dialnet-leibnizeaquestaodasubjetividade-3834272

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Problemata: R. Intern. Fil. Vol. 02. No. 02. (2011), pp. 228-239 ISSN 1516-9219. Data de recepção do artigo: agosto/2011 Data de aprovação e versão final: set./2011 LEIBNIZ E A QUESTÃO DA SUBJETIVIDADE Cristiano Bonneau * Resumo: A fundamentação do universo monadológico acarreta conseqüências importantes para a reflexão sobre uma teoria da subjetividade à partir da filosofia de Leibniz. Ao descrever a mônada, o filósofo alemão esclarece seus atributos e salvaguarda duas noções fundamentais: autonomia e perspectiva. Esta comunicação trata de expor na filosofia de Leibniz os pressupostos que garantem uma noção de indivíduo, alicerçado em um princípio de identidade e representante pleno do mundo à partir de si( speculum vitale). Desta forma, a polêmica Renaut-Heidegger é o ponto de partida para pensarmos em um plano da subjetividade em Leibniz. Palavras-chaves: Leibniz, Heidegger, Renaut, subjetividade, speculum vitale Abstract: The reasoning of the monadic universe carries important consequences for think about a theory of subjectivity in the philosophy of Leibniz. In describing the monad, the German philosopher explains its attributes and safeguards two fundamental concepts: autonomy and perspective. This article is to explain the philosophy of Leibniz assumptions guaranteeing a notion of the individual, based on the principle of identity and fully representative of the world from itself (speculum vitale). Thus, the controversy Renaut-Heidegger is the starting point to think of a plan of subjectivity in Leibniz. Keywords: Leibniz, Heidegger, Renaut, subjectivity, speculum vitale LEIBNIZ ON SUBJECTIVITY * Professor de filosofia na UFPB. Doutorando em Filosofia pela USP. m@il: [email protected]

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Problemata. R. Intern. Fil. Jol. 02. No. 02. (2011), pp. 228-239ISSN 1516-9219.Data de recepo do artigo. agosto/2011Data de aprovao e verso final. set./2011LEIBNIZ E AQUESTO DASUBJETIVIDADECristiano Bonneau *Uhvxpr. A fundamentao do universo monadolgicoacarreta conseqncias importantes para a reflexo sobre umateoria da subfetividade partir da filosofia de Leibni:. Aodescrever a mnada, o filsofo alemo esclarece seus atributose salvaguarda duas noes fundamentais. autonomia eperspectiva. Esta comunicao trata de expor na filosofia deLeibni: os pressupostos que garantem uma noo de indivduo,alicerado em um princpio de identidade e representantepleno do mundo partir de si( speculum vitale). Desta forma,a polmica Renaut-Heidegger o ponto de partida parapensarmos em um plano da subfetividade em Leibni:.Sdodyudv0fkdyhv. Leibni:, Heidegger, Renaut, subfetividade,speculum vitaleDevwudfw. The reasoning of the monadic universe carriesimportant consequences for think about a theorv of subfectivitvin the philosophv of Leibni:. In describing the monad, theGerman philosopher explains its attributes and safeguards twofundamental concepts. autonomv and perspective. This articleis to explain the philosophv of Leibni: assumptionsguaranteeing a notion of the individual, based on the principleof identitv and fullv representative of the world from itself(speculum vitale). Thus, the controversv Renaut-Heidegger isthe starting point to think of a plan of subfectivitv in Leibni:.Nh|zrugv. Leibni:, Heidegger, Renaut, subfectivitv, speculumvitaleLEIBNIZ ON SUBJECTIVITY* Professor de filosofia na UFPB. Doutorando em Filosofia pela USP. mil.crbonneauig.com.brLeibni: e a questo da verdade 229Problemata - Rev. Int. de Filosofia. Jol. 02. No. 01. (2011). pp. 228-239ISSN 1516-9219Este texto trata do problema da subjetividade em Leibnizsobre o horizonte de leitura de dois pensadores: Heidegger eRenaut. A discusso proposta pelo IilsoIo Irancs traz tona aIora da interpretao heideggeriana acerca da Monadologia deLeibniz, sendo que para esta, a mnada seria a concretizaoeIetiva do cogito cartesiano, e o alicerce deIinitivo do sujeitomoderno.Trata-se numprimeiromomentode pontuar asquestes colocadas por Heidegger e Renaut, relativas concepoleibniziana de substncia.Tal esclarecimentoimportante tendo em vista a interpretao da noo de sujeitoemLeibniz. Numsegundo momento, investiga-se algunselementos que embasem a descrio da idia de sujeito, bemcomo, desenvolve-se partir de Leibniz alguns argumentos emque esta noo possa ser pensada. Nesta perspectiva, o conceitode speculum vitale, para Iundamentar na idia de perspectivauma concepo de indivduo.A mnada conIigura-se como o arranque terico a partirdo qual essas noes so hauridas, e pela qual uma leitura domundo, tendo em vista o legado leibniziano, possvel. Elarepresenta, nesta construo terica, um modelo exemplar parapensar o indivduo, seus acidentes e atributos, e a partir destasrelaes, uma viso de mundo como inIinito, espraiado em suasincontveis partes e assegurado pelas relaes entre elas, vistoque, cada indivduo a prpria oportunidade de Iazer com que ooutro se esclarea e maniIeste seus predicados.Heidegger, emsua leitura acerca da IilosoIia e dametaIsica no ocidente escreve que:'O comeo pleno da histria de ser sob a Iigura dametaIsica moderna acontece l onde a consumaoessencial do ser determinado como realidade eIetiva notenha sido, em verdade, levada a termo, mas onde adecisibilidade dessa consumao j tenha sidoexpreaelateopreposDeirredetcomemorigentemMototapararraidRenpertomrepappCristiano Bonneau 230Problemata - Rev. Int. de Filosofia. Jol. 02. No. 01. (2011). pp. 228-239ISSN 1516-9219Leibnizidegger ez tona aia decretizaodo sujeitontuar aslativas imentode sujeitoe algunseito, bementos emconceitoerspectivao a partirleitura dovel. Elaplar parartir destaso em suaslas, vistoom que oIia e daIigura dansumaoIetiva nos onde aha sidocompletamente preparada e, assim, onde o Iundamentoda histria da consumao j tinha sido estabelecido. Aassuno dessa preparao da consumao dametaIsica moderna e, e com isso o domnio integraldessa histria da consumao a determinaohistrico-ontolgica daquele pensamento que Leibnizrealizou.1Na perspectiva de Heidegger, duas vias, entre outras, soexpressas na descrio da maniIestao do ser, no caso, em umarealidade eIetiva. Primeiramente o ser aparece emumaelaborao ontolgica que o determina como puramenteteortico. O ser uma possibilidade, descrita ainda sem umapreocupao pela sua prpria constituio. Ento, passa de umapossibilidade terica para um momento histrico e eIetivo.Deixa suas marcas impregnadas na cultura de modoirremedivel. A ontologia leibniziana, aparece com sua Iora, edetermina os rumos para se pensar osujeito. Este, quecompreende, pensa e sente, o Iaz enquanto modo de si mesmo,em um movimento de auto-determinao, ao mesmo tempooriginal e limitada.A cultura toma sua Iorma pela concepo do sujeito eentende o mundo em seu movimento partir desta tica eembasado nesta lgica. O individuo teria, a partir daMonadologia, se sobreposto enquanto parte, na relao com atotalidade.O que teramos eIetivamente dar-se-ia enquantopartculas que compem as possibilidades do mundo, e que searranjam a partir de sua essncia atribuda, garantindo assim, aidia de que o indivduo leibniziano um ente ontolgico.Renaut desenvolve a leitura de Heidegger sobre Leibniz naperspectiva da constituio do sujeito:'(...)segundo Heidegger, caber a Leibniz radicalizar estatomada da subjetividade como actividade, ao Iazer darepresentao (perceptio) uma das duas modalidades, como oappetitus, daquilo que deIine essencialmente a Mnada, a saber,Leibni: e a questo da verdade 231Problemata - Rev. Int. de Filosofia. Jol. 02. No. 01. (2011). pp. 228-239ISSN 1516-9219a Iora (vis).Deste modo realada a maneira como arepresentao, na sua acepo moderna, tem como Iundo umdesenvolvimento de actividade: atravs desta explicaoleibniziana da essncia da representao, coloca-severdadeiramente no lugara subjectividade como instnciaintrinsecamente ativa que deIine o projecto de uma submissoabsoluta do real ao seu empreendimento de domnio e de posse.2A apetio aparece na mnada, como aquela capacidadede atualizar outra capacidade (a percepo) e adequar omovimento do objeto apreenso deste movimento. So duasatividades que atuam em conjunto e de Iorma instantneatornando a mnada capaz de sempre atualizar o movimento.Uma terceira atividade, e propriamente humana, segundoLeibniz,est na tomada de conscincia das atividades depercepo e apetio. A apercepo ocorre pelo Iato da mnadaperceber que percebe o que aparentemente est Iora dela e aconcretizao do devir. Esta uma caracterstica das mnadasque no so nuas e dotadas de almas. A movimentao internada mnada representada pela sua percepo,apercepo eapetites revela uma determinada articulao independente eautrquica destas entidades para gerarem no Iinal desse processoa representao. A vis activa corresponde ao processo no qual oente detm para si as condies de determinao. Heideggeresclarece que:A vis activa , por conseguinte, um certo agir, mas noa ao na realizao propriamente dita;ela umacapacidade,masno uma capacidade em repouso.Designamos o que Leibniz aqui visa tender para ...melhor ainda, para poder exprimir o especIico, de certamaneira j eIetivado,momento de agir,o impelir,pulso.3Heidegger interpreta a mnada como pulso. Uma IorainteentcapbuspernopuldasntiIortrancomdiIeIunpot, numo papoconespsubcer(auasscarexidessiocasuaCristiano Bonneau 232Problemata - Rev. Int. de Filosofia. Jol. 02. No. 01. (2011). pp. 228-239ISSN 1516-9219como aIundo umxplicaocoloca-seinstnciaubmissode posse.2apacidadedequar oSo duasstantneaovimento.segundodades dea mnadadela e amnadaso internacepo endente eprocessono qual oeidegger, mas noa umarepouso.r para ..., de certaimpelir,ma Iorainterna capaz de promover o movimento a partir de si mesmo. Oente, nesta perspectiva, guarda em seu cerne todas as suascapacidadese possibilidadesde promoversuasatividades,buscando segundo Leibniz,orientar-se de acordo com suaperIeio.Na anlise da Monadologia Heidegger desenvolve anoo do Iechamento e da independncia da mnada enquantopulso.Do que dissemos conclui-se que as mudanas naturaisdas Mnadas procedem de um princpio interno, pois em seuntimo no poder inIluir causa alguma externa.4 A idia deIora, tendo a mnada como seu stio surge enquanto o relato datransio Iundamental da substncia que, ulteriormente, apareciacomo potentia activa e agora Iundamenta-se como vis activa. AdiIerena entre estas duas concepes aponta para a prpriaIundamentao leibniziana da Mnada- esta no o ser empotncia, mas corresponde na nica possibilidade do ser. O ser, na substancialidade de sua substncia possibilidade. No hum encerramento como a possibilidade de ser, mas, antes, comoo prprio ser da possibilidade. As conseqncias desta mudanaapontampara a capacidade da Mnada leibniziana emconIormar-se como um autmato, no apenas material, masespiritual. 'Poder-se-iamdenominar entelquias todas assubstncias simples ou Mnadas criadas, pois contm em si umacerta perIeio (khousi t entels), e tm uma suIicincia(autrqueia) a torn-las Iontes de suas aes internas e, porassim dizer, Autmatos incorpreos.A este movimentointernodoser que garante suascaractersticas Iundamentais, o assegurando ontologicamente eexistencialmente, Heidegger aponta como pulso. A deIiniodesta noo enquanto Iora ergue-se naquilo 'que leva a ao simesmo,a partirde simesmo e isto,na verdade,noocasionalmente, mas por natureza.5 O Iechamento da Mnada esua essncia em um puro possvel revelam uma abertura no ser,Leibni: e a questo da verdade 233Problemata - Rev. Int. de Filosofia. Jol. 02. No. 01. (2011). pp. 228-239ISSN 1516-9219no para o mundo, mas para ele mesmo. Da podemos inIerir,que, estando a Mnada no mundo, quando ela aIirma a simesma, no mesmo instante aIirma a prpria totalidade, ou seja,o mundo.Ela se torna a nica condio de possibilidade, mesmo emseu hermetismo Iundamental, do mundo se abrir. Eis opressuposto da subjetividade emLeibniz.AreIlexo deHeidegger parte para a questo sobre o Iundamento da Mnadaenquanto essncia mesma do ente e da substncia que o compe.Esta questo lana-se em torno do elemento uniIicador dasubstncia, capaz de manter sua capacidade existencial de Iazer-se parte da totalidade, e compor as essncias individuais dosentes.Renaut escreve que 'a mnada dever ento ser concebidasegundo o modelo do sujeito, como produzindo a totalidade desuas mudanas sem deixar de se manter idntica a si mesma.6Sua anlise sobre Heidegger, porm trata-se de uma crtica aoselementos apontados pela leitura deste sobre Leibniz. DestaIorma distingue-se: a Mnada constitui-se na primeirahomogeinizao da noo de sujeito. Esta perspectiva aceitapor Heidegger que perIaz uma homogeinizao da Histria dosujeito. O subfectum, este sujeito, o Iundamento de toda equalquer realidade. O lugar de Deus passa a ser o lugar dohomem;a oniscincia divina transIere-se para as redes desentido da cincia; e a onipotncia corresponde asupervalorizao da tcnica. Esta ltima detm em si todos osprocedimento capazes de interIerir na natureza. A IilosoIiaaparece como aquela que determina em sua proIundidade, ocurso mais ntimo da histria. E em Leibniz, comprova-se maisuma vez a Iora desta tese. Heidegger esclarece que, 'Descartese Leibniz providenciam o essencialda primeira IundaometaIsica da histria moderna7. Da Renaut comenta que 'aexplicao leibniziana daquilo que despontara em Descartes trazverdadeiramente luz a subjetividade como IundamentoessquecomobesernosobexilhedeHepermparsuase tdasaspequNie'poposaprunidinemgamviscarregultrCristiano Bonneau 234Problemata - Rev. Int. de Filosofia. Jol. 02. No. 01. (2011). pp. 228-239ISSN 1516-9219os inIerir,irma a si, ou seja,esmo emr. Eis olexo dea Mnadacompe.icador dal de Iazer-duais dosconcebidalidade demesma.6rtica aosiz. Destaprimeiraa aceitaistria dode toda elugar doredes deponde atodos osIilosoIiadidade, oa-se maisDescartesIundaota que 'aartes trazndamentoessencial da modernidade.8A reduo do real ao racional, constituindo o smbolo deque o real racional e o racional real, aparece em Leibnizcomo a reduo deste noo de possvel. Toda possibilidadeobedece aos princpios de contradio e de razo suIiciente. Oser ao existir, atinge este patamar por realizar o projeto lgico danoo sujeito-predicado. Alguma coisa que exista preIervelsobre algo que no exista. Assim, a essncia em si exige seuexistir, pois detm em sua plenitude todas as caractersticas quelhe garantam como algo, ao invs de nada. Tambm, o princpiode harmonia preestabelecida, estabelece em Leibniz, segundoHeidegger, o horizonte de sistema. A ordem da razo prevalece,permitindo o existir e abarca a perspectiva da totalidade. Asmnadas constituem a substncia que constri a realidade. apartir delas, naquilo que internamente as constitui e garantemsua identidade, que as diIerenas se maniIestam e o prprio realse torna possvel.E Iinalmente, enquanto distintas ontologicamente, umasdas outras, na noo de que cada uma s pode vislumbrar umaspecto da paisagem geral de uma cidade, permanecemos naequivalncia e no prolongamento do perspectivismo deNietzsche, na descrio de Leibniz em torno de sua idia de'pontos de vista. Para tanto, investiguemos em Leibniz aspossibilidades da leitura heideggeriana e como o individuo seaproIunda sob a tutela do sujeito.Quando se aIirma que 'a mnada leibniziana no umaunidade aritmtica, puramente numrica: uma unidadedinmica9, pode-se haurir a idia de uma partcula que exprimeem si, todas as possibilidades de um Universal, detentor de umagama inIinita de possibilidades. Observar a Mnada vislumbrar uma possibilidade de ser do Cosmos. Portanto, seucarter dinmico o que se apresenta como uma inIinidade deregies onde os seres atuam, exprimindo perspectivamente aultra-generalidade do Universo e todas as suas possibilidadesLeibni: e a questo da verdade 235Problemata - Rev. Int. de Filosofia. Jol. 02. No. 01. (2011). pp. 228-239ISSN 1516-9219epistemolgicas, ontolgicas, metaIsicas, Isicas e matemticas.O dinamismo da Mnada o seu desdobramento inIinito naspossibilidades do mundo; condio ontolgica que elabora apartir de si, todo o movimento universal e anima os mundospossveis. O dinamismo da Mnada tem seu Iluxo e reIluxosubmetido ao princpio de razo suIiciente, o qual estabelece oslimites a partir das causas eIicientes e das causas Iinais, ondenenhum evento do mundo pode ento 'sertomado comoverdadeiro ou existente, nem algum enunciado ser consideradoverdico, sem que haja uma razo suIiciente para ser assim e node outro modo, embora Ireqentemente tais razes no possamse conhecidas por ns.10A idia de Speculum Vitale ou Espelho Vivo do universocorresponde ao raciocnio de que a partir de uma Mnada possvel haurir uma noo do que seja o Cosmos em suatotalidade, pois esta uma representante deste montante emtodas as suas perspectivas. Cada Mnada, a partir de suaspossibilidades, reIlete sua maneira, aquilo que o mundo .Portanto, cada ente uma legtima representao do todo; oponto de vista da Mnada no a totalidade em si, mas apenasuma perspectiva acerca desta. Parcial, porm, nica Iorma demaniIestao nesta composio holstica do Universo.'Assim, embora cada Mnada criada represente todo ouniverso, representa mais distintamente o corpo que lheest mais particularmente aIeto, e de que constitui aEntelquia o que se pode chamar um vivent, e com aalma, o que se denomina um animal. Ora esse corpo devivente ou de animal sempre orgnico, pois, sendocada Mnada, a seumodo, umespelhovivodouniverso, e estando este, por sua vez, regulado numaordem perIeita, tem tambm de haver uma ordem norepresentante, isto , nas percepes da alma e, porconseguinte, no corpo, segundo o qual o universo estrepresentado nela.11A idia de vida em Leibniz reIlete no somente aexiatriEstdedesergarqueesptotamaproconsurmaexitotacosEstmoposimpuniqueponCristiano Bonneau 236Problemata - Rev. Int. de Filosofia. Jol. 02. No. 01. (2011). pp. 228-239ISSN 1516-9219temticas.Iinito naselabora as mundose reIluxobelece osais, ondedo comonsideradosim e noo possamuniversonada em suatante emde suasmundo .o todo; oas apenasIorma dete todo oo que lheonstitui a, e com acorpo deis, sendovivododo numaordem noa e, porerso estomente aexistncia das Mnadas em sua substancialidade e sua essnciaatribuda, mas coloca todo o palco do Universo em movimento.Esta animao responsvel pela liberao das possibilidadesde ser de cada Mnada, atualizando as essncias e imprimindode Iorma constante as perspectivas instauradas em cada um dosseres. A perspectiva o momento aIirmativo da identidade,garantia dialtica do entrelaamento do todo e da parte. Mais doque aIirmar o todo, conIirma-se a especiIicidade, aespecialidade e a originariedade da partcula que reIlete atotalidade. Esta totalidade aparece distintamente emcadamaniIestao sua. A diIerena entre as partes envolvidas noprocesso revelama dimenso da multido de entes queconstituem a vida, que se arranjam nas Iormas maissurpreendentes, demarcam seu espao na existncia possvel emarcam sua identidade na ordem do inIinito. A vida torna aexistncia ativa, Iaz insurgir os pontos de vista e aIirma atotalidade do Universo. A Iecundidade desta totalidadecosmolgica so os pontos de vista que sobre ele so impressos.Esta impresso resulta da prpria constituio deste mundo e domodo de ser da estrutura da Mnada.'E, assim, como a mesma cidade parece outra e semultiplica perspectivamente sendo observada dediversos lados, o mesmo sucede quando, pela inIinitaquantidade de substncias simples, parece haver outrostantos universos diIerentes, que, no entanto, so apenasas perspectivas de um s, segundo os diIerentes pontosde vista de cada Mnada.12Se cada Mnada leva como marca de si a sua prpriapossibilidade de ser, neste possvel est guardada tambm, a suaimpresso peculiar acerca das coisas do Mundo. No h nouniverso monadolgico dois pontos de vista idnticos13, dadoque,imaginando a possibilidade de reunio de todos estespontos,dentro de uma Iigura geomtrica qualquer e aindaLeibni: e a questo da verdade 237Problemata - Rev. Int. de Filosofia. Jol. 02. No. 01. (2011). pp. 228-239ISSN 1516-9219Iechada; esta, se vazia, se encheria caso conseguisse concretizaro Iato de agrupamento de todos os pontos disponveis eexistentes em sua totalidade. Ainda que, cada ponto deste sejacompreendido na reunio de outrospontos,reIletindo aIecundidade de possveis inseridos neste Universo.Isolada a partir de si, no destino de uma entidade 'semjanelas, o que a torna comum para com as outras Mnadas asua insero neste Universo, que se Iixa desta maneira'monadolgica, justamente por ser expressamente construdo apartir destas entidades. ReIletir o universo partir de si mesma um ato comum da determinao da Mnada, Iazendo dela umser constitudo em si de totalidade, pois imerso nesta amplitude,conhece-a ou a reIlete, a partir de suas peculiaridades.Peculiaridades advindas de um processo interno de construoda particularidade,expressando as possibilidades deste ser.Possibilidades estas, que Iazem da Mnada um ente genunocom relao a qualquer outra Mnada; um ponto e vista doUniverso, na medida em que expresso deste e o reIlete apartir de sua essncia. No entendimento desta leitura, estamosdiante da noo de indivduo.'(...)que cada espelho vivo, que representa o Universosegundo seu ponto de vista, isto , cada Mnada, cadacentro substancialdeve ter suas percepes e seusapetites no grau melhor que compatvel com todo oresto.14A partir de Leibniz, o espelho vivo do Universo se tornamais contundente e sua atuao e implicao com a totalidadedas relaes em que este est inserido transparece de maneiraIundamental. No h como deslocar uma Mnada para Iora doUniverso, muitomenos descolar oUniversoda Mnada.Enquanto espelho vivo,atuante e detentora de sua prpriapulso, a Mnada est imersa no Universo como representantelegitimo deste; as possibilidades dos seres aIloramnesteconstante e intenso ciclo de reIlexes do Cosmos. Cada qual,ideniinvdodestodenqrepconrelacomIunIuncomuniaoatuunidemumReIWICACristiano Bonneau 238Problemata - Rev. Int. de Filosofia. Jol. 02. No. 01. (2011). pp. 228-239ISSN 1516-9219oncretizaronveis edeste sejaletindo aade 'semnadas amaneiranstrudo ai mesma dela ummplitude,iaridades.onstruodeste ser.genunovista doreIlete a, estamosUniversoada, cadas e seusm todo ose tornatotalidadee maneirara Iora doMnada.a prpriaresentanteamnesteada qual,identiIica-se como uma representao deste, uma perspectivanica dentre todas possveis graas a sua estruturao interna,inviolvel, hermtica e nica.A representao que a possibilidade de ser da Mnada Iazdo Mundo pode ser encarada como a sua prpria Iorma de serdesta enquanto uma estrutura de Iundamentao da realidade etodos os seus desdobramentos. nisto que consiste a Mnadaenquanto Repraesentatio Mundi, uma estrutura interna capaz derepresentar a mundanidade e a totalidade em toda a sua riquezacontida na Iora do predicado vislumbrado como possibilidade.AMnada entendida como estrutura, capaz de serelacionar de Iorma dialtica com as outras Mnadas e o Mundocomo um todo, no entendimento de Hols, aquela entidadeIundamental que, entre outras, 'nos revela assim o sentidoIundamental de sua interpretao do mundo, que s se deixacompreender gradualmente, para concentrar-se Iinalmente naunidade15. Unidade que garante a identidade em consideraoao ser genuno de cada Mnada; o ponto enquanto demarcaoatuante do ser; a vista como a concretizao da impresso douniversal a partir de si mesma; e Iinalmente a perspectiva que,demarcada a partir destes Iatores, compem e so decisivos parauma tomada de posio acerca daquilo que seja o Universo.ReIernciasWILHELM LEIBNIZ,GottIried. A Monadologia.Os Pensadores XIX.Traduo de Marilena de Souza Chau Berlinck; Luiz Joo Barana.Editora Abril Cultural,1a edio, 1974. pp 63-402..A Monadologia e outros textos. Organizao e Traduo de FernandoLuiz Barreto Gallas e Souza. Editora Hedra: So Paulo, 2009..Princpios da Nature:a e da Graa. Traduo de Antonio BorgesCoelho.Lisboa,Livros Novo Horizonte.Portugal.Editorial GlebaLtda.CASSIRER, Ernst.A filosofia do Iluminismo, Traduo de Alvaro Cabral,Editora da Unicamp, Campinas, 1994.Leibni: e a questo da verdade 239Problemata - Rev. Int. de Filosofia. Jol. 02. No. 01. (2011). pp. 228-239ISSN 1516-9219BLANC, MaIalda de Faria. A essncia da fora. Leibni: e Heidegger.COLOQUIO INTERNACIONAL DE DESCARTES E LEIBINIZ.Lisboa, Edies Colibri, 1998. pp.525-533.HEIDEGGER, Martin. A Determinao do Ser do Ente segundo Leibni:.Traduo de Ernildo Stein.- So Paulo: AbrilCultural,1979.OsPensadores, pp 215-229.. Sobre a Essncia do Fundamento. Traduo de Ernildo Stein.- SoPaulo: Abril Cultural,1979. Os Pensadores, pp 83-125.. Niet:sche. Traduo de Marco Antonio Casanova. Rio de Janeiro:Forense Universitria, 2007. Vol. II.HEINZ HOLZ, Hans. Leibni:. Madrid: Editora Tecnos, 1970.Traduo deAndres-Pedro Sanchez Pascual .pp.241.RENAUT, Alain.O indivduo. reflexo acerca da filosofia do sufeito.Traduo de Elena Gaidano. Rio de Janiro: DIFEL, 1998.. A era do indivduocontributo para uma histria da subfetividade.Traduo de Maria Joo Batalha Reis, Instituto Piaget, 1989.Notas1 Heidegger, 2007, p.3352 Renaut, 1989, p. 32.3 Heidegger, 1979.p.218.4 Leibniz, Monadologia, .11.5 Idem, . 186 Renaut, 1989, p. 477 Heidegger, 2009, p.1058 Renaut, 1989, p. 459 Cassirer,1997.p.92.10 Leibniz, ,Monadologia. 3211 Leibniz, Monadologia, 62.12 Leibniz, 57, Monadologia13 Princpio importante em Leibniz, lex identitatis indicernibulum, quegarante a identidade da Mnada. 'No entanto, as Mnadas precisam, teralgumas qualidades, pois caso contrrio, nem mesmo seriam entes. Se assubstncias simples em nada diIerissem em suas qualidades, no haveriameio de aperceber qualquer modiIicao nas coisas, pois o que est nocomposto no pode vir seno dos ingredientes simples, e as Mnadas, notendo qualidades,seriam indistinguveis umas das outras,visto nodiIerirem tambm em quantidade;e,porconseguinte,admitindo opleno,cada lugar receberia sempre, no movimento, s o equivalente doque antes contivera, e emumestado de coisas seria, portanto,indiscernvel do outro. Monadologia,. 8.14 Leibniz, 12, Princpios da Natureza e da Graa.15 HOLZ, 1970, p. 215.