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DETERMINAÇÃO DE MACRO E MICRONUTRIENTES NA SERAPILHEIRA DO AGROECOSSISTEMA CACAUEIRO NO SUL DA BAHIA.

Kátia Curvelo1, Neylor Alves Calasans Rego2, Dan Érico Lobão3, João Ricardo Tabosa Pinheiro

Lucio4, Érico de Sá Petit Lobão5, Raúl Renne Valle6 1Eng. Agrônoma, MSc; Consultora ad hoc CDAC, Itabuna (BA), [email protected], 2Eng.

Agrícola, PhD; Uesc/Prodema, (BA), [email protected], 3Eng. Florestal, DSc; Pesquisador da Ceplac/Centro de Pesquisa do Cacau (Cepec), [email protected], 4Eng. Florestal, Consultor ad hoc

CDAC,, [email protected], 5Zootecnista, MSc; Consultoro ad hoc CDAC, Itabuna (BA), [email protected], 6Eng. Agrônomo, PhD; Pesquisador da CEPLAC/Centro de Pesquisa do

Cacau (Cepec), [email protected] RESUMO Avaliou-se o conteúdo de macro e micronutrientes na serapilheira acumulada em sistema de cacau-cabruca, floresta secundária e pastagem em áreas da Fazenda Venturosa, Floresta Azul-Ba. As análises foram feitas nos laboratórios de fisiologia do Centro de Pesquisas do Cacau Cepec/Ceplac. O delineamento utilizado foi em blocos inteiramente casualizados e a comparação entre médias realizada utilizando o teste de Duncan. A floresta e o cacau-cabruca não apresentaram diferenças significativas para os teores de N, P, Mg, Zn e Cu. No entanto, foram encontrados teores significativamente maiores para Ca na floresta e K, Fe e Mn no sistema cacau-cabruca. A pastagem demonstrou a menor quantidade de nutrientes em relação aos outros sistemas. O cacau-cabruca demonstra ser um sistema de produção agrossilvicultural de grande eficiência ambiental. Palavras-chave: manta orgânica, ecossistemas, INTRODUÇÃO A vegetação é a principal responsável pela deposição de materiais orgânicos no solo e o tipo de vegetação e as condições ambientais são fatores que determinam a quantidade e a qualidade do material que se deposita no solo (Moreira e Siqueira, 2002). A camada formada por detritos vegetais que se encontram na superfície do solo é denominada serapilheira e de acordo com Carpi Júnior (2001), inclui folhas, caules, ramos, frutos, flores e outras partes da vegetação, assim como restos da macro e micro fauna e material fecal (Golley et al., 1978). A proporção de nutrientes disponibilizados pela serapilheira por meio dos processos de decomposição, humificação e mineralização (Golley et al., 1978) segundo Ferreira et al. (2001) também está relacionada à composição e velocidade de decomposição da serapilheira, do regime pluviométrico, da temperatura, dos agentes decompositores e da qualidade do sítio, que está relacionada com a alta ou baixa produtividade do mesmo (Reissmann e Wisniewski, 2000). Nesse contexto, Valeri (1988) ressalta que quando o processo de decomposição ocorre lentamente, os nutrientes podem permanecer retidos na serapilheira. Avaliando as interações que ocorre na camada superficial do solo e sua relação com a vegetação, torna-se possível o conhecimento da dinâmica dos nutrientes em determinado ecossistema e consequentemente de sua sustentabilidade, gerando subsídios para o monitoramento das possíveis práticas de melhoramento do uso do solo (Simard et al., 1988), e ainda auxiliando nas estimativas das taxas de intemperismo e ciclagem dos elementos químicos, assim como no influxo e lixiviação de nutrientes no campo (Miranda et al., 2006). Estudos realizados por Valeri et al. (1989), Cunha et al. (1993), Schumacher e Caldeira (2001) evidenciaram a variabilidade da concentração de nutrientes nas diferentes frações que compõem a serapilheira, portanto, a quantidade de nutrientes transferidos ao solo através da decomposição também está condicionada a proporção referente de cada componente, conforme sua produção e sua taxa de decomposição (Curvelo et al., 2009). A eficiência ambiental do sistema cacau-cabruca pode ser verificada através da avaliação qualitativa da serapilheira. De acordo com Fontes (2006), Os sistemas agroflorestais com cacau se caracterizam como um sistema conservacionista do carbono orgânico e dos nutrientes do solo e da serapilheira acumulada, com maior reserva de nutrientes em relação a mata natural dependendo do manejo adequado. O estudo sobre a qualidade da serapilheira é essencial para definir técnicas de conservação produtiva, desse modo, o objetivo desse estudo foi quantificar os nutrientes contidos na serapilheira acumulada em cacau-cabruca, floresta secundária e pastagem.

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METODOLOGIA O estudo foi desenvolvido em três ambientes (floresta secundária, cacau-cabruca e pastagem), entre as coordenadas 04330118 (X) / 8362568 (Y), no período de setembro de 2006 a fevereiro de 2007, na Fazenda Venturosa, localizada no município de Floresta Azul, Bahia, inserida na bacia hidrográfica do Rio Salomé, Bioma Mata Atlântica. O clima da área corresponde ao tipo Am, tropical quente úmido, com estação seca compensada pelos totais elevados de precipitação, conforme classificação de Koepen (Araújo et al., 2002). Para a coleta dos dados, delimitou-se um transecto transversal abrangendo parte mediana do declive, no sentido da toposseqüência de 100 m de comprimento por 10 m de largura, totalizando 1000 m2. A análise química do solo das áreas de estudo foi realizada no laboratório do Cepec, usando metodologia recomendada pela Embrapa, 1997 (Tabela 1). Tabela 1. Análise química do solo nos ecossistemas de floresta secundária, cacau-cabruca e pastagem, nas áreas da Fazenda Venturosa, Floresta Azul (BA).

Localização pH Al Ca Mg K P Fé Zn Cu Mn

cmolc dm-3

mg dm -3

Floresta secundária 4,4 0,1 4,97 1,37 0,22 3,33 28 4,57 1,57 140

Cacau-cabruca 4,7 0,1 3,00 1,03 0,17 3,33 43 2,33 7,20 64

Pastagem 5,0 0,0 6,87 2,87 0,13 4,67 176 6,43 3,87 195 pH em H2O: relação 1: 2,5. P, K, Fe, Zn, Mn, Cu: extrator Mehlich – 1. Ca

2+, Mg

2+, Al

3+: extrator KCl mol L

-1.

A serapilheira acumulada foi coletada da maneira que se encontrava na superfície do solo, aos 49, 98 e 147 dias, após o início do experimento, em cinco pontos aleatórios nas três áreas de estudo. Os dados dos teores de nutrientes foram convertidos em peso referente à massa seca das amostras e estimou-se o conteúdo em kg ha-1. RESULTADOS Para os macronutrientes (Tabela 2), na área de pastagem, os resultados foram inferiores aos encontrados por Heringer e Jacques (2002), que obtiveram, 54,1 kg N ha-1, 2,4 kg P ha-1, 8,9 kg K ha-

1 e de Ca e Mg 31,2 e 14,6 kg ha-1 respectivamente. No entanto, deve-se observar que esses autores avaliaram não apenas o material morto, aportado ao solo, mas também o material senescente ainda ligado à planta, o que de acordo com Cunha et al. (1993) pode denotar variações de conteúdo de nutrientes, devido às diferentes frações de serapilheira analisada. Apesar de ser um sistema de produção a área com cacau-cabruca não apresentou diferenças significativas nos valores médios de N, P e Mg na serapilheira acumulada, quando comparado aos valores da floresta secundária. Tabela 2. Quantidades médias dos macronutrientes na serapilheira acumulada, para as três áreas estudadas na fazenda Venturosa, Floresta Azul (BA).

(*) Médias com letras iguais não diferem estatisticamente segundo o teste de Duncan.

Na serapilheira de sistemas florestais naturais, o N é o nutriente em maior concentração, seguido pelo Ca, K, Mg e P (Haag, 1985). Nesse estudo, essa tendência ocorreu na mesma seqüência, exceto para o Ca, que apresentou um valor superior ao N e elevado teor também na serapilheira de todas as áreas estudadas. Esse resultado sugere uma menor quantidade desse nutriente imobilizado na biomassa (Borém e Ramos, 2002). É importante considerar que a composição da serapilheira acumulada inclui fragmentos vegetais não identificados, como restos de insetos, cascas de árvores e galhos, excrementos de aves, raízes mortas, entre outros, que podem influenciar na composição química da mesma e diversificar a quantidade aportada de nutrientes quando comparada com áreas distintas (Santos, 2007).

Macronutrientes

N P K Ca Mg Área

(kg ha-1

)

Floresta secundária 116a 3,05a 18,9b 195,2a 18,9a

Cacau-cabruca 103a 4,24a 30,2a 111,3b 21,2a

Pastagem 5, 0c 0,64c 1,60c 6,08c 1,68c

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Os resultados da área com cacau-cabruca quando comparados aos encontrados por Santana, et al. (1990) foram superiores para o K, aproximados para o N, Mn e Ca, e inferiores para o P, Mg, Zn e Cu. Esses autores ao trabalharem com reciclagem de nutrientes em agrossistemas de cacau na região cacaueira da Bahia encontraram respectivamente 20 kg ha-1, 102 kg ha-1, 3,63 kg ha-1, 148 kg ha-1, 8,5 kg ha-1, 34 kg ha-1, 0,54 kg ha-1 e 0,51 kg ha-1. Assim, pode-se inferir que, nas mesmas condições climáticas, as características do material aportado ao solo, em função da quantidade e diversidade dos resíduos, das atividades microbiológicas, entre outros, estabelece distinções entre as quantidades de nutrientes contidos na serapilheira de um ecossistema estudado na mesma região (Santos, 2007). Tabela 3. Quantidades médias dos micronutrientes na serapilheira acumulada, para as três áreas estudadas na da fazenda Venturosa, Floresta Azul (BA).

Micronutrientes

Fe Zn Cu Mn Área

(kg ha-1

)

Floresta secundária 4,94b 0,20ª 0,12a 1,54b

Cacau-cabruca 7,26a 0,27ª 0,10a 2,71a

Pastagem 0,43a 0,02b 0,01b 0,21c

(*) Médias com letras iguais não diferem estatisticamente segundo o teste de Duncan.

CONCLUSÃO • O cacau-cabruca demonstra, no que se refere ao conteúdo de nutrientes na serapilheira acumulada, ser um sistema de produção agrossilvicultural de grande eficiência na conservação de nutrientes, assemelhando-se à uma floresta tropical secundária . REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, de Q. R.; ARAÚJO, M. H. S.; SAMPAIO, J. O. 2002. Análise do risco de erosão em microbacias hidrográficas: estudo de caso das bacias hidrográficas dos rios Salomé e Areia, sul da Bahia. In: SCHIAVETTI, A. e CAMARGO, A. F. M. (Eds.). Conceitos de bacias hidrográficas: teorias e aplicações. Ilhéus: Editus, p. 163-177. BORÉM, R. T.; RAMOS, D. P. 2002. Variação estacional e topográfica de nutrientes na serrapilheira de um fragmento de Mata Atlântica. Cerne, Lavras 8(2): 42-59. CARPI JUNIOR, S. 2001. Processos erosivos, recursos hídricos e riscos ambientais na bacia do rio Mogi-Guaçu. Tese Doutorado.UNESP, Rio Claro. 171p. CUNHA, G. C. da. et al. 1993. Dinâmica nutricional em floresta estacional decidual com ênfase nos minerais provenientes da decomposição de serrapilheira. Ciência Florestal, Santa Maria 3: 35-64. CURVELO, K.; REGO, N. A. C.; LOBÃO, D. E.; SODRÉ, G. A.; PEREIRA, J. M.; MARROCOS, P. C. L.; BARBOSA, J. W.; VALLE, R. R. Aporte de nutrientes na serapilheira e na água do solo em cacau-cabruca, floresta secundária e pastagem. Agrotrópica. 21: 57-66, 2009. FERREIRA, C. A. et al. nov. 2001. Nutrição de Pinus no Sul do Brasil – Diagnóstico e prioridades de pesquisa. EMBRAPA – CNPF. Doc. 60, 23 p. FONTES, A. G. 2006. Ciclagem de nutrientes em sistemas agroflorestais de cacau no sul da Bahia. Tese Doutorado. UENF, Rio de Janeiro, 92 p. GOLLEY, F. B. et al. 1978. Ciclagem de minerais em um ecossistema de floresta tropical úmida. Tradução Eurípedes Malavolta. São Paulo: EPU/ Editora da Universidade de São Paulo, 256 p. HAAG, H. P. 1985. Ciclagem de nutrientes em florestas tropicais. Campinas, SP: Fundação Cargill, 144p. HERINGER, I.; JACQUES, A. V. 2002. Nutrientes no mantilho em pastagem nativa sob distintos manejos. Ciência Rural, Santa Maria 32(5): 841-847. MIRANDA, J. et al. 2006. Composição química da solução de solo sob diferentes coberturas vegetais e análise de carbono orgânico solúvel no deflúvio de pequenos cursos de água. Revista Brasileira de Ciência do Solo 30: 633-647. MOREIRA, F. M. S.; SIQUEIRA, J. O. Microbiologia e bioquímica do solo. Lavras: Ufla, 2002, 625p. REISSMANN, C. B.; WISNIEWSKI, C. 2000. Aspectos Nutricionais de Plantas de Pinus. In: GONÇALVES, J. L. M. e BENEDETTI, V. Nutrição e fertilização florestal. Piracicaba: IPEF, p. 135-166. SANTANA, M. B.; CABALA-ROSAND, P.; SERÔDIO, M. H. 1990. Reciclagem de nutrientes em agrossistemas de cacau. Agrotrópica, 2(2): 68-74.

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