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Direito Bancário – Resumo Página | 1 António Albuquerque – 2400030 – Direito 3.º Ano – Lusófona – 2006/07 Secção I – Moeda e Banca § 1.º - Moeda Meio através do qual são efectuadas as transacções monetárias. Instrumento geral de troca directa de produtos (unidade - medida de valor). Primeira fase, chamada de moeda natural, o padrão era de natureza não metálica e variável de sociedade para sociedade, caracterizando-se por ser um bem escasso, necessário e desejado nas comunidades (gado, cereais, sal, armas, etc.). Posteriormente passou-se a usar o metal precioso (ouro, prata, bronze e cobre) para haver uma unidade de medida de valor que fosse potencialmente geradora do estabelecimento de paridades. Por haver dificuldade a determinar o seu valor que, no início, assentava no seu peso, passou a ser gravada uma marca ou selo que garantia o seu peso e respectivo valor. Assim nasce a moeda (nas ilhas gregas, segundo muitos historiadores), propagando-se a todo mundo grego e depois pelas outras sociedades. Foram os romanos que introduziram a cunhagem da moeda, primeiro manualmente, até finais da idade média. No século XV aparecem as primeiras máquinas de cunhar moeda. Embora na China, anteriormente, se houvesse detectado espécie monetária em papel, foi sobretudo no século XVIII que esta aparece na Europa. Primeiro com o valor facial representativo do metal depositado nos banqueiros que estava sujeito a ser convertido. Conversão essa que deixa de ser viável no século XX. Funções da moeda 1. Meio de pagamento e instrumento de troca; 2. Unidade de cálculo, que expressa o preço dos bens e serviços com valor interno e externo; 3. Forma legal de pagamento, tendo em conta o curso legal e o poder liberatório pleno de que é investida; 4. Reserva de valor, a moeda pode ser utilizada como uma acumulação de poder aquisitivo, a usar no futuro. Portugal Até meados do século XIII viveu-se o regime de economia natural (troca de produtos e serviços por produtos). Com D. Afonso III surgiu a moeda de ouro e de prata (regime bimetalista). De D. João I a 1911 a moeda foi o real substituído nesse ano pelo escudo. O primeiro papel-moeda surgiu em 1687. § 2.º - Banca Surgem as empresas especializadas para o tratamento da moeda como consequência histórica do desenvolvimento da moeda. Guardar, circular, intermediar e emitir eram então as tarefas dos banqueiros. A actividade bancária tem mais de 4000 anos (uso de títulos de crédito detectado na Babilónia 2000 anos antes de Cristo). Mais recentemente é nos séculos XVII e XVIII que, na Holanda e Inglaterra, surgem os primeiros bancos. Sendo esta actividade situada no universo do sistema financeiro, também já marcado pela dimensão jurídica conferida pela função normativa do Estado, podemos afirmar que este sistema financeiro tem o sentido de um conjunto ordenado e sistematizado que tende a agrupar e disciplinar todas as instituições financeiras bancos ou outras empresas que tratem do dinheiro. O sistema financeiro reflecte-se em múltiplas relações jurídicas estabelecidas com a administração pública onde se destacam dois núcleos: 1. Respeitante à autorização para se constituir, compete ao Banco de Portugal; 2. O controlo e supervisão do sistema financeiro, também da responsabilidade do banco central – Banco de Portugal.

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António Manuel de Albuquerque Pereira – 2400030 – Direito\Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias\

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Direito Bancário – Resumo

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António Albuquerque – 2400030 – Direito 3.º Ano – Lusófona – 2006/07

Secção I – Moeda e Banca

§ 1.º - Moeda

Meio através do qual são efectuadas as transacções monetárias. Instrumento geral de troca directa de

produtos (unidade - medida de valor).

Primeira fase, chamada de moeda natural, o padrão era de natureza não metálica e variável de sociedade para sociedade, caracterizando-se por ser um bem escasso, necessário e desejado nas comunidades (gado,

cereais, sal, armas, etc.). Posteriormente passou-se a usar o metal precioso (ouro, prata, bronze e cobre) para haver uma unidade de medida de valor que fosse potencialmente geradora do estabelecimento de paridades. Por haver dificuldade a determinar o seu valor que, no início, assentava no seu peso, passou a ser gravada uma marca ou selo que garantia o seu peso e respectivo valor. Assim nasce a moeda (nas ilhas gregas,

segundo muitos historiadores), propagando-se a todo mundo grego e depois pelas outras sociedades.

Foram os romanos que introduziram a cunhagem da moeda, primeiro manualmente, até finais da idade média. No século XV aparecem as primeiras máquinas de cunhar moeda.

Embora na China, anteriormente, se houvesse detectado espécie monetária em papel, foi sobretudo no século XVIII que esta aparece na Europa. Primeiro com o valor facial representativo do metal depositado nos banqueiros que estava sujeito a ser convertido. Conversão essa que deixa de ser viável no século XX.

Funções da moeda

1. Meio de pagamento e instrumento de troca;

2. Unidade de cálculo, que expressa o preço dos bens e serviços com valor interno e externo;

3. Forma legal de pagamento, tendo em conta o curso legal e o poder liberatório pleno de que é investida;

4. Reserva de valor, a moeda pode ser utilizada como uma acumulação de poder aquisitivo, a usar no futuro.

Portugal

Até meados do século XIII viveu-se o regime de economia natural (troca de produtos e serviços por produtos). Com D. Afonso III surgiu a moeda de ouro e de prata (regime bimetalista). De D. João I a 1911 a moeda foi o real substituído nesse ano pelo escudo. O primeiro papel-moeda surgiu em 1687.

§ 2.º - Banca

Surgem as empresas especializadas para o tratamento da moeda como consequência histórica do desenvolvimento da moeda. Guardar, circular, intermediar e emitir eram então as tarefas dos banqueiros.

A actividade bancária tem mais de 4000 anos (uso de títulos de crédito detectado na Babilónia 2000 anos antes de Cristo). Mais recentemente é nos séculos XVII e XVIII que, na Holanda e Inglaterra, surgem os primeiros bancos.

Sendo esta actividade situada no universo do sistema financeiro, também já marcado pela dimensão jurídica conferida pela função normativa do Estado, podemos afirmar que este sistema financeiro tem o sentido de um conjunto ordenado e sistematizado que tende a agrupar e disciplinar todas as instituições financeiras – bancos ou outras empresas que tratem do dinheiro.

O sistema financeiro reflecte-se em múltiplas relações jurídicas estabelecidas com a administração pública onde se destacam dois núcleos:

1. Respeitante à autorização para se constituir, compete ao Banco de Portugal;

2. O controlo e supervisão do sistema financeiro, também da responsabilidade do banco central – Banco de Portugal.

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Coexistem, com os chamados bancos universais, diversificada rede de instituições financeiras especializadas. A actividade financeira/bancária tem vindo a alargar-se em três direcções:

1. Aumento do numero dos tipos de instituições que exercem;

2. As actividades que tais instituições levam a efeito;

3. Âmbito (geográfico) da sua actuação.

O núcleo mais representativo das operações do comércio bancário manteve-se sem grandes oscilações até à década de 50 (séc. XX) onde emergiam quase em exclusivo intermediações financeiras, onde se incluíam operações de:

1. Recepção de depósitos;

2. Concessão de crédito;

3. Financiamento do comércio internacional;

4. Prestação de garantias;

5. Câmbios;

6. Intermediação de valores mobiliários;

7. Prestação de serviços (pagamentos e cobranças por conta de terceiros, guarda de valores, etc.)

Só após a Grande Depressão de 1929 a opinião pública pressionou para que fossem adoptadas medidas prudências para melhor proteger os interesses dos seus clientes, quer gestionando e controlando, quer compartimentando as instituições financeiras face a uma certa especialização. Este último aspecto ganha nova força a partir do fim da última Grande Guerra.

Como consequência das grandes transformações ocorridas nos últimos anos na actividade financeira, algumas tendências são identificáveis, como:

1. Bancarização: Número cada vez maior de sujeitos que realizam negócios com os bancos e estes alargam a sua acção a mais operações;

2. Reforço da internacionalização da actividade financeira: consequência da criação de um mercado europeu de serviços financeiros e da globalização da economia;

3. Desintermediação: bancos cada vez menos presos a instrumentos tradicionais de captação de fundos financeiros;

4. Desregulamentação: redução de intervenção do Estado;

5. Novas tipologias de operações: constantemente revistas, adaptadas e adequadas a novos mercados de procura e oferta;

6. Reforço do papel das novas tecnologias;

7. Aumento da concorrência: constituição de conglomerados financeiros cada vez mais fortes, como é visível pelos movimentos e fusões;

8. Privatização generalizada da maior parte dos bancos;

Banca portuguesa

A história bancária de Portugal em 4 períodos:

1. Anterior a 1891: de contornos algo difusos e uma sintomática descaracterização bancária;

2. 1891 a 1926: Agonia e fim da monarquia e a conturbada vida da chamada Primeira República;

3. 1926 a 1974: emerge como marco de referência a primeira verdadeira reforma de reestruturação e organização do sistema bancário, porém, condicionado ao desenvolvimento económico-social e político;

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António Albuquerque – 2400030 – Direito 3.º Ano – Lusófona – 2006/07

Números de Instituições Bancárias

3

12

36

51

44

26

1

1858

1865

1874

1875

1880

1910

4. Pós 1974: segunda grande reforma do sistema financeiro, impulsionada pela integração económica e financeira em marcha na Europa comunitária;

§ 3.º - Período anterior a 1891

A história bancária de Portugal remonta a 1821 com a criação do primeiro banco: Banco de Lisboa, dito “de

empréstimo, depósito e desconto”, vocacionado para a “amortização de papel”, com previsão de existência por um período de 20 anos. Embora antes algumas manifestações típicas da actividade bancária fossem assinaladas, sobretudo com o advento da Idade Média. É, então, com a força das ideias liberais que surge o primeiro banco português, através de uma carta de lei de 31 de Dezembro de 1821.

A este banco foi cometido o monopólio exclusivo da emissão de notas até 1835. De resto aliava, simultaneamente, a qualidade de banco comercial, (aceitando depósitos e concedendo créditos) constituindo-se como agente intermediador na oferta e procura de dinheiro.

Em 13 de Agosto de 1935 é criado por decreto o Banco Comercial do Porto, ao qual foi igualmente concedido o privilégio de emitir notas, quebrando-se o monopólio conferido ao Banco de Lisboa e entrando-se num ciclo marcado pela pluralidade de bancos emissores, que perduraria durante mais de meio século.

Ao longo deste período foi atribuída a faculdade de emitir notas a nove bancos, situação que terminou em 1891 com a concessão da exclusividade ao Banco de Portugal.

Em 1844 por via da transformação da Companhia de Crédito Nacional (criada em 1841) é criada a Companhia

Confiança Nacional, com um alargado objectivo social que lhe permitia realizar operações financeiras além de negócios de outra e variada natureza e a faculdade de constituir caixas económicas (instituições cuja

antiguidade remonta à idade média mas o seu registo oficial reporta à primeira metade do século XIX, tendo

como função a captação de poupanças e apoio creditício aos trabalhadores mais precários economicamente. A

história associa-as ao chamados “Montes de Piedade” que em Portugal deram lugar ao Montepio –

protagonistas da ideia de solidariedade e mutualismo).

Em 1946 mercê da situação de colapso financeiro que o país atravessava e do contínuo e substancial desvio de fundos para o Estado, face aos constantes desequilíbrios das contas públicas, o Banco de Lisboa e a Companhia Nacional estavam numa crise insustentável. Neste ano, em que a história registou uma autêntica bancarrota para o país, a situação das duas instituições requeriam uma rápida intervenção. E, por decreto de 18 de Novembro de 1846, procedeu-se à fusão das duas companhias que originaram o Banco de Portugal, absorvendo-lhes quer o passivo, quer o activo, passando a obter privilégios exclusivos na emissão de notas ou obrigações pagáveis à vista ou ao portador até finais de 1876.

Digamos que esta exclusividade apenas se manteve até 1850, pois neste ano passou a partilhar estas funções com outros bancos. No entanto volta a adquiri-las em exclusivo em 1891 mas só para o continente e ilhas, pois para Angola era da competência do Banco de Angola e para antigas possessões portuguesas pelo Banco

Nacional Ultramarino (criado em 1865).

O numero de bancos multiplica-se de apenas 3 em 1858 para 51 em 1874, decrescendo posteriormente, registando-se em 1910, aquando da implantação da republica, a existência de apenas 26 bancos.

Com base nesta abordagem sintética da história da evolução da actividade bancária no período de decadência irreversível da monarquia, tempo conturbado e complexo, podemos reter as seguintes ideias:

•••• De 1822 a 1875/1880 – criação e desenvolvimento do movimento bancário em Portugal, período que se pode considerar de expansão da banca, em que:

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- 1822 – Arranque;

- 1846 – Ano critico. Bancarrota, enormes dificuldades financeiras e politicas que a envolveu;

- 1870/75 – Auge da especulação do domínio da actividade e da expansão bancárias tendo-se chegado aos 51 bancos em 1875;

- Unidade emissora impõe-se em 1822 (Banco de Lisboa), deixou de subsistir a partir de 1835, ano em que começou a partilhar com o Banco Comercial do Porto, depois estendeu-se a outros bancos. Chegaram a ser 9 (maioria situados a norte);

- 1891 – Após a elevação, em 1887, do Banco de Portugal a banco central e reforçada a sua posição como autoridade reguladora dos mercados monetário e cambial e como banqueiro do Estado, voltou-se à unidade emissora no Continente, da sua competência exclusiva;

•••• Após 1875/1880 – período de contracção e concentração da banca: reduz o número e cresce a importância das principais instituições;

•••• Apenas no inicio da década de 90 se começou a inverter uma característica sintomática da época em que o montante de capital realizado dos bancos – por vezes fictício, preenchido de títulos de crédito de duvidosa valia que proliferavam em Portugal, base para muitas operações especulativas – excediam o montante dos depósitos, o que, ao invés do que passou a ser regra, diminuía claramente as faculdades de fazer crescer o seu papel na economia;

•••• Até 1891, além da circulação fiduciária, de notas surgiu outro tipo de circulação, regra geral de expressão em quantidade superior de moedas de ouro, de prata e de bronze, incluído libras-ouro;

A crise de 1891 é o marco temporal a partir do qual se pode pensar finalizada esta etapa da história portuguesa, com a especificidade e caracterização em traços gerais aflorados.

§ 4.º - Período de 1891 a 1926

A grave crise de 1891 politica, económica e social que abalou o país, representa um ponto de viragem no sistema financeiro português.

Com efeito:

• O primeiro meio século de actividade bancária – sensivelmente até 1875/1880 – caracterizou-se pela multiplicação em crescendo do número de bancos. O período seguinte (até à queda da I Republica) marca uma tendência geral inversa, de acentuada regressão;

• Em 1891 o Banco de Portugal, já referido, volta a ter o exclusivo da emissão de notas, simultaneamente viu reconhecida a sua qualidade de banco central e de autoridade reguladora dos mercados monetário e cambial, continuando o Banco de Angola e o Banco Nacional Ultramarino com a emissão para os territórios já atrás referidos;

Num contexto histórico influenciado por sucessivas crises de natureza politica, económica e monetária, surge em 1894, pouco estruturado, o primeiro quadro regulador da actividade bancária (primeira Lei quadro da

banca), do qual emergem:

1. Banco de Portugal;

2. Caixa Geral de Depósitos;

3. Vários bancos comerciais e casa bancárias;

4. Algumas caixas económicas;

Implantada a Republica, em 1911 foram publicadas leis remodelando o sistema financeiro e reestruturando o crédito agrícola. Neste período existiam 26 bancos comerciais, numero que, por consequência da instabilidade politica e económica e do desencadear e termo da I Guerra Mundial, passou para 21 em 1926 quando a I Republica cai.

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Em 1910, metade dos bancos comerciais eram regionais, percentagem que, em 1923, desceu para um terço.

O maior banco deste período é o Banco Lisboa & Açores, cuja antiguidade e solidez lhe permite sobreviver e até consolidar a sua posição. Com o aproximar do fim da década de 20, bancos mais recentes, como Pinto &

Sotto Mayor e o Espírito Santo vão ganhando posições e relevo no sistema bancário português.

§ 5.º - O Sistema Financeiro no Estado Novo (1926/1974)

O nascimento do Estado Novo trouxe um aumento significativo do controlo e superintendência pelo Ministério das Finanças ao mesmo tempo que reforçou o papel do Banco Central como autoridade de tutela do sistema financeiro. A verificação destes indicadores não foi seguida de reorganização e reestruturação do sistema financeiro, há muito reclamada.

Foi preciso esperar cerca de trinta anos para que se operasse a desejada reforma global do sistema financeiro.

Salvo a implementação de algumas medidas avulsas de pouco significado, o quadro legal do sistema financeiro manteve-se pouco menos do que inalterável.

Chegou a ser aprovada em 1935 uma reforma do sistema financeiro, através da Lei n.º 1894, de 11 de Abril, mas não chegou a entrar em vigor, por ausência de regulamentação adequada. Esta estabelecia que as funções de credito ficavam reservadas, no continente e ilhas para:

• O Estado e seus institutos de crédito;

• Os bancos emissores;

• A Companhia Geral de Crédito Predial Português;

• As instituições comuns de crédito, compostas por:

- Estabelecimentos bancários autorizados;

- Caixas económicas;

- Cooperativas de crédito.

Este acabou como tantos outros, não passar de meros projectos.

Até ao inicio da década de 60, fruto de operações de constituição e fusão de bancos e da afirmação e reforço de algumas instituições de crédito no mercado, gizou-se em larga medida a geografia bancária que acabaria por subsistir até meados da década de 80 quando, alguns anos depois do 25 de Abril de 1974 e passada a fase das nacionalizações, o sistema bancário regressou aos caminhos da liberalização e da privatização.

É assim que, neste período (década de 60):

• Consolidou e Ampliou os papeis do BNU (1865) e do Banco de Angola (1926) como bancos emissores e comerciais junto das possessões coloniais;

• Foi constituído em 1926 o Banco Pinto & Sotto Maior a partir da Casa Bancário Pinto & Sotto Maior (1914);

• Foi criado em 1937 o Banco Borges e Irmão. Também neste ano fundem-se o Banco Comercial de

Lisboa (1875) e o Banco Espírito Santo (1880), originando o Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa, hoje BES (Banco Espírito Santo);

• O Banco Português do Atlântico vinco da Casa Bancária Cupertino de Miranda & Companhia (1919) cresceu e ganhou posição de relevo no mercado;

• O Banco Lisboa & Açores – um dos mais consistentes resistiu às vicissitudes e crises da I Republica – continuou a deter significativa fatia do mercado bancário;

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• O Banco Totta & Aliança (1875) – originário numa casa bancária – reforçou a sua posição no mercado englobado no grupo CUF. Mais tarde, 1970 fundiu-se com o Banco Lisboa & Açores (Banco Totta &

Açores), hoje (Banco Santander/Totta);

• Em 1959, na sequência do DL n.º 41403, de 27 de Novembro de 1959, foi constituído o Banco de

Fomento Nacional, como banco de investimento.

Na reforma de 1957 é lançada a primeira grande reforma do sistema bancário português através do citado diploma que o reorganizou, reestruturou e modernizou à luz da experiência de 30 anos de estado corporativo e dos respectivos fundamentos político-económicos.

Aquele diploma posterior e sucessivamente alterado várias vezes passou a constituir a matriz do sistema financeiro.

As instituições de crédito compreendiam:

1. Institutos de crédito do Estado (CGD);

2. Bancos emissores em regime de exclusividade (BP, BA e BNU);

3. Bancos Comerciais;

4. Estabelecimentos especiais de crédito que agrupavam:

a) Bancos de Investimento;

b) Caixas Económicas;

c) Cooperativas de crédito;

d) Companhia Geral de Crédito Predial Português.

Neste quadro legal, o BP era ainda considerado uma instituição de crédito.

O regime deste primeiro ciclo reformador do sistema financeiro, foi depois completado com a publicação dos seguintes diplomas:

• DL n.º 42641, de 12/11, de 1959, que complementando o quadro legal saído do DL n.º 41403 definiu o regime de licenciamento e funcionamento dos bancos comerciais;

• DL n.º 46302, de 27/04, de 1965, que, aproveitando as potencialidades abertas pela referida Lei-base criou as chamadas instituições para-bancárias;

§ 6.º - Período de 1974/1992

Após um período marcado por dificuldades face aos novos tempos de mudanças e rupturas provocadas pela revolução de Abril de 1974, a banca comercial veio a ser objecto de nacionalização generalizada em 1975, através do DL n.º 132-A/75, de 14 de Março.

Assim, no quadro das instituições bancárias privadas, apenas os Bancos Estrangeiros, as Caixas Económicas e as Caixas De Crédito Agrícola Mútuo escaparam à onda nacionalizadora que assolou o país.

É, de resto, o que se tira do artigo 1º do citado DL, quando nele se dispõe que “são nacionalizadas todas as

instituições de crédito com sede no continente e ilhas adjacentes, com excepção:

a) Do Crédit Franco-Portugais e dos departamentos portugueses do Bank of London & South América e do

Banco do Brasil;

b) Das caixas económicas e das caixas de Crédito Agrícola Mútuo que serão objecto de legislação especial a

publicar dentro de 90 dias”.

O estatuto das instituições de crédito nacionalizadas surgiu na sequencia do DL n.º 729-A/75, de 22-12, que as qualifica como pessoas colectivas de Direito Público dotadas de autonomia administrativa e financeira, com a

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natureza de empresas publicas – classificação que deve ser entendida mais em termos formais, uma vez que os bancos nacionalizados actuavam como se fossem sujeitos de direito privado.

No mesmo dia, 22-12, foi publicado o DL n.º 729-F/75, que regulou a estrutura de gestão e fiscalização dos bancos nacionalizados.

O quadro colectivista no qual se inseriu decisivamente a nacionalização da banca, veio a conhecer um significativo reforço com a Lei n.º 46/77, de 8-07, lei da delimitação dos sectores publico e privado que veda a empresas privadas e outras entidades da mesma natureza o exercício de actividade em certos sectores ditos básicos da economia. Lei que teve plena consagração constitucional.

A actividade bancária privada para além dos bancos estrangeiros que continuavam a operar em Portugal, apenas poderia ser exercida pelas caixas económicas, pelas caixas de crédito agrícola mútuo, pelas sociedades de desenvolvimento regional e pelas instituições para-bancárias.

Esta lei foi posteriormente alterada pelo DL n.º 406/83, de 19-11, depois complementado pelo DL n.º 51/84, de 11-02, permitindo a reabertura da actividade bancária à iniciativa privada, no âmbito da revisão constitucional de 1989, culminada com a reprivatização dos bancos nacionalizados.

Segundo o professor Menezes Cordeiro “os portugueses sofreram mais com as nacionalizações no seu próprio

país do que os estrangeiros. Constata-se, hoje, que as nacionalizações tiveram o efeito perverso de destruir

sem alternativa credível os grupos económicos nacionais.

Quando se pôs o tema das privatizações havia o risco de os agrupamentos portugueses não puderem concorrer

perante os estrangeiros: estes poderiam, com maior facilidade, arrebatar as sociedades mais significativas”.

Estará aqui, uma das razões que levaram ao estabelecimento de limitações à participação de estrangeiros no K Social de muitas empresas no âmbito de reprivatizações, fixando limites percentuais nas acções a alienar.

Primeiro a Lei n.º 84/88, de 20-07, e depois a Lei n.º 11/90, de 5-04, – Lei-quadro das privatizações, ainda

vigente – vieram a acolher disposições de carácter limitativo.

Estas restrições fizeram-se sentir nas operações de privatização dos bancos nacionalizados – mas não hoje, em que a banca está aberta a estrangeiros.

Se quisermos estabelecer um quadro resumo do sistema financeiro existente em Portugal à altura em que foi publicado o actual RGICSF (Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras) – DL n.º 298/92, 31-12, entrada em vigor em 1 de Janeiro de 1993 – temos o seguinte:

(Ver quadro na pagina seguinte)

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Actualmente os bancos de cada Estado Membro são delegações do Banco Central Europeu, além de serem emissores da moeda única europeia. O Banco de Portugal é também regulador, tal como a CMVM. (Ver

quadro acima).

AUTORIDADE DE

SUPERINTENDENCIA

MINISTÉRIO DAS

FINANÇAS

SISTEMA FINANCEIRO

(Anterior a 01-01-1993)

AUTORIDADES DE

SUPERVISÃO

o Banco de Portugal

- Emissor

- Orientador e controlador do sistema o CMVM –

Comissão do Mercado dos Valores Mobiliários

INSTITUIÇÕES DE CRÉDITO

______

o Institutos de crédito do Estado (CGD)

o Bancos Comerciais

_______ Instituições Especiais

de Crédito

INSTITUIÇÕES PARABANCÁRIAS

INSTITUIÇÕES AUXILIARES DE CRÉDITO

� Banco de Investimento

� Caixas Económicas � Caixas de Crédito

Agrícola � Sociedades de

Desenvolvimento Regional

� Crédito Predial Português

� Sociedade Financeira Portuguesa

� Sociedades de Investimento Sociedades de Locação Financeira

� Sociedades de Factoring (cessão financeira)

� Fundos de Investimento mobiliários e imobiliários

� Sociedades Mediadoras de empréstimos imobiliários

� Sociedades Administradoras de Compras em Grupo

� Sociedades Gestoras de patrimónios

� Sociedades financeiras para aquisições a crédito

o Bolsas o Correctores

de fundos e de câmbios

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O Decreto-Lei n.º 298/92, de 31 de Dezembro, que, com algumas alterações depois introduzidas, constitui hoje a matriz legal do Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras (RGICSI) em vigor.

Este regime operou a transposição para a ordem jurídica interna de 3 Directivas Comunitárias:

• N.° 77 /780/CEE, de 12 de Dezembro de 1977, denominada Primeira Directiva de Coordenação Bancária;

• N.° 89/646/CEE, de 15 de Dezembro de 1989 (a chamada Segunda Directiva de Coordenação Bancária); e

• N.º 92/30/CEE, de 6 de Abril de 1992, sobre a supervisão das instituições de crédito em base consolidada.

Segundo o professor Menezes Cordeiro o Decreto-Lei n.º 298/92 constitui “um diploma de fôlego, com alguma complexidade e que foi preparado com cuidado. Podemos considerá-lo como um pequeno código de Direito bancário institucional”.

Previamente à publicação do RGICSF, a situação existente quanto ao sistema financeiro foi objecto de um exaustivo levantamento, que foi incluído numa obra – O Livro Branco sobre o Sistema Financeiro.

A integração financeira assenta em cinco pilares:

1) A liberdade de estabelecimento das empresas financeiras;

2) A liberdade de prestação de serviços pelas mesmas empresas;

3) A harmonização e o reconhecimento mutuo das regulamentações nacionais;

4) A liberdade de circulação de capitais;

5) A união económica e monetária.

Consolidada a liberalização do mercado interno e tendo as instituições de crédito reagido muito positivamente aos estímulos de um mais agressivo regime de concorrência, o ano de 1992 marca a entrada do processo de liberalização externa na fase de maturidade.

Emerge como objectivo central do RGICSF a adequação do sistema financeiro português ao Direito Comunitário e, subsequentemente, a ideia da criação de um espaço integrado de serviços financeiros sustentado nos cinco pilares a que atrás aludimos.

Procurando sintetizar o sentido geral do RGICSF, constatamos que ele “procurou, essencialmente, quatro

objectivos:

1. Receber, na ordem interna, diversas regras comunitárias;

2. Simplificar o sistema de fontes;

3. Codificar as regras existentes;

4. Introduzir soluções mais aperfeiçoadas."

Objectivos que se revestem de óbvia importância, dele apenas fica de fora a Lei Orgânica do Banco de Portugal e os regimes jurídicos específicos das várias tipologias de instituições financeiras.

Do seu corpo preambular retiramos que, tendo em conta a necessidade de assegurar uma adequada transição de regime:

• Até 31 de Dezembro de 1993 processar-se-ia a adaptação do capital social das instituições de crédito (n.º 1, art.º 3);

• Todas as situações envolvendo instituições de crédito:

- De detenção, directa ou indirecta, de participação no capital de uma sociedade cujo montante ultrapassasse 15% dos fundos próprios da instituição participante;

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- De participações qualificadas em sociedades cujo montante global excedesse 60% dos fundos próprios da instituição participante;

- De ultrapassagem do montante dos respectivos fundos próprios pelo valor líquido do activo mobilizado;

- Em que o valor total das acções ou outras partes de capital de quaisquer sociedades por uma instituição e não abrangidas pelo ponto anterior, ultrapassasse 40% dos seus fundos próprios, teriam de ser regularizadas no prazo máximo de 1 ano, a partir de 1 de Janeiro de 1993 (n.º 2, art.º 2º);

• Foi ampliado, de três para cinco anos, o prazo até ao decurso do qual as instituições de crédito poderiam deter, directa ou indirectamente, numa sociedade, participação equivalente a mais de 25% dos direitos de varo correspondentes ao capital da sociedade participada (n.º 3, art.º 3º);

• Procedeu-se à aplicação do regime de ilícitos de mera ordenação social previsto no RGICSF aos factos praticados antes da entrada em vigor e já puníveis nos termos de legislação anterior – salvo quanto aos processos pendentes em 1 de Janeiro de 1993, aos quais se continuou a aplicar a legislação substantiva e processual anterior, num e outro caso sem prejuízo do tratamento conferido pela lei mais favorável.

O objecto do Decreto-lei n.º 298/92 é regular "o processo de estabelecimento e o exercício da actividade das instituições de crédito e das sociedades financeiras" (Art.º 1º), ficando por ele abrangidas as instituições de crédito sob a forma de empresa pública que não sejam incompatíveis com tal forma.

Categorias nucleares do RGICSF são as instituições de crédito e as sociedades financeiras, as empresas de investimento e outras instituições financeiras, cujos conceitos importa, pois, apreender.

Um outro elemento que importa precisar – é a expressão "actividade", repetidamente Utilizada ao longo do RGICSF, quer no singular, quer no plural.

A este propósito, alguns autores apontam a falta de rigor terminológico no uso de tal expressão e de outras que podem ser consideradas seus sinónimos, cujo exemplo mais frisante é o termo "operações".

Duma ou doutra forma, a Doutrina converge no sentido de que, com tais expressões se pretende identificar um conjunto de actos materiais e jurídicos praticados com carácter regular e habitual por uma empresa, entre os quais existe um vínculo de coordenação ou de articulação funcional, tendente à prossecução de um mesmo fim. O que equivale a dizer que fica assim afastada a tese de as conceber como actos isolados, considerados "de per si", mesmo no que se refere às "operações", sugestivamente usadas no plural.

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Secção II – Instituições De Crédito

§ 7.° - Conceito

É no RGICSF que encontramos a definição legal de instituição de crédito que nunca logrou obter consagração expressa no Direito português.

Dele se retira que “são instituições de crédito as empresas cuja actividade consiste em receber do público depósitos ou outros fundos reembolsáveis, a fim de os aplicarem por conta própria mediante a concessão de crédito” (Art.º 2º).

1. Conceito de público

Um dos elementos essenciais que integram a noção de instituição de crédito é o recebimento do público de depósitos e outros fundos reembolsáveis.

Algumas características podemos apontar no conceito de "público", que potencialmente pode colocar fundos numa instituição de crédito:

• O seu universo é constituído por pessoas singulares ou colectivas – estranhas às instituições de crédito, seus terceiros, que são afinal os destinatários que têm carácter indeterminado.

Uma questão geralmente aflorada nesta matéria centra-se no enquadramento / não enquadramento no conceito de “público”, de instituições financeiras e entidades administrativas públicas, tendo em conta a sua natureza, actividades e fins.

2. Recepção de depósitos ou outros fundos reembolsáveis

Constitui actividade nuclear das instituições de crédito a recepção de depósitos ou outros fundos reembolsáveis. O depósito é um importante contrato bancário de crédito, um dos principais instrumentos de recolha de poupanças e outros fundos disponíveis utilizados pelas instituições de crédito, independentemente da sua materialização monetária que não se circunscreve ao dinheiro.

Estamos perante um contrato envolvendo fundos que são sempre reembolsáveis. A instituição de crédito fica investida na obrigação de os restituir, naturalmente que tão somente do mesmo género e natureza. Daí que lhes chamemos coisas fungíveis (cf. Art.º 207º CC).

3. Aplicação por conta própria

Estamos perante um outro elemento do conceito de instituição de crédito, segundo o qual os fundos captados se destinam à aplicação por conta própria.

4. Concessão de crédito

Na noção de concessão de crédito bancário encontramos negócios jurídicos de carácter creditício noutras áreas do Direito, como, por exemplo, no Direito Civil.

Ao contrário de outros países, a nossa legislação não fornece uma noção legal de concessão de crédito. De resto, já assim era no passado.

Concessão de crédito é qualquer operação pela qual uma instituição de crédito cede ou se compromete a ceder a uma pessoa fundos reembolsáveis ou os aplica por conta ou no interesse dela, podendo comportar ainda a prestação de garantias de obrigações por essa pessoa assumidas perante terceiros.

Sintetiza-se que:

• Não obstante a pouco feliz opção literal, o espírito da lei preservou a fidelidade do conceito comunitário;

• É reconhecida a faculdade legal de as instituições de crédito poderem aplicar os fundos fora do contexto da concessão de crédito stricto sensu;

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• Impõe-se uma interpretação extensiva da noção "concessão de crédito", ou talvez apenas "crédito", em termos de comportar a ideia de aplicação;

• A esta luz, não existe contradição entre os conceitos comunitário e nacional de instituição de crédito.

§ 8.º - Espécies

Tendo como categoria mais importante e emblemática os bancos, as instituições de crédito podem assumir um elenco de espécies, como tais enumeradas no RGICSF.

5. Bancos

Constituem a mais importante espécie dentro das instituições de crédito, de tal modo que, na terminologia prática habitual, estas são muitas vezes imprópria e redutoramente vistas como meros sinónimos de institui-ções bancárias.

O actual sistema financeiro, abandonando a velha distinção entre bancos comerciais e de investimento acolhida na reforma de 1975 e que desde então vinha sendo consagrada, fez despertar o chamado "banco universal", na linha da tendência predominante em muitos países e, em particular, na União Europeia.

Augusto de Athayde diz que o "banco universal", "no vasto âmbito da sua competência, realiza não só

operações tradicional e tipicamente bancárias e de "intermediação directa, mas, também, outras entradas

mais recentemente na prática bancária, que chamamos "de intermediação indirecta" (locação financeira, participação na emissão e colocação de valores mobiliários, etc., etc.), e ainda as operações características de todos os tipos de sociedades financeiras e empresas de investimento.

Algumas das suas características genéricas essenciais, são:

1. A sua constituição depende de licenciamento prévia do Banco de Portugal;

2. Estão obrigados a adoptar a forma de sociedade anónima (SA);

3. Deverão dispor de um capital social não inferior a um mínimo legalmente fixado (3,5 Milhões Contos);

4. O órgão de administração deve ser constituído por um mínimo de três membros com idoneidade e experiência adequadas ao desempenho de tais funções;

5. Eventuais alterações dos estatutos pressupõem autorização prévia do Banco de Portugal;

6. Estão sujeitas a registo especial junto do Banco de Portugal.

O Crédito Predial Português, outrora um banco de investimento dentro das instituições especiais de crédito – categoria que já não existe no quadro do RGICSF – é hoje considerado como um banco, não obstante o seu pendor mais predial ou hipotecário.

6. Caixa Geral de Depósitos: Origem oficial remonta a 1876.

De entre as múltiplas alterações destacam-se as introduzidas em 1929, que abriram uma nova etapa no caminho da sua expansão bancária e do alargamento da sua actividade e em 1969 reforçando e ampliando o papel da Caixa – conferindo-lhe o exercício das funções de instituto de crédito do Estado – ao mesmo tempo confirmaram um conjunto de privilégios: depósitos obrigatórios, isenção de impostos, cobrança coerciva dos créditos através dos tribunais fiscais, titulação de actos e contratos através de documento particular, etc.…

Desde 1993, com as alterações do regime que lhe foram introduzidas (com o DL n.º 287/93, de 20-08, que

estabeleceu o regime vigente), a Caixa Geral de Depósitos:

• Deixou de ser uma pessoa colectiva de Direito Público para se transformar em sociedade anónima de capital integralmente público, de carácter unipessoal uma vez que dele apenas é titular o Estado;

• Passou a estar sujeita ao Direito do Privado no que toca à sua actividade e às relações laborais;

• Perdeu ou foram-lhe substancialmente reduzidos alguns privilégios de que beneficiava;

• Separou-se da Caixa Geral de Aposentações e do Montepio dos Servidores do Estado.

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7. Caixas económicas (Montepios – Lei própria)

Surgem em Portugal na primeira metade do século XIX por iniciativa do Estado e associadas aos chamados "montes de piedade", juntando os objectivos de captação e remuneração de poupanças próprias das caixas económicas e de empréstimos sobre penhores característicos dos referidos "montes de piedade". A partir de 1891 ligaram-se às associações de socorros mútuos, assumindo uma feição de carácter mutualista.

Após diversas alterações verificadas sobretudo na última metade do século XIX e no século XX, o respectivo regime é hoje regulado por lei própria, aplicando-se subsidiariamente o RGICSF.

De acordo com tal regime, as caixas económicas são consideradas instituições especiais de crédito que têm por objecto o exercício da actividade bancária por forma restrita, recebendo depósitos que aplicam em empréstimos e outras operações sobre títulos que lhes sejam permitidas e prestando os serviços bancários compatíveis com a sua natureza.

8. Caixas de crédito agrícola mútuo (CRL)

Nasceram no século XIX sob impulso do mutualismo e do cooperativismo modelados em função das condições peculiares do mundo rural tendo em vista o apoio à agricultura através da concessão de crédito e de outras medidas de fomento.

Desde 1930 – ano em que foi extinta a entidade então tutelar, a Caixa Central de Crédito Agrícola Mútuo – foram controladas pela Caixa Geral de Depósitos até à definição do seu actual regime, no âmbito do qual a sua coordenação regressou aquela Caixa Central.

Hoje, as caixas agrícolas são cooperativas de responsabilidade limitada, que têm por objecto a concessão de crédito agrícola a favor dos seus associados, bem como a prática dos demais actos inerentes à actividade bancária. Perderam a sua qualidade de pessoas colectivas de interesse público, o que as fez perder alguns benefícios fiscais.

Não podem, como regra, efectuar operações com não associados – estes são no fundo os seus únicos clientes.

9. Caixa Central de Crédito Agrícola Mútuo (CRL)

É um organismo central, com natureza de cooperativa de responsabilidade limitada que, entre outras funções, assegura a coordenação das caixas de crédito agrícola mútuo, suas associadas.

Além de poder conceder crédito a actividades produtivas dos sectores da agricultura, silvicultura, pecuária, pesca e indústrias extractivas, pode ainda financiar as caixas agrícolas associadas. Está sujeita à mesma legislação especial que se aplica às caixas e crédito agrícola mútuo.

10. Sociedades de investimento (Crédito ao Investimento)

Anteriormente qualificadas como "sociedades parabancárias", são definidas, de acordo com a legislação especial a que estão sujeitas (DL n.º 260/94, de 22-10), como instituições de crédito que têm por objecto o exercício da actividade bancária por forma restrita, limitada à realização de operações financeiras e na prestação de serviços com ela conexos.

Podem praticar operações activas específicas: adquirir, alienar, onerar ou tomar quaisquer títulos ou participações no capital das sociedades, conceder crédito a médio e longo prazo desde que não destinado a consumo, prestar uma variada gama de serviços relacionados em especial com investimento, etc.

11. Sociedades de locação financeira (ou de leasing) – Não recebem depósitos

Oriunda dos EUA, a locação financeira – apenas em 1979 foi regulamentada em Portugal – é uma operação de financiamento que se situa entre os contratos de compra e venda e de locação, tendo como um dos seus elementos mais marcantes o facto de a propriedade do bem sobre que incide ficar na titularidade do credor até à completa regularização do crédito.

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Esta operação pressupõe a aquisição de um bem por uma empresa da especialidade e subsequente locação do mesmo a um terceiro – locatário, mediante o pagamento de uma renda que incorpora a amortização do custo e outras rubricas remuneratórias.

As sociedades de leasing têm por objecto exclusivo o exercício da locação financeira, quer envolvendo bens móveis, quer bens imóveis, podendo acessoriamente aliená-los, cedê-los à exploração e locá-los quando, por resolução contratual ou não exercício do direito pelo locatário, regressem à sua posse.

Estas sociedades não podem receber depósitos, financiando-se no mercado de capitais e interbancário, estando sujeitas a legislação específica (DL 72/95, de 15-04).

12. Sociedades de cessão financeira (ou de factoring)

De origens remotas, o factoring de feição financeira desenvolveu-se nos EUA. Entra na Europa na década de cinquenta do século passado. Em Portugal, surge referenciado pela primeira vez na legislação em 1965. O seu regime jurídico apenas se processou em 1986, alterado em 1995 para o actual modelo legal.

Trata-se de sociedades cujo objecto consiste na aquisição de créditos a curto prazo, derivados da venda de produtos ou da prestação de serviços nos mercados interno ou externo.

Estão impedidas de receber depósitos, só podendo financiar-se através da emissão de obrigações e de papel comercial e de financiamentos obtidos junto de outras instituições de crédito.

13. Sociedades financeiras para aquisições a crédito (SFAC)

Porque as aquisições a crédito são uma necessidade incontornável dos nossos dias, e porque a expansão económica dos anos sessenta/setenta do século passado impôs, surge este tipo de sociedades, cuja regulamentação se veio a mostrar necessária.

São instituições especializadas, que têm como objecto o financiamento da aquisição ou do fornecimento de bens ou serviços determinados, nomeadamente através da concessão de crédito ao adquirente ou ao fornecedor respectivos, ou através da prestação de garantias, podendo para o efeito descontar títulos de crédito ou negociá-los sob qualquer forma, antecipar fundos sobre créditos de que sejam cessionários, etc.

Está-lhes vedada a captação de depósitos propriamente ditos, financiando-se com fundos próprios e nos mercados de capitais e interbancário.

§ 9.° - Actividades

No art.º 4°, o RGICSF procede à enumeração do elenco de actividades que podem ser exercidas pelas instituições de crédito. São desde logo detectáveis três planos de estruturação, ainda que o segundo deles se acabe por diluir no primeiro:

• O primeiro está centrado na instituição "banco", enumerando-se as tipologias de operações que podem realizar;

• O segundo parte do caso particular da Caixa Geral de Depósitos – uma instituição financeira à parte no panorama do universo bancário português, que pode efectuar todas as operações permitidas aos bancos, sem prejuízo de outras atribuições conferidas por legislação própria.

• O terceiro assenta nas demais instituições de crédito, as quais apenas podem realizar as operações permitidas pelas normas legais e regulamentares que especificamente regem as respectivas actividades, sejam investimento, "factoring', "leasing”, aquisições a crédito ou outras.

O conceito de banco adoptado pelo RGICSF – corresponde ao modelo da chamada "banca universal", traduzido na faculdade de exercer todos os tipos de operações que se integrem na actividade financeira, por contraponto à chamada banca especializada.

Daqui não se deduza que não possam existir limites à actividade exercida pela "banca universal". Tais limites podem verificar-se, por força dos próprios estatutos ou, nas empresas públicas, do diploma que as criar, caso em que a autorização para a sua constituição determinará o elenco de operações realizáveis a tal título.

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Também nada obsta que, por opção própria, um banco enverede pela especialização em determinadas operações – investimento, crédito hipotecário, operações com o exterior, etc. – não obstante não ser essa a tendência actual.

A gama de operações autorizadas às instituições de crédito surge definida no RGICSF com um carácter sistemático e preciso.

14. Recepção de depósitos ou outros fundos reembolsáveis

A recepção de fundos reembolsáveis constitui, a par da concessão de crédito e quando estas actividades são exercidas regular e profissionalmente, a essência do que chamamos intermediação financeira.

O conceito de recepção de fundos reembolsáveis, na esteira das linhas de força nesta matéria definidas no Livro Branco sobre o Sistema Financeiro, implica o preenchimento cumulativo dos seguintes requisitos:

1. Uma entrega de fundos – normalmente numerário, que pode também envolver valores para cobrança – feita a um banco;

2. Obrigação de, por solicitação do cliente, a todo o tempo ou pelo decurso do prazo estabelecido, o banco restituir os fundos recebidos;

3. Faculdade atribuída ao banco de disposição por sua conta e risco desses fundos.

O conceito de depósito de fundos acima referido não aparece definido em qualquer texto da legislação portuguesa, ao contrário do que acontece em muitas outras ordens jurídicas.

No Código Civil (Art.º 1185º e Seg.), surge uma figura denominada de depósito, é o chamado depósito regular, substancialmente diferente do depósito de fundos a que aqui se alude; ou do depósito irregular, uma das fontes de apoio da qualificação do depósito bancário como tal.

É que a natureza jurídica deste tipo de depósito – envolvendo disponibilidades monetárias – é particularmente controvertida.

15. Operações de crédito, incluindo concessão de garantias e outros compromissos, locação financeira e

factoring

A locação financeira ou "leasing” e a cessão financeira ou "factoring” são actividades enquadráveis no âmbito operacional dos bancos, depois de terem sido, no regime financeiro anterior, exercidas por instituições qualificadas como parabancárias – designação entretanto abandonada no RGICSF, com a maior parte delas a ser integradas nas denominadas sociedades financeiras.

16. Operações de pagamento

Engloba uma diversificada gama de operações de pagamento a que os bancos procedem, muitas vezes por conta e ordem dos seus clientes. São operações genericamente desenquadradas da actividade de intermediação financeira, mas que aos bancos é permitido efectuar. É uma prática corrente e muito antiga.

Geralmente consideradas como típicos contratos de prestação de serviços, longe da matricial actividade de recepção de fundos ou de concessão de crédito, estas operações podem ser de âmbito nacional, como podem envolver pagamentos internacionais, muitas vezes associados a operações cambiais.

Claro que, desde 1 de Janeiro de 2002, os pagamentos internacionais no âmbito da União Europeia deixaram de estar associados a operações cambiais – que se mantêm sempre que envolvam países fora do espaço comunitário.

17. Emissão e gestão de meios de pagamento, tais como cartões de crédito, cheques de viagem e cartas de crédito

Trata-se de uma actividade que, no caso específico dos cartões de crédito, conheceu no último quartel do século passado uma notável expansão, invadindo praticamente todas as esferas de vida das pessoas e das empresas.

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E que proporciona em si mesmo substanciais receitas aos bancos, para além dos negócios creditícios e outros que associadamente traz consigo.

Os cheques de viagem, representam um clássico meio de pagamento especialmente vocacionado para o sector do turismo, processualmente muito simples e seguro, sendo de registar algum declínio no seu uso face a tempos recentes.

As cartas de crédito são hoje menos utilizadas, tanto mais que o circunstancialismo histórico que as gerou está hoje fortemente alterado. Mas continuam a ter alguma expressão, mormente por via dos chamados créditos documentários.

18. Transacções, por conta própria ou da clientela, sobre instrumentos do mercado monetário e cambial,

instrumentos financeiros a prazo e opções e operações sobre divisas ou sobre taxas de juro e valores

mobiliários.

Este núcleo de actividades encerra uma característica comum: as transacções a que der lugar podem ser efectuadas por conta do próprio banco ou da clientela.

Tipologias de operações realizáveis no seu âmbito, em função dos produtos a que forem associados são nomeadamente:

• Transacções sobre instrumentos do mercado monetário e cambial;

• Operações sobre instrumentos financeiros a prazo e opções, operações que frequentemente envolvem riscos elevados – e daí algumas exigências especiais que são nesta matéria impostas aos bancos;

• Operações sobre divisas, de uso ainda hoje intenso, seja qual for o fluxo de movimentos;

• Transacções sobre valores mobiliários, sendo aqui de referir com particular acuidade a intervenção dos bancos em operações na Bolsa por conta de terceiros – ou seja, no designado mercado secundário de valores mobiliários.

19. Participação em emissões e colocações de valores mobiliários e prestação de serviços correlativos

Actividades que os bancos tradicionalmente já exercem no mercado primário dos valores mobiliários, no âmbito de serviços de intermediação financeira que legitimamente podiam e continuam a poder prestar.

A participação dos bancos em emissões e colocações de valores mobiliários processa-se no âmbito de contratos de assistência técnica, económica e financeira, tendo em vista a preparação, o lançamento e a execução da oferta, designadamente mediante a prestação e apresentação do pedido de registo da operação e de fecho na CMVM.

Os bancos podem ter aqui diferentes níveis de intervenção à luz do Código dos Valores Mobiliários, actuando nos planos da:

• Colocação de valores mobiliários, desenvolvendo os melhores esforços tendo em vista a distribuição dos títulos objecto de oferta;

• Tomada firme dos títulos em oferta, procedendo à sua aquisição e obrigando-se a colocá-los por sua conta e risco no mercado;

• Garantia da colocação de títulos, obrigando-se a adquirir para si ou para outrem, no todo ou em parte, os valores mobiliários que não tenham sido subscritos ou adquiridos pelos destinatários da oferta;

• Celebração com outros intermediários financeiros de consórcios para assistência ou colocação de títulos;

• Prestação de serviços auxiliares inerentes a estas operações.

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20. Actuação nos mercados internacionais

De há anos a esta parte existe um mercado interbancário nacional, cujos intervenientes se circunscrevem aos bancos e à Caixa Geral de Depósitos, tendo como autoridade fiscalizadora o Banco de Portugal.

Os bancos procuram muitas vezes financiar-se junto deste mercado, sem esquecer outras fontes financiadoras, internas e externas.

21. Consultoria, guarda, administração e gestão de carteiras de valores mobiliários

Operações associadas ao mercado bolsista, que também os bancos inscrevem no quadro das suas actividades como intermediários financeiros.

Encontramos em primeiro lugar a prestação de serviços de consultoria aos seus clientes na perspectiva do investimento no mercado de valores mobiliários, informando-os dos riscos envolvidos com as transacções em vista.

Depois, o depósito de valores mobiliários efectuado a pedido dos clientes. Trata-se do já referido depósito regular de coisa infungíveis previsto no Código Civil por força do qual os bancos se comprometem a receber e a guardar os títulos e a restitui-los quando lhes forem exigidos.

Neste caso, a titularidade sobre os valores mobiliários, ao invés do que se passa nos depósitos de fundos não se transmite para a instituição depositária, nem esta pode utilizá-los para fins diferentes dos que resultem do contrato de depósito.

Finalmente detectamos operações de gestão e administração de carteiras individuais de valores mobiliários, pertencentes a clientes. Entre as obrigações que destas actividades decorrem, salientamos nomeadamente as de:

• Realizar todas as operações tendentes à valorização da carteira; e

• Exercer os direitos inerentes aos valores mobiliários que a integram.

22. Gestão e consultoria em gestão de outros patrimónios

Serviços que muitos bancos há muito põem à disposição dos seus clientes e que no fundo o RGICSF reitera como integráveis no lote das suas actividades.

É o caso da gestão e administração de patrimónios imobiliários e de outros bens, que os bancos assumem tendo como substracto jurídico o contrato de mandato.

23. Consultoria de empresas em matéria de estrutura do capital, de estratégia empresarial e de questões

conexas, bem como consultoria e serviços no domínio da fusão e compra de empresas

Estas actividades têm como pano de fundo o universo empresarial. Neste contexto, os bancos, tirando partido de meios e recursos especializados que detêm, podem, por razões de vária ordem – perante clientes com os quais interessa reforçar o relacionamento, por interesse face à perspectiva de outros negócios e operações, por razões de concorrência e competitividade, para gerar proveitos, etc. prestar serviços a empresas, sobretudo sociedades anónimas e agrupamentos empresariais, nomeadamente nas áreas da consultoria em geral e, em particular:

• Da composição, repartição e estrutura do capital social;

• Das opções estratégicas; e

• Das movimentações de fusão, cisão, compra de empresas, etc.

24. Operações sobre pedras e metais preciosos

Sendo operações integráveis na actividade bancária, encontram-se mais amiúde em certas instituições que apresentam alguma forma especializada nestes sectores. São operações que, embora oferecendo elevado risco de mercado, vêm sendo crescentemente realizadas pelos bancos.

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25. Tomada de participações no capital de sociedades

Trata-se de aquisições de posições no capital social de outras sociedades, financeiras ou não, configurando-se como operações que consideramos de natureza marcadamente financeira, a despeito do carácter acessório de que efectivamente se revestem, que não podem deixar de ter em conta um conjunto de definições e realidades previstas no RGICSF como, por exemplo, relações de domínio, sociedades em relação de grupo, participações qualificadas, etc., em ligação com o que, nesta matéria, dispõe o Código das Sociedades Comerciais.

Devem ser realizadas pelos bancos em termos de não colidir com as normas de conduta estabelecidas no RGICSF, não suscitando conflitos de interesses nem violando regras sobre a defesa da concorrência.

26. Comercialização de contratos de seguro

A celebração de contratos de seguro é reservada por lei às companhias de seguros, postulado que consagra o princípio da separação em termos institucionais entre a actividade seguradora e a restante actividade finan-ceira.

Considera-se que não constitui quebra deste princípio a possibilidade dos bancos procederem à comer-cialização de produtos financeiros típicos da actividade seguradora, como reconhecimento desta faculdade que aqui aparece legitimada, sugerida pelo facto de a maior parte das seguradoras se integrarem em grupos financeiros que têm bancos como pólos de liderança.

Registe-se, no entanto, que se trata de contratos celebrados em nome e por conta de companhias de seguros, as quais assumem, assim, efectiva posição de parte, enquanto os bancos se limitam a ser meros mandatários na sua celebração e comercialização.

27. Prestação de informações comerciais

Um serviço que, dentro dos condicionalismos e limitações de carácter legal e deontológico, os bancos há muito prestam aos seus clientes. Os bancos são na prática forçados a dispor de serviços de informações próprios, de relevante interesse para o exercício de uma actividade que não pode ser dissociada do risco. Informação que os bancos, no respeito pelas regras de conduta a que estão adstritos – sigilo bancário – podem prestar aos seus clientes.

Em todo o caso, uma prática que não surge desprovida de algum melindre, mormente no plano de uma eventual responsabilização civil, sobretudo em certas situações que, sendo de mais duvidosa configuração, se podem considerar de fronteira, mesmo quando entendidas mais no sentido de meras recomendações de natureza comercial, prestadas de forma descomprometida e não fundadas em elementos confidenciais.

28. Aluguer de cofres e guarda de valores

Através do aluguer de cofres – prática integrável no âmbito da sua actividade – os bancos põem à disposição dos seus clientes um espaço físico compartimentado, no qual são guardados, em condições de segurança e sigilo, certos valores mobiliários (jóias, obras de arte, etc.), tirando partido das privilegiadas condições que naquela matéria os bancos detêm.

Os clientes passam a dispor de um espaço especialmente seguro nos dois planos que mais lhes interessam: confidencialidade da guarda dos valores e protecção contra acidentes indesejáveis (furto, roubo, etc.).

De notar que, por via de regra, pelo menos à luz da prática bancária portuguesa:

• Ao contrário do que acontece no depósito regular típico o banco não recebe os valores colocados no cofre, como os não restitui em espécie: limita-se a por à disposição do cliente um espaço

compartimentado e fechado para guarda dos valores que o banco não confere, nem a eles tem acesso;

• Os clientes dispõem da chave do referido espaço, mas não têm em boa Verdade a respectiva posse física, que continua a manter-se na esfera e à guarda do banco.

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No que se refere à guarda de valores – aqui com a configuração jurídica de depósitos regulares – eles têm em vista a conservação em segurança de certos bens valiosos (ouro, prata, pedras preciosas, colecções de moedas, etc.).

Estas operações podem assumir a forma de depósitos cerrados cujos bens são depositados em caixas cintadas, caso em que aos bancos incumbe no essencial garantir a segurança física das caixas e a devolvê-las intactas.

29. Outras operações análogas e que a lei lhes não proíba

Reflecte a consagração de que esta enumeração de actividades é meramente indicativa, e não de carácter absolutamente exaustivo, sendo portanto possíveis outras operações bancárias, desde que análogas às que acabámos de descrever e permitidas por lei.

Se quisermos, assim, estabelecer um quadro de referência das actividades que acabámos de enumerar, podemos conceber o seguinte, que não deve ser considerado exaustivo:

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Secção III Sociedades Financeiras

§ 10.º - Ideia

As sociedades financeiras sucedem às extintas "instituições parabancárias", cujo espaço preenchem não integralmente. No mapa financeiro do anterior regime legal o lugar central era ocupado pelas instituições de crédito e, logo após, pelas instituições parabancárias sendo que estas, embora com estreita ligação que com aquelas mantinham, delas se demarcavam, basicamente, por não lhes ser legalmente possível receber fundos reembolsáveis.

A sucessão não se processou nos mesmos termos de correspondência e âmbito, uma vez que algumas antigas parabancárias aparecem agora integradas na categoria de instituições de crédito. São exemplo disso, as sociedades de investimento, de locação financeira, de cessão financeira e de aquisições a crédito. Não encontramos no RGICSF uma noção directa e afirmativa de sociedade financeira, que nele aparece assim definida pela negativa.

Nos termos do conceito que emerge do RGICSF (Art.º 5º), são sociedades financeiras as empresas que não sejam instituições de crédito e cuja actividade principal consista em exercer uma ou mais de parte das actividades permitidas às instituições de crédito, que atrás enumeramos e comentámos.

Quais delas?

Antecipando pela negativa e tendo em conta o quadro de actividades das instituições de crédito, ficam fora do âmbito operacional das sociedades financeiras as seguintes:

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• Recepção de depósitos ou outros fundos reembolsáveis – critério que as separa das instituições de crédito;

• Locação financeira;

• Factoring;

• Consultoria das empresas em matéria de estrutura do capital, de estratégia empresarial e de questões conexas, bem como consultoria e serviços no domínio da fusão e compra de empresas;

• Operações sobre pedras e metais preciosos;

• Tomada de participações no capital de sociedades;

• Comercialização de contratos de seguro;

• Prestação de informações comerciais;

• Aluguer de cofres e guarda de valores.

Constituem actividades potencialmente permitidas às sociedades financeiras a (s):

• Operações de crédito, incluindo concessão de garantias e outros compromissos;

• Operações de pagamento;

• Emissão e gestão de meios de pagamento: cartões de crédito, cheques de viagem e cartas de crédito;

• Transacções, por conta própria ou da clientela, sobre instrumentos do mercado monetário e cambial, instrumentos financeiros a prazo e opções e operações sobre divisas ou sobre taxas de juro e valores mobiliários;

• Participação em emissões e colocações de valores mobiliários e prestação de serviços correlativos;

• Actuação nos mercados interbancários;

• Consultoria, guarda, administração e gestão de carteiras de valores mobiliários;

• Gestão e consultoria em gestão de outros patrimónios.

Não se conclua, porém, que qualquer sociedade financeira pode exercer todas ou mesmo uma parte das actividades que globalmente acabámos de enunciar. Com efeito "as sociedades financeiras só podem efectuar

as operações permitidas pelas normas legais e regulamentares que regem a respectiva actividade (Art.º 7º do

RGICSF)". Isto é, o núcleo de operações que legalmente lhes são permitidas é retirável dos diplomas legais que regulamentam cada uma das respectivas modalidades. O que, em conclusão, equivale a dizer que, por exem-plo, se estamos perante uma agência de câmbios, não pode esta, enquanto tal, realizar transacções sobre valores mobiliários.

§ 11.º - Espécies

Também aqui o RGICSF opta por proceder a uma exposição não restrita das espécies de sociedades financeiras nele admitidas. Faz-se notar que a categoria "sociedades financeiras” abrange duas instituições de âmbito mais alargado – sociedades de desenvolvimento regional e sociedades de capital de risco – as demais mostram um carácter mais esmiuçado em certa actividade.

30. Sociedades financeiras de corretagem (Conta Própria)

Sujeitas ao mesmo diploma legal – com normas comuns e próprias de cada instituição – as sociedades financeiras de corretagem constituem hoje um tipo de sociedade financeira distinto das sociedades corretoras. Sociedades cujo objecto compreende actividades de intermediação em valores mobiliários e de administração de carteiras de clientes, não apenas por conta de terceiros, mas também por conta própria – é este aspecto que no essencial as distingue das sociedades, correctoras.

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Estas sociedades estão sujeitas a um regime de dupla supervisão: do Banco de Portugal e da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários.

31. Sociedades correctoras

A história destas sociedades confunde-se com a das sociedades financeiras de corretagem, às quais andou associada até ao RGICSF. Estão apenas autorizadas a receber ordens de investidores para a realização de operações sobre valores mobiliários, podendo ainda manter contas de depósitos de valores mobiliários e gerir carteiras de terceiros compostas por tais valores. Distinguem-se das sociedades financeiras de corretagem por apenas lhes ser permitido actuar por conta de terceiros, aos quais não podem conceder crédito. São enquadradas pelo mesmo regime legal das sociedades financeiras de corretagem.

32. Sociedades mediadoras dos mercados monetário ou de câmbios

Realizam operações de intermediação nos mercados monetário ou de câmbios – onde actuam – podendo ainda prestar serviços conexos com a sua actividade central. Distinguem-se das actividades de intermediação em valores mobiliários pelo objecto que visam, sendo-lhes permitido apenas actuar por conta de outrem.

Dispõem de legislação própria, detendo uma expressão reduzida no mercado financeiro português – apenas têm apreciável importância e significado nos países em que os mercados monetários em geral e o de câmbios em especial, pelo seu desenvolvimento e força, o justificam.

33. Agências de câmbios

Os cambistas são considerados protagonistas históricos na história da Banca, sobretudo a partir do momento em que as trocas económicas não cessaram de se expandir. Assim aconteceu em Portugal, onde a profissão tem tradição e granjeou respeito.

Têm em vista a realização de operações de compra e venda de moeda estrangeira – notas, moedas, cheques de viagem, etc. – podendo ainda operar sobre ouro e prata em moeda ou noutra forma não trabalhada, de acordo com a legislação aplicável.

Tem sido visível na segunda metade do século XX o declínio desta actividade que, com a adopção do Euro na maioria dos países da União Europeia e a subsequente limitação da sua actividade às operações cambiais de conversão daquela moeda com as outras moedas do mundo e às operações sobre ouro e prata, não deixará certamente de se acentuar.

34. Sociedades gestoras de fundos de investimento (FIM)

Realidade financeira cuja importância não tem cessado de crescer, em particular na segunda metade do século XX. Representa a necessidade de oferecer aos investidores aplicações aliciantes e seguras para as suas poupanças, tendo em vista a prossecução dos seus objectivos. Daí a diversidade e grande variedade dos tipos e natureza de fundos oferecidos aos clientes.

Estas sociedades têm como objecto específico administrar, gerir e representar um ou mais fundos de investimento – sejam eles mobiliários ou imobiliários, fechados ou abertos, etc. – sendo que cada sociedade gestora apenas poderá administrar fundos que sejam da mesma natureza. O regime legal encontra-se disperso por vários diplomas.

35. Sociedades emitentes ou gestoras de cartões de crédito

Nasceram nos princípios do século XX nos EUA, como meio alternativo de proceder a pagamentos sem movimentação material de moeda. A grande viragem dá-se, quando a faculdade de emissão do cartão se transfere do estabelecimento ou comerciante para o banco ou outra instituição financeira originando o aparecimento de grandes redes de pagamentos nacionais e internacionais e de empresas especializadas na emissão e gestão de cartões.

Têm por objecto exclusivo a emissão ou gestão de cartões de crédito, estabelecendo o regime legal específico que as disciplina, as condições gerais da sua utilização e a sua compatibilização imperativa com a legislação

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sobre cláusulas contratuais gerais e com as recomendações provenientes da União Europeia sobre esta matéria.

36. Sociedades gestoras de patrimónios (Administração de fortunas)

Uma actividade que, sendo já antiga, tem hoje grande importância, por força do desenvolvimento económico verificado na segunda metade do século passado e do correspondente aumento do nível de vida e de poupanças de muitas partes da população mundial, gerando o aparecimento dos chamados "gestores de fortunas", empresas especializadas na gestão de patrimónios de pessoas que conseguiram um acervo maior ou menor de bens e que a elas acorrem. E daí o seu enquadramento no núcleo das instituições financeiras.

Têm, no fundo, por objecto exclusivo o exercício da actividade de gestão de carteiras de bens pertencentes a terceiros, podendo ainda prestar serviços de consultoria sobre investimentos ou aplicações. A lei que regula a sua actividade impõe a estas sociedades vários deveres específicos, todos eles centrados na segurança e informação aos clientes.

37. Sociedades administradoras de compras em grupo

O sistema das compras em grupo assenta num acordo firmado entre um grupo de pessoas, tendo em vista a entrega de prestações periódicas a uma empresa especializada para pagamento dum determinado bem a adquirir, que depois vai ser licitado ou leiloado periodicamente entre os membros do grupo, acabando por poder comprá-lo em antecipação e por um preço tendencialmente mais em conta.

Estas sociedades têm por objecto exclusivo exercer a actividade de compras em grupo, sendo-lhes vedado conceder crédito e onerar ou participar nos grupos administrados.

38. Sociedades de desenvolvimento regional (FINCO)

Criadas para captar recursos e canalizá-los para o desenvolvimento das regiões mais desfavorecidas, contribuindo para a eliminação das assimetrias regionais. Tais recursos poderiam resultar da emissão de obrigações a médio e longo prazo, de depósitos a prazo inferior a um ano provenientes de emigrantes ou de autarquias locais da área e de empréstimos a médio ou longo prazo obtidos junto de instituições nacionais ou estrangeiras.

Hoje, após a reformulação do seu regime, têm por objecto a promoção do investimento produtivo na área de intervenção da respectiva região, tendo em vista o apoio ao seu desenvolvimento económico e social.

Os estatutos destas sociedades deverão conter a definição da sua área numa certa região dentro da qual exercerão as suas actividades. Os critérios dessa fixação e da cooperação com entidades análogas vizinhas estão estabelecidas na lei que as regula.

Podem financiar-se através da emissão de obrigações, da emissão de títulos de dívida pública a curto prazo e da obtenção de crédito dentro de certos limites.

39. Sociedades de capital de risco

As operações de risco ou de alto risco, na mira de ganhos substanciais, continuam a ocupar posição de relevo, como importantes instrumentos ao serviço do desenvolvimento das sociedades modernas.

Em conformidade com o respectivo regime legal, estas sociedades têm por objecto apoiar e promover o investimento em projectos ou empresas através da participação no respectivo capital social em actividades consideradas de risco, podendo ainda acessoriamente prestar assistência em diversos aspectos na gestão das sociedades em que participem.

Estão reguladas por legislação própria, sem prejuízo de subsidiariamente lhes ser aplicável o RGICSF. .

40. Sociedades de garantia mútua – 1998 – (PME e Micro empresas)

É um tipo de sociedade financeira recentemente criado, remonta a 1998, embora há muito se encontrar difundido em países da União Europeia. Têm por objecto ajudar às pequenas, médias e micro empresas o acesso aos recursos essenciais e adequados à prossecução das suas actividades, aplicando-se medidas

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tendentes a criar mecanismos adequados para que a grandeza da empresa não seja um factor de incómodo na obtenção dos financiamentos de que careçam.

41. Finangeste – Empresa Financeira de Desenvolvimento, S.A.

Criada em 1978 com o objectivo principal de rentabilizar activos e passivos decorrentes da extinção do BIP – Banco Internacional Português e do saneamento de outras instituições, nomeadamente do Banco Borges & Irmão e do Banco Pinto de Magalhães, podendo, designadamente, para o efeito adquirir e cobrar créditos, gerir participações noutras sociedades e valorizar patrimónios resultantes da cobrança judicial e extrajudicial de créditos bancários.

Secção IV Empresas De Investimento

§ 12.° - Noção

Por força do RGICSF, os bancos e outras instituições de crédito, bem como certas sociedades financeiras – estas identificáveis em função do seu objecto legal – passaram a poder operar nos mercados comunitários de valores mobiliários e de produtos afins. Umas e outras prestavam – antes e depois do RGICSF – serviços de investimento, mas não reuniam condições para obter uma autorização validada em termos de poderem actuar naquele sector financeiro em todo o espaço comunitário.

Na sequência da transposição para a ordem jurídica interna da Directiva Comunitária n.º 93/23/CEE, do Conselho, de 10 de Maio de 1993, operada através do Decreto-Lei n.º 232/96, de 5 de Dezembro, passaram a dispor de passaporte comunitário em termos de valências análogos aos já fixados para as instituições de crédito, sob condição de adoptarem a denominação de "empresa de investimento" e de se submeterem ao respectivo regime. Deste modo, como consequência da publicação do citado Decreto-Lei, as empresas de investimento passaram a ser regulamentadas pelo RGICSF, nele se dispondo que, como tais são consideradas aquelas em cuja actividade habitual se inclua a prestação de serviços de investimento a terceiros e que estejam sujeitas aos requisitos de fundos próprios previstos em Directiva Comunitária, com excepção das instituições de crédito, bem como de entidades às quais não seja aplicável por força de Directiva Comunitária saída sobre a matéria.

A prestação de serviços de investimento a terceiros comporta um conjunto de operações que se deverá reportar ao seguinte elenco de instrumentos financeiros indicados em Directiva Comunitária:

• Valores mobiliários e unidades de participação em organismos de investimento colectivo;

• Instrumentos do mercado monetário;

• Futuros sobre instrumentos financeiros, incluindo instrumentos equivalentes que dêem origem a uma liquidação em dinheiro;

• Contratos a prazo relativos a taxas de juros (FRAs);

• Swaps de taxas de juro, de divisas ou swaps relativos a um índice sobre acções (equity swaps);

• Opções destinadas à compra ou à venda de qualquer dos instrumentos financeiros atrás enumerados ou, sendo equivalentes, dêem origem a uma liquidação em dinheiro, estando nomeadamente incluídas nesta categoria as opções sobre divisas e sobre taxas de juro.

Nota: SWAP – Operação financeira: consiste na troca de um contrato ou de um produto financeiro por outro. Como exemplo frequente podem-se citar os "swaps" de taxas de juro, através dos quais uma empresa acorda com uma instituição bancária a troca de, por exemplo, um empréstimo de taxa de juro fixa por um de taxa de juro variável ou vice-versa. Tipo de transacção cambial: consiste em compra e venda simultânea da mesma quantidade e da mesma divisa (ex.: contracto no qual se estabelece que se compra agora e também que mais tarde essa mesma quantidade de divisa irá ser vendida por quem agora está a comprá-la).

O núcleo de operações englobáveis na prestação de serviços de investimento, nos termos do RGICSF, integra, assim, a:

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• Recepção, transmissão e execução por conta de investidores, bem como negociação por conta própria, de ordens relativas a qualquer um de tais instrumentos financeiros;

• Gestão de carteiras de investimento, numa base discricionária e individualizada, no âmbito do mandato conferido pelos investidores, sempre que essas carteiras incluam alguns dos instrumentos financeiros;

• Colocação, com ou sem tomada firme, de qualquer um dos instrumentos financeiros;

• Valores mobiliários (acções e produtos afins, obrigações e outros títulos análogos);

• Unidades de participação em organismos de investimento colectivo, como sejam instrumentos do mercado monetário e outros investimentos e instrumentos financeiros análogos.

§ 13.º - Tipos

A maioria, senão a totalidade dos serviços de investimento podem ser prestados, acrescidamente às empresas de investimento, pelas instituições de crédito e sociedades financeiras. Deste facto e da diversidade de operações de investimento realizáveis resulta que vários são os tipos de entidades especializadas que actuam nos diversos mercados.

As empresas de investimento – contrariamente ao que se passa com as instituições de crédito e sociedades financeiras, obrigadas a adoptar em quaisquer circunstâncias a forma de sociedades comerciais, no primeiro caso sempre anónimas, no segundo quase sempre – podem ser pessoas singulares ou colectivas, dando expressão à prática tradicional nalguns Estados-membros.

Sublinhe-se que as empresas de investimento estão sujeitas a todas as normas aplicáveis às sociedades financeiras.

Secção V – Princípio Da Exclusividade

Com a consagração do princípio da exclusividade, o RGICSF estabelece uma reserva de actuação para as instituições de crédito e sociedades financeiras quanto a certas actividades.

Assim acontece com a recepção do público de depósitos ou outros fundos reembolsáveis, tendo em vista a sua utilização por conta própria, cujo monopólio de exercício é exclusivamente conferido às instituições de crédito – e não a todas.

Neste caso, sublinhem-se os elementos caracterizadores de tal actividade:

• Captação junto do público;

• De depósitos ou outros fundos reembolsáveis;

• Para utilização por conta própria;

• No âmbito da sua actividade profissional, designadamente em aplicações de crédito (não está expresso, mas considera-se tacitamente admitido).

Acentua-se que a reunião de tais elementos deve ser de verificação cumulativa, condição que, a não ser respeitada, levará ao não preenchimento da referida reserva de exclusividade.

Confirmando este ponto de vista, o RGICSF salvaguarda de tal qualificação os fundos reembolsáveis recebidos do público por intermédio da emissão de obrigações – nos termos e limites do Código das Sociedades Comerciais – bem como os que, em conformidade com a legislação especifica aplicável, sejam captados mediante a emissão de papel comercial, ficando desse modo ambas as operações excluídas da reserva de exclusividade das instituições de crédito.

Trata-se quer na emissão de obrigações, quer na de papel comercial e não obstante representarem situações de recepção de fundos junto do público, de operações nas quais não encontramos o elemento essencial que é a aplicação por conta própria. Em nenhum dos casos se nos depara a reunião cumulativa dos elementos estruturais da exclusividade das instituições de crédito.

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De resto em ambas as situações estamos perante meios de financiamento a que as sociedades comerciais podem recorrer, nos termos e para a prossecução dos fins previstos no Código das Sociedades Comerciais – e não para aplicação por conta própria junto de terceiros.

Pelas mesmas razões, não são consideradas operações de concessão de crédito, obviando, deste modo, a que possam ser integradas na reserva de actividade das instituições de crédito:

• Os suprimentos e outras formas de empréstimos e adiantamentos entre uma sociedade e os respectivos sócios;

• A concessão de crédito por empresas aos seus trabalhadores, por razões de ordem social;

• As dilações ou antecipações de pagamentos acordadas entre as partes em contratos de aquisição de bens ou serviços;

• As operações de tesouraria, quando legalmente permitidas, entre sociedades que se encontrem numa relação de domínio ou de grupo;

• A emissão de senhas ou cartões para pagamento dos bens ou serviços fornecidos pela empresa emitente.

A reserva legal centrada nas actividades atrás inscritas no âmbito de competência das sociedades financeiras significa que apenas por estas e pelas instituições de crédito podem ser exercidas, comportando em sequência a faculdade de operar nos seguintes domínios:

• Concessão de crédito, considerada "de per si" (operações activas), não associadas à recepção de fundos, bem como prestação de garantias e operações afins;

• Operações de pagamento;

• Emissão e gestão de meios de pagamento, tais como cartões de débito, cheques de viagem e cartões de crédito;

• Transacções, por conta própria ou da clientela, sobre instrumentos do mercado monetário e cambial;

• Participação em emissões e colocações de valores mobiliários, bem como consultoria, guarda, administração e gestão de carteiras dos mesmos valores;

• Actuação nos mercados interbancários;

• Gestão de outros patrimónios.

O RGICSF estabelece uma regra de exclusividade destas actividades a benefício das instituições de crédito – que, neste caso, acrescem a outras já antes assinaladas – e das sociedades financeiras. Mas impõe cumulativamente um outro requisito: tais actividades têm de ser exercidas a título profissional, ou seja, com carácter regular e habitual, afastando deste modo operações de análoga natureza praticadas a título isolado ou ocasional.

Sendo tais actividades de natureza substancialmente diversa, um denominador comum as caracteriza e une: a sua prática em regime de habitualidade e estabilidade (profissional). E, acrescente-se agora, a sua finalidade lucrativa, o que evidencia, afinal, os dois traços comuns, de verificação cumulativa, que marcada e decisivamente caracterizam o fim das sociedades comerciais: exercício a título profissional e com carácter continuado de uma actividade e a prossecução do lucro como fim.

Todas as operações atrás enumeradas apenas podem ser exercidas pelas instituições de crédito e pelas sociedades financeiras, constatação que não suscita dúvidas face ao que dispõe o RGICSF.

Três notas a registar:

• Cada sociedade financeira apenas poderá exercer profissionalmente as actividades que se enquadrem no âmbito do seu objecto social;

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• Às sociedades financeiras é vedada a intermediação financeira, na justa medida em que não lhes é permitida a captação de fundos junto do público;

• As actividades das instituições de crédito não se circunscrevem às que enumerámos: vão além de tal núcleo operativo, comportando acrescidamente um vasto lote de actividades.

Quanto às empresas de investimento, o RGICSF não estabelece explicitamente qualquer reserva quanto às actividades de investimento que lhes é lícito exercer.

É legítimo concluir que lhes é aplicável o regime que acabámos de caracterizar para as sociedades financeiras.

É, na verdade, o que é retirável da cláusula de remissão constante do RGICSF, quando nela se estabelece que "as empresas de investimento estão sujeitas a todas as normas do presente diploma aplicáveis às sociedades financeiras".