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DIAGNÓSTICO DE EXTRATOS VEGETAIS POR EXTRAÇÃO HIDROETANÓLICA PARA O CONTROLE “in vitro” DE Phomopsis phaseoli var. sojae E INFLUÊNCIA NA QUALIDADE DE SEMENTES DE SOJA Pabio Rodrigues de Paula ¹, Luiz carlos Pascuali², Sandro Pioli Zela ³ Mariane Malaquias Inácio 4 ¹ Acadêmico do curso de Engenharia de Produção Agroindustrial – UNEMAT. Campus Universitário de Barra do Bugres. e-mail: [email protected] ²:Professor Orientador, Depto de Engenharia de Produção Agroindustrial, UNEMAT. e- mail: [email protected] ³ Professor Co-Orientador, Depto de Engenharia de Alimentos, UNEMAT. e-mail: [email protected] 4 Academica do curso de Engenharia de Produção Agroindustrial – UNEMAT. e-mail: [email protected] Resumo: Extratos de plantas vêm mostrando um futuro promissor no tratamento de sementes, pelo fato de não deixarem resíduos tóxicos, podendo ser usados como: prevenção ao meio ambiente, na agricultura ecológica; e para diminuir o uso de produtos químicos de graves conseqüências para a natureza, homem e animais. As plantas pelas suas propriedades terapêuticas ou tóxicas adquiriram fundamental importância na medicina popular. A flora brasileira é riquíssima em exemplares que são utilizados pela população como plantas medicinais. Muitos defensivos químicos não são facilmente detectáveis nos produtos, porém, o acúmulo dos mesmos vem acompanhado de graves problemas, ambientais e humanitários. Para reduzir seu consumo iniciou-se uso de extratos vegetais com atividade fungicida; entretanto, a avaliação desses compostos com finalidades diversas, como, por exemplo, no controle de microrganismos patogênicos de plantas cultivadas, ou ainda como herbicida natural, é recente, visto que são poucos os trabalhos nesse campo. Com este objetivo desenvolveu-se o presente estudo para avaliar o desempenho de extratos vegetais de alho branco e roxo, juá, pinhão manso, boldo do Chile, limão rosa, citronela, pimenta do reino, tamarindo, cipó lixa, cipó cravo, mandioca, guanxuma, bacuri, capim colonião e coentro no controle “in vitro” de Phomopsis phaseoli var. sojae e influência na qualidade de sementes de soja. Todos os extratos analisados apresentaram reduções significativas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade no diâmetro das colônias aos 5 e 7 dias de desenvolvimento.Os melhores resultados foram obtidos com extratos de alho roxo e alho branco, ambos não autoclavados e juá autoclavado ou não. Para o teste de germinação os resultados não apresentaram diferenças significativas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Palavra-chave: Qualidade Fisiológica, extratos, sementes. INTRODUÇÃO As doenças de plantas são responsáveis por consideráveis perdas, em especial para as culturas de importância econômica. Estas doenças podem ocorrer, no campo, em qualquer fase do ciclo da planta, como também ocorrem em pós-colheita, durante o armazenamento. Para minimizar os efeitos negativos destes microrganismos, vários

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DIAGNÓSTICO DE EXTRATOS VEGETAIS POR EXTRAÇÃO HIDROETANÓLICA PARA O CONTROLE “in vitro” DE

Phomopsis phaseoli var. sojae E INFLUÊNCIA NA QUALIDADE DE SEMENTES DE SOJA

Pabio Rodrigues de Paula¹, Luiz carlos Pascuali², Sandro Pioli Zela ³ Mariane Malaquias Inácio 4

¹ Acadêmico do curso de Engenharia de Produção Agroindustrial – UNEMAT. Campus Universitário de Barra do Bugres. e-mail: [email protected] ²:Professor Orientador, Depto de Engenharia de Produção Agroindustrial, UNEMAT. e-mail: [email protected] ³ Professor Co-Orientador, Depto de Engenharia de Alimentos, UNEMAT. e-mail: [email protected] 4Academica do curso de Engenharia de Produção Agroindustrial – UNEMAT. e-mail: [email protected] Resumo: Extratos de plantas vêm mostrando um futuro promissor no tratamento de sementes, pelo fato de não deixarem resíduos tóxicos, podendo ser usados como: prevenção ao meio ambiente, na agricultura ecológica; e para diminuir o uso de produtos químicos de graves conseqüências para a natureza, homem e animais. As plantas pelas suas propriedades terapêuticas ou tóxicas adquiriram fundamental importância na medicina popular. A flora brasileira é riquíssima em exemplares que são utilizados pela população como plantas medicinais. Muitos defensivos químicos não são facilmente detectáveis nos produtos, porém, o acúmulo dos mesmos vem acompanhado de graves problemas, ambientais e humanitários. Para reduzir seu consumo iniciou-se uso de extratos vegetais com atividade fungicida; entretanto, a avaliação desses compostos com finalidades diversas, como, por exemplo, no controle de microrganismos patogênicos de plantas cultivadas, ou ainda como herbicida natural, é recente, visto que são poucos os trabalhos nesse campo. Com este objetivo desenvolveu-se o presente estudo para avaliar o desempenho de extratos vegetais de alho branco e roxo, juá, pinhão manso, boldo do Chile, limão rosa, citronela, pimenta do reino, tamarindo, cipó lixa, cipó cravo, mandioca, guanxuma, bacuri, capim colonião e coentro no controle “in vitro” de Phomopsis phaseoli var. sojae e influência na qualidade de sementes de soja. Todos os extratos analisados apresentaram reduções significativas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade no diâmetro das colônias aos 5 e 7 dias de desenvolvimento.Os melhores resultados foram obtidos com extratos de alho roxo e alho branco, ambos não autoclavados e juá autoclavado ou não. Para o teste de germinação os resultados não apresentaram diferenças significativas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Palavra-chave: Qualidade Fisiológica, extratos, sementes. INTRODUÇÃO

As doenças de plantas são responsáveis por consideráveis perdas, em especial para as culturas de importância econômica. Estas doenças podem ocorrer, no campo, em qualquer fase do ciclo da planta, como também ocorrem em pós-colheita, durante o armazenamento. Para minimizar os efeitos negativos destes microrganismos, vários

métodos, sejam eles físicos, químicos e biológicos, vêm sendo empregados. Atualmente uma das alternativas pesquisadas envolve o uso de extratos vegetais, buscando explorar suas propriedades fungitóxicas.

A literatura tem registrado a eficiência de extratos vegetais, obtidos de uma gama enorme de espécies botânicas, na inibição do desenvolvimento de vários fitopatógenos de natureza fúngica. Dentre os extratos mais pesquisados encontra-se aquele obtido de alho (Allium sativum L.). Além do alho, extratos originários de hortelã (Mentha piperita) e pimenta (Capsicum spp.) também tem evidenciado propriedades antifúngicas, demonstrando potencial de controle para patógenos de plantas. Extratos obtidos de plantas de mamona (Ricinus communis) têm sido relatados como inibidores de fungos associados a substratos de formigueiros onde a eliminação destes fungos está relacionada ao controle das formigas. Extratos de outras plantas têm sido testados, dentre elas: Tominho, Tetradenia, Rosmarinus, Zingiber, Ocimum, Artemísia, Achillea, Baccharis, Ruta laurus e Eucaliptus (CRUZ et al., 1996).

As plantas medicinais mostram um futuro promissor no tratamento de sementes, pelo fato de não deixarem resíduos tóxicos nas mesmas, podendo também ser usados para a agricultura ecológica e para diminuir o uso de produtos químicos de graves conseqüências para a natureza, homem e animais.

Objetivando promover o controle de fungos presentes em sementes de soja, e manutenção e/ou aumento da viabilidade e vigor das sementes de soja através do uso de extratos vegetais realizou-se o presente estudo.

MATERIAIS E MÉTODOS O presente estudo foi desenvolvido no Laboratório de Engenharia e

Processamento Agroindustrial do Departamento de Engenharia de Produção Agroindustrial, Campus Universitário “Deputado Estadual Renê Barbour”, localizado no município de Barra do Bugres – MT pertencente à Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT.

Para a realização do presente trabalho foram usadas sementes de soja (Glycine max). E utilizados extratos vegetais obtidos de plantas medicinais, nativas e invasoras, presentes no município de Barra do Bugres.

As plantas usadas foram colhidas, lavadas e secas em estufa com circulação de ar na temperatura de 55±2°C, conforme FALKENBERG et al., (2000). Após secas as plantas foram colocadas em sacos plásticos e armazenadas a temperatura de 20°C em ambiente controlado.

OBTENÇÃO DOS EXTRATOS: Utilizaram-se na obtenção dos extratos vegetais, folhas de pinhão manso, cipreste, babosa e tiririca, bulbos de alho e cebola e rizomas de gengibre. As plantas foram colhidas lavadas e secas e posteriormente fracionadas em duas porções sendo uma usada para montar a extração dos produtos “in natura” e a outra levada para secagem em estufa com circulação de ar regulada na temperatura de 55± 2°C, conforme FALKENBERG et al., (2000), para montar a extração com as plantas desidratadas. EXTRAÇÃO: utilizou-se 40 g de material vegetal, 20 ml de água destilada e 60 ml de álcool etílico, em frascos com capacidade para 200 ml acondicionados à temperatura de 20°C sob agitação durante 7 dias. Posteriormente realizou-se a filtragem dos extratos em papel filtro (INLAB tipo 10) e imediatamente após em membrana filtrante de porosidade 0,45 micron. O extrato filtrado foi submetido à evaporação sob vácuo

para remoção do álcool etílico e reconstituído com água destilada e autoclavada para 20 ml. APLICAÇÃO DOS EXTRATOS: Foi usado 1 ml de extrato vegetal para cada 10 ml de meio de cultura BDA fundente (aproximadamente 45°C). Placas contendo somente meio de cultura BDA foram usadas como testemunha. No tratamento das sementes realizou-se a aplicação de 3 ml de extrato para 100 gramas de sementes, mantidas em bandejas para redução do teor de umidade próximo dos 13%. Sendo na testemunha inoculado o respectivo volume de água. INOCULAÇÃO DAS PLACAS: A partir de colônias crescidas na temperatura de 20±2°C com regime de 12 horas de luz, por sete dias em placas com meio de cultura BDA, foram retirados discos de 8 mm de diâmetro. Sendo estes, transferidos para o centro de cada placa componentes dos tratamentos. INCUBAÇÃO: realizada na temperatura de 20±2°C com regime de 12 horas de luz, por sete dias. Sendo realizadas medições do diâmetro das colônias aos 7 dias, em duas direções formando um ângulo de 90° e calculado uma média entre as medições para obtenção do diâmetro médio de cada colônia. TESTE DE GERMINAÇÃO: Realizado com 400 sementes para cada tratamento empregando-se como substrato papel “Germitest”, esterilizado e umedecido com água destilada, na proporção de 2,5 vezes o peso do papel de acordo com o descrito nas Regras para Análises de Sementes – RAS para o substrato papel (BRASIL, 1992). Os rolos com 50 sementes cada, foram colocados em germinador do tipo “Mangelsdorf” regulado na temperatura constante de 25°C. As contagens foram realizadas no 5° e no 7° dias, e o resultado expresso em percentagem de plântulas normais. PROCEDIMENTO ESTATÍSTICO: o delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado com quatro repetições por tratamento.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados contidos na Tabela 01. apresenta a relação dos extratos vegetais com

utilização “in natura” com ou sem autoclavagem e as respectivas influências “in vitro” sob o desenvolvimento de Phomopsis phaseoli var. sojae, avaliados aos 3, 5 e 7 dias, e na germinação de sementes de soja. Tabela 01. Relação dos extratos vegetais e os respectivos efeitos no desenvolvimento “in vitro” e na germinação de sementes de soja.

Diâmetro das colônias

Planta Autoclavagem 3 dias 5 dias 7 dias

Germinação

(%)

Testemunha 3,6 a 5,6 a 7,7 a 8,0 abcd

Coentro Não autoclavado 3,2 ab 4,8 bc 6,7 b 9,3 abcd

Coentro Autoclavado 3,3 ab 5,1 b 6,5 bc 8,7 abcd

Guanxuma Não autoclavado 2,7 d 4,1 d 6,0 c 7,7 abcd

Capim-colonião Não autoclavado 3,3 ab 4,6 c 6,0 c 12,7 ab

Bacuri Não autoclavado 3,0 bc 4,6 c 5,9 c 8,0 abcd

Capim-colonião Autoclavado 2,7 cd 4,1 d 5,2 d 11,0 abcd

Cipó-cravo Não autoclavado 1,9 ghij 3,4 efg 5,1 de 6,0 abcd

Bacuri Autoclavado 2,4 de 3,9 d 5,0 de 8,3 abcd

Pimenta do Reino Não autoclavado 2,4 de 3,4 e 4,6 def 9,3 abcd

Mandioca Não autoclavado 2,3 ef 3,4 ef 4,6 ef 11,7 abc

Alho Branco Autoclavado 0,9 qu 2,8 hi 4,3 fg 5,7 abcd

Pinhão manso Autoclavado 2,0 fgh 3,0 ghi 4,1 fgh 7,3 abcd

Guanxuma Autoclavado 2,0 fg 3,1 efgh 4,1 fgh 13,7 a

Mandioca Autoclavado 1,8 ghij 3,0 efghi 4,0 fgh 8,7 abcd

Cipó-lixa Não autoclavado 1,9 ghi 3,0 fghi 3,9 gh 9,3 abcd

Cipó-cravo Autoclavado 1,6 ijklm 2,6 ij 3,8 gh 5,0 bcd

Cont... Tabela 01.

Diâmetro das colônias

Planta Autoclavagem 3 dias 5 dias 7 dias

Germinação

(%)

Cipó-lixa Autoclavado 1,6 hijk 2,4 jk 3,4 hi 4,0 cd

Tamarindo Não autoclavado 1,4 klmno 2,3 jk 3,1 ij 7,0 abcd

Boldo do Chile Não autoclavado 1,5 jklmn 2,2 jkl 3,0 ijk 5,7 abcd

Tamarindo Autoclavado 1,6 ijkl 2,4 jk 3,0 ijk 4,3 bcd

Alho Roxo Autoclavado 0,8 u 1,3 opq 3,0 ijkl 5,7 abcd

Citronela Não autoclavado 1,3 lmnopq 1,9 lmn 2,9 ijkl 6,0 abcd

Pimenta do Reino Autoclavado 1,2 mnopq 1,9 lmn 2,7 jklm 7,7 abcd

Limão rosa Autoclavado 1,4 klmnop 2,0 klm 2,6 jklmn 11,3 abc

Citronela Autoclavado 1,2 nopq 1,7 mn 2,4 klmn 6,3 abcd

Limão rosa Não autoclavado 1,2 nopq 1,7 mn 2,3 lmn 9,3 abcd

Boldo do Chile Autoclavado 1,1 opqu 1,6 mno 2,3 mn 8,7 abcd

Pinhão manso Não autoclavado 1,1 opqu 1,5 nop 2,0 n 11,3 abc

juá Não autoclavado 1,0 pqu 1,1 pq 1,3 o 9,0 abcd

juá Autoclavado 1,0 qu 1,1 pq 1,3 o 2,7 d

Alho Roxo Não autoclavado 0,9 qu 1,0 q 1,0 o 6,7 abcd

Alho Branco Não autoclavado 0,9 qu 1,0 q 1,0 o 8,7 abcd

As médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si no nível de 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey.

Todos os extratos analisados apresentaram reduções significativas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade no diâmetro das colônias aos 5 e 7 dias de desenvolvimento.

Os melhores resultados foram obtidos com extratos de alho roxo e alho branco, ambos não autoclavados e juá autoclavado ou não.

Para o teste de germinação os resultados não apresentaram diferenças significativas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

A extração com álcool etílico demonstrou maior eficiência na obtenção de extratos com ação de controle “in vitro” de Phomopsis phaseoli var. sojae. CONCLUSÃO

Extratos etanólicos vegetais apresentam de modo geral resultados sobre o

desenvolvimento de Phomopsis phaseoli var. sojae, sendo os mais eficientes os obtidos com alho roxo e branco e juá. Por outro lado estes não influenciaram a germinação das sementes. BIBLIOGRAFIA

BRASIL, Ministério da Agricultura e da Reforma Agrária. Regras para análises

de sementes. Brasília: SNDA/DNDV/CLAV, 1992. 365 p. CRUZ, M. E. S. et al. Plantas medicinais e aromáticas promissoras no controle

de patógenos de sementes de soja. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE SOJA. Londrina. 1999. Anais... Londrina: Embrapa CNPSo, 199. p.500. 459p.

FALKENBERG, MIRIAM DE BARCELLOS. SANTOS, ROSANA ISABEL DOS. SIMÕES, CLÁUDIA MARIA OLIVEIRA. In: FARMACOGNOSIA da planta ao medicamento. 2ed. Porto Alegre: UFRGS / Florianópolis UFSC, 2000. 821p. ; cap. 10: Introdução à análise Fitoquímica, p. 163-179.