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1 Aula 01 2701/2011 Direito Civil Prof. Pablo Stolze www.novodireitocivil.com.br ou www.pablostolze.com.br PERSONALIDADE JURÍDICA 1. CONCEITO : É a aptidão genérica para se titularizar direitos e contrair obrigações na órbita jurídica, ou seja, é a qualidade para ser sujeito de direito, para ser pessoa. - Pessoa física ou natural: segundo Teixeira de Freitas, pessoa física é o ente de existência visível. 2. AQUISIÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA : - Em que momento a pessoa física adquire personalidade jurídica? Resposta: aparentemente, a resposta encontra-se na primeira parte do art. 2º do CC, que dispõe: “a personalidade civil da pessoa começa no nascimento com vida”. Por nascimento com vida entenda-se o funcionamento do aparelho cardio-respiratório do recém-nascido, independentemente de forma humana e de tempo mínimo de sobrevivência à luz do princípio da dignidade da pessoa humana. * “Mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro” (2ª parte do art. 2º, CC): ver tópico seguinte. LFG - Intensivo I - Direito Civil

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Aula 012701/2011

Direito CivilProf. Pablo Stolze

www.novodireitocivil.com.br ou www.pablostolze.com.br

PERSONALIDADE JURÍDICA

1. CONCEITO :

É a aptidão genérica para se titularizar direitos e contrair obrigações na órbita jurídica, ou seja, é a qualidade para ser sujeito de direito, para ser pessoa.

- Pessoa física ou natural: segundo Teixeira de Freitas, pessoa física é o ente de existência visível.

2. AQUISIÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA :

- Em que momento a pessoa física adquire personalidade jurídica? Resposta: aparentemente, a resposta encontra-se na primeira parte do art. 2º do CC, que dispõe: “a personalidade civil da pessoa começa no nascimento com vida”. Por nascimento com vida entenda-se o funcionamento do aparelho cardio-respiratório do recém-nascido, independentemente de forma humana e de tempo mínimo de sobrevivência à luz do princípio da dignidade da pessoa humana.

* “Mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro” (2ª parte do art. 2º, CC): ver tópico seguinte.

3. O NASCITURO E AS SUAS TEORIAS EXPLICATIVAS:

- Conceito de nascituro: segundo Limongi França, é o ente de vida intrauterina concebido, embora ainda não nascido.

OBS: não posso confundir nascituro com os conceitos de natimorto e concepturo. Natimorto é aquele nascido morto, e que, a teor do Enunciado 01 da 1ª Jornada de Direito Civil, teria proteção jurídica

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quanto ao nome, imagem e sepultura. Concepturo é aquele que nem concebido ainda foi, também chamado de prole eventual (no direito sucessório há importantes efeitos práticos como se lê no art. 1799, I, CC).

- Principais teorias explicativas do nascituro:

* 1ª) Teoria Natalista (Eduardo Espínola, Silvio Rodrigues, Vicente Ráo): para esta teoria, a personalidade jurídica somente seria adquirida a partir do nascimento com vida, de maneira que, tecnicamente, o nascituro não deveria ser considerado pessoa, gozando de mera expectativa de direitos. Éé ainda a teoria majoritária na doutrina e se agarra na 1ª parte do art. 2º, CC.

OBS: a simples leitura da ementa referente à ADI 3510, STF, que discutiu a validade da lei de biossegurança, de certa forma, reforçou a corrente natalista, no contexto acirrada polêmica entre as teorias. Dentre as teorias, a que melhor permitiria a pesquisa com células troncos é a natalista, que foi utilizada na fundamentação do Ministro da citada ADI.

* 2ª) Teoria da Personalidade Condicional (Serpa Lopes): segundo esta teoria, o nascituro gozaria, desde já, de uma personalidade formal atinente a direitos personalíssimos, mas somente adquiriria personalidade material quanto a direitos patrimoniais sob a condição de nascer com vida.

* 3ª) Teoria Concepcionista (Teixeira de Freitas, Clóvis Beviláqua, Silmara Chinelato e autores modernos): é a mais humana de todas, pois, para esta teoria, a personalidade jurídica do nascituro seria adquirida desde a concepção, inclusive para efeitos patrimoniais. Para ela, o nascimento com vida apenas faz retroagir esses direitos desde a concepção, considerando-o pessoa desde a sua concepção.

OBS: independentemente da teoria que se adote, o nascituro detém proteção jurídica do sistema jurídico brasileiro em diversos pontos (ver quadro esquemático no material de apoio). Segundo Clóvis Beviláqua, nos comentários ao CC dos Estados Unidos do Brasil, ed. Rio, 1975, o Código brasileiro teria adotado a teoria natalista “por ser mais prática”, mas, em diversas passagens, trata o nascituro como se fosse pessoa conferindo-lhe direitos (influência concepcionista).

OBS: na jurisprudência do STJ, por influência concepcionista, há julgados reconhecendo ao nascituro direito a indenização por dano moral (REsp 399028/SP), bem como a própria legislação já reconhece, em seu benefício, alimentos gravídicos (Lei 11.804/08).

4. CAPACIDADE: ela se desdobra em:

a) capacidade de direito: é a genérica e qualquer pessoa tem. A capacidade de direito confunde-se, hoje, com personalidade, pois todos tem capacidade de direito.

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b) capacidade de fato: nem todo mundo tem porque ela é a capacidade para o exercício pessoal de atos na vida civil, é uma capacidade para o exercício de direitos. A falta da capacidade de fato gera a incapacidade civil. A incapacidade civil se desdobra em:

1) incapacidade absoluta: os absolutamente incapazes são representados.

2) incapacidade relativa: os relativamente incapazes são assistidos.

- Capacidade plena: é a junção da capacidade de direito com a capacidade de fato.

- Qual a diferença entre capacidade e legitimidade?

*Resposta: legitimidade, invocando o pensamento de Calmon de Passos, é a pertinência subjetiva para a prática de determinado ato, ou seja, mesmo capaz uma pessoa pode estar impedida por falta de legitimidade para a prática de um ato jurídico (ex. dois irmãos capazes estão impedidos de casar entre si - art. 1521, IV, CC).

- Incapacidade Civil:

a) incapacidade absoluta (art. 3º, CC): são absolutamente incapazes:

I - os menores de dezesseis anos: são os menores impúberes;

II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos: a expressão loucos de todo gênero foi abolida do CC;

OBS: em direito processual, veremos que os incapazes portadores de enfermidade ou deficiência mental submetem-se a um procedimento de INTERDIÇÃO (arts. 1177 e ss, CPC), por meio do qual o juiz de direito oficialmente reconhecerá a incapacidade, nomeando-lhe curador. Qualquer ato praticado pelo incapaz, sem o seu representante, após a sentença de interdição é inválido.

- O ato praticado pelo incapaz AINDA NÃO INTERDITADO, que lhe seja prejudicial, sem a presença do curador, poderá ser impugnado? Resposta: a lei brasileira é omissa (diferentemente da redação anterior do art. 503 do Código da França), embora a doutrina, sob influência italiana, a exemplo de Orlando Gomes, defenda a possibilidade de o ato ser impugnado se concorrerem 3 requisitos: 1º) a incapacidade do agente; 2º) o prejuízo ao incapaz; 3º) a má-fé da outra parte (má-fé esta que pode ser circunstancialmente aferida).

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III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade: esse inciso trata de outras situações que não decorrem de doença mental, tais como: intoxicação fortuita (a pessoa é involuntariamente drogada), pessoas em coma, etc.

OBS: o novo CC, posto careça de disciplina expressa, implicitamente, no próprio inciso III do art. 3º, alberga a incapacidade absoluta do surdo-mudo que não tenha habilidade especial para manifestar vontade.

* A idade avançada, por si só, não é causa de incapacidade (ver no site o editorial 16, a título de complementação de pesquisa, sobre o aumento para 70 anos da idade de aplicação do regime de separação obrigatória de bens).

b) incapacidade relativa (art. 4º): são relativamente incapazes:

I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos: são os menores púberes;

II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido: se a toximania, a embriaguez, a dificiência mental são patológicas, total, plena, completa de maneira que o discernimento é aniquilado, a incapacidade é absoluta;

III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo: ex.: portadores da sindrome de down;

IV - os pródigos: a prodigalidade, causa de incapacidade relativa, é um grave desvio comportamental, com caracteres compulsivos, por meio do qual a pessoa gasta imoderadamente o seu patrimônio podendo reduzir-se à miséria.

OBS: a incapacidade do pródigo justifica a sua interdição, nos termos do art. 1782 do CC, de maneira que lhe seja nomeado um curador que deverá assisti-lo em todos os atos de conteúdo ou disposição patrimonial. Esta proteção justifica-se, em nível constitucional pela teoria do Estatuto Jurídico do Patrimônio Mínimo (Luiz Edson Fachin). De acordo com esta tese, as normas civis, segundo o princípio da dignidade da pessoa humana, devem sempre resguardar um mínimo de patrimônio para que cada indivíduo não apenas sobreviva, mas tenha vida digna. Nota: O curador do pródigo deverá ser ouvido no procedimento de habilitação para casamento no que tange à escolha do regime de bens, caso em que, em havendo discordância, caberá ao juiz decidir.

Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial: o CC antigo falava em silvícolas.

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*OBS: Veremos em grade própria, que o art. 8º do Estatuto do Índio (Lei 6001/73), ainda que de forma oblíqua, considera como regra geral a incapacidade absoluta daqueles índios em comunidades que não mantenham contato algum com a nossa sociedade, civilização.

OBS: O grande Alvino Lima, em sua clássica obra Da culpa ao risco, observa a possibilidade de se aplicar a teoria da actio libera in causa (teoria da ação livre na causa ou da culpa preexistente) para justificar a responsabilidade civil da pessoa que voluntariamente se embriagou ou se intoxicou para cometer o ilícito.

- Questões especiais envolvendo o tema capacidade:

1) Houve impacto com a redução da maioridade civil para os 18 anos no campo de família e previdenciário?

- Resposta: jurisprudência firme do STJ, consolidando entendimento que já existia no sentido de a pensão ser paga até os 24 anos (idade aproximada), afasta o argumento do cancelamento automático aos 18 anos de idade, exigindo-se, com isso, procedimento exoneratório que garanta ao credor da pensão o direito ao contraditório (Súmula 358, STJ; REsp 347010/SP; REsp 442502/SP).

Súm. 358: “O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios autos.”

Aula 0201/02/2011

2) O que se entende por benefício de restituição (restitutio in integrum)? Ainda é aplicável?

Segundo a doutrina de Clóvis Beviláqua, o benefício de restituição era conferido aos incapazes para que pudessem invalidar negócio jurídico celebrado com as observâncias da lei, simplesmente por alegarem prejuízo. O Código velho vedava esse benefício dada a insegurança jurídica, e, embora o novo Código não seja explícito, entende-se que a vedação continua.

Explicando: um incapaz pode celebrar um contrato, ter patrimônio, desde que devidamente representados ou assistidos. Esse instituto de restituição é superprotetivo, pois afirma que se um incapaz celebra um contrato, mesmo que representado e atendidas todas as formalidades legais, poderia se utilizar desse benefício para invalidar esse contrato argumentando apenas a existência de prejuízo por ter um mal negócio. Não vigora, pois gera absoluta insegurança jurídica.

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Ler no Material de Apoio comentários ao art. 119 (situação em que o representante viola interesse do representado).

NOTA: No âmbito previdenciário, a redução da maioridade civil para 18 anos não implica o cancelamento de pagamento de auxílio (prevalece o limite previdenciário de 21 anos), salvo exceções da própria lei previdenciária, sobretudo pelo fato de que é a própria lei especial que deve prever o limite do pagamento (Enunciado 3 da 1ª Jornada de Direito Civil e Nota SAJ Nº 42/2003).

OBS.: No RESP 1.074.181/PB entendeu o STJ que seria inviável a prorrogação do beneficio previdenciário alem do limite da lei especial, sob a alegação de que o beneficiário ainda não atingiu os 24 anos ou não concluiu os estudos. (O que se pode prorrogar é a pensão alimentícia no direito de família).

EMANCIPAÇÃO

Washington de Barros Monteiro observava que a maioridade seria atingida no primeiro instante do dia do natalício.

A emancipação, instituto também encontrado em outros sistemas no mundo (a exemplo do art. 133 do Código de Portugal), regulado no artigo 5º do Código Civil, poderá ser, segundo a doutrina, de três espécies:

1. Emancipação Voluntária (art. 5º, P. único, I, 1ª parte CC)É aquela concedida por ato dos pais (ou por um deles na falta do outro), mediante instrumento público, em caráter irrevogável, e desde que o menor tenha pelo menos 16 anos completos.

OBS.: A guarda unilateral ou exclusiva de um dos pais, não lhe confere legitimidade para, sozinho, realizar o ato emancipatório, sobretudo porque o poder familiar de ambos os pais será extinto.

A doutrina brasileira (Silvio Venosa), na linha de entendimento do próprio STF (RTJ 62/108, RT 494/92) já aceitou o entendimento no sentido de que a emancipação voluntária concedida pelos pais não afasta a sua responsabilidade civil até que o emancipado complete 18 anos de idade.

2. Emancipação Judicial (art. 5º, P. único, I, 2ª parte CC)Na emancipação judicial, o menor está sob tutela, sendo a mesma concedida pelo juiz, desde que o menor tenha 16 anos completos, ouvindo-se o tutor.

3. Emancipação Legal (art. 5º, P. único, II a V CC)É aquela que decorre diretamente da lei, regulada nos incisos II a V do art. 5º, P. único do Código Civil:II – pelo casamento

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Capacidade núbil: mínimo 16 anos com autorização dos pais /responsáveis

OBS.: Veremos na aula de família situações excepcionais em que se admite casamento abaixo dos 16 anos de idade, e analisaremos ali, se também há emancipação. (Art. 1520 CC)

OBS.: Mesmo com o advento da separação ou do divórcio, a emancipação obtida é mantida. Todavia, em caso de invalidade do casamento (anulação), considerando-se a eficácia retroativa da sentença de invalidação (Flavio Cartuci, José Simão, Zeno Veloso), salvo em eventual hipótese de putatividade (boa-fé), é conseqüência lógica, o retorno ao estado anterior de coisas.

III – pelo exercício de emprego ou cargo público efetivo.

Atualmente não é muito utilizado, pois hoje a exigência para emprego/cargo público é de 18 anos.

IV – pela colação de grau em curso de ensino superior;

Igualmente de difícil aplicação.

V – pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com 16 anos completos tenha economia própria.

- Estabelecimento civil: ligado a prestação de serviços técnicos, artísticos.- Estabelecimento comercial ou empresarial: ligado a vendas.- Empregado (maior de 16 anos)

A situação é aferida incidentalmente no procedimento, não precisa ir a juízo para declarar sua emancipação, pois tais hipóteses derivam de lei.

A emancipação persiste mesmo que perca o emprego/estabelecimento (segurança jurídica).

À luz do princípio da operabilidade (ver referência de texto do Prof. Miguel Reale no material de apoio) temos que “ECONOMIA PRÓPRIA” traduz um conceito aberto, vago, ou indeterminado, que deverá ser preenchido pelo juiz, observado o ônus da argumentação jurídica (Robert Alexy) segundo as circunstancias do caso concreto. O código ainda prima pelo princípio da eticidade e o princípio da socialidade, que nos remete a idéia de função social.

OBS.: Respeitável doutrina (Judith Martins-Costa) observa que cláusula geral é noção ainda mais abrangente na medida em que, além de conter um conceito indeterminado, possui uma carga normativa mais acentuada, de observância obrigatória pelo próprio juiz (José Ascensão).

Questões finais atinentes à emancipação:

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Um menor emancipado comete ato ilícito grave (mata alguém), ele pode ser criminalmente responsabilizado ?

A emancipação não antecipa a imputabilidade penal que só advém a partir dos 18 anos. Ele não comete crime e sim ato infracional segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente. Outrossim, ele pode falir, mas não comete crime falimentar.

O menor emancipado pode ser civilmente preso, por exemplo, quando não pagar a pensão alimentícia, claro que em cela separada, sem contato com outros presos, etc.

Para dirigir é necessário que o condutor seja penalmente imputável (art. 140, I Código Transito Brasileiro), razão porque o emancipado, não tendo ainda imputabilidade penal, não poderá dirigir veículo automotor.

EXTINÇÃO DA PESSOA FÍSICA OU NATURAL

O estudo da morte, em medicina legal, é feito pela tanatologia. Para efeito de estudo da parte geral, o critério estabelecido atualmente pela comunidade científica mundial para identificação do óbito, inclusive para fins de transplante, dada a sua irreversibilidade é a MORTE ENCEFÁLICA. (Ver resoluções 1480/97 e 1826/2007 do Conselho Federal de Medicina).

Nos termos da LRP (Lei de Registros Públicos nº 6015/73 – arts. 77 e SS.) a morte deve ser atestada por um médico ressalvada a hipótese de, não havendo profissional habilitado no local, duas testemunhas o declararem.

MORTE PRESUMIDA:

Ausência, conceitualmente, ocorre quando uma pessoa desaparece do seu domicílio sem deixar notícia ou representante, nos termos dos artigos 22 e seguintes do CC (ver detalhado resumo do tema na apostila 01).

Nos termos do art. 6º do CC, durante o procedimento da ausência, no momento em que a sucessão definitiva dos bens do ausente, ele é considerado morto por presunção.

Art. 6o A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva.

O art. 7º traz outras hipóteses de morte presumida que não se confunde com a ausência.

Art. 7o Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência:I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra.Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento.

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O que se entendo por Comoriência ?

Não pode ser confundido tal instituto com a denominada premoriência, que traduz um estado de pré-morte (uma parte morre antes da outra). Na comoriência, diferentemente, opera-se uma situação de morte simultânea, não se podendo averiguar a seqüência temporal dos óbitos. Em tal hipótese, consideram-se os comorientes simultaneamente mortos, ABRINDO-SE CADEIRAS SUCESSÓRIAS AUTÔNOMAS E DISTINTAS (art. 8º CC)

Art. 8o Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos.

Mesma ocasião: pode não ser o mesmo lugar, mas geralmente o é.

Na jurisprudência, ver no TJ RS o Agravo de Instrumento nº 598, 569, 952.

PESSOA JURÍDICA

Segundo o pensamento do sociólogo Antônio Luiz Machado Neto, podemos concluir que a pessoa jurídica, em primeiro plano, é decorrência do próprio fato associativo, da natural tendência humana de se agrupar para melhor atingir determinadas finalidades.

Ou seja, por isso, nesta linha inicial, podemos conceituar a pessoa jurídica como um grupo humano, criado na forma da lei e dotado de personalidade jurídica própria para a realização de fins comuns. (conceito primário)

Pessoa jurídica pode sofrer dano moral ?

AULA 03 – VAI HAVER REPOSIÇÃO DEVIDO A FALTA DE ENERGIA

Aula 0417.02.11

1. SOCIEDADES

A sociedade, espécie de pessoa jurídica de direito privado, formada pela união de indivíduos dotada de personalidade e instituída por meio de contrato social, tem por finalidade exercer atividade econômica e produzir lucro. (Art. 981 CC)

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SOCIEDADE = FINALIDADE ECONÔMICA + PRODUÇÃO DE LUCRO

OBS.: Vale lembrar que o artigo 977 CC, proíbe a sociedade formada entre cônjuges que estejam casados em regime de união universal ou separação de bens. O código quer evitar fraude ao regime de bens. O próprio D.N.R.C. (Departamento Nacional de Registro do Comércio) já consolidou o entendimento (parecer jurídico 125-2003). No sentido de que a sociedade anteriores não podem ser atingidas pela norma restritiva a luz da garantia do ato jurídico perfeito.

ANTES DE 2002 A PARTIR DE 2002

- SOCIEDADES CIVIS (sem atos de comércio)

- SOCIEDADES MERCANTIS (atos de comércio)

Sociedades: 982 CC

Empresarias: 966 (material) e RJC (formal)

Simples: não tem requisito, são as demais.

A luz do artigo 982 CC, uma sociedade para ser empresária possui um requisito material, exercício de atividade típica de empresário (art. 966) e um requisito formal (registro na junta comercial);

Já nas sociedades simples, são todas as demais que não sejam consideradas empresarias.

OBS.: Em geral, a sociedade empresária corresponde a antiga sociedade mercantil (comercial) e a sociedade simples, a antiga sociedade civil. Mas, não se pode dizer que há absoluta identidade na medida de que a noção de empresa é mais abrangente que a de comércio.

Ex.: Sociedade mineradora era considerada sociedade industrial, estava na ponta da cadeia produtiva. Mas hoje é uma sociedade empresária.

SOCIEDADE EMPRESÁRIA =

ATIVIDADE EMPRESARIAL + REGISTRO JUNTA COMERCIAL

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Uma sociedade empresaria é marcada pelo aspecto materialista da impessoalidade, sujeita-se a lei falimentar, tem registro obrigatório na Junta Comercial, e os seus sócios atuam como meros articuladores de fatores produtivos (capital, trabalho, matéria prima, tecnologia), de maneira que a sua própria atividade não integra o elemento da empresa;

Diferentemente, as sociedades simples, sujeitas a normas próprias de dissolução, não tem registro na Junta Comercial (mas sim, em geral, no registro de pessoas jurídicas), e além disso, são marcadas pela pessoalidade, uma vez que a sua atividade é desempenhada ou supervisionada pessoal e diretamente pelo próprio sócio (por isto costumam ser prestadora de serviços como as sociedades de médicos ou advogados).

A sociedade de advogados, não poderia ser considerada sociedade empresária, por norma específica, é registrada na OAB.

OBS.: O Parágrafo único do artigo 982 estabelece que toda sociedade anônima é considerada empresária e cooperativa sociedade simples. No que tange as cooperativas, tema da grade de direito empresarial, e que se caracteriza principalmente pela partilha de resultado na proporção do esforço de cada cooperado, existe grande discussão quanto ao seu registro, se deve ser feito na Junta Comercial (Lei nº 8.934/94, Lei 5764/71, Enunciado 69 da I Jornada de Direito Civil) ou se o registro deve ser feito no CRPJ (Julieta Lunz, Paulo Rego).

DESCONSIDERAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA

1. ORIGEM

No final do século XIX, na Inglaterra, Aaron Salomon queria formar uma companhia, e segundo as leis da época precisava reunir 7 sócios. Juntou 6 da sua família e emitiu 20.000 ações e cada outro sócio 1 ação, e essa companhia se constituindo, se tornando sujeito de direito. Começou a acumular dívidas, e a lista dos credores quirografários começaram a aumentar. A beira da bancarrota, Salomon resolveu emitir títulos no mercado, sendo que esses títulos davam prioridade no recebimento da dívida. E ele, como pessoa física comprou esses títulos. Quando os credores souberam dessa jogada foram à Corte Inglesa requerendo a desconsideração da pessoa jurídica (leave the veal - levantar o véu)

Esse precedente da teoria ocorreu na Inglaterra, no final do século XIX, no famoso caso “Salomon e Salomon Co.” . A partir daí a teoria da desconsideração da pessoa jurídica seria especialmente desenvolvida na Alemanha (com Rolf Serick) e na Itália (com Piero

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Verrucoli), espraiando-se por todo mundo. No Brasil, o primeiro jurista a tratar desse tema foi o grande professor Rubens Requião.

2. CONCEITO

A doutrina da desconsideração pretende o afastamento temporário da personalidade de uma pessoa jurídica, para permitir que seus credores satisfaçam seus direitos no patrimônio pessoal do sócio ou administrador que cometera o ato abusivo.

OBS.: A DESPERSONIFICAÇÃO da pessoa jurídica é medida ainda mais drástica, uma vez que pretende a própria aniquilação da entidade, com o cancelamento do seu registro.

O que é teoria “ultra vires societatis” ?

DIFERENTE Teoria da Desconsideração da PJ

De origem anglo saxônica, e regulada pelo artigo 1.015 CC, esta teoria sustenta ser nulo e ineficaz o ato praticado pelo sócio que extrapolou os poderes a si concedidos pelo contrato social (a sociedade pois, não responderia por tal conduta).

Como o direito brasileiro trata a desconsideração administrativa da pessoa jurídica?

A Receita Federal pode administrativamente desconsiderar pessoa jurídica, sem recorrer ao poder judiciário?

Em geral, entende a doutrina, diante do nosso direito positivo, que a desconsideração da pessoa jurídica é matéria sob “reserva de jurisdição” (Edmar Andrade), todavia, em situações excepcionais de fraude à lei a própria doutrina (Gustavo Perpedino) e o STJ (RMS 15166/BA) já admitiram a desconsideração em nível administrativo.

3. TRATAMENTO LEGAL

Uma das primeiras leis de grande porte a disciplinar o tema foi o Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 28, e diferentemente do código anterior que era omisso, o novo CC regula a desconsideração em seu artigo 50, exigindo a conjugação de dois elementos fundamentais:

1º: o descumprimento da obrigação

2º: o abuso do sócio ou administrador caracterizado ou pelo desvio de finalidade ou pela confusão de patrimônios.

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Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.

OBS.: Na linha de pensamento de Fábio Konder Comparato (O poder de controle da sociedade anônima, editora forense), podemos concluir que a desconsideração da pessoa jurídica pode ser aferida objetivamente, dispensando-se o dolo específico do sócio ou administrador.

OBS.: O Código Civil, em seu artigo 50, adotou a TEORIA MAIOR da Desconsideração da Pessoa Jurídica, na medida em que não se contenta com a simples insolvência da pessoa jurídica, exigindo prova do cometimento de um ato abusivo. Entretanto, em outros tipos de relação jurídica, como na relação de consumo, a desconsideração é muito mais facilitada, na medida em que, não se precisa provar o cometimento do ato abusivo, mas, apenas, o prejuízo sofrido (Teoria Menor).

RESP 744107 SPRECURSO ESPECIAL. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA ("disregard doctrine"). HIPÓTESES.1. A desconsideração da personalidade jurídica da empresa devedora, imputando-se ao grupo controlador a responsabilidade pela dívida, pressupõe - ainda que em juízo de superficialidade - a indicação comprovada de atos fraudulentos, a confusão patrimonial ou o desvio de finalidade.2. No caso a desconsideração teve fundamento no fato de ser a controlada (devedora) simples longa manus da controladora, sem que fosse apontada uma das hipóteses previstas no art. 50 do Código Civil de 2002. 3. Recurso especial conhecido.

- A título de complementação de pesquisa ver projetos de lei no material de apoio que pretendem disciplinar o procedimento de desconsideração de pessoa jurídica. Consultar também em nível bibliográfico o novo direito societário de Calixto Salomão Filho.

QUESTÕES ESPECIAIS REFERENTES A DESCONSIDERAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA:

É firme a jurisprudência do STJ no sentido de que a desconsideração da pessoa jurídica é cabível no procedimento ou na fase de execução (RESP 920602 DF), respeitando-se por óbvio o contraditório.

A desconsideração, em respeito a própria causalidade, naturalmente deve atingir apenas o sócio ou administrador que cometeu o ato abusivo, ou dele se beneficiou (Enunciado 07 da I Jornada de Direito Civil).

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7 – Art. 50: Só se aplica a desconsideração da personalidade jurídica quando houver a prática de ato irregular e, limitadamente, aos administradores ou sócios que nela hajam incorrido.

O que é Desconsideração Inversa?Trata-se de um tipo de desconsideração não expressamente prevista em lei, mas admita em nosso direito (RESP 948117 MS), por meio da qual pretende-se inversamente atingir o patrimônio da própria pessoa jurídica para alcançar o sócio ou administrador que cometera o ato abusivo ou fraudulento.

Aula 0522.02.11

PERSONALIDADE JURÍDICA

1. PERSONALIDADE JURÍDICA (Maria Helena Diniz):

Historicamente, era ter atributos, e podia ser sujeito de direito.

PESSOA: personalidade jurídica e sujeito de direitos

Pontes de Miranda: entende que ter personalidade jurídica não poderia ser apenas para titularizar relações jurídicas.

Atualmente no Código Civil a PESSOA tem personalidade jurídica – proteção fundamental – tem direito da personalidade.

2. CAPACIDADE JURÍDICA (Maria Helena Diniz)

Historicamente, era medida da personalidade.

Atualmente no Código Civil, sujeito de diretos – tem personalidade e tem capacidade jurídica.

Entes despersonalizados: não possuem relações existenciais, mais sim patrimoniais.

Toda pessoa que tem personalidade tem capacidade, porém nem toda pessoa que tem capacidade tem personalidade.

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Para o direito civil, a proteção do “ser”, é mais ampla e elástica do que a proteção do “ter”. O direito civil privilegia a proteção à pessoa.

Art. 1o , CC. Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.

3. DIREITOS DE PERSONALIDADE

São direitos subjetivos de índole existencial estabelecendo uma proteção fundamental para toda e qualquer pessoa, em face de sua essência.

Toda pessoa possui direitos de personalidade, e, conseqüentemente, tem a proteção da sua essência.

3.1 ROL EXEMPLIFICATIVO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE:

O direito brasileiro estabeleceu uma cláusula geral de proteção da personalidade (ou Direito Geral da Personalidade): DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.

Os Direitos da personalidade correspondem a tudo aquilo que é necessário para se ter uma vida digna, e assim formam a categoria jurídica fundamental do sistema privado, sendo um atributo da pessoa.

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Pessoa

Personalidade Jurídica

Sujeito de Direitos

Proteção Fundamental (essencial)

Direitos da Personalidade

Relações Existenciais

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Art. 1º , CF. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:III - a dignidade da pessoa humana;

DIGNIDADE:

Como é um conceito aberto, será dado um Conteúdo Mínimo da Dignidade Humana:

Integridade física e psíquica; Ex.: Lei 11.346/06 – direito à alimentação adequada.

Liberdade e igualdade; Ex.: RESP 820475 RJ – STJ reconheceu a possibilidade da declaração judicial de união familiar homo afetiva.

Direito a um mínimo existencial (direito ao patrimônio mínimo); Ex.: Lei 11.382/06 – modificou a redação do artigo 649 do CPC, e alterou o conceito do bem de família móvel (os moveis que estão protegidos pela impenhorabilidade do bem de família são apenas aqueles necessários para manter um padrão médio de vida digna). Há o cabimento da penhora de imóvel de elevado valor?A impenhorabilidade de bens imóveis é conceito singular (o imóvel) e o presidente vetou o padrão médio de vida digna. No início de 2011, o STJ, entendeu que bem imóvel, independentemente de seu valor, se for único, é impenhorável.

3.2 MOMENTO AQUISITIVO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE

Art. 2o A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.

O nascituro tem direitos à personalidade.

TEORIAS:

- Natalista: não reconhece direitos ao nascituro, mas meras expectativas de direito.

- Concepcionista: reconhece direitos da personalidade desde a concepção, mas os patrimoniais ficam condicionados ao nascimento com vida, salvo exceções, como por exemplo, os alimentos gravídicos.

- Condicionalista: reconhece direitos da personalidade desde a concepção, mas todos os patrimoniais ficam condicionados ao nascimento com vida.

* A diferença entre as duas últimas teorias não é referente à conceitualização, mas sim à qualificação, pois qualificam de forma

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diferente. Enquanto a terceira já atribui a personalidade, a segunda condiciona ao nascimento com vida (meramente formal).

De acordo com essas duas últimas teorias, as quais são majoritárias, o momento aquisitivo dos direitos da personalidade é a concepção uterina, não laboratorial, numa interpretação conjunta com direito penal, ou seja, embrião de laboratório não possui direito da personalidade.

STF – ADI 3510 DF : discutiu a constitucionalidade do artigo 5º da Lei nº 11.105/05 (Lei da biosegurança). Esse artigo estabelece que no Brasil, embrião de laboratório somente pode ser preparado para fins reprodutivos. Se sobrar embrião, o casal pode utilizá-los no prazo de 3 anos, se o casal não tiver interesse nesse prazo, o médico deverá encaminhar para descarte (pesquisas com células tronco). Neste sentido, o STF decidiu que os embriões não possuem direito à personalidade, pois se tivessem não poderiam ser descartados.

Natimorto tem direitos à personalidade?

O natimorto foi concebido, mas não nasceu com vida, mas possui direitos à personalidade já que foi concebido (concepção).

Enunciados da I Jornada de Direito Civil:1 – Art. 2º: A proteção que o Código defere ao nascituro alcança o natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como: nome, imagem e sepultura. 2 – Art. 2º: Sem prejuízo dos direitos da personalidade nele assegurados, o art. 2º do Código Civil não é sede adequada para questões emergentes da reprogenética humana, que deve ser objeto de um estatuto próprio.

Embrião de laboratório tem direito à herança?

O Embrião não tem direitos de personalidade, mas na doutrina vem prevalecendo o entendimento de que há esses direitos às pessoas nascidas, ou já concebidas, seja por via uterina, ou via laboratorial.

O embrião, dessa forma, já possui direitos patrimoniais, mesmo que condicionados.

Art. 1.798, CC. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão.

Qual a diferença entre embrião, feto e nascituro para o direito civil?

Nenhuma, pois já adquire direitos desde a concepção, apesar de estar condicionado ao nascimento com vida.

O momento extintivo dos direitos da personalidade acompanha a mesma lógica que os momento aquisitivo, ou seja, A MORTE.

Direitos da personalidade são vitalícios ou perpétuos?

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Vitalícios, e se extinguem com a morte, ou seja, não se transmitem.

3.3 SITUAÇÕES POLÊMICAS RELATIVAS AOS DIREITOS DA PERSONALIDADE E A MORTE

SUCESSÃO PROCESSUAL (Art. 43 CPC):Ocorre a sucessão processual quando alguém sofreu a violação a sua personalidade ainda vivo, promoveu a ação e faleceu no curso do procedimento. Neste caso, o CPC afirma que seus sucessores se habilitam no processo e dão prosseguimento à ele. Neste caso a sucessão é meramente processual, não tem nada a ver com o direito material, ou seja, não houve transmissão dos direitos da personalidade, e sim uma substituição do pólo ativo da relação processual em decorrência do falecimento.Esse fenômeno nada viola o caráter vitalício dos direitos da personalidade.

Art. 43. Ocorrendo a morte de qualquer das partes, dar-se-á a substituição pelo seu espólio ou pelos seus sucessores, observado o disposto no art. 265.

TRANSMISSÃO DO DIREITO À REPARAÇÃO DE DANOS SOFRIDOS EM VIDA (Art. 943 CC):Esse artigo contempla a hipótese de alguém que sofreu o dano ainda vivo, e morreu sem promover a ação. Neste caso, o espólio pode promover a ação reparatória em nome do falecido. O que se transmitiu foi o direito a reparação e não o direito da personalidade. Neste caso, o espólio recebe a indenização em nome do falecido. O artigo não diz que esse direito a reparação garantida pelo artigo 943 pressupõe a inexistência de prescrição. Os herdeiros somente podem promover essa ação se o fizerem no nome do espólio (se todos os herdeiros estiverem juntos).

Art. 943. O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la transmitem-se com a herança.

LESADOS INDIRETOS (Art. 12, § único, CC):Ocorre quando a lesão à personalidade depois da morte do titular do direito. Se uma pessoa se valeu do nome ou da imagem de uma pessoa morta, atingiu o direito desse titular. Esta lesão dirigida diretamente ao morto, não produzirá em relação a ele nenhum efeito jurídico, pois a sua personalidade já estará extinta. Mas termina por atingir indiretamente seus parentes vivos, sendo estes chamados de lesados indiretos. Trata-se de legitimação ordinária autônoma, e em se tratando

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disso, o juiz fixará uma indenização autônoma para cada um dos lesados indiretos.

Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.

Quem são os lesados indiretos?

1. Cônjuge ou companheiro2. Descendentes3. Ascendentes4. Colaterais até o 4º grau.

Esse rol é exemplificativo, pois permite sua ampliação para incluir outras pessoas com vinculo afeito com o morto (namorada, noiva, enteado, padrasto, amante, etc).

Cada um dos lesados indiretos promove a sua ação, cada um prova a extensão do dano para si, e recebe a indenização na medida dessa lesão.

Não houve transmissão de direitos da personalidade, pois os lesados indiretos estão legitimados em nome próprio e de forma conjuntiva (cada um promove a sua).

Quando se tratar do direito à imagem da pessoa morta, os colaterais estão excluídos do rol dos lesados indiretos.

Enunciado 5 da I Jornada de Direito Civil:

5 – Arts. 12 e 20: 1) As disposições do art. 12 têm caráter geral e aplicamse, inclusive, às situações previstas no art. 20, excepcionados os casos expressos de legitimidade para requerer as medidas nele estabelecidas; 2) as disposições do art. 20 do novo Código Civil têm a finalidade específica de regrar a projeção dos bens personalíssimos nas situações nele enumeradas. Com exceção dos casos expressos de legitimação que se conformem com a tipificação preconizada nessa norma, a ela podem ser aplicadas subsidiariamente as regras instituídas no art. 12.

Exemplos de Lesados Indiretos:

STJ, RESP 86.109 (caso da filha de Lampião e Maria Bonita que empetrou ação ao descobrir que a imagem de seus pais estavam sendo usados como publicidade em uma empresa) neste caso, os irmãos (colaterais) não podem empetrar a ação.

STJ, RESP 521.697 RJ (O Jogador de futebol Garrincha teve a bibliografia escrita ensejando que além dos jogos, foi descrito como pessoa extremamente sexual, e que inclusive teria nascido na cidade de Pau Grande. Como o jogador nunca falou sobre esse assunto, o STJ concedeu indenização aos seus 4 filhos e a sua mulher em ações independentes, verificando ter sido uma violação à privacidade).

3.4 FONTES DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE

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A maioria da doutrina entende que a fonte dos direitos da personalidade é o JURISNATURALISMO, o qual possui um fundamento cristão, ou seja, surgem de uma ordem preconcebida, antecedente ao ordenamento jurídico. Invoca-se como exemplo o Tribunal de Nuremberg.

Para essa tese majoritária os direitos da personalidade seriam INATOS, portanto, inerentes à condição humana.

Embora minoritária hoje há uma posição defendida por Pontes de Miranda e Gustavo no sentido de que os direitos da personalidade não seria inatos, mas sim decorrentes de um positivismo cultural, isso é, não decorrem de uma ordem preconcebida ou antecedente ao direito, e sim, do próprio sistema jurídico, por trata-se de uma opção legislativa.

Os direitos da personalidade são percebidos pela ótica privada, mas o pleno exercício dos direitos da personalidade pode exigir comportamentos positivos ou negativos do Poder Público, sendo esses comportamentos chamados LIBERDADES PÚBLICAS (obrigações ora positivas, ora negativas, impostas ao poder público para salvaguarda do exercício dos direitos da personalidade). Ex.: O habeas corpus é uma liberdade pública para garantir o exercício do direito da personalidade de locomoção.

Alguns dos direitos da personalidade mereceram do legislador status de direitos e garantias fundamentais, como por exemplo, privacidade e imagem.

STF, RE 201.819 RJ – reconheceu a eficácia horizontal dos direitos fundamentais ou aplicação dos direitos fundamentais nas relações privadas.

Isso não significa que todo direito e garantia fundamental significam direitos de personalidade.

Aula 0611.03.11

4. DIREITO DA PERSONALIDADE EM ESPÉCIE:

VIDA DIGNA + INTEGRIDADE - FÍSICA

- PSÍQUICA

- INTELECTUAL

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Esfera da Compreensão da Espécie Humana:

1. INTEGRIDADE FÍSICA: tutela jurídica do corpo humano2. INTEGRIDADE PSÍQUICA: valores imateriais3. INTEGRIDADE INTELECTUAL: proteção da inteligência humana.

O direito à vida: Dignidade Humana

Cláusula Geral: é pressuposto natural da personalidade.

CLASSIFICAÇÃO (Código Civil – art. 13 a 21):

Art. 13 – corpo vivo

Art. 14 – corpo morto

Art. 15 – autonomia do paciente

Art. 16 a 19 – direito ao nome civil

Art. 20 – direito à imagem

Art. 21 - vida privada

4.1. INTEGRIDADE FÍSICA DA PESSOA VIVA – DIREITO AO CORPO VIVO:

Art. 13, CC. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial.

REGRA GERAL: é proibido ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física.

EXCEÇÕES: a) não havendo diminuição permanente da integridade física o ato é permitido;

b) também se permite o ato de disposição corporal mesmo com diminuição permanente da integridade física, quando houver exigência médica.

Exemplos:

- tatuagens e piercings: são permitidos, pois não há diminuição permanente da integridade física;

- amputação de órgãos humanos por exigência médica: são permitidos, desde que se houver exigência médica.

- “wannabe”: pessoas que possuem uma ojeriza de uma parte de seu corpo, e tem a necessidade de retirá-lo. O artigo 13 proíbe se não houver necessidade médica.

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Controvérsias relativas à integridade física:

(Dificuldades interpretativas do artigo 13 CC)

Transexual: é uma pessoa que sofre de uma patologia físiopsíquica, pois nasce com o corpo de um sexo e a cabeça de outro, o sexo físico é diferente do sexo psíquico. Sob o ponto de vista da orientação sexual, o transexual é heterossexual. De acordo com a Resolução 1652/02 CFM – Conselho Federal de Medicina, o transexualismo é doença, patologia, e o tratamento é a submissão a 3 anos de tratamento psicológico. Se tal tratamento não der resultado, é autorizada a cirurgia de transgenitalização ou de mudança de sexo. Neste caso, o artigo 13 autoriza a cirurgia de mudança de sexo.

Resolução 1957/2010 CFM

STJ, Homologação de Sentença Estrangeira 1058 ITALIA: entende que o transexual tem direito a mudar o nome e o status sexual no registro civil, sem que se conste o motivo da mudança, para que não haja discriminação.Se houver um casamento de uma pessoa com um transexual, sem que ele saiba, pode haver a anulação do casamento, segundo o art. 1557 do Código Civil, já que houve um erro essencial sobre a pessoa.

Art. 1.557. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge:I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado;II - a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportável a vida conjugal;III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável, ou de moléstia grave e transmissível, pelo contágio ou herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência;IV - a ignorância, anterior ao casamento, de doença mental grave que, por sua natureza, torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado.

Gestação em útero alheio ou Gestação por substituição (barriga de aluguel).A Resolução 1358/92 CFM – Conselho Federal de Medicina autoriza tal gestação desde que preencha alguns requisitos, sem a autorização judicial:- plena capacidade das pessoas envolvidas;- as pessoas envolvidas devem ser da mesma família (mãe hospedeira e mãe biológica), mas não sendo, somente com autorização do CFM;- gratuidade: não se pode cobrar pra ser a mãe hospedeira;- comprovação da impossibilidade gestacional da mãe biológica.Presente os requisitos, o registro civil será lavrado em nome da mãe biológica e não da mãe hospedeira.

Transplantes: Parágrafo único do artigo 13 CC.Lei 9434/97 – regulamenta os transplantes e estabelece alguns requisitos para transplantes entre pessoas vivas:

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- as pessoas envolvidas devem ser da mesma família, mas não sendo, somente com autorização do CFM;- gratuidade;- possibilidade somente nos órgãos dúplices ou regeneráveis;- intervenção do MP.Esses requisitos não se aplicam para fins de transplante de sangue, sêmem, óvulo e leite materno, mas a gratuidade se mantém.

“Diminuição permanente da integridade física”: se refere não somente ao ser corpo como um todo, abrange também as partes destacáveis do corpo humano.STF, Reclamação 2040 DFSTJ RESP 575576 PR: entende que a caracterização do dano estético independe de seqüelas permanentes.

STJ Súmula nº 387 Licitude - Cumulação - Indenizações de Dano Estético e Dano Moral É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.

4.2. INTEGRIDADE FÍSICA DA PESSOA MORTA - DIREITO AO CORPO MORTO

Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte.Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo.

No Brasil não se admite o “living will”, que proíbe o ato de disposição do corpo em vida, ninguém pode escolher a morte, em face a situações adversas em vida, por isso o direito brasileiro proíbe a eutanásia, e veda o Testamento Vital.

O artigo 4º da lei de transplantes (lei 9434/97), estabelece que os transplantes pós morte, depende do consentimento da família. O artigo 14 precisa ser interpretado junto com esse artigo 4ª, e a interpretação que prevalece é a seguinte; mesmo que o titular tenha manifestado em vida a vontade de ter seus órgãos transplantados, esse ato depende da autorização da família.

O Enunciado 277 da Jornada de Direito Civil prevê que o artigo 4º deve ser interpretado quando o titular não tiver manifestado sua vontade. Esse entendimento é minoritário, o entendimento é que o artigo 4ª da lei supera o art. 14 do CC, ou seja, depende sempre do consentimento dos familiares.

A pessoa pode, além de dispor seu corpo para fins de transplantes, pode dispor para fins de pesquisa médica.

Em se tratando de pessoas que morrem sem identificação (indigentes), não é possível a extração de órgãos para fins de transplantes, apenas para fins de pesquisa médica.

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4.3. AUTONOMIA DO PACIENTE – LIVRE CONSENTIMENTO FORMADO

Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.

O paciente é sempre sujeito e não objeto do tratamento, ou seja, ninguém pode sofrer intervenção médica contra a sua vontade.

REGRA GERAL: Autonomia do paciente

EXCEÇÃO: Havendo necessidade médica, é possível a intervenção, mesmo contra a vontade do paciente.

O médico está obrigado ao dever de informação (dever anexo decorrente da boa fé objetiva), e como conseqüência se não houver a observação desse dever, o médico poderá sofrer responsabilização civil por violação ao dever de informação que se torna agravada, pelo fato do paciente ter a sua autonomia consagrada no artigo 15.

O direito brasileiro proíbe a internação forçada, depende da vontade do paciente ou da exigência médica.

Caso das pessoas que seguem a religião “Testemunha de Jeová”, que proíbe a fazer a transfusão de sangue: havendo exigência médica, relativiza-se, mitiga-se a autonomia do paciente. A posição majoritária entende que o sujeito pode ser obrigado a receber transfusão de sangue. A jurisprudência entende que prevalece a integridade física e impõe a transfusão ao “Testemunha de Jeová.”

4.4. DIREITO AO NOME CIVIL

Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome.Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória.Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial.Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao nome.

O nome é o direito da personalidade à identificação. A escolha do nome é personalíssima.

O direito ao nome será exercido no primeiro ano após a maioridade civil, ou seja, há o prazo decadencial de 1 ano, depois que a pessoa fizer 18 anos, para fazer a mudança imotivada de seu nome (único caso de mudança imotivada), através de uma ação na vara de registros públicos. Os demais casos para mudança de nome exigem uma motivação. Não há forma de haver mudança no sobrenome, este prevalece.

Elementos componentes do nome civil:

Prenome: identifica a pessoa (Lucas) Sobrenome ou Patronímico: identifica a origem familiar

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Agnome: partícula diferenciadora para pessoas com mesmo nome da mesma família (Junior, Filho, Neto, Sobrinho) – tem obrigatoriedade eventual.

Não são elementos componentes do nome civil:

os títulos (doutor); o pseudônimo (nome utilizado para atividades profissionais),

heterônimo ou cognome

*O pseudônimo não é elemento componente do nome, mas merece a mesma proteção. Ex.: Silvio Santos, Zezé di Camargo (Mirosmar).

*Nunca confunda pseudônimo com hipocorístico. Pseudônimo é utilizado somente para qualquer atividade profissional, e o hipocorístico é utilizado para atividades profissionais e para identificação pessoal. O hipocorístico pode se tornar elemento do nome (pode ser acrescido ou substituir o nome). Ex.: Lula, Xuxa, Pelé, etc. Essa diferenciação é feita em cada caso concreto.

O acréscimo ou substituição é de competência da vara de registros públicos, com ação de jurisdição voluntária.

O direito brasileiro acolhe a regra da inalterabilidade relativa do nome: o nome pode ser modificado quando houver permissão legal ou justificativa judicial.

Hipóteses de Mudança do Nome por Permissão legal:

Adoção (modificação do sobrenome, o prenome também pode ser modificado, mas se o adotado tiver mais de 12 anos, deve ter o consentimento dele para a mudança);

Lei 9.807/99 (permite a mudança de nome da pessoa que está no programa de proteção a testemunha);

Lei (permite o acréscimo de sobrenome de padrasto e de madrasta, com o consentimento destes) cumpre ressaltar que a mudança do nome não gera efeitos civis familiares (alimentos, herança, etc.).

Hipóteses de Mudança do Nome por Justificativa Judicial:

Viuvez; Divórcio da mãe (correção dos registros dos filhos com o nome

original da mãe) ; Homonímia depreciativa (quando alguém tem o mesmo nome

de outra pessoa e isso lhe causa prejuízos)

4.5. DIREITO À IMAGEM

Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.

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É o direito que diz respeito à identificação física e psíquica de alguém.

O direito à imagem é tridimensional, pois diz respeito à imagem retrato, à imagem atributo e à imagem voz.

O Artigo 20 condiciona a proteção da imagem à violação da honra, ou a exploração comercial. Apesar do código civil, não ter conferido autonomia ao direito de imagem, o artigo 5º, incisos V e X da CF garante a autonomia do direito à imagem. Neste caso, afasta-se o Código Civil.

Se o direito da imagem é autônomo, significa que ele pode ser cumulado com outros danos, como ao dano moral. A simples veiculação indevida de imagem permite tais indenizações.

FUNÇÃO SOCIAL DA IMAGEM: Flexibilização do direito à imagem quando houver necessidade por parte da administração de justiça, ou a manutenção da ordem pública. Não precisa do consentimento expresso, depende tão somente de uma autorização tácita (necessita o consentimento). Se não há o consentimento tácito pode haver direito à indenização.

RESP 595600/SC: caso de uma banhista na praia de Comburiu que não sofreu dano à imagem por ter aparecido em uma fotografia, juntamente com vários outros banhistas na praia fazendo topless.

4.6. DIREITO À PRIVACIDADE OU À VIDA PRIVADA

Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma.

É o direito reconhecido à proteção da intimidade e do segredo (assuntos que correspondem apenas ao titular).

O direito à privacidade segue a teoria dos círculos concêntricos:

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O DIREITO À IMAGEM É TRIDIMENSIONAL

RETRATO

IDENTIFICAÇÃO DOS CARACTERRES FISIONÔMICOS

ATRIBUTO

IDENTIFICAÇÃO PELA ADJETIVAÇÃO, PELAS QUALIDADES

VOZ

IDENTIFICAÇÃO PELO TIMBRE SONORO

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Nem toda informação privada é íntima, embora toda informação íntima é privada, pois entre a privacidade e a intimidade há o segredo, que não necessariamente é absoluto.

O dano à privacidade é autônomo e não admite exceção da verdade.

Aula 0717.03.11

DOMICÍLIO

RESIDÊNCIA: HABITUALIDADE

MORADIA: TEMPORARIAMENTE

MODADA é um lugar em que a pessoa física temporariamente se estabelece. Ex.: mora em SP, vai estudar em Salvador, morada em Salvador.

RESIDÊNCIA: é o lugar em que a pessoa física é encontrada com habitualidade, pode ter várias residências. Ex.: reside na cidade, mas também na fazenda.

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PRIVACIDADE

INTIMIDADE: PERTENCE AO TITULAR E ESTE DIVIDE COM QUEM QUISER. EX.:

OPÇÃO RELIGIOSA, OPÇAO SEXUAL.

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DOMICÍLIO: é mais que residência, em outras palavras, o domicílio da pessoa natural é o lugar onde fixa residência com âmbito de definitividade (animus manendi) transformando em centro da sua vida jurídica.

Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo.

Por influência do direito germânico é possível haver pluralidade de domicílios (artigo 71 CC).

Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer delas.

OBS.: O novo código civil, na línea do artigo 83 do código de Portugal, em seu artigo 72, consagrou o denominado “domicílio profissional”, que é ESPECÍFICO PARA ASPECTOS DO EXERCÍCIO DA PROFISSÃO,

Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida.Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles constituirá domicílio para as relações que lhe corresponderem.

O artigo 74, de redação inusitada, trata da mudança de domicílio.

Art. 74. Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a intenção manifesta de o mudar.Parágrafo único. A prova da intenção resultará do que declarar a pessoa às municipalidades dos lugares, que deixa, e para onde vai, ou, se tais declarações não fizer, da própria mudança, com as circunstâncias que a acompanharem.

O que se entende por domicílio aparente ou ocasional?

Trata-se de teoria desenvolvida especialmente pelo civilista belga Henri de Page calcada em uma ficção jurídica para evitar que pessoas físicas fiquem sem domicílio, assim, nos termos do artigo 73 do CC, com base nesta teoria as pessoas que não tenham residência habitual, como os profissionais do circo reputam-se domiciliadas onde foram encontradas.

Art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual, o lugar onde for encontrada.

ESPÉCIES DE DOMICÍLIO:

1. CONVENCIONAL ou VOLUNTÁRIOÉ o domicílio comum, fixado por simples ato de vontade. A natureza jurídica do ato que fixa o domicílio voluntário é de ato jurídico em sentido estrito.

2. ESPECIAL ou DE ELEIÇÃOÉ aquele estipulado pelas partes em um contrato, segundo o princípio da autonomia privada (art. 78 CC).

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Art. 78. Nos contratos escritos, poderão os contratantes especificar domicílio onde se exercitem e cumpram os direitos e obrigações deles resultantes.

OBS.: Vale lembrar nos termos do parágrafo único do artigo 112 do CPC que a nulidade da cláusula de eleição de foro prejudicial ao aderente (especialmente o consumidor) pode ser reconhecida pelo juiz que declinará da sua competência.

Art. 112. Argúi-se, por meio de exceção, a incompetência relativa.Parágrafo único. A nulidade da cláusula de eleição de foro, em contrato de adesão, pode ser declarada de ofício pelo juiz, que declinará de competência para o juízo de domicílio do réu.(Incluído pela Lei nº 11.280, de 2006)

3. LEGAL ou NECESSÁRIOÉ o domicílio baseado especialmente no artigo 76 do CC, é um tipo de domicílio determinado pela própria lei.

Art. 76. Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o preso.Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu representante ou assistente; o do servidor público, o lugar em que exercer permanentemente suas funções; o do militar, onde servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar imediatamente subordinado; o do marítimo, onde o navio estiver matriculado; e o do preso, o lugar em que cumprir a sentença.

No que tange o domicílio das pessoas jurídicas de direito privado, a matéria é tratada pelo artigo 75 do CC, de especial interesse para o direito administrativo e processual civil, quanto à este último, especialmente quando se estuda competência (RESP 723194 RO).

Art. 75. Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é:I - da União, o Distrito Federal;II - dos Estados e Territórios, as respectivas capitais;III - do Município, o lugar onde funcione a administração municipal;IV - das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e administrações, ou onde elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos constitutivos.

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DOMICÍLIO DO REPRESENTANTE OU ASSISTENTE (VALE LEMBRAR NOS TERMOS DA SÚMULA 383 STJ, QUE A COMPETÊNCIA PARA JULGAR AS AÇÕES CONEXAS DE INTERESSE DE MEOR É, EM PRINCÍPIO, O FORO DO DOMICÍLIO DO DETENTOR DE SUA GUARDA.)INCAPAZLUGAR EM QUE EXERCE PERMANENTEMENTE SUAS FUNÇÕES (SERVIDOR PÚBLICO

ONDE SERVIR MARINHA OU AERONAUTICA: SEDE DO LUGAR ONDE SERVE MILITARLUGAR ONDE O NAVIO ESTÁ REGISTRADOMARINHEIRO DA MARINHA PARTICULAR (NÃO É DA FORÇA ARMADA, ESTE É MILITAR)MARÍTIMOLUGAR ONDE CUMPRIR A SENTENÇAPRISÃO PREVENTIVA: PRESO

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§ 1o Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada um deles será considerado domicílio para os atos nele praticados.§ 2o Se a administração, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-se-á por domicílio da pessoa jurídica, no tocante às obrigações contraídas por cada uma das suas agências, o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder.

O STJ, no noticiário de 1º de março de 2011 (RESP 1048937) fixou que as partes podem escolher foro competente para julgar ações sobre hipoteca.

BENS JURÍDICOS

1. BEM DE FAMÍLIA

Expressão originada através de uma lei texana de 1839, chamada “Lei Homestead Act”. Tal lei, criada no meio de uma crise financeira nos EUA, decretou a impenhorabilidade do bem de família, e posteriormente foi recepcionada pela CF americana e se espalhou pelo mundo.

1.1 Espécies:

1.1.1.BEM DE FAMÍLIA VOLUNTÁRIO (1711, CC)

É aquele instituído, segundo o princípio da autonomia privada, por ato de vontade do casal, da entidade familiar ou de terceiro, mediante registro no cartório de imóveis (art. 167, I, 1, LRP- Lei de Registros Públicos).

Constituído devidamente, o bem de família voluntário, mediante registro surtirá dois efeitos fundamentais:- a impenhorabilidade limitada e a inalienabilidade relativa do imóvel residencial protegido;

No que tange à impenhorabilidade, o artigo 1715 CC disciplina o referido efeito mitigando-o.

Art. 1.715. O bem de família é isento de execução por dívidas posteriores à sua instituição, salvo as que provierem de tributos relativos ao prédio, ou de despesas de condomínio.Parágrafo único. No caso de execução pelas dívidas referidas neste artigo, o saldo existente será aplicado em outro prédio, como bem de família, ou em títulos da dívida pública, para sustento familiar, salvo se motivos relevantes aconselharem outra solução, a critério do juiz.

Quanto à inalienabilidade, o artigo 1717 CC estabelece que, uma vez constituído o bem de família voluntário, só poderá voltar a ser alienado com o consentimento dos seus

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interessados e de seus representantes legais, ouvido o MP, se necessário.

Art. 1.717. O prédio e os valores mobiliários, constituídos como bem da família, não podem ter destino diverso do previsto no art. 1.712 ou serem alienados sem o consentimento dos interessados e seus representantes legais, ouvido o Ministério Público.

*ver os artigos 1720 (que cuida da administração do bem), e 1721 e 1722 CC (que cuidam do fim do bem de família voluntário).

Art. 1.720. Salvo disposição em contrário do ato de instituição, a administração do bem de família compete a ambos os cônjuges, resolvendo o juiz em caso de divergência.Parágrafo único. Com o falecimento de ambos os cônjuges, a administração passará ao filho mais velho, se for maior, e, do contrário, a seu tutor.

Art. 1.721. A dissolução da sociedade conjugal não extingue o bem de família.Parágrafo único. Dissolvida a sociedade conjugal pela morte de um dos cônjuges, o sobrevivente poderá pedir a extinção do bem de família, se for o único bem do casal.

Art. 1.722. Extingue-se, igualmente, o bem de família com a morte de ambos os cônjuges e a maioridade dos filhos, desde que não sujeitos a curatela.

O bem de família é dotado de duas características fundamentais:

Nos termos do artigo 1711 CC, o valor de bem afetado não poderá ultrapassar o teto de 1/3 do patrimônio liquido dos instituidores;

Art. 1.711. Podem os cônjuges, ou a entidade familiar, mediante escritura pública ou testamento, destinar parte de seu patrimônio para instituir bem de família, desde que não ultrapasse um terço do patrimônio líquido existente ao tempo da instituição, mantidas as regras sobre a impenhorabilidade do imóvel residencial estabelecida em lei especial.Parágrafo único. O terceiro poderá igualmente instituir bem de família por testamento ou doação, dependendo a eficácia do ato da aceitação expressa de ambos os cônjuges beneficiados ou da entidade familiar beneficiada.

Nos termos do artigo 1712 CC, parte final, o novo código inovou ao admitir que, valores mobiliários (renda) também possam integrar o bem de família que se constitui. O STJ, em uma situação diferenciada, especialmente aplicada no bem de família legal, tem admitido a impenhorabilidade da renda obtida pela locação de um imóvel residencial considerado bem de família (RESP 439920 SP, AGRG RESP 975858 SP).

Art. 1.712. O bem de família consistirá em prédio residencial urbano ou rural, com suas pertenças e acessórios, destinando-se em ambos os casos a domicílio familiar, e poderá abranger valores mobiliários, cuja renda será aplicada na conservação do imóvel e no sustento da família.

1.1.2.BEM DE FAMÍLIA LEGAL (Lei 8.009/90)

O bem de família voluntário não alcançou sucesso entre nós, na mesma linha do pensamento de Álvaro Villaça de Azevedo, que

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critica o fato de o próprio casal ter que comparecer ao cartório para constituir e registrar o seu imóvel residencial como bem de família. Por tais razões, o denominado bem de família legal, regulado pela Lei 8.009/90 tem alcance social muito mais abrangente. Isso porque a referida lei consagra a imediata impenhorabilidade legal do bem de família, sem nenhuma necessidade de inscrição voluntária em cartório.

Vale lembrar que, nos termos do artigo 5º da Lei 8009/90, em havendo dois ou mais imóveis residenciais, a proteção automática do bem de família legal recairá no de menor valor, salvo se outro imóvel houver sido inscrito como bem de família voluntário.

Art. 5º Para os efeitos de impenhorabilidade, de que trata esta lei, considera-se residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para moradia permanente.Parágrafo único. Na hipótese de o casal, ou entidade familiar, ser possuidor de vários imóveis utilizados como residência, a impenhorabilidade recairá sobre o de menor valor, salvo se outro tiver sido registrado, para esse fim, no Registro de Imóveis e na forma do art. 70 do Código Civil.

OBS.: O STJ sumulou entendimento (Súmula 205) no sentido de que a proteção automática do bem de família legal consagrada pela lei 8009/90 aplicar-se-ia inclusive a penhoras realizadas antes da sua vigência.

Qual a extensão da proteção legal do bem de família consagrado pela lei 8009/90?O STJ, em mais de uma oportunidade (RESP 207693 SC, RESP 515122 RS), julgou no sentido de permitir em determinadas situações, o desmembramento do bem de família para efeito de penhora.

Art. 2º Excluem-se da impenhorabilidade os veículos de transporte, obras de arte e adornos suntuosos.Parágrafo único. No caso de imóvel locado, a impenhorabilidade aplica-se aos bens móveis quitados que guarneçam a residência e que sejam de propriedade do locatário, observado o disposto neste artigo.

Que tipo de bens móveis estão abrangidos pela proteção legal?(segundo julgados do STJ)Televisão, máquina de lavar roupas, aparelho de ar condicionado, computador, teclado musical, (RESP 218882 SP)

*Não é a proteção do supérfluo, visa proteger o patrimônio mínimo vital para a vida com dignidade.

Quanto à vaga de garagem, o STJ, não faz muito, sumulou o entendimento segundo o qual “vaga de garagem que possui matrícula própria no registro de imóveis não constitui bem de família para efeito de penhora. (Súmula 449)

A impenhorabilidade legal não é absoluta, uma vez que, o artigo 3º da própria lei 8009/90 consagra exceções ao bem de família.

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Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido:

I - em razão dos créditos de trabalhadores da própria residência e das respectivas contribuições previdenciárias;II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à aquisição do imóvel, no limite

dos créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo contrato;III -- pelo credor de pensão alimentícia;IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em função do imóvel familiar;V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar;VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória a

ressarcimento, indenização ou perdimento de bens.VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação. (Incluído pela Lei nº 8.245, de 1991)

O STJ, julgando o RESP 644733 SC, entendeu que trabalhadores meramente eventuais com eletricista ou pintor, não estão abrangidos na exceção do inciso I, de maneira que, a proteção legal persistiria.

O STF julgou o RESP 429003, no sentido de que, despesa de condomínio (taxa condominial) poderá levar a penhora do referido bem.

O STJ, em recente julgado, AGRG AG 1152734 SP, acertou que não se pode invocar a proteção do bem de família em face de execução de hipoteca constituída pelos próprios devedores.

Em outros julgados há exemplo do AGRG RESP 813546 DF, entenderam o mesmo tribunal que, se o devedor no curso uma execução apenas indicou o bem a penhora, poderá posteriormente invocar a proteção do bem de família.

Súmula 364 STJ aceitou o entendimento de que a proteção legal do bem de família ampara inclusive a pessoa que vive só.

Aula 0822.03.11

BENS JURÍDICOS(continuação)

2. CONCEITO:

É toda utilidade física ou ideal, que seja objeto de um direito subjetivo.

Durante muito tempo a doutrina divergiu e a polêmica ainda é mantida, no que se refere a distinção de bem e coisa (ver Orlando Gomes, Maria Helena, Silvio Venosa, e Barros Monteiro).

Orlando Gomes: razoável é a teoria no sentido de que a noção de bem é genérica, compreendo o conceito de coisa, que, na linha do

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direito alemão (§ 90, BGB) restringe-se as utilidades corpóreas ou materiais.

O que se entende por patrimônio jurídico?

Para os clássicos, patrimônio traduziria principalmente a representação econômica, lembramos inclusive o mesmo autor, que cada pessoa deve ser titular de um patrimônio único ainda que os bens tem natureza diversas.

Complementando esta noção clássica, autores modernos, reconhecem também o denominado patrimônio moral da pessoa, o conjunto de direito da personalidade.

Vale lembrar que nas primeiras aulas já vimos o que se entende por patrimônio mínimo (Luiz Edson Fachin).

O que se entende por patrimônio de afetação?

Consagrado pela lei 10.931/04, o patrimônio de afetação visa a imprimir maior segurança nas relações imobiliárias destacando patrimônio específico, para garantia do empreendimento, em outras palavras, é regime de garantia nos termos da lei específica, que constitui patrimônio autônomo para garantia de determinada obra.

3. CLASSIFICAÇÃO DOS BENS JURÍDICOS

Ver no Material de Apoio 03 a detalhada classificação dos bens jurídicos, valendo destacar, para concurso público especialmente, as seguintes categorias:

QUESTÕES INTERESSANTES QUANTO AO TEMA:

O que se entende por “imóvel por força de lei”?

Trata-se daquele bem considerado de natureza imobiliária por expressa dicção do artigo 80 do CC.

Art. 80. Consideram-se imóveis para os efeitos legais:I - os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram;II - o direito à sucessão aberta.

Tanto o direito de propriedade, como o direito de hipoteca devem ser registrado no Cartório de Registro de Imóveis, pois ambos têm natureza imobiliária. Também tem natureza imobiliária o direito à

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sucessão aberta (direito a herança) por força de lei, para cercá-lo de formalismos. O procedimento de cessão de direito hereditário é formal, ou seja, para um herdeiro ceder sua herança, é necessário cumprir uma série de burocracias – Art. 1793 CC.

Art. 1.793. O direito à sucessão aberta, bem como o quinhão de que disponha o co-herdeiro, pode ser objeto de cessão por escritura pública.§ 1o Os direitos, conferidos ao herdeiro em conseqüência de substituição ou de direito de acrescer, presumem-se não abrangidos pela cessão feita anteriormente.§ 2o É ineficaz a cessão, pelo co-herdeiro, de seu direito hereditário sobre qualquer bem da herança considerado singularmente.§ 3o Ineficaz é a disposição, sem prévia autorização do juiz da sucessão, por qualquer herdeiro, de bem componente do acervo hereditário, pendente a indivisibilidade.

O que se entende por bem móvel empregado em construção?

Trata-se de categoria de fácil compreensão regulada no artigo 84 do CC.

Art. 84. Os materiais destinados a alguma construção, enquanto não forem empregados, conservam sua qualidade de móveis; readquirem essa qualidade os provenientes da demolição de algum prédio.

Qual a natureza jurídica do sêmem do boi?

Nos termos do artigo 83, I, CC, as energias que tem valor econômico são consideradas bem móveis por força de lei. Outro exemplo desse tipo de energia é a energia elétrica.

Art. 83. Consideram-se móveis para os efeitos legais:I - as energias que tenham valor econômico;

OBS.: O Código de Defesa do Consumidor, vale observar, adota um critério classificatório que não integra o sistema da parte geral do Código Civil: em seu artigo 26, reconhece a existência de bens duráveis e não-duráveis, especialmente para se exercer o direito potestativo de se reclamar por vício em 90 ou 30 dias.

Bens duráveis: 90 dias

Bens não duráveis: 30 dias

*quando se impetrar ação no PROCON também impetrar a mesma ação no juizado especial para não perder o prazo.

Quais são os principais aspectos a serem destacados no que tange ao bem principal e ao bem acessório?

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O que se entende por Princípio da Gravitação Jurídica?

Trata-se da regra segundo a qual o acessório segue o principal?

Dentre os bens acessórios temos os frutos, os produtos, as pertenças, as benfeitorias.

*A título de complementação, o que são juros no pé?

Trata-se de expressão consagrada pelo próprio STJ para caracterizar a indevida cobrança de juros compensatórios por parte da construtora ou incorporadora, antes da entrega das chaves do imóvel. (RESP 670117 PA). Editorial 11 do site do Pablo.

Art. 93. São pertenças os bens que, não constituindo partes integrantes, se destinam, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro.

OBS.: Aparelho de som de carro não é pertença, pois ao ser instalado integra o bem principal – carro.

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BENS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOSBEM

PRINCIPAL

É O BEM QUE EXISTE POR SI MESMO

EX.: VACA

BENSACESSÓRIOS

PRESSUPÕE A EXISTÊNCIA DO BEM PRINCIPAL

EX.: BEZERRO EM SEU VENTRE

BENSACESSÓRIOSFRUTOS

SÃO AQUELAS UTILIDADES QUE A COISA PRINCIPAL PERIODICAMENTE GERA E CUJA PERCEPÇÃO NÃO DIMINUI A SUA SUBSTÂNCIA (VER NA APOSTILA A SUB-CLASSIFICÇÃO DOS FRUTOS

OBS.: OS DENOMINADOS RENDIMENTOS SÃO FRUTOS CIVIS QUE SE RENOVAM AO LONGO DO TEMPO, A EXEMPLO DO ALUGUEL E DO JURO .

PRODUTOSSÃO UTILIDADES NÃO RENOVÁVEIS E CUJA PERCEPÇÃO ESGOTA A COISA PRINCIPAL. EX.: PEDRAS DE UMA PEDREIRA

PERTENÇASSÃO AS COISAS QUE, SEM FAZER PARTE INTEGRANTE DO BEM PRINCIPAL, ACOPLA-SE AO MESMO PARA A SUA MELHOR

UTILIZAÇÃO. ART. 93 CC

ART. 93 CC. EX.: AR CONDICIONADO,

ESCADA DE INCÊNCIO

BENFEITORIASSÃO TODAS AS OBRAS REALIZADAS PELO HOMEM, NA ESTRUTURA DE UMA COISA, COM PROPÓSITO DE CONSERVÁ-LA (NECESSÁRIA),

MELHORÁ-LA (ÚTIL), OU PROPORCIONAR DELEITE OU PRAZER (VOLUPTUÁRIA)

ART

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O que são bens imóveis por acessão intelectual?

*Acessão significa união de uma coisa a outra.

É um modo de adquirir propriedade imobiliária, que aumenta o volume da coisa principal.

O Enunciado 11 da I Jornada de Direito Civil entende haver sido banida a categoria do imóvel por acessão intelectual, àquele bem que intencionalmente o proprietário ou possuidor emprega no solo ou na construção. Parte da doutrina (Tartuci, Simão) discorda de tal enunciado. De fato, se observarmos bem, a própria noção de pertença traduz a idéia que se pretende afastar do enunciado

OBS.: Na prática não é fácil a distinção entre benfeitoria e acessão artificial. Todavia é importante pontuar que, tecnicamente, uma acessão artificial (construção) não é uma simples benfeitoria, na medida em que aumenta o volume da coisa principal e tem regramento legal específico (arts. 1253 e seguintes, CC)

O mais importante é pontuar que, uma construção aumente o volume da coisa principal, aumentando a própria propriedade, diferentemente da benfeitoria que é uma simples reforma na própria estrutura da coisa.

Das Construções e Plantações

Art. 1.253. Toda construção ou plantação existente em um terreno presume-se feita pelo proprietário e à sua custa, até que se prove o contrário.

Art. 1.254. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno próprio com sementes, plantas ou materiais alheios, adquire a propriedade destes; mas fica obrigado a pagar-lhes o valor, além de responder por perdas e danos, se agiu de má-fé.

Art. 1.255. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno alheio perde, em proveito do proprietário, as sementes, plantas e construções; se procedeu de boa-fé, terá direito a indenização.Parágrafo único. Se a construção ou a plantação exceder consideravelmente o valor do terreno, aquele que, de boa-fé, plantou ou edificou, adquirirá a propriedade do solo, mediante pagamento da indenização fixada judicialmente, se não houver acordo.

Art. 1.256. Se de ambas as partes houve má-fé, adquirirá o proprietário as sementes, plantas e construções, devendo ressarcir o valor das acessões.Parágrafo único. Presume-se má-fé no proprietário, quando o trabalho de construção, ou lavoura, se fez em sua presença e sem impugnação sua.

Art. 1.257. O disposto no artigo antecedente aplica-se ao caso de não pertencerem as sementes, plantas ou materiais a quem de boa-fé os empregou em solo alheio.Parágrafo único. O proprietário das sementes, plantas ou materiais poderá cobrar do proprietário do solo a indenização devida, quando não puder havê-la do plantador ou construtor.

Art. 1.258. Se a construção, feita parcialmente em solo próprio, invade solo alheio em proporção não superior à vigésima parte deste, adquire o construtor de boa-fé a propriedade da parte do solo invadido, se o valor da construção exceder o dessa parte, e responde por indenização que represente, também, o valor da área perdida e a desvalorização da área remanescente.

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Parágrafo único. Pagando em décuplo as perdas e danos previstos neste artigo, o construtor de má-fé adquire a propriedade da parte do solo que invadiu, se em proporção à vigésima parte deste e o valor da construção exceder consideravelmente o dessa parte e não se puder demolir a porção invasora sem grave prejuízo para a construção.

Art. 1.259. Se o construtor estiver de boa-fé, e a invasão do solo alheio exceder a vigésima parte deste, adquire a propriedade da parte do solo invadido, e responde por perdas e danos que abranjam o valor que a invasão acrescer à construção, mais o da área perdida e o da desvalorização da área remanescente; se de má-fé, é obrigado a demolir o que nele construiu, pagando as perdas e danos apurados, que serão devidos em dobro.

Qual a natureza jurídica da piscina?

A construção de uma piscina é uma benfeitoria, que pode ser voluptuária, se for construída em uma residência, pode ser uma benfeitoria útil se for em uma escola, e uma benfeitoria necessária, se for em uma clínica de hidroterapia.

OBS.: “res nullius” é coisa de ninguém, é aquela coisa fora do comércio jurídico (como uma pedra, por exemplo), ou aquela coisa abandonada (“res derelictae”) que permitem apropriação imediata. Não confundir com “res deperdita”, que é aquela coisa perdida, que se presume ser de interesse do proprietário, pois se houver a apropriação, é considerada apropriação indébita.

FATO JURÍDICO

1. CONCEITO

É todo acontecimento natural ou humano que deflagra efeitos da órbita do direito, ou seja, é todo fato relevante para o direito (Agostinho Alvin).

É todo acontecimento capaz de criar, modificar ou extinguir direito.

2. CLASSIFICAÇÃO:

2.1. FATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITOÉ aquele acontecimento natural, que deflagra efeitos na órbita do direito, podendo ser:- ORDINÁRIO (com o decurso do tempo, ex.: uma chuva de verão)

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- EXTRAORDINÁRIO (acontecimento inesperado, fortuito. Ex.: um tsunami no Brasil)

2.2. ATO-FATO JURÍDICO (Pontes de Miranda)Trata-se daquele comportamento que, embora realizado por um ser humano, é completamente desprovido de vontade consciente na projeção do resultado pretendido e do próprio comportamento realizado, e que, ainda assim, deflagra efeitos na órbita do direito.Ex.: A compra de um doce por uma criança de 4 anos no boteco da esquina.

2.3. AÇÕES HUMANAS Subdividem-se em duas categorias:

- ATO JURÍDICO:

Ato Jurídico em Sentido Estrito:Também chamado de ato não-negocial regulado apenas no artigo 185 CC, é aquele comportamento humano voluntário e consciente, que determina a produção de efeitos jurídicos legalmente previstos, ou seja, no ato em sentido estrito não há liberdade ou autonomia alguma na escolha dos efeitos jurídicos produzidos.

Negócio Jurídico Categoria especialmente desenvolvida pela Escola Pandectista Alemã, traduz uma declaração de vontade emitida segundo a regra fundamental da autonomia privada, pela qual a parte pretende atingir determinados efeitos jurídicos escolhidos, respeitados os parâmetros limitativos da função social e da boa fé objetiva. Existe aqui em maior ou menor grau liberdade na escolha dos efeitos jurídicos que se pretende atingir, diferentemente do que ocorre no mero ato em sentido estrito.Ex.: contrato de testamento

Será estudado com mais profundidade na próxima aula.

- ATO ILÍCITO:

OBS.: Alguns autores, a exemplo do filósofo Antônio Machado Neto, preferem colocar o ato ilícito como espécie de ato jurídico. Entretanto, não é a linha que nós adotamos. Seguindo pensamento de autores

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como Zeno Veloso, Flávio Tartuce, Fernando Simão, e considerando especialmente o fato do próprio código civil tratar o ato ilícito em título separado, concluímos tratar-se de categoria própria.

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