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DINÂMICA ECONÔMICA E PRODUÇÃO DO ESPAÇO A PARTIR DA ATIVIDADE
MINERADORA: Uma reflexão do município de Paragominas-Pará-Brasil
Eixo temático: Planejamento de uso da terra e desenvolvimento sustentável.
Autores:
1 – Alegria dos Santos Leite (Discente de Economia, Universidade Federal do Pará – UFPA [email protected])
2 – Daniel Araújo Sombra Soares (Discente de Geografia, Universidade Federal do Pará – UFPA [email protected])
3 – Marcos Raimundo Pereira da Silva (Diretor de relações institucionais e empresariais, Instituto Federal de Ciência, Tecnologia e Educação do Pará –IFPA- [email protected])
4 – Thaissa Maiara da Silva Tavares (Discente de Direito, Instituto Federal de Ciência, Tecnologia e Educação do Pará –IFPA- [email protected])
RESUMO
A mineração juntamente com a agricultura são consideradas os primeiros empreendimentos coletivos da
humanidade. A história da mineração ocorre em paralelo com a historia da civilização com muitas eras
importantes associadas a esta atividade, quais sejam: Idade da Pedra (paleolítico), idade da pedra polida
(neolítico) e idade dos metais. Nenhuma civilização pode prescindir do uso dos bens minerais,
principalmente quando se pensa em qualidade de vida, uma vez que as necessidades básicas do ser
humano – alimentação, moradia e vestuário – são atendidas essencialmente por estes recursos. Uma
pessoa consome direta ou indiretamente cerca de 10 toneladas/ano de produtos do reino mineral,
abrangendo aproximadamente 350 espécies minerais distintas. Não obstante a sua importância histórica e
atual, há muita polêmica quanto ao efetivo papel da mineração para o desenvolvimento dos espaços
territoriais onde ela ocorre. Basicamente, existem duas abordagens centrais, onde uma advoga que a
atividade mineradora seria um impulsionador do desenvolvimento da região, outra abordagem declara que
a atividade acomodaria o desenvolvimento de outros setores econômicos tornando a economia altamente
dependente do setor mineral; dentro destas duas perspectivas, o artigo apresenta como embasamento
teórico uma visão geral sobre as quatro principais abordagens sobre a teoria do desenvolvimento: (teorias
clássicas sobre o desenvolvimento, teorias de inspiração marxistas e neo-marxistas, institucionalistas e
neo-institucionalistas e propostas de desenvolvimento sustentável). E a partir das analises teóricas do
desenvolvimento, busca apresentar a importância da atividade mineradora para o município de
Paragominas, apresentando dados quantitativos que subsidiem a análise deste trabalho, destacando a
importância econômica da atividade e suas externalidades principais geradas. A questão norteadora deste
trabalho é se a mineração a longo prazo no município de Paragominas apresentará a mesma dinâmica de
grande parte dos municípios mineradores do estado do Para (atividade com baixo adensamento de
cadeia, baixos índices de emprego, fraca internalização da rendas da mineração, degradação ambiental,
permanência no poder de uma elite pouco empreendedora e parasitária que não consegue deslanchar
políticas para diversificar a economia e deixá-la menos dependente do setor mineral). A escolha do
município de Paragominas para esta pesquisa se consubstanciou pelo fato deste apresentar uma dinâmica
microscósmica da dinâmica da Amazônia brasileira em termos de atividade econômica e suas
externalidades sociais, politicas e ambientais geradas, outro fator concorrente para a escolha foi a vasta
disponibilidade de dados institucionais e a atividade extrativa da bauxita neste município ser relativamente
incipiente o que nos permite prospectar cenários e comparar com a dinâmica de outros municípios
mineiros no Estado do Pará, a exemplo, Paraupebas, Marabá, Oriximiná e Barcarena. A metodologia para
a viabilidade do estudo é quantitativa na medida em que analisa dados e séries históricas sobre o
município e qualitativa tendo como ferramentas de apoio para a pesquisa a observação in lócus, pesquisa
iconográfica, análise documental, e as técnicas de entrevista com os atores envolvidos nesta realidade.
PALAVRAS-CHAVES: Desenvolvimento, Paragominas, Mineração.
INTRODUÇÃO
Nenhuma sociedade atualmente vive sem depender de minerais, especialmente quando se pensa
em qualidade de vida, desde a satisfação das necessidades básicas como roupas, habitação e
alimentação até bens mais supérfluos, à exemplo os cosméticos. Uma pessoa consume direta e
indiretamente cerca de 10 toneladas por ano de produtos do reino mineral, que inclui cerca de 350
espécies diferentes de minerais. Não obstante a sua importância histórica e atual, há muita polêmica
quanto ao efetivo papel da atividade mineradora para o desenvolvimento dos espaços territoriais onde ela
ocorre.
Este trabalho busca apresentar a partir de análises teóricas do desenvolvimento, a importância da
mineração para o município de Paragominas localizado no estado do Pará, para tanto, são utilizados
dados quantitativos que demonstrem a realidade econômica, social e ambiental do município, apontando a
importância econômica da atividade como principal geradora de externalidades. E apartir de tal premissa,
o trabalho busca fazer uma comparação com outros municípios do estado do Pará que apresentam
também a atividade mineradora.
A metodologia utilizada neste trabalho é qualitativa na medida em que se utiliza de pesquisas
históricas, teórica e social buscando respostas em um grupo social, utilizando fontes formais através da
pesquisa bibliográfica e historiográfica. Também se trata de um artigo que usa dados quantitativos,
apresentando os mais diversos dados econômicos, sociais e ambientais de fontes institucionais brasileiras,
expressando tais por meio de análises gráficas e por meio de mapas a partir de ferramentais como GIS
(Geographic Information System).
Desta forma, o artigo encontra-se dividido no seguinte formato: (i) Introdução, (ii) As duas principais
abordagens da mineração, (iii) Mineração na Economia Brasileira, (iv) A indústria Mineral no Estado do
Pará e suas externalidades, (v) Paragominas e mineração- é possível prospector um trampolim para o
desenvolvimento? e (vi) Conclusão.
2. AS DUAS PRINCIPAIS ABORDAGENS DA MINERAÇÃO Importante destacar que atualmente é dada grande importância às dimensões da atividade mineradora
sendo esta amplamente discutida em diferentes campos teóricos nas mais diversas áreas de pesquisa.
Neste trabalho apresentam-se s duas principais abordagens dominantes dentro da perspectiva teórica
entre a atividade e suas externalidades socioeconômicas geradas, sendo estas diametralmente opostas,
quais sejam:
a) Mineração com um condutor para o desenvolvimento:
Esta visão teórica é desenvolvida por analista do Banco Mundial (BM), por exemplo, baseia-se na
premissa de que o crescimento econômico gera crescimento na renda per capita (dada pelo PIB per
capita) assim, ocasionando diminuição da pobreza, esta convicção do BM incorpora as teorias do
mainstream da economia do desenvolvimento, as teorias do crescimento de Rostow, Harrod-Domar,
Solow entre outros. Importante destacar que para esta linha de pesquisa Desenvolvimento é sinônimo de
crescimento econômico, onde um aumento no investimento levaria ao crescimento da renda e
consequente diminuição da pobreza.
Pegg (2006) lista os fatores levados em consideração pelo BM para o financiamento de grandes
projetos do setor mineral em economias subdesenvolvidas, quais sejam: A analogia histórica com países
que desenvolveram-se levados pela importância do setor mineral para suas economias, como por
exemplo a Austrália, Inglaterra, Canadá e Estados Unidos; a invenção de novas tecnologias; a criação de
empregos diretos e indiretos; a grande geração de rendas e impostos advindos do setor e que poderia ser
utilizado com elemento de combate à pobreza pelo Estado.
Nesta abordagem para a mineração há uma lógica causal em todos os modelos que a defendem,
onde a atividade aumentaria os investimentos e este seria o indutor do crescimento econômico que
acabaria por gerar desenvolvimento.
b) Mineração como atividade econômica que gera desigualdades em termos de
desenvolvimento.
Entram nesta discussão as conhecida “tese da maldição dos recursos”, a “doença Holandesa”, as
análise marxistas e neo-marxistas, os cepalinos e teoria da dependência. Lewis (1984) destaca que países
com grandes reservas minerais na verdade possuem desvantagens em alcançar o desenvolvimento já
que estão condicionados a depender de vantagens comparativas, somente deste setor e não diversificam
a sua economia; Para o autor os principais causadores deste circulo vicioso da pobreza dependente do
setor mineral é criado devido à falta de capital e poupanças domésticas que geralmente inexistem ou são
muito pequenas nestes países.
Nota-se que geralmente os indicadores de economias baseadas em setor mineral apresentam baixo
nível de distribuição de renda, criação de um mercado de trabalho monopolístico onde uma única empresa
mineradora é responsável pela absorção da mão de obra da região, baixa diversificação econômica,
ganhos de exportação concentrados somente em produtos primários, geralmente as empresas
mineradoras são Investimentos diretos do exterior onde seus lucros são mandados de volta para as
matrizes notadamente sediadas em países desenvolvidos, volatilidade do mercado devido à flutuações
dos preços do mercado internacional,entre outros.
Lewis (1984) chama de “maldição dos recursos” a este conjunto de efeitos típicos negativos de uma
economia baseada em setores que possuem grande vantagem comparativa, como por exemplo, o setor
mineral. De acordo com esta visão, este setor acaba por gerar uma elite que se favorece com a bonança
das rendas da mineração, e que utiliza estes favores em ordem de se perpetuar no poder e que se
acomoda com tal posição não diversificando a economia da região e nem criando condições para tanto,
corroborando para uma perpetuação do subdesenvolvimento.
3. MINERAÇÃO NA ECONOMIA BRASILEIRA
Economicamente, o Brasil destaca-se como a sexta maior economia do mundo, de acordo com o
jornal The Guardian, domingo 25 dezembro de 2011, suplantando economias emergentes dos BRICS
como Rússia, África do Sul e Índia. Durante o contexto de evolução do PIB brasileiro, a indústria extrativa
mineral teve um papel preponderante, como demonstra o gráfico 1 abaixo, durante o boom dos preços
(2004-2008), mostrou-se uma impressionante taxa de crescimento acima de 5% por ano. Os fatores mis
importantes para o crescimento da demanda por minerais Brasileiros foi o crescimento da China, a
economia norte Americana e dos BRICS e o crescimento da população mundial.
0
500
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
PRODUCTION WORLDWIDE
BRAZILIAN PRODUCTION
Gráfico1: Performance do PIB brasileiro por setor Fonte: BNDES, 2009
O Brasil está definitivamente posicionado na rota dos fluxos financeiros de investimentos, como
demonstra o gráfico 2, há um otimismo quanto aos investimentos diretos estrangeiros. De acordo com
MME (2009) – Ministério de Minas e Energias- a produção mineral no Brasil tem legalizadas originalmente
3,354 minas, dessas 159 minas grandes (minas que produzem 1 milhão de toneladas/ano- run of mine, 5%
do total ), 837de tamanho médio (menos de 1 milhão de toneladas/ano e acima de 100 mil ton/ano run of
mine 24% do total), e 2,358 pequenas minas (menos de 100 mil tons /ano e acima de 10 mil ton / ano run
of mine), 71% do total. Sobre as reservas minerais, a Tabela 1 mostra a posição e participação de
minerais no país.
O Brasil é o terceiro maior produtor do minério da Bauxita, com uma produção em 2008 de 26.6
milhões de toneladas, apresenta 13% da produção mundial com 205 milhões de toneladas. A Austrália é a
líder na produção com 64 milhões toneladas in 2007, correspondendo a 33% da produção global, seguida
pela China com 17%. O gráfico 3 demonstra a comparação da produção brasileira com a mundial feita
pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) que mostra um crescimento linear na produção
deste minério.
Reservas Minerais Brasileiras
Minerais Participação Posição
Niobio 97,8 I
Tantalite 52.1 I
Grafite 25.9 II
Bauxita 10 III
Caulim 28.5 II
Talco 17 III
Vermiculite 10.3 III
Tin 9.4 IV
Magnesita 7.8 IV
Magnésio 2.9 I V
Ferro 9.2 V
Gráfico 2: Investimento direto do estrangeiro Tabela 1: Reservas minerais brasileiras Fonte: BNDES, 2009 Fonte: Brasil, 2006
1998
2000
2002
2004
2006
2008
2010
6.324 5.320 5.453 7.642 7.290 7.508 5.309 5.784 5.800
97%
3% METALLURGY OF NON-FERROUS
OTHER
Gráfico 3: Produção da Bauxita no mundo e no Brasil. Fonte: DNPM, 2009
Segundo (MME, 2007), a quantificação das reservas brasileiras em 2005, mostrou um potencial da
bauxita bastante confortável para o país e suas necessidades futuras. Considerando as condições
recordes em 2005, as reservas são de aproximadamente de 3,6 bilhões de toneladas que se tornam
suficiente para as necessidades das indústrias metalúrgicas e não metalúrgica brasileira para os
próximos 100 anos. No Brasil, os principais estado produtores são: PA (85%), MG (14%) e outros (1%). O
preço da tonelada da bauxita em dólares americanos, como mostra o gráfico abaixo, comua série de
1998 a 2008 tem crescido,apresentando em 2008 $ 35 /ton.
Gráfico 4: Preço por tonelada da Bauxita
Fonte: DNPM, 2009
A quantidade exportada do minério em 2008 alcançou 5.8 milhões de toneladas. O consumo
doméstico representou 21 milhões de toneladas no mesmo ano, está alta representatividade do consumo
doméstico ocorre pela necessidade de satisfazer a demanda de alumina (cuja bauxita é matéria prima) das
refinarias do Norte do país, o gráfico 5 demonstra a evolução da exportação da Bauxita que também é
crescente muito embora menor. O principal mercado consumidor da bauxita no Brasil consiste
principalmente nas refinarias de alumina do Estado do Pará. Na produção da alumina, para cada 4
toneladas de bauxita são geradas 2 ton. de alumina, e consequentemente, para cada 2 ton. de alumina
obtêm 1 ton. de alumínio. O consumo deste minério é principalmente destinado para a metalurgia de
metais não ferrosos, conforme o gráfico 6 à baixo:
1998
2003
2008
19,31 19,23 20 23 22,2 25,44 28,08 33,16 35
Gráfico 5: Exportação da Bauxita em ton. Gráfico 6: Destinação da Bauxita Fonte: MIDIC Commerce Fonte:IBRAM, 2011 Aliceweb, 2011
O estado do Pará é a região com as maiores resevas de Bauxita do país e que vem
acompanhando a crescente produção, passando pela tradicional produção do estado de Minas Gerais que
iniciou no inicio da década de 1950. Com mais de 300 concessões de exploração da mina localizadas pelo
país, já com mais de 30minas ativas, onde a produção de bauxita varia entre a pequena e grande minas
empregando mais de 2.000 pessoas nas atividades diretas da mineração. Segundo MME (2009) para
2030 prospecta-se uma produção de 80 milhões de toneladas do minério comum crescimento multiplicado
3,3 vezes acima.
No que se refere a regionalização da produção, o estado do Pará com 2.7 bilhões de ton. mantém
quase 75% do total das reservas brasileiras da bauxita e o estado de Minas Gerais participa com 16%
tendo 560 milhões de ton. seguido por Maranhão, Amapá, Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro,
Amazonas e Goiás.
Os municípios paraenses detentores das maiores reservas conhecidas de bauxita são Oriximiná,
seguido pelo município de Paragominas(estudado neste artigo), São Domingos Capim e outros.
4.A INDÚSTRIA MINERAL NO ESTADO DO PARÁ E SUAS EXTERNALIDADES
Mello (1982) destaca que havia a expectativa de que os complexos minerários da Amazônia iriam
promover a emergência de várias outras empresas na região e que geraria um adensamento da cadeia
produtiva destes minerais, trazendo uma pesada industrialização para a região. Carvalho (2006, p. 2)
ressalta também que era esperado que a grande extração mineral “poderia levar à geração de outras
atividades produtivas que poderiam contribuir para o desenvolvimento da Amazônia como era advogado
no Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND)”.
Tinha-se a crença de que os projetos industrias minerais poderiam produzir polos de
desenvolvimento a la Perroux nas regiões onde eram desenvolvidos, através da atração de novos
investidores capazes de investirem em outras atividades, Carvalho (2001).
“Além dos efeitos para trás (efeitos linkagens) era esperado que o processo de industrialização
deslanchassem seus efeitos para frente na cadeia produtiva atraindo modernas industrias eletrolíticas e
eletrotermais a partir de uma grande estrutura hidroelétrica criada na Amazônia.” (COSTA, 1987, p. 39-40).
Enriquez (1998) destaca que a Amazônia brasileira é possuidora de uma das maiores e mais
diversificadas reervas minerais do mundo. O estado do Pará,o maior produtor mineral da Amazônia, o
setor mineral apresenta-se em 40% das exportações e 12% do PIB do Estado (Silva, 1994). Porém,
apesar de toda esta impressionante riqueza o setor não tem sido um vetor para o desenvolvimento
regional, o setor mineral emprega somente 0.45% da força de trabalho economicamente ativa da região,
contribui com menos 4% com impostos (SANTANA AND VIDAL, 1998; MONTEIRO 2010). Há esta
inabilidade de gerar benefícios para as populações locais atualmente, e para o future mostra-se ainda
mais preocupante por ser um produto não renovável e que tem data para acabar.
Monteiro (2008) estudando sobre o distrito industrial de Barcarena que possuem as 4 maiores e
principais industrias metalúrgicas do Pará que rodeiam a Albrás- companhia que produz alumínio primário,
destaca que não se deslancham outras empresas na região pelo fato do beneficio/transformação do
produto primário ser mínimo, os níveis de relações entre as quatro empresas e destas com as empresas
subcontratadas serem baixos, as dinâmicas de cooperação e inovação não serem satisfatórias.
Enriquez (1998) analisando os impactos da CFEM (Contribuição Financeira pela exploração
mineral) que é um tipo de royalty imposto desde o inicio da década de 1990 no Brasil que tem por objetivo
capturar parte das rendas da mineração relacionadas com o decréscimo dos estoques de minerais;
destaca que nos municípios de Parauapebas e Oriximiná, no estado Pará, o regime da tributação ainda
precisa ser modificado e inspecionado a sua destinação como objetivo de fazer com que o setor mineral
seja um genuíno vetor de desenvolvimento regional que garanta que as presentes e futuras gerações
sejam beneficiadas pela atividade mineradora.
5.PARAGOMINAS E MINERAÇÃO- É POSSÍVEL PROSPECTOR UM TRAMPOLIM PARA O
DESENVOLVIMENTO?
5.1 Sobre o município
Paragominas é considerada uma síntese da região Amazônica, desde que o município reflete bem
em sua história as principais atividades econômicas e dinâmicas associadas pelas quais a Amazônia foi
passiva (FERNANDES, 2011). Silva e Leite (2010) destacam que o estado do Pará foi quem mais
recebeu investimentos da União, quando da ocupação, por "ser detentor de 73% da cobertura vegetal,
apresentou grande oportunidade para iniciar o processo de desenvolvimento do Norte, em parte devido à
abertura de estradas - Belém-Brasília e Trans- amazônica (Figuras 1 e 2). Estes investimentos em
infraestrutura objetivavam a conexão da Amazônia ao resto do país, o estado do Pará passou então a ser
integrado à outras partes do Brasil. Paragominas é um exemplo de município que surgiu à margem da
rodovia Belém-Brasília.
Figure 1 – Abertura da Transamazônica Figure 2 –Abertura da Belém-Brasília
Fonte: revista VEJA, 2009 apud Silva e Leite (2010) Fonte: Monteiro, 2001 apud Silva e Leite(2010)
Quanto à localização, de acordo com SEPOF (2011), Paragominas pertence à Microrregião de Rio
Capim, sua sede apresenta coordenada geográfica: 03º 00’00’’S e 47º 21’30”W. Paragominas apresenta
2,49 milhões de hectares. Fazendo fronteiras ao norte com os municípios de Ipixuna do Pará e Nova
Esperança do Piriá, a leste com o estado do Maranhão, e ao sul com os municípios de Dom Eliseu,
Ulianópolis e Goianésia do Pará e Oeste somente com Ipixuna do Pará, conforme o mapa1:
A população é de aproximadamente 99,459 habitantes, apresentando densidade demográfica de
5,06 hab./Km² (IDESP, 2009). Seu PIB é o nono entre os 143 municípios do Pará, em 2010 o PIB per
capita a preços correntes representou R$ 8.922,83 (IBGE, 2010).
6.2 A bauxita em Paragominas:
O propósito final das companhias é um instrumento autorizativo para o uso do recurso mineral,
neste caso, uma portaria do MME (Artigo 43 do código mineral brasileiro). Com a finalidade de apresentar
a situação real da extração do minério de bauxita em Paragominas, em concernência com dados
institucionais, a quantidade de requerimentos de pesquisa, concessões de pesquisa e concessão de mina
neste município são demonstradas a seguir. No mapa 2, segundo o DNPM (2012) tem-se a quantidade de
requerimento de pesquisa feita por companhias que desejam descobrir a viabilidade quantitativa e
qualitativa de bauxita para posterior exploração do minério no município.
Após o processo de autorização das pesquisas, e se estas empresas considerarem que é viável
explorar a mina, as empresas retornam ao DNPM para pleitearem pela concessão da mina, este e então o
DNPM examina se ocorrerá a concessão da mina; tal documento é incorporado pela Portaria do MME que
autoriza a exploração da mina. Em Paragominas, até 2012 têm-se as seguintes concessões de mina:
Em Paragominas, há um monopólio e monopsônio da mineração de bauxita,onde apenas uma
empresa realize a atividade companhia Norway's Norsk Hydro ASA (3ª maior produtora mundial de
alumínio) que recebeu o controle de 60% do empreendimento em Paragominas pela companhia Vale. De
acordo com (Hydro, 2012) Paragominas is Terceira maior mina de bauxita do mundo,com capacidade
produtiva de 9.9 milhões de tons anualmente. Há um projeto de expansão planejando atender a demanda
futura da CAP (companhia de alumínios do Pará) companhia que vai aumentar a capacidade para 15
milhões de ton. O investimento inicial é de 2.2 bilhões. A bauxita produzida nesta mina é transportada em
50% de forma solida para a Alunorte, instalada em outro município, por meio de um mineroduto de 244 km
de comprimento. Paragominas, devido ao processo de chegada da atividade mineradora (meados de1990
a 2010) vem mudando suas condições socioeconômicas. Baseamo-nos em alguns indicadores que
expressão tais mudanças que vêm ocorrendo no município em epígrafe. Como apresenta o gráfico 7 que
0
20.000
40.000
60.000
80.000
100.000
120.000
1980 1991 2000 2007 2010 2011*
58% 23%
19%
SERVICES INDUSTRY AGICULTURAL SECTOR
0% 10% 20% 30% 40%
Paragominas
Rondon do Pará
Ipixuna do Pará
Dom Eliseu
Tome Açu
demonstra um crescimento populacional desde o senso da década de 1980. Também no gráfico ao lado-8,
apresenta-se uma comparação entre a taxa de crescimento populacional do município estudado com
Belém, a capital do Estado, com estes dois gráficos infere-se o salto populacional ocorrido a partir do
processo de chegada da mina, ocasionado devido a chegada de imigrantes de outros municípios e
estados, principalmente o estado do Maranhão. No gráfico 7 apresenta também a taxa de crescimento da
população que alcançou no ano de 2000 a 2007 a taxa de 2.5%.
Quanto aos dados econômicos do município e comparando com os municípios da microrregião
Rio Capim (estes outros municípios não tem base mineradora), o PIB da microrregião em 2008 foi de $ 2,6
bilhões contribuindo com 5% do PIB estadual. Paragominas aparece com o maior PIB per capita da
microrregião com R$ 8,923. O setor de serviços contribuiu com 58% na Formação do produto da região,
industria aparece com 23% e agricultura com 19% nas participações, conforme o gráfico 9: A economia
da microrregião é concentrada em alguns municípios, a participação de Paragominas no PIB da região foi
de 31%; Rondon do Pará (8.8%); Ipixuna do Pará (8.5%); Dom Eliseu (8.1%) e Tomé-Açu (7.9%). Para
demonstrar a importância econômica de Paragominas para a região, o gráfico 10 mostra um ranking dos
municípios com as maiores participações de PIB na microrregião.
0
1
2
3
4
1980 -1991 1991-2000 2000-2007
BELEM
PARAGOMINAS
Gráfico 7: Crescimento Populacional Gráfico 8: Taxa de Crescimento Populacional -%
Fonte: IBGE, 2010. Fonte: IBGE – Censo Demográfico 1991 e 2000
Gráfico 9: Composição do PIB Gráfico 10: Participação em percentual do município em relação ao PIB
Fonte: IBGE, 2010 da microrregião. Fonte: SEPOF, 2011
0
200.000
400.000
600.000
800.000
1.000.000 Paragominas
Ipixuna do Pará
Ulianopolis
Tome-Açu
Dom Eliseu
Rondon do Pará
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
Paragominas
Ipixuna do Pará
Ulianopolis
Tome-Açu
Dom Eliseu
Rondon do Pará
A comparação entre os produtos internamente gerados entre os municípios da Região Rio Capim
é demonstrada no gráfico 11, infere-se que Paragominas encontra-se significantemente acima em
importância econômica de outros municípios. Entretanto, quando se faz a análise do PIB per capita para
os mesmos municípios (gráfico 12), percebe-se que Paragominas não se distancia tanto dos outros
municípios como no gráfico 11, apesar de a partir de 2005, ano de funcionamento da mina Paragominas
ter dado um salto no PIB per capita devido aos grandes investimentos realizados, que se analisado pelas
teorias neoclássicas, estes grandes investimentos ocasionariam crescimento econômico que se
configuraria em desenvolvimento econômico.
Quanto aos dados sociais, optou-se por analisar a evolução do Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) em Paragominas, a partir de uma série histórica de 1970 a 2010, onde a partir da década
de 1990 existe um claro aumento da renda e também do IDH, conforme mostra a tabela a seguir.
IDH Anos
1970 1980 1991 2000 2010
IDH – M 0,316 0,620 0,511 0,690 0,690
IDH –M
longevidade 0,337 0,497 0,538 0,679 0.68
IDH – M
Educação 0,316 0,422 0,471 0,766
0.77
IDH – M renda 0,295 0,943 0,525 0,626 0.63
Grafico 11: Evolução do PIB- ($ 1,000.00) Grafico 12- Evolução do PIB per capita
por município - 1999-2009 por Municipio - 1999-2009
Fonte:IBGE-SEPOF 2010 Fonte:IBGE-SEPOF 2010
Fonte: IBGE-SEPOF, 2011
Tabela 2: HDI - 1970/1980/1991/2000/2010
Fonte: PNUD (2010)
0
0,2
0,4
0,6
0,8 Paragominas
Ipixuna
Ulianopolis
Tome-Açu
Dom eliseu
0
0,2
0,4
0,6
0,8 Paragominas
Ipixuna do Pará
Ulianpolis
Tome-Açu
Dom Eliseu
Rondon do Pará
Analisando a tabela acima mostra que a partir da década de 1970, durante a primeira atividade
preponderante economicamente no município, a pecuária e comparando-a com outras décadas há um
salto imenso até a década de 80 com a atividade madeireira, porém cai durante a transição da atividade
madeireira para a pecuária e que atualmente anos 2000 em adiante há um novo crescimento do IDH do
município e o renda começa a equilibrar-se novamente. Sobre os dados sociais, utilizou-se o índice
FIRJAN de Desenvolvimento por município, para tanto escolheu-se dado do IFDM-M saúde e educação no
ano base de 2000 e ao mesmo tempo compara-se o município estudado com os municípios em torno a
Paragominas e que não apresentam a atividade mineradora, conforme analisado nos gráficos, percebe-se
que apesar de ser o município mais rico da região, Paragominas não se destaca com boas condições
sociais, ficando atrás de outros municípios mais pobres.
Destaca-se que a partir de dados economicos e sociais que o municipioan=inda caminha para
estágios de desenvolvimento (se analisado pelos estágios lineares de desenvolvimento proposto por
Rostow) onde a atividade que trouxe mais investimento daí a Hydro ser uma Foreign Direct Investment
(FDI) impulsionaria,segundo os neoclássicos o crescimento econômico e novos entrantes podendo
configurar-se em desenvolvimento. Entrento o que se percebe e conforme pesquisa realizada por Silva e
Leite (2012) em estudo sobre níveis tecnológicos no setor mineral com 3,351 companhias do setor é que
estas empresas no Brasil não deslancham a entrada de novas empresas em outros setores, possuem um
baixo nível tecnológico já que os produtos são criados nas matrizes, apresentam pequena cooperação
Gráfico 13 - IFDM – Saúde 2000 Gráfico 14- IFDM-Educação 2000
Fonte: FIRJAN Fonte: FIRJAN
com institutos de pesquisa e subcontratadas e tem baixa competitividade, porém em 1/11/2012 foi
postado no site da UFPA (universidade federal do Pará) um acordo de cooperação técnica entre a Hydro e
a universidade. Pela teoria marxista e suas afluentes percebe-se que na verdade a Hydro trouxe mais
desigualdade para o município onde ela se instalou, devido a vinda de mais trabalhadores em busca de
emprego e que possuíam pouca qualificação, os índices de educação, saúde e segurança não
melhoraram. Autores a exemplo de Monteiro e Enriquez destacam a importância e necessidade de
instituições capazes de encontrarem maneiras junto com a sociedade civil de internalizar as rendas da
mineração e gerir os recursos que estas empresas pagam ao estado.
CONCLUSÃO
O artigo apresentou a situação atual de um município que recebeu investimentos estrangeiros e que
começa a dedicar-se à atividade mineradora, para tanto utilizou-se da criticidade das duas abordagens
propostas pela economia mineral. De acordo com os dados analisados fica claro que as promessas da
mineração para o Desenvolvimento local, são vistas quando da chegada da atividade, quando há um salto
nos investimentos, novos empregos e mais renda per capita, o que ocasiona a chegada de novos
moradores ao município, mas na verdade o que realmente ocorre já que geralmente estes municípios não
se preparam para receber a atividade- a exemplo de Paragominas- os serviços sociais ficam mais
escassos uma vez que a população aumentou, estas grande mineradoras, não adensam a cadeia
produtiva, não gerando novos postos de trabalho ou não dão condições para que outras empresas entrem
no mercado a fim de suprir estas necessidades que poderiam existir, mas que na verdade estas grande
empresas apenas exploram o produto primário e o enviam para um pequeno beneficiamento em outra
empresa e é posteriormente exportado para outros países que acabam ganhando bem mais com a
atividade mineral, uma vez que eles beneficiam o produto e os transformam em bens finais. A conclusão
deste trabalho é que se faz necessário mais pesquisas no setor mineral e a fortificação da sociedade a fim
de que ela possa participar de debates que busquem a internalização das rendas da mineração para o
município, uma vez que estes produtos tem data para acabarem por serem não renováveis.
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