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  • DICIONRIO DAIDADE MDIA

  • DICIONRIO DA

    IDADE MDIA

    Organizado porHENRY R. LOYNProfessor Emrito de Histria Medieval,

    Universidade de Londres

    Com 250 ilustraes

    Traduo:LVARO CABRAL

    Licenciado em Cincias Histricas e Filosficas,Faculdade de Letras da Universidade Clssica de Lisboa

    Reviso Tcnica:HILRIO FRANCO JUNIOR

    Professor de Histria Medieval, Universidade de So Paulo

  • Jorge Zahar EditorRio de Janeiro

  • Ttulo original:The Middle Ages - A Concise Encyclopaedia

    Traduo autorizada da primeira edio inglesapublicada em 1989 por Thames and Hudson Ltd.,

    de Londres, Inglaterra

    Copyright 1989 Thames and Hudson Ltd., London

    Copyright 1990 da edio em lngua portuguesa:Jorge Zahar Editor Ltda.rua Mxico 31 sobreloja

    20031-144 Rio de Janeiro, RJtel.: (21) 240-0226 / fax: (21) 262-5123

    e-mail: [email protected]

    Todos os direitos reservados.A reproduo no-autorizada desta publicao, no todoou em parte, constitui violao do Copyright. (Lei 5.988)

    Ilustrao da capa: Pierre Salmon, Rponses Charles VIet Lamentation au Roi, 1409 (Paris, Biblioteca Nacional)

    CIP-Brasil. Catalogao-na-fonteSindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.

    D541 Dicionrio da Idade Mdia / organizado porHenry R. Loyn; traduo, lvaro Cabral; revisotcnica, Hilrio Franco Jnior. Rio de Janeiro:

    Jorge Zahar Ed., 1997: il.

    Traduo de: The Middle Ages: a conciseencyclopaedia

    ISBN: 85-7110-151-5

    1. Idade Mdia - Dicionrios. I. Loyn, H.R.2. (Henry Royston).

    CDD 940.140397-1721 CDU 940 (038)

  • APRESENTAO EDIO BRASILEIRA:BREVE PANORAMA MEDIEVAL

    FRANKLIN DE OLIVEIRA

    A grande maioria dos brasileiros continua prisioneira do preconceitoforjado pelos historiadores liberais do sculo XIX, que definiam a Idade Mdiacomo um perodo de trevas. preciso soterrar, de vez, equvoco togrosseiro. O Medievo no significa somente a fundao da Europa em suasbases crist e romana. No bojo da Idade Mdia gerou-se o mundo moderno.L, com Ockham, Oresme e outros, surgiram os fundamentos da cinciacontempornea, como to claramente comprovou Pierre Duhem. Aochamarem de obscurantista a Idade Mdia, os historiadores liberais a elaopuseram o grande claro do Renascimento. Ao faz-lo, esqueceram duascoisas: os inmeros proto-renascimentos que ocorreram durante o Medievo, eo fato de que os homens geniais da Renascena formaram-se no chamadoBaixo Medievo. E mais: esqueceram a revivescncia dos sentimentosreligiosos no Quatrocento, e ainda, que a Renascena no comeou com oshumanistas e Petrarca, mas com Francisco de Assis. E mais: que o Medievofoi uma ecloso contnua de Renascenas: a Carolngia, a do Sculo XII, aFranciscana, a Otoniana, a Escolstica, a Nominalista. Duas Renascenasassinalaram o incio da Idade Mdia: a Carolngia, no sculo IX, que promoveua latinizao dos povos germnicos e sua conquista espiritual pela IgrejaCatlica, e a do Sculo XII, quando se d, nos conventos, a ressurreio dosestudos clssicos, fonte do humanismo europeu. Precedendo uma outraRenascena medieval a da Escolstica, j referida , ocorre com aPatrstica o encontro do Cristianismo com o mundo. Esse encontro foipreparado pelos padres gregos, sobretudo Clemente e Orgenes. omomento da maturidade do platonismo, que ilumina toda a Idade Mdia.Como pode um perodo to rico em fatos culturais, que modelaram afisionomia do Ocidente, ser chamado de poca das trevas?

  • claro que a civilizao medieval foi uma civilizao eminentementereligiosa, mas no divorciou o homem da terra. Ela, a terra, se transformouem sua oficina. Explodiram as invenes: a do arado, a do moinho dgua e domoinho de vento, a dos teares etc. Se a atividade rural continuou sendo abase de tudo, um insurgente artesanato provocou um movimento deurbanizao. Com o nascimento das cidades aceleraram-se as trocas,desenvolveu-se o comrcio. Delinearam-se as bases de uma economiamonetria. No h erro em dizer que no sculo XII estabeleceram-seprincpios econmicos que ainda hoje regem a nossa civilizao.

    Mas, quando se inicia a Idade Mdia?Suas origens datam do final do Imprio Romano (comeo do sculo V)

    e sua vigncia histrica estende-se at o sculo XVI, quando se instaura agrande Renascena Italiana, que ela preparou. O Convento e o Castelo soos seus emblemas, mas o maior de todos a catedral gtica, que pareciaprocurar abolir as fronteiras entre o finito e o infinito. Erwin Panofsky, oextraordinrio historiador da arte, formado na escola de Warburg, e quefundou uma nova disciplina a histria da produo das imagens , viu nogtico a trasladao esttica da Escolstica.

    Sociedade densamente hierarquizada, a Idade Mdia foi, por issomesmo, cenrio de revoltas sociais contnuas que tm o seu paradigma naJacqurie, em que os camponeses oprimidos tentaram quebrar os grilhes dofeudalismo assassinando os seus senhores, violando suas mulheres. A de1358 foi seguramente a mais sangrenta de todas as revoltas sociais do sculoXIV.

    Se o cenrio social alberga insurreies camponesas, h no plooposto talvez a maior criao humana medieval: a Universidade, que surge emPraga, Pdua, Bolonha, Salamanca, Paris, Montpellier, Oxford, Cambridge,Viena, Cracvia e Heidelberg. Em Toledo funda-se a escola dos grandestradutores rabes, que redescobrem Aristteles. Ao lado dos pensadoreslaicos formam-se, nos Pases Baixos e na Rennia, as correntes dos msticos:Mestre Eckhart, Joo Tauler, Henrique Suso e Jan Van Ruysbroeck. H a

  • caa s feiticeiras. E h Dante. E h Giotto. Nas cidades flamengas, pintorescomo os irmos Eyck, Rogier van der Weyden, e escultores como Sluterampliam gloriosamente o patrimnio cultural do Ocidente. Se os nomes deDante, Petrarca, Villon e o lirismo dos trovadores provenais no bastassempara assegurar a grandeza literria medieval, teramos para assegurar estamesma grandeza a poesia proletria dos goliardos. Esses poetas, queexaltavam o vinho e o amor fsico, foram os crticos existenciais da sociedademedieval, rebelados contra as estruturas estabelecidas, Jograis vermelhos,se assim se pode dizer.

    Abelardo a primeira figura do intelectual moderno. Chamaram-lhe decavaleiro da dialtica.

    Abelardo e Helosa. Ela tem 17 anos, bela e culta. O amor que osune reala o significado da mulher no mundo, reforando a teoria do amornatural tal como ele aparece no Romance da Rosa, um sculo depois. Aapario de Helosa ao lado de Abelardo a glorificao da carne, do amorcarnal que mais tarde os humanistas iriam considerar o principal requisito daplenitude do ser humano. Estamos longe do lirismo abstrato dos trovadores eda aura do Tristo e Isolda, em que pese o erotismo intenso da lenda. Aofalar dos homens da Idade Mdia, um historiador moderno no se conteve, eexclamou: Mas esses homens somos ns mesmos! Nossa modernidade vemde l, queiramos ou no.

    H um fato singelo, mas que fulmina o mito do obscurantismo medieval.Ele encontrado no traje, sobretudo no vesturio feminino. A Idade Mdiatinha averso s cores sombrias. As mulheres medievais usavam roupas queseguiam a linha do corpo, expondo-lhes sobretudo o busto no tinham nadade monacal. Serviam ao corpo e no alma.

    Mas a valorizao da mulher padeceu, na Idade Mdia, de gravelimitao, consubstanciada no direito de pernada: verso popular do ijusprimae noctis. A camponesa que casasse era obrigada, na primeira noite denpcias, a entregar a sua virgindade ao patro ou ao capataz por ele indicado.

    Era intenso o cultivo da vinha no Medievo. O vinho estava sempre

  • presente em todos os momentos, festivos ou no, da sociedade medieval, quedistinguia entre o escravo, tratado como coisa, e o servo da terra, que podiapossuir famlia, alm de uma minscula propriedade onde praticava aagricultura de sobrevivncia.

    A partir do sculo XIII, o ponto de partida da reflexo econmica omesmo de Adam Smith: o problema da diviso do trabalho. Em um cursoministrado em 1763, em Glasgow, Adam Smith conservava ainda o esquemado tratado dos escolsticos. S mais tarde, no Inqurito sobre a natureza eas causas da riqueza das naes, separar a filosofia moral da cinciaeconmica, emancipando esta ltima.

    Apesar de manter o seu universalismo religioso, no final da IdadeMdia surgem os espaos nacionais: nascem os Estados. O latim, lnguacomum, se assim podemos dizer, perde a sua hegemonia cultural. Surgem aslnguas nacionais. Comea a se desenvolver uma analogia entre o mundo e ohomem, entre o macrocosmo e esse universo em miniatura que o serhumano.

    Publica-se a grande enciclopdia de Adelardo de Bath que exploralongamente a anatomia e a fisiologia humanas. O humanismo medieval noesperou pelo humanismo renascentista para penetrar os segredos do corpo. Eretornou concepo estica do mundo como uma fbrica: ela produzsegundo a vontade do homem. A oposio entre a razo e a experincia setorna menor graas a Roger Bacon e Rober Grosseteste. O empirismocomea a dar sinais de vida.

    A Idade Mdia constituda de ciclos: o de Carlos Magno, o deAlexandre, o Grande, o de Rolando, o do rei Artur, do qual demanda um idealde justia e de f religiosa, de procura da bem-amada inatingvel, dagalanteria cavaleiresca, dos sentimentos de honra, do misticismo e dasfaanhas guerreiras. Mas esses ciclos guardam entre si profundas diferenas.No breto, predomina o sentimento amoroso; no ciclo carolngio, apredominncia guerreira.

    A necessidade de delimitar o gigantesco territrio que se estende da

  • Antigidade Modernidade determinou a criao do perodo medieval e dadiviso tripartida do mundo Antigidade Clssica, poca Romana e IdadeMdia , diviso que veio a ser consagrada em 1583, por Christoph Keller,embora nunca se registrasse concordncia e unanimidade quanto a taisdelimitaes.

    S no sculo XVIII, na Frana, conceituao e limites do Medievoforam aceitos. Essa aceitao chegou Inglaterra, e estendeu-se aoContinente Europeu. Superado esse problema, surgiu um outro: o dassubdivises. A Idade Mdia no era vista como uma unidade inconstil. NaFrana, chamou-se Alta Idade Mdia ao perodo que se prolongaria at asCruzadas; e Baixa Idade Mdia ao perodo que se iniciou logo aps eterminou no sculo XV. Os alemes e os ingleses preferem outra subdiviso:Alta Idade Mdia (sculos XII e XIII).; Idade Mdia Tardia, para o perodoterminal; Primeira Idade Mdia (sculos XI a XIII) e ltima Idade Mdia(sculos XIII a XV). H outras designaes em ingls: Alta Idade Mdia eIdade Mdia Central. Todas estas divises contm, porm, o seu gro dearbitrariedade histrica.

    Desde o humanismo renascentista a Idade Mdia vista de diversosngulos. O mais importante deles o de Erasmo de Rotterdam, o prncipe dohumanismo, que lhe negou o obscurantismo. Mas a reabilitao do Medievocomea, de fato, com os romnticos, na Alemanha e na Frana. Goethe noficou insensvel a tal revalorizao. Na Alemanha, sobretudo Novalis levoumais longe a apologia da Idade Mdia. Na Frana, Chateaubriand restaurou oprestgio dos temas medievais, embora a sua Idade Mdia seja inteiramenteconvencional. Em Notre Dame de Paris, Victor Hugo nos d uma frementeimagem do Medievo. Mrime iniciou os estudos sobre a arte romnica sob ainfluncia do escritor escocs Walter Scott que, nos seus romances em estilopico, usou temas do perodo medieval. Ainda na Inglaterra, Lorde Actoncolocou a Antigidade Clssica e a Idade Mdia no mesmo p de igualdade.

    O gtico, os pintores flamengos, os construtores de catedrais, ostrovadores provenais e os goliardos compuseram a legenda urea da arte e

  • da literatura medievais. Mas, pergunta-se, numa civilizao eminentementereligiosa, no houve espao para a msica, a manifestao mais alta datranscendncia divina no homem?

    Houve. A primeira obra da literatura moderna o Hinrio da IgrejaLatina. O Te Deum o maior documento do esprito de resistncia aosromanos, nos terrveis sculos IV a VI. A lrica especificamente crist doOcidente latino inicia-se com os hinos da Igreja. Os modelos desses cantoslitrgicos j existiam no Oriente, mas sobretudo Ambrsio quem os introduzna igreja Ocidental.

    Ningum ignora que o lirismo trovadoresco deriva das formas da poesiada Igreja Crist, apesar dos trovadores provenais serem herticos eanticlericais. As cortes da Provena eram heterodoxas. No entanto, o primeirofato a antecipar o nascimento do lirismo trovadoresco foi a mstica de SoBernardo e de Hugo de Saint-Victor.

    As cartas trocadas entre frades e monges dos sculos X, XI e XII,cartas de louvor mulher amada, cartas impregnadas da influncia de Ovdioforam as fontes onde os trovadores saciaram sua sede de beleza. Otrovadorismo provenal celebra o florescimento da vida, tal como a exortao alegria feita pela hinologia da Pscoa. Trovadores e minnesaengeraprenderam e incorporaram sua potica as formas e os ritmos da igrejaMedieval. Esses poetas fizeram apenas um caminho inverso: partiram dosanto para o profano.

    Cai gloriosamente a noite medieval. Prorrompe, irrompe implodindo luz,o Renascimento. Mas Thode, Burdach, Carl Neumann, Sabatier, Gebhart,Zabughin, Garin e tantos outros so unnimes em afirmar que o Renascimentofoi gestado no tero da Idade Mdia. A compreenso deste fato essencialpara a nossa prpria compreenso: o Brasil descoberto na Renascena,mas a sua civilizao se faz sob o signo do Medievo.

    Hoje, grandes historiadores ingleses e franceses, dentre os quais sedestacam Georges Duby e Jacques le Goff, Guy Fourquin e George Holmes,esto desmontando o mito alinhavado pelos historiadores liberais do sculo

  • XIX, sobretudo por Michelet. A reviso total, assentada no rigor da anlisedocumental, que torna a fraude da histria um fato arquivvel.

    Por tudo isto, por se colocar sempre contra a prostituio da histria, oeditor Jorge Zahar teve a coragem de empreender a edio brasileira desteDicionrio da Idade Mdia, que no pode faltar a nenhuma biblioteca. Confioua sua traduo a lvaro Cabral homem de saber, e no apenas tradutorcompetentssimo, que enriqueceu este dicionrio com algumas notas sobre oMedievo Portugus , e a sua reviso tcnica a um especialista, HilrioFranco Junior, professor de histria medieval da Universidade de So Paulo. Aidoneidade da edio est plenamente assegurada, para honra da indstriaeditorial brasileira.

  • Guia do leitor para uso deste livro

    A Idade Mdia foi dominada durante muito tempo, no esprito dogrande pblico, por imagens de faanhas cavaleirescas e ritual corteso, pelofervor espiritual e pela sanginria violncia dos cruzados. Esses conceitospitorescos tm sido propensos a obscurecer o verdadeiro valor do perodocomo uma idade de real progresso em todas as reas, de evoluo poltica esocial, de criatividade artstica e intelectual, de avano comercial e cientfico.

    uma tarefa enorme fazer justia a esse panorama deformado, etivemos que ser necessariamente seletivos. O intuito preponderante, docomeo ao fim do volume, foi fornecer tanto ao principiante quanto aoespecialista uma apresentao sumria do pensamento atual sobre osprotagonistas, eventos e temas principais relacionados com a histria daEuropa desde a Escandinvia at o Oriente Mdio entre os anos de 400e 1500, aproximadamente. Dentro desse vasto campo geogrfico e histrico,tentamos estabelecer um equilbrio entre verbetes concisos, fatuais, sobrebatalhas, tratados, indivduos e localizaes principais, e um tratamento maisdiscursivo de tpicos de vivo interesse como background. O dicionrio deve,portanto, ser de comprovada utilidade para estudantes e estudiosos como umaide-mmoire, para verificar rpida e facilmente fatos essenciais; e comoestimulante guia e companheiro para o leitor curioso, com um interesse maisgenrico sobre o perodo.

    Um dicionrio como este, de carter enciclopdico, deve ser mais doque uma inerte coleo de fatos essenciais e, a fim de habilitar o leitor aseguir uma criativa linha de investigao de verbete para verbete, asremisses foram especialmente organizadas para auxiliar a liberdade demovimento, dentro do texto, sem prejudicar a legibilidade. A maioria dosnomes prprios no participou das remisses, uma vez que quase todos eles,como se pode supor, tm verbetes especficos. Os assuntos enumerados nofinal de um verbete encaminham o leitor para tpicos afins ainda no

  • mencionados, mas que podero ser de interesse complementar.Obras gerais de referncia so sugeridas na Nota bibliogrfica da

    p.371, mas ttulos mais especficos foram tambm fornecidos empraticamente todos os verbetes para proporcionar uma completa e atualizadabibliografia. Preocupamo-nos em indicar ttulos recentes e facilmenteacessveis, salvo quando publicaes mais antigas continuam sendo as obrasque representam o tratamento clssico de determinado assunto. Quanto aosverbetes onde no dada qualquer referncia bibliogrfica, as remissesconduziro o leitor para um verbete mais extenso, associado, onde os ttulospertinentes so indicados.

    As ilustraes foram especialmente escolhidas por seu interessedocumental; os nmeros entre colchetes no final de um verbete indicampginas em outras partes do livro onde ilustraes referentes ao assunto doverbete podem ser encontradas. Tambm se oferecem dois mapas gerais naspp. XII e XIII, e numerosos mapas menores e quadros genealgicos foraminseridos ao longo do texto. Os verbetes mais substanciais so atribudos aosseus autores de acordo com a chave fornecida na p. XI, com a Lista decolaboradores.

    A minha dvida como organizador deste dicionrio grande para comnumerosos amigos, colegas e estudantes pesquisadores, que me ajudaramnos verbetes apropriados s suas respectivas especialidades. A dra. AnneDawtry, falecida sra. Jane Hebert e a sra. Sara-Jane Webber atuaramcomo subeditoras para algumas sees nas fases iniciais do empreendimento;a sra. Michelle Brown, a dra. Elizabeth M. Hallam, a sra. Elizabeth Lockwoode a dra. Cathy Harding prestaram considervel ajuda nas fases subseqentes.As sras. Miriam van Bers, Helena Reid e Anne Markinson mantiveram o editorde texto sob controle, garantindo que as inevitveis dificuldades no setornassem incontrolveis. Meus agradecimentos a todos e, em especial, aoquadro editorial da Thames and Hudson.

    HENRY LOYN

  • Nota da edio brasileira

    Dois tipos de informaes foram acrescidos ao texto original paramelhor servir aos leitores de lngua portuguesa: em alguns casos, informaesde contedo, quase sempre complementando dados sobre a histria dePortugal medieval; mais freqentemente, informaes bibliogrficas, indicandotradues em lngua portuguesa ou espanhola em substituio s mesmasobras citadas em ingls, ou ainda fazendo indicaes extras em verbetesimportantes ou desprovidos de bibliografia. Todos esses acrscimosaparecem entre colchetes, assinalados com NT quando devidos ao tradutor,sendo os demais de responsabilidade do revisor tcnico.

  • Lista de colaboradores

    DB Dr. David Bates, professor titular de Histria, University College,Cardiff

    CB Christopher Brooke, professor de Histria Eclesistica (DixieProfessor), Gonville and Caius College, Cambridge

    RB Dra. Rosalind Brooke, docente de Histria, Universidade deCambridge

    MB Michelle Brown, assistente de pesquisa, Departamento deManuscritos, British Library, Londres

    SB Sarah Brown, Diviso de Arquitetura, Royal Commission on theHistorical Monuments of England, Londres

    RAB R. Allen Brown, professor de Histria, Kings College, Universidadede Londres

    TJB T. Julian Brown, professor de Paleografia, Kings College,Universidade de Londres

    DC David F. L. Chadd, diretor, Escola de Histria da Arte e Msica daUniversidade de East Anglia

    WD Wendy Davies, professora de Histria, University College, LondresAD Dra. Anne Dawtry, professora de Histria, Chester College, ChesterPD Dr. Peter Denley, professor de Histria, Westfield College,

    Universidade de LondresADD Alan Deyermond, professor de Espanhol, Westfield College,

    Universidade de LondresGE Dr. Gillian Evans, Fellow, do Fitzwilliam College, CambridgeJF Jill Franklin, Universidade de East AngliaPG Philip Grierson, professor Emrito e Fellow do Gonville and Caius

  • College, CambridgeEMH Dra. Elizabeth M. Hallam, conservadora-assistente do Public Record

    Office, LondresCH Dra. Catherine Harding, Departamento de Arte, Queens University

    Kingston, CanadJH Jane Herbert, Westfield College, Universidade de LondresRH Rosalind Hill, Professora Emrita de Histria, Westfield College,

    Universidade de LondresGK Dr. Gillian Keir, Westfield College, Universidade de LondresCHK Dr. Clive Knowles, professor de Histria, University College, CardiffCHL C. Hugh Lawrence, Professor Emrito de Histria, Royal Holloway

    and Bedford New College, Universidade de LondresEL Elizabeth Lockwood, Westfield College, Universidade de LondresHRL Henry Loyn, Professor Emrito de Histria, Westfield College,

    Universidade de LondresDL David Luscombe, professor de Histria Medieval, Universidade de

    SheffieldGM Professor Geoffrey Martin, Conservador do Public Record Office,

    LondresRIM Robert I. Moore, professor-assistente de Histria Medieval,

    Universidade de SheffieldJLN Dra. Janete Nelson, professora de Histria, Kings College,

    Universidade de LondresDN Donald M. Nicol, professor de Grego Moderno e Histria, Lngua e

    Literatura Bizantinas, Kings College, Universidade de LondresCP Ciaran Prendergast, Royal Holloway and Bedford New College,

    Universidade de LondresJR-S Jonathan Riley-Smith, professor de Histria, Royal Holloway and

    Bedford New College, Universidade de LondresNR Nicolai Rubinstein, Professor Emrito de Histria, Westfield College,

    Universidade de Londres

  • DJS Dr. D. Justin Schove, diretor da St. Davids School, BeckenhamIS Ian Short, professor de Francs, Birkbeck College, Universidade de

    LondresJS Jane Symmons, Westfield College, Universidade de LondresTSS T.S. SmithRT Dr. Rodney Thomson, Departamento de Histria, Universidade da

    TasmniaS-JW Sara-Jane Webber, Westfield College, Universidade de Londressw Steven Wilson, School of Oriental and African Studies, Universidade

    de LondresGZ George Zarnecki, Professor Emrito, Courtauld Institute of Art,

    Londres

  • AAbdida, dinastia Fundada pelo vizir e cdi Abu el-Kacim Maom Ibn-Abbad(1023-42), em cujas veias corria sangue rabe e espanhol, a dinastia Abdidagovernou Sevilha entre a queda do califado de Crdova e a conquistaalmorvida da Espanha muulmana. Durante o seu domnio, Sevilha tornou-seo mais prspero dos reinos taifa, que eram os Estados sucessores docalifado, absorvendo um certo nmero de taifas menores e conquistandoCrdova em 1070. A corte abdida era o centro de uma brilhante culturapotica; os prprios reis eram poetas. O ltimo da linhagem, al-Mutamid, foideposto e aprisionado pelos almorvidas em 1091. D. Wasserstein, The Rise and Fall of the Party-Kings (1986)

    Abssida, dinastia Os califas abssidas ou sucessores de Maomexerceram autoridade sobre grande parte do mundo muulmano, coincidindo oseu perodo de maior triunfo nas artes e na poltica com o reinado de Harunal-Rachid (786-809), um contemporneo de Carlos Magno. Subiram ao poder frente das faces xiitas que se opunham aos omadas mas, aps suasvitrias no final da dcada de 740, quando todo o mundo muulmano, exceto aEspanha (que permaneceu leal aos omadas), ficou-lhes submetido, adotaramos ritos sunitas da maioria e transferiram sua capital de Damasco mais paraleste, construindo a grande e nova cidade de Bagd. A influncia persa, comsuas tradies de absolutismo oriental, tornou-se predominante naadministrao abssida; os interesses da dinastia concentraram-se cada vezmais no Oriente, com vistas s grandes rotas comerciais para a ndia e aChina. Um califado separado foi estabelecido no Egito e na Palestina sob odomnio dos fatmidas no sculo X, e os abssidas viram seu papel reduzidoao de lderes religiosos e cerimoniais, passando o efetivo poder para osturcos seljcidas, que conquistaram Bagd em meados do sculo XI e,finalmente, para os mongis, que aboliram o califado em 1258. [213]

  • The Cambridge History of Islam, vol. I, org. por P. Holt, A. Lambton e B.Lewis (1970)

    Abbon de Fleury, Santo (954-1004) Um dos homens mais eruditos de seutempo, Abbon escreveu tratados sobre autoridade papal, astronomia ematemtica. Educado nas escolas de Fleury, Reims e Paris, apoiou osreformadores de Cluny e, aps um perodo de exlio na Inglaterra, foi eleitoabade de Fleury em 988. J tinha ento a reputao de ativo reformadormonstico, determinado a manter os mosteiros livres de controle episcopal esecular. Desempenhou um papel na renovao beneditina inglesa,especialmente na abadia de Ramsey. D. Knowles, The Monastic Order in England (1950); P. Cousin, Abbon deFleury-sur-Loire (1954)

    Abd el-Malik califa 685-705 (n. 647) Foi o verdadeiro responsvel pelaconsolidao do poder da dinastia Omada. Cognominado pelos historiadorescomo o pai dos reis, ele e seus quatro filhos dominaram o califado at adcada de 740 e, sob a direo deles, a partir de sua base em Damasco, a fislmica propagou-se desde as regies montanhosas da Espanha at aprovncia de Sind na ndia. A contribuio pessoal de Abd el-Malik consistiuem reconciliar faces rivais e em estimular o controle militar no Ocidente(Cartago caiu em 698) e no Oriente. Destacaram-se dentre os atributosimperiais da dinastia, o consumo ostensivo e a construo da grande mesquitade Ornar, mais conhecida como a Cpula do Rochedo.

    Abd el-Rahman I governante omada da Andaluzia 756-88 (n. 731) ltimomembro remanescente da dinastia Omada aps sua derrubada pelosabssidas; em 756 instalou-se como emir independente de Crdova, naEspanha. Durante seu reinado, pde controlar as vrias faces no interior daEspanha e obteve at o apoio dos bascos cristos contra as incurses dosfrancos. Por exemplo, a tentativa de Carlos Magno de conquistar a Espanhaem 778, auxiliado por Ibn el-Arabi de Saragoa, fracassou em conseqncia

  • de uma aliana entre Abd el-Rahman e os berberes cristos da regio basca.Os francos foram derrotados e sua retaguarda completamente eliminada nodesfiladeiro de Roncesvalles, nos Pireneus, na batalha que deu origem aofamoso poema pico, a Cano de Rolando, uma vez que Rolando, ogovernador da Bretanha, estava entre os que a morreram. Aps ofalecimento de Abd el-Rahman, a guerra civil eclodiu de novo no reinado deseu filho, Hisham I (788-96), e prosseguiu durante quase um sculo. P. Hitti, History of the Arabs (1951)

    Abelardo, Pedro (1079-1142) Filsofo e telogo, natural de Le Pallet, pertode Nantes. Sua carreira foi incomumente variada para um mestre escolstico:foi educado em Loches ou Tours sob a orientao de Roscelino deCompigne, estudou em Paris com Guilherme de Champeaux e em Laon comAnselmo de Laon. Polemizou violentamente com todos esses mestres.Lecionou em escolas de Paris, Melun e Corbeil at 1119, quando casousecretamente com Helosa, sobrinha do cnego Fulbert de Paris. Aps onascimento do filho de ambos, Astrolbio, Abelardo foi castrado fora poragentes de Fulbert. Tendo providenciado o ingresso de Helosa como freira noconvento de Argenteuil, Abelardo tornou-se monge no vizinho mosteiro abacialde Saint-Denis. Mas no tardou em voltar ao ensino e em 1121 sofreu suaprimeira condenao como hertico em Soissons.

    A partir de 1122, lecionou num retiro rural em Quincey, na Champagne, edesde cerca de 1127 foi abade de Saint-Gildas-de-Rhuys, na sua Bretanhanatal. Em ambos os lugares Abelardo viu-se perseguido por dificuldades mas,enquanto abade, providenciou para que Helosa iniciasse um novo conventoem Quincey, dedicado ao Paracleto. Por volta de 1136 reapareceu nasescolas de Paris, onde teve dentre seus ouvintes Joo de Salisbury. Umasegunda e mais devastadora condenao ocorreu num Conclio realizado emSens, em 1140, e essa foi confirmada pelo papa Inocncio II. A derrota veioaps veementes debates entre, de um lado, Abelardo e seus adeptos, queincluam Arnaldo de Brscia, e, do outro, Bernardo, o influente abade de

  • Claraval, e muitos bispos da Frana. Abelardo retirou-se ento para a abadiade Cluny, onde contou com a amizade do abade Pedro, o Venervel. Morreuno priorado de Saint-Marcel, em Chalon-sur-Sane, em (ou logo aps) 1142.Pedro, o Venervel, transferiu os restos mortais de Abelardo para oParacleto, onde Helosa permaneceu como abadessa at falecer em 1164.

    Retratar Abelardo como um paladino da emancipao intelectual dodomnio de monges que eram inimigos do saber, da cultura e da pesquisa, simplificar as tenses que culminaram nas duas condenaes de Abelardo porheresia. Dentre seus crticos estavam homens de indiscutvel talento, no sBernardo de Claraval mas tambm Guilherme de Saint-Thierry e Hugo deSaint-Victor, enquanto que Abelardo (ele prprio um monge na maior parte desua vida) se deliciava em disputas provocantes. Na Histria Calamitatum[Histria das Minhas Desgraas], Abelardo responsabiliza a inveja de seusrivais e o seu prprio orgulho por seus fracassos. Mas conquistou o interessee a devoo de mais de uma gerao de estudantes por ter tornado a lgicade Aristteles clara e por ter explorado com brilhantismo as funes elimitaes da linguagem.

    Como filsofo, Abelardo foi corretamente descrito como um no-realista.No incio de sua carreira, afastou-se da concepo predominante que via osuniversais (por exemplo, gnero, espcie) como coisas existentes (res).Distinguiu-se mais por suas penetrantes glosas a textos de Aristteles do quepela criao de uma sntese filosfica. Em teologia, Abelardo examinoucriticamente as tradies recebidas do pensamento cristo; sua obra Sic etNon uma tentativa de resolver as aparentes contradies existentes nombito do ensino cristo atravs da aplicao da dialtica. Seus mtodos noeram incomuns para a poca, mas suas concluses foram julgadasimprudentes por muitos. Seus ensinamentos teolgicos refletiram seu no-realismo dialtico; apresentou a Trindade em termos de atributos divinos(poder, sabedoria e amor) e no de pessoas divinas. Considerou o trabalhode redeno do Cristo menos como um fato objetivo (a libertao do homemdo pecado ou do demnio) do que como um exemplo de ensino e sacrifcio

  • que provoca uma resposta subjetiva ao amor divino. Na tica, Abelardoafastou-se da preocupao com aes para dedicar-se ao estudo da intenoe do consentimento. Sua tendncia para a interiorizao tambm ficouevidente nas substanciais contribuies literrias, legislativas e litrgicas quefez para o estabelecimento do convento do Paracleto, tendo Helosa comoabadessa: as monjas eram exortadas a estudar e orar, e a no se sentiremtolhidas, mais do que o necessrio, por observncias externas. Abelardoadmirava as figuras contemplativas que tinham sido modelos de sabedoria evirtude, fossem eles pagos, como Scrates ou Plato, Ccero ou Sneca,profetas, como Elias ou Joo Batista, ou monges cristos primitivos, comoAntnio e Jernimo. Todos eles amaram a sabedoria e todos, portanto, comoCristo, mereceram o nome de filsofos.

    As avaliaes sobre o que, em termos gerais, Abelardo realizou so,inevitavelmente, complacentes ou crticas em excesso. Suas contribuiesoriginais para a ascenso da Universidade de Paris e do movimentoescolstico medieval receberam por vezes uma ateno exagerada, mas eleproduziu urna impresso muito forte sobre os escolsticos de seu tempo,mesmo que rapidamente seus interesses e livros tenham sido rejeitados ou,na melhor das hipteses, podados por seus sucessores. As suas principaisobras so, na lgica, Dialectica, e os comentrios sobre a lgica aristotlica;na teologia, o j citado Sic et Non e a Theologia (tendo ambas as obraspassado por sucessivas revises), a Ethica o Scite te ipsum [tica ouConhece-te a Ti Mesmo], comentrios sobre o incio do Gnese e sobre aEpstola aos Romanos, e o Dialogus inter Judaeum, Philosophum etChristianum [Dilogo entre um Judeu, um Filsofo e um Cristo]. Hoje, suapopularidade deve-se principalmente correspondncia com Helosa. Ascartas podem no ter circulado antes de meados do sculo XIII, e suaautenticidade contestada algumas vezes, sobretudo por causa da dificuldadeem interpretar as letras dos autores. Mas o seu caso de amor despertouconsidervel interesse no s imediato mas ao longo de toda a Idade Mdia.Abelardo foi tambm um talentoso poeta e msico. DL

  • E. Gilson, Heloise and Abelard (1953); D.E. Luscombe, The School of PeterAbelard (1969); Ablard en son Temps, org. por J. Jolivet (1981)

    Abu Bakr califa 632-34 O primeiro califa ou sucessor de Maom e sogro doProfeta. Venceu as faces no interior da Arbia, expandiu o Isl em toda aPennsula Arbica e, no ltimo ano de sua vida, obteve sobre as forasbizantinas grandes vitrias que abriram o caminho para a conquista daPalestina. Seu principal instrumento em suas iniciativas militares foi o generalKhalid ibn el-Valid, Espada de Al, conquistador final de Damasco (635). P. Hitti, History of the Arabs (1951)

    Acordo de Kenilworth (1266) Negociado entre Henrique III e os baresingleses, foi um importante acordo constitucional que ps fim tentativabaronial de reforma governamental iniciada em 1258. Deu aos rebeldes aoportunidade de recuperarem suas terras, em troca de sua aceitao darestaurao da monarquia. F.M. Powicke, King Henry III and the Lord Edward (1947)

    Acrcio, o Glosador (c. 1182-1260) Natural de Florena e professor deDireito na Universidade de Bolonha, especialmente famoso por seuscomentrios sobre o Cdigo, Institutos e Digesto de Justiniano, os quais setornaram leitura obrigatria para o estudo dessas obras nas universidadesmedievais. Faleceu em Bolonha e foi sepultado no adro da igreja da OrdemFranciscana. Seu filho Francisco tambm foi um jurista de considervelrenome, tendo feito seu doutorado em direito com apenas 17 anos de idade. W. Ullmann, Law and Politics in the Middle Ages (1975)

    Ado de Bremen (m.c 1081) Cnego de Bremen que se tornou diretor daescola da catedral dessa cidade em 1066. Escreveu uma histria eclesisticaem quatro livros, nos quais descreveu a expanso do Cristianismo na Europasetentrional, sobretudo nas dioceses de Bremen e Hamburgo. A obra terminacom um valioso tratado sobre a situao da Dinamarca no terceiro quartel do

  • sculo XI. B. Schmiedler, History of the archbishops of Hamburg-Bremen (1959)

    Adelaide, Santa (931-99) Segunda esposa de Oto I, o Grande, e filha deRodolfo II de Borgonha. Em 947 tornou-se noiva de Lotrio, filho de Hugo, reida Itlia. Aps a morte de Lotrio em 950, ela foi capturada e encarceradapor Berengrio, margrave de Ivrea, porque se recusou a casar com seu filho.Fugiu em 951, buscando refgio em Canossa. Casou no mesmo ano com Oto,o Grande, e foi coroada imperatriz em 962. Acompanhou Oto em sua terceiracampanha na Itlia, em 966, e depois da morte do marido permaneceu ativano governo at se desentender com seu filho, Oto II. A reconciliao ocorreuem 983 e ela foi nomeada vice-rei na Itlia. Desempenhou um importantepapel no governo durante a menoridade de Oto III, junto com a viva de OtoII, Tefane, e foi destacada defensora da reforma cluniacense. K.J. Leyser, Rule and Conflict in an Early Medieval Society (1979)

    Adelardo de Bath (1090-1150) Monge, matemtico e cientista ingls quetraduziu para o latim algumas das obras dos matemticos islmicos Al-Khwarismi e Abu Machar. Acredita-se que tenha sido tambm ele quemintroduziu no mundo ocidental o conhecimento do astrolbio, um instrumentocientfico (herdado dos gregos atravs dos rabes) para informar a horamediante a observao do Sol, e para encontrar latitudes e calcular altitudes.Sua traduo de uma verso rabe de Euclides tornou-se um compndioclssico de geometria no mundo ocidental. F.J.P. Bliemetzrieder, Adelhard von Bath (1935); M. Clagett, Dictionary ofScientific Biography, org. por C.C. Gillespie (1970)

    Ademar (m. 1098) Bispo de Le Puy. Nomeado legado apostlico para aPrimeira Cruzada, acompanhou os cruzados na expedio ao Oriente Prximo.Negociou com o imperador Aleixo Comneno em Nicia, restabeleceu algumadisciplina entre os cruzados e morreu pouco depois da tomada de Antioquia. G.J. dAdhmar Labaume, Adhmar de Monteil, vque du Puy (1910)

  • adocionismo Ver heresia adocionista

    Adriano I papa 772-95 Um dos mais influentes papas no perodo inicial daIdade Mdia, Adriano convidou Carlos Magno e os francos a apoi-lo contra apresso lombarda. A interveno provou ser decisiva: o reino lombardo foiesmagado e Carlos Magno adotou o ttulo de rei dos lombardos. Adrianomanteve intato, de forma bastante habilidosa, o controle papal no centro daItlia em face da nova situao poltica, reparou e reconstruiu a prpria cidadede Roma, e abriu caminho, mediante uma srie de delicadas negociaes comConstantinopla, para uma nova ordem no Ocidente, a qual foi simbolizada, emultima instncia, pela coroao imperial de Carlos Magno em 800 pelas mosdo sucessor imediato de Adriano, o papa Leo III. D. Bullough, The Age of Charlemagne (1966)

    Adriano IV (Nicolau Breakspear) papa 1154-59 (n.c 1100) O nico inglsque at hoje ascendeu ao trono papal. Natural de Abbots Langley, perto deSt. Albans, foi cnego da abadia de Saint-Ruf, nas vizinhanas de Aries, naFrana, da qual foi eleito abade em 1137. Foi nomeado cardeal-bispo deAlbano pelo papa Eugnio III (1148-53), e depois serviu como legado papal naEscandinvia. Organizou os negcios do arcebispado de Trondheim eestabeleceu acordos que resultaram no reconhecimento de Uppsala comosede do metropolita sueco. Aps seu regresso, Breakspear foi bem recebidopelo sucessor de Eugnio, Anastcio IV, e com a morte deste ltimo foi eleitopapa. Embora tivesse coroado Frederico Barba-Ruiva como soberano doSacro Imprio Romano-Germnico em 1155, seu pontificado foi seriamenteperturbado por disputas com Frederico, as quais ainda no tinham sidoresolvidas ao tempo da morte de Adriano. W. Ullmann, The Pontificate of Adrian IV, Cambridge Historical Journal(1955); R. Southern, Pope Adrian IV, Medieval Humanism and other Studies(1970)

    Acio Flvio (c. 396-454) General romano. Natural do Baixo Danbio, era

  • filho de um general romano e de uma nobre italiana, mas passou boa parte desua juventude como refm, primeiro dos godos e mais tarde dos hunos. Em435, fez uso de auxiliares hunos ao subjugar os borgonheses, mas quando oshunos se tornaram uma real ameaa para o Imprio Romano, sob o comandode tila, Acio foi forado a atac-los. Em maio de 451 sustou-lhes o avanoem Orlans mas no conseguiu obter uma vitria decisiva, e tila pde sededicar a novas conquistas na Itlia. Acio foi assassinado em 454 peloimperador Valentiniano III, que temia que os continuados xitos de Acio comocomandante das foras militares romanas acabassem resultando em suaprpria deposio em favor do general.

    Afonso I rei das Astrias 739-57 Genro de Pelgio (lder visigodo daresistncia asturiana contra a invaso rabe) e provavelmente descendente dereis visigodos. Afonso foi escolhido para governar as Astrias quando seucunhado Fafila foi morto por um urso. No prazo de um ano, a revolta dasguarnies brberes por toda a Pennsula Ibrica e a guerra civil resultante,deram a Afonso a oportunidade de ultrapassar as fronteiras de seu pequeno emontanhoso territrio, e conquistar terras muito ao sul do rio Douro; a Galcia,a Cantbria, La Rioja e parte de Leo caram em seu poder. As reasmeridionais foram devastadas e evacuadas, criando uma extensa terra deningum, e as regies setentrionais foram fortalecidas dos pontos de vistademogrfico e militar. Quando Afonso morreu, o reino das Astrias estavasolidamente estabelecido e estendia-se desde a costa atlntica da Galcia ata fronteira oriental de La Rioja; no sculo seguinte, converteu-se no reino deLeo. C. Snchez-Albornoz, Orgenes de la nacin espaola: el reino de Asturias,vol. I (1972)

    Afonso V, o Magnnimo rei de Arago 1416-58 (n. em 1395) Neto de Joo Ide Castela e filho de Fernando de Antequera, foi criado na corte castelhanaat seu pai ser coroado rei de Arago em 1412. Sucedeu ao pai como rei em1416 e, durante seu reinado, defrontou-se com numerosos problemas: a

  • aristocracia aragonesa tinha cimes dos conselheiros castelhanos de Afonsoe, ao mesmo tempo, o campesinato catalo estava constantementeprocurando conquistar sua independncia da Coroa.

    Foi bem-sucedido, porm, no prosseguimento da expanso ultramarinade Arago. Pacificou a Sardenha e a Siclia em 1420 e, aps inmerasdificuldades, conseguiu conquistar Npoles em 1442. Transferiu depois suacorte para ali e nunca mais voltou Espanha. Quando morreu, em 1458,sucedeu-lhe em Npoles seu filho ilegtimo Berrante (ou Ferdinando I) e emArago seu irmo Joo. O cognome o Magnnimo atribudo a Afonso V foiganho em conseqncia de seu generoso patrocnio a numerosos humanistasda Renascena.

    Afonso VI rei de Leo e Castela 1065-1109 Segundo filho do rei Fernando I eneto de Sancho III de Navarra, Afonso tinha 25 anos quando herdou o reino deLeo de seu pai. Seis anos de lutas com os irmos, que tinham herdadooutras partes do reino de Fernando, culminaram na derrota de Afonso nabatalha de Golpejera (janeiro de 1072). Foi exilado para a cidade muulmanade Toledo mas, nove meses depois, foi bafejado pela sorte: o assassinato deSancho II de Castela trouxe o monarca exilado de volta ao poder paragovernar Leo, Castela e Galcia.

    Apesar de sinistros boatos de cumplicidade no assassinato de Sancho, aat de incesto com sua irm, Afonso provou ser um governante enrgico evitorioso, dos pontos de vista militar, poltico e cultural. Trabalhou em prol dareconciliao das trs partes do seu reino e estabeleceu sua ascendnciasobre os reinos taifa do sul muulmano, conquistando Toledo em 1085.Influenciado por suas esposas francesas, e dando prosseguimento polticaeuropeizante de Sancho III, Afonso fortaleceu a hegemonia cluniacense sobreos mosteiros espanhis, nomeou bispos franceses para as suas ss,estimulou as peregrinaes a Santiago de Compostela (residncias francesasproliferaram nas cidades ao longo das estradas de peregrinao), substituiu aliturgia morabe (ou visigtica) pela liturgia romana do resto da Europa,

  • apesar da resistncia popular, e substituiu igualmente a velha escrita visigticapela Carolngia; a expanso da arquitetura romnica na Espanha tambm datado tempo de Afonso VI.

    A implacvel insistncia de Afonso em coletar tributos dos reinos taifa descritos por um historiador recente como uma rede de proteo provouser contraproducente no ano seguinte vitria do monarca em Toledo;desesperados, os reis muulmanos apelaram para os almorvidas, quederrotaram os exrcitos de Afonso em Segrajas (1086). A poltica de Afonsopara com os governantes muulmanos nativos tornou-se mais conciliatria; elej percebera a importncia da tolerncia religiosa, ao adotar o ttulo deImperador de Duas Religies aps a queda de Toledo. Mas era tardedemais: os almorvidas tinham chegado para ficar, e seguiu-se uma srie dederrotas, somente mitigadas pela bem-sucedida defesa de Toledo e pelasvitrias do cado em desgraa e exilado condestvel de Afonso, Rodrigo Diaz,El Cid, que conquistou Valncia em 1094. Valncia seria abandonada em1102, e o nico filho de Afonso foi morto na esmagadora derrota em Ucls(1108). O rei faleceu em 1109 e a ausncia de um herdeiro varo mergulhouseu assediado reino em guerra civil, deixando o seu genro, Afonso I deArago, como figura dominante na Espanha crist. [R. Menndez Pidal, La Espaa del Cid, 2 vols. Madri, Espasa-Calpe, 7a.ed., 1979; C. Estepa Diez, El reinado de Alfonso VI, Madri, Hullera Vasco-Leonesa, 1985]

    Afonso VIII, o Nobre rei de Castela 1158-1214 Filho do rei Sancho III. Amenoridade de Afonso foi perturbada por lutas internas e pela interveno dovizinho reino de Navarra nos assuntos castelhanos. Essa interferncia culminouem 1195 num ataque conjunto a Castela por parte de Navarra e Leo mas queAfonso pde frustrar com xito. Suas relaes com Arago foram sempreboas e, em 1179, os dois Estados assinaram o Pacto de Cazorla, pelo qualficou decidida a demarcao da futura fronteira entre Castela e Arago, avigorar assim que se consumasse a reconquista da Espanha aos mouros. Foi

  • essa guerra contra os mouros que absorveu as energias de Afonso VIII entre1172 e 1212. Embora tivesse sido derrotado pelos mouros em 1195, foi-lhepossvel, com a ajuda de Pedro II de Arago, alcanar grande vitria contraeles na sangrenta batalha de Navas de Tolosa (1212) e assim contribuirdecisivamente para a destruio do poderio almada na pennsula hispnica.Afonso VIII casou com uma filha de Henrique II da Inglaterra e fundou aprimeira universidade da Espanha. J. Gonzalez, El reino de Castilla en la poca de Alfonso VIII, 3 vols., Madri,CSIC, 1950

    Afonso X, o Sbio rei de Leo e Castela 1252-84 (n. 1221) Primognito deFernando III e de Beatriz da Subia. Como presumido herdeiro, participou nascampanhas de seu pai, incluindo o cerco de Sevilha, e manifestou desde cedointeresse em desenvolver o castelhano como lngua literria e tcnica: em1251 encomendou uma traduo do rabe. Os historiadores vem Afonsocomo um fracasso, por causa de sua ruinosamente dispendiosa e, em ltimainstncia, humilhante campanha para eleger-se titular do Sacro ImprioRomano, e por causa da rivalidade em torno da sucesso, o que redundou emrevolta e deposio. Os historiadores culturais, por outro lado, vem-no comoum sucesso: foi o mecenas de uma brilhante corte de poetas, intelectuais,artistas e msicos; foi um grande patrocinador do vernculo, deixando ocastelhano, no final de seu reinado, como veculo natural para todos osgneros de prosa. Embora a obra tivesse comeado no reinado de FernandoIII, Afonso X deu uma contribuio incomparavelmente maior, criando a prosacastelhana, tal como Alfredo, o Grande, tinha criado a prosa anglo-saxnica.Entretanto, os dois lados de Afonso so interdependentes e o mesmo padropode ser freqentemente observado em sua vida poltica e em sua vidacultural.

    Afonso, que casara com Violante, filha de Jaime I de Arago, sucedeuao trono de Castela e Leo em 1252. No era tarefa fcil ser o herdeiro dostriunfos de Fernando III, e o desejo de afirmar-se como um digno sucessor

  • levou o novo rei a invadir o Algarve (redundando num compromisso quefavoreceu Portugal), a tentar anexar Navarra (teve que se contentar com asuserania nominal) e a reivindicar a Gasconha, com o argumento de que suaav era filha de Henrique II da Inglaterra. A pretenso foi abandonada numtratado de 1254, e a irm de Afonso casou com Eduardo I; o terceiro filhodeles e, durante 10 anos, herdeiro do trono ingls, recebeu o nome deAfonso. Uma aventura externa muito mais demorada (1256-75) foi o objetivoobstinadamente perseguido de se eleger para o Sacro Imprio Romano-Germnico. Afonso, que reivindicava seus direitos atravs de sua me, gastouvultosas somas para influenciar os eleitores muito mais do que Castelapodia permitir-se dispender de modo que o descontentamento internoaumentou; um historiador recente intitulou como Os Caminhos da Runa umensaio sobre a poltica econmica e financeira de Afonso X. Foi eleito em1257, mas um veto papal desfez todo o seu trabalho, e o monarca nunca maisvoltou a estar to perto do xito. No obstante, persistiu por mais 18 anos, esomente uma revolta da nobreza castelhana o forou a renunciar a suaspretenses.

    Dois dos irmos de Afonso rebelaram-se contra ele (1255 e 1269) e umterceiro foi sumariamente executado por sua ordem (1277), mas as pioresdissenses no seio de sua famlia ocorreram aps a morte do seu filhoprimognito Fernando, em 1275, durante uma invaso marroquina que durouat 1279. O filho mais velho de Fernando deveria ter sido declarado herdeirodo trono mas o segundo filho de Afonso, Sancho, obteve uma alterao da leie, quando o monarca tentou anul-la, Sancho revoltou-se com o apoio dosnobres e uma assemblia privou Afonso de seus poderes e prerrogativas.Procurou ajuda muulmana mas em vo, e morreu sem ter recuperado plenocontrole sobre o reino.

    As realizaes culturais de Afonso, o Sbio, formam um profundocontraste com essa crnica de fracassos polticos: enciclopdicos cdigosjurdicos em vernculo, uma extensa coleo de tradues e adaptaes deobras cientficas arbicas (incluindo as Tbuas Afonsinas, usadas por

  • astrnomos em toda a Europa durante cerca de trs sculos), a maior emelhor coleo de poesia mariana em qualquer idioma vernculo (ao invs desuas outras obras, os poemas que formam a coletnea intitulada Cantigas deSanta Maria no foram escritos em castelhano mas na lngua lricaconvencional da maioria da pennsula, o galaico portugus e duas obrashistricas: uma histria universal [Grande y General Estoria] e uma histria daEspanha [Crnica General de Espaa]. Entretanto, assim como h slidasrealizaes em meio aos fracassos polticos (alguns avanos no caminho daReconquista e, de suma importncia, a criao da marinha castelhana),tambm a obra cultural do rei e de seus colaboradores mostra sinais dedesmedida ambio e alguns grandiosos projetos abortaram. O principalcdigo de leis, Las siete partidas, nunca foi promulgado em vida de Afonso, eas duas histrias, ambas ideologicamente vinculadas s ambies imperiaisdo monarca, ficaram inacabadas. ADD E.S. Procter, Alfonso X of Castile, Patron of Literatura and Learning (1951);The Worlds of Alfonso the Learned and James the Conqueror, org. por R.I.Burns (1985); J.R. Craddock, The Legislative Works of Alfonso X, el Sabio,Research Bibliographies and Checklists 45 (1986) [C. Estepa Diez, J. Faci etalii, Alfonso X, Toledo, Museo de Santa Cruz, 1984]

    afresco A pintura em afresco foi imensamente popular na Idade Mdia. Nosculo XIII e em especial nas igrejas e mosteiros gticos italianos, essa formade arte atingiu a sua mais perfeita expresso. Os afrescos proporcionavamuma alternativa mais rpida e menos dispendiosa que os mosaicos, uma outraimportante forma de decorao mural na era medieval.

    Havia um certo nmero de etapas na pintura em afresco. Em primeirolugar, a superfcie a ser coberta era revestida com uma camada de gesso demdia para fina (arriccio). Nessa etapa, o artista podia fazer um esboo amo livre da composio, usando uma substncia argilosa de cor vermelhaferruginosa conhecida como sinopia. Se a obra era para ser executada embuon fresco, ou afresco verdadeiro, o artista, trabalhando de cima para baixo

  • na parede, aplicava apenas o gesso suficiente para um dia de trabalho; essaspequenas sees de gesso mais fino eram conhecidas como giornate. Oartista aplicava ento os. seus pigmentos, diludos em gua pura, a essepouco gesso; os pigmentos fixavam-se permanentemente no reboco aindamido. Uma forma menos duradoura de pintura em afresco era o fresco alsecco, no qual os pigmentos eram aplicados na parede depois do gessosecar. Em muitos afrescos medievais em que se usou a tcnica al secco, ascores descarnaram. E. Borsook, The Mural Painters of Tuscany (1960); U. Procacci, Sinopie eaffreschi (1961)

    frica A totalidade da frica do Norte era parte integrante do mundo clssicoe do comeo da Idade Mdia, mas s lentamente os ocidentais tomaramconhecimento do resto do continente africano. Em 429, no decorrer dasandanas tribais dos povos germnicos, os vndalos passaram da Espanhaao norte da frica e estabeleceram um reino que englobou grande parte daArglia e Tunsia atuais, com seu centro em Cartago. A provncia foireconquistada pelo Imprio Bizantino (533-48), mas as invases muulmanasdo sculo VII provocaram uma radical e permanente alterao nas estruturaspolticas do mundo mediterrneo. Em 700, todo o norte da frica estava emmos muulmanas e, 20 anos depois, tambm a maior parte da Espanha.Mercadores muulmanos abriram rotas atravs do Saara desde o sculo VIIIe seu controle poltico do Egito e do vale do Nilo asseguraram o contatocontnuo com o Sudo e a Etipia, e o perfeito conhecimento dessas regies.

    O envolvimento ocidental direto ocorreu em certa medida com oscruzados, mas s a partir do final da Idade Mdia e das arrojadas expediesportuguesas, encorajadas pelo Infante D. Henrique, se iniciou a metdicaexplorao europia. Aps a tomada de Ceuta (1415), os portugueses foramos pioneiros de uma srie de viagens ao longo da costa africana ocidental inicialmente numa tentativa de flanquear os mouros no Marrocos. O xitocomercial dessas viagens, graas importao de especiarias pela Europa,

  • acelerou seu desenvolvimento; esperava-se alcanar as especiarias de melhorqualidade da ndia e incentivar o lucrativo comrcio com os rabes.

    Em 1482, toda a costa da Guin era conhecida e em 1487 BartolomeuDias dobrou o Cabo da Boa Esperana. Dez anos depois, Vasco da Gamaempreendia sua histrica viagem de descobrimento do caminho martimo paraa ndia, aportando em Calicute em setembro de 1498. Foi o comeo de umaera de expanso ultramarina europia.

    [A data inicial das grandes viagens ultramarinas portuguesas na IdadeMdia foi 1432, quando Gil Eanes dobrou o Cabo Bojador e ps fim s lendasdo Mar Tenebroso. Entre 1440 e 1445, Nunco Tristo descobria os cabosBranco e das Palmas; em 1462 atingia-se o Cabo Verde, descobria-se aSerra Leoa e eram exploradas as rias do Senegal. A chamada Costa da Mina explorada em 1471 por Joo de Santarm e Pedro Escobar, construindo-sedez anos depois o castelo de So Jorge da Mina. Em 1484 a vez de DiogoCo explorar a costa do Congo e chegar foz do rio Zaire. Os navegadoresque mais se distinguiram nessa primeira fase dos descobrimentos africanos,antes das navegaes decisivas de Bartolomeu Dias e Vasco da Gama, foram alm dos j citados Tristo da Cunha, Gonalvez Zarco, lvaroFernandes, Afonso Gonalves, Dinis Fernandes, Gonalo Velho e Afonso deAveiro. NT] The Pelican History of Africa (1968)

    Agobardo de Lyon (769-840) Arcebispo de Lyon. Natural da Espanha, ele foiprimeiro para Lyon como companheiro do enviado de Carlos Magno,Leidradis. Ordenado sacerdote em 804, sucedeu a Leidradis como arcebispode Lyon em 816. Em conseqncia de seu apoio a Lotrio I contra oimperador Lus, o Pio, foi deposto e banido no Conclio de Thonville em 834;mas reconciliou-se com Lus e foi reintegrado em seu cargo em 838,falecendo em Saintonge em 840. Seus principais escritos foram dirigidoscontra o adocionista Felix de Urgell, e tambm condenou a superstio e aprtica do ordlio.

  • A. Cabannis, Agobard of Lyon (1953)

    Agostinho, Santo (354-430) Bispo de Hipona. Um dos quatro grandes Paisda Igreja latina. Tendo nascido em Tagaste de pai pago e me crist,Agostinho foi criado como cristo mas no batizado. Estudando retrica naUniversidade de Cartago e depois ensinando retrica na Itlia, Agostinhoabandonou totalmente sua criao crist, seguindo primeiro as crenasneoplatnicas e, depois, maniquestas. Em 385, porm, foi convertido aoCristianismo por Santo Ambrsio e batizado no ano seguinte. Voltando aonorte da frica, foi ordenado padre e, finalmente, bispo de Hipona em 395.

    Esteve ativo em seu papel pastoral e muito contribuiu para a refutaodas doutrinas de vrios grupos de herticos, como os maniquestas e osdonatistas. sobretudo conhecido como filsofo e telogo. Suas obrasincluem as Confisses, onde relata a sua prpria converso, vrios sermessobre os Evangelhos e A Cidade de Deus (413-26). Nesta ltima obra,Agostinho tentou responder s crticas daqueles que rejeitaram o Cristianismocom o argumento de que Deus tinha consentido que Roma casse, procurandomostrar-lhes a escala gigantesca do universo e o plano de Deus para ohomem, no mbito do qual a queda de Roma era apenas uma gota no oceano.Considerou que todos os homens pertenciam a uma das duas cidades: acidade de Deus, composta por todos os fiis, e a cidade dos descrentes. Foio primeiro telogo cristo a expressar a doutrina da salvao do homem porgraa divina.

    Tambm escreveu uma srie de diretrizes para a vida clerical,destinadas a um certo nmero de mosteiros locais, e que foram usadas nosculo XI como base da chamada Regra de Santo Agostinho. Sua atitudegeral para com o governo poltico, que atribui natureza pecaminosa dohomem e, no entanto, v como um meio efetivo de canalizao dasconseqncias malficas do pecado, provou ser imensamente influente nopensamento eclesistico medieval. AD P.R.L. Brown, Augustine of Hippo (1967), Religion and Society in the Age

  • of Augustine (1972) [A. Hamman, Santo Agostinho e seu tempo, S. Paulo,Paulinas, 1989]

    Agostinho, Santo (m. 604) Arcebispo de Canterbury. Italiano por nascimento,Agostinho tornou-se monge e depois prior da abadia de Santo Andr no monteClio, uma das sete colinas de Roma, antes de ser escolhido pelo papaGregrio 1 para chefiar uma misso de converso Inglaterra, em 596.Desembarcando no Kent em 597, Agostinho e seus companheiros foram bemrecebidos pelo rei Etelberto, cuja esposa Bertha j era crist. Etelberto deu aAgostinho uma casa em Canterbury e permisso para pregar ao seu povo.Sabiamente, Agostinho no tentou abolir o paganismo no Kent de uma s vezmas buscou, pelo contrrio, faz-lo gradualmente, enquanto que, ao mesmotempo, incorporava liturgia da Igreja muitos costumes pagos e, sempre queconveniente, usava antigos templos pagos para fins cristos. Seus mtodosforam coroados de xito e, em 601, o rei Etelberto e muitos de seus sditostinham aceito o Cristianismo. Na prpria Canterbury, Agostinho instalou sua smetropolitana de clrigos seculares. Tambm fundou um mosteiro dedicadoaos santos Pedro e Paulo (depois chamado de Santo Agostinho) e bispadosem Londres e Rochester. H. Mayr-Harting, The Corning of Christianity to Anglo-Saxon England(1972)

    agostinianos, cnegos Ordem religiosa de sacerdotes criada no sculo XI,que obedecia a uma Regra baseada nos escritos monsticos de SantoAgostinho de Hipona. Foi uma decorrncia do movimento de reforma da Igrejaque conclamava o clero secular a adotar uma vida comum e regular. Foiespecialmente popular em Roma, sul da Alemanha e Lorena, onde controloucom freqncia grupos de igrejas ou formou os cabidos de catedrais. NaInglaterra, somente uma catedral, a de Carlisle (1133), era servida porcnegos agostinianos, e poucas casas agostinianas, como a de Barnwell, noCambridgeshire, foram fundadas a fim de desempenhar tarefas paroquiais nalocalidade. A tendncia da maioria das casas agostinianas era, pelo contrrio,

  • servir aos peregrinos (como em Walsingham) ou aos enfermos (como em St.Bartholomew, Smithfield, Londres). Embora algumas casas fossemestabelecidas na Inglaterra durante o sculo XI, o perodo de maiorcrescimento foi no sculo seguinte, durante os reinados de Henrique I eEstvo. As casas de cnegos agostinianos eram pequenas pelos padresmonsticos, consistindo usualmente em no mais de 12 cnegos e um prior. J.C. Dickinson, Origins of the Austin Canons (1950); L. Verheijen, La rglede St. Augustin (1967)

    agostinianos, frades Ordem religiosa criada a partir de muitos gruposdiferentes de eremitas italianos, incluindo os valdenses ortodoxos, os quaisforam organizados em 1256 numa ordem mendicante pelo papa Alexandre IV.Renunciando sua anterior atividade apostlica, os frades agostinianosjuntaram-se a outras ordens mendicantes vivendo nas cidades uma vida deapostolado inspirada na Regra de Santo Agostinho de Hipona. R. Brooke, The Corning of the Friars (1975)

    agricultura As generalizaes acerca da agricultura europia na Idade Mdiadevem ser atenuadas pela nfase sobre as profundas diferenas regionais etambm pela grande diversidade dentro das regies. Os conhecimentostcnicos bsicos necessrios a um cultivo bem-sucedido de cereais estavamao alcance de todas as comunidades europias desde os tempos neolticos,mas sua aplicao e organizao era uma questo muito diferente,dependente da natureza dos solos, do equilbrio de atividades pastoris eagrrias, do clima, da proximidade do mar e de uma dzia ou mais de outrasimportantes variveis. Os hbitos sociais e os costumes fundirios tambmestavam intimamente relacionados com a prtica agrria.

    O Imprio Bizantino preservou as estruturas clssicas bsicas emprincpios da Idade Mdia, com um persistente e forte elemento comercial emonetrio na economia. Do sculo VIII em diante verificam-se clarassemelhanas entre os desenvolvimentos bizantino e ocidental na administraoda propriedade fundiria e na exao e natureza da mo-de-obra. Influentes

  • grupos de camponeses livres aparecem na Anatlia e em partes dos Balcs.No mundo ocidental, o Imprio Carolngio e seus sucessores, incluindo aBretanha e posteriormente as comunidades escandinavas e eslavas,consideraram a agricultura de suprema importncia econmica durante amaior parte da Idade Mdia. O perodo no foi estril em avanos tcnicos,sobretudo nas reas que, por razes de fertilidade do solo e de clima,constituram o centro nevrlgico da economia agrria medieval: a Frana aonorte do Loire, a Lorena e as terras da Francnia, o sul e o leste daInglaterra.

    Uma economia senhorial bastante desenvolvida, que nunca foicompletamente isolada, porm mais propensa auto-suficincia do que adepender dos mecanismos de mercado, surgiu na Europa Carolngia dossculos VIII e IX. Uso extensivo de azenhas, mtodos melhorados deatrelagem de animais para servios de lavoura e maior eficincia nafertilizao do solo com adubos orgnicos e na rotatividade de culturas,causaram lentamente um impacto sobre a demografia. Sempre que a pazpde ser mantida (e a proteo contra as invases brbaras registrou umasubstancial eficcia no sculo XI), a economia senhorial provou ser capaz desustentar um constante aumento de populao. Seus mtodos clssicos delavoura baseavam-se no sistema de trs campos: a cada ano, em rotao, otrigo era cultivado num campo; num outro, a aveia, a cevada, o feijo e asleguminosas, enquanto que um terceiro campo era apenas alqueivado; emalgumas regies, era mais comum o sistema de dois campos, um cultivado eum alqueivado. A cada aldeia era anexada uma rea de pastagem, a qualassegurava a obteno de forragem para o gado. Mas o fundamental era oarado e a diviso da terra em faixas, algumas pertencentes ao senhor eoutras aos seus homens, o que conjugava proteo e um esforo coletivo detrabalho, e que propiciou o florescimento das comunidades.

    A superestrutura da civilizao medieval dos sculos XII e XIII baseou-senessa bem-sucedida economia senhorial, mas em fins do sculo XIII j eramevidentes as inadequaes em sua organizao bsica. As fomes e as pestes

  • do sculo XIV so, conforme foi sugerido, sintomas de uma economia queultrapassou o seu ponto de saturao. A converso dos servios de mo-de-obra em pagamentos monetrios ao senhor tinha se generalizado, e astentativas para voltar a impor o servio feudal contriburam para a inquietaoe as revoltas camponesas do final da Idade Mdia. O status do camponsvariou muito, e as distines jurdicas nem sempre condiziam com a realidadeeconmica e social. A escravatura clssica tinha declinado nos temposcarolngios, embora elementos caractersticos dela ainda pudessem serencontrados no perodo central da Idade Mdia. A tendncia, porm, foi parasubstituir a escravido por um regime uniforme de servido, mas na maioriados senhorios, homens livres (que deviam pouco mais do que servio judicialaos seus senhores), agricultores e prsperos artesos viviam lado a lado comservos de gleba a fim de trabalhar diretamente nas terras senhoriais trs diaspor semana e at mais.

    Tambm havia variaes nas tcnicas bsicas. Os campos abertos eramcomuns quando as condies do solo eram boas, mas em outras reasoptava-se por terrenos menores, cercados e retangulares. Em algumasregies, para lavrar a terra mais levemente persistia o arado, um utenslioherdado dos tempos romanos; em outras passou a dominar a charrua, capazde abrir sulcos profundos, enquanto que em reas remotas, como as ilhasescocesas, continuaram sendo usados arados primitivos de escarificaosuperficial. A colonizao trouxe suas prprias tcnicas, como na FlorestaNegra no sculo XII ou no avano alemo sobre as terras blticas daPomernia e da Prssia Oriental nos sculos XII e XIII; um status mais livreera a recompensa normal para o colono empreendedor. No sculo XII, aintroduo do moinho de vento, originrio do Oriente, contribuiu para aeficincia geral, sobretudo nas grandes propriedades. O surgimento de livrossobre mtodos de lavoura e a maior divulgao das tcnicas de adubar commarga e cal tambm depem a favor da eficincia agrcola nas grandespropriedades reais, senhoriais e eclesisticas. O desempenho da agriculturamedieval no sustento de populaes em tempos perigosos no deve ser

  • subestimado, mas, por volta de 1300, novas tcnicas e uma nova atitude emrelao terra eram indispensveis para se obter novos progressos.Ver clima; fome; moinhos; vinho [64,130, 259] [B.H. Slicher van Bath, Histria agrria da Europa Ocidental, Lisboa,Presena, 1987; G. Duby, Economia rural e vida no campo no Ocidentemedieval, 2 vols. Lisboa, Edies 70, 1987-1988; R.-H.Bautier, A economiana Europa medieval, Lisboa, Verbo, 1973.]

    Aidan (c. 600-51) Bispo de Lindisfarne e santo britnico. Inicialmente mongeem Iona, instalou-se depois na ilha de Lindisfarne e tornou-se seu primeirobispo em 635. Foi extremamente influente na reconverso ao Cristianismo dopovo de Nortmbria, tarefa empreendida por solicitao do rei Osvaldo (634-42). Aps a morte de Osvaldo na batalha de Hatfield, Aidan continuou eintensificou seus esforos sob a gide do novo rei Oswy (642-70), at suamorte em Bamburgo, a 31 de agosto de 651. Bedes Ecclesiastical History of the English People, org. por B. Colgrave eR.A.B. Mynors (1969)

    Ailly, Pierre d (1350-1420) Bispo de Cambrai. Telogo eminente e maistarde chanceler da Universidade de Paris, dAilly lembrado principalmentepelo papel que desempenhou em sanar o Grande Cisma no papado. No incio,aceitou a idia de um Conclio ecumnico como o melhor meio de resolver ocisma; posteriormente, porm, apoiou as pretenses papais de Bento XIII,antes de voltar, uma vez mais, posio conciliarista. Foi de Bento XIII queele recebeu primeiro o bispado de Le Puy (1395) e depois o de Cambrai(1397). Como bispo de Cambrai, desempenhou papel de destaque no Concliode Pisa (1409) e, sobretudo, como o principal porta-voz francs no grandeConclio de Constana (1414-18). Em 1411, dAilly era feito cardeal pelo PapaJoo XXIII e serviu depois como legado papal sob Martinho V. Tambmmereceram destaque suas sugestes a respeito da reforma do calendrio, asquais foram finalmente postas em vigor por Gregrio XII, e seus escritos, osquais incluram Imagem do Mundo, uma obra onde sustenta a idia de que o

  • mundo redondo e as ndias Orientais poderiam, portanto, ser alcanadasdesde a Europa navegando tanto para oeste como para leste. Ver conciliar,movimento. E.F. Jacob, Essays in Conciliar Thought (1953), [Ymago Mundi, org. por E.Buron, 3 vols., Paris, Maisonneuve, 1930.]

    Aix-la-Chapelle (Aachen) Originalmente um povoado romano. Em 765 foi aconstrudo um palcio pelo rei Pepino, o qual foi posteriormente reconstrudopor Carlos Magno, tornando-se assim a cidade o centro do Imprio carolngio.Snodos a foram celebrados e desde a coroao de Lus I, o Piedoso, em813, at a de Fernando I em 1531, os reis alemes continuaram sendo nelacoroados. A cidade tambm ficou clebre como lugar de peregrinao, pois lestavam expostas as relquias coletadas pelos carolngios; um culto adicionaldesenvolveu-se no sculo XII em torno do tmulo de Carlos Magno. Em 1172,Aix-la-Chapelle foi fortificada com muralhas que seriam ampliadas porGuilherme da Holanda em 1250. No final da Idade Mdia, a cidade eraestrategicamente importante na manuteno da paz na regio compreendidaentre o Mosa e o Reno. Ver Alcuno

    Alain de Lille (1128-c.1203) Um dos mais importantes mestres das escolasde Paris. Conhecido como doctor universalis, ficou famoso por suascontribuies para a teologia e a filosofia, incorporando fortes elementosmsticos e neoplatnicos numa filosofia que argumentou serem as verdadesinternas da religio suscetveis de descoberta mediante o exerccio da razopura e simples. Ele simboliza parte do paradoxo da Renascena do sculo XII,na medida em que estava ativo na escolstica e, no entanto, era atrado paraos cistercienses. O ncleo central de seus ensinamentos consistiu em suadefinio da natureza como intermediria efetiva entre Deus e a matria, eenfatizou a analogia, e tambm a distino, entre nascimento natural, o qualdepende das leis da natureza, e o nascimento do esprito resultante dobatismo e da regenerao sacramentai. [E. Gilson, La filosofia en la Edad Media, Madri, Gredos, 1965]

  • alamanos Confederao de tribos germnicas que comearam pressionandoas fronteiras do Imprio Romano no sculo III e no sculo V registraram suamaior expanso territorial quando penetraram na Alscia e na Sua. Em 496,os alamanos foram subjugados pelo rei franco Clvis I, que os incorporou aosseus domnios. Confederao precariamente unida, os alamanos colocavamsuas foras militares sob a chefia conjunta de dois comandantes durante ascampanhas, mas, na maior parte do tempo, encontravam dificuldades parapermanecer unidos e no possuam um ncleo comum de governocentralizado.

    alanos Povo pastoril e nmade que ocupava inicialmente a regio das estepesa nordeste do Mar Negro. Esto descritos na literatura romana do sculo Icomo um povo guerreiro especializado na criao de cavalos. Durante ossculos seguintes, realizaram freqentes incurses nas provnciascaucasianas do Imprio Romano. Os alanos foram derrotados pelos hunos eno comeo do sculo V deslocaram-se na direo oeste e penetraram naGlia. Alguns deles estabeleceram-se perto de Orleans, mas a grande maioriaacompanhou os vndalos na invaso da Pennsula Ibrica e do norte dafrica. B.S. Bachrach, The Alans (1969)

    Alarico I rei dos Visigodos 395-410 Lembrado pelo saque de Roma em 410,Alarico foi uma personalidade mais complexa do que o saqueador selvtico eimplacvel da lenda histrica. Serviu como um proeminente comandante dosgodos confederados no tempo do imperador Teodsio, e somente com amorte deste (395) que decidiu instaurar seu reino visigodo no Adritico. Naprimeira dcada do sculo V, continuou desempenhando um papel destacadona poltica imperial, e mesmo depois do saque de Roma tomou a iniciativa deum acordo com as autoridades imperiais. Foi o choque simblico, tanto quantoa realidade da tomada de Roma, o que levou os historiadores da poca e osque se lhes seguiram a considerar o ano de 410 como o fim do ImprioRomano.

  • T. Hodgkin, Italy and her Invaders, vol. I (1916)

    Alberti, Leon Battista (1404-72) Arquiteto e humanista da Renascena,natural de Veneza e educado em Pdua e Bolonha. Durante sua vida, a famade Alberti teve origem no seu livro Della Famiglia. Nessa obra, guiada peloprincpio aristotlico, revivido por Santo Toms de Aquino, de que a arte imitaa natureza, Alberti postulou que cada criana deve ser educada de acordocom a sua prpria natureza. Como arquiteto, restaurou o palcio papal emRoma para Nicolau V (1447-55), construiu o palcio Rucellai (1446) e afachada de Santa Maria Novella (1456) em Florena, e projetou as igrejas deSo Sebastio (1460) e Santo Andr (1470) em Mntua, e de So Franciscoem Rimini. Tambm escreveu De Pictura (1435), uma exposio terica daarte italiana, e De Re Aedificatoria (1452), obra que exerceu importanteinfluncia sobre a arquitetura renascentista. [Para uma informao maisdetalhada, ver o verbete sobre Alberti no Dicionrio do RenascimentoItaliano. Rio, Jorge Zahar Editor, 1988, pp. 19-20. NT] F. Borsi, Leon Battista Alberti: The Complete Work (1977)

    Alberto I de Habsburgo imperador germnico 1298-1308 (n. 1250)Primognito de Rodolfo 1. Em 1282 foi investido por seu pai no governo dosducados da ustria e da Estria. Rodolfo, porm, foi incapaz de garantir asucesso ao trono do Sacro Imprio para seu filho e, aps sua morte em1291, os prncipes escolheram Adolfo de Nassau para rei.Em 1298, Alberto derrotou Adolfo na Batalha de Gllheim e pde ento obtersua prpria eleio para a Coroa germnica. Durante seu reinado, Albertodesempenhou um papel ativo na poltica europia. Manteve sua posioexplorando habilmente a rivalidade entre Filipe IV da Frana e o papaBonifcio VIII, renovou as pretenses alems Turngia, interferiu com xitonuma disputa pelo trono hngaro e pde garantir a coroa da Bomia para seufilho Rodolfo. Sua derrota durante o ataque desencadeado contra a Turngiaem 1307, e a morte de seu filho no mesmo ano, enfraqueceram seriamente aposio de Alberto na Europa Oriental. Seu governo tambm foi ameaado

  • pela revolta dos arcebispos renanos e do conde palatino do Reno, que seindignaram muito com a abolio por Alberto de todos os tributos introduzidosno Reno desde 1250. Embora essa revolta fosse sufocada com a ajuda dascidades, a agitao prosseguiu com maior intensidade na Subia, e quandopartiu para resolver mais esse problema, Alberto foi assassinado por seusobrinho Joo em 1 de maio de 1308. F.R.H. du Boulay, Germany in the Late Middle Ages (1983)

    Alberto V (II) de Habsburgo imperador germnico 1438-39 (n. 1397) Titulardo ducado da ustria em 1404, Alberto governou ativamente o pas apenas apartir de 1411. Auxiliou Sigismundo, rei dos romanos e da Bomia e Hungria,contra os hussitas e, em retribuio foi-lhe concedida a mo de Isabel, filha eherdeira de Sigismundo, celebrando-se o casamento em 1422. Aps a mortede Sigismundo em 1437, Alberto sucedeu-lhe no trono da Hungria, mas,embora fosse tambm coroado rei da Bomia em 1438, no conseguiu obtero domnio dessa regio. Esse mesmo ano presenciou ainda a sua eleiocomo rei dos romanos (com o ttulo de Alberto II) pelos prncipes alemesreunidos em Frankfurt, uma honra que ele parece no ter ativamenteprocurado. Seu reinado, porm, foi efmero; em 1439 morreu em campanhano Langendorf, enquanto defendia os hngaros contra as investidas turcas.

    Alberto de Colnia (Alberto Magno), Santo (c. 1190-1280) Filsofomedieval. Natural da Subia, estudou em Pdua antes de ingressar na OrdemDominicana. Em 1245 foi para Paris, onde lecionou com grande xito durantemuitos anos. Foi a que se encontrou pela primeira vez com Toms de Aquino,sobre quem exerceria considervel influncia. Em 1254 foi nomeado Superiorda Ordem Dominicana na Alemanha, antes de ser eleito para o bispado deRegensburg em 1260; foi durante esse perodo que ele condenou as obras dofilsofo rabe Averris. Em 1262 retirou-se para Colnia, onde permaneceuat sua morte, se excetuarmos um breve perodo em 1270, quando foi ustria a fim de pregar a favor da Oitava Cruzada. Conhecido como doctoruniversalis, deu contribuies permanentes para a filosofia, a teologia e a

  • histria da cincia. Sua obra foi um dos principais instrumentos para atransmisso na Europa ocidental do saber aristotlico sobre o mundo natural. S.M Albert, Albert the Great (1948)

    albigenses Seita hertica baseada em crenas ctaras. Teve seu incio porvolta de 1144, perto da cidade de Albi, no sul da Frana, devendo seu xito aoapoio da nobreza e vida asctica levada pelos perfecti, a qual estava emcontraste flagrante com o mundanismo do clero local. A seita erasuficientemente poderosa para realizar em 1167 o seu prprio snodo emSaint-Flix-de-Caraman, nos arredores de Toulouse.

    No comeo, a Igreja tentou combater a propagao da refinada heresiactara pela persuaso. Foram inteis os esforos de So Bernardo, em 1147,para reconvert-los, e Inocncio III enviou pregadores ao Languedoc em 1198e 1203 mas sem obter o menor xito.

    Em 1208, o legado papal Pierre de Castelnau foi assassinado, o quelevou Inocncio III a desencadear a Cruzada contra os albigenses. Aestratgia papal consistiu em transferir a propriedade da terra das mos desimpatizantes ctaros para senhores ortodoxos, que ajudariam na repressoda heresia. Embora o conde Raimundo de Toulouse, o principal patrocinadorctaro, se retratasse rapidamente, os cruzados famintos de terras,comandados por Simon de Montfort, o Velho, no se detiveram e deram incioa massacres e incndios em massa, devastando Bziers e Carcassonne. Taisaes puseram fim s esperanas papais de que os ctaros abjurassem ocredo maniquesta e aceitassem de novo o catolicismo.

    A vitria decisiva dos cruzados em Muret (1213) eliminou o apoio danobreza aos ctaros, e em 1226 a regio j se encontrava sob o efetivocontrole da Coroa francesa, embora s depois do horrendo massacre emMontsgur (1244) a seita fosse substancialmente eliminada e forada clandestinidade. Indcios de ressurgimento espordico da heresia foramassinalados durante todo o perodo final da Idade Mdia, apesar dosinstrumentos repressivos da Inquisio. Ver ctaros; heresia

  • P. Belperron, La Croisade contre les Albigeois (1945); B. Hamilton,The Albigensian Crusade (1974); J. Sumption, The Albigensian Crusade(1978)

    Albono rei dos lombardos 565-c.72 Tendo sucedido ao trono lombardodurante a ocupao do territrio a oeste do Danbio conhecido como Pannia,Albono derrotou os gpidas em sua fronteira oriental, matou o rei Cunimundoe raptou e casou com Rosamunda, filha de Cunimundo. Em 568, invadiu aItlia a convite do general bizantino Narss, que entrara em conflito com oimperador Justino II. Partindo da Lombardia, conquistou o Piemonte e aToscana, assim como grande parte do Benevento e de Spoleto. Seu avano,porm, foi sustado em Pavia, que resistiu durante trs anos ao assdio dasforas de Albono. Por volta de 572, Albono foi assassinado, segundo parecepor instigao da esposa, a quem ele tinha insultado forando-a a beber emuma taa feita com o crnio de seu pai. T. Hodgkin, Italy and her Invaders, vol. 5 (1916); L. Schmidt, DieOstgermanen (1969)

    Albornoz, Gil (1310-67) Natural de Cuenca, na Espanha, educado emSaragoa e Toulouse, tornou-se arcediago de Calatrava e conselheiro deAfonso XI (1312-50), rei de Castela. Em 1337 foi nomeado arcebispo deToledo e em 1350 ascendeu ao cardinalato. Ativo contra os muulmanos,participou na batalha de Tarifa (1340) e na tomada de Algeciras (1344).Depois da morte de Afonso XI e sua sucesso por Pedro, o Cruel, Albornozdeixou a Espanha. Foi nomeado cardeal-legado na Itlia e muito contribuiupara restaurar a a autoridade papal. Em 1362, tinha preparado o caminhopara o regresso de Urbano V a Roma e faleceu enquanto o escoltava desdeAvignon para ali. Tambm conhecido por seu trabalho sobre a constituioda Igreja de Roma e pela fundao do Colgio de S. Clemente paraestudantes espanhis em Bolonha. E. Emerton, Humanism and Tyranny (1925)

  • Alcntara, Ordem de Um documento que quase certamente falso situa afundao da ordem em 1156, anterior, portanto, de Calatrava, mas a maisantiga prova idnea aponta para 1176 como a verdadeira data de fundao.Originalmente conhecida como Ordem de San Julian de Pereiro, obedecia Regra Cisterciense e era, em certa medida, dependente de Calatrava,embora estabelecesse gradualmente sua autonomia. Em 1494, os ReisCatlicos anexaram o Mestrado de Alcntara Coroa, no muito depois deterem feito o mesmo com o de Calatrava (1482) e por idnticas razes. J.F. OCallaghan, The Foundation of the Order of Alcantara, 1176-1218,The Catholic Historical Review, 47 (1962)

    Alcoro O livro sagrado muulmano. Compe-se de suras ou captulos,contendo cada uma das mensagens que os muulmanos crem ser revelaesde Al (Deus) transmitidas aos homens atravs do profeta Maom. Zayd ibnThabit, por ordem do primeiro califa, Abu Bakr, iniciou a tarefa de estabelecerum texto definitivo do Alcoro aps a morte de Maom (632), e completouessa obra em 651. Ver Isl W. Montgomery Watt, Bells Introduction to the Quran (1970) [AlcoroSagrado, trad. S.El Hayek, S. Paulo, Tangar, 1975; R. Blachre, O Alcoro,S. Paulo, Difel, 1969]

    Alcuno (735-804) Natural de Nortmbria, Alcuno tornou-se o bibliotecrio dacatedral de York, antes de viajar para a corte de Carlos Magno na Francniaem 782. Desempenhou a um papel proeminente na Renascena Carolngia efundou a escola do palcio em Aix-la-Chapelle, onde eram ensinadas as seteartes liberais de acordo com o sistema educacional de Cassiodoro. Seusprprios escritos incluram obras sobre retrica, lgica e dialtica, umareviso do sacramentrio gregoriano, uma edio do lecionrio ecolaboraes para os Libri Carolini, um tratado escrito por ordem de CarlosMagno contra os Icondulos, que tinham voltado a ocupar uma posioimportante em Bizncio em 787. Suas mais importantes contribuies eruditasso a sua reviso da Vulgata e suas volumosas cartas, as quais foram

  • coligidas no sculo IX para servir como modelo de composio latina.Tambm teve parte ativa na condenao do arcebispo Elipando de Toledo eda heresia adocionista. Fundou uma importante biblioteca e escola na abadiade So Martinho de Tours, onde foi abade nos ltimos anos de sua vida (790-804). E.S. Duckett, Alcuin, a Friend of Charlemagne (1956); L. Wallach, Alcuinand Charlemagne (1959); S. Allott, Alcuin of York. c. 732-804 (1974)

    Aldhelm, Santo (639-709) Parente do rei Ine de Wessex, foi educado emMalmesbury e, mais tarde, estudou em Canterbury sob a orientao de SantoAdriano. Tornou-se diretor da escola de Malmesbury e em 675 era nomeadoseu abade. Aps a diviso do Wessex em duas dioceses, Aldhelm foinomeado para o bispado mais ocidental, que tinha sua s em Sherborne.Grande construtor, edificou a catedral de Sherborne e igrejas em Frome,Bradford-on-Avon, Corfe, Langton, Maltravers e Wareham. Suas obras maisinfluentes foram uma carta para o rei britnico Geraint sobre a fixao da datada Pscoa, e um tratado sobre a virgindade dedicado s monjas de Barking, oqual continuou sendo copiado durante todo o perodo anglo-saxnico. Seuestilo latino era elaborado, devendo algo s influncias clticas, mas tambmse harmonizava consideravelmente com o latim continental do seu tempo ecom o ensino da Escola de Canterbury; faltava-lhe a incomum simplicidade efranqueza de seu contemporneo Beda. Sabe-se que seus versos religiososem anglo-saxo (os quais no sobreviveram) contriburam muito para apropagao do Cristianismo em todo o Wessex. Seu corpo foi sepultado emMalmesbury. M. Winterbottom, Aldhelms Prose-Style and its Origin, Anglo-SaxonEngland, 6 (1977); Aldhelm, the Prose Works, trad. de M. Lapidge e M.Herren (1979)

    Aleixo I Comneno imperador do Oriente 1081-1118 (n. 1048) Terceiro filhode Joo Comneno e sobrinho de Isaac I (imperador 1057-59), Aleixoarrebatou o trono a Nicforo III Botaneiates em 1081. Restaurou o debilitado

  • poderio militar de Bizncio rechaando os normandos para a Grcia ocidentalem 1081 e derrotando os pechenegues dez anos depois. Tambm logrousustar novas incurses dos seljcidas na Anatlia. Suas faanhas foramprejudicadas por sua relutncia em limitar o poder dos magnatas em Bizncioe pela Primeira Cruzada, a qual perturbou o acordo de Aleixo com osmuulmanos e levou perda de muitos antigos territrios gregos, quepassaram a mos ocidentais. The Alexiad of Anna Comnena, trad. de E.R.A. Sewter (1969)

    Alemanha A histria da Alemanha na Idade Mdia est intimamente ligada histria da Itlia e idia de imprio (Sacro Imprio Romano). Somente nosculo IX, com a desintegrao do Imprio Carolngio, que adquiriu forma aidia de Alemanha como unidade poltica distinta. Pelo Tratado de Verdun(843), Lus, o Germnico, neto de Carlos Magno, recebeu as terras francasorientais, essencialmente os territrios dos saxes, subios, bvaros efrancos a leste do Reno. As fronteiras estavam longe de ser estveis e imprudente falar-se de um reino da Alemanha na plena acepo da palavra,antes que a dinastia Otoniana tenha imposto sua vontade aos diversosducados no sculo X, baseando sua fora nas antigas regiesgeograficamente centrais e de importncia poltica e estratgica crucial daLorena Carolngia, em combinao com os ducados da Francnia e daSaxnia.

    A criao de um reino alemo, o I Reich, coincidiu com umressurgimento de ambies imperiais, e Oto, o Grande, foi coroado imperadorem Roma, em 962. A autoridade real na Alemanha provinha de quatro fontesprincipais: poderio militar, rigoroso controle da Igreja, insistncia no direito denomeao de cargos ducais, e os atributos mais amplos que decorriam doenvolvimento na Itlia e do ttulo imperial, um eco consciente do passadocarolngio. Oto I pretendia ser o verdadeiro herdeiro de Carlos Magno,embora o alcance de seu governo efetivo estivesse limitado Alemanha e aoReino Central (Lorena, Borgonha e Lombardia). A estabilizao da fronteira

  • oriental depois da grande vitria sobre os hngaros na batalha s margens dorio Lech (955) e o estabelecimento de uma impressionante faixa de territriosfronteirios forneceram um trampolim para a expanso posterior e criaramcondies para que florescesse a vida institucional.

    Mesmo assim, algumas fraquezas fundamentais subsistiram naconstituio alem; a monarquia chegara relativamente tarde cena e aindependncia da nobreza ganhara razes profundas. As crises em torno daQuesto das Investiduras, no reinado de Henrique IV (1056-1106), deramensejo ao surgimento de foras desintegradoras. Foram eleitos anti-reis,mormente Rodolfo da Subia, em Forchheim (maro de 1077), e a nobrezaalem habituou-se a agir coletivamente contra o monarca, acabando porforar Henrique V a entrar em acordo com a Igreja (1122). As guerras civisenfraqueceram a monarquia num momento crtico de expanso e colonizao,quando muita riqueza nova estava sendo gerada sobretudo em benefcio danobreza. Princpios eletivos eram lugar-comum no mundo medieval e nonecessariamente prejudiciais monarquia, mas, no comeo do sculo XII,eram afirmados em condies que encorajaram a instabilidade dinstica.

    Os xitos da famlia Hohenstaufen, com sua fora baseada na Subia(1138-1254) e, em especial, a eleio de Frederico Barba-Ruiva, em 1152,geraram uma revitalizao, embora as tentativas de reafirmao daautoridade real fossem dificultadas pela independncia recm-estabelecidados pequenos principados. O uso inteligente de vnculos feudais foi a chavepara a poltica de Frederico. Deu a seu primo, o guelfo Henrique, o Leo,mos livres no interior da Alemanha, como duque da Saxnia e da Baviera,durante mais de 20 anos, e foi sob seu patrocnio que um impulso foi dado aoprocesso de colonizao alem a leste, ao longo do Bltico. Quando Henriqueprovou, finalmente, ser desleal, contribuindo para a derrota de Barba-Ruivaem Legnano (1176) ao no lhe enviar os reforos pedidos, foi medianteprocesso feudal que o rei o levou justia e declarou confiscadas a maiorparte de suas terras e riquezas.

    O acordo celebrado aps a queda de Henrique em Gelnhausen (1179-

  • 80) representa uma tentativa de legalizao de uma monarquia feudal, que noentanto viria a fracassar. Aos Hohenstaufen faltava a forte base territorial queera essencial ao xito de tal projeto, e a disputada sucesso (1197-1212)debilitou o principado Hohenstaufen, penosamente construdo como um ncleode poder real. Mesmo assim, apesar de toda a sua preocupao com a Itliae, em especial, a Siclia, Frederico II (1212-50) estava muito longe de serinsignificante na Alemanha. Seus privilgios a favor da Igreja e dos prncipesno eram, em si mesmos, sintomas de fraqueza; mas, no final de seu reinado,era dolorosamente bvio que das duas poderosas foras constitucionaisenvolvidas no acordo de 1180 o rei e os grandes prncipes o futuroestava com os prncipes. A rejeio dos Hohenstaufen e o longo Interregno(1254-73) agravaram o processo. Em 1273 era eleito Rodolfo de Habsburgo eno restante da Idade Mdia o poder poltico, a nvel real, permaneceu comduas dinastias que retiraram sua autoridade de terras predominantementeno-alems: os Habsburgos, com sua lenta consolidao sobre o DanbioMdio desde sua base austraca, e a casa de Luxemburgo, que construiu umaimpressionante base de poder na Bomia.

    Sob o mais forte dos reis da segunda casa acima mencionada, Carlos IV(1346-78), uma constituio salvaguardando os processos de eleio para amonarquia foi consubstanciada no Edito de Ouro (1356). Sete eleitores,recrutados entre os grandes prncipes, assumiriam a responsabilidade pelaeleio dos reis-imperadores. Os prprios prncipes alemes tornaram-secada vez mais independentes, muitos deles virtuais soberanos em seusprprios territrios. Um crescente elemento urbano e mercantil encontrou umsubstitutivo para a autoridade e a proteo reais na criao de ligas decidades, como a Liga Hansetica e as ligas das cidades do sul da Alemanha.A realeza ainda servia como ocasional referncia para as lealdades alems,mas o centro do interesse constitucional transferiu-se nos sculos XIV e XVpara os principados e para as cidades. Na fronteira oriental, as faanhas dosCavaleiros Teutnicos e as presses constantes da colonizao e da iniciativamercantil antecipavam a fora poltica e o poderio militar de regies como o

  • Brandenburgo e a Prssia. Ver baviera; Hohenzollern, dinastia; gibelinos;Rupert de Wittelsbach HRL J. Fleckenstein, Early Medieval Germany (1978); K. Leyser, MedievalGermany and its Neighbours (1982); F.R.H. du Boulay, Germany in the LaterMiddle Ages (1983); H. Fuhrmann, Germany in the High Middle Ages (1986)

    Alexandre III papa 1159-81 (n. Orlando Bandinelli em Siena, 1105) Professorde direito em Bolonha e depois cardeal, antes de ser eleito papa em 1159.Como jurista especializado em direito Cannico, resolveu numerosos litgiossobre disciplina e prtica eclesisticas, os quais culminaram na realizao doTerceiro Conclio de Latro (1179). Durante boa parte do seu pontificado,Alexandre teve a oposio do imperador germnico Frederico Barba-Ruiva,que se recusava a sancionar sua eleio como papa e apoiava a candidaturarival do cardeal Otaviano como papa Vtor IV. Alexandre viu-se forado a fugirpara a Frana por duas vezes, em 1162 e 1166; mas, depois da derrota doimperador pela Liga Lombarda em 1176 na batalha de Legnano, ele pdeforar Frederico a aceitar a paz em Veneza, em 1177. Alexandre tambm deualgum apoio a Toms Becket e cooperou na tentativa de reconciliao entreBecket e o rei ingls Henrique II. M. Pacaut, Alexandre III (1956); Bosos Life of Alexander III, org. por P.Murray (1973)

    Alexandre IV papa 1254-61 (n. Rinaldo di Segni em Anagni, 1199) Nomeadocardeal-dicono por seu tio Gregrio IX em 1227, e cardeal-bispo de stiaem 1231, antes de se tor