determinaÇÃo da oferta de disciplinas eletivas de...
TRANSCRIPT
DETERMINAÇÃO DA OFERTA DE
DISCIPLINAS ELETIVAS DE
ENGENHARIA DE PRODUÇÃO EM
CURSOS DE ENGENHARIA MECÂNICA:
UTILIZAÇÃO DE SURVEY E ANÁLISES
ESTATÍSTICAS.
Rosley Anholon (Unicamp )
Robert Eduardo Cooper Ordonez (Unicamp )
Osvaldo Luis Goncalves Quelhas (UFF )
Dirceu da Silva (Unicamp )
As disciplinas eletivas estão presentes na maioria dos cursos de
engenharia ofertados no Brasil e possibilitam aos alunos dos referidos
cursos aprofundar conhecimentos em áreas de maior interesse.
Entretanto, uma das maiores dificuldades obbservadas pelas
instituições de ensino superior brasileiras é justamente como
determinar a oferta destas disciplinas conciliando o interesse dos
alunos e as restrições existentes. O estudo descrito por este artigo visa
apresentar um procedimento de análise e definição de disciplinas
eletivas de engenharia de produção para cursos de engenharia
mecânica, valendo-se da técnica de survey e análise estatística dos
dados. Tal procedimento foi implantado pela primeira vez na
Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Estadual de
Campinas e demonstrou ser eficiente. Para esta análise em particular,
os resultados evidenciaram que as temáticas de maior interesse para a
oferta de disciplinas eletivas estão relacionadas à gestão econômica,
gestão do conhecimento organizacional, aprofundamentos em gestão
da produção e tópicos de pesquisa operacional. Com algumas
adaptações, os autores deste artigo acreditam que tal procedimento
poder ser utilizado por qualquer gestor de curso de graduação visando
a tomada de decisões.
Palavras-chave: ensino em engenharia, produção, disciplinas eletivas,
apoio a tomada de decisão para gestores de cursos de graduação.
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .
2
1. Introdução
Ao analisar as grades curriculares de cursos de engenharia credenciados no Brasil, é notória a
existências de um grupo de disciplinas intituladas “disciplinas eletivas, optativas ou livres”.
Segundo Ministério da Educação (2016), uma disciplina recebe essa denominação quando sua
opção de curso se dá pela livre escolha do aluno, frente a um conjunto de disciplinas ofertadas
periodicamente. Seu principal objetivo é a formação complementar do aluno em relação a
seus interesses e, em outras situações, apresentar temas de extrema relevância para a formação
dos alunos que não foram contemplados na estruturação das matrizes curriculares.
A situação idealizada por qualquer coordenador de curso de graduação em engenharia seria a
oferta de uma ampla quantidade de disciplinas eletivas ou optativas em diferentes áreas, a fim
de satisfazer o interesse da maior parte de seus alunos, mas como é notória, a realidade em
geral se faz bem diferente, com restrições orçamentárias e/ou disponibilidades de professores
que restringem essa ampla oferta. Surge assim, mediante esta realidade, o questionamento de
como conciliar estas restrições com a oferta de disciplinas eletivas que sejam bem
direcionadas a aquilo que é de interesse dos alunos (JESSICA, 1997).
Esse questionamento pode ser feito para qualquer grande área de qualquer curso de
engenharia, mas neste artigo em especial, os autores procuram focar o interesse dos alunos de
Engenharia Mecânica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) por disciplinas
eletivas na área de Engenharia de Produção. É importante salientar que ao longo de todo o
curso, os referidos alunos possuem apenas uma disciplina obrigatória diretamente relacionada
à Engenharia da Produção denominada Sistemas Produtivos (EM733) e caso queiram
complementar seus estudos, isso deve ser feito por meio de disciplinas eletivas. Outras
disciplinas da área de Engenharia de Fabricação apenas tangenciam as temáticas de produção.
Mediante ao exposto, esse artigo pretende responder a dois problemas de pesquisa: 1) Quais
são os principais interesses dos alunos de Engenharia Mecânica da Unicamp em relação aos
temas de Engenharia de Produção para a oferta de disciplinas eletivas? 2) É possível
estruturar um procedimento padrão para o levantamento destas informações periodicamente?
A partir destes problemas de pesquisa, desprendem-se os seguintes objetivos: 1) realizar uma
survey junto aos alunos que cursam a disciplina Sistemas Produtivos (EM 733) visando
definir as temáticas de maior interesse; 2) encontrar as ferramentas estatísticas mais
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .
3
adequadas a fim de validar os dados e ordená-los segundo o interesse dos alunos; 3) usar essas
informações na oferta de disciplinas eletivas; 4) em caso de sucesso, validar o procedimento a
ser utilizado periodicamente com o referido fim.
2. Revisão da Literatura
2.1 Ensino em Engenharia
Quando analisada a literatura específica sobre ensino em engenharia, muitos são os artigos
que apontam a maior necessidade de pesquisas nesta temática, a fim de entender as mudanças
e novas maneiras na capacitação de novos engenheiros. Borrego e Bernhard (2011) acreditam
que este campo de pesquisa deve ganhar fóruns internacionais de discussão devido sua
importância e as instituições educacionais precisam desenvolver uma rede para troca de suas
experiências.
Segundo Rizkalla et al. (2000) e Adams et al. (2011), as discussões sobre formas eficazes para
a formação dos engenheiros devem ser debatidas todos os dias pelos professores de
engenharia, mas infelizmente este debate ainda está em um nível abaixo do ideal. A formação
do novo engenheiro deve ser orientada por questões como a epistemologia, a justiça social, a
formação multidisciplinar, liderança e maior espaço para inovação (FROYD e OHLAND,
2008; ADAMS et al. 2011; STEPHENS et al. 2015). Coordenadores de cursos de engenharia
precisam usar uma abordagem mais ampla para escutar as necessidades do mercado e os
interesses dos alunos (BORREGO e BERNHARD, 2011). Para Allie et al. (2007), os alunos
de cursos de engenharia trazem consigo uma gama de identidade própria e aspirações que têm
implicações para o ensino e precisam ser identificados, analisados e explorados para permitir
a melhor capacitação.
Claramente, as necessidades do mercado e os interesses dos alunos podem ser diferentes
dependendo da região ou país em que o curso de engenharia é oferecido. Este aspecto é
destacado por Lucena et al. (2008) em seu estudo, ao analisar as mudanças ocorridas nos
cursos de engenharia nos Estados Unidos, Europa e América Latina nos últimos anos. Para
estes autores, a formação de engenheiros nos Estados Unidos abrange competências mais
globais, enquanto a formação de engenheiros na Europa e na América Latina aborda
habilidades focadas em necessidades regionais. Streiner et al. (2015) também realizaram um
estudo muito interessante sobre as competências exigidas pelas empresas e como os cursos de
engenharia podem contemplá-las.
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .
4
Em relação aos métodos de pesquisa utilizados na área de educação em engenharia, Borrego
et al. (2013) salientam que ambos os métodos quantitativos e qualitativos podem ser úteis,
desde que haja um alinhamento perfeito entre o problema de pesquisa a ser respondido e os
objetivos desenvolvidos.
Analisando-se a revisão da literatura, é possível notar que estudo desenvolvido por este artigo,
a fim de determinar a oferta de disciplinas eletivas de Engenharia de Produção em cursos de
Engenharia Mecânica por meio do uso de survey e técnicas estatísticas, tem relevância para a
engenharia educacional e que seus resultados podem ser compartilhados com outras
instituições.
2.2 Grandes áreas da Engenharia de Produção
Ao se analisar a literatura sobre Engenharia de Produção, muitas são as temáticas plausíveis
de serem trabalhadas dentro da mesma. Por mais que diferentes autores [ROSEN, 1999;
SLACK et al. 2009; CORRÊA e CORRÊA, 2013; RAY e BHASKARAN, 2013;
VOSNIAKOS, 2015] façam a classificação das áreas com diferentes números de constructos,
todas as subáreas abordadas acabam sendo as mesmas. Como exemplo típico desta situação,
pode-se mencionar a área Qualidade, que para alguns autores pode incluir além de suas
temáticas tradicionais fatores associados à gestão ambiental, saúde e segurança no trabalho e
ergonomia (Slack et al. 2009).
Como forma de definir uma classificação única, os autores deste artigo optaram por utilizar a
classificação difundida pela Associação Brasileira de Engenharia de Produção (ABEPRO,
2016). A opção pela utilização desta classificação se deu pelo fato da mesma ser a mais
respeitada no Brasil e estar em acordo com outras associações internacionais de renome. Cada
uma das onze grandes áreas possui subáreas com tópicos específicos, como demonstra o
Quadro 1. Aproveita-se o mesmo quadro para definir as siglas por meio dos quais as subáreas
serão tratadas na análise estatística.
Quadro 1. Grande área e subáreas da Engenharia da Produção
Nº Etapas
Gestão da
Produção
Gestão de Sistemas da Produção (PM1); Engenharia de Métodos (PM 2);
Planejamento e Controle da Produção (PM 3); Logística e Gestão da Cadeia de
Suprimentos e Distribuição (PM 4); Projeto de Fábrica e de Instalações Industriais
(PM 5); Gestão da Manutenção (PM 6); Simulação da Produção (PM7); Gestão de
Processos Produtivos (PM 8); Gestão de Operações e Serviços (PM 9)
Gestão
Estratégica e
Planejamento Estratégico e Operacional da Estrutura Organizacional (SMO1);
Estratégias de Produção (SMO 2); Organização Industrial (SMO 3); Gestão e
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .
5
Organizacional Estratégia de Mercados e Produtos (SMO 4); Redes de Empresas e Gestão da Cadeia
Produtiva (SMO 5)
Gestão da
Qualidade
Controle Estatístico da Qualidade (QM1); Normalização e Certificação para a
Qualidade (QM 2); Organização Metrológica da Qualidade (QM 3); Confiabilidade de
Processos e Produtos (QM 4); Qualidade em Serviços (QM 5)
Gestão
Ambiental dos
Processos
Produtivos
Gestão de Recursos Naturais (EMPP1); Gestão Energética (EMPP 2); Produção mais
Limpa e Ecoeficiência (EMPP 3); Gestão de Resíduos Industriais e Prevenção de
Poluição (EMPP 4)
Engenharia de
Produção,
Sustentabilidade
e
Responsabilidade
Social
Ética e Transparência nas Decisões Organizacionais (SSR1); Governança
Organizacional (SSR 2); Responsabilidade Social Organizacional (SSR3);
Sustentabilidade e Sistemas de Indicadores (SSR 4); Desenvolvimento Sustentável em
Engenharia de Produção (SSR5)
Ergonomia e
Segurança do
Trabalho
Projeto e Organização do Trabalho (ES1); Psicologia do Trabalho (ES2); Biomecânica
Ocupacional (ES3); Projeto e Gestão da Segurança do Trabalho (ES4)
Análise e Prevenção de Riscos de Acidentes (ES5); Ergonomia do Produto (ES6)
Ergonomia dos Processos de Produção (ES7)
Gestão
Econômica
Engenharia Econômica (EM1); Gestão de Custos (EM 2); Gestão Financeira de
Projetos (EM 3); Gestão de Investimentos (EM 4); Gestão de Desempenho de
Sistemas de Produção e Operações (EM5)
Gestão do
Produto
Pesquisa de Mercado (PROD1); Planejamento do Produto (PROD 2); Metodologia de
Projeto do Produto (PROD 3); Engenharia de Produto (PROD 4); Marketing do
Produto (PROD 5)
Pesquisa
Operacional
Programação Matemática (OR1); Decisão Multicriterial (OR 2)
Processos Estocásticos (OR 3); Modelagem, Análise e Simulação (OR 4); Teoria da
Decisão e Teoria dos Jogos (OR 5); Análise de Demandas por Produtos (OR 6)
Gestão do
Conhecimento
Organizacional
Gestão da Inovação (OKM1); Gestão da Tecnologia (OKM 2); Gestão da Informação
de Produção e Operações (OKM 3); Gestão de Projetos (OKM 4)
Gestão do Conhecimento em Sistemas Produtivos (OKM 5)
Educação em
Engenharia de
Produção
Estudo do Ensino de Engenharia de Produção (EPE1); Desenvolvimento e Aplicação
da Pesquisa em Eng. de Produção (EPE2); Estudo da Prática Profissional em
Engenharia de Produção (EPE3)
(Fonte: ABEPRO, 2016)
3. Procedimentos metodológicos
A descrição das etapas realizadas para a execução da pesquisa é apresentada no Quadro 2. A
pesquisa teve início com a definição das questões problemas que direcionaram todo nosso
estudo e foram apresentadas na introdução deste artigo. Na sequência realizou-se a revisão
bibliográfica a fim de gerar maior conhecimento sobre o assunto e verificar a existência ou
não de pesquisas correlatas realizadas por outros autores. Como o assunto estava diretamente
relacionado ao ensino em engenharia, fez-se uma ampla varredura em periódicos
especializados como o International Journal of Educational Engineering e salienta-se que
nenhum deles abordava a temática aqui apresentada, o que vem a demonstrar a originalidade
do tema trabalhado.
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .
6
Quadro 2. Etapas desenvolvidas na pesquisa
(Fonte: autores)
Com o intuito de possibilitar a realização da survey, foi estruturado um questionário tomando
por base as grandes áreas da Engenharia de Produção difundidas pela ABEPRO (2016). É
importante notar que para cada um dos tópicos destas subáreas, os alunos questionados
deveriam selecionar o grau de interesse valendo-se de uma escala de 1 a 10, na qual a nota 1
representava um baixo interesse pela subárea e a nota 10 representava grau máximo de
interesse pela subárea. A fim de facilitar a coleta de dados, o questionário foi disponibilizado
aos alunos por meio da ferramenta Google Forms.
A amostra selecionada correspondeu aos alunos da Faculdade de Engenharia Mecânica da
Unicamp que estavam concluindo a disciplina Sistemas Produtivos no ano de 2015. Esta
disciplina possui carga de quatro horas semanais, é ministrada ao longo de um semestre e se
caracteriza como a única disciplina obrigatória com conteúdo de Engenharia de Produção
ofertada aos alunos de Engenharia Mecânica. É importante salientar que alguns outros
conceitos são ministrados em disciplina de Engenharia de Fabricação, mas nestes casos o foco
acaba sendo mais restrito. Quando existe interesse adicional pelos alunos em relação aos
tópicos diretamente ligados à Engenharia de Produção, esta necessidade é sanada por meio da
oferta de disciplinas eletivas. O catálogo dos cursos de graduação da Faculdade de Engenharia
Mecânica da Unicamp apresenta uma boa gama de disciplinas eletivas nesta área, mas sua
oferta não estava conciliada com o levantamento do interesse dos alunos. Ao todo, 97 alunos
em três diferentes turmas participaram da pesquisa.
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .
7
A pesquisa ficou à disposição dos alunos por um mês e, na sequência, procedeu-se a tabulação
dos dados e análise estatística. A análise estatística avaliou três pontos principais:
confiabilidade dos dados por meio do coeficiente Alpha de Cronbach, eliminação de pontos
outliers por meio do uso de boxplot e criação de um ranking de interesse das subáreas
utilizando-se a Análise Fatorial Exploratória para único fator. Todas estas análises estatísticas
foram realizadas no software SPSS (Statistical Package for Social Sciences) versão 22.
Segundo Malhotra (2012), o coeficiente Alpha de Cronbach permite verificar a consistência
interna de um conjunto de dados levantados. Um coeficiente acima de 0,70 denota
confiabilidade interna dos dados levantados (HAIR JR et al. 2009).
O boxplot é uma ferramenta gráfica que permite avaliar a simetria dos dados, sua dispersão e
a existência ou não de outliers, sendo especialmente adequado para a comparação de dois ou
mais conjuntos de dados (HAIR JR et al. 2009). Entende-se por pontos outliers aqueles dados
que se encontram muito distante das demais observações de uma série estatística
(MALHOTRA, 2012). Os parâmetros utilizados para a eliminação dos pontos outliers no
SPSS 22 foram: gráficos, gráficos de caixa simples, resumo de variáveis separadas, para
valores ausentes excluir casos por lista.
A Análise Fatorial Exploratória (AFE) permite explorar um conjunto de dados, buscando uma
simplificação das informações apresentadas, ou seja, busca-se uma redução dos números de
fatores a fim de facilitar a análise (MALHOTRA, 2012). De acordo com Hair Jr. et al. (2009),
Filho e Junior (2010) e King (2016), quando a mesma é realizada para um único fator fixo, as
variáveis são classificadas segundo os scores gerados. É importante salientar que os scores
gerados pela AFE apresentam média igual a 0,0 e desvio padrão igual a 1,0 (FILHO e
JUNIOR, 2010). Os parâmetros utilizados para a criação do ranking no SPSS 22 foram os
seguintes: extração pelo método de componentes principais, uso de fatores simples, 25
iterações, método de rotação varimax e método de regressão para os scores.
Realizadas todas as análises estatísticas, partiu-se para o debate dos resultados e definição das
subáreas de maior interesse dos alunos. Tais informações serviram para validar um
procedimento padrão a ser aplicado periodicamente no curso de Engenharia Mecânica da
Unicamp a fim de conhecer os interesses de seus alunos em relação às áreas de Engenharia de
Produção.
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .
8
4. Análise dos resultados e proposição de um procedimento para a oferta de disciplinas
eletivas na área de produção.
A apresentação dos resultados seguirá os parâmetros definidos no item procedimentos
metodológicos. Os dados dos 97 questionários coletados foram inicialmente submetidos ao
coeficiente de Alpha de Cronbach, a fim de testar sua consistência interna. Os resultados
obtidos pelo software SPSS 22 demonstram um coeficiente de 0,8930 proporcionando
confiabilidade aos dados levantados. Lembramos mais uma vez que Malhotra (2012) sugere
índices superiores a 0,70.
A eliminação dos pontos outliers foi realizada por meio do boxplot e demonstrou um total de
14 pontos extremos (alunos 4, 5, 8, 10, 30, 34, 59, 71, 74, 77, 78, 79, 83 e 92). É importante
salientar que neste momento existia a possibilidade de se eliminar somente os dados nas
respectivas questões e substituí-los pelas médias ou optar pela eliminação completa dos
respondentes. Mediante ao fato de existir uma amostra considerável e acreditar que esses
pontos outliers poderiam prejudicar a amostra de outras formas, os autores deste artigo
optaram pela eliminação completa dos 14 pontos, o que conduziu a amostra a 83 questionários
válidos. A Figura 1 apresenta o boxplot no qual são destacados os pontos outliers.
Figura 1. Eliminação dos pontos outliers por boxplot
(Fonte: autores)
As respostas atribuídas pelos 83 questionários válidos foram submetidas na sequência a
Análise Fatorial Exploratória para um único fator, gerando scores com média igual a 0,0 e
desvio padrão igual a 1,0. Estes scores foram utilizados para ordenar as subáreas da
Engenharia de Produção segundo o interesse dos alunos participantes da pesquisa. O Quadro
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .
9
3 apresenta as 59 subáreas já ordenadas seguindo o grau de interesse dos alunos. Vide Quadro
1 para siglas utilizadas.
Quadro 3. Subáreas da Engenharia de Produção ordenadas pela AFE unifatorial
(Fonte: autores)
Como se pode observar por meio do Quadro 3, as dez subáreas de maior interesse estão
associadas às áreas de Gestão Econômica (4 itens: Engenharia Econômica - EM1; Gestão de
Investimentos - EM 4; Gestão de Custos - EM 2 e Gestão Financeira de Projetos - EM 3),
Gestão do Conhecimento Organizacional (3 itens: Gestão da Inovação - OKM1, Gestão da
Tecnologia - OKM 2e Gestão de Projetos - OKM 4), Gestão da Produção (2 itens:
Planejamento e Controle da Produção - PM3 e Gestão de Sistemas da Produção - PM1) e
Pesquisa Operacional (Decisão e Teoria dos Jogos - OR 5).
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .
10
Estes temas não são trabalhados em profundidade no curso de Engenharia Mecânica da
Unicamp e talvez os alunos da disciplina Sistemas Produtivos sintam necessidades deste
aprofundamento. Aliás, a referida disciplina encontra-se alocada em um semestre no qual
muitos alunos começam a estagiar em empresas da região e isto pode influenciar as escolhas
dando maior maturidade às mesmas.
Atualmente o catálogo do curso de graduação em Engenharia Mecânica da Unicamp conta
com disciplinas eletivas com conteúdo formalmente definido e outras de tópicos, cuja ementa
traz a seguinte denominação “abordagem mais ampla ou profunda de um assunto particular de
Engenharia na área de Produção”. Essa disciplina é designada pela sigla EM999 e pode ser
utilizada para atender os interesses dos alunos nos tópicos mencionados anteriormente. Assim,
para os próximos semestres, a oferta de disciplinas eletivas na área de Engenharia de
Produção poderia focar conteúdos como “Disciplina 1: Teoria dos Jogos”, “Disciplina 2:
Inovação e Tecnologia em Projetos de Processos Produtivos” e “Disciplina 3: Gestão
Econômica de Processos Produtivos”.
Ao se analisar as dez subáreas de menor interesse, também foi possível estabelecer conclusões
interessantes. Verifica-se um destaque negativo para a área Ergonomia e Segurança do
Trabalho (todos os itens, pela ordem ES1, ES2, ES6, ES3, ES5, ES7 e ES4) e Gestão da
Qualidade (dois itens, pela ordem QM 2 e QM 3). O coordenador do curso deve-se questionar
o porquê deste baixo interesse pelas áreas de ergonomia e tópicos de certificação e
metrologia, se o ocorrido é devido somente a uma questão de aptidão dos alunos ou se
existem problemas de didática na abordagem destes conteúdos. É notória para qualquer
pesquisador na área de Engenharia de Produção a importância destas temáticas e talvez seja
necessário reforçar ao longo de toda a graduação a importância das mesmas para a Engenharia
de Produção.
Assim, com base no estudo realizado junto aos alunos da disciplina de Sistemas Produtivos e
a consistência das informações obtidas, os autores deste artigo propõem um procedimento
como forma de determinar o interesse dos alunos em temas da área de Engenharia de
Produção e definir estratégias para a oferta de disciplinas eletivas e análises críticas. Este
procedimento é apresentado pelo quadro 4.
Quadro 4. Procedimento sugerido para determinar o interesse dos alunos nas áreas de
Engenharia de Produção.
Nº Etapas
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .
11
1 Realização de uma survey tomando por base questionário com as áreas e subáreas da
Engenharia de Produção difundidas pela ABEPRO (2016).
2 Tabulação dos dados e análise da confiabilidade interna por meio do coeficiente Alpha de
Cronbach.
3 Eliminação de pontos outliers por meio da utilização de boxplot.
4 Ordenação das subáreas da Engenharia de Produção por meio dos scores gerados pela
Análise Fatorial Exploratória para um único fator.
5 Análise das subáreas com melhor pontuação, verificação do conjunto de disciplinas eletivas
existente com o referido conteúdo ou proposição de disciplinas de tópicos (EM999).
6 Análise das subáreas de menor interesse, procurando verificar realmente se os índices são
decorrentes apenas do “desinteresse” dos alunos ou de problemas de didática ao longo da
graduação.
7 Oferta das disciplinas eletivas e proposição de melhorias no curso, caso seja necessário.
(Fonte: autores)
5. Conclusão
Com base nos resultados observados, pode-se concluir que o procedimento apresentado por
esse artigo é eficaz para a determinação do conteúdo das disciplinas eletivas na área de
Engenharia de Produção a serem ofertadas aos alunos de Engenharia Mecânica da Unicamp.
Tal procedimento possibilitou determinar que os principais interesses dos alunos que
cursaram a disciplina Sistemas Produtivos (EM733) em 2015 estão relacionados às áreas de
Gestão Econômica, Gestão do Conhecimento Organizacional, Gestão da Produção e Pesquisa
Operacional. Tomando por base essas informações, o coordenador do curso pode realizar uma
melhor projeção da oferta de disciplinas eletivas para os próximos semestres.
De forma complementar, o procedimento proposto também possibilitou identificar os tópicos
de menor interesse dos alunos, que no caso da amostra analisada, reside nas áreas de
Ergonomia e Segurança no Trabalho, Gestão da Qualidade e Metrologia. Cabe ao
coordenador do curso de graduação verificar se tal desinteresse é decorrente do
comportamento dos alunos ou se há problemas relacionados à didática.
Este procedimento foi implantado pela primeira vez no curso de Engenharia Mecânica da
Unicamp no ano de 2015 e tais informações serão aperfeiçoadas com o passar do tempo. Com
a repetição periódica deste procedimento espera-se criar um banco de dados com informações
que poderão ser utilizadas para diferentes fins além do já mencionado, como realização de
eventos ou até mesmo reestruturação da grade curricular. Responde-se assim aos problemas
de pesquisa e salienta-se que, com devidas adequações no questionário, tal procedimento pode
ser utilizado dentro de qualquer curso de engenharia.
Como proposta de novas pesquisas sugere-se a aplicação da mesma sistemática em outras
situações envolvendo definições de disciplinas eletivas em cursos diversos. Outra pesquisa a
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .
12
ser proposta seria a comparação desta sistemática de análise e de apoio à tomada de decisão
por gestores de cursos de graduação com outras diretrizes sistemáticas.
6. Referências ABEPRO. Associação Brasileira de Engenharia de Produção. Disponível em http://www.abepro.org.br. Acesso
em 12 abril 2016.
Adams, R. et al. Multiple Perspectives on Engaging Future Engineers. Journal of Engineering Education. v.
100, nº 1, p. 48-88, 2011.
Allie, S.; Armien, M.N.; Bennie, K.; Burgoyne, N.; Case, J.; Craig, T.; Wolmarans, N. Learning as acquiring a
discursive identity through participation in a community: A theoretical position on improving student learning in
tertiary science and engineering programmes: Cape Town, South Africa: Centre for Research in Engineering
Education (CREE), University of Cape Town, 2007.
Borrego, M.; Bernhard, J. The Emergence of Engineering Education Research as an Internationally Connected
Field of Inquiry. Journal of Engineering Education. V. 100, nº 1, p. 14-47, 2011.
Borrego, M.; Douglas, E.P.; Amelink, C.T. Quantitative, Qualitative, and Mixed Research Methods in
Engineering Education. Journal of Engineering Education, v. 98, nº 1, p. 53-66, 2013.
Corrêa, H.L; Corrêa, C.A. Administração de Produção e Operações. Manufatura e serviços: uma abordagem
estratégica. Editora Atlas, São Paulo, 2013.
Filho, D.B.F.; Junior, J.A.S. Visão além do alcance: uma introdução à análise fatorial. Opinião Pública. v.16, nº
1, p. 160-185. 2010.
Froyd, J.E; Ohland, M.W. Integrated Engineering Curricula. Journal of Engineering Education. p. 147-164,
2008.
Hair Jr, J.F. Black, W.C.; Babin, B.J.; Anderson, R.E.; Atham, R. Análise Multivariada de Dados. Editora
Bookman Porto Alegre, 2009.
Jessica, N.G. Should Law be Introduced into the Engineering Curriculum? International Journal of
Educational Engineering. v. 11, nº 1, p. 72-78, 1997.
King, G. How not to lie with statistics. NY University. Disponível em http://gking.harvard.edu/files/mist.pdf.
Acesso 14 de janeiro 2016.
Lucena, J.; Downey, G.; Jesiek, B.; Sharon, E. Competencies Beyond Countries: The Re-Organization of
Engineering Education in the United States, Europe, and Latin America. Journal of Engineering Education, p.
1-15, 2008.
Malhotra, N. Pesquisa de Marketing: uma orientação aplicada. Bookman, Porto Alegre, 2012.
Ministério da Educação. Site do Ministério da Educação. Disponível em http://www.mec.gov.br. Acesso em 14
abril 2016.
Ray, B.; Bhaskaran, R. Integrating simulation into the engineering curriculum: a case study. International
Journal of Mechanical Engineering Education, v. 41, nº 3, 2013.
Rizkalla, M.E.; Yokomoto, C.H.; Pfile, R.; Sinha, A.S.C.; El-Sharkawy,M.; Lyashevskiy, S; Needler, M. A New
Approach for an Interdisciplinary Senior Elective for Electrical Engineering and Electrical Engineering
Technology Majors in Electric Vehicle Applications. International Journal of Educational Engineering. v.
16, nº 4, p. 351-361, 2000.
Rosen, M.A. Teaching the environmental impact of industrial processes. International Journal of Mechanical
Engineering Education, v. 29, nº1, 1999.
Slack, N.; Chambers, S.; Johnston, R. Administração da produção. São Paulo, Editora Atlas, 2009.
Stephens, C. M; Rosch, D.M. Building Leaders: A National Examination of the Leadership Capacities within
Engineering Undergraduate Student. International Journal of Educational Engineering. v. 31, nº 4, 2015.
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .
13
Streiner, S. C.; Vila-Parrish, A.R.; Warnick, G.M. An Exploratory Study of Global Competencies Considered by
Multinational Companies: A Hiring Perspective. International Journal of Educational Engineering v. 31, nº
5, 2015.
Vosniakos, G.C. Teaching manufacturing systems integration through data modelling and network exchange
simulation. International Journal of Mechanical Engineering Education, v, 31, nº 2, 2015.