determinação da vazão mínima 7

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  • XIX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 1

    DETERMINAO DA VAZO MNIMA RESIDUAL, POR MTODOS

    HIDROLGICOS ESTATSTICOS, A JUSANTE DO BARRAMENTO DA

    USINA HIDRELTRICA DE PORTO PRIMAVERA NO RIO PARAN:

    estao Porto So Jos

    Cristhiane Michiko Passos Okawa1 & Edvard Elias de Souza Filho 2;Paulo Fernando Soares3

    Resumo --- A construo de reservatrios para gerao de energia eltrica altera o regime natural de fluxos do rio. Com a regularizao de vazes, ocorre decrscimo dos picos de cheias e aumento das vazes mdias mnimas, influenciando na conexo entre os ambientes lticos e lnticos. Neste trabalho, calculou-se a vazo a ser mantida a jusante do reservatrio da usina hidreltrica Porto Primavera pelos seguintes mtodos hidrolgicos estatsticos: Tennant, traado da curva de permanncia, vazes anuais mnimas de sete dias de durao e tempo de retorno de 10 anos e vazes anuais mnimas de sete dias de durao O menor valor encontrado para a vazo mnima residual foi obtido pelo mtodo de percentagem de Q95 da curva de permanncia, que correspondeu vazo de 2.100 m3/s. O maior valor foi determinado pelo mtodo de vazes mnimas anuais com sete dias de durao, que correspondeu vazo de 5.865,17 m3/s. Considerando que em sistemas rio-plancie de inundao existe forte relao entre a dinmica das caractersticas limnolgicas, das comunidades aquticas e dos pulsos hidrosedimentolgicos, concluiu-se que a forte regularizao de vazes e a manuteno de um valor constante de vazo mnima residual a jusante de reservatrios insuficiente para a conservao do macrossistema fluvial.

    Abstract --- Construction of dams change the natural flow regime in a river. It generates a regulated flow, where higher flows decrease whereas lower flows increase. Then, the conexion between river and others environments is damaged. In this work, the instream flow was calculated by hydrologic statistics methods, like Tennant, permanence curve, seven-day consecutive low flows with a ten year return frequency and seven-days consecutive low flows, and the results were compared. The lowest result of instream flow was 2.100 m3/s, by Q95 permanence curve flow method and the highest result was 5.865,17 m3/s by seven-days consecutive low flow method. Considering that in this system there is a strongly relation between limnological characteristic, aquatic community and flood pulse, we can conclude that strongly regulated flows and a constant value for the instream flow is not enough to mantain the conservation of system river-floodplain.

    Palavras chave: vazo a jusante de reservatrios, vazo ecolgica, regularizao de vazes.

    1 Professora Adjunto da UEM, Av.Colombo, 5.790. CEP 87020-900. Maring-PR, E-mail [email protected] 2 Professora Associado da UEM, Av.Colombo, 5.790. CEP 87020-900. Maring-PR, E-mail [email protected] 3 Professora Associado da UEM, Av.Colombo, 5.790. CEP 87020-900. Maring-PR, E-mail [email protected]

  • XIX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 2

    1 - INTRODUO

    Em sistemas rio-plancie de inundao existe uma forte relao entre a dinmica das

    caractersticas limnolgicas, das comunidades aquticas e dos pulsos hidrosedimentolgicos. Por

    exemplo, nas lagoas permanentes da plancie de inundao do alto rio Paran, no perodo de guas

    baixas, so observados os maiores valores de oxignio dissolvido, enquanto que no perodo de

    guas altas pode ocorrer estratificao trmica, conduzindo condio anxica nas camadas mais

    profundas da coluna dgua nesses ambientes. No perodo de guas altas, os valores de alcalinidade

    e condutividade eltrica aumentam nas lagoas permanentes, no s devido conectividade com o

    rio Paran, que rico em sais totais, mas em resposta ao aumento da decomposio da matria

    orgnica acumulada na plancie, que libera grandes quantidades de nitrognio e fsforo. Esta

    liberao de nutrientes torna-se ainda mais importante devido existncia de reservatrios em

    cascata a montante da plancie, que retm nutrientes e sedimentos, limitando a produtividade

    primria (Thomaz et al., 2004).

    Para peixes, o alagamento da plancie do alto rio Paran conduz a um vasto ambiente

    altamente produtivo, que promove condies favorveis ao desenvolvimento inicial das formas

    jovens de espcies migradoras de longa distncia; e a ausncia de inundao pode elevar as taxas de

    mortalidade de peixes nos ambientes sem conexo com a calha principal do rio (Agostinho et al.,

    2000). A manuteno da biodiversidade da rea depende da integridade do ectono terra-gua

    representado pela plancie de inundao, especialmente para espcies migratrias maiores de peixes

    (Agostinho et al., 2004a). Com relao ao fitoplncton, observa-se menor abundncia no perodo de

    guas altas, com possibilidade de floraes de cianobactrias em guas baixas, principalmente nos

    ambientes lnticos (Train e Rodrigues, 2004).

    Na legislao brasileira est prevista a obrigao de manuteno de uma vazo mnima

    residual a jusante de reservatrios, que calculada usando os mtodos hidrolgicos estatsticos

    convencionais. Essa vazo mnima residual, neste caso, pode ser equiparada ao conceito de vazo

    ecolgica, j que o reservatrio est a montante de uma rea de preservao ambiental e foi, durante

    muito tempo, definida como uma vazo mnima constante residual a jusante de um empreendimento

    hidrulico, que permitisse assegurar a conservao e manuteno dos ecossistemas aquticos (ANA,

    2005).

    O conceito atual de vazo ecolgica que a mesma seja representada por uma srie temporal

    de valores de vazo, que considerem as necessidades das espcies ao longo do ciclo de vida,

    flexvel em funo das condies hidrolgicas naturais que se verificam ano a ano, o que faz com

    que a vazo ecolgica seja varivel ao longo do tempo, sendo essa variao denominada de

  • XIX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 3

    hidrograma ecolgico (Alves e Henriques, 1994; Garcia e Andreazza, 2001; Collischonn et al.,

    2005).

    Diante deste novo conceito, o pensamento de que a manuteno de uma vazo mnima

    residual constante a jusante de um barramento seja suficiente para a conservao de um sistema rio-

    plancie de inundao deve ser terminantemente modificado. O Ministrio do Meio Ambiente

    confeccionou o Plano Nacional de Recursos Hdricos, que prev, entre suas propostas, o

    aperfeioamento dos procedimentos de outorga de uso dos recursos hdricos e menciona a

    necessidade de definio de hidrogramas ecolgicos (BRASIL, 2008). Assim, a gesto de recursos

    hdricos no Brasil encontra-se em processo de transio entre os dois conceitos, e muitos desafios

    precisam ser superados.

    Entretanto, neste trabalho, as vazes mnimas sero calculadas por mtodos hidrolgicos

    estatsticos, que baseiam-se na utilizao das sries histricas de vazes para, atravs da

    manipulao dos dados, estabelecer uma vazo mnima que suporte o ecossistema aqutico (Alves e

    Henriques, 1994; Benetti et al., 2003; Mendes, 2007), pois esses so ainda os que esto em uso

    pelos rgos gestores no Brasil.

    Portanto, o objetivo deste trabalho determinar a vazo mnima residual a jusante do

    barramento de Porto Primavera pelos mtodos hidrolgicos estatsticos de Tennant, porcentagem da

    curva de permanncia de vazes, Q7, 10 e vazes anuais mnimas de 7 dias de durao, para efeito de

    comparao entre os resultados.

    1.1 - rea de estudo

    A estao fluviomtrica de Porto So Jos est localizada a 232 m de altitude, nas

    coordenadas 224247 de latitude e 531022 de longitude, na margem paranaense do rio, a

    jusante da foz do rio Paranapanema e a cerca de 35 km da barragem da usina hidreltrica (UHE)

    Engenheiro Srgio Motta, tambm conhecida como UHE de Porto Primavera. A responsvel pela

    estao a Agncia Nacional de guas ANA e a operadora a antiga Superintendncia de

    Desenvolvimento de Recursos Hdricos e Saneamento Ambiental SUDERHSA, hoje Instituto das

    guas do Paran. A estao possui registro nmero 64575003, e apresenta uma srie histrica de

    dados de vazes mdias dirias e cotas com incio de observao em 01/10/1963. A rea de estudo

    mostrada na figura 1. O ltimo trecho ainda no represado da plancie de inundao do alto rio

    Paran, que compreende a rea desde a foz do rio Paranapanema at o incio do reservatrio de

    Itaipu, foi transformado em rea de Proteo Ambiental das Ilhas e Vrzeas do Rio Paran APA

    (BRASIL, 1997), devido sua importncia como local representativo de um sistema rio-plancie de

    inundao, com o intuito de preservar a elevada biodiversidade existente no local.

  • XIX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 4

    A variao do nvel da gua do rio Paran pode representar a conexo ou no de corpos

    lnticos com o sistema fluvial. Nas cheias do rio Paran, a entrada de gua na plancie feita,

    inicialmente, pela elevao do nvel fretico, at que haja conexo com os corpos lnticos, que

    ocorre quando a leitura da rgua em Porto So Jos atinge a cota de 3,5 m A partir da cota 4,6 m

    ocorre o incio da inundao na rea Curutuba/Ivinheima, afluentes da margem direita do rio

    Paran, proporcionada pela entrada de gua pelas margens baixas dos canais fluviais e das lagoas. O

    alagamento das partes intermedirias da plancie ocorre a partir do nvel de 6,0 m e a cobertura das

    partes mais altas ocorre a partir do nvel de 7,0 m (Rocha, 2002; Souza Filho, 2008).

    Figura 1 rea de estudo a jusante da estao de Porto So Jos no rio Paran

    2 - MATERIAIS E MTODOS

    Para a determinao da vazo ecolgica por percentagem da curva de permanncia, calculou-

    se a curva de permanncia de vazes utilizando-se a srie histrica de vazes mdias dirias medida

    na estao fluviomtrica de Porto So Jos, sendo os registros fluviomtricos obtidos junto ANA.

    Os registros de vazo mdia diria so classificados em ordem decrescente e a permanncia de cada

    vazo expressa como uma porcentagem do tempo em que a vazo considerada igualada ou

    superada (Pinto et al., 1976).

    A vazo mdia mnima de 7 dias de durao com tempo de retorno de 10 anos (Q7,10) foi

    determinada por reteno das mnimas das mdias mveis das vazes dirias com janelas de sete

    dias ao longo do ano e posterior ajuste com a distribuio de probabilidades de Gumbel para

    mnimos, conforme Naghettini e Pinto (2007). A investigao para verificar existncia de outliers

  • XIX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 5

    foi realizada pela anlise dos resduos estudentizados. A aderncia dos valores ajustados srie

    observada foi verificada pelo teste de Kolmogorov-Smirnov (Naghettini e Pinto, 2007). No mtodo

    das vazes anuais mnimas de 7 dias de durao, as mnimas das mdias mveis das vazes dirias

    com janelas de sete dias ao longo do ano foram retidas e o valor adotado como vazo ecolgica foi

    a mdia dos valores retidos (Benetti et al., 2003). Para aplicao do mtodo de Tennant, foi

    calculada a vazo mdia de longo termo (QMLT) e a vazo ecolgica foi determinada a partir de

    percentagens desta vazo, conforme Tennant (1976).

    3 - RESULTADOS

    A determinao da vazo mnima residual foi realizada pelos mtodos estatsticos para

    clculo da Q7,10, da curva de permanncia de vazes mdias dirias, do valor mdio das vazes

    anuais mnimas de 7 dias de durao e pelo mtodo de Tennant.

    3.1 - Q7,10 pela distribuio de probabilidades de Gumbel para mnimos

    Os registros de vazes mdias dirias em Porto So Jos totalizam 44 anos de dados (1964 a

    2007); os valores de outubro de 1963 e julho de 2008 no foram considerados por no serem

    completos. Como os dados so consistidos, no h falhas de leitura.

    Os pressupostos de aleatoriedade, estacionariedade, independncia e homogeneidade das

    sries histricas de vazes devem ser testados antes de determinar o ajuste de distribuio de

    probabilidade. Conforme Naghettini e Pinto (2007), as vazes de um curso dgua regularizadas

    pela operao de reservatrios a montante constituem exemplo de srie no aleatria, e a construo

    de reservatrios constituem saltos ou alteraes bruscas na srie afetando a estacionariedade. O

    pressuposto de independncia varia com o intervalo de tempo que separa as observaes

    consecutivas da srie hidrolgica, sendo considerada forte dependncia para vazes mdias dirias e

    fraca ou nenhuma para vazes mdias mnimas anuais. O pressuposto de homogeneidade implica

    que todos os elementos de uma amostra provm de uma nica e idntica populao.

    Para testar a hiptese de aleatoriedade, foi utilizado o teste no-paramtrico do nmero de

    inflexes, cuja hiptese nula que as observaes so aleatrias para um nvel de significncia de

    0,05, conforme Naghettini e Pinto (2007). Para este teste, T resultou em 1,83 < 1,96, ou seja, no se

    pode rejeitar a hiptese de que as observaes so aleatrias.

    Com relao ao teste de independncia, foi aplicado o teste no-paramtrico proposto por

    Wald e Wolfowitz (NAGHETTINI E PINTO, 2007), encontrando T = -1,4 < 1,96, ou seja, no se

    pode rejeitar a hiptese de que as observaes so independentes.

  • XIX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 6

    Para testar a hiptese de homogeneidade da srie hidrolgica, aplicou-se o teste no-

    paramtrico proposto por Mann e Whitney (NAGHETTINI E PINTO, 2007), encontrando T = 0,9 < 1,96, ou seja, no se pode rejeitar a hiptese de que as observaes so homogneas.

    Finalmente, deve-se aplicar o teste no-paramtrico de Spearman (NAGHETTINI E PINTO,

    2007) para verificar o pressuposto de estacionariedade. O valor de T resultou em 3,68 > 1,96, logo, a deciso deve ser a de rejeitar a hiptese nula de estacionariedade.

    Como o pressuposto de estacionariedade no foi satisfeito, a determinao da vazo mnima

    residual, neste caso, no deve ser realizada pelo mtodo Q7,10. O mtodo ser aplicado apenas para

    efeito de comparao com os demais. Os rgos gestores que aplicam o mtodo Q7,10 para

    determinao da vazo mnima residual a jusante de barramentos devem atentar para a verificao

    dos pressupostos de aleatoriedade, estacionariedade, independncia e homogeneidade da srie de

    vazes mnimas de sete dias de durao.

    A partir da srie histrica de vazes, a vazo Q7,10 foi obtida computando-se as mdias mveis

    com janelas de sete dias ao longo do ano e retendo o valor mnimo para cada ano. A srie das

    vazes mnimas apresentada na tabela 1. A figura 2 mostra o ajuste obtido pela distribuio de

    Gumbel, relacionando cada vazo com o perodo de retorno. A vazo correspondente ao perodo de

    retorno de 10 anos foi calculada analiticamente e obteve-se o valor de: Q7,10 pela distribuio de

    Gumbel = 3.913,99 m3/s, correspondente cota de 1,05 m.

    Tabela 1 - Srie das vazes mnimas de sete dias (m3/s) da estao de Porto So Jos

    ano mn Q7 ano mn Q7 ano mn Q7 ano mn Q7 ano mn Q7 1964 3.612,80 1973 5.271,43 1982 6.007,14 1991 6.688,57 2000 6.796,431965 4.380,00 1974 4.725,71 1983 9.317,14 1992 7.064,29 2001 4.494,291966 4.811,43 1975 5.182,86 1984 7.082,14 1993 7.001,43 2002 5.835,711967 4.540,00 1976 6.202,86 1985 7.558,57 1994 6.878,57 2003 5.790,001968 3.470,57 1977 5.885,71 1986 6.265,00 1995 6.612,50 2004 6.108,571969 2.684,86 1978 6.435,00 1987 5.460,00 1996 6.700,71 2005 5.992,861970 3.432,00 1979 6.175,71 1988 6.452,86 1997 7.514,64 2006 6.990,711971 3.360,00 1980 6.720,00 1989 6.932,86 1998 5.000,00 2007 6.554,291972 4.888,57 1981 5.645,71 1990 6.463,93 1999 7.078,93 ----- ----------

  • XIX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 7

    0

    1000

    2000

    3000

    4000

    5000

    6000

    7000

    8000

    9000

    10000

    1 10 100

    T (anos)

    Q7 (

    m3 /s

    )

    Figura 2 - Ajuste das vazes anuais mnimas pela distribuio de probabilidades de Gumbel

    Para verificar a existncia de outliers, fez-se uma investigao pela anlise dos resduos

    estudentizados. Os resultados encontram-se na tabela 2 e na figura 3 so mostrados os resduos

    estudentizados plotados contra a vazo Q7 observada, de onde se conclui que os valores observados

    possuem dois outliers, correspondentes s vazes observadas nos anos de 1969 e 1983 (2.684,86 e

    9.317,14 m3/s, respectivamente).

    No entanto, o resduo correspondente a 1969 foi de 2,19, valor muito prximo do limite

    considerado, portanto, optou-se por manter o valor observado. Quanto ao outlier correspondente a

    1983, conforme Naghettini e Pinto (2007), se a observao atpica resultar de causas naturais como

    a manifestao de fenmenos extraordinrios em relao ao conjunto dos outros pontos amostrais, a

    melhor deciso a de manter o outlier na anlise de freqncia. A retirada s se aplica no caso de

    medio incorreta ou que esteja sujeita a erros de processamento. Portanto, optou-se por manter os

    valores na srie de vazes mnimas anuais observadas.

  • XIX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 8

    Tabela 2 - Resduos estudentizados para a distribuio de probabilidades de Gumbel.

    n Q7

    observado Q7

    calculado Resduo Resduos

    estudentizados 1 2684,86 2145,38 539,48 2,19 2 3360,00 2951,89 408,11 1,59 3 3432,00 3429,36 2,64 0,01 4 3470,57 3772,26 -301,69 -1,17 5 3612,80 4041,58 -428,78 -1,66 6 4380,00 4264,45 115,55 0,44 7 4494,29 4455,38 38,90 0,15 8 4540,00 4623,03 -83,03 -0,31 9 4725,71 4772,99 -47,28 -0,18 10 4811,43 4909,08 -97,65 -0,37 11 4888,57 5034,04 -145,47 -0,55 12 5000,00 5149,88 -149,88 -0,56 13 5182,86 5258,16 -75,31 -0,28 14 5271,43 5360,09 -88,66 -0,33 15 5460,00 5456,61 3,39 0,01 16 5645,71 5548,53 97,18 0,36 17 5790,00 5636,49 153,51 0,57 18 5835,71 5721,03 114,69 0,43 19 5885,71 5802,62 83,10 0,31 20 5992,86 5881,67 111,19 0,42 21 6007,14 5958,53 48,62 0,18 22 6108,57 6033,51 75,06 0,28 23 6175,71 6106,92 68,79 0,26 24 6202,86 6179,01 23,84 0,09 25 6265,00 6250,04 14,96 0,06 26 6435,00 6320,25 114,75 0,43 27 6452,86 6389,87 62,99 0,24 28 6463,93 6459,13 4,79 0,02 29 6554,29 6528,29 25,99 0,10 30 6612,50 6597,59 14,91 0,06 31 6688,57 6667,31 21,26 0,08 32 6700,71 6737,75 -37,04 -0,14 33 6720,00 6809,26 -89,26 -0,33 34 6796,43 6882,24 -85,81 -0,32 35 6878,57 6957,17 -78,60 -0,30 36 6932,86 7034,67 -101,82 -0,38 37 6990,71 7115,52 -124,80 -0,47 38 7001,43 7200,76 -199,33 -0,75 39 7064,29 7291,87 -227,58 -0,86 40 7078,93 7391,02 -312,09 -1,18 41 7082,14 7501,74 -419,60 -1,58 42 7514,64 7630,30 -115,65 -0,44 43 7558,57 7790,01 -231,44 -0,88 44 9317,14 8020,09 1297,06 5,27

  • XIX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 9

    Figura 3 - Resduos estudentizados versus as vazes mnimas anuais de 7 dias de durao

    observadas na estao de Porto So Jos

    Foi aplicado o teste no paramtrico de Kolmogorov-Smirnov para verificar a aderncia dos

    valores ajustados srie observada e os resultados so mostrados na tabela 3. Percebe-se que, para

    os nveis de significncia testados de 1% a 20%, no se pode rejeitar a hiptese de que a srie de

    vazes mnimas Q7 siga a distribuio de Gumbel.

    Tabela 3 - Resultados do teste de Kolmogorov-Smirnov ajuste de Gumbel

    D Dmax D > Dmax

    1% 0,246 0,0988 Sim

    5% 0,205 0,0988 Sim

    20% 0,184 0,0988 Sim

    3.2 - Vazo ecolgica por porcentagem da Q95 da curva de permanncia de vazes

    A curva de permanncia de vazes mdias dirias foi apresentada na figura 4. O valor

    correspondente a Q95 de cerca de 4.200 m3/s. Pelo critrio adotado pelo rgo gestor que concede

    outorga no estado do Paran (SUDERHSA/Instituto das guas do Paran), a vazo mnima a ser

    -4

    -3

    -2

    -1

    0

    1

    2

    3

    4

    5

    6

    0 2000 4000 6000 8000 10000

    Valores observados (m3/s)

    Res

    duo

    s es

    tude

    ntiz

    ados

  • XIX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 10

    mantida a jusante de barramentos a correspondente a 50% da Q95, ou seja, 2.100 m3/s, o que

    corresponde a uma cota de 0,10 m.

    3.3 - Vazo ecolgica por vazes anuais mnimas de 7 dias de durao

    No mtodo das vazes anuais mnimas de 7 dias de durao, foram retidas as mnimas das

    mdias mveis das vazes dirias com janelas de sete dias ao longo do ano formando uma srie de

    dados de Q7, conforme mostrado na tabela 1, e tomou-se a mdia dos valores retidos como o valor

    adotado para a vazo ecolgica, que foi de 5.865,17 m3/s correspondente cota de 2,03 m.

    3.4 - Vazo ecolgica pelo mtodo de Tennant

    Para determinao da vazo ecolgica pelo mtodo de Tennant, foi calculada a vazo mdia

    de longo termo (QMLT), resultando em 8.777,84 m3/s. Na tabela 5 so mostrados os critrios

    estabelecidos no mtodo com os resultados para a QMLT obtida.

    Tabela 5 - Recomendao de vazes pelo mtodo de Tennant (para peixes, vida aqutica e recreao) e resultados para o rio Paran estao de Porto So Jos. Fonte: modificado de Benetti et al., 2003

    Condio do rio Vazo recomendada pelo mtodo de

    Tennant em percentagem de QMLT

    Vazo recomendada para o rio Parna na estao de Porto So

    Jos em percentagem de QMLT (m3/s)

    Perodo seco Perodo chuvoso

    Perodo seco

    Perodo chuvoso

    Mxima 200% 17.555,68 Faixa tima 60 a 100% 5.266,70 a 8.777,84 Excepcional 40% 60% 3.511,14 5.266,70 Excelente 30% 50% 2.633,35 4.388,92

    Boa 20% 40% 1.755,57 3.511,14 Regular ou em

    degradao 10% 30% 877,78 2.633,35

    M ou mnima 10% 10% 877,78 877,78 Degradao severa 10% a zero Zero a 877,78

    Geralmente, adota-se um valor constante e 10% como sendo a condio mnima a ser

    atendida, 30% representando uma condio boa e 60% como sendo excelente (Richter et al., 1997).

    Como a vazo de 10% muito baixa, recomenda-se adotar a vazo correspondente a 30% da

    QMLT como vazo ecolgica por esse mtodo, ou seja, 2.633,35 m3/s e cota de 0,32 m.

    4 - DISCUSSO

    O menor valor encontrado para a vazo ecolgica foi obtido pelo mtodo de percentagem da

    curva de permanncia e o maior valor foi determinado pelo mtodo de vazes mnimas anuais com

    sete dias de durao; a diferena entre os dois mtodos foi de 280%. Os valores mais prximos de

  • XIX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 11

    vazo foram obtidos pelos mtodos de Tennant e percentagem da curva de permanncia, com

    diferena de 25% entre os mtodos, sendo o mtodo de Tennant mais conservador.

    O valor de vazo ecolgica determinada pelo mtodo das vazes anuais mnimas com sete

    dias de durao, embora maior do que os valores encontrados pelos outros mtodos, tambm sugere

    um valor constante de vazo, o que insatisfatrio para a conservao da biodiversidade no

    ecossistema rio-plancie de inundao.

    Analisando os dados de vazo mdia diria da estao fluviomtrica de Porto So Jos, nota-

    se que na maior parte do tempo o valor observado de vazo superior aos valores obtidos pelos

    mtodos aqui apresentados. Por outro lado, percebe-se que, qualquer que seja o mtodo empregado,

    um valor constante de vazo mnima residual no rio conduz a cotas que no permitem o

    estravazamento das guas do rio para a plancie de inundao nem a conexo dos ambientes.

    Agostinho et al. (2004b) salienta que so necessrios estudos mais detalhados na plancie de

    inundao do alto rio Paran a fim de determinar os requerimentos biolgicos das espcies quanto

    ao nvel fluviomtrico mnimo e quanto ao tempo de incio e durao das cheias necessrias ao ciclo

    de vida dos organismos. Entretanto, existem muitos desafios para definio de um hidrograma

    ecolgico, como a dificuldade e o longo tempo necessrio para obteno de dados, a falta de

    conhecimento do ecossistema considerado e a falta de recursos financeiros para proceder aos

    estudos necessrios.

    Os mtodos utilizados resumem-se em obter valores quantitativos de vazo residual. No

    entanto, no caso em estudo, a reteno de sedimentos no reservatrio de Porto Primavera acarretou

    uma srie de modificaes nas caractersticas fsicas da gua, com impactos sobre a biota aqutica,

    conforme Thomaz et al. (2004). Novos mtodos para determinao da vazo ecolgica devem ser

    desenvolvidos para considerar no apenas o aspecto quantitativo como tambm o qualitativo da

    gua.

    De acordo com o Operador Nacional do Sistema Eltrico (ONS), as vazes de restrio

    adotadas para Porto Primavera so: vazo mnima de 4.600 m3/s para evitar danos ictiofauna,

    vazo mnima de 5.500 m3/s das 5:00 s 24:00h para atender condies de navegabilidade, vazo

    mxima de 24.000 m3/s em Porto So Jos (ONS, 2008). Em todas as restries de vazo mnima, a

    vazo adotada constante e bastante baixa, no permitindo o extravasamento da calha do rio;

    quanto vazo mxima, para atender a esta restrio h interveno de reservatrios a montante de

    Porto Primavera, para evitar uma cheia excessiva em Porto So Jos e a jusante.

    5 - CONCLUSO

    A qualidade ambiental de um rio fortemente dependente do regime hidrolgico, incluindo a

    magnitude das vazes mnimas e das vazes mximas, a poca de ocorrncia, a durao e a

  • XIX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 12

    freqncia das estiagens e das cheias (Richter et al., 1996). Os mtodos hidrolgicos estatsticos

    estimam um valor constante de vazo mnima a ser mantida a jusante de um aproveitamento

    hidrulico, eliminando os valores extremos (mximos e mnimos); alm disso, no atentam para o

    tempo de incio, durao e freqncia das vazes necessrias para assegurar a qualidade ambiental

    do ecossistema. Ainda assim, so esses os mtodos utilizados pelos rgos gestores no Brasil, para

    efeito de concesso de outorga de direito de uso da gua, por exemplo. Da a importncia de se

    entender e aplicar tais mtodos.

    A rea de estudo deste trabalho representa o ltimo trecho ainda no represado da plancie de

    inundao do alto rio Paran, e uma rea de Proteo Ambiental, sendo extremamente importante

    a conservao deste sistema rio-plancie de inundao com sua elevada biodiversidade. Portanto, a

    manuteno de pulsos de inundao deve ser considerada uma prioridade na gesto do recurso

    hdrico, e os mtodos hidrolgicos devem ser urgentemente substitudos por outros, que considerem

    os requerimentos biolgicos das espcies e a sazonalidade intra e interanual de vazes, bem como

    os aspectos qualitativos da gua.

    BIBLIOGRAFIA

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