diagnóstico rural participativo (drp)

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DIAGNÓSTICO RURAL PARTICIPATIVO (DRP) UMA FERRAMENTA NECESSÁRIA PARA INVESTIGAÇÃO/INTERVENÇÃO: EXPERIÊNCIA DO PROJETO CAJUSOL NO TERRITÓRIO DO SERIDÓ (RN) Área Temática: Desenvolvimento e Espaço: ações, escalas e recursos Suzaneide Ferreira da Silva Menezes 1 Márcia Egina Câmara Dantas 2 Maria Clara Torquato Salles 3 Paulo Cezar Filho 4 Alyana Karla do Nascimento Duarte 5 José Laércio Bezerra Medeiros 6 RESUMO O Projeto Cadeias Produtivas do Caju e do Girassol: Tradição e Inovação na perspectiva da Economia Solidária e Tecnologias Sociais CAJUSOL é um projeto de pesquisa e extensão que tem o Governo do Estado do Rio Grande do Norte através da Fundação de Apoio a Pesquisa do Estado do Rio Grande do Norte (FAPERN) como proponente. Como estratégia de operacionalização adotou-se a subdivisão deste projeto em dois subprojetos onde a A UERN, através da Pró-Reitoria de Extensão - PROEX, coordena as ações e é responsável pelas ações de caráter social, incluindo a elaboração do Diagnóstico Rural Participativo e a capacitação na área de políticas públicas, participação e cidadania nas comunidades objeto de intervenção do sub-projeto CAJUCULTURA SOLIDÁRIA NO SERTÃO/RN (CPCRN), atuando nos territórios da cidadania Açu/Mossoró, Sertão do Apodi e Seridó no ramo da cajucultura. O estudo em evidência se constitui na análise do uso do Diagnóstico Rural Participativo DRP como ferramenta de coleta de dados com foco no desenvolvimento local das comunidades rurais, especificamente o projeto de assentamento Zé Milanês e a comunidade rural Buraco de Lagoa, ambas pertencentes ao Território da Cidadania do Seridó no município de Lagoa Nova, que fazem parte do projeto CAJUSOL. O DRP assim como a arte de planejar compreende um processo político- administrativo, permeado por conhecimentos político, pedagógico e de valorização da pessoa humana, além de ser resultado de ação em permanente estado de construção. Nesse cenário o DRP se torna uma alternativa para coletar informações acerca de uma dada realidade, sem que estejamos atrelados ao uso de técnicas tradicionais. Este tipo de instrumento proporciona o envolvimento da comunidade na construção e identificação de sua própria realidade. A apreensão da comunidade sobre sua realidade afere a essa técnica um cuidado especial em não se deixar influenciar pela carga emocional que perpassam os laços afetivos gerados pela vida em comunidade. A aplicação do DRP é o levantamento de informações locais a partir da participação dos comunitários a respeito dos seguintes questionamentos: Quem somos? O que temos? O que queremos? E como fazer? Nesse objetivou-se apreender a realidade local a partir do olhar dos agricultores e agricultoras acerca de suas problemáticas e possibilidades de resolutividade. Em ambas as localidades o DRP revelou que existem grupos articulados, sejam estes de jovens ou de cunho religioso, com dinâmicas específicas, porém atuantes em prol de temáticas vinculadas a sua especificidade. 1 Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN, Profª representante da UERN no Projeto CAJUSOL. Email: [email protected]; [email protected]; Fone: (84) 3316-0448 / 3315-2182. 2 Mestranda em Sociedade, Ambiente e Tecnologia pela Universidade Federal Rural do Semiárido UFERSA e bolsista do Projeto CAJUSOL. Email: [email protected] 3 Mestranda em Ciências Naturais pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte UERN e voluntária do Projeto CAJUSOL. Email: [email protected] 4 Pós-graduando em Educação Ambiental e Geografia do Semiárido pelo Instituto Federal do Rio Grande do Norte IFRN e bolsista do Projeto CAJUSOL. Email: [email protected] 5 Bacharel em Serviço Social pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte UERN e bolsista do Projeto CAJUSOL. Email: [email protected] 6 Bacharel em Gestão Ambiental pela UERN e bolsista do Projeto CAJUSOL. Email: [email protected]

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Texto sobre a metodologia do DRP

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  • DIAGNSTICO RURAL PARTICIPATIVO (DRP) UMA FERRAMENTA NECESSRIA PARA

    INVESTIGAO/INTERVENO: EXPERINCIA DO PROJETO CAJUSOL NO

    TERRITRIO DO SERID (RN)

    rea Temtica: Desenvolvimento e Espao: aes, escalas e recursos

    Suzaneide Ferreira da Silva Menezes1

    Mrcia Egina Cmara Dantas2

    Maria Clara Torquato Salles3

    Paulo Cezar Filho4

    Alyana Karla do Nascimento Duarte5

    Jos Larcio Bezerra Medeiros6

    RESUMO

    O Projeto Cadeias Produtivas do Caju e do Girassol: Tradio e Inovao na perspectiva da Economia

    Solidria e Tecnologias Sociais CAJUSOL um projeto de pesquisa e extenso que tem o Governo do Estado do Rio Grande do Norte atravs da Fundao de Apoio a Pesquisa do Estado do Rio Grande do

    Norte (FAPERN) como proponente. Como estratgia de operacionalizao adotou-se a subdiviso deste

    projeto em dois subprojetos onde a A UERN, atravs da Pr-Reitoria de Extenso - PROEX, coordena as

    aes e responsvel pelas aes de carter social, incluindo a elaborao do Diagnstico Rural

    Participativo e a capacitao na rea de polticas pblicas, participao e cidadania nas comunidades

    objeto de interveno do sub-projeto CAJUCULTURA SOLIDRIA NO SERTO/RN (CPCRN),

    atuando nos territrios da cidadania Au/Mossor, Serto do Apodi e Serid no ramo da cajucultura. O

    estudo em evidncia se constitui na anlise do uso do Diagnstico Rural Participativo DRP como ferramenta de coleta de dados com foco no desenvolvimento local das comunidades rurais,

    especificamente o projeto de assentamento Z Milans e a comunidade rural Buraco de Lagoa, ambas

    pertencentes ao Territrio da Cidadania do Serid no municpio de Lagoa Nova, que fazem parte do

    projeto CAJUSOL. O DRP assim como a arte de planejar compreende um processo poltico-

    administrativo, permeado por conhecimentos poltico, pedaggico e de valorizao da pessoa humana,

    alm de ser resultado de ao em permanente estado de construo. Nesse cenrio o DRP se torna uma

    alternativa para coletar informaes acerca de uma dada realidade, sem que estejamos atrelados ao uso de

    tcnicas tradicionais. Este tipo de instrumento proporciona o envolvimento da comunidade na construo

    e identificao de sua prpria realidade. A apreenso da comunidade sobre sua realidade afere a essa

    tcnica um cuidado especial em no se deixar influenciar pela carga emocional que perpassam os laos

    afetivos gerados pela vida em comunidade. A aplicao do DRP o levantamento de informaes locais

    a partir da participao dos comunitrios a respeito dos seguintes questionamentos: Quem somos? O que

    temos? O que queremos? E como fazer? Nesse objetivou-se apreender a realidade local a partir do olhar

    dos agricultores e agricultoras acerca de suas problemticas e possibilidades de resolutividade. Em ambas

    as localidades o DRP revelou que existem grupos articulados, sejam estes de jovens ou de cunho

    religioso, com dinmicas especficas, porm atuantes em prol de temticas vinculadas a sua

    especificidade.

    1 Doutora em Cincias Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN, Prof representante da UERN no

    Projeto CAJUSOL. Email: [email protected]; [email protected]; Fone: (84) 3316-0448 / 3315-2182. 2 Mestranda em Sociedade, Ambiente e Tecnologia pela Universidade Federal Rural do Semirido UFERSA e bolsista do

    Projeto CAJUSOL. Email: [email protected] 3 Mestranda em Cincias Naturais pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte UERN e voluntria do Projeto

    CAJUSOL. Email: [email protected] 4Ps-graduando em Educao Ambiental e Geografia do Semirido pelo Instituto Federal do Rio Grande do Norte IFRN e

    bolsista do Projeto CAJUSOL. Email: [email protected] 5 Bacharel em Servio Social pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte UERN e bolsista do Projeto CAJUSOL.

    Email: [email protected] 6Bacharel em Gesto Ambiental pela UERN e bolsista do Projeto CAJUSOL. Email: [email protected]

  • PALAVRAS-CHAVE: Levantamento de informaes, comunidades rurais, desenvolvimento local.

    ABSTRACT

    The Project of Productive Chains Cashew and Sunflower: Tradition and Innovation in view of the

    Solidarity Economy and Social Technologies - CAJUSOL is a research and extension project which has

    the state government of Rio Grande do Norte through the Research Support Foundation of the State Rio

    Grande do Norte (FAPERN) as a proponent. As an operational strategy was adopted for this project in the

    subdivision where the two subprojects UERN through the Dean of Extension - PROEX, coordinates the

    actions and is responsible for the actions of social character, including the development of participatory

    rural appraisal and training in the area of public policy, participation and citizenship in the communities

    subject to sub-project intervention CAJUCULTURA SOLIDARITY IN SERTO / RN (CPCRN),

    operating in the territories citizenship Acu / Mossor, Serto do Apodi and Serid in that branch of

    cajucultura. The study highlighted that the analysis is the use of Participatory Rural Appraisal - PRA as a

    tool for data collection focusing on the development of local rural communities, specifically the

    settlement project and the rural community Milanese Ze and Hole Lagoon, both belonging to the Territory

    Citizenship Serid in the municipality of Lagoa Nova, which are part of the project CAJUSOL. The DRP

    and understands the art of planning a political-administrative, permeated by political knowledge, teaching

    and appreciation of the human person, in addition to action result in a permanent state of construction. In

    this scenario the DRP becomes an alternative to collect data about a given reality, we are not tied to the

    use of traditional techniques. This type of instrument provides the community involvement in the

    construction and identification of their own reality. The anxiety in the community about its reality this

    technique measures the special care not to be influenced by the emotional charge that pervades the

    bonding generated by community life. The application of the DRP is collecting information from the local

    community participation on the following questions: Who are we? What do we have? What do we want?

    And how? That aimed to capture the local reality through the eyes of farmers and farmers about their

    problems and possibilities of resolution. In both locations, the DRP has revealed that articulate groups, be

    they young or of a religious nature, with specific dynamics, but acting on behalf of issues linked to its

    specificity.

    KEYWORDS: Collection of information, rural communities, local development.

    INTRODUO

    O Projeto Cadeias Produtivas do Caju e do Girassol: Tradio e Inovao na perspectiva da

    Economia Solidria e Tecnologias Sociais CAJUSOL um projeto de pesquisa e extenso que tem o Governo do Estado do Rio Grande do Norte atravs da Fundao de Apoio a Pesquisa do Estado do Rio

    Grande do Norte (FAPERN) como proponente. A coordenao geral da Universidade Federal do Rio

    Grande do Norte (UFRN) em sistema de parceria com a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

    (UERN), Universidade Federal Rural do Semi-rido (UFERSA) e a Empresa de Pesquisa Agropecuria

    do Rio Grande do Norte (EMPARN), com perodo de vigncia dois anos (setembro de 2010 a setembro de

    2012).

    O projeto foi elaborado de forma coletiva e tem como misso desenvolver tecnologias que

    consolidem as cadeias produtivas de Caju e do Girassol nos Territrios da Cidadania Serto do Apodi,

    A/Mossor, Serid, Mato Grande no Estado do Rio Grande do Norte. Como estratgia de

    operacionalizao adotou-se a subdiviso deste projeto em dois subprojetos sendo eles: CAJUCULTURA

    SOLIDRIA NO SERTO/RN (CPCRN), atuando nos territrios da cidadania Au/Mossor, Serto do

    Apodi e Serid no ramo da cajucultura e o subprojeto CADEIAS PRODUTIVAS DO GIRASSOL NO

    TERRITRIO DO MATO GRANDE atuando principalmente na cadeia produtiva do Girassol na Regio

    do Mato Grande no Rio Grande do Norte. Sendo assim a UERN, a UFERSA e a EMPARN so as

    instituies responsveis pela execuo do sub-projeto CAJUCULTURA SOLIDRIA NO SERTO/RN

  • CPCRN, sendo a UFERSA a coordenadora. Portanto o objetivo deste subprojeto de fortalecer a cultura do caju, com nfase na agricultura familiar, atravs de aes de pesquisa e extenso, difundindo

    prticas inovadoras e de transferncia pautadas na economia solidria, na sustentabilidade social, na

    incluso social, entre outros conceitos que expressam a construo da cidadania entre os agricultores

    rurais.

    A UERN, atravs da Pr-Reitoria de Extenso (PROEX), coordena as aes de

    responsabilidade desta IES, onde, responsvel pelas aes de carter social, incluindo nesta a elaborao

    do Diagnstico Rural Participativo e a capacitao na rea de polticas pblicas, participao e cidadania.

    Isto , uma oportunidade de efetivao das funes constitucionais das instituies de ensino superior que

    tem como princpio a indissociabilidade entre o ensino, pesquisa e extenso.

    O estudo em evidncia se constitui na anlise do uso do Diagnstico Rural Participativo DRP como ferramenta de coleta de dados com foco no desenvolvimento local das comunidades rurais,

    especificamente o assentamento de Z Milans e a comunidade de Buraco de Lagoa, ambas pertencentes

    ao Territrio da Cidadania do Serid no municpio de Lagoa Nova, que fazem parte do projeto CAJUSOL

    com mais 12 comunidades, pertencentes a sete municpios, estrategicamente inserido no Programa

    Territrio da Cidadania do Governo Federal, que tem como centralidade o desenvolvimento regional

    sustentvel e a garantia de direitos sociais. Neste projeto h a preocupao com a garantia da participao

    da sociedade e a integrao entre as polticas pblicas evitando o xodo rural ao mesmo tempo em que

    busca a superao das desigualdades regionais (PROGRAMA TERRITRIO DA CIDADANIA, 2008).

    Frente ao exposto, compreende-se que para intervir nesta realidade preciso conhec-la, e

    para tal a metodologia do Diagnstico Rural Participativo (DRP) funciona de parmetro para a apreenso

    das demandas dessas localidades assim como auxilia a definio das estratgias necessrias a interveno

    que caracteriza as aes extensionistas.

    OBJETIVO

    Analisar o uso da Metodologia do Diagnstico Rural Participativo (DRP) enquanto uma

    ferramenta necessria para a apreenso da realidade e interveno a partir da experincia do projeto

    CAJUSOL /RN, mas precisamente nas comunidades rurais beneficiadas pelo projeto com foco no

    desenvolvimento local a partir da territorialidade, sendo estas o assentamento de Z Milans e a

    comunidade de Buraco de Lagoa.

    FUNDAMENTAO TERICA

    1 - DIAGNSTICO RURAL PARTICIPATIVO INSTRUMENTO DE

    INVESTIGAO/INTERVENO

    A apreenso da realidade a partir do DRP no um fato novo, porm, o uso desta tcnica se

    modifica a partir do referencial terico/metodolgico de quem a est utilizando associado ao projeto de

    sociedade ao qual se vincula. Sendo assim, buscou-se a aproximao a algumas experincias que tiveram

    esse instrumento como eixo norteador como a Poltica Nacional de Assistncia Tcnica e Extenso Rural

    (PNATER), onde a cabe a Assistncia Tcnica de Extenso Rural (ATER), fazer uso dessa ferramenta

    enquanto um mecanismo de investigao ou apreenso da realidade, os quais podem chamar de

    diagnstico. Nesse contexto, o diagnstico fundamental para a formulao de planos estratgicos com

    foco no desenvolvimento local de comunidades rurais envolvidas, no caso com a cajucultura.

    O DRP assim como a arte de planejar compreende um processo poltico-administrativo,

    permeado por conhecimentos poltico, pedaggico e de valorizao da pessoa humana, alm de ser

    resultado de ao em permanente estado de construo. Por ser um processo dinmico e em constante

  • construo, sofre preconceitos entre os pesquisadores tradicionais, como se esse procedimento no tivesse

    rigor cientfico, j que envolve a populao desde o seu planejamento at o fim do seu ciclo de vida.

    Sem dvida a participao da populao de forma efetiva pressupe uma predisposio da

    equipe de pesquisadores em fazer uso da dialogicidade freireana, alm do dilogo interdisciplinar, no s

    entre saberes cientficos, mas tambm como o saber popular. A garantia da participao torna essa

    investigao/interveno um processo interativo, baseando-se numa troca de saberes e intenes em prol

    de um projeto de sociedade melhor pautado nos princpios de solidariedade.

    A equipe de pesquisadores e extensionistas partiram da perspectiva de que a lgica de

    entendimento deveria ser aberta as adversidades, as diferenas e ao redesenho de concepes pr-

    estabelecidas. Sendo assim, era preciso ampliar o leque de interpretao da realidade e do que realmente

    estvamos querendo e possibilitando com o uso desse instrumento, visto que existe uma rede de conceitos

    e prticas que perpassam de forma transversal a aplicabilidade do DRP. Considerando esse marco

    conceitual capaz de auxiliar de forma qualitativa a formao cidad dos acadmicos envolvidos e dos

    moradores das comunidades rurais.

    Para que visualizemos a complexidade desse processo iniciamos a reflexo pelo entendimento

    de que a indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extenso tambm nos levam a aproximao s

    polticas pblicas, aos impactos que essa aproximao provoca no exerccio da extenso. Portanto,

    fundamental entender que esse tipo de ao produz impactos que precisam ser considerados, sendo estes,

    expressos em quatro diretrizes para a Extenso Universitria: Impacto e transformao; interao

    dialgica; interdisciplinaridade e indissociabilidade ensino pesquisa extenso, conforme descriminao abaixo:

    Impacto e transformao: estabelecimento de uma relao entre a Universidade e outros setores

    da Sociedade, com vistas a uma atuao transformadora, voltada para os interesses e necessidades

    da maioria da populao e implementadora de desenvolvimento regional e de polticas pblicas.

    Essa diretriz consolida a orientao para cada ao da Extenso Universitria: frente

    complexidade e a diversidade da realidade, necessrio eleger as questes mais prioritrias, com

    abrangncia suficiente para uma atuao que colabore efetivamente para a mudana social.

    Definida a questo, e preciso estud-la em todos seus detalhes, formular solues, declarar o

    compromisso pessoal e institucional pela mudana, e atuar;

    Interao dialgica: desenvolvimento de relaes entre universidade e setores sociais marcadas

    pelo dilogo, pela ao de mo-dupla, de troca de saberes, de superao do discurso da hegemonia

    acadmica que ainda marca uma concepo ultrapassada de extenso: estender sociedade o conhecimento acumulado pela universidade para uma aliana com movimentos sociais de superao de desigualdades e de excluso;

    Interdisciplinaridade: caracterizada pela interao de modelos e conceitos complementares, de

    material analtico e de metodologias, buscando consistncia terica e operacional que estruture o

    trabalho dos atores do processo social e que conduza interinstitucionalidade, construda na

    interao e inter-relao de organizaes, profissionais e pessoas;

    Indissociabilidade ensino pesquisa extenso: reafirmando a extenso como processo acadmico justificando-lhe o adjetivo universitrio , em que toda ao de extenso dever estar vinculada ao processo de formao de pessoas e de gerao de conhecimento, tendo o aluno

    como protagonista de sua formao tcnica para obteno de competncias necessrias atuao

    profissional, e de sua formao cidad reconhecer-se agente da garantia de direitos e deveres, assumindo uma viso transformadora e um compromisso. Na aplicao dessa diretriz abre-se um

    captulo especial, o da participao da Extenso Universitria (PLANO NACIONAL DE

    EXTENSO, 1999, p.4).

    Estabelecer relaes entre o DRP e as diretrizes acima descritas por si um desafio, pois

    como verificar o impacto e as transformaes geradas a partir das aes desenvolvidas? Como tornar a

    interao dialgica e interdisciplinar no exerccio da indissociabilidade ensino pesquisa extenso, quando este sem dvida o n grdio da extenso. Diante do exposto compreende-se que o uso do DRP

    no pode ser visto de forma isolada, est associada a outros fatores, incluindo-se: o estabelecimento da

    relao com a sociedade; a interveno a partir do conhecimento da realidade, a articulao da ao com

    duas novas necessidades latente que so as polticas pblicas e a perspectiva da territorialidade, de forma

  • que h impacto e transformao na realidade posta.

    Em meio a esse contexto levamos em considerao que as pessoas com as quais

    trabalharemos devem se sentir confiantes de que a equipe compartilha sentimentos de pertencimento, que

    esto comprometidos com a superao das desigualdades e excluso, em suas vrias configuraes.

    Assim, passamos a ser integrantes do processo, co-responsveis com o desenvolvimento local e,

    consequentemente com a efetivao do compromisso da universidade.

    Nesse cenrio o DRP se torna uma alternativa para coletar dados acerca de uma dada

    realidade, sem que estejamos atrelados ao uso de tcnicas tradicionais. Este tipo de instrumento

    proporciona o envolvimento da comunidade na construo e identificao de sua prpria realidade. A

    apreenso da comunidade sobre sua realidade afere a essa tcnica um cuidado especial em no se deixar

    influenciar pela carga emocional que perpassam os laos afetivos gerados pela vida em comunidade. De

    acordo com Verdejo (2006), o DRP uma metodologia declaradamente no tecnicista, que visa propiciar

    a produo de conhecimento interativo, valorizando as competncias reais dos sujeitos envolvidos em

    cada processo.

    Por outro lado, no significa que seja uma metodologia fcil de ser conduzida, mesmo sendo

    uma ferramenta que requer e conduz a prtica do empoderamento, que tem nas famlias de agricultores

    rurais a certeza de que esto habilitados a identificar demandas, a propor mudanas e aes que

    possibilitem a superao dos desafios e dificuldades e acima de tudo de ser capaz de conquistar essas

    mudanas. Assim como, o empoderamento no algo a ser desenvolvido e nem estimulado de forma

    abrupta, requer tempo, mudanas culturais em que os sujeitos assumem a responsabilidade promover a

    sua participao, se fazendo ouvir e saber ouvir.

    Constata-se a necessidade de fortalecer a participao da populao, que assume o processo

    de deciso e gesto de seus destinos, portanto DRP um conjunto de tcnicas e ferramentas que permite que as comunidades reflitam sobre a sua realidade e a partir da comecem a autogerenciar o seu

    planejamento e desenvolvimento (VERDEJO, 2006, p.6). Trata-se de um novo redesenho de posturas, de compartilhar conhecimentos e experincias. Implica, portanto, potencializar e emponderar os participante

    a desenvolver suas capacidades de juntos identificarem suas problemticas e potencialidades,

    compartilhando conhecimentos e experincias e, com isso gerenciando suas potencialidades de superao

    das problemticas identificadas.

    Corrobora-se com Schonhuth e Kievelitz (1994), quando faz referencia a uma variedade

    metodolgica que permeia o uso desse instrumento, portanto, no h uma nica forma de execut-la. No

    entanto exigem-se tcnicas qualitativas e interativas de anlise e planejamento que apiam o processo de

    aprendizagem dos grupos envolvidos mediante um dilogo, em que a dimenso relacional encontra-se

    latente. A dimenso relacional refere-se a sua articulao a questes ambientais, de vivencia, da relao

    homem-sociedade e homem/natureza, portanto no estamos limitando essa discusso relao causa-

    efeito, mas a que nada existe por acaso. O ponto de partida est centrado na cidadania, na capacidade das

    polticas pblicas em garantir condies estruturais, sociais, educacional, cultural e econmica para uma

    vida digna (FIGUEIREDO,2007).

    A complexidade relacional de entender a realidade provoca e impe um novo olhar para as

    estratgias de resolutividade das problemticas identificadas, das quais no se admite aes localizadas,

    pontuais e imediatistas. A esse respeito Figueiredo (2007) coloca que, as prticas sociais so desafiadas,

    por isso,

    [...] torna-se essencial considerar as estruturas poltico-ambientais que ligam o local e o global,

    alcanando uma amplitude que incorpore aquilo que chamamos de crtica da sustentabilidade

    numa diretriz que transcenda o economicismo e supere as propostas de responsabilizao de

    indivduos, que caracterizam a responsabilidade das polticas capitalistas globalizantes,

    constituintes de culturas capitalsticas [...]. (FIGUEIREDO, 2007,p.75)

    A abordagem posta por Figueiredo provoca a partir da perspectiva freireana uma releitura do

    mundo, em que por meio do dilogo, da comunicao oral, dos relatos, enfim, das representaes sociais,

  • ou seja, na imagem construda. Compreende-se que uma metodologia voltada ao trabalho em grupo,

    produo em conjunto de conhecimento, interpretao e solues participativas de situaes e/ou

    problemas. Sendo assim, o diagnstico participativo contribui para o conhecimento e anlise local de

    acordo com a percepo de cada um, sem prevalecer somente opinio daqueles que esto coordenando o

    processo de aplicao da ferramenta. Sem dvida, o envolvimento dos moradores essencial, visto que

    so os protagonistas de sua histria.

    Aparentemente esse instrumento metodolgico se apresenta equivocadamente como uma

    metodologia fcil, capaz de fazer um levantamento de informaes e anlises de forma simplificada. Essa

    compreenso esconde um perigo para a investigao e pode falsear as informaes necessrias a

    interveno. Geralmente se utiliza essa metodologia quando se precisa fazer um rpido levantamento de

    dados, pois trabalha com uma linguagem comum. Entretanto, esta pode facilitar o dilogo entre a equipe e

    a comunidade, despertando a discusso sobre os problemas e a situao local, mas tambm pode coibir a

    participao de pessoas que no dominam a arte da alfabetizao, por isso em vez de facilitar a

    participao de todos pode provocar excluso, comprometendo a coleta de informaes, que tem a

    interao e o dilogo aberto seu diferencial.

    O DRP quando utilizado de forma participativa, orientada a partir de um referencial terico

    que esteja compatvel com a anlise pretendida, isto , crtica, dialgica e interdisciplinar capaz de

    promover a apreenso da fala dos envolvidos sem as amarras de casusmo ou para a submisso dos

    acontecimentos a partir de sua naturalizao, como o caso da violncia domstica ou contra grupos

    minoritrios, pobreza extrema, entre outras problemticas denominadas de questo social.

    A postura terico/metodolgica e tico/poltico pautado na garantia de direitos subsidia a

    auto-identificao de determinado grupo tico, ao mesmo tempo em que resgata o sentimento de

    pertencimento a um lugar (BROSE, 2001). Sendo assim, entra em cena o carter qualitativo das analises

    geradas de forma interativa, gerando aprendizagem e consequentemente novas tecnologias, pautadas no

    trabalho coletivo, momento relevante para apreenso, interpretao e resolutividade de situaes

    conflitantes.

    Esse cenrio propcio ao dilogo com a multiplicidade do pensamento, nem sempre

    consensual ou conflitante. H, portanto, o entendimento de que no apenas o conhecimento acumulado

    que garante o xito do uso dessa metodologia, mas tambm a(s) forma(s) como produzido esse

    conhecimento e sua contextualizao, haja vista termos entre as quinze comunidades diferenas, muito

    embora sejam projetos de assentamento do INCRA ou comunidades com propriedades privadas, sem

    reas coletivas. O que h de comum entre estas o fato de pertencerem ao Programa Territrio da

    Cidadania, alm de serem produtoras da cajucultura, mas mesmo assim, em nveis diferenciados seja em

    produo ou de beneficiamento. o recriar desse conhecimento que faz a diferena e, isto, possvel se

    tivermos como veio condutor o interagir e no o repasse de contedo, que pena essncia fere a filosofia

    do projeto.

    A dialogicidade possibilita a fuso do saber popular com o conhecimento especializado.

    Portanto, a percepo, o envolvimento das pessoas, o grau de articulao e mobilizao so essenciais,

    assim como o processo de negociao entre grupos sociais existentes e que so relevantes no desenho da

    realidade, demandas e potencialidades. Cabe ento reforar que o DRP a bssola, o guia para o processo

    de interveno, bem como no h um modelo nico, cada realidade exige tcnicas adequadas, da a

    necessidade de procedimentos metodolgicos diferentes, politicamente e eticamente compatveis ao

    projeto emancipatrio e de desenvolvimento local. Sendo assim, tem-se como centralidade a obteno

    direta e rpida de informaes primrias, conseguidas atravs da participao de grupos representativos

    dentro das comunidades em questo (CORDOVA, 2008).

    Por gerar conhecimentos primrios requer maior ateno dos pesquisadores em distinguir o

    que relevante, a partir de sua classificao de prioridade elencada pelos comunitrios, isto a ser

    solucionada a curto, mdio e longo prazo, conforme a expectativas destes. Mas como saber se a

    interpretao do DRP a que a comunidade expressou. Nesse contexto, de fundamental importncia a

    revalidao, que um processo de igual importncia, no qual os pesquisadores mobilizam os moradores

    para que possam socializar os dados apreendidos e sistematizados e, consequentemente possam ser

  • validados ou modificados a partir da apreciao dos moradores.

    A apreciao coletiva possibilitou a socializao dos dados obtidos na primeira etapa do

    processo investigativo, bem como fortaleceu o vinculo estabelecido entre a equipe e os comunitrios, que

    so de confiabilidade e respeito. Estabeleceram-se relaes institucionais e, sobretudo, ampliou-se o

    compromisso para com o desenvolvimento local. Na efetivao do processo de validao do DRP foi

    assegurada a ampla divulgao e mobilizao dos moradores, a fim de que todos tivessem a oportunidade

    de opinar acerca da caracterizao da comunidade, de suas problemticas, suas possibilidades e

    potencialidades de enfrentamento a realidade posta.

    Para a efetivao dessa segunda etapa a revalidao aconteceu a apresentao dos dados,

    identificando o que seria possvel fazer na prpria comunidade e os que requerem maior fortalecimento da

    associao, visto que demanda ao poltica de negociao com os poderes pblicos municipais.Ainda

    nesse houve a rediscusso entre seus pares se as demandas apontadas eram ou no reais, se atendiam as

    expectativas e anseios da comunidade, alm de coletivamente apontarem qual a prioridade a ser

    trabalhada em parceria com a equipe do projeto.

    Frente ao exposto compreende-se que esse instrumento metodolgico de cunho participativo

    no pode est dissociado das demais atividades do projeto CAJUSOL, nem pode ser um momento

    estanque ou pontual. Portanto, faz-se necessrio conhecer um pouco mais as comunidades beneficiadas

    pelo projeto.

    CARACTERIZAO DA REA DE ESTUDO

    As comunidades de Z Milans e Buraco de Lagoa objeto desse estudo pertencem ao municpio

    de Lagoa Nova (RN), que se situa na mesorregio Central Potiguar e na microrregio Serra de Santana,

    limitando-se aos municpios de Bod, Santana dos Matos, Currais Novos, Cerro Cor, So Vicente e

    Tenente Laurentino Cruz (CPRM, 2005).

    Em relao populao local, segundo o ltimo Censo de 2010, a populao total residente

    de 13.990 habitantes, dos quais 6.927 so do sexo masculino e 7.063 do sexo feminino, sendo que 6.805

    vivem na rea urbana e 7.185 na rea rural (IBGE, 2010).

    As duas comunidades beneficiadas com o projeto CAJUSOL, possuem distines que no

    podem ser ignoradas, em relao ao processo de formao. A localidade de Buraco de Lagoa uma tpica

    comunidade,em sua maioria so familiares, que se aproximaram por inmeras situaes, desde a compra

    ou posse de terra, por relaes familiares ou parentescos, por gostar do lugar, emfim, se estabeleceram e

    contriburam direta e indiretamente para sua composio. Nesse contexto, podemos entender o termo

    comunidade a partir da integrao via territorialidade, poltico-administrativa, associativa, organizao social, juno de produtores, demanda especificas de atividades ou no, mvel ou fixa, de populao

    pendulares ou estveis (BARTLE, 2011).

    A segunda foi constituda de forma diferente, haja vista ser esta um assentamento. Por ser

    constituda a partir do Projeto de Assentamento Z Milans apresenta outro tipo de formao, no menos

    importante, apenas diferente, em termos de interesses. O conceito de assentamento foi difundido em

    meados da dcada de 70 a partir dos Movimentos de Reforma Agrria. Para o Instituto Nacional de

    Colonizao e Reforma Agrria (INCRA), os assentamentos so o retrato fsico da reforma agrria,

    espao onde se estabelecem relaes de convivncia, em alguns casos, aps a emisso do termo de posse

    da terra transfere-a para os trabalhadores rurais sem terra, a fim de que a cultivem e promovam seu

    desenvolvimento econmico.

    O que tem de comum nessas duas localidades o fato do agricultor familiar ser a centralidade,

    a mo de obra familiar se torna predominante, portanto, espao este de incentivo das polticas pblicas

    voltadas ao desenvolvimento rural. A agricultura nesses moldes e em espaos de convivncia coletiva se

    constitui capacidade de inovao e integrao de produtos. A agropecuria financiada pelo Estado tem

    gerado renda agrcola embora ainda no esteja ainda de forma ideal, visto que est atrelada ou

    basicamente sustentada em crdito e assistncia tcnica que sofrem com a descontinuidade ou com a

  • inadimplncia dos agricultores. Portanto, na contramo da busca pelo desenvolvimento rural sustentvel,

    cujo processo implica na valorizao do agricultor familiar na perspectiva de mediador e estimulador da

    resolutividade de suas problemticas sociais e de valorizao do conhecimento local.

    METODOLOGIA

    A aplicabilidade desse instrumento metodolgico compreendeu um momento mpar no

    processo de aprendizagem e do uso de uma ferramenta em que a participao da populao algo

    inevitvel. O seu uso se deu durante as reunies entre a equipe do projeto com as comunidades. Nesse

    momento, apresentamos a proposta do subprojeto Cajucultura Solidria no Serto do RN, suas metas,

    bem como as atividades que sero desenvolvidas nas comunidades, desde a produo at o

    beneficiamento da castanha. Durante esse processo tivemos alguns procedimentos que antecederam a sua

    efetivao, na qual destacamos as estratgias de mobilizao e a formao do Comit mobilizador

    composto por lideranas da comunidade e representantes de grupos informais, como grupo de jovens, de

    mulheres, de oraes, enfim garantimos a participao de quem assim o deseja-se fazer parte.

    Percebeu-se que a formao desse Comit Mobilizador foi essencial ao processo, assim como

    gerou o sentimento de pertencimento e de responsabilidade para com as aes a serem desenvolvidas,

    bem como com o compromisso deste para com a participao, freqncia e envolvimento nas aes

    implementadas. Sendo assim, foram desenvolvidas dinmicas grupais, dentre estas a da apresentao,

    momento em que todos se apresentam a partir da indagao quem sou? Para tal, organizou-se um circulo,

    no qual os agricultores e agricultoras presentes nas reunies foram convidados para se apresentarem.

    Neste momento a equipe entregou um chapu que deveria ser colocado na cabea de cada um e ento a

    pessoa deveria se apresentar, iniciando com seu nome, a sua funo dentro da comunidade e/ou

    empreendimento ou outra informao que gostaria de compartilhar.

    A dinmica permitiu-se a quebra das barreiras comuns como a vergonha de falar em pblico,

    principalmente na frente de pessoas pouco conhecidas. A participao dos agricultores e agricultoras foi

    sendo ampliada e logo estavam todos participando. Todavia, identificamos que os mesmos j haviam

    participado de outras experincias oriundas de projetos sociais, e que estavam desacreditados com esse

    tipo de trabalho, mostraram atravs das falas que teramos que reconquistar a credibilidade e a

    aceitabilidade para se envolvam, fato este complexo haja vista que a UERN ficara com o trabalho social e

    de capacitao que para algumas pessoas resultam em trabalho improdutivo.

    Para algumas pessoas eles querem o trabalho prtico, que d resultado imediato, o que no

    ser possvel j que no atuamos com assistencialismo e nem estamos substituindo o Estado com a

    acessibilidade a programas sociais. Atuamos na construo de conhecimento a servio da populao, da

    garantia da cidadania, da articulao entre polticas pblicas e do acesso a informao. Isto estamos

    executando um projeto que tm objetivos e papeis definidos, que devem ser vistos de forma

    complementar e no estanque e dissociada ate porque as informaes obtidas com o DRP subsidiaro as

    aes da UFERSA e da EMPARN e vise versa. Lembramos que a escolha das comunidades de Buraco de

    Lagoa e Z Milans so decorrentes de reunies e critrios tcnicos elaborados por essas respectivas

    instituies levando-se em conta a cajucultura.

    Para a concretizao deste pleito adotamos em primeira instncia, aps processo de

    mobilizao, a definio do referencial terico, visto que algumas categorias tericas norteiam essa

    investigao/interveno tais como: participao, desenvolvimento sustentvel, polticas pblicas,

    economia solidria, enfim as temticas que fazem parte das metas a serem desenvolvidas pela UERN.

    Associado a esse fizemos algumas pesquisas documentais com a finalidade de caracterizar as

    localidades em destaque, no qual destacamos o Plano de Desenvolvimento Sustentvel Rural elaborado

  • enquanto meta prevista no Programa Territrio de Cidadania, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e

    Estatstica (IBGE), entre outros.

    Por fim, realizamos a pesquisa de campo junto aos agricultores e agricultoras das duas

    comunidades do municpio de Lagoa Nova, que atuam diretamente com a cajucultura. Para a pesquisa de

    campo adotou-se o DRP a partir de quatro matrizes, a primeira:

    1) QUEM SOMOS?, Esse questionamento refere-se a situao dos agricultores e agricultoras, jovens, idosos, estudantes, aposentados, pescadores, trabalham para

    terceiros etc.

    2) O QUE TEMOS? Os atores do processo responderam quais os recursos e demandas a comunidade j disponibiliza para o desenvolvimento das suas atividades.

    3) O QUE QUEREMOS? Nesta so elencados as principais demandas sugeridas pela comunidade.

    4) COMO FAZER? Neste momento saberemos das comunidades de que forma as demandas que eles elencaram podero ser realizadas.

    Estes questionamentos permitem que a comunidade em parceria com as instituies

    intervenientes elaborem seus prprios diagnsticos a respeito da realidade e necessidades locais.

    A elaborao dos DRPs possibilitou a construo das estratgias de interveno das instituies envolvidas, bem como dos contedos a seres trabalhados nos cursos a serem realizados pela

    UERN, assim como suscitou demandas em que quanto elaborao do plano estratgico de

    sustentabilidade dos empreendimentos solidrios onde o projeto atua, assim como a mediao da UERN

    para com o poder pblico, cujo processo requer fortalecimento poltico da associao das respectivas

    comunidades ou a atuao destas em parceria.

    Frente ao exposto, faz-se necessrio sistematizar os resultados obtidos com esse processo e

    que aes foram demandadas a partir deste processo.

    RESULTADOS E DISCUSSES

    As aplicaes dos DRPs ocorreram nas localidades de Buraco de Lagoa e no Projeto de

    Assentamento Z Milans, ambas do municpio de Lagoa Nova. Esse processo foi relevante,

    principalmente por ter tido como apoio o Comit Mobilizador, cujo papel foi de mobilizao e

    participao na construo desse instrumento. A partir do processo de mobilizao fizemos dois encontros

    em cada localidade em virtude da adequao da ao ao cotidiano dos oradores, ou seja, em funo da

    acessibilidade e da dificuldade em garantir a participao frente as atividades produtivas de coleta de caju

    ou outra atividade necessria a sua subsistncia e da famlia.

    Este foi o primeiro desafio enfrentado pela equipe a participao e o envolvimento dos moradores, as reunies iniciaram com um nmero superior a 40 pessoas, depois foram reduzindo, quando

    interpelados sobre a ausncia destes disseram que estavam desiludidos com a constncia de projetos que

    tiveram incio e no obtiveram resultados positivos. Restando, portanto inmeras desconfianas para com

    as instituies que intermediaram determinadas aes vinculadas ao desenvolvimento econmico e que

    restou apenas os prdios, denominados por eles de elefantes brancos. Nesse cenrio foi preciso investir no

    processo de reconquista da confiabilidade, procurando mostrar o quanto era relevante a ao

    desenvolvidas pelo projeto CAJUSOL e que estvamos requerendo deles a oportunidade de mostrar o

    quanto estvamos dispostos a intervir sem promessas, visto que como todo projeto financiado corre o

    risco de ser interrompido bruscamente mediante o no repasse de seus recursos.

    Passado esse processo desenvolvemos um processo de articulao com o poder pblico local,

    com a EMATER, as associaes locais, entre outras. A partir desse processo de sensibilizao passamos a

    nos reunir com os moradores, sendo que para a elaborao do DRP fizemos duas reunies em cada

    localidade, tendo como norte a necessidade do projeto se adequar ao cotidiano dos moradores, assim

  • como procuramos instalar em local apropriado e visvel o cantinho do CAJUSOL, espao este que

    fixamos as informaes das aes, prazos, dias de visitas, objetivo do projeto e da ao. O trabalho do

    comit mobilizador e o cantinho do CAJUSOL contriburam para que aumentasse o nmero de

    participantes nas reunies, que em mdia eram de 40 pessoas por reunio, dentre estes, jovens, idosos,

    mulheres, homens, ou seja, no houve a garantia da perspectiva de gnero, geracional e etnia.

    A aplicao do DRP conforme metodologia adotada e descrita no item metodologia, tivemos

    quatro matrizes: Quem somos? O que temos? O que queremos? E como fazer? Nesse objetivou-se

    apreender a realidade local a partir do olhar dos agricultores e agricultoras acerca de suas problemticas e

    possibilidades de resolutividade. Como notrio possuem aspectos comuns e divergentes que podem

    confluir ou divergir aos objetivos do projeto que tem vinculao ao fortalecimento da cajucultura com

    nfase na agricultura familiar.

    Em ambas as localidades o DRP revelou que existem grupos articulados, sejam estes de

    jovens ou de cunho religioso, com dinmicas especficas, porm atuantes em prol de temticas vinculadas

    a sua especificidade. Para uma melhor apreenso dos grupos, elaboramos um grfico para mostrar os

    grupos em comum e os especficos a cada uma das localidades. A matriz Quem somos? Revelou que so

    em maior nmero agricultores e agricultoras, professores, estudantes, funcionrios pblicos e

    aposentados.

    Portanto na matriz O que temos? Exemplificada na figura 01, fizemos algumas distines em

    funo em relao dos itens existentes.

    0

    0,2

    0,4

    0,6

    0,8

    1

    1,2

    Jovens Pastoral da criana Homens Mulheres Associao

    Buraco de Lagoa

    Z Milans

    FIGURA 01 Matriz O que temos? Representao grfica dos grupos existentes.

    Sendo assim, em relao aos grupos existentes podemos perceber que a comunidade de

    Buraco de Lagoa mais organizada atravs de grupos institucionalizados, o que tem estreita relao com

    o fato da comunidade Buraco de Lagoa ser formada a partir de relaes afetivas e no impositiva

    mediante a proposta de reforma agrria. Outro aspecto evidenciado nesta primeira matriz diz respeito a

    atividade produtiva, das quais destacam-se algumas culturas comuns tipo: plantio de milho, fava, capim,

    melancia, goiaba, feijo, palma, banana, manga, mandioca, pinha, caju, entre outras mediante a prtica da

    agricultura familiar. Alm desta identificamos que em Z Milans existe a produo de leite.

    Ainda com relao a atividade produtiva possvel identificar que h distines entre essas

    localidades, entretanto os empreendimentos so particulares e outros coletivos, alguns destes encontram-

    se em atividade e outros desativados, por exemplo: na comunidade de Buraco de Lagoa temos desativada

    uma minifbrica de farinha, no caso de Z Milans encontra-se desativada a minifbrica de polpa de fruta,

    que foi construda atravs de projeto, mas que encontra-se sem os equipamentos necessrios ao seu

    funcionamento, assim como no perodo de safra este utilizado por uma empresa que se instala emprega

    os moradores em temporariamente e depois a fecha, bem como h uma fbrica de farinha tambm

    fechada. Em funcionamento, uma fbrica de material de limpeza, um empreendimento familiar que tem

    gerado emprego na localidade, e uma lan hause, tambm de propriedade particular.

    Tambm h na comunidade algumas atividades que congregam as pessoas, por exemplo: em

    Buraco de Lagoa existe uma igreja catlica e outra evanglica, um grupo de mulheres que produzem

    artesanato e a associao. Em Z Milans temos apenas a igreja evanglica. Por outro percebemos que

  • alguns benefcios existentes na comunidade no foram citados, como orelhes, creches, escolas, gua

    encanada, iluminao, entre outras. Os benefcios oriundos de bens pblicos no se apresentam como

    conquistas coletivas, por isso no foram evidenciados. Outros fatores interessantes emergiram como a

    existncia de quase 90% de cajueiro precoce o fato contrastante que est acontecendo um desmatamento

    dos cajueiros, o motivo no ficou claro, se era para substituio por serem cajueiros improdutivos, o real

    que h a venda constante de lenha proveniente dos cajueiros. Alm, deste os agricultores sofrem com a

    ausncia de assistncia tcnica resultando em ataque da plantao por pragas, o que tem contribudo para

    a perda de lavouras.

    Em continuidade ao DRP abordamos a matriz O que queremos? Exemplificada na figura 02,

    onde identificamos que os anseios dessas pessoas esto organizados em quatro eixos, o primeiro

    capacitao, o segundo assistncia tcnica, o terceiro equipamentos e o quarto a construo.

    0

    0,2

    0,4

    0,6

    0,8

    1

    Informtica Produo de

    leite

    Conservao

    de alimentos

    Culinria do

    caju

    Buraco de Lagoa

    Z Milans

    FIGURA 02 Matriz O que queremos? Representao grfica das capacitaes ocorridas.

    Em nvel de assistncia tcnica destacaram-se as dificuldades de obt-las atravs da

    EMATER, por isso desejam que esta acontea no s para a agricultura desenvolvida pelos homens, mas

    que tambm acontea para as mulheres, seja esta relacionada ao combate a pragas ou a produo de

    mandioca, graviola, maracuj, hortalias, entre outras, haja vista existir a inteno destes agricultores e

    agricultoras se inserir no Programa Nacional de Alimentao Escolar ou no Programa Compra Direta.

    Evidenciamos o desejo de que exista apoio a indstria no municpio como forma de combater

    o desemprego, dando maiores oportunidades de gerao de renda, principalmente entre os jovens, bem

    como a aquisio de equipamentos para a minifbrica de beneficiamento da polpa de fruta e por fim a

    construo de uma fbrica de beneficiamento do caju e da castanha, alm da produo do doce.

    Percebe-se que apesar de existir demandas especficas estas se convergem em torno destes

    eixos. Por fim, o quarto eixo Como fazer? Podemos destacar que h demandas que podem ser demandas

    em que a equipe do projeto possa assessora a associao ou grupo de representao junto aos rgos

    pblicos; outras podero ser viabilizadas pelo projeto ou poderemos ver na prpria comunidade pessoas

    que possam multiplicar seus conhecimentos repassando-os a outras pessoas. O Projeto tambm viabilizar

    uma minifbrica de caju, entretanto isso acontecer mediante critrios tcnicos definidos entre a

    EMPARN e a UFERSA.

    O DRP mostrou-se bastante eficiente quanto ao seu propsito apreender a realidade local a

    partir do olhar de seus moradores. Todavia, este no um instrumento que tem fim em se mesmo, ele

    desencadeia novas demandas quanto a revalidao e a definio das prioridades. Sendo assim, este um

    processo meio, planejado com critrios tcnicos que assegurem a sua relevncia e as medidas necessrias

    a sua resolutividade que seria a fim expresso no objetivo impulsionador da ao. Portanto, sem dvida

    um instrumento que desafia a populao a pensar e agir de forma coletiva, na qual a participao social

  • uma condio essencial.

    CONSIDERAES FINAIS

    O presente ensaio compreende um momento de reflexo acerca do instrumento de

    investigao o DRP o qual conduz a interveno no mbito de localidades com formao estrutural e

    poltica diferenciada. Entretanto a preocupao com a sua aplicabilidade e rigor cientfico perpassa por

    toda sua aplicao. Soma-se a essa interpretao o compromisso para com o antes, durante e depois de

    sua aplicao. Nesse nterim, planejamentos o momento de sua realizao de forma coletiva, garantindo

    desde a sua concepo at sua concluso a participao de todos os envolvidos, sejam estes a equipe

    tcnica ou moradores.

    uma tcnica relativamente simples, pois pelo fato de ser participativa pode ser confundida

    com uma tcnica que no exige rigor cientfico. Por outro lado, a se encontra o n grdio ser simples no

    significa simplria, ao contrrio exige dos pesquisadores redobrada ateno para que no acontea a

    manipulao dos dados ainda em processo de formao ou em sua anlise. O ponto de vista dos

    moradores deve ser respeitado, visto que representa a apreenso ou a representatividade dos moradores a

    partir do seu cotidiano vivido. Por isso no importa se discordamos deles ou de suas escolhas quanto a

    prioridade. Os moradores so por excelncia os maiores analistas de sua realidade, todavia, no esto

    capacitados para o distanciamento do sentimento de pertencimento a essa realidade o que comprometeria

    a investigao pretendida.

    Sem dvida, a conduo dos trabalhos foi muito importante haja vista ter existido a dialogo, a

    interdisciplinaridade e a perspectiva de transformao de sua realidade a partir do conhecimento desta, no

    qual se inclui as diferenas, jeito de ser, de produzir, a diversidade cultural, os processos formativos,

    enfim outros aspectos que emergem de forma sublinhar a construo desse conhecimento. Por fim,

    consideramos que o DRP deve e pode ser utilizado para a aproximao da realidade dessas localidades,

    enquanto instrumento que possibilita a indissociabilidade entre as funes bsicas das instituies de

    ensino superior, bem como possibilitou a apreenso da percepo dos agricultores e agricultoras de sua

    realidade e suas potencialidade e necessidades locais.

    REFERNCIAS

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