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Page 1: DIAGNÓSTICO DE PRAGAS DE SOLO NO ESTADO DO … · Quanto ao tipo de controle realizado para as pragas de solo, chama atenção a alta porcentagem de área com tratamento de sementes

DIAGNÓSTICO DE PRAGAS DE SOLO NO ESTADO DO PARANÁ

Rodolfo BiancoIAPAR / Londrina-PR

Este diagnóstico é o resultado da aplicação de questionários, que foramenviados para os técnicos das principais cooperativas do Paraná, para a Emater eagentes autônomos, pertencentes ao grupo TREINO & VISITA, organizado ecoordenado pela EMBRAPA Soja / IAPAR e EMATER.

O questionário foi elaborado tendo por base os principais cultivos e pragas desolo citadas por Morales (2001), Oliveira (2005) e Bianco (2007), de tal sorte que foramlistadas, em ordem alfabética, as 14 pragas mais citadas em questionários anteriores,sendo solicitado a cada técnico que indicasse três pragas principais que ocorreram nasprincipais culturas, às quais o técnico teve oportunidade de assistir. Havia, também,espaços para acrescentar outras culturas ou pragas.

Também, a partir de uma relação de linhas de pesquisas, foi requerido aostécnicos que indicassem três, em ordem de prioridade.

Finalizando, foram solicitadas informações sobre o tipo de tratamento realizadopara controlar as pragas de solo.

Segundo o Deral-PR, 2009 (Site: http://www.seab.pr.gov.br/) a área cultivada noEstado do Paraná, na safra 2008/2009, alcançou os 10.176.600 hectares, dos quais4.074.000 (40,0%) foram semeados com soja, 2.779.000 (27,3%) somando-se o milhosafra e 2ª safra, 1.292.000 (12,7%) com trigo e, 643.500 (6,3%) com feijão (3 safras).Dado que esses cultivos representaram 86,3% do total da área cultivada, o diagnósticosobre as principais pragas de solo no Paraná foi elaborado para tais cultivos.

No Total foram recebidos 72 questionários preenchidos corretamente ecompletos, sendo que a grande maioria representa municípios da região norte (29),centro (12) e oeste (12) do Paraná. Em menor número ficou a região nordeste, comquatro questionários, a noroeste, com 5, a nordeste, com quatro, a sul, com 8 e asudoeste, com dois. D mesmo modo que ocorreu em 2007, ficou sem representação, aregião sudeste. Convém salientar que, justamente nas regiões em que foramrespondidos mais questionários, é onde estão concentradas as principais áreas decultivo da soja, milho, trigo/aveia e feijão, justificando o maior número de questionáriosrespondidos para essas culturas.

Na soja, a praga de solo mais citada foi o piolho de cobra, tendo sido incluído em74,6% dos questionários respondidos, em segundo lugar ficou a lagarta elasmo com69% (Tabela 1). No milho, o destaque ficou para a lagarta elasmo e lagartas rosca(Agrotis e Spodoptera) com mais de 80% de citações. No trigo/aveia as pragas maiscitadas foram o pulgão da raiz, a lagarta elasmo e as lagartas rosca com mais de 60%de citações. Destaque novamente para a lagarta elasmo (56%), no feijão. No geral,pode-se afirmar que a as lagartas redutoras de stand (elasmo e lagartas rosca) são aspragas mais preocupantes para a maioria dos extencionistas, corroborandoinformações de Oliveira (2005) e Bianco (2007).

Quanto ao tipo de controle realizado para as pragas de solo, chama atenção aalta porcentagem de área com tratamento de sementes na cultura do milho (± 90%),conforme se pode verificar na Tabela 2. Fato justificado principalmente depois dosurgimento do percevejo barriga verde (Dichelops melacanthus) e pela crescente

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necessidade de se assegurar, ao máximo, a população de plantas iniciais, para se obterboa produtividade.

Convém salientar que o tratamento de sementes, em uso continuado e emcultivos seqüenciais, tem ajudado na regulação das populações das pragas redutorasde stand e raízes, mantendo-as sob controle satisfatório, salvo em situações deocorrência de surtos, quando as populações tornam-se extremamente elevadas.

Com respeito às linhas de pesquisa mais importantes, na opinião dos técnicos,têm prioridade destacada o controle químico, o controle cultural e o nível de dano,ficando em segundo plano o controle biológico, métodos de amostragem e bioecologia.(Tabela 3).

CONSIDERAÇÕES SOBRE AS PRINCIPAIS PRAGAS

Lagarta-elasmo: Elasmopalpus lignosellus ( Lep. Pyralidae)Nos últimos anos tem crescido a preocupação com a lagarta elasmo,

principalmente devido a dificuldade de se monitorar previamente ao dano e identificar anecessidade ou não de controle preventivo. Solos leves, áreas com maior risco deocorrência de veranículos e com baixa cobertura de palha, assim como, áreas onde aprática de reforma das curvas de nível é realizada, expondo faixas de solo, contribuempara maior ocorrência e danos da lagarta elasmo. Salienta-se que essa prática temsido mais freqüente nos últimos anos. Outro fato relevante é o plantio direto semqualidade, que expõem demasiadamente o solo. Isto acontece freqüentemente quandoas plantadeiras não conseguem fazer retornar a palha na linha de plantio, expondoassim parte considerável do solo, que resseca mais facilmente, favorecendo dessamaneira a praga.

Lagartas roscas (Agrotis spp e Spodoptera spp)Lagartas atuando como redutoras de stand têm sido relatadas como de grande

importância nos cultivos extensivos (milho, soja, trigo e feijão), sendo que no caso domilho na maioria das vezes em que se é solicitado para identificar a praga, chega-se aconclusão de tratar-se da Spodoptera frugiperda, atuando como lagarta rosca. Danossignificativos são observados em situação de seca e quando não é realizado otratamento de sementes. Lavouras plantadas com o milho Bt têm garantido maiorpopulação de plantas, devendo ser também considerado quando da opção pela escolhada tecnologia.

Vaquinha: Diabrotica speciosa (Col.: Chrysomelidae)A ocorrencia dessa praga no Paraná é generalizada. No entanto, danos

radiculares no milho, soja, trigo e feijão são observados em anos com alta precipitaçãopluviométrica e em áreas onde o solo é mais escuro e permanece mais tempoumedecido. Essas ultimas características são apontados por Milanez e Parra (2000),como sendo preferenciais dos adultos para realizar a oviposição e onde a sobrevivênciadas larvas é maior.

O controle dessa praga em grandes cultivos (milho, soja, feijão e trigo) tem sidorealizado atraves do tratamento de sementes com neonicotinóides, constituindo fator demortalidade de adultos.

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Apesar de não ter havido questionários respondidos para a cultura da batata,convém assinalar que a larva alfinete (Diabrotica speciosa) é considerada pragaextremamente séria nessa cultura, a ponto de não haver cultivos convencionais dessasolanácea, que não se utilize altas doses de agroquímicos granulados ou pulverizadosno sulco de plantio. Destaque para o uso crescente de Clorpirifós em pulverização,dado ser de menos custo (informação pessoal do Dr. Rui Furiatti � UFPG / PontaGrossa-PR).

Piolho de cobra (Diplópodes)Sua ocorrência é crescente em todas as regiões, onde é grande a área sob

plantio direto, pois a presença da palha favorece a sobrevivência e crescimentopopulacional desses organismos. Apesar de sua presença, não ter relação específicacom alguma cultura, danos são particularmente observados na soja, em processo degerminação. É importante mencionar que essa praga pode prejudicar seriamente ostand do milho, exigindo o replantio da cultura. Fato constatado em Palmeiras-PR nasafra 2008/09. Na oportunidade, pode-se constatar que o problema deveu-se a altapopulação da praga aliado a altas temperaturas durante o processo de germinação einicio do desenvolvimento das plântulas de milho e a compactação do solo (excesso decarga animal no pasto de azevém), tornando-se área de abrigo dos diplópodes,justamente a terra mais solta na linha de cultivo. Ultimamente, vem crescendo autilização da soja fermentada (Bianco, 2005), com o propósito de monitorar a praga napalhada em pré-semeadura.

Corós (Col.: Melolonthidae)Conforme citado por Oliveira (2005), existem várias espécies de corós no Estado

do Paraná, mas danos são causados, principalmente por Phyllophaga cuyabana ePlectris pexa. De modo geral, maiores preocupações tem sido relatadas na cultura dasoja e do milho. Varias regiões apresentaram alto índice de risco de ocorrência e altaspopulações, com destaque para a região oeste do Estado. Particularmente, a região deabrangência da cooperativa COAGRU (Ubiratã e municípios vizinhos), onde osproblemas são mais sérios com essa praga, vem apresentando nas últimas safrasacentuada diminuição nos danos verificados, que, segundo informação pessoal dotécnico J. C. Braciforte (COAGRU), deve-se a antecipação da semeadura e indicaçãode cultivares precoces de soja e ao tratamento das sementes do milho e trigo. Medidade controle são decididas em função do registro de ocorrencia de danos em cultivosantecessores.

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Tabela 1 � Principais pragas de solo citadas pela Assistência Técnica Cooperativista.Paraná/2009.

CulturaNº de

questionáriosrespondidos

Principais pragas citadas% de

citações 1

Soja 71

Piolho-de-cobra: (Diplópoda) 74,6

Lagarta elasmo: Elasmopalpus lignosellus 69,0

Corós: (Col.: Melolonthidae) 38,0

Lagartas rosca (Agrotis e Spodoptera) 33,8

Cochonilha da raiz: Pseudococcus sp. 21,5

Milho verão 70

Lagarta elasmo: Elasmopalpus lignosellus 82,9

Lagartas rosca (Agrotis e Spodoptera) 81,4

Larvas de Diabrotica speciosa 54,3

Corós: (Col.: Melolonthidae) 21,4

Piolho-de-cobra: (Diplópoda) 10,0

Milho safrinha 63

Lagarta elasmo: Elasmopalpus lignosellus 76,2

Lagartas rosca (Agrotis e Spodoptera) 74,6

Larvas de Diabrotica speciosa 41,3

Corós: (Col.: Melolonthidae) 23,8

Piolho-de-cobra: (Diplópoda) 9,5

Trigo/Aveia 62

Lagarta elasmo: Elasmopalpus lignosellus 62,9

Pulgão da raiz: Rhopalosiphum rufiabdominalis 61,3

Lagartas rosca (Agrotis e Spodoptera) 60,5

Corós: (Col.: Melolonthidae) 22,6

Larvas de Diabrotica speciosa 9,7

Feijão 1ª safra 37

Lagarta elasmo: Elasmopalpus lignosellus 75,6

Lagartas rosca (Agrotis e Spodoptera) 43,2

Larvas de Diabrotica speciosa 24,3

Corós: (Col.: Melolonthidae) 21,6

Piolho-de-cobra: (Diplópoda) 21,0

Feijão 2ª safra 33

Lagarta elasmo: Elasmopalpus lignosellus 69,7

Lagartas rosca (Agrotis e Spodoptera) 48,5

Larvas de Diabrotica speciosa 33,3

Corós: (Col.: Melolonthidae) 33,3

Piolho-de-cobra: (Diplópoda) 18,21 - Com base no nº de questionários / cultura, de um total de 72 respondidos.

Tabela 2 - Porcentagem da área plantada com sementes tratadas, com inseticidas.(Fonte: Klefmann Pesquisas, 2008).

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Cultivo% da área com TS / Safra

2005/6 2006/7 2007/8 2008/91

Soja 26 29 46 66,3

Milho verão 81 82 87 92,9

Milho safrinha 81 91 87 88,0

Trigo 22 25 47 42,2

Feijão 1ª safra 37 47 54 63,5

Feijão 2ª safra 76 17 63 58,21 � Dados da safra 2008/2009 tendo como base os 72 questionários respondidos pela assistência técnica (Emater,

Cooperativas e autônomos). TS � Tratamento de Sementes

Tabela 3 - Linhas de pesquisa prioritárias para pragas de solo, em ordem de % de citações.IAPAR - Paraná 2009.

Linhas de pesquisa % citações 1

1ª Controle químico 81,9

2ª Controle cultural (época de semeadura, rotação de culturas, manejo de solo) 62,5

3ª Nível de dano 59,7

4ª Controle biológico 37,5

5ª Amostragem / monitoramento 34,7

6ª Bioecologia (biologia, hospedeiros, interações praga-solo-clima) 31,9

1 � Em relação aos 72 questionários respondidos

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PROJETO DE PESQUISA INSTITUCIONAIS

INSTITUIÇÃO 1 � EMBRAPA/CNPSoja

Responsável: Adeney de Freitas BuenoAtividade 1 �Bioecologia e potencial de danos de corós em soja e outros hospedeiros

componentes do sistema de produção de grãos.Atividade 2 �Bioecologia e danos de percevejo castanho em soja e outros hospedeiros

componentes do sistema de produção de grãos.Atividade 3 �Avaliação do uso de bactérias rizosféricas no manejo de pragas rizófagas

no sistema de produção de soja.

INSTITUIÇÃO 2 - Instituto Agronômico do Paraná � IAPAR

Responsável: Rodolfo BiancoAtividade 1 �Manejo de pragas redutoras de stand e raízes (Elasmo,

Agrotis/Spodoptera, larva alfinete, larva arame, corós e piolho decobra).

Atividade 2 �Desenvolvimento e validação de métodos de monitoramento.

Responsável: Sergio Luiz Colucci de Carvalho.Atividade: Controle da Cochonilha-da-raiz (Dysmicoccus spp) do abacaxi em

produção agroecológica (orgânica).

INSTITUIÇÃO 3 � Universidade Estadual de Londrina � UEL

Responsável 1 � Amarildo PasiniAtividade 1 �Efeito do tratamento de sementes sobre invertebrados do solo

(recicladores, predadores e outros).Atividade 2 �Ecotoxocologia de agrotóxicos sobre organismos não alvos.

Responsável: Mauricio Ursi VenturaAtividade: Bioecologia da Diabrótica speciosa.

INSTITUIÇÃO 4 � Universidade Estadual de Ponta Grossa � UEPG

Responsável: Rui Scaramella FuriattiAtividade: Bioecologia e manejo integrado da Diabrótica na cultura da batata.

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AGRADECIMENTOS

Aos engenheiros Nei Leocadio Cesconetto (COAMO), Joaquim Mariano da Costa(COAMO), Humberto Nogueira Duarte (COROL), Irineu Baptista (INTEGRADA), JoséCarlos Braciforte (COAGRU), Enoir Pellizzaro (C. Vale), Celso Wobeto (Agrária) eNelson Harger (Emater), pela ajuda em solicitar aos técnicos de diversas localidades aatenção especial no preenchimento e devolução dos questionários. A todos os técnicosdas cooperativas e da Emater que colaboraram, agradecimentos especiais. Da mesmaforma, ao autônomo Taurino Alexandrino de Loiola.

Agradecimentos especiais aos pesquisadores Adeney de Freitas Bueno(Embrapa/CNPSoja), Amarildo Pasini (UEL), Mauricio Ursi Ventura (UEL) e RuiScaramella Furiatti, pelas informações sobre suas atividades de pesquisa com pragasde solo.

LITERATURA CITADA

Bianco, R. Monitoramento do piolho-de-cobra em restos vegetais na pré-semeaduraem plantio direto. 2005. In: Reunião Sul - Brasileira sobre Pragas de Solo, 9, 2005,Balneário Camboriú-SC. Anais e Ata. Itajaí-SC: Epagri/EEI, 2005. p 132-134.

Bianco, R. Diagnóstico de pragas de solo no Estado do Paraná, 2007. In: Reunião Sul-Brasileira sobre Pragas de Solo, 10, 2007. Dourados-MS. Anais e Ata.Embrapa/Dourados (CD-Rom, documentos 88)

Milanez, J. M.; Parra, J. R. P. Preferência de Diabrotica speciosa para oviposição emdiferentes tipos e umidade de solo. Anais da Sociedade Entomologia do Brasil, v. 29, n.1, p 155�158, 2000.

Morales, L. Relato de ocorrências de pragas de solo no Estado do Paraná, 2001. In:Reunião Sul-Brasileira sobre Pragas de Solo, 8, 2001. Londrina-PR. Anais e Ata.Londrina: EMBRAPA Soja, 2001 p 28-32

Oliveira, L. J. Diagnóstico de Pragas de Solo no Estado do Paraná � 2005. In: ReuniãoSul - Brasileira Sobre Pragas de Solo, 9, 2005, Balneário Camboriú-SC. Anais e Ata.Itajaí-SC: Epagri/EEI, 2005. p 18-23.