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Direito aplicado à logística http://professorhoffmann.wordpress.com | 66 6.4 LETRA DE CÂMBIO 6.4.1 Caracterização Eis um modelo de letra de câmbio: Regulada pela Lei nº 57.663/66 e parcialmente pelo Decreto nº 2.044/08 (Lei Uniforme), é uma ordem de pagamento à vista ou a prazo pela qual o sacador dirige-se ao sacado para que este pague determinada importância a uma terceira pessoa, sendo transferível por endosso, e que se completa pelo aceite e se garante pelo aval. O sacador, ao emitir uma letra de câmbio, dá uma ordem ao sacado para que pague o valor constante do título ao beneficiário ou tomador. Por essa razão, trata- se de título que compreende uma ordem de pagamento. Verifica-se, assim, que o saque gera três situações jurídicas distintas, envolvendo três sujeitos e uma obrigação cambiária. 6.4.2 Elementos O artigo 1º do anexo I do Decreto nº 57.663/66 (Lei Uniforme) traz os elementos que deve conter a letra de câmbio. Por sua vez, o artigo 2º, informa que não será considerado letra de câmbio o escrito que não trouxer os seguintes requisitos: Art. 1º - A letra contém: 1 - A palavra "letra" inserta no próprio texto do título e expressa na língua empregada para a redação desse título

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6.4 LETRA DE CÂMBIO

6.4.1 Caracterização

Eis um modelo de letra de câmbio:

Regulada pela Lei nº 57.663/66 e parcialmente pelo Decreto nº

2.044/08 (Lei Uniforme), é uma ordem de pagamento à vista ou a prazo pela qual o

sacador dirige-se ao sacado para que este pague determinada importância a uma

terceira pessoa, sendo transferível por endosso, e que se completa pelo aceite e se

garante pelo aval.

O sacador, ao emitir uma letra de câmbio, dá uma ordem ao sacado para

que pague o valor constante do título ao beneficiário ou tomador. Por essa razão, trata-

se de título que compreende uma ordem de pagamento. Verifica-se, assim, que o saque

gera três situações jurídicas distintas, envolvendo três sujeitos e uma obrigação

cambiária.

6.4.2 Elementos

O artigo 1º do anexo I do Decreto nº 57.663/66 (Lei Uniforme) traz os

elementos que deve conter a letra de câmbio. Por sua vez, o artigo 2º, informa que não

será considerado letra de câmbio o escrito que não trouxer os seguintes requisitos:

Art. 1º - A letra contém:

1 - A palavra "letra" inserta no próprio texto do título e expressa na

língua empregada para a redação desse título

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Não se admite a utilização de qualquer outra expressão que não esta,

pois que, sua inclusão é exatamente para que saibam todos que se trata desse específico

título de crédito.

2 - O mandato puro e simples de pagar uma quantia determinada

A palavra correta é ‘mandado’ no lugar de ‘mandato’. Não sendo este

campo preenchido corretamente, nulo será considerado o título, pois que, o valor deve

ser preciso. Aliás, consta no artigo 6º do citado Anexo I que: Se na letra a indicação da

quantia a satisfazer se achar feita por extenso e em algarismos, e houver divergência entre

uma e outra, prevalece a que estiver feita por extenso. Se na letra a indicação da quantia a

satisfazer se achar feita por mais de uma vez, quer por extenso, quer em algarismos, e

houver divergências entre as diversas indicações, prevalecera a que se achar feita pela

quantia inferior. Ainda, por aplicação do inciso II do artigo 1º do Decreto 2.044/1.908,

deve-se mencionar a espécie de moeda de pagamento. Cabe recordar que as letras de

câmbio tiradas no território nacional deverão ser pagas em moeda nacional (R$ - real).

A letra de câmbio poderá ser emitida também com indexação, desde

que o índice seja conhecido e amplamente utilizado.

3 - O nome daquele que deve pagar (sacado)

Por ser uma ordem de pagamento, deve indicar com precisão quem

deve pagar, com o nome por extenso e a documentação deste (RG, CPF, título de eleitor).

4 - A época do pagamento

Será ela paga à vista se não constar data determinada para o título ser

pago (LUG, art. 2º).

5 - A indicação do lugar em que se deve efetuar o pagamento

Conforme assevera o artigo 2º da LUG: Na falta de indicação especial, a

lugar designado ao lado do nome do sacado considera-se como sendo o lugar do

pagamento e, ao mesmo tempo, o lugar do domicilio do sacado. A letra sem indicação do

lugar onde foi passada considera-se como tendo-o sido no lugar designado, ao lado do

nome do sacador.

O § 1º do artigo 20 do Decreto 2.044/1908 esclarece ainda que: É

facultada a indicação alternativa de lugares de pagamento, tendo o portador direito de

opção. A letra pode ser sacada sobre uma pessoa, para ser paga no domicílio de outra,

indicada pelo sacador ou pelo aceitante.

6 - O nome da pessoa a quem ou a ordem de quem deve ser paga

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Deve haver a identificação por extenso do beneficiário do título, para

que ele possa ser identificado, pois a LUG veda a emissão de letra de câmbio ao portador.

Nesta é presumível a expressão ‘à ordem’. Em estando em branco o local do beneficiário,

não quer dizer que se trata de título ao portador, porém, que será preenchido

posteriormente.

7 - A indicação da data em que, e do lugar onde a letra e passada

Não possui valor cambial a letra sem data de emissão, pois que, torna

impossível saber se o emitente era capaz na data, bem como apreciar os prazos para

apresentação e de vencimento.

8 - A assinatura de quem passa a letra (sacador).

Esta deverá ocorrer abaixo do contexto (corpo da letra) para que se

presuma que foi assinada quando todo o conteúdo já estava formado, e que foi feita no

momento da emissão do título. Por meio dessa assinatura, o sacador garante aceite e

pagamento do título. Cabe ressaltar ser vedada a utilização de chancela mecânica.

A LUG prevê outras soluções quanto a outras cláusulas da letra de

câmbio:

Quanto à cláusula de juros, estipula o artigo 5º da LUG: Numa letra

pagável à vista ou a um certo termo de vista, pode o sacador estipular que a sua

importância vencera juros. Em qualquer outra espécie de letra a estipulação de juros será

considerada como não escrita. A taxa de juros deve ser indicada na letra na falta de

indicação, a cláusula de juros e considerada como não escrita. Os juros contam-se da data

da letra, se outra data não for indicada.

Quanto a cláusula exonerando o sacador da garantia do aceite, o artigo

9º da LUG dispõe que: O sacador e garante tanto da aceitação como do pagamento de

letra. O sacador pode exonerar-se da garantia da aceitação toda e qualquer cláusula pela

qual ele se exonera da garantia do pagamento considera-se como não escrita.

6.4.3 Letra incompleta ou em branco

Estabelece a Súmula 387 do STF a possibilidade de circulação de título

incompleto ou em branco. Reza referida súmula que a cambial emitida ou aceita com

omissões, ou em branco, pode ser completada pelo credor de boa-fé antes da cobrança ou

do protesto. Ainda, o preenchimento poderá ser feito a maquina ou à mão.

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6.4.4 Aceite

Com o aceite o sacado se compromete a pagar o valor constante do título ao seu

beneficiário (legitimo possuidor do título) na data do vencimento. A declaração do aceite

torna o sacado devedor principal, passando a ser chamado de ‘aceitante’.

O artigo 25 da LUG exige que o aceite seja dado na própria letra para que seja

considerada esta válida, nos seguintes termos: O aceite é escrito na própria letra.

Exprime-se pela palavra "aceite" ou qualquer outra palavra equivalente o aceite e

assinado pelo sacado. Vale como aceite a simples assinatura do sacado aposta na parte

anterior da letra. Quando se trate de uma letra pagável a certo termo de vista, ou que deva

ser apresentada ao aceite dentro de um prazo determinado por estipulação especial, o

aceite deve ser datado do dia em que foi dado, salvo se o portador exigir que a data seja a

da apresentação. A falta de data, o portador, para conservar os seus direitos de recurso

contra os endossantes e contra o sacador, deve fazer constatar essa omissão por um

protesto feito em tempo útil.

6.4.4.1 Falta ou recusa de aceite

Mesmo que tenha firmado acordo com o sacador, o sacado não está

obrigado a aceitar o título. Se não o aceitar, será acionado pelo sacador pelas vias

ordinárias do direito obrigacional e não pelas vias cambiárias.

Para garantir o recebimento do valor representado no título, seu

possuidor (beneficiário), diante a recusa ou falta de aceite por parte do sacado, que

ocasiona o vencimento antecipado do título, terá de protestá-lo até o primeiro dia útil

seguinte à recusa ou aceite limitativo. Se não o fizer, perderá o direito de acionar os

demais coobrigados.

6.4.4.2 Letras não aceitáveis

A letra de câmbio pode ser sacada com a cláusula de proibição de

apresentação para aceite, o que torna a letra não aceitável. Essa cláusula deve ser

expressa, mediante os termos ‘não aceitável’ ou ‘sem aceite’ ou expressão equivalente.

Com essa cláusula, o sacador acaba evitando a antecipação de vencimento da cártula por

causa da falta ou recusa de aceite. Com isso, o beneficiário só poderá apresentar a letra

ao sacado na data do vencimento, e se ele recusar o pagamento, aí sim, quando já

vencido o título, é que o tomador se voltará contra o sacador.

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Apesar da existência da cláusula, se o sacado aceitar a letra, o aceite

será válido. Se recusar, a letra não poderá ser protestada por falta de aceite. Se for, ao

portador se sujeitará as perdas e danos perante o sacado.

6.4.5 Cobrança do título e os devedores cambiários

Todos os devedores cambiários são devedores solidários. São eles:

sacados, aceitante, endossantes e avalistas. O sacado (posterior aceitante), na letra de

câmbio, não é obrigado solidário porque o simples fato de seu nome constar no título

não enseja a sua obrigação, visto ser necessário o seu aceite.

Em razão da solidariedade, qualquer um deles pode ser demandado. A

solidariedade cambiária decorre de lei, diferentemente da comum, que pode ser

voluntária.

6.4.6 Endosso

É a forma de transferência do direito ao valor constante do título, sendo

acompanhado da tradição da cártula. Conforme assevera o artigo 893 do Código Civil: A

transferência do título de crédito implica a de todos os direitos que lhe são inerentes.

Com o endosso transfere-se não apenas a propriedade do crédito

representado pelo título, mas também a garantia de seu adimplemento. Em outras

palavras, ao transferir um título por endosso, o endossante (ou endossador) garante ao

endossatário (ou adquirente) que o crédito representado no título será pago

pontualmente.

Na letra de câmbio o endossante fica vinculado ao crédito, respondendo

solidariamente pelo aceite na cártula, garantindo o pagamento.

O endosso pode ser feito no verso ou no anverso do título. No verso,

basta a simples assinatura do endossante. No anverso, ele será completo quando

contiver a assinatura do endossante e uma declaração de que se trata de um endosso.

É vedado o endosso parcial ou limitado, ou seja, aquele que diga

respeito apenas a parte do valor constante do título. Se existir, será nulo.

Quando não houver mais espaço na letra para a colocação do endosso,

admite-se que uma nova folha seja anexada ao título para que nesse alongamento seja

colocada a assinatura do endossante.

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O endosso será em preto quando trouxer a indicação do beneficiário

(endossatário) do crédito que se transfere. Trata-se do endosso nominal, que pode ser

no verso ou no anverso do título.

Será endosso em branco quando contiver a simples assinatura do

endossante, sem qualquer discriminação de quem seja o beneficiário da transferência do

crédito. Nessa hipótese, cria-se a possibilidade de circulação livre do título, ou seja, ele

se torna ao portador. Nesse caso, necessariamente o endosso deverá ser no verso do

título.

6.4.6.1 Endosso e cessão civil

O artigo 919 do Código Civil salienta que o recebimento de título à

ordem, por meio diverso do endosso, tem efeito de cessão civil de crédito. Ambos são

atos jurídicos transmissores da titularidade do crédito, contudo possuem diferenças.

Enquanto o endosso é ato unilateral, a cessão de crédito é negócio

jurídico (bilateral). A cessão pode ser feita da mesma forma que qualquer contrato, ao

contrário, o endosso, só é admitido mediante assinatura e declaração apostas no título. O

endosso confere direitos autônomos ao seu beneficiário, ao passo que a cessão confere

direitos derivados. No endosso há a inoponibilidade das exceções, por outro lado, na

cessão, admite-se que o devedor oponha contra o cessionário exceções que tinha contra

o cedente. Por fim, o endosso não pode ser parcial, contudo a cessão civil pode.

6.4.7 Aval

Nos termos do artigo 30 da Lei Uniforme e artigo 897 do Código Civil, o

pagamento de título de crédito, que contenha obrigação de pagar soma determinada, pode

ser garantindo por aval. Este corresponde a uma garantia cambial, firmada por terceiro

(avalista) ao avalizado, garantindo o pagamento do título. O avalista pode ser um

terceiro estranho ao título ou alguém que já seja obrigado.

O avalista assume uma obrigação igual à de seu avalizado, tanto quanto

aos efeitos, como no que tange às conseqüências.

Pertinente é a observação: uma assinatura aposta no anverso do título

sem qualquer indicação vale como aval. Uma assinatura aposta no verso sem qualquer

esclarecimento vale como endosso.

É permitido o alongamento do título para fins de firmar o aval.

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Não pode o avalista argüir exceção própria do avalizado, em razão de

sua obrigação ser autônoma em relação à dele, não integrando a relação causal entre o

avalizado e o credor deste.

É permitido o aval parcial ou limitado, ou seja, aquele em que o avalista

garante valor menor do que o constante da letra. Em se tratando de regra prevista em lei

especial, prevalece sobre o disposto no artigo 897 do Código Civil que veda o aval

parcial.

Por aplicação do artigo 900 do Código Civil pode-se avalizar o título

mesmo após o seu vencimento, possuindo ele os mesmos efeitos do anteriormente dado.

6.4.7.1 Aval e fiança

O aval diferencia-se da fiança na medida em que esta é uma garantia

civil e aquele uma garantia cambial. A obrigação do fiador é acessória em relação à do

afiançado, isto é, o credor primeiro cobra do afiançado e, se este não pagar, poderá volta-

ser contra o fiador, que terá direito de regresso. Já a obrigação do avalista é autônoma

em relação à do avalizado. Assim, o credor pode cobrar primeiro o avalista.

Noutras palavras, pode-se dizer que na fiança o fiador tem beneficio de

ordem, ou seja, só pode ser cobrado em segundo lugar, o que não ocorre no aval.

A fiança pode ser aposta no próprio contrato ou em instrumento

apartado, enquanto que o aval deve ser lançado no título. Em razão do princípio da

autonomia, o aval não admite a alegação de exceções pessoais do avalizado; já a fiança,

admite.

Nos termos do artigo 1.647, III do Código Civil, um cônjuge não pode

prestar aval ou fiança sem autorização do outro, exceto se forem casados no regime de

separação absoluta de bens.

6.4.8 Vencimento

Vencimento é a data em que o pagamento da letra de câmbio, por prévia

fixação no título, ou em decorrência de disposição legal, pode ser exigida. Somente com o

vencimento é que a letra se torna exigível.

São dois os tipos de vencimentos. O primeiro é o ordinário, que ocorre

pelo término normal do prazo. É o disposto no artigo 6º do Decreto 2.044/1908:

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a) à vista: o vencimento ocorre na apresentação, que poderá ser feita

dentro do prazo de um ano, contado da emissão do título. Contudo, tal prazo poderá ser

alterado pelo sacador da letra.

b) a dia certo: o vencimento ocorre no dia indicado.

c) a tempo certo da data: o sacador fixa um prazo de vencimento a ser

contado da data da emissão (ex. o vencimento se dará em sessenta dias a contar desta

data).

d) a tempo certo da vista: o vencimento ocorre em um prazo

previamente indicado no título a contar da data do aceite (ex. o vencimento dessa letra

se dará no prazo de sessenta dias a partir da data do respectivo aceite).

Por outro lado o vencimento extraordinário é aquele que se dá com a

interrupção do tempo por fato anormal ou imprevisto, o que ocorre nos casos arrolados

no artigo 19 do Decreto 2.044/1908, que são: a) falta ou recusa do aceite; b) falência do

aceitante.

6.4.9 Apresentação

A apresentação deve ser feita pelo portador do título ao devedor

principal para que este efetue o pagamento da quantia constante da cambial na data do

vencimento.

No dia do vencimento do título o portador deverá apresentar a cártula

no lugar designado como sendo o lugar de pagamento ou, na falta, naquele indicado ao

pé do nome do sacado, ou ainda no domicílio deste.

6.4.10 Pagamento

O pagamento da letra corresponde ao resgate da cambial. Antes do

vencimento, o credor pode recusar-se a receber o pagamento do título. Após o

vencimento, no entanto, está vedada tal recusa, ainda que o devedor somente pague

parcialmente o valor constante do título.

Uma vez pago o título, deverá o devedor exigir do credor a entrega da

cártula, bem como a quitação regular.

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6.4.11 Protesto

É a prova literal de que o portador apresentou o título a aceite ou a

pagamento e que nem uma nem outra providência foi tomada por parte do sacado ou

aceitante, respectivamente. Assim, com o protesto, o portador prova aos demais

coobrigados que não recebeu por parte do devedor principal do título a quantia nele

inserida, razão pela qual tem o direito de contra eles se voltar para ver pago a quantia

descrita na cártula.

Por conseguinte, se não for feito o protesto por falta de aceite ou de

pagamento, ou se for ele efetuado fora do prazo legal, a consequência será a perda desse

direito de regresso por parte do portador contra os demais coobrigados cambiários

(sacador, endossantes e seus respectivos avalistas).

O protesto é um documento solene e extrajudicial, levado a efeito pelo

oficial público do Tabelionato de Protestos, que identifica e discrimina o título de

crédito, seu devedor principal, e ainda a situação que justifica sua feitura, que pode ser:

falta ou recusa de aceite; falta ou recusa de pagamento; falta da devolução do título.

6.4.11.1 Cancelamento do protesto

Pode ser feito em virtude do pagamento posterior do título. Para tanto,

basta que se entregue, no próprio Tabelionato de Protesto, o título protestado, uma vez

que a posse da cártula faz presumir a quitação. O Tabelionato arquiva cópia do título.

6.4.12 Ação cambial

Por ser considerada como título executivo extrajudicial, dispensa a

prévia ação de conhecimento, gerando uma satisfação célere e eficiente do crédito.

A execução deverá ser proposta no lugar indicado para o pagamento do

título, ou no domicílio do devedor principal. A execução poderá ser proposta contra um,

alguns ou todos os que se obrigaram no título, independentemente da ordem de

endossos.

6.4.13 Prescrição

Nos termos do artigo 70 da Lei Uniforme, a prescrição da ação cambial

ocorre nos seguintes prazos: a) em 3 anos, a contar de seu vencimento, no caso de

execução contra o aceitante e seu avalista; b) em 1 ano, no caso das ações contra o

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sacador, endossantes e seus avalistas; c) em 6 meses, no caso das ações dos endossantes

uns contra os outros e contra o sacador (ação regressiva) a contar do dia em que o

endossante pagou a letra ou em que ele próprio foi acionado.

6.5 NOTA PROMISSÓRIA

Eis um modelo de nota promissória:

Eis agora, um modelo de nota promissória como deve ser preenchida:

A nota promissória é uma promessa de pagamento em que o emitente

ou sacador se compromete a pagar determinada quantia ao beneficiário do título. Sua

emissão, portanto, decorre de uma declaração unilateral de vontade e não de um

contrato.

Diferentemente, portanto, das letras de câmbio, as notas promissórias,

ao serem sacadas, dão origem somente a duas posições jurídicas: a do sacador e a do

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beneficiário da nota. Não há, assim, a figura do sacado (visto que não há uma ordem),

não existindo, por conseqüência, a figura do aceite e demais regras ligadas a esse

instituto. Com o saque, o emitente da nota se responsabiliza pelo pagamento do título.

A nota promissória está disciplinada no Decreto nº 2.044/1908, arts. 54

a 56 e também no Decreto nº 57.663/66, arts. 75 a 78.

Com exceção do instituto do aceite, todas as regras anteriormente traçadas acerca das

letras de câmbio (endosso, vencimento, pagamento, cobrança, aval, protesto, ação

cambial) aplicam-se às notas promissórias.

Requisitos essenciais da nota promissória:

Art. 54. A nota promissória é uma promessa de pagamento e deve conter

estes requisitos essenciais, lançados, por extenso no contexto:

I. a denominação de “Nota Promissória” ou termo correspondente, na

língua em que for emitida;

II. a soma de dinheiro a pagar;

III. o nome da pessoa a quem deve ser paga;

IV. a assinatura do próprio punho da emitente ou do mandatário especial.

§ 1º Presume-se ter o portador o mandato para inserir a data e lugar da

emissão da nota promissória, que não contiver estes requisitos.

§ 2º Será pagável à vista a nota promissória que não indicar a época do

vencimento. Será pagável no domicílio do emitente a nota promissória

que não indicar o lugar do pagamento.

É facultada a indicação alternativa de lugar de pagamento, tendo o

portador direito de opção.

§ 3º Diversificando as indicações da soma do dinheiro, será considerada

verdadeira a que se achar lançada por extenso no contexto.

Diversificando no contexto as indicações da soma de dinheiro, o título não

será nota promissória.

§ 4º Não será nota promissória o escrito ao qual faltar qualquer dos

requisitos acima enumerados. Os requisitos essenciais são considerados

lançados ao tempo da emissão da nota promissória. No caso de má-fé do

portador, será admitida prova em contrário.

Nos termos do artigo 76 da Lei Uniforme e 54, § 4º do Decreto

2.044/1908, se ao título faltar algum dos requisitos acima indicados, não será possível a

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produção de qualquer efeito enquanto nota promissória. Os requisitos essenciais

consideram-se lançados ao tempo da emissão da nota promissória.

Quanto ao aval em branco, tal como na letra de câmbio, não sendo

indicada a pessoa do avalizado, entende-se que deverá ser assim considerado o emitente

do título (sacador da letra de câmbio ou emitente da nota promissória).

A nota promissória a teor do artigo 55 do Decreto n° 2.044/1908 pode

conter os seguintes vencimentos:

Art. 55. A nota promissória pode ser passada: I. à vista; II. a dia certo; III.

a tempo certo da data. Parágrafo único. A época do pagamento deve ser

precisa e única para toda a soma devida.

Os prazos prescricionais para a execução da nota promissória são os

seguintes: a) 3 anos, a contar do vencimento, do portador contra o emitente e avalista;

b) 1 ano, a contar da data do protesto feito em tempo útil, ou da data do vencimento, se a

letra contiver a cláusula ‘sem despesas’, do portador contra endossantes e respectivos

avalistas; c) 6 meses, a contar do dia em que o endossante pagou o título ou em que ele

foi acionado, dos endossantes, uns contra os outros, ou seus avalistas.

Quanto ao prazo para apresentação ao protesto, a nota deve ser

apresentada a protesto no prazo de dois dias úteis após seu vencimento. A inobservância

do prazo acarretará a perda do direito contra os coobrigados, endossantes e seus

avalistas.