determinantes do colapso do dólar

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DETERMINANTES DO COLAPSO DO DÓLAR COMO MOEDA DE RESEVA INTERNACIONAL E SUA RELEVÂNCIA NA AMÉRICA LATINA Igor Goes Rodrigues Mestrando em Desenvolvimento Regional e Gestão em Empreendimentos Locais pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). E-mail: [email protected] RESUMO O artigo se propõe a avaliar o quanto as variáveis da economia americana – aqui chamadas de determinantes do colapso – apontam para um declínio do dólar em quanto moeda de troca internacional. Juntamente com esta análise, verifica-se, também, o quanto a América Latina ainda é dependente do dólar e a intensidade que poderão sentir os países que a compõe de uma possível grave crise provocada pelo colapso da moeda americana. Palavras-chave: Dólar; determinantes do colapso; América Latina. INTRODUÇÂO O que mantém o dólar como moeda forte é justamente o arcabouço que está por trás da moeda: a maior economia do mundo, a economia dos EUA. Como a moeda em si não tem valor algum, ou seja, não é lastreada por nenhum ativo real, é exatamente o poderio e a sustentação de uma nação forte como a americana, que possibilitaram tal manutenção do dólar como medida de valor para o mundo inteiro. Apesar de

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DETERMINANTES DO COLAPSO DO DÓLAR COMO MOEDA DE RESEVA INTERNACIONAL E SUA RELEVÂNCIA NA AMÉRICA LATINA

Igor Goes Rodrigues

Mestrando em Desenvolvimento Regional e Gestão em Empreendimentos Locais pela Universidade Federal de Sergipe (UFS).

E-mail: [email protected]

RESUMO

O artigo se propõe a avaliar o quanto as variáveis da economia americana – aqui chamadas de determinantes do colapso – apontam para um declínio do dólar em quanto moeda de troca internacional. Juntamente com esta análise, verifica-se, também, o quanto a América Latina ainda é dependente do dólar e a intensidade que poderão sentir os países que a compõe de uma possível grave crise provocada pelo colapso da moeda americana.

Palavras-chave: Dólar; determinantes do colapso; América Latina.

INTRODUÇÂO

O que mantém o dólar como moeda forte é justamente o arcabouço que está por trás da moeda: a maior economia do mundo, a economia dos EUA. Como a moeda em si não tem valor algum, ou seja, não é lastreada por nenhum ativo real, é exatamente o poderio e a sustentação de uma nação forte como a americana, que possibilitaram tal manutenção do dólar como medida de valor para o mundo inteiro. Apesar de continuar sendo reconhecida como a nação mais forte do mundo, a economia norte-americana já dá claros sinais de que essa condição não será sustentável por muito tempo. Após a década perdida – os anos 2000 – e seguidas crises enfrentadas pelos Estados Unidos nos últimos 50 anos, os dados desta economia comprovam o inevitável: a economia americana está enfraquecendo. Neste ínterim, e voltando a questão do que tem sido o “lastro” do dólar, está claro perceber que sem uma economia forte o dólar perde a sua sustentabilidade internacionalmente.

Frente a todos os acontecimentos dos últimos tempos, é possível continuar crendo no dólar como a moeda de reserva internacional? Quais os fatores ou determinantes que caracterizam um possível colapso do dólar? Como ou o que prova, ao observar a economia americana, uma tendência de deterioração da sua moeda?

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Independente das previsões futuristas para o dólar, como podemos saber o quanto ele ainda é influente para a América Latina?

Verificar como alguns dados recentes da economia norte-americana podem apontar decisivamente para o colapso do dólar, e medir quão importante e influente ainda é essa moeda na América Latina.

O objetivo aqui não se trata de fazer uma revisão teórica sobre o assunto exposto, mas, a luz dos dados empíricos concernentes a economia americana, exemplificar como, após a leitura dos dados, eles acabam desaguando naturalmente num colapso do dólar como moeda de reserva mundial.

O mundo todo vem passando por mudanças, o sistema financeiro e sua conjuntura já não são os mesmos de anos atrás. Depois do predomínio do padrão-ouro, da libra esterlina, do 1° e 2° Breton Woods, do dólar flexível ou dólar sem lastro em função do apogeu da economia americana, o sistema financeiro internacional tem hoje uma nova formatação, com novas personagens e com novos protagonistas. Ainda não se sabe, ao certo, qual ativo ou qual moeda irá substituir o dólar, porém o que está em debate neste artigo é a incapacidade para os próximos anos da manutenção do dólar como principal ativo de reserva mundial. Nesse contexto, tendo o dólar como algo incerto e inseguro, avalia-se também o quanto influente e relevante ele ainda é para a América Latina.

O trabalho será composto, além desta introdução, por dois grandes tópicos: o primeiro é a avaliação de alguns dados da economia americana, que foram chamados neste artigo de “Determinantes do Colapso do Dólar”. Dentro deste tópico existem seis subtópicos que fornecem alguns dados importantes, que são: Base Monetária, Taxa de Juros, Inflação, Dívida Pública, Câmbio, Déficit Balança Comercial. O segundo trás o nível de utilização e importância do dólar nos dias atuais para a América Latina, “O Peso do Dólar na América Latina”. Por fim teremos as conclusões as quais chegamos deste trabalho.

1. CONTEXTUALIZANDO O DOLAR

Um dos pontos fundamentais da elevação do dólar a moeda de reserva internacional foi justamente a austeridade no controle cambial durante o padrão ouro-dólar. Foi esse rigor por parte das autoridades norte-americanas na defesa da fixação do valor do dólar frente ao ouro que deu a essa moeda o status e a credibilidade de ser a moeda utilizada para as transações internacionais. Porém, antes disso, veremos resumidamente como essa transação de deu.

O autor Franklin Serrano (2002) estabeleceu em seu artigo “Do Ouro Imóvel ao Dólar Flexível” a seguinte cronologia de padrões monetários internacionais:

1) O padrão ouro-libra, de 1819-1914;

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2) A tentativa de retorno a esse padrão do fim da Primeira Guerra até os

anos 1930;

3) O padrão ouro-dólar do pós-Segunda Guerra até 1971;

4) O período de crise até 1979;

5) O padrão dólar flexível de 1980 até os dias de hoje.

Após o período de predomínio da libra esterlina como moeda internacional, o período que se denominou de padrão ouro-libra, foi criado o acordo de Bretton Woods: Mesmo antes do término da 2° Guerra Mundial, líderes de 44 países se reúnem para estabelecer um novo padrão financeiro internacional (FERNANDES, 2010).

Segundo Fernandes (2010), a proposta americana era de:

“... permanência do ouro como meio de pagamento internacional, entretanto, apenas o dólar teria seu valor diretamente fixado em ouro (US$ 35 por onça de ouro). Os demais países fixariam o valor de suas moedas em relação ao dólar e manteria a paridade fixa, o que deixava o dólar numa posição singular no novo arranjo.”

O sistema de Bretton Woods perdurou ainda muito tempo, sendo grande parte dessa manutenção do padrão ouro-dólar em função da responsabilidade dos países envolvidos em manterem a credibilidade da conversão do padrão monetário estabelecido em US$ 35 a onça troy. Com o fim das medidas internas de venda de ouro por parte dos governos das principais economias da época, com o objetivo de defender a conversibilidade estabelecida no acordo, em detrimento de priorizar problemas internos – no caso dos Estados Unidos foi a questão da guerra no Vietnã, e a Inglaterra vivendo a crise da desvalorização da libra em 1967 – o padrão de US$ 35 por onça foi sendo desfeito a medida que o dólar ia se valorizando frente ao ouro, incorrendo na quebra total do padrão ouro-dólar e implementando o novo padrão dólar flexível (OLIVEIRA, MAIA, MARIANO, 2008).

Com o fim do sistema Bretton Woods e o predomínio hegemônico dos Estados Unidos como a nova grande potência mundial, o dólar inevitavelmente assumiu a condição de moeda de reserva internacional ou moeda de referência para as transações internacionais. Em decorrência do fim do sistema de Bretton Woods, ficou claro que o principal problema que resultou na queda do padrão monetário internacional estabelecido no acordo, foi justamente a falta de credibilidade e confiabilidade no padrão de conversibilidade tendo o ouro como lastro para as emissões do dólar. Hoje, é sabido que as emissões do dólar ocorrem de forma fiduciária, ou seja, sem lastro algum, mas apenas segundo a credibilidade do governo americano. É a credibilidade junto ao mercado internacional que deu até hoje a sustentabilidade do dólar como moeda de reserva internacional.

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Credibilidade e confiabilidade, essas são as palavras de ordem para manutenção de um padrão monetário internacional, sendo assim, o que será discutido a seguir é exatamente a manutenção dessas características indissociáveis de um padrão monetário segundo a égide da economia americana.

2. DETERMINANTES DO COLAPSO

2.1. Base Monetária

A base monetária dos EUA atingiu em julho de 2011 a cifra de 2 trilhões e 725 bilhões de dólares. Percebe-se claramente através do gráfico abaixo, que foi durante o período da crise financeira em 2008 que ocorreu uma exponencial elevação da base, saltando de 847 bilhões em janeiro de 2008 para 1 trilhão e 690 bilhões em dezembro desse mesmo ano. Amparado por uma tentativa desesperada de melhorar o nível de renda, o governo americano passou a emitir dinheiro de forma descomunal.

Fonte: Board of Governors of the Federal Reserve System

Já é sabido que a base monetária são os saldos de papel moeda em poder do público e os depósitos bancários. Quanto maior a base monetária maior será o volume de dinheiro na economia. Como todo ativo, quanto maior a quantidade ofertada de dinheiro na economia, menor será o seu valor ou o seu preço. O preço do dinheiro é o juro, não sendo coincidência o fato de termos taxas de juros tão baixas nesse mesmo período, como será mostrado no próximo gráfico.

Outro fator direto que corresponde à expansão da base monetária é a inflação. Como o próprio nome já diz, inflação de moeda é a ação por parte do governo de inflar ou encher a economia de moeda, já que é o governo que tem a legalidade e a primazia para

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criar dinheiro. Apesar dos números para inflação americana atualmente não serem altos (veremos mais a frente), sabemos que o aumento nos preços dos produtos e serviços transacionados internamente nos EUA, a longo prazo, fatalmente tenderão a forte elevação, não apenas pela expansão da base monetária, mas também pela desvalorização cambial, tema que também será visto neste artigo.

2.2 Taxa de Juros

Desde o início da crise financeira, a taxa de juros dos fundos federais – taxa básica de juros da economia americana1 – veio apresentando trajetória de queda até chegar a níveis baixíssimos como os atuais, que se situam entre 0,00% e 0,25% a.a.

Fonte: Board of Governors of the Federal Reserve System

Para o economista americano John Taylor2, foi exatamente a manutenção de taxas de juros excessivamente baixas, fora da sua trajetória histórica e natural, o que ocasionou a crise financeira de 2008.

Em função do elevado endividamento do governo americano, é certo que essa taxa tenha um viés de alta para os próximos anos, pois os próprios credores dos “Treasuries3” exigiram, para renovação dos empréstimos, elevação nos juros como precaução ao risco, tendo em vista que os títulos americanos já não são mais tão seguros como antes.

1 No Brasil a taxa básica de juros chama-se Selic – Sistema Especial de Liquidação e Custódia.2 Taylor, John.2

3 Como são conhecidos os títulos do tesouro americano.

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2.3 Inflação

Em junho de 2011 a inflação americana atingiu 3,4% no acumulado em 12 meses, tendo uma trajetória ascendente desde setembro do ano anterior. Se tomarmos o ano de 2009, aonde chegaram a ter 2% de deflação, se comparado aos 3,4% de inflação dos dias atuais, percebe-se uma evolução acentuada do índice de preços desse país.

Fonte: U.S. Department of Labor: Bureau of Labor Statistics

Como já mencionado no item acima, a expansão da base monetária é o efeito e o aumento dos preços ou a desvalorização da moeda é apenas a causa dessa expansão monetária. Apesar disso, os números oficiais da inflação americana estão muito abaixo do que se poderia esperar, tendo em vista a elevada quantidade de dinheiro injetado na economia nos últimos anos. O economista John Williams, criador de um site que expõe e analisa erros de dados fornecidos pelo governo americano: “Shadow Government Statistcs4”, revela que os números da inflação oficial foram abrandados no decorrer dos anos, pois ele constatou que ao realizar os cálculos inflacionários com base na metodologia utilizada por governos anteriores, seria encontrada uma inflação muito mais elevada do que hoje se apresenta, na faixa dos 11%, ao invés dos 3,6% como vimos acima. O gráfico abaixo mostra essa diferença entre a taxa criada pelo Shadow Governments Statistcs – SGS e a desenvolvida pelo governo americano – CPI.

4 http://www.shadowstats.com/

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De acordo com Leandro Roque5 (2011), esse excesso de dinheiro na economia só não provocou nos últimos anos um aumento generalizado nos preços ainda maior, em virtude de algumas circunstâncias “acidentais e extraordinárias”, tais como: expansão da divisão internacional do trabalho, aumento da produtividade, maior número de ofertantes, abertura comercial de países socialistas, concorrência entre os novos mercados, maior fonte de informações e, principalmente, em função da China.

2.4 Câmbio

O gráfico abaixo aponta um índice criado com as principais moedas do mundo confrontadas com o dólar, resultando em uma média ponderada para obtenção do valor do dólar dos EUA frente a esse subconjunto6 de moedas. O gráfico revela o quanto o dólar vem perdendo valor frente às principais moedas do mundo, principalmente a partir do ano de 2002.

5 Leandro Roque é o editor e tradutor do site do Instituto Ludwig von Mises Brasil. 6 Esse subconjunto é formado pelas moedas dos seguintes países: Zona do Euro, Canadá, Japão, Reino Unido, Suíça, Austrália e Suécia

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Fonte: Board of Governors of the Federal Reserve System

Em função do desestímulo provocado pelo baixo nível dos juros e, sobretudo, pela exponencial expansão monetária, a média ponderada da cesta das principais moedas do mundo frente ao dólar é atualmente o mais baixo dos últimos 50 anos.

Esse índice revela, dentre outros fatores, o maior momento de fragilidade da moeda americana desde o seu predomínio como moeda de troca internacional. Apesar disso, dessa grande desvalorização do dólar, ainda assim não foi suficiente para provocar uma vigorosa redução nos déficits em conta corrente, ressaltando outro grave problema por qual vem passando a economia americana, como será visto logo abaixo.

2.5 Déficit da Balança Comercial e em Conta Corrente

Em Junho de 2011 a balança comercial americana atingiu a cifra de aproximadamente US$ 53 bilhões em déficit. Tendo se recuperado no período da crise, reduzindo o déficit para próximo de US$ 27 bilhões, voltou a crescer após os planos governamentais de emissão de dinheiro e expansão do crédito, na tentativa de conter os efeitos da crise, como mostrado no gráfico abaixo:

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Fonte: U.S. Department of Commerce: Bureau of Economic Analysis

Com combinações de inflação em alta e taxas de juros em baixa, puxado pela elevação da balança comercial, o déficit em conta corrente aumentou ainda mais, chegando a um déficit de US$ 120 bilhões, como mostra o gráfico abaixo:

Fonte: U.S. Department of Commerce: Bureau of Economic Analysis

Como mostra o gráfico acima, essa trajetória de queda no saldo das transações correntes é relativamente recente. Foi a partir dos anos 80 que o saldo dessa conta passou a ser

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fortemente deficitário. Um dos fatores que podem explicar esse fenômeno foi a forte perda de competitividade internacional dos seus produtos, sobretudo a partir da abertura comercial da China.

2.6 Dívida Pública

A dívida pública americana é sem dúvidas o assunto mais debatido da atualidade, e não sem motivos é dos determinantes do colapso aqui exposto o mais importante. Como visto na primeira seção deste artigo, são a confiabilidade e a credibilidade os dois fatores mais fundamentais para manutenção de um padrão monetário internacional. São exatamente esses dois atributos que têm sido fragilizados ou perdidos durante esse período da economia americana, onde acumulação da dívida atinge dos patamares o mais elevado da história mundial.

Fonte: U.S. Department of the Treasury, Financial Management Service

Com valores da ordem de US$ 14 trilhões, vale dizer que atualmente quase tudo que o povo americano gera em termos de produção é o equivalente ao que dispõe de despesa. Com um PIB no valor aproximado de US$ 15 trilhões, não é confiável acreditar que o governo desse país conseguirá arrecadar em tributos valores correspondentes as parcelas do juros da dívida, ou ao serviço da dívida, como é conhecido.

Uma das agências de avaliação de risco mais conhecidas no mundo, a Standard & Poor’s, rebaixou a capacidade de pagamento dos EUA em AAA para AA+. A avaliação de nível AAA demonstra uma capacidade extremamente forte para honrar os

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compromissos contraídos através da venda dos títulos, sendo a AA+ uma capacidade apenas “muito forte” para honrar o compromisso dos títulos.

Ainda assim, mesmo com tal rebaixamento, os Estados Unidos ainda permanecem com uma capacidade de pagamento muito boa, estando, segundo a Standart & Poor’s, ainda longe de ser um país com característica de “não pagador”. Porém, como tudo no mercado financeiro é extremamente sensível, essa notícia trouxe forte desconfiança para os investidores, provocando fortes desvalorizações nas bolsas em todo o mundo.

3. PESO DO DÓLAR NA AMÉRICA LATINA

3.1. Nível de Dolarização dos Anos 90

Tempos atrás, mais especificamente nas décadas de 80 e 90, sabemos que, devido aos constantes problemas de ordem inflacionária, muitos países da America Latina adotaram um procedimento que se denominou de “dolarização”. Essa substituição das funções da moeda nacional pelo dólar foi uma tendência dos agentes individualizados das economias latino-americanas, na tentativa de proteger sua riqueza contra as perdas decorrentes do valor real da moeda local.

Nos anos 90, na América Latina, a utilização do dólar como “ancora” ou “lastro” da moeda nacional, já desgastada e desacreditada em decorrência da elevada inflação do período, era algo tido como natural. Discutia-se, na época, o quanto o sucesso inicial do Plano Cavallo, na Argentina, poderia servir de exemplo para o Brasil (BATISTA Jr., 2000).

Tendo como pano de fundo um acelerado processo inflacionário, os Estados Unidos como a grande potência mundial, o dólar forte e prevalecente em todo mundo, implantação na Argentina de um processo de dolarização da sua economia, criou-se na América Latina uma cultura de que a dolarização era um “bom negócio”. Como pode ser visto no quadro abaixo, houve um elevado aumento na razão entre os depósitos em moeda estrangeira e os depósitos totais entre os anos de 1990 e 2001:

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3.2. Nível das Reservas Internacionais

Segundo dados da CEPAL7, a América Latina e Caribe acumulam juntas o equivalente a mais de US$ 700 bilhões em reserva, só ficando atrás da China em volume das reservas internacionais. Como apresenta o quadro abaixo, apesar do Brasil, no que tange a dolarização da economia, apresentar resultados nulos, tendo em vista a estrita proibição de tal prática, não se verifica tal prudência quanto ao acúmulo de reservas internacionais praticas pelo Banco Central do Brasil, correspondendo a quase 50% do total da participação da América Latina.

Em notícia divulgada no site da CEPAL8, a secretária-executiva do organismo, Alícia Bárcena, vê com preocupações os problemas de elevação do teto da dívida dos Estados Unidos, em virtude do elevado comprometimento da economia latino-americana em títulos norte-americanos.

7 Comisión Económica para América Latina. 8

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Fonte: CEPAL

CONCLUSÃO

Todos esses fatores ou determinantes, analisados conjuntamente indicam a tendência inevitável de um colapso da moeda americana como moeda de referência internacional. Se não, vejamos. A manutenção de juros baixos acarretará em um aumento cada vez mais consistente nos preços internos, e associado à expansão da base monetária ocasionará em uma elevada desvalorização cambial e déficits na balança comercial cada vez maiores.

Se o governo resolve adotar um regime mais rígido para a política monetária, adotando medidas como a redução do crescimento da base monetária e deixar os juros terem a sua trajetória “normal” de elevação, ou seja, sem a intervenção governamental, isso resultará em um crescimento insustentável da dívida pública, tendo em vista que a maior parte da dívida é atrelada ao “Federal Funds Rate”.

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Nos dois casos, seja um déficit acentuado no balanço de pagamentos ou uma dívida pública federal insustentável, encontrará do outro lado um público cada vez mais inseguro quanto ao futuro do dólar e a sua utilização como moeda de reserva internacional, o que levará, inevitavelmente, ao seu colapso.

Em virtude de uma possível elevação dos juros - tendo em vista o atual estágio da dívida americana e da pressão dos credores para elevar os juros, pois há riscos envolvidos na transação em função do patamar elevado da dívida - é muito provável que o governo direcione a criação de dinheiro através não mais da emissão de títulos, mas de uma ainda maior expansão da base monetária, causando a inevitável inflação monetária.

Com relação ao processo de dependência da América Latina ao dólar, constatou-se que, apesar de uma diminuição nos níveis de dolarização e de títulos públicos americanos, ainda há um forte peso da moeda americana frentes aos países latino-americanos. Sendo clara a tendência de deterioração da moeda americana, é preocupante a fragilidade da América Latina em se confirmando o colapso do dólar nos próximos anos.

REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO

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FERNANDES, Marcelo Pereira. O Papel do Estados Unidos no Fim do Regime de Bretton Woods. Dialética, v. 1, n. 1, p. 6-11, julho 2010.

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SERRANO, Franklin. Do ouro imóvel ao padrão dólar. Economia e Sociedade, Campinas, v. 11, n. 2 (19), p. 237-253, jul./dez. 2002.

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TAYLOR, John B. The financial crisis and the policy responses: An empirical analysis of what went wrong. (January 2009). NBER Working Paper Series, Vol. w14631, pp. -, 2009. Disponível em: http://ssrn.com/abstract=1327252.