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Dicionário de Ideias Feitas Editoral Estampa Gustave Flaubert

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Dicionario de ideias de Flaubert

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Dicionário

deIdeias Feitas

Editoral Estampa

Gustave Flaubert

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ABSINTO / Veneno muito violento: um copo basta para dar cabo de um indivíduo. Os jornalistas bebem-no enquanto escrevem os seus artigos. Matou mais soldados do que os beduínos.

ABELARDO / Não é necessário fazer a mais pequena ideia do que seja a sua filosofia, ou sequer, saber o título das suas obras. Fazer uma alusão discreta àmutilação que lhe infligiu Fulbert. Túmulo de Heloísa e de Abelardo: se lhe provarem que é falso, protestar: “O senhor deita por terra as minhas ilusões.”

ABSALÃO / Se usasse cabeleira postiça, Joab não teria conseguido matá-lo.

ACADEMIA FRANCESA / Denegri-la, mas, se possível, tudo fazer para ser nela admitido.ACIDENTE / Sempre lamentável ou importuno (como se alguma vez uma desgraça pudesse ser motivo de satisfação...)

ACTRIZES / A perdição dos filhos-família. São de uma assustadora sensualidade, entregam-se a orgias, devoram milhões e acabam no hospital. Perdão!, algumas são boas mães de família. ADEUS / Pôr lágrimas na voz ao falar do adeus de fintainebleau.ADOLESCENTE / Não iniciar um discurso de entrega de prémios escolares sem recorrer à expressão “Jovens adolescentes” (o que é um pleonasmo).

AGENTE / Termo lúbrico.

ÁGUA / A água de Paris faz cólicas. A água do mar ajuda a nadar. A água de “Colónia” cheira bem.ALABARDA / Na Suíça, todos os homens usam alabardas

AGRICULTURA / Uma das tetas do estado ( o Estado é do género masculino, mas não importa). Deve ser encorajada. Falta de braços.

ALABASTRO / Serve para descrever as mais belas partes do corpo feminino. ALBION / Sempre precedida de branca, pérfida, positiva. Por pouco que Napoleão a não conquistou. Elogiá-la: a livre Inglaterra.

ÁLBUM / Não deve faltar na mesa da sala.ALCIBÍADES / Célebre devido à causa do seu cão. Exemplo de debochado. Era muito assíduo junto de Aspásia.ALCOOLISMO / Causa de todos os males modernos (v. absinto e tabaco).ALCORÃO / Livro de Maomé, onde só se fala de mulheres.ALEGRIA / A mãe dos divertimentos e dos risos; não se deve falar das suas filhas. Sempre acompanhada da louca.ALEMÃES / Povo de sonhadores (antigo). Não admira que nos tenham batido pois não estavamos preparados.

ALIMENTAÇÃO / A dos colégios é sempre sã e abundante.ALMIRANTE / Sempre bravo. Pragueja por “mil escotilhas”.

ALMOÇO (de rapazes) / Exige ostras, vinho branco e anedotas picantes.ALPERCES / Ainda não é desta que é ano deles.

ALTIVEZ / Sempre precedida de extrema ou arrogante.

AMBICIOSO / Na provìncia, todo o indivíduo que dá que falar de si. “Eu, por mim, não sou nada ambicioso”, quer dizer egoísta ou incapaz.AMÉRICA / Belo exemplo de injustiça: foi Colombo quem a descobriu e o nome vem-lhe de Américo Vespúcio. Sem a descoberta da América não teríamos a sífilis nem filoxera. Exaltá-la, ainda assim, sobretudo quando se lá não esteve. Fazer uma exposição sobre o “self-government”.

ARENQUES / A riqueza da Holanda.AREÓPAGO / Fica bem nos discursos oficiais: “Meus senhores, neste areópago”.ARQUIMEDES / Dizer, a propósito, “Eureka! Dêem-me um ponto de apoio e erquerei o mundo”. Existe ainda o parafuso de Arquimedes, mas uma pessoa não é obrigada a saber em que consiste.ARQUITECTOS / Todos uns imbecis. Esquecem-se sempre das escadas dos prédios.

ARQUITECTURA / Não há mais do que quatro ordens arquitectónicas. Claro que se não contam os egípcios, o ciclópico, o assírio, o indiano, o chinês, o gótico, o romano, etc.ARSÉNICO / Encontra-se por toda a parte (lembrar madame Lafarge). Há, no entanto, povos que o comem.ARTE / Leva ao hospital. Para que serve, se pode ser substituída pela mecânica, que faz melhor e mais depressa?

ASTRONOMIA / Rica ciência. Só e útil à marinha. A propósito, rir-se da astrologia.ATEU / Um povo de ateus não seria capaz de sobreviver.

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ANÃO / Contar a história do general Tom Pouce e, no caso de lhe ter apertado a mão, dizê-lo com orgulho.ANDORINHA / Não lhes chamar senão mensageiras da Primavera. Como se não sabe de onde vêm, dizer que chegam “de distantes paragens” (poético).ANDRÓCLES / Citar o leão de Andrócles a propósito dos domadores.ANEL / É muito elegante trazê-lo no dedo indicador. Pô-lo no polegar é muito oriental. Os anéis deformam os dedos.ANIMAIS / Ah!, se os animais falassem! Há-os mais inteligentes do que certas pessoas.ANTICRISTO / Voltaire, Renan...ANTIGUIDADE (e tudo quando com ela se relaciona) / Sem originalidade, estupidificante.

APARTAMENTO (de rapaz) / Sempre em desordem, com peças de roupa espalhadas por tolo o lado, cheiro a tabaco. Deve encontrar-se nele coisas extraordinárias.

AQUILES / Acrescentar “dos pés ligeiros”. o que dá a entender que se leu Homero.

ASSOBIO / É feio assobiar.

AVE / Desejar sê-lo e dizer, num suspiro: “Asas! Asas!” É sinal de se ter uma alma poética.

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ALEMANHA / Sempre precedida de loura, sonhadora. Mas que organização militar.ALFÂNDEGA / Deve sempre passar-se aos direitos. Uma pessoa deve sempre insurgir-se contra ela e defraudá-la (v. passar aos direitos).ALGODÃO / É sobretudo útil para os ouvidos.ALHO / Mata os vermes intestinais, e dispõe para os combates do amor. Esfregaram com eles os lábios de Henrique IV, quando este veio ao mundo.

AR / Desconfiar das correntes de ar. Invariavelmente, a base do ar está em contradição com a temperatura: se faz calor, é fria e vice-versa.

ARTISTAS / Todos uns estouvados. Exaltar o seu desprendimento (antigo). Espantar-se por eles se vestirem como toda a gente (antigo). Ganham rios de dinheiro, mas atiram-nos pela janela fora. São, muitas vezes, convidados a jantar fora. Uma mulher artista só pode ser uma devassa. O que les fazem não pode dizer-se que seja trabalhar.

ÁSPIDE / Animal conhecido por causa do cesto de figos de Cleópatra.ASSASSINO / Sempre covarde, mesmo intrépido e audacioso. Menos culpável do que um incendiário.

AUTOR / Devemos “conhecer os autores”; inútil saber-lhes os nomes.

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BANQUEIROS / Todos ricos. Árabes, lobos cervais.BANQUETE / Reina sempre neles a mais franca cordialidade. Traz-se deles as melhores recordações e as pessoas nunca se separam sem ter combinado novo encontro para o ano seguinte. Um brincalhão deve sair-se com: “No banquete da vida infortuna convive...” etc.BARBEIRO / Ir ao baeta, ao fígaro. O barbeiro de Luís XI, dantes, era sangrador.BARCA / Todos os botes com uma mulher a bordo. “Vem para a minha barca.”

BASBAQUES / Os parisienses são todos uns basbaques, embora em dez habitantes de Paris, nove sejam da provìncia. Em Paris não se trabalha.

BASCOS / O povo que mehor corre.

BASÍLICA / sinónimo pomposo de igreja. É sempre imponente.BASTÃO / Maia terrível do que a espada.

BATALHA / Sempre sangrenta. Há sempre dois vence-dores, o que bateu e o batido.BEBEDEIRA / Sempre precedida de louca.BEETHOVEN / Não pronunciar Bitovan. Desfalecer, mesmo assim, quando exectam uma das suas obras.BEIJAR / Um doce fruto. O beijo depôe-se na testa de uma jovem, na face de uma mãe, na mão de uma mulher bela, no pescoço de uma criança, nos lábios de uma amante.BEXIGA (de boi ou de porco?) / Só serve para fazer balões.BEXIGOSO / As mulheres marcadas pelas bexiagas são todas sensuais.BÍBLIA / O mais antigo livro do mundo.BIBLIOTECA / Não deixar de ter uma em casa, em especial se se vive no campo.BILHAR / Um jogo nobre. Indispensável no campo.

BOCEJO / Deve dizer-se: “Desculpe, não é por me sentir enfadado. É do estômago.”

BOLSA (a) / Termómetro de opinião pública.

BOMBARDA / A deslocação de ar resultante do disparo de uma bombarda provoca a cegueira.BORBULHAS / Na cara ou em qualquer outra parte, sinal de saúde e de força do sangue. Nada de as tirar.

BOSQUES / Os bosques fazem sonhar. Indicados para se fazer versos. No Outono, ao passear por eles, deve dizer-se: “Do cair da folha nos nossos bosques...”BOTAS / Durante os grandes calores, não deixar de aludir às botas dos guardas rurais ou aos sapatos dos moços de fretes (o que só tem cabimento no campo, ao ar livre). Uma pessoa só está bem calçada se trouxer botas.BRINQUEDOS / Devem ser sempre científicos.BROAS DE NATAL / Insurgir-se contra as broas de Natal ao carteiro, ao guarda nocturno, ao limpa.chaminés, etc.BROCHE / Deve sempre conter uma mecha de cabelos ou uma fotografia.BRONZE / Metal da antiguidade.BUDISMO / “Falsa religião da Índia” (definição do Dicionário Bouillet, primeira edição).BUFFON / Enfiava punhos de renda para escrever.BUFOS / São todos da polícia.

(1) Fleubert refere-se a “boudin”, um chouriço de sangue.

Decidimo-nos por um lugar-comum português equivalente, e não

podia deixar de ser o bacalhau...(N.T.).

BACALHAU / O fiel amigo. Indispensável na noite de consoada. (1)

BACHARELATO / Bradar contra.

BAGNOLET / Terra célebre pelos seus cegos.

BAILADEIRA / Palavra que aviva a imaginação. Todas as mul-heres do Oriente são bailadeiras (v. odaliscas).

BALÕES / com os balões acabar-se-á por ir à Lua. Ainda se não está preparado para os dirigir.

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CAÇA / Excelente exercício que uma pessoa deve fingir adorar. Faz parte da pompa dos soberanos. Motivo de delírio para a magistratura.

CAÇA (trompa de) / Nas matas produz bom efeito, e à noite sobre as águas.CAÇADORES FURTIVOS / Todos forçados postos em liberdade. Autores de todos os crimes no campo. Devem provocar uma cólera frenética: «Nada deCACHIMBO / Só fica bem à beira-mar.CADAFALSO / Ao subir a ele, estar preparado para proferir umas palavras eloquentes antes de morrer.CAFÉ / Torna as pessoas cheias de espírito. Só é bom proveniente do Havre.CALEIDOSCÓPIO / Só se emprega a propósito dos salões de pintura.CALOR / Sempre insuportável. Não beber quando faz calor.CALOS (dos pés) / Assinalam as mudanças de tempo melhor do que os barómetros. Muito perigosos quando mal cortados; citar exemplos de acidentes terríveis.CALVÍCIE / Sempre precoce, é causada pelos excessos da juventude ou pela concepção de altos pensamentos.

CAMA DE REDE / Típica dos crioulos. Indispensável num jardim. Convencer-se de que se está melhor do que numa cama das outras.CAMARATAS / Sempre espaçosas e bem arejadas. Preferíveis aos quartos para a moralidade dos alunos internos.CAMARILHA / Indignar-se ao pronunciar esta palavra.CAMELO / Tem duas bossas e o dromedário só uma, ou, então, o camelo tem uma bossa e o dromedário duas (uma pessoa confunde-se).CAMINHOS DE FERRO / Se Napoleão tivesse disposto dele, teria sido invencível. Extasiar-se ante a sua invenção, e dizer: «Eu, meu caro senhor, que lhe estou aqui a falar, estava esta manhã em X…, parti no comboio de X…; cheguei, tratei dos meus negócios e a X horas, regressei!»CAMPO / As pessoas do campo são melhores do que as da cidade; invejar-lhes a sorte. No campo tudo é permitido: roupas ordinárias, partidas, etc.

CÂNTARO / Ao ver uma nuvem ameaçadora, predizer: «Vai chover a cântaros.»

CANTOR / Engole todas as manhãs um ovo fresco para aclarar a voz. O tenor tem sempre uma voz encantadora e terna, o barítono um órgão vocal simpático e bem timbrado e o baixo uma

CÃO / Especialmente criado para salvar a vida do dono. O cão é o melhor amigo do homem.CAPA / Sempre da cor das muralhas, por causa das sortidas galantes.CARA / Uma cara agradável é o mais seguro dos passaportes.CARANGUEJO / Anda para trás. Chamar caranguejo aos reaccionários.CARRASCO / Sempre de pais para filhos. CARROS / É mais cómodo alugar um do que possuí-lo: deste modo não há que aturar a barafunda dos criados, nem dos cavalos, que estão sempre doentes.

CATOLICISMO / Teve uma influência muito favorável nas artes.CAVALARIA / Mais nobre do que a infantaria.CAVALHEIRO DE INDÚSTRIA / É sempre da alta (v. espião).

CAVALHEIROS / Já não há.CAVALO / Se soubesse a força que tem, não se deixava montar. Carne de cavalo: bom tema para um homem, que queira passar por pessoa séria, escrever um livro. Cavalo de corrida: desprezá-lo. Para que serve?CAVERNAS / Velhacouto de ladrões. Sempre cheias de cobras.CEDRO / O Jardim das Plantas foi trazido num chapéu.CELEBRIDADE / As celebridades: preocupar-se com o mais pequeno pormenor da sua vida particular, a fim de as poder denegrir.

CENSURA / Útil, sem a menor dúvida.

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CENÁRIO DE TEATRO Não é pintura. Basta deitar, à sorte, para cima da tela, um balde de cores; depois, espalha-se com uma vassoura. A distância e as luzes bastam paraCERTIFICADO / Garantia para as famílias e para os parentes. É sempre favorável.

CERUME / «Cera humana». Nada de o tirar porque impede os insectos entrem nos ouvidos.CERVEJA / Não se deve beber, constipa.CHACAL / Singular de ‘shakos’ (antigo, mas ainda faz rir).

CHAMINÉ / Sempre fumegante. Motivo de discussão a propósito do aquecimento.CHAMPANHE / Caracteriza os jantares de cerimónia. Dar-se ares de o detestar, dizendo que «não é vinho». Provoca o entusiasmo entre a arraia-miúda. A Rússia consome mais do que a França. Foi por meio dele que as ideias francesas se espalharam pela Europa. Durante a Regência, não se fazia se não bebê-lo. Mas não se bebe, «traga-se».CHAPÉU / Protestar contra a forma dos chapéus.CHARUTOS / Os da «Régie» são «todos infectos». Bons, só os de contrabando.CHATEAUBRIAND / Conhecido, sobretudo, pelo bife com o seu nome.CHEIAS / São sempre do Loire.CHINÊS / É chinês tudo o que se não compreende.

CIDRA / Estraga os dentes.CIPRESTE / Só cresce nos cemitérios.CÍRCULO / Deve-se sempre fazer parte de um círculo.

CIRURGIÕES / Têm o coração duro: chamar-lhes carniceiros.CISNE / Canta antes de morrer. Com um golpe de asa é capaz de partir uma perna a homem. O cisne de Cambrai não era uma ave, mas um homem chamado Fénelon. O cisne de Mântua é Virgílio. O cisne de Pesaro é Rossini.

CIÚME / Seguido sempre de cego. Paixão terrível. Sobrancelhas unidas são sinal de ciúme.CLARINETE / Tocá-lo, torna as pessoas cegas. Ex.: todos os cegos tocam clarinete.CLARO-ESCURO / Não se sabe o que é.CLÁSSICOS (os) / Uma pessoa deve ser tida como conhecedora deles.CLUB / Motivo de desespero para os conservadores. Embaraço e discussão quanto à pronúncia da palavra.

COELHO À CAÇADORA / Sempre feito de carne de gato.

COFRES FORTES / As suas compilações são muito fáceis de descobrir.

COGUMELOS / Só devem ser comprados no mercado.COLCHÃO / Quanto mais duro mais saudável.COLÉGIO / Mais classe do que internato.CÓLERA / Estimula o sangue, faz bem à saúde encolerizar-se uma pessoa, de vez em quando.COLOCAÇÃO / Andar sempre à procura de arranjar nova e melhor colocação.

COLÓNIAS – (as nossas) / Irritar-se quando se fala delas.

CONJURADO / Os conjurados têm sempre a mania de se inscreverem numa lista.

CONSERVADOR / Homem político, de grande barriga. «Conservador cheio de barreiras!» - «Sim, meu caro senhor, mas as barreiras impedem que se caia da estrada abaixo!»

CONTORCIONISTA / Deslocaram-lhe os ossos em criança.

CONTORNO / Afirmar perante qualquer estátua: «Isto não tem falta de contorno.»

COPAÍBA / Fingir que se não sabe para que serve.

CORDA / Não se calcula a força de uma corda. É mais sólida do que o ferro.

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COMÉDIA / Em verso, não convém à nossa época. Deve-se, no entanto, respeitar a alta comédia. ‘Castigat ridendo mores’.

COMÉRCIO / Discutir para se saber qual é mais nobre, se o comércio se a indústria.COMETAS / Rir-se das pessoas que têm medo.COMUNHÃO / A primeira comunhão: o mais belo dia da vida.CONCERTO / Um passatempo decente.

CONCESSÕES / Nunca as fazer. Foram a perdição de Luís XVI.CONCILIAÇÃO / Pregá-la sempre, mesmo quando os contrários são absolutos.CONCORRÊNCIA / A alma do comércio.CONCUPISCÊNCIA / Palavra de padre cura para designar os desejos carnais.CONDECORAÇÃO (da Legião de Honra) / Fazer troça dela, mas cobiça-la. Ao consegui-la, afirmar, sempre, que se não pediu.

CONFEITEIROS / Todos os ruanenses são confeiteiros.CONFORTÁVEL / Preciosa descoberta moderna.CONGREGADO / Cavaleiro de Onan.

CONHAQUE / Faz muito mal. Excelente em várias doenças. Um bom copo de conhaque nunca faz mal. Tomado em jejum mata a bicha solitária.

CONVERSA / A política e a religião devem ser excluídas.

CORPO / Se soubéssemos como é que o nosso corpo é feito, não nos atrevíamos a fazer um movimento sequer.

CORCUNDAS / Têm muita graça e muita saída entre as mulheres sensuais.

COSSACOS / Comem ranho.COSTAS / Uma palmada forte nas costas pode fazer com que uma pessoa fique doente do peito.

COSTUREIRINHAS / Já não há costureirinhas. Isto deve ser dito com o ar desolado do caçador que lamenta já não haver caça.

COURO / Todos os couros vêm da Rússia.

COVINHAS NA CARA / Não deixar de dizer a uma rapariga bonita que ela tem amores nas covinhas da cara.

COZIDO / Saudável. Inseparável da palavra sopa: a sopa e o cozido.COZINHA / De restaurante: sempre picante. Burguesa: sempre sã. Do Sul: muito condimentada ou toda à base de azeite.CRIADAS / Todas más. Já não há criadas como dantes!CRIADAS DE QUARTO / Mais bonitas do que as patroas. Sabem todos os seus segredos e traem-nos. Desonradas, sempre, pelo menino da casa.CRIANÇAS / Afectar por elas uma ternura lírica, havendo gente à volta.CRIMINOSO / Sempre odioso.CRIOULO / Vive numa cama de rede.CRISTIANISMO / Libertou os escravosCRÍTICO / Sempre eminente. Tem a reputação de tudo conhecer, tudo saber, tudo ter lido e visto. Quando desagrada, chamar-se-lhe CORCODILO / Imita o choro das crianças para atrair o homem.

CRUCIFIXO / Fica bem num quarto de dormir ou junto da guilhotina.CRUZADAS / Foram benéficas ao comércio de Veneza.CUJAS / Inseparável de Bartole; não se sabe o que é que eles escreveram, mas não importa. Dizer a quem estuda Direito: «O senhor cinge-se a Cujas e Bartole.»CUNHO / Sempre muito particular.CURAÇAO / O melhor é da Holanda, pois se fabrica numa das Antilhas.CÚPULA / Torre de forma arquitectónica. Espantar-se de que se possa aguentar sozinha. Citar duas: a dos Inválidos e a de S. Pedro, em Roma.CZAR / Pronunciar tzar, e, de vez em quando, autocrata.

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DENTISTAS / Todos os mentirosos. Servem –se do bálsamo de aço.Pensa-se que também tratam dos calos. Consideram –se cirurgiões, tal como os oculistas se têm na conta de engenheiros.DEPURATIVO / Toma –se às escondidas.DEPUTADO / Sê-lo representa o cúmulo da glória. Bradar contra Parlamento. Há nele tagarelas a mais. Não fazem nada.DERBY / Termo das corridas. Muito elegante.DERROTA / Sofre-se, e é de tal modo completa que ninguém ficou para trazer a noticia.DESCARTES / Cogito, ergo sumDESENHO( ARTE DO) / Composta por três coisas: a linha, o ponto e o ponteado; a seguir vem o traço de força, que só o mestre sabe dar. ( Christophe.)DESERTO / Dá tâmarasDESFILADEIRO / Citar sempre as Termópilas. Os desfiladeiros dos Vosges são as Termópilas da França. ( Usou – se muito em 1870. )DEUS / O próprio Voltaire o afirmou : << Se Deus não existisse, seria necessário inventá-lo.>>DEVERES / Exigi-los da parte dos outros, eximindo-se, no entanto, a eles. Os outros têm-nos para connosco, mas nós não os temos paracom eles.DIAMANTE / Acabará por ser feito artificialmente! E dizer que não passa de carvão! Se encontrássemos um no estado natural, não nos baixaríamos parao apanhar!DIANA / Deusa da caça-rola.DIAS / Há o dia do barbeiro, o do médico, etc. Há os da senhora, que ela chama críticos, em certos dias do mês.DICIONÁRIO / Afirmar: «É feito apenas para os ignorantes» Dicionário de rimas: servir-se alguém dele? Uma vergonha!

DAGUERREÓTIPO /Substituirá a pinturaDAMA / Tudo pelas damas. Honra ás damas.DAMASCO / Uma terra onde sabem fazer sabres. As boas lâminas sãotodas de Damasco.DANÇA / Hoje em dia não se dança, marcha –se.DANTON / << Audácia, ainda mais audácia, audácia, audácia sempre! >>DARDO / Nada fica a dever a uma espingarda nas mãos de quem saiba servir-se dele.DARWIN / O tal que diz que descendemos do macacoDEBOCHE / Causa de todas as doenças dos homens solteiros .DECORUM / Dá prestígio. Fala à imaginação das massas. << É necessário! É necessário>>DEDICAÇÃO / Lamentar –se de que não exista nos outros. << A esse respeito, somos muito inferiores ao cão!>>DEDO / O dedo de Deus está em todo o lado.DEICÍDIO / Indignar – se muito embora o crime não seja frequente.DELFIM / Traz o filho às costas.DEMÓSTENES / Não fazia um discurso sem ter um seixo na boca.DENTES / Estragam –se com a cidra o tabaco, os rebuçados, o gelo, o beber logo a seguir à sopa e o dormir de boca aberta. Dente canino do maxilar superior: é perigoso arrancá-lo porque corresponde ao olho. Arrancar um dente não dá prazer nenhum.

DIDEROT / Sempre seguido de d’Alembert.DILETANTE / Homem rico com assinatura na Ópera.DILIGÊNCIAS / Ter saudades do tempo de diligências.DINHEIRO / Causa de todo o mal. ‘Auri sacra fama’. O deus do dia (não confundir com Apolo). Os ministros chamam-lhe vencimentos, os notários emolumentos, os médicos honorários, os empregados ordenado, os operários salário, os criados soldada.

DIÓGENES / «Ando à procura de um homem… Não me tires o sol.»DIPLOMA / Sinal de ciência. Não prova nada.DIPLOMACIA / Bela carreira, mas eriçada de dificuldades, cheia de mistérios. Só convém a gente nobre. Ofício de uma vaga significação, mas superior ao comércio. Um diplomata é sempre um indivíduo fino e arguto.DIRECTÓRIO / Os escândalos do Directório. «Nesses tempos, a honra refugiara-se no Exército.» As mulheres, em Paris, passeavam completamente nuas.DIREITO (O) / Não se sabe o que é.DISSECAÇÃO / Ultraje à majestade da morte.

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ECLECTISMO / Bradar contra, por ser uma filosofia imoral.

ECO

/ Citar os do Pan-teão e os da ponte de Neuilly.ECONOMIA / Sempre precedida de «ordem». Citar a história de Laffitte a apanhar um alfinete no pátio do ban-queiro Perrégaux.ECONOMIA POLÍTICA / Ciência sem entranhas.ECONOMIAS / Oportunidade de roubo para os criados.EGOÍSMO / Queixar-se do egoísmo alheio e não reparar no próprio.ELEFANTE / Distinguem-se pela memória e adoram o sol.EMIGRADOS Ganham a vida a dar lições de viola e a fazer saladas.EMIR

/ Só se emprega ao falar de Abd-el-Kader.EMPRESÁRIO / Palavra usada no meio artístico para designar o produtor. Sempre precedida de hábil.ENCICLOPÉDIA

/ Rir de desdém, considerando-a uma obra «rococó», e, mesmo, bradar contra ela.ENFEUDADO / Insulto muito grave e de grande estilo para atirar à cara de um adversário político. «O senhor está enfeudado à camarilha do Eliseu», só se emprega no ENGENHEIRO / A carreira mais in-dicada para um jovem. Conhece todas as ciências.ENGRAÇADO / Deve empregar-se a propósito de tudo e nada: «É engraçado.»

ENGRAXADELA / Os sapatos só ficam bem engraxa-dos se for o próprio a fazê-lo.

ESCRAVELHOS / Filhos da Primavera. Bom tema para um opúsculo. A sua destruição radical do sonho de qualquer governador civil; ao falar-se, num comício rural, nos prejuízos que causam, devem ser designados por «funestos coleópteros».ESCRITO, BEM / Expressão de porteiro para designar os romances em folhetim que o divertem.ESGOTAMENTO / Sempre prematuro.ESGRIMA / Os mestres de esgrima sabem estocadas secretas.ESMALTE / Perdeu-se-lhe o segredo.ESPADA / Só se conhece a de Damocles. Ter saudades dos tempos em que se usava. «Valente como uma espada.» Por vezes, nunca serviu.

ESPARTILHO / Impede que se tenha filhos.ESPIÃO / Sempre da alta (v. cavalheiro de indústria).ESPINAFRES / São a vassoura do estômago. Não esquecer a célebre frase de Proudhomme: «Não gosto, e sinto-me bem, porque se gostasse, comia-os, e não os posso suportar.» (Haverá quem ache isto perfeitamente lógico e se não ria.)

ESPINGARDA / No campo é sempre bom ter uma.

ESPÍRITO / Sempre seguido de brilhante. Corre as ruas. Os bons espíritos encontram-se.ESPIRITUALISMO / O melhor sistema filosófico. ESPIRRAR / Considera-se uma saída cheia de espírito dizer-se: «O russo e o polaco não se falam, espirram-se.»ESPIRRO / Depois de lhe dizerem «Salve-o Deus», começar uma discussão sobre a origem desse costume.ESPLANADA / Só se vê nos Inválidos.ESPORAS / Ficam bem num para de botas.ESPUMA DO MAR / Apanha-se em terra. Serve para fazer cachimbos.ESTAÇÕES (de Caminho de Ferro) / Ex- taziar- se diante delas e apresentá-las como modelos de arquitectura.ESTOICISMO / É impossível.ESTÔMAGO / Todas as doenças provêm do estômago.ESTRANGEIRO / Entusiasmar-se com tudo o que vem do estrangeiro é dar mostras de espírito liberal. Denegrir tudo o que não é francês é sinal de patriotismo.

ESTRELA / Cada um tem a sua, como o imperador.

ESTUDANTE / Usam boinas vermelhas, calça à hussardo, fumam cachimbo na rua e não estudam.

ESTUDANTES DE MEDICINA / Dormem junto dos cadáveres. Há-os que os comem.

ETIMOLOGIA / Nada mais fácil de encontrar, graças ao latim e a um bocado de reflexão.

ETRUSCOS / Todos os vasos antigos são etruscos.

EUNUCO / Incapaz de fazer filhos… Insurgir-se contra os castrados da Capela Sixtina.

EVACUAÇÕES / As evacuações são, por vezes, abundantes e sempre de má natureza.

EVANGELHOS / Livros divinos, sublimes, etc.

EVIDÊNCIA /Cega, quando não salta aos olhos.

EXCEPÇÃO / Dizer que confirmam a regra. Não correr o risco de explicar porquê.EXECUÇÕES CAPITAIS / Sentir-se horrorizado com o facto de haver mulheres que a eles vão assistir.

EXÉRCITO / Pilar da Sociedade.

EXPIRAR / Só se conjuga a propósito das assinaturas dos jornais.

EXPOSIÇÃO / Motivo de delírio do século XIX.EXTINÇÃO / Só se emprega ligado a mendicidade.

EXTIRPAR / Verbo que só se emprega a propósito das heresias e dos calos.

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FÁBRICA / Vizinhança perigosa.FACTURA / Sempre demasiado onerosa.

FAIANÇA / Mais elegante do que porcelana.

FAISÃO / Muito fino num jantar.

FALECIDO / O meu falecido pai, e atira-se o chapéu.

FANFARRA / Sempre alegre.

FATALIDADE / Palavra exclusivamente romântica. Homem fatal: emprega-se a propósito do que tem mau olhado.

FEBRE / Prova da força do sangue. É causada pelas ameixas, o melão, o sol de Abril, etc.

FECHADO / Sempre precedido de hermeticamente.

FELICIDADE / Sempre perfeita. A sua criada chama-se Felicidade, logo é perfeita.

FELICIDADES / Sempre sinceras, atentas, cordiais, etc.

FELIZ / Ao falar de um homem feliz: «Aquele nasceu com uma estrela na testa.» Não se sabe o que significa e o interlocutor também não.

FÊMEA / Só se emprega ao falar dos animais. Ao contrário do que acontece com a espécie humana, as fêmeas dos animais são menos belas do que os machos. Ex.: o faisão, o galo, o leão, etc.

FÉNIX / Excelente nome para uma companhia de seguros contra incêndios.

FEUDALISMO / Não ter uma ideia precisa, mas bradar contra.FIDALGOTES / Sentir por eles o mais soberano desprezo.

FIEL / Inseparável de amigo e de cão. Não deixar de citar os dois versos: «Sim, pois que encontro um amigo tão fiel / A minha sorte…», etc.

FIGARO (o casamento) / Mais uma das causas da Revolução.

FILOSOFIA / Achincalhá-la sempre.

FOLICULÁRIOS / Os jornalistas. Acrescentar-se de baixo estofo é o cúmulo do desprezo.FORÇA / Sempre Hércules. A força sobrepõe-se ao direito (Bismarck).FORÇADOS / Têm sempre uma cara patibular. Têm todos a mão leve. Há homens de génio na cadeia.

FORMIGAS / Bom exemplo a citar diante de um perdulário. Deram a ideia dos mealheiros.

FORNARINA / Era uma bela mulher; inútil saber mais.

FORTE / Como um turco, um touro, um cavalo, como Hércules. Este homem deve ter força, é todo nervos.

FETO / Toda a peça anatómica conservada em álcool.

FORTUNA /‘Audaces fortuna juvat’. Os ricos são felizes, dispõem de fortuna! Ao ouvir falar de uma grande fortuna, não deixar de querer saber: «Sim, mas será sólida?»

FOTOGRAFIA / Destronará a pintura (v.daguerreótipo).

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FULMINAR / Bonito verbo.FUNDAMENTO / Nenhuma notícia o tem.

FUNDOS SECRETOS / Somas incalculáveis com que os ministros compram consciências. Bradar contra.

FUNERAL / A propósito do morto: «E dizer que ainda há oito dias jantei com ele!» Chama-se exéquias quando se trata de um general, e enterro

FÚRIA FRANCESA / Pronunciar «fúria francese».FUSÃO (das famílias reais) / Estar sempre à espera dela!

FUZILAR / Mais nobre do que guilhotinar. Alegria do indivíduo a quem se concede ser passado pelas armas.

FRANCÊS / O primeiro povo do Universo. «Há só um francês a mais», disse o conde de Artois, «Ah, como nos sentimentos orgulhosos por sermos franceses FRANCO-ATIRADORES / Mais terríveis do que o inimigo.FRANCO-MAÇONARIA / Mais uma das causas da Revolução! As provas de iniciação são terríveis. Motivo de discussão doméstica. Mal vista pelos padres. Que segredo será o dela?FRAQUE / Na província, a última palavra quanto a cerimónia e incomodidade.FRESCOS / Já não se fazem.

FURÚNCULO / Ver borbulhas.

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FRICASSÉ / Só se faz bem na província.

FRIEIRA / Sinal da saúde: vem de uma pessoa se ter aquecido por estar frio.

FRIO / Mais saudável do que o calor.FRIZAR O CABELO / Não fica bem a um homem.FRONTESPÍCIO / Os grandes homens ficam bem no cimo de um frontespício.FUGA / Não se sabe no que consiste, mas deve-se afirmar que é muito difícil e aborrecida.FUNCIONÁRIO / Inspira respeito, seja qual for a função que exerça.

FILIPE D’ORLEANS, IGUALDADE / Bradar contra. Uma das causas da Revolução. Cometeu todos os crimes daquela época nefasta.

FIRME / Sempre seguido de «como uma rocha».

FLAGRANTE DELITO / Só se emprega em caso de adultério. Pronunciar «flagrante delicto».

FLEUMA / Bom género, e, depois, dá um ar inglês. Sempre seguida de imperturbável.FOGO / Purifica tudo. Ao ouvir-se gritar «Fogo» deve começar-se por se perder a cabeça.

FOLHETINS / Causa de desmoralização. Discutir o desfecho possível. Escrever ao autor para lhe sugerir ideias. Furor ao descobrir neles um

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GALO /Um Homem magro nunca deve deixar de dizer que um galo nunca é gordo.GAlÓFAGO / Servir-se desta expressão ao falar dos jornalistas alemães.GANHA POUCO / Bom nome para uma loja, inspirador de confiança.GARANHÃO / Sempre vigoroso. Uma mulher deve ignorar a diferença que existe entre um garanhão e um cavalo.

GARFO / Deve ser sempre de prata, é menos perigoso. Deve segurar-se com a mão esquerda, é mais cómodo e mais elegante.GAROTO / É sempre de Paris. Não deixar a mulher dizer:« Quando me sinto satisfeita, gosto de fazer de garoto.»

GATOS / Os gatos são traiçoeiros. Chamar-lhes tigres de salão.Cortar-lhes o rabo por causa do vertigo.

GELADOS / É perigoso comê-los.

GENERAL / Sempre bravo. Faz, em geral, o que não compete ao seu posto, como ser embaixador, conselheiro municipal ou chefe de Governo.

GÉNIO (o) / Não há motivo para o admirar; trata-se de uma nevrose.

GENRO / Meu caro genro, acabou-se tudo!

GEÓMETRA / «Quem não for geómetra não tem aqui entrada.»

GERAÇÃO ESPONTÂNEA / Ideia de um socialista.

GIAOUR / Expressão feroz, de significado desconhecido, mas sabe-se que está relacionadocom o Oriente.GINÁSIO (o) / Sucursal da Comédie-Française.

GINÁSTICA / Nunca é demais. Extenua as crianças.

GIRAFA / Maneira delicada de não chamar camelo a uma mulher.

GIRONDINOS / Mais dignos de lástima do que censura.

GLÓRIA / Não passa de uma nuvem de fumo.

GLÓRIA / Uma «glória» não anda nunca sem «consolação».

GOBELINS (tapeçaria dos) / É uma obra extraordinária e que levacinquenta anos a acabar. Exclamar diante dela: «Isto é mais belo doque a pintura.» O trabalhador não sabe o que faz.

GODDAM / «É a base da língua inglesa», como afirmava Beaumarchais, e, dito isto, as pessoas riem-se de escárnio.GOG / Sempre seguido de Magog.GOMA ELÁSTICA / É feita de escroto de cavalo.

GORDO / As pessoas gordas não têm necessidade de aprender a nadar.Causam o desespero dos carrascos porque apresentam dificuldades de execução. Ex.: a Du Barry.

GORDURA / Sinal de riqueza e ociosidade.

GOSTO / O que é simples é sempre de bom gosto. Deve dizer-se a uma mulher que se desculpa pela modéstia do seu trajar.

GÓTICO / Estilo arquitectónico que, mais do que os outros, leva à religião.

GRAMÁTICA / Convencer as crianças, desde muito cedo, de que se trata de uma disciplina clara e fácil.

GRAMÁTICOS / Todos uns pedantes.

GROQUE / Não é como devia ser.

GRUPO / Fica bem no bordo de uma chaminé e convém em política.

GRUTA DE ESTALACTITES / Houve lá dentro uma festa célebre, baile ou ceia, oferecida por uma grande personagem. Vêem-se nelas «como que tubos de órgão».Disse-se missa nelas durante a Revolução.

GUARDA-COSTA / Nunca empregar esta expressão no plural ao falar dos seiosde uma mulher.GUARDA DE POLÍCIA / Nunca tem razão.

GUERRA / Insurgir-se contra.

GUERRILHA / Causa mais danos ao inimigo do que o exército regular.

GULF - STREAM / Cidade célebre da Noruega, recentemente descorta.

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HEMORRÓIDAS / São causadas por uma pessoa se sentar nos fogõesde aquecimento ou em bancos de pedra. Doença de S. Fiacre. As hemorróidassão um sinal de saúde, não se deve, portanto, fazê-las passar.

HENRIQUE III, HENRIQUE IV / A propósito destes reis, não deixar de dizer: «Todos os Henriques foram infelizes.»

HÉRCULES / Os hércules são do Norte.

HERMAFRODITA / Excita curiosidades mórbidas. Procurar ver.

HÉRNIA / Toda a gente as tem sem o saber.

HERÓSTRATO / Palavra a empregar em todas as conversas sobre a Comuna.

HIATO / Não tolerar.

HIDRE (DA ANARQUIA, DO SOCIALISMO, E ASSIM POR DIANTE,PARA TODOS OSsistemas que metem medo) procurar vencê-la.

HIDROTERAPIA / Cura todas as doenças ou é a causa delas.

HIERÓGLIFOS / Antiga língua dos egípcíos, inventada pelos sacerdotes para esconderem os seus criminosos segredos. E dizer que há gente que os entende! Bem vistas as coisas, não será uma patranha?

HÁBITO / Não faz o monge.

HÁBITO / É uma segunda natureza. Os hábitos dos colégio são maus hábitos.Com o hábito uma pessoa pode vir a tocar violino como Paganini.

HACANEIA / Animal branco da Idade Média, cuja raça se extingiu.

HÁLITO / Tê-lo forte dá um ar distinto. Evitar as alusões ás moscas e afirmar que o mau hálito é causado pelo estômago.

HARAS / A questão dos «haras», belo assunto de debate parlamentar.

HARÉM / Não deixar de comparar um galo no meio das galinhas a umsultão no seu harém. Sonho de todos os colegiais.

HARPA / Produz harmonias celestes. Nas gravuras, só se toca no alto das ruínas ou à beira de uma torrente. Faz valer o braço e a mão.

HAXIXE / Não confundir com um fruto chamado maxixe, que não provoca qualquer espécie de êxtase voluptuoso.

HÉLICE / Futuro da mecânica.

HEMICICLO / Conhecer apenas o das Belas Artes.

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HÓSPEDES / Exemplos a dar aos filhos.

HOSPITALIDADE / Deve ser sempre escocesa. Citar os versos: «Entre os montanheses da Escócia ; A hospitalidade dá-se ; Mas jamais se se vende.»

HOSPODAR / Fica bem numa frase a propósito da «questão do Oriente»

HOSTILIDADES / As hostilidades são como as ostras, abrem-se: «Abertas as hostilidades». Parece que nada mais há a fazer do que sentarem-se aspessoas à mesa.

HOTÉIS / Bons, só na Suíça.

HUGO (VICTOR) / Cometeu, na verdade, um grande erro ao dedicar-se à política.

HUMIDADE / Causa de todas as doenças.

HUMORES / Ficar satisfeito ao expeli-los e admirar-se de que o corpo humano possa conter tão grandes quantidades.

HUSSARDO / Sempre precedido de gentil ou de ardente. Agrada às mulheres.Não esquecer a citação: «Tu que conheces os hussardos da Guarda...»

HIPÓCRATES / Deve ser sempre citado em latim, dado que escreveu em grego, a não ser nesta frase:«Hipócrates diz sim, mas Galeno diz não.»

HIPÓLITO / A morte de Hipólito, é a mais bela narração que se pode dar a ler a alguém.Toda a gente deveria conhecer esse trecho de cor.

HIPÓTESE / Frequentemente arriscada, sempre corajosa.

HISTERIA / Confundi-la com ninfomania.

HISTRIÃO / Sempre precedido de vil.

HOMERO / Nunca existiu. Célebre pela maneira como se ria.

HOMO / ´Ecce homo` ao ver entrar o indivíduo de quem se está á espera.

HONRA / Ao falar-se dela, citar: «A honra é como uma ilha escarpada e sem margens»; «Nunca mais se pode lá entrar desde que se esteja de fora.» Deve cada um mostrar-se sempre muito cioso da sua, mas muito pouco da alheia.

HORIZONTES / Achar belos os da natureza e sombrios os da política.

HORROR / Horrores! Ao falar de expressões lúbricas. Há coisas que se fazem mas não se dizem. «Foi durante o horror de uma noite profunda».

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IDEAL / Completamente inútil.IDEIAS (Inatas) / Zombar delas.IDEÓLOGOS / Todos os jornalistas o são.IDÓLATRAS / São canibais.ILEGÍVEL / As receitas médicas devem sempre sê-lo. As assinaturas também. Sinal de que se tem muita correspondência.ILIADA / Sempre seguida da “Odisseia”.

ILOTAS / Exemplo a dar aos filhos, mas não se sabe onde os encontrar.ILUSÕES / Afectar ter muitas, lamentar-se de as ter perdido.IMAGENS / Há sempre imagens a mais na poesia.IMAGINAÇÃO / Sempre viva. Desconfiar dela. quando e não tem, desprezar a dos outros. Para escrever romances, basta ter imaginação.IMBECIS / Os que não pensam como vós.IMBRÓGLIO / A base de todas as peças de teatro.

IMORALIDADE / Palavra que bem pronunciada eleva quem a emprega.

IMPERATRIZES / Todas belas.IMPERIALISTAS / Todos gente honesta, educada, agradável, distinta.

IMPÉRIO / “O império, é a paz” (Napoleão III).IMPERMEÁVEL / Muito vantajoso como traje. Faz muito mal por impedir a transpiração.IMPINGEM / Sinal de saúde (v. borbulha).ÍMPIO / Bradar contra.IMPORTAÇÃO / Verme que corrói o comércio.IMPRENSA / Descoberta maravilhosa. Fez mais mal do que bem.IMPRESSO / Deve acreditar-se em tudo o que vem impresso. Ter o nome nos jornais! Há quem cometa crimes só por isso.INAUGURAÇÃO / Motivo de alegria.INCAPACIDADE / Sempre notória. Quanto mais incapaz, mais ambicioso.

INCÊNDIO / Espectáculo a não perder.INCÓGNITO / Modo de os príncipes viajare.

INCRUSTAÇÃO / Só se emprega a falar do nácar.

INDOLÊNCIA / Resultado dos países quentes.

INDÚSTRIA / (v. comércio).INFANTICÍDIO / Crime cometido só pela gente do povo.INFECTO / Empregar a propósito de qualquer obra artística ou literária que não tenha merecido o beneplácito de “ Le figaro”.INFINITESIMAL / Não se sabe o que é, mas está relacionado com a homeopatia.INJÚRIA / Deve sempre ser lavada em sangue.INOCÊNCIA / A impassibilidade é prova dela.

INOVAÇÃO / Sempre perigosa.INQUISIÇÃO / Tem havido muito exagero ao falar-se dos seus crimes.INSCRIÇÃO / Sempre cuneiforme.

INSPIRAÇÃO POÉTICA / Coisas que a provocam: a vista do mar, o amor, a mulher, etc.INSTINTO / Complemento da inteligência.

INSTITUTO / Os membros do Instituto são todos velhos e usam quebra-luzes em tafetá verde.

INSTRUÇÃO / Dar a entender que se tem muita. O povo não precisa dela para ganhar a vida.

INSTRUMENTO / Os instrumentos que seriram para cometer um crime são sempre contundentes, quando não são cortantes.INSURREIÇÃO / O mais sento dos deveres (Blanqui).

INTEGRIDADE / Compete sobretudo à magistratura.

INTRIGA / Leva a tudo.

INTRODUÇÃO / Palavra obscena.

INVASÃO / Provoca as lágrimas.

INVENTORES / Acabam todos no hospital. É sempre outro a tirar proveito da descoberta, o que é injusto.

INUMAÇÃO / Muitas vezes, precipitada: contas casos de cadáveres que devoraram os braços para matar a fome.

ITÁLIA / Deve visitar-se em lua-de-mel.ITALIANOS / Todos músicos. Todos traiçoeiros.INVERNO / Sempre excepcional (v. Verão). É mais saudável do que as outras estações.

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JASENISMO / Não se sabe o que é mas cai sempre bem falar dele.JANTAR / Dantes, jantava-se ao meio-dia, hoje janta-se a horas impossíveis. O jantar dos nossos pais era o nosso almoço, e o nosso jantar era a ceia deles. Jantar tão tarde como agora se faz, não é jantar mas ceia.

JAPÃO / Lá é tudo feito de porcelana.JARDINS INGLESES / São mais naturais do que os jardins franceses.JARNAC / golpe de- indignar-se contra tal golpe, que, de resto, era muito leal.JASPE / Todos os vasos dos museus são de jaspe.JESUÍTAS / Estão por detrás de todas as revoluções. São muitos, sem a menor dúvida. Nunca falar da «batalha dos jesuítas».JOGO / Indignar-se contra tão fatal paixão.JOHN BULL / Quando se não sabe o nome de um inglês, chama-se-lhe John Bull.

JOQUEI CLUBE / Os seus membros são sempre jovens estouvados e muito ricos. Dizer apenas «O Jóquei»; é muito elegante, dá a entender que se é sócio.JORNAIS / Não poder passar sem eles, mas bradar contra. A sua importância na sociedade moderna. Ex.: «Le Figaro». OS jornais sérios: «La Revue des Deux Mondes», «L’ Economiste», «Le Journal des Débats»; tê-los sobre a mesa da sala, mas tendo, antes, o cuidado de lhes fazer uns tantos recortes. Assinalar algumas passagens a lápis vermelho, o que também produz bom efeito. Ler, de manhã, um artigo daquelas folhas sérias e graves, e, à noite, levar a conversa para o assunto estudado, a fim de se poder brilhar.

JUDEU / Filho de Israel. Os Judeus são todos vendedores de binóculos de teatro.JUJUBA / Não se sabe de que é feita,JUNCO / Uma bengala deve ser sempre de junco.JÚRI / Tudo fazer para não tomar parte num deles.JUSTIÇA / Nunca se inquietar.JUVENTUDE / Ah, como é bela a juventude! Nunca deixar de trazer à baila estes versos italianos, mesmo sem os compreender: ‘ O Primavera! Gioventú dell’ano! O Gioventú! Primavera della vita!’

KNUT / Palavra que vexa os russos.

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LAVAÇÃO / Só se usa a propósito da cerimónia da lavação dos pés.

LEÃO / É generoso. Está sempre a brincar com uma bola. Bem rugido, Leão! É dizer que tanto o leão como o tigre não passam de uns gatos!

LEBRE / Dorme de olhos abertos.

LEGALIDADE / A legalidade é a nossa morte. Com ela nenhum governo é possível.

LÉGUA / Faz-se mais depressa uma légua do que quatro quilómetros.

LEITE / Dissolve as outras. Atrai as cobras. Branqueia a pele; há mulheres em Paris quem tomam, todas as manhãs, um banho de leite.

LENÇO DE PESCOÇO / Fica bem assoar-se nele.

LENÇOL / Os lençois vêm todos de Elbeuf.

LETARGIAS / Já se têm visto algumas que duram anos e anos.

LABORATÓRIO / Deve ter-se um no campo.

LACONISMO / Lìngua que já não se fala.

LACUSTRES, POVOAÇÕES / Navegar-lhes a existência, pois que não se pode viver debaixo de água.

LAFAYETTE / General célebre pelo seu cavalo branco

LA FONTAINE / Afirmar que nunca se leram os seus contos. Chamá-lo «O Bonsoso», o imortal fabulista.

LAGO / Ter uma mulher ao lado, quando nele se passeia de barco.

LAGUNA / Cidade do Adriático.

LANCETA / Trazer sempre uma no bolso, mas recear servier-se dela.

LAR / Referir-se-lhe sempre com respeito.

LATIM / Língua natural do homem. Prejudica a clareza de um texto. Só serve para ler as inscrições das fontes públicas. Desconfiar das citações em latim: escondem sempre algo inconveniente.

LIBERDADE / Ó Liberdade! Quantos crimes se cometem em teu nome! Dispomos de todas as necessárias. Liberdade não é licença (frase de conservador).

LIBELO / Já não se faz.

LETRA / Uma boa caligrafia pode levar longe. Indecifrável: Sinal de ciência. Ex.: as receitas dos médicos.

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LIVRO / Seja ele qual for é sempre demasiado grande.

LOIO / Não se sabe o que é.

LOIRAS / Mais quentes que as morenas (v.morenas).

LONTRA / Serve para fazer gorros e coletes.

LORDE / Inglês rico.

LORPA / Mais vale ser tratante do que lorpa.

LOUREIROS / Impedem o sono.

LUA / Inspira melancolia. Será habituada?

LUGAREJO / Substantivo enternecedor. Fica bem em poesia.

LUÍS XVI / Dizer sempre: «Esse infortunado monarca...»

LUVAS / Dão um ar distinto.

LUXO / É a perdição dos estados.

LUZ / Dizer sempre "Fiat lux" ao acender-se uma vida.

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LIGA / Deve sempre usar-se acima do joelho quando se pertence à alta sociedade, abaixo quando se trata de mulheres do povo. Uma mulher nunca deve negligenciar este pormenor da sua ‘toilette’, pois há muitos impertinentes neste mundo.

LILÁS / Agrada porque anuncia o Verão.

LINCE / Animal célebre pelo seu olho.

LINDO / Emprega-se a propósito de tudo o que é belo. É lindissimo! Representa o cúmulo da admiração.

LÍNGUA DE TRAPOS / Maneira de falar dos estrangeiros. Rir-se sempre do estrangeiro que fala mal francês.

LÍNFUAS VIVAS / As desgraças de França vêm de não se saberem bastante.

LISONJEADOR / Nunca faltar com a citação: «Detestáveis lisonjeadores, presente mais funesto» Que possa fazer aos reis a cólera celestel, ou então: «Ficai sabedo que todo o lisonjeador / Vive à custa de quem ouve».

LIBERTINAGEM / Só se vê nas grandes cidades.

LITERATURA / Ocupação de ociosos.

LITTRÉ / Troçar ao ouvir esse nome: «Esse senhor que diz que descendemos do macaco.»

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MATAGAL / Sempre sombrio e impenetrável.

MATEMÁTICAS / Ressecam o coração.

MATERIALISMO / Pronunciar esta palavra com horror, batendo bem as sílabas.

MATUSALÉM / Ser velho como Matusalém.

MÁXIMA / Nunca nova mas sempre consoladora.

MAZARINADAS / Desprezá-las. Não é necessário conhecer uma que seja.

MECÂNICA / Parte inferior das matemáticas.

MEDALHA / Só na Antiguidade é que se faziam.

MEDICINA / Sempre precedido de bom, e, entre homens, nas conversas familiares, de «sacana».É um água quando dispõe da vossa confiança, não passa de uma besta desde que médico e doente se tenham desentendido.Todos materialistas. «É que não se descobre a fé na ponta de um bisturi.»

MELANCOLIA / Sinal de distinção do coração e de elevação de espírito.

MELODRAMAS / Menos imorais do que os dramas.

MEMÓRIA / Queixar-se da sua, gabando-se mesmo de a não ter.

MARCENEIRO / Operário que trabalha, sobretudo, com mogno.

MARFIM / Só se emprega ao falar dos dentes.

MÁRMORE / As estátuas são todas feitas de mármore de Paros.

MARSELHÊS / São todos gente de espírito.

MÁRTIRES / Todos os primeiros cristãos o foram.

MÁSCARA / Dá graça e espírito a quem a traz.MEFISTOFÉLICO / Deve empregar-se a propósito de todo o riso amargo.

MEIA-NOITE / Limite da felicidade e dos prazeres honestos; tudo o que se faz depois disso é imoral.

MELÃO / Interessante tema de conversa à mesa. Será um legume? Um fruto? os ingleses comem-no à sobremesa o que espanta.

MACADAM / Suprimiu as re-voluções: deixou de haver meio de fazer. É no entanto, muito incómodo.

MACARONI / Sendo à italiana, deve comer-se à mão.

MACKINTOSH / Filósofo escocês. Inventor da borracha.

MADRUGADOR / Sê-lo é prova de bons costumes. Se uma pessoa se deita às quatro da manhã e se levanta às oito, é preguiçosa, mas se se deita às nove da noite para sair da cama às cinco da manhã do dia seguinte, é uma pessoa activa.

MAESTRO / Palavra italiana que quer dizer pianista.

MAGAREFES / São terríveis em época de revoluções.

MAGIA / Fazer troça.

MAGISTRATURA / Belo carreira para fazer um bom casamento. Os magistrados são todos pederastas.

MAGNETISMO / Bom tema de conversa, que serve para «impressionar» as mulheres.

MAILLOT / Muito excitante.

MALDIÇÃO / É sempre proferida por um pai.

MALTHUS / «O infante Malthus».

MAMELUCOS / Antigo povo do Oriente (Egipto).

MANTILHA / Pético.

MÃO / Ter boa mão é escrever bem.

MÃO DE FERRO / A França precisa de mão de ferro que a governe.

MAQUIAVEL / Não o ter lido mas considerá-lo um celerado.

MAQUIAVELISMO / Palavra que só se deve pronunciar com um arrepio.

MAR / Não tem fundo. Imagem do infinito. Dá altos pensamentos. À beira-mar, é sempre necessário ter-se uma ampla vista. Quando se olha para o mar, deve sempre dizer-se: «Que imensidão de água!».

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NAPOLES / Ao falar com eruditos dizer Parténope. Ver Nápoles e depois morrer!NARINAS / Dilatadas, sinal de sensualidade.NATUREZA / Como é bela, a Natureza! Frase a proferir sempre que uma pessoa passeia pelos campos.NAVALHA / É catalã se tiver a lâmina comprida. Chama-se punhal quando serviu para cometer um crime.

NAVEGADOR / Sempre intrépido.

NAVIO / Só em Baiona é que os sabem construir como deve ser.

NÉCTAR / Confundi-lo com a ambrosia.NEGÓCIOS (os) / Os negócios acima de tudo. São o que há de mais importante na vida. Daí não há que sair.NEGRAS / Mais quentes do que as brancas (v. morenas e loiras)

NEGRO / Como ébano ou como azeviche.NEOLOGISMO / A perdição da língua francesa.

NERVOSO / Diz-se de cada vez que nada se compreende de uma doença; esta explicação satisfaz quem a ouve.NÓ GÓRDO / Relacionado com a Antiguidade. (Maneira de os antigos fazerem o nó da gravata.)NORMANDOS / Troçar deles por causa do gorro de algodão.

NOTÁRIOS / Os de agora não são de fiar.

NUMISMÁTICA / Relacionada com as altas ciências, inspira um enorme respeito.

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OÁSIS / Albergue do deserto.OBSCENIDADE / Todas as palavras científicas derivadas do grego ou do latim escondem obscenidades.

OBUSES / Servem para fazer pêndulos e tinteiros.OCTAGENÁRIO / Emprega-se a propósito de qualquer homem de idade.ODALISCAS / Todas as mulheres do Oriente são odaliscas (v. bailadeiras).ODÉON / Fazer espírito pelo facto de ficar longe.

OFFENBACH / Ao ouvir o seu ome fazer figas para evitar mau olhado. Muito parisiense, muito elegante.OMEGA / Segunda letra do alfabeto grego pois que se diz sempre “alpha” e o “omega”.

ÓNIBUS / Vão sempre cheios. Foram inventados por Luís XIV. “Eu, Senhor, já vi triciclos que só tinham três rodas.”ÓPERA (Bastidores da) / O paraíso de Maomé na terra.OPTIMISTA / Equivalente a imbecil.

ORAÇÃO / Todo e qualquer discurso de Bossuet.ORIENTALISTA / Indivíduo muito viajado.ORIGINAL / Troçar de tudo o que é original, odiá-lo, achincalhá-lo, se se for capaz.ORQUESTRA / Imagem da sociedade: cada um executa a sua parte e há um chefe.ORQUITE / Doença de cavalheiro.

ORTOGRAFIA / Acreditar nela como nas matemáticas. Não é necessária quando se tem um estilo.

OURIVES / Tratá-lo sempre por Senhor Josse.OVO / Ponto de partida para uma dissertação filosófica sobre a génese dos seres vivos.

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PADRES / Deviam ser todos castrados. Deitam-se com as criadas e têm filhos a que chamam sobrinhos.Apesar de tudo, há-os bons.PADRINHO / É sempre o pai do afilhado.PAGANINI / Nunca afinava o violino. Célebre pelo comprimento dos dedos.PAISAGENS (dos pintores) / São sempre pratos de espinhafres.PALLADIUM / Fortaleza da Antiguidade.

PALMEIRA / Dá cor local.PALMIRA / Uma rainha do Egipto? Umas ruínas? Não se sabe.PANTEÍSMO / Bradar contra, absurdo.PÃO / Ninguém imagina a casta de porcarias que há no pão.PARADOXO / Afirmar-se sempre a propósito do “Boulevard des Italiens” entre duas baforadas de cigarro.

PATOS / Vêm todos de Ruão.PEDANTISMO / Deve ser ridicularizado, a não ser que se refira a ninharias.PEDERASTIA / Doença por que todos os homens são afectados numa certa idade.PELES / Sinal de riqueza.PELICANO / Dilacera os flancos para poder alimentar os filhos. Emblema do chefe de família.PENSAR / Penoso; as coisas que a isso nos forçam são, em geral, postas de lado.PENSIONATO / Chama-se “Lar”, quando se trata de um pensionato de jovens do sexo feminino.PENTE (de dentes finos) / Faz cair o cabelo.PENTEADOR / Indispensável em casa de uma mulher bonita.PERMUTAR / O único verbo conjugado pelos militares.

PERNADA (direito de) / Não acreditar.PERU / País onde tudo é de ouro.PESADELO / Causado pelo estômago.PHAÉTON / Inventor dos carros com esse nome.PIANISTA / Indispensável numa sala.PIEDADE / Evitá-la semprePILARES DA SOCIEDADE / ”Id est” a propriedade, a família, a religião, o respeito pelas autoridades. Enfurecer-se se os atacam.PINTURA / Estraga a pele.PINTURA EM VIDRO / Perdeu-se-lhe o segredo.PIRÂMIDE / Trabalho inútil.

PARALELO / Só se deve escolher entre os seguintes: César e Pompeu, Horácio e Virgílio, Voltaire e Rousseau, Napoleão e Carlos Magno, Goethe e Schiller, Bayard e Mac-Mahon...PARENTES / Sõ sempre desagradáveis. Esconder os que não são ricos.PARIS / A grande prostituta. Paraíso das mulheres, inferno dos cavalos.PARRA / Emblema da virilidade em escultura.PARTES / São vergonhosas para uns, naturais para outros.

PARTO / Palavra a evitar; substituí-la por bom sucesso. “Para quando espera o seu bom sucesso?”

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POPILUS / Inventor de uma espécie de círculo.PORCO / Por dentro, o corpo dele “é tão parecido com o do homem” que deveria ser utilizado nos hospitais no estudo de anatomia.PORT-ROYAL / Tema de conversa de bom efeito.PRADON /Não lhe perdoar o ter sido émulo de Racine.PRAGMÁTICA SANÇÃO / Não se sabe o que é.

PARTO / Palavra a evitar; substituí-la por bom sucesso. “Para quando espera o seu bom sucesso?”PASSAR AOS DIREITOS / Não é crime, mas uma prova de espírito e de independência de espírito (v.alfândega).PASSEIO / Dar um passeio depois do jantar facilita digestão.PASTA / Trazer uma debaixo do braço dá um ar de ministro.PASTORES / Todos feiticeiros. Têm a faculdade de falar com Nossa Senhora.

PARALELO / Só se deve escolher entre os seguintes: César e Pompeu, Horácio e Virgílio, Voltaire e Rousseau, Napoleão e Carlos Magno, Goethe e Schiller, Bayard e Mac-Mahon...PARENTES / Sõ sempre desagradáveis. Esconder os que não são ricos.PARIS / A grande prostituta. Paraíso das mulheres, inferno dos cavalos.PARRA / Emblema da virilidade em escultura.PARTES / São vergonhosas para uns, naturais para outros.

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PARALELO / Só se deve escolher entre os seguintes: César e Pompeu, Horácio e Virgílio, Voltaire e Rousseau, Napoleão e Carlos Magno, Goethe e Schiller, Bayard e Mac-Mahon...PARENTES / Sõ sempre desagradáveis. Esconder os que não são ricos.PARIS / A grande prostituta. Paraíso das mulheres, inferno dos cavalos.PARRA / Emblema da virilidade em escultura.PARTES / São vergonhosas para uns, naturais para outros.

PIRÂMIDE / Trabalho inútil.PLANETAS / Foram todos descobertos por Leverrier.PLANTAS / Curam sempre as partes do corpo com que se assemelham.POBRES / Ocupar-se deles vale as demais virtudes.POESIA (a) / Completamente inútil: passou de moda.POETA / Sinónimo nobre de pateta; sonhador

POLÍCIA / Pilar da sociedade. Designá-la por força da ordem.POMBO / Só se deve comer com ervilhas.POMO / Palavra pudica para designar os seios de uma mulher. “Deixe-me beijar-lhe os adoráveis pomos”.PONCHE / Imprescindível numa noitada de bom senso.PONSARD / O único poeta dotado de bom senso.

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RÃ / A fêmea do sapo.

RACINE / Devasso!

RADICALISMO / Tanto mais perigoso quanto for latente. A República leva-nos ao radicalismo.

RAIO / Só se emprega para praguejar, e mesmo assim!

RAIOS DO VATICANO / Rir-se.

RAPAZ / Sempre estouvado. Deve sê-lo. Admirar-se quando o não é.

RATA SÁBIA / Designação depreciativa para a mulher que se interesse por coisas intelectuais. Em apoio, citar Molière: «Quando a capacidade do seu espírito se eleva...», etc.

REBOCO (nas igrejas) / Bradar contra. Esta cólera artística é de muito efeito.

RECONHECIMENTO / Não necessita de ser expresso.

REGEDOR / Sempre ridículo. Sente-se insultado ao ser confundido com os cabos de ordem.

RELIGIÃO (a) / Faz parte dos pilares da sociedade. É necessária a povo, embora com comedimento. «A religião dos nossos pais», deve proferir-se com unção.

RELÓGIO / Só é bom se for de Genebra. No teatro de revista quando um actor puxa do seu, deve ser sempre uma cebola: esta rábula é infalível. « O seu relógio trabalha bem?» - «Claro, tão bem que o Sol se regula por ele.»

REPUBLICANOS / Nem todos os republicanos são ladrões, mas todos os ladrões sao republicanos.

RESTAURANTE / Deve sempre pedir-se os pratos que se não comem, habitualmente, em casa. À pessoa que sente dificuldade em escolher , basta optar pelos pratos que servem aos vizinhos de mesa.

RIJO / Acrescentar, invariavelmente, como ferro. Também há rijo como uma pedra, mas é menos enérgico.

RIMA / Nunca se harmoniza com a razão.

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SINO DE ALDEIA / Faz bater o coração.SOBREMESA / Lamentar que já não se cante à sobremesa. As pessoas sérias desprezam-na: “Não! Não! Nada de doces! Nada de sobremesas!”SOCIEDADE / Os seus inimigos. O que causa a sua perda.SOLTAR / Soltam-se os cães e as ruins paixões.SOLTEIRÕES / Todos egoístas e debochados. Deviam pagar um imposto. Preparam para si uma triste velhice.SOLUÇO / Para fazer parar os soluços não há como uma chave nas costas ou um susto.SOMBREUIL (Mille.) / Recordar o copo de sangue.SONÂMBULO / Passeia à noite no alto dos telhados.SONO / Torna o sangue espesso.SORVETEIROS / Todos napolitanos.STUART (MARIA) / Apiedar-se da infelicidade dela.SUBÚRBIOS / Terríveis durante as revoluções.SUFRÁGIO UNIVERSAL / A última palavra da ciência política.SUICÍDIO / Prova de cobardia.SUL / Sempre condimentada com alho. Bradar contra.SUSPIRO / Deve exaltar-se perto de uma mulher.

SÁBIOS / Troças deles. Para ser sábio basta memória e trabalhoSABRE / Os franceses querem ser governados por um sabre.SACERDÓCIO / A Arte, a Medicina, etc. são sacerdócios.SACRILÉGIO / É um sacrilégio abater uma árvore.SÁFICO e ANDRÓNICO (versos) / Produz excelente efeito num artigo literário.SAINT-BARTHÉLEMY / Uma graça antiga.SAINT-BEUVE / Na Sexta-Feira Santa só comi enchidos.SALEIRO / Entorná-lo dá azar.SALSICHEIRO / História dos enchidos feitos com uma carne humana. Todas as salsicheiras são lindas.SANGRAR / Fazer-se sangrar na Primavera.SANTA HELENA / Ilha conhecida pelo seu rochedo.SAPATEIRO / ”Ne sutor ultra crepidem”.SÁTRAPA / Homem rico e debuchado.SATURNAIS / Festas do Directório.SAÚDE

SCUDÉRY / Deve fazer-se troça, sem se saber se era homem ou mulher.SEIXOS / Ao ir à praia, não ficar sem trazer alguns para casa.SÉNECA / Escrevia numa escrivaninha de oiro.SENHORIO / As pessoas dividem-se em duas grandes classes: senhorios e inquilinos.SERÕES / Os do campo são morais.SERPENTE / Todas venenosas.SERVIÇO / É prestar um serviço às crianças o dar-lhes uns sopapos; aos animais, o bater-lhes; aos criados, o despedi-los; aos malfeitores, o castigá-los.SEVILHA / Célebre pelo seu barbeiro. Ver Sevilha e depois morrer! (v. Nápoles.)SIBARITAS / Bradar contra.SÍFILIS / Toda a gente está mais ou menos afectada.

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Vacina / Só se dar com pessoas vacinadasVaidoso / Sempre precedido de extremamente.Valsa / Indignar –se contra. Dança lasciva e impura que só deveriaser dançada por mulheres velhas.Velho / A propósito de uma cheia, de uma tempestade, etc. Os velhos da povoação nunca se lembram de ter visto coisa igual.Veludos / Aplicados nos trajes, são sinal de distinção e riqueza.Venda / Vender e comprar são a finalidade da vida.Versão / Sempre excepcional (v. Inverno)Vereadores / Insurgir-se contra eles a propósito do calcetamento das ruas. << Afinal, com que é que se preocupam os nossos vereadores? >>Verrés / Ainda se lhe não perdouViagem / Deve ser feita rapidamenteViajante / Sempre intrépidoVinhos / Assunto de conversa entre homens.O melhor é o << bordeaux>>, dado que os médicos o receitam.Quando pior for, mais natural ele é.Vizinhos / Procurar que nos prestem serviços, sem que isso nada nos custe.Vizir / Treme à vista de um cordãoVoltaire / Célebre pelo seu <<rictus>> medonho. Ciência superficial.

Ukase / Chamar << ukase>> a todo o decreto autoritário, o que vexa o Governo.Universidade / “Alma mater”Urso / Chama –se, em geral, Martim. Citar o caso do inválido que,vendo um relógio caído no fosso do urso, desceu e acabou por serdevorado.Usado / Tudo que é antigo é usado. Tudo o que é usado é antigo.Usum (ad) / Locução latina que fica bem na frase: Ad usum Delphini.Deve empregar se ao falar-se de uma mulher chamada Delfina.

Wagner / Troçar ao ouvir o nome dele, e dizer umas gracinhassobre musica do futuro.

Xadrez ( jogo do ) / Imagem da táctica militar. Todos os grandes capitães eram bons a jogar xadrez. Demasiado sério para jogo,demasiado fútil para ciência.

Yvetot / Ver Yvetot e depois morrer ( v. Nápoles e Sevilha).

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Dicionário de Ideias Feitas

Este trabalho foi realizado na disciplina de projecto, em

que o objectivo foi fazer uma nova versão do Dicionário

de Ideias Feitas de Gustave Flaubert, de modo a esta se

adaptar e inovar a este.

Neste meu trabalho decidi ir buscar um pouco o estilo

vintage, devido idade que este dicionário contêm, e trans-

forma-lo ao mesmo tempo em algo mais contemporâneo,

utilizando assim formas geométricas, e figuras comicas

feitas através de outras. Cada figura de cada página esta

associada a cada palavra de cada letra, tentando assim

montrar um certo simbolismo.

Este dicionário aconselha-se a sua leitura pois tem consel-

hos e observações úteis.

Trabalho elaborado por Francisca Santos, na area curricu-

lar de Projecto, no ano de 2009/2010 de ESAD.

O consagrado romancista francês criou nos últimos anos

de vida esta pequena obra-prima.Uma saborosa brincadei-

ra, montando um peculiar alfabeto, inteligente, irônico e

bem humorado, uma sátira divertida das idéias, conceitos

e preconceitos da sociedade.