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DETERMINAÇÃO DA OFERTA DE

DISCIPLINAS ELETIVAS DE

ENGENHARIA DE PRODUÇÃO EM

CURSOS DE ENGENHARIA MECÂNICA:

UTILIZAÇÃO DE SURVEY E ANÁLISES

ESTATÍSTICAS.

Rosley Anholon (Unicamp )

[email protected]

Robert Eduardo Cooper Ordonez (Unicamp )

[email protected]

Osvaldo Luis Goncalves Quelhas (UFF )

[email protected]

Dirceu da Silva (Unicamp )

[email protected]

As disciplinas eletivas estão presentes na maioria dos cursos de

engenharia ofertados no Brasil e possibilitam aos alunos dos referidos

cursos aprofundar conhecimentos em áreas de maior interesse.

Entretanto, uma das maiores dificuldades obbservadas pelas

instituições de ensino superior brasileiras é justamente como

determinar a oferta destas disciplinas conciliando o interesse dos

alunos e as restrições existentes. O estudo descrito por este artigo visa

apresentar um procedimento de análise e definição de disciplinas

eletivas de engenharia de produção para cursos de engenharia

mecânica, valendo-se da técnica de survey e análise estatística dos

dados. Tal procedimento foi implantado pela primeira vez na

Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Estadual de

Campinas e demonstrou ser eficiente. Para esta análise em particular,

os resultados evidenciaram que as temáticas de maior interesse para a

oferta de disciplinas eletivas estão relacionadas à gestão econômica,

gestão do conhecimento organizacional, aprofundamentos em gestão

da produção e tópicos de pesquisa operacional. Com algumas

adaptações, os autores deste artigo acreditam que tal procedimento

poder ser utilizado por qualquer gestor de curso de graduação visando

a tomada de decisões.

Palavras-chave: ensino em engenharia, produção, disciplinas eletivas,

apoio a tomada de decisão para gestores de cursos de graduação.

XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil

João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.

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João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .

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1. Introdução

Ao analisar as grades curriculares de cursos de engenharia credenciados no Brasil, é notória a

existências de um grupo de disciplinas intituladas “disciplinas eletivas, optativas ou livres”.

Segundo Ministério da Educação (2016), uma disciplina recebe essa denominação quando sua

opção de curso se dá pela livre escolha do aluno, frente a um conjunto de disciplinas ofertadas

periodicamente. Seu principal objetivo é a formação complementar do aluno em relação a

seus interesses e, em outras situações, apresentar temas de extrema relevância para a formação

dos alunos que não foram contemplados na estruturação das matrizes curriculares.

A situação idealizada por qualquer coordenador de curso de graduação em engenharia seria a

oferta de uma ampla quantidade de disciplinas eletivas ou optativas em diferentes áreas, a fim

de satisfazer o interesse da maior parte de seus alunos, mas como é notória, a realidade em

geral se faz bem diferente, com restrições orçamentárias e/ou disponibilidades de professores

que restringem essa ampla oferta. Surge assim, mediante esta realidade, o questionamento de

como conciliar estas restrições com a oferta de disciplinas eletivas que sejam bem

direcionadas a aquilo que é de interesse dos alunos (JESSICA, 1997).

Esse questionamento pode ser feito para qualquer grande área de qualquer curso de

engenharia, mas neste artigo em especial, os autores procuram focar o interesse dos alunos de

Engenharia Mecânica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) por disciplinas

eletivas na área de Engenharia de Produção. É importante salientar que ao longo de todo o

curso, os referidos alunos possuem apenas uma disciplina obrigatória diretamente relacionada

à Engenharia da Produção denominada Sistemas Produtivos (EM733) e caso queiram

complementar seus estudos, isso deve ser feito por meio de disciplinas eletivas. Outras

disciplinas da área de Engenharia de Fabricação apenas tangenciam as temáticas de produção.

Mediante ao exposto, esse artigo pretende responder a dois problemas de pesquisa: 1) Quais

são os principais interesses dos alunos de Engenharia Mecânica da Unicamp em relação aos

temas de Engenharia de Produção para a oferta de disciplinas eletivas? 2) É possível

estruturar um procedimento padrão para o levantamento destas informações periodicamente?

A partir destes problemas de pesquisa, desprendem-se os seguintes objetivos: 1) realizar uma

survey junto aos alunos que cursam a disciplina Sistemas Produtivos (EM 733) visando

definir as temáticas de maior interesse; 2) encontrar as ferramentas estatísticas mais

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adequadas a fim de validar os dados e ordená-los segundo o interesse dos alunos; 3) usar essas

informações na oferta de disciplinas eletivas; 4) em caso de sucesso, validar o procedimento a

ser utilizado periodicamente com o referido fim.

2. Revisão da Literatura

2.1 Ensino em Engenharia

Quando analisada a literatura específica sobre ensino em engenharia, muitos são os artigos

que apontam a maior necessidade de pesquisas nesta temática, a fim de entender as mudanças

e novas maneiras na capacitação de novos engenheiros. Borrego e Bernhard (2011) acreditam

que este campo de pesquisa deve ganhar fóruns internacionais de discussão devido sua

importância e as instituições educacionais precisam desenvolver uma rede para troca de suas

experiências.

Segundo Rizkalla et al. (2000) e Adams et al. (2011), as discussões sobre formas eficazes para

a formação dos engenheiros devem ser debatidas todos os dias pelos professores de

engenharia, mas infelizmente este debate ainda está em um nível abaixo do ideal. A formação

do novo engenheiro deve ser orientada por questões como a epistemologia, a justiça social, a

formação multidisciplinar, liderança e maior espaço para inovação (FROYD e OHLAND,

2008; ADAMS et al. 2011; STEPHENS et al. 2015). Coordenadores de cursos de engenharia

precisam usar uma abordagem mais ampla para escutar as necessidades do mercado e os

interesses dos alunos (BORREGO e BERNHARD, 2011). Para Allie et al. (2007), os alunos

de cursos de engenharia trazem consigo uma gama de identidade própria e aspirações que têm

implicações para o ensino e precisam ser identificados, analisados e explorados para permitir

a melhor capacitação.

Claramente, as necessidades do mercado e os interesses dos alunos podem ser diferentes

dependendo da região ou país em que o curso de engenharia é oferecido. Este aspecto é

destacado por Lucena et al. (2008) em seu estudo, ao analisar as mudanças ocorridas nos

cursos de engenharia nos Estados Unidos, Europa e América Latina nos últimos anos. Para

estes autores, a formação de engenheiros nos Estados Unidos abrange competências mais

globais, enquanto a formação de engenheiros na Europa e na América Latina aborda

habilidades focadas em necessidades regionais. Streiner et al. (2015) também realizaram um

estudo muito interessante sobre as competências exigidas pelas empresas e como os cursos de

engenharia podem contemplá-las.

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Em relação aos métodos de pesquisa utilizados na área de educação em engenharia, Borrego

et al. (2013) salientam que ambos os métodos quantitativos e qualitativos podem ser úteis,

desde que haja um alinhamento perfeito entre o problema de pesquisa a ser respondido e os

objetivos desenvolvidos.

Analisando-se a revisão da literatura, é possível notar que estudo desenvolvido por este artigo,

a fim de determinar a oferta de disciplinas eletivas de Engenharia de Produção em cursos de

Engenharia Mecânica por meio do uso de survey e técnicas estatísticas, tem relevância para a

engenharia educacional e que seus resultados podem ser compartilhados com outras

instituições.

2.2 Grandes áreas da Engenharia de Produção

Ao se analisar a literatura sobre Engenharia de Produção, muitas são as temáticas plausíveis

de serem trabalhadas dentro da mesma. Por mais que diferentes autores [ROSEN, 1999;

SLACK et al. 2009; CORRÊA e CORRÊA, 2013; RAY e BHASKARAN, 2013;

VOSNIAKOS, 2015] façam a classificação das áreas com diferentes números de constructos,

todas as subáreas abordadas acabam sendo as mesmas. Como exemplo típico desta situação,

pode-se mencionar a área Qualidade, que para alguns autores pode incluir além de suas

temáticas tradicionais fatores associados à gestão ambiental, saúde e segurança no trabalho e

ergonomia (Slack et al. 2009).

Como forma de definir uma classificação única, os autores deste artigo optaram por utilizar a

classificação difundida pela Associação Brasileira de Engenharia de Produção (ABEPRO,

2016). A opção pela utilização desta classificação se deu pelo fato da mesma ser a mais

respeitada no Brasil e estar em acordo com outras associações internacionais de renome. Cada

uma das onze grandes áreas possui subáreas com tópicos específicos, como demonstra o

Quadro 1. Aproveita-se o mesmo quadro para definir as siglas por meio dos quais as subáreas

serão tratadas na análise estatística.

Quadro 1. Grande área e subáreas da Engenharia da Produção

Nº Etapas

Gestão da

Produção

Gestão de Sistemas da Produção (PM1); Engenharia de Métodos (PM 2);

Planejamento e Controle da Produção (PM 3); Logística e Gestão da Cadeia de

Suprimentos e Distribuição (PM 4); Projeto de Fábrica e de Instalações Industriais

(PM 5); Gestão da Manutenção (PM 6); Simulação da Produção (PM7); Gestão de

Processos Produtivos (PM 8); Gestão de Operações e Serviços (PM 9)

Gestão

Estratégica e

Planejamento Estratégico e Operacional da Estrutura Organizacional (SMO1);

Estratégias de Produção (SMO 2); Organização Industrial (SMO 3); Gestão e

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Organizacional Estratégia de Mercados e Produtos (SMO 4); Redes de Empresas e Gestão da Cadeia

Produtiva (SMO 5)

Gestão da

Qualidade

Controle Estatístico da Qualidade (QM1); Normalização e Certificação para a

Qualidade (QM 2); Organização Metrológica da Qualidade (QM 3); Confiabilidade de

Processos e Produtos (QM 4); Qualidade em Serviços (QM 5)

Gestão

Ambiental dos

Processos

Produtivos

Gestão de Recursos Naturais (EMPP1); Gestão Energética (EMPP 2); Produção mais

Limpa e Ecoeficiência (EMPP 3); Gestão de Resíduos Industriais e Prevenção de

Poluição (EMPP 4)

Engenharia de

Produção,

Sustentabilidade

e

Responsabilidade

Social

Ética e Transparência nas Decisões Organizacionais (SSR1); Governança

Organizacional (SSR 2); Responsabilidade Social Organizacional (SSR3);

Sustentabilidade e Sistemas de Indicadores (SSR 4); Desenvolvimento Sustentável em

Engenharia de Produção (SSR5)

Ergonomia e

Segurança do

Trabalho

Projeto e Organização do Trabalho (ES1); Psicologia do Trabalho (ES2); Biomecânica

Ocupacional (ES3); Projeto e Gestão da Segurança do Trabalho (ES4)

Análise e Prevenção de Riscos de Acidentes (ES5); Ergonomia do Produto (ES6)

Ergonomia dos Processos de Produção (ES7)

Gestão

Econômica

Engenharia Econômica (EM1); Gestão de Custos (EM 2); Gestão Financeira de

Projetos (EM 3); Gestão de Investimentos (EM 4); Gestão de Desempenho de

Sistemas de Produção e Operações (EM5)

Gestão do

Produto

Pesquisa de Mercado (PROD1); Planejamento do Produto (PROD 2); Metodologia de

Projeto do Produto (PROD 3); Engenharia de Produto (PROD 4); Marketing do

Produto (PROD 5)

Pesquisa

Operacional

Programação Matemática (OR1); Decisão Multicriterial (OR 2)

Processos Estocásticos (OR 3); Modelagem, Análise e Simulação (OR 4); Teoria da

Decisão e Teoria dos Jogos (OR 5); Análise de Demandas por Produtos (OR 6)

Gestão do

Conhecimento

Organizacional

Gestão da Inovação (OKM1); Gestão da Tecnologia (OKM 2); Gestão da Informação

de Produção e Operações (OKM 3); Gestão de Projetos (OKM 4)

Gestão do Conhecimento em Sistemas Produtivos (OKM 5)

Educação em

Engenharia de

Produção

Estudo do Ensino de Engenharia de Produção (EPE1); Desenvolvimento e Aplicação

da Pesquisa em Eng. de Produção (EPE2); Estudo da Prática Profissional em

Engenharia de Produção (EPE3)

(Fonte: ABEPRO, 2016)

3. Procedimentos metodológicos

A descrição das etapas realizadas para a execução da pesquisa é apresentada no Quadro 2. A

pesquisa teve início com a definição das questões problemas que direcionaram todo nosso

estudo e foram apresentadas na introdução deste artigo. Na sequência realizou-se a revisão

bibliográfica a fim de gerar maior conhecimento sobre o assunto e verificar a existência ou

não de pesquisas correlatas realizadas por outros autores. Como o assunto estava diretamente

relacionado ao ensino em engenharia, fez-se uma ampla varredura em periódicos

especializados como o International Journal of Educational Engineering e salienta-se que

nenhum deles abordava a temática aqui apresentada, o que vem a demonstrar a originalidade

do tema trabalhado.

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Quadro 2. Etapas desenvolvidas na pesquisa

(Fonte: autores)

Com o intuito de possibilitar a realização da survey, foi estruturado um questionário tomando

por base as grandes áreas da Engenharia de Produção difundidas pela ABEPRO (2016). É

importante notar que para cada um dos tópicos destas subáreas, os alunos questionados

deveriam selecionar o grau de interesse valendo-se de uma escala de 1 a 10, na qual a nota 1

representava um baixo interesse pela subárea e a nota 10 representava grau máximo de

interesse pela subárea. A fim de facilitar a coleta de dados, o questionário foi disponibilizado

aos alunos por meio da ferramenta Google Forms.

A amostra selecionada correspondeu aos alunos da Faculdade de Engenharia Mecânica da

Unicamp que estavam concluindo a disciplina Sistemas Produtivos no ano de 2015. Esta

disciplina possui carga de quatro horas semanais, é ministrada ao longo de um semestre e se

caracteriza como a única disciplina obrigatória com conteúdo de Engenharia de Produção

ofertada aos alunos de Engenharia Mecânica. É importante salientar que alguns outros

conceitos são ministrados em disciplina de Engenharia de Fabricação, mas nestes casos o foco

acaba sendo mais restrito. Quando existe interesse adicional pelos alunos em relação aos

tópicos diretamente ligados à Engenharia de Produção, esta necessidade é sanada por meio da

oferta de disciplinas eletivas. O catálogo dos cursos de graduação da Faculdade de Engenharia

Mecânica da Unicamp apresenta uma boa gama de disciplinas eletivas nesta área, mas sua

oferta não estava conciliada com o levantamento do interesse dos alunos. Ao todo, 97 alunos

em três diferentes turmas participaram da pesquisa.

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A pesquisa ficou à disposição dos alunos por um mês e, na sequência, procedeu-se a tabulação

dos dados e análise estatística. A análise estatística avaliou três pontos principais:

confiabilidade dos dados por meio do coeficiente Alpha de Cronbach, eliminação de pontos

outliers por meio do uso de boxplot e criação de um ranking de interesse das subáreas

utilizando-se a Análise Fatorial Exploratória para único fator. Todas estas análises estatísticas

foram realizadas no software SPSS (Statistical Package for Social Sciences) versão 22.

Segundo Malhotra (2012), o coeficiente Alpha de Cronbach permite verificar a consistência

interna de um conjunto de dados levantados. Um coeficiente acima de 0,70 denota

confiabilidade interna dos dados levantados (HAIR JR et al. 2009).

O boxplot é uma ferramenta gráfica que permite avaliar a simetria dos dados, sua dispersão e

a existência ou não de outliers, sendo especialmente adequado para a comparação de dois ou

mais conjuntos de dados (HAIR JR et al. 2009). Entende-se por pontos outliers aqueles dados

que se encontram muito distante das demais observações de uma série estatística

(MALHOTRA, 2012). Os parâmetros utilizados para a eliminação dos pontos outliers no

SPSS 22 foram: gráficos, gráficos de caixa simples, resumo de variáveis separadas, para

valores ausentes excluir casos por lista.

A Análise Fatorial Exploratória (AFE) permite explorar um conjunto de dados, buscando uma

simplificação das informações apresentadas, ou seja, busca-se uma redução dos números de

fatores a fim de facilitar a análise (MALHOTRA, 2012). De acordo com Hair Jr. et al. (2009),

Filho e Junior (2010) e King (2016), quando a mesma é realizada para um único fator fixo, as

variáveis são classificadas segundo os scores gerados. É importante salientar que os scores

gerados pela AFE apresentam média igual a 0,0 e desvio padrão igual a 1,0 (FILHO e

JUNIOR, 2010). Os parâmetros utilizados para a criação do ranking no SPSS 22 foram os

seguintes: extração pelo método de componentes principais, uso de fatores simples, 25

iterações, método de rotação varimax e método de regressão para os scores.

Realizadas todas as análises estatísticas, partiu-se para o debate dos resultados e definição das

subáreas de maior interesse dos alunos. Tais informações serviram para validar um

procedimento padrão a ser aplicado periodicamente no curso de Engenharia Mecânica da

Unicamp a fim de conhecer os interesses de seus alunos em relação às áreas de Engenharia de

Produção.

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4. Análise dos resultados e proposição de um procedimento para a oferta de disciplinas

eletivas na área de produção.

A apresentação dos resultados seguirá os parâmetros definidos no item procedimentos

metodológicos. Os dados dos 97 questionários coletados foram inicialmente submetidos ao

coeficiente de Alpha de Cronbach, a fim de testar sua consistência interna. Os resultados

obtidos pelo software SPSS 22 demonstram um coeficiente de 0,8930 proporcionando

confiabilidade aos dados levantados. Lembramos mais uma vez que Malhotra (2012) sugere

índices superiores a 0,70.

A eliminação dos pontos outliers foi realizada por meio do boxplot e demonstrou um total de

14 pontos extremos (alunos 4, 5, 8, 10, 30, 34, 59, 71, 74, 77, 78, 79, 83 e 92). É importante

salientar que neste momento existia a possibilidade de se eliminar somente os dados nas

respectivas questões e substituí-los pelas médias ou optar pela eliminação completa dos

respondentes. Mediante ao fato de existir uma amostra considerável e acreditar que esses

pontos outliers poderiam prejudicar a amostra de outras formas, os autores deste artigo

optaram pela eliminação completa dos 14 pontos, o que conduziu a amostra a 83 questionários

válidos. A Figura 1 apresenta o boxplot no qual são destacados os pontos outliers.

Figura 1. Eliminação dos pontos outliers por boxplot

(Fonte: autores)

As respostas atribuídas pelos 83 questionários válidos foram submetidas na sequência a

Análise Fatorial Exploratória para um único fator, gerando scores com média igual a 0,0 e

desvio padrão igual a 1,0. Estes scores foram utilizados para ordenar as subáreas da

Engenharia de Produção segundo o interesse dos alunos participantes da pesquisa. O Quadro

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3 apresenta as 59 subáreas já ordenadas seguindo o grau de interesse dos alunos. Vide Quadro

1 para siglas utilizadas.

Quadro 3. Subáreas da Engenharia de Produção ordenadas pela AFE unifatorial

(Fonte: autores)

Como se pode observar por meio do Quadro 3, as dez subáreas de maior interesse estão

associadas às áreas de Gestão Econômica (4 itens: Engenharia Econômica - EM1; Gestão de

Investimentos - EM 4; Gestão de Custos - EM 2 e Gestão Financeira de Projetos - EM 3),

Gestão do Conhecimento Organizacional (3 itens: Gestão da Inovação - OKM1, Gestão da

Tecnologia - OKM 2e Gestão de Projetos - OKM 4), Gestão da Produção (2 itens:

Planejamento e Controle da Produção - PM3 e Gestão de Sistemas da Produção - PM1) e

Pesquisa Operacional (Decisão e Teoria dos Jogos - OR 5).

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Estes temas não são trabalhados em profundidade no curso de Engenharia Mecânica da

Unicamp e talvez os alunos da disciplina Sistemas Produtivos sintam necessidades deste

aprofundamento. Aliás, a referida disciplina encontra-se alocada em um semestre no qual

muitos alunos começam a estagiar em empresas da região e isto pode influenciar as escolhas

dando maior maturidade às mesmas.

Atualmente o catálogo do curso de graduação em Engenharia Mecânica da Unicamp conta

com disciplinas eletivas com conteúdo formalmente definido e outras de tópicos, cuja ementa

traz a seguinte denominação “abordagem mais ampla ou profunda de um assunto particular de

Engenharia na área de Produção”. Essa disciplina é designada pela sigla EM999 e pode ser

utilizada para atender os interesses dos alunos nos tópicos mencionados anteriormente. Assim,

para os próximos semestres, a oferta de disciplinas eletivas na área de Engenharia de

Produção poderia focar conteúdos como “Disciplina 1: Teoria dos Jogos”, “Disciplina 2:

Inovação e Tecnologia em Projetos de Processos Produtivos” e “Disciplina 3: Gestão

Econômica de Processos Produtivos”.

Ao se analisar as dez subáreas de menor interesse, também foi possível estabelecer conclusões

interessantes. Verifica-se um destaque negativo para a área Ergonomia e Segurança do

Trabalho (todos os itens, pela ordem ES1, ES2, ES6, ES3, ES5, ES7 e ES4) e Gestão da

Qualidade (dois itens, pela ordem QM 2 e QM 3). O coordenador do curso deve-se questionar

o porquê deste baixo interesse pelas áreas de ergonomia e tópicos de certificação e

metrologia, se o ocorrido é devido somente a uma questão de aptidão dos alunos ou se

existem problemas de didática na abordagem destes conteúdos. É notória para qualquer

pesquisador na área de Engenharia de Produção a importância destas temáticas e talvez seja

necessário reforçar ao longo de toda a graduação a importância das mesmas para a Engenharia

de Produção.

Assim, com base no estudo realizado junto aos alunos da disciplina de Sistemas Produtivos e

a consistência das informações obtidas, os autores deste artigo propõem um procedimento

como forma de determinar o interesse dos alunos em temas da área de Engenharia de

Produção e definir estratégias para a oferta de disciplinas eletivas e análises críticas. Este

procedimento é apresentado pelo quadro 4.

Quadro 4. Procedimento sugerido para determinar o interesse dos alunos nas áreas de

Engenharia de Produção.

Nº Etapas

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1 Realização de uma survey tomando por base questionário com as áreas e subáreas da

Engenharia de Produção difundidas pela ABEPRO (2016).

2 Tabulação dos dados e análise da confiabilidade interna por meio do coeficiente Alpha de

Cronbach.

3 Eliminação de pontos outliers por meio da utilização de boxplot.

4 Ordenação das subáreas da Engenharia de Produção por meio dos scores gerados pela

Análise Fatorial Exploratória para um único fator.

5 Análise das subáreas com melhor pontuação, verificação do conjunto de disciplinas eletivas

existente com o referido conteúdo ou proposição de disciplinas de tópicos (EM999).

6 Análise das subáreas de menor interesse, procurando verificar realmente se os índices são

decorrentes apenas do “desinteresse” dos alunos ou de problemas de didática ao longo da

graduação.

7 Oferta das disciplinas eletivas e proposição de melhorias no curso, caso seja necessário.

(Fonte: autores)

5. Conclusão

Com base nos resultados observados, pode-se concluir que o procedimento apresentado por

esse artigo é eficaz para a determinação do conteúdo das disciplinas eletivas na área de

Engenharia de Produção a serem ofertadas aos alunos de Engenharia Mecânica da Unicamp.

Tal procedimento possibilitou determinar que os principais interesses dos alunos que

cursaram a disciplina Sistemas Produtivos (EM733) em 2015 estão relacionados às áreas de

Gestão Econômica, Gestão do Conhecimento Organizacional, Gestão da Produção e Pesquisa

Operacional. Tomando por base essas informações, o coordenador do curso pode realizar uma

melhor projeção da oferta de disciplinas eletivas para os próximos semestres.

De forma complementar, o procedimento proposto também possibilitou identificar os tópicos

de menor interesse dos alunos, que no caso da amostra analisada, reside nas áreas de

Ergonomia e Segurança no Trabalho, Gestão da Qualidade e Metrologia. Cabe ao

coordenador do curso de graduação verificar se tal desinteresse é decorrente do

comportamento dos alunos ou se há problemas relacionados à didática.

Este procedimento foi implantado pela primeira vez no curso de Engenharia Mecânica da

Unicamp no ano de 2015 e tais informações serão aperfeiçoadas com o passar do tempo. Com

a repetição periódica deste procedimento espera-se criar um banco de dados com informações

que poderão ser utilizadas para diferentes fins além do já mencionado, como realização de

eventos ou até mesmo reestruturação da grade curricular. Responde-se assim aos problemas

de pesquisa e salienta-se que, com devidas adequações no questionário, tal procedimento pode

ser utilizado dentro de qualquer curso de engenharia.

Como proposta de novas pesquisas sugere-se a aplicação da mesma sistemática em outras

situações envolvendo definições de disciplinas eletivas em cursos diversos. Outra pesquisa a

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ser proposta seria a comparação desta sistemática de análise e de apoio à tomada de decisão

por gestores de cursos de graduação com outras diretrizes sistemáticas.

6. Referências ABEPRO. Associação Brasileira de Engenharia de Produção. Disponível em http://www.abepro.org.br. Acesso

em 12 abril 2016.

Adams, R. et al. Multiple Perspectives on Engaging Future Engineers. Journal of Engineering Education. v.

100, nº 1, p. 48-88, 2011.

Allie, S.; Armien, M.N.; Bennie, K.; Burgoyne, N.; Case, J.; Craig, T.; Wolmarans, N. Learning as acquiring a

discursive identity through participation in a community: A theoretical position on improving student learning in

tertiary science and engineering programmes: Cape Town, South Africa: Centre for Research in Engineering

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