.

Ora, quando se trata dc uma classe iuteira com os seus eslatutas perrnitidos pelo Letado e de harroonia corn es seus costurues, hhbitos, entendc-se que pode haver igualdade e que nBo se qria urn privilegia iildividual.

0 mais antigo direito de ciasse e o direito comercial. 0 nosso primeiro Cbiligo Uoruercial e de 1834, mas

muito a u k s j4 havia regras de conduta para us comerci- antes. Essas regras de conduta para as comerciantes eram so uma lei para umr classe, urn direito d e classe, de profis- d o , um direito corporativo.

Eu bem sei que nos tempos aureos da Dernocracia, em que havia a preocup:iCiio da itualdade de todos os cidadaos, para se fugir a a f i rn~a~i io de que o Direilo Comercial t u m direito de olasse, se admitia a objeciiva@o do Direito Co- mercial : s2[o actos cotnerciais os expressamente rtgulados no CBdigo Comercial.

Mas o que 6 certo e qhe tambem sBo actos comerciais os praticados pelos comerciantes.

A suljecliva(;flo do Ihreilo Comercial, purdm, e a alri- bulpao ao Direito Comercial da qualidade de direilo de clas- se, direito de profissao, direilo corporativo.

0 Direito Comercial, a principio, foi urn direito odioso. Depois, como o comerciante passou a goaar alras s i lua~des socias, - e, como sabem, nas vilas P. nas aldeias o merce- eiro goza da necessaria importkncia para poder arranjar vo- tas , t agente eleitoral, o .Direito Comercial foi-se suavi- zaodo perdendo o seu caractec de direilo repressive,

Era assiol qtle o zutor do Crjdigo napole6oico o queria

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e conseguiu que fdsse. E hoje o Oireito Cornercia1 k urn di- reito benevolo, mais suave que o direiro comum.

(-) dircilo de setras proliss8es. que hoje ja apartce nos Estados, ainda que n2o tenhan~ ulna organiza$iiu constitu- cional corporativa, e urn tacto, que 1163 temos de verificar por ser evidente,

A-pesar-da tradielo de igualdade e da preocupaqlo da igualdade, a,pesar-de todo o passado, h a lambem direito cur. poratim.

Porque o direilo Corporalivo t s t l hoje na ordem do dia - aqui como ups repiiblicas que ainda nlo decidiram por &le. Coma, porem, esta qoeSt8o e objecto do cursb de Direito Corporative, para l i os remeto.

(J que nos precisanloa e de denionstrar aqui que, es- tando nbs numa republica corporativa e, antes dela, pri- mtiro, pela Carta Conslitucional, numa monarquia corn base democritica, e, depois, pela Gonstitui~Xo d t 191 I, nu- ma republica dernocrhrica, o nosso C6digo Civil n ~ o esta em equapo corn Csses principios. Ora, o que k necessariofazer para par o C6lrgo Civil eln equacIo corn ksse principio de igualdade - eis o obiecto da l i ~ a o a expor.

33 " ,- Altera~Ro que B preciso. tambbm, In- troduzir na Iegis la~Bo civil pars har- rnonizar esta corn o prlntlpio da Li- bordade, que em mat4rla de obrlga- Foes se chama o (Prfncfpio da Auto- nomla da vontade das partes?,.

- 0 princlplo da Fraternldade, por vir- tude do quel o Estado faz a sue intar- venqao no domfnio d o Direito Privado, para ajudar 0 s fracos contra os fortes, estabelecendo igualdade social entre os dois, secunda o princlpfo da Igual- dade.

Dentre os princinios fundatuentais do nosso C6digo Ci- v i l h i dois que t t t r r relivo especial : o principio relatiro 21 liberdade conlrafual, tarnbem chamado da aulonomia da vontarie, e o principio relafiro so absolutismo dos direitos. Mas urn e outro destes principios aumeniam a tal desigual- dade social, d6 que Lhes falei, que esti srn coutradieao Born a igualdade civil que o legislador quis impnr. Por isso, a- flm-de que o nossa Uddigo ,ivil seja posh0 em e q u a ~ a o corn os principios poliiicos fundatntotais da dernocracia, corn o chamado priucipio da igualdade, de que agora nos vamos ocupar, a jurispruddncia e a douiriua e, tiepoi* destas, a le- gisla~fio t&m Leito modiIicag6es no nosso sistema Iegislativo, Assim, a-respeilo de absolutismo dos direitos, existtm no C6digo Civil umas trks disposi~8cs, os artiges 12:, 13.' e 14.°, quc dizem :

Art. 12.' : dlT6da a Iei, que reconhcce urn liireifo, ie. gitima os meios lndispensdveis pnra e seu e.rcercicio r .

Art. l3,O : ~ Q u c ~ em cnnforr/ridade corn n li:i, exerce o

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pro'prio direito, ado respondi! pelos pr~jitizos quc possarn r i s l r l f ~ r d2d.s~ mcsrno e,rercicior.

Art. 14." ! E Qrrim, exercendo n prdprio direifo, pro. clrrl2 intere'sses, deue, r m collsdo, e nn ]alto de pr.jrid&rrcio especial, ceder t l qut ti prettnde evitar prtjriizos*

Interpretando essas disposi~6e6, uns dizem que anossa lei ugo conhece a teoria do abuso do d!reib, oulros, pelo contrdrio, como D prof. Josi Tavares ensiriou nos Prlncipiss Ftinda~tzlmrais, opinam que a nossa lei reconhece a teoria do abuso do direito, que faz parle dunla teoria mais gene- rlca - a da relatividade dos direitos subjectivus. Quem exerct urn direito, para que n5o responda pelos prejui5os C preciso que o exerca em conformidade corn a lei, em con- formidade corn o fitn social da lei. Mas, ao cootrario, quem exerce urn direito sen] que se conforms corn o firn social da lei, tsse responde pelos prejufzos causados.

Como veern! a teoria do abuso do direito, posto que se entenda qlie foi, reconhecida peio tlnsse legislador, esti, lodavia, consagrada em termos que oferecem duvidas, pois permitem a defesa plausivel da opinigo contraria,

(ha, 6 preciso, na verdade, que em novas disposi~Bes legais essa teoria fique expressa e iuiludlvelrnente.

A' volla da teoria do abuso do dire it^ gravitam as trks teses seguinies : a tese cia pratica durn acto couiriria 30 di- reito objet-tivo, a tese do erercicin durn dirsito com desvio do fim soeial para que o direito foi estabelecido, e a tese de urn dirsito exercido corn excesso de poderes, excessivamente.

Quem exerct o direito contra o direito objectivo widen. temente que con~ete urn dellto civil, e responshvel por per- dns e danos. Sbbre isso, n5o L a dduidas - i o art. 2.361: qua o diz :

Todo aqoele, que vlolo ou otendr os dirrilos de oa- t r e l~ t , constit~al.se ntl o h r i g n g ~ o de indemrriznr o lesado, por iodos os prej[~izos que lhr consam.

Mas, tarnbkm, quem aparentemente exerce urn direifo de bar~nonia com o direito ebejctivo, abusando, porem do fim social para que esse direito ]he foi ~oncedidci, coniete um ilicito civil, el igualmente, responsaval por perdas e da. nos ; e, ainda, yuem exerce n dirtito corn excesso de poder, exce.ssivamcnte, tamb6m c o i ~ ~ e t e urn delito civil e 8 respon. savel, tnrnbirn, por perdas e dams.

Eremplifiquemos. A lei, art. 702." diz : .Us con(ratos, legal~~tente celebrado?, dtre~n ser pontualrnente curnpridos; nem podern ser r e a b p d o s ou alterados, sendo por nitituo consentimento dos conlrraerrfes, salvas as excep@es especl- ficadns na [ei 8 .

Se au f a p lhra contrafo e nSo o cumpro, prstico urn acto contra a Lei contra o ifirtito objectivo, contra uma re- &a de direito, conlra o art . 702,'. Por conseqiitncia, sou responsavel per perdas e danos.

Mas a lei diz : c ~ d a urn na sun p~opriedade pode cons- truir livremeate. Eu tenbo urn terrono posso ediflcar n&le uma casa, uma tbrre, urn muro. A lei permite-me tudo isto.

(Consta que no bairro Clernente Vicente, ao DBfunde, urn individuo construiu ulna casa corn o prop6sito de tirar a vista a uma oulra casa, que esta dentro durn jardim).

Aquela bomem podia, na verdade, construir ; mas cons- truiu corn u m fin1 diverso do Li~n social da lei, c~nstruiu corn o f irn dc prejudicar o visioho. 56 corn tsse rim.

Suponham qua eu construa urn rnuro alto coln a in ten~io de tirar as vistas r urn proprietraio visinhn. Eu podia construi-lo. A lei permite-ma que hca essa constru- qso pois t5 utn act0 em tudo conforme corn o direito objec- tivo. Mas pratico utlia ac@o contra o firn social da lei ; porlanto, cometo urn abuso dc direito.

Na jurisprudtncia iran~Csa h i urn exemplo que ti o seguinte :

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Urn individuo tinha um lerreno junto de urn aer6dromo. Pedia urn p r e ~ o grande de expropria~Zo, que nBo Ihe derarn. Que t que faz ? Construiu ulna tbrre corn muitas ilechasno pridio, - donde resdtava ser facil os aviUes se tspetarem nas [Itchas, - para obrigar a sociedade do aerhdromo a pagar-lhe o preso que Cle exigia,

Rste hamem podia construir ; tnas construiu corn urn fim que nZo e o Dim social da lei ; logo, cometerr urn abut0 d e direito. Tambkm ficou respanslivel por perdas e danos.

Quem pratica urn aclo que e aparenltmente conforme P lei, mas que desvia da lei, porque i praticado corn fim diverso do fim social da Lei, comete urn abuso dt direito; mas tambern, e responsivel por perdas e danos quem pra- tica urn act0 corn excesso de poderes, excessivarnente.

Supoaham que, debaixo da meu escritdrio, estP urn estabtlecimonto de grafonolas cujo proprietario esta coos- tantemente, para r8clam0, a tocar. Corn mrisica constante debaixo do escrithrio, uao posso trabalbar.

Bsse bornern asta no exercicio dum direito ; nZo prati- cou urn abu9o de direito, porqua Lle tocs para r~elarnc da casa e o rhclamr, C permitido aos comcraianles. Mas exerct urn direito, corn excesso d e poderec, excessivarnente. k obrigado a indemnizar-me.

Pois 6 precisa, consaqueotemcnte, em obedikncia ao principio da igualdade, e s l abe l ec~r no C6digo Civil dispo- si@es que expressementc ee tabele~am a teoria dr abuso do direito corn tadas estas modalidadcs.

A-propo~ito.da capacidade siril, tambem ha muitas mo- difica~acs a fazer, Mas, sobrctudo pelo que diz rtspeito as pessoas juridicas ou colecfivas, essas 390 rnodikicaq6es im- postas pelo principio do sistema corporatiro, p e l ~ si.1 ema politico actual, e ligam-se mais corn o principio da liber- dade do que aom o da igualdade. Por isco, n2io nos ocupa- mos delas agora.

Ern relaclo 3 pessna fisioa, singular, tambbm convCm que a aossa Iegisla~Bo inlrociuza alyumas altemq8ts, mas tssas sao impostas mais pe1a necessidade eientihca de pbr o C6digo Civil em e q u a ~ B o corn os principios politicos.

Mas, ern mat& de ~ncapaddad t s , ba tambim algu- mas alteracaes P introduzir (e delas nos havernos de ocupar em lugar prbprio), quc silo impostas pelo principio da igual- dade, que agora no3 dettm,

A igualdade e os prlncipios dtmocrliiaos exigem e im- paem qlre os dcrprotegidos, os tracos tenham considera~fies que os fortes disptnsam.

Para que os fracos possam, sem disigualdades grandts, lutw corn a concorrdncia dos Lortes, cstabelecer corndrcio juridiso corn os forks, i praciso que a lei os proleja.

Por conseqilCncia, algu~nas alteraq6ss h l a introduzir a-respeito do pudor paternal, porque os filhos, os menores, szo pela sua ~dade, pela sua falta d e experi&ucia, fracor, e a-respeita da dembocia e da prodigalibade, porque todos estts s?io fracos.

Illas ha urn capitulo a que querst fazer especial reie- rtncia. E' o capitulo da lutola.

0s Srs, n8a sabem linda o que C a tuldu ; e, porque na minha exposi~llo C precis0 jogar corn bas ts quc ainda a20 tern s tatnbem corn a ntceos~dade d e fdzer sintese - c uma sintese i sempra urn trabalho rnuito diKci1-terei es- pecial dificuIdedc no que vou expor.

A tuttla t uma instituigfo que tern por IunrLo rubsti. tuir o pltrlo poder. O menor, quando tern pai, eslh sbb 0

pltrio poder. Ui-lo o art, 1 0 0 . O : x A incapaclrlodc. dos me- nores d suprida pelo poder patcrnaal, c nu falta odsfe, pelo fstelan.

Como v&ern, o menor bHo tern capacidade de exercicio. Ha di ferenp entre cnpacidade d f pdzo e copactdade

de exercicla. Porvirtude do principio da igualdade legal,

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normalmente, hdos os cidadaos tern capacidade de gbzo. Mas alguns, pela sua debilidade fisica e intelectual e pela sua ialta de experiencia, nao podem exercer os seus direitos.

s80, por ex., , os me;iores, os dementes, os surdos- mudos, os prbdigos e outros. Quanto aos menores, enquanto, ldm pais, a sua incapacidade d e exercicio e sup rid^ pelos pais ; quando lhes ialtam os pais, essa ia~apacidade e su- frida pela tutela. - Artigo 185.'.

0s iipos de tutela variam de Estado par;.; Estado. Por ex. , na Alemanha, na Suiqa r Russia o tipu de tutela d admiaistrativo ou judicial, em Portugal, F ran~a , Itaiia e , de ulna maneira geral, nos oulros paises latinos, a tuttla 6 do tipo familiar.

0 s orgsos de tutela, entre n6s, s2o : u tutor, o prolutor, urn ourador t urn conselho de kamilia - Art. 187,- do C, Civil.

0 curador dos 6rf%os da uma caraclerist~ca especial ao tipo de tutela do uosso yais, porque o curador 40s orfaos que e o delepado do Ministerio PJblico, e urn o r g b judi- cial. Por consoguinte, no meio dos outros 6rgHos da tutela, que 380 6rg8os familiares, aparece o curador ilos 6rf%us, o delegado do Ministerio Piblico, que e urn 6r@o administra- tivo ou judicial.

Mas, em suma, a tutela, segundo o siskema da nossa ltyista$80, segundo o nosso Codigo Civil, i yredominante- msnle familiar.

No entanto, o Estado dsspreaou, ale h i pouco, a defesa da farnilia. A ian~ilia Loi enfraquecendo.

O individualistno entendia que enlre o Estado e os cidadzos aZo devia haver eotermeiliario ; por isso, desprezou a defesa da farnilia, que desetnpenhav; a iuu~ao de inher mediario enlre os iadividuos e o Estadn,

Isto fez-se corn t6das as iostituiqdes familiares, desi- gaadamente corn a tutela, e tornou, conseqieutemeate, aeces-

saria a ioterve11~3o de Estado por meiu da cria~50 de insti- lu.iciies administrativas ds dehcsa, dz alnparo dos menores. E , entre n h , euveredon se por dsse caminha desde Maio de 1911. Dcsde trctBo ate ao presente, t&m sido criadas va- rias institui~6es pupilares de defesa do3 meoores em perigo, ahandonados, e crirninosos.

lsto e : enxertaram-se no sistema de legislac20 da tu- tela, predorniuante~nente familiar, inslitu'i~5es que s6 ost%o corrcnles corn o tipo de tutela administrativa. E at& edlre n6s, hoje, h i uma DireccSo geral do blinisterio da J u s t i ~ q ct~anlada Serv i~os pupilares e assisthncia aos menorts.

Pois e preciso, enteudo eu, reformar a aossa legisla- eeln a tencao ao principio da icualdade, t ~ ~ u s l ~ r ~ e em obg-

diencia a coerini;ia legjslativa ao scntido, talrlez, de subs- tihuir a tuteia do tipo familiar por uma tulela de tipo admi- nistrative on judicial, como na Suica e na Alemaoha.

J a dissemos que urn d ~ s principios fuodamentais do nirsso C6Liigo Civil e o priucipio do absoiutismo dos direitos, dos d i re i t~s absolutes.

Ora, a propriedade, no oosso Cbdigo Civil, era unl di- reito absoluto, ilirnilado. Mas istn 1130 esta confo~me corn a rzlalividade dos direilos objestivos a que ja nos referimos a.propbsilo-da teoria do aboso do direito que e ~mposta pela necessidade da igualdade social.

A propridade no C6djgo Civil era absoluta, era ilimi- tada. e.ra exclusiva, Inas isso contrmria as necessidades so- ciais, e uma serie iniuterrupta de leis avulsas, que v b n ~ desde a promolpa~30 do Cbdigo Civil at6 hoje, tern reagido contra essas caracteristicas da propriedade,

Hoje, a propriedade n%u e absoluta, nem em exten- SZO nem em pnderes.

0 art. 2.358." diz : 4.4 iidr:nnizulgOo, /~rilivacia por fa- c6 .s uje~zs i~~ i~s ,'e liberdude prjsoal, cunsistirh na reparegdo dos perdas e dos ilufros pudecidos por essa causam.

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h i e arfigo j i ~nostra quo, em extensgo, o direita de - .

propriedade ago 6 absoluto, porque ha, para o sub-sraio, a legisla~ao mioeira, para a sbbre-solo, o limits do aprovei- tivel.

. Hoje, a limita~ao da propriedade ahsoluta em extens50 esta nluito mais clara e terminante oa Constiluipao, qne diz o que 15 o dominio piblico, e em decretos posteriores ao Crjdigo Civil, que dflo a natureza de dominio phblico a cer- tas colsas.

XIas, tambem a propriedadc ngo C absoluta em pode- res, porque o proprie~hrio nZio pode lazer o que quizer, tern restri~fies impostas, umas, pela necessidade do interesse social,- por ex,, ha zonas em que o proprietirio nio pode construir,-outras, impostas pela salubridade p$bljca, outras, impostas pela arte, - por ex., o proprielario s6 pode cons- truir corn planlas aprovadas pela edilidade, - ourras, impos- tas pela uiziohanqa, - por e x , o proprietario durn terreno vizinho pode adquirir a meaGLo durn muro limitrofe da sua propliedade, o proprietario do terreno nPo pode abrir escavaq6es que prejudiquem o visinho.

Como v&em, s8o multiplas as restri~6es que hoje tern o proprietirio. Nem em extensao nem em poderes a pro- priedade i absoluta. A propriedade tern limitea.

Mas h i urn capitulo que merece reldvo especial nesla materia: e o aapitulo das reslr i~8es sociais impostas a pro- priedade.

A lei do inquilinalo estabelece ateurnas dessas reslri- ~ i ies .

Segundo a principio daautonomia da vontade, o senhorio podia contratar o arreudamenlo da seu pr6dio vjsiaho, como quizesse, pel0 tempo yue quizesse, pel8 preFo que enteo- desse. Mas 0s s r s . sabem que i;to nao i assim. Porqub? Porque o Estado eniendeu que todos tern necessidade de habitar uma casa, qlle o ~nquiiino e o fraco e a senhorio 0

forte, t que i necesairio defender aquele contra o poderio e nrbitrariedade dtste. Por conseqiigncia, estabeIecern.se limilag6es grandes ao principip da aulonvmia da vontade, que C o principio Iundamental do Direito Civil e m materia de obrigaq5es.

E m tempos de necessidade, como os de guerra, apa- recem imposiq6es leitas aos proprietaries rdsticos : imposi- Foes de fazer certas culturas, irnposiq5es de pro'ibir outras, imposis6es de nao cullivar certas terras, iruposi$6cs corres- pondentes de cu l t i~ar outras. E isto explica-se n8o s6 pelo principio da igualdade, mas tarnbim pelo principio da soIi- dariedade.

0 proprietario, segunde uma concep~2o qua eu defendi no lncu livro Comlru~do jiiridica da pr,;pricdade, e u de- tentor da coisa ou do objeeto de que i propriethriu, e Lem apenas o poder legal de tirar dessa coisa as ulilidades con- formes as necessidades sociais.

Kssa dontrina da propriedade promana de uma conce- p ~ P o mair genkrioa, a da origem do dlreito cooforme corn a tese solidarista.

0 hornem n8o tern direitos, tem deveres-di-lo Dupuit. O homem vive em sociedade, nzo pode deixar dc viver em sociedade: e, vivendo em sociedade, tern necessidade de fazer aquilo que fbr i t i l aos outrorr.

For conseguinte, tern a fuo~%o social dc tirar dos obje- ' clos, que estao sob o seu dominio, as utilidades que sPo

conformes corn as necessidades sociais. E, para tirar essas utilidades, leu os poderes de praticar tudo quanto fdr litil ao desempenho da sua funcao social.

Como vksm, seguodo esta teoria, que ja conhecem do Direito Constitutional, onde o nosso C6digo Civil coloca di- reitos subjectjvos, temos deverss e poderes legais, apare- cendo, primeiro deveres a que correspondem os respectivos poderrs.

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o nosso Codiga Civil quer no dispc!sto nos a r t i g ~ s 13.0 t 1 4 . O , qucr em matiria d e pl-oprirdade.

Porque, embora houvesst quem enlendesse, e eu sou um dkLes, que o artigo 13.O do Cooigc Civil permite a leoria do abuso do direito, outros h a , portm, como o falecido Prof. Gl~ilherrne Moreira, que eutendem pue a nossa legislaqgo civil tigo permite a teoria do abuso do direito, muilo em- bora ela seja delensavel.

Eu creio que o Prof. Guilhermt Moreira esta na boa doutrina, porque, seguudo a teoria do ahusa do direito, te- mos de concluir por &ste principio, que 6 ciassico no Di- reito Civil: zneminern loedere qui jute suo rltitur*, isto C, nquenl usa do sea direito nao prejudica ninfuenis. Psrque a verdade C es ta : s e os direilos individuais sao absalutoe, queln os usa n8o prejudica ninguern, e, por conseqlitncia, a teoria do ahuso do direito e uma teoria ioaceitivel no uosso Direito, muito e~nbora a s circuost$ocias pusteriorcs a reco- mendem. E e e m v~rfude dessas circuas!iocias posterlores 3a evolu~%o du Direito que eu defendo a teoria do abuso do direito. Siio e em virtudr: dos principios fu3damentais d e Direitr portugues, mas s i ~ u ern virtude da p.v,olu~%o que o Direilo teln sofridn, que eu deiendo essa teo~ ia.

Na rerdade, muita gente, a l t m de mim. a defeode: en- Ire ribs, ja ela era deiendida peIo falecido Prof. Jose Tava- res, t hole ainda o Sr. Prof. Yaulo Cunha a segue ; e no estrangeiro. a generalidadc dos escritores. Has - repito - -

defendo-a em virtude da evolu~3o j~ r id i ca e born ser6 mo- ilificar aquelcs artigos.

Tambem o absolutisn~o dos direitos subjectivos oSri. gava a coasiderar a propr i~dade absoluta. Dissemos oa til- tima l i ~ % o que ]!em e-m extensam nem rnl pa~deres eia C absoluta. Mas o que e certo e que urna e outra destas rninhas afirmaf6es t&m r e lq3o e eslHo airlbas ligadas a teo- ria da relatividade dos dileitos. (NZo h a so a iaoria da re-

latividade ( I t Einstei!~, relativo a n ra t e~~~a t i ca ! l l a tambeill urna teoria da rtlativi~iaile dos direilos). Pois b e ~ n : taulo a propriedade t limitada e relativa, como t admissivel a teoria do abuso do direilo, em virtude da teoria geral da reiaiivi- dade dos direitor, Uma e outra das res t r i~des l$m conexiio, A propriedade 6 lirniteda, tern muitos lirniles ao seu exer- cicio : o direilo individual tern abusos, b limitado pelo abuso do direibo - em virtude, tudo, da teoria da relatividade do Direito.

0s Srs. recordam.se - eu ja o disse aqui a prophito dos direitos reais - que em 1900, exacta~nente nu Lii~imo auo dar seculo passado, Planioi disse que os jura in re (os direitos reaib) nlo podiam ser uma rela~Ao directa e ime- diala corn :IS coisas, haviam de eovoLver, necessiriamente, urna obriga~go, porque nao podia haver o direito duma pes- soa sbl r e unla coisa, - - a reia~Bo jurfdica t un~a relap30 social a tbtla a relaciio social e Lima relaplo, estabtle-se enlre homeus.

Anos ilegois, em 1912 me parece, I ?ugu i~ , numa sdric de conler&ocias que proteriu em Buenos Aires sob o tema La tra~lsfirmlztiorr did droii privl, la p r o p r i ~ t t fonction sociuir, defendeu a doutrina de que o direiko real nem era urna obriga~ao, como Planiol queria, neln u r n poder imedialo sbbre nma cc~isa, mas situ ulna f u n ~ s o social.

Aaos volvidos, em 1919, fiz eu a minha lese de douto- ramenlo, inlilulada Cransirlr@o jurfdita d n propriedade, onde defend0 a doutrina de que a propriedade 6 urna fun. q%o sucial, d ~ u t r i l ~ a que, alias, ja era velha quaudo Daguit a defendeu. E' unla teoria que, antes de Duguit, 101 defen- dida pelas e.~clclicas dlr papa LeHo XIII, que n~ites dCste h i defen,li;ia por Augusto Cotnte e , ainda, antes de Comle, pvr S. To~rriis de Ayuino, na ldade Ilfkdia.

Nao obstantt, a ~ninha t t se foi recebida na ponla d e

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l a n ~ a s e eu argiiido de extremislra, quando defendi apanas utna doutrina -nSo digo rrlhu, Inas velha.

Ire tudo o que fita dito procede a definigso d e proprie- dade, colno sendo o poder dtr detenior de beos de realizar certos cieitos juridicos, correlatir.~ ao seu dever ohjeclivr, de fa2f.r das riquezas urn uso eficaz a conserva~30 e iocre- mento da iuterdepeodtncie social.

A propriedade nso 6 , pnis, uat direito do proprietirio ; i amu fun650 st)ci.!l (I), e o poder de que se achanl irlves tidos certog individuos, de fazer todos os actos atinentes a beln se desempenharem da missAo social que lhes incumbe em virtude da sua situaqzo econ6rnica.

Seja iradividual, seja colectiva. e kste o conceito ersen. cia1 dc propriedade.

A propriedade, em q ~ ~ a l q u e r das suas formas, e um facto contigente, producto mnmentloeo da eroluq%n qur, rendo como fundarnento daico a utilidade 5ocial. deve estar sempre em perfeita equagao corn esta Iuesma ulilidade.

A veriftra@o deste dado encontra-se oa hisibria, que nos revela mGlliplas categurias de propriedade, correspon- dsndo lbdas e cada ulna dclas as necessidades das suas respectivas epocas.

No estiidio preseote da siviliaac%o, a propriedade indi-

( 1 ) - Este conccito do d r v ~ r , t ransforman~Iu~se e m funfZo social e dan .1~ oritem i teoria de prrprtedads - - jungao, 11x0 d criagXu do gC- nio de L. Duguit. 0 notav-l professo~ foi busci-lo, d i r e c t ~ m r n l t P doulr~rra de A. Come. dz uotdr a circuusi8ocra de 0 3 lcadwr da ac. cBo social catilica - o padre Naudet, o condc S a l d e r i ~ ~ i , o padre Po- thier, M . du I n Tuur do {'in Chamblg, mgr. Ircland e on!rtls - ferem adatado a co'1cepq50 do palriarca do positivismn como pilrito basilar das su35 tcses sociais. Leon Dgguil tern, potCm, a rnerrcida lo ria de tzr c r l a d ~ urn s i ~ t z m a dr; d ire~to priuado, en1 cuja base colocori. ronio

nocBo prin7;ii.i I , o conceit^ dz fuoc3o s o c ~ a l , assini como tinha cons- truido utna truria de direito puhlicu fuc~damenialmeatz assents '6- hre a n o ~ B o de servico publico.

vidual imptie-st como urn teo6meno necessirio $a sociedade contra o qua1 bailiado sera proteskar, pois encontn.se em irhs : luta coriespoi~dkncia corn as exgtncias da interdep/en- dencia social par d vistio de trabalho. Mas pode vir o mo- inellto em que a propriedade individual ngo currespoade as necessidades sociais, derendo nessa conjdntura intervir o legislador para organisar ulna outra lorma de apropriapo das riquezas ( I ) .

O dire30 positivo, adenbro desta concepqao, oao proteje urn abstract0 direilo suhjectivo do proprietirio, garante a liberdade que o dttentor de riquen ten] de cumprir a tun~%o social yue lhe iacurnbe, so pelo facto desta deten~ao.

Todo o individuo Lem o dever de desep~peohar-se na sociedade duma certa fun~l io , conforma o lugar que nela ocupa. O detentor dd riqueza tern, tambim, uma missao social que $6 ble pode realizar : a de aumentar a riqueza geral pela valorizafbo do capital que possui. Fica, parisso, conslituido no dever de h e r tudo o que seja concernente a efectivacao desta missPo, sendo socialmrnte protegido no que lizer em ordem a &sse fim. E' Lste, em sintese, o con- leido dos poderes legais do detenlor da propriedade, os quais, uma vez fixadus no dirltsito positivo, constituem o chatuado estatzln I+gc?l do prapriet i i r i , , .

Porque a divbHo do trabalho social esta aa razio directa da iutensidade da acti~idade individual, o proprieliria, aisda

(1)- NZo 5e julpue qur a modificacao da nocBo jurfdioa sabre qut a s s t n l a a pr~priedadc imp01 la, de perto nu de longe. o aaiqwila- mento desta. Ao conlr61io. A prcp~icdarle sd tern a reoear duma regu- IameotacZo rraccioniria qut n&, possa cortespond2r ao facto econ6. miro e social que represents O aoacl-onismo das >nstifuIq5er trae-lhes a rnorte pilr inan i~ lo . Uina nova $cupla que harmonize os principios jur idicos soto as cirrunsl3ncias s ~ ~ c i a i s , prolejc mals forternellte a pro- prizdadc do que a c u d s t i u ~ % ~ ctvilista inadequada aos tempos corren t e s .

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0s actos possfveis, satvo, e m casos especiais. as reslricc6es expresr;amente estabelecidas na lei.

Por pendor e inclinaq3u dos hornens, ptlo irrsfinto d~ proprieduiie, como r l i 7 Boistel, o p~nprieiario n2a ioaseote que alguem, a nHo :er Cle, use do objrcto do seu dominip, E' &ste outro caractes da pripriedade : a qualidade dcr ex. clusiva, yue deflui ni~turalrnente du primciro caracler -- s e r absoluln.

Corn efeito, se alguem pudesse pilrticipar dos poderes do proprietaria, sem que estes sofressem diminui~%o, entso a propriedade oiio seria absoluta.

Finalmente, porque o sujeito passlvo do direito ds pro. ptiedade, identificando-se corn o ohjecto do direito, 6 a pro- pria coisa inerte e impossivel, o proprietario exerce pode- re3 s e n reaqtTe9, s e o ~ restri~Oes, sern lirni~cs.

E' o terceiro caracker da propriedade - srr i!irnrlada. Todos estes caracteres, r&o atribufdos i t propriedade

pelo nosso C6dide. I?' abs rlnta, como pode inferir-se da disposigBo incondicioaal do art. 2.315." e, porveotura, da propria iitfini9iIo do arl. 2.167.' ( I ) .

I? p.xtlusr'vo, como perotilp~briamenle o determina a d i r posiqao do art. 2.339:: ( 1 proprietariu tern direit6 de gozar da sua coisa corn sxclrrsdo de qualquer outra pessoa, e de empregar para &$st fim todos os rneios que as leis nPo bedam.

E' ilirnitada, como, Aletu de uutros, se declara no art.

(1) 0 sr, prof. Aives liloreira, I r ls t . do Dir. Cir., t. 111, p a t . 54, explica assirn o caraclcr absoluto dd prupricuade : .sendo a proprie- dade urn direito real, ve-se que a obridacfo correlaliva a h e direilo t h como sujc~to p a s s ~ ~ o todas :IS pessoas, as quais 5Bo obrig;~das a respeitav esse dir-]to, abstendo~sc nZo s6 de praticar qualsquer actos que signifiquem urn poder sdbre a causa, poir que o do pn~prietirio i exclusivo, mas que perlurbem a accao do proprietario. E' neste asntido que se diz que o poder d o proprietirio d absoluto

2.170; : o direito de propriedade. e cada urn do3 direitos especiais que @sse cfireito abrange, niio te'm outros l im i tes sengo aqutles que Ihes forem assinafos pela natureza da3

coisas, par von~ade do proprietirio, ou por disposi~lo ex- pressa da Iei.

Nos C6didos Civis estranpeiros lambin1 se encontram, impiicita ou explicilamente, afjrmados iodos estel trts atri- butos. Todavia, na deFini~%o de propriedade ora ressai um, ora autro dtstes caracteres : no franc& (art. 544.') e no ita- liano (art. 436.") o poder absoluto ; no da LuisiBnia o poder exclusivo ; no espanbol (art. 348.") o poder ilinitado. Dos C!ddigos nioderno, o aIeniBo releva a carictcr exclusivo da propriedade (art. 903.* 1 1 ) ; o s u i ~ o dislinfue tarnbCm o atri. but0 do exclusivisrno (art. 641.') 27; n brasileiro salients, simultineamente, as quatidades de axalusi~ismo e ilimita- cao (art. 527:) (3).

Como se VI?, a nalureza do direilo de propriedade as- senta, seguado a lei civil, sbbre estea trts caracteres : 6 absoluta, exclusirra e ilimitada,

0 eon~sito de direito real, tal qua1 o concebia o legis- Ldor do Ctidigo Civil, a saber a rela~lIo directa de uma pes- w a corn uma wisa, e superficial e lalso, coma ficou dito.

Esta rela$lo, simplesmente de laclo, ngo seria senao

1%) 0 proprietirio duma coira poda, salvo o cfeiio d a ~ prescri- ~ r i e s da l e i ou dos direilos de terceiro, dirpcr dela 3. sua rontadc, cxciuludo tbdas as ouiras pPssoas deiodos om actos que lhe digam respei to

f 2 ) 0 proprietario duma coisa tern o direito de livrementt dispor dela, nos l b i ~ e s da le i . Pode teinvirrdicb-la contra quemquer que s dctenha sem dirzite, repelindo t6da a usurpagZo

(?) 0 donriaio presume-se cxclusivo e ilirnitado. at6 prova em contrario

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a posse, poi; as relaqaes juridicas n8o poderr. existir en t re as pessoas e as coisas, mas s6 entre pessoas.

SBo relac8es da vida sociai q u e os homens enire- t ecem (').

110 &rro acCrca da 00ca0 do direito real r t su l tou urns inexocta s o s c e p ~ I o da natureza d s g r spr iedade . [*)

Mas nem a concep$io civilista do direi to real , ncrn R

que Ihe sucede!~, definindo-o, a relar;%o en t re uma pessoa Gomo snjeito activo e tbdas as outras como sujeito passim, sZo, em oosso luodo de ver, cientificameota exactas .

Os direitos reais s l e nma a b s t r a i ~ g o da iotel,ig&ncia d o s jurisconsuitos, q u e , tendo-sc aprazido ern imaginar urn poder de voutade capaz d e se inlpor a ontras vonlades o direi to subjective - , levaram a s u a construclo idealists rnais longe, formnndo gjrupos de relaQ3es juridicas a que deranl 0s nomes de direitos pessoais , direitos reais, direi tos de farnilia, di- reitos sucess6rios. (I)

33s agrupamentos de direitos subject isos, isto d, dc c o ~ ~ c c i t o s metafisicos, a q u z a cikncia positivil niie pode dar foros de verdade cienlifica.

0 holuem nga tern drreitos subject ivos sbbie as coisas, tetu deveres objectives e poderes legais pot. causa delas t em r e l a p o a elas .

(1 ) Esta n o ~ S o C Ja esfera vulgar doc reconhesimentos, NSo me PUS30 contsr quc n5.n cite a irase dc Danta : 9 u t rat realtr alpus DC*

ronalis proparlio hamini8 ad h o m ~ n s m .

P I - h e conceito dc direito real 6, ao prebente, ahrafado par quiai todos os escritores, dcpois da doutr ina~lo de Planiol e De La (irrsnerie (De la classification scientif~que d ~ i h i t , 1892, p. 121, em F r a o ~ a , P de Windschcid {Pandektcn. 1587, t. I , p. 101), na Altmanha.

(9 -- Szgu~mos uesta enul11rraCio o sistoua ad 11ada pelo C6dipo Civi l Alemao, que. seQuu.du o criterio do senbor proie~aor Machado Vilela (Prefacio ao C o i i a c ~ Civil Brasilelro, p. XV!, i ,I mais perfeito Ut todus, por nele apartcersm as relaq8as juridtcas dispostas pela ordern da sua camplesldade.

Esses poderes, que cunsiiruem a cutnpeter~cia do pro- pr iel i r io , nao poden) s e r ribs. iutc.s It), q~ic:. em in~eosi&dc quer em d u r a ~ a o ( z ) , porque, tendo a sua urigem na ioter- depeadkncia, siio uondicionadas pela ulilidade social, que e o fuadamenlo d a p rogr iedade ; nem exclusives, porque utua m e s m a coisa pode ser para diversos holrieos meio d e reali- zacao d a interdeperldhncia, fora nlesmo do regime da conl- propriedade (') : nenl iliraifadw, porque sendo a l r~buidos a o h o ~ n e m para d e s e m p e n h o duma f u u ~ a ~ social, 050 podem exorbitar da esferh das conven i tnc ias e necessidades d a soc iedade .

Afastada para bem ionge, e m nome da t i cn ica juridica e a inda da razao, a hipotese do direito absoluto, exclusive e ilimilado rlo propriel i r jo , inadlnissivel e m qualquer socie- dad6 civilizadd, porque o bomem que fGsse loberano senbor d e seus ben; cola0 da sna pessoa se r ia urn verdadeiro lira-

(,) - 0 esercicio do direito de propritdadc 6 5ubmefido a divcr- sas rasfrjgt5es eslabzlccida rm razz0 do intcrCsre p ~ i b l i c o . Pode dizer-se qr~z a prapriedade i o major e o tnais completo da tudos os direitos reaim, mas t iaesato dizer que 6 urn direito absoluto.

(r! - Mi~itos e~cr i torcs atribuirarn it propciedade, cnlrt. outros cnracteres, a da perpdrrrdadc. E s ~ e predicddo C lnrrente i nocSo dc absoluto.

( ' I -- S e a propriedade fdsse urn direito exilusivo sbbre a coisn. o p r ~ p r i e t i r i o linba o direito dc itnpedir que urn estranho fiztsse s8bre n coisa que detcm urn acto qualqusr, que n%o Jbe d.5 prejtiizo e n%o dimiuui e:n uada o seu @ s o , Mas em divcr5os paise;. e, designs. damcut-., cru ?.'r ~nqa , leis receutes de leru inam que sc podem estdbe- leoer, \em e x p : v l ~ r i a ~ k ~ nem iademnizl~%o aleuoia, fins tcle$af~cos e

trlefdnicos e c;~n,iutores de energla eldctrica sdbre pruprieda~irs part1 culnres. li concedido e%tc puder, ate pvra linhas t:legrdf~cas e Ldefd- nicas >articul~rt.s o para os f ~ o s conilu:ores de enerei:r e l i c t r ~ i a que slirneutam l ibr lcas taiube~u tie p.~rticularas. (Dupuit, Les Tra~~siurma- tions du Dr. Pr. p. 1698.

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priedade i absoluta, exclusiva e ilimitada, evidenternente que n%o podia fazer, para os alunos, uma constru~Bo que n8o estivesse de harmonia com as preceitos legais, com oa factos juridicos.

Hoje, as coisas variaram. No tempo em que Iiz ts la tese, em 1919, so existia o C6digo Civil e leis av~llsas; hoje, ex i s te a Cnostitui'~So e o Estatuto do Trabillho National.

A Co~~stituiqao dit-nos que a propriedade desempenha urna funqBo social.

E' curioso que, tendo eu sido argiiido de extrernista, sete anos depois, implantava-se o regime politiso acfual corn a revoluq~o de 28 de flaio de 1926, o qual, voividos outros sete anos plebiscitava a Constitufqgo de 1933 que atribuia h propriedade uma funqgo social (art. 35."); a mi- nha doutrina. E, pouco depois, publicava-se o Estatuto do Trabalho, que diz a mesrna coisa,

l)e maneira que, hoje, a situaq8o e divcrsa. Como professor, ate 1933, n2o poderia ensioar aquela

doutrina, porque n3o asscntava em factos legislativos ; boje, posso defend&-la, porque, acima do C6digo Civil, estP a Constitulgao. E' c e ~ to - ja o disse - que eu boje nao estou inteiramente ao lado dus realistas, da escola de Duguit. 0 rneu espirito evolucionou. Mas ainda hoje defend0 a teoria da relatividade de direiios e , por conseqii&ncia, a tese da propriedade - f u a a o social.

Fui argiiido de extrernista, revoluciondrio, por aqueles mesmos que, depois, metiam na C o n s i i t u ~ ~ ~ o Poliiica o principio de que a propriedade desernpellha urna funf8o social. E' bem serto pue, acima das ideas de cada urn, es- t8o os factus sociais, que irupuseram a introdu~ao na Constit~~iqao daquela doulrina de que tanto me argiiirarn,

Depois da guerra, na Alemartba, Lez-se n Constitui~Po de Weirnar, que ai vigorou ale ao adveato do nacioual.so- cialismo de Hitler. Na Constitui'~Io de Weimar diz-ac que

*todos s8o obrigados a fazer da propriedade urn exerclcio conforme os bens cornuns A utilidade sooial*. Par outras palavras, a Conslilui'~lo de Weimar declara que a proprie- dade era urna fun$io social.

Mas tambim em 1uat6ria d t contrato8 esta teoria da relativldade dos direiros subjectiros ou dos poderes legais, corno diz a teoria realista de Duguit produr efeibs.

0 contrato tern de ter urn object0 possivel, 0 artigo 643." do C . Civi l diz : Para o contrato ser vdl4do devdnt dar-se ncle as segulates tondiprSes :

I , O Capacrdade doos contraentes ; 2." Mdtu ci7nsenso ; 3." Objeclo p3ssivel. 0 que 6 Obj8ct0 possivcf dizem-no os arts. 669." e segs. Art * 669.': E' nulo o contrato, cuja objeclo ndo sr/a

fisicu e legalrhente possivel~. Art 670." : nos conlratos sd se consldera coma flsC

camente Inrpossivel, o que i absolirlamenle em relacdo ao ob&cto do contrato, ma3 ndo em re&a@o 6 pessoa que st obriga B ,

Art." 671." ; . Ndo podem legalrnente ser object0 de cuntrutri

IqP AS C O ~ S Q S que estlio fora do comdrcio por disposd- $&o ria le i;

2: As coisas ou aclos, que nu0 sr p~detlr reduair a urn valor ~.rigrrvsl;

3: As coisgs cuja csp6cicle nao 8, ou ndo pode ser, de. fzrminedo ;

4.' 0 s actos conkdrlos a moral priblica, ou d s obriga- @es impustas por lei>.

Art.' 672." : t 0 s conbruenles podem ~ jur~ tur aos seus condrotos as c o n d i ~ a ~ s ou cldusulas, qu f bem lhes parece- rcm. Estas condlgnss e cldusulas formam pnrre integranle

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dos mesmos contralns, e goverrra?n-SP pelus mrsvzns +erras, excepttl nos casos t m grre a lei otdsr~ur o cr~nlrririo. ,

5 uoico : k'xccplua-se dl2 regfa d 2 s b u*tigo 17 caso prc- vlsfo no arlig) 1671."~.

Para determinarmos I, que 6 utn object0 legalmeate possivel, prtcisamos de ter em vista o conceito dt interisse c ordem priblica, yorqw &ste restringe a libcrdade conlra- tual, nos termos do art.O 10." do Cod Civi l , q u e diz: + 0 s actos prnticndos contra ir ~iisposi~nlo da L t ~ i , qnrr ~ s f n seja proi'i~itivn, rjrrer pruceptilm, eavolve~~l r~ulidnde, stzlvo nos casos em qlre a rnrsilta lei orllerzar o confrririo-

5 6nico : Esfn nitlida(ft pndP, canturlo, snnnr-st pcio consenti~n~nfo dos intrrussudos: se a lei itcfriitgiri'n n&o f6r de lenteresse r ordrrn plibli~xl*

tJor cooseqiibncia, quaodo se trata de $]ma lei de ink- r&sse e ordein pliblica ftca restrinfida a liberdade contra- tual.

Ora, o novo Eotado Pulitiao, que C, cotno sabem, cor- porativo, e que assenta num.1 ecanomia dirigida, veio esta- belectr uni conceito diverso de nrdern priblico, isto 6 , veio alargar o conceilo de intertsse e ordem p~iblirra.

Ha contratos que na vigCncia pura do C6d1go Civil, antes da Consiitui~ao, eram peraitidos, mas que hoje ngo devern mnsiderar-se lcgais em virtude da Constilui'flo.

Tamb6rn - repito - a liberdade contralual t Iimilada, trabalhada pela teoria da relalividade dos direitoo subjec- tive&

Islo, n2o sd oa teoria solidarista, mas tambein oa teoria pura do Direilo de lielsen. Krlsen diz que a vonlade das partes cooh-atantes 6 a vunt:ide do Estado e, porlanto, sendo a vontade do Estado conforu~e ao b e ~ n colnuo, a vonlade don contratantes tem de set limitada pela utilidade social.

'ramhetn nPsse ponto e preciso modifiaar o C . Civil. E' p r e ~ i s o modifica-lo para reslringir, o rnais possivel,

o arbitrio do Juiz. Claro C q u e a utilidade social d determi. nada superiormente pel0 poder legislativo ou pelo ioverno e pode st.10 tarnbkrn pelo juiz. Man o juiz e urn hornem, nem scmpre bem preparado em assunlos econ6micos sociais para saber qual 1 a utilidade social, qual t a ntcessidade do barn cornurn. Oulras vezes, i urn homem sujeito a s fraquezas burnanas e, por isso, pode esyuccer a conceito que tenha de utilidade social e de bem comurn.

Deixar a interpretacao da validade dum contrato depen- dente do arbitrio do juiz t deixar iocertn o Direito.

Pnr isso, C necessiirio modificar o C. Civil, de maneira a expressamtote se dizer em rela@io a cada contrato, e de modo geral em rela~3o a todos os coniractos, B ~ I I C : e proi- b ~ d o por ser contrfno ao inter@sse e h ordem publica.

Tambem em materia de rela$i5es de fatnilia 6 prteiso rnodiiicar o C. Civil para pbr em equaCHo corn os principios demncraticos e corn o regime polit~co actual. E' preciso mo- dificar o regime de beus, porque ngo me parece qne o regime da comunhilo geral de bens seja o mais id6neo para esbabe- lecer a igualdade, tauto quanto possivel, (pois jP virnrrs que h i desigualdades ~iecessarias entre rnaridr, e mulher) entr t o marido e a mulher.

Ja t e m o ~ , aliis urn direi to - relativt, a propriedade lile- raria e artistica - que significa isto : qualquer que seja o regime de bens, a propriedade literaria considera-se sempre como conrlitulodo bens prtiprios do cdnjuge que a produziu. ,2las, mesmo que o legtslador d t sse decrelu ngo livesse querido significar tal, o que e fora dt duvidas e qu t , para harer a possivel ifualdade enlre os cbnjuges, iemos d8 modi- ficar a nossa IegislaGo no tocante ao regime de hens,

E' certo que o regime de beos e estipulado em escri- lura anle.nupcia1; mas, a rnaior parte das vezes, par apatia, n8o se fazam tais eserituras e , por cooseqribncia as conjuges

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ficam sujeitos ao regime legal de bens, que C o da comn- nh8o geral.

S t o regime legal gerai fbr diverso, ja as coisas se pas. 9am lambem diferenternentc.

Utna dcsigualdade que h i entre o marido e a mulher 6 o primeiro ser o administrador Jos bens do casal e a mulber nao. Pode vir a eslabeltcer.se, como succde na Itilia, que a mulher seja ad~lliuistradora dos seus bens, assim como o marido 6 administrador dos dele.

Tambenl em materia do div6rcio altuns retoques i precis0 dar para estabelecer a igualdade entre maridu e mulher. So a mulher podt pedir o arrolanentn de bens - do~lde rtsulta unla dasigualdade em proveito da muiher e em prcjuizo do marldo.

HA casos em quc o rnarido deve tambcm poder requertr o rrrolarvtnto de bens e imgosi~ao de selos.

Suponha-se que uma mulher e comcrciante e que tern o seu domicilio junto do estabeleaimenta. Requertu o div6r- cio. Porque a mulher 6 co~nercianle, tern necessidadt de ticar junto do estabelecirnento. Ora, s t a marido nao puder tambtm requcrer o arrolan~ento de bens, dai podem r e d t a r plejuizos graves para kle, buis que a mulher pode extraviar, descaminhar bens.

l'orq~ie os podtres legais t&m como limitt a necessi- dade social, o bem comum, tarnbim 6 oecessario tuodificar a lei do divircio e conseyiienferuenfe a lei da separaqgo.

Acabar tom o div6rcio nio me parece solu~%o jnsta, porque - e n%o entramos em pormonores, pois nSo 6 Cste, o lugar proprio - porque ha fastos de dkc6rdia inevitiveis e aeudos anlre a s sbnjuges, ha circunstAclcias em que u s cbn- juger tern de sepaxar-st.

HA duas rnaneiras Je se Lazer isto: ou pelo div6rcio ou pels separtlqao-o divbroio, que dissolve o vinculo conjugal,

a dissolepilo, que permite ao marido s P mulher viverem separedos, mas que manlkm o viaculo coujudal

Quai seri a melhor solui$lo ? 0s Srs. sabem, porque e i~ltui'tivo, yue a oatureza tern

cxigkncias qus dominam o honlem. (-1 l~orneitl que vive s t . parado ds sua rnulhcr e a mulher que vive separada do seu marido d o do mtstno mod0 que os cbnjuges qua vivem juntos doininados pelas ntcessidades da oatureza,

Per conseqii&ncis, o homtm, s t nao pode casar de no- vo, tern de se amancebar. Qua1 i maim prejudicial para a fanrilia : u s t p a r a ~ g o on o divdrciu? Eu suponho que e a separaqgu. Mas tambktn n%o se deve pertnitir o div6rcio por qualquer cousa I ~ t i l . N6s temos uma IegisIitcfio iocoe- renle de div6rcio. Em tnatiria d e div6rcio encontram-se, na l e g i s l a ~ ~ i o cornparada, tres sistemas : -- Urn que permile o div6rcio por dec;araqao unilateral da vantade durn dos cbnjil- yes, E'o siskma romaoo, qne ptrfnibia o replidio, Urn Jes can- jugs3 n2o quert permanectr s ~ s a d o ; declara, tnt80, a sue vonlade nt?sse seutido, lavra.se o respective auto c, depois de di~orci ido, e qqe o outro cbnjuge B notificado do divor. ciu. Este sisterna exisiiu em Roma, como disse, moderoa. mente existe na Rtissia e existiu ns Espanba verrnelba. Lsta, porim, acabou t hoje em Espanha n3o bfi div6rcio. A pesar de ainda hojt ser existente, como disse, na Russia, &ste e'um siskma d e div irc io indtfeosavel.

Uutro sisttma i o do div6roio por ctrtos f undamenlos contemplados na lei.

E' o sistema mais usual nas legisla~i5es modernas como a francesa, a alem%, a suica, GIG.. E' tambkrn o adotado enlre nbs, pois o art.O 4.0 da I t i do div6rcio diz quais s8o as causas e fundamentas do div6rciu; mas, ao lnesrno tempo, a uorsa 1e1 permite o divorcio por nJ tuo conscotitnenlo, isto e , quanda ambos os cbnjugts est%u de acbrdo, podem

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requerer Q div6rcio sem indicar qllalq~ier causa ou funda- mento.

Ora isto C insustentavel, pois d i origezn a abusos ctlmo &ste: suponham que o nlarido ressona, e a mulher incomo- da-se corn o ressonar do marido. Aborrecem-se, zangarn-se e, As duas por tres, resolvem ambos pedir o div6rcio. Anali- sada a s i tua~ao, rerifica-se que o verdadeiro fund~menlo do divbrcio, que es t i compreendido na decisao de arnbos os cdnjuges 6 a causa fut i l do maride ressonar. For 1 % ~ pouco s e desfaz urn lar.

Urge, pois, pbr fim ao div6rcio por mittlo consenti- mento. Tambtm n8o se adrnite que o div6rcio tenhzl por lundamenlo a duenca incuravel durn dos cbnjugcs. Porque 1 deshumano que o c6njuge 580 quebre o vinculo matrimonial quando o doeate mais precis; do seu auxilio e assisttncia.

l 'ambtm em materia de rela~fies de familia a lei pre- cisa de n~odificaqgo com respeito 21 admissibilidade da ac@o de investiga~80 Je patcrnidade iiegitima e corn rela- t8o ao reconhecimento volunlirio da paternidade ilegitima,

TambCm em materia de sncessdes, em virtnde do prin- cipio de igualdade, e precino, me parece, modificar a quoia legitimiria e, conseqiienternente, a quota disponivel.

N2o 15 o regime politico a ~ t u a l urn regime de protec~Bo familia? A protec~ge i familia n3e se impi5e por necessi-

dade social? (ha1 sera, portanto, a 1egislaMo nlais harmo- nica corn Csses priacipios de p r o t e ~ I o a familla e de ueies- sidade social: a do C6digo Civil, yue determiuava que so 4- dos bens do autor da berat~ca que tivesse herdeiros le-

legisla~%o antiga do Chdigo Civil. No entanto, o decreto u." 19.126 - reforrna do C6dito Civil -foi nas aguas do de- creto de 30 de Outubro de 1410. que dara lnaior liberdade de disposi~go e estabelecia maior quota disponivel para o autor da heranfa cool herdeiros legitimirioa.

git~marios 6 que era quota disponivel ou a legislac30 actual, que pcrmite qlle a quota tlisponivel seja mttade dos bens do de ~16jus que tern fiihos legitimarios? Parece-me que C a

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34-0 Dlreito Gorporativa esta em moroha, mesmo nos Estados que t8m urna Cons- tltulp%o democratic#,

-0 Gorporativismo 6 uma prejecpilo da Democracla,

--Conclusoms a tlrar d o progress0 d o Dl- reito Corparativo.

Urn outro elemenlo da lr~iogia revolucion5ria e a li- berdade.

A quem vive em sociedade a liberdade nio pode ser absolula, porque 020 se pode vivcr em sociedade seln or. ganizafio, sern lei, e a lei tom pol. miss%o restringir a li. berdade individual em proveito do bem comum. Por isso, logo de inicio, os democratas, filhos da Hevolu@o Fraocesa, adrnitirarn dois priucipios que, no tundo, $80 sontr~ditorios; o principio da solidariedade e o principio da liberfiade in- dividual. E, porque admitiram iisses dois principios funda- mentalmeate contradit6rios, tiveram, tambem, de admitir dsb corolarlo: que a liberdade individuai podia e devia ser restringida sempre que o exigisse o interesse ptiblicu, islo 6 , o bem cornum, como hoje se diz.

E e por isso que JaurBs, pouco antes do seu fim, - foi assassinado nas vtsperas da grande guerra de 1914,-disse: o socialismo & o desenvolvimento 16gico e complete do in- dividualism~. 0 socialismo atende ao bern comum, de pre- fertncia ; ocupn-se sdbremaneira aom os interksses comuns da colectividade, mas, ainda assim, e o desenvolvimento completo, integral e 16gico do individualismo,

Parecem termos anlinbmicos sociatismo e individua- lism~, mas a verdade t esla: se considerarmos a sociedade encontramos nela duas realidades: a realidade individual e a realidade social. Qual delas deve ter preferencla sbbre a

outra? 8erA o individuo a quern cabe superioridade it socie- dadc? Sera a sociedade, que existe $6 por causa dos iate- rPsses individuais, para acautelar, defender, protcger e me- lhor strvir os interbsses indiruais?

Se admitirmos que C o individuo a realidade primiria da sociedade, entao caimos no individualismo estrito, rigo- roso, extremo.

Se, pclo contririo, admitirmos que a realidade prima- ria C a socledade, que d constitulda por individnos, sendo, por cosseqiitncia, os iudividuog urna rcalidade secuudaria, enlPo lemos o socialisrno numa das suas formas: bolche. rismo, fascisrno, eic.. Porque a verdade e e s h : no fundo, ngo ha uma diversidade de pensamento muito gmnde entre fascismo, national-socialismo e bolchevismo. 0 s rnktodos d que s%o diferentes.

Ora, JaurCs, que considerava, sem o dizer clara t ex- pressamenla, a sociedade como uma realldrrde primiria, baf concluia que a individualismo completo, integro, dava o so- cial ism~, porque as direitos individuais s6 podiarn ier plena expansgo deotro do socialimo.

0 legislador do cbdigo civil francts, e ta~nbim a do c6digo civil portugu&s, pols, como sabem. a fonte principal do aosso C6dido foi o c6dido napoleinico, teve em tanto ca. rinho a liberdade individual, que csnsignon mmo urn dos priacipios fundamentais d~ Direiio Civil o principio da auto- nomia da vontade das parles,

Esla expressRo hbe~dade, muitas vezes, op0a.se a c w - risrno, ao regime politico cesarittn. Nos, aqui, n8o nos im- portamos corn Qte aspecto. Aqui ccnsideramos a liberdade s o b o poor0 de vista da influkncia que exeree na legislaGgo civil, sem nos impcrtarn~os corn os regimes poliiicos.

0 legislador teve em tanto cnrioho -continuo - a li. berdade, que nZo 96 consignou corno urn don princlpios fun- damentais do Direito Civil tsse principio da autonamia da

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vontade das partes, como tarnbim incluiu na legisla~ilo djs- posi@o atiaentas a eeitar que alguem abdique, se demita da liberdade que o legislador lhe qufs atribuir.

Corn efeito, diz par exemplo o art. 1.595.' do Cbdipo Civil : *Dd-sc co/ztmtr~ de loca~iFo, qnlrndo a l p d m tras- pnssn a outfern, por certrl frmpo, e meriirrnle c ~ r i a rcfri- bu@iio, o aso e frui'gho de certla c o i ~ a b .

De maneira que o legislador ngo quis s conlrato de lo. cacao perpeluo, e isso por duas raz6es : parque reslrir~gia a liberdade do senborio e porque deturpava a natureza juridica do oontrato. Urn contrato de locaq%o perpituo equivalia a ulna alieuaqBe, da propriedade. Mas pro'ibiu tambem o c o n trato de prestaqao de se rv i~os perpituos-c isso aptnas em sirtude do amor i IIbardade. 0 individuo que, perpktua- meote, se obrigava a presiar serviqos a um auio, perdia a sua liberdade, deixava de ter liberdade, e, por conseqfitncia, o legislador proiblu-o.

Mais ainda : a jurisprudencia considerou nulas, como se n%o tivessem sido escritas, certas clausulas que obriga- vam o tavorecido pela liberdade, o bentficiario da liberdade a exercer uma serta pro[iss%o, a manter-st num certo tstado civil, a river numa certa localidade- Por ex. , se rium testa. mento aparecer uma clhusuIa que diga : ~ ~ D e i x o a F. a mi- nba herdade x. corn a condi~ao de F. se fazer padrel, essa cliusula restringe a liberdade do bertefjcidrio, obriga-o a exercer uma prvfissZo e, por isso, considera-st nula Se u marido falezer corn testamenlo em que diga : {(Deixo todos os meus bens minha rnulher, corn a sandiqXo de eia ago se tornar a sasar*, esta clausula e nula tambem, considera- -se n&o escrita, porque restringe a liberdade de urn indivi- duo, 0briga.o a rnanttr-st num estado civil determinado. 0 rnesmo d~rei se nurn testamento se dispuser : ~ D e i x o *islo. a F. se &le contialtar a viver na cidade de tal, onde tenho

o meu jazigo~ : tambCm se considera aao escrlta esta clhu. sula. Tudo lsto em name do princlpio da liberdade.

Mas, e preciso notar, dsts amor A liberdade e sobre. pujado no idedrio dos deruocratas oascidos da Reroluq~o Fraocesa por bste outro sentimento de amor pela igualdade. Quere dizer ; os democratas saidos da Revoluq30 Francesa querem, prirneiramente, a igualdade civil e , depois, a liber- dade, E, porque, colno j i lhes dirse muitas vezer, a igual- dade civil anda arredia da igualdade socia1, pois que a igual. dadt civil pBe no rnesmo plano os fortes e os fracos, os ri- coa e os ~ o b r e s , e dal ~esu l ta que em materia contratual a vontade dos ricos, dos fortes domina a vontade dos fracos, dos necsssitados - tambim nu deaorrer do tempo, na evo- IuqLo do Direito, tern surgido a necessidadt de iazer inler- vir o Estado e m certos contratos para proteger os fracos, ou nectssitados, os que precisam de ajuda, de proteyio. E, assim, akem que, em materia de locaflo, e m maltria de concesstu de servi~os, em mattria de contratos dc trabalbo, em matiria de seguros, atc. , etc., encontramos uma inter- rrencAo constante do Estado atinente a esta protecpiro aos Lracos, muito embora fique deminuida a liberdade conlratual, fique sangrado e tal prlncipio da autonomia da vontade das partes. Porque, para se viver em regime de autonomia da vontade daa partes, qualquer cootrato seria feito sem nenhu- ma repulamenta~ao especial, as partes seriam partidarias cada ume da vontade, terldmos vontades opostas, vontades que discotiam, vontades que chegavam, por f im, a acbrdo, surgindo ntsse momento, e courato, quc fazia lei entre as partes.

Mas, co~no ~ E e m , h i circunsl~ncias e m que tal ago pode acontecer.

0 rnundo dos que lrabalham C muito maior do que o dos industriais e comercianles, o dos patraes. A necessidadc de trabalhar para os operdrios e muito mais urgsnle do que

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a ntcessidade ds dar trabalho, que t tm os patroes. Por isso acontece que os patroes qu i s i sempre afixam urn r e g u lamento na fabrica ou no esiabelecimento, e quern quizer Irabalhar nesra fabrica ou o&sse estabelesime-nto adere As cond i~6es constanles do regulamento.

0 regulao~ento diz: o contra-tuestrt ganha tanto, o ope- ~ i r i o tanto, o aprendis lanto, trabalham iat~ias horas ; tbm *&stem descaosu; etc . Aquele que precisa d e trabalhar vai aer o reeulamento r, se aceita, adere aqueIas condi~6es e vai trabalhar para a tabrica ou para o estabe.lecimento.

Chama.se isto um contrato d c adtsso. 0s Srs . aqui n8o vCem duas vontades iduais, duas von-

tadas contradit6rias, duas vontades que discutem. Vdem a vontade do patrgo, que i soberana, que impBe o regulamento, e, depois, a vontade do operirio, que se cifra so nisto:

llEu precis0 de trabalhar, portanlo vou arregimeatar-me nesta fabricas, sem digcutir horario d e trabalho, descaoso, nada.

Ora, porque isto e frequenie, porque nesle caso uma vontade 6 economics e sociaimente superior a vutra nao ha igualdade de voulades, pode haver, quando rnuito, gual- dade juridica : porque itma das vontades 6 forte, outra 6 oecesailada. o Estado, ainila mesmo o Estado democratico, em que domioam os principios da igualdade, kalernidade e liberdade, mas em que a igualdade sobrepuja a liberdade, para d im~uu j r a desigualdade social intervem regulan~eu- tando o s e r v i ~ o , regula~nenlando a s horas d e trabalho, repu- lamentando os dias de descanso, e>tabelecen~io salarios minimos, elc. etc,.

Pur cooaeyii&ncia, vCem que ainda e m virtude do prin- cipio da igualdade ajudado pelo da fralernidade dois dos eieinentos da celebre trilogia, c porque a igualdade sobre- puja a liberdade, erlco~ltramos urna intervenvgo cada vez maior da parte do Estado no sentido de ajudar ss fracosl

oc sentido de evitar que os forks s e locupletem a cusla dos fracos.

E' certo qut nem sempre a desigualdade s e encontra nos contratos rtalizados entre os fracos e os fortes.

0 operiirio, ppr si so, e fraco, mas ngremia,se em sin- dicatos, em associag6ts, e o sindicato on associa~30 jP tem uma vontade mais forte, rnaiv poderosa, que e e impi5e ao patrao e qus pode mauejar a arma d a greve, porque pode pbr o palrBo uo ~ ~ i n d e x r ; isko d , na lista dos patroes que n%o tnerecem qoe os operirins colaborem c5tm ales. Alas, mes- mo assim, ainda t precisa a intervenqko do Estado: inler- venc%o para rcgulameotar a vontade dos sinliicatos, ioler- veng%o para regularneutar os cootrakos mlectivos dc trabalho, intcrvenq8o para suprimit as deficiencias dos ctintratos colectivos de trahalba.

E , a-propbsito-de sindicatos, tambim, a RevolucBo Eran- cesa baniu em guerra de exterminio a s associaqaes e os ficli~bsa. Hoje, os pr6prios Eskados democriticos, mesmo aqueles que nHo vivern ern r e g i ~ c corporaliro, como pnr exemplo, a Franga, mantkm a liberdade de associac%o, sin. dicatos c outras associa~6es.

'I'eria evolucionado, tarnbi~n, o ideario dernocrhtico? Creio que ugo. 0 que se modificou foi a cstrnlura da ofga- nizaq8o. Na ldade Media havia a corporaelo f e c h ~ d a e obri. gatbria, havia a corporaclo que tinha unla hierarquia, que fazia regulamentos quc tinliam efeitos da lei, havia a cor- poracto que, portauto, deminuin a l i b~ rdade individual, Eclodiu a Revoluq;to e atacou Cste inimigo da liberdade, a corpora;iia. Mas, hoje, a assuciagao n8o tern as caracteris. ticas da corporaqaD medieval. Hoje, a associaflo nao e fechada : 0s Srs. sabem o que i ulna associaq%o Lechada : a que e couskikuida s6 por certus e de t e rmin~dos individuos. l'or exemplo, a corporapgo dos ferreiros i conslituida pelos

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ferreiros actuais e 96 IL psdem eotrar os filho.: dos ferreiros ou certas pessoas indicadas por eies.

Hoje, as associapSes oZo sso fechadas, nBo 1Cm hierar- quia, nHo tern aquele poder de se impor quc tioham as cor- pora~ijes. Pur couseqiidncia, admite-se que hoje a associa~Bo ou o sindicalo, corno agremiaf6ee deslinadas a valoriear 0s individuos, sejarn aceites pela 1)emocracia.

E estao a ver, no exemplo quc lhes apresentei, urn sindicato a fazer coutrato de hrabalho corn os patr6es. Trata-sr: de uma associapio su dc urn sindicato qlre valoriza os individuos que constituern aquele mister : qua1 a razio por' que a Dernocracia n8o havia de admihir essar corpora- ~ f i t s , &sses sindicatos, essas associa$6ss?

Mgo vejo motivo alkum, hoje, ao passo que havia razilv para qua a Revolu~Lo Fraocesa extreminasse a s corperaqaej medievais.

Pois n&stes contratos de adeszo, nos contraios de con- cessAo adminisirativa, (o municipio faz U I ~ contrato para for- necimentode agua, fornecimento de luzei6ctrica, fornecinleoto de gas, o Estado faz urn contrato de conce5sLo duma linha tkrrea), n6stes conlratos, Iambtm em regra o concedenle, a autoridade publics que concede o serviqo, costuma intervir no seotido de estabelecer medidas que favsrecsm os usu- arias (I) do se rv i~o publico e ate os krabalhadures.

Isso costurna Lazer-se no caderno de encargos ; e a f que o concedenle, o Estado ou o Municipio, diz o prhco a tarifa dos servigos, os salariov dos trabalhadores ou dos empre- gados, disp6e maitas caisas e m beneffcio quer dos usuirios: daqueles quc se servem do servi~o, quer dos concession&- rios, quer dos colabo~adores,

(I) &lsvdrloa E ~ O aquele.; que fazem contraios corn a eml:r.sa e o n czssiondria para f ~ ~ n c c l m e n i * de serv i~r , que ala presta.

Na ticnica do Direito Civil cbamava-se isso urn con- trato em beotficio de ierceiro. Era urn contrato leito pelo Estado ou pelas Autarquies corn urn concessiooario em quc se estipularam cotidi~6es relativas aos Irabalhadores oa aos usuatios que benefici~rarn do contralo. Por isso se dizia urn contrala cm benejtcio de herca'ro.

Essas normas tdilas que enoontramos aas concessbes, oos contrdtos de adesao e em muitas ouiras, Csses fen6me- nos de intervenfao na autoridade dos contratos, s8o apenas uma manifesfa~iio da limitac30 da liberdade contrafual, uma resfriggo do principio da autonoulia da vantade das parles, que se impfie para dirninuir a desigualdade enlre or con- tralantes,

A lomq80, corno sabem, d urn contrato regulado no C6- dido Civil - hoje trn varios decretos, a principal dos quais t o decreto n." 5.411, de 17 de Abril de 1919. Seodo urn contrato, devia tambtm nesta mattria dominar o tal princi- pio da sutoaernia da vontade das partes; D O entaoto, os Srs. enaentram nag leis de inquilinato uma certa disposic8o que ngo permite que o seohorio dsspeqa o ioquilino, que au- meate a reuda, que deiae de alugar. Encontram, att, nQ mesmo decreto, ulna d i s p o s i ~ B ~ que diz que todo o contralo feito em cootrario das normas estabelecidas no decreto e nulo. Isto equivale a dizer: reslas disposi~6es s8o de inte- resse e ordem pdblica, impfiern-se, nao se pode fazer can- lrato nenhum en1 cnniririo d e l a ~ ~ , quando a reira 6 a de que as cliusulas estabelecidas pelas partes t que Lorrnavam o contrato, e, se h i disposi~ijes reiativas a confralos, essas disposi~6es szo ruplelirras, isto 6 , so se aplicam quando a vvntade das partes nfo se puser em sentido contrario.

Por conseq(lencia, o fenomeno que observamos e o de urns intervencgo constaole do Estado na regularnenta~Po dos contratos, inlerseo~iio feita por tneio de leis drs inter8~se'e ordem publica, atinentes a dimiouir a desigualdade dos

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0 nosso Cbdigro, pcr ex., s6 admite a anula@o do con- trato por vicio de consentimento, por &rro, por dolo, por concqlo eu por s i w u l a ~ ~ o . Mas esta anula~ko do contrato ainda C feita em nome do principio da a~~tonomia da vorttct- de dws partas. Quando h i Brro, qnaado ha dolo, yuatldo h i

e a, por con- coaccio, quando h i simula~go--n8o ha vent, d seqiitacia, o nosso CCIdipo perkite ntsses casos a anulaqIo Em regrn, o agente do Ministtrio P6blic0, o representante do Estado, iotervinha para pedir a annIa$Uo durn contrato, sebrepondo-se aos interessados. Acontece isto, por ex., em matiria d t sociedadss. Quaado ulna sociedade e irregular, o Miniaterio Pliblico pode pedir em juizo a declara~go de inexistbncia desea sociedade.

0 principio da liberdade, urn dos elementos da trilogia revolucionlria francesa, determina, como disse, muitas alte- ra@s no C6digr Civil sbbre maieria de contratos. Quere direr: o principio absoluto da autonamia da vontade das par- Les tern d l ser medificado, Tbm de predominar, em nome do tal priacipio da liberdade, as disposiq0es dc inter&sse e or- dem p6blica sbbrs as disposigfies ds inttrksse privrdo, nums f a t u r ~ organiza~Be do lhreite Civil,

lsto ja foi mats ou menes prevenido per0 legis lad~r do C6digo Civil, poi* no artigo 10.' proibe que as partes coo- lratem em saatida contrario As disposi~rjes de iatertsso e ordom p6blica.

Diz o f 6oicr d r art.' 10.": Esto nulidads pode, cartfu- do, sanar-se pclo consrnfinienlo tt ts intcressados, se a lei in{ringid!l nds for de ln l e rbse e ordern pSbllca*.

JL fizemos a andlise dts te artigo e ficaram sabendo que 9s parks ngo yodem centratat ern seutido conlrhriu as dis- posiq6es de interesse e ordem priblica.

Por conssqii6ncia, ludo s e reduz a uma amplitude das disposi~6es de inferbse e ordem p6bIica.

Dissemos, quando difinimos disposi@es de inlerbsse e ordam ptiblica, serem as relativas aos principios basilares do Estado em mattria de m o ~ a l e politlca.

Pois, se agora djssermus que tarnbem os principios de ordem econ6mica que sZo fundamentais ao Estado constituem disposi#5es de inieresse e ordtm phblica, fica, wnseqiien- ttrnente, rnuilo limitado o principio da autooomia da vonta. de das partes.

As varias disposif6es dcsta economia dirigida, que di- zem o sentido em que os parliculares devem exercer a sua aatividade, podern consideror-se disposif6rs d t intertsse e ordem pliblica.

No entanto, como 6 dificil fazer corn que a jurispru- dencia defina, ao menos em breve tempo, certas disposiqties ecanomlcas que 330 de interksse e ordem pdblica, conv&m que o legislador intervenha para nos dizer qut certa mcdida, certa d i syas i~ io , certa repulameoto e conslituido por disyo- si~6es de interksse e ordem piblica.

Tambim etn mattria de direitos de familirr o principio da l i b e r d ~ d e exige certas alteraq6es.

Hauvt sempre da yarte dos particulares certa repugnar- cia e m admitir a intervencao do E ~ t a d o na vida da familia. NBo obstaate, o Estade intervtm, algumas vezes, segundo a legislaqio Civ i l : nos conselhas de familia, por inlermtdio durn brgao da tutela, o curador dos 6rfBos; na censtitu7qgo da familia yelo casamento, que tern de ser feita com inter- v e a ~ g o do funcionirio do regislo civil; no caramanto, ainda, para delermitlar que em certos casos C precisa dispensa de 6rgZos do rode1 Judicidl; para autorjzar o pai a vender as beas dos fiihos menares,

Mas estas intervengBes, que sZu previstas e reguladas no Codigo Civil, tivcram sempre o bdio dos cidadaos, por-

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vlrtudc do prinsipio da liberdade, q u t fat corn quc o Esta- do, para respeitar a sensibilidnde das cidadlos, inttrvenba o menos possivel,

Jd falei, a-propbsito-do principio da libcrdade, na tutela e oas inrtituiq6es pupilarss. A tutela t familiar, acgundo o sistema da legislaqlo latinn.

A-perar-disro, e porque a farnlliil-disas-lhe cu-tern enfraquecido cen~tantemente porvirtudt dc individnalismo, a instilul@o de lutela familiar tornou-se insuficicnte c, ea- ilo, impbs-se a0 Estado o criar institui~iias pupilares, que sieam a defender OE abandonados t es mensrtc em pariio.

0 quc iogicmrnents, cocrentrmmtr, st impuohe era a fiubsiih~F~lo da lutoia fnrniliar por urna lutela ndministrativa ou judicial.

Porque c qua n3a s t faz isto a, ao aontraria, sa deita. ram remeudos na legislm~Ze, criando ao lado da tutela farni- liar instituif6as pupilarcs, adminirtraiiras e judiciais? Foi em virt~lde do lul respeito pela l ibcrd~de dos cidadas. 0 Estrdo nil0 quls ofendcr a sensibilidadc dos cidadPos, i m - pond0 a intersrnqlo adrninistratira ou judicial nessa esfera de tutela. 0 Eatado quis lesptitar, por conscquencia, o scq- timeuto de iibardnde dos cidadsos. bias irnpGt~sc, quer em nome do princfpio da igualdade, quer em nomc do principio da liberdade, a relorma da tulela.

T~mbt rn em uolrlt do principio da liberdade o Cadigo Civil c a l e g i s l a ~ ~ o posterior diminui e quini que anulou 0s poderer qus existiam deotro da familia: o poder paternal e o poder marital.

Corno sabem, em Roma, o poder palernal, a pafria po- t..stias, era absolute, pois ate compreendi~ o j x s vitae nccis- yre , isio 6 , o direilo de v i d a e morte. 0 pai tinha poderes religiosoa, tinha poderes polllicos, 0 poder paternal era um podsr perpetuo.

No Direito roman0 isto foi-se mdificando e os filhos foram ganhando, pouco a pouco, uma certa perfionalidade.

Mas no Rireito moderno. na vigtncia dos Codigos Ci- is, o poder paternal de~xandu de ser perpetuo, pois o filbo atinpe a maioridade nulna cerla epoca da vida, aos 21 aoos, confora~eo nosso Codige Civ~l , mas esta epoea da vida varia de 1egisia~Xo para legisla~80, 0 que i certo, porein, 6 q u e deixou de ser perpetuo o podtr paternal.

k: lambein deixou de ser absolute em poderes: hoje, o poder pnternal e tnais urn complexo de deveres do quc urn complexo de direitos. SZIo direitos concedidos ao pai, mas em aten~Bo ott relativamaate a deveres quc t l e teln de cumprir para corn os filhos : deveres de educa~30, de ali- rntnlat$lo, dc pr@ier$Ze, elc..

Quer dizer: o poder paternal, ern vez de ser urn corn- pltxo de djreitos, couservou essa designa@a de complexo dedireilos, mas d em aten920 aos dereres relatives a esses direitos, que s l e predominantes. Por outras palavras : o pail segundo u C6digo Civ i l e a legisla@o posterior, tern mais deveres para corn u s filhos do que direitos, sbbre os fillros.

0 llltsmo dirsi em rcla~iio ao puder marital. H i urn certo nurnero de direitos do marido correspondentesk inca- pacidade da mulher casada, que s t cbarna aioda hojt poder marital; mas esses poderes ngo s%e devidos aa marido em raz50 da incapacidads da mulber, mas sim, segundo eu en- tendo, porque o marido d o gerente da sociedade familiar.

Talnbenl em materia d s sucess6es, porvirlude do prio- cipio da igualdade, e greciso fazer uma altera~Ho ao que esla disposto no Cbdigo Civii .

Le Play e a sua escola criticam o legislador do Codigo Civil, porque $le tinha diminuido o poder paternal, pois en- teudia Le Play que a n ecessidade social cxlgin, olio a derninulqio, 1180 o antraquccimeoto do poder paternal, mas, pzlo cenlrArio, o seu engrandeciolento ; aioda exerceram a

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saa crilica porque, ern seu enlender, o pai devia ter a liher- dade de disposi$fo de todos os seus kens.

Eu, a.respeita-do principio da igualdadr, disse lhes qut, se a uossa Constitni'~So dcfende muito a tamilia, ao inte- rCsse da Iarnilia, convioha mais a lirnita~ao da quota dispcl nivel, do que u seu aumenlo; no entanto, o decrefo n.* 19.126 ioi no resto do decreto de 31 dc Outubro de 1910 e aumentou a quota disponivel em ra la~ao ao Codigo Civil, o que me parece contraditbrio do la1 principio coostitucional da protec~so h famiiia.

lsto era o que exigia o principio da igualdade, con- trhrio, o priacipio da liberdade exigia qne o pai pudesse dispor, oomo queria Le Play, de todos os seus bens, tivesse liberdade de disposi~Zo, corno acoatece, em regra. nzs legis- laq6ts anglo-saxonicas.

Ternos, aqui, como vCem, duas solicita~Bes etn sentido contrhrio: a srlicitaq%o do principio da igualdade, pedindr a reslriq%o da quota disponfvel, a solita~ao do principio da li- berdade, exigindo, as contrario, o aurneoto da quota dispo- nivel. Mas, como, fambi~n, jh dissemos, o princlpio da igualdade prevalece, cotno se pode demonstrar, sbbre D prin. cipio da liberdade.

DCstes dois elementos da trilogia considerados debaixo do poato de vista da infiu8acia, o mais relevante em male- ria de 1egislaGo civil, o que mais tntlukn~ia exerceu ioi o da igualdade Par conseguinte, entendo eu, a altera$%o a fa- zer e a alterac%o solicitada pelo principio de igualdade e peia protecqao a familia.

Em coaclus90, e para p5r urn remate a &ste capilulo, de tudo quaoto lhes tenho dito verifica-se o soguiate: .

I." Que o direito ecrrporativo esta em marcha, e esra ell1 marcha n8o so nos Estados que adopfararl~ a urganiza. CHO corporaiiva, como a Alemanha, a Italia e Porlugai, como ate nos prciprios Estados dernocratlcos, corno a Fran~a .

Ate nos Estados democrilicos, como a F r a n ~ a e a In- glatera, o direito corporativo se impae, admitindo as asao- c i a ~ d e s operirias (porque o direito corpuraliva C hrn dircito de profiss%o), admitindo 05 conlratos colectivos de trabalho, obrigando o Estado, por vexes, para auiorizar as suas dis- posi~ijts, a basei.las llas pr6prias determina~i~es dos sindi- G ~ ~ O S , elc., etc.

Urn exemplo. Ha anos, em Franca, quis estabelecer-se o descanso semanal. O Eslado dispBs nesse senlido, mas baseando, aulorizando a sua disposiq%o corn o que estava determinado pele sindicato dos operhrios.

E outros exemplos lhes poderia oferecer. 2." Este diieito corpot*ativo nzo 6 uma reacpgo c ~ n t r a

os principios democraticos; pelo conlrfrio, € a continua~go dbsses principioa.

Jaurks disse, como eu refcri, oa Revue de Poris pou- cos anos antes d e morrer, que o socialismo era a continuaqh logica e o programa iotedro, completo do indiridualismo. Eu direi, parafraseando Jaurts, que o corporativismo, longt de ser urna reacF%o contra 2 Democracia, 6 , antes, uma pro- jec~tio dela.

3." O direito civil, em virtude desta organizacRe corpo. rativa, perdeu a solenidade. Hoje, nBo h i urn Direilo Civil uno psra todo urn pals, mas sim um Direilo Civil que tern csla tutos diferentes con for me as corporaqGes, conforms as profissties.

4.' Mas o direito corporativo nZo C urn direilo corn &a. ractcristicas especifiaas, ngo e urn direito direremiado, t direito pliblico e direito prirado, ainda que possa psrecer que i urn Direito distinto d h l e e daqueke.

5 . O Porque o direito corporativo esta em marcha at i nos prbprios Estados que kern constitu?~8es democriticas e n%o modiiicaram a sua casslitui'~%o oo sentido corporativo e a jortiari entre nos, que ji estamos ha sete anos Durn regime

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corporative, impfie-se uma reforma dos estudos de Direi~o, criaodo, ao lado das cadeiras de principius funda~neglais do Uireito Civil, Obrigacaes, Direitos de Famiria e Sucess6es,

urn curse ou cadeira de Direito Operario (ou legislacao do trabalho, ou direito de trabalho, ou legislaflo iodustrial), urn curso ou cadeira de Direito Agricola, urn curso ou a- deira de Direito de locaq20, etc,, alterando a organizaqAo classica e a aotual dos estudos do Direito Privado.

Nlio lhes falo promonoriz~damente no outro elemento da triologia -a fraternidade. EL em virtude dela que a Ie- gisla~Po civil deve prolecflo aos iracos: mas a protecqao de- vida POS fracm j4 se eatudou a proposito do principio da igualdade.

Chegamos, assim, ao lim d&ste capilulo do Direito.

35 - Concelto do relaqao jurldjca.

- 0 s olemantos eprlorlstlcos da rrlapao jurldlca: sujeitos, objedo , Fecto Jurldlco e garantia.

- DlstingBe entre objecta da relaglfo ju- rldlos e objecio d o dlrrlto,

- CoYncldCncia d o object0 u s relaqgo ju- rldica corn a ceuno final da mtssma.

-- 0 fscto jurldloo a o acto jurldioo.

- A garantla como elemento especlfioo da r a l a ~ 8 o juridlaa.

-- Quando se rdquire cdpacidade juridics.

- lnterpretapae da prlrneirh parts d o ar- tlgo 6." do Gbdigo Clvil.

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Vamos entrar no estudo de urn novo capitulo da aossa cadeira - o capitulo chamado da personalidudc juridica ou como iarnbem se pode dizer, da capacidade juridica. Mas, como o sujeito do direito e urn dos elementes da r e l a ~ l e juridica. tenho primeiramente de referir no que devemos entender como relap30 jurldka. 6 certo que o estudo cia re- laggo juridica &via tet sido feito antes da parie descritiva das instilui'~ties, porque estas s5o outros taotos aglomerados formando especies de relac8es juridicas. Mas, par rn~doto e conveniCncia de estudo, reservei-me para esludar, nesta aportunidade, o assunto da relacgo juridica, porque a ela me refiro sbmene como uma questao previa, como uma questao subordinada ao assunlo priooipal da personalidade juridica.

Que vem a str uma relacso juridica 'r' Ji o diasemos em outra oportunidade : C urna relac30 dos homens, que vi - vem em sociedade tutelada e protegida pel0 Ilireito

Tbdas as relaqass sociais ascenderfio ao gr6u de relacgo jurfdica ?

Sg Ierem o qua sdbre relac6es juridicas diz o prof. Cabral Moncada nes suas Ligbes dc Direilo Civil, podem talvez concluir que todas as rela~8es da rida social ascenden1 ao grdu de tela~fies juridicas. Mas n40 i assim. Na esfera do normativo encontramos urn normativo jurldico, urn nor- mativo etico, urn normativo etico-religiaso ; encontramos, em suma, diversas calegoriaa de normativos. No entanto, de tbdas estar espkcies s6 uma 6 que C normativu juridico. Conseqiientemente, nem todos os factos sociais s lo factos juridicss, Getu tddas as relacties sociais s%o relacties juridicas.

0 homem vive em sociedade ; C condiqao essencial da vida humaoa o viver em sociedade. Vivendo o hornem em bociedade, tem de s t sujeitar a certas normas, $em as quais prejudica o meio social em que vive e, c~nsequentemente, se

prejudica a si pr6prio. Mas sci m a s cerlas normas que $20 rnais relevsates s8o obrigatorias, t6m a garaatia do Esiado, silo essas que o honlam tem de cumprir coactivamcnte-; s6 estas silo juridicas. 0 elemenla esptcifico do juridico i exactamente tsse : a coacgao, a obrigatoriedade, a garantia. Tbdas as oulras normas - morais ou religiosas - sao nor- mas de conduta. 6 cerlo ; dizem respeito a rela~ijes sociais tambern, mas n8o t&m caac@o, a obrigatoriedade, a garan- tia do Estado : n%o sao, pois, normas juridisas.

Vivetnus em sociedade ; e essa a nossa condi~go es. sencial ; conbecernos muitas pessoas da sociedade, mas nem por isso somos juriilicamente abrigados a cumpri- menlar, visitar ou niandar cart6es de pLsames ou d e p a n - bens a tbdas as pessoas do nosso meio. fsto e : ha relac6es sociais que n8o sio impostas coactivaclante; porconseqiiencia, ha relaq6es socias que n3o s8o rela~6es juridicas. So certas rela~i5es sociais de rnais reltvo, de rnais,tbmu, de mais im- porkincia e que sao olhadaa p e l ~ Estado como esseaciais, sgo impostas pel0 estado - s'do rekdc6es juridicas.

Do conceito que deixdmos esboc;ado de relaflo juridica .. uma rela~iio dos homeos que vivern em sociedade tute-

lada t protegida pelo Direibo - resultam os tlementos cons- Litutivos de tdda a relagao juridica, o primeire dos quais e o sujciln

Se a relaggo luridica e uma relaqao entre homens, de homem para bomsm, e m tdba a rela@@ jaridica hi, por cooseguinte, dois sujtilus: o sujeila activo e o su&ito pussitto. Se a relaqao jurldica 1 uma relapgo de homens, tstes, quando a eshabeltcem, tbm urn cerlo iuterlsse; estabelecem-na em virtude de ulna causa ou determinados pot urn motivo, Por canseqiikncia, tbda a ~ e l a ~ i i o juridiea l t m objecto. Se a rela~go juridica 6 uma relaego entre homens, essa relac20 provim de certos tact04 que estao na base da relacgo juri- dica, Iastos, ulnas vezes, involudarios, uutras veees, ~lueridos,

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que se charnam, tambCrn actos, mas sempre factos, pais o judo jurldi~o 6 o genero de que o acto juridico e especie 0 facto t outro elemento da rela~Bo juridica. Sendo ds esstncia do juridico a in~posi@ coactiva, a obrigatoriedade, a paranlia do Estado, tambem na relagso juridica h a tsle outro alemento: a garantla, a ~oacqilo ou a obrigatoriedade.

Portanto, por urn raciocinio Iogico, por urn raciocinio a prior[, podemos dizer que s%o ele~nentos da rela~go juridica os suj~tos (activo e passivo), o objecto, o fucto ]urLdica (ou seja mera conting4ncia ou seja urn act0 voluntarin) c a garantla.

Em tbde a rela~Bo iuridica h i , pelo menos, dois sujeitos - jd o dissemos - e, pelo menos, um objecto, que i o inte- rtsse que determiaa a relaclo juridica. Convtm no entanto fazer esta sansideragao: o objecto da relagao juridica ngo e a mesma coisa que o objecto do direito, 0 objecto da rela- #o juridiea i a interesse eu a causa final da propria rela. Go, em atenCgo a qua1 se esiabeleceu, par cuja caura se enireteceu. 0 objecto do direito 1 algurna coisa mais mate- rial, Podemom dizer que o objecto do direilo e a aoisa sbhre qne se exercern 09 poderes ou hculdades do sujeilo do di. reito. Vamos ertmplificar : Estabelecewse urna relaqlto juri- dim de compra e venda : A estabeleceu corn B uma relaqao jurfdica para B comprar urn rekgio. Qua1 e a objecto da relaflo jurfdica? k a causa linal dcssa rela@o, O aquilo por causa do que se estabelecsu essa rela@o. A relagao estabe- leceu-sa para que A recebtsse o prtqo do rel6gio e para q u t B recebsrse o relbgio. Isto d o objecto da rela~%o juri- dica, que tambem s e chama, por vezes, calrsa final. Capi- taut tern urn livro, cuja leitura lhes aconselho por ter inte- rdsst, intitulado La cause des obligations ( A causn das obrlgugdes) : d a aausa final, e o objetlto da rela@o juridica.

Quaodo diumos que ~ i o elernenbos essenciais do con- trato a capacidade, o mdtuo consenso e o objecto possivel,

Lgte objecto t o objecto da re la~ao juridica contratual, por consequtncia, coolunde+se corn a causa final do centrato Porque e que se fez o contrato de compra e venda, pot ex. 1 Para que o vendtdor recebesse o preCo da coisa ven- dida, para q u t o comprador adquirisse a coisa vendida.

Isto C que 6 o object* da relaflo. Mas o objsoto do direito ? Esse e coisa diversa, 0 comprador lem urn direito, o vendedor tern outro direito: o vendedor tern o direito de o comprador Ihe entregaF o preqo, o comprador tern o di- reito de o vendedor Ibe entregar a coisa. Qua1 sera o objecto dtstes direitos ? E', em tiltima anilise, a coioa sdbre que se exerce o poder, ou faculdade de cada urn dos sontraontes, do vendedor e do comprador. Que a relic$%o juridica tern objecto diverso do objecto do direito - isso explica-se a t i porque, por vezes, h a ulna re la~%o juridiea que nZo tern por fundamento a cr iago de direitos. Pos vezes, ha uma rela. ~ i i o jurfdi~a que tem par fundamento a defesa durn iniertsse relevante, que pode ser, per ox., urn dirsito de personali dads.

0 s homens r i r tm em sociedadt e, p r dsse Eacto, tern uma posig2lo esthtica na sociedada. Cada urn don homens que ~ i v e m em sociedade tem o direito de ver respeitada a sua existancia e a sua liberdadt. Ora, isto nZo sao direitos, rnas sim posi~6es fundamentais do indivlduo que vive em sociedade, s l o interbses relerantes.

Como veem, 1 a priori, mas Ibgicameole, que da defi- niggo de relacPo juridica se faz derivar os eltmentos cans- titutivos ou existentes numa relatgo jurfdica: o sujtito, a objecto, o faoto jurldico, a garantia,

A respeito de fact0 juridddo j i lher disse noutra opor- tunidade que hb factos a actos jurldicos: hd factos juridicos e hA factos volrrntarias jaridicos que designamos por actos jurfdicos.

Ha uns factos que sa[a meras crntinfkncias de que re-

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~ ~ ~ l i a ~ u direitos, de ylle erncrge~n rela~iies juridicas: Q nas. cimento, a ~llorle e ouras Illeras contingkncias. Mas tam. bem h i Lactos voluntarios ou actos voluntarios de que resul- tam tambem rela@es juridicas. Umas vezes, trala.8e de meras contingbncias, outras vezes, trata-ae de actos da VOU-

fade humana de que rtsultam iatnbem relag6es juridicas. H i quem contraponha o focfo j l l ~ i t i i c o a0 ncfu juridic0 I ~ U .

ilrnlririo ou ncto juridico. Ha quem sistematize de outra maneira, supondo que o facto juridico e o genero de que o aeto juridic0 voluntario t uma especie.

Exemplo de um Iacto juridico, mera emergencia, mera contingbncia : o nascimento, a morle, Q decurso do tempo. De factos juridicos volunlirios tambern os Srs. coahecem muitos exemplos : qualquer contrato, qualqatr act0 da von- tade humana que crie, altere ou extinga direitos.

Todos os elementos da relacgo juridica est5o coniidos aprioristicamente na propria defini~go de xela~Zio juridica, tal c m o , por ex. : a existencia dc tras lados esta contida no cooceito do triangulo. N%o podemos lheicamente coact- ber a exislbncia duma relagio juridica sem que admitarnos a exislkncia de sujeitos de direito, objecto juridico, facto juridico c garaaria.

Houve a pretensao naiguns escrilores de conceberem existbncia ds relac6es juridicas sem sujeitos e r e l a ~ 6 e s juri- dicas sem objeclo, Por ex . . h i uma heranca jacenle, ha a -vocaFiio do nescituro e uma heranp, h i uln tilulo ao portam dor que foi abandonado. Pois Windscheid diz que essas e outras r e l a ~ 5 e s juridicas sRo re la~aes juridicas sem sujeito activo.

K , se assim Ibra, haveria unia contradi~2o entre o que n6s acabamos de dizer e esta doutrina : se em tbdas as re- Iaqfies juridicas tem de haver sujeitos, co~no t que poderia haver re la~6es juridicas sen1 suieito ? Se em tbdas as rela-

q6es jt~ridicds tern tie haver ohjecto, coma e qoe poderia- mes admitir uma s e l a ~ a o juridica sem objeclo ?

t3eel.e e Ferrara, analisalldo bem o problems. conclui- ram que n%o havia faila de sujeito, que o que havia era o bnubilac80, iuterrupc%o da suscepti bilidade da relaqlo.

Suponhamos que foi chamado a uma h e r a a ~ a urn nasci- turo. Diz o art. 6." do C. Civ~l :

# A capacidade juridica adquire-se peto nascimento: ri~as o indivdiuo, logo que e procriado, fica debaixo da priite.cqfio da lei, e tern-st pol- nascido para us efeitos declarados ou presente cbdigo*.

Quere diztr: ngo h i persooalidade, ago ha silsceptilidads de direitos e obrigaqaes, nZo ha capacidade juridica antes do nascimento com vida e figura humana - diz o C. CiviL Portanto, se urn nascituro, aquele que aitlda n8o aiisceu, i chamado a unia heranqa, cotno ngo tern personalidade, COmQ ainda nPo t sujeito de direitos, pode parecer que existe u m a r e l a ~ a o juridica rem sujeito aclivo.

Abaadonou-se urn tiluio ao portador ( e o exemplo dc Windscheid); hi, emitido um titulo ao portador. PeIo lacto da emiss80, o' emissor assume a obrigaq~o de o pagar ao portador, Mas, E-e o riruio ioi abandonadc ! Subsiste a obri- g a g 0 do emissor; porem, como nPo ha ninduem que possa dizer que a obrigaqao lem sujeito aativo, pode parecer que L ama relacgo juridica sern sujeito activo.

Mas ial nao acentece. Como aquele que foi chamadc a heranga t aindu nLo aasceu, ainda 6 nascituro, aguarda-se, espera-se que nasGa e, 96 quando houver nascido, e que dle 6 sujeito do direito, e que ble 6 titular do direito. Ate ai o que h i ? At6 ai, o sujeito e s t l obnubilado e agaardase que apareqa.

0 tfl~rlo ao portador foi abandonado e, enquanto kle es l i abandunado, enqutlnlo n%o tern titular, o emissor nEo e obrigado. Quere dizer : inierrompe-se a rtlyl[o juridica. Sf i

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o meaor, desde que laasce ate aos 21 anos, tern capacidade juridical - mas niio podem exerct-10s direca e imediata- meute : tkm de exercer os sew direitos por intermedia dos seus representantes, dos pais, dos tutores ou, no caso dos pridigos, por interrntdio dos curadores.

Umas vszes, o individuo, a pessoa singular, a pessoa fisica tern direitos como todos e pode exerce-10s directa e imediatameute, e entao diz-sa que tern capacidade d t exercfcio ligada a capacidade de gbso, outras vezes tem di- reitos, porque todos oc bomens I&m capacidade iuridics, mas 1120 pode exert@-lo*, e entXo diz-se que anda separada a capacidade de gbso da capacidade de exercicio.

A capacidade de g&ro, nos termos do Rrt. 6,", adqui. re-se p d o nascimento. A capacidade de exercicio so se !tinge aos 21 anos, pala maioridade. Diz o art. 110.':

#So i tido por filha, para os eieitos legais, aqucle de quem s t prave, que nasceu corn vida e corn f i lura humem..

Nao basta q u t alduem n a s p , segundo a doutrina obso- leta, velha, do nosso C6digo Civil. E' precis0 que alguem nasCa corn vida e figura hurnana.

Eu chamei a esta doutrina rbsoleta, anacroaica, por- clue se funda numa teoria cicatifica segundo a qua1 da mu- ihtr podiam aascer monstros.

Na cihnck moderna dernonstra-st que da mulher so pudem nascrr 6eres humanos e n8o manalros. Portanlo, da mulher nzo pode nascer ninguCm que n90 tenha figura hu- mans. Podem da tnulber sair produtos taratoldgicos, mas h20-de ter figura humana.

E a censura que eu Laqo ao Cddign Civil a-proposito do ariigo 110." e mais acrituoniosa, ainda, ao legislador do de. creto n." 2 de 25 de I?ezembro de 1910, a 2.' Lei da Fami- lia, que repl-oduziu no artlgo 13." aquela disposiglo do art.* 110.". Ora, s e o (:&dig0 Civil ja estava anacronico, jb tinha aquek~ disposiqao inadaptada aos ensinamentos da eibncia

midica e antropol6gica, u decreto n " 2 de 25 de Dczembro de 1910 merece mais ceosura, porqub foi feito muilo mais recenlemente, quaodo as ensinamentos da ci&ncia erarn mais explic~tos e mais clares, e, mais ainda, quando j6 ti. nham apareciilo vfrios C6digos (o alemzo no 3 I.', a suico no arl. 31.", o brasileiro no art. 4.") que repeliram aquela doutrina, que tioham assentado em que quem nasce duma inulher h i de ser urn ente corn figura humana.

Por consegri&ncia, podemos dizer : s6 e considerado Ti- lho quem nasce corn vida e Bgura humana. Se o individuo nasce morco, niIo se considera filho, ainda rnesmo depois da separaqao do ventre niaterno, isto e, ainda depois do nas- cimeoto.

Mas a 2.' parte do artigo 6.fl conlem outro prjncipio. * E~nbora o fecto, o homem din spe*, st n%o tenha ainda

scparddo do ventre materno, embora ele n2o tenba capaci- dade juridioa, no eotanto a lei para cerlos eftitos protegc.0. N3o Ibe atribue capacidade, mas dpenas protect20. Por exampIo: pode fazer-se d o a ~ g o a urn nascituro; institui-lo herdeiro testamentario; quando, nloi rendo o pai, a rnXi ficu gravida, o Estado nbmeia urn lulor ao venire, evidentemrnte para proteger o nascituro.

Quere dizer - o nascituro niIo tern capacidade jurfdiaa : sb a adquire depoio da separa~go do ventre materno. No entanto ( 6 bste o outro prtncipio do art." 6..), ainda lnesmo quando esta no ventre materno, ainda antes de naseer, tie tern a proteccao da lei.

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58-lhl8rpretapBio da partb fino1 do nrttga 6.* do C6dlgo Clvil.

-Faotos e olrcunst~nclas que deterrnlnnrn r medlda da susceptlbllldade de dlreltos o obrlgapdes.

-Coma se adquira r qualidade de cldadao portugu4s; o n~sclmento, o oesamento, a neturallzap80.

-0 que B a naturalizrq80 e quala s8o as oondlgdes exlgidas para a naturalltaqilo do sstrange[ro,

-Dlreltos do naturalizrdo cidadlo por. tugu8s.

-Como se parde a qualidade d r cldadiio portugubs.

-N8turelizagao Indlvldual e neturallzaqao oolsotiva

Na Jltima sessao, interpretamos a primeira park do artipo 6." do c6digo Civil e dissemos que a capacidade ju. ridica ou a susceptibilidade de direitos e obrigacaes da pes- soa singular 56 se adquire pelo nascitnento. E' o qut diz a prirncira parte do artigo 6.'.

Agora vrmos iaterpretar a segunda parte d&sse artigo. NAo abstantr a Iewa da segunda parte dkste artigu e

que C1 certo C quc ela nlo esth em contradi~Po corn a primeira. Pelo facie de dizer que o individuo, pessoa singu- lar, logo que 6 procriedo, fica prottgido pcla lei, nem-por isso se quere dizer que a capacidade juridica surja antes do

nascimento, da separaqao do venire da 1n8i. O que a segun- da parte do arligo sign~fioa, e que ja era easinado oo Digesto, es t i express0 no seguintt aiorismo juridico: tnas- citurlrs pro nalo habetur quotias d e cornmodis ejusagilura,(i) e qut a lei, em cerlas clriunst&ncias, para alguns efeitos, protege o nascituro.

Nao quere diecr qus Ihe d t wpacidade juridica; nEo quere direr que o considere pessoa juridica: quere dieer apenas que o nasciiuro, As vezes, 15 protegido pela Ici E vem a proposito esciarect-10s sbbre o seguinte : a segun- da parle do artipo 6." coottm uma excepFzo, porqae a re- gra geral e que 96 ptlo nascimento st adquire a capasidade juridica ; e, como se lrata d t uma disposi~go exctpaianal, come se trata de beneficios concedidos pela lei, aldumas vezes, ao nascituro, e necasshrio que a lei consagre erpres. samrnte esner bcneficios, t; nectsadrio que a lei exprcasa- rneott diga quandn t i que o nascitnro d protegido psla Iti, e s6 nesses casos t que a le i coucede beneilcios ao nascituro.

Tais sZo os casos do^ artigoa 1479.°, 1776.", 1867.' e 157 " do 06digo Civil.

0 ar1.O 1479.0 diz : o 0 s nuscituros podem adglririr por doacrio, contunto quc estetarn conct.bidos ao frmpo dn mrs- rn~a doaclia, e nascnnr tom vidn.*

Conio v&sm, a lei nessa dirposiqtto co~~crd t qua 0 i t - gislador beneficie o nascituro, isto 0 , o que aindn d o Dan- ccu, com uma llberdade, contanto qur nasp corn ridn.

0 art * 1776.' diz : *Sd podem adquirir por fesf~msnto as criattlms existentts, entre as quais P confado o ern. bndo.

8 ~inico. re pa fa-se e.uisfentc o embrido, 4rze nascs . . . . - .-

(I) 0 niucituro L considerado nascido 16das a t vtzrs qua a t tra- te do* sous inter€sws.-

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innr ~>i l i l r a [iglirn lirrttinwa rr'enfro I /< t r ~ ~ t ~ ~ z t o s tlias, con- ~ u d o s desriti o nrortt (i~r f~stndor.w

0 art.' 1867." : [~Sl io pmibidns os subsfilllii.~~es f idei- run/isst.iria.s tm mnis rtni pralr.

Sbn prsibiiins porn o ftif~/ro as sirbstif1re6es f iu'ei- roirt issn'rios, e.rcepto :

1." Sendo ,feiias por pizi c!r rrttii rros 6 ~ 1 i s ~ f i s ~ ) ( l l ~ i ~ ~ ~ i s , ~ t r r p r ~ ~ f t i f l ~ iios IIP~OS, nnscirii>s all /~ov riusrer;

2." Srnilu .fritas prrr fwor do5 d c s c e ~ ~ ( ~ ~ ' f l f ~ ~ , PM pri- m ~ i r o ..pmrr, ( 1 ~ irr~rdos do tcsftrilar. fl

Uitei h i e artigo porqiie a d i s p s i ~ l n do decrelo 19.129 atnplia, IISO rertringe, o disposlo na redac@o priinitiva. Por conseqliencir, dcvemos ea tender que sgo permiiidas as subslitu'i~6es fideicomiss&rias oum gran, quaodo sao feita~ pelo pai on pela mai em btneficio dos autos nascidos ou por nascer.

0 art. 157.0 diz : eSe, no dentpo da mar$# do tnarido, a mulber ficur grdvitia, fkrd constar dentro de vinla dras? ou Logo que conhegu a gravidez, o seu estudo ao jlriz dos dr-

cornpcrenba, para i p ~ ~ ktt n ~ r ~ ~ e i e curador uo ~crt tre , que t(vne pravisdri~mente con& dys bens qne houvercm de per- tencer uu nnsciluro.

5 d~zico. Esta ruratcla dura sd enquauto durar a ges. fafdo.c

Quc tivesscm da pcrtencer - note se. Ora, todos estes arligos sigilifisarn nu quereln significar

islo : o nascituro n%e t sujeito de direito, nso tern capaci- dade jurldica : masa lei permits liberdade, para a hip6tese d% el% r i r a nascer corn vida on, corno diz o uosso Cbdigo, corn vida e figura humana. Se nascer i o n viJa elligura huma- na, as liberdadcs a80 validas ; se 1130, h como se a libera- lidade n2o tivesse sido feita.

Por conseqi~kncia, dsses benefic'ns da lei s8o evenluais, feitos sempre sob ti condi~ao : se nnscer con1 vidtr e ligtcrtr

huwana, Por i sso , conti~uanlos a afirmar a uossa l t s e : a capacidade j ~ r i ~ l i c a , a personalidade, comega corn o nasci-

q u a d o a lei - e e precisc, que expressaineote o declare - concede beneliciosaor uascilutos, yrlando a lei protege de mo- do especial os nascituros, sS o f d z evealualmenle, corn a condi~Po de eles oascerem con1 vida e fig ura humaua, r- que s6 e n t s ~ t que se tornam sujeitos do direito.

Mas, assim como so corn o nsscimentu, corn a separa- ~ & o do ventre malerun, 6 que sparece a perslinalilade jur i dica, tambem esta st5 corn a rnarte desaparece. U i n indivi- duo nasce : fica pessoa juridica, fica susceptivel de direitos e obriga~aes enquaoto a vida durar, e s6 deixa de o ser cum a morte naiural.

No direito romano podia hsver uma capitis dcmittrat~o, isto e, perda de persooalidade, ainda em vida da ptssca* Hoje, porim, enqunnto dura a vida durn iodividuo, dura a sua personalidade juridica. Na vitkncia do C6digo Civil ainda o iodividuo podia ficar sem poder exercer os seus direitos, quando Hnha cerbas condenac6es capilais ; mas isso fai mo- dificado pels uovissima Keiorma Penal de 1884, que foi de- pois iotroduzida no C6digo I'enal actual, que e de 1886.

E, hoje, repito, so pela rnorte do individuo % que se perdt a personalidade juridica.

Mas o qae lhes acabo de dizer, isto 6, que a persona- lidsde juridica surge corn o nascimento e s6 a c a h corn a nrortq natural, nso e bastanta para 86 aquilatar da suscepli- biIidade de direitos das pessoas singularts.

Regra feral, a pessoa singular, porvirtude do nasci- mento, adquire personalidade juridica.

Qua1 e, porim, a rnedida dessa capacidade 7 Para a delerminarmas, precisamos de saber, pritneiro, a naciona- lidade poiftica (u cidnddrtie !he chamam a s brasil~iraa), e, depois, o sl i t r rs fu;niltae, isto L., o estado civil prbpriamtnte

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dilo, poique lanlo ulna coira comn outra s3o relativas $ capacidade de gbsu ; e, para determinarmos a capacidade de ere:clcio de direitos, o qunntn di. exerclcio de direitos que pude tcr uma pessoa juridica, ainda i preciso atender aos fact03 do domiciiio, da idade, do sexo, h existbocia ou n%o de certas doen~as e a falCncia. E so depois de coahe, czrmos todos tstes ele~nentos, o que varnos fazer neste 611i- rllo rapitulo, 6 que podelnos conctetamenle precisar a sus- ceplibilidade de direitos de cada pessoa juridica, isto e , a medida dos direitos d t cada pessoa.

De rna~~eira que a prinleira das posi~6es do individuo, que te~nus de conhecer, para deter~ninar a sua susceptihili- dade de direitos e obrigaq6es, 6 a posiqBo dele perantt o BstaJo, prrque, corn rfeilo, neln todos os iodividuos, nacio- nais nu rstrangeiros, tCm os mesmos direitos.

Ernbsra o art. 26." do C6digo Civil e o art. 7.' do C6. digo Comercial digarn que os estrangeiros 350 equiparados aos nacionais em direitos e obri ta~6es. tal n8o aconter;c, porque h a desigualdade entre estrangeiros e nacionais. 0 s estrangeiros s%o feridos de certas inoapacidades.

0 s estra~geiros, por vezes, esl%o sujeitos a urn regime de reciprocidade, isto e, o Estado portuguks 96concede, em cartes matirias, aos tstnugeiros, os direitos que o prfs de- les concede aos portugutsss; outras vezes, estlo sujeitos a condl~Ues esptolais para a aqulsi~go de cerlos direilos.

Quere dizer: nHo obstante o que dizem oa arts. 26.* do Cddigo Civil e 7 . O do C6digo Comercial, a verdade C que h i desigualdade de direitos tntre nacionais e estrangeiroe, de- sigualdade a que am refere o art. 17." do CCdigo Civil quc diz :

4 56 os cldadaos partugneses podern gosar plenarnenle dc todos o s dlrdtos, que a lei civil rcconhrcc e assegura*.

Disse, hP pouco, que umas vezes os estrangeiros estIo sujeitm a cerlas incapacidades.

Assim o preceituam os artigos 1966,- e 2492.O: Art, 1 9 6 6 . O : ~ N d o podtm rer teslemunhas, abonadorcs ou irittrpre.

tea, em testamento : I .' 0 s estrongciros: e fc :~ , Art. "492: :

~Ndo podern scr testtmunhas cm ados enfre vlvos aqur las pessoas qrje ndo o po:lcrn ser em actos de dllima veil.

tade, em confirrntdade do or1.O I966,'r.

Portanto, os estrangeiros sap feridos de certas incapa- cidades . n8o podem sar testemunhas nem em testamentos nem em aclos entre vivob.

Outras VCWS, a ~ C I sujeita-os a urn critCrio de recipro. c~dade: d8-lhes dlreitss, na medtda &oa que o E~iado reape. ctivo os concede aos porfugutses.

Vela se, par exemplo, o art 578,O que dlsp6e: *El cqniparado lros a d o r e , porttigucscs o escrrfor es

irangeiru, em crqo pals o autor portrrguls jor equiparuda 00s nacronais. ,

Outrar vtzes, a Lei portuguear mite ooudipgcs aspeciais ao estrangeiro para Ihe conferir ce~tos direitos.

Por ex. 96 podtm ser ooncrdldas terras nas Cul6nias ao rslraageiro, d ~ z urn decreto de 1901, em c o n d i ~ k s diver- sas das exigldas aos cidadsos portugucses. Diz ouiro decreto, de Deemmbro de 1914: s6 pode 8er feitr uma conce~sdo de cnergia eI4ctrica nns col6nias aos ertrangeiros em cond~ttiem direisas das exigidas aos nasionmis. Die, por ex., o Act0 de NavagaMo de Julho de 1863. os estrangtiroa nlIo podem tsr navies ern Portugai nem podem entragar-st a indiistria da pesca.

Por consequCncia, e preciso saber sa o ~odividuo 4 aa- denal ou estrasgeiro, para dttermiaarmos a sua suscsptlbi.

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Ildade d e direitos. E, porque assim e, tcmos de ,caber corns 1 que se adquire e ptrdc a qualtdade de cidadae porlugubs, a cidadisia portuguesa

Hi tres fiictores de aquisiftio da nacionalidade purtu- guesa: naseimento, casamtnto e oaturaliea$lo.

Diz o art. 18.': 'St70 cida&os porfugurses . I.' Os grre nasceirl en? terrttbt-ro portugrs+s de pai

port!tga8s oil LIC rndi' parf i i~uesa sn?do f fhos i legifinos ; 2: 0 s qrie nascem cm ferrifdrin porfllputs de pni

t7sfmngei?o, confanto gur ?st@ rslo esfejn ao serv i~o da srrn na~ i fo . sal1.0 sr declararem, por si , srndo maiores OIL

~nranciptzdos, or6 peios s r u ~ Iegitimos vepresentantes, spnda III~-nores, qrre nnla qlcerem ser portugueses :

3." 0 s f i lkos de pai p o r t u t u b , arnda gut Pste haja srdo rxpulsa do tefrctdrio poftci~ut?s, c os Jilhos ileglfimos de rnni portugueso, nnsrrdas em pals esfrangeiro, que ~.i;vern estahelecer domicilio r ~ a tetrrforio portugl~ts, ou

declarem pol- si , sendo matofes aa ernonclp~dos, ou lrrlos seus legitlrnos representntztcs, sendo menores, que qrlerem set por fugues~s :

4' 0 s que nascem rrn tcrritdrio porfuguPs de pais i ~ r d ~ ~ ~ ~ i f o s ou de nacionaiid~ade desconhecida ;

5 . O 0 s qoe nascem prn ferrltdrdo cstrangciro de pa l portr~fuds, qua ali rcsida ao servrco du f i n ~ d a portrwrresa ;

6." A rn~lher esfmn~re.~rt-a gae rnsa corn cidnddo por- tll~uuds ;

7." 0 s cstrarzgetros netrsralizados. ,Q' I? A declnrrr~Zo rrigida no n.* 2.' serd feita pernnte

a mrmicipalihde dn respecfrvn residincia; e a exigidano n." 3." seru j e i l ~ perntzle os rcspeclivos ageatas consulares portirgrieses 011 perante a comprfenfe elcforidade es tmn- 4'CVlz.

§ 2.9 0 menor, chrgcado d matoridode oa sendo ernan-

Nos cioca primellos nhneras Iraia-se do faclor nasci- nrento como causa d e aqu i s i c~o da nacionalidade portuguesa. No nlirnero sexlo brala-se do factor casamenta: a mulher estrangeira que casa corn cidadlo portuguQs udquire a na. aionalidade portuguesa. No numero si t imo 1rata.se do fac- tor d e aquis i~%o da nacionalidsde portuguesa ehamado na- lurallzo$ira.

Na Iegislasao cornparada h i dois sistemas diversos d e aquisicao da nacionalidade por nascimento; o W e m a do jus sanguinls e o do ]us soil; e, em lerceiro lugar, h l urn sislema ecldtico, mixta do jus sangulnis e do ]us sol/, corn o predornioio ora dutn critkrioora doutro.

E m regra, nos pafses de imigrafilo, paises que preci- sam de aumentar a 8ua popula@a, segue-se o crittrio do jrss sol/ ; nos palses j6 vtlhos, paises de emigra~80, segue-se o crittrio do jus sangulnis. 0 Cfidieo Portugu&s seguiu a sistcma ecletico, mixto do jets sanguinis e do ]us snll, mas deu prefertncia ao jus sol1 sbbre o ]rsr sanguinb

0 art. IS.", nos seus trbs primeiros n,"", segue o mi- terio do jus soli e no 4: e 5.O o do jus sangulnls; mas, se bem aoalisarrnos t s t e artigo, verificamos que predomiaa no nosso sistema ecletico o criterio do jus soll sbbre o do jus sung~inis , porque a ~naior parle dos indivlduos, segundo o citado art., s2o porlugueses porvirtude do nascimtnto na terra portuguesa.

0 n.' '7.' jP fala na naturaIizaqCo. A naturalizagKo t urn acto d e graqa do govtrno, pel0

qua[ o Estado aoncede a nacionalidade portuguesa aocl es- trangeiros que estejam em cerlas condiqtles. Nenhurn es- trangeiro tern o direito a ser cidadao portugu&s: mas o go- vtrno portugu&s pode conceder a estrangeiros o serem cldadgos portuguescs.

0 art.' 19," diz quais # l o as condiq6es a que deve sa- tisfazer o erlrangeiro para ser naturalizado portufuts:

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~0 Gov2mo poderd conceiiercarfa tie ~ ~ n t u r a l i z a ~ i o aos ~ s t r a n g ~ i r o s gue a requeiram nu crirrrara municipat da sun rcsidkncia B pus se encontrem rtas conilig&s se- gurnter :

I." Strem maiores ou hal.idos por nlalorrs, tanto pela lei porfnguese coma peln Iri do .sell pals ;

2.' Poderem granges? saldrios pclo sell trabalho ou tendo oulros meios de subsisfincia ;

3.. Terem residlda tr2s anos, pelo menus em territd- rio portugEs ;

4 . V s t a r e m .ivres de qnolqcier responsubitidadg penal;

5." Teren ramprido as lels do rec~utamcnto miiftar do S ~ U pais.

$ I.' A acsi/raturo da p e f i ~ f i o a que se refere M e artiro fasece tie j~econhecimenfo amte'nfiro.

9' 2." A cundlrd@ 3.' nrio e'exigivel nos desrendenfes de rnngut por fuguk qrie vierem domicllrar-se no Pais, e pode ser dispensadiz ao esirarigeiro, cosado corn mnlher portug~~esa, e dquele qlre i~rzha prestndo on seja [hama- do a prestar d Nn@o algrrrn set v i ~ o relevante, que justi- f iquc a dispertsa.

3 3.' A c o n m 8 o 4.' provla-se p o ~ certiflctrdo do pals do irgdividuo esfrarr,grekro que pretender nafnraiizar-se ci- daddo portliguts, e />or cct iiji'cado do seu registo errmi- nal em Portttgul.

$ 4.' ALlm dos rlocume,zios mencionarios, sd poderzo ser exigidos us gue o forem por trafado o ~ t eonvenyfio en- tru Porfugal e o pais do yu* pretender nntllralizar-se

$ 5." 0 s doc~rm~ntos ndo estarEo sujeitos ds dispo- s l ~ 8 e s da lei d o silo, e poderd o Gov2~no dispensli-los, snbstifuindo-os por inforrnag5cs das estugoks, autoridades ou ftincio~ldrios cornpetenfes.

Algamas desaas condic6es rPo dispensadas,

0 Ier residids em Portugal, por exemplo, 6 condi~ao disptnrada ao descendente de sangus portuguts.

N%o obrtantc o natrrralizado f i ~ a r aendo cidadzo pertu- gu&s, nao fica, contudo, absolularnente equiparado ao naaio- nal dc origem, como dispBs o art. 20.". fa)

TarnbBm se perde a nacianalidade portuguesa nos ler- moo do art. 2 2 . O , por naluralizaqEo, pelo casamento, peIu aceitaqlo de mcrct, oondtcoraqBo ou offcio p6blico do er. trangeiro oem autoriza~ilo do gor&rno portugu4s e pel& cx- pulsPa pw scutcn~a eaquanto durarem us ufeitos desta.

E' a doutrina do art. 22.'. ( z )

(1) Art . 20."0 wtrangeiro naturalizndo n%o podtra erarcer f u n ~ k s ptiblicas de quslquer aatureza, n u ssercer fuuq5es d. &ir*c@o ou Rscalizr~Bo em sociedades ou nulras entidades, depca. denies do Ertado por contraio, cn por E l . subsictiadas, enquanto ago decorccren dsr. anas, pelo msoos, mp6s a data da sua naturrlirac50.

4 Ilnico. Uurante estc memmo prazo o ostrangeiro nrturdizado eslmri sujeite, quanta ?i aquisi~Bo e P O S ~ C db bens, a n mesmas rrmtri- q6es que edstirem para oa estrangtiros~~.

( 9 ) Art. 22.0 aPerde a qualidade de cidadso portugui?r: 1.O 0 que sr naturaliza ern pals artrangeuo. Pode porkm rrou.

perar esma qurlidade, regressando ao reino corn Bnimo de dornici- liar-sa nrle, e declarando-u assim perante a rnunicipalldadc do lu- gar, que elegsr para seu domicilia;

2.O 0 que sem Ircenqa do GovCrno rceitr func6es publicas, graca, pcnsSo ou con4ecoragZo de qualqucr govern* eatrangtiro. Pode cop- iudo rehabilitar-se por graca especial do Ciovtrno;

3.0 0 e ~ p u l s o por senfen~a, cnquanto durarem ot efaitos drria; 4." A mulher portugucs2 g o e casa aom estrragciro, salvo sa &o

for, por tsse iacto, oatural~tada pela l e i do pats de scu marida. Dir- solvido porim o matrim6ni0, pode recupcrar a sua antlga qualidadt de portuguesa, ccmptindo cam o disposto na 2." parte do n.' I ." dtate aitigo.

5 I . a A naturdizacso em pals estrangeiro, de por,aguCs, casado corn porlutucsl, 4x0 implica a p t d a da quaiidadc dc cidadgo portu-

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Mas ainda aqui se verifica que o nosso legislador d tu preferencia a0 ~ r i t i r i o d o j r ~ s soli, e n&o ao de jrrs sangnlnir, pois a mulher qlie casa corn urn cstrangeiro, aquele que rectbeu mercb, crjilde.cora~ao ou oficio publico do estran- geiro, etn suma; aquele quo perdeu a oacioualidnde portu- guesa, pede readyuiri-la voltando a domiciliar-se, a viver em Porlugai.

Boabaram de ver a influencia que tem na susceptibili- dade de direitos e obrigaqses a cidadlnia, a nacionalidade polftica, isto 6, o ser portugubs ou estrangeiro; acabam de vCr quem d por!ugtl&s pel0 nascimenlo, pel0 casamento e pela naturalizaqBo (art, 18.'); anaabam de ver o condiciona- mento prcciso para alguern se naturalitar portuguks (art. 19."): acabam de ver que o naturalizado a30 e absoluta- mente equipaxado em direlos ao portuguts de origem (art. 20.") ; acabam de ver coma It que se perde a nacionalidade portuguesa : por naturaliza~30 no estrangeiro. por aceilar beneficio ou honra do govern0 estrangeiro sem autoriza$&o do govkrno portugu&s, pelo casamento corn estrangeiro e pela expuls30 por s e n t e n ~ a (art. 22.').

A-respeito da naturaIizaf80, o aosso Codigo Civil aceita o critirio da naturalizag%o individual, oposto ao critirio da naturalizag30 colectiva.

Ha legisla~8es em que s6 o naturalizado, ainda que seja casado e tenha filhos perde a qualidade de aidadgo porlugubs, continuando, porem, a lnulher e os filhos corn a

guts, cm rela~io B mulher; salvo se ela dcclarar, que quere sepuir a nac~vualidade de seu marido.

5 2 . O Da mesma forma a natural iza~so em pais estrangeiro de portugu&s, ai~:da que casado com lnulher dc origem cstrangeira, nIo implica a pvrds. da qualida { e de cirlad%o portaguis em relacZo an5

C~lhos menorrs, hav~do , antes da naturalira~Xo; salvo se Sstes depois da maiuridadeo!i ernancipa@o declararem, q u e querern seguir a na. cionalidaie de seu pai*.

nacionalidade portuguesa (naturaliza~80 individual); ao passo que noutras legirlaq6es a naturaliza~Ba do cheie de farnifia faz perder a naciooalidade tanto a mulher cotno aos tilhos menores (naiuraliza~$io colectiva).

Qual e o critirio preferido? Debaixo do ponto de vista familiar. pois qua a unjdade

da familia 6 absolutamenie recomendivel e e inconvenieate para a familia o facto de membros seus pertencerem a vArias nacionalidades, t defensive1 a naturaliza~ao colectiva. hhs a lei portuguesa, porvirtude d e querer dettnder a cidadaoin portuguesa, admitiu o crilerio da naturaliza~3o individual, Por conseqii&ocia, como dissemos, s e urn chefe de familia portugoks se saluraliza estrangeiro, a sua mulher e os filhas menores continuam portugueses.

Na pr6xima ligao, vamos tratra do status facrmiltae, do eskado provenienie da psi$Bo que urn iudividuo tern oa fa- mllia, e jd os STS. verificaram pel0 que a ~ a b o de dizcr o seguinfe :

Ns Direita Romano, o tutus civitatis e o status fuml- liae eram pressuposlos tundameatair para a capef.

Ninguttn t i n h capacidade jurldica. s t a h Ibsse cida- dBa roman0 e se n8o ptrtencesse a wrna familia.

No dirtito moderno nBo 6 atsirri. 0 s t ~ t ' u s crvffatls e o status lamiliac SHQ importanits para se deferminar a mtdi- da d t capacidade de cada indirlduo ; mas os indivIduor, ainda que nio tenham sfutus civifatls, cidadknia portuguesa, e ainda qut nPo tenham o status famlllac, t tm todavia ca- pacidade iuridica, 0 faoto de ser tm portugueses aumenta- lhes a capacidade jurfdiur; a posi~%o na tamilia di-lbes tam- b$m direitos : mas, ainda que n20 tenham status cfvifiatis e status farnlli .e, tbm, nXo obstante, caput, d o pessoas juridicas.

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-Inf[u&ncia do *stetus femlliaea na medlda d o s dlreltos d o indivlduo.

-Conoeito de parentasco.

--Esp4clea de parentesco e cbmpufo dbsfe segando o direlto civil e segundo o di- relto canbnico.

-Natureza juridlca d o dirslto a 0 nome.

-Gonoelto de dornicilio e conceit0 de resl- d8ncla; relapgo entre urn e outro.

-Domicilio voluntario e necessbrio.

-Domiclllo geral e especial.

Depois do status c:vifatis, coma posi~%o que t relevaute em maleria de capacidade luridica, vetn a pasicgo que o indivlduo tern na familla. Conforme tern esla ou aquela posi- @o, muforme i suitelro, casado, divorciado ou v~uvo, pai ou filho, assim varia o quaato dos dire~los de que goza o indr- viduo, Vejamos que assim e,

0 homem casado nao pode al~enar bens imobil~arios sem oatorga da mulher - dtz o art 1I91." do CCtdigo Civil.

r NAo 6 llcito ao murido alienar bens imobilidrlns, aem esfnr em jilizo por causa de ques fh s lit, propriedade, ou posse de hens imobrlldrioc, seln oaforga (in nrttllzer.

# I." E ~ f a o r c f o ~ g ~ poclf set suprzda jrrdicri~ l ~ t ~ e n t e ~ se a mulher a recrrrar sem [usto rrzotrilo, on sp e~ f i ve r irnpos- sibilifarla pnrn n dor.

5 2." As alrenayCes, pordtra, dos bems pr6pr~os feifns

pelo nlirrido, confru -a disposi~riu d b f ~ nrfigo, sd podem ser annlados a requurimentos da mnlhcr ou de seus her- deiros acttando-se o marido constifuido e ! ~ responsnbili- dadc para corn elrz, oa para corn Fles, e nrio tendo oatros bens pelos quais responds.

5 3.' Se as ditas alienapTes forem de bens comms, a mulher, oa os s ~ u s herdeiros, ou us herdeiros lezitirnos do mnrido, poderzo, em iodo o cnso, requerer qua sejam anulados~.

Se o individuo e solteiro e msior, claro quc pode alienar livremente os seus bens ; mas, se 1 casado, ngo pode alienar bens imobiliiirios sem outorga da mulher.

E o artiga 1104.O que diz: * A rnl~lher ~ z l o pod6 privar o mnrido, pur conven~do nnle-rrtpcial, da ndmi~listrug-rZo do5 beas do casal ; inns pode reservar para si o dfrcifo de re~cber, a titfrio de a1 fitzetes, unln parle dos rend? rnentos de serrs Dens, e dispor dela livremenfe, contanto qrte nrio exceda Q tkrcn 110s difos rendimenfos liqaidos ..

A muiber casada tern a direito de ser alimsnlada pelo marido, ainda depois da morte dele. E' o que se chama direifo de apnndgio. Corn efeito, diz o artigu 1231.': p-FJsse quirl j'rtsse o contrato do dissolvido casamerato, o cd~ljugc, g i f , por morfe do o~rtro, st ncher sem mews d~ strbsist2'n- cia, terd diredo a ser alimentado pelos reftdimenfos dos hens deixados p ~ l o fnlecido, sejarn de qrte natureza forem.

5 12111-0. Esta disposipTo n Eu a b r a n p os bens, de qua o ~dnjlige fnlecido tenha sddo mero usufrrsfudrio.

E diz o art. 1784.0 que 4Entende-se por lefftimo a por- @o de bens que o testador n%o pode dispor, por ser aplicada pela lei aos berdei~os em linha recia descendente ou ascen- dente.

5 6nico. Esta porFZo ~oos i s te e m rnetade dor bens do tedador, salvo a disposi~;lo dos artigos 1785.9: 2,°, c 1787.".

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Por conseqiikncia, o ter a posi~zo de pai restringe os direitos.

0 s parentes devern alimentas un5 aos oulros a r t . 171.' Portanto, a posi~%o que o individuo tern na familia, a

qualidade de solteiro, casado, divorciado ou viiro, de pai ou de f~lho, de pareute, intlue na deter~ninaqao da medida dos direiios e obrigaqaes de cada um. A posi~ao dos indi- viduos na farnilia donde ernergem eatados e capacidades i o que se chama o sfalus familine.

Claro 6 , como ja dissemos a.respeito do slafus civitatis, que o status farnlllae n8o 6 fundamental para a susceptibi- lidade de direitos e o obrigaqoes, para a capcidade juridi- ca, mas influe, come vtem, na delerrnina~ao da medida do3 direitos e obrigac6es de cada urn.

Temos, por conseqGBocia, ne'zessidade de saber o que se entende por purenlesco e que especies h i de paren- tesco.

0 parentesco e a relaggo que o individuo tern corn ou- trrs que descendem do tnesmo tronco ou q u e descendem uns dos outros.

H i parenfe~co em linha recta, que 8 o parentesco que existe entre os iodividuos que descendern uns dos outros, e parentesco em linha transversal, que i aquelc que exishe enlre os iodividuos que descendem durn tronco comum.

Urn gratrde parentesco forma o que se chama uma iinha de parentesco e as linhas i que s8o recfas e transver. sais : a linha recta pode ser descendente ou ascendente, conforme a posi~ao de quem conta o parenlesco. Se 8e conta de oima para baixo, diz se linba recta descendente, se se conha de baixo para cima, diz-se l i n h recta ascen- dente.

For exemplo: o neto C parente em linba recta do arb, do pai, do bisavd. Mas tstes grlus de parentesco - filho,

pai, avb, bisavb -co?lstituem uma linha ascendente ou des. cendtnie ?

Conforme a p o s i ~ a o que se tomar : s t se conta do bi- savd para o bisoeto. 1 uma linha recta descendente : se se conta do bisneio para o blsavb, t uma linha recta ascen. daate,

Arb

Isto siio oog6es legais que as Srs. encontram nos arti- gas 1 9 7 3 . O e seguintes que dizern : (4)

Art. 1973.": <lCasda gera~xm forma urn grau, e a sdric dos g ~ i u s coast~tuco quc se chama linha dc parentesco.,.

Art . 1974.": - A liaha dir-st recta uu transvcrsa1; a rectaL consti- tltuida pela rCrie dos grhus cnirc pessona que dcscendem umas d a ~ ou- traa; a transversal e constituida pelz sCrie dosgrius catre psssoar que nao dencendem umas das outran, bcm que procedam de urn progcni- tor ou frvucv cornurn..

AIL. I ' J 7 5 . O : * A liuha recta 6 ou desccudentt ou ascendente: des- cendent~, q ~ ~ a n d o me considera corno partiudo do progenitor para o que dele procede : ascendente, quando sa c o ~ ~ s i d e r a comn partindo do que procede para o progsnitor~~.

Art. 1976.'': cNa linha recta, os fraus coniam-se pelo u 6 m ~ r o de geracaes, evcluinilo o pioienitort..

Art. 1377:: *Na linha traorversal osgrius contam..se pel0 nimero de g e r a ~ 6 e s , subindo por unia das'linhss ao tt,onco, e descendo pela outra, mar rcln coutar o progenitor*.

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Urn individuo tern ilornicilio onde t e ~ n a sua rcsidtncia per maneate.

Ha, todavia, d i fc ren~a sensivel entre darnicfflo p. rrsi- dl/rcia; e pode acontecer, muitas vezes acontece, que o in. dividuo tern residencia numa locaiidade e domiciiio noutra.

Supo~~lrarllos ulll dc instru~so primarlr numa escola de Liiboa que tunha a sua residencia na Ama- dora. Conlo o funciooario pubic0 ten1 domicil~o neccssirro, no lugar onde ererce a sua funcfio publica, @le tera domi- cILio em Lisbua, mas a sua residkncia e, evidenternente, na Aniadora.

De maneira que aquele facto da residencia de que par- tiu o legislador para chegar a relaqa~ juridic;: domicflio nem sempre nos 24 o conceito dtste; acontece cada vez mais isto, sobretudo, tioje, em que ha tamanbas iacilidades de cornuni- cag6es e transporte de pessuas.

Antanho, urn indirirluo era obrigado a residir onde ti- nha o centro da sua actividade. Um funcionirio pliblico tinha que viver ell1 I.isboa, se exercia a sua fuoqho publica em Lisboa. Mas, hoje, as condiq6zs materiais da vida mud* ram; hoje, hB uma facilidade grande de co1nunica~6es; hojr, por meio de aeroplanes, pode-se vir em poucus ruiriuto= do Porto ou de Coimbra a Lisboa, e , coin o decorrer do teinpr, bem podc acoutecer que um funcionario pliblico de Lisboa tenha a sua residencia no Porto, em Coimbra ou e m Aveircl. Hoje, mais que nunca, e precis0 distinguir entre r~sidP/icia e durnicili~v.

1)e maneira que o domicflio sera o lugar onde algudm ererce a sua aclividade -- o centro da sua actividade.

PI legislaqgo cria unla certa rela$& juridica entry o centro de activit-lade de alguPm e o exercicio de certos di- reitos e o cum~~.inientn de c ~ r t a s obrifa.;ass.

N o i o d i g o ( ! i i r i l i ta i iann, que enlro11 en] rigor en: 1 i le julho de 1939, j i se faz distin~go, corno a l i i s no oojse CO-

digo Civil, mas distirrq%o para O eleito do exercicio de di- reitos e do cumprimento de obriga@es, enlre rrsidP~~cla e dornicilio. E, corn rerdade, jP devenl ter verificado, e estdo adora a constalar mais uma vez, que corn o estaiio actual de colnunicaq6es, corn a faciiidade presenle de transportes, e ficil ter-se o ccnlro de actividade num sCtiu diverso da- quele onde se vive, onde se tern a famiiia t o lar.

]'or c'onseqiiCncia, aquela defini~go do artigo 41.0 - domiciiio e o lugar onde o cidadPo tern a sua reridencia permanente - e uma defini~Zo que, m ~ i s do que nunca, prccisa de ser modificada.

Domicilio e o lugar que alguim escolht para centro da sua aclividade: porque n~uilas vezes acootcce que se trnha a revidencia permaoente num sitio e o centro d t actividade noulro.

0 dornicilio - diz e art. 42.' - pode ser roluntirioou necessbrio.

Exemplos de domicillo necessirio estso rekridos pelo C6digo nos arts. 50:, 51.', 52.O, 53.' que nos diztm :

Arl. 50.": a 0 s rnaiores ou U S menorrs emancipajos, quc rervern oa frabalharn habilualmente em casu dc oetrem, term Por dor~zkWo o da prssoa a qucm scrvcm, sr corn c[a habitarem, salvo o que fica disposto nos dols artigos precrdcntesm.

Art. 51 ." : 4 0 s ernprcguduS pdblicos, 4ue #xtrcem os seas cmpregos em lugnr certa, teem dornicilio neccssdrlo. Q domlcllio k deter~nlnado pelrr posse do rtnpr8g0, ou pelo exerciclu das respectilws atribui'fdes,

3 linica. N i o sendo o ernprig0 exercldo em lrrgar crrto, uplicar-st-do as dlsp.wfgdes d? capjtulo antecedente, para dctcrmlnar a dumicilio do empregado~.

A r t . 52.' : *Os nzilifnrrs arrcgimenfudos firrt domiciliu uo i r t ~ ~ o r , omiit, u ~~u'clrpo n qmr prrtencem cstd dt, ~ i i n r a i - ( t o . 0 s militares ni7o arfepinr~rttndos tCm dornicilio rto

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/ @ p r ondr. cstflo dr scrtvico, S P IIBO f i l ~ ~ ~ f l l I I /EIGPI~ f.?fa- belt7rimento oir /tlornda pPrnlnnentP; p o r q t ~ , rrissp C ~ S L ) ,

a f serd o st:u domicilio. $ dr~iio. U s maritimos i-otn pmca na arnrndn fir11 do-

mil-ilio em Lisboa. Us q~re prtrfe/rit.r~m rl tn/lilln(&o de r~avios de comircio, o1c de bnrcos rosteiros, i$m domirilio nas por~oa~&s a ylrt, pertt7rtcfni os difos fravros ofr bnrros, st: por orrtrn cttusa or70 ttlverrm (iolomirilio diferenfen+

Art. 53": ~ 0 s corriiE/inii'os a prisnb, desi2rru oil rfr- grgrlo tt;m por domicilin o l l gar on& esfrEo ctimpr~ndo a pena i~rrposrn; exrrpio fro qrre respeifa its obriga~6es con- traidas autes LID dallto, em relucrio (is quais 1-onserrnm o antigo rkomiriiio, se porvesfirra o tiaham.

9 7'" Os reus candenados, paquanfo :~nb foram trnns- fertdos para n lugar ondt: Izuictrerern dc ct~mprir a pena, terdo por domirilio o luynr onde sc arliarerrt retidos,

2' A ~tlrrlher, e us jillzos do rondcnado n degt2d0, que o acu/rzpanharanz pirra o lugnr do rgnzprim~nfo da pentl, 1 6 o tgm por dornicilio o do rnarido edopai , mas o seu prdprio, em co~lfornzidnde das rtTras esfabelecrdas nos artigos an fecedtm fes *.

0 domicilio volunlirio e o que depeode da residlncia q ~ t cada urn escolhe segundo a sell arbllrio Domicflio necer- sirlo C o qut deptodt do exercicio de certas profissOes ou de ctrtas o~upagbes a yue a l t l atribue domlcllio tixo.

A~nda o domicilio pode ser geral e partxular ou ospe- cia1 mmo nos preceitua o artigo 46.0 qut diz:

*Or cidadEos poderri t:stipiilar domicilio parficular, para o cumpr~nz~tzto de ar'tos detern~iilados, qcre n lei niio h n ~ a sujt>ito a certo domirilio, fuzeado-o pnr docunzrmfo arriintico @a autt>/rfirndo ; ririo podetrr, p o r h , driuar r s f n escoliza n nrilrfrto lie otrtrem.

$ u'nico. Faleeen do al.pim dus esltpuie/ttes, n convert-

riin conserrfa O P PCUS efeitos, em relncEo aos herdeiros, n i o terzdo ltnvillo decEnrngl7o e ~ n conirar iu 1).

aotnicilio geral C., pois, aquele qua o ~ i d a d a o tern para o exercicio dos stus direilos e para m cumprimeu!o das suas obriga~fies, na geoeralidade dos casos. Domicilia particular ou especial 6 o que o cidadao escolhe para o cumprimtnto de certos actos Por e x . : eu taco urn contralo de forneci- mento corn unl comerciante e iaqo txarar na escritura que as questfies emergentes dCste contrato s8o derimidas na comarca de Lisboa. Escolhi urn domicilio tspeoial ou parti- cular.

Quere dizer . os direilos e obriga~6es resultantes da- quele contrato, ae porvtntura fdrern discutidos, ss houver diferendo sbbre elrs, a a q a o hi-de s r r proprsta na comarca de Li~boa , na comarca escolhida. islo k , para o txer- cicio daqutits direitos e para o cumprimento daquths obri- gag6es, eu escolhi urn domicfIio especial.

0 domiciiio especial - diz a mesmo artiyo - deve ser estipulado por documenlo autCntico ou autez~ticado.

Isso t tm dado e continun n dar origem a muitas discus- s8es. Por exemplo, na apilict de urn seguro a cotnpaohia seguradon costurna estabelecer numa clausula o seguinte: upara as questaes emergcntcs dtste cootrato sera compe- tenle o domicilio, em regra, a sede da companhia~f.

Xlas a ap611ce P urn documento auteniico? Nao. Pode- ria fixar se poi aquela cldusula a cornpetencia durn carto tribunal, utn certo domicllio pariicular ? Eniendo que nZo. Todavia, uma graade corrente de jurisprudencia tern enten- dido que sim,

Corn relapa:, ao domicflio volun~ario, 1evantam.se muitas quest8cs, mas yuast6es de iacil sslu~%a. No entanto, a pri. rneira quest30 que surge ao espirita de todos n6s i esia : urn individuo pode tet ulna casa na Figueira da Fox, por ex., para passar o verPo e viver no reslo do tempo em Lis-

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boa Quando isso se der, quando o individuo tiver virias resid&noias, onde e que tern o seu domicilio?

Di-lo o art. 43 : 0 Se o cidnddo iiccr ~l'ivevsri? rcsi- dLncia8, unrle vlvn alternadamrnfp, st.rd ira~vdo /lor do- miciliado maqr~ela ntzdl~ se ai-har, fxcepfo Y F fiver d f c h mdo perante a acsj~cct~va crirnaru munic~pol, qcre jmferc algxma delas*.

Se nPo Liver declarado nada na resptctrvn cimara, en- 120 a individuo sup6e se domiciliado naquela residtncia em que esliver no momento dado.

Eu quero pFopor uma aeciio contra urn indidduo na- quelas coadl~6as. E m regra, normalmente, o jufzo compt- tente e o do dorn~cil~o do reu. Mas tstc tem varias iesldtn- cia*. EntIo, eu ponho a dcgHo no 131lzo da residtncia, em que Clc estirer no rnomento em quc cu quero propor a a c ~ a o - a nlo ser qu t t l e tenha faito a declara~Io em contririo,

Outra questgo i a que resulta da leitura do art 44.", que diz :-

C O crdaddo pod? mudnr, y!m!lrio //rr apronilPr, o sell dornrciko, rnnn~ fe s f~mdo o jarto rln frrlnsrfrlncllz peranfe as c&~iarns nzu/licipals dos cuncclhos, rlotrd~. e pnrn o ~ , d r s r rnuda.

# lincio. Esin comi~nzcn@o pruCEIIz1r[! U P wus pft!fos, des& qrle o transjertJnte tl17er ~ s f a b c l e ~ i d ~ ~ II sua tnom- da no concrlhu indicndu por tYfk.rn.

O individuo pode mudar de dornicil~n; pnde Ir daqui para o Pbrto, por ex,. Lendo desprencupadamante o art. 44.", partce que para s e mudar de domicilio se tern do fazer a respectiva declara~go na cimara do lugar donde se saiu e na dm lugar para ondc s e vai. Partce que ngo pode baver mudan~a de domicilio sem que faqa aquela decIarac%o. No entanto, nlIo e assim.

Qualyuer dos senhores saiu da sua terra e veio para Lisboa afim de estudar. Se s8o de maiorkdade adquirirarn

domicilio em Lieboa, indepeodeatemente de qualquer decIa- rac%o nas respeativas cmbm$ras.

Portanlo, pelo art. 4 4 . O deve-se entender que a decla- raqSo e conveniente, mas nZo obrigatbria.

Outra quest30 : Por vazes, as leis do domicilio neeesstirio estBo em

cenflito umas cam as outras. Por ex. : urn menor B militar ou marioheiro. Onde e que &le tern o domicilio?

0 art. 47." diz que o rnenor l e d o domicilio do pai ou da m8i. 0 ar t . 52" diz que &le tern domicilio no regimenlo.

Este conflito resolve-se dando preferencia a regra do art. 47.", visto que contim urn principio mais generico do que a regra do art. 52.O. E, ainda, em virtude do elemento sistematico de interpretacilo. O art. 50.' nIo se refere aos menores ; refere-se aos maiores ou menores emancipados. U legislador, no art. 50.", quis que os maiores e os meoores emancipados tivessem o domicilio do patrao s quis qve os menores n3o emancipados tivessem o domicilio do pai ou da mHi. Igual r a a o faz corn que 116s demos ao militar arregi- mentado, ao marinheiro celn praCa na armada, quando fbr menou tambim, o domicilio do pai ou da m8i.

Como a prectito mais geral es t i em contradiqio corn o preceito menos gendrico. aplica-se o preceite geral.

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-Espb~les de aus8ncia : ausenoia presumida, ausBncia daclarada e au- sencia que d& a presuncEio da morte do Busante.

--InstituYgoes correspondentes a cads uma destas espbcies de auslancin : ouradoria provis6rla, curadoria de- finitiva e entrega definitiva dos bens e partilha d8stes pelos herdelros do ausente.

-Quem pode requerer a curadoria provisbria ?

-Quem dsve ser nomeads curador provlabrlo?

- 0 s dlreitos e deveres do curedor provisbrio.

-Quem pode requerer a curadoria definltlva ?

-Quem deve ser nomeado aurador definifivo 3

- 0 s direftos a os deveres d o oura- dor definitivo.

-0 terrno da curadoria definiliva.

--0 direlto do ausente sdbre og seus bens se regressar dapols do term0 da curadorla deflnltlva.

Intiinameate relscionadu corn o conceilo de do;t~i~t i io estd o de uirs2nc;a, que lambem 6 factor relevante para se deterntinar a medida da cap~cidade de exercfcio de direitos.

H i urn conceito vulgar e um conceito t6cnico - juridice dt ausPncia.

No conceito vulgar, ausencia e a fulia dc preseliga, a n d ~ - p f ~ s b n p a . NO aonceito ftcnico- jurfdico, a dtfini~lo de auskncia e-nos dada pela artigo 55.' do C6digo Civil que diz :

*Se qi~~rlguer pessoa desaparacer do Irizar do seu do- itzicilio 011 residhcia, sern q r c p rlela sl* saiba parfe, r nde I to~~vrv iicixladu proiura~r'or, ott yrrelli l ega ln ie~ l t~ adrninis- fre seas hefts, r se j.6r ~z~crssdr io ~ P O L ~ C ~ a ?SIC laspeifo, suv-[he-d dndo corndor pclo j a k c o n p e f e n f ~ .

5 1." E' compctectr para Psse e,feito o jniz (to domi- cilia cIO arrsente.

$ 2." 0 q a e ficn disposfo no pnvdgrernfo nntt.cedente, nAo obsfurli tis providi~icias conservnbni.ias yrrs se forna- rem iniiispsrisdveis em qualqaer outra parfe, oride o UII-

senL fenka hens.. Por conseqii&ncia, soma se verifica da 1 . 9 a r t e do

art. 55.", nastncia no sentido tecnico.juridico i a falla de presenca de alguim no lugar do seu domicilio sem dele se saber noticia.

No entanto, quero adverti-10s de que muitas vezts no C6digo Civil se emprega a palavra aus2ncia para significar simplesmente nPo-preseo~a, no sentido vulgar : por ax. , no 8 linico do artigo 1.117.' t no art. 1.189.*,

A r t . 11 17.'. S dnico : - . .A nrziflzer so'pode ad~nitzistra? par conse/rtir~zento riu n~nrido, ou no seu impedimrofu or4 nrrsc:ltl:L'n*.

. irk. 1189."..4 admir~isfrngdo rle todos os b ~ n s rin casai p~rtcnce no mnrido, c sd p~rtemcr d /7?1il/rer rrll fnlta orr I L O i/~zpt.rlimrento dpie 0 .

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Neste ultimo artigo, /'a[fn sigrrifica .fnlta de presengrr' u i ~ s P ~ r c i c ~ fprn selltido vuikrrrr.

E noulros pontos do Cddigo Civil st ernprega a pala- vra aushtcia no seutido vulgar, o que n5o quere dizer que n8o haja no Chdido o em>r&go da yalavra nustkcia tam- bem, ouiras vezes, no seotido tdcnica.juridico, cumo siini- ficando a faita de prcseoqa sem do ausente se saber noticia.

Na auskncia ha varios periodos e, conformt a duraqLo da austncia, assiin desta resultam presunG6es diversas.

Quaodo a ausencia e de ha pouco tempo, dela resulta uma presun~no de que o iodividuo n%o esta no seu domici- liu pur ter acontecido a morle dele.

Quando a auskncia se prolonga por mais de quatro ou dez anos, resulla outra presuncgo: O ausente saiu ; oBo deu mais nuticias ; esta ha quatro ou dez anos auseutt ; d de presumir ja corn rnais probabilidade que tenha rnorrido,

Quaodu a auskocia se prolougue pur mais de vinte anos uu o ausente teoha Leito j i noventa e cinco anos de idade, e n t h resulta outra presuo@o mais firtne da morle do au- senle.

Ternos, assim, trks periodos de auskncia, que podemor denomioar de ~ u s t ? ~ c i a ptes~tnidcr (a que vai ate quatro ou dez anos), de aust?/rcia &claralia (que vai ale aos viote anus de ausencia ou quando o ausente lenha noveota e cinco anos tie idade) e de p r ~ s u n ~ a o dn moric (que e a llltiwa presunqso, que resnlta duma aus&ocia ~nuito prolosgada).

Ora, a estes Ires periodos de auskncia correspondem tres insbituic;6ts processuais : a auskncia presumida cor- responae a curar!orio plropisbria, B sus@ucia declarada a caradorin dt.firziiiva e a presuut%o da ~liorte a etlfrega de bens c a pnriillia h s mzusnzos 61if1.t' o.? t ~ ~ r i f ~ i r o s .

Pdra que pusia tlavzr lugar a curadoria provisbria - diz o art . 55," - s I o preclsos quail-o requesitos : 1 .*, que algueni se ;iuseille do seu domicilia ; 2.", qut nau hzja parte

uu noticia dele; 3.', que oBo tenba deixado procu~.ador ou representante legal : 4.*, que tenba deixado bens que oeces- sitem administraqsu.

Coino e bell1 de ver, cada urna deslas instiiuiq6cs - curadoria provisdria, curadoria defiaitiva e entrega dos beas aus herdeiros - tern slla finalidade ; a cada uma destas ins. tituiqdes correspuode seu i n t e r h e a defender.

A ' curadoria provishria corresponde o intertsse de de- fender os bens do proprio ausente ; a curadoria provis6ria visa apenas a defcsa do intertsse do ausente.

Corn n curadoria defii~itiva, porem. n%o procuxa a lei shmente defender os intere?~es do ausenle ; como j i d bas- bantt provavel que CLe tenhn ~ n o r ~ i d o , quere tambein acau- telar os inberCsses dils herdeiros. Na partilha Jos bens, en- t ~ o , ji sc procura apenss defender os interesses das her- deiros.

Para a instala~ao &a curadorla provisoria ja virnos que sgo precisos quatro rcquesitos. Esses requesitos corn a no. .@o que demos de ausEncia n3o erigem grandes conside- raQks.

Nito basta que a l g d m saia do iugar du seu domicilio para passear ou para gaahar a vida : e precis0 que saia e nzu se saiba noticia dele, que saia e nunca mais niofutrn saiba dele. I f a s , como nesta curadoria pruvisbria se pretcn- de acauielar, cmaxime e , os inter&sses do ausenle, para que se iostale a curirduria provis6ria 6 necessario tambdm que o auseote nZo tenha deixade p:-ocurador nenl quem legal. menle o represenbe, porque, se Sle dcixou procurador vtllun- tiriameate constituido ou urn rcpresei~tante legal, isto e, paj, mai, tutor ou cnrador, ent%u n3o h i curadorla provisSria plrquz ji est i acauteleda por m ~ i o de procuracao ou de re! presenla~ao legal 2 adminislra~30 d ~ s bens do ausente.

011e1n pode requerer a cu~ii.jo!ia pr-uvisiir~a? L)i-lo o art. 56 ": ~SrTil /~uht.is pnru rc'grrurri. a weml.io-

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rzndn nrra[/orin, o rtli,iisl~:rio p l ib l i~o, e J C I I J O S I I ~ E Y I E S q ~ t . tta/l/!u~!l intcf@ssf, nrr ru/~ss~-vnyrio iiil s 6 ~ ' f l s i h U L I S P / Z t f u .

Qualido i que se pode reqoerer Y Logo que se d& a au- sencia, no dia seguinte, ou oiin dias depois de urn individuo se ausentar sem deixar noticias, sen: haver dele nuticia, o Ministirio Pljblico pode requerer a curadoria provisoria, - 0 h,linistirio Publico ou quem tiver i n t e r h e na conserva- CEO dos bens do ausente-os herdeiros oil qualquer pessoa,

Mas pode haver muito.: Ilerdeircis o u muilas pessoas que benhanl &sie interksse. sendo assin], quem sa r i no- meado curador p~svisbrio ?

Di-lo o art. 57.' : [ N n t~st-oli7v L i t3 ~ ~ ~ r n d o r , dclrd o jlriz prrferr'ririn nos hrrdciros prrsrlrnirios f r , tiir l'nifir ilc'stes, nos T a p ~ r n i o r i11fcrt:sse fruhnrn /In r.anscrl>nfho dos bens do nusen feu.

Mas, a regra geral e esla, sera escolbldo para curador provisirrio o mais iddneo.

Ha muitas herdeiros do ausente. Deferiu-se a curado- ria provisoria. 0 ourador provis6rio e s o urn. Qua1 dSles se ra? Pur parentesco ? $30 todus parentcs no mesrno griu e na mesma ordem, por hip6tese. Entao sera norneado cura. dor prorisbr~o o n ~ a i s idhneo.

Quais 580 os direitos da curador provis6rio 7 Vejamos os artidos 58.". 59." f 0 . O e 61.": Art, 55." : ,! 0 carndar tzcllnrndo ueci:berd pov iti~'e?!ti-

ylliJo dr, iinr a r ~ i ~ dos hms iir~obilitirios. 5 unico. S'P (7 i*r~rai!o~ ni~rnvaiio nrio pnder prestar a

sohrt~ditn i~izlac.iLo, o j n i ? f o rd cafi.f;:rr~ar f r i ~ drprisifo 0.5

Art, 59.' *Os /~odi,rrs r?u i ~ u n d o r pro~rrsdrlo /irr~rlam- -se nos actos dt, lttcra ndmlinrstrapio, [in qua1 dara contas a n u n l ~ / l m f f : ma7 L? &fo lurndor dtve propor C I I I ~ I z I - LO as nyiies rori~&r~wfn'rins, rjrri ndo possnm refaninr s~ cenz prejiiizo do a l i w r ~ f ~ ; P i, aajFjtz dissn, rornprfer~fe para rr- presentat o mi7qino ausente em qunrsqller acp7lr, que contra .?le f oretrr intentadus n.

Art. 60 ' : N S P f i r nacesskno intenfar-rr ai,or*m plertu ra~ztm nasrnfc, qut. ndo tt7nha rrzr~dor ou quem lu.gaI- m ~ n t e o represt~att., ser-lilt d nonrenga curador. esprciral, qlrr a ii~jr~nn'a no (irto pleifon.

Art. 61 ': * O cur ado^. prol.isdrro haverA cir~ro ror cer~io dn rerrifa iiquldn qut' renlzear~.

Todos &stes artigos declararu quais $30 os poderes, os d~rei los a que corresponde~n deveres do curador provisorlo: tern de receber os b*os por illventhrio: tern de prestar cau- ~ $ 0 ; tern poderes d.e mesa administra~fio; poderd prrrpor ac@es conservatdnas: representa o ausente em acq6es con tra ele propostas; e tern 5 O', da receita Iiquida que r tx - lizar.

Mas a curadoria provis6ria termina voivido certo tempo de austncia, porque, aumen ta~dn o periodo de auseucia, comeca a ser outra a presunqao Nos prirneirof tempos de auseucia, ja ss conhece que o ausente es t i fora do reu do- rnicilio, Inas alnda se conserr1 a esperanqa de que regres- s a r i ; h i s6, por consequtncia, que acautelar a a d m ~ n ~ s t r a - ~ 8 0 dos bens do ausente. hlas, aumentando o periodo de ausbnuin, comeca a gcrar-se a presun~ao da quc o ausente nZo voltari, de qoe houve desastre na sua existCnci3, que morreu Enigo, aparece a necess~dade de acautelar tambim es interbsses dos herde~ros.

Quando 6 que ss sai duma presuq%o para entrar na outra ') Por oniras palavras : quaado t que termina a cura- doria provisbria ?

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niz-nos o art. 63.' : u,-4 curniiorin pra~,isiirin brminn : 1." P d a l ~n i fa rio nrisentrp, oa pela cprfezn da srra

fsisfdr~cia : 2 . V 1 h ccut?1,pnrh~cia di.1 procnrador bns.'arrfe, 011 d~

apssoa qrri' f e~~lrrazn t i~ rr /~reser~fe o u u s ~ f l f e : 3 . T ~ c l n ct-rbzn (la mortc! &I nusuntc; 4 " Prvlo instnla~:iTv :frr ctirarloria fl~,firrifivn*. E ' precis0 n0t;l.r que n lo h ~ s t a o simples facio do re-

g r e s s ~ ou da volta do ausenfe ou d~ certeza da sue existen- cia. Quando iii certeza de que o auseote existe. n%o termina .lipso facto. a ouradoria provisbria. 0 jttiz tern de fazer no- tificar o aus-nte de que os seus bens estPo em curadoria provisriria e Ple tern cie requerw a enlrega dos bens. s6 depois e que terminir a curadoria provisoria,

Nas, no ultimo caso do ari, 63.0, se a curadoria provi. soria, a que corresponde a austncia, durar por mais de qua- Iro anos, cntHo passa-st: da curadoria provi56ria para a cura doria definit iv~ - a nso ser que o ausente tenha deirado procurador, porque eiitCo s6 ao fiw de dez anos de auskncia e que s e detere ao ptdidn de curadoria definilira.

H i no entanto urn caso que na vigtncia do IXdigo Civil nHo ern contemplado, mas que agora ua vigencia do decreto nb0 19 126 o i. Ap6s i r k s a':.,ls de a~ls&ncia, podem os her- deiros pcdir cau~Uo ao procl~r-ador deixado pel0 ausente. Se porveotura o procurador n8o prestar c a u ~ a o , pade,se ant20 requerer a curadoria provis~jria, que durar i a i i aos dcz anos d e aussncia. h curadoria prnvisbria s6 exisle quando nEo existe procurador eu quem legalmente rtpreseote o ausente.

Eutso, pode.se deferir, logo depois da aushc ia , 1 cura- doria provisoria, e quatro anos depois da curadaria proviso- ria pode ser pedida a curadoria definitiva Mas, s e o ausente d e i ~ o u procurader ou quem legalmente o reprtsente, nBo ha curadoria ptovisoria e s6 re defere A ouradoria detinitien ao fim de dez anos de ausenaia.

Se, poretri, diz o d e ~ r e t o n " 19.126, o ausente deivou procurador e t s s t procurador aa Ltrn d e tr&s anos, sendo-lhe exigida cau@o, n2o a prestou, pode deferlr s e , a-pesar d e haver procurador, a curadoria prrvisbria e esla durar i a t e ao frm do periodo de dez allos de ausensia. E' o que d ~ z o 5 1 " do art. 64.". *Os herdeiros podergo corltalio reqae- m., passadvs trgs n ~ ~ o s , nos t~rrnos sohredi fo~, 4rre opro - cufarfor prcsfe c.nncda saficiente, se ocorrer ]usto ~.cceio d~ insolv&ncin; r , qunndo iste n n8o possa on nZo querra prestcrr, jrdgar-se 80 rassado'os u s sercs pad~res r .

Ao fim de quatro auos d t curadoria provierbria passa-se para a definitiva e, entgo, a curadoria defiuiliva ld n8o 6 dcferida a urn s6 curador,

Na curadoria definitiva ha tanlas curadores quantos sao os herdeiros presumiveis.

Quem poderi requerer a curadorla deiinitiva ?

Art. 64.' : ~Decorridos quatro anos depois do dia em que de~apareceu o ausente, sem d&Le haver noticias, ou da data d a s liltimas noticia3 que dele houve, poderso seus her- deiros, pressumidos ao tempo da austncia ou das Liltimas noticias, quer sejam ltgitimos, suer insiituidos em lesta- meoto, ou, s e Lalecidos forem, as seus represelttantes, justi, ficada a ausdncia c o a assist$ncia do Ministerio PLiblico, requerer a enlrega dos bens do mesmo ausente, exrepto se tiver deixado procuraqgo bastanle; ~ lbs te caso, s6 poderao requerer a dita entrega passados dez anos desde o dia em que desaparecer o dito auseoie, ou houver as liltiluas noti- cias dele 18,

5 1," 1 0 s herdeiros poderlu contlido requerer, passado t r t s anos, nos terrnos sobredikos, que o procurador preste cau@o suficieote, s e ocorrer justo receio de insolvbncia ; e, quando &ste a n%o possa ou nio queira prsstar, julgar-se-30 cassados 0s seus poderes*,

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$ 2," . Ex!ioto o ~nanilalo, nos tennos do parigraio pre- ccdente ou por qualquer outra causa, seriio os bens subme- lidos ao regime (la curadoria provisbria, nos termos do ar- tigo 5 5 . O e seguintes, at6 co~npietar o prazo de dez anos a que se refere Oste artigo, salvo o disposto no artigo 63 .00 .

Compare-se o texlo actual deste a~ t igo corn o que t l e t inha antes do dec. 19.126.

Hoje, podem requerer a curadoria definitiva todos oa berdeiros legititnos ou testamentarios C, ate, os represeatan- tes dos herdeiros fatecidos ao passo que na vidtncia pura do Cadigo Clivll 56 podiam requerer a curadoria definitiva e s hcrdeiros lepitimos e 08 iostituldos em testamento pdblico, e nunca os representantes dos herdeiros falecidon nem 0 s

h~rde i ros innlitufdos e m tes!amtnbos ctrrados. A curadoria delinitiva pode ser requerida s6 per urn

hzrdeiro, apesar d t , por hipbfese, haver mais. Ntsse caso, o herdciro requertnte, contanio que justifique a sua qualidade de herdeiro, 15 parte legitima para requerer a curadoria deti- nitiva, in,lito e m b ~ r a . depois, a ouradoria seja deferida a todos os herdsiros.

Ot curadores definilivos ticam corn os direitos que es t io consigaados nos artigos 71.' e seguintel.

Art. 7 1 . ' - ~ 0 s curadores definitivos podern e r i g i r a cn- t rega ds lodos us brns, ., extrcer i'odos os direftos que per- tenciirm ao ausente a f i ao d i n enz que desaparcccu, ou mtl d data lias dl t lmas noticius d ~ l e . ~

Art. 72."--*0s bens e direitos qne eventua[in,nle ~ o b r c - viernrn ao ausorte! d i d : que desapureceu, srlrr di'lc haver n ~ t l c i u s , 011 dcsde r! da ta dns dl t irnds que d d e houve, t 4116 sejum depenlentes .la condigdo da sua erist&cla, passorn aqueicls quc t c r i a n d i r t l t o a succssiio, se Cle f , ssr fulccldo.

5 1." Nestc cilso, os c e r a d o r ~ s definItivos ou. rra slca fcrlla, o rninisf&r;o pdb[lco, sd t rsm o d i re l to de requer f r ,

qrie tn is Oanr sej rm rnvenfa, iados, e q n aq~relrs que ref1 verefn orc arrecadarern os d i t i ~ s ben: presten ca~zfao sujicl- ente, que s6 d i l ra rd pel I e r p q o de duz arios, con l~ . l os i c ~ d g q:le 0s ddos be/za l l lr advreram.

5 2," 0 dl re f lo do uusente a estes ben> sd se xfingse eft1 conjorrnrdade as rcgru:, ge-als d l p r scr ipdo, mis aqucles yice os houverrrn mrrrcai fado fardo seu>, em c,so de r ~ > t l t u ; j i i ~ ~ , os j r u t ~ s p ~ r c e b ~ d o s nlio I~avendo rnd fP.r

Art. 73.' -aOsc uradores dcJ i~~ i t i vos e dcmars interfa- fa i ios Jar t o sun, s a i v ~ o disposfo no a r t i go prrcedorle, rfes e o d l a dl1 e n t r q a dils r ~ n j i r n e n t o s d&tes, aporecendn o auspntc ou .8[ i t rob hfrdelros denlro de trez ~dnos, conladus desde 0 liu do de5aparecrm~nlo do ntesmu ouscnt , ou du , dU data das ulfcmas noficf i , r qut. d r l e horcver ; s ap rrecendo dentro do prazo dc dez anos a v i n l ~ , j a rdo srru nzetude. Passados 03 v i d e anos fa rdo seus toclus os rendlmmtas..

k t . 7 4 ' - n o s r~iracr'orer d f - f i n~ f i r osp o t k m p e d r con- t as aas r ic raOore~p ro~usdr ios, tzdo o f t ,nl lo srdo 2les rnesmo5, ou n8o us drfas confn? sido p r e s f ~ d n s d r v i d a m e l z f ~ ; podettt slim rz'lsso, receher us f 'rutos z r end im~n fos , qrie pxisfrrprn da anferlor ad rn in t s t r a~do , e demarfdirr e spr -en~n!~r i r rdos co no i eg r r r z~s / ~ r ~ r J ~ / r o ~ I ~ J alzs ' I I ~ P .

Art 75.'- 0 s curadores def~nidrvos nrfo si7o obrigrr- dos a d a r contas rlu s l la n . l t ~ ~ i n ~ s t r a i ~ ~ o , exrepto no aurenie nu aos herdewus, SE outros se / ~ a b ~ l ~ t a r c r t z .

Art. 76."- 0 0 0 cizrndores rlufinifr~.os ado podem a i i r - nar os bens irnoDrlrarros, encepto re lie otitro modo s t n8o prtder sol~9er q u a l q u e ~ dit lrda do ausente, g~.rtnr a aetrora- gJfl ~o r r r ina JP a lg t~ rnu propnedade, ~r lsteclr as brmferto- r ias n ~ r e s s d r i a s o n riteis u'f que cartcem us hslls d o mesmro ansente, ou ucorri7r a otr t rn u r q t n t c n e ~ e s s l ~ i n d ~ .

uu~co - Nestcr rrrsns ~ r e ~ ~ e i ~ ~ r 6 t ~ ~ ~ f o r i z o j . u o do j ~ ~ i z o comnprfe~fr, e sera a vends f r l t a p rn hnsfrr pdb i l i a , ~ o n r a ssistirrcra do rnrnrsterlo p l i h l ~ r o .

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Como vtam, di?stes ;.rtigos constam os direitos doe cura- dores definirivns. Ja n8o sgo sri direitos de mera adn~iiiistra- @o, como tioha o curador provis6rio ; sPo direitos mais lar- gos T&m direito rje fazer seus parte dos rendi~nenlns; tCm direito de alrenar em certas condi~6es. Tern direitos mais vastos do que os direitos do curador provis6rio mas n3o 530

todos os direitos sbbre os bcns do ausente con10 podia depre- ender-se do artigo 71.'

O proprietario, por ex., tern o podcr de alienar. TerA tsse direito o curador definilivo? 0 artigo 71." parece diztr que s i m ; mas, se o cornpararx-os com os artigos 72.0, 73.', 75,", 76.". teremos de concluir que ago-

O artigo 76.O diz que o curador deiinitivo n8o !)ode die- nar bens in~obilrarius como ja dissemos fazem seus cerlos rendimentos dos bens do ausente : at6 dez anos de ausencia recebem 25"/.; de dez a vinte anos, metade ; passados mais de vinte anos, todos os beos (art.' 73.').

!,Is curadores definilivos receberso lodos os b ~ n s do ausente ?

O art.' 71." diz : todos. M3s o art,' 72.' estabelece uma limita~?lo a disposiq2m consignada no art.' 71.". 0 ausente, no nom men to da austncia, tem certos bens, mas, depeis desta pode ter adquirido bens por heraoqa. (Ira, estes bens qlre eslfio dependentes da sua condi~%o de existencia, oao pas- sam para os curadores det~nitivos, que sBo os herdeiros presurnidoe ; paFsam, sim, para os que DS herdariam, se, porventura, o ausente ialecesse no momcnto en] que come. qou a ausbncia. E' o que diz hoje, claramenle, o arl." 72.', rnodificado pelo dec, I I . ~ 19.126, e o que tarnbem dizia na rcdrc~8u primitiva. aquele artigrr, i h a s de mndu confuso. U Ilrtr (suceder fhe) da rsdacqso primiOva poderia dar a enten- der que Cs.es bens aiuda ficavarrl para us herdeiros do au- sente, que s8o os curadores definit~vos. H o j ~ , porent, tal ]a

n3o se pode entender, porque sticcder-lhe foi subslilufdo prir f rsnm dlrr i to a ruieasaa. ( I )

Mas, se esta awencia declarada ainda se prolonga, comrca a gerar se UI:M oulra presl111~Ao - a presuoqlo 56-

lida d;i morte do ausente Na ausencia declarada ha a presun~ao rnais provivcl

de que o auPenle deixou de existir; mas, se a ausQncia se prolonga POT mais de 20 anos ou para ale111 do dia ern que o ausente fez 95 anos de idade, ~ n t a o a presunC3o que se est~belec? 6 a pre.sun$%os6lida e firme d e que o ausente jP oBo existe : e u t h ter~nina ;i curadoria definiliva e sBo cha- mados a partilhar os bens do ausente os sells herdeiros. NBo os partilham conto curadorcs. mas sim como herdeiros: fazem seus, inteiramente seus, os readimentos, e podcm alienar livremente todos os bens do ausente. Isto k : tern lertno a curadoria deiinitiva.

0s casos em que a cured( ria defio~tiva tem termo $30 os seguintes :

Art." 78.' - # A curadoria defin~tiva lerrnina : 1.O Pela volta do ausente; 2 Pela noticia da sua cxist2ncla ; 3." Pela celteza da sua morte; 4.. Pelo lapsa de vinte anos ; 5." Contando o ausenke 95 anos de idade. 5 linico. - <No caso do n ' 2," os curadores definitiros

sera0 coasilerados cono pruvis6rios, emquanro nao corn- parecer o auaente, ou quein legaimate o represente.

Basta atedm dkstes fenomenus para que lermine a cu- radoria definitiva.

No caso especial de o curador defiaiiivo ser urn R Iho maiur ou ernancipado, n art. 91.0 di-lhe privilegios em reiaqao aus outros herdeirgs os qllais privilegios consistem

( 1 Rcdac~Lo prlm~tva do art. 72. .

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em fazer seus todos os'reodirnenlos dos beos do pai auspole e a poder alreoa.los depois de 10 aoos de aus&ucla.

h z o art , 91.". *Se os j'ilhos ,forur/l n~niorrs ou seemutt- ctparrm, poderda tor/znt eor~flr dos berzs qae Iltes (.onbe rcm, c adminrstrd los coma sclrs, niin porlendo todavta nlrend-ios cenno pussados l i e ulzos cottfnrJos desde o dilm do drsuparccr:nento do ~austwtd, au dn data das Jltzrnus n o f k i a ~ qei? r t c i ~ honver, snivo nos cusos ~spcc~f icartos e tros ferrnos prt~szritos rio nrfi,vil 76.' e spir ,)\:

5 inlco. C s Oeas sujeitos o perpeer o s n deprecrnr-st=, E oq rlr d~qpenciiostr canstw.nfdo pod~nz scr ulit,nnnfos pot csfir cuusa antt-s do prnza i ,~t~~lc~ortado, prec~denao auto- riznj.i?n judrciul. 0 ptpco d.u ver~du sera' cm/)regado pro- rIutivam errti,.

r'ortanto, se o ausente tem l~lhos ~naiores ou emancr pados, ogo e preclso que decorratn vinte anos para que tles possatn alteoar os bens d u ausente ; bdstain apeoat dez anos decorridos. Ao paEso que o curador deflnittvo que nao fur f~lho nlaior ou etndnclpado so ao fttu de 20 acos e que re cebe os bens para os poder altenar - e recebendo 5 6 entgo, como herdeiro, pois ate ai tern os beos como curador deb- nit~vo.

Aioda depols de os beos serem enlregueb aos herdeiros, volvidus viute anos de ausbncid ou oorenta e cinco de tdade do auseule, quaodu os herdeiros s3o chan~ados a partilhar os beos como herdeiros, e nfo como curad~~res definillvos, quando os herdelros j6 I&m poder de al~enar os beos, pode o auseate aparecer : ent80, que aiontece ?

Diz u art. 94.' : *&gtcssando o attser te, passado o prt7zo assrnado no nttiqo PI.', sd yodetu recrlperur as bens q f l e ~ f e c f i v i ~ t ~ ~ r t ~ f a exiqfrremt nrnnfa cnz podtr ile scirs filkos, e os sllbrogados, olr compnidos coltl a jlrrra dos alrenndns .

Porianto, regreusando o ausenie, &ste recebe ss bens que existirem (n20, os que tiverem sido alieoados, porque tsses foram alieoados por quem os podia alienar) ; recebe tambkm os bens subroeados em lugar dos que deixou, os bens que os herdeiros obtiveram corn o pre~c> dos bens alie- nados ; e pede receher lalnbe~n o p r & p dos bens alienado6 ainda lliio gasto pelos herdeiros.

Estamos, assim, chegados ao l i m do estudo da austocia.

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39---InfluBncia d o sexa na medida da ca- pacidade dos cidadaos.

- Dia-a-dia se caminha para a igualda- de de dlreilos entre o s indtvlduos de ambos o s sexos.

incapaci ' ades da mulher na vip4ncia primitrva d o Codigo Civil.

lncapacldadea da mulher segundo a legislap20 civil actual.

- lncapaddades d o s menores.

-EspBcies de incapacidade d o s meno- res . Modos de supriniento desta in- capacidads.

-A maioridade e a ernanclpap&o.

-1ncapacidade d o dernenle. Quelifica- qBo desta incapacidade.

IncapaciJade d o surdo-mudo e s u a qualificacao.

-1ncapacldade d o prbdlgo e sua qua- lificaglo.

-- lncapacidade do acidenta!mente pri- vado da razao e sua quallficap80,

-Incapaoidade do condenado.

-1ncapacidade do falido.

Outra circuastincia que tambem i t ~ l t u e na medida dos d~reitos dos cidadfios 14 D ssxo. ]a k ulna circunst&ncia me-

no5 relevante do qus o sfalus c iv i la t is 8 o sfatus fonzilinc, mas, ain,la assim, irnporta conhecer a influbncia que o seru tern na medida dos direitos.

H i um principio do C6digo Uivil, consignado no art.' 7.', que did que a lei civil i igual para lodos, sem distinfZo de sexos:

* A lei civil t igual para todos, e nKo faz distin~Bo dc pessoas, oem de sexo, salvo nos casos que forem especial- mente declarados.

Mas essa disposiqSa do art. 7 . O t uma regra geral, que admite excepqier, excep~aes que hvje s%o menores do que eram no direito romano, no direito medieval e napr6pria v i . gtncia primitiva do C6digo Civil.

NHo obslante, ha excepO?ies que irnporta coabecer. Na vigtncia primitiva do C6diga Civil, as mulherea nil0

podiam fazer parle das iust i tui~6es pupilares e quasi-pupi- [ares ; $6 excepcionalmentc i que podiam ser lutores.

Diz o art. 200." : IIA tutela legftima pcrlenae aos paren. tes do rnenor na ordem segwiate :

1.' Aa avb paterno ; 2.* Ao avb materno ; 3.' Aos demais ascet~de~ites em linha reata, preferindo

sempre e palerno em igualdade de grau ; 4.' Aos irmgos varaes, sendo preferidos 05 germanos

aos coassngulneos, esies aoauterinos e, em cada uma destas classas, os detnaior idade;

5.' Aos irrnlos do pai ou da mii , preferindo sempre de linha paterna, excepto stndo menos id6nrcos. Ern igual- dade de circunstiincias, preferirio mais velbo.

NSo podlam ser vogais do conselho de tamflia. Diz o art. 207.0: *O consejbo de farnilla compBe-se de

cinco parentes mais prbximos do menor, resideutes danlro dos limites da jurimdi~ho do juiz de inventhrio, trbs da linha

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patarpa e dois da matctrmal, preferindo os mais velllos, em ipualdadc dc grau,

5 1 . 9 6 nao houver parentes sengo de uma das linhas, os outros vogilis serlo nomaados dentre os amigos dos pais do menor, corn a diterenqa de quo, nestc caso, ainda que esia linha seja a maternal subministrara trCs rogais.

5 3." A nulidade, resultante da inobservhncia do que fica disposlo nesle artigo, pode ser sanada pelos tribunais, se nXo intervier dolo, ou nio bouver prejuizo dos meneres.

NBo podiam scr testernunhas nem testrmentdrias nem ern in~trumentos p~blicos inter vivos, COIIIO se depende, re<pzcrivamtote, dos arts 1.966," e 2.492.".

.4rt 1966,. ; . N ~ o podem ser testemuohas em testa- mento :

1 .' Os eslrangeiros ; 2.. As mulherrs ; 3,' 0 s que n!4o estiverem em seu juizo ; 4.' 0 s menores ngo emrncipa~lo~ ; 5.' Os surdos, os mudos, os cegos, e os que a80 enten-

derem a ltngua em que Ibr escrite o teslamento, sendoyplibli- co,ou o auto de aprova~ao, seodo o testamento cerrado ;

6." 0s tilhos, a os amanueoscs do tabclilo, que tscre. ver ou aprorar o le4tamento ;

7.. 0 s dccl4rados por senten~a iocapazes de sercm tesbamunhas instrumentirias.

5 6nico. A idmde legal para ser lestemunba em testa- mento, ou am nprova~30 dele, cumpre It la oa coirjuntura em q u t i kilo o di!o tellamento ou aprova@on.

Art. 2492.0 ~ N r o podem ser leslernunhas em aclos en. tre vivos aquelas pessoas que n%o o podem ser em actos d e 61tima vontade, em co~iformillade do artigo 1966.'.

NSo podiam ser procuradores em jufzo:

Art. 1354.5Nao podem ser procuradores em juizo: 1.' 0 s uenores uao ernancipados ; 2.' As mulheres, excepto ero causa prbpria, ou de.seus

ascendentes e descendentes, ou de seu marido, achando-ee lstes impedidos ;

3." 0s juizes em exercicio, deutro dos limites da sua jurisdi~ao ;

4 0 s escrivaes e oliciais de justi~a nos respectivos julgador, excepto em causa pr6pria :

5.O 0s mag~slrados do ministtrio pliblico, em t4da:e qualquor causa em que possam intervir de oficio dtntro dos limites de seus respectiros distritos;

6." 0 s que tiverem sido ioibidos, por sentenqz, de pro. aurar em juizo ou de exercer ~ficio pliblico;

7." 0s ascendentas, desceodentes ou irmlos do julgador; 8 . O 0s desceodentes contra os ascendcntes, e vise-versa,

excepto em causa propria.. N3o podiam ser hadores -arts. 819." e 820.". Art. 819: .Podem afianqar todos os que podem cootra-

tar, excepto as mulheres, oSo sendo c~,merciaotes~~.

Art. 820." qE' vilida, porkm, a fianqa prestada por mu- Iheres, ainda que nao sejanr coruerciantes ;

1." No Gas0 de fiaava de dote para casamento; 2.' Se houverem procedido corn dolo em prejuizo do.

crkdor ; 3.' St houverem recebido do devedor a coisa, ou quan-

tia sbbre que recai a f i a n ~ a ; 4 . O Se se obrigarem por coisa que Ihes pertenca, ou

em favor dos seus a#cendente~ ou descendenles,.

NAo podiam exercer o~agistraluras; nBo p~diam ser notirios, cooservadores, delegados, juIzes, n2o tiuhaui direi- tos politicos : niio linbam direitos pliblicos.

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nepois da irnplautaqao da Rephblica e , sobrekudo, em 1918 e 1919, em que sop~ou ulna rajada de feminisiuo na nossa legislaq20, -era ministro da Justica o sr. dr. Alberta Os6rio de Castro, irinao de ulna feminista, D. Ana de Castro Osbrio, - aparecsrarn u n y tantos decretos a permitir que a mulher fb-se notaria, c~nservadora do regislo civil, advo. gada.

Pelo decreto n." 19.126 permitiu-se a mnlber ser teste- rnunha e liadora.

0 decreto n.' 1 de 25 de ~ e z e m b r o de 1910 permitiu- -1hes estar em juizo sem autorizacBo do marido; pubiicar as suas obras sem autoriza~go do marido; deixar de acompa- ohar o marido para o estrangeira ou para as colbnirs.

Em suma, urna sbrie de medidas, depois de 1910 e- designadamente em 1918 e 1919, dimin1.i~ as excepq6ea do art, 70.' do C6digo Civil; mas, nlo obstanje, ainda sr~hsls- tern algurnas desigualdades provenientes do sexo.

Assim, a idade marital para a mulher t aos 16 anos e para o hoo~em e aos 18 ; a mulher nuoca pode privar o ma- rido da adrniuis'tra@to dos bens do casal, nem por eacritura ante-oupcial; a mulher ago ten) direitos politicos, nao tern direi os de v o ~ o ; a multier ainda nao pode ser delegada do ministtrio publico nem juiz-

Algnmas destas desigualdades oso poderu stribuir-se P diftrenfa de sexos. Como ja lhes disse mais d t uma vez, s8o atributveis unidade que tern de exisllr na famllia, onde hem d t haver urn chete, que e o marido, em virtude da sua expiribncia da vidd.

Em suma, estas desigualdades provenientes do rexo ou existem por causa da unidade da Lamilia ou para evitar divergkncias politicas na familia, ou par causa da pr6priil natureza (a mulher esla fisiologicamente apta para o casa. mento em idade diferenle da do var%o, como vimos). Hi, porem, njnda un~a deaigualjade qut pode ser bem atribuf-

vel A antiga opiniso de que a muIher k urn ser fraco, de que o homem C superior a mulher: i a deslgualdade que proibe h tr~ulher aer magistrado no ministkrio piiblico ou magistrado judicial. Porque e que a muiher, ao contrdrio do homem, nao pode ser juix ou delegado 1 Porque i que o homem b$-de podei- julgar mulheres e a mulher nHo ha-de poder julgnr os bomrns? Isno e ulna desigualdade, para qua 96 h6 esta ex- pltcaq80 : a rnulher 4 urn ser fraco, o ho~ntm C um ser do- tado de um vigor inletectual superior ao da rnulher.

Uma oulra circunstaocia que influe na rnedida dos di- reltos e a idade.

I? sabido que h i menoridade e rnaioridade, Atinge-se a maioridade aos 21 anos. S6 quando se atinge

a maioridade e que se atinge a capacidade de exercicio de direitos

Antes da lnaioridade I.se menor. Enquanto se e menor e silo emaacipado n%o se tern a capacidade de exercicio de dlreitos.

Corn efeilo, diz o art,' 98.': ~ O S menores sBo iocapa- zes de exercer direitos ciuis, e os seus aetas e contratos nao podem constitui-10s em obrigaqao juridical ralvo nos casos expressamente exceptuados na lei..

Art." 99.": ~ 0 3 contralos celebrados ilegitirnamtote pelos meoores, oHo podem todavia ser irnpugnados ptlos oulros estipulaotes, corn o Iuodameoto da incapacidade do menor..

Art." 100.": * A incapaeidade dos menores t suprida pelo peder paternal, e na falta dkste, pela tutela..

Por conseqG&cia, or menores sZio in~apazes, os seus actos n2o os obrigam.

Mas a incapncidade dos menores d suprida pelo pitrio poder, na falta de pdtrio poder pela tulela.

A regra e a capacidade; a excepggo, a iocaparidade,

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mas tambim h i excepc6es a excep~so, que iazem que e m certos casos o manor tenha capacidade.

HA caws em que o menor pratica actos que o rsspon- sebiliza:n, de que rerullam obrigaqaes para tic.

POP ex., o art." 1,764 diz: aE' proibido testar: 1." Aos qne n%o tsliverem em seu perfeito juizo ; 2." Aos condenados, nos termos du artigo 355.": 3." Aos menores d t aatorze anos de urn e outro sexo; 4." A's religiosas professas, enqi~anto se 080 seculari.

zarsm, ou as suas comuoidades 1180 forem suprimidas ; 5 dnico. 0s cegos, e os q u e n8o podem ou ogo sabem

ler, 080 podetn testar em trstatnento cerrado.1~ Quere dizer I o menor de 21 anou, mas maior de 14,

pode fazer testameuto. E' uma excepFBa ao artigo 9 8 . O , que pae o menor de 15 anos em relacao ao testamento na rngra de capacidade j uridioa.

0 art. 599.O diz : 1 0 s acros praticados pelo menor sem a devida autoriea~so s%o nuios, salvoo disposto nos artigos 1058." e 1059.'' mas nIo poderh o dito rnenor valer se desta nulidade nos casos seguintes :

1." Nas obritaqGes, que liver contraldo sbbre coisas dc arte ou profissao em que seja perito.

5 2." Se tiver uladode dolo para s t fazer passar por maior .

5 6nioo. . A simples declara@o, ou inculca de rnaiori- dade, ou de emancipa~80, n8o e suficia~ite para, neste caso, caracttrizar Q dolo.

0 s actos do meoor nao conslitueln obriga~ko ; mas, se o menor pralicou urn acto juriclico em rnatlria de profisslr? em que ble seja perito ou se praticou do10 para se fazer passar por maior, cntao e obrigado par Csse acto juridico que praticou.

0 art. 1334." diz : 4 9s nuth heres cdsadas, e os Inenores

nao emancipados podem ser mandatfirios, salvo o disposto no artigo 1354."; mas o mandante s6 tar6 ac~go contra o meoor au contra a mulhsr casadu, em canformidadt das re. gras gerais que reguiam a rrsponsabilidade dos aclos destas psssoas, excepto se o mandato, sendo escrito, tiver sida au- torizadc pele maride, pai au tutor do mandatirio.

Que aspicic de lncspacidade t que rtsuita da menori- dade ? E' a inc~pacidade de exercisio ou a incapacidade da gbso 7

Jb dissemos, sern que:er, qub i a incapacidade de extr- clcio. Mas aem sempra C a ineapacidade de exrrctcio. Quan do a incapacidade do menar & supridu, nos termos do a r t ' 100.*, pelo pilirio pader ou pela tuttla, entao trata-se de in- crpaaidmde de exercfcio.

Mas, quando o menor nlIo pedc fazer suprir r rua iaca- pacidadt ntm pel0 pai nem palo tutor, enfPo trata-se de in- capacidads de gbzo,

0 menor nzo pode contratar ? O pai contrata p ~ r t l t : na falto do pa i , a mEi; na falta de ambos, o tutor. E' uma iucapacidade d t exercfcio.

Mar o menor de 14 an@# ago podc testar, e nZo pods suprir essa sua incapacidade nem pelo pai, aem pula tnEi, nem pel0 tutor, porque qualquer destes nBo pade fazer tes- tamento par t le . Por consaqiiCncia, trata-se, nest6 ceso, d t ulna incapacidade de gbzo.

A regra C eatr : quando a incapacidads do meoor pode ser suprida pelo pai, pela rnZi ou ptlo tutor, a incapacidade t s6 de exsrcicio.

Quando, porem, a incapacidade do rneoor nPo pode a t r suprida, a in~apacidade C de gbzo.

Em regra, a incapacidade e de exercicio. 56 eru casms exaepcionais, raros, e quc a incapacidade C de gbzo.

Ora, a nulidade representaots da incapacidade de exer'

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0 s pr6dipos sao atectados de urn hibiio que as leva a desbaratar os seus b tns patrirnoniais; por conseguinte a lei inlerdita-0s.

Diz o art.O 314O. *SerSa intarditos do exercicio de seus drreitos os menlecaptos, e lodos aqueles que, pel0 estado anormal de suaa faculdades rnentais, se rnostrarcm incapazes d e gsvernar suas pessoas e seus bens

~ n i o o . Esia jnterdi~ao pode aplic-ir,se a rnaieres, ou a menores. contanto que, neste ~il t imo caso, seja requerida deniro do ano pr6ximo a maioridade.~l

~ s t s artigo 314.0 i, utoa disposiqao com pouca preclsgo cientifica.

Na dcmkazia h i muitas modalidades, Hi uns demen- les que tern uma incapacidade geral para adminislrar a sua pessoa e bsns, e h i outros que tern urna incapacidade par, cial, e o ariigo 314n rnistura os e confunde-os a todos.

Mas Csse artigo teve nova redaygo, que Lhe foi dada pelo dec. o,* 19,126, o decreto reformador do Codigo Civil, e hoje ja a s aoisas s e passam de rnodo direrso, H ~ j e j l lemos uina d ispos i~ao geral rnais de harmonia corn os easi- nalnentos da cibncia.

Diz agora este srtigo : *Sera0 interditns do exercicin dns seus direil~lr os man-

tecaptos e todos aqueles que, pelo estado anorma! das suas Iaouldades mentais, se eucontrarem incapazes d e governar suas pessoas e seus bens.

5 1," Se o indivfduo, em virtude de eofermidades meo- h i s ou [raqueza de espirito, s e mostrar apenas incapaz de ~ ~ r a t i c a r delerrninados actos, poderi igualmente ser interdito, li3nltando-se, porim, a interdiqao aqueles actes. A extensti0 e os limites desla tutela s e d o especificados na sentenga d e io terdiggo.

5 2 . q s t a s in terdi~aes podem aplicar-se a rnaiores ou

a Inenores, contar~do que, neste liltimo caso, sejam reque- ridar dentro de um ano prbximo i maioridadel..

IIoje, como vkem, ji :i d a m h c i a , conforme a sua mo- dalidade, poderi s e t causa de inttrdig3o geral ou de inter- dic%o parcial.

A interdiqao faz-se por urn process0 chamado d e inter- diqgo, e sti por senlenFa 6 que urna Dessoa 6 declarada in- terdita ; e , depois d e iuterd~ta. n%o pode praiicar actos ne nhuns daqueles para que tern incapacidade. porvirtude d a interdi~go. Mas, nlo obstante, antes da inierdiflo pode ser anulado urn acto praticado por tlnl interdito, quando t l e s e ja realmente demente, sem uso da raz80, e sendo a sua demencia uothria da pessoa com quem cootratou. E' o que diz a art. 335.. ;

~ 0 s actos e coutratos celebrados pelo in~erdito antes da senteoCa, s6 padem ser auulados, provando s e que a esse tempo jd existia e era notirria a causa da Interdi~Zo, ou era conhecida do oulro estipulante.

5 linico. * 0s actos e contratoy, celebrados pelo demente que nunca chegou a ser interditado, so podem anular-se co caso de caso de se provar que, na data e m que eles foram celel-ridos, existia a era notorio, ou conhecido da ouira par- te, o estado de demCncia~. .

Repito : depois da iolerdi~3u, o interdito n lo pode pra- ticar uenhum acto dos que astao abragidos na esfera de irr t e rd i~go , - e o que me chatna a in terdi~ao judicial : mas, antes da sentenqa d e interdiC30, pode let praticado urn acto, o qua1 3 6 sere aoulado s e pralicado sern o uso da razao e sendo &sse estado conhecido da parte com quem contratou,

Que espicio de nulidade 6 a que ~esu l t a da pratica d e um acto leila por urn interdito ? Kulidade relativa,

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0 inierdito, coruo ~ a b e ~ n , t e ~ n incapacidede de exercicio ; a incapacidade dc ere1 cicio corresponde nulidade relativa. Um intcrdito e suprido na sua interdi~ao pel0 tutor, o que logo b e ~ n ~nosira que a iricapacidade que o fere C a incapacidade de exercicio, visto que a l iu im por ele pode praticar os ac- tos yue Cle por si n io pode. Parecia, por um lado, que a nulidadt resultante da demCncia devia ser uma nulidade absoluta, pois que o demente nZo tern enteligtncia e falta- Ihe t a ~ n b i m a vontade A vontade t elemeuto essencialdos actos juridicos, que nos contratos toma a forma dc 1n6tuo colrsenso ; e, quando falta urn elemeato necessarin dos ne- gicios juridicos, ha uma nulidade absoluta. Isto, por um lado. Mas, por outro lado, a incapncidade do interdilo, come lhes d i s s t e de exercicio, e a incapacidade de exercicio corresponde nulidadt relativa.

Na teenica do nosso Cbdigo, realmente, a nulidade do arto praticado pelo demente e uma nulidade relativa, tat como a nulidade do acto praticado pelo menor - o que mais se cou l i rm~ peIa Ieitura do art. 688.' do Codido Civil, que diz :

fl A awnlo de rsscisiTo por irtcapacidadc prczscrrve, con- tm os Inrapazt.~, pvlo lapso ar I-inco at?.os, os qimis P i n - cipiizrn a corztar st. :

I.* No cnso de itrcapnririncle POP mt,noridad~, desdc 0 din crrr: yue o i,/capaz thegn a tnaioridade orr se flrfnnri;la.

2.' No caso d~ irzcapizcidad~ por interdb~rio, desde 0

&a en1 q u f . d a cessa.. Como sabtm, a nulidade relativa s6 s t pode dtduzir

duraate urn certo period0 ou prazo, neste caso 5 auos; su- p6t-BB suprida'quando n8e i alegada no pram estabelesido. Por conseqriCucia, n%o haver ddrida dc quo cstarnos em face duma nulidade rclativa.

0 nesmo .lcontece quaoto aos prbdigos. Art. 340." : *As;~essoas mniwr5 on .-~rtan~-ipatlns, qlie,

/lor srlu hrr bitltul /~rorii.~~aliiJizdi., st. rriostrartni ilrcapar ES

iit n(itr~ini.sfrur 0.7 ser~s brn5, pode7r.iTo srr intfrclifos do ndmiriisfm[Gtr <:os rfitirs batrs, scndo c.nsalins or1 exisfinilo herdeiros fc.k4f inrririos.

5 dnico. Ficnra ao p~.~tCIet~ft' izrliitrio do ju fz 01-aiiar ct ~~j'orrr~e 0.7 circa/rstlinrias, se os firctns yir r sc rrlegaram sao nrz 11 AO S I I ficier~les parn ca~arferizar n prodignlidade~.

A def ini~ao de ~radigrrlidade 6 dificil de dar - lantc, que o nosso C6digo Civil deixa a aprecia~ao desta qualtdadc ao prudente arbitrio do juiz.

N2o obsiante, podemos defini-la o esfado habil~;rrl de rrrnu /lesson para ndminisfrur ma1 o seu po.frirrrd!/io.

A inlerdicio por prodigalidada s6 pod* ter lugar re fbr maior ou e l~anc ip rdo Iporque se fbr mtnor nl[o tern a admi- n is t ra~ao dos bens), se o pr6digo tiver pntrimdnia por admi- nisirar (porque, s t n io tivtr, n io hA neaussidade de a c r u , telsr ksse patrim6nio) t ss a prtdigo fbr casado ou tivor herdeiros leg~timarios, (porque, se 1340 fbr casado e u8o tiver herdtiros legitimarios, nLo sm pode fazer uma inlcrdic?i~ pur prodigalidade).

Na vigencia do Codigo Civll s6 podia s s r declarado prodigo quern tivesse herdairos legitirnarios, legltimos.

Vejam a difereaqa. Utn individuo tinha filhoe-os filhos s8o herdeiros LefitimBrios. Mas filhes naturmis, perfilhadas, n%o erau filbos icgitiruos. Niio podla, pois, barer prodigall- dads. Mas, boja, logo que tenha bcrdairos Icgitimarios, led[- timos, uu 1130, ern virtude de ulna nothvcl a l t e ra~80 iulrodu- zida no C6digo pel0 dec. 19.126, pode havtr a dociara~ae dc prodigalidade.

Art. 34O.hAs ptssoas malores ou eman~ipadaa, q u t , pot sua habitual prodigaiidade, se mostrarem incapazes de admiuijtrar os seus bens, podergo ser interditas da admi-

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nistra~ao dos ditos hens, sendo casadas ou existindo herdei- ros legitirnar~or,

3 dnico. Ficara ao pruderite arbitrio do jlilz avaliar, con- tarme as circunslincias, se us [acros alegados sZo ou nPo suficientes pard clracierLzar a prodigalidaden-

Tambim as surdos-mudos tern uma interdiplo. 0s actos p t a t ~ c a d o ~ pelos surdos-mudos dentro da es.

fera da sua interdi~gu sHo viciados da nulidade relativa. Aiern dos surdos mudos s8o feridas de iniapacidade 05

que acidentemente estlo privi~das da razao. A estes s e refe- re o artigo 353.9, que diz :

aOs aclos e coulratos, celebrados put pessoas que aci- dentalmente se acharein privadas, ao tempo deles, de faze. rcm UBO da sua razZo, por algu~n acesso de delirio, embria- gu&s ou outra oausa semelhante, poderio ser rescindidos, se, dentro dos dez dias imediatos ao seu reslabelecitnento, es- sas pessoas protestarem perante algum tabeliao, Ita prestnga de duas leatemuohas, e inientarem a ac&o cotrlpetente den- tro dos vinte dias seguintes.

5 uoico, Esta acqiio s6 podcra aproveitar aos herdeiros d a s pessoas mencionadas, Lalecendo elas sem recobrarem a razgo, ou antes qoe hajam decorrido dez dias em que de- vem protestar, contauto, porem, que sejr proposta dentro dos vinte dial subseqiientes ao falecimento~.

Por exemplo (e isto 6 frequeute) urn bkbado foi indu- zido por gma pessoa que estava no uso da sua razlo a fazer a venda do urn prddio.

Esle contralo pode ser anulado, se, no prazo de dez dias depois qae Ihe passoil a etnhriaguts, o babado fbr fazcr urn protealo junto 40 nolario, perante tes~emunhas e se, depois, no prazo de vinte dias posleriores, propbs a respectiva acqHo.

. Tarnb6m s%o circunstflncias que influem n a medida da

capacidade de exercliio de dirtitos a corrdena~rio e a fu- ltncia.

(1 condenado perde houras, condecoracdes, funqilo p6. blica ou empregos, porvirtude da cnndenac8o (artigos 66.' e 67.. do C6digo Penal).

t) falido, porvirtude da Ial&ncia, fics inhabil de adrni- nigtrar os sens hens, inhabilidade que t suprida pelo admi- tradar da massa fatida [Cbdigo Comercial e C6digo de Pro- cesso Civil). Ternos. assim, cheiado ao fim do estudo das circunslancias ou factores que iniiuem na medida dos direilus dos cida- dgos,

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40 - - A realidade jurldlca das pes soaa aolectivhs.

-0plnldes contrarias b dm realida- d e jurldica das pessoas colecti. v a s : teerla negrtivlsts, teoria da f i 0~%0.

- ~ b s i g n e q ~ o qua preferimos para a pessoa jurldlca,

- Elemsntos conoiitutivos da pessoa colectiva.

-Classificaqao d a s pessoas colec- tivrs.

-0 princlpio da especlrlidade das pessoas colectivas.

Vamos iniciar a ultima li$o da nossa cadsira. Como estava prometido, vamos falar das pessoas co-

leclivas. 0 assunto i rasto; e a te muito intare~sante ; ebriga a

especula$ao de ordem filosdfica, mas n6s pomos de partt tudo isso, puryue, em poucos rninutos, dl10 se pode dizer muito. Vamos dizer s6 o bastante para ficarem corn urna idea do q u t s8e pessoas colectivas, que erpecies d e pessoas colectivas ba, quais sSo os elementos da constitui~Zo de uma pessoa colectiva e qua1 a capacidade de uma pessoa colectiva. Depois, desenvolvtrao aotu a leitura de esorilores essas n o ~ 6 e s gerais, iofelizmenle, tPo concisas, que eu lhcs vou dar hojc.

A propasito das pessoms colectivas, a prinlaira quest20 yut surge, Ibgicameate, t es ta : sera0 rs pessoas colectivas

utua realidade uu utua fil;qZo! Cot110 podetlius chetar ao conceito de pessoas colectivas? Sabem que os realistas, coma Duguit, negam a exist&ncia das pessoas coleclivas e outras h i que dizem: a pessoa colectiva e uma fic~go. Eu, portm, afirrno que as pessoas coIec+ivas sEo uma realidade juridica.

No Direito h i uma ciencia e h i uma ticuica, A ci&ocia diz-nos quais sgo os factos, a iicrlica mostrahnos, ensina-nos quais s lo or n~elhores meios de realizar o Direito que nos e revelado pela ai&ncia ou pelas fontts reais do D~reito.

Peis a cidncia do direito diz-nos, sem sombra de ddvida, que h a inlerbsses colectivos a-par.de interesses individuais ; ha intertsses ooleotivos quc tlZo podelnos redtlzir a intertsses indivlduais. Como a pessoa jurldica singular e urn processo tdcnico teito para tutelar os interbsses individuais, tambem a pessoa eoleotiva ou juridica tem d e ser urn prucesso 14- cnico para tulelar os interdsses coleclivos. Mag, se h i iote- i-&sses cole~tivov que n8o podem raduzir-se a s~mples inle- resses individuais, tern sucessivamente tambem de haver pesssas colectivn~,

Pade dizer-se em replica qoe, sendo a pessoa colectiva um processo tecaico e padendo n6s acautelar os interbsses colectlves por outro meio tecriioo, ehegamos e m Jltima ana- Lise a conclusao que a pessoa colectiv~ ngo e d e admitir.

Mas ngo e assim. 0 processo tecnico e uma abstracgzo nos conceilos, nas ciassifica~iJes, nas categorias, na Lermi nologia. Tudo isso s8o abstracqoes.

Ora a pessoa colectiva ci urna absiracgao, tal qua1 a pessoa fisica ou individual.

N6s, porque ternos necessidade de criar urn suporte dCsse interbsse individual, fieemos nascer a pessoa jurirjica individual : ~n poriy , porque trlnoj ntuessidade dc deiender 0 tutelar o iuterksse aolec~ivo, Eazemos nascer a pessea

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aolectiva, por abstracq50, pur abstracqlo juridica, que e sern d~ivida nenhuma urn dos processos da tecnica juridica.

M;s a replica ainda fica de p i : s t podemos aoautelar &sse i n t e r h e sem criar a pessoa colectiva, como Duguit por ex., podemos muito betn pbr tie parte &ste institute,

Nlo 6 assim. No conjunto dos procesaos tecnieos d t quo se serve o Direito devc haver coerencia E, s e defini- mas uma reiacgo juridica como nma relaggo da vida dor hemens em sociedadc, protegida pela Direito; ae dissemos que em tdda a re la~Bo jurldica h i elementoa qne surgem, a priori, nn pr6pria rela$Bo juridica, sem 03 quais n8o po- demos conceber a idea d e relaqllo juridiaa, elementos qua s i o : os sujeiios, o objecto, e Iacto juridico e a garantia- jcoruo C que prelendemos criat nma rtlagBo jurldica, qua tern por fiin urn in t e~&sse coleciivo sem admitirmos I exis- t&ncia de pessoa aolectiva? Ficvriamos corn uma relacqlo juridice 8 tm sujeilo.

l ~ t o seria, pel0 menos, uma incoerbncia. E, como lhes disse, no conjunto do9 processos tionicon do Direito deve haver coerdncia,

Mas a pessoa juridica ndo C uma f i c ~ l o , crmo tambCm outros querem, csmo se doutrinou durante muilo tempo, coma ainda io je s e doutrina, embora corn menos persis- t Cnaia.

A fic~iIo e urn process0 ttcnica tambfm, mas urn pro. cesso tecnico por virlude do qua1 se c o n ~ i d e r ~ verdadeiro o que e fnlso, Ora, na pessoa juridica h i urna realidade, olo uma realidade sensfvel, mas uma realidade intelectual, urna realidade jurldica.

0 ~ o i c o iacto e a existtncia dos inlertsses eolectivos; e, depois, por abslracqlo, que 6 urn procecso juridico tan) freqiiente, n6s, n t s s s inbertsse cclectivo, asccndemos at6 existencia da pessoa ~ s l e c t i r a ou jurldica.

Muito mais podlalnos dizcr sbbre o assuoto, mas, re- pito, ficamos por aqui, para chegar ao fim.

Esta inslitui~Ho (vir la) de pessoa colectiva k desigoada por vPrios names: pessoa colectiva, pessoa jurldica, pessoa moual; eu prefiro a desigoaq&o de pessoa colectiva. E kemos, cientificamente, d e lazer correspondsr a pessoa colectiva ao interease: colectivo. Se o intertsse e colectivo, porque n8o se pode rtduzir ao ioterksse individua1, a pessoa e cn[ecliva.

0 s elementos que enitam na constitui~Zo da ptssoa coleotiva sBo ; o elemento psosoal-urn agregado de homens; o elemento patrimonial- um agregado de beos; o elemento fim - o fim correspondents ao interesse colectivo ; s o reco- nhecimento do Estado.

Portanto os elementos da pessoa coIeetiva siIo : urn agregado de pessoas, um agregado de beos ou patrimcinio, urn fim cerrespondente ao interesse colectivo e, finalmtote, o raconheoimento do Estade,

Nao pode haver pessoa colectiva aem a convergtncia dPstes quatro elementos.

Outra rdplicm: s e 080 hA pessoa colectiva sern o recoa ahecimento do Estado, no final d e contas a pessoa c01ec)iva e uma criaqiio do Estado, t um FicqZo, nso tern realidade.

A t s te argument0 pode-se responder assim : u Eslado tem que reconhecer a pessoa colectiva drsde que o inte- rdsse colectivo obteve uma autonornia suficiente no meio social. Desde qne aparece o iuterksse colectivo, e que t s se ioterksse colectivo sc diferencieu bem do interksse indivi- dual; dssde que h l um organism0 que representa dsse inte- resse ooleclivo, o Estado fem que reconhscer a pessoa co- Iectiva. De maneira que a pessoa colecliva nl[o oasce por- vlrtude do reconhecimento do Eslado. A pessoa colectiva nurgc pelas condic6es sociais.

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Devemus enbeoder o reconhecimento do Estaite desta maneira.

Verdalle C que, i s vezeq, por cerlo perioilo, h i urn inbe- resse co!ectivu b e ~ n disiinto dos interksses individuais sem

' qoe se ubtenhm o recooheci~l~ento do Estado. Duraote muito tempo, houve associaq6es de speririus

e nern par isso o Esiado reconhecia a persooalidade dos siodicatos operirios, nem por isso os siodicalos olrerarios obliveram capacidade juridica.

Arr congrega~6es religiosas tern iambim urn agregado humaou, tkm ta~ubeln urn patrim6nio, t k n ~ lambirn um firn que st destaca b e ~ n do firn individual e, driraote certo tempo, r depois dc uma lnia religiosa, nZo s e reeonheceu a 6ssas agregados oatureza d e pessoa juridica.

Mes isso 6 temoorario. I'or fim, vem a reconliecer.se a personalidads correspondenbe a Lsse ioterCsae colectivo bem diferenciado; a violencia acaba e surge depois o quc e na- tural.

Esse reconhecimento iinptie-se, dadas as condic6es que acabo de dizer.

Portanlo, a existkncia do interesse coleotivo, diferen* ciado e irredut[vel ao interSsse individual, a ex[sl@ncia de urn 6rgLo que representa ksse ioteresse culectivo e utiliza os bens patrirnooiais no beneticio do niesmo interesse co- leclivo, a exist@ocia do recoohecimeoto do Eotado -s&o os presaupuslos em que assentamus a realidade da pessoa GO-

lectiva. Que cspicie ha de pessoas colectivas ? No nosso C6dlgo Civil, ceni preocupq80 de classifica~80

dss pessoas colectivas. ha no entanto u r n e s b b ~ o de clasrifi. caq%o.

A pessoa colectiva C deiinida no art. 32 " do Cirdigo Civi l :

temporirias ou perpitllas, fundarlas colu algum kiln ou For algum motivo de utilidade publics, 6u de uiilid. de publica e particular coojunlamente, qile nas suas relapies civis repre- sentam urna individualidade juridicaf~.

E' fa um e s b b ~ o de classifica~afo : pessoas culectivas {uu momi f , como Ihe chama o CGdigo) de utilidade pliblica, e pessoas :ulec!~sas de uttl~dade pilblica e privada coojunta- mcnte.

No art. 35." tllz-se que : ~ A t i associaqties e curporapties perpilues de ulilidade p~ib[ica podergo edquirir bens imobi- liirius a titulo gratuito ; mas GcnrZo sujeilas ao impost0 d t translnissiio ou sucessao por cada period0 d s trinla anos.

5 1." 0 que fica dsiposto oa segunda p a r k desk :rrtigo n%o abrange os bens im6veis que forem indispeosaveis para o dese~npenho dos dereres das a~sociaq6es on corporqbes os quais podem lambdm ser adquiridos r titulo oneroso.

# 2." SSo havidas, para os efeilos decIar~dos nests ar. tigo, corno perpetuas :

1 . O AS aasocia~ties ou corpora~aes por lempo ilimitado; 2 " As corporagGes ou associaqiies. ainda que por tetnpo

limitado, qua nlio tenhnln por objecto inlerbsses materiaisn. Neske artigu admiten-se, tanhem duas espCcies de

pessoa colecfivas : as perpcluas e a s temporirias. Ko art. 39." tambGm se fala ouma oulra sub-divisao de

pessoas colectivas : as pessoas colectivas de interesse parti cuiar, que sso as sociedades. E &sses eletnentor fraccionarios do C. Civit levam.nos a fazer utna classifioat$o, Antes disso, porem, temos de fazer utna considera~3o.

E' que nern tddas as pessoas coleclivas tern a lnesnia organica~%u, tern a rnesn~a estrutura.

Ja no Direilo romano se classificavani as pessoas colec- livas eio ai t i~~rsul i tc i tes p u s rlarllrn e iinivcirsit/l'fnles rerum,

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jsto 0, urrivrrsa/~ciu i e s d : p,ssous e irniversalidades dr cobas. P; no Direito tonlano charnam-se as primeirae, as irnlversrrillatrs personarunr, corporagdes ou associo~bes, e as segundas, as ~ i ~ i w e r s ~ l i t i l t t : ~ rerllin, c h a m a ~ n se Lundaq6es.

Segundo uma doutrina cl6ssica, o que distinguia as cor- pora~aes das tuudagUes, era isto : corporag6es eram urn agre- gado de pessoas e as funda~aes urn agregado de bens. hlas, bem analisado o Faso, veribicauios que tanton as corporag6es como nas funda@es, tanto nas uriiversalitates perssnorum como aas universulifotes rerrrm, encontrainos o elemento ptssoal, o elemento patrimonial, o fim correspoodente ao inler&sse colectivo e 0 reconhecirnaoto do Estado. Enconlra- mos, dasignadamente, -e e o que aqui nos interessa,- numas e noulras, o agredado ps3soal e o agregado de bens.

Por conseqiikncia, n8o podemos definir crrporaF?ies como um agregado de pessoas e funda~ries como um-agre- gado de beus.

Coviello, que loi seguido pelo Sr. Prof. Cabral Moncada, dlzia que o quc distiogue pela estrutura as corpore~Ges das funda~Gcs & que numas, nas corporasGcs, bavia nma vontade inerente que determinara os tins, que determinava r admi- nistra~go, que deterrnjnava a actua~Uo da pessoa colectiva, de dentro para fora - ulna vontade imanente. Ao passo qut' nas funda~Ges, longe de haver urna vontade in~anente ou urna vontade de dentro para fora, havia uma vontade trans- candente, vontade d c fora para dentro, que determinava a actua@o da Lundag~o, os intetksses da funda~lo , o modo da adininistragio da fundagHe. Era a rontade do fundador,

Ora, ponhamos em dascanso esta afirma@o de Coviello e varnos confronts-La corn OE factos, corn urna funda~Bo e corn uma corpora~%o, e vejarnos o que ha de verdade no que &le diz,

Ulna associa@o, uma sociedade, urn sindicato sBo cor. porhq6es.

Supunharnos, pois, urna sociedade anbnima. Quem 6 que determina os interesses da sociedade antinirna ? Quem e que busca atiogir o i n t e r h e coletivo?

El a vontade dos s6cios. 0 s s6cios rsunen se em assem- bleia geral, escolhem uma direcg%o, que adrninistra, esco- lhern um conselho fiscal que Iiscalisa os actos de adminis- traqg.0. A admiuistra~Po e que defende os inlerksses da socie- dade ; a administra@e e que age, t que actua no sentido dos interksses da ssciedade.

I'or conseqiiincia, a vontade dinilmica da oociedade e uma vontade que esii dentro da sociedade, e zi vontade dos sdcios, i uma vonlade yue actua de dentro da sociedade para fora.

Vejamos agora urna funda~io. For exempto, a 6tCarna Chamberlain" da Maternidade, cuja criataa C recente e que os Srs. conheceol, decerto pelos jornais,

Quem e qne actua na defesa dos interesses da tunda- @ o ? Quem C que defende o inlerksse colectivo que a fun d a ~ l o represents? 6 a rantade d t algukm que osli dentro da f undagao ? Nil0 6. El a vontade do fundador ; e urua von- tade, portanto, que veal ilt fora para dentro, e urna vontade traoscendente a fundatti0 e nao urna vontade imaoenle como na corporaq2o;

Mtls - dizia eu ha pouco - tanto numa como noutra sxistem 0s elementos: grapo de pessoas, (que nos exemplos que dei s8o 0s sdcios na sociedade, silo os beneficiarios, na fundaqao), rigregado de bms (o capital social da sociedade e os bens que sustentam a cama da maternidade). Por con. seqiikncia, debaixo do ponto de vista da ortsniza~Zo, as pessoas colestivas s3n ou cerpara~6ts ou fundag6es.

Mas umas coin0 outras podem ser de direito ptiblico e de direito privado. Temos, pois, possoas colectivas de di- raito public0 e llessoas colectivas de direito privado. Pes- soas colecbivas de direito public0 sPo, na fer~ninologia do

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nosso Cridigo, as pessoas morais que tern urn firn de utili- dade pdblica.

Diz o art 3 2 " :

Pedett~ ier ou nXo irnprriio~ir. E , por c~lnseqil6ncia, ha pessoas coleclivas de direito publico iom imprr i l lm, corn autoridadc ptihiica, e h i pessoas colectivas de direito p6- blico sem irn/~erirri/r.

0 art. 37." do Cddigo C~vil retcrc-se a varias pessoas culectirag dr; direito public0 ! o Estado, as colrinias: as pro- vincias, os concelhos, as ireguesias e q~iaisquer corpora~iies administralivas ; assentemos, pois, tamhe 11 nesla oiassiii- cacao: persoas colecbivas de direito pliblico e pefisoas co- leztivas d~ direito privado; as pessoas d e direito privado ou de utilidade pbblica e gartl:~llar conjui~tarnente ou s o de utilidade p~rticular podem ser iju dz fins interessados ou de fins desinteressados, .4s pzssoas de Fins interessados ainda p ~ r l e ~ n ser pessoas de fins interessados ideais, pessoas de fills interessados econ6111ioos e pessoas de fins ioteressados lucrativos. As oessoas de fins desinteressados e as de fius interessados i d ~ a i s e econrilnisos sZo pessoas d e utilidade p6blica e privada coajuutallente. As pessoas de fins lucra- tivos, a que se refer= a at\ . 39.", sZo pessoas de intertsse simplesnleote particular.

lrln club -o Sporting, o Rclenenres, o Foot-Rall Club do Pdrlo -- $30 pessoas, na tecnica do nosso CridIge, de uti- lidade pliblica z pr1vad.l con~unlanlente,

A Sociedade de Geogrdfia e uma pessoa de frm ideal

Um sirldicato k uma pessoa de fins econ6rnicos. Ulna asso- c i a ~ a o de secorros mlituos i irmd pessoa de fins econ6micos. Uma sociedade 6 uma pessoa de fins lucrativos. Urn hospi, tal 6 unia pessoa de Fins desinteressados.

Surge aqui 'uma queslao que apresmla dificuidades, qne e a de saber se as s~ciedades lucralivas a que s t refere o art, 39,' t&m realmente personalidade juridlca, se sIo pes- soas eolectivas.

A questgo tern passado por vkrias faaes. Antigamente, dizia-se que nem as sociedades civis nem

as socledades comtrciais (excepto as sociedades anhimas) eram pessoas colectivas.

Noutra Lase j i se oplnava que as sociedades comerciais eraln pessoas colectivas e que sd as sociedades civis o n8o eram.

N a Lase actual, embora a questao ainda hoje aZo seja puramtnle liquida, diz se que as sociedades comerciais s8o pessoas colectlvas, e a maioria dos escriteres'admite que tambem as socredades civis o s%o.

Mas, diz o art. 1781." ;

a As PPTSOI IS morals podem suceder por testamcnfo, i n n f a n fitrzlo dl7 frerririras, conlo de i e ~ u f d r r n s .

,f u'niro. Excepfrcam-se ns co~.porn~iTes de imstitui@o trltsrdsflcn, ns qnais sd poderdo snctli'er atti o vnlor r i a te*rco da t & ~ n (lo ftstudor*.

Portantu, as socicdadss podem ainda ser sociedades civis e sosiodaaks eclssidsticns.

Este artigo foi modifidado pela lei de 20 de Abril de 1911 -a lei da sopara~to de Estado da Igrcja. Mas, de- pois, veid uma lei de 22 d t Fevereiro de 1918 (era elitHo ministro da J u s t i ~ a o sr, dr. Moura Pinto) que revogou a lei

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de 20 de Abril de 1511 e restabeleceu a disposi~Zo do CO- digo Civil.

Este artigu oHo fui modificadn yeto decrcto 19.126. Por. cunseqiikncia, hoje, o art. 1.781 " do Codigo Civii esla em vltor, ja puryue n8o fui altcrado pelo dec: 19.126, ja porque antes desta data tinha sido estabelecido pela leidc 22-2-1918, cum base ceste artigu for~i~amos ulna outra classifica~8o: pessoas colectivas civis e pessoas colectiras eclesi6sticas.

Cotno ja dissemvs (e ngo o podemos esquecer'l tambiln b i pessoas colectivas perpetuas e pessoas colectivas tetupo- rar~as. E e relevante t r t a classifica~%o quanta a cagacidade para adyuirir bens.

Corn eleito, diz o arl . 35.' :

trriia; !?rffs l'icnrilo s~cicitns no i~!rposto 00 trniisnlissdo oil srrcrssfio pUF cat/o prriodo LIP friritiz nlros.

3 1.' 0 i l ua ,fir(? dispnsfo /zn sc fundn l i n r t ~ t!Pstc cirfi.4~0 iiria nb. ~ l f ~ g e os bcus ir~iikris yiri, j o r r a i nd i s /~rn - sn'vt8i.s firircz o de~ernl~~r1110 L ~ U S I ~ ~ ' L , C I . I ' S dns nssocior~~i2s iar/~o,-a~cies, ns q i la r~ liolZt,m~ tlr~illrP/~t scr niic/rirridas n ti- tu fa anfroso.

$' 2 . S r ~ o imviiiiis, pi~riz os ercrros ii'ccinrnrios 118stc ar f fgn , cl7111o /it~rj~Cfrias :

lectivasperpttuas, e e precis0 sabero que deve enlendcr- -se por umas e por outras.

Define-as o 2.' do arl. 35:, con10 vimos. Sile pessoas colectivas perpetuas nao s6 ns que ICm duraqPo ilimilada, mas tambbm as que tenda durapao limilada por certo nu- mero de anos, n8o t&m no cntanto fins materiais ou econ6- micos.

A d is t in~ao enlre pessqas ~norais perpetuas e tempo- rarias e Litil para saber~nos a capacidade das pessoas mo- rais (carno o nosso Codigo diz) para adquirir bens.

Elas, qua1 sera a capacidade jqridica das pessoas GO-

lectivas, como e u lhe charno, ou das peseoas morais, segundo a d e s i t o a ~ i o do nosso Codige Civil?

Sera a mesma das pessoas fisicas ou individunis? Ou t e r h uma capacidade iirnitade?

Tern ulna capacidade limitada: segundo nos diz o art. 34."

* A s i l s ~ o c i l l ~ o ~ s oil Curporu~Ses, qu8 gesum d z indivl- duali:c!d juridtca, podern esercrr torlos os direitos civis, re /uf iv~;s nos infere'sscs legdtirnos d o seu inst ibuto~.

Sd para isto e que tern capacidade. E' o que se chama, em lerminologia jaridica, o principio da especialidade das pessoas cuiectivas.

Termina rqrli a nossa lifso e , com ela, o nosso ano.

Cotno vCatn, para efeito cia capacidade jurfdicn para adquirir bens, L necessario distiofiuir essa esphcie de pes- suas coleciiuas: pessoas colectivas temporhias e pegsoas co