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BRASÍLIA-DF, JANEIRO DE 2011 CÂMARA DOS DEPUTADOS Ano 12 | Número 2554 EDIÇÃO ESPECIAL Impresso Especial 9912170931/2007-DR/BSB CÂMARA DOS DEPUTADOS CORREIOS D o marechal Deodoro da Fonseca a Dilma Rousseff, a Repú- blica brasileira, em seus quase 122 anos, percorreu um longo caminho – que en- tremeou períodos Dilma promete erradicar pobreza extrema, melhorar a saúde e combater a corrupção HISTÓRIA DAS POSSES Marco Maia: o atual Congresso aprovou 938 proposições em quatro anos, o melhor resultado desde a redemocratização OPINIÃO | 12 de normalidade com crises, golpes de Estado e ditaduras – até a consolidação da democracia, a partir de 1989. O Jornal da Câmara traz nesta edição reportagens especialis que mostram os principais momentos dessa história, os discursos dos presi- dentes no Congresso e curiosidades sobre o livro que contém os termos de posse dos presidentes e vices. Páginas 5 a 10 ARQUIVO SEFOT ARQUIVO SEFOT ARQUIVO PÚBLICO SP LAYCER TOMAZ Página 3 e 4 Em discurso no Congresso, a presidente defendeu a criação de mais vagas no ensino infantil e garantiu que vai trabalhar pela valorização dos professores. “O professor será tratado como a verdadeira autoridade da educação”.

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BRASÍLIA-DF, JANEIRO DE 2011 CÂMARA DOS DEPUTADOS Ano 12 | Número 2554

edição eSPeCiAL

impresso especial

9912170931/2007-dR/BSBCÂMARA doS dePUTAdoSCoRReioS

Do marechal Deodoro da

Fonseca a Dilma Rousseff, a Repú-blica brasileira, em seus quase 122 anos, percorreu um longo caminho – que en-tremeou períodos

Dilma promete erradicar pobreza extrema,melhorar a saúde e combater a corrupção

HISTÓRIA DAS POSSES

Marco Maia: o atual Congresso aprovou 938 proposições em quatro anos, o melhor resultado desde a redemocratização

OPInIãO | 12

de normalidade com crises, golpes de Estado e ditaduras – até a consolidação da democracia, a partir de 1989. O Jornal da Câmara traz nesta edição reportagens especialis que mostram os principais momentos dessa história, os discursos dos presi-dentes no Congresso e curiosidades sobre o livro que contém os termos de posse dos presidentes e vices. Páginas 5 a 10

Arquivo SefotArquivo SefotArquivo PÚBLiCo SP

LAyCer tomAz

Página 3 e 4

Em discurso no Congresso, a presidente defendeu a criação de mais vagas no ensino infantil e garantiu que vai trabalhar pela valorização dos professores. “O professor será tratado

como a verdadeira autoridade da educação”.

Disque - Câmara 0800 619 619www.camara.gov.br

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PERFISEdição especial - Janeiro de 2011

Jornal da Câmara

impresso na Câmara dos deputados (deAPA / CGRAF) em papel reciclado

Mesa diretora da Câmara dos deputados - 53a Legislatura SeCoM - Secretaria de Comunicação Social

Diretor: Sérgio Chacon (61) 3216-1500 [email protected]

[email protected] | Fone: (61) 3216-1660 | distribuição - 3216-1826

DiretorPedro Noleto

Editora-chefeRosalva Nunes

DiagramadoresGuilherme Rangel BarrosJosé Antonio FilhoRoselene Figueiredo

IlustradorRenato PaletEditor de fotografia Reinaldo Ferrigno

EditoresMaria Clarice diasRalph MachadoRoberto Seabra

Vice-PresidenteAntonio Carlos Magalhães Neto (deM-BA)1º SecretárioRafael Guerra (PSdB-MG)2º Secretárioinocêncio oliveira (PR-Pe)3º Secretárioodair Cunha (PT-MG)4º SecretárioNelson Marquezelli (PTB-SP)

Presidente: Marco Maia (PT-RS) SuplentesMarcelo ortiz (PV-SP), Giovanni Queiroz (PdT-PA), Leandro Sampaio (PPS-RJ) e Manoel Junior (PSB-PB)Ouvidor ParlamentarMario Heringer (PdT-MG)Procurador ParlamentarSérgio Barradas Carneiro (PT-BA)Diretor-GeralSérgio Sampaio de AlmeidaSecretário-Geral da MesaMozart Vianna de Paiva

A primeira mulher eleita presidente do Brasil tem uma longa trajetória como gestora pública e ganhou visibilidade nacional ao assumir o Ministério de Minas e Energia em 2003, no início da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva. Dois anos depois, seria uma das prin-cipais figuras do governo ao tornar-se ministra-chefe da Casa Civil e ao co-ordenar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Dilma Vana Rousseff nasceu em Belo Horizonte (MG), em 14 de dezem-bro de 1947. Filha do imigrante búlgaro Pedro Rousseff e da professora Dilma Jane da Silva, estudou em escolas tra-dicionais da capital mineira e ingressou na faculdade de Economia da Universi-dade Federal de Minas Gerais.

Juventude - Desde cedo, Dilma mi-litou contra a ditadura militar. Atuou em organizações que defendiam a luta armada contra o regime vigente, como o Comando de Libertação Nacional (Colina) e a Vanguarda Armada Re-volucionária Palmares (VAR-Palmares). Teve amigos presos, torturados, exilados e assassinados pela repressão. Ela pró-pria foi presa e passou por sessões de tortura, entre 1970 e 1972, na Operação Bandeirante (Oban) e no Departamen-to de Ordem Política e Social (Dops),

Michel Miguel Elias Temer Lulia, 70 anos, é o primeiro deputado federal a ocupar a Vice-Presidên-cia da República após o fim do regime militar. Eleito deputado pela primeira vez em 1986 para participar da Assembleia Nacional Constituinte e reeleito por seis vezes, Temer presidiu a Câmara em três oportu-nidades: 1997, 1999 e 2009.

Desde 2001, Michel Temer é presidente nacional do PMDB, partido ao qual se filiou em 1981. Na condição de presidente da Câmara, assumiu a Pre-sidência da República interinamente de 27 a 31 de janeiro de 1998 e em 15 de junho de 1999.

Nascido em Tietê (SP), em 23 de setembro de 1940, e caçula de oito irmãos, Temer ingressou na po-

lítica no início dos anos 60, como oficial de gabinete de seu ex-professor Ataliba Nogueira, um intelectual conhecido na área jurídica, secretário de Educação do governo Adhemar de Barros. A partir daí, ocupou cargos como o de procurador-geral do estado de São Paulo e de secretário de Segurança Pública.

Casado e pai de quatro filhos, o vice-presidente é filho de comerciantes libaneses que imigraram para o Brasil em 1925. É doutor em Direito pela Pontifícia Univer-sidade Católica (PUC) de São Paulo e autor dos livros Constituição e Política, Territórios Federais nas Constituições Brasileiras e Seus Direitos na Constituinte e Elementos do Direito Constitucional – esse último na 20ª edição, com 200 mil exemplares vendidos. Temer graduou-se em Di-

reito pela Universidade de São Paulo (USP).Até a vitória da chapa Dilma-Temer, todos os

vices eleitos haviam sido senadores: Itamar Franco, Marco Maciel e José Alencar, além de José Sarney (eleito pelo colégio eleitoral). O último deputado a ocupar a vice-presidência foi Pedro Aleixo, eleito indiretamente para vice do presidente militar Costa e Silva em 1966. No entanto, o deputado já ocupava o cargo de ministro da Educação quando foi indica-do à Vice-Presidência. Pela Constituição, cabe ao vice-presidente assumir o papel do titular em caso de morte e de impedimentos, auxiliar o presidente em missões especiais e compor os conselhos da Re-pública e de Defesa Nacional.

em São Paulo.Dilma casou-se duas vezes. O pri-

meiro marido foi o companheiro de militância Cláudio Galeno. Na clandes-tinidade e fugindo da repressão, acaba-ram indo para cidades diferentes e se

na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e iniciou a vida pública.

Vida pública - Dilma foi secretária da Fazenda de Porto Alegre nos anos 1980 e secretária estadual de Minas, Energia e Comunicação por duas vezes nos anos 1990, pelo PDT. Presidiu ainda a Fundação de Economia e Estatística (FEE), vinculada ao governo do Rio Grande do Sul, onde havia estagiado nos anos 70. Filiada ao PT desde 2001, foi convidada por Lula no fim de 2002 para assumir o setor energético nacio-nal. Um dos destaques da pasta durante sua gestão foi a criação do programa Luz para Todos, para levar energia elétri-ca a regiões de baixo desenvolvimento humano.

Conhecida pela personalidade forte, Dilma substituiu José Dirceu na Casa Civil em 2005, durante o escândalo do mensalão, e a partir de então começou a estreitar sua parceria com Lula. Em 2010, foi escolhida pelo PT para dispu-tar a presidência da República em nome do partido e venceu a primeira eleição de sua vida.

Em 2009, Dilma enfrentou um cân-cer linfático, mas não se afastou da ro-tina diária. Submeteu-se a tratamento em São Paulo e foi declarada curada em setembro do mesmo ano.

Personalidade forte e destaque como gestora no Planalto marcam sucessora

Temer: primeiro deputado a ocupar a vice após a ditadura

separaram. Em 1973, Dilma mudou-se para Porto Alegre, para acompanhar o segundo marido, o advogado e militante gaúcho Carlos Araújo, com quem viveu por 30 anos e teve uma filha, Paula. Na capital gaúcha, recomeçou os estudos

CAStro JuNior

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Disque - Câmara 0800 619 619www.camara.gov.br

nOVO GOVERnO

na posse, Dilma enaltece mulheres epromete combate à pobreza extrema

Rodrigo Bittar

A presidente Dilma Rousseff e o vice, Michel Temer, tomaram posse no dia 1º, em solenidade no Congresso Nacional. Em seu primeiro discurso, Dil-ma dedicou maior ênfase à sua condição de mulher e ao fato de suceder o ex-presidente Lula.

Tratando a população com a expressão “queri-dos brasileiros, queridas brasileiras”, ela pediu “paz no mundo”, com-prometeu-se a travar uma “luta obstinada” contra a pobreza extrema e chorou de emoção por duas vezes no discurso de posse: ao se declarar “presidenta” de todos os brasileiros e ao lembrar das pessoas que morreram no com-bate à ditadura militar no Brasil (1964-85).

Ao longo de 43 minutos, Dilma listou vários pontos que deverão receber aten-ção especial do governo, como o com-bate à inflação, a melhoria dos serviços e dos investimentos públicos, a garantia de liberdade de imprensa, de opinião e religiosa e a lisura com os recursos públi-cos. “Serei rígida na defesa do interesse público. Não haverá compromisso com o erro, o desvio e o malfeito. A corrupção será combatida permanentemente, e os órgãos de controle e investigação terão todo o meu respaldo para atuarem com firmeza e autonomia”, garantiu.

A presidente usou a última parte de seu discurso para uma breve biografia e disse que dedicou sua vida à causa do Brasil e que lutou contra a censura e a ditadura, em busca da democracia e dos direitos humanos. “Entreguei minha juventude ao sonho de um país justo e democrático. Suportei as adver-sidades mais extremas infligidas a todos que ousamos enfrentar o arbítrio. Não tenho qualquer arrependimento, tam-pouco ressentimento ou rancor”, disse. “Vou governar o Brasil com coragem e carinho. Quero cuidar do meu povo e a ele dedicar os próximos anos da minha vida”, acrescentou.

A primeira saudação feita por Dilma foi às mulheres. Ela disse que sua eleição significou “abrir portas para que muitas outras mulheres, no futuro, possam ser presidentas”. Em seguida, agradeceu a

Lula, classificado como o “presidente que mudou a forma de governar e levou o povo brasileiro a confiar no futuro”. Ela também homenageou o ex-vice-presi-dente José Alencar – que não pode com-parecer à cerimônia de posse por estar em tratamento contra o câncer em São Paulo. “Que exemplo de coragem e de amor à vida nos dá este homem. E que parceria fizeram o presidente Lula e o vice-presidente José Alencar, pelo Brasil e pelo nosso povo”, afirmou, sob aplausos dos presentes.

Política externa - Em relação à po-lítica externa, a presidente preferiu citar primeiro os países da América Latina e do Caribe, da África e do Oriente Médio para só depois reiterar a disposição do go-verno em aprofundar o relacionamento com os Estados Unidos e com a União Europeia. “O Brasil reitera com veemên-cia e firmeza a decisão de associar seu desenvolvimento econômico, social e político ao nosso continente. Podemos transformar nossa região em componen-te essencial do mundo multipolar que se anuncia, dando consistência cada vez maior ao Mercosul e à Unasul”, referindo ao bloco econômico e à entidade que reúne nações sul-americanas.

Dilma reforçou a cobrança do go-verno Lula pela reforma dos organismos de governança mundial, em especial as Nações Unidas e seu Conselho de Segu-rança, e criticou o terrorismo e a corri-da nuclear promovida por alguns países.

“Nossa tradição de defesa da paz não nos permite qualquer indiferença frente à existência de enormes arsenais atômicos, à proliferação nuclear, ao terrorismo e ao crime organizado transnacional.”

Oposição - Além de repetir o que havia dito em seu primeiro discurso de-pois de eleita, em 31 de outubro, quando se disse disposta a “estender a mão à opo-sição”, a presidente cobrou a mobilização de toda a população para avançar nas reformas propostas.

“É importante lembrar que o destino de um país não se resume à ação de seu governo. Ele é o resultado do trabalho e da ação transformadora de todos os bra-sileiros e brasileiras. O Brasil do futuro será exatamente do tamanho daquilo que juntos fizermos por ele hoje, do tamanho da participação de todos e de cada um, dos movimentos sociais, dos que labutam no campo, dos profissionais liberais, dos trabalhadores e dos pequenos empreende-dores, dos intelectuais, dos servidores pú-blicos, dos empresários, das mulheres, dos negros, dos índios, dos jovens, de todos aqueles que lutam para superar distintas formas de discriminação”, afirmou.

Energia - Dilma lembrou a desco-berta de petróleo na camada do pré-sal e cobrou a aplicação “com responsabi-lidade” dos recursos obtidos a partir da exploração do mineral. “O meu governo terá a responsabilidade de transformar a enorme riqueza em poupança de longo prazo, capaz de fornecer às atuais e fu-

turas gerações serviços públicos de qualidade”, disse.

Para ela, o País “está vivendo apenas o início de uma nova era” de de-senvolvimento econômi-co e social. “Pela primeira vez, o Brasil tem a chance de se tornar uma nação desenvolvida”, afirmou. Dilma garantiu que esse desenvolvimento será fei-to preservando as reservas naturais do País.

Em seu discurso, Dilma defendeu ser possível crescer acelera-damente sem destruir o meio ambiente. “Somos e seremos os campeões mundiais da energia lim-pa. O etanol, as fontes hídricas e alternativas, terão grande prioridade e incetivo no nosso go-verno”, garantiu.

Reformas - A presidente destacou a necessidade de pelo menos duas reformas que deverão ser patrocinadas por seu go-verno: a política e a tributária. Em relação à reforma política, Dilma classificou como “indeclinável e urgente” uma reforma que mude a legislação e faça “avançar nossa jovem democracia”, fortalecendo o senti-do programático dos partidos e aperfeiço-ando as instituições, restaurando valores e dando mais transparência ao conjunto da atividade pública.

A reforma tributária foi lembrada para garantir um ciclo de crescimento econômico maior, com estabilidade de preços e redução das “travas que ainda inibem o dinamismo da nossa economia”. O objetivo, disse, é facilitar a produção e estimular o empreendedorismo.

“É inadiável a implementação de um conjunto de medidas que modernize o sistema tributário, orientado pelo prin-cípio da simplificação e da racionalidade. O uso intensivo da tecnologia da infor-mação deve estar a serviço de um siste-ma de progressiva eficiência e elevado respeito ao contribuinte”, afirmou.

Segundo o cerimonial da Câmara dos Deputados, cerca de mil pessoas, incluin-do convidados e membros de delegações estrangeiras, participaram da posse da presidente Dilma Rousseff no Congres-so Nacional. Além desse contingente, estiveram no local aproximadamente mil servidores da Câmara e do Senado e 500 jornalistas credenciados.

Edição especial - Janeiro de 2011

roDoLfo StuCKert

Dilma discursa no Plenário da Câmara, durante a solenidade de posse no Congresso Nacional

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nOVO GOVERnOEdição especial - Janeiro de 2011

Presidente diz que prioridades serãoeducação, saúde e segurança pública

Roberto Seabra

A presidente Dilma Rousseff afirmou em seu discurso de posse no Congresso Nacional que seu governo vai buscar qualidade na educação, na saúde e na seguran-ça pública. Ela defendeu a criação de mais vagas no ensino infantil e a extensão do ProUni, programa que concede bolsas a estudantes carentes. E afirmou que vai tra-balhar pela valorização dos edu-cadores. “O professor será tratado como a verdadeira autoridade da educação”, afirmou.

Segundo ela, só a formação con-tinuada e a remuneração adequada poderão garantir a qualidade na educação. Ela assegurou que dará apoio aos municípios para vencer os desafios nesta área e anunciou a expansão do programa ProUni para o ensino profissionalizante.

Dilma disse também que a con-solidação do Sistema Único de Saúde (SUS) será outra prioridade do seu go-verno. “O SUS deverá ter com meta o respeito ao usuário”, disse. Ela também afirmou que trabalhará para ampliar a oferta de medicamentos. “Vamos esta-belecer parceria com o setor privado para fortalecer a assistência à saúde”, disse, defendendo ainda a formação

profissional e a distribuição mais equi-librada de médicos e demais agentes de saúde pelas diferentes regiões do país.

A presidente anunciou que promo-verá uma ação integrada para ampliar a eficiência da segurança pública, dizendo ainda que pretende ampliar a presença do Estado nas ações de combate às dro-gas e ao crime organizado. “Reitero meu compromisso de combate às drogas, em

especial ao crack”, disse. Ainda sobre a segurança pública, Dilma afirmou que o exemplo do Rio de Janeiro, com a integração das três esferas de governo, deve ser servir de modelo para todo o País, inclusive com a presença, quando necessária, das Forças Armadas.

Crescimento econômico - Dilma defendeu que o crescimento econômi-co esteja associado à forte implantação

de programas sociais, mantendo a estabilidade econômica. Segun-do ela, o País sabe que a inflação desorganiza a economia e afeta o bolso dos trabalhadores.

A presidente disse que, no plano externo, o Brasil atuará em fóruns internacionais, na defesa de políticas econômicas justas para todos. “Não faremos a me-nor concessão ao protecionismo dos países ricos”, afirmou.

A presidente disse também que o seu governo fará um gran-de esforço para melhorar os gastos públicos. “A melhoria dos serviços públicos será um imperativo dos gastos governamentais”, disse. Para ela, o investimento público é essencial como indutor do in-vestimento privado.

Dilma disse que o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) continuará sendo “vetor de incenti-

vo ao investimento público e privado”.Ela garantiu que honrará os investi-

mentos previstos para Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016. E defendeu que in-vestimentos nesses dois eventos tragam ganhos permanentes para a qualidade de vida da população. Ela citou, em especial os investimentos na melhoria do transporte aéreo, com a ampliação e melhoria dos aeroportos.

Carol Siqueira

A presidente Dilma Rousseff deixou para seu segundo pronun-ciamento público depois de empos-sada, no parlatório do Palácio do Planalto, sua maior manifestação de enaltecimento do ex-presidente Lula e do ex-vice-presidente José Alencar, que não compareceu à cerimônia por estar internado em tratamento contra o câncer, em São Paulo.

Diante da população e ao lado do vice, o ex-deputado e ex-presi-dente da Câmara Michel Temer, ela prometeu honrar o legado de Lula e avançar na obra de transformação do Brasil iniciada pelo ex-presi-dente, ressaltando o “olhar social” que teria marcado os últimos oito anos. “Aprendemos com eles [Lula e José Alencar]. Quando se gover-

No Planalto, petista reafirma continuidadena pensando nos mais necessitados, uma imensa força brota no nosso País. Reafirmo esse compromisso de cuidar com carinho dos mais necessitados”, disse.

Ela chamou Lula de “o maior líder popular que o Brasil já teve”, e disse que ele não estará ausente de seu go-verno. “Lula estará conosco. Sei que a distância do cargo nada significa para um homem de tanta grandeza e generosidade”, ressaltou.

Dilma destacou ainda o desafio de governar um país tão grande quanto o Brasil. “Para governar um país con-tinental como o nosso é preciso ter grandes sonhos. Foi por acreditar que não havia impossível que ele [Lula] fez tanto.”

A nova presidente também pediu o apoio de todos para o seu governo e afirmou que vai respeitar a oposição. “Espero que estejamos todos unidos pela mudança na educação, na saú-

de e na segurança; e na luta para combater a miséria. Buscarei apoio e respeitarei a crítica”, enfatizou.

Com a faixa presidencial, a presidente ressaltou a importância histórica da posse de uma mulher na Presidência da República. “Para além da minha pessoa, a valoriza-ção da mulher melhora a sociedade e valoriza a democracia”, disse.

A presidente voltou a se emo-cionar ao fazer referência ao seu passado na luta contra a ditadura. “A minha geração veio para a po-lítica em busca da liberdade, em um tempo de escuridão e medo. Aos companheiros que tombaram, minha homenagem e lembrança”, disse Dilma com a voz embargada. No discurso feito anteriormente, no Congresso Nacional, Dilma tam-bém havia se emocionado quando se referiu às vítimas da ditadura.

Dilma deixa o Congresso ao lado do vice-presidente, michel temer, e dos presidentes da Câmara e do Senado, além de parlamentares

ANtôNio Cruz ABr

fÁBio roDrigueS PozzeBom ABr

Dilma acena para o público, após a solenidade no Palácio do Planalto

Edição especial - Janeiro de 2011 5

Disque - Câmara 0800 619 619www.camara.gov.br

hIStóRIa POlítICa

Primeira chefe do Executivo mantémquebra de padrões iniciada por Lula

A primeira mulher eleita presidente do Brasil é também a quarta mandatária escolhida pelo voto direto após o fim da ditadura militar, em 1985. Antes de Dilma Rousseff, foram eleitos diretamente Fer-nando Collor, em 1989, Fernando Hen-rique Cardoso, em 1994 e 1998, e Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002 e 2006.

Como mulher, eleita no segundo tur-no das eleições com cerca de 56% dos vo-tos válidos (mais de 55 milhões de votos), Dilma continuará um processo de quebra de padrões iniciado por Lula.

Seu antecessor foi o primeiro líder de um partido de esquerda a chegar ao pos-to de chefe do Executivo. Foi também o primeiro operário, o primeiro civil sem diploma universitário e o primeiro natural de Pernambuco a exercer o cargo como titular.

Escolhida por Lula para sucedê-lo, Dilma, de 63 anos, chegou à Presidência sem nunca ter disputado eleições. Em sua trajetória, merece destaque a militância contra a ditadura militar e o comando da Casa Civil e do Ministério das Minas e Energia no governo Lula.

Mandato - Assim como os antecesso-res Lula e FHC, Dilma poderá governar o País por oito anos, caso dispute e ganhe a reeleição em 2014. Atualmente, esse é o tempo máximo permitido pela Consti-tuição para permanência do presidente no cargo.

Entretanto, nem sempre foi assim. Houve momentos em que o presidente ficou no cargo por mais de oito anos: em 1930, Getúlio Vargas foi eleito e presidiu o País por 15 anos. Durante esse período,

Uso da faixa presidencial completa cem anosRachel Librelon

a faixa presidencial chegou, pela primeira vez, aos ombros de uma mulher em 1º de janeiro de 2011. O símbolo do poder da República com-pletou cem anos – foi instituído pelo Decreto 2.299, de 21 de dezembro de 1910, assinado pelo presidente hermes da Fonseca. Em um século, o acessório já passou por diversos ajustes e reformas para que suas cores e detalhes não perdessem o brilho original.

a presidente Dilma Rousseff rece-beu a atual faixa reformada, só usada pelo presidente lula no último 7 de setembro, durante o desfile cívico-mi-litar – além da posse, tradicionalmente outra data em que a faixa é retirada do cofre. antes da renovação, a peça, confeccionada em chamalote seda, já

apresentava sinais de desgaste natural. O serviço de renovação incluiu toques

de uma restauradora do Instituto do Pa-trimônio histórico e artístico nacional (Iphan). Ela costurou com fios de ouro o brasão da República na faixa, ostentado à altura do peito.

Originalmente com 15 cm de largura, a faixa tem, em suas extremidades, uma franja feita com pequenas correntes ba-nhadas a ouro. Por cima do encontro das duas pontas, sobre uma roda de tecido, há ainda uma medalha da República, em ouro, anexada a um broche, também de ouro, com detalhes em diamantes. no centro, a face da mulher que simboliza a liberdade na pintura de Delacroix “a liberdade guiando o povo”.

Trocas - Não há registro oficial de quantas faixas teriam sido usadas pelos presidentes, assim como também não se sabe por onde andariam as faixas

que deixaram de ser utilizadas. a faixa de Juscelino Kubitscheck é a única bem guardada: está em exposição no Memorial JK, em Brasília.

O ex-presidente José Sarney conta que mandou confeccionar uma faixa especial para enterrar o presidente tan-credo neves. Dizem também que a faixa utilizada por João Goulart, antes do golpe de 1964, foi levada para o exílio por seu cunhado, leonel Brizola, que a guardaria na esperança de ainda vir a usá-la.

no livro Jânio Quadros: Memorial à História do Brasil, escrito pelo herdeiro do ex-presidente Jânio Quadros neto e por Eduardo lobo Botelho Gualazzi, há um capítulo em que neto conta como o avô elaborou a carta de renúncia ao cargo. Jânio teria escrito o texto no dia 22 de agosto de 1961 e permanecido com a faixa presidencial até o dia 26, na esperança de que impedissem sua renúncia.

Símbolo - historiadores acredi-tam que a inspiração para o símbolo presidencial vem da antiguidade, quando as autoridades locais usavam coroas de louros para demonstrar que possuíam poder sobre determinada região. Com o cristianismo, o louro da coroa foi substituído por ouro. na Idade Média, os muçulmanos foram os primeiros a utilizar uma faixa de tecido para representar poder.

na história mundial, o uso de faixas vem de tempos imemoriais e representa uma condecoração de mérito, honra ou bravura. alguns países, como os Estados Unidos, não possuem a tradição de usar faixas presidenciais; e os chefes de regimes monárquicos costumam usar, em oca-siões especiais, faixas de países que os homenagearam. É o que ocorre na Espanha, por exemplo.

ANtoNio Cruz ABr

Lula assiste ao desfile de 7 de Setembro em 2010, quando usou pela primeira vez a faixa presidencial restaurada, agora repassada a Dilma, primeira mulher chefe do Executivo

ele se manteve no poder como chefe de um governo provisório. Deposto em 1945, voltou à Presidência pelo voto popular em 1950.

No período republicano, houve elei-ções realizadas pelo Congresso Nacional, pela Assembleia Nacional Constituinte e

pelo Colégio Eleitoral. Foram eleitos indi-retamente Deodoro da Fonseca, Getúlio e os cinco generais que exerceram o po-der de 1964 a 1985. Tancredo Neves, no início da redemocratização, também foi eleito indiretamente pelo Colégio Eleito-ral, em 1984. Como ficou doente antes da

posse (morreu em 21 de abril de 1985), o vice, José Sarney, assumiu o cargo.

Voto - O primeiro presidente da Re-pública eleito diretamente foi Campos Sales, em 1898. O voto não era secreto e, segundo a Constituição em vigor, não podiam ser eleitores os analfabetos, men-digos e praças militares. O voto femini-no também não era exercido, embora a Constituição não o proibisse explicita-mente. Naquela época, o voto não era obrigatório, e as eleições contavam em média com a participação de apenas 4% da população.

Na história republicana, um dado que se destaca é a posse de vice-presi-dentes. Na chamada República Velha (1989-1930), houve 13 presidentes, três dos quais foram vices que assumiram o poder: Floriano Peixoto, em virtude da renúncia de Deodoro da Fonseca; Nilo Peçanha, por causa da morte de Afonso Pena; e, finalmente, Delfim Moreira, pela morte de Rodrigues Alves, ocorrida logo após a sua reeleição.

Os brasileiros foram às urnas pela primeira vez em 1532 para a eleição do conselho municipal da capitania de São Vicente. As primeiras eleições gerais aconteceram em 1821. Foram escolhidos 70 representantes para a corte portugue-sa. Analfabetos podiam votar, mas o voto ainda não era secreto.

Em 1932, no Governo Provisório de Getúlio Vargas, foi criada uma legislação eleitoral que instituiu o voto feminino e estabeleceu a instância que coordena a votação no País: o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

1946O marechal Eurico Gaspar Dutra é eleito presiden-

te em eleição direta e toma posse em 31 de janeiro, no Palácio Tiradentes, sede da Câmara dos Deputados. En-tretanto, seu termo de posse é o único de um presidente eleito e empossado que não aparece no livro de posse.

1951Eleito pelo voto direto,

Getúlio Vargas é empossa-do em 31 de janeiro pelo Congresso Nacional. Com sua morte em 24 de agosto de 1954, o vice-presidente Café Filho é empossado em 3 de setembro, durante ses-são conjunta do Congresso Nacional.

1889Proclamada a

República, o ma-rechal Deodoro da Fonseca dis-solve o Parlamen-to e não é formal-mente empossado. Publica-se ata da proclamação e o Decreto nº 1, com as novas normas governamentais. Ele assume o cargo em ato na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

novembro, Getúlio Vargas assume o cargo de chefe do governo provisório, mas também não deixa registro no livro de posse.

1934Vargas é eleito de forma indireta pela Assembleia

Constituinte e toma posse em 20 de julho, na sala das sessões da Câmara dos Deputados.

1937No dia 10 de novembro, Vargas dissolve o Con-

gresso, outorga nova Constituição e instala o Estado Novo. O presidente não assina qualquer termo de posse e prorroga o próprio mandato, uma vez que a eleição presidencial prevista para o ano seguinte fora cancelada.

1945Com a depo-

sição de Vargas, José Linhares, presidente do Su-premo Tribunal Federal, assume o cargo por indi-cação das Forças Armadas e toma posse no gabine-te do ministro da Guerra, general Góis Monteiro, sem registro no livro de posse presidencial.

Edição especial - Janeiro de 20116

Disque - Câmara 0800 619 619www.camara.gov.br

lInha DO tEMPO

A posse dos presidentes, de Deodoro a DilmaArquivo PÚBLiCo miNeiro

ufrJ

1891É inaugurado o livro de posse presidencial. De-

odoro é o primeiro a assiná-lo, em sessão do Con-gresso Nacional, no dia 26 de fevereiro, no Palácio São Cristovão (hoje sede do Museu Nacional).

1894Prudente de Morais é o primeiro presidente

eleito do período republicano e toma posse em 15 de novembro, em sessão solene no Congresso Na-cional.

1910Depois de vários presidentes civis, o marechal

Hermes da Fonseca é eleito em eleição direta para o cargo de presidente da República e toma posse em 15 de novembro, em sessão solene do Congresso Nacional.

1918Eleito, pela segunda vez, presidente da Repúbli-

ca, Rodrigues Alves não toma posse pois é vitimado pela “gripe espanhola”, vindo a morrer semanas depois. O vice, Delfim Moreira, é empossado em 15 de novembro no Congresso Nacional e cumpre mandato tampão de oito meses, até a eleição do novo presidente, Epitácio Pessoa.

1930Júlio Prestes é

eleito mas não toma posse, em razão da eclosão do movimen-to revolucionário. Uma junta governa-tiva assume o poder e depõe o presidente Washington Luís, sem deixar registro no li-vro de posse. Em 3 de

Sefot

1955Café Filho afasta-se da Presidência por motivo

de saúde e é substituído por Carlos Luz, presidente da Câmara. Restabelecido, tenta voltar ao cargo, mas seu impedimento é aprovado pelo Congresso Nacional em 22 de novembro. Nereu Ramos, pre-sidente do Senado, assume o cargo, em razão do impedimento de Carlos Luz, acusado de conspirar contra a posse do presidente eleito, Juscelino Ku-bitschek.

1956JK e seu vice, João Goulart, tomam posse em

31 de janeiro, durante sessão solene do Congresso Nacional, após grave crise política. É a última posse presidencial no Palácio Tiradentes e no Rio de Janeiro.

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lInha DO tEMPO

1961Jânio Quadros é o primeiro presidente a tomar

posse na nova capital, em 31 de janeiro, durante ses-são conjunta no Palácio do Congresso Nacional, em Brasília. Em 25 de agosto, Jânio renuncia, e a vaga é ocupada por Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara, que governa por duas semanas, até que se resolva a crise política. Em 8 de setembro, o vice presiden-te eleito, João Goulart, toma posse no Congresso Nacional, mas com os poderes limitados por emenda constitu-cional que introduziu o parlamentarismo no Brasil. Tancredo Neves é indicado primeiro-ministro e empossado junta-mente com Jango.

vice-presidente Pedro Aleixo, e assume o poder, marcando nova eleição indireta. O general Emílio Garrastazu Médici é eleito presidente indiretamente pelo Congres-so Nacional, em 22 de outubro, e toma posse em 30 de outubro, em sessão do Parlamento. Ato Institucional estendeu o mandato para cinco anos.

1974Eleito indiretamente, o general Ernesto Geisel

toma possa em 15 de março, em sessão do Congresso Nacional, para mandato de cinco anos.

1979O general João Baptista Figueiredo é o quarto e

último presidente militar a tomar posse, logo após o término do mandato de Ernesto Geisel. Foi em-possado em 15 de março, em sessão do Congresso

Nacional, para mandato de seis anos.

1985Com a derrota das “Diretas-Já” no

ano anterior, Tancredo Neves é eleito presidente de forma indireta, derrotando o candidato do governo, Paulo Maluf, no Colégio Eleitoral. Na véspera da posse, 14 de março de 1986, é internado por pro-blemas de saúde. Seu vice, José Sarney,

1963Com o restabelecimento do sistema presiden-

cial, Jango inicia sua fase presidencialista, a partir de 24 de janeiro, mas não deixa novo registro no livro de posse presidencial, pois se considera que ele já exercia o cargo, mesmo que com poderes li-mitados.

1964Em 1º de abril, os militares tomam o poder e

depõem João Goulart. Ranieri Mazzilli, presiden-te da Câmara, assume a vaga, sem tomar posse, em 2 de abril. Entregou o cargo em 15 de abril ao primeiro presidente do regi-me militar, marechal Castello Branco, que é empossado em sessão conjunta do Congresso Nacional.

1969O segundo presidente mi-

litar, general Costa e Silva, adoece. Uma junta militar formada pelos ministros da Marinha, Exército e Aero-náutica impede a posse do

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Sefot

Sefot

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marcado por denún-cias de corrupção, foi afastado do cargo em outubro de 1992, re-nunciando em 29 de dezembro, pouco an-tes de o Senado apro-var seu impeachment. No mesmo dia, o vice Itamar Franco assume

a vaga e é empossado formalmente pelo Congresso Nacional, em razão da vacância do cargo.

Sefot

2003Em 1º de janeiro, Luiz Inácio Lula da Silva as-

sume o cargo de presidente da República, depois de disputar todas as eleições diretas desde 1989. Toma posse durante sessão conjunta do Congresso Nacio-nal. Em janeiro de 2007, assume pela segunda vez o cargo, após ser reeleito.

2011Em 1º de janeiro toma posse Dilma Rousseff, a

primeira mulher a ser eleita para o cargo de presiden-te em 121 anos de história republicana no Brasil.

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toma posse no dia seguinte, durante sessão do Congresso Nacional. Em 21 de abril, com a morte de Tancredo, Sarney assume o cargo por sucessão, para um mandato de cinco anos.

1990Fernando Collor é o primeiro presi-

dente eleito pelo voto popular depois de 25 anos e toma posse em 15 de março, em sessão do Congresso Nacional, para um mandato de quatro anos, instituído pela Constituição de 1988. Tendo seu governo

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roBerto StuCKert/Pr

1995Fernando Henrique Cardoso é o segundo pre-

sidente eleito pelo voto e toma posse em 1º de janeiro, no Congresso Nacional. Com a aprovação da emenda constitucional que permite a reeleição, é novamente eleito em 1998, e toma posse em janeiro de 1999.

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Primeiro discurso de cada mandatário revela a trajetória republicana do País

Roberto Seabra

Nesses 121 anos de história republicana, o Brasil já teve 36 presidentes, e a maioria deles deixou registrado pelo menos um discurso de posse, feito no Con-gresso Nacional ou em outro lo-cal. Rever esses discursos, de De-odoro da Fonseca a Luiz Inácio Lula da Silva, no momento em que a presidente Dilma Rousseff assume o mandato, é um exer-cício interessante para entender melhor a história do País.

Alguns fatos que marcaram os mandatos desses presidentes foram antecipados no discurso inaugural de seus mandatos. Chamam a atenção também os conflitos entre discurso e prática. Nem sempre o que foi prometido coincide com o que foi feito, e nem sempre o que foi feito transparece nas palavras do discurso de posse.

A fala de Getúlio Vargas após ser eleito presidente de forma direta, na eleição de 1950, mostra que seu gover-no seria marcado pelo conflito perma-nente entre oposição e situação. “Os profissionais da desordem, os conspi-radores impertinentes e os inimigos da paz social não encontraram ambiente propício para a aventura, o terror, a violência ou a demagogia”, discursou Vargas, dirigindo-se àqueles que ten-taram evitar sua candidatura.

Vinte anos antes, ao ser empossa-do no cargo de presidente do movi-mento revolucionário de 1930, Var-gas fez um discurso de conciliação. “Todas as categorias sociais, de alto a baixo, sem diferença de idade ou sexo, comungaram em um idêntico pensamento fraterno e dominador: a construção de uma Pátria nova, igualmente acolhedora para grandes e pequenos, aberta à colaboração de todos os seus filhos”.

PAC e Fome Zero - Em exem-plo recente, Lula antecipou em seu discurso de posse de 1º de janeiro de 2007, qual seria a viga mestra do seu segundo mandato. “Sei que o inves-timento público não pode, sozinho, garantir o crescimento. Porém, ele é decisivo para estimular e mesmo or-denar o investimento privado. Estas duas colunas, articuladas, são capa-zes de dar grande impulso a qualquer projeto de crescimento”. E completou:

“Para atingir estes objetivos, estare-mos lançando, já neste primeiro mês de governo, um conjunto de medidas, englobadas no Programa de Acelera-ção do Crescimento, o PAC”.

Enquanto o PAC foi a estrela do segundo mandato, no primeiro o mote foi o combate à fome. “Como disse em meu primeiro pronunciamento após a eleição, se, ao final do meu man-dato, todos os brasileiros tiverem a possibilidade de tomar café da ma-nhã, almoçar e jantar, terei cumprido a missão da minha vida”, discursou ele no Congresso Nacional, em 1º de janeiro de 2003.

No mesmo discurso que lançou o PAC, Lula também prometeu votar as reformas política e tributária, que acabaram emperradas no Congresso Nacional. “A reforma política deve ser prioritária no Brasil. Convido todos os senhores para nos sentarmos à mesa e iniciarmos o seu debate e urgente encaminhamento, ao lado de outras reformas importantes, como a tribu-tária, que precisamos concluir.”

Estabilidade e crise - Fernando Henrique Cardoso, ao tomar posse para o segundo mandato, prometeu manter a estabilidade econômica, o que de fato fez. Mas também garan-tiu que iria debelar a crise econômica que se abateu sobre o país em 1998. “(...) Não fui eleito para ser o geren-te da crise. Fui escolhido pelo povo

para superá-la e para cumprir minhas promessas de campanha. Para conti-nuar a construir uma economia está-vel, moderna, aberta e competitiva. Para prosseguir com firmeza na pri-vatização”, discursou. A realidade, no entanto, mostrou que FHC precisou “gastar” boa parte do que construiu durante o primeiro mandato para ge-renciar a crise cambial que se abateria sobre o país a partir de 1999.

Já o seu antecessor, Itamar Fran-co, que assumiu o cargo em momento de crise política, logo após o impea-chment de Fernando Collor, fez um discurso de posse em que prega a transparência total do novo governo e pede paciência para a população pois, segundo ele, “não serão tempos feli-zes, mas de sacrifício” e de “penosas preocupações”.

“Este governo não terá segredos – a não ser aqueles que a segurança do País, em suas relações internacio-nais, assim o exigir”, discursou Ita-mar diante do Congresso Nacional, em 29 de dezembro de 1992. Em seu discurso de posse Itamar não tocou no tema do combate à inflação, que seria a tônica do seu mandato e que iria garantir a eleição de FHC, candidato governista.

Compromisso e contradição - Voltando ao começo da história republicana, é possível descobrir as intenções do nosso primeiro presiden-

te, pelas palavras ditas durante sua posse no governo provisó-rio, que ocorreu na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. O marechal Deodoro da Fonseca fez um discurso curto e direto, em 16 de novembro de 1889, onde anuncia a extinção dos cargos dos senadores vitalícios, além do fechamento do Conse-lho de Estado e da Câmara dos Deputados.

Em apenas 326 palavras, anuncia o fim da “dinastia im-perial” e um “governo da paz, da liberdade, da fraternidade e da ordem”. Mas o que se viu nos anos seguintes foi uma di-tadura republicana, que só aca-baria com a eleição do primeiro presidente civil, Prudente de Moraes, em 1894.

Os exemplos mais gritantes de distância entre discurso e prática aconteceram durante a ditadura militar (1964-85). Castelo Branco, o primeiro

presidente do regime, garantiu em seu discurso de posse que seu gover-no seria uma rápida transição para a democracia. “Meu procedimento será o de um chefe de Estado sem tergi-versações, no processo para a eleição de um brasileiro a quem entregarei o cargo a 31 de janeiro de 1966.”

Na verdade, Castelo Branco gover-nou até 15 de março de 1967 e entregou o cargo não a um “brasileiro eleito”, mas a outro marechal, Costa e Silva. Este, por sua vez, trilhou o mesmo caminho do antecessor. Prometeu no discurso de posse “compromisso com a democracia” e “preocupação com a ordem consti-tucional”, mas um ano e dez meses depois baixou o Ato Institucional nº 5 (AI-5), que fechou o Congresso e su-primiu liberdades individuais.propósito inabalável – dentro daqueles princípios – fazer deste País uma democracia”. E mais adiante lançou uma frase de efeito em direção aos opositores do regime: “Reafirmo o meu gesto: a mão estendida em conciliação”.

O terceiro presidente militar, Emílio Garrastazu Médici, evitou fa-zer promessas democráticas. Preferiu apelar ao patriotismo do povo brasilei-ro e mirar nas figuras do “homem do campo” e da “família brasileira”, lem-brando sua própria origem. “Venho do campo, da fronteira, da família; venho do povo, da caserna; venho da minha terra e de meu tempo”, discursou.

O presidente João Goulart desembarcando no Aeroporto Santos Dumont, no Rio, 14 dias após sua posse

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O que chama a atenção em Médici é um fato que antecede a própria posse. Apesar de seu governo ter sido marcado pela forte re-pressão política, ele fez ques-tão de reabrir a Congresso Nacional, fechado pelo AI-5, apenas para realizar sua cerimônia de posse, em 30 de outubro de 1969.

Já o quinto e último pre-sidente militar, João Batista Figueiredo – que comple-tou o processo de abertu-ra política, iniciada pelo antecessor, Ernesto Geisel – antecipou em seu discur-so de posse o compromisso de restabelecer o regime democrático. “Reafirmo: é meu propósito inabalável – dentro daqueles princípios – fazer deste País uma de-mocracia”. E, mais adiante, lançou uma frase de efeito em direção aos opositores do regime: “Reafirmo o meu gesto: a mão estendida em conciliação”.

Palavras de Tancredo - Implantada a democracia, o próximo presidente eleito, um civil, não teria a oportu-nidade de assumir o cargo. Tancredo Neves adoeceu na véspera da posse e o seu vice, José Sarney, leu

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por ele um pronunciamento feito para abrir a primeira reunião do Ministé-

rio da Nova República. Na cerimônia de posse, no Congresso Nacional, Sarney fez apenas o ju-ramento.

O texto escrito para ser lido por Tancredo mostra a obsessão do presidente com a polí-tica econômica. “Não abrirei mão da posição de condutor da políti-ca econômica do País e não permitirei que o ministério se divida em dois: os comprometidos com a austeridade e os comprometidos com os gastos.” Tancredo tam-bém defendia a reforma tributária e a proteção da poupança popular, corroída pela inf lação.

Discursos dramáti-cos - O discurso de posse mais longo e propositivo da história republicana foi feito pelo presidente Fernando Collor, que governou por apenas dois anos e sete me-ses. Em 5.926 palavras, Collor prometeu debelar a inf lação, expurgar do governo a corrupção e o

empreguismo e racionalizar o serviço público. Propôs até a criação de um

imposto internacional sobre polui-ção, antecipando a discussão sobre o aquecimento global.

No texto lido por Collor é possível também encontrar frases dramáticas, que antecipam seu comportamento de “matar ou morrer”, que seria a marca de seu mandato. “Vencerei ou falharei na medida em que esse desafio for enfrentado, sem demo-ra e sem tréguas”, afirmou, sobre o combate à inf lação. E, mais à frente, continuou: “Haveremos de ferir de morte, de destruir, na fonte, a inf la-ção no Brasil”.

Mas certamente o discurso de posse mais dramático, até pela situ-ação política do País, foi aquele pro-nunciado pelo presidente João Gou-lart em 8 de setembro de 1961, dias depois da renúncia de Jânio Quadros. “Surpreendido quando em missão do meu País no exterior, com a eclosão de uma crise político-militar, não va-cilei um só instante quanto ao dever que me cabia cumprir”, disse. Para em seguida proclamar: “Tudo fiz para não marcar com o sangue generoso do povo brasileiro o caminho que me trouxe a Brasília.”

A história se encarregou de mos-trar que João Goulart permaneceria fiel ao seu discurso de posse, ao evi-tar, três anos depois, o caminho da violência como contraponto ao gol-pe de Estado desfechado em abril de 1964 pelos comandantes militares.

reprodução da capa do jornal Última Hora no dia seguinte à posse de Castello Branco, em 1964

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Quantos presidentes o Brasil já teve? A imprensa vem informando

que Dilma Rousseff é 37ª pre-sidente da República. Mas esse número é questionado por jorna-listas e historiadores, pois inclui vice-presidentes que assumiram temporariamente em virtude de crises institucionais, mas que não governaram de fato. É o caso do deputado Ranieri Mazzilli, que na condição de presidente da Câmara assumiu a Presidência da República em dois momentos: logo após a re-núncia de Jânio Quadros e nos dias posteriores ao golpe militar de 64.

Outros vices assumiram e governaram de fato e de direito, como foram os casos de Nilo Peça-nha (vice de Afonso Pena), Café Filho (vice de Getúlio Vargas) e Itamar Franco (vice de Fernando Collor). Também questiona-se a inclusão na lista de José Linhares, que exerceu a Presidência por con-vocação das Forças Armadas, por pouco mais de três meses, tendo em vista a deposição do titular Getúlio Vargas. Linhares era pre-

sidente do Supremo Tribunal Federal. Alguns consideram inclusive que os

seis nomes das duas diferentes juntas militares que assumiram o comando da nação em dois momentos de quebra da normalidade (1930 e 1969) também deveriam ser contados, o que elevaria o número para mais de 40. Outros, mais conservadores, preferem contar apenas os que governaram de fato, reduzindo o número para 28 presidentes da Repúbli-ca (confira a tabela), o que torna Dilma Rousseff a 29ª presidente da República. Nessa conta, não entrariam a segunda eleição de Rodrigues Alves (que morreu logo após o pleito) e de Tancredo Neves, que não chegou a tomar posse. Mas nes-se último caso a Lei nº 7.465, de 1986, determinou que “o cidadão Tancredo de Almeida Neves, eleito e não empossado, por motivo de seu falecimento, figurará na galeria dos que foram ungidos pela Nação brasileira para a Suprema Magis-tratura, para todos os efeitos legais”. Ou seja, não governou nem tomou posse, mas por deferência legal aparece na ga-leria dos presidentes do Brasil.

Deodoro da Fonseca (1889-1891)

Floriano Peixoto (1891-1894)

Prudente de Morais (1894-1898)

Campos Salles (1898-1902)

Rodrigues alves (1902-1906)

afonso Pena (1906-1909)

nilo Peçanha (1909-1910)

hermes da Fonseca (1910-1914)

Wenceslau Brás (1914-1918)

Epitácio Pessoa (1919-1922)

arthur Bernardes (1922-1926)

Washington luiz (1926-1930)

Getúlio Vargas (1930-1945 e 1951-1954)

Gaspar Dutra (1946-1951)

Os chefes de Estado, segundo análise conservadoraCafé Filho (1954-1955)

Juscelino Kubitschek (1956-1961)

Jânio Quadros (1961)

João Goulart (1961-1964)

Castelo Branco (1964-1967)

Costa e Silva (1967-1969)

Médici (1969-1974)

Ernesto Geisel (1974-1979)

João Figueiredo (1979-1985)

José Sarney (1985-1990)

Fernando Collor (1990-1992)

Itamar Franco (1992-1994)

Fernando henrique Cardoso(1995-1998 e 1999-2002)

lula (2003-2006 e 2007- 2010)

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história política

Livro com termos de posse apresentacuriosidades sobre titulares e vicesRoberto Seabra

No momento em que a presiden-te Dilma Rousseff deixou o plenário da Câmara dos Deputados no dia 1º de janeiro, no meio da tarde, em direção ao Palácio do Planalto, onde receberia a faixa presidencial das mãos do presidente Lula, ela já estava ocupando, oficialmente, o cargo de presidente da Repúbli-ca. Ao mesmo tempo, Lula, mesmo ostentando ainda a faixa, entrava para a galeria dos ex-presidentes da República.

“A troca de faixa entre o pre-sidente que sai e o presidente que entra tem apenas um caráter sim-bólico, pois o que define mesmo a investidura no cargo é o juramento diante dos deputados e senadores e a assinatura do Livro de Posse no Congresso Nacional”, lembra Clau-dia Lyra, secretária-geral da Mesa do Senado e do Congresso.

Ela é a guardiã do livro que traz os Termos de Posse de Presidente e Vice-presidente da República, que só deixa o cofre do arquivo do Se-nado Federal de quatro em quatro anos. No primeiro momento, recebe o novo termo de posse, feito por um calígrafo contratado especialmente para isso. Com o trabalho pronto, o livro volta para o cofre e só saí de lá no dia da posse do novo presidente da República, direto para a Mesa do Congresso Nacional.

História - Tem sido assim desde 1891, quando o marechal Deodoro da Fonseca inaugurou o primeiro livro de Termo de Posse dos Pre-sidentes da República dos Estados Unidos do Brazil – assim mesmo, com “z”. De lá para cá, outros 25 presidentes e um primeiro-ministro assinaram o livro, que está em seu segundo volume. Mesmo com a Re-pública tendo começado em 1889, apenas dois anos depois Deodoro seria oficialmente empossado pelo Congresso Nacional, em sessão no Palácio de São Cristovão, no Rio de Janeiro, que hoje abriga o Museu Nacional.

O primeiro livro recebeu ainda as assinaturas de Prudente de Mo-rais (o segundo presidente, Floriano Peixoto, já havia assinado o livro na condição de vice de Deodoro), Campos Salles, Rodrigues Alves,

Affonso Pena, Nilo Peça-nha, Hermes da Fonseca, Wenceslau Braz, Delfim Moreira (que assumiu na condição de vice, após o falecimento do titular), Epitácio Pessoa, Artur Bernardes, Washington Luís e Getúlio Vargas.

Curiosidades - Neste ponto aparece a primei-ra curiosidade históri-ca: o presidente Eurico Gaspar Dutra, eleito para governar a partir de 1946, com o fim da ditadura Vargas, não assinou o livro de posse presidencial. Segundo explicação do portal da Presidência da Repúbli-ca na internet, a falta do termo de posse de Dutra “é a única que efetiva-mente não se explica”, pois ele foi “eleito por sufrágio universal e de acordo com todos os dispo-sitivos constitucionais”.

Uma segunda curiosidade é que Vargas não assinou o ter-mo de posse em 1930, em razão do “caráter excepcional” de ser ele chefe do governo provisó-rio da revolução. Apenas quatro anos depois, a Assembleia Na-cional Constituinte deu posse a Vargas, mas sem a figura do vice-presidente, que foi extinta pelo texto da Constituição de 1934. O período de 1930 a 1934, portanto, não aparece no livro de posse, pois o presidente eleito, Júlio Prestes, foi aclamado mas não empossado, em razão da “eclosão do movimento revolucionário”.

O presidente Café Filho, que assumiu o cargo com o suicídio de Vargas, é o primeiro a assinar o se-gundo volume do Livro de Posse, seguido pelos presidentes Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e João Goulart. Aqui, novo parêntese, para explicar a conturbada história republicana brasileira. Jango assi-nou o livro de posse na condição de presidente, em razão da renúncia de Jânio, mas com poderes limitados, após a implantação do sistema par-lamentarista de governo. Na página seguinte, o livro recebeu as assina-

turas dos membros do Conselho de Ministros, chefiado pelo primeiro-ministro Tancredo Neves.

Destino - Por ironia do destino, Tancredo assinou o livro de posse presidencial na condição de primei-ro-ministro, mas não assinaria, 24 anos depois, na condição de presi-dente da República, por ter falecido em 21 de abril de 1985. “O termo de posse estava pronto para rece-ber a assinatura de Tancredo, que foi internado na véspera”, lembra Claudia Lyra. Novo termo de posse precisou ser produzido às pressas, com o nome do vice José Sarney.

Outra curiosidade: após a assi-natura do primeiro-ministro Tan-credo Neves, o próximo presidente a assinar o livro foi um militar, o marechal Castello Branco, primei-ro presidente do regime militar que

eLtoN BoNfim

derrubou o governo de João Goulart. Seguiram-se os termos de posse de Costa e Silva, Emílio Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Ba-tista Figueiredo. Findo o período mi-litar, Sarney foi o próximo a constar no livro de posse, em substituição ao titular Tancredo Neves.

Retomada a eleição direta para presidente, Fernando Collor abre essa nova fase da história republi-cana, mas meses depois o livro so-freria novo acréscimo inesperado, com a posse do vice Itamar Franco, em razão do impeachment do titu-lar. A partir de 1999, outra novi-dade. Com a figura da reeleição, o presidente da República pôde bisar seu autógrafo no Livro de Posse, o que ocorreu com Fernando Hen-rique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.

Capa do livro e páginas com o termo de posse de tancredo Neves, tornada sem efeito

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REPERCUSSÃOEdição especial - Janeiro de 2011

Presentes à posse de Dilma Rousseff, deputados da oposição e da base aliada avaliaram de forma diversa o discurso da presidente. Vice-líder do DEM, o de-putado José Carlos Aleluia (BA) disse que não tinha críticas ao discurso, mas que seria muito complicado cumprir as promessas feitas. “Desejo felicidades [a Dilma], mas acho difícil cumprir seu discurso com as alianças que ela fez”, avaliou.

Dilma defendeu uma reforma po-lítica que “fortaleça o sentido progra-mático dos partidos” e “um conjunto de medidas para simplificar o sistema tributário”. Para Aleluia, essas reformas precisam ser democráticas e não podem privilegiar partidos pequenos e sem re-presentatividade.

As reformas tributária e política também são uma preocupação do lí-der do PSDB, deputado João Almeida (BA). Ele ressaltou que seu partido está disposto a discutir com o governo Dil-ma, principalmente assuntos urgentes como esse. Na avaliação de Almeida, Dilma deveria ter sido mais assertiva em favor da democracia, mas, segundo o parlamentar, mesmo assim o discurso tocou mais no assunto do que os do ex-presidente Lula.

Fiscalização - A reforma política também será prioridade na avaliação

Marcello Larcher

Durante a cerimônia de posse de Dilma Rousseff, os novos ministros presentes apontaram quais as priori-dades de suas pastas e os primeiros passos da administração nos próximos meses.

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, disse que a maioria no Con-gresso Nacional conquistada pelos par-tidos aliados facilitará a discussão de projetos referentes ao sistema de saúde, um dos pontos abordados pela nova presidente em seu discurso de posse. Segundo Padilha, a saúde pública pre-cisa passar por mudanças na gestão, e o Congresso é o fórum ideal para se discutir formas de atender mais e com mais qualidade à população.

Coordenador da Frente Parlamen-tar em Defesa da Saúde, o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS) apon-

tou como principal meta neste ano o aumento de recursos para o setor, principalmente com a regulamentação da Emenda 29. Perondi afirmou que gostou de ouvir do ministro Alexandre Padilha e da presidente Dilma que o setor vai ser a prioridade do governo. Para o deputado, a relação de Padilha com o Congresso também será facili-tada pelo fato de ele ter sido ministro das Relações Institucionais, ou seja, o articulador político do governo.

Mas o líder do PSDB, deputado João Almeida (BA), avisou que deve haver embate entre o governo e a oposição sobre a regulamentação da Emenda 29, que destina recursos à saúde. O PSDB é contra a criação de novos tributos e o governo defende a recriação da CPMF.

Economia - O ministro Guido Mantega, que foi mantido no coman-do da Fazenda, ressaltou que precisará

fazer ajustes na economia para adaptar o País a novas situações. “Em 2011, haverá desaceleração da economia mundial; também vamos crescer um pouco menos, mas estaremos entre os que estão na vanguarda do cresci-mento”, disse. Questionado sobre os ajustes, Mantega afirmou que o Estado brasileiro tem comportamento cícli-co. “Quando houve a crise mundial, tivemos que aumentar gastos e fazer investimentos, de modo a recuperar logo a economia. Neste momento, a economia já caminha com suas pró-prias pernas, então o Estado reduzirá gastos, diminuirá subsídios e abrirá espaço para que o setor privado possa participar mais de financiamentos de longo prazo.”

Correios – De acordo com o mi-nistro das Comunicações, Paulo Ber-nardo, é preciso ampliar a infraestru-tura do setor, universalizar a telefonia

e a banda larga e resolver os problemas de administração dos Correios. “Acer-tar o passo da empresa será um dos nossos primeiros desafios”, afirmou. Bernardo também definiu o corte de R$ 8 bilhões no Orçamento de 2011, anunciado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, como “um passo atrás para poder tomar distância e seguir adiante”. Segurança - Ministro da Jus-tiça, José Eduardo Cardozo anunciou que reunirá todos os governadores nos próximos meses para firmar um pac-to pela segurança pública. As ações pacificadoras do Rio de Janeiro são exemplos a ser seguidos, disse.

Ministro do Desenvolvimento, In-dústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel informou que uma de suas missões será recuperar em parte, para a economia brasileira, o espaço hoje ocupado por produtos importados, principalmente da Ásia.

Ministros definem prioridades para o novo governo; Mantega anuncia ajustes na economia já em 2011

Oposição defende reforma política; aliados preveem continuação do crescimento

do deputado Antonio Carlos Maga-lhães Neto (DEM-BA). Ele acredita que o desafio da oposição em 2011 será aumentar o contato com a sociedade. “A oposição vai manter o seu trabalho fiscalizador, mas tem a missão de levar o que é feito aqui no Congresso para as ruas, para criar mais conexão com a sociedade”, disse.

Sobre a intenção da presidente de “estender as mãos para a oposição”, o deputado Alfredo Kaefer (PSDB-PR) reforçou que já ouviu algumas informa-ções de que Dilma estaria disposta a se reunir com parlamentares oposicionis-tas para negociar a votação de reformas, como a tributária e a política. O depu-tado, porém, reclamou da ausência, no discurso, de compromisso com o pacto federativo que reduza as desigualdades regionais.

Elogios de aliados - Ao contrário da oposição, o líder do PMDB, depu-tado Henrique Eduardo Alves (RN), elogiou o discurso de Dilma e afirmou que o novo governo será marcado pela eficiência e pela competência, duas qua-lidades que a presidente mostrou quan-do foi ministra da Casa Civil do governo Lula. Para o líder do PSB, Rodrigo Rol-lemberg (DF), eleito senador, Dilma precisa manter os avanços econômicos do governo Lula. “É fundamental que o

País continue crescendo, controlando a inflação, gerando emprego formal e se inserindo, cada vez mais, no mercado internacional”, disse.

Gilmar Machado (PT-MG), atual líder do governo na Comissão Mista de Orçamento, ressaltou que, como a presidente Dilma Rousseff tem um bom orçamento para este ano, poderá dar continuidade às obras do PAC e ao Bolsa-Família, e, ao mesmo tempo, au-mentar o atendimento de creches e as

verbas para a saúde. Dr. Rosinha (PT-PR) avaliou que a presidente assume o governo com uma conjuntura melhor que a do presidente Lula em 2003, em seu primeiro mandato. Segundo o depu-tado, além de o País estar com as con-tas equilibradas, a América do Sul está muito mais integrada do que há oito anos. Ele ressaltou ainda que Dilma terá maioria no Congresso “construída pelo voto, e não com negociações que resul-tam em desgastes para o governo”.

Ministros, parlamentares e outras autoridades receberam Dilma Rousseff no Congresso Nacional; na foto, ela é cumprimentada ao entrar no Plenário da Câmara dos Deputados

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Disque - Câmara 0800 619 619www.camara.gov.br

nOVa lEGISlatURaEdição especial - Janeiro de 2011

Os 513 deputados federais eleitos em 3 de outubro e diplomados pela Justiça Eleitoral em 17 de dezembro tomam posse no dia 1º de fevereiro, dando início à 54ª Legislatura (2011/2015). A renovação na Câmara atingiu a marca de 46,4%, em comparação com a bancada eleita em 2006. Esse número é ligeiramente superior ao verificado há quatro anos, que ficou em 46%. Historicamente, a média de substi-tuição na Casa fica em torno de 40% a 50%.

Entre os estados, a renovação foi maior nas bancadas do Distrito Federal e de Sergipe, ambos com 87,5%, e menor no Rio Grande do Norte e no Amazonas (25% cada). Entre os que assumem, 275 depu-tados (53,6%) conseguiram renovar seus mandatos. As demais vagas (238) serão preenchidas por novos parlamentares.

O PT, que elegeu 88 deputados federais, passará a ter a maior bancada da Câmara a partir de fevereiro. Em segundo lugar vem o PMDB, com 79 deputados eleitos.

Mais votados - Os campeões de votos são novatos na Câmara. Em números absolutos o recordista foi Tiririca (PR-SP), com 1.353.820 de votos. Em termos relativos, o primeiro lugar coube a Reguffe (PDT-DF), com 18,95% dos votos válidos. Seis parlamentares conseguiram obter a maior votação no seu estado pela segunda eleição consecutiva: ACM Neto (DEM-BA), Iris de Araújo (PMDB-GO), Rodrigo de Castro (PSDB-MG), Marcelo Castro (PMDB-PI), Marinha Raupp (PMDB-RO) e Manuela D’Ávila (PCdoB-RS), que também obteve a maior votação entre as candidatas pela segunda vez seguida (482.590 votos).

Cerimônia de posse - A posse dos deputados ocorre em uma ceri-mônia durante sessão preparatória, no plenário da Câmara, conduzida pelo último presidente da Casa, se reeleito deputado. Após abrir a sessão, o presidente convida quatro deputados de partidos diferentes para compor a Mesa. E, em seguida, faz a proclamação dos diplomados e profere a declaração solene, que deverá ser retificada por todos os deputados, individualmente.

No dia seguinte à posse dos deputados, a Câmara realiza a segunda sessão preparatória, desta vez para eleger o presidente da Casa, o pri-meiro e o segundo vice-presidentes, quatro secretários e os respectivos suplentes. A eleição é feita em votação secreta.

a Câmara dos Deputados apre-sentou, em 2010, um balanço muito positivo, tanto em quantidade, quanto em qualidade. a Casa contabiliza a aprovação de 298 proposições, ou qua-se uma por dia útil. Dentre as matérias aprovadas, muitas são importantíssimas para a sociedade brasileira, pois têm repercussão direta na vida de milhões de pessoas.

Embora fosse um ano atípico, pois a eleição atraiu a atenção dos parlamen-tares por cerca de três meses, o que é natural, afinal é o ponto alto de qualquer democracia, a produção legislativa de 2010 foi decisiva para que esta legis-latura, que se encerra em 31 de janeiro, alcançasse um recorde em relação às anteriores: o atual Congresso nacio-nal aprovou 938 proposições, melhor resultado desde a redemocratização, em 1987. Para alcançar essa marca, um fato foi decisivo: no início de 2009, a Mesa Diretora da Câmara acatou a proposta do ex-presidente da Casa, deputado Michel temer, em votar, nas sessões extraordinárias, as propostas de emenda à Constituição, os projetos de lei, os decretos e as resoluções

Eleitos tomam posse em 1º de fevereiro

Um ano produtivo na Câmara dos Deputadosmesmo que a pauta ordinária estivesse trancada por medidas provisórias. Essa decisão, ratificada pelo Supremo Tribunal Federal, permitiu o avanço de muitos debates e votações.

analisando as matérias aprovadas em 2010, vemos que o progresso também foi qualitativo. Foi definido o modelo de partilha para a exploração do petróleo do pré-sal, em que uma parte do óleo extraído fica com a União; foi viabilizada a capitalização da Petrobras, o que resultou na injeção de R$ 120 bilhões em ações; foi aprovada a criação do Fundo Social do Pré-Sal, cujos re-cursos a União deve destinar à educação, ao meio ambiente e ao esporte, entre outras áreas; foi san-cionado o Estatuto da Igualdade Racial, que obriga o Esta-do a implementar políticas públicas específicas para a população negra; foi promulgada a emen-da constitucional

que inclui a alimentação como um dos direitos sociais, permitindo ao Executivo manter ou criar políticas de combate à miséria; foi transformado em lei o Plano nacional de Cultura, que democratiza o acesso aos bens culturais da nação; foram aprovadas a lei da Ficha limpa, a Política nacional de Resíduos, o Plano

de Viação, o Estatuto das Famílias e a prorrogação, por tempo indetermina-do, do Fundo de Combate à Pobreza. Enfim, são inúmeras matérias que melhoram a qualidade de vida dos brasileiros e dotam o Estado de um arcabouço jurídico moderno.

a retrospectiva dos trabalhos da Câmara dos Deputados reafirma a importância do legislativo para a democracia brasileira. Em breve, com o início de uma nova legislatura e de um novo governo no Executivo, o Par-lamento viverá momentos de intensos debates. O diálogo continuará sendo o principal instrumento para viabilizar negociações afirmativas entre os partidos da base e da oposição e para uma relação independente e respeitosa entre o Executivo e o legislativo para a aprovação de matérias de interesse da maioria do povo. a maturidade da política brasileira transmite confiança e otimismo para o futuro.

Marco Maia é deputado federal pelo PT do Rio Grande do Sul e presidente da Câmara dos Deputados. Contato: [email protected].

todas as orientações sobre a posse dos deputados podem ser consultadas no ende-reço eletrônico www.camara.gov.br/posse, que traz informações gerais sobre os vários órgãos técnicos e administrativos que ser-vem de apoio ao parlamentar, dando noções sobre como a Câmara funciona. “todos os deputados são políticos experientes. Esta é a primeira vez que a Câmara disponibiliza na internet uma espécie de roteiro da posse para os deputados eleitos. nos anos anteriores, os novos parlamentares começavam a ligar para as repartições da Casa logo no dia seguinte às eleições, buscando dados sobre como deveriam proceder para se registrar e sobre os meios de que podem dispor para montar

seu gabinete de trabalho no legislativo. Eram centenas de ligações e dezenas de servidores deslocados para a tarefa de recepcionar os deputados de primeiro mandato.

neste ano, com o espaço na internet, os deputados e seus assessores podem acessar informações de utilidade para orga-nizar sua adaptação à Câmara. O conteúdo pode ser acessado por qualquer pessoa, reforçando o compromisso da Casa com a transparência.

no portal estão também roteiros para o novo deputado se cadastrar para receber as senhas eletrônicas e tomar todas as provi-dências necessárias para se preparar para a cerimônia de posse.

Portal na internet orienta parlamentares

A retrospectiva dos trabalhos

da Câmara dos Deputados

reafirma a importância do Legislativo para a democracia

brasileira

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