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DETERMINAÇÃO DE PERDA DE PRODUTIVIDADE DE GRÃOS NA CULTURA DA SOJA CAUSADA POR FALHA NA APLICAÇÃO DE FUNGICIDA NO CONTROLE DA FERRUGEM ASIÁTICA Eggers, Henrique S. 1 ; Jost, Evandro. 2 1 Curso de Agronomia, Instituto Federal Farroupilha - Campus São Vicente do Sul; 2 Orientador, Engenheiro Agrônomo, Dr., Instituto Federal Farroupilha- Campus São Vicente do Sul; INTRODUÇÃO A cultura da soja está presente em grande parte das propriedades rurais de pequeno, médio e grande porte, apresentando grande importância no cenário econômico nacional. Entre os principais fatores que limitam a exploração máxima do potencial de produtividade da soja estão as doenças, sendo que um grande número causadas por fungos, bactérias, nematoides e vírus já foram constatadas no Brasil. A ferrugem asiática da soja causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi , possui alto potencial de dano à cultura, pois pode causar rápido amarelecimento e queda prematura de folhas, prejudicando a plena formação dos grãos. (SOARES, et al., 2004). Diversos trabalhos relatam o alto potencial desta doença em proporcionar reduções de produtividade na cultura da soja. Cunha et al. (2008) observaram reduções na produtividade de 61%, Prado et al. (2010) de 37%; Christovam et al. (2010) de 49% e Aguiar- Júnior et al. (2011) de 60%. A utilização de cultivares de ciclo precoce e semeaduras no início da época recomendada, a eliminação de plantas de soja voluntárias e a ausência de cultivo de soja na entressafra por meio do vazio sanitário, o monitoramento da lavoura desde o inicio do desenvolvimento da cultura, a utilização de fungicidas no aparecimento dos sintomas ou preventivamente e a utilização de cultivares com

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DETERMINAÇÃO DE PERDA DE PRODUTIVIDADE DE GRÃOS NA CULTURA DA SOJA CAUSADA POR FALHA NA APLICAÇÃO DE

FUNGICIDA NO CONTROLE DA FERRUGEM ASIÁTICA

Eggers, Henrique S.1; Jost, Evandro. 2

1Curso de Agronomia, Instituto Federal Farroupilha - Campus São Vicente do Sul;

2Orientador, Engenheiro Agrônomo, Dr., Instituto Federal Farroupilha- Campus São Vicente do Sul;

INTRODUÇÃO

A cultura da soja está presente em grande parte das propriedades rurais de pequeno, médio e grande porte, apresentando grande importância no cenário econômico nacional. Entre os principais fatores que limitam a exploração máxima do potencial de produtividade da soja estão as doenças, sendo que um grande número causadas por fungos, bactérias, nematoides e vírus já foram constatadas no Brasil. A ferrugem asiática da soja causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, possui alto potencial de dano à cultura, pois pode causar rápido amarelecimento e queda prematura de folhas, prejudicando a plena formação dos grãos. (SOARES, et al., 2004). Diversos trabalhos relatam o alto potencial desta doença em proporcionar reduções de produtividade na cultura da soja. Cunha et al. (2008) observaram reduções na produtividade de 61%, Prado et al. (2010) de 37%; Christovam et al. (2010) de 49% e Aguiar-Júnior et al. (2011) de 60%. A utilização de cultivares de ciclo precoce e semeaduras no início da época recomendada, a eliminação de plantas de soja voluntárias e a ausência de cultivo de soja na entressafra por meio do vazio sanitário, o monitoramento da lavoura desde o inicio do desenvolvimento da cultura, a utilização de fungicidas no aparecimento dos sintomas ou preventivamente e a utilização de cultivares com gene de resistência são medidas de prevenção que devem ser adotadas para a não instalação e proliferação do patógeno na cultura (EMBRAPA SOJA, 2013). A estratégia de manejo para este patógeno deve ser iniciada desde os estágios primários (vegetativos) e mantido até os estágios finais (reprodutivos) da cultivar, pois um ataque do fungo, em qualquer que seja o estágio ou órgão vegetativo, ocasionará em perda de produtividade. Avaliando uma situação real de campo, o objetivo deste trabalho foi avaliar a redução da produtividade de grãos na cultura da soja pela incidência de ferrugem asiática em área onde ocorreu falha de aplicação de fungicida no controle da doença no início do estádio reprodutivo.

Materiais e métodos

A área onde foram coletados os dados pertence ao setor de agricultura do Instituto Federal Farroupilha – Campus São Vicente do Sul/RS. A semeadura da soja foi realizada na data de 28 de janeiro de 2016, em uma área de sucessão com milho silagem. A cultivar utilizada nesta área foi a BMX Tornado RR (grupo de maturação 6.2 e hábito de crescimento indeterminado), com população de plantas de 350.000 plantas ha-1, espaçamento entre linhas de 45 cm e adubação de 300kg/ha da fórmula 0-20-30. Foram realizadas quatro aplicações de fungicida, sendo duas com o princípio ativo azoxistrobina 300 g/kg + benzovindiflupyr 150 g/kg (nome comercial Elatus) e as outras duas aplicações com princípio ativo trifloxistrobina 150 g/L+ protioconazol 175 g/L (nome comercial Fox). As datas de aplicação e reaplicação foram determinadas de acordo com as recomendações de efeito do princípio ativo dos produtos e condições meteorológicas de aplicação, conforme descrito abaixo, sendo utilizado adjuvantes na mistura de calda de acordo com a descrição da bula para cada produto.

1ª aplicação realizada no dia 11/03/2016, (azoxistrobina + benzovindiflupyr); 2ª aplicação realizada no dia 01/04/2016, (azoxistrobina + benzovindiflupyr); 3ª aplicação realizada no dia 16/04/2016, (trifloxistrobina + protioconazol); 4ª aplicação realizada no dia 03/05/2016, (trifloxistrobina + protioconazol).

Após o operador utilizar por engano na 2º aplicação de fungicida (florescimento pleno) a mesma marcação de linha da 1º aplicação, no entanto com pulverizadores de barras de tamanhos diferentes (1º aplicação = pulverizador com 14 metros de barra; 2º aplicação = pulverizador com 12 metros de barra) constatou-se uma falha de aplicação entre as linhas de pulverização de aproximadamente 2 metros de largura, o qual começou a apresentar sintomas mais severos de ataque da doença. A partir de então, passamos a monitorá-la durante seu desenvolvimento, sendo que nas 3ª e 4ª aplicações esta faixa recebeu as aplicações de fungicida normalmente, junto com a área total da lavoura. Antes da colheita da área total, foram realizadas três amostragens em pontos distintos da área que teve falha na aplicação, sendo também colhida do lado uma amostra semelhante de área onde ocorreram os tratamentos de fungicida de forma normal. Foram colhidas duas linhas com 2,5m de comprimento todas espaçadas em 0,45 m, totalizando uma parcela útil de 2,25 m2. Em cada amostragem foi realizada a contagem de plantas. A trilha foi realizada com o uso de batedor tratorizado sendo então determinada impureza e umidade para posterior obtenção das produtividades extrapoladas para sacas/ha. Também foram determinados em laboratório o peso de mil sementes para cada amostragem. Os dados foram submetidos ao teste t a 5% de probabilidade de erro para observar se ocorreu diferença entre as medias obtidas para população de plantas, rendimento de grãos e peso de mil sementes.

Resultados

A média da população de plantas para aplicação normal de fungicida (337.774 plantas/ha) (Tabela 1) apresentou-se muito próxima da média de população de plantas das parcelas com falha na 2º aplicação de fungicida (324.441plantas/ha) não apresentado diferença de médias pelo teste t. Podemos observar que a população de plantas estava um pouco acima do que é preconizado para o cultivar BMX Tornado RR para esta região de

cultivo (200.000 a 280.000 plantas/ha), o que foi realizado intencionalmente para compensar a época tardia de semeadura.

Tabela 1. População de plantas, rendimento de grãos e peso de mil sementes (PMS) de soja submetidas a diferentes números de aplicações de fungicida.

Tratamento População (plantas/ha)

Rend.(sc/ha) PMS

Aplicação Normal de fungicida 337.774ns 45,64* 152,95*Falha na 2º aplicação de fungicida 324.441 27,35 124,11

*diferença significativa entre médias pelo teste t a 5% de probabilidade de erro.ns diferença não significativa entre médias pelo teste t a 5% de probabilidade de erro.

Com relação a rendimento de grãos, a média das amostragens colhidas com aplicação normal de fungicida foi de 45,64 sc/ha, contra uma média de 27,35 sc/ha para as amostragens que foram colhidas na área sem falha na 2º aplicação de fungicida, sendo que as médias apresentaram diferenças pelo test t a 5% de probabilidade de erro. Esta redução representa aproximadamente 40% do potencial da lavoura. Este resultado está de acordo com os obtidos por Cunha et al. (2008) que observou reduções na produtividade de 61%, Prado et al. (2010) de 37%; Christovam et al. (2010) de 49% e Aguiar-Júnior et al. (2011) de 60%. Com relação ao peso de mil sementes (PMS) também foi observado diferença significativa entre médias pelo teste t. Onde ocorreu aplicação normal de fungicida, o PMS foi de 152,95 gramas, sendo maior que o observado para a média das amostragens com falha na segunda aplicação de fungicida (124,11 gramas). Esta redução no PMS representa 18,8% de perda em função do menor enchimento de grão. O restante da perda se da em função principalmente do não enchimento dos grãos localizados nas vagens da extremidade superior da planta que, em função da perda de folhas e consequente encurtamento de ciclo não são formados. Os resultados comprovam os cuidados que temos que ter em relação à aplicação de fungicida, pois uma aplicação não feita, ou feita com falhas, como foi o ocorrido, acarretará diretamente no rendimento da cultivar. Depois de o fungo causador da ferrugem asiática colonizar a planta, é praticamente impossível controlar seu dano mesmo utilizando fungicidas currativos, e os melhores produtos que existem no mercado. Partindo do princípio que uma aplicação de fungicida tenha um custo aproximado de duas sacas de soja/ha e a perda observada foi de 18,27 sc /ha, os prejuízos por um descuido na aplicação, bem como a falta de uma aplicação podem acabar inviabilizando a cultura da soja com relação a receita final obtida.

CONCLUSÃO

Nas condições de cultivo acima descritas a falha de aplicação de fungicida ocasionou uma perda aproximada de 40% no potencial produtivo da lavoura, sendo o peso de mil sementes diretamente influenciado pela severidade da doença.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Aguiar-júnior, H.O.; Raetano, C.G.; Prado, E.P.; Dal Pogetto, M.H.F.A.; Christovam, R.S.; Gimenes, M.J. Adjuvantes e assistência de ar em pulverizador de barras sobre a deposição da calda e controle de Phakopsora pachyrhizi (Sydow & Sydow) Summa Phytopathologica, Botucatu, v.37, n.3, p.103-109, 2011.

Christovam, R.S.; Raetano, C.G.; Prado, E.P.; Dal Pogetto, M.H.F.A.; Aguiar-Júnior, H.O.; Gimenes, M.J.; Serra, M.E. Airassistance and low volume application to control of Asian rust on soybean crop. Journal of Plant Protection Research, Poznan, v.50, n.3, p.354-359, 2010.

Cunha, J.P.A.R.; Moura, E.A.C.; Silva Júnior, J.; Zago, F.A.; Juliatti, F.C. Efeito de pontas de pulverização no controle químico da ferrugem da soja. Engenharia Agrícola, Jaboticabal, v.28, n.2, p.283-291, 2008.

Prado, E.P.; Raetano, C.G.; Aguiar Júnior, H.O.; Dal Pogetto, M.H.F.A.; Christovam, R.S.; Gimenes, M.J.; Araújo, D. Velocidade do ar em barra de pulverização na deposição da calda fungicida, severidade da ferrugem asiática e produtividade da soja. Summa Phytopathologica, Botucatu, v.36, n.1, p.45-50, 2010.

SOARES, R.M.; LIBRELOTTO, S.A.; WIELEWICKI, A.P; OZELAME, J.G. Fungicidas no controle da ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi) e produtividade da soja disponível em: Ciência Rural, v.34, n.4, p. 1245, agosto de 2004.

Tecnologias de produção de soja – Região Central do Brasil 2014. – Londrina: Embrapa Soja, 2013.