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  • Direito Administrativo para TCE-PE

    Auditor das Contas Pblicas

    Teoria e exerccios comentados

    Prof. Erick Alves Aula 04

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    AULA 04

    Ol pessoal!

    Na aula de hoje estudaremos o tema Poderes da Administrao Pblica.

    Para tanto, seguiremos o seguinte sumrio:

    SUMRIO

    Poderes da Administrao Pblica ....................................................................................................................... 3

    Poder vinculado ............................................................................................................................................................. 3

    Poder discricionrio .................................................................................................................................................... 4

    Poder hierrquico ......................................................................................................................................................... 7

    Poder disciplinar ........................................................................................................................................................ 11

    Poder regulamentar .................................................................................................................................................. 14

    Poder de polcia .......................................................................................................................................................... 23

    Abuso de poder.............................................................................................................................................................. 37

    Deveres da Administrao Pblica .................................................................................................................... 40

    Questes de prova ....................................................................................................................................................... 44

    RESUMO DA AULA ..................................................................................................................................................... 65

    Jurisprudncia da aula .............................................................................................................................................. 67

    Questes comentadas na aula ............................................................................................................................... 73

    Gabarito ............................................................................................................................................................................. 82

    Preparados? Aos estudos!

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    PODERES DA ADMINISTRAO PBLICA

    Os agentes pblicos possuem uma srie de prerrogativas que lhes permitem exercer atividades com a finalidade de concretizar os interesses da coletividade. Tais prerrogativas decorrem do princpio da supremacia do interesse pblico e constituem os chamados poderes administrativos.

    Conforme ensina Carvalho Filho, pode-se conceituar os poderes administrativos como o conjunto de prerrogativas de direito pblico que a ordem jurdica confere aos agentes administrativos para o fim de

    permitir que o Estado alcance seus fins.

    De regra, os poderes administrativos so concedidos por lei e destinam-se a instrumentalizar o administrador pblico para o atingimento do objetivo finalstico a que se presta o Estado: a satisfao dos interesses pblicos. Por isso, os poderes administrativos so considerados poderes instrumentais, ou seja, so os instrumentos que permitem Administrao cumprir suas finalidades. Diferem, assim, dos poderes polticos (Legislativo, Judicirio e Executivo), que so considerados poderes estruturais, pois formam a estrutura do Estado estabelecida na Constituio.

    Vejamos ento os principais poderes administrativos geralmente cobrados em prova.

    PODER VINCULADO

    O poder vinculado se relaciona com a prtica de atos vinculados, isto , atos cuja forma de execuo est inteiramente definida na lei.

    Os atos vinculados no admitem juzo de convenincia e oportunidade por parte do administrador pblico, pois a lei discrimina todos os elementos necessrios sua prtica. O agente, ento, deve agir nos exatos termos e limites previstos na lei, sem margem para escolha de conduta diversa.

    o caso, por exemplo, da cobrana de tributos pela Administrao Fazendria que, nos termos do art. 3 do Cdigo Tributrio Nacional, constitui atividade administrativa plenamente vinculada. Assim, ao ocorrer o fato gerador de determinado tributo, no cabe ao auditor fiscal decidir se realiza ou no a cobrana: o agente dever obrigatoriamente cobrar o tributo, nos termos previstos na lei, sob pena de responsabilidade.

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    O poder vinculado, ento, aquele que credencia o agente pblico para executar os atos vinculados previstos em lei. No nosso exemplo, o poder que permite ao auditor fiscal realizar a cobrana do tributo.

    Na verdade, o poder vinculado no constitui propriamente uma prerrogativa, e sim um dever que obriga o administrador pblico a se conduzir rigorosamente em conformidade com os parmetros legais. Ora, como vimos, o auditor fiscal no s pode como deve fazer a cobrana do tributo quando verificar a ocorrncia da hiptese de incidncia prevista em lei, sob pena de responsabilidade.

    Todavia, alguns autores consagrados, a exemplo de Hely Lopes Meirelles, ainda costumam incluir o poder vinculado entre os poderes administrativos, dando a ideia de uma prerrogativa.

    PODER DISCRICIONRIO

    A lei no capaz de traar rigidamente todas as condutas de um agente administrativo. Assim, em vrias situaes ela lhes oferece a possibilidade de valorao da conduta, isto , permite ao agente avaliar a convenincia e oportunidade dos atos que vai praticar.

    O poder discricionrio, portanto, aquele que confere prerrogativa para a Administrao praticar atos discricionrios, isto , atos cuja execuo admite certa margem de flexibilidade por parte dos agentes, os quais, dessa forma, podem usar seu juzo pessoal para escolher, entre vrias condutas possveis previstas em lei, a que traduz maior convenincia e oportunidade para o interesse pblico.

    Nesse caso, trata-se efetivamente de um poder para a Administrao. Esse poder de escolha, contudo, no deve ser exercido com arbitrariedade, e sim aplicado dentro dos limites da lei, com vistas ao atendimento dos interesses da coletividade.

    O juzo de convenincia e oportunidade constitui o denominado mrito administrativo, que se concretiza nas hipteses em que a prpria norma legal estabelece, por exemplo, que a administrao poder prorrogar determinado prazo por at quinze dias, ou que facultado administrao, a seu critrio, conceder ou no determinada autorizao etc.

    Detalhe interessante que o poder discricionrio fundamenta no s a prtica, mas tambm a revogao de atos discricionrios que a

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    Administrao Pblica tenha praticado e que, num momento posterior, passe a considerar inoportunos e inconvenientes.

    Importante notar que, geralmente, os limites legais do poder discricionrio so bem definidos. Veja, acima, o exemplo hipottico da prorrogao de prazo. O administrador at poder decidir se autoriza ou no a dilao do prazo; se autorizar, a lei fixa um limite mximo de quinze dias. Ou seja, ainda que tenha poder discricionrio para autorizar a prorrogao, esse poder no absoluto, vale dizer, o agente no poder autorizar a prorrogao por vinte, trinta ou sessenta dias, mas sim, no mximo, por quinze dias.

    Alm dos limites impostos expressamente pela prpria lei, o poder discricionrio tambm encontra obstculo nos princpios administrativos, sobretudo nos princpios da razoabilidade e da proporcionalidade. Se determinada atuao administrativa ultrapassar esses limites ser considerada arbitrria, o que sinnimo de conduta ilegal, podendo, assim, ser anulada pela prpria Administrao ou pelo Poder Judicirio.

    Por exemplo, o art. 130 da Lei 8.112/1990 prev expressamente que a suspenso ser aplicada em caso de reincidncia das faltas punidas com advertncia e de violao das demais proibies que no tipifiquem

    infrao sujeita a penalidade de demisso, no podendo exceder de 90

    (noventa) dias.

    Dessa forma, diante da ocorrncia de situaes que se enquadrem nas hipteses do art. 130 da Lei 8.112/1990, a Administrao dever aplicar a pena de suspenso ao servidor e, no uso do seu poder discricionrio, observando os princpios da razoabilidade e da proporcionalidade, estipular o prazo de afastamento, que poder ser de 20, 40, 60... at o mximo de 90 dias. Nesse quadro, uma suspenso de, por exemplo, 100 dias, seria um ato puramente arbitrrio e ilegal, por ter extrapolado os limites do poder discricionrio, passvel de anulao pela prpria Administrao ou pelo Poder Judicirio, se provocado. Da mesma forma, seria passvel de anulao uma suspenso de 90 dias, a mais grave possvel, para punir uma infrao leve, configurando uso claramente desproporcional do poder discricionrio; nessa hiptese, no h que se falar em revogao, visto que, quando a Administrao pratica um ato discricionrio com violao aos princpios da razoabilidade da proporcionalidade, esse um ato ilegtimo (e no meramente inoportuno e inconveniente), devendo, portanto, ser anulado.

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    Ministrio e respectivas secretarias e demais rgos administrativos, ou entre um chefe de departamento e os funcionrios desse setor.

    Nesse contexto, o poder hierrquico aquele que permite ao superior hierrquico exercer determinadas prerrogativas sobre seus subordinados, especialmente as de dar ordens, fiscalizar, controlar, aplicar sanes, delegar e avocar competncias. Vamos ver um pouco mais sobre cada uma dessas prerrogativas.

    A prerrogativa de dar ordens permite ao superior hierrquico assegurar o adequado funcionamento dos servios sob sua responsabilidade. Tambm conhecida como poder comando.

    Alm de ordens diretas, verbais ou escritas, direcionadas a um subordinado especfico, o poder de comando tambm pode ser exercido mediante a edio de atos administrativos ordinrios, como ordens de servio, portarias, instrues, circulares internas etc., que obrigam de forma indistinta todos os subordinados aos quais se destina.

    Por seu turno, os subordinados se sujeitam ao chamado dever de obedincia, isto , ao dever de acatar as ordens emitidas por seus superiores hierrquicos, exceto quando estas ordens forem manifestamente ilegais3.

    Prosseguindo, a prerrogativa de fiscalizar permite ao superior acompanhar, de modo permanente, a atuao de seus subordinados. Trata-se, na verdade, de um poder-dever, ou seja, mais que uma prerrogativa, uma obrigao do superior fiscalizar a atuao dos seus subordinados.

    Como decorrncia lgica do poder de fiscalizar, existe o poder de controle, que permite ao superior tomar medidas concretas face s constataes surgidas no acompanhamento das atividades de seus subordinados. O poder de controle compreende, assim, a manuteno dos atos vlidos, convenientes e oportunos, a convalidao de atos com defeitos sanveis, a anulao de atos ilegais e a revogao de atos discricionrios inoportunos ou inconvenientes4.

    O controle hierrquico permite que o superior aprecie todos os aspectos dos atos de seus subordinados, no se restringindo, assim, a questes de legalidade, mas tambm abrangendo o mrito administrativo.

    3 Lei 8.112/1990: art. 116: So deveres do servidor: IV - cumprir as ordens superiores, exceto quando manifestamente ilegais;

    4 Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo (2014, p. 233).

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    Pode o superior, por exemplo, por razes de convenincia e oportunidade, no concordar com determinada proposta formulada por subordinado seu, decidindo de forma diversa.

    Detalhe que o controle hierrquico pode ocorrer de ofcio ou mediante provocao dos interessados, por meio de recursos hierrquicos.

    Quanto aplicao de sanes, registre-se que s decorrem do poder hierrquico as sanes disciplinares, quais sejam, aquelas aplicadas aos servidores pblicos que cometam infraes funcionais. Assim, as sanes aplicadas a particulares no tm como fundamento o poder hierrquico, afinal, no h hierarquia entre a Administrao e os administrados. Tais sanes (aos particulares) decorrem do exerccio do poder disciplinar ou do poder de polcia, conforme o caso. Falaremos mais sobre isso daqui a pouco.

    Em relao delegao de competncias, refere-se ao ato pelo qual o superior hierrquico confere o exerccio temporrio de algumas de suas atribuies a um subordinado. A delegao de competncias um ato discricionrio e, por isso, revogvel a qualquer tempo. Dizendo de outra forma, o superior pode, dentro dos limites da lei, delegar as competncias que desejar, em razo de circunstncias de ndole tcnica, social, econmica, jurdica ou territorial, podendo, da mesma forma, revoga-la quando quiser, retirando do subordinado os poderes para praticar os atos delegados.

    Ressalte-se que a delegao transfere o mero exerccio de uma competncia, permanecendo a titularidade dessa competncia com a autoridade delegante, a qual no pode renunciar a suas responsabilidades, visto que elas sempre decorrem de lei.

    Nem todas as competncias, porm, podem ser delegadas. Exemplos clssicos de competncias indelegveis so os atos polticos (somente se delega atos administrativos) e as funes tpicas de cada Poder, salvo nos casos expressamente previstos na Constituio (por exemplo, no caso das leis delegadas, em que o Presidente da Repblica poder exercer funo legislativa, nos termos do art. 68 da CF).

    J a avocao ato discricionrio, de carter excepcional, mediante o qual o superior hierrquico atrai para si o exerccio temporrio de determinada competncia exercida por um subordinado. Assinale-se que a avocao desonera o subordinado de toda responsabilidade pelo ato avocado pelo superior.

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    inerente organizao administrativa hierrquica, possuindo carter irrestrito, permanente e automtico. Nesse aspecto, difere da tutela administrativa, exercida pela administrao direta sobre as entidades da administrao indireta, que s pode ser exercida nos termos e limites previstos em lei.

    3. (Cespe SUFRAMA 2014) O poder hierrquico confere aos agentes superiores o poder para avocar e delegar competncias.

    Comentrio: O quesito est correto. O poder hierrquico aquele que permite ao superior hierrquico exercer determinadas prerrogativas sobre seus subordinados, especialmente as de dar ordens, fiscalizar, controlar, aplicar sanes, delegar e avocar competncias. Na delegao, o superior hierrquico atribui a um subordinado a responsabilidade de executar algumas de suas competncias; j na avocao, o superior hierrquico atrai para si a responsabilidade de executar determinada atribuio de um subordinado.

    Gabarito: Certo

    4. (Cespe PGE/BA 2014) Ao secretrio estadual de finanas permitido delegar, por razes tcnicas e econmicas e com fundamento no seu poder hierrquico, parte de sua competncia a presidente de empresa pblica, desde que o faa por meio de portaria.

    Comentrio: O item est errado. No existe hierarquia entre a administrao direta (Secretaria de Finanas) e a indireta (empresa pblica), de modo que a referida delegao, embora seja possvel e legal, no encontra amparo no poder hierrquico, da o erro.

    Gabarito: Errado

    PODER DISCIPLINAR

    O poder disciplinar pode ser entendido como a possibilidade de a Administrao aplicar sanes queles que, submetidos sua ordem administrativa interna, cometem infraes.

    No exerccio do poder disciplinar, a Administrao Pblica pode:

    Punir internamente as infraes funcionais de seus servidores;

    Punir infraes administrativas cometidas por particulares a ela ligados mediante algum vnculo especfico (contrato, convnio etc).

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    Detalhe a ser observado que no so apenas os servidores pblicos que se submetem ao poder disciplinar da Administrao. Determinados particulares tambm esto sujeitos. o caso, por exemplo, dos que firmam contratos com o Poder Pblico, que estaro sujeitos s sanes disciplinares pelo vnculo estabelecido por meio do instrumento contratual. Claro que, para tanto, as sanes devem estar previstas no contrato firmado, sobretudo especificando as infraes punveis.

    O poder disciplinar correlato com o poder hierrquico, mas com ele no se confunde. No uso do poder hierrquico, a Administrao Pblica distribui e escalona as suas funes executivas; j no uso do poder disciplinar ela controla o desempenho dessas funes e a conduta interna de seus servidores, responsabilizando-os pelas faltas cometidas.

    Note que, quando a Administrao pune infraes funcionais de seus servidores, faz uso tanto do poder disciplinar como do poder hierrquico. Ao contrrio, quando pune infraes administrativas cometidas por particulares, por exemplo, quando descumprem um contrato administrativo firmado com o Poder Pblico, incide apenas o poder disciplinar, pois no existe relao de hierarquia.

    A doutrina enfatiza que o poder disciplinar da Administrao Pblica no se confunde com o poder punitivo do Estado, o qual exercido pelo Poder Judicirio com o objetivo de reprimir crimes, contravenes e demais infraes de natureza cvel e penal previstos em lei. Com efeito, o poder punitivo do Estado incide sobre qualquer pessoa que pratique algum ato infrator tipificado em lei, enquanto o poder disciplinar alcana somente pessoas que possuam algum vnculo jurdico especfico com a Administrao Pblica, seja vnculo funcional (ex: servidores e empregados pblicos), seja contratual (ex: empresas particulares contratadas pelo Poder Pblico ou que firmam convnios de repasse de recursos pblicos).

    Pelas mesmas razes, o poder disciplinar no se confunde com o poder de polcia, ao qual se sujeitam todas as pessoas que exeram atividades que possam, de alguma forma, acarretar risco ou transtorno sociedade, a exemplo das empresas de construo civil, dos motoristas, dos comerciantes de alimentos, dos portadores de arma de fogo etc.

    Vejamos as empresas de construo civil. Mesmo que no tenham contrato com o Poder Pblico, essas empresas esto sujeitas ao poder polcia (ex: necessitam de alvars, podem ser fiscalizadas, a obra pode ser embargada etc.). Diz-se que as pessoas sujeitas ao poder de polcia

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    possuem um vnculo geral com a Administrao Pblica (lembrando que o poder disciplinar incide sobre as pessoas que possuem um vnculo especfico).

    Informao importante que, em regra, o poder disciplinar comporta certo grau de discricionariedade, especialmente no que tange gradao da penalidade (ex: valor da multa, prazo da suspenso etc.) ou mesmo da escolha da penalidade a ser aplicada (ex: em certos casos, a Administrao pode escolher se aplica multa, suspenso, advertncia etc.). Porm, deve ser ressaltado que no h discricionariedade quanto ao dever de punir, vale dizer, sempre que verificar situao passvel de punio administrativa, praticada por pessoa que possua vnculo funcional ou contratual com o Poder Pblico, a Administrao obrigada a punir o infrator.

    Por exemplo, o art. 86 da Lei 8.666/1993 prescreve que o atraso injustificado na execuo do contrato sujeitar o contratado multa de mora, na forma prevista no instrumento convocatrio ou no contrato. Assim, caso a empresa contratada atrase injustificadamente a execuo do contrato, no cabe ao administrador pblico decidir se pune ou no a empresa: ele deve aplicar a multa; nesse ponto no h discricionariedade. Esta s aparece quando o administrador for estipular o valor da multa, ato que deve ser praticado luz dos princpios da razoabilidade e da proporcionalidade, visto que a lei no fixa um valor.

    Por fim, no demais lembrar que a aplicao de penalidades administrativas deve ser sempre devidamente motivada, a fim de assegurar aos interessados o devido direito de defesa.

    5. (Cespe PGE/BA 2014) A aplicao das penas de perda da funo pblica e de ressarcimento integral do dano em virtude da prtica de ato de improbidade administrativa situa-se no mbito do poder disciplinar da administrao pblica.

    Comentrio: O item est errado. O poder disciplinar permite Administrao apurar e aplicar penalidades administrativas a seus servidores e s demais pessoas sujeitas disciplina interna do Poder Pblico. J o processamento e o julgamento das aes de improbidade administrativa, com a consequente aplicao das penas correlatas, de natureza civil e poltica, competem ao Poder Judicirio, no exerccio do poder punitivo do Estado.

    Gabarito: Errado

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    6. (Cespe PM/CE 2014) O poder disciplinar fundamenta tanto a aplicao de sanes s pessoas que tenham vnculo com a administrao, caso dos servidores pblicos, como s que, no estando sujeitas disciplina interna da administrao, cometam infraes que atentem contra o interesse coletivo

    Comentrio: O poder disciplinar fundamenta apenas a aplicao de sanes s pessoas que tenham vnculo com a administrao, caso dos servidores pblicos e das pessoas contratadas pelo Poder Pblico. J as pessoas no sujeitas disciplina interna da administrao, ao cometerem infraes que atentem contra o interesse coletivo, so sancionadas com base no poder de polcia, da o erro.

    Gabarito: Errado

    PODER REGULAMENTAR

    O poder regulamentar a faculdade de que dispem os Chefes do Poder Executivo (Presidente da Repblica, Governadores e Prefeitos) para editar atos administrativos normativos.

    Em regra, o exerccio do poder regulamentar se materializa na edio de:

    Decretos e regulamentos, os chamados decretos de execuo ou decretos regulamentares, que tm por objetivo definir procedimentos para a fiel execuo das leis, nos termos do art. 84, IV da CF5; ou de

    Decretos autnomos, que tm como objetivo dispor sobre determinadas matrias de competncia dos Chefes do Executivo, listadas no inciso VI do art. 84 da CF6, as quais no so disciplinadas em lei.

    A doutrina enfatiza que o poder regulamentar, consubstanciado na edio de decretos e regulamentos de execuo e de decretos autnomos, um poder inerente e privativo do Chefe do Poder Executivo7.

    fato, porm, que no Brasil, alm dos Chefes do Poder Executivo, diversos rgos e autoridades administrativas, e mesmo entidades da administrao indireta, tambm editam atos administrativos 5 Constituio Federal, art. 84, inciso IV: Compete privativamente ao Presidente da Repblica sancionar promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execuo. 6 Constituio Federal, art. 84, inciso VI: Compete privativamente ao Presidente da Repblica dispor, mediante decreto, sobre:

    a) organizao e funcionamento da administrao federal, quando no implicar aumento de despesa nem

    criao ou extino de rgos pblicos;

    b) extino de funes ou cargos pblicos, quando vago. 7 Hely Lopes Meirelles (2008, p. 129).

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    normativos. o caso, por exemplo, dos Ministros de Estado, que possuem competncia para expedir instrues para a execuo das leis, decretos e regulamentos (CF, art. 87, inciso II), ou da Receita Federal, que edita instrues normativas para orientar os contribuintes no recolhimento de tributos. Na administrao indireta, pode-se tomar como exemplo o Banco Central, a CVM e as agncias reguladoras, que editam resolues, portarias e instrues normativas sobre assuntos de sua competncia.

    Contudo, os atos normativos produzidos por esses outros rgos e autoridades, denominados regulamentos autorizados, no decorrem do poder regulamentar, visto que este, como vimos, exclusivo (inerente e privativo) do Chefe do Poder Executivo. Para solucionar a questo, a doutrina costuma dizer que esses outros atos normativos tm fundamento no poder normativo da Administrao Pblica, que seria um poder mais amplo que o poder regulamentar, por abranger a capacidade normativa de toda a Administrao para editar regulamentos autorizados.

    Assim, o poder regulamentar, exclusivo do Chefe do Poder Executivo, seria uma espcie do gnero poder normativo, este extensvel a toda a Administrao Pblica. Deve ficar claro, apenas, conforme salientam Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo, que ao praticar atos com base no poder regulamentar (espcie), o Chefe do Poder Executivo no deixa de estar exercendo o poder normativo da Administrao Pblica (gnero).

    Vamos agora esmiuar um pouco mais as caractersticas dos atos administrativos normativos.

    Decretos de execuo ou regulamentares

    Os decretos de execuo ou regulamentares, nos termos do art. 84, IV da CF, so regras editadas pelo Chefe do Poder Executivo com vistas a possibilitar a fiel execuo das leis que, de algum modo, envolvam atuao da Administrao Pblica.

    Como exemplo, pode-se citar o Decreto 8.624/2014, que regulamenta a Lei n 12.741/2012. A referida lei preceitua que o valor de determinados tributos incidentes sobre as mercadorias e servios devem constar dos respectivos documentos fiscais, ou seja, a lei cria um direito de informao para o consumidor e uma obrigao de informar dirigida aos empresrios. J o decreto no cria novos direitos e obrigaes, mas apenas estabelece como sero os procedimentos para que a lei seja cumprida, por exemplo, definindo que a informao dever ser aposta em

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    campo prprio ou no campo Informaes Complementares do respectivo documento fiscal.

    Detalhe importante que a competncia para expedio dos decretos e regulamentos de execuo no passvel de delegao (CF, art. 84, pargrafo nico).

    Uma vez que sempre necessitam de uma lei prvia a ser regulamentada, os decretos de execuo so considerados atos normativos secundrios, sendo a lei o ato primrio, por decorrer diretamente da Constituio.

    Deve ficar claro que os decretos de execuo no podem, em hiptese alguma, inovar o direito, vale dizer, no podem criar direito ou obrigao que a lei no criou, nem restringir ou ampliar direito ou obrigao disciplinada na lei. Ao contrrio, os decretos devem se limitar ao contedo da lei, explicando seus dispositivos e definindo os procedimentos operacionais necessrios sua fiel execuo, sob pena de sofrer invalidao.

    No nosso exemplo, o Decreto no poderia determinar que os comerciantes inclussem no documento fiscal informaes sobre outros tributos alm daqueles expressamente definidos na lei, mas apenas estabelecer como o valor dos tributos previstos na lei deve ser informado ao consumidor.

    No obstante, Carvalho Filho pondera que legtima a fixao de obrigaes subsidirias (ou derivadas), diversas das obrigaes primrias (ou originrias) contidas na lei, desde que essas novas obrigaes guardem consonncia com as obrigaes legais. Se, por exemplo, a lei concede algum benefcio s pessoas que se enquadrem em determinada condio, pode o ato regulamentar indicar quais documentos o interessado estar obrigado a apresentar para comprovar sua situao. Essa obrigao probatria no est expressamente prevista na lei, mas est nela amparada, podendo ser considerada legtima.

    Os decretos de execuo ou regulamentares, em regra, so atos de carter geral e abstrato, ou seja, no possuem destinatrios determinados e incidem sobre todos os fatos ou situaes que se enquadrem nas hipteses neles previstas.

    A doutrina enfatiza que o Chefe do Poder Executivo s pode regulamentar leis administrativas, isto , leis cuja execuo, de algum modo, necessite da atuao da Administrao Pblica. Assim, o poder

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    regulamentar no abrange, por exemplo, a regulamentao das leis penais e processuais, que prescindem de qualquer participao da Administrao para o seu cumprimento.

    As leis podem ou no prever, de forma expressa, a necessidade de regulamentao para que possam ser aplicadas. Caso no tragam essa previso, as leis produzem efeitos desde o momento em que entram em vigor, ou seja, so leis autoexecutveis, pois o legislador entendeu que suas disposies so claras o suficiente para serem aplicadas sem regulamentao. Entretanto, embora sejam autoexecutveis, ainda assim podem ser regulamentadas caso o Poder Executivo entenda necessrio, visto que a competncia para editar decretos com vistas fiel execuo das leis decorre diretamente da Constituio (art. 84, IV) e, por isso, no depende de autorizao do legislador ordinrio para ser exercida.

    Por outro lado, as leis que trazem a necessidade de regulamentao (leis no autoexecutveis) no produzem efeitos antes da expedio do decreto regulamentar requerido. Nesse caso, conforme ensina Hely Lopes Meirelles, o regulamento opera como condio suspensiva da execuo da norma legal, deixando seus efeitos pendentes at a expedio do ato do Executivo.

    Exceo ocorre quando a prpria lei define prazo para sua regulamentao e o decreto no editado dentro desse prazo. Nessa hiptese, a lei passa a produzir efeitos mesmo sem o regulamento, uma vez que a omisso do Executivo no tem o condo de invalidar os mandamentos legais do Legislativo. Nesse caso, os titulares de direitos previstos na lei podem interpor na Justia o chamado mandado de injuno, conforme previsto no art. 5, LXXI da CF, com vistas a obter deciso do Poder Judicirio que lhes permita exercer tais direitos.

    Decretos autnomos

    Os decretos autnomos so regulamentos editados pelo Poder Executivo na qualidade de atos primrios, diretamente derivados da Constituio, ou seja, so decretos que no se destinam a regulamentar alguma lei, no precisam de lei prvia para existir. Sua finalidade normatizar, de forma originria, as matrias expressamente definidas na Constituio, inexistindo qualquer ato de natureza legislativa que se situe entre eles e a Constituio.

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    No Brasil, a edio de decretos autnomos s pode ser feita para dispor sobre (CF, art. 84, VI):

    a) Organizao e funcionamento da administrao federal, quando no implicar aumento de despesa nem criao ou extino de rgos pblicos;

    b) Extino de funes ou cargos pblicos, quando vagos.

    Importante ressaltar que essas so as duas nicas matrias passveis de normatizao mediante decretos autnomos. Qualquer outro tema deve ser tratado originariamente por lei.

    As matrias objeto dos decretos autnomos constituem competncia privativa do Chefe do Poder Executivo, vale dizer, sua edio no conta com a participao do Poder Legislativo. Encontram-se sob a denominada reserva de administrao (matrias que somente podem ser reguladas por ato administrativo), estando fora da competncia do Poder Legislativo.

    Ao contrrio do que ocorre com os decretos de execuo, a competncia para edio dos decretos autnomos pode ser delegada a outras autoridades administrativas. Na esfera federal, o Presidente da Repblica pode delega-la aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da Repblica ou ao Advogado-Geral da Unio (CF, art. 84, pargrafo nico).

    A competncia para editar decretos autnomos pode ser delegada. J para os decretos de execuo, no pode.

    Maria Sylvia Di Pietro salienta que, na verdade, apenas a alnea a do art. 84, VI da CF (organizao e funcionamento da administrao pblica, quando no implicar aumento de despesa nem criao ou extino de rgos pblicos) constitui manifestao do poder regulamentar, ou seja, o decreto autnomo que dispe sobre essa matria possui as caractersticas de um ato administrativo normativo. Quanto alnea b, segundo a autora, representa tpico ato administrativo de efeitos concretos, porque a competncia do Presidente da Repblica se limitar a extinguir cargos ou funes, quando vagos, e no a estabelecer normas sobre a matria.

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    Controle dos atos regulamentares

    Caso o Poder Executivo extrapole os limites da lei no exerccio do seu poder regulamentar, o Congresso Nacional poder sustar tais atos normativos. o que diz o art. 49, V da CF:

    Art. 49. da competncia exclusiva do Congresso Nacional:

    V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegao legislativa;

    Cuida-se, como se pode observar, de controle exercido pelo Legislativo sobre o Executivo no que diz respeito aos limites do poder regulamentar, com o objetivo de coibir violao indevida da funo legislativa.

    Ademais, o Poder Judicirio e a prpria Administrao podem exercer controle de legalidade sobre atos normativos, anulando aqueles considerados ilegais ou ilegtimos.

    Em relao ao controle judicial, possvel ao Poder Judicirio controlar a legalidade e a constitucionalidade de atos administrativos normativos.

    Caso o ato normativo esteja em conflito com a lei que ele regulamenta, por extrapolar seus limites (ultra legem) ou por contraria-la frontalmente (contra legem), a questo caracterizar tpica ilegalidade, passvel, portanto, de controle de legalidade. No cabe, no caso, impugnao mediante ao direta de inconstitucionalidade ADI (CF, art. 102, I, a)8.

    Por outro lado, se o ato normativo ofender diretamente a Constituio, sem que haja alguma lei a que deva subordinar-se, ter a qualificao de ato autnomo e, nessa hiptese, poder sofrer controle de constitucionalidade pela via direta, ou seja, atravs de ADI.

    Sendo assim, para que seja vivel o controle de constitucionalidade de decreto, regulamento ou outro tipo de ato administrativo de cunho normativo, dois sero os aspectos que o ato dever conter9:

    indispensvel que ele tenha, de fato, carter normativo, isto , seja dotado de normatividade, de generalidade e abstrao; e

    8 Ver ADI 996/DF 9 Ver ADI 1.396/SC

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    administrado o direito ampla de defesa, bem como deve se pautar pelos princpios da razoabilidade e da proporcionalidade.

    Competncia

    A competncia para exercer o poder de polcia , em princpio, da pessoa federativa qual a Constituio Federal conferiu o poder de regular a matria.

    Assim, conforme leciona Hely Lopes Meirelles, os assuntos de interesse nacional ficam sujeitos regulamentao e policiamento da Unio; as matrias de interesse regional sujeitam-se s normas e polcia estadual; e os assuntos de interesse local subordinam-se aos regulamentos e ao policiamento administrativo municipal.

    Embora essa diviso de competncias parea simples, a diversidade de temas com que a Administrao se depara na prtica faz com que frequentemente surjam dvidas em relao ao ente competente para a execuo e o exerccio do poder de polcia sobre determinada atividade.

    Por exemplo, a jurisprudncia j se firmou no sentido de que a Unio tem competncia para regular horrio de atendimento bancrio10, mas para fixar horrio de funcionamento de lojas comerciais a competncia do Municpio11.

    Quando for conveniente, os entes federativos podem exercer o poder de polcia em sistema de cooperao, firmando convnios administrativos ou consrcios pblicos com base no regime de gesto associada previsto no art. 241 da CF. o que ocorre, com frequncia, nas atividades de fiscalizao do trnsito, em que h infraes sujeitas fiscalizao federal, estadual e municipal, sendo, ento, conveniente uma atuao conjunta para conquistar maior eficincia12.

    Modalidades de exerccio

    O poder de polcia administrativa pode ser exercido de forma preventiva ou repressiva.

    O poder de polcia preventivo ocorre nos casos em que o particular necessita obter anuncia prvia da Administrao para utilizar

    10 Smula n 19, do STJ: A fixao do horrio bancrio, para atendimento ao pblico, da competncia da Unio. 11 Smula n 645, do STF: competente o municpio para fixar o horrio de funcionamento de estabelecimento comercial. 12 Carvalho Filho (2014, p. 79).

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    determinados bens ou para exercer determinadas atividades privadas que possam afetar a coletividade. Tal anuncia formalizada nos denominados atos de consentimento, os quais podem ser de licena ou de autorizao:

    Licena: ato administrativo vinculado e definitivo pelo qual a Administrao reconhece que o particular preenche as condies para usufruir determinado direito de que seja possuidor. So exemplos a licena para o exerccio da profisso na qual o indivduo se formou ou a licena para a pessoa construir em terreno de sua propriedade.

    Autorizao: ato administrativo discricionrio e precrio pelo qual a Administrao autoriza o particular a exercer determinada atividade que seja de seu interesse (e no de seu direito). So exemplos o uso especial de bem pblico, a interdio de rua para a realizao de festividade, o trnsito por determinados locais e o porte de arma de fogo.

    Perceba que a licena, por se tratar de permisso para o exerccio de um direito subjetivo do particular, possui carter vinculado e definitivo, ou seja, no pode ser negada quando o requerente satisfaa os requisitos legais e regulamentares exigidos para sua obteno. J a autorizao, que no se refere a um direito, e sim a um interesse do particular, possui carter discricionrio e precrio, isto , pode ser negada ainda que o requerente satisfaa os requisitos, alm de ser passvel de revogao a qualquer tempo, independentemente de indenizao.

    O instrumento formal que geralmente formaliza as licenas e autorizaes o alvar, mas documentos diversos tambm podem cumprir esse papel, como carteiras, declaraes, certificados, etc. A ttulo de exemplo, a autorizao para que se mantenha arma de fogo no interior da residncia formalizada pelo certificado de registro de arma de fogo; j a licena para dirigir concedida mediante a emisso de carteira nacional de habilitao. O que importa, pois, o consentimento que a Administrao deseja emitir por semelhantes atos.

    No que tange ao poder de polcia repressivo, refere-se aplicao de sanes administrativas a particulares pelo descumprimento de normas de ordem pblica (normas de polcia).

    Dentre as inmeras sanes cabveis pode-se mencionar: imposio de multas administrativas; interdio de estabelecimentos comerciais; suspenso do exerccio de direitos; demolio de construes irregulares; embargo administrativo de obra; apreenso de mercadorias piratas etc.

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    concesso da licena, logicamente no h fato gerador caso a inspeo no seja empreendida na prtica, o que invalida a cobrana do tributo.

    Entretanto, cumpre salientar que, segundo a jurisprudncia do STF, a incidncia da taxa, como decorrncia do exerccio regular do poder de polcia, dispensa a fiscalizao porta a porta. Em outras palavras, o exerccio do poder de polcia no necessariamente presencial, pois pode ocorrer a partir de local remoto, com o auxlio de instrumentos e tcnicas que permitam Administrao examinar a conduta do agente fiscalizado. Nesse caso, o exerccio de polcia considerado presumido, desde que exista um rgo com competncia e estrutura capaz de fiscalizar a atividade 13.

    Fases da atividade de polcia (ciclo de polcia)

    A doutrina e a jurisprudncia classificam em quatro fases a sequncia de atividades que pode integrar o exerccio do poder de polcia (tomado em sentido amplo, ou seja, incluindo a atividade legislativa), o chamado ciclo de polcia, a saber:

    1) Legislao ou ordem

    2) Consentimento

    3) Fiscalizao

    4) Sano

    A legislao, tambm denominada ordem de polcia, a fase inicial do ciclo de polcia, pois aquela que institui os limites e condicionamentos ao exerccio de atividades privadas e ao uso de bens. Em razo do princpio da legalidade, a ordem primria deve estar sempre contida em uma lei, a qual poder ser posteriormente regulamentada por atos normativos infralegais.

    O consentimento de polcia corresponde anuncia prvia da Administrao, quando exigida em lei, para a prtica de determinadas atividades ou para a fruio de determinados direitos. Como j vimos, esta anuncia prvia ocorre mediante a concesso de licenas e autorizaes.

    A fiscalizao de polcia a atividade pela qual a Administrao verifica se o particular est cumprindo adequadamente as regras emanadas na ordem de polcia (legislao) e tambm, quando for o caso,

    13 Ver RE 588.322/RO e RE 361.009/RJ

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    se est observando as condies estipuladas na respectiva licena/autorizao.

    J a sano de polcia ocorre quando a Administrao verifica alguma infrao ordem de polcia ou aos requisitos da licena/autorizao e, em consequncia, aplica ao particular infrator uma medida repressiva (sano), dentre as previstas na lei de regncia.

    Um exemplo prtico em que esses quatro grupos ficam bem definidos no mbito da limitao propriedade e liberdade no trnsito: o Cdigo de Trnsito Brasileiro (CTB) estabelece normas genricas e abstratas para a obteno da Carteira Nacional de Habilitao (legislao); a emisso da carteira materializa a anuncia do Poder Pblico em relao aos indivduos que tenham preenchido os requisitos tcnicos exigidos para a habilitao (consentimento); a Administrao instala equipamentos eletrnicos para verificar se h respeito velocidade estabelecida em lei (fiscalizao); e tambm a Administrao sanciona aquele que no guarda observncia ao CTB (sano).

    Importante observar que as nicas fases que sempre estaro presentes em todo e qualquer ciclo de polcia so as fases de legislao (ordem de polcia) e de fiscalizao.

    Legislao e fiscalizao so as nicas fases que sempre existiro num ciclo de polcia.

    Com efeito, o consentimento deve ocorrer apenas quando houver necessidade de licena ou autorizao para o uso de bens ou a prtica de certas atividades privadas. Se determinada atividade estiver sujeita a normas de polcia previstas em lei, mas no anuncia prvia da Administrao, ainda assim poder ser fiscalizada e, em caso de infrao, poder ser aplicada a sano correspondente. Nesse caso, o ciclo de polcia forma-se apenas com as fases de legislao, fiscalizao e sano. Ademais, nem toda fiscalizao encontra irregularidade no caso concreto, hiptese em que no haver sano alguma. O ciclo de polcia se completa, ento, apenas com as fases de legislao e fiscalizao.

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    Poder de polcia originrio e delegado

    A doutrina classifica o poder de polcia em originrio e delegado conforme o rgo ou a entidade que o exerce.

    Em suma, o poder de polcia originrio exercido pela administrao direta, enquanto o poder de polcia delegado exercido pela administrao indireta (entidades de direito pblico, ou seja, autarquias e fundaes pblicas).

    Existe polmica quanto possibilidade de delegao do poder de polcia a entidades da administrao indireta de direito privado (empresas pblicas, sociedades de economia mista e fundaes pblicas de direito privado).

    A doutrina majoritria entende que essa delegao no possvel, uma vez que o poder de polcia, cujo exerccio tem fundamento no poder de imprio do Estado, s pode ser exercido por pessoas jurdicas de direito pblico. Outra parte da doutrina, no entanto, admite a delegao de poder de polcia a entidades de direito privado, desde que integrem a Administrao Pblica formal e a competncia seja expressamente conferida por lei. Existe ainda uma posio intermediria, que considera vlida apenas a delegao de algumas etapas do ciclo de polcia, especialmente a de fiscalizao.

    Na jurisprudncia, h um importante precedente do Superior Tribunal de Justia (STJ)14, no qual foi decidido que as fases de consentimento e de fiscalizao podem ser delegadas a entidades com personalidade jurdica de direito privado integrantes da Administrao Pblica e que, diferentemente, as fases de ordem de polcia e de sano, por implicarem coero, no podem ser delegadas a tais entidades. Esse entendimento, porm, no seguido pelo STF, cuja jurisprudncia no sentido de que o poder de polcia no pode ser delegado a entidades administrativas de direito privado.

    Quanto s entidades administrativas de direito pblico (autarquias e fundaes) no h controvrsia. Elas s no podem editar leis. Portanto, podem exercer poder de polcia, inclusive aplicar sanes administrativas, desde que amparadas em lei.

    Por fim, vale saber que a maior parte da doutrina, assim como o Supremo Tribunal Federal (STF)15, no admite a delegao de poder de 14 REsp 817.534/MG

    15 ADI 1.717/DF

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    Nada impede, contudo, que a lei vincule a prtica de determinados atos de polcia administrativa, como a concesso de licena para construo em terreno prprio ou para o exerccio de uma profisso, casos em que a Administrao no possui liberdade de valorao se o particular preencher os requisitos legais.

    A autoexecutoriedade consiste na possibilidade de que certos atos administrativos sejam executados de forma imediata e direta pela prpria Administrao, independentemente de ordem judicial.

    Assim, por exemplo, a Administrao pode, com base no poder de polcia, aplicar sanes administrativas a particulares que pratiquem atos lesivos coletividade independentemente de prvia autorizao judicial. Da mesma forma, a Administrao pode, por si s, promover a demolio de edifcio em situao irregular.

    Porm, nem toda atividade de polcia administrativa pode ser levada a termo de forma autoexecutria. Por exemplo, embora a Administrao, no exerccio do poder de polcia, possa impor multa a um particular sem necessidade de participao do Poder Judicirio, a cobrana forada dessa multa, caso no paga pelo particular, s poder ser efetuada por meio de uma ao judicial de execuo.

    Detalhe que a Administrao pode, caso entenda necessrio, recorrer previamente ao Judicirio quando pretenda praticar atos de polcia em que seja previsvel forte resistncia dos particulares envolvidos, como na demolio de edificaes irregulares ou na desocupao de terras invadidas, ocasio em que poder valer-se do auxlio das foras policiais. Frise-se que tal autorizao no obrigatria, mas pode ser obtida para conferir maior legitimidade e segurana ao ato.

    A coercibilidade se traduz na possibilidade de as medidas adotadas pela Administrao Pblica com base no exerccio do poder polcia serem impostas ao administrado, inclusive mediante o emprego da fora e independentemente de prvia autorizao judicial.

    Autoexecutoriedade e coercibilidade so conceitos muito prximos. Conforme salienta Maria Sylvia Di Pietro, a coercibilidade indissocivel da autoexecutoriedade. O ato de polcia s autoexecutrio porque dotado de fora coercitiva. Alis, a autoexecutoriedade, tal como a conceituamos, no se distingue da coercibilidade, definida por Hely Lopes Meirelles como a imposio coativa das medidas adotadas pela Administrao.

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    Distino entre poder polcia e outras atividades estatais

    A doutrina costuma explorar a diferena entre as atividades decorrentes do exerccio do poder de polcia (polcia administrativa) e as atividades de prestao de servios pblicos.

    Diz-se que a polcia administrativa representa uma atividade negativa, por acarretar restries aos direitos e interesses dos indivduos, enquanto o servio pblico seria uma atividade positiva, vez que, ao contrrio, no restringe, e sim oferece comodidades ou utilidades materiais ao usurio do servio. Ademais, o poder de polcia integra o rol das denominadas atividades jurdicas do Estado, cujo desempenho se funda no poder de imprio; j a prestao de servios pblicos se enquadra nas chamadas atividades sociais do Estado, que se destinam a incrementar o bem-estar social, cujo desempenho no decorre do exerccio do poder de imprio.

    Outra diferenciao importante entre atividade de polcia administrativa e atividade de polcia judiciria.

    Ser atividade de polcia administrativa aquela que incida sobre infraes de natureza administrativa, ao passo que ser atividade de polcia judiciria quando se referir apurao de ilcitos de natureza penal com a finalidade de instruir a propositura de ao no Poder Judicirio.

    Assim, quando agentes administrativos, por exemplo, executam servios de fiscalizao em atividades de comrcio, em locais proibidos para menores, sobre as condies de alimentos para consumo ou em parques florestais, esto exercendo atividade de polcia administrativa. Ao contrrio, quando os agentes investigam a prtica de crime e, com esse objetivo, ouvem testemunhas, realizam inspees e percias em determinados locais e documentos, convocam indiciados, etc., esto exercendo polcia judiciria, eis que, terminada a apurao, os elementos so enviados ao Ministrio Pblico para, se for o caso, providenciar a propositura da ao penal17.

    Mais uma diferena que a polcia administrativa exercida sobre atividades, bens e direitos, enquanto a polcia judiciria incide diretamente sobre pessoas. Em consequncia, no existem sanes de polcia administrativa que impliquem deteno ou recluso de pessoas; j as atividades de polcia judiciria podem ocasionar esse tipo de sano.

    17 Carvalho Filho (2014, p. 83)

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    Alm disso, a polcia administrativa desempenhada por rgos administrativos integrantes dos mais diversos setores de toda a Administrao Pblica, sempre que a lei lhes atribuir essa funo, a exemplo da Vigilncia Sanitria, do Ibama, da CVM, do Detran etc.; j a polcia judiciria privativa de corporaes especializadas (Polcia Civil, Polcia Federal e Polcia Militar).

    Detalhe que a Polcia Militar desempenha tanto atividade de polcia judiciria como de polcia administrativa, esta ltima quando, por exemplo, aplica multas de trnsito, apreende mercadorias irregulares etc.

    Importante ressaltar que a doutrina tradicional aponta, ainda, como critrio de distino, o fato de que a polcia administrativa teria carter preventivo, por prevenir situaes ou condutas contrrias ao interesse pblico, ao passo que o carter da polcia judiciria seria repressivo, pois seu objetivo possibilitar a punio pelo Poder Judicirio. No obstante, vale ressaltar que, como vimos, a atividade de polcia administrativa tambm contempla medidas de natureza repressiva, como a aplicao de multas, apreenso de mercadorias, interdio de estabelecimentos etc.

    9. (Cespe TRF2 2013) Segundo a jurisprudncia pacfica do STF, possvel a delegao do poder de polcia sociedade de economia mista.

    Comentrio: O item est errado. A jurisprudncia atual do STF, ao contrrio do que afirma o quesito, no sentido de que o poder de polcia, atividade tpica da Administrao Pblica, no pode ser delegado a particulares ou a pessoas jurdicas de direito privado. Portanto, o quesito est errado.

    Todavia, esse entendimento do Supremo pode mudar. que o STF reconheceu repercusso geral no tema contido no Recurso Extraordinrio com Agravo (ARE) 662186, interposto pela Empresa de Transportes e Trnsito de Belo Horizonte S/A (BHTRANS) contra deciso do TJ-MG, que considerou invivel a possibilidade de aplicao de multas pela empresa de trnsito, sociedade de economia mista, e determinou a restituio de valores assim arrecadados. O recurso encontra-se pendente de apreciao. Assim que concludo, ser um importante precedente, inclusive para as provas.

    De outra parte, vale lembrar que a jurisprudncia do Superior Tribunal de Justia (STJ) diferente. Para o STJ, possvel a delegao do poder de polcia a pessoa jurdica de direito privado integrante da Administrao Pblica (incluindo, portanto, as sociedades de economia mista) no que diz

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    respeito aos aspectos fiscalizatrios e de consentimento, mas no quando se tratar de atividade legislativa e do poder de impor sanes, por exemplo multas de trnsito.

    Gabarito: Errado

    10. (Cespe TJDFT 2013) No que se refere ao exerccio do poder de polcia, denomina-se exigibilidade a prerrogativa da administrao de praticar atos e coloc-los em imediata execuo, sem depender de prvia manifestao judicial.

    Comentrio: A autoexecutoriedade um dos atributos do poder de polcia (os outros dois so: discricionariedade e coercibilidade). Maria Sylvia Di Pietro ensina que o atributo da autoexecutoriedade pode ser desdobrado em exigibilidade e executoriedade.

    A exigibilidade consiste na faculdade de a Administrao aplicar meios de coao indiretos, como condio a ser cumprida pelo particular para o exerccio de direitos ou atividades, como a impossibilidade de licenciamento do veculo enquanto no pagas as multas de trnsito.

    J a executoriedade se confunde com o prprio conceito de autoexecutoriedade, ou seja, consiste na faculdade que tem a Administrao para executar diretamente seus atos de polcia (usando, se for o caso, da fora), ressalvadas as hipteses em que a execuo importe transferncia patrimonial do particular para o Estado (cobrana de multa no paga, por exemplo). H executoriedade, por exemplo, na apreenso de mercadorias e na interdio de estabelecimentos comerciais.

    O quesito, como se v, ao falar em prerrogativa da administrao de praticar atos e coloc-los em imediata execuo, sem depender de prvia manifestao judicial, trata da executoriedade, e no da exigibilidade, da o erro.

    Gabarito: Errado

    11. (Cespe TCU 2013) As licenas so atos vinculados por meio dos quais a administrao pblica, no exerccio do poder de polcia, confere ao interessado consentimento para o desempenho de certa atividade que s pode ser exercida de forma legtima mediante tal consentimento.

    Comentrio: O quesito est correto. As licenas so atos vinculados porque so consentimentos necessrios ao exerccio de determinado direito que o particular possui (ex: alvar de construo em terreno de propriedade do requerente). Assim, caso a pessoa preencha as condies, a licena dever ser obrigatoriamente concedida pela Administrao. Ao contrrio, as autorizaes so atos discricionrios, pois so consentimentos para a realizao de atividades de interesse do particular (e no de direito), podendo,

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    assim, serem concedidas ou no, a critrio da Administrao (ex: porte de arma de fogo).

    Gabarito: Certo

    12. (Cespe MIN 2013) O poder de polcia, prerrogativa conferida administrao pblica para que possa praticar toda e qualquer ao restritiva em relao ao administrado em benefcio do interesse pblico, exercido pela polcia civil, no mbito dos estados, e pela polcia federal, no mbito da Unio.

    Comentrio: O quesito est errado. Quando fala em ao restritiva em relao ao administrado em benefcio do interesse pblico, a assertiva se refere polcia administrativa. essa, por exemplo, a definio de Maria Sylvia Di Pietro, ao discorrer sobre a polcia administrativa: poder de polcia a atividade do Estado consistente em limitar o exerccio dos direitos individuais em benefcio do interesse pblico. Ao contrrio do que afirma o quesito, o poder de polcia administrativa pode ser exercido por diversas entidades de direito pblico (entes polticos, fundaes pblicas, autarquias e rgos da administrao direta), e no apenas pelas instituies policiais.

    Detalhe que as polcias civil e federal, objeto da questo, exercem de forma exclusiva a funo de polcia judiciria que, embora seja atividade administrativa, tem o papel de preparar a atuao da funo jurisdicional penal, ao contrrio da polcia administrativa, que se exaure em si mesma, ou seja, inicia e se completa no mbito da funo administrativa.

    Gabarito: Errado

    13. (Cespe PGE/BA 2014) Constitui exemplo de poder de polcia a interdio de restaurante pela autoridade administrativa de vigilncia sanitria.

    Comentrio: O quesito est correto. Trata-se de medida repressiva tpica do poder de polcia, com a finalidade de coagir o infrator a cumprir a lei. Exemplos de medidas que possuem o mesmo objetivo: dissoluo de reunio clandestina, interdio de atividade ilcita, apreenso de mercadorias deterioradas, internao de pessoa com doena contagiosa etc.

    Alm de medidas repressivas, o poder de polcia tambm compreende medidas preventivas, com o objetivo de adequar o comportamento do indivduo lei. Exemplos de medidas preventivas: fiscalizao, vistoria, ordem, notificao, autorizao, licena, etc.

    Gabarito: Certo

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    ABUSO DE PODER

    Como sabido, as prerrogativas conferidas Administrao Pblica no so absolutas. Elas se sujeitam a limites e devem ser usadas na exata medida em que sejam necessrias para atingir os fins pblicos que as justificam.

    O prprio ordenamento jurdico que fundamenta a existncia dos poderes administrativos tambm estabelece seus limites, os quais se encontram especialmente no respeito s garantias e direitos individuais, na observncia ao devido processo legal e na aplicao dos princpios constitucionais. O exerccio das prerrogativas conferidas Administrao fora desses limites configura o chamado abuso de poder.

    Toda atuao com abuso de poder considerada ilegal, eis que contrria ao ordenamento jurdico (Constituio, leis, atos normativos e princpios jurdicos).

    O abuso de poder gnero que se desdobra em duas categorias, a saber:

    Excesso de poder: vcio de competncia ou atuao desproporcional

    Desvio de poder: vcio de finalidade

    O excesso de poder ocorre quando o agente atua fora dos limites das suas competncias, invadindo a competncia de outros agentes ou praticando atividades que no lhe foram conferidas por lei. Constitui, assim, vcio relacionado ao elemento competncia dos atos administrativos. Ocorre, por exemplo, quando um agente pblico edita ato normativo para regulamentar matria de competncia de outra rea.

    Em outra acepo, o excesso de poder tambm contempla as situaes em que o agente competente, mas atua de forma desproporcional, a exemplo de quando impe sanes graves para punir infraes leves. No caso, os balizadores para dizer se h ou no excesso de poder so os princpios da razoabilidade e da proporcionalidade.

    J o desvio de poder ocorre quando o agente, embora atuando dentro dos limites de sua competncia, pratica ato contrrio finalidade explcita ou implcita na lei que determinou ou autorizou a sua atuao. Constitui, assim, vcio relacionado ao elemento finalidade dos atos administrativos; por isso, tambm chamado de desvio de finalidade.

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    A violao da finalidade pode ocorrer em duas acepes: (i) de forma ampla, quando o ato praticado ofende genericamente o interesse pblico, a exemplo do desvio de recursos de obras pblicas; ou (ii) de forma especfica, quando o ato desatende o objetivo imediato previsto em norma, tal como no j clssico exemplo da remoo de ofcio do servidor como forma de punio. O instituto da remoo tem por fim o atendimento de necessidade do servio, e no poderia, com intuito diverso, ser utilizado como forma de punio do servidor, sob pena de invalidao por desvio de finalidade.

    Importante ressaltar que o abuso de poder (excesso ou desvio) pode ocorrer tanto de forma comissiva como omissiva, ou seja, pode resultar tanto de uma ao concreta do agente pblico como tambm da sua inrcia em executar determinada atividade de interesse pblico a que por lei esteja incumbido.

    14. (Cespe TJDFT 2013) Considere que determinado agente pblico detentor de competncia para aplicar a penalidade de suspenso resolva impor, sem ter atribuio para tanto, a penalidade de demisso, por entender que o fato praticado se encaixaria em uma das hipteses de demisso. Nesse caso, a conduta do agente caracterizar abuso de poder, na modalidade denominada excesso de poder.

    Comentrio: O item est correto. O abuso de poder se desdobra em duas modalidades: (i) excesso de poder: vcio de competncia ou atuao desproporcional; (ii) desvio de poder: vcio de finalidade.

    O caso concreto constitui tpico exemplo de excesso de poder, pois o agente pblico aplicou a penalidade de demisso sem possuir competncia legal para tanto (possua apenas para aplicar suspenso).

    Gabarito: Certo

    15. (Cespe PC/BA 2013) Incorre em abuso de poder a autoridade que nega, sem amparo legal ou de edital, a nomeao de candidato aprovado em concurso pblico para o exerccio de cargo no servio pblico estadual, em virtude de anterior demisso no mbito do poder pblico federal.

    Comentrio: O quesito est correto. Os poderes conferidos aos agentes para o exerccio de suas atribuies devem ser exercidos dentro dos limites contidos na lei, sob pena de invalidao. No caso concreto, houve abuso de poder, pois no h impeditivo legal para que um servidor demitido na esfera federal assuma cargo no servio pblico estadual, a menos, claro, que exista

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    impedimento em lei local, o que no dito na questo. Enfim, a autoridade, ao tomar deciso sem ter competncia para tanto, extrapolando os limites da lei, agiu com abuso de poder, na modalidade excesso de poder.

    Gabarito: Certo

    16. (Cespe GDF 2013) Aps ter sido submetido a processo administrativo em razo do cometimento de infrao disciplinar, determinado servidor pblico foi removido de ofcio por seu superior hierrquico, agente competente para tanto, como forma de punio pela prtica do ato.

    Acerca dessa situao hipottica, julgue o seguinte item.

    Embora observada a regra de competncia referente ao poder disciplinar, houve desvio de poder, j que no foi atendida a finalidade prevista em lei para a prtica do ato de remoo do servidor.

    Comentrio: O quesito est correto. A remoo de ofcio como meio de punio exemplo clssico de desvio de poder, pois representa desvirtuamento da finalidade do instituto da remoo, que realocar a mo-de-obra disponvel para o melhor desempenho dos servios, e no punir servidores.

    Gabarito: Certo

    17. (Cespe MDIC 2014) Suponha que, aps uma breve discusso por questes partidrias, determinado servidor, que sofria constantes perseguies de sua chefia por motivos ideolgicos, tenha sido removido, por seu superior hierrquico, que desejava puni-lo, para uma localidade inspita. Nessa situao, houve abuso de poder, na modalidade excesso de poder.

    Comentrio: certo que, no caso concreto, a remoo de ofcio como forma de punio representou abuso de poder, porm no na modalidade excesso de poder, uma vez que a autoridade que determinou a remoo possua competncia para tanto, da o erro. A modalidade de abuso, na verdade, foi o desvio de poder, pois finalidade da remoo do servidor no foi atender ao interesse pblico, e sim divergncias ideolgicas pessoais.

    Gabarito: Errado

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    DEVERES DA ADMINISTRAO PBLICA

    A par dos poderes que lhes so conferidos como instrumento para a persecuo do interesse coletivo, os agentes pblicos tambm se sujeitam a uma srie de deveres especficos e peculiares, decorrentes do princpio da indisponibilidade do interesse pblico, os quais se destinam a assegurar que sua atuao ocorra em benefcio do bem comum.

    Os principais deveres impostos aos agentes administrativos so:

    Poder-dever de agir

    Dever de eficincia

    Dever de probidade

    Dever de prestar contas

    Poder-dever de agir

    Enquanto na esfera privada o poder faculdade daquele que o detm, no setor pblico, representa um dever do administrador, desde que se apresente a oportunidade de exercit-lo em benefcio da coletividade,

    o que Hely Lopes Meirelles chama de poder-dever de agir: uma vez que os poderes administrativos so conferidos como instrumentos para o atingimento de fins pblicos, o agente no pode deixar de exerc-los, pois isso comprometeria a prpria consecuo dos objetivos previstos na lei que determinou ou autorizou a sua atuao.

    Ora, no se admite, por exemplo, que um agente de trnsito, diante de um flagrante desrespeito aos limites de velocidade, deixe de exercer seu poder de polcia e no puna o motorista infrator. No caso, ele tem o poder-dever de agir, uma vez que sua omisso poderia contribuir para a ocorrncia de um acidente com graves prejuzos para diversas pessoas da comunidade.

    A omisso do agente, diante de situaes que exigem sua atuao, caracteriza abuso de poder, que poder ensejar, inclusive, responsabilidade civil da Administrao Pblica pelos danos que porventura decorram da omisso ilegal.

    Abre-se um parntese para registrar que nem toda omisso fonte de ilegalidade. Carvalho Filho faz meno reserva do possvel, para sustentar que nem todas as metas governamentais podem ser alcanadas,

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    especialmente pela costumeira escassez de recursos financeiros. Essas omisses so genricas, e, portanto, no acarretam a responsabilidade civil do Estado. o caso, por exemplo, de projetos de obras pblicas, como hidreltricas, reformas de estradas e construo de hospitais, todos componentes de polticas de Administrao, sem prazo certo para implementao. Somente no momento de cumprir o empreendimento que o administrador poder analisar os elementos concretos para concluir a respeito da possibilidade ou no de execut-lo. Se, por exemplo, no houver recursos financeiros disponveis ou, ainda, se aparecer algum embarao de ordem ambiental, no ser possvel dar andamento obra. Por lgico, no se pode obrigar a Administrao a fazer o que se revela impossvel.

    Ao contrrio, so ilegais as chamadas omisses especficas, ou seja, aquelas que estiverem ocorrendo mesmo diante de expressa disposio legal impondo que algo deve ser feito em determinado prazo, ou ainda quando, mesmo sem prazo fixado, a Administrao permanece omissa em perodo superior ao aceitvel dentro de padres normais de tolerncia ou razoabilidade. o caso, por exemplo, do art. 49 da Lei 9.784/1999 (lei do processo administrativo federal), que assina prazo de at 30 dias aps a instruo para que a Administrao decida o processo.

    18. (Cespe MDIC 2014) O exerccio dos poderes administrativos no uma faculdade do agente pblico, mas uma obrigao de atuar; por isso, a omisso no exerccio desses poderes poder ensejar a responsabilizao do agente pblico nas esferas cvel, penal e administrativa.

    Comentrio: O quesito est correto. A omisso do agente, diante de situaes que exigem sua atuao caracteriza abuso de poder. Sobre o tema, Carvalho Filho ressalta que, na medida em que incumbe ao agente determinada conduta comissiva, a sua omisso (conduta omissiva) haver de configurar-se como ilegal. Desse modo, o administrado tem o direito subjetivo de exigir do administrador omisso a conduta comissiva imposta em lei, quer na via administrativa, quer na via judicial, formulando na ao pedido de natureza condenatria de obrigao de fazer.

    Gabarito: Certo

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    Dever de eficincia

    O dever de eficincia traduz a ideia de boa administrao, ou seja, de que o agente, alm de agir com celeridade, deve atuar com perfeio tcnica e deter bom rendimento funcional.

    Tal dever foi, inclusive, elevado a princpio constitucional (CF, art. 37, caput), sendo detectado, entre outros momentos, na:

    Possibilidade de perda do cargo do servidor pblico estvel em razo de insuficincia de desempenho (art. 41, 1, III);

    Instituio de Escolas de Governo para a formao e o aperfeioamento dos servidores pblicos, constituindo-se a participao nos cursos um dos requisitos para a promoo na carreira (art. 39, 2); e

    Faculdade de celebrao de contratos de gesto, neste caso, para incremento da autonomia financeira, oramentria e patrimonial dos rgos e entidades do Estado (art. 37, 8).

    Dever de probidade

    O dever de probidade exige que os atos dos agentes pblicos sejam legtimos, honestos, ticos e pautados pela boa-f, no sendo suficiente o atendimento da lei formal, mas, sobretudo, a observncia da moralidade administrativa e da finalidade pblica.

    O dever de probidade imposto a todo e qualquer agente pblico, do mais modesto ao mais alto cargo. Os atos mprobos podem ser invalidados pela prpria Administrao, com base no princpio da autotutela, como tambm pelo Poder Judicirio, se provocado.

    O art. 37, 4 da CF estabelece que os atos de improbidade acarretaro a suspenso dos direitos polticos, a perda da funo pblica, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao errio, na forma e gradao previstas em lei, sem prejuzo da ao penal cabvel.

    Tal dispositivo constitucional foi regulamentado na Lei 8.429/1992, que tipifica e sanciona os atos de improbidade administrativa. Essa lei ser estudada em aula especfica do curso.

    Dever de prestar contas

    O dever de prestar contas decorre diretamente do princpio da indisponibilidade do interesse pblico, sendo inerente funo daquele que administra a coisa pblica. Afinal, o gestor pblico mero curador de bens e interesses alheios, pertencentes a toda a coletividade, devendo, assim, prestar contas ao proprietrio, por intermdio dos rgos

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    competentes para a fiscalizao (Tribunal de Contas, rgos de controle interno, rgos repassadores de recursos a entidades privadas, agncias reguladoras etc.).

    A prestao de contas remete necessidade de transparncia dos atos estatais (administrativos ou de governo), especialmente no que se refere aplicao dos recursos pblicos.

    O dever de prestar contas bastante abrangente, alcanando inclusive particulares que, de algum modo, sejam responsveis pela aplicao de recursos pblicos. o que dispe o art. 70, pargrafo nico da Constituio Federal:

    Pargrafo nico. Prestar contas qualquer pessoa fsica ou jurdica, pblica ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores pblicos ou pelos quais a Unio responda, ou que, em nome desta, assuma obrigaes de natureza pecuniria.

    A prestao de contas de administradores pode ser realizada internamente, atravs dos rgos escalonados em graus hierrquicos, ou externamente. Nesse caso, o controle de contas feito pelo Poder Legislativo, por ser ele o rgo de representao popular, juntamente com o Tribunal de Contas, rgo tcnico de estatura constitucional que detm uma srie de competncias voltadas para o controle da atividade financeira dos agentes da Administrao.

    19. (ESAF DNIT 2013) O dever do agente pblico que decorre diretamente do princpio da indisponibilidade do interesse pblico, sendo inerente funo daquele que administra a coisa pblica, denomina-se:

    a) Dever de eficincia.

    b) Dever de probidade.

    c) Dever de prestar contas.

    d) Poder dever de agir.

    e) Poder dever de fiscalizar.

    Comentrio: Todas as opes apresentam deveres a que os agentes pblicos se sujeitam. O enunciado, contudo, requer que apontemos o dever que decorre diretamente do princpio da indisponibilidade do interesse pblico, sendo inerente funo daquele que administra a coisa pblica.

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    Trata-se, portanto, do dever de prestar contas que, segundo Hely Lopes Meirelles, decorrncia natural da administrao como encargo de gesto de bens e interesses alheios. Se o administrador corresponde ao desempenho de um mandato de zelo e conservao de bens e interesses de outrem, manifesto que quem o exerce dever prestar contas ao proprietrio. No caso do administrador pblico, esse dever ainda mais se alteia, porque a gesto se refere aos bens e interesses da coletividade e assume o carter de um mnus pblico, isto , de um encargo para com a comunidade.

    Gabarito: alternativa c

    ****

    Bom pessoal, chegamos ao fim do contedo terico da aula de hoje. Vamos, ento, resolver algumas questes de prova? Peo que prestem bastante ateno nos comentrios, pois eles podem conter explicaes novas.

    QUESTES DE PROVA

    20. (Cespe DPU 2015) A multa, como sano resultante do exerccio do poder de polcia administrativa, no possui a caracterstica da autoexecutoriedade.

    Comentrio: Nem toda atividade de polcia administrativa possui a caracterstica da autoexecutoriedade. Exemplo clssico a cobrana de multa: embora a Administrao, no exerccio do poder de polcia, possa impor multa a um particular sem necessidade de participao do Poder Judicirio, a cobrana forada dessa multa, caso no paga pelo particular, s poder ser efetuada por meio de uma ao judicial de execuo.

    Gabarito: Certa

    21. (Cespe TJDFT 2014) Ao ato jurdico de atrao, por parte de autoridade pblica, de competncia atribuda a agente hierarquicamente inferior d-se o nome de

    a) deliberao.

    b) delegao.

    c) avocao.

    d) subsuno.

    e) incorporao.

    Comentrio: Trata-se da avocao. Lembrando que a avocao ato discricionrio, de carter excepcional, que desonera o subordinado de toda responsabilidade pelo ato avocado pelo superior.

    Gabarito: alternativa c

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    22. (Cespe MPTCE/PB 2014) Assinale a opo correta com relao aos poderes da administrao pblica e ao poder de polcia.

    a) O fundamento do poder de polcia a predominncia do interesse pblico sobre o particular, o que torna ilegtima qualquer discricionariedade no exerccio desse poder.

    b) No estado de polcia, o jus politiae abrangia um conjunto de normas postas pelo prncipe, com a intromisso na vida dos particulares, ideia que passou a ser repensada no estado de direito.

    c) A construo de poder de polcia no estado de direito, sem abandonar a filosofia do laissez faire e sem aproximao do coletivismo, visa regular os direitos privados e limitar o poder do prncipe.

    d) O MP junto aos tribunais de contas no pode exercer o poder hierrquico por ser este exclusivo do Poder Executivo.

    e) Os atos administrativos ordinatrios emanam do poder disciplinar e no do poder hierrquico e, por isso, podem ser expedidos por qualquer autoridade aos seus subordinados, mas no podem inovar quanto legislao existente.

    Comentrios: Vamos analisar todas as alternativas:

    a) ERRADA. Um dos atributos do poder de polcia reconhecidos pela doutrina a discricionariedade (os outros dois so: autoexecutoriedade e coercibilidade). H exerccio discricionrio do poder de polcia quando, por exemplo, a Administrao decide o melhor momento de fiscalizar determinada atividade, qual o meio de ao mais adequado, qual a sano cabvel diante das previstas na norma legal, etc.

    b) CERTA. Conforme ensina Maria Sylvia Di Pietro, na Idade Mdia o prncipe era detentor de um poder conhecido como jus politiae, que lhe conferia poderes amplos de ingerncia na vida privada dos cidados, incluindo sua vida religiosa e espiritual, sempre sob o pretexto de alcanar o bem-estar coletivo. Esse poder do prncipe se colocava fora do alcance dos Tribunais. Com o Estado de Direito, passou-se a repensar o jus politiae, pois no mais se admitia a existncia de leis a que o prprio prncipe no submetia.

    c) ERRADA. Questozinha maldosa! Um dos aspectos do coletivismo, em contraponto ao individualismo, que os objetivos do grupo so mais importantes que os individuais. Nesse sentido, errado dizer que o poder de polcia, no Estado de Direito, no se aproxima do coletivismo, pois seu objetivo justamente regular os direitos privados com vistas a assegurar o bem da coletividade.

    d) ERRADA. O poder hierrquico inerente a qualquer organizao administrativa. Portanto, se manifesta em todos os rgos administrativos, os

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    quais existem em todos os Poderes, incluindo Ministrio Pblico e Tribunal de Contas, e no apenas no Executivo.

    e) ERRADA. Os atos administrativos ordinrios (como editar normativos, dar ordens, controlar, anular, revogar, aplicar sanes, etc.) emanam do poder hierrquico, e no do disciplinar.

    Gabarito: alternativa b

    23. (Cespe TRE/MS 2013) Assinale a opo correta acerca dos atos administrativos e dos poderes da administrao pblica.

    a) Decorre do poder disciplinar o ato da autoridade superior de avocar para a sua esfera decisria ato da competncia de agente a ele subordinado.

    b) O ato administrativo ilegal praticado por agente administrativo corrupto produz efeitos normalmente, pois traz em si o atributo da presuno, ainda que relativa, de legitimidade.

    c) Configura excesso de poder o ato do administrador pblico que remove um servidor de ofcio com o fim de puni-lo.

    d) A admisso ato administrativo discricionrio pelo qual a administrao faculta ao interessado a incluso em estabelecimento do governo para a utilizao de um servio pblico.

    e) O poder regulamentar prerrogativa de direito pblico conferida administrao pblica de exercer funo normativa para complementar as leis criadas pelo Poder Legislativo, podendo inclusive alter-las de forma a permitir a sua efetiva aplicao.

    Comentrios: Vamos analisar cada alternativa:

    a) ERRADA. A prerrogativa de delegar e avocar competncias decorre do poder hierrquico, e no do disciplinar.

    b) CERTA. Os atos administrativos contam com o atributo da presuno de legitimidade, razo pela qual, ainda que eivados de vcios, produzem efeitos imediatos e devem ser cumpridos at que sejam oficialmente invalidados, seja pela prpria Administrao ou pelo Poder Judicirio. A presuno de legitimidade inverte o nus da prova, ou seja, impe aos particulares o nus de provar eventuais vcios que entendam existir no ato administrativo.

    c) ERRADA. O ato do administrador pblico que remove um servidor de ofcio com o fim de puni-lo constitui desvio de poder, e no excesso de poder.

    d) ERRADA. A admisso, ato pelo qual a administrao faculta ao interessado a incluso em estabelecimento do governo para a utilizao de um servio pblico, como o acesso a hospitais pblicos, ato administrativo vinculado, e no discricionrio.

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    que realocar a mo-de-obra disponvel para o melhor desempenho dos servios, e no punir servidores.

    Gabarito: Certo

    27. (Cespe PGE/BA 2014) Suponha que, em razo de antiga inimizade poltica, o prefeito do municpio X desaproprie rea que pertencia a Cleide, alegando interesse social na construo de uma escola de primeiro grau. Nessa situao hipottica, a conduta do prefeito caracteriza desvio de poder.

    Comentrio: O enunciado leva ao entendimento de que a desapropriao ocorreu em razo da inimizade poltica entre o prefeito e a Cleide, e no por eventual interesse pblico na construo da escola. Portanto, correto que o ato caracteriza abuso de poder, na modalidade desvio de poder ou desvio de finalidade.

    Gabarito: Certo

    28. (Cespe GDF 2013) O DF no pode delegar o poder de polcia administrativa a pessoas jurdicas de direito privado, a exemplo das sociedades de economia mista, mesmo que embasado no princpio da eficincia e limitado competncia para a aplicao de multas.

    Comentrio: Para o STF e a doutrina majoritria, o poder de polcia no pode ser delegado a entidades administrativas de direito privado. J para o STJ, o poder de polcia pode ser delegado a entidades administrativas de direito privado, mas apenas as fases de consentimento e fiscalizao, e no as de legislao e sano (na qual se inclui a aplicao de multa). Considerando um ou outro entendimento, pode-se considerar correta a questo, embora sua redao seja bastante confusa.

    Gabarito: Certo

    29. (Cespe Bacen 2013) O desrespeito ao elemento finalidade conduz ao vcio conhecido como abuso de poder.

    Comentrio: O item est correto. O desrespeito ao elemento finalidade conduz ao vcio conhecido como desvio de poder ou desvio de finalidade, que uma das vertentes do abuso de poder. A outra o excesso de poder, que ocorre quando h vcio de competncia ou atuao desproporcional ao fim pretendido.

    Gabarito: Certo

    30. (Cespe IBAMA 2013) O IBAMA multou e interditou uma fbrica de solventes que, apesar de j ter sido advertida, insistia em dispensar resduos txicos em um rio prximo a suas instalaes. Contra esse ato a empresa impetrou mandado de segurana, alegando que a autoridade administrativa no dispunha de poderes para

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    impedir o funcionamento da fbrica, por ser esta detentora de alvar de funcionamento, devendo a interdio ter sido requerida ao Poder Judicirio.

    Em face dessa situao hipottica, julgue o item seguinte.

    A aplicao de multa e a interdio da fbrica pelo IBAMA decorrem do poder hierrquico de que o rgo dispe como ente da administrao pblica indireta.

    Comentrio: O poder hierrquico, assim como o disciplinar, se manifesta no mbito interno da Administrao. Portanto, ele no poderia fundamentar a ao do IBAMA descrita no enunciado, que atingiu uma empresa privada que no possua nenhum vnculo com o Poder Pblico. De fato, a multa e a interdio promovidas pelo IBAMA decorrem do exerccio do poder de polcia. Esse poder, diferentemente hierrquico e do disciplinar, atinge os particulares em geral, independentemente de vnculo com a Administrao. Por meio dele, o Estado condiciona e restringe o uso de bens, atividades e direitos individuais, em benefcio da sociedade e do prprio Estado, podendo punir os particulares que cometam infraes potencialmente ofensivas aos interesses coletivos, como a fbrica que despejou resduos txicos no rio.

    Gabarito: Errado

    31. (Cespe TRE/MS 2013) Um agente de trnsito, ao realizar fiscalizao em uma rua, verificou que determinado indivduo estaria conduzindo um veculo em mau estado de conservao, comprometendo, assim, a segurana do trnsito e, consequentemente, a da populao. Diante dessa situao, o agente de trnsito resolveu reter o veculo e multar o proprietrio.

    Considerando essa situao hipottica, assinale a opo que explicita, correta e respectivamente, o poder da administrao correspondente aos atos praticados pelo agente, e os atributos verificados nos atos administrativos que caracterizam a reteno do veculo e a aplicao de