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DETERMINANTES DA MIGRAÇÃO NA FRONTEIRA AGRÍCOLA DO MAPITOBA Palavras-chave: fronteira agrícola, demografia, desenvolvimento regional, economia agrícola. Autores: Raquel Aline Schneider Doutoranda em Demografia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mestrado em Desenvolvimento Regional e Agronegócio e graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). Jonas da Silva Henrique Mestrado em Desenvolvimento Regional e Agronegócio e graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE).

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DETERMINANTES DA MIGRAÇÃO NA FRONTEIRA AGRÍCOLA DO MAPITOBA

Palavras-chave: fronteira agrícola, demografia, desenvolvimento regional, economia agrícola.

Autores:

Raquel Aline Schneider

Doutoranda em Demografia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mestrado em

Desenvolvimento Regional e Agronegócio e graduação em Ciências Econômicas pela Universidade

Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE).

Jonas da Silva Henrique

Mestrado em Desenvolvimento Regional e Agronegócio e graduação em Ciências Econômicas pela

Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE).

DETERMINANTES DA MIGRAÇÃO NA FRONTEIRA AGRÍCOLA DO MAPITOBA

Resumo: O objetivo do texto é analisar os movimentos migratórios e determinar alguns fatores de

atração à imigração para os municípios da atual região de fronteira agrícola brasileira conhecida como

MAPITOBA. Para levantar os dados sobre imigração e emigração foram utilizados os microdados do

Censo Demográfico de 2010, também foram calculados os saldos migratórios e estimado um modelo

econométrico log-log de cross-section pelo método dos Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) a fim

de determinar alguns fatores de atração do MAPITOBA. Os resultados demonstraram que imigraram

para a região mais de 189 mil pessoas e os municípios que mais receberam imigrantes foram os do

Tocantins, seguidos pelos da Bahia, Piauí e Maranhão. Já a emigração e os saldos migratórios

demonstraram que a região também expulsa um contingente significativo de pessoas, sendo que

houve a imigração líquida para essa fronteira agrícola de apenas 980 pessoas. Por fim, o modelo

econométrico confirmou que a região é caracterizada por ser de passagem e não de fixação dos

migrantes, já que foram os fatores econômicos os responsáveis por explicarem a maior parte dos

movimentos imigratórios para o MAPITOBA.

Palavras chave: fronteira agrícola, demografia, desenvolvimento regional, economia agrícola.

1. INTRODUÇÃO

As fronteiras agrícolas brasileiras comportam algumas particularidades no processo evolutivo

de suas expansões, dentre tais características destacam-se a gradual transferência de capital, o grau

de tecnologia empregada, a transição demográfica, e as repercussões socioeconômicos de suas

ocupações, que alteram as perspectivas do desenvolvimento dessas áreas.

Historicamente, ocorreram formas diferenciadas nas ocupações das fronteiras agrícolas

brasileiras. No período colonial, a forma de induzir as frentes desbravadoras, tinha por objetivo a

busca de minérios e, consequentemente, a sua expansão coligada com atividades agrícolas ou pecuária

que caracterizaram a marcha em sentido ao sertão nordestino, com a expansão da produção da cana

de açúcar e, em Minas Gerais, com as atividades de minério. A posteriori, o café tomou a dianteira

expansionista em regiões agrícolas no Rio de Janeiro e São Paulo, e em sequência seguindo para o

Paraná e para o Nordeste, principalmente para o Acre associado à extração da borracha (FURTADO,

1980).

De modo geral, a expansão das fronteiras agrícolas brasileiras tem contribuído na

produtividade do setor agrícola e na extração de matérias-primas para o setor industrial, ainda que

não seja a sua única atribuição, há um incremento significativo nas exportações, que acabam

cooperando na geração de divisas, contribuindo assim, para o financiamento das importações. A

expansão do mercado está relacionado à extrapolação das fronteiras dos fatores de produção, nesse

caso, pelo avanço da exploração de novas terras produtivas, tanto pelo lado do aquecimento do

mercado consumidor, quanto pelas novas oportunidades de investimento, que tem a propensão de se

espalhar pelo efeito multiplicador, dinamizando e posteriormente diversificando a economia local

(SICSÚ; LIMA, 2000).

Atualmente, o cerne desta questão está nos municípios que comportam a região de fronteira

agrícola recente, denominada de MAPITOBA. Como todo o processo de ampliação e

desenvolvimento não ocorre sem pessoas, este estudo tem a finalidade de analisar os movimentos

migratórios desta região, e os determinantes que levam as pessoas a imigrarem para essa região.

Destarte, este texto está estruturado primeiramente nas definições que a literatura traz sobre

fronteira agrícola, em seguida é exposto o seu contexto histórico e as atuais fronteiras agrícolas, logo

após há a descrição dos procedimentos metodológicos, e por fim a deliberação dos resultados e os

comentários finais.

2. FRONTEIRA AGRÍCOLA: DEFINIÇÕES

O aumento da produção agrícola pode ocorrer via incremento de capital (uso de máquinas e

equipamentos, novos pacotes tecnológicos) ou de trabalho (manejo, novas técnicas de plantio) nas

terras já existentes (forma intensiva) e pelo aumento da área produzida (forma extensiva). Enquanto

a quantidade de terra disponível determina se o aumento na produção agrícola será mais viável de

forma intensiva ou extensiva, a produtividade determina a velocidade e a proporção com que a

fronteira agrícola será ocupada (SILVA, 1982).

A expansão da produção agrícola de forma extensiva apresenta algumas dificuldades, como o

aumento gradual da distância entre produção e centros consumidores e distribuidores, e a crescente

dificuldade em explorar essas novas áreas, que são geralmente menos produtivas (MUELLER;

MUELLER, 1979). Porém, em países com grandes áreas disponíveis, muitas vezes se torna mais

vantajoso à expansão da fronteira agrícola do que o aumento da produção de forma intensiva (PADIS,

1981).

Segundo Becker, Miranda e Machado (1990) a fronteira agrícola possui relação com o espaço

já estruturado, é uma parte do espaço que não está totalmente interligada com o restante, no qual

ocorre manobra de forças sociais e projetam-se expectativas para um desenvolvimento social mais

equilibrado. As funções da fronteira e seu tipo de ocupação são dependentes da conjuntura econômica

e das forças sociais atuantes.

Assim, a fronteira agrícola é caracterizada por não ser totalmente estruturada, possuindo

apenas os componentes fundamentais da produção e da formação econômica e social em que está

inserida. Já que ela não possui sua dinâmica totalmente especificada, tem um grande potencial político

e pode criar realidades diferentes das existentes no restante do território (BECKER, 1988).

A fronteira agrícola não representa os limites de um país, mas sim de sua ocupação

demográfica e econômica e que, em muitos casos, a dispersão da fronteira ocorre de forma

descontínua no espaço e é caracterizada por atividades do setor primário (extração mineral, vegetal e

animal, além da agricultura e pecuária) e atividades secundárias e terciárias ligadas a produção do

setor primário (SAWYER, 1984).

Do ponto de vista demográfico uma fronteira é formada por um fluxo imigratório de

colonização e posteriormente pelos descendentes desses pioneiros e por imigrantes posteriores. A

decisão de migrar dos indivíduos é afetada por diferentes fatores e situações que podem estar

relacionados com a vida individual, da família, com o local de moradia, com situações políticas (como

diferentes incentivos à ocupação de novas regiões) e com as condições de infraestrutura (BARBIERI,

2007).

Diferentes atividades podem estar relacionadas à ocupação e aos fluxos migratórios

relacionados às fronteiras agrícolas, tais como: atividades com fins comerciais estimuladas pela

dinâmica econômica e por políticas como as direcionadas a infraestrutura; atividades de subsistência

e; atividades direcionadas a ganhos especulativos por meio de políticas direcionadas a ocupação de

novas áreas (SICSÚ; LIMA, 2000).

A exploração da fronteira agrícola de um país aumenta a produção de alimentos, de matérias-

primas para as indústrias e pode gerar divisas para fazer frente às importações do país. A ocupação

de novas áreas também aumenta o tamanho do mercado consumidor, além de propiciar campo para

novos investimentos. Quanto maior a disponibilidade de terras e de recursos florestais e minerais,

maior é a atratividade da fronteira e sua dinamização (SICSÚ; LIMA, 2000).

A fronteira agrícola possui funções de aspectos sociais, econômicos e políticos. No aspecto

social, a fronteira agrícola orienta novos fluxos migratórios, principalmente de pessoas que já estavam

inseridas no meio rural e que por algum motivo se viram forçadas a procurar novas terras; já com

relação ao aspecto econômico ela exerce a função de regular os preços dos alimentos, evitando que

eles aumentem quando a produção em outras áreas se reduz; e com relação ao aspecto político a

fronteira também exerce papel importante, amenizando as tensões sociais rurais, disponibilizando

terras e evitando uma possível reforma agrária (LIMA, 1982).

A ocupação das áreas de fronteira agrícola também atua como uma forma de diminuir as

pressões demográficas e sociais diminuindo a migração do rural para o urbano e reduzindo a oferta

de mão de obra, já grande, dos centros urbanos (SICSÚ; LIMA, 2000).

Nos países subdesenvolvidos a má distribuição da terra afeta a ocupação da fronteira agrícola.

Nas grandes propriedades o número de empregos está diretamente relacionado ao tipo de atividade e

ao seu grau de aproveitamento, já nas pequenas propriedades o que ocorre é o efeito herança, pelo

qual a propriedade se torna cada vez menor e não consegue manter toda a família empregada. Nesse

processo muitos são obrigados a procurar novas fontes de renda e a migração para a fronteira agrícola

se apresenta como uma solução (PADIS, 1981).

Quando se trata de pequenos agricultores, o início da ocupação da fronteira agrícola e sua

economia de subsistência é influenciada pela quantidade de mão de obra disponível das famílias, da

quantidade de terra e de sua produtividade. Posteriormente, o sucesso da ocupação dependerá da

quantidade de tempo do trabalho que pode ser direcionada para investimento, o produto desse

investimento e a diminuição da fertilidade da terra. Já quando se deseja uma ocupação rápida da

fronteira é necessário contratar mão de obra e utilizar tecnologias mais avançadas, para isso são

demandados maiores investimentos e certa organização empresarial que não são possíveis para o

pequeno produtor (DIAS; CASTRO, 1986).

A redução de terras disponíveis para a atividade agrícola ou mesmo a elevação dos preços das

terras nas regiões com maior acessibilidade é uma forma de incentivar a migração de produtores rurais

para terras que não possuem uma boa infraestrutura e que são pouco acessíveis. Essas novas terras

ocupadas formarão uma nova fronteira agrícola (DIAS-FILHO, 2011).

3. RECENTES FRONTEIRAS AGRÍCOLAS BRASILEIRAS

Historicamente o Brasil teve sua colonização baseada nos princípios dos ciclos

explorador/exportador, dentre eles, o do pau-brasil, da cana de açúcar, dos minérios, do café e da

borracha. Foram pioneiros que motivaram a ampliação das atividades voltadas para a exportação,

sempre com três nítidos objetivos: tomar posse das terras ainda não exploradas, aumentar a produção

agrícola, e a ascensão social dos grandes proprietários de terra (DA SILVA DIAS; DE CASTRO,

1986).

Recentemente, a expansão da fronteira agrícola no Brasil é observada como uma alternativa

de ampliação da produção e da produtividade do agronegócio nacional. Com o incentivo

governamental, baseado nos programas de desenvolvimento e aceleração do crescimento, a ocupação

de regiões de baixa densidade demográfica, ao longo do tempo, sofreram mudanças em suas bases

estruturais populacionais.

Inserido nessas circunstâncias, a partir de 1945, e de uma forma mais veemente nas décadas

de 1950 e 1960, houveram movimentos migratórios que tiveram por objetivo a exploração e ocupação

da Região Oeste Paranaense. As condições de infraestrutura eram deficientes, logo, as famílias que

migravam para esta região, com o estímulo das empresas colonizadoras, tinham por objetivo o

desmatamento da mata subtropical, a construção de moradias e estruturas para o preparo e cultivo de

produtos agrícolas para subsistência. Posteriormente foram cultivados grãos, café, algodão, erva

mate, entre outros, produzidos também nas regiões Norte e Centro Oeste paranaense (SICSÚ; LIMA,

2013).

Na Região Norte, que é composta hoje pelos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará,

Rondônia, Roraima e Tocantins, o Estado exerceu uma forte influência na criação de infraestrutura

nas décadas de 1970 e 1980, possibilitando a ocupação de áreas com potencial a ser explorado. Com

os incentivos fiscais e linhas de crédito especiais com juros baixos, o Estado possibilitou a compra

de terras às classes da população dotadas de capacidade organizacional e de capital, sendo essas

consideradas condições primordiais para uma ocupação à curto prazo (BECKER; MIRANDA;

MACHADO, 1990).

Com a finalidade de seguir com os objetivos políticos militares na década de 1970, as frentes

colonizadoras foram abertas no Norte do País, principalmente seguindo a extensão da rodovia

Transamazônica. Simultaneamente, a Amazônia foi inserida em empreendimentos agropecuários,

principalmente pelos auxílios fiscais cedidos pela Superintendência do Desenvolvimento da

Amazônia (SUDAM). O movimento para o norte, por sua vez, contribuiu para o capital das empresas

e cooperativas de colonização da fronteira, que se beneficiaram com o acréscimo dos recursos

ofertados (ALMEIDA, 1981).

Atualmente, no alvo de debates na expansão agrícola brasileira, se destacam os estados do

Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia (região denominada como MAPITOBA), principalmente em suas

regiões de cerrado. Os cerrados são uma área heterogênea e não contínua, com aproximadamente 200

milhões de hectares, representando 23% do território nacional brasileiro, localizando-se nas Regiões

Centro Oeste, Norte e Sudeste. Essas regiões possuem baixa densidade populacional, com áreas de

relevo plano ou ondulações leves, com possível exploração da prática agrícola mecanizada

(GOEDERT, 1989).

O Estado do Maranhão possui uma área total de 331.937,450 km2 e, em 2013, sua população

estimada foi de 6.794.301 habitantes, resultando em uma densidade demográfica de 20,47 hab./km2

(IBGE, 2014). Ao longo do tempo, tem se destacado como grande produtor de grãos. Segundo a

Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra de 2011/2012 consolidou o Estado como 2o

maior produtor de grãos do Norte e Nordeste, e como 10o na estimativa nacional. Essa classificação

tem como elemento fundamental o aumento de 9,4% da área plantada, em parte, por conta das

mudanças na infraestrutura que ocorreram no Estado, principalmente com a integração do corredor

de Transportes Multimodal, conectando a rota de escoamento da produção com o Porto de Itaqui

(SICSÚ; LIMA, 2013).

A região Sul do Piauí está conectada na mesma estrutura de expansão do oeste baiano e sul

maranhense, que conta basicamente com mecanismos similares de exploração do capital. A migração

de trabalhadores para o Piauí teve o seu primeiro ciclo na década de 1980 e maior intensidade na

década de 1990 (ALVES, 2005).

O amplo volume de terras com potencial produtivo e preços baixos, assim como a reposição

da mão de obra de baixa remuneração são as principais características que atraíram investidores de

outros estados. A produção de arroz se tornou o principal cultivo agrícola da região embora a soja

tenha se destacado como uma opção lucrativa, devido às condições edafoclimáticas que permitem a

uma fácil adaptação desta cultura. A (Fundação CEPRO, 1992).

O Estado do Tocantins é o mais recente no país, criado a partir do decreto da Constituição

Brasileira de 1988. Sua área é de 277.97,8 km2, se classificando como o 9o estado brasileiro em área

territorial, ficando com 44% do território do Estado de Goiás, o qual fazia parte (IBGE, 2014). Os

principais cultivos agrícolas são baseados em frutas e raízes, sendo apenas a melancia cultivada em

grandes extensões de terra, as demais culturas são produzidas pela agricultura familiar. As terras com

potencial de expansão agrícola têm características que podem se adaptar bem a produção de grãos. O

baixo preço das terras, ao se comparar com as regiões já consolidadas na agricultura brasileira, ainda

é bem acessível, o que tem atraído imigrantes da Região Sul e Sudeste, principalmente para o cultivo

de gado bovino e soja (DA SILVA, 2007).

No Estado da Bahia, a área de fronteira agrícola é constituída pelas microrregiões do Oeste

baiano, esta região é composta pelas seguintes microrregiões: Barreiras, Cotegipe, Santa Maria da

Vitória e Bom Jesus da Lapa. Os projetos públicos e privados de irrigação nesta região beneficiaram

o cultivo de grãos já tradicionais da Bahia, entre eles o milho, o arroz e o feijão. A infraestrutura

viária permite conexões com os grandes centros consumidores, principalmente com os estados de

Goiás e Brasília. Nas demais microrregiões, a produção de soja se tornou predominante, que foi

introduzida na região do serrado, o que alavancou uma transformação na agricultura local. O cerrado

nesta área é formado por grandes extensões de terras, de baixo valor monetário, e com um tipo de

solo cuja adaptação do cultivo da soja é facilitada pelo conhecimento adquirido anteriormente em

áreas de adequação da semente (MUELLER, 2013).

A Região conhecida como MAPITOBA, hoje apresenta uma eficiente capacidade produtiva

na agricultura, graças ao investimento em pesquisa para o desenvolvimento de novas técnicas de

cultivo e o aperfeiçoamento constante da tecnologia agrícola. A expansão da produção rural na região

do Cerrado tem caminhado a passos largos, despertando a curiosidade por sua alta eficiência e pouca

infraestrutura. Dois pontos fundamentais podem ser determinantes neste processo, a oferta e a

demanda. Tendo as commodities elevadas cotações no mercado internacional a partir de 2005 e 2006

(com rentabilidade superior a média histórica), o lado da demanda por terras faz com que os

investidores busquem novas áreas para ampliar suas produções e o “MAPITOBA”, pelo lado da oferta

de terras, apresenta áreas planas e extensas, com solos de alta capacidade produtiva, disponibilidade

de água e clima favorável somando peculiaridades primordiais para a agricultura moderna (LIMA,

AGUIAR, TORRES JUNIOR, 2014).

4. METODOLOGIA

Este trabalho adota como região de referência, a área conhecida como MAPITOBA, que

consiste na localidade da recente fronteira agrícola nos estados do Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia

(MONDARO, 2010; LIMA FILHO; AGUIAR; TORRES JÚNIOR, 2014). O MAPITOBA soma um

total 151 municípios e 1.912.121 habitantes, que estão distribuídos na Mesorregião Sul Maranhense

(19 municípios 308.393 habitantes), Mesorregião Sudoeste Piauiense (62 municípios, 511.616

habitantes), Mesorregião Oriental Tocantinense (46 municípios, 512.859 habitantes) e a Mesorregião

Extremo Oeste Baiano (24 municípios, 579.253 habitantes), o total da composição de sua área é de

434.374,110 km2 (CENSO IBGE, 2000). Cuja localização pode ser observada na Figura 1.

Figura 1 – MAPITOBA, fronteira agrícola

Fonte: Adaptado do IBGE (2010).

O foco do trabalho é o estudo dos movimentos migratórios nos município da Região de

fronteira agrícola MAPITOBA. Para tanto são coletadas as informações de migração por meio dos

microdados do Censo Demográfico do IBGE de 2010. Os microdados são o menor nível de

desagregação do Censo, sua apresentação se dá por meio de números que correspondem às respostas

dos questionários aplicados que são acompanhados pela documentação que descreve as perguntas e

os significados de cada número como resposta, além de demonstrarem os instrumento de coleta e a

metodologia da pesquisa (IBGE, 2014).

Para a coleta dos dados sobre migração foram utilizadas as questões conhecidas como data

fixa. Essas questões investigam o local de residência dos indivíduos 5 anos antes da realização do

Censo, nesse caso no ano de 2005. Assim, os imigrantes do MAPITOBA serão as pessoas que

moravam, em 2005, em outro município que não o de residência em 2010, dentro do MAPITOBA.

Já os emigrantes são os que, em 2005, moravam em dado município do MAPITOBA e, em 2010, não

residiam no mesmo. Por fim, o saldo migratório é a diferença entre a imigração e a emigração dessa

região.

Feitas as devidas considerações, foram utilizados os microdados de todo o Brasil para obter

os dados de imigração e emigração e as perguntas utilizadas foram:

a) Código do Município;

b) Município de residência em 31 de Julho de 2005.

A primeira pergunta fornece o código do município de residência dos indivíduos em 2010 e a

segunda pergunta o código do município de residência em 2005, possibilitando assim identificar a

origem e o destino dos imigrantes de interesse para essa pesquisa, ou seja, os que residiram, em algum

desses momentos na região de referência.

4.1 Modelo empírico de determinação da migração na região do MAPITOBA em 2010.

O modelo econométrico adotado na determinação de migração para a região de análise foi

formulado a partir das considerações sobre o mercado de trabalho, produtividade do trabalho como

fatores de atratividade e o adensamento populacional como fator de fixação. Como proxy para estas

variáveis foram observados as seguintes informações:

a) Proxy Mercado de Trabalho: Segundo o IBGE (2014) esta variável considera como

população ocupada aquela que está distribuída nas mais diversas atividades econômicas na região de

análise, na semana de referência do Censo (25 a 31 de Julho de 2010), abarcando as seguintes

categorias: i) Empregados: aqueles que trabalham para um ou mais empregadores, dentro de uma

jornada de trabalho remunerado em Dinheiro ou outra forma de pagamento; ii) Autônomos: aqueles

que se dedicam a uma atividade econômica ou uma profissão sem ofício e sem empregados; iii)

Empregadores: pessoas que exploram a mão de obra em uma atividade econômica, ou exploram uma

profissão ou ofício, com a colaboração de um ou mais empregados e; iv) Não Remunerados: são

pessoas que atuam em atividades econômicas sem remuneração, por ao mínimo 15 horas semanais,

seja em colaboração domiciliar, atividades religiosa, beneficentes, cooperativismo, aprendiz ou

estagiário.

b) Proxy Produtividade do Trabalho: Esta variável considerou como Produtividade do

Trabalho o PIB per capito, que consiste em um indicador que auxilia na avaliação do poder

econômico da região de análise. O PIB per capito é a divisão de todos os bens e serviços finais

produzidos pelo número de habitantes do MAPITOBA.

c) Proxy Adensamento Populacional: Esta variável avalia como Adensamento Populacional,

a densidade demográfica, que é a população total do MAPITOBA divido por quilômetros quadrados.

Os dados sobre pessoas ocupadas, sobre o PIB per capita e sobre a densidade demográfica

tem como fonte o IBGE. Outras variáveis foram consideradas incialmente no modelo como a renda,

a renda per capita, o rendimento médio per capita, o número de empregos formais, número de

hospitais por 1000 habitantes, número de médicos por 1000 habitantes, entre outras, porém foram

retirados do modelo por acarretarem problemas de heterocedasticidade no modelo (caso da renda, da

renda per capita, do rendimento médio per capita e do número de empregos formais) ou por não serem

significativos e não acrescentarem explicação as variações na variável dependente imigração (caso

do número de hospitais e de médicos por 1000 habitantes).

4.2 Procedimentos econométricos para os determinantes migratórios.

Para conciliar estimadores que apresentem, aproximadamente, fatores determinísticos da

migração na região do MAPITOBA, será utilizado o método dos Mínimos Quadrados Ordinários

(MQO) em um modelo de regressão múltipla de cross-section com três variáveis independentes e

uma dependente para o ano de 2010. Esta regressão deve possuir a propriedade de Melhor Estimador

Linear não Tendencioso (MELT), respeitando as dez premissas básicas do Modelo Clássico de

Regressão Linear (MCRL) (GUJARATI, 2006).

O modelo estimado tem a seguinte estrutura:

lnY= β1 + β2lnX2 + β3lnX3 + β4lnX4 +u (1)

Onde:

lnY = Logaritmo neperiano da variável dependente Imigração;

β1 = Intercepto;

lnX2 = Logaritmo neperiano da variável independente (explicativa) População Ocupada;

lnX3 = Logaritmo neperiano da variável independente (explicativa) PIB Per capita;

lnX4 = Logaritmo neperiano da variável independente (explicativa) Densidade Demográfica;

u = Erro estocástico.

5. RESULTADOS

O ato de migrar é influenciado por diferentes circunstâncias do lugar de origem e de destino,

além disso, o que motiva um indivíduo a migraram não necessariamente irá motivar outros, assim,

além dos fatores econômicos a aspectos individuais envolvidos no processo. Uma região de fronteira

agrícola atrai, em sua maioria, pessoas ligadas ao setor primário que não conseguiram se inserir em

outras regiões ou mesmo aquelas que identificaram a região de fronteira como uma oportunidade de

crescimento econômico e também, por pessoas ligadas a atividades secundárias e terciárias

diretamente relacionadas com o setor primário.

A Figura 2 apresenta os dados sobre os imigrantes por município do MAPITOBA e a

participação percentual dos imigrantes na população total de cada município. Vale ressaltar que os

dados sobre imigração computam apenas as pessoas que imigraram para essa região até 2005 e os

dados sobre a população são do ano de 2010. No total imigraram para o MAPITOBA 189.905

pessoas.

Na mesorregião do Extremo Oeste Baiano em 12 dos 24 municípios os imigrantes representa

menos de 5% da população, em 9 municípios os imigrantes chegam a representar de 5% a 10% e em

Barreiras, São Félix do Coribe e em Luís Eduardo Magalhães chagaram , respectivamente, a 10,13%,

11,11% e 35,17%.

O município de Barreiras possuía, em 2010, 137.427 habitantes e 13.918 eram imigrantes.

Com um território de 7.859,225 km² tem uma densidade demográfica de 17,49 hab/km². No

município existiam, segundo o Censo Agropecuário de 2006, 1.982 estabelecimentos agropecuários,

destes em 1.694 o produtor era o proprietário. Desses estabelecimentos 827 possui lavouras

permanentes e 1.145 lavouras temporárias. A maior produção por área destinada a colheita nas

lavouras permanentes era a de café (4.505 hectares) e a maior produção por área plantada na lavoura

temporária foi de soja em grão (120.790 hectares), ambos em 2012.

O município de São Félix do Coribe apresentava, em 2010, uma densidade demográfica de

13,74 hab/km² (sua população era de 13.048 habitantes e sua área de 949,335 km²). Pelo Censo

Agropecuário encontravam-se no município 575 estabelecimentos econômicos e em 516 o produtor

era o proprietário, em 39 estabelecimentos a utilização das lavouras era permanente e em 349 era

temporária. Nas lavouras permanentes destacou-se, em 2012, a produção de mamão e de manga que

ocuparam, respectivamente, 400 e 250 hectares. Com relação as lavouras temporárias foi a produção

de milho em grão que predominou, chegando a ser plantado em 2.300 hectares.

Em Luís Eduardo Magalhães a densidade demográfica foi de 15,25 hab/km² em 2010. Do total

de 342 estabelecimentos agropecuários em 2006, 264 tinham o proprietário como o próprio produtor

e, em mais de 72% dos estabelecimentos agropecuários, a utilização das terras se deu pelas lavouras

temporárias. As maiores produções nas lavouras temporárias, em 2012, foram de soja em grão

(140.605 hectares), milho em grão (20.827 hectares) e algodão herbáceo em caroço (12.446 hectares),

já nas lavouras permanentes o destaque é da área destinada a colheita de café que foi de 3.641

hectares.

No Estado do Maranhão é a mesorregião do Sul Maranhense que faz parte do MAPITOBA.

Conforme a Figura 2, dos 19 municípios que a compõe em 7 os imigrantes representavam menos que

5% da população, em 9 eles formavam entre 5% e 10% dela e em 3 mais que 10%. Esses municípios

em que os imigrantes são mais que 10% da população pertencem à microrregião de Porto Franco, são

eles: Campestre do Maranhão, com uma população de 13.369 habitantes, em 2010, sendo que 13,1%

eram imigrantes; Porto Franco, onde mais de 15,9% de sua população de 2010 (21.530 habitantes)

eram imigrantes e; Estreito, que possuia, em 2010, 35.835 habitantes, sendo 18,78% imigrantes.

No município de Campestre do Maranhão, em 2010, a densidade demográfica foi de 21,72

hab/km² e, em 2006, existiam 307 estabelecimentos agropecuários tendo 254 deles o produtor como

proprietário. Em 196 estabelecimentos agropecuários a lavoura era temporária e em 60 permanente.

Em 2012 a maior parte da produção foi de lavoura temporária, principalmente destinada à produção

de cana-de-açúcar que alcançou uma área plantada de 5.140 hectares.

Em Porto Franco a densidade demográfica ficou em 15,19 hab/km² em 2010. Já os

estabelecimentos agropecuários, em 2006, chegaram a 883 unidades e 666 desses tinham o

proprietário como produtor. Já em 2012 a maioria das lavouras eram temporárias e o milho em grão

era a cultura mais plantada, ocupando 750 hectares, em seguida as maiores áreas plantadas foram de

arroz e cana-de-açúcar (285 e 243 hectares respectivamente).

O município de Estreito, que possui a maior participação de imigrantes em sua população

ficou com a menor densidade demográfica – 13,18 hab/km² no ano de 2010. Em 2006 o município

contava com 1.532 estabelecimentos agropecuários e em 1.136 o proprietário era o próprio produtor.

Os produtos que ocuparam as maiores áreas plantadas, em 2012, foram milho (1.751 hectares) e arroz

(800 hectares).

O Estado do Piauí é o que possui mais municípios participantes da região do MAPITOBA; ao

todo são 62 municípios divididos entre 6 microrregiões que compõem a mesorregião do Sudoeste

Piauiense. Em 28 municípios os imigrantes representavam menos de 5% da população em 2010, em

32 eles representaram entre 5% e 10% da população. As maiores participações dos imigrantes na

formação da população foram as do município de Alvorada do Gurguéia com mais de 10% da sua

população composta por imigrantes (521 pessoas de 5.050) e Colônia do Gurguéia aonde esse valor

chegou a 12,11% (731 pessoas de 6.036).

O município de Alvorada do Gurguéia detinha, em 2010, uma densidade demográfica de

apenas 2,37 hab/km². Conforme o Censo Agropecuário de 2006 o município contava com 548

estabelecimentos agropecuários e em 250 desses o proprietário da terra era o próprio produtor. Em

2012 foram as culturas de soja, milho e feijão que tiveram as maiores áreas plantadas no município.

Para a plantação de soja foram destinados 7.700 hectares, para a de milho 1.522 hectares e para a de

feijão 1.150 hectares.

Em Colônia do Gurguéia a densidade demográfica, em 2010, chegou a 14,02 hab/km² e, em

2006, haviam 200 estabelecimentos agropecuários em que o produtor era o proprietário e, no total,

apenas mais 33 estabelecimentos. A maior área plantada do município foi destinada a produção de

milho (500 hectares) e a segunda maior para feijão (400 hectares).

O último estado que integra a região do MAPITOBA é o Tocantins. Os municípios

pertencentes a essa região são 46, desses 3 tem até 5% de sua população formada por imigrantes, 22

de 5% a 10% e 21 mais do que 10% (Figura 2). As maiores imigrações percentuais com relação à

população foram as da microrregião de Porto Nacional com 9 de 11 municípios com mais de 10% de

suas populações de imigrantes sendo que os municípios de Bom Jesus do Tocantins, Palmas e Lajeado

apresentaram os maiores percentuais de todos os municípios do MAPITOBA que foram de

respectivamente 20,33%, 21,71% e 27,84%,

Bom Jesus do Tocantins, em 2010, detinha uma densidade demográfica de 2,83 hab/km² e dos

seus 3.768 habitantes 766 eram imigrantes. Em 2006, pelo Censo Agropecuário foram identificados

135 estabelecimentos agropecuários e em apenas 1 o proprietário não era o produtor. As maiores

plantações, em 2012, foram de soja em grão e cana-de-açúcar, para a produção de soja foram

destinados 5.000 hectares e para a de cana-de-açúcar 1.820 hectares.

Já o município de Palmas possui muito mais habitantes por km², chegando a uma densidade

demográfica de 102,9 hab/km² em 2010. De sua população de 228.332 habitantes em 2010, 49.578

eram imigrantes. Existiam, em 2006, 962 estabelecimentos agropecuários e em apenas 60 os

produtores não eram os proprietários do estabelecimento. Em 2012, as maiores áreas plantadas foram

de soja – 7.600 hectares – e de milho – 1.800 hectares.

O município de Lajeado detinha, em 2010, uma população de 2.773 habitantes, e desses, 772

eram imigrantes. Com uma área de 322,485 km² sua densidade demográfica nesse ano foi de 8,6

hab/km². O Censo Agropecuário de 2006 constatou que o município possuía 44 estabelecimentos

agropecuários e em 41 o proprietário era também o produtor. Os produtos agrícolas plantados, em

2012, foram milho (190 hectares), arroz (100 hectares), mandioca (60 hectares) e 5 hectares de

lavoura permanente de banana.

Figura 2: Imigração total e percentual de imigrantes do total da população dos municípios do MAPITOBA

Imigração total para o MAPITOBA até julho 2005 % de imigrantes do total da população de 2010

Fonte: Resultados a partir dos microdados do Censo Demográfico de 2010.

A Figura 3 apresenta as informações referentes a emigração total e o percentual de emigrantes

comparado com a população dos municípios do MAPITOBA. A emigração dessa região é definida

pelas pessoas que, em 2005, moravam em algum município do MAPITOBA, mas em 2010 na

realização do Censo já não residiam no mesmo município (podendo habitar outro município do

MAPITOBA ou outra localidade do Brasil).

No total, 188.925 pessoas emigraram nesse período no MAPITOBA. Nos municípios

pertencentes à região de fronteira agrícola do Estado da Bahia houve, no total, 50.190 emigrações,

sendo Barreiras o município que mais teve emigrantes –13.189. Nos demais municípios os emigrantes

não chegaram a 5.000 indivíduos, sendo que 17 municípios tiveram emigrações maiores do que de

1.000 pessoas.

Já no Estado do Maranhão, emigraram de sua região de fronteira 22.838 pessoas. Nos

municípios de Balsas, Riachão, Porto Franco, Carolina, Estreito, São Raimundo das Mangabeiras,

Fortaleza dos Nogueiras e Alto Parnaíba a emigração foi de mais de 1.000 pessoas, tendo o município

de Riachão a maior delas, que foi de 3.552 indivíduos, Os 11 municípios restantes tiveram emigrações

inferiores a 1.000 pessoas.

Os municípios do Piauí pertencentes ao MAPITOBA somaram uma emigração de 45.220

pessoas, mas apenas 8 dos 62 municípios tiveram mais de 1.000 emigrantes, são eles: Floriano (5.229

emigrantes), São Raimundo Nonato (4.586 emigrantes), Corrente (3.209 emigrantes), Uruçuí (2.355

emigrantes), Bom Jesus (2.000 emigrantes), Canto do Buriti (1.575 emigrantes), Santa Luz (1.158

emigrantes) e Curimatá (1.112 emigrantes).

Por fim, os 46 municípios do MAPITOBA do Estado do Tocantins apresentaram a maior

emigração conjunta, que foi de 70.677 pessoas. A maior saída foi da capital do Tocantins, Palmas, de

onde emigraram 30.653 pessoas, em seguida foi a do município de Porto Nacional totalizando 6.981

emigrantes. Já os municípios de Dianápolis, Pedro Afonso, Natividade, Taguatinga, Goiatins, Paranã,

Campos Lindos, São Valério, Itacajá e Rio Sono tiveram emigração de 1.000 a menos de 3.000

indivíduos e, os demais municípios inferiores a 1.000 emigrantes.

Do total dos 151 municípios do MAPITOBA 86 tiveram uma emigração, a título de

comparação com suas populações em 2010, entre 3% a 10%, 60 municípios entre 10% a 20% e 5

municípios em que o número de emigrantes representa mais que 20% da população desses municípios

em 2010, são eles: Novo Acordo (20.55%), Santa Luz (21%), Natividade (22,26%), Lizarda (23,57%)

e São Valério (26,69%); com exceção de Santa Luz que pertence ao Estado do Piauí os demais são

de Tocantins.

Figura 3: Emigração total e percentual de emigrantes do total da população dos municípios do MAPITOBA

Emigração total para o MAPITOBA até julho 2005 % de emigrantes do total da população de 2010

Fonte: Resultados a partir dos microdados do Censo Demográfico de 2010.

A Figura 4 demonstra o saldo migratório dos municípios do MAPITOBA que é o resultado

da diferença entre imigração e emigração. O saldo migratório geral do MAPITOBA foi de apenas

980 indivíduos, já que imigraram para essa região 189.905 pessoas e emigraram 188.925. Porém, nos

estados do Tocantins, Bahia e Maranhão o saldo migratório foi positivo (imigração líquida de

respectivamente, 5.136, 4.222 e 5.092 pessoas) e apenas no Piauí foi negativo (emigração líquida de

13.470 pessoas).

Na região de fronteira agrícola do Estado da Bahia apenas os municípios de Luís Eduardo

Magalhães, Barreiras, São Desidério, São Félix do Coribe e Formosa do Rio preto o saldo migratório

foi positivo, ou seja, houve mais imigração do que emigração, com destaque para o primeiro desses

que teve um saldo positivo de mais de 16 mil pessoas. Nos demais municípios o saldo ficou negativo

(emigraram mais pessoas do que imigraram) e em 3 deles houve a emigração líquida de mais de 1.000

pessoas.

Dos 19 municípios do Maranhão pertencentes ao MAPITOBA 6 tiveram saldo migratório

positivo: Estreito e Balsas onde a imigração líquida foi de mais de 4 mil pessoas, Porto Franco com

imigração líquida de pouca mais de mil pessoas, Campestre do Maranhão com 985 imigrantes

líquidos, Tasso Fragoso com 143 imigrantes líquidos e Nova Colinas com saldo migratório positivo

de 77 pessoas. Os demais municípios tiveram saldo negativo com destaque para Fortaleza das

Nogueiras e Riachão cuja emigração líquida foi de, respectivamente, 1.037 pessoas e 2.275 pessoas.

Figura 4: Saldo Migratório dos municípios do MAPITOBA em julho 2005

Saldo Migratório

Fonte: Resultados a partir dos microdados do Censo Demográfico de 2010.

O Estado do Piauí é o que apresenta mais municípios na fronteira agrícola e também o que

mais tem municípios com saldo migratório positivo, são eles: Bom Jesus, Guadalupe, Anísio de

Abreu, Baixa Grande do Ribeiro, Morro Cabeça no Tempo, Várzea Branca, Sebastião Leal, São

Lourenço do Piauí, Porto Alegre do Piauí, Colônia do Gurguéia, Tamboril do Piauí, São José do Peixe

e Pajeú do Piauí. Já as maiores emigrações líquidas foram de 1.551 pessoas em Corrente e 1.961

pessoas em São Raimundo Nonato

Por fim, dos 46 municípios do MAPITOBA pertencentes ao Estado do Tocantins 11 ficaram

com saldo migratório positivo, dentre eles destaca-se a capital do Estado, Palmas, que teve uma

imigração líquida de quase 19 mil pessoas. Nos demais municípios com saldo positivo a imigração

líquida foi menor do que de 300 indivíduos. Dos 35 municípios restantes com saldo migratório

negativo foi apenas no de Natividade e Porto Nacional que a emigração líquida foi maior do que de

1.000 pessoas.

A seguir são apresentados os resultados do modelo econométrico dos determinantes da

imigração para o MAPITOBA em 2010 (Tabela 1). O modelo apresentou um bom ajuste já que pouco

mais do que 84% das variações da variável dependente (logaritmo da imigração) são explicadas pelas

variações nas variáveis independentes (logaritmo do total de ocupados, do PIB per capita e da

densidade demográfica), além de o modelo não ter apresentado problemas de heterocedasticidade ou

autocorrelação nos resíduos (ANEXO).

Todos os coeficientes das variáveis independentes evidenciaram-se significativos (com 99%

de probabilidade) e, portanto, exercendo impacto nos movimentos de imigração para o MAPITOBA.

Como o modelo é log-log analisa-se o impacto em percentual, assim, dada uma variação de 1%

número de ocupados, ocorrerá uma variação, no mesmo sentido, de 0,74% nas imigrações o que

evidencia uma relação positiva entre essas duas variáveis, o que se esperava a priori, dado que quanto

mais pessoas ocupadas tem um município, maiores são as oportunidades dos imigrantes encontrarem

trabalho.

O PIB per capita possui, segundo o modelo, relação positiva com as imigrações, também

corroborando com o pensamento a priori de que quanto maior o PIB per capita maior é a atração do

município a imigrantes já que reflete o poder econômico da produção interna do mesmo. Dado a

Tabela 1, quando o PIB per capita aumentar em 1% a imigração para o MAPITOBA irá aumentar em

0,67% e vise-versa.

Tabela 1: Modelo econométrico dos determinantes da imigração para o MAPITOBA em 2010

Variáveis Coeficientes Probabilidades do “t-statisitic” R²

lnX2 0.737921 0.0000

0.848174 lnX3 0.666501 0.0000

lnX4 0.212724 0.0000

Fonte: Elaboração dos autores.

Tanto o número de ocupados como o PIB per capita por município são fatores de atração, ou

seja, determinantes da imigração, já a densidade demográfica entre no modelo como um fator de

fixação, dado que quanto mais habitantes por km² espera-se que melhores serão as condições de

infraestrutura, de atendimento as necessidades básicas e de dinâmica econômica, entre outros, Sendo

assim, a expectativa de que a densidade demográfica apresentasse relação positiva com as imigrações

foi atendida e, quando a densidade varia em 1% as imigrações variam em 0,22%.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo do trabalho foi o de levantar os movimentos migratórios do MAPITOBA, por meio

dos microdados do Censo Demográfico de 2010 e das questões sobre migração relativas a data fixa,

e determinar alguns fatores de atração da fronteira agrícola sobre os imigrantes por meio de um

modelo log-log estimado por MQO.

No total houve a imigração para o MAPITOBA de 189.905 pessoas. Para 50 dos 151

municípios que compõe a região os imigrantes representaram até 5% de suas populações, já para a

maior parte deles, 72 municípios, eles corresponderam de 5% a 10%, e para 24 municípios eles foram

mais do que 20% da população no ano de 2010. Apesar de ser o Estado do Piauí o que possuí mais

municípios pertencentes ao MAPITOBA foi para o Tocantins e para a Bahia que se destinaram mais

imigrantes. Para o a região de fronteira agrícola do Tocantins se destinaram 75.813 pessoas, para a

da Bahia foram 54.412, para a do Piauí 31.750 e para a do Maranhão 27.930 pessoas.

O movimento emigratório do MAPITOBA foi realizado por 188.925 pessoas. Comparando a

emigração com a população dos municípios, em 2010, percebe-se que a emigração representou para

86 deles até 6% de suas populações, para 60 de 6% a 20% e para 5 mais do que 20%. Comparando

as regiões de fronteira agrícola dos estados do MAPITOBA percebe-se que foi no do Tocantins que

ocorreu maior emigração (70.677 emigrantes), seguido por Bahia (50.190 emigrantes), Piauí (45.220

emigrantes) e Maranhão (22.838).

A comparação entre os imigrantes e emigrantes revelou que o saldo migratório do

MAPITOBA foi positivo, porém baixo, sendo que imigraram apenas 980 pessoas a mais do que

emigraram. De modo geral foi apenas a região de fronteira agrícola do Piauí que obteve saldo

migratório negativo, nela emigraram 13.470 pessoas a mais do que imigraram, já no Estado do

Tocantins a imigração líquida foi de 5.136 pessoas, seguido do Maranhão com imigração líquida de

5.092 indivíduos e, por fim, da Bahia para onde se destinaram 4.222 imigrantes a mais do que o

contingente que emigrou.

O modelo econométrico proposto apresentou um coeficiente de determinação de mais de 84%,

o que significa um bom ajustamento do modelo. As variáveis independentes utilizadas também se

demonstraram coerentes com as expectativas a priori e significativas em explicar as imigrações para

o MAPITOBA. De modo geral destaca-se a maior influência dos fatores de atração sobre os

imigrantes (numero de ocupados e PIB per capita) do que o de fixação (densidade demográfica).

A dificuldade em encontrar um fator de fixação significativo e o baixo coeficiente do usado

no modelo, juntamente com a análise das emigrações demonstram que a região é atrativa, porém não

possui as qualidades necessárias para fixar esses imigrantes, caracterizando-a como uma região de

passagem, para onde imigram pessoas que buscam crescimento econômico, e que posteriormente

emigram em busca de melhor qualidade de vida.

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ANEXO

ANEXO A – Teste de Heterocedasticidade de White

F-statistic 0.741441 Probability 0.670389

Obs*R-squared 6.823313 Probability 0.655509

Test Equation:

Dependent Variable: RESID^2

Method: Least Squares

Date: 09/19/14 Time: 09:52

Sample: 1 151

Included observations: 151

Variable Coefficient Std. Error t-Statistic Prob.

C 0.901718 4.184377 0.215496 0.8297

LOG(OCUPADOS) -0.132300 0.490500 -0.269725 0.7878

(LOG(OCUPADOS))^2 -0.039535 0.029229 -1.352575 0.1784

(LOG(OCUPADOS))*(LOG(PIBPC)) 0.073978 0.059577 1.241713 0.2164

(LOG(OCUPADOS))*(LOG(DENSIDADE)) 0.051643 0.046255 1.116479 0.2661

LOG(PIBPC) -0.046090 0.910707 -0.050609 0.9597

(LOG(PIBPC))^2 -0.025944 0.061487 -0.421951 0.6737

(LOG(PIBPC))*(LOG(DENSIDADE)) -0.054145 0.058151 -0.931123 0.3534

LOG(DENSIDADE) 0.104218 0.452584 0.230274 0.8182

(LOG(DENSIDADE))^2 0.001391 0.028530 0.048762 0.9612

R-squared 0.045188 Mean dependent var 0.164427

Adjusted R-squared -0.015758 S.D. dependent var 0.212986

S.E. of regression 0.214658 Akaike info criterion -0.175611

Sum squared resid 6.497008 Schwarz criterion 0.024209

Log likelihood 23.25861 F-statistic 0.741441

Durbin-Watson stat 2.110877 Prob(F-statistic) 0.670389

Fonte: Elaboração dos autores.

ANEXO B - Teste de Autocorrelação de Durbin-Watson

Hipóteses do teste:

H0: ausência de autocorrelação positiva

H0*: ausência de autocorrelação negativa

Durbin-Watson stat (d) = 2.089806;

n (número de observações) = 151;

k (número de variáveis explanatórias) = 3;

α (nível de significância) = 1%;

dL = 1.584;

dU = 1.665;

4 – dU = 2.335;

4 – dL = 2.416.

Dado que o valor d da estatística de Durbin-Watson ficou entre dU (1.665) < d (2.089806) < 4

– dU (2.335), região onde não rejeita-se nem H0 e nem H0* o modelo não apresenta nenhum problema

de autocorrelação, nem positiva nem negativa.