destinada À sepultura

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SEUS SONHOS SOMBRIOS A COLOCARAM EM PERIGO MORTAL Desde que a mestiça Cat Craw eld e seu amante vampiro se conheceram, há seis anos, já enfrentaram mortos-vivos trapaceiros, combateram um vampiro Master vingativo e celebraram sua devoção mútua com a união pelo sangue. Agora merecem um descanso. Mas sua esperança de uma viagem perfeita a Paris é abalada quando, certa noite, Cat acorda aterrorizada. Ela tem visões com um vampiro chamado Gregor, ainda mais poderoso que Bones, que afirma ter laços com Cat no passado, laços que ela própria desconhece. Na batalha iminente entre o vampiro que assombra seus pesadelos e aquele que tem seu coração, Cat vai precisar de todo o poder que puder convocar para destruir o pior sanguessuga que já enfrentou... Mesmo que obter esse poder resulte numa “ida à sepultura”.

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Destinada à Sepultura

Série Night Huntress

Jeaniene Frost

S ã o P a u l o 2012

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Prólogo

O braço de Bones envolvia minha cintura, prendendo-me junto a ele. Quanto mais eu me contorcia, mais meu vestido subia, puxado por suas mãos. De repente, o penetrar súbito de suas presas em meu pescoço me fez congelar. Bones produziu um murmúrio suave de prazer.

– Ah, Gatinha, você gosta disto quase tanto quanto eu. Faça em mim, meu amor, o mesmo que faço em você.

O sangue que fluía de mim e se derramava sobre ele parecia ser substituí do por um fogo suave. Bones tinha razão. Eu gostei quando ele me mordeu. Minha pele ficou quente, meu coração acelerado, e pouco depois eu me esfre-gava nele, gemendo diante da sua demora em abrir o zíper das calças.

– Bones... – consegui dizer. – Sim...O impacto na parede foi tão forte que senti a fratura no rosto. Deve ter

sido forte a ponto de deixar-me desacordada. Apenas por um segundo. E então percebi os tiros.

Vinham pouco acima de nós, como explosões em staccato, de todos os lados e de todos os lugares, exceto do edifício contra o qual eu estava pren-sada. Bones me pressionava contra os tijolos. Seu corpo cobria o meu, curvado por cima de mim, tremendo de forma violenta enquanto golpeava a parede à minha frente, tentando criar uma porta onde não havia nenhuma.

Foi quando percebi a razão do seu tremor. Bones estava sendo metra-lhado com dezenas de tiros.

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UM

Se ele me pegar, estou morta.Corri o mais rápido que pude, passando por entre árvores, raízes ema-

ranhadas e pedras da floresta. O monstro rosnava enquanto me perseguia; o som parecia cada vez mais próximo. Eu não conseguia ser mais rápida do que ele. Ele ficava cada vez mais veloz, e eu cada vez mais cansada.

A floresta menos densa logo à frente revelou um vampiro louro numa colina, a certa distância. Logo o reconheci. Um sentimento de esperança fluiu em mim. Se eu conseguisse chegar até ele, ficaria bem. Ele me amava. E me protegeria do monstro. No entanto, eu ainda estava muito distante.

A névoa escalava a colina, cercando o vampiro e tornando sua aparência quase fantasmagórica. Gritei seu nome quando os passos do monstro se apro-ximaram ainda mais. Em pânico, joguei-me para frente, escapando por pouco das mãos ossudas que me puxariam para o túmulo. Com energia renovada, disparei em direção ao vampiro. Ele me apressava, gritando palavras de ordem ao monstro, que não desistia de sua perseguição.

– Deixe-me em paz – gritei, enquanto ele me pegava por trás, com suas garras impiedosas. – Não!

– Gatinha!O grito não veio do vampiro à minha frente, mas do monstro que me

derrubava ao chão. Virei bruscamente na direção do vampiro ao longe, mas sua figura foi apagando-se até não restar mais nada e a névoa o cobriu. Pouco antes de desaparecer, ouvi a sua voz.

– Ele não é seu marido, Catherine.Um forte tremor fez evaporar o que restava do sonho, e quando acordei

vi Bones, meu amante vampiro, pairando sobre mim.

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– O que foi? Está ferida?Pergunta estranha, você deve pensar, afinal havia sido apenas um pesa-

delo. Mas com magia e poder certos, alguns pesadelos podem ser transfor-mados em armas. Pouco tempo antes, um deles quase havia me matado. No entanto, este era diferente. Por mais vívido que parecesse, fora apenas um sonho.

– Vou ficar bem se você parar de me sacudir.Bones relaxou as mãos e emitiu um ruído de alívio.– Eu não conseguia te acordar e você estava se debatendo. Trouxe péssi-

mas recordações.– Eu estou bem. Foi só um... sonho estranho.Havia algo no vampiro do sonho que me perturbava. Como se eu devesse

saber quem ele era. Isto não fazia sentido algum, pois ele era apenas produto da minha imaginação.

– É estranho eu não conseguir captar nada do seu sonho – continuou Bones –, geralmente seus sonhos são como música ambiente para mim.

Bones era um vampiro Master, mais poderoso do que a maioria dos vampiros que eu havia conhecido. Um de seus dons era a capacidade de ler a mente humana. Embora eu fosse metade humana, metade vampira, havia em mim humanidade suficiente para que Bones pudesse ouvir meus pensa-mentos, a menos que eu me esforçasse para bloqueá-los. Mesmo assim, isso era novidade para mim.

– Você pode ouvir meus sonhos? Meu Deus, acho que você nunca tem um momento de silêncio. Se eu fosse você, daria um tiro na cabeça.

O que, na realidade, não lhe causaria nenhum dano. Somente a decapita-ção ou a prata traspassando o coração eram letais para um vampiro. Um tiro na cabeça daria fim aos meus sofrimentos para sempre, mas em Bones provo-caria apenas uma forte dor de cabeça.

Ele se acomodou nos travesseiros outra vez. – Não se aflija, amor. Eu disse que era como música ambiente, portanto,

algo bastante relaxante. E falando em silêncio, estas águas são o lugar mais calmo que já estive, sem que ficasse meio paralisado no processo.

Eu me deitei, e um tremor percorreu meu corpo diante da menção de sua quase morte. Os cabelos de Bones haviam embranquecido graças à expe-

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riência de estar tão perto da morte, mas agora recuperavam o seu castanho profundo.

– É por isso que estamos num barco, à deriva no oceano Atlântico? Para que você pudesse ter paz e sossego?

– Eu queria um tempo para ficar a sós com você, Gatinha. Não tivemos muito tempo juntos ultimamente.

Não era exagero. Embora eu tivesse largado meu emprego como chefe da unidade secreta de Segurança Nacional contra vampiros e ghouls trapaceiros, a vida não havia sido pacata. Primeiro, tivemos que lidar com nossas perdas na guerra com outro vampiro Master no ano passado. Vários dos amigos de Bones – e Randy, o marido de Denise, minha melhor amiga – haviam sido assassinados. Em seguida, meses de caça aos autores remanescentes daquela guerra; se continuassem vivos poderiam vir a tramar contra nós. Depois, trei-namos quem entraria no meu lugar, para que tio Don tivesse outra pessoa para usar de isca quando seus agentes estivessem à procura dos membros da sociedade dos mortos-vivos que não se comportavam adequadamente. A maioria dos vampiros e ghouls não mata quando se alimenta, mas havia os que matavam por diversão. Ou por estupidez. Meu tio queria garantir que aqueles vampiros e ghouls recebessem o que mereciam, e que os cidadãos comuns não tivessem conhecimento de sua existência.

Então, quando Bones disse que faríamos uma viagem de barco, concluí que tinha alguma razão por trás, algo do tipo procurar-e-destruir. Viajar para um lugar qualquer apenas para relaxar havia acontecido... deixe-me ver... nunca em nosso relacionamento.

– É uma viagem para relaxar? – Não consegui disfarçar a incredulidade na minha voz.

Ele passou o dedo sobre meu lábio inferior. – São nossas férias, Gatinha.Eu ainda estava perplexa diante da ideia.– E o meu gato? – Eu tinha deixado comida suficiente para alguns dias,

mas não para uma viagem longa.– Não se preocupe. Mandei alguém lá em casa para cuidar dele. Podemos

ir a qualquer lugar do mundo e levar o tempo que for necessário para chegar lá. Então me diga, para onde vamos?

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– Paris.Minhas palavras me surpreenderam. Nunca havia sentido um desejo

ardente de visitar aquele lugar, mas por alguma razão, era aonde eu desejava ir agora. Talvez porque fosse a cidade dos amantes, embora olhar para Bones fosse suficiente para despertar meu romantismo.

Ele deve ter captado meu pensamento, porque sorriu, tornando seu rosto ainda mais deslumbrante, em minha opinião. Em contraste com o azul mari-nho dos lençóis, sua pele praticamente resplandecia com uma palidez de ala-bastro perfeita demais para ser humana. Os lençóis, enrolados pouco abaixo do ventre, ofereciam uma visão ininterrupta de seu abdômen liso e firme e de seu peito forte e musculoso. Seus olhos castanhos escuros começaram a mos-trar reflexos esmeralda, suas presas surgiram sob a curva de sua boca, e diziam que eu não era a única a sentir-me repentinamente mais quente.

– Paris será, então – ele sussurrou, e puxou o lençol para longe.

***

– Vamos chegar logo. Sim, ela está muito bem, Mencheres. Acredite, você me liga quase todos os dias... Certo, nos vemos no porto.

Bones desligou o telefone e balançou a cabeça.– Acho que meu grandsire está escondendo alguma coisa ou desenvolveu

uma obsessão doentia por todos os seus atos.Eu me espreguicei na rede do deque. – Pode deixar que falo com ele na próxima vez – respondi. – Vou dizer

que as coisas nunca estiveram tão bem.As últimas três semanas haviam sido, de fato, maravilhosas. Se eu pre-

cisava de férias, Bones precisava ainda mais. Como Master de uma grande linhagem e co-Master de outra ainda maior, Bones era sempre vigiado, julgado, desafiado ou estava ocupado protegendo seu povo. Toda aquela responsabilidade tinha cobrado seu preço. Somente nos últimos dias ele havia relaxado o suficiente para dormir mais do que suas poucas horas de costume.

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Havia apenas um ponto obscuro neste cruzeiro do prazer, mas eu o havia guardado para mim. Por que arruinar nosso tempo de lazer contando a Bones que tive mais um daqueles sonhos tolos e sem sentido?

Desta vez, eles passaram despercebidos. Acho que eu não me debatia mais quando sonhava. Não me lembrava de muita coisa ao acordar. Tudo o que sabia era que havia sempre o mesmo vampiro louro sem rosto do pri-meiro sonho. Aquele que me chamava pelo meu nome verdadeiro, Catherine, e que terminava com a mesma advertência enigmática:

– Ele não é seu marido.Segundo as leis humanas, Bones não era meu marido. Éramos unidos

pelo sangue, e casados conforme o costume dos vampiros, e os mortos-vivos não aceitavam o divórcio. A frase “Até que a morte os separe” não era brinca-deira para eles. Talvez meus sonhos representassem um desejo subconsciente de ter um casamento tradicional. Na última vez que tentamos, nossos planos foram destruídos por uma guerra com um vampiro que acreditava que usar magia negra mortal era jogar limpo.

Mencheres nos encontrou no porto. Embora Bones o chamasse de grandsire, pois Mencheres era ancestral do vampiro que transformara Bones, ele parecia ser tão jovem quanto Bones. Provavelmente tinham idade humana aproximada quando foram transformados em vampiros. Mencheres também era atraente de uma maneira exótica, com seu porte real, traços egípcios e cabelos longos e escuros esvoaçando ao vento.

Mas o que realmente chamou minha atenção foram os oito vampiros Master ao lado de Mencheres. Antes mesmo de sair do barco, pude sentir a sua força, estalando no ar como eletricidade estática. Mencheres, obviamente, sempre viajava com uma comitiva, mas esses pareciam ser seguranças, e não seguidores mortos-vivos.

Bones foi até Mencheres e lhe deu um breve abraço.– Olá, grandsire. Eles não estão aqui apenas para passear – disse, cum-

primentando os outros vampiros com um movimento da cabeça. – Então, acho que há algum problema.

Mencheres acenou com a cabeça.– Precisamos ir embora. Este barco já é um bom aviso da sua presença.

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Na lateral do barco havia o nome Ceifeira pintado em vermelho. Era uma homenagem ao meu apelido, Ceifeira Ruiva, que recebi graças à cor do meu cabelo e ao meu alto índice de mortos-vivos mortos.

Mencheres não me dirigiu nenhuma palavra além de um breve e polido “olá” enquanto seguíamos do píer para a van que nos aguardava. Havia outro carro idêntico, onde entraram seis seguranças. Quando aceleramos, a segunda van nos seguiu de perto.

– Fale sobre seus sonhos, Cat – disse Mencheres assim que saímos.Olhei para ele com espanto. – Como sabe sobre isso?Bones também parecia surpreso. – Eu não mencionei o sonho, Gatinha.Mencheres ignorou nossas perguntas.– O que havia em seu sonho? Seja bem específica.– São estranhos – comecei, percebendo Bones erguer as sobrancelhas

diante do plural. – Sempre com o mesmo vampiro. Durante os sonhos, eu sei quem ele é. Posso até me ouvir dizendo seu nome, mas quando acordo não me lembro dele.

Se eu não o conhecesse, diria que Mencheres pareceu alarmado. É claro que eu não sabia tudo sobre ele. Mencheres tinha mais de quatro mil anos e era um gênio na arte de esconder suas emoções, mas, por uma fração de segundo, percebi tensão em sua boca. Ou talvez fosse um efeito da luz.

– Quantos sonhos deste tipo você teve? – perguntou Bones. Ele não estava feliz, e a maneira como seus lábios se fecharam com certeza não tinha sido um efeito da luz.

– Quatro, e não comece. Você teria zarpado para o forte mais próximo se eu tivesse lhe contado sobre os sonhos, e depois ficaria pairando sobre mim dia e noite. A viagem estava muito boa, então não os mencionei. Não é grande coisa.

Ele bufou, dizendo:– Ela diz que não é grande coisa. Bem, meu amor, vamos descobrir o

que esse negócio é de fato. Com sorte, o resultado não será a perda de sua vida imprudente.

E depois para Mencheres:

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– Você sabia que algo estava errado. Por que diabos não me contou ime-diatamente?

Mencheres curvou-se para frente.– A vida de Cat não corre perigo. Entretanto, há uma... situação. Esperava

que esta conversa não fosse necessária.– Pode desembuchar de uma vez, sem enrolar?Mencheres era famoso por levar muito tempo para chegar ao ponto princi-

pal. Talvez, por conta da idade, tivesse adquirido um nível absurdo de paciência.– Já ouviu falar de um vampiro chamado Gregor?Uma dor aguda pulsou em minha cabeça por apenas um instante, e rapi-

damente desapareceu. Olhei à minha volta para ver se alguém mais tinha sido afetado. Mencheres me fitou como se estivesse tentando sondar a parte poste-rior do meu cérebro. Ao meu lado, Bones soltou um palavrão.

– Conheço alguns Gregors – ele disse –, mas só um deles é chamado de Raptor dos Sonhos. – Sua mão fechada desceu num golpe, descolando o braço do assento. – É isto que chama de padrão aceitável de segurança para minha mulher?

– Não sou sua mulher.Bones lançou um olhar de incredulidade em minha direção no mesmo

instante em que cobri a boca com a mão. De onde vinha isto?– O que você disse? – Bones perguntou, incrédulo.Assustada, eu gaguejei.– E-eu quis dizer... Em meus sonhos, a única coisa de que me lembro é

este vampiro me dizendo: “Ele não é seu marido”. E sei que ele se refere a você, Bones. Foi o que quis dizer.

Bones parecia ter sido esfaqueado por mim e Mencheres tinha no rosto sua expressão fria e indecifrável. Sem revelar nada.

– Sabe, sempre tenho a impressão de que quando as coisas entre nós estão muito bem, você aparece para ferrar tudo! – gritei para Mencheres.

– Você escolheu vir para Paris, entre tantos outros lugares – ele respondeu.– E daí? Tem alguma coisa contra os franceses? – Senti por ele uma onda

irracional de raiva. Dentro de mim, um grito se formava. Por que você não nos deixa em paz?!

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