diprosopus em bezerro - relato de caso diprosupus in...

REVISTA CIENTÍFICA ELETRÔNICA DE MEDICINA VETERINÁRIA – ISSN: 1679-7353

Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária é uma publicação semestral da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia de Garça – FAMED/FAEF e Editora FAEF, mantidas pela Associação

Cultural e Educacional de Garça ACEG. Rua das Flores, 740 – Vila Labienópolis – CEP: 17400-000 – Garça/SP – Tel.: (0**14) 3407-8000 www.revista.inf.br – www.editorafaef.com.br – www.faef.br.

Ano VIII – Número 14 – Janeiro de 2010 – Periódicos Semestral

DIPROSOPUS EM BEZERRO - RELATO DE CASO

Diprosupus in calf - case report

SILVA, Andreza Amaral da

Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária, Departamento de

Clínica Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia de Botucatu-

FMVZ, Universidade Estadual Paulista – UNESP, Botucatu, São Paulo, Brasil.

Departamento de Clínica Veterinária, FMVZ, UNESP,

Campus de Botucatu, Distrito de Rubião Júnior s/n, Botucatu, SP – Brasil, CEP: 18618-

000 e-mail: [email protected] (autor para correspondência)

PAPA, Janice Piazzi

Médica Veterinária Autônoma

FONSECA, Eduardo Ferreira da

Professor de Clínica Veterinária da Faculdade da Terra de Brasília – FTB, UNISABER.,

Brasília, Distrito Federal, Brasil.

FERREIRA, Jair Camargo


Reprodução Animal e Radiologia Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária e

Zootecnia de Botucatu-FMVZ, Universidade Estadual Paulista – UNESP, Botucatu, São

Paulo, Brasil.

IGNÁCIO, Fernanda Saules


Reprodução Animal e Radiologia Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária e

Zootecnia de Botucatu-FMVZ, Universidade Estadual Paulista – UNESP, Botucatu, São

Paulo, Brasil.





STELMANN, Ulisses Jorge Pereira

Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária, Departamento de

Clínica Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia de Botucatu-

FMVZ, Universidade Estadual Paulista – UNESP, Botucatu, São Paulo, Brasil.

POMPERMAYER, Luiz Gonzaga

Professor Adjunto de Anestesiologia do Departamento de Clínica Veterinária da

Universidade Federal de Viçosa – UFV, Viçosa, Minas Gerais, Brasil.

RESUMO

Este trabalho descreve a ocorrência de uma malformação em um bezerro neonato,

fêmea, com duplicação craniofacial sem separação completa das cabeças e com os dois

crânios unidos na região occipital. As alterações observadas neste caso são compatíveis

com diprosopia.

Palavras chave: Diprosopus, malformação, duplicação craniofacial, bovino.

ABSTRACT

This work describes a malformation in a newborn calf, female, with craniofacial

duplication without complete separation of heads and the two skulls together in the

occipital region. The changes observed in this case are compatible with diprosopus.

Key words: Diprosopus, malformation, craniofacial duplication, bovine.

INTRODUÇÃO

Defeitos congênitos são anormalidades estruturais ou funcionais presentes ao

nascimento, que acometem parcial ou totalmente os sistemas (DENNIS; LEIPOLD,

1979). As anomalias congênitas caracterizadas pela união de partes do corpo entre

indivíduos idênticos correspondem a um dos maiores grupos de malformações

congênitas nos bovinos (ARTHUR, 1956; LEIPOLD et al., 1972; ZAITOUN et al.,

1999). A duplicação craniofacial ou diprosopia enquadra-se nesse grupo de





malformações, apresentando-se desde uma simples duplicação nasal até duas faces

completas em uma única cabeça - diprosopia monocéfala - (POTTER; CHANG, 1975),

considerada uma variante incomum de gêmeos siameses (WU et al., 2002; ROTTA et

al., 2008).

Na diprosopia, a região cefálica e as estruturas faciais mostram duplicidade, sem

que haja separação das duas cabeças, e quase todos os casos apresentam um padrão

monomórfico (CARLES et al., 1995). Há ainda dois eixos completos da notocorda no

interior de uma coluna vertebral, diferindo da dicefalia, onde dois eixos vertebrais

completamente separados e paralelos estão presentes (SPENCER, 1992).

A incidência da diprosopia é maior nos bovinos em relação às outras espécies

domésticas e ocorre com maior frequência na parte anterior do corpo. Nos equinos e no

homem, monstros duplos e gêmeos idênticos são extremamente incomuns de acontecer,

enquanto que nos ovinos, suínos, cães e gatos não são raros de serem encontrados

(ARTHUR, 1956; LEIPOLD et al., 1972; ZAITOUN et al., 1999).

Os fatores que provocam duplicação embrionária ainda são objeto de estudo:

gêmeos unidos (monstros duplos) e gêmeos idênticos parecem ter a mesma origem e

resultam de alterações na divisão do zigoto (ARTHUR, 1956). O período embrionário,

quando o crescimento e a diferenciação celular encontram-se em alta atividade,

corresponde à fase mais susceptível a teratógenos, pois é a época em que as camadas

germinativas primitivas e os rudimentos de órgãos são formados (ARTHUR, 1979). A

causa de monstruosidades pode ser atribuída a defeitos nos genes das células

germinativas ou a influencias ambientais que agem no desenvolvimento do feto e a

hereditariedade encontra-se frequentemente relacionada (ARTHUR, 1956; SHULZE et

al., 2006).

Este estudo tem por objetivo relatar um caso de duplicação cefálica croniofacial

em um bezerro

RELATO DE CASO

Uma vaca, da raça Holandesa PB, três anos de idade, primípara, em trabalho de

parto há aproximadamente doze horas foi trazida ao Hospital Veterinário da





Universidade Federal de Viçosa. Ao exame físico inicial o animal apresentava-se

apático, com taquicardia (96 bpm), taquipnéia (45 mrm) e levemente desidratado (3%).

Por palpação reto-abdominal verificou-se que o feto encontrava-se vivo, em

apresentação longitudinal anterior, posição dorso-sacral e cabeça desviada lateralmente

em direção ao antímero direito. Ainda pelo mesmo exame constatou-se que o feto

apresentava duplicação da face e duas calotas cranianas fundidas, aparentemente, até a

porção anterior da cabeça. Diante da impossibilidade de execução de uma manobra

obstétrica para o reposicionamento fetal, optou-se pela realização de cesariana por

acesso paramamário.

A vaca foi posicionada em decúbito lateral esquerdo, a região paramamária

esquerda tricotomizada e preparada para cirurgia asséptica. Dez minutos após anestesia

local com 20mL de solução de cloridrato de lidocaína 2%, realizou-se uma incisão

elíptica da pele e tecido celular subcutâneo e músculo transverso abdominal. Após ser

exposto, o útero foi incisado e o feto retirado.

O neonato, do sexo feminino, apresentava duplicação craniofacial, sem

separação completa das cabeças, com os dois crânios unidos na região occipital. As

duas faces apresentavam padrões morfológicos similares, com dois olhos, um nariz,

uma boca e uma orelha (Fig.1). Um desvio na região tóraco-lombar da coluna vertebral

impossibilitava o posicionamento quadrupedal do animal (Fig.2). O neonato vocalizava

e apresentava movimentos simétricos dos olhos, boca e língua nas duas faces, além de

mostrar-se responsivo também a estímulos externos. Diante da gravidade da anomalia o

proprietário optou pela eutanásia imediata, entretanto, não consentiu a realização do

exame necroscópico.

DISCUSSÃO

As duplicações cranianas podem ser classificadas como diprosopos ou dicefalos

(HIRAGA; DENNIS, 1993; ROBERTS, 1996). Enquanto a diprosopia é caracterizada

pela fusão das estruturas craniofaciais de duas cabeças [MOERMAN et al., 1983;

FISHER et AL., 1986; MAZZULO et AL., 2003; OZCAN et al., 2005), a dicefalia é

descrita como a duplicação parcial da coluna vertebral com o presença de duas cabeças

(LEIPOLD; DENNIS, 1972; McGIRR et al., 1987; MADARAME et al.,





1993). Segundo esta classificação, reportamos aqui um caso de diprosopia em bezerro

neonato, já que o animal apresentava fusão das duas faces em nível de região occipital

sem duplicação parcial da coluna vertebral.

Em bovinos a duplicação da extremidade cranial do corpo é mais comum

(ARTHUR, 1979). No entanto, em outras espécies animais, como exemplo a ovina,

anomalias de duplicação de partes caudais do corpo são mais frequentes (DENNIS,

1975). Assim como neste relato, na maioria dos casos de diprosopia em animais as duas

cabeças e as estruturas anatômicas que a compõem são semelhantes entre si

(SAPERSTEIN, 1981; MOERMAN et al., 1983; SÖNMEZ et al., 1992; MAZZULO et

al., 2003; OZCAN et al., 2005). Apesar disso, existem casos de diprosopos em animais

onde as duas cabeças diferem não só no tamanho como também nas estruturas

anatômicas (KAÇAR et al., 2008).

Em todas as espécies animais o defeito congênito mais comumente associado ao

diprosopus é a fissura de palato (SAPERSTEIN, 1981), mas outras anomalias, como

agnatia unilateral, pseudohermafrodismo (DENNIS, 1975), cifoescoliose, espinha

bífida, artrogripose (LEIPOLD; DENNIS, 1972; McGIRR et al., 1987), persistência de

úraco (RAMADAN, 1996) e desvio de mandibula (FISHER et al., 1986) têm sido

relatadas. É possível que uma ou mais dessas malformações estivessem presentes no

bezerro deste relato, entretanto, a não realização do exame necroscópico impediu a

constatação da ocorrência dessas anomalias.

CONCLUSÃO

A presença de duplicação craniofacial sem separação completa das cabeças e

com os dois crânios unidos na região occipital foi determinante para o diagnóstico de

diprosopia no bezerro deste caso. Apesar da baixa frequência de relatos e da etiologia

precisa da diprosopia ainda ser desconhecida, evidências do envolvimento da

hereditariedade no desenvolvimento dessa anomalia torna o estudo da genealogia e

histórico da mãe importantes. Dessa forma animais relacionados com essa malformação

podem ser monitorados, pois sua ocorrência, na maioria das vezes, é acompanhada de

partos distócicos e problemas de puerpério, além de prejuízos econômicos.





Figs.1. As duas faces apresentam padrões morfológicos similares, com dois olhos, um

nariz, uma boca e uma orelha.

Fig.2. Desvio na região tóraco-lombar da coluna vertebral, impossibilitava o

posicionamento quadrupedal do animal.





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