destaque rural 9ª edição

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Junho e Julho | 2015 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº 9 | 1 O trigo e as incertezas de mercado Doenças e pragas podem afetar a produção de alimentos? Uma safra para ninguém botar defeito n TRITICULTURA n MANEJO n SOJA A BATALHA DO TRIGO INFORMAÇÃO COM PROPRIEDADE ANO II NÚMERO 9 RIO GRANDE DO SUL JUNHO | JULHO | 2015 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Airton Becker Presidente da XIIº Fenatrigo e do Sindicato Rural de Cruz Alta

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A batalha do trigo

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Page 1: Destaque rural 9ª Edição

Junho e Julho | 2015 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº 9 | 1

O trigo e as incertezas de mercado

Doenças e pragas podem afetar a produção de alimentos?

Uma safra para ninguém botar defeito

n TRITICULTURA n MANEJO n SOJA

A BATALHA DO TRIGO

I N F O R M A Ç Ã O C O M P R O P R I E D A D E

ANO II

NÚMERO 9

RIO GRANDE DO SUL

JUNHO | JULHO | 2015

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Airton BeckerPresidente da XIIº Fenatrigo e do Sindicato Rural de Cruz Alta

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2 | | Junho e Julho - 2015 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº9

Page 3: Destaque rural 9ª Edição

Editora RiograndenseCNPJ

17.965.942/0001-07Inscrição Municipal

66829

EndereçoRua Cacilda Becker, 30 -

Boqueirão Cep 99010-010

Diretor Leonardo Wink

Jornalista ResponsávelCecília Laner(MTB 13.342)

JornalistasFabiana Duarte Rezende

Cecília Laner

Colunistas

www.destaquerural.com.br

Gilberto CunhaElmar Luis Floss

Projeto Gráfico e DiagramaçãoCássia Paula Colla

RevisãoDébora Chaves Lopes

Comercial Leonardo Wink

ImpressãoGráfica Sul Oeste

[email protected]@destaquerural.com.br(54) 9947- 9287

Tiragem6 mil exemplares

#edição 9

CIRCULAÇÃOEDITORIAL

#Ano II#junho e julho

www.facebook.com/destaquerural

Estamos terminando o primeiro semestre de 2015, os números da economia brasileira causam muita apreensão, a crise está esta-

belecida e, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Produto Interno Bruto (PIB) encolheu 0,2% de janeiro a março des-te ano, em comparação com os três últimos meses de 2014. A inflação está acima da meta, passando dos 8%, a taxa SELIC é de 13,75%, número que não víamos desde janeiro de 2009 e, segundo informa-ções do Infomoney, a expectativa é que passe dos 16% até o fim deste ano, o dólar está valorizado com estimativas de estabilização em R$ 3,30 e o desem-prego chega a 8%.

Na contramão da economia a agricultura foi o úni-co setor que cresceu em 2015 (4,7% no trimestre), principalmente pelo desempenho da safra e das exportações da soja, que em maio atingiu o maior volume já embarcado em um único mês. Mas a crise também está afetando o setor, que já está vendo os custos da produção subirem mais de 35%, impulsio-nado pelos insumos cotados em dólar.

Além do aumento nos custos de produção há ex-pectativa de El Niño, e receoso com o baixo preço o produtor reduzirá às áreas de Trigo em até 40%, no-tícia muito negativa para Triticultura Gaúcha, que após a frustração da safra 2014 tinha expectativa de um cenário mais positivo este ano. Em contraponto, haverá um aumento da área plantada de Cevada que tem um risco maior, mas está com preço garantido, conforme matéria realizada para esta edição.

A crise assusta, fecha muitas portas, mas faz parte dos ciclos econômicos e sabemos que o Brasil, prin-cipalmente pelo seu potencial agrícola, tem condi-ções para transpor este período e sair fortalecido. São momentos como este que servem para organi-zar a casa, rever os custos, os processos e ajustar os investimentos no que realmente é necessário.

Boa Leitura

Leonardo Wink

CIRCULAÇÃO

Crise e o agronegócio

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ÍNDICEES

PEC

IAL

TRI

TIC

ULT

URA

O trigo e as incertezas de mercado

18Na linha de frente pela valorização do trigo gaúcho

267

Canola: Uma alternativa para investir nesta estação

Cevada no inverno e cerveja gelada

no verão 1014 Doenças e pragas podem

afetar a produção de alimentos?

Uma safra para ninguém botar defeito 35

Cambaí: a marca da evolução no campo38

Abacus® HC, fungicida para o controle de importantes doenças da cultura do trigo.• Alta eficiência contra manchas foliares como a Mancha-amarela.• Proteção para o potencial produtivo da sua lavoura. • A tradição BASF em inovação para a cultura do trigo.

Aplique somente as doses recomendadas. Descarte corretamente as embalagens e restos de produtos. Incluir outros métodos de controle dentro do programa do Manejo Integrado de Pragas (MIP) quando disponíveis e apropriados.Uso exclusivamente agrícola. Registro MAPA nº 9210.

Sua lavoura protegida contra as principais doenças, por mais tempo.

www.agro.basf.com.br 0800 0192 500

Page 5: Destaque rural 9ª Edição

Junho e Julho | 2015 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº 9 | 5

Abacus® HC, fungicida para o controle de importantes doenças da cultura do trigo.• Alta eficiência contra manchas foliares como a Mancha-amarela.• Proteção para o potencial produtivo da sua lavoura. • A tradição BASF em inovação para a cultura do trigo.

Aplique somente as doses recomendadas. Descarte corretamente as embalagens e restos de produtos. Incluir outros métodos de controle dentro do programa do Manejo Integrado de Pragas (MIP) quando disponíveis e apropriados.Uso exclusivamente agrícola. Registro MAPA nº 9210.

Sua lavoura protegida contra as principais doenças, por mais tempo.

www.agro.basf.com.br 0800 0192 500

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Gilberto CunhaPesquisador do Laboratório de Meteorologia Aplicada à Agricultura - Embrapa Trigo

[email protected]&Bio

São poucos aqueles que ainda se lembram das “nuvens” de insetos que empestavam os para-brisas

dos automóveis que cruzavam as rodo-vias das regiões do Planalto e Missões do Rio Grande do Sul, nos anos 1970. E que, no meio rural, não poupavam nem mesmo as vidraças das casas situadas nas proximidades de lavouras. Eram os pulgões ou afídeos, cujo grupo de insetos, representado por espécies exóticas, sem inimigos naturais locais, acompanhando a expansão das lavou-ras de trigo, grassavam livremente no nosso meio, como de resto em todo o ConeSul da América do Sul, a tal ponto de se tornarem a principal espécie pra-ga para o cultivo desse cereal no Brasil.Os pulgões são insetos pragas impor-

tantes em agricultura, quer seja tanto pelos danos diretos que causam com a sucção da seiva das plantas quanto pela transmissão de fitopatógenos, especialmente o vírus do nanismo amarelo (com destaque para Bar-leyYellowDwarfVirus-BYDV e Cereal YellowDwarfVirus-CYDV). A situação era insustentável para a triticultura gaúcha nos anos 1970. Os prejuízos causados pelos pulgões no trigo eram vultosos. De duas a quatro aplicações de inseticidas eram realizadas nas lavouras, com custos e danos ambien-tais elevados, e sem êxitos aparentes.A situação começou a mudar em

1977, quando o Dr. Walter F. Kluger, que era diretor de um Projeto da FAO, entãoexecutado em parceria com a Embrapa em Passo Fundo,

participou no Chile de uma reunião sobre “Controle Integrado de Pragas” e de lá trouxe como sugestãoà Che-fia do Centro Nacional de Pesquisa de Trigo, que convidasse o Dr. Robert van den Bosch (1922-1978), que era oadministrador da Divisão de Con-trole Biológico do Departamento de Entomologia da Universidade da Cal-ifórnia, em Berkeley/USA, para vir a Passo Fundo e avaliar a situação do problema causado pelos pulgões em trigo no Brasil. A sugestão, felizmente, foi acatada pelo Chefe-Geral da épo-ca, Dr. Ottoni de Sousa Rosa. A visita do Dr. Robertvan den Bosch foi real-izada e, na ocasião, foi acertadaa contratação do consultor Andrew Paul Gutierrez, pesquisador da Universi-dade da Califórnia, que veio a Passo Fundo em dezembro de 1977, dando inicio à estruturação de um programa integrado de controle de pulgões em trigo; que começaria a ser posto em prática a partir de 1978. O prob-lema era claro: os pulgões, sendo pragas exóticas(oriundas da Europa e da Ásia), não possuíam inimigos naturais locais (pelo menos em popu-lação suficiente para fazer frente ao avanço dessa praga), e proliferavam livremente no sul do Brasil. E assim foi que, em julho de 1978,

começou, efetivamente, um dos mais notável e bem-sucedido exemplo de controle biológico de pragas na ag-ricultura mundial:o controle biológico dos pulgões do trigo no Brasil. O modelo proposto foi o clássico: in-

trodução, criação massal e liberação de inimigos naturais no ambiente. En-tre o s inimigos naturais dos pulgões, destacam-se osmicroimenópterospar-asitos (parasitoides), popularmente chamados de vespinhas, que oviposi-tamdentro do corpo dos pulgões, do ovo eclode a larva, que se alimenta do conteúdo interno do pulgão, onde também ocorre a fase de pupa, levan-do o hospedeiro à morte em cerca de uma semana; além de alguns insetos predadores (joaninhas, por exemplo). No caso brasileiro, foi priorizado o uso de parasitoides. Coletas desses parasitoides foram realizadas na Eu-ropa e no Oriente Médio, em julho de 1978, pelo coordenador do projeto L.A.B. Salles e pelo consul-tor A.P. Guttierrez. A maior parte das coletas e remessas para o Brasil foi realizada com a intermediação de laboratórios do Departamento de Agricultura dos EUA, um com sede na França e outro na Itália. Adicio-nalmente, remessas também foram realizadas a partir do Chile, via o insetário da Estação Experimental La Cruz/INIA. A primeira introdução de parasitoi-

des de pulgões no Brasil deu-se em 29 de agosto de 1978, pelo Aero-porto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre/RS. A partir desse mo-mento, em Passo Fundo, começaria um memorável trabalho de pesquisa científica básica aplicada, que revo-lucionaria o controle de pulgões nas lavouras de trigo no Brasil.

A GUERRA BIOLÓGICA CONTRA OS PULGÕES DO TRIGO

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CULTURAS DE INVERNO

Grão é considerado uma ótima opção para rotação de culturas

Não há quem não se en-cante ao passar por per-to de uma plantação de canola durante o perío-

do de floração. As flores amarelas en-chem de beleza as lavouras gaúchas, além de ser uma alternativa para os produtores rurais como cultura de inverno. No último ano a oleagino-sa foi cultivada em 40 mil hectares somente no Rio Grande do Sul, que respondeu por 80% de toda a produ-ção nacional.

Na região norte do estado cerca de 20 mil hectares foram destinados à canola, segundo o agrônomo da em-presa de biocombustível BSBIOS, Olivan da Silva. A empresa, com sede em Passo Fundo, estimula os produ-tores a investir neste grão através de acordo firmado, no qual a BSBIOS se compromete em comprar a produ-ção de canola com o valor de merca-do da soja. “A garantia de venda e de preço do produto é o que estimula os agricultores a investir na cultivar”, ex-plica Olivan, pois, diferente do trigo, o produtor não precisa se preocupar

Canola:uma alternativa para investir nesta estação

com a qualidade do grão.Se a venda é certa, por

que poucos agri-cultores apostam nesta oleaginosa (já que a área destinada a ela é bem inferior às áreas cultivadas com outras cultu-ras de inverno)? Conforme o agrô-nomo, o que assusta é o alto custo de produção. “A canola exige adubação pesada para o seu bom desenvolvi-mento. São cerca de 300kg de adubo por hectare. No entan-to, o investimento compen-sa, pois apenas 1/3 dos nutrientes são absorvidos pela planta. Os ou-tros 2/3 ficarão no solo que estará pronto para receber a seme-adura das culturas de verão”.

A canola também é con-siderada excelente para rotação de culturas. Esta planta, da família das crucíferas (como o repolho e as couves), possui a raiz pivotan-

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[email protected]

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te, ou seja, apresenta uma raiz principal da qual se expande um grande número de raízes se-cundárias fasciculadas, forman-do uma espécie de “esponja de aço” no solo. “Este tipo de raiz auxilia na descompactação na-tural das áreas onde é cultiva-da”, esclarece Olivan. Ele ainda argumenta que, por atingir ca-madas mais profundas do solo, faz um melhor aproveitamento dos nutrientes que estão abaixo das camadas exploradas por ou-tras cultivares. “Também, onde apodrece a raiz desta planta, fica espaços porosos na terra, o que facilita a entrada da água e a circulação de ar, melhorando a estrutura do solo”.

A expectativa é de mais canola no campo em 2015

O receio este ano é geral, não

importa a cultura: trigo, cevada ou canola. As três cultivares ti-veram quebra de safra no últi-mo ano, em função do excesso de chuva registrado em 2014. Porém, a perspectiva de cres-cimento da área cultivada de canola nesta safra é de 10% em relação ao ano anterior. Entre os motivos está o menor interesse dos produtores no cultivo do trigo. Os produtores têm inves-tido em bons pacotes tecnoló-gicos para conduzir a safra e garantir um bom resultado para a oleaginosa. Na região de Pas-so Fundo o plantio já iniciou e em breve deve estar concluído. Segundo dados da Conab, a úl-tima safra de canola resultou em 28,1 mil toneladas no Rio Gran-de do Sul, numa área de 44,7 hectares. Para este ano a região sul do país deve ter uma área de

47,1 hectares.Ora com alto rendimento,

ora com quebra de safra, um dos produtores que vem apos-tando, desde 2008, na canola e deve fazer o mesmo este ano é o Thales Roso. Ele teve um rendi-mento de 35 sacas/ha em 2013, quando a média no Rio Grande do Sul ficou em torno de 25 a 30 sacas/ha. Segundo o agricultor, mesmo com a safra frustrada de 2014, por conta das fortes chuvas e queda de granizo, ele vai destinar 150 hectares da propriedade que tem em Passo Fundo à produção da oleagino-sa – 10 hectares a mais que no último ano. “O risco sempre vai existir, em todas as culturas. Mas o que faz com que eu invis-ta em canola, ano após ano, é a liquidez, que resulta em menor risco. Sempre existe a possibi-

“A garantia de venda e de preço do produto é o que estimula os agri-cultores a investir na cultivar.”

Olivan da Silva, Agrônomo da BSBIOS

Unidade de produção de biodiesel da BSBIOS em Passo Fundo

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lidade de baixa produtividade em função do clima. Mas o que vingar tem compra garantida”, defende, ao fazer uma rápida comparação com o trigo, que também sofre perdas com pro-blemas climáticos e, ainda, pre-cisa ter determinada qualidade para ser comprado por moinhos. Outro fator que conta muito para Roso é o período de colheita da canola. “Até o final de outubro toda a produção está colhida, liberando, assim, o campo mais cedo para que se possa começar logo o plantio da soja”.

O período de plantio da ca-nola inicia dia 11 de abril e segue até dia 30 de junho.

“O risco sem-pre vai existir, em todas as culturas. Mas o que faz com que eu invista em canola ano após ano é a liquidez, que resulta em menor risco.”

A BSBIOS foi uma das primeiras empresas produtoras de biodiesel do país a receber o Selo Combustível Social, pois mantém estreita relação com a agricultura familiar, da qual adquire ,no mínimo, 40% da matéria-prima necessária para a produção de biodiesel. Através dessa distinção, os pequenos produtores de canola também recebem benefícios, como o fornecimento de assistên-cia técnica gratuita, capacitação técnica e bônus na en-trega da produção. Com essa política, a empresa auxilia no complemento da renda dos pequenos produtores e contribui para sua permanência no campo, garantido dessa forma, a participação da agricultura familiar da região no Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB).

Incentivo ao Pequeno Produtor

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CULTURAS DE INVERNO

Cevada no inverno e cerveja gelada no verãoSe o trigo vai sair de cena nesta estação, a cevada pede espaço para am-pliar a produção

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Cecilia de Cesar Laner

O inverno está dan-do as caras e já vai dando aquela saudade dos dias

quentes de verão. Ah, o verão! Época de férias, de piscina, churrasco com os amigos e (por que não?) de uma cervejinha bem gelada para matar o calor! Mas para que no próximo verão se possa degustar esta bebida tão apreciada pelos brasileiros, a hora certa para investir e cuidar de sua matéria-prima é agora, na estação mais gelada do ano.

A cevada é a base para a pro-dução do malte, que é o ingre-diente fundamental da cerveja. Na década de 90 o Rio Grande do Sul chegou a destinar mais de 100 mil hectares ao grão, po-rém, no início dos anos 2000 os produtores gaúchos passaram a investir mais em outras culturas,

deixando a cevada de lado.Com o estímulo da indús-

tria cervejeira e a instalação da maltaria da AmBev em Passo Fundo, esse número passou a crescer novamente e, nos úl-timos anos, o cereal passou a ser visto como uma boa opção de plantio. Se em 2010 pouco mais de 30 mil hectares foram destinados ao grão no estado, em 2014 esse número mais que dobrou, chegando a 63 mil hectares cultivados. Destes, 55 mil foram plantados através da parceria realizada entre produ-

tor e AmBev – companhia res-ponsável por consumir cerca de 90% desta cultura de inverno. A AmBev estimula a produção da cevada firmando contratos com os produtores, nos quais se compromete a consumir o cereal produzido no campo. A parceria já foi consolidada com pelo menos 2 mil produtores no Rio Grande do Sul.

O agricultor Narciso Barison Neto é um dos produtores que pretende investir em cevada este ano. Vai apostar no plantio do cereal em mil hectares na região

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Destaque Rural u Qual será a área destinada à cevada nesta próxima safra no RS? Em quais outros estados se produz cevada? A área desti-nada a este cereal será maior ou menor que ano passado? AmBev u A meta da empre-sa é chegar a 60 mil hectares plantados, 9% a mais do que em 2014, quando foram culti-vados 55 mil hectares. Destes, 51 mil no Rio Grande do Sul e os demais no Estado do Para-ná.

Destaque Rural u Como foram as últimas safras? AmBev u A Safra de 2013 foi excelente. Garantimos 133 mil toneladas de cevada para a produção do malte. Já em 2014, devido ao mal tempo, os resultados foram meno-res. Como trabalhamos com muito planejamento, a com-panhia já “plantou” no ano passado com um “coeficiente de segurança”. Ou seja, plan-tamos um pouco mais por sabermos que poderia ser um ano com El Niño e isso pode-ria impactar na produção. É importante deixar claro que a diminuição da cevada do Bra-sil nesta safra não chegou a afetar a produção de malte da AmBev, já que a companhia também conta com cevada do exterior. Estes resultados tão pouco chegam ao con-sumidor final, pois não gera qualquer aumento de preço no produto final.

Destaque Rural u Qual é a condição perfeita de clima para que haja um bom de-

dos Campos de Cima da Serra e em outros 200 hectares na re-gião da campanha. “É a primeira vez que vou investir em cevada”, conta Barison. O produtor des-taca que a decisão foi tomada após a frustração da safra de tri-go do último ano. “Continuarei plantando trigo em outras áreas, mas este ano resolvi diversificar para conhecer melhor o merca-do da cevada”. Ele acrescenta que

“Se em 2010 pouco mais de 30 mil hect-ares foram destinados ao grão no estado, em 2014 esse número mais que dobrou, chegando a 63 mil hectares cultivados.”

já assinou contrato de venda do produto para a AmBev, que é uma das vantagens ao investir no grão: garantia de preço e de mercado.

Para saber mais sobre a parce-ria entre AmBev e produtores e quais os benefícios oferecidos pela empresa, a Destaque Rural entrou em contato com a asses-soria de imprensa da companhia que nos concedeu entrevista.

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senvolvimento e qualidade do produto? AmBev u Típica de clima frio, a cevada é uma opção como cultura de inverno para os pro-dutores de grãos da região sul do Brasil. O cultivo precisa de um clima seco e frio para o seu melhor desenvolvimento.

Destaque Rural u Há mui-ta incidência de doenças? AmBev u Assim como em outras cultivares, na cevada há também incidência de doen-ças. Pensando sempre em au-xiliar e desenvolver o mercado, a AmBev está diretamente en-volvida em pesquisas, em par-ceria com instituições como Embrapa, para buscar alterna-tivas para solucionar os casos.

Destaque Rural u Quais os benefícios da cevada para o produtor em relação ao trigo e as outras culturas de inverno? Quais são as condições de mer-cado da cevada hoje? AmBev u Sendo mais preco-ce e tolerante ao frio que ou-tros cereais, a cevada pode ser semeada e colhida mais cedo, o que contribui para o melhor aproveitamento de máquinas, equipamentos e mão de obra, bem como para a instalação da safra de verão em época mais adequada. Além disso, permite a exploração de outras espécies na propriedade. O rendimento potencial produtivos nas la-vouras é de 5.500 kg/ha.

Com sua Política de Incentivo e parceria com os agricultores, a AmBev tem conseguido pro-

var que a cevada é um cultivo de inverno atraente. Em 2014, a companhia chegou a pagar aos produtores 21% a mais do que o mercado pagou ao tri-go. Além disso, a companhia também está sempre atenta às necessidades dos produtores. No último ano, parte da safra que não foi aproveitada para o malte foi vendida ao mercado externo como forragem com o auxílio da companhia.

Destaque Rural u A Am-Bev acompanha o desenvolvi-mento da produção dos agri-cultores ao longo do plantio e presta assistência técnica?AmBev u Como maior fo-mentadora desse cultivo no Brasil, a companhia tem um importante papel para o desen-volvimento do setor agrícola nacional. Só este ano, serão 2 mil produtores beneficiados.

Além disso, aos agricultores interessados no cultivo, antes de iniciar a safra, a empresa disponibiliza sementes, fertili-

zantes e oferece treinamento gratuito para todos os operado-res envolvidos no recebimento e processamento do cereal. A prática permite construir uma relação sustentável com os agricultores para um constan-te aprimoramento do produto e desenvolvimento do setor. A cada ano que passa, a AmBev consegue significativos avan-ços tecnológicos na qualidade e eficiência da produção do grão. Construindo este relacio-namento com os produtores e com as cooperativas brasileiras, ganham os produtores, ganha a AmBev, ganha a sociedade e ganham os consumidores.

Projeção da área da AmBev de Passo Fundo

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Destaque Rural u Ao lon-go da história, como o homem foi controlando as pragas que ameaçavam as plantações?

Dirceu Gassen u A ocorrên-cia de pragas e de doenças está diretamente relacionado à planta cultivada e ao manejo da lavoura. Os problemas com pragas e doen-ças crescem com a área ocupada com a mesma planta e com os au-mentos na produção por unidade de área.

A soja ocupa 60 milhões de hectares, na América do Sul, num período curto do ano. Essa área enorme, com um tipo de alimento é o fator que sele-

Doenças e pragas podem afetar a produção de alimentos?

O assunto é polêmi-co. Porém, é fato: com o aumento gradativo da po-

pulação mundial é necessário investir cada vez mais na produ-ção de alimentos. No entanto, ao destinar grandes áreas a um determinado tipo de cultura, aumenta-se o risco de prolife-ração de microrganismos e in-setos consideravelmente, o que pode acarretar em problemas nas lavouras e quebras de safra.

Para tratar do assunto, o pes-quisador e engenheiro agrôno-mo Dirceu Gassen respondeu algumas perguntas relacionadas ao tema, que visa explicar ao lei-tor o porquê da disseminação de pragas, como elas interfe-rem na produção de alimentos e quais as melhores alternativas para encarar este problema.

cionará insetos e microrganis-mos, que são considerados pra-ga ou doença para os interesses de produção do agricultor. Elas competem com o ser humano, na produção de alimentos. Na realidade, é a reação da nature-za, restabelecendo o equilíbrio e a diversidade de flora e fauna.

No passado, as produções ob-tidas por hectare eram baixas e a solução para os problemas de pragas, algumas vezes, era resolvido com o abandono da lavoura e com a migração do agricultor para novas áreas.

A formiga foi um exemplo clássico de depreciação de

O engenheiro agrônomo Dirceu Gassen esclarece dúvidas e aponta alternativas para encarar esse problema

A formiga foi um exemplo de depreciação de valor da terra e limitante para desenvolver agricultura, até a década de 1960

Cecilia de Cesar Laner

MANEJO

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Com mais de 100 milhões de hectares, Fox não dá chance para as principais doenças entrarem na lavoura, como a ferrugem, a antracnose, o oídio e a mancha-alvo. É por essas e outras que somos o fungicida que mais cresce em uso no Brasil: é a proteção que barra as doenças e libera seu potencial produtivo.

Com Fox, você deixa a ferrugem e as doenças do lado de fora da soja.

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valor da terra e limitante para desenvolver agricultura, até a década de 1960, quando inse-ticidas passaram a resolver o problema dessa praga. A proi-bição de inseticidas clorados, na década de 1980, levou a um período de dificuldades no controle de formigas. Depois descobriu-se o uso do insetici-da fipronil, eficaz no controle da mesma. O manejo da for-miga cortadeira é dependente desse inseticida.

Destaque Rural u Hoje com tanta tecnologia e pesqui-sa ainda existem doenças que podem ameaçar a produção de alimentos em grande escala?

Dirceu Gassen u A evo-lução e adaptação de insetos e microrganismos é contínua nos ambientes naturais. Pode-se di-zer que a natureza não se defen-de da ação do homem, mas reage lentamente, restabelecendo o equilíbrio natural, determinando comunidades de flora e fauna di-versificadas.

A evolução de novas cultivares com as tecnologias geradas pela genética, novos produtos das indústrias de agroquímicos, os equipamentos automatizados e a agricultura de precisão, geraram novas oportunidades e mudanças significativas na agricultura. Ao mesmo tempo, apareceram novos problemas como as populações de plantas daninhas resistentes a herbicidas, de pragas a inseticidas e de doenças a fungicidas. Com isso, aumentou a complexidade no manejo de lavouras e cresce-

ram as dificuldades na proteção de plantas.

Pode-se afirmar que as facili-dades disponíveis para controle de pragas, doenças e plantas da-ninhas foram se perdendo, com a necessidade de planejar a pro-teção de plantas em sistemas es-truturados de produção de grãos. É necessário praticar a rotação de culturas e a adubação verde, esti-mulando a atividade biológica, a diversidade e a supressão natural das espécies que podem causar danos nas lavouras.

O mundo está cada vez mais globalizado, com crescimento nas importações e exportações de grãos, plantas e carnes. Essa movi-mentação de biomassas facilita a disseminação de insetos e micror-ganismos, com o aparecimento de novas pragas e doenças, ou de ra-ças com resistência aos métodos disponíveis de controle.

Outro fator crescente relaciona-do a pragas e doenças é a possibi-lidade de introdução de espécies

exóticas. Isso pode ocorrer pelo turismo e deslocamento contínuo de pessoas, que podem, acidental-mente trazer indivíduos na baga-gem ou nas roupas.

Além disso, a importação de grandes volumes de grãos, alimen-tos e equipamentos, aumentam os riscos de trazer novas espécies, que poderão se tornar praga ou do-ença em lavouras.

Destaque Rural u As mu-danças climáticas interferem na disseminação de doenças?

Dirceu Gassen u Há con-trovérsia sobre a dimensão das mudanças climáticas causadas pela interferência do ser humano no ambiente. Os fatos mostram as mudanças ocorridas com a substituição de florestas e campos naturais para o desenvolvimento de lavouras e de pastagens. A pro-dução crescente de CO2 liberado na atmosfera, a redução da diver-sidade da flora e fauna original, e o crescimento de áreas extensivas

É necessário praticar a rotação de culturas e a aduba-ção verde, estimulando a atividade biológica e a supressão natural das espécies

Dirceu Gassen, Engenheiro agrônomo

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com a mesma espécie de planta determinarão novas cadeias trófi-cas, com a seleção de espécies ou raças de insetos e de microrganis-mos que poderão tornar-se praga.

Há necessidade urgente de es-tudos básicos de biologia, de dinâ-mica populacional das principais espécies. No passado, décadas de 1970 e 1980, os estudos de con-trole biológico e de manejo foram muito mais intensos, com vários programas desenvolvidos em ní-vel nacional.

Nos últimos 15 anos, a pesquisa básica e as estratégias integradas de manejo reduziram. Em con-traste com problemas crescentes de pragas, doenças e plantas dani-nhas em lavouras.

Há deficiências muito grandes nas ações de pesquisa atribuídas a função pública, remuneradas pelos impostos diretos gerados pela agricultura. Por exemplo: não há museus de referência para identificação de insetos, ácaros, moluscos, fungos, bactérias, vírus,

nematoides, plantas daninhas, de inimigos naturais e de outros orga-nismos de importância na agricul-tura. Não há programas nacionais de monitoramento de populações e raças resistentes de pragas, do-enças e plantas daninhas. Os pro-gramas de controle biológico e de manejo devem ser estimulados e regulamentados. Não há como acertar estratégias de controle e de manejo se não há certeza das es-pécies e conhecimento sobre a di-nâmica populacional de cada uma das espécies que causam danos à agricultura. Um exemplo recente foi a lagarta Helicoverpa armigera, que foi confundida com outras espécies por falta de taxonomis-tas no Brasil. As dúvidas, o medo disseminado sobre o potencial de danos da praga, levou à angústia, paranoia e ao uso exagerado de in-seticidas, durante duas safras.

A agricultura desenvolvida em 2015 é muito mais complexa do que a desenvolvida no passado. A viabilidade econômica passa pelo

aumento na produção por unidade de área, exigindo mais conhecimen-to sobre processos e manejo das plantas. Os problemas com a prote-ção também cresceram com novas doenças e pragas, além da seleção de populações de plantas daninhas, pragas e doenças resistentes aos agroquímicos usados no passado.

Destaque Rural u Basea-do em pesquisas, quais são as precauções que os produtores rurais devem ter nas próximas safras? Quais são os cuidados que devem ser tomados em curto, médio e longo prazo para manter uma produção de ali-mentos cada vez mais uniforme e longe de ameaças?

Dirceu Gassen u As práti-cas de manejo e os investimentos adotados nas lavouras são sufi-cientes para obter os rendimentos médios atuais. Mas para evoluir e alcançar novos patamares de pro-dução é necessário mudanças, que envolvem conhecer mais biologia, entender a lógica das plantas e ma-nejar as pragas com sabedoria.

A sustentabilidade da agricultura depende da diversidade de espé-cies, com a rotação de culturas, a adubação verde, aumentando a atividade biológica. Não devemos temer a praga, mas investir na su-pressão natural, aumentando a ati-vidade biológica no ambiente. A decisão de controle com agroquí-micos deve ser feita quando ne-cessário, obedecendo a rotação de ingredientes ativos para retardar e evitar a seleção de populações re-sistentes.

Pode-se concluir que a rentabili-dade da lavoura é proporcional ao conhecimento aplicado por hectare.

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ESPECIAL TRITICULTURA

Airton Carlos Becker, presidente da XII Fenatrigo e do Sindicato Rural de Cruz Alta, na luta pelos produtores e por melhores condições de comercialização do trigo produzido no Rio Grande do Sul

Na linhadefrente pelavalorizaçãodotrigo gaúcho

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Um homem com obje-tivos firmes: impul-sionar o agronegócio de Cruz Alta e região,

e buscar a valorização do setor agrícola brasileiro. Assim pode ser definido Airton Carlos Becker, pre-sidente do Sindicato Rural de Cruz Alta, secretário municipal de De-senvolvimento Rural e Meio Am-biente, presidente da última Fena-trigo, a XI Feira Nacional do Trigo que, após sete anos sem força para acontecer, foi novamente realizada em setembro de 2014 e permanece presidindo o evento deste ano, que acontecerá de 30 de setembro a 04 de outubro.

Becker conta que sua relação com o trigo começou ainda na in-fância, na propriedade da família. Foi em 1981 que se mudou, com seus pais, para Cruz Alta, cidade considerada a Capital Nacional do Trigo, para viver e produzir. “Sabemos bem da importância do trigo tanto para o produtor gaúcho como para a economia do Estado. Esta é uma cultura de altos e baixos e a nossa propriedade, assim como outras de toda a região, absorve to-das estas oscilações. Mesmo exis-tindo dificuldades, há dez anos a cidade plantava oito mil hectares do cereal e hoje planta 30 mil. É a maior área cultivada do RS”.

Fabiana Duarte Rezende

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Segundo ele, o trigo é impor-tante para o sistema de rotação de culturas das propriedades gaúchas, mesmo não oferecen-do todos os anos a lucrativida-de esperada. “Nem sempre dá certo por causa do clima. Às vezes são as chuvas excessivas ou, então, as geadas fora de épo-ca. Mas, como nosso maquiná-rio está disponível para o uso e contamos com a mão de obra de nossos funcionários, é pre-ciso ocupar a estrutura para não deixá-la ociosa e, uma forma de fazer isso, é através do plantio do trigo”, comenta, ressaltando ainda a importância do plantio da cultura para conservação do solo. Sua família possui uma área de 1.020 hectares de lavou-ras, 30% dela para o trigo, além de uma área irrigada de 330 hectares.

LutasConforme Airton Carlos

Becker, o Sindicato Rural que preside reivindica ações do go-verno para que, de fato, auxilie os produtores. A retirada do im-posto de importação e a queda do valor do trigo estão entre as maiores preocupações do setor.

Para ele, entre as melhorias a serem conquistadas está a ga-rantia do preço mínimo e a uni-formidade da análise do grão. O secretário municipal conta que durante a queda de preço re-gistrado no último ano, os moi-nhos estariam afirmando que o trigo gaúcho não seria de boa qualidade, apesar de amostras

O envolvimento de Becker com a política vem de casa, já que seu pai foi prefeito de Espumoso nos anos 70. O engajamento, na luta pelas causas que considera justas iniciou ao ser presidente do Diretório da Medicina Veterinária, curso no qual é formado pela Universidade de Santa Maria. Depois disso, somam-se doze anos de envolvimento com o Sindicato Rural de Cruz Alta, seis deles na presidência. “Foi assim que me apaixonei por esta cau-sa, que é por meu setor e por algo que acredito. É uma luta válida, mas nem sempre compensatória. Às vezes, a própria classe pro-dutora não valoriza isso. O Sindicato pode fazer pressão e criar envolvimento. Mas, muitas vezes, as decisões não saem. Se cada um de nós brigasse de maneira ordenada e mais unida, talvez as coisas estivessem melhor agora”.

Política

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“Se cada um de nós brigasse de maneira ordenada e mais unida, talvez as coisas estivessem melhor agora”.

apontarem o contrário. “Temos uma concorrência desleal com alguns países, especialmente aqueles que têm subsídios, já que seus fertilizantes e combus-tíveis são mais baratos. A vinda de trigo de fora para o país é uma concorrência desigual”.

De acordo com Becker, o trigo, hoje, está com melhor qualidade. O produtor está in-vestindo mais em tecnologia, agricultura de precisão e maqui-nário, visando a rentabilidade e qualidade do produto final.

“Talvez, se pegarmos um do-cumento de trinta anos atrás, as reivindicações seriam as mesmas: preço mínimo, um seguro mais eficiente... Hoje, brigamos muito em relação ao Proagro (que funciona como um seguro agrícola de custeio), que tem percentual de cobertu-ra crescente. Estas são algumas das ações que o governo pode tomar para que o produtor se sinta mais motivado e, quem sabe, daqui alguns anos sejamos autossuficientes. É importante destacar que, como esta é uma cultura mais importante para o Paraná e para o Rio Grande do Sul, o restante do Brasil não está se importando tanto com o tri-go”, afirma Becker.

O presidente ainda diz acredi-tar que, de alguns anos para cá, o governo tenha dado um pou-co mais de atenção ao setor por sua importância na economia, pois um terço do PIB vem do agronegócio.

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A FenatrigoBecker conta que a primei-

ra edição da Fenatrigo acon-teceu em 1975, mas nunca teve uma regularidade. A última havia sido realizada em 2007. Como o parque é integrado, pertencente ao Sindicato Rural, à prefeitura de Cruz Alta e à Cooperati-va Agropastoril, as três enti-dades precisariam estar tra-balhando em conjunto para fazer a feira acontecer.

Para a edição de 2014 re-almente acontecer, foi reto-mado o funcionamento da Associação Fenatrigo, a qual

é formada por nove institui-ções do município. “Tive-mos também o fundamental apoio de diversas entidades ligadas ao setor como, por exemplo, da Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul (FARSUL). Os envol-vidos, cada um em seu setor, auxiliaram com a organiza-ção. Como estas entidades e o Executivo Municipal acei-taram bem a ideia, foi pos-sível trazer novamente para Cruz Alta, para os produtores e comunidade interessada, a discussão da importância do trigo”, conta Becker. Ele tam-

bém ressalta a participação fundamental dos voluntários da comunidade, que contri-buíram para a realização do evento. “Observamos que o nome da feira é muito forte e ainda reconhecido por onde quer que se vá pelo Estado. O sentimento da importân-cia do evento não foi somen-te cruzaltense, mas também de toda região. A retomada da feira provavelmente foi mais difícil do que se fosse começar do zero um outro evento, porém dar continui-dade à história da Fenatrigo compensou o esforço”.

Quando: Acontece de 30 de setembro a 04 de outubro de 2015.

Local: Cruz Alta

XIIFenatrigo

Sindicato Rural de Cruz Alta

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Legado “A feira auxilia mantém a au-

toestima do cruzaltense. As pes-soas abraçaram esta ideia e a fei-ra é de Cruz Alta, isso faz com que a comunidade tenha orgu-lho em realizá-la. Para o produ-tor, fica a valorização do trigo, o momento propício para ressal-tar a importância do cereal para a cidade e o estado, bem como fazer com que as reivindicações cheguem onde tem que chegar. Desta forma, vamos fomentan-do o setor triticultor para que o produtor possa estar aqui nova-mente no ano que vem em um melhor momento para o trigo”.

“Acredito que a cadeia do trigo tende a prosperar. Conta-mos com várias empresas de tecnologia trabalhando a favor do produtor, que podem ofe-recer subsídios e variedades a respeito daquilo que o merca-do quer. O trigo é importantís-simo e temos a esperança que todas as condições já citadas sejam melhoradas, principal-mente com políticas mais efi-cientes para o setor. Também espero que o produtor plante mais trigo a cada ano, com melhores rendimentos e qua-lidade”.

Futuro da cadeia

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ESPECIAL TRITICULTURA

mercadoO Trigo

e asincertezas do

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mercado

Às vésperas do início do plantio, área destinada ao cereal ainda não está definida

Cecilia de Cesar Laner

Depois de duas safras completamente di-ferentes entre si, os triticultores gaúchos estão cheios de dúvidas. Investir e apos-tar no trigo, esperando um resultado se-

melhante ao de dois anos atrás, ou ser mais pondera-do e reduzir a área plantada diversificando a lavoura? Previsões de mercado, de clima e opiniões de especia-listas podem ajudar os produtores a decidir qual será a melhor opção para 2015.

Em 2013 o Rio Grande do Sul teve safra recorde. Colheu uma média de 2.822 kg/ha, chegando a 6 mil kg/ha nas melhores lavouras de trigo, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (CO-NAB). Além da produtividade histórica, a qualidade dos grãos também foi muito boa naquele ano e com a falta da commodity no mercado nacional, pois o Para-ná teve quebra de safra no mesmo período, a produ-ção gaúcha logo foi comercializada.

O entusiasmo com os números positivos de 2013 fez com que no ano seguinte a área destinada ao trigo aumentasse em 5% no estado. No entanto, a expectati-va de outra super safra transformou-se em frustração: quebra na lavoura e produto de qualidade ruim, em função do alto índice de umidade. A situação já não era boa para os agricultores do RS e ficou ainda pior com a grande oferta do produto no mercado, em 2014, pois o Paraná teve uma safra cheia e o governo isentou os moinhos de pagarem a Tarifa Externa Comum (TEC) do trigo internacional, o que facilitou a entrada do cereal vindo dos EUA, Canadá e Ucrânia. Esse pro-cedimento foi tomado por parte do governo porque tanto a Argentina quanto o Uruguai e Paraguai não tive-ram trigo suficiente para suprir a demanda do mercado brasileiro. Assim, com a facilidade em adquirir o trigo internacional, o trigo gaúcho, com qualidade baixa, foi ficando de lado na hora da comercialização.

Confira artigo no final da reportagem*

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Expectativas e EspeculaçõesSegundo o agrônomo da

Emater de Passo Fundo, Cláu-dio Dóro, quando o assunto é investir na lavoura de trigo é preciso levar em conta dois fa-tores de risco: o clima e as con-dições de mercado. “É sempre difícil prever o resultado da sa-fra do trigo, pois é uma cultura muito vulnerável às condições climáticas. Uma análise dos úl-timos 10 anos (ver no gráfico) mostra bem como é difícil fazer previsões, já que a produtivida-de muda muito de um ano para o outro. O produtor hoje está receoso em relação ao plantio, pois, além frustração da última safra, o mercado ainda não está bem definido para este ano. O

“O custo da produção será em torno de 13% maior que no ano anterior”

preço mínimo do trigo ainda não foi estabelecido pelo gover-no e o custo de produção será em torno de 13% maior que no ano anterior, em função do au-mento do dólar”. Ele ainda enfa-tizou que o impacto financeiro será ainda maior no investimen-to de fertilizantes, que chegam a estar 23% mais caros que em 2014.

Além da valorização da mo-eda americana frente ao real, outros fatores interferiram no aumento de custo da lavoura, como o aumento da energia, do diesel e da mão-de-obra. “Ano passado, nessa época, o preço do trigo estava em R$ 33,00 a saca. Hoje vem sendo comer-cializado em torno de R$ 30,00. Ou seja, está custando 10% a menos e os custos de produção

estão estimados em 13% a mais. O produtor está sem estímulos para investir”, analisa Dóro, que em função das circunstâncias acredita que a área destinada ao cereal este ano seja de 10% a 15% menor que no ano ante-rior.

Embora não muito otimista em relação à safra 2015, o agrô-nomo adverte que, mesmo em anos de baixa rentabilidade, o trigo é sempre uma boa alter-nativa para os produtores, pois ajuda a diluir os custos fixos da lavoura, conserva o solo e os re-síduos de adubos investidos na cultura deixam a terra melhor preparada para receber a soja e o milho.

As avaliações feitas pelo ana-lista de mercado da consultoria Safras & Mercado, Élcio Bento,

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são um pouco mais otimistas, pois o economista acredita que haverá uma recuperação de preço da commodity. “Nos próximos meses deve haver uma escassez de trigo no mer-cado em função do período da entressafra no Brasil e no Mer-cosul. Levando em conta, que o Paraguai e o Uruguai tiveram safras relativamente ruins e a Argentina tem controlado a ex-portação de grãos desde 2012, por conta de uma política in-terna, há de se crer que os esto-ques devem ter uma boa redu-ção até que se inicie a próxima colheita”. Conforme Élcio, a falta de oferta do produto no mercado deve fazer com que o valor do trigo volte a subir.

Apesar de temerosos, os tri-ticultores, como Airton Be-cker, de Cruz Alta, plantaram 300 hectares de trigo este ano. “Apesar do custo da lavoura estar alto, ainda é vantagem

manter a cultura de inverno por conservar o solo em ótimo estado para o plantio das cul-tivares de verão. Infelizmente estamos frente a uma safra de incertezas em função do au-mento do custo da produção, da alta do dólar e do preço do grão. Há receio dos produto-res em relação à moeda ame-ricana, muitos temem que se repita o que ocorreu cerca de 10 anos atrás, quando, na safra de verão de 2004/2005, os produto-res adquiriram os insumos com o dólar médio cotado a R$3,00 e co-mercializaram sua produção com o dólar médio cotado a R$2,70”,

Tabela

Gráfico 2

Gráfico 1

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*Até o fechamento des-ta edição o Estado ainda

não havia se pronun-ciado quanto à redução

de ICMS do trigo em operações interestaduais.

avalia Becker. Já o produtor rural Venil-

do José Borghetti, de Tapera, possui lavouras no município de residência e em Palmeiras das Missões e já decidiu: não vai plantar trigo este ano. Para Venildo, o alto risco do trigo já não compensa mais. “Plan-tei 600 hectares de soja e 400 hectares de milho. Poderia usar essa terra para plantar trigo, como vinha fazendo nos últi-mos anos. Mas não compensa. Ano passado o prejuízo foi tão alto, que estamos pagando a conta até hoje”, declarou. Para não deixar o solo descoberto, o agricultor optou por investir em aveia este ano.

Em busca de competitividade Em meio ao clima de incer-

tezas, há ações sendo realiza-das no intuito de diluir os cus-tos e aumentar as chances de competitividade do produtor gaúcho. Uma delas é a tentati-va do presidente da Comissão do Trigo, Hamilton Jardim, e do economista do Sistema Far-sul, Antonio da Luz, de reduzir permanentemente a alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para operações inte-restaduais do trigo em grão. Ambos estiveram em reunião, no início de abril, com o se-cretário da Agricultura, Ernani Polo, e o secretário adjunto da Fazenda, Luiz Antônio Bins. No encontro foi salientado o prejuízo dos produtores de trigo do RS no último ano e a dificuldade dos mesmos para

competir, principalmente, com o Paraná que é o maior produtor do cereal, hoje, no Brasil. Se a medida apresentada for aprova-da, a alíquota de ICMS será re-duzida de 12% para 2%, quando houver operações entre estados.

Hamilton destaca que o apoio do governo estadual se-ria determinante para o Rio Grande do Sul manter a área plantada de trigo na última safra. “Caso contrário, a redução vai ser grande. O produtor está de-sestimulado e preocupado com os altos custos de produção. O Sistema Farsul espera posiciona-mento do Estado até maio”*.

Se aprovada, a alíquota de ICMS será redu-zida de

12%para

2%quando houver ope-rações entre estados.

O estado paranaense tem vantagens frente ao Rio Gran-de do Sul por ter alíquota de ICMS reduzida, além de estar mais perto de mercados im-portantes como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, o que implica em menor valor dispensado em frete.

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El Niño 2015Se as perspectivas de mercado são nebulosas

para o trigo, pelo menos em relação ao clima, o agricultor, por enquanto, pode comemorar. As previsões recentes indicam que um El Niño fraco deverá permanecer ativo, pelo menos, du-rante o período de inverno e parte da primavera. Segundo os últimos boletins climáticos, divul-gados pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), este inverno terá frio e chuva dentro da normalidade.

O observador meteorológico da Embrapa Trigo, Ivegndonei Sampaio, salienta que os bo-letins climáticos mais específicos foram divulga-dos com previsões até junho apenas, indicando, de modo geral, que não haverá chuvas em exces-so em função da temperatura do oceano Pacífi-co. “Podemos ver nos relatórios que há registros de redução da temperatura da superfície do mar no Pacífico equatorial, o que enfraquece a con-dição de El Niño”.

Na visão do agrometeorologista Gilberto Cunha, por ora, por ser um evento fraco, El Niño não deveria ser a preocupação principal dos triticultores. “Devemos é torcer para que, em 2015, não se configure sobre o Oceano Atlântico Sul a mesma condição do ano pas-sado, quando o aporte elevado de umidade da Amazônia em associação com a intensificação das frentes frias, causadas pelas anomalias po-sitivas de temperatura da superfície do mar no Atlântico, determinaram chuvas mais intensas e mais dias com chuva no sul do Brasil”.

Redução da temperatura da superfície do mar no Pa-cífico equato-rial enfraquece a condição de El Niño

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No �nal de março o Conselho Inter-nacional de Grãos (IGC sigla em inglês) divulgou uma projeção de queda na produção mundial de trigo para a safra 2015/2016.

Em fevereiro deste ano o Departamento de Agricultu-

ra dos Estados Unidos divulgou que haverá uma

redução na área destinada ao plantio do trigo no país

em função da queda do preço da commodity. A empresa de consultoria

UkrAgroConsult, da Ucrânia, divulgou que a safra de trigo de 2015 deverá sofrer uma quebra de 10% na produção devido a condições climáticas.

Ministério de Agricultura da Rússia prevê uma redução de 35% na safra de trigo em comparação a 2014, quando o país colheu o número recorde de 104 milhões de toneladas.

PROJEÇÃO MUNDIALTambém estimou que a produção global do cereal deve ser de

10 milhões de toneladas a menos que no último ano.

709 milhões de toneladas,

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No �nal de março o Conselho Inter-nacional de Grãos (IGC sigla em inglês) divulgou uma projeção de queda na produção mundial de trigo para a safra 2015/2016.

Em fevereiro deste ano o Departamento de Agricultu-

ra dos Estados Unidos divulgou que haverá uma

redução na área destinada ao plantio do trigo no país

em função da queda do preço da commodity. A empresa de consultoria

UkrAgroConsult, da Ucrânia, divulgou que a safra de trigo de 2015 deverá sofrer uma quebra de 10% na produção devido a condições climáticas.

Ministério de Agricultura da Rússia prevê uma redução de 35% na safra de trigo em comparação a 2014, quando o país colheu o número recorde de 104 milhões de toneladas.

PROJEÇÃO MUNDIALTambém estimou que a produção global do cereal deve ser de

10 milhões de toneladas a menos que no último ano.

709 milhões de toneladas,

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Por Gilberto Cunha, pesquisador da Embrapa Trigo

A primeira dificuldade associada ao clima para os triticultores do sul do país na safra 2014 começou já por ocasião da semeadura. Chuvas elevadas, em quanti-dade e em número de dias, entre maio e começo de julho, pelo excesso de umi-

dade no solo, dificultaram a entrada de máquinas nos campos e o bom estabelecimento das lavouras, motivando, inclusive, o pedido dos produtores rurais de prorrogação do calendário de semeadura do zoneamento agrícola de riscos climáticos para trigo no RS e em SC; que por não apresentar óbice técnico intransponível, foi acatado pelo MAPA. To-davia, superada essa dificuldade inicial, com a semeadura do trigo podendo ser realizada em época ainda dentro de um período favorável para o bom desempenho produtivo da cultura, novas adversidades climáticas, realmente de caráter excepcional, adviriam no co-meço da primavera (em setembro e outubro), dando causa, especialmente por questões relacionadas a doenças de difícil controle, ao baixo desempenho produtivo de muitas la-vouras e, por consequência, motivando o número elevado de pedidos de cobertura do seguro agrícola.

As condições ambientes prevalecentes na estação de crescimento da safra de trigo 2014, no sul do Brasil, favoreceram a ocorrência generaliza de doenças de difícil controle – fúngicas de espiga e bacterioeses –, afetando tanto o rendimento quanto a qualidade do produto colhido.

Além dos danos ao rendimento pela produção de grãos pequenos e chochos, a giberela também pode elevar os níveis de micotoxinas deletérias para a saúde humana e animal, que impede, inclusive, o uso desses grãos para uso como ração animal. As infecções tar-dias de giberela, durante a fase de enchimento de grãos, são responsáveis pela elevação dos níveis de micotoxinas. Ainda relacionado com doenças de espigas, houve registro de ocorrên-cia de brusone (Magnaporte oryzae), diagnosticando-se em levantamentos a incidência de espigas com sintomas de brusone de 5 a 10%, podendo ter atingido níveis maiores que esses em algumas lavouras. Embora, frise-se, essa não seja uma doença típica do trigo no sul do Brasil.

Entre outras doenças, a queima bacteriana também foi diagnosticada com certa fre-quência nas lavouras de trigo no RS, na safra 2014. A principal bactéria causadora dessa doença é a Pseudomonas syringae pv. Syringae, que está sempre presente nas superfícies das folhas de trigo, porém sob umidade elevada e temperaturas amenas (15 a 25 ºC e UR elevada) podem causar os sintomas de queima de folhas. As condições ambientais no final de setembro e começo de outubro determinaram o crescimento explosivo dessas bactérias desencadeando verdadeiras epidemias em algumas lavouras. O único método de controle plausível para bactérias em lavouras é o uso de cultivares resistentes, fato que ficou mais evidente pela resposta cultivar dependente que foi vista nessa safra. Infelizmente, ainda não temos as cultivares de trigo caracterizadas em relação a bac-terioses para conhecermos de antemão esse tipo de risco. Ainda, manchas fúngicas causadas por Drechslera tritici-repentis e Bipolaris sorokiniana foram encontradas com maior frequência nessa safra. Essas manchas, que são favorecidas por chuvas elevadas, tem o seu controle embasado fundamentalmente em rotação de culturas e tra-tamento de sementes.

Indubitavelmente, na safra de 2014 as condições de ambiente (regimes hídrico e térmico) favoreceram sobremaneira a ocorrência de epidemias, fúngicas e bacterianas em trigo.

Dificuldades de 2014

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Clima e tecnologia”, segundo o engenheiro agrôno-mo da Emater, Cláudio Dóro, essa foi a dupla res-ponsável pela melhor colheita de soja de todos os tempos. A média, na região de Passo Fundo, ficou

em 3.150 kg/ha, ultrapassando as médias dos últimos anos e superando a expectativa da colheita para 2015. “O clima úmi-do e quente que tivemos neste verão foi perfeito para o desen-volvimento da soja. Mas os excelentes resultados também são provenientes do investimento na lavoura. Os agricultores es-tão percebendo cada vez mais que a utilização de equipamen-tos com tecnologias como agricultura de precisão e máquinas precisas são fundamentais para aumentar a produção sem ter a necessidade de aumentar a área plantada”, destaca.

Em todo o estado a safra rendeu 15,19 milhões de toneladas da oleaginosa, ultrapassando o número inicial estimado no início do plantio, que era de 14,84 milhões de toneladas, se-gundo dados divulgados no Informativo Conjuntural da Emater. A única região do estado que não superou as expectativas de produ-tividade foi a região sul, ficando com uma média de 2.224 kg/ha, enquanto se estimava colher o montante de 2.680 kg/ha. O resul-tado de 17% inferior ao total esperado se deve à falta de chuva, es-pecialmente no final do ciclo, quando a planta está enchendo o grão.

Para saber como foi a colheita dos gaúchos, acompanhe os dados divulgados por produtores de diferentes regiões.

SOJA

Uma safra para ninguém botarDEFEITOMédia de produtividade foi a mais alta da história

Junho e Julho| 2015 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº 9 | 35

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36 | | Junho e Julho - 2015 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº936 | | Junho e Julho - 2015 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº9

“Foi a maior e melhor safra. Tanto em rendimen-tos quanto em qualidade do grão.”

“Nunca colhi tanto! Essa safra foi fruto de muito trabalho e cuidado com a lavoura. Procuro estar sempre me atualizando, participo de palestras e já viajei para o exterior visitar fazendas modelo. Mas mesmo com a bagagem cheia de conhecimentos e experiência, não abro mão da assistência técnica de um agrônomo. Para mim, isso é funda-mental!”

Antônio Carlos Cassol (Presidente do Sindicato Rural)

Área plantada: 190 hectares

Produtividade: 62 sacas/ha

“A colheita foi ótima em Vacaria! Porém dois problemas afetaram a produtividade da lavoura de Bagé. Primeiro foi o excesso de chuva próximo à época do plantio da soja, que deixou o solo compacto, prejudicando o desenvolvi-

mento da planta. Depois foi a falta da chuva no final do ciclo que comprometeu o bom rendimento da planta-

ção.”

“Excelente safra! Colhi mais que no ano anterior, além de ter obtido mais rendimento, pois o custo da lavoura foi inferior ao da safra passada e a lucratividade maior.”

Três de Maio

“Em Três de Maio as variedades de soja de ciclo mais precoce apresentaram um rendimento bem superior às de ciclo médio e tardio. A colheita se iniciou com médias acima de 60 sacas/ha. As lavouras que contaram com rotação de culturas (introduzindo o milho entre a soja e o trigo) obtiveram melhores resultados. Porém, sofremos uma estiagem que afetou a nossa região em março, além de termos registrado bastante ocorrência de ferrugem. Os dois fatores derrubaram a produtividade das variedades de ciclo médio e tardio, deixando a média de produtividade do município em pouco mais de 45 sacas/ha, conforme dados da Emater local.”

Área plantada: 900 hectares

Produtividade: 50 sacas/ha

Leandro Borghetti

Constantina

Franciel Ribolli Largo

“Foi um excelente resultado. Colhi 30% a mais que no ano passado.”

Narciso Barison NetoÁrea plantada: 4.000 hectares (Vacaria) e 900 hectares (Bagé)

Produtividade: 70 sacas/ha (Vacaria) e 40 sacas/ha (Bagé)

Ibirubá

Leonir Fior (Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais)

Área plantada: 60 hectares

Produtividade: 64 sacas/ha

Tupanciretã

Emerci Natalberto Richter

Área plantada: 1.000 hectares

Produtividade: 63 sacas/ha

Vacaria / Bagé

Área plantada: 600 hectares (divididos entre as propriedades das cidades)

Produtividade: 75 sacas/ha

Palmeira das Missões / Tapera

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Junho e Julho | 2015 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº 9 | 37 Junho e Julho | 2015 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº 9 | 37

“Foi a maior e melhor safra. Tanto em rendimen-tos quanto em qualidade do grão.”

“Nunca colhi tanto! Essa safra foi fruto de muito trabalho e cuidado com a lavoura. Procuro estar sempre me atualizando, participo de palestras e já viajei para o exterior visitar fazendas modelo. Mas mesmo com a bagagem cheia de conhecimentos e experiência, não abro mão da assistência técnica de um agrônomo. Para mim, isso é funda-mental!”

Antônio Carlos Cassol (Presidente do Sindicato Rural)

Área plantada: 190 hectares

Produtividade: 62 sacas/ha

“A colheita foi ótima em Vacaria! Porém dois problemas afetaram a produtividade da lavoura de Bagé. Primeiro foi o excesso de chuva próximo à época do plantio da soja, que deixou o solo compacto, prejudicando o desenvolvi-

mento da planta. Depois foi a falta da chuva no final do ciclo que comprometeu o bom rendimento da planta-

ção.”

“Excelente safra! Colhi mais que no ano anterior, além de ter obtido mais rendimento, pois o custo da lavoura foi inferior ao da safra passada e a lucratividade maior.”

Três de Maio

“Em Três de Maio as variedades de soja de ciclo mais precoce apresentaram um rendimento bem superior às de ciclo médio e tardio. A colheita se iniciou com médias acima de 60 sacas/ha. As lavouras que contaram com rotação de culturas (introduzindo o milho entre a soja e o trigo) obtiveram melhores resultados. Porém, sofremos uma estiagem que afetou a nossa região em março, além de termos registrado bastante ocorrência de ferrugem. Os dois fatores derrubaram a produtividade das variedades de ciclo médio e tardio, deixando a média de produtividade do município em pouco mais de 45 sacas/ha, conforme dados da Emater local.”

Área plantada: 900 hectares

Produtividade: 50 sacas/ha

Leandro Borghetti

Constantina

Franciel Ribolli Largo

“Foi um excelente resultado. Colhi 30% a mais que no ano passado.”

Narciso Barison NetoÁrea plantada: 4.000 hectares (Vacaria) e 900 hectares (Bagé)

Produtividade: 70 sacas/ha (Vacaria) e 40 sacas/ha (Bagé)

Ibirubá

Leonir Fior (Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais)

Área plantada: 60 hectares

Produtividade: 64 sacas/ha

Tupanciretã

Emerci Natalberto Richter

Área plantada: 1.000 hectares

Produtividade: 63 sacas/ha

Vacaria / Bagé

Área plantada: 600 hectares (divididos entre as propriedades das cidades)

Produtividade: 75 sacas/ha

Palmeira das Missões / Tapera

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38 | | Junho e Julho - 2015 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº9

DESTAQUE EMPRESAS

Cambaí: a marca da evolução no campo

Sede Administrativa

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Junho e Julho | 2015 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº 9 | 39

A empresa sentiu a necessidade de marcar seus 10 anos com uma renovação

Apesar de ser uma marca nova, a Cam-baí traz um legado em seu nome. Com

uma longa história de atuação no mercado sob o nome de Se-mentes São Pedro, a empresa sentiu a necessidade de marcar seus 10 anos com uma renova-ção. “Ao longo dos anos fomos amadurecendo e conseguimos realizar muitos projetos com os quais sonhávamos, enquanto éramos Sementes São Pedro. Mas no mundo do agronegó-cio as mudanças são constan-tes, portanto precisamos estar sempre atentos e evoluindo”, destaca o presidente da empre-sa, Valdinei Donato.

Foi com essa proposta que nasceu a Cambaí. “Sentíamos que precisávamos de um nível de profissionalização maior. Aumentamos significativa-mente o volume de sementes produzidas, a estrutura física e ganhamos espaço no merca-do. Então, veio a necessidade de buscar pessoas que dessem suporte a esse crescimento. Sa-bemos do valor das pessoas e entendemos que somente com uma boa equipe se consegue uma marca de sucesso”, enfati-za. O empresário conta que nos últimos tempos a Cambaí pas-sou por uma grande reestrutu-ração. Vários profissionais fo-ram incorporados no setor de

DESTAQUE EMPRESAS

administração, logística, pro-dução e comercialização. “Foi um processo longo que exigiu muitas mudanças, mas hoje já começamos a colher os frutos, sempre tendo como foco prin-cipal a produção de sementes”.

Originalmente a empresa co-meçou de forma familiar, com o pai de Valdinei, Valdir Dona-to. Com o passar do tempo os negócios se tornaram indepen-dentes e hoje Valdinei atua na empresa com a esposa Liliana, na gestão do negócio. O casal tem três filhos: a Luiza (14), a Isadora (12) e o Alexandre (5). Todos estão sempre envolvi-dos, participando dos eventos realizados na fazenda.

Valdinei começou a traba-

“Sabemos do valor das pes-soas e entende-mos que somente com uma boa equi-pe se con-segue uma marca de sucesso”

Valdinei e Liliana

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40 | | Junho e Julho - 2015 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº9

lhar na lavoura em 1994, após concluir o curso de Agrono-mia pela Universidade de Pas-so Fundo. Aplicar os conheci-mentos aprendidos para crescer e impulsionar os negócios da família era o desafio. Neste pe-ríodo a implantação do Siste-ma de Plantio Direto era uma prioridade, pois a necessidade de desenvolver um processo produtivo, no qual as perdas de solo fossem minimizadas era muito importante. Porém ele fala que havia muita dificulda-de, principalmente no que diz respeito a máquinas de plantio e técnicas de controle de inva-soras. “Tivemos que aprender fazendo”, lembra. As irregula-ridades climáticas dificultavam muito a gestão da propriedade. A inconstância na produção tornava a tarefa de fazer um planejamento quase impossí-vel. “Tínhamos que encontrar um caminho que minimizasse

DESTAQUE EMPRESAS

essa situação. Nesta busca pas-samos por diversos estudos em um período de dois anos para implementar a irrigação na pro-priedade. Por fim, em 2000 foi instalado o primeiro pivô cen-tral da região na propriedade da família e os bons resultados al-cançados transformaram não só a nossa empresa: hoje a região das missões se consolida como um importante pólo de irriga-ção no estado. Sempre dividi-mos estes conhecimentos ten-tando contribuir com a região. Atualmente temos na fazenda, a qual possui 2.100 hectares, 20 equipamentos instalados que contemplam 50% da nossa área plantada”, comemora.

Nos primeiros anos com pivô central, entre 2000 e 2004, fo-ram tempos de margens encur-tadas. Em 2002 foi implantado um software de gestão que pro-porcionou um olhar diferente sobre a propriedade. “Era uma

“Já são 10 anos e o cresci-mento na produção nos colo-cou entre as princi-pais em-presas de sementes do esta-do”.

época em que se precisava fazer mais com menos re-cursos”, pondera o empresá-rio. Foi neste período, após a legalização da soja RR no Brasil, que a atividade de pro-dução de sementes começou para a São Pedro. “Buscamos diversas parcerias, tanto re-lacionadas à cultura do trigo quanto da soja, trabalhando sempre para trazer as melho-res cultivares e as melhores informações técnicas para os nossos clientes. Já são 10 anos

Da esquerda para a direita. Isadora, Liliana, Valdinei, Luiza e Alexandre

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Junho e Julho | 2015 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº 9 | 41

e o crescimento na produção nos colocou entre as principais empresas de sementes do esta-do”, destaca com orgulho.

Hoje a companhia possui uma holding que abriga a sub-divisão de três áreas de negó-cios que se complementam entre si: lavoura, produção de sementes e transportes. Tendo como base de sustentação e foco o negócio da multiplica-ção de sementes, o grande ob-jetivo da Cambaí é colaborar com o crescimento da produ-

tividade no campo, garantindo renda e maximizando resulta-dos para os clientes e parcei-ros, através do fornecimento de cultivares com uma gené-tica avançada, sanidade e de altos potenciais produtivos. “O desafio da Cambaí é fazer parte do crescimento qualita-tivo do agronegócio brasileiro. Para isso, constantemente são realizados investimentos em tecnologia de produção, bus-cando uma semente com  alto poder germinativo, vigor e ex-

celente sanidade”, finaliza Val-dinei Donato.

Pivô com trigo

Armazenamento em Bag de 1000kg

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42 | | Junho e Julho - 2015 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº9

Elmar Luiz FlossEngenheiro Agrônomo e licenciado em Ciências, Dr. em Agronomia, Diretor do Instituto Incia

OPNIÃ[email protected]

O trigo e o pão são uma espécie de alimento sagrado para todos os povos, por isso, os

mais citados na Bíblia. O que muda é a forma de elaboração do pão. O trigo é o terceiro grão alimentício mais produzido no mundo, apenas superado pelo milho e pelo arroz. O Brasil tem um consumo anual de aproximadamente 12,5 milhões de t, sendo 90% destinado à elabora-ção de pães. E o Brasil, na última safra, colheu aproximadamente 50% dessa demanda. Portanto, nos últimos anos, o Brasil importa mais de 50% de suas necessidades, a partir da Argentina, Estados Unidos, Canadá e Rússia. Apesar de termos cultivares e tecnologias de manejo disponíveis para produzir em quan-tidade e com qualidade para pani-ficação. Portanto, não somos au-tossuficientes por questões políticas que privilegiam a importação. Na safra 2013, tivemos uma

colheita de trigo com o maior ren-dimento e qualidade do grão da história. Foi resultado da utilização de cultivares com maiores poten-ciais de rendimento e com melhor qualidade, adaptados às diferen-tes condições de solo, à utilização (“otimizada”) das melhores tecnolo-gias de manejo, hoje disponíveis, e pela ocorrência de adequadas condições climáticas. Infelizmente, em 2014, mesmo numa situação de condições climáticas desfavoráveis,

TRIGO, PÃO FRANCÊS E GLÚTENas lavouras implantadas com os melhores cultivares, com diferentes ciclos, o uso de sementes com vig-or, no qual houve a melhoria das condições físicas, químicas e biológi-cas do solo, pela implantação com qualidade do sistema plantio direto, solos com coberturas verdes (nabo ou aveia preta) como cultura interca-lar, a rotação de culturas, qualidade de semeadura e a utilização das mel-hores tecnologias de manejo da cul-tura, com precisão, a lavoura ainda apresentou rendimentos satisfatórios. Com o uso de melhores cultivares e as melhores tecnologias de manejo, estamos obtendo melhores rendimen-tos de trigo, mesmo em condições adversas. Além da produtividade, a rentabili-

dade da lavoura depende também da qualidade para panificação do grão colhido. Os consumidores exi-gem cada vez mais o pão francês. Um pãozinho pequeno (“cacetin-ho”), marronzinho por fora, branco e fofo por dentro. Até sua forma im-ita um grão de trigo. Para produzir esse pão francês, há necessidade de uma farinha diferenciada de trigo. Uma farinha obtida a partir de trigos com alta força de glúten, chamados trigo tipo pão, ou mel-horador. Na moagem do trigo, separa-se o farelo, rico em fibras, solúveis e insolúveis, e, proteínas do tipo globulinas e albuminas. Esse farelo é destinado ao arraçoa-mento animal. A farinha “branca”

vem do endosperma ou albúmen do grão de trigo, onde predomina o amido. Para elaborar o tão apre-ciado e procurado pão francês, há necessidade de um teor maior de outros dois tipos de proteína nessa farinha “branca”, que são as glu-telinas e as gliadinas. As glutelinas dão a capacidade de crescer da massa (estensibilidade), enquanto as gliadinas são responsáveis pela retenção dos gases da fermentação (tenacidade), sem o rompimento da massa (pão abatumado). Portanto, para obter essa farinha para o pão francês, houve melhoramento gené-tico e um manejo mais adequado da cultura.Infelizmente, há pessoas que são

intolerantes ao glúten (os cilíacos). Como também existem pessoas intolerantes à lactose, o açúcar do leite. E, como aumentamos a produção de trigos, com mais for-ça de glúten (para elaborar o pão francês), é evidente que aumentou o teor de glúten no pão francês. O engano está no modismo de reti-rar o glúten da alimentação para perder peso. O glútem (glutelinas e gliadinas) são proteínas e não en-gordam, e sim aumentam a massa muscular. O que engorda é a o amido, predominantemente pre-sente no pão francês. Sob ponto de vista nutritivo e saúde humana, deveríamos consumir pão integral, com mais proteínas e fibras e menos amido, e não o pão francês.

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Junho e Julho | 2015 | Rio Grande do Sul | Ano II | nº 9 | 43

Page 44: Destaque rural 9ª Edição

Cinco décadas de história e de ação em prol do agronegócio gaúcho