direito civil axioma e lfg

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DIREITO CIVIL CURSO ANUAL 1º 2009 AUTOR: MARCELO VELASCO NASCIMENTO ALBERNAZ - Parte Geral: MARCELO LOPES JESUS - Direito das Obrigações e dos Contratos: FERNANDO CLEBER DE ARAÚJO - Direito das Coisas: MARCELO LOPES JESUS - Direito de Família e das Sucessões: ANA PAULA FÉLIX ÍNDICE – DIREITO CIVIL – ANUAL 1º 09 PRIMEIRA PARTE - PARTE GERAL I – Lei de introdução ao código civil - Noções ........................................................................ .................. - Vigência da lei ........................................................................ ...... - Obrigatoriedade da lei ................................................................... - Aplicação e integração das normas jurídicas ................................ Analogia .............................................................................. Costumes.............................................................................. Princípios gerais do Direito ............................................... - Conflitos entre as leis novas e as relações jurídicas já definidas sob a vigência da lei anterior ........................................................... - Eficácia da lei no espaço ............................................................... II – Parte geral do código civil - Considerações preliminares .......................................................... - Das pessoas ( personalidade ) ....................................................... - Normas relativas aos direitos da personalidade constantes do código civil / 2002 ........................................................................ ... - Pessoa natural Capacidade ......................................................................... Inicio e fim da personalidade .............................................. Domicílio da pessoa natural .............................................. - Da ausência

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DIREITO CIVIL CURSO ANUAL 1 2009 AUTOR: MARCELO VELASCO NASCIMENTO ALBERNAZ - Parte Geral: MARCELO LOPES JESUS - Direito das Obrigaes e dos Contratos: FERNANDO CLEBER DE ARAJO - Direito das Coisas: MARCELO LOPES JESUS - Direito de Famlia e das Sucesses: ANA PAULA FLIX NDICE DIREITO CIVIL ANUAL 1 09 PRIMEIRA PARTE - PARTE GERAL I Lei de introduo ao cdigo civil - Noes .......................................................................................... - Vigncia da lei .............................................................................. - Obrigatoriedade da lei ................................................................... - Aplicao e integrao das normas jurdicas ................................ Analogia .............................................................................. Costumes.............................................................................. Princpios gerais do Direito ............................................... - Conflitos entre as leis novas e as relaes jurdicas j definidas sob a vigncia da lei anterior ........................................................... - Eficcia da lei no espao ............................................................... II Parte geral do cdigo civil - Consideraes preliminares .......................................................... - Das pessoas ( personalidade ) ....................................................... - Normas relativas aos direitos da personalidade constantes do cdigo civil / 2002 ........................................................................... - Pessoa natural Capacidade ......................................................................... Inicio e fim da personalidade .............................................. Domiclio da pessoa natural .............................................. - Da ausncia Fase da ausncia ................................................................. Efeitos da ausncia quanto ao direito de famlia ............... - Pessoa jurdica Conceito / requisitos / natureza jurdica ............................. Classificao da pessoa jurdica ........................................ Incio e capacidade ............................................................. Entes despersonalizados ..................................................... 001 002 005 006 006 006 007 007 008 009 013 014 015

019 020 021 023 023 024 025 025 Desconsiderao da pessoa jurdica .................................. Domiclio da pessoa jurdica .............................................. - Dos bens Noes ................................................................................. Classificao ....................................................................... Bens considerados em si mesmos .................................. Bens reciprocamente considerados................................. Bens considerados em relao ao titular do domnio ..... 026 026 029 027 027 027 031 033 - Negcio jurdico Classificao ....................................................................... Elementos constitutivos ou estruturais ............................... Elementos essenciais, gerais ou comuns ............................. Elementos acidentais ........................................................... Condio ......................................................................... Termo ............................................................................. Modo ou encargo ............................................................ Defeito dos atos jurdico...................................................... Erro ou ignorncia ........................................................... Dolo ................................................................................. Coao ............................................................................. Estado de perigo .............................................................. Leso ............................................................................... Fraude contra credores .................................................... 034 035 036 037 037 040 041 042 042 043 044 045 045 045 Invalidade dos negcios jurdicos Classificao ...................................................................

Nulidade .......................................................................... Anulabilidade .................................................................. Ato ilcito Conceito.. ........................................................................ Elementos........................................................................ Conseqncia ................................................................. Atos lesivos que no so ilcitos ......................................... Prescrio Conceito ......................................................................... Normas Gerais ................................................................ Prazos ............................................................................. Aes imprescritveis ..................................................... Decadncia Regras ............................................................................. Prazos ............................................................................. Distino entre prescrio e decadncia ........................ SEGUNDA PARTE - DIREITO DAS OBRIGAES E CON TRATOS I Teoria geral das obrigaes - Da obrigao em geral Conceito .............................................................................. 047 047 048 049 050 050 050 051 052 053 055 055 056 056 090 Elementos ............................................................................ Fontes das obrigaes ........................................................ Classificao ....................................................................... - Da obrigao de dar Obrigao de dar coisa certa ............................................. Obrigao de dar coisa incerta .......................................... - Das obrigaes de fazer Conseqncia do inadimplemento ...................................... Inadimplemento voluntrio ................................................. Obrigao de emitir declarao de vontade ....................... - Das obrigaes de no fazer ......................................................... - Das obrigaes alternativas .......................................................... - Obrigaes divisveis e indivisveis .............................................. - Da obrigao solidria .................................................................. 090 091 091 092 094

094 094 095 095 095 097 098 - Das obrigaes propter rem .......................................................... - Da transmisso das obrigaes Cesso de crdito ................................................................ Da assuno de dvida ........................................................ Da cesso de contrato ......................................................... - Do adimplemento e extino das obrigaes Do pagamento ..................................................................... Do pagamento em consignao .......................................... Do pagamento com subrogaao ......................................... Da imputao do pagamento .............................................. Da dao em pagamento ..................................................... Da novao ......................................................................... Da compensao ................................................................. Da confuso ........................................................................ Da remisso ........................................................................ - Do inadimplemento das obrigaes Da mora .............................................................................. Das perdas e danos ............................................................. Dos juros legais .................................................................. Da clusula penal ............................................................... Das arras ou sinal ............................................................... II Dos atos unilaterais - Noes gerais ................................................................................ - Da promessa de recompensa ......................................................... - Da gesto de negcios .................................................................. - Do pagamento indevido ................................................................ 100 101 102 103 103 107 108 109 110 110 111 113 113 114 116 116 118 120 121 121 122 123

- Do enriquecimento sem causa ...................................................... III Das obrigaes por atos ilcitos - III.1. Ato ilcito ............................................................................. - III.2. Responsabilidade objetiva e subjetiva.................................. - III.3. Responsabilidade decorrente do exerccio abusivo de direito...... - III.4. Responsabilidade por fato de terceiro ................................. - III.5. Responsabilidade pelo fato das coisas ................................. - III.6. Responsabilidade do demandante por dvida no vencida ou j paga..... - III.7. Alguns dispositivos que tratam dos efeitos no Cvel da deciso prolatada no juzo criminal................................................. IV. Dos Contratos - Conceito ........................................................................................ - Pressupostos de validade .............................................................. 124 125 127 129 129 129 130 131 132 132 - Princpios ...................................................................................... - Classificao ................................................................................. - Interpretao ................................................................................. - Formao dos contratos ................................................................ - Proposta oferta ou policitaao ...................................................... - Aceitao ...................................................................................... - Momento de concluso do contrato .............................................. - Lugar em que se reputa celebrado o contrato ............................... - Das estipulaes em favor de terceiros ......................................... - Dos vcios redibitrios .................................................................. - Da evico .................................................................................... - Do contrato com pessoa a declarar ............................................... - Da extino do contrato Do distrato e da resilio .................................................... Da clusula resolutiva ........................................................ Da exceo do contrato no cumprido ............................... Da resoluo por onerosidade ............................................ IV.2 Dos contratos em espcie - Da compra e venda Natureza jurdica ................................................................ Elementos ............................................................................ Despesas do contrato .......................................................... Riscos pela perda ou deteriorizao da coisa .................... Regras que configuram garantia a uma das partes ............ Limitao compra e venda decorrentes da falta de limitao de uma das partes ............................................... - Das clusulas especiais compra e venda 132 135 140 141 142

143 144 145 145 146 148 151 152 154 154 155 156 156 157 158 158 158 Da retroventa ou pactum de retrovendendo........................ Venda a contento ................................................................. Da preempo ou preferncia ............................................. Da venda com reserva de domnio ...................................... Da venda sobre documentos ............................................... - Da troca, permuta ou escambo ...................................................... - Do contrato estimatrio ou de consignao .................................. - Da doao Natureza .............................................................................. Aceitao ............................................................................. - Do emprstimo .............................................................................. - Do comodato ................................................................................. - Do mtuo ...................................................................................... 158 162 160 161 162 162 163 163 164 167 167 168 - Do depsito Depsito voluntrio ou convencional ................................. Depsito necessrio ............................................................ - Do mandato Natureza jurdica ................................................................ Instrumento ......................................................................... Substabelecimento ............................................................... Casos de extino do mandato ............................................ Do mandato judicial ............................................................ Da fiana ............................................................................. Da locao de imveis urbanos .......................................... Contrato Eletrnico............................................................. 170

171 173 174 176 179 180 181 185 190 DIREITO DAS COISAS TERCEIRA PARTE I. NOES SOBRE DIREITOS REAIS ......................................... 192 I.1. Conceito .............................................................................. 192 I.2. Caractersticas ..................................................................... 192 II. DA POSSE .............................................................................. 194 II.1. Conceito ............................................................................. 194 II.2. Objeto ................................................................................ 194 II.3. Natureza Jurdica ............................................................... 195 II.4. Classificao ...................................................................... 195 II.5. Aquisio da Posse ............................................................ 198 II.5.1. Modos de aquisio ................................................... 198 II.5.2. Atos que no induzem posse ..................................... 198 II.5.3. De quem pode adquirir posse .................................... 198 II.5.4. Outras normas relativas posse ................................ 199 II.6. Efeitos da Posse ................................................................. 199 II.7. Perda da Posse ................................................................... 203 III. DA PROPRIEDADE ............................................................... 204 III.1. Conceito ........................................................................... 204 III.2. Caracteres ......................................................................... 204 III.3. Propriedade plena ou ilimitada ......................................... 204 III.4. Objeto ............................................................................... 205 III.5. Limites ao direito de propriedade do solo ........................ 205 III.6. Restries ao direito de propriedade ................................ 205 III.7. Da aquisio da propriedade imvel ................................ 206 Acesso ....................................................................... 208 Usucapio ................................................................... 209 III.8. Da perda da propriedade imvel ...................................... 213 III.9. Dos direitos de vizinhana ............................................... 215 III.10. Da aquisio e da perda da propriedade mvel ............. 218 III.11. Condomnio geral .......................................................... 221 III.12. Da propriedade resolvel ............................................... 229 III.13. Da propriedade fiduciria .............................................. 230 IV. DIREITOS REAIS SOBRE COISAS ALHEIAS ......................... 233 IV.1. Introduo ........................................................................ 233 IV.2. Direito de Superfcie ........................................................ 234 IV.3. Servido ........................................................................... 235 IV.4. Usufruto ........................................................................... 238 IV.5. Uso ................................................................................... 242 IV.6. Habitao ......................................................................... 244 IV.7. Direito do Promitente Comprador .................................... 244 IV.8. Introduo aos Direitos Reais de Garantia ....................... 246 IV.9. Penhor ............................................................................ 248 IV.10. Hipoteca ......................................................................... 254 IV.11. Anticrese ........................................................................ 259 DIREITO DE FAMLIA

QUARTA PARTE Introduo.................................................................................... II Do casamento - Natureza jurdica Teoria contratualista ...................................................... 276 276 - Do casamento civil e religioso ................................................. - Processo de habilitao para o casamento ............................... - Impedimentos matrimoniais ..................................................... 277 277 277 - Capacidade............................................................................... 278 Incapacidade para o casamento .................................... Impedimentos matrimonias ............................................ Causas suspensivas do casamento ................................. - Da celebrao do casamento .................................................... Casamento no caso de molstia grave ........................... Casamento nuncupativo ................................................. Das Provas...................................................................... Da invalidade.................................................................. - Defeitos do casamento Casamento anulvel ....................................................... Casamento nulo............................................................... Eficcia.......................................................................... - Da dissoluo da sociedade e do vnculo conjugal Separao judicial Espcies ..................................................................... Divrcio Espcies ..................................................................... Proteo a pessoa dos filhos............................................ IV Das relaes de parentesco - Conceito ................................................................................... - Da filiao - Regras ...................................................................................... - Do reconhecimento dos filhos ................................................. V Adoo - Conceito ................................................................................... VI Do poder familiar - Do exerccio do poder familiar ................................................ - Do Regime de bens - Consideraes gerais .......................................................... - Pacto Antenupcial............................................................... - Do Regime de Bens............................................................ - Regimes legais Comunho parcial ou comunho limitada ..................... 278 279 280 281 283 283 284 285

286 286 289 290 291 292 293 294 296 298 299 301 302 302 302 Comunho universal ...................................................... Participao final nos aqestos ..................................... - Separao de bens Separao de bens obrigatria ..................................... Do usufruto.................................................................... VII Dos alimentos - Conceito ................................................................................... 303 303 304 304 305 VIII Bem de famlia - Espcies Bem de famlia voluntrio .............................................. Bem de famlia legal ...................................................... Unio Estvel................................................................. IX Tutela - Conceito ................................................................................... - Espcies .................................................................................... - Exerccio da tutela .................................................................... - Cessao da tutela .................................................................... X Curatela - Conceito ................................................................................... 308 308 309 310 310 312 312 313 DIREITO DAS SUCESSES QUINTA PARTE I Da sucesso em geral - Consideraes gerais ................................................................ - Classificao ............................................................................ - Abertura da sucesso ................................................................ Herana Local da abertura da sucesso e juzo do inventrio .............

Cesso da herana ................................................................. Legitimao e capacidade para suceder ................................ Situao Do Embrio Criopreservado, Do Nascituro E Da Pessoa Ainda No Concebida Ao Tempo Da Abertura Da Sucesso .................................................................................... Aceitao ou adio da herana ............................................ Renncia ou repdio da herana ........................................... Responsabilidade dos herdeiros pelas dvidas ...................... 315 315 316 317 317 318 318 320 321 323 A herana jacente Conceito ................................................................................ 323 Casos ..................................................................................... Arrecadao ........................................................................... Herana vacante Conceito ................................................................................ Declarao de vacncia ......................................................... II Da sucesso legtima - Ordem da vocao hereditria ................................................. - Direito de representao .......................................................... III Da sucesso testamentria - Capacidade testamentria ( ativa e passiva ) ............................ - Herdeiros necessrios reservatrios ou legtimos .................... - Deserdao ............................................................................... - Disposies testamentrias ...................................................... - Formas de testamento Disposies gerais .......................................................... Testamento pblico ........................................................ Testamento cerrado, secreto ou mstico ......................... Testamento particular, aberto ou holgrafo .................. Testamento martimo e aeronutico ............................... Testamento militar .......................................................... - Codicilio ................................................................................... - Legado ...................................................................................... - Revogao dos testamentos ..................................................... - Nulidade, anulao, e ineficcia das disposies testamentrias ............................................................................. 323 323 324 324 325 329 330 331 332 332

337 337 338 338 338 339 339 339 340 341 AXIOMA JURDICO DIREITOCIVIL - LEI DE INTRODUO AO CDIGO CIVIL - PARTE GERAL DO CDIGO CIVIL I - LEI DE INTRODUO AO CDIGO CIVIL I.1 - NOES A Lei de Introduo ao Cdigo Civil em vigor trata-se do Decreto-Lei n 4.657/42, o qual, desde a sua edio, sofreu alteraes introduzidas por diplomas legais subseqentes (p. ex.: Lei n 3.238/57 - alterou o art. 6; art. 7, 2; Lei n 6.515/77 alterou o art. 7, 5 e 6). A aludida lei, no obstante o nome que lhe foi atribudo, no tem por objeto apenas a disciplina de questes relacionadas ao Cdigo Civil. Pelo contrrio, tal lei tem contedo e funes bem mais amplos que esse, Maria Helena Diniz 1 aponta que: A Lei de Introduo no parte integrante do Cdigo Civil, constituindo tosomente uma lei anexa para tornar possvel uma mais fcil aplicao das leis. Estende-se muito alm do Cdigo Civil, por abranger princpios determinativos da aplicabilidade das normas, questes de hermenutica jurdica relativas ao direito privado e ao direito pblico e por conter normas de direito internacional privado. autnoma ou independente, tendo-se em vista que seus artigos tm numerao prpria. No uma lei introdutria ao Cdigo Civil. Se o fosse conteria apenas normas de direito privado comum e, alm disso, qualquer alterao do Cdigo Civil refletiria diretamente sobre ela. Na verdade, uma lei de introduo s leis, por conter princpios gerais sobre as normas sem qualquer discriminao. (grifado no original). Seno, vejamos: Contedo: 1 - disciplina as prprias normas jurdicas, assinalando-lhes a maneira de aplicao e entendimento, predeterminando as fontes de direito positivo, indicandolhes a vigncia e a eficcia no espao e no tempo; 1 in Lei de Introduo ao Cdigo Civil Brasileiro Interpretada, 7 ed., Saraiva. So Paulo, 2001. p.3. AXIOMA JURDICO - DIREITO CIVIL - PRIMEIRA PARTE Professores Marcelo Velasco Nascimento Albernaz / Marcelo Lopes de Jesus 2 2 - ultrapassa o mbito do prprio direito civil, vinculando o direito privado como um todo e alcanado o direito pblico, atingindo apenas indiretamente as relaes jurdicas; 3 - contm normas de sobredireito ou de apoio que disciplinam a atuao da ordem jurdica. Funes: 1 - regular a vigncia e a eficcia das normas jurdicas (arts. 1, 2 etc...); 2 - fornecer critrios de interpretao (art. 5); 3 - estabelecer mecanismos de integrao das normas, quando houver lacunas (art. 4); 4 - garantir a eficcia global da ordem jurdica, no admitindo a ignorncia da lei como escusa ao seu cumprimento (art. 3); 5 - garantir a certeza, segurana e estabilidade do ordenamento,

preservando as situaes consolidadas em que o interesse individual prevalece (art. 6) etc. I.2 VIGNCIA DA LEI As normas nascem com a promulgao, tornando-se obrigatrias e entrando em vigor com a publicao e o decurso da vacatio legis. A vacatio legis trata-se do perodo compreendido entre a publicao da lei e sua entrada em vigor. Atualmente, a Lei Complementar n 95/98 estabelece que a vigncia da lei ser indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo razovel para que dela se tenha amplo conhecimento (art. 8). Entretanto, a Lei de Introduo ao Cdigo Civil contm regra geral destinada a suprir a omisso do prazo de vacatio legis, preceituando que salvo disposio contrria, a lei comea a vigorar em todo o pas quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada (art. 1, caput) e que nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia trs meses depois de oficialmente publicada (art. 1, 1). Obviamente, se o perodo de vacatio legis for superior a esses trs meses, como ocorreu em relao ao Cdigo Civil/2002, a nova lei entrar em vigor no Brasil e nos Estados estrangeiros a um s tempo, pois seria ilgico sua vigncia no exterior ocorrer primeiro. AXIOMA JURDICO - DIREITO CIVIL - PRIMEIRA PARTE Professores Marcelo Velasco Nascimento Albernaz / Marcelo Lopes de Jesus 3 Direito Civil Parte Geral Marcelo Jesus Lei de Introduo ao Cdigo Civil promulgao publicao vacatio legis entrada em vigor Salvo disposio em contrrio de 45 dias Trs Meses, de qualquer forma Por outro lado, impende ressaltar que as regras relativas aos prazos gerais de vacatio legis no se aplicam aos decretos e demais atos administrativos de natureza regulamentar, os quais, salvo disposio em contrrio, entram em vigor na data da publicao. O critrio de vacatio legis adotado atualmente o nico ou simultneo, uma vez que a lei entra em vigor em todo o pas a um s tempo. No exterior, de igual forma, entra em vigor a um s tempo, ressalvando-se que, em regra, isso ocorre aps sua entrada em vigor dentro do pas. Esse critrio diferente do adotado pela anterior Lei de Introduo ao Cdigo Civil, que estabelecia o critrio progressivo, ou seja, estabelecia prazos diferenciados para a entrada em vigor da lei em diversas partes do territrio nacional. O cmputo do prazo da vacatio legis obedece ao disposto no art. 8o. 1o. da LC n. 95/982, segundo o qual a contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleam perodo de vacncia far-se- com a incluso da data da publicao e do ltimo dia do prazo, entrando em vigor no dia subseqente sua consumao integral. H que se ressaltar que, se antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicao de seu texto, destinada correo de meros erros materiais ou de falhas de ortografia, o prazo de vacatio legis recomear a correr da nova publicao. Entretanto, se a mesma j estiver em vigor, a correo de seu texto

considerar-se- lei nova. 2 Acrescentado pela LC n. 107, de 26/04/2001. AXIOMA JURDICO - DIREITO CIVIL - PRIMEIRA PARTE Professores Marcelo Velasco Nascimento Albernaz / Marcelo Lopes de Jesus 4 Direito Civil Parte Geral Marcelo Jesus Lei de Introduo ao Cdigo Civil promulgao publicao vacatio legis entrada em vigor nova publicao nova publicao Volta a contar o prazo de vacatio Considera-se lei nova Pelo princpio da continuidade, no se destinando vigncia temporria, a lei ter vigor at que outra a modifique ou revogue. Para que ocorra a revogao h que se observar, por bvio, o critrio hierrquico, ou seja, somente possvel haver revogao entre normas que guardem, ao menos, a mesma disposio hierrquica dentro do conceito de hierarquia das normas. Ou seja, exemplificando, a rigor, somente uma lei ordinria capaz de revogar outra lei ordinria, somente uma lei complementar altera outra lei complementar, apenas uma emenda Constituio tem o condo de alterar a Lei Maior. A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare (revogao expressa), seja com ela incompatvel (revogao tcita ou indireta) ou regule inteiramente a matria de que tratava a lei anterior (revogao tcita ou indireta). Ressalte-se, por oportuno, que a lei nova que estabelea disposies gerais ou especiais a par das j existentes, em regra, no revoga nem modifica a lei anterior, diante da inocorrncia de incompatibilidade entre os dois textos. Contudo, possvel que, excepcionalmente, em tais situaes, haja incompatibilidade, caso em que poder ocorrer a revogao da lei anterior. Do exposto se percebe que h dois critrios para se observar a ocorrncia da revogao ou no, desde que atendido o critrio hierrquico, os critrios de anterioridade (lei posterior revoga lei anterior) e da especialidade (lei especial revoga lei geral). AXIOMA JURDICO - DIREITO CIVIL - PRIMEIRA PARTE Professores Marcelo Velasco Nascimento Albernaz / Marcelo Lopes de Jesus 5 Havendo quaisquer conflitos nestes campos diz-se que h uma antinomia, perfeitamente solucionvel com as regras estabelecidas na Lei de Introduo ao Cdigo Civil e, por esse mesmo motivo, chamada de antinomia de primeiro grau. Entretanto, caso ocorra uma situao de impasse entre os critrios de anterioridade e de especialidade, como por exemplo se tivermos uma lei anterior e especial em confronto com uma lei geral e posterior, estar-se-ia diante de uma chamada antinomia de segundo grau, que, para a quase absoluta totalidade da doutrina, se resolve atravs de critrios chamados de metajurdicos, o que levaria prevalncia do critrio da especialidade. A revogao da lei pode ser total, caso em que se denomina ab-rogao. Em se tratando de revogao parcial ou de simples modificao da lei, ter-se- a chamada derrogao. No se admite a repristinao da lei, ou seja, a restaurao de lei j revogada por ter a lei revogadora perdido a vigncia, salvo no caso de haver

disposio legal expressa nesse sentido. Direito Civil Parte Geral Marcelo Jesus ABC Revogada Revogadora Possvel se houver disposio neste sentido Revogadora da Norma Revogadora I.3 OBRIGATORIEDADE DA LEI Pelo princpio da obrigatoriedade da lei, ningum se escusa de cumpri-la alegando que no a conhece. Esse princpio tem por fundamento a necessidade de preservao do imprio da ordem jurdica e da prpria segurana jurdica (teoria da necessidade social). A situao no se confunde com a do erro de direito, o qual, alis, tratado expressamente pelo Cdigo Civil/2002 (art. 139, III) da seguinte forma: O AXIOMA JURDICO - DIREITO CIVIL - PRIMEIRA PARTE Professores Marcelo Velasco Nascimento Albernaz / Marcelo Lopes de Jesus 6 erro substancial quando sendo de direito e no implicando recusa aplicao da lei, for o motivo nico ou principal do negcio jurdico. I.4 APLICAO E INTREGRAO DAS NORMAS JURDICAS A aplicao das normas jurdicas pode se dar por duas formas: 1 - por subsuno, quando o fato individual se enquadra no conceito abstrato contido na norma; 2 - por integrao, quando o juiz no encontrar norma aplicvel ao caso concreto. Integrao o preenchimento de lacunas, mediante aplicao e criao de normas individuais, atendendo ao esprito do sistema jurdico (MHD). A LICC prev as seguintes formas de integrao: 1 - Analogia Consiste na aplicao de uma soluo prevista pelo legislador para um caso especfico a outra hiptese diversa, mas com alguma semelhana, para a qual no exista disciplina legal especfica. Espcies: - Legis - aplicao de uma norma existente destinada a reger caso semelhante ao previsto; - Juris, se estriba num conjunto de normas para extrair elementos que possibilitem sua aplicao ao caso concreto no previsto mas similar (MHD). Requisitos: - inexistncia de previso do caso concreto em norma jurdica; - relao de semelhana entre o caso concreto no previsto na norma com o nela previsto; - identidade essencial entre tais casos, havendo efetiva semelhana entre eles e semelhantes razes entre ambos. 2 - Costumes - Fonte jurdica em plano secundrio, eis que somente pode ser utilizada no caso de omisso da lei. o uso implantado numa coletividade e considerado por ela como juridicamente obrigatrio.[ ...] Provm ele da prtica reiterada e uniforme de um certo procedimento, a qual vai gerar, no esprito da comunidade, a persuaso de sua necessidade e de sua obrigatoriedade (SR). Tem como elementos principais o uso (elemento externo) e a convico jurdica (elemento interno). AXIOMA JURDICO - DIREITO CIVIL - PRIMEIRA PARTE Professores Marcelo Velasco Nascimento Albernaz / Marcelo Lopes de Jesus 7 Espcies: - Secundum legem - est previsto em lei, que reconhece sua eficcia obrigatria. Ex.: 569, II; 596; 597; 615; 965, I; 1297; CC/2002;

- Praeter legem - o que tem carter supletivo, suprindo a lei nos casos omissos. Ex.: fila; - Contra legem - o costume contrrio lei e no admitido no direito brasileiro. Ordinariamente no se afigura aplicvel, tendo em vista que a lei somente se revoga por outra lei. Entretanto, em hipteses excepcionais, o Poder Judicirio o tem aplicado, diante do manifesto desajustamento entre a realidade e as normas de direito positivo. O juiz pode aplic-lo de ofcio, se for notrio ou de seu conhecimento. Na falta de conhecimento, pode exigir comprovao por quem o alega (art. 337 do CPC), podendo a parte interessada produzir essa prova por todos os meios permitidos em direito. 3 - Princpios Gerais do Direito - so ...aquelas normas que o orientam (ao legislador) na elaborao da sistemtica jurdica, ou seja, aqueles princpios que, baseados na observao sociolgica e tendo por escopo regular os interesses conflitantes, se impem, inexoravelmente, como uma necessidade da vida do homem em sociedade (SR). Ex.: proibio do locupletamento ilcito, ningum deve se beneficiar da prpria torpeza. I.5 CONFLITOS ENTRE A LEI NOVA E AS RELAES JURDICAS J DEFINIDAS SOB A VIGNCIA DA LEI ANTERIOR Comumente, quando ocorrem alteraes no ordenamento jurdico, surgem conflitos entre a disciplina estabelecida pela lei nova e as relaes jurdicas j definidas sob a vigncia da lei anterior. Em tais casos, duas solues se apresentam: - Disposies transitrias, tambm chamadas direito intertemporal. So regras elaboradas pelo legislador, no prprio texto normativo, visando conciliar a nova norma com as relaes j definidas na vigncia da lei anterior. Tm eficcia temporria e visam a possibilitar a transio de um regramento para outro, sem maiores dificuldades. - Princpios da retroatividade e da irretroatividade - Norma retroativa aquela cujos efeitos retroagem ou alcanam efeitos de atos jurdicos praticados na vigncia da norma revogada. Norma irretroativa a que se aplica apenas s situaes jurdicas constitudas aps o incio de sua vigncia. Em regra, a lei no retroativa, sendo que, de acordo com o STF, a retroatividade, quando admitida, deve ser expressa, no se presumindo. AXIOMA JURDICO - DIREITO CIVIL - PRIMEIRA PARTE Professores Marcelo Velasco Nascimento Albernaz / Marcelo Lopes de Jesus 8 Entretanto, esses princpios da retroatividade e da irretroatividade no so absolutos, havendo casos em que se admite a retroatividade da norma e outros em que o mesmo no ocorre, em respeito ao ato jurdico perfeito (ato que j se consumou de acordo com a norma vigente ao tempo em que se efetuou), ao direito adquirido ( o que j se incorporou definitivamente ao patrimnio e personalidade de seu titular [MHD]) e coisa julgada (deciso judicial da qual j no caiba recurso). No podendo a lei nova retroagir em determinados casos, ocorre a denominada ultratividade da lei anterior, fenmeno pelo qual a lei revogada continua a ser aplicada s situaes ocorridas ao tempo de sua vigncia, em virtude da irretroatividade da lei nova. oportuno ressaltar que o direito adquirido no se confunde com a expectativa de direito nem com as meras faculdades legais. Com efeito, direito adquirido o que j se incorporou ao patrimnio e personalidade de seu titular; o direito adimplido, completo. Expectativa de direito a simples esperana, resultante de um fato aquisitivo incompleto. Mera faculdade legal o poder conferido pela lei ao indivduo e do qual ele ainda no fez uso. Apenas o primeiro est a salvo da retroatividade da lei nova. O art. 5, XXXVI, da CF/88 (a lei no prejudicar o direito adquirido, o ato jurdico perfeito e a coisa julgada) se aplica a toda e qualquer lei

infraconstitucional, independente de ser ela de direito pblico ou de direito privado, de ordem pblica ou dispositiva (Precedentes do STF). I.6 EFICCIA DA LEI NO ESPAO (DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO) Para definir a eficcia da lei no espao, o ordenamento jurdico ptrio adotou o princpio da territorialidade moderada, pelo qual, em regra, aplicam-se no territrio brasileiro apenas as leis brasileiras, com vistas preservao da soberania nacional (territorialidade). Entretanto, em certas hipteses, admite-se a aplicao da lei estrangeira no territrio nacional e vice-versa, segundo os princpios e convenes internacionais (extraterritorialidade). Sobre isso, Arnoldo Wald leciona que embora geralmente seja aplicvel a lei do pas em que o conflito apresentado, chamada lex fori, ou lei do foro, admite-se a aplicao da lei nacional da pessoa ou lei da nacionalidade, da lei do seu domiclio, da lei da situao do objeto, ou seja, do lugar onde se encontra (lex rei sitae), e da lei do lugar em que se processou o ato jurdico (locus regit actum). H que se salientar, contudo, que mesmo nos casos em que a extraterritorialidade se apresenta admissvel, sua aplicao no territrio nacional submete-se s limitaes impostas pela legislao brasileira. Neste sentido, as leis, atos e sentenas de outro pas, bem como quaisquer declaraes de vontade, no tero eficcia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pblica e os bons costumes. AXIOMA JURDICO - DIREITO CIVIL - PRIMEIRA PARTE Professores Marcelo Velasco Nascimento Albernaz / Marcelo Lopes de Jesus 9 II PARTE GERAL DO CDIGO CIVIL II.1 CONSIDERAES PRELIMINARES O Direito Civil Constitucional (Constitucionalizao ou Publicizao do Direito Civil) Como apontado por Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves3, certo e induvidoso que a Constituio a norma suprema do sistema jurdico brasileiro, devendo-lhe obedincia, formal e material, todos os demais atos normativos, sob pena de se lhes reconhecer a inconstitucionalidade, com a conseqente expulso do sistema. Contudo, h que se reconhecer que a preocupao com o cumprimento da Constituio, ou mesmo com a realizao de seus princpios ou determinaes, somente se fez premente aps a edio do texto de 1988. Com efeito, assinala Lus Roberto Barroso que: A Constituio, liberta da tutela indevida do regime militar, adquiriu fora normativa e foi alada, ainda que tardiamente, ao centro do sistema jurdico, fundamento e filtro de toda a legislao infraconstitucional. Sua supremacia, antes apenas formal, entrou na vida do pas e das instituies4. O Cdigo Civil, por sua vez, era visto, na feliz expresso de Gustavo Tepedino, como verdadeira constituio do direito privado. Logicamente no podemos esquecer que o Cdigo Civil de 1916 foi encaminhado ao Congresso Nacional em 1899, sculo XIX portanto, elaborado sob as concepes individualista e voluntarista, prprias das codificaes oitocentistas. O sculo XX, entretanto, viu surgir um movimento crescente de descodificao, com o ajuste de diversas matrias em diplomas legislativos prprios, que se propunham, ao menos em tese, a regular integralmente a matria, inclusive envolvendo campos distintos do direito, tanto de ordem privada quanto pblica (penal, processual), criando verdadeiros microssistemas. Pode-se citar como exemplo a Lei de Registros Pblicos (6.015/73), o Estatuto da Mulher Casada, a Lei de Incorporaes e Condomnios (4.591/64), o Estatuto da Criana e do Adolescente, o Cdigo de Defesa do Consumidor, o Cdigo de Trnsito. Dessa forma, consoante Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves, houve, efetivamente, um deslocamento do centro nevrlgico do Direito Civil de um centro codificado monoltico para uma realidade fragmentada e pluralista, atravs de

estatutos autnomos, situados hierarquicamente ao lado da Codificao e no submissos a ela5 3 FARIAS, Cristiano e ROSENVALD, Nelson. Direito Civil Teoria Geral. Ed. Lmen Jris, 6 ed. 2007, pp. 20-21 4 BARROSO, Lus Roberto. O Direito Constitucional e a efetividade de suas normas limites e possibilidades da Constituio Brasileira. Ed. Renovar, 6 ed. 2002 5 FARIAS, Cristiano e ROSENVALD, Nelson, op. cit.; p.23 AXIOMA JURDICO - DIREITO CIVIL - PRIMEIRA PARTE Professores Marcelo Velasco Nascimento Albernaz / Marcelo Lopes de Jesus 10 Sintetizando, Gustavo Tepedino esclarece que: o Cdigo Civil perde, assim, definitivamente, o seu papel de Constituio do direito privado. Os textos constitucionais, paulatinamente, definem princpios relacionados a temas antes reservados exclusivamente ao Cdigo Civil e ao imprio da vontade: a funo social da propriedade, os limites da atividade econmica, a organizao da famlia, matrias tpicas do direito privado, passam a integrar uma nova ordem pblica constitucional. Por outro lado, o prprio direito civil, atravs da legislao extracodificada, desloca sua preocupao central, que j no se volta tanto para o indivduo, seno para as atividades por ele desenvolvidas e os riscos delas decorrentes6. Portanto, fica claro que a expresso Direito Civil Constitucional traduz este novo sistema de normas e princpios, reguladores da vida privada, relativos proteo da pessoa nas suas mais diferentes dimenses fundamentais integrado pela Constituio. H que se fazer uma leitura da norma civil, conseqentemente, de modo a compreender sua estrutura interna a partir da legalidade constitucional, modificando, se necessrio, seus contornos, alcance e conseqncias, e no apenas interpret-la em consonncia com a Constituio. A esse respeito h interessante precedente jurisprudencial, da lavra da Ministra Ftima Nancy Andrighi (STJ, Ac. 4 T., REsp. 453464/MG, j. 02.09.2003), onde, tratando-se de restituio de valores cobrados indevidamente de um correntista por uma instituio financeira, cuja restituio veio a ser determinada judicialmente e, claramente fundada no princpio da igualdade substancial (constitucionalmente assegurada), a Ministra determinou que os valores indevidamente cobrados pela entidade bancria fossem atualizados pelo percentual de juros cobrados por ela de seus correntistas em situaes de atraso ou dbito. Textualmente: Contrato de abertura de crdito em conta-corrente (cheque especial). Cobrana de valores indevidos pela instituio financeira. Restituio ao correntista. Remunerao do indbito. Taxa idntica exigida pela instituio financeira em situaes regulares. Possibilidade. (...) Se, em contrato de cheque especial pactuado taxa de 11% ao ms, a instituio financeira cobrou valor de seu correntista indevidamente, dever restitu-lo acrescido da mesma taxa, isto , 11% ao ms. (...) A remunerao do indbito mesma taxa praticada para o cheque especial se justifica, por sua vez, como a nica forma de se impedir o enriquecimento sem causa pela instituio financeira. Hoje em dia podemos afirmar, sem receio algum, que a aplicao dos Direitos Fundamentais (previstos constitucionalmente) se d igualmente nas relaes privadas, essa a chamada eficcia horizontal dos direitos fundamentais, reconhecida textualmente pelo STF em outubro de 2006, no Recurso Extraordinrio 201.819/RJ, em voto condutor do Ministro Gilmar Mendes. 6 TEPEDINO, Gustavo. Temas de Direito Civil. Ed. Renovar, 2 ed. 2001, p.7 AXIOMA JURDICO - DIREITO CIVIL - PRIMEIRA PARTE Professores Marcelo Velasco Nascimento Albernaz / Marcelo Lopes de Jesus 11

Por bvio, essa aplicao direta dos princpios fundamentais nas relaes privadas trar consigo a mitigao do princpio da autonomia da vontade, que sempre norteou o direito civil. Contudo, tambm bvio que o reconhecimento da autonomia privada no pode implicar a violao das garantias fundamentais que materializam a prpria dignidade humana. Nos dizeres de Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves, no se pode, pois, tolerar que uma parte venha, atravs de contratos e negcios em geral, atentar contra as garantias bsicas da outra7. Dessa forma, evidente que, em muitas situaes, o operador do Direito se deparar com situaes de conflito normativo, envolvendo os princpios e critrios apontados anteriormente. Essa possibilidade de contradio entre diferentes normas ou princpios integrantes de um mesmo sistema um fenmeno perfeitamente normal e at mesmo inevitvel. A propsito, a lio de Daniel Sarmento, a Constituio de 1988 espraiou-se por uma mirade de assuntos, que vo da famlia energia nuclear. Assim, difcil que qualquer controvrsia relevante no direito brasileiro no envolva, direta ou indiretamente, o manejo de algum princpio ou valor constitucional8. A resoluo dos conflitos normativos, como asseveram Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves9, no mais pode estar sustentada pelos critrios clssicos estabelecidos, como os pouco eficientes e insuficientes norma posterior revoga norma anterior e norma especial revoga a geral. Assim, surge a ponderao de interesses (ou proporcionalidade) como critrio seguro para as colises normativas, sempre centrada no valor mximo constitucional, a dignidade da pessoa humana. Observe-se, respeito, o disposto nos enunciados 274 e 279 da IV Jornada de Direito Civil do Conselho da Justia Federal: 274 Art. 11. Os direitos da personalidade, regulados de maneira no-exaustiva pelo Cdigo Civil, so expresses da clusula geral de tutela da pessoa humana, contida no art. 1, III, da Constituio (princpio da dignidade da pessoa humana). Em caso de coliso entre eles, como nenhum pode sobrelevar os demais, devese aplicar a tcnica da ponderao. 279 Art. 20. A proteo imagem deve ser ponderada com outros interesses constitucionalmente tutelados, especialmente em face do direito de amplo acesso informao e da liberdade de imprensa. Em caso de coliso, levar-se- em conta a notoriedade do retratado e dos fatos abordados, bem como a veracidade destes e, ainda, as caractersticas de sua utilizao (comercial, informativa, biogrfica), privilegiando-se medidas que no restrinjam a divulgao de informaes. Sempre mantendo em vista o princpio da dignidade da pessoa humana, podemos estabelecer que o Novo Cdigo Civil adota, alm dos princpios basilares (personalidade, autonomia da vontade, liberdade de estipulao negocial, 7 FARIAS, Cristiano e ROSENVALD, Nelson, op. cit.; p.32 8 SARMENTO, Daniel. A ponderao de interesses na Constituio Federal, ed. Lumen Juris, 2002. p.23. 9 FARIAS, Cristiano e ROSENVALD, Nelson, op. cit.; p.33 AXIOMA JURDICO - DIREITO CIVIL - PRIMEIRA PARTE Professores Marcelo Velasco Nascimento Albernaz / Marcelo Lopes de Jesus 12 propriedade individual, intangibilidade familiar, legitimidade da herana e direito de testar) novos princpios norteadores, a saber: a socialidade, a eticidade e a operabilidade. A Socialidade, que traz consigo a determinao de que as relaes no devam mais ser vistas como de interesse apenas interpessoal dos indivduos vinculados obrigao, mas de toda a sociedade, em virtude de valores de bem comum, fazendo com que, o princpio da autonomia da vontade seja relativizado, como por exemplo, nas relaes contratuais, onde, hodiernamente, h marcante intervencionismo estatal.

O princpio da Eticidade traz consigo a idia da essencialidade da boa-f objetiva das relaes, sem a qual o negcio jurdico padece de irregularidade. H tambm, como disciplina da nova civilstica, o princpio da operabilidade, buscando trazer uma maior efetividade das regras do Cdigo Civil. Tais modificaes, relacionadas aos princpios mencionados, so melhores compreendidas se examinados pontualmente, alguns de seus exemplos. Inicialmente, no que tange socializao, preliminarmente especulou-se que havia surgido uma espcie de crise dos contratos, haja vista que a autonomia da vontade plena, perde espao para a relao contratual voltada realidade social dos envolvidos na relao negocial. Por certo, no h uma crise em si, mas apenas uma modificao do prisma fundamental da relao obrigacional-contratual, qual seja, a vontade. No h mais vontade livre e irrestrita das partes para contratarem da forma que entenderem. H um marcante intervencionismo estatal, por vezes com a edio de leis especficas, provocando a tendncia do que se vem a chamar de Imprio dos Contratos Standard, ou seja, frmulas contratuais preestabelecidas para adeso ou no dos interessados. Nunca bastante lembrar que, conforme disposio do artigo 104, do Cdigo Civil, a validade do negcio jurdico requer, alm de agente capaz e objeto lcito, a forma prescrita ou no defesa em lei. Isto significa que as relaes contratuais ficam adstritas aos limites impostos pelo legislador, que produz, cada vez mais, regras de cunho social, como por exemplo, o Cdigo Brasileiro de Defesa do Consumidor. No que tange ao princpio da eticidade, o novo cdigo reserva importncia fundamental boa f, conforme j mencionado anteriormente. V-se exemplo disso, em vrios dispositivos concernentes parte geral e ao direito obrigacional da referida codificao, como no artigo 113, onde h previso de que os negcios jurdicos devem ser interpretados conforme a boa-f; e ainda, por exemplo, no artigo 311, que dispe que autorizado a receber o pagamento o portador da quitao, por haver a a presuno da boa-f dos agentes. AXIOMA JURDICO - DIREITO CIVIL - PRIMEIRA PARTE Professores Marcelo Velasco Nascimento Albernaz / Marcelo Lopes de Jesus 13 Por fim, acerca da operabilidade, h que se mencionar que por certo a vertente mais modificadora da sistemtica do novo cdigo. Tanto assim, que muda a prpria disposio da parte do Direito das Obrigaes como primeiro Livro da Parte Especial, diversamente do que ocorria no Cdigo de 1916 (Livro III da Parte Especial), por ser de melhor aceitao lgica, pois os diversos ramos do Direito Civil dependem de prvio conhecimento de conceitos da teoria do Direito Obrigacional, bem como, de sua ordenao legislativa. Por outro lado, a operabilidade tambm se faz presente na adoo inovadora de dispositivos tendentes auto-tutela, quais sejam, por exemplo, os artigos 249, pargrafo nico, e 251, pargrafo nico. Tais artigos visam a uma proteo de urgncia contra o perecimento de direitos, trazendo eficcia das determinaes legais, de forma imediata. Atualmente, encontra-se em vigor o Cdigo Civil de 2002 (Lei n 10.406), o qual foi promulgado em 10/01/2002, tendo como data inicial de sua vigncia o dia 11/01/200310. Tal Cdigo encontra-se dividido em duas partes: 1 - Geral - que trata dos sujeitos de direito (pessoas), do objeto do direito (bens jurdicos) e dos fatos jurdicos. A parte geral fixa conceitos, categorias e princpios que produzem reflexos em todo o ordenamento jurdico e cuja fixao condio de aplicao da Parte Especial e da ordem jurdica (MHD); 2 - Especial - que contm normas relativas ao vnculo entre o sujeito e o objeto, cuidando do direito das obrigaes, do direito de empresa, do direito das coisas, do direito de famlia e do direito das sucesses. O Cdigo Civil de 2002 foi precedido pelo Cdigo Civil de 1916, antes do

qual vigoraram as Ordenaes do Reino (Afonsinas, Manuelinas e Filipinas). II.2- DAS PESSOAS III.2.1 PERSONALIDADE Segundo a teoria tradicional, pessoa o ente fsico ou coletivo suscetvel de direitos e obrigaes (MHD). Por personalidade jurdica h que se entender a aptido genrica para adquirir direitos e obrigaes (CMSP). Logo, toda pessoa tem personalidade jurdica, vez que capaz de direitos e obrigaes na ordem civil. Como decorrncia da personalidade, reconhecem-se direitos inerentes pessoa, de carter extrapatrimonial, denominados direitos da personalidade. Maria Helena Diniz os define como direitos comuns da existncia, porque so 10 H autores, como Nelson Nery, que sustentam que o Cdigo Civil de 2002 somente entrou em vigor no dia 12 de janeiro de 2002. AXIOMA JURDICO - DIREITO CIVIL - PRIMEIRA PARTE Professores Marcelo Velasco Nascimento Albernaz / Marcelo Lopes de Jesus 14 simples permisses dadas pela norma jurdica, a cada pessoa, de defender um bem que a natureza lhe deu, de maneira primordial e direta. Ex.: Integridade fsica, integridade intelectual e integridade moral. Segundo o art. 11 do Cdigo Civil/2002, com exceo dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade so intransmissveis e irrenunciveis, no podendo o seu exerccio sofrer limitao voluntria. A doutrina ainda relaciona, entre outras, as seguintes caractersticas dos direitos da personalidade: imprescritibilidade, impenhorabilidade, e extrapatrimonialidade. Todos esses atributos decorrem, logicamente, do fato de os direitos da personalidade serem inerentes pessoa humana. Acerca da defesa dos direitos da personalidade, o Cdigo Civil/2002 prescreve: Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaa, ou a leso, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuzo de outras sanes previstas em lei. Pargrafo nico. Em se tratando de morto, ter legitimao para requerer a medida prevista neste artigo o cnjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral at o quarto grau. Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessrias administrao da justia ou manuteno da ordem pblica, a divulgao de escritos, a transmisso da palavra, ou a publicao, a exposio ou a utilizao da imagem de uma pessoa podero ser proibidas a seu requerimento e sem prejuzo da indenizao que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais. Pargrafo nico. Em se tratando de morto ou de ausente, so partes legtimas para requerer essa proteo o cnjuge, os ascendentes ou os descendentes. Art. 21. A vida privada da pessoa natural inviolvel, e o Juiz, a requerimento do interessado, adotar as providncias necessrias para impedir ou fazer cessar ato contrrio a esta norma. No se pode olvidar, ainda, que os direitos da personalidade no so assegurados apenas pessoa natural. Pelo contrrio, o Cdigo Civil/2002 estabelece que aplica-se s pessoas jurdicas, no que couber, a proteo dos direitos da personalidade (art. 52). II.2.1.1 OUTRAS NORMAS RELATIVAS AOS DIREITOS DA PERSONALIDADE CONSTANTES DO CDIGO CIVIL/2002 Art. 13. Salvo por exigncia mdica, defeso o ato de disposio do prprio corpo, quando importar diminuio permanente da integridade fsica, ou contrariar os bons costumes. Pargrafo nico. O ato previsto neste artigo ser admitido para fins de

transplante, na forma estabelecida em lei especial. Os transplantes atualmente so disciplinados pela Lei n 9.434/97 e alteraes posteriores, sendo terminantemente vedada pela Constituio Federal a comercializao de rgos do corpo humano (art. 199, 4, CF/88). AXIOMA JURDICO - DIREITO CIVIL - PRIMEIRA PARTE Professores Marcelo Velasco Nascimento Albernaz / Marcelo Lopes de Jesus 15 Art. 14. vlida, com objetivo cientfico, ou altrustico, a disposio gratuita do prprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte. Pargrafo nico. O ato de disposio pode ser livremente revogado a qualquer tempo. Art. 15. Ningum pode ser constrangido a submeter-se, com rico de vida, a tratamento mdico ou a interveno cirrgica. II.2.2 PESSOA NATURAL II.2.2.1 CONCEITO E CAPACIDADE Pessoa natural o ser humano, enquanto sujeito de direitos e obrigaes. Logo, toda pessoa natural possui personalidade. A personalidade tem sua medida na capacidade, a qual, segundo Antnio Chaves, a manifestao do poder de ao implcito no conceito de personalidade ou, segundo Virglio de S Pereira, a medida jurdica da personalidade. No h que se confundir, todavia, capacidade com legitimao. Legitimao consiste em saber se uma pessoa tem ou no competncia para estabelecer determinada relao jurdica, sendo, portanto, um pressuposto subjetivo-objetivo, enquanto a capacidade de gozo pressuposto subjetivo do negcio jurdico (MHD). A capacidade se subdivide em: - capacidade de gozo ou de direito - aptido, oriunda da personalidade, para adquirir direitos e contrair obrigaes na vida civil, o ser humano adquire a plena capacidade de direito no nascimento com vida, momento em que adquire personalidade civil; - capacidade de fato ou de exerccio - a aptido de exercer por si os atos da vida civil dependendo, portanto, do discernimento que critrio, prudncia, juzo, tino, inteligncia, e, sob o prisma jurdico, a aptido que tem a pessoa de distinguir o lcito do ilcito, o conveniente do prejudicial. O indivduo adquire a plena capacidade de exerccio em dois momentos distintos, em razo da idade aos dezoito anos completos, e, antes da idade legal pela emancipao. Incapacidade, por sua vez, a restrio legal ao exerccio dos atos da vida civil. Deve-se levar em considerao o princpio de que a incapacidade a exceo, a capacidade a regra (SR). A incapacidade provm apenas da lei e tem por fundamento a necessidade de proteo aos interesses de determinadas pessoas. A incapacidade pode ser: - absoluta - incapacidade para praticar pessoalmente os atos da vida civil. Os absolutamente incapazes possuem o direito, mas no podem exerc-lo AXIOMA JURDICO - DIREITO CIVIL - PRIMEIRA PARTE Professores Marcelo Velasco Nascimento Albernaz / Marcelo Lopes de Jesus 16 pessoalmente, devendo ser representados. A prtica do ato pelo absolutamente incapaz acarreta sua nulidade (art. 166, I, CC), eis que falta um elemento substancial do negcio (manifestao vlida de vontade); - relativa - incapacidade para praticar, sem assistncia, certos atos da vida civil. Os relativamente incapazes possuem o direito, podendo exerc-lo pessoalmente, desde que assistidos. A prtica do ato pelo relativamente incapaz sem estar assistido acarreta sua anulabilidade (art. 171, I, CC). So absolutamente incapazes: - os menores de 16 (dezesseis) anos. - os que, por enfermidade ou deficincia mental, no tiverem o

necessrio discernimento para a prtica dos atos da vida civil. Em regra, somente os atos praticados por tais incapazes aps a decretao de sua interdio que se tornam nulos. Por isso, parte substancial da doutrina sustenta que a sentena de interdio declaratria no sentido de reconhecer a causa da incapacidade e constitutiva em seus efeitos. Os atos praticados antes disso, entretanto, podem ser invalidados atravs de ao prpria, mediante prova robusta de que, ao tempo de sua prtica, o contratante j era incapaz. A esse respeito, Slvio Rodrigues leciona que devem prevalecer os negcios praticados pelo amental no interditado, quando a pessoa que com ele contratou ignorava e carecia de elementos para verificar que se tratava de um alienado. Entretanto, se a alienao era notria, se o outro contratante dela tinha conhecimento, se podia, com alguma diligncia, apurar a condio de incapaz, ou, ainda, se da prpria estrutura do negcio ressaltava que seu proponente no estava em seu juzo perfeito, ento o negcio no pode ter validade, pois a idia de proteo boa-f no mais ocorre. Sobre o assunto, o STJ j decidiu que "...os atos praticados pelo interditado anteriores interdio podem ser anulados, desde que provada a existncia da anomalia psquica causa da incapacidade j no momento em que se praticou o ato que se quer anular ... (STJ, 4 Turma, RESP n 255271/GO, DJ de 05/03/2001, p.171). Impe-se ressaltar, ainda, que os intervalos lcidos no so admitidos, atualmente, como causa de cessao temporria da incapacidade. A senilidade, por si s, tambm no causa de incapacidade, como tambm no o a idade provecta, avanada. - os que, mesmo por causa transitria, no puderem exprimir sua vontade - Apesar de haver incapacidade mesmo em se tratando de causa transitria, o art. 1.767, II, do Cdigo Civil s se refere curatela daqueles que, por causa duradoura, no puderem exprimir a sua vontade. A concluso a que se chega a de que, em se tratando de causa transitria, invivel ser a prvia interdio, uma vez que, durante o procedimento respectivo, provvel a cessao da incapacidade. Assim, em tais casos de incapacidade transitria o efeito do dispositivo consiste basicamente em ensejar o reconhecimento da nulidade absoluta dos atos praticados pelo incapaz. AXIOMA JURDICO - DIREITO CIVIL - PRIMEIRA PARTE Professores Marcelo Velasco Nascimento Albernaz / Marcelo Lopes de Jesus 17 Os ausentes no mais so relacionados entre os absolutamente incapazes, impropriedade tcnica existente no Cdigo Civil anterior. Contudo, mantm-se a proteo ao patrimnio dos mesmos, conforme se ver adiante. So relativamente incapazes: - os maiores de 16 e menores de 18 anos No obstante isso, o maior de 16 anos pode ser testemunha de ato jurdico (art. 228, I, do CC), aceitar mandato (art. 666, CC), ser eleitor (facultativo at os 18 anos), casar mediante autorizao (art. 1.517, CC), fazer testamento (art. 1.860, pargrafo nico, CC) etc. Ressalte-se que tais atos praticados sem assistncia pelo menor relativamente incapaz no emancipado, so vlidos. - os brios habituais, os viciados em txicos, e os que, por deficincia mental, tenham o discernimento reduzido. Submetem-se curatela, nos termos do art. 1.767, III, CC, portanto, para o reconhecimento desta modalidade de incapacidade h que se proceder interdio do indivduo. No basta a condio de alcolatra ou de toxicmano, em si mesma, para a configurao da incapacidade relativa, h que estar presente o componente discernimento reduzido, ou seja, a dependncia qumica h que ser de tal monta que comprometa o entendimento. - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo. Submetemse curatela, nos termos do art. 1.767, IV, CC, tambm necessrio se faz o procedimento de interdio. - os prdigos So aqueles que, desordenadamente, dilapidam os seus

bens ou patrimnio, fazendo gastos excessivos ou anormais. Sua incapacidade se limita aos atos que possam comprometer seu patrimnio. Ao contrrio do Cdigo Civil de 1916, a incapacidade do prdigo agora estabelecida com o objetivo de proteg-lo, e no de proteger apenas alguns de seus familiares. Quanto aos ndios, o Cdigo Civil/2002 remete a disciplina da incapacidade dos mesmos legislao especial, que atualmente o Estatuto do ndio (Lei n 6.001/73). Essa Lei coloca o silvcola e sua comunidade sob regime tutelar, enquanto no integrados comunho nacional, admitindo, em certas hipteses, sua emancipao individual e at mesmo a emancipao de toda uma comunidade. O ordenamento jurdico ptrio estabelece instrumentos de proteo aos incapazes, entre os quais sobressai a exigncia de representao e de assistncia para a validade dos atos da vida civil. Entretanto, diversos outros dispositivos legais destinam-se a proteger os incapazes, podendo-se citar, a ttulo de exemplo, os seguintes: art. 198, I, e 208, CC - no corre a prescrio e a decadncia contra os absolutamente incapazes; art. 588 do CC - o mtuo feito a menor no pode ser reavido, salvo nos casos do art. 589; etc. AXIOMA JURDICO - DIREITO CIVIL - PRIMEIRA PARTE Professores Marcelo Velasco Nascimento Albernaz / Marcelo Lopes de Jesus 18 A incapacidade da pessoa natural cessa quando desaparecem as causas que a determinaram. Assim, a incapacidade do menor cessa com a maioridade, o que ocorre aos 18 anos completos. Admite-se, entretanto, a cessao da incapacidade do menor antes da idade legal, caso em que se diz ocorrer sua emancipao. A emancipao pode decorrer de ato de vontade ou de certos eventos. A emancipao resultante de ato de vontade decorre de concesso dos pais (o menor deve ter 16 anos completos; o instrumento pblico indispensvel; independe de homologao judicial; irrevogvel; somente produz efeitos aps o registro) ou de sentena do juiz, ouvido o tutor (esta hiptese aplicvel se se tratar de menor sob tutela; o menor deve ter 16 anos completos; irrevogvel; somente produz efeitos aps o registro). A jurisprudncia, entretanto, tem entendido que a emancipao por outorga dos pais no exclui, por si s, a responsabilidade decorrente de atos ilcitos do filho11. Ressalte-se que com a emancipao o indivduo no atinge a maioridade, mas to somente adquire capacidade civil (capacidade de fato ou exerccio) plena, antes da idade legal. A anlise do disposto no pargrafo nico do artigo 5 do Cdigo Civil no deixa dvidas a esse respeito, ao dispor que cessa para os menores a incapacidade..., ou seja, o que termina a incapacidade, mas o indivduo continua a ser menor. Por sua vez, os eventos que ensejam a emancipao do menor so os seguintes: - casamento Segundo Maria Helena Diniz, se houver alterao da situao do casamento por viuvez, separao, divrcio ou anulao, a cessao da incapacidade prevalece. Entretanto, com maior propriedade, leciona Carlos Roberto Gonalves: O casamento nulo, entretanto, no produz nenhum efeito. Proclamada a nulidade, ou mesmo a anulabilidade, o emancipado retorna situao de incapaz, salvo se o contraiu de boa-f. Neste caso, o casamento ser putativo em relao a ele e produzir todos os efeitos de um casamento vlido, inclusive a emancipao; - pelo exerccio de emprego pblico efetivo; emprego pblico efetivo aquele provido mediante concurso pblico, no algo simples de ocorrer aos indivduos menores de 18 anos, at mesmo pela proibio constante na Lei 8.112/90 (artigo 5, V), de todo modo h a previso na lei civil. Perceba-se que o Cdigo Civil prev como bastante para a emancipao o exerccio do emprego pblico efetivo e no a posse ou a aprovao no concurso pblico. - pela colao de grau em curso de ensino superior; novamente no

algo que acontece corriqueiramente antes dos 18 anos, mas, de todo modo, ocorrendo a colao de grau ocorrer a emancipao. - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existncia de relao de emprego, desde que, em funo deles, o menor com 16 (dezesseis) anos completos tenha economia prpria. 11 STJ, 3 Turma, RESP 122573/PR, Rel.: Min. EDUARDO RIBEIRO, deciso de 23/06/1998, DJ de 18/12/1998, p. 340. AXIOMA JURDICO - DIREITO CIVIL - PRIMEIRA PARTE Professores Marcelo Velasco Nascimento Albernaz / Marcelo Lopes de Jesus 19 II.2.2.2 INCIO E FIM DA PERSONALIDADE O comeo da personalidade da pessoa natural ocorre com o nascimento com vida, o que se prova mediante a demonstrao de que houve respirao (entrada de ar nos pulmes) - independentemente do corte do cordo umbilical -, no se exigindo forma humana nem viabilidade, em caso de dvida de haver a criana respirado ou no se recorre, normalmente, a medicina legal para comprovao. A extino da personalidade da pessoa natural ocorre com a morte real ou presumida, com ou sem declarao de ausncia. A ausncia gera a presuno de morte nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucesso definitiva. Alm disso, o Cdigo Civil admite a declarao da morte presumida, sem decretao de ausncia, se for extremamente provvel a morte de quem estava em perigo de vida ou se algum, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, no for encontrado at dois anos aps o trmino da guerra. Em tais casos, a declarao da morte presumida somente poder ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguaes, devendo a sentena fixar a data provvel do falecimento. A morte normalmente se prova com a certido extrada do registro de bito. Se dois ou mais indivduos falecerem numa mesma ocasio, no havendo possibilidade de se determinar qual precedeu aos outros, presumir-se-o simultaneamente mortos, ocorrendo o que se denomina comorincia (art. 8 CC). A principal decorrncia jurdica da comorincia que no h transmisso de direitos entre comorientes, especialmente direitos hereditrio, tome-se o seguinte exemplo: marido e mulher no tm ascendentes e nem descendentes, mas ambos tm parentes colaterais, ocorrendo a morte dos dois, caso o marido morra primeiro a esposa seria sua herdeira da totalidade da herana e, com o falecimento da esposa em seguida todo o patrimnio do casal seria transmitido por herana para os colaterais da esposa, no havendo transmisso para os herdeiros do marido. Entretanto, se o marido morresse depois a situao seria invertida. Caso no se pudesse averiguar quem morreu primeiro presumir-se-ia a simultaneidade das mortes a comorincia e no haveria transmisso de bens entre os cnjuges, ficando os bens de cada um para os respectivos parentes colaterais. Ressalte-se, por oportuno, que comorincia no guarda relao com evento, local, ocorrncia, mas sim com momento, tempo. Embora seja extremamente incomum possvel que duas pessoas morram em locais absolutamente distintos uma no Rio Grande do Norte e a outra no Rio Grande do Sul, por exemplo no mesmo dia, e se aplique comorincia, basta que no seja possvel averiguar quem morreu em primeiro lugar. A comorincia gera a presuno relativa, juris tantum, da simultaneidade das mortes, logicamente se for possvel, atravs de prova pericial, testemunhal ou eventualmente at mesmo documental, a constatao da ordem em que ocorreram as mortes no h necessidade de se aplicar o instituto da comorincia. Para a sua AXIOMA JURDICO - DIREITO CIVIL - PRIMEIRA PARTE Professores Marcelo Velasco Nascimento Albernaz / Marcelo Lopes de Jesus 20 aplicao no h a necessidade da comprovao da simultaneidade das mortes, a

exigncia exatamente o contrrio, no havendo prova do momento das mortes que se aplica a comorincia. II.2.2.3 DOMICLIO DA PESSOA NATURAL Domiclio a sede jurdica da pessoa. No caso da pessoa natural, a regra a de que seu domiclio o lugar onde ela estabelece sua residncia com nimo definitivo (art. 70 CC). Logo, o domiclio da pessoa natural pressupe, em regra, dois elementos: um objetivo (residncia) e um subjetivo (nimo definitivo). tambm domiclio da pessoal natural, quanto s relaes concernentes profisso, o lugar onde esta exercida. Se a pessoa natural possuir diversas residncias onde alternadamente viva ou se exercitar profisso em lugares diversos (pluralidade domiciliar), considerar-se- domiclio seu qualquer daquelas, ou, para as respectivas relaes, qualquer destes. No caso de a pessoa natural no possuir residncia habitual (falta de domiclio certo), seu domiclio ser o do lugar onde for encontrada. O domiclio pode ser (espcies): - voluntrio - fixado livremente pelo indivduo. Pode ser geral (fixado pela prpria vontade do indivduo capaz) ou especial (estabelecido de acordo com os interesses das partes em um contrato, a fim de fixar o local onde os direitos e as obrigaes contratuais devem ser exigidos ou cumpridas; tambm chamado de domiclio de eleio ou convencional); - necessrio ou legal - determinado pela lei. Em certos casos de domiclio legal, entretanto, admite-se a pluralidade domiciliar, como ocorre em relao ao servidor pblico que, apesar de exercer permanentemente suas funes em uma localidade, possui residncia com nimo definitivo em outra. Os casos de domiclio legal esto expressos no Cdigo Civil, no Art. 76 e pargrafo nico: Tm domiclio necessrio o incapaz, o servidor pblico, o militar, o martimo e o preso. Pargrafo nico. O domiclio do incapaz o do seu representante ou assistente; o do servidor pblico, o lugar em que exercer permanentemente suas funes; o do militar, onde servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronutica, a sede do comando a que se encontrar imediatamente subordinado; o do martimo, onde o navio estiver matriculado; e o do preso, o lugar em que cumprir a sentena. Muda-se o domiclio, transferindo a residncia, com a inteno manifesta de o mudar. A prova da inteno resultar do que declarar a pessoa s municipalidades dos lugares, que deixa, e para onde vai, ou, se tais declaraes no fizer, da prpria mudana, com as circunstncias que a acompanharem. AXIOMA JURDICO - DIREITO CIVIL - PRIMEIRA PARTE Professores Marcelo Velasco Nascimento Albernaz / Marcelo Lopes de Jesus 21 II.2.2.4 DA AUSNCIA II.2.2.4.1 CONCEITO Ausente a pessoa que desaparece de seu domiclio, sem que dela haja notcia, e que no deixa representante, ou procurador, a quem toque administrarlhe os bens, ou cujo mandatrio no queira, ou no possa exercer ou continuar o mandato, ou se seus poderes forem insuficientes. II.2.2.4.2 FASES DA AUSNCIA Direito Civil Parte Geral Marcelo Jesus Cdigo Civil Da Ausncia Desaparecimento Decretao de Ausncia Arrecadao Sucesso Provisria

Sucesso Definitiva 10 anos 1 ANO 10 ANOS 10 ANOS - CURATELA DO AUSENTE: O juiz, a requerimento de qualquer interessado ou do MP, verificando a ausncia, declarar esta (por sentena que deve ser registrada no registro civil de pessoas naturais), mandar arrecadar os bens do ausente e nomear curador a este, fixando os poderes e obrigaes, conforme as circunstncias. Feita a arrecadao, o juiz mandar publicar editais durante um ano, reproduzidos de dois em dois meses, anunciando a arrecadao e chamando o ausente a entrar na posse de seus bens. Cessa a curadoria pelo comparecimento do ausente, do seu procurador, ou de quem o represente; pela certeza da morte do ausente; pela sucesso provisria. A curadoria ser exercida pelo cnjuge no separado judicialmente, ou de fato por mais de dois anos antes da declarao da ausncia; por seu pai ou por sua me; por seus descendentes (os mais prximos precedem aos mais remotos e, entre os do mesmo grau, os vares preferem s mulheres), nesta ordem, desde AXIOMA JURDICO - DIREITO CIVIL - PRIMEIRA PARTE Professores Marcelo Velasco Nascimento Albernaz / Marcelo Lopes de Jesus 22 que no haja impedimento que os iniba de exercer o cargo. Na falta de qualquer dessas pessoas, compete ao Juiz a escolha do curador. Passado um ano da arrecadao, ou trs anos, se o ausente deixou representante ou procurador, sem que se saiba do ausente e no tendo comparecido seu procurador ou representante, podero os interessados requerer que se abra provisoriamente a sucesso. - SUCESSO PROVISRIA: Pode ser requerida por qualquer interessado, assim considerados: o cnjuge no separado judicialmente, os herdeiros presumidos legtimos e testamentrios; os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte; os credores de obrigaes vencidas e no pagas. No havendo interessados, cabe ao MP promover a sucesso provisria do ausente. Cumpre aos herdeiros, para serem imitidos na posse dos bens do ausente, dar garantias de os restituir, mediante penhores ou hipotecas equivalentes aos quinhes respectivos. Aquele que no puder prestar a garantia ser excludo, mantendo-se os bens que lhe caberiam sob a administrao do curador, ou de outro herdeiro designado pelo juiz, e que preste a garantia. O excludo, entretanto, poder, justificando a falta de meios, requerer lhe seja entregue a metade dos rendimentos do quinho que lhe caberia. Os ascendentes, os descendentes e o cnjuge, uma vez provada a sua qualidade de herdeiros, podero, independentemente de garantia, entrar na posse dos bens do ausente. Os imveis do ausente somente podero ser alienados ou hipotecados no caso de desapropriao ou quando o ordene o juiz, para lhes evitar a runa. Empossados nos bens, os sucessores provisrios ficaro representando ativa e passivamente o ausente, de modo que contra eles correro as aes pendentes e as que de futuro quele forem movidas. Os descendentes, ascendentes ou o cnjuge que forem sucessores provisrios tero direito aos frutos e rendimentos dos bens que lhes couberem. Os demais sucessores devero capitalizar metade desses frutos e rendimentos e prestar anualmente contas ao juiz competente. Se o ausente aparecer, e ficar provado que a ausncia foi voluntria e injustificada, perder ele, em favor do sucessor, sua parte nos frutos e rendimentos. Se durante a posse provisria se provar a poca exata do falecimento do ausente, considerar-se-, nesta data, aberta a sucesso em favor dos herdeiros, que o eram quele tempo.

Se o ausente aparecer, ou se lhe provar a existncia, depois de estabelecida a posse provisria, cessaro para logo as vantagens dos sucessores nela imitidos, ficando, todavia, obrigados a tomar as medidas assecuratrias precisas, at a entrega dos bens. AXIOMA JURDICO - DIREITO CIVIL - PRIMEIRA PARTE Professores Marcelo Velasco Nascimento Albernaz / Marcelo Lopes de Jesus 23 A sentena que determinar a abertura da sucesso provisria s produzir efeito 180 dias depois de publicada na imprensa; mas, logo que passe em julgado, se procedero abertura do testamento, se houver, e ao inventrio e partilha dos bens, como se o ausente fosse falecido. Se dentro de 30 dias depois de passar em julgado a sentena que mandar abrir a sucesso provisria no comparecer interessado ou herdeiro que requeira o inventrio, proceder-se- arrecadao dos bens do ausente como herana jacente. - SUCESSO DEFINITIVA: A sucesso provisria se converter em definitiva quando houver certeza da morte do ausente; dez anos depois de passada em julgado a sentena de abertura da sucesso provisria; quando o ausente contar com oitenta anos de idade e houver decorrido cinco anos das ltimas notcias suas. Regressando o ausente nos 10 anos seguintes abertura da sucesso definitiva ou algum dos seus descendentes ou ascendentes, aqueles ou estes s podero requerer ao juiz a entrega dos bens existentes no estado em que se acharem, os sub-rogados em seu lugar ou o preo que os herdeiros e demais interessados houverem recebido pelos alienados depois daquele tempo. Se em tal prazo o ausente no retornar e nenhum interessado promover a sucesso definitiva, os bens arrecadados passaro ao domnio do Municpio ou do Distrito Federal, se localizados nas respectivas circunscries, incorporando-se ao domnio da Unio, quando situados em territrio federal. II.2.2.4.3 DOS EFEITOS DA AUSNCIA QUANTO AO DIREITO DE FAMLIA De acordo com o Cdigo Civil de 2002 (art. 1.571, 1), a morte presumida pela ausncia causa de dissoluo do vnculo matrimonial e da sociedade conjugal, contudo, impende ressaltar que tal somente se d quando a lei autoriza a abertura da sucesso definitiva. II.2.3 PESSOA JURDICA II.2.3.1 CONCEITO Pessoa Jurdica a unidade de pessoas naturais ou de patrimnios que visa consecuo de certos fins, reconhecida pela ordem jurdica como sujeito de direitos e obrigaes (MHD). AXIOMA JURDICO - DIREITO CIVIL - PRIMEIRA PARTE Professores Marcelo Velasco Nascimento Albernaz / Marcelo Lopes de Jesus 24 II.2.3.2 CLASSIFICAO A pessoa jurdica pode ser classificada da seguinte forma: - Quanto nacionalidade: nacional e estrangeira. Leva em considerao a subordinao ordem jurdica que lhe conferiu personalidade, e no a nacionalidade de seus membros ou a origem de seu controle financeiro. Pelo art. 1.126 do Cdigo Civil, nacional a sociedade organizada de conformidade com a lei brasileira e que tenha no Pas a sede de sua administrao. - Quanto s funes e capacidade: 1) de direito pblico: externo os Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional pblico (Ex.: ONU) - e interno - Unio, Distrito Federal, Estados, Territrios, Municpios, autarquias, fundaes pblicas, associaes pblicas e demais entidades de carter pblico criadas por lei; 2) de direito privado - sociedades (tm finalidade econmica), associaes (no tm finalidade econmica), fundaes particulares (somente

podem ter fins religiosos, morais, culturais ou de assistncia), organizaes religiosas, empresas pblicas, sociedades de economia mista, sindicatos e partidos polticos (regulados pela Lei n 9.096/95). - Das Associaes e Fundaes: Associaes Constituem-se as associaes pela unio de pessoas que se organizem para fins NO econmicos Os associados devem ter iguais direitos, mas o estatuto poder instituir categorias com vantagens especiais. A qualidade de associado intransmissvel, se o estatuto no dispuser o contrrio. Compete privativamente assemblia geral: I destituir os administradores; II alterar o estatuto. Dissolvida a associao, o remanescente do seu patrimnio lquido, depois de deduzidas, se for o caso, as quotas ou fraes ideais referidas no pargrafo nico do art. 56, ser destinado entidade de fins no econmicos designada no estatuto, ou, omisso este, por deliberao dos associados, instituio municipal, estadual ou federal, de fins idnticos ou semelhantes. Fundaes Para criar uma fundao, o seu instituidor far, por escritura pblica ou testamento, dotao especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administr-la (art. 62 CC) Insuficincia de patrimnio para constituir a fundao: os bens a ela destinados sero incorporados em outra fundao que se proponha a fim igual ou semelhante, se de outro modo no dispuser o instituidor (art. 63 CC) AXIOMA JURDICO - DIREITO CIVIL - PRIMEIRA PARTE Professores Marcelo Velasco Nascimento Albernaz / Marcelo Lopes de Jesus 25 Compete ao Ministrio Pblico do Estado onde se situar a Fundao velar pelo seu funcionamento, art. 66 CC, podendo, eventualmente, at mesmo elaborar seu estatuto (p. nico do art. 62 CC) se porventura a Fundao funcionar no Distrito Federal ou em Territrio, consoante o 1 do referido artigo 66 do CC, o encargo caber ao Ministrio Pblico Federal, entretanto, o STF, no julgamento da ADIN 2794-8 deu interpretao conforme ao dispositivo em comento no sentido de esclarecer que a dico Ministrio Pblico Federal ali contida deve ser entendida como Ministrio Pblico do Distrito Federal e Territrios. Extino da Fundao: art. 69 CC; Tornando-se ilcita, impossvel ou intil a finalidade a que visa a fundao, ou vencido o prazo de sua existncia, o rgo do Ministrio Pblico, ou qualquer interessado, lhe promover a extino, incorporando-se o seu patrimnio, salvo disposio em contrrio no ato constitutivo, ou no estatuto, em outra fundao, designada pelo juiz, que se proponha a fim igual ou semelhante. Ateno para o fato de que Fundao somente poder constituir-se para fins religiosos, morais, culturais ou de assistncia (p. nico do art. 62 CC), NO podendo ser constituda para fins econmicos. II.2.3.3 INCIO E CAPACIDADE Segundo Maria Helena Diniz, as pessoas jurdicas de direito pblico iniciam-se em razo de fatos histricos, de criao constitucional, de lei especial e de tratados internacionais, se se tratar de pessoa jurdica de direito pblico externo. J o incio da existncia legal das pessoas jurdicas de direito privado d-se, nos termos do art. 45 do Cdigo Civil, com a inscrio do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessrio, de autorizao ou aprovao do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alteraes por que passar o ato constitutivo. A capacidade da pessoa jurdica decorre da atribuio de personalidade pela ordem jurdica. Tem capacidade para exercer todos os direitos compatveis com a sua natureza inclusive direitos da personalidade (art. 52, CC) -, observadas as limitaes legais. Conforme a inteligncia do art. 46, II e III, do

Cdigo Civil/2002, as pessoas jurdicas sero representadas, ativa e passivamente, nos atos judiciais e extrajudiciais, por quem os respectivos atos constitutivos designarem, ou, no o designando, pelos seus diretores. II.2.3.4 ENTES DESPERSONALIZADOS Paralelamente s pessoas jurdicas existem entes despersonalizados, os quais se formam independentemente da vontade dos seus membros ou em virtude de um ato jurdico que vincula as pessoas fsicas em torno de bens que lhes suscitam interesses, sem lhes traduzir affectio societatis. ...constituem um conjunto de direitos e obrigaes, de pessoas e de bens sem personalidade jurdica e com capacidade processual, mediante representao (MHD). Ex.: sociedades irregulares ou de fato, massa falida, heranas jacente e vacante, esplio. Para Serpa Lopes e Carlos Maximiliano, o condomnio em edificaes se AXIOMA JURDICO - DIREITO CIVIL - PRIMEIRA PARTE Professores Marcelo Velasco Nascimento Albernaz / Marcelo Lopes de Jesus 26 trata de um grupo despersonalizado. J para Jair Lins e Maria Helena Diniz, tal condomnio possui personalidade jurdica. Hoje a tendncia bastante forte de se considerar o condomnio edilcio como pessoa jurdica, havendo julgados do STJ neste sentido, nesses termos, inclusive, observe-se o enunciado n 90 da I Jornada de Direito Civil promovida pelo Conselho da Justia Federal: Enunciado 90 Art. 1.331: Deve ser reconhecida personalidade jurdica ao condomnio edilcio II.2.3.5 DESCONSIDERAO DA PESSOA JURDICA A regra geral a de que as pessoas jurdicas tm existncia distinta da dos seus membros, sendo que, normalmente, os bens particulares dos scios no respondem pelas dvidas da sociedade, salvo nos casos previstos em lei (art. 596 do CPC). Contudo, h uma tendncia no sentido de se desconsiderar os efeitos dessa autonomia jurdica da sociedade, para atingir e vincular a responsabilidade dos scios (notadamente do detentor do comando efetivo da empresa), com o objetivo de evitar a prtica de fraudes e abusos de direito que causem prejuzos ou danos a terceiros. o que se chama desconsiderao da pessoa jurdica (despersonalizao ou desestimao da pessoa jurdica; disregard of the legal entity formada com base em julgados famosos advindos em especial dos Estados Unidos e da Inglaterra). Em nosso ordenamento jurdico, vislumbra-se a adoo de tal teoria pelo art. 2, 2, da CLT, pelo art. 28 da Lei n 8.078/90, pelo art. 4 da Lei n 9.605 e pelo art. 50 do novo Cdigo Civil. Este ltimo dispositivo estabelece que em caso de abuso da personalidade jurdica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confuso patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministrio Pblico quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relaes de obrigaes sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou scios da pessoa jurdica. II.2.3.6 DOMICLIO O domiclio da pessoa jurdica a sua sede jurdica; o local onde, presumivelmente, ela pode ser encontrada para os fins de direito e onde tem o centro de suas atividades. No caso das pessoas jurdicas de direito pblico interno, seu domiclio : da Unio o Distrito Federal; dos Estados e Territrios as respectivas capitais; do Municpio o lugar onde funcione a administrao municipal; demais pessoas jurdicas o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e AXIOMA JURDICO - DIREITO CIVIL - PRIMEIRA PARTE Professores Marcelo Velasco Nascimento Albernaz / Marcelo Lopes de Jesus 27 administraes, ou onde elegerem domiclio especial no seu estatuto ou atos constitutivos.

Havendo diversidade de estabelecimentos, cada um ser considerado domiclio para os atos nele praticados. Tratando-se de pessoa jurdica com administrao ou diretoria sediada no estrangeiro, considera-se domiclio, no tocante s obrigaes contradas por cada uma de suas agncias, o local do estabelecimento, sito no Brasil, a que elas corresponderem. III.3- DOS BENS III.3.1 NOES Bens so as coisas materiais ou imateriais que tm valor econmico e que podem servir de objeto a uma relao jurdica (Agostinho Alvim). Observe-se que coisa tudo o que existe objetivamente, com excluso do ser humano, de modo que se pode concluir o seguinte: todo bem coisa, mas nem toda coisa bem; coisa o gnero, do qual bem a espcie. III.3.2 CLASSIFICAO a) Bens considerados em si mesmos: - Bens imveis/mveis (aqueles que no podem ser transportados de um lugar para o outro, sem alterao da substncia ou da destinao econmicosocial) e mveis (os suscetveis de movimento prprio, como os animais semoventes -, ou de remoo por fora alheia, como um livro - mveis propriamente ditos, sem alterao da substncia ou da destinao econmicosocial). Importncia da distino: - diversidade das formas de aquisio da propriedade; - possibilidade de os bens mveis serem alienados ou gravados de nus real por um cnjuge, sem a anuncia do outro, o mesmo no ocorrendo quanto aos bens imveis, salvo em certos regimes de bens; - no patrimnio dos incapazes tem preferncia o bem imvel, que somente pode ser alienado em casos excepcionais e mediante prvia autorizao judicial; - o tempo para a aquisio do bem por usucapio maior para os imveis, do que para os mveis; - com a abertura da sucesso provisria, os bens