diagnóstico do território do sisal – ba...

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EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - EMBRAPA PROGRAMA DE APOIO À INOVAÇÃO TECNOLÓGICA E NOVAS FORMAS DE GESTÃO NA PESQUISA AGROPECUÁRIA – AGROFUTURO. BID No. 1595/OC-BR Componente 3 - Núcleos Piloto de Informação e Gestão Tecnológica para a Agricultura Familiar Diagnóstico do Território do Sisal – BA PRELIMINAR Elaborado por Doris Sayago Brasília

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EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - EMBRAPA

PROGRAMA DE APOIO À INOVAÇÃO TECNOLÓGICA E NOVAS FORMAS DE GESTÃO NA PESQUISA AGROPECUÁRIA – AGROFUTURO.

BID No. 1595/OC-BR

Componente 3 - Núcleos Piloto de Informação e Gestão Tecnológica para a Agricultura Familiar

Diagnóstico do Território do Sisal – BA

PRELIMINAR

Elaborado por Doris Sayago

Brasília

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Abril, 2007

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SUMÁRIO GERAL

1. Introdução

2. Marco

2.1 – Marco espacial

2.2 – Marco histórico

3. O Território do Ministério de Desenvolvimento Agrário

3.1 – Referência histórica territorial

3.2 – O território

3.3 – Mapa social

3.4 – Situação socioecomica e ambiental predominante

3.4 - Inovação tecnológica

4 - Imaginário

4.1 - Conhecimento da política do Ministério de Desenvolvimento Agrário

4.2 - Apropriação da estratégia de territorialização por parte dos atores

4.3 - Conceito de núcleo

4.4 - Identidade expressada

5 - Ações

5.1 - Instituições envolvidas

5.2 - Lideranças no território

5.3 - Conflitos

6 - Resultados

6.1 - Formação de capacidades

6.2 - Plano (processo e estado atual)

6.3 - Avanços no ciclo de gestão social

7 – Anexos

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Listas de Figuras

Figura 1 – Mapa do Estado da Bahia / BA – Messoregiões

Figura 2 - Mapa do Estado da Bahia /BA – Região Sisaleira

Figura 3 – Mapa dos Territórios do Estado da Bahia / BA

Figura 4 – Mapa do Território do Sisal /BA

Figura 5 – Mapa Social do Território do Sisal /BA

Figura 6 – Mapa Institucional do Território do Sisal /BA

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7 – Anexos

1 Lista de entrevistados

2 Estado de Bahia - Território Do Sisal / Abrangência Territorial Investimentos da SDT – Ano 2006

3 Estado de Bahia - Território Do Sisal Ações da SDT – Ano 2006

4 Estado de Bahia - Território Do Sisal /Abrangência Territorial Produção Agrícola Lavoura Permanente - Quantidade Produzida entre 2004 a 2005 (t.)

5 Estado de Bahia - Território Do Sisal - Abrangência Territorial Produção Agrícola Lavoura Temporária - Quantidade Produzida entre 2004 a 2005 (t.)

6 Estado de Bahia - Território Do Sisal - Abrangência Territorial Produção de Leite - Quantidade Produzida entre 2003 a 2005 (mil litros)

7 Estado de Bahia - Território Do Sisal - Abrangência Territorial Produção de Mel - Quantidade Produzida entre 2003 e 2005 (t)

8 Estado de Bahia - Território Do Sisal - Abrangência Territorial Efetivo dos principais rebanhos entre 2004 e 2005

9 Estado de Bahia - Território Do Sisal – Abrangência Territorial Demanda Social do MDA

10 Estado de Bahia - Território Do Sisal – Abrangência Territorial Famílias assentadas em projetos de reforma agrária

11 Estado de Bahia - Território Do Sisal – Abrangência Territorial Empregos Gerados por Setor da Economia

12 Estado de Bahia - Território Do Sisal : Participação das atividades econômicas Agricultura e Pecuária na Arrecadação de ICMS no ano 2005 (%)

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APRESENTAÇÃO

O Diagnóstico do Território do Sisal apresenta um elenco de informações, dados e

observações, destinados a nortear as ações de instalação e acompanhamento do Núcleo Piloto de

Informação e Gestão Tecnológica para a Agricultura Familiar conduzido pela Embrapa no

âmbito do Projeto Agrofuturo - BID No. 1595/OC-BR.

Foram selecionados atores considerados relevantes para os objetivos da pesquisa e

tratados temas como: i) conformação territorial; ii) agricultura familiar; iii) núcleo piloto; iv)

experiências tecnológicas; v) meio ambiente; vi) expectativas e visões e; vii) aspectos gerais

(atuação das organizações e instituições locais, organização, liderança, projetos, pontos de

estrangulamento, demandas e parcerias).

A expectativa é de que o diagnóstico, aqui apresentado, possa orientar adequadamente as

decisões e as ações do Programa de modo referenciado no Território contemplado. Este

documento não pretende oferecer planos detalhados de ação, mas oferecer de forma clara um

diagnóstico resultante de um processo participativo.

Para finalizar agradecemos a contribuição e apoio dos pesquisadores da Embrapa e dos

inúmeros atores locais que ofereceram o seu valioso tempo para conceder entrevistas e

participar das reuniões convocadas durante o levantamento dos dados.

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INTRODUÇÃO

O Diagnóstico está estruturado em sete partes. A Introdução apresenta, brevemente, a

metodologia utilizada para o desenvolvimento do trabalho de levantamento dos dados, mostra

como foi realizada a mobilização e descreve as técnicas empregadas no processo participativo.

A segunda parte contém o marco espacial e histórico da formação do Estado da Bahia

com foco na conformação do Território do Sisal . A terceira parte mostra a realidade atual do

Território do Sisal , em seus vários aspectos: socioeconômicos, ambientais e tecnológicos.

O imaginário, na quarta parte, é trabalhado a partir do conhecimento da política do

Ministério do Desenvolvimento Agrário - MDA, da apropriação das estratégias de

territorialização por parte dos atores locais, do conceito de núcleo piloto e da identidade

expressada.

Na quinta parte são abordadas as instituições envolvidas, as lideranças e os conflitos que

servem de marco às ações territoriais.

Na última parte apresentam-se os produtos e resultados do processo de territorialização,

discorrendo sobre a formação de capacidades, planos, projetos e avanços no ciclo da gestão

social.

O diagnóstico contou com a colaboração de várias instituições do Território do Sisal, em

particular a oferecida pela Embrapa Semi-Árido e pela Associação de Desenvolvimento

Sustentável e Solidário da Região Sisaleira – APAEB. O trabalho também beneficiou-se das

entrevistas gentilmente concedidas por cada um dos atores envolvidos na pesquisa de campo. As

informações por eles concedidas foram importantes para captar as particularidades do Território

e pincelar sua realidade.

Além das informações oferecidas durante as entrevistas, muitos dos relatos informais

constam do diagnóstico, porém nos dois casos respeitou-se o anonimato. Um outro destaque

merece ser assinalado, o processo de mobilização dos atores territoriais durante as duas

coletivas realizadas em Valente contou com o apoio de José Nilton Moreira, pesquisador da

Embrapa e dos técnicos da APAEB. Eles em muito contribuíram para o incentivo à participação

das lideranças e demais instâncias representativas da comunidade do Território do Sisal.

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O interesse principal ao desenvolver esta pesquisa foi buscar um quadro mais

compreensivo das entidades, das ações, dos programas e dos projetos com foco na agricultura

familiar com rebatimento territorial. E, obter uma visão mais qualificada dessa discussão por

parte das entidades locais mais atuantes no Território.

O Território do Sisal foi visitado entre os dias 5 e 10 de fevereiro. O primeiro passo

metodológico consistiu na identificação das instituições mais importantes no desenvolvimento

do processo de construção do Território tanto na esfera local, estadual como federal.

Após identificação institucional realizaram-se 11 entrevistas1 semi-estruturadas com

atores locais representantes destas instituições e demais segmentos de interesse à pesquisa

como, por exemplo, representantes de movimentos sociais, associações, ONGs e órgãos

públicos. As entrevistas contribuíram, em especial, para a elaboração do retrato do Território

com ênfase na fala dos atores / instituições-chave do processo de fortalecimento da agricultura

familiar e, direta ou indiretamente envolvidos com o Programa Agrofuturo.

No território foram visitadas as cidade de Valente e Conceição do Coité. Em Coité foi

entrevistado o Professor José Plínio de Oliveira da Universidade Estadual da Bahia - UNEB.

METODOLOGIA

A estratégia metodológica que foi levada em prática possibilitou o contato e o

intercâmbio com os diferentes atores territoriais, com sua realidade, seus interesses e suas

aspirações e, principalmente com aqueles envolvidos com programas e projetos executados na

região, bem como na composição do Conselho Regional de Desenvolvimento Rural Sustentável

da Região Sisaleira do Estado da Bahia o CODES - Sisal.

Assim, as atividades desenvolvidas, ao longo da pesquisa de campo, foram conduzidas

de maneira que a coleta de informações abrangesse o maior número possível de representantes

das instituições municipais / territoriais.

A metodologia adotada atendeu a três pontos: i) compilação e análise de documentos

técnicos, dados secundários e material bibliográfico elaborado pelo MDA e fornecido pela

Embrapa; ii) entrevistas individuais com atores-chave identificados a partir do Plano Territorial

de Desenvolvimento Rural Sustentável - PTDRS e confirmados em reunião com José Nilton

Moreira ; iii) entrevistas coletivas realizadas com o intuito de elaborar o mapa social e o mapa

institucional do Território a partir da técnica Diagrama de Venn.

1 Ver lista em anexo.

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i ) Compilação e Análise de Dados e Documentos

Foram analisados estudos, planos e relatórios anteriormente produzidos, dentre os quais

o Plano Safra Territorial do Sisal (realizado em abril de 2006 sob a responsabilidade da

Secretaria de Desenvolvimento Territorial/MDA e da Secretaria de Segurança Alimentar-

MDS), o Estudo da Base Econômica Territorial/Território do Sisal (elaborado em junho de

2005 sob a coordenação do MDA), o Caderno Informativo, Conceitos & Metodologias

(material elaborado a partir do Seminário Desenvolvimento Territorial da Bahia: Uma Política

Articulada realizado em dezembro de 2004 e publicado em maio de 2005) e, o livro intitulado

Territórios de Identidade: um novo Caminho para o Desenvolvimento Rural Sustentável

na Bahia (publicado pela Coordenação Estadual de Territórios- CET em 2006).

ii )Entrevistas individuais

Foram realizadas 11 entrevistas com o objetivo de: i) obter informações mais detalhadas

sobre as dimensões abordadas no diagnóstico; ii) cruzar as informações advindas das entrevistas

individuais com as coletivas; iii) apreciar as expectativas dos atores territoriais, no tocante ao

Programa Agrofuturo e, sobretudo, à implantação do Núcleo Piloto.

As entrevistas foram registradas por escrito e constituem uma fonte de informações de

alto valor já que possibilitaram uma visão clara e abrangente da problemática territorial bem

como da formação e organização do Território do Sisal.

iii) Entrevistas Coletivas

As coletivas tiveram como objetivo principal levantar dados qualitativos tendo como palco as

discussões geradas durante sua aplicação. Os objetivos secundários foram: i) informar aos

participantes sobre o Agrofuturo; ii) mostrar aos participantes a necessidade de iniciar um

processo de organização territorial entorno da implantação do Núcleo Piloto.

A participação dos atores territoriais no processo de elaboração do diagnóstico foi

crucial. Foi concretizada por meio de duas coletivas realizadas na sede da APAEB e da Coopere

- integrante do Sistema de Cooperativas de Credito do Brasil / SICOOB, contaram ao total com

quatorze (14) participantes de diversas instituições entre elas: APAEB/Valente, Rede de

Parceiros da Terra - REPARTE, CODES, Movimento de Organização Comunitário - MOC,

EMBRAPA e Casa da Cultura de Valente.

Os participantes foram orientados quanto às técnicas e processos a utilizar para o cumprimento

dos objetivos acima indicados, de forma que se captasse a opinião da comunidade quanto à: i)

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identificação dos problemas considerados como os mais importantes enfrentados pelo território

e; ii) indicação das potencialidades do território.

Das reuniões resultaram valiosos subsídios não apenas para a fase do Diagnóstico como,

também, para a discussão e socialização de problemas e soluções apontados por diversos

segmentos.

No caso específico do Mapeamento Institucional foram identificadas e listadas as

instituições das esferas federal, estadual e municipal consideradas, na opinião dos atores

entrevistados, como importantes e atuantes no Território do Sisal. Durante a aplicação desta

técnica procurou-se fazer uma representação gráfica das instituições e de suas relações,

elaborada junto aos representantes das mesmas, permitindo complementar e aprofundar as

informações obtidas por intermédio das entrevistas.

Para levantar de maneira rápida e eficaz um maior leque de informações a respeito das

instituições territoriais foi aplicada a técnica Diagrama de Venn. Esta técnica consiste na

identificação e designação de lugares no cenário territorial das instituições, segundo sua

importância e atuação. A atuação é representada graficamente de acordo com a distância que a

instituição ocupa com respeito ao circulo central que representa o Território do Sisal. Assim,

mais distante do circulo central menos atuante, mais próximo do circulo mais atuante. As setas

representam as relações que se estabelecem entre as instituições, sejam elas boas, regulares ou

comprometidas.

Já o Mapa Social é uma técnica que facilita o intercâmbio de informações e sua

verificação por um grupo maior de pessoas-chave. Mostra graficamente os diferentes aspectos

do território (espacial, ambiental, tecnológico, econômico, sociocultural e institucional). O mapa

serve de análise e discussão da situação atual do território por intermédio de uma visão

compartilhada que levanta os problemas e as potencialidades.

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“Tudo é feito com um pé na terra e o olhar no campo”(Professor José Plínio de Oliveira, trecho da entrevista)

2- Marco

2.1 – Marco Espacial

O Estado da Bahia ocupa 64% da região do semi-árido nordestino dividido em 258

municípios que abrigam cerca de seis (6) milhões de pessoas. Mais de dois terços desta

população encontram-se na zona rural e representam os índices mais baixos de desenvolvimento

humano do país – IDH (BAHIA ANALISE &DADOS, 2004)2. O Território do Sisal esta

inserido nestes dados com quatro (4) de seus municípios classificados dentre os 20% mais

pobres do país e ainda cinco (5) deles são classificados entre os 10 % com os piores índices de

pobreza3.

Na economia baiana constam culturas tradicionais de exportação como o cacau, o fumo,

a mamona e o sisal e as culturas de subsistência como a mandioca, o milho, o feijão e o coco.

São estas culturas combinadas e superpostas que dinamizam parte da economia do Estado.

A agricultura familiar compreende o contingente majoritário do número de

estabelecimentos rurais no território baiano. Segundo estudo patrocinado pelo MDA, dos 699

mil estabelecimentos rurais localizados na Bahia, 623 mil (89%) são de base familiar.

O Estado, em dados de 2004, ocupava o primeiro lugar no ranking de produção do sisal

mostrando a força desta commodities. A produção de sisal e seus derivados representa 2,89 %

das exportações do estado. O destino final das exportações é o conjunto de paises que

conformam o NAFTA4 (65,2%) e a União Européia (34,8%). Os principais compradores são os

Estados Unidos e a China (http://www.seplantec.ba.gov.br)5.

2 Bahia Análise & Dados, V.1 Salvador: Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia, 2004. p. 863. 3 Conferir Wilson José Vasconcelos Dias [et al]. Territórios de Identidade: um novo caminho para o desenvolvimento rural sustentável da Bahia. Feira de Santana: Gráfica Modelo, 2006. 4 Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (North American Free Trade Agreement) ou NAFTA, são signatários o Canadá, o México e Estados Unidos da América.5 No ranking da produção mundial destacam-se México, Quênia, Tanzânia e China.

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O estado abriga 52 municípios produtores, e colhe cerca de 180 mil toneladas

anualmente, com produtividade média de uma tonelada por hectare. O Brasil lidera o ranking

mundial, com 210 mil toneladas por ano de fibra seca, metade das quais é exportada.

A região conhecida como “região saleira” é caracterizada pela predominância de uma

economia agrícola e por ter a maioria da sua população estabelecida na zona rural. Uma das

principais atividades agrícolas na maioria dos municípios dessa região advém da produção do

sisal (“Agave sisalana”). O cultivo deste é desenvolvido em pequenas propriedades e o seu

beneficiamento feito com técnicas tradicionais de cultivo e beneficiamento empregando altos

índices de mão-de-obra.

A região econômica Nordeste da Bahia tem uma parte do seu território na “região

sisaleira”. Nesta mesorregião encontra-se o território do Sisal que ocupa parte da bacia do

Paraguaçu, área em que predomina a vegetação de caatinga arbustiva e arbórea própria do clima

semi-árido com longos períodos secos e presença de solos de difícil manejo do tipo planossolo e

litólicos. Figura 1 - Mapa do Estado da Bahia /BA – Messoregiões

Fonte: Bahia Análise & Dados, V.1 Salvador: Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia, 2004

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Mesorregião Nordeste

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Figura 2 - Mapa do Estado da Bahia /BA – Região Sisaleira

2.2 – Marco histórico

A ocupação humana do sertão baiano acompanhou os cursos dos rios alheia aos avanços

do resto do país. Após a abolição das sesmarias a agricultura familiar surge ocupando terras

incultas caracterizando um processo ilegal que só seria legalizado com a Lei de Terras de 1850.

Esta agricultura encontra na produção de cultura de subsistência e no uso da mão-de-obra

familiar seu sustento até os dias atuais apesar das condições adversas como a escassez de água,

falta de infra-estrutura básica, aridez do clima e pressões políticas. As condições climáticas

desfavoráveis fizeram do semi-árido nordestino uma área destinada quase exclusivamente à

criação extensiva de gado.

Com a chegada do sisal, na década de 1940, as condições de isolamento começaram a

mudar havendo integração às políticas econômicas e sociais cujo principal marco esta

referenciado nas políticas desenvolvimentistas que o Brasil assume. Nesse sentido surgem

políticas publicas focalizadas no sertão e interessadas na integração do sisal à economia

nacional através da exploração comercial da fibra do sisal, matéria-prima da região. Isto trouxe

o nascimento de novos municípios que ainda hoje são marco na produção sisaleira: Araci em

1956, Valente em 1958, e Ichu em 1962.

Mas também, no bojo, trouxe a exploração do sertanejo por um poder político regional

pouco interessado nas mudanças sociais. O sentimento de religiosidade foi uma das saídas

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encontradas para resistir tanto pressões climáticas como políticas. Muitas das ações

comunitárias e de organização tiveram alicerce nos trabalhos realizados pelas pastorais rurais da

igreja católica e que atualmente são marca registradas da população nordestina na luta contra as

limitações climáticas e conseqüente escassez de recursos naturais. Este é o cenário onde

crescem algumas das lideranças como a APAEB.

Para alguns autores houve um processo de diversificação da produção baiana assentados

em dois momentos. O primeiro vinculado à crise dos produtos tradicionais, como cacau, fumo,

café, algodão sisal e mamona, que se inicia nos anos 1970 e relacionados com múltiplos fatores

com pragas, falta de mercados, preços baixos, dentre outros. O segundo atrelado ao surgimento

de uma agricultura moderna com tecnologias produtivistas. O sisal passa, então, por um

processo de recuperação e acaba conquistando espaço nos mercados internacionais. (BAHIA

ANALISIS & DADOS, 2004).

Fonte: Sistema SIT – SDT/MDA

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Figura 3 - Mapa dos Territórios do Estado da Bahia

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3 - O território – Ministério do Desenvolvimento Agrário

3.1 – O Território

O território está conformado por vinte (20) municípios: Araci, Barrocas, Biritinga,

Candeal, Cansançao, Conceição do Coité, Ichu, Itiúba, Lamarão, Monte Santo, Nordestina,

Queimadas, Quinjingue, Retirolândia, Santa Luz, São Domingos, Serrinha, Teofilândia, Tucano

e Valente. Possui uma população total de 554.711 habitantes em uma área de 20.454 km² . O

número de estabelecimentos rurais familiares para o Censo de 1996 era de 64.350 sendo o

primeiro dos 10 territórios da Bahia. Segundo dados do INCRA, 2006 o numero de

assentamentos é de 52, correspondendo a 2.063 famílias, que ocupam 73.585 hectares. O índice

de analfabetismo corresponde a 34,2% e o IDH municipal é de 0,589.

Figura 4 - Mapa do Território do Sisal /BA

Fonte: CODES – Resumo Executivo 2006

No Território do Sisal, 63% da população residem nas áreas rurais. A agricultura

familiar predomina em 93% das propriedades e equivale a 76% da população economicamente

ativa local. 9,7% dos agricultores familiares da Bahia estão neste território e, entre estes, 68,5%

são classificados como quase sem renda. Entre os mais de 100 territórios apoiados pela MDA, é

o Território com maior concentração de agricultores familiares e onde se emprega mais pessoas

por hectare, correspondendo ao dobro das medias estadual e nacional.

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3.2 – Mapa Social

O mapa social desenhado pelos participantes distinguiu basicamente quatro aspectos: o

institucional, o produtivo, o ambiental e o cultural.

As entidades sejam elas da sociedade civil ou dos órgãos públicos foram implantadas na

maquete aqui reproduzida. Assim foram ganhando forma os prédios da Prefeitura, da

Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira- APAEB6, da

Universidade Estadual da Bahia- UNEB, da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola -

EBDA, da Fundação de Apoio aos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares da Região do

Sisal e Semi-árido da Bahia- FATRES, das cooperativas de produção, a Cooperativa Regional

de Artesãs Fibras do Sertão- COOPERAFIS, das associações, do sindicato, dos bancos, das

ONGs, da Igreja Católica e da Escola Familiar Agrícola – EFA.

Os 20 municípios que conformam o Território não foram nomeados apenas um deles

ganho destaque- o município de Valente que aparece bem no centro do Território fazendo uma

dupla com o CODES Sisal - Conselho Regional de Desenvolvimento Rural Sustentável da

Região Sisaleira do Estado da Bahia

O samba de roda, os reizados, o mutirão, o boi roubado e as festas religiosas foram

valorizadas como expressões de arte, cultura e religiosidade.

Do ponto de vista ambiental alguns itens ganharam traços como, por exemplo, os rios de

Itapicuru e de Paraguaçu que banham o território. As pedras, o minérios, as olarias e a cerâmica

também estão presentes. O turismo rural como atividade que pode vir a complementar a renda

do agricultor familiar foi priorizada.

O espaço da economia foi preenchido com as referências ao feijão, mandioca e milho. A

pisicultura, a caprinocultura, a bovinocultura, a suinocultura e a apicultura foram lembradas. O

sisal é claro teve lugar de destaque. (Ver Figura 5 - Mapa Social do Território do Sisal/BA )

6 Incluem a TV- Valente e a Radio Valente FM.

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Figura 5 - Mapa Social do Território do Sisal/BA

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DNOCS

Rad io

C om unitár ia

Rio Itapicuru

Rio Paraguaçu

Valente

V alente

C oop eafe s

EBDA

In d u s tr ia

A s s oc iaçõesC om un itár ias

Produção

CAR

Turismo

Católica

Prefeituras

Lactic ín io

D a C ab ra

O NG sA rco Se rtão

M O C / Rep arte

O lar ias

C as a

d o M e l

Fe ijão

M ilhoM and io ca

C alçad o sV ia Uno

FA TRES

CODESAPAEB

UN ICA TES

M iné rio

P iscicultura CooperativaS isal S indicato dos T rabalhadores eA gricultura F amiliar

CaprinosS uínosL eiteCaprino/B ov ino

BancosPúblicos

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3.3 - Situação socioeconômica e ambiental predominante

A produção pecuária esta repartida entre caprinocultura, ovinoculura, bovino,

suinocultura e produção de leite. Dentre as culturas para exportação destaca-se a mamona com

480 hectares de área plantada e uma produção de 154 toneladas em 20047. A produção de frutas

está restringida à banana (pouco expressiva) com apenas 80 hectares de área plantada e uma

produção de 918 toneladas no ano de 2004, e à laranja com 119 hectares de área plantada e 1314

toneladas produzidas para o mesmo ano.

O sisal aparece associado à pastagem que serve de suporte à pecuária extensiva de

bovinos e caprinos destinados à produção de carne e leite. As culturas de subsistência que

predominam são: a mandioca, o feijão e o milho. Das commodities, o sisal tem destaque com

102.890 hectares plantados e uma produção de 87966 toneladas seguida do café quase

inexpressivo junto com a cana-de-açúcar ( IBGE, 2004).

Alem do sisal que ocupa quase 10% de toda a área cultivada do território, destacam-se

ainda as cultura temporais do feijão, milho e mandioca que juntas ocupam 12% e as pastagens

que chegam a predominar em 56% da área. O restante das áreas das 65.000 propriedades rurais

do território é formada por caatinga ( vegetação natural) que ocupa 11% do total e 11% de terras

não utilizadas. A pecuária de corte vem em segundo lugar no ranking das atividades econômicas

rurais, sendo explorada por 66% dos proprietários e respondendo por 47%, média, da renda das

famílias ( DIAS, 2006).

A derrubada e queimada da caatinga causa impactos na flora, fauna e solos. Extensas

áreas de pasto degradadas, erosão de solos, poluição dos rios foram apontados como os

principias problemas ambientais. Perante este quadro foram criadas comissões temáticas de

meio ambiente no Território que vem organizando seminários para tratar do assunto.

Os principais municípios do Território produtores de sisal são Conceição do Coite,

Retirolândia, São Domingos e Valente. Este último é conhecido como a capital do sisal,

localiza-se a aproximadamente 232 km da capital do Estado. Ao total possui XXXX habitantes

dos quais mais de 8 mil vivem na zona rural, trabalhando principalmente em plantações de sisal.

È responsável por 85% da safra nacional.

Como em todo o semi-arido nordestino, a concentração fundiária impera no territorio:

70% dos estabelecimentos possuem menos de 10 hectares e ocupam apenas 11% da área total,

7 Dados do IBGE – Pesquisa Agrícola Municipal, 2004.

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enquanto 53% da área é ocupada por 3,1 % dos estabelecimentos com mais de 100 hectares. Os

estabelecimentos ate 10 hectares empregam 67% de todo o pessoal ocupado enquanto o segundo

( mais de 100 hectares) empregam menos de 4% do pessoal. A renda per capital atual é de R$

77,76 (no estado é de R$ 162,00) e o analfabetismo é de 34,4%.

3.4 – Inovação Tecnológica

Ao final da técnica de mapeamento social uma frase expressou o que para eles- atores

territoriais, é um dos maiores empecilhos para o desenvolvimento do Território, a falta de

tecnologia: ”a carência de tecnologia é muito grande. O que tem aqui é de 40 anos atrás. A gente

precisa produzir alimentação em período critico”.

Algumas experiências, contudo, foram mencionadas. Os trabalhos feitos pela

COOPERJOVENS8, através da fabricação de telhas e calhas realizadas com matrizes de

argamassas reforçadas com fibras de sisal.9 A cooperativa, cujos membros são filhos de

agricultores familiares, esteve dedicada inicialmente à reciclagem de papel e produção de

artefatos de cimento e sisal nos municípios de Araci e Queimadas. Hoje conta com terreno

doado pela prefeitura de Retirolândia para a instalação de uma unidade de produção de artefatos

de argamassa reforçada com fibras de sisal. E ainda conta com recursos do Pronaf - MDA como

pontapé inicial para o desenvolvimento de novas tecnologias.

Junto com a EMBRAPA, colocaram, têm desenvolvido projetos para o plantio de

mandioca porém, “foi muito pontual e não conseguiu fazer a ponte com os produtores, não deu

treinamento mais específico- acrescentou um sócio da APAEB.

A EMBRAPA tem desenvolvido algumas ações na Escola Família Agrícola ligadas ao

sisal e ao amendoim, contudo mais uma vez os entrevistaram disseram que ditas ações não

envolvem o Território como um todo.

No campo da agroecologia são limitadas as experiências: “ a discussão da agroecologia

aqui é muito incipiente”, agregou uma das associadas da COOPERAFIS. Outro participante

das técnicas complementou: “experiências agroecológicas não trabalhamos porque não temos

8 No âmbito do projeto Desenvolvimento de componentes de edificações em fibra de sisal-argamassa a serem produzidos de forma autogestionária/ PROSISAL - ações da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Universidade do Estado da Bahia (ITCP/Uneb). obteve financiamentos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Programa Habitare, e do Banco do Nordeste (Etene/Fundeci),9 COOPERJOVENS - Cooperativa de Produção dos Jovens da Região do Sisal é a experiência juvenil de cooperativismo solidário reconhecida na região que atua em 13 municípios todos eles do Territorio do Sisal: Araci, Cansanção, Conceição de Coité, Monte Santo, Nordestina, Queimadas, Quijingue, Retirolandia, Santa Luz, São Domingos, Serrinha, Tucano e Valente.

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tecnologia”. Mas apontam a iniciativa do município São Domingos que está investindo na

produção de alimentos sem agrotóxicos, assim como a promoção da primeira Feira da

Agricultura Familiar em Valente.10

Mas uma das associadas da COOPERAFIS ressalta o uso de corantes naturais

produzidos a partir de resíduos de árvores nativas da região (angico, jurema e baraúna) como

uma ação inovadora de uso sustentável dos recursos do semi-árido.

Algumas parcerias entre a APAEB e o MDA para desenvolver pesquisas com pinhão

manso na tentativa de implantar culturas oleaginosas para produção de biodiesel foram

descritas: “Há sete meses plantamos aqui em Valente, em Santa Luz e São Domingos, nas

propriedades dos agricultores familiares mudas que vieram de Minas”. Este é um exemplo de

unidades demonstrativas do pinhão manso consorciado com girassol, abóbora gerimum,

melancia e palma iniciado em 2006 como controle agroecológico para evitar pragas e doenças.

Outra experiência destacada foi a desenvolvida pelo SEBRAE com apicultura. Os

arranjos produtivos do mel têm significado investimentos na capacitação tecnológica e

organização social. Araci e Tucano são dois dos municípios beneficiados por este projeto.

O projeto de tecnologias de processamento de produtos no semi-árido dirigido à

segurança alimentar e desenvolvido pela EMBRAPA em parceria com a APAEB em três

municípios do Território: São domingos, Valente e Santa Luz tem possibilitado o

processamento de frutas e aproveitamento dos resíduos para alimentação humana assim como

adequação de tecnologias tradicionais da mandioca

Há também a experiência com a construção de cisternas coletivas11 utilizando a água de

chuva acumulada para consumo. Este é um projeto que atende os municípios de Retirolândia,

Valente e Santa Luz.

Em geral, os arranjos produtivos locais estão direcionados ao sisal, isto é,

desenvolvimento de novas máquinas e de aproveitamento das fibras, concluíram os

entrevistados.

4- Imaginário

4.1 - Conhecimento da política do Ministério do Desenvolvimento Agrário

10 A feira de agricultura familiar foi organizada também nos municípios de Serrinha e Conceição de Coité. 11 Com apoio do Exército norte-americano através da Winrock International, uma instituição norte-americana que apóia projetos de energia alternativa e mantém antiga parceria com a APAEB

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Depois de quase quatro anos de iniciadas as ações de desenvolvimento rural do MDA os

entrevistados concordaram em afirmar como bem sucedida a política de territorialização na

medida em que é vista como expressão de projetos e de aproximação entre o poder publico e a

sociedade civil. Embora essa relação dependa muito das instituições e do apoio que

efetivamente deram no inicio do processo.

Esta nova forma de gestão (territorial) gerou muitas expectativas e atraiu muitos e

diversos interesses nem sempre coincidentes, sinalizaram. Em outras palavras, percebeu-se uma

tensão entre dois grupos de atores – historicamente antagônicos que a chegada do MDA avivou

em um primeiro momento na pretensa corrida por recursos financeiros. Essa tensão pode ser

explicada pela força da organização da sociedade civil existente antes do MDA e pela tradição

coronelista do nordeste. Ou seja, esses dois fatores precisaram se “juntar” para receber a política

federal. Essa questão foi observada por um dos entrevistados e colocada da seguinte forma: “ o

Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável - PTDRS foi feito pela sociedade civil.

Ela se empoderou de todas as informações, enfim., o poder publico não ia [ nas assembléias do

CODES] e deu desequilíbrio. Quando chegou o recurso a relação [ sociedade civil e prefeituras]

não estava implementada”.

Poucas prefeituras, apontaram os entrevistados, estiveram representadas e nesses casos a

conexão era feita apenas pelas Secretarias de Agricultura.

Os movimentos sociais com tradição na região apropriaram-se rapidamente da nova

concepção fazendo propaganda e obtendo resposta dos demais grupos sociais. Esta mobilização

produziu a reação do poder publico fazendo com que alguns prefeitos começassem a participar e

incorporar a nova idéia, uma grande maioria apresentando projetos individuais na busca de

recursos por intermédio do MDA e ainda outros que perderam recursos por não “comprarem” a

idéia da Secretaria de Desenvolvimento Territorial. Este quadro é resumido por um outro

entrevistado quando atenta uma resposta para a situação: “A sociedade civil sozinha não pode e

o poder público perde votos”.

A relação entre sociedade civil e sociedade civil (pensada pelos informantes como as

várias representações) também foi trazida à discussão durante as entrevistas: “às vezes há

aranhões, é uma coisa de poder. Há atritos. [As associações] Sobem no salto alto”.

Contudo consideraram que o MDA tem ajudado a dar um equilíbrio e a diminuir esses

atritos em prol do Território e não apenas uma parte dele - o município. Essa política de

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articulação e de aproximação entre instituições é bem vista, assim como eles próprios

apontaram: “é animadora pela formação de consciência coletiva”.

Porém se propagou, como uma crítica à política do MDA, a repetida expressão: “tudo se

resume ao crédito, ao PRONAF”.

No Território do Sisal as ações, até então, estão centradas em alguns focos estratégicos,

definidos pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Região Sisaleira -

CODES: o sisal, a caprino-ovinocultura, a apicultura, o artesanato e a avicultura de quintal.

Em relação ao CODES - anterior à política do MDA, observaram o trabalho que vem

realizando apoiado pela Secretaria de Desenvolvimento Territorial – SDT. “trabalha com o

fortalecimento das instituições. O foco do CODES é buscar meios para fortalecer as entidades

que atuam no Território” Outro entrevistado agregou: “pela metodologia do CODES se acaba

pensando em Território. Trabalhamos com a demanda. Tudo funciona no voto, senão não é

contemplado”.

Dentro do CODES “tudo é discutido”. A imagem do CODES no Território quiçá não

encontre melhor expressão do que a dita por um dos atores mais carismáticos: “ O CODES me

entende melhor que a universidade”.

4.2 - Apropriação da estratégia de territorialização por parte dos atores

O CODES12 é uma espécie de coordenador do Território, disse um dos entrevistados. No

inicio diz outro: “todo mundo queria puxar para seu lado, principalmente as prefeituras. Hoje

estão vendo que é o Território e não uma cidade. Amadureceram muitas coisas”. A ausência de

apoio do poder público local criou problemas que levaram a perda de recursos: houve falta de

dialogo entre a sociedade civil e as prefeituras, completa outro ator.

Mas ao mesmo tempo observam que o Território é muito grande com interesses muito

diversos o que faz com que as negociações e o consenso sejam difíceis por isso a ênfase em

eleger prioridades. Ainda que sejam vistas com muitas falhas a entrada das políticas de

territorialização e as ações da SDT são definidas como agregadoras de valor, geradoras de renda

e redutoras do êxodo rural. O grande desafio coloca um técnico é “neutralizar os conflitos

provenientes das visões político-partidárias. Ter parceiros para contribuir”. Citaram como

12 O CODES surge em dezembro de 2002 mas suas origens remontam a 1998 nas discussões sobre convivência com o semi-árido. Os protagonistas eram a FATRES, a APAEB e o MOC. Hoje conta com representantes de aproximadamente 50 organizações entre sociedade civil e poder público.

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exemplo a construção do laticínio como ação de fortalecimento do territorio como uma causa

que foi abraçada pelo coletivo e que superou os interesses particulares.

A compra de dois carros para auxiliar na assistência técnica realizada pela APAEB e

conseguidos através da parceria com o MDA é também considerado como ponto forte. Mas

novamente é ressaltada a falta de comprometimento dos poderes públicos com as questões

ligadas à agricultura familiar, com destaque para os municípios de Valente e Santa Luz.

As secretarias de agricultura envolvem-se mais, porém dispõem de pouco recurso e

acabam realizando trabalhos burocráticos, complementam.

Durante os primeiros passos no processo de territorialização o MDA contou com alguns

parceiros locais como o Pólo Sindical, a FATRES e o MOC, entidades de longa trajetória na

região sisaleira com assessoria técnica, capacitação, formação de lideranças e discussões sobre

desenvolvimento social territorial.

Antes do CODES13 e do MDA, comentaram, as instituições trabalhavam separadas.

Hoje, disseram, o grande desafio do CODES é trabalhar com essas diferentes forças. Já em 2003

com a parceria do MDA apostou-se nele para promover o desenvolvimento: “o CODES cresceu,

todos reconhecem que convoca, que faz planos” conclui um dos técnicos entrevistados.

Porém outro agregou: “aqui a questão da articulação institucional é muito emperrada. O

poder público está muito afastado. Hoje já fizemos mais reuniões, mais articulação com a

secretaria de agricultura, com as outras ainda não se teve uma articulação mais forte como com

a secretaria de agricultura familiar”, completou um membro do CODES.14 Alguns prefeitos nem

assinam os convênios e não tem acesso aos recursos, concluiu.

4.3 - Conceito de Núcleo

Apesar do Projeto Agrofuturo ser pouco conhecido (a não ser entre os parceiros locais) e

a implantação do Núcleo ser considerada uma incógnita pela grande maioria dos entrevistados,

uma sorte de informações foram levantadas na pesquisa de campo.

A implantação do Núcleo provoca inquietações significativas quando levantada a idéia

de estar associado a mais um diagnóstico dentro do Território. Em busca de ganhos de tempo e

poupança de multiplicação de esforços foi lembrado o trabalho já feito pelo CODES : “ O

CODES já tem uma base de informações e demandas consensuadas. Eles [CODES-

EMBRAPA] têm que se complementar”

13 O coordenador executivo exerce a função de articulador territorial.14 Em nível estadual foi criada na Secretaria de Agricultura uma Superintendência de Agricultura Familiar.

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Em relação à “fluidez” das informações observaram que o “contato estava restrito à

EMBRAPA com a APAEB”. Daí um outro entrevistado colou a preocupação do Agrofuturo não

ter sido discutido no CODES.

Importa também destacar que há uma preocupação com a maneira que será feita a

coordenação do Núcleo e seu arco de atuação: “o ponto de partida é a escolha dos representantes

e a escolha dos municípios”. Ou seja, sugeriram atender as demandas diferenciadas. Mas para

isto “a EMBRAPA deve falar ‘me demande’. Tem que ajudar às pessoas e organizações

aprenderem a demandar”. Outro entrevistado complementou: “precisa de pessoas para provocar

o debate”.

Ao que tudo indica15, o município de Valente concentra as informações e unifica os

discursos: “aqui uma liderança está em tudo e acaba não fazendo nada” completou o

representante de uma entidade local.

O Núcleo invariavelmente colocado como braço da Embrapa no Território foi associado

ao novo papel que a empresa se propõe: “a EMBRAPA tem gerado informações distantes dos

agricultores. Ela deve traduzir essas informações cientificas”. Ela [EMBRAPA], acrescentaram:

“ precisa buscar parcerias nas instituições, perceber as demandas e perceber onde cada região é

carente de cada assunto”.

Na seqüência, algumas das falas nas quais os entrevistados sugerem estratégias para a

“decolagem” e bom funcionamento do Núcleo:

- “O território é muito grande daí que devemos eleger prioridades senão vamos acabar

atirando para todos os lados e ao final não ter resultados palpáveis”;

- “ na discussão não ficou claro como vai ser a atuação do núcleo. Hoje para atuar no

Território tenho que buscar o melhor parceiro seja prefeitura, seja Banco do Brasil”;

- “A EMBRAPA é muito a cara de Petrolina e Juazeiro, muita agricultura irrigada. Tem

que montar estratégia para ir ao agricultor familiar”.

- “ A primeira apresentação do Agrofuturo foi em Salvador. O espírito dessa foi mais

para assinar convênio. Agora precisa mais em nível local, fazer apresentações”.

- “Se a gente não for bom articulador pode chegar para pedir informação só aquele cara

de Valente e dos arredores”.

- “ter apenas um escritório não é interessante. Precisamos mais pratica, discutindo e

pesquisando com os agricultores familiares.

15 Não foram visitadas outras experiências em municípios vizinhos. Apenas a UNEB no município de Conceição do Coité.

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- “Já cobramos do Nilton [EMBRAPA] publicitar o Núcleo. Nosso plano aqui era

chamar os secretários de agricultura de cada um dos municípios e dois ou três

representantes da sociedade civil dos municípios”.

Um dos atores ainda sugeriu uma estratégia mais detalhada dividida em três passos: i)

visibilidade e publicidade; ii) sensibilização dos órgãos públicos e da sociedade civil (o que é [o

Núcleo], o que vai fazer e onde vai trabalhar); iii) ir de fato nas propriedades e ver de perto as

necessidades dos agricultores familiares”.

4.4 Identidade expressada

Os atores fazem jus ao nome do Território que lhes acolhe. O sisal é, em primeiro lugar,

o elemento que melhor define sua identidade. Alguns até lembraram da época que o sisal na

região “era igual ao cacau do sul da Bahia, dava no mato”.

O artesanato do sisal é tido como a “imagem-marca” conhecida tanto nas áreas rurais

como nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, nos desfiles de moda (colares e bolsas) e nas

peças exportadas (tapetes) para diversos paises.

Outro elemento de identidade mencionado e, não menos importante, considerado por

muitos dos entrevistados como fundamental para o sisal ter toda essa visibilidade, inclusive

além fronteiras, é a organização. O poder de organização é marcante na região sisaleira e teve

forte presença do Pólo sindical.

A criação do CODES, a participação no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil -

PETI e as rádios comunitárias foram experiências mencionadas como exemplo dessa força de

organização.

5 - Ações

5.1. Instituições envolvidas

Segundo os participantes da técnica mapa institucional há uma infinidade de instituições

envolvidas com o desenvolvimento do Território do Sisal. Contudo dezesseis (16) foram

listadas como as importantes16 para o Território, a saber: FATRES, CODES, SICOOB, APAEB,

Igreja Católica, MOC, Centrais de Associações (Arco Sertão), EBDA, Prefeituras, Rede de

16 A listagem é aleatória e não reponde a uma ordem classificatória por importância.

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Escolas Familiares Agrícolas do Semi-árido, Rádios Comunitárias (Abraço), MDA, SEBRAE17,

EMBRAPA e UNEB.

Na tentativa de reduzir este numero para poder completar com sucesso a técnica

solicitou-se que fosse realizada nova seleção que permitisse trabalhar com maior precisão a

atuação de cada uma delas e as relações inter-institucionais. Assim ao final 9 instituições foram

distinguidas por consenso e trabalhadas nas suas relações como mostra-se ao final do item.

A representação gráfica é o resultado destas relações mostradas de acordo com o

seguinte critério: seta em dois sentidos (boa interlocução), seta em um só sentido aponta a

direção em que ocorre mais frequentemente a comunicação (interlocução regular), linha

pontilhada (interlocução comprometida).

Figura 6 - Mapa Institucional do Território do Sisal /BA

Durante a construção do mapa, os atores foram elencando uma serie de observações de

extremo valor no entendimento da dinâmica institucional territorial sisaleira Parte destas

observações são apresentadas a seguir conservando a fala original:

FATRES

É inegável a importância da Fatres e seu papel no Território. O ator forte em cada

município é o sindicato. Às vezes é o único ator. A FATRES em parceria com o INCRA dá

assistência técnica em assentamentos de quatro (4) municípios do território, Santaluz, Coité,

Cansanção e Quijingue.

CODES

O CODES é o Território. Representa o Território. Tem reconhecimento pela trajetória

ainda que seja de 3-4 anos apenas. Esta no processo de aprimoramento. Uma das dificuldades

enfrentadas pelo CODES é a incompreensão de alguns atores sobre a importância dele. Ainda

tem essa dificuldade dentro da sua própria diretoria e acaba não decolando como poderia. O

17 O SEBRAE foi recentemente incorporado no CODES.

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CODES é um projeto em construção. O que da visibilidade ao CODES é o instrumento

democrático onde os atores participam.

SICOOB-Coopere

O SICOOB tende a ter uma participação mais efetiva dentro do território porque começa

a desenvolver o trabalho com PRONAF. A SICOOB tem as limitações da própria função. Não

esta fazendo mais do que o acesso ao sistema financeiro. As cooperativas de credito dão

cidadania aos agricultores familiares marginalizados do sistema financeiro do país. O trabalho

das cooperativas é limitado ainda não estão atuando tanto com assistência técnica. Estão

deslanchando. È claro que há um avanço das cooperativas isso do ponto de vista econômico mas

se olhar para o aspecto social o SICOOB faz pouco dentro da parte social, o social ainda esta

fora.

APAEB

Há problemas com APAEB. É o único empreendimento social aqui no território, mas

precisa se fortalecer. Se APAEB não estiver presente não se vê o lado positivo, é realmente

atuante. Ela ainda não é atuante em todos os municípios do Território. A APAEB tem atuação

local, estadual e internacional. APAEB está para a cadeia produtiva do sisal como o SICOOB

está para o acesso ao credito.

IGREJA CATOLICA

Há falta da igreja católica no Território. A atuação realmente tem decepcionado. A

Diocese de Serrinha foi criada recentemente. A discussão dela nas políticas de desenvolvimento

não tem se dado. A Igreja trabalha nos assentamentos. Em Itiúba tem a CPT.

MOC

Tem muitos trabalhos. Todo mundo conhece. É um catalisador dos outros atores. Aqui o

MOC ajuda, dá o apoio logístico. Atua aqui há muitos anos.

EBDA

Existem técnicos com vontade, mas há uma ausência da EBDA. A EBDA é o

responsável estadual pela assistência técnica, mas... Pelo menos existe. A EBDA proibiu que os

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técnicos participassem das reuniões do CODES, parece que vão se incluir agora. No território a

assistência técnica está complicada. Aqui a EBDA tinha boa vontade, mas não tem recurso, está

desarticulada, não têm técnicos, não tem gasolina. O Estado tem uma assistência técnica

dilapidada. Em Queimadas tem 25 mil pessoas e só um técnico. Não há concurso público, por

conta disso o MOC, REPARTE18, APAEB prestam esse serviço.

PREFEITURAS

Umas prefeituras do território avançam mais do que outras porque apesar delas não

entender a política de desenvolvimento territorial, algumas têm ações de desenvolvimento nos

municípios. As prefeituras tinham condição de fazer mais. Podiam participar mais do CODES.

MDA

O MDA só aporta recurso. Complementa a renda. Faz a articulação. A Secretaria de

Agricultura Familiar está mais relacionada ao credito. O MDA forma consciência coletiva.

5.2 - Lideranças no território

As instituições mais lembradas e consideradas protagonistas e coadjuvantes da política

federal são: a FATRES19, O MOC20 e a APAEB21. Contudo a atuação no Território não é

recente. A FATRES, segundo os entrevistados, possui destaque graças aos projetos de

capacitação e formação de lideranças e trabalhos com os conselhos municipais de

desenvolvimento rural . Além de elaborar projetos do PRONAF em parceria com o MOC e

DISOP22. O MOC é conhecido pelo trabalho na região do semi-árido e principalmente pelos

projetos desenvolvidos no Território com destaque para as ações dirigidas aos jovens e agentes

multiplicadores. A APAEB conhecida como exemplo de associativismo na região vem

desenvolvendo projetos e ações nas mais diversas áreas vinculadas às cadeias produtivas do

sisal, apicultura e caprinocultura desde a sua fundação na década de 1980.

5.3 - Conflitos 18 Rede de Parceiros da Terra fundada há 2 anos que presta assistência técnica em 8 territórios do Estado da Bahia. 19 Tem atuação em 15 dos 20 municípios do Território. Desenvolve ações conjuntamente com os STR´s e os agricultores familiares. Nasceu em 1996 em Valente. E trabalha em parceria com o INCRA dando assistência técnica aos assentados em 4 municípios do território: Satã Luz, Coite, Cansancao e Quijingue. 20 O MOC 21 A APAEB originou-se na década de 80 ligada à igreja católica. Hoje conta com 540 associados e tem representação no Território em Araci , Ichu, Serrina e Valente, fora dele em Feira de Santana. 22 ONG belga que atua no semi-arido nordestino.

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Três questões foram destacadas pelos atores territoriais como deflagradoras de conflitos.

A primeira diz respeito à falta de adesão das prefeituras aos projetos e ações de

desenvolvimento territorial. Para alguns essa atitude é considerada como falta de

comprometimento, excesso de interesse partidário e escassa visão de coletividade. Para outros é

sinônimo de permanência do coronelismo interpretado como perda de recursos federais

destinados aos agricultores familiares.

Já a segunda está associada à falta de assistência técnica. Este fato é considerado o

grande empecilho para o acesso a novas tecnologias e melhora das condições de vida. Embora

haja numerosas instituições cuidando da assistência técnica permanece a preocupação com a

centralização desses apoios em apenas uma parte dos municípios. E ainda há a dificuldade de

multiplicar experiências de campo bem sucedidas23 e de acompanhar os projetos já

implementados. Ressaltaram inclusive a necessidade de uma assessoria permanente dos

técnicos, isto é, não apenas visitas esporádicas, mas a permanência dos técnicos, nos

assentamentos, por períodos mais longos.

A terceira questão vincula-se à crise da maior entidade do território, a APAEB. Uma

entidade que: i) passa por situações de instabilidade ligadas à flutuação dos preços do sisal no

mercado internacional; ii) sofre pela carga de responsabilidade que nela recai, seja pela

multiplicidade de ações por ela controlada, seja pela quantidade de entidades que lhe dão

suporte financeiro tanto nacionais como internacionais e; iii) pressão exercida nela e por ela nas

decisões da política territorial.

6 – Resultados

6.1 - Formação de capacidades

Dois projetos tiveram destaque nas falas dos entrevistados. Um deles foi o Escola

Família Agrícola24 considerada uma iniciativa bem sucedida na formação de jovens das

comunidades rurais (5ª a 8ª serie) de sete (7) dos 20 municípios do Território do Sisal: Santaluz,

Queimadas, Conceição de Coité, Retirolândia, São Domingos, Serrinha e Valente.25

23 A aposentadoria e a venda de mão de obra são duas fontes de renda comuns entre os agricultores familiares do Território. 24 A metodologia utilizada na escola é da alternância que consiste em repassar à família em uma semana o que foi apreendido em uma semana na escola. Ao alunos recebem aulas do tronco comum de ensino que são complementadas com iniciação à zootecnia, agricultura, administração e engenharia rural. A escola inaugurada em 2006 já formou cerca de 240 alunos. 25 A Escola Família Agrícola em Valente era administrada pela APAEB. Recentemente foi transformada em Associação de Pais e Amigos da Escola Família Agrícola Avani de Lima Cunha - APAEFA

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O segundo em nível universitário é incentivado e promovido pela UNEB com o apoio

dos atores territoriais (CODES): o bacharelado em Comunicação Social com habilitação em

Jornalismo, curso com grande demanda na região, comenta um dos professores. Mas também o

curso de extensão em nível de graduação em Letras realizado em parceria com o PRONERA

ministrado em módulos para alunos dos assentamentos da região sisaleira: “eles ficam aqui em

Coité 40-45 dias e voltam a suas casas. É nossa primeira turma de quatro (4) anos que se

formará em 2010”, concluiu o entrevistado.

Mais um exemplo de aproximação entre o campus e os agricultores familiares é o projeto

que iniciou em 2004 denominado Universidade Itinerante na Trajetória do Eixo Euclidiano sob

a coordenação do Professor José Plínio de Oliveira do Departamento de Educação26

desenvolvido em Queimadas, Cansanção e Nordestina que busca motivar a população rural

gerando pertencimento, ou como o próprio professor explica “conectar a obra de Euclides da

Cunha com o desenvolvimento sustentável solidário do semi-árido”.

A expansão do ensino superior na região sisaleira já esta sendo discutida no CODES e

em julho de 2006 foi redigida a Carta de Valente contendo a reivindicação de criação da

Universidade da região sisaleira - UNISISAL.

6.2 - Plano (processo e estado atual)

O PTDRS concentrou suas ações em seis eixos principais. O eixo da agricultura familiar

destaca o interesse na: i) revitalização da cadeia produtiva do sisal; ii) desenvolvimento da

ovino-caprinocultura; iii) desenvolvimento da apicultura; iv) fortalecimento do artesanato

regional. Na educação os principais aspectos ressaltados são: i) formação de professores para

educação do campo; ii) cursos superiores para o semi-árido; iii) a universidade do semi-árido.

A educação ambiental, a recuperação de áreas degradadas, recuperação ambiental da bacia do

rio Itapicurú, dentre outras são as principais ações do eixo meio ambiente. O eixo comunicação

a principal ação esta dirigida ao fortalecimento das entidades de comunicação comunitária.

Ainda o PTDRS dedica dois eixos às atividades relacionadas com esporte, cultura e lazer27 e

infra-estrutura28.

26 Campus 14 localizado em Conceição do Coité. 27 Há incentivo ao turismo rural no Território. 28 As ações deste eixo acompanham as ações do governo federal e estadual de moradia, saneamento e luz.

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Contudo, algumas iniciativas pontuais - muitas vinculadas à APAEB, foram bastante

mencionadas durante as entrevistas e pensadas como pequenos “estopins” para o

desenvolvimento do Território. Considera-se necessário aponta-las brevemente.

1- A ABRAÇO- Sisal29, associação de radio e televisão comunitárias do Território do Sisal com forte repercussão nos municípios.

2- O Laticínio DaCabra30 que no marco do Programa Fome Zero distribui leite de cabra para creches e famílias com problemas nutricionais.

3- A Feira de Agricultura Familiar 4- a Cooperativa Regional de Artesãs Fibras do Sertão- COOPERAFIS com o incentivo

ao trabalho artesanal das mulheres dos municípios de Valente, Araci e São Domingos.

6.3 - Avanços no ciclo de gestão social

A capacidade de organização, de inserção em projetos nacionais e internacionais e a

busca constante de parceiros já estavam presentes na região sisalera muito antes do início da

política de territorialização. Para os atores territoriais entrevistados o MDA é um auxilio –

muito bem visto, para aprimorar essa vocação e trazer mais visibilidade e credibilidade aos

trabalhos realizados pelas diferentes associações.

A inserção de jovens e mulheres nas atividades do território é um ponto alto da gestão

social embora ainda esteja engatinhando e sofra de problemas relacionados com falta de

recursos e de assistência técnica como explicado em item anterior31.

A luta pela aprovação de cursos universitários que atendam a realidade sisaleira e a

existência ainda que com capacidade limitada e, em Valente e Monte Santo, de escolas família

agrícola são alguns dos passos dados pelos atores territoriais. A orientação das ações territoriais

não apenas para os aspectos econômicos, mas também sociais por intermédio de mecanismos de

comunicação e de formação, são sinais de avanços.

7 – Anexos

29 Foi criada em 2004 e hoje conta com 15 emissoras filiadas, destas 6 têm licença de funcionamento outorgada pelo governo federal. Uma delas é a Valente FM30 È uma iniciativa da APAEB para produção de leite de cabra e derivados (queijos, doces e iogurtes). 31 Em 2006 foi realizado um seminário territorial de juventude e discutido o Pronaf- jovem e o Pronaf- mulher.

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