diplomática n.º9

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1 DIPLOMÁTICA - JUNHO/JULHO 2008 Diplomatica ´ Diplomatica ´ With English & French Texts Nº9 Março 2011 4 (Cont.) Diplomática 9 • março/abril 2011 BUSINESS & DIPLOMACY Sarkozy Um percurso impressionante Em destaque Pascal Teixeira da Silva Embaixador de França EMBAIXADORES REVISITAM 2010 Ana Paula Laborinho Presidente do Instituto Camões Pavel Petrovskiy Embaixador da Rússia Adriano Moreira O último senador

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Negócios e Diplomacia

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Page 1: Diplomática n.º9

1 • Diplomática - Junho/Julho 2008

Diplomatica´Diplomatica´

With English & French Texts

Nº9 Março 20114 (Cont.)

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01

1

business & Diplomacy

SarkozyUm percurso impressionante

Em destaque

Pascal Teixeira da Silva Embaixador de França

EmbaixadorEs rEvisitam 2010

Ana Paula LaborinhoPresidente do Instituto Camões

Pavel PetrovskiyEmbaixador da Rússia

Adriano MoreiraO último senador

Page 2: Diplomática n.º9

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Page 3: Diplomática n.º9

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4 • Diplomática -março/abril 2011

Editorial

Sarkozy. Um percurso impressionante e imprevisível em políticaSarkozy. an impressive and unpredictable path in the world of politicsSarkozy: un parcours politique étonnant

pascal teixeira da Silva. o luso-descendente Embaixador de França em lisboa aborda as relações com portugalpascal teixeira da Silva. the luso-descendant ambassador of France in lisbon addresses the relations with portugalpascal teixeira da Silva. l’ambassateur lusodescendant de France a lisbonne aborde les relations avec portugal.

Ângelo ramalho. o pDG da alstom Grid portugal é o “cicerone” ao universo de uma das maiores empresas internacionaisÂngelo ramalho. the cEo of alstom Grid portugal invite for a visit to the universe of one of the largest internacional companiesÂngelo ramalho. le pDG de alstom Grid portugal est le guide au univers d’une des majeurs entreprises internationales

Fernando bessa. Director Geral da air France Klm e portugal fala-nos do crescimento da empresaFernando bessa. the cEo of air France Klm e portugal reports on the growth of the company Fernando bessa. Directeur Général de air France Klm et portugal nous parle du croissance de l’entreprise

michel Drouère. Delegado geral da alliance Française guia-nos ao interior de uma das maiores associações culturais do mundomichel Drouère. the guide of the general delegate of alliance Française to one of the greatest cultural associations of the Worldmichel Drouère. Délégué Général de l’alliance Française nous guide à l’intérieur de l’une importantes associations culturel du monde

bernard chantrelle. o presidente da câmara de comércio e indústria luso-Francesa, em artigo de opiniãobernard chantrelle. the president of the portuguese-French chamber of commerce and of the portuguese-French industry in an article of opinionbernard chantrelle. le président de la chambre de commerce et d’industrie luso-Française, dans un article d’opinion

balanço de 2010. De viva voz, embaixadores europeus escrevem sobre o ano que passou e as perspectivas para 2011balance 2010. in their own words, european ambassadors write about last year and how they visualize 2011balance de 2010. ambassadeurs européens écrit sur l’année passée et les perspectives pour 2011

cimeira da Nato em lisboa. Um interessante artigo do Embaixador da rússia em lisboa Nato summit in lisbon. an interesting article written by the ambassador of russia in lisboncimeira da Nato em lisboa. Un article intéressant de l’ambassadeur de russie à lisbonne

adriano moreira. o último senador traça o retrato de um mundo em mudança, com a Europa como pano de fundoadriano moreira. With Europe as background, adriano moreira, the last senator, portrays a world that is changingadriano moreira. le dernier sénateur dresse un portrait d’un monde en mutation, avec l’Europe comme toile de fond

macau. 2010 assinala recorde no volume de negócios entre a china e os países lusófonos macau. 2010 marks a record in the turnover between china and lusophone countriesmacao. l’anée de 2010 marque un record de chiffre d’affaires entre la chine et les pays lusophones

XX cimeira ibero-americana. Na despedida, lula da Silva estendeu a mão na ajuda ao “país irmão” XX iberoamerican Summit. While saying his farewell, lula da Silva made an offer to help the “país irmão” (brother country)20eme Sommet ibéro-américain. En partant, lula da Silva a tendu la main pour aider le pays “frère”

Dilma rouseff. retrato de uma mulher verdadeiramente notávelDilma rouseff. portrait of a truly remarkable womanDilma rouseff. portrait d'une femme tout à fait remarquable

iii cimeira luso-argelina. Nova fase de cooperação marcou trabalhos do conclave iii luso-algerian Summit. New forms of cooperation marked the work of the conclave3eme Sommet luso-algérien. Nouvelle phase de coopération a marqué les travaux du conclave

ana paula laborinho. presidente do instituto camões guia-nos na revisitação de uma vida dedicada à língua de camõesana paula laborinho. the president of the camões institute guides one through a life dedicated to the language of camõesana paula laborinho. président de l’instituto camões invite à revisiter une vie consacrée à la langue de camões

maria barroso. agraciada pelos Grão-duque do luxemburgo que, na ocasião, homenageou aristides de Sousa mendesmaria barroso. Honored by the Grand Duke of luxembourg, that on the same occasion paid tribute to aristides de Sousa mendesmaria barroso. Honoré par le Grand-Duc de luxembourg et, à l’occasion, a rendu hommage aristides de Sousa mendes

Emiratos árabes Unidos. recepção em lisboa junta personalidades da política, da economia e da culturaUnited arab Emirates. a reception in lisbon brought together personalities from politics, economy and cultureÉmirats arabes Unis. réception à lisbonne réunissant des personnalités de la politique, l’économie et la culture

2º aniversário Diplomática. Em ambiente solidário a festa da revista não deixou de dizer presente na ajuda às vítimas da catastrofe no paquistão2nd anniversary of Diplomática magazine. in a supportive environment the people in attendance to the party said yes to aiding pakistan2eme anniversaire de Diplomática. Dans unne ambiance de solidarieté, la fête de la magazine a étè present dans l’aide au pakistan

antónio lobo antunes. Homenagem em parisantónio lobo antunes. tribute in parisantónio lobo antunes. Hommage à paris

Norte de áfrica. Qual gigante adormecido, a vontade dos povos parece imparávelNorth of africa. like a sleeping giant, the will of the people seems unstoppableafrique du Nort. comme un gigant endormi, la volonté du peuple semble imparable

marta castro. o universo de luz e sombrana pintura da grande artista, mulher de luis amadomarta de castro. the universe of light and shadow in the painting of the great artist, married to luis amadomarta de castro. Un Univers de lumière et ombre dans la peinture de la grande artiste,épouse de luis amado

traduçõestranslationstraductions.

DIRECTOR: maria da luz de bragança PRODUÇÃO: césar Soares PROPRIEDADE: maria da luz de bragança EDIÇÃO: Gabinete 1 Editor nº 211 326. av. Engº Duarte pacheco, nº1 - 4º Esq. – 1070-100 lisboa.

MARkETIng & PUblICIDADE: Gabinete 1 - e-mail:[email protected] tel.: 21 322 46 60 a 76 Fax: 21 322 46 79IMPRESSÃO: madeira & madeira, S.a. DISTRIbUIÇÃO: logista - alcochete - telefone: 21 926 78 00 Fax: 21 926 78 45

iSSN 1647-0060 – Depósito legal nº 276750/08 – publicação registada na Direcção Geral da comunicação Social com o nº 125395

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AssuntosSummary

résumé

Page 5: Diplomática n.º9

5março/abril 2011 - Diplomática •

Editorial

Nunca trabalhei com o Zé manel – o que é uma pena, pois esse convívio ter-me-ia valori-

zado muito -, mas sei o que ele significou [e significa!] para várias gerações de jornalistas,

desde os tempos de fogo no “Expresso” até à “Diplomática”, onde terminou os seus dias

de jornalista e uma vida agitada de cidadão atento e homem honrado.

o José manuel teixeira foi um mestre do jornalismo e um ser humano de excepção que

sempre amou a vida e sempre se deu aos outros: fosse um diplomata ou um modesto

funcionário público; uma figura pública ou uma prostituta; um empresário ou um operário

– a todos ele tratava como sabia e da única forma que admitia: olhos nos olhos!

E foi um homem que, ao mesmo tempo que amava a vida, sempre amou o jornalismo e a

ele se entregou como um combate. pela razão simples de amar a liberdade e a verdade.

E odiava a mentira, a hipocrisia, as punhaladas nas costas e a cáfila de serventuários sem

ideias que pulula à volta do próximo chefe, do próximo dono que lhe pague as contas…

a ironia, o humor verrinoso, eram armas letais de quem sempre foi estruturalmente livre e

nunca teve dono! poderia ter dirigido os mais reputados meios de comunicação, poderia

ter feito carreira como comentador, poderia ter sido rosto e voz de qualquer êxito mediáti-

co, mas nunca quis. preferiu envolver-se em pequenos projectos com a sua companheira

de anos e aventuras jornalísticas. com maria da luz de bragança colaborou em publica-

ções que fizeram história. lembram-se da “manchete” – uma irreverente revista fora de

tempo, mas que fez história no jornalismo em portugal?

E entregou-se de corpo e alma à “sua” “revista dos bombeiros” e aos voluntários de

lisboa, onde fez da sua presença militância diária a favor dos outros, entregando-se todo

– como sempre fez em tudo o que pegou.

o Zé manel era um perfeccionista da escrita, cultor de um tipo de prosa que foi beber aos

nomes maiores do jornalismo e da literatura. E, como o já se disse, foi um mestre para

todos nós – os profissionais da escrita – e um exemplo de verticalidade e humanidade. Há

um ano que nos deixou, mas não morreu, continua prESENtE nos caminhos diários que

nos animam nesta circunstância de sermos jornalistas. ■

José Manuel Teixeira: Presente!

antónio alte pinho

José Manuel Teixeira: Present!

I never worked with Zé manel – which is rather a shame given that being close to him would have made me a better professional – but i do know what he

meant (and still means!) to several generations of journalists, from the early and rather difficult days in the Expresso newspaper to more recent times in

Diplomática magazine, where he was to finish his life both as a journalist and also as the well-informed and honourable citizen that he was.

José manuel teixeira was a master of journalism and an exceptional human being, that always loved life and was always there for those who knew him,

whether that person was a diplomat or a mere civil servant; a public figure or a prostitute; a business man or a simple worker – each and every one of these

people was tratead in the very best way he knew how and always eye to eye!

He was also a man that not only loved life but never stopped loving journalism and because of that looked upon his profession as a true fighter. For the

simple reason that he loved freedom and truth. in the same way that he hated lies, hypocrisy, backstabbing and the bunch of mindless yes-men that can

always be found closing in on the next boss or the next guy that will be paying for their bills...

irony and sharp humor were used as lethal weapons by someone that always remained structurally free and was never owned by anyone! He could have

been responsible for the most important newspapers or magazines, could have had a career as commentator, could even have been the spokesperson for

any high profile media bestseller but he chose not to go that way. instead, he preferred to get involved in small projects with his partner of many journalistic

adventures, his most trusted companion of many years. With maria da luz de bragança, he collaborated in publications that made history. Do you remem-

ber manchete?, an irreverent magazine that appeared way before its time but made history in portuguese journalism?

and he also gave himself wholeheartedly to “his” revista dos bombeiros (Firefighters magazine), and to the voluntary firefighters of lisbon, where he beca-

me a daily presence, fighting for others and going out of his way to do his work the best he possibly could.

Zé manel was a perfectionist and cultivated a kind of writing that drank its inspiration in the greatest names of both journalism and literature. and, as it was

said previously, he was a master to us all, the ones that count themselves as professional writers, being at the same time an example of straightforward-

ness and humanity. it’s now been a year since he lefts us, but he did not die, he is still prESENt in our daily ways, the very ones that make certain that we

keep pushing ourselves in this business of being journalists.

Page 6: Diplomática n.º9

6 • Diplomática - março/abril 2011

Como será julgado o presidente Sarkozy: um grande pre-

sidente ou nem por isso? Sem dúvida que será ainda algo

cedo para emitir uma opinião plenamente segura – deixemo-

la aos historiadores futuros.

mas a questão fica-nos na ideia dessa personagem que nos

fascina e atrai e por vezes surpreende ou mesmo choca.

como construir, hoje, uma opinião inteligente sobre este

político?

aquando da sua eleição, a antecipação era promissora.

apesar de tudo, jamais um presidente francês esteve tão

bem preparado para essa função, como se ele tivesse tido

uma formação especial, um mba de Harvard business

School concebido justamente para a única função de ser

presidente da França, dando-lhe todo o savoir-faire, experi-

ência e ferramentas para um desempenho totalmente profis-

sional. impressionante é a sua capacidade de tratar os dos-

siês, o seu conhecimento das minudências da administração

francesa que lhe permitem manipular e controlar todas as

suas alavancas, ao que se junta a sua incrível energia, a sua

vontade de fazer, a sua capacidade de trabalho.

Efectivamente, o seu percurso político é impressionante.

Filho de um pai húngaro e de uma mãe francesa de família

grega de origem judia, o jovem Nicolas adere à UDr logo

aos dezoito anos e é eleito conselheiro municipal aos vinte

e dois anos e aos vinte e oito, torna-se um dos mais jovens

presidentes da câmara de França, em Neuilly-sur-Seine.

Deputado aos trinta e três e ministro das Finanças e porta-

voz do Governo em 1993 sob Edouard balladur, adquire

uma notoriedade nacional, demonstrando já o seu envol-

vimento pessoal e o seu sentido de comunicação pela sua

intervenção pessoal na negociação conseguida com o Hb, o

terrorista que ameaçava fazer explodir uma sala com vinte e

uma crianças numa creche em Neuilly.

Dois momentos menos seguros atravessaram a sua carrei-

ra: entre 1995 e 1997, por ter apoiado mais Jacques chirac

do que Edouard balladour; e o segundo, de 1999 a 2002,

em consequência da escolha do rpr para as eleições euro-

peia e à sua derrota flagrante.

mas a partir de 2002, quando dá apoio à re-eleição de

Jacques chirac, toma o seu lugar no centro da cena política

francesa, que jamais deixará. É re-eleito deputado, torna-se

ministro do interior, depois ministro da presidência, da Eco-

nomia, das Finanças e da indústria, para de novo ocupar o

posto de ministro do interior até Junho de 2007, quando se

afasta para se lançar na campanha presidencial.

mesmo tendo feito parte do Governo precedente, conseguiu

convencer brilhantemente o eleitorado que seria o apóstolo ➤

Président Nicolas Sarkozy, comment sera-t-il jugé - un grand

président? ou beaucoup moins? Sans doute est-il beaucoup

trop tôt pour émettre une opinion pleinement étayée - laissons

cela aux historiens de demain.

mais la question reste à l’esprit, ce personnage qui attire et

fascine, qui par moment choque, voir même surprendre, com-

ment s’y prendre pour développer, aujourd’hui, une opinion

intelligente sur le sujet?

a son élection, l’anticipation était prometteuse. après tout,

jamais un président français n’avait été aussi bien préparé

pour cette fonction, comme si il avait suivi une formation,

un mba de Harvard business School conçue pour la seule

fonction de président de la France, lui donnant tout le savoir-

faire, l’expérience et les outils pour une démarche totalement

professionnelle - impressionnante, son habilité à traiter des

dossiers, ses connaissances des rouages de l’administration

française, pour pouvoir y manipuler tous les leviers, ajouté à

son incroyable énergie, sa volonté de faire, sa capacité de

travail, chapeau, le mec, nous étions bluffés.

Effectivement, son parcours politique est impressionnant. Fils

d’un père hongrois et d’une mère française de famille grecque

d’origine juive, le jeune Nicolas adhère à l’UDr déjà à 18 ans,

est élu conseiller municipal à 22 ans puis devient à 28 ans l’un

des plus jeunes maires de France à Neuilly-sur-Seine. Député

à 33 ans, puis ministre du budget et porte-parole du gouver-

nement en 1993 dans le gouvernement Edouard balladur, il

acquiert une notoriété nationale, démontrant déjà son impli-

cation personnelle et son sens de la communication par son

intervention personnelle dans la négociation réussie avec

“Hb”, le terroriste qui menaçait de faire sauter une classe avec

21 enfants dans une maternelle à Neuilly.

Ensuite, deux passage dans le désert - le premier de 1995

à 1997, sa punition pour avoir choisi de supporter Edouard

balladur plutôt que Jacques chirac, et le second, de 1999 à

2002 suite à l’échec cuisant du rpr qu’il avait menées aux

élections européennes, ce qui l’amène à se retirer de la vie

politique nationale.

mais à partir de 2002, quand il soutient la réélection de Jac-

ques chirac, il prend sa place au centre de la scène politique

française, qu’il ne quittera plus. il est réélu député, devient

ministre de l’intérieur, puis ministre d’Etat, de l’économie, des

Finances et de l’industrie, pour de nouveau occuper le poste

de ministre de l’intérieur jusqu’en mars, 2007, où il démission-

ne pour se lancer dans la campagne présidentielle.

même qu’il faisait pleinement partie du gouvernement précé-

dent, il réussit brillamment à convaincre l’électorat qu’il sera

l’apôtre du changement, “la rupture tranquille”, “l’ordre en ➤

Sarkozy por patrick Siegler-lathrop*

Um percurso político impresionante

Capa

Page 7: Diplomática n.º9

7março/abril 2011 - Diplomática •

Page 8: Diplomática n.º9

8 • Diplomática - março/abril 2011

➤ da mudança, “a mudança tranquila”, ou seja, uma moder-

nização que não causasse medo ou dano aos franceses.

Face a Ségolène royal, ganha com mais de 53% de votos:

um mandato claro e limpo.

o que herdou? a França em maio de 2007 estava pronta

a ser “modernizada”? tendo em conta a história dos anos

precedentes, nada seria menos certo. mas quando teve a

França um governo capaz de resistir às exigências de um

povo que tem um talento particular para a reivindicação,

grupos que sabem bem exigir os seus direitos que, uma vez

adquiridos, tornam-se invioláveis e sem retrocesso, onde

todo o esforço de os limitar provocará uma resistência feroz

daqueles que se arriscam a perdê-los, que podem contar

com o apoio da maioria dos franceses, que tomam sempre

o partido de toda a resistência face à vontade de reforma de

qualquer governo?

Esse mesmo povo que rejeitou o tratado de lisboa por

referendo em 2005, provocando uma profunda crise no seio

da comunidade Europeia. contudo, o ambiente económico

está em melhoria em maio de 2007 apesar da alta taxa de

desemprego que se mantém nuns preocupantes 8,4%.

perante essa herança, Sarkozy lança-se a fundo nas refor-

mas, com um empenho pessoal, uma energia avassaladora,

uma coragem pouco habitual que não podemos deixar de

admirar. lança-se a todos os combates e está pronto a ser

tido responsável por todos os resultados. pela primeira vez,

um político suficientemente corajoso para admitir que pode

ser julgado pelos seus resultados.

Ele é moderno e domina a comunicação com a opinião pú-

blica. Está em todos os media e sabe utilizá-los com talento

e leva a cabo as reformas tal como esperado.

Globalmente, cumpre as suas promessas, mesmo com

alguns deslizes (como o caso da justiça, medicina e escolas

primárias), conseguiu fazer passar reformas que tinham

feito dano a anteriores governos: a reforma dos regimes es-

peciais de aposentação, a reforma das universidades para

as tornar mais autónomas, sem esquecer a grande conquis-

ta do direito de contestação da lei dado a cada cidadão, o ter

aligeirado a carga fiscal. regula bem os problemas da Eu-

ropa, faz pela aceitação do tratado de lisboa, pela gestão

da crise do Euro e consegue fazer ultrapassar o anti-ame-

ricanismo pavovliano dos regimes precedentes. E depois,

certamente, a batalha da reforma das aposentações, onde

ganha o braço de ferro com as grandes manifestações de

2010, passando a idade legal da reforma para os 62 anos.

mas em paralelo, a sua quota de popularidade cai dramati-

camente. Hoje quase sete em cada dez franceses não têm

grande sobre Sarkozy. como é possível? o sistema terá

parado de funcionar?

as causas são múltiplas.

para começar há um problema de estilo. Ele é moderno, em ➤

➤ mouvement”, soit, la modernisation sans que ça fasse trop

peur, ou trop mal au Français. Face à Ségolène royal, il est

élu avec plus de 53% des voix, un mandat clair et net.

Qu’à-t-il hérité? la France en mai 2007, est-elle prête à être

“modernisée”? au vue de l’histoire des années précédentes,

rien est moins sûr: depuis quand a-t-elle un gouvernement

capable de résister aux demandes d’un peuple qui a un talent

pour la revendication, de groupements qui savent si bien

exiger des avantages qui, dès qu’ils sont octroyés, deviennent

des “acquis”, inviolables, où tout effort de les limiter suscitera

une résistance farouche de ceux qui risquent de les perdre,

qui peuvent compter sur le support de la grande majorité des

Français, qui prennent toujours le parti de tout résistant face à

la volonté de réforme de quelque gouvernement que ce soit?

ce même peuple qui a rejeté le traité de lisbonne par le réfé-

rendum de 2005, provoquant une profonde crise au sein de la

communauté Européenne. Soit,

l’environnement économique est en amélioration en mai

2007, mais le taux de chômage reste préoccupant à 8,4%.

Face à cet héritage, Sarkozy va se lancer à fonds dans les

réformes, avec une implication personnelle, une énergie dé-

bordante, un courage peu courant que l’on ne peut qu’admirer,

il va au charbon celui-là, se lançant dans tous les combats et

de plus, il est prêt à être tenu responsable des résultats, ah,

on aime ça, finalement, un homme politique assez courageux

pour admettre qu’il doit être jugé par ses résultats.

il est moderne, il maîtrise la communication avec l’opinion

publique, il est dans tous les médias, sait les utiliser avec talent

pour que ce soit lui qui fasse l’actualité, il mène les réformes

habilement, comme l’on attendait.

Globalement, il tient plutôt bien ses promesses, même s’il y a

quelques bavures (justice, médecins, écoles primaires), il réus-

sit à faire passer des réformes là où d’autres gouvernements

s’étaient cassés les dents: la réforme des régimes spéciaux de

retraite, la réforme des universités pour les rendre plus auto-

nomes, sans oublier le grand emprunt, le droit de contestation

des lois donné à chaque citoyen, les allègements fiscaux, il

règle plutôt bien les problèmes de l’Europe, l’acceptation du

traité de lisbonne, la gestion de la crise de l’Euro, et il réussit

à faire dépasser l’anti-américanisme pavlovien des régimes

précédents. Et puis, bien sûr, la bataille, la réforme des re-

traites, où il réussit à tenir tête aux grandes manifestations de

2010, pour faire passer l’âge légal de retraite à 62 ans.

mais en parallèle, sa cote de popularité chute dramatique-

ment, pour qu’aujourd’hui presque 7 Français sur 10 aient une

pas très bonne opinion de lui. comment est-ce possible? le

système a-t-il arrêté de fonctionner?

les causes sont multiples.

D’abord, il y a le problème du style. Soit, il est moderne, à la

mode, époux de la superbe carla, à l’aise à côté du couple

présidentiel américain, mais il en fait trop, au risque d’être ➤

Sarkozy

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9março/abril 2011 - Diplomática •

Foto

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icard

o o

liveira

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10 • Diplomática - março/abril 2011

➤ voga, marido da bela carla, à vontade ao lado do casal

presidencial americano, mas ele esforça-se demais, ao pon-

to de ser apercebido como menos polido, “in the face”, bling

bling. Essa modernidade, em estilo americano, desagrada,

não correspondendo à imagem que os franceses concebem

da ideia de presidente.

alguns quiseram-lhe atribuir a polarização do país. É verda-

de que a França é um país com fortes clivagens ideológicas,

mas nas escolhas políticas acentua esse fenómeno, re-

enforçando-o mais do que o contrário.

outros, querem-no como aquele que se mostrou inflexí-

vel perante a contestação massiva de 2010 – de facto ele

manteve-se firme em estilo tachteriano – mas a França não

é a inglaterra, e certos, mesmo reconhecendo a necessida-

de de reforma, consideram que esses métodos poderiam

abafar os princípios sagrados da democracia francesa.

Não é necessário, em democracia, homens e mulheres de

Estado que saibam dizer não, que estão prontos a ignorar

as sondagens anteriores, que saibam impor a pílula amarga

de uma escolha impopular? até onde é necessário escutar

a vontade do povo, mesmo aquele que vai à rua se manifes-

tar? Nas democracias ocidentais não são os únicos, neste

Janeiro de 2011, a debater essa questão fundamental.

Qual é a parte dos problemas da França, de do seu presi-

dente, que pouco tenha a ver com a sua pessoa, mas que é

antes devida à crise financeira mundial? Não é apenas em

França que o número do desemprego se tornou no baró-

metro primordial para o julgamento que o povo faz aos seus

dirigentes, e desgraçadamente, para o seu presidente a

crise mundial parou brutalmente a baixa de desemprego em

França e fê-la atingir alturas que se tornaram politicamente

catastróficas.

É da responsabilidade de Nicolas Sarkozy? Seguramente

que não. talvez todo o homem de Estado teria soçobrado

face à crise financeira mundial. mas não é da sua responsa-

bilidade nos permitir uma saída?

Que esperar de um homem de Estado? Esperar que nos

inspire, que nos leve, que nos faça ultrapassar os nossos

limites, fraquezas e avançar para um objectivo mais nobre

que o vulgar.

No momento da sua eleição, alguns, mesmo muitos, espe-

raram que esse filho de imigrantes húngaros pudesse ser

o catalisador de um re-nascimento da França, prometendo

projectar esse grande país no séc. XXi com um sentido

positivo.

Sabemos que é demasiado cedo para julgar, mas hoje, face

à situação difícil que herdou, é difícil evitar a dúvida de se

estará à altura das ambições que ele mesmo. n

➤ perçu comme légèrement moins poli, “in the face”, bling

bling, cette modernité là, à l’américaine, agace certains, elle ne

correspond pas à l’image que les Français aiment avoir d’un

président ideal.

certains lui en veulent de contribuer à la polarisation du pays

- certes, la France est un pays en proie à de forts clivages

idéologiques, mais dans ses choix politiques, il a accentué ce

phénomène, renforçant les écarts plutôt que l’inverse.

D’autres, beaucoup d’autres, lui en veulent surtout de s’être

montré inflexible face à la contestation massive de 2010 -

effectivement, il a tenu ferme, à la thatcher - mais la France,

ce n’est pas l’angleterre, et certains - tout en reconnaissant

la nécessité de la réforme - considèrent que ses méthodes

peuvent, peut-être, bafoué les principes sacrés de la démocra-

tie française.

Ne faut-il pas, en démocratie, des hommes et femmes d’état

qui savent dire non, sont prêts à ignorer les derniers sonda-

ges, savent imposer la pilule amère d’un choix impopulaire?

Jusqu’à où faut-il écouter la volonté du peuple, même celui qui

va dans la rue pour l’exprimer? Nos démocraties occidentales

ne sont pas les seuls, en ce janvier 2011, à débattre de cette

question fondamentale.

Quelle est la part des problèmes de la France, et de son

président, qui a peu à voir avec sa personne, mais qui est

due à la crise financière mondiale? ce n’est pas qu’en France

que le chiffre du chômage est devenu le baromètre primordial

du jugement qu’un peuple porte à l’égard de ses dirigeants,

et malheureusement pour ce président, la crise mondiale a

arrêté brutalement la baisse du chômage en France, et le

fait repartir vers des hauteurs qui redeviennent politiquement

catastrophique.

Est-ce la responsabilité de Nicolas Sarkozy? Surement pas.

peut-être que tout homme d’état aurait échoué face à la tem-

pête presque sans précédent de la crise financière mondiale.

mais n’est-ce pas de sa responsabilité de nous permettre de

nous en sortir?

Qu’attendons-nous d’un homme d’état? De nous inspirer,

de nous mener, de nous permettre de dépasser nos limites,

nos faiblesses, d’avancer vers un objectif plus noble que

l’ordinaire.

au moment de son élection, certains, même beaucoup, ont

espéré que ce fils d’immigrés hongrois pouvait être catalyseur

d’un renouveau de la France, permettant de projeter ce grand

pays dans le XXième siècle avec un élan positif.

Nous savons bien qu’il est trop tôt pour porter jugement, mais

à ce jour, face à la situation difficile qu’il a héritée, il est difficile

d’éviter un certain doute qu’il ne soit à la hauteur des ambitions

qu’il a lui-même fixées. n

* patrick Siegler-lathrop obteve graduações em princeton, no institut d’Etudes politiques de paris e em Harvard e deu início à sua carreira como banqueiro na área dos investimentos em Wall Street, Nova iorque. o seu trabalho teve como foco central projectos internacionais ao nível dos países em desenvolvimento, tendo depois vindo a ocupar, em paris, a posição de co-director na área dos investimentos num banco árabe-internacional. De seguida dedicou-se à indústria em França e mais tarde aceitou os cargos de professor na Universidade de paris, Dauphine, e no iNSEaD, onde leccionou emprendedorismo de negócios. Juntamente com Françoise Giroud, Jacques attali, bernard-Henri levy e outros nomes bem conhecidos, foi um dos membros fundadores da oNG internacional acção contra a Fome, organização essa a que deu o seu apoio durante mais de trinta anos. actualmente reside em portugal e trabalha como consultor internacional.

Sarkozy

Page 11: Diplomática n.º9
Page 12: Diplomática n.º9

12 • Diplomática - março/abril 2011

Quais as suas primeiras impres-

sões sobre Portugal?

portugal é um país que conheço des-

de 1966. Vim cá várias vezes e tive a

oportunidade de constatar as várias

mudanças que o país sofreu. acom-

panhei a integração de portugal na

União Europeia. É um país paradoxal

que, por um lado, tem uma identida-

de e sentimento de si muito fortes,

mais fortes do que em muitos outros

países; e, por outro, esse sentimento

é a combinação de uma vontade de

abertura ao mundo e uma capacida-

de de deixar o seu país para desco-

brir o mundo e emigrar para terras

estrangeiras. acho muito interessante

essa combinação que ➤

Pascal Teixeira da Silva - Embaixador de França em Portugal por maria da luz de bragança, fotos orlando Sousa

«A globalização tem sido um fenómeno que transformou o mundo»

Casado e pai de dois filhos, o Embaixador diz-se encantado com Portugal. Luso-descendente, é para

si um privilégio e uma satisfação pessoal estar no país de seu pai

O Embaixador Pascal Teixeira da Silva é um homem apaixonado pela vida, pelas culturas do mundo,

pela arte. Melómano, pratica um especial gosto pelo cravo. Tem uma especial sintonia com o espírito

do tempo, tendo estado - por sorte ou infortúnio - perto dos grandes marcos da História recente: em

Berlim, por altura da queda do muro; em Moscovo, aquando do desmembramento da URSS; nos EUA,

no momento da queda das Twin Towers - a que assistiu com os seus próprios olhos.

Diplomacia na 1ª pessoa

Page 13: Diplomática n.º9

13março/abril 2011 - Diplomática •

➤ representa uma vantagem no

mundo globalizado, porque estamos

a viver um tempo de mudanças e

transformações que põem en causa

todas as nossas referências. É bom

manter estas características fortes.

o ocidente – a Europa e a américa

do Norte – tem sido a maior potência

nos últimos cinco séculos. Deu ao

mundo actual a ciência e a tecno-

logia modernas, altos quadros dos

sectores intelectual, político e econó-

mico. mas muitos países do resto do

mundo têm vindo a aprender muito

e agora estão aptos para ultrapassar

e fazer melhor do que os europeus.

a china, que tem a civilização mais

antiga da História, volta agora a

ocupar um lugar de poder na econo-

mia mundial que corresponde ao que

ela era no passado. isto quer dizer

que o ocidente está em concorrência

com outras potências e tem que se

adaptar.

o problema que temos é que a

prosperidade e a riqueza que conse-

guimos acumular, em especial a partir

da Segunda Grande Guerra mundial,

permitiram a criação do Estado social

– que não existe em mais nenhuma

região do mundo a este nível – mas

que tem um grande custo. o financia-

mento e a manutenção deste Estado

social pode ultrapassar os nossos

recursos, por isso temos que adaptar

o nosso pensamento e os nossos

procedimentos para manter este

nível de protecção social. o enve-

lhecimento da sociedade é um factor

que contribuiu muito para aumentar a

carga do Estado social.

Em França, quando foi institucio-

nalizado o sistema de segurança

social, logo a após a Segunda Guerra

mundial, a relação entre activos e

não-activos era de 4 para 1, a idade

de reforma era aos 65 e a esperança

média de vida a partir da idade de re-

forma era de dois anos. Hoje em dia,

a proporção de activos e não-activos

é de dois para um e a esperança de

vida para as mulheres é de 85 anos e

para os homens de 80. isto quer dizer

que este sistema de protecção social

já não é sustentável, sendo por isso

necessário fazer reformas no finan-

ciamento e alterar a idade da refor-

ma para mais tarde. portugal, com

grande coragem, já o fez e a França

terá que fazê-lo também, assim como

todos os países europeus. isto não é

fácil porque se tem que trabalhar até

mais tarde, mas é indispensável para

manter o sistema de protecção social.

todos os países europeus terão que

atravessar este período difícil de

adaptação, juntando os seus esfor-

ços, pois muitos países europeus não

têm dimensão para competir com as

grandes potências do século XXi. a

integração europeia é indispensável

para contrabalançar o peso demográ-

fico e económico da china, da Índia,

dos Estados-Unidos. o conjunto dos

27 países da U.E. tem cerca de 500

mil milhões de habitantes, sendo o

primeiro exportador mundial. assim,

se a U.E. mostrar vontade, pode

tornar-se mais forte nas negociações

internacionais, por exemplo, nas

comerciais.

o que está a acontecer agora é uma

mudança de percepção do mundo

em que vivemos no que diz respeito

às relações económicas. a U.E tem

sido a zona económica mais aberta

e os outros países aproveitaram-se

disso mas não deram reciprocidade.

por exemplo, é muito difícil às nossas

empresas europeias entrarem e ter

acesso aos concursos públicos de

outros países enquanto esses países

têm acesso aos nossos; isto tem que

mudar.

Falou-nos, há pouco, de alguns as-

pectos da necessidade de coesão

europeia, mas também da questão

do aspecto demográfico do esta-

do social. No caso da França, da

Alemanha, Inglaterra que são al-

guns dos países mais apetecíveis

em termos de emigração surge

agora uma preocupação demo-

gráfica, sobretudo em relação às

comunidades islâmicas. Estas já

representam uma percentagem

de população muito elevada, pois

têm um índice de reprodução de 5

a 6 filhos por casal, enquanto na

Europa esse índice é inferior a um.

Isto não irá desequilibrar o estado

social?

Não concordo com esses dados. a

taxa de fecundidade em França é

de 2 filhos por mulher. a taxa é um

pouco mais alta nas mulheres es-

trangeiras. mas, a partir da segunda

geração, não há grandes diferenças

de comportamento no que respeita à

fecundidade. Esta transição demográ-

fica ocorre também em quase todos

os países muçulmanos. Em muitos

países árabes ou muçulmanos a taxa

de fecundidade diminuiu bastante

durante os últimos 30 anos. Não há,

em França, uma diferença tão grande

entre pessoas de origem estrangeira

e as de ascendência francesa.

Eu diria mais particularmente os

muçulmanos, porque são o alvo

preferencial da filha do Le Pen, da

extrema-direita, que acolhe sim-

patias de cerca de 40 por cento do

eleitorado de Sarkozy. É um núme-

ro preocupante. Não lhe parece?

É preciso olhar para trás para com-

preender a situação. Historicamente,

a França tem sido um país de imi-

gração enquanto os outros países da

U.E têm sido países de emigração.

os franceses estavam ricos, con-

fortáveis e felizes e, por isso, pouco

emigraram. mas acolheram muitas

vagas de imigrantes. Eu sou um dos

milhões de exemplos desta tradição.

a minha família é de portugal, o meu

pai nasceu em portugal, fazendo par-

te das centenas de milhares de portu-

gueses – principalmente do Norte do

país – que foram para França.

Não foi muito fácil lidar com essas

vagas de emigração. Houve reacções

de rejeição e, sempre que há ➤

Page 14: Diplomática n.º9

14 • Diplomática - março/abril 2011

➤ dificuldades económicas, os pri-

meiros alvos são os imigrantes. isso

aconteceu algumas vezes durante

o século XX, com os polacos ou os

italianos, por exemplo, durante a crise

de 1929.

os problemas que temos agora são o

resultado de um conjunto de três fac-

tores: primeiro, a questão da propor-

ção e do patamar. Não é uma ques-

tão de racismo nem de xenofobia, é

uma questão da capacidade de cada

sociedade integrar elementos alheios.

É mais fácil integrar 5 por cento do

que 30 por cento. os problemas que

temos devem-se à concentração de

população de origem estrangeira,

sobretudo nos subúrbios. o nível

é demasiado alto e faz com que a

integração seja mais difícil. Quando

o meu pai e os meus avós chegaram

a França, foram para uma aldeia no

centro oeste. Esta família numerosa

era a única família estrangeira, o que

fez com que a integração desta pe-

quena família portuguesa tenha sido

bastante fácil. mas hoje, há escolas

nos subúrbios de paris em que 80 por

cento dos alunos são de origens es-

trangeiras, provenientes de diferentes

nacionalidades. É muito difícil manter

a capacidade do sistema escolar

para continuar a desempenhar o seu

papel de formação e integração em

tais condições; segundo, as condi-

ções económicas. Desde há trinta

anos, a situação, no que diz respeito

ao emprego, tem-se tornado menos

favorável. a taxa de desemprego é

sempre maior para os imigrantes do

que para o resto da população. isto

é um factor negativo que complica a

integração porque é fácil para os ex-

tremistas dizerem que os imigrantes

“roubam” o trabalho, já de si escasso,

aos nacionais; o terceiro factor é a

questão das diferenças culturais. É

mais fácil os imigrantes integrarem-se

na sociedade francesa quando vêm

de países de língua romana, de tradi-

ção católica, do que quando vêm de

outras culturas como de áfrica ou da

ásia. Não digo que é impossível – fe-

lizmente isso acaba por acontecer –,

mas é mais difícil, sobretudo quando

combinado com outros factores que

já mencionei. Há um maior esforço de

integração que demora mais tempo

porque é mais complicado integrar

pessoas cuja cultura, valores e refe-

rências são muito diferentes.

o conjunto destes três factores faz

com que seja mais difícil e que tenha-

mos problemas.para resolver. mas

“uma árvore não faz uma floresta”, ou

seja, temos problemas mas a grande

maioria dessas pessoas de origem

muçulmana ou africana quer integrar-

se e consegue encontrar o seu lugar

na sociedade. É muito importante

apostar nas mulheres porque a edu-

cação na mulher é o vector essencial

da integração. Estas mulheres prefe-

rem viver numa sociedade moderna

e secular, como a francesa, do que

viver em países com tradições pa-

triarcais e machistas. Esta evolução

graças às mulheres também ocorre

nos paises muçulmanos. É a minoria

que atrai a atenção e que aparece

nas primeiras páginas dos jornais e

que quer afirmar a sua identidade

através da exibição de sinais reli-

giosos como o véu, é uma pequena

minoria e assim permanecerá.

a questão do véu chamou a atenção

dos países estrangeiros e dos media

internacionais porque é ilustrativo da

diferença do modelo social e cultural

francês, que é o modelo de integra-

ção e que até hoje tem funcionado,

apesar das dificuldades que já referi.

Há um grande consenso em França

sobre esta questão e as sondagens

têm mostrado que os jovens têm uma

visão muito secular, integracionista e

acolhedora. todos são capazes de

se integrar, trazendo as suas especi-

ficidades e riquezas culturais, para a

sociedade francesa, mas esta deve

manter-se uma sociedade secular

assente num conjunto de valores

fundamentais que todos partilham.

A minha dúvida é – e levantando

um pouco o véu – se em termos

objectivos e meramente realistas,

a grande concentração de emi-

grantes africanos subsaarianos e

magrebinos não cria um caldo para

a extrema-direita, que é particu-

larmente xenófoba, que está a

ameaçar a democracia em França.

Se essa extrema-direita consegue

eleger um presidente; se a filha do

Lepen, que tem um discurso muito

mellow, mas duro, e está a seduzir

os franceses, se ela consegue ser

eleita no sistema francês que tem

uma forte componente presiden-

cial, não corre o risco de alterar o

regime?

a existência de partidos políticos de

extrema-direita com discurso nacio-

nalista e de pouca abertura não é

uma especificidade francesa. É um

fenómeno que existe noutros países

europeus, salvo em portugal. mas

é fácil perceber a causa: estamos a

atravessar um período muito difícil de

adaptação à mudança do mundo. a

globalização é sinónimo de movimen-

tos permanentes, incluindo humanos.

Há uma ansiedade que cresce em

relação ao que é a nossa identidade.

o que é um paradoxo, porque foi

o ocidente que desencadeou este

processo de globalização, com uma

aceleração de mudanças, e que

coloca em questão todas as certezas

e posições estabelecidas. para os

nossos concidadãos é uma grande

angústia. a vantagem do discurso

nacionalista, identitário e xenófobo,

é exactamente a de dar respostas

simples e explicações básicas à

ansiedade criada pela globalização. E

isso acontece em quase todos os pa-

íses europeus. mas em nenhum país

europeu esta tendência ideológica de

pequenas formações políticas conse-

guiu ganhar o poder. Às vezes podem

fazer parte de uma coligação, outras

vezes podem perturbar o jogo político

Pascal Teixeira da Silva

Page 15: Diplomática n.º9

15março/abril 2011 - Diplomática •

clássico, mas penso que nenhum

desses partidos irá ganhar as elei-

ções e liderar um país. o que acon-

teceu em França em 2002, quando

o senhor le pen passou à segunda

volta da eleição presidencial, não foi

porque tenha aumentado o número

de eleitores – o Front National já tinha

atingido este patamar – mas porque

os votos da Esquerda ficaram espa-

lhados por muitos candidatos.

Esta política vai continuar a atrair

votos e a obter a simpatia dos elei-

tores que estão confrontados com

duas questões: a da identidade e a

do futuro das nossas sociedades face

à globalização. a globalização coloca

em causa as certezas, o conforto e

a riqueza relativa que temos tido. os

Europeus já não têm a certeza se o

futuro dos seus filhos será melhor do

que o seu.

É difícil perceber a sua complexidade

e ainda mais difícil qual o seu rumo.

Há quem consiga dar explicações

e respostas simples. Daí que exista

uma responsabilidade muito grande

dos políticos, em especial, em tempos

de grande transformação e de grande

incerteza. porque ninguém pode an-

tecipar e anunciar com certeza o que

vai acontecer. Estamos há 30 anos

a viver surpresas e acontecimentos

de grande alcance. começou com a

queda do muro, o desmembramento

da União Soviética, etc.

Recordo-me, sobre esse assun-

to, de dois grandes pensadores

franceses: o Jean-Jacques Servan-

Schreiber, autor do «Le Défi Ame-

ricain» - que já vai longe, uma vez

que já estamos muito para além do

desafio americano que ele anteci-

pou; e o Alain Peyrefitte com o seu

«Quando a China despertar» e a

China já despertou. Onde vai parar

este despertar chinês que tem uma

mistura de aproveitamento de tudo

o que há no capitalismo, mas com

uma dureza de quem não tem a

ingenuidade dos soviéticos que

abriram o regime, ao contrário dos

chineses?

isso é uma das numerosas mudan-

ças que estamos a viver. até ao início

dos anos 90, o mundo era simples.

tivémos os países de economia de

mercado: as democracias do ociden-

te e mais os países assimilados. os

países comunistas, como a União

Soviética que era um concorrente

estratégico, uma ameaça militar, mas

que nunca representou uma ameaça

económica. No que diz respeito à

china, as suas políticas económicas

eram deficientes com a política de

mao Zedong e estava num estado

de pobreza. E havia o terceiro mun-

do, quer dizer os países pobres em

desenvolvimento. Era uma espécie

de tripartição…

Neste momento, estas categorias já

não existem. temos uma economia

de mercado em quase todo o mundo,

com poucos países a resistirem-lhe,

como são os casos da coreia do

Norte ou cuba. mas também países

em que a economia de mercado não

funciona, porque há distorções por

causa da corrupção e da intervenção

de uma elite predatória – como em

vários paises de áfrica – que controla

o país e perturba o bom funciona-

mento de uma economia. mas há

muitos exemplos de evoluções no

bom sentido.

temos, neste momento, numerosas

combinações. a china é a combina-

ção de uma espécie de capitalismo

muito brutal para os trabalhadores

mas que consegue aumentar o nível

de vida e criar uma classe média,

e um monopólio do poder entre as

mãos do partido comunista, mas que

consegue formar e manter uma elite

tecnocrática bem sucedida. Quando

se vê como a china em trinta anos

mudou completamente e conseguiu

tornar-se, hoje, na segunda potência,

isso é a demonstração de que os

quadros dirigentes são muito efica-

zes.

E, neste quadro, qual o papel da

globalização?

com a globalização dá-se uma unifi-

cação e a base de referência passa

a ser os Estados Unidos: fala-se o

«globish», que é o inglês interna-

cional muito básico; a cultura fica

também americanizada/globalizada,

mas apenas com uma aparência de

globalização pelo consumo massifica-

do. mas, ao mesmo tempo, existe o

desejo de se diferenciar e de preser-

var e encontrar uma identidade pró-

pria. Não é por acaso que durante os

últimos trinta anos, em que a globali-

zação se tem alastrado, muitos povos

quiseram afirmar a sua identidade

e diferença no plano político. isso

conduziu a uma fragmentação de

Estados compósitos, como os casos

da Jugoslávia e da checoslováquia.

Em muitos países há uma afirmação

infra-nacional, infra-estadual. o que

acontece em países conturbados

pela globalização – que não é só um

fenómeno económico mas também

cultural – é uma reacção paradoxa.

repare como nos países árabes há

uma juventude que usa jeans e gosta

das técnicas modernas de comunica-

ção, mas que ao mesmo tempo tem

uma re-islamização do comportamen-

to. a prática do ramadão e do véu

é mais forte do que há trinta anos –

mas isso não quer dizer que a verten-

te política, o islamismo, esteja mais

forte face à globalização, os povos

reagem e querem afirmar uma coisa

própria que pode ser um grupo étnico

ou uma religião. Uma das causas da

afirmação do islão nas populações

de origem muçulmana, em França,

é exactamente essa: é uma questão

de «quem sou eu?». mas tal também

acontece com o progresso dos movi-

mentos evangélicos sobre as igrejas

cristãs tradicionais. a difusão destas

novas crenças utiliza os meios da glo-

balização. É um processo interessan-

te: o uso da globalização técnica para

reagir contra a globalização cultural. ➤

Page 16: Diplomática n.º9

16 • Diplomática - março/abril 2011

➤ Este revival religioso, quer no cris-

tianismo quer no islão, é sempre uma

escolha pessoal. Não é o prolonga-

mento da tradição da família, mas sim

uma escolha pessoal. Um jovem que

tenha cortado os laços com as tradi-

ções culturais do seu país, como o

islão tradicional ou o catolicismo, mas

quer um sentido na sua vida e quer

uma identidade, pode vir a pertencer

a um movimento que não é nacional

mas que é transnacional, como, por

exemplo, os movimentos evangélicos

ou tabligh.

a língua é um dos elementos impor-

tantes neste jogo complicado entre

a globalização e a identidade. No

que diz respeito à língua enfoco dois

níveis. Há um nível que é o da globa-

lização e comunicação mundial que é

o «globish», que não tem a ver com a

língua de Shakespear, é uma “língua

franca”. No séc. XVi e XVii havia uma

“língua franca” falada pelos marinhei-

ros do mediterrâneo que era uma

mistura de italiano, Espanhol, Fran-

cês, português e árabe e era usada

para a comunicação básica, comer-

cial, na zona mediterrânica.

Um outro nível, que é o das línguas

das comunidades mais próximas,

por exemplo, o desenvolvimento da

prática da aprendizagem das línguas

regionais. Nas caraíbas o crioulo é

cada vez mais valorizado em detri-

mento do Francês. a língua mais

formal do Estado-nação e que, neste

caso, é uma língua de importação,

fica esmagada entre o «globish» e a

língua das comunidades. Na Jugos-

lávia, por exemplo, havia o serbo-

croata que desapareceu e, depois da

implosão do país, surgiram o servo, o

croata e o bosniak.

Voltando um pouco atrás, devo

dizer que achei linda essa ideia da

língua franca outrora falada que

unia o Mediterrâneo. O que me faz

lembrar o projecto ambicioso do

Presidente Sarkozy de uma união

mediterrânea.

Esse é, de facto, um projecto muito

ambicioso embora muito difícil, mas

é um projecto essencial a realizar

a longo prazo. porque no mundo

do século XXi vai haver pólos de

potência económica e política. mas

o tamanho destes pólos deve ser

medido em 500 milhões. porque

menos de que isso não é suficiente.

a União Europeia pesa cerca de 500

milhões; a china, 1,3 mil milhões; a

Índia, 1,1 mil milhões; os E.U.a com

o canadá só 350 milhões, mas com

um poder económico que compensa.

a Europa tem que criar relações de

cooperação e solidariedade com a

vizinhança, que é a rússia e o sul

do mediterrâneo. para terem uma

influência no jogo mundial, é preciso

vincular a Europa àqueles mundos

no Sul e no Este. o segundo aspec-

to, diz respeito aos países do Sul do

mediterrâneo. o futuro destes países

vai ter consequências imediatas para

nós. Se conseguirem, tudo bem, se

fracassarem será um desastre para

eles e para nós também, e é por isso

que é preciso ajudá-los e criar laços

de solidariedade e desenvolvimento.

a ideia básica da união mediterrânea

era ultrapassar as barreiras políticas,

em especial no que diz respeito ao

conflito entre israel e os países ára-

bes, para trabalharem em conjunto

sobre projectos importantes no de-

senvolvimento económico, na criação

de empregos, nas infraestructuras, na

protecção do ambiente, etc. É difícil

porque, apesar disso, os problemas

políticos contaminam e complicam

muito a capacidade deste Upm.

Em relação ao que aconteceu

na Tunísia – e está a acontecer

um pouco por todo o Magreb -, a

França segue com interesse essa

mudança de regime para que não

haja, na região, focos de instabili-

dade?

Nós estamos numa posição muito

pouco confortável. Qualquer que seja

a posição ou discurso francês, haverá

sempre alguém que não concorde

e não fique contente com isso. o

passado pode ser instrumentalizado,

por actores políticos, para pressionar

ou adulterar.

O que vai acontecer nestes países

do Magrebe é muito importante

para todos os países europeus.

Podemos constatar isso com o

terrorismo da Al Qaeda no Ma-

grebe islâmico. Foram raptados e

detidos, como reféns, não só fran-

ceses, mas também cidadãos da

Alemanha, da Áustria, da Suíça, da

Grã-Bretanha, da Espanha, da Itá-

lia… Ou seja, europeus ocidentais

que são considerados inimigos.

Isto também pode acontecer aos

portugueses se forem imprudentes

a fazer turismo nessas zonas pou-

co controladas, porque a nacionali-

dade não importa, este movimento

terrorista vê o mundo através do

choque de civilizações.

a globalização tem sido um fenóme-

no incrível que transformou o mun-

do; é uma dinâmica e um processo

perpétuo. Face a essa dinâmica que

transforma e põe em causa todas

as situações materiais e imateriais

temos diferentes tipos de reacções:

primeiro, a utilização das armas que

o ocidente criou... Esta foi a resposta

dos chineses que escolheram acabar

com mais de um século de humilha-

ção e de opressão e de uma relação

desigual com o ocidente, que come-

çou em 1840 com a guerra do ópio.

agora os chineses vão voltar a ter

um lugar na cena internacional, mas

utilizando as armas da globalização:

a tecnologia, a indústria, o comércio,

o dinheiro, a informação; o segundo

tipo de resposta desenvolve-se ao

nível cultural. Sob a forma da afirma-

ção da sua diferença. Eu acho que a

re-islamização no mundo muçulmano

é um efeito disto. Não vão combater

a globalização ocidental no terreno

económico, mas vão tentar combatê-

la no plano cultural e religioso; e, ➤

Pascal Teixeira da Silva

Page 17: Diplomática n.º9

17março/abril 2011 - Diplomática •

➤ finalmente, há uma pequeníssima

minoria que quer travar a batalha

contra a globalização ocidental e

os seus valores com uma violência

extrema, que são os terroristas. Esta

resposta provoca o impasse. Só vai

criar terror e insegurança, vai impedir

o livre acesso a territórios, mas não

vai mudar o rumo do mundo. aqui

trata-se dos elementos mais patológi-

cos de algumas sociedades. mas re-

pare que estes movimentos violentos

estão completamente disconectados

dos movimentos de massa no mundo

muçulmano, como vemos hoje na

tunísia e no Egipto...

A razão pela qual indivíduos

– quer no Ocidente, quer em

países muçulmanos – derivam

para a violência extrema tem a

ver com problemas de identida-

de e de mal-estar. Para resolver

isso, ocorre uma combinação de

processos: uma simplificação/

compreensão do mundo a branco

e preto, que se resume a uma luta

entre muçulmanos e o Ocidente

que, desde muitos séculos, os

têm oprimido e humilhado; a con-

vicção de que a única maneira de

restaurar a posição da “ummah”

islâmica é a de usar a violência

contra o Ocidente; o desejo de

participar neste combate para dar

um sentido à sua vida e vincular

assim a sua situação pessoal a

nível colectivo…

É verdade que a globalização gera

problemas que não existiam há trinta

anos. Hoje em dia, qualquer coisa

que se passa em qualquer lugar do

mundo é imediatamente vista pelo

mundo inteiro, como aconteceu com

as caricaturas de mohamed na Dina-

marca. o problema deste imediatismo

é que já não há a distância e o tempo

que outrora existiam e serviam de

peneira entre os povos e as mentali-

dades que não são tão semelhantes.

a blasfémia no paquistão é um crime

castigado pela lei, o que não é o caso

na Europa desde o século XViii - o

que alimenta o ressentimento.

Como contribuir para atenuar esse

tipo de tensões?

Um exemplo é a iniciativa que foi to-

mada pela França, há alguns anos, ➤

«[Portugal] é um país paradoxal que, por um lado, tem uma

identidade e sentimento de si muito fortes, mais fortes do

que em muitos outros países; e, por outro, esse sentimen-

to é a combinação de uma vontade de abertura ao mundo»

Page 18: Diplomática n.º9

18 • Diplomática - março/abril 2011

➤ de negociação no quadro da UNES-

co sobre a diversidade cultural. Esta

foi uma negociação muito difícil. a

ideia básica era: a cultura não é um

bem como os carros ou os vestidos.

os bens culturais não são bens ba-

nais, são vectores de representações,

de crenças, de visões, de esperan-

ças. São produtos intelectuais que

não podem ser comprados, nem

comparados com outros bens mate-

riais. E, por isso, devem ser aceites

regras específicas para a protecção

da diversidade cultural e não uma

globalização/uniformização/mercado-

rização da cultura.

Não queremos, por exemplo, que a

única oferta cinematográfica seja a

produção de Hollywood. temos de

ter mais diversidade na oferta cultural

e regimes especiais para preservar

a capacidade de criação. a produ-

ção cultural não pode obedecer a

uma mera lei de mercado. aqui, em

portugal, 95 por cento dos filmes

exibidos nas salas de cinema são

americanos. até o cinema português

não consegue ser exibido na rede

comercial em portugal. É por isso

que o ex-presidente Jacques chirac,

lançou a negociação duma conven-

ção na UNESco sobre a diversidade

cultural, para dar uma base jurídica

internacionalmente reconhecida,

enquadrando a produção e o comér-

cio de bens culturais. tivémos muitos

problemas com os americanos que

não concordavam, mas finalmente a

convenção foi adoptada e agora é só

pô-la em prática.

Há algum aspecto das relações

entre Portugal e França que ache

fundamental para desenvolver a

curto e a médio prazo?

Há vários. a áfrica é um, porque a

França e portugal são países que

têm dela uma experiência e um

conhecimento especial e há poucos

países que partilham este conheci-

mento. Durante épocas, os países

europeus que tiveram colónias cui-

davam só das antigas colónias e não

davam importância ao resto de áfrica.

mas isto já não é possível, porque os

problemas de segurança se colocam

ao nível regional e não é possível

prestar atenção e, por exemplo, tratar

da Guiné-bissau, sem saber o que se

passa nos países vizinhos. igualmen-

te, não foi possível ignorar os paises

vizinhos da Serra leoa ou do libéria,

durante a guerra civil, porque havia

muitas interacções (solidariedades

étnicas, movimentos de refugiados,

tráficos de armas e diamantes, etc.).

isto quer dizer que não é possível a

qualquer país europeu que tenha tido

colónias na áfrica manifestar um inte-

resse limitado pelas antigas posses-

sões. E por isso, França e portugal

têm de trabalhar em conjunto para

ajudar a encontrar soluções e coope-

rar. Exemplo disso é a Guiné-bissau,

pois sendo um país com grandes

dificuldades, é uma rota do narcotráfi-

co, que vem da américa do sul o que

representa um problema de seguran-

ça para portugal, França e Espanha.

temos de unir os nossos esforços e

coordenar as nossas políticas para

nos protegermos deste problema ou

tentar resolvê-lo.

também temos de sensibilizar os

nossos parceiros europeus para a

importância destes desafios e para

estes problemas de segurança nesta

região. E temos que mobilizar os

recursos da U.E para combater as

ameaças de segurança na região do

Saara e do Sael. portugal, França,

Grã-bretanha e bélgica têm uma

responsabilidade especial para tentar

empenhar os outros parceiros euro-

peus neste processo.

o segundo ponto a aplicar é a ques-

tão da diversidade cultural que já

referi. Face à globalização, temos in-

teresse em manter e reforçar o lugar

e o papel do francês e do português,

enquanto línguas de comunicação

internacional, nos novos media como

a internet, e nas instâncias interna-

cionais. Eu acho importante manter

e consolidar a oferta linguística nas

escolas, porque o perigo de que

os alunos aprendam só o inglês já

existe. os jovens precisam de falar,

além da língua própria e do inglês

para a comunicação internacional,

uma segunda, até uma terceira língua

estrangeira para que se abram a

outras culturas.

Devido aos contrangimentos orça-

mentais dos governos, o ensino de

uma segunda língua estrangeira

parece ser um luxo. Em portugal

a aprendizagem de uma segunda

língua não é obrigatória a partir do

décimo ano. Em França temos uma

situação um pouco melhor, pois a

segunda língua estrangeira é obri-

gatória até ao décimo segundo ano,

conforme uma recomendação da U.E

de 2002. a Europa é rica em línguas

e culturas. Não deveria haver jovens

europeus que não soubessem uma

segunda língua estrangeira porque

não só é uma mais-valia profissional

como também um enriquecimento

pessoal.

Como está o ensino do português

em França?

Está a desenvolver-se. temos de

mudar a imagem do ensino do portu-

guês no ensino secundário. o ensino

da língua portuguesa em França tem

estado ligado aos filhos dos imigran-

tes portugueses. os portugueses não

querem que eles percam a prática da

língua mãe, o que é légitimo. por isso

há aulas de português, mas são so-

bretudo aulas para as pessoas de ori-

gem portuguesa. É importante acabar

com esta imagem demasiado restrita

e abrir o ensino da língua portuguesa

porque é uma das grandes línguas

internacionais, falada em oito países,

inclusive numa das grandes potên-

cias do século XXi, o brasil. Este é

um trabalho que é preciso fazer entre

os franceses e os portugueses e o

brasil também deveria ter um papel

importante neste sentido. n

Pascal Teixeira da Silva

Page 19: Diplomática n.º9

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Page 20: Diplomática n.º9

20 • Diplomática - março/abril 2011

Ângelo Ramalho - CEO da Alstom Grid Portugal, Lda.«A liderança é essencial para incentivar a acção»

Licenciado em Engenharia Mecânica pela Universidade do Porto, de cujo Con-

selho Geral é membro há dois anos, Ângelo Ramalho preside, desde 2006, à

ALSTOM Portugal, S.A., de que é também CEO

Do seu curriculum ressalta a Energia, que marcou o início de carreira, na Shell

Portuguesa, e esteve sempre presente nas suas passagens, como CEO e Admi-

nistrador, pela Lusitâniagás, Portgás, GALP Power, Lisboa Gás, Setgás e LPG.

Inevitavelmente, foi de Energia que falámos… ➤

Gestores InternacIonaIs

Page 21: Diplomática n.º9

21março/abril 2011 - Diplomática •

➤ Descreva-me o percurso da

Alstom em Portugal

a alstom é hoje o resultado de

processos de compra e fusão, que

tiveram origem no nosso estabele-

cimento em portugal em 1948. Em

1988 dá-se a fusão da aSEa/bbc

para formar a abb. Dois anos mais

tarde, teve lugar a formação do

Grupo SENEtE (40% abb; 40%

maGUE; 20% ipE).

ainda mais tarde, em 1999, a

abb transfere o segmento power

Generation para a abb alstom

power. Em 2000 a alstom adquire

a abb alstom power. Em 2001

dá-se a integração das actividades

da alstom em portugal. Em 2006,

ocorre a alienação do t&D alstom

para a arEVa e a transferência do

segmento Hydro para a joint-ven-

ture alstom-bouygues, formando a

alstom Hydro. E, em Novembro de

2010, a arEVa t&D, lda alterou

a sua denominação social para

alstom Grid portugal, lda.

Qual a visão, missão e valores

do Grupo?

os nossos valores essenciais são

confiança, Espírito de Equipa e

acção.

confiança: a alstom, com as suas

actividades, diversas estruturas de

gestão, unidades, locais de pro-

dução e países onde desenvolve

a sua actividade é, por definição,

uma empresa complexa. a con-

fiança mútua entre os colegas e as

chefias é essencial para a gestão

adequada da nossa actividade e

para o controlo eficiente dos nos-

sos projectos.

Esta confiança assenta na res-

ponsabilidade que é atribuída a

cada trabalhador que tem a seu

cargo a tomada de decisões, na

delegação da autoridade atribuída

e naquilo que todos os trabalha-

dores acreditam ser importante no

seu contributo para o bem-estar

e o desenvolvimento do Grupo.

assenta também na abertura de

cada indivíduo ao seu ambiente

profissional, garantindo transpa-

rência, factor vital para a gestão

dos riscos.

Espírito de Equipa: a actividade da

alstom baseia-se na entrega de

projectos que exigem a nossa dis-

ciplina colectiva e o nosso esfor-

ço, no sentido de os realizar com

êxito, assim como numa rede que

permita assegurar que tiramos o

máximo partido das competências

disponíveis. Este espírito de equi-

pa, apoiado no desejo de desen-

volver cada trabalhador, alarga-se

à colaboração que prestamos aos

nossos parceiros e clientes.

acção: a alstom compromete-se,

perante os seus clientes, a forne-

cer produtos e a prestar serviços

capazes de satisfazer as suas

expectativas em termos de preço,

qualidade e prazos de entrega.

para satisfazer os nossos compro-

missos junto dos nossos clientes,

a acção é um factor prioritário para

todos nós.

a acção assenta no pensamen-

to estratégico, estabelecido ao

nível do Grupo e do sector, e é

sublinhada pelo nosso sentido de

orientação para o cliente, estando

integrada nas nossas actividades

diárias e em cada projecto nos-

so. a acção envolve a adopção

de um sentido de urgência nas

nossas actividades, velocidade

de execução para nos distinguir

da concorrência, e capacidade de

referenciação, assegurando assim

que são alcançados os nossos ob-

jectivos comerciais. a liderança é

essencial para incentivar a acção.

Em que áreas actua o Grupo?

a alstom concebe, produz, instala

e faz a manutenção de produtos e

sistemas no sector da produção de

energia e mercados de indústria

pesada. abrange todas as fontes

de energia e oferece as soluções

mais avançadas para centrais a

carvão e gás natural. a alstom

é também o fornecedor líder de

ilhas convencionais para centrais

nucleares e pioneira em soluções

de energias renováveis, através

da sua forte posição no mercado

hidroeléctrico e recente entrada no

mercado eólico.

potencia ainda o desenvolvimen-

to de tecnologias de gestão da

rede (Smart Grids). Na área do

transporte ferroviário, a alstom é

promotora de mobilidade susten-

tável. Fornece material circulante

(comboios), infra-estruturas de

transporte e sinalização e serviços

de manutenção ferroviária. Somos

líderes mundiais em alta Velocida-

de Ferroviária.

Quais são os negócios de maior

destaque da empresa no nosso

país?

No sector da energia, os mais re-

centes são o tratamento de efluen-

tes nas centrais termoeléctricas

do pego e de Sines. o projecto de

Sines ficará concluído no final de

2011. outro projecto significativo é

o reforço de potência do alqueva

(alqueva ii). Deixe-me reforçar o

nosso envolvimento no plano hi-

droeléctrico nacional, desde 1960.

a nossa tecnologia está presente

em cerca de 70% dos empreen-

dimentos hidroeléctricos do país.

as duas centrais termoeléctricas a

carvão, pego e Sines, foram tam-

bém construídas com a tecnologia

alstom. Na área do transporte

ferroviário, o nosso projecto mais

emblemático é o alfa pendular.

Desde 1950 que estamos envolvi-

dos nos projectos de electrificação

da linha do Norte e num passado

mais recente, década de 80, o ser-

viço alfa foi iniciado com comboios

corail, fornecidos pela alstom e ➤

Page 22: Diplomática n.º9

22 • Diplomática - março/abril 2011

Ângelo Ramalho

➤ montados pela Sorefame.

Talvez porque seja urgente

tomar medidas em relação aos

problemas ambientais que preo-

cupam o “planeta”, as empresas

estão a virar-se para a estratégia

ambiental. É também uma apos-

ta da Alstom?

É certamente, pelo afirmado

anteriormente. a alstom é líder

mundial em tecnologias de produ-

ção de energia a partir de fontes

renováveis, hidroeléctrica, marés

e, mais recentemente, também na

energia eólica. Somos igualmente

líderes mundiais em sistemas de

tratamento de emissões gasosas,

como são exemplos os projectos

que levámos a efeito nas centrais

termoeléctricas do país.

a tendência crescente da utiliza-

ção da energia eléctrica na mobili-

dade das pessoas (ferrovia e, num

futuro próximo, veículo eléctrico)

e a produção descentralizada de

energia, utilizando fontes renová-

veis, potenciam o desenvolvimento

de tecnologias de gestão da rede

(Smart Grids) que, por sua vez,

buscam a melhor eficiência dos

sistemas, projecto em que esta-

mos fortemente envolvidos.

Quer destacar mais algum ➤

«Uma organização como a Alstom está em per-

manente em evolução, do ponto de vista da sua

organização, processos e produtos. Nas áreas em

que somos líderes, queremos manter a liderança.

Quando não somos, queremos alcançá-la»

Page 23: Diplomática n.º9

23março/abril 2011 - Diplomática •

➤ projecto relevante em Portugal?

poderia destacar vários, mas no

presente contexto de desenvol-

vimento de projectos hídricos,

destaco o alqueva. lembro-me de

ser um projecto no qual poucos

acreditavam, pela sua magnitude à

época em que foi promovido. Hoje

o alqueva é o maior lago artificial

da Europa, com impacto fortemen-

te positivo na região e no país.

a sua central está equipada com

turbinas-bomba que permitem a

produção de energia e a acumula-

ção de energia (através da bomba-

gem da água, tecnologia em que a

alstom é líder). E os grandes com-

ponentes hidromecânicos foram

desenvolvidos por competências

residentes no país, que ainda hoje

mantemos. Esperamos ganhar no-

vos projectos relevantes do novo

plano de barragens em curso.

Em pleno cenário de crise, como

é que a empresa está a encarar

o futuro?

Diversificando para novas áreas

de negócio e aumentando a nos-

sa presença nos mercados ditos

emergentes. certamente que tam-

bém temos de gerar eficiências in-

ternas, adaptando-nos à realidade

dos nossos mercados de origem

e aos nossos mercados futuros.

como é natural em qualquer orga-

nização empresarial, de forma a

melhor responder às necessidades

dos nossos clientes, num ambiente

fortemente competitivo.

Quais as novidades que a Als-

tom prepara para oferecer?

Uma organização como a alstom

está em permanente em evolução,

do ponto de vista da sua organi-

zação, processos e produtos. Nas

áreas em que somos líderes, que-

remos manter a liderança. Quando

não somos, queremos alcançá-la.

a este propósito, destaco-lhe o

novo mercado da energia eólica

no mar (offshore), que será, a

prazo, visível - um segmento de

expressão significativa. Não só no

panorama da energia eólica, mas

também no mix global da produção

de energia.

A Alstom estabelece algum tipo

de parcerias com outras empre-

sas?

a alstom vive de relações de par-

ceria a montante dos seus proces-

sos, com fornecedores e a jusante

em relações de complementarida-

de de competências em projectos

dos nossos clientes. E portugal

não foge à regra. Há empresas

portuguesas que são nossas forne-

cedoras de componentes, subcon-

juntos, etc. E há empresas portu-

guesas que são nossas parceiras

nos projectos que executamos, em

portugal e fora do país.

Falemos sobre o resultado líqui-

do da empresa: quais as expec-

tativas para este ano?

Durante o 3.º trimestre de 2010/11,

a alstom obteve o seu melhor

nível de encomendas desde Julho

de 2009, 5,5 mil milhões euros.

Estes bons resultados comerciais

levam-nos a acreditar num novo

crescimento no quarto trimestre.

com encomendas superiores a 2,8

mil milhões e 1,6 mil milhões no

sector power e no sector trans-

port, respectivamente. o Grupo

atingiu, pela primeira vez, nos dois

últimos anos, um rácio “book-to-

bill” superior a 1.

A Alstom está representada em

todo o mundo. Quantos centros

de produção possui? E em Por-

tugal do que dispõe?

Em portugal, a fábrica de Setúbal,

na mitrena, produz equipamentos

de grande porte, construídos em

aço de liga especial. Nomeada-

mente, caldeiras de recuperação

para centrais de ciclo combinado

e grandes condensadores para

outras centrais térmicas. cem por

cento da produção da fábrica de

Setúbal é exportada. a alstom

tem uma presença industrial e de

engenharia em mais de 70 países

nos cinco continentes.

Quantas pessoas emprega a

Alstom em todo o mundo. E no

nosso país quantas estão inseri-

das nesse total?

Em portugal a empresa tem cerca

de 350 colaboradores. No mundo

são 96 mil e quinhentos.

Estamos a assistir a despedi-

mentos em massa e à reorga-

nização de planos laborais nas

grandes empresas. Alguma

destas opções já foi ponderada

pelo Grupo?

a alstom adapta permanentemen-

te os seus recursos à carteira de

projectos que tem em mãos. o

número de efectivos aumenta ou

diminui dependendo do contex-

to de mercado. certamente que

fomos afectados pela crise que se

tem vivido nos últimos dois anos e

tivemos de fazer ajustes nalgumas

das nossas unidades industriais,

em regiões onde os mercados

mais se ressentiram, nomeada-

mente na Europa.

Como funciona a organização do

Grupo? O controlo dos negócios

exteriores…

Uma organização da dimensão da

alstom é necessariamente comple-

xa, desde logo porque cada área

de negócio tem de ser adequada

às suas necessidades e aos seus

objectivos estratégicos. a base

é uma organização verticalizada

em competências e os centros de

competência estão disseminados

pelos países onde a actividade tem

mais volume. a alstom está orga-

nizada em unidades de negócio e

cada uma delas concentra tecno-

logias e produtos de que necessita

para o seu objectivo. para um pro-

jecto numa dada região concorrem

centros de competência instalados

em várias regiões do mundo. nm.l.b.

Page 24: Diplomática n.º9

24 • Diplomática - março/abril 2011

Fernando BessaDirector Geral da Air France KLM em Portugal

“ Uma das apostas do ano 2011 passa pelo crescimento da oferta no continente africano”

Director Geral da Air France KLM em Portugal, desde 2006, Fernando Bessa tem uma

experiência de 35 anos no sector do Turismo. Começou a trabalhar na KLM – Com-

panhia Real Holandesa de Aviação, em Janeiro de 1980, onde desempenhou vários

cargos, nomeadamente o de Director Geral KLM para a Península Ibérica, durante 6

anos, antes de aceitar o actual cargo. ➤

Gestores InternacIonaIs

Page 25: Diplomática n.º9

25março/abril 2011 - Diplomática •

➤ Quando começou a Air France

a servir o continente africano?

a história da air France em

áfrica está intimamente ligada,

desde o início dos anos 30, ao

desenvolvimento da aviação

comercial de e para o continente.

com mais de 75 anos de pre-

sença em áfrica, a air France

foi um actor chave das grandes

epopeias que, de mermoz a St

Exupéry, marcaram o princípio

das relações aéreas entre a Eu-

ropa e a áfrica.

Graças a um desenvolvimento

contínuo da sua rede, dos anos

40 aos nossos dias, o Grupo air

France Klm e os seus parceiros

permitem-se ligar hoje em dia 43

destinos do continente africano

à Europa e ao resto do mundo.

além da sua experiência em áfri-

ca, o Grupo air France Klm tem

o dever de estar permanente-

mente à escuta dos clientes das

rotas africanas e atento à evolu-

ção das suas expectativas.

Quem são os clientes da Air

France e da KLM nas linhas

africanas?

Sessenta por cento dos clientes

viajam por motivo de negócios,

qualquer que seja a sua classe

de transporte. Em termos de

nacionalidade, 38 por cento da

clientela é francesa, 29 africana,

22 europeia, 9 americana e 2 por

cento asiática. a idade média

dos passageiros é de 44 anos,

sendo que 70 por cento são

homens.

Dos clientes residentes em

áfrica, a maioria são pequenos

empresários, empreiteiros, ou

trabalham para pmE. À saída

das escalas africanas, 75 por

cento dos clientes têm como

destino a França ou a Europa.

Quais são as apostas da Air

France e da KLM para a época

2010/11?

Uma das apostas do ano 2011

passa pela política de cresci-

mento e de desenvolvimento da

rede do Grupo air France Klm

no continente africano. a air

France e a Klm continuam a re-

forçar a sua oferta nesta região

do mundo. ao juntar as suas for-

ças às dos seus parceiros africa-

nos, a air France e a Klm estão

assim em medida de oferecer à

sua clientela uma rede sempre

mais extensa com novos des-

tinos, mais frequências e mais

voos directos de e para os hubs

de paris-charles de Gaulle e de

amesterdão-Schiphol.

Em concreto, este inverno a

oferta do grupo air France Klm

aumentou de 3,5% em relação

ao inverno anterior, graças à

abertura de dois novos destinos,

aumentando a rede air France

Klm em áfrica para 36 destinos

servidos em meios próprios por

210 frequências semanais.

a Klm começou a voar para

Kigali, a 31 de outubro de 2010,

servindo a capital do ruanda

cinco vezes por semana, já a

air France servirá bata, capital

da Guiné Equatorial, duas ve-

zes por semana, assim que os

direitos de tráfego forem acor-

dados. para além destes novos

destinos, foram acrescentadas

frequências às cidades de pointe

Noire, libreville (sob reserva da

obtenção dos direitos de tráfe-

go), malabo, Dar Es Salaam e

Kilimandjaro.

Na época de Verão, que começa

a 27 de março, a air France abri-

rá 3 novas rotas. Servirá duas

vezes por semana a cidade de

Freetown na Serra leoa, e três

vezes por semana, monrovia, a

capital da libéria. Já a capital

da líbia, tripoli, será servida por

5 voos semanais além dos voos

diários operados pela Klm.

a air France e a Klm reforça-

rão igualmente os seus serviços

para pointe Noire na república

do congo, com cinco voos air

France por semana, assim como

libreville também por cinco voos

semanais, sob reserva da obten-

ção dos direitos de tráfego junto

das autoridades do país. a Klm

passará a servir diariamente as

cidades de Dar Es Salaam e Kili-

mandjaro, na tanzânia. E prevê,

igualmente, aumentar as suas

frequências para servir tripoli

diariamente, abuja/Kano, quatro

vezes por semana, e Entebbe/Ki-

gali, seis vezes por semana.

Quais os parceiros aéreos da

Air France e da KLM em Áfri-

ca?

a air France e a Klm oferecem

uma rede de 43 destinos em

áfrica graças aos seus parceiros.

Desde 1996, a Klm propõe voos

com partida do Quénia através

de uma parceria de joint-venture

com a Kenya airways, permi-

tindo, por exemplo, a mombaça

estar ligada via amesterdão ao

resto do mundo. Esta coopera-

ção foi alargada à air France

por um acordo de code share

entre Nairobi e paris, depois da

extensão da joint-venture em

2009. a Kenya airways, parceira

da aliança Skyteam, continua

a expandir-se e propõe mais 5

novos destinos: bujumbura, no

burundi, Kisumu e mombaça, no

Quénia, lilongwe, no malawi e

lusaka na Zâmbia.

Desde 2008, a air France propõe

voos com partida de luanda, em

code share com a taaG ango-

la airlines. Em 2010/11, dois

voos por semana ligam luanda

a paris. por sua vez a Klm,

em cooperação com a comair,

propõe voos para amesterdão,

via Joanesburgo, com partida de

Durban e de port Elizabeth, na ➤

Page 26: Diplomática n.º9

26 • Diplomática - março/abril 2011

➤ áfrica do Sul.

Que tipo de aviões servem o

continente africano?

o grupo air France Klm tem

uma frota das mais modernas e

jovens no mundo para servir a

áfrica. a idade média da frota de

longo curso da air France é de

8,1 anos. a cidade de Joanes-

burgo foi a segunda escala no

mundo a ser servida pelo airbus

a380. a air France investiu na

renovação da frota, entre 1998

e 2012, um bilião de dólares por

ano.

Que tipo de serviços tem a Air

France para oferecer aos seus

passageiros que voam para

África?

a air France oferece serviços

muito específicos para respon-

der às expectativas dos clientes

africanos. Um destes é o servi-

ço Dedicate, direccionado aos

profissionais do sector petrolí-

fero, da construção ou, ainda,

aos pequenos empresários para

3 destinos africanos: malabo,

Ndjamena, Nouakchott, cidades

servidas quase diariamente em

voos directos a partir de paris-

charles de Gaulle por aviões

de pequena capacidade (airbus

a319-Er), equiparando-se ao

conforto oferecido em business

jet. propõe ainda o Flying blue

petroleum, o programa n°1 na

Europa dos destinos petrolíferos

e de gás. Este clube privado ➤

«A história da Air France em África está intimamente

ligada, desde o início dos anos 30, ao desenvolvimento

da aviação comercial de e para o continente. Com mais

de 75 anos de presença em África, a Air France foi um

actor chave das grandes epopeias que, de Mermoz a

St Exupéry, marcaram o princípio das relações aéreas

entre a Europa e a África»

Fernando Bessa

Page 27: Diplomática n.º9

27março/abril 2011 - Diplomática •

➤ oferece aos seus membros um

leque de vantagens exclusivas

para 95 escalas.

a política de bagagens adapta-

da é uma das mais-valias para

os clientes africanos. Desde 28

de março de 2010, a política de

bagagens da air France Klm

está harmonizada e simplifica-

da no conjunto da rede. Estas

oferecem uma franquia de baga-

gens mais generosa do que no

resto da rede longo curso, para

40 destinos africanos. Nomea-

damente, em primeira classe la

première e em executiva affai-

res e World business classe,

os passageiros usufruem de 3

bagagens de 23kg cada, enquan-

to que em premium Voyageur e

classe económica beneficiam do

transporte gratuito de 2 baga-

gens de 23kg cada.

E em termos de produto a bor-

do?

a air France é uma das poucas

companhias aéreas mundiais a

oferecer uma primeira classe. a

cabine la première é um serviço

de excepção, disponível para

9 escalas africanas; abidjan,

Joanesburgo, luanda, libreville,

Dakar, lagos, Douala, Yaoun-

dé e port Harcourt. À saída de

lisboa o cliente la première

beneficia do Serviço limusine

para o levar e trazer ao aeropor-

to, no dia da partida e chegada.

No dia da partida, o Serviço Vip

assistance recebe-o nas partidas

e encaminha-o até ao lounge da

air France, ajudando-o com os

procedimentos de check-in. Em

paris-charles de Gaulle, aguar-

da-o uma equipa dedicada que o

levará até ao lounge la premiè-

re ou directamente ao seu voo

de ligação. Uma vez a bordo,

beneficia de toda a atenção de

uma tripulação exclusiva. a gas-

tronomia foi elaborada por Guy

martin (chefe do famoso restau-

rante Grand Véfour em paris) e

os vinhos foram escolhidos pelo

olivier poussier – melhor escan-

ção do mundo em 2000.

para além deste produto de

excelência, a air France continua

a investir na sua classe execu-

tiva affaires de longo curso e,

este ano, será implementada

uma nova poltrona nos voos para

áfrica, oferecendo ainda mais

conforto e serenidade a uma

clientela que viaja quer por mo-

tivos profissionais, quer a título

pessoal.

Em 2010 a air France lançou

uma nova cabine nos voos

intercontinentais, a premium

Voyageur, para responder às

expectativas dos empresários de

pequenas e médias empresas,

assim como aos passageiros que

queriam mais conforto do que a

classe económica, a um preço

acessível. Esta nova cabine ofe-

rece mais 40 por cento, de espa-

ço em relação à cabine económi-

ca Voyageur, e está disponível

para todas as rotas de áfrica,

excepto Joanesburgo - operada

pelo a380.

Que propõe a Air France em

termos de divertimento a bor-

do?

a air France apostou na alta

tecnologia em matéria de diver-

timentos a bordo, com 33.000

ecrãs individuais e video on de-

mand (VoD). No total, 600 horas

de programação, incluindo 85

longas-metragens e um juke-box

de 240 cD e 3 mil títulos.

O Grupo Air France KLM ofe-

rece aos clientes frequentes

mais vantagens nestas rotas?

o programa de passageiro fre-

quente do Grupo air France Klm

é o maior da Europa, com 17 mi-

lhões de membros. Este oferece

inúmeras vantagens, e entre

1 de Fevereiro e 31 de março,

todos os membros residentes

em portugal, que viajarem para

19 destinos de áfrica em cabine

premium Voyageur, verão as

suas milhas duplicar.

E, para as empresas, existe al-

gum programa de fidelização?

tanto a air France com a Klm ti-

nham um programa destinado às

pequenas e médias empresas,

esses programas deram nas-

cimento ao programa blue biz,

em abril de 2010. Este progra-

ma, permite à empresa membro

acumular blue credits sempre

que um dos seus colaborado-

res viaja num voo air France ou

Klm. os blue credits podem ser

convertidos em bilhetes prémio

e em upgrades para todos os

destinos das redes air France e

Klm, em função de uma tabela

simples: 1 blue credit é igual a

1 Euro. Qualquer colaborador da

empresa pode beneficiar destes

prémios. a adesão ao programa

é simples e gratuita, sem qual-

quer condição prévia de número

mínimo de viagens a efectuar.

para beneficiar do bluebiz, as

empresas podem contactar a sua

agência de viagens habitual ou a

air France Klm. todos os servi-

ços oferecidos aos membros do

bluebiz, tais como a adesão, a

gestão do perfil cliente, a con-

sulta e a gestão da conta e a

tomada de prémio são acessíveis

directamente online, 24 horas

por dia, a partir dos sites www.

airfrance.pt e www.klm.pt .

Em resumo, a air France e a

Klm continuam empenhadas

em ser uma referência de e

para áfrica, apostando não só

na abertura de novos destinos

e aumento de frequências, mas

também em novos serviços que

respondam aos desejos e neces-

sidades dos seus clientes. n

a.F.

Page 28: Diplomática n.º9

28 • Diplomática - março/abril 2011

Michel DrouèreDelegado geral da Alliance Française em Portugal e director da Alliance de Lisboa

«Um director e uma equipa de funcionários fazem com que cada Alliance funcione,

mas o espírito permanece associativo»

Independentemente do ensino da língua, as Alliances instaladas em Portugal são

centros vivos de conhecimento e cultura da História francófona e do seu relevante

papel no nosso país e no mundo. ➤

Délégué général de l’Alliance française au Portugal, directeur de l’Alliance française de Lisbonne

Gestores InternacIonaIs

Page 29: Diplomática n.º9

29março/abril 2011 - Diplomática •

➤ A Alliance Française é muito conhecida em todo o

mundo, mas como funciona em Portugal?

a alliance Française é uma rede de 900 centros de lín-

gua e cultura francesas, muito conhecida em todos os

continentes, e a primeira oNG cultural do mundo. a sua

principal característica é ser de direito associativo local,

em todos os países onde está presente, apoiando-se,

assim, não numa estrutura estatal, mas numa rede

de francófilos locais, activos e empenhados, em 136

países. por exemplo, a alliance Française do porto é

presidida pelo antigo ministro luís Valente de oliveira e

a de coimbra por um universitário, o prof. antónio poia-

res baptista. Um director e uma equipa de funcionários

fazem com que cada alliance funcione, mas o espírito

permanece associativo e o reconhecimento por parte

das autoridades locais é excelente (obtém frequente-

mente o reconhecimento de utilidade pública, como em

lisboa, em coimbra e no porto).

Quais são as acções concretas da Alliance Françai-

se de Portugal?

as actividades incidem sobretudo no ensino do Fran-

cês, sob a forma de aulas ministradas nas nossas

instalações, mas também em empresas. Neste último

caso, a alliance Française é entidade formadora que

deve cumprir as mais rigorosas normas, em especial no

tocante à acreditação de qualidade da Direcção-Geral

do Emprego e das relações de trabalho (DGErt).

Nas aulas de grupo, referirei um sector em crescimen-

to: a formação na área da saúde, nomeadamente de

enfermeiros, que aprendem francês tendo em mente

a expatriação. a adaptação a públicos com objectivos

específicos, como os profissionais de saúde ou os

engenheiros civis, e a criação de materiais pedagógicos

que correspondam às suas necessidades são desafios

que fazem parte do nosso dia-a-dia.

as restantes actividades são o ensino do português

língua Estrangeira (que abrange sobretudo os diplo-

matas e dirigentes de empresas recém-chegados a

portugal), os exames oficiais de francês e as estadias

linguísticas em França. inúmeras alliances têm também

um programa cultural, frequentemente «extra-muros»,

em colaboração com os centros culturais da cidade em

que se encontram implantadas. por exemplo, são as

alliances Françaises de Faro, coimbra e Guimarães

que organizam localmente a célebre «Festa do cinema

Francês» nessas cidades.

Quanto à tradução, é uma actividade que exige um

nível de profissionalismo extremamente elevado e um

controlo de qualidade sem falhas. São, assim, regular-

mente solicitadas ao gabinete de tradução da alliance

Française de lisboa traduções financeiras e jurídicas, ➤

➤ L’Alliance française est bien connue dans le mon-

de, mais comment fonctionne-t-elle au Portugal?

c’est vrai, l’alliance française est un réseau de

900 centres de langue et de culture française, bien

connu dans le monde entier, et qui constitue même

la première oNG culturelle du monde. Sa «marque

de fabrique» est d’être de droit associatif dans cha-

que pays où elle est présente, et de s’appuyer ainsi,

non sur une structure d’Etat, mais sur un réseau de

francophiles locaux actifs et impliqués dans 136 pays

du monde. par exemple l’aF de porto est présidée

par l’ancien ministre luis Valente de oliveira, celle de

coimbra par un universitaire, le pr. antonio poiares

baptista. Un directeur et une équipe salariée font

marcher chaque alliance, mais l’esprit reste asso-

ciatif, et la reconnaissance de la part des autorités

locales est excellente (avec souvent la reconnaissan-

ce d’utilité publique comme à lisbonne ou porto).

Quelles sont les actions concrètes des Alliances

du Portugal?

au portugal les activités portent massivement sur

l’enseignement du français, sous forme de cours

de groupe, mais aussi dans les entreprises: dans ce

dernier cas, les aF sont des prestataires de forma-

tion qui doivent désormais s’aligner sur les normes

les plus élevées, en particulier l’accréditation qualité

DGErt délivrée par les autorités portugaises. Dans

les cours de groupe, je citerai un secteur porteur,

la formation de personnels médicaux, notamment

d’infirmières, qui se forment en français dans un ob-

jectif d’expatriation. S’adapter à des publics comme

les professionnels de la santé ou les ingénieurs du

btp, créer des matériels pédagogiques qui corres-

pondent à leurs besoins professionnels, sont des

défis qui font notre quotidien.

les autres activités sont l’enseignement du portu-

gais langue étrangère (qui touche principalement

les diplomates et dirigeants fraichement arrivés au

portugal), les examens officiels français et les séjours

linguistiques. De nombreuses alliances développent

également un programme culturel, souvent «hors les

murs» en coopération avec les centres culturels de

leur ville. par exemple ce sont les alliances françai-

ses de Faro, coimbra et Guimarães qui organisent

localement la célèbre « Festa du cinema francês»

dans ces villes.

Quant à la traduction, c’est une activité qui demande

un niveau extrêmement élevé de professionnalisme

et un contrôle qualité sans faille. c’est ainsi que le

bureau de traduction de l’aF de lisbonne est réguliè-

rement chargé de traductions financières et ➤

Page 30: Diplomática n.º9

30 • Diplomática - março/abril 2011

➤ mas também a versão francesa de sites como o

www.parlamento.pt, sem esquecer os documentos dos

particulares, tais como certidões do registo civil, sen-

tenças ou certificados de habilitações.

Como é ensinado o francês em 2011?

Há tantas respostas a essa pergunta como situações

e necessidades dos nossos alunos, em grupo nas

nossas instalações e nas empresas. actualmente, um

professor é um prestador de serviços de formação, que

deve dar resposta a uma necessidade identificada, com

pessoas específicas, num determinado prazo.

a actual corrente pedagógica chama-se perspectiva ac-

cional e a sua divisa é «comunicar é agir com o outro».

a língua é utilizada para «fazer», para executar tarefas

em conjunto – o formando é um actor social. a tarefa é

orientada para uma produção a realizar com outros. a

componente oral é muito trabalhada, em compreensão

e em produção, pois os nossos alunos necessitam fre-

quentemente de tomar a palavra em público no âmbito

das suas funções.

Não os surpreenderei se disser que estas tarefas recor-

rem frequentemente à internet, uma ferramenta que re-

volucionou o que se passa na sala de aula e o trabalho

realizado em casa; e quando, ainda por cima, as salas

estão equipadas com quadros digitais interactivos (já

em quatro alliances Françaises de portugal), a aula de

língua actual já em nada se assemelha às nossas re-

cordações escolares, exceptuando talvez o manual, um

apoio que permanece indispensável, mas que é agora

acompanhado por um DVD ou um cD-rom.

por outro lado, os nossos públicos têm uma grande

mobilidade, alguns nunca estão no mesmo país duas

semanas seguidas: homens e mulheres de negócios,

engenheiros e pilotos de linha preferem, por vezes,

as nossas aulas à distância (e-learning) para melho-

rarem o francês com o nosso próprio método, através

da internet. contudo, o aluno nunca fica entregue a si

próprio, pois tem obrigatoriamente de fazer um ponto

da situação completo todas as semanas, por videocon-

ferência, com o seu tutor, mesmo que nesse momento

se encontre no fim do mundo.

Quais são as suas prioridades de acção para este

ano?

No plano nacional, temos três grandes eixos:

o referencial de qualidade da Fondation alliance

Française, que é implementado em todo o mundo e

pelo qual estamos a pautar todas as nossas normas

de funcionamento, desde a administração das nossas

associações à qualidade pedagógica, passando pela

comunicação e pela gestão dos recursos humanos. pa-

rece uma banalidade respeitar uma carta de qualidade, ➤

➤ juridiques, mais aussi de la version française de

sites web comme www.parlamento.pt. les besoins

des particuliers (état civil, jugements, certificats) sont

aussi couverts.

Comment enseigne-t-on le français en 2011 ?

il y a autant de réponses à cette question que de si-

tuations et de besoins de nos apprenants, en groupe

dans nos locaux et en entreprises. car un professeur

est de nos jours un prestataire de services de for-

mation, qui est là pour répondre à un besoin identifié

avec des personnes précises dans un certain délai.

pour être plus précis, le courant pédagogique ac-

tuel s’appelle la perspective actionnelle. Sa devise :

«communiquer, c’est agir avec l’autre». la langue est

utilisée pour «faire», pour accomplir des tâches en-

semble, l’apprenant est un acteur social. la tâche est

orientée vers une production, à réaliser avec d’autres.

Et on travaille beaucoup l’oral, en compréhension et

en production, car nos apprenants ont souvent besoin

de maîtriser la prise de parole en français.

Je ne vous surprendrai pas en vous disant que ces

tâches font souvent appel à l’internet, un outil qui a

révolutionné ce qui se passe en classe et le travail

qu’on fait à la maison. Et quand en plus les salles

sont équipées de tableaux numériques interactifs

(déjà dans 4 aF du portugal), le cours de langue ac-

tuel ne rappelle plus du tout vos souvenirs scolaires.

a l’exception peut-être du manuel, un soutien resté

indispensable, mais qui est désormais accompagné

d’un DVD ou d’un cédérom.

par ailleurs, nos publics sont devenus très mobiles,

certains ne sont jamais dans le même pays deux se-

maines d’affilée : des hommes et femmes d’affaires,

des ingénieurs, des pilotes de ligne préfèrent que-

lquefois notre cours à distance (e-learning), pour

améliorer leur français avec notre propre méthode à

distance, sur internet. mais l’apprenant n’est jamais

livré à lui-même : il doit obligatoirement faire un point

complet par visioconférence chaque semaine avec

son tuteur, même s’il se trouve à ce moment-là au

bout du monde.

Quelles sont vos priorités d’action en 2011?

au niveau national nous avons trois grands chantiers:

1. le référentiel qualité de la Fondation alliance

française, qui s’applique dans le monde entier, et

sur lequel nous sommes en train d’aligner toutes nos

normes de fonctionnement, depuis la gouvernance de

nos associations jusqu’à la qualité pédagogique en

passant par notre communication et notre gestion des

ressources humaines. cela semble une banalité de

respecter une charte qualité, mais avec des ➤

Michel Drouère

Page 31: Diplomática n.º9

31março/abril 2011 - Diplomática •

➤ mas com centenas de critérios a cumprir, a tarefa não

é fácil. Este processo é, aliás, convergente em muitos

aspectos com a certificação da DGErt; a actualização

do equipamento, tanto pedagógico (quadros digitais

interactivos) como de gestão. relativamente a este

ponto, acabámos de equipar oito alliances Françaises

com o software alisoft, o melhor software de gestão

para um centro linguístico e cultural; e a formação dos

recursos humanos, tanto dos professores como do

pessoal administrativo. trinta e um professores das

alliances Françaises de portugal foram a barcelona,

em Novembro de 2010, assistir aos «Encontros FlE».

os funcionários responsáveis pelo atendimento e pelas

inscrições também assistem regularmente a formações

(em berlim, em Dezembro de 2010 e em lisboa, em

março de 2011, data em que recebemos o pessoal ad-

ministrativo das alliances Françaises de portugal, mas

também de Espanha, de itália e da irlanda). Existe,

assim, uma verdadeira dinâmica alliance, um espírito

alliance, que se vai consolidando nestes encontros.

Quais são as relações da Alliance Française com o

mundo diplomático?

antes de mais, a alliance de lisboa participa activamen-

te na formação dos diplomatas portugueses. com ➤

➤ centaines de critères, le chantier est vaste. il est

d’ailleurs souvent convergent avec la certification

portugaise DGErt.

2. la mise à niveau de l’équipement, tant pédago-

gique (les tableaux numériques interactifs) que de

gestion. Sur ce dernier point, nous venons d’équiper

8 aF du logiciel alisoft, le meilleur logiciel de gestion

d’un centre linguistique et culturel.

3. la formation des personnels, tant enseignants

qu’administratifs. 31 professeurs des aF du portugal

sont allés à barcelone en novembre 2010 assister

aux «rencontres FlE», les personnels chargés de

l’accueil et de l’inscription suivent aussi régulièrement

des formations (à berlin en décembre 2010, à lisbon-

ne en mars 2011, où nous accueillons les administra-

tifs des aF du portugal, mais aussi d’Espagne, d’italie

et d’irlande). il y a ainsi une véritable dynamique

alliance, un esprit alliance, qui se renforce au fil de

ces rencontres.

Quels sont les liens de l’Alliance française et du

monde diplomatique?

D’abord l’alliance de lisbonne participe activement

à la formation des diplomates portugais. En effet le

programme du groupe de 30 diplomates stagiaires ➤

«Na Semana da Francofonia, que

decorre em Março, promovem-se ac-

tividades culturais em Setúbal, nas

Caldas da Rainha ou em Coimbra,

graças ao apoio de várias embaixa-

das francófonas»

Page 32: Diplomática n.º9

32 • Diplomática - março/abril 2011

➤ efeito, o programa do grupo de 30 diplomatas estagi-

ários actualmente em formação tem uma componente

importante de francês, língua escolhida pela grande

maioria (o inglês constava do concurso de entrada, não

da formação). Eis um perfeito exemplo de ensino por

objectivos específicos, pois as situações de utilização

da língua por um diplomata estão claramente identifica-

das e permitem um progresso rápido.

Existe também uma excelente rede de amizades entre

as alliances Françaises e as diversas embaixadas fran-

cófonas. Na Semana da Francofonia, que decorre em

março, promovem-se actividades culturais em Setúbal,

nas caldas da rainha ou em coimbra, graças ao apoio

de várias embaixadas francófonas.

por fim, permitam-me que fale na Embaixada de Fran-

ça e do reconhecimento, por parte do embaixador, da

amizade actuante que faz com que, em onze cidades

de portugal, personalidades francófilas integrem bene-

volamente os conselhos de administração das nossas

alliances. É por este motivo que a reunião anual dos

presidentes decorre na Embaixada de França, a convi-

te do embaixador.

a França apoia também a actividade desta rede atra-

vés de uma subvenção destinada a apoiar acções na-

cionais e de dois directores, destacados pelo ministério

dos Negócios Estrangeiros e Europeus francês, coloca-

dos à disposição das alliances de lisboa e coimbra.

Em lisboa, concretamente, existe uma forte ligação

com o institut Français du portugal (iFp), pois a allian-

ce Française desta cidade partilha o mesmo edifício na

avenida luís bívar e apoia o seu programa recheado

de actividades culturais. com efeito, a alliance Fran-

çaise optou por deixar ao iFp a sua área de excelência

– a cultura –, e por se associar às suas manifestações

como patrocinador e não como organizador. os nossos

amigos lisboetas encontram, assim, num mesmo local,

a oferta do iFp (manifestações culturais, mediateca,

campus France) e a da alliance (aulas internas, serviço

alliance Entreprises, gabinete de tradução, estadias

linguísticas), sem esquecer uma excelente livraria fran-

cesa e várias associações (appF, lisbonne accueil,

UFE, aDFE).

com presença em catorze cidades portuguesas, atra-

vés de onze associações, a alliance representa uma

rede única; tanto mais que apresenta boas perspec-

tivas (em 2010, duas alliances Françaises – no porto

e em Viseu – tiveram de se mudar para instalações

maiores) e está apta, devido às suas inovações e à sua

qualidade, a dar uma resposta adequada e motivadora

às necessidades dos particulares, da administração

pública e das empresas. ■

➤ actuellement en formation a une composante

importante en français, langue choisie par l’immense

majorité d’entre eux (l’anglais était au concours

d’entrée, pas dans la formation). Voilà un parfait

exemple de langue sur objectifs spécifiques, car les

situations d’utilisation de la langue par un diplomate

sont bien identifiées, et permettent une progression

rapide.

Ensuite il existe un excellent réseau d’amitiés noué

entre les aF et plusieurs autres ambassades franco-

phones. c’est ainsi que la Semaine de la Francopho-

nie en mars voit des activités culturelles se dérouler

à Setúbal, à caldas da rainha ou à coimbra grâce à

l’appui de plusieurs ambassades francophones.

Enfin permettez-moi de parler de l’ambassade de

France, et de la reconnaissance par l’ambassadeur

de l’amitié agissante qui pousse, dans 11 villes du

portugal des personnalités francophiles à animer

bénévolement les conseils d’administration de nos

alliances. c’est pour cette raison que la réunion

annuelle des présidents se tient à l’ambassade de

France, à l’invitation de l’ambassadeur.

la France apporte aussi un soutien concret à l’activité

de ce réseau, à travers une subvention destinée aux

actions nationales, et à travers deux postes de direc-

teurs détachés par le ministère français des affaires

étrangères et européennes, et mis à disposition des

alliances de lisbonne et coimbra.

plus spécifiquement à lisbonne, il existe un lien fort

avec l’institut français du portugal (iFp), puisque l’aF

de cette ville partage les mêmes locaux de l’avenida

luis bivar, et puisque elle appuie son riche program-

me d’activités culturelles. En effet le choix a été fait

par l’aF de laisser à l’iFp son domaine d’excellence,

le culturel, et de s’associer à ses manifestations

comme sponsor, pas comme organisateur. Nos amis

lisboètes trouvent donc dans un même lieu l’offre de

l’iFp (manifestations culturelles, médiathèque, cam-

pusFrance), celle de l’alliance (cours internes, servi-

ce alliance Entreprises, bureau de traduction, séjours

linguistiques), sans oublier une excellente librairie

française et plusieurs associations (appF, lisbonne

accueil, UFE, aDFE).

avec une présence dans 14 villes du portugal à

travers 11 associations, l’alliance représente un

réseau unique ; de plus il se porte bien (deux aF, à

porto et Viseu, ont dû emménager en 2010 dans des

locaux plus vastes), et il me paraît en mesure, par

ses innovations et sa qualité, d’apporter une réponse

adéquate et motivante aux besoins des particuliers,

des administrations et des entreprises. ■

Michel Drouère

a.F.

Page 33: Diplomática n.º9

33março/abril 2011 - Diplomática •

Desde a adesão de portugal às comunidades

Europeias em 1986, as trocas comerciais franco-

portuguesas registraram um forte aumento,

nomeadamente entre 1996 e 2000. a França é

tradicionalmente o terceiro cliente e fornecedor

de portugal (depois da Espanha e da alemanha)

tendo actualmente portugal a posição de 12º

cliente e 15º fornecedor da França.

paralelamente, a França elevou-se ao quinto

lugar de investidor estrangeiro em portugal com

um stock total de capitais da ordem dos 4 bi-

lhões de euros, tendo mesmo atingido em 2009

o ranking de primeiro investidor estrangeiro em

fluxos brutos (reciprocamente os investimentos

portugueses em França têm tendência a aumen-

tar com um stock já superando os 500 milhões

de euros).

No total são perto de 400 filiais francesas que se

implantaram em portugal, e que empregam mais

de 70 000 pessoas.

Fundada em 1887, a câmara de comércio e

indústria luso-Francesa (ccilF), associação pri-

vada sem fins lucrativos e reconhecida de Utili-

dade pública, faz parte da rede mundial das 114

câmaras de comércio francesas no estrangeiro

e mantém uma estreita colaboração com as 136

câmaras de comércio e indústria em França.

implantada nos 2 principais pólos económicos

do país, lisboa e porto, a ccilF, com perto de

500 associados, tem como principal objectivo

incrementar o comércio bilateral luso-francês e

proporcionar um amplo leque de serviços a todas

as empresas interessadas por um dos dois mer-

cados, fomentando assim correntes de negócios

duradouras.

trabalhando ao longo de vários anos com as-

sociações industriais portuguesas e grupos de

empresas de diversos sectores, a ccilF dis-

põe de uma vasta gama de serviços e organiza

regularmente seminários temáticos e missões

sectoriais para empresas francesas que desejam

desenvolver os seus negócios ou implantar-se

no mercado português. além do mais, a ccilF

propõe também vários serviços de domiciliação.

para reforçar o seu carácter bilateral, a ccilF

desenvolveu também uma actividade de apoio

às empresas portuguesas que pretendem inte-

grar o mercado francês. Nesta vertente a ccilF

mantém contactos estreitos com os organismos

do comércio exterior português.

para além do apoio comercial e sempre com o

objectivo de facilitar as oportunidades de negó-

cios entre os actores da comunidade empresarial

luso-francesa - e de permitir os intercâmbios

de experiências e ideias entre profissionais de

todos os sectores de actividade -, a ccilF anima

um clube de Negócios e oferece um vasto e

diversificado programa de actividades (almoços,

seminários, reuniões temáticas, soirées de gala,

cocktails, eventos desportivos…). ■

* presidente da câmara de comércio e indústria luso-Francesa

(título da responsabilidade da redacção)

Comércio franco-português em altapor Bernard Chantrelle*

Economia

Page 34: Diplomática n.º9

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ixla

nd

Page 35: Diplomática n.º9

35março/abril 2011 - Diplomática •

Seis embaixadores acreditados em lisboa responderam favoravelmente ao

desafio da Diplomática: fazer o balanço de 2010 e avançar previsões para o

ano em curso.

com a cimeira de lisboa, que juntou os grandes do mundo no conclave da Nato,

ainda nas agendas, a União Europeia e a crise mundial constituíram, também, o

pano de fundo das opiniões dos diplomatas que, aproveitando o ensejo – grosso

modo -, debitaram sobre o deve e haver das relações dos respectivos países com

portugal.

Neste mundo em constante mudança, a opinião de quem faz das relações internacio-

nais oportunidade para a aproximação dos povos e nações, é fundamental para

se perceber em que sentido navega a política externa dos respectivos países e

compreender a importância de portugal no novo contexto geoestratégico. ➤

20102011 em debateBalanço necessário, previsões para o futuro

Page 36: Diplomática n.º9

36 • Diplomática - março/abril 2011

Pascal Teixeira da Silva - Embaixador de França

2010 foi um ano de turbulências num contexto de

crise, de mudanças e de redistribuição de poder e

de riqueza geradas pela globalização. os efeitos

da crise financeira e económica proveniente dos

Estados Unidos ainda se fizeram sentir, em espe-

cial na zona euro.

os nossos países europeus estão confrontados

com um duplo problema: por um lado, a curto

prazo, as medidas que os governos europeus

tomaram para lutar contra a recessão arrastaram

enormes défices nas contas públicas; por outro

lado, num plano mais estrutural, o financiamento

da protecção social que queremos manter verifica-

se cada vez mais difícil face ao envelhecimento

da suas sociedades e dadas as baixas taxas de

crescimento.

E tudo isso decorre num contexto de concorrência

internacional intensa em que as economias madu-

ras têm que manter a sua competitividade, assen-

tando mais do que nunca na inovação científica e

tecnológica, na formação e na alta qualificação da

mão-de-obra e no aumento do valor acrescentado

dos produtos produzidos pelos países europeus,

especialmente dos bens transaccionáveis.

Os altos níveis do défice e do endividamento

atingidos nos países europeus provocaram

uma crise de confiança quanto à sua capacida-

de em os sustentar e os mercados financeiros

que, desde a sua criação, não têm acreditado

no euro, aproveitam as dificuldades financeiras

dos Estados-membros da zona para especular

contre a sua solidez e daí tirarem proventos.

a União Europeia tem demonstrado uma capaci-

dade de reação face a esses ataques. Foi o que

aconteceu em maio durante a crise grega: a UE

criou um mecanismo de resgate – o Fundo Euro-

peu de Estabilização Financeira (FEES) – que,

em seguida, se tornou permanente (necessitan-

do apenas de uma ligeira revisão do tratado de

lisboa) e reforçou a governação económica de UE

e da zona euro. trata-se de regras e procedimen-

tos destinados não só à fiscalização colectiva das

políticas orçamentais e económicas dos Estados-

membros através do chamado “semestre europeu”,

mas também, se necessário, a que sejam tomadas

medidas preventivas ou correctivas para o caso de

um Estado-membro se desviar das metas orça-

mentais e económicas. o alvo é duplo: respeitar

as regras da união monetária e evitar a divergên-

cia entre as economias dos países membros da

zone euro.

apesar das dificuldades resultantes das diferen-

ças de situações e de conceitos, a UE conseguiu

estabelecer bases mais estáveis e sólidas para

ultrapassar a crise corrente e, a médio prazo, criar

as condições duma governação económica que

complementa, dum modo imprescindível, a união

monetária.

para além da crise financeira, a mudança funda-

mental que estamos a viver impõe uma transfor-

mação dos princípios em que a UE tem atuado

desde há várias décadas. o mundo de hoje é bem

diferente do mundo de ontem. a UE é o espaço

económico mais aberto e ela está confrontada com

a concorrência de potências emergentes (a china,

a india, o brasil, etc). Já não se trata agora de

favorecer o desenvolvimento do chamado “terceiro

mundo” (mesmo se isso ainda é necessário em

prol dos países menos avançados, particularmente

em áfrica) através de regimes especiais. a reci-

procidade deve ser o princípio cardinal das rela-

ções económicas – no que diz respeito aos inter-

câmbios comerciais, aos câmbios monetários, aos

investimentos, à propriedade intelectual, ao aces-

so aos concursos públicos, etc. as regras devem

ser as mesmas para todos.

O que está em jogo vai para muito além das

metas e dos indicadores financeiros e econó-

micos. Os cidadãos europeus esperam que

a UE os proteja contra os efeitos da crise e

as consequências da globalização. Este é um

grande desafio que os líderes europeus têm que

vencer. E também é preciso acrescentar que cada

país europeu não tem o tamanho suficiente para

ser ouvido e respeitado na cena internacional.

2011 é um ano em que temos de ampliar os es-

forços: cada Estado-membro está empenhado em

sanear as suas finanças públicas e implementar

reformas estruturais para fortalecer a economia; a

UE dispõe dos instrumentos para uma governação

económica reforçada e deve aplicá-los.

mas é préciso ir mais longe: renovar a política ➤

balanço 2010

«Para além da crise financeira, a mudança fundamental que estamos a viver impõe uma

transformação dos princípios em que a UE tem atuado desde há várias décadas»

Page 37: Diplomática n.º9

37março/abril 2011 - Diplomática •

➤ industrial ao nível europeu (pois não há cres-

cimento e criação de riqueza sem a produção de

bens), desenvolver as redes transeuropeias (tais

como as redes de alto débito, as redes eléctricas

inteligentes, as redes de comboio a alta velocida-

de), desenvolver a investigação e a inovação, para

melhorar a competitividade das nossas economias

e as sinergias entre elas.

o crescimento retoma nos países desenvolvidos.

mas temos que consolidá-lo e evitar que os encar-

gos financeiros e sociais a suportar chumbem esta

retoma.

Sabemos que a solução dos problemos tem uma

dimensão global. a Europa, por si só, não pode

reformar o sistema financeiro, nem reequilibrar as

relações económicas internacionais, nem favore-

cer um desenvolvimento sustentável que respeite

o ambiente e poupe os recursos naturais limitados.

o G20, que reúne os países que produzem 85 %

da riqueza mundial, constitui o grémio mais adap-

tado para tratar dessas questões. a França, que

preside o G20 este ano, tem grandes ambições,

estando, ao mesmo tempo, consciente da dificul-

dade da tarefa. Um novo tempo precisa de novas

ideias. Vivemos num mundo interdependente e

instável em que tudo acontece rapidamente. por

isso, o G20 que era uma instituição de gestão de

crise, deve tornar-se uma instituição de governa-

ção mundial e de reformas estruturais. a presidên-

cia francesa determinou vários objectivos:

- Face à volatilidade das moedas, ao agravamento

dos desequilíbrios financeiros e à constituição de

reservas de câmbio pelas potências emergentes,

é preciso construir um sistema financeiro interna-

cional mais estável e robusto. ao mesmo tempo,

devem ser implementadas novas regras de contro-

lo do sector financeiro adoptadas pelo G20.

- É preciso reduzir a volatilidade excessiva dos

preços das matérias-primas, especialmente ener-

géticas e agrícolas, que perturba o crescimento

mundial, ameaça a segurança alimentar e pre-

judica tanto os países productores como os paí-

ses consumidores. isto pode ser feito através da

regulação dos mercados derivados dos produtos

agrícolas, do aumento da transparência das infor-

mações sobre as produções e os stocks, de uma

melhor coordenação das políticas agrícolas, e da

aplicação de mecanismos de segurança para os

países mais pobres.

- a finalidade do desenvolvimento da economia

não deve ser o enriquecimento cada vez maior

duma minoria, mas antes a melhoria da situação

das populações. por isso é preciso desenvolver

o emprego, especialmente o dos jovens e o dos

mais vulneráveis, consolidar a base da protecção

social e assegurar o respeito pelos direitos labo-

rais e sociais.

- o G20, que representa os dois terços da popula-

ção mundial, tem a responsabilidade de encontrar

soluções concretas para os problemas do desen-

volvimento, através do melhoramento das infra-es-

truturas e de novas fontes de financiamento, como

a taxa sobre as transacções financeiras.

Se não decidirmos à altura dos desafios e simples-

mente nos limitarmos a gerir uma crise voltando

ao “business as usual”, falhamos uma oportunida-

de, novas crises irão repetir-se e cada vez mais

fortes. a tarefa que se nos depara parece hercu-

leana pois temos que atuar a três níveis: nacional

(o que portugal como os seus parceiros estão a

fazer), europeu (as bases acabam de ser reforça-

das) e global (particularmente no âmbito do G20).

cada nível é interdependente dos outros, o que se

torna mais complicado. mas essa é uma responsa-

bilidade nossa perante as gerações futuras. ■

Sabemos que a solução dos problemos tem

uma dimensão global. A Europa, por si só,

não pode reformar o sistema financeiro,

nem reequilibrar as relações económicas

internacionais, nem favorecer um desenvol-

vimento sustentável que respeite o ambien-

te e poupe os recursos naturais limitados.

Page 38: Diplomática n.º9

38 • Diplomática - março/abril 2011

Oleksandr Nykonenko - Embaixador da Ucrânia

A Ucrânia é potencialmente um parceiro importante para

Europa, ocupando um dos primeiros lugares entre os paí-

ses do continente pelo tamanho do seu território e o quinto

lugar pela população. a Ucrânia faz fronteira, de um lado,

com a rússia e, de outro, com a União Europeia, tendo a

saída para o oceano mundial através do mar Negro. mas

a Ucrânia não se considera uma terra fecunda apenas

graças à sua posição geográfica. No solo da Ucrânia pre-

valecem terras negras que cobrem cerca de 27,8 milhões

de hectares. Segundo especialistas, no território da Ucrâ-

nia concentra-se a quarta parte das reservas mundiais

de terras negras, razão pela qual a Ucrânia se juntou ao

“clube” dos principais produtores e exportadores de cereais

do mundo. além de grãos, a Ucrânia, na qualidade de

membro do prestigioso “clube” dos dez maiores produtores

de aço, ocupa o 8 º lugar no mundo por exportação de

produtos siderúrgicos.

a Ucrânia tem uma enorme infra-estrutura industrial, ocu-

pando o quarto lugar na Europa por extensão dos cami-

nhos-de-ferro e o segundo por volume de gás transportado

através do território nacional (o comprimento total dos ga-

sodutos principais da Ucrânia é de mais de 37 mil quilóme-

tros, o que equivale ao comprimento do equador terrestre).

a Ucrânia é um dos cinco países “espaciais” mais destaca-

dos no mundo. os nossos veículos-portadores espaciais já

levaram para o espaço muitos satélites artificiais. Espera-

mos que, no próximo futuro, o número de tais satélites será

acrescido por mais um, que poderá ser levado ao espaço

com o lançador ucraniano “cyclone-4”, do cosmódromo

brasileiro alcântara. a Ucrânia é hoje um dos líderes

mundiais nas exportações de software, as quais excedem

o montante de $ 1 bilhão. Embora o mundialmente famoso

avião antonov não precise de publicidade adicional, ainda

quero lembrar que na altura quando surgiu a necessidade

de transportar uma carga grande pelo avião boeing-747,

resultou que só o avião ucraniano “mria” (O Sonho), produ-

zido pelos especialistas da corporação ucraniana “anto-

nov”, foi capaz de cumprir esta missão.

o nosso Estado participa activamente na vida política,

cultural e económica da Europa. as reformas iniciadas

pelas autoridades ucranianas vão determinar, durante os

próximos anos, uma futura política de integração europeia.

a perspectiva de fazer parte da comunidade europeia é o

objectivo e aspiração de toda a sociedade ucraniana. ➤

Ucrânia-Portugal: novas perspectivas de cooperação

Este ano, a Ucrânia marca 20º Aniversário da sua independência. Durante esse período o País,

sem dúvida, conseguiu provar que é um membro importante da comunidade internacional

balanço 2010

Page 39: Diplomática n.º9

39março/abril 2011 - Diplomática •

➤ como demonstração da confiança evidente à Ucrânia

por parte da Europa foi a obtenção do direito de realizar,

junto com a vizinha polónia, o 14 º campeonato de futebol

europeu. agora estamos a preparar-nos com sucesso para

esta grande festa do futebol europeu, e estamos absolu-

tamente convencidos de que o faremos ao mais alto nível.

Espero que a equipa nacional de portugal poderá sentir o

apoio dos adeptos ucranianos, durante o jogo final a ser

realizado na capital da Ucrânia.

Em 2011, a estabilidade política, os valores democráti-

cos e a disposição pragmática dos dirigentes ucranianos

assegurarão uma realização prática do curso estratégico

de integração europeia, ao que facilitará a introdução pelo

governo ucraniano das reformas políticas, económicas

e de segurança, a melhoria dos climas de investimento,

de cooperação empresarial e muito mais. Neste sentido,

temos esperança de que o interesse construtivo por parte

dos dirigentes dos países da União Europeia e, nomea-

damente de portugal, fará com que as negociações sobre

o acordo de associação entre a UE e a Ucrânia sejam

concluídas no ano em curso.

Escolhida a direcção Europeia como o vector princi-

pal de entrada no espaço económico internacional,

a Ucrânia considera estratégicas suas relações com

cada País da União Europeia e, particularmente,

com Portugal. a este respeito, muita atenção é dada ao

desenvolvimento das relações bilaterais científicas, co-

merciais, económicas e culturais. Vale destacar o início

de um movimento de investimentos, ainda cauteloso mas

já bem notável, entre os nossos países. os investidores

portugueses investem na produção de cimento na Ucrânia

(c+ p.a.), de equipamentos médicos (Fapomed) e de-

senvolvem energias renováveis (martifer). os ucranianos

investem no desenvolvimento do sistema bancário por-

tuguês. assim, o investimento para nós é um tráfego nos

dois sentidos. tem que ser levado em conta, nomeada-

mente, o número significativo de ucranianos em portugal,

que formam a segunda maior (mais de 50 mil pessoas)

comunidade estrangeira neste país. Eles, na sua maioria,

são especialistas qualificados, profissionais e responsáveis

pelo trabalho que fazem, contribuindo significativamente

para o pib deste país. acho que isto é o nosso maior

investimento na economia portuguesa. Não se trata só das

indústrias tradicionais de construção civil onde trabalham

os ucranianos. Há dezenas de cientistas ucranianos em

várias instituições científicas e académicas portuguesas,

bem como nos departamentos de pesquisa junto às corpo-

rações portugueses.

O nosso intercâmbio comercial foi muito intenso em

2010. Neste sentido, gostaria de chamar a atenção

para a dinâmica positiva de crescimento do comércio

ucraniano-português. Em 2010, o volume de comércio

bilateral entre a Ucrânia e Portugal aumentou 1,9 ve-

zes. Um argumento importante a favor do desenvolvimento

de nossos laços comerciais é o facto de que a Ucrânia

não é só um mercado de quase 50 milhões de pessoas,

mas também pode servir de uma espécie de plataforma de

entrada nos mercados de outros países, incluindo a ásia

central e cáucaso.

Não é uma simples troca de mercadorias que parece mais

promissora, mas a utilização de oportunidades comuns na

área tecnológica, nomeadamente, na construção naval,

aeroespacial e na área de computadores. Uma esperança

especial dá o interesse no desenvolvimento de parcerias

com empresas líderes em ambos países, tais como as

portuguesas EDp, Galp, brisa, banco Espírito Santo e as

ucranianas “Naftogaz da Ucrânia”, “Ukrinterenergo”, “Vaz

hmashimpeks”,”Zaporizhtransformator”, “antonov”, “motor

Sich”, etc. Estou confiante de que a troca de visitas em-

presariais entre os dois países, que se planeia a nível das

câmaras de comércio e de regiões administrativas, vai in-

tensificar a cooperação económica e levará as relações de

negócios a um nível mais elevado. a câmara de comércio

luso-Ucraniana deverá desempenhar um papel importan-

te a este respeito, pois uma actividade conjunta entre os

empresários dos dois países abre oportunidades muito

grandes perante os nossos empresários, nomeadamente

no sector da energia. a Ucrânia é um país com o sector de

energia muito desenvolvido. portanto, não é por acaso que

aderimos à comunidade Europeia da Energia (European

Energy community).

Na época, os especialistas internacionais falaram e escre-

veram muito sobre a importância da Ucrânia em abaste-

cimento da Europa com gás natural. Quero salientar que

a Ucrânia tem sido um parceiro de confiança da UE em

matéria de fornecimento de energia e segurança energé-

tica. ambas as partes estão interessadas em modernizar

o sistema de abastecimento de gás para a Europa e em

garantir a segurança energética dos países da UE. Este é

um exemplo do que chamamos de integração europeia, na

prática, não em palavras.

E tarefas como estas, grandes e pequenas, são muitas. o

seu número vai crescer consideravelmente após a assina-

tura do acordo de associação com a EU e após a criação

da zona de comércio livre entre a Ucrânia e a UE. tudo

isto irá criar fronteiras transparentes não só para a circula-

ção de bens, serviços e capitais, mas também para uma

livre circulação, pelos caminhos do seu grande continente,

de todos os europeus: portugueses e Ucranianos, ingleses

e Suíços, Noruegueses e macedónios... Nós acreditamos

que isso vai acontecer muito rápido, se todos empenhar-

mos os esforços necessários. ■

Page 40: Diplomática n.º9

40 • Diplomática - março/abril 2011

Lithuania with its 3.4 million of population represents

an open and export oriented economy. Due to the limi-

ted domestic consumption, the exports of goods and

services are particularly important for a successful eco-

nomic development of the country. therefore, when the

current global financial and economic crisis severely hit

our main export markets in Western Europe, Scandina-

via and also russia, the economy of lithuania has also

occurred in a complex situation.

before the crisis, the economy of lithuania was one of

the fastest growing in the world. in years 2000-2008,

the GDp grew by 77%. one of the most important fac-

tors for substantial economic expansion was accession

to the European Union in 2004, which opened access

to additional financial resources and also enabled free

movement of capital, goods and labour force. on the

other hand, rapid economic expansion has caused

some imbalances in inflation and balance of payments.

this was mostly influenced by rapid loan portfolio

growth as foreign banks, which operate in lithuania,

provided cheap credits. the loans directly related to

acquisition and development of real estate constituted

around 50% of outstanding bank loans to the private

sector. consumption was influenced by credit expan-

sion as well. this led to increase of inflation, as well as

trade deficit.

the global credit crunch, which started in 2008, affec-

ted the real estate and retail sectors. the construction

sector shrank by almost 47% during the first 3 quarters

of 2009 and slump in retail trade was almost 30%.

the GDp plunged by 15.7% in the first nine months of

2009. Unemployment rate increased to 18%.

Facing strong negative influence of a global finan-

cial and economic crisis on the Lithuanian eco-

nomy and on its public finance system, at the end

of 2008 the government started to apply austerity

measures. Wages of civil servants, welfare and social

spending, development projects and other government

spending were targeted for cuts. the socially painful

measures were introduced in close consultation with

trade unions, NGo’s, other interested bodies and wide

public. Despite inevitable decrease in standard of

living, the lithuanian society jointly undertook this diffi-

cult but temporary burden on its shoulders. therefore,

significant and robust solutions taken by the lithuanian

authorities in a complex crisis situation have resulted

in the easing of the consequences of the global financial

and economic crisis and restored confidence of foreign ➤

Algimantas Rimkunas - Embaixador da Lituânia

Lithuania: overcoming the crisis

balanço 2010

Page 41: Diplomática n.º9

41março/abril 2011 - Diplomática •

➤ investors in lithuania.

the ministry of Foreign affairs of lithuania is among

the leading governmental institutions, which participate

in painful exercise of spending cuts. as a result, the

staff of diplomatic missions, wages of diplomats and

other expenses are reduced significantly. on the other

hand, the government decided to maintain all existing

lithuanian embassies, missions and consulates in

operation as an instrument of international cooperation,

which is significantly contributing to exit of the crisis.

In the third quarter of 2009, compared to the pre-

vious one, the GDP again grew by 6.1% after five

quarters with negative numbers. The rebound in

Lithuania’s economy in the third quarter of 2009

was the strongest in the EU.

currently, two main trends are observed in the eco-

nomy of lithuania: macroeconomic indicators related

to the domestic demand have started to stabilize only

recently while these related to foreign markets are

increasing for more than a year. in the second quar-

ter of 2010, household expenditures were by almost

tenth lower than a year ago. the private consumption

is expected to increase by 2% only in 2011. in 2010,

compared with a previous one, domestic investment

rebounded considerably. the latest foreign trade data

show that the both exports and imports are growing

faster than expected. the recovery of exports is par-

ticularly robust: in the middle of 2010 exports grow

was equal to the peak of two years ago – about 35%.

Favourable exports developments are also proved by

industry data: the growing turnover in manufacturing is

stimulated by sales in foreign markets while the turno-

ver in domestic market is still sluggish. the recovery

of imports is mostly supported by investment goods

and intermediate goods closely related to the exports

trends.

the recovery of the lithuanian economy is reflected

in these macroeconomic indicators: the preliminary

GDp grow in 2010 is 1.0% and projection of the bank

of lithuania for 2011 – 3.1%. recently, labour market

in lithuania has been stabilising. this is in line with

previous expectations that the unemployment will start

to gradually decrease after the second quarter of 2010.

the projections of the bank of lithuania for this indi-

cator for 2010 and 2011 are 17.9% and 16.5% respec-

tively. Nonetheless, the situation in the labour market

remains serious and will be one of the main challenges

for economic policy in the years to come.

confidence in successful recovery of the economy of

lithuania is proved by the recent establishment in the

lithuanian market a few big world known international

companies. in march 2010, in Vilnius barclays laun-

ched the technology centre, which will be one of the

four the bank’s strategic centres for global retail and

commercial banking activities, supporting 49 million re-

tail and corporate customers in 28 countries. the bar-

clays centres are also settled in india, Singapore and

the United Kingdom. in Vilnius, it has already employed

500 local it professionals.

barclays was followed by the Western Union – an in-

dustry leader in global money transfer. it set up its new

Global operations centre of Excellence, which is to

create 200 new jobs. the Global operations centre in

lithuania will handle back-office processing functions

and compliment other global operations centres of the

Western Union.

recently the Government of lithuania and ibm annou-

nced a joint research partnership in lithuania that will

enable research and development of nanotechnology,

healthcare and intellectual property (ip) management

innovations. ibm will contribute existing assets and

research expertise from ibm research laboratories in

Zurich, New York, Haifa and almaden launching a new

research center. lithuania and ibm will share equal

rights to the intellectual property, and r&D commercia-

lization, such as patents, ip licenses, products and pro-

totypes that result from the research center’s activities.

according to officials of the famous international

companies, lithuania is chosen as an attractive loca-

tion because of its strong talent pool of highly-skilled

technology professionals, as well as its world-class

infrastructure. it is worth to mention that about 40%

of all employees in lithuania have university degrees.

this figure is well above the EU average.

Successful attraction of foreign investments with the

aim to transform lithuania into the High technology

Service centre of the baltic and Scandinavian region,

show that crisis is not an obstacle to think about the fu-

ture and strengthen competitiveness of the economy. ■

Recently the Government of Lithuania and

IBM announced a joint research partnership

in Lithuania that will enable research and

development of nanotechnology, healthcare

and intellectual property (IP) management

innovations.

Page 42: Diplomática n.º9

42 • Diplomática - março/abril 2011

Quando celebrámos solenemente a entrada em

vigor do tratado de lisboa a 1 de Dezembro de

2009, era com expectativa que aguardávamos o

ano de 2010. Enquanto representante da presidên-

cia rotativa da UE, o primeiro-ministro da Suécia

Fredrik reinfeldt disse na cerimónia festiva em

frente da histórica torre de belém, que “foi coloca-

da uma pedra basilar para uma cooperação euro-

peia fortalecida”.

o ano 2010 infelizmente não foi aquilo que se

tinha esperado. a “cooperação europeia fortaleci-

da” tomou um rumo inesperado. os esforços feitos

pelos países da UE no ano anterior, 2009, para

contrariar o risco de uma recessão económica agu-

da, iria lamentavelmente por sua vez criar grandes

défices orçamentais na maioria dos países da UE.

a isto juntaram-se uma série de outros proble-

mas económicos nos diferentes estados membros

dentro e fora do grupo do EUro. o sistema eco-

nómico-político da Europa foi sujeite a um desafio

muito sério.

com a chave de soluções na mão, poderá ainda

assim constatar-se que no âmbito da cooperação ➤

Bengt Lundborg - Embaixador da Suécia

«O desenvolvimento económico, social e ambiental na Europa depende de como

a UE e os Estados membros conseguem cooperar»

balanço 2010

Page 43: Diplomática n.º9

43março/abril 2011 - Diplomática •

➤ da EU, foi possível trabalhar em conjunto, e que

se conseguiu tomar uma série de importantes de-

cisões para garantir apoio financeiro aos países

que dele necessitavam, e ainda introduzir novas

directrizes para a cooperação económico-política,

aumento do controlo dos mercados financeiros e

um futuro mecanismo de crise. Espero que não

teremos que passar por um novo ano com pro-

blemas do tipo com que agora tivemos dolorosa-

mente que lidar. a cooperação e solidariedade

europeia demonstraram o seu valor. acredito que

sairemos fortalecidos desta turbulência.

como exemplo digno de ser ponderado, poderei

mencionar que quando a Suécia teve a sua pró-

pria, fortemente ressentida crise financeira no iní-

cio dos anos 90, surgiu concórdia política sobre a

necessidade de ter-se finanças do estado sãs, de

preferência um excedente orçamental, uma baixa

dívida do estado, e de realizar reformas gerado-

ras de crescimento. agora a nossa economia está

forte, com um crescimento em 2010 próximo dos

6 por cento e uma taxa de emprego a aumentar.

também pudemos apoiar outros países na nossa

proximidade que se encontravam temporariamen-

te em dificuldades.

para o ano de 2011, há que dar continuidade às

medidas actuais, para solucionar os problemas

de agora, mas também erguer a vista para o

futuro. aqui poderemos guiar-nos pelo programa

chamado EU 2020 para um aumento do emprego,

da formação e da investigação, um incremento na

participação social e um ambiente sustentável.

Cada membro da UE deverá elaborar objecti-

vos nacionais para tornar o próprio país assim

como a UE no seu todo mais competitivos num

mundo globalizado.

o desenvolvimento económico, social e ambiental

na Europa depende de como a UE e os Estados

membros individualmente conseguem cooperar

para dar uma resposta conjunta às possibilidades

e aos desafios que a próxima década irá trazer.

Um aumento da investigação e do desenvolvi-

mento, assim como a criação de uma patente

Europeia são importantes pedras de construção

numa Europa mais competitiva.

ao mesmo tempo que a cooperação da UE se vai

aprofundando, a União vai alargando. Durante o

ano em curso, poderemos contar com o facto de

mais um país, a croácia, dar passos decisivos

no sentido da adesão. montenegro obteve re-

centemente o estatuto de país candidato, e mais

alguns países das balcãs batem à porta da UE.

a zona Euro também está em desenvolvimento,

com a Estónia como 17:e membro desde 1 de

Janeiro deste ano.

ao mesmo tempo que avança a construção da

UE, devemos utilizar os recursos que temos -

indivíduos, meios financeiros e estruturas ins-

titucionais - para fortalecer o papel da UE num

mundo cada vez mais globalizado. aqui, o novo

European External action Service, que será lan-

çado a sério este ano, irá dar-nos a possibilidade

de dar maior peso à actuação da União relativa-

mente aos seus vizinhos. por meio da chamada

parceria oriental, aprofunda-se a cooperação

entre a UE e os seis países vizinhos a oriente,

arménia, azerbeijão, Geórgia, moldávia, Ucrânia,

e bielorússia.

No interessante mas demasiado pouco lido rela-

tório de 2010 para o conselho Europeu, elabo-

rado pelo grupo especial de estudo liderado pelo

antigo primeiro-ministro de Espanha Felipe Gon-

zález, é colocada uma pergunta introdutória: “irá

a UE conseguir manter e aumentar o seu nível de

bem-estar num mundo em mudança?” a resposta

é sim, mas isto exige que todos no seio da UE,

políticos, cidadãos, entidades patronais e traba-

lhadores, colaborem para um objectivo comum

definido pela situação actual. ■

Ao mesmo tempo que avança a construção

da UE, devemos utilizar os recursos que

temos - indivíduos, meios financeiros e

estruturas institucionais - para fortalecer

o papel da UE num mundo cada vez mais

globalizado.

Page 44: Diplomática n.º9

44 • Diplomática - março/abril 2011

Dusko Lopandic - Embaixador da República da Sérvia

Na sequência dos acontecimentos do passado ano,

tais como calamidades naturais, erupções vulcâni-

cas, terramotos devastadores, as guerras em curso

e as pessimistas previsões económicas, é difícil

considerá-lo como um ano bom, embora nós tam-

bém não estejamos propensos a considerá-lo muito

mau. o ano de 2010 será lembrado como o ano

em que o mundo, incluindo a Europa, tenha talvez

começado a procurar novas formas e meios para

superar a curto e longo prazo os desafios globais.

o crescimento sustentável (incluindo as questões

relacionadas com a energia e o clima) e a governa-

ção mundial são alguns dos desafios a mais longo

prazo. os efeitos da crise económica e financeira

que afecta a maior parte do mundo desenvolvido,

com ênfase na Europa, constituem o motivo das

maiores preocupações a curto prazo para a maioria

dos governos, incluindo o Governo da Sérvia e o

português. Vamos esperar que o ano de 2011 traga

alguns resultados económicos positivos, tal como a

maioria de nós gostaria de ver acontecer.

aqui na Europa, estamos todos preocupados com

a crise que está, ao que parece, a atingir o âma-

go da construção europeia. a União Europeia tem

sido a maior conquista política e civilizacional do

nosso continente desde a Segunda Guerra mun-

dial. Foi construída tendo por base a visão política

a longo prazo (ou seja, a paz e a estabilidade na

Europa) e sustentada por resultados económicos

muito concretos e eficientes, como o mercado

comum, a união aduaneira, a estreita cooperação

económica, a união monetária e assim por dian-

te. No entanto, hoje temos vindo a testemunhar

sinais preocupantes de que a união económica e

monetária dentro na UE não está a funcionar bem.

É verdade que a zona euro não é a mesma coisa

que a União Europeia, mas o progresso da inte-

gração económica iria, sem dúvida, estabilizar e

reforçar a conquista intitucional que foi o tratado

de lisboa. mas o inverso também é verdadeiro:

não se deverá esperar mais progressos na in-

tegração política sem a estabilidade económica

ter sido alcançada. Os trabalhos do anterior

Conselho Europeu, juntamente com as recentes

divulgações e propostas, fornecem alguns si-

nais encorajadores para a UE no ano de 2011. ➤

«A União Europeia tem sido a maior conquista política e civilizacional do nosso Continente

desde a Segunda Guerra Mundial»

balanço 2010

Page 45: Diplomática n.º9

45março/abril 2011 - Diplomática •

➤ No que respeita à república da Sérvia, o passa-

do ano poderia, de uma forma geral, ser considera-

do como relativamente positivo. o ano de 2010 viu

sinais de recuperação económica na Sérvia, após

a crise de 2009. o crescimento do pib em 2010

é estimado em cerca de 1,7 por cento, enquanto

as previsões para 2011 são ainda mais positivas:

o crescimento será de cerca de 3 por cento ou

talvez 3,5. Durante 2011 a Sérvia espera ter mais

investimentos estrangeiros, especialmente nas

áreas da indústria automóvel (uma nova fábrica

Fiat) e da comunicação (privatização da principal

empresa estatal de telecomunicações), que deverá

atingir os 4 bilhões de euros. a evolução positiva

será visível também no campo das exportações,

o qual já registou resultados muito positivos em

2010 (aumento de cerca de 20 por cento em com-

paração com 2009). o Governo sérvio publicou

recentemente uma previsão de longo prazo para o

desenvolvimento económico e social da Sérvia até

ao ano de 2020 que está de acordo com as proje-

ções já efectuadas pela UE. o principal problema

económico e social da Sérvia neste momento é,

sem dúvida, a elevada taxa de desemprego, espe-

cialmente entre os jovens. Existem ainda alguns

outros graves problemas económicos e sociais,

tais como o desenvolvimento desigual das regiões

de periferia, um problema demográfico e o desen-

volvimento relativamente lento de novos meios de

transporte e das infra-estruturas energéticas.

No entanto, podemos olhar para o ano de 2011,

com expectativas mais positivas. a adesão à

União Europeia é o objectivo prioritário do Gover-

no sérvio. alguns resultados muito concretos, que

puderam ser sentidos mesmo pelos cidadãos co-

muns, foram alcançados. a partir de 01 de Janeiro

de 2010 a UE aboliu os vistos turísticos para os

cidadãos da Sérvia, o que teve um impacto muito

positivo na sociedade. o processo de integração

da Sérvia na UE tem sido contínuo: o acordo de

Estabilização e de associação entrou no processo

de ratificação. a comissão Europeia foi encarre-

gada pelo conselho da UE de preparar a opinião

oficial sobre a elegibilidade da Sérvia à UE. Espe-

ramos que até ao final deste ano, a Sérvia faça a

sua candidatura oficial de adesão à UE. também

esperamos que as negociações de adesão tenham

início o mais rapidamente possível, de preferên-

cia em 2012. a Sérvia também tentará melhorar a

sua cooperação na região dos balcãs, bem como

resolver as questões pendentes relativas à coope-

ração com o tribunal penal internacional para a

ex-Jugoslávia. Nós esperamos obter alguns resul-

tados positivos do diálogo entre belgrado e pris-

tina, os quais deverão, pelo menos, responder às

questões humanitárias mais prementes no Kosovo.

No entanto, afirmamos que, em relação a esta

questão, a Sérvia não vai reconhecer a declara-

ção unilateral de independência do Kosovo e vai

procurar, através de meios pacíficos, chegar a um

compromisso com os representantes albaneses no

local.

Durante os últimos anos as relações bilaterais en-

tre portugal e a Sérvia foram reforçadas, especial-

mente no campo da justiça, dos negócios estran-

geiros, da cooperação na defesa e da cooperação

agrícola.

podemos ainda esperar algumas boas notícias

no campo das relações bilaterais entre a Sérvia e

portugal. Visitas de alto nível que estão em vista,

alguns importantes acordos serão negociados, os

contactos económicos serão reforçados, especial-

mente nas áreas da agricultura, da construção, do

planeamento urbano e da energia. Durante este

ano, vamos também comemorar alguns importan-

tes acontecimentos do passado, como os 100 anos

da ratificação do primeiro tratado comercial entre

os reinos da Sérvia e de portugal, bem como os

60 anos da retirada de diplomatas jugoslavos da

Europa ocupada através de portugal. ■

A adesão à União Europeia é o objectivo

prioritário do Governo sérvio. Alguns resul-

tados muito concretos, que puderam ser

sentidos mesmo pelos cidadãos comuns,

foram alcançados.

Page 46: Diplomática n.º9

46 • Diplomática - março/abril 2011

Paul Schmit - Embaixador do Luxemburgo

Tendo tido a honra de apresentar as cartas credên-

cias como Embaixador do Grão-Ducado de luxem-

burgo a Sua Excelência o presidente da república no

dia 15 de outubro de 2010, e após alguns meses em

portugal, dou-me conta da riqueza histórica e cultural

deste país, mas também dos desafios aos quais têm

de fazer face portugal e a União Europeia no seu

conjunto.

para uma Embaixada, como a do luxemburgo em

portugal, trata-se de continuar a trabalhar no sentido

de uma cooperação cada vez mais estreita entre os

principais actores económicos e comerciais dos paí-

ses interessados. por ocasião da visita de Estado de

Suas altezas reais os Grão-Duques do luxemburgo

a portugal em Setembro de 2010 e, nomeadamente

por ocasião do seminário económico que reuniu cerca

de 350 personalidades dos sectores económico, co-

mercial e financeiro, interessados em estreitar as re-

lações comerciais entre os nossos dois países, foram

reforçadas as bases para uma cooperação contínua

entre os principais interessados no luxemburgo e em

portugal.

A importância de Portugal para o Luxemburgo é

clara, seja no plano comercial (com a exportação,

em 2009, de bens no valor de 15 milhões de euros e

de serviços no valor de 147 milhões e com a impor-

tação de bens e serviços no valor de 17.9 milhões

e de 186 milhões de euros respectivamente) ou no

plano humano, já que quase um quinto da popula-

ção do Grão-Ducado fala a língua portuguesa.

a imigração de cidadãos portugueses (desde os anos

1960) representa um factor importante na paisagem

cultural luxemburguesa e a integração dos cidadãos

portugueses, muitas vezes da primeira e mesmo

segunda gerações, constitui um desafio que não se

pode negligenciar.

Nos tempos dificeis que todos conhecemos, trata-

se de dar a conhecer melhor o luxemburgo, o seu

mercado financeiro, mas também os outros pontos

de interesse do país, seja no campo da siderurgia, da

tecnologia de ponta ou dos satélites, por exemplo. a

semana cultural luxemburguesa, que teve lugar em

lisboa em abril de 2010 e que contou com uma expo-

sição fotográfica, uma peça de teatro e um concerto

de jazz, constitui um bom exemplo nesse sentido.

Há muitos anos que o luxemburgo opera também ➤

«A estratégia de Lisboa sublinhou e consegui chamar a atenção para a importância de continuar a

investir nos domínios chave da economia, da educação e da formação, assim como da coesão social»

balanço 2010

Page 47: Diplomática n.º9

47março/abril 2011 - Diplomática •

➤ de forma consequente, e desde a sua fundação, no

âmbito das principais organisações internacionais das

quais faz parte, tais como as Nações Unidas, a União

Europeia, a Nato, o conselho da Europa, a oScE,

etc.

as mudanças que ocorreram no seio da União Euro-

peia, com a entrada em vigor do tratado de lisboa

em 1 de Dezembro de 2009, poderão contribuir para

melhorar o posicionamento da União Europeia e

consequentemente dos seus Estados membros no

cenário internacional. Numa Europa cada vez mais

integrada, as relações entre Estados membros são de

grande importância e devem continuar a ser desen-

volvidas, quer no campo comercial e económico ou

no aspecto humano.

apesar dos objectivos nela estipulados não terem

sido atingidos, a estratégia de lisboa sublinhou e

consegui chamar a atenção para a importância de

continuar a investir nos domínios chave da economia,

da educação e da formação, assim como da coe-

são social. a estratégia de lisboa conseguiu assim

determinar a direcção correcta a seguir pelos Estados

membros.

No luxemburgo, a implementação nacional da estra-

tégia Europeia “Europe 2020”, sucessora da estra-

tégia de lisboa, é efectuada com base na estratégia

“luxemburgo 2020”, que foi elaborada durante a crise

económica e financeira e é considerada uma estraté-

gia de saída da crise. São definidos os vários objecti-

vos a alcançar, nomeadamente nos sectores da i&D

(investigação e desenvolvimento) e da inovação, da

educação e da formação, das alterações climatéricas

e da energia, do emprego e da coesão social.

o mercado financeiro ocupa, há mais de três déca-

das, um lugar preponderante na economia do luxem-

burgo. as finanças públicas e o emprego nacional

dependem largamente do desenvolvimento destas

actividades. o Governo desenvolve uma politica

constante de diversificação das actividades, assim

como de desenvolvimento da competitividade no pla-

no internacional, contribuindo desta forma para que o

mercado financeiro seja um centro de excelência nos

domínios de competência específica, nomeadamente

no que diz respeito às actividades bancárias pro-

priamente ditas, ao sector dos seguros, dos fundos

de investimento e fundos de pensões, à bolsa e aos

outros profissionais do sector financeiro.

a investigação constitui um dos principais motores de

uma economia competitiva, baseada no saber e no

conhecimento. a competitividade da economia nacio-

nal é, por seu turno, um elemento chave no estímulo

do país para novas actividades económicas importan-

tes, nomeadamente nos sectores de ponta. o luxem-

burgo continua a desenvolver esforços específicos

com vista a expandir as capacidades cientificas e tec-

nológicas no seio da Universidade e dos centros de

investigação públicos, em colaboração com o sector

privado. No contexto de seguimento dos objectivos

estabelecidos pela cimeira Europeia de barcelona e

com a finalidade de promover e incentivar a investi-

gação e a inovação, o Governo luxemburguês prevê

fixar o investimento público referente à i&D em 3% do

produto interno bruto, zelando ao mesmo tempo pela

maximização da eficácia das despesas consagradas

à investigação fundamental e à investigação aplicada.

a cooperação luxemburguesa para o desenvolvimen-

to coloca-se decididamente ao serviço da erradica-

ção da probreza, nomeadamente nos paises menos

desenvolvidos. as suas acções são concebidas com

base num espírito de desenvolvimento durável, quer

no aspecto social e económico, quer em matéria de

meio ambiente – com o homem, a mulher e a criança

como ponto central.

Estas acções registam-se prioritáriamente em termos

da implementação – até 2015 – dos objectivos de

desenvolvimento do milénio. assim, os principais sec-

tores de intervenção da cooperação situam-se no do-

mínio social: a saúde, a educação, que inclui a forma-

ção e a integração profissional, e o desenvolvimento

local integrado. as iniciativas pertinentes no domínio

das micro-finanças são estimuladas e apoiadas tanto

a nível conceptual como a nível operacional.

Do ponto de vista geográfico, a Cooperação

luxemburguesa desenvolve, por preocupação

em termos de eficácia e impacto, uma política de

intervenção centrada numa dezena de países as-

sociados. Em termos de ajuda pública ao desenvolvi-

mento (apD), a cooperação luxemburguesa integra,

desde 2000, o grupo dos cinco países industrializa-

dos que consagram mais de 0,7% do seu rendimento

nacional bruto à cooperação para o desenvolvimento.

Em 2009 a apD cifrou-se em 297,82 milhões de eu-

ros, representando 1,04% do rNb. a apD é aplicada

com base nos instrumentos de cooperação bilateral,

de cooperação multilateral, de apoio aos programas e

da cooperação às oNG de desenvolvimento.

a ajuda ao desenvolvimento e a política de negócios

estrangeiros do Grão-Ducado têm também como efei-

to credibilizar e reforçar os argumentos avançados no

âmbito da candidatura luxemburguesa a um mandato

de membro não-permanente do conselho de Segu-

rança (2013-2014). ■

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AFe_Visao_420x280_TL.ai 1 12/17/10 10:30 AM

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50 • Diplomática - março/abril 2011

Para onde vai a Nato? por pavel petrovskiy - Embaixador da rússia

Olhar a partir de Lisboa

Nos últimos tempos a esta pergunta tentam responder

muitos analistas, politólogos e diplomatas estrangei-

ros e russos, não ficando para trás os portugueses. a

componente inicial de todos deles é única – a aliança

do atlântico Norte, criada como fruto da “Guerra Fria”

que perdeu o adversário em face da UrSS, ficou num

cruzamento conceitual. Nas condições dum mundo

multipolar finalmente formado, o princípio de “Nato –

centrismo” rachou. podemos falar muito sobre a ➤

OpiniãO

В последнее время на этот вопрос пытаются ответить многие аналитики, политологи и дипломаты как зарубежные, так и российские. Не отстают и португальцы. Исходная составляющая у всех одна – североатлантический альянс, созданный как плод «холодной войны» и лишившийся противника в лице СССР, оказался на концептуальном перепутье. В условиях окончательно оформившегося многополярного мира дал трещину принцип «натоцентризма». Можно ➤

Page 51: Diplomática n.º9

51março/abril 2011 - Diplomática •

Куда идет НАТО?взгляд из Лиссабона

➤ Nato como a base da segurança mundial no papel

de “polícia mundial”, mas isso já não convencia nin-

guém, excepto, talvez, alguns dos membros da alian-

ça, fixados no atavismo do passado. política Europeia

de segurança e defesa, que faz fundamento da dou-

trina de defesa da EU, previa o reforço do potencial

militar próprio, fora da Nato. No calor dos debates

polémicos que ocorreram durante muitos seminá-

rios científicos e políticos em Lisboa na véspera da ➤

➤ было сколько угодно рассуждать о НАТО как об основе глобальной безопасности в роли «мирового полицейского», но это уже никого не убеждало, кроме, разве что, отдельных, зацикленных на атавизмах прошлого членов Альянса. Европейская политика безопасности и обороны, лежащая в основе оборонительной доктрины Евросоюза, предусматривала укрепление собственного, вненатовского военного потенциала. В пылу полемических дискуссий, ➤

Pavel Petrovskiy

Page 52: Diplomática n.º9

52 • Diplomática - março/abril 2011

➤ Cimeira da NATO, recentemente realizada em

Portugal, até foram expressas as dúvidas de

conveniência da existência da NATO como tal.

Surgiu uma necessidade urgente dalgum tipo de “khow

how”, a fim de preservar o potencial acumulado e

não autodestruir-se, especialmente nas condições de

redução geral dos orçamentos militares dos países –

membros. Em 2011 está prevista a redução do pessoal

da Nato de 13,5 mil a 9 mil pessoas, bem como das

estruturas de comando de 11 a 7. a atenção principal

será focada no abastecimento, fornecimento, manu-

tenção, logística, comunicação e exploração. Surgiu a

necessidade não apenas de fundos (meios), mas tam-

bém dos objectivos da sua aplicação. Em resumo, era

necessário encontrar pelo menos um inimigo hipotético

ou potencial.

Não era preciso procurar muito. ajudou o século XXi.

Na sequência dos ataques terroristas de 11 de Se-

tembro de 2001 nos EUa, na agenda do dia da Nato

como “bóia salva – vidas” apareceram os novos desa-

fios e ameaças. É contra eles: terrorismo internacional,

propagação omU, pirataria, ciber ataques, tráfico de

drogas, desastres naturais, bem como proliferação

global de mísseis, que ficaram orientados os líderes

da Nato liderados pelo secretário-geral da Nato –

a. Fogh rasmussen, que aprovaram na cimeira da

aliança em lisboa em 20 de Novembro de 2010 um

conceito estratégico novo. No documento está clara-

mente indicado, que “o conceito estratégico será um

manual para a próxima fase na evolução da Nato a

fim de continuar a ser eficaz num mundo em mudança

contra novas ameaças, com novas oportunidades e

parceiros.” característica dos novos desafios e ame-

aças de forma expandida foi reflectida no documento

“revisão conjunta de desafios comuns de segurança

de século XXi”, aprovado na cimeira do conselho

rússia – Nato (Nrc), realizada em lisboa paralela-

mente. Entre as potenciais ameaças, ficou talvez uma:

os conflitos regionais, que o conceito estratégico não

inclui na categoria de desafios directos, no entanto,

reserva-se o direito da aliança de “regulação” deles

até “evitar”, quer directamente, quer “em interacção

com os outros atores internacionais”. ao mesmo tempo

a Nato é qualificada como uma estrutura que tem

“um conjunto único e confiável de meios políticos e

militares para resolução duma ampla gama de crises:

antes, durante e depois dos conflitos”. Não é possível

entender esta tese de outra forma, a não ser uma aspi-

ração da Nato de assumir o papel de liderança duma

organização única e eficaz no âmbito de resposta aos

desafios modernos e regulação de crise em todas as ➤

➤ происходивших в ходе многочисленных научно-политических семинаров в Лиссабоне накануне только что завершившегося здесь саммита НАТО, высказывались даже сомнения в целесообразности существования НАТО как такового. Возникла острая потребность в некоем «know how», дабы сохранить накопленный потенциал и не развалиться, тем более в условиях обвального сокращения военных бюджетов стран-членов. В 2011 г. предусматривается уменьшение штата сотрудников НАТО с 13,5 тыс. до 9 тыс. чел, а также командных структур с 11 до 7. При этом основное внимание будет сосредоточено на снабжении, закупках, техобслуживании, логистике, коммуникациях и разведке. Возникла потребность не только в средствах, но и целях для их приложения. Короче говоря, нужно было найти хотя бы гипотетического или потенциального противника. Долго искать не пришлось. Помог XXI-й век. Вслед за терактами 11 сентября 2001 г. в США на повестке дня в качестве подобия «спасительного круга» для НАТО появились новые вызовы и угрозы. Именно на борьбу с ними - международным терроризмом, распространением ОМУ, пиратством, кибератаками, наркотрафиком, природными катаклизмами, а также глобальным ракетным распространением – сориентировались натовские лидеры во главе с генсекретарем НАТО А.Фогом Расмуссеном, утвердившие 20 ноября 2010 г. на саммите Альянса в Лиссабоне его новую стратегическую концепцию. В документе четко обозначено, что «стратконцепция будет являться руководством для следующей фазы в эволюции НАТО с тем, чтобы она продолжала быть эффективной в меняющемся мире против новых угроз с новыми возможностями и партнерами». Характеристика новых вызовов и угроз в развернутом виде нашла отражение в принятом на состоявшемся параллельно в Лиссабоне саммите Совета Россия-НАТО (СРН) документе «Совместный обзор общих вызовов безопасности 21 века». В числе потенциальных угроз, осталась, пожалуй, одна – региональные конфликты, которую стратконцепция к разряду прямых вызовов не относит, тем не менее, оставляет за Альянсом право их «регулирования» вплоть до «предотвращения» как напрямую, так и «во взаимодействии с другими международными актерами». При этом НАТО квалифицируется как структура, обладающая «уникальным и надежным набором политических и военных средств для урегулирования широкого круга кризисов – до, во время и после конфликтов». Невозможно понять данный ➤

Para onde vai a Nato?

Page 53: Diplomática n.º9

53março/abril 2011 - Diplomática •

➤ suas etapas, incluindo “reconstrução” pós – crise.

teorias – às teorias. Era altura de passar à práti-

ca. aliados tinham que ter garantias, que o cami-

nho escolhido é adequado e realista. Na vanguarda

“dum gerador de ideias novas”, como sempre, foram

os americanos, que propuseram, nada mais, nada

menos – “tapar” todos os países da Nato com um

guarda-chuva de defesa antimísseis (NmD), que iria

protegê-los dos ataques do oriente, muitas vezes, não

se incomodando com alguma argumentação, a que os

membros da Nato chamaram irão. Não houve neces-

sidade de filosofar, sobretudo para compreender que

esta é apenas uma desculpa. a ideia era outra: unir os

responsáveis da Nato no processo de resolução da

primeira tarefa prática sob as novas condições, para

qual poderiam obter um financiamento sólido e dar

início a impulso poderoso de cooperação no âmbito de

altas tecnologias, fornecendo novos lugares de traba-

lho. Determinaram um “preço da questão” para iniciar,

relativamente não muito alto: cerca de 200 milhões de

Euros. resta entender, como ficará a ser esta NmD, e

por onde começar.

ainda estava fresca a memória das primeiras medidas,

tomadas pela administração de G. bush, de implemen-

tação dos elementos de defesa antimísseis na polónia

e república checa, que encontrou uma forte resistên-

cia por parte da rússia, que viu neles uma ameaça

para o equilíbrio da estabilidade estratégica e que

anunciou a sua intenção de se opor a esses planos,

até a colocação na região de Kaliningrado dos mísseis

tácticos “iskander”. a administração de b. obama a

iniciar o “restart” das relações com a rússia, contudo,

não recusou a ideia dos antimísseis, mas já no for-

mato de chamada “abordagem adaptada por fases”.

Ele ligou o sistema europeu de defesa antimísseis do

teatro de operações militares com o dos EUa e o da

rússia sob uma única administração, aparentemente,

uma administração americana. Sobre defesa antimís-

seis já negociaram anteriormente com a rússia, mas

os planos de G. bush acima mencionados, acabaram

com as negociações. como se poderia supor, que

agora a nós foi atribuído o papel adicional de “fornece-

dor” de informação sobre lançamento dos misseis de

inimigos, sem o direito de activar os interceptores de

misseis. a esperança era de que a própria rússia, que

estava interessada em garantir a segurança europeia

e na cooperação tecnológica com o ocidente, desta

vez não só não vai interferir, mas junta-se aos planos

renovados americanos – europeus. a certeza deste

género tinha prevalecido e em portugal. pareceu que o

assunto se começou a resolver. mas foi em vão. ➤

➤ тезис иначе, как стремление НАТО возложить на себя ведущую роль единственной эффективной организации в области реагирования на вызовы современности и кризисного регулирования на всех его стадиях, включая посткризисную «реконструкцию». Теории – теориями. Пора было переходить к практике. Союзникам нужно было убедиться, что выбранный ими путь верен и реалистичен. В авангарде «генератора новых идей», как всегда, выступили американцы, предложившие не много не мало – накрыть все страны НАТО зонтиком противоракетной обороны (ПРО), который защитил бы их от нападений с Востока, чаще всего, не утруждая себя особой аргументацией, натовцы называли Иран. Не нужно было особо мудрствовать, чтобы понять, что это всего лишь предлог. Замысел заключался в другом - объединить натовцев в процессе решения первой в новых условиях практической задачи, под которую можно было бы получить солидное финансирование и задать мощный импульс сотрудничеству в сфере высоких технологий, обеспечив новые рабочие места. Определили и сравнительно небольшую стартовую «цену вопроса» - в пределах 200 млн.евро. Осталось разобраться, как такая ПРО будет выглядеть и с чего начать. Еще была свежа память о том, как первые же шаги, предпринятые администрацией Дж.Буша по размещению элементов ПРО в Польше и Чехии, натолкнулись на решительное сопротивление России, увидевшей в них угрозу балансу стратегической стабильности и заявившей о намерении противодействовать этим замыслам вплоть до размещения в Калининградской области оперативно-тактических ракет «Искандер». Администрация Б.Обамы, начав «перезагрузку» отношений с Россией, тем не менее, от ПРО не отказалась, правда, уже в формате так называемого «поэтапного адаптированного подхода». Он увязывал эшелонированную европейскую систему ПРО театра военных действий (ПРО ТВД) с американской и российской под единым управлением, по всей видимости, американским. По ПРО ТВД ранее проводились переговоры с Россией, конец которым положили вышеупомянутые планы Дж.Буша. Теперь же нам, как можно было предположить, отводилась вспомогательная роль в качестве «поставщика» информации о враждебных ракетных пусках без права приведение в действие ракет-перехватчиков. Расчет был на то, что Россия, заинтересованная в обеспечении европейской безопасности и технологическом взаимодействии с Западом, на этот раз не только не будет препятствовать, но и сама подключится к ➤

Pavel Petrovskiy

Page 54: Diplomática n.º9

54 • Diplomática - março/abril 2011

➤ mais uma vez no caminho dos planos da Nato sur-

giram problemas. tudo ficou quase parado devido ao

facto de que a rússia, quase um mês e meio: desde

início de Setembro a meados de outubro deste ano,

não respondia ao convite de a. Fogh rasmussen para

D.a. medvedev, de realizar em paralelo com a cimeira

da Nato em lisboa a reunião do conselho rússia –

Nato (Nrc) ao mais alto nível e legalizar um sistema

de defesa antimísseis em conjunto. as razões para

isso eram convincentes. Só no caso de as condições

da cooperação, oferecida no âmbito dos novos progra-

mas da Nato, não contrariarem a nossa abordagem,

em termos de segurança igual e indivisível e em nada

prejudicarem os interesses geopolíticos russos, a rús-

sia poderia concordar com visita a lisboa. para nós

foi de fundamental importância como os membros da

Nato vão formular as partes do projecto do conceito

estratégico, que têm a ver com parceria com a rússia,

e se actividade militar da Nato se enquadrasse no

quadro jurídico do Estatuto da oNU. Não ficou claro

o nosso papel no sistema de defesa antimísseis, na

função de “ajudante” no qual nós não infundíamos.

Sabíamos que os portugueses estão a favor dum nível

estratégico de parceria, e relativamente ao sistema

antimísseis viram a rússia como um participante de

igualdade juntamente com a Nato. Havia muitos ad-

versários desta abordagem. No entanto, em bruxelas

e outras capitais da Nato, incluindo lisboa, estavam

fortemente a tentar convencer - nos a vir de qualquer

maneira. Esta lógica não estava a satisfazer a parte da

rússia. Era preciso compreender claramente, se os

membros da Nato estão preparados para realmente

“reiniciar” as relações ou não. portanto, a rússia só

aceito o convite da Nato, quando todas as questões

foram esclarecidas a partir de bruxelas, e postos todos

os pontos nos iii.

O consentimento da Rússia para participar na

Cimeira NRC em Lisboa, que foi proferido pelo

Presidente da Rússia na cimeira Rússia – Ale-

manha – França em 18 de Outubro deste ano em

Deauville (França), teve fundamental importância

para a NATO. com a sua presença a rússia deu a

“luz verde” ao início duma qualitativamente nova etapa

de cooperação com a aliança, uma etapa já com base

no novo conceito Estratégico. para os membros da

Nato isso foi extremamente necessário, porque eles

já entenderam que qualquer dos seus planos que

afecta a soberania e segurança da rússia, seria ante-

cipadamente programado para um fracasso. assim, a

realização do conceito Estratégico começava seria-

mente a escorregar. por isso, para garantir a nossa ➤

➤ обновленным американо-европейским планам. Такого рода уверенность превалировала и в Португалии. Казалось бы дело сдвинулось. Но не тут то было. Вновь на пути планов НАТО возникли проблемы. Всё чуть было не застопорилось из-за того, что Россия почти полтора месяца с начала сентября по середине октября с.г. не отвечала на приглашение А.Фога Расмуссена Д.А.Медведеву провести параллельно с саммитом НАТО в Лиссабоне заседание Совета Россия-НАТО (СРН) на высшем уровне и легализовать совместную ПРО. Основания для этого были веские. Согласиться на приезд в Лиссабон Россия могла только в случае, если условия предлагаемого нам взаимодействия в рамках новых натовских программ не противоречили бы нашим подходам в части равной и неделимой безопасности и ни в чем не ущемляли бы российским геополитических интересов. Для нас было принципиально важным, как натовцы сформулируют разделы проекта стратконцепции, касающиеся партнерских отношений с Россией и будет ли военная деятельность НАТО находиться в правовом поле Устава ООН. Не было ясности и относительно нашей роли в ПРО, функции «помощника» в которой нам не импонировали. Мы знали, что португальцы выступают за стратегический уровень партнерства, а по ПРО видели в России равного участника наряду с натовцами. Предостаточно было и противников такого подхода. Тем не менее, в Брюсселе, остальных натовских столицах, в том числе в Лиссабоне, нас усиленно убеждали приехать в любом случае. Российскую сторону такая логика не устраивала. Нужно было четко уяснить, готовы натовцы к реальной «перезагрузке» отношений или нет. Поэтому, Россия приняла приглашение НАТО только, когда на все вопросы из Брюсселя поступили соответствующие разъяснения и точки над «и» поставлены. Согласие России на участие в лиссабонском саммите СРН, впервые озвученное российским Президентом на российско-германо-французской встрече в верхах 18 октября с.г. в Довиле (Франция) имело принципиальное значение для НАТО. Своим присутствием Россия включала «зеленый свет» началу качественно нового этапа взаимодействия с Альянсом, этапа, базирующегося уже на новой стратконцепции. Натовцам это было крайне необходимо, ибо они уже поняли, что любые их планы, ущемляющие суверенитет и безопасность России, бубут заведомо запрограммированы на неудачу. Таким образом, реализация стратконцепции стала бы серьезно пробуксовывать. Поэтому, чтобы обеспечить наше присутствие в Лиссабоне противникам сотрудничества ➤

Para onde vai a Nato?

Page 55: Diplomática n.º9

55março/abril 2011 - Diplomática •

➤ presença em lisboa, os adversários de cooperação

com a rússia tiveram que desistir na questão sobre o

formato de cooperação connosco. De qualquer ma-

neira, a parceria obteve um estatuto estratégico. No

texto apareceram as formulações de sentido único:

“a cooperação da Nato e rússia tem a importância

estratégica” e “nós queremos uma verdadeira parceria

estratégica entre Nato e a rússia”. No projecto de

“Declaração conjunta do conselho Nato – rússia”

que estava a ser preparado naquele momento para

aprovação na cimeira (e posteriormente aprovado), fo-

ram incorporadas as disposições sobre o facto de estar

a começar “uma nova etapa de cooperação que leva

a verdadeira parceria estratégica”, e foi reconhecido

que “a segurança de todos os países na comunidade

euro – atlântica é indivisível” e “seguranças da Nato e

rússia estão interligados”.

alguém pode dizer, que nos documentos se fala

apenas sobre a perspectiva da parceria estratégica e

não sobre o dia de hoje, mas também não é nenhum

segredo, que a nossa cooperação com a Nato ainda

é difícil chamar estratégica. a confirmação disto é a in-

capacidade do Nrc por culpa de “um Estado” se juntar

num momento crítico da agressão georgiana contra a

ossétia do Sul e posterior “congelamento” da coopera-

ção rússia – Nato, provocado pela aliança. o termo

“estratégica” em relação a esta parceria só se podia

utilizar com verbos no futuro. a propósito, e sobre o

seu principal parceiro: União Europeia, o conceito es-

tratégico também permite o modo indicativo, indicando

que “para uma parceria estratégica entre Nato e UE é

necessária a sua plena participação” nos esforços para

combater as ameaças à segurança comum. É óbvio

que a UE também tem as reservas inexploradas na

parte do estatuto estratégico da parceria.

Na declaração conjunta Nrc foi fixada mais uma tese

de fundamental importância, que “os Estados – mem-

bros Nrc se abstenham de ameaçar ou de usar outra

força uns contra os outros, bem como contra qualquer

outro Estado, á sua soberania, integridade territorial

e independência política de qualquer forma, mesmo

incompatível com o Estatuto da oNU”. o conceito es-

tratégico também acentua, que “a aliança está firme-

mente devotada aos objectivos e princípios do Estatuto

da oNU e do tratado de Washington, que confirma a

principal responsabilidade do conselho de Segurança

de apoiar a paz e segurança internacional”. com tais

obrigações, as operações da Nato não autorizadas

pelo conselho de Segurança da oNU, por exemplo a

invasão do iraque pelos EUa e bombardeamento de

belgrado, contrariavam o próprio conceito estratégico. ➤

➤ с Россией пришлось уступить по вопросу о формате сотрудничества с нами. Партнерство все же получило статус стратегического. В тексте появились однозначные формулировки: «сотрудничество НАТО и России имеет стратегическую важность» и «мы хотим истинного стратегического партнерства между НАТО и Россией». В готовящийся в тот момент к принятию на саммите проект «Совместного заявления Совета Россия-НАТО» (и впоследствии принятом) были инкорпорированы положения о том, что начинается «новый этап сотрудничества, ведущий к подлинному стратегическому партнерству», признавалось, что «безопасность всех государств в евроатлантическом сообществе неделима», а «безопасность НАТО и России взаимосвязаны». Если у кого-то возникнет вопрос, что в документах речь идет лишь о перспективе стратегического партнерства, а не о сегодняшнем дне, то ведь не секрет, что пока наше сотрудничество с НАТО стратегическим назвать трудно. Подтверждение тому – неспособность СРН по вине «одного государства» собраться в критический момент грузинской агрессии против Южной Осетии и последующая спровоцированная Альянсом «заморозка» российско-натовского сотрудничества. Термин «стратегическое» в отношении этого партнерства пока можно употреблять только с глаголами в будущем времени. Кстати, и по поводу своего главного партнера – Евросоюза стратконцепция также допускает изъявительное наклонение, указывая, что «для стратегического партнерства между НАТО и ЕС необходимо их полнейшее участие» в усилиях по противодействию общими вызовам безопасности. Очевидно, что и у ЕС имеются неиспользованные резервы по части стратегического статуса партнерства. В совместной декларации СРН зафиксирован еще один принципиально важный тезис, что «государства-члены СРН будут воздерживаться от угрозы силой или применения силы друг против друга, равно как и против любого другого государства, его суверенитета, территориальной целостности или политической независимости в любой форме, несовместимой с Уставом ООН». Стратконцепция также акцентирует, что «Альянс твердо предан целям и принципам Устава ООН и Вашингтонского договора, который подтверждает главную ответственность Совета Безопасности за поддержание международного мира и безопасности». С такими обязательствами несанкционированные СБ ООН операции НАТО, например, по «кальке» американского вторжения в Ирак и ковровых бомбардировок Белграда, противоречили бы собственной стратконцепции. Важно, ➤

Pavel Petrovskiy

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56 • Diplomática - março/abril 2011

Para onde vai a Nato?

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57março/abril 2011 - Diplomática •

➤ É importante, que isto está directamente relacionado

com as potenciais ameaças, vindas algures do orien-

te, do uso da força contra o irão no contexto do seu

programa nuclear.

a rússia, por sua vez, concordou em considerar as

propostas ocidentais sobre defesa antimíssil, que seria

adquirir a mínima eficácia apenas com a nossa parti-

cipação. como resultado, na Declaração da rússia –

Nato destaca-se, que as partes concordaram traba-

lhar nessa direcção com o seguinte cronograma: a)

Nrc realiza uma avaliação conjunta das ameaças da

parte de mísseis balísticos, b) Nrc renova a coopera-

ção na defesa antimísseis no teatro de operações, c)

Nrc encarrega-se de elaborar uma análise geral con-

junta dos futuros esforços de cooperação no âmbito da

defesa antimísseis, d) esta análise é considerada na

reunião de ministros da Defesa dos países – membros

do Nrc em Junho de 2011. No entender da rússia,

tem que se falar sobre um sistema de defesa antimís-

seis, que teria um sistema de gestão equilibrado e

não parecia uma tentativa de “amarrar” a rússia aos

referidos planos americanos de “abordagem gradual

adaptada” no papel de “concomitante”. Na cimeira

em lisboa o presidente m.a. medvedev apresentou

a nossa visão do sistema europeu de defesa antimís-

seis, que foi determinada como “abordagem sectorial”,

sobre qual ele anunciou na conferência de imprensa

sobre resultados da cimeira de lisboa.

mais um ponto de referência importante para a Nato,

em termos de necessidade crescente de cooperação

com a rússia, tornou-se o afeganistão. atolados em

anos de guerra neste país, suportando as perdas cada

vez maiores, os aliados da aliança do atlântico norte

começaram a falar sobre política de “afeganização”

que prevê a transferência gradual das funções da se-

gurança interna para Governo em cabul, bem como a

retirada gradual do contingente de Força internacional

de assistência à Segurança (iSaF). a execução desta

estratégia, apesar de ser apoiada pela comunidade

internacional em duas conferências sobre afeganistão

– 28 de Janeiro de 2010 em londres e em 20 de Julho

do mesmo ano em cabul, vai exigir grandes esforços

nos próximos dois anos. É necessário não só preparar

as forças de segurança afegãs, progredir e alcançar a

reconciliação nacional, mas também eliminar o tráfico

de drogas, que abastece mais de 70% do mercado

europeu de droga.

a rússia tem repetidamente indicado aos membros

da Nato o caminho para a resolução deste problema,

propondo a cooperação entre os dois lados da fronteira

entre Nato e organização do tratado de Segurança ➤

➤ что это напрямую относится к раздающимся кое-где на Западе потенциальным угрозам применения силы против Ирана в контексте его ядерной программы. Россия, в свою очередь, согласилась рассмотреть западные предложения по ПРО, которая только с нашим участием приобрела бы маломальскую эффективность. В результате, в российско-натовском заявлении отмечается, что стороны договорились работать по данному направлению по следующему графику: а) СРН осуществляет совместную оценку угроз со стороны баллистических ракет, б) СРН возобновляет сотрудничество по ПРО ТВД, в) СРН поручается разработать всеобъемлющий совместный анализ будущих рамочных усилий сотрудничества в области ПРО, г) этот анализ рассматривается на встрече министров обороны стран-членов СРН в июне 2011 г. В российском понимании речь должна идти о такой ПРО, которая бы имела уравновешенную систему управления, а не выглядела бы как попытка «пристегнуть» Россию к упомянутым американским планам «поэтапного адаптированного подхода» в роли «сопутствующего». На саммите в Лиссабоне Президент Д.А.Медведев представил наше видение евроПРО, получившее определение «секторального подхода», о котором он объявил в ходе пресс-конференции по итогам лиссабонского саммита. Еще одним и важным ориентиром для НАТО в плане возрастающей потребности сотрудничества с Россией стал Афганистан. Увязнув в многолетней войне в этой стране и неся все большие потери, североатлантические союзники заговорили о политике «афганизации», предусматривающей постепенную передачу функций внутренней безопасности правительству в Кабуле, а также о поэтапном выводе контингентов МССБ. Реализация этой линии, несмотря на ее поддержку международным сообществом на двух конференциях по Афганистану - 28 января 2010 г. в Лондоне и 20 июля того же года в Кабуле, потребует титанических усилий в течение двух ближайших лет. Нужно не только подготовить афганских силовиков и добиться сдвигов в достижении национального согласия, но и ликвидировать наркотрафик, обеспечивающий более 70% европейского рынка наркотиков. Россия неоднократно указывала натовцам путь к решению этой проблемы, предлагая наладить сотрудничество с обеих сторон границы между НАТО и ОДКБ, успешно проводящей антинаркотическую спецоперацию «канал» в приграничных районах Афганистана. Осознание нашей правоты начало появляться только сейчас. В конце октября с.г. Россия ➤

Pavel Petrovskiy

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58 • Diplomática - março/abril 2011

➤ colectiva (cSto), que está a realizar com sucesso

a operação específica de combate às drogas “canal”

nas zonas fronteiriças do afeganistão. a consciência

da nossa razão começou a surgir somente agora. No

final de outubro deste ano a rússia e os EUa em cola-

boração com iSaF e forças afegãs realizaram a sua

primeira operação conjunta de destruição de quatro

laboratórios de droga no território de afeganistão e de

932 kg de heroína. mais vale tarde do que nunca. con-

tinua a ser exigida a iniciativa de estabelecimento das

zonas de combate à droga e segurança financeira com

participação dos países – vizinhos de afeganistão, que

envolvem a interceptação de droga transportada e um

maior controlo de movimento transfronteiriço de fundos

monetários que poderiam ser obtidos com a venda

ilegal de drogas. Dentro da Nato está-se a formar a

ideia de que sem a rússia o problema de tráfico ilegal

de droga não se resolve.

Se juntarmos a isso a nossa contribuição para o trânsi-

to de mercadorias militares e civis, fica absolutamente

claro, que a nossa colaboração nos assuntos afegãos

é necessária para a Nato, como o ar. também é

evidente, que por mais densa a tal cooperação, mais

eficazes as acções da iSaF, mais forte a posição do

Governo em cabul, e portanto, mais aparentes as

perspectivas de acordo nacional, e finalmente, aproxi-

ma-se o objectivo de transmissão de poderes no âmbi-

to de segurança às autoridades afegãs e retirada das

tropas da coligação até 2014. São estes os objectivos

previstos no acordo sobre parceria entre afeganistão

e aliança, assinado na cimeira da Nato. aprovado

um acordo adicional entre a rússia e Nato sobre

o trânsito ferroviário inverso de mercadorias ilegais,

também o acordo sobre expansão do projecto de Nrc

sobre preparação pela rússia dos recursos humanos

para o combate contra a droga devido à inclusão do

paquistão na qualidade de pais – participante, junto

com o afeganistão, cazaquistão, Quirguízia, tajiquis-

tão, turquemenistão e Uzbequistão. além disso, foi

decidido estabelecer em 2011 um fundo especial de

Nrc para preparação do pessoal de terra afegão, bem

como compra de peças de reposição para manuten-

ção de helicópteros russos. a cimeira Nrc em lisboa

confirmou a conclusão sobre o interesse significativo

da Nato na ajuda da rússia para o afeganistão.

como resultado das decisões aprovadas em lisboa,

a Nato recebia aquilo que tanto procurou: “segunda

respiração”. Depois de tudo isso as circunstâncias

objectivas e lógica, baseada nos factos, evidentemente

davam resposta à pergunta: para onde tem que ir a

Nato agora. Gostassem os membros da Nato ➤

➤ и США во взаимодействии с МССБ и афганской армией провели первую совместную операцию по уничтожению на территории Афганистана четырех нарколабораторий и 932 кг героина. Лучше поздно, чем никогда. По-прежнему востребована инициатива по созданию при участии соседних с Афганистаном стран поясов антинаркотической и финансовой безопасности, предполагающих перехват перевозимых наркогрузов и усиленный мониторинг за трансграничным перемещением денежных средств, которые могли быть выручены в результате незаконного сбыта наркотиков. В НАТО постепенно формируется понимание, что без России проблему незаконного оборота наркотиков не решить. Если к этому добавить наш вклад в транзит военных и гражданских грузов, то становится абсолютно ясно, что наше содействие в афганских делах для НАТО необходимо, как воздух. Очевидно и то, что чем такое сотрудничество плотнее, тем эффективней действия МССБ, прочнее позиции правительства в Кабуле, а, следовательно, очевиднее перспективы национального согласия, и, наконец, ближе цель передачи полномочий в сфере безопасности афганским властям и вывода коалиционных войск к 2014 г. Как раз эти цели заложены в подписанное на полях саммита НАТО соглашение о партнерстве между Афганистаном и Альянсом. Одобрено дополнительное соглашение между Россией и НАТО об обратном железнодорожном транзите нелетальных грузов, а также договоренность о расширении проекта СРН по подготовке Россией антинаркотических кадров за счет включения в качестве станы участницы Пакистана наряду с Афганистаном, Казахстаном, Киргизией, Таджикистаном, Туркменистаном и Узбекистаном. Кроме того, решено создать в 2011 г. целевой фонд СРН по подготовке афганского наземного персонала и покупке запчастей для обслуживания российской вертолетной техники. Лиссабонский саммит СРН подтвердил вывод о существенной заинтересованности НАТО в российской помощи по Афганистану.В результате принятых в Лиссабоне решений НАТО получало то, к чему настойчиво стремилось - «второе дыхание». После всего этого объективные обстоятельства и основанная на фактах логика с очевидностью диктовали ответ на вопрос – куда же теперь идти НАТО. Хотелось натовцам того или нет, но без нашей доброй воли и немалой дипломатической гибкости упомянутое «второе дыхание» у Альянса, ведь, могло бы и не появиться. В ходе мероприятий в Лиссабоне подтвердился факт, что без России НАТО ➤

Para onde vai a Nato?

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59março/abril 2011 - Diplomática •

➤ ou não, mas sem a nossa boa vontade e flexibili-

dade diplomática considerável, a referida “segunda

respiração” da aliança, na verdade, poderia não

aparecer. No decorrer dos acontecimentos em

Lisboa confirmou-se o facto, que sem a Rússia a

NATO não é capaz de resolver grandes problemas

de segurança internacional, como, por exemplo,

sistema de defesa antimíssil, nem de lidar eficaz-

mente com novas ameaças e desafios, nomeada-

mente, o tráfico de drogas no Afeganistão. a cadeia

de componentes que formam interesse incondicional

da Nato na rússia pode-se facilmente prolongar, se

definir essa finalidade, claro.

No entanto, seria uma ilusão pensar, que depois das

cimeiras da Nato e Nrc à aliança não resta outra

hipótese senão às mãos dadas com a rússia, sem

quaisquer asperezas e sobreposições, concentrar-se

nas novas ameaças e desafios. lisboa apenas deu um

impulso ao movimento nessa direcção, preparou o seu

“mecanismo de lançamento”. as contradições dentro

da Nato em relação a rússia, infelizmente, não vão

desaparecer por si. relativamente pequeno grupo de

países dos novos membros, continua obstinadamente

travar a aproximação da Nato e rússia. por esta ra-

zão, pela qual chamou a atenção o Docente da Univer-

sidade do minho S. Fernandes no seu artigo “Nato

e rússia, novas direcções estratégicas” falta clareza

sobre a questão: como se vão estabelecer as ligações

de parceria connosco e até a que níveis de confian-

ça poderíamos chegar a curto prazo. Sem respostas

extremamente precisas a estas perguntas, o positivo

depositado no conceito estratégico da Nato pode-se

tornar uma ficção, e os princípios e objectivos novos

ficam somente como boas intenções.

Da parte da rússia foi proposta uma solução mutua-

mente aceitável, que permitiria garantir o devido nível

de tal confiança. o presidente D. a. medvedev ainda

em Junho de 2008 interveio com uma iniciativa de ce-

lebração dum tratado de Segurança Europeia (ESt).

Em Dezembro de 2009 aos chefes de Estado e Go-

vernos dos países interessados foi entregue o projecto

russo deste documento. o sentido da iniciativa russa

se encerrava na confirmação de forma juridicamente

obrigatória da cadeia dos princípios dos documentos

básicos do Nrc e da oScE. antes de tudo, tratava-

se de segurança igual e indivisível e inadmissibilidade

de garantia de segurança duns países por conta dos

outros. Em termos práticos, aos potenciais participan-

tes do tratado foi proposto instituir um mecanismo de

consultas rápidas nas situações críticas entre países e

organizações (Nato, EU, oScE, ciS e cSto) que ➤

➤ не в состоянии ни решать масштабные проблемы международной безопасности такие как, например, ПРО, ни эффективно бороться с новыми вызовами и угрозами, в частности, афганским наркотрафиком. Цепочку компонентов, формирующих безусловную заинтересованность НАТО в России можно без труда продолжить, если, конечно, задаться такой целью. Однако было бы иллюзией полагать, что после саммитов НАТО и СРН Альянсу не останется ничего иного, как рука об руку с Россией без каких-либо шероховатостей и накладок сконцентрироваться на новых вызовах и угрозах. Лиссабон только придал импульс движению в этом направлении, подготовил его «пусковой механизм». Противоречия внутри НАТО в отношении России, к сожалению, сами собой не исчезнут. Сравнительно небольшая группа стран из числа новых членов продолжает упорно тормозить сближение НАТО и России. По этой причине, на которую обратила внимание в своей статье «НАТО и Россия, новые стратегические направления» доцент Университета Минью С.Фернандеш, отсутствует ясность по вопросу – как будут выстраиваться с нами партнерские связи и на какой уровень доверия мы могли бы выйти в короткой перспективе. Без предельно точных ответов на эти вопросы заложенный в стратконцепция НАТО позитив может оказаться фикцией, а новые принципы и цели останутся благими намерениями. Со стороны России была предложена взаимоприемлемая развязка, которая позволила бы обеспечить надлежащий уровень такого доверия. Президент Д.А.Медведев, причем еще в июне 2008 г., выступил с инициативой по заключению Договора о европейской безопасности (ДЕБ). В декабре 2009 г. главам государств и правительств заинтересованных стран был передан российский проект этого документа. Смысл российской инициативы заключался в подтверждении в юридически обязывающей форме ряда принципов базовых документов СРН и ОБСЕ. Прежде всего, речь шла о равной и неделимой безопасности и недопустимости обеспечения безопасности одних стран за счет других. В практическом плане потенциальным участникам договора предлагалось учредить механизм оперативных консультаций в острых ситуациях между государствами и организациями (НАТО, ЕС, ОБСЕ, СНГ и ОДКБ), действующими в сфере безопасности от Ванкувера до Владивостока. Хотя многие члены НАТО, включая Португалию, восприняли ДЕБ положительно, выйти на скорое подписание этого документа не получилось. Работа ➤

Pavel Petrovskiy

Page 60: Diplomática n.º9

60 • Diplomática - março/abril 2011

➤ atuam no âmbito de segurança, de Vancouver a Vla-

divostok. Embora muitos membros da Nato, incluindo

portugal, perceberam ESt de forma positiva, mas

chegar à breve assinatura deste documento não se

conseguiu. trabalho sobre ESt tornou-se numa forma

de discussão académica numa série de áreas, contudo

não focando no problema de “segurança rígida” com

qual o ESt tem a relação directa, mas sim no contexto

de “cesto” global da oScE, incluindo a “segurança

mole”: seus aspectos económicos, humanitários, cultu-

rais, climáticos e outros. como plataforma principal de

discussões ficou o chamado “processo de corfu” a que

deu origem a reunião informal dos ministros de negó-

cios estrangeiros da oScE em Junho de 2009 na ilha

grega de corfu. o decorrer da discussão mostra que

os colegas da Nato ainda vão precisar de algum tem-

po para entender a essência do ESt, para perceber

que ESt não está direccionado a prejudicar o artigo 5º

do tratado de Washington sobre Segurança colectiva

da Nato, nem para separação dos EUa e Europa,

nem, de modo nenhum, para “restabelecimento das

posições” da rússia no papel de Superpotência, como

pensam alguns politólogos, mas sim para transformar

o espaço de Vancouver a Vladivostok numa região de

confiança e estabilidade genuínas.

apesar do facto, os documentos aprovados nas cimei-

ras de lisboa, bem como o próprio andar da discussão

não revelaram as mudanças principiais na percepção

do ESt pelos países da aliança, a própria existência

da iniciativa russa incentiva a Nato a se mover na

única direcção certa e lógica: em direcção de aproxi-

mação com a rússia. Sobre isso testemunha a polé-

mica que se desenvolveu na véspera da cimeira da

Nato sobre a questão de parceria. Discutiram-se, em

particular, as propostas de separar os parceiros para

estratégicos e habituais. Uns consideravam o parceiro

estratégico a União Europeia por causa de comunida-

de territorial e presença nos 28 países da Nato do

21º membro da EU, e também por causa de “valores

comuns” e objectivos. outros acreditavam, que a EU e

a Nato, em geral, são quase um único organismo, no

qual os recursos fluem como nos recipientes comuni-

cantes. ainda outros, ao contrario, questionavam aber-

tamente a possibilidade de construir uma cooperação

militar eficaz entre EU e a Nato. Entre os parceiros

estratégicos também indicavam a rússia, Índia, china

e brasil. Houve também tentativas de colocar a impor-

tância da rússia para Nato no sentido oposto dos

países referidos.

Nos vários seminários científicos e teóricos, reali-

zados em Lisboa, expressou-se ainda a opinião ➤

➤ по ДЕБ приобрела форму академической дискуссии на целом ряде площадок, причем с упором не на проблематику «жесткой безопасности», к которой ДЕБ имеет непосредственное отношение, а в контексте общей «корзины» ОБСЕ, включающей «мягкую безопасность» - ее экономические, гуманитарные, культурные, климатические и другие аспекты. Главной из дискуссионных площадок стал так называемый «корфуский процесс», начало которому положила неформальная встреча министров иностранных дел ОБСЕ в июне 2009 г. на греческом острове Корфу. Ход обсуждения показывает, что коллегам по НАТО потребуется еще какое-то время, чтобы разобраться в сути ДЕБ, понять, что ДЕБ направлен не на подрыв статьи 5 Вашингтонского договора о коллективной безопасности НАТО, не на раскол между США и Европой и вовсе не на «восстановление позиций» России в качестве сверхдержавы как считают некоторые политологи, а на превращение пространства от Ванкувера до Владивостока в регион подлинного доверия и стабильности. Несмотря на то, что принятые на саммитах в Лиссабоне документы, как и ход дискуссии, не выявили принципиальных перемен в восприятии ДЕБ странами Альянса, само существование российской инициативы стимулирует НАТО к движению в единственном логически верном направлении – в сторону сближения с Россией. Об этом свидетельствует развернувшаяся в преддверии саммита НАТО полемика вокруг вопроса о партнерстве. Обсуждались, в частности, предложения разделить партнеров на стратегических и обычных. Одни причисляли к стратегическим партнерам Евросоюз в силу территориальной общности и присутствия в составе 28-и стран НАТО 21-го члена ЕС, а также «общности ценностей» и задач. Другие полагали, что ЕС и НАТО, вообще, почти единый организм, в котором ресурсы перетекают как по совмещающимся сосудам. Третьи, наоборот, откровенно сомневались в возможности наладить эффективное военное сотрудничество между ЕС и НАТО. Среди стратегических партнеров называли также Россию, Индию, Китай и Бразилию. Были и попытки противопоставлять Россию по важности для НАТО перечисленным странам. На многочисленных научно-теоретических семинарах, состоявшихся в Лиссабоне, высказывалось даже мнение о целесообразности принятия России в НАТО, что, дескать, явилось бы адекватным ответом Запада на ДЕБ и автоматически придало бы принципу неделимости безопасности юридически обязывающую силу. ➤

Para onde vai a Nato?

Page 61: Diplomática n.º9

61março/abril 2011 - Diplomática •

➤ de conveniência da entrada da Rússia na NATO,

o que, dizem, seria uma resposta adequada do

Ocidente para EST e automaticamente dava uma

força juridicamente obrigatória ao princípio de

indivisibilidade da segurança. No entanto, a maioria

dos analistas ainda se inclinam para uma abordagem

mais realista, indicando a ausência de argumentação

convincente para tal formulação da questão. Em parti-

cular, alegaram, que não há interesse na participação

da rússia, como da própria rússia nem dos membros

da Nato, que não gostariam de ter na aliança o 2º de-

pois dos EUa “primeiro entre iguais”, não falando ainda

na oposição previsível dos novos membros da Nato.

a questão final foi esclarecida pelo D.a. medvedev na

conferência de imprensa em lisboa, que declarou, que

actualmente ele não vê a situação em que a rússia se

poderia juntar à Nato. No entanto, de acordo com o

presidente russo, tudo muda, muda a aliança também.

E ele não exclui, que pode-se levantar a questão da

nossa cooperação mais próxima. “De qualquer ma-

neira, sublinhou D.a. medvedev, o facto que no dia

de hoje as nossas relações tornaram-se muito mais

próximas e mais transparentes, mais previsíveis, leva

a conclusão que seu potencial não está esgotado, e

a aproximação das nossas abordagens em todas as

atitudes vai continuar”.

Se tentássemos olhar para o futuro, com alguma de-

terminada parte de certeza podíamos dizer, que dentro

da Nato, vai-se reforçar a compreensão da neces-

sidade de construção das relações qualitativamente

novas com a rússia. o ministro dos Negócios Estran-

geiros de portugal l. amado, nesse sentido afirmou,

que “o entendimento mútuo entre a Nato e a rússia é

muito importante no período de alta tensão geopolítica,

que o mundo vai enfrentar nos próximos anos”.

a melhor opção de nova construção das nossas rela-

ções é uma parceria avançada, que obteve um novo

impulso na cimeira Nrc em lisboa. o princípio básico

destas relações só pode ser “segurança indivisível”,

que, embora na conversa já é aceite pela Nato, não

obterá imediatamente o formato do conceito juridica-

mente obrigatório, mas sim durante os processos de

alinhamento das relações confiáveis de parceria, que

não são fáceis, através de gradual ajustamento em to-

das as direcções da nossa cooperação. Não seria um

erro de supor, que em 2011 a área mais complicada e

tensa deste ajustamento será exactamente o sistema

antimísseis, sobre o qual as posições das partes por

enquanto não têm pontos em comum, e as declara-

ções de lisboa sobre essa questão são nada mais do

que acordos de intenções. Segundo o nosso ➤

➤ Однако большинство аналитиков все же склоняется к более реалистичным подходам, отмечая отсутствие убедительной аргументации для такой постановки вопроса. В частности, приводились доводы о том, что в членстве России незаинтересована как она сама, так и натовцы, которые не хотели бы иметь в Альянсе второго после США «первого среди равных», не говоря о вполне предсказуемом противодействии этому натовских «новобранцев». Окончательную ясность в этот вопрос внес на лиссабонской пресс-конференции Д.А.Медведев, заявивший, что в настоящий момент он не видит ситуации, когда Россия могла бы присоединиться к Североатлантическому альянсу. Однако, по словам Президента России, всё меняется, меняется и Североатлантический альянс. И он не исключает, что может стать вопрос о нашем более тесном сотрудничестве. «Во всяком случае, - подчеркнул Д.А.Медведем, - то, что на сегодняшний день наши отношения стали гораздо ближе и гораздо более прозрачными, более предсказуемыми, наводит на мысль о том, что их потенциал абсолютно не исчерпан, и сближение наших подходов по всем позициям будет продолжено».Если попытаться взглянуть в будущее, то можно с определенной долей уверенности полагать, что в НАТО будет укрепляться понимание необходимости выстраивания качественно новых связей с Россией. Министр иностранных дел Португалии Л.Амаду в этой связи заявил, что «взаимопонимание между НАТО и Россией весьма важно в период высокой геополитической напряженности, с которой столкнется мир в ближайшие годы». Оптимальным вариантом дальнейшего выстраивания наших отношений представляется продвинутое партнерство, получившее новый импульс на саммите СРН в Лиссабоне. Базовым принципом этих отношений может быть только «неделимая безопасность», которая, хотя и на словах признается в НАТО, но обретет формат юридически обязывающего понятия далеко не сразу, а в ходе непростых процессов выстраивания доверительных партнерских связей, путем постепенной притирки по всем азимутам нашего сотрудничества. Не будет ошибкой предположить, что в 2011 г. наиболее сложными и напряженными сферами такой притирки станет именно ПРО, в позициях сторон по которой пока никаких точек соприкосновения попросту нет, а лиссабонские заявления на эту тему представляют собой не более, чем договоренности о намерениях. По словам нашего Президента, самим европейцам еще «предстоит разобраться, где их ➤

Pavel Petrovskiy

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62 • Diplomática - março/abril 2011

➤ presidente, os próprios europeus ainda “têm que des-

cobrir, onde é o seu lugar, como é que vai ser no final

a ideia de defesa europeia antimísseis, especialmente

depois de ela ser concluída, supomos, até 2020. Nós,

por sua vez, devemos entender, onde é o nosso lugar,

e, obviamente, temos que partir do facto que a nossa

participação deve ser absolutamente equitativa”. Nada

menos complicadas e dolorosas seriam as negociações

entre a rússia e os países da Nato sobre o tratado

cFE tendo em conta, que o restabelecimento dos re-

gimes viáveis de controlo de armas usuais, é baseado

nas medidas mútuas de confiança, que exigem escru-

pulosa coordenação. São necessários os compromis-

sos concretos da Nato em relação á manifestação de

discrição no palco militar, nomeadamente, não colocar

as chamadas “forças substanciais de combate” no

território dos novos membros. Em geral, os progressos

sobre sistema antimísseis e tratado cFE já nos próxi-

mos tempos seriam um indicador real da prontidão dos

colegas da Nato para uma parceria verdadeiramente

estratégica, declarada por eles no conceito estratégico.

Por outras palavras, neste momento não é fácil

responder duma maneira única à pergunta “para

onde vai a NATO?”. Não há dúvidas, que nos próxi-

mos dez anos a Aliança vai tentar ocupar a posição

duma estrutura de liderança mundial, além do mais

nuclear, no âmbito de segurança internacional, que

tem a responsabilidade de opor-se às novas amea-

ças, como também da regulação da crise. Não está

muito claro, como nas novas condições vão funcionar

na prática o artigo 5º do tratado de Washington sobre

Segurança colectiva, e artigo 4º na parte de consultas

mais sólidas não só com aliados mas também com

parceiros, previstas pelo conceito estratégico. Há

motivo para pensar.

ao mesmo tempo, é um facto indiscutível, que sem

interacção com a rússia não há alternativa de imple-

mentação do conceito estratégico de lisboa na parte

de novas ameaças e desafios. isso vai objectivamente

empurrar a Nato na direcção de relações de parceria

connosco. Em que formato e em que momento elas

começam a ganhar força e se vão chegar ao nível de

cooperação confiável, ou começa mais um recuo por

quaisquer razões subjectivas, como já aconteceu varias

vezes na nossa história, é melhor não adivinhar. Em

qualquer caso, repetindo a ideia do presidente D.a.

medvedev, podemos dizer com certeza, que as pro-

porções e nível de interacção dos membros Nrc em

grande medida vão depender da evolução posterior da

aliança. mas oportunidades para uma aproximação são

evidentes, e perdê-las seria um erro imperdoável. ■

➤ место, как будет выглядеть в конечном счёте идея европейской противоракетной обороны, особенно после того, как она будет завершена, условно говоря, к 2020 году. Мы, в свою очередь, должны разобраться, где наше место, и, конечно, мы должны исходить из того, что наше участие должно быть абсолютно равноправным». Не менее сложно и болезненно будут продвигаться переговоры между Россией и странами НАТО по ДОВСЕ с учетом того, что восстановление жизнеспособности режимов контроля над обычными вооружениями базируется на взаимных мерах доверия, которые требуют кропотливого согласования. Нужны конкретные обязательства НАТО в отношении проявления сдержанности в военной сфере, в частности, не размещении на территории новых членов так называемых «существенных боевых сил». В целом, продвижение по ПРО и ДОВСЕ уже в ближайшее время будет реальным индикатором готовности натовских коллег к декларированному ими в стратконцепции подлинно стратегическому партнерству. Иными словами однозначно ответить на вопрос «Куда идет НАТО?» на данный момент непросто. Нет сомнений, что в течение ближайших десяти лет Альянс будет стремиться занять позицию ведущей мировой, причем ядерной, структуры в сфере международной безопасности, отвечающую как за противодействие новым угрозам, так и кризисное регулирование. Не совсем понятно, как в новых условиях будут на практике работать статья 5 Вашингтонского договора о коллективной безопасности и статья 4 в части предусмотренных стратконцепцией более плотных консультаций не только с союзниками, но и партнерами. Есть над чем подумать.В то же время непреложным фактом является то, что альтернативы реализации лиссабонской стратконцепции в части новых вызов и угроз без многопланового взаимодействия с Россией не существует. Это будет объективно подталкивать НАТО в направлении партнерских отношений с нами. В каком формате и в какие сроки они наберут обороты и выйдут ли на уровень доверительного взаимодействия или начнется очередной откат по каким-либо субъективным обстоятельствам, как это было не раз в нашей истории, лучше не предугадывать. В любом случае, повторяя мысль Президента Д.А.Медведева, можно с уверенностью сказать, что масштабы и уровень взаимодействия членов СРН в значительной степени будут зависеть от дальнейшей эволюции Альянса. Но шансы для сближения все же очевидны, и упускать их было бы непростительной ошибкой. ■

pavel petrovskiy

Para onde vai a Nato?

Page 63: Diplomática n.º9
Page 64: Diplomática n.º9

64 • Diplomática - março/abril 2011

Adriano Moreira por maria da luz de bragança e Jorge Urbano, fotos ligia correia

O último senador

É absolutamente fascinante falar com este velho senhor da política portu-

guesa, nome referencial de pensador e professor insigne. Em conversa solta,

deparasse-nos um homem sem idade, discorrendo sobre o passado e o futuro

da velha Europa e do Ocidente. ➤

Política

Page 65: Diplomática n.º9

65março/abril 2011 - Diplomática •

➤ Num artigo de há cerca de vinte

anos, o Professor mencionava o

facto de a Europa ter falta de von-

tade de poder, servindo apenas de

conselheira entre os japoneses e

americanos. Como é que vê, neste

momento, o papel da Europa?

acho que, nos últimos tempos, deu-

se uma mudança radical no que diz

respeito à estrutura internacional - e

que foi o desaparecimento daquilo a

que tenho chamado de” império Eu-

romundialista”. E que começa com as

descobertas portuguesas que vão es-

tabelecendo uma hegemonia ociden-

tal em todo o globo, e que assume a

sua forma na conferência de berlim,

em 1885. Nessa última conferência

– que considero como um marco – o

predomínio ocidental era evidente

e portugal, que apesar de sofrer o

Ultimato em 1890, fica como sendo o

titular de uma parcela desse “império

Euromundialista”. o tal apoio externo

de que nós sempre dependemos - e

precisamos - desde a fundação do

reino; ficámos participantes nesse

império global, o que dá uma consis-

tência muito grande à estabilidade

dessa presença portuguesa, apesar

de a economia ser débil e de o país

ser pequeno, da vida interna ter as

complicações que sempre teve...

o bispo do porto, D. manuel, há pou-

co tempo chamava à atenção dizen-

do que em 1810 foi preciso afundar o

Estado, em 1910 foi preciso afundar

o Estado e que agora, cem anos

depois, talvez seja preciso o mesmo.

mas esta circunstância da dependên-

cia externa que portugal, lava a que

esse império caia com os conflitos

internos ocidentais, com as duas

guerras mundiais e, em especial, com

a última Grande Guerra.

mas essa guerra só foi mundial nos

efeitos, uma vez que todos os povos

sofreram com ela. porque, de facto,

foi uma guerra civil entre ocidentais,

em que os responsáveis foram os

países ocidentais, porque havia uma

tradição europeia espantosa - que é

a de que nenhum país tem um país

vizinho mas sim um inimigo íntimo. É

assim que nós vivemos.

por isso, quando acaba a guerra de

1939-45, os aliados, de facto, eram

os vencedores da guerra. ou melhor,

apenas não a tinha perdido. os Esta-

dos Unidos, nesse momento, tiveram

consciência de que são ocidentais.

Na verdade, os EUa esqueceram-

se que o oceano deles é o pacífico

e viraram-se para o atlântico, pelas

solidariedades e riscos que efectiva-

mente existiam. E julgo que foi come-

tido um erro de avaliação quando se

fundaram as Nações Unidas.

E porquê? Em primeiro lugar, porque

os ocidentais é que escreveram a

carta, os ocidentais é que escreveram

a Declaração Universal dos Direitos

do Homem. os ocidentais, com o

seu império, tinham uma divisão do

mundo fácil: havia o nosso império

e o resto do mundo. E, portanto, a

organização foi vítima de um fenó-

meno importante: as imagens duram

sempre mais tempo que os factos. o

império pensa que ainda tem a mes-

ma força nesta hora de crepúsculo. E,

por isso, vê-se organizar a segurança

no conselho de Segurança, onde a

França e a inglaterra têm direito de

voto e antes não tinham qualquer

poder universal. De tal maneira, muito

rapidamente, o mundo passou a ser

governado, não pela ordem que esta-

va marcada, mas pela ordem que os

factos ditaram. porque foi a Nato e

o pacto de Varsóvia - e a ordem que

estabeleceram é que foi a ordem do

mundo. teve a paz na Europa, mas

foi um governo de metades.

Nós tivemos duas Europas, duas

alemanhas, duas cidades de berlim,

duas coreias… E quando acabou

esta situação chamada de Guerra

Fria aconteceu o que se havia veri-

ficado na última guerra mundial: os

aliados julgaram que tinham ganho,

mas apenas não perderam contra a

rússia. porque a rússia dissolveu-se

por dentro; não foi por combate ou

por supremacia da aliança ocidental.

E os ocidentais, neste momento, com

as doutrinas que foram desenvol-

vendo, sobretudo durante a regência

republicana do presidente bush, em

que américa apresenta uma atitu-

de unilateralista muito diferente da

solidariedade que houve durante a

guerra, e que os europeus esquece-

ram muito rapidamente. mas, imedia-

tamente, pensaram nas rivalidades e

começou a aparecer um europeísmo

anti-américa.

Não interessava também, aos EUA,

que a Europa não ficasse toda

junta num bloco?

Eu diria que sim. mas, em primeiro

lugar, eles morreram pela Europa;

segundo lugar, eles ajudaram a

construir a Europa, sem eles não

haveria reconstrução possível da

Europa. mas a Europa também tem

o seu credo. E o credo da américa

abrange pelos menos estes pontos:

eles acham que são a nação indis-

pensável; a eles compete assegurar

a ordem do mundo; o mundo deve-se

organizar democraticamente pelo

modelo americano; o mundo deve-se

organizar pela doutrina económica

americana; e, mesmo com a evolução

que se tem seguido com a adminis-

tração de obama, ainda não se põe

em causa estes princípios. apenas a

maneira de agir se tornou diferente.

Nós, na Europa, aquilo que fizemos

foi uma demarche galvanizada que

tem interventores notabilíssimos,

entre os quais, Jean Monnet. Tivé-

mos grandes doutrinadores desta

ideia que os europeus não podem

ser inimigos íntimos. Simplesmen-

te isto foi transferido para o Atlân-

tico, quando começou o nascer o

europeísmo e o americanismo. Ao

contrário, com aquelas doutrinas

do Neo-Conservadorismo america-

no, do choque das civilizações, etc.

E nós, aquilo que começamos ➤

Page 66: Diplomática n.º9

66 • Diplomática - março/abril 2011

➤ a fazer foi uma organização eco-

nómica da Europa: as comunida-

des. Eu acho interessante quando

no fim da vida, nas suas memórias,

o Jean Monnet diz que se fosse

hoje começaria pela Cultura e não

pela Economia.

o que eu acho que aconteceu na

Europa foi um relativismo tremendo,

e tenho resumido esse relativismo

a este conceito: substituíram o valor

das coisas pelo preço das coisas. E

isto foi o que fez que o relativismo se

instalasse. o relativismo que se ins-

talou fez enfraquecer os valores que

são valores estruturantes da Europa,

designadamente, a referência aos

valores religiosos.

Parece-lhe que, paralelamente - e

ao longo de todo esse percurso -,

a Igreja perde força e passa a um

consultor, não tendo já mais direi-

tos sobre as consciências?

a recusa de fazer referência aos

valores religiosos foi culpa do tratado

constitucional. o problema mais sério

é que as estatísticas demonstram

que a declaração de pertença a uma

igreja institucionalizada diminui, mas

o apelo à transcendência está a

aumentar. o que dá origem a estas

organizações novas, dispersas, meio

cósmicas, meio seitas.

É claro que a transcendência não

desapareceu, nem diminuiu. porém,

relativizou-se. E isso é evidente não

apenas no geral da sociedade na

degradação dos valores – as fron-

teiras já não são o que eram –, mas

também nas modificações da socie-

dade civil que têm sido brutais. Num

dos meus últimos discursos disse

o seguinte: quando eu fui educado,

o aparelho de ensino – que sofre

bastantes críticas actualmente – era

apoiado na integração que a família

fazia, na integração que o pároco

fazia, na integração que o exército

fazia, e o aparelho educativo depois

dava a formação educativa necessá-

ria. Neste momento, a família aca-

bou, a influência da igreja diminuiu,

o serviço militar obrigatório acabou.

E o aparelho educativo ficou vazio,

recebendo o peso todo e também as

críticas todas.

outra coisa que desapareceu foi o

valor das fronteiras geográficas na

Europa. as fronteiras são hoje ape-

nas um apontamento administrativo.

Depois os países tentaram ter uma

fronteira. Veja o caso de portugal:

temos fronteiras geográficas que são

apenas apontamentos administra-

tivos, mas a fronteira económica é

a da União Europeia; a fronteira de

segurança é a da Nato. E, portanto,

as fronteiras multiplicaram-se. as fi-

delidades são outras e são múltiplas.

mas também a sociedade civil, que

leva tanto tempo – séculos mesmo –

a construir, com a forma mais perfeita

que nós conhecemos que é a manei-

ra das pessoas terem maior devoção,

dedicação e solidariedade. as migra-

ções descontroladas, que a nova eco-

nomia liberal de mercado provocou,

em que as pessoas se deslocam para

fugir da miséria ou da guerra, para

lugares que a propaganda e os meios

de comunicação descrevem como

sendo uma sociedade rica, influente,

consumista. Essa gente entrou sem

nenhuma política de integração, de

assimilação, e nós estamos numa

estrutura que, por um lado, tem a

sociedade civil, mas, por outro, tem a

multidão - porque é um grupo infor-

me. E isso dá origem àqueles confli-

tos que nós conhecemos em paris,

em atenas, em Setúbal. Não há

nenhum país que esteja livre disso.

Dá-me a impressão que estamos a vi-

ver traços medievais porque vivíamos

num castelo e, depois, tínhamos uns

bairros com as várias populações: os

bairros judeus, os bairros ciganos...

Neste momento, temos uns aparta-

mentos fechados, defendidos, e os

bairros que não conseguem entrar. o

rei de portugal foi rei das três religi-

ões, em determinado momento. Eu

não sei se o presidente é presidente

das três religiões. porque a mudança

foi radical. De maneira que esta mu-

dança dos valores é fundamental. as

matrizes valorativas estão todas em

causa em todo o nosso ocidente, ao

mesmo tempo que perdemos a nossa

hegemonia. porque se virem os dis-

cursos que vêm depois da conferên-

cia de berlim, a justificar a ida para as

colónia,s falam claramente que que-

rem saber das matérias-primas e de

mercados para produtos acabados.

mas vão acrescentando que também

farão outras coisas. Nós faremos a

evangelização, os franceses dizem

que vão levar as luzes; os ingleses

a civilização, mas não as matérias-

primas e os produtos acabados. a

Europa não tem isso, está dependen-

te - neste momento - disso.

A propósito desta decadência

e do estado a que isto chegou

em termos genéricos europeus,

podemos falar de uma comissão

liquidatária que julga estar investi-

da de poder para levar a cabo essa

destruição?

Não posso dizer que tenham essa

consciência. o que verifico é que

faltam grandes líderes como os que

outrora tivemos na Europa. Estas

mudanças todas estão, realmente,

sem um projecto final. Não se pode

dizer que haja um projecto final para

a União Europeia.

A minha dúvida é se ainda pode

haver projecto.

muita gente tem dúvidas. Há sinais

que fazem suscitar as dúvidas. mas

devo dizer que acho que era melhor

para o ocidente se o projecto não

fosse terminado. porque ainda assim

pode haver uns apoios que são indis-

pensáveis para um país pequeno.

Eu acho que o grande problema des-

te mundo passa por: primeiro passo

- tomar consciência que a destruição

das torres gémeas inaugura uma

nova época estratégica. E, sabido

isso, a base da defesa e ➤

Adriano Moreira

Page 67: Diplomática n.º9

67março/abril 2011 - Diplomática •

um crescimento de 5 ou 6 filhos

por casal…

Há uma coisa importante: esse mo-

vimento migratório para a Europa foi

muito determinado por uma imagem

falsa de uma sociedade de opulência

e consumismo que abrangia toda

a gente; e não foram devidamente

protegidos em termos jurídicos - e

foram largamente explorados. E

o facto de ter havido intervenções

gravíssimas por parte dos árabes,

não quer dizer que todos eles sejam

partidários da violência. Nós temos

uma organização fundada por um

muçulmano estrangeiro, em Évora,

para a defesa da paz - que recebeu

o título de Doutor honoris causa pela

Universidade de lá.

agora, há uma grande debilidade das

sociedades altamente dependentes

da técnica é evidente. Estas preci-

sam cada vez mais de gente muito

qualificada e, cada vez mais, de me-

nos gente. É preciso que a Economia

cresça de maneira a que sustente

as necessidades de menos gente. o

que não tem acontecido.

o que acontece é que quem so-

fre, primeiramente, é essa gente

que emigrou. E é por isso que sou

completamente contra que – apesar

da nossa falta de recursos – desapa-

reça o Estado Social ou a oNU, que

também tem um papel social impor-

tante. a oNU tem uma coisa que se

chama plano das Nações Unidas

para o Desenvolvimento (pNUD)

que, no fundo, é um plano social. o

plano social não é um imperativo, é

um princípio. Há uma diferença entre

imperativo e princípio: o princípio

deve ser caridoso na medida que se

possa. o Estado Social é na medida

em que nós podemos. agora deitá-lo

fora é deitar a esperança pela janela.

a doutrina oficial da igreja, aí, coin-

cide com a doutrina do socialismo

democrático. Esta circunstância é um

enormíssimo desafio para a paz civil

na Europa. n

O rosto da notícia

Adriano moreira é um estadista, político, deputado, advogado, jurisconsulto, internacio-

nalista, politólogo, sociólogo e professor. Destacou-se pelo seu percurso académico e

pelo seu historial antes de se tornar ministro do Ultramar durante o Estado Novo. Foi

também presidente do cDS (1986-1988)

aluno brilhante, licenciou-se em Direito pela Universidade de lisboa, em 1944, possuin-

do o doutoramento na mesma área, pela Universidade complutense de madrid.

Desempenha funções de professor - na área de relações internacionais - no instituto

Superior Naval de Guerra, na Escola de comando e Estado-maior do Exército, na pon-

tifícia Universidade católica do rio de Janeiro, na Universidade aberta e na Universida-

de católica portuguesa. É professor Emérito da Universidade técnica de lisboa.

É ainda professor Honorário da Universidade de Santa maria.

Doutor Honoris causa pela Universidade aberta, Universidade da beira interior, Univer-

sidade de manaus, Universidade de brasília, Universidade de São paulo, Universidade

do rio de Janeiro e Universidade da bahía.

membro da academia brasileira de letras, da academia pernambucana de letras,

da academia internacional de Direito e Economia de São paulo, da academia inter-

nacional da cultura portuguesa, da academia das ciências de lisboa, da academia

de marinha, da academia de ciencias morales y politicas de madrid e da academia

portuguesa de História.

curador Honorário da Fundação oriente e actual curador da Universidade cândido

mendes.

presidente honorário da Sociedade de Geografia de lisboa, preside e fundou a acade-

mia internacional da cultura portuguesa, preside internacionalmente ao centro Euro-

peu de informação e Documentação (cEDi), preside ao conselho de Fundadores do

instituto D. João de castro, preside à assembleia-geral da associação portuguesa de

ciência política e ao conselho Nacional de avaliação do Ensino Superior (desde 1998).

Foi co-fundador do movimento da União das comunidades de língua portuguesa.

membro do instituto de Estudos políticos de Vaduz, do movimento paneuropa de cou-

denhouve-Kalergi, do conselho da Fundação luís molina da Universidade de Évora,

Director do centro de Estudos políticos e Sociais da Junta de investigação científica

do Ultramar.

Foi condecorado com a medalha de mérito cultural, a medalha da Defesa Nacional

de 1ª classe, a medalha do Exército de D. afonso Henriques de 1ª classe, a medalha

militar de Serviços Distintos grau ouro da marinha, medalha de mérito aeronáutico, a

royal Victorian order, a Grã-cruz da ordem militar de Santiago da Espada, a Grã-cruz

da ordem de isabel a católica, a Grã-cruz da ordem do cruzeiro do Sul, a Grã-cruz

da ordem militar de cristo e a Grã-cruz da ordem de São Silvestre magno.

É Grande-oficial da ordem do infante D. Henrique e cavaleiro da Grã-cruz da ordem

de áfrica. n

➤ da segurança é sempre territorial.

E vem na carta da oNU. Quando se

fez a Nato foi com base na carta da

oNU. o espaço que, neste momen-

to, precisa de segurança chama-se

ocidente - e as torres avisaram que o

ocidente precisa de ter uma segu-

rança estável. Neste momento, no

mar, volta a haver pirataria, tráfico

de armas, etc. E, por isso, tem-me

parecido que a questão já não é o

atlântico Norte, a questão não é a

Nato, não é – como foi a lógica da

conferência de lisboa –, substituir as

fronteiras geográficas pelas fronteiras

dos interesses. É preciso definir o

território que precisa de segurança

não agressiva. mas só essa. E isso

chama-se ocidente. E, por isso

mesmo, penso que é preciso integrar

a segurança do atlântico Norte com

a segurança do atlântico Sul. E essa

segurança do atlântico Sul – que

não é todo ocidental – deve ser uma

segurança integrada. E julgo que o

brasil pode e deve ter um grande

papel na democracia.

Falando de fronteiras, há um risco

de a Europa implodir e, por outro

lado, há um problema demográ-

fico de crescimento negativo, ao

mesmo tempo que os árabes têm

Page 68: Diplomática n.º9

68 • Diplomática - março/abril 2011

Brasil, angola e portugal – por esta ordem – lideram as

trocas comerciais entre os países de língua portuguesa e o

gigante asiático, tendo como entreposto a região Especial

de macau

lisboa, 28 Fevereiro - o volume do comércio entre a re-

pública popular da china e os países lusófonos, através

da macau, atingiu o número record de 91,423 bilhões de

dólares no ano transacto, registando um aumento homólogo

de 46,35 por cento.

Em matéria de importações, a china comprou mercadorias

dos países de língua portuguesa no valor de 61.858 bilhões

de dólares e exportou para estes, nomeadamente, angola,

brasil, cabo Verde, Guiné-bissau, moçambique, portugal,

timor leste e São tomé e príncipe, qualquer coisa como

29.564 bilhões de dólares de mercadorias.

o brasil é o principal parceiro lusófono da china, sendo que

o comércio ascendeu a 62.58 bilhões de dólares, concer-

nentes a importações brasileiras no valor de 38.086 bilhões

de dólares e exportações para a china que rondam os

24,462 bilhões. Em segundo lugar surge angola, com trocas

comerciais no valor de 24,816 bilhões de dólares, em linha

das importações angolanas de 22,812 bilhões e exporta-

ções para a china de 2,004 bilhões de dólares. portugal

surge na terceira posição, com umvolume de importações

na ordem dos 754 milhões de dólares, tendo exportado para

a china mercadorias no valor de 2,513 milhões de dólares. ■

2010 assinala recorde no volume de negócios Entre a China e os países lusófonos

Viagens de estado

Sócrates em macau: uma presença que revela a importância

da região para a lusofoniaFotos: ricardo oliveira - Gpm

Page 69: Diplomática n.º9

69março/abril 2011 - Diplomática •

Na despedida, Lula da Silva estendeu a mão na ajuda ao “país irmão”

A XX cimeira ibero-americano de Novembro passado, realizada em mar

del plata, argentina, frustrou algumas expectativas, nomeadamente, pela

ausência dos chefes de Estado da Venezuela, bolívia, cuba, Nicarágua

– países dissonantes da orientação oficial destas cimeiras que, em abono

da verdade, se poderá dizer terem perdido a importância de outrora.

De qualquer modo, a cimeira na argentina foi marcada pela saída de

funções de lula da Silva e a dupla representação de portugal, com as

presenças do presidente cavaco Silva e do primeiro-ministro José Sócra-

tes – uma situação que não é alheia ao facto de a cimeira de 2009 se ter

realizado em lisboa.

circunstância, aliás, tida em conta pela organização argentina que colo-

cou cavaco a discursar no acto inaugural, antecedendo a chefe de Esta-

do da argentina, cristina Kirchner.

De realçar as declarações do então presidente lula da Silva - entretanto

substituído por Dilma rouseff - no próprio espaço da cimeira, que não dei-

xou indiferente a delegação portuguesa. E que, segundo se consta, levou

a que José Sócrates tenha sido o primeiro estadista a encontrar-se com a

actual presidente brasileira, um dia depois da sua tomada de posse…

lula foi muito claro ao afirmar que o brasil irá fazer “o esforço que estiver

ao seu alcance” para ajudar portugal a sair da crise, sublinhando que

“embora portugal e Espanha estejam a viver um momento adverso nas

suas economias, são dois países que têm uma estrutura estável do ponto

de vista social”, rematando que “esta crise é passageira”, mas não deixan-

do de fazer um alerta para a Europa “tomar cuidado, os países mais ricos

devem ajudar os países menores”. ■

Viagens de estado

Cimeira Ibero-AmericanaPortugal fez-se representar ao mais alto nível

Fotos: ricardo oliveira - Gpm

Page 70: Diplomática n.º9
Page 71: Diplomática n.º9

71março/abril 2011 - Diplomática •

Dilma RouseffUma mulher de garra

Com um percurso verdadeiramente notável, esta mulher que iniciou a sua carreira

de “presidenta” no início do ano, é uma política de mão cheia que viveu de perto

todas as alterações que o Brasil sofreu nas últimas décadas. ➤

perfil

Page 72: Diplomática n.º9

72 • Diplomática - março/abril 2011

➤ Dar continuidade às promessas

eleitorais - e conseguir a aprovação

de inúmeras leis que anunciou na

campanha eleitoral - não vai ser ta-

refa difícil para Dilma rousseff, pois

possui ampla maioria no Senado e

na câmara de Deputados.

mas o governo de Dilma, tal como

o de lula, vai ter de enfrentar ques-

tões muito sérias, como o tráfico de

influências e a corrupção – velha

gangrena que corrói a sociedade

brasileira.

outra questão que desperta a curio-

sidade de observadores e analistas

é o quadro de relações e prioridades

a estabelecer no domínio da política

externa, atendendo a que o brasil

é um dos países que pertence ao

número das nações emergentes, de

que também fazem parte a rússia, a

Índia e a china. irá Dilma dar con-

tinuidade à estratégia de lula, co-

locando o brasil como protagonista

activo da cena internacional, de que

foram exemplos as intervenções do

ex-presidente nos conflitos do Haiti

e das Honduras e na tentativa de

mediação com o regime iraniano?

tudo leva a crer que sim. apesar da

sua pouca experiência em matéria

de política internacional, Dilma conta

com uma equipa de colaboradores

experimentados, muitos deles trans-

feridos da anterior administração.

E, como é evidente, poderá sempre

contar com o apoio de lula, a sua

experiência e o prestígio internacio-

nal de que é credor.

portugal/brasil: relações entre “ir-

mãos”

as relações luso-brasileiras são,

secularmente, reconhecidas como

de grande cordialidade e de apoio

nos mais diversos sectores. Econo-

mia, cultura e Educação são áreas

em que os “países irmãos” têm,

mormente desde a constituição da

cplp, encontrado pontos de apoio

e colaboração. E mesmo na questão

da imigração – onde no passado se

verificaram pólos de atrito -, a con-

fluência de pontos de vista tem agili-

zado os processos de legalização e

integração de um lado e de outro do

atlântico.

Sinal do bom relacionamento entre

os dois países foi a circunstância

de, logo no dia a seguir à tomada de

posse de Dilma, o primeiro-ministro

José Sócrates se ter reunido com a

nova residente do palácio do pla-

nalto - uma iniciativa de Sócrates,

acolhida favoravelmente por Dilma.

contrariando rumores de que o

governo português pretenderia que

o brasil adquirisse os títulos da

dívida externa, Sócrates enfatizou

que as relações com o “país irmão”

são prioridade da política externa de

portugal. “reafirmei que uma das

prioridades mais altas da política

externa portuguesa é a relação com

o brasil. Disse à Dilma que pode

contar com portugal como o mais fiel

e mais próximo aliado naquilo que

vai ser, certamente, a caminhada do

brasil para ocupar o seu espaço no

concerto das nações, tanto na ques-

tão geopolítica como na dimensão

económica”, afirmou Sócrates, após

o encontro.

mais recentemente, a “presidenta”

recebeu o ministro português dos

Negócios Estrangeiros. luís amado

debateu com Dilma a Economia da

Europa e a crise que alastra cada

vez mais no médio oriente. Em

brasília, num encontro sem agenda

política, e que durou mais de uma

hora, amado aproveitou para ter

“uma longa conversa, na qual ela

[Dilma] estava muito interessada em

conhecer a realidade, a situação ➤

Dilma Rouseff

Page 73: Diplomática n.º9

73março/abril 2011 - Diplomática •

Irá Dilma dar continuidade à estratégia de Lula,

colocando o Brasil como protagonista activo da

cena internacional, de que foram exemplos as

intervenções do ex-presidente nos conflitos do

Haiti e das Honduras e na tentativa de mediação

com o regime iraniano?

Dilma com Sócrates e com sua filha paula

Page 74: Diplomática n.º9

74 • Diplomática - março/abril 2011

➤ do nosso país, a situação europeia,

sobretudo, e a situação internacional

com o desenvolvimento da crise no

médio oriente”, afirmou o ministro.

a prioridade definida pelo primeiro-

ministro, no que toca às relações

com o brasil, decorrendo natural-

mente da crescente importância que

este adquiriu – muito por acção do

ex-presidente lula – no contexto

geoestratégico, reside de igual modo

na intenção de Sócrates em relançar

a cplp – afirmando-a como orga-

nização de relevância internacional

–, desejo particularmente partilhado

quer pelo brasil, quer por angola. n

Um pouco de história

Dilma rousseff nasceu em minas Gerais há 62 anos, no seio de uma

família de classe média-alta. o pai era de origem búlgara e a mãe, brasi-

leira de nascimento, professora de profissão.

a jovem Dilma estudou até aos 16 anos em escolas privadas em belo

Horizonte, altura em que mudou para uma escola pública e se começou a

movimentar junto de grupos de esquerda.

o golpe de estado que abalou o brasil em 1964 acabou por se revelar

como um ponto de viragem para muitos dos colegas e amigos de futura

“presidenta”. Embora contasse apenas 17 anos, não demorou a declarar

a sua oposição aos militares, sendo que quanto mais os anos passavam

mais a sua actividade contra o governo dos generais se reforçava.

Em 1967, já estudante universitária de Economia, associou-se a um grupo

de resistentes, sendo que em 1969, devido às suas acções, já se encon-

trava a trabalhar clandestinamente sob diversos pseudónimos. Em 1970

foi presa em São paulo e torturada.

permaneceu atrás das grades durante três anos e, em 1973, quando foi

libertada, mudou-se para o rio Grande do Sul. terminou a sua licenciatu-

ra em Economia na Universidade Federal e casou com carlos araújo, um

guerrilheiro durante a ditadura que mais tarde se veio a tornar político, e

com quem teve uma filha.

Dilma trabalhou a favor da lei da amnistia e ajudou a fundar o pDt (par-

tido Democrático trabalhista) que, na primeira eleição em que partici-

pou, tentou eleger leonel brizola para presidente, ao mesmo tempo que

ocupava as funções de secretária municipal das Finanças. Em seguida,

entre os anos de 1991 e 1993, foi-lhe atribuído o cargo de presidente da

Fundação Económica e Estatística, tendo colaborado também o ministério

da Energia, minas e comunicações.

Quando luiz inácio lula da Silva chegou à presidência, em Janeiro de

2003, Dilma foi nomeada ministra das minas e Energia e, mais tarde, em

2005, acedeu ao posto de ministra da casa civil. ➤

Dilma Rouseff

Fotos: ricardo oliveira - Gpm

Page 75: Diplomática n.º9

75março/abril 2011 - Diplomática •

Uma nova fase de cooperação

entre portugal e a argélia marcou

os trabalhos da iii cimeira luso-

argelina que, no início de Novem-

bro, reuniu em oeiras os primeiros-

ministros de portugal e da argélia,

respectivamente José Sócrates e

ahmed ouyahia. as tecnologias de

informação e a comunicação foram

o tema deste terceiro encontro, o

que, segundo o governo português

“revela a vontade mútua em apro-

fundar a cooperação num domínio

importante e onde há um grande

potencial de colaboração”.

para além do tema de fundo, os

promotores da cimeira esperam,

ainda, “aprofundar a cooperação lu-

so-argelina em áreas onde existe já

uma importante relação, com vista à

consolidação das relações económi-

cas e financeiras e à promoção do

investimento bilateral e das trocas

comerciais”.

os dois países já realizaram duas

outras cimeiras, neste caso em

argel, em Janeiro de 2007 e Junho

de 2008. E assinaram, em 2005, o

tratado de boa Vizinhança, de ami-

zade e cooperação, para além de

terem trocado experiências sobre

questões bilaterais e internacionais,

em encontros sectoriais no âmbito

das anteriores cimeiras. ■

III Cimeira Luso-ArgelinaTecnologias da informação e comunicações no centro do conclave

Visitas de estado

os dois primeiros ministros da argélia e portugal

Fotos: ricardo oliveira - Gpm

Page 76: Diplomática n.º9

76 • Diplomática - março/abril 2011

Ana Paula Laborinho Presidente do Instituto Camões por Jorge Urbano tavares rodrigues, fotos ligia correia

«A causa da língua deve ser partilhada por todos nós»

É uma “militante” do português. Esta é, sem dúvida, a grande causa da sua

vida e motivo de orgulho. Em Macau ou na sede do Instituto, em Lisboa, Ana

Paula Laborinho tem na língua de Camões razão maior que a anima. ➤

Cultura

Page 77: Diplomática n.º9

77março/abril 2011 - Diplomática •

➤ A sua [e nossa] pátria é a língua,

neste caso, de Camões. Se pode-

mos dizer assim, que significado

isto tem?

considero que hoje em dia - e feliz-

mente para nós - a língua portuguesa

já não é apenas a língua de camões.

É a língua de numerosos poetas e

muitos deles espalhados pelo mun-

do. E isso dá-lhe uma dimensão e,

poderei dizer também, uma coloração

que a enriquece. Se recuarmos ao

séc. XVi e ao primeiro período da

expansão da língua em que o por-

tuguês se estava a afirmar, quando

ainda se estava na transição do latim

para o português, já João de barros

chamava a atenção para o facto de o

português se estar a enriquecer com

palavras das várias línguas com que

ia contactando. «chatinar», «ve-

niaga», por exemplo, são palavras

que se cruzavam nos caminhos das

nossas viagens. por isso essa sempre

foi uma grande componente de enten-

dimento da nossa língua com outras

línguas. línguas em que a nossa

deixou muitas marcas. línguas como

o japonês ou o anamita, a língua do

Vietname, que hoje se sabe ter sido

romanizada pelos portugueses que

deixaram nessa língua os mesmos

sinais diacríticos da nossa língua.

Falou no Oriente, em particular

no Vietname. Sei que esteve em

Macau e que foi uma das respon-

sáveis, durante a transição, e que

conhece muito bem o Oriente sobre

o qual tem vários estudos muito

interessantes. Poderá falar-nos

um pouco dessa área, em termos

de como a sua história se prende

pouco ou muito - dir-me-á - com a

especificidade, vocação e essência

do Instituto, mas também do papel

que Portugal pode desempenhar,

pela língua e não só - em termos de

Oriente (agora que se fala tanto da

China). Depois, já iremos ao Brasil.

Foi meramente por acaso que as

questões da língua se atravessaram

na minha vida. a minha formação

dominante é a literatura, mas quando

por razões familiares fui parar a ma-

cau, tive a incumbência de coordenar

os leitorados de português na ásia.

Nessa altura, apesar de, como disse,

o meu mundo ser o da literatura, eu já

tinha uma relação com o icalp (insti-

tuto de cultura e língua portuguesa)

– pois era dirigido por um professor

da minha Universidade, o professor

Fernando cristóvão -, e essas coinci-

dências levaram a que começasse a

desbravar neste terreno e me fosse

apercebendo das possibilidades que

oferecia.

aproveito a oportunidade, aliás, para

prestar homenagem aos anteriores

presidentes desta casa e, nomeada-

mente, ao professor Fernando cris-

tóvão que teve, de facto, uma visão

de expansão da língua para além do

que eram os destinos habituais. até aí

a nossa presença estava concentra-

da essencialmente na Europa, e ele

desenvolveu uma política de expan-

são para áfrica, para a ásia e para o

brasil, que se tornou muito significati-

va. recordo que um dos seus projec-

tos - que nunca conseguimos pôr de

pé - era ter um leitorado português

em ceilão, no Sri lanka. Foi ele que

começou essa expansão para a ásia.

ora, a ásia, que hoje é vista por

muitos como um destino privilegiado

da e para a nossa economia, tem uma

componente cultural muito importante

para o desenvolvimento de projectos

e negócios. para os chineses, antes

de se fazer um negócio, é necessário

que as partes se sentem à mesa para

conversar e para comer uma refeição

em conjunto, ou seja, para se conhe-

cerem. E a cultura pode tornar-se um

facilitador de outros projectos, nome-

adamente na área económica que

tanto nos interessa.

Quando fui para macau, no final da

década de 80, estava a desenvolver-

se um trabalho notável no domínio da

língua e a fazer-se uma passagem

que veio a ser determinante para o

crescimento do número de falantes.

o que se passava em macau, no final

dos anos 80, é que o português era

ainda ensinado como língua mater-

na a uma população que já não a

falava e que, portanto, já era alheia a

essa língua. Fizemos a transição da

abordagem do português como língua

materna para o português como

língua estrangeira, construindo um

projecto – em que esteve muita gente

envolvida – de internacionalização do

português. a partir da sua oferta como

língua estrangeira e como língua inter-

nacional houve, de facto, uma imensa

expansão do português, quer em

macau, quer na china. E não posso

deixar de assinalar que quando eu saí

de macau, em 2002, apesar do núme-

ro de falantes que existia a aprender o

português como língua estrangeira ser

significativo, ainda só havia na china

quatro universidades onde se ensina-

va a nossa língua. Neste momento,

há dezassete.

O que se espera dessa «ofensiva»?

Este é um movimento que se desen-

volve em duas vertentes. Uma que diz

respeito a quem tem responsabilida-

des na divulgação da língua; e outra

que tem muito a ver com os interes-

ses dos países em relação às eco-

nomias emergentes. É, por exemplo,

o caso da china, cujo interesse por

angola e pelo brasil está a despoletar

o crescimento do português. os chi-

neses têm como princípio enviar para

esses países técnicos que dominem a

língua do país de acolhimento. E, por-

tanto, fazem uma formação acelerada.

posso dizer-lhe que, neste momento,

as formações em português são muito

procuradas na china porque não há

desemprego. pelo contrário, antes de

estarem formados, já têm trabalho ou

propostas de trabalho.

Encontramos este movimento de ex-

pansão do português na china, mas

também no Japão onde há cinquenta

e sete universidades a ensinar ➤

Page 78: Diplomática n.º9

78 • Diplomática - março/abril 2011

➤ português e quase sem cooperação

portuguesa ou brasileira. tudo é feito

por iniciativa do Japão, e nós apenas

facilitamos pontes entre as universi-

dades onde se ensina o português.

claro que esta expansão da língua

mostra como há uma percepção

internacional do valor do português.

poderíamos dizer que é por causa

do brasil, de angola e dos países

africanos em geral, mas não é assim.

Nós temos notado – é também o caso

da china e do Japão – que há um

interesse muito claro em aprender a

língua, em portugal. os chineses com

o seu pragmatismo costumam dizer

que, em termos de negócios, estão

interessados em todos os países de

língua portuguesa, mas ao nível das

aprendizagens têm um gosto em se

formar em portugal. E nós devemos

aproveitar esta escolha.

Hoje em dia, o entendimento de quem

deve promover o português é alar-

gado a toda a cplp e não apenas a

portugal e ao brasil. Felizmente dei-

xou de existir rivalidade com o brasil

no domínio da língua. chegou a haver

em tempos em que se estava um

brasileiro a ensinar numa universidade

estrangeira, tentava-se colocar um

português para equilibrar. pelo contrá-

rio, o que cada vez mais temos é uma

perspectiva conjunta e, se possível,

desenvolver este plano para a interna-

cionalização com todos os países da

cplp. Esse será o objectivo.

Essa internacionalização ou glo-

balização da língua portuguesa,

juntamente com Brasil e Angola,

permitirá a Portugal expandir-se

nessa componente. Na prática toda

a CPLP, uma vez que não somos

só europeus.

E esse é talvez um dos nossos princi-

pais activos. Uma barra de ouro muito

valiosa. acho que devemos tratar da

melhor maneira este produto, mesmo

como produto de venda.

o instituto camões, nos vários for-

matos e designações que foi conhe-

cendo, passou por diferentes missões

e, por isso, distintas competências.

chegou a ter um papel relevante na

difusão da língua e da cultura portu-

guesas, bem como no apoio à inves-

tigação, não só no estrangeiro como

também em portugal. Hoje, felizmen-

te, estamos longe desse momento.

primeiro, porque já temos instituições

específicas para o apoio à cultura mas

também à investigação, como a Fct

que tem um papel muito relevante;

e, por isso, nós agora podemos ser

mais profissionais nesta competência

para a expansão do português. Já não

nessa estrita perspectiva de apoio à

investigação – o que não quer dizer

que não a mantenhamos –, porque

hoje temos vários perfis para a nossa

intervenção. Nas universidades, o

perfil da investigação é importante

e, nesse sentido, apoiamos as cáte-

dras de português e, através delas, a

investigação.

outra componente é a do desenvol-

vimento e promoção da língua. Uma

coisa são os estudos portugueses

outra é a expansão da língua. E,

desse ponto de vista, o que nós, neste

momento, estamos a fazer é uma

intervenção por blocos regionais. Esta

intervenção não deixa de estar muito

alinhada com o ministério dos Negó-

cios Estrangeiros (mNE) que, por sua

vez, também tem vindo a incorporar

um conceito mais alargado de diplo-

macia: não apenas a diplomacia no

seu sentido mais substantivo, mas

também a diplomacia económica e

a diplomacia cultural. Nesse sentido,

a acção do instituto camões está

alinhada com os diferentes objectivos

do ministério dos Negócios Estrangei-

ros e as suas áreas privilegiadas de

intervenção, não deixando – e julgo

que essa é uma grande mais-valia

introduzida pela nova lei orgânica

do instituto camões – de articular os

objectivos do mNE com os objectivos

da ciência e do ensino superior e,

nesse sentido, o ministério da ciên-

cia, tecnologia e Ensino Superior

integra o nosso conselho Estratégico,

servindo a nossa acção para fomentar

a ligação entre universidades estran-

geiras e portuguesas - o que também

pode contribuir para a internacionali-

zação das nossas universidades. No

nosso conselho Estratégico estão

igualmente representados o ministério

da cultura, com o objectivo específico

de fomentar a internacionalização da

cultura portuguesa; e o ministério da

Educação que partilha connosco res-

ponsabilidades em relação ao portu-

guês nos ensinos básico e secundário

no estrangeiro.

mas, de facto, a definição da nossa

estratégia passa pelo mNE no sentido

de estabelecer os blocos regionais

prioritários. E à cabeça está, natural-

mente, a cplp que, não sendo um

bloco regional, permite ser o ponto de

articulação a partir do qual intervimos

nas diferentes regiões. Entendido

como espaço da língua portuguesa

constitui um importante objectivo de

intervenção porque nesse espaço

plural partilhamos a língua e cruzamos

culturas, mas também construímos

progressivamente relações económi-

cas como se constata pelos valores

das trocas comerciais com os países

da cplp.

Um bloco regional relevante, que

exemplifica o que acabo de expor é

o espaço ibero-americano que tem

como pólo o brasil e a sua relação

com os países do mercosul, repre-

sentando, no seu conjunto, espaços

de afirmação do português e do

espanhol, o que, por sua vez, permite

enquadrar a relação de proximidade

entre portugal e Espanha. a Espanha

é efectivamente um parceiro impor-

tante, um parceiro económico mas

também é, de toda a Europa, o país

onde o português mais se expande e

mais tem uma representação como

língua internacional.

Queria ainda sublinhar, por um lado, o

bloco constituído pelo magrebe, que ➤

Ana Paula Laborinho

Page 79: Diplomática n.º9

79março/abril 2011 - Diplomática •

➤ estenderia ao médio oriente, com

o qual temos relações privilegiadas,

sendo um espaço que acolhe muito

bem o português, quer por tradição

histórica, quer por relações de proxi-

midade - o que também se traduz na

sua relevância em termos económi-

cos. por razões que se prendem com

a cplp, destaco também a áfrica

Subsariana onde cada vez mais os

países que fazem fronteira com paí-

ses de expressão portuguesa estão a

introduzir o português como segunda

língua, ao nível do ensino secundário

(e pedem-nos apoio, naturalmente),

porque têm interesse em estabelecer

negócios com os palop.

É o caso da Guiné que quer aderir

à CPLP?

Da Guiné, mas também do Senegal,

onde temos uma grande expansão

do português e, por isso, a áfrica

Subsariana merece uma atenção

muito particular. É o caso da áfrica

do Sul, onde há uma comunidade

portuguesa significativa. a áfrica é,

por isso, um bloco importante onde

queremos expandir a nossa inter-

venção mas, sempre que possível,

de forma articulada. podemos e

queremos trabalhar em conjunto. por

exemplo, os países da cplp, que

têm os seus próprios professores,

podem enviá-los para os países vi-

zinhos que querem aprender portu-

guês, mesmo que seja num esforço

económico participado por nós.

Uma outra área significativa é a ásia.

a ásia está a impor-se cada vez mais

como uma região economicamente

interessante. É claro que é longínqua

e o volume de negócios ainda é es-

casso, mas há interesse por parte de

portugal em desenvolver esses laços,

até porque, como comecei por dizer,

são países que privilegiam e valori-

zam positivamente a relação histórica

e, por isso, temos de aproveitar as

relações que mantemos quer com a

Índia, quer com o Sudeste asiático,

além da china e do Japão.

a Índia é um país onde esses laços

históricos são mais difíceis de tratar.

mas Goa continua a ser uma região

onde o português e a cultura por-

tuguesa estão presentes, onde os

próprios cidadãos valorizam a cultura

portuguesa e nós continuaremos a

trabalhar no sentido de responder às

solicitações. temos, cada vez mais,

pedidos da Índia para oferta de portu-

guês. Se o país com o qual coopera-

mos valoriza a tradição histórica, nós

também temos que a valorizar, se o

país não a quer valorizar não somos

nós que o devemos fazer. É o caso da

Índia. Esta atenção ao outro também

faz parte do que entendemos por

diplomacia cultural.

Queria acrescentar que, a propósito

da Índia, o facto de cada vez mais ser-

vir de interface mundial no âmbito das

tecnologias, faz com que o português,

como uma das línguas internacionais,

seja também uma língua procurada.

No entanto, onde o crescimento é

cada vez mais significativo é, como

disse, na china e no Japão.

E não queria deixar de sublinhar o

papel de macau. o governo central

da china, já depois do meu regresso

em 2002 – e muito foi feito antes por

aqueles que trabalharam na transição

de macau para a china –, declarou

macau como plataforma das relações

económica, cultural e linguística com

os países da cplp. portanto o go-

verno central reconhece macau como

base de formação do português e

tem valorizado esse papel. as nossas

relações com macau e com a china

devem ser muito acarinhadas.

permitam-me terminar referindo o blo-

co regional mais difícil, embora seja

aquele que, ao mesmo tempo, mais

nos desafia: a Europa. E separaria

aqui a Europa comunitária e a Europa

não comunitária. mas falemos em

termos gerais da Europa. Em geral,

os países de leste trazem do seu

passado soviético uma tradição de

relações com áfrica e os movimentos

de libertação, pelo que revelam bom

domínio do português e conservam

grande interesse linguístico e cultural

por portugal. E isso é muito visível

nos pedidos que nos fazem e na qua-

lidade de ensino que oferecem. ➤

«A globalização da língua

portuguesa é um dos nos-

sos principais activos. Uma

barra de ouro muito valiosa.

Acho que devemos tratar da

melhor maneira este produ-

to, mesmo como produto de

venda»

Retrato breve

aNa paUla laboriNHo Nasceu em 26 de abril de 1957. É professora auxiliar da

Faculdade de letras da Universidade de lisboa, onde entrou como docente em 1982,

e actual presidente do instituto camões. Foi, em 1988, requisitada à república por-

tuguesa pelo Governo de macau para exercer funções no instituto cultural de macau,

onde coordenou os leitorados de português do oriente; dirigiu o Departamento de

Formação e investigação e instalou os Serviços culturais das Embaixadas de portu-

gal em Nova Delhi, bangkok, pequim, Seul e tóquio. Em 1989, integrou a comissão

instaladora do instituto português do oriente (ipor), instituição encarregada de pro-

mover a língua e a cultura portuguesas da Índia ao Japão. De 1989 a 1992, exerceu

funções no Departamento de Estudos portugueses da Universidade de macau, onde

integrou a respectiva comissão directiva. Em 1995, assumiu funções como assessora

do Gabinete do Secretário adjunto para a comunicação, turismo e cultura do Go-

verno de macau. De 1996 a 2002, exerceu funções como presidente da direcção do

instituto português do oriente (ipor), tendo assegurado o período de transferência

da administração de macau (de portugal para a república popular da china). n

Page 80: Diplomática n.º9

80 • Diplomática - março/abril 2011

➤ aquele corpo europeu que antiga-

mente era o único com que lidáva-

mos – estou a falar de França, da

alemanha… - essa Europa centrada

em bruxelas e na União Europeia, é

uma Europa que, não podemos de

deixar de o dizer, valoriza muito pouco

o português.

E a tendência é para continuarem a

não o valorizar?

Nós não vamos desistir de reivindicar

para o português o lugar a que tem

direito.

Pode ser um bom pretexto, já que

não nos reconhecem importância

para nos darem «autorização e li-

berdade» de movimentos nas áreas

atlânticas e outras…

Se calhar, quanto mais nós apostar-

mos noutras regiões mais poderá ser

claro para a Europa a importância do

português.

E são eles que nos dão o mote para

nos movimentarmos noutras áreas.

apenas no sentido da falta de re-

conhecimento da grandeza do por-

tuguês. isso tem muito a ver com

a imagem que o português tem na

Europa muito ligada à emigração - o

que não é desmerecimento, mas res-

tringe o ensino do português a língua

de origem. Nós não podemos permitir

esta visão redutora. No interesse

das comunidades portuguesas, é

importante que o português não seja

acolhido por estes países como língua

de origem, ou seja, uma língua exóti-

ca que pertence a uma minoria. Essa

ideia de minoria é muito prejudicial

para portugal e para as comunidades.

o português tem que ser ensinado

como língua internacional. isto não

quer dizer que não tenha uma com-

ponente identitária, mas o facto de

ser uma ferramenta útil e não apenas

uma ligação ao país de origem, pode

constituir-se como mais-valia num

plano de vida. Quer dizer, por saber

português tem condições para ir traba-

lhar para países de língua portuguesa

ou é, efectivamente, uma mais-valia

na sua formação.

Queremos, pois, que o português

entre nos sistemas de ensino locais,

que não seja entendido como língua

da minoria e tenha o lugar a que tem

direito, a par das outras línguas euro-

peias. porque, de facto, o português

é uma língua da globalização e tem

que ser reconhecida nesse plano de

língua global.

Devo-lhe dizer que, infelizmente,

estive a conversar com a Euronews e

eles continuam a achar que o por-

tuguês é uma língua minoritária. E,

parece impossível, mas não acreditam

que seja a terceira língua na Europa.

Em termos de línguas globais é a

terceira língua. E, no entanto, o portu-

guês mantém um lugar minoritário na

Europa e, portanto, torna-se evidente

que temos de apostar nas outras

regiões.

Não podemos ter, como temos,

os nossos meios maioritariamente

alocados à Europa - que é o que se

passa actualmente: cerca de 60%

dos nossos meios estão na Europa -,

quando o retorno é muito baixo para o

nosso investimento.

Finalmente, quero falar também de

uma zona que nos merece muita aten-

ção por vários motivos: a américa do

Norte. trata-se de uma região onde

o português se tem alicerçado por

meios próprios, seja das comunidades

portuguesas, seja das universidades

que oferecem programas de gradu-

ações e pós-graduações. pelo seu

significado económico e pela aposta

no conhecimento, é uma região que

nos desafia e onde esperamos poder

crescer com parcerias.

Viajámos pelos Mundo com a nos-

sa língua. Três perguntas muito rá-

pidas só para terminar. A propósito

da língua, não posso deixar de a

questionar sobre o acordo ortográ-

fico: um instrumento necessário,

mas não relevante para a política,

em si. O que pensa do assunto?

Eu sou uma defensora da utilidade

do acordo ortográfico, talvez por ter

trabalhado no estrangeiro. tenho

consciência de que é uma ferramenta

muito útil para a internacionalização

do português. Era sempre muito difícil,

em termos do ensino do português,

termos turmas onde se ensinava uma

grafia e turmas onde se ensinava

outra. É um bom instrumento embora

talvez se tivesse podido avançar um

pouco mais. mas é notável que tenha-

mos chegado a esse ponto.

Em termos de curto e médio prazo,

há algum objectivo concreto que

queira alcançar com o Instituto?

Esse objectivo tem muito a ver com

esta estratégia por blocos regionais,

para a língua mas também para a

acção cultural. Nós temos o mundo

inteiro onde nos movemos, queremos

cada vez mais fazê-lo em articulação

com a cplp. o nosso grande sonho

é, em alguns lugares, criarmos - por

exemplo - centros culturais cplp que

teriam uma outra visibilidade. mas, de

facto, o grande objectivo é a articu-

lação regional e, por outro lado, as

parcerias: com a cplp, com agentes

locais, com empresas, com associa-

ções. Gostaria, efectivamente, de

contrariar a acção isolada e trabalhar

em rede - o que daria maior visibilida-

de aos meios que cada um possui.

Percebe-se que gosta muito do que

está a fazer…

Gosto muito. Farei isto sempre com

amor. Farei sempre isto esteja onde

estiver. Já tive várias funções ligadas

a esta área e em qualquer sítio conti-

nuarei a defender a língua portugue-

sa, porque acredito francamente que

isto é um projecto que vale a pena

abraçar. E queria dizer que agora

estou à frente do instituto camões e

tenho mais possibilidade de actuação,

mas entendo que a causa da língua

deve ser partilhada por todos nós.

todos nós devíamos fazer a defesa

intrínseca desse valor por todos os

meios que estejam ao nosso alcance.

É missão de todos! n

Ana Paula Laborinho

Page 81: Diplomática n.º9

81março/abril 2011 - Diplomática •

Em ambiente de emoção a mulher do

ex-presidente mário Soares foi agraciada

com ordem de mérito. o ex-Embaixador

em bordéus, na pessoa de seus netos,

também foi lembrado pelo monarca luxem-

burguês

Em finais de Janeiro, paul Schmit, Embai-

xador do Grão Ducado do luxemburgo em

portugal agraciou, em nome de S.a.r. o

Grão-Duque do luxemburgo, a Dr.ª maria

de Jesus barroso Soares com a ordem de

mérito do Grão Ducado do luxemburgo.

a cerimónia teve lugar na Embaixada, em

lisboa, na presença de ilustres figuras

próximas a maria barroso, onde não pode-

ria faltar o seu marido - e ex-presidente da

república portuguesa -, Dr. mário Soares.

maria barroso recebeu esta comenda em

homenagem às suas actividades ao longo

de uma vida, sempre visando a cultura,

a educação pré-escolar, a família, a soli-

dariedade social, a dimensão feminina, a

integração dos deficientes e a prevenção da

violência. Foram sobretudo estas activida-

des que Sua majestade teve em atenção.

como presidente da Fundação pro-DiG-

NitatE, maria barroso continua a partici-

par activamente nestas causas e ainda na

atribuição de bolsas a jovens estudantes,

assim como no desenvolvimento de várias

acções e iniciativas nos países africanos de

língua portuguesa.

É igualmente presidente da Fundação

aristides de Sousa mendes que adopta o

nome do nobre cônsul geral em bordéus

que, durante a ii Grande Guerra mundial,

salvou a suas expensas e risco milhares de

refugiados, principalmente judeus.

Sua alteza real não quis deixar de lembrar

esse filantropo e humanista e de destacar

as suas importantes acções junto do povo

luxemburguês e, em especial, da comunida-

de judia que salvou das garras nazis atra-

vés da emissão maciça de vistos.

aristides Sousa mendes esteve presente na

memória de todos na pessoa dos seus dois

netos, gentilmente saudados pelo Embaixa-

dor luxemburguês. ■

Em cerimónia solene presidida pelo Embaixador em LisboaGrão-Duque do Luxemburgo homenageia Maria Barroso e Aristides de Sousa Mendes

Mala DiploMática

Page 82: Diplomática n.º9

82 • Diplomática - março/abril 2011

Recentemente instalada no nosso

país, a Embaixada dos Emirados

árabes Unidos (EaU) assinalou

com pompa e alegria o dia nacional

do país, juntando a “nata” da socie-

dade portuguesa da política, dos

negócios e da cultura.

o Embaixador dos Emirados ára-

bes Unidos em lisboa, S.E. Saqer

Nasser alraisi, ofereceu uma recep-

ção no Hotel ritz Four Seasons,

no passado dia 2 de Dezembro, no

quadro das celebrações do Dia Na-

cional dos Emirados árabe Unidos.

Foi uma première, pois a Embai-

xada dos EaU em lisboa abriu as

suas portas a 8 de março 2010.

Embora a Embaixada seja nova, as

relações entre portugal e os Emi-

rados árabes Unidos são de longa

data e estão a desenvolver-se a um

ritmo acelerado. prova disso foi a

presença impressionante nesse dia

tão importante para os Emirados de

várias personalidades da sociedade

portuguesa, do mundo económico,

político, cultural, bem como dignitá-

rios religiosos que honraram com a

sua presença esta festa.

o 2 de Dezembro celebra o 39.º

aniversário da independência dos

Emirados árabes Unidos, uma

união federal que reúne abu Dhabi,

Dubai, Sharjah, ajman, ras al-

Khaima, Fujairah e Umm al-Quwain

– , e que conseguiu forjar uma iden-

tidade nacional reforçada pelo regi-

me federal que fez com que o país

desfrutasse de estabilidade política.

a superfície dos Emirados árabes

Unidos é de 82.880 Km2 e, segun-

do os dados de 2007, a população

do país é de 4.5 milhões, com uma

taxa de crescimento de 6.3%. Estes

números reflectem um extraordiná-

rio crescimento demográfico.

os Emirados árabes Unidos pas-

saram por um desenvolvimento

espectacular e uma das chaves

deste sucesso é a importância

atribuída ao seu povo, considerado

como o centro do desenvolvimento

do país. Neste sentido, enormes

investimentos foram já atribuídos

ao sector da Educação, reduzindo

a taxa de analfabetismo até 7% e

aumentando a esperança de vida

para os 78.5 anos, alcançando as

taxas registadas nos países mais

desenvolvidos. todo este progres-

so foi realizado em tempo recorde,

pois o deserto e a pobreza eram as

componentes principais da realida-

de do país quando este declarou

a criação da Federação a 2 de

Dezembro de 1971.

Nesse espaço de tempo, os Emi-

rados árabes Unidos conseguiram

passar de um país subdesenvol-

vido, com uma sociedade tribal e

conservadora, a um dos países

mais modernos da nossa era, onde

mulheres e homens desfrutam das

mesmas oportunidades. a mulher

nos Emirados árabes Unidos é

o melhor indicador do progresso

que o país conseguiu alcançar até

agora. Há 40 anos, a mulher estava

posta de parte, mas o acesso à

educação inverteu a situação. Hoje,

representa a maioria no sector do

Ensino Superior e está represen-

tada em todos os serviços, desde

o privado à função pública, haven-

do actualmente quatro mulheres

ministras.

além da sua posição geográfica –

centro do cruzamento Norte/Sul,

leste/oeste – os Emirados árabes

Unidos são um país aberto ao mun-

do. a paz e estabilidade na região

são das suas maiores prioridades. ■ ➤

Emirados Árabes UnidosRecepção assinala Dia Nacional

المتحدة العربية اإلمارات دولة سفير نظم بلشبونة، سعادة صقر ناصر الريسي يوم 2 ديسمبر حفل استقبال بفندق “الريتز- فور سيزن – في لشبونة

وذلك في إطار االحتفاالت باليوم الوطني اإلماراتي. هذه المناسبة كانت األولى من نوعها نظرا الن سفارة دولة اإلمارات العربية قد افتتحت أبوابها يوم 08 مارس 2010. ورغم أن السفارة تعتبر جديدة إال أن العالقات بين البرتغال واإلمارات العربية المتحدة تعود هذه وسريعا. متواصال تطورا وتشهد بعيد زمن إلى العالقات المتميزة انعكست من خالل حضور عدد كبير من الشخصيات البرتغالية المهمة في مجاالت االقتصاد والسياسة والثقافة ورجال الدين الذين شرفوا بحضورهم

هذه المناسبة المهمة بالنسبة لإلمارات. ووافق يوم 2 ديسمبر االحتفال بالذكرى 39 لقيام دولة اإلمارات العربية المتحدة التي تجمع : أبو ظبي الخيمة ورأس القيوين وأم وعجمان الشارقة و ودبي ينحت أن استطاع فدرالي اتحاد إطار في والفجيرة شخصية وطنية عززتها سياسة االتحاد مما سمح للدولة بان تتمتع باستقرار سياسي. تبلغ مساحة الدولة 82.880 نسمة مليون السكان 4.5 عدد ويبلغ مربع كيلومتر حسب إحصاء 2007 بينما تبلغ نسبة الوالدات 6.3 %

وكلها أرقام تكشف عن نمو ديموغرافي متميز. عرفت اإلمارات نموا مدهشا، وكانت احد اهم اسباب هذا النجاح هو األهمية والعناية التي يحظى بها شعب اإلمارات الذي طالما اعتبر محور تطّور البالد. التعليم قطاع إلى موجهة االستثمارات أهم وقد كانت حيث تراجعت نسبة األمية إلى 7%، وارتفع معدل الحياة عند الوالدة إلى 78.5% ليعادل نسبة التطور التي تسجلها أهم الدول المتقدمة. كل هذه االنجازات حققت في وقت قياسي، حيث أن الصحراء والفقر كانت المشاهد الطاغية على واقع البالد حين أعلن قيام الدولة يوم 2

ديسمبر 1971.اإلمارات استطاعت القياسي، الوقت هذا في أن تتحول من بلد صحراوي ومجتمع قبلي محافظ إلى احد أهم الدول الحديثة في عصرنا، حيث تتساوى حقوق الرجال والنساء. وتكشف وضعية المرأة في اإلمارات التقدم الذي حققته الدولة، فبعد أن كانت المرأة مهمشة منذ 40 سنة، أصبحت اليوم تتمتع بحق التعليم جنبا إلى جنب مع الرجل اإلماراتي بل وأصبحت النساء تمثل األغلبية في مجال التعليم العالي. هذا المستوى العالي من التعليم سمح بدوره أن تلعب المرأة اإلماراتية دورا مهما في مجال سوق العمل. ونجد اليوم المرأة حاضرة في كل المجاالت بداية من القطاع الخاص إلى القطاع الحكومي

بما في ذلك أربعة وزيرات.باإلضافة إلى موقعها الجغرافي المتميز كنقطة دولة تتميز -غرب، وشرق -جنوب شمال تقاطع االمارت العربية المتحدة بأنها دولة منفتحة على العالم ، جعلت دائما من السالم واالستقرار في المنطقة من

أهم أولياتها.

تحتفل المتحدة العربية االمارات بيومها الوطني لألول مرة في لشبونة

Vida diplomática

Page 83: Diplomática n.º9

83março/abril 2011 - Diplomática •

1 2 3

4 5 6

7 8 9

10

1. o Embaixador dos Emirados árabes Unidos, Saqer alraisi, com a nossa Directora maria

de bragança. 2. o Embaixador do iraque cumprimenta o Embaixador dos Emirados árabes

Unidos. 3. o chefe do protocolo do Estado, Embaixador José de bouza Serrano, ao lado

do Embaixador Saqer alraisi. 4. o Embaixador dos Emirados árabes Unidos com João Ne-

ves da costa, Director de Serviços do médio oriente e magrebe, mNE. 5. marçal Grilo cum-

primenta o Embaixador dos Emirados árabes Unidos. 6. Embaixador dos Emirados árabes

Unidos conversando com Nini andrade e marta amado. 7. o Secretário-Geral do ministério

dos Negócios Estrangeiros, Embaixador Vasco Valente. 8. o Embaixador dos Emirados

árabes Unidos com o Núncio apostólico. 9. Diplomatas partem o bolo em ambiente de

descontracção. 10. a nossa Directora maria de bragança com o Embaixador da tunísia.

Page 84: Diplomática n.º9
Page 85: Diplomática n.º9

85março/abril 2011 - Diplomática •

A comemoração teve lugar no já famoso

restaurante Kais, um dos mais carismáticos

espaços da nossa capital, quer pela origi-

nalidade e beleza da decoração, concebida

pela saudosa maria José Salavisa, quer pela

requintada gastronomia - considerada por

alguns guias como uma das melhores do

mundo.

logo à chegada, os convivas foram pre-

senteados com um cocktail e a actuação do

Grupo Vocal da basílica da Estrela, dirigido

pelo maestro pedro rollin rodrigues. Este

grupo, fundado em Janeiro de 2010, perten-

ce à Schola cantorum da basílica da Estrela,

da qual também fazem parte os pequenos

cantores da basílica da Estrela. para animar

os distintos convidados foram interpretadas

duas peças: “Ó meu menino”, de Eurico car-

rapatoso e “Jerusalém”, de Sir Hubert parry.

logo de seguida, mais de uma centena ➤

2º Aniversário DiplomáticaFesta em ambiente solidário

Ao comemorar dois anos de vida, a revista Diplomática mobilizou esforços no apoio ao

povo do Paquistão e provou que em festa se pode estar ao serviço de um bem maior

Page 86: Diplomática n.º9

86 • Diplomática - março/abril 2011

ministra conselheira da polónia Dorota ostrowska-cobas e charles correia da Embaixada dos EUa

Embaixadora do paquistão, christina Gillies, Dom afonso Herédia e maria de bragança

luís e lina belo dos Santos, Jacques bretagnolle e abel Dias

Filipa castello branco, Nuno Duarte Schlumberger e cátia pereira

Duque de loulé e inês Figueiredo

2º Aniversário Diplomática

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87março/abril 2011 - Diplomática •

marion e Udo KrüseNadine e paul Schmit, Embaixador

do luxemburgo

lenia lopes e margarida ruas

bruce Gillies e patrick Siegler

mary Norton dos reis e maria do carmo castello branco

paula bobone

maria antónia baptista pedro Sobral e Filomena morim

maria clara Gomes e seu filho Nuno Gomes de carvalho alda Simões e antónio de macedo

Page 88: Diplomática n.º9

88 • Diplomática - março/abril 2011

alfredo resende, Embaixadora da rep. Dominicana ana Sílvia de abud com micaela oliveira lili caneças, João libério e isabel Nogueira

maria da luz de bragança ladeada por David pachetti e maestro miguel rollan com o Grupo Vocal da basílica da Estrela

2º Aniversário Diplomática

Page 89: Diplomática n.º9

89março/abril 2011 - Diplomática •

➤ de amigos deliciaram-se com a ementa de

luxo, que teve início com um Au Meunier de

Crepe de Cogumelos com Molho de Basílico,

prosseguiu com dois pratos principais, um

de peixe, Bacalhau Gratinado com Camarão

em Cama de Espinafres, e outro de carne,

Medalhões de Novilho com Molho de Echa-

lottes Caramelizados com Batata Gratinada

e Legumes Salteados, e terminou com um

Folhado de Frutos Silvestres com Creme

Anglaise, como sobremesa. Esta magnífica

refeição foi, obviamente, regada com co-

lheitas especiais dos melhores produtores

portugueses.

após o jantar, a nossa directora, maria da

luz de bragança, dirigiu uma palavra de

agradecimento a todos os seus colaborado-

res que em cada edição contribuíram para

a publicação de dossiers sobre temas da

actualidade geopolítica, estudos e análises

estratégicas, reportagens no país e no es-

trangeiro, entrevistas a embaixadores e tam-

bém a inúmeras individualidades do mundo

da cultura, da política e dos negócios.

De seguida, a Embaixatriz do paquistão

agradeceu a verba angariada por todos

aqueles que desejaram contribuir para o

minorar da catástrofe enfrentada pelo seu

país, e que alcançou a quantia de 690 euros,

uma importância inferior à desejada mas que

a Embaixatriz valorizou de forma comovida,

relembrando que o pouco é muito para os

que nada têm.

No decorrer da agradável festa, um ecrã

gigante foi mostrando as páginas da re-

vista Diplomática, relembrando a todos os

presentes as suas capas e reportagens e,

ao som de música de dança, todos foram

convidados para bailar até altas horas na-

quela que se revelou uma inesquecível noite

de divertimento, de convívio e também de

solidariedade. n

a Embaixatriz do paquistão malika Haneef agradecendo a dádiva e a nossa Directora

Page 90: Diplomática n.º9

90 • Diplomática - março/abril 2011

António lobo antunes está a ser objeto de uma homenagem e

de uma evocação peculiar em França, que vai durar todo o pri-

meiro semestre deste ano. as obras do escritor português vão

ser adaptadas para espetáculos de vária índole, com destaque

para o teatro, que verá nove encenações dos seus livros.

«acho que nunca houve um autor, nem mesmo francês, a

quem tenha sido feita uma homenagem tão importante como

esta, a este nível: seis meses, num teatro, com colóquios,

recitais, peças, as coisas mais variadas, com atores franceses

e alguns portugueses, muitos encenadores, muitos músicos

envolvidos. É uma coisa quase inédita», assim caracteriza a

iniciativa a editora de lobo antunes na Dom Quixote, maria da

piedade Ferreira.

a forma predominantemente dramatúrgica escolhida para a

homenagem, anunciada em lisboa, em julho passado, não

surpreende se tivermos em conta que surge por iniciativa da

casa da cultura de Seine Saint-Denis, a Maison de Culture 93 mais conhecida por mc93 (o

número é o do código postal de bobigny, a norte de paris), criada em 1972, e que tem o teatro

como arte de eleição.

Em coprodução com as Editions Christian Bourgois, a editora francesa de lobo antunes, e o

lG théâtre, e com o apoio da Embaixada de portugal em paris, da Fundação calouste Gul-

benkian e do instituto camões, a mc93 decidiu dedicar a sua temporada de 2011 ao escritor

português, alvo de um culto particular em França (o diretor da mc93, patrick Sommier, fala de

uma «sociedade secreta» de leitores de lobo antunes em França, que «se reconhece entre

si»), onde 24 das suas 29 obras estão editadas.

a 25ª – O Meu Nome é Legião (2007) –foi editada em França em 26 de janeiro, na librairie

compagnie, em paris, com a presença de lobo antunes. Na véspera do lançamento, o autor

participou num encontro, animado por philippe Vannini, com leitura de extratos da sua obra

pelo ator Victor de oliveira.

lobo antunes, no entanto, tinha excluído desde o início colaborar na homenagem, apesar de

a aceitar com agrado. «Não vou colaborar em nada. Façam como quiserem. [o teatro] é uma

linguagem diferente, que não domino e não conheço», declarou em julho, citado pelo Público.

Memórias da guerra

O primeiro espetáculo – Etat Civil – estreado em 14 de janeiro, tem por base as conversas do

escritor com maria luisa blanco, do jornal El Pais, publicadas em livro em 2002 e, à semelhan-

ça de vários outros que se lhe seguirão, foi objeto de uma adaptação e encenação, neste caso

a cargo de Georges lavaudant, encenador de mérito no universo do teatro francês.

lavaudant que afirma que «a obra de lobo antunes é densa, variada, infinita e são múltiplas

as abordagens possíveis» assina ainda Fado Alexandrino, a segunda adaptação e encenação

do ciclo dedicado a lobo antunes, juntamente com Nicolas bigards, que coordena toda progra-

mação e rubrica ainda a encenação do Tratado das Paixões da Alma.

para além das já referidas, da programação constam ainda obras como Exortação aos Croco-

dilos, O Esplendor de Portugal, Auto dos Danados e cenarizações dos seus livros de crónicas

iii e iV e das cartas de guerra dirigidas à mulher maria José, desaparecida em 1999, nos 27 ➤

Lobo Antunes em ParisUm semestre de homenagem

Cultura

Page 91: Diplomática n.º9

91março/abril 2011 - Diplomática •

➤ meses em que lobo antunes esteve em angola, no exército, durante o conflito colonial e

que marcaram decisivamente o seu universo ficcional. Sommier afirmou, em julho, citado pelo

ainda pelo Público, que nenhum escritor em França «teve estas palavras de emoção sobre

os soldados que foram morrer na argélia». «Esta é a verdadeira Europa, aquela em que um

escritor português pode formular o que tínhamos na cabeça e não conseguíamos formular»,

acrescentou. além disso, as Cartas da Guerra são, no dizer de Dominique bourgois, a editora

francesa de lobo antunes, o «making-of de antónio como escritor». «Digo sempre às pessoas

que ainda não o leram para experimentarem as cartas da Guerra (…) Está lá tudo, a tomada

de consciência política, a compreensão da guerra e a correspondência de amor, e, mesmo não

sendo um livro como os outros, mostra o que ele vai ser a seguir».

Segundo os organizadores, «de janeiro a junho de 2011, 50 noites serão dedicadas a antónio

lobo antunes através de leituras (em francês, português e outras línguas ainda), instalações,

performances, concertos e convívios. Diretores, atores, escritores, músicos, videastas, cenó-

grafos reuniram-se, todos motivados por uma paixão por este grande escritor». E aqueles que

se juntaram são, entre muitos outros, para além de Sommier e lavaudant, figuras como o ator

patrick pineau, que faz a adaptação e a encenação de Exortação aos Crocodilos, e escrito-

res como michel Deutsch, olivier rolin, Jake lamar e David lescot, que vão participar em

diversas sessões de leitura das obras de lobo antunes, intituladas Nocturnes Lisboètes. os

espetáculos são em francês, mas maria de medeiros e luis miguel cintra apresentarão a 17 e

18 de junho um espetáculo em português – Que Cavalos São Aqueles Que Fazem Sombra no

Mar? – de que são intérpretes e responsáveis pela adaptação.

Uma obra complexa

A ambição do programa, «majestoso», na expressão de lobo antunes, é explicada pelos seus

organizadores por duas razões: «Há livros que precisam de espaço. livros que são como uma

casa assombrada, como os define antónio lobo antunes. ora, sabemos, desde Shakespeare,

pelo menos, que essa casa capaz de acolher os fantasmas não é outra senão o teatro. porque

é só no teatro (ou nesses livros assombrados) que os mortos falam, o desejo fala: o amor, a

loucura, a infância, a solidão ...».

por outro lado, a escolha de lobo antunes para a valência ‘teatro dos livros…’ da mc 93 é

também para estes criadores e atores franceses resultado da forma comum como praticam as

suas artes: «Escrever, para ele [lobo antunes], é uma droga dura. como para nós o teatro».

«tentem manter tranquila apenas uma de suas frases, para não falar das suas crónicas, dos

seus romances... porque a sua surdez, hereditária, que ele não faz nenhuma tentativa para

contrariar, gera um campo visual capaz escutar». ora, «o que é então um campo visual capaz

de ouvir, se não o teatro?». E citam Eduardo lourenço, quando este diz que lobo antunes é

«o escritor que corre mais riscos. E o risco é o quotidiano do teatro». Uma última razão apon-

tada é «porque ele está vivo», mas para Dominique bourgois «é preciso entender que a obra

de antónio tem personagens que falam para todos e não só aos portugueses», segundo decla-

rou numa entrevista ao DN.

Não é inédito que a companhia da mc93 se dedique a tratar textos literários, embora patrick

Sommier considere «raro que um teatro passe seis meses com um escritor que não escreveu

teatro». bourgois lembra que «já o fizeram com Dostoiévski, t. S. Eliot e Dos passos».

a homenagem suscita a óbvia questão dos resultados de um tratamento desta envergadura de

uma obra complexa como a de lobo antunes. mas a editora maria da piedade Ferreira, reco-

nhecendo embora a existência de riscos, diz que «tudo depende da qualidade com que forem

feitas» as adaptações. «os nomes envolvidos dão-nos toda a confiança», sublinha. «tudo o

que seja feito – leitura de textos, teatralização, textos sobre a obra dele – é uma maneira ótima

de divulgar e fazer conhecer ainda melhor» a obra de lobo de antunes. nic, ip

Page 92: Diplomática n.º9

92 • Diplomática - março/abril 2011

No mínimo o que se poderá dizer é que os movimentos populares no magrebe apa-

nharam o mundo de surpresa. E o rastilho implodiu nas ruas do cairo, fazendo cair

um presidente [Hosni mubarak] tido como “amigo do ocidente”. ao contrário do que

seria suposto, sem “ajuda externa”, sem a mãozinha de qualquer serviço secreto, ape-

nas [e só!] pela iniciativa de uns miúdos que perceberam a arma poderosíssima que é

o Facebook.

Voltando aos movimentos populares, que tomaram as ruas e decidiram construir o

futuro pelas suas mãos, importa referir um dado novo: ao contrário do que acontecia

anos antes, as ruas não se encheram de bandeiras americanas em chamas, nem a

imagem do presidente dos EUa apareceu imolada no centro de qualquer grito insano

de indignação contra o “chefe do imperialismo”… E a esse facto não é alheia a eleição

de obama, a personalidade do homem da casa branca e a inflexão da política ameri-

cana no que respeita aos países árabes.

E, mais que isso [pesem alguns receios ocidentais], não se ouviu nenhuma reivindica-

ção por sociedades teocráticas. pelo contrário – e tão só -, os manifestantes exigem

liberdade e fim dos regimes autoritários. ou seja, exigem democracia!

Quando ao Egipto chegaram os ventos de mudança da tunísia, começou a perceber-se

que algo de novo estava para acontecer nos países árabes, em particular no Norte de

áfrica e no magreb. E a rota de ruptura com o autoritarismo é já imparável.

Khadafi, outrora expressão da revolta de um povo contra uma monarquia medieval e

insana, surge aos olhos do mundo não como um “libertador de povos oprimidos”, mas

como parte da repressão. o poder, regra geral, corrompe, cega a lucidez dos homens

e afasta-os da vida real, do cidadão comum. E o coronel líbio há muito que perdeu a

noção do real e, mesmo agora, cercado e desamado por muitos que outrora o idola-

travam, continua a lutar contra os ventos da História.

É um tempo novo que abre caminho à era da democracia. Um tempo que, por ser

imperativo e geneticamente expressão de um querer colectivo, não voltará para trás

revertendo o grito colectivo de liberdade, progresso, pluralismo, dignidade e qualidade

de vida. ■

A era da democraciaGrito imparável de liberdade na era da globalização e tecnologia

SinaiS

The Age of Democracy An unstoppable cry for freedom in the era of globalization and technologyThe least that can be said is that the popular movements of the maghreb caught the whole world by surprise. and the fuse exploded in the streets of cairo, bringing down a president (Hosni mubarak) that was understood to be a friend of the West. contrarily to what was supposed to happen, with no external help, and without the “helping hand” of some secret service - solely thanks to the initiative of some kids that understood too well the importance of a powerful weapon named Facebook. Getting back to the popular movements that took to the streets and to those people that decided to build their future with their own hands, one must refer some new data: unlike what happened in the previous years the streets were not filled with american flags in flames nor was the image of the president of the US immolated alongside some crazy chanting against the “head of imperialism”... and to that fact can’t be alien the election of obama, the personality of the man that resides in the White House and the turnaround in american politics insofar as the arab countries are concerned. moreover, and in spite of some western fears, there were no demands for theocratic societies. Quite the opposite, since the demons-trators demand freedom and the end of all authoritarian regimes. that is to say they demand democracy.as for Egypt, the winds of change arrived from tunisia, and one started to realize that something new was taking shape in the arab countries, particularly in what relates to those in northern africa and in the maghreb. and the break with authoritarism is unstoppable. Khadafi, once the expression of the rebellion of one people fighting against an insane and medieval monarchy, appears at the eyes of the world no longer as a “liberator of the oppressed” but rather as the image of repression. power tends to corrupt, to do away with men’s lucidity and to push it away from the real life of common people. that said, the lybian colonel that has long lost his grip on reali-ty and that is now surrounded and unloved by many that once swore by him, keeps battling the winds of History.these are new times that open the way to the age of democracy. times that portray the imperative and genetically expression of a collective desire and that will not be allowed to go backwards. thus the unanimous cry for freedom, progress, pluralism, dignity and quality of life will go on.

Page 93: Diplomática n.º9

93março/abril 2011 - Diplomática •

O Sonho é maiúsculo, real, a luz transparente, as Sombras cúmplices de

contrastes sem nomes nem dúvidas…

ilhas, sem correntes, salgadas gotas de infância, nus, corpos velados de

mulheres-meninas de sol…

Verdade que voa, que dança, que escorre: frutos que se abrem – e sabem -

um reino de flores…

começou a pintar aos 15 anos. E nunca mais parou. todos os dias. Encarnan-

do as personagens, “a meditar, dentro do(s) ambiente(s) a criar”. Quadros com

calma, minuciosamente cifrada em cada centímetro de tela…

Surrealista? Simbolista? romântica? absurdos Dali (e também daqui e de aco-

lá), pinceladas de magritte de se lhe tirar o chapéu…e a tentação de quaisquer

rótulos – e a sua negação!

marta de castro é ela própria, sempre ela mesma (precisamente, quando dá

forma aos sonhos de todos nós…).

E pinta de cor, como a música que habita – e embala – a Saudade do que não

expomos…

“a duas dimensões”: nus/silêncios que, tantas vezes, não ousamos… ➤

maria de bragança

Marta de CastroSaudade de aMAR

Artes PlásticAs

Page 94: Diplomática n.º9

94 • Diplomática - março/abril 2011

Um pacto com a luz

«Quem nasce numa ilha como a Madeira sabe que as flores e os frutos são uma

espécie de confidência. Na pintura de Marta de Castro eles estão a assinalar o enigma

e a revelação da vida. Por vezes, apresentam-se fechados como assinatura desse

mistério que nos acompanha, ainda por abrir, sempre por reconhecer. Outras vezes

desenham-se abertos ou cortados a meio, expostos como ferida e íntimo segredo.

Também isso somos. Esta pintura é um espelho silencioso que nunca nos devolve só

a aparência, mas oferece-nos os contornos daquilo que, em nós, é interior e invisível.

Assim revisita (e permite-nos revisitar) o pacto que temos com a luz.» ➤

José tolentino de mendonça

(sacerdote e teólogo católico)

Natureza Viva, 1985 - óleo sobre tela

Marta de Castro

Page 95: Diplomática n.º9

95março/abril 2011 - Diplomática •

Serenidade e Inquietação

“Vejo a Marta pintar há quase trinta anos.

O que começou por ser a expressão de uma curiosidade e de um talento foi-se

tornando, com o passar dos anos, uma fatalidade. Uma forma silenciosa e discreta de

nos transmitir a sua extraordinária paixão pela vida.

A serenidade das suas paisagens, que cria com pedacinhos de sonhos de uma

infância que se adivinha feliz, sempre com o mar da sua Ilha no horizonte, não ilude

uma leve inquietação existencial que só a pintura lhe permite, ao mesmo tempo,

esconder e revelar”. ➤

luís amado

(ministro dos Negócios Estrangeiros de portugal)

Vista de terreiro, 2005 - óleo sobre tela (60×100 cm) Vôo no tempo, 2005 - óleo sobre tela (90× 70 cm)

Saudades, 2004 - óleo sobre tela (100×150 cm)

Page 96: Diplomática n.º9

96 • Diplomática - março/abril 2011

“Receita” de Talento

Marta de Castro nasceu no Funchal, Ilha da Madeira. Licenciou-se em Farmácia pela

Universidade de Coimbra, tendo ingressado, posteriormente, na Escola Superior de

Belas Artes de Lisboa. Frequentou, também, o Instituto de Arte e Design da Madeira.

Participou em diversas exposições colectivas, principalmente com trabalhos a óleo,

aguarela, pastel e gravura. A partir de 2004, realizou as suas primeiras exposições in-

dividuais, tendo recentemente apresentado, em Lisboa, uma retrospectiva da sua Obra,

representada em colecções particulares dentro e fora de Portugal. É casada com Luís

Amado, ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal. n

Marta de Castro

Page 97: Diplomática n.º9

97março/abril 2011 - Diplomática •

English & French texts

6. Sarkozy - an impressive political journey

How will president Sarkozy come to be judged? a fantastic president or perhaps not? it is still rather

early to produce a final opinion - that must be left to future historians. However, in our minds remains

the concept of him as a character that both fascinates and attracts but sometimes also surprises and

even shocks. So being, how should one today construct an intelligent opinion of this statesman?patrick Siegler-lathrop is a French-american consultant living in portugal, with a more than 30-year career as a Wall

Street investment banker, entrepreneur, industrialist and professor, having taught at iNSEaD and paris University,

Dauphine. He is a founding member of the international NGo action contre la Faim.

6. Sarkozy: un parcours politique étonnant.

Comment sera jugé le président Sarkozy: un grand président ou nettement moins? il est, bien

évidemment, trop tôt pour le dire. laissons cette tache aux historiens de l’avenir.

mais la question se pose par rapport à cet homme que séduit, qui à un élan spécial, que surprendre

et, à la limite, nous étonne, pas toujours dans le bon sens. comment, pouvons nous avoir une opinion

précise sur ce politique?

12. Pascal Teixeira da Silva, Ambassador of France

Married and father of two children, the ambassador declares himself delighted to be in portugal. and

given that he is a luso-descendant, he is happy and finds himself specially privileged to be in the

country of his father’s. ambassador pascal teixeira da Silva is a man with an intense passion for life,

for all world cultures and also for the arts. as a music lover, he is particularly fond of the harpsichord.

being in synch with the spirit of times, he has always been, by luck or misfortune, near all the great

historical milestones of our times: he was in berlin, when the Wall came tumbling down; in moscow

when the dismemberment of USSr took place; in the USa when the twin towers were attacked -

something he saw with his own eyes.

12. Pascal Teixeira da Silva, Embaixador de França

Père de famille, m. l’ambassadeur est enchanté par le portugal. lui-même lusodescendant, c’est pour

lui un privilège et un plaisir d’être dans le pays de son père.

m. l’ambassadeur pascal teixeira Gomes est un homme passionné de la vie, des cultures du monde,

de l’art. mélomane, il y a une vrai passion pour le clavecin. l’esprit-du-temps est avec lui. il était, par

chance ou malheur, présent pour les grands évènements des dernières décennies: à berlin, au moment

de la chute du mur, à moscou lors de la dissolution de l’UrSS, aux Etats-Unis pour la chute des twin

towers – qu’il a vu de ses propres yeux.

35. A necessary balance and some predictions for the future

Six accredited ambassadors in lisbon accepted the challenge of Diplomática magazine: to make

a balance of last year and to advance with some predictions for the current one. With the Summit

in lisbon, that brought together all the great powers of the World in Nato’s conclave still fresh in

the appointment books, the European Union and the world crisis also served as background for the

opinions of the diplomats on the different positions of their countries in relation to portugal.

35. Balance nécessaire, prévisions pour l’avenir

Six ambassadeurs accrédités à lisbonne on répondu favorablement au défi de Diplomática: faire le

point des progrès accomplis en 2010 et les prévisions pour l’année en cours.

au Sommet de lisbonne, qui a amené les plus grands du monde au conclave de l’otaN. a l’ordre du

jour, l’Union Européenne et la crise mondiale étaient au centre des discussions des diplomates, ainsi

que l’évolution des relations de leur pays avec le portugal.

64. Adriano Moreira, the last senator

Listening to this old gentleman of portuguese politics is absolutely fascinating - no less because he is

also an essayst of reference and a distinguished professor. in loose talking, one discovers an ageless

man that elaborates on the past as well as the future both of old Europe and the Western World.

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98 • Diplomática - março/abril 2011

English & French texts

64. Le dernier sénateur

C’est absolument fascinant de parler à ce vieil homme de la politique portugaise, penseur séminal et un

enseignant exceptionnel. En parlant en vrac, nous rencontrons un homme sans âge, qui nous parle du

passé et de l’avenir de la vieille Europe et de l’occident.

71. Dilma Rouseff, a woman of great strength

With a truly remarkable story, this woman who began her career as president at the beginning of the

year is a "political animal" that has lived through all the changes that brazil has suffered in recent

decades.

71. Dilma Rouseff: Une femme courageuse.

aprés un parcours politique vraiment surprenant, madame roussef est élue président de la république

du brésil. Une femme qui vivait à proximité de tous les changements que le brésil a eu dans ces

dernières décennies et qui a su surmonté.

76. Ana Paula Laborinho, president of the Camões Institute

She is one of the strongest defenders of the portuguese language. there is no doubt that it has become

the greatest cause of her life but also her pride and joy. in macau or in its headquarters, in lisbon, ana

paula laborinho finds the language of camões to be her reason for living.

76. Ana Paula Laborinho, President du Instituto Camões

il s’agit d’une «militante» de la langue portugaise. c’est sans doute, la cause majeure de sa vie et de

sa fierté. a macao ou dans l’institut, à lisbonne, ana paula laborinho a, dans la langue de camões, la

raison majeure qui l’anime.

81. The Grand Duke of Luxembourg paid tribute to Maria Barroso and Aristides de Sousa Mendes

It was with great emotion that the wife of former president mário Soares was awarded the order of

merit. the former ambassador in bordeaux, in the person of his grandchildren, was also remembered by

the monarch of luxembourg

81. Le Gran-duc du Luxembour fait hommage a Maria Barroso et Aristides de Sousa Mendes

très émue, l'épouse de l'ancien président mário Soares a reçu l'ordre du mérite. ancien ambassadeur

à bordeaux, en la personne de ses petits-enfants, a également été rappelé par le monarque de

luxembourg.

85. 2nd anniversary of Diplomática magazine

While celebrating its second year, Diplomática magazine made a special effort to support the people

of pakistan, and by doing so proved that even whilst partying one can be serving a greater good. the

joyous event took place in the famous restaurant Kais, one of the most charismatic eateries of our

capital - on the one hand because of its originality and the beauty of its decor, conceived by the late

maria José Salavisa, and on the other hand on account of its exquisite gastronomy, considered by some

guides as one of the best of our country.

85. 2e anniversaire Diplomática

A la célébration de deux années de vie, le magazine Diplomática a mobilisé efforts en soutien du

peuple du pakistan et a prouvé que même en ambiance de fête on peut être au service d’un intérêt

supérieur.

la célébration a eu lieu au déjà célèbre restaurant Kais, l’un des endroits les plus charismatiques de

notre capital, pour sa singularité et beauté de décor, conçu par maria José Salavisa, comme par la

cuisine exquise - considérée par certains guides comme l’un des meilleurs restaurants au monde.

92. North of Africa - The era of globalization and technology

The values of the democratic West are conquering the East

92. Afrique du Nort : L'ère de la mondialisation et de la technologie.

les valeurs démocratiques du ocident sont plus proches de l’orient.

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