diagnóstico e caracterização de individuos com...
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ISSN1413·3B9X Temas em Psieologia dil SBP·20D2,Vol lD,I'1. 11·26
Diagnóstico e caracterização de individuos com necessidades educacionais especiais: produção cientifica nacional entre 1981 e 1998'
Resumo
Enk~ia Gonça lves Mendei Universidade Federal de São Carlos
Leila Regina d' Oliveira de Paula Nun es Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Júlio Romero Ferreira Universidade Metodista de Pirocicaba
Este relato sistematiza de um total de 356 estudos analisados sobre indivlduos com necessidades educativas
especiais, 55 dissertações e teses sobre os temas "id"ntilicação", "caracterizaç.lio" e "diagnóstico", produzidas
entre 1981 " \ 998, por alunos de 21 cursos de p6s-graduação cm Educaç!o do pais. Os resultados indicam que
predominaram estudos categoriais, sendo a deficiência mental 3 condição mais estudada, seguida pela deficiência auditiva. autismo. talentos especiais, deficiência fisica e a visual. A questão da iokntificaç.ilo e
diagnóstico para () ingresso no ensino especial foi a mais freqUente, seguida pela descrição e caracterizaç30 das especificidades do portador de deficiência. basicamente paro caracterizar seu desempenho e desenvolvimento
Além de se tentar buscar a compilação do acervo existente, tomando dessa forma o conhecimento produzido mais acessível aos pesquisadores e profissionais da área. este estudo tenta apontar tendências c lacunas do
conhecimento produzido sobre esse tema e identificar temas elou áreas prioritários de investigação
Pillnril·chilll: diagnóstico, caracterizaçao. deficiências, autismo, talentos especiais, produção científica
Absbul
OiaQnosisandcharacterizationofindividuals with speciafeducationalneeds: thenationalscientificprorluctionbetween 1981 ·1998
This stud)' anal)'zcd 55 lheses and disscrtalÍoT15 aOOul "identification", "charactcriUlion" and "diagnosis" from
a total of3565tudi~s ahout individuais wilh special Lhat wcrc nccds conducted bctwc:cn 1981-199l!, by graduate
studenlS from 21 graduatc eourses in Education around lhe country. The results indicated lhat lhe majority of lhcsludie. ar~cat~gorial as well aS that m~nlal deficiency is lhe mOSl sludiedcondition, followed hy hearing
impairment condilion, ami",". gilledncss, pltysical handicap, and visual impainnent. QuestÍOllS about idcntification
I. Trabalho apresentado no Simpósio A produç{]o discl!nll! da pÓj·Graduação em Educaçao e áreas afins: Análise critica daJ /eJes e disser/açõe.' .'obre Educação Especial. XXX Reunião Anual de Psicologia da Soci~dade Brasileira de
P~ic()logia, Brasi! ia, DF, outubro de 2000. Parte do Projeto PROUISC, iniciado em 1995 2. Endereço para corrcspondcncia: E, G. Mendes, Univers idade Federal de Silo Carlos. Rodovia Washington Luis, KM 235,
Caixa Postal 676, CEP : 13.565·905, São Carlos - sr, fone: (16)271·7951, fax: (16)260.835, e · ma il
[email protected] Apoio financeiro CNPq e FAPESP
1.'.llInRs,LB.D.P,HuItlIJ.I.lerrriIa
and diagnostic forme admission to specia! educalion programs were lhe mOSI studied subjc.:1 followed by lhe de5cription and charactcrizalion of handicapped individuaIs specificities. basically 10 charact~riu their pcrfonnance and dcvdopmcnl. Resides tryiog to compile lhe collected data and to aHow lhe produced knowledge lO bc more accessiblc to lhe researchers and professionals of lhis flcid. the study lrics to poml out lhe trend and gaps of sueh production, idemif)lÍng priorities inlhe arca of investigatioo leI "clds: diagnostic, characterizatioo, deficiency, autismo gifledncs~. scicntific production.
Introdução Os programas de péts-graduação em Educaçlio
no Brasil iniciaram-se em meados dos anos 60, sendo
que 65% dos cursos de mestrado começaram nessa
década e os de doutorddo s6 emergiram a partir de
1976, datando porém do final dos anos 80 seu período
de maior expansão (Fávero, 1992). A criação desses
programas comprometia-se com a formação de
docentes para o Ensino Superior, então em fase de
exp~nsilo, e a formação do pesquisador. A
pós-graduação stricto senso passou a constituir, cm nosso país, o espaço institucionalizado para a
produção do conhedmeOlo científico
Ainda que os prograntas de pós-graduação
sejam avaliados regularmente pela CAPES, as
dissertações e teses defendidas não têm sido alvo, em
geral, de uma avaliaçllo sistemática dentro dos
parâmetros científicus. P~rticularmenle em relação à Educação Especial. uma área relativamente recente
no Brasil, pelo menos na educação escolar em que os
scrviçosespeciais aumentaram a partir dos anos 70, a
fomlaçãodc recursos humanos ainda parece estar em seu inicio, tanto em nível de graduação quanto
principalmente em nível da pós-graduação. Persiste
também um alto grau de indefinição no tocante ao seu objeto de conhecimento e de alUação.
Em 1995, um grupo de pesquisadores iniciou uma investigação visando à análise da produção
discente dos programas de pós-graduação voltada para o portador de necessidades educativas especiais,
a fim de identificar as tendências e as lacunas no
conhecimento da área, paradigmas epistemológicos
dos estudos, necessidade de revisão dos modelos
te6ricos elou dos procedimentos mctodol6gicos em
uso, novos temas elou áreas a serem investigados.
Tentava-se, com a compilação do acervo existente,
tornar esse conhecimento produzido mais acessível
aos pesquisadores e profissionais da área.
No primeiro projeto de pesquisa. elaborado com
essc objetivo (Nunes, Ferreira, Olat e Mendes, 1997)
foram analisadas 153 dissertaçõcs defendidas entre
1981 e 1995 nos programas de pós-b'Taduação com
produção mais expressiva sobre essa tematica: o
Programa de P6s-Graduação em Educação Especial
da UFSCar e o Programa de Mestrado em Educação
da UERJ. O produto dessa investigação foi
apresentado em diversos encontros científicos
nacionais e internacionais e deu origem a wn livro de
revisão por temas (Nunes, Olat, Ferreira e Mendes,
1998) baseado nas produçõcs discemes analisadas. Na
segunda fase do projeto, concluída em junho de 1999 (Nunes, Ferreira, Glat e Mendes, 1999), foram
analisadas 7 produções discentes (teses e dissertações)
dc 21 programas de p6s'graduação (excelo os
programas PROPEdlUERJ e PPG-EES/UFSCar)
situados em diversos estados brasileiros. Na terceira fasc, foram analisadas 107 dissertações e teses dos
programas de pós-graduação em Educação
produzidas até 1999, que ainda não haviam sido incluídas nos estudos anteriores (NWlCS, Ferreira,
Mendes e Olal. 2(00).
O objetivo do presente relalo consiste em
apresentar uma descrição e análise da produção discente do elenco sobre o tem~ ·'identificação,
diagn6stico e caracterização dc indivíduos com
necessidades educativas especiais", encontrado num
universo de 356 trabalhos (teses e dissertaçõcs) dos
programas de pós-graduação em Educação,
produzidoseotre 1981 e 1998. Os tennos "identificação", "caraclerinlção" e
"diagnóstico" estão relacionados á necessidade de
delimitação do próprio objclo de cstudo das (catcgoTÍ7,.ação da revis.llo da 1iterdturn, C()nsonância
C()nsideradas necessidadcs educacionais especiais, e teórico-metodológica e concepção do autor sobre a envolvem procedimentos que deverão permitir deficiência).
identificar condições particulares, classificar ou De um elenco de 356 produçõcs discentes de
arranjar eventos, com um ou mais denominadores programas de Pós-Graduação da área de Educação
comuns. Enfim, oferecem condições de destacar analisadas, no periodo de 1981 a 1998, foram
determinadas categorias, pennitindo a demarcação do idcntificados 55 estudos (15,4%) cuja tem:ítica vel1õOU
ponto de corteenlre o quanlo uma condição implica ou sobre "identificação, diagnóstico e caracterização de
nilonecessidadeseducativasespeciais. individuoscomnecessidadeseducacionaisespeciais".
Em Educação Especial, os procedimentos de As infonnações C()letadas com base nesses 55 estudos
diagnóstico são cstudados cm função de dois objetivos. identificados foram sistematizados scgundo a
O primeiro visa a identificação, que resulta na decis.llo população-alvo, temáticas secundárias, ano, local de
de classificar ou não um individuo numa determinada pmdução etendéncias de pesquisa. Àrelação das teses
categoria, implicando o cncaminhamcnto para oensino c dissertações analisadas encontra-se em anexo
especial. Uma segtUlda função, referente a um outro
conjunto de procedimentos, consiste em procedcr
avaliações que permitam derivar planejamentos educacionais, ou scja, identificar alvos ou objetivos de
ensino, sclecionar técnicas instrucionai.s, monitorar o
desempenho do aluno e avaliar programas.
O estudo da caracterização dos portadores de
deficiências focaliza basicamcntc os processoo básicos
de aprendizagem e de desenvolvimento, com o intuito
de identificar quais e de quenarureza slIoas diferenças entre as "normalidades" e as "excepcionalidades"
educacionais. Numa perspectiva de derivação prática,
tais estudos deveriam permitir embasar a idcntificação
de critérios de classi ficação, definições e o desenvolvimento de procedimentos de diagnóstiC()o
Considerando que há uma relação estreita
entre os temas "identificação", "diagnóstico" e "caracterização", optou-se por agrupar os estudos
relacionados a tais temáticas neste trabalho.
Método A análise da produção discentc foi efetuada a
partir da leitura das dissertações e teses na íntegra.
utilizando-se um roteiro, com o registro das informações sobre identificação, descriçao da dissertação (temas, objctivos, referencial teórico, fonte
de dados, população-alvo, local, metodologia,
resultados, principais referências bibliográficas e implicações teóricas e práticas) e análise critica
Resultados Ao analisar-se conjuntamente as dissertações
que abordaram a questão do diagnóstico, identificação
elou caracterização da população em questão, pode-se
perceber uma produção cientifica especializada,
focalizada em geral sob uma das condições nonnalmente associadas às necessidades educativas
especiais, No gera!, pode-se perceber um esforço maior
depesquisadirecionadaaquestãodadeficiênciamenta!
(31), seguida por uma preocupação com a deficiência
auditiva (9), deficiência fisica (4), autismo (4),
dcficicncia visual (2) e talentos especiais (2), Foram
encontrados apenas dois estudos que tiveram como
população-alvo várias dessas condições,
O primeiro estudo identificado foi publicado
em 1981, sendo que após csscano encontrou-se uma
variação entre um a oito estudos anuais até 1998,
Parece haver nos últimos anos um aumento na produção discente sobre cssa tcmática considcrando
que mais de 30% da produção analisada foi
produzida notriênio 96-97- 98,
Em relação às universidades com produção
sobre essa temática, encontrou-se a UFSCar (51%), UERJ (11%), ruc/sr (11%), ruc/RJ (5,5%),
UNICAMP (4%), UNIMEP (4%) e UFCE (4%), Foi
cncontrado ainda, nesse período analisado, um estudo em cada uma das seguintes universidades:
UNA, UFRJ , UFMS, UFPE, UFF e USP.
As análises das dissertações e teses sobre essa
temática permitiu identificar ainda estudos com
vistas em:
a. identificação e diagnóstico para ingresso no
ensino especial;
b. avaliação e encaminhamento do ensino
especial para o ensino regular;
e. reflexões sobre o conceito de deficiência ao
longo da história, e sua relação com a definição e
critérios de diagnóstico;
d. caracterização do desenvolvimento ou do
desempenho dos ponadores de deficiências;
e. identificação e diagnóstico precoce para o
encaminhamento aos serviços e prevenção do
agravamento da dcficiência;
f. estudo epidemiológico para caracterizar o
perfil de populações de ponadores de defi-
ciência mental em instituições; e
g. estudo teórico com caracterização baseada na
literatura.
Os estudos sistematizados em função da
população-alvo dessas pesquisas serão apresentados
a seguir.
OeficiênciôlRlental
A importância do estudo da identificação e
diagnóstico da defidênda mental foi justificada por
esses pesquisadores, considerando-se a necessidade
de um melhor equacionamento do planejamento de
serviços educacionais eln nosso pais. de se
aperfeiçoar o processo de diagnóstico e colocação
seletiva dos alunos tidos como especiais nas
modalidades educacionais, e de aprimoramento da
formação dos profissionais envolvidos, chegando-se
até ao escrutínio das conseqüências do processo de
encaminhamento ",ducacional.
O foco maior encontrado cm 13 estudos sobre
diagnóstico e identificação da deficiência mental foi o
processo que se inicia especialmente nas eseolas
públicas regulares para o postcrior encaminhamento às
antigas classes especiais (Almeida, 1984; Aquino,
1.5,M .... tLlD,'.IIIUIJ.I.flrrtÍIJ
1988; Dai Pogetto, 1987; Denari, 1984; Magalhães,
1997; Marconi, 1987; Mattos, 1994; Mendes, 1984;
Paschoalick, 1981; Rodriglles, 1984; Rosa, 1990; e
como tema secundário em Kassar, 1993 e Sousa, 1993).
No geral, os objetivos desses estudos visaram
esclarecer os mecanismos de ingresso e permanência
nessas classes, assim como as cOflseqüências dessctipo
de encaminhamento.
Outros estudos abordaram o processo de
diagnóstico da deficiência mental efetuado por
instituições especializadas (Rosa, 1990; Sousa,
1993): 011 são voltados para a área de estudos
epidemiológicos (Ferreira, 1988) ou censitários
(Melchiori, 1987), ou ainda com a preocupação de
criar instrumentos para a identificação e intervenção
educacional (Manzolli, 1994; Silva, 1989).
O estudo da evolução histórica das definições,
conceitos e/ou critérios para o diagnóstico da
deficiência mental foi cOntemplado cm tres estudos
(Guhur, 1992; Maestrello, 1983; Viana, 1990).
Além da preocupação com o diagnóstico para a
identificação, voltado para o encaminhamento para o
ensino cspecial, percebe-se ainda wna segunda ênfase
na produção relacionada à caracterização de ponadores
de dcficiência mental, contemplada em 11 estudos.
Observam-se em geral dois reCOI1es básicos nos
estudos desse tipo: o foco sobre o estudo do
desempenho cm tarefas cognitivas (Almeida, 1995;
Mantoan, 1991; Miranda, 1993; Oliveira, 1996): e o
foco nas características de desempenho ou de
desenvolvimento especifico de portadores de Síndrome
de Dov.'I1 (Almeida, 1988; De Santi, 1995; Mandrá,
1998; Martins, 1996; Meiado, 1998; Sylvestre, 1995;
Xavier, 1997). A brincadeira de "faz-de-conta" como
recurso para promover o desenvolvimento cognitivo e
social de crianças com deficiência mental foi abordada
em dois estudos (Almeida, 1995; Sylvt:Slre, 1995).
Comparando-se as características dessa
produção sobre a condição da deficiência mental,
constatam-se duas tendências básicas:
I a diminuição ao longo dotcmpo do número de
estudos cuja temática era o diagnóstico para a
identificaçào e encaminhamento para o ensino
especial (particularmente para as classes
especiais); e
2. um crescimento no número de estudos que
visam à caracterização dos ponadores dessa
condição
O estudo do processo diagnóstico da deficiência
mental nas pesquisas nacionais vinha sendo
empreendido com d iferentes objetivos, mas a
preocupação básica, indicada pela maioria dos autores
que abordarnrn tal temática, esteve vinculada à questão
do diagnóstico par.! a identificação e conseqUente
encaminhamento para asc\asscs especiais. Em resumo,
os resultados dessas pesquisas cvidenciaram a precariedade do processo de avaliação e diagnóstico
(particulannente relacionada à condição de deficiência
mcntal leve),eafaltadefonnaçãoapropriadade todos
osagentesenvolvidosnoprocesso.Emdecorrênciados
problemas encontrados, foram levantados sérios
questionamentos sobre a função efetiva da classe
especial paraosistemaeducacional: intcgrar!Xlft8dores
de deficiências na escola regular, ou servir como
"depósito" para os alunos problemas do ensino regular?
Promover alunos com necessidades educativas
especiais, ou "deficientizar" alunos provenientes da
camada pobre da população? Servir como ampl iação
das oportunidades educacionais para alunos com
necessidades educativas especiais, ou reforçar o
processo de seletividade social das escolas públicas de
primeiro grau no pais?
As sugestões propostas pelos autores quanto
aos problemas da classe especial incluiam a
necessidade de uma melhor definição das diretrizes
políticas para identificação e diagnóstico da
condição de deficiência mental; o aperfeiçoamento
da formação inicial de professores do ensino regular
e de psicólogos, assim como da modalidade de
fonnação cont inuada de professores de classes
especiais; o desenvolvimento de alternativas de
avaliaçãoedeserviçoseducacionais;ainstituiçãode
mecanismos de retorno do alunado da c\asse especial
paraaclasse regular;eaampliaçãodainteraçãoentre
as agências formadoras (universidades) e a escola.
Em suma, tais sugestões, todas bastante pertinentes,
implicariam uma redefinição do papel da classe
especial na rede de serviços do ensino especial e do
sistema educaciona l geral.
Assim, percebe-se que a produção dessa linha de pesquisacontribuiuparaevidcnciar,apartirdad~ada
de80,oprocessodeexclusãosocialpeloqual passavam
muitos alunos de classes desfavorecidas, rotulados
como deficientes e encaminhados para as classes
especiais. Contudo, foi sendo gradualmente excluída da
agenda da produção cientifica mais atual. Entretanto, se
por wn lado tal produção contribuiu para mostrar a
força do fenômeno de exclusão proporcionado pelo
sistema regular e rderendado pelo ensino especial, por outro lado gerou problemas para a pesquisa nacional na
área que ainda não estão resolvidos. Entre esses
problemas, podemos citar o diagnóstico da deficiência
mental, o destino das classesespeciaiseodesafioda
formação dos recursos humanos envolvidos no
processo diagnóstico e no ensino especial para essa população.
Portanto, parecenecessárioo aprorwulamcnto no estudo cientifico dessa temática no país, com novas
abordagens metodológicas, a fim de solucionar os
problemas evidenciados pela própria produção
cientifica.
Percebe-se, também, uma tendência nessa
produção científica mais recente, que abrange o
período de meados até o final da década de 90: um
aumento nos estudos que visam à caracterização dos
portadores de dcficiência mental.
Os estudos que tiveram como alvo a Síndrome
de Downcolocaram em evidência dois aspectos mais
centrais: a questão do diagnóstico precoce e o
desenvolvimento da linguagem.
Em relação ao diagnóstico, pode-se concluir ser
importante que ele seja feito o mais precocemente
possível, e que a ronna como ele é feito pode influenciar
as atitudes e percepções dos familiares ao longo da vida.
Nesse sentido, os estudos recomendam que os
profissionais responsáveis pela confinnação tenham
competência para informar e orientar, sem gerar
preconceitos e rcforçarcstcreótipos sobre a condição,
pois nesse caso poderiam rebaixar as expectativas e
influenciar aegativamente a interaç1lo do individuo com
seus familiares. Váriosestudos,cntrctantO,evidenciaram
quc, no pais, os profissionais. especificamente os
médicos, encontmm-se despreparados para cfctuar esse tipo de trabalho da forma recomendada, e que os pais não
têm sido adequadamente atendidos no momento da revelaçlo diagnóstica (Mandni, 1998; Mciado, 1998; Xavier, (997)
Essas evidências implicam a neçessidade de
melhorara formação de profissionais que atuam nessa
area de diagnóstico precocc. Nesse sentido, caberia
ressaltar que os sentimentos negativos cxpressos por
pais, quando recebem a informação de que seus filhos
são portadores de Síndrome de Down, podem ser
decorrentcs mais da inadcquação da forma como é
dada a notícia do que do próprio impacto do
diagnóstico e suas implicaçõcs para a vida da criança e
da família. Uma especificidade do desenvolvimento da
criança portadora de Síndrome de Down que para:e
concentrar bastante esforço de pesquisa é a questão das dificuldades de linguagem, evidenciada pelo atraso,
redução do vocabulário, dificuldades articulatórias; e as
conscqüencias dessas dificuldades na linguagem oral e
na aquisição posterior da leiturn a da escrita. Nesse
aspecto, 00 estudos têm sido clarnrneme propositivos,
com recomendações precisas sobre como intervir nas dificuldades relacionadru; ao desenvolvimento da
linguagem dessa população.
A importância de se prepararem os pais para
estimular o desenvolvimento da criança na primeira
infância é apontada em varios estudos (Mandrá, 1998; Meiado, 1998; Xavier, 1997); muito embora
tenha também ficado evidente a lalta de preparo dos profissionais para essa função de capaCllação dos
familiares. As dissertações desenvolvidas sobre estudos
em escolas apontam que as oportunidades de escolarização para os portadores de Síndrome de
Down parecem se concentrar ainda nas escolas
especiais e nas classes especiais em escolas
regulares. Por outro lado, há evidências que apontam
para a falta de oportunidades educacionais, equeessa
falta de escolarização pode ter conseqüências
bastante ncgativas para portadores de Sindrome de
L&.III'lilS,lR.O.P.IIHltJ.I.hnlÍi
Down a longo prazo, gerando uma cronicidade no
quadro deficitário, com prejuízoS para a inserção do
indivíduo no àmbito da família (Meiado, [998). Alguns estudos sobre como estimular o
desenvolvimento da linguagem de portadores de
Síndrome de Down nas escolas regulares de
educação infantil evidenciaram a importância de se
arranjar o espaço tisico da escola, proporCionando
ambientes variados para atender às necessidades de
desenvolvimento do aluno (De Santi, [995); e de se
proporcionarem oportunidades de interações
efetivas com li professora e com parceiros não
portadores da Síndrome; além do uso de brincadeiras
de "faz-de-conta" (Sylvestre, 1995).
A importância de intervirnodesenvolvirnento
da linguagem de portadores de Síndrome de Down é
justificada não apenas para aumentar a efetividade das interaçõcs sociais, mas também para prevenir
problemas na aquisição futura das habilidades de
leitura e escrita. O estudo de Martins (1996)
evidencia que, li despeito de eventuais problemas na
linguagem oral, os portadores de Síndrome de Down podem e devem aprender a ler e escrever.
Em relação à população dos portadorcs de
deficiênda mental que freqüentam as escolas especiais.
percebe-se ser, pelo estudo de Ferreira (1988),
predominantemente composta por alunos do sexo masculino, com idade entre [Oe [4 anos, com queixas
de dificuldades escolares, nível sócio-económico
baixo, com um quadro de deficiência mental de nível
leve a moderado, e de etiologia desconhecida. Esses dados conlinnam as evidências de literatw-a sobre um
antigo estereótipo de quem é o portador de deficiência mental. Esse perfil, associado á rara presença de
portadores de deficiência mental de grau severo ou
prorundo, reforça a possibilidade de que o serviço de
escola especial, e poderíamos dizer também das classes cspcdais, na nossa realidade pcrmaneçaservindocomo
mecanismo de exclusão de alunos do ensino regular.
Tendo cm vista as alUais dirctrizes politicas que
enfatizam o principio da educação inclusiva (MECI
CNE/CEB,2001) O estudo de Tasso (1996) evidenciou que os
problemas de aprendizagem dos alunos de escolas
especiais podem ser muito mais decorrentes da Em relação à produção cientifíca sobre inadequação nas abordagens pedagógicas do que das deficiência auditiva, constatou-se um aumento no
dificuldad es de aprendizagem inercntes aos númo:m dt: teses e dissertaçôcs analisadas ao longo do portadores dc dcficiência mental; e a alLtora slLgere tempo, e uma ênfase na pesquisa sobre diagnóstico melhorar a capacitação dos profissionais que atuam precoce, para a prevenção tanto da perda auditiva nessas instituições para solucionar esse problema da quanto do agravamento das conseqüências da surdez qualidade de ensino sobre o desenvolvimento da criança; e destacando.-se
A brincadeira de "faz-de-coma" é defendida também as questões da linguagem eda comunicação no por alguns autores como um recurso pedagógico processo educativo de individuos surdos. importante para desenvolver habilidades cognitivas, Em relação à prevenção da surdez e de seus sociais c de linguagem de portadores de deficiência eleitos sobre o dcsell\'olvirncnto, os estudos indicaram mental (Almeida, 1995; Sylvestre, 1995). a necessidade de promover educação pública sobre os
Cabe ressailar que os estudos que visaram à fatores de risco, particularmente da rubéola congênita; caracterização de desempenhos de erianças porta- e a nccessidade de medidas de acompanhamento doras de deficiência mental evidenciam uma grande sistemático do desenvolvimento de bebés nascidos em variabilidade no repertório das diferentes crianças condições de prematuridade, baixo peso dou com com o diagnóstico de deficiência mental. rubéola congênita pelos profissionais da saúde, uma
vez quc tais condições freqiientemente aparecem acompanhadas de alterações no desenvQlvimento. Nesse sentido, medidas educativas precoces pard QS
Deficiência auditiva bebés de risco poderiam compensar, na maioria das Dos nove e~tudos que tiveram como vezes, as alterações noseu desenvolvimento(Gonçales,
população.-alvo os portadores de deficiência auditiva, 1998; Jaoob, 1996; Souza, 1996a). três tiveram como objctivo a caracterização do Além dessas propostas, os estudos apresentam desenvolvimento de bebés nascidos em cQndiçõcs de um avanço no sentido de terem promovido o risco. visando ii idcntificaç~Q e descriç~o de desenvolvimento de instrumentos e procedimentos de
indicadores quc permitissem efetuar o dÜlgIlóstico e avaliação e/ou diagnóstico precoce da deficiência encaminhamento educacional precoce (GonçaJes, auditiva (Gonçales, 1998 e Souza, 1996,,) ou propondo 1995; Jacob. 1996; Souza, 19963). Uma segunda materialdidãticQdeorienta~ãoparapais(Jacob,I996) vertente de pesquisa sobre essa temática identificada Em relaçàQ à caracteriza~ãQ do desempenho de
nesse e1enoo de teses e dissertações, esteve relacionada alunos surdos, aparece um interesse muito grande no ii caracterização das habilidades de escrita dos estudo das dificuldades relacionadas ii questão da portadores de deficiência auditiva (padovani, 1997; linguagem e comunicação, particulannente quanto à
Silva, 1998). UllliI ter~eira vertl'1lte de pesquisa teve modalidade escrita da língua ponugucsa. Padovani CQmo tema básico a língua de sinais na educação de (1997) aponta que tais dificuldades parecem alunos surdos (Filha, 1996; Melo. 1995). relacionadas ao grau de perda auditiva, ao ingresso
Foi identificado ainda um estudo sobre os tardio ii escola e a uma desarticulação entre o ensino fatores relacionados ao processo de transição do ministrado cm classes regulares e classt:S de ensino aluno portador de deficiência auditiva da classe cspecial especial para a classe reb'lllar (Ribeiro, 1986); e uma As dificuldades encontradas nas produções dissertação sobre a descrição e análise das caractcrís- eSl:filas de alunos com surdez em idade escolar se ticas da organização pereeptomotora (cQQrdenaçãQ referem às eonstruçõcs sintãticas, como, por visomotora e perceptiva) de crianças cQln deficiência exemplo, a falta de concQfdfincia verbo-nominal e a auditiva (CarrilhQ, 1988) QmissiiQ ou uso inadequado de preposições (Silva,
E.S.lhgdtl,LR, O. P.NamIJ.I.h!llir~
1998). Ribeiro (1986) relatou a dificuldade em formalizado da língua, que deve St: iniciar muito antes ensinar !ingua portuguesa (especificamente da emradada criança na escola, dcpreferência dcsdeo composição e ditado) como uma das mais apomadas nascimento e já no ambiente familiar. Nesse sentido, a por professores do ensino regular e a que prejudicava oportunidade de escolarização fornecida pela nossa a integração escolar de alunos ~UTdos sociedade, dentro d~ organiação escolar existente,
Entretanto, tais estudos sobre: a dificuldade no parece ainda estar sendo proporcionada num momento ensino da língua portuguesa envolveram basicamente muito tardio, o que dificulta o desenvolvimento pleno sujeitos em idade escolar que foram submetidos a uma do indivíduo e prejudiea suas ehances de uma inserção abordagem pedagógica ~uri-onll. No estudo de Mélo escolar e social futura bem-sucedida. (1996), ao compararem a abordagem oralista com a Percebe-se que, no conjunto dos estudos, a que utiliza a língua de sinais, os professores referem despeito das dificuldades acadêmicas com o que ocorrem melhoras no desempetlllO em todas as aprendizado da lingua portuguesa na modalidade matérias acadêmicas, mas quc o beneficio maior cscrita,procedimentosdeensino, ainda queembasados ocorre em relação à aquisição da língua ponuguesa. na proposta oralista, podem ser efetivos em compensar Nesse sentido, seria conveniente questionar se as tais dificuldades. Entretanto, seria necessárioavanÇUf
caructeristicas de desempenho, relatadas em tarefas no estudo comparativo entre diferentes abordagens que envolvem a prodU\;ão de textos es.:ritos, n~o pedagógi.:as para que se possam produzir resultados seriam decorrentes mais da abordagem pedagógica do mais conclusivos sobre a eficacia de cada tunas das que da própria surdez. prüpoStasnarealidadebrdSileira.Parecemnecessârios
As abordagens de educação dos surdos variaram estudos que avaliem o efeito de diferentes abordagens consideravelmente ao longo da história da educação sobre diferentes condições de perda auditiva, tipos de especial. O embate sobre as correntes baseadas no ~1t:ndimentos prt:Coces, carclderisticas tias famílias, oralismo, na filosofia da comunica~o totale,mais recentemente, no bilingUismo tem proporcionado aspcctos emblematieos dos problemasrclacionados a
evolução da educação de jovens e adultos com Sindrome do Autismo Infantil necessidades educativas especiais. A questão central na A Síndrome do Autismo Infalltil foi abordada educação de surdos sempre esteve relacionada ao em quatro cstudos do elcneo de teses c dissertações desenvolvimentoda!inguagemedacomunicaç!O,e a analisadas (Azevedo, 1996; Cançado, 1984; Rosa, polémica tem sc situado na dcfinição dopapcl da língua 1998; Souza, 19IJ6b). Em dois dos estudos (Azevedo, desinaisedalínguamajoritáriadedeterrninadacultura 1996; Cançado, 1984), observa-se uma abordagem no processo educacional. teórica embasada na psicanálise para explicar c
Pelos estudos analisados, percebe-se que no estudar o autismo <: derivar implica<;õcs ~oncrdas país ainda prevalece a abordagem oralista. Esta é mais voltadas para a prática terapêutica. Nos dois baseada no ensino da língua portuguesa majoritária e mais recentes, (Rosa, 1998; Souza, 1996b) denota-se em propostas cmbasadas na filosofia da comunicação lima vertente mais educacional. total,queincluioensinodalínguadesinais.Aindanão Todos os estudos sobre identificação e foram relatados estudos na proposta do bilingüismo, diagnóstico do autismo abordam a questão do que envolve o acesso precoce a primeira língua dos atendimento à família, embora 3S opiniões sejam
surdos (língua de sinais) e, posteriormente, a controvertidas. As implicações para a práticac1inica apropriação da segunda língua, que seria a majoritária do terapeuta orcl recomendam atenção especial aos na cultura, no nosso caso, a lingua portuguesa. pais de autistas (Azevedo, 1996), ora questionam se o
Os estudos apontam ainda que, para a educação atendimento à familia pode reverter o quadro e se não de surdos, parece necessário um processo educacional seria necessário construir um eixo central baseado na
escuta da criança (Cançado, 1984). Por outro lado. Rosa (1998), ao entrevistar familiares, idenlifica tensão, pessimismo, dificuldades e a faha de recursos das familias dc autistas, explicando tais fatores como decorrentes da falta de assistência de diagnóstico, oricntação para as familiase cducaçãopara o próprio
privado, até a proposta parece ser educação crn escola espedalizada, embora pareça também evidentc a falta de scrviços educacionais para esse tipo de população, na rcalidade nacional.
individuo com autismo. Souza (l99ób) também h fi ciêacillisica enfatiza a necessidade do envolvimento da família na Dos quatro estudos sobre a identificação, educação desses individuos diagnóstico ou caracterização da condição de
Nos estudos embasados na psicanálise, os deficiência física, três versaram especificamente autores (Azevedo, 1996; Cançado, 1984) teorizam o sobre portadores de paralisia cerebral autismo como um alhcamentoou falta de percepção do O desenvolvimento cognitivo de portadores outro,oueomownapsicose, enfun como uma condição de paralisia cerebral, nwna instituição que trabalha patológica e essencialmente negativa. Os sintomas não com o treinamento de mães para a estimulação parecem se relacionar com a ausência de processos cognitiva dessas crianças, foi o objetivo do estudo de educacionais ou com propostas cducacionais Braga (1983). A questi'lo do diagnóstico precoce foi indevidas, e os atribll!os comportamentais negativos eSllldada por Frônio (1998) e o estudo de Yano aparecem como decorrentes da própria condiçi'lo, (1997) teve como objetivo carach:rizar a relação considerada como uma patologia. Além disso, as mãe-criança portadora dc paralisia cerebral, durante expectativas quanto ao resultado do atendimento a primeira inílincia. clinico parecem limitadas, h~vendo, inclusive, A identificação e o diagnóstico da deficiência
questionamentos sobre as possibilidades de fisiea foram abordados também no estudo de Aihara Teversibilidade do processo na criança,ou mesmo se (1988), que visou, entre outras coisas, analisar os
seu portador poderá ser integrado na sociedade. Por aspectos da identidade social dodcficicntc fisico, tais outro lado, há autores, como Souza (l9%b) e Rosa como o papel da instilUição, as expectativas quanto à (1998), que apontam para a importância da educaç1lo e reabilitação, desligamento e omercado de trabalho
da concepção dc que os comportamentos do autismo Em resumo, o conjilllto desses traballios sobI'tl são decorrentes também da fa lta de educação dcficiência fisica aponta para a importância do fonnalizada e adequada. diagnóstico e do atendimento precoce, CSJl(X:ificamenlt
Parece necessário, portanto, que sejam nos casos de paralisia cerebrdl, embord o processo, no ampliadas as propostas dc idcntificar, diagnosticar e pais, pareça ser prejudicado pcla falta de conhecimento caractcrizaroautismo infanti l nwna abordagem mais dosmédicoo edeuma equipe interdisciplinar. Osestudos educacional, principalmente para desafiar noções apontam ainda que, no caso da paralisia cerebral, negativistas e as baixas cxpectativas em relação à classificada como diplegia espástica, não parecem intervenção nessa população. Ncsse sentido, parece ocorrer modificaçõcs significativas nas inleraçõcs também necessário que a pesquisa nacional se alinhe precoces entre as mães e suas crianças. O com as tendências teóric~s e práticas identificadas acompanhamento oferecido âs crianças pequenas com nas pesquisas embasadas na literatura de outros deficiênciasfisicasnopaispareceaindamuitovinculado
p~íses, que apontam para um maior otimismo frente à atcnç1lo aos problemas de saúde e d~ crescimento, às possibilidades na educação de indivíduos com enquanto se negligencia o acompanhamento do autismo. dc:senvolvimentoglobaldacriança.
No conjunto dos estudos, percebe-se que Os dados indicam que, na escola c no trabalho, existem propostas serviços que variam desde o os portadores de deficiência tisica têm sido estigma-atendimento clínico psicoterapêutico, provavelmente tizadm e marginalizados. Além do preconceito, e
talvez por causa dele , a falta de escolarização e de
treinamento profissional adequado ao mercado de
trabalho impedem esses indivíduos de uma vida mais
produtiva e útil (Aihara, 1988)
hlenloseSpeti~is
A identifica~o e caracterização de alunos
com talentos especiais ou altas habilidades, tradicionalmente denominados de "superdotados",
foi tema de três dissertações do acervo analisado Na primeira delas, partindo da consideração de
que atividadcs culturais, tais como os programas de
folclore realizados em escolas regulares, poderiam possibilitar a identificação e o desenvolvimento de
indivlduos talentosos, por favorecerem as habilidades
na dança, artes e literatura (Pereira, 1984). Delou (1987) teve como objetivo elaborar um
procedimento alternativo a ser utilizado por profes.
soras de classes regulares para identificar alunos com
altas habilidades. Assis (1995) objctivou verificar a prevalência
de alunos com altas habilidades oriundos de meios sociais menos favorecidos.
No conjunto esses estudos apontam a carência
de procedimentos de identificação e de serviços de educação especializada para crianças e jovens com
talentos especiais.
Dlficiênciavisual O estudo do processo de identificação e
diagnóstico com vistas na prevenção da deficiência
visual foi abordado por Noronha (1993). Esta autora
buscou compreender a trajctória dc prevenção da
cegueira, das medidas adotadas pelos órgãos
públicos para intervir na saúde ocular do pré-escolar.
Concluiu que houve a criação de programas isolados e fragmentados de saúde do escolar, de curta
durabilidade e sob responsabilidade da escola, que representaram soluções imediatas e de pouca
abrangência para as reais necessidades das crianças.
O desenvolvirnelllo cognitivo dos portadores
de deficiência visual foi estudado por Carazas
(1985), a partir da comparação entre o desempenho
E.'.lbd,üll.'.IIIHIJ.lhrrtia
de crianças com deficiências visual e evidentes em
provas piagetianas. Os resultados evidenciaram
atraso cognitivo, cm média, de seis anos, atribuído á
falta de estimulação do meio familiar e educacional.
Ouul5candiçaumociadash numidades Idumionai, upeti~i!
O estudo da identificação e caracterização de
diferentes condições associadas às necessidades
educativas especiais foi abordado em duas das
dissertações do acervo analisado. Rebelo (1985)
analisou o processo de diagnóstico para a identificaç~o
por especialistas das seguillles condições: distillbio de
aprendizagem, criança de alto-risco, paralisia cerebral,
deficiência mental treinável e educável, e como este
processo era levado a termo por escolas ou instituiçõcs
especializadas. O processo de identificação de excepcionali
dades ou desvios por parte das pessoas que cercam o
excepcional, no contexto de familiar e profissional
de um município do interior do Estado de São Paulo,
foi o tema do estudo de Mendonça (1990).
Conclusões Pode-se observar que a produção cientifica
n3cion31 sobre a identificação de indivíduos com
nec~ssidades educativas especiais, e sobre a
caracterização das implicações de determinadas
condições sobre a aprendi7.agem e desenvolvimento dessa população vem crescendo de forma gradual e
contínua no país. Percebe--se ainda que existe uma
forte tendência para a produção de estudos categoriais
ou que se relerem a apenas uma das categorias com
implicações educacionais diferenciadas. Foram encontrados 53 estudos sobre populações específicas,
contra apenas dois que versaram sobre várias condições ou sobre 3 condição mais genérica da
deficiência ou d1 necessidade educativa especial.
Entre os estudos sobre popula(,:ões especificas
vai se confirmando cada vez mais um esforço
concentrado sobre a deficiência mental. Foram
analisados 31 estudos sobre essa condição, enquanto
que os demais estudos estiveram distribuídos nas
eondiçõcs de deficiência auditiva, deficiência fisica,
autismo, talentos especiais c deficiência visual.
De modo geral, a produção cientifica do corpo discente de programas de pós-graduação em educação
sobre o tema da identificação e carncteri7.açãO denota wna quantidade ainda insuficiente de C5tudos sobre
coodições especificas, associada a uma dispersão nos temas, o que dificulta uma sistematização mais
cooclusiva. Nesse sentido, vale ressaltar que deve-se ter
cautela em relação à generalização dos dados obtidos,
uma vez que os estudos, em geral, são restritos a wn
pequeoonúmerode sujeitos, CiTClUlscritosà realidadcde
alguns milllicípios, e os dados cm geral não permitem
gcncralizações. Um destaque especial, por sua
complexidade, deve ser fcito em relação à coodiçào de deficiênciamental,ctllscusdifcrentesníveis,quenão
pode St:r interpretada oomo um conceito monolítico ou Wlificado,aindaqueseobservewnnúmeroexpressivode
estudos sobre essa condição (Mendcs, 1995) Pcrcebe-se ainda quc a tendência, constatada na
década de 80, em relação ao procC5SO de diagnóstico
para a identificação e posterior encaminhamento
educacional da deficiência mental, nilo se mantém
nesses estudos mais recentes. A preocupação agora
parece mais centrada em estudar o impacto de cenas condiçõessobreo desenvolvimento e aaprClldizagcm de
seu portador. Nesse sentido, ressa lta-se uma
descontinuidade no trato do tema, wna vez que a
perspectiva de supernção do problema, através do
refinarnento técnico dos instrumentos e procedimentos,
prdti\:arm:ntenão foi enfrentada pela pesquisa na área. Uma única exceção pode ser observada: o diagnóstico
precoce na área de defici.mcia auditiva. em que se constata um avanço mais expressivo nesse sentido.
Entretanto, particulannente na área da deficiência mental
cujos problemas foram tão denunciados pela pesquisa nacional, essa temática parece s.cT negligenciada ou mesmo ignoruda pela produção mais recente.
O foco predominante dos estudos permanece
sendoopmcessodediagnósticoparaaidenlificaçãoe
posterior encaminhamento educacional. Percebe-se
aindaqueaabordagentdaquestãododiagnósticoparaa
identilkaçí"lo, entbora ainda presente, não se resuingiu
apcnasà wnadescriç!lo acrítica, e teve como foco maior
o escrutínio dos propósitos do diagnóstico e não apenas
a crença de que há um real e detenninável ponto de
corteentreanorrnalidadceadeficiênciaqueprecisaser
dcscoberto ou desvendado pela pesquisa. Nesse
sentido, fica claro também um avanço sugestivo no
sentido de referendar a natureza essencialmente
sociocultural e histórica nadefiniç.lo dos crltériOSpara
identificação.
Por outro lado, percebe-se que o estudo da ca·
racterização de desempenhos e do desenvolvimento,
com vistas no diagnóstico para o ensino, foi um tema
que recebeu maior investimento pela produção cien
tifica mais recente,oque indica que se avança para
além da classificação e encaminhamento, e enfren
tando o processo educacional propriamente dito.
A despeito da intensificação bastante positiva
no investimcnto em es tudos que descrevem e
avaliam o impacto de se certas condições sobre o
desenvolvimento e a aprendizagem, com o intuito de
l:aracterizaremasnecessidadeseducativasespeciais,
cabcria ressaltara necessidade de se manter sempre
uma análise contextualizada dos dados desses
estudos.
Os autores apontam que há uma diversidade
muito grande no nível de desenvolvimento,
capacidade de aprendizagem ou mesmo no nivel de
funcionamentoapresentadoemdeterrninadasituação,
nos grupos estudados, ainda que se iguale a condição,
idade, classificação do grau da deficiência, tipo de
serviço, ou outros fatores. Nesse sentido, caberia
ressaltar que os rótulos não devem scrvir de base para
seproduzirem novos estereótipos sobre os individuos
As pesquisas dcvem continuar avançando no
compromisso de desmistificar diferenças e desafiar
estereótipos cxistentes, e não apenas de constatar
diferenças individuais, intcrpretadas como se fossem
inerentes à condição em estudo
Assim, qualquer desempenho ou organização
atípica de desenvolvimento ou desempenho
encontrada não podc ser atribuída à deficiência em
questão e generalizada para toda a população
enquadrada na mesma eondição.
Quanto à população investigada, parece
ocorrer urna tendência para sc pesquisarem sujeitos
em idade escolar, noprocessodeclegibilidade parao
ensino especial. Nesse sentido, há quase sempre um
serviço existente ou em pcrspcctivapara apopulação
estudada,Poroutrolado,hãfaltadepesquisassobrea
população ni'lo escolar e sobre os que sequer têm
alguma perspectiva de atendimento educacional. Talvez fosse interessante tentar reverter tal viés e
retratar as implicações da grande maioria dos indivíduos com neçessidades educativas espeçiais
que ainda pennanecem marginalizados pelos poucos
serviços existentes na realidade brasileira.
A necessidade de melhorar o acesso a serviços
eafaltadcqualidadeinsuficientedosserviçosde
ensino especializado continuam reforçadas nesse
elenco de estudos. Um contexto de falta de universalização no acesso e de serviço de qualidade
contribui para que necessidades educacionais
especiais se tomem cada vez mais intensivas e crónicas. Nesse sentido, as características relatadas
nos estudos podem muito mais ser decorrentes do
contexto onde a deficiência se insere e seria,
portanto. simplista e incorreto atnbuir as diferenças unicamente às deficiências dessas pessoas
Portanto, as orgilllizaçõcs de repertórios de
habilidades consideradas atípicas pelos autores
devemserexplicadas,levando-seemconsideração,
nomlnimo,asoportunidadeseducacionaispresentes
na familia, a experiência deescolarizaçãoanteriorea
abordagem pedagógica utili7..ada
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Recebido em: 19/10/00 Aceito em: 17/03/03