desnaturalizaÇÃo do rio doce: uma abordagem … · ao engenheiro francisco hermes, pela...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA MAIONNY SOARES QUIEZA DALLAPICOLA DESNATURALIZAÇÃO DO RIO DOCE: UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA DAS INTERVENÇÕES NO SETOR URBANO DE COLATINA/ES Vitória - ES 2015

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Page 1: DESNATURALIZAÇÃO DO RIO DOCE: UMA ABORDAGEM … · Ao engenheiro Francisco Hermes, pela experiência e conhecimentos partilhados da área de estudo. Aos meus amigos Mônica Regina,

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPIacuteRITO SANTO CENTRO DE CIEcircNCIAS HUMANAS E NATURAIS

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

MAIONNY SOARES QUIEZA DALLAPICOLA

DESNATURALIZACcedilAtildeO DO RIO DOCE UMA ABORDAGEM GEOGRAacuteFICA DAS INTERVENCcedilOtildeES NO SETOR URBANO DE

COLATINAES

Vitoacuteria - ES 2015

MAIONNY SOARES QUIEZA DALLAPICOLA

DESNATURALIZACcedilAtildeO DO RIO DOCE UMA ABORDAGEM GEOGRAacuteFICA DAS INTERVENCcedilOtildeES NO SETOR URBANO DE

COLATINAES

Monografia apresentada ao Departamento de

Geografia do Centro de Ciecircncias Humanas e

Naturais da Universidade Federal do Espiacuterito

Santo como requisito parcial para obtenccedilatildeo

do Grau de Bacharel em Geografia

Orientador Prof Dr Andreacute Luiz Nascentes Coelho

Vitoacuteria - ES 2015

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo a Deus pela forccedila dia a dia sem a qual natildeo seria possiacutevel superar

os obstaacuteculos e alcanccedilar a vitoacuteria

Aos meus pais Maxima e Francisco por todo ensinamento por acreditarem

na minha capacidade e por me ajudarem a sonhar e correr atraacutes dos meus

objetivos

Ao meu marido Cleder pela paciecircncia pela forccedila nos momentos de

desacircnimo e por todo apoio dedicado Sem vocecirc natildeo teria conseguido

Ao engenheiro Francisco Hermes pela experiecircncia e conhecimentos

partilhados da aacuterea de estudo

Aos meus amigos Mocircnica Regina Larissa Patriacutecia e Ronald por todo apoio

e ajuda durante esta pesquisa

Ao meu orientador Andreacute pela oportunidade desta pesquisa pela paciecircncia

dedicada a mim e por todos os ensinamentos compartilhados Muito obrigada

A todos aqueles que estiveram comigo durante a graduaccedilatildeo e que

contribuiacuteram de alguma forma com o meu aprendizado

RESUMO Este trabalho tem como objeto de estudo o setor do Rio Doce que corta a aacuterea

urbana de Colatina ndash ES O objetivo principal desta anaacutelise foi verificar como as

intervenccedilotildees humanas no canal fluvial tecircm contribuiacutedo para ampliaccedilatildeo das cheias

na planiacutecie de inundaccedilatildeo Partindo desta premissa a pesquisa baseou-se na

anaacutelise de fotos histoacutericas de 1906 a 2015 e imagens de sateacutelite em periacuteodos de

vazante (abril) e cheia (janeiro) do rio Doce por onde foi possiacutevel cartografar as

alteraccedilotildees nas margens deste corpo hiacutedrico O cruzamento das seacuteries temporais

histoacutericas de vazatildeo do rio com a ocupaccedilatildeo da Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente

(APP) permitiu delimitar os pontos mais fragilizados da Av Beira Rio Deste modo

os resultados indicaram que o crescimento urbano desordenado e contiacutenuo

associado agraves alteraccedilotildees nos processos geomorfoloacutegicos tem intensificado a

degradaccedilatildeo do canal fluvial potencializando as inundaccedilotildees

Palavras-chave Geomorfologia fluvial geotecnologias anaacutelise geograacutefica integrada

intervenccedilatildeo humana e inundaccedilatildeo

REacuteSUMEacute

Ce travail a pour objet deacutetude le secteur de la Riviegravere Doce coupe de la zone urbaine ne

de Colatina ndash ES Le principal objectif de cette analyse eacutetait de veacuterifier comme les

interventions humaines dans le chenal de la Riviegravere Doce ont contribueacute pour le submersion

de la plaine dinondation De cette preacutemisse la recherche a eacuteteacute baseacutee sur lanalyse de

photographies historiques de 1906 a 2015 et images en peacuteriode de reflux (avril) et flux

(janvier) de la Riviegravere Doce par lequel il a eacuteteacute possible de cartographier les changements

dans les marges de ce plan deau Gracircce agrave lanalyse de la seacuterie chronologique historique

de deacutebit de la riviegravere et de loccupation de la zone de preacuteservation permanent crsquoest possible

didentifier les points les plus vulneacuterables de lrsquoAvenue Beira-Rio Ainsi les reacutesultats

indiquent que la croissance urbaine deacutesordonneacutee et continue associeacutee aux changements

dans les processus geacuteomorphologiques a intensifieacute la deacutegradation du chenal de la riviegravere

en renforccedilant des inondations

Mots-cleacutes la geacuteomorphologie fluviale geacuteotechnologies analyse geacuteographique inteacutegreacutee

dintervention humaine et inondations

ABSTRACT

This paper has as object of study the sector of Doce River cutting the urban areas of

Colatina ndash ES The main objective of this analyze was to verify how human interventions on

Docersquos river channel have contributed how human interventions in river channel have

contributed to the tide of the floodplain From this premise the research was based on

analysis of historical photographs from 1906 to 2015 and aerial images in periods of ebb

(April) and flood (January) of Doce river by which it was possible to map the changes in the

margins of this water body Crossing the analysis of historical time series of river flow with

the occupation of areas of permanent preservation it was possible to delimitate the most

vulnerable points of Beira-Rio Avenue Thus the results indicated that the cluttered and

continuous urban growth associated with changes in geomorphological processes has

intensified de degradation of the river channel increasing flooding

Keywords fluvial geomorphology geotechnologies integrated geographical analysis

human intervention and flood

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e Rio Doce 18

Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 19

Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de

2013 19

Figura 4 - Tipos de leito fluvialvarzea 21

Figura 5 - Padrotildees dos canais 21

Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento 32

Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia 33

Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC) 37

Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906

Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce 41

Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da

regiatildeo 42

Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce 43

Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio

Doce 43

Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes 45

Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de

crescimento 47

Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios que interceptam a cidade de Colatina

48

Figura 16 - Traccedilado das mensuraccedilotildees da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de

vazante mecircs de abril2013 50

Figura 17 - Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro

urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal 51

Figura 18 - Representaccedilatildeo de inundaccedilatildeo urbana 53

Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de

1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 55

Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2)

Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do

recorte em rosa da APP de 50 m (amarelo claro) e 500 m (amarelo escuro) 56

Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponrte Florentino Aacutevidos (direita)

e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa

Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque

em vermelho para o curso atual do Santa Maria 58

Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de

proteccedilatildeo agrave ponte 59

Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o

traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas 60

Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o

calccediladatildeo da Av Beira-Rio61

Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento

iniciada em 2004 e finalizada em 2008 62

Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina 63

Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce antes e

depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas 64

Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 66

Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto da Beira-Rio 68

Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da

inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av

Beira-Rio em dezembro de 2013 69

Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do rio Aar Munster Alemanha (1998) 72

Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos 72

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Perfis Transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de vazante (abril) e cheia (janeiro) 50

Tabela 2 Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013 54

Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1 67

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 - Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais

(Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia) 25

Graacutefico 2 - Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 201045

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANA - Agecircncia Nacional de Aacuteguas

APP - Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente

CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais Serviccedilo Geoloacutegico Brasileiro

GEOBASES - Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espiacuterito Santo

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IJSN - Instituto Jones dos Santos Neves

INCAPER - Instituto Capixaba de Pesquisa Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural

PDM - Plano Diretor Municipal

PMC - Prefeitura Municipal de Colatina

PROATER - Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural

SIG - Sistema de Informaccedilotildees Geograacuteficas

UHE ndash Usina Hidreleacutetrica

UTM - Universal Tranverse Mercator

USGS - Geological Survey Serviccedilo Geoloacutegico Americano

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14

11 Objetivo 16

111 Objetivo Geral 16

112 Objetivos Especiacuteficos 16

12 Justificativa 17

2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS 20

21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano 20

211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial 23

22 Aspectos Juriacutedicos 27

23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos 31

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS 36

4 RESULTADOS 40

41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana 40

411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade 46

42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce 49

421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie de

Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio 53

422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio 65

5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 71

6 CONCLUSAtildeO 74

7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 77

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

A partir da deacutecada de 1930 com a transiccedilatildeo econocircmica de um eixo agraacuterio-exportador

para um polo urbano-industrial (CARNEIRO 2008) verificou-se no Brasil a migraccedilatildeo da

maior parte da populaccedilatildeo para as cidades Isso acarretou segundo Tucci (2013 p17) uma

ldquo[] concentraccedilatildeo urbana no Brasil da ordem de 80 da populaccedilatildeo e o seu

desenvolvimento tem sido realizado de forma pouco planejada com grandes conflitos

institucionais e tecnoloacutegicos []rdquo

De acordo com Canholi (2005 p15) a expansatildeo da aacuterea urbana ldquo[] consequentemente

impermeabilizada ocorreu a partir das zonas mais baixas proacuteximas agraves vaacuterzeas dos rios

ou agrave beira-mar em direccedilatildeo agraves colinas e morros em face da necessaacuteria interaccedilatildeo da

populaccedilatildeo com os corpos hiacutedricos []rdquo Neste cenaacuterio surgem as ocupaccedilotildees irregulares

nas Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) como as da planiacutecie de inundaccedilatildeo dos rios

e os topos de morros

Essas ocupaccedilotildees desordenadas satildeo proporcionadas pela precariedade da implantaccedilatildeo e

fiscalizaccedilatildeo das legislaccedilotildees urbaniacutesticas de ordenamento territorial e ambiental Neste

contexto satildeo relevantes as pesquisas que visam correlacionar o viacutenculo

sociedadenatureza de modo a entender como a ocupaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo no

solo conecta-se com a hidrodinacircmica dos recursos naturais uma vez que ldquo[] a tendecircncia

atual do limitado planejamento urbano integrado estaacute levando as cidades a um caos

ambiental urbano com custo extremamente alto para a sociedaderdquo (TUCCI 2013 p17)

Deve-se partir do pressuposto teoacuterico articulado com a ideia anterior de ldquo[]

indissociabilidade entre natureza e sociedade []rdquo (COELHO 2013 p21) em que a

sociedade natildeo pode ser apenas entendida como populaccedilatildeo e a natureza enquanto mero

ambiente fiacutesico mas que estes dois fatores estatildeo dinamicamente produzindo o espaccedilo

geograacutefico

Neste contexto a problemaacutetica se afirma no intuito de relacionar as legislaccedilotildees urbanas

(Lei de Parcelamento do Solo 676679 e PDM) e ambientais (Novo Coacutedigo Florestal 2012)

com as suas aplicaccedilotildees ou natildeo no periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina

principalmente nos bairros que se situam na planiacutecie de inundaccedilatildeo do Rio Doce

A escolha da temaacutetica tambeacutem teve como premissa a importacircncia regional de Colatina

como entreposto comercial e logiacutestico para os municiacutepios do noroeste capixaba conforme

15

relato do Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural - PROATER (INCAPER

2011)

Exportadores de cafeacute atacadistas e as lojas de pronta entrega dinamizam o comeacutercio local que atende aos municiacutepios do norte capixaba leste de Minas Gerais e sul da Bahia representando um universo de mais de 700 mil consumidores (INCAPER 2011 p5)

De acordo ainda com o INCAPER (op cit) Colatina tem crescido a uma margem de 188

anual o que representa a tendecircncia ao ecircxodo rural sendo que a populaccedilatildeo do campo vem

diminuindo de aproximadamente 19 em 1990 passou a 12 no Censo de 2010 Diante

do exposto entra em discussatildeo o planejamento urbano pois com o crescimento da

populaccedilatildeo citadina para cerca de 88 aumentam tambeacutem as pressotildees sobre o meio

ambiente em especial as regiotildees ribeirinhas

Estas uacuteltimas refletem o aumento das atividades humanas na bacia hidrograacutefica onde

pode-se destacar as mudanccedilas induzidas pelas accedilotildees antropogecircnicas que se dividem em

diretas (aquelas que atuam no canal fluvial para controle das vazotildees a exemplo dos

reservatoacuterios e desvios de aacuteguas) e indiretas relacionadas agraves aacutereas fora dos canais por

exemplo o desmatamento e urbanizaccedilatildeo sendo que estas comprometem a descarga e

carga soacutelida do rio (PARK1981 KNIGHTON1984 apud CUNHA 2001)

O interesse pela pesquisa surge da importacircncia regional do municiacutepio dos impactos

histoacutericos humanos materiais e imateriais sofridos diante de eventos hidroloacutegicos

extremos tendo em vista o fato de o periacutemetro urbano ser cortado por um corpo fluvial de

importacircncia regional Aleacutem disso a abordagem geograacutefica possibilita a correlaccedilatildeo dos

processos fluviais com a ocupaccedilatildeo urbana de modo mais integrado (COELHO 2009)

Portanto uma das finalidades deste trabalho eacute analisar por meio das geotecnologias e das

investigaccedilotildees de campo como a ocupaccedilatildeo urbana tem interferido nas margens do Rio

Doce de modo a delimitar os sucessivos aterros na margem direita no periacutemetro do bairro

Esplanada a Colatina Velha Ademais identificar como os processos deste canal fluvial

tecircm sido afetados pela intervenccedilatildeo humana em seu leito principal

16

11 Objetivo

111 Objetivo Geral

Correlacionar os processos fluviais do Rio Doce por meio da dinacircmica geomorfoloacutegica

deste canal com o uso e cobertura da terra no setor urbano do municiacutepio de Colatina

Espiacuterito Santo Contrapondo assim as intervenccedilotildees urbanas da beira-rio com o Plano

Diretor Municipal e o Novo Coacutedigo Florestal enfatizando as diretrizes adotadas no

parcelamento do solo para a planiacutecie de inundaccedilatildeo deste rio

112 Objetivos Especiacuteficos

Identificar os vetores de crescimento urbano do municiacutepio a fim de avaliar a

evoluccedilatildeo da mancha urbana junto ao canal principal

Determinar o comprimento da borda da calha do leito regular do Rio Doce no

periacutemetro urbano de Colatina para definiccedilatildeo da largura miacutenima da faixa marginal

de preservaccedilatildeo

Espacializar as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente beira-rio previstas em lei a fim

de analisar a ocupaccedilatildeo urbana nestes espaccedilos

Cartografar os principais pontos desnaturalizados no canal principal do Rio Doce

no setor urbano de Colatina

Demonstrar como o emprego das geotecnologias auxilia no planejamento urbano

e ambiental especialmente em acircmbito municipal

17

12 Justificativa

A aacuterea de estudo corresponde ao periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina situado na

Bacia Atlacircntico trecho leste sub-bacia do Rio Doce no baixo curso (ANA 2001)

Compreende a regiatildeo noroeste do estado do Espiacuterito Santo latitude 19deg 32rsquo 16rsquorsquo S e

longitude 40deg 37rsquo 59rsquorsquo W De acordo com os dados do censo de 2010 do Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio possuiacutea uma populaccedilatildeo de 111788 mil

habitantes1 numa aacuterea territorial de 1416804 kmsup2

Devido a sua privilegiada posiccedilatildeo geograacutefica limiacutetrofe com o Rio Doce e a construccedilatildeo da

Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas em 1906 Colatina compreendia os territoacuterios dos atuais

municiacutepios de Baixo Guandu Linhares Pancas Satildeo Gabriel da Palha Marilacircndia Satildeo

Domingos do Norte e Governador Lindenberg (INCAPER 2011) Soacute a partir de 2001

passou a apresentar os atuais limites municipais e configurar uma aacuterea urbana com 59

bairros (Figura 1)

Colatina eacute um municiacutepio de importacircncia para regiatildeo noroeste capixaba seja em caraacuteter

econocircmico ou social Eacute responsaacutevel pelos fluxos de cargas da regiatildeo aleacutem de ser um polo

moveleiro de confecccedilatildeo metalmecacircnico e de comeacutercio e serviccedilos gerando emprego e

renda (INCAPER 2011) Aleacutem disso tem sofrido historicamente com as cheias do Rio

Doce principalmente porque parte do seu periacutemetro urbano eacute inundado com as aacuteguas da

calha principal desse rio o que compromete toda a dinacircmica local e potildee em risco os

colatinenses

Assim diante das crescentes demandas por territoacuterio no periacutemetro urbano a populaccedilatildeo

tem suprimido a cobertura vegetal e ocupado desde as margens do Rio Doce ateacute as

encostas dos morros Em periacuteodos de cheias principalmente nos meses de outubro a

marccedilo (INCAPER 2011 ANA 2001) verificam-se inundaccedilotildees de grande parte da aacuterea

urbana beira-rio aleacutem dos movimentos de massa nas encostas Como exemplo destes

acontecimentos tecircm-se os registros fotograacuteficos dos efeitos da chuva de dezembro de 2013

(Figuras 2 e 3)

1 De acordo com o a estimativa do IBGE de 2014 publicada no DOU o municiacutepio conta com uma populaccedilatildeo de 121670 habitantes

18

Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e o canal do Rio Doce Elaborado pela autora

19

Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 Fonte Noticias UOL (2013)

Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de 2013 Fonte Folha Vitoacuteria (2013)

Este estudo portanto eacute relevante tendo em vista as raras abordagens no acircmbito das

Ciecircncias Geograacuteficas especialmente no Espiacuterito Santo de pesquisas que correlacionem

aspectos da geomorfologia fluvial por meio da dinacircmica dos recursos hiacutedricos com o uso

e cobertura da terra particularmente o Plano Diretor Municipal (PDM) Discute dessa

forma as implicaccedilotildees da atuaccedilatildeo humana nas particularidades deste ecossistema natural

tendo em vista o disposto nas legislaccedilotildees urbaniacutesticas e ambientais que visam assegurar

a qualidade de vida das populaccedilotildees

Adiante seratildeo analisados os principais fundamentos da geomorfologia fluvial os aspectos

juriacutedicos e o papel da anaacutelise geograacutefica integrada para o entendimento dos fenocircmenos

das inundaccedilotildees no Centro de Colatina uma vez que eacute devido agraves intervenccedilotildees humanas

nos canais e suas margens que esses fenocircmenos tornam-se mais nocivos a cidade

20

2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS

21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano

Recurso essencial para a manutenccedilatildeo da vida a aacutegua foi um fator relevante para o

estabelecimento histoacuterico das sociedades no entorno dos cursos hiacutedricos Utilizados para

fins de abastecimento humano e animal irrigaccedilatildeo saneamento e transporte os rios

constituiacuteram-se nos principais propulsores de penetraccedilatildeo para o interior (CUNHA 2012a)

Logo em suas margens surgiram povoados que posteriormente transformaram-se em

cidades como as que se estabeleceram agraves margens do Rio Doce a exemplo da sede de

Colatina

Diante das potencialidades que os recursos hiacutedricos possibilitam agraves sociedades

destacamos a importacircncia do estudo da Geomorfologia Fluvial que se apresenta como

campo da Geomorfologia (ciecircncia que estuda as formas do relevo) sendo o interesse

daquela a pesquisa dos processos que relacionam o escoamento das aacuteguas fluviais num

contexto de bacia hidrograacutefica (CHRISTOFOLETTI 1980 CUNHA op cit) Enfoca assim

as alteraccedilotildees na fisionomia dos canais frente agraves intervenccedilotildees no ecossistema natural

beira-rio

A Geomorfologia Fluvial parte da condicionante de que o uso e ocupaccedilatildeo da terra refletem-

se na dinacircmica da bacia de drenagem interferindo nos processos morfogeneacuteticos ou seja

de modelagem do relevo fluvial escoamento superficial das aacuteguas e no ciclo hidroloacutegico

Frente agrave temaacutetica deste estudo faz-se necessaacuterio o entendimento dos conceitos da

fisiografia fluvial aqui referente aos diferentes setores que a aacutegua pode escoar num leito

(Figura 4) como

O leito menor corresponde agrave parte do canal ocupada pelas aacuteguas e cuja frequecircncia impede o crescimento da vegetaccedilatildeo Esse tipo de leito eacute delimitado por partes bem definidas O leito de vazante equivale agrave parte do canal ocupada durante o escoamento das aacuteguas de vazante Suas aacuteguas divagam dentro do leito menor seguindo o talvegue linha de maacutexima profundidade ao longo do leito e que eacute mais bem identificada na seccedilatildeo transversal do canal O leito maior tambeacutem denominado leito maior perioacutedico ou sazonal eacute ocupado pelas aacuteguas do rio regularmente e pelo menos uma vez ao ano durante as cheias Dependendo do tempo ocorrido entre as subidas das aacuteguas eacute possiacutevel haver a fixaccedilatildeo e o crescimento da vegetaccedilatildeo herbaacutecea

21

O leito maior excepcional eacute ocupado durante as grandes cheias no decorrer das enchentes (CUNHA 2001 p 213)

Figura 4 - Tipos de leito fluvial vaacuterzea Fonte Cunha (2001 p213)

Sendo assim as aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial (leitos) aquelas inundadas pelo corpo

hiacutedrico frente a um evento hidroloacutegico extremo tambeacutem satildeo conhecidas como vaacuterzeas

planiacutecie de inundaccedilatildeo ou ainda segundo Carneiro e Miguez (2011 p133) como ldquo[] zona

de passagem de cheia []rdquo Essas aacutereas de vaacuterzeas dependem da fisionomia que o rio

apresenta e segundo Cunha (op cit) o canal fluvial pode apresentar trecircs formas

principais conhecidas como padratildeo dos canais que satildeo retiliacuteneo anastomosado e

meacircndrico (Figura 5)

Figura 5 - Padrotildees dos canais (A) retiliacuteneo (B) anastomosado (C) meandrante (A) amplitude (Rc) raio meacutedio da curvatura do meandro (segundo Bigarella etal 1979) Fonte Cunha (2001 p216)

22

Aliada aos padrotildees dos canais estaacute a assimetria ou simetria dos leitos que para Cunha

(2001 p233) relaciona-se com a variaccedilatildeo da velocidade e turbulecircncia ao longo da secccedilatildeo

transversal o que diferencia o comportamento nos canais retiliacuteneos geralmente simeacutetricos

do canal meacircndrico onde

Em canais de leito simeacutetrico em geral padratildeo retiliacuteneo a velocidade maacutexima ocorre no centro do canal diminuindo em direccedilatildeo agraves margens Em leito assimeacutetrico de padratildeo meacircndrico a zona de maacutexima velocidade e turbulecircncia localiza-se nas proximidades das margens cocircncavas decrescendo de valor em direccedilatildeo agrave margem de menor profundidade

(convexa) (CUNHA opcit p 233)

Deste modo a capacidade de erosatildeo das margens transporte e deposiccedilatildeo da carga do rio

dependem entre outros fatores da velocidade das correntes fluviais E o material do fluxo

fluvial constitui-se da descarga liacutequida ou vazatildeo que estaacute relacionada ao tamanho do

material que pode ser transportado e do volume da carga que o rio eacute capaz de carregar

Tem-se ainda a carga soacutelida sedimentos que estaacute relacionada a suspensatildeo e fundo do

rio esta decresce a jusante indicando a diminuiccedilatildeo da competecircncia do corpo fluvial As

cargas de suspensatildeo satildeo constituiacutedas de partiacuteculas finas a exemplo do silte e por fim a

carga de fundo que eacute composta por partiacuteculas de tamanhos maiores a exemplo da areia

(CUNHA2001)

Christofoletti (1980) acrescenta que os sedimentos podem ser carregados de trecircs modos

principais no fluxo em soluccedilatildeo dissolvidos nos cursos hiacutedricos em suspensatildeo como o

silte e argila e em saltaccedilatildeo geralmente a areia e cascalho que compreendem a carga do

leito do rio Destaca-se que a carga detriacutetica natildeo proveacutem apenas da erosatildeo do fundo dos

leitos e margens fluviais mas que o material intemperizado de vertentes carreado nas

enchentes contribui significativamente para a carga sedimentar transportada

Cabe ressaltar ainda que a relaccedilatildeo do arranjo espacial dos canais com os processos

fluviais (a erosatildeo o transporte e a deposiccedilatildeo de sedimentos) eacute determinante para o

trabalho dos rios Tais processos satildeo diretamente influenciados pela vazatildeo velocidade e

pela intensidade da turbulecircncia (seja no fluxo laminar ou no fluxo turbulento) A

variabilidade no comportamento da velocidade e turbulecircncia das aacuteguas ao longo da seccedilatildeo

transversal condiciona os locais preferenciais de erosatildeo e deposiccedilatildeo ao longo do curso

hiacutedrico

23

Deste modo qualquer intervenccedilatildeo na bacia e canal fluvial compromete o equiliacutebrio natural

da drenagem levando o corpo hiacutedrico a se adaptar agraves mudanccedilas em sua fisionomia

fisiografia e em seus processos ateacute atingir um novo estado de equiliacutebrio Poreacutem eacute na

planiacutecie de inundaccedilatildeo que estas modificaccedilotildees seratildeo mais percebidas pela populaccedilatildeo pois

a maior parte das obras de engenharia como as canalizaccedilotildees e as ocupaccedilotildees das

margens acaba por romper com o equiliacutebrio natural do rio alterando sua dinacircmica e

intensificando seus processos o que na maioria das vezes potencializa as enchentes no

ambiente urbano

Nesse sentido o entendimento dos processos fluviais (erosatildeo transporte e deposiccedilatildeo)

combinado com a anaacutelise da fisiografia fluvial condicionam as peculiaridades na geometria

hidraacuteulica ou seja na relaccedilatildeo entre a vazatildeo velocidade de escoamento tipos de canais

de sedimentos e a topografia Logo o conhecimento geomorfoloacutegico do rio contribui para

pesquisas que necessitem relacionar o funcionamento deste corpo natural com um

planejamento urbano mais efetivo principalmente se considerarmos um recorte em niacutevel

de bacia hidrograacutefica em espaccedilo urbano

211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial

O capiacutetulo que segue versa sobre a atuaccedilatildeo antroacutepica relacionando-a a aacuterea de estudo o

rio Doce poreacutem este trata de forma macro a temaacutetica para contextualizar o leitor sendo

as especificidades das intervenccedilotildees neste recorte geograacutefico trabalhados nos resultados

desta pesquisa

Diante do exposto eacute possiacutevel acompanhar a evoluccedilatildeo dos processos fluviais nos canais

em especial aqueles que tiveram intervenccedilotildees em seu curso natural como as hidreleacutetricas

instaladas a montante a exemplo do Rio Doce onde a interferecircncia direta na vazatildeo e fluxo

de sedimentos altera a hidrodinacircmica do rio comprometendo a erosatildeo e transporte Para

Coelho (2007 p57) as

Mudanccedilas na Declividade Perfil Longitudinal Promovidas pela construccedilatildeo de reservatoacuterio satildeo variadas e caso o efeito da contenccedilatildeo de sedimentos seja significativo os processos fluviais reduziratildeo a capacidade de transporte de sedimento podendo promover um entalhamento do leito do rio imediatamente agrave jusante da barragem

Aleacutem disso esse processo erosivo poacutes-barragem eacute intensificado favorecendo o

assoreamento e sedimentaccedilatildeo do rio a jusante O que pode beneficiar a elevaccedilatildeo da cota

24

do canal fluvial frente a eventos hidroloacutegicos extremos potencializando os efeitos das

inundaccedilotildees nas vaacuterzeas

Ao mesmo tempo o Rio Doce trecho que compreende o Espiacuterito Santo meacutediobaixo curso

eacute impactado nas vazotildees miacutenimas e maacuteximas a jusante apoacutes a instalaccedilatildeo das

barragensUsinas Hidreleacutetricas (UHE) de Mascarenhas (iniacutecio de operaccedilatildeo em 1974)

localizada no Municiacutepio de Baixo Guandu e a de Aimoreacutes (iniacutecio de operaccedilatildeo em 2005)

localizada na divisa do Espiacuterito Santo com Minas Gerais (COELHO 2007)

De acordo com Coelho (opcit) apoacutes a implantaccedilatildeo das usinas ocorreu uma reduccedilatildeo

significativa na vazatildeo da calha principal do Rio Doce conforme Graacutefico 1

Considerando o periacuteodo de 1939 a 2012 a vazatildeo miacutenima apoacutes a instalaccedilatildeo das usinas

chega a atingir 411msup3s e a maacutexima chega apenas a 1251msup3s sendo que no periacuteodo

anterior agrave instalaccedilatildeo das usinas foi registrada a miacutenima de 533 msup3s e uma maacutexima de

1812 msup3s o que ressalta o impacto do barramento sobre o corpo hiacutedrico Aleacutem do

comprometimento dos processos de erosatildeo transporte e sedimentaccedilatildeo (COELHO 2008

e CUNHA 2001)

Diante desta perda de carga liacutequida nos barramentos Cunha (2001 p 241) observa ainda

que as aacutereas a jusante de reservatoacuterios

[hellip] onde o regime do rio sofre significativas modificaccedilotildees devidas ao controle das descargas liquidas e de sedimentos no reservatoacuterio As mudanccedilas ocorridas no regime das aacuteguas neste setor do rio acarretam significativos efeitos nos processos do canal tais como o entalhe do leito a erosatildeo das margens e a deposiccedilatildeo a jusante atingindo longas distacircncias

Aleacutem disso no periacutemetro urbano de Colatina o Rio Doce sofreu outras intervenccedilotildees em

seu canal principal como a implantaccedilatildeo de obras estruturais de macrodrenagem a

exemplo da construccedilatildeo da Av Beira-Rio com intuito de conter o avanccedilo das aacuteguas fluviais

em periacuteodos de cheias

25

Graacutefico 1

Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais (Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia)

Fonte adaptado de Coelho (2007 p154)

26

Como exemplo dos tipos de intervenccedilotildees humanas nas aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial

leitos Carneiro e Miguez (2011 p117) destacam

As accedilotildees de controle e cheias urbanas podem ser classificadas em estruturais quando a paisagem eacute alterada pela accedilatildeo do homem e em natildeo estruturais aqui denominada como estruturante quando o homem aprende a conviver com as enchentes No primeiro caso estatildeo as medidas de controle atraveacutes de obras hidraacuteulicas tais como barragens diques e canais entre outras No segundo caso encontram-se medidas do tipo preventivo tais como zoneamento de aacutereas de inundaccedilatildeo sistemas de alerta educaccedilatildeo ambiental lei de parcelamento e uso dos solos e seguros contra inundaccedilatildeo

Neste cenaacuterio abarcamos os impactos das obras de engenharia como a canalizaccedilatildeo que

altera a fisionomia e fisiografia do rio refletindo-se nos processos geomorfoloacutegicos do canal

e sua planiacutecie de inundaccedilatildeo Para estes a canalizaccedilatildeo eacute uma obra estrutural que aumenta

a capacidade do fluxo do canal aleacutem de intensificar a velocidade do escoamento

superficial antecipando o pico de cheia e transferindo os alagamentos para locais a jusante

na bacia hidrograacutefica

Articulado a esta ideia Cunha (2012b) reflete a desnaturalizaccedilatildeo dos rios por meio de

obras de retificaccedilatildeo com a reduccedilatildeo do comprimento do canal e eliminaccedilatildeo das

sinuosidades Satildeo obras que afetam a estabilidade do corpo hiacutedrico na medida em que

interferem na relaccedilatildeo entre erosatildeo sedimentaccedilatildeo e deposiccedilatildeo provocando efeitos como

alteraccedilatildeo na morfologia do canal Sendo assim ldquo[hellip] a diminuiccedilatildeo da rugosidade no fundo

do canal em conjunto com a perda dos meandros e a aceleraccedilatildeo das velocidades eacute a

principal responsaacutevel pelas mudanccedilas no balanccedilo da energia natural dos sedimentos

fluviais [hellip]rdquo Cunha (2012b p178) No caso do Rio Doce trecho correspondente agrave Av

Beira-Rio alterou-se a sua forma retilinizando-a e sua vegetaccedilatildeo natural foi substituiacuteda

por estruturas de pedras o que compromete a resistecircncia ao fluxo as margens e aos

bancos arenosos

Embora as obras de canalizaccedilatildeo sejam implantadas como eficazes nos canais fluviais para

questotildees de enchentes urbanas para Cunha (op cit) estas necessitam de manutenccedilatildeo

constante envolvendo desde dragagem remoccedilatildeo de obstruccedilotildees a recomposiccedilatildeo do

material utilizado Poreacutem toda a manutenccedilatildeo estaacute associada a alteraccedilotildees morfoloacutegicas e

bioloacutegicas como as que interferem nas soleiras e depressotildees do fundo dos leitos

desestabilizando a vazatildeo no curso a exemplo da

27

ldquo[hellip] eliminaccedilatildeo da sequecircncia de depressotildees e soleiras o aumento da velocidade da corrente a diminuiccedilatildeo da diversidade de habitats o ambiente instaacutevel resultante da flutuaccedilatildeo dos niacuteveis da aacutegua e do substrato moacutevel e a maior flutuaccedilatildeo da temperatura das aacuteguasrdquo (CUNHA 2012b p180)

Ao mesmo tempo o aumento da velocidade dos escoamentos no trecho retificado

possibilita maior erosatildeo transferindo para as aacutereas a jusante uma carga soacutelida

representativa que para Cunha (op cit) configura a formaccedilatildeo de bancos axiais e depoacutesitos

de sedimentaccedilatildeo marginais alterando o equiliacutebrio dos sedimentos a jusante Pois

A jusante das obras de retificaccedilatildeo verificam-se o aumentam da carga soacutelida o assoreamento durante a dragagem a erosatildeo no canal pelos eventos torrenciais do regime e a modificaccedilatildeo na dinacircmica na foz Os sedimentos resultantes da erosatildeo no canal retificado em conjunto com a excessiva carga de sedimentos posta em suspensatildeo durante a dragagem e na fase imediata de poacutes-construccedilatildeo - quando a erosatildeo dos bancos de areia sem vegetaccedilatildeo estaacute em seu niacutevel maacuteximo - originam a formaccedilatildeo de depoacutesitos fluviais de curta duraccedilatildeo a jusante do canal retificado Logo a seguir esses depoacutesitos satildeo erodidos juntamente com as margens e o fundo do leito pelos eventos torrenciais do regime vindo a formar bancos axiais e depoacutesitos de sedimentaccedilatildeo marginais (CUNHA2012b p183)

Portanto o estudo da geomorfologia fluvial contribui diretamente para o entendimento das

cheias nas planiacutecies de inundaccedilatildeo em especial nas bacias hidrograacuteficas que

compreendem a aacuterea urbana e que possuem intervenccedilotildees antroacutepicas diretas na fisiografia

do canal principal Seus processos explicam como as alteraccedilotildees no canal fluvial podem

maximizar os efeitos dos transbordamentos impactando principalmente as populaccedilotildees

ribeirinhas aleacutem de todo ecossistema local Ademais estes fundamentos geomorfoloacutegicos

devem ser associados agrave legislaccedilatildeo vigente afim de subsidiar a elaboraccedilatildeo de instrumentos

legais para atuaccedilatildeo do poder puacuteblico nestas zonas de risco

22 Aspectos Juriacutedicos

Frente agrave crescente demanda sobre os recursos hiacutedricos e solo urbano a partir da deacutecada

de 1930 surgem as primeiras diretrizes que visam regulamentar estes ambientes a

exemplo do Coacutedigo das Aacuteguas Mas soacute a partir dos anos 1960 surgem em acircmbito federal

leis como o Coacutedigo Florestal com o intuito de regular a exploraccedilatildeo das vegetaccedilotildees e

consequentemente proteger os mananciais e em 1979 com o objetivo de ordenar as

28

cidades eacute aprovada a Lei 676679 estabelecendo as normas do parcelamento do solo

urbano

Na medida em que as populaccedilotildees aumentam ampliam-se tambeacutem as pressotildees sobre os

recursos de aacutegua e solo Os processos de uso e a conscientizaccedilatildeo de que estes elementos

satildeo finitos intensificam as formas de controle e preservaccedilatildeo passando para as esferas

estaduais e municipais a responsabilidade de atuar em escala local na proteccedilatildeo desses

ambientes

Ainda em escala federal em 2012 eacute promulgado o Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012

em substituiccedilatildeo ao coacutedigo anterior Lei 47711965 que apresenta as normas de

apropriaccedilatildeo dos recursos naturais pelas novas necessidades das populaccedilotildees citadinas e

rurais No que compete agrave aacuterea de estudo cabe destacar as ocupaccedilotildees em aacutereas de

planiacutecie de inundaccedilatildeo em que de acordo com art 4ordm devem ser preservadas

I - as faixas marginais de qualquer curso drsquoaacutegua natural perene e intermitente excluiacutedos os efecircmeros desde a borda da calha do leito regular em largura miacutenima de (Incluiacutedo pela Lei nordm 12727 de 2012) a) 30 (trinta) metros para os cursos drsquoaacutegua de menos de 10 (dez) metros de largura b) 50 (cinquenta) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura c) 100 (cem) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura d) 200 (duzentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura e) 500 (quinhentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros []

A legislaccedilatildeo eacute riacutegida no que concerne agrave ocupaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo das terras nas faixas

marginais dos rios transferindo aos estados e municiacutepios a responsabilidade de fiscalizar

estes territoacuterios para garantir a efetividade da lei A questatildeo eacute que muitas vezes somada a

falta de planejamento estas fiscalizaccedilotildees satildeo ineficientes o que tem possibilitado o

surgimento cada vez maior das ocupaccedilotildees irregulares

Apoiado tambeacutem pela Constituiccedilatildeo Federal de 1988 nos artigos 182 e 183 surge o

Estatuto das Cidades Lei 102572001 com finalidade de garantir a funccedilatildeo social da

cidade e com este os primeiros Planos Diretores Municipais (PDM) que buscam o

ordenamento do crescimento das cidades em caraacuteter socioeconocircmico e ambiental cidades

sustentaacuteveis Ademais em Colatina eacute instituiacuteda a Lei 42281996 posteriormente revogada

29

pela Lei 52732007 que ldquoInstitui o Plano Diretor do Municiacutepio de Colatina estabelece os

objetivos instrumentos e diretrizes e daacute outras providecircncias para as accedilotildees de

planejamento do Municiacutepio de Colatina []rdquo

O PDM de Colatina assim como Coacutedigo Florestal prevecirc a preservaccedilatildeo dos ecossistemas

beira-rio Aquele ainda dispotildee sobre o parcelamento do solo sustentaacutevel a funccedilatildeo social

da cidade e da propriedade conforme o Plano Diretor de Colatina de 2007 nos artigos

transcritos

Artigo 22 - As diretrizes ambientais no Municiacutepio de Colatina satildeo I - aplicar os instrumentos de gestatildeo ambiental estabelecidos nas legislaccedilotildees federal estadual e municipal bem como a criaccedilatildeo de outros instrumentos adequando-os agraves metas estabelecidas pelas poliacuteticas ambientais II - compatibilizar as diretrizes de uso ocupaccedilatildeo e parcelamento do solo aos objetivos de proteccedilatildeo ambiental dos ecossistemas [] Artigo 23 - Satildeo diretrizes do sistema de drenagem urbana I - disciplinar a ocupaccedilatildeo das cabeceiras e vaacuterzeas das bacias hidrograacuteficas do Municiacutepio preservando a vegetaccedilatildeo existente e visando agrave sua recuperaccedilatildeo [] III - definir mecanismos de fomento para usos do solo compatiacuteveis com aacutereas de interesse para drenagem tais como parques lineares aacuterea de recreaccedilatildeo e lazer hortas comunitaacuterias e manutenccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa [] V - implantar medidas natildeo-estruturais [sic] de prevenccedilatildeo de inundaccedilotildees tais como controle de erosatildeo especialmente em movimentos de terra controle de transporte e deposiccedilatildeo de entulho e lixo combate ao desmatamento assentamentos clandestinos e a outros tipos de invasotildees nas aacutereas com interesse para drenagem [] VII - garantir e respeitar a necessaacuteria permeabilidade do solo inclusive buscando alternativas de pavimentaccedilatildeo com maior de permeabilidade [sic] [] Artigo 84 ndash Satildeo objetivos do ordenamento territorial do Municiacutepio de Colatina [] IV ndash conter a expansatildeo da ocupaccedilatildeo urbana em aacutereas de proteccedilatildeo ambiental [] Artigo 120 ndash Ficam desde jaacute identificadas como Zonas de Proteccedilatildeo Ambiental 2 ndash ZPA 2 as seguintes aacutereas [] III ndash as aacutereas existentes ao longo de qualquer curso drsquoagua desde o niacutevel mais alto em faixa marginal cuja largura miacutenima seraacute de a) 15m (trinta metros) [sic] para os cursos drsquoagua com menos de 10m (10

metros) de largura contidos no periacutemetro urbano [] c) 30m (trinta metros) para os cursos drsquoagua que tenham de10m (dez

metros a 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano

[]

30

e) 50m (cinquenta metros) para os cursos drsquoagua que tenham mais de 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 60422013)

[]

De modo geral verifica-se que a legislaccedilatildeo apresenta instrumentos que permitem a

prevenccedilatildeo ou controle de ocupaccedilotildees irregulares ou clandestinas em aacuterea de APP aleacutem de

propostas para resguardar de grandes impactos ambientais o corpo hiacutedrico principal do

municiacutepio o Rio Doce Possibilitando assim a minimizaccedilatildeo dos impactos causados pelas

cheias agrave populaccedilatildeo local

Poreacutem cabe destacar que o Plano Diretor Municipal de Colatina natildeo contempla o

estipulado no Coacutedigo Florestal 2012 Lei Federal onde os cursos drsquoaacutegua com largura

superior a 600(seiscentos) metros devem ser resguardados com aacutereas de preservaccedilatildeo

permanente de 500(quinhentos) metros entre outros sendo que a redaccedilatildeo desta parte do

PDM eacute dada pela lei 60422013 posterior a publicaccedilatildeo do novo Coacutedigo Florestal Sendo

assim verifica-se que apesar da intenccedilatildeo de resguardar uma faixa de no maacuteximo

50(cinquenta) metros em periacutemetro urbano para a contenccedilatildeo de cheias e mata ciliar o

PDM de Colatina natildeo atende o miacutenimo previsto em Lei Federal O que tem impactado todo

ecossistema beira rio e a populaccedilatildeo ribeirinha uma vez que a faixa marginal de proteccedilatildeo

de 50(cinquenta) metros em muitos casos natildeo tem comportado o impacto dos defluacutevios

No entanto a legislaccedilatildeo trata de aspectos gerais natildeo pontuando as aacutereas responsaacuteveis

por cada accedilatildeo aleacutem de sua aplicabilidade depender da elaboraccedilatildeo de um cronograma de

execuccedilatildeo bem como um conjunto de planos e normas especiacuteficos para cada diretriz com

detalhamento das propostas de intervenccedilatildeo Isto natildeo ocorreu ateacute o presente

Aleacutem disso a cidade de Colatina surgiu num cenaacuterio histoacuterico anterior agraves legislaccedilotildees

urbaniacutesticas e ambientais inclusive do Coacutedigo das Aacuteguas o que dificulta a execuccedilatildeo de

um planejamento que concilie a preservaccedilatildeo das matas beira-rio garantindo a faixa de

APP com a ocupaccedilatildeo urbana consolidada

A aacuterea de estudo se apresenta como ambiente fragilizado apesar de ser regida por

legislaccedilotildees desde a escala federal ateacute a municipal que visam proteger e ordenar o uso e

cobertura da terra nas faixas marginais dos rios Mas a dificuldade das prefeituras em

aplicar os instrumentos legais nestes ambientes seja por interesses privados ou falta de

recursos para investimentos em soluccedilotildees a longo prazo continua expondo as populaccedilotildees

31

aos impactos dos eventos hidroloacutegicos criacuteticos como os que resultam nas inundaccedilotildees

Para que se alcance esse parcelamento do solo sustentaacutevel satildeo necessaacuterios esforccedilos da

gestatildeo municipal em estipular prazos e metas de atuaccedilatildeo afora interagir os diferentes

setores no planejamento em niacutevel de bacia hidrograacutefica considerando as peculiaridades

desta escala de trabalho

23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos

Sendo a ciecircncia que estuda a relaccedilatildeo homemnatureza a Geografia tem muito a contribuir

nas anaacutelises que envolvem o meio ambiente que foi transformado pela dinacircmica da

sociedade Mas historicamente a dialeacutetica das correntes fiacutesica e humana tem imperado de

modo dissociado levando o geoacutegrafo a estudar estes processos separadamente Poreacutem

se o resultado pretendido eacute integrado fazem-se necessaacuterias pesquisas mais amplas que

cruzem as diferentes vertentes geograacuteficas

Considerando que a problemaacutetica dos impactos ambientais urbanos envolve a questatildeo

natural o rio e a questatildeo social e poliacutetica a sociedade e as leis (COELHO 2013) uma

pesquisa neste acircmbito requer o entendimento destes dois objetos a fim de se apreender

o processo de crescimento das cidades brasileiras e a sua relaccedilatildeo com os recursos

hiacutedricos

A partir da deacutecada de 1950 devido ao ecircxodo rural mais intenso as cidades brasileiras

incharam rapidamente com a migraccedilatildeo do camponecircs que buscava melhores condiccedilotildees de

vida como trabalho na induacutestria o acesso agraves escolas saneamento entre outros E

segundo Gorski (2010) a populaccedilatildeo brasileira passou desde o iniacutecio deste processo de 19

milhotildees de habitantes em 1950 para 138 milhotildees de habitantes em 2000 (dados do IBGE)

o que corrobora o raacutepido crescimento das cidades

Todavia as estruturas puacuteblicas natildeo estavam preparadas para um acreacutescimo populacional

tatildeo significativo e em curto espaccedilo de tempo E o que observamos eacute o acesso limitado

dessa populaccedilatildeo agraves aacutereas centrais da cidade sendo induzida a se estabelecer nas

periferias Nesta visatildeo

O difiacutecil acesso da populaccedilatildeo de baixa renda agraves aacutereas mais centrais das cidades contribuiu segundo Raquel Rolnik para a expansatildeo da periferia o que muitas vezes implicou e implica ainda invasatildeo de aacutereas de proteccedilatildeo de mananciais com a aquiescecircncia do poder puacuteblico Esta

32

dinacircmica agravou a situaccedilatildeo de risco dos mananciais pela eliminaccedilatildeo das matas ciliares e consequentemente erosatildeo das margens dos cursos drsquoaacutegua e assoreamento de suas calhas e pela contribuiccedilatildeo do esgoto in natura (ROLNIK1997 apud GORSKI 2010 p62)

Sendo assim a supressatildeo das matas ciliares e das vegetaccedilotildees das encostas para fins de

ocupaccedilatildeo urbana interfere diretamente no ciclo hidroloacutegico diminuindo a absorccedilatildeo de

aacutegua pelo subsolo e pela evapotranspiraccedilatildeo favorecendo o escoamento superficial (Figura

6) que intensifica a velocidade de drenagem das aacuteguas Este processo nas encostas eacute

mais significativo se considerarmos que com a supressatildeo da cobertura vegetal e

impermeabilizaccedilatildeo do solo as precipitaccedilotildees acabam por lavar todo o material

intemperizado sedimentos carregando-o diretamente para o corpo hiacutedrico e contribuindo

para o assoreamento

Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento Fonte Gorski (2010 p64)

Por outro lado as ocupaccedilotildees ribeirinhas nas vaacuterzeas dos rios modificam a dinacircmica fluvial

frente aos defluacutevios A compactaccedilatildeo e o nivelamento do solo associados agrave

impermeabilizaccedilatildeo por concreto asfalto e outros materiais alteram todo o sistema de

drenagem natural e contribuem para a erosatildeo fluvial Aleacutem disso a gestatildeo puacuteblica que

33

deveria investir num parcelamento do solo sustentaacutevel resguardando ldquouma alocaccedilatildeo de

espaccedilosrdquo (CANHOLI 2005 p 15) para a drenagem acaba por colaborar com as enchentes

urbanas na medida em que decide por obras estruturais como a canalizaccedilatildeo (Figura 7

p30) e a microdrenagem que transferem os impactos das inundaccedilotildees a jusante

Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia Fonte Gorski (2010 p69)

Cabe destacar que desde 1965 com o primeiro Coacutedigo Florestal as matas beira-rio jaacute

eram resguardadas da degradaccedilatildeo humana poreacutem com todo o boom urbano a partir de

1950 a falta de estrutura e ingerecircncia municipal no que se refere ao parcelamento e uso

e ocupaccedilatildeo da terra urbana possibilitou a formaccedilatildeo dos assentamentos clandestinos em

APP e na encosta de morros Em condiccedilotildees precaacuterias sem saneamento baacutesico e demais

infraestruturas urbanas estes assentamentos acabam sendo as regiotildees mais afetadas

com as inundaccedilotildees

Junto agraves questotildees jaacute levantadas vale destacar que as aacuteguas das inundaccedilotildees propiciam o

aumento das doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica (febre tifoide hepatite leptospirose

esquistossomose entre outras) pois carregam segundo Gorski (2010) toda uma poluiccedilatildeo

difusa efluentes domeacutesticos industriais e agroindustriais aleacutem do lixo urbano da poluiccedilatildeo

do ar e das ruas

34

Por outro lado esta ocupaccedilatildeo urbana natildeo planejada perde o benefiacutecio que os corpos

hiacutedricos podem oferecer como [] as paisagens fluviais que aos poucos foram sendo

apropriadas como paisagens urbanas [] (GORSKI 2010 38) aleacutem do microclima

associado agrave umidade pela evapotranspiraccedilatildeo que ameniza a sensaccedilatildeo teacutermica local

Poreacutem conforme observado por Graeff (2011) natildeo eacute cabiacutevel atualmente implantar a

legislaccedilatildeo de APP de modo jurista Deve-se considerar toda a representatividade cultural

assentada sobre os leitos destes rios (avenidas importantes casas com arquitetura

histoacuterica entre outros) Aleacutem disso para a demarcaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo

permanente hoje eacute necessaacuteria uma anaacutelise teacutecnica pautada na geomorfologia e

hidrologia de modo a interpretar o ldquocomportamento histoacuterico dos cursos drsquoaacutegua na

paisagem prevendo cenaacuterios de impactos futurosrdquo da atividade humana sobre suas faixas

marginais

Tendo em vista que grande parte da malha urbana brasileira estaacute alocada em APPs e que

segundo Graeff (2011) estas jaacute possuem uma unidade de paisagem estabelecida e muitas

vezes secular configurando siacutetios de importacircncia cultural e apreendendo que

De modo semelhante nas demais cidades haveraacute que ser entendido o meio urbano como ele realmente eacute ndash um encontro entre as necessidades de habitaccedilatildeo com atividades humanas e de conservaccedilatildeo ambiental esta segunda tambeacutem a serviccedilo do homem e natildeo somente de objetivos difusos e distanciados da sobrevivecircncia da sociedade (GRAEFF 2011 206)

Por tais motivos o trabalho com a geomorfologia fluvial urbana deve abarcar os princiacutepios

do bom senso compreendendo que nestas aacutereas de atividade antroacutepica consolidada pode-

se fazer uso de instrumentos de engenharia avanccedilados para uma convivecircncia equilibrada

do homem com a natureza no entorno Contudo deve-se incentivar as aacutereas de expansatildeo

urbana ou zona periurbana (zonas de transiccedilatildeo da aacuterea urbana para a rural) com poliacuteticas

de incentivo a pavimentaccedilotildees mais permeaacuteveis a fim de minimizar o escoamento

superficial para o rio favorecendo a infiltraccedilatildeo

Apesar de os impactos gerados pela interferecircncia humana nas aacutereas mais fragilizadas da

bacia hidrograacutefica vaacuterzeas e encostas refletirem-se em cataacutestrofes com prejuiacutezos

humanos ambientais e urbanos alguns autores brasileiros como Canholi Graeff Cunha

Carneiro e Miguez jaacute indicaram outros caminhos para uma convivecircncia harmoniosa com

a natureza Aleacutem do mais paiacuteses desenvolvidos como a Holanda deixaram de ldquolutar contra

35

as cheiasrdquo para permitir agraves aacuteguas das enchentes a capacidade de acumular e dispersar

com impacto reduzido para as populaccedilotildees (CARNEIRO MIGUEZ 2011)

Sendo assim a proposta deste estudo eacute identificar os principais agentes que influenciam

as inundaccedilotildees entendendo seu papel e atuaccedilatildeo no contexto urbano de Colatina Mas eacute

tambeacutem a de ampliar a abordagem da temaacutetica com uma anaacutelise geograacutefica integrada

ressaltando as medidas que constam no planejamento urbano e sua aplicaccedilatildeo nas faixas

marginais do corpo hiacutedrico

36

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS

Esta pesquisa eacute constituiacuteda de trecircs etapas principais sendo que a primeira teve como

premissa a confecccedilatildeo de um fluxograma (Figura 8) de trabalho para orientar a pesquisa

em seguida teve iniacutecio o levantamento de bibliografias que abordam temas como a

geomorfologia fluvial e urbanizaccedilatildeo em Colatina adotando-se como referecircncia as

pesquisas de Coelho (2006 2007 2008 e 2009) e Albani (2012) Aleacutem disso muito

contribuiacuteram para este trabalho o relatoacuterio do INCAPER da CPRM e os dados do IBGE

Cabe destacar tambeacutem as experiecircncias com recursos hiacutedricos em ambientes urbanos de

Carneiro e Miguez (2011) em especial Cunha (2001 2012ab)

Esta etapa consistiu tambeacutem na busca de material cartograacutefico como aquisiccedilatildeo de planos

de informaccedilatildeo de limite estadual municipal bairros mancha urbana corpo drsquoaacutegua e

logradouros atraveacutes de dados disponiacuteveis no Sistema Integrado de Bases Geoespaciais

do Estado do Espiacuterito Santo (GEOBASES 2014) no Instituto Jones dos Santos Neves

(IJSN 2015) e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2014) imagens

orbitais gratuitas do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI bandas 2-3-4 e 8 (Pan) oacuterbita 216

ponto 73 com datas de passagem em 02012014 e 22032014 agraves 946 (horaacuterio central

da oacuterbita) junto ao Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2014) aleacutem do ortofotomosaico

do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hiacutedricos (IEMA 2014) do Espiacuterito

Santo referente ao voo de 2007 a 2008

Na segunda etapa foram realizadas duas investigaccedilotildees de campo sendo a primeira no

dia 24 de junho de 2014 com a finalidade de fazer o reconhecimento da aacuterea de estudo

fotografar e conversar com moradores e teacutecnicos da prefeitura O segundo trabalho de

campo ocorreu no dia 14 de fevereiro de 2015 e por meio deste foi possiacutevel identificar

pontos sujeitos a inundaccedilatildeo analisar a topografia e realizar as entrevistas com moradores

e funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina

37

Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC)

38

Na terceira etapa foram realizados os mapeamentos e processamentos de todos os planos

de informaccedilatildeo vetoriais e matriciais em ambiente de SIG no sistema ArcGis 103 iniciando

com a ediccedilatildeo dos dados do Municiacutepio e adjacecircncias que foram ajustados quando

necessaacuterio ao sistema de projeccedilatildeo UTM no Datum SIRGAS ndash 2000 na Zona 24 sul com

meridiano central -39 W com todo o mapeamento produzido seguindo a padronizaccedilatildeo

cartograacutefica proposta por Fitz (2008 a b)

O geoprocessamento teve iniacutecio com a composiccedilatildeo das imagens orbitais do Landsat-8 na

cor natural da imagem (2R 3G 4B) e por meio da teacutecnica de Pan Sharpening ou fusatildeo

de imagens a imagem cor natural foi agrupada agrave da banda 8 pancromaacutetica para obtenccedilatildeo

de uma melhor resoluccedilatildeo espacial neste caso chegando a 15 metros sendo resguardado

o conteuacutedo da imagem composta Na sequecircncia foi realizada a extraccedilatildeo da maacutescara do

periacutemetro urbano de Colatina e gerada a classificaccedilatildeo supervisionada da imagem Landsat-

8 no periacuteodo de cheia (janeiro) e vazante (marccedilo) o que possibilitou a delimitaccedilatildeo da calha

do Doce nestes dois eventos

Em seguida foram realizadas as 8 (oito) mediccedilotildees do leito regular sendo 4 (quatro) no

periacuteodo de cheia e 4 (quatro) na vazante de modo a definir a largura meacutedia da calha do

leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina Para chegar a uma medida geral

da largura do rio utilizaram-se ferramentas estatiacutesticas como a meacutedia que eacute uma medida

de tendecircncia central onde numa amostra de tamanho N constituiacuteda por elementos de x

variando de eacute possiacutevel extrair a meacutedia aritmeacutetica atraveacutes da equaccedilatildeo

A meacutedia aponta para onde mais convergem os dados de uma distribuiccedilatildeo

A partir desta definiccedilatildeo da meacutedia da largura da calha do Rio Doce foi possiacutevel em consulta

ao Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e a Lei 52732007 determinar a faixa miacutenima

de preservaccedilatildeo permanente deste corpo fluvial aleacutem da confecccedilatildeo do mapa com o

poliacutegono de APP

Mediante a anaacutelise do mapa verificou-se que grande parte dos bairros do municiacutepio estatildeo

contidos nos poliacutegonos de APP em especial a preservaccedilatildeo de 500 metros conforme lei

federal E por meio deste foram cruzados os dados de vazatildeo as fotos histoacutericas das

enchentes e o poliacutegono de mata ciliar o que permitiu o entendimento das inundaccedilotildees

39

Em ambiente de SIG tambeacutem foram vetorizados os trecircs traccedilados da Estrada de Ferro

Vitoacuteria a Minas o trajeto do Rio Santa Maria do Doce antes e depois da retilinizaccedilatildeo e os

sucessivos aterros na margem direita do Rio Doce no periacutemetro que compreende a Av

Beira-Rio

As teacutecnicas de sensoriamento remoto como a classificaccedilatildeo supervisionada permitiram a

definiccedilatildeo do poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo atraveacutes da imagem da cheia de janeiro Para

tanto foi realizada tambeacutem a classificaccedilatildeo hiacutebrida objetivando aliar a interpretaccedilatildeo visual

com a digital (JENSEN 2009) Por fim foi realizada amarraccedilatildeo com o levantamento

geodeacutesico da CPRM (2014) para garantir a precisatildeo do traccedilado do poliacutegono de cheia

A partir do tratamento dos dados bibliograacuteficos cartograacuteficos e imagens foi possiacutevel

sistematizar este trabalho o que permitiu identificar elementos histoacutericos de intervenccedilatildeo

na paisagem do Doce como os aterros e a ocupaccedilatildeo urbana As visitas de campo a

entrevista e conversas com moradores foram fundamentais para a validaccedilatildeo das

informaccedilotildees o que tornou esta metodologia eficaz para anaacutelise do fenocircmeno da inundaccedilatildeo

em Colatina

40

4 RESULTADOS

41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana

A ocupaccedilatildeo ao longo das planiacutecies de inundaccedilatildeo dos rios tem ocorrido diante da

necessidade deste recurso para as atividades vitais humanas Cunha (2012b p219)

entende que ldquosuas margens tecircm sido o centro preferido da habitaccedilatildeo humana e o

suprimento de suas aacuteguas natildeo soacute fertiliza os campos para o cultivo como tambeacutem fornece

energia e permite recreaccedilatildeordquo Logo o estabelecimento das vilas nas bordas dos cursos

drsquoaacutegua favorece a logiacutestica ocupacional

Historicamente em solo espiacuterito-santense a formaccedilatildeo das vilas ocorreu agraves margens de

estrateacutegicos cursos drsquoaacutegua e a exploraccedilatildeo do ouro de Minas Gerais para Albani (2012)

determinou que a Coroa proibisse nos seacuteculos XVII a XIX a implantaccedilatildeo de estradas e

exploraccedilatildeo de terras na Capitania do Espiacuterito Santo pois os portugueses temiam incursotildees

estrangeiras deixando assim o desenvolvimento capixaba restrito agrave faixa litoracircnea

Relegada enquanto ldquobarreira verderdquo para defesa das minas de ouro e minerais do atual

territoacuterio das Minas Gerais segundo Coelho (2007) a Capitania do Espiacuterito Santo soacute

passou a se interiorizar para o centro-oeste onde se localiza atualmente a cidade de

Colatina a partir de 1847 por meio das ocupaccedilotildees de Santa Izabel e Santa Leopoldina

que permitiram a descida do Rio Santa Maria do Doce ateacute as imediaccedilotildees da atual cidade

de Colatina

Assim foi que o movimento colonizador desceu o vale do Santa Maria do Rio Doce atingindo em 1891 a regiatildeo das matas onde hoje se acha a cidade de Colatina [] Esta penetraccedilatildeo inicial foi feita com elementos alematildees de Santa Leopoldina e no rio Doce ficou muito anos restrita agrave aacuterea inicial A expansatildeo ao longo do vale tomou impulso com a chegada a Colatina em 1906 dos trilhos da Estrada de Ferro Diamantina (atual Vitoacuteria-Minas) (STRAUCH1955 apud COELHO 2007 p105)

Sendo assim Coelho (op cit) relata que a ocupaccedilatildeo se deu atraveacutes da supressatildeo da mata

nativa no baixo curso do Rio Doce de Colatina a Linhares sendo a madeira daiacute extraiacuteda

levada ateacute o rio e encaminhada ateacute Povoaccedilatildeo vilarejo junto agrave foz de onde eram carregados

os navios Neste periacuteodo tem-se a instalaccedilatildeo de um ciclo madeireiro na regiatildeo com a

disposiccedilatildeo de serrarias nas proximidades das matas

41

Todavia somente a partir de 1906 com a chegada da estrada de ferro na regiatildeo o

transporte madeireiro foi transferido para as locomotivas Agrave medida que a implantaccedilatildeo da

Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas avanccedilava para o interior levava consigo as frentes de

desmatamento modificando as paisagens das margens do Rio Doce e se apropriando dos

espaccedilos deste rio (Figura 9)

Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906 Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce Fonte Albani (2012 p 63)

Conforme Albani (2012) com a vinda dos mineiros e fluminenses reforccedilados

posteriormente a partir de 1889 por colonizadores italianos e alematildees eacute que as

ocupaccedilotildees territoriais ocorreram de modo efetivo Atraveacutes do Barracatildeo do Rio Santa Maria

(Figura 10) espaccedilo do governo inicialmente destinado a alojar os migrantes e a produccedilatildeo

surgiram as primeiras residecircncias nas proximidades da igreja de Satildeo Sebastiatildeo Sendo

assim

Eacute importante destacar que o desenvolvimento da regiatildeo onde se encontra o municiacutepio de Colatina teve iniacutecio no final do seacuteculo XIX no nuacutecleo de colonizaccedilatildeo Antocircnio Prado localizado no distrito de Boapaba antiga vila do Mutum O nuacutecleo recebeu dezenas de famiacutelias de imigrantes italianos e ali desenvolveram atividades de agricultura e com a expansatildeo da localidade surge tambeacutem o comeacutercio (ALBANI 2012 p61) [hellip] A vila de Colatina entretanto logo passou a se transformar no principal nuacutecleo e futuramente na sede do municiacutepio Aleacutem da facilidade da produccedilatildeo atraveacutes do Rio Doce a vila de Colatina tornou-se referecircncia dos imigrantes no caminho para a colonizaccedilatildeo das terras ao norte do estado (MADURO1985 apud ALBANI 2012 p62)

42

Desse modo com o desenvolvimento das atividades de cafeicultura madeireira e do

entroncamento logiacutestico de acesso agraves aacutereas do norte a vila eacute elevada em 1921 agrave categoria

de municiacutepio A atual configuraccedilatildeo territorial foi adquirida a partir de 2001 conforme IBGE

(2014) dispondo de seis distritos Colatina (sede) Acircngelo Frechiami Baunilha Boapaba

Graccedila Aranha e Itapina

Cabe destacar poreacutem que a ocupaccedilatildeo inicial da cidade de Colatina se perfaz pela margem

direita do Rio Doce onde se localiza o atual bairro de Colatina Velha e onde havia se

instalado o Barracatildeo de Santa Maria Nesse periacuteodo a ponte ainda natildeo fora edificada

limitando assim a ocupaccedilatildeo da margem esquerda

Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da regiatildeo Fonte Albani (2012 p62)

Conforme Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p65) a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro

Vitoacuteria a Minas em 1906 (Figura 11) possibilitou a expansatildeo da cidade de Colatina e seu

desenvolvimento econocircmico Todavia sua instalaccedilatildeo paralela agrave margem direita do Rio

Doce favoreceu a localizaccedilatildeo de avenidas e ruas centrais em sua proximidade

43

Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p65)

Entretanto foi com a construccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos (Figura 12) em 1928 que a

margem direita se conectou agrave margem esquerda da cidade o que aleacutem de possibilitar a

ocupaccedilatildeo facilitou o acesso agraves regiotildees mais ao norte do Estado

Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p66)

44

Por conseguinte a estrada de ferro e a ponte foram os fatores determinantes para o

estabelecimento dos migrantes agraves margens do Rio Doce e a formaccedilatildeo do atual municiacutepio

de Colatina Contudo foi a partir desta posiccedilatildeo privilegiada que a cidade passou a ser

entreposto comercial e logiacutestico da regiatildeo noroeste e com isso sua aacuterea urbana expandiu-

se de modo desordenado inicialmente ao longo da planiacutecie de inundaccedilatildeo do Doce Coelho

(2007 p108 e 109) relata que

Os efeitos dessa urbanizaccedilatildeo (novos parcelamentos) e do desmatamento produz [sic] normalmente o aumento da velocidade das aacuteguas superficiais (pluviais) que eram antes interceptadas pelas matas com boa parte absorvida pelo solo O que ocorre geralmente nessas aacutereas eacute a chegada mais raacutepida das aacuteguas das chuvas para o tributaacuterios e calha principal do rio por fluxos concentrados que provocam processos de erosotildees do tipo laminar ravina e voccediloroca transportando quantidades expressivas de sedimentos que por sua vez causam assoreamento e a ocorrecircncia de cheias mais frequentes no rio

Com o crescimento acelerado do periacutemetro urbano proporcionado pelo apogeu do ciclo

cafeeiro as proacuteximas deacutecadas levaratildeo a cidade de Colatina a sofrer com impactos

advindos das alteraccedilotildees no ambiente fluvial do Rio Doce em especial os referentes a

ocupaccedilatildeo (impermeabilizaccedilatildeo) e desmatamento das margens (interferecircncia na drenagem

natural) conforme destacado por Coelho (2007)

Eacute fato que o municiacutepio viveu nas deacutecadas de 1940 e 1950 o auge do ciclo cafeeiro

chegando a ser no ranking brasileiro o 13ordm municiacutepio produtor de cafeacute no ano de 1947

(CAMPOS JUNIOR 2004 apud ALBANI 2012 p69) Poreacutem a partir de 1960 este boom

entrou em colapso com crise do cafeacute que assolou todo o paiacutes levando grande parte dos

pequenos proprietaacuterios rurais a migrarem para centros urbanos em especial no Espiacuterito

Santo a regiatildeo da Grande Vitoacuteria e tambeacutem para o centro de Colatina

Em razatildeo da crise cafeeira a populaccedilatildeo rural migra para centros urbanos A populaccedilatildeo migrou em grande quantidade para a Grande Vitoacuteria para fora do estado e tambeacutem para a cidade de Colatina principal aglomerado urbano da regiatildeo Esse processo provoca o aumento da aacuterea urbana de Colatina A populaccedilatildeo da cidade que era de 3913 habitantes em 1940 cresceu para 26757 habitantes em1960 (ALBANI2012 p71)

O crescimento raacutepido do centro de Colatina aliado ao aumento populacional direciona

grande parte dos migrantes para as aacutereas menos centrais da cidade levando agrave ocupaccedilatildeo

de locais irregulares como os morros e as margens direita e esquerda do Rio Doce Este

45

processo configurou a nova paisagem do municiacutepio povoando do vale agraves encostas (Figura

13)

Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes Fonte Albani (2012 p73)

Associado a este processo de reconfiguraccedilatildeo espacial nas proacuteximas deacutecadas o municiacutepio

de Colatina passaraacute por sucessivas perdas de territoacuterios ateacute atingir os limites atuais (Figura

1 p17) Aliado a estas perdas territoriais seu quantitativo absoluto populacional tambeacutem

sofreraacute impactos poreacutem de modo geral a populaccedilatildeo urbana deste municiacutepio apresentou

crescimento continuo (Graacutefico 2)

Graacutefico 2

Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 2010

Elaborado pela autora Fonte 1940 e 1950 Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p82) 1960 a 2010 IBGE

0

20000

40000

60000

80000

100000

120000

1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020

Populaccedilatildeo Urbana Colatina 1940 - 2010

46

Assim como tem ocorrido nas grandes capitais Colatina cresceu em quantitativo

populacional e territorial urbano de modo muito raacutepido e por este desenvolvimento natildeo ter

sido aliado a um planejamento urbano e ambiental sustentaacutevel a cidade tem sentido os

reflexos das suas interferecircncias ao longo do canal do Doce O que tem provocado

antecipaccedilatildeo dos picos de vazatildeo que no periacutemetro urbano ocasiona as inundaccedilotildees pois

natildeo conseguindo o rio acomodar estes defluacutevios transfere em curto espaccedilo de tempo as

aacuteguas a sua planiacutecie de inundaccedilatildeo atingindo os bairros mais antigos do municiacutepio

Por fim entender o contexto histoacuterico do crescimento da cidade revela muito do panorama

atual E por meio de uma anaacutelise conjunta da histoacuteria com os novos planejamentos eacute

possiacutevel propor intervenccedilotildees urbanas que possibilitem um conviacutevio harmonioso entre

natureza e sociedade neste caso entre o Rio Doce e o centro de Colatina Diante desta

proposta adiante apresentaremos a evoluccedilatildeo dos bairros associando seus periacuteodos de

ocupaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo espacial nas imediaccedilotildees do curso principal do Doce

411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade

Com nuacutecleo inicial de povoamento no Barracatildeo de Santa Maria a cidade de Colatina

cresce a partir deste ponto agrave margem direita do Rio Doce de onde surgem as primeiras

residecircncias comeacutercios e a igreja Atualmente a regiatildeo compreende o bairro de Colatina

Velha que de acordo com Albani (2012 p91) [hellip] ldquopode ser considerado o primeiro polo

de crescimento da cidaderdquo

Aliado ao aumento da populaccedilatildeo migrante das fazendas com a crise do cafeacute o nuacutecleo de

Colatina Velha passa a ser um ponto de passagem obrigatoacuterio para os viajantes que

vinham majoritariamente do sul uma vez que o Rio Doce configurava uma barreira natural

agrave ocupaccedilatildeo das terras ao norte Aleacutem disso a margem esquerda deste canal fluvial era

habitat dos hostis iacutendios botocudos o que dificultava a sua apropriaccedilatildeo

Sendo assim a ocupaccedilatildeo de Colatina conteve-se agrave margem direita nesta primeira fase o

que define o primeiro vetor de crescimento da cidade na direccedilatildeo leste para oeste partindo

das imediaccedilotildees do Barracatildeo de Santa Maria sentido ao Rio Santa Maria do Doce (Figura

14) E a partir de 1906 com a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas da entatildeo

Companhia Vale do Rio Doce atual Vale este vetor de crescimento se consolida e

47

proporciona o surgimento de importantes avenidas paralelas agrave ferrovia a exemplo da Av

Getuacutelio Vargas

Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de crescimento Elaborado pela autora

48

O segundo vetor do crescimento de Colatina estava condicionado agrave construccedilatildeo da ponte

Florentino Aacutevidos a qual conectou a margem direita agrave esquerda do Rio Doce permitindo

a ocupaccedilatildeo da porccedilatildeo ao norte Portanto somente a partir de 1928 com a finalizaccedilatildeo da

obra da ponte a barreira natural pocircde ser transposta o que possibilitou ao lado esquerdo

desenvolver uma nova linha de crescimento urbano com a ocupaccedilatildeo do atual bairro de

Satildeo Silvano

O terceiro vetor de crescimento estaacute associado agrave implantaccedilatildeo do bairro Luiz Iglesias na

margem direita e os de Maria das Graccedilas e Coluacutembia na margem esquerda Albani (2012)

ressalta que esta fase da ocupaccedilatildeo urbana estaacute associada ao desenvolvimento do sistema

viaacuterio como a proximidade da BR-259 sentido Vitoacuteria- Colatina da ES-80 que liga

Colatina agrave regiatildeo norte da ES-256 que a conecta a Marilacircndia e da proximidade da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria Carlos Germano Nauman (Figura 15)

Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios e linhas feacuterreas que interceptam a cidade de Colatina Elaborado pela autora

Jaacute na quarta e mais recente linha de crescimento da cidade temos os novos loteamentos

residenciais e industriais a exemplo do de Barbados e do bairro Santa Helena que surgem

49

acompanhando o traccedilado da ponte que contorna a leste a cidade como novo acesso agrave

porccedilatildeo norte do estado Albani (2012 p118) destaca que

Apesar da construccedilatildeo da Segunda Ponte ter sido iniciada em 1986 somente foi inaugurada em 2007 A conclusatildeo da ponte e a construccedilatildeo de uma rodovia de contorno desviaram a BR-259 do centro da cidade O desvio da rodovia federal trouxe um desafogamento do tracircnsito nas principais vias da cidade e um novo direcionamento na expansatildeo urbana Alguns loteamentos surgiram nesse periacuteodo proacuteximo agrave Segunda Ponte e ao contorno na margem norte do rio principalmente no bairro Santa Helena (Figura 55) Essa situaccedilatildeo indica mais uma vez que as linhas de crescimento em Colatina satildeo orientadas pelas vias de transporte

Portanto o crescimento do periacutemetro urbano de Colatina estaacute associado agrave superaccedilatildeo das

barreiras naturais em especial o Rio Doce por meio de investimentos em obras de

engenharia que permitiram o deslocamento humano para a margem esquerda deste curso

Sem duacutevida as vias de transporte foram elementares na construccedilatildeo do periacutemetro urbano

de Colatina pois na medida que se consolidava o sistema viaacuterio as ocupaccedilotildees tambeacutem se

favoreciam destas vias de locomoccedilatildeo A evoluccedilatildeo da aacuterea urbana portanto acompanha

as principais vias de transporte (Figura 15 p45) e estas se utilizam da posiccedilatildeo estrateacutegica

e geograficamente favoraacutevel do canal do Doce para a definiccedilatildeo de seus traccedilados

Apoacutes 94 anos de emancipaccedilatildeo de Linhares o territoacuterio de Colatina eacute fundamental para a

manutenccedilatildeo dos municiacutepios do noroeste capixaba Diante desta posiccedilatildeo estrateacutegica torna-

se relevante o entendimento de como o urbano se relaciona com o meio natural a fim de

se estabelecer poliacuteticas de ordenamento territorial que promovam a qualidade de vida no

municiacutepio Adiante seraacute analisada a situaccedilatildeo da calha principal do Rio Doce elemento

fundamental na compreensatildeo do uso e cobertura da terra de Colatina

42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce

Compreendendo uma aacuterea de 3330 kmsup2 o periacutemetro urbano de Colatina eacute afetado pela

velocidade dos defluacutevios de modo que grande parte dos bairros beira-rio eacute tomada pelas

aacuteguas excedentes da calha principal do Doce o que configura o fenocircmeno de inundaccedilatildeo

Ao pesquisar estes fenocircmenos eacute necessaacuterio relacionar o uso da terra com os processos

geomorfoloacutegicos do corpo hiacutedrico Sendo assim por meio de teacutecnicas de

geoprocessamento foram realizadas oito mediccedilotildees da calha principal do Rio Doce para

50

estabelecimento da distacircncia meacutedia da largura de sua calha O resultado esteve dentro do

esperado e pode ser verificado na tabela abaixo (Tabela 1) e no mapa em sequecircncia

(Figura 16)

Tabela 1 Perfis transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de

vazante (abril) e cheia (janeiro)

Largura do rio Doce periacuteodo de vazante e cheia

Abril2013(m) Janeiro2014(m)

P1 70735 75784

P2 62080 66483

P3 59209 65804

P4 63548 67650

Meacutedia dos Perfis 62814 67066

Meacutedia Geral 66143 Obs todas as medidas estatildeo em metros

Elaborado pela autora

Figura 16 - Traccedilado dos perfis transversais da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de vazante mecircs de abril2013 Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)

51

Com uso das imagens orbitais do Landsat-8 atraveacutes da classificaccedilatildeo hiacutebrida foram

gerados dois arquivos shapefiles correspondentes agraves bordas do Doce um no periacuteodo de

vazante e outro no de cheia Por meio destes dados foram definidos quatro traccedilados para

realizaccedilatildeo das mediccedilotildees a partir destas e com auxiacutelio das medidas de tendecircncia central

chegou-se a uma largura meacutedia total de 66143m de uma margem a outra Este resultado

indicou que tanto no periacuteodo de vazante quanto no periacuteodo de cheia a largura meacutedia

aponta para a maior faixa de APP proteccedilatildeo de 500m conforme previsto na legislaccedilatildeo

federal (Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e no revogado Lei 4771 1965)

Analisando a imagem abaixo (Figura 17) observa-se que grande parte do solo

naturalmente destinado a ldquoacomodaccedilatildeordquo das aacuteguas nas cheias (linha laranja) foi

incorporado agrave sociedade como espaccedilo criado (periacutemetro urbano em APP mancha em

amarelo) destinado a fins muacuteltiplos Deste modo sem planejamento territorial adequado

grande parte da planiacutecie de inundaccedilatildeo deu lugar a outras funccedilotildees diferentes das naturais

sendo incorporada ao espaccedilo urbano

Lanccedilando o buffer (mancha em amarelo) do entorno da calha do Doce (Figura 17) observa-

se que dos 59 bairros do municiacutepio cerca de 29 estatildeo dentro da aacuterea de 500m destinada

a preservaccedilatildeo permanente pelo Coacutedigo Florestal Considerando-se a delimitaccedilatildeo da APP

prevista no PDM de 1996 e 2007 (linha laranja mais proacutexima da borda do rio) este nuacutemero

cai para 18 bairros permanecendo apenas aqueles que possuem limites com o corpo

hiacutedrico

Uma vez que que lei municipal natildeo suplanta lei federal considerar-se-aacute neste estudo o

limite da faixa marginal de proteccedilatildeo definida na Lei Federal 126512012 Deste modo a

aacuterea de preservaccedilatildeo permanente do Doce neste recorte eacute de 1085 kmsup2 compreendendo

33 do periacutemetro urbano de Colatina

Cabe destacar ainda que mesmo o PDM de 1996 contendo enquanto objetivo no Art 14

ldquoI - estabelecer a ordenaccedilatildeo do uso e da ocupaccedilatildeo do solo urbanordquo (Lei 42281996 p4)

a gestatildeo municipal natildeo obteve sucesso na implementaccedilatildeo de tal legislaccedilatildeo O que se

verifica tanto nas deacutecadas de 1990 quanto no iniacutecio dos anos 2000 quando foram

aprovados novos parcelamentos urbanos agraves margens deste canal a exemplo dos bairros

de Barbados na margem direita e do bairro Mario Giurizato na margem esquerda

52

Figura 17- Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)

53

Articulado a esta ideia e pesquisando o trecho do bairro Esplanada a Colatina Velha palco

das uacuteltimas obras estruturantes de alto porte do municiacutepio consegue-se analisar os efeitos

das inundaccedilotildees nas margens deste rio Logo implementar medidas de prevenccedilatildeo de

cheias em aacutereas com urbanizaccedilotildees antigas requer um esforccedilo da gestatildeo na regulaccedilatildeo do

solo urbano

421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie

de Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio

Interceptada pelo curso do Rio Doce no perfil mais a jusante da bacia a cerca de 100km

do estuaacuterio com o Oceano Atlacircntico a cidade de Colatina polo moveleiro e de confecccedilotildees

do centro-oeste capixaba eacute palco recorrente de inundaccedilotildees urbanas

Conforme jaacute mencionado por Cunha (2012a) este fenocircmeno ocorre quando a bacia recebe

um percentual precipitado acima da sua capacidade de escoamento o que faz o leito

menor do rio extravasar para o leito maior ocupando as aacutereas de vaacuterzeas (Figura 18 p

50) Aliadas a esta questatildeo estatildeo as ocupaccedilotildees humanas das margens dos rios que ao

suprimir a vegetaccedilatildeo natural e alterar a condiccedilatildeo fiacutesica do solo acabam por reduzir a aacuterea

de drenagem das aacuteguas pluviais acelerando o escoamento superficial para o canal

principal e favorecendo os defluacutevios

Figura 18 - Representaccedilatildeo da inundaccedilatildeo urbana Fonte adaptado da Defesa Civil do Tocantins (2015)

Este fenocircmeno tem ganhado destaque em Colatina a partir de 1979 ano em que o Rio

Doce atingiu a vazatildeo de 12860msup3s tomando toda aacuterea aplainada que compotildee seu leito

maior afetando da atual Av Beira-Rio ateacute as redondezas da Av Getuacutelio Vargas Desde

entatildeo os estudos das inundaccedilotildees urbanas satildeo relevantes no municiacutepio o que levou o

54

Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) na deacutecada de 1980 a elaborar um ldquoPlano Diretor

de Contenccedilatildeo das Enchentes Proteccedilatildeo das Encostas e Drenagem Pluvial de Colatinardquo

Tal medida apresentou seis alternativas para o fenocircmeno Poreacutem tendo em vista o custo

operacional das obras apenas a alternativa seis que previa a construccedilatildeo de diques

marginais para a proteccedilatildeo das aacutereas mais centrais foi considerada viaacutevel na eacutepoca

Todavia em entrevistas com funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina (PMC) foi

relatado que todo o estudo foi arquivado e que ateacute agora natildeo haacute previsatildeo de

implementaccedilatildeo de tais medidas Fato este que eacute evidenciado (Tabela 2 p 51) quando da

ocorrecircncia de precipitaccedilotildees intensas na bacia durante as quais sazonalmente a cidade eacute

impactada com as aacuteguas das inundaccedilotildees Isto faz com que o municiacutepio passe

recorrentemente por cataacutestrofes conforme tabela com os principais picos de vazatildeo do rio

nos uacuteltimos 50 anos

Tabela 2

Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013

Ano Diamecircs Vazatildeo(msup3s)

1961 30jan 6613

1979 04fev 12860

1997 07jan 8687

2005 03ago 6549

2013 24dez 9028

Fonte Coelho (2007 apud DALLAPICOLA 2014 p4) e CPRM (2014 p85) Observo que os dados da tabela 1 para os anos de 1979 e 2013 estatildeo baseados na estimativa de vazatildeo meacutedia diaacuteria das maacuteximas anuais obtida atraveacutes de extrapolaccedilatildeo da curva-chave pelo grupo interdisciplinar dos relatoacuterios criacuteticos anteriores

As inundaccedilotildees de 1979 1997 e recentemente 2013 (Figura 19) foram as de maior vazatildeo

neste setor do rio e consequentemente as que mais atingiram a aacuterea urbana do municiacutepio

bloqueando os acessos ao centro da cidade e aos equipamentos essenciais como

hospitais escolas e demais oacutergatildeos puacuteblicos aleacutem de desalojarem muniacutecipes e

comprometerem a sauacutede puacuteblica

55

Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de 1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 Fonte1) Nossa Colatina 2) Nossa Linda Colatina 3) Nossa Colatina

Com o propoacutesito de identificar os principais fatores que acentuam as inundaccedilotildees seraacute

analisado como os processos geomorfoloacutegicos do Doce estatildeo sendo afetados pela accedilatildeo

antroacutepica Limitaremos a anaacutelise ao periacutemetro urbano no trecho que compreende do bairro

Esplanada ateacute o bairro Colatina Velha (Figura 20) Neste periacutemetro eacute possiacutevel visualizar a

evoluccedilatildeo da mancha urbana sobre o leito do rio aleacutem de identificar na margem direita os

pontos desnaturalizados deste canal fluvial

56

Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2) Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do recorte em rosa da APP de 50m (amarelo claro) e 500m (amarelo escuro) Fonte 3) Encontra Colatina (2015)

57

O recorte em questatildeo eacute margeado pela Av Beira-Rio e estaacute situado (Figura 20) dentro do

buffer de preservaccedilatildeo permanente previsto no PDM (buffer de 50m) e no Novo Coacutedigo

Florestal (buffer de 500m) Apesar desta aacuterea ser destinada a mata nativa e ou

reflorestada a ocupaccedilatildeo urbana antecede os artigos legais o que dificulta poliacuteticas de

gestatildeo territorial em um periacutemetro ao mesmo tempo histoacuterico e com funccedilatildeo relevante no

equiliacutebrio hidroloacutegico da bacia

O periacutemetro faz parte da vaacuterzea da margem direita do Rio Doce pois encontra-se em cota

topograacutefica de 50m caracterizando sua planiacutecie Logo a aacuterea em questatildeo tem a funccedilatildeo de

acomodar as aacuteguas das cheias quando a calha principal natildeo comporta o escoamento de

grandes vazotildees Esta tarefa passa a ser prejudicada na medida em que na bacia ou no

curso original satildeo implementadas obras que interferem na morfologia do corpo hiacutedrico

principal como a instalaccedilatildeo das hidreleacutetricas de Mascarenhas (1974) e Aimoreacutes (2005) a

montante

As UHErsquos a montante comprometem os processos do rio uma vez que o regime natural de

transporte de sedimentos eacute alterado com o barramento o que favorece a erosatildeo e

consequentemente o assoreamento com a formaccedilatildeo de bancos arenosos alteraccedilatildeo do

seu perfil transversal e reduccedilatildeo da profundidade Aleacutem disso segundo Coelho (2007) as

vazotildees maacuteximas e miacutenimas foram alteradas com a implantaccedilatildeo das hidreleacutetricas a

montante implicando em vazotildees meacutedias anuais miacutenimas cada vez mais reduzidas com

valores se distanciando da linha de tendecircncia (polinocircmio) provando o natildeo equiliacutebrio da

vazatildeo apoacutes a implantaccedilatildeo das barragens (Graacutefico 1 p22)

Entretanto a primeira intervenccedilatildeo direta no trecho em estudo foi a instalaccedilatildeo da estrada

de ferro que atraiu migrantes para Colatina permitindo o crescimento populacional e a

expansatildeo urbana desordenada agraves margens do Doce Este crescimento intensificou a

supressatildeo das matas ciliares e abriu espaccedilo para a impermeabilizaccedilatildeo do solo reduzindo

a infiltraccedilatildeo

Posteriormente a inauguraccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos ampliou o fluxo na regiatildeo pois

proporcionava a ligaccedilatildeo com as terras ao norte do Estado Atuou tambeacutem como obstaacuteculo

ao transporte de sedimentos carreados no fluxo natural do rio uma vez que sua

implantaccedilatildeo altera a topografia do fundo do canal afetando os processos geomorfoloacutegicos

58

Poreacutem foi no Morro das Cabritas (colina localizada no espaccedilo que compreende o atual

bairro Esplanada) que ocorreu a primeira desnaturalizaccedilatildeo nas margens do Doce Este

morro por onde o Rio Santa Maria do Doce meandrava ateacute desaguar no Rio Doce foi

cortado em meados de 1953 para abrigar a cidade em expansatildeo Devido a esta

intervenccedilatildeo o curso original do Santa Maria foi deslocado e passou a escoar

retilineamente ateacute a foz (Figura 21)

Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponte Florentino Aacutevidos (direita) e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque em vermelho para o curso atual do Santa Maria Fonte Nossa Colatina

As intervenccedilotildees na margem direita tornam-se mais intensas a partir da deacutecada de 1960

quando no ano de 1968 edificou-se um muro visando a proteccedilatildeo dos pilares da

extremidade direita da ponte Esta obra ficou paralisada por muitos anos e foi a primeira

de retificaccedilatildeo e aterro realizada neste trecho do rio Esta intervenccedilatildeo modificou o fluxo

natural das correntes do rio e reduziu a largura da sua calha alterando a morfologia do

canal (Figura 22)

59

Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de proteccedilatildeo da ponte Elaborado pela autora Fonte fotos histoacutericas Nossa Colatina

Contudo somente em 1972 teve iniacutecio o segundo aterro (Figura 23) com a finalidade de

alocar a estaccedilatildeo rodoviaacuteria de Colatina e ampliar a aacuterea de acesso agrave ponte Florentino

Aacutevidos A implementaccedilatildeo desta obra suprimiu parte do leito do Rio Doce pois removeu a

saliecircncia cocircncava que curvava o rio retilinizando esta parte do canal

60

Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora Fonte Nossa Colatina Nossa Linda Colatina

Apoacutes dez anos sem grandes intervenccedilotildees em 1982 o lado a montante da ponte bairro

Esplanada eacute acrescido de um aterro que estenderaacute a aacuterea do antigo Morro das Cabritas

para o rio (Figura 24)

Conhecido como Rua da Lama devido agrave umidade que o rio transferia ao aterro formando

um barro viscoso que persistia a maior parte do ano o trecho atualmente compreende a

Avenida Professor Joseacute Zouian popularmente denominada Avenida Beira-Rio de onde

surge a primeira forma do calccediladatildeo que seraacute estendido ateacute o bairro Colatina Velha

61

Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o calccediladatildeo da Av Beira-Rio Elaborado pela autora Fonte Bennachio (2015)

Somente em 2004 foi implementado o maior projeto de canalizaccedilatildeo do municiacutepio Naquele

ano teve iniacutecio a execuccedilatildeo do enrocamento da Av Beira-Rio (Figura 25) obra destinada

inicialmente a alocaccedilatildeo de equipamentos puacuteblicos de lazer e cultura praccedilas preacutedios aleacutem

da promessa de contribuir para a contenccedilatildeo dos transbordamentos do Rio Doce

Apesar de o referido manancial jaacute estar comprometido com problemas de poluiccedilatildeo

assoreamento e erosatildeo aleacutem dos impactos de duas hidreleacutetricas instaladas a montante a

obra abarcou a supressatildeo da vegetaccedilatildeo ciliar e aterro de parte do rio jaacute tatildeo degradado

62

Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento iniciada em 2004 e finalizada em 2008 Elaborado pela autora Fonte proacutepria autora em 240215

Ocupando uma aacuterea total de 130 mil msup2 do leito do Rio Doce o aterro teve iniacutecio em 2004

sendo construiacutedo com cerca de 90 mil msup3 de pedras 50 mil msup3 de areia retirada do leito do

rio e por fim o nivelamento com 200 mil msup3 de terra A obra era divulgada como um antigo

sonho dos colatinenses e serviria para ampliaccedilatildeo da Av Beira-Rio no bairro de Colatina

Velha instalaccedilatildeo de ciclovias calccediladatildeo equipamentos puacuteblicos e estacionamento (Figura

26) Apesar do fim da engenharia em 2008 o projeto ainda estaacute em fase de acabamento

na parte urbaniacutestica e na alocaccedilatildeo dos oacutergatildeos puacuteblicos

Cabe destacar que a obra sofreu embargos do Ministeacuterio Puacuteblico Federal (MPF) por

apresentar apenas cadastro na Agecircncia Nacional de Aacuteguas (ANA) que conforme parecer

da Procuradora Nadja Machado Botelho na Accedilatildeo Civil Puacuteblica ldquo[hellip] equivocadamente natildeo

realizou o procedimento de outorga [hellip]rdquo (MPF 2006 p2) Aleacutem disso a procuradora

solicitou tutela tendo em vista tratar-se de aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental e o fato de o

IBAMA ter concedido licenciamento com indevida dispensa do Estudo de Impacto

Ambiental (EIA)Relatoacuterio de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA)

63

Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina Fonte Prefeitura de Colatina (2015)

Por isso essa obra deve ser considerada faraocircnica para os cofres puacuteblicos e irreversiacutevel

para os processos geomorfoloacutegicos do Doce E sua efetivaccedilatildeo soacute foi possiacutevel com a

participaccedilatildeo e investimentos do Governo estadual Contudo seu objetivo foi frustrado pois

novamente na cheia do Rio Doce em dezembro de 2013 quando este atingiu a vazatildeo de

9028 msup3s a aacuterea foi inundada e por estar em cota maior que as casas que beiravam o

rio o enrocamento atuou como represa natildeo permitindo o retorno das aacuteguas quando o niacutevel

do rio retomou o equiliacutebrio

Por fim segue um mapa siacutentese (Figura 27) com a cartografia das quatro principais

intervenccedilotildees diretas e estruturais na margem direita do Doce no setor urbano de Colatina

representando o curso natural do rio em 1950 e suas desnaturalizaccedilotildees a partir da deacutecada

de 60 ateacute a atualidade

64

Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce ante e depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora

65

422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio

O recorte em estudo compreende as Zonas ZE-1 ZE-2 e ZUD 2-1 (Figura 28 p61) sendo

a Zona Especial 1 Zona Especial 2 e Zona de Uso Diverso 2-1 destinadas no PDM (Lei

52732007)

Artigo 103 - As Zonas de Usos Diversos ndash ZUD satildeo definidas em razatildeo da concentraccedilatildeo de atividades urbanas diversificadas com predominacircncia do uso comercial e de serviccedilos Artigo 104 - Satildeo objetivos das Zonas de Usos Diversos I - otimizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do solo priorizando a instalaccedilatildeo de novos empreendimentos em terrenos natildeo edificados contiacuteguos a empreendimentos jaacute instalados II - controle da implantaccedilatildeo de usos incompatiacuteveis com os definidos para estas zonas III - garantia de licenciamento e monitoramento ambiental dos empreendimentos IV - controle da expansatildeo comercial de serviccedilos e de induacutestrias de pequeno porte em direccedilatildeo a aacutereas residenciais [] Artigo 130 - As Zonas Especiais 1 ndash ZE 1 abrangem todas as aacutereas remanescentes do municiacutepio relativamente ao zoneamento estabelecido nesta lei ocupadas ou natildeo contida na lei de periacutemetro urbano para as quais natildeo foram ainda estabelecidos os criteacuterios de uso e ocupaccedilatildeo Artigo 131 - As Zonas Especiais 2 ndash ZE 2 satildeo as aacutereas existentes no prolongamento da avenida Beira Rio mais especificamente no trecho entre o 80 Batalhatildeo da Poliacutecia Militar e a rua Pedro Epichin incluindo o espaccedilo existente entre a margem do Rio Doce e o limite das construccedilotildees localizadas na rua Pedro Epichin

Cabe destacar que mesmo sendo palco das aacutereas mais afetadas com as inundaccedilotildees do

Rio Doce a Beira-Rio tem sido alvo da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria que aproveitando-se dos

iacutendices pouco restritos da ZUD 2 (Figura 28 p62) valoriza o espaccedilo promovendo a

instalaccedilatildeo de grandes estruturas como hipermercados edifiacutecios residenciais modernos e

hotelaria

66

Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 Fonte Colatina (2007)

A aacuterea contida na ZE (Figura 28) natildeo possui criteacuterio de ocupaccedilatildeo definido na legislaccedilatildeo

atual sendo adotado o disposto na Lei 41961995 que estabelece os iacutendices urbaniacutesticos

para as aacutereas conquistadas junto ao Rio Doce e na Lei 420595 que aprova os

parcelamentos na Beira-Rio Quanto agrave ZUD 2-1 apresenta iacutendices urbaniacutesticos no anexo

118 do Plano Diretor conforme tabela 3 abaixo

67

Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1

Fonte Colatina (2007 p36)8

68

Eacute relevante observar que numa aacuterea onde o corpo hiacutedrico foi reduzido pelos sucessivos

aterros tenha sido aprovada a instalaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto (Figura

29) com taxa de ocupaccedilatildeo de ateacute 80 e com baixo iacutendice de permeabilidade Ampliou-

se a aacuterea impermeaacutevel numa regiatildeo onde a drenagem jaacute eacute muito comprometida com a

expansatildeo urbana sobre o rio

Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto na Beira-Rio Fonte imagem do Google Maps 2015 E fotos da autora em 140215

Portanto analisando o conjunto de dados apresentado acima eacute possiacutevel entender como

as inundaccedilotildees satildeo potencializadas no municiacutepio atingindo a populaccedilatildeo mas em especial

afetando a dinacircmica de um corpo hiacutedrico tatildeo relevante para o Estado A fim de subsidiar a

gestatildeo puacuteblica com material cartograacutefico para a tomada de decisotildees delimitou-se o

poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo (Figura 30) Pois devem ser adotadas medidas que

minimizem impactos de futuros eventos hidroloacutegicos na bacia capazes de comprometer

novamente a aacuterea urbana mais central de Colatina

69

Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av Beira-Rio em dezembro de 2013 Elaborado pela autora

70

Diante do poliacutegono de inundaccedilatildeo da uacuteltima cheia (Figura 30) em dezembro de 2013 eacute

possiacutevel implementar medidas de convivecircncia com as grandes vazotildees a exemplo de

paiacuteses como Holanda que vem investindo em medidas de resiliecircncia a fim de reduzir a

velocidade dos defluacutevios possibilitando ao canal a capacidade de acumular e dispersar as

aacuteguas com impacto miacutenimo para as populaccedilotildees Conforme Carneiro e Miguez (2011) a

estrateacutegia adotada pelo paiacutes eacute reter armazenar e drenar sendo mais flexiacutevel e natildeo

interferindo drasticamente na dinacircmica do corpo hiacutedrico

Por fim a implementaccedilatildeo de soluccedilotildees de planejamento urbano em Colatina requer uma

anaacutelise integrada que abarque o urbano e o ambiental de modo a propor intervenccedilotildees que

produzam impactos reduzidos nos processos geomorfoloacutegicos do Rio Doce Logo a gestatildeo

municipal deve atuar em niacutevel de bacia hidrograacutefica interagindo com os municiacutepios a

montante propondo medidas de minimizaccedilatildeo das cheias urbanas Mas na escala local

pode-se atuar junto aos novos parcelamentos de modo a ampliar o percentual de aacutereas

permeaacuteveis no municiacutepio incentivando por exemplo os novos loteamentos a adotarem

pavimentaccedilotildees que permitam a drenagem natural do solo

71

5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Partindo da ideia de que eacute possiacutevel implementar medidas que minimizem o escoamento

superficial satildeo apresentadas propostas como forma de controlar ou ao menos reduzir os

impactos das inundaccedilotildees urbanas

Embora as implementaccedilotildees histoacutericas de estruturas de proteccedilatildeo ou barreiras mais altas

tenham sido muito disseminadas atualmente estatildeo sendo suplantadas pelo gerenciamento

de inundaccedilotildees de maneira mais sustentaacutevel Deste modo as experiecircncias fora do Brasil

apontam para soluccedilotildees mais flexiacuteveis que considerem o fluxo natural do canal enquanto

um ecossistema em equiliacutebrio Para tanto Carneiro e Miguez (2011 p150) destacam a

iniciativa alematilde no controle de inundaccedilotildees em bacias hidrograacuteficas metropolitanas

[hellip] A abordagem comum consiste na regulaccedilatildeo do uso do solo nas aacutereas inundaacuteveis e em ldquodar espaccedilo para o riordquo ao inveacutes de priorizar investimentos em estruturas de proteccedilatildeo contra inundaccedilotildees como a colocaccedilatildeo de diques de contenccedilatildeo as margens dos rios A utilizaccedilatildeo do conceito de resiliecircncia apropriado de ecologia decorre dessa abordagem A aplicaccedilatildeo praacutetica do conceito implica portanto em mudanccedilas de paradigma Deixa de ser preponderante a engenharia construtiva e entra em cena o planejamento de longo prazo voltado para o desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis capazes de conviver com as variaccedilotildees do ciclo hidroloacutegico sem significar necessariamente trageacutedias anunciadas

Aleacutem dessas propostas geoacutegrafos como Sandra Cunha tecircm estudado a recuperaccedilatildeo

natural ou ldquorenaturalizaccedilatildeordquo de corpos fluviais visando promover a estabilidade dos canais

de modo mais sustentaacutevel Para ela

[hellip] Recuperaccedilatildeo de canal significa de forma simples o retorno as condiccedilotildees anteriores aos distuacuterbios Em essecircncia eacute o processo de recuperaccedilatildeo do rio ou do ecossistema fluvial estabilizando o desenvolvimento de habitats e colonizaccedilatildeo a uma taxa mais raacutepida que dos processos naturais fiacutesicos e bioloacutegicos Na recuperaccedilatildeo de canais ocorrem consideraccedilotildees de aspecto hidroloacutegico morfoloacutegico e ecoloacutegico qualidade da aacutegua esteacutetica aleacutem da necessidade de uma visatildeo integradora do projeto sustentaacutevel de recuperaccedilatildeo (CUNHA 2012 p230 a 231)

Satildeo portanto medidas pontuais como o retorno agraves sinuosidades do rio (Figura 31 p 68)

ou a substituiccedilatildeo de estruturas de concreto por superfiacutecies mais permeaacuteveis a exemplo

das trincheiras de infiltraccedilatildeo ou pavrsquos (Figura 32) aacutereas mais vegetadas aleacutem de coleta e

uso de aacutegua da chuva bem como tratamento das aacuteguas superficiais por meio de

72

amenidades esteacuteticas como reservatoacuterios de retenccedilatildeo ou detenccedilatildeo que podem ser

associados a ambientes harmocircnicos como lagos artificiais Todas estas accedilotildees possibilitam

a minimizaccedilatildeo das grandes vazotildees no solo urbano pois pretendem atenuar os impactos

das cheias fazendo com que seja resgatada parte da drenagem existente anteriormente agrave

urbanizaccedilatildeo

Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do Rio Aa Munster Alemanha (1998) Fonte Cunha (2012 p233)

Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos Fonte Carneiro e Miguez (2011 p128)

A partir do exposto cabe agrave gestatildeo municipal implementar legislaccedilotildees que priorizem a

permeabilidade possibilitando uma maior infiltraccedilatildeo das aacuteguas das chuvas atraveacutes de

pavimentaccedilotildees menos impermeaacuteveis e da ampliaccedilatildeo de aacutereas vegetadas Satildeo medidas

que tornam a drenagem mais sustentaacutevel aleacutem de possibilitar a manutenccedilatildeo dos serviccedilos

puacuteblicos de forma menos custosa tendo em vista o elevado preccedilo das recomposiccedilotildees

asfaacutelticas

1 2

73

Aleacutem disso quando se fala em controle de cheias urbanas pressupotildee-se uma seacuterie de

medidas para minimizaccedilatildeo de seus impactos desde a operaccedilatildeo de sistemas de alerta

zoneamento de aacutereas inundaacuteveis construccedilatildeo de grandes reservatoacuterios de contenccedilatildeo de

cheias e diques ateacute accedilotildees de educaccedilatildeo ambiental

Cabe pensar tambeacutem na proacutexima revisatildeo do PDM em um plano de macrodrenagem

municipal que reuacutena accedilotildees de caraacuteter estruturantes com obras hidraacuteulicas de infraestrutura

que realizem a conduccedilatildeo final das aacuteguas dos escoamentos superficiais para a minimizaccedilatildeo

das inundaccedilotildees e em medidas natildeo-estruturantes que trabalhem a consciecircncia ambiental

e proponha um zoneamento de cheias a fim de se delimitar os pontos mais fragilizados nos

defluacutevios

Por fim pensar em drenagem num contexto de ocupaccedilatildeo irregular histoacuterico requer

profissionais que aleacutem de possuir afinidade com a temaacutetica tambeacutem possam analisar os

diferentes processos que constituem o espaccedilo geograacutefico Logo este tipo de estudo deve

abarcar uma equipe multidisciplinar que percorra a anaacutelise desde o ambiental estrutural

ateacute o aspecto humano a fim de se produzir resultados que de fato contribuam com o

controle das inundaccedilotildees urbanas

74

6 CONCLUSAtildeO

A partir do recorte espacial foi possiacutevel compreender que a abordagem da geomorfologia

fluvial com a anaacutelise espaccedilo-temporal da ocupaccedilatildeo urbana possibilita a identificaccedilatildeo das

accedilotildees do homem no meio ambiente pois estas resultam na alteraccedilatildeo das paisagens

naturais e na dinacircmica da bacia hidrograacutefica Assim o Rio Doce deve ser estudado de

modo integrado ao crescimento da cidade sobretudo para compreensatildeo da produccedilatildeo do

espaccedilo geograacutefico

Analisar a inundaccedilatildeo urbana em Colatina foi satisfatoacuterio pois o municiacutepio estaacute situado no

perfil meacutedio-baixo da bacia vazante e eacute neste trecho que os reflexos das intervenccedilotildees satildeo

mais acentuados principalmente se esta parte do canal tambeacutem tiver passado por obras

que modificaram seus processos hidroloacutegicos Aleacutem disso a perspectiva geograacutefica aponta

para vaacuterias outras questotildees como erosatildeo fluvial planejamento urbano poluiccedilatildeo ambiental

crise da aacutegua que conduzem a outras discussotildees acerca da relaccedilatildeo homemnatureza

Ao demonstrar a evoluccedilatildeo espaccedilo-temporal do uso e cobertura da terra na margem direita

do Doce associando esta ocupaccedilatildeo agraves obras estruturantes que foram executadas no

canal verificamos que todas as praacuteticas adotadas para conter o transbordamento do rio

acabaram alterando sua morfologia com a retificaccedilatildeo de trechos em meandros reduzindo

a largura do corpo hiacutedrico o que favoreceu a apropriaccedilatildeo urbana de suas vaacuterzeas Aliadas

a estas questotildees estatildeo a falta de planejamento urbano e a omissatildeo diante da supressatildeo

das matas ciliares principalmente se considerados os resultados do relatoacuterio teacutecnico do

IJSN contra enchentes em 1980

Cabe destacar tambeacutem que toda a anaacutelise da ocupaccedilatildeo urbana e desnaturalizaccedilatildeo do

Rio Doce foi melhor identificada a partir dos produtos cartograacuteficos deste trabalho Pois eacute

na espacialidade dos fenocircmenos e no registro de informaccedilotildees ainda natildeo mapeadas como

os aterros que o geoacutegrafo executa a anaacutelise do seu objeto de estudo o homem e a

natureza aqui representado pela sociedade e o canal do Doce

Apesar do municiacutepio apresentar leis que resguardam os leitos dos rios desde o primeiro

PDM em 1996 nada foi feito para conter as ocupaccedilotildees irregulares beira-rio Pelo contraacuterio

estas aacutereas foram incorporadas ao Plano Diretor em 2007 com possibilidades de

ocupaccedilotildees diversas o que tem levado especuladores a valorizar o solo com vista para o

rio apontando suas qualidades esteacuteticas e teacutermicas Este fato vem aumentando o

75

percentual de aacutereas impermeaacuteveis nesta margem comprometendo ainda mais a drenagem

dos defluacutevios

Eacute na Av Beira-Rio que crescem as implantaccedilotildees de grandes empreendimentos comerciais

como supermercado Casagrande Ogil Hotel e obras de construccedilatildeo de novos arranha-

ceacuteus em um periacutemetro que jaacute eacute totalmente comprometido com os extravasamentos do Rio

Doce Estas obras ocupam grandes aacutereas e na maioria das vezes apresentam reduzida

aacuterea permeaacutevel reservando apenas o obrigatoacuterio pela lei cerca de 10 Observa-se

tambeacutem que a implantaccedilatildeo desses projetos estaacute condicionada agrave apresentaccedilatildeo e

aprovaccedilatildeo por comissatildeo na prefeitura do Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV) sendo

difiacutecil conceber que seja concedida tal licenccedila para implementaccedilatildeo de obras num trecho

de risco ambiental

Embora as diretrizes do Estatuto das Cidades para a implementaccedilatildeo do uso da terra

sustentaacutevel e os instrumentos para a regulaccedilatildeo do solo urbano sejam avanccedilados Colatina

eacute mais um exemplo da carecircncia de profissionais capacitados para estudar de modo

integrado e em niacutevel de bacia hidrograacutefica os efeitos da accedilatildeo humana num ambiente tatildeo

peculiar como as margens do Doce Por isso com os objetivos traccedilados nesta pesquisa

podemos aleacutem de compreender o fenocircmeno criar uma metodologia de anaacutelise de aacutereas

inundaacuteveis em ambientes urbanos O que permite agrave gestatildeo municipal uma diretriz para a

tomada de decisotildees

Destaca-se tambeacutem que as legislaccedilotildees aqui referenciadas supriram a discussatildeo acerca do

objeto de estudo mas outras podem contribuir para esta pesquisa a exemplo do Coacutedigo

das Aacuteguas da Poliacutetica Nacional dos Recursos Hiacutedricos das Resoluccedilotildees do Conama do

Estatuto das Cidades entre outros

Sendo assim numa revisatildeo do PDM deve-se pensar nestes aspectos da cidade desde o

histoacuterico de ocupaccedilatildeo das margens ateacute os impactos das inundaccedilotildees e o presente trabalho

auxilia com uma nova abordagem na reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo fornecendo material

cartograacutefico para subsidiar propostas de proteccedilatildeo ao curso do Doce e consequentemente

da populaccedilatildeo

Por fim deve-se destacar que o recorte estaacute inserido num contexto maior de uma bacia

hidrograacutefica que se estende aleacutem dos limites de Colatina ou do estado do Espiacuterito Santo

Esta bacia compreende a Regiatildeo Hidrograacutefica do Atlacircntico Leste e estaacute alocada tambeacutem

76

no estado de Minas Gerais o que portanto torna as accedilotildees de controle das inundaccedilotildees

mais complexas tendo em vista as divergentes politicas territoriais

77

7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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78

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2015 DEFESA CIVIL DO TOCANTINS Esquema de representaccedilatildeo das inundaccedilotildees e enchentes urbanas 2015 Disponiacutevel em lthttpdefesaciviltogovbrenchente gt Acesso em 22 de Marccedilo de 2015

79

ENCONTRA COLATINA Foto aeacuterea de Colatina do Bairro Esplanada sentido a foz do rio Doce 2015 Disponiacutevel em lt httpwwwencontracolatinacombrsobre-colatinagt Acesso em 17 de fevereiro de 2015 FITZ P R Geoprocessamento sem Complicaccedilatildeo Satildeo Paulo Ed Oficina de Textos 2008a ______ Cartografia Baacutesica (nova ediccedilatildeo) Satildeo Paulo Ed Oficina de Textos 2008b FOLHA VITORIA Preacutedio e quatro casas desabam em Colatina Noroeste do Estado Vitoria 24 de dezembro de 2013 lt httpwwwfolhavitoriacombrgeralnoticia201312predio-e-quatro-casas-desabam-em-colatina-noroeste-do-estadohtml gt - Acesso em 25 de Maio de 2014 GAZETA G1 Espirito Santo imagens da enchente de Colatina em dezembro de 2013 Disponiacutevel em lthttpg1globocomespirito-santonoticia201312sobe-para-40-mil-o-numero-pessoas-fora-de-casa-no-es-diz-defesa-civilhtmlgt Acesso em 16 de fevereiro de 2015 GORSKI MCB Rios e cidades ruptura e reconciliaccedilatildeo 1ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Senac Satildeo Paulo 2010 GRAEFF OR Licenciamento Ambiental Urbano In GUERRA (org) Geomorfologia Urbana 1ordf Ediccedilatildeo Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2011 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Cidades Disponiacutevel em lthttpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=320150ampsearch=||infograacuteficos-informaccedilotildees-completasgt Acesso em 25 de Maio de 2014 Instituto Capixaba de Pesquisa Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural - INCAPER Relatoacuterio do Programa De Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural (PROATER 2011) Disponiacutevel em ltwwwincaperesgovbrproatermunicipiosNoroesteColatinapdfgt Acesso em 24 de Maio de 2014 Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hiacutedricos ndash IEMA Ortofotos Espirito Santo do vocirco de 2007 a 2008 Disponiacutevel em lt http18984218229aplicmapgeralhtm5fc6ad50c096dbb2c3dc4bf3e379ae63 gt Acesso em 18 de fevereiro de 2015 Instituto Jones dos Santos Neves ndash IJSN Plano Diretor de Contenccedilatildeo as Enchentes Proteccedilatildeo as Encostas e Drenagem Pluvial de Colatina de abril de 1982 Disponiacutevel em lthttpwwwijsnesgovbrConteudoDigital20120801_ij00163_planodiretor_custo_mapa_v4pdf gt Acesso em 26 de janeiro de 2015 ______ Planos de Informaccedilatildeo formato shapefile 2015 Disponiacutevel em lthttpwwwijsnesgovbrSitioindexphpoption=com_contentampview=articleampid=3780ampItemid=330 gt Acesso em 26 de janeiro de 2015 JAILSON MONTEIRO Imagens da inundaccedilatildeo da Av Beira Rio de Colatina em dezembro de 2013 Disponiacutevel em httptecmixinforblogspotcombr201312enchente-colatinahtmlgt Acesso em 17 de Fevereiro de 2015

80

JENSEN J R Sensoriamento Remoto do Ambiente uma perspectiva em recursos terrestres Satildeo Joseacute dos Campos SP Parecircntese 2009 MINISTERIO PUBLICO FEDERAL - MPF Accedilatildeo Civil Puacuteblica com pedido de Antecipaccedilatildeo de Tutela - da obra de Enrocamento da Av Beira Rio em ColatinaES2006 Disponiacutevel emlt wwwpresmpfmpbracp_riodoce_colatinadocgt Acesso em 14 de marccedilo de 2015 NOSSA COLATINA Fatos Histoacutericos Culturais Curiosidades Informaccedilatildeo Variedades Disponiacutevel em lt httpswwwfacebookcomnossacolatinagt Acesso em 29 de Janeiro de 2015 NOSSA LINDA COLATINA Fotos histoacutericas do centro de Colatina Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomNossaLindaColatinaphotosgt Acesso em 29 de Janeiro de 2015 Serviccedilo Geoloacutegico do Brasil ndash CPRM Relatoacuterio Teacutecnico do Periacuteodo Criacutetico de Dezembro de 2013 (CPRM 2014) Disponiacutevel emlthttpwwwcprmgovbrpubliquemediarelatorio_eventos_criticos_190314pdfgt Acesso em 16 de Setembro de 2014 Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espiacuterito Santo - GEOBASES Downloads de planos de informaccedilatildeo do estado municiacutepio bairros corpo drsquoagua entre outros Disponiacutevel em httpwwwgeobasesesgovbr Acesso em 07 de Setembro de 2014 SITE BARRA Colatina debaixo drsquoaacutegua na maior enchente da histoacuteria do municiacutepio Colatina 24 de dezembro de 2013 lt httpwwwsitebarracombr201312colatina-debaixo-dagua-na-maior-enchente-da-historia-do-municipiohtml gt - Acesso em 25 de Maio de 2014 TUCCI CEM Prefacio In GUERRA e CUNHA (orgs) Impactos Ambientais Urbanos no Brasil 10ordf Ediccedilatildeo Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2013 UOL NOTiacuteCIAS Chuvas causam estragos em mais de dois terccedilos dos municiacutepios do Espiacuterito Santo Vitoacuteria 26 de dezembro de 2013 lt httpnoticiasuolcombralbum20131223chuvas-causam-estragos-em-metade-dos-municipios-do-espirito-santohtmfotoNav=62 gt ndash Acesso em 31 de Maio de 2014 USGS - Geological Survey Serviccedilo Geoloacutegico Americano Aquisiccedilatildeo de imagens orbita digitais gratuitas do sateacutelite LandSat-8 datas de passagem 02012014 e 22032014 EUA Disponiacutevel em lthttpearthexplorerusgsgovgt Acesso em 05 de setembro de 2014

Page 2: DESNATURALIZAÇÃO DO RIO DOCE: UMA ABORDAGEM … · Ao engenheiro Francisco Hermes, pela experiência e conhecimentos partilhados da área de estudo. Aos meus amigos Mônica Regina,

MAIONNY SOARES QUIEZA DALLAPICOLA

DESNATURALIZACcedilAtildeO DO RIO DOCE UMA ABORDAGEM GEOGRAacuteFICA DAS INTERVENCcedilOtildeES NO SETOR URBANO DE

COLATINAES

Monografia apresentada ao Departamento de

Geografia do Centro de Ciecircncias Humanas e

Naturais da Universidade Federal do Espiacuterito

Santo como requisito parcial para obtenccedilatildeo

do Grau de Bacharel em Geografia

Orientador Prof Dr Andreacute Luiz Nascentes Coelho

Vitoacuteria - ES 2015

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo a Deus pela forccedila dia a dia sem a qual natildeo seria possiacutevel superar

os obstaacuteculos e alcanccedilar a vitoacuteria

Aos meus pais Maxima e Francisco por todo ensinamento por acreditarem

na minha capacidade e por me ajudarem a sonhar e correr atraacutes dos meus

objetivos

Ao meu marido Cleder pela paciecircncia pela forccedila nos momentos de

desacircnimo e por todo apoio dedicado Sem vocecirc natildeo teria conseguido

Ao engenheiro Francisco Hermes pela experiecircncia e conhecimentos

partilhados da aacuterea de estudo

Aos meus amigos Mocircnica Regina Larissa Patriacutecia e Ronald por todo apoio

e ajuda durante esta pesquisa

Ao meu orientador Andreacute pela oportunidade desta pesquisa pela paciecircncia

dedicada a mim e por todos os ensinamentos compartilhados Muito obrigada

A todos aqueles que estiveram comigo durante a graduaccedilatildeo e que

contribuiacuteram de alguma forma com o meu aprendizado

RESUMO Este trabalho tem como objeto de estudo o setor do Rio Doce que corta a aacuterea

urbana de Colatina ndash ES O objetivo principal desta anaacutelise foi verificar como as

intervenccedilotildees humanas no canal fluvial tecircm contribuiacutedo para ampliaccedilatildeo das cheias

na planiacutecie de inundaccedilatildeo Partindo desta premissa a pesquisa baseou-se na

anaacutelise de fotos histoacutericas de 1906 a 2015 e imagens de sateacutelite em periacuteodos de

vazante (abril) e cheia (janeiro) do rio Doce por onde foi possiacutevel cartografar as

alteraccedilotildees nas margens deste corpo hiacutedrico O cruzamento das seacuteries temporais

histoacutericas de vazatildeo do rio com a ocupaccedilatildeo da Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente

(APP) permitiu delimitar os pontos mais fragilizados da Av Beira Rio Deste modo

os resultados indicaram que o crescimento urbano desordenado e contiacutenuo

associado agraves alteraccedilotildees nos processos geomorfoloacutegicos tem intensificado a

degradaccedilatildeo do canal fluvial potencializando as inundaccedilotildees

Palavras-chave Geomorfologia fluvial geotecnologias anaacutelise geograacutefica integrada

intervenccedilatildeo humana e inundaccedilatildeo

REacuteSUMEacute

Ce travail a pour objet deacutetude le secteur de la Riviegravere Doce coupe de la zone urbaine ne

de Colatina ndash ES Le principal objectif de cette analyse eacutetait de veacuterifier comme les

interventions humaines dans le chenal de la Riviegravere Doce ont contribueacute pour le submersion

de la plaine dinondation De cette preacutemisse la recherche a eacuteteacute baseacutee sur lanalyse de

photographies historiques de 1906 a 2015 et images en peacuteriode de reflux (avril) et flux

(janvier) de la Riviegravere Doce par lequel il a eacuteteacute possible de cartographier les changements

dans les marges de ce plan deau Gracircce agrave lanalyse de la seacuterie chronologique historique

de deacutebit de la riviegravere et de loccupation de la zone de preacuteservation permanent crsquoest possible

didentifier les points les plus vulneacuterables de lrsquoAvenue Beira-Rio Ainsi les reacutesultats

indiquent que la croissance urbaine deacutesordonneacutee et continue associeacutee aux changements

dans les processus geacuteomorphologiques a intensifieacute la deacutegradation du chenal de la riviegravere

en renforccedilant des inondations

Mots-cleacutes la geacuteomorphologie fluviale geacuteotechnologies analyse geacuteographique inteacutegreacutee

dintervention humaine et inondations

ABSTRACT

This paper has as object of study the sector of Doce River cutting the urban areas of

Colatina ndash ES The main objective of this analyze was to verify how human interventions on

Docersquos river channel have contributed how human interventions in river channel have

contributed to the tide of the floodplain From this premise the research was based on

analysis of historical photographs from 1906 to 2015 and aerial images in periods of ebb

(April) and flood (January) of Doce river by which it was possible to map the changes in the

margins of this water body Crossing the analysis of historical time series of river flow with

the occupation of areas of permanent preservation it was possible to delimitate the most

vulnerable points of Beira-Rio Avenue Thus the results indicated that the cluttered and

continuous urban growth associated with changes in geomorphological processes has

intensified de degradation of the river channel increasing flooding

Keywords fluvial geomorphology geotechnologies integrated geographical analysis

human intervention and flood

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e Rio Doce 18

Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 19

Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de

2013 19

Figura 4 - Tipos de leito fluvialvarzea 21

Figura 5 - Padrotildees dos canais 21

Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento 32

Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia 33

Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC) 37

Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906

Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce 41

Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da

regiatildeo 42

Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce 43

Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio

Doce 43

Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes 45

Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de

crescimento 47

Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios que interceptam a cidade de Colatina

48

Figura 16 - Traccedilado das mensuraccedilotildees da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de

vazante mecircs de abril2013 50

Figura 17 - Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro

urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal 51

Figura 18 - Representaccedilatildeo de inundaccedilatildeo urbana 53

Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de

1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 55

Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2)

Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do

recorte em rosa da APP de 50 m (amarelo claro) e 500 m (amarelo escuro) 56

Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponrte Florentino Aacutevidos (direita)

e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa

Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque

em vermelho para o curso atual do Santa Maria 58

Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de

proteccedilatildeo agrave ponte 59

Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o

traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas 60

Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o

calccediladatildeo da Av Beira-Rio61

Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento

iniciada em 2004 e finalizada em 2008 62

Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina 63

Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce antes e

depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas 64

Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 66

Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto da Beira-Rio 68

Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da

inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av

Beira-Rio em dezembro de 2013 69

Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do rio Aar Munster Alemanha (1998) 72

Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos 72

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Perfis Transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de vazante (abril) e cheia (janeiro) 50

Tabela 2 Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013 54

Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1 67

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 - Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais

(Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia) 25

Graacutefico 2 - Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 201045

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANA - Agecircncia Nacional de Aacuteguas

APP - Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente

CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais Serviccedilo Geoloacutegico Brasileiro

GEOBASES - Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espiacuterito Santo

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IJSN - Instituto Jones dos Santos Neves

INCAPER - Instituto Capixaba de Pesquisa Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural

PDM - Plano Diretor Municipal

PMC - Prefeitura Municipal de Colatina

PROATER - Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural

SIG - Sistema de Informaccedilotildees Geograacuteficas

UHE ndash Usina Hidreleacutetrica

UTM - Universal Tranverse Mercator

USGS - Geological Survey Serviccedilo Geoloacutegico Americano

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14

11 Objetivo 16

111 Objetivo Geral 16

112 Objetivos Especiacuteficos 16

12 Justificativa 17

2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS 20

21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano 20

211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial 23

22 Aspectos Juriacutedicos 27

23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos 31

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS 36

4 RESULTADOS 40

41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana 40

411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade 46

42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce 49

421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie de

Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio 53

422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio 65

5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 71

6 CONCLUSAtildeO 74

7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 77

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

A partir da deacutecada de 1930 com a transiccedilatildeo econocircmica de um eixo agraacuterio-exportador

para um polo urbano-industrial (CARNEIRO 2008) verificou-se no Brasil a migraccedilatildeo da

maior parte da populaccedilatildeo para as cidades Isso acarretou segundo Tucci (2013 p17) uma

ldquo[] concentraccedilatildeo urbana no Brasil da ordem de 80 da populaccedilatildeo e o seu

desenvolvimento tem sido realizado de forma pouco planejada com grandes conflitos

institucionais e tecnoloacutegicos []rdquo

De acordo com Canholi (2005 p15) a expansatildeo da aacuterea urbana ldquo[] consequentemente

impermeabilizada ocorreu a partir das zonas mais baixas proacuteximas agraves vaacuterzeas dos rios

ou agrave beira-mar em direccedilatildeo agraves colinas e morros em face da necessaacuteria interaccedilatildeo da

populaccedilatildeo com os corpos hiacutedricos []rdquo Neste cenaacuterio surgem as ocupaccedilotildees irregulares

nas Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) como as da planiacutecie de inundaccedilatildeo dos rios

e os topos de morros

Essas ocupaccedilotildees desordenadas satildeo proporcionadas pela precariedade da implantaccedilatildeo e

fiscalizaccedilatildeo das legislaccedilotildees urbaniacutesticas de ordenamento territorial e ambiental Neste

contexto satildeo relevantes as pesquisas que visam correlacionar o viacutenculo

sociedadenatureza de modo a entender como a ocupaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo no

solo conecta-se com a hidrodinacircmica dos recursos naturais uma vez que ldquo[] a tendecircncia

atual do limitado planejamento urbano integrado estaacute levando as cidades a um caos

ambiental urbano com custo extremamente alto para a sociedaderdquo (TUCCI 2013 p17)

Deve-se partir do pressuposto teoacuterico articulado com a ideia anterior de ldquo[]

indissociabilidade entre natureza e sociedade []rdquo (COELHO 2013 p21) em que a

sociedade natildeo pode ser apenas entendida como populaccedilatildeo e a natureza enquanto mero

ambiente fiacutesico mas que estes dois fatores estatildeo dinamicamente produzindo o espaccedilo

geograacutefico

Neste contexto a problemaacutetica se afirma no intuito de relacionar as legislaccedilotildees urbanas

(Lei de Parcelamento do Solo 676679 e PDM) e ambientais (Novo Coacutedigo Florestal 2012)

com as suas aplicaccedilotildees ou natildeo no periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina

principalmente nos bairros que se situam na planiacutecie de inundaccedilatildeo do Rio Doce

A escolha da temaacutetica tambeacutem teve como premissa a importacircncia regional de Colatina

como entreposto comercial e logiacutestico para os municiacutepios do noroeste capixaba conforme

15

relato do Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural - PROATER (INCAPER

2011)

Exportadores de cafeacute atacadistas e as lojas de pronta entrega dinamizam o comeacutercio local que atende aos municiacutepios do norte capixaba leste de Minas Gerais e sul da Bahia representando um universo de mais de 700 mil consumidores (INCAPER 2011 p5)

De acordo ainda com o INCAPER (op cit) Colatina tem crescido a uma margem de 188

anual o que representa a tendecircncia ao ecircxodo rural sendo que a populaccedilatildeo do campo vem

diminuindo de aproximadamente 19 em 1990 passou a 12 no Censo de 2010 Diante

do exposto entra em discussatildeo o planejamento urbano pois com o crescimento da

populaccedilatildeo citadina para cerca de 88 aumentam tambeacutem as pressotildees sobre o meio

ambiente em especial as regiotildees ribeirinhas

Estas uacuteltimas refletem o aumento das atividades humanas na bacia hidrograacutefica onde

pode-se destacar as mudanccedilas induzidas pelas accedilotildees antropogecircnicas que se dividem em

diretas (aquelas que atuam no canal fluvial para controle das vazotildees a exemplo dos

reservatoacuterios e desvios de aacuteguas) e indiretas relacionadas agraves aacutereas fora dos canais por

exemplo o desmatamento e urbanizaccedilatildeo sendo que estas comprometem a descarga e

carga soacutelida do rio (PARK1981 KNIGHTON1984 apud CUNHA 2001)

O interesse pela pesquisa surge da importacircncia regional do municiacutepio dos impactos

histoacutericos humanos materiais e imateriais sofridos diante de eventos hidroloacutegicos

extremos tendo em vista o fato de o periacutemetro urbano ser cortado por um corpo fluvial de

importacircncia regional Aleacutem disso a abordagem geograacutefica possibilita a correlaccedilatildeo dos

processos fluviais com a ocupaccedilatildeo urbana de modo mais integrado (COELHO 2009)

Portanto uma das finalidades deste trabalho eacute analisar por meio das geotecnologias e das

investigaccedilotildees de campo como a ocupaccedilatildeo urbana tem interferido nas margens do Rio

Doce de modo a delimitar os sucessivos aterros na margem direita no periacutemetro do bairro

Esplanada a Colatina Velha Ademais identificar como os processos deste canal fluvial

tecircm sido afetados pela intervenccedilatildeo humana em seu leito principal

16

11 Objetivo

111 Objetivo Geral

Correlacionar os processos fluviais do Rio Doce por meio da dinacircmica geomorfoloacutegica

deste canal com o uso e cobertura da terra no setor urbano do municiacutepio de Colatina

Espiacuterito Santo Contrapondo assim as intervenccedilotildees urbanas da beira-rio com o Plano

Diretor Municipal e o Novo Coacutedigo Florestal enfatizando as diretrizes adotadas no

parcelamento do solo para a planiacutecie de inundaccedilatildeo deste rio

112 Objetivos Especiacuteficos

Identificar os vetores de crescimento urbano do municiacutepio a fim de avaliar a

evoluccedilatildeo da mancha urbana junto ao canal principal

Determinar o comprimento da borda da calha do leito regular do Rio Doce no

periacutemetro urbano de Colatina para definiccedilatildeo da largura miacutenima da faixa marginal

de preservaccedilatildeo

Espacializar as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente beira-rio previstas em lei a fim

de analisar a ocupaccedilatildeo urbana nestes espaccedilos

Cartografar os principais pontos desnaturalizados no canal principal do Rio Doce

no setor urbano de Colatina

Demonstrar como o emprego das geotecnologias auxilia no planejamento urbano

e ambiental especialmente em acircmbito municipal

17

12 Justificativa

A aacuterea de estudo corresponde ao periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina situado na

Bacia Atlacircntico trecho leste sub-bacia do Rio Doce no baixo curso (ANA 2001)

Compreende a regiatildeo noroeste do estado do Espiacuterito Santo latitude 19deg 32rsquo 16rsquorsquo S e

longitude 40deg 37rsquo 59rsquorsquo W De acordo com os dados do censo de 2010 do Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio possuiacutea uma populaccedilatildeo de 111788 mil

habitantes1 numa aacuterea territorial de 1416804 kmsup2

Devido a sua privilegiada posiccedilatildeo geograacutefica limiacutetrofe com o Rio Doce e a construccedilatildeo da

Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas em 1906 Colatina compreendia os territoacuterios dos atuais

municiacutepios de Baixo Guandu Linhares Pancas Satildeo Gabriel da Palha Marilacircndia Satildeo

Domingos do Norte e Governador Lindenberg (INCAPER 2011) Soacute a partir de 2001

passou a apresentar os atuais limites municipais e configurar uma aacuterea urbana com 59

bairros (Figura 1)

Colatina eacute um municiacutepio de importacircncia para regiatildeo noroeste capixaba seja em caraacuteter

econocircmico ou social Eacute responsaacutevel pelos fluxos de cargas da regiatildeo aleacutem de ser um polo

moveleiro de confecccedilatildeo metalmecacircnico e de comeacutercio e serviccedilos gerando emprego e

renda (INCAPER 2011) Aleacutem disso tem sofrido historicamente com as cheias do Rio

Doce principalmente porque parte do seu periacutemetro urbano eacute inundado com as aacuteguas da

calha principal desse rio o que compromete toda a dinacircmica local e potildee em risco os

colatinenses

Assim diante das crescentes demandas por territoacuterio no periacutemetro urbano a populaccedilatildeo

tem suprimido a cobertura vegetal e ocupado desde as margens do Rio Doce ateacute as

encostas dos morros Em periacuteodos de cheias principalmente nos meses de outubro a

marccedilo (INCAPER 2011 ANA 2001) verificam-se inundaccedilotildees de grande parte da aacuterea

urbana beira-rio aleacutem dos movimentos de massa nas encostas Como exemplo destes

acontecimentos tecircm-se os registros fotograacuteficos dos efeitos da chuva de dezembro de 2013

(Figuras 2 e 3)

1 De acordo com o a estimativa do IBGE de 2014 publicada no DOU o municiacutepio conta com uma populaccedilatildeo de 121670 habitantes

18

Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e o canal do Rio Doce Elaborado pela autora

19

Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 Fonte Noticias UOL (2013)

Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de 2013 Fonte Folha Vitoacuteria (2013)

Este estudo portanto eacute relevante tendo em vista as raras abordagens no acircmbito das

Ciecircncias Geograacuteficas especialmente no Espiacuterito Santo de pesquisas que correlacionem

aspectos da geomorfologia fluvial por meio da dinacircmica dos recursos hiacutedricos com o uso

e cobertura da terra particularmente o Plano Diretor Municipal (PDM) Discute dessa

forma as implicaccedilotildees da atuaccedilatildeo humana nas particularidades deste ecossistema natural

tendo em vista o disposto nas legislaccedilotildees urbaniacutesticas e ambientais que visam assegurar

a qualidade de vida das populaccedilotildees

Adiante seratildeo analisados os principais fundamentos da geomorfologia fluvial os aspectos

juriacutedicos e o papel da anaacutelise geograacutefica integrada para o entendimento dos fenocircmenos

das inundaccedilotildees no Centro de Colatina uma vez que eacute devido agraves intervenccedilotildees humanas

nos canais e suas margens que esses fenocircmenos tornam-se mais nocivos a cidade

20

2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS

21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano

Recurso essencial para a manutenccedilatildeo da vida a aacutegua foi um fator relevante para o

estabelecimento histoacuterico das sociedades no entorno dos cursos hiacutedricos Utilizados para

fins de abastecimento humano e animal irrigaccedilatildeo saneamento e transporte os rios

constituiacuteram-se nos principais propulsores de penetraccedilatildeo para o interior (CUNHA 2012a)

Logo em suas margens surgiram povoados que posteriormente transformaram-se em

cidades como as que se estabeleceram agraves margens do Rio Doce a exemplo da sede de

Colatina

Diante das potencialidades que os recursos hiacutedricos possibilitam agraves sociedades

destacamos a importacircncia do estudo da Geomorfologia Fluvial que se apresenta como

campo da Geomorfologia (ciecircncia que estuda as formas do relevo) sendo o interesse

daquela a pesquisa dos processos que relacionam o escoamento das aacuteguas fluviais num

contexto de bacia hidrograacutefica (CHRISTOFOLETTI 1980 CUNHA op cit) Enfoca assim

as alteraccedilotildees na fisionomia dos canais frente agraves intervenccedilotildees no ecossistema natural

beira-rio

A Geomorfologia Fluvial parte da condicionante de que o uso e ocupaccedilatildeo da terra refletem-

se na dinacircmica da bacia de drenagem interferindo nos processos morfogeneacuteticos ou seja

de modelagem do relevo fluvial escoamento superficial das aacuteguas e no ciclo hidroloacutegico

Frente agrave temaacutetica deste estudo faz-se necessaacuterio o entendimento dos conceitos da

fisiografia fluvial aqui referente aos diferentes setores que a aacutegua pode escoar num leito

(Figura 4) como

O leito menor corresponde agrave parte do canal ocupada pelas aacuteguas e cuja frequecircncia impede o crescimento da vegetaccedilatildeo Esse tipo de leito eacute delimitado por partes bem definidas O leito de vazante equivale agrave parte do canal ocupada durante o escoamento das aacuteguas de vazante Suas aacuteguas divagam dentro do leito menor seguindo o talvegue linha de maacutexima profundidade ao longo do leito e que eacute mais bem identificada na seccedilatildeo transversal do canal O leito maior tambeacutem denominado leito maior perioacutedico ou sazonal eacute ocupado pelas aacuteguas do rio regularmente e pelo menos uma vez ao ano durante as cheias Dependendo do tempo ocorrido entre as subidas das aacuteguas eacute possiacutevel haver a fixaccedilatildeo e o crescimento da vegetaccedilatildeo herbaacutecea

21

O leito maior excepcional eacute ocupado durante as grandes cheias no decorrer das enchentes (CUNHA 2001 p 213)

Figura 4 - Tipos de leito fluvial vaacuterzea Fonte Cunha (2001 p213)

Sendo assim as aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial (leitos) aquelas inundadas pelo corpo

hiacutedrico frente a um evento hidroloacutegico extremo tambeacutem satildeo conhecidas como vaacuterzeas

planiacutecie de inundaccedilatildeo ou ainda segundo Carneiro e Miguez (2011 p133) como ldquo[] zona

de passagem de cheia []rdquo Essas aacutereas de vaacuterzeas dependem da fisionomia que o rio

apresenta e segundo Cunha (op cit) o canal fluvial pode apresentar trecircs formas

principais conhecidas como padratildeo dos canais que satildeo retiliacuteneo anastomosado e

meacircndrico (Figura 5)

Figura 5 - Padrotildees dos canais (A) retiliacuteneo (B) anastomosado (C) meandrante (A) amplitude (Rc) raio meacutedio da curvatura do meandro (segundo Bigarella etal 1979) Fonte Cunha (2001 p216)

22

Aliada aos padrotildees dos canais estaacute a assimetria ou simetria dos leitos que para Cunha

(2001 p233) relaciona-se com a variaccedilatildeo da velocidade e turbulecircncia ao longo da secccedilatildeo

transversal o que diferencia o comportamento nos canais retiliacuteneos geralmente simeacutetricos

do canal meacircndrico onde

Em canais de leito simeacutetrico em geral padratildeo retiliacuteneo a velocidade maacutexima ocorre no centro do canal diminuindo em direccedilatildeo agraves margens Em leito assimeacutetrico de padratildeo meacircndrico a zona de maacutexima velocidade e turbulecircncia localiza-se nas proximidades das margens cocircncavas decrescendo de valor em direccedilatildeo agrave margem de menor profundidade

(convexa) (CUNHA opcit p 233)

Deste modo a capacidade de erosatildeo das margens transporte e deposiccedilatildeo da carga do rio

dependem entre outros fatores da velocidade das correntes fluviais E o material do fluxo

fluvial constitui-se da descarga liacutequida ou vazatildeo que estaacute relacionada ao tamanho do

material que pode ser transportado e do volume da carga que o rio eacute capaz de carregar

Tem-se ainda a carga soacutelida sedimentos que estaacute relacionada a suspensatildeo e fundo do

rio esta decresce a jusante indicando a diminuiccedilatildeo da competecircncia do corpo fluvial As

cargas de suspensatildeo satildeo constituiacutedas de partiacuteculas finas a exemplo do silte e por fim a

carga de fundo que eacute composta por partiacuteculas de tamanhos maiores a exemplo da areia

(CUNHA2001)

Christofoletti (1980) acrescenta que os sedimentos podem ser carregados de trecircs modos

principais no fluxo em soluccedilatildeo dissolvidos nos cursos hiacutedricos em suspensatildeo como o

silte e argila e em saltaccedilatildeo geralmente a areia e cascalho que compreendem a carga do

leito do rio Destaca-se que a carga detriacutetica natildeo proveacutem apenas da erosatildeo do fundo dos

leitos e margens fluviais mas que o material intemperizado de vertentes carreado nas

enchentes contribui significativamente para a carga sedimentar transportada

Cabe ressaltar ainda que a relaccedilatildeo do arranjo espacial dos canais com os processos

fluviais (a erosatildeo o transporte e a deposiccedilatildeo de sedimentos) eacute determinante para o

trabalho dos rios Tais processos satildeo diretamente influenciados pela vazatildeo velocidade e

pela intensidade da turbulecircncia (seja no fluxo laminar ou no fluxo turbulento) A

variabilidade no comportamento da velocidade e turbulecircncia das aacuteguas ao longo da seccedilatildeo

transversal condiciona os locais preferenciais de erosatildeo e deposiccedilatildeo ao longo do curso

hiacutedrico

23

Deste modo qualquer intervenccedilatildeo na bacia e canal fluvial compromete o equiliacutebrio natural

da drenagem levando o corpo hiacutedrico a se adaptar agraves mudanccedilas em sua fisionomia

fisiografia e em seus processos ateacute atingir um novo estado de equiliacutebrio Poreacutem eacute na

planiacutecie de inundaccedilatildeo que estas modificaccedilotildees seratildeo mais percebidas pela populaccedilatildeo pois

a maior parte das obras de engenharia como as canalizaccedilotildees e as ocupaccedilotildees das

margens acaba por romper com o equiliacutebrio natural do rio alterando sua dinacircmica e

intensificando seus processos o que na maioria das vezes potencializa as enchentes no

ambiente urbano

Nesse sentido o entendimento dos processos fluviais (erosatildeo transporte e deposiccedilatildeo)

combinado com a anaacutelise da fisiografia fluvial condicionam as peculiaridades na geometria

hidraacuteulica ou seja na relaccedilatildeo entre a vazatildeo velocidade de escoamento tipos de canais

de sedimentos e a topografia Logo o conhecimento geomorfoloacutegico do rio contribui para

pesquisas que necessitem relacionar o funcionamento deste corpo natural com um

planejamento urbano mais efetivo principalmente se considerarmos um recorte em niacutevel

de bacia hidrograacutefica em espaccedilo urbano

211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial

O capiacutetulo que segue versa sobre a atuaccedilatildeo antroacutepica relacionando-a a aacuterea de estudo o

rio Doce poreacutem este trata de forma macro a temaacutetica para contextualizar o leitor sendo

as especificidades das intervenccedilotildees neste recorte geograacutefico trabalhados nos resultados

desta pesquisa

Diante do exposto eacute possiacutevel acompanhar a evoluccedilatildeo dos processos fluviais nos canais

em especial aqueles que tiveram intervenccedilotildees em seu curso natural como as hidreleacutetricas

instaladas a montante a exemplo do Rio Doce onde a interferecircncia direta na vazatildeo e fluxo

de sedimentos altera a hidrodinacircmica do rio comprometendo a erosatildeo e transporte Para

Coelho (2007 p57) as

Mudanccedilas na Declividade Perfil Longitudinal Promovidas pela construccedilatildeo de reservatoacuterio satildeo variadas e caso o efeito da contenccedilatildeo de sedimentos seja significativo os processos fluviais reduziratildeo a capacidade de transporte de sedimento podendo promover um entalhamento do leito do rio imediatamente agrave jusante da barragem

Aleacutem disso esse processo erosivo poacutes-barragem eacute intensificado favorecendo o

assoreamento e sedimentaccedilatildeo do rio a jusante O que pode beneficiar a elevaccedilatildeo da cota

24

do canal fluvial frente a eventos hidroloacutegicos extremos potencializando os efeitos das

inundaccedilotildees nas vaacuterzeas

Ao mesmo tempo o Rio Doce trecho que compreende o Espiacuterito Santo meacutediobaixo curso

eacute impactado nas vazotildees miacutenimas e maacuteximas a jusante apoacutes a instalaccedilatildeo das

barragensUsinas Hidreleacutetricas (UHE) de Mascarenhas (iniacutecio de operaccedilatildeo em 1974)

localizada no Municiacutepio de Baixo Guandu e a de Aimoreacutes (iniacutecio de operaccedilatildeo em 2005)

localizada na divisa do Espiacuterito Santo com Minas Gerais (COELHO 2007)

De acordo com Coelho (opcit) apoacutes a implantaccedilatildeo das usinas ocorreu uma reduccedilatildeo

significativa na vazatildeo da calha principal do Rio Doce conforme Graacutefico 1

Considerando o periacuteodo de 1939 a 2012 a vazatildeo miacutenima apoacutes a instalaccedilatildeo das usinas

chega a atingir 411msup3s e a maacutexima chega apenas a 1251msup3s sendo que no periacuteodo

anterior agrave instalaccedilatildeo das usinas foi registrada a miacutenima de 533 msup3s e uma maacutexima de

1812 msup3s o que ressalta o impacto do barramento sobre o corpo hiacutedrico Aleacutem do

comprometimento dos processos de erosatildeo transporte e sedimentaccedilatildeo (COELHO 2008

e CUNHA 2001)

Diante desta perda de carga liacutequida nos barramentos Cunha (2001 p 241) observa ainda

que as aacutereas a jusante de reservatoacuterios

[hellip] onde o regime do rio sofre significativas modificaccedilotildees devidas ao controle das descargas liquidas e de sedimentos no reservatoacuterio As mudanccedilas ocorridas no regime das aacuteguas neste setor do rio acarretam significativos efeitos nos processos do canal tais como o entalhe do leito a erosatildeo das margens e a deposiccedilatildeo a jusante atingindo longas distacircncias

Aleacutem disso no periacutemetro urbano de Colatina o Rio Doce sofreu outras intervenccedilotildees em

seu canal principal como a implantaccedilatildeo de obras estruturais de macrodrenagem a

exemplo da construccedilatildeo da Av Beira-Rio com intuito de conter o avanccedilo das aacuteguas fluviais

em periacuteodos de cheias

25

Graacutefico 1

Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais (Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia)

Fonte adaptado de Coelho (2007 p154)

26

Como exemplo dos tipos de intervenccedilotildees humanas nas aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial

leitos Carneiro e Miguez (2011 p117) destacam

As accedilotildees de controle e cheias urbanas podem ser classificadas em estruturais quando a paisagem eacute alterada pela accedilatildeo do homem e em natildeo estruturais aqui denominada como estruturante quando o homem aprende a conviver com as enchentes No primeiro caso estatildeo as medidas de controle atraveacutes de obras hidraacuteulicas tais como barragens diques e canais entre outras No segundo caso encontram-se medidas do tipo preventivo tais como zoneamento de aacutereas de inundaccedilatildeo sistemas de alerta educaccedilatildeo ambiental lei de parcelamento e uso dos solos e seguros contra inundaccedilatildeo

Neste cenaacuterio abarcamos os impactos das obras de engenharia como a canalizaccedilatildeo que

altera a fisionomia e fisiografia do rio refletindo-se nos processos geomorfoloacutegicos do canal

e sua planiacutecie de inundaccedilatildeo Para estes a canalizaccedilatildeo eacute uma obra estrutural que aumenta

a capacidade do fluxo do canal aleacutem de intensificar a velocidade do escoamento

superficial antecipando o pico de cheia e transferindo os alagamentos para locais a jusante

na bacia hidrograacutefica

Articulado a esta ideia Cunha (2012b) reflete a desnaturalizaccedilatildeo dos rios por meio de

obras de retificaccedilatildeo com a reduccedilatildeo do comprimento do canal e eliminaccedilatildeo das

sinuosidades Satildeo obras que afetam a estabilidade do corpo hiacutedrico na medida em que

interferem na relaccedilatildeo entre erosatildeo sedimentaccedilatildeo e deposiccedilatildeo provocando efeitos como

alteraccedilatildeo na morfologia do canal Sendo assim ldquo[hellip] a diminuiccedilatildeo da rugosidade no fundo

do canal em conjunto com a perda dos meandros e a aceleraccedilatildeo das velocidades eacute a

principal responsaacutevel pelas mudanccedilas no balanccedilo da energia natural dos sedimentos

fluviais [hellip]rdquo Cunha (2012b p178) No caso do Rio Doce trecho correspondente agrave Av

Beira-Rio alterou-se a sua forma retilinizando-a e sua vegetaccedilatildeo natural foi substituiacuteda

por estruturas de pedras o que compromete a resistecircncia ao fluxo as margens e aos

bancos arenosos

Embora as obras de canalizaccedilatildeo sejam implantadas como eficazes nos canais fluviais para

questotildees de enchentes urbanas para Cunha (op cit) estas necessitam de manutenccedilatildeo

constante envolvendo desde dragagem remoccedilatildeo de obstruccedilotildees a recomposiccedilatildeo do

material utilizado Poreacutem toda a manutenccedilatildeo estaacute associada a alteraccedilotildees morfoloacutegicas e

bioloacutegicas como as que interferem nas soleiras e depressotildees do fundo dos leitos

desestabilizando a vazatildeo no curso a exemplo da

27

ldquo[hellip] eliminaccedilatildeo da sequecircncia de depressotildees e soleiras o aumento da velocidade da corrente a diminuiccedilatildeo da diversidade de habitats o ambiente instaacutevel resultante da flutuaccedilatildeo dos niacuteveis da aacutegua e do substrato moacutevel e a maior flutuaccedilatildeo da temperatura das aacuteguasrdquo (CUNHA 2012b p180)

Ao mesmo tempo o aumento da velocidade dos escoamentos no trecho retificado

possibilita maior erosatildeo transferindo para as aacutereas a jusante uma carga soacutelida

representativa que para Cunha (op cit) configura a formaccedilatildeo de bancos axiais e depoacutesitos

de sedimentaccedilatildeo marginais alterando o equiliacutebrio dos sedimentos a jusante Pois

A jusante das obras de retificaccedilatildeo verificam-se o aumentam da carga soacutelida o assoreamento durante a dragagem a erosatildeo no canal pelos eventos torrenciais do regime e a modificaccedilatildeo na dinacircmica na foz Os sedimentos resultantes da erosatildeo no canal retificado em conjunto com a excessiva carga de sedimentos posta em suspensatildeo durante a dragagem e na fase imediata de poacutes-construccedilatildeo - quando a erosatildeo dos bancos de areia sem vegetaccedilatildeo estaacute em seu niacutevel maacuteximo - originam a formaccedilatildeo de depoacutesitos fluviais de curta duraccedilatildeo a jusante do canal retificado Logo a seguir esses depoacutesitos satildeo erodidos juntamente com as margens e o fundo do leito pelos eventos torrenciais do regime vindo a formar bancos axiais e depoacutesitos de sedimentaccedilatildeo marginais (CUNHA2012b p183)

Portanto o estudo da geomorfologia fluvial contribui diretamente para o entendimento das

cheias nas planiacutecies de inundaccedilatildeo em especial nas bacias hidrograacuteficas que

compreendem a aacuterea urbana e que possuem intervenccedilotildees antroacutepicas diretas na fisiografia

do canal principal Seus processos explicam como as alteraccedilotildees no canal fluvial podem

maximizar os efeitos dos transbordamentos impactando principalmente as populaccedilotildees

ribeirinhas aleacutem de todo ecossistema local Ademais estes fundamentos geomorfoloacutegicos

devem ser associados agrave legislaccedilatildeo vigente afim de subsidiar a elaboraccedilatildeo de instrumentos

legais para atuaccedilatildeo do poder puacuteblico nestas zonas de risco

22 Aspectos Juriacutedicos

Frente agrave crescente demanda sobre os recursos hiacutedricos e solo urbano a partir da deacutecada

de 1930 surgem as primeiras diretrizes que visam regulamentar estes ambientes a

exemplo do Coacutedigo das Aacuteguas Mas soacute a partir dos anos 1960 surgem em acircmbito federal

leis como o Coacutedigo Florestal com o intuito de regular a exploraccedilatildeo das vegetaccedilotildees e

consequentemente proteger os mananciais e em 1979 com o objetivo de ordenar as

28

cidades eacute aprovada a Lei 676679 estabelecendo as normas do parcelamento do solo

urbano

Na medida em que as populaccedilotildees aumentam ampliam-se tambeacutem as pressotildees sobre os

recursos de aacutegua e solo Os processos de uso e a conscientizaccedilatildeo de que estes elementos

satildeo finitos intensificam as formas de controle e preservaccedilatildeo passando para as esferas

estaduais e municipais a responsabilidade de atuar em escala local na proteccedilatildeo desses

ambientes

Ainda em escala federal em 2012 eacute promulgado o Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012

em substituiccedilatildeo ao coacutedigo anterior Lei 47711965 que apresenta as normas de

apropriaccedilatildeo dos recursos naturais pelas novas necessidades das populaccedilotildees citadinas e

rurais No que compete agrave aacuterea de estudo cabe destacar as ocupaccedilotildees em aacutereas de

planiacutecie de inundaccedilatildeo em que de acordo com art 4ordm devem ser preservadas

I - as faixas marginais de qualquer curso drsquoaacutegua natural perene e intermitente excluiacutedos os efecircmeros desde a borda da calha do leito regular em largura miacutenima de (Incluiacutedo pela Lei nordm 12727 de 2012) a) 30 (trinta) metros para os cursos drsquoaacutegua de menos de 10 (dez) metros de largura b) 50 (cinquenta) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura c) 100 (cem) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura d) 200 (duzentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura e) 500 (quinhentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros []

A legislaccedilatildeo eacute riacutegida no que concerne agrave ocupaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo das terras nas faixas

marginais dos rios transferindo aos estados e municiacutepios a responsabilidade de fiscalizar

estes territoacuterios para garantir a efetividade da lei A questatildeo eacute que muitas vezes somada a

falta de planejamento estas fiscalizaccedilotildees satildeo ineficientes o que tem possibilitado o

surgimento cada vez maior das ocupaccedilotildees irregulares

Apoiado tambeacutem pela Constituiccedilatildeo Federal de 1988 nos artigos 182 e 183 surge o

Estatuto das Cidades Lei 102572001 com finalidade de garantir a funccedilatildeo social da

cidade e com este os primeiros Planos Diretores Municipais (PDM) que buscam o

ordenamento do crescimento das cidades em caraacuteter socioeconocircmico e ambiental cidades

sustentaacuteveis Ademais em Colatina eacute instituiacuteda a Lei 42281996 posteriormente revogada

29

pela Lei 52732007 que ldquoInstitui o Plano Diretor do Municiacutepio de Colatina estabelece os

objetivos instrumentos e diretrizes e daacute outras providecircncias para as accedilotildees de

planejamento do Municiacutepio de Colatina []rdquo

O PDM de Colatina assim como Coacutedigo Florestal prevecirc a preservaccedilatildeo dos ecossistemas

beira-rio Aquele ainda dispotildee sobre o parcelamento do solo sustentaacutevel a funccedilatildeo social

da cidade e da propriedade conforme o Plano Diretor de Colatina de 2007 nos artigos

transcritos

Artigo 22 - As diretrizes ambientais no Municiacutepio de Colatina satildeo I - aplicar os instrumentos de gestatildeo ambiental estabelecidos nas legislaccedilotildees federal estadual e municipal bem como a criaccedilatildeo de outros instrumentos adequando-os agraves metas estabelecidas pelas poliacuteticas ambientais II - compatibilizar as diretrizes de uso ocupaccedilatildeo e parcelamento do solo aos objetivos de proteccedilatildeo ambiental dos ecossistemas [] Artigo 23 - Satildeo diretrizes do sistema de drenagem urbana I - disciplinar a ocupaccedilatildeo das cabeceiras e vaacuterzeas das bacias hidrograacuteficas do Municiacutepio preservando a vegetaccedilatildeo existente e visando agrave sua recuperaccedilatildeo [] III - definir mecanismos de fomento para usos do solo compatiacuteveis com aacutereas de interesse para drenagem tais como parques lineares aacuterea de recreaccedilatildeo e lazer hortas comunitaacuterias e manutenccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa [] V - implantar medidas natildeo-estruturais [sic] de prevenccedilatildeo de inundaccedilotildees tais como controle de erosatildeo especialmente em movimentos de terra controle de transporte e deposiccedilatildeo de entulho e lixo combate ao desmatamento assentamentos clandestinos e a outros tipos de invasotildees nas aacutereas com interesse para drenagem [] VII - garantir e respeitar a necessaacuteria permeabilidade do solo inclusive buscando alternativas de pavimentaccedilatildeo com maior de permeabilidade [sic] [] Artigo 84 ndash Satildeo objetivos do ordenamento territorial do Municiacutepio de Colatina [] IV ndash conter a expansatildeo da ocupaccedilatildeo urbana em aacutereas de proteccedilatildeo ambiental [] Artigo 120 ndash Ficam desde jaacute identificadas como Zonas de Proteccedilatildeo Ambiental 2 ndash ZPA 2 as seguintes aacutereas [] III ndash as aacutereas existentes ao longo de qualquer curso drsquoagua desde o niacutevel mais alto em faixa marginal cuja largura miacutenima seraacute de a) 15m (trinta metros) [sic] para os cursos drsquoagua com menos de 10m (10

metros) de largura contidos no periacutemetro urbano [] c) 30m (trinta metros) para os cursos drsquoagua que tenham de10m (dez

metros a 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano

[]

30

e) 50m (cinquenta metros) para os cursos drsquoagua que tenham mais de 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 60422013)

[]

De modo geral verifica-se que a legislaccedilatildeo apresenta instrumentos que permitem a

prevenccedilatildeo ou controle de ocupaccedilotildees irregulares ou clandestinas em aacuterea de APP aleacutem de

propostas para resguardar de grandes impactos ambientais o corpo hiacutedrico principal do

municiacutepio o Rio Doce Possibilitando assim a minimizaccedilatildeo dos impactos causados pelas

cheias agrave populaccedilatildeo local

Poreacutem cabe destacar que o Plano Diretor Municipal de Colatina natildeo contempla o

estipulado no Coacutedigo Florestal 2012 Lei Federal onde os cursos drsquoaacutegua com largura

superior a 600(seiscentos) metros devem ser resguardados com aacutereas de preservaccedilatildeo

permanente de 500(quinhentos) metros entre outros sendo que a redaccedilatildeo desta parte do

PDM eacute dada pela lei 60422013 posterior a publicaccedilatildeo do novo Coacutedigo Florestal Sendo

assim verifica-se que apesar da intenccedilatildeo de resguardar uma faixa de no maacuteximo

50(cinquenta) metros em periacutemetro urbano para a contenccedilatildeo de cheias e mata ciliar o

PDM de Colatina natildeo atende o miacutenimo previsto em Lei Federal O que tem impactado todo

ecossistema beira rio e a populaccedilatildeo ribeirinha uma vez que a faixa marginal de proteccedilatildeo

de 50(cinquenta) metros em muitos casos natildeo tem comportado o impacto dos defluacutevios

No entanto a legislaccedilatildeo trata de aspectos gerais natildeo pontuando as aacutereas responsaacuteveis

por cada accedilatildeo aleacutem de sua aplicabilidade depender da elaboraccedilatildeo de um cronograma de

execuccedilatildeo bem como um conjunto de planos e normas especiacuteficos para cada diretriz com

detalhamento das propostas de intervenccedilatildeo Isto natildeo ocorreu ateacute o presente

Aleacutem disso a cidade de Colatina surgiu num cenaacuterio histoacuterico anterior agraves legislaccedilotildees

urbaniacutesticas e ambientais inclusive do Coacutedigo das Aacuteguas o que dificulta a execuccedilatildeo de

um planejamento que concilie a preservaccedilatildeo das matas beira-rio garantindo a faixa de

APP com a ocupaccedilatildeo urbana consolidada

A aacuterea de estudo se apresenta como ambiente fragilizado apesar de ser regida por

legislaccedilotildees desde a escala federal ateacute a municipal que visam proteger e ordenar o uso e

cobertura da terra nas faixas marginais dos rios Mas a dificuldade das prefeituras em

aplicar os instrumentos legais nestes ambientes seja por interesses privados ou falta de

recursos para investimentos em soluccedilotildees a longo prazo continua expondo as populaccedilotildees

31

aos impactos dos eventos hidroloacutegicos criacuteticos como os que resultam nas inundaccedilotildees

Para que se alcance esse parcelamento do solo sustentaacutevel satildeo necessaacuterios esforccedilos da

gestatildeo municipal em estipular prazos e metas de atuaccedilatildeo afora interagir os diferentes

setores no planejamento em niacutevel de bacia hidrograacutefica considerando as peculiaridades

desta escala de trabalho

23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos

Sendo a ciecircncia que estuda a relaccedilatildeo homemnatureza a Geografia tem muito a contribuir

nas anaacutelises que envolvem o meio ambiente que foi transformado pela dinacircmica da

sociedade Mas historicamente a dialeacutetica das correntes fiacutesica e humana tem imperado de

modo dissociado levando o geoacutegrafo a estudar estes processos separadamente Poreacutem

se o resultado pretendido eacute integrado fazem-se necessaacuterias pesquisas mais amplas que

cruzem as diferentes vertentes geograacuteficas

Considerando que a problemaacutetica dos impactos ambientais urbanos envolve a questatildeo

natural o rio e a questatildeo social e poliacutetica a sociedade e as leis (COELHO 2013) uma

pesquisa neste acircmbito requer o entendimento destes dois objetos a fim de se apreender

o processo de crescimento das cidades brasileiras e a sua relaccedilatildeo com os recursos

hiacutedricos

A partir da deacutecada de 1950 devido ao ecircxodo rural mais intenso as cidades brasileiras

incharam rapidamente com a migraccedilatildeo do camponecircs que buscava melhores condiccedilotildees de

vida como trabalho na induacutestria o acesso agraves escolas saneamento entre outros E

segundo Gorski (2010) a populaccedilatildeo brasileira passou desde o iniacutecio deste processo de 19

milhotildees de habitantes em 1950 para 138 milhotildees de habitantes em 2000 (dados do IBGE)

o que corrobora o raacutepido crescimento das cidades

Todavia as estruturas puacuteblicas natildeo estavam preparadas para um acreacutescimo populacional

tatildeo significativo e em curto espaccedilo de tempo E o que observamos eacute o acesso limitado

dessa populaccedilatildeo agraves aacutereas centrais da cidade sendo induzida a se estabelecer nas

periferias Nesta visatildeo

O difiacutecil acesso da populaccedilatildeo de baixa renda agraves aacutereas mais centrais das cidades contribuiu segundo Raquel Rolnik para a expansatildeo da periferia o que muitas vezes implicou e implica ainda invasatildeo de aacutereas de proteccedilatildeo de mananciais com a aquiescecircncia do poder puacuteblico Esta

32

dinacircmica agravou a situaccedilatildeo de risco dos mananciais pela eliminaccedilatildeo das matas ciliares e consequentemente erosatildeo das margens dos cursos drsquoaacutegua e assoreamento de suas calhas e pela contribuiccedilatildeo do esgoto in natura (ROLNIK1997 apud GORSKI 2010 p62)

Sendo assim a supressatildeo das matas ciliares e das vegetaccedilotildees das encostas para fins de

ocupaccedilatildeo urbana interfere diretamente no ciclo hidroloacutegico diminuindo a absorccedilatildeo de

aacutegua pelo subsolo e pela evapotranspiraccedilatildeo favorecendo o escoamento superficial (Figura

6) que intensifica a velocidade de drenagem das aacuteguas Este processo nas encostas eacute

mais significativo se considerarmos que com a supressatildeo da cobertura vegetal e

impermeabilizaccedilatildeo do solo as precipitaccedilotildees acabam por lavar todo o material

intemperizado sedimentos carregando-o diretamente para o corpo hiacutedrico e contribuindo

para o assoreamento

Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento Fonte Gorski (2010 p64)

Por outro lado as ocupaccedilotildees ribeirinhas nas vaacuterzeas dos rios modificam a dinacircmica fluvial

frente aos defluacutevios A compactaccedilatildeo e o nivelamento do solo associados agrave

impermeabilizaccedilatildeo por concreto asfalto e outros materiais alteram todo o sistema de

drenagem natural e contribuem para a erosatildeo fluvial Aleacutem disso a gestatildeo puacuteblica que

33

deveria investir num parcelamento do solo sustentaacutevel resguardando ldquouma alocaccedilatildeo de

espaccedilosrdquo (CANHOLI 2005 p 15) para a drenagem acaba por colaborar com as enchentes

urbanas na medida em que decide por obras estruturais como a canalizaccedilatildeo (Figura 7

p30) e a microdrenagem que transferem os impactos das inundaccedilotildees a jusante

Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia Fonte Gorski (2010 p69)

Cabe destacar que desde 1965 com o primeiro Coacutedigo Florestal as matas beira-rio jaacute

eram resguardadas da degradaccedilatildeo humana poreacutem com todo o boom urbano a partir de

1950 a falta de estrutura e ingerecircncia municipal no que se refere ao parcelamento e uso

e ocupaccedilatildeo da terra urbana possibilitou a formaccedilatildeo dos assentamentos clandestinos em

APP e na encosta de morros Em condiccedilotildees precaacuterias sem saneamento baacutesico e demais

infraestruturas urbanas estes assentamentos acabam sendo as regiotildees mais afetadas

com as inundaccedilotildees

Junto agraves questotildees jaacute levantadas vale destacar que as aacuteguas das inundaccedilotildees propiciam o

aumento das doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica (febre tifoide hepatite leptospirose

esquistossomose entre outras) pois carregam segundo Gorski (2010) toda uma poluiccedilatildeo

difusa efluentes domeacutesticos industriais e agroindustriais aleacutem do lixo urbano da poluiccedilatildeo

do ar e das ruas

34

Por outro lado esta ocupaccedilatildeo urbana natildeo planejada perde o benefiacutecio que os corpos

hiacutedricos podem oferecer como [] as paisagens fluviais que aos poucos foram sendo

apropriadas como paisagens urbanas [] (GORSKI 2010 38) aleacutem do microclima

associado agrave umidade pela evapotranspiraccedilatildeo que ameniza a sensaccedilatildeo teacutermica local

Poreacutem conforme observado por Graeff (2011) natildeo eacute cabiacutevel atualmente implantar a

legislaccedilatildeo de APP de modo jurista Deve-se considerar toda a representatividade cultural

assentada sobre os leitos destes rios (avenidas importantes casas com arquitetura

histoacuterica entre outros) Aleacutem disso para a demarcaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo

permanente hoje eacute necessaacuteria uma anaacutelise teacutecnica pautada na geomorfologia e

hidrologia de modo a interpretar o ldquocomportamento histoacuterico dos cursos drsquoaacutegua na

paisagem prevendo cenaacuterios de impactos futurosrdquo da atividade humana sobre suas faixas

marginais

Tendo em vista que grande parte da malha urbana brasileira estaacute alocada em APPs e que

segundo Graeff (2011) estas jaacute possuem uma unidade de paisagem estabelecida e muitas

vezes secular configurando siacutetios de importacircncia cultural e apreendendo que

De modo semelhante nas demais cidades haveraacute que ser entendido o meio urbano como ele realmente eacute ndash um encontro entre as necessidades de habitaccedilatildeo com atividades humanas e de conservaccedilatildeo ambiental esta segunda tambeacutem a serviccedilo do homem e natildeo somente de objetivos difusos e distanciados da sobrevivecircncia da sociedade (GRAEFF 2011 206)

Por tais motivos o trabalho com a geomorfologia fluvial urbana deve abarcar os princiacutepios

do bom senso compreendendo que nestas aacutereas de atividade antroacutepica consolidada pode-

se fazer uso de instrumentos de engenharia avanccedilados para uma convivecircncia equilibrada

do homem com a natureza no entorno Contudo deve-se incentivar as aacutereas de expansatildeo

urbana ou zona periurbana (zonas de transiccedilatildeo da aacuterea urbana para a rural) com poliacuteticas

de incentivo a pavimentaccedilotildees mais permeaacuteveis a fim de minimizar o escoamento

superficial para o rio favorecendo a infiltraccedilatildeo

Apesar de os impactos gerados pela interferecircncia humana nas aacutereas mais fragilizadas da

bacia hidrograacutefica vaacuterzeas e encostas refletirem-se em cataacutestrofes com prejuiacutezos

humanos ambientais e urbanos alguns autores brasileiros como Canholi Graeff Cunha

Carneiro e Miguez jaacute indicaram outros caminhos para uma convivecircncia harmoniosa com

a natureza Aleacutem do mais paiacuteses desenvolvidos como a Holanda deixaram de ldquolutar contra

35

as cheiasrdquo para permitir agraves aacuteguas das enchentes a capacidade de acumular e dispersar

com impacto reduzido para as populaccedilotildees (CARNEIRO MIGUEZ 2011)

Sendo assim a proposta deste estudo eacute identificar os principais agentes que influenciam

as inundaccedilotildees entendendo seu papel e atuaccedilatildeo no contexto urbano de Colatina Mas eacute

tambeacutem a de ampliar a abordagem da temaacutetica com uma anaacutelise geograacutefica integrada

ressaltando as medidas que constam no planejamento urbano e sua aplicaccedilatildeo nas faixas

marginais do corpo hiacutedrico

36

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS

Esta pesquisa eacute constituiacuteda de trecircs etapas principais sendo que a primeira teve como

premissa a confecccedilatildeo de um fluxograma (Figura 8) de trabalho para orientar a pesquisa

em seguida teve iniacutecio o levantamento de bibliografias que abordam temas como a

geomorfologia fluvial e urbanizaccedilatildeo em Colatina adotando-se como referecircncia as

pesquisas de Coelho (2006 2007 2008 e 2009) e Albani (2012) Aleacutem disso muito

contribuiacuteram para este trabalho o relatoacuterio do INCAPER da CPRM e os dados do IBGE

Cabe destacar tambeacutem as experiecircncias com recursos hiacutedricos em ambientes urbanos de

Carneiro e Miguez (2011) em especial Cunha (2001 2012ab)

Esta etapa consistiu tambeacutem na busca de material cartograacutefico como aquisiccedilatildeo de planos

de informaccedilatildeo de limite estadual municipal bairros mancha urbana corpo drsquoaacutegua e

logradouros atraveacutes de dados disponiacuteveis no Sistema Integrado de Bases Geoespaciais

do Estado do Espiacuterito Santo (GEOBASES 2014) no Instituto Jones dos Santos Neves

(IJSN 2015) e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2014) imagens

orbitais gratuitas do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI bandas 2-3-4 e 8 (Pan) oacuterbita 216

ponto 73 com datas de passagem em 02012014 e 22032014 agraves 946 (horaacuterio central

da oacuterbita) junto ao Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2014) aleacutem do ortofotomosaico

do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hiacutedricos (IEMA 2014) do Espiacuterito

Santo referente ao voo de 2007 a 2008

Na segunda etapa foram realizadas duas investigaccedilotildees de campo sendo a primeira no

dia 24 de junho de 2014 com a finalidade de fazer o reconhecimento da aacuterea de estudo

fotografar e conversar com moradores e teacutecnicos da prefeitura O segundo trabalho de

campo ocorreu no dia 14 de fevereiro de 2015 e por meio deste foi possiacutevel identificar

pontos sujeitos a inundaccedilatildeo analisar a topografia e realizar as entrevistas com moradores

e funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina

37

Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC)

38

Na terceira etapa foram realizados os mapeamentos e processamentos de todos os planos

de informaccedilatildeo vetoriais e matriciais em ambiente de SIG no sistema ArcGis 103 iniciando

com a ediccedilatildeo dos dados do Municiacutepio e adjacecircncias que foram ajustados quando

necessaacuterio ao sistema de projeccedilatildeo UTM no Datum SIRGAS ndash 2000 na Zona 24 sul com

meridiano central -39 W com todo o mapeamento produzido seguindo a padronizaccedilatildeo

cartograacutefica proposta por Fitz (2008 a b)

O geoprocessamento teve iniacutecio com a composiccedilatildeo das imagens orbitais do Landsat-8 na

cor natural da imagem (2R 3G 4B) e por meio da teacutecnica de Pan Sharpening ou fusatildeo

de imagens a imagem cor natural foi agrupada agrave da banda 8 pancromaacutetica para obtenccedilatildeo

de uma melhor resoluccedilatildeo espacial neste caso chegando a 15 metros sendo resguardado

o conteuacutedo da imagem composta Na sequecircncia foi realizada a extraccedilatildeo da maacutescara do

periacutemetro urbano de Colatina e gerada a classificaccedilatildeo supervisionada da imagem Landsat-

8 no periacuteodo de cheia (janeiro) e vazante (marccedilo) o que possibilitou a delimitaccedilatildeo da calha

do Doce nestes dois eventos

Em seguida foram realizadas as 8 (oito) mediccedilotildees do leito regular sendo 4 (quatro) no

periacuteodo de cheia e 4 (quatro) na vazante de modo a definir a largura meacutedia da calha do

leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina Para chegar a uma medida geral

da largura do rio utilizaram-se ferramentas estatiacutesticas como a meacutedia que eacute uma medida

de tendecircncia central onde numa amostra de tamanho N constituiacuteda por elementos de x

variando de eacute possiacutevel extrair a meacutedia aritmeacutetica atraveacutes da equaccedilatildeo

A meacutedia aponta para onde mais convergem os dados de uma distribuiccedilatildeo

A partir desta definiccedilatildeo da meacutedia da largura da calha do Rio Doce foi possiacutevel em consulta

ao Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e a Lei 52732007 determinar a faixa miacutenima

de preservaccedilatildeo permanente deste corpo fluvial aleacutem da confecccedilatildeo do mapa com o

poliacutegono de APP

Mediante a anaacutelise do mapa verificou-se que grande parte dos bairros do municiacutepio estatildeo

contidos nos poliacutegonos de APP em especial a preservaccedilatildeo de 500 metros conforme lei

federal E por meio deste foram cruzados os dados de vazatildeo as fotos histoacutericas das

enchentes e o poliacutegono de mata ciliar o que permitiu o entendimento das inundaccedilotildees

39

Em ambiente de SIG tambeacutem foram vetorizados os trecircs traccedilados da Estrada de Ferro

Vitoacuteria a Minas o trajeto do Rio Santa Maria do Doce antes e depois da retilinizaccedilatildeo e os

sucessivos aterros na margem direita do Rio Doce no periacutemetro que compreende a Av

Beira-Rio

As teacutecnicas de sensoriamento remoto como a classificaccedilatildeo supervisionada permitiram a

definiccedilatildeo do poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo atraveacutes da imagem da cheia de janeiro Para

tanto foi realizada tambeacutem a classificaccedilatildeo hiacutebrida objetivando aliar a interpretaccedilatildeo visual

com a digital (JENSEN 2009) Por fim foi realizada amarraccedilatildeo com o levantamento

geodeacutesico da CPRM (2014) para garantir a precisatildeo do traccedilado do poliacutegono de cheia

A partir do tratamento dos dados bibliograacuteficos cartograacuteficos e imagens foi possiacutevel

sistematizar este trabalho o que permitiu identificar elementos histoacutericos de intervenccedilatildeo

na paisagem do Doce como os aterros e a ocupaccedilatildeo urbana As visitas de campo a

entrevista e conversas com moradores foram fundamentais para a validaccedilatildeo das

informaccedilotildees o que tornou esta metodologia eficaz para anaacutelise do fenocircmeno da inundaccedilatildeo

em Colatina

40

4 RESULTADOS

41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana

A ocupaccedilatildeo ao longo das planiacutecies de inundaccedilatildeo dos rios tem ocorrido diante da

necessidade deste recurso para as atividades vitais humanas Cunha (2012b p219)

entende que ldquosuas margens tecircm sido o centro preferido da habitaccedilatildeo humana e o

suprimento de suas aacuteguas natildeo soacute fertiliza os campos para o cultivo como tambeacutem fornece

energia e permite recreaccedilatildeordquo Logo o estabelecimento das vilas nas bordas dos cursos

drsquoaacutegua favorece a logiacutestica ocupacional

Historicamente em solo espiacuterito-santense a formaccedilatildeo das vilas ocorreu agraves margens de

estrateacutegicos cursos drsquoaacutegua e a exploraccedilatildeo do ouro de Minas Gerais para Albani (2012)

determinou que a Coroa proibisse nos seacuteculos XVII a XIX a implantaccedilatildeo de estradas e

exploraccedilatildeo de terras na Capitania do Espiacuterito Santo pois os portugueses temiam incursotildees

estrangeiras deixando assim o desenvolvimento capixaba restrito agrave faixa litoracircnea

Relegada enquanto ldquobarreira verderdquo para defesa das minas de ouro e minerais do atual

territoacuterio das Minas Gerais segundo Coelho (2007) a Capitania do Espiacuterito Santo soacute

passou a se interiorizar para o centro-oeste onde se localiza atualmente a cidade de

Colatina a partir de 1847 por meio das ocupaccedilotildees de Santa Izabel e Santa Leopoldina

que permitiram a descida do Rio Santa Maria do Doce ateacute as imediaccedilotildees da atual cidade

de Colatina

Assim foi que o movimento colonizador desceu o vale do Santa Maria do Rio Doce atingindo em 1891 a regiatildeo das matas onde hoje se acha a cidade de Colatina [] Esta penetraccedilatildeo inicial foi feita com elementos alematildees de Santa Leopoldina e no rio Doce ficou muito anos restrita agrave aacuterea inicial A expansatildeo ao longo do vale tomou impulso com a chegada a Colatina em 1906 dos trilhos da Estrada de Ferro Diamantina (atual Vitoacuteria-Minas) (STRAUCH1955 apud COELHO 2007 p105)

Sendo assim Coelho (op cit) relata que a ocupaccedilatildeo se deu atraveacutes da supressatildeo da mata

nativa no baixo curso do Rio Doce de Colatina a Linhares sendo a madeira daiacute extraiacuteda

levada ateacute o rio e encaminhada ateacute Povoaccedilatildeo vilarejo junto agrave foz de onde eram carregados

os navios Neste periacuteodo tem-se a instalaccedilatildeo de um ciclo madeireiro na regiatildeo com a

disposiccedilatildeo de serrarias nas proximidades das matas

41

Todavia somente a partir de 1906 com a chegada da estrada de ferro na regiatildeo o

transporte madeireiro foi transferido para as locomotivas Agrave medida que a implantaccedilatildeo da

Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas avanccedilava para o interior levava consigo as frentes de

desmatamento modificando as paisagens das margens do Rio Doce e se apropriando dos

espaccedilos deste rio (Figura 9)

Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906 Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce Fonte Albani (2012 p 63)

Conforme Albani (2012) com a vinda dos mineiros e fluminenses reforccedilados

posteriormente a partir de 1889 por colonizadores italianos e alematildees eacute que as

ocupaccedilotildees territoriais ocorreram de modo efetivo Atraveacutes do Barracatildeo do Rio Santa Maria

(Figura 10) espaccedilo do governo inicialmente destinado a alojar os migrantes e a produccedilatildeo

surgiram as primeiras residecircncias nas proximidades da igreja de Satildeo Sebastiatildeo Sendo

assim

Eacute importante destacar que o desenvolvimento da regiatildeo onde se encontra o municiacutepio de Colatina teve iniacutecio no final do seacuteculo XIX no nuacutecleo de colonizaccedilatildeo Antocircnio Prado localizado no distrito de Boapaba antiga vila do Mutum O nuacutecleo recebeu dezenas de famiacutelias de imigrantes italianos e ali desenvolveram atividades de agricultura e com a expansatildeo da localidade surge tambeacutem o comeacutercio (ALBANI 2012 p61) [hellip] A vila de Colatina entretanto logo passou a se transformar no principal nuacutecleo e futuramente na sede do municiacutepio Aleacutem da facilidade da produccedilatildeo atraveacutes do Rio Doce a vila de Colatina tornou-se referecircncia dos imigrantes no caminho para a colonizaccedilatildeo das terras ao norte do estado (MADURO1985 apud ALBANI 2012 p62)

42

Desse modo com o desenvolvimento das atividades de cafeicultura madeireira e do

entroncamento logiacutestico de acesso agraves aacutereas do norte a vila eacute elevada em 1921 agrave categoria

de municiacutepio A atual configuraccedilatildeo territorial foi adquirida a partir de 2001 conforme IBGE

(2014) dispondo de seis distritos Colatina (sede) Acircngelo Frechiami Baunilha Boapaba

Graccedila Aranha e Itapina

Cabe destacar poreacutem que a ocupaccedilatildeo inicial da cidade de Colatina se perfaz pela margem

direita do Rio Doce onde se localiza o atual bairro de Colatina Velha e onde havia se

instalado o Barracatildeo de Santa Maria Nesse periacuteodo a ponte ainda natildeo fora edificada

limitando assim a ocupaccedilatildeo da margem esquerda

Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da regiatildeo Fonte Albani (2012 p62)

Conforme Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p65) a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro

Vitoacuteria a Minas em 1906 (Figura 11) possibilitou a expansatildeo da cidade de Colatina e seu

desenvolvimento econocircmico Todavia sua instalaccedilatildeo paralela agrave margem direita do Rio

Doce favoreceu a localizaccedilatildeo de avenidas e ruas centrais em sua proximidade

43

Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p65)

Entretanto foi com a construccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos (Figura 12) em 1928 que a

margem direita se conectou agrave margem esquerda da cidade o que aleacutem de possibilitar a

ocupaccedilatildeo facilitou o acesso agraves regiotildees mais ao norte do Estado

Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p66)

44

Por conseguinte a estrada de ferro e a ponte foram os fatores determinantes para o

estabelecimento dos migrantes agraves margens do Rio Doce e a formaccedilatildeo do atual municiacutepio

de Colatina Contudo foi a partir desta posiccedilatildeo privilegiada que a cidade passou a ser

entreposto comercial e logiacutestico da regiatildeo noroeste e com isso sua aacuterea urbana expandiu-

se de modo desordenado inicialmente ao longo da planiacutecie de inundaccedilatildeo do Doce Coelho

(2007 p108 e 109) relata que

Os efeitos dessa urbanizaccedilatildeo (novos parcelamentos) e do desmatamento produz [sic] normalmente o aumento da velocidade das aacuteguas superficiais (pluviais) que eram antes interceptadas pelas matas com boa parte absorvida pelo solo O que ocorre geralmente nessas aacutereas eacute a chegada mais raacutepida das aacuteguas das chuvas para o tributaacuterios e calha principal do rio por fluxos concentrados que provocam processos de erosotildees do tipo laminar ravina e voccediloroca transportando quantidades expressivas de sedimentos que por sua vez causam assoreamento e a ocorrecircncia de cheias mais frequentes no rio

Com o crescimento acelerado do periacutemetro urbano proporcionado pelo apogeu do ciclo

cafeeiro as proacuteximas deacutecadas levaratildeo a cidade de Colatina a sofrer com impactos

advindos das alteraccedilotildees no ambiente fluvial do Rio Doce em especial os referentes a

ocupaccedilatildeo (impermeabilizaccedilatildeo) e desmatamento das margens (interferecircncia na drenagem

natural) conforme destacado por Coelho (2007)

Eacute fato que o municiacutepio viveu nas deacutecadas de 1940 e 1950 o auge do ciclo cafeeiro

chegando a ser no ranking brasileiro o 13ordm municiacutepio produtor de cafeacute no ano de 1947

(CAMPOS JUNIOR 2004 apud ALBANI 2012 p69) Poreacutem a partir de 1960 este boom

entrou em colapso com crise do cafeacute que assolou todo o paiacutes levando grande parte dos

pequenos proprietaacuterios rurais a migrarem para centros urbanos em especial no Espiacuterito

Santo a regiatildeo da Grande Vitoacuteria e tambeacutem para o centro de Colatina

Em razatildeo da crise cafeeira a populaccedilatildeo rural migra para centros urbanos A populaccedilatildeo migrou em grande quantidade para a Grande Vitoacuteria para fora do estado e tambeacutem para a cidade de Colatina principal aglomerado urbano da regiatildeo Esse processo provoca o aumento da aacuterea urbana de Colatina A populaccedilatildeo da cidade que era de 3913 habitantes em 1940 cresceu para 26757 habitantes em1960 (ALBANI2012 p71)

O crescimento raacutepido do centro de Colatina aliado ao aumento populacional direciona

grande parte dos migrantes para as aacutereas menos centrais da cidade levando agrave ocupaccedilatildeo

de locais irregulares como os morros e as margens direita e esquerda do Rio Doce Este

45

processo configurou a nova paisagem do municiacutepio povoando do vale agraves encostas (Figura

13)

Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes Fonte Albani (2012 p73)

Associado a este processo de reconfiguraccedilatildeo espacial nas proacuteximas deacutecadas o municiacutepio

de Colatina passaraacute por sucessivas perdas de territoacuterios ateacute atingir os limites atuais (Figura

1 p17) Aliado a estas perdas territoriais seu quantitativo absoluto populacional tambeacutem

sofreraacute impactos poreacutem de modo geral a populaccedilatildeo urbana deste municiacutepio apresentou

crescimento continuo (Graacutefico 2)

Graacutefico 2

Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 2010

Elaborado pela autora Fonte 1940 e 1950 Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p82) 1960 a 2010 IBGE

0

20000

40000

60000

80000

100000

120000

1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020

Populaccedilatildeo Urbana Colatina 1940 - 2010

46

Assim como tem ocorrido nas grandes capitais Colatina cresceu em quantitativo

populacional e territorial urbano de modo muito raacutepido e por este desenvolvimento natildeo ter

sido aliado a um planejamento urbano e ambiental sustentaacutevel a cidade tem sentido os

reflexos das suas interferecircncias ao longo do canal do Doce O que tem provocado

antecipaccedilatildeo dos picos de vazatildeo que no periacutemetro urbano ocasiona as inundaccedilotildees pois

natildeo conseguindo o rio acomodar estes defluacutevios transfere em curto espaccedilo de tempo as

aacuteguas a sua planiacutecie de inundaccedilatildeo atingindo os bairros mais antigos do municiacutepio

Por fim entender o contexto histoacuterico do crescimento da cidade revela muito do panorama

atual E por meio de uma anaacutelise conjunta da histoacuteria com os novos planejamentos eacute

possiacutevel propor intervenccedilotildees urbanas que possibilitem um conviacutevio harmonioso entre

natureza e sociedade neste caso entre o Rio Doce e o centro de Colatina Diante desta

proposta adiante apresentaremos a evoluccedilatildeo dos bairros associando seus periacuteodos de

ocupaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo espacial nas imediaccedilotildees do curso principal do Doce

411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade

Com nuacutecleo inicial de povoamento no Barracatildeo de Santa Maria a cidade de Colatina

cresce a partir deste ponto agrave margem direita do Rio Doce de onde surgem as primeiras

residecircncias comeacutercios e a igreja Atualmente a regiatildeo compreende o bairro de Colatina

Velha que de acordo com Albani (2012 p91) [hellip] ldquopode ser considerado o primeiro polo

de crescimento da cidaderdquo

Aliado ao aumento da populaccedilatildeo migrante das fazendas com a crise do cafeacute o nuacutecleo de

Colatina Velha passa a ser um ponto de passagem obrigatoacuterio para os viajantes que

vinham majoritariamente do sul uma vez que o Rio Doce configurava uma barreira natural

agrave ocupaccedilatildeo das terras ao norte Aleacutem disso a margem esquerda deste canal fluvial era

habitat dos hostis iacutendios botocudos o que dificultava a sua apropriaccedilatildeo

Sendo assim a ocupaccedilatildeo de Colatina conteve-se agrave margem direita nesta primeira fase o

que define o primeiro vetor de crescimento da cidade na direccedilatildeo leste para oeste partindo

das imediaccedilotildees do Barracatildeo de Santa Maria sentido ao Rio Santa Maria do Doce (Figura

14) E a partir de 1906 com a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas da entatildeo

Companhia Vale do Rio Doce atual Vale este vetor de crescimento se consolida e

47

proporciona o surgimento de importantes avenidas paralelas agrave ferrovia a exemplo da Av

Getuacutelio Vargas

Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de crescimento Elaborado pela autora

48

O segundo vetor do crescimento de Colatina estava condicionado agrave construccedilatildeo da ponte

Florentino Aacutevidos a qual conectou a margem direita agrave esquerda do Rio Doce permitindo

a ocupaccedilatildeo da porccedilatildeo ao norte Portanto somente a partir de 1928 com a finalizaccedilatildeo da

obra da ponte a barreira natural pocircde ser transposta o que possibilitou ao lado esquerdo

desenvolver uma nova linha de crescimento urbano com a ocupaccedilatildeo do atual bairro de

Satildeo Silvano

O terceiro vetor de crescimento estaacute associado agrave implantaccedilatildeo do bairro Luiz Iglesias na

margem direita e os de Maria das Graccedilas e Coluacutembia na margem esquerda Albani (2012)

ressalta que esta fase da ocupaccedilatildeo urbana estaacute associada ao desenvolvimento do sistema

viaacuterio como a proximidade da BR-259 sentido Vitoacuteria- Colatina da ES-80 que liga

Colatina agrave regiatildeo norte da ES-256 que a conecta a Marilacircndia e da proximidade da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria Carlos Germano Nauman (Figura 15)

Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios e linhas feacuterreas que interceptam a cidade de Colatina Elaborado pela autora

Jaacute na quarta e mais recente linha de crescimento da cidade temos os novos loteamentos

residenciais e industriais a exemplo do de Barbados e do bairro Santa Helena que surgem

49

acompanhando o traccedilado da ponte que contorna a leste a cidade como novo acesso agrave

porccedilatildeo norte do estado Albani (2012 p118) destaca que

Apesar da construccedilatildeo da Segunda Ponte ter sido iniciada em 1986 somente foi inaugurada em 2007 A conclusatildeo da ponte e a construccedilatildeo de uma rodovia de contorno desviaram a BR-259 do centro da cidade O desvio da rodovia federal trouxe um desafogamento do tracircnsito nas principais vias da cidade e um novo direcionamento na expansatildeo urbana Alguns loteamentos surgiram nesse periacuteodo proacuteximo agrave Segunda Ponte e ao contorno na margem norte do rio principalmente no bairro Santa Helena (Figura 55) Essa situaccedilatildeo indica mais uma vez que as linhas de crescimento em Colatina satildeo orientadas pelas vias de transporte

Portanto o crescimento do periacutemetro urbano de Colatina estaacute associado agrave superaccedilatildeo das

barreiras naturais em especial o Rio Doce por meio de investimentos em obras de

engenharia que permitiram o deslocamento humano para a margem esquerda deste curso

Sem duacutevida as vias de transporte foram elementares na construccedilatildeo do periacutemetro urbano

de Colatina pois na medida que se consolidava o sistema viaacuterio as ocupaccedilotildees tambeacutem se

favoreciam destas vias de locomoccedilatildeo A evoluccedilatildeo da aacuterea urbana portanto acompanha

as principais vias de transporte (Figura 15 p45) e estas se utilizam da posiccedilatildeo estrateacutegica

e geograficamente favoraacutevel do canal do Doce para a definiccedilatildeo de seus traccedilados

Apoacutes 94 anos de emancipaccedilatildeo de Linhares o territoacuterio de Colatina eacute fundamental para a

manutenccedilatildeo dos municiacutepios do noroeste capixaba Diante desta posiccedilatildeo estrateacutegica torna-

se relevante o entendimento de como o urbano se relaciona com o meio natural a fim de

se estabelecer poliacuteticas de ordenamento territorial que promovam a qualidade de vida no

municiacutepio Adiante seraacute analisada a situaccedilatildeo da calha principal do Rio Doce elemento

fundamental na compreensatildeo do uso e cobertura da terra de Colatina

42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce

Compreendendo uma aacuterea de 3330 kmsup2 o periacutemetro urbano de Colatina eacute afetado pela

velocidade dos defluacutevios de modo que grande parte dos bairros beira-rio eacute tomada pelas

aacuteguas excedentes da calha principal do Doce o que configura o fenocircmeno de inundaccedilatildeo

Ao pesquisar estes fenocircmenos eacute necessaacuterio relacionar o uso da terra com os processos

geomorfoloacutegicos do corpo hiacutedrico Sendo assim por meio de teacutecnicas de

geoprocessamento foram realizadas oito mediccedilotildees da calha principal do Rio Doce para

50

estabelecimento da distacircncia meacutedia da largura de sua calha O resultado esteve dentro do

esperado e pode ser verificado na tabela abaixo (Tabela 1) e no mapa em sequecircncia

(Figura 16)

Tabela 1 Perfis transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de

vazante (abril) e cheia (janeiro)

Largura do rio Doce periacuteodo de vazante e cheia

Abril2013(m) Janeiro2014(m)

P1 70735 75784

P2 62080 66483

P3 59209 65804

P4 63548 67650

Meacutedia dos Perfis 62814 67066

Meacutedia Geral 66143 Obs todas as medidas estatildeo em metros

Elaborado pela autora

Figura 16 - Traccedilado dos perfis transversais da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de vazante mecircs de abril2013 Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)

51

Com uso das imagens orbitais do Landsat-8 atraveacutes da classificaccedilatildeo hiacutebrida foram

gerados dois arquivos shapefiles correspondentes agraves bordas do Doce um no periacuteodo de

vazante e outro no de cheia Por meio destes dados foram definidos quatro traccedilados para

realizaccedilatildeo das mediccedilotildees a partir destas e com auxiacutelio das medidas de tendecircncia central

chegou-se a uma largura meacutedia total de 66143m de uma margem a outra Este resultado

indicou que tanto no periacuteodo de vazante quanto no periacuteodo de cheia a largura meacutedia

aponta para a maior faixa de APP proteccedilatildeo de 500m conforme previsto na legislaccedilatildeo

federal (Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e no revogado Lei 4771 1965)

Analisando a imagem abaixo (Figura 17) observa-se que grande parte do solo

naturalmente destinado a ldquoacomodaccedilatildeordquo das aacuteguas nas cheias (linha laranja) foi

incorporado agrave sociedade como espaccedilo criado (periacutemetro urbano em APP mancha em

amarelo) destinado a fins muacuteltiplos Deste modo sem planejamento territorial adequado

grande parte da planiacutecie de inundaccedilatildeo deu lugar a outras funccedilotildees diferentes das naturais

sendo incorporada ao espaccedilo urbano

Lanccedilando o buffer (mancha em amarelo) do entorno da calha do Doce (Figura 17) observa-

se que dos 59 bairros do municiacutepio cerca de 29 estatildeo dentro da aacuterea de 500m destinada

a preservaccedilatildeo permanente pelo Coacutedigo Florestal Considerando-se a delimitaccedilatildeo da APP

prevista no PDM de 1996 e 2007 (linha laranja mais proacutexima da borda do rio) este nuacutemero

cai para 18 bairros permanecendo apenas aqueles que possuem limites com o corpo

hiacutedrico

Uma vez que que lei municipal natildeo suplanta lei federal considerar-se-aacute neste estudo o

limite da faixa marginal de proteccedilatildeo definida na Lei Federal 126512012 Deste modo a

aacuterea de preservaccedilatildeo permanente do Doce neste recorte eacute de 1085 kmsup2 compreendendo

33 do periacutemetro urbano de Colatina

Cabe destacar ainda que mesmo o PDM de 1996 contendo enquanto objetivo no Art 14

ldquoI - estabelecer a ordenaccedilatildeo do uso e da ocupaccedilatildeo do solo urbanordquo (Lei 42281996 p4)

a gestatildeo municipal natildeo obteve sucesso na implementaccedilatildeo de tal legislaccedilatildeo O que se

verifica tanto nas deacutecadas de 1990 quanto no iniacutecio dos anos 2000 quando foram

aprovados novos parcelamentos urbanos agraves margens deste canal a exemplo dos bairros

de Barbados na margem direita e do bairro Mario Giurizato na margem esquerda

52

Figura 17- Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)

53

Articulado a esta ideia e pesquisando o trecho do bairro Esplanada a Colatina Velha palco

das uacuteltimas obras estruturantes de alto porte do municiacutepio consegue-se analisar os efeitos

das inundaccedilotildees nas margens deste rio Logo implementar medidas de prevenccedilatildeo de

cheias em aacutereas com urbanizaccedilotildees antigas requer um esforccedilo da gestatildeo na regulaccedilatildeo do

solo urbano

421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie

de Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio

Interceptada pelo curso do Rio Doce no perfil mais a jusante da bacia a cerca de 100km

do estuaacuterio com o Oceano Atlacircntico a cidade de Colatina polo moveleiro e de confecccedilotildees

do centro-oeste capixaba eacute palco recorrente de inundaccedilotildees urbanas

Conforme jaacute mencionado por Cunha (2012a) este fenocircmeno ocorre quando a bacia recebe

um percentual precipitado acima da sua capacidade de escoamento o que faz o leito

menor do rio extravasar para o leito maior ocupando as aacutereas de vaacuterzeas (Figura 18 p

50) Aliadas a esta questatildeo estatildeo as ocupaccedilotildees humanas das margens dos rios que ao

suprimir a vegetaccedilatildeo natural e alterar a condiccedilatildeo fiacutesica do solo acabam por reduzir a aacuterea

de drenagem das aacuteguas pluviais acelerando o escoamento superficial para o canal

principal e favorecendo os defluacutevios

Figura 18 - Representaccedilatildeo da inundaccedilatildeo urbana Fonte adaptado da Defesa Civil do Tocantins (2015)

Este fenocircmeno tem ganhado destaque em Colatina a partir de 1979 ano em que o Rio

Doce atingiu a vazatildeo de 12860msup3s tomando toda aacuterea aplainada que compotildee seu leito

maior afetando da atual Av Beira-Rio ateacute as redondezas da Av Getuacutelio Vargas Desde

entatildeo os estudos das inundaccedilotildees urbanas satildeo relevantes no municiacutepio o que levou o

54

Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) na deacutecada de 1980 a elaborar um ldquoPlano Diretor

de Contenccedilatildeo das Enchentes Proteccedilatildeo das Encostas e Drenagem Pluvial de Colatinardquo

Tal medida apresentou seis alternativas para o fenocircmeno Poreacutem tendo em vista o custo

operacional das obras apenas a alternativa seis que previa a construccedilatildeo de diques

marginais para a proteccedilatildeo das aacutereas mais centrais foi considerada viaacutevel na eacutepoca

Todavia em entrevistas com funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina (PMC) foi

relatado que todo o estudo foi arquivado e que ateacute agora natildeo haacute previsatildeo de

implementaccedilatildeo de tais medidas Fato este que eacute evidenciado (Tabela 2 p 51) quando da

ocorrecircncia de precipitaccedilotildees intensas na bacia durante as quais sazonalmente a cidade eacute

impactada com as aacuteguas das inundaccedilotildees Isto faz com que o municiacutepio passe

recorrentemente por cataacutestrofes conforme tabela com os principais picos de vazatildeo do rio

nos uacuteltimos 50 anos

Tabela 2

Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013

Ano Diamecircs Vazatildeo(msup3s)

1961 30jan 6613

1979 04fev 12860

1997 07jan 8687

2005 03ago 6549

2013 24dez 9028

Fonte Coelho (2007 apud DALLAPICOLA 2014 p4) e CPRM (2014 p85) Observo que os dados da tabela 1 para os anos de 1979 e 2013 estatildeo baseados na estimativa de vazatildeo meacutedia diaacuteria das maacuteximas anuais obtida atraveacutes de extrapolaccedilatildeo da curva-chave pelo grupo interdisciplinar dos relatoacuterios criacuteticos anteriores

As inundaccedilotildees de 1979 1997 e recentemente 2013 (Figura 19) foram as de maior vazatildeo

neste setor do rio e consequentemente as que mais atingiram a aacuterea urbana do municiacutepio

bloqueando os acessos ao centro da cidade e aos equipamentos essenciais como

hospitais escolas e demais oacutergatildeos puacuteblicos aleacutem de desalojarem muniacutecipes e

comprometerem a sauacutede puacuteblica

55

Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de 1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 Fonte1) Nossa Colatina 2) Nossa Linda Colatina 3) Nossa Colatina

Com o propoacutesito de identificar os principais fatores que acentuam as inundaccedilotildees seraacute

analisado como os processos geomorfoloacutegicos do Doce estatildeo sendo afetados pela accedilatildeo

antroacutepica Limitaremos a anaacutelise ao periacutemetro urbano no trecho que compreende do bairro

Esplanada ateacute o bairro Colatina Velha (Figura 20) Neste periacutemetro eacute possiacutevel visualizar a

evoluccedilatildeo da mancha urbana sobre o leito do rio aleacutem de identificar na margem direita os

pontos desnaturalizados deste canal fluvial

56

Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2) Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do recorte em rosa da APP de 50m (amarelo claro) e 500m (amarelo escuro) Fonte 3) Encontra Colatina (2015)

57

O recorte em questatildeo eacute margeado pela Av Beira-Rio e estaacute situado (Figura 20) dentro do

buffer de preservaccedilatildeo permanente previsto no PDM (buffer de 50m) e no Novo Coacutedigo

Florestal (buffer de 500m) Apesar desta aacuterea ser destinada a mata nativa e ou

reflorestada a ocupaccedilatildeo urbana antecede os artigos legais o que dificulta poliacuteticas de

gestatildeo territorial em um periacutemetro ao mesmo tempo histoacuterico e com funccedilatildeo relevante no

equiliacutebrio hidroloacutegico da bacia

O periacutemetro faz parte da vaacuterzea da margem direita do Rio Doce pois encontra-se em cota

topograacutefica de 50m caracterizando sua planiacutecie Logo a aacuterea em questatildeo tem a funccedilatildeo de

acomodar as aacuteguas das cheias quando a calha principal natildeo comporta o escoamento de

grandes vazotildees Esta tarefa passa a ser prejudicada na medida em que na bacia ou no

curso original satildeo implementadas obras que interferem na morfologia do corpo hiacutedrico

principal como a instalaccedilatildeo das hidreleacutetricas de Mascarenhas (1974) e Aimoreacutes (2005) a

montante

As UHErsquos a montante comprometem os processos do rio uma vez que o regime natural de

transporte de sedimentos eacute alterado com o barramento o que favorece a erosatildeo e

consequentemente o assoreamento com a formaccedilatildeo de bancos arenosos alteraccedilatildeo do

seu perfil transversal e reduccedilatildeo da profundidade Aleacutem disso segundo Coelho (2007) as

vazotildees maacuteximas e miacutenimas foram alteradas com a implantaccedilatildeo das hidreleacutetricas a

montante implicando em vazotildees meacutedias anuais miacutenimas cada vez mais reduzidas com

valores se distanciando da linha de tendecircncia (polinocircmio) provando o natildeo equiliacutebrio da

vazatildeo apoacutes a implantaccedilatildeo das barragens (Graacutefico 1 p22)

Entretanto a primeira intervenccedilatildeo direta no trecho em estudo foi a instalaccedilatildeo da estrada

de ferro que atraiu migrantes para Colatina permitindo o crescimento populacional e a

expansatildeo urbana desordenada agraves margens do Doce Este crescimento intensificou a

supressatildeo das matas ciliares e abriu espaccedilo para a impermeabilizaccedilatildeo do solo reduzindo

a infiltraccedilatildeo

Posteriormente a inauguraccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos ampliou o fluxo na regiatildeo pois

proporcionava a ligaccedilatildeo com as terras ao norte do Estado Atuou tambeacutem como obstaacuteculo

ao transporte de sedimentos carreados no fluxo natural do rio uma vez que sua

implantaccedilatildeo altera a topografia do fundo do canal afetando os processos geomorfoloacutegicos

58

Poreacutem foi no Morro das Cabritas (colina localizada no espaccedilo que compreende o atual

bairro Esplanada) que ocorreu a primeira desnaturalizaccedilatildeo nas margens do Doce Este

morro por onde o Rio Santa Maria do Doce meandrava ateacute desaguar no Rio Doce foi

cortado em meados de 1953 para abrigar a cidade em expansatildeo Devido a esta

intervenccedilatildeo o curso original do Santa Maria foi deslocado e passou a escoar

retilineamente ateacute a foz (Figura 21)

Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponte Florentino Aacutevidos (direita) e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque em vermelho para o curso atual do Santa Maria Fonte Nossa Colatina

As intervenccedilotildees na margem direita tornam-se mais intensas a partir da deacutecada de 1960

quando no ano de 1968 edificou-se um muro visando a proteccedilatildeo dos pilares da

extremidade direita da ponte Esta obra ficou paralisada por muitos anos e foi a primeira

de retificaccedilatildeo e aterro realizada neste trecho do rio Esta intervenccedilatildeo modificou o fluxo

natural das correntes do rio e reduziu a largura da sua calha alterando a morfologia do

canal (Figura 22)

59

Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de proteccedilatildeo da ponte Elaborado pela autora Fonte fotos histoacutericas Nossa Colatina

Contudo somente em 1972 teve iniacutecio o segundo aterro (Figura 23) com a finalidade de

alocar a estaccedilatildeo rodoviaacuteria de Colatina e ampliar a aacuterea de acesso agrave ponte Florentino

Aacutevidos A implementaccedilatildeo desta obra suprimiu parte do leito do Rio Doce pois removeu a

saliecircncia cocircncava que curvava o rio retilinizando esta parte do canal

60

Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora Fonte Nossa Colatina Nossa Linda Colatina

Apoacutes dez anos sem grandes intervenccedilotildees em 1982 o lado a montante da ponte bairro

Esplanada eacute acrescido de um aterro que estenderaacute a aacuterea do antigo Morro das Cabritas

para o rio (Figura 24)

Conhecido como Rua da Lama devido agrave umidade que o rio transferia ao aterro formando

um barro viscoso que persistia a maior parte do ano o trecho atualmente compreende a

Avenida Professor Joseacute Zouian popularmente denominada Avenida Beira-Rio de onde

surge a primeira forma do calccediladatildeo que seraacute estendido ateacute o bairro Colatina Velha

61

Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o calccediladatildeo da Av Beira-Rio Elaborado pela autora Fonte Bennachio (2015)

Somente em 2004 foi implementado o maior projeto de canalizaccedilatildeo do municiacutepio Naquele

ano teve iniacutecio a execuccedilatildeo do enrocamento da Av Beira-Rio (Figura 25) obra destinada

inicialmente a alocaccedilatildeo de equipamentos puacuteblicos de lazer e cultura praccedilas preacutedios aleacutem

da promessa de contribuir para a contenccedilatildeo dos transbordamentos do Rio Doce

Apesar de o referido manancial jaacute estar comprometido com problemas de poluiccedilatildeo

assoreamento e erosatildeo aleacutem dos impactos de duas hidreleacutetricas instaladas a montante a

obra abarcou a supressatildeo da vegetaccedilatildeo ciliar e aterro de parte do rio jaacute tatildeo degradado

62

Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento iniciada em 2004 e finalizada em 2008 Elaborado pela autora Fonte proacutepria autora em 240215

Ocupando uma aacuterea total de 130 mil msup2 do leito do Rio Doce o aterro teve iniacutecio em 2004

sendo construiacutedo com cerca de 90 mil msup3 de pedras 50 mil msup3 de areia retirada do leito do

rio e por fim o nivelamento com 200 mil msup3 de terra A obra era divulgada como um antigo

sonho dos colatinenses e serviria para ampliaccedilatildeo da Av Beira-Rio no bairro de Colatina

Velha instalaccedilatildeo de ciclovias calccediladatildeo equipamentos puacuteblicos e estacionamento (Figura

26) Apesar do fim da engenharia em 2008 o projeto ainda estaacute em fase de acabamento

na parte urbaniacutestica e na alocaccedilatildeo dos oacutergatildeos puacuteblicos

Cabe destacar que a obra sofreu embargos do Ministeacuterio Puacuteblico Federal (MPF) por

apresentar apenas cadastro na Agecircncia Nacional de Aacuteguas (ANA) que conforme parecer

da Procuradora Nadja Machado Botelho na Accedilatildeo Civil Puacuteblica ldquo[hellip] equivocadamente natildeo

realizou o procedimento de outorga [hellip]rdquo (MPF 2006 p2) Aleacutem disso a procuradora

solicitou tutela tendo em vista tratar-se de aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental e o fato de o

IBAMA ter concedido licenciamento com indevida dispensa do Estudo de Impacto

Ambiental (EIA)Relatoacuterio de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA)

63

Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina Fonte Prefeitura de Colatina (2015)

Por isso essa obra deve ser considerada faraocircnica para os cofres puacuteblicos e irreversiacutevel

para os processos geomorfoloacutegicos do Doce E sua efetivaccedilatildeo soacute foi possiacutevel com a

participaccedilatildeo e investimentos do Governo estadual Contudo seu objetivo foi frustrado pois

novamente na cheia do Rio Doce em dezembro de 2013 quando este atingiu a vazatildeo de

9028 msup3s a aacuterea foi inundada e por estar em cota maior que as casas que beiravam o

rio o enrocamento atuou como represa natildeo permitindo o retorno das aacuteguas quando o niacutevel

do rio retomou o equiliacutebrio

Por fim segue um mapa siacutentese (Figura 27) com a cartografia das quatro principais

intervenccedilotildees diretas e estruturais na margem direita do Doce no setor urbano de Colatina

representando o curso natural do rio em 1950 e suas desnaturalizaccedilotildees a partir da deacutecada

de 60 ateacute a atualidade

64

Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce ante e depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora

65

422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio

O recorte em estudo compreende as Zonas ZE-1 ZE-2 e ZUD 2-1 (Figura 28 p61) sendo

a Zona Especial 1 Zona Especial 2 e Zona de Uso Diverso 2-1 destinadas no PDM (Lei

52732007)

Artigo 103 - As Zonas de Usos Diversos ndash ZUD satildeo definidas em razatildeo da concentraccedilatildeo de atividades urbanas diversificadas com predominacircncia do uso comercial e de serviccedilos Artigo 104 - Satildeo objetivos das Zonas de Usos Diversos I - otimizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do solo priorizando a instalaccedilatildeo de novos empreendimentos em terrenos natildeo edificados contiacuteguos a empreendimentos jaacute instalados II - controle da implantaccedilatildeo de usos incompatiacuteveis com os definidos para estas zonas III - garantia de licenciamento e monitoramento ambiental dos empreendimentos IV - controle da expansatildeo comercial de serviccedilos e de induacutestrias de pequeno porte em direccedilatildeo a aacutereas residenciais [] Artigo 130 - As Zonas Especiais 1 ndash ZE 1 abrangem todas as aacutereas remanescentes do municiacutepio relativamente ao zoneamento estabelecido nesta lei ocupadas ou natildeo contida na lei de periacutemetro urbano para as quais natildeo foram ainda estabelecidos os criteacuterios de uso e ocupaccedilatildeo Artigo 131 - As Zonas Especiais 2 ndash ZE 2 satildeo as aacutereas existentes no prolongamento da avenida Beira Rio mais especificamente no trecho entre o 80 Batalhatildeo da Poliacutecia Militar e a rua Pedro Epichin incluindo o espaccedilo existente entre a margem do Rio Doce e o limite das construccedilotildees localizadas na rua Pedro Epichin

Cabe destacar que mesmo sendo palco das aacutereas mais afetadas com as inundaccedilotildees do

Rio Doce a Beira-Rio tem sido alvo da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria que aproveitando-se dos

iacutendices pouco restritos da ZUD 2 (Figura 28 p62) valoriza o espaccedilo promovendo a

instalaccedilatildeo de grandes estruturas como hipermercados edifiacutecios residenciais modernos e

hotelaria

66

Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 Fonte Colatina (2007)

A aacuterea contida na ZE (Figura 28) natildeo possui criteacuterio de ocupaccedilatildeo definido na legislaccedilatildeo

atual sendo adotado o disposto na Lei 41961995 que estabelece os iacutendices urbaniacutesticos

para as aacutereas conquistadas junto ao Rio Doce e na Lei 420595 que aprova os

parcelamentos na Beira-Rio Quanto agrave ZUD 2-1 apresenta iacutendices urbaniacutesticos no anexo

118 do Plano Diretor conforme tabela 3 abaixo

67

Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1

Fonte Colatina (2007 p36)8

68

Eacute relevante observar que numa aacuterea onde o corpo hiacutedrico foi reduzido pelos sucessivos

aterros tenha sido aprovada a instalaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto (Figura

29) com taxa de ocupaccedilatildeo de ateacute 80 e com baixo iacutendice de permeabilidade Ampliou-

se a aacuterea impermeaacutevel numa regiatildeo onde a drenagem jaacute eacute muito comprometida com a

expansatildeo urbana sobre o rio

Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto na Beira-Rio Fonte imagem do Google Maps 2015 E fotos da autora em 140215

Portanto analisando o conjunto de dados apresentado acima eacute possiacutevel entender como

as inundaccedilotildees satildeo potencializadas no municiacutepio atingindo a populaccedilatildeo mas em especial

afetando a dinacircmica de um corpo hiacutedrico tatildeo relevante para o Estado A fim de subsidiar a

gestatildeo puacuteblica com material cartograacutefico para a tomada de decisotildees delimitou-se o

poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo (Figura 30) Pois devem ser adotadas medidas que

minimizem impactos de futuros eventos hidroloacutegicos na bacia capazes de comprometer

novamente a aacuterea urbana mais central de Colatina

69

Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av Beira-Rio em dezembro de 2013 Elaborado pela autora

70

Diante do poliacutegono de inundaccedilatildeo da uacuteltima cheia (Figura 30) em dezembro de 2013 eacute

possiacutevel implementar medidas de convivecircncia com as grandes vazotildees a exemplo de

paiacuteses como Holanda que vem investindo em medidas de resiliecircncia a fim de reduzir a

velocidade dos defluacutevios possibilitando ao canal a capacidade de acumular e dispersar as

aacuteguas com impacto miacutenimo para as populaccedilotildees Conforme Carneiro e Miguez (2011) a

estrateacutegia adotada pelo paiacutes eacute reter armazenar e drenar sendo mais flexiacutevel e natildeo

interferindo drasticamente na dinacircmica do corpo hiacutedrico

Por fim a implementaccedilatildeo de soluccedilotildees de planejamento urbano em Colatina requer uma

anaacutelise integrada que abarque o urbano e o ambiental de modo a propor intervenccedilotildees que

produzam impactos reduzidos nos processos geomorfoloacutegicos do Rio Doce Logo a gestatildeo

municipal deve atuar em niacutevel de bacia hidrograacutefica interagindo com os municiacutepios a

montante propondo medidas de minimizaccedilatildeo das cheias urbanas Mas na escala local

pode-se atuar junto aos novos parcelamentos de modo a ampliar o percentual de aacutereas

permeaacuteveis no municiacutepio incentivando por exemplo os novos loteamentos a adotarem

pavimentaccedilotildees que permitam a drenagem natural do solo

71

5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Partindo da ideia de que eacute possiacutevel implementar medidas que minimizem o escoamento

superficial satildeo apresentadas propostas como forma de controlar ou ao menos reduzir os

impactos das inundaccedilotildees urbanas

Embora as implementaccedilotildees histoacutericas de estruturas de proteccedilatildeo ou barreiras mais altas

tenham sido muito disseminadas atualmente estatildeo sendo suplantadas pelo gerenciamento

de inundaccedilotildees de maneira mais sustentaacutevel Deste modo as experiecircncias fora do Brasil

apontam para soluccedilotildees mais flexiacuteveis que considerem o fluxo natural do canal enquanto

um ecossistema em equiliacutebrio Para tanto Carneiro e Miguez (2011 p150) destacam a

iniciativa alematilde no controle de inundaccedilotildees em bacias hidrograacuteficas metropolitanas

[hellip] A abordagem comum consiste na regulaccedilatildeo do uso do solo nas aacutereas inundaacuteveis e em ldquodar espaccedilo para o riordquo ao inveacutes de priorizar investimentos em estruturas de proteccedilatildeo contra inundaccedilotildees como a colocaccedilatildeo de diques de contenccedilatildeo as margens dos rios A utilizaccedilatildeo do conceito de resiliecircncia apropriado de ecologia decorre dessa abordagem A aplicaccedilatildeo praacutetica do conceito implica portanto em mudanccedilas de paradigma Deixa de ser preponderante a engenharia construtiva e entra em cena o planejamento de longo prazo voltado para o desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis capazes de conviver com as variaccedilotildees do ciclo hidroloacutegico sem significar necessariamente trageacutedias anunciadas

Aleacutem dessas propostas geoacutegrafos como Sandra Cunha tecircm estudado a recuperaccedilatildeo

natural ou ldquorenaturalizaccedilatildeordquo de corpos fluviais visando promover a estabilidade dos canais

de modo mais sustentaacutevel Para ela

[hellip] Recuperaccedilatildeo de canal significa de forma simples o retorno as condiccedilotildees anteriores aos distuacuterbios Em essecircncia eacute o processo de recuperaccedilatildeo do rio ou do ecossistema fluvial estabilizando o desenvolvimento de habitats e colonizaccedilatildeo a uma taxa mais raacutepida que dos processos naturais fiacutesicos e bioloacutegicos Na recuperaccedilatildeo de canais ocorrem consideraccedilotildees de aspecto hidroloacutegico morfoloacutegico e ecoloacutegico qualidade da aacutegua esteacutetica aleacutem da necessidade de uma visatildeo integradora do projeto sustentaacutevel de recuperaccedilatildeo (CUNHA 2012 p230 a 231)

Satildeo portanto medidas pontuais como o retorno agraves sinuosidades do rio (Figura 31 p 68)

ou a substituiccedilatildeo de estruturas de concreto por superfiacutecies mais permeaacuteveis a exemplo

das trincheiras de infiltraccedilatildeo ou pavrsquos (Figura 32) aacutereas mais vegetadas aleacutem de coleta e

uso de aacutegua da chuva bem como tratamento das aacuteguas superficiais por meio de

72

amenidades esteacuteticas como reservatoacuterios de retenccedilatildeo ou detenccedilatildeo que podem ser

associados a ambientes harmocircnicos como lagos artificiais Todas estas accedilotildees possibilitam

a minimizaccedilatildeo das grandes vazotildees no solo urbano pois pretendem atenuar os impactos

das cheias fazendo com que seja resgatada parte da drenagem existente anteriormente agrave

urbanizaccedilatildeo

Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do Rio Aa Munster Alemanha (1998) Fonte Cunha (2012 p233)

Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos Fonte Carneiro e Miguez (2011 p128)

A partir do exposto cabe agrave gestatildeo municipal implementar legislaccedilotildees que priorizem a

permeabilidade possibilitando uma maior infiltraccedilatildeo das aacuteguas das chuvas atraveacutes de

pavimentaccedilotildees menos impermeaacuteveis e da ampliaccedilatildeo de aacutereas vegetadas Satildeo medidas

que tornam a drenagem mais sustentaacutevel aleacutem de possibilitar a manutenccedilatildeo dos serviccedilos

puacuteblicos de forma menos custosa tendo em vista o elevado preccedilo das recomposiccedilotildees

asfaacutelticas

1 2

73

Aleacutem disso quando se fala em controle de cheias urbanas pressupotildee-se uma seacuterie de

medidas para minimizaccedilatildeo de seus impactos desde a operaccedilatildeo de sistemas de alerta

zoneamento de aacutereas inundaacuteveis construccedilatildeo de grandes reservatoacuterios de contenccedilatildeo de

cheias e diques ateacute accedilotildees de educaccedilatildeo ambiental

Cabe pensar tambeacutem na proacutexima revisatildeo do PDM em um plano de macrodrenagem

municipal que reuacutena accedilotildees de caraacuteter estruturantes com obras hidraacuteulicas de infraestrutura

que realizem a conduccedilatildeo final das aacuteguas dos escoamentos superficiais para a minimizaccedilatildeo

das inundaccedilotildees e em medidas natildeo-estruturantes que trabalhem a consciecircncia ambiental

e proponha um zoneamento de cheias a fim de se delimitar os pontos mais fragilizados nos

defluacutevios

Por fim pensar em drenagem num contexto de ocupaccedilatildeo irregular histoacuterico requer

profissionais que aleacutem de possuir afinidade com a temaacutetica tambeacutem possam analisar os

diferentes processos que constituem o espaccedilo geograacutefico Logo este tipo de estudo deve

abarcar uma equipe multidisciplinar que percorra a anaacutelise desde o ambiental estrutural

ateacute o aspecto humano a fim de se produzir resultados que de fato contribuam com o

controle das inundaccedilotildees urbanas

74

6 CONCLUSAtildeO

A partir do recorte espacial foi possiacutevel compreender que a abordagem da geomorfologia

fluvial com a anaacutelise espaccedilo-temporal da ocupaccedilatildeo urbana possibilita a identificaccedilatildeo das

accedilotildees do homem no meio ambiente pois estas resultam na alteraccedilatildeo das paisagens

naturais e na dinacircmica da bacia hidrograacutefica Assim o Rio Doce deve ser estudado de

modo integrado ao crescimento da cidade sobretudo para compreensatildeo da produccedilatildeo do

espaccedilo geograacutefico

Analisar a inundaccedilatildeo urbana em Colatina foi satisfatoacuterio pois o municiacutepio estaacute situado no

perfil meacutedio-baixo da bacia vazante e eacute neste trecho que os reflexos das intervenccedilotildees satildeo

mais acentuados principalmente se esta parte do canal tambeacutem tiver passado por obras

que modificaram seus processos hidroloacutegicos Aleacutem disso a perspectiva geograacutefica aponta

para vaacuterias outras questotildees como erosatildeo fluvial planejamento urbano poluiccedilatildeo ambiental

crise da aacutegua que conduzem a outras discussotildees acerca da relaccedilatildeo homemnatureza

Ao demonstrar a evoluccedilatildeo espaccedilo-temporal do uso e cobertura da terra na margem direita

do Doce associando esta ocupaccedilatildeo agraves obras estruturantes que foram executadas no

canal verificamos que todas as praacuteticas adotadas para conter o transbordamento do rio

acabaram alterando sua morfologia com a retificaccedilatildeo de trechos em meandros reduzindo

a largura do corpo hiacutedrico o que favoreceu a apropriaccedilatildeo urbana de suas vaacuterzeas Aliadas

a estas questotildees estatildeo a falta de planejamento urbano e a omissatildeo diante da supressatildeo

das matas ciliares principalmente se considerados os resultados do relatoacuterio teacutecnico do

IJSN contra enchentes em 1980

Cabe destacar tambeacutem que toda a anaacutelise da ocupaccedilatildeo urbana e desnaturalizaccedilatildeo do

Rio Doce foi melhor identificada a partir dos produtos cartograacuteficos deste trabalho Pois eacute

na espacialidade dos fenocircmenos e no registro de informaccedilotildees ainda natildeo mapeadas como

os aterros que o geoacutegrafo executa a anaacutelise do seu objeto de estudo o homem e a

natureza aqui representado pela sociedade e o canal do Doce

Apesar do municiacutepio apresentar leis que resguardam os leitos dos rios desde o primeiro

PDM em 1996 nada foi feito para conter as ocupaccedilotildees irregulares beira-rio Pelo contraacuterio

estas aacutereas foram incorporadas ao Plano Diretor em 2007 com possibilidades de

ocupaccedilotildees diversas o que tem levado especuladores a valorizar o solo com vista para o

rio apontando suas qualidades esteacuteticas e teacutermicas Este fato vem aumentando o

75

percentual de aacutereas impermeaacuteveis nesta margem comprometendo ainda mais a drenagem

dos defluacutevios

Eacute na Av Beira-Rio que crescem as implantaccedilotildees de grandes empreendimentos comerciais

como supermercado Casagrande Ogil Hotel e obras de construccedilatildeo de novos arranha-

ceacuteus em um periacutemetro que jaacute eacute totalmente comprometido com os extravasamentos do Rio

Doce Estas obras ocupam grandes aacutereas e na maioria das vezes apresentam reduzida

aacuterea permeaacutevel reservando apenas o obrigatoacuterio pela lei cerca de 10 Observa-se

tambeacutem que a implantaccedilatildeo desses projetos estaacute condicionada agrave apresentaccedilatildeo e

aprovaccedilatildeo por comissatildeo na prefeitura do Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV) sendo

difiacutecil conceber que seja concedida tal licenccedila para implementaccedilatildeo de obras num trecho

de risco ambiental

Embora as diretrizes do Estatuto das Cidades para a implementaccedilatildeo do uso da terra

sustentaacutevel e os instrumentos para a regulaccedilatildeo do solo urbano sejam avanccedilados Colatina

eacute mais um exemplo da carecircncia de profissionais capacitados para estudar de modo

integrado e em niacutevel de bacia hidrograacutefica os efeitos da accedilatildeo humana num ambiente tatildeo

peculiar como as margens do Doce Por isso com os objetivos traccedilados nesta pesquisa

podemos aleacutem de compreender o fenocircmeno criar uma metodologia de anaacutelise de aacutereas

inundaacuteveis em ambientes urbanos O que permite agrave gestatildeo municipal uma diretriz para a

tomada de decisotildees

Destaca-se tambeacutem que as legislaccedilotildees aqui referenciadas supriram a discussatildeo acerca do

objeto de estudo mas outras podem contribuir para esta pesquisa a exemplo do Coacutedigo

das Aacuteguas da Poliacutetica Nacional dos Recursos Hiacutedricos das Resoluccedilotildees do Conama do

Estatuto das Cidades entre outros

Sendo assim numa revisatildeo do PDM deve-se pensar nestes aspectos da cidade desde o

histoacuterico de ocupaccedilatildeo das margens ateacute os impactos das inundaccedilotildees e o presente trabalho

auxilia com uma nova abordagem na reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo fornecendo material

cartograacutefico para subsidiar propostas de proteccedilatildeo ao curso do Doce e consequentemente

da populaccedilatildeo

Por fim deve-se destacar que o recorte estaacute inserido num contexto maior de uma bacia

hidrograacutefica que se estende aleacutem dos limites de Colatina ou do estado do Espiacuterito Santo

Esta bacia compreende a Regiatildeo Hidrograacutefica do Atlacircntico Leste e estaacute alocada tambeacutem

76

no estado de Minas Gerais o que portanto torna as accedilotildees de controle das inundaccedilotildees

mais complexas tendo em vista as divergentes politicas territoriais

77

7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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78

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JENSEN J R Sensoriamento Remoto do Ambiente uma perspectiva em recursos terrestres Satildeo Joseacute dos Campos SP Parecircntese 2009 MINISTERIO PUBLICO FEDERAL - MPF Accedilatildeo Civil Puacuteblica com pedido de Antecipaccedilatildeo de Tutela - da obra de Enrocamento da Av Beira Rio em ColatinaES2006 Disponiacutevel emlt wwwpresmpfmpbracp_riodoce_colatinadocgt Acesso em 14 de marccedilo de 2015 NOSSA COLATINA Fatos Histoacutericos Culturais Curiosidades Informaccedilatildeo Variedades Disponiacutevel em lt httpswwwfacebookcomnossacolatinagt Acesso em 29 de Janeiro de 2015 NOSSA LINDA COLATINA Fotos histoacutericas do centro de Colatina Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomNossaLindaColatinaphotosgt Acesso em 29 de Janeiro de 2015 Serviccedilo Geoloacutegico do Brasil ndash CPRM Relatoacuterio Teacutecnico do Periacuteodo Criacutetico de Dezembro de 2013 (CPRM 2014) Disponiacutevel emlthttpwwwcprmgovbrpubliquemediarelatorio_eventos_criticos_190314pdfgt Acesso em 16 de Setembro de 2014 Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espiacuterito Santo - GEOBASES Downloads de planos de informaccedilatildeo do estado municiacutepio bairros corpo drsquoagua entre outros Disponiacutevel em httpwwwgeobasesesgovbr Acesso em 07 de Setembro de 2014 SITE BARRA Colatina debaixo drsquoaacutegua na maior enchente da histoacuteria do municiacutepio Colatina 24 de dezembro de 2013 lt httpwwwsitebarracombr201312colatina-debaixo-dagua-na-maior-enchente-da-historia-do-municipiohtml gt - Acesso em 25 de Maio de 2014 TUCCI CEM Prefacio In GUERRA e CUNHA (orgs) Impactos Ambientais Urbanos no Brasil 10ordf Ediccedilatildeo Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2013 UOL NOTiacuteCIAS Chuvas causam estragos em mais de dois terccedilos dos municiacutepios do Espiacuterito Santo Vitoacuteria 26 de dezembro de 2013 lt httpnoticiasuolcombralbum20131223chuvas-causam-estragos-em-metade-dos-municipios-do-espirito-santohtmfotoNav=62 gt ndash Acesso em 31 de Maio de 2014 USGS - Geological Survey Serviccedilo Geoloacutegico Americano Aquisiccedilatildeo de imagens orbita digitais gratuitas do sateacutelite LandSat-8 datas de passagem 02012014 e 22032014 EUA Disponiacutevel em lthttpearthexplorerusgsgovgt Acesso em 05 de setembro de 2014

Page 3: DESNATURALIZAÇÃO DO RIO DOCE: UMA ABORDAGEM … · Ao engenheiro Francisco Hermes, pela experiência e conhecimentos partilhados da área de estudo. Aos meus amigos Mônica Regina,

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo a Deus pela forccedila dia a dia sem a qual natildeo seria possiacutevel superar

os obstaacuteculos e alcanccedilar a vitoacuteria

Aos meus pais Maxima e Francisco por todo ensinamento por acreditarem

na minha capacidade e por me ajudarem a sonhar e correr atraacutes dos meus

objetivos

Ao meu marido Cleder pela paciecircncia pela forccedila nos momentos de

desacircnimo e por todo apoio dedicado Sem vocecirc natildeo teria conseguido

Ao engenheiro Francisco Hermes pela experiecircncia e conhecimentos

partilhados da aacuterea de estudo

Aos meus amigos Mocircnica Regina Larissa Patriacutecia e Ronald por todo apoio

e ajuda durante esta pesquisa

Ao meu orientador Andreacute pela oportunidade desta pesquisa pela paciecircncia

dedicada a mim e por todos os ensinamentos compartilhados Muito obrigada

A todos aqueles que estiveram comigo durante a graduaccedilatildeo e que

contribuiacuteram de alguma forma com o meu aprendizado

RESUMO Este trabalho tem como objeto de estudo o setor do Rio Doce que corta a aacuterea

urbana de Colatina ndash ES O objetivo principal desta anaacutelise foi verificar como as

intervenccedilotildees humanas no canal fluvial tecircm contribuiacutedo para ampliaccedilatildeo das cheias

na planiacutecie de inundaccedilatildeo Partindo desta premissa a pesquisa baseou-se na

anaacutelise de fotos histoacutericas de 1906 a 2015 e imagens de sateacutelite em periacuteodos de

vazante (abril) e cheia (janeiro) do rio Doce por onde foi possiacutevel cartografar as

alteraccedilotildees nas margens deste corpo hiacutedrico O cruzamento das seacuteries temporais

histoacutericas de vazatildeo do rio com a ocupaccedilatildeo da Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente

(APP) permitiu delimitar os pontos mais fragilizados da Av Beira Rio Deste modo

os resultados indicaram que o crescimento urbano desordenado e contiacutenuo

associado agraves alteraccedilotildees nos processos geomorfoloacutegicos tem intensificado a

degradaccedilatildeo do canal fluvial potencializando as inundaccedilotildees

Palavras-chave Geomorfologia fluvial geotecnologias anaacutelise geograacutefica integrada

intervenccedilatildeo humana e inundaccedilatildeo

REacuteSUMEacute

Ce travail a pour objet deacutetude le secteur de la Riviegravere Doce coupe de la zone urbaine ne

de Colatina ndash ES Le principal objectif de cette analyse eacutetait de veacuterifier comme les

interventions humaines dans le chenal de la Riviegravere Doce ont contribueacute pour le submersion

de la plaine dinondation De cette preacutemisse la recherche a eacuteteacute baseacutee sur lanalyse de

photographies historiques de 1906 a 2015 et images en peacuteriode de reflux (avril) et flux

(janvier) de la Riviegravere Doce par lequel il a eacuteteacute possible de cartographier les changements

dans les marges de ce plan deau Gracircce agrave lanalyse de la seacuterie chronologique historique

de deacutebit de la riviegravere et de loccupation de la zone de preacuteservation permanent crsquoest possible

didentifier les points les plus vulneacuterables de lrsquoAvenue Beira-Rio Ainsi les reacutesultats

indiquent que la croissance urbaine deacutesordonneacutee et continue associeacutee aux changements

dans les processus geacuteomorphologiques a intensifieacute la deacutegradation du chenal de la riviegravere

en renforccedilant des inondations

Mots-cleacutes la geacuteomorphologie fluviale geacuteotechnologies analyse geacuteographique inteacutegreacutee

dintervention humaine et inondations

ABSTRACT

This paper has as object of study the sector of Doce River cutting the urban areas of

Colatina ndash ES The main objective of this analyze was to verify how human interventions on

Docersquos river channel have contributed how human interventions in river channel have

contributed to the tide of the floodplain From this premise the research was based on

analysis of historical photographs from 1906 to 2015 and aerial images in periods of ebb

(April) and flood (January) of Doce river by which it was possible to map the changes in the

margins of this water body Crossing the analysis of historical time series of river flow with

the occupation of areas of permanent preservation it was possible to delimitate the most

vulnerable points of Beira-Rio Avenue Thus the results indicated that the cluttered and

continuous urban growth associated with changes in geomorphological processes has

intensified de degradation of the river channel increasing flooding

Keywords fluvial geomorphology geotechnologies integrated geographical analysis

human intervention and flood

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e Rio Doce 18

Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 19

Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de

2013 19

Figura 4 - Tipos de leito fluvialvarzea 21

Figura 5 - Padrotildees dos canais 21

Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento 32

Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia 33

Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC) 37

Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906

Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce 41

Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da

regiatildeo 42

Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce 43

Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio

Doce 43

Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes 45

Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de

crescimento 47

Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios que interceptam a cidade de Colatina

48

Figura 16 - Traccedilado das mensuraccedilotildees da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de

vazante mecircs de abril2013 50

Figura 17 - Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro

urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal 51

Figura 18 - Representaccedilatildeo de inundaccedilatildeo urbana 53

Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de

1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 55

Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2)

Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do

recorte em rosa da APP de 50 m (amarelo claro) e 500 m (amarelo escuro) 56

Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponrte Florentino Aacutevidos (direita)

e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa

Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque

em vermelho para o curso atual do Santa Maria 58

Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de

proteccedilatildeo agrave ponte 59

Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o

traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas 60

Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o

calccediladatildeo da Av Beira-Rio61

Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento

iniciada em 2004 e finalizada em 2008 62

Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina 63

Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce antes e

depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas 64

Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 66

Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto da Beira-Rio 68

Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da

inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av

Beira-Rio em dezembro de 2013 69

Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do rio Aar Munster Alemanha (1998) 72

Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos 72

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Perfis Transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de vazante (abril) e cheia (janeiro) 50

Tabela 2 Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013 54

Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1 67

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 - Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais

(Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia) 25

Graacutefico 2 - Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 201045

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANA - Agecircncia Nacional de Aacuteguas

APP - Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente

CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais Serviccedilo Geoloacutegico Brasileiro

GEOBASES - Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espiacuterito Santo

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IJSN - Instituto Jones dos Santos Neves

INCAPER - Instituto Capixaba de Pesquisa Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural

PDM - Plano Diretor Municipal

PMC - Prefeitura Municipal de Colatina

PROATER - Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural

SIG - Sistema de Informaccedilotildees Geograacuteficas

UHE ndash Usina Hidreleacutetrica

UTM - Universal Tranverse Mercator

USGS - Geological Survey Serviccedilo Geoloacutegico Americano

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14

11 Objetivo 16

111 Objetivo Geral 16

112 Objetivos Especiacuteficos 16

12 Justificativa 17

2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS 20

21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano 20

211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial 23

22 Aspectos Juriacutedicos 27

23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos 31

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS 36

4 RESULTADOS 40

41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana 40

411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade 46

42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce 49

421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie de

Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio 53

422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio 65

5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 71

6 CONCLUSAtildeO 74

7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 77

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

A partir da deacutecada de 1930 com a transiccedilatildeo econocircmica de um eixo agraacuterio-exportador

para um polo urbano-industrial (CARNEIRO 2008) verificou-se no Brasil a migraccedilatildeo da

maior parte da populaccedilatildeo para as cidades Isso acarretou segundo Tucci (2013 p17) uma

ldquo[] concentraccedilatildeo urbana no Brasil da ordem de 80 da populaccedilatildeo e o seu

desenvolvimento tem sido realizado de forma pouco planejada com grandes conflitos

institucionais e tecnoloacutegicos []rdquo

De acordo com Canholi (2005 p15) a expansatildeo da aacuterea urbana ldquo[] consequentemente

impermeabilizada ocorreu a partir das zonas mais baixas proacuteximas agraves vaacuterzeas dos rios

ou agrave beira-mar em direccedilatildeo agraves colinas e morros em face da necessaacuteria interaccedilatildeo da

populaccedilatildeo com os corpos hiacutedricos []rdquo Neste cenaacuterio surgem as ocupaccedilotildees irregulares

nas Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) como as da planiacutecie de inundaccedilatildeo dos rios

e os topos de morros

Essas ocupaccedilotildees desordenadas satildeo proporcionadas pela precariedade da implantaccedilatildeo e

fiscalizaccedilatildeo das legislaccedilotildees urbaniacutesticas de ordenamento territorial e ambiental Neste

contexto satildeo relevantes as pesquisas que visam correlacionar o viacutenculo

sociedadenatureza de modo a entender como a ocupaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo no

solo conecta-se com a hidrodinacircmica dos recursos naturais uma vez que ldquo[] a tendecircncia

atual do limitado planejamento urbano integrado estaacute levando as cidades a um caos

ambiental urbano com custo extremamente alto para a sociedaderdquo (TUCCI 2013 p17)

Deve-se partir do pressuposto teoacuterico articulado com a ideia anterior de ldquo[]

indissociabilidade entre natureza e sociedade []rdquo (COELHO 2013 p21) em que a

sociedade natildeo pode ser apenas entendida como populaccedilatildeo e a natureza enquanto mero

ambiente fiacutesico mas que estes dois fatores estatildeo dinamicamente produzindo o espaccedilo

geograacutefico

Neste contexto a problemaacutetica se afirma no intuito de relacionar as legislaccedilotildees urbanas

(Lei de Parcelamento do Solo 676679 e PDM) e ambientais (Novo Coacutedigo Florestal 2012)

com as suas aplicaccedilotildees ou natildeo no periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina

principalmente nos bairros que se situam na planiacutecie de inundaccedilatildeo do Rio Doce

A escolha da temaacutetica tambeacutem teve como premissa a importacircncia regional de Colatina

como entreposto comercial e logiacutestico para os municiacutepios do noroeste capixaba conforme

15

relato do Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural - PROATER (INCAPER

2011)

Exportadores de cafeacute atacadistas e as lojas de pronta entrega dinamizam o comeacutercio local que atende aos municiacutepios do norte capixaba leste de Minas Gerais e sul da Bahia representando um universo de mais de 700 mil consumidores (INCAPER 2011 p5)

De acordo ainda com o INCAPER (op cit) Colatina tem crescido a uma margem de 188

anual o que representa a tendecircncia ao ecircxodo rural sendo que a populaccedilatildeo do campo vem

diminuindo de aproximadamente 19 em 1990 passou a 12 no Censo de 2010 Diante

do exposto entra em discussatildeo o planejamento urbano pois com o crescimento da

populaccedilatildeo citadina para cerca de 88 aumentam tambeacutem as pressotildees sobre o meio

ambiente em especial as regiotildees ribeirinhas

Estas uacuteltimas refletem o aumento das atividades humanas na bacia hidrograacutefica onde

pode-se destacar as mudanccedilas induzidas pelas accedilotildees antropogecircnicas que se dividem em

diretas (aquelas que atuam no canal fluvial para controle das vazotildees a exemplo dos

reservatoacuterios e desvios de aacuteguas) e indiretas relacionadas agraves aacutereas fora dos canais por

exemplo o desmatamento e urbanizaccedilatildeo sendo que estas comprometem a descarga e

carga soacutelida do rio (PARK1981 KNIGHTON1984 apud CUNHA 2001)

O interesse pela pesquisa surge da importacircncia regional do municiacutepio dos impactos

histoacutericos humanos materiais e imateriais sofridos diante de eventos hidroloacutegicos

extremos tendo em vista o fato de o periacutemetro urbano ser cortado por um corpo fluvial de

importacircncia regional Aleacutem disso a abordagem geograacutefica possibilita a correlaccedilatildeo dos

processos fluviais com a ocupaccedilatildeo urbana de modo mais integrado (COELHO 2009)

Portanto uma das finalidades deste trabalho eacute analisar por meio das geotecnologias e das

investigaccedilotildees de campo como a ocupaccedilatildeo urbana tem interferido nas margens do Rio

Doce de modo a delimitar os sucessivos aterros na margem direita no periacutemetro do bairro

Esplanada a Colatina Velha Ademais identificar como os processos deste canal fluvial

tecircm sido afetados pela intervenccedilatildeo humana em seu leito principal

16

11 Objetivo

111 Objetivo Geral

Correlacionar os processos fluviais do Rio Doce por meio da dinacircmica geomorfoloacutegica

deste canal com o uso e cobertura da terra no setor urbano do municiacutepio de Colatina

Espiacuterito Santo Contrapondo assim as intervenccedilotildees urbanas da beira-rio com o Plano

Diretor Municipal e o Novo Coacutedigo Florestal enfatizando as diretrizes adotadas no

parcelamento do solo para a planiacutecie de inundaccedilatildeo deste rio

112 Objetivos Especiacuteficos

Identificar os vetores de crescimento urbano do municiacutepio a fim de avaliar a

evoluccedilatildeo da mancha urbana junto ao canal principal

Determinar o comprimento da borda da calha do leito regular do Rio Doce no

periacutemetro urbano de Colatina para definiccedilatildeo da largura miacutenima da faixa marginal

de preservaccedilatildeo

Espacializar as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente beira-rio previstas em lei a fim

de analisar a ocupaccedilatildeo urbana nestes espaccedilos

Cartografar os principais pontos desnaturalizados no canal principal do Rio Doce

no setor urbano de Colatina

Demonstrar como o emprego das geotecnologias auxilia no planejamento urbano

e ambiental especialmente em acircmbito municipal

17

12 Justificativa

A aacuterea de estudo corresponde ao periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina situado na

Bacia Atlacircntico trecho leste sub-bacia do Rio Doce no baixo curso (ANA 2001)

Compreende a regiatildeo noroeste do estado do Espiacuterito Santo latitude 19deg 32rsquo 16rsquorsquo S e

longitude 40deg 37rsquo 59rsquorsquo W De acordo com os dados do censo de 2010 do Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio possuiacutea uma populaccedilatildeo de 111788 mil

habitantes1 numa aacuterea territorial de 1416804 kmsup2

Devido a sua privilegiada posiccedilatildeo geograacutefica limiacutetrofe com o Rio Doce e a construccedilatildeo da

Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas em 1906 Colatina compreendia os territoacuterios dos atuais

municiacutepios de Baixo Guandu Linhares Pancas Satildeo Gabriel da Palha Marilacircndia Satildeo

Domingos do Norte e Governador Lindenberg (INCAPER 2011) Soacute a partir de 2001

passou a apresentar os atuais limites municipais e configurar uma aacuterea urbana com 59

bairros (Figura 1)

Colatina eacute um municiacutepio de importacircncia para regiatildeo noroeste capixaba seja em caraacuteter

econocircmico ou social Eacute responsaacutevel pelos fluxos de cargas da regiatildeo aleacutem de ser um polo

moveleiro de confecccedilatildeo metalmecacircnico e de comeacutercio e serviccedilos gerando emprego e

renda (INCAPER 2011) Aleacutem disso tem sofrido historicamente com as cheias do Rio

Doce principalmente porque parte do seu periacutemetro urbano eacute inundado com as aacuteguas da

calha principal desse rio o que compromete toda a dinacircmica local e potildee em risco os

colatinenses

Assim diante das crescentes demandas por territoacuterio no periacutemetro urbano a populaccedilatildeo

tem suprimido a cobertura vegetal e ocupado desde as margens do Rio Doce ateacute as

encostas dos morros Em periacuteodos de cheias principalmente nos meses de outubro a

marccedilo (INCAPER 2011 ANA 2001) verificam-se inundaccedilotildees de grande parte da aacuterea

urbana beira-rio aleacutem dos movimentos de massa nas encostas Como exemplo destes

acontecimentos tecircm-se os registros fotograacuteficos dos efeitos da chuva de dezembro de 2013

(Figuras 2 e 3)

1 De acordo com o a estimativa do IBGE de 2014 publicada no DOU o municiacutepio conta com uma populaccedilatildeo de 121670 habitantes

18

Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e o canal do Rio Doce Elaborado pela autora

19

Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 Fonte Noticias UOL (2013)

Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de 2013 Fonte Folha Vitoacuteria (2013)

Este estudo portanto eacute relevante tendo em vista as raras abordagens no acircmbito das

Ciecircncias Geograacuteficas especialmente no Espiacuterito Santo de pesquisas que correlacionem

aspectos da geomorfologia fluvial por meio da dinacircmica dos recursos hiacutedricos com o uso

e cobertura da terra particularmente o Plano Diretor Municipal (PDM) Discute dessa

forma as implicaccedilotildees da atuaccedilatildeo humana nas particularidades deste ecossistema natural

tendo em vista o disposto nas legislaccedilotildees urbaniacutesticas e ambientais que visam assegurar

a qualidade de vida das populaccedilotildees

Adiante seratildeo analisados os principais fundamentos da geomorfologia fluvial os aspectos

juriacutedicos e o papel da anaacutelise geograacutefica integrada para o entendimento dos fenocircmenos

das inundaccedilotildees no Centro de Colatina uma vez que eacute devido agraves intervenccedilotildees humanas

nos canais e suas margens que esses fenocircmenos tornam-se mais nocivos a cidade

20

2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS

21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano

Recurso essencial para a manutenccedilatildeo da vida a aacutegua foi um fator relevante para o

estabelecimento histoacuterico das sociedades no entorno dos cursos hiacutedricos Utilizados para

fins de abastecimento humano e animal irrigaccedilatildeo saneamento e transporte os rios

constituiacuteram-se nos principais propulsores de penetraccedilatildeo para o interior (CUNHA 2012a)

Logo em suas margens surgiram povoados que posteriormente transformaram-se em

cidades como as que se estabeleceram agraves margens do Rio Doce a exemplo da sede de

Colatina

Diante das potencialidades que os recursos hiacutedricos possibilitam agraves sociedades

destacamos a importacircncia do estudo da Geomorfologia Fluvial que se apresenta como

campo da Geomorfologia (ciecircncia que estuda as formas do relevo) sendo o interesse

daquela a pesquisa dos processos que relacionam o escoamento das aacuteguas fluviais num

contexto de bacia hidrograacutefica (CHRISTOFOLETTI 1980 CUNHA op cit) Enfoca assim

as alteraccedilotildees na fisionomia dos canais frente agraves intervenccedilotildees no ecossistema natural

beira-rio

A Geomorfologia Fluvial parte da condicionante de que o uso e ocupaccedilatildeo da terra refletem-

se na dinacircmica da bacia de drenagem interferindo nos processos morfogeneacuteticos ou seja

de modelagem do relevo fluvial escoamento superficial das aacuteguas e no ciclo hidroloacutegico

Frente agrave temaacutetica deste estudo faz-se necessaacuterio o entendimento dos conceitos da

fisiografia fluvial aqui referente aos diferentes setores que a aacutegua pode escoar num leito

(Figura 4) como

O leito menor corresponde agrave parte do canal ocupada pelas aacuteguas e cuja frequecircncia impede o crescimento da vegetaccedilatildeo Esse tipo de leito eacute delimitado por partes bem definidas O leito de vazante equivale agrave parte do canal ocupada durante o escoamento das aacuteguas de vazante Suas aacuteguas divagam dentro do leito menor seguindo o talvegue linha de maacutexima profundidade ao longo do leito e que eacute mais bem identificada na seccedilatildeo transversal do canal O leito maior tambeacutem denominado leito maior perioacutedico ou sazonal eacute ocupado pelas aacuteguas do rio regularmente e pelo menos uma vez ao ano durante as cheias Dependendo do tempo ocorrido entre as subidas das aacuteguas eacute possiacutevel haver a fixaccedilatildeo e o crescimento da vegetaccedilatildeo herbaacutecea

21

O leito maior excepcional eacute ocupado durante as grandes cheias no decorrer das enchentes (CUNHA 2001 p 213)

Figura 4 - Tipos de leito fluvial vaacuterzea Fonte Cunha (2001 p213)

Sendo assim as aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial (leitos) aquelas inundadas pelo corpo

hiacutedrico frente a um evento hidroloacutegico extremo tambeacutem satildeo conhecidas como vaacuterzeas

planiacutecie de inundaccedilatildeo ou ainda segundo Carneiro e Miguez (2011 p133) como ldquo[] zona

de passagem de cheia []rdquo Essas aacutereas de vaacuterzeas dependem da fisionomia que o rio

apresenta e segundo Cunha (op cit) o canal fluvial pode apresentar trecircs formas

principais conhecidas como padratildeo dos canais que satildeo retiliacuteneo anastomosado e

meacircndrico (Figura 5)

Figura 5 - Padrotildees dos canais (A) retiliacuteneo (B) anastomosado (C) meandrante (A) amplitude (Rc) raio meacutedio da curvatura do meandro (segundo Bigarella etal 1979) Fonte Cunha (2001 p216)

22

Aliada aos padrotildees dos canais estaacute a assimetria ou simetria dos leitos que para Cunha

(2001 p233) relaciona-se com a variaccedilatildeo da velocidade e turbulecircncia ao longo da secccedilatildeo

transversal o que diferencia o comportamento nos canais retiliacuteneos geralmente simeacutetricos

do canal meacircndrico onde

Em canais de leito simeacutetrico em geral padratildeo retiliacuteneo a velocidade maacutexima ocorre no centro do canal diminuindo em direccedilatildeo agraves margens Em leito assimeacutetrico de padratildeo meacircndrico a zona de maacutexima velocidade e turbulecircncia localiza-se nas proximidades das margens cocircncavas decrescendo de valor em direccedilatildeo agrave margem de menor profundidade

(convexa) (CUNHA opcit p 233)

Deste modo a capacidade de erosatildeo das margens transporte e deposiccedilatildeo da carga do rio

dependem entre outros fatores da velocidade das correntes fluviais E o material do fluxo

fluvial constitui-se da descarga liacutequida ou vazatildeo que estaacute relacionada ao tamanho do

material que pode ser transportado e do volume da carga que o rio eacute capaz de carregar

Tem-se ainda a carga soacutelida sedimentos que estaacute relacionada a suspensatildeo e fundo do

rio esta decresce a jusante indicando a diminuiccedilatildeo da competecircncia do corpo fluvial As

cargas de suspensatildeo satildeo constituiacutedas de partiacuteculas finas a exemplo do silte e por fim a

carga de fundo que eacute composta por partiacuteculas de tamanhos maiores a exemplo da areia

(CUNHA2001)

Christofoletti (1980) acrescenta que os sedimentos podem ser carregados de trecircs modos

principais no fluxo em soluccedilatildeo dissolvidos nos cursos hiacutedricos em suspensatildeo como o

silte e argila e em saltaccedilatildeo geralmente a areia e cascalho que compreendem a carga do

leito do rio Destaca-se que a carga detriacutetica natildeo proveacutem apenas da erosatildeo do fundo dos

leitos e margens fluviais mas que o material intemperizado de vertentes carreado nas

enchentes contribui significativamente para a carga sedimentar transportada

Cabe ressaltar ainda que a relaccedilatildeo do arranjo espacial dos canais com os processos

fluviais (a erosatildeo o transporte e a deposiccedilatildeo de sedimentos) eacute determinante para o

trabalho dos rios Tais processos satildeo diretamente influenciados pela vazatildeo velocidade e

pela intensidade da turbulecircncia (seja no fluxo laminar ou no fluxo turbulento) A

variabilidade no comportamento da velocidade e turbulecircncia das aacuteguas ao longo da seccedilatildeo

transversal condiciona os locais preferenciais de erosatildeo e deposiccedilatildeo ao longo do curso

hiacutedrico

23

Deste modo qualquer intervenccedilatildeo na bacia e canal fluvial compromete o equiliacutebrio natural

da drenagem levando o corpo hiacutedrico a se adaptar agraves mudanccedilas em sua fisionomia

fisiografia e em seus processos ateacute atingir um novo estado de equiliacutebrio Poreacutem eacute na

planiacutecie de inundaccedilatildeo que estas modificaccedilotildees seratildeo mais percebidas pela populaccedilatildeo pois

a maior parte das obras de engenharia como as canalizaccedilotildees e as ocupaccedilotildees das

margens acaba por romper com o equiliacutebrio natural do rio alterando sua dinacircmica e

intensificando seus processos o que na maioria das vezes potencializa as enchentes no

ambiente urbano

Nesse sentido o entendimento dos processos fluviais (erosatildeo transporte e deposiccedilatildeo)

combinado com a anaacutelise da fisiografia fluvial condicionam as peculiaridades na geometria

hidraacuteulica ou seja na relaccedilatildeo entre a vazatildeo velocidade de escoamento tipos de canais

de sedimentos e a topografia Logo o conhecimento geomorfoloacutegico do rio contribui para

pesquisas que necessitem relacionar o funcionamento deste corpo natural com um

planejamento urbano mais efetivo principalmente se considerarmos um recorte em niacutevel

de bacia hidrograacutefica em espaccedilo urbano

211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial

O capiacutetulo que segue versa sobre a atuaccedilatildeo antroacutepica relacionando-a a aacuterea de estudo o

rio Doce poreacutem este trata de forma macro a temaacutetica para contextualizar o leitor sendo

as especificidades das intervenccedilotildees neste recorte geograacutefico trabalhados nos resultados

desta pesquisa

Diante do exposto eacute possiacutevel acompanhar a evoluccedilatildeo dos processos fluviais nos canais

em especial aqueles que tiveram intervenccedilotildees em seu curso natural como as hidreleacutetricas

instaladas a montante a exemplo do Rio Doce onde a interferecircncia direta na vazatildeo e fluxo

de sedimentos altera a hidrodinacircmica do rio comprometendo a erosatildeo e transporte Para

Coelho (2007 p57) as

Mudanccedilas na Declividade Perfil Longitudinal Promovidas pela construccedilatildeo de reservatoacuterio satildeo variadas e caso o efeito da contenccedilatildeo de sedimentos seja significativo os processos fluviais reduziratildeo a capacidade de transporte de sedimento podendo promover um entalhamento do leito do rio imediatamente agrave jusante da barragem

Aleacutem disso esse processo erosivo poacutes-barragem eacute intensificado favorecendo o

assoreamento e sedimentaccedilatildeo do rio a jusante O que pode beneficiar a elevaccedilatildeo da cota

24

do canal fluvial frente a eventos hidroloacutegicos extremos potencializando os efeitos das

inundaccedilotildees nas vaacuterzeas

Ao mesmo tempo o Rio Doce trecho que compreende o Espiacuterito Santo meacutediobaixo curso

eacute impactado nas vazotildees miacutenimas e maacuteximas a jusante apoacutes a instalaccedilatildeo das

barragensUsinas Hidreleacutetricas (UHE) de Mascarenhas (iniacutecio de operaccedilatildeo em 1974)

localizada no Municiacutepio de Baixo Guandu e a de Aimoreacutes (iniacutecio de operaccedilatildeo em 2005)

localizada na divisa do Espiacuterito Santo com Minas Gerais (COELHO 2007)

De acordo com Coelho (opcit) apoacutes a implantaccedilatildeo das usinas ocorreu uma reduccedilatildeo

significativa na vazatildeo da calha principal do Rio Doce conforme Graacutefico 1

Considerando o periacuteodo de 1939 a 2012 a vazatildeo miacutenima apoacutes a instalaccedilatildeo das usinas

chega a atingir 411msup3s e a maacutexima chega apenas a 1251msup3s sendo que no periacuteodo

anterior agrave instalaccedilatildeo das usinas foi registrada a miacutenima de 533 msup3s e uma maacutexima de

1812 msup3s o que ressalta o impacto do barramento sobre o corpo hiacutedrico Aleacutem do

comprometimento dos processos de erosatildeo transporte e sedimentaccedilatildeo (COELHO 2008

e CUNHA 2001)

Diante desta perda de carga liacutequida nos barramentos Cunha (2001 p 241) observa ainda

que as aacutereas a jusante de reservatoacuterios

[hellip] onde o regime do rio sofre significativas modificaccedilotildees devidas ao controle das descargas liquidas e de sedimentos no reservatoacuterio As mudanccedilas ocorridas no regime das aacuteguas neste setor do rio acarretam significativos efeitos nos processos do canal tais como o entalhe do leito a erosatildeo das margens e a deposiccedilatildeo a jusante atingindo longas distacircncias

Aleacutem disso no periacutemetro urbano de Colatina o Rio Doce sofreu outras intervenccedilotildees em

seu canal principal como a implantaccedilatildeo de obras estruturais de macrodrenagem a

exemplo da construccedilatildeo da Av Beira-Rio com intuito de conter o avanccedilo das aacuteguas fluviais

em periacuteodos de cheias

25

Graacutefico 1

Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais (Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia)

Fonte adaptado de Coelho (2007 p154)

26

Como exemplo dos tipos de intervenccedilotildees humanas nas aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial

leitos Carneiro e Miguez (2011 p117) destacam

As accedilotildees de controle e cheias urbanas podem ser classificadas em estruturais quando a paisagem eacute alterada pela accedilatildeo do homem e em natildeo estruturais aqui denominada como estruturante quando o homem aprende a conviver com as enchentes No primeiro caso estatildeo as medidas de controle atraveacutes de obras hidraacuteulicas tais como barragens diques e canais entre outras No segundo caso encontram-se medidas do tipo preventivo tais como zoneamento de aacutereas de inundaccedilatildeo sistemas de alerta educaccedilatildeo ambiental lei de parcelamento e uso dos solos e seguros contra inundaccedilatildeo

Neste cenaacuterio abarcamos os impactos das obras de engenharia como a canalizaccedilatildeo que

altera a fisionomia e fisiografia do rio refletindo-se nos processos geomorfoloacutegicos do canal

e sua planiacutecie de inundaccedilatildeo Para estes a canalizaccedilatildeo eacute uma obra estrutural que aumenta

a capacidade do fluxo do canal aleacutem de intensificar a velocidade do escoamento

superficial antecipando o pico de cheia e transferindo os alagamentos para locais a jusante

na bacia hidrograacutefica

Articulado a esta ideia Cunha (2012b) reflete a desnaturalizaccedilatildeo dos rios por meio de

obras de retificaccedilatildeo com a reduccedilatildeo do comprimento do canal e eliminaccedilatildeo das

sinuosidades Satildeo obras que afetam a estabilidade do corpo hiacutedrico na medida em que

interferem na relaccedilatildeo entre erosatildeo sedimentaccedilatildeo e deposiccedilatildeo provocando efeitos como

alteraccedilatildeo na morfologia do canal Sendo assim ldquo[hellip] a diminuiccedilatildeo da rugosidade no fundo

do canal em conjunto com a perda dos meandros e a aceleraccedilatildeo das velocidades eacute a

principal responsaacutevel pelas mudanccedilas no balanccedilo da energia natural dos sedimentos

fluviais [hellip]rdquo Cunha (2012b p178) No caso do Rio Doce trecho correspondente agrave Av

Beira-Rio alterou-se a sua forma retilinizando-a e sua vegetaccedilatildeo natural foi substituiacuteda

por estruturas de pedras o que compromete a resistecircncia ao fluxo as margens e aos

bancos arenosos

Embora as obras de canalizaccedilatildeo sejam implantadas como eficazes nos canais fluviais para

questotildees de enchentes urbanas para Cunha (op cit) estas necessitam de manutenccedilatildeo

constante envolvendo desde dragagem remoccedilatildeo de obstruccedilotildees a recomposiccedilatildeo do

material utilizado Poreacutem toda a manutenccedilatildeo estaacute associada a alteraccedilotildees morfoloacutegicas e

bioloacutegicas como as que interferem nas soleiras e depressotildees do fundo dos leitos

desestabilizando a vazatildeo no curso a exemplo da

27

ldquo[hellip] eliminaccedilatildeo da sequecircncia de depressotildees e soleiras o aumento da velocidade da corrente a diminuiccedilatildeo da diversidade de habitats o ambiente instaacutevel resultante da flutuaccedilatildeo dos niacuteveis da aacutegua e do substrato moacutevel e a maior flutuaccedilatildeo da temperatura das aacuteguasrdquo (CUNHA 2012b p180)

Ao mesmo tempo o aumento da velocidade dos escoamentos no trecho retificado

possibilita maior erosatildeo transferindo para as aacutereas a jusante uma carga soacutelida

representativa que para Cunha (op cit) configura a formaccedilatildeo de bancos axiais e depoacutesitos

de sedimentaccedilatildeo marginais alterando o equiliacutebrio dos sedimentos a jusante Pois

A jusante das obras de retificaccedilatildeo verificam-se o aumentam da carga soacutelida o assoreamento durante a dragagem a erosatildeo no canal pelos eventos torrenciais do regime e a modificaccedilatildeo na dinacircmica na foz Os sedimentos resultantes da erosatildeo no canal retificado em conjunto com a excessiva carga de sedimentos posta em suspensatildeo durante a dragagem e na fase imediata de poacutes-construccedilatildeo - quando a erosatildeo dos bancos de areia sem vegetaccedilatildeo estaacute em seu niacutevel maacuteximo - originam a formaccedilatildeo de depoacutesitos fluviais de curta duraccedilatildeo a jusante do canal retificado Logo a seguir esses depoacutesitos satildeo erodidos juntamente com as margens e o fundo do leito pelos eventos torrenciais do regime vindo a formar bancos axiais e depoacutesitos de sedimentaccedilatildeo marginais (CUNHA2012b p183)

Portanto o estudo da geomorfologia fluvial contribui diretamente para o entendimento das

cheias nas planiacutecies de inundaccedilatildeo em especial nas bacias hidrograacuteficas que

compreendem a aacuterea urbana e que possuem intervenccedilotildees antroacutepicas diretas na fisiografia

do canal principal Seus processos explicam como as alteraccedilotildees no canal fluvial podem

maximizar os efeitos dos transbordamentos impactando principalmente as populaccedilotildees

ribeirinhas aleacutem de todo ecossistema local Ademais estes fundamentos geomorfoloacutegicos

devem ser associados agrave legislaccedilatildeo vigente afim de subsidiar a elaboraccedilatildeo de instrumentos

legais para atuaccedilatildeo do poder puacuteblico nestas zonas de risco

22 Aspectos Juriacutedicos

Frente agrave crescente demanda sobre os recursos hiacutedricos e solo urbano a partir da deacutecada

de 1930 surgem as primeiras diretrizes que visam regulamentar estes ambientes a

exemplo do Coacutedigo das Aacuteguas Mas soacute a partir dos anos 1960 surgem em acircmbito federal

leis como o Coacutedigo Florestal com o intuito de regular a exploraccedilatildeo das vegetaccedilotildees e

consequentemente proteger os mananciais e em 1979 com o objetivo de ordenar as

28

cidades eacute aprovada a Lei 676679 estabelecendo as normas do parcelamento do solo

urbano

Na medida em que as populaccedilotildees aumentam ampliam-se tambeacutem as pressotildees sobre os

recursos de aacutegua e solo Os processos de uso e a conscientizaccedilatildeo de que estes elementos

satildeo finitos intensificam as formas de controle e preservaccedilatildeo passando para as esferas

estaduais e municipais a responsabilidade de atuar em escala local na proteccedilatildeo desses

ambientes

Ainda em escala federal em 2012 eacute promulgado o Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012

em substituiccedilatildeo ao coacutedigo anterior Lei 47711965 que apresenta as normas de

apropriaccedilatildeo dos recursos naturais pelas novas necessidades das populaccedilotildees citadinas e

rurais No que compete agrave aacuterea de estudo cabe destacar as ocupaccedilotildees em aacutereas de

planiacutecie de inundaccedilatildeo em que de acordo com art 4ordm devem ser preservadas

I - as faixas marginais de qualquer curso drsquoaacutegua natural perene e intermitente excluiacutedos os efecircmeros desde a borda da calha do leito regular em largura miacutenima de (Incluiacutedo pela Lei nordm 12727 de 2012) a) 30 (trinta) metros para os cursos drsquoaacutegua de menos de 10 (dez) metros de largura b) 50 (cinquenta) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura c) 100 (cem) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura d) 200 (duzentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura e) 500 (quinhentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros []

A legislaccedilatildeo eacute riacutegida no que concerne agrave ocupaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo das terras nas faixas

marginais dos rios transferindo aos estados e municiacutepios a responsabilidade de fiscalizar

estes territoacuterios para garantir a efetividade da lei A questatildeo eacute que muitas vezes somada a

falta de planejamento estas fiscalizaccedilotildees satildeo ineficientes o que tem possibilitado o

surgimento cada vez maior das ocupaccedilotildees irregulares

Apoiado tambeacutem pela Constituiccedilatildeo Federal de 1988 nos artigos 182 e 183 surge o

Estatuto das Cidades Lei 102572001 com finalidade de garantir a funccedilatildeo social da

cidade e com este os primeiros Planos Diretores Municipais (PDM) que buscam o

ordenamento do crescimento das cidades em caraacuteter socioeconocircmico e ambiental cidades

sustentaacuteveis Ademais em Colatina eacute instituiacuteda a Lei 42281996 posteriormente revogada

29

pela Lei 52732007 que ldquoInstitui o Plano Diretor do Municiacutepio de Colatina estabelece os

objetivos instrumentos e diretrizes e daacute outras providecircncias para as accedilotildees de

planejamento do Municiacutepio de Colatina []rdquo

O PDM de Colatina assim como Coacutedigo Florestal prevecirc a preservaccedilatildeo dos ecossistemas

beira-rio Aquele ainda dispotildee sobre o parcelamento do solo sustentaacutevel a funccedilatildeo social

da cidade e da propriedade conforme o Plano Diretor de Colatina de 2007 nos artigos

transcritos

Artigo 22 - As diretrizes ambientais no Municiacutepio de Colatina satildeo I - aplicar os instrumentos de gestatildeo ambiental estabelecidos nas legislaccedilotildees federal estadual e municipal bem como a criaccedilatildeo de outros instrumentos adequando-os agraves metas estabelecidas pelas poliacuteticas ambientais II - compatibilizar as diretrizes de uso ocupaccedilatildeo e parcelamento do solo aos objetivos de proteccedilatildeo ambiental dos ecossistemas [] Artigo 23 - Satildeo diretrizes do sistema de drenagem urbana I - disciplinar a ocupaccedilatildeo das cabeceiras e vaacuterzeas das bacias hidrograacuteficas do Municiacutepio preservando a vegetaccedilatildeo existente e visando agrave sua recuperaccedilatildeo [] III - definir mecanismos de fomento para usos do solo compatiacuteveis com aacutereas de interesse para drenagem tais como parques lineares aacuterea de recreaccedilatildeo e lazer hortas comunitaacuterias e manutenccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa [] V - implantar medidas natildeo-estruturais [sic] de prevenccedilatildeo de inundaccedilotildees tais como controle de erosatildeo especialmente em movimentos de terra controle de transporte e deposiccedilatildeo de entulho e lixo combate ao desmatamento assentamentos clandestinos e a outros tipos de invasotildees nas aacutereas com interesse para drenagem [] VII - garantir e respeitar a necessaacuteria permeabilidade do solo inclusive buscando alternativas de pavimentaccedilatildeo com maior de permeabilidade [sic] [] Artigo 84 ndash Satildeo objetivos do ordenamento territorial do Municiacutepio de Colatina [] IV ndash conter a expansatildeo da ocupaccedilatildeo urbana em aacutereas de proteccedilatildeo ambiental [] Artigo 120 ndash Ficam desde jaacute identificadas como Zonas de Proteccedilatildeo Ambiental 2 ndash ZPA 2 as seguintes aacutereas [] III ndash as aacutereas existentes ao longo de qualquer curso drsquoagua desde o niacutevel mais alto em faixa marginal cuja largura miacutenima seraacute de a) 15m (trinta metros) [sic] para os cursos drsquoagua com menos de 10m (10

metros) de largura contidos no periacutemetro urbano [] c) 30m (trinta metros) para os cursos drsquoagua que tenham de10m (dez

metros a 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano

[]

30

e) 50m (cinquenta metros) para os cursos drsquoagua que tenham mais de 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 60422013)

[]

De modo geral verifica-se que a legislaccedilatildeo apresenta instrumentos que permitem a

prevenccedilatildeo ou controle de ocupaccedilotildees irregulares ou clandestinas em aacuterea de APP aleacutem de

propostas para resguardar de grandes impactos ambientais o corpo hiacutedrico principal do

municiacutepio o Rio Doce Possibilitando assim a minimizaccedilatildeo dos impactos causados pelas

cheias agrave populaccedilatildeo local

Poreacutem cabe destacar que o Plano Diretor Municipal de Colatina natildeo contempla o

estipulado no Coacutedigo Florestal 2012 Lei Federal onde os cursos drsquoaacutegua com largura

superior a 600(seiscentos) metros devem ser resguardados com aacutereas de preservaccedilatildeo

permanente de 500(quinhentos) metros entre outros sendo que a redaccedilatildeo desta parte do

PDM eacute dada pela lei 60422013 posterior a publicaccedilatildeo do novo Coacutedigo Florestal Sendo

assim verifica-se que apesar da intenccedilatildeo de resguardar uma faixa de no maacuteximo

50(cinquenta) metros em periacutemetro urbano para a contenccedilatildeo de cheias e mata ciliar o

PDM de Colatina natildeo atende o miacutenimo previsto em Lei Federal O que tem impactado todo

ecossistema beira rio e a populaccedilatildeo ribeirinha uma vez que a faixa marginal de proteccedilatildeo

de 50(cinquenta) metros em muitos casos natildeo tem comportado o impacto dos defluacutevios

No entanto a legislaccedilatildeo trata de aspectos gerais natildeo pontuando as aacutereas responsaacuteveis

por cada accedilatildeo aleacutem de sua aplicabilidade depender da elaboraccedilatildeo de um cronograma de

execuccedilatildeo bem como um conjunto de planos e normas especiacuteficos para cada diretriz com

detalhamento das propostas de intervenccedilatildeo Isto natildeo ocorreu ateacute o presente

Aleacutem disso a cidade de Colatina surgiu num cenaacuterio histoacuterico anterior agraves legislaccedilotildees

urbaniacutesticas e ambientais inclusive do Coacutedigo das Aacuteguas o que dificulta a execuccedilatildeo de

um planejamento que concilie a preservaccedilatildeo das matas beira-rio garantindo a faixa de

APP com a ocupaccedilatildeo urbana consolidada

A aacuterea de estudo se apresenta como ambiente fragilizado apesar de ser regida por

legislaccedilotildees desde a escala federal ateacute a municipal que visam proteger e ordenar o uso e

cobertura da terra nas faixas marginais dos rios Mas a dificuldade das prefeituras em

aplicar os instrumentos legais nestes ambientes seja por interesses privados ou falta de

recursos para investimentos em soluccedilotildees a longo prazo continua expondo as populaccedilotildees

31

aos impactos dos eventos hidroloacutegicos criacuteticos como os que resultam nas inundaccedilotildees

Para que se alcance esse parcelamento do solo sustentaacutevel satildeo necessaacuterios esforccedilos da

gestatildeo municipal em estipular prazos e metas de atuaccedilatildeo afora interagir os diferentes

setores no planejamento em niacutevel de bacia hidrograacutefica considerando as peculiaridades

desta escala de trabalho

23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos

Sendo a ciecircncia que estuda a relaccedilatildeo homemnatureza a Geografia tem muito a contribuir

nas anaacutelises que envolvem o meio ambiente que foi transformado pela dinacircmica da

sociedade Mas historicamente a dialeacutetica das correntes fiacutesica e humana tem imperado de

modo dissociado levando o geoacutegrafo a estudar estes processos separadamente Poreacutem

se o resultado pretendido eacute integrado fazem-se necessaacuterias pesquisas mais amplas que

cruzem as diferentes vertentes geograacuteficas

Considerando que a problemaacutetica dos impactos ambientais urbanos envolve a questatildeo

natural o rio e a questatildeo social e poliacutetica a sociedade e as leis (COELHO 2013) uma

pesquisa neste acircmbito requer o entendimento destes dois objetos a fim de se apreender

o processo de crescimento das cidades brasileiras e a sua relaccedilatildeo com os recursos

hiacutedricos

A partir da deacutecada de 1950 devido ao ecircxodo rural mais intenso as cidades brasileiras

incharam rapidamente com a migraccedilatildeo do camponecircs que buscava melhores condiccedilotildees de

vida como trabalho na induacutestria o acesso agraves escolas saneamento entre outros E

segundo Gorski (2010) a populaccedilatildeo brasileira passou desde o iniacutecio deste processo de 19

milhotildees de habitantes em 1950 para 138 milhotildees de habitantes em 2000 (dados do IBGE)

o que corrobora o raacutepido crescimento das cidades

Todavia as estruturas puacuteblicas natildeo estavam preparadas para um acreacutescimo populacional

tatildeo significativo e em curto espaccedilo de tempo E o que observamos eacute o acesso limitado

dessa populaccedilatildeo agraves aacutereas centrais da cidade sendo induzida a se estabelecer nas

periferias Nesta visatildeo

O difiacutecil acesso da populaccedilatildeo de baixa renda agraves aacutereas mais centrais das cidades contribuiu segundo Raquel Rolnik para a expansatildeo da periferia o que muitas vezes implicou e implica ainda invasatildeo de aacutereas de proteccedilatildeo de mananciais com a aquiescecircncia do poder puacuteblico Esta

32

dinacircmica agravou a situaccedilatildeo de risco dos mananciais pela eliminaccedilatildeo das matas ciliares e consequentemente erosatildeo das margens dos cursos drsquoaacutegua e assoreamento de suas calhas e pela contribuiccedilatildeo do esgoto in natura (ROLNIK1997 apud GORSKI 2010 p62)

Sendo assim a supressatildeo das matas ciliares e das vegetaccedilotildees das encostas para fins de

ocupaccedilatildeo urbana interfere diretamente no ciclo hidroloacutegico diminuindo a absorccedilatildeo de

aacutegua pelo subsolo e pela evapotranspiraccedilatildeo favorecendo o escoamento superficial (Figura

6) que intensifica a velocidade de drenagem das aacuteguas Este processo nas encostas eacute

mais significativo se considerarmos que com a supressatildeo da cobertura vegetal e

impermeabilizaccedilatildeo do solo as precipitaccedilotildees acabam por lavar todo o material

intemperizado sedimentos carregando-o diretamente para o corpo hiacutedrico e contribuindo

para o assoreamento

Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento Fonte Gorski (2010 p64)

Por outro lado as ocupaccedilotildees ribeirinhas nas vaacuterzeas dos rios modificam a dinacircmica fluvial

frente aos defluacutevios A compactaccedilatildeo e o nivelamento do solo associados agrave

impermeabilizaccedilatildeo por concreto asfalto e outros materiais alteram todo o sistema de

drenagem natural e contribuem para a erosatildeo fluvial Aleacutem disso a gestatildeo puacuteblica que

33

deveria investir num parcelamento do solo sustentaacutevel resguardando ldquouma alocaccedilatildeo de

espaccedilosrdquo (CANHOLI 2005 p 15) para a drenagem acaba por colaborar com as enchentes

urbanas na medida em que decide por obras estruturais como a canalizaccedilatildeo (Figura 7

p30) e a microdrenagem que transferem os impactos das inundaccedilotildees a jusante

Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia Fonte Gorski (2010 p69)

Cabe destacar que desde 1965 com o primeiro Coacutedigo Florestal as matas beira-rio jaacute

eram resguardadas da degradaccedilatildeo humana poreacutem com todo o boom urbano a partir de

1950 a falta de estrutura e ingerecircncia municipal no que se refere ao parcelamento e uso

e ocupaccedilatildeo da terra urbana possibilitou a formaccedilatildeo dos assentamentos clandestinos em

APP e na encosta de morros Em condiccedilotildees precaacuterias sem saneamento baacutesico e demais

infraestruturas urbanas estes assentamentos acabam sendo as regiotildees mais afetadas

com as inundaccedilotildees

Junto agraves questotildees jaacute levantadas vale destacar que as aacuteguas das inundaccedilotildees propiciam o

aumento das doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica (febre tifoide hepatite leptospirose

esquistossomose entre outras) pois carregam segundo Gorski (2010) toda uma poluiccedilatildeo

difusa efluentes domeacutesticos industriais e agroindustriais aleacutem do lixo urbano da poluiccedilatildeo

do ar e das ruas

34

Por outro lado esta ocupaccedilatildeo urbana natildeo planejada perde o benefiacutecio que os corpos

hiacutedricos podem oferecer como [] as paisagens fluviais que aos poucos foram sendo

apropriadas como paisagens urbanas [] (GORSKI 2010 38) aleacutem do microclima

associado agrave umidade pela evapotranspiraccedilatildeo que ameniza a sensaccedilatildeo teacutermica local

Poreacutem conforme observado por Graeff (2011) natildeo eacute cabiacutevel atualmente implantar a

legislaccedilatildeo de APP de modo jurista Deve-se considerar toda a representatividade cultural

assentada sobre os leitos destes rios (avenidas importantes casas com arquitetura

histoacuterica entre outros) Aleacutem disso para a demarcaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo

permanente hoje eacute necessaacuteria uma anaacutelise teacutecnica pautada na geomorfologia e

hidrologia de modo a interpretar o ldquocomportamento histoacuterico dos cursos drsquoaacutegua na

paisagem prevendo cenaacuterios de impactos futurosrdquo da atividade humana sobre suas faixas

marginais

Tendo em vista que grande parte da malha urbana brasileira estaacute alocada em APPs e que

segundo Graeff (2011) estas jaacute possuem uma unidade de paisagem estabelecida e muitas

vezes secular configurando siacutetios de importacircncia cultural e apreendendo que

De modo semelhante nas demais cidades haveraacute que ser entendido o meio urbano como ele realmente eacute ndash um encontro entre as necessidades de habitaccedilatildeo com atividades humanas e de conservaccedilatildeo ambiental esta segunda tambeacutem a serviccedilo do homem e natildeo somente de objetivos difusos e distanciados da sobrevivecircncia da sociedade (GRAEFF 2011 206)

Por tais motivos o trabalho com a geomorfologia fluvial urbana deve abarcar os princiacutepios

do bom senso compreendendo que nestas aacutereas de atividade antroacutepica consolidada pode-

se fazer uso de instrumentos de engenharia avanccedilados para uma convivecircncia equilibrada

do homem com a natureza no entorno Contudo deve-se incentivar as aacutereas de expansatildeo

urbana ou zona periurbana (zonas de transiccedilatildeo da aacuterea urbana para a rural) com poliacuteticas

de incentivo a pavimentaccedilotildees mais permeaacuteveis a fim de minimizar o escoamento

superficial para o rio favorecendo a infiltraccedilatildeo

Apesar de os impactos gerados pela interferecircncia humana nas aacutereas mais fragilizadas da

bacia hidrograacutefica vaacuterzeas e encostas refletirem-se em cataacutestrofes com prejuiacutezos

humanos ambientais e urbanos alguns autores brasileiros como Canholi Graeff Cunha

Carneiro e Miguez jaacute indicaram outros caminhos para uma convivecircncia harmoniosa com

a natureza Aleacutem do mais paiacuteses desenvolvidos como a Holanda deixaram de ldquolutar contra

35

as cheiasrdquo para permitir agraves aacuteguas das enchentes a capacidade de acumular e dispersar

com impacto reduzido para as populaccedilotildees (CARNEIRO MIGUEZ 2011)

Sendo assim a proposta deste estudo eacute identificar os principais agentes que influenciam

as inundaccedilotildees entendendo seu papel e atuaccedilatildeo no contexto urbano de Colatina Mas eacute

tambeacutem a de ampliar a abordagem da temaacutetica com uma anaacutelise geograacutefica integrada

ressaltando as medidas que constam no planejamento urbano e sua aplicaccedilatildeo nas faixas

marginais do corpo hiacutedrico

36

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS

Esta pesquisa eacute constituiacuteda de trecircs etapas principais sendo que a primeira teve como

premissa a confecccedilatildeo de um fluxograma (Figura 8) de trabalho para orientar a pesquisa

em seguida teve iniacutecio o levantamento de bibliografias que abordam temas como a

geomorfologia fluvial e urbanizaccedilatildeo em Colatina adotando-se como referecircncia as

pesquisas de Coelho (2006 2007 2008 e 2009) e Albani (2012) Aleacutem disso muito

contribuiacuteram para este trabalho o relatoacuterio do INCAPER da CPRM e os dados do IBGE

Cabe destacar tambeacutem as experiecircncias com recursos hiacutedricos em ambientes urbanos de

Carneiro e Miguez (2011) em especial Cunha (2001 2012ab)

Esta etapa consistiu tambeacutem na busca de material cartograacutefico como aquisiccedilatildeo de planos

de informaccedilatildeo de limite estadual municipal bairros mancha urbana corpo drsquoaacutegua e

logradouros atraveacutes de dados disponiacuteveis no Sistema Integrado de Bases Geoespaciais

do Estado do Espiacuterito Santo (GEOBASES 2014) no Instituto Jones dos Santos Neves

(IJSN 2015) e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2014) imagens

orbitais gratuitas do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI bandas 2-3-4 e 8 (Pan) oacuterbita 216

ponto 73 com datas de passagem em 02012014 e 22032014 agraves 946 (horaacuterio central

da oacuterbita) junto ao Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2014) aleacutem do ortofotomosaico

do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hiacutedricos (IEMA 2014) do Espiacuterito

Santo referente ao voo de 2007 a 2008

Na segunda etapa foram realizadas duas investigaccedilotildees de campo sendo a primeira no

dia 24 de junho de 2014 com a finalidade de fazer o reconhecimento da aacuterea de estudo

fotografar e conversar com moradores e teacutecnicos da prefeitura O segundo trabalho de

campo ocorreu no dia 14 de fevereiro de 2015 e por meio deste foi possiacutevel identificar

pontos sujeitos a inundaccedilatildeo analisar a topografia e realizar as entrevistas com moradores

e funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina

37

Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC)

38

Na terceira etapa foram realizados os mapeamentos e processamentos de todos os planos

de informaccedilatildeo vetoriais e matriciais em ambiente de SIG no sistema ArcGis 103 iniciando

com a ediccedilatildeo dos dados do Municiacutepio e adjacecircncias que foram ajustados quando

necessaacuterio ao sistema de projeccedilatildeo UTM no Datum SIRGAS ndash 2000 na Zona 24 sul com

meridiano central -39 W com todo o mapeamento produzido seguindo a padronizaccedilatildeo

cartograacutefica proposta por Fitz (2008 a b)

O geoprocessamento teve iniacutecio com a composiccedilatildeo das imagens orbitais do Landsat-8 na

cor natural da imagem (2R 3G 4B) e por meio da teacutecnica de Pan Sharpening ou fusatildeo

de imagens a imagem cor natural foi agrupada agrave da banda 8 pancromaacutetica para obtenccedilatildeo

de uma melhor resoluccedilatildeo espacial neste caso chegando a 15 metros sendo resguardado

o conteuacutedo da imagem composta Na sequecircncia foi realizada a extraccedilatildeo da maacutescara do

periacutemetro urbano de Colatina e gerada a classificaccedilatildeo supervisionada da imagem Landsat-

8 no periacuteodo de cheia (janeiro) e vazante (marccedilo) o que possibilitou a delimitaccedilatildeo da calha

do Doce nestes dois eventos

Em seguida foram realizadas as 8 (oito) mediccedilotildees do leito regular sendo 4 (quatro) no

periacuteodo de cheia e 4 (quatro) na vazante de modo a definir a largura meacutedia da calha do

leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina Para chegar a uma medida geral

da largura do rio utilizaram-se ferramentas estatiacutesticas como a meacutedia que eacute uma medida

de tendecircncia central onde numa amostra de tamanho N constituiacuteda por elementos de x

variando de eacute possiacutevel extrair a meacutedia aritmeacutetica atraveacutes da equaccedilatildeo

A meacutedia aponta para onde mais convergem os dados de uma distribuiccedilatildeo

A partir desta definiccedilatildeo da meacutedia da largura da calha do Rio Doce foi possiacutevel em consulta

ao Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e a Lei 52732007 determinar a faixa miacutenima

de preservaccedilatildeo permanente deste corpo fluvial aleacutem da confecccedilatildeo do mapa com o

poliacutegono de APP

Mediante a anaacutelise do mapa verificou-se que grande parte dos bairros do municiacutepio estatildeo

contidos nos poliacutegonos de APP em especial a preservaccedilatildeo de 500 metros conforme lei

federal E por meio deste foram cruzados os dados de vazatildeo as fotos histoacutericas das

enchentes e o poliacutegono de mata ciliar o que permitiu o entendimento das inundaccedilotildees

39

Em ambiente de SIG tambeacutem foram vetorizados os trecircs traccedilados da Estrada de Ferro

Vitoacuteria a Minas o trajeto do Rio Santa Maria do Doce antes e depois da retilinizaccedilatildeo e os

sucessivos aterros na margem direita do Rio Doce no periacutemetro que compreende a Av

Beira-Rio

As teacutecnicas de sensoriamento remoto como a classificaccedilatildeo supervisionada permitiram a

definiccedilatildeo do poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo atraveacutes da imagem da cheia de janeiro Para

tanto foi realizada tambeacutem a classificaccedilatildeo hiacutebrida objetivando aliar a interpretaccedilatildeo visual

com a digital (JENSEN 2009) Por fim foi realizada amarraccedilatildeo com o levantamento

geodeacutesico da CPRM (2014) para garantir a precisatildeo do traccedilado do poliacutegono de cheia

A partir do tratamento dos dados bibliograacuteficos cartograacuteficos e imagens foi possiacutevel

sistematizar este trabalho o que permitiu identificar elementos histoacutericos de intervenccedilatildeo

na paisagem do Doce como os aterros e a ocupaccedilatildeo urbana As visitas de campo a

entrevista e conversas com moradores foram fundamentais para a validaccedilatildeo das

informaccedilotildees o que tornou esta metodologia eficaz para anaacutelise do fenocircmeno da inundaccedilatildeo

em Colatina

40

4 RESULTADOS

41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana

A ocupaccedilatildeo ao longo das planiacutecies de inundaccedilatildeo dos rios tem ocorrido diante da

necessidade deste recurso para as atividades vitais humanas Cunha (2012b p219)

entende que ldquosuas margens tecircm sido o centro preferido da habitaccedilatildeo humana e o

suprimento de suas aacuteguas natildeo soacute fertiliza os campos para o cultivo como tambeacutem fornece

energia e permite recreaccedilatildeordquo Logo o estabelecimento das vilas nas bordas dos cursos

drsquoaacutegua favorece a logiacutestica ocupacional

Historicamente em solo espiacuterito-santense a formaccedilatildeo das vilas ocorreu agraves margens de

estrateacutegicos cursos drsquoaacutegua e a exploraccedilatildeo do ouro de Minas Gerais para Albani (2012)

determinou que a Coroa proibisse nos seacuteculos XVII a XIX a implantaccedilatildeo de estradas e

exploraccedilatildeo de terras na Capitania do Espiacuterito Santo pois os portugueses temiam incursotildees

estrangeiras deixando assim o desenvolvimento capixaba restrito agrave faixa litoracircnea

Relegada enquanto ldquobarreira verderdquo para defesa das minas de ouro e minerais do atual

territoacuterio das Minas Gerais segundo Coelho (2007) a Capitania do Espiacuterito Santo soacute

passou a se interiorizar para o centro-oeste onde se localiza atualmente a cidade de

Colatina a partir de 1847 por meio das ocupaccedilotildees de Santa Izabel e Santa Leopoldina

que permitiram a descida do Rio Santa Maria do Doce ateacute as imediaccedilotildees da atual cidade

de Colatina

Assim foi que o movimento colonizador desceu o vale do Santa Maria do Rio Doce atingindo em 1891 a regiatildeo das matas onde hoje se acha a cidade de Colatina [] Esta penetraccedilatildeo inicial foi feita com elementos alematildees de Santa Leopoldina e no rio Doce ficou muito anos restrita agrave aacuterea inicial A expansatildeo ao longo do vale tomou impulso com a chegada a Colatina em 1906 dos trilhos da Estrada de Ferro Diamantina (atual Vitoacuteria-Minas) (STRAUCH1955 apud COELHO 2007 p105)

Sendo assim Coelho (op cit) relata que a ocupaccedilatildeo se deu atraveacutes da supressatildeo da mata

nativa no baixo curso do Rio Doce de Colatina a Linhares sendo a madeira daiacute extraiacuteda

levada ateacute o rio e encaminhada ateacute Povoaccedilatildeo vilarejo junto agrave foz de onde eram carregados

os navios Neste periacuteodo tem-se a instalaccedilatildeo de um ciclo madeireiro na regiatildeo com a

disposiccedilatildeo de serrarias nas proximidades das matas

41

Todavia somente a partir de 1906 com a chegada da estrada de ferro na regiatildeo o

transporte madeireiro foi transferido para as locomotivas Agrave medida que a implantaccedilatildeo da

Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas avanccedilava para o interior levava consigo as frentes de

desmatamento modificando as paisagens das margens do Rio Doce e se apropriando dos

espaccedilos deste rio (Figura 9)

Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906 Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce Fonte Albani (2012 p 63)

Conforme Albani (2012) com a vinda dos mineiros e fluminenses reforccedilados

posteriormente a partir de 1889 por colonizadores italianos e alematildees eacute que as

ocupaccedilotildees territoriais ocorreram de modo efetivo Atraveacutes do Barracatildeo do Rio Santa Maria

(Figura 10) espaccedilo do governo inicialmente destinado a alojar os migrantes e a produccedilatildeo

surgiram as primeiras residecircncias nas proximidades da igreja de Satildeo Sebastiatildeo Sendo

assim

Eacute importante destacar que o desenvolvimento da regiatildeo onde se encontra o municiacutepio de Colatina teve iniacutecio no final do seacuteculo XIX no nuacutecleo de colonizaccedilatildeo Antocircnio Prado localizado no distrito de Boapaba antiga vila do Mutum O nuacutecleo recebeu dezenas de famiacutelias de imigrantes italianos e ali desenvolveram atividades de agricultura e com a expansatildeo da localidade surge tambeacutem o comeacutercio (ALBANI 2012 p61) [hellip] A vila de Colatina entretanto logo passou a se transformar no principal nuacutecleo e futuramente na sede do municiacutepio Aleacutem da facilidade da produccedilatildeo atraveacutes do Rio Doce a vila de Colatina tornou-se referecircncia dos imigrantes no caminho para a colonizaccedilatildeo das terras ao norte do estado (MADURO1985 apud ALBANI 2012 p62)

42

Desse modo com o desenvolvimento das atividades de cafeicultura madeireira e do

entroncamento logiacutestico de acesso agraves aacutereas do norte a vila eacute elevada em 1921 agrave categoria

de municiacutepio A atual configuraccedilatildeo territorial foi adquirida a partir de 2001 conforme IBGE

(2014) dispondo de seis distritos Colatina (sede) Acircngelo Frechiami Baunilha Boapaba

Graccedila Aranha e Itapina

Cabe destacar poreacutem que a ocupaccedilatildeo inicial da cidade de Colatina se perfaz pela margem

direita do Rio Doce onde se localiza o atual bairro de Colatina Velha e onde havia se

instalado o Barracatildeo de Santa Maria Nesse periacuteodo a ponte ainda natildeo fora edificada

limitando assim a ocupaccedilatildeo da margem esquerda

Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da regiatildeo Fonte Albani (2012 p62)

Conforme Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p65) a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro

Vitoacuteria a Minas em 1906 (Figura 11) possibilitou a expansatildeo da cidade de Colatina e seu

desenvolvimento econocircmico Todavia sua instalaccedilatildeo paralela agrave margem direita do Rio

Doce favoreceu a localizaccedilatildeo de avenidas e ruas centrais em sua proximidade

43

Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p65)

Entretanto foi com a construccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos (Figura 12) em 1928 que a

margem direita se conectou agrave margem esquerda da cidade o que aleacutem de possibilitar a

ocupaccedilatildeo facilitou o acesso agraves regiotildees mais ao norte do Estado

Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p66)

44

Por conseguinte a estrada de ferro e a ponte foram os fatores determinantes para o

estabelecimento dos migrantes agraves margens do Rio Doce e a formaccedilatildeo do atual municiacutepio

de Colatina Contudo foi a partir desta posiccedilatildeo privilegiada que a cidade passou a ser

entreposto comercial e logiacutestico da regiatildeo noroeste e com isso sua aacuterea urbana expandiu-

se de modo desordenado inicialmente ao longo da planiacutecie de inundaccedilatildeo do Doce Coelho

(2007 p108 e 109) relata que

Os efeitos dessa urbanizaccedilatildeo (novos parcelamentos) e do desmatamento produz [sic] normalmente o aumento da velocidade das aacuteguas superficiais (pluviais) que eram antes interceptadas pelas matas com boa parte absorvida pelo solo O que ocorre geralmente nessas aacutereas eacute a chegada mais raacutepida das aacuteguas das chuvas para o tributaacuterios e calha principal do rio por fluxos concentrados que provocam processos de erosotildees do tipo laminar ravina e voccediloroca transportando quantidades expressivas de sedimentos que por sua vez causam assoreamento e a ocorrecircncia de cheias mais frequentes no rio

Com o crescimento acelerado do periacutemetro urbano proporcionado pelo apogeu do ciclo

cafeeiro as proacuteximas deacutecadas levaratildeo a cidade de Colatina a sofrer com impactos

advindos das alteraccedilotildees no ambiente fluvial do Rio Doce em especial os referentes a

ocupaccedilatildeo (impermeabilizaccedilatildeo) e desmatamento das margens (interferecircncia na drenagem

natural) conforme destacado por Coelho (2007)

Eacute fato que o municiacutepio viveu nas deacutecadas de 1940 e 1950 o auge do ciclo cafeeiro

chegando a ser no ranking brasileiro o 13ordm municiacutepio produtor de cafeacute no ano de 1947

(CAMPOS JUNIOR 2004 apud ALBANI 2012 p69) Poreacutem a partir de 1960 este boom

entrou em colapso com crise do cafeacute que assolou todo o paiacutes levando grande parte dos

pequenos proprietaacuterios rurais a migrarem para centros urbanos em especial no Espiacuterito

Santo a regiatildeo da Grande Vitoacuteria e tambeacutem para o centro de Colatina

Em razatildeo da crise cafeeira a populaccedilatildeo rural migra para centros urbanos A populaccedilatildeo migrou em grande quantidade para a Grande Vitoacuteria para fora do estado e tambeacutem para a cidade de Colatina principal aglomerado urbano da regiatildeo Esse processo provoca o aumento da aacuterea urbana de Colatina A populaccedilatildeo da cidade que era de 3913 habitantes em 1940 cresceu para 26757 habitantes em1960 (ALBANI2012 p71)

O crescimento raacutepido do centro de Colatina aliado ao aumento populacional direciona

grande parte dos migrantes para as aacutereas menos centrais da cidade levando agrave ocupaccedilatildeo

de locais irregulares como os morros e as margens direita e esquerda do Rio Doce Este

45

processo configurou a nova paisagem do municiacutepio povoando do vale agraves encostas (Figura

13)

Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes Fonte Albani (2012 p73)

Associado a este processo de reconfiguraccedilatildeo espacial nas proacuteximas deacutecadas o municiacutepio

de Colatina passaraacute por sucessivas perdas de territoacuterios ateacute atingir os limites atuais (Figura

1 p17) Aliado a estas perdas territoriais seu quantitativo absoluto populacional tambeacutem

sofreraacute impactos poreacutem de modo geral a populaccedilatildeo urbana deste municiacutepio apresentou

crescimento continuo (Graacutefico 2)

Graacutefico 2

Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 2010

Elaborado pela autora Fonte 1940 e 1950 Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p82) 1960 a 2010 IBGE

0

20000

40000

60000

80000

100000

120000

1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020

Populaccedilatildeo Urbana Colatina 1940 - 2010

46

Assim como tem ocorrido nas grandes capitais Colatina cresceu em quantitativo

populacional e territorial urbano de modo muito raacutepido e por este desenvolvimento natildeo ter

sido aliado a um planejamento urbano e ambiental sustentaacutevel a cidade tem sentido os

reflexos das suas interferecircncias ao longo do canal do Doce O que tem provocado

antecipaccedilatildeo dos picos de vazatildeo que no periacutemetro urbano ocasiona as inundaccedilotildees pois

natildeo conseguindo o rio acomodar estes defluacutevios transfere em curto espaccedilo de tempo as

aacuteguas a sua planiacutecie de inundaccedilatildeo atingindo os bairros mais antigos do municiacutepio

Por fim entender o contexto histoacuterico do crescimento da cidade revela muito do panorama

atual E por meio de uma anaacutelise conjunta da histoacuteria com os novos planejamentos eacute

possiacutevel propor intervenccedilotildees urbanas que possibilitem um conviacutevio harmonioso entre

natureza e sociedade neste caso entre o Rio Doce e o centro de Colatina Diante desta

proposta adiante apresentaremos a evoluccedilatildeo dos bairros associando seus periacuteodos de

ocupaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo espacial nas imediaccedilotildees do curso principal do Doce

411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade

Com nuacutecleo inicial de povoamento no Barracatildeo de Santa Maria a cidade de Colatina

cresce a partir deste ponto agrave margem direita do Rio Doce de onde surgem as primeiras

residecircncias comeacutercios e a igreja Atualmente a regiatildeo compreende o bairro de Colatina

Velha que de acordo com Albani (2012 p91) [hellip] ldquopode ser considerado o primeiro polo

de crescimento da cidaderdquo

Aliado ao aumento da populaccedilatildeo migrante das fazendas com a crise do cafeacute o nuacutecleo de

Colatina Velha passa a ser um ponto de passagem obrigatoacuterio para os viajantes que

vinham majoritariamente do sul uma vez que o Rio Doce configurava uma barreira natural

agrave ocupaccedilatildeo das terras ao norte Aleacutem disso a margem esquerda deste canal fluvial era

habitat dos hostis iacutendios botocudos o que dificultava a sua apropriaccedilatildeo

Sendo assim a ocupaccedilatildeo de Colatina conteve-se agrave margem direita nesta primeira fase o

que define o primeiro vetor de crescimento da cidade na direccedilatildeo leste para oeste partindo

das imediaccedilotildees do Barracatildeo de Santa Maria sentido ao Rio Santa Maria do Doce (Figura

14) E a partir de 1906 com a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas da entatildeo

Companhia Vale do Rio Doce atual Vale este vetor de crescimento se consolida e

47

proporciona o surgimento de importantes avenidas paralelas agrave ferrovia a exemplo da Av

Getuacutelio Vargas

Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de crescimento Elaborado pela autora

48

O segundo vetor do crescimento de Colatina estava condicionado agrave construccedilatildeo da ponte

Florentino Aacutevidos a qual conectou a margem direita agrave esquerda do Rio Doce permitindo

a ocupaccedilatildeo da porccedilatildeo ao norte Portanto somente a partir de 1928 com a finalizaccedilatildeo da

obra da ponte a barreira natural pocircde ser transposta o que possibilitou ao lado esquerdo

desenvolver uma nova linha de crescimento urbano com a ocupaccedilatildeo do atual bairro de

Satildeo Silvano

O terceiro vetor de crescimento estaacute associado agrave implantaccedilatildeo do bairro Luiz Iglesias na

margem direita e os de Maria das Graccedilas e Coluacutembia na margem esquerda Albani (2012)

ressalta que esta fase da ocupaccedilatildeo urbana estaacute associada ao desenvolvimento do sistema

viaacuterio como a proximidade da BR-259 sentido Vitoacuteria- Colatina da ES-80 que liga

Colatina agrave regiatildeo norte da ES-256 que a conecta a Marilacircndia e da proximidade da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria Carlos Germano Nauman (Figura 15)

Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios e linhas feacuterreas que interceptam a cidade de Colatina Elaborado pela autora

Jaacute na quarta e mais recente linha de crescimento da cidade temos os novos loteamentos

residenciais e industriais a exemplo do de Barbados e do bairro Santa Helena que surgem

49

acompanhando o traccedilado da ponte que contorna a leste a cidade como novo acesso agrave

porccedilatildeo norte do estado Albani (2012 p118) destaca que

Apesar da construccedilatildeo da Segunda Ponte ter sido iniciada em 1986 somente foi inaugurada em 2007 A conclusatildeo da ponte e a construccedilatildeo de uma rodovia de contorno desviaram a BR-259 do centro da cidade O desvio da rodovia federal trouxe um desafogamento do tracircnsito nas principais vias da cidade e um novo direcionamento na expansatildeo urbana Alguns loteamentos surgiram nesse periacuteodo proacuteximo agrave Segunda Ponte e ao contorno na margem norte do rio principalmente no bairro Santa Helena (Figura 55) Essa situaccedilatildeo indica mais uma vez que as linhas de crescimento em Colatina satildeo orientadas pelas vias de transporte

Portanto o crescimento do periacutemetro urbano de Colatina estaacute associado agrave superaccedilatildeo das

barreiras naturais em especial o Rio Doce por meio de investimentos em obras de

engenharia que permitiram o deslocamento humano para a margem esquerda deste curso

Sem duacutevida as vias de transporte foram elementares na construccedilatildeo do periacutemetro urbano

de Colatina pois na medida que se consolidava o sistema viaacuterio as ocupaccedilotildees tambeacutem se

favoreciam destas vias de locomoccedilatildeo A evoluccedilatildeo da aacuterea urbana portanto acompanha

as principais vias de transporte (Figura 15 p45) e estas se utilizam da posiccedilatildeo estrateacutegica

e geograficamente favoraacutevel do canal do Doce para a definiccedilatildeo de seus traccedilados

Apoacutes 94 anos de emancipaccedilatildeo de Linhares o territoacuterio de Colatina eacute fundamental para a

manutenccedilatildeo dos municiacutepios do noroeste capixaba Diante desta posiccedilatildeo estrateacutegica torna-

se relevante o entendimento de como o urbano se relaciona com o meio natural a fim de

se estabelecer poliacuteticas de ordenamento territorial que promovam a qualidade de vida no

municiacutepio Adiante seraacute analisada a situaccedilatildeo da calha principal do Rio Doce elemento

fundamental na compreensatildeo do uso e cobertura da terra de Colatina

42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce

Compreendendo uma aacuterea de 3330 kmsup2 o periacutemetro urbano de Colatina eacute afetado pela

velocidade dos defluacutevios de modo que grande parte dos bairros beira-rio eacute tomada pelas

aacuteguas excedentes da calha principal do Doce o que configura o fenocircmeno de inundaccedilatildeo

Ao pesquisar estes fenocircmenos eacute necessaacuterio relacionar o uso da terra com os processos

geomorfoloacutegicos do corpo hiacutedrico Sendo assim por meio de teacutecnicas de

geoprocessamento foram realizadas oito mediccedilotildees da calha principal do Rio Doce para

50

estabelecimento da distacircncia meacutedia da largura de sua calha O resultado esteve dentro do

esperado e pode ser verificado na tabela abaixo (Tabela 1) e no mapa em sequecircncia

(Figura 16)

Tabela 1 Perfis transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de

vazante (abril) e cheia (janeiro)

Largura do rio Doce periacuteodo de vazante e cheia

Abril2013(m) Janeiro2014(m)

P1 70735 75784

P2 62080 66483

P3 59209 65804

P4 63548 67650

Meacutedia dos Perfis 62814 67066

Meacutedia Geral 66143 Obs todas as medidas estatildeo em metros

Elaborado pela autora

Figura 16 - Traccedilado dos perfis transversais da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de vazante mecircs de abril2013 Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)

51

Com uso das imagens orbitais do Landsat-8 atraveacutes da classificaccedilatildeo hiacutebrida foram

gerados dois arquivos shapefiles correspondentes agraves bordas do Doce um no periacuteodo de

vazante e outro no de cheia Por meio destes dados foram definidos quatro traccedilados para

realizaccedilatildeo das mediccedilotildees a partir destas e com auxiacutelio das medidas de tendecircncia central

chegou-se a uma largura meacutedia total de 66143m de uma margem a outra Este resultado

indicou que tanto no periacuteodo de vazante quanto no periacuteodo de cheia a largura meacutedia

aponta para a maior faixa de APP proteccedilatildeo de 500m conforme previsto na legislaccedilatildeo

federal (Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e no revogado Lei 4771 1965)

Analisando a imagem abaixo (Figura 17) observa-se que grande parte do solo

naturalmente destinado a ldquoacomodaccedilatildeordquo das aacuteguas nas cheias (linha laranja) foi

incorporado agrave sociedade como espaccedilo criado (periacutemetro urbano em APP mancha em

amarelo) destinado a fins muacuteltiplos Deste modo sem planejamento territorial adequado

grande parte da planiacutecie de inundaccedilatildeo deu lugar a outras funccedilotildees diferentes das naturais

sendo incorporada ao espaccedilo urbano

Lanccedilando o buffer (mancha em amarelo) do entorno da calha do Doce (Figura 17) observa-

se que dos 59 bairros do municiacutepio cerca de 29 estatildeo dentro da aacuterea de 500m destinada

a preservaccedilatildeo permanente pelo Coacutedigo Florestal Considerando-se a delimitaccedilatildeo da APP

prevista no PDM de 1996 e 2007 (linha laranja mais proacutexima da borda do rio) este nuacutemero

cai para 18 bairros permanecendo apenas aqueles que possuem limites com o corpo

hiacutedrico

Uma vez que que lei municipal natildeo suplanta lei federal considerar-se-aacute neste estudo o

limite da faixa marginal de proteccedilatildeo definida na Lei Federal 126512012 Deste modo a

aacuterea de preservaccedilatildeo permanente do Doce neste recorte eacute de 1085 kmsup2 compreendendo

33 do periacutemetro urbano de Colatina

Cabe destacar ainda que mesmo o PDM de 1996 contendo enquanto objetivo no Art 14

ldquoI - estabelecer a ordenaccedilatildeo do uso e da ocupaccedilatildeo do solo urbanordquo (Lei 42281996 p4)

a gestatildeo municipal natildeo obteve sucesso na implementaccedilatildeo de tal legislaccedilatildeo O que se

verifica tanto nas deacutecadas de 1990 quanto no iniacutecio dos anos 2000 quando foram

aprovados novos parcelamentos urbanos agraves margens deste canal a exemplo dos bairros

de Barbados na margem direita e do bairro Mario Giurizato na margem esquerda

52

Figura 17- Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)

53

Articulado a esta ideia e pesquisando o trecho do bairro Esplanada a Colatina Velha palco

das uacuteltimas obras estruturantes de alto porte do municiacutepio consegue-se analisar os efeitos

das inundaccedilotildees nas margens deste rio Logo implementar medidas de prevenccedilatildeo de

cheias em aacutereas com urbanizaccedilotildees antigas requer um esforccedilo da gestatildeo na regulaccedilatildeo do

solo urbano

421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie

de Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio

Interceptada pelo curso do Rio Doce no perfil mais a jusante da bacia a cerca de 100km

do estuaacuterio com o Oceano Atlacircntico a cidade de Colatina polo moveleiro e de confecccedilotildees

do centro-oeste capixaba eacute palco recorrente de inundaccedilotildees urbanas

Conforme jaacute mencionado por Cunha (2012a) este fenocircmeno ocorre quando a bacia recebe

um percentual precipitado acima da sua capacidade de escoamento o que faz o leito

menor do rio extravasar para o leito maior ocupando as aacutereas de vaacuterzeas (Figura 18 p

50) Aliadas a esta questatildeo estatildeo as ocupaccedilotildees humanas das margens dos rios que ao

suprimir a vegetaccedilatildeo natural e alterar a condiccedilatildeo fiacutesica do solo acabam por reduzir a aacuterea

de drenagem das aacuteguas pluviais acelerando o escoamento superficial para o canal

principal e favorecendo os defluacutevios

Figura 18 - Representaccedilatildeo da inundaccedilatildeo urbana Fonte adaptado da Defesa Civil do Tocantins (2015)

Este fenocircmeno tem ganhado destaque em Colatina a partir de 1979 ano em que o Rio

Doce atingiu a vazatildeo de 12860msup3s tomando toda aacuterea aplainada que compotildee seu leito

maior afetando da atual Av Beira-Rio ateacute as redondezas da Av Getuacutelio Vargas Desde

entatildeo os estudos das inundaccedilotildees urbanas satildeo relevantes no municiacutepio o que levou o

54

Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) na deacutecada de 1980 a elaborar um ldquoPlano Diretor

de Contenccedilatildeo das Enchentes Proteccedilatildeo das Encostas e Drenagem Pluvial de Colatinardquo

Tal medida apresentou seis alternativas para o fenocircmeno Poreacutem tendo em vista o custo

operacional das obras apenas a alternativa seis que previa a construccedilatildeo de diques

marginais para a proteccedilatildeo das aacutereas mais centrais foi considerada viaacutevel na eacutepoca

Todavia em entrevistas com funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina (PMC) foi

relatado que todo o estudo foi arquivado e que ateacute agora natildeo haacute previsatildeo de

implementaccedilatildeo de tais medidas Fato este que eacute evidenciado (Tabela 2 p 51) quando da

ocorrecircncia de precipitaccedilotildees intensas na bacia durante as quais sazonalmente a cidade eacute

impactada com as aacuteguas das inundaccedilotildees Isto faz com que o municiacutepio passe

recorrentemente por cataacutestrofes conforme tabela com os principais picos de vazatildeo do rio

nos uacuteltimos 50 anos

Tabela 2

Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013

Ano Diamecircs Vazatildeo(msup3s)

1961 30jan 6613

1979 04fev 12860

1997 07jan 8687

2005 03ago 6549

2013 24dez 9028

Fonte Coelho (2007 apud DALLAPICOLA 2014 p4) e CPRM (2014 p85) Observo que os dados da tabela 1 para os anos de 1979 e 2013 estatildeo baseados na estimativa de vazatildeo meacutedia diaacuteria das maacuteximas anuais obtida atraveacutes de extrapolaccedilatildeo da curva-chave pelo grupo interdisciplinar dos relatoacuterios criacuteticos anteriores

As inundaccedilotildees de 1979 1997 e recentemente 2013 (Figura 19) foram as de maior vazatildeo

neste setor do rio e consequentemente as que mais atingiram a aacuterea urbana do municiacutepio

bloqueando os acessos ao centro da cidade e aos equipamentos essenciais como

hospitais escolas e demais oacutergatildeos puacuteblicos aleacutem de desalojarem muniacutecipes e

comprometerem a sauacutede puacuteblica

55

Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de 1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 Fonte1) Nossa Colatina 2) Nossa Linda Colatina 3) Nossa Colatina

Com o propoacutesito de identificar os principais fatores que acentuam as inundaccedilotildees seraacute

analisado como os processos geomorfoloacutegicos do Doce estatildeo sendo afetados pela accedilatildeo

antroacutepica Limitaremos a anaacutelise ao periacutemetro urbano no trecho que compreende do bairro

Esplanada ateacute o bairro Colatina Velha (Figura 20) Neste periacutemetro eacute possiacutevel visualizar a

evoluccedilatildeo da mancha urbana sobre o leito do rio aleacutem de identificar na margem direita os

pontos desnaturalizados deste canal fluvial

56

Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2) Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do recorte em rosa da APP de 50m (amarelo claro) e 500m (amarelo escuro) Fonte 3) Encontra Colatina (2015)

57

O recorte em questatildeo eacute margeado pela Av Beira-Rio e estaacute situado (Figura 20) dentro do

buffer de preservaccedilatildeo permanente previsto no PDM (buffer de 50m) e no Novo Coacutedigo

Florestal (buffer de 500m) Apesar desta aacuterea ser destinada a mata nativa e ou

reflorestada a ocupaccedilatildeo urbana antecede os artigos legais o que dificulta poliacuteticas de

gestatildeo territorial em um periacutemetro ao mesmo tempo histoacuterico e com funccedilatildeo relevante no

equiliacutebrio hidroloacutegico da bacia

O periacutemetro faz parte da vaacuterzea da margem direita do Rio Doce pois encontra-se em cota

topograacutefica de 50m caracterizando sua planiacutecie Logo a aacuterea em questatildeo tem a funccedilatildeo de

acomodar as aacuteguas das cheias quando a calha principal natildeo comporta o escoamento de

grandes vazotildees Esta tarefa passa a ser prejudicada na medida em que na bacia ou no

curso original satildeo implementadas obras que interferem na morfologia do corpo hiacutedrico

principal como a instalaccedilatildeo das hidreleacutetricas de Mascarenhas (1974) e Aimoreacutes (2005) a

montante

As UHErsquos a montante comprometem os processos do rio uma vez que o regime natural de

transporte de sedimentos eacute alterado com o barramento o que favorece a erosatildeo e

consequentemente o assoreamento com a formaccedilatildeo de bancos arenosos alteraccedilatildeo do

seu perfil transversal e reduccedilatildeo da profundidade Aleacutem disso segundo Coelho (2007) as

vazotildees maacuteximas e miacutenimas foram alteradas com a implantaccedilatildeo das hidreleacutetricas a

montante implicando em vazotildees meacutedias anuais miacutenimas cada vez mais reduzidas com

valores se distanciando da linha de tendecircncia (polinocircmio) provando o natildeo equiliacutebrio da

vazatildeo apoacutes a implantaccedilatildeo das barragens (Graacutefico 1 p22)

Entretanto a primeira intervenccedilatildeo direta no trecho em estudo foi a instalaccedilatildeo da estrada

de ferro que atraiu migrantes para Colatina permitindo o crescimento populacional e a

expansatildeo urbana desordenada agraves margens do Doce Este crescimento intensificou a

supressatildeo das matas ciliares e abriu espaccedilo para a impermeabilizaccedilatildeo do solo reduzindo

a infiltraccedilatildeo

Posteriormente a inauguraccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos ampliou o fluxo na regiatildeo pois

proporcionava a ligaccedilatildeo com as terras ao norte do Estado Atuou tambeacutem como obstaacuteculo

ao transporte de sedimentos carreados no fluxo natural do rio uma vez que sua

implantaccedilatildeo altera a topografia do fundo do canal afetando os processos geomorfoloacutegicos

58

Poreacutem foi no Morro das Cabritas (colina localizada no espaccedilo que compreende o atual

bairro Esplanada) que ocorreu a primeira desnaturalizaccedilatildeo nas margens do Doce Este

morro por onde o Rio Santa Maria do Doce meandrava ateacute desaguar no Rio Doce foi

cortado em meados de 1953 para abrigar a cidade em expansatildeo Devido a esta

intervenccedilatildeo o curso original do Santa Maria foi deslocado e passou a escoar

retilineamente ateacute a foz (Figura 21)

Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponte Florentino Aacutevidos (direita) e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque em vermelho para o curso atual do Santa Maria Fonte Nossa Colatina

As intervenccedilotildees na margem direita tornam-se mais intensas a partir da deacutecada de 1960

quando no ano de 1968 edificou-se um muro visando a proteccedilatildeo dos pilares da

extremidade direita da ponte Esta obra ficou paralisada por muitos anos e foi a primeira

de retificaccedilatildeo e aterro realizada neste trecho do rio Esta intervenccedilatildeo modificou o fluxo

natural das correntes do rio e reduziu a largura da sua calha alterando a morfologia do

canal (Figura 22)

59

Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de proteccedilatildeo da ponte Elaborado pela autora Fonte fotos histoacutericas Nossa Colatina

Contudo somente em 1972 teve iniacutecio o segundo aterro (Figura 23) com a finalidade de

alocar a estaccedilatildeo rodoviaacuteria de Colatina e ampliar a aacuterea de acesso agrave ponte Florentino

Aacutevidos A implementaccedilatildeo desta obra suprimiu parte do leito do Rio Doce pois removeu a

saliecircncia cocircncava que curvava o rio retilinizando esta parte do canal

60

Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora Fonte Nossa Colatina Nossa Linda Colatina

Apoacutes dez anos sem grandes intervenccedilotildees em 1982 o lado a montante da ponte bairro

Esplanada eacute acrescido de um aterro que estenderaacute a aacuterea do antigo Morro das Cabritas

para o rio (Figura 24)

Conhecido como Rua da Lama devido agrave umidade que o rio transferia ao aterro formando

um barro viscoso que persistia a maior parte do ano o trecho atualmente compreende a

Avenida Professor Joseacute Zouian popularmente denominada Avenida Beira-Rio de onde

surge a primeira forma do calccediladatildeo que seraacute estendido ateacute o bairro Colatina Velha

61

Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o calccediladatildeo da Av Beira-Rio Elaborado pela autora Fonte Bennachio (2015)

Somente em 2004 foi implementado o maior projeto de canalizaccedilatildeo do municiacutepio Naquele

ano teve iniacutecio a execuccedilatildeo do enrocamento da Av Beira-Rio (Figura 25) obra destinada

inicialmente a alocaccedilatildeo de equipamentos puacuteblicos de lazer e cultura praccedilas preacutedios aleacutem

da promessa de contribuir para a contenccedilatildeo dos transbordamentos do Rio Doce

Apesar de o referido manancial jaacute estar comprometido com problemas de poluiccedilatildeo

assoreamento e erosatildeo aleacutem dos impactos de duas hidreleacutetricas instaladas a montante a

obra abarcou a supressatildeo da vegetaccedilatildeo ciliar e aterro de parte do rio jaacute tatildeo degradado

62

Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento iniciada em 2004 e finalizada em 2008 Elaborado pela autora Fonte proacutepria autora em 240215

Ocupando uma aacuterea total de 130 mil msup2 do leito do Rio Doce o aterro teve iniacutecio em 2004

sendo construiacutedo com cerca de 90 mil msup3 de pedras 50 mil msup3 de areia retirada do leito do

rio e por fim o nivelamento com 200 mil msup3 de terra A obra era divulgada como um antigo

sonho dos colatinenses e serviria para ampliaccedilatildeo da Av Beira-Rio no bairro de Colatina

Velha instalaccedilatildeo de ciclovias calccediladatildeo equipamentos puacuteblicos e estacionamento (Figura

26) Apesar do fim da engenharia em 2008 o projeto ainda estaacute em fase de acabamento

na parte urbaniacutestica e na alocaccedilatildeo dos oacutergatildeos puacuteblicos

Cabe destacar que a obra sofreu embargos do Ministeacuterio Puacuteblico Federal (MPF) por

apresentar apenas cadastro na Agecircncia Nacional de Aacuteguas (ANA) que conforme parecer

da Procuradora Nadja Machado Botelho na Accedilatildeo Civil Puacuteblica ldquo[hellip] equivocadamente natildeo

realizou o procedimento de outorga [hellip]rdquo (MPF 2006 p2) Aleacutem disso a procuradora

solicitou tutela tendo em vista tratar-se de aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental e o fato de o

IBAMA ter concedido licenciamento com indevida dispensa do Estudo de Impacto

Ambiental (EIA)Relatoacuterio de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA)

63

Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina Fonte Prefeitura de Colatina (2015)

Por isso essa obra deve ser considerada faraocircnica para os cofres puacuteblicos e irreversiacutevel

para os processos geomorfoloacutegicos do Doce E sua efetivaccedilatildeo soacute foi possiacutevel com a

participaccedilatildeo e investimentos do Governo estadual Contudo seu objetivo foi frustrado pois

novamente na cheia do Rio Doce em dezembro de 2013 quando este atingiu a vazatildeo de

9028 msup3s a aacuterea foi inundada e por estar em cota maior que as casas que beiravam o

rio o enrocamento atuou como represa natildeo permitindo o retorno das aacuteguas quando o niacutevel

do rio retomou o equiliacutebrio

Por fim segue um mapa siacutentese (Figura 27) com a cartografia das quatro principais

intervenccedilotildees diretas e estruturais na margem direita do Doce no setor urbano de Colatina

representando o curso natural do rio em 1950 e suas desnaturalizaccedilotildees a partir da deacutecada

de 60 ateacute a atualidade

64

Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce ante e depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora

65

422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio

O recorte em estudo compreende as Zonas ZE-1 ZE-2 e ZUD 2-1 (Figura 28 p61) sendo

a Zona Especial 1 Zona Especial 2 e Zona de Uso Diverso 2-1 destinadas no PDM (Lei

52732007)

Artigo 103 - As Zonas de Usos Diversos ndash ZUD satildeo definidas em razatildeo da concentraccedilatildeo de atividades urbanas diversificadas com predominacircncia do uso comercial e de serviccedilos Artigo 104 - Satildeo objetivos das Zonas de Usos Diversos I - otimizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do solo priorizando a instalaccedilatildeo de novos empreendimentos em terrenos natildeo edificados contiacuteguos a empreendimentos jaacute instalados II - controle da implantaccedilatildeo de usos incompatiacuteveis com os definidos para estas zonas III - garantia de licenciamento e monitoramento ambiental dos empreendimentos IV - controle da expansatildeo comercial de serviccedilos e de induacutestrias de pequeno porte em direccedilatildeo a aacutereas residenciais [] Artigo 130 - As Zonas Especiais 1 ndash ZE 1 abrangem todas as aacutereas remanescentes do municiacutepio relativamente ao zoneamento estabelecido nesta lei ocupadas ou natildeo contida na lei de periacutemetro urbano para as quais natildeo foram ainda estabelecidos os criteacuterios de uso e ocupaccedilatildeo Artigo 131 - As Zonas Especiais 2 ndash ZE 2 satildeo as aacutereas existentes no prolongamento da avenida Beira Rio mais especificamente no trecho entre o 80 Batalhatildeo da Poliacutecia Militar e a rua Pedro Epichin incluindo o espaccedilo existente entre a margem do Rio Doce e o limite das construccedilotildees localizadas na rua Pedro Epichin

Cabe destacar que mesmo sendo palco das aacutereas mais afetadas com as inundaccedilotildees do

Rio Doce a Beira-Rio tem sido alvo da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria que aproveitando-se dos

iacutendices pouco restritos da ZUD 2 (Figura 28 p62) valoriza o espaccedilo promovendo a

instalaccedilatildeo de grandes estruturas como hipermercados edifiacutecios residenciais modernos e

hotelaria

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Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 Fonte Colatina (2007)

A aacuterea contida na ZE (Figura 28) natildeo possui criteacuterio de ocupaccedilatildeo definido na legislaccedilatildeo

atual sendo adotado o disposto na Lei 41961995 que estabelece os iacutendices urbaniacutesticos

para as aacutereas conquistadas junto ao Rio Doce e na Lei 420595 que aprova os

parcelamentos na Beira-Rio Quanto agrave ZUD 2-1 apresenta iacutendices urbaniacutesticos no anexo

118 do Plano Diretor conforme tabela 3 abaixo

67

Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1

Fonte Colatina (2007 p36)8

68

Eacute relevante observar que numa aacuterea onde o corpo hiacutedrico foi reduzido pelos sucessivos

aterros tenha sido aprovada a instalaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto (Figura

29) com taxa de ocupaccedilatildeo de ateacute 80 e com baixo iacutendice de permeabilidade Ampliou-

se a aacuterea impermeaacutevel numa regiatildeo onde a drenagem jaacute eacute muito comprometida com a

expansatildeo urbana sobre o rio

Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto na Beira-Rio Fonte imagem do Google Maps 2015 E fotos da autora em 140215

Portanto analisando o conjunto de dados apresentado acima eacute possiacutevel entender como

as inundaccedilotildees satildeo potencializadas no municiacutepio atingindo a populaccedilatildeo mas em especial

afetando a dinacircmica de um corpo hiacutedrico tatildeo relevante para o Estado A fim de subsidiar a

gestatildeo puacuteblica com material cartograacutefico para a tomada de decisotildees delimitou-se o

poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo (Figura 30) Pois devem ser adotadas medidas que

minimizem impactos de futuros eventos hidroloacutegicos na bacia capazes de comprometer

novamente a aacuterea urbana mais central de Colatina

69

Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av Beira-Rio em dezembro de 2013 Elaborado pela autora

70

Diante do poliacutegono de inundaccedilatildeo da uacuteltima cheia (Figura 30) em dezembro de 2013 eacute

possiacutevel implementar medidas de convivecircncia com as grandes vazotildees a exemplo de

paiacuteses como Holanda que vem investindo em medidas de resiliecircncia a fim de reduzir a

velocidade dos defluacutevios possibilitando ao canal a capacidade de acumular e dispersar as

aacuteguas com impacto miacutenimo para as populaccedilotildees Conforme Carneiro e Miguez (2011) a

estrateacutegia adotada pelo paiacutes eacute reter armazenar e drenar sendo mais flexiacutevel e natildeo

interferindo drasticamente na dinacircmica do corpo hiacutedrico

Por fim a implementaccedilatildeo de soluccedilotildees de planejamento urbano em Colatina requer uma

anaacutelise integrada que abarque o urbano e o ambiental de modo a propor intervenccedilotildees que

produzam impactos reduzidos nos processos geomorfoloacutegicos do Rio Doce Logo a gestatildeo

municipal deve atuar em niacutevel de bacia hidrograacutefica interagindo com os municiacutepios a

montante propondo medidas de minimizaccedilatildeo das cheias urbanas Mas na escala local

pode-se atuar junto aos novos parcelamentos de modo a ampliar o percentual de aacutereas

permeaacuteveis no municiacutepio incentivando por exemplo os novos loteamentos a adotarem

pavimentaccedilotildees que permitam a drenagem natural do solo

71

5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Partindo da ideia de que eacute possiacutevel implementar medidas que minimizem o escoamento

superficial satildeo apresentadas propostas como forma de controlar ou ao menos reduzir os

impactos das inundaccedilotildees urbanas

Embora as implementaccedilotildees histoacutericas de estruturas de proteccedilatildeo ou barreiras mais altas

tenham sido muito disseminadas atualmente estatildeo sendo suplantadas pelo gerenciamento

de inundaccedilotildees de maneira mais sustentaacutevel Deste modo as experiecircncias fora do Brasil

apontam para soluccedilotildees mais flexiacuteveis que considerem o fluxo natural do canal enquanto

um ecossistema em equiliacutebrio Para tanto Carneiro e Miguez (2011 p150) destacam a

iniciativa alematilde no controle de inundaccedilotildees em bacias hidrograacuteficas metropolitanas

[hellip] A abordagem comum consiste na regulaccedilatildeo do uso do solo nas aacutereas inundaacuteveis e em ldquodar espaccedilo para o riordquo ao inveacutes de priorizar investimentos em estruturas de proteccedilatildeo contra inundaccedilotildees como a colocaccedilatildeo de diques de contenccedilatildeo as margens dos rios A utilizaccedilatildeo do conceito de resiliecircncia apropriado de ecologia decorre dessa abordagem A aplicaccedilatildeo praacutetica do conceito implica portanto em mudanccedilas de paradigma Deixa de ser preponderante a engenharia construtiva e entra em cena o planejamento de longo prazo voltado para o desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis capazes de conviver com as variaccedilotildees do ciclo hidroloacutegico sem significar necessariamente trageacutedias anunciadas

Aleacutem dessas propostas geoacutegrafos como Sandra Cunha tecircm estudado a recuperaccedilatildeo

natural ou ldquorenaturalizaccedilatildeordquo de corpos fluviais visando promover a estabilidade dos canais

de modo mais sustentaacutevel Para ela

[hellip] Recuperaccedilatildeo de canal significa de forma simples o retorno as condiccedilotildees anteriores aos distuacuterbios Em essecircncia eacute o processo de recuperaccedilatildeo do rio ou do ecossistema fluvial estabilizando o desenvolvimento de habitats e colonizaccedilatildeo a uma taxa mais raacutepida que dos processos naturais fiacutesicos e bioloacutegicos Na recuperaccedilatildeo de canais ocorrem consideraccedilotildees de aspecto hidroloacutegico morfoloacutegico e ecoloacutegico qualidade da aacutegua esteacutetica aleacutem da necessidade de uma visatildeo integradora do projeto sustentaacutevel de recuperaccedilatildeo (CUNHA 2012 p230 a 231)

Satildeo portanto medidas pontuais como o retorno agraves sinuosidades do rio (Figura 31 p 68)

ou a substituiccedilatildeo de estruturas de concreto por superfiacutecies mais permeaacuteveis a exemplo

das trincheiras de infiltraccedilatildeo ou pavrsquos (Figura 32) aacutereas mais vegetadas aleacutem de coleta e

uso de aacutegua da chuva bem como tratamento das aacuteguas superficiais por meio de

72

amenidades esteacuteticas como reservatoacuterios de retenccedilatildeo ou detenccedilatildeo que podem ser

associados a ambientes harmocircnicos como lagos artificiais Todas estas accedilotildees possibilitam

a minimizaccedilatildeo das grandes vazotildees no solo urbano pois pretendem atenuar os impactos

das cheias fazendo com que seja resgatada parte da drenagem existente anteriormente agrave

urbanizaccedilatildeo

Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do Rio Aa Munster Alemanha (1998) Fonte Cunha (2012 p233)

Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos Fonte Carneiro e Miguez (2011 p128)

A partir do exposto cabe agrave gestatildeo municipal implementar legislaccedilotildees que priorizem a

permeabilidade possibilitando uma maior infiltraccedilatildeo das aacuteguas das chuvas atraveacutes de

pavimentaccedilotildees menos impermeaacuteveis e da ampliaccedilatildeo de aacutereas vegetadas Satildeo medidas

que tornam a drenagem mais sustentaacutevel aleacutem de possibilitar a manutenccedilatildeo dos serviccedilos

puacuteblicos de forma menos custosa tendo em vista o elevado preccedilo das recomposiccedilotildees

asfaacutelticas

1 2

73

Aleacutem disso quando se fala em controle de cheias urbanas pressupotildee-se uma seacuterie de

medidas para minimizaccedilatildeo de seus impactos desde a operaccedilatildeo de sistemas de alerta

zoneamento de aacutereas inundaacuteveis construccedilatildeo de grandes reservatoacuterios de contenccedilatildeo de

cheias e diques ateacute accedilotildees de educaccedilatildeo ambiental

Cabe pensar tambeacutem na proacutexima revisatildeo do PDM em um plano de macrodrenagem

municipal que reuacutena accedilotildees de caraacuteter estruturantes com obras hidraacuteulicas de infraestrutura

que realizem a conduccedilatildeo final das aacuteguas dos escoamentos superficiais para a minimizaccedilatildeo

das inundaccedilotildees e em medidas natildeo-estruturantes que trabalhem a consciecircncia ambiental

e proponha um zoneamento de cheias a fim de se delimitar os pontos mais fragilizados nos

defluacutevios

Por fim pensar em drenagem num contexto de ocupaccedilatildeo irregular histoacuterico requer

profissionais que aleacutem de possuir afinidade com a temaacutetica tambeacutem possam analisar os

diferentes processos que constituem o espaccedilo geograacutefico Logo este tipo de estudo deve

abarcar uma equipe multidisciplinar que percorra a anaacutelise desde o ambiental estrutural

ateacute o aspecto humano a fim de se produzir resultados que de fato contribuam com o

controle das inundaccedilotildees urbanas

74

6 CONCLUSAtildeO

A partir do recorte espacial foi possiacutevel compreender que a abordagem da geomorfologia

fluvial com a anaacutelise espaccedilo-temporal da ocupaccedilatildeo urbana possibilita a identificaccedilatildeo das

accedilotildees do homem no meio ambiente pois estas resultam na alteraccedilatildeo das paisagens

naturais e na dinacircmica da bacia hidrograacutefica Assim o Rio Doce deve ser estudado de

modo integrado ao crescimento da cidade sobretudo para compreensatildeo da produccedilatildeo do

espaccedilo geograacutefico

Analisar a inundaccedilatildeo urbana em Colatina foi satisfatoacuterio pois o municiacutepio estaacute situado no

perfil meacutedio-baixo da bacia vazante e eacute neste trecho que os reflexos das intervenccedilotildees satildeo

mais acentuados principalmente se esta parte do canal tambeacutem tiver passado por obras

que modificaram seus processos hidroloacutegicos Aleacutem disso a perspectiva geograacutefica aponta

para vaacuterias outras questotildees como erosatildeo fluvial planejamento urbano poluiccedilatildeo ambiental

crise da aacutegua que conduzem a outras discussotildees acerca da relaccedilatildeo homemnatureza

Ao demonstrar a evoluccedilatildeo espaccedilo-temporal do uso e cobertura da terra na margem direita

do Doce associando esta ocupaccedilatildeo agraves obras estruturantes que foram executadas no

canal verificamos que todas as praacuteticas adotadas para conter o transbordamento do rio

acabaram alterando sua morfologia com a retificaccedilatildeo de trechos em meandros reduzindo

a largura do corpo hiacutedrico o que favoreceu a apropriaccedilatildeo urbana de suas vaacuterzeas Aliadas

a estas questotildees estatildeo a falta de planejamento urbano e a omissatildeo diante da supressatildeo

das matas ciliares principalmente se considerados os resultados do relatoacuterio teacutecnico do

IJSN contra enchentes em 1980

Cabe destacar tambeacutem que toda a anaacutelise da ocupaccedilatildeo urbana e desnaturalizaccedilatildeo do

Rio Doce foi melhor identificada a partir dos produtos cartograacuteficos deste trabalho Pois eacute

na espacialidade dos fenocircmenos e no registro de informaccedilotildees ainda natildeo mapeadas como

os aterros que o geoacutegrafo executa a anaacutelise do seu objeto de estudo o homem e a

natureza aqui representado pela sociedade e o canal do Doce

Apesar do municiacutepio apresentar leis que resguardam os leitos dos rios desde o primeiro

PDM em 1996 nada foi feito para conter as ocupaccedilotildees irregulares beira-rio Pelo contraacuterio

estas aacutereas foram incorporadas ao Plano Diretor em 2007 com possibilidades de

ocupaccedilotildees diversas o que tem levado especuladores a valorizar o solo com vista para o

rio apontando suas qualidades esteacuteticas e teacutermicas Este fato vem aumentando o

75

percentual de aacutereas impermeaacuteveis nesta margem comprometendo ainda mais a drenagem

dos defluacutevios

Eacute na Av Beira-Rio que crescem as implantaccedilotildees de grandes empreendimentos comerciais

como supermercado Casagrande Ogil Hotel e obras de construccedilatildeo de novos arranha-

ceacuteus em um periacutemetro que jaacute eacute totalmente comprometido com os extravasamentos do Rio

Doce Estas obras ocupam grandes aacutereas e na maioria das vezes apresentam reduzida

aacuterea permeaacutevel reservando apenas o obrigatoacuterio pela lei cerca de 10 Observa-se

tambeacutem que a implantaccedilatildeo desses projetos estaacute condicionada agrave apresentaccedilatildeo e

aprovaccedilatildeo por comissatildeo na prefeitura do Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV) sendo

difiacutecil conceber que seja concedida tal licenccedila para implementaccedilatildeo de obras num trecho

de risco ambiental

Embora as diretrizes do Estatuto das Cidades para a implementaccedilatildeo do uso da terra

sustentaacutevel e os instrumentos para a regulaccedilatildeo do solo urbano sejam avanccedilados Colatina

eacute mais um exemplo da carecircncia de profissionais capacitados para estudar de modo

integrado e em niacutevel de bacia hidrograacutefica os efeitos da accedilatildeo humana num ambiente tatildeo

peculiar como as margens do Doce Por isso com os objetivos traccedilados nesta pesquisa

podemos aleacutem de compreender o fenocircmeno criar uma metodologia de anaacutelise de aacutereas

inundaacuteveis em ambientes urbanos O que permite agrave gestatildeo municipal uma diretriz para a

tomada de decisotildees

Destaca-se tambeacutem que as legislaccedilotildees aqui referenciadas supriram a discussatildeo acerca do

objeto de estudo mas outras podem contribuir para esta pesquisa a exemplo do Coacutedigo

das Aacuteguas da Poliacutetica Nacional dos Recursos Hiacutedricos das Resoluccedilotildees do Conama do

Estatuto das Cidades entre outros

Sendo assim numa revisatildeo do PDM deve-se pensar nestes aspectos da cidade desde o

histoacuterico de ocupaccedilatildeo das margens ateacute os impactos das inundaccedilotildees e o presente trabalho

auxilia com uma nova abordagem na reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo fornecendo material

cartograacutefico para subsidiar propostas de proteccedilatildeo ao curso do Doce e consequentemente

da populaccedilatildeo

Por fim deve-se destacar que o recorte estaacute inserido num contexto maior de uma bacia

hidrograacutefica que se estende aleacutem dos limites de Colatina ou do estado do Espiacuterito Santo

Esta bacia compreende a Regiatildeo Hidrograacutefica do Atlacircntico Leste e estaacute alocada tambeacutem

76

no estado de Minas Gerais o que portanto torna as accedilotildees de controle das inundaccedilotildees

mais complexas tendo em vista as divergentes politicas territoriais

77

7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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79

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Page 4: DESNATURALIZAÇÃO DO RIO DOCE: UMA ABORDAGEM … · Ao engenheiro Francisco Hermes, pela experiência e conhecimentos partilhados da área de estudo. Aos meus amigos Mônica Regina,

RESUMO Este trabalho tem como objeto de estudo o setor do Rio Doce que corta a aacuterea

urbana de Colatina ndash ES O objetivo principal desta anaacutelise foi verificar como as

intervenccedilotildees humanas no canal fluvial tecircm contribuiacutedo para ampliaccedilatildeo das cheias

na planiacutecie de inundaccedilatildeo Partindo desta premissa a pesquisa baseou-se na

anaacutelise de fotos histoacutericas de 1906 a 2015 e imagens de sateacutelite em periacuteodos de

vazante (abril) e cheia (janeiro) do rio Doce por onde foi possiacutevel cartografar as

alteraccedilotildees nas margens deste corpo hiacutedrico O cruzamento das seacuteries temporais

histoacutericas de vazatildeo do rio com a ocupaccedilatildeo da Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente

(APP) permitiu delimitar os pontos mais fragilizados da Av Beira Rio Deste modo

os resultados indicaram que o crescimento urbano desordenado e contiacutenuo

associado agraves alteraccedilotildees nos processos geomorfoloacutegicos tem intensificado a

degradaccedilatildeo do canal fluvial potencializando as inundaccedilotildees

Palavras-chave Geomorfologia fluvial geotecnologias anaacutelise geograacutefica integrada

intervenccedilatildeo humana e inundaccedilatildeo

REacuteSUMEacute

Ce travail a pour objet deacutetude le secteur de la Riviegravere Doce coupe de la zone urbaine ne

de Colatina ndash ES Le principal objectif de cette analyse eacutetait de veacuterifier comme les

interventions humaines dans le chenal de la Riviegravere Doce ont contribueacute pour le submersion

de la plaine dinondation De cette preacutemisse la recherche a eacuteteacute baseacutee sur lanalyse de

photographies historiques de 1906 a 2015 et images en peacuteriode de reflux (avril) et flux

(janvier) de la Riviegravere Doce par lequel il a eacuteteacute possible de cartographier les changements

dans les marges de ce plan deau Gracircce agrave lanalyse de la seacuterie chronologique historique

de deacutebit de la riviegravere et de loccupation de la zone de preacuteservation permanent crsquoest possible

didentifier les points les plus vulneacuterables de lrsquoAvenue Beira-Rio Ainsi les reacutesultats

indiquent que la croissance urbaine deacutesordonneacutee et continue associeacutee aux changements

dans les processus geacuteomorphologiques a intensifieacute la deacutegradation du chenal de la riviegravere

en renforccedilant des inondations

Mots-cleacutes la geacuteomorphologie fluviale geacuteotechnologies analyse geacuteographique inteacutegreacutee

dintervention humaine et inondations

ABSTRACT

This paper has as object of study the sector of Doce River cutting the urban areas of

Colatina ndash ES The main objective of this analyze was to verify how human interventions on

Docersquos river channel have contributed how human interventions in river channel have

contributed to the tide of the floodplain From this premise the research was based on

analysis of historical photographs from 1906 to 2015 and aerial images in periods of ebb

(April) and flood (January) of Doce river by which it was possible to map the changes in the

margins of this water body Crossing the analysis of historical time series of river flow with

the occupation of areas of permanent preservation it was possible to delimitate the most

vulnerable points of Beira-Rio Avenue Thus the results indicated that the cluttered and

continuous urban growth associated with changes in geomorphological processes has

intensified de degradation of the river channel increasing flooding

Keywords fluvial geomorphology geotechnologies integrated geographical analysis

human intervention and flood

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e Rio Doce 18

Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 19

Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de

2013 19

Figura 4 - Tipos de leito fluvialvarzea 21

Figura 5 - Padrotildees dos canais 21

Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento 32

Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia 33

Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC) 37

Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906

Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce 41

Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da

regiatildeo 42

Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce 43

Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio

Doce 43

Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes 45

Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de

crescimento 47

Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios que interceptam a cidade de Colatina

48

Figura 16 - Traccedilado das mensuraccedilotildees da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de

vazante mecircs de abril2013 50

Figura 17 - Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro

urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal 51

Figura 18 - Representaccedilatildeo de inundaccedilatildeo urbana 53

Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de

1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 55

Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2)

Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do

recorte em rosa da APP de 50 m (amarelo claro) e 500 m (amarelo escuro) 56

Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponrte Florentino Aacutevidos (direita)

e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa

Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque

em vermelho para o curso atual do Santa Maria 58

Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de

proteccedilatildeo agrave ponte 59

Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o

traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas 60

Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o

calccediladatildeo da Av Beira-Rio61

Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento

iniciada em 2004 e finalizada em 2008 62

Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina 63

Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce antes e

depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas 64

Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 66

Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto da Beira-Rio 68

Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da

inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av

Beira-Rio em dezembro de 2013 69

Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do rio Aar Munster Alemanha (1998) 72

Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos 72

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Perfis Transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de vazante (abril) e cheia (janeiro) 50

Tabela 2 Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013 54

Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1 67

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 - Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais

(Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia) 25

Graacutefico 2 - Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 201045

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANA - Agecircncia Nacional de Aacuteguas

APP - Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente

CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais Serviccedilo Geoloacutegico Brasileiro

GEOBASES - Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espiacuterito Santo

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IJSN - Instituto Jones dos Santos Neves

INCAPER - Instituto Capixaba de Pesquisa Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural

PDM - Plano Diretor Municipal

PMC - Prefeitura Municipal de Colatina

PROATER - Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural

SIG - Sistema de Informaccedilotildees Geograacuteficas

UHE ndash Usina Hidreleacutetrica

UTM - Universal Tranverse Mercator

USGS - Geological Survey Serviccedilo Geoloacutegico Americano

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14

11 Objetivo 16

111 Objetivo Geral 16

112 Objetivos Especiacuteficos 16

12 Justificativa 17

2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS 20

21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano 20

211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial 23

22 Aspectos Juriacutedicos 27

23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos 31

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS 36

4 RESULTADOS 40

41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana 40

411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade 46

42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce 49

421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie de

Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio 53

422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio 65

5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 71

6 CONCLUSAtildeO 74

7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 77

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

A partir da deacutecada de 1930 com a transiccedilatildeo econocircmica de um eixo agraacuterio-exportador

para um polo urbano-industrial (CARNEIRO 2008) verificou-se no Brasil a migraccedilatildeo da

maior parte da populaccedilatildeo para as cidades Isso acarretou segundo Tucci (2013 p17) uma

ldquo[] concentraccedilatildeo urbana no Brasil da ordem de 80 da populaccedilatildeo e o seu

desenvolvimento tem sido realizado de forma pouco planejada com grandes conflitos

institucionais e tecnoloacutegicos []rdquo

De acordo com Canholi (2005 p15) a expansatildeo da aacuterea urbana ldquo[] consequentemente

impermeabilizada ocorreu a partir das zonas mais baixas proacuteximas agraves vaacuterzeas dos rios

ou agrave beira-mar em direccedilatildeo agraves colinas e morros em face da necessaacuteria interaccedilatildeo da

populaccedilatildeo com os corpos hiacutedricos []rdquo Neste cenaacuterio surgem as ocupaccedilotildees irregulares

nas Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) como as da planiacutecie de inundaccedilatildeo dos rios

e os topos de morros

Essas ocupaccedilotildees desordenadas satildeo proporcionadas pela precariedade da implantaccedilatildeo e

fiscalizaccedilatildeo das legislaccedilotildees urbaniacutesticas de ordenamento territorial e ambiental Neste

contexto satildeo relevantes as pesquisas que visam correlacionar o viacutenculo

sociedadenatureza de modo a entender como a ocupaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo no

solo conecta-se com a hidrodinacircmica dos recursos naturais uma vez que ldquo[] a tendecircncia

atual do limitado planejamento urbano integrado estaacute levando as cidades a um caos

ambiental urbano com custo extremamente alto para a sociedaderdquo (TUCCI 2013 p17)

Deve-se partir do pressuposto teoacuterico articulado com a ideia anterior de ldquo[]

indissociabilidade entre natureza e sociedade []rdquo (COELHO 2013 p21) em que a

sociedade natildeo pode ser apenas entendida como populaccedilatildeo e a natureza enquanto mero

ambiente fiacutesico mas que estes dois fatores estatildeo dinamicamente produzindo o espaccedilo

geograacutefico

Neste contexto a problemaacutetica se afirma no intuito de relacionar as legislaccedilotildees urbanas

(Lei de Parcelamento do Solo 676679 e PDM) e ambientais (Novo Coacutedigo Florestal 2012)

com as suas aplicaccedilotildees ou natildeo no periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina

principalmente nos bairros que se situam na planiacutecie de inundaccedilatildeo do Rio Doce

A escolha da temaacutetica tambeacutem teve como premissa a importacircncia regional de Colatina

como entreposto comercial e logiacutestico para os municiacutepios do noroeste capixaba conforme

15

relato do Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural - PROATER (INCAPER

2011)

Exportadores de cafeacute atacadistas e as lojas de pronta entrega dinamizam o comeacutercio local que atende aos municiacutepios do norte capixaba leste de Minas Gerais e sul da Bahia representando um universo de mais de 700 mil consumidores (INCAPER 2011 p5)

De acordo ainda com o INCAPER (op cit) Colatina tem crescido a uma margem de 188

anual o que representa a tendecircncia ao ecircxodo rural sendo que a populaccedilatildeo do campo vem

diminuindo de aproximadamente 19 em 1990 passou a 12 no Censo de 2010 Diante

do exposto entra em discussatildeo o planejamento urbano pois com o crescimento da

populaccedilatildeo citadina para cerca de 88 aumentam tambeacutem as pressotildees sobre o meio

ambiente em especial as regiotildees ribeirinhas

Estas uacuteltimas refletem o aumento das atividades humanas na bacia hidrograacutefica onde

pode-se destacar as mudanccedilas induzidas pelas accedilotildees antropogecircnicas que se dividem em

diretas (aquelas que atuam no canal fluvial para controle das vazotildees a exemplo dos

reservatoacuterios e desvios de aacuteguas) e indiretas relacionadas agraves aacutereas fora dos canais por

exemplo o desmatamento e urbanizaccedilatildeo sendo que estas comprometem a descarga e

carga soacutelida do rio (PARK1981 KNIGHTON1984 apud CUNHA 2001)

O interesse pela pesquisa surge da importacircncia regional do municiacutepio dos impactos

histoacutericos humanos materiais e imateriais sofridos diante de eventos hidroloacutegicos

extremos tendo em vista o fato de o periacutemetro urbano ser cortado por um corpo fluvial de

importacircncia regional Aleacutem disso a abordagem geograacutefica possibilita a correlaccedilatildeo dos

processos fluviais com a ocupaccedilatildeo urbana de modo mais integrado (COELHO 2009)

Portanto uma das finalidades deste trabalho eacute analisar por meio das geotecnologias e das

investigaccedilotildees de campo como a ocupaccedilatildeo urbana tem interferido nas margens do Rio

Doce de modo a delimitar os sucessivos aterros na margem direita no periacutemetro do bairro

Esplanada a Colatina Velha Ademais identificar como os processos deste canal fluvial

tecircm sido afetados pela intervenccedilatildeo humana em seu leito principal

16

11 Objetivo

111 Objetivo Geral

Correlacionar os processos fluviais do Rio Doce por meio da dinacircmica geomorfoloacutegica

deste canal com o uso e cobertura da terra no setor urbano do municiacutepio de Colatina

Espiacuterito Santo Contrapondo assim as intervenccedilotildees urbanas da beira-rio com o Plano

Diretor Municipal e o Novo Coacutedigo Florestal enfatizando as diretrizes adotadas no

parcelamento do solo para a planiacutecie de inundaccedilatildeo deste rio

112 Objetivos Especiacuteficos

Identificar os vetores de crescimento urbano do municiacutepio a fim de avaliar a

evoluccedilatildeo da mancha urbana junto ao canal principal

Determinar o comprimento da borda da calha do leito regular do Rio Doce no

periacutemetro urbano de Colatina para definiccedilatildeo da largura miacutenima da faixa marginal

de preservaccedilatildeo

Espacializar as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente beira-rio previstas em lei a fim

de analisar a ocupaccedilatildeo urbana nestes espaccedilos

Cartografar os principais pontos desnaturalizados no canal principal do Rio Doce

no setor urbano de Colatina

Demonstrar como o emprego das geotecnologias auxilia no planejamento urbano

e ambiental especialmente em acircmbito municipal

17

12 Justificativa

A aacuterea de estudo corresponde ao periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina situado na

Bacia Atlacircntico trecho leste sub-bacia do Rio Doce no baixo curso (ANA 2001)

Compreende a regiatildeo noroeste do estado do Espiacuterito Santo latitude 19deg 32rsquo 16rsquorsquo S e

longitude 40deg 37rsquo 59rsquorsquo W De acordo com os dados do censo de 2010 do Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio possuiacutea uma populaccedilatildeo de 111788 mil

habitantes1 numa aacuterea territorial de 1416804 kmsup2

Devido a sua privilegiada posiccedilatildeo geograacutefica limiacutetrofe com o Rio Doce e a construccedilatildeo da

Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas em 1906 Colatina compreendia os territoacuterios dos atuais

municiacutepios de Baixo Guandu Linhares Pancas Satildeo Gabriel da Palha Marilacircndia Satildeo

Domingos do Norte e Governador Lindenberg (INCAPER 2011) Soacute a partir de 2001

passou a apresentar os atuais limites municipais e configurar uma aacuterea urbana com 59

bairros (Figura 1)

Colatina eacute um municiacutepio de importacircncia para regiatildeo noroeste capixaba seja em caraacuteter

econocircmico ou social Eacute responsaacutevel pelos fluxos de cargas da regiatildeo aleacutem de ser um polo

moveleiro de confecccedilatildeo metalmecacircnico e de comeacutercio e serviccedilos gerando emprego e

renda (INCAPER 2011) Aleacutem disso tem sofrido historicamente com as cheias do Rio

Doce principalmente porque parte do seu periacutemetro urbano eacute inundado com as aacuteguas da

calha principal desse rio o que compromete toda a dinacircmica local e potildee em risco os

colatinenses

Assim diante das crescentes demandas por territoacuterio no periacutemetro urbano a populaccedilatildeo

tem suprimido a cobertura vegetal e ocupado desde as margens do Rio Doce ateacute as

encostas dos morros Em periacuteodos de cheias principalmente nos meses de outubro a

marccedilo (INCAPER 2011 ANA 2001) verificam-se inundaccedilotildees de grande parte da aacuterea

urbana beira-rio aleacutem dos movimentos de massa nas encostas Como exemplo destes

acontecimentos tecircm-se os registros fotograacuteficos dos efeitos da chuva de dezembro de 2013

(Figuras 2 e 3)

1 De acordo com o a estimativa do IBGE de 2014 publicada no DOU o municiacutepio conta com uma populaccedilatildeo de 121670 habitantes

18

Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e o canal do Rio Doce Elaborado pela autora

19

Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 Fonte Noticias UOL (2013)

Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de 2013 Fonte Folha Vitoacuteria (2013)

Este estudo portanto eacute relevante tendo em vista as raras abordagens no acircmbito das

Ciecircncias Geograacuteficas especialmente no Espiacuterito Santo de pesquisas que correlacionem

aspectos da geomorfologia fluvial por meio da dinacircmica dos recursos hiacutedricos com o uso

e cobertura da terra particularmente o Plano Diretor Municipal (PDM) Discute dessa

forma as implicaccedilotildees da atuaccedilatildeo humana nas particularidades deste ecossistema natural

tendo em vista o disposto nas legislaccedilotildees urbaniacutesticas e ambientais que visam assegurar

a qualidade de vida das populaccedilotildees

Adiante seratildeo analisados os principais fundamentos da geomorfologia fluvial os aspectos

juriacutedicos e o papel da anaacutelise geograacutefica integrada para o entendimento dos fenocircmenos

das inundaccedilotildees no Centro de Colatina uma vez que eacute devido agraves intervenccedilotildees humanas

nos canais e suas margens que esses fenocircmenos tornam-se mais nocivos a cidade

20

2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS

21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano

Recurso essencial para a manutenccedilatildeo da vida a aacutegua foi um fator relevante para o

estabelecimento histoacuterico das sociedades no entorno dos cursos hiacutedricos Utilizados para

fins de abastecimento humano e animal irrigaccedilatildeo saneamento e transporte os rios

constituiacuteram-se nos principais propulsores de penetraccedilatildeo para o interior (CUNHA 2012a)

Logo em suas margens surgiram povoados que posteriormente transformaram-se em

cidades como as que se estabeleceram agraves margens do Rio Doce a exemplo da sede de

Colatina

Diante das potencialidades que os recursos hiacutedricos possibilitam agraves sociedades

destacamos a importacircncia do estudo da Geomorfologia Fluvial que se apresenta como

campo da Geomorfologia (ciecircncia que estuda as formas do relevo) sendo o interesse

daquela a pesquisa dos processos que relacionam o escoamento das aacuteguas fluviais num

contexto de bacia hidrograacutefica (CHRISTOFOLETTI 1980 CUNHA op cit) Enfoca assim

as alteraccedilotildees na fisionomia dos canais frente agraves intervenccedilotildees no ecossistema natural

beira-rio

A Geomorfologia Fluvial parte da condicionante de que o uso e ocupaccedilatildeo da terra refletem-

se na dinacircmica da bacia de drenagem interferindo nos processos morfogeneacuteticos ou seja

de modelagem do relevo fluvial escoamento superficial das aacuteguas e no ciclo hidroloacutegico

Frente agrave temaacutetica deste estudo faz-se necessaacuterio o entendimento dos conceitos da

fisiografia fluvial aqui referente aos diferentes setores que a aacutegua pode escoar num leito

(Figura 4) como

O leito menor corresponde agrave parte do canal ocupada pelas aacuteguas e cuja frequecircncia impede o crescimento da vegetaccedilatildeo Esse tipo de leito eacute delimitado por partes bem definidas O leito de vazante equivale agrave parte do canal ocupada durante o escoamento das aacuteguas de vazante Suas aacuteguas divagam dentro do leito menor seguindo o talvegue linha de maacutexima profundidade ao longo do leito e que eacute mais bem identificada na seccedilatildeo transversal do canal O leito maior tambeacutem denominado leito maior perioacutedico ou sazonal eacute ocupado pelas aacuteguas do rio regularmente e pelo menos uma vez ao ano durante as cheias Dependendo do tempo ocorrido entre as subidas das aacuteguas eacute possiacutevel haver a fixaccedilatildeo e o crescimento da vegetaccedilatildeo herbaacutecea

21

O leito maior excepcional eacute ocupado durante as grandes cheias no decorrer das enchentes (CUNHA 2001 p 213)

Figura 4 - Tipos de leito fluvial vaacuterzea Fonte Cunha (2001 p213)

Sendo assim as aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial (leitos) aquelas inundadas pelo corpo

hiacutedrico frente a um evento hidroloacutegico extremo tambeacutem satildeo conhecidas como vaacuterzeas

planiacutecie de inundaccedilatildeo ou ainda segundo Carneiro e Miguez (2011 p133) como ldquo[] zona

de passagem de cheia []rdquo Essas aacutereas de vaacuterzeas dependem da fisionomia que o rio

apresenta e segundo Cunha (op cit) o canal fluvial pode apresentar trecircs formas

principais conhecidas como padratildeo dos canais que satildeo retiliacuteneo anastomosado e

meacircndrico (Figura 5)

Figura 5 - Padrotildees dos canais (A) retiliacuteneo (B) anastomosado (C) meandrante (A) amplitude (Rc) raio meacutedio da curvatura do meandro (segundo Bigarella etal 1979) Fonte Cunha (2001 p216)

22

Aliada aos padrotildees dos canais estaacute a assimetria ou simetria dos leitos que para Cunha

(2001 p233) relaciona-se com a variaccedilatildeo da velocidade e turbulecircncia ao longo da secccedilatildeo

transversal o que diferencia o comportamento nos canais retiliacuteneos geralmente simeacutetricos

do canal meacircndrico onde

Em canais de leito simeacutetrico em geral padratildeo retiliacuteneo a velocidade maacutexima ocorre no centro do canal diminuindo em direccedilatildeo agraves margens Em leito assimeacutetrico de padratildeo meacircndrico a zona de maacutexima velocidade e turbulecircncia localiza-se nas proximidades das margens cocircncavas decrescendo de valor em direccedilatildeo agrave margem de menor profundidade

(convexa) (CUNHA opcit p 233)

Deste modo a capacidade de erosatildeo das margens transporte e deposiccedilatildeo da carga do rio

dependem entre outros fatores da velocidade das correntes fluviais E o material do fluxo

fluvial constitui-se da descarga liacutequida ou vazatildeo que estaacute relacionada ao tamanho do

material que pode ser transportado e do volume da carga que o rio eacute capaz de carregar

Tem-se ainda a carga soacutelida sedimentos que estaacute relacionada a suspensatildeo e fundo do

rio esta decresce a jusante indicando a diminuiccedilatildeo da competecircncia do corpo fluvial As

cargas de suspensatildeo satildeo constituiacutedas de partiacuteculas finas a exemplo do silte e por fim a

carga de fundo que eacute composta por partiacuteculas de tamanhos maiores a exemplo da areia

(CUNHA2001)

Christofoletti (1980) acrescenta que os sedimentos podem ser carregados de trecircs modos

principais no fluxo em soluccedilatildeo dissolvidos nos cursos hiacutedricos em suspensatildeo como o

silte e argila e em saltaccedilatildeo geralmente a areia e cascalho que compreendem a carga do

leito do rio Destaca-se que a carga detriacutetica natildeo proveacutem apenas da erosatildeo do fundo dos

leitos e margens fluviais mas que o material intemperizado de vertentes carreado nas

enchentes contribui significativamente para a carga sedimentar transportada

Cabe ressaltar ainda que a relaccedilatildeo do arranjo espacial dos canais com os processos

fluviais (a erosatildeo o transporte e a deposiccedilatildeo de sedimentos) eacute determinante para o

trabalho dos rios Tais processos satildeo diretamente influenciados pela vazatildeo velocidade e

pela intensidade da turbulecircncia (seja no fluxo laminar ou no fluxo turbulento) A

variabilidade no comportamento da velocidade e turbulecircncia das aacuteguas ao longo da seccedilatildeo

transversal condiciona os locais preferenciais de erosatildeo e deposiccedilatildeo ao longo do curso

hiacutedrico

23

Deste modo qualquer intervenccedilatildeo na bacia e canal fluvial compromete o equiliacutebrio natural

da drenagem levando o corpo hiacutedrico a se adaptar agraves mudanccedilas em sua fisionomia

fisiografia e em seus processos ateacute atingir um novo estado de equiliacutebrio Poreacutem eacute na

planiacutecie de inundaccedilatildeo que estas modificaccedilotildees seratildeo mais percebidas pela populaccedilatildeo pois

a maior parte das obras de engenharia como as canalizaccedilotildees e as ocupaccedilotildees das

margens acaba por romper com o equiliacutebrio natural do rio alterando sua dinacircmica e

intensificando seus processos o que na maioria das vezes potencializa as enchentes no

ambiente urbano

Nesse sentido o entendimento dos processos fluviais (erosatildeo transporte e deposiccedilatildeo)

combinado com a anaacutelise da fisiografia fluvial condicionam as peculiaridades na geometria

hidraacuteulica ou seja na relaccedilatildeo entre a vazatildeo velocidade de escoamento tipos de canais

de sedimentos e a topografia Logo o conhecimento geomorfoloacutegico do rio contribui para

pesquisas que necessitem relacionar o funcionamento deste corpo natural com um

planejamento urbano mais efetivo principalmente se considerarmos um recorte em niacutevel

de bacia hidrograacutefica em espaccedilo urbano

211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial

O capiacutetulo que segue versa sobre a atuaccedilatildeo antroacutepica relacionando-a a aacuterea de estudo o

rio Doce poreacutem este trata de forma macro a temaacutetica para contextualizar o leitor sendo

as especificidades das intervenccedilotildees neste recorte geograacutefico trabalhados nos resultados

desta pesquisa

Diante do exposto eacute possiacutevel acompanhar a evoluccedilatildeo dos processos fluviais nos canais

em especial aqueles que tiveram intervenccedilotildees em seu curso natural como as hidreleacutetricas

instaladas a montante a exemplo do Rio Doce onde a interferecircncia direta na vazatildeo e fluxo

de sedimentos altera a hidrodinacircmica do rio comprometendo a erosatildeo e transporte Para

Coelho (2007 p57) as

Mudanccedilas na Declividade Perfil Longitudinal Promovidas pela construccedilatildeo de reservatoacuterio satildeo variadas e caso o efeito da contenccedilatildeo de sedimentos seja significativo os processos fluviais reduziratildeo a capacidade de transporte de sedimento podendo promover um entalhamento do leito do rio imediatamente agrave jusante da barragem

Aleacutem disso esse processo erosivo poacutes-barragem eacute intensificado favorecendo o

assoreamento e sedimentaccedilatildeo do rio a jusante O que pode beneficiar a elevaccedilatildeo da cota

24

do canal fluvial frente a eventos hidroloacutegicos extremos potencializando os efeitos das

inundaccedilotildees nas vaacuterzeas

Ao mesmo tempo o Rio Doce trecho que compreende o Espiacuterito Santo meacutediobaixo curso

eacute impactado nas vazotildees miacutenimas e maacuteximas a jusante apoacutes a instalaccedilatildeo das

barragensUsinas Hidreleacutetricas (UHE) de Mascarenhas (iniacutecio de operaccedilatildeo em 1974)

localizada no Municiacutepio de Baixo Guandu e a de Aimoreacutes (iniacutecio de operaccedilatildeo em 2005)

localizada na divisa do Espiacuterito Santo com Minas Gerais (COELHO 2007)

De acordo com Coelho (opcit) apoacutes a implantaccedilatildeo das usinas ocorreu uma reduccedilatildeo

significativa na vazatildeo da calha principal do Rio Doce conforme Graacutefico 1

Considerando o periacuteodo de 1939 a 2012 a vazatildeo miacutenima apoacutes a instalaccedilatildeo das usinas

chega a atingir 411msup3s e a maacutexima chega apenas a 1251msup3s sendo que no periacuteodo

anterior agrave instalaccedilatildeo das usinas foi registrada a miacutenima de 533 msup3s e uma maacutexima de

1812 msup3s o que ressalta o impacto do barramento sobre o corpo hiacutedrico Aleacutem do

comprometimento dos processos de erosatildeo transporte e sedimentaccedilatildeo (COELHO 2008

e CUNHA 2001)

Diante desta perda de carga liacutequida nos barramentos Cunha (2001 p 241) observa ainda

que as aacutereas a jusante de reservatoacuterios

[hellip] onde o regime do rio sofre significativas modificaccedilotildees devidas ao controle das descargas liquidas e de sedimentos no reservatoacuterio As mudanccedilas ocorridas no regime das aacuteguas neste setor do rio acarretam significativos efeitos nos processos do canal tais como o entalhe do leito a erosatildeo das margens e a deposiccedilatildeo a jusante atingindo longas distacircncias

Aleacutem disso no periacutemetro urbano de Colatina o Rio Doce sofreu outras intervenccedilotildees em

seu canal principal como a implantaccedilatildeo de obras estruturais de macrodrenagem a

exemplo da construccedilatildeo da Av Beira-Rio com intuito de conter o avanccedilo das aacuteguas fluviais

em periacuteodos de cheias

25

Graacutefico 1

Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais (Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia)

Fonte adaptado de Coelho (2007 p154)

26

Como exemplo dos tipos de intervenccedilotildees humanas nas aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial

leitos Carneiro e Miguez (2011 p117) destacam

As accedilotildees de controle e cheias urbanas podem ser classificadas em estruturais quando a paisagem eacute alterada pela accedilatildeo do homem e em natildeo estruturais aqui denominada como estruturante quando o homem aprende a conviver com as enchentes No primeiro caso estatildeo as medidas de controle atraveacutes de obras hidraacuteulicas tais como barragens diques e canais entre outras No segundo caso encontram-se medidas do tipo preventivo tais como zoneamento de aacutereas de inundaccedilatildeo sistemas de alerta educaccedilatildeo ambiental lei de parcelamento e uso dos solos e seguros contra inundaccedilatildeo

Neste cenaacuterio abarcamos os impactos das obras de engenharia como a canalizaccedilatildeo que

altera a fisionomia e fisiografia do rio refletindo-se nos processos geomorfoloacutegicos do canal

e sua planiacutecie de inundaccedilatildeo Para estes a canalizaccedilatildeo eacute uma obra estrutural que aumenta

a capacidade do fluxo do canal aleacutem de intensificar a velocidade do escoamento

superficial antecipando o pico de cheia e transferindo os alagamentos para locais a jusante

na bacia hidrograacutefica

Articulado a esta ideia Cunha (2012b) reflete a desnaturalizaccedilatildeo dos rios por meio de

obras de retificaccedilatildeo com a reduccedilatildeo do comprimento do canal e eliminaccedilatildeo das

sinuosidades Satildeo obras que afetam a estabilidade do corpo hiacutedrico na medida em que

interferem na relaccedilatildeo entre erosatildeo sedimentaccedilatildeo e deposiccedilatildeo provocando efeitos como

alteraccedilatildeo na morfologia do canal Sendo assim ldquo[hellip] a diminuiccedilatildeo da rugosidade no fundo

do canal em conjunto com a perda dos meandros e a aceleraccedilatildeo das velocidades eacute a

principal responsaacutevel pelas mudanccedilas no balanccedilo da energia natural dos sedimentos

fluviais [hellip]rdquo Cunha (2012b p178) No caso do Rio Doce trecho correspondente agrave Av

Beira-Rio alterou-se a sua forma retilinizando-a e sua vegetaccedilatildeo natural foi substituiacuteda

por estruturas de pedras o que compromete a resistecircncia ao fluxo as margens e aos

bancos arenosos

Embora as obras de canalizaccedilatildeo sejam implantadas como eficazes nos canais fluviais para

questotildees de enchentes urbanas para Cunha (op cit) estas necessitam de manutenccedilatildeo

constante envolvendo desde dragagem remoccedilatildeo de obstruccedilotildees a recomposiccedilatildeo do

material utilizado Poreacutem toda a manutenccedilatildeo estaacute associada a alteraccedilotildees morfoloacutegicas e

bioloacutegicas como as que interferem nas soleiras e depressotildees do fundo dos leitos

desestabilizando a vazatildeo no curso a exemplo da

27

ldquo[hellip] eliminaccedilatildeo da sequecircncia de depressotildees e soleiras o aumento da velocidade da corrente a diminuiccedilatildeo da diversidade de habitats o ambiente instaacutevel resultante da flutuaccedilatildeo dos niacuteveis da aacutegua e do substrato moacutevel e a maior flutuaccedilatildeo da temperatura das aacuteguasrdquo (CUNHA 2012b p180)

Ao mesmo tempo o aumento da velocidade dos escoamentos no trecho retificado

possibilita maior erosatildeo transferindo para as aacutereas a jusante uma carga soacutelida

representativa que para Cunha (op cit) configura a formaccedilatildeo de bancos axiais e depoacutesitos

de sedimentaccedilatildeo marginais alterando o equiliacutebrio dos sedimentos a jusante Pois

A jusante das obras de retificaccedilatildeo verificam-se o aumentam da carga soacutelida o assoreamento durante a dragagem a erosatildeo no canal pelos eventos torrenciais do regime e a modificaccedilatildeo na dinacircmica na foz Os sedimentos resultantes da erosatildeo no canal retificado em conjunto com a excessiva carga de sedimentos posta em suspensatildeo durante a dragagem e na fase imediata de poacutes-construccedilatildeo - quando a erosatildeo dos bancos de areia sem vegetaccedilatildeo estaacute em seu niacutevel maacuteximo - originam a formaccedilatildeo de depoacutesitos fluviais de curta duraccedilatildeo a jusante do canal retificado Logo a seguir esses depoacutesitos satildeo erodidos juntamente com as margens e o fundo do leito pelos eventos torrenciais do regime vindo a formar bancos axiais e depoacutesitos de sedimentaccedilatildeo marginais (CUNHA2012b p183)

Portanto o estudo da geomorfologia fluvial contribui diretamente para o entendimento das

cheias nas planiacutecies de inundaccedilatildeo em especial nas bacias hidrograacuteficas que

compreendem a aacuterea urbana e que possuem intervenccedilotildees antroacutepicas diretas na fisiografia

do canal principal Seus processos explicam como as alteraccedilotildees no canal fluvial podem

maximizar os efeitos dos transbordamentos impactando principalmente as populaccedilotildees

ribeirinhas aleacutem de todo ecossistema local Ademais estes fundamentos geomorfoloacutegicos

devem ser associados agrave legislaccedilatildeo vigente afim de subsidiar a elaboraccedilatildeo de instrumentos

legais para atuaccedilatildeo do poder puacuteblico nestas zonas de risco

22 Aspectos Juriacutedicos

Frente agrave crescente demanda sobre os recursos hiacutedricos e solo urbano a partir da deacutecada

de 1930 surgem as primeiras diretrizes que visam regulamentar estes ambientes a

exemplo do Coacutedigo das Aacuteguas Mas soacute a partir dos anos 1960 surgem em acircmbito federal

leis como o Coacutedigo Florestal com o intuito de regular a exploraccedilatildeo das vegetaccedilotildees e

consequentemente proteger os mananciais e em 1979 com o objetivo de ordenar as

28

cidades eacute aprovada a Lei 676679 estabelecendo as normas do parcelamento do solo

urbano

Na medida em que as populaccedilotildees aumentam ampliam-se tambeacutem as pressotildees sobre os

recursos de aacutegua e solo Os processos de uso e a conscientizaccedilatildeo de que estes elementos

satildeo finitos intensificam as formas de controle e preservaccedilatildeo passando para as esferas

estaduais e municipais a responsabilidade de atuar em escala local na proteccedilatildeo desses

ambientes

Ainda em escala federal em 2012 eacute promulgado o Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012

em substituiccedilatildeo ao coacutedigo anterior Lei 47711965 que apresenta as normas de

apropriaccedilatildeo dos recursos naturais pelas novas necessidades das populaccedilotildees citadinas e

rurais No que compete agrave aacuterea de estudo cabe destacar as ocupaccedilotildees em aacutereas de

planiacutecie de inundaccedilatildeo em que de acordo com art 4ordm devem ser preservadas

I - as faixas marginais de qualquer curso drsquoaacutegua natural perene e intermitente excluiacutedos os efecircmeros desde a borda da calha do leito regular em largura miacutenima de (Incluiacutedo pela Lei nordm 12727 de 2012) a) 30 (trinta) metros para os cursos drsquoaacutegua de menos de 10 (dez) metros de largura b) 50 (cinquenta) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura c) 100 (cem) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura d) 200 (duzentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura e) 500 (quinhentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros []

A legislaccedilatildeo eacute riacutegida no que concerne agrave ocupaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo das terras nas faixas

marginais dos rios transferindo aos estados e municiacutepios a responsabilidade de fiscalizar

estes territoacuterios para garantir a efetividade da lei A questatildeo eacute que muitas vezes somada a

falta de planejamento estas fiscalizaccedilotildees satildeo ineficientes o que tem possibilitado o

surgimento cada vez maior das ocupaccedilotildees irregulares

Apoiado tambeacutem pela Constituiccedilatildeo Federal de 1988 nos artigos 182 e 183 surge o

Estatuto das Cidades Lei 102572001 com finalidade de garantir a funccedilatildeo social da

cidade e com este os primeiros Planos Diretores Municipais (PDM) que buscam o

ordenamento do crescimento das cidades em caraacuteter socioeconocircmico e ambiental cidades

sustentaacuteveis Ademais em Colatina eacute instituiacuteda a Lei 42281996 posteriormente revogada

29

pela Lei 52732007 que ldquoInstitui o Plano Diretor do Municiacutepio de Colatina estabelece os

objetivos instrumentos e diretrizes e daacute outras providecircncias para as accedilotildees de

planejamento do Municiacutepio de Colatina []rdquo

O PDM de Colatina assim como Coacutedigo Florestal prevecirc a preservaccedilatildeo dos ecossistemas

beira-rio Aquele ainda dispotildee sobre o parcelamento do solo sustentaacutevel a funccedilatildeo social

da cidade e da propriedade conforme o Plano Diretor de Colatina de 2007 nos artigos

transcritos

Artigo 22 - As diretrizes ambientais no Municiacutepio de Colatina satildeo I - aplicar os instrumentos de gestatildeo ambiental estabelecidos nas legislaccedilotildees federal estadual e municipal bem como a criaccedilatildeo de outros instrumentos adequando-os agraves metas estabelecidas pelas poliacuteticas ambientais II - compatibilizar as diretrizes de uso ocupaccedilatildeo e parcelamento do solo aos objetivos de proteccedilatildeo ambiental dos ecossistemas [] Artigo 23 - Satildeo diretrizes do sistema de drenagem urbana I - disciplinar a ocupaccedilatildeo das cabeceiras e vaacuterzeas das bacias hidrograacuteficas do Municiacutepio preservando a vegetaccedilatildeo existente e visando agrave sua recuperaccedilatildeo [] III - definir mecanismos de fomento para usos do solo compatiacuteveis com aacutereas de interesse para drenagem tais como parques lineares aacuterea de recreaccedilatildeo e lazer hortas comunitaacuterias e manutenccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa [] V - implantar medidas natildeo-estruturais [sic] de prevenccedilatildeo de inundaccedilotildees tais como controle de erosatildeo especialmente em movimentos de terra controle de transporte e deposiccedilatildeo de entulho e lixo combate ao desmatamento assentamentos clandestinos e a outros tipos de invasotildees nas aacutereas com interesse para drenagem [] VII - garantir e respeitar a necessaacuteria permeabilidade do solo inclusive buscando alternativas de pavimentaccedilatildeo com maior de permeabilidade [sic] [] Artigo 84 ndash Satildeo objetivos do ordenamento territorial do Municiacutepio de Colatina [] IV ndash conter a expansatildeo da ocupaccedilatildeo urbana em aacutereas de proteccedilatildeo ambiental [] Artigo 120 ndash Ficam desde jaacute identificadas como Zonas de Proteccedilatildeo Ambiental 2 ndash ZPA 2 as seguintes aacutereas [] III ndash as aacutereas existentes ao longo de qualquer curso drsquoagua desde o niacutevel mais alto em faixa marginal cuja largura miacutenima seraacute de a) 15m (trinta metros) [sic] para os cursos drsquoagua com menos de 10m (10

metros) de largura contidos no periacutemetro urbano [] c) 30m (trinta metros) para os cursos drsquoagua que tenham de10m (dez

metros a 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano

[]

30

e) 50m (cinquenta metros) para os cursos drsquoagua que tenham mais de 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 60422013)

[]

De modo geral verifica-se que a legislaccedilatildeo apresenta instrumentos que permitem a

prevenccedilatildeo ou controle de ocupaccedilotildees irregulares ou clandestinas em aacuterea de APP aleacutem de

propostas para resguardar de grandes impactos ambientais o corpo hiacutedrico principal do

municiacutepio o Rio Doce Possibilitando assim a minimizaccedilatildeo dos impactos causados pelas

cheias agrave populaccedilatildeo local

Poreacutem cabe destacar que o Plano Diretor Municipal de Colatina natildeo contempla o

estipulado no Coacutedigo Florestal 2012 Lei Federal onde os cursos drsquoaacutegua com largura

superior a 600(seiscentos) metros devem ser resguardados com aacutereas de preservaccedilatildeo

permanente de 500(quinhentos) metros entre outros sendo que a redaccedilatildeo desta parte do

PDM eacute dada pela lei 60422013 posterior a publicaccedilatildeo do novo Coacutedigo Florestal Sendo

assim verifica-se que apesar da intenccedilatildeo de resguardar uma faixa de no maacuteximo

50(cinquenta) metros em periacutemetro urbano para a contenccedilatildeo de cheias e mata ciliar o

PDM de Colatina natildeo atende o miacutenimo previsto em Lei Federal O que tem impactado todo

ecossistema beira rio e a populaccedilatildeo ribeirinha uma vez que a faixa marginal de proteccedilatildeo

de 50(cinquenta) metros em muitos casos natildeo tem comportado o impacto dos defluacutevios

No entanto a legislaccedilatildeo trata de aspectos gerais natildeo pontuando as aacutereas responsaacuteveis

por cada accedilatildeo aleacutem de sua aplicabilidade depender da elaboraccedilatildeo de um cronograma de

execuccedilatildeo bem como um conjunto de planos e normas especiacuteficos para cada diretriz com

detalhamento das propostas de intervenccedilatildeo Isto natildeo ocorreu ateacute o presente

Aleacutem disso a cidade de Colatina surgiu num cenaacuterio histoacuterico anterior agraves legislaccedilotildees

urbaniacutesticas e ambientais inclusive do Coacutedigo das Aacuteguas o que dificulta a execuccedilatildeo de

um planejamento que concilie a preservaccedilatildeo das matas beira-rio garantindo a faixa de

APP com a ocupaccedilatildeo urbana consolidada

A aacuterea de estudo se apresenta como ambiente fragilizado apesar de ser regida por

legislaccedilotildees desde a escala federal ateacute a municipal que visam proteger e ordenar o uso e

cobertura da terra nas faixas marginais dos rios Mas a dificuldade das prefeituras em

aplicar os instrumentos legais nestes ambientes seja por interesses privados ou falta de

recursos para investimentos em soluccedilotildees a longo prazo continua expondo as populaccedilotildees

31

aos impactos dos eventos hidroloacutegicos criacuteticos como os que resultam nas inundaccedilotildees

Para que se alcance esse parcelamento do solo sustentaacutevel satildeo necessaacuterios esforccedilos da

gestatildeo municipal em estipular prazos e metas de atuaccedilatildeo afora interagir os diferentes

setores no planejamento em niacutevel de bacia hidrograacutefica considerando as peculiaridades

desta escala de trabalho

23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos

Sendo a ciecircncia que estuda a relaccedilatildeo homemnatureza a Geografia tem muito a contribuir

nas anaacutelises que envolvem o meio ambiente que foi transformado pela dinacircmica da

sociedade Mas historicamente a dialeacutetica das correntes fiacutesica e humana tem imperado de

modo dissociado levando o geoacutegrafo a estudar estes processos separadamente Poreacutem

se o resultado pretendido eacute integrado fazem-se necessaacuterias pesquisas mais amplas que

cruzem as diferentes vertentes geograacuteficas

Considerando que a problemaacutetica dos impactos ambientais urbanos envolve a questatildeo

natural o rio e a questatildeo social e poliacutetica a sociedade e as leis (COELHO 2013) uma

pesquisa neste acircmbito requer o entendimento destes dois objetos a fim de se apreender

o processo de crescimento das cidades brasileiras e a sua relaccedilatildeo com os recursos

hiacutedricos

A partir da deacutecada de 1950 devido ao ecircxodo rural mais intenso as cidades brasileiras

incharam rapidamente com a migraccedilatildeo do camponecircs que buscava melhores condiccedilotildees de

vida como trabalho na induacutestria o acesso agraves escolas saneamento entre outros E

segundo Gorski (2010) a populaccedilatildeo brasileira passou desde o iniacutecio deste processo de 19

milhotildees de habitantes em 1950 para 138 milhotildees de habitantes em 2000 (dados do IBGE)

o que corrobora o raacutepido crescimento das cidades

Todavia as estruturas puacuteblicas natildeo estavam preparadas para um acreacutescimo populacional

tatildeo significativo e em curto espaccedilo de tempo E o que observamos eacute o acesso limitado

dessa populaccedilatildeo agraves aacutereas centrais da cidade sendo induzida a se estabelecer nas

periferias Nesta visatildeo

O difiacutecil acesso da populaccedilatildeo de baixa renda agraves aacutereas mais centrais das cidades contribuiu segundo Raquel Rolnik para a expansatildeo da periferia o que muitas vezes implicou e implica ainda invasatildeo de aacutereas de proteccedilatildeo de mananciais com a aquiescecircncia do poder puacuteblico Esta

32

dinacircmica agravou a situaccedilatildeo de risco dos mananciais pela eliminaccedilatildeo das matas ciliares e consequentemente erosatildeo das margens dos cursos drsquoaacutegua e assoreamento de suas calhas e pela contribuiccedilatildeo do esgoto in natura (ROLNIK1997 apud GORSKI 2010 p62)

Sendo assim a supressatildeo das matas ciliares e das vegetaccedilotildees das encostas para fins de

ocupaccedilatildeo urbana interfere diretamente no ciclo hidroloacutegico diminuindo a absorccedilatildeo de

aacutegua pelo subsolo e pela evapotranspiraccedilatildeo favorecendo o escoamento superficial (Figura

6) que intensifica a velocidade de drenagem das aacuteguas Este processo nas encostas eacute

mais significativo se considerarmos que com a supressatildeo da cobertura vegetal e

impermeabilizaccedilatildeo do solo as precipitaccedilotildees acabam por lavar todo o material

intemperizado sedimentos carregando-o diretamente para o corpo hiacutedrico e contribuindo

para o assoreamento

Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento Fonte Gorski (2010 p64)

Por outro lado as ocupaccedilotildees ribeirinhas nas vaacuterzeas dos rios modificam a dinacircmica fluvial

frente aos defluacutevios A compactaccedilatildeo e o nivelamento do solo associados agrave

impermeabilizaccedilatildeo por concreto asfalto e outros materiais alteram todo o sistema de

drenagem natural e contribuem para a erosatildeo fluvial Aleacutem disso a gestatildeo puacuteblica que

33

deveria investir num parcelamento do solo sustentaacutevel resguardando ldquouma alocaccedilatildeo de

espaccedilosrdquo (CANHOLI 2005 p 15) para a drenagem acaba por colaborar com as enchentes

urbanas na medida em que decide por obras estruturais como a canalizaccedilatildeo (Figura 7

p30) e a microdrenagem que transferem os impactos das inundaccedilotildees a jusante

Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia Fonte Gorski (2010 p69)

Cabe destacar que desde 1965 com o primeiro Coacutedigo Florestal as matas beira-rio jaacute

eram resguardadas da degradaccedilatildeo humana poreacutem com todo o boom urbano a partir de

1950 a falta de estrutura e ingerecircncia municipal no que se refere ao parcelamento e uso

e ocupaccedilatildeo da terra urbana possibilitou a formaccedilatildeo dos assentamentos clandestinos em

APP e na encosta de morros Em condiccedilotildees precaacuterias sem saneamento baacutesico e demais

infraestruturas urbanas estes assentamentos acabam sendo as regiotildees mais afetadas

com as inundaccedilotildees

Junto agraves questotildees jaacute levantadas vale destacar que as aacuteguas das inundaccedilotildees propiciam o

aumento das doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica (febre tifoide hepatite leptospirose

esquistossomose entre outras) pois carregam segundo Gorski (2010) toda uma poluiccedilatildeo

difusa efluentes domeacutesticos industriais e agroindustriais aleacutem do lixo urbano da poluiccedilatildeo

do ar e das ruas

34

Por outro lado esta ocupaccedilatildeo urbana natildeo planejada perde o benefiacutecio que os corpos

hiacutedricos podem oferecer como [] as paisagens fluviais que aos poucos foram sendo

apropriadas como paisagens urbanas [] (GORSKI 2010 38) aleacutem do microclima

associado agrave umidade pela evapotranspiraccedilatildeo que ameniza a sensaccedilatildeo teacutermica local

Poreacutem conforme observado por Graeff (2011) natildeo eacute cabiacutevel atualmente implantar a

legislaccedilatildeo de APP de modo jurista Deve-se considerar toda a representatividade cultural

assentada sobre os leitos destes rios (avenidas importantes casas com arquitetura

histoacuterica entre outros) Aleacutem disso para a demarcaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo

permanente hoje eacute necessaacuteria uma anaacutelise teacutecnica pautada na geomorfologia e

hidrologia de modo a interpretar o ldquocomportamento histoacuterico dos cursos drsquoaacutegua na

paisagem prevendo cenaacuterios de impactos futurosrdquo da atividade humana sobre suas faixas

marginais

Tendo em vista que grande parte da malha urbana brasileira estaacute alocada em APPs e que

segundo Graeff (2011) estas jaacute possuem uma unidade de paisagem estabelecida e muitas

vezes secular configurando siacutetios de importacircncia cultural e apreendendo que

De modo semelhante nas demais cidades haveraacute que ser entendido o meio urbano como ele realmente eacute ndash um encontro entre as necessidades de habitaccedilatildeo com atividades humanas e de conservaccedilatildeo ambiental esta segunda tambeacutem a serviccedilo do homem e natildeo somente de objetivos difusos e distanciados da sobrevivecircncia da sociedade (GRAEFF 2011 206)

Por tais motivos o trabalho com a geomorfologia fluvial urbana deve abarcar os princiacutepios

do bom senso compreendendo que nestas aacutereas de atividade antroacutepica consolidada pode-

se fazer uso de instrumentos de engenharia avanccedilados para uma convivecircncia equilibrada

do homem com a natureza no entorno Contudo deve-se incentivar as aacutereas de expansatildeo

urbana ou zona periurbana (zonas de transiccedilatildeo da aacuterea urbana para a rural) com poliacuteticas

de incentivo a pavimentaccedilotildees mais permeaacuteveis a fim de minimizar o escoamento

superficial para o rio favorecendo a infiltraccedilatildeo

Apesar de os impactos gerados pela interferecircncia humana nas aacutereas mais fragilizadas da

bacia hidrograacutefica vaacuterzeas e encostas refletirem-se em cataacutestrofes com prejuiacutezos

humanos ambientais e urbanos alguns autores brasileiros como Canholi Graeff Cunha

Carneiro e Miguez jaacute indicaram outros caminhos para uma convivecircncia harmoniosa com

a natureza Aleacutem do mais paiacuteses desenvolvidos como a Holanda deixaram de ldquolutar contra

35

as cheiasrdquo para permitir agraves aacuteguas das enchentes a capacidade de acumular e dispersar

com impacto reduzido para as populaccedilotildees (CARNEIRO MIGUEZ 2011)

Sendo assim a proposta deste estudo eacute identificar os principais agentes que influenciam

as inundaccedilotildees entendendo seu papel e atuaccedilatildeo no contexto urbano de Colatina Mas eacute

tambeacutem a de ampliar a abordagem da temaacutetica com uma anaacutelise geograacutefica integrada

ressaltando as medidas que constam no planejamento urbano e sua aplicaccedilatildeo nas faixas

marginais do corpo hiacutedrico

36

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS

Esta pesquisa eacute constituiacuteda de trecircs etapas principais sendo que a primeira teve como

premissa a confecccedilatildeo de um fluxograma (Figura 8) de trabalho para orientar a pesquisa

em seguida teve iniacutecio o levantamento de bibliografias que abordam temas como a

geomorfologia fluvial e urbanizaccedilatildeo em Colatina adotando-se como referecircncia as

pesquisas de Coelho (2006 2007 2008 e 2009) e Albani (2012) Aleacutem disso muito

contribuiacuteram para este trabalho o relatoacuterio do INCAPER da CPRM e os dados do IBGE

Cabe destacar tambeacutem as experiecircncias com recursos hiacutedricos em ambientes urbanos de

Carneiro e Miguez (2011) em especial Cunha (2001 2012ab)

Esta etapa consistiu tambeacutem na busca de material cartograacutefico como aquisiccedilatildeo de planos

de informaccedilatildeo de limite estadual municipal bairros mancha urbana corpo drsquoaacutegua e

logradouros atraveacutes de dados disponiacuteveis no Sistema Integrado de Bases Geoespaciais

do Estado do Espiacuterito Santo (GEOBASES 2014) no Instituto Jones dos Santos Neves

(IJSN 2015) e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2014) imagens

orbitais gratuitas do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI bandas 2-3-4 e 8 (Pan) oacuterbita 216

ponto 73 com datas de passagem em 02012014 e 22032014 agraves 946 (horaacuterio central

da oacuterbita) junto ao Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2014) aleacutem do ortofotomosaico

do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hiacutedricos (IEMA 2014) do Espiacuterito

Santo referente ao voo de 2007 a 2008

Na segunda etapa foram realizadas duas investigaccedilotildees de campo sendo a primeira no

dia 24 de junho de 2014 com a finalidade de fazer o reconhecimento da aacuterea de estudo

fotografar e conversar com moradores e teacutecnicos da prefeitura O segundo trabalho de

campo ocorreu no dia 14 de fevereiro de 2015 e por meio deste foi possiacutevel identificar

pontos sujeitos a inundaccedilatildeo analisar a topografia e realizar as entrevistas com moradores

e funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina

37

Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC)

38

Na terceira etapa foram realizados os mapeamentos e processamentos de todos os planos

de informaccedilatildeo vetoriais e matriciais em ambiente de SIG no sistema ArcGis 103 iniciando

com a ediccedilatildeo dos dados do Municiacutepio e adjacecircncias que foram ajustados quando

necessaacuterio ao sistema de projeccedilatildeo UTM no Datum SIRGAS ndash 2000 na Zona 24 sul com

meridiano central -39 W com todo o mapeamento produzido seguindo a padronizaccedilatildeo

cartograacutefica proposta por Fitz (2008 a b)

O geoprocessamento teve iniacutecio com a composiccedilatildeo das imagens orbitais do Landsat-8 na

cor natural da imagem (2R 3G 4B) e por meio da teacutecnica de Pan Sharpening ou fusatildeo

de imagens a imagem cor natural foi agrupada agrave da banda 8 pancromaacutetica para obtenccedilatildeo

de uma melhor resoluccedilatildeo espacial neste caso chegando a 15 metros sendo resguardado

o conteuacutedo da imagem composta Na sequecircncia foi realizada a extraccedilatildeo da maacutescara do

periacutemetro urbano de Colatina e gerada a classificaccedilatildeo supervisionada da imagem Landsat-

8 no periacuteodo de cheia (janeiro) e vazante (marccedilo) o que possibilitou a delimitaccedilatildeo da calha

do Doce nestes dois eventos

Em seguida foram realizadas as 8 (oito) mediccedilotildees do leito regular sendo 4 (quatro) no

periacuteodo de cheia e 4 (quatro) na vazante de modo a definir a largura meacutedia da calha do

leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina Para chegar a uma medida geral

da largura do rio utilizaram-se ferramentas estatiacutesticas como a meacutedia que eacute uma medida

de tendecircncia central onde numa amostra de tamanho N constituiacuteda por elementos de x

variando de eacute possiacutevel extrair a meacutedia aritmeacutetica atraveacutes da equaccedilatildeo

A meacutedia aponta para onde mais convergem os dados de uma distribuiccedilatildeo

A partir desta definiccedilatildeo da meacutedia da largura da calha do Rio Doce foi possiacutevel em consulta

ao Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e a Lei 52732007 determinar a faixa miacutenima

de preservaccedilatildeo permanente deste corpo fluvial aleacutem da confecccedilatildeo do mapa com o

poliacutegono de APP

Mediante a anaacutelise do mapa verificou-se que grande parte dos bairros do municiacutepio estatildeo

contidos nos poliacutegonos de APP em especial a preservaccedilatildeo de 500 metros conforme lei

federal E por meio deste foram cruzados os dados de vazatildeo as fotos histoacutericas das

enchentes e o poliacutegono de mata ciliar o que permitiu o entendimento das inundaccedilotildees

39

Em ambiente de SIG tambeacutem foram vetorizados os trecircs traccedilados da Estrada de Ferro

Vitoacuteria a Minas o trajeto do Rio Santa Maria do Doce antes e depois da retilinizaccedilatildeo e os

sucessivos aterros na margem direita do Rio Doce no periacutemetro que compreende a Av

Beira-Rio

As teacutecnicas de sensoriamento remoto como a classificaccedilatildeo supervisionada permitiram a

definiccedilatildeo do poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo atraveacutes da imagem da cheia de janeiro Para

tanto foi realizada tambeacutem a classificaccedilatildeo hiacutebrida objetivando aliar a interpretaccedilatildeo visual

com a digital (JENSEN 2009) Por fim foi realizada amarraccedilatildeo com o levantamento

geodeacutesico da CPRM (2014) para garantir a precisatildeo do traccedilado do poliacutegono de cheia

A partir do tratamento dos dados bibliograacuteficos cartograacuteficos e imagens foi possiacutevel

sistematizar este trabalho o que permitiu identificar elementos histoacutericos de intervenccedilatildeo

na paisagem do Doce como os aterros e a ocupaccedilatildeo urbana As visitas de campo a

entrevista e conversas com moradores foram fundamentais para a validaccedilatildeo das

informaccedilotildees o que tornou esta metodologia eficaz para anaacutelise do fenocircmeno da inundaccedilatildeo

em Colatina

40

4 RESULTADOS

41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana

A ocupaccedilatildeo ao longo das planiacutecies de inundaccedilatildeo dos rios tem ocorrido diante da

necessidade deste recurso para as atividades vitais humanas Cunha (2012b p219)

entende que ldquosuas margens tecircm sido o centro preferido da habitaccedilatildeo humana e o

suprimento de suas aacuteguas natildeo soacute fertiliza os campos para o cultivo como tambeacutem fornece

energia e permite recreaccedilatildeordquo Logo o estabelecimento das vilas nas bordas dos cursos

drsquoaacutegua favorece a logiacutestica ocupacional

Historicamente em solo espiacuterito-santense a formaccedilatildeo das vilas ocorreu agraves margens de

estrateacutegicos cursos drsquoaacutegua e a exploraccedilatildeo do ouro de Minas Gerais para Albani (2012)

determinou que a Coroa proibisse nos seacuteculos XVII a XIX a implantaccedilatildeo de estradas e

exploraccedilatildeo de terras na Capitania do Espiacuterito Santo pois os portugueses temiam incursotildees

estrangeiras deixando assim o desenvolvimento capixaba restrito agrave faixa litoracircnea

Relegada enquanto ldquobarreira verderdquo para defesa das minas de ouro e minerais do atual

territoacuterio das Minas Gerais segundo Coelho (2007) a Capitania do Espiacuterito Santo soacute

passou a se interiorizar para o centro-oeste onde se localiza atualmente a cidade de

Colatina a partir de 1847 por meio das ocupaccedilotildees de Santa Izabel e Santa Leopoldina

que permitiram a descida do Rio Santa Maria do Doce ateacute as imediaccedilotildees da atual cidade

de Colatina

Assim foi que o movimento colonizador desceu o vale do Santa Maria do Rio Doce atingindo em 1891 a regiatildeo das matas onde hoje se acha a cidade de Colatina [] Esta penetraccedilatildeo inicial foi feita com elementos alematildees de Santa Leopoldina e no rio Doce ficou muito anos restrita agrave aacuterea inicial A expansatildeo ao longo do vale tomou impulso com a chegada a Colatina em 1906 dos trilhos da Estrada de Ferro Diamantina (atual Vitoacuteria-Minas) (STRAUCH1955 apud COELHO 2007 p105)

Sendo assim Coelho (op cit) relata que a ocupaccedilatildeo se deu atraveacutes da supressatildeo da mata

nativa no baixo curso do Rio Doce de Colatina a Linhares sendo a madeira daiacute extraiacuteda

levada ateacute o rio e encaminhada ateacute Povoaccedilatildeo vilarejo junto agrave foz de onde eram carregados

os navios Neste periacuteodo tem-se a instalaccedilatildeo de um ciclo madeireiro na regiatildeo com a

disposiccedilatildeo de serrarias nas proximidades das matas

41

Todavia somente a partir de 1906 com a chegada da estrada de ferro na regiatildeo o

transporte madeireiro foi transferido para as locomotivas Agrave medida que a implantaccedilatildeo da

Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas avanccedilava para o interior levava consigo as frentes de

desmatamento modificando as paisagens das margens do Rio Doce e se apropriando dos

espaccedilos deste rio (Figura 9)

Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906 Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce Fonte Albani (2012 p 63)

Conforme Albani (2012) com a vinda dos mineiros e fluminenses reforccedilados

posteriormente a partir de 1889 por colonizadores italianos e alematildees eacute que as

ocupaccedilotildees territoriais ocorreram de modo efetivo Atraveacutes do Barracatildeo do Rio Santa Maria

(Figura 10) espaccedilo do governo inicialmente destinado a alojar os migrantes e a produccedilatildeo

surgiram as primeiras residecircncias nas proximidades da igreja de Satildeo Sebastiatildeo Sendo

assim

Eacute importante destacar que o desenvolvimento da regiatildeo onde se encontra o municiacutepio de Colatina teve iniacutecio no final do seacuteculo XIX no nuacutecleo de colonizaccedilatildeo Antocircnio Prado localizado no distrito de Boapaba antiga vila do Mutum O nuacutecleo recebeu dezenas de famiacutelias de imigrantes italianos e ali desenvolveram atividades de agricultura e com a expansatildeo da localidade surge tambeacutem o comeacutercio (ALBANI 2012 p61) [hellip] A vila de Colatina entretanto logo passou a se transformar no principal nuacutecleo e futuramente na sede do municiacutepio Aleacutem da facilidade da produccedilatildeo atraveacutes do Rio Doce a vila de Colatina tornou-se referecircncia dos imigrantes no caminho para a colonizaccedilatildeo das terras ao norte do estado (MADURO1985 apud ALBANI 2012 p62)

42

Desse modo com o desenvolvimento das atividades de cafeicultura madeireira e do

entroncamento logiacutestico de acesso agraves aacutereas do norte a vila eacute elevada em 1921 agrave categoria

de municiacutepio A atual configuraccedilatildeo territorial foi adquirida a partir de 2001 conforme IBGE

(2014) dispondo de seis distritos Colatina (sede) Acircngelo Frechiami Baunilha Boapaba

Graccedila Aranha e Itapina

Cabe destacar poreacutem que a ocupaccedilatildeo inicial da cidade de Colatina se perfaz pela margem

direita do Rio Doce onde se localiza o atual bairro de Colatina Velha e onde havia se

instalado o Barracatildeo de Santa Maria Nesse periacuteodo a ponte ainda natildeo fora edificada

limitando assim a ocupaccedilatildeo da margem esquerda

Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da regiatildeo Fonte Albani (2012 p62)

Conforme Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p65) a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro

Vitoacuteria a Minas em 1906 (Figura 11) possibilitou a expansatildeo da cidade de Colatina e seu

desenvolvimento econocircmico Todavia sua instalaccedilatildeo paralela agrave margem direita do Rio

Doce favoreceu a localizaccedilatildeo de avenidas e ruas centrais em sua proximidade

43

Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p65)

Entretanto foi com a construccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos (Figura 12) em 1928 que a

margem direita se conectou agrave margem esquerda da cidade o que aleacutem de possibilitar a

ocupaccedilatildeo facilitou o acesso agraves regiotildees mais ao norte do Estado

Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p66)

44

Por conseguinte a estrada de ferro e a ponte foram os fatores determinantes para o

estabelecimento dos migrantes agraves margens do Rio Doce e a formaccedilatildeo do atual municiacutepio

de Colatina Contudo foi a partir desta posiccedilatildeo privilegiada que a cidade passou a ser

entreposto comercial e logiacutestico da regiatildeo noroeste e com isso sua aacuterea urbana expandiu-

se de modo desordenado inicialmente ao longo da planiacutecie de inundaccedilatildeo do Doce Coelho

(2007 p108 e 109) relata que

Os efeitos dessa urbanizaccedilatildeo (novos parcelamentos) e do desmatamento produz [sic] normalmente o aumento da velocidade das aacuteguas superficiais (pluviais) que eram antes interceptadas pelas matas com boa parte absorvida pelo solo O que ocorre geralmente nessas aacutereas eacute a chegada mais raacutepida das aacuteguas das chuvas para o tributaacuterios e calha principal do rio por fluxos concentrados que provocam processos de erosotildees do tipo laminar ravina e voccediloroca transportando quantidades expressivas de sedimentos que por sua vez causam assoreamento e a ocorrecircncia de cheias mais frequentes no rio

Com o crescimento acelerado do periacutemetro urbano proporcionado pelo apogeu do ciclo

cafeeiro as proacuteximas deacutecadas levaratildeo a cidade de Colatina a sofrer com impactos

advindos das alteraccedilotildees no ambiente fluvial do Rio Doce em especial os referentes a

ocupaccedilatildeo (impermeabilizaccedilatildeo) e desmatamento das margens (interferecircncia na drenagem

natural) conforme destacado por Coelho (2007)

Eacute fato que o municiacutepio viveu nas deacutecadas de 1940 e 1950 o auge do ciclo cafeeiro

chegando a ser no ranking brasileiro o 13ordm municiacutepio produtor de cafeacute no ano de 1947

(CAMPOS JUNIOR 2004 apud ALBANI 2012 p69) Poreacutem a partir de 1960 este boom

entrou em colapso com crise do cafeacute que assolou todo o paiacutes levando grande parte dos

pequenos proprietaacuterios rurais a migrarem para centros urbanos em especial no Espiacuterito

Santo a regiatildeo da Grande Vitoacuteria e tambeacutem para o centro de Colatina

Em razatildeo da crise cafeeira a populaccedilatildeo rural migra para centros urbanos A populaccedilatildeo migrou em grande quantidade para a Grande Vitoacuteria para fora do estado e tambeacutem para a cidade de Colatina principal aglomerado urbano da regiatildeo Esse processo provoca o aumento da aacuterea urbana de Colatina A populaccedilatildeo da cidade que era de 3913 habitantes em 1940 cresceu para 26757 habitantes em1960 (ALBANI2012 p71)

O crescimento raacutepido do centro de Colatina aliado ao aumento populacional direciona

grande parte dos migrantes para as aacutereas menos centrais da cidade levando agrave ocupaccedilatildeo

de locais irregulares como os morros e as margens direita e esquerda do Rio Doce Este

45

processo configurou a nova paisagem do municiacutepio povoando do vale agraves encostas (Figura

13)

Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes Fonte Albani (2012 p73)

Associado a este processo de reconfiguraccedilatildeo espacial nas proacuteximas deacutecadas o municiacutepio

de Colatina passaraacute por sucessivas perdas de territoacuterios ateacute atingir os limites atuais (Figura

1 p17) Aliado a estas perdas territoriais seu quantitativo absoluto populacional tambeacutem

sofreraacute impactos poreacutem de modo geral a populaccedilatildeo urbana deste municiacutepio apresentou

crescimento continuo (Graacutefico 2)

Graacutefico 2

Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 2010

Elaborado pela autora Fonte 1940 e 1950 Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p82) 1960 a 2010 IBGE

0

20000

40000

60000

80000

100000

120000

1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020

Populaccedilatildeo Urbana Colatina 1940 - 2010

46

Assim como tem ocorrido nas grandes capitais Colatina cresceu em quantitativo

populacional e territorial urbano de modo muito raacutepido e por este desenvolvimento natildeo ter

sido aliado a um planejamento urbano e ambiental sustentaacutevel a cidade tem sentido os

reflexos das suas interferecircncias ao longo do canal do Doce O que tem provocado

antecipaccedilatildeo dos picos de vazatildeo que no periacutemetro urbano ocasiona as inundaccedilotildees pois

natildeo conseguindo o rio acomodar estes defluacutevios transfere em curto espaccedilo de tempo as

aacuteguas a sua planiacutecie de inundaccedilatildeo atingindo os bairros mais antigos do municiacutepio

Por fim entender o contexto histoacuterico do crescimento da cidade revela muito do panorama

atual E por meio de uma anaacutelise conjunta da histoacuteria com os novos planejamentos eacute

possiacutevel propor intervenccedilotildees urbanas que possibilitem um conviacutevio harmonioso entre

natureza e sociedade neste caso entre o Rio Doce e o centro de Colatina Diante desta

proposta adiante apresentaremos a evoluccedilatildeo dos bairros associando seus periacuteodos de

ocupaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo espacial nas imediaccedilotildees do curso principal do Doce

411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade

Com nuacutecleo inicial de povoamento no Barracatildeo de Santa Maria a cidade de Colatina

cresce a partir deste ponto agrave margem direita do Rio Doce de onde surgem as primeiras

residecircncias comeacutercios e a igreja Atualmente a regiatildeo compreende o bairro de Colatina

Velha que de acordo com Albani (2012 p91) [hellip] ldquopode ser considerado o primeiro polo

de crescimento da cidaderdquo

Aliado ao aumento da populaccedilatildeo migrante das fazendas com a crise do cafeacute o nuacutecleo de

Colatina Velha passa a ser um ponto de passagem obrigatoacuterio para os viajantes que

vinham majoritariamente do sul uma vez que o Rio Doce configurava uma barreira natural

agrave ocupaccedilatildeo das terras ao norte Aleacutem disso a margem esquerda deste canal fluvial era

habitat dos hostis iacutendios botocudos o que dificultava a sua apropriaccedilatildeo

Sendo assim a ocupaccedilatildeo de Colatina conteve-se agrave margem direita nesta primeira fase o

que define o primeiro vetor de crescimento da cidade na direccedilatildeo leste para oeste partindo

das imediaccedilotildees do Barracatildeo de Santa Maria sentido ao Rio Santa Maria do Doce (Figura

14) E a partir de 1906 com a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas da entatildeo

Companhia Vale do Rio Doce atual Vale este vetor de crescimento se consolida e

47

proporciona o surgimento de importantes avenidas paralelas agrave ferrovia a exemplo da Av

Getuacutelio Vargas

Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de crescimento Elaborado pela autora

48

O segundo vetor do crescimento de Colatina estava condicionado agrave construccedilatildeo da ponte

Florentino Aacutevidos a qual conectou a margem direita agrave esquerda do Rio Doce permitindo

a ocupaccedilatildeo da porccedilatildeo ao norte Portanto somente a partir de 1928 com a finalizaccedilatildeo da

obra da ponte a barreira natural pocircde ser transposta o que possibilitou ao lado esquerdo

desenvolver uma nova linha de crescimento urbano com a ocupaccedilatildeo do atual bairro de

Satildeo Silvano

O terceiro vetor de crescimento estaacute associado agrave implantaccedilatildeo do bairro Luiz Iglesias na

margem direita e os de Maria das Graccedilas e Coluacutembia na margem esquerda Albani (2012)

ressalta que esta fase da ocupaccedilatildeo urbana estaacute associada ao desenvolvimento do sistema

viaacuterio como a proximidade da BR-259 sentido Vitoacuteria- Colatina da ES-80 que liga

Colatina agrave regiatildeo norte da ES-256 que a conecta a Marilacircndia e da proximidade da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria Carlos Germano Nauman (Figura 15)

Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios e linhas feacuterreas que interceptam a cidade de Colatina Elaborado pela autora

Jaacute na quarta e mais recente linha de crescimento da cidade temos os novos loteamentos

residenciais e industriais a exemplo do de Barbados e do bairro Santa Helena que surgem

49

acompanhando o traccedilado da ponte que contorna a leste a cidade como novo acesso agrave

porccedilatildeo norte do estado Albani (2012 p118) destaca que

Apesar da construccedilatildeo da Segunda Ponte ter sido iniciada em 1986 somente foi inaugurada em 2007 A conclusatildeo da ponte e a construccedilatildeo de uma rodovia de contorno desviaram a BR-259 do centro da cidade O desvio da rodovia federal trouxe um desafogamento do tracircnsito nas principais vias da cidade e um novo direcionamento na expansatildeo urbana Alguns loteamentos surgiram nesse periacuteodo proacuteximo agrave Segunda Ponte e ao contorno na margem norte do rio principalmente no bairro Santa Helena (Figura 55) Essa situaccedilatildeo indica mais uma vez que as linhas de crescimento em Colatina satildeo orientadas pelas vias de transporte

Portanto o crescimento do periacutemetro urbano de Colatina estaacute associado agrave superaccedilatildeo das

barreiras naturais em especial o Rio Doce por meio de investimentos em obras de

engenharia que permitiram o deslocamento humano para a margem esquerda deste curso

Sem duacutevida as vias de transporte foram elementares na construccedilatildeo do periacutemetro urbano

de Colatina pois na medida que se consolidava o sistema viaacuterio as ocupaccedilotildees tambeacutem se

favoreciam destas vias de locomoccedilatildeo A evoluccedilatildeo da aacuterea urbana portanto acompanha

as principais vias de transporte (Figura 15 p45) e estas se utilizam da posiccedilatildeo estrateacutegica

e geograficamente favoraacutevel do canal do Doce para a definiccedilatildeo de seus traccedilados

Apoacutes 94 anos de emancipaccedilatildeo de Linhares o territoacuterio de Colatina eacute fundamental para a

manutenccedilatildeo dos municiacutepios do noroeste capixaba Diante desta posiccedilatildeo estrateacutegica torna-

se relevante o entendimento de como o urbano se relaciona com o meio natural a fim de

se estabelecer poliacuteticas de ordenamento territorial que promovam a qualidade de vida no

municiacutepio Adiante seraacute analisada a situaccedilatildeo da calha principal do Rio Doce elemento

fundamental na compreensatildeo do uso e cobertura da terra de Colatina

42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce

Compreendendo uma aacuterea de 3330 kmsup2 o periacutemetro urbano de Colatina eacute afetado pela

velocidade dos defluacutevios de modo que grande parte dos bairros beira-rio eacute tomada pelas

aacuteguas excedentes da calha principal do Doce o que configura o fenocircmeno de inundaccedilatildeo

Ao pesquisar estes fenocircmenos eacute necessaacuterio relacionar o uso da terra com os processos

geomorfoloacutegicos do corpo hiacutedrico Sendo assim por meio de teacutecnicas de

geoprocessamento foram realizadas oito mediccedilotildees da calha principal do Rio Doce para

50

estabelecimento da distacircncia meacutedia da largura de sua calha O resultado esteve dentro do

esperado e pode ser verificado na tabela abaixo (Tabela 1) e no mapa em sequecircncia

(Figura 16)

Tabela 1 Perfis transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de

vazante (abril) e cheia (janeiro)

Largura do rio Doce periacuteodo de vazante e cheia

Abril2013(m) Janeiro2014(m)

P1 70735 75784

P2 62080 66483

P3 59209 65804

P4 63548 67650

Meacutedia dos Perfis 62814 67066

Meacutedia Geral 66143 Obs todas as medidas estatildeo em metros

Elaborado pela autora

Figura 16 - Traccedilado dos perfis transversais da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de vazante mecircs de abril2013 Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)

51

Com uso das imagens orbitais do Landsat-8 atraveacutes da classificaccedilatildeo hiacutebrida foram

gerados dois arquivos shapefiles correspondentes agraves bordas do Doce um no periacuteodo de

vazante e outro no de cheia Por meio destes dados foram definidos quatro traccedilados para

realizaccedilatildeo das mediccedilotildees a partir destas e com auxiacutelio das medidas de tendecircncia central

chegou-se a uma largura meacutedia total de 66143m de uma margem a outra Este resultado

indicou que tanto no periacuteodo de vazante quanto no periacuteodo de cheia a largura meacutedia

aponta para a maior faixa de APP proteccedilatildeo de 500m conforme previsto na legislaccedilatildeo

federal (Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e no revogado Lei 4771 1965)

Analisando a imagem abaixo (Figura 17) observa-se que grande parte do solo

naturalmente destinado a ldquoacomodaccedilatildeordquo das aacuteguas nas cheias (linha laranja) foi

incorporado agrave sociedade como espaccedilo criado (periacutemetro urbano em APP mancha em

amarelo) destinado a fins muacuteltiplos Deste modo sem planejamento territorial adequado

grande parte da planiacutecie de inundaccedilatildeo deu lugar a outras funccedilotildees diferentes das naturais

sendo incorporada ao espaccedilo urbano

Lanccedilando o buffer (mancha em amarelo) do entorno da calha do Doce (Figura 17) observa-

se que dos 59 bairros do municiacutepio cerca de 29 estatildeo dentro da aacuterea de 500m destinada

a preservaccedilatildeo permanente pelo Coacutedigo Florestal Considerando-se a delimitaccedilatildeo da APP

prevista no PDM de 1996 e 2007 (linha laranja mais proacutexima da borda do rio) este nuacutemero

cai para 18 bairros permanecendo apenas aqueles que possuem limites com o corpo

hiacutedrico

Uma vez que que lei municipal natildeo suplanta lei federal considerar-se-aacute neste estudo o

limite da faixa marginal de proteccedilatildeo definida na Lei Federal 126512012 Deste modo a

aacuterea de preservaccedilatildeo permanente do Doce neste recorte eacute de 1085 kmsup2 compreendendo

33 do periacutemetro urbano de Colatina

Cabe destacar ainda que mesmo o PDM de 1996 contendo enquanto objetivo no Art 14

ldquoI - estabelecer a ordenaccedilatildeo do uso e da ocupaccedilatildeo do solo urbanordquo (Lei 42281996 p4)

a gestatildeo municipal natildeo obteve sucesso na implementaccedilatildeo de tal legislaccedilatildeo O que se

verifica tanto nas deacutecadas de 1990 quanto no iniacutecio dos anos 2000 quando foram

aprovados novos parcelamentos urbanos agraves margens deste canal a exemplo dos bairros

de Barbados na margem direita e do bairro Mario Giurizato na margem esquerda

52

Figura 17- Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)

53

Articulado a esta ideia e pesquisando o trecho do bairro Esplanada a Colatina Velha palco

das uacuteltimas obras estruturantes de alto porte do municiacutepio consegue-se analisar os efeitos

das inundaccedilotildees nas margens deste rio Logo implementar medidas de prevenccedilatildeo de

cheias em aacutereas com urbanizaccedilotildees antigas requer um esforccedilo da gestatildeo na regulaccedilatildeo do

solo urbano

421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie

de Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio

Interceptada pelo curso do Rio Doce no perfil mais a jusante da bacia a cerca de 100km

do estuaacuterio com o Oceano Atlacircntico a cidade de Colatina polo moveleiro e de confecccedilotildees

do centro-oeste capixaba eacute palco recorrente de inundaccedilotildees urbanas

Conforme jaacute mencionado por Cunha (2012a) este fenocircmeno ocorre quando a bacia recebe

um percentual precipitado acima da sua capacidade de escoamento o que faz o leito

menor do rio extravasar para o leito maior ocupando as aacutereas de vaacuterzeas (Figura 18 p

50) Aliadas a esta questatildeo estatildeo as ocupaccedilotildees humanas das margens dos rios que ao

suprimir a vegetaccedilatildeo natural e alterar a condiccedilatildeo fiacutesica do solo acabam por reduzir a aacuterea

de drenagem das aacuteguas pluviais acelerando o escoamento superficial para o canal

principal e favorecendo os defluacutevios

Figura 18 - Representaccedilatildeo da inundaccedilatildeo urbana Fonte adaptado da Defesa Civil do Tocantins (2015)

Este fenocircmeno tem ganhado destaque em Colatina a partir de 1979 ano em que o Rio

Doce atingiu a vazatildeo de 12860msup3s tomando toda aacuterea aplainada que compotildee seu leito

maior afetando da atual Av Beira-Rio ateacute as redondezas da Av Getuacutelio Vargas Desde

entatildeo os estudos das inundaccedilotildees urbanas satildeo relevantes no municiacutepio o que levou o

54

Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) na deacutecada de 1980 a elaborar um ldquoPlano Diretor

de Contenccedilatildeo das Enchentes Proteccedilatildeo das Encostas e Drenagem Pluvial de Colatinardquo

Tal medida apresentou seis alternativas para o fenocircmeno Poreacutem tendo em vista o custo

operacional das obras apenas a alternativa seis que previa a construccedilatildeo de diques

marginais para a proteccedilatildeo das aacutereas mais centrais foi considerada viaacutevel na eacutepoca

Todavia em entrevistas com funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina (PMC) foi

relatado que todo o estudo foi arquivado e que ateacute agora natildeo haacute previsatildeo de

implementaccedilatildeo de tais medidas Fato este que eacute evidenciado (Tabela 2 p 51) quando da

ocorrecircncia de precipitaccedilotildees intensas na bacia durante as quais sazonalmente a cidade eacute

impactada com as aacuteguas das inundaccedilotildees Isto faz com que o municiacutepio passe

recorrentemente por cataacutestrofes conforme tabela com os principais picos de vazatildeo do rio

nos uacuteltimos 50 anos

Tabela 2

Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013

Ano Diamecircs Vazatildeo(msup3s)

1961 30jan 6613

1979 04fev 12860

1997 07jan 8687

2005 03ago 6549

2013 24dez 9028

Fonte Coelho (2007 apud DALLAPICOLA 2014 p4) e CPRM (2014 p85) Observo que os dados da tabela 1 para os anos de 1979 e 2013 estatildeo baseados na estimativa de vazatildeo meacutedia diaacuteria das maacuteximas anuais obtida atraveacutes de extrapolaccedilatildeo da curva-chave pelo grupo interdisciplinar dos relatoacuterios criacuteticos anteriores

As inundaccedilotildees de 1979 1997 e recentemente 2013 (Figura 19) foram as de maior vazatildeo

neste setor do rio e consequentemente as que mais atingiram a aacuterea urbana do municiacutepio

bloqueando os acessos ao centro da cidade e aos equipamentos essenciais como

hospitais escolas e demais oacutergatildeos puacuteblicos aleacutem de desalojarem muniacutecipes e

comprometerem a sauacutede puacuteblica

55

Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de 1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 Fonte1) Nossa Colatina 2) Nossa Linda Colatina 3) Nossa Colatina

Com o propoacutesito de identificar os principais fatores que acentuam as inundaccedilotildees seraacute

analisado como os processos geomorfoloacutegicos do Doce estatildeo sendo afetados pela accedilatildeo

antroacutepica Limitaremos a anaacutelise ao periacutemetro urbano no trecho que compreende do bairro

Esplanada ateacute o bairro Colatina Velha (Figura 20) Neste periacutemetro eacute possiacutevel visualizar a

evoluccedilatildeo da mancha urbana sobre o leito do rio aleacutem de identificar na margem direita os

pontos desnaturalizados deste canal fluvial

56

Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2) Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do recorte em rosa da APP de 50m (amarelo claro) e 500m (amarelo escuro) Fonte 3) Encontra Colatina (2015)

57

O recorte em questatildeo eacute margeado pela Av Beira-Rio e estaacute situado (Figura 20) dentro do

buffer de preservaccedilatildeo permanente previsto no PDM (buffer de 50m) e no Novo Coacutedigo

Florestal (buffer de 500m) Apesar desta aacuterea ser destinada a mata nativa e ou

reflorestada a ocupaccedilatildeo urbana antecede os artigos legais o que dificulta poliacuteticas de

gestatildeo territorial em um periacutemetro ao mesmo tempo histoacuterico e com funccedilatildeo relevante no

equiliacutebrio hidroloacutegico da bacia

O periacutemetro faz parte da vaacuterzea da margem direita do Rio Doce pois encontra-se em cota

topograacutefica de 50m caracterizando sua planiacutecie Logo a aacuterea em questatildeo tem a funccedilatildeo de

acomodar as aacuteguas das cheias quando a calha principal natildeo comporta o escoamento de

grandes vazotildees Esta tarefa passa a ser prejudicada na medida em que na bacia ou no

curso original satildeo implementadas obras que interferem na morfologia do corpo hiacutedrico

principal como a instalaccedilatildeo das hidreleacutetricas de Mascarenhas (1974) e Aimoreacutes (2005) a

montante

As UHErsquos a montante comprometem os processos do rio uma vez que o regime natural de

transporte de sedimentos eacute alterado com o barramento o que favorece a erosatildeo e

consequentemente o assoreamento com a formaccedilatildeo de bancos arenosos alteraccedilatildeo do

seu perfil transversal e reduccedilatildeo da profundidade Aleacutem disso segundo Coelho (2007) as

vazotildees maacuteximas e miacutenimas foram alteradas com a implantaccedilatildeo das hidreleacutetricas a

montante implicando em vazotildees meacutedias anuais miacutenimas cada vez mais reduzidas com

valores se distanciando da linha de tendecircncia (polinocircmio) provando o natildeo equiliacutebrio da

vazatildeo apoacutes a implantaccedilatildeo das barragens (Graacutefico 1 p22)

Entretanto a primeira intervenccedilatildeo direta no trecho em estudo foi a instalaccedilatildeo da estrada

de ferro que atraiu migrantes para Colatina permitindo o crescimento populacional e a

expansatildeo urbana desordenada agraves margens do Doce Este crescimento intensificou a

supressatildeo das matas ciliares e abriu espaccedilo para a impermeabilizaccedilatildeo do solo reduzindo

a infiltraccedilatildeo

Posteriormente a inauguraccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos ampliou o fluxo na regiatildeo pois

proporcionava a ligaccedilatildeo com as terras ao norte do Estado Atuou tambeacutem como obstaacuteculo

ao transporte de sedimentos carreados no fluxo natural do rio uma vez que sua

implantaccedilatildeo altera a topografia do fundo do canal afetando os processos geomorfoloacutegicos

58

Poreacutem foi no Morro das Cabritas (colina localizada no espaccedilo que compreende o atual

bairro Esplanada) que ocorreu a primeira desnaturalizaccedilatildeo nas margens do Doce Este

morro por onde o Rio Santa Maria do Doce meandrava ateacute desaguar no Rio Doce foi

cortado em meados de 1953 para abrigar a cidade em expansatildeo Devido a esta

intervenccedilatildeo o curso original do Santa Maria foi deslocado e passou a escoar

retilineamente ateacute a foz (Figura 21)

Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponte Florentino Aacutevidos (direita) e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque em vermelho para o curso atual do Santa Maria Fonte Nossa Colatina

As intervenccedilotildees na margem direita tornam-se mais intensas a partir da deacutecada de 1960

quando no ano de 1968 edificou-se um muro visando a proteccedilatildeo dos pilares da

extremidade direita da ponte Esta obra ficou paralisada por muitos anos e foi a primeira

de retificaccedilatildeo e aterro realizada neste trecho do rio Esta intervenccedilatildeo modificou o fluxo

natural das correntes do rio e reduziu a largura da sua calha alterando a morfologia do

canal (Figura 22)

59

Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de proteccedilatildeo da ponte Elaborado pela autora Fonte fotos histoacutericas Nossa Colatina

Contudo somente em 1972 teve iniacutecio o segundo aterro (Figura 23) com a finalidade de

alocar a estaccedilatildeo rodoviaacuteria de Colatina e ampliar a aacuterea de acesso agrave ponte Florentino

Aacutevidos A implementaccedilatildeo desta obra suprimiu parte do leito do Rio Doce pois removeu a

saliecircncia cocircncava que curvava o rio retilinizando esta parte do canal

60

Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora Fonte Nossa Colatina Nossa Linda Colatina

Apoacutes dez anos sem grandes intervenccedilotildees em 1982 o lado a montante da ponte bairro

Esplanada eacute acrescido de um aterro que estenderaacute a aacuterea do antigo Morro das Cabritas

para o rio (Figura 24)

Conhecido como Rua da Lama devido agrave umidade que o rio transferia ao aterro formando

um barro viscoso que persistia a maior parte do ano o trecho atualmente compreende a

Avenida Professor Joseacute Zouian popularmente denominada Avenida Beira-Rio de onde

surge a primeira forma do calccediladatildeo que seraacute estendido ateacute o bairro Colatina Velha

61

Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o calccediladatildeo da Av Beira-Rio Elaborado pela autora Fonte Bennachio (2015)

Somente em 2004 foi implementado o maior projeto de canalizaccedilatildeo do municiacutepio Naquele

ano teve iniacutecio a execuccedilatildeo do enrocamento da Av Beira-Rio (Figura 25) obra destinada

inicialmente a alocaccedilatildeo de equipamentos puacuteblicos de lazer e cultura praccedilas preacutedios aleacutem

da promessa de contribuir para a contenccedilatildeo dos transbordamentos do Rio Doce

Apesar de o referido manancial jaacute estar comprometido com problemas de poluiccedilatildeo

assoreamento e erosatildeo aleacutem dos impactos de duas hidreleacutetricas instaladas a montante a

obra abarcou a supressatildeo da vegetaccedilatildeo ciliar e aterro de parte do rio jaacute tatildeo degradado

62

Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento iniciada em 2004 e finalizada em 2008 Elaborado pela autora Fonte proacutepria autora em 240215

Ocupando uma aacuterea total de 130 mil msup2 do leito do Rio Doce o aterro teve iniacutecio em 2004

sendo construiacutedo com cerca de 90 mil msup3 de pedras 50 mil msup3 de areia retirada do leito do

rio e por fim o nivelamento com 200 mil msup3 de terra A obra era divulgada como um antigo

sonho dos colatinenses e serviria para ampliaccedilatildeo da Av Beira-Rio no bairro de Colatina

Velha instalaccedilatildeo de ciclovias calccediladatildeo equipamentos puacuteblicos e estacionamento (Figura

26) Apesar do fim da engenharia em 2008 o projeto ainda estaacute em fase de acabamento

na parte urbaniacutestica e na alocaccedilatildeo dos oacutergatildeos puacuteblicos

Cabe destacar que a obra sofreu embargos do Ministeacuterio Puacuteblico Federal (MPF) por

apresentar apenas cadastro na Agecircncia Nacional de Aacuteguas (ANA) que conforme parecer

da Procuradora Nadja Machado Botelho na Accedilatildeo Civil Puacuteblica ldquo[hellip] equivocadamente natildeo

realizou o procedimento de outorga [hellip]rdquo (MPF 2006 p2) Aleacutem disso a procuradora

solicitou tutela tendo em vista tratar-se de aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental e o fato de o

IBAMA ter concedido licenciamento com indevida dispensa do Estudo de Impacto

Ambiental (EIA)Relatoacuterio de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA)

63

Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina Fonte Prefeitura de Colatina (2015)

Por isso essa obra deve ser considerada faraocircnica para os cofres puacuteblicos e irreversiacutevel

para os processos geomorfoloacutegicos do Doce E sua efetivaccedilatildeo soacute foi possiacutevel com a

participaccedilatildeo e investimentos do Governo estadual Contudo seu objetivo foi frustrado pois

novamente na cheia do Rio Doce em dezembro de 2013 quando este atingiu a vazatildeo de

9028 msup3s a aacuterea foi inundada e por estar em cota maior que as casas que beiravam o

rio o enrocamento atuou como represa natildeo permitindo o retorno das aacuteguas quando o niacutevel

do rio retomou o equiliacutebrio

Por fim segue um mapa siacutentese (Figura 27) com a cartografia das quatro principais

intervenccedilotildees diretas e estruturais na margem direita do Doce no setor urbano de Colatina

representando o curso natural do rio em 1950 e suas desnaturalizaccedilotildees a partir da deacutecada

de 60 ateacute a atualidade

64

Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce ante e depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora

65

422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio

O recorte em estudo compreende as Zonas ZE-1 ZE-2 e ZUD 2-1 (Figura 28 p61) sendo

a Zona Especial 1 Zona Especial 2 e Zona de Uso Diverso 2-1 destinadas no PDM (Lei

52732007)

Artigo 103 - As Zonas de Usos Diversos ndash ZUD satildeo definidas em razatildeo da concentraccedilatildeo de atividades urbanas diversificadas com predominacircncia do uso comercial e de serviccedilos Artigo 104 - Satildeo objetivos das Zonas de Usos Diversos I - otimizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do solo priorizando a instalaccedilatildeo de novos empreendimentos em terrenos natildeo edificados contiacuteguos a empreendimentos jaacute instalados II - controle da implantaccedilatildeo de usos incompatiacuteveis com os definidos para estas zonas III - garantia de licenciamento e monitoramento ambiental dos empreendimentos IV - controle da expansatildeo comercial de serviccedilos e de induacutestrias de pequeno porte em direccedilatildeo a aacutereas residenciais [] Artigo 130 - As Zonas Especiais 1 ndash ZE 1 abrangem todas as aacutereas remanescentes do municiacutepio relativamente ao zoneamento estabelecido nesta lei ocupadas ou natildeo contida na lei de periacutemetro urbano para as quais natildeo foram ainda estabelecidos os criteacuterios de uso e ocupaccedilatildeo Artigo 131 - As Zonas Especiais 2 ndash ZE 2 satildeo as aacutereas existentes no prolongamento da avenida Beira Rio mais especificamente no trecho entre o 80 Batalhatildeo da Poliacutecia Militar e a rua Pedro Epichin incluindo o espaccedilo existente entre a margem do Rio Doce e o limite das construccedilotildees localizadas na rua Pedro Epichin

Cabe destacar que mesmo sendo palco das aacutereas mais afetadas com as inundaccedilotildees do

Rio Doce a Beira-Rio tem sido alvo da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria que aproveitando-se dos

iacutendices pouco restritos da ZUD 2 (Figura 28 p62) valoriza o espaccedilo promovendo a

instalaccedilatildeo de grandes estruturas como hipermercados edifiacutecios residenciais modernos e

hotelaria

66

Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 Fonte Colatina (2007)

A aacuterea contida na ZE (Figura 28) natildeo possui criteacuterio de ocupaccedilatildeo definido na legislaccedilatildeo

atual sendo adotado o disposto na Lei 41961995 que estabelece os iacutendices urbaniacutesticos

para as aacutereas conquistadas junto ao Rio Doce e na Lei 420595 que aprova os

parcelamentos na Beira-Rio Quanto agrave ZUD 2-1 apresenta iacutendices urbaniacutesticos no anexo

118 do Plano Diretor conforme tabela 3 abaixo

67

Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1

Fonte Colatina (2007 p36)8

68

Eacute relevante observar que numa aacuterea onde o corpo hiacutedrico foi reduzido pelos sucessivos

aterros tenha sido aprovada a instalaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto (Figura

29) com taxa de ocupaccedilatildeo de ateacute 80 e com baixo iacutendice de permeabilidade Ampliou-

se a aacuterea impermeaacutevel numa regiatildeo onde a drenagem jaacute eacute muito comprometida com a

expansatildeo urbana sobre o rio

Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto na Beira-Rio Fonte imagem do Google Maps 2015 E fotos da autora em 140215

Portanto analisando o conjunto de dados apresentado acima eacute possiacutevel entender como

as inundaccedilotildees satildeo potencializadas no municiacutepio atingindo a populaccedilatildeo mas em especial

afetando a dinacircmica de um corpo hiacutedrico tatildeo relevante para o Estado A fim de subsidiar a

gestatildeo puacuteblica com material cartograacutefico para a tomada de decisotildees delimitou-se o

poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo (Figura 30) Pois devem ser adotadas medidas que

minimizem impactos de futuros eventos hidroloacutegicos na bacia capazes de comprometer

novamente a aacuterea urbana mais central de Colatina

69

Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av Beira-Rio em dezembro de 2013 Elaborado pela autora

70

Diante do poliacutegono de inundaccedilatildeo da uacuteltima cheia (Figura 30) em dezembro de 2013 eacute

possiacutevel implementar medidas de convivecircncia com as grandes vazotildees a exemplo de

paiacuteses como Holanda que vem investindo em medidas de resiliecircncia a fim de reduzir a

velocidade dos defluacutevios possibilitando ao canal a capacidade de acumular e dispersar as

aacuteguas com impacto miacutenimo para as populaccedilotildees Conforme Carneiro e Miguez (2011) a

estrateacutegia adotada pelo paiacutes eacute reter armazenar e drenar sendo mais flexiacutevel e natildeo

interferindo drasticamente na dinacircmica do corpo hiacutedrico

Por fim a implementaccedilatildeo de soluccedilotildees de planejamento urbano em Colatina requer uma

anaacutelise integrada que abarque o urbano e o ambiental de modo a propor intervenccedilotildees que

produzam impactos reduzidos nos processos geomorfoloacutegicos do Rio Doce Logo a gestatildeo

municipal deve atuar em niacutevel de bacia hidrograacutefica interagindo com os municiacutepios a

montante propondo medidas de minimizaccedilatildeo das cheias urbanas Mas na escala local

pode-se atuar junto aos novos parcelamentos de modo a ampliar o percentual de aacutereas

permeaacuteveis no municiacutepio incentivando por exemplo os novos loteamentos a adotarem

pavimentaccedilotildees que permitam a drenagem natural do solo

71

5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Partindo da ideia de que eacute possiacutevel implementar medidas que minimizem o escoamento

superficial satildeo apresentadas propostas como forma de controlar ou ao menos reduzir os

impactos das inundaccedilotildees urbanas

Embora as implementaccedilotildees histoacutericas de estruturas de proteccedilatildeo ou barreiras mais altas

tenham sido muito disseminadas atualmente estatildeo sendo suplantadas pelo gerenciamento

de inundaccedilotildees de maneira mais sustentaacutevel Deste modo as experiecircncias fora do Brasil

apontam para soluccedilotildees mais flexiacuteveis que considerem o fluxo natural do canal enquanto

um ecossistema em equiliacutebrio Para tanto Carneiro e Miguez (2011 p150) destacam a

iniciativa alematilde no controle de inundaccedilotildees em bacias hidrograacuteficas metropolitanas

[hellip] A abordagem comum consiste na regulaccedilatildeo do uso do solo nas aacutereas inundaacuteveis e em ldquodar espaccedilo para o riordquo ao inveacutes de priorizar investimentos em estruturas de proteccedilatildeo contra inundaccedilotildees como a colocaccedilatildeo de diques de contenccedilatildeo as margens dos rios A utilizaccedilatildeo do conceito de resiliecircncia apropriado de ecologia decorre dessa abordagem A aplicaccedilatildeo praacutetica do conceito implica portanto em mudanccedilas de paradigma Deixa de ser preponderante a engenharia construtiva e entra em cena o planejamento de longo prazo voltado para o desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis capazes de conviver com as variaccedilotildees do ciclo hidroloacutegico sem significar necessariamente trageacutedias anunciadas

Aleacutem dessas propostas geoacutegrafos como Sandra Cunha tecircm estudado a recuperaccedilatildeo

natural ou ldquorenaturalizaccedilatildeordquo de corpos fluviais visando promover a estabilidade dos canais

de modo mais sustentaacutevel Para ela

[hellip] Recuperaccedilatildeo de canal significa de forma simples o retorno as condiccedilotildees anteriores aos distuacuterbios Em essecircncia eacute o processo de recuperaccedilatildeo do rio ou do ecossistema fluvial estabilizando o desenvolvimento de habitats e colonizaccedilatildeo a uma taxa mais raacutepida que dos processos naturais fiacutesicos e bioloacutegicos Na recuperaccedilatildeo de canais ocorrem consideraccedilotildees de aspecto hidroloacutegico morfoloacutegico e ecoloacutegico qualidade da aacutegua esteacutetica aleacutem da necessidade de uma visatildeo integradora do projeto sustentaacutevel de recuperaccedilatildeo (CUNHA 2012 p230 a 231)

Satildeo portanto medidas pontuais como o retorno agraves sinuosidades do rio (Figura 31 p 68)

ou a substituiccedilatildeo de estruturas de concreto por superfiacutecies mais permeaacuteveis a exemplo

das trincheiras de infiltraccedilatildeo ou pavrsquos (Figura 32) aacutereas mais vegetadas aleacutem de coleta e

uso de aacutegua da chuva bem como tratamento das aacuteguas superficiais por meio de

72

amenidades esteacuteticas como reservatoacuterios de retenccedilatildeo ou detenccedilatildeo que podem ser

associados a ambientes harmocircnicos como lagos artificiais Todas estas accedilotildees possibilitam

a minimizaccedilatildeo das grandes vazotildees no solo urbano pois pretendem atenuar os impactos

das cheias fazendo com que seja resgatada parte da drenagem existente anteriormente agrave

urbanizaccedilatildeo

Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do Rio Aa Munster Alemanha (1998) Fonte Cunha (2012 p233)

Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos Fonte Carneiro e Miguez (2011 p128)

A partir do exposto cabe agrave gestatildeo municipal implementar legislaccedilotildees que priorizem a

permeabilidade possibilitando uma maior infiltraccedilatildeo das aacuteguas das chuvas atraveacutes de

pavimentaccedilotildees menos impermeaacuteveis e da ampliaccedilatildeo de aacutereas vegetadas Satildeo medidas

que tornam a drenagem mais sustentaacutevel aleacutem de possibilitar a manutenccedilatildeo dos serviccedilos

puacuteblicos de forma menos custosa tendo em vista o elevado preccedilo das recomposiccedilotildees

asfaacutelticas

1 2

73

Aleacutem disso quando se fala em controle de cheias urbanas pressupotildee-se uma seacuterie de

medidas para minimizaccedilatildeo de seus impactos desde a operaccedilatildeo de sistemas de alerta

zoneamento de aacutereas inundaacuteveis construccedilatildeo de grandes reservatoacuterios de contenccedilatildeo de

cheias e diques ateacute accedilotildees de educaccedilatildeo ambiental

Cabe pensar tambeacutem na proacutexima revisatildeo do PDM em um plano de macrodrenagem

municipal que reuacutena accedilotildees de caraacuteter estruturantes com obras hidraacuteulicas de infraestrutura

que realizem a conduccedilatildeo final das aacuteguas dos escoamentos superficiais para a minimizaccedilatildeo

das inundaccedilotildees e em medidas natildeo-estruturantes que trabalhem a consciecircncia ambiental

e proponha um zoneamento de cheias a fim de se delimitar os pontos mais fragilizados nos

defluacutevios

Por fim pensar em drenagem num contexto de ocupaccedilatildeo irregular histoacuterico requer

profissionais que aleacutem de possuir afinidade com a temaacutetica tambeacutem possam analisar os

diferentes processos que constituem o espaccedilo geograacutefico Logo este tipo de estudo deve

abarcar uma equipe multidisciplinar que percorra a anaacutelise desde o ambiental estrutural

ateacute o aspecto humano a fim de se produzir resultados que de fato contribuam com o

controle das inundaccedilotildees urbanas

74

6 CONCLUSAtildeO

A partir do recorte espacial foi possiacutevel compreender que a abordagem da geomorfologia

fluvial com a anaacutelise espaccedilo-temporal da ocupaccedilatildeo urbana possibilita a identificaccedilatildeo das

accedilotildees do homem no meio ambiente pois estas resultam na alteraccedilatildeo das paisagens

naturais e na dinacircmica da bacia hidrograacutefica Assim o Rio Doce deve ser estudado de

modo integrado ao crescimento da cidade sobretudo para compreensatildeo da produccedilatildeo do

espaccedilo geograacutefico

Analisar a inundaccedilatildeo urbana em Colatina foi satisfatoacuterio pois o municiacutepio estaacute situado no

perfil meacutedio-baixo da bacia vazante e eacute neste trecho que os reflexos das intervenccedilotildees satildeo

mais acentuados principalmente se esta parte do canal tambeacutem tiver passado por obras

que modificaram seus processos hidroloacutegicos Aleacutem disso a perspectiva geograacutefica aponta

para vaacuterias outras questotildees como erosatildeo fluvial planejamento urbano poluiccedilatildeo ambiental

crise da aacutegua que conduzem a outras discussotildees acerca da relaccedilatildeo homemnatureza

Ao demonstrar a evoluccedilatildeo espaccedilo-temporal do uso e cobertura da terra na margem direita

do Doce associando esta ocupaccedilatildeo agraves obras estruturantes que foram executadas no

canal verificamos que todas as praacuteticas adotadas para conter o transbordamento do rio

acabaram alterando sua morfologia com a retificaccedilatildeo de trechos em meandros reduzindo

a largura do corpo hiacutedrico o que favoreceu a apropriaccedilatildeo urbana de suas vaacuterzeas Aliadas

a estas questotildees estatildeo a falta de planejamento urbano e a omissatildeo diante da supressatildeo

das matas ciliares principalmente se considerados os resultados do relatoacuterio teacutecnico do

IJSN contra enchentes em 1980

Cabe destacar tambeacutem que toda a anaacutelise da ocupaccedilatildeo urbana e desnaturalizaccedilatildeo do

Rio Doce foi melhor identificada a partir dos produtos cartograacuteficos deste trabalho Pois eacute

na espacialidade dos fenocircmenos e no registro de informaccedilotildees ainda natildeo mapeadas como

os aterros que o geoacutegrafo executa a anaacutelise do seu objeto de estudo o homem e a

natureza aqui representado pela sociedade e o canal do Doce

Apesar do municiacutepio apresentar leis que resguardam os leitos dos rios desde o primeiro

PDM em 1996 nada foi feito para conter as ocupaccedilotildees irregulares beira-rio Pelo contraacuterio

estas aacutereas foram incorporadas ao Plano Diretor em 2007 com possibilidades de

ocupaccedilotildees diversas o que tem levado especuladores a valorizar o solo com vista para o

rio apontando suas qualidades esteacuteticas e teacutermicas Este fato vem aumentando o

75

percentual de aacutereas impermeaacuteveis nesta margem comprometendo ainda mais a drenagem

dos defluacutevios

Eacute na Av Beira-Rio que crescem as implantaccedilotildees de grandes empreendimentos comerciais

como supermercado Casagrande Ogil Hotel e obras de construccedilatildeo de novos arranha-

ceacuteus em um periacutemetro que jaacute eacute totalmente comprometido com os extravasamentos do Rio

Doce Estas obras ocupam grandes aacutereas e na maioria das vezes apresentam reduzida

aacuterea permeaacutevel reservando apenas o obrigatoacuterio pela lei cerca de 10 Observa-se

tambeacutem que a implantaccedilatildeo desses projetos estaacute condicionada agrave apresentaccedilatildeo e

aprovaccedilatildeo por comissatildeo na prefeitura do Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV) sendo

difiacutecil conceber que seja concedida tal licenccedila para implementaccedilatildeo de obras num trecho

de risco ambiental

Embora as diretrizes do Estatuto das Cidades para a implementaccedilatildeo do uso da terra

sustentaacutevel e os instrumentos para a regulaccedilatildeo do solo urbano sejam avanccedilados Colatina

eacute mais um exemplo da carecircncia de profissionais capacitados para estudar de modo

integrado e em niacutevel de bacia hidrograacutefica os efeitos da accedilatildeo humana num ambiente tatildeo

peculiar como as margens do Doce Por isso com os objetivos traccedilados nesta pesquisa

podemos aleacutem de compreender o fenocircmeno criar uma metodologia de anaacutelise de aacutereas

inundaacuteveis em ambientes urbanos O que permite agrave gestatildeo municipal uma diretriz para a

tomada de decisotildees

Destaca-se tambeacutem que as legislaccedilotildees aqui referenciadas supriram a discussatildeo acerca do

objeto de estudo mas outras podem contribuir para esta pesquisa a exemplo do Coacutedigo

das Aacuteguas da Poliacutetica Nacional dos Recursos Hiacutedricos das Resoluccedilotildees do Conama do

Estatuto das Cidades entre outros

Sendo assim numa revisatildeo do PDM deve-se pensar nestes aspectos da cidade desde o

histoacuterico de ocupaccedilatildeo das margens ateacute os impactos das inundaccedilotildees e o presente trabalho

auxilia com uma nova abordagem na reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo fornecendo material

cartograacutefico para subsidiar propostas de proteccedilatildeo ao curso do Doce e consequentemente

da populaccedilatildeo

Por fim deve-se destacar que o recorte estaacute inserido num contexto maior de uma bacia

hidrograacutefica que se estende aleacutem dos limites de Colatina ou do estado do Espiacuterito Santo

Esta bacia compreende a Regiatildeo Hidrograacutefica do Atlacircntico Leste e estaacute alocada tambeacutem

76

no estado de Minas Gerais o que portanto torna as accedilotildees de controle das inundaccedilotildees

mais complexas tendo em vista as divergentes politicas territoriais

77

7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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78

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2015 DEFESA CIVIL DO TOCANTINS Esquema de representaccedilatildeo das inundaccedilotildees e enchentes urbanas 2015 Disponiacutevel em lthttpdefesaciviltogovbrenchente gt Acesso em 22 de Marccedilo de 2015

79

ENCONTRA COLATINA Foto aeacuterea de Colatina do Bairro Esplanada sentido a foz do rio Doce 2015 Disponiacutevel em lt httpwwwencontracolatinacombrsobre-colatinagt Acesso em 17 de fevereiro de 2015 FITZ P R Geoprocessamento sem Complicaccedilatildeo Satildeo Paulo Ed Oficina de Textos 2008a ______ Cartografia Baacutesica (nova ediccedilatildeo) Satildeo Paulo Ed Oficina de Textos 2008b FOLHA VITORIA Preacutedio e quatro casas desabam em Colatina Noroeste do Estado Vitoria 24 de dezembro de 2013 lt httpwwwfolhavitoriacombrgeralnoticia201312predio-e-quatro-casas-desabam-em-colatina-noroeste-do-estadohtml gt - Acesso em 25 de Maio de 2014 GAZETA G1 Espirito Santo imagens da enchente de Colatina em dezembro de 2013 Disponiacutevel em lthttpg1globocomespirito-santonoticia201312sobe-para-40-mil-o-numero-pessoas-fora-de-casa-no-es-diz-defesa-civilhtmlgt Acesso em 16 de fevereiro de 2015 GORSKI MCB Rios e cidades ruptura e reconciliaccedilatildeo 1ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Senac Satildeo Paulo 2010 GRAEFF OR Licenciamento Ambiental Urbano In GUERRA (org) Geomorfologia Urbana 1ordf Ediccedilatildeo Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2011 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Cidades Disponiacutevel em lthttpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=320150ampsearch=||infograacuteficos-informaccedilotildees-completasgt Acesso em 25 de Maio de 2014 Instituto Capixaba de Pesquisa Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural - INCAPER Relatoacuterio do Programa De Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural (PROATER 2011) Disponiacutevel em ltwwwincaperesgovbrproatermunicipiosNoroesteColatinapdfgt Acesso em 24 de Maio de 2014 Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hiacutedricos ndash IEMA Ortofotos Espirito Santo do vocirco de 2007 a 2008 Disponiacutevel em lt http18984218229aplicmapgeralhtm5fc6ad50c096dbb2c3dc4bf3e379ae63 gt Acesso em 18 de fevereiro de 2015 Instituto Jones dos Santos Neves ndash IJSN Plano Diretor de Contenccedilatildeo as Enchentes Proteccedilatildeo as Encostas e Drenagem Pluvial de Colatina de abril de 1982 Disponiacutevel em lthttpwwwijsnesgovbrConteudoDigital20120801_ij00163_planodiretor_custo_mapa_v4pdf gt Acesso em 26 de janeiro de 2015 ______ Planos de Informaccedilatildeo formato shapefile 2015 Disponiacutevel em lthttpwwwijsnesgovbrSitioindexphpoption=com_contentampview=articleampid=3780ampItemid=330 gt Acesso em 26 de janeiro de 2015 JAILSON MONTEIRO Imagens da inundaccedilatildeo da Av Beira Rio de Colatina em dezembro de 2013 Disponiacutevel em httptecmixinforblogspotcombr201312enchente-colatinahtmlgt Acesso em 17 de Fevereiro de 2015

80

JENSEN J R Sensoriamento Remoto do Ambiente uma perspectiva em recursos terrestres Satildeo Joseacute dos Campos SP Parecircntese 2009 MINISTERIO PUBLICO FEDERAL - MPF Accedilatildeo Civil Puacuteblica com pedido de Antecipaccedilatildeo de Tutela - da obra de Enrocamento da Av Beira Rio em ColatinaES2006 Disponiacutevel emlt wwwpresmpfmpbracp_riodoce_colatinadocgt Acesso em 14 de marccedilo de 2015 NOSSA COLATINA Fatos Histoacutericos Culturais Curiosidades Informaccedilatildeo Variedades Disponiacutevel em lt httpswwwfacebookcomnossacolatinagt Acesso em 29 de Janeiro de 2015 NOSSA LINDA COLATINA Fotos histoacutericas do centro de Colatina Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomNossaLindaColatinaphotosgt Acesso em 29 de Janeiro de 2015 Serviccedilo Geoloacutegico do Brasil ndash CPRM Relatoacuterio Teacutecnico do Periacuteodo Criacutetico de Dezembro de 2013 (CPRM 2014) Disponiacutevel emlthttpwwwcprmgovbrpubliquemediarelatorio_eventos_criticos_190314pdfgt Acesso em 16 de Setembro de 2014 Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espiacuterito Santo - GEOBASES Downloads de planos de informaccedilatildeo do estado municiacutepio bairros corpo drsquoagua entre outros Disponiacutevel em httpwwwgeobasesesgovbr Acesso em 07 de Setembro de 2014 SITE BARRA Colatina debaixo drsquoaacutegua na maior enchente da histoacuteria do municiacutepio Colatina 24 de dezembro de 2013 lt httpwwwsitebarracombr201312colatina-debaixo-dagua-na-maior-enchente-da-historia-do-municipiohtml gt - Acesso em 25 de Maio de 2014 TUCCI CEM Prefacio In GUERRA e CUNHA (orgs) Impactos Ambientais Urbanos no Brasil 10ordf Ediccedilatildeo Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2013 UOL NOTiacuteCIAS Chuvas causam estragos em mais de dois terccedilos dos municiacutepios do Espiacuterito Santo Vitoacuteria 26 de dezembro de 2013 lt httpnoticiasuolcombralbum20131223chuvas-causam-estragos-em-metade-dos-municipios-do-espirito-santohtmfotoNav=62 gt ndash Acesso em 31 de Maio de 2014 USGS - Geological Survey Serviccedilo Geoloacutegico Americano Aquisiccedilatildeo de imagens orbita digitais gratuitas do sateacutelite LandSat-8 datas de passagem 02012014 e 22032014 EUA Disponiacutevel em lthttpearthexplorerusgsgovgt Acesso em 05 de setembro de 2014

Page 5: DESNATURALIZAÇÃO DO RIO DOCE: UMA ABORDAGEM … · Ao engenheiro Francisco Hermes, pela experiência e conhecimentos partilhados da área de estudo. Aos meus amigos Mônica Regina,

REacuteSUMEacute

Ce travail a pour objet deacutetude le secteur de la Riviegravere Doce coupe de la zone urbaine ne

de Colatina ndash ES Le principal objectif de cette analyse eacutetait de veacuterifier comme les

interventions humaines dans le chenal de la Riviegravere Doce ont contribueacute pour le submersion

de la plaine dinondation De cette preacutemisse la recherche a eacuteteacute baseacutee sur lanalyse de

photographies historiques de 1906 a 2015 et images en peacuteriode de reflux (avril) et flux

(janvier) de la Riviegravere Doce par lequel il a eacuteteacute possible de cartographier les changements

dans les marges de ce plan deau Gracircce agrave lanalyse de la seacuterie chronologique historique

de deacutebit de la riviegravere et de loccupation de la zone de preacuteservation permanent crsquoest possible

didentifier les points les plus vulneacuterables de lrsquoAvenue Beira-Rio Ainsi les reacutesultats

indiquent que la croissance urbaine deacutesordonneacutee et continue associeacutee aux changements

dans les processus geacuteomorphologiques a intensifieacute la deacutegradation du chenal de la riviegravere

en renforccedilant des inondations

Mots-cleacutes la geacuteomorphologie fluviale geacuteotechnologies analyse geacuteographique inteacutegreacutee

dintervention humaine et inondations

ABSTRACT

This paper has as object of study the sector of Doce River cutting the urban areas of

Colatina ndash ES The main objective of this analyze was to verify how human interventions on

Docersquos river channel have contributed how human interventions in river channel have

contributed to the tide of the floodplain From this premise the research was based on

analysis of historical photographs from 1906 to 2015 and aerial images in periods of ebb

(April) and flood (January) of Doce river by which it was possible to map the changes in the

margins of this water body Crossing the analysis of historical time series of river flow with

the occupation of areas of permanent preservation it was possible to delimitate the most

vulnerable points of Beira-Rio Avenue Thus the results indicated that the cluttered and

continuous urban growth associated with changes in geomorphological processes has

intensified de degradation of the river channel increasing flooding

Keywords fluvial geomorphology geotechnologies integrated geographical analysis

human intervention and flood

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e Rio Doce 18

Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 19

Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de

2013 19

Figura 4 - Tipos de leito fluvialvarzea 21

Figura 5 - Padrotildees dos canais 21

Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento 32

Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia 33

Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC) 37

Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906

Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce 41

Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da

regiatildeo 42

Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce 43

Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio

Doce 43

Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes 45

Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de

crescimento 47

Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios que interceptam a cidade de Colatina

48

Figura 16 - Traccedilado das mensuraccedilotildees da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de

vazante mecircs de abril2013 50

Figura 17 - Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro

urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal 51

Figura 18 - Representaccedilatildeo de inundaccedilatildeo urbana 53

Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de

1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 55

Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2)

Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do

recorte em rosa da APP de 50 m (amarelo claro) e 500 m (amarelo escuro) 56

Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponrte Florentino Aacutevidos (direita)

e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa

Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque

em vermelho para o curso atual do Santa Maria 58

Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de

proteccedilatildeo agrave ponte 59

Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o

traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas 60

Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o

calccediladatildeo da Av Beira-Rio61

Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento

iniciada em 2004 e finalizada em 2008 62

Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina 63

Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce antes e

depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas 64

Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 66

Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto da Beira-Rio 68

Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da

inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av

Beira-Rio em dezembro de 2013 69

Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do rio Aar Munster Alemanha (1998) 72

Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos 72

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Perfis Transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de vazante (abril) e cheia (janeiro) 50

Tabela 2 Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013 54

Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1 67

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 - Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais

(Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia) 25

Graacutefico 2 - Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 201045

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANA - Agecircncia Nacional de Aacuteguas

APP - Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente

CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais Serviccedilo Geoloacutegico Brasileiro

GEOBASES - Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espiacuterito Santo

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IJSN - Instituto Jones dos Santos Neves

INCAPER - Instituto Capixaba de Pesquisa Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural

PDM - Plano Diretor Municipal

PMC - Prefeitura Municipal de Colatina

PROATER - Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural

SIG - Sistema de Informaccedilotildees Geograacuteficas

UHE ndash Usina Hidreleacutetrica

UTM - Universal Tranverse Mercator

USGS - Geological Survey Serviccedilo Geoloacutegico Americano

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14

11 Objetivo 16

111 Objetivo Geral 16

112 Objetivos Especiacuteficos 16

12 Justificativa 17

2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS 20

21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano 20

211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial 23

22 Aspectos Juriacutedicos 27

23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos 31

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS 36

4 RESULTADOS 40

41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana 40

411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade 46

42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce 49

421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie de

Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio 53

422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio 65

5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 71

6 CONCLUSAtildeO 74

7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 77

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

A partir da deacutecada de 1930 com a transiccedilatildeo econocircmica de um eixo agraacuterio-exportador

para um polo urbano-industrial (CARNEIRO 2008) verificou-se no Brasil a migraccedilatildeo da

maior parte da populaccedilatildeo para as cidades Isso acarretou segundo Tucci (2013 p17) uma

ldquo[] concentraccedilatildeo urbana no Brasil da ordem de 80 da populaccedilatildeo e o seu

desenvolvimento tem sido realizado de forma pouco planejada com grandes conflitos

institucionais e tecnoloacutegicos []rdquo

De acordo com Canholi (2005 p15) a expansatildeo da aacuterea urbana ldquo[] consequentemente

impermeabilizada ocorreu a partir das zonas mais baixas proacuteximas agraves vaacuterzeas dos rios

ou agrave beira-mar em direccedilatildeo agraves colinas e morros em face da necessaacuteria interaccedilatildeo da

populaccedilatildeo com os corpos hiacutedricos []rdquo Neste cenaacuterio surgem as ocupaccedilotildees irregulares

nas Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) como as da planiacutecie de inundaccedilatildeo dos rios

e os topos de morros

Essas ocupaccedilotildees desordenadas satildeo proporcionadas pela precariedade da implantaccedilatildeo e

fiscalizaccedilatildeo das legislaccedilotildees urbaniacutesticas de ordenamento territorial e ambiental Neste

contexto satildeo relevantes as pesquisas que visam correlacionar o viacutenculo

sociedadenatureza de modo a entender como a ocupaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo no

solo conecta-se com a hidrodinacircmica dos recursos naturais uma vez que ldquo[] a tendecircncia

atual do limitado planejamento urbano integrado estaacute levando as cidades a um caos

ambiental urbano com custo extremamente alto para a sociedaderdquo (TUCCI 2013 p17)

Deve-se partir do pressuposto teoacuterico articulado com a ideia anterior de ldquo[]

indissociabilidade entre natureza e sociedade []rdquo (COELHO 2013 p21) em que a

sociedade natildeo pode ser apenas entendida como populaccedilatildeo e a natureza enquanto mero

ambiente fiacutesico mas que estes dois fatores estatildeo dinamicamente produzindo o espaccedilo

geograacutefico

Neste contexto a problemaacutetica se afirma no intuito de relacionar as legislaccedilotildees urbanas

(Lei de Parcelamento do Solo 676679 e PDM) e ambientais (Novo Coacutedigo Florestal 2012)

com as suas aplicaccedilotildees ou natildeo no periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina

principalmente nos bairros que se situam na planiacutecie de inundaccedilatildeo do Rio Doce

A escolha da temaacutetica tambeacutem teve como premissa a importacircncia regional de Colatina

como entreposto comercial e logiacutestico para os municiacutepios do noroeste capixaba conforme

15

relato do Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural - PROATER (INCAPER

2011)

Exportadores de cafeacute atacadistas e as lojas de pronta entrega dinamizam o comeacutercio local que atende aos municiacutepios do norte capixaba leste de Minas Gerais e sul da Bahia representando um universo de mais de 700 mil consumidores (INCAPER 2011 p5)

De acordo ainda com o INCAPER (op cit) Colatina tem crescido a uma margem de 188

anual o que representa a tendecircncia ao ecircxodo rural sendo que a populaccedilatildeo do campo vem

diminuindo de aproximadamente 19 em 1990 passou a 12 no Censo de 2010 Diante

do exposto entra em discussatildeo o planejamento urbano pois com o crescimento da

populaccedilatildeo citadina para cerca de 88 aumentam tambeacutem as pressotildees sobre o meio

ambiente em especial as regiotildees ribeirinhas

Estas uacuteltimas refletem o aumento das atividades humanas na bacia hidrograacutefica onde

pode-se destacar as mudanccedilas induzidas pelas accedilotildees antropogecircnicas que se dividem em

diretas (aquelas que atuam no canal fluvial para controle das vazotildees a exemplo dos

reservatoacuterios e desvios de aacuteguas) e indiretas relacionadas agraves aacutereas fora dos canais por

exemplo o desmatamento e urbanizaccedilatildeo sendo que estas comprometem a descarga e

carga soacutelida do rio (PARK1981 KNIGHTON1984 apud CUNHA 2001)

O interesse pela pesquisa surge da importacircncia regional do municiacutepio dos impactos

histoacutericos humanos materiais e imateriais sofridos diante de eventos hidroloacutegicos

extremos tendo em vista o fato de o periacutemetro urbano ser cortado por um corpo fluvial de

importacircncia regional Aleacutem disso a abordagem geograacutefica possibilita a correlaccedilatildeo dos

processos fluviais com a ocupaccedilatildeo urbana de modo mais integrado (COELHO 2009)

Portanto uma das finalidades deste trabalho eacute analisar por meio das geotecnologias e das

investigaccedilotildees de campo como a ocupaccedilatildeo urbana tem interferido nas margens do Rio

Doce de modo a delimitar os sucessivos aterros na margem direita no periacutemetro do bairro

Esplanada a Colatina Velha Ademais identificar como os processos deste canal fluvial

tecircm sido afetados pela intervenccedilatildeo humana em seu leito principal

16

11 Objetivo

111 Objetivo Geral

Correlacionar os processos fluviais do Rio Doce por meio da dinacircmica geomorfoloacutegica

deste canal com o uso e cobertura da terra no setor urbano do municiacutepio de Colatina

Espiacuterito Santo Contrapondo assim as intervenccedilotildees urbanas da beira-rio com o Plano

Diretor Municipal e o Novo Coacutedigo Florestal enfatizando as diretrizes adotadas no

parcelamento do solo para a planiacutecie de inundaccedilatildeo deste rio

112 Objetivos Especiacuteficos

Identificar os vetores de crescimento urbano do municiacutepio a fim de avaliar a

evoluccedilatildeo da mancha urbana junto ao canal principal

Determinar o comprimento da borda da calha do leito regular do Rio Doce no

periacutemetro urbano de Colatina para definiccedilatildeo da largura miacutenima da faixa marginal

de preservaccedilatildeo

Espacializar as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente beira-rio previstas em lei a fim

de analisar a ocupaccedilatildeo urbana nestes espaccedilos

Cartografar os principais pontos desnaturalizados no canal principal do Rio Doce

no setor urbano de Colatina

Demonstrar como o emprego das geotecnologias auxilia no planejamento urbano

e ambiental especialmente em acircmbito municipal

17

12 Justificativa

A aacuterea de estudo corresponde ao periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina situado na

Bacia Atlacircntico trecho leste sub-bacia do Rio Doce no baixo curso (ANA 2001)

Compreende a regiatildeo noroeste do estado do Espiacuterito Santo latitude 19deg 32rsquo 16rsquorsquo S e

longitude 40deg 37rsquo 59rsquorsquo W De acordo com os dados do censo de 2010 do Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio possuiacutea uma populaccedilatildeo de 111788 mil

habitantes1 numa aacuterea territorial de 1416804 kmsup2

Devido a sua privilegiada posiccedilatildeo geograacutefica limiacutetrofe com o Rio Doce e a construccedilatildeo da

Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas em 1906 Colatina compreendia os territoacuterios dos atuais

municiacutepios de Baixo Guandu Linhares Pancas Satildeo Gabriel da Palha Marilacircndia Satildeo

Domingos do Norte e Governador Lindenberg (INCAPER 2011) Soacute a partir de 2001

passou a apresentar os atuais limites municipais e configurar uma aacuterea urbana com 59

bairros (Figura 1)

Colatina eacute um municiacutepio de importacircncia para regiatildeo noroeste capixaba seja em caraacuteter

econocircmico ou social Eacute responsaacutevel pelos fluxos de cargas da regiatildeo aleacutem de ser um polo

moveleiro de confecccedilatildeo metalmecacircnico e de comeacutercio e serviccedilos gerando emprego e

renda (INCAPER 2011) Aleacutem disso tem sofrido historicamente com as cheias do Rio

Doce principalmente porque parte do seu periacutemetro urbano eacute inundado com as aacuteguas da

calha principal desse rio o que compromete toda a dinacircmica local e potildee em risco os

colatinenses

Assim diante das crescentes demandas por territoacuterio no periacutemetro urbano a populaccedilatildeo

tem suprimido a cobertura vegetal e ocupado desde as margens do Rio Doce ateacute as

encostas dos morros Em periacuteodos de cheias principalmente nos meses de outubro a

marccedilo (INCAPER 2011 ANA 2001) verificam-se inundaccedilotildees de grande parte da aacuterea

urbana beira-rio aleacutem dos movimentos de massa nas encostas Como exemplo destes

acontecimentos tecircm-se os registros fotograacuteficos dos efeitos da chuva de dezembro de 2013

(Figuras 2 e 3)

1 De acordo com o a estimativa do IBGE de 2014 publicada no DOU o municiacutepio conta com uma populaccedilatildeo de 121670 habitantes

18

Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e o canal do Rio Doce Elaborado pela autora

19

Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 Fonte Noticias UOL (2013)

Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de 2013 Fonte Folha Vitoacuteria (2013)

Este estudo portanto eacute relevante tendo em vista as raras abordagens no acircmbito das

Ciecircncias Geograacuteficas especialmente no Espiacuterito Santo de pesquisas que correlacionem

aspectos da geomorfologia fluvial por meio da dinacircmica dos recursos hiacutedricos com o uso

e cobertura da terra particularmente o Plano Diretor Municipal (PDM) Discute dessa

forma as implicaccedilotildees da atuaccedilatildeo humana nas particularidades deste ecossistema natural

tendo em vista o disposto nas legislaccedilotildees urbaniacutesticas e ambientais que visam assegurar

a qualidade de vida das populaccedilotildees

Adiante seratildeo analisados os principais fundamentos da geomorfologia fluvial os aspectos

juriacutedicos e o papel da anaacutelise geograacutefica integrada para o entendimento dos fenocircmenos

das inundaccedilotildees no Centro de Colatina uma vez que eacute devido agraves intervenccedilotildees humanas

nos canais e suas margens que esses fenocircmenos tornam-se mais nocivos a cidade

20

2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS

21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano

Recurso essencial para a manutenccedilatildeo da vida a aacutegua foi um fator relevante para o

estabelecimento histoacuterico das sociedades no entorno dos cursos hiacutedricos Utilizados para

fins de abastecimento humano e animal irrigaccedilatildeo saneamento e transporte os rios

constituiacuteram-se nos principais propulsores de penetraccedilatildeo para o interior (CUNHA 2012a)

Logo em suas margens surgiram povoados que posteriormente transformaram-se em

cidades como as que se estabeleceram agraves margens do Rio Doce a exemplo da sede de

Colatina

Diante das potencialidades que os recursos hiacutedricos possibilitam agraves sociedades

destacamos a importacircncia do estudo da Geomorfologia Fluvial que se apresenta como

campo da Geomorfologia (ciecircncia que estuda as formas do relevo) sendo o interesse

daquela a pesquisa dos processos que relacionam o escoamento das aacuteguas fluviais num

contexto de bacia hidrograacutefica (CHRISTOFOLETTI 1980 CUNHA op cit) Enfoca assim

as alteraccedilotildees na fisionomia dos canais frente agraves intervenccedilotildees no ecossistema natural

beira-rio

A Geomorfologia Fluvial parte da condicionante de que o uso e ocupaccedilatildeo da terra refletem-

se na dinacircmica da bacia de drenagem interferindo nos processos morfogeneacuteticos ou seja

de modelagem do relevo fluvial escoamento superficial das aacuteguas e no ciclo hidroloacutegico

Frente agrave temaacutetica deste estudo faz-se necessaacuterio o entendimento dos conceitos da

fisiografia fluvial aqui referente aos diferentes setores que a aacutegua pode escoar num leito

(Figura 4) como

O leito menor corresponde agrave parte do canal ocupada pelas aacuteguas e cuja frequecircncia impede o crescimento da vegetaccedilatildeo Esse tipo de leito eacute delimitado por partes bem definidas O leito de vazante equivale agrave parte do canal ocupada durante o escoamento das aacuteguas de vazante Suas aacuteguas divagam dentro do leito menor seguindo o talvegue linha de maacutexima profundidade ao longo do leito e que eacute mais bem identificada na seccedilatildeo transversal do canal O leito maior tambeacutem denominado leito maior perioacutedico ou sazonal eacute ocupado pelas aacuteguas do rio regularmente e pelo menos uma vez ao ano durante as cheias Dependendo do tempo ocorrido entre as subidas das aacuteguas eacute possiacutevel haver a fixaccedilatildeo e o crescimento da vegetaccedilatildeo herbaacutecea

21

O leito maior excepcional eacute ocupado durante as grandes cheias no decorrer das enchentes (CUNHA 2001 p 213)

Figura 4 - Tipos de leito fluvial vaacuterzea Fonte Cunha (2001 p213)

Sendo assim as aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial (leitos) aquelas inundadas pelo corpo

hiacutedrico frente a um evento hidroloacutegico extremo tambeacutem satildeo conhecidas como vaacuterzeas

planiacutecie de inundaccedilatildeo ou ainda segundo Carneiro e Miguez (2011 p133) como ldquo[] zona

de passagem de cheia []rdquo Essas aacutereas de vaacuterzeas dependem da fisionomia que o rio

apresenta e segundo Cunha (op cit) o canal fluvial pode apresentar trecircs formas

principais conhecidas como padratildeo dos canais que satildeo retiliacuteneo anastomosado e

meacircndrico (Figura 5)

Figura 5 - Padrotildees dos canais (A) retiliacuteneo (B) anastomosado (C) meandrante (A) amplitude (Rc) raio meacutedio da curvatura do meandro (segundo Bigarella etal 1979) Fonte Cunha (2001 p216)

22

Aliada aos padrotildees dos canais estaacute a assimetria ou simetria dos leitos que para Cunha

(2001 p233) relaciona-se com a variaccedilatildeo da velocidade e turbulecircncia ao longo da secccedilatildeo

transversal o que diferencia o comportamento nos canais retiliacuteneos geralmente simeacutetricos

do canal meacircndrico onde

Em canais de leito simeacutetrico em geral padratildeo retiliacuteneo a velocidade maacutexima ocorre no centro do canal diminuindo em direccedilatildeo agraves margens Em leito assimeacutetrico de padratildeo meacircndrico a zona de maacutexima velocidade e turbulecircncia localiza-se nas proximidades das margens cocircncavas decrescendo de valor em direccedilatildeo agrave margem de menor profundidade

(convexa) (CUNHA opcit p 233)

Deste modo a capacidade de erosatildeo das margens transporte e deposiccedilatildeo da carga do rio

dependem entre outros fatores da velocidade das correntes fluviais E o material do fluxo

fluvial constitui-se da descarga liacutequida ou vazatildeo que estaacute relacionada ao tamanho do

material que pode ser transportado e do volume da carga que o rio eacute capaz de carregar

Tem-se ainda a carga soacutelida sedimentos que estaacute relacionada a suspensatildeo e fundo do

rio esta decresce a jusante indicando a diminuiccedilatildeo da competecircncia do corpo fluvial As

cargas de suspensatildeo satildeo constituiacutedas de partiacuteculas finas a exemplo do silte e por fim a

carga de fundo que eacute composta por partiacuteculas de tamanhos maiores a exemplo da areia

(CUNHA2001)

Christofoletti (1980) acrescenta que os sedimentos podem ser carregados de trecircs modos

principais no fluxo em soluccedilatildeo dissolvidos nos cursos hiacutedricos em suspensatildeo como o

silte e argila e em saltaccedilatildeo geralmente a areia e cascalho que compreendem a carga do

leito do rio Destaca-se que a carga detriacutetica natildeo proveacutem apenas da erosatildeo do fundo dos

leitos e margens fluviais mas que o material intemperizado de vertentes carreado nas

enchentes contribui significativamente para a carga sedimentar transportada

Cabe ressaltar ainda que a relaccedilatildeo do arranjo espacial dos canais com os processos

fluviais (a erosatildeo o transporte e a deposiccedilatildeo de sedimentos) eacute determinante para o

trabalho dos rios Tais processos satildeo diretamente influenciados pela vazatildeo velocidade e

pela intensidade da turbulecircncia (seja no fluxo laminar ou no fluxo turbulento) A

variabilidade no comportamento da velocidade e turbulecircncia das aacuteguas ao longo da seccedilatildeo

transversal condiciona os locais preferenciais de erosatildeo e deposiccedilatildeo ao longo do curso

hiacutedrico

23

Deste modo qualquer intervenccedilatildeo na bacia e canal fluvial compromete o equiliacutebrio natural

da drenagem levando o corpo hiacutedrico a se adaptar agraves mudanccedilas em sua fisionomia

fisiografia e em seus processos ateacute atingir um novo estado de equiliacutebrio Poreacutem eacute na

planiacutecie de inundaccedilatildeo que estas modificaccedilotildees seratildeo mais percebidas pela populaccedilatildeo pois

a maior parte das obras de engenharia como as canalizaccedilotildees e as ocupaccedilotildees das

margens acaba por romper com o equiliacutebrio natural do rio alterando sua dinacircmica e

intensificando seus processos o que na maioria das vezes potencializa as enchentes no

ambiente urbano

Nesse sentido o entendimento dos processos fluviais (erosatildeo transporte e deposiccedilatildeo)

combinado com a anaacutelise da fisiografia fluvial condicionam as peculiaridades na geometria

hidraacuteulica ou seja na relaccedilatildeo entre a vazatildeo velocidade de escoamento tipos de canais

de sedimentos e a topografia Logo o conhecimento geomorfoloacutegico do rio contribui para

pesquisas que necessitem relacionar o funcionamento deste corpo natural com um

planejamento urbano mais efetivo principalmente se considerarmos um recorte em niacutevel

de bacia hidrograacutefica em espaccedilo urbano

211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial

O capiacutetulo que segue versa sobre a atuaccedilatildeo antroacutepica relacionando-a a aacuterea de estudo o

rio Doce poreacutem este trata de forma macro a temaacutetica para contextualizar o leitor sendo

as especificidades das intervenccedilotildees neste recorte geograacutefico trabalhados nos resultados

desta pesquisa

Diante do exposto eacute possiacutevel acompanhar a evoluccedilatildeo dos processos fluviais nos canais

em especial aqueles que tiveram intervenccedilotildees em seu curso natural como as hidreleacutetricas

instaladas a montante a exemplo do Rio Doce onde a interferecircncia direta na vazatildeo e fluxo

de sedimentos altera a hidrodinacircmica do rio comprometendo a erosatildeo e transporte Para

Coelho (2007 p57) as

Mudanccedilas na Declividade Perfil Longitudinal Promovidas pela construccedilatildeo de reservatoacuterio satildeo variadas e caso o efeito da contenccedilatildeo de sedimentos seja significativo os processos fluviais reduziratildeo a capacidade de transporte de sedimento podendo promover um entalhamento do leito do rio imediatamente agrave jusante da barragem

Aleacutem disso esse processo erosivo poacutes-barragem eacute intensificado favorecendo o

assoreamento e sedimentaccedilatildeo do rio a jusante O que pode beneficiar a elevaccedilatildeo da cota

24

do canal fluvial frente a eventos hidroloacutegicos extremos potencializando os efeitos das

inundaccedilotildees nas vaacuterzeas

Ao mesmo tempo o Rio Doce trecho que compreende o Espiacuterito Santo meacutediobaixo curso

eacute impactado nas vazotildees miacutenimas e maacuteximas a jusante apoacutes a instalaccedilatildeo das

barragensUsinas Hidreleacutetricas (UHE) de Mascarenhas (iniacutecio de operaccedilatildeo em 1974)

localizada no Municiacutepio de Baixo Guandu e a de Aimoreacutes (iniacutecio de operaccedilatildeo em 2005)

localizada na divisa do Espiacuterito Santo com Minas Gerais (COELHO 2007)

De acordo com Coelho (opcit) apoacutes a implantaccedilatildeo das usinas ocorreu uma reduccedilatildeo

significativa na vazatildeo da calha principal do Rio Doce conforme Graacutefico 1

Considerando o periacuteodo de 1939 a 2012 a vazatildeo miacutenima apoacutes a instalaccedilatildeo das usinas

chega a atingir 411msup3s e a maacutexima chega apenas a 1251msup3s sendo que no periacuteodo

anterior agrave instalaccedilatildeo das usinas foi registrada a miacutenima de 533 msup3s e uma maacutexima de

1812 msup3s o que ressalta o impacto do barramento sobre o corpo hiacutedrico Aleacutem do

comprometimento dos processos de erosatildeo transporte e sedimentaccedilatildeo (COELHO 2008

e CUNHA 2001)

Diante desta perda de carga liacutequida nos barramentos Cunha (2001 p 241) observa ainda

que as aacutereas a jusante de reservatoacuterios

[hellip] onde o regime do rio sofre significativas modificaccedilotildees devidas ao controle das descargas liquidas e de sedimentos no reservatoacuterio As mudanccedilas ocorridas no regime das aacuteguas neste setor do rio acarretam significativos efeitos nos processos do canal tais como o entalhe do leito a erosatildeo das margens e a deposiccedilatildeo a jusante atingindo longas distacircncias

Aleacutem disso no periacutemetro urbano de Colatina o Rio Doce sofreu outras intervenccedilotildees em

seu canal principal como a implantaccedilatildeo de obras estruturais de macrodrenagem a

exemplo da construccedilatildeo da Av Beira-Rio com intuito de conter o avanccedilo das aacuteguas fluviais

em periacuteodos de cheias

25

Graacutefico 1

Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais (Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia)

Fonte adaptado de Coelho (2007 p154)

26

Como exemplo dos tipos de intervenccedilotildees humanas nas aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial

leitos Carneiro e Miguez (2011 p117) destacam

As accedilotildees de controle e cheias urbanas podem ser classificadas em estruturais quando a paisagem eacute alterada pela accedilatildeo do homem e em natildeo estruturais aqui denominada como estruturante quando o homem aprende a conviver com as enchentes No primeiro caso estatildeo as medidas de controle atraveacutes de obras hidraacuteulicas tais como barragens diques e canais entre outras No segundo caso encontram-se medidas do tipo preventivo tais como zoneamento de aacutereas de inundaccedilatildeo sistemas de alerta educaccedilatildeo ambiental lei de parcelamento e uso dos solos e seguros contra inundaccedilatildeo

Neste cenaacuterio abarcamos os impactos das obras de engenharia como a canalizaccedilatildeo que

altera a fisionomia e fisiografia do rio refletindo-se nos processos geomorfoloacutegicos do canal

e sua planiacutecie de inundaccedilatildeo Para estes a canalizaccedilatildeo eacute uma obra estrutural que aumenta

a capacidade do fluxo do canal aleacutem de intensificar a velocidade do escoamento

superficial antecipando o pico de cheia e transferindo os alagamentos para locais a jusante

na bacia hidrograacutefica

Articulado a esta ideia Cunha (2012b) reflete a desnaturalizaccedilatildeo dos rios por meio de

obras de retificaccedilatildeo com a reduccedilatildeo do comprimento do canal e eliminaccedilatildeo das

sinuosidades Satildeo obras que afetam a estabilidade do corpo hiacutedrico na medida em que

interferem na relaccedilatildeo entre erosatildeo sedimentaccedilatildeo e deposiccedilatildeo provocando efeitos como

alteraccedilatildeo na morfologia do canal Sendo assim ldquo[hellip] a diminuiccedilatildeo da rugosidade no fundo

do canal em conjunto com a perda dos meandros e a aceleraccedilatildeo das velocidades eacute a

principal responsaacutevel pelas mudanccedilas no balanccedilo da energia natural dos sedimentos

fluviais [hellip]rdquo Cunha (2012b p178) No caso do Rio Doce trecho correspondente agrave Av

Beira-Rio alterou-se a sua forma retilinizando-a e sua vegetaccedilatildeo natural foi substituiacuteda

por estruturas de pedras o que compromete a resistecircncia ao fluxo as margens e aos

bancos arenosos

Embora as obras de canalizaccedilatildeo sejam implantadas como eficazes nos canais fluviais para

questotildees de enchentes urbanas para Cunha (op cit) estas necessitam de manutenccedilatildeo

constante envolvendo desde dragagem remoccedilatildeo de obstruccedilotildees a recomposiccedilatildeo do

material utilizado Poreacutem toda a manutenccedilatildeo estaacute associada a alteraccedilotildees morfoloacutegicas e

bioloacutegicas como as que interferem nas soleiras e depressotildees do fundo dos leitos

desestabilizando a vazatildeo no curso a exemplo da

27

ldquo[hellip] eliminaccedilatildeo da sequecircncia de depressotildees e soleiras o aumento da velocidade da corrente a diminuiccedilatildeo da diversidade de habitats o ambiente instaacutevel resultante da flutuaccedilatildeo dos niacuteveis da aacutegua e do substrato moacutevel e a maior flutuaccedilatildeo da temperatura das aacuteguasrdquo (CUNHA 2012b p180)

Ao mesmo tempo o aumento da velocidade dos escoamentos no trecho retificado

possibilita maior erosatildeo transferindo para as aacutereas a jusante uma carga soacutelida

representativa que para Cunha (op cit) configura a formaccedilatildeo de bancos axiais e depoacutesitos

de sedimentaccedilatildeo marginais alterando o equiliacutebrio dos sedimentos a jusante Pois

A jusante das obras de retificaccedilatildeo verificam-se o aumentam da carga soacutelida o assoreamento durante a dragagem a erosatildeo no canal pelos eventos torrenciais do regime e a modificaccedilatildeo na dinacircmica na foz Os sedimentos resultantes da erosatildeo no canal retificado em conjunto com a excessiva carga de sedimentos posta em suspensatildeo durante a dragagem e na fase imediata de poacutes-construccedilatildeo - quando a erosatildeo dos bancos de areia sem vegetaccedilatildeo estaacute em seu niacutevel maacuteximo - originam a formaccedilatildeo de depoacutesitos fluviais de curta duraccedilatildeo a jusante do canal retificado Logo a seguir esses depoacutesitos satildeo erodidos juntamente com as margens e o fundo do leito pelos eventos torrenciais do regime vindo a formar bancos axiais e depoacutesitos de sedimentaccedilatildeo marginais (CUNHA2012b p183)

Portanto o estudo da geomorfologia fluvial contribui diretamente para o entendimento das

cheias nas planiacutecies de inundaccedilatildeo em especial nas bacias hidrograacuteficas que

compreendem a aacuterea urbana e que possuem intervenccedilotildees antroacutepicas diretas na fisiografia

do canal principal Seus processos explicam como as alteraccedilotildees no canal fluvial podem

maximizar os efeitos dos transbordamentos impactando principalmente as populaccedilotildees

ribeirinhas aleacutem de todo ecossistema local Ademais estes fundamentos geomorfoloacutegicos

devem ser associados agrave legislaccedilatildeo vigente afim de subsidiar a elaboraccedilatildeo de instrumentos

legais para atuaccedilatildeo do poder puacuteblico nestas zonas de risco

22 Aspectos Juriacutedicos

Frente agrave crescente demanda sobre os recursos hiacutedricos e solo urbano a partir da deacutecada

de 1930 surgem as primeiras diretrizes que visam regulamentar estes ambientes a

exemplo do Coacutedigo das Aacuteguas Mas soacute a partir dos anos 1960 surgem em acircmbito federal

leis como o Coacutedigo Florestal com o intuito de regular a exploraccedilatildeo das vegetaccedilotildees e

consequentemente proteger os mananciais e em 1979 com o objetivo de ordenar as

28

cidades eacute aprovada a Lei 676679 estabelecendo as normas do parcelamento do solo

urbano

Na medida em que as populaccedilotildees aumentam ampliam-se tambeacutem as pressotildees sobre os

recursos de aacutegua e solo Os processos de uso e a conscientizaccedilatildeo de que estes elementos

satildeo finitos intensificam as formas de controle e preservaccedilatildeo passando para as esferas

estaduais e municipais a responsabilidade de atuar em escala local na proteccedilatildeo desses

ambientes

Ainda em escala federal em 2012 eacute promulgado o Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012

em substituiccedilatildeo ao coacutedigo anterior Lei 47711965 que apresenta as normas de

apropriaccedilatildeo dos recursos naturais pelas novas necessidades das populaccedilotildees citadinas e

rurais No que compete agrave aacuterea de estudo cabe destacar as ocupaccedilotildees em aacutereas de

planiacutecie de inundaccedilatildeo em que de acordo com art 4ordm devem ser preservadas

I - as faixas marginais de qualquer curso drsquoaacutegua natural perene e intermitente excluiacutedos os efecircmeros desde a borda da calha do leito regular em largura miacutenima de (Incluiacutedo pela Lei nordm 12727 de 2012) a) 30 (trinta) metros para os cursos drsquoaacutegua de menos de 10 (dez) metros de largura b) 50 (cinquenta) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura c) 100 (cem) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura d) 200 (duzentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura e) 500 (quinhentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros []

A legislaccedilatildeo eacute riacutegida no que concerne agrave ocupaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo das terras nas faixas

marginais dos rios transferindo aos estados e municiacutepios a responsabilidade de fiscalizar

estes territoacuterios para garantir a efetividade da lei A questatildeo eacute que muitas vezes somada a

falta de planejamento estas fiscalizaccedilotildees satildeo ineficientes o que tem possibilitado o

surgimento cada vez maior das ocupaccedilotildees irregulares

Apoiado tambeacutem pela Constituiccedilatildeo Federal de 1988 nos artigos 182 e 183 surge o

Estatuto das Cidades Lei 102572001 com finalidade de garantir a funccedilatildeo social da

cidade e com este os primeiros Planos Diretores Municipais (PDM) que buscam o

ordenamento do crescimento das cidades em caraacuteter socioeconocircmico e ambiental cidades

sustentaacuteveis Ademais em Colatina eacute instituiacuteda a Lei 42281996 posteriormente revogada

29

pela Lei 52732007 que ldquoInstitui o Plano Diretor do Municiacutepio de Colatina estabelece os

objetivos instrumentos e diretrizes e daacute outras providecircncias para as accedilotildees de

planejamento do Municiacutepio de Colatina []rdquo

O PDM de Colatina assim como Coacutedigo Florestal prevecirc a preservaccedilatildeo dos ecossistemas

beira-rio Aquele ainda dispotildee sobre o parcelamento do solo sustentaacutevel a funccedilatildeo social

da cidade e da propriedade conforme o Plano Diretor de Colatina de 2007 nos artigos

transcritos

Artigo 22 - As diretrizes ambientais no Municiacutepio de Colatina satildeo I - aplicar os instrumentos de gestatildeo ambiental estabelecidos nas legislaccedilotildees federal estadual e municipal bem como a criaccedilatildeo de outros instrumentos adequando-os agraves metas estabelecidas pelas poliacuteticas ambientais II - compatibilizar as diretrizes de uso ocupaccedilatildeo e parcelamento do solo aos objetivos de proteccedilatildeo ambiental dos ecossistemas [] Artigo 23 - Satildeo diretrizes do sistema de drenagem urbana I - disciplinar a ocupaccedilatildeo das cabeceiras e vaacuterzeas das bacias hidrograacuteficas do Municiacutepio preservando a vegetaccedilatildeo existente e visando agrave sua recuperaccedilatildeo [] III - definir mecanismos de fomento para usos do solo compatiacuteveis com aacutereas de interesse para drenagem tais como parques lineares aacuterea de recreaccedilatildeo e lazer hortas comunitaacuterias e manutenccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa [] V - implantar medidas natildeo-estruturais [sic] de prevenccedilatildeo de inundaccedilotildees tais como controle de erosatildeo especialmente em movimentos de terra controle de transporte e deposiccedilatildeo de entulho e lixo combate ao desmatamento assentamentos clandestinos e a outros tipos de invasotildees nas aacutereas com interesse para drenagem [] VII - garantir e respeitar a necessaacuteria permeabilidade do solo inclusive buscando alternativas de pavimentaccedilatildeo com maior de permeabilidade [sic] [] Artigo 84 ndash Satildeo objetivos do ordenamento territorial do Municiacutepio de Colatina [] IV ndash conter a expansatildeo da ocupaccedilatildeo urbana em aacutereas de proteccedilatildeo ambiental [] Artigo 120 ndash Ficam desde jaacute identificadas como Zonas de Proteccedilatildeo Ambiental 2 ndash ZPA 2 as seguintes aacutereas [] III ndash as aacutereas existentes ao longo de qualquer curso drsquoagua desde o niacutevel mais alto em faixa marginal cuja largura miacutenima seraacute de a) 15m (trinta metros) [sic] para os cursos drsquoagua com menos de 10m (10

metros) de largura contidos no periacutemetro urbano [] c) 30m (trinta metros) para os cursos drsquoagua que tenham de10m (dez

metros a 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano

[]

30

e) 50m (cinquenta metros) para os cursos drsquoagua que tenham mais de 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 60422013)

[]

De modo geral verifica-se que a legislaccedilatildeo apresenta instrumentos que permitem a

prevenccedilatildeo ou controle de ocupaccedilotildees irregulares ou clandestinas em aacuterea de APP aleacutem de

propostas para resguardar de grandes impactos ambientais o corpo hiacutedrico principal do

municiacutepio o Rio Doce Possibilitando assim a minimizaccedilatildeo dos impactos causados pelas

cheias agrave populaccedilatildeo local

Poreacutem cabe destacar que o Plano Diretor Municipal de Colatina natildeo contempla o

estipulado no Coacutedigo Florestal 2012 Lei Federal onde os cursos drsquoaacutegua com largura

superior a 600(seiscentos) metros devem ser resguardados com aacutereas de preservaccedilatildeo

permanente de 500(quinhentos) metros entre outros sendo que a redaccedilatildeo desta parte do

PDM eacute dada pela lei 60422013 posterior a publicaccedilatildeo do novo Coacutedigo Florestal Sendo

assim verifica-se que apesar da intenccedilatildeo de resguardar uma faixa de no maacuteximo

50(cinquenta) metros em periacutemetro urbano para a contenccedilatildeo de cheias e mata ciliar o

PDM de Colatina natildeo atende o miacutenimo previsto em Lei Federal O que tem impactado todo

ecossistema beira rio e a populaccedilatildeo ribeirinha uma vez que a faixa marginal de proteccedilatildeo

de 50(cinquenta) metros em muitos casos natildeo tem comportado o impacto dos defluacutevios

No entanto a legislaccedilatildeo trata de aspectos gerais natildeo pontuando as aacutereas responsaacuteveis

por cada accedilatildeo aleacutem de sua aplicabilidade depender da elaboraccedilatildeo de um cronograma de

execuccedilatildeo bem como um conjunto de planos e normas especiacuteficos para cada diretriz com

detalhamento das propostas de intervenccedilatildeo Isto natildeo ocorreu ateacute o presente

Aleacutem disso a cidade de Colatina surgiu num cenaacuterio histoacuterico anterior agraves legislaccedilotildees

urbaniacutesticas e ambientais inclusive do Coacutedigo das Aacuteguas o que dificulta a execuccedilatildeo de

um planejamento que concilie a preservaccedilatildeo das matas beira-rio garantindo a faixa de

APP com a ocupaccedilatildeo urbana consolidada

A aacuterea de estudo se apresenta como ambiente fragilizado apesar de ser regida por

legislaccedilotildees desde a escala federal ateacute a municipal que visam proteger e ordenar o uso e

cobertura da terra nas faixas marginais dos rios Mas a dificuldade das prefeituras em

aplicar os instrumentos legais nestes ambientes seja por interesses privados ou falta de

recursos para investimentos em soluccedilotildees a longo prazo continua expondo as populaccedilotildees

31

aos impactos dos eventos hidroloacutegicos criacuteticos como os que resultam nas inundaccedilotildees

Para que se alcance esse parcelamento do solo sustentaacutevel satildeo necessaacuterios esforccedilos da

gestatildeo municipal em estipular prazos e metas de atuaccedilatildeo afora interagir os diferentes

setores no planejamento em niacutevel de bacia hidrograacutefica considerando as peculiaridades

desta escala de trabalho

23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos

Sendo a ciecircncia que estuda a relaccedilatildeo homemnatureza a Geografia tem muito a contribuir

nas anaacutelises que envolvem o meio ambiente que foi transformado pela dinacircmica da

sociedade Mas historicamente a dialeacutetica das correntes fiacutesica e humana tem imperado de

modo dissociado levando o geoacutegrafo a estudar estes processos separadamente Poreacutem

se o resultado pretendido eacute integrado fazem-se necessaacuterias pesquisas mais amplas que

cruzem as diferentes vertentes geograacuteficas

Considerando que a problemaacutetica dos impactos ambientais urbanos envolve a questatildeo

natural o rio e a questatildeo social e poliacutetica a sociedade e as leis (COELHO 2013) uma

pesquisa neste acircmbito requer o entendimento destes dois objetos a fim de se apreender

o processo de crescimento das cidades brasileiras e a sua relaccedilatildeo com os recursos

hiacutedricos

A partir da deacutecada de 1950 devido ao ecircxodo rural mais intenso as cidades brasileiras

incharam rapidamente com a migraccedilatildeo do camponecircs que buscava melhores condiccedilotildees de

vida como trabalho na induacutestria o acesso agraves escolas saneamento entre outros E

segundo Gorski (2010) a populaccedilatildeo brasileira passou desde o iniacutecio deste processo de 19

milhotildees de habitantes em 1950 para 138 milhotildees de habitantes em 2000 (dados do IBGE)

o que corrobora o raacutepido crescimento das cidades

Todavia as estruturas puacuteblicas natildeo estavam preparadas para um acreacutescimo populacional

tatildeo significativo e em curto espaccedilo de tempo E o que observamos eacute o acesso limitado

dessa populaccedilatildeo agraves aacutereas centrais da cidade sendo induzida a se estabelecer nas

periferias Nesta visatildeo

O difiacutecil acesso da populaccedilatildeo de baixa renda agraves aacutereas mais centrais das cidades contribuiu segundo Raquel Rolnik para a expansatildeo da periferia o que muitas vezes implicou e implica ainda invasatildeo de aacutereas de proteccedilatildeo de mananciais com a aquiescecircncia do poder puacuteblico Esta

32

dinacircmica agravou a situaccedilatildeo de risco dos mananciais pela eliminaccedilatildeo das matas ciliares e consequentemente erosatildeo das margens dos cursos drsquoaacutegua e assoreamento de suas calhas e pela contribuiccedilatildeo do esgoto in natura (ROLNIK1997 apud GORSKI 2010 p62)

Sendo assim a supressatildeo das matas ciliares e das vegetaccedilotildees das encostas para fins de

ocupaccedilatildeo urbana interfere diretamente no ciclo hidroloacutegico diminuindo a absorccedilatildeo de

aacutegua pelo subsolo e pela evapotranspiraccedilatildeo favorecendo o escoamento superficial (Figura

6) que intensifica a velocidade de drenagem das aacuteguas Este processo nas encostas eacute

mais significativo se considerarmos que com a supressatildeo da cobertura vegetal e

impermeabilizaccedilatildeo do solo as precipitaccedilotildees acabam por lavar todo o material

intemperizado sedimentos carregando-o diretamente para o corpo hiacutedrico e contribuindo

para o assoreamento

Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento Fonte Gorski (2010 p64)

Por outro lado as ocupaccedilotildees ribeirinhas nas vaacuterzeas dos rios modificam a dinacircmica fluvial

frente aos defluacutevios A compactaccedilatildeo e o nivelamento do solo associados agrave

impermeabilizaccedilatildeo por concreto asfalto e outros materiais alteram todo o sistema de

drenagem natural e contribuem para a erosatildeo fluvial Aleacutem disso a gestatildeo puacuteblica que

33

deveria investir num parcelamento do solo sustentaacutevel resguardando ldquouma alocaccedilatildeo de

espaccedilosrdquo (CANHOLI 2005 p 15) para a drenagem acaba por colaborar com as enchentes

urbanas na medida em que decide por obras estruturais como a canalizaccedilatildeo (Figura 7

p30) e a microdrenagem que transferem os impactos das inundaccedilotildees a jusante

Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia Fonte Gorski (2010 p69)

Cabe destacar que desde 1965 com o primeiro Coacutedigo Florestal as matas beira-rio jaacute

eram resguardadas da degradaccedilatildeo humana poreacutem com todo o boom urbano a partir de

1950 a falta de estrutura e ingerecircncia municipal no que se refere ao parcelamento e uso

e ocupaccedilatildeo da terra urbana possibilitou a formaccedilatildeo dos assentamentos clandestinos em

APP e na encosta de morros Em condiccedilotildees precaacuterias sem saneamento baacutesico e demais

infraestruturas urbanas estes assentamentos acabam sendo as regiotildees mais afetadas

com as inundaccedilotildees

Junto agraves questotildees jaacute levantadas vale destacar que as aacuteguas das inundaccedilotildees propiciam o

aumento das doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica (febre tifoide hepatite leptospirose

esquistossomose entre outras) pois carregam segundo Gorski (2010) toda uma poluiccedilatildeo

difusa efluentes domeacutesticos industriais e agroindustriais aleacutem do lixo urbano da poluiccedilatildeo

do ar e das ruas

34

Por outro lado esta ocupaccedilatildeo urbana natildeo planejada perde o benefiacutecio que os corpos

hiacutedricos podem oferecer como [] as paisagens fluviais que aos poucos foram sendo

apropriadas como paisagens urbanas [] (GORSKI 2010 38) aleacutem do microclima

associado agrave umidade pela evapotranspiraccedilatildeo que ameniza a sensaccedilatildeo teacutermica local

Poreacutem conforme observado por Graeff (2011) natildeo eacute cabiacutevel atualmente implantar a

legislaccedilatildeo de APP de modo jurista Deve-se considerar toda a representatividade cultural

assentada sobre os leitos destes rios (avenidas importantes casas com arquitetura

histoacuterica entre outros) Aleacutem disso para a demarcaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo

permanente hoje eacute necessaacuteria uma anaacutelise teacutecnica pautada na geomorfologia e

hidrologia de modo a interpretar o ldquocomportamento histoacuterico dos cursos drsquoaacutegua na

paisagem prevendo cenaacuterios de impactos futurosrdquo da atividade humana sobre suas faixas

marginais

Tendo em vista que grande parte da malha urbana brasileira estaacute alocada em APPs e que

segundo Graeff (2011) estas jaacute possuem uma unidade de paisagem estabelecida e muitas

vezes secular configurando siacutetios de importacircncia cultural e apreendendo que

De modo semelhante nas demais cidades haveraacute que ser entendido o meio urbano como ele realmente eacute ndash um encontro entre as necessidades de habitaccedilatildeo com atividades humanas e de conservaccedilatildeo ambiental esta segunda tambeacutem a serviccedilo do homem e natildeo somente de objetivos difusos e distanciados da sobrevivecircncia da sociedade (GRAEFF 2011 206)

Por tais motivos o trabalho com a geomorfologia fluvial urbana deve abarcar os princiacutepios

do bom senso compreendendo que nestas aacutereas de atividade antroacutepica consolidada pode-

se fazer uso de instrumentos de engenharia avanccedilados para uma convivecircncia equilibrada

do homem com a natureza no entorno Contudo deve-se incentivar as aacutereas de expansatildeo

urbana ou zona periurbana (zonas de transiccedilatildeo da aacuterea urbana para a rural) com poliacuteticas

de incentivo a pavimentaccedilotildees mais permeaacuteveis a fim de minimizar o escoamento

superficial para o rio favorecendo a infiltraccedilatildeo

Apesar de os impactos gerados pela interferecircncia humana nas aacutereas mais fragilizadas da

bacia hidrograacutefica vaacuterzeas e encostas refletirem-se em cataacutestrofes com prejuiacutezos

humanos ambientais e urbanos alguns autores brasileiros como Canholi Graeff Cunha

Carneiro e Miguez jaacute indicaram outros caminhos para uma convivecircncia harmoniosa com

a natureza Aleacutem do mais paiacuteses desenvolvidos como a Holanda deixaram de ldquolutar contra

35

as cheiasrdquo para permitir agraves aacuteguas das enchentes a capacidade de acumular e dispersar

com impacto reduzido para as populaccedilotildees (CARNEIRO MIGUEZ 2011)

Sendo assim a proposta deste estudo eacute identificar os principais agentes que influenciam

as inundaccedilotildees entendendo seu papel e atuaccedilatildeo no contexto urbano de Colatina Mas eacute

tambeacutem a de ampliar a abordagem da temaacutetica com uma anaacutelise geograacutefica integrada

ressaltando as medidas que constam no planejamento urbano e sua aplicaccedilatildeo nas faixas

marginais do corpo hiacutedrico

36

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS

Esta pesquisa eacute constituiacuteda de trecircs etapas principais sendo que a primeira teve como

premissa a confecccedilatildeo de um fluxograma (Figura 8) de trabalho para orientar a pesquisa

em seguida teve iniacutecio o levantamento de bibliografias que abordam temas como a

geomorfologia fluvial e urbanizaccedilatildeo em Colatina adotando-se como referecircncia as

pesquisas de Coelho (2006 2007 2008 e 2009) e Albani (2012) Aleacutem disso muito

contribuiacuteram para este trabalho o relatoacuterio do INCAPER da CPRM e os dados do IBGE

Cabe destacar tambeacutem as experiecircncias com recursos hiacutedricos em ambientes urbanos de

Carneiro e Miguez (2011) em especial Cunha (2001 2012ab)

Esta etapa consistiu tambeacutem na busca de material cartograacutefico como aquisiccedilatildeo de planos

de informaccedilatildeo de limite estadual municipal bairros mancha urbana corpo drsquoaacutegua e

logradouros atraveacutes de dados disponiacuteveis no Sistema Integrado de Bases Geoespaciais

do Estado do Espiacuterito Santo (GEOBASES 2014) no Instituto Jones dos Santos Neves

(IJSN 2015) e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2014) imagens

orbitais gratuitas do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI bandas 2-3-4 e 8 (Pan) oacuterbita 216

ponto 73 com datas de passagem em 02012014 e 22032014 agraves 946 (horaacuterio central

da oacuterbita) junto ao Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2014) aleacutem do ortofotomosaico

do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hiacutedricos (IEMA 2014) do Espiacuterito

Santo referente ao voo de 2007 a 2008

Na segunda etapa foram realizadas duas investigaccedilotildees de campo sendo a primeira no

dia 24 de junho de 2014 com a finalidade de fazer o reconhecimento da aacuterea de estudo

fotografar e conversar com moradores e teacutecnicos da prefeitura O segundo trabalho de

campo ocorreu no dia 14 de fevereiro de 2015 e por meio deste foi possiacutevel identificar

pontos sujeitos a inundaccedilatildeo analisar a topografia e realizar as entrevistas com moradores

e funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina

37

Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC)

38

Na terceira etapa foram realizados os mapeamentos e processamentos de todos os planos

de informaccedilatildeo vetoriais e matriciais em ambiente de SIG no sistema ArcGis 103 iniciando

com a ediccedilatildeo dos dados do Municiacutepio e adjacecircncias que foram ajustados quando

necessaacuterio ao sistema de projeccedilatildeo UTM no Datum SIRGAS ndash 2000 na Zona 24 sul com

meridiano central -39 W com todo o mapeamento produzido seguindo a padronizaccedilatildeo

cartograacutefica proposta por Fitz (2008 a b)

O geoprocessamento teve iniacutecio com a composiccedilatildeo das imagens orbitais do Landsat-8 na

cor natural da imagem (2R 3G 4B) e por meio da teacutecnica de Pan Sharpening ou fusatildeo

de imagens a imagem cor natural foi agrupada agrave da banda 8 pancromaacutetica para obtenccedilatildeo

de uma melhor resoluccedilatildeo espacial neste caso chegando a 15 metros sendo resguardado

o conteuacutedo da imagem composta Na sequecircncia foi realizada a extraccedilatildeo da maacutescara do

periacutemetro urbano de Colatina e gerada a classificaccedilatildeo supervisionada da imagem Landsat-

8 no periacuteodo de cheia (janeiro) e vazante (marccedilo) o que possibilitou a delimitaccedilatildeo da calha

do Doce nestes dois eventos

Em seguida foram realizadas as 8 (oito) mediccedilotildees do leito regular sendo 4 (quatro) no

periacuteodo de cheia e 4 (quatro) na vazante de modo a definir a largura meacutedia da calha do

leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina Para chegar a uma medida geral

da largura do rio utilizaram-se ferramentas estatiacutesticas como a meacutedia que eacute uma medida

de tendecircncia central onde numa amostra de tamanho N constituiacuteda por elementos de x

variando de eacute possiacutevel extrair a meacutedia aritmeacutetica atraveacutes da equaccedilatildeo

A meacutedia aponta para onde mais convergem os dados de uma distribuiccedilatildeo

A partir desta definiccedilatildeo da meacutedia da largura da calha do Rio Doce foi possiacutevel em consulta

ao Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e a Lei 52732007 determinar a faixa miacutenima

de preservaccedilatildeo permanente deste corpo fluvial aleacutem da confecccedilatildeo do mapa com o

poliacutegono de APP

Mediante a anaacutelise do mapa verificou-se que grande parte dos bairros do municiacutepio estatildeo

contidos nos poliacutegonos de APP em especial a preservaccedilatildeo de 500 metros conforme lei

federal E por meio deste foram cruzados os dados de vazatildeo as fotos histoacutericas das

enchentes e o poliacutegono de mata ciliar o que permitiu o entendimento das inundaccedilotildees

39

Em ambiente de SIG tambeacutem foram vetorizados os trecircs traccedilados da Estrada de Ferro

Vitoacuteria a Minas o trajeto do Rio Santa Maria do Doce antes e depois da retilinizaccedilatildeo e os

sucessivos aterros na margem direita do Rio Doce no periacutemetro que compreende a Av

Beira-Rio

As teacutecnicas de sensoriamento remoto como a classificaccedilatildeo supervisionada permitiram a

definiccedilatildeo do poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo atraveacutes da imagem da cheia de janeiro Para

tanto foi realizada tambeacutem a classificaccedilatildeo hiacutebrida objetivando aliar a interpretaccedilatildeo visual

com a digital (JENSEN 2009) Por fim foi realizada amarraccedilatildeo com o levantamento

geodeacutesico da CPRM (2014) para garantir a precisatildeo do traccedilado do poliacutegono de cheia

A partir do tratamento dos dados bibliograacuteficos cartograacuteficos e imagens foi possiacutevel

sistematizar este trabalho o que permitiu identificar elementos histoacutericos de intervenccedilatildeo

na paisagem do Doce como os aterros e a ocupaccedilatildeo urbana As visitas de campo a

entrevista e conversas com moradores foram fundamentais para a validaccedilatildeo das

informaccedilotildees o que tornou esta metodologia eficaz para anaacutelise do fenocircmeno da inundaccedilatildeo

em Colatina

40

4 RESULTADOS

41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana

A ocupaccedilatildeo ao longo das planiacutecies de inundaccedilatildeo dos rios tem ocorrido diante da

necessidade deste recurso para as atividades vitais humanas Cunha (2012b p219)

entende que ldquosuas margens tecircm sido o centro preferido da habitaccedilatildeo humana e o

suprimento de suas aacuteguas natildeo soacute fertiliza os campos para o cultivo como tambeacutem fornece

energia e permite recreaccedilatildeordquo Logo o estabelecimento das vilas nas bordas dos cursos

drsquoaacutegua favorece a logiacutestica ocupacional

Historicamente em solo espiacuterito-santense a formaccedilatildeo das vilas ocorreu agraves margens de

estrateacutegicos cursos drsquoaacutegua e a exploraccedilatildeo do ouro de Minas Gerais para Albani (2012)

determinou que a Coroa proibisse nos seacuteculos XVII a XIX a implantaccedilatildeo de estradas e

exploraccedilatildeo de terras na Capitania do Espiacuterito Santo pois os portugueses temiam incursotildees

estrangeiras deixando assim o desenvolvimento capixaba restrito agrave faixa litoracircnea

Relegada enquanto ldquobarreira verderdquo para defesa das minas de ouro e minerais do atual

territoacuterio das Minas Gerais segundo Coelho (2007) a Capitania do Espiacuterito Santo soacute

passou a se interiorizar para o centro-oeste onde se localiza atualmente a cidade de

Colatina a partir de 1847 por meio das ocupaccedilotildees de Santa Izabel e Santa Leopoldina

que permitiram a descida do Rio Santa Maria do Doce ateacute as imediaccedilotildees da atual cidade

de Colatina

Assim foi que o movimento colonizador desceu o vale do Santa Maria do Rio Doce atingindo em 1891 a regiatildeo das matas onde hoje se acha a cidade de Colatina [] Esta penetraccedilatildeo inicial foi feita com elementos alematildees de Santa Leopoldina e no rio Doce ficou muito anos restrita agrave aacuterea inicial A expansatildeo ao longo do vale tomou impulso com a chegada a Colatina em 1906 dos trilhos da Estrada de Ferro Diamantina (atual Vitoacuteria-Minas) (STRAUCH1955 apud COELHO 2007 p105)

Sendo assim Coelho (op cit) relata que a ocupaccedilatildeo se deu atraveacutes da supressatildeo da mata

nativa no baixo curso do Rio Doce de Colatina a Linhares sendo a madeira daiacute extraiacuteda

levada ateacute o rio e encaminhada ateacute Povoaccedilatildeo vilarejo junto agrave foz de onde eram carregados

os navios Neste periacuteodo tem-se a instalaccedilatildeo de um ciclo madeireiro na regiatildeo com a

disposiccedilatildeo de serrarias nas proximidades das matas

41

Todavia somente a partir de 1906 com a chegada da estrada de ferro na regiatildeo o

transporte madeireiro foi transferido para as locomotivas Agrave medida que a implantaccedilatildeo da

Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas avanccedilava para o interior levava consigo as frentes de

desmatamento modificando as paisagens das margens do Rio Doce e se apropriando dos

espaccedilos deste rio (Figura 9)

Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906 Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce Fonte Albani (2012 p 63)

Conforme Albani (2012) com a vinda dos mineiros e fluminenses reforccedilados

posteriormente a partir de 1889 por colonizadores italianos e alematildees eacute que as

ocupaccedilotildees territoriais ocorreram de modo efetivo Atraveacutes do Barracatildeo do Rio Santa Maria

(Figura 10) espaccedilo do governo inicialmente destinado a alojar os migrantes e a produccedilatildeo

surgiram as primeiras residecircncias nas proximidades da igreja de Satildeo Sebastiatildeo Sendo

assim

Eacute importante destacar que o desenvolvimento da regiatildeo onde se encontra o municiacutepio de Colatina teve iniacutecio no final do seacuteculo XIX no nuacutecleo de colonizaccedilatildeo Antocircnio Prado localizado no distrito de Boapaba antiga vila do Mutum O nuacutecleo recebeu dezenas de famiacutelias de imigrantes italianos e ali desenvolveram atividades de agricultura e com a expansatildeo da localidade surge tambeacutem o comeacutercio (ALBANI 2012 p61) [hellip] A vila de Colatina entretanto logo passou a se transformar no principal nuacutecleo e futuramente na sede do municiacutepio Aleacutem da facilidade da produccedilatildeo atraveacutes do Rio Doce a vila de Colatina tornou-se referecircncia dos imigrantes no caminho para a colonizaccedilatildeo das terras ao norte do estado (MADURO1985 apud ALBANI 2012 p62)

42

Desse modo com o desenvolvimento das atividades de cafeicultura madeireira e do

entroncamento logiacutestico de acesso agraves aacutereas do norte a vila eacute elevada em 1921 agrave categoria

de municiacutepio A atual configuraccedilatildeo territorial foi adquirida a partir de 2001 conforme IBGE

(2014) dispondo de seis distritos Colatina (sede) Acircngelo Frechiami Baunilha Boapaba

Graccedila Aranha e Itapina

Cabe destacar poreacutem que a ocupaccedilatildeo inicial da cidade de Colatina se perfaz pela margem

direita do Rio Doce onde se localiza o atual bairro de Colatina Velha e onde havia se

instalado o Barracatildeo de Santa Maria Nesse periacuteodo a ponte ainda natildeo fora edificada

limitando assim a ocupaccedilatildeo da margem esquerda

Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da regiatildeo Fonte Albani (2012 p62)

Conforme Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p65) a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro

Vitoacuteria a Minas em 1906 (Figura 11) possibilitou a expansatildeo da cidade de Colatina e seu

desenvolvimento econocircmico Todavia sua instalaccedilatildeo paralela agrave margem direita do Rio

Doce favoreceu a localizaccedilatildeo de avenidas e ruas centrais em sua proximidade

43

Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p65)

Entretanto foi com a construccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos (Figura 12) em 1928 que a

margem direita se conectou agrave margem esquerda da cidade o que aleacutem de possibilitar a

ocupaccedilatildeo facilitou o acesso agraves regiotildees mais ao norte do Estado

Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p66)

44

Por conseguinte a estrada de ferro e a ponte foram os fatores determinantes para o

estabelecimento dos migrantes agraves margens do Rio Doce e a formaccedilatildeo do atual municiacutepio

de Colatina Contudo foi a partir desta posiccedilatildeo privilegiada que a cidade passou a ser

entreposto comercial e logiacutestico da regiatildeo noroeste e com isso sua aacuterea urbana expandiu-

se de modo desordenado inicialmente ao longo da planiacutecie de inundaccedilatildeo do Doce Coelho

(2007 p108 e 109) relata que

Os efeitos dessa urbanizaccedilatildeo (novos parcelamentos) e do desmatamento produz [sic] normalmente o aumento da velocidade das aacuteguas superficiais (pluviais) que eram antes interceptadas pelas matas com boa parte absorvida pelo solo O que ocorre geralmente nessas aacutereas eacute a chegada mais raacutepida das aacuteguas das chuvas para o tributaacuterios e calha principal do rio por fluxos concentrados que provocam processos de erosotildees do tipo laminar ravina e voccediloroca transportando quantidades expressivas de sedimentos que por sua vez causam assoreamento e a ocorrecircncia de cheias mais frequentes no rio

Com o crescimento acelerado do periacutemetro urbano proporcionado pelo apogeu do ciclo

cafeeiro as proacuteximas deacutecadas levaratildeo a cidade de Colatina a sofrer com impactos

advindos das alteraccedilotildees no ambiente fluvial do Rio Doce em especial os referentes a

ocupaccedilatildeo (impermeabilizaccedilatildeo) e desmatamento das margens (interferecircncia na drenagem

natural) conforme destacado por Coelho (2007)

Eacute fato que o municiacutepio viveu nas deacutecadas de 1940 e 1950 o auge do ciclo cafeeiro

chegando a ser no ranking brasileiro o 13ordm municiacutepio produtor de cafeacute no ano de 1947

(CAMPOS JUNIOR 2004 apud ALBANI 2012 p69) Poreacutem a partir de 1960 este boom

entrou em colapso com crise do cafeacute que assolou todo o paiacutes levando grande parte dos

pequenos proprietaacuterios rurais a migrarem para centros urbanos em especial no Espiacuterito

Santo a regiatildeo da Grande Vitoacuteria e tambeacutem para o centro de Colatina

Em razatildeo da crise cafeeira a populaccedilatildeo rural migra para centros urbanos A populaccedilatildeo migrou em grande quantidade para a Grande Vitoacuteria para fora do estado e tambeacutem para a cidade de Colatina principal aglomerado urbano da regiatildeo Esse processo provoca o aumento da aacuterea urbana de Colatina A populaccedilatildeo da cidade que era de 3913 habitantes em 1940 cresceu para 26757 habitantes em1960 (ALBANI2012 p71)

O crescimento raacutepido do centro de Colatina aliado ao aumento populacional direciona

grande parte dos migrantes para as aacutereas menos centrais da cidade levando agrave ocupaccedilatildeo

de locais irregulares como os morros e as margens direita e esquerda do Rio Doce Este

45

processo configurou a nova paisagem do municiacutepio povoando do vale agraves encostas (Figura

13)

Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes Fonte Albani (2012 p73)

Associado a este processo de reconfiguraccedilatildeo espacial nas proacuteximas deacutecadas o municiacutepio

de Colatina passaraacute por sucessivas perdas de territoacuterios ateacute atingir os limites atuais (Figura

1 p17) Aliado a estas perdas territoriais seu quantitativo absoluto populacional tambeacutem

sofreraacute impactos poreacutem de modo geral a populaccedilatildeo urbana deste municiacutepio apresentou

crescimento continuo (Graacutefico 2)

Graacutefico 2

Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 2010

Elaborado pela autora Fonte 1940 e 1950 Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p82) 1960 a 2010 IBGE

0

20000

40000

60000

80000

100000

120000

1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020

Populaccedilatildeo Urbana Colatina 1940 - 2010

46

Assim como tem ocorrido nas grandes capitais Colatina cresceu em quantitativo

populacional e territorial urbano de modo muito raacutepido e por este desenvolvimento natildeo ter

sido aliado a um planejamento urbano e ambiental sustentaacutevel a cidade tem sentido os

reflexos das suas interferecircncias ao longo do canal do Doce O que tem provocado

antecipaccedilatildeo dos picos de vazatildeo que no periacutemetro urbano ocasiona as inundaccedilotildees pois

natildeo conseguindo o rio acomodar estes defluacutevios transfere em curto espaccedilo de tempo as

aacuteguas a sua planiacutecie de inundaccedilatildeo atingindo os bairros mais antigos do municiacutepio

Por fim entender o contexto histoacuterico do crescimento da cidade revela muito do panorama

atual E por meio de uma anaacutelise conjunta da histoacuteria com os novos planejamentos eacute

possiacutevel propor intervenccedilotildees urbanas que possibilitem um conviacutevio harmonioso entre

natureza e sociedade neste caso entre o Rio Doce e o centro de Colatina Diante desta

proposta adiante apresentaremos a evoluccedilatildeo dos bairros associando seus periacuteodos de

ocupaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo espacial nas imediaccedilotildees do curso principal do Doce

411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade

Com nuacutecleo inicial de povoamento no Barracatildeo de Santa Maria a cidade de Colatina

cresce a partir deste ponto agrave margem direita do Rio Doce de onde surgem as primeiras

residecircncias comeacutercios e a igreja Atualmente a regiatildeo compreende o bairro de Colatina

Velha que de acordo com Albani (2012 p91) [hellip] ldquopode ser considerado o primeiro polo

de crescimento da cidaderdquo

Aliado ao aumento da populaccedilatildeo migrante das fazendas com a crise do cafeacute o nuacutecleo de

Colatina Velha passa a ser um ponto de passagem obrigatoacuterio para os viajantes que

vinham majoritariamente do sul uma vez que o Rio Doce configurava uma barreira natural

agrave ocupaccedilatildeo das terras ao norte Aleacutem disso a margem esquerda deste canal fluvial era

habitat dos hostis iacutendios botocudos o que dificultava a sua apropriaccedilatildeo

Sendo assim a ocupaccedilatildeo de Colatina conteve-se agrave margem direita nesta primeira fase o

que define o primeiro vetor de crescimento da cidade na direccedilatildeo leste para oeste partindo

das imediaccedilotildees do Barracatildeo de Santa Maria sentido ao Rio Santa Maria do Doce (Figura

14) E a partir de 1906 com a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas da entatildeo

Companhia Vale do Rio Doce atual Vale este vetor de crescimento se consolida e

47

proporciona o surgimento de importantes avenidas paralelas agrave ferrovia a exemplo da Av

Getuacutelio Vargas

Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de crescimento Elaborado pela autora

48

O segundo vetor do crescimento de Colatina estava condicionado agrave construccedilatildeo da ponte

Florentino Aacutevidos a qual conectou a margem direita agrave esquerda do Rio Doce permitindo

a ocupaccedilatildeo da porccedilatildeo ao norte Portanto somente a partir de 1928 com a finalizaccedilatildeo da

obra da ponte a barreira natural pocircde ser transposta o que possibilitou ao lado esquerdo

desenvolver uma nova linha de crescimento urbano com a ocupaccedilatildeo do atual bairro de

Satildeo Silvano

O terceiro vetor de crescimento estaacute associado agrave implantaccedilatildeo do bairro Luiz Iglesias na

margem direita e os de Maria das Graccedilas e Coluacutembia na margem esquerda Albani (2012)

ressalta que esta fase da ocupaccedilatildeo urbana estaacute associada ao desenvolvimento do sistema

viaacuterio como a proximidade da BR-259 sentido Vitoacuteria- Colatina da ES-80 que liga

Colatina agrave regiatildeo norte da ES-256 que a conecta a Marilacircndia e da proximidade da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria Carlos Germano Nauman (Figura 15)

Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios e linhas feacuterreas que interceptam a cidade de Colatina Elaborado pela autora

Jaacute na quarta e mais recente linha de crescimento da cidade temos os novos loteamentos

residenciais e industriais a exemplo do de Barbados e do bairro Santa Helena que surgem

49

acompanhando o traccedilado da ponte que contorna a leste a cidade como novo acesso agrave

porccedilatildeo norte do estado Albani (2012 p118) destaca que

Apesar da construccedilatildeo da Segunda Ponte ter sido iniciada em 1986 somente foi inaugurada em 2007 A conclusatildeo da ponte e a construccedilatildeo de uma rodovia de contorno desviaram a BR-259 do centro da cidade O desvio da rodovia federal trouxe um desafogamento do tracircnsito nas principais vias da cidade e um novo direcionamento na expansatildeo urbana Alguns loteamentos surgiram nesse periacuteodo proacuteximo agrave Segunda Ponte e ao contorno na margem norte do rio principalmente no bairro Santa Helena (Figura 55) Essa situaccedilatildeo indica mais uma vez que as linhas de crescimento em Colatina satildeo orientadas pelas vias de transporte

Portanto o crescimento do periacutemetro urbano de Colatina estaacute associado agrave superaccedilatildeo das

barreiras naturais em especial o Rio Doce por meio de investimentos em obras de

engenharia que permitiram o deslocamento humano para a margem esquerda deste curso

Sem duacutevida as vias de transporte foram elementares na construccedilatildeo do periacutemetro urbano

de Colatina pois na medida que se consolidava o sistema viaacuterio as ocupaccedilotildees tambeacutem se

favoreciam destas vias de locomoccedilatildeo A evoluccedilatildeo da aacuterea urbana portanto acompanha

as principais vias de transporte (Figura 15 p45) e estas se utilizam da posiccedilatildeo estrateacutegica

e geograficamente favoraacutevel do canal do Doce para a definiccedilatildeo de seus traccedilados

Apoacutes 94 anos de emancipaccedilatildeo de Linhares o territoacuterio de Colatina eacute fundamental para a

manutenccedilatildeo dos municiacutepios do noroeste capixaba Diante desta posiccedilatildeo estrateacutegica torna-

se relevante o entendimento de como o urbano se relaciona com o meio natural a fim de

se estabelecer poliacuteticas de ordenamento territorial que promovam a qualidade de vida no

municiacutepio Adiante seraacute analisada a situaccedilatildeo da calha principal do Rio Doce elemento

fundamental na compreensatildeo do uso e cobertura da terra de Colatina

42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce

Compreendendo uma aacuterea de 3330 kmsup2 o periacutemetro urbano de Colatina eacute afetado pela

velocidade dos defluacutevios de modo que grande parte dos bairros beira-rio eacute tomada pelas

aacuteguas excedentes da calha principal do Doce o que configura o fenocircmeno de inundaccedilatildeo

Ao pesquisar estes fenocircmenos eacute necessaacuterio relacionar o uso da terra com os processos

geomorfoloacutegicos do corpo hiacutedrico Sendo assim por meio de teacutecnicas de

geoprocessamento foram realizadas oito mediccedilotildees da calha principal do Rio Doce para

50

estabelecimento da distacircncia meacutedia da largura de sua calha O resultado esteve dentro do

esperado e pode ser verificado na tabela abaixo (Tabela 1) e no mapa em sequecircncia

(Figura 16)

Tabela 1 Perfis transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de

vazante (abril) e cheia (janeiro)

Largura do rio Doce periacuteodo de vazante e cheia

Abril2013(m) Janeiro2014(m)

P1 70735 75784

P2 62080 66483

P3 59209 65804

P4 63548 67650

Meacutedia dos Perfis 62814 67066

Meacutedia Geral 66143 Obs todas as medidas estatildeo em metros

Elaborado pela autora

Figura 16 - Traccedilado dos perfis transversais da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de vazante mecircs de abril2013 Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)

51

Com uso das imagens orbitais do Landsat-8 atraveacutes da classificaccedilatildeo hiacutebrida foram

gerados dois arquivos shapefiles correspondentes agraves bordas do Doce um no periacuteodo de

vazante e outro no de cheia Por meio destes dados foram definidos quatro traccedilados para

realizaccedilatildeo das mediccedilotildees a partir destas e com auxiacutelio das medidas de tendecircncia central

chegou-se a uma largura meacutedia total de 66143m de uma margem a outra Este resultado

indicou que tanto no periacuteodo de vazante quanto no periacuteodo de cheia a largura meacutedia

aponta para a maior faixa de APP proteccedilatildeo de 500m conforme previsto na legislaccedilatildeo

federal (Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e no revogado Lei 4771 1965)

Analisando a imagem abaixo (Figura 17) observa-se que grande parte do solo

naturalmente destinado a ldquoacomodaccedilatildeordquo das aacuteguas nas cheias (linha laranja) foi

incorporado agrave sociedade como espaccedilo criado (periacutemetro urbano em APP mancha em

amarelo) destinado a fins muacuteltiplos Deste modo sem planejamento territorial adequado

grande parte da planiacutecie de inundaccedilatildeo deu lugar a outras funccedilotildees diferentes das naturais

sendo incorporada ao espaccedilo urbano

Lanccedilando o buffer (mancha em amarelo) do entorno da calha do Doce (Figura 17) observa-

se que dos 59 bairros do municiacutepio cerca de 29 estatildeo dentro da aacuterea de 500m destinada

a preservaccedilatildeo permanente pelo Coacutedigo Florestal Considerando-se a delimitaccedilatildeo da APP

prevista no PDM de 1996 e 2007 (linha laranja mais proacutexima da borda do rio) este nuacutemero

cai para 18 bairros permanecendo apenas aqueles que possuem limites com o corpo

hiacutedrico

Uma vez que que lei municipal natildeo suplanta lei federal considerar-se-aacute neste estudo o

limite da faixa marginal de proteccedilatildeo definida na Lei Federal 126512012 Deste modo a

aacuterea de preservaccedilatildeo permanente do Doce neste recorte eacute de 1085 kmsup2 compreendendo

33 do periacutemetro urbano de Colatina

Cabe destacar ainda que mesmo o PDM de 1996 contendo enquanto objetivo no Art 14

ldquoI - estabelecer a ordenaccedilatildeo do uso e da ocupaccedilatildeo do solo urbanordquo (Lei 42281996 p4)

a gestatildeo municipal natildeo obteve sucesso na implementaccedilatildeo de tal legislaccedilatildeo O que se

verifica tanto nas deacutecadas de 1990 quanto no iniacutecio dos anos 2000 quando foram

aprovados novos parcelamentos urbanos agraves margens deste canal a exemplo dos bairros

de Barbados na margem direita e do bairro Mario Giurizato na margem esquerda

52

Figura 17- Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)

53

Articulado a esta ideia e pesquisando o trecho do bairro Esplanada a Colatina Velha palco

das uacuteltimas obras estruturantes de alto porte do municiacutepio consegue-se analisar os efeitos

das inundaccedilotildees nas margens deste rio Logo implementar medidas de prevenccedilatildeo de

cheias em aacutereas com urbanizaccedilotildees antigas requer um esforccedilo da gestatildeo na regulaccedilatildeo do

solo urbano

421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie

de Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio

Interceptada pelo curso do Rio Doce no perfil mais a jusante da bacia a cerca de 100km

do estuaacuterio com o Oceano Atlacircntico a cidade de Colatina polo moveleiro e de confecccedilotildees

do centro-oeste capixaba eacute palco recorrente de inundaccedilotildees urbanas

Conforme jaacute mencionado por Cunha (2012a) este fenocircmeno ocorre quando a bacia recebe

um percentual precipitado acima da sua capacidade de escoamento o que faz o leito

menor do rio extravasar para o leito maior ocupando as aacutereas de vaacuterzeas (Figura 18 p

50) Aliadas a esta questatildeo estatildeo as ocupaccedilotildees humanas das margens dos rios que ao

suprimir a vegetaccedilatildeo natural e alterar a condiccedilatildeo fiacutesica do solo acabam por reduzir a aacuterea

de drenagem das aacuteguas pluviais acelerando o escoamento superficial para o canal

principal e favorecendo os defluacutevios

Figura 18 - Representaccedilatildeo da inundaccedilatildeo urbana Fonte adaptado da Defesa Civil do Tocantins (2015)

Este fenocircmeno tem ganhado destaque em Colatina a partir de 1979 ano em que o Rio

Doce atingiu a vazatildeo de 12860msup3s tomando toda aacuterea aplainada que compotildee seu leito

maior afetando da atual Av Beira-Rio ateacute as redondezas da Av Getuacutelio Vargas Desde

entatildeo os estudos das inundaccedilotildees urbanas satildeo relevantes no municiacutepio o que levou o

54

Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) na deacutecada de 1980 a elaborar um ldquoPlano Diretor

de Contenccedilatildeo das Enchentes Proteccedilatildeo das Encostas e Drenagem Pluvial de Colatinardquo

Tal medida apresentou seis alternativas para o fenocircmeno Poreacutem tendo em vista o custo

operacional das obras apenas a alternativa seis que previa a construccedilatildeo de diques

marginais para a proteccedilatildeo das aacutereas mais centrais foi considerada viaacutevel na eacutepoca

Todavia em entrevistas com funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina (PMC) foi

relatado que todo o estudo foi arquivado e que ateacute agora natildeo haacute previsatildeo de

implementaccedilatildeo de tais medidas Fato este que eacute evidenciado (Tabela 2 p 51) quando da

ocorrecircncia de precipitaccedilotildees intensas na bacia durante as quais sazonalmente a cidade eacute

impactada com as aacuteguas das inundaccedilotildees Isto faz com que o municiacutepio passe

recorrentemente por cataacutestrofes conforme tabela com os principais picos de vazatildeo do rio

nos uacuteltimos 50 anos

Tabela 2

Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013

Ano Diamecircs Vazatildeo(msup3s)

1961 30jan 6613

1979 04fev 12860

1997 07jan 8687

2005 03ago 6549

2013 24dez 9028

Fonte Coelho (2007 apud DALLAPICOLA 2014 p4) e CPRM (2014 p85) Observo que os dados da tabela 1 para os anos de 1979 e 2013 estatildeo baseados na estimativa de vazatildeo meacutedia diaacuteria das maacuteximas anuais obtida atraveacutes de extrapolaccedilatildeo da curva-chave pelo grupo interdisciplinar dos relatoacuterios criacuteticos anteriores

As inundaccedilotildees de 1979 1997 e recentemente 2013 (Figura 19) foram as de maior vazatildeo

neste setor do rio e consequentemente as que mais atingiram a aacuterea urbana do municiacutepio

bloqueando os acessos ao centro da cidade e aos equipamentos essenciais como

hospitais escolas e demais oacutergatildeos puacuteblicos aleacutem de desalojarem muniacutecipes e

comprometerem a sauacutede puacuteblica

55

Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de 1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 Fonte1) Nossa Colatina 2) Nossa Linda Colatina 3) Nossa Colatina

Com o propoacutesito de identificar os principais fatores que acentuam as inundaccedilotildees seraacute

analisado como os processos geomorfoloacutegicos do Doce estatildeo sendo afetados pela accedilatildeo

antroacutepica Limitaremos a anaacutelise ao periacutemetro urbano no trecho que compreende do bairro

Esplanada ateacute o bairro Colatina Velha (Figura 20) Neste periacutemetro eacute possiacutevel visualizar a

evoluccedilatildeo da mancha urbana sobre o leito do rio aleacutem de identificar na margem direita os

pontos desnaturalizados deste canal fluvial

56

Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2) Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do recorte em rosa da APP de 50m (amarelo claro) e 500m (amarelo escuro) Fonte 3) Encontra Colatina (2015)

57

O recorte em questatildeo eacute margeado pela Av Beira-Rio e estaacute situado (Figura 20) dentro do

buffer de preservaccedilatildeo permanente previsto no PDM (buffer de 50m) e no Novo Coacutedigo

Florestal (buffer de 500m) Apesar desta aacuterea ser destinada a mata nativa e ou

reflorestada a ocupaccedilatildeo urbana antecede os artigos legais o que dificulta poliacuteticas de

gestatildeo territorial em um periacutemetro ao mesmo tempo histoacuterico e com funccedilatildeo relevante no

equiliacutebrio hidroloacutegico da bacia

O periacutemetro faz parte da vaacuterzea da margem direita do Rio Doce pois encontra-se em cota

topograacutefica de 50m caracterizando sua planiacutecie Logo a aacuterea em questatildeo tem a funccedilatildeo de

acomodar as aacuteguas das cheias quando a calha principal natildeo comporta o escoamento de

grandes vazotildees Esta tarefa passa a ser prejudicada na medida em que na bacia ou no

curso original satildeo implementadas obras que interferem na morfologia do corpo hiacutedrico

principal como a instalaccedilatildeo das hidreleacutetricas de Mascarenhas (1974) e Aimoreacutes (2005) a

montante

As UHErsquos a montante comprometem os processos do rio uma vez que o regime natural de

transporte de sedimentos eacute alterado com o barramento o que favorece a erosatildeo e

consequentemente o assoreamento com a formaccedilatildeo de bancos arenosos alteraccedilatildeo do

seu perfil transversal e reduccedilatildeo da profundidade Aleacutem disso segundo Coelho (2007) as

vazotildees maacuteximas e miacutenimas foram alteradas com a implantaccedilatildeo das hidreleacutetricas a

montante implicando em vazotildees meacutedias anuais miacutenimas cada vez mais reduzidas com

valores se distanciando da linha de tendecircncia (polinocircmio) provando o natildeo equiliacutebrio da

vazatildeo apoacutes a implantaccedilatildeo das barragens (Graacutefico 1 p22)

Entretanto a primeira intervenccedilatildeo direta no trecho em estudo foi a instalaccedilatildeo da estrada

de ferro que atraiu migrantes para Colatina permitindo o crescimento populacional e a

expansatildeo urbana desordenada agraves margens do Doce Este crescimento intensificou a

supressatildeo das matas ciliares e abriu espaccedilo para a impermeabilizaccedilatildeo do solo reduzindo

a infiltraccedilatildeo

Posteriormente a inauguraccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos ampliou o fluxo na regiatildeo pois

proporcionava a ligaccedilatildeo com as terras ao norte do Estado Atuou tambeacutem como obstaacuteculo

ao transporte de sedimentos carreados no fluxo natural do rio uma vez que sua

implantaccedilatildeo altera a topografia do fundo do canal afetando os processos geomorfoloacutegicos

58

Poreacutem foi no Morro das Cabritas (colina localizada no espaccedilo que compreende o atual

bairro Esplanada) que ocorreu a primeira desnaturalizaccedilatildeo nas margens do Doce Este

morro por onde o Rio Santa Maria do Doce meandrava ateacute desaguar no Rio Doce foi

cortado em meados de 1953 para abrigar a cidade em expansatildeo Devido a esta

intervenccedilatildeo o curso original do Santa Maria foi deslocado e passou a escoar

retilineamente ateacute a foz (Figura 21)

Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponte Florentino Aacutevidos (direita) e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque em vermelho para o curso atual do Santa Maria Fonte Nossa Colatina

As intervenccedilotildees na margem direita tornam-se mais intensas a partir da deacutecada de 1960

quando no ano de 1968 edificou-se um muro visando a proteccedilatildeo dos pilares da

extremidade direita da ponte Esta obra ficou paralisada por muitos anos e foi a primeira

de retificaccedilatildeo e aterro realizada neste trecho do rio Esta intervenccedilatildeo modificou o fluxo

natural das correntes do rio e reduziu a largura da sua calha alterando a morfologia do

canal (Figura 22)

59

Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de proteccedilatildeo da ponte Elaborado pela autora Fonte fotos histoacutericas Nossa Colatina

Contudo somente em 1972 teve iniacutecio o segundo aterro (Figura 23) com a finalidade de

alocar a estaccedilatildeo rodoviaacuteria de Colatina e ampliar a aacuterea de acesso agrave ponte Florentino

Aacutevidos A implementaccedilatildeo desta obra suprimiu parte do leito do Rio Doce pois removeu a

saliecircncia cocircncava que curvava o rio retilinizando esta parte do canal

60

Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora Fonte Nossa Colatina Nossa Linda Colatina

Apoacutes dez anos sem grandes intervenccedilotildees em 1982 o lado a montante da ponte bairro

Esplanada eacute acrescido de um aterro que estenderaacute a aacuterea do antigo Morro das Cabritas

para o rio (Figura 24)

Conhecido como Rua da Lama devido agrave umidade que o rio transferia ao aterro formando

um barro viscoso que persistia a maior parte do ano o trecho atualmente compreende a

Avenida Professor Joseacute Zouian popularmente denominada Avenida Beira-Rio de onde

surge a primeira forma do calccediladatildeo que seraacute estendido ateacute o bairro Colatina Velha

61

Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o calccediladatildeo da Av Beira-Rio Elaborado pela autora Fonte Bennachio (2015)

Somente em 2004 foi implementado o maior projeto de canalizaccedilatildeo do municiacutepio Naquele

ano teve iniacutecio a execuccedilatildeo do enrocamento da Av Beira-Rio (Figura 25) obra destinada

inicialmente a alocaccedilatildeo de equipamentos puacuteblicos de lazer e cultura praccedilas preacutedios aleacutem

da promessa de contribuir para a contenccedilatildeo dos transbordamentos do Rio Doce

Apesar de o referido manancial jaacute estar comprometido com problemas de poluiccedilatildeo

assoreamento e erosatildeo aleacutem dos impactos de duas hidreleacutetricas instaladas a montante a

obra abarcou a supressatildeo da vegetaccedilatildeo ciliar e aterro de parte do rio jaacute tatildeo degradado

62

Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento iniciada em 2004 e finalizada em 2008 Elaborado pela autora Fonte proacutepria autora em 240215

Ocupando uma aacuterea total de 130 mil msup2 do leito do Rio Doce o aterro teve iniacutecio em 2004

sendo construiacutedo com cerca de 90 mil msup3 de pedras 50 mil msup3 de areia retirada do leito do

rio e por fim o nivelamento com 200 mil msup3 de terra A obra era divulgada como um antigo

sonho dos colatinenses e serviria para ampliaccedilatildeo da Av Beira-Rio no bairro de Colatina

Velha instalaccedilatildeo de ciclovias calccediladatildeo equipamentos puacuteblicos e estacionamento (Figura

26) Apesar do fim da engenharia em 2008 o projeto ainda estaacute em fase de acabamento

na parte urbaniacutestica e na alocaccedilatildeo dos oacutergatildeos puacuteblicos

Cabe destacar que a obra sofreu embargos do Ministeacuterio Puacuteblico Federal (MPF) por

apresentar apenas cadastro na Agecircncia Nacional de Aacuteguas (ANA) que conforme parecer

da Procuradora Nadja Machado Botelho na Accedilatildeo Civil Puacuteblica ldquo[hellip] equivocadamente natildeo

realizou o procedimento de outorga [hellip]rdquo (MPF 2006 p2) Aleacutem disso a procuradora

solicitou tutela tendo em vista tratar-se de aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental e o fato de o

IBAMA ter concedido licenciamento com indevida dispensa do Estudo de Impacto

Ambiental (EIA)Relatoacuterio de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA)

63

Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina Fonte Prefeitura de Colatina (2015)

Por isso essa obra deve ser considerada faraocircnica para os cofres puacuteblicos e irreversiacutevel

para os processos geomorfoloacutegicos do Doce E sua efetivaccedilatildeo soacute foi possiacutevel com a

participaccedilatildeo e investimentos do Governo estadual Contudo seu objetivo foi frustrado pois

novamente na cheia do Rio Doce em dezembro de 2013 quando este atingiu a vazatildeo de

9028 msup3s a aacuterea foi inundada e por estar em cota maior que as casas que beiravam o

rio o enrocamento atuou como represa natildeo permitindo o retorno das aacuteguas quando o niacutevel

do rio retomou o equiliacutebrio

Por fim segue um mapa siacutentese (Figura 27) com a cartografia das quatro principais

intervenccedilotildees diretas e estruturais na margem direita do Doce no setor urbano de Colatina

representando o curso natural do rio em 1950 e suas desnaturalizaccedilotildees a partir da deacutecada

de 60 ateacute a atualidade

64

Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce ante e depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora

65

422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio

O recorte em estudo compreende as Zonas ZE-1 ZE-2 e ZUD 2-1 (Figura 28 p61) sendo

a Zona Especial 1 Zona Especial 2 e Zona de Uso Diverso 2-1 destinadas no PDM (Lei

52732007)

Artigo 103 - As Zonas de Usos Diversos ndash ZUD satildeo definidas em razatildeo da concentraccedilatildeo de atividades urbanas diversificadas com predominacircncia do uso comercial e de serviccedilos Artigo 104 - Satildeo objetivos das Zonas de Usos Diversos I - otimizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do solo priorizando a instalaccedilatildeo de novos empreendimentos em terrenos natildeo edificados contiacuteguos a empreendimentos jaacute instalados II - controle da implantaccedilatildeo de usos incompatiacuteveis com os definidos para estas zonas III - garantia de licenciamento e monitoramento ambiental dos empreendimentos IV - controle da expansatildeo comercial de serviccedilos e de induacutestrias de pequeno porte em direccedilatildeo a aacutereas residenciais [] Artigo 130 - As Zonas Especiais 1 ndash ZE 1 abrangem todas as aacutereas remanescentes do municiacutepio relativamente ao zoneamento estabelecido nesta lei ocupadas ou natildeo contida na lei de periacutemetro urbano para as quais natildeo foram ainda estabelecidos os criteacuterios de uso e ocupaccedilatildeo Artigo 131 - As Zonas Especiais 2 ndash ZE 2 satildeo as aacutereas existentes no prolongamento da avenida Beira Rio mais especificamente no trecho entre o 80 Batalhatildeo da Poliacutecia Militar e a rua Pedro Epichin incluindo o espaccedilo existente entre a margem do Rio Doce e o limite das construccedilotildees localizadas na rua Pedro Epichin

Cabe destacar que mesmo sendo palco das aacutereas mais afetadas com as inundaccedilotildees do

Rio Doce a Beira-Rio tem sido alvo da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria que aproveitando-se dos

iacutendices pouco restritos da ZUD 2 (Figura 28 p62) valoriza o espaccedilo promovendo a

instalaccedilatildeo de grandes estruturas como hipermercados edifiacutecios residenciais modernos e

hotelaria

66

Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 Fonte Colatina (2007)

A aacuterea contida na ZE (Figura 28) natildeo possui criteacuterio de ocupaccedilatildeo definido na legislaccedilatildeo

atual sendo adotado o disposto na Lei 41961995 que estabelece os iacutendices urbaniacutesticos

para as aacutereas conquistadas junto ao Rio Doce e na Lei 420595 que aprova os

parcelamentos na Beira-Rio Quanto agrave ZUD 2-1 apresenta iacutendices urbaniacutesticos no anexo

118 do Plano Diretor conforme tabela 3 abaixo

67

Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1

Fonte Colatina (2007 p36)8

68

Eacute relevante observar que numa aacuterea onde o corpo hiacutedrico foi reduzido pelos sucessivos

aterros tenha sido aprovada a instalaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto (Figura

29) com taxa de ocupaccedilatildeo de ateacute 80 e com baixo iacutendice de permeabilidade Ampliou-

se a aacuterea impermeaacutevel numa regiatildeo onde a drenagem jaacute eacute muito comprometida com a

expansatildeo urbana sobre o rio

Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto na Beira-Rio Fonte imagem do Google Maps 2015 E fotos da autora em 140215

Portanto analisando o conjunto de dados apresentado acima eacute possiacutevel entender como

as inundaccedilotildees satildeo potencializadas no municiacutepio atingindo a populaccedilatildeo mas em especial

afetando a dinacircmica de um corpo hiacutedrico tatildeo relevante para o Estado A fim de subsidiar a

gestatildeo puacuteblica com material cartograacutefico para a tomada de decisotildees delimitou-se o

poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo (Figura 30) Pois devem ser adotadas medidas que

minimizem impactos de futuros eventos hidroloacutegicos na bacia capazes de comprometer

novamente a aacuterea urbana mais central de Colatina

69

Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av Beira-Rio em dezembro de 2013 Elaborado pela autora

70

Diante do poliacutegono de inundaccedilatildeo da uacuteltima cheia (Figura 30) em dezembro de 2013 eacute

possiacutevel implementar medidas de convivecircncia com as grandes vazotildees a exemplo de

paiacuteses como Holanda que vem investindo em medidas de resiliecircncia a fim de reduzir a

velocidade dos defluacutevios possibilitando ao canal a capacidade de acumular e dispersar as

aacuteguas com impacto miacutenimo para as populaccedilotildees Conforme Carneiro e Miguez (2011) a

estrateacutegia adotada pelo paiacutes eacute reter armazenar e drenar sendo mais flexiacutevel e natildeo

interferindo drasticamente na dinacircmica do corpo hiacutedrico

Por fim a implementaccedilatildeo de soluccedilotildees de planejamento urbano em Colatina requer uma

anaacutelise integrada que abarque o urbano e o ambiental de modo a propor intervenccedilotildees que

produzam impactos reduzidos nos processos geomorfoloacutegicos do Rio Doce Logo a gestatildeo

municipal deve atuar em niacutevel de bacia hidrograacutefica interagindo com os municiacutepios a

montante propondo medidas de minimizaccedilatildeo das cheias urbanas Mas na escala local

pode-se atuar junto aos novos parcelamentos de modo a ampliar o percentual de aacutereas

permeaacuteveis no municiacutepio incentivando por exemplo os novos loteamentos a adotarem

pavimentaccedilotildees que permitam a drenagem natural do solo

71

5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Partindo da ideia de que eacute possiacutevel implementar medidas que minimizem o escoamento

superficial satildeo apresentadas propostas como forma de controlar ou ao menos reduzir os

impactos das inundaccedilotildees urbanas

Embora as implementaccedilotildees histoacutericas de estruturas de proteccedilatildeo ou barreiras mais altas

tenham sido muito disseminadas atualmente estatildeo sendo suplantadas pelo gerenciamento

de inundaccedilotildees de maneira mais sustentaacutevel Deste modo as experiecircncias fora do Brasil

apontam para soluccedilotildees mais flexiacuteveis que considerem o fluxo natural do canal enquanto

um ecossistema em equiliacutebrio Para tanto Carneiro e Miguez (2011 p150) destacam a

iniciativa alematilde no controle de inundaccedilotildees em bacias hidrograacuteficas metropolitanas

[hellip] A abordagem comum consiste na regulaccedilatildeo do uso do solo nas aacutereas inundaacuteveis e em ldquodar espaccedilo para o riordquo ao inveacutes de priorizar investimentos em estruturas de proteccedilatildeo contra inundaccedilotildees como a colocaccedilatildeo de diques de contenccedilatildeo as margens dos rios A utilizaccedilatildeo do conceito de resiliecircncia apropriado de ecologia decorre dessa abordagem A aplicaccedilatildeo praacutetica do conceito implica portanto em mudanccedilas de paradigma Deixa de ser preponderante a engenharia construtiva e entra em cena o planejamento de longo prazo voltado para o desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis capazes de conviver com as variaccedilotildees do ciclo hidroloacutegico sem significar necessariamente trageacutedias anunciadas

Aleacutem dessas propostas geoacutegrafos como Sandra Cunha tecircm estudado a recuperaccedilatildeo

natural ou ldquorenaturalizaccedilatildeordquo de corpos fluviais visando promover a estabilidade dos canais

de modo mais sustentaacutevel Para ela

[hellip] Recuperaccedilatildeo de canal significa de forma simples o retorno as condiccedilotildees anteriores aos distuacuterbios Em essecircncia eacute o processo de recuperaccedilatildeo do rio ou do ecossistema fluvial estabilizando o desenvolvimento de habitats e colonizaccedilatildeo a uma taxa mais raacutepida que dos processos naturais fiacutesicos e bioloacutegicos Na recuperaccedilatildeo de canais ocorrem consideraccedilotildees de aspecto hidroloacutegico morfoloacutegico e ecoloacutegico qualidade da aacutegua esteacutetica aleacutem da necessidade de uma visatildeo integradora do projeto sustentaacutevel de recuperaccedilatildeo (CUNHA 2012 p230 a 231)

Satildeo portanto medidas pontuais como o retorno agraves sinuosidades do rio (Figura 31 p 68)

ou a substituiccedilatildeo de estruturas de concreto por superfiacutecies mais permeaacuteveis a exemplo

das trincheiras de infiltraccedilatildeo ou pavrsquos (Figura 32) aacutereas mais vegetadas aleacutem de coleta e

uso de aacutegua da chuva bem como tratamento das aacuteguas superficiais por meio de

72

amenidades esteacuteticas como reservatoacuterios de retenccedilatildeo ou detenccedilatildeo que podem ser

associados a ambientes harmocircnicos como lagos artificiais Todas estas accedilotildees possibilitam

a minimizaccedilatildeo das grandes vazotildees no solo urbano pois pretendem atenuar os impactos

das cheias fazendo com que seja resgatada parte da drenagem existente anteriormente agrave

urbanizaccedilatildeo

Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do Rio Aa Munster Alemanha (1998) Fonte Cunha (2012 p233)

Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos Fonte Carneiro e Miguez (2011 p128)

A partir do exposto cabe agrave gestatildeo municipal implementar legislaccedilotildees que priorizem a

permeabilidade possibilitando uma maior infiltraccedilatildeo das aacuteguas das chuvas atraveacutes de

pavimentaccedilotildees menos impermeaacuteveis e da ampliaccedilatildeo de aacutereas vegetadas Satildeo medidas

que tornam a drenagem mais sustentaacutevel aleacutem de possibilitar a manutenccedilatildeo dos serviccedilos

puacuteblicos de forma menos custosa tendo em vista o elevado preccedilo das recomposiccedilotildees

asfaacutelticas

1 2

73

Aleacutem disso quando se fala em controle de cheias urbanas pressupotildee-se uma seacuterie de

medidas para minimizaccedilatildeo de seus impactos desde a operaccedilatildeo de sistemas de alerta

zoneamento de aacutereas inundaacuteveis construccedilatildeo de grandes reservatoacuterios de contenccedilatildeo de

cheias e diques ateacute accedilotildees de educaccedilatildeo ambiental

Cabe pensar tambeacutem na proacutexima revisatildeo do PDM em um plano de macrodrenagem

municipal que reuacutena accedilotildees de caraacuteter estruturantes com obras hidraacuteulicas de infraestrutura

que realizem a conduccedilatildeo final das aacuteguas dos escoamentos superficiais para a minimizaccedilatildeo

das inundaccedilotildees e em medidas natildeo-estruturantes que trabalhem a consciecircncia ambiental

e proponha um zoneamento de cheias a fim de se delimitar os pontos mais fragilizados nos

defluacutevios

Por fim pensar em drenagem num contexto de ocupaccedilatildeo irregular histoacuterico requer

profissionais que aleacutem de possuir afinidade com a temaacutetica tambeacutem possam analisar os

diferentes processos que constituem o espaccedilo geograacutefico Logo este tipo de estudo deve

abarcar uma equipe multidisciplinar que percorra a anaacutelise desde o ambiental estrutural

ateacute o aspecto humano a fim de se produzir resultados que de fato contribuam com o

controle das inundaccedilotildees urbanas

74

6 CONCLUSAtildeO

A partir do recorte espacial foi possiacutevel compreender que a abordagem da geomorfologia

fluvial com a anaacutelise espaccedilo-temporal da ocupaccedilatildeo urbana possibilita a identificaccedilatildeo das

accedilotildees do homem no meio ambiente pois estas resultam na alteraccedilatildeo das paisagens

naturais e na dinacircmica da bacia hidrograacutefica Assim o Rio Doce deve ser estudado de

modo integrado ao crescimento da cidade sobretudo para compreensatildeo da produccedilatildeo do

espaccedilo geograacutefico

Analisar a inundaccedilatildeo urbana em Colatina foi satisfatoacuterio pois o municiacutepio estaacute situado no

perfil meacutedio-baixo da bacia vazante e eacute neste trecho que os reflexos das intervenccedilotildees satildeo

mais acentuados principalmente se esta parte do canal tambeacutem tiver passado por obras

que modificaram seus processos hidroloacutegicos Aleacutem disso a perspectiva geograacutefica aponta

para vaacuterias outras questotildees como erosatildeo fluvial planejamento urbano poluiccedilatildeo ambiental

crise da aacutegua que conduzem a outras discussotildees acerca da relaccedilatildeo homemnatureza

Ao demonstrar a evoluccedilatildeo espaccedilo-temporal do uso e cobertura da terra na margem direita

do Doce associando esta ocupaccedilatildeo agraves obras estruturantes que foram executadas no

canal verificamos que todas as praacuteticas adotadas para conter o transbordamento do rio

acabaram alterando sua morfologia com a retificaccedilatildeo de trechos em meandros reduzindo

a largura do corpo hiacutedrico o que favoreceu a apropriaccedilatildeo urbana de suas vaacuterzeas Aliadas

a estas questotildees estatildeo a falta de planejamento urbano e a omissatildeo diante da supressatildeo

das matas ciliares principalmente se considerados os resultados do relatoacuterio teacutecnico do

IJSN contra enchentes em 1980

Cabe destacar tambeacutem que toda a anaacutelise da ocupaccedilatildeo urbana e desnaturalizaccedilatildeo do

Rio Doce foi melhor identificada a partir dos produtos cartograacuteficos deste trabalho Pois eacute

na espacialidade dos fenocircmenos e no registro de informaccedilotildees ainda natildeo mapeadas como

os aterros que o geoacutegrafo executa a anaacutelise do seu objeto de estudo o homem e a

natureza aqui representado pela sociedade e o canal do Doce

Apesar do municiacutepio apresentar leis que resguardam os leitos dos rios desde o primeiro

PDM em 1996 nada foi feito para conter as ocupaccedilotildees irregulares beira-rio Pelo contraacuterio

estas aacutereas foram incorporadas ao Plano Diretor em 2007 com possibilidades de

ocupaccedilotildees diversas o que tem levado especuladores a valorizar o solo com vista para o

rio apontando suas qualidades esteacuteticas e teacutermicas Este fato vem aumentando o

75

percentual de aacutereas impermeaacuteveis nesta margem comprometendo ainda mais a drenagem

dos defluacutevios

Eacute na Av Beira-Rio que crescem as implantaccedilotildees de grandes empreendimentos comerciais

como supermercado Casagrande Ogil Hotel e obras de construccedilatildeo de novos arranha-

ceacuteus em um periacutemetro que jaacute eacute totalmente comprometido com os extravasamentos do Rio

Doce Estas obras ocupam grandes aacutereas e na maioria das vezes apresentam reduzida

aacuterea permeaacutevel reservando apenas o obrigatoacuterio pela lei cerca de 10 Observa-se

tambeacutem que a implantaccedilatildeo desses projetos estaacute condicionada agrave apresentaccedilatildeo e

aprovaccedilatildeo por comissatildeo na prefeitura do Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV) sendo

difiacutecil conceber que seja concedida tal licenccedila para implementaccedilatildeo de obras num trecho

de risco ambiental

Embora as diretrizes do Estatuto das Cidades para a implementaccedilatildeo do uso da terra

sustentaacutevel e os instrumentos para a regulaccedilatildeo do solo urbano sejam avanccedilados Colatina

eacute mais um exemplo da carecircncia de profissionais capacitados para estudar de modo

integrado e em niacutevel de bacia hidrograacutefica os efeitos da accedilatildeo humana num ambiente tatildeo

peculiar como as margens do Doce Por isso com os objetivos traccedilados nesta pesquisa

podemos aleacutem de compreender o fenocircmeno criar uma metodologia de anaacutelise de aacutereas

inundaacuteveis em ambientes urbanos O que permite agrave gestatildeo municipal uma diretriz para a

tomada de decisotildees

Destaca-se tambeacutem que as legislaccedilotildees aqui referenciadas supriram a discussatildeo acerca do

objeto de estudo mas outras podem contribuir para esta pesquisa a exemplo do Coacutedigo

das Aacuteguas da Poliacutetica Nacional dos Recursos Hiacutedricos das Resoluccedilotildees do Conama do

Estatuto das Cidades entre outros

Sendo assim numa revisatildeo do PDM deve-se pensar nestes aspectos da cidade desde o

histoacuterico de ocupaccedilatildeo das margens ateacute os impactos das inundaccedilotildees e o presente trabalho

auxilia com uma nova abordagem na reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo fornecendo material

cartograacutefico para subsidiar propostas de proteccedilatildeo ao curso do Doce e consequentemente

da populaccedilatildeo

Por fim deve-se destacar que o recorte estaacute inserido num contexto maior de uma bacia

hidrograacutefica que se estende aleacutem dos limites de Colatina ou do estado do Espiacuterito Santo

Esta bacia compreende a Regiatildeo Hidrograacutefica do Atlacircntico Leste e estaacute alocada tambeacutem

76

no estado de Minas Gerais o que portanto torna as accedilotildees de controle das inundaccedilotildees

mais complexas tendo em vista as divergentes politicas territoriais

77

7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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78

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JENSEN J R Sensoriamento Remoto do Ambiente uma perspectiva em recursos terrestres Satildeo Joseacute dos Campos SP Parecircntese 2009 MINISTERIO PUBLICO FEDERAL - MPF Accedilatildeo Civil Puacuteblica com pedido de Antecipaccedilatildeo de Tutela - da obra de Enrocamento da Av Beira Rio em ColatinaES2006 Disponiacutevel emlt wwwpresmpfmpbracp_riodoce_colatinadocgt Acesso em 14 de marccedilo de 2015 NOSSA COLATINA Fatos Histoacutericos Culturais Curiosidades Informaccedilatildeo Variedades Disponiacutevel em lt httpswwwfacebookcomnossacolatinagt Acesso em 29 de Janeiro de 2015 NOSSA LINDA COLATINA Fotos histoacutericas do centro de Colatina Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomNossaLindaColatinaphotosgt Acesso em 29 de Janeiro de 2015 Serviccedilo Geoloacutegico do Brasil ndash CPRM Relatoacuterio Teacutecnico do Periacuteodo Criacutetico de Dezembro de 2013 (CPRM 2014) Disponiacutevel emlthttpwwwcprmgovbrpubliquemediarelatorio_eventos_criticos_190314pdfgt Acesso em 16 de Setembro de 2014 Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espiacuterito Santo - GEOBASES Downloads de planos de informaccedilatildeo do estado municiacutepio bairros corpo drsquoagua entre outros Disponiacutevel em httpwwwgeobasesesgovbr Acesso em 07 de Setembro de 2014 SITE BARRA Colatina debaixo drsquoaacutegua na maior enchente da histoacuteria do municiacutepio Colatina 24 de dezembro de 2013 lt httpwwwsitebarracombr201312colatina-debaixo-dagua-na-maior-enchente-da-historia-do-municipiohtml gt - Acesso em 25 de Maio de 2014 TUCCI CEM Prefacio In GUERRA e CUNHA (orgs) Impactos Ambientais Urbanos no Brasil 10ordf Ediccedilatildeo Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2013 UOL NOTiacuteCIAS Chuvas causam estragos em mais de dois terccedilos dos municiacutepios do Espiacuterito Santo Vitoacuteria 26 de dezembro de 2013 lt httpnoticiasuolcombralbum20131223chuvas-causam-estragos-em-metade-dos-municipios-do-espirito-santohtmfotoNav=62 gt ndash Acesso em 31 de Maio de 2014 USGS - Geological Survey Serviccedilo Geoloacutegico Americano Aquisiccedilatildeo de imagens orbita digitais gratuitas do sateacutelite LandSat-8 datas de passagem 02012014 e 22032014 EUA Disponiacutevel em lthttpearthexplorerusgsgovgt Acesso em 05 de setembro de 2014

Page 6: DESNATURALIZAÇÃO DO RIO DOCE: UMA ABORDAGEM … · Ao engenheiro Francisco Hermes, pela experiência e conhecimentos partilhados da área de estudo. Aos meus amigos Mônica Regina,

ABSTRACT

This paper has as object of study the sector of Doce River cutting the urban areas of

Colatina ndash ES The main objective of this analyze was to verify how human interventions on

Docersquos river channel have contributed how human interventions in river channel have

contributed to the tide of the floodplain From this premise the research was based on

analysis of historical photographs from 1906 to 2015 and aerial images in periods of ebb

(April) and flood (January) of Doce river by which it was possible to map the changes in the

margins of this water body Crossing the analysis of historical time series of river flow with

the occupation of areas of permanent preservation it was possible to delimitate the most

vulnerable points of Beira-Rio Avenue Thus the results indicated that the cluttered and

continuous urban growth associated with changes in geomorphological processes has

intensified de degradation of the river channel increasing flooding

Keywords fluvial geomorphology geotechnologies integrated geographical analysis

human intervention and flood

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e Rio Doce 18

Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 19

Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de

2013 19

Figura 4 - Tipos de leito fluvialvarzea 21

Figura 5 - Padrotildees dos canais 21

Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento 32

Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia 33

Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC) 37

Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906

Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce 41

Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da

regiatildeo 42

Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce 43

Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio

Doce 43

Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes 45

Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de

crescimento 47

Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios que interceptam a cidade de Colatina

48

Figura 16 - Traccedilado das mensuraccedilotildees da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de

vazante mecircs de abril2013 50

Figura 17 - Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro

urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal 51

Figura 18 - Representaccedilatildeo de inundaccedilatildeo urbana 53

Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de

1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 55

Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2)

Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do

recorte em rosa da APP de 50 m (amarelo claro) e 500 m (amarelo escuro) 56

Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponrte Florentino Aacutevidos (direita)

e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa

Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque

em vermelho para o curso atual do Santa Maria 58

Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de

proteccedilatildeo agrave ponte 59

Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o

traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas 60

Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o

calccediladatildeo da Av Beira-Rio61

Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento

iniciada em 2004 e finalizada em 2008 62

Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina 63

Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce antes e

depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas 64

Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 66

Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto da Beira-Rio 68

Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da

inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av

Beira-Rio em dezembro de 2013 69

Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do rio Aar Munster Alemanha (1998) 72

Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos 72

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Perfis Transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de vazante (abril) e cheia (janeiro) 50

Tabela 2 Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013 54

Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1 67

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 - Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais

(Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia) 25

Graacutefico 2 - Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 201045

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANA - Agecircncia Nacional de Aacuteguas

APP - Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente

CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais Serviccedilo Geoloacutegico Brasileiro

GEOBASES - Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espiacuterito Santo

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IJSN - Instituto Jones dos Santos Neves

INCAPER - Instituto Capixaba de Pesquisa Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural

PDM - Plano Diretor Municipal

PMC - Prefeitura Municipal de Colatina

PROATER - Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural

SIG - Sistema de Informaccedilotildees Geograacuteficas

UHE ndash Usina Hidreleacutetrica

UTM - Universal Tranverse Mercator

USGS - Geological Survey Serviccedilo Geoloacutegico Americano

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14

11 Objetivo 16

111 Objetivo Geral 16

112 Objetivos Especiacuteficos 16

12 Justificativa 17

2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS 20

21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano 20

211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial 23

22 Aspectos Juriacutedicos 27

23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos 31

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS 36

4 RESULTADOS 40

41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana 40

411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade 46

42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce 49

421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie de

Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio 53

422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio 65

5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 71

6 CONCLUSAtildeO 74

7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 77

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

A partir da deacutecada de 1930 com a transiccedilatildeo econocircmica de um eixo agraacuterio-exportador

para um polo urbano-industrial (CARNEIRO 2008) verificou-se no Brasil a migraccedilatildeo da

maior parte da populaccedilatildeo para as cidades Isso acarretou segundo Tucci (2013 p17) uma

ldquo[] concentraccedilatildeo urbana no Brasil da ordem de 80 da populaccedilatildeo e o seu

desenvolvimento tem sido realizado de forma pouco planejada com grandes conflitos

institucionais e tecnoloacutegicos []rdquo

De acordo com Canholi (2005 p15) a expansatildeo da aacuterea urbana ldquo[] consequentemente

impermeabilizada ocorreu a partir das zonas mais baixas proacuteximas agraves vaacuterzeas dos rios

ou agrave beira-mar em direccedilatildeo agraves colinas e morros em face da necessaacuteria interaccedilatildeo da

populaccedilatildeo com os corpos hiacutedricos []rdquo Neste cenaacuterio surgem as ocupaccedilotildees irregulares

nas Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) como as da planiacutecie de inundaccedilatildeo dos rios

e os topos de morros

Essas ocupaccedilotildees desordenadas satildeo proporcionadas pela precariedade da implantaccedilatildeo e

fiscalizaccedilatildeo das legislaccedilotildees urbaniacutesticas de ordenamento territorial e ambiental Neste

contexto satildeo relevantes as pesquisas que visam correlacionar o viacutenculo

sociedadenatureza de modo a entender como a ocupaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo no

solo conecta-se com a hidrodinacircmica dos recursos naturais uma vez que ldquo[] a tendecircncia

atual do limitado planejamento urbano integrado estaacute levando as cidades a um caos

ambiental urbano com custo extremamente alto para a sociedaderdquo (TUCCI 2013 p17)

Deve-se partir do pressuposto teoacuterico articulado com a ideia anterior de ldquo[]

indissociabilidade entre natureza e sociedade []rdquo (COELHO 2013 p21) em que a

sociedade natildeo pode ser apenas entendida como populaccedilatildeo e a natureza enquanto mero

ambiente fiacutesico mas que estes dois fatores estatildeo dinamicamente produzindo o espaccedilo

geograacutefico

Neste contexto a problemaacutetica se afirma no intuito de relacionar as legislaccedilotildees urbanas

(Lei de Parcelamento do Solo 676679 e PDM) e ambientais (Novo Coacutedigo Florestal 2012)

com as suas aplicaccedilotildees ou natildeo no periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina

principalmente nos bairros que se situam na planiacutecie de inundaccedilatildeo do Rio Doce

A escolha da temaacutetica tambeacutem teve como premissa a importacircncia regional de Colatina

como entreposto comercial e logiacutestico para os municiacutepios do noroeste capixaba conforme

15

relato do Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural - PROATER (INCAPER

2011)

Exportadores de cafeacute atacadistas e as lojas de pronta entrega dinamizam o comeacutercio local que atende aos municiacutepios do norte capixaba leste de Minas Gerais e sul da Bahia representando um universo de mais de 700 mil consumidores (INCAPER 2011 p5)

De acordo ainda com o INCAPER (op cit) Colatina tem crescido a uma margem de 188

anual o que representa a tendecircncia ao ecircxodo rural sendo que a populaccedilatildeo do campo vem

diminuindo de aproximadamente 19 em 1990 passou a 12 no Censo de 2010 Diante

do exposto entra em discussatildeo o planejamento urbano pois com o crescimento da

populaccedilatildeo citadina para cerca de 88 aumentam tambeacutem as pressotildees sobre o meio

ambiente em especial as regiotildees ribeirinhas

Estas uacuteltimas refletem o aumento das atividades humanas na bacia hidrograacutefica onde

pode-se destacar as mudanccedilas induzidas pelas accedilotildees antropogecircnicas que se dividem em

diretas (aquelas que atuam no canal fluvial para controle das vazotildees a exemplo dos

reservatoacuterios e desvios de aacuteguas) e indiretas relacionadas agraves aacutereas fora dos canais por

exemplo o desmatamento e urbanizaccedilatildeo sendo que estas comprometem a descarga e

carga soacutelida do rio (PARK1981 KNIGHTON1984 apud CUNHA 2001)

O interesse pela pesquisa surge da importacircncia regional do municiacutepio dos impactos

histoacutericos humanos materiais e imateriais sofridos diante de eventos hidroloacutegicos

extremos tendo em vista o fato de o periacutemetro urbano ser cortado por um corpo fluvial de

importacircncia regional Aleacutem disso a abordagem geograacutefica possibilita a correlaccedilatildeo dos

processos fluviais com a ocupaccedilatildeo urbana de modo mais integrado (COELHO 2009)

Portanto uma das finalidades deste trabalho eacute analisar por meio das geotecnologias e das

investigaccedilotildees de campo como a ocupaccedilatildeo urbana tem interferido nas margens do Rio

Doce de modo a delimitar os sucessivos aterros na margem direita no periacutemetro do bairro

Esplanada a Colatina Velha Ademais identificar como os processos deste canal fluvial

tecircm sido afetados pela intervenccedilatildeo humana em seu leito principal

16

11 Objetivo

111 Objetivo Geral

Correlacionar os processos fluviais do Rio Doce por meio da dinacircmica geomorfoloacutegica

deste canal com o uso e cobertura da terra no setor urbano do municiacutepio de Colatina

Espiacuterito Santo Contrapondo assim as intervenccedilotildees urbanas da beira-rio com o Plano

Diretor Municipal e o Novo Coacutedigo Florestal enfatizando as diretrizes adotadas no

parcelamento do solo para a planiacutecie de inundaccedilatildeo deste rio

112 Objetivos Especiacuteficos

Identificar os vetores de crescimento urbano do municiacutepio a fim de avaliar a

evoluccedilatildeo da mancha urbana junto ao canal principal

Determinar o comprimento da borda da calha do leito regular do Rio Doce no

periacutemetro urbano de Colatina para definiccedilatildeo da largura miacutenima da faixa marginal

de preservaccedilatildeo

Espacializar as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente beira-rio previstas em lei a fim

de analisar a ocupaccedilatildeo urbana nestes espaccedilos

Cartografar os principais pontos desnaturalizados no canal principal do Rio Doce

no setor urbano de Colatina

Demonstrar como o emprego das geotecnologias auxilia no planejamento urbano

e ambiental especialmente em acircmbito municipal

17

12 Justificativa

A aacuterea de estudo corresponde ao periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina situado na

Bacia Atlacircntico trecho leste sub-bacia do Rio Doce no baixo curso (ANA 2001)

Compreende a regiatildeo noroeste do estado do Espiacuterito Santo latitude 19deg 32rsquo 16rsquorsquo S e

longitude 40deg 37rsquo 59rsquorsquo W De acordo com os dados do censo de 2010 do Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio possuiacutea uma populaccedilatildeo de 111788 mil

habitantes1 numa aacuterea territorial de 1416804 kmsup2

Devido a sua privilegiada posiccedilatildeo geograacutefica limiacutetrofe com o Rio Doce e a construccedilatildeo da

Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas em 1906 Colatina compreendia os territoacuterios dos atuais

municiacutepios de Baixo Guandu Linhares Pancas Satildeo Gabriel da Palha Marilacircndia Satildeo

Domingos do Norte e Governador Lindenberg (INCAPER 2011) Soacute a partir de 2001

passou a apresentar os atuais limites municipais e configurar uma aacuterea urbana com 59

bairros (Figura 1)

Colatina eacute um municiacutepio de importacircncia para regiatildeo noroeste capixaba seja em caraacuteter

econocircmico ou social Eacute responsaacutevel pelos fluxos de cargas da regiatildeo aleacutem de ser um polo

moveleiro de confecccedilatildeo metalmecacircnico e de comeacutercio e serviccedilos gerando emprego e

renda (INCAPER 2011) Aleacutem disso tem sofrido historicamente com as cheias do Rio

Doce principalmente porque parte do seu periacutemetro urbano eacute inundado com as aacuteguas da

calha principal desse rio o que compromete toda a dinacircmica local e potildee em risco os

colatinenses

Assim diante das crescentes demandas por territoacuterio no periacutemetro urbano a populaccedilatildeo

tem suprimido a cobertura vegetal e ocupado desde as margens do Rio Doce ateacute as

encostas dos morros Em periacuteodos de cheias principalmente nos meses de outubro a

marccedilo (INCAPER 2011 ANA 2001) verificam-se inundaccedilotildees de grande parte da aacuterea

urbana beira-rio aleacutem dos movimentos de massa nas encostas Como exemplo destes

acontecimentos tecircm-se os registros fotograacuteficos dos efeitos da chuva de dezembro de 2013

(Figuras 2 e 3)

1 De acordo com o a estimativa do IBGE de 2014 publicada no DOU o municiacutepio conta com uma populaccedilatildeo de 121670 habitantes

18

Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e o canal do Rio Doce Elaborado pela autora

19

Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 Fonte Noticias UOL (2013)

Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de 2013 Fonte Folha Vitoacuteria (2013)

Este estudo portanto eacute relevante tendo em vista as raras abordagens no acircmbito das

Ciecircncias Geograacuteficas especialmente no Espiacuterito Santo de pesquisas que correlacionem

aspectos da geomorfologia fluvial por meio da dinacircmica dos recursos hiacutedricos com o uso

e cobertura da terra particularmente o Plano Diretor Municipal (PDM) Discute dessa

forma as implicaccedilotildees da atuaccedilatildeo humana nas particularidades deste ecossistema natural

tendo em vista o disposto nas legislaccedilotildees urbaniacutesticas e ambientais que visam assegurar

a qualidade de vida das populaccedilotildees

Adiante seratildeo analisados os principais fundamentos da geomorfologia fluvial os aspectos

juriacutedicos e o papel da anaacutelise geograacutefica integrada para o entendimento dos fenocircmenos

das inundaccedilotildees no Centro de Colatina uma vez que eacute devido agraves intervenccedilotildees humanas

nos canais e suas margens que esses fenocircmenos tornam-se mais nocivos a cidade

20

2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS

21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano

Recurso essencial para a manutenccedilatildeo da vida a aacutegua foi um fator relevante para o

estabelecimento histoacuterico das sociedades no entorno dos cursos hiacutedricos Utilizados para

fins de abastecimento humano e animal irrigaccedilatildeo saneamento e transporte os rios

constituiacuteram-se nos principais propulsores de penetraccedilatildeo para o interior (CUNHA 2012a)

Logo em suas margens surgiram povoados que posteriormente transformaram-se em

cidades como as que se estabeleceram agraves margens do Rio Doce a exemplo da sede de

Colatina

Diante das potencialidades que os recursos hiacutedricos possibilitam agraves sociedades

destacamos a importacircncia do estudo da Geomorfologia Fluvial que se apresenta como

campo da Geomorfologia (ciecircncia que estuda as formas do relevo) sendo o interesse

daquela a pesquisa dos processos que relacionam o escoamento das aacuteguas fluviais num

contexto de bacia hidrograacutefica (CHRISTOFOLETTI 1980 CUNHA op cit) Enfoca assim

as alteraccedilotildees na fisionomia dos canais frente agraves intervenccedilotildees no ecossistema natural

beira-rio

A Geomorfologia Fluvial parte da condicionante de que o uso e ocupaccedilatildeo da terra refletem-

se na dinacircmica da bacia de drenagem interferindo nos processos morfogeneacuteticos ou seja

de modelagem do relevo fluvial escoamento superficial das aacuteguas e no ciclo hidroloacutegico

Frente agrave temaacutetica deste estudo faz-se necessaacuterio o entendimento dos conceitos da

fisiografia fluvial aqui referente aos diferentes setores que a aacutegua pode escoar num leito

(Figura 4) como

O leito menor corresponde agrave parte do canal ocupada pelas aacuteguas e cuja frequecircncia impede o crescimento da vegetaccedilatildeo Esse tipo de leito eacute delimitado por partes bem definidas O leito de vazante equivale agrave parte do canal ocupada durante o escoamento das aacuteguas de vazante Suas aacuteguas divagam dentro do leito menor seguindo o talvegue linha de maacutexima profundidade ao longo do leito e que eacute mais bem identificada na seccedilatildeo transversal do canal O leito maior tambeacutem denominado leito maior perioacutedico ou sazonal eacute ocupado pelas aacuteguas do rio regularmente e pelo menos uma vez ao ano durante as cheias Dependendo do tempo ocorrido entre as subidas das aacuteguas eacute possiacutevel haver a fixaccedilatildeo e o crescimento da vegetaccedilatildeo herbaacutecea

21

O leito maior excepcional eacute ocupado durante as grandes cheias no decorrer das enchentes (CUNHA 2001 p 213)

Figura 4 - Tipos de leito fluvial vaacuterzea Fonte Cunha (2001 p213)

Sendo assim as aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial (leitos) aquelas inundadas pelo corpo

hiacutedrico frente a um evento hidroloacutegico extremo tambeacutem satildeo conhecidas como vaacuterzeas

planiacutecie de inundaccedilatildeo ou ainda segundo Carneiro e Miguez (2011 p133) como ldquo[] zona

de passagem de cheia []rdquo Essas aacutereas de vaacuterzeas dependem da fisionomia que o rio

apresenta e segundo Cunha (op cit) o canal fluvial pode apresentar trecircs formas

principais conhecidas como padratildeo dos canais que satildeo retiliacuteneo anastomosado e

meacircndrico (Figura 5)

Figura 5 - Padrotildees dos canais (A) retiliacuteneo (B) anastomosado (C) meandrante (A) amplitude (Rc) raio meacutedio da curvatura do meandro (segundo Bigarella etal 1979) Fonte Cunha (2001 p216)

22

Aliada aos padrotildees dos canais estaacute a assimetria ou simetria dos leitos que para Cunha

(2001 p233) relaciona-se com a variaccedilatildeo da velocidade e turbulecircncia ao longo da secccedilatildeo

transversal o que diferencia o comportamento nos canais retiliacuteneos geralmente simeacutetricos

do canal meacircndrico onde

Em canais de leito simeacutetrico em geral padratildeo retiliacuteneo a velocidade maacutexima ocorre no centro do canal diminuindo em direccedilatildeo agraves margens Em leito assimeacutetrico de padratildeo meacircndrico a zona de maacutexima velocidade e turbulecircncia localiza-se nas proximidades das margens cocircncavas decrescendo de valor em direccedilatildeo agrave margem de menor profundidade

(convexa) (CUNHA opcit p 233)

Deste modo a capacidade de erosatildeo das margens transporte e deposiccedilatildeo da carga do rio

dependem entre outros fatores da velocidade das correntes fluviais E o material do fluxo

fluvial constitui-se da descarga liacutequida ou vazatildeo que estaacute relacionada ao tamanho do

material que pode ser transportado e do volume da carga que o rio eacute capaz de carregar

Tem-se ainda a carga soacutelida sedimentos que estaacute relacionada a suspensatildeo e fundo do

rio esta decresce a jusante indicando a diminuiccedilatildeo da competecircncia do corpo fluvial As

cargas de suspensatildeo satildeo constituiacutedas de partiacuteculas finas a exemplo do silte e por fim a

carga de fundo que eacute composta por partiacuteculas de tamanhos maiores a exemplo da areia

(CUNHA2001)

Christofoletti (1980) acrescenta que os sedimentos podem ser carregados de trecircs modos

principais no fluxo em soluccedilatildeo dissolvidos nos cursos hiacutedricos em suspensatildeo como o

silte e argila e em saltaccedilatildeo geralmente a areia e cascalho que compreendem a carga do

leito do rio Destaca-se que a carga detriacutetica natildeo proveacutem apenas da erosatildeo do fundo dos

leitos e margens fluviais mas que o material intemperizado de vertentes carreado nas

enchentes contribui significativamente para a carga sedimentar transportada

Cabe ressaltar ainda que a relaccedilatildeo do arranjo espacial dos canais com os processos

fluviais (a erosatildeo o transporte e a deposiccedilatildeo de sedimentos) eacute determinante para o

trabalho dos rios Tais processos satildeo diretamente influenciados pela vazatildeo velocidade e

pela intensidade da turbulecircncia (seja no fluxo laminar ou no fluxo turbulento) A

variabilidade no comportamento da velocidade e turbulecircncia das aacuteguas ao longo da seccedilatildeo

transversal condiciona os locais preferenciais de erosatildeo e deposiccedilatildeo ao longo do curso

hiacutedrico

23

Deste modo qualquer intervenccedilatildeo na bacia e canal fluvial compromete o equiliacutebrio natural

da drenagem levando o corpo hiacutedrico a se adaptar agraves mudanccedilas em sua fisionomia

fisiografia e em seus processos ateacute atingir um novo estado de equiliacutebrio Poreacutem eacute na

planiacutecie de inundaccedilatildeo que estas modificaccedilotildees seratildeo mais percebidas pela populaccedilatildeo pois

a maior parte das obras de engenharia como as canalizaccedilotildees e as ocupaccedilotildees das

margens acaba por romper com o equiliacutebrio natural do rio alterando sua dinacircmica e

intensificando seus processos o que na maioria das vezes potencializa as enchentes no

ambiente urbano

Nesse sentido o entendimento dos processos fluviais (erosatildeo transporte e deposiccedilatildeo)

combinado com a anaacutelise da fisiografia fluvial condicionam as peculiaridades na geometria

hidraacuteulica ou seja na relaccedilatildeo entre a vazatildeo velocidade de escoamento tipos de canais

de sedimentos e a topografia Logo o conhecimento geomorfoloacutegico do rio contribui para

pesquisas que necessitem relacionar o funcionamento deste corpo natural com um

planejamento urbano mais efetivo principalmente se considerarmos um recorte em niacutevel

de bacia hidrograacutefica em espaccedilo urbano

211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial

O capiacutetulo que segue versa sobre a atuaccedilatildeo antroacutepica relacionando-a a aacuterea de estudo o

rio Doce poreacutem este trata de forma macro a temaacutetica para contextualizar o leitor sendo

as especificidades das intervenccedilotildees neste recorte geograacutefico trabalhados nos resultados

desta pesquisa

Diante do exposto eacute possiacutevel acompanhar a evoluccedilatildeo dos processos fluviais nos canais

em especial aqueles que tiveram intervenccedilotildees em seu curso natural como as hidreleacutetricas

instaladas a montante a exemplo do Rio Doce onde a interferecircncia direta na vazatildeo e fluxo

de sedimentos altera a hidrodinacircmica do rio comprometendo a erosatildeo e transporte Para

Coelho (2007 p57) as

Mudanccedilas na Declividade Perfil Longitudinal Promovidas pela construccedilatildeo de reservatoacuterio satildeo variadas e caso o efeito da contenccedilatildeo de sedimentos seja significativo os processos fluviais reduziratildeo a capacidade de transporte de sedimento podendo promover um entalhamento do leito do rio imediatamente agrave jusante da barragem

Aleacutem disso esse processo erosivo poacutes-barragem eacute intensificado favorecendo o

assoreamento e sedimentaccedilatildeo do rio a jusante O que pode beneficiar a elevaccedilatildeo da cota

24

do canal fluvial frente a eventos hidroloacutegicos extremos potencializando os efeitos das

inundaccedilotildees nas vaacuterzeas

Ao mesmo tempo o Rio Doce trecho que compreende o Espiacuterito Santo meacutediobaixo curso

eacute impactado nas vazotildees miacutenimas e maacuteximas a jusante apoacutes a instalaccedilatildeo das

barragensUsinas Hidreleacutetricas (UHE) de Mascarenhas (iniacutecio de operaccedilatildeo em 1974)

localizada no Municiacutepio de Baixo Guandu e a de Aimoreacutes (iniacutecio de operaccedilatildeo em 2005)

localizada na divisa do Espiacuterito Santo com Minas Gerais (COELHO 2007)

De acordo com Coelho (opcit) apoacutes a implantaccedilatildeo das usinas ocorreu uma reduccedilatildeo

significativa na vazatildeo da calha principal do Rio Doce conforme Graacutefico 1

Considerando o periacuteodo de 1939 a 2012 a vazatildeo miacutenima apoacutes a instalaccedilatildeo das usinas

chega a atingir 411msup3s e a maacutexima chega apenas a 1251msup3s sendo que no periacuteodo

anterior agrave instalaccedilatildeo das usinas foi registrada a miacutenima de 533 msup3s e uma maacutexima de

1812 msup3s o que ressalta o impacto do barramento sobre o corpo hiacutedrico Aleacutem do

comprometimento dos processos de erosatildeo transporte e sedimentaccedilatildeo (COELHO 2008

e CUNHA 2001)

Diante desta perda de carga liacutequida nos barramentos Cunha (2001 p 241) observa ainda

que as aacutereas a jusante de reservatoacuterios

[hellip] onde o regime do rio sofre significativas modificaccedilotildees devidas ao controle das descargas liquidas e de sedimentos no reservatoacuterio As mudanccedilas ocorridas no regime das aacuteguas neste setor do rio acarretam significativos efeitos nos processos do canal tais como o entalhe do leito a erosatildeo das margens e a deposiccedilatildeo a jusante atingindo longas distacircncias

Aleacutem disso no periacutemetro urbano de Colatina o Rio Doce sofreu outras intervenccedilotildees em

seu canal principal como a implantaccedilatildeo de obras estruturais de macrodrenagem a

exemplo da construccedilatildeo da Av Beira-Rio com intuito de conter o avanccedilo das aacuteguas fluviais

em periacuteodos de cheias

25

Graacutefico 1

Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais (Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia)

Fonte adaptado de Coelho (2007 p154)

26

Como exemplo dos tipos de intervenccedilotildees humanas nas aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial

leitos Carneiro e Miguez (2011 p117) destacam

As accedilotildees de controle e cheias urbanas podem ser classificadas em estruturais quando a paisagem eacute alterada pela accedilatildeo do homem e em natildeo estruturais aqui denominada como estruturante quando o homem aprende a conviver com as enchentes No primeiro caso estatildeo as medidas de controle atraveacutes de obras hidraacuteulicas tais como barragens diques e canais entre outras No segundo caso encontram-se medidas do tipo preventivo tais como zoneamento de aacutereas de inundaccedilatildeo sistemas de alerta educaccedilatildeo ambiental lei de parcelamento e uso dos solos e seguros contra inundaccedilatildeo

Neste cenaacuterio abarcamos os impactos das obras de engenharia como a canalizaccedilatildeo que

altera a fisionomia e fisiografia do rio refletindo-se nos processos geomorfoloacutegicos do canal

e sua planiacutecie de inundaccedilatildeo Para estes a canalizaccedilatildeo eacute uma obra estrutural que aumenta

a capacidade do fluxo do canal aleacutem de intensificar a velocidade do escoamento

superficial antecipando o pico de cheia e transferindo os alagamentos para locais a jusante

na bacia hidrograacutefica

Articulado a esta ideia Cunha (2012b) reflete a desnaturalizaccedilatildeo dos rios por meio de

obras de retificaccedilatildeo com a reduccedilatildeo do comprimento do canal e eliminaccedilatildeo das

sinuosidades Satildeo obras que afetam a estabilidade do corpo hiacutedrico na medida em que

interferem na relaccedilatildeo entre erosatildeo sedimentaccedilatildeo e deposiccedilatildeo provocando efeitos como

alteraccedilatildeo na morfologia do canal Sendo assim ldquo[hellip] a diminuiccedilatildeo da rugosidade no fundo

do canal em conjunto com a perda dos meandros e a aceleraccedilatildeo das velocidades eacute a

principal responsaacutevel pelas mudanccedilas no balanccedilo da energia natural dos sedimentos

fluviais [hellip]rdquo Cunha (2012b p178) No caso do Rio Doce trecho correspondente agrave Av

Beira-Rio alterou-se a sua forma retilinizando-a e sua vegetaccedilatildeo natural foi substituiacuteda

por estruturas de pedras o que compromete a resistecircncia ao fluxo as margens e aos

bancos arenosos

Embora as obras de canalizaccedilatildeo sejam implantadas como eficazes nos canais fluviais para

questotildees de enchentes urbanas para Cunha (op cit) estas necessitam de manutenccedilatildeo

constante envolvendo desde dragagem remoccedilatildeo de obstruccedilotildees a recomposiccedilatildeo do

material utilizado Poreacutem toda a manutenccedilatildeo estaacute associada a alteraccedilotildees morfoloacutegicas e

bioloacutegicas como as que interferem nas soleiras e depressotildees do fundo dos leitos

desestabilizando a vazatildeo no curso a exemplo da

27

ldquo[hellip] eliminaccedilatildeo da sequecircncia de depressotildees e soleiras o aumento da velocidade da corrente a diminuiccedilatildeo da diversidade de habitats o ambiente instaacutevel resultante da flutuaccedilatildeo dos niacuteveis da aacutegua e do substrato moacutevel e a maior flutuaccedilatildeo da temperatura das aacuteguasrdquo (CUNHA 2012b p180)

Ao mesmo tempo o aumento da velocidade dos escoamentos no trecho retificado

possibilita maior erosatildeo transferindo para as aacutereas a jusante uma carga soacutelida

representativa que para Cunha (op cit) configura a formaccedilatildeo de bancos axiais e depoacutesitos

de sedimentaccedilatildeo marginais alterando o equiliacutebrio dos sedimentos a jusante Pois

A jusante das obras de retificaccedilatildeo verificam-se o aumentam da carga soacutelida o assoreamento durante a dragagem a erosatildeo no canal pelos eventos torrenciais do regime e a modificaccedilatildeo na dinacircmica na foz Os sedimentos resultantes da erosatildeo no canal retificado em conjunto com a excessiva carga de sedimentos posta em suspensatildeo durante a dragagem e na fase imediata de poacutes-construccedilatildeo - quando a erosatildeo dos bancos de areia sem vegetaccedilatildeo estaacute em seu niacutevel maacuteximo - originam a formaccedilatildeo de depoacutesitos fluviais de curta duraccedilatildeo a jusante do canal retificado Logo a seguir esses depoacutesitos satildeo erodidos juntamente com as margens e o fundo do leito pelos eventos torrenciais do regime vindo a formar bancos axiais e depoacutesitos de sedimentaccedilatildeo marginais (CUNHA2012b p183)

Portanto o estudo da geomorfologia fluvial contribui diretamente para o entendimento das

cheias nas planiacutecies de inundaccedilatildeo em especial nas bacias hidrograacuteficas que

compreendem a aacuterea urbana e que possuem intervenccedilotildees antroacutepicas diretas na fisiografia

do canal principal Seus processos explicam como as alteraccedilotildees no canal fluvial podem

maximizar os efeitos dos transbordamentos impactando principalmente as populaccedilotildees

ribeirinhas aleacutem de todo ecossistema local Ademais estes fundamentos geomorfoloacutegicos

devem ser associados agrave legislaccedilatildeo vigente afim de subsidiar a elaboraccedilatildeo de instrumentos

legais para atuaccedilatildeo do poder puacuteblico nestas zonas de risco

22 Aspectos Juriacutedicos

Frente agrave crescente demanda sobre os recursos hiacutedricos e solo urbano a partir da deacutecada

de 1930 surgem as primeiras diretrizes que visam regulamentar estes ambientes a

exemplo do Coacutedigo das Aacuteguas Mas soacute a partir dos anos 1960 surgem em acircmbito federal

leis como o Coacutedigo Florestal com o intuito de regular a exploraccedilatildeo das vegetaccedilotildees e

consequentemente proteger os mananciais e em 1979 com o objetivo de ordenar as

28

cidades eacute aprovada a Lei 676679 estabelecendo as normas do parcelamento do solo

urbano

Na medida em que as populaccedilotildees aumentam ampliam-se tambeacutem as pressotildees sobre os

recursos de aacutegua e solo Os processos de uso e a conscientizaccedilatildeo de que estes elementos

satildeo finitos intensificam as formas de controle e preservaccedilatildeo passando para as esferas

estaduais e municipais a responsabilidade de atuar em escala local na proteccedilatildeo desses

ambientes

Ainda em escala federal em 2012 eacute promulgado o Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012

em substituiccedilatildeo ao coacutedigo anterior Lei 47711965 que apresenta as normas de

apropriaccedilatildeo dos recursos naturais pelas novas necessidades das populaccedilotildees citadinas e

rurais No que compete agrave aacuterea de estudo cabe destacar as ocupaccedilotildees em aacutereas de

planiacutecie de inundaccedilatildeo em que de acordo com art 4ordm devem ser preservadas

I - as faixas marginais de qualquer curso drsquoaacutegua natural perene e intermitente excluiacutedos os efecircmeros desde a borda da calha do leito regular em largura miacutenima de (Incluiacutedo pela Lei nordm 12727 de 2012) a) 30 (trinta) metros para os cursos drsquoaacutegua de menos de 10 (dez) metros de largura b) 50 (cinquenta) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura c) 100 (cem) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura d) 200 (duzentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura e) 500 (quinhentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros []

A legislaccedilatildeo eacute riacutegida no que concerne agrave ocupaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo das terras nas faixas

marginais dos rios transferindo aos estados e municiacutepios a responsabilidade de fiscalizar

estes territoacuterios para garantir a efetividade da lei A questatildeo eacute que muitas vezes somada a

falta de planejamento estas fiscalizaccedilotildees satildeo ineficientes o que tem possibilitado o

surgimento cada vez maior das ocupaccedilotildees irregulares

Apoiado tambeacutem pela Constituiccedilatildeo Federal de 1988 nos artigos 182 e 183 surge o

Estatuto das Cidades Lei 102572001 com finalidade de garantir a funccedilatildeo social da

cidade e com este os primeiros Planos Diretores Municipais (PDM) que buscam o

ordenamento do crescimento das cidades em caraacuteter socioeconocircmico e ambiental cidades

sustentaacuteveis Ademais em Colatina eacute instituiacuteda a Lei 42281996 posteriormente revogada

29

pela Lei 52732007 que ldquoInstitui o Plano Diretor do Municiacutepio de Colatina estabelece os

objetivos instrumentos e diretrizes e daacute outras providecircncias para as accedilotildees de

planejamento do Municiacutepio de Colatina []rdquo

O PDM de Colatina assim como Coacutedigo Florestal prevecirc a preservaccedilatildeo dos ecossistemas

beira-rio Aquele ainda dispotildee sobre o parcelamento do solo sustentaacutevel a funccedilatildeo social

da cidade e da propriedade conforme o Plano Diretor de Colatina de 2007 nos artigos

transcritos

Artigo 22 - As diretrizes ambientais no Municiacutepio de Colatina satildeo I - aplicar os instrumentos de gestatildeo ambiental estabelecidos nas legislaccedilotildees federal estadual e municipal bem como a criaccedilatildeo de outros instrumentos adequando-os agraves metas estabelecidas pelas poliacuteticas ambientais II - compatibilizar as diretrizes de uso ocupaccedilatildeo e parcelamento do solo aos objetivos de proteccedilatildeo ambiental dos ecossistemas [] Artigo 23 - Satildeo diretrizes do sistema de drenagem urbana I - disciplinar a ocupaccedilatildeo das cabeceiras e vaacuterzeas das bacias hidrograacuteficas do Municiacutepio preservando a vegetaccedilatildeo existente e visando agrave sua recuperaccedilatildeo [] III - definir mecanismos de fomento para usos do solo compatiacuteveis com aacutereas de interesse para drenagem tais como parques lineares aacuterea de recreaccedilatildeo e lazer hortas comunitaacuterias e manutenccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa [] V - implantar medidas natildeo-estruturais [sic] de prevenccedilatildeo de inundaccedilotildees tais como controle de erosatildeo especialmente em movimentos de terra controle de transporte e deposiccedilatildeo de entulho e lixo combate ao desmatamento assentamentos clandestinos e a outros tipos de invasotildees nas aacutereas com interesse para drenagem [] VII - garantir e respeitar a necessaacuteria permeabilidade do solo inclusive buscando alternativas de pavimentaccedilatildeo com maior de permeabilidade [sic] [] Artigo 84 ndash Satildeo objetivos do ordenamento territorial do Municiacutepio de Colatina [] IV ndash conter a expansatildeo da ocupaccedilatildeo urbana em aacutereas de proteccedilatildeo ambiental [] Artigo 120 ndash Ficam desde jaacute identificadas como Zonas de Proteccedilatildeo Ambiental 2 ndash ZPA 2 as seguintes aacutereas [] III ndash as aacutereas existentes ao longo de qualquer curso drsquoagua desde o niacutevel mais alto em faixa marginal cuja largura miacutenima seraacute de a) 15m (trinta metros) [sic] para os cursos drsquoagua com menos de 10m (10

metros) de largura contidos no periacutemetro urbano [] c) 30m (trinta metros) para os cursos drsquoagua que tenham de10m (dez

metros a 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano

[]

30

e) 50m (cinquenta metros) para os cursos drsquoagua que tenham mais de 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 60422013)

[]

De modo geral verifica-se que a legislaccedilatildeo apresenta instrumentos que permitem a

prevenccedilatildeo ou controle de ocupaccedilotildees irregulares ou clandestinas em aacuterea de APP aleacutem de

propostas para resguardar de grandes impactos ambientais o corpo hiacutedrico principal do

municiacutepio o Rio Doce Possibilitando assim a minimizaccedilatildeo dos impactos causados pelas

cheias agrave populaccedilatildeo local

Poreacutem cabe destacar que o Plano Diretor Municipal de Colatina natildeo contempla o

estipulado no Coacutedigo Florestal 2012 Lei Federal onde os cursos drsquoaacutegua com largura

superior a 600(seiscentos) metros devem ser resguardados com aacutereas de preservaccedilatildeo

permanente de 500(quinhentos) metros entre outros sendo que a redaccedilatildeo desta parte do

PDM eacute dada pela lei 60422013 posterior a publicaccedilatildeo do novo Coacutedigo Florestal Sendo

assim verifica-se que apesar da intenccedilatildeo de resguardar uma faixa de no maacuteximo

50(cinquenta) metros em periacutemetro urbano para a contenccedilatildeo de cheias e mata ciliar o

PDM de Colatina natildeo atende o miacutenimo previsto em Lei Federal O que tem impactado todo

ecossistema beira rio e a populaccedilatildeo ribeirinha uma vez que a faixa marginal de proteccedilatildeo

de 50(cinquenta) metros em muitos casos natildeo tem comportado o impacto dos defluacutevios

No entanto a legislaccedilatildeo trata de aspectos gerais natildeo pontuando as aacutereas responsaacuteveis

por cada accedilatildeo aleacutem de sua aplicabilidade depender da elaboraccedilatildeo de um cronograma de

execuccedilatildeo bem como um conjunto de planos e normas especiacuteficos para cada diretriz com

detalhamento das propostas de intervenccedilatildeo Isto natildeo ocorreu ateacute o presente

Aleacutem disso a cidade de Colatina surgiu num cenaacuterio histoacuterico anterior agraves legislaccedilotildees

urbaniacutesticas e ambientais inclusive do Coacutedigo das Aacuteguas o que dificulta a execuccedilatildeo de

um planejamento que concilie a preservaccedilatildeo das matas beira-rio garantindo a faixa de

APP com a ocupaccedilatildeo urbana consolidada

A aacuterea de estudo se apresenta como ambiente fragilizado apesar de ser regida por

legislaccedilotildees desde a escala federal ateacute a municipal que visam proteger e ordenar o uso e

cobertura da terra nas faixas marginais dos rios Mas a dificuldade das prefeituras em

aplicar os instrumentos legais nestes ambientes seja por interesses privados ou falta de

recursos para investimentos em soluccedilotildees a longo prazo continua expondo as populaccedilotildees

31

aos impactos dos eventos hidroloacutegicos criacuteticos como os que resultam nas inundaccedilotildees

Para que se alcance esse parcelamento do solo sustentaacutevel satildeo necessaacuterios esforccedilos da

gestatildeo municipal em estipular prazos e metas de atuaccedilatildeo afora interagir os diferentes

setores no planejamento em niacutevel de bacia hidrograacutefica considerando as peculiaridades

desta escala de trabalho

23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos

Sendo a ciecircncia que estuda a relaccedilatildeo homemnatureza a Geografia tem muito a contribuir

nas anaacutelises que envolvem o meio ambiente que foi transformado pela dinacircmica da

sociedade Mas historicamente a dialeacutetica das correntes fiacutesica e humana tem imperado de

modo dissociado levando o geoacutegrafo a estudar estes processos separadamente Poreacutem

se o resultado pretendido eacute integrado fazem-se necessaacuterias pesquisas mais amplas que

cruzem as diferentes vertentes geograacuteficas

Considerando que a problemaacutetica dos impactos ambientais urbanos envolve a questatildeo

natural o rio e a questatildeo social e poliacutetica a sociedade e as leis (COELHO 2013) uma

pesquisa neste acircmbito requer o entendimento destes dois objetos a fim de se apreender

o processo de crescimento das cidades brasileiras e a sua relaccedilatildeo com os recursos

hiacutedricos

A partir da deacutecada de 1950 devido ao ecircxodo rural mais intenso as cidades brasileiras

incharam rapidamente com a migraccedilatildeo do camponecircs que buscava melhores condiccedilotildees de

vida como trabalho na induacutestria o acesso agraves escolas saneamento entre outros E

segundo Gorski (2010) a populaccedilatildeo brasileira passou desde o iniacutecio deste processo de 19

milhotildees de habitantes em 1950 para 138 milhotildees de habitantes em 2000 (dados do IBGE)

o que corrobora o raacutepido crescimento das cidades

Todavia as estruturas puacuteblicas natildeo estavam preparadas para um acreacutescimo populacional

tatildeo significativo e em curto espaccedilo de tempo E o que observamos eacute o acesso limitado

dessa populaccedilatildeo agraves aacutereas centrais da cidade sendo induzida a se estabelecer nas

periferias Nesta visatildeo

O difiacutecil acesso da populaccedilatildeo de baixa renda agraves aacutereas mais centrais das cidades contribuiu segundo Raquel Rolnik para a expansatildeo da periferia o que muitas vezes implicou e implica ainda invasatildeo de aacutereas de proteccedilatildeo de mananciais com a aquiescecircncia do poder puacuteblico Esta

32

dinacircmica agravou a situaccedilatildeo de risco dos mananciais pela eliminaccedilatildeo das matas ciliares e consequentemente erosatildeo das margens dos cursos drsquoaacutegua e assoreamento de suas calhas e pela contribuiccedilatildeo do esgoto in natura (ROLNIK1997 apud GORSKI 2010 p62)

Sendo assim a supressatildeo das matas ciliares e das vegetaccedilotildees das encostas para fins de

ocupaccedilatildeo urbana interfere diretamente no ciclo hidroloacutegico diminuindo a absorccedilatildeo de

aacutegua pelo subsolo e pela evapotranspiraccedilatildeo favorecendo o escoamento superficial (Figura

6) que intensifica a velocidade de drenagem das aacuteguas Este processo nas encostas eacute

mais significativo se considerarmos que com a supressatildeo da cobertura vegetal e

impermeabilizaccedilatildeo do solo as precipitaccedilotildees acabam por lavar todo o material

intemperizado sedimentos carregando-o diretamente para o corpo hiacutedrico e contribuindo

para o assoreamento

Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento Fonte Gorski (2010 p64)

Por outro lado as ocupaccedilotildees ribeirinhas nas vaacuterzeas dos rios modificam a dinacircmica fluvial

frente aos defluacutevios A compactaccedilatildeo e o nivelamento do solo associados agrave

impermeabilizaccedilatildeo por concreto asfalto e outros materiais alteram todo o sistema de

drenagem natural e contribuem para a erosatildeo fluvial Aleacutem disso a gestatildeo puacuteblica que

33

deveria investir num parcelamento do solo sustentaacutevel resguardando ldquouma alocaccedilatildeo de

espaccedilosrdquo (CANHOLI 2005 p 15) para a drenagem acaba por colaborar com as enchentes

urbanas na medida em que decide por obras estruturais como a canalizaccedilatildeo (Figura 7

p30) e a microdrenagem que transferem os impactos das inundaccedilotildees a jusante

Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia Fonte Gorski (2010 p69)

Cabe destacar que desde 1965 com o primeiro Coacutedigo Florestal as matas beira-rio jaacute

eram resguardadas da degradaccedilatildeo humana poreacutem com todo o boom urbano a partir de

1950 a falta de estrutura e ingerecircncia municipal no que se refere ao parcelamento e uso

e ocupaccedilatildeo da terra urbana possibilitou a formaccedilatildeo dos assentamentos clandestinos em

APP e na encosta de morros Em condiccedilotildees precaacuterias sem saneamento baacutesico e demais

infraestruturas urbanas estes assentamentos acabam sendo as regiotildees mais afetadas

com as inundaccedilotildees

Junto agraves questotildees jaacute levantadas vale destacar que as aacuteguas das inundaccedilotildees propiciam o

aumento das doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica (febre tifoide hepatite leptospirose

esquistossomose entre outras) pois carregam segundo Gorski (2010) toda uma poluiccedilatildeo

difusa efluentes domeacutesticos industriais e agroindustriais aleacutem do lixo urbano da poluiccedilatildeo

do ar e das ruas

34

Por outro lado esta ocupaccedilatildeo urbana natildeo planejada perde o benefiacutecio que os corpos

hiacutedricos podem oferecer como [] as paisagens fluviais que aos poucos foram sendo

apropriadas como paisagens urbanas [] (GORSKI 2010 38) aleacutem do microclima

associado agrave umidade pela evapotranspiraccedilatildeo que ameniza a sensaccedilatildeo teacutermica local

Poreacutem conforme observado por Graeff (2011) natildeo eacute cabiacutevel atualmente implantar a

legislaccedilatildeo de APP de modo jurista Deve-se considerar toda a representatividade cultural

assentada sobre os leitos destes rios (avenidas importantes casas com arquitetura

histoacuterica entre outros) Aleacutem disso para a demarcaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo

permanente hoje eacute necessaacuteria uma anaacutelise teacutecnica pautada na geomorfologia e

hidrologia de modo a interpretar o ldquocomportamento histoacuterico dos cursos drsquoaacutegua na

paisagem prevendo cenaacuterios de impactos futurosrdquo da atividade humana sobre suas faixas

marginais

Tendo em vista que grande parte da malha urbana brasileira estaacute alocada em APPs e que

segundo Graeff (2011) estas jaacute possuem uma unidade de paisagem estabelecida e muitas

vezes secular configurando siacutetios de importacircncia cultural e apreendendo que

De modo semelhante nas demais cidades haveraacute que ser entendido o meio urbano como ele realmente eacute ndash um encontro entre as necessidades de habitaccedilatildeo com atividades humanas e de conservaccedilatildeo ambiental esta segunda tambeacutem a serviccedilo do homem e natildeo somente de objetivos difusos e distanciados da sobrevivecircncia da sociedade (GRAEFF 2011 206)

Por tais motivos o trabalho com a geomorfologia fluvial urbana deve abarcar os princiacutepios

do bom senso compreendendo que nestas aacutereas de atividade antroacutepica consolidada pode-

se fazer uso de instrumentos de engenharia avanccedilados para uma convivecircncia equilibrada

do homem com a natureza no entorno Contudo deve-se incentivar as aacutereas de expansatildeo

urbana ou zona periurbana (zonas de transiccedilatildeo da aacuterea urbana para a rural) com poliacuteticas

de incentivo a pavimentaccedilotildees mais permeaacuteveis a fim de minimizar o escoamento

superficial para o rio favorecendo a infiltraccedilatildeo

Apesar de os impactos gerados pela interferecircncia humana nas aacutereas mais fragilizadas da

bacia hidrograacutefica vaacuterzeas e encostas refletirem-se em cataacutestrofes com prejuiacutezos

humanos ambientais e urbanos alguns autores brasileiros como Canholi Graeff Cunha

Carneiro e Miguez jaacute indicaram outros caminhos para uma convivecircncia harmoniosa com

a natureza Aleacutem do mais paiacuteses desenvolvidos como a Holanda deixaram de ldquolutar contra

35

as cheiasrdquo para permitir agraves aacuteguas das enchentes a capacidade de acumular e dispersar

com impacto reduzido para as populaccedilotildees (CARNEIRO MIGUEZ 2011)

Sendo assim a proposta deste estudo eacute identificar os principais agentes que influenciam

as inundaccedilotildees entendendo seu papel e atuaccedilatildeo no contexto urbano de Colatina Mas eacute

tambeacutem a de ampliar a abordagem da temaacutetica com uma anaacutelise geograacutefica integrada

ressaltando as medidas que constam no planejamento urbano e sua aplicaccedilatildeo nas faixas

marginais do corpo hiacutedrico

36

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS

Esta pesquisa eacute constituiacuteda de trecircs etapas principais sendo que a primeira teve como

premissa a confecccedilatildeo de um fluxograma (Figura 8) de trabalho para orientar a pesquisa

em seguida teve iniacutecio o levantamento de bibliografias que abordam temas como a

geomorfologia fluvial e urbanizaccedilatildeo em Colatina adotando-se como referecircncia as

pesquisas de Coelho (2006 2007 2008 e 2009) e Albani (2012) Aleacutem disso muito

contribuiacuteram para este trabalho o relatoacuterio do INCAPER da CPRM e os dados do IBGE

Cabe destacar tambeacutem as experiecircncias com recursos hiacutedricos em ambientes urbanos de

Carneiro e Miguez (2011) em especial Cunha (2001 2012ab)

Esta etapa consistiu tambeacutem na busca de material cartograacutefico como aquisiccedilatildeo de planos

de informaccedilatildeo de limite estadual municipal bairros mancha urbana corpo drsquoaacutegua e

logradouros atraveacutes de dados disponiacuteveis no Sistema Integrado de Bases Geoespaciais

do Estado do Espiacuterito Santo (GEOBASES 2014) no Instituto Jones dos Santos Neves

(IJSN 2015) e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2014) imagens

orbitais gratuitas do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI bandas 2-3-4 e 8 (Pan) oacuterbita 216

ponto 73 com datas de passagem em 02012014 e 22032014 agraves 946 (horaacuterio central

da oacuterbita) junto ao Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2014) aleacutem do ortofotomosaico

do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hiacutedricos (IEMA 2014) do Espiacuterito

Santo referente ao voo de 2007 a 2008

Na segunda etapa foram realizadas duas investigaccedilotildees de campo sendo a primeira no

dia 24 de junho de 2014 com a finalidade de fazer o reconhecimento da aacuterea de estudo

fotografar e conversar com moradores e teacutecnicos da prefeitura O segundo trabalho de

campo ocorreu no dia 14 de fevereiro de 2015 e por meio deste foi possiacutevel identificar

pontos sujeitos a inundaccedilatildeo analisar a topografia e realizar as entrevistas com moradores

e funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina

37

Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC)

38

Na terceira etapa foram realizados os mapeamentos e processamentos de todos os planos

de informaccedilatildeo vetoriais e matriciais em ambiente de SIG no sistema ArcGis 103 iniciando

com a ediccedilatildeo dos dados do Municiacutepio e adjacecircncias que foram ajustados quando

necessaacuterio ao sistema de projeccedilatildeo UTM no Datum SIRGAS ndash 2000 na Zona 24 sul com

meridiano central -39 W com todo o mapeamento produzido seguindo a padronizaccedilatildeo

cartograacutefica proposta por Fitz (2008 a b)

O geoprocessamento teve iniacutecio com a composiccedilatildeo das imagens orbitais do Landsat-8 na

cor natural da imagem (2R 3G 4B) e por meio da teacutecnica de Pan Sharpening ou fusatildeo

de imagens a imagem cor natural foi agrupada agrave da banda 8 pancromaacutetica para obtenccedilatildeo

de uma melhor resoluccedilatildeo espacial neste caso chegando a 15 metros sendo resguardado

o conteuacutedo da imagem composta Na sequecircncia foi realizada a extraccedilatildeo da maacutescara do

periacutemetro urbano de Colatina e gerada a classificaccedilatildeo supervisionada da imagem Landsat-

8 no periacuteodo de cheia (janeiro) e vazante (marccedilo) o que possibilitou a delimitaccedilatildeo da calha

do Doce nestes dois eventos

Em seguida foram realizadas as 8 (oito) mediccedilotildees do leito regular sendo 4 (quatro) no

periacuteodo de cheia e 4 (quatro) na vazante de modo a definir a largura meacutedia da calha do

leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina Para chegar a uma medida geral

da largura do rio utilizaram-se ferramentas estatiacutesticas como a meacutedia que eacute uma medida

de tendecircncia central onde numa amostra de tamanho N constituiacuteda por elementos de x

variando de eacute possiacutevel extrair a meacutedia aritmeacutetica atraveacutes da equaccedilatildeo

A meacutedia aponta para onde mais convergem os dados de uma distribuiccedilatildeo

A partir desta definiccedilatildeo da meacutedia da largura da calha do Rio Doce foi possiacutevel em consulta

ao Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e a Lei 52732007 determinar a faixa miacutenima

de preservaccedilatildeo permanente deste corpo fluvial aleacutem da confecccedilatildeo do mapa com o

poliacutegono de APP

Mediante a anaacutelise do mapa verificou-se que grande parte dos bairros do municiacutepio estatildeo

contidos nos poliacutegonos de APP em especial a preservaccedilatildeo de 500 metros conforme lei

federal E por meio deste foram cruzados os dados de vazatildeo as fotos histoacutericas das

enchentes e o poliacutegono de mata ciliar o que permitiu o entendimento das inundaccedilotildees

39

Em ambiente de SIG tambeacutem foram vetorizados os trecircs traccedilados da Estrada de Ferro

Vitoacuteria a Minas o trajeto do Rio Santa Maria do Doce antes e depois da retilinizaccedilatildeo e os

sucessivos aterros na margem direita do Rio Doce no periacutemetro que compreende a Av

Beira-Rio

As teacutecnicas de sensoriamento remoto como a classificaccedilatildeo supervisionada permitiram a

definiccedilatildeo do poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo atraveacutes da imagem da cheia de janeiro Para

tanto foi realizada tambeacutem a classificaccedilatildeo hiacutebrida objetivando aliar a interpretaccedilatildeo visual

com a digital (JENSEN 2009) Por fim foi realizada amarraccedilatildeo com o levantamento

geodeacutesico da CPRM (2014) para garantir a precisatildeo do traccedilado do poliacutegono de cheia

A partir do tratamento dos dados bibliograacuteficos cartograacuteficos e imagens foi possiacutevel

sistematizar este trabalho o que permitiu identificar elementos histoacutericos de intervenccedilatildeo

na paisagem do Doce como os aterros e a ocupaccedilatildeo urbana As visitas de campo a

entrevista e conversas com moradores foram fundamentais para a validaccedilatildeo das

informaccedilotildees o que tornou esta metodologia eficaz para anaacutelise do fenocircmeno da inundaccedilatildeo

em Colatina

40

4 RESULTADOS

41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana

A ocupaccedilatildeo ao longo das planiacutecies de inundaccedilatildeo dos rios tem ocorrido diante da

necessidade deste recurso para as atividades vitais humanas Cunha (2012b p219)

entende que ldquosuas margens tecircm sido o centro preferido da habitaccedilatildeo humana e o

suprimento de suas aacuteguas natildeo soacute fertiliza os campos para o cultivo como tambeacutem fornece

energia e permite recreaccedilatildeordquo Logo o estabelecimento das vilas nas bordas dos cursos

drsquoaacutegua favorece a logiacutestica ocupacional

Historicamente em solo espiacuterito-santense a formaccedilatildeo das vilas ocorreu agraves margens de

estrateacutegicos cursos drsquoaacutegua e a exploraccedilatildeo do ouro de Minas Gerais para Albani (2012)

determinou que a Coroa proibisse nos seacuteculos XVII a XIX a implantaccedilatildeo de estradas e

exploraccedilatildeo de terras na Capitania do Espiacuterito Santo pois os portugueses temiam incursotildees

estrangeiras deixando assim o desenvolvimento capixaba restrito agrave faixa litoracircnea

Relegada enquanto ldquobarreira verderdquo para defesa das minas de ouro e minerais do atual

territoacuterio das Minas Gerais segundo Coelho (2007) a Capitania do Espiacuterito Santo soacute

passou a se interiorizar para o centro-oeste onde se localiza atualmente a cidade de

Colatina a partir de 1847 por meio das ocupaccedilotildees de Santa Izabel e Santa Leopoldina

que permitiram a descida do Rio Santa Maria do Doce ateacute as imediaccedilotildees da atual cidade

de Colatina

Assim foi que o movimento colonizador desceu o vale do Santa Maria do Rio Doce atingindo em 1891 a regiatildeo das matas onde hoje se acha a cidade de Colatina [] Esta penetraccedilatildeo inicial foi feita com elementos alematildees de Santa Leopoldina e no rio Doce ficou muito anos restrita agrave aacuterea inicial A expansatildeo ao longo do vale tomou impulso com a chegada a Colatina em 1906 dos trilhos da Estrada de Ferro Diamantina (atual Vitoacuteria-Minas) (STRAUCH1955 apud COELHO 2007 p105)

Sendo assim Coelho (op cit) relata que a ocupaccedilatildeo se deu atraveacutes da supressatildeo da mata

nativa no baixo curso do Rio Doce de Colatina a Linhares sendo a madeira daiacute extraiacuteda

levada ateacute o rio e encaminhada ateacute Povoaccedilatildeo vilarejo junto agrave foz de onde eram carregados

os navios Neste periacuteodo tem-se a instalaccedilatildeo de um ciclo madeireiro na regiatildeo com a

disposiccedilatildeo de serrarias nas proximidades das matas

41

Todavia somente a partir de 1906 com a chegada da estrada de ferro na regiatildeo o

transporte madeireiro foi transferido para as locomotivas Agrave medida que a implantaccedilatildeo da

Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas avanccedilava para o interior levava consigo as frentes de

desmatamento modificando as paisagens das margens do Rio Doce e se apropriando dos

espaccedilos deste rio (Figura 9)

Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906 Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce Fonte Albani (2012 p 63)

Conforme Albani (2012) com a vinda dos mineiros e fluminenses reforccedilados

posteriormente a partir de 1889 por colonizadores italianos e alematildees eacute que as

ocupaccedilotildees territoriais ocorreram de modo efetivo Atraveacutes do Barracatildeo do Rio Santa Maria

(Figura 10) espaccedilo do governo inicialmente destinado a alojar os migrantes e a produccedilatildeo

surgiram as primeiras residecircncias nas proximidades da igreja de Satildeo Sebastiatildeo Sendo

assim

Eacute importante destacar que o desenvolvimento da regiatildeo onde se encontra o municiacutepio de Colatina teve iniacutecio no final do seacuteculo XIX no nuacutecleo de colonizaccedilatildeo Antocircnio Prado localizado no distrito de Boapaba antiga vila do Mutum O nuacutecleo recebeu dezenas de famiacutelias de imigrantes italianos e ali desenvolveram atividades de agricultura e com a expansatildeo da localidade surge tambeacutem o comeacutercio (ALBANI 2012 p61) [hellip] A vila de Colatina entretanto logo passou a se transformar no principal nuacutecleo e futuramente na sede do municiacutepio Aleacutem da facilidade da produccedilatildeo atraveacutes do Rio Doce a vila de Colatina tornou-se referecircncia dos imigrantes no caminho para a colonizaccedilatildeo das terras ao norte do estado (MADURO1985 apud ALBANI 2012 p62)

42

Desse modo com o desenvolvimento das atividades de cafeicultura madeireira e do

entroncamento logiacutestico de acesso agraves aacutereas do norte a vila eacute elevada em 1921 agrave categoria

de municiacutepio A atual configuraccedilatildeo territorial foi adquirida a partir de 2001 conforme IBGE

(2014) dispondo de seis distritos Colatina (sede) Acircngelo Frechiami Baunilha Boapaba

Graccedila Aranha e Itapina

Cabe destacar poreacutem que a ocupaccedilatildeo inicial da cidade de Colatina se perfaz pela margem

direita do Rio Doce onde se localiza o atual bairro de Colatina Velha e onde havia se

instalado o Barracatildeo de Santa Maria Nesse periacuteodo a ponte ainda natildeo fora edificada

limitando assim a ocupaccedilatildeo da margem esquerda

Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da regiatildeo Fonte Albani (2012 p62)

Conforme Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p65) a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro

Vitoacuteria a Minas em 1906 (Figura 11) possibilitou a expansatildeo da cidade de Colatina e seu

desenvolvimento econocircmico Todavia sua instalaccedilatildeo paralela agrave margem direita do Rio

Doce favoreceu a localizaccedilatildeo de avenidas e ruas centrais em sua proximidade

43

Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p65)

Entretanto foi com a construccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos (Figura 12) em 1928 que a

margem direita se conectou agrave margem esquerda da cidade o que aleacutem de possibilitar a

ocupaccedilatildeo facilitou o acesso agraves regiotildees mais ao norte do Estado

Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p66)

44

Por conseguinte a estrada de ferro e a ponte foram os fatores determinantes para o

estabelecimento dos migrantes agraves margens do Rio Doce e a formaccedilatildeo do atual municiacutepio

de Colatina Contudo foi a partir desta posiccedilatildeo privilegiada que a cidade passou a ser

entreposto comercial e logiacutestico da regiatildeo noroeste e com isso sua aacuterea urbana expandiu-

se de modo desordenado inicialmente ao longo da planiacutecie de inundaccedilatildeo do Doce Coelho

(2007 p108 e 109) relata que

Os efeitos dessa urbanizaccedilatildeo (novos parcelamentos) e do desmatamento produz [sic] normalmente o aumento da velocidade das aacuteguas superficiais (pluviais) que eram antes interceptadas pelas matas com boa parte absorvida pelo solo O que ocorre geralmente nessas aacutereas eacute a chegada mais raacutepida das aacuteguas das chuvas para o tributaacuterios e calha principal do rio por fluxos concentrados que provocam processos de erosotildees do tipo laminar ravina e voccediloroca transportando quantidades expressivas de sedimentos que por sua vez causam assoreamento e a ocorrecircncia de cheias mais frequentes no rio

Com o crescimento acelerado do periacutemetro urbano proporcionado pelo apogeu do ciclo

cafeeiro as proacuteximas deacutecadas levaratildeo a cidade de Colatina a sofrer com impactos

advindos das alteraccedilotildees no ambiente fluvial do Rio Doce em especial os referentes a

ocupaccedilatildeo (impermeabilizaccedilatildeo) e desmatamento das margens (interferecircncia na drenagem

natural) conforme destacado por Coelho (2007)

Eacute fato que o municiacutepio viveu nas deacutecadas de 1940 e 1950 o auge do ciclo cafeeiro

chegando a ser no ranking brasileiro o 13ordm municiacutepio produtor de cafeacute no ano de 1947

(CAMPOS JUNIOR 2004 apud ALBANI 2012 p69) Poreacutem a partir de 1960 este boom

entrou em colapso com crise do cafeacute que assolou todo o paiacutes levando grande parte dos

pequenos proprietaacuterios rurais a migrarem para centros urbanos em especial no Espiacuterito

Santo a regiatildeo da Grande Vitoacuteria e tambeacutem para o centro de Colatina

Em razatildeo da crise cafeeira a populaccedilatildeo rural migra para centros urbanos A populaccedilatildeo migrou em grande quantidade para a Grande Vitoacuteria para fora do estado e tambeacutem para a cidade de Colatina principal aglomerado urbano da regiatildeo Esse processo provoca o aumento da aacuterea urbana de Colatina A populaccedilatildeo da cidade que era de 3913 habitantes em 1940 cresceu para 26757 habitantes em1960 (ALBANI2012 p71)

O crescimento raacutepido do centro de Colatina aliado ao aumento populacional direciona

grande parte dos migrantes para as aacutereas menos centrais da cidade levando agrave ocupaccedilatildeo

de locais irregulares como os morros e as margens direita e esquerda do Rio Doce Este

45

processo configurou a nova paisagem do municiacutepio povoando do vale agraves encostas (Figura

13)

Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes Fonte Albani (2012 p73)

Associado a este processo de reconfiguraccedilatildeo espacial nas proacuteximas deacutecadas o municiacutepio

de Colatina passaraacute por sucessivas perdas de territoacuterios ateacute atingir os limites atuais (Figura

1 p17) Aliado a estas perdas territoriais seu quantitativo absoluto populacional tambeacutem

sofreraacute impactos poreacutem de modo geral a populaccedilatildeo urbana deste municiacutepio apresentou

crescimento continuo (Graacutefico 2)

Graacutefico 2

Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 2010

Elaborado pela autora Fonte 1940 e 1950 Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p82) 1960 a 2010 IBGE

0

20000

40000

60000

80000

100000

120000

1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020

Populaccedilatildeo Urbana Colatina 1940 - 2010

46

Assim como tem ocorrido nas grandes capitais Colatina cresceu em quantitativo

populacional e territorial urbano de modo muito raacutepido e por este desenvolvimento natildeo ter

sido aliado a um planejamento urbano e ambiental sustentaacutevel a cidade tem sentido os

reflexos das suas interferecircncias ao longo do canal do Doce O que tem provocado

antecipaccedilatildeo dos picos de vazatildeo que no periacutemetro urbano ocasiona as inundaccedilotildees pois

natildeo conseguindo o rio acomodar estes defluacutevios transfere em curto espaccedilo de tempo as

aacuteguas a sua planiacutecie de inundaccedilatildeo atingindo os bairros mais antigos do municiacutepio

Por fim entender o contexto histoacuterico do crescimento da cidade revela muito do panorama

atual E por meio de uma anaacutelise conjunta da histoacuteria com os novos planejamentos eacute

possiacutevel propor intervenccedilotildees urbanas que possibilitem um conviacutevio harmonioso entre

natureza e sociedade neste caso entre o Rio Doce e o centro de Colatina Diante desta

proposta adiante apresentaremos a evoluccedilatildeo dos bairros associando seus periacuteodos de

ocupaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo espacial nas imediaccedilotildees do curso principal do Doce

411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade

Com nuacutecleo inicial de povoamento no Barracatildeo de Santa Maria a cidade de Colatina

cresce a partir deste ponto agrave margem direita do Rio Doce de onde surgem as primeiras

residecircncias comeacutercios e a igreja Atualmente a regiatildeo compreende o bairro de Colatina

Velha que de acordo com Albani (2012 p91) [hellip] ldquopode ser considerado o primeiro polo

de crescimento da cidaderdquo

Aliado ao aumento da populaccedilatildeo migrante das fazendas com a crise do cafeacute o nuacutecleo de

Colatina Velha passa a ser um ponto de passagem obrigatoacuterio para os viajantes que

vinham majoritariamente do sul uma vez que o Rio Doce configurava uma barreira natural

agrave ocupaccedilatildeo das terras ao norte Aleacutem disso a margem esquerda deste canal fluvial era

habitat dos hostis iacutendios botocudos o que dificultava a sua apropriaccedilatildeo

Sendo assim a ocupaccedilatildeo de Colatina conteve-se agrave margem direita nesta primeira fase o

que define o primeiro vetor de crescimento da cidade na direccedilatildeo leste para oeste partindo

das imediaccedilotildees do Barracatildeo de Santa Maria sentido ao Rio Santa Maria do Doce (Figura

14) E a partir de 1906 com a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas da entatildeo

Companhia Vale do Rio Doce atual Vale este vetor de crescimento se consolida e

47

proporciona o surgimento de importantes avenidas paralelas agrave ferrovia a exemplo da Av

Getuacutelio Vargas

Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de crescimento Elaborado pela autora

48

O segundo vetor do crescimento de Colatina estava condicionado agrave construccedilatildeo da ponte

Florentino Aacutevidos a qual conectou a margem direita agrave esquerda do Rio Doce permitindo

a ocupaccedilatildeo da porccedilatildeo ao norte Portanto somente a partir de 1928 com a finalizaccedilatildeo da

obra da ponte a barreira natural pocircde ser transposta o que possibilitou ao lado esquerdo

desenvolver uma nova linha de crescimento urbano com a ocupaccedilatildeo do atual bairro de

Satildeo Silvano

O terceiro vetor de crescimento estaacute associado agrave implantaccedilatildeo do bairro Luiz Iglesias na

margem direita e os de Maria das Graccedilas e Coluacutembia na margem esquerda Albani (2012)

ressalta que esta fase da ocupaccedilatildeo urbana estaacute associada ao desenvolvimento do sistema

viaacuterio como a proximidade da BR-259 sentido Vitoacuteria- Colatina da ES-80 que liga

Colatina agrave regiatildeo norte da ES-256 que a conecta a Marilacircndia e da proximidade da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria Carlos Germano Nauman (Figura 15)

Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios e linhas feacuterreas que interceptam a cidade de Colatina Elaborado pela autora

Jaacute na quarta e mais recente linha de crescimento da cidade temos os novos loteamentos

residenciais e industriais a exemplo do de Barbados e do bairro Santa Helena que surgem

49

acompanhando o traccedilado da ponte que contorna a leste a cidade como novo acesso agrave

porccedilatildeo norte do estado Albani (2012 p118) destaca que

Apesar da construccedilatildeo da Segunda Ponte ter sido iniciada em 1986 somente foi inaugurada em 2007 A conclusatildeo da ponte e a construccedilatildeo de uma rodovia de contorno desviaram a BR-259 do centro da cidade O desvio da rodovia federal trouxe um desafogamento do tracircnsito nas principais vias da cidade e um novo direcionamento na expansatildeo urbana Alguns loteamentos surgiram nesse periacuteodo proacuteximo agrave Segunda Ponte e ao contorno na margem norte do rio principalmente no bairro Santa Helena (Figura 55) Essa situaccedilatildeo indica mais uma vez que as linhas de crescimento em Colatina satildeo orientadas pelas vias de transporte

Portanto o crescimento do periacutemetro urbano de Colatina estaacute associado agrave superaccedilatildeo das

barreiras naturais em especial o Rio Doce por meio de investimentos em obras de

engenharia que permitiram o deslocamento humano para a margem esquerda deste curso

Sem duacutevida as vias de transporte foram elementares na construccedilatildeo do periacutemetro urbano

de Colatina pois na medida que se consolidava o sistema viaacuterio as ocupaccedilotildees tambeacutem se

favoreciam destas vias de locomoccedilatildeo A evoluccedilatildeo da aacuterea urbana portanto acompanha

as principais vias de transporte (Figura 15 p45) e estas se utilizam da posiccedilatildeo estrateacutegica

e geograficamente favoraacutevel do canal do Doce para a definiccedilatildeo de seus traccedilados

Apoacutes 94 anos de emancipaccedilatildeo de Linhares o territoacuterio de Colatina eacute fundamental para a

manutenccedilatildeo dos municiacutepios do noroeste capixaba Diante desta posiccedilatildeo estrateacutegica torna-

se relevante o entendimento de como o urbano se relaciona com o meio natural a fim de

se estabelecer poliacuteticas de ordenamento territorial que promovam a qualidade de vida no

municiacutepio Adiante seraacute analisada a situaccedilatildeo da calha principal do Rio Doce elemento

fundamental na compreensatildeo do uso e cobertura da terra de Colatina

42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce

Compreendendo uma aacuterea de 3330 kmsup2 o periacutemetro urbano de Colatina eacute afetado pela

velocidade dos defluacutevios de modo que grande parte dos bairros beira-rio eacute tomada pelas

aacuteguas excedentes da calha principal do Doce o que configura o fenocircmeno de inundaccedilatildeo

Ao pesquisar estes fenocircmenos eacute necessaacuterio relacionar o uso da terra com os processos

geomorfoloacutegicos do corpo hiacutedrico Sendo assim por meio de teacutecnicas de

geoprocessamento foram realizadas oito mediccedilotildees da calha principal do Rio Doce para

50

estabelecimento da distacircncia meacutedia da largura de sua calha O resultado esteve dentro do

esperado e pode ser verificado na tabela abaixo (Tabela 1) e no mapa em sequecircncia

(Figura 16)

Tabela 1 Perfis transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de

vazante (abril) e cheia (janeiro)

Largura do rio Doce periacuteodo de vazante e cheia

Abril2013(m) Janeiro2014(m)

P1 70735 75784

P2 62080 66483

P3 59209 65804

P4 63548 67650

Meacutedia dos Perfis 62814 67066

Meacutedia Geral 66143 Obs todas as medidas estatildeo em metros

Elaborado pela autora

Figura 16 - Traccedilado dos perfis transversais da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de vazante mecircs de abril2013 Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)

51

Com uso das imagens orbitais do Landsat-8 atraveacutes da classificaccedilatildeo hiacutebrida foram

gerados dois arquivos shapefiles correspondentes agraves bordas do Doce um no periacuteodo de

vazante e outro no de cheia Por meio destes dados foram definidos quatro traccedilados para

realizaccedilatildeo das mediccedilotildees a partir destas e com auxiacutelio das medidas de tendecircncia central

chegou-se a uma largura meacutedia total de 66143m de uma margem a outra Este resultado

indicou que tanto no periacuteodo de vazante quanto no periacuteodo de cheia a largura meacutedia

aponta para a maior faixa de APP proteccedilatildeo de 500m conforme previsto na legislaccedilatildeo

federal (Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e no revogado Lei 4771 1965)

Analisando a imagem abaixo (Figura 17) observa-se que grande parte do solo

naturalmente destinado a ldquoacomodaccedilatildeordquo das aacuteguas nas cheias (linha laranja) foi

incorporado agrave sociedade como espaccedilo criado (periacutemetro urbano em APP mancha em

amarelo) destinado a fins muacuteltiplos Deste modo sem planejamento territorial adequado

grande parte da planiacutecie de inundaccedilatildeo deu lugar a outras funccedilotildees diferentes das naturais

sendo incorporada ao espaccedilo urbano

Lanccedilando o buffer (mancha em amarelo) do entorno da calha do Doce (Figura 17) observa-

se que dos 59 bairros do municiacutepio cerca de 29 estatildeo dentro da aacuterea de 500m destinada

a preservaccedilatildeo permanente pelo Coacutedigo Florestal Considerando-se a delimitaccedilatildeo da APP

prevista no PDM de 1996 e 2007 (linha laranja mais proacutexima da borda do rio) este nuacutemero

cai para 18 bairros permanecendo apenas aqueles que possuem limites com o corpo

hiacutedrico

Uma vez que que lei municipal natildeo suplanta lei federal considerar-se-aacute neste estudo o

limite da faixa marginal de proteccedilatildeo definida na Lei Federal 126512012 Deste modo a

aacuterea de preservaccedilatildeo permanente do Doce neste recorte eacute de 1085 kmsup2 compreendendo

33 do periacutemetro urbano de Colatina

Cabe destacar ainda que mesmo o PDM de 1996 contendo enquanto objetivo no Art 14

ldquoI - estabelecer a ordenaccedilatildeo do uso e da ocupaccedilatildeo do solo urbanordquo (Lei 42281996 p4)

a gestatildeo municipal natildeo obteve sucesso na implementaccedilatildeo de tal legislaccedilatildeo O que se

verifica tanto nas deacutecadas de 1990 quanto no iniacutecio dos anos 2000 quando foram

aprovados novos parcelamentos urbanos agraves margens deste canal a exemplo dos bairros

de Barbados na margem direita e do bairro Mario Giurizato na margem esquerda

52

Figura 17- Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)

53

Articulado a esta ideia e pesquisando o trecho do bairro Esplanada a Colatina Velha palco

das uacuteltimas obras estruturantes de alto porte do municiacutepio consegue-se analisar os efeitos

das inundaccedilotildees nas margens deste rio Logo implementar medidas de prevenccedilatildeo de

cheias em aacutereas com urbanizaccedilotildees antigas requer um esforccedilo da gestatildeo na regulaccedilatildeo do

solo urbano

421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie

de Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio

Interceptada pelo curso do Rio Doce no perfil mais a jusante da bacia a cerca de 100km

do estuaacuterio com o Oceano Atlacircntico a cidade de Colatina polo moveleiro e de confecccedilotildees

do centro-oeste capixaba eacute palco recorrente de inundaccedilotildees urbanas

Conforme jaacute mencionado por Cunha (2012a) este fenocircmeno ocorre quando a bacia recebe

um percentual precipitado acima da sua capacidade de escoamento o que faz o leito

menor do rio extravasar para o leito maior ocupando as aacutereas de vaacuterzeas (Figura 18 p

50) Aliadas a esta questatildeo estatildeo as ocupaccedilotildees humanas das margens dos rios que ao

suprimir a vegetaccedilatildeo natural e alterar a condiccedilatildeo fiacutesica do solo acabam por reduzir a aacuterea

de drenagem das aacuteguas pluviais acelerando o escoamento superficial para o canal

principal e favorecendo os defluacutevios

Figura 18 - Representaccedilatildeo da inundaccedilatildeo urbana Fonte adaptado da Defesa Civil do Tocantins (2015)

Este fenocircmeno tem ganhado destaque em Colatina a partir de 1979 ano em que o Rio

Doce atingiu a vazatildeo de 12860msup3s tomando toda aacuterea aplainada que compotildee seu leito

maior afetando da atual Av Beira-Rio ateacute as redondezas da Av Getuacutelio Vargas Desde

entatildeo os estudos das inundaccedilotildees urbanas satildeo relevantes no municiacutepio o que levou o

54

Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) na deacutecada de 1980 a elaborar um ldquoPlano Diretor

de Contenccedilatildeo das Enchentes Proteccedilatildeo das Encostas e Drenagem Pluvial de Colatinardquo

Tal medida apresentou seis alternativas para o fenocircmeno Poreacutem tendo em vista o custo

operacional das obras apenas a alternativa seis que previa a construccedilatildeo de diques

marginais para a proteccedilatildeo das aacutereas mais centrais foi considerada viaacutevel na eacutepoca

Todavia em entrevistas com funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina (PMC) foi

relatado que todo o estudo foi arquivado e que ateacute agora natildeo haacute previsatildeo de

implementaccedilatildeo de tais medidas Fato este que eacute evidenciado (Tabela 2 p 51) quando da

ocorrecircncia de precipitaccedilotildees intensas na bacia durante as quais sazonalmente a cidade eacute

impactada com as aacuteguas das inundaccedilotildees Isto faz com que o municiacutepio passe

recorrentemente por cataacutestrofes conforme tabela com os principais picos de vazatildeo do rio

nos uacuteltimos 50 anos

Tabela 2

Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013

Ano Diamecircs Vazatildeo(msup3s)

1961 30jan 6613

1979 04fev 12860

1997 07jan 8687

2005 03ago 6549

2013 24dez 9028

Fonte Coelho (2007 apud DALLAPICOLA 2014 p4) e CPRM (2014 p85) Observo que os dados da tabela 1 para os anos de 1979 e 2013 estatildeo baseados na estimativa de vazatildeo meacutedia diaacuteria das maacuteximas anuais obtida atraveacutes de extrapolaccedilatildeo da curva-chave pelo grupo interdisciplinar dos relatoacuterios criacuteticos anteriores

As inundaccedilotildees de 1979 1997 e recentemente 2013 (Figura 19) foram as de maior vazatildeo

neste setor do rio e consequentemente as que mais atingiram a aacuterea urbana do municiacutepio

bloqueando os acessos ao centro da cidade e aos equipamentos essenciais como

hospitais escolas e demais oacutergatildeos puacuteblicos aleacutem de desalojarem muniacutecipes e

comprometerem a sauacutede puacuteblica

55

Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de 1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 Fonte1) Nossa Colatina 2) Nossa Linda Colatina 3) Nossa Colatina

Com o propoacutesito de identificar os principais fatores que acentuam as inundaccedilotildees seraacute

analisado como os processos geomorfoloacutegicos do Doce estatildeo sendo afetados pela accedilatildeo

antroacutepica Limitaremos a anaacutelise ao periacutemetro urbano no trecho que compreende do bairro

Esplanada ateacute o bairro Colatina Velha (Figura 20) Neste periacutemetro eacute possiacutevel visualizar a

evoluccedilatildeo da mancha urbana sobre o leito do rio aleacutem de identificar na margem direita os

pontos desnaturalizados deste canal fluvial

56

Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2) Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do recorte em rosa da APP de 50m (amarelo claro) e 500m (amarelo escuro) Fonte 3) Encontra Colatina (2015)

57

O recorte em questatildeo eacute margeado pela Av Beira-Rio e estaacute situado (Figura 20) dentro do

buffer de preservaccedilatildeo permanente previsto no PDM (buffer de 50m) e no Novo Coacutedigo

Florestal (buffer de 500m) Apesar desta aacuterea ser destinada a mata nativa e ou

reflorestada a ocupaccedilatildeo urbana antecede os artigos legais o que dificulta poliacuteticas de

gestatildeo territorial em um periacutemetro ao mesmo tempo histoacuterico e com funccedilatildeo relevante no

equiliacutebrio hidroloacutegico da bacia

O periacutemetro faz parte da vaacuterzea da margem direita do Rio Doce pois encontra-se em cota

topograacutefica de 50m caracterizando sua planiacutecie Logo a aacuterea em questatildeo tem a funccedilatildeo de

acomodar as aacuteguas das cheias quando a calha principal natildeo comporta o escoamento de

grandes vazotildees Esta tarefa passa a ser prejudicada na medida em que na bacia ou no

curso original satildeo implementadas obras que interferem na morfologia do corpo hiacutedrico

principal como a instalaccedilatildeo das hidreleacutetricas de Mascarenhas (1974) e Aimoreacutes (2005) a

montante

As UHErsquos a montante comprometem os processos do rio uma vez que o regime natural de

transporte de sedimentos eacute alterado com o barramento o que favorece a erosatildeo e

consequentemente o assoreamento com a formaccedilatildeo de bancos arenosos alteraccedilatildeo do

seu perfil transversal e reduccedilatildeo da profundidade Aleacutem disso segundo Coelho (2007) as

vazotildees maacuteximas e miacutenimas foram alteradas com a implantaccedilatildeo das hidreleacutetricas a

montante implicando em vazotildees meacutedias anuais miacutenimas cada vez mais reduzidas com

valores se distanciando da linha de tendecircncia (polinocircmio) provando o natildeo equiliacutebrio da

vazatildeo apoacutes a implantaccedilatildeo das barragens (Graacutefico 1 p22)

Entretanto a primeira intervenccedilatildeo direta no trecho em estudo foi a instalaccedilatildeo da estrada

de ferro que atraiu migrantes para Colatina permitindo o crescimento populacional e a

expansatildeo urbana desordenada agraves margens do Doce Este crescimento intensificou a

supressatildeo das matas ciliares e abriu espaccedilo para a impermeabilizaccedilatildeo do solo reduzindo

a infiltraccedilatildeo

Posteriormente a inauguraccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos ampliou o fluxo na regiatildeo pois

proporcionava a ligaccedilatildeo com as terras ao norte do Estado Atuou tambeacutem como obstaacuteculo

ao transporte de sedimentos carreados no fluxo natural do rio uma vez que sua

implantaccedilatildeo altera a topografia do fundo do canal afetando os processos geomorfoloacutegicos

58

Poreacutem foi no Morro das Cabritas (colina localizada no espaccedilo que compreende o atual

bairro Esplanada) que ocorreu a primeira desnaturalizaccedilatildeo nas margens do Doce Este

morro por onde o Rio Santa Maria do Doce meandrava ateacute desaguar no Rio Doce foi

cortado em meados de 1953 para abrigar a cidade em expansatildeo Devido a esta

intervenccedilatildeo o curso original do Santa Maria foi deslocado e passou a escoar

retilineamente ateacute a foz (Figura 21)

Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponte Florentino Aacutevidos (direita) e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque em vermelho para o curso atual do Santa Maria Fonte Nossa Colatina

As intervenccedilotildees na margem direita tornam-se mais intensas a partir da deacutecada de 1960

quando no ano de 1968 edificou-se um muro visando a proteccedilatildeo dos pilares da

extremidade direita da ponte Esta obra ficou paralisada por muitos anos e foi a primeira

de retificaccedilatildeo e aterro realizada neste trecho do rio Esta intervenccedilatildeo modificou o fluxo

natural das correntes do rio e reduziu a largura da sua calha alterando a morfologia do

canal (Figura 22)

59

Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de proteccedilatildeo da ponte Elaborado pela autora Fonte fotos histoacutericas Nossa Colatina

Contudo somente em 1972 teve iniacutecio o segundo aterro (Figura 23) com a finalidade de

alocar a estaccedilatildeo rodoviaacuteria de Colatina e ampliar a aacuterea de acesso agrave ponte Florentino

Aacutevidos A implementaccedilatildeo desta obra suprimiu parte do leito do Rio Doce pois removeu a

saliecircncia cocircncava que curvava o rio retilinizando esta parte do canal

60

Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora Fonte Nossa Colatina Nossa Linda Colatina

Apoacutes dez anos sem grandes intervenccedilotildees em 1982 o lado a montante da ponte bairro

Esplanada eacute acrescido de um aterro que estenderaacute a aacuterea do antigo Morro das Cabritas

para o rio (Figura 24)

Conhecido como Rua da Lama devido agrave umidade que o rio transferia ao aterro formando

um barro viscoso que persistia a maior parte do ano o trecho atualmente compreende a

Avenida Professor Joseacute Zouian popularmente denominada Avenida Beira-Rio de onde

surge a primeira forma do calccediladatildeo que seraacute estendido ateacute o bairro Colatina Velha

61

Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o calccediladatildeo da Av Beira-Rio Elaborado pela autora Fonte Bennachio (2015)

Somente em 2004 foi implementado o maior projeto de canalizaccedilatildeo do municiacutepio Naquele

ano teve iniacutecio a execuccedilatildeo do enrocamento da Av Beira-Rio (Figura 25) obra destinada

inicialmente a alocaccedilatildeo de equipamentos puacuteblicos de lazer e cultura praccedilas preacutedios aleacutem

da promessa de contribuir para a contenccedilatildeo dos transbordamentos do Rio Doce

Apesar de o referido manancial jaacute estar comprometido com problemas de poluiccedilatildeo

assoreamento e erosatildeo aleacutem dos impactos de duas hidreleacutetricas instaladas a montante a

obra abarcou a supressatildeo da vegetaccedilatildeo ciliar e aterro de parte do rio jaacute tatildeo degradado

62

Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento iniciada em 2004 e finalizada em 2008 Elaborado pela autora Fonte proacutepria autora em 240215

Ocupando uma aacuterea total de 130 mil msup2 do leito do Rio Doce o aterro teve iniacutecio em 2004

sendo construiacutedo com cerca de 90 mil msup3 de pedras 50 mil msup3 de areia retirada do leito do

rio e por fim o nivelamento com 200 mil msup3 de terra A obra era divulgada como um antigo

sonho dos colatinenses e serviria para ampliaccedilatildeo da Av Beira-Rio no bairro de Colatina

Velha instalaccedilatildeo de ciclovias calccediladatildeo equipamentos puacuteblicos e estacionamento (Figura

26) Apesar do fim da engenharia em 2008 o projeto ainda estaacute em fase de acabamento

na parte urbaniacutestica e na alocaccedilatildeo dos oacutergatildeos puacuteblicos

Cabe destacar que a obra sofreu embargos do Ministeacuterio Puacuteblico Federal (MPF) por

apresentar apenas cadastro na Agecircncia Nacional de Aacuteguas (ANA) que conforme parecer

da Procuradora Nadja Machado Botelho na Accedilatildeo Civil Puacuteblica ldquo[hellip] equivocadamente natildeo

realizou o procedimento de outorga [hellip]rdquo (MPF 2006 p2) Aleacutem disso a procuradora

solicitou tutela tendo em vista tratar-se de aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental e o fato de o

IBAMA ter concedido licenciamento com indevida dispensa do Estudo de Impacto

Ambiental (EIA)Relatoacuterio de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA)

63

Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina Fonte Prefeitura de Colatina (2015)

Por isso essa obra deve ser considerada faraocircnica para os cofres puacuteblicos e irreversiacutevel

para os processos geomorfoloacutegicos do Doce E sua efetivaccedilatildeo soacute foi possiacutevel com a

participaccedilatildeo e investimentos do Governo estadual Contudo seu objetivo foi frustrado pois

novamente na cheia do Rio Doce em dezembro de 2013 quando este atingiu a vazatildeo de

9028 msup3s a aacuterea foi inundada e por estar em cota maior que as casas que beiravam o

rio o enrocamento atuou como represa natildeo permitindo o retorno das aacuteguas quando o niacutevel

do rio retomou o equiliacutebrio

Por fim segue um mapa siacutentese (Figura 27) com a cartografia das quatro principais

intervenccedilotildees diretas e estruturais na margem direita do Doce no setor urbano de Colatina

representando o curso natural do rio em 1950 e suas desnaturalizaccedilotildees a partir da deacutecada

de 60 ateacute a atualidade

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Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce ante e depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora

65

422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio

O recorte em estudo compreende as Zonas ZE-1 ZE-2 e ZUD 2-1 (Figura 28 p61) sendo

a Zona Especial 1 Zona Especial 2 e Zona de Uso Diverso 2-1 destinadas no PDM (Lei

52732007)

Artigo 103 - As Zonas de Usos Diversos ndash ZUD satildeo definidas em razatildeo da concentraccedilatildeo de atividades urbanas diversificadas com predominacircncia do uso comercial e de serviccedilos Artigo 104 - Satildeo objetivos das Zonas de Usos Diversos I - otimizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do solo priorizando a instalaccedilatildeo de novos empreendimentos em terrenos natildeo edificados contiacuteguos a empreendimentos jaacute instalados II - controle da implantaccedilatildeo de usos incompatiacuteveis com os definidos para estas zonas III - garantia de licenciamento e monitoramento ambiental dos empreendimentos IV - controle da expansatildeo comercial de serviccedilos e de induacutestrias de pequeno porte em direccedilatildeo a aacutereas residenciais [] Artigo 130 - As Zonas Especiais 1 ndash ZE 1 abrangem todas as aacutereas remanescentes do municiacutepio relativamente ao zoneamento estabelecido nesta lei ocupadas ou natildeo contida na lei de periacutemetro urbano para as quais natildeo foram ainda estabelecidos os criteacuterios de uso e ocupaccedilatildeo Artigo 131 - As Zonas Especiais 2 ndash ZE 2 satildeo as aacutereas existentes no prolongamento da avenida Beira Rio mais especificamente no trecho entre o 80 Batalhatildeo da Poliacutecia Militar e a rua Pedro Epichin incluindo o espaccedilo existente entre a margem do Rio Doce e o limite das construccedilotildees localizadas na rua Pedro Epichin

Cabe destacar que mesmo sendo palco das aacutereas mais afetadas com as inundaccedilotildees do

Rio Doce a Beira-Rio tem sido alvo da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria que aproveitando-se dos

iacutendices pouco restritos da ZUD 2 (Figura 28 p62) valoriza o espaccedilo promovendo a

instalaccedilatildeo de grandes estruturas como hipermercados edifiacutecios residenciais modernos e

hotelaria

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Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 Fonte Colatina (2007)

A aacuterea contida na ZE (Figura 28) natildeo possui criteacuterio de ocupaccedilatildeo definido na legislaccedilatildeo

atual sendo adotado o disposto na Lei 41961995 que estabelece os iacutendices urbaniacutesticos

para as aacutereas conquistadas junto ao Rio Doce e na Lei 420595 que aprova os

parcelamentos na Beira-Rio Quanto agrave ZUD 2-1 apresenta iacutendices urbaniacutesticos no anexo

118 do Plano Diretor conforme tabela 3 abaixo

67

Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1

Fonte Colatina (2007 p36)8

68

Eacute relevante observar que numa aacuterea onde o corpo hiacutedrico foi reduzido pelos sucessivos

aterros tenha sido aprovada a instalaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto (Figura

29) com taxa de ocupaccedilatildeo de ateacute 80 e com baixo iacutendice de permeabilidade Ampliou-

se a aacuterea impermeaacutevel numa regiatildeo onde a drenagem jaacute eacute muito comprometida com a

expansatildeo urbana sobre o rio

Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto na Beira-Rio Fonte imagem do Google Maps 2015 E fotos da autora em 140215

Portanto analisando o conjunto de dados apresentado acima eacute possiacutevel entender como

as inundaccedilotildees satildeo potencializadas no municiacutepio atingindo a populaccedilatildeo mas em especial

afetando a dinacircmica de um corpo hiacutedrico tatildeo relevante para o Estado A fim de subsidiar a

gestatildeo puacuteblica com material cartograacutefico para a tomada de decisotildees delimitou-se o

poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo (Figura 30) Pois devem ser adotadas medidas que

minimizem impactos de futuros eventos hidroloacutegicos na bacia capazes de comprometer

novamente a aacuterea urbana mais central de Colatina

69

Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av Beira-Rio em dezembro de 2013 Elaborado pela autora

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Diante do poliacutegono de inundaccedilatildeo da uacuteltima cheia (Figura 30) em dezembro de 2013 eacute

possiacutevel implementar medidas de convivecircncia com as grandes vazotildees a exemplo de

paiacuteses como Holanda que vem investindo em medidas de resiliecircncia a fim de reduzir a

velocidade dos defluacutevios possibilitando ao canal a capacidade de acumular e dispersar as

aacuteguas com impacto miacutenimo para as populaccedilotildees Conforme Carneiro e Miguez (2011) a

estrateacutegia adotada pelo paiacutes eacute reter armazenar e drenar sendo mais flexiacutevel e natildeo

interferindo drasticamente na dinacircmica do corpo hiacutedrico

Por fim a implementaccedilatildeo de soluccedilotildees de planejamento urbano em Colatina requer uma

anaacutelise integrada que abarque o urbano e o ambiental de modo a propor intervenccedilotildees que

produzam impactos reduzidos nos processos geomorfoloacutegicos do Rio Doce Logo a gestatildeo

municipal deve atuar em niacutevel de bacia hidrograacutefica interagindo com os municiacutepios a

montante propondo medidas de minimizaccedilatildeo das cheias urbanas Mas na escala local

pode-se atuar junto aos novos parcelamentos de modo a ampliar o percentual de aacutereas

permeaacuteveis no municiacutepio incentivando por exemplo os novos loteamentos a adotarem

pavimentaccedilotildees que permitam a drenagem natural do solo

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5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Partindo da ideia de que eacute possiacutevel implementar medidas que minimizem o escoamento

superficial satildeo apresentadas propostas como forma de controlar ou ao menos reduzir os

impactos das inundaccedilotildees urbanas

Embora as implementaccedilotildees histoacutericas de estruturas de proteccedilatildeo ou barreiras mais altas

tenham sido muito disseminadas atualmente estatildeo sendo suplantadas pelo gerenciamento

de inundaccedilotildees de maneira mais sustentaacutevel Deste modo as experiecircncias fora do Brasil

apontam para soluccedilotildees mais flexiacuteveis que considerem o fluxo natural do canal enquanto

um ecossistema em equiliacutebrio Para tanto Carneiro e Miguez (2011 p150) destacam a

iniciativa alematilde no controle de inundaccedilotildees em bacias hidrograacuteficas metropolitanas

[hellip] A abordagem comum consiste na regulaccedilatildeo do uso do solo nas aacutereas inundaacuteveis e em ldquodar espaccedilo para o riordquo ao inveacutes de priorizar investimentos em estruturas de proteccedilatildeo contra inundaccedilotildees como a colocaccedilatildeo de diques de contenccedilatildeo as margens dos rios A utilizaccedilatildeo do conceito de resiliecircncia apropriado de ecologia decorre dessa abordagem A aplicaccedilatildeo praacutetica do conceito implica portanto em mudanccedilas de paradigma Deixa de ser preponderante a engenharia construtiva e entra em cena o planejamento de longo prazo voltado para o desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis capazes de conviver com as variaccedilotildees do ciclo hidroloacutegico sem significar necessariamente trageacutedias anunciadas

Aleacutem dessas propostas geoacutegrafos como Sandra Cunha tecircm estudado a recuperaccedilatildeo

natural ou ldquorenaturalizaccedilatildeordquo de corpos fluviais visando promover a estabilidade dos canais

de modo mais sustentaacutevel Para ela

[hellip] Recuperaccedilatildeo de canal significa de forma simples o retorno as condiccedilotildees anteriores aos distuacuterbios Em essecircncia eacute o processo de recuperaccedilatildeo do rio ou do ecossistema fluvial estabilizando o desenvolvimento de habitats e colonizaccedilatildeo a uma taxa mais raacutepida que dos processos naturais fiacutesicos e bioloacutegicos Na recuperaccedilatildeo de canais ocorrem consideraccedilotildees de aspecto hidroloacutegico morfoloacutegico e ecoloacutegico qualidade da aacutegua esteacutetica aleacutem da necessidade de uma visatildeo integradora do projeto sustentaacutevel de recuperaccedilatildeo (CUNHA 2012 p230 a 231)

Satildeo portanto medidas pontuais como o retorno agraves sinuosidades do rio (Figura 31 p 68)

ou a substituiccedilatildeo de estruturas de concreto por superfiacutecies mais permeaacuteveis a exemplo

das trincheiras de infiltraccedilatildeo ou pavrsquos (Figura 32) aacutereas mais vegetadas aleacutem de coleta e

uso de aacutegua da chuva bem como tratamento das aacuteguas superficiais por meio de

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amenidades esteacuteticas como reservatoacuterios de retenccedilatildeo ou detenccedilatildeo que podem ser

associados a ambientes harmocircnicos como lagos artificiais Todas estas accedilotildees possibilitam

a minimizaccedilatildeo das grandes vazotildees no solo urbano pois pretendem atenuar os impactos

das cheias fazendo com que seja resgatada parte da drenagem existente anteriormente agrave

urbanizaccedilatildeo

Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do Rio Aa Munster Alemanha (1998) Fonte Cunha (2012 p233)

Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos Fonte Carneiro e Miguez (2011 p128)

A partir do exposto cabe agrave gestatildeo municipal implementar legislaccedilotildees que priorizem a

permeabilidade possibilitando uma maior infiltraccedilatildeo das aacuteguas das chuvas atraveacutes de

pavimentaccedilotildees menos impermeaacuteveis e da ampliaccedilatildeo de aacutereas vegetadas Satildeo medidas

que tornam a drenagem mais sustentaacutevel aleacutem de possibilitar a manutenccedilatildeo dos serviccedilos

puacuteblicos de forma menos custosa tendo em vista o elevado preccedilo das recomposiccedilotildees

asfaacutelticas

1 2

73

Aleacutem disso quando se fala em controle de cheias urbanas pressupotildee-se uma seacuterie de

medidas para minimizaccedilatildeo de seus impactos desde a operaccedilatildeo de sistemas de alerta

zoneamento de aacutereas inundaacuteveis construccedilatildeo de grandes reservatoacuterios de contenccedilatildeo de

cheias e diques ateacute accedilotildees de educaccedilatildeo ambiental

Cabe pensar tambeacutem na proacutexima revisatildeo do PDM em um plano de macrodrenagem

municipal que reuacutena accedilotildees de caraacuteter estruturantes com obras hidraacuteulicas de infraestrutura

que realizem a conduccedilatildeo final das aacuteguas dos escoamentos superficiais para a minimizaccedilatildeo

das inundaccedilotildees e em medidas natildeo-estruturantes que trabalhem a consciecircncia ambiental

e proponha um zoneamento de cheias a fim de se delimitar os pontos mais fragilizados nos

defluacutevios

Por fim pensar em drenagem num contexto de ocupaccedilatildeo irregular histoacuterico requer

profissionais que aleacutem de possuir afinidade com a temaacutetica tambeacutem possam analisar os

diferentes processos que constituem o espaccedilo geograacutefico Logo este tipo de estudo deve

abarcar uma equipe multidisciplinar que percorra a anaacutelise desde o ambiental estrutural

ateacute o aspecto humano a fim de se produzir resultados que de fato contribuam com o

controle das inundaccedilotildees urbanas

74

6 CONCLUSAtildeO

A partir do recorte espacial foi possiacutevel compreender que a abordagem da geomorfologia

fluvial com a anaacutelise espaccedilo-temporal da ocupaccedilatildeo urbana possibilita a identificaccedilatildeo das

accedilotildees do homem no meio ambiente pois estas resultam na alteraccedilatildeo das paisagens

naturais e na dinacircmica da bacia hidrograacutefica Assim o Rio Doce deve ser estudado de

modo integrado ao crescimento da cidade sobretudo para compreensatildeo da produccedilatildeo do

espaccedilo geograacutefico

Analisar a inundaccedilatildeo urbana em Colatina foi satisfatoacuterio pois o municiacutepio estaacute situado no

perfil meacutedio-baixo da bacia vazante e eacute neste trecho que os reflexos das intervenccedilotildees satildeo

mais acentuados principalmente se esta parte do canal tambeacutem tiver passado por obras

que modificaram seus processos hidroloacutegicos Aleacutem disso a perspectiva geograacutefica aponta

para vaacuterias outras questotildees como erosatildeo fluvial planejamento urbano poluiccedilatildeo ambiental

crise da aacutegua que conduzem a outras discussotildees acerca da relaccedilatildeo homemnatureza

Ao demonstrar a evoluccedilatildeo espaccedilo-temporal do uso e cobertura da terra na margem direita

do Doce associando esta ocupaccedilatildeo agraves obras estruturantes que foram executadas no

canal verificamos que todas as praacuteticas adotadas para conter o transbordamento do rio

acabaram alterando sua morfologia com a retificaccedilatildeo de trechos em meandros reduzindo

a largura do corpo hiacutedrico o que favoreceu a apropriaccedilatildeo urbana de suas vaacuterzeas Aliadas

a estas questotildees estatildeo a falta de planejamento urbano e a omissatildeo diante da supressatildeo

das matas ciliares principalmente se considerados os resultados do relatoacuterio teacutecnico do

IJSN contra enchentes em 1980

Cabe destacar tambeacutem que toda a anaacutelise da ocupaccedilatildeo urbana e desnaturalizaccedilatildeo do

Rio Doce foi melhor identificada a partir dos produtos cartograacuteficos deste trabalho Pois eacute

na espacialidade dos fenocircmenos e no registro de informaccedilotildees ainda natildeo mapeadas como

os aterros que o geoacutegrafo executa a anaacutelise do seu objeto de estudo o homem e a

natureza aqui representado pela sociedade e o canal do Doce

Apesar do municiacutepio apresentar leis que resguardam os leitos dos rios desde o primeiro

PDM em 1996 nada foi feito para conter as ocupaccedilotildees irregulares beira-rio Pelo contraacuterio

estas aacutereas foram incorporadas ao Plano Diretor em 2007 com possibilidades de

ocupaccedilotildees diversas o que tem levado especuladores a valorizar o solo com vista para o

rio apontando suas qualidades esteacuteticas e teacutermicas Este fato vem aumentando o

75

percentual de aacutereas impermeaacuteveis nesta margem comprometendo ainda mais a drenagem

dos defluacutevios

Eacute na Av Beira-Rio que crescem as implantaccedilotildees de grandes empreendimentos comerciais

como supermercado Casagrande Ogil Hotel e obras de construccedilatildeo de novos arranha-

ceacuteus em um periacutemetro que jaacute eacute totalmente comprometido com os extravasamentos do Rio

Doce Estas obras ocupam grandes aacutereas e na maioria das vezes apresentam reduzida

aacuterea permeaacutevel reservando apenas o obrigatoacuterio pela lei cerca de 10 Observa-se

tambeacutem que a implantaccedilatildeo desses projetos estaacute condicionada agrave apresentaccedilatildeo e

aprovaccedilatildeo por comissatildeo na prefeitura do Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV) sendo

difiacutecil conceber que seja concedida tal licenccedila para implementaccedilatildeo de obras num trecho

de risco ambiental

Embora as diretrizes do Estatuto das Cidades para a implementaccedilatildeo do uso da terra

sustentaacutevel e os instrumentos para a regulaccedilatildeo do solo urbano sejam avanccedilados Colatina

eacute mais um exemplo da carecircncia de profissionais capacitados para estudar de modo

integrado e em niacutevel de bacia hidrograacutefica os efeitos da accedilatildeo humana num ambiente tatildeo

peculiar como as margens do Doce Por isso com os objetivos traccedilados nesta pesquisa

podemos aleacutem de compreender o fenocircmeno criar uma metodologia de anaacutelise de aacutereas

inundaacuteveis em ambientes urbanos O que permite agrave gestatildeo municipal uma diretriz para a

tomada de decisotildees

Destaca-se tambeacutem que as legislaccedilotildees aqui referenciadas supriram a discussatildeo acerca do

objeto de estudo mas outras podem contribuir para esta pesquisa a exemplo do Coacutedigo

das Aacuteguas da Poliacutetica Nacional dos Recursos Hiacutedricos das Resoluccedilotildees do Conama do

Estatuto das Cidades entre outros

Sendo assim numa revisatildeo do PDM deve-se pensar nestes aspectos da cidade desde o

histoacuterico de ocupaccedilatildeo das margens ateacute os impactos das inundaccedilotildees e o presente trabalho

auxilia com uma nova abordagem na reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo fornecendo material

cartograacutefico para subsidiar propostas de proteccedilatildeo ao curso do Doce e consequentemente

da populaccedilatildeo

Por fim deve-se destacar que o recorte estaacute inserido num contexto maior de uma bacia

hidrograacutefica que se estende aleacutem dos limites de Colatina ou do estado do Espiacuterito Santo

Esta bacia compreende a Regiatildeo Hidrograacutefica do Atlacircntico Leste e estaacute alocada tambeacutem

76

no estado de Minas Gerais o que portanto torna as accedilotildees de controle das inundaccedilotildees

mais complexas tendo em vista as divergentes politicas territoriais

77

7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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79

ENCONTRA COLATINA Foto aeacuterea de Colatina do Bairro Esplanada sentido a foz do rio Doce 2015 Disponiacutevel em lt httpwwwencontracolatinacombrsobre-colatinagt Acesso em 17 de fevereiro de 2015 FITZ P R Geoprocessamento sem Complicaccedilatildeo Satildeo Paulo Ed Oficina de Textos 2008a ______ Cartografia Baacutesica (nova ediccedilatildeo) Satildeo Paulo Ed Oficina de Textos 2008b FOLHA VITORIA Preacutedio e quatro casas desabam em Colatina Noroeste do Estado Vitoria 24 de dezembro de 2013 lt httpwwwfolhavitoriacombrgeralnoticia201312predio-e-quatro-casas-desabam-em-colatina-noroeste-do-estadohtml gt - Acesso em 25 de Maio de 2014 GAZETA G1 Espirito Santo imagens da enchente de Colatina em dezembro de 2013 Disponiacutevel em lthttpg1globocomespirito-santonoticia201312sobe-para-40-mil-o-numero-pessoas-fora-de-casa-no-es-diz-defesa-civilhtmlgt Acesso em 16 de fevereiro de 2015 GORSKI MCB Rios e cidades ruptura e reconciliaccedilatildeo 1ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Senac Satildeo Paulo 2010 GRAEFF OR Licenciamento Ambiental Urbano In GUERRA (org) Geomorfologia Urbana 1ordf Ediccedilatildeo Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2011 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Cidades Disponiacutevel em lthttpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=320150ampsearch=||infograacuteficos-informaccedilotildees-completasgt Acesso em 25 de Maio de 2014 Instituto Capixaba de Pesquisa Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural - INCAPER Relatoacuterio do Programa De Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural (PROATER 2011) Disponiacutevel em ltwwwincaperesgovbrproatermunicipiosNoroesteColatinapdfgt Acesso em 24 de Maio de 2014 Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hiacutedricos ndash IEMA Ortofotos Espirito Santo do vocirco de 2007 a 2008 Disponiacutevel em lt http18984218229aplicmapgeralhtm5fc6ad50c096dbb2c3dc4bf3e379ae63 gt Acesso em 18 de fevereiro de 2015 Instituto Jones dos Santos Neves ndash IJSN Plano Diretor de Contenccedilatildeo as Enchentes Proteccedilatildeo as Encostas e Drenagem Pluvial de Colatina de abril de 1982 Disponiacutevel em lthttpwwwijsnesgovbrConteudoDigital20120801_ij00163_planodiretor_custo_mapa_v4pdf gt Acesso em 26 de janeiro de 2015 ______ Planos de Informaccedilatildeo formato shapefile 2015 Disponiacutevel em lthttpwwwijsnesgovbrSitioindexphpoption=com_contentampview=articleampid=3780ampItemid=330 gt Acesso em 26 de janeiro de 2015 JAILSON MONTEIRO Imagens da inundaccedilatildeo da Av Beira Rio de Colatina em dezembro de 2013 Disponiacutevel em httptecmixinforblogspotcombr201312enchente-colatinahtmlgt Acesso em 17 de Fevereiro de 2015

80

JENSEN J R Sensoriamento Remoto do Ambiente uma perspectiva em recursos terrestres Satildeo Joseacute dos Campos SP Parecircntese 2009 MINISTERIO PUBLICO FEDERAL - MPF Accedilatildeo Civil Puacuteblica com pedido de Antecipaccedilatildeo de Tutela - da obra de Enrocamento da Av Beira Rio em ColatinaES2006 Disponiacutevel emlt wwwpresmpfmpbracp_riodoce_colatinadocgt Acesso em 14 de marccedilo de 2015 NOSSA COLATINA Fatos Histoacutericos Culturais Curiosidades Informaccedilatildeo Variedades Disponiacutevel em lt httpswwwfacebookcomnossacolatinagt Acesso em 29 de Janeiro de 2015 NOSSA LINDA COLATINA Fotos histoacutericas do centro de Colatina Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomNossaLindaColatinaphotosgt Acesso em 29 de Janeiro de 2015 Serviccedilo Geoloacutegico do Brasil ndash CPRM Relatoacuterio Teacutecnico do Periacuteodo Criacutetico de Dezembro de 2013 (CPRM 2014) Disponiacutevel emlthttpwwwcprmgovbrpubliquemediarelatorio_eventos_criticos_190314pdfgt Acesso em 16 de Setembro de 2014 Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espiacuterito Santo - GEOBASES Downloads de planos de informaccedilatildeo do estado municiacutepio bairros corpo drsquoagua entre outros Disponiacutevel em httpwwwgeobasesesgovbr Acesso em 07 de Setembro de 2014 SITE BARRA Colatina debaixo drsquoaacutegua na maior enchente da histoacuteria do municiacutepio Colatina 24 de dezembro de 2013 lt httpwwwsitebarracombr201312colatina-debaixo-dagua-na-maior-enchente-da-historia-do-municipiohtml gt - Acesso em 25 de Maio de 2014 TUCCI CEM Prefacio In GUERRA e CUNHA (orgs) Impactos Ambientais Urbanos no Brasil 10ordf Ediccedilatildeo Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2013 UOL NOTiacuteCIAS Chuvas causam estragos em mais de dois terccedilos dos municiacutepios do Espiacuterito Santo Vitoacuteria 26 de dezembro de 2013 lt httpnoticiasuolcombralbum20131223chuvas-causam-estragos-em-metade-dos-municipios-do-espirito-santohtmfotoNav=62 gt ndash Acesso em 31 de Maio de 2014 USGS - Geological Survey Serviccedilo Geoloacutegico Americano Aquisiccedilatildeo de imagens orbita digitais gratuitas do sateacutelite LandSat-8 datas de passagem 02012014 e 22032014 EUA Disponiacutevel em lthttpearthexplorerusgsgovgt Acesso em 05 de setembro de 2014

Page 7: DESNATURALIZAÇÃO DO RIO DOCE: UMA ABORDAGEM … · Ao engenheiro Francisco Hermes, pela experiência e conhecimentos partilhados da área de estudo. Aos meus amigos Mônica Regina,

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e Rio Doce 18

Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 19

Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de

2013 19

Figura 4 - Tipos de leito fluvialvarzea 21

Figura 5 - Padrotildees dos canais 21

Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento 32

Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia 33

Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC) 37

Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906

Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce 41

Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da

regiatildeo 42

Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce 43

Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio

Doce 43

Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes 45

Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de

crescimento 47

Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios que interceptam a cidade de Colatina

48

Figura 16 - Traccedilado das mensuraccedilotildees da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de

vazante mecircs de abril2013 50

Figura 17 - Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro

urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal 51

Figura 18 - Representaccedilatildeo de inundaccedilatildeo urbana 53

Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de

1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 55

Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2)

Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do

recorte em rosa da APP de 50 m (amarelo claro) e 500 m (amarelo escuro) 56

Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponrte Florentino Aacutevidos (direita)

e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa

Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque

em vermelho para o curso atual do Santa Maria 58

Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de

proteccedilatildeo agrave ponte 59

Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o

traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas 60

Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o

calccediladatildeo da Av Beira-Rio61

Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento

iniciada em 2004 e finalizada em 2008 62

Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina 63

Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce antes e

depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas 64

Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 66

Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto da Beira-Rio 68

Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da

inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av

Beira-Rio em dezembro de 2013 69

Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do rio Aar Munster Alemanha (1998) 72

Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos 72

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Perfis Transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de vazante (abril) e cheia (janeiro) 50

Tabela 2 Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013 54

Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1 67

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 - Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais

(Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia) 25

Graacutefico 2 - Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 201045

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANA - Agecircncia Nacional de Aacuteguas

APP - Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente

CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais Serviccedilo Geoloacutegico Brasileiro

GEOBASES - Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espiacuterito Santo

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IJSN - Instituto Jones dos Santos Neves

INCAPER - Instituto Capixaba de Pesquisa Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural

PDM - Plano Diretor Municipal

PMC - Prefeitura Municipal de Colatina

PROATER - Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural

SIG - Sistema de Informaccedilotildees Geograacuteficas

UHE ndash Usina Hidreleacutetrica

UTM - Universal Tranverse Mercator

USGS - Geological Survey Serviccedilo Geoloacutegico Americano

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14

11 Objetivo 16

111 Objetivo Geral 16

112 Objetivos Especiacuteficos 16

12 Justificativa 17

2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS 20

21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano 20

211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial 23

22 Aspectos Juriacutedicos 27

23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos 31

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS 36

4 RESULTADOS 40

41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana 40

411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade 46

42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce 49

421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie de

Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio 53

422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio 65

5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 71

6 CONCLUSAtildeO 74

7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 77

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

A partir da deacutecada de 1930 com a transiccedilatildeo econocircmica de um eixo agraacuterio-exportador

para um polo urbano-industrial (CARNEIRO 2008) verificou-se no Brasil a migraccedilatildeo da

maior parte da populaccedilatildeo para as cidades Isso acarretou segundo Tucci (2013 p17) uma

ldquo[] concentraccedilatildeo urbana no Brasil da ordem de 80 da populaccedilatildeo e o seu

desenvolvimento tem sido realizado de forma pouco planejada com grandes conflitos

institucionais e tecnoloacutegicos []rdquo

De acordo com Canholi (2005 p15) a expansatildeo da aacuterea urbana ldquo[] consequentemente

impermeabilizada ocorreu a partir das zonas mais baixas proacuteximas agraves vaacuterzeas dos rios

ou agrave beira-mar em direccedilatildeo agraves colinas e morros em face da necessaacuteria interaccedilatildeo da

populaccedilatildeo com os corpos hiacutedricos []rdquo Neste cenaacuterio surgem as ocupaccedilotildees irregulares

nas Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) como as da planiacutecie de inundaccedilatildeo dos rios

e os topos de morros

Essas ocupaccedilotildees desordenadas satildeo proporcionadas pela precariedade da implantaccedilatildeo e

fiscalizaccedilatildeo das legislaccedilotildees urbaniacutesticas de ordenamento territorial e ambiental Neste

contexto satildeo relevantes as pesquisas que visam correlacionar o viacutenculo

sociedadenatureza de modo a entender como a ocupaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo no

solo conecta-se com a hidrodinacircmica dos recursos naturais uma vez que ldquo[] a tendecircncia

atual do limitado planejamento urbano integrado estaacute levando as cidades a um caos

ambiental urbano com custo extremamente alto para a sociedaderdquo (TUCCI 2013 p17)

Deve-se partir do pressuposto teoacuterico articulado com a ideia anterior de ldquo[]

indissociabilidade entre natureza e sociedade []rdquo (COELHO 2013 p21) em que a

sociedade natildeo pode ser apenas entendida como populaccedilatildeo e a natureza enquanto mero

ambiente fiacutesico mas que estes dois fatores estatildeo dinamicamente produzindo o espaccedilo

geograacutefico

Neste contexto a problemaacutetica se afirma no intuito de relacionar as legislaccedilotildees urbanas

(Lei de Parcelamento do Solo 676679 e PDM) e ambientais (Novo Coacutedigo Florestal 2012)

com as suas aplicaccedilotildees ou natildeo no periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina

principalmente nos bairros que se situam na planiacutecie de inundaccedilatildeo do Rio Doce

A escolha da temaacutetica tambeacutem teve como premissa a importacircncia regional de Colatina

como entreposto comercial e logiacutestico para os municiacutepios do noroeste capixaba conforme

15

relato do Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural - PROATER (INCAPER

2011)

Exportadores de cafeacute atacadistas e as lojas de pronta entrega dinamizam o comeacutercio local que atende aos municiacutepios do norte capixaba leste de Minas Gerais e sul da Bahia representando um universo de mais de 700 mil consumidores (INCAPER 2011 p5)

De acordo ainda com o INCAPER (op cit) Colatina tem crescido a uma margem de 188

anual o que representa a tendecircncia ao ecircxodo rural sendo que a populaccedilatildeo do campo vem

diminuindo de aproximadamente 19 em 1990 passou a 12 no Censo de 2010 Diante

do exposto entra em discussatildeo o planejamento urbano pois com o crescimento da

populaccedilatildeo citadina para cerca de 88 aumentam tambeacutem as pressotildees sobre o meio

ambiente em especial as regiotildees ribeirinhas

Estas uacuteltimas refletem o aumento das atividades humanas na bacia hidrograacutefica onde

pode-se destacar as mudanccedilas induzidas pelas accedilotildees antropogecircnicas que se dividem em

diretas (aquelas que atuam no canal fluvial para controle das vazotildees a exemplo dos

reservatoacuterios e desvios de aacuteguas) e indiretas relacionadas agraves aacutereas fora dos canais por

exemplo o desmatamento e urbanizaccedilatildeo sendo que estas comprometem a descarga e

carga soacutelida do rio (PARK1981 KNIGHTON1984 apud CUNHA 2001)

O interesse pela pesquisa surge da importacircncia regional do municiacutepio dos impactos

histoacutericos humanos materiais e imateriais sofridos diante de eventos hidroloacutegicos

extremos tendo em vista o fato de o periacutemetro urbano ser cortado por um corpo fluvial de

importacircncia regional Aleacutem disso a abordagem geograacutefica possibilita a correlaccedilatildeo dos

processos fluviais com a ocupaccedilatildeo urbana de modo mais integrado (COELHO 2009)

Portanto uma das finalidades deste trabalho eacute analisar por meio das geotecnologias e das

investigaccedilotildees de campo como a ocupaccedilatildeo urbana tem interferido nas margens do Rio

Doce de modo a delimitar os sucessivos aterros na margem direita no periacutemetro do bairro

Esplanada a Colatina Velha Ademais identificar como os processos deste canal fluvial

tecircm sido afetados pela intervenccedilatildeo humana em seu leito principal

16

11 Objetivo

111 Objetivo Geral

Correlacionar os processos fluviais do Rio Doce por meio da dinacircmica geomorfoloacutegica

deste canal com o uso e cobertura da terra no setor urbano do municiacutepio de Colatina

Espiacuterito Santo Contrapondo assim as intervenccedilotildees urbanas da beira-rio com o Plano

Diretor Municipal e o Novo Coacutedigo Florestal enfatizando as diretrizes adotadas no

parcelamento do solo para a planiacutecie de inundaccedilatildeo deste rio

112 Objetivos Especiacuteficos

Identificar os vetores de crescimento urbano do municiacutepio a fim de avaliar a

evoluccedilatildeo da mancha urbana junto ao canal principal

Determinar o comprimento da borda da calha do leito regular do Rio Doce no

periacutemetro urbano de Colatina para definiccedilatildeo da largura miacutenima da faixa marginal

de preservaccedilatildeo

Espacializar as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente beira-rio previstas em lei a fim

de analisar a ocupaccedilatildeo urbana nestes espaccedilos

Cartografar os principais pontos desnaturalizados no canal principal do Rio Doce

no setor urbano de Colatina

Demonstrar como o emprego das geotecnologias auxilia no planejamento urbano

e ambiental especialmente em acircmbito municipal

17

12 Justificativa

A aacuterea de estudo corresponde ao periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina situado na

Bacia Atlacircntico trecho leste sub-bacia do Rio Doce no baixo curso (ANA 2001)

Compreende a regiatildeo noroeste do estado do Espiacuterito Santo latitude 19deg 32rsquo 16rsquorsquo S e

longitude 40deg 37rsquo 59rsquorsquo W De acordo com os dados do censo de 2010 do Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio possuiacutea uma populaccedilatildeo de 111788 mil

habitantes1 numa aacuterea territorial de 1416804 kmsup2

Devido a sua privilegiada posiccedilatildeo geograacutefica limiacutetrofe com o Rio Doce e a construccedilatildeo da

Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas em 1906 Colatina compreendia os territoacuterios dos atuais

municiacutepios de Baixo Guandu Linhares Pancas Satildeo Gabriel da Palha Marilacircndia Satildeo

Domingos do Norte e Governador Lindenberg (INCAPER 2011) Soacute a partir de 2001

passou a apresentar os atuais limites municipais e configurar uma aacuterea urbana com 59

bairros (Figura 1)

Colatina eacute um municiacutepio de importacircncia para regiatildeo noroeste capixaba seja em caraacuteter

econocircmico ou social Eacute responsaacutevel pelos fluxos de cargas da regiatildeo aleacutem de ser um polo

moveleiro de confecccedilatildeo metalmecacircnico e de comeacutercio e serviccedilos gerando emprego e

renda (INCAPER 2011) Aleacutem disso tem sofrido historicamente com as cheias do Rio

Doce principalmente porque parte do seu periacutemetro urbano eacute inundado com as aacuteguas da

calha principal desse rio o que compromete toda a dinacircmica local e potildee em risco os

colatinenses

Assim diante das crescentes demandas por territoacuterio no periacutemetro urbano a populaccedilatildeo

tem suprimido a cobertura vegetal e ocupado desde as margens do Rio Doce ateacute as

encostas dos morros Em periacuteodos de cheias principalmente nos meses de outubro a

marccedilo (INCAPER 2011 ANA 2001) verificam-se inundaccedilotildees de grande parte da aacuterea

urbana beira-rio aleacutem dos movimentos de massa nas encostas Como exemplo destes

acontecimentos tecircm-se os registros fotograacuteficos dos efeitos da chuva de dezembro de 2013

(Figuras 2 e 3)

1 De acordo com o a estimativa do IBGE de 2014 publicada no DOU o municiacutepio conta com uma populaccedilatildeo de 121670 habitantes

18

Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e o canal do Rio Doce Elaborado pela autora

19

Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 Fonte Noticias UOL (2013)

Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de 2013 Fonte Folha Vitoacuteria (2013)

Este estudo portanto eacute relevante tendo em vista as raras abordagens no acircmbito das

Ciecircncias Geograacuteficas especialmente no Espiacuterito Santo de pesquisas que correlacionem

aspectos da geomorfologia fluvial por meio da dinacircmica dos recursos hiacutedricos com o uso

e cobertura da terra particularmente o Plano Diretor Municipal (PDM) Discute dessa

forma as implicaccedilotildees da atuaccedilatildeo humana nas particularidades deste ecossistema natural

tendo em vista o disposto nas legislaccedilotildees urbaniacutesticas e ambientais que visam assegurar

a qualidade de vida das populaccedilotildees

Adiante seratildeo analisados os principais fundamentos da geomorfologia fluvial os aspectos

juriacutedicos e o papel da anaacutelise geograacutefica integrada para o entendimento dos fenocircmenos

das inundaccedilotildees no Centro de Colatina uma vez que eacute devido agraves intervenccedilotildees humanas

nos canais e suas margens que esses fenocircmenos tornam-se mais nocivos a cidade

20

2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS

21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano

Recurso essencial para a manutenccedilatildeo da vida a aacutegua foi um fator relevante para o

estabelecimento histoacuterico das sociedades no entorno dos cursos hiacutedricos Utilizados para

fins de abastecimento humano e animal irrigaccedilatildeo saneamento e transporte os rios

constituiacuteram-se nos principais propulsores de penetraccedilatildeo para o interior (CUNHA 2012a)

Logo em suas margens surgiram povoados que posteriormente transformaram-se em

cidades como as que se estabeleceram agraves margens do Rio Doce a exemplo da sede de

Colatina

Diante das potencialidades que os recursos hiacutedricos possibilitam agraves sociedades

destacamos a importacircncia do estudo da Geomorfologia Fluvial que se apresenta como

campo da Geomorfologia (ciecircncia que estuda as formas do relevo) sendo o interesse

daquela a pesquisa dos processos que relacionam o escoamento das aacuteguas fluviais num

contexto de bacia hidrograacutefica (CHRISTOFOLETTI 1980 CUNHA op cit) Enfoca assim

as alteraccedilotildees na fisionomia dos canais frente agraves intervenccedilotildees no ecossistema natural

beira-rio

A Geomorfologia Fluvial parte da condicionante de que o uso e ocupaccedilatildeo da terra refletem-

se na dinacircmica da bacia de drenagem interferindo nos processos morfogeneacuteticos ou seja

de modelagem do relevo fluvial escoamento superficial das aacuteguas e no ciclo hidroloacutegico

Frente agrave temaacutetica deste estudo faz-se necessaacuterio o entendimento dos conceitos da

fisiografia fluvial aqui referente aos diferentes setores que a aacutegua pode escoar num leito

(Figura 4) como

O leito menor corresponde agrave parte do canal ocupada pelas aacuteguas e cuja frequecircncia impede o crescimento da vegetaccedilatildeo Esse tipo de leito eacute delimitado por partes bem definidas O leito de vazante equivale agrave parte do canal ocupada durante o escoamento das aacuteguas de vazante Suas aacuteguas divagam dentro do leito menor seguindo o talvegue linha de maacutexima profundidade ao longo do leito e que eacute mais bem identificada na seccedilatildeo transversal do canal O leito maior tambeacutem denominado leito maior perioacutedico ou sazonal eacute ocupado pelas aacuteguas do rio regularmente e pelo menos uma vez ao ano durante as cheias Dependendo do tempo ocorrido entre as subidas das aacuteguas eacute possiacutevel haver a fixaccedilatildeo e o crescimento da vegetaccedilatildeo herbaacutecea

21

O leito maior excepcional eacute ocupado durante as grandes cheias no decorrer das enchentes (CUNHA 2001 p 213)

Figura 4 - Tipos de leito fluvial vaacuterzea Fonte Cunha (2001 p213)

Sendo assim as aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial (leitos) aquelas inundadas pelo corpo

hiacutedrico frente a um evento hidroloacutegico extremo tambeacutem satildeo conhecidas como vaacuterzeas

planiacutecie de inundaccedilatildeo ou ainda segundo Carneiro e Miguez (2011 p133) como ldquo[] zona

de passagem de cheia []rdquo Essas aacutereas de vaacuterzeas dependem da fisionomia que o rio

apresenta e segundo Cunha (op cit) o canal fluvial pode apresentar trecircs formas

principais conhecidas como padratildeo dos canais que satildeo retiliacuteneo anastomosado e

meacircndrico (Figura 5)

Figura 5 - Padrotildees dos canais (A) retiliacuteneo (B) anastomosado (C) meandrante (A) amplitude (Rc) raio meacutedio da curvatura do meandro (segundo Bigarella etal 1979) Fonte Cunha (2001 p216)

22

Aliada aos padrotildees dos canais estaacute a assimetria ou simetria dos leitos que para Cunha

(2001 p233) relaciona-se com a variaccedilatildeo da velocidade e turbulecircncia ao longo da secccedilatildeo

transversal o que diferencia o comportamento nos canais retiliacuteneos geralmente simeacutetricos

do canal meacircndrico onde

Em canais de leito simeacutetrico em geral padratildeo retiliacuteneo a velocidade maacutexima ocorre no centro do canal diminuindo em direccedilatildeo agraves margens Em leito assimeacutetrico de padratildeo meacircndrico a zona de maacutexima velocidade e turbulecircncia localiza-se nas proximidades das margens cocircncavas decrescendo de valor em direccedilatildeo agrave margem de menor profundidade

(convexa) (CUNHA opcit p 233)

Deste modo a capacidade de erosatildeo das margens transporte e deposiccedilatildeo da carga do rio

dependem entre outros fatores da velocidade das correntes fluviais E o material do fluxo

fluvial constitui-se da descarga liacutequida ou vazatildeo que estaacute relacionada ao tamanho do

material que pode ser transportado e do volume da carga que o rio eacute capaz de carregar

Tem-se ainda a carga soacutelida sedimentos que estaacute relacionada a suspensatildeo e fundo do

rio esta decresce a jusante indicando a diminuiccedilatildeo da competecircncia do corpo fluvial As

cargas de suspensatildeo satildeo constituiacutedas de partiacuteculas finas a exemplo do silte e por fim a

carga de fundo que eacute composta por partiacuteculas de tamanhos maiores a exemplo da areia

(CUNHA2001)

Christofoletti (1980) acrescenta que os sedimentos podem ser carregados de trecircs modos

principais no fluxo em soluccedilatildeo dissolvidos nos cursos hiacutedricos em suspensatildeo como o

silte e argila e em saltaccedilatildeo geralmente a areia e cascalho que compreendem a carga do

leito do rio Destaca-se que a carga detriacutetica natildeo proveacutem apenas da erosatildeo do fundo dos

leitos e margens fluviais mas que o material intemperizado de vertentes carreado nas

enchentes contribui significativamente para a carga sedimentar transportada

Cabe ressaltar ainda que a relaccedilatildeo do arranjo espacial dos canais com os processos

fluviais (a erosatildeo o transporte e a deposiccedilatildeo de sedimentos) eacute determinante para o

trabalho dos rios Tais processos satildeo diretamente influenciados pela vazatildeo velocidade e

pela intensidade da turbulecircncia (seja no fluxo laminar ou no fluxo turbulento) A

variabilidade no comportamento da velocidade e turbulecircncia das aacuteguas ao longo da seccedilatildeo

transversal condiciona os locais preferenciais de erosatildeo e deposiccedilatildeo ao longo do curso

hiacutedrico

23

Deste modo qualquer intervenccedilatildeo na bacia e canal fluvial compromete o equiliacutebrio natural

da drenagem levando o corpo hiacutedrico a se adaptar agraves mudanccedilas em sua fisionomia

fisiografia e em seus processos ateacute atingir um novo estado de equiliacutebrio Poreacutem eacute na

planiacutecie de inundaccedilatildeo que estas modificaccedilotildees seratildeo mais percebidas pela populaccedilatildeo pois

a maior parte das obras de engenharia como as canalizaccedilotildees e as ocupaccedilotildees das

margens acaba por romper com o equiliacutebrio natural do rio alterando sua dinacircmica e

intensificando seus processos o que na maioria das vezes potencializa as enchentes no

ambiente urbano

Nesse sentido o entendimento dos processos fluviais (erosatildeo transporte e deposiccedilatildeo)

combinado com a anaacutelise da fisiografia fluvial condicionam as peculiaridades na geometria

hidraacuteulica ou seja na relaccedilatildeo entre a vazatildeo velocidade de escoamento tipos de canais

de sedimentos e a topografia Logo o conhecimento geomorfoloacutegico do rio contribui para

pesquisas que necessitem relacionar o funcionamento deste corpo natural com um

planejamento urbano mais efetivo principalmente se considerarmos um recorte em niacutevel

de bacia hidrograacutefica em espaccedilo urbano

211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial

O capiacutetulo que segue versa sobre a atuaccedilatildeo antroacutepica relacionando-a a aacuterea de estudo o

rio Doce poreacutem este trata de forma macro a temaacutetica para contextualizar o leitor sendo

as especificidades das intervenccedilotildees neste recorte geograacutefico trabalhados nos resultados

desta pesquisa

Diante do exposto eacute possiacutevel acompanhar a evoluccedilatildeo dos processos fluviais nos canais

em especial aqueles que tiveram intervenccedilotildees em seu curso natural como as hidreleacutetricas

instaladas a montante a exemplo do Rio Doce onde a interferecircncia direta na vazatildeo e fluxo

de sedimentos altera a hidrodinacircmica do rio comprometendo a erosatildeo e transporte Para

Coelho (2007 p57) as

Mudanccedilas na Declividade Perfil Longitudinal Promovidas pela construccedilatildeo de reservatoacuterio satildeo variadas e caso o efeito da contenccedilatildeo de sedimentos seja significativo os processos fluviais reduziratildeo a capacidade de transporte de sedimento podendo promover um entalhamento do leito do rio imediatamente agrave jusante da barragem

Aleacutem disso esse processo erosivo poacutes-barragem eacute intensificado favorecendo o

assoreamento e sedimentaccedilatildeo do rio a jusante O que pode beneficiar a elevaccedilatildeo da cota

24

do canal fluvial frente a eventos hidroloacutegicos extremos potencializando os efeitos das

inundaccedilotildees nas vaacuterzeas

Ao mesmo tempo o Rio Doce trecho que compreende o Espiacuterito Santo meacutediobaixo curso

eacute impactado nas vazotildees miacutenimas e maacuteximas a jusante apoacutes a instalaccedilatildeo das

barragensUsinas Hidreleacutetricas (UHE) de Mascarenhas (iniacutecio de operaccedilatildeo em 1974)

localizada no Municiacutepio de Baixo Guandu e a de Aimoreacutes (iniacutecio de operaccedilatildeo em 2005)

localizada na divisa do Espiacuterito Santo com Minas Gerais (COELHO 2007)

De acordo com Coelho (opcit) apoacutes a implantaccedilatildeo das usinas ocorreu uma reduccedilatildeo

significativa na vazatildeo da calha principal do Rio Doce conforme Graacutefico 1

Considerando o periacuteodo de 1939 a 2012 a vazatildeo miacutenima apoacutes a instalaccedilatildeo das usinas

chega a atingir 411msup3s e a maacutexima chega apenas a 1251msup3s sendo que no periacuteodo

anterior agrave instalaccedilatildeo das usinas foi registrada a miacutenima de 533 msup3s e uma maacutexima de

1812 msup3s o que ressalta o impacto do barramento sobre o corpo hiacutedrico Aleacutem do

comprometimento dos processos de erosatildeo transporte e sedimentaccedilatildeo (COELHO 2008

e CUNHA 2001)

Diante desta perda de carga liacutequida nos barramentos Cunha (2001 p 241) observa ainda

que as aacutereas a jusante de reservatoacuterios

[hellip] onde o regime do rio sofre significativas modificaccedilotildees devidas ao controle das descargas liquidas e de sedimentos no reservatoacuterio As mudanccedilas ocorridas no regime das aacuteguas neste setor do rio acarretam significativos efeitos nos processos do canal tais como o entalhe do leito a erosatildeo das margens e a deposiccedilatildeo a jusante atingindo longas distacircncias

Aleacutem disso no periacutemetro urbano de Colatina o Rio Doce sofreu outras intervenccedilotildees em

seu canal principal como a implantaccedilatildeo de obras estruturais de macrodrenagem a

exemplo da construccedilatildeo da Av Beira-Rio com intuito de conter o avanccedilo das aacuteguas fluviais

em periacuteodos de cheias

25

Graacutefico 1

Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais (Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia)

Fonte adaptado de Coelho (2007 p154)

26

Como exemplo dos tipos de intervenccedilotildees humanas nas aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial

leitos Carneiro e Miguez (2011 p117) destacam

As accedilotildees de controle e cheias urbanas podem ser classificadas em estruturais quando a paisagem eacute alterada pela accedilatildeo do homem e em natildeo estruturais aqui denominada como estruturante quando o homem aprende a conviver com as enchentes No primeiro caso estatildeo as medidas de controle atraveacutes de obras hidraacuteulicas tais como barragens diques e canais entre outras No segundo caso encontram-se medidas do tipo preventivo tais como zoneamento de aacutereas de inundaccedilatildeo sistemas de alerta educaccedilatildeo ambiental lei de parcelamento e uso dos solos e seguros contra inundaccedilatildeo

Neste cenaacuterio abarcamos os impactos das obras de engenharia como a canalizaccedilatildeo que

altera a fisionomia e fisiografia do rio refletindo-se nos processos geomorfoloacutegicos do canal

e sua planiacutecie de inundaccedilatildeo Para estes a canalizaccedilatildeo eacute uma obra estrutural que aumenta

a capacidade do fluxo do canal aleacutem de intensificar a velocidade do escoamento

superficial antecipando o pico de cheia e transferindo os alagamentos para locais a jusante

na bacia hidrograacutefica

Articulado a esta ideia Cunha (2012b) reflete a desnaturalizaccedilatildeo dos rios por meio de

obras de retificaccedilatildeo com a reduccedilatildeo do comprimento do canal e eliminaccedilatildeo das

sinuosidades Satildeo obras que afetam a estabilidade do corpo hiacutedrico na medida em que

interferem na relaccedilatildeo entre erosatildeo sedimentaccedilatildeo e deposiccedilatildeo provocando efeitos como

alteraccedilatildeo na morfologia do canal Sendo assim ldquo[hellip] a diminuiccedilatildeo da rugosidade no fundo

do canal em conjunto com a perda dos meandros e a aceleraccedilatildeo das velocidades eacute a

principal responsaacutevel pelas mudanccedilas no balanccedilo da energia natural dos sedimentos

fluviais [hellip]rdquo Cunha (2012b p178) No caso do Rio Doce trecho correspondente agrave Av

Beira-Rio alterou-se a sua forma retilinizando-a e sua vegetaccedilatildeo natural foi substituiacuteda

por estruturas de pedras o que compromete a resistecircncia ao fluxo as margens e aos

bancos arenosos

Embora as obras de canalizaccedilatildeo sejam implantadas como eficazes nos canais fluviais para

questotildees de enchentes urbanas para Cunha (op cit) estas necessitam de manutenccedilatildeo

constante envolvendo desde dragagem remoccedilatildeo de obstruccedilotildees a recomposiccedilatildeo do

material utilizado Poreacutem toda a manutenccedilatildeo estaacute associada a alteraccedilotildees morfoloacutegicas e

bioloacutegicas como as que interferem nas soleiras e depressotildees do fundo dos leitos

desestabilizando a vazatildeo no curso a exemplo da

27

ldquo[hellip] eliminaccedilatildeo da sequecircncia de depressotildees e soleiras o aumento da velocidade da corrente a diminuiccedilatildeo da diversidade de habitats o ambiente instaacutevel resultante da flutuaccedilatildeo dos niacuteveis da aacutegua e do substrato moacutevel e a maior flutuaccedilatildeo da temperatura das aacuteguasrdquo (CUNHA 2012b p180)

Ao mesmo tempo o aumento da velocidade dos escoamentos no trecho retificado

possibilita maior erosatildeo transferindo para as aacutereas a jusante uma carga soacutelida

representativa que para Cunha (op cit) configura a formaccedilatildeo de bancos axiais e depoacutesitos

de sedimentaccedilatildeo marginais alterando o equiliacutebrio dos sedimentos a jusante Pois

A jusante das obras de retificaccedilatildeo verificam-se o aumentam da carga soacutelida o assoreamento durante a dragagem a erosatildeo no canal pelos eventos torrenciais do regime e a modificaccedilatildeo na dinacircmica na foz Os sedimentos resultantes da erosatildeo no canal retificado em conjunto com a excessiva carga de sedimentos posta em suspensatildeo durante a dragagem e na fase imediata de poacutes-construccedilatildeo - quando a erosatildeo dos bancos de areia sem vegetaccedilatildeo estaacute em seu niacutevel maacuteximo - originam a formaccedilatildeo de depoacutesitos fluviais de curta duraccedilatildeo a jusante do canal retificado Logo a seguir esses depoacutesitos satildeo erodidos juntamente com as margens e o fundo do leito pelos eventos torrenciais do regime vindo a formar bancos axiais e depoacutesitos de sedimentaccedilatildeo marginais (CUNHA2012b p183)

Portanto o estudo da geomorfologia fluvial contribui diretamente para o entendimento das

cheias nas planiacutecies de inundaccedilatildeo em especial nas bacias hidrograacuteficas que

compreendem a aacuterea urbana e que possuem intervenccedilotildees antroacutepicas diretas na fisiografia

do canal principal Seus processos explicam como as alteraccedilotildees no canal fluvial podem

maximizar os efeitos dos transbordamentos impactando principalmente as populaccedilotildees

ribeirinhas aleacutem de todo ecossistema local Ademais estes fundamentos geomorfoloacutegicos

devem ser associados agrave legislaccedilatildeo vigente afim de subsidiar a elaboraccedilatildeo de instrumentos

legais para atuaccedilatildeo do poder puacuteblico nestas zonas de risco

22 Aspectos Juriacutedicos

Frente agrave crescente demanda sobre os recursos hiacutedricos e solo urbano a partir da deacutecada

de 1930 surgem as primeiras diretrizes que visam regulamentar estes ambientes a

exemplo do Coacutedigo das Aacuteguas Mas soacute a partir dos anos 1960 surgem em acircmbito federal

leis como o Coacutedigo Florestal com o intuito de regular a exploraccedilatildeo das vegetaccedilotildees e

consequentemente proteger os mananciais e em 1979 com o objetivo de ordenar as

28

cidades eacute aprovada a Lei 676679 estabelecendo as normas do parcelamento do solo

urbano

Na medida em que as populaccedilotildees aumentam ampliam-se tambeacutem as pressotildees sobre os

recursos de aacutegua e solo Os processos de uso e a conscientizaccedilatildeo de que estes elementos

satildeo finitos intensificam as formas de controle e preservaccedilatildeo passando para as esferas

estaduais e municipais a responsabilidade de atuar em escala local na proteccedilatildeo desses

ambientes

Ainda em escala federal em 2012 eacute promulgado o Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012

em substituiccedilatildeo ao coacutedigo anterior Lei 47711965 que apresenta as normas de

apropriaccedilatildeo dos recursos naturais pelas novas necessidades das populaccedilotildees citadinas e

rurais No que compete agrave aacuterea de estudo cabe destacar as ocupaccedilotildees em aacutereas de

planiacutecie de inundaccedilatildeo em que de acordo com art 4ordm devem ser preservadas

I - as faixas marginais de qualquer curso drsquoaacutegua natural perene e intermitente excluiacutedos os efecircmeros desde a borda da calha do leito regular em largura miacutenima de (Incluiacutedo pela Lei nordm 12727 de 2012) a) 30 (trinta) metros para os cursos drsquoaacutegua de menos de 10 (dez) metros de largura b) 50 (cinquenta) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura c) 100 (cem) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura d) 200 (duzentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura e) 500 (quinhentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros []

A legislaccedilatildeo eacute riacutegida no que concerne agrave ocupaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo das terras nas faixas

marginais dos rios transferindo aos estados e municiacutepios a responsabilidade de fiscalizar

estes territoacuterios para garantir a efetividade da lei A questatildeo eacute que muitas vezes somada a

falta de planejamento estas fiscalizaccedilotildees satildeo ineficientes o que tem possibilitado o

surgimento cada vez maior das ocupaccedilotildees irregulares

Apoiado tambeacutem pela Constituiccedilatildeo Federal de 1988 nos artigos 182 e 183 surge o

Estatuto das Cidades Lei 102572001 com finalidade de garantir a funccedilatildeo social da

cidade e com este os primeiros Planos Diretores Municipais (PDM) que buscam o

ordenamento do crescimento das cidades em caraacuteter socioeconocircmico e ambiental cidades

sustentaacuteveis Ademais em Colatina eacute instituiacuteda a Lei 42281996 posteriormente revogada

29

pela Lei 52732007 que ldquoInstitui o Plano Diretor do Municiacutepio de Colatina estabelece os

objetivos instrumentos e diretrizes e daacute outras providecircncias para as accedilotildees de

planejamento do Municiacutepio de Colatina []rdquo

O PDM de Colatina assim como Coacutedigo Florestal prevecirc a preservaccedilatildeo dos ecossistemas

beira-rio Aquele ainda dispotildee sobre o parcelamento do solo sustentaacutevel a funccedilatildeo social

da cidade e da propriedade conforme o Plano Diretor de Colatina de 2007 nos artigos

transcritos

Artigo 22 - As diretrizes ambientais no Municiacutepio de Colatina satildeo I - aplicar os instrumentos de gestatildeo ambiental estabelecidos nas legislaccedilotildees federal estadual e municipal bem como a criaccedilatildeo de outros instrumentos adequando-os agraves metas estabelecidas pelas poliacuteticas ambientais II - compatibilizar as diretrizes de uso ocupaccedilatildeo e parcelamento do solo aos objetivos de proteccedilatildeo ambiental dos ecossistemas [] Artigo 23 - Satildeo diretrizes do sistema de drenagem urbana I - disciplinar a ocupaccedilatildeo das cabeceiras e vaacuterzeas das bacias hidrograacuteficas do Municiacutepio preservando a vegetaccedilatildeo existente e visando agrave sua recuperaccedilatildeo [] III - definir mecanismos de fomento para usos do solo compatiacuteveis com aacutereas de interesse para drenagem tais como parques lineares aacuterea de recreaccedilatildeo e lazer hortas comunitaacuterias e manutenccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa [] V - implantar medidas natildeo-estruturais [sic] de prevenccedilatildeo de inundaccedilotildees tais como controle de erosatildeo especialmente em movimentos de terra controle de transporte e deposiccedilatildeo de entulho e lixo combate ao desmatamento assentamentos clandestinos e a outros tipos de invasotildees nas aacutereas com interesse para drenagem [] VII - garantir e respeitar a necessaacuteria permeabilidade do solo inclusive buscando alternativas de pavimentaccedilatildeo com maior de permeabilidade [sic] [] Artigo 84 ndash Satildeo objetivos do ordenamento territorial do Municiacutepio de Colatina [] IV ndash conter a expansatildeo da ocupaccedilatildeo urbana em aacutereas de proteccedilatildeo ambiental [] Artigo 120 ndash Ficam desde jaacute identificadas como Zonas de Proteccedilatildeo Ambiental 2 ndash ZPA 2 as seguintes aacutereas [] III ndash as aacutereas existentes ao longo de qualquer curso drsquoagua desde o niacutevel mais alto em faixa marginal cuja largura miacutenima seraacute de a) 15m (trinta metros) [sic] para os cursos drsquoagua com menos de 10m (10

metros) de largura contidos no periacutemetro urbano [] c) 30m (trinta metros) para os cursos drsquoagua que tenham de10m (dez

metros a 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano

[]

30

e) 50m (cinquenta metros) para os cursos drsquoagua que tenham mais de 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 60422013)

[]

De modo geral verifica-se que a legislaccedilatildeo apresenta instrumentos que permitem a

prevenccedilatildeo ou controle de ocupaccedilotildees irregulares ou clandestinas em aacuterea de APP aleacutem de

propostas para resguardar de grandes impactos ambientais o corpo hiacutedrico principal do

municiacutepio o Rio Doce Possibilitando assim a minimizaccedilatildeo dos impactos causados pelas

cheias agrave populaccedilatildeo local

Poreacutem cabe destacar que o Plano Diretor Municipal de Colatina natildeo contempla o

estipulado no Coacutedigo Florestal 2012 Lei Federal onde os cursos drsquoaacutegua com largura

superior a 600(seiscentos) metros devem ser resguardados com aacutereas de preservaccedilatildeo

permanente de 500(quinhentos) metros entre outros sendo que a redaccedilatildeo desta parte do

PDM eacute dada pela lei 60422013 posterior a publicaccedilatildeo do novo Coacutedigo Florestal Sendo

assim verifica-se que apesar da intenccedilatildeo de resguardar uma faixa de no maacuteximo

50(cinquenta) metros em periacutemetro urbano para a contenccedilatildeo de cheias e mata ciliar o

PDM de Colatina natildeo atende o miacutenimo previsto em Lei Federal O que tem impactado todo

ecossistema beira rio e a populaccedilatildeo ribeirinha uma vez que a faixa marginal de proteccedilatildeo

de 50(cinquenta) metros em muitos casos natildeo tem comportado o impacto dos defluacutevios

No entanto a legislaccedilatildeo trata de aspectos gerais natildeo pontuando as aacutereas responsaacuteveis

por cada accedilatildeo aleacutem de sua aplicabilidade depender da elaboraccedilatildeo de um cronograma de

execuccedilatildeo bem como um conjunto de planos e normas especiacuteficos para cada diretriz com

detalhamento das propostas de intervenccedilatildeo Isto natildeo ocorreu ateacute o presente

Aleacutem disso a cidade de Colatina surgiu num cenaacuterio histoacuterico anterior agraves legislaccedilotildees

urbaniacutesticas e ambientais inclusive do Coacutedigo das Aacuteguas o que dificulta a execuccedilatildeo de

um planejamento que concilie a preservaccedilatildeo das matas beira-rio garantindo a faixa de

APP com a ocupaccedilatildeo urbana consolidada

A aacuterea de estudo se apresenta como ambiente fragilizado apesar de ser regida por

legislaccedilotildees desde a escala federal ateacute a municipal que visam proteger e ordenar o uso e

cobertura da terra nas faixas marginais dos rios Mas a dificuldade das prefeituras em

aplicar os instrumentos legais nestes ambientes seja por interesses privados ou falta de

recursos para investimentos em soluccedilotildees a longo prazo continua expondo as populaccedilotildees

31

aos impactos dos eventos hidroloacutegicos criacuteticos como os que resultam nas inundaccedilotildees

Para que se alcance esse parcelamento do solo sustentaacutevel satildeo necessaacuterios esforccedilos da

gestatildeo municipal em estipular prazos e metas de atuaccedilatildeo afora interagir os diferentes

setores no planejamento em niacutevel de bacia hidrograacutefica considerando as peculiaridades

desta escala de trabalho

23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos

Sendo a ciecircncia que estuda a relaccedilatildeo homemnatureza a Geografia tem muito a contribuir

nas anaacutelises que envolvem o meio ambiente que foi transformado pela dinacircmica da

sociedade Mas historicamente a dialeacutetica das correntes fiacutesica e humana tem imperado de

modo dissociado levando o geoacutegrafo a estudar estes processos separadamente Poreacutem

se o resultado pretendido eacute integrado fazem-se necessaacuterias pesquisas mais amplas que

cruzem as diferentes vertentes geograacuteficas

Considerando que a problemaacutetica dos impactos ambientais urbanos envolve a questatildeo

natural o rio e a questatildeo social e poliacutetica a sociedade e as leis (COELHO 2013) uma

pesquisa neste acircmbito requer o entendimento destes dois objetos a fim de se apreender

o processo de crescimento das cidades brasileiras e a sua relaccedilatildeo com os recursos

hiacutedricos

A partir da deacutecada de 1950 devido ao ecircxodo rural mais intenso as cidades brasileiras

incharam rapidamente com a migraccedilatildeo do camponecircs que buscava melhores condiccedilotildees de

vida como trabalho na induacutestria o acesso agraves escolas saneamento entre outros E

segundo Gorski (2010) a populaccedilatildeo brasileira passou desde o iniacutecio deste processo de 19

milhotildees de habitantes em 1950 para 138 milhotildees de habitantes em 2000 (dados do IBGE)

o que corrobora o raacutepido crescimento das cidades

Todavia as estruturas puacuteblicas natildeo estavam preparadas para um acreacutescimo populacional

tatildeo significativo e em curto espaccedilo de tempo E o que observamos eacute o acesso limitado

dessa populaccedilatildeo agraves aacutereas centrais da cidade sendo induzida a se estabelecer nas

periferias Nesta visatildeo

O difiacutecil acesso da populaccedilatildeo de baixa renda agraves aacutereas mais centrais das cidades contribuiu segundo Raquel Rolnik para a expansatildeo da periferia o que muitas vezes implicou e implica ainda invasatildeo de aacutereas de proteccedilatildeo de mananciais com a aquiescecircncia do poder puacuteblico Esta

32

dinacircmica agravou a situaccedilatildeo de risco dos mananciais pela eliminaccedilatildeo das matas ciliares e consequentemente erosatildeo das margens dos cursos drsquoaacutegua e assoreamento de suas calhas e pela contribuiccedilatildeo do esgoto in natura (ROLNIK1997 apud GORSKI 2010 p62)

Sendo assim a supressatildeo das matas ciliares e das vegetaccedilotildees das encostas para fins de

ocupaccedilatildeo urbana interfere diretamente no ciclo hidroloacutegico diminuindo a absorccedilatildeo de

aacutegua pelo subsolo e pela evapotranspiraccedilatildeo favorecendo o escoamento superficial (Figura

6) que intensifica a velocidade de drenagem das aacuteguas Este processo nas encostas eacute

mais significativo se considerarmos que com a supressatildeo da cobertura vegetal e

impermeabilizaccedilatildeo do solo as precipitaccedilotildees acabam por lavar todo o material

intemperizado sedimentos carregando-o diretamente para o corpo hiacutedrico e contribuindo

para o assoreamento

Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento Fonte Gorski (2010 p64)

Por outro lado as ocupaccedilotildees ribeirinhas nas vaacuterzeas dos rios modificam a dinacircmica fluvial

frente aos defluacutevios A compactaccedilatildeo e o nivelamento do solo associados agrave

impermeabilizaccedilatildeo por concreto asfalto e outros materiais alteram todo o sistema de

drenagem natural e contribuem para a erosatildeo fluvial Aleacutem disso a gestatildeo puacuteblica que

33

deveria investir num parcelamento do solo sustentaacutevel resguardando ldquouma alocaccedilatildeo de

espaccedilosrdquo (CANHOLI 2005 p 15) para a drenagem acaba por colaborar com as enchentes

urbanas na medida em que decide por obras estruturais como a canalizaccedilatildeo (Figura 7

p30) e a microdrenagem que transferem os impactos das inundaccedilotildees a jusante

Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia Fonte Gorski (2010 p69)

Cabe destacar que desde 1965 com o primeiro Coacutedigo Florestal as matas beira-rio jaacute

eram resguardadas da degradaccedilatildeo humana poreacutem com todo o boom urbano a partir de

1950 a falta de estrutura e ingerecircncia municipal no que se refere ao parcelamento e uso

e ocupaccedilatildeo da terra urbana possibilitou a formaccedilatildeo dos assentamentos clandestinos em

APP e na encosta de morros Em condiccedilotildees precaacuterias sem saneamento baacutesico e demais

infraestruturas urbanas estes assentamentos acabam sendo as regiotildees mais afetadas

com as inundaccedilotildees

Junto agraves questotildees jaacute levantadas vale destacar que as aacuteguas das inundaccedilotildees propiciam o

aumento das doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica (febre tifoide hepatite leptospirose

esquistossomose entre outras) pois carregam segundo Gorski (2010) toda uma poluiccedilatildeo

difusa efluentes domeacutesticos industriais e agroindustriais aleacutem do lixo urbano da poluiccedilatildeo

do ar e das ruas

34

Por outro lado esta ocupaccedilatildeo urbana natildeo planejada perde o benefiacutecio que os corpos

hiacutedricos podem oferecer como [] as paisagens fluviais que aos poucos foram sendo

apropriadas como paisagens urbanas [] (GORSKI 2010 38) aleacutem do microclima

associado agrave umidade pela evapotranspiraccedilatildeo que ameniza a sensaccedilatildeo teacutermica local

Poreacutem conforme observado por Graeff (2011) natildeo eacute cabiacutevel atualmente implantar a

legislaccedilatildeo de APP de modo jurista Deve-se considerar toda a representatividade cultural

assentada sobre os leitos destes rios (avenidas importantes casas com arquitetura

histoacuterica entre outros) Aleacutem disso para a demarcaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo

permanente hoje eacute necessaacuteria uma anaacutelise teacutecnica pautada na geomorfologia e

hidrologia de modo a interpretar o ldquocomportamento histoacuterico dos cursos drsquoaacutegua na

paisagem prevendo cenaacuterios de impactos futurosrdquo da atividade humana sobre suas faixas

marginais

Tendo em vista que grande parte da malha urbana brasileira estaacute alocada em APPs e que

segundo Graeff (2011) estas jaacute possuem uma unidade de paisagem estabelecida e muitas

vezes secular configurando siacutetios de importacircncia cultural e apreendendo que

De modo semelhante nas demais cidades haveraacute que ser entendido o meio urbano como ele realmente eacute ndash um encontro entre as necessidades de habitaccedilatildeo com atividades humanas e de conservaccedilatildeo ambiental esta segunda tambeacutem a serviccedilo do homem e natildeo somente de objetivos difusos e distanciados da sobrevivecircncia da sociedade (GRAEFF 2011 206)

Por tais motivos o trabalho com a geomorfologia fluvial urbana deve abarcar os princiacutepios

do bom senso compreendendo que nestas aacutereas de atividade antroacutepica consolidada pode-

se fazer uso de instrumentos de engenharia avanccedilados para uma convivecircncia equilibrada

do homem com a natureza no entorno Contudo deve-se incentivar as aacutereas de expansatildeo

urbana ou zona periurbana (zonas de transiccedilatildeo da aacuterea urbana para a rural) com poliacuteticas

de incentivo a pavimentaccedilotildees mais permeaacuteveis a fim de minimizar o escoamento

superficial para o rio favorecendo a infiltraccedilatildeo

Apesar de os impactos gerados pela interferecircncia humana nas aacutereas mais fragilizadas da

bacia hidrograacutefica vaacuterzeas e encostas refletirem-se em cataacutestrofes com prejuiacutezos

humanos ambientais e urbanos alguns autores brasileiros como Canholi Graeff Cunha

Carneiro e Miguez jaacute indicaram outros caminhos para uma convivecircncia harmoniosa com

a natureza Aleacutem do mais paiacuteses desenvolvidos como a Holanda deixaram de ldquolutar contra

35

as cheiasrdquo para permitir agraves aacuteguas das enchentes a capacidade de acumular e dispersar

com impacto reduzido para as populaccedilotildees (CARNEIRO MIGUEZ 2011)

Sendo assim a proposta deste estudo eacute identificar os principais agentes que influenciam

as inundaccedilotildees entendendo seu papel e atuaccedilatildeo no contexto urbano de Colatina Mas eacute

tambeacutem a de ampliar a abordagem da temaacutetica com uma anaacutelise geograacutefica integrada

ressaltando as medidas que constam no planejamento urbano e sua aplicaccedilatildeo nas faixas

marginais do corpo hiacutedrico

36

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS

Esta pesquisa eacute constituiacuteda de trecircs etapas principais sendo que a primeira teve como

premissa a confecccedilatildeo de um fluxograma (Figura 8) de trabalho para orientar a pesquisa

em seguida teve iniacutecio o levantamento de bibliografias que abordam temas como a

geomorfologia fluvial e urbanizaccedilatildeo em Colatina adotando-se como referecircncia as

pesquisas de Coelho (2006 2007 2008 e 2009) e Albani (2012) Aleacutem disso muito

contribuiacuteram para este trabalho o relatoacuterio do INCAPER da CPRM e os dados do IBGE

Cabe destacar tambeacutem as experiecircncias com recursos hiacutedricos em ambientes urbanos de

Carneiro e Miguez (2011) em especial Cunha (2001 2012ab)

Esta etapa consistiu tambeacutem na busca de material cartograacutefico como aquisiccedilatildeo de planos

de informaccedilatildeo de limite estadual municipal bairros mancha urbana corpo drsquoaacutegua e

logradouros atraveacutes de dados disponiacuteveis no Sistema Integrado de Bases Geoespaciais

do Estado do Espiacuterito Santo (GEOBASES 2014) no Instituto Jones dos Santos Neves

(IJSN 2015) e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2014) imagens

orbitais gratuitas do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI bandas 2-3-4 e 8 (Pan) oacuterbita 216

ponto 73 com datas de passagem em 02012014 e 22032014 agraves 946 (horaacuterio central

da oacuterbita) junto ao Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2014) aleacutem do ortofotomosaico

do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hiacutedricos (IEMA 2014) do Espiacuterito

Santo referente ao voo de 2007 a 2008

Na segunda etapa foram realizadas duas investigaccedilotildees de campo sendo a primeira no

dia 24 de junho de 2014 com a finalidade de fazer o reconhecimento da aacuterea de estudo

fotografar e conversar com moradores e teacutecnicos da prefeitura O segundo trabalho de

campo ocorreu no dia 14 de fevereiro de 2015 e por meio deste foi possiacutevel identificar

pontos sujeitos a inundaccedilatildeo analisar a topografia e realizar as entrevistas com moradores

e funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina

37

Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC)

38

Na terceira etapa foram realizados os mapeamentos e processamentos de todos os planos

de informaccedilatildeo vetoriais e matriciais em ambiente de SIG no sistema ArcGis 103 iniciando

com a ediccedilatildeo dos dados do Municiacutepio e adjacecircncias que foram ajustados quando

necessaacuterio ao sistema de projeccedilatildeo UTM no Datum SIRGAS ndash 2000 na Zona 24 sul com

meridiano central -39 W com todo o mapeamento produzido seguindo a padronizaccedilatildeo

cartograacutefica proposta por Fitz (2008 a b)

O geoprocessamento teve iniacutecio com a composiccedilatildeo das imagens orbitais do Landsat-8 na

cor natural da imagem (2R 3G 4B) e por meio da teacutecnica de Pan Sharpening ou fusatildeo

de imagens a imagem cor natural foi agrupada agrave da banda 8 pancromaacutetica para obtenccedilatildeo

de uma melhor resoluccedilatildeo espacial neste caso chegando a 15 metros sendo resguardado

o conteuacutedo da imagem composta Na sequecircncia foi realizada a extraccedilatildeo da maacutescara do

periacutemetro urbano de Colatina e gerada a classificaccedilatildeo supervisionada da imagem Landsat-

8 no periacuteodo de cheia (janeiro) e vazante (marccedilo) o que possibilitou a delimitaccedilatildeo da calha

do Doce nestes dois eventos

Em seguida foram realizadas as 8 (oito) mediccedilotildees do leito regular sendo 4 (quatro) no

periacuteodo de cheia e 4 (quatro) na vazante de modo a definir a largura meacutedia da calha do

leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina Para chegar a uma medida geral

da largura do rio utilizaram-se ferramentas estatiacutesticas como a meacutedia que eacute uma medida

de tendecircncia central onde numa amostra de tamanho N constituiacuteda por elementos de x

variando de eacute possiacutevel extrair a meacutedia aritmeacutetica atraveacutes da equaccedilatildeo

A meacutedia aponta para onde mais convergem os dados de uma distribuiccedilatildeo

A partir desta definiccedilatildeo da meacutedia da largura da calha do Rio Doce foi possiacutevel em consulta

ao Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e a Lei 52732007 determinar a faixa miacutenima

de preservaccedilatildeo permanente deste corpo fluvial aleacutem da confecccedilatildeo do mapa com o

poliacutegono de APP

Mediante a anaacutelise do mapa verificou-se que grande parte dos bairros do municiacutepio estatildeo

contidos nos poliacutegonos de APP em especial a preservaccedilatildeo de 500 metros conforme lei

federal E por meio deste foram cruzados os dados de vazatildeo as fotos histoacutericas das

enchentes e o poliacutegono de mata ciliar o que permitiu o entendimento das inundaccedilotildees

39

Em ambiente de SIG tambeacutem foram vetorizados os trecircs traccedilados da Estrada de Ferro

Vitoacuteria a Minas o trajeto do Rio Santa Maria do Doce antes e depois da retilinizaccedilatildeo e os

sucessivos aterros na margem direita do Rio Doce no periacutemetro que compreende a Av

Beira-Rio

As teacutecnicas de sensoriamento remoto como a classificaccedilatildeo supervisionada permitiram a

definiccedilatildeo do poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo atraveacutes da imagem da cheia de janeiro Para

tanto foi realizada tambeacutem a classificaccedilatildeo hiacutebrida objetivando aliar a interpretaccedilatildeo visual

com a digital (JENSEN 2009) Por fim foi realizada amarraccedilatildeo com o levantamento

geodeacutesico da CPRM (2014) para garantir a precisatildeo do traccedilado do poliacutegono de cheia

A partir do tratamento dos dados bibliograacuteficos cartograacuteficos e imagens foi possiacutevel

sistematizar este trabalho o que permitiu identificar elementos histoacutericos de intervenccedilatildeo

na paisagem do Doce como os aterros e a ocupaccedilatildeo urbana As visitas de campo a

entrevista e conversas com moradores foram fundamentais para a validaccedilatildeo das

informaccedilotildees o que tornou esta metodologia eficaz para anaacutelise do fenocircmeno da inundaccedilatildeo

em Colatina

40

4 RESULTADOS

41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana

A ocupaccedilatildeo ao longo das planiacutecies de inundaccedilatildeo dos rios tem ocorrido diante da

necessidade deste recurso para as atividades vitais humanas Cunha (2012b p219)

entende que ldquosuas margens tecircm sido o centro preferido da habitaccedilatildeo humana e o

suprimento de suas aacuteguas natildeo soacute fertiliza os campos para o cultivo como tambeacutem fornece

energia e permite recreaccedilatildeordquo Logo o estabelecimento das vilas nas bordas dos cursos

drsquoaacutegua favorece a logiacutestica ocupacional

Historicamente em solo espiacuterito-santense a formaccedilatildeo das vilas ocorreu agraves margens de

estrateacutegicos cursos drsquoaacutegua e a exploraccedilatildeo do ouro de Minas Gerais para Albani (2012)

determinou que a Coroa proibisse nos seacuteculos XVII a XIX a implantaccedilatildeo de estradas e

exploraccedilatildeo de terras na Capitania do Espiacuterito Santo pois os portugueses temiam incursotildees

estrangeiras deixando assim o desenvolvimento capixaba restrito agrave faixa litoracircnea

Relegada enquanto ldquobarreira verderdquo para defesa das minas de ouro e minerais do atual

territoacuterio das Minas Gerais segundo Coelho (2007) a Capitania do Espiacuterito Santo soacute

passou a se interiorizar para o centro-oeste onde se localiza atualmente a cidade de

Colatina a partir de 1847 por meio das ocupaccedilotildees de Santa Izabel e Santa Leopoldina

que permitiram a descida do Rio Santa Maria do Doce ateacute as imediaccedilotildees da atual cidade

de Colatina

Assim foi que o movimento colonizador desceu o vale do Santa Maria do Rio Doce atingindo em 1891 a regiatildeo das matas onde hoje se acha a cidade de Colatina [] Esta penetraccedilatildeo inicial foi feita com elementos alematildees de Santa Leopoldina e no rio Doce ficou muito anos restrita agrave aacuterea inicial A expansatildeo ao longo do vale tomou impulso com a chegada a Colatina em 1906 dos trilhos da Estrada de Ferro Diamantina (atual Vitoacuteria-Minas) (STRAUCH1955 apud COELHO 2007 p105)

Sendo assim Coelho (op cit) relata que a ocupaccedilatildeo se deu atraveacutes da supressatildeo da mata

nativa no baixo curso do Rio Doce de Colatina a Linhares sendo a madeira daiacute extraiacuteda

levada ateacute o rio e encaminhada ateacute Povoaccedilatildeo vilarejo junto agrave foz de onde eram carregados

os navios Neste periacuteodo tem-se a instalaccedilatildeo de um ciclo madeireiro na regiatildeo com a

disposiccedilatildeo de serrarias nas proximidades das matas

41

Todavia somente a partir de 1906 com a chegada da estrada de ferro na regiatildeo o

transporte madeireiro foi transferido para as locomotivas Agrave medida que a implantaccedilatildeo da

Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas avanccedilava para o interior levava consigo as frentes de

desmatamento modificando as paisagens das margens do Rio Doce e se apropriando dos

espaccedilos deste rio (Figura 9)

Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906 Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce Fonte Albani (2012 p 63)

Conforme Albani (2012) com a vinda dos mineiros e fluminenses reforccedilados

posteriormente a partir de 1889 por colonizadores italianos e alematildees eacute que as

ocupaccedilotildees territoriais ocorreram de modo efetivo Atraveacutes do Barracatildeo do Rio Santa Maria

(Figura 10) espaccedilo do governo inicialmente destinado a alojar os migrantes e a produccedilatildeo

surgiram as primeiras residecircncias nas proximidades da igreja de Satildeo Sebastiatildeo Sendo

assim

Eacute importante destacar que o desenvolvimento da regiatildeo onde se encontra o municiacutepio de Colatina teve iniacutecio no final do seacuteculo XIX no nuacutecleo de colonizaccedilatildeo Antocircnio Prado localizado no distrito de Boapaba antiga vila do Mutum O nuacutecleo recebeu dezenas de famiacutelias de imigrantes italianos e ali desenvolveram atividades de agricultura e com a expansatildeo da localidade surge tambeacutem o comeacutercio (ALBANI 2012 p61) [hellip] A vila de Colatina entretanto logo passou a se transformar no principal nuacutecleo e futuramente na sede do municiacutepio Aleacutem da facilidade da produccedilatildeo atraveacutes do Rio Doce a vila de Colatina tornou-se referecircncia dos imigrantes no caminho para a colonizaccedilatildeo das terras ao norte do estado (MADURO1985 apud ALBANI 2012 p62)

42

Desse modo com o desenvolvimento das atividades de cafeicultura madeireira e do

entroncamento logiacutestico de acesso agraves aacutereas do norte a vila eacute elevada em 1921 agrave categoria

de municiacutepio A atual configuraccedilatildeo territorial foi adquirida a partir de 2001 conforme IBGE

(2014) dispondo de seis distritos Colatina (sede) Acircngelo Frechiami Baunilha Boapaba

Graccedila Aranha e Itapina

Cabe destacar poreacutem que a ocupaccedilatildeo inicial da cidade de Colatina se perfaz pela margem

direita do Rio Doce onde se localiza o atual bairro de Colatina Velha e onde havia se

instalado o Barracatildeo de Santa Maria Nesse periacuteodo a ponte ainda natildeo fora edificada

limitando assim a ocupaccedilatildeo da margem esquerda

Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da regiatildeo Fonte Albani (2012 p62)

Conforme Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p65) a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro

Vitoacuteria a Minas em 1906 (Figura 11) possibilitou a expansatildeo da cidade de Colatina e seu

desenvolvimento econocircmico Todavia sua instalaccedilatildeo paralela agrave margem direita do Rio

Doce favoreceu a localizaccedilatildeo de avenidas e ruas centrais em sua proximidade

43

Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p65)

Entretanto foi com a construccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos (Figura 12) em 1928 que a

margem direita se conectou agrave margem esquerda da cidade o que aleacutem de possibilitar a

ocupaccedilatildeo facilitou o acesso agraves regiotildees mais ao norte do Estado

Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p66)

44

Por conseguinte a estrada de ferro e a ponte foram os fatores determinantes para o

estabelecimento dos migrantes agraves margens do Rio Doce e a formaccedilatildeo do atual municiacutepio

de Colatina Contudo foi a partir desta posiccedilatildeo privilegiada que a cidade passou a ser

entreposto comercial e logiacutestico da regiatildeo noroeste e com isso sua aacuterea urbana expandiu-

se de modo desordenado inicialmente ao longo da planiacutecie de inundaccedilatildeo do Doce Coelho

(2007 p108 e 109) relata que

Os efeitos dessa urbanizaccedilatildeo (novos parcelamentos) e do desmatamento produz [sic] normalmente o aumento da velocidade das aacuteguas superficiais (pluviais) que eram antes interceptadas pelas matas com boa parte absorvida pelo solo O que ocorre geralmente nessas aacutereas eacute a chegada mais raacutepida das aacuteguas das chuvas para o tributaacuterios e calha principal do rio por fluxos concentrados que provocam processos de erosotildees do tipo laminar ravina e voccediloroca transportando quantidades expressivas de sedimentos que por sua vez causam assoreamento e a ocorrecircncia de cheias mais frequentes no rio

Com o crescimento acelerado do periacutemetro urbano proporcionado pelo apogeu do ciclo

cafeeiro as proacuteximas deacutecadas levaratildeo a cidade de Colatina a sofrer com impactos

advindos das alteraccedilotildees no ambiente fluvial do Rio Doce em especial os referentes a

ocupaccedilatildeo (impermeabilizaccedilatildeo) e desmatamento das margens (interferecircncia na drenagem

natural) conforme destacado por Coelho (2007)

Eacute fato que o municiacutepio viveu nas deacutecadas de 1940 e 1950 o auge do ciclo cafeeiro

chegando a ser no ranking brasileiro o 13ordm municiacutepio produtor de cafeacute no ano de 1947

(CAMPOS JUNIOR 2004 apud ALBANI 2012 p69) Poreacutem a partir de 1960 este boom

entrou em colapso com crise do cafeacute que assolou todo o paiacutes levando grande parte dos

pequenos proprietaacuterios rurais a migrarem para centros urbanos em especial no Espiacuterito

Santo a regiatildeo da Grande Vitoacuteria e tambeacutem para o centro de Colatina

Em razatildeo da crise cafeeira a populaccedilatildeo rural migra para centros urbanos A populaccedilatildeo migrou em grande quantidade para a Grande Vitoacuteria para fora do estado e tambeacutem para a cidade de Colatina principal aglomerado urbano da regiatildeo Esse processo provoca o aumento da aacuterea urbana de Colatina A populaccedilatildeo da cidade que era de 3913 habitantes em 1940 cresceu para 26757 habitantes em1960 (ALBANI2012 p71)

O crescimento raacutepido do centro de Colatina aliado ao aumento populacional direciona

grande parte dos migrantes para as aacutereas menos centrais da cidade levando agrave ocupaccedilatildeo

de locais irregulares como os morros e as margens direita e esquerda do Rio Doce Este

45

processo configurou a nova paisagem do municiacutepio povoando do vale agraves encostas (Figura

13)

Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes Fonte Albani (2012 p73)

Associado a este processo de reconfiguraccedilatildeo espacial nas proacuteximas deacutecadas o municiacutepio

de Colatina passaraacute por sucessivas perdas de territoacuterios ateacute atingir os limites atuais (Figura

1 p17) Aliado a estas perdas territoriais seu quantitativo absoluto populacional tambeacutem

sofreraacute impactos poreacutem de modo geral a populaccedilatildeo urbana deste municiacutepio apresentou

crescimento continuo (Graacutefico 2)

Graacutefico 2

Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 2010

Elaborado pela autora Fonte 1940 e 1950 Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p82) 1960 a 2010 IBGE

0

20000

40000

60000

80000

100000

120000

1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020

Populaccedilatildeo Urbana Colatina 1940 - 2010

46

Assim como tem ocorrido nas grandes capitais Colatina cresceu em quantitativo

populacional e territorial urbano de modo muito raacutepido e por este desenvolvimento natildeo ter

sido aliado a um planejamento urbano e ambiental sustentaacutevel a cidade tem sentido os

reflexos das suas interferecircncias ao longo do canal do Doce O que tem provocado

antecipaccedilatildeo dos picos de vazatildeo que no periacutemetro urbano ocasiona as inundaccedilotildees pois

natildeo conseguindo o rio acomodar estes defluacutevios transfere em curto espaccedilo de tempo as

aacuteguas a sua planiacutecie de inundaccedilatildeo atingindo os bairros mais antigos do municiacutepio

Por fim entender o contexto histoacuterico do crescimento da cidade revela muito do panorama

atual E por meio de uma anaacutelise conjunta da histoacuteria com os novos planejamentos eacute

possiacutevel propor intervenccedilotildees urbanas que possibilitem um conviacutevio harmonioso entre

natureza e sociedade neste caso entre o Rio Doce e o centro de Colatina Diante desta

proposta adiante apresentaremos a evoluccedilatildeo dos bairros associando seus periacuteodos de

ocupaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo espacial nas imediaccedilotildees do curso principal do Doce

411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade

Com nuacutecleo inicial de povoamento no Barracatildeo de Santa Maria a cidade de Colatina

cresce a partir deste ponto agrave margem direita do Rio Doce de onde surgem as primeiras

residecircncias comeacutercios e a igreja Atualmente a regiatildeo compreende o bairro de Colatina

Velha que de acordo com Albani (2012 p91) [hellip] ldquopode ser considerado o primeiro polo

de crescimento da cidaderdquo

Aliado ao aumento da populaccedilatildeo migrante das fazendas com a crise do cafeacute o nuacutecleo de

Colatina Velha passa a ser um ponto de passagem obrigatoacuterio para os viajantes que

vinham majoritariamente do sul uma vez que o Rio Doce configurava uma barreira natural

agrave ocupaccedilatildeo das terras ao norte Aleacutem disso a margem esquerda deste canal fluvial era

habitat dos hostis iacutendios botocudos o que dificultava a sua apropriaccedilatildeo

Sendo assim a ocupaccedilatildeo de Colatina conteve-se agrave margem direita nesta primeira fase o

que define o primeiro vetor de crescimento da cidade na direccedilatildeo leste para oeste partindo

das imediaccedilotildees do Barracatildeo de Santa Maria sentido ao Rio Santa Maria do Doce (Figura

14) E a partir de 1906 com a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas da entatildeo

Companhia Vale do Rio Doce atual Vale este vetor de crescimento se consolida e

47

proporciona o surgimento de importantes avenidas paralelas agrave ferrovia a exemplo da Av

Getuacutelio Vargas

Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de crescimento Elaborado pela autora

48

O segundo vetor do crescimento de Colatina estava condicionado agrave construccedilatildeo da ponte

Florentino Aacutevidos a qual conectou a margem direita agrave esquerda do Rio Doce permitindo

a ocupaccedilatildeo da porccedilatildeo ao norte Portanto somente a partir de 1928 com a finalizaccedilatildeo da

obra da ponte a barreira natural pocircde ser transposta o que possibilitou ao lado esquerdo

desenvolver uma nova linha de crescimento urbano com a ocupaccedilatildeo do atual bairro de

Satildeo Silvano

O terceiro vetor de crescimento estaacute associado agrave implantaccedilatildeo do bairro Luiz Iglesias na

margem direita e os de Maria das Graccedilas e Coluacutembia na margem esquerda Albani (2012)

ressalta que esta fase da ocupaccedilatildeo urbana estaacute associada ao desenvolvimento do sistema

viaacuterio como a proximidade da BR-259 sentido Vitoacuteria- Colatina da ES-80 que liga

Colatina agrave regiatildeo norte da ES-256 que a conecta a Marilacircndia e da proximidade da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria Carlos Germano Nauman (Figura 15)

Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios e linhas feacuterreas que interceptam a cidade de Colatina Elaborado pela autora

Jaacute na quarta e mais recente linha de crescimento da cidade temos os novos loteamentos

residenciais e industriais a exemplo do de Barbados e do bairro Santa Helena que surgem

49

acompanhando o traccedilado da ponte que contorna a leste a cidade como novo acesso agrave

porccedilatildeo norte do estado Albani (2012 p118) destaca que

Apesar da construccedilatildeo da Segunda Ponte ter sido iniciada em 1986 somente foi inaugurada em 2007 A conclusatildeo da ponte e a construccedilatildeo de uma rodovia de contorno desviaram a BR-259 do centro da cidade O desvio da rodovia federal trouxe um desafogamento do tracircnsito nas principais vias da cidade e um novo direcionamento na expansatildeo urbana Alguns loteamentos surgiram nesse periacuteodo proacuteximo agrave Segunda Ponte e ao contorno na margem norte do rio principalmente no bairro Santa Helena (Figura 55) Essa situaccedilatildeo indica mais uma vez que as linhas de crescimento em Colatina satildeo orientadas pelas vias de transporte

Portanto o crescimento do periacutemetro urbano de Colatina estaacute associado agrave superaccedilatildeo das

barreiras naturais em especial o Rio Doce por meio de investimentos em obras de

engenharia que permitiram o deslocamento humano para a margem esquerda deste curso

Sem duacutevida as vias de transporte foram elementares na construccedilatildeo do periacutemetro urbano

de Colatina pois na medida que se consolidava o sistema viaacuterio as ocupaccedilotildees tambeacutem se

favoreciam destas vias de locomoccedilatildeo A evoluccedilatildeo da aacuterea urbana portanto acompanha

as principais vias de transporte (Figura 15 p45) e estas se utilizam da posiccedilatildeo estrateacutegica

e geograficamente favoraacutevel do canal do Doce para a definiccedilatildeo de seus traccedilados

Apoacutes 94 anos de emancipaccedilatildeo de Linhares o territoacuterio de Colatina eacute fundamental para a

manutenccedilatildeo dos municiacutepios do noroeste capixaba Diante desta posiccedilatildeo estrateacutegica torna-

se relevante o entendimento de como o urbano se relaciona com o meio natural a fim de

se estabelecer poliacuteticas de ordenamento territorial que promovam a qualidade de vida no

municiacutepio Adiante seraacute analisada a situaccedilatildeo da calha principal do Rio Doce elemento

fundamental na compreensatildeo do uso e cobertura da terra de Colatina

42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce

Compreendendo uma aacuterea de 3330 kmsup2 o periacutemetro urbano de Colatina eacute afetado pela

velocidade dos defluacutevios de modo que grande parte dos bairros beira-rio eacute tomada pelas

aacuteguas excedentes da calha principal do Doce o que configura o fenocircmeno de inundaccedilatildeo

Ao pesquisar estes fenocircmenos eacute necessaacuterio relacionar o uso da terra com os processos

geomorfoloacutegicos do corpo hiacutedrico Sendo assim por meio de teacutecnicas de

geoprocessamento foram realizadas oito mediccedilotildees da calha principal do Rio Doce para

50

estabelecimento da distacircncia meacutedia da largura de sua calha O resultado esteve dentro do

esperado e pode ser verificado na tabela abaixo (Tabela 1) e no mapa em sequecircncia

(Figura 16)

Tabela 1 Perfis transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de

vazante (abril) e cheia (janeiro)

Largura do rio Doce periacuteodo de vazante e cheia

Abril2013(m) Janeiro2014(m)

P1 70735 75784

P2 62080 66483

P3 59209 65804

P4 63548 67650

Meacutedia dos Perfis 62814 67066

Meacutedia Geral 66143 Obs todas as medidas estatildeo em metros

Elaborado pela autora

Figura 16 - Traccedilado dos perfis transversais da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de vazante mecircs de abril2013 Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)

51

Com uso das imagens orbitais do Landsat-8 atraveacutes da classificaccedilatildeo hiacutebrida foram

gerados dois arquivos shapefiles correspondentes agraves bordas do Doce um no periacuteodo de

vazante e outro no de cheia Por meio destes dados foram definidos quatro traccedilados para

realizaccedilatildeo das mediccedilotildees a partir destas e com auxiacutelio das medidas de tendecircncia central

chegou-se a uma largura meacutedia total de 66143m de uma margem a outra Este resultado

indicou que tanto no periacuteodo de vazante quanto no periacuteodo de cheia a largura meacutedia

aponta para a maior faixa de APP proteccedilatildeo de 500m conforme previsto na legislaccedilatildeo

federal (Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e no revogado Lei 4771 1965)

Analisando a imagem abaixo (Figura 17) observa-se que grande parte do solo

naturalmente destinado a ldquoacomodaccedilatildeordquo das aacuteguas nas cheias (linha laranja) foi

incorporado agrave sociedade como espaccedilo criado (periacutemetro urbano em APP mancha em

amarelo) destinado a fins muacuteltiplos Deste modo sem planejamento territorial adequado

grande parte da planiacutecie de inundaccedilatildeo deu lugar a outras funccedilotildees diferentes das naturais

sendo incorporada ao espaccedilo urbano

Lanccedilando o buffer (mancha em amarelo) do entorno da calha do Doce (Figura 17) observa-

se que dos 59 bairros do municiacutepio cerca de 29 estatildeo dentro da aacuterea de 500m destinada

a preservaccedilatildeo permanente pelo Coacutedigo Florestal Considerando-se a delimitaccedilatildeo da APP

prevista no PDM de 1996 e 2007 (linha laranja mais proacutexima da borda do rio) este nuacutemero

cai para 18 bairros permanecendo apenas aqueles que possuem limites com o corpo

hiacutedrico

Uma vez que que lei municipal natildeo suplanta lei federal considerar-se-aacute neste estudo o

limite da faixa marginal de proteccedilatildeo definida na Lei Federal 126512012 Deste modo a

aacuterea de preservaccedilatildeo permanente do Doce neste recorte eacute de 1085 kmsup2 compreendendo

33 do periacutemetro urbano de Colatina

Cabe destacar ainda que mesmo o PDM de 1996 contendo enquanto objetivo no Art 14

ldquoI - estabelecer a ordenaccedilatildeo do uso e da ocupaccedilatildeo do solo urbanordquo (Lei 42281996 p4)

a gestatildeo municipal natildeo obteve sucesso na implementaccedilatildeo de tal legislaccedilatildeo O que se

verifica tanto nas deacutecadas de 1990 quanto no iniacutecio dos anos 2000 quando foram

aprovados novos parcelamentos urbanos agraves margens deste canal a exemplo dos bairros

de Barbados na margem direita e do bairro Mario Giurizato na margem esquerda

52

Figura 17- Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)

53

Articulado a esta ideia e pesquisando o trecho do bairro Esplanada a Colatina Velha palco

das uacuteltimas obras estruturantes de alto porte do municiacutepio consegue-se analisar os efeitos

das inundaccedilotildees nas margens deste rio Logo implementar medidas de prevenccedilatildeo de

cheias em aacutereas com urbanizaccedilotildees antigas requer um esforccedilo da gestatildeo na regulaccedilatildeo do

solo urbano

421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie

de Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio

Interceptada pelo curso do Rio Doce no perfil mais a jusante da bacia a cerca de 100km

do estuaacuterio com o Oceano Atlacircntico a cidade de Colatina polo moveleiro e de confecccedilotildees

do centro-oeste capixaba eacute palco recorrente de inundaccedilotildees urbanas

Conforme jaacute mencionado por Cunha (2012a) este fenocircmeno ocorre quando a bacia recebe

um percentual precipitado acima da sua capacidade de escoamento o que faz o leito

menor do rio extravasar para o leito maior ocupando as aacutereas de vaacuterzeas (Figura 18 p

50) Aliadas a esta questatildeo estatildeo as ocupaccedilotildees humanas das margens dos rios que ao

suprimir a vegetaccedilatildeo natural e alterar a condiccedilatildeo fiacutesica do solo acabam por reduzir a aacuterea

de drenagem das aacuteguas pluviais acelerando o escoamento superficial para o canal

principal e favorecendo os defluacutevios

Figura 18 - Representaccedilatildeo da inundaccedilatildeo urbana Fonte adaptado da Defesa Civil do Tocantins (2015)

Este fenocircmeno tem ganhado destaque em Colatina a partir de 1979 ano em que o Rio

Doce atingiu a vazatildeo de 12860msup3s tomando toda aacuterea aplainada que compotildee seu leito

maior afetando da atual Av Beira-Rio ateacute as redondezas da Av Getuacutelio Vargas Desde

entatildeo os estudos das inundaccedilotildees urbanas satildeo relevantes no municiacutepio o que levou o

54

Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) na deacutecada de 1980 a elaborar um ldquoPlano Diretor

de Contenccedilatildeo das Enchentes Proteccedilatildeo das Encostas e Drenagem Pluvial de Colatinardquo

Tal medida apresentou seis alternativas para o fenocircmeno Poreacutem tendo em vista o custo

operacional das obras apenas a alternativa seis que previa a construccedilatildeo de diques

marginais para a proteccedilatildeo das aacutereas mais centrais foi considerada viaacutevel na eacutepoca

Todavia em entrevistas com funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina (PMC) foi

relatado que todo o estudo foi arquivado e que ateacute agora natildeo haacute previsatildeo de

implementaccedilatildeo de tais medidas Fato este que eacute evidenciado (Tabela 2 p 51) quando da

ocorrecircncia de precipitaccedilotildees intensas na bacia durante as quais sazonalmente a cidade eacute

impactada com as aacuteguas das inundaccedilotildees Isto faz com que o municiacutepio passe

recorrentemente por cataacutestrofes conforme tabela com os principais picos de vazatildeo do rio

nos uacuteltimos 50 anos

Tabela 2

Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013

Ano Diamecircs Vazatildeo(msup3s)

1961 30jan 6613

1979 04fev 12860

1997 07jan 8687

2005 03ago 6549

2013 24dez 9028

Fonte Coelho (2007 apud DALLAPICOLA 2014 p4) e CPRM (2014 p85) Observo que os dados da tabela 1 para os anos de 1979 e 2013 estatildeo baseados na estimativa de vazatildeo meacutedia diaacuteria das maacuteximas anuais obtida atraveacutes de extrapolaccedilatildeo da curva-chave pelo grupo interdisciplinar dos relatoacuterios criacuteticos anteriores

As inundaccedilotildees de 1979 1997 e recentemente 2013 (Figura 19) foram as de maior vazatildeo

neste setor do rio e consequentemente as que mais atingiram a aacuterea urbana do municiacutepio

bloqueando os acessos ao centro da cidade e aos equipamentos essenciais como

hospitais escolas e demais oacutergatildeos puacuteblicos aleacutem de desalojarem muniacutecipes e

comprometerem a sauacutede puacuteblica

55

Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de 1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 Fonte1) Nossa Colatina 2) Nossa Linda Colatina 3) Nossa Colatina

Com o propoacutesito de identificar os principais fatores que acentuam as inundaccedilotildees seraacute

analisado como os processos geomorfoloacutegicos do Doce estatildeo sendo afetados pela accedilatildeo

antroacutepica Limitaremos a anaacutelise ao periacutemetro urbano no trecho que compreende do bairro

Esplanada ateacute o bairro Colatina Velha (Figura 20) Neste periacutemetro eacute possiacutevel visualizar a

evoluccedilatildeo da mancha urbana sobre o leito do rio aleacutem de identificar na margem direita os

pontos desnaturalizados deste canal fluvial

56

Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2) Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do recorte em rosa da APP de 50m (amarelo claro) e 500m (amarelo escuro) Fonte 3) Encontra Colatina (2015)

57

O recorte em questatildeo eacute margeado pela Av Beira-Rio e estaacute situado (Figura 20) dentro do

buffer de preservaccedilatildeo permanente previsto no PDM (buffer de 50m) e no Novo Coacutedigo

Florestal (buffer de 500m) Apesar desta aacuterea ser destinada a mata nativa e ou

reflorestada a ocupaccedilatildeo urbana antecede os artigos legais o que dificulta poliacuteticas de

gestatildeo territorial em um periacutemetro ao mesmo tempo histoacuterico e com funccedilatildeo relevante no

equiliacutebrio hidroloacutegico da bacia

O periacutemetro faz parte da vaacuterzea da margem direita do Rio Doce pois encontra-se em cota

topograacutefica de 50m caracterizando sua planiacutecie Logo a aacuterea em questatildeo tem a funccedilatildeo de

acomodar as aacuteguas das cheias quando a calha principal natildeo comporta o escoamento de

grandes vazotildees Esta tarefa passa a ser prejudicada na medida em que na bacia ou no

curso original satildeo implementadas obras que interferem na morfologia do corpo hiacutedrico

principal como a instalaccedilatildeo das hidreleacutetricas de Mascarenhas (1974) e Aimoreacutes (2005) a

montante

As UHErsquos a montante comprometem os processos do rio uma vez que o regime natural de

transporte de sedimentos eacute alterado com o barramento o que favorece a erosatildeo e

consequentemente o assoreamento com a formaccedilatildeo de bancos arenosos alteraccedilatildeo do

seu perfil transversal e reduccedilatildeo da profundidade Aleacutem disso segundo Coelho (2007) as

vazotildees maacuteximas e miacutenimas foram alteradas com a implantaccedilatildeo das hidreleacutetricas a

montante implicando em vazotildees meacutedias anuais miacutenimas cada vez mais reduzidas com

valores se distanciando da linha de tendecircncia (polinocircmio) provando o natildeo equiliacutebrio da

vazatildeo apoacutes a implantaccedilatildeo das barragens (Graacutefico 1 p22)

Entretanto a primeira intervenccedilatildeo direta no trecho em estudo foi a instalaccedilatildeo da estrada

de ferro que atraiu migrantes para Colatina permitindo o crescimento populacional e a

expansatildeo urbana desordenada agraves margens do Doce Este crescimento intensificou a

supressatildeo das matas ciliares e abriu espaccedilo para a impermeabilizaccedilatildeo do solo reduzindo

a infiltraccedilatildeo

Posteriormente a inauguraccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos ampliou o fluxo na regiatildeo pois

proporcionava a ligaccedilatildeo com as terras ao norte do Estado Atuou tambeacutem como obstaacuteculo

ao transporte de sedimentos carreados no fluxo natural do rio uma vez que sua

implantaccedilatildeo altera a topografia do fundo do canal afetando os processos geomorfoloacutegicos

58

Poreacutem foi no Morro das Cabritas (colina localizada no espaccedilo que compreende o atual

bairro Esplanada) que ocorreu a primeira desnaturalizaccedilatildeo nas margens do Doce Este

morro por onde o Rio Santa Maria do Doce meandrava ateacute desaguar no Rio Doce foi

cortado em meados de 1953 para abrigar a cidade em expansatildeo Devido a esta

intervenccedilatildeo o curso original do Santa Maria foi deslocado e passou a escoar

retilineamente ateacute a foz (Figura 21)

Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponte Florentino Aacutevidos (direita) e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque em vermelho para o curso atual do Santa Maria Fonte Nossa Colatina

As intervenccedilotildees na margem direita tornam-se mais intensas a partir da deacutecada de 1960

quando no ano de 1968 edificou-se um muro visando a proteccedilatildeo dos pilares da

extremidade direita da ponte Esta obra ficou paralisada por muitos anos e foi a primeira

de retificaccedilatildeo e aterro realizada neste trecho do rio Esta intervenccedilatildeo modificou o fluxo

natural das correntes do rio e reduziu a largura da sua calha alterando a morfologia do

canal (Figura 22)

59

Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de proteccedilatildeo da ponte Elaborado pela autora Fonte fotos histoacutericas Nossa Colatina

Contudo somente em 1972 teve iniacutecio o segundo aterro (Figura 23) com a finalidade de

alocar a estaccedilatildeo rodoviaacuteria de Colatina e ampliar a aacuterea de acesso agrave ponte Florentino

Aacutevidos A implementaccedilatildeo desta obra suprimiu parte do leito do Rio Doce pois removeu a

saliecircncia cocircncava que curvava o rio retilinizando esta parte do canal

60

Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora Fonte Nossa Colatina Nossa Linda Colatina

Apoacutes dez anos sem grandes intervenccedilotildees em 1982 o lado a montante da ponte bairro

Esplanada eacute acrescido de um aterro que estenderaacute a aacuterea do antigo Morro das Cabritas

para o rio (Figura 24)

Conhecido como Rua da Lama devido agrave umidade que o rio transferia ao aterro formando

um barro viscoso que persistia a maior parte do ano o trecho atualmente compreende a

Avenida Professor Joseacute Zouian popularmente denominada Avenida Beira-Rio de onde

surge a primeira forma do calccediladatildeo que seraacute estendido ateacute o bairro Colatina Velha

61

Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o calccediladatildeo da Av Beira-Rio Elaborado pela autora Fonte Bennachio (2015)

Somente em 2004 foi implementado o maior projeto de canalizaccedilatildeo do municiacutepio Naquele

ano teve iniacutecio a execuccedilatildeo do enrocamento da Av Beira-Rio (Figura 25) obra destinada

inicialmente a alocaccedilatildeo de equipamentos puacuteblicos de lazer e cultura praccedilas preacutedios aleacutem

da promessa de contribuir para a contenccedilatildeo dos transbordamentos do Rio Doce

Apesar de o referido manancial jaacute estar comprometido com problemas de poluiccedilatildeo

assoreamento e erosatildeo aleacutem dos impactos de duas hidreleacutetricas instaladas a montante a

obra abarcou a supressatildeo da vegetaccedilatildeo ciliar e aterro de parte do rio jaacute tatildeo degradado

62

Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento iniciada em 2004 e finalizada em 2008 Elaborado pela autora Fonte proacutepria autora em 240215

Ocupando uma aacuterea total de 130 mil msup2 do leito do Rio Doce o aterro teve iniacutecio em 2004

sendo construiacutedo com cerca de 90 mil msup3 de pedras 50 mil msup3 de areia retirada do leito do

rio e por fim o nivelamento com 200 mil msup3 de terra A obra era divulgada como um antigo

sonho dos colatinenses e serviria para ampliaccedilatildeo da Av Beira-Rio no bairro de Colatina

Velha instalaccedilatildeo de ciclovias calccediladatildeo equipamentos puacuteblicos e estacionamento (Figura

26) Apesar do fim da engenharia em 2008 o projeto ainda estaacute em fase de acabamento

na parte urbaniacutestica e na alocaccedilatildeo dos oacutergatildeos puacuteblicos

Cabe destacar que a obra sofreu embargos do Ministeacuterio Puacuteblico Federal (MPF) por

apresentar apenas cadastro na Agecircncia Nacional de Aacuteguas (ANA) que conforme parecer

da Procuradora Nadja Machado Botelho na Accedilatildeo Civil Puacuteblica ldquo[hellip] equivocadamente natildeo

realizou o procedimento de outorga [hellip]rdquo (MPF 2006 p2) Aleacutem disso a procuradora

solicitou tutela tendo em vista tratar-se de aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental e o fato de o

IBAMA ter concedido licenciamento com indevida dispensa do Estudo de Impacto

Ambiental (EIA)Relatoacuterio de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA)

63

Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina Fonte Prefeitura de Colatina (2015)

Por isso essa obra deve ser considerada faraocircnica para os cofres puacuteblicos e irreversiacutevel

para os processos geomorfoloacutegicos do Doce E sua efetivaccedilatildeo soacute foi possiacutevel com a

participaccedilatildeo e investimentos do Governo estadual Contudo seu objetivo foi frustrado pois

novamente na cheia do Rio Doce em dezembro de 2013 quando este atingiu a vazatildeo de

9028 msup3s a aacuterea foi inundada e por estar em cota maior que as casas que beiravam o

rio o enrocamento atuou como represa natildeo permitindo o retorno das aacuteguas quando o niacutevel

do rio retomou o equiliacutebrio

Por fim segue um mapa siacutentese (Figura 27) com a cartografia das quatro principais

intervenccedilotildees diretas e estruturais na margem direita do Doce no setor urbano de Colatina

representando o curso natural do rio em 1950 e suas desnaturalizaccedilotildees a partir da deacutecada

de 60 ateacute a atualidade

64

Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce ante e depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora

65

422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio

O recorte em estudo compreende as Zonas ZE-1 ZE-2 e ZUD 2-1 (Figura 28 p61) sendo

a Zona Especial 1 Zona Especial 2 e Zona de Uso Diverso 2-1 destinadas no PDM (Lei

52732007)

Artigo 103 - As Zonas de Usos Diversos ndash ZUD satildeo definidas em razatildeo da concentraccedilatildeo de atividades urbanas diversificadas com predominacircncia do uso comercial e de serviccedilos Artigo 104 - Satildeo objetivos das Zonas de Usos Diversos I - otimizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do solo priorizando a instalaccedilatildeo de novos empreendimentos em terrenos natildeo edificados contiacuteguos a empreendimentos jaacute instalados II - controle da implantaccedilatildeo de usos incompatiacuteveis com os definidos para estas zonas III - garantia de licenciamento e monitoramento ambiental dos empreendimentos IV - controle da expansatildeo comercial de serviccedilos e de induacutestrias de pequeno porte em direccedilatildeo a aacutereas residenciais [] Artigo 130 - As Zonas Especiais 1 ndash ZE 1 abrangem todas as aacutereas remanescentes do municiacutepio relativamente ao zoneamento estabelecido nesta lei ocupadas ou natildeo contida na lei de periacutemetro urbano para as quais natildeo foram ainda estabelecidos os criteacuterios de uso e ocupaccedilatildeo Artigo 131 - As Zonas Especiais 2 ndash ZE 2 satildeo as aacutereas existentes no prolongamento da avenida Beira Rio mais especificamente no trecho entre o 80 Batalhatildeo da Poliacutecia Militar e a rua Pedro Epichin incluindo o espaccedilo existente entre a margem do Rio Doce e o limite das construccedilotildees localizadas na rua Pedro Epichin

Cabe destacar que mesmo sendo palco das aacutereas mais afetadas com as inundaccedilotildees do

Rio Doce a Beira-Rio tem sido alvo da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria que aproveitando-se dos

iacutendices pouco restritos da ZUD 2 (Figura 28 p62) valoriza o espaccedilo promovendo a

instalaccedilatildeo de grandes estruturas como hipermercados edifiacutecios residenciais modernos e

hotelaria

66

Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 Fonte Colatina (2007)

A aacuterea contida na ZE (Figura 28) natildeo possui criteacuterio de ocupaccedilatildeo definido na legislaccedilatildeo

atual sendo adotado o disposto na Lei 41961995 que estabelece os iacutendices urbaniacutesticos

para as aacutereas conquistadas junto ao Rio Doce e na Lei 420595 que aprova os

parcelamentos na Beira-Rio Quanto agrave ZUD 2-1 apresenta iacutendices urbaniacutesticos no anexo

118 do Plano Diretor conforme tabela 3 abaixo

67

Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1

Fonte Colatina (2007 p36)8

68

Eacute relevante observar que numa aacuterea onde o corpo hiacutedrico foi reduzido pelos sucessivos

aterros tenha sido aprovada a instalaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto (Figura

29) com taxa de ocupaccedilatildeo de ateacute 80 e com baixo iacutendice de permeabilidade Ampliou-

se a aacuterea impermeaacutevel numa regiatildeo onde a drenagem jaacute eacute muito comprometida com a

expansatildeo urbana sobre o rio

Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto na Beira-Rio Fonte imagem do Google Maps 2015 E fotos da autora em 140215

Portanto analisando o conjunto de dados apresentado acima eacute possiacutevel entender como

as inundaccedilotildees satildeo potencializadas no municiacutepio atingindo a populaccedilatildeo mas em especial

afetando a dinacircmica de um corpo hiacutedrico tatildeo relevante para o Estado A fim de subsidiar a

gestatildeo puacuteblica com material cartograacutefico para a tomada de decisotildees delimitou-se o

poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo (Figura 30) Pois devem ser adotadas medidas que

minimizem impactos de futuros eventos hidroloacutegicos na bacia capazes de comprometer

novamente a aacuterea urbana mais central de Colatina

69

Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av Beira-Rio em dezembro de 2013 Elaborado pela autora

70

Diante do poliacutegono de inundaccedilatildeo da uacuteltima cheia (Figura 30) em dezembro de 2013 eacute

possiacutevel implementar medidas de convivecircncia com as grandes vazotildees a exemplo de

paiacuteses como Holanda que vem investindo em medidas de resiliecircncia a fim de reduzir a

velocidade dos defluacutevios possibilitando ao canal a capacidade de acumular e dispersar as

aacuteguas com impacto miacutenimo para as populaccedilotildees Conforme Carneiro e Miguez (2011) a

estrateacutegia adotada pelo paiacutes eacute reter armazenar e drenar sendo mais flexiacutevel e natildeo

interferindo drasticamente na dinacircmica do corpo hiacutedrico

Por fim a implementaccedilatildeo de soluccedilotildees de planejamento urbano em Colatina requer uma

anaacutelise integrada que abarque o urbano e o ambiental de modo a propor intervenccedilotildees que

produzam impactos reduzidos nos processos geomorfoloacutegicos do Rio Doce Logo a gestatildeo

municipal deve atuar em niacutevel de bacia hidrograacutefica interagindo com os municiacutepios a

montante propondo medidas de minimizaccedilatildeo das cheias urbanas Mas na escala local

pode-se atuar junto aos novos parcelamentos de modo a ampliar o percentual de aacutereas

permeaacuteveis no municiacutepio incentivando por exemplo os novos loteamentos a adotarem

pavimentaccedilotildees que permitam a drenagem natural do solo

71

5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Partindo da ideia de que eacute possiacutevel implementar medidas que minimizem o escoamento

superficial satildeo apresentadas propostas como forma de controlar ou ao menos reduzir os

impactos das inundaccedilotildees urbanas

Embora as implementaccedilotildees histoacutericas de estruturas de proteccedilatildeo ou barreiras mais altas

tenham sido muito disseminadas atualmente estatildeo sendo suplantadas pelo gerenciamento

de inundaccedilotildees de maneira mais sustentaacutevel Deste modo as experiecircncias fora do Brasil

apontam para soluccedilotildees mais flexiacuteveis que considerem o fluxo natural do canal enquanto

um ecossistema em equiliacutebrio Para tanto Carneiro e Miguez (2011 p150) destacam a

iniciativa alematilde no controle de inundaccedilotildees em bacias hidrograacuteficas metropolitanas

[hellip] A abordagem comum consiste na regulaccedilatildeo do uso do solo nas aacutereas inundaacuteveis e em ldquodar espaccedilo para o riordquo ao inveacutes de priorizar investimentos em estruturas de proteccedilatildeo contra inundaccedilotildees como a colocaccedilatildeo de diques de contenccedilatildeo as margens dos rios A utilizaccedilatildeo do conceito de resiliecircncia apropriado de ecologia decorre dessa abordagem A aplicaccedilatildeo praacutetica do conceito implica portanto em mudanccedilas de paradigma Deixa de ser preponderante a engenharia construtiva e entra em cena o planejamento de longo prazo voltado para o desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis capazes de conviver com as variaccedilotildees do ciclo hidroloacutegico sem significar necessariamente trageacutedias anunciadas

Aleacutem dessas propostas geoacutegrafos como Sandra Cunha tecircm estudado a recuperaccedilatildeo

natural ou ldquorenaturalizaccedilatildeordquo de corpos fluviais visando promover a estabilidade dos canais

de modo mais sustentaacutevel Para ela

[hellip] Recuperaccedilatildeo de canal significa de forma simples o retorno as condiccedilotildees anteriores aos distuacuterbios Em essecircncia eacute o processo de recuperaccedilatildeo do rio ou do ecossistema fluvial estabilizando o desenvolvimento de habitats e colonizaccedilatildeo a uma taxa mais raacutepida que dos processos naturais fiacutesicos e bioloacutegicos Na recuperaccedilatildeo de canais ocorrem consideraccedilotildees de aspecto hidroloacutegico morfoloacutegico e ecoloacutegico qualidade da aacutegua esteacutetica aleacutem da necessidade de uma visatildeo integradora do projeto sustentaacutevel de recuperaccedilatildeo (CUNHA 2012 p230 a 231)

Satildeo portanto medidas pontuais como o retorno agraves sinuosidades do rio (Figura 31 p 68)

ou a substituiccedilatildeo de estruturas de concreto por superfiacutecies mais permeaacuteveis a exemplo

das trincheiras de infiltraccedilatildeo ou pavrsquos (Figura 32) aacutereas mais vegetadas aleacutem de coleta e

uso de aacutegua da chuva bem como tratamento das aacuteguas superficiais por meio de

72

amenidades esteacuteticas como reservatoacuterios de retenccedilatildeo ou detenccedilatildeo que podem ser

associados a ambientes harmocircnicos como lagos artificiais Todas estas accedilotildees possibilitam

a minimizaccedilatildeo das grandes vazotildees no solo urbano pois pretendem atenuar os impactos

das cheias fazendo com que seja resgatada parte da drenagem existente anteriormente agrave

urbanizaccedilatildeo

Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do Rio Aa Munster Alemanha (1998) Fonte Cunha (2012 p233)

Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos Fonte Carneiro e Miguez (2011 p128)

A partir do exposto cabe agrave gestatildeo municipal implementar legislaccedilotildees que priorizem a

permeabilidade possibilitando uma maior infiltraccedilatildeo das aacuteguas das chuvas atraveacutes de

pavimentaccedilotildees menos impermeaacuteveis e da ampliaccedilatildeo de aacutereas vegetadas Satildeo medidas

que tornam a drenagem mais sustentaacutevel aleacutem de possibilitar a manutenccedilatildeo dos serviccedilos

puacuteblicos de forma menos custosa tendo em vista o elevado preccedilo das recomposiccedilotildees

asfaacutelticas

1 2

73

Aleacutem disso quando se fala em controle de cheias urbanas pressupotildee-se uma seacuterie de

medidas para minimizaccedilatildeo de seus impactos desde a operaccedilatildeo de sistemas de alerta

zoneamento de aacutereas inundaacuteveis construccedilatildeo de grandes reservatoacuterios de contenccedilatildeo de

cheias e diques ateacute accedilotildees de educaccedilatildeo ambiental

Cabe pensar tambeacutem na proacutexima revisatildeo do PDM em um plano de macrodrenagem

municipal que reuacutena accedilotildees de caraacuteter estruturantes com obras hidraacuteulicas de infraestrutura

que realizem a conduccedilatildeo final das aacuteguas dos escoamentos superficiais para a minimizaccedilatildeo

das inundaccedilotildees e em medidas natildeo-estruturantes que trabalhem a consciecircncia ambiental

e proponha um zoneamento de cheias a fim de se delimitar os pontos mais fragilizados nos

defluacutevios

Por fim pensar em drenagem num contexto de ocupaccedilatildeo irregular histoacuterico requer

profissionais que aleacutem de possuir afinidade com a temaacutetica tambeacutem possam analisar os

diferentes processos que constituem o espaccedilo geograacutefico Logo este tipo de estudo deve

abarcar uma equipe multidisciplinar que percorra a anaacutelise desde o ambiental estrutural

ateacute o aspecto humano a fim de se produzir resultados que de fato contribuam com o

controle das inundaccedilotildees urbanas

74

6 CONCLUSAtildeO

A partir do recorte espacial foi possiacutevel compreender que a abordagem da geomorfologia

fluvial com a anaacutelise espaccedilo-temporal da ocupaccedilatildeo urbana possibilita a identificaccedilatildeo das

accedilotildees do homem no meio ambiente pois estas resultam na alteraccedilatildeo das paisagens

naturais e na dinacircmica da bacia hidrograacutefica Assim o Rio Doce deve ser estudado de

modo integrado ao crescimento da cidade sobretudo para compreensatildeo da produccedilatildeo do

espaccedilo geograacutefico

Analisar a inundaccedilatildeo urbana em Colatina foi satisfatoacuterio pois o municiacutepio estaacute situado no

perfil meacutedio-baixo da bacia vazante e eacute neste trecho que os reflexos das intervenccedilotildees satildeo

mais acentuados principalmente se esta parte do canal tambeacutem tiver passado por obras

que modificaram seus processos hidroloacutegicos Aleacutem disso a perspectiva geograacutefica aponta

para vaacuterias outras questotildees como erosatildeo fluvial planejamento urbano poluiccedilatildeo ambiental

crise da aacutegua que conduzem a outras discussotildees acerca da relaccedilatildeo homemnatureza

Ao demonstrar a evoluccedilatildeo espaccedilo-temporal do uso e cobertura da terra na margem direita

do Doce associando esta ocupaccedilatildeo agraves obras estruturantes que foram executadas no

canal verificamos que todas as praacuteticas adotadas para conter o transbordamento do rio

acabaram alterando sua morfologia com a retificaccedilatildeo de trechos em meandros reduzindo

a largura do corpo hiacutedrico o que favoreceu a apropriaccedilatildeo urbana de suas vaacuterzeas Aliadas

a estas questotildees estatildeo a falta de planejamento urbano e a omissatildeo diante da supressatildeo

das matas ciliares principalmente se considerados os resultados do relatoacuterio teacutecnico do

IJSN contra enchentes em 1980

Cabe destacar tambeacutem que toda a anaacutelise da ocupaccedilatildeo urbana e desnaturalizaccedilatildeo do

Rio Doce foi melhor identificada a partir dos produtos cartograacuteficos deste trabalho Pois eacute

na espacialidade dos fenocircmenos e no registro de informaccedilotildees ainda natildeo mapeadas como

os aterros que o geoacutegrafo executa a anaacutelise do seu objeto de estudo o homem e a

natureza aqui representado pela sociedade e o canal do Doce

Apesar do municiacutepio apresentar leis que resguardam os leitos dos rios desde o primeiro

PDM em 1996 nada foi feito para conter as ocupaccedilotildees irregulares beira-rio Pelo contraacuterio

estas aacutereas foram incorporadas ao Plano Diretor em 2007 com possibilidades de

ocupaccedilotildees diversas o que tem levado especuladores a valorizar o solo com vista para o

rio apontando suas qualidades esteacuteticas e teacutermicas Este fato vem aumentando o

75

percentual de aacutereas impermeaacuteveis nesta margem comprometendo ainda mais a drenagem

dos defluacutevios

Eacute na Av Beira-Rio que crescem as implantaccedilotildees de grandes empreendimentos comerciais

como supermercado Casagrande Ogil Hotel e obras de construccedilatildeo de novos arranha-

ceacuteus em um periacutemetro que jaacute eacute totalmente comprometido com os extravasamentos do Rio

Doce Estas obras ocupam grandes aacutereas e na maioria das vezes apresentam reduzida

aacuterea permeaacutevel reservando apenas o obrigatoacuterio pela lei cerca de 10 Observa-se

tambeacutem que a implantaccedilatildeo desses projetos estaacute condicionada agrave apresentaccedilatildeo e

aprovaccedilatildeo por comissatildeo na prefeitura do Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV) sendo

difiacutecil conceber que seja concedida tal licenccedila para implementaccedilatildeo de obras num trecho

de risco ambiental

Embora as diretrizes do Estatuto das Cidades para a implementaccedilatildeo do uso da terra

sustentaacutevel e os instrumentos para a regulaccedilatildeo do solo urbano sejam avanccedilados Colatina

eacute mais um exemplo da carecircncia de profissionais capacitados para estudar de modo

integrado e em niacutevel de bacia hidrograacutefica os efeitos da accedilatildeo humana num ambiente tatildeo

peculiar como as margens do Doce Por isso com os objetivos traccedilados nesta pesquisa

podemos aleacutem de compreender o fenocircmeno criar uma metodologia de anaacutelise de aacutereas

inundaacuteveis em ambientes urbanos O que permite agrave gestatildeo municipal uma diretriz para a

tomada de decisotildees

Destaca-se tambeacutem que as legislaccedilotildees aqui referenciadas supriram a discussatildeo acerca do

objeto de estudo mas outras podem contribuir para esta pesquisa a exemplo do Coacutedigo

das Aacuteguas da Poliacutetica Nacional dos Recursos Hiacutedricos das Resoluccedilotildees do Conama do

Estatuto das Cidades entre outros

Sendo assim numa revisatildeo do PDM deve-se pensar nestes aspectos da cidade desde o

histoacuterico de ocupaccedilatildeo das margens ateacute os impactos das inundaccedilotildees e o presente trabalho

auxilia com uma nova abordagem na reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo fornecendo material

cartograacutefico para subsidiar propostas de proteccedilatildeo ao curso do Doce e consequentemente

da populaccedilatildeo

Por fim deve-se destacar que o recorte estaacute inserido num contexto maior de uma bacia

hidrograacutefica que se estende aleacutem dos limites de Colatina ou do estado do Espiacuterito Santo

Esta bacia compreende a Regiatildeo Hidrograacutefica do Atlacircntico Leste e estaacute alocada tambeacutem

76

no estado de Minas Gerais o que portanto torna as accedilotildees de controle das inundaccedilotildees

mais complexas tendo em vista as divergentes politicas territoriais

77

7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

Agecircncia Nacional de Aacuteguas - ANA Sinopse das Bacias Hidrograacuteficas do Atlacircntico Sul Brasiacutelia 2001 Disponiacutevel em lt httpwww2anagovbrPaginasportaisbaciasAtlanticoLesteaspxgt Acesso em 14 de Junho de 2014 ALBANI V Trajetoacuteria do crescimento da cidade de Colatina 2012 161f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) ndash Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo do Centro de Artes da Universidade Federal do Espirito Santo Vitoria 2012 BENNACHIO MARINELSON Cidade de Colatina princesa do norte 2015 Disponiacutevel em lthttpwwwmarinelsoncombrcolatina gt Acesso em 05 de Fevereiro de 2015 BRASIL Novo Coacutedigo Florestal Lei nordm 12651 de 25 de Maio de 2012 Dispotildee sobre a proteccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_ato2011-20142012leil12651htm gt - Acesso em 24 de Maio de 2014 BRASIL Estatuto das Cidades guia para implantaccedilatildeo pelos municiacutepios e cidadatildeos Lei 10257 de julho de 2001 Regulamenta os Artigos 182 e 183 da Constituiccedilatildeo Federal Estabelece Diretrizes Gerais da Poliacutetica Urbana e daacute Outras Providecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisleis_2001l10257htmgt Acesso em 13 de Julho de 2014 CANHOLI A P Drenagem urbana e controle de enchentes Oficina de textos Satildeo Paulo 2005 CARNEIRO PRF Controle De Inundaccedilotildees Em Bacias Metropolitanas Considerando A Integraccedilatildeo Do Planejamento Do Uso Do Solo Agrave Gestatildeo Dos Recursos Hiacutedricos Estudo De Caso Bacia Dos Rios IguaccediluSarapuiacute Na Regiatildeo Metropolitana Do Rio De Janeiro 2008 305f Tese (Doutorado em Engenharia Civil) - Programa De Poacutes-Graduaccedilatildeo De Engenharia Da Universidade Federal Do Rio De Janeiro Rio de Janeiro 2008 CARNEIRO PRF MIGUEZ MG Controle de inundaccedilotildees em bacias hidrograacuteficas metropolitanas 1ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Annablume 2011 CHRISTOFOLETTI A Geomorfologia 2ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Edgard Blucher Ed da Universidade de Satildeo Paulo 1980 COELHO A L N Bacia Hidrograacutefica do Rio Doce (MGES) uma anaacutelise socioambiental integrada Revista GeografarES Vitoacuteria ndash ES nordm 7 2009 P 131-146 ______ Geomorfologia Fluvial de Rios Impactados por Barragens Revista Caminhos de Geografia Uberlacircndia v 9 n 26 Jun2008 p 16 - 32 ______ Situaccedilatildeo Hiacutedrico-Geomorfoloacutegica da Bacia Do Rio Doce com Base nos Dados da Seacuterie Histoacuterica de Vazotildees da Estaccedilatildeo de Colatina - ES Caminhos da Geografia (UFU Online) v 6 p 56-79 2006

78

______ Alteraccedilotildees Hidrogeomorfoloacutegicas no meacutedio-baixo Rio Doce ES 2007 227f Tese (Doutorado em Geografia) ndash Programa de Poacutes- Graduaccedilatildeo do Departamento de Geografia da Universidade Federal Fluminense Niteroacutei 2007 COELHO MCN Impactos ambientais em aacutereas urbanas ndash Teorias conceitos e meacutetodos de pesquisa In GUERRA e CUNHA (orgs) Impactos Ambientais Urbanos no Brasil 10ordf Ediccedilatildeo Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2013 COLATINA Lei Municipal nordm 4 227 de 12 de fevereiro de 1996 Dispotildee sobre o Parcelamento do Solo Urbano Disponiacutevel em lt httpwwwlegislacaoonlinecombrcolatinaimagesleishtmlL42271996html gt - Acesso em 24 de Abril de 2014 ______ Lei Municipal nordm 4228 de 12 de fevereiro de 1996 Dispotildee sobre o Plano Diretor Municipal de Colatina Revogada Disponiacutevel em lt httpwwwlegislacaoonlinecombrcolatinaimagesleishtmlL42281996html gt - Acesso em 24 de Abril de 2014 ______ Lei Municipal nordm 5273 de 12 de Marccedilo de 2007 Dispotildee sobre o Plano Diretor Municipal de Colatina Disponiacutevel em lt httpwwwlegislacaoonlinecombrcolatinaimagesleishtmlL52732007htmlgt - Acesso em 19 de Abril de 2014 ______ Imagem aeacuterea da margem direita do Doce anterior a deacutecada de 1950 e posterior a deacutecada de 1990 Dispotildee sobre a ocupaccedilatildeo na margem direita do Doce no centro de Colatina Disponiacutevel em lt httpwwwcolatinaesgovbrnoticiasmostrar_noticiaphparea=gabinampmateria=1971gt - Acesso em 04 de Fevereiro de 2015 ______ Projeto de enrocamento da Av Beira Rio de Colatina 2015 Disponiacutevel em lt httpwwwcolatinaesgovbrobraspagina=enroncamento gt - Acesso em 14 de setembro de 2014 CUNHA SB Geomorfologia fluvial In GUERRA e CUNHA (orgs) Geomorfologia uma atualizaccedilatildeo de bases e conceitos 4ordf Ediccedilatildeo Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2001 ______ Canais Fluviais e a Questatildeo Ambiental In GUERRA e CUNHA (orgs) A questatildeo ambiental diferentes abordagens 8ordf Ediccedilatildeo Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2012a ______ Rios Desnaturalizados In BARBOSA e LIMONAD (orgs) Ordenamento territorial e ambiental 1ordf Ediccedilatildeo Niteroacutei Editora da UFF 2012b DALLAPICOLA M S Q COELHO A LN Transbordamento das aacuteguas do rio Doce na aacuterea urbana de Colatina ES em dezembro de 2013 Disponiacutevel em lt httpwwwdsrinpebrsbsr2015filesindexauthtmletraM gt Acesso em 18 de fevereiro de

2015 DEFESA CIVIL DO TOCANTINS Esquema de representaccedilatildeo das inundaccedilotildees e enchentes urbanas 2015 Disponiacutevel em lthttpdefesaciviltogovbrenchente gt Acesso em 22 de Marccedilo de 2015

79

ENCONTRA COLATINA Foto aeacuterea de Colatina do Bairro Esplanada sentido a foz do rio Doce 2015 Disponiacutevel em lt httpwwwencontracolatinacombrsobre-colatinagt Acesso em 17 de fevereiro de 2015 FITZ P R Geoprocessamento sem Complicaccedilatildeo Satildeo Paulo Ed Oficina de Textos 2008a ______ Cartografia Baacutesica (nova ediccedilatildeo) Satildeo Paulo Ed Oficina de Textos 2008b FOLHA VITORIA Preacutedio e quatro casas desabam em Colatina Noroeste do Estado Vitoria 24 de dezembro de 2013 lt httpwwwfolhavitoriacombrgeralnoticia201312predio-e-quatro-casas-desabam-em-colatina-noroeste-do-estadohtml gt - Acesso em 25 de Maio de 2014 GAZETA G1 Espirito Santo imagens da enchente de Colatina em dezembro de 2013 Disponiacutevel em lthttpg1globocomespirito-santonoticia201312sobe-para-40-mil-o-numero-pessoas-fora-de-casa-no-es-diz-defesa-civilhtmlgt Acesso em 16 de fevereiro de 2015 GORSKI MCB Rios e cidades ruptura e reconciliaccedilatildeo 1ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Senac Satildeo Paulo 2010 GRAEFF OR Licenciamento Ambiental Urbano In GUERRA (org) Geomorfologia Urbana 1ordf Ediccedilatildeo Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2011 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Cidades Disponiacutevel em lthttpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=320150ampsearch=||infograacuteficos-informaccedilotildees-completasgt Acesso em 25 de Maio de 2014 Instituto Capixaba de Pesquisa Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural - INCAPER Relatoacuterio do Programa De Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural (PROATER 2011) Disponiacutevel em ltwwwincaperesgovbrproatermunicipiosNoroesteColatinapdfgt Acesso em 24 de Maio de 2014 Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hiacutedricos ndash IEMA Ortofotos Espirito Santo do vocirco de 2007 a 2008 Disponiacutevel em lt http18984218229aplicmapgeralhtm5fc6ad50c096dbb2c3dc4bf3e379ae63 gt Acesso em 18 de fevereiro de 2015 Instituto Jones dos Santos Neves ndash IJSN Plano Diretor de Contenccedilatildeo as Enchentes Proteccedilatildeo as Encostas e Drenagem Pluvial de Colatina de abril de 1982 Disponiacutevel em lthttpwwwijsnesgovbrConteudoDigital20120801_ij00163_planodiretor_custo_mapa_v4pdf gt Acesso em 26 de janeiro de 2015 ______ Planos de Informaccedilatildeo formato shapefile 2015 Disponiacutevel em lthttpwwwijsnesgovbrSitioindexphpoption=com_contentampview=articleampid=3780ampItemid=330 gt Acesso em 26 de janeiro de 2015 JAILSON MONTEIRO Imagens da inundaccedilatildeo da Av Beira Rio de Colatina em dezembro de 2013 Disponiacutevel em httptecmixinforblogspotcombr201312enchente-colatinahtmlgt Acesso em 17 de Fevereiro de 2015

80

JENSEN J R Sensoriamento Remoto do Ambiente uma perspectiva em recursos terrestres Satildeo Joseacute dos Campos SP Parecircntese 2009 MINISTERIO PUBLICO FEDERAL - MPF Accedilatildeo Civil Puacuteblica com pedido de Antecipaccedilatildeo de Tutela - da obra de Enrocamento da Av Beira Rio em ColatinaES2006 Disponiacutevel emlt wwwpresmpfmpbracp_riodoce_colatinadocgt Acesso em 14 de marccedilo de 2015 NOSSA COLATINA Fatos Histoacutericos Culturais Curiosidades Informaccedilatildeo Variedades Disponiacutevel em lt httpswwwfacebookcomnossacolatinagt Acesso em 29 de Janeiro de 2015 NOSSA LINDA COLATINA Fotos histoacutericas do centro de Colatina Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomNossaLindaColatinaphotosgt Acesso em 29 de Janeiro de 2015 Serviccedilo Geoloacutegico do Brasil ndash CPRM Relatoacuterio Teacutecnico do Periacuteodo Criacutetico de Dezembro de 2013 (CPRM 2014) Disponiacutevel emlthttpwwwcprmgovbrpubliquemediarelatorio_eventos_criticos_190314pdfgt Acesso em 16 de Setembro de 2014 Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espiacuterito Santo - GEOBASES Downloads de planos de informaccedilatildeo do estado municiacutepio bairros corpo drsquoagua entre outros Disponiacutevel em httpwwwgeobasesesgovbr Acesso em 07 de Setembro de 2014 SITE BARRA Colatina debaixo drsquoaacutegua na maior enchente da histoacuteria do municiacutepio Colatina 24 de dezembro de 2013 lt httpwwwsitebarracombr201312colatina-debaixo-dagua-na-maior-enchente-da-historia-do-municipiohtml gt - Acesso em 25 de Maio de 2014 TUCCI CEM Prefacio In GUERRA e CUNHA (orgs) Impactos Ambientais Urbanos no Brasil 10ordf Ediccedilatildeo Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2013 UOL NOTiacuteCIAS Chuvas causam estragos em mais de dois terccedilos dos municiacutepios do Espiacuterito Santo Vitoacuteria 26 de dezembro de 2013 lt httpnoticiasuolcombralbum20131223chuvas-causam-estragos-em-metade-dos-municipios-do-espirito-santohtmfotoNav=62 gt ndash Acesso em 31 de Maio de 2014 USGS - Geological Survey Serviccedilo Geoloacutegico Americano Aquisiccedilatildeo de imagens orbita digitais gratuitas do sateacutelite LandSat-8 datas de passagem 02012014 e 22032014 EUA Disponiacutevel em lthttpearthexplorerusgsgovgt Acesso em 05 de setembro de 2014

Page 8: DESNATURALIZAÇÃO DO RIO DOCE: UMA ABORDAGEM … · Ao engenheiro Francisco Hermes, pela experiência e conhecimentos partilhados da área de estudo. Aos meus amigos Mônica Regina,

Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponrte Florentino Aacutevidos (direita)

e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa

Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque

em vermelho para o curso atual do Santa Maria 58

Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de

proteccedilatildeo agrave ponte 59

Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o

traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas 60

Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o

calccediladatildeo da Av Beira-Rio61

Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento

iniciada em 2004 e finalizada em 2008 62

Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina 63

Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce antes e

depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas 64

Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 66

Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto da Beira-Rio 68

Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da

inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av

Beira-Rio em dezembro de 2013 69

Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do rio Aar Munster Alemanha (1998) 72

Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos 72

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Perfis Transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de vazante (abril) e cheia (janeiro) 50

Tabela 2 Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013 54

Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1 67

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 - Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais

(Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia) 25

Graacutefico 2 - Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 201045

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANA - Agecircncia Nacional de Aacuteguas

APP - Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente

CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais Serviccedilo Geoloacutegico Brasileiro

GEOBASES - Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espiacuterito Santo

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IJSN - Instituto Jones dos Santos Neves

INCAPER - Instituto Capixaba de Pesquisa Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural

PDM - Plano Diretor Municipal

PMC - Prefeitura Municipal de Colatina

PROATER - Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural

SIG - Sistema de Informaccedilotildees Geograacuteficas

UHE ndash Usina Hidreleacutetrica

UTM - Universal Tranverse Mercator

USGS - Geological Survey Serviccedilo Geoloacutegico Americano

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14

11 Objetivo 16

111 Objetivo Geral 16

112 Objetivos Especiacuteficos 16

12 Justificativa 17

2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS 20

21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano 20

211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial 23

22 Aspectos Juriacutedicos 27

23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos 31

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS 36

4 RESULTADOS 40

41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana 40

411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade 46

42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce 49

421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie de

Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio 53

422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio 65

5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 71

6 CONCLUSAtildeO 74

7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 77

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

A partir da deacutecada de 1930 com a transiccedilatildeo econocircmica de um eixo agraacuterio-exportador

para um polo urbano-industrial (CARNEIRO 2008) verificou-se no Brasil a migraccedilatildeo da

maior parte da populaccedilatildeo para as cidades Isso acarretou segundo Tucci (2013 p17) uma

ldquo[] concentraccedilatildeo urbana no Brasil da ordem de 80 da populaccedilatildeo e o seu

desenvolvimento tem sido realizado de forma pouco planejada com grandes conflitos

institucionais e tecnoloacutegicos []rdquo

De acordo com Canholi (2005 p15) a expansatildeo da aacuterea urbana ldquo[] consequentemente

impermeabilizada ocorreu a partir das zonas mais baixas proacuteximas agraves vaacuterzeas dos rios

ou agrave beira-mar em direccedilatildeo agraves colinas e morros em face da necessaacuteria interaccedilatildeo da

populaccedilatildeo com os corpos hiacutedricos []rdquo Neste cenaacuterio surgem as ocupaccedilotildees irregulares

nas Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) como as da planiacutecie de inundaccedilatildeo dos rios

e os topos de morros

Essas ocupaccedilotildees desordenadas satildeo proporcionadas pela precariedade da implantaccedilatildeo e

fiscalizaccedilatildeo das legislaccedilotildees urbaniacutesticas de ordenamento territorial e ambiental Neste

contexto satildeo relevantes as pesquisas que visam correlacionar o viacutenculo

sociedadenatureza de modo a entender como a ocupaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo no

solo conecta-se com a hidrodinacircmica dos recursos naturais uma vez que ldquo[] a tendecircncia

atual do limitado planejamento urbano integrado estaacute levando as cidades a um caos

ambiental urbano com custo extremamente alto para a sociedaderdquo (TUCCI 2013 p17)

Deve-se partir do pressuposto teoacuterico articulado com a ideia anterior de ldquo[]

indissociabilidade entre natureza e sociedade []rdquo (COELHO 2013 p21) em que a

sociedade natildeo pode ser apenas entendida como populaccedilatildeo e a natureza enquanto mero

ambiente fiacutesico mas que estes dois fatores estatildeo dinamicamente produzindo o espaccedilo

geograacutefico

Neste contexto a problemaacutetica se afirma no intuito de relacionar as legislaccedilotildees urbanas

(Lei de Parcelamento do Solo 676679 e PDM) e ambientais (Novo Coacutedigo Florestal 2012)

com as suas aplicaccedilotildees ou natildeo no periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina

principalmente nos bairros que se situam na planiacutecie de inundaccedilatildeo do Rio Doce

A escolha da temaacutetica tambeacutem teve como premissa a importacircncia regional de Colatina

como entreposto comercial e logiacutestico para os municiacutepios do noroeste capixaba conforme

15

relato do Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural - PROATER (INCAPER

2011)

Exportadores de cafeacute atacadistas e as lojas de pronta entrega dinamizam o comeacutercio local que atende aos municiacutepios do norte capixaba leste de Minas Gerais e sul da Bahia representando um universo de mais de 700 mil consumidores (INCAPER 2011 p5)

De acordo ainda com o INCAPER (op cit) Colatina tem crescido a uma margem de 188

anual o que representa a tendecircncia ao ecircxodo rural sendo que a populaccedilatildeo do campo vem

diminuindo de aproximadamente 19 em 1990 passou a 12 no Censo de 2010 Diante

do exposto entra em discussatildeo o planejamento urbano pois com o crescimento da

populaccedilatildeo citadina para cerca de 88 aumentam tambeacutem as pressotildees sobre o meio

ambiente em especial as regiotildees ribeirinhas

Estas uacuteltimas refletem o aumento das atividades humanas na bacia hidrograacutefica onde

pode-se destacar as mudanccedilas induzidas pelas accedilotildees antropogecircnicas que se dividem em

diretas (aquelas que atuam no canal fluvial para controle das vazotildees a exemplo dos

reservatoacuterios e desvios de aacuteguas) e indiretas relacionadas agraves aacutereas fora dos canais por

exemplo o desmatamento e urbanizaccedilatildeo sendo que estas comprometem a descarga e

carga soacutelida do rio (PARK1981 KNIGHTON1984 apud CUNHA 2001)

O interesse pela pesquisa surge da importacircncia regional do municiacutepio dos impactos

histoacutericos humanos materiais e imateriais sofridos diante de eventos hidroloacutegicos

extremos tendo em vista o fato de o periacutemetro urbano ser cortado por um corpo fluvial de

importacircncia regional Aleacutem disso a abordagem geograacutefica possibilita a correlaccedilatildeo dos

processos fluviais com a ocupaccedilatildeo urbana de modo mais integrado (COELHO 2009)

Portanto uma das finalidades deste trabalho eacute analisar por meio das geotecnologias e das

investigaccedilotildees de campo como a ocupaccedilatildeo urbana tem interferido nas margens do Rio

Doce de modo a delimitar os sucessivos aterros na margem direita no periacutemetro do bairro

Esplanada a Colatina Velha Ademais identificar como os processos deste canal fluvial

tecircm sido afetados pela intervenccedilatildeo humana em seu leito principal

16

11 Objetivo

111 Objetivo Geral

Correlacionar os processos fluviais do Rio Doce por meio da dinacircmica geomorfoloacutegica

deste canal com o uso e cobertura da terra no setor urbano do municiacutepio de Colatina

Espiacuterito Santo Contrapondo assim as intervenccedilotildees urbanas da beira-rio com o Plano

Diretor Municipal e o Novo Coacutedigo Florestal enfatizando as diretrizes adotadas no

parcelamento do solo para a planiacutecie de inundaccedilatildeo deste rio

112 Objetivos Especiacuteficos

Identificar os vetores de crescimento urbano do municiacutepio a fim de avaliar a

evoluccedilatildeo da mancha urbana junto ao canal principal

Determinar o comprimento da borda da calha do leito regular do Rio Doce no

periacutemetro urbano de Colatina para definiccedilatildeo da largura miacutenima da faixa marginal

de preservaccedilatildeo

Espacializar as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente beira-rio previstas em lei a fim

de analisar a ocupaccedilatildeo urbana nestes espaccedilos

Cartografar os principais pontos desnaturalizados no canal principal do Rio Doce

no setor urbano de Colatina

Demonstrar como o emprego das geotecnologias auxilia no planejamento urbano

e ambiental especialmente em acircmbito municipal

17

12 Justificativa

A aacuterea de estudo corresponde ao periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina situado na

Bacia Atlacircntico trecho leste sub-bacia do Rio Doce no baixo curso (ANA 2001)

Compreende a regiatildeo noroeste do estado do Espiacuterito Santo latitude 19deg 32rsquo 16rsquorsquo S e

longitude 40deg 37rsquo 59rsquorsquo W De acordo com os dados do censo de 2010 do Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio possuiacutea uma populaccedilatildeo de 111788 mil

habitantes1 numa aacuterea territorial de 1416804 kmsup2

Devido a sua privilegiada posiccedilatildeo geograacutefica limiacutetrofe com o Rio Doce e a construccedilatildeo da

Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas em 1906 Colatina compreendia os territoacuterios dos atuais

municiacutepios de Baixo Guandu Linhares Pancas Satildeo Gabriel da Palha Marilacircndia Satildeo

Domingos do Norte e Governador Lindenberg (INCAPER 2011) Soacute a partir de 2001

passou a apresentar os atuais limites municipais e configurar uma aacuterea urbana com 59

bairros (Figura 1)

Colatina eacute um municiacutepio de importacircncia para regiatildeo noroeste capixaba seja em caraacuteter

econocircmico ou social Eacute responsaacutevel pelos fluxos de cargas da regiatildeo aleacutem de ser um polo

moveleiro de confecccedilatildeo metalmecacircnico e de comeacutercio e serviccedilos gerando emprego e

renda (INCAPER 2011) Aleacutem disso tem sofrido historicamente com as cheias do Rio

Doce principalmente porque parte do seu periacutemetro urbano eacute inundado com as aacuteguas da

calha principal desse rio o que compromete toda a dinacircmica local e potildee em risco os

colatinenses

Assim diante das crescentes demandas por territoacuterio no periacutemetro urbano a populaccedilatildeo

tem suprimido a cobertura vegetal e ocupado desde as margens do Rio Doce ateacute as

encostas dos morros Em periacuteodos de cheias principalmente nos meses de outubro a

marccedilo (INCAPER 2011 ANA 2001) verificam-se inundaccedilotildees de grande parte da aacuterea

urbana beira-rio aleacutem dos movimentos de massa nas encostas Como exemplo destes

acontecimentos tecircm-se os registros fotograacuteficos dos efeitos da chuva de dezembro de 2013

(Figuras 2 e 3)

1 De acordo com o a estimativa do IBGE de 2014 publicada no DOU o municiacutepio conta com uma populaccedilatildeo de 121670 habitantes

18

Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e o canal do Rio Doce Elaborado pela autora

19

Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 Fonte Noticias UOL (2013)

Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de 2013 Fonte Folha Vitoacuteria (2013)

Este estudo portanto eacute relevante tendo em vista as raras abordagens no acircmbito das

Ciecircncias Geograacuteficas especialmente no Espiacuterito Santo de pesquisas que correlacionem

aspectos da geomorfologia fluvial por meio da dinacircmica dos recursos hiacutedricos com o uso

e cobertura da terra particularmente o Plano Diretor Municipal (PDM) Discute dessa

forma as implicaccedilotildees da atuaccedilatildeo humana nas particularidades deste ecossistema natural

tendo em vista o disposto nas legislaccedilotildees urbaniacutesticas e ambientais que visam assegurar

a qualidade de vida das populaccedilotildees

Adiante seratildeo analisados os principais fundamentos da geomorfologia fluvial os aspectos

juriacutedicos e o papel da anaacutelise geograacutefica integrada para o entendimento dos fenocircmenos

das inundaccedilotildees no Centro de Colatina uma vez que eacute devido agraves intervenccedilotildees humanas

nos canais e suas margens que esses fenocircmenos tornam-se mais nocivos a cidade

20

2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS

21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano

Recurso essencial para a manutenccedilatildeo da vida a aacutegua foi um fator relevante para o

estabelecimento histoacuterico das sociedades no entorno dos cursos hiacutedricos Utilizados para

fins de abastecimento humano e animal irrigaccedilatildeo saneamento e transporte os rios

constituiacuteram-se nos principais propulsores de penetraccedilatildeo para o interior (CUNHA 2012a)

Logo em suas margens surgiram povoados que posteriormente transformaram-se em

cidades como as que se estabeleceram agraves margens do Rio Doce a exemplo da sede de

Colatina

Diante das potencialidades que os recursos hiacutedricos possibilitam agraves sociedades

destacamos a importacircncia do estudo da Geomorfologia Fluvial que se apresenta como

campo da Geomorfologia (ciecircncia que estuda as formas do relevo) sendo o interesse

daquela a pesquisa dos processos que relacionam o escoamento das aacuteguas fluviais num

contexto de bacia hidrograacutefica (CHRISTOFOLETTI 1980 CUNHA op cit) Enfoca assim

as alteraccedilotildees na fisionomia dos canais frente agraves intervenccedilotildees no ecossistema natural

beira-rio

A Geomorfologia Fluvial parte da condicionante de que o uso e ocupaccedilatildeo da terra refletem-

se na dinacircmica da bacia de drenagem interferindo nos processos morfogeneacuteticos ou seja

de modelagem do relevo fluvial escoamento superficial das aacuteguas e no ciclo hidroloacutegico

Frente agrave temaacutetica deste estudo faz-se necessaacuterio o entendimento dos conceitos da

fisiografia fluvial aqui referente aos diferentes setores que a aacutegua pode escoar num leito

(Figura 4) como

O leito menor corresponde agrave parte do canal ocupada pelas aacuteguas e cuja frequecircncia impede o crescimento da vegetaccedilatildeo Esse tipo de leito eacute delimitado por partes bem definidas O leito de vazante equivale agrave parte do canal ocupada durante o escoamento das aacuteguas de vazante Suas aacuteguas divagam dentro do leito menor seguindo o talvegue linha de maacutexima profundidade ao longo do leito e que eacute mais bem identificada na seccedilatildeo transversal do canal O leito maior tambeacutem denominado leito maior perioacutedico ou sazonal eacute ocupado pelas aacuteguas do rio regularmente e pelo menos uma vez ao ano durante as cheias Dependendo do tempo ocorrido entre as subidas das aacuteguas eacute possiacutevel haver a fixaccedilatildeo e o crescimento da vegetaccedilatildeo herbaacutecea

21

O leito maior excepcional eacute ocupado durante as grandes cheias no decorrer das enchentes (CUNHA 2001 p 213)

Figura 4 - Tipos de leito fluvial vaacuterzea Fonte Cunha (2001 p213)

Sendo assim as aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial (leitos) aquelas inundadas pelo corpo

hiacutedrico frente a um evento hidroloacutegico extremo tambeacutem satildeo conhecidas como vaacuterzeas

planiacutecie de inundaccedilatildeo ou ainda segundo Carneiro e Miguez (2011 p133) como ldquo[] zona

de passagem de cheia []rdquo Essas aacutereas de vaacuterzeas dependem da fisionomia que o rio

apresenta e segundo Cunha (op cit) o canal fluvial pode apresentar trecircs formas

principais conhecidas como padratildeo dos canais que satildeo retiliacuteneo anastomosado e

meacircndrico (Figura 5)

Figura 5 - Padrotildees dos canais (A) retiliacuteneo (B) anastomosado (C) meandrante (A) amplitude (Rc) raio meacutedio da curvatura do meandro (segundo Bigarella etal 1979) Fonte Cunha (2001 p216)

22

Aliada aos padrotildees dos canais estaacute a assimetria ou simetria dos leitos que para Cunha

(2001 p233) relaciona-se com a variaccedilatildeo da velocidade e turbulecircncia ao longo da secccedilatildeo

transversal o que diferencia o comportamento nos canais retiliacuteneos geralmente simeacutetricos

do canal meacircndrico onde

Em canais de leito simeacutetrico em geral padratildeo retiliacuteneo a velocidade maacutexima ocorre no centro do canal diminuindo em direccedilatildeo agraves margens Em leito assimeacutetrico de padratildeo meacircndrico a zona de maacutexima velocidade e turbulecircncia localiza-se nas proximidades das margens cocircncavas decrescendo de valor em direccedilatildeo agrave margem de menor profundidade

(convexa) (CUNHA opcit p 233)

Deste modo a capacidade de erosatildeo das margens transporte e deposiccedilatildeo da carga do rio

dependem entre outros fatores da velocidade das correntes fluviais E o material do fluxo

fluvial constitui-se da descarga liacutequida ou vazatildeo que estaacute relacionada ao tamanho do

material que pode ser transportado e do volume da carga que o rio eacute capaz de carregar

Tem-se ainda a carga soacutelida sedimentos que estaacute relacionada a suspensatildeo e fundo do

rio esta decresce a jusante indicando a diminuiccedilatildeo da competecircncia do corpo fluvial As

cargas de suspensatildeo satildeo constituiacutedas de partiacuteculas finas a exemplo do silte e por fim a

carga de fundo que eacute composta por partiacuteculas de tamanhos maiores a exemplo da areia

(CUNHA2001)

Christofoletti (1980) acrescenta que os sedimentos podem ser carregados de trecircs modos

principais no fluxo em soluccedilatildeo dissolvidos nos cursos hiacutedricos em suspensatildeo como o

silte e argila e em saltaccedilatildeo geralmente a areia e cascalho que compreendem a carga do

leito do rio Destaca-se que a carga detriacutetica natildeo proveacutem apenas da erosatildeo do fundo dos

leitos e margens fluviais mas que o material intemperizado de vertentes carreado nas

enchentes contribui significativamente para a carga sedimentar transportada

Cabe ressaltar ainda que a relaccedilatildeo do arranjo espacial dos canais com os processos

fluviais (a erosatildeo o transporte e a deposiccedilatildeo de sedimentos) eacute determinante para o

trabalho dos rios Tais processos satildeo diretamente influenciados pela vazatildeo velocidade e

pela intensidade da turbulecircncia (seja no fluxo laminar ou no fluxo turbulento) A

variabilidade no comportamento da velocidade e turbulecircncia das aacuteguas ao longo da seccedilatildeo

transversal condiciona os locais preferenciais de erosatildeo e deposiccedilatildeo ao longo do curso

hiacutedrico

23

Deste modo qualquer intervenccedilatildeo na bacia e canal fluvial compromete o equiliacutebrio natural

da drenagem levando o corpo hiacutedrico a se adaptar agraves mudanccedilas em sua fisionomia

fisiografia e em seus processos ateacute atingir um novo estado de equiliacutebrio Poreacutem eacute na

planiacutecie de inundaccedilatildeo que estas modificaccedilotildees seratildeo mais percebidas pela populaccedilatildeo pois

a maior parte das obras de engenharia como as canalizaccedilotildees e as ocupaccedilotildees das

margens acaba por romper com o equiliacutebrio natural do rio alterando sua dinacircmica e

intensificando seus processos o que na maioria das vezes potencializa as enchentes no

ambiente urbano

Nesse sentido o entendimento dos processos fluviais (erosatildeo transporte e deposiccedilatildeo)

combinado com a anaacutelise da fisiografia fluvial condicionam as peculiaridades na geometria

hidraacuteulica ou seja na relaccedilatildeo entre a vazatildeo velocidade de escoamento tipos de canais

de sedimentos e a topografia Logo o conhecimento geomorfoloacutegico do rio contribui para

pesquisas que necessitem relacionar o funcionamento deste corpo natural com um

planejamento urbano mais efetivo principalmente se considerarmos um recorte em niacutevel

de bacia hidrograacutefica em espaccedilo urbano

211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial

O capiacutetulo que segue versa sobre a atuaccedilatildeo antroacutepica relacionando-a a aacuterea de estudo o

rio Doce poreacutem este trata de forma macro a temaacutetica para contextualizar o leitor sendo

as especificidades das intervenccedilotildees neste recorte geograacutefico trabalhados nos resultados

desta pesquisa

Diante do exposto eacute possiacutevel acompanhar a evoluccedilatildeo dos processos fluviais nos canais

em especial aqueles que tiveram intervenccedilotildees em seu curso natural como as hidreleacutetricas

instaladas a montante a exemplo do Rio Doce onde a interferecircncia direta na vazatildeo e fluxo

de sedimentos altera a hidrodinacircmica do rio comprometendo a erosatildeo e transporte Para

Coelho (2007 p57) as

Mudanccedilas na Declividade Perfil Longitudinal Promovidas pela construccedilatildeo de reservatoacuterio satildeo variadas e caso o efeito da contenccedilatildeo de sedimentos seja significativo os processos fluviais reduziratildeo a capacidade de transporte de sedimento podendo promover um entalhamento do leito do rio imediatamente agrave jusante da barragem

Aleacutem disso esse processo erosivo poacutes-barragem eacute intensificado favorecendo o

assoreamento e sedimentaccedilatildeo do rio a jusante O que pode beneficiar a elevaccedilatildeo da cota

24

do canal fluvial frente a eventos hidroloacutegicos extremos potencializando os efeitos das

inundaccedilotildees nas vaacuterzeas

Ao mesmo tempo o Rio Doce trecho que compreende o Espiacuterito Santo meacutediobaixo curso

eacute impactado nas vazotildees miacutenimas e maacuteximas a jusante apoacutes a instalaccedilatildeo das

barragensUsinas Hidreleacutetricas (UHE) de Mascarenhas (iniacutecio de operaccedilatildeo em 1974)

localizada no Municiacutepio de Baixo Guandu e a de Aimoreacutes (iniacutecio de operaccedilatildeo em 2005)

localizada na divisa do Espiacuterito Santo com Minas Gerais (COELHO 2007)

De acordo com Coelho (opcit) apoacutes a implantaccedilatildeo das usinas ocorreu uma reduccedilatildeo

significativa na vazatildeo da calha principal do Rio Doce conforme Graacutefico 1

Considerando o periacuteodo de 1939 a 2012 a vazatildeo miacutenima apoacutes a instalaccedilatildeo das usinas

chega a atingir 411msup3s e a maacutexima chega apenas a 1251msup3s sendo que no periacuteodo

anterior agrave instalaccedilatildeo das usinas foi registrada a miacutenima de 533 msup3s e uma maacutexima de

1812 msup3s o que ressalta o impacto do barramento sobre o corpo hiacutedrico Aleacutem do

comprometimento dos processos de erosatildeo transporte e sedimentaccedilatildeo (COELHO 2008

e CUNHA 2001)

Diante desta perda de carga liacutequida nos barramentos Cunha (2001 p 241) observa ainda

que as aacutereas a jusante de reservatoacuterios

[hellip] onde o regime do rio sofre significativas modificaccedilotildees devidas ao controle das descargas liquidas e de sedimentos no reservatoacuterio As mudanccedilas ocorridas no regime das aacuteguas neste setor do rio acarretam significativos efeitos nos processos do canal tais como o entalhe do leito a erosatildeo das margens e a deposiccedilatildeo a jusante atingindo longas distacircncias

Aleacutem disso no periacutemetro urbano de Colatina o Rio Doce sofreu outras intervenccedilotildees em

seu canal principal como a implantaccedilatildeo de obras estruturais de macrodrenagem a

exemplo da construccedilatildeo da Av Beira-Rio com intuito de conter o avanccedilo das aacuteguas fluviais

em periacuteodos de cheias

25

Graacutefico 1

Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais (Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia)

Fonte adaptado de Coelho (2007 p154)

26

Como exemplo dos tipos de intervenccedilotildees humanas nas aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial

leitos Carneiro e Miguez (2011 p117) destacam

As accedilotildees de controle e cheias urbanas podem ser classificadas em estruturais quando a paisagem eacute alterada pela accedilatildeo do homem e em natildeo estruturais aqui denominada como estruturante quando o homem aprende a conviver com as enchentes No primeiro caso estatildeo as medidas de controle atraveacutes de obras hidraacuteulicas tais como barragens diques e canais entre outras No segundo caso encontram-se medidas do tipo preventivo tais como zoneamento de aacutereas de inundaccedilatildeo sistemas de alerta educaccedilatildeo ambiental lei de parcelamento e uso dos solos e seguros contra inundaccedilatildeo

Neste cenaacuterio abarcamos os impactos das obras de engenharia como a canalizaccedilatildeo que

altera a fisionomia e fisiografia do rio refletindo-se nos processos geomorfoloacutegicos do canal

e sua planiacutecie de inundaccedilatildeo Para estes a canalizaccedilatildeo eacute uma obra estrutural que aumenta

a capacidade do fluxo do canal aleacutem de intensificar a velocidade do escoamento

superficial antecipando o pico de cheia e transferindo os alagamentos para locais a jusante

na bacia hidrograacutefica

Articulado a esta ideia Cunha (2012b) reflete a desnaturalizaccedilatildeo dos rios por meio de

obras de retificaccedilatildeo com a reduccedilatildeo do comprimento do canal e eliminaccedilatildeo das

sinuosidades Satildeo obras que afetam a estabilidade do corpo hiacutedrico na medida em que

interferem na relaccedilatildeo entre erosatildeo sedimentaccedilatildeo e deposiccedilatildeo provocando efeitos como

alteraccedilatildeo na morfologia do canal Sendo assim ldquo[hellip] a diminuiccedilatildeo da rugosidade no fundo

do canal em conjunto com a perda dos meandros e a aceleraccedilatildeo das velocidades eacute a

principal responsaacutevel pelas mudanccedilas no balanccedilo da energia natural dos sedimentos

fluviais [hellip]rdquo Cunha (2012b p178) No caso do Rio Doce trecho correspondente agrave Av

Beira-Rio alterou-se a sua forma retilinizando-a e sua vegetaccedilatildeo natural foi substituiacuteda

por estruturas de pedras o que compromete a resistecircncia ao fluxo as margens e aos

bancos arenosos

Embora as obras de canalizaccedilatildeo sejam implantadas como eficazes nos canais fluviais para

questotildees de enchentes urbanas para Cunha (op cit) estas necessitam de manutenccedilatildeo

constante envolvendo desde dragagem remoccedilatildeo de obstruccedilotildees a recomposiccedilatildeo do

material utilizado Poreacutem toda a manutenccedilatildeo estaacute associada a alteraccedilotildees morfoloacutegicas e

bioloacutegicas como as que interferem nas soleiras e depressotildees do fundo dos leitos

desestabilizando a vazatildeo no curso a exemplo da

27

ldquo[hellip] eliminaccedilatildeo da sequecircncia de depressotildees e soleiras o aumento da velocidade da corrente a diminuiccedilatildeo da diversidade de habitats o ambiente instaacutevel resultante da flutuaccedilatildeo dos niacuteveis da aacutegua e do substrato moacutevel e a maior flutuaccedilatildeo da temperatura das aacuteguasrdquo (CUNHA 2012b p180)

Ao mesmo tempo o aumento da velocidade dos escoamentos no trecho retificado

possibilita maior erosatildeo transferindo para as aacutereas a jusante uma carga soacutelida

representativa que para Cunha (op cit) configura a formaccedilatildeo de bancos axiais e depoacutesitos

de sedimentaccedilatildeo marginais alterando o equiliacutebrio dos sedimentos a jusante Pois

A jusante das obras de retificaccedilatildeo verificam-se o aumentam da carga soacutelida o assoreamento durante a dragagem a erosatildeo no canal pelos eventos torrenciais do regime e a modificaccedilatildeo na dinacircmica na foz Os sedimentos resultantes da erosatildeo no canal retificado em conjunto com a excessiva carga de sedimentos posta em suspensatildeo durante a dragagem e na fase imediata de poacutes-construccedilatildeo - quando a erosatildeo dos bancos de areia sem vegetaccedilatildeo estaacute em seu niacutevel maacuteximo - originam a formaccedilatildeo de depoacutesitos fluviais de curta duraccedilatildeo a jusante do canal retificado Logo a seguir esses depoacutesitos satildeo erodidos juntamente com as margens e o fundo do leito pelos eventos torrenciais do regime vindo a formar bancos axiais e depoacutesitos de sedimentaccedilatildeo marginais (CUNHA2012b p183)

Portanto o estudo da geomorfologia fluvial contribui diretamente para o entendimento das

cheias nas planiacutecies de inundaccedilatildeo em especial nas bacias hidrograacuteficas que

compreendem a aacuterea urbana e que possuem intervenccedilotildees antroacutepicas diretas na fisiografia

do canal principal Seus processos explicam como as alteraccedilotildees no canal fluvial podem

maximizar os efeitos dos transbordamentos impactando principalmente as populaccedilotildees

ribeirinhas aleacutem de todo ecossistema local Ademais estes fundamentos geomorfoloacutegicos

devem ser associados agrave legislaccedilatildeo vigente afim de subsidiar a elaboraccedilatildeo de instrumentos

legais para atuaccedilatildeo do poder puacuteblico nestas zonas de risco

22 Aspectos Juriacutedicos

Frente agrave crescente demanda sobre os recursos hiacutedricos e solo urbano a partir da deacutecada

de 1930 surgem as primeiras diretrizes que visam regulamentar estes ambientes a

exemplo do Coacutedigo das Aacuteguas Mas soacute a partir dos anos 1960 surgem em acircmbito federal

leis como o Coacutedigo Florestal com o intuito de regular a exploraccedilatildeo das vegetaccedilotildees e

consequentemente proteger os mananciais e em 1979 com o objetivo de ordenar as

28

cidades eacute aprovada a Lei 676679 estabelecendo as normas do parcelamento do solo

urbano

Na medida em que as populaccedilotildees aumentam ampliam-se tambeacutem as pressotildees sobre os

recursos de aacutegua e solo Os processos de uso e a conscientizaccedilatildeo de que estes elementos

satildeo finitos intensificam as formas de controle e preservaccedilatildeo passando para as esferas

estaduais e municipais a responsabilidade de atuar em escala local na proteccedilatildeo desses

ambientes

Ainda em escala federal em 2012 eacute promulgado o Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012

em substituiccedilatildeo ao coacutedigo anterior Lei 47711965 que apresenta as normas de

apropriaccedilatildeo dos recursos naturais pelas novas necessidades das populaccedilotildees citadinas e

rurais No que compete agrave aacuterea de estudo cabe destacar as ocupaccedilotildees em aacutereas de

planiacutecie de inundaccedilatildeo em que de acordo com art 4ordm devem ser preservadas

I - as faixas marginais de qualquer curso drsquoaacutegua natural perene e intermitente excluiacutedos os efecircmeros desde a borda da calha do leito regular em largura miacutenima de (Incluiacutedo pela Lei nordm 12727 de 2012) a) 30 (trinta) metros para os cursos drsquoaacutegua de menos de 10 (dez) metros de largura b) 50 (cinquenta) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura c) 100 (cem) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura d) 200 (duzentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura e) 500 (quinhentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros []

A legislaccedilatildeo eacute riacutegida no que concerne agrave ocupaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo das terras nas faixas

marginais dos rios transferindo aos estados e municiacutepios a responsabilidade de fiscalizar

estes territoacuterios para garantir a efetividade da lei A questatildeo eacute que muitas vezes somada a

falta de planejamento estas fiscalizaccedilotildees satildeo ineficientes o que tem possibilitado o

surgimento cada vez maior das ocupaccedilotildees irregulares

Apoiado tambeacutem pela Constituiccedilatildeo Federal de 1988 nos artigos 182 e 183 surge o

Estatuto das Cidades Lei 102572001 com finalidade de garantir a funccedilatildeo social da

cidade e com este os primeiros Planos Diretores Municipais (PDM) que buscam o

ordenamento do crescimento das cidades em caraacuteter socioeconocircmico e ambiental cidades

sustentaacuteveis Ademais em Colatina eacute instituiacuteda a Lei 42281996 posteriormente revogada

29

pela Lei 52732007 que ldquoInstitui o Plano Diretor do Municiacutepio de Colatina estabelece os

objetivos instrumentos e diretrizes e daacute outras providecircncias para as accedilotildees de

planejamento do Municiacutepio de Colatina []rdquo

O PDM de Colatina assim como Coacutedigo Florestal prevecirc a preservaccedilatildeo dos ecossistemas

beira-rio Aquele ainda dispotildee sobre o parcelamento do solo sustentaacutevel a funccedilatildeo social

da cidade e da propriedade conforme o Plano Diretor de Colatina de 2007 nos artigos

transcritos

Artigo 22 - As diretrizes ambientais no Municiacutepio de Colatina satildeo I - aplicar os instrumentos de gestatildeo ambiental estabelecidos nas legislaccedilotildees federal estadual e municipal bem como a criaccedilatildeo de outros instrumentos adequando-os agraves metas estabelecidas pelas poliacuteticas ambientais II - compatibilizar as diretrizes de uso ocupaccedilatildeo e parcelamento do solo aos objetivos de proteccedilatildeo ambiental dos ecossistemas [] Artigo 23 - Satildeo diretrizes do sistema de drenagem urbana I - disciplinar a ocupaccedilatildeo das cabeceiras e vaacuterzeas das bacias hidrograacuteficas do Municiacutepio preservando a vegetaccedilatildeo existente e visando agrave sua recuperaccedilatildeo [] III - definir mecanismos de fomento para usos do solo compatiacuteveis com aacutereas de interesse para drenagem tais como parques lineares aacuterea de recreaccedilatildeo e lazer hortas comunitaacuterias e manutenccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa [] V - implantar medidas natildeo-estruturais [sic] de prevenccedilatildeo de inundaccedilotildees tais como controle de erosatildeo especialmente em movimentos de terra controle de transporte e deposiccedilatildeo de entulho e lixo combate ao desmatamento assentamentos clandestinos e a outros tipos de invasotildees nas aacutereas com interesse para drenagem [] VII - garantir e respeitar a necessaacuteria permeabilidade do solo inclusive buscando alternativas de pavimentaccedilatildeo com maior de permeabilidade [sic] [] Artigo 84 ndash Satildeo objetivos do ordenamento territorial do Municiacutepio de Colatina [] IV ndash conter a expansatildeo da ocupaccedilatildeo urbana em aacutereas de proteccedilatildeo ambiental [] Artigo 120 ndash Ficam desde jaacute identificadas como Zonas de Proteccedilatildeo Ambiental 2 ndash ZPA 2 as seguintes aacutereas [] III ndash as aacutereas existentes ao longo de qualquer curso drsquoagua desde o niacutevel mais alto em faixa marginal cuja largura miacutenima seraacute de a) 15m (trinta metros) [sic] para os cursos drsquoagua com menos de 10m (10

metros) de largura contidos no periacutemetro urbano [] c) 30m (trinta metros) para os cursos drsquoagua que tenham de10m (dez

metros a 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano

[]

30

e) 50m (cinquenta metros) para os cursos drsquoagua que tenham mais de 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 60422013)

[]

De modo geral verifica-se que a legislaccedilatildeo apresenta instrumentos que permitem a

prevenccedilatildeo ou controle de ocupaccedilotildees irregulares ou clandestinas em aacuterea de APP aleacutem de

propostas para resguardar de grandes impactos ambientais o corpo hiacutedrico principal do

municiacutepio o Rio Doce Possibilitando assim a minimizaccedilatildeo dos impactos causados pelas

cheias agrave populaccedilatildeo local

Poreacutem cabe destacar que o Plano Diretor Municipal de Colatina natildeo contempla o

estipulado no Coacutedigo Florestal 2012 Lei Federal onde os cursos drsquoaacutegua com largura

superior a 600(seiscentos) metros devem ser resguardados com aacutereas de preservaccedilatildeo

permanente de 500(quinhentos) metros entre outros sendo que a redaccedilatildeo desta parte do

PDM eacute dada pela lei 60422013 posterior a publicaccedilatildeo do novo Coacutedigo Florestal Sendo

assim verifica-se que apesar da intenccedilatildeo de resguardar uma faixa de no maacuteximo

50(cinquenta) metros em periacutemetro urbano para a contenccedilatildeo de cheias e mata ciliar o

PDM de Colatina natildeo atende o miacutenimo previsto em Lei Federal O que tem impactado todo

ecossistema beira rio e a populaccedilatildeo ribeirinha uma vez que a faixa marginal de proteccedilatildeo

de 50(cinquenta) metros em muitos casos natildeo tem comportado o impacto dos defluacutevios

No entanto a legislaccedilatildeo trata de aspectos gerais natildeo pontuando as aacutereas responsaacuteveis

por cada accedilatildeo aleacutem de sua aplicabilidade depender da elaboraccedilatildeo de um cronograma de

execuccedilatildeo bem como um conjunto de planos e normas especiacuteficos para cada diretriz com

detalhamento das propostas de intervenccedilatildeo Isto natildeo ocorreu ateacute o presente

Aleacutem disso a cidade de Colatina surgiu num cenaacuterio histoacuterico anterior agraves legislaccedilotildees

urbaniacutesticas e ambientais inclusive do Coacutedigo das Aacuteguas o que dificulta a execuccedilatildeo de

um planejamento que concilie a preservaccedilatildeo das matas beira-rio garantindo a faixa de

APP com a ocupaccedilatildeo urbana consolidada

A aacuterea de estudo se apresenta como ambiente fragilizado apesar de ser regida por

legislaccedilotildees desde a escala federal ateacute a municipal que visam proteger e ordenar o uso e

cobertura da terra nas faixas marginais dos rios Mas a dificuldade das prefeituras em

aplicar os instrumentos legais nestes ambientes seja por interesses privados ou falta de

recursos para investimentos em soluccedilotildees a longo prazo continua expondo as populaccedilotildees

31

aos impactos dos eventos hidroloacutegicos criacuteticos como os que resultam nas inundaccedilotildees

Para que se alcance esse parcelamento do solo sustentaacutevel satildeo necessaacuterios esforccedilos da

gestatildeo municipal em estipular prazos e metas de atuaccedilatildeo afora interagir os diferentes

setores no planejamento em niacutevel de bacia hidrograacutefica considerando as peculiaridades

desta escala de trabalho

23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos

Sendo a ciecircncia que estuda a relaccedilatildeo homemnatureza a Geografia tem muito a contribuir

nas anaacutelises que envolvem o meio ambiente que foi transformado pela dinacircmica da

sociedade Mas historicamente a dialeacutetica das correntes fiacutesica e humana tem imperado de

modo dissociado levando o geoacutegrafo a estudar estes processos separadamente Poreacutem

se o resultado pretendido eacute integrado fazem-se necessaacuterias pesquisas mais amplas que

cruzem as diferentes vertentes geograacuteficas

Considerando que a problemaacutetica dos impactos ambientais urbanos envolve a questatildeo

natural o rio e a questatildeo social e poliacutetica a sociedade e as leis (COELHO 2013) uma

pesquisa neste acircmbito requer o entendimento destes dois objetos a fim de se apreender

o processo de crescimento das cidades brasileiras e a sua relaccedilatildeo com os recursos

hiacutedricos

A partir da deacutecada de 1950 devido ao ecircxodo rural mais intenso as cidades brasileiras

incharam rapidamente com a migraccedilatildeo do camponecircs que buscava melhores condiccedilotildees de

vida como trabalho na induacutestria o acesso agraves escolas saneamento entre outros E

segundo Gorski (2010) a populaccedilatildeo brasileira passou desde o iniacutecio deste processo de 19

milhotildees de habitantes em 1950 para 138 milhotildees de habitantes em 2000 (dados do IBGE)

o que corrobora o raacutepido crescimento das cidades

Todavia as estruturas puacuteblicas natildeo estavam preparadas para um acreacutescimo populacional

tatildeo significativo e em curto espaccedilo de tempo E o que observamos eacute o acesso limitado

dessa populaccedilatildeo agraves aacutereas centrais da cidade sendo induzida a se estabelecer nas

periferias Nesta visatildeo

O difiacutecil acesso da populaccedilatildeo de baixa renda agraves aacutereas mais centrais das cidades contribuiu segundo Raquel Rolnik para a expansatildeo da periferia o que muitas vezes implicou e implica ainda invasatildeo de aacutereas de proteccedilatildeo de mananciais com a aquiescecircncia do poder puacuteblico Esta

32

dinacircmica agravou a situaccedilatildeo de risco dos mananciais pela eliminaccedilatildeo das matas ciliares e consequentemente erosatildeo das margens dos cursos drsquoaacutegua e assoreamento de suas calhas e pela contribuiccedilatildeo do esgoto in natura (ROLNIK1997 apud GORSKI 2010 p62)

Sendo assim a supressatildeo das matas ciliares e das vegetaccedilotildees das encostas para fins de

ocupaccedilatildeo urbana interfere diretamente no ciclo hidroloacutegico diminuindo a absorccedilatildeo de

aacutegua pelo subsolo e pela evapotranspiraccedilatildeo favorecendo o escoamento superficial (Figura

6) que intensifica a velocidade de drenagem das aacuteguas Este processo nas encostas eacute

mais significativo se considerarmos que com a supressatildeo da cobertura vegetal e

impermeabilizaccedilatildeo do solo as precipitaccedilotildees acabam por lavar todo o material

intemperizado sedimentos carregando-o diretamente para o corpo hiacutedrico e contribuindo

para o assoreamento

Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento Fonte Gorski (2010 p64)

Por outro lado as ocupaccedilotildees ribeirinhas nas vaacuterzeas dos rios modificam a dinacircmica fluvial

frente aos defluacutevios A compactaccedilatildeo e o nivelamento do solo associados agrave

impermeabilizaccedilatildeo por concreto asfalto e outros materiais alteram todo o sistema de

drenagem natural e contribuem para a erosatildeo fluvial Aleacutem disso a gestatildeo puacuteblica que

33

deveria investir num parcelamento do solo sustentaacutevel resguardando ldquouma alocaccedilatildeo de

espaccedilosrdquo (CANHOLI 2005 p 15) para a drenagem acaba por colaborar com as enchentes

urbanas na medida em que decide por obras estruturais como a canalizaccedilatildeo (Figura 7

p30) e a microdrenagem que transferem os impactos das inundaccedilotildees a jusante

Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia Fonte Gorski (2010 p69)

Cabe destacar que desde 1965 com o primeiro Coacutedigo Florestal as matas beira-rio jaacute

eram resguardadas da degradaccedilatildeo humana poreacutem com todo o boom urbano a partir de

1950 a falta de estrutura e ingerecircncia municipal no que se refere ao parcelamento e uso

e ocupaccedilatildeo da terra urbana possibilitou a formaccedilatildeo dos assentamentos clandestinos em

APP e na encosta de morros Em condiccedilotildees precaacuterias sem saneamento baacutesico e demais

infraestruturas urbanas estes assentamentos acabam sendo as regiotildees mais afetadas

com as inundaccedilotildees

Junto agraves questotildees jaacute levantadas vale destacar que as aacuteguas das inundaccedilotildees propiciam o

aumento das doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica (febre tifoide hepatite leptospirose

esquistossomose entre outras) pois carregam segundo Gorski (2010) toda uma poluiccedilatildeo

difusa efluentes domeacutesticos industriais e agroindustriais aleacutem do lixo urbano da poluiccedilatildeo

do ar e das ruas

34

Por outro lado esta ocupaccedilatildeo urbana natildeo planejada perde o benefiacutecio que os corpos

hiacutedricos podem oferecer como [] as paisagens fluviais que aos poucos foram sendo

apropriadas como paisagens urbanas [] (GORSKI 2010 38) aleacutem do microclima

associado agrave umidade pela evapotranspiraccedilatildeo que ameniza a sensaccedilatildeo teacutermica local

Poreacutem conforme observado por Graeff (2011) natildeo eacute cabiacutevel atualmente implantar a

legislaccedilatildeo de APP de modo jurista Deve-se considerar toda a representatividade cultural

assentada sobre os leitos destes rios (avenidas importantes casas com arquitetura

histoacuterica entre outros) Aleacutem disso para a demarcaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo

permanente hoje eacute necessaacuteria uma anaacutelise teacutecnica pautada na geomorfologia e

hidrologia de modo a interpretar o ldquocomportamento histoacuterico dos cursos drsquoaacutegua na

paisagem prevendo cenaacuterios de impactos futurosrdquo da atividade humana sobre suas faixas

marginais

Tendo em vista que grande parte da malha urbana brasileira estaacute alocada em APPs e que

segundo Graeff (2011) estas jaacute possuem uma unidade de paisagem estabelecida e muitas

vezes secular configurando siacutetios de importacircncia cultural e apreendendo que

De modo semelhante nas demais cidades haveraacute que ser entendido o meio urbano como ele realmente eacute ndash um encontro entre as necessidades de habitaccedilatildeo com atividades humanas e de conservaccedilatildeo ambiental esta segunda tambeacutem a serviccedilo do homem e natildeo somente de objetivos difusos e distanciados da sobrevivecircncia da sociedade (GRAEFF 2011 206)

Por tais motivos o trabalho com a geomorfologia fluvial urbana deve abarcar os princiacutepios

do bom senso compreendendo que nestas aacutereas de atividade antroacutepica consolidada pode-

se fazer uso de instrumentos de engenharia avanccedilados para uma convivecircncia equilibrada

do homem com a natureza no entorno Contudo deve-se incentivar as aacutereas de expansatildeo

urbana ou zona periurbana (zonas de transiccedilatildeo da aacuterea urbana para a rural) com poliacuteticas

de incentivo a pavimentaccedilotildees mais permeaacuteveis a fim de minimizar o escoamento

superficial para o rio favorecendo a infiltraccedilatildeo

Apesar de os impactos gerados pela interferecircncia humana nas aacutereas mais fragilizadas da

bacia hidrograacutefica vaacuterzeas e encostas refletirem-se em cataacutestrofes com prejuiacutezos

humanos ambientais e urbanos alguns autores brasileiros como Canholi Graeff Cunha

Carneiro e Miguez jaacute indicaram outros caminhos para uma convivecircncia harmoniosa com

a natureza Aleacutem do mais paiacuteses desenvolvidos como a Holanda deixaram de ldquolutar contra

35

as cheiasrdquo para permitir agraves aacuteguas das enchentes a capacidade de acumular e dispersar

com impacto reduzido para as populaccedilotildees (CARNEIRO MIGUEZ 2011)

Sendo assim a proposta deste estudo eacute identificar os principais agentes que influenciam

as inundaccedilotildees entendendo seu papel e atuaccedilatildeo no contexto urbano de Colatina Mas eacute

tambeacutem a de ampliar a abordagem da temaacutetica com uma anaacutelise geograacutefica integrada

ressaltando as medidas que constam no planejamento urbano e sua aplicaccedilatildeo nas faixas

marginais do corpo hiacutedrico

36

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS

Esta pesquisa eacute constituiacuteda de trecircs etapas principais sendo que a primeira teve como

premissa a confecccedilatildeo de um fluxograma (Figura 8) de trabalho para orientar a pesquisa

em seguida teve iniacutecio o levantamento de bibliografias que abordam temas como a

geomorfologia fluvial e urbanizaccedilatildeo em Colatina adotando-se como referecircncia as

pesquisas de Coelho (2006 2007 2008 e 2009) e Albani (2012) Aleacutem disso muito

contribuiacuteram para este trabalho o relatoacuterio do INCAPER da CPRM e os dados do IBGE

Cabe destacar tambeacutem as experiecircncias com recursos hiacutedricos em ambientes urbanos de

Carneiro e Miguez (2011) em especial Cunha (2001 2012ab)

Esta etapa consistiu tambeacutem na busca de material cartograacutefico como aquisiccedilatildeo de planos

de informaccedilatildeo de limite estadual municipal bairros mancha urbana corpo drsquoaacutegua e

logradouros atraveacutes de dados disponiacuteveis no Sistema Integrado de Bases Geoespaciais

do Estado do Espiacuterito Santo (GEOBASES 2014) no Instituto Jones dos Santos Neves

(IJSN 2015) e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2014) imagens

orbitais gratuitas do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI bandas 2-3-4 e 8 (Pan) oacuterbita 216

ponto 73 com datas de passagem em 02012014 e 22032014 agraves 946 (horaacuterio central

da oacuterbita) junto ao Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2014) aleacutem do ortofotomosaico

do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hiacutedricos (IEMA 2014) do Espiacuterito

Santo referente ao voo de 2007 a 2008

Na segunda etapa foram realizadas duas investigaccedilotildees de campo sendo a primeira no

dia 24 de junho de 2014 com a finalidade de fazer o reconhecimento da aacuterea de estudo

fotografar e conversar com moradores e teacutecnicos da prefeitura O segundo trabalho de

campo ocorreu no dia 14 de fevereiro de 2015 e por meio deste foi possiacutevel identificar

pontos sujeitos a inundaccedilatildeo analisar a topografia e realizar as entrevistas com moradores

e funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina

37

Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC)

38

Na terceira etapa foram realizados os mapeamentos e processamentos de todos os planos

de informaccedilatildeo vetoriais e matriciais em ambiente de SIG no sistema ArcGis 103 iniciando

com a ediccedilatildeo dos dados do Municiacutepio e adjacecircncias que foram ajustados quando

necessaacuterio ao sistema de projeccedilatildeo UTM no Datum SIRGAS ndash 2000 na Zona 24 sul com

meridiano central -39 W com todo o mapeamento produzido seguindo a padronizaccedilatildeo

cartograacutefica proposta por Fitz (2008 a b)

O geoprocessamento teve iniacutecio com a composiccedilatildeo das imagens orbitais do Landsat-8 na

cor natural da imagem (2R 3G 4B) e por meio da teacutecnica de Pan Sharpening ou fusatildeo

de imagens a imagem cor natural foi agrupada agrave da banda 8 pancromaacutetica para obtenccedilatildeo

de uma melhor resoluccedilatildeo espacial neste caso chegando a 15 metros sendo resguardado

o conteuacutedo da imagem composta Na sequecircncia foi realizada a extraccedilatildeo da maacutescara do

periacutemetro urbano de Colatina e gerada a classificaccedilatildeo supervisionada da imagem Landsat-

8 no periacuteodo de cheia (janeiro) e vazante (marccedilo) o que possibilitou a delimitaccedilatildeo da calha

do Doce nestes dois eventos

Em seguida foram realizadas as 8 (oito) mediccedilotildees do leito regular sendo 4 (quatro) no

periacuteodo de cheia e 4 (quatro) na vazante de modo a definir a largura meacutedia da calha do

leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina Para chegar a uma medida geral

da largura do rio utilizaram-se ferramentas estatiacutesticas como a meacutedia que eacute uma medida

de tendecircncia central onde numa amostra de tamanho N constituiacuteda por elementos de x

variando de eacute possiacutevel extrair a meacutedia aritmeacutetica atraveacutes da equaccedilatildeo

A meacutedia aponta para onde mais convergem os dados de uma distribuiccedilatildeo

A partir desta definiccedilatildeo da meacutedia da largura da calha do Rio Doce foi possiacutevel em consulta

ao Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e a Lei 52732007 determinar a faixa miacutenima

de preservaccedilatildeo permanente deste corpo fluvial aleacutem da confecccedilatildeo do mapa com o

poliacutegono de APP

Mediante a anaacutelise do mapa verificou-se que grande parte dos bairros do municiacutepio estatildeo

contidos nos poliacutegonos de APP em especial a preservaccedilatildeo de 500 metros conforme lei

federal E por meio deste foram cruzados os dados de vazatildeo as fotos histoacutericas das

enchentes e o poliacutegono de mata ciliar o que permitiu o entendimento das inundaccedilotildees

39

Em ambiente de SIG tambeacutem foram vetorizados os trecircs traccedilados da Estrada de Ferro

Vitoacuteria a Minas o trajeto do Rio Santa Maria do Doce antes e depois da retilinizaccedilatildeo e os

sucessivos aterros na margem direita do Rio Doce no periacutemetro que compreende a Av

Beira-Rio

As teacutecnicas de sensoriamento remoto como a classificaccedilatildeo supervisionada permitiram a

definiccedilatildeo do poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo atraveacutes da imagem da cheia de janeiro Para

tanto foi realizada tambeacutem a classificaccedilatildeo hiacutebrida objetivando aliar a interpretaccedilatildeo visual

com a digital (JENSEN 2009) Por fim foi realizada amarraccedilatildeo com o levantamento

geodeacutesico da CPRM (2014) para garantir a precisatildeo do traccedilado do poliacutegono de cheia

A partir do tratamento dos dados bibliograacuteficos cartograacuteficos e imagens foi possiacutevel

sistematizar este trabalho o que permitiu identificar elementos histoacutericos de intervenccedilatildeo

na paisagem do Doce como os aterros e a ocupaccedilatildeo urbana As visitas de campo a

entrevista e conversas com moradores foram fundamentais para a validaccedilatildeo das

informaccedilotildees o que tornou esta metodologia eficaz para anaacutelise do fenocircmeno da inundaccedilatildeo

em Colatina

40

4 RESULTADOS

41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana

A ocupaccedilatildeo ao longo das planiacutecies de inundaccedilatildeo dos rios tem ocorrido diante da

necessidade deste recurso para as atividades vitais humanas Cunha (2012b p219)

entende que ldquosuas margens tecircm sido o centro preferido da habitaccedilatildeo humana e o

suprimento de suas aacuteguas natildeo soacute fertiliza os campos para o cultivo como tambeacutem fornece

energia e permite recreaccedilatildeordquo Logo o estabelecimento das vilas nas bordas dos cursos

drsquoaacutegua favorece a logiacutestica ocupacional

Historicamente em solo espiacuterito-santense a formaccedilatildeo das vilas ocorreu agraves margens de

estrateacutegicos cursos drsquoaacutegua e a exploraccedilatildeo do ouro de Minas Gerais para Albani (2012)

determinou que a Coroa proibisse nos seacuteculos XVII a XIX a implantaccedilatildeo de estradas e

exploraccedilatildeo de terras na Capitania do Espiacuterito Santo pois os portugueses temiam incursotildees

estrangeiras deixando assim o desenvolvimento capixaba restrito agrave faixa litoracircnea

Relegada enquanto ldquobarreira verderdquo para defesa das minas de ouro e minerais do atual

territoacuterio das Minas Gerais segundo Coelho (2007) a Capitania do Espiacuterito Santo soacute

passou a se interiorizar para o centro-oeste onde se localiza atualmente a cidade de

Colatina a partir de 1847 por meio das ocupaccedilotildees de Santa Izabel e Santa Leopoldina

que permitiram a descida do Rio Santa Maria do Doce ateacute as imediaccedilotildees da atual cidade

de Colatina

Assim foi que o movimento colonizador desceu o vale do Santa Maria do Rio Doce atingindo em 1891 a regiatildeo das matas onde hoje se acha a cidade de Colatina [] Esta penetraccedilatildeo inicial foi feita com elementos alematildees de Santa Leopoldina e no rio Doce ficou muito anos restrita agrave aacuterea inicial A expansatildeo ao longo do vale tomou impulso com a chegada a Colatina em 1906 dos trilhos da Estrada de Ferro Diamantina (atual Vitoacuteria-Minas) (STRAUCH1955 apud COELHO 2007 p105)

Sendo assim Coelho (op cit) relata que a ocupaccedilatildeo se deu atraveacutes da supressatildeo da mata

nativa no baixo curso do Rio Doce de Colatina a Linhares sendo a madeira daiacute extraiacuteda

levada ateacute o rio e encaminhada ateacute Povoaccedilatildeo vilarejo junto agrave foz de onde eram carregados

os navios Neste periacuteodo tem-se a instalaccedilatildeo de um ciclo madeireiro na regiatildeo com a

disposiccedilatildeo de serrarias nas proximidades das matas

41

Todavia somente a partir de 1906 com a chegada da estrada de ferro na regiatildeo o

transporte madeireiro foi transferido para as locomotivas Agrave medida que a implantaccedilatildeo da

Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas avanccedilava para o interior levava consigo as frentes de

desmatamento modificando as paisagens das margens do Rio Doce e se apropriando dos

espaccedilos deste rio (Figura 9)

Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906 Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce Fonte Albani (2012 p 63)

Conforme Albani (2012) com a vinda dos mineiros e fluminenses reforccedilados

posteriormente a partir de 1889 por colonizadores italianos e alematildees eacute que as

ocupaccedilotildees territoriais ocorreram de modo efetivo Atraveacutes do Barracatildeo do Rio Santa Maria

(Figura 10) espaccedilo do governo inicialmente destinado a alojar os migrantes e a produccedilatildeo

surgiram as primeiras residecircncias nas proximidades da igreja de Satildeo Sebastiatildeo Sendo

assim

Eacute importante destacar que o desenvolvimento da regiatildeo onde se encontra o municiacutepio de Colatina teve iniacutecio no final do seacuteculo XIX no nuacutecleo de colonizaccedilatildeo Antocircnio Prado localizado no distrito de Boapaba antiga vila do Mutum O nuacutecleo recebeu dezenas de famiacutelias de imigrantes italianos e ali desenvolveram atividades de agricultura e com a expansatildeo da localidade surge tambeacutem o comeacutercio (ALBANI 2012 p61) [hellip] A vila de Colatina entretanto logo passou a se transformar no principal nuacutecleo e futuramente na sede do municiacutepio Aleacutem da facilidade da produccedilatildeo atraveacutes do Rio Doce a vila de Colatina tornou-se referecircncia dos imigrantes no caminho para a colonizaccedilatildeo das terras ao norte do estado (MADURO1985 apud ALBANI 2012 p62)

42

Desse modo com o desenvolvimento das atividades de cafeicultura madeireira e do

entroncamento logiacutestico de acesso agraves aacutereas do norte a vila eacute elevada em 1921 agrave categoria

de municiacutepio A atual configuraccedilatildeo territorial foi adquirida a partir de 2001 conforme IBGE

(2014) dispondo de seis distritos Colatina (sede) Acircngelo Frechiami Baunilha Boapaba

Graccedila Aranha e Itapina

Cabe destacar poreacutem que a ocupaccedilatildeo inicial da cidade de Colatina se perfaz pela margem

direita do Rio Doce onde se localiza o atual bairro de Colatina Velha e onde havia se

instalado o Barracatildeo de Santa Maria Nesse periacuteodo a ponte ainda natildeo fora edificada

limitando assim a ocupaccedilatildeo da margem esquerda

Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da regiatildeo Fonte Albani (2012 p62)

Conforme Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p65) a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro

Vitoacuteria a Minas em 1906 (Figura 11) possibilitou a expansatildeo da cidade de Colatina e seu

desenvolvimento econocircmico Todavia sua instalaccedilatildeo paralela agrave margem direita do Rio

Doce favoreceu a localizaccedilatildeo de avenidas e ruas centrais em sua proximidade

43

Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p65)

Entretanto foi com a construccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos (Figura 12) em 1928 que a

margem direita se conectou agrave margem esquerda da cidade o que aleacutem de possibilitar a

ocupaccedilatildeo facilitou o acesso agraves regiotildees mais ao norte do Estado

Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p66)

44

Por conseguinte a estrada de ferro e a ponte foram os fatores determinantes para o

estabelecimento dos migrantes agraves margens do Rio Doce e a formaccedilatildeo do atual municiacutepio

de Colatina Contudo foi a partir desta posiccedilatildeo privilegiada que a cidade passou a ser

entreposto comercial e logiacutestico da regiatildeo noroeste e com isso sua aacuterea urbana expandiu-

se de modo desordenado inicialmente ao longo da planiacutecie de inundaccedilatildeo do Doce Coelho

(2007 p108 e 109) relata que

Os efeitos dessa urbanizaccedilatildeo (novos parcelamentos) e do desmatamento produz [sic] normalmente o aumento da velocidade das aacuteguas superficiais (pluviais) que eram antes interceptadas pelas matas com boa parte absorvida pelo solo O que ocorre geralmente nessas aacutereas eacute a chegada mais raacutepida das aacuteguas das chuvas para o tributaacuterios e calha principal do rio por fluxos concentrados que provocam processos de erosotildees do tipo laminar ravina e voccediloroca transportando quantidades expressivas de sedimentos que por sua vez causam assoreamento e a ocorrecircncia de cheias mais frequentes no rio

Com o crescimento acelerado do periacutemetro urbano proporcionado pelo apogeu do ciclo

cafeeiro as proacuteximas deacutecadas levaratildeo a cidade de Colatina a sofrer com impactos

advindos das alteraccedilotildees no ambiente fluvial do Rio Doce em especial os referentes a

ocupaccedilatildeo (impermeabilizaccedilatildeo) e desmatamento das margens (interferecircncia na drenagem

natural) conforme destacado por Coelho (2007)

Eacute fato que o municiacutepio viveu nas deacutecadas de 1940 e 1950 o auge do ciclo cafeeiro

chegando a ser no ranking brasileiro o 13ordm municiacutepio produtor de cafeacute no ano de 1947

(CAMPOS JUNIOR 2004 apud ALBANI 2012 p69) Poreacutem a partir de 1960 este boom

entrou em colapso com crise do cafeacute que assolou todo o paiacutes levando grande parte dos

pequenos proprietaacuterios rurais a migrarem para centros urbanos em especial no Espiacuterito

Santo a regiatildeo da Grande Vitoacuteria e tambeacutem para o centro de Colatina

Em razatildeo da crise cafeeira a populaccedilatildeo rural migra para centros urbanos A populaccedilatildeo migrou em grande quantidade para a Grande Vitoacuteria para fora do estado e tambeacutem para a cidade de Colatina principal aglomerado urbano da regiatildeo Esse processo provoca o aumento da aacuterea urbana de Colatina A populaccedilatildeo da cidade que era de 3913 habitantes em 1940 cresceu para 26757 habitantes em1960 (ALBANI2012 p71)

O crescimento raacutepido do centro de Colatina aliado ao aumento populacional direciona

grande parte dos migrantes para as aacutereas menos centrais da cidade levando agrave ocupaccedilatildeo

de locais irregulares como os morros e as margens direita e esquerda do Rio Doce Este

45

processo configurou a nova paisagem do municiacutepio povoando do vale agraves encostas (Figura

13)

Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes Fonte Albani (2012 p73)

Associado a este processo de reconfiguraccedilatildeo espacial nas proacuteximas deacutecadas o municiacutepio

de Colatina passaraacute por sucessivas perdas de territoacuterios ateacute atingir os limites atuais (Figura

1 p17) Aliado a estas perdas territoriais seu quantitativo absoluto populacional tambeacutem

sofreraacute impactos poreacutem de modo geral a populaccedilatildeo urbana deste municiacutepio apresentou

crescimento continuo (Graacutefico 2)

Graacutefico 2

Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 2010

Elaborado pela autora Fonte 1940 e 1950 Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p82) 1960 a 2010 IBGE

0

20000

40000

60000

80000

100000

120000

1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020

Populaccedilatildeo Urbana Colatina 1940 - 2010

46

Assim como tem ocorrido nas grandes capitais Colatina cresceu em quantitativo

populacional e territorial urbano de modo muito raacutepido e por este desenvolvimento natildeo ter

sido aliado a um planejamento urbano e ambiental sustentaacutevel a cidade tem sentido os

reflexos das suas interferecircncias ao longo do canal do Doce O que tem provocado

antecipaccedilatildeo dos picos de vazatildeo que no periacutemetro urbano ocasiona as inundaccedilotildees pois

natildeo conseguindo o rio acomodar estes defluacutevios transfere em curto espaccedilo de tempo as

aacuteguas a sua planiacutecie de inundaccedilatildeo atingindo os bairros mais antigos do municiacutepio

Por fim entender o contexto histoacuterico do crescimento da cidade revela muito do panorama

atual E por meio de uma anaacutelise conjunta da histoacuteria com os novos planejamentos eacute

possiacutevel propor intervenccedilotildees urbanas que possibilitem um conviacutevio harmonioso entre

natureza e sociedade neste caso entre o Rio Doce e o centro de Colatina Diante desta

proposta adiante apresentaremos a evoluccedilatildeo dos bairros associando seus periacuteodos de

ocupaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo espacial nas imediaccedilotildees do curso principal do Doce

411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade

Com nuacutecleo inicial de povoamento no Barracatildeo de Santa Maria a cidade de Colatina

cresce a partir deste ponto agrave margem direita do Rio Doce de onde surgem as primeiras

residecircncias comeacutercios e a igreja Atualmente a regiatildeo compreende o bairro de Colatina

Velha que de acordo com Albani (2012 p91) [hellip] ldquopode ser considerado o primeiro polo

de crescimento da cidaderdquo

Aliado ao aumento da populaccedilatildeo migrante das fazendas com a crise do cafeacute o nuacutecleo de

Colatina Velha passa a ser um ponto de passagem obrigatoacuterio para os viajantes que

vinham majoritariamente do sul uma vez que o Rio Doce configurava uma barreira natural

agrave ocupaccedilatildeo das terras ao norte Aleacutem disso a margem esquerda deste canal fluvial era

habitat dos hostis iacutendios botocudos o que dificultava a sua apropriaccedilatildeo

Sendo assim a ocupaccedilatildeo de Colatina conteve-se agrave margem direita nesta primeira fase o

que define o primeiro vetor de crescimento da cidade na direccedilatildeo leste para oeste partindo

das imediaccedilotildees do Barracatildeo de Santa Maria sentido ao Rio Santa Maria do Doce (Figura

14) E a partir de 1906 com a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas da entatildeo

Companhia Vale do Rio Doce atual Vale este vetor de crescimento se consolida e

47

proporciona o surgimento de importantes avenidas paralelas agrave ferrovia a exemplo da Av

Getuacutelio Vargas

Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de crescimento Elaborado pela autora

48

O segundo vetor do crescimento de Colatina estava condicionado agrave construccedilatildeo da ponte

Florentino Aacutevidos a qual conectou a margem direita agrave esquerda do Rio Doce permitindo

a ocupaccedilatildeo da porccedilatildeo ao norte Portanto somente a partir de 1928 com a finalizaccedilatildeo da

obra da ponte a barreira natural pocircde ser transposta o que possibilitou ao lado esquerdo

desenvolver uma nova linha de crescimento urbano com a ocupaccedilatildeo do atual bairro de

Satildeo Silvano

O terceiro vetor de crescimento estaacute associado agrave implantaccedilatildeo do bairro Luiz Iglesias na

margem direita e os de Maria das Graccedilas e Coluacutembia na margem esquerda Albani (2012)

ressalta que esta fase da ocupaccedilatildeo urbana estaacute associada ao desenvolvimento do sistema

viaacuterio como a proximidade da BR-259 sentido Vitoacuteria- Colatina da ES-80 que liga

Colatina agrave regiatildeo norte da ES-256 que a conecta a Marilacircndia e da proximidade da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria Carlos Germano Nauman (Figura 15)

Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios e linhas feacuterreas que interceptam a cidade de Colatina Elaborado pela autora

Jaacute na quarta e mais recente linha de crescimento da cidade temos os novos loteamentos

residenciais e industriais a exemplo do de Barbados e do bairro Santa Helena que surgem

49

acompanhando o traccedilado da ponte que contorna a leste a cidade como novo acesso agrave

porccedilatildeo norte do estado Albani (2012 p118) destaca que

Apesar da construccedilatildeo da Segunda Ponte ter sido iniciada em 1986 somente foi inaugurada em 2007 A conclusatildeo da ponte e a construccedilatildeo de uma rodovia de contorno desviaram a BR-259 do centro da cidade O desvio da rodovia federal trouxe um desafogamento do tracircnsito nas principais vias da cidade e um novo direcionamento na expansatildeo urbana Alguns loteamentos surgiram nesse periacuteodo proacuteximo agrave Segunda Ponte e ao contorno na margem norte do rio principalmente no bairro Santa Helena (Figura 55) Essa situaccedilatildeo indica mais uma vez que as linhas de crescimento em Colatina satildeo orientadas pelas vias de transporte

Portanto o crescimento do periacutemetro urbano de Colatina estaacute associado agrave superaccedilatildeo das

barreiras naturais em especial o Rio Doce por meio de investimentos em obras de

engenharia que permitiram o deslocamento humano para a margem esquerda deste curso

Sem duacutevida as vias de transporte foram elementares na construccedilatildeo do periacutemetro urbano

de Colatina pois na medida que se consolidava o sistema viaacuterio as ocupaccedilotildees tambeacutem se

favoreciam destas vias de locomoccedilatildeo A evoluccedilatildeo da aacuterea urbana portanto acompanha

as principais vias de transporte (Figura 15 p45) e estas se utilizam da posiccedilatildeo estrateacutegica

e geograficamente favoraacutevel do canal do Doce para a definiccedilatildeo de seus traccedilados

Apoacutes 94 anos de emancipaccedilatildeo de Linhares o territoacuterio de Colatina eacute fundamental para a

manutenccedilatildeo dos municiacutepios do noroeste capixaba Diante desta posiccedilatildeo estrateacutegica torna-

se relevante o entendimento de como o urbano se relaciona com o meio natural a fim de

se estabelecer poliacuteticas de ordenamento territorial que promovam a qualidade de vida no

municiacutepio Adiante seraacute analisada a situaccedilatildeo da calha principal do Rio Doce elemento

fundamental na compreensatildeo do uso e cobertura da terra de Colatina

42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce

Compreendendo uma aacuterea de 3330 kmsup2 o periacutemetro urbano de Colatina eacute afetado pela

velocidade dos defluacutevios de modo que grande parte dos bairros beira-rio eacute tomada pelas

aacuteguas excedentes da calha principal do Doce o que configura o fenocircmeno de inundaccedilatildeo

Ao pesquisar estes fenocircmenos eacute necessaacuterio relacionar o uso da terra com os processos

geomorfoloacutegicos do corpo hiacutedrico Sendo assim por meio de teacutecnicas de

geoprocessamento foram realizadas oito mediccedilotildees da calha principal do Rio Doce para

50

estabelecimento da distacircncia meacutedia da largura de sua calha O resultado esteve dentro do

esperado e pode ser verificado na tabela abaixo (Tabela 1) e no mapa em sequecircncia

(Figura 16)

Tabela 1 Perfis transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de

vazante (abril) e cheia (janeiro)

Largura do rio Doce periacuteodo de vazante e cheia

Abril2013(m) Janeiro2014(m)

P1 70735 75784

P2 62080 66483

P3 59209 65804

P4 63548 67650

Meacutedia dos Perfis 62814 67066

Meacutedia Geral 66143 Obs todas as medidas estatildeo em metros

Elaborado pela autora

Figura 16 - Traccedilado dos perfis transversais da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de vazante mecircs de abril2013 Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)

51

Com uso das imagens orbitais do Landsat-8 atraveacutes da classificaccedilatildeo hiacutebrida foram

gerados dois arquivos shapefiles correspondentes agraves bordas do Doce um no periacuteodo de

vazante e outro no de cheia Por meio destes dados foram definidos quatro traccedilados para

realizaccedilatildeo das mediccedilotildees a partir destas e com auxiacutelio das medidas de tendecircncia central

chegou-se a uma largura meacutedia total de 66143m de uma margem a outra Este resultado

indicou que tanto no periacuteodo de vazante quanto no periacuteodo de cheia a largura meacutedia

aponta para a maior faixa de APP proteccedilatildeo de 500m conforme previsto na legislaccedilatildeo

federal (Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e no revogado Lei 4771 1965)

Analisando a imagem abaixo (Figura 17) observa-se que grande parte do solo

naturalmente destinado a ldquoacomodaccedilatildeordquo das aacuteguas nas cheias (linha laranja) foi

incorporado agrave sociedade como espaccedilo criado (periacutemetro urbano em APP mancha em

amarelo) destinado a fins muacuteltiplos Deste modo sem planejamento territorial adequado

grande parte da planiacutecie de inundaccedilatildeo deu lugar a outras funccedilotildees diferentes das naturais

sendo incorporada ao espaccedilo urbano

Lanccedilando o buffer (mancha em amarelo) do entorno da calha do Doce (Figura 17) observa-

se que dos 59 bairros do municiacutepio cerca de 29 estatildeo dentro da aacuterea de 500m destinada

a preservaccedilatildeo permanente pelo Coacutedigo Florestal Considerando-se a delimitaccedilatildeo da APP

prevista no PDM de 1996 e 2007 (linha laranja mais proacutexima da borda do rio) este nuacutemero

cai para 18 bairros permanecendo apenas aqueles que possuem limites com o corpo

hiacutedrico

Uma vez que que lei municipal natildeo suplanta lei federal considerar-se-aacute neste estudo o

limite da faixa marginal de proteccedilatildeo definida na Lei Federal 126512012 Deste modo a

aacuterea de preservaccedilatildeo permanente do Doce neste recorte eacute de 1085 kmsup2 compreendendo

33 do periacutemetro urbano de Colatina

Cabe destacar ainda que mesmo o PDM de 1996 contendo enquanto objetivo no Art 14

ldquoI - estabelecer a ordenaccedilatildeo do uso e da ocupaccedilatildeo do solo urbanordquo (Lei 42281996 p4)

a gestatildeo municipal natildeo obteve sucesso na implementaccedilatildeo de tal legislaccedilatildeo O que se

verifica tanto nas deacutecadas de 1990 quanto no iniacutecio dos anos 2000 quando foram

aprovados novos parcelamentos urbanos agraves margens deste canal a exemplo dos bairros

de Barbados na margem direita e do bairro Mario Giurizato na margem esquerda

52

Figura 17- Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)

53

Articulado a esta ideia e pesquisando o trecho do bairro Esplanada a Colatina Velha palco

das uacuteltimas obras estruturantes de alto porte do municiacutepio consegue-se analisar os efeitos

das inundaccedilotildees nas margens deste rio Logo implementar medidas de prevenccedilatildeo de

cheias em aacutereas com urbanizaccedilotildees antigas requer um esforccedilo da gestatildeo na regulaccedilatildeo do

solo urbano

421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie

de Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio

Interceptada pelo curso do Rio Doce no perfil mais a jusante da bacia a cerca de 100km

do estuaacuterio com o Oceano Atlacircntico a cidade de Colatina polo moveleiro e de confecccedilotildees

do centro-oeste capixaba eacute palco recorrente de inundaccedilotildees urbanas

Conforme jaacute mencionado por Cunha (2012a) este fenocircmeno ocorre quando a bacia recebe

um percentual precipitado acima da sua capacidade de escoamento o que faz o leito

menor do rio extravasar para o leito maior ocupando as aacutereas de vaacuterzeas (Figura 18 p

50) Aliadas a esta questatildeo estatildeo as ocupaccedilotildees humanas das margens dos rios que ao

suprimir a vegetaccedilatildeo natural e alterar a condiccedilatildeo fiacutesica do solo acabam por reduzir a aacuterea

de drenagem das aacuteguas pluviais acelerando o escoamento superficial para o canal

principal e favorecendo os defluacutevios

Figura 18 - Representaccedilatildeo da inundaccedilatildeo urbana Fonte adaptado da Defesa Civil do Tocantins (2015)

Este fenocircmeno tem ganhado destaque em Colatina a partir de 1979 ano em que o Rio

Doce atingiu a vazatildeo de 12860msup3s tomando toda aacuterea aplainada que compotildee seu leito

maior afetando da atual Av Beira-Rio ateacute as redondezas da Av Getuacutelio Vargas Desde

entatildeo os estudos das inundaccedilotildees urbanas satildeo relevantes no municiacutepio o que levou o

54

Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) na deacutecada de 1980 a elaborar um ldquoPlano Diretor

de Contenccedilatildeo das Enchentes Proteccedilatildeo das Encostas e Drenagem Pluvial de Colatinardquo

Tal medida apresentou seis alternativas para o fenocircmeno Poreacutem tendo em vista o custo

operacional das obras apenas a alternativa seis que previa a construccedilatildeo de diques

marginais para a proteccedilatildeo das aacutereas mais centrais foi considerada viaacutevel na eacutepoca

Todavia em entrevistas com funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina (PMC) foi

relatado que todo o estudo foi arquivado e que ateacute agora natildeo haacute previsatildeo de

implementaccedilatildeo de tais medidas Fato este que eacute evidenciado (Tabela 2 p 51) quando da

ocorrecircncia de precipitaccedilotildees intensas na bacia durante as quais sazonalmente a cidade eacute

impactada com as aacuteguas das inundaccedilotildees Isto faz com que o municiacutepio passe

recorrentemente por cataacutestrofes conforme tabela com os principais picos de vazatildeo do rio

nos uacuteltimos 50 anos

Tabela 2

Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013

Ano Diamecircs Vazatildeo(msup3s)

1961 30jan 6613

1979 04fev 12860

1997 07jan 8687

2005 03ago 6549

2013 24dez 9028

Fonte Coelho (2007 apud DALLAPICOLA 2014 p4) e CPRM (2014 p85) Observo que os dados da tabela 1 para os anos de 1979 e 2013 estatildeo baseados na estimativa de vazatildeo meacutedia diaacuteria das maacuteximas anuais obtida atraveacutes de extrapolaccedilatildeo da curva-chave pelo grupo interdisciplinar dos relatoacuterios criacuteticos anteriores

As inundaccedilotildees de 1979 1997 e recentemente 2013 (Figura 19) foram as de maior vazatildeo

neste setor do rio e consequentemente as que mais atingiram a aacuterea urbana do municiacutepio

bloqueando os acessos ao centro da cidade e aos equipamentos essenciais como

hospitais escolas e demais oacutergatildeos puacuteblicos aleacutem de desalojarem muniacutecipes e

comprometerem a sauacutede puacuteblica

55

Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de 1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 Fonte1) Nossa Colatina 2) Nossa Linda Colatina 3) Nossa Colatina

Com o propoacutesito de identificar os principais fatores que acentuam as inundaccedilotildees seraacute

analisado como os processos geomorfoloacutegicos do Doce estatildeo sendo afetados pela accedilatildeo

antroacutepica Limitaremos a anaacutelise ao periacutemetro urbano no trecho que compreende do bairro

Esplanada ateacute o bairro Colatina Velha (Figura 20) Neste periacutemetro eacute possiacutevel visualizar a

evoluccedilatildeo da mancha urbana sobre o leito do rio aleacutem de identificar na margem direita os

pontos desnaturalizados deste canal fluvial

56

Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2) Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do recorte em rosa da APP de 50m (amarelo claro) e 500m (amarelo escuro) Fonte 3) Encontra Colatina (2015)

57

O recorte em questatildeo eacute margeado pela Av Beira-Rio e estaacute situado (Figura 20) dentro do

buffer de preservaccedilatildeo permanente previsto no PDM (buffer de 50m) e no Novo Coacutedigo

Florestal (buffer de 500m) Apesar desta aacuterea ser destinada a mata nativa e ou

reflorestada a ocupaccedilatildeo urbana antecede os artigos legais o que dificulta poliacuteticas de

gestatildeo territorial em um periacutemetro ao mesmo tempo histoacuterico e com funccedilatildeo relevante no

equiliacutebrio hidroloacutegico da bacia

O periacutemetro faz parte da vaacuterzea da margem direita do Rio Doce pois encontra-se em cota

topograacutefica de 50m caracterizando sua planiacutecie Logo a aacuterea em questatildeo tem a funccedilatildeo de

acomodar as aacuteguas das cheias quando a calha principal natildeo comporta o escoamento de

grandes vazotildees Esta tarefa passa a ser prejudicada na medida em que na bacia ou no

curso original satildeo implementadas obras que interferem na morfologia do corpo hiacutedrico

principal como a instalaccedilatildeo das hidreleacutetricas de Mascarenhas (1974) e Aimoreacutes (2005) a

montante

As UHErsquos a montante comprometem os processos do rio uma vez que o regime natural de

transporte de sedimentos eacute alterado com o barramento o que favorece a erosatildeo e

consequentemente o assoreamento com a formaccedilatildeo de bancos arenosos alteraccedilatildeo do

seu perfil transversal e reduccedilatildeo da profundidade Aleacutem disso segundo Coelho (2007) as

vazotildees maacuteximas e miacutenimas foram alteradas com a implantaccedilatildeo das hidreleacutetricas a

montante implicando em vazotildees meacutedias anuais miacutenimas cada vez mais reduzidas com

valores se distanciando da linha de tendecircncia (polinocircmio) provando o natildeo equiliacutebrio da

vazatildeo apoacutes a implantaccedilatildeo das barragens (Graacutefico 1 p22)

Entretanto a primeira intervenccedilatildeo direta no trecho em estudo foi a instalaccedilatildeo da estrada

de ferro que atraiu migrantes para Colatina permitindo o crescimento populacional e a

expansatildeo urbana desordenada agraves margens do Doce Este crescimento intensificou a

supressatildeo das matas ciliares e abriu espaccedilo para a impermeabilizaccedilatildeo do solo reduzindo

a infiltraccedilatildeo

Posteriormente a inauguraccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos ampliou o fluxo na regiatildeo pois

proporcionava a ligaccedilatildeo com as terras ao norte do Estado Atuou tambeacutem como obstaacuteculo

ao transporte de sedimentos carreados no fluxo natural do rio uma vez que sua

implantaccedilatildeo altera a topografia do fundo do canal afetando os processos geomorfoloacutegicos

58

Poreacutem foi no Morro das Cabritas (colina localizada no espaccedilo que compreende o atual

bairro Esplanada) que ocorreu a primeira desnaturalizaccedilatildeo nas margens do Doce Este

morro por onde o Rio Santa Maria do Doce meandrava ateacute desaguar no Rio Doce foi

cortado em meados de 1953 para abrigar a cidade em expansatildeo Devido a esta

intervenccedilatildeo o curso original do Santa Maria foi deslocado e passou a escoar

retilineamente ateacute a foz (Figura 21)

Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponte Florentino Aacutevidos (direita) e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque em vermelho para o curso atual do Santa Maria Fonte Nossa Colatina

As intervenccedilotildees na margem direita tornam-se mais intensas a partir da deacutecada de 1960

quando no ano de 1968 edificou-se um muro visando a proteccedilatildeo dos pilares da

extremidade direita da ponte Esta obra ficou paralisada por muitos anos e foi a primeira

de retificaccedilatildeo e aterro realizada neste trecho do rio Esta intervenccedilatildeo modificou o fluxo

natural das correntes do rio e reduziu a largura da sua calha alterando a morfologia do

canal (Figura 22)

59

Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de proteccedilatildeo da ponte Elaborado pela autora Fonte fotos histoacutericas Nossa Colatina

Contudo somente em 1972 teve iniacutecio o segundo aterro (Figura 23) com a finalidade de

alocar a estaccedilatildeo rodoviaacuteria de Colatina e ampliar a aacuterea de acesso agrave ponte Florentino

Aacutevidos A implementaccedilatildeo desta obra suprimiu parte do leito do Rio Doce pois removeu a

saliecircncia cocircncava que curvava o rio retilinizando esta parte do canal

60

Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora Fonte Nossa Colatina Nossa Linda Colatina

Apoacutes dez anos sem grandes intervenccedilotildees em 1982 o lado a montante da ponte bairro

Esplanada eacute acrescido de um aterro que estenderaacute a aacuterea do antigo Morro das Cabritas

para o rio (Figura 24)

Conhecido como Rua da Lama devido agrave umidade que o rio transferia ao aterro formando

um barro viscoso que persistia a maior parte do ano o trecho atualmente compreende a

Avenida Professor Joseacute Zouian popularmente denominada Avenida Beira-Rio de onde

surge a primeira forma do calccediladatildeo que seraacute estendido ateacute o bairro Colatina Velha

61

Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o calccediladatildeo da Av Beira-Rio Elaborado pela autora Fonte Bennachio (2015)

Somente em 2004 foi implementado o maior projeto de canalizaccedilatildeo do municiacutepio Naquele

ano teve iniacutecio a execuccedilatildeo do enrocamento da Av Beira-Rio (Figura 25) obra destinada

inicialmente a alocaccedilatildeo de equipamentos puacuteblicos de lazer e cultura praccedilas preacutedios aleacutem

da promessa de contribuir para a contenccedilatildeo dos transbordamentos do Rio Doce

Apesar de o referido manancial jaacute estar comprometido com problemas de poluiccedilatildeo

assoreamento e erosatildeo aleacutem dos impactos de duas hidreleacutetricas instaladas a montante a

obra abarcou a supressatildeo da vegetaccedilatildeo ciliar e aterro de parte do rio jaacute tatildeo degradado

62

Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento iniciada em 2004 e finalizada em 2008 Elaborado pela autora Fonte proacutepria autora em 240215

Ocupando uma aacuterea total de 130 mil msup2 do leito do Rio Doce o aterro teve iniacutecio em 2004

sendo construiacutedo com cerca de 90 mil msup3 de pedras 50 mil msup3 de areia retirada do leito do

rio e por fim o nivelamento com 200 mil msup3 de terra A obra era divulgada como um antigo

sonho dos colatinenses e serviria para ampliaccedilatildeo da Av Beira-Rio no bairro de Colatina

Velha instalaccedilatildeo de ciclovias calccediladatildeo equipamentos puacuteblicos e estacionamento (Figura

26) Apesar do fim da engenharia em 2008 o projeto ainda estaacute em fase de acabamento

na parte urbaniacutestica e na alocaccedilatildeo dos oacutergatildeos puacuteblicos

Cabe destacar que a obra sofreu embargos do Ministeacuterio Puacuteblico Federal (MPF) por

apresentar apenas cadastro na Agecircncia Nacional de Aacuteguas (ANA) que conforme parecer

da Procuradora Nadja Machado Botelho na Accedilatildeo Civil Puacuteblica ldquo[hellip] equivocadamente natildeo

realizou o procedimento de outorga [hellip]rdquo (MPF 2006 p2) Aleacutem disso a procuradora

solicitou tutela tendo em vista tratar-se de aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental e o fato de o

IBAMA ter concedido licenciamento com indevida dispensa do Estudo de Impacto

Ambiental (EIA)Relatoacuterio de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA)

63

Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina Fonte Prefeitura de Colatina (2015)

Por isso essa obra deve ser considerada faraocircnica para os cofres puacuteblicos e irreversiacutevel

para os processos geomorfoloacutegicos do Doce E sua efetivaccedilatildeo soacute foi possiacutevel com a

participaccedilatildeo e investimentos do Governo estadual Contudo seu objetivo foi frustrado pois

novamente na cheia do Rio Doce em dezembro de 2013 quando este atingiu a vazatildeo de

9028 msup3s a aacuterea foi inundada e por estar em cota maior que as casas que beiravam o

rio o enrocamento atuou como represa natildeo permitindo o retorno das aacuteguas quando o niacutevel

do rio retomou o equiliacutebrio

Por fim segue um mapa siacutentese (Figura 27) com a cartografia das quatro principais

intervenccedilotildees diretas e estruturais na margem direita do Doce no setor urbano de Colatina

representando o curso natural do rio em 1950 e suas desnaturalizaccedilotildees a partir da deacutecada

de 60 ateacute a atualidade

64

Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce ante e depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora

65

422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio

O recorte em estudo compreende as Zonas ZE-1 ZE-2 e ZUD 2-1 (Figura 28 p61) sendo

a Zona Especial 1 Zona Especial 2 e Zona de Uso Diverso 2-1 destinadas no PDM (Lei

52732007)

Artigo 103 - As Zonas de Usos Diversos ndash ZUD satildeo definidas em razatildeo da concentraccedilatildeo de atividades urbanas diversificadas com predominacircncia do uso comercial e de serviccedilos Artigo 104 - Satildeo objetivos das Zonas de Usos Diversos I - otimizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do solo priorizando a instalaccedilatildeo de novos empreendimentos em terrenos natildeo edificados contiacuteguos a empreendimentos jaacute instalados II - controle da implantaccedilatildeo de usos incompatiacuteveis com os definidos para estas zonas III - garantia de licenciamento e monitoramento ambiental dos empreendimentos IV - controle da expansatildeo comercial de serviccedilos e de induacutestrias de pequeno porte em direccedilatildeo a aacutereas residenciais [] Artigo 130 - As Zonas Especiais 1 ndash ZE 1 abrangem todas as aacutereas remanescentes do municiacutepio relativamente ao zoneamento estabelecido nesta lei ocupadas ou natildeo contida na lei de periacutemetro urbano para as quais natildeo foram ainda estabelecidos os criteacuterios de uso e ocupaccedilatildeo Artigo 131 - As Zonas Especiais 2 ndash ZE 2 satildeo as aacutereas existentes no prolongamento da avenida Beira Rio mais especificamente no trecho entre o 80 Batalhatildeo da Poliacutecia Militar e a rua Pedro Epichin incluindo o espaccedilo existente entre a margem do Rio Doce e o limite das construccedilotildees localizadas na rua Pedro Epichin

Cabe destacar que mesmo sendo palco das aacutereas mais afetadas com as inundaccedilotildees do

Rio Doce a Beira-Rio tem sido alvo da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria que aproveitando-se dos

iacutendices pouco restritos da ZUD 2 (Figura 28 p62) valoriza o espaccedilo promovendo a

instalaccedilatildeo de grandes estruturas como hipermercados edifiacutecios residenciais modernos e

hotelaria

66

Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 Fonte Colatina (2007)

A aacuterea contida na ZE (Figura 28) natildeo possui criteacuterio de ocupaccedilatildeo definido na legislaccedilatildeo

atual sendo adotado o disposto na Lei 41961995 que estabelece os iacutendices urbaniacutesticos

para as aacutereas conquistadas junto ao Rio Doce e na Lei 420595 que aprova os

parcelamentos na Beira-Rio Quanto agrave ZUD 2-1 apresenta iacutendices urbaniacutesticos no anexo

118 do Plano Diretor conforme tabela 3 abaixo

67

Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1

Fonte Colatina (2007 p36)8

68

Eacute relevante observar que numa aacuterea onde o corpo hiacutedrico foi reduzido pelos sucessivos

aterros tenha sido aprovada a instalaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto (Figura

29) com taxa de ocupaccedilatildeo de ateacute 80 e com baixo iacutendice de permeabilidade Ampliou-

se a aacuterea impermeaacutevel numa regiatildeo onde a drenagem jaacute eacute muito comprometida com a

expansatildeo urbana sobre o rio

Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto na Beira-Rio Fonte imagem do Google Maps 2015 E fotos da autora em 140215

Portanto analisando o conjunto de dados apresentado acima eacute possiacutevel entender como

as inundaccedilotildees satildeo potencializadas no municiacutepio atingindo a populaccedilatildeo mas em especial

afetando a dinacircmica de um corpo hiacutedrico tatildeo relevante para o Estado A fim de subsidiar a

gestatildeo puacuteblica com material cartograacutefico para a tomada de decisotildees delimitou-se o

poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo (Figura 30) Pois devem ser adotadas medidas que

minimizem impactos de futuros eventos hidroloacutegicos na bacia capazes de comprometer

novamente a aacuterea urbana mais central de Colatina

69

Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av Beira-Rio em dezembro de 2013 Elaborado pela autora

70

Diante do poliacutegono de inundaccedilatildeo da uacuteltima cheia (Figura 30) em dezembro de 2013 eacute

possiacutevel implementar medidas de convivecircncia com as grandes vazotildees a exemplo de

paiacuteses como Holanda que vem investindo em medidas de resiliecircncia a fim de reduzir a

velocidade dos defluacutevios possibilitando ao canal a capacidade de acumular e dispersar as

aacuteguas com impacto miacutenimo para as populaccedilotildees Conforme Carneiro e Miguez (2011) a

estrateacutegia adotada pelo paiacutes eacute reter armazenar e drenar sendo mais flexiacutevel e natildeo

interferindo drasticamente na dinacircmica do corpo hiacutedrico

Por fim a implementaccedilatildeo de soluccedilotildees de planejamento urbano em Colatina requer uma

anaacutelise integrada que abarque o urbano e o ambiental de modo a propor intervenccedilotildees que

produzam impactos reduzidos nos processos geomorfoloacutegicos do Rio Doce Logo a gestatildeo

municipal deve atuar em niacutevel de bacia hidrograacutefica interagindo com os municiacutepios a

montante propondo medidas de minimizaccedilatildeo das cheias urbanas Mas na escala local

pode-se atuar junto aos novos parcelamentos de modo a ampliar o percentual de aacutereas

permeaacuteveis no municiacutepio incentivando por exemplo os novos loteamentos a adotarem

pavimentaccedilotildees que permitam a drenagem natural do solo

71

5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Partindo da ideia de que eacute possiacutevel implementar medidas que minimizem o escoamento

superficial satildeo apresentadas propostas como forma de controlar ou ao menos reduzir os

impactos das inundaccedilotildees urbanas

Embora as implementaccedilotildees histoacutericas de estruturas de proteccedilatildeo ou barreiras mais altas

tenham sido muito disseminadas atualmente estatildeo sendo suplantadas pelo gerenciamento

de inundaccedilotildees de maneira mais sustentaacutevel Deste modo as experiecircncias fora do Brasil

apontam para soluccedilotildees mais flexiacuteveis que considerem o fluxo natural do canal enquanto

um ecossistema em equiliacutebrio Para tanto Carneiro e Miguez (2011 p150) destacam a

iniciativa alematilde no controle de inundaccedilotildees em bacias hidrograacuteficas metropolitanas

[hellip] A abordagem comum consiste na regulaccedilatildeo do uso do solo nas aacutereas inundaacuteveis e em ldquodar espaccedilo para o riordquo ao inveacutes de priorizar investimentos em estruturas de proteccedilatildeo contra inundaccedilotildees como a colocaccedilatildeo de diques de contenccedilatildeo as margens dos rios A utilizaccedilatildeo do conceito de resiliecircncia apropriado de ecologia decorre dessa abordagem A aplicaccedilatildeo praacutetica do conceito implica portanto em mudanccedilas de paradigma Deixa de ser preponderante a engenharia construtiva e entra em cena o planejamento de longo prazo voltado para o desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis capazes de conviver com as variaccedilotildees do ciclo hidroloacutegico sem significar necessariamente trageacutedias anunciadas

Aleacutem dessas propostas geoacutegrafos como Sandra Cunha tecircm estudado a recuperaccedilatildeo

natural ou ldquorenaturalizaccedilatildeordquo de corpos fluviais visando promover a estabilidade dos canais

de modo mais sustentaacutevel Para ela

[hellip] Recuperaccedilatildeo de canal significa de forma simples o retorno as condiccedilotildees anteriores aos distuacuterbios Em essecircncia eacute o processo de recuperaccedilatildeo do rio ou do ecossistema fluvial estabilizando o desenvolvimento de habitats e colonizaccedilatildeo a uma taxa mais raacutepida que dos processos naturais fiacutesicos e bioloacutegicos Na recuperaccedilatildeo de canais ocorrem consideraccedilotildees de aspecto hidroloacutegico morfoloacutegico e ecoloacutegico qualidade da aacutegua esteacutetica aleacutem da necessidade de uma visatildeo integradora do projeto sustentaacutevel de recuperaccedilatildeo (CUNHA 2012 p230 a 231)

Satildeo portanto medidas pontuais como o retorno agraves sinuosidades do rio (Figura 31 p 68)

ou a substituiccedilatildeo de estruturas de concreto por superfiacutecies mais permeaacuteveis a exemplo

das trincheiras de infiltraccedilatildeo ou pavrsquos (Figura 32) aacutereas mais vegetadas aleacutem de coleta e

uso de aacutegua da chuva bem como tratamento das aacuteguas superficiais por meio de

72

amenidades esteacuteticas como reservatoacuterios de retenccedilatildeo ou detenccedilatildeo que podem ser

associados a ambientes harmocircnicos como lagos artificiais Todas estas accedilotildees possibilitam

a minimizaccedilatildeo das grandes vazotildees no solo urbano pois pretendem atenuar os impactos

das cheias fazendo com que seja resgatada parte da drenagem existente anteriormente agrave

urbanizaccedilatildeo

Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do Rio Aa Munster Alemanha (1998) Fonte Cunha (2012 p233)

Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos Fonte Carneiro e Miguez (2011 p128)

A partir do exposto cabe agrave gestatildeo municipal implementar legislaccedilotildees que priorizem a

permeabilidade possibilitando uma maior infiltraccedilatildeo das aacuteguas das chuvas atraveacutes de

pavimentaccedilotildees menos impermeaacuteveis e da ampliaccedilatildeo de aacutereas vegetadas Satildeo medidas

que tornam a drenagem mais sustentaacutevel aleacutem de possibilitar a manutenccedilatildeo dos serviccedilos

puacuteblicos de forma menos custosa tendo em vista o elevado preccedilo das recomposiccedilotildees

asfaacutelticas

1 2

73

Aleacutem disso quando se fala em controle de cheias urbanas pressupotildee-se uma seacuterie de

medidas para minimizaccedilatildeo de seus impactos desde a operaccedilatildeo de sistemas de alerta

zoneamento de aacutereas inundaacuteveis construccedilatildeo de grandes reservatoacuterios de contenccedilatildeo de

cheias e diques ateacute accedilotildees de educaccedilatildeo ambiental

Cabe pensar tambeacutem na proacutexima revisatildeo do PDM em um plano de macrodrenagem

municipal que reuacutena accedilotildees de caraacuteter estruturantes com obras hidraacuteulicas de infraestrutura

que realizem a conduccedilatildeo final das aacuteguas dos escoamentos superficiais para a minimizaccedilatildeo

das inundaccedilotildees e em medidas natildeo-estruturantes que trabalhem a consciecircncia ambiental

e proponha um zoneamento de cheias a fim de se delimitar os pontos mais fragilizados nos

defluacutevios

Por fim pensar em drenagem num contexto de ocupaccedilatildeo irregular histoacuterico requer

profissionais que aleacutem de possuir afinidade com a temaacutetica tambeacutem possam analisar os

diferentes processos que constituem o espaccedilo geograacutefico Logo este tipo de estudo deve

abarcar uma equipe multidisciplinar que percorra a anaacutelise desde o ambiental estrutural

ateacute o aspecto humano a fim de se produzir resultados que de fato contribuam com o

controle das inundaccedilotildees urbanas

74

6 CONCLUSAtildeO

A partir do recorte espacial foi possiacutevel compreender que a abordagem da geomorfologia

fluvial com a anaacutelise espaccedilo-temporal da ocupaccedilatildeo urbana possibilita a identificaccedilatildeo das

accedilotildees do homem no meio ambiente pois estas resultam na alteraccedilatildeo das paisagens

naturais e na dinacircmica da bacia hidrograacutefica Assim o Rio Doce deve ser estudado de

modo integrado ao crescimento da cidade sobretudo para compreensatildeo da produccedilatildeo do

espaccedilo geograacutefico

Analisar a inundaccedilatildeo urbana em Colatina foi satisfatoacuterio pois o municiacutepio estaacute situado no

perfil meacutedio-baixo da bacia vazante e eacute neste trecho que os reflexos das intervenccedilotildees satildeo

mais acentuados principalmente se esta parte do canal tambeacutem tiver passado por obras

que modificaram seus processos hidroloacutegicos Aleacutem disso a perspectiva geograacutefica aponta

para vaacuterias outras questotildees como erosatildeo fluvial planejamento urbano poluiccedilatildeo ambiental

crise da aacutegua que conduzem a outras discussotildees acerca da relaccedilatildeo homemnatureza

Ao demonstrar a evoluccedilatildeo espaccedilo-temporal do uso e cobertura da terra na margem direita

do Doce associando esta ocupaccedilatildeo agraves obras estruturantes que foram executadas no

canal verificamos que todas as praacuteticas adotadas para conter o transbordamento do rio

acabaram alterando sua morfologia com a retificaccedilatildeo de trechos em meandros reduzindo

a largura do corpo hiacutedrico o que favoreceu a apropriaccedilatildeo urbana de suas vaacuterzeas Aliadas

a estas questotildees estatildeo a falta de planejamento urbano e a omissatildeo diante da supressatildeo

das matas ciliares principalmente se considerados os resultados do relatoacuterio teacutecnico do

IJSN contra enchentes em 1980

Cabe destacar tambeacutem que toda a anaacutelise da ocupaccedilatildeo urbana e desnaturalizaccedilatildeo do

Rio Doce foi melhor identificada a partir dos produtos cartograacuteficos deste trabalho Pois eacute

na espacialidade dos fenocircmenos e no registro de informaccedilotildees ainda natildeo mapeadas como

os aterros que o geoacutegrafo executa a anaacutelise do seu objeto de estudo o homem e a

natureza aqui representado pela sociedade e o canal do Doce

Apesar do municiacutepio apresentar leis que resguardam os leitos dos rios desde o primeiro

PDM em 1996 nada foi feito para conter as ocupaccedilotildees irregulares beira-rio Pelo contraacuterio

estas aacutereas foram incorporadas ao Plano Diretor em 2007 com possibilidades de

ocupaccedilotildees diversas o que tem levado especuladores a valorizar o solo com vista para o

rio apontando suas qualidades esteacuteticas e teacutermicas Este fato vem aumentando o

75

percentual de aacutereas impermeaacuteveis nesta margem comprometendo ainda mais a drenagem

dos defluacutevios

Eacute na Av Beira-Rio que crescem as implantaccedilotildees de grandes empreendimentos comerciais

como supermercado Casagrande Ogil Hotel e obras de construccedilatildeo de novos arranha-

ceacuteus em um periacutemetro que jaacute eacute totalmente comprometido com os extravasamentos do Rio

Doce Estas obras ocupam grandes aacutereas e na maioria das vezes apresentam reduzida

aacuterea permeaacutevel reservando apenas o obrigatoacuterio pela lei cerca de 10 Observa-se

tambeacutem que a implantaccedilatildeo desses projetos estaacute condicionada agrave apresentaccedilatildeo e

aprovaccedilatildeo por comissatildeo na prefeitura do Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV) sendo

difiacutecil conceber que seja concedida tal licenccedila para implementaccedilatildeo de obras num trecho

de risco ambiental

Embora as diretrizes do Estatuto das Cidades para a implementaccedilatildeo do uso da terra

sustentaacutevel e os instrumentos para a regulaccedilatildeo do solo urbano sejam avanccedilados Colatina

eacute mais um exemplo da carecircncia de profissionais capacitados para estudar de modo

integrado e em niacutevel de bacia hidrograacutefica os efeitos da accedilatildeo humana num ambiente tatildeo

peculiar como as margens do Doce Por isso com os objetivos traccedilados nesta pesquisa

podemos aleacutem de compreender o fenocircmeno criar uma metodologia de anaacutelise de aacutereas

inundaacuteveis em ambientes urbanos O que permite agrave gestatildeo municipal uma diretriz para a

tomada de decisotildees

Destaca-se tambeacutem que as legislaccedilotildees aqui referenciadas supriram a discussatildeo acerca do

objeto de estudo mas outras podem contribuir para esta pesquisa a exemplo do Coacutedigo

das Aacuteguas da Poliacutetica Nacional dos Recursos Hiacutedricos das Resoluccedilotildees do Conama do

Estatuto das Cidades entre outros

Sendo assim numa revisatildeo do PDM deve-se pensar nestes aspectos da cidade desde o

histoacuterico de ocupaccedilatildeo das margens ateacute os impactos das inundaccedilotildees e o presente trabalho

auxilia com uma nova abordagem na reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo fornecendo material

cartograacutefico para subsidiar propostas de proteccedilatildeo ao curso do Doce e consequentemente

da populaccedilatildeo

Por fim deve-se destacar que o recorte estaacute inserido num contexto maior de uma bacia

hidrograacutefica que se estende aleacutem dos limites de Colatina ou do estado do Espiacuterito Santo

Esta bacia compreende a Regiatildeo Hidrograacutefica do Atlacircntico Leste e estaacute alocada tambeacutem

76

no estado de Minas Gerais o que portanto torna as accedilotildees de controle das inundaccedilotildees

mais complexas tendo em vista as divergentes politicas territoriais

77

7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

Agecircncia Nacional de Aacuteguas - ANA Sinopse das Bacias Hidrograacuteficas do Atlacircntico Sul Brasiacutelia 2001 Disponiacutevel em lt httpwww2anagovbrPaginasportaisbaciasAtlanticoLesteaspxgt Acesso em 14 de Junho de 2014 ALBANI V Trajetoacuteria do crescimento da cidade de Colatina 2012 161f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) ndash Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo do Centro de Artes da Universidade Federal do Espirito Santo Vitoria 2012 BENNACHIO MARINELSON Cidade de Colatina princesa do norte 2015 Disponiacutevel em lthttpwwwmarinelsoncombrcolatina gt Acesso em 05 de Fevereiro de 2015 BRASIL Novo Coacutedigo Florestal Lei nordm 12651 de 25 de Maio de 2012 Dispotildee sobre a proteccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_ato2011-20142012leil12651htm gt - Acesso em 24 de Maio de 2014 BRASIL Estatuto das Cidades guia para implantaccedilatildeo pelos municiacutepios e cidadatildeos Lei 10257 de julho de 2001 Regulamenta os Artigos 182 e 183 da Constituiccedilatildeo Federal Estabelece Diretrizes Gerais da Poliacutetica Urbana e daacute Outras Providecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisleis_2001l10257htmgt Acesso em 13 de Julho de 2014 CANHOLI A P Drenagem urbana e controle de enchentes Oficina de textos Satildeo Paulo 2005 CARNEIRO PRF Controle De Inundaccedilotildees Em Bacias Metropolitanas Considerando A Integraccedilatildeo Do Planejamento Do Uso Do Solo Agrave Gestatildeo Dos Recursos Hiacutedricos Estudo De Caso Bacia Dos Rios IguaccediluSarapuiacute Na Regiatildeo Metropolitana Do Rio De Janeiro 2008 305f Tese (Doutorado em Engenharia Civil) - Programa De Poacutes-Graduaccedilatildeo De Engenharia Da Universidade Federal Do Rio De Janeiro Rio de Janeiro 2008 CARNEIRO PRF MIGUEZ MG Controle de inundaccedilotildees em bacias hidrograacuteficas metropolitanas 1ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Annablume 2011 CHRISTOFOLETTI A Geomorfologia 2ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Edgard Blucher Ed da Universidade de Satildeo Paulo 1980 COELHO A L N Bacia Hidrograacutefica do Rio Doce (MGES) uma anaacutelise socioambiental integrada Revista GeografarES Vitoacuteria ndash ES nordm 7 2009 P 131-146 ______ Geomorfologia Fluvial de Rios Impactados por Barragens Revista Caminhos de Geografia Uberlacircndia v 9 n 26 Jun2008 p 16 - 32 ______ Situaccedilatildeo Hiacutedrico-Geomorfoloacutegica da Bacia Do Rio Doce com Base nos Dados da Seacuterie Histoacuterica de Vazotildees da Estaccedilatildeo de Colatina - ES Caminhos da Geografia (UFU Online) v 6 p 56-79 2006

78

______ Alteraccedilotildees Hidrogeomorfoloacutegicas no meacutedio-baixo Rio Doce ES 2007 227f Tese (Doutorado em Geografia) ndash Programa de Poacutes- Graduaccedilatildeo do Departamento de Geografia da Universidade Federal Fluminense Niteroacutei 2007 COELHO MCN Impactos ambientais em aacutereas urbanas ndash Teorias conceitos e meacutetodos de pesquisa In GUERRA e CUNHA (orgs) Impactos Ambientais Urbanos no Brasil 10ordf Ediccedilatildeo Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2013 COLATINA Lei Municipal nordm 4 227 de 12 de fevereiro de 1996 Dispotildee sobre o Parcelamento do Solo Urbano Disponiacutevel em lt httpwwwlegislacaoonlinecombrcolatinaimagesleishtmlL42271996html gt - Acesso em 24 de Abril de 2014 ______ Lei Municipal nordm 4228 de 12 de fevereiro de 1996 Dispotildee sobre o Plano Diretor Municipal de Colatina Revogada Disponiacutevel em lt httpwwwlegislacaoonlinecombrcolatinaimagesleishtmlL42281996html gt - Acesso em 24 de Abril de 2014 ______ Lei Municipal nordm 5273 de 12 de Marccedilo de 2007 Dispotildee sobre o Plano Diretor Municipal de Colatina Disponiacutevel em lt httpwwwlegislacaoonlinecombrcolatinaimagesleishtmlL52732007htmlgt - Acesso em 19 de Abril de 2014 ______ Imagem aeacuterea da margem direita do Doce anterior a deacutecada de 1950 e posterior a deacutecada de 1990 Dispotildee sobre a ocupaccedilatildeo na margem direita do Doce no centro de Colatina Disponiacutevel em lt httpwwwcolatinaesgovbrnoticiasmostrar_noticiaphparea=gabinampmateria=1971gt - Acesso em 04 de Fevereiro de 2015 ______ Projeto de enrocamento da Av Beira Rio de Colatina 2015 Disponiacutevel em lt httpwwwcolatinaesgovbrobraspagina=enroncamento gt - Acesso em 14 de setembro de 2014 CUNHA SB Geomorfologia fluvial In GUERRA e CUNHA (orgs) Geomorfologia uma atualizaccedilatildeo de bases e conceitos 4ordf Ediccedilatildeo Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2001 ______ Canais Fluviais e a Questatildeo Ambiental In GUERRA e CUNHA (orgs) A questatildeo ambiental diferentes abordagens 8ordf Ediccedilatildeo Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2012a ______ Rios Desnaturalizados In BARBOSA e LIMONAD (orgs) Ordenamento territorial e ambiental 1ordf Ediccedilatildeo Niteroacutei Editora da UFF 2012b DALLAPICOLA M S Q COELHO A LN Transbordamento das aacuteguas do rio Doce na aacuterea urbana de Colatina ES em dezembro de 2013 Disponiacutevel em lt httpwwwdsrinpebrsbsr2015filesindexauthtmletraM gt Acesso em 18 de fevereiro de

2015 DEFESA CIVIL DO TOCANTINS Esquema de representaccedilatildeo das inundaccedilotildees e enchentes urbanas 2015 Disponiacutevel em lthttpdefesaciviltogovbrenchente gt Acesso em 22 de Marccedilo de 2015

79

ENCONTRA COLATINA Foto aeacuterea de Colatina do Bairro Esplanada sentido a foz do rio Doce 2015 Disponiacutevel em lt httpwwwencontracolatinacombrsobre-colatinagt Acesso em 17 de fevereiro de 2015 FITZ P R Geoprocessamento sem Complicaccedilatildeo Satildeo Paulo Ed Oficina de Textos 2008a ______ Cartografia Baacutesica (nova ediccedilatildeo) Satildeo Paulo Ed Oficina de Textos 2008b FOLHA VITORIA Preacutedio e quatro casas desabam em Colatina Noroeste do Estado Vitoria 24 de dezembro de 2013 lt httpwwwfolhavitoriacombrgeralnoticia201312predio-e-quatro-casas-desabam-em-colatina-noroeste-do-estadohtml gt - Acesso em 25 de Maio de 2014 GAZETA G1 Espirito Santo imagens da enchente de Colatina em dezembro de 2013 Disponiacutevel em lthttpg1globocomespirito-santonoticia201312sobe-para-40-mil-o-numero-pessoas-fora-de-casa-no-es-diz-defesa-civilhtmlgt Acesso em 16 de fevereiro de 2015 GORSKI MCB Rios e cidades ruptura e reconciliaccedilatildeo 1ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Senac Satildeo Paulo 2010 GRAEFF OR Licenciamento Ambiental Urbano In GUERRA (org) Geomorfologia Urbana 1ordf Ediccedilatildeo Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2011 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Cidades Disponiacutevel em lthttpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=320150ampsearch=||infograacuteficos-informaccedilotildees-completasgt Acesso em 25 de Maio de 2014 Instituto Capixaba de Pesquisa Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural - INCAPER Relatoacuterio do Programa De Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural (PROATER 2011) Disponiacutevel em ltwwwincaperesgovbrproatermunicipiosNoroesteColatinapdfgt Acesso em 24 de Maio de 2014 Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hiacutedricos ndash IEMA Ortofotos Espirito Santo do vocirco de 2007 a 2008 Disponiacutevel em lt http18984218229aplicmapgeralhtm5fc6ad50c096dbb2c3dc4bf3e379ae63 gt Acesso em 18 de fevereiro de 2015 Instituto Jones dos Santos Neves ndash IJSN Plano Diretor de Contenccedilatildeo as Enchentes Proteccedilatildeo as Encostas e Drenagem Pluvial de Colatina de abril de 1982 Disponiacutevel em lthttpwwwijsnesgovbrConteudoDigital20120801_ij00163_planodiretor_custo_mapa_v4pdf gt Acesso em 26 de janeiro de 2015 ______ Planos de Informaccedilatildeo formato shapefile 2015 Disponiacutevel em lthttpwwwijsnesgovbrSitioindexphpoption=com_contentampview=articleampid=3780ampItemid=330 gt Acesso em 26 de janeiro de 2015 JAILSON MONTEIRO Imagens da inundaccedilatildeo da Av Beira Rio de Colatina em dezembro de 2013 Disponiacutevel em httptecmixinforblogspotcombr201312enchente-colatinahtmlgt Acesso em 17 de Fevereiro de 2015

80

JENSEN J R Sensoriamento Remoto do Ambiente uma perspectiva em recursos terrestres Satildeo Joseacute dos Campos SP Parecircntese 2009 MINISTERIO PUBLICO FEDERAL - MPF Accedilatildeo Civil Puacuteblica com pedido de Antecipaccedilatildeo de Tutela - da obra de Enrocamento da Av Beira Rio em ColatinaES2006 Disponiacutevel emlt wwwpresmpfmpbracp_riodoce_colatinadocgt Acesso em 14 de marccedilo de 2015 NOSSA COLATINA Fatos Histoacutericos Culturais Curiosidades Informaccedilatildeo Variedades Disponiacutevel em lt httpswwwfacebookcomnossacolatinagt Acesso em 29 de Janeiro de 2015 NOSSA LINDA COLATINA Fotos histoacutericas do centro de Colatina Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomNossaLindaColatinaphotosgt Acesso em 29 de Janeiro de 2015 Serviccedilo Geoloacutegico do Brasil ndash CPRM Relatoacuterio Teacutecnico do Periacuteodo Criacutetico de Dezembro de 2013 (CPRM 2014) Disponiacutevel emlthttpwwwcprmgovbrpubliquemediarelatorio_eventos_criticos_190314pdfgt Acesso em 16 de Setembro de 2014 Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espiacuterito Santo - GEOBASES Downloads de planos de informaccedilatildeo do estado municiacutepio bairros corpo drsquoagua entre outros Disponiacutevel em httpwwwgeobasesesgovbr Acesso em 07 de Setembro de 2014 SITE BARRA Colatina debaixo drsquoaacutegua na maior enchente da histoacuteria do municiacutepio Colatina 24 de dezembro de 2013 lt httpwwwsitebarracombr201312colatina-debaixo-dagua-na-maior-enchente-da-historia-do-municipiohtml gt - Acesso em 25 de Maio de 2014 TUCCI CEM Prefacio In GUERRA e CUNHA (orgs) Impactos Ambientais Urbanos no Brasil 10ordf Ediccedilatildeo Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2013 UOL NOTiacuteCIAS Chuvas causam estragos em mais de dois terccedilos dos municiacutepios do Espiacuterito Santo Vitoacuteria 26 de dezembro de 2013 lt httpnoticiasuolcombralbum20131223chuvas-causam-estragos-em-metade-dos-municipios-do-espirito-santohtmfotoNav=62 gt ndash Acesso em 31 de Maio de 2014 USGS - Geological Survey Serviccedilo Geoloacutegico Americano Aquisiccedilatildeo de imagens orbita digitais gratuitas do sateacutelite LandSat-8 datas de passagem 02012014 e 22032014 EUA Disponiacutevel em lthttpearthexplorerusgsgovgt Acesso em 05 de setembro de 2014

Page 9: DESNATURALIZAÇÃO DO RIO DOCE: UMA ABORDAGEM … · Ao engenheiro Francisco Hermes, pela experiência e conhecimentos partilhados da área de estudo. Aos meus amigos Mônica Regina,

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Perfis Transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de vazante (abril) e cheia (janeiro) 50

Tabela 2 Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013 54

Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1 67

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 - Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais

(Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia) 25

Graacutefico 2 - Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 201045

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANA - Agecircncia Nacional de Aacuteguas

APP - Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente

CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais Serviccedilo Geoloacutegico Brasileiro

GEOBASES - Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espiacuterito Santo

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IJSN - Instituto Jones dos Santos Neves

INCAPER - Instituto Capixaba de Pesquisa Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural

PDM - Plano Diretor Municipal

PMC - Prefeitura Municipal de Colatina

PROATER - Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural

SIG - Sistema de Informaccedilotildees Geograacuteficas

UHE ndash Usina Hidreleacutetrica

UTM - Universal Tranverse Mercator

USGS - Geological Survey Serviccedilo Geoloacutegico Americano

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14

11 Objetivo 16

111 Objetivo Geral 16

112 Objetivos Especiacuteficos 16

12 Justificativa 17

2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS 20

21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano 20

211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial 23

22 Aspectos Juriacutedicos 27

23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos 31

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS 36

4 RESULTADOS 40

41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana 40

411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade 46

42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce 49

421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie de

Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio 53

422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio 65

5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 71

6 CONCLUSAtildeO 74

7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 77

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

A partir da deacutecada de 1930 com a transiccedilatildeo econocircmica de um eixo agraacuterio-exportador

para um polo urbano-industrial (CARNEIRO 2008) verificou-se no Brasil a migraccedilatildeo da

maior parte da populaccedilatildeo para as cidades Isso acarretou segundo Tucci (2013 p17) uma

ldquo[] concentraccedilatildeo urbana no Brasil da ordem de 80 da populaccedilatildeo e o seu

desenvolvimento tem sido realizado de forma pouco planejada com grandes conflitos

institucionais e tecnoloacutegicos []rdquo

De acordo com Canholi (2005 p15) a expansatildeo da aacuterea urbana ldquo[] consequentemente

impermeabilizada ocorreu a partir das zonas mais baixas proacuteximas agraves vaacuterzeas dos rios

ou agrave beira-mar em direccedilatildeo agraves colinas e morros em face da necessaacuteria interaccedilatildeo da

populaccedilatildeo com os corpos hiacutedricos []rdquo Neste cenaacuterio surgem as ocupaccedilotildees irregulares

nas Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) como as da planiacutecie de inundaccedilatildeo dos rios

e os topos de morros

Essas ocupaccedilotildees desordenadas satildeo proporcionadas pela precariedade da implantaccedilatildeo e

fiscalizaccedilatildeo das legislaccedilotildees urbaniacutesticas de ordenamento territorial e ambiental Neste

contexto satildeo relevantes as pesquisas que visam correlacionar o viacutenculo

sociedadenatureza de modo a entender como a ocupaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo no

solo conecta-se com a hidrodinacircmica dos recursos naturais uma vez que ldquo[] a tendecircncia

atual do limitado planejamento urbano integrado estaacute levando as cidades a um caos

ambiental urbano com custo extremamente alto para a sociedaderdquo (TUCCI 2013 p17)

Deve-se partir do pressuposto teoacuterico articulado com a ideia anterior de ldquo[]

indissociabilidade entre natureza e sociedade []rdquo (COELHO 2013 p21) em que a

sociedade natildeo pode ser apenas entendida como populaccedilatildeo e a natureza enquanto mero

ambiente fiacutesico mas que estes dois fatores estatildeo dinamicamente produzindo o espaccedilo

geograacutefico

Neste contexto a problemaacutetica se afirma no intuito de relacionar as legislaccedilotildees urbanas

(Lei de Parcelamento do Solo 676679 e PDM) e ambientais (Novo Coacutedigo Florestal 2012)

com as suas aplicaccedilotildees ou natildeo no periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina

principalmente nos bairros que se situam na planiacutecie de inundaccedilatildeo do Rio Doce

A escolha da temaacutetica tambeacutem teve como premissa a importacircncia regional de Colatina

como entreposto comercial e logiacutestico para os municiacutepios do noroeste capixaba conforme

15

relato do Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural - PROATER (INCAPER

2011)

Exportadores de cafeacute atacadistas e as lojas de pronta entrega dinamizam o comeacutercio local que atende aos municiacutepios do norte capixaba leste de Minas Gerais e sul da Bahia representando um universo de mais de 700 mil consumidores (INCAPER 2011 p5)

De acordo ainda com o INCAPER (op cit) Colatina tem crescido a uma margem de 188

anual o que representa a tendecircncia ao ecircxodo rural sendo que a populaccedilatildeo do campo vem

diminuindo de aproximadamente 19 em 1990 passou a 12 no Censo de 2010 Diante

do exposto entra em discussatildeo o planejamento urbano pois com o crescimento da

populaccedilatildeo citadina para cerca de 88 aumentam tambeacutem as pressotildees sobre o meio

ambiente em especial as regiotildees ribeirinhas

Estas uacuteltimas refletem o aumento das atividades humanas na bacia hidrograacutefica onde

pode-se destacar as mudanccedilas induzidas pelas accedilotildees antropogecircnicas que se dividem em

diretas (aquelas que atuam no canal fluvial para controle das vazotildees a exemplo dos

reservatoacuterios e desvios de aacuteguas) e indiretas relacionadas agraves aacutereas fora dos canais por

exemplo o desmatamento e urbanizaccedilatildeo sendo que estas comprometem a descarga e

carga soacutelida do rio (PARK1981 KNIGHTON1984 apud CUNHA 2001)

O interesse pela pesquisa surge da importacircncia regional do municiacutepio dos impactos

histoacutericos humanos materiais e imateriais sofridos diante de eventos hidroloacutegicos

extremos tendo em vista o fato de o periacutemetro urbano ser cortado por um corpo fluvial de

importacircncia regional Aleacutem disso a abordagem geograacutefica possibilita a correlaccedilatildeo dos

processos fluviais com a ocupaccedilatildeo urbana de modo mais integrado (COELHO 2009)

Portanto uma das finalidades deste trabalho eacute analisar por meio das geotecnologias e das

investigaccedilotildees de campo como a ocupaccedilatildeo urbana tem interferido nas margens do Rio

Doce de modo a delimitar os sucessivos aterros na margem direita no periacutemetro do bairro

Esplanada a Colatina Velha Ademais identificar como os processos deste canal fluvial

tecircm sido afetados pela intervenccedilatildeo humana em seu leito principal

16

11 Objetivo

111 Objetivo Geral

Correlacionar os processos fluviais do Rio Doce por meio da dinacircmica geomorfoloacutegica

deste canal com o uso e cobertura da terra no setor urbano do municiacutepio de Colatina

Espiacuterito Santo Contrapondo assim as intervenccedilotildees urbanas da beira-rio com o Plano

Diretor Municipal e o Novo Coacutedigo Florestal enfatizando as diretrizes adotadas no

parcelamento do solo para a planiacutecie de inundaccedilatildeo deste rio

112 Objetivos Especiacuteficos

Identificar os vetores de crescimento urbano do municiacutepio a fim de avaliar a

evoluccedilatildeo da mancha urbana junto ao canal principal

Determinar o comprimento da borda da calha do leito regular do Rio Doce no

periacutemetro urbano de Colatina para definiccedilatildeo da largura miacutenima da faixa marginal

de preservaccedilatildeo

Espacializar as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente beira-rio previstas em lei a fim

de analisar a ocupaccedilatildeo urbana nestes espaccedilos

Cartografar os principais pontos desnaturalizados no canal principal do Rio Doce

no setor urbano de Colatina

Demonstrar como o emprego das geotecnologias auxilia no planejamento urbano

e ambiental especialmente em acircmbito municipal

17

12 Justificativa

A aacuterea de estudo corresponde ao periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina situado na

Bacia Atlacircntico trecho leste sub-bacia do Rio Doce no baixo curso (ANA 2001)

Compreende a regiatildeo noroeste do estado do Espiacuterito Santo latitude 19deg 32rsquo 16rsquorsquo S e

longitude 40deg 37rsquo 59rsquorsquo W De acordo com os dados do censo de 2010 do Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio possuiacutea uma populaccedilatildeo de 111788 mil

habitantes1 numa aacuterea territorial de 1416804 kmsup2

Devido a sua privilegiada posiccedilatildeo geograacutefica limiacutetrofe com o Rio Doce e a construccedilatildeo da

Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas em 1906 Colatina compreendia os territoacuterios dos atuais

municiacutepios de Baixo Guandu Linhares Pancas Satildeo Gabriel da Palha Marilacircndia Satildeo

Domingos do Norte e Governador Lindenberg (INCAPER 2011) Soacute a partir de 2001

passou a apresentar os atuais limites municipais e configurar uma aacuterea urbana com 59

bairros (Figura 1)

Colatina eacute um municiacutepio de importacircncia para regiatildeo noroeste capixaba seja em caraacuteter

econocircmico ou social Eacute responsaacutevel pelos fluxos de cargas da regiatildeo aleacutem de ser um polo

moveleiro de confecccedilatildeo metalmecacircnico e de comeacutercio e serviccedilos gerando emprego e

renda (INCAPER 2011) Aleacutem disso tem sofrido historicamente com as cheias do Rio

Doce principalmente porque parte do seu periacutemetro urbano eacute inundado com as aacuteguas da

calha principal desse rio o que compromete toda a dinacircmica local e potildee em risco os

colatinenses

Assim diante das crescentes demandas por territoacuterio no periacutemetro urbano a populaccedilatildeo

tem suprimido a cobertura vegetal e ocupado desde as margens do Rio Doce ateacute as

encostas dos morros Em periacuteodos de cheias principalmente nos meses de outubro a

marccedilo (INCAPER 2011 ANA 2001) verificam-se inundaccedilotildees de grande parte da aacuterea

urbana beira-rio aleacutem dos movimentos de massa nas encostas Como exemplo destes

acontecimentos tecircm-se os registros fotograacuteficos dos efeitos da chuva de dezembro de 2013

(Figuras 2 e 3)

1 De acordo com o a estimativa do IBGE de 2014 publicada no DOU o municiacutepio conta com uma populaccedilatildeo de 121670 habitantes

18

Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e o canal do Rio Doce Elaborado pela autora

19

Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 Fonte Noticias UOL (2013)

Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de 2013 Fonte Folha Vitoacuteria (2013)

Este estudo portanto eacute relevante tendo em vista as raras abordagens no acircmbito das

Ciecircncias Geograacuteficas especialmente no Espiacuterito Santo de pesquisas que correlacionem

aspectos da geomorfologia fluvial por meio da dinacircmica dos recursos hiacutedricos com o uso

e cobertura da terra particularmente o Plano Diretor Municipal (PDM) Discute dessa

forma as implicaccedilotildees da atuaccedilatildeo humana nas particularidades deste ecossistema natural

tendo em vista o disposto nas legislaccedilotildees urbaniacutesticas e ambientais que visam assegurar

a qualidade de vida das populaccedilotildees

Adiante seratildeo analisados os principais fundamentos da geomorfologia fluvial os aspectos

juriacutedicos e o papel da anaacutelise geograacutefica integrada para o entendimento dos fenocircmenos

das inundaccedilotildees no Centro de Colatina uma vez que eacute devido agraves intervenccedilotildees humanas

nos canais e suas margens que esses fenocircmenos tornam-se mais nocivos a cidade

20

2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS

21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano

Recurso essencial para a manutenccedilatildeo da vida a aacutegua foi um fator relevante para o

estabelecimento histoacuterico das sociedades no entorno dos cursos hiacutedricos Utilizados para

fins de abastecimento humano e animal irrigaccedilatildeo saneamento e transporte os rios

constituiacuteram-se nos principais propulsores de penetraccedilatildeo para o interior (CUNHA 2012a)

Logo em suas margens surgiram povoados que posteriormente transformaram-se em

cidades como as que se estabeleceram agraves margens do Rio Doce a exemplo da sede de

Colatina

Diante das potencialidades que os recursos hiacutedricos possibilitam agraves sociedades

destacamos a importacircncia do estudo da Geomorfologia Fluvial que se apresenta como

campo da Geomorfologia (ciecircncia que estuda as formas do relevo) sendo o interesse

daquela a pesquisa dos processos que relacionam o escoamento das aacuteguas fluviais num

contexto de bacia hidrograacutefica (CHRISTOFOLETTI 1980 CUNHA op cit) Enfoca assim

as alteraccedilotildees na fisionomia dos canais frente agraves intervenccedilotildees no ecossistema natural

beira-rio

A Geomorfologia Fluvial parte da condicionante de que o uso e ocupaccedilatildeo da terra refletem-

se na dinacircmica da bacia de drenagem interferindo nos processos morfogeneacuteticos ou seja

de modelagem do relevo fluvial escoamento superficial das aacuteguas e no ciclo hidroloacutegico

Frente agrave temaacutetica deste estudo faz-se necessaacuterio o entendimento dos conceitos da

fisiografia fluvial aqui referente aos diferentes setores que a aacutegua pode escoar num leito

(Figura 4) como

O leito menor corresponde agrave parte do canal ocupada pelas aacuteguas e cuja frequecircncia impede o crescimento da vegetaccedilatildeo Esse tipo de leito eacute delimitado por partes bem definidas O leito de vazante equivale agrave parte do canal ocupada durante o escoamento das aacuteguas de vazante Suas aacuteguas divagam dentro do leito menor seguindo o talvegue linha de maacutexima profundidade ao longo do leito e que eacute mais bem identificada na seccedilatildeo transversal do canal O leito maior tambeacutem denominado leito maior perioacutedico ou sazonal eacute ocupado pelas aacuteguas do rio regularmente e pelo menos uma vez ao ano durante as cheias Dependendo do tempo ocorrido entre as subidas das aacuteguas eacute possiacutevel haver a fixaccedilatildeo e o crescimento da vegetaccedilatildeo herbaacutecea

21

O leito maior excepcional eacute ocupado durante as grandes cheias no decorrer das enchentes (CUNHA 2001 p 213)

Figura 4 - Tipos de leito fluvial vaacuterzea Fonte Cunha (2001 p213)

Sendo assim as aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial (leitos) aquelas inundadas pelo corpo

hiacutedrico frente a um evento hidroloacutegico extremo tambeacutem satildeo conhecidas como vaacuterzeas

planiacutecie de inundaccedilatildeo ou ainda segundo Carneiro e Miguez (2011 p133) como ldquo[] zona

de passagem de cheia []rdquo Essas aacutereas de vaacuterzeas dependem da fisionomia que o rio

apresenta e segundo Cunha (op cit) o canal fluvial pode apresentar trecircs formas

principais conhecidas como padratildeo dos canais que satildeo retiliacuteneo anastomosado e

meacircndrico (Figura 5)

Figura 5 - Padrotildees dos canais (A) retiliacuteneo (B) anastomosado (C) meandrante (A) amplitude (Rc) raio meacutedio da curvatura do meandro (segundo Bigarella etal 1979) Fonte Cunha (2001 p216)

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Aliada aos padrotildees dos canais estaacute a assimetria ou simetria dos leitos que para Cunha

(2001 p233) relaciona-se com a variaccedilatildeo da velocidade e turbulecircncia ao longo da secccedilatildeo

transversal o que diferencia o comportamento nos canais retiliacuteneos geralmente simeacutetricos

do canal meacircndrico onde

Em canais de leito simeacutetrico em geral padratildeo retiliacuteneo a velocidade maacutexima ocorre no centro do canal diminuindo em direccedilatildeo agraves margens Em leito assimeacutetrico de padratildeo meacircndrico a zona de maacutexima velocidade e turbulecircncia localiza-se nas proximidades das margens cocircncavas decrescendo de valor em direccedilatildeo agrave margem de menor profundidade

(convexa) (CUNHA opcit p 233)

Deste modo a capacidade de erosatildeo das margens transporte e deposiccedilatildeo da carga do rio

dependem entre outros fatores da velocidade das correntes fluviais E o material do fluxo

fluvial constitui-se da descarga liacutequida ou vazatildeo que estaacute relacionada ao tamanho do

material que pode ser transportado e do volume da carga que o rio eacute capaz de carregar

Tem-se ainda a carga soacutelida sedimentos que estaacute relacionada a suspensatildeo e fundo do

rio esta decresce a jusante indicando a diminuiccedilatildeo da competecircncia do corpo fluvial As

cargas de suspensatildeo satildeo constituiacutedas de partiacuteculas finas a exemplo do silte e por fim a

carga de fundo que eacute composta por partiacuteculas de tamanhos maiores a exemplo da areia

(CUNHA2001)

Christofoletti (1980) acrescenta que os sedimentos podem ser carregados de trecircs modos

principais no fluxo em soluccedilatildeo dissolvidos nos cursos hiacutedricos em suspensatildeo como o

silte e argila e em saltaccedilatildeo geralmente a areia e cascalho que compreendem a carga do

leito do rio Destaca-se que a carga detriacutetica natildeo proveacutem apenas da erosatildeo do fundo dos

leitos e margens fluviais mas que o material intemperizado de vertentes carreado nas

enchentes contribui significativamente para a carga sedimentar transportada

Cabe ressaltar ainda que a relaccedilatildeo do arranjo espacial dos canais com os processos

fluviais (a erosatildeo o transporte e a deposiccedilatildeo de sedimentos) eacute determinante para o

trabalho dos rios Tais processos satildeo diretamente influenciados pela vazatildeo velocidade e

pela intensidade da turbulecircncia (seja no fluxo laminar ou no fluxo turbulento) A

variabilidade no comportamento da velocidade e turbulecircncia das aacuteguas ao longo da seccedilatildeo

transversal condiciona os locais preferenciais de erosatildeo e deposiccedilatildeo ao longo do curso

hiacutedrico

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Deste modo qualquer intervenccedilatildeo na bacia e canal fluvial compromete o equiliacutebrio natural

da drenagem levando o corpo hiacutedrico a se adaptar agraves mudanccedilas em sua fisionomia

fisiografia e em seus processos ateacute atingir um novo estado de equiliacutebrio Poreacutem eacute na

planiacutecie de inundaccedilatildeo que estas modificaccedilotildees seratildeo mais percebidas pela populaccedilatildeo pois

a maior parte das obras de engenharia como as canalizaccedilotildees e as ocupaccedilotildees das

margens acaba por romper com o equiliacutebrio natural do rio alterando sua dinacircmica e

intensificando seus processos o que na maioria das vezes potencializa as enchentes no

ambiente urbano

Nesse sentido o entendimento dos processos fluviais (erosatildeo transporte e deposiccedilatildeo)

combinado com a anaacutelise da fisiografia fluvial condicionam as peculiaridades na geometria

hidraacuteulica ou seja na relaccedilatildeo entre a vazatildeo velocidade de escoamento tipos de canais

de sedimentos e a topografia Logo o conhecimento geomorfoloacutegico do rio contribui para

pesquisas que necessitem relacionar o funcionamento deste corpo natural com um

planejamento urbano mais efetivo principalmente se considerarmos um recorte em niacutevel

de bacia hidrograacutefica em espaccedilo urbano

211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial

O capiacutetulo que segue versa sobre a atuaccedilatildeo antroacutepica relacionando-a a aacuterea de estudo o

rio Doce poreacutem este trata de forma macro a temaacutetica para contextualizar o leitor sendo

as especificidades das intervenccedilotildees neste recorte geograacutefico trabalhados nos resultados

desta pesquisa

Diante do exposto eacute possiacutevel acompanhar a evoluccedilatildeo dos processos fluviais nos canais

em especial aqueles que tiveram intervenccedilotildees em seu curso natural como as hidreleacutetricas

instaladas a montante a exemplo do Rio Doce onde a interferecircncia direta na vazatildeo e fluxo

de sedimentos altera a hidrodinacircmica do rio comprometendo a erosatildeo e transporte Para

Coelho (2007 p57) as

Mudanccedilas na Declividade Perfil Longitudinal Promovidas pela construccedilatildeo de reservatoacuterio satildeo variadas e caso o efeito da contenccedilatildeo de sedimentos seja significativo os processos fluviais reduziratildeo a capacidade de transporte de sedimento podendo promover um entalhamento do leito do rio imediatamente agrave jusante da barragem

Aleacutem disso esse processo erosivo poacutes-barragem eacute intensificado favorecendo o

assoreamento e sedimentaccedilatildeo do rio a jusante O que pode beneficiar a elevaccedilatildeo da cota

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do canal fluvial frente a eventos hidroloacutegicos extremos potencializando os efeitos das

inundaccedilotildees nas vaacuterzeas

Ao mesmo tempo o Rio Doce trecho que compreende o Espiacuterito Santo meacutediobaixo curso

eacute impactado nas vazotildees miacutenimas e maacuteximas a jusante apoacutes a instalaccedilatildeo das

barragensUsinas Hidreleacutetricas (UHE) de Mascarenhas (iniacutecio de operaccedilatildeo em 1974)

localizada no Municiacutepio de Baixo Guandu e a de Aimoreacutes (iniacutecio de operaccedilatildeo em 2005)

localizada na divisa do Espiacuterito Santo com Minas Gerais (COELHO 2007)

De acordo com Coelho (opcit) apoacutes a implantaccedilatildeo das usinas ocorreu uma reduccedilatildeo

significativa na vazatildeo da calha principal do Rio Doce conforme Graacutefico 1

Considerando o periacuteodo de 1939 a 2012 a vazatildeo miacutenima apoacutes a instalaccedilatildeo das usinas

chega a atingir 411msup3s e a maacutexima chega apenas a 1251msup3s sendo que no periacuteodo

anterior agrave instalaccedilatildeo das usinas foi registrada a miacutenima de 533 msup3s e uma maacutexima de

1812 msup3s o que ressalta o impacto do barramento sobre o corpo hiacutedrico Aleacutem do

comprometimento dos processos de erosatildeo transporte e sedimentaccedilatildeo (COELHO 2008

e CUNHA 2001)

Diante desta perda de carga liacutequida nos barramentos Cunha (2001 p 241) observa ainda

que as aacutereas a jusante de reservatoacuterios

[hellip] onde o regime do rio sofre significativas modificaccedilotildees devidas ao controle das descargas liquidas e de sedimentos no reservatoacuterio As mudanccedilas ocorridas no regime das aacuteguas neste setor do rio acarretam significativos efeitos nos processos do canal tais como o entalhe do leito a erosatildeo das margens e a deposiccedilatildeo a jusante atingindo longas distacircncias

Aleacutem disso no periacutemetro urbano de Colatina o Rio Doce sofreu outras intervenccedilotildees em

seu canal principal como a implantaccedilatildeo de obras estruturais de macrodrenagem a

exemplo da construccedilatildeo da Av Beira-Rio com intuito de conter o avanccedilo das aacuteguas fluviais

em periacuteodos de cheias

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Graacutefico 1

Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais (Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia)

Fonte adaptado de Coelho (2007 p154)

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Como exemplo dos tipos de intervenccedilotildees humanas nas aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial

leitos Carneiro e Miguez (2011 p117) destacam

As accedilotildees de controle e cheias urbanas podem ser classificadas em estruturais quando a paisagem eacute alterada pela accedilatildeo do homem e em natildeo estruturais aqui denominada como estruturante quando o homem aprende a conviver com as enchentes No primeiro caso estatildeo as medidas de controle atraveacutes de obras hidraacuteulicas tais como barragens diques e canais entre outras No segundo caso encontram-se medidas do tipo preventivo tais como zoneamento de aacutereas de inundaccedilatildeo sistemas de alerta educaccedilatildeo ambiental lei de parcelamento e uso dos solos e seguros contra inundaccedilatildeo

Neste cenaacuterio abarcamos os impactos das obras de engenharia como a canalizaccedilatildeo que

altera a fisionomia e fisiografia do rio refletindo-se nos processos geomorfoloacutegicos do canal

e sua planiacutecie de inundaccedilatildeo Para estes a canalizaccedilatildeo eacute uma obra estrutural que aumenta

a capacidade do fluxo do canal aleacutem de intensificar a velocidade do escoamento

superficial antecipando o pico de cheia e transferindo os alagamentos para locais a jusante

na bacia hidrograacutefica

Articulado a esta ideia Cunha (2012b) reflete a desnaturalizaccedilatildeo dos rios por meio de

obras de retificaccedilatildeo com a reduccedilatildeo do comprimento do canal e eliminaccedilatildeo das

sinuosidades Satildeo obras que afetam a estabilidade do corpo hiacutedrico na medida em que

interferem na relaccedilatildeo entre erosatildeo sedimentaccedilatildeo e deposiccedilatildeo provocando efeitos como

alteraccedilatildeo na morfologia do canal Sendo assim ldquo[hellip] a diminuiccedilatildeo da rugosidade no fundo

do canal em conjunto com a perda dos meandros e a aceleraccedilatildeo das velocidades eacute a

principal responsaacutevel pelas mudanccedilas no balanccedilo da energia natural dos sedimentos

fluviais [hellip]rdquo Cunha (2012b p178) No caso do Rio Doce trecho correspondente agrave Av

Beira-Rio alterou-se a sua forma retilinizando-a e sua vegetaccedilatildeo natural foi substituiacuteda

por estruturas de pedras o que compromete a resistecircncia ao fluxo as margens e aos

bancos arenosos

Embora as obras de canalizaccedilatildeo sejam implantadas como eficazes nos canais fluviais para

questotildees de enchentes urbanas para Cunha (op cit) estas necessitam de manutenccedilatildeo

constante envolvendo desde dragagem remoccedilatildeo de obstruccedilotildees a recomposiccedilatildeo do

material utilizado Poreacutem toda a manutenccedilatildeo estaacute associada a alteraccedilotildees morfoloacutegicas e

bioloacutegicas como as que interferem nas soleiras e depressotildees do fundo dos leitos

desestabilizando a vazatildeo no curso a exemplo da

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ldquo[hellip] eliminaccedilatildeo da sequecircncia de depressotildees e soleiras o aumento da velocidade da corrente a diminuiccedilatildeo da diversidade de habitats o ambiente instaacutevel resultante da flutuaccedilatildeo dos niacuteveis da aacutegua e do substrato moacutevel e a maior flutuaccedilatildeo da temperatura das aacuteguasrdquo (CUNHA 2012b p180)

Ao mesmo tempo o aumento da velocidade dos escoamentos no trecho retificado

possibilita maior erosatildeo transferindo para as aacutereas a jusante uma carga soacutelida

representativa que para Cunha (op cit) configura a formaccedilatildeo de bancos axiais e depoacutesitos

de sedimentaccedilatildeo marginais alterando o equiliacutebrio dos sedimentos a jusante Pois

A jusante das obras de retificaccedilatildeo verificam-se o aumentam da carga soacutelida o assoreamento durante a dragagem a erosatildeo no canal pelos eventos torrenciais do regime e a modificaccedilatildeo na dinacircmica na foz Os sedimentos resultantes da erosatildeo no canal retificado em conjunto com a excessiva carga de sedimentos posta em suspensatildeo durante a dragagem e na fase imediata de poacutes-construccedilatildeo - quando a erosatildeo dos bancos de areia sem vegetaccedilatildeo estaacute em seu niacutevel maacuteximo - originam a formaccedilatildeo de depoacutesitos fluviais de curta duraccedilatildeo a jusante do canal retificado Logo a seguir esses depoacutesitos satildeo erodidos juntamente com as margens e o fundo do leito pelos eventos torrenciais do regime vindo a formar bancos axiais e depoacutesitos de sedimentaccedilatildeo marginais (CUNHA2012b p183)

Portanto o estudo da geomorfologia fluvial contribui diretamente para o entendimento das

cheias nas planiacutecies de inundaccedilatildeo em especial nas bacias hidrograacuteficas que

compreendem a aacuterea urbana e que possuem intervenccedilotildees antroacutepicas diretas na fisiografia

do canal principal Seus processos explicam como as alteraccedilotildees no canal fluvial podem

maximizar os efeitos dos transbordamentos impactando principalmente as populaccedilotildees

ribeirinhas aleacutem de todo ecossistema local Ademais estes fundamentos geomorfoloacutegicos

devem ser associados agrave legislaccedilatildeo vigente afim de subsidiar a elaboraccedilatildeo de instrumentos

legais para atuaccedilatildeo do poder puacuteblico nestas zonas de risco

22 Aspectos Juriacutedicos

Frente agrave crescente demanda sobre os recursos hiacutedricos e solo urbano a partir da deacutecada

de 1930 surgem as primeiras diretrizes que visam regulamentar estes ambientes a

exemplo do Coacutedigo das Aacuteguas Mas soacute a partir dos anos 1960 surgem em acircmbito federal

leis como o Coacutedigo Florestal com o intuito de regular a exploraccedilatildeo das vegetaccedilotildees e

consequentemente proteger os mananciais e em 1979 com o objetivo de ordenar as

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cidades eacute aprovada a Lei 676679 estabelecendo as normas do parcelamento do solo

urbano

Na medida em que as populaccedilotildees aumentam ampliam-se tambeacutem as pressotildees sobre os

recursos de aacutegua e solo Os processos de uso e a conscientizaccedilatildeo de que estes elementos

satildeo finitos intensificam as formas de controle e preservaccedilatildeo passando para as esferas

estaduais e municipais a responsabilidade de atuar em escala local na proteccedilatildeo desses

ambientes

Ainda em escala federal em 2012 eacute promulgado o Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012

em substituiccedilatildeo ao coacutedigo anterior Lei 47711965 que apresenta as normas de

apropriaccedilatildeo dos recursos naturais pelas novas necessidades das populaccedilotildees citadinas e

rurais No que compete agrave aacuterea de estudo cabe destacar as ocupaccedilotildees em aacutereas de

planiacutecie de inundaccedilatildeo em que de acordo com art 4ordm devem ser preservadas

I - as faixas marginais de qualquer curso drsquoaacutegua natural perene e intermitente excluiacutedos os efecircmeros desde a borda da calha do leito regular em largura miacutenima de (Incluiacutedo pela Lei nordm 12727 de 2012) a) 30 (trinta) metros para os cursos drsquoaacutegua de menos de 10 (dez) metros de largura b) 50 (cinquenta) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura c) 100 (cem) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura d) 200 (duzentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura e) 500 (quinhentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros []

A legislaccedilatildeo eacute riacutegida no que concerne agrave ocupaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo das terras nas faixas

marginais dos rios transferindo aos estados e municiacutepios a responsabilidade de fiscalizar

estes territoacuterios para garantir a efetividade da lei A questatildeo eacute que muitas vezes somada a

falta de planejamento estas fiscalizaccedilotildees satildeo ineficientes o que tem possibilitado o

surgimento cada vez maior das ocupaccedilotildees irregulares

Apoiado tambeacutem pela Constituiccedilatildeo Federal de 1988 nos artigos 182 e 183 surge o

Estatuto das Cidades Lei 102572001 com finalidade de garantir a funccedilatildeo social da

cidade e com este os primeiros Planos Diretores Municipais (PDM) que buscam o

ordenamento do crescimento das cidades em caraacuteter socioeconocircmico e ambiental cidades

sustentaacuteveis Ademais em Colatina eacute instituiacuteda a Lei 42281996 posteriormente revogada

29

pela Lei 52732007 que ldquoInstitui o Plano Diretor do Municiacutepio de Colatina estabelece os

objetivos instrumentos e diretrizes e daacute outras providecircncias para as accedilotildees de

planejamento do Municiacutepio de Colatina []rdquo

O PDM de Colatina assim como Coacutedigo Florestal prevecirc a preservaccedilatildeo dos ecossistemas

beira-rio Aquele ainda dispotildee sobre o parcelamento do solo sustentaacutevel a funccedilatildeo social

da cidade e da propriedade conforme o Plano Diretor de Colatina de 2007 nos artigos

transcritos

Artigo 22 - As diretrizes ambientais no Municiacutepio de Colatina satildeo I - aplicar os instrumentos de gestatildeo ambiental estabelecidos nas legislaccedilotildees federal estadual e municipal bem como a criaccedilatildeo de outros instrumentos adequando-os agraves metas estabelecidas pelas poliacuteticas ambientais II - compatibilizar as diretrizes de uso ocupaccedilatildeo e parcelamento do solo aos objetivos de proteccedilatildeo ambiental dos ecossistemas [] Artigo 23 - Satildeo diretrizes do sistema de drenagem urbana I - disciplinar a ocupaccedilatildeo das cabeceiras e vaacuterzeas das bacias hidrograacuteficas do Municiacutepio preservando a vegetaccedilatildeo existente e visando agrave sua recuperaccedilatildeo [] III - definir mecanismos de fomento para usos do solo compatiacuteveis com aacutereas de interesse para drenagem tais como parques lineares aacuterea de recreaccedilatildeo e lazer hortas comunitaacuterias e manutenccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa [] V - implantar medidas natildeo-estruturais [sic] de prevenccedilatildeo de inundaccedilotildees tais como controle de erosatildeo especialmente em movimentos de terra controle de transporte e deposiccedilatildeo de entulho e lixo combate ao desmatamento assentamentos clandestinos e a outros tipos de invasotildees nas aacutereas com interesse para drenagem [] VII - garantir e respeitar a necessaacuteria permeabilidade do solo inclusive buscando alternativas de pavimentaccedilatildeo com maior de permeabilidade [sic] [] Artigo 84 ndash Satildeo objetivos do ordenamento territorial do Municiacutepio de Colatina [] IV ndash conter a expansatildeo da ocupaccedilatildeo urbana em aacutereas de proteccedilatildeo ambiental [] Artigo 120 ndash Ficam desde jaacute identificadas como Zonas de Proteccedilatildeo Ambiental 2 ndash ZPA 2 as seguintes aacutereas [] III ndash as aacutereas existentes ao longo de qualquer curso drsquoagua desde o niacutevel mais alto em faixa marginal cuja largura miacutenima seraacute de a) 15m (trinta metros) [sic] para os cursos drsquoagua com menos de 10m (10

metros) de largura contidos no periacutemetro urbano [] c) 30m (trinta metros) para os cursos drsquoagua que tenham de10m (dez

metros a 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano

[]

30

e) 50m (cinquenta metros) para os cursos drsquoagua que tenham mais de 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 60422013)

[]

De modo geral verifica-se que a legislaccedilatildeo apresenta instrumentos que permitem a

prevenccedilatildeo ou controle de ocupaccedilotildees irregulares ou clandestinas em aacuterea de APP aleacutem de

propostas para resguardar de grandes impactos ambientais o corpo hiacutedrico principal do

municiacutepio o Rio Doce Possibilitando assim a minimizaccedilatildeo dos impactos causados pelas

cheias agrave populaccedilatildeo local

Poreacutem cabe destacar que o Plano Diretor Municipal de Colatina natildeo contempla o

estipulado no Coacutedigo Florestal 2012 Lei Federal onde os cursos drsquoaacutegua com largura

superior a 600(seiscentos) metros devem ser resguardados com aacutereas de preservaccedilatildeo

permanente de 500(quinhentos) metros entre outros sendo que a redaccedilatildeo desta parte do

PDM eacute dada pela lei 60422013 posterior a publicaccedilatildeo do novo Coacutedigo Florestal Sendo

assim verifica-se que apesar da intenccedilatildeo de resguardar uma faixa de no maacuteximo

50(cinquenta) metros em periacutemetro urbano para a contenccedilatildeo de cheias e mata ciliar o

PDM de Colatina natildeo atende o miacutenimo previsto em Lei Federal O que tem impactado todo

ecossistema beira rio e a populaccedilatildeo ribeirinha uma vez que a faixa marginal de proteccedilatildeo

de 50(cinquenta) metros em muitos casos natildeo tem comportado o impacto dos defluacutevios

No entanto a legislaccedilatildeo trata de aspectos gerais natildeo pontuando as aacutereas responsaacuteveis

por cada accedilatildeo aleacutem de sua aplicabilidade depender da elaboraccedilatildeo de um cronograma de

execuccedilatildeo bem como um conjunto de planos e normas especiacuteficos para cada diretriz com

detalhamento das propostas de intervenccedilatildeo Isto natildeo ocorreu ateacute o presente

Aleacutem disso a cidade de Colatina surgiu num cenaacuterio histoacuterico anterior agraves legislaccedilotildees

urbaniacutesticas e ambientais inclusive do Coacutedigo das Aacuteguas o que dificulta a execuccedilatildeo de

um planejamento que concilie a preservaccedilatildeo das matas beira-rio garantindo a faixa de

APP com a ocupaccedilatildeo urbana consolidada

A aacuterea de estudo se apresenta como ambiente fragilizado apesar de ser regida por

legislaccedilotildees desde a escala federal ateacute a municipal que visam proteger e ordenar o uso e

cobertura da terra nas faixas marginais dos rios Mas a dificuldade das prefeituras em

aplicar os instrumentos legais nestes ambientes seja por interesses privados ou falta de

recursos para investimentos em soluccedilotildees a longo prazo continua expondo as populaccedilotildees

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aos impactos dos eventos hidroloacutegicos criacuteticos como os que resultam nas inundaccedilotildees

Para que se alcance esse parcelamento do solo sustentaacutevel satildeo necessaacuterios esforccedilos da

gestatildeo municipal em estipular prazos e metas de atuaccedilatildeo afora interagir os diferentes

setores no planejamento em niacutevel de bacia hidrograacutefica considerando as peculiaridades

desta escala de trabalho

23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos

Sendo a ciecircncia que estuda a relaccedilatildeo homemnatureza a Geografia tem muito a contribuir

nas anaacutelises que envolvem o meio ambiente que foi transformado pela dinacircmica da

sociedade Mas historicamente a dialeacutetica das correntes fiacutesica e humana tem imperado de

modo dissociado levando o geoacutegrafo a estudar estes processos separadamente Poreacutem

se o resultado pretendido eacute integrado fazem-se necessaacuterias pesquisas mais amplas que

cruzem as diferentes vertentes geograacuteficas

Considerando que a problemaacutetica dos impactos ambientais urbanos envolve a questatildeo

natural o rio e a questatildeo social e poliacutetica a sociedade e as leis (COELHO 2013) uma

pesquisa neste acircmbito requer o entendimento destes dois objetos a fim de se apreender

o processo de crescimento das cidades brasileiras e a sua relaccedilatildeo com os recursos

hiacutedricos

A partir da deacutecada de 1950 devido ao ecircxodo rural mais intenso as cidades brasileiras

incharam rapidamente com a migraccedilatildeo do camponecircs que buscava melhores condiccedilotildees de

vida como trabalho na induacutestria o acesso agraves escolas saneamento entre outros E

segundo Gorski (2010) a populaccedilatildeo brasileira passou desde o iniacutecio deste processo de 19

milhotildees de habitantes em 1950 para 138 milhotildees de habitantes em 2000 (dados do IBGE)

o que corrobora o raacutepido crescimento das cidades

Todavia as estruturas puacuteblicas natildeo estavam preparadas para um acreacutescimo populacional

tatildeo significativo e em curto espaccedilo de tempo E o que observamos eacute o acesso limitado

dessa populaccedilatildeo agraves aacutereas centrais da cidade sendo induzida a se estabelecer nas

periferias Nesta visatildeo

O difiacutecil acesso da populaccedilatildeo de baixa renda agraves aacutereas mais centrais das cidades contribuiu segundo Raquel Rolnik para a expansatildeo da periferia o que muitas vezes implicou e implica ainda invasatildeo de aacutereas de proteccedilatildeo de mananciais com a aquiescecircncia do poder puacuteblico Esta

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dinacircmica agravou a situaccedilatildeo de risco dos mananciais pela eliminaccedilatildeo das matas ciliares e consequentemente erosatildeo das margens dos cursos drsquoaacutegua e assoreamento de suas calhas e pela contribuiccedilatildeo do esgoto in natura (ROLNIK1997 apud GORSKI 2010 p62)

Sendo assim a supressatildeo das matas ciliares e das vegetaccedilotildees das encostas para fins de

ocupaccedilatildeo urbana interfere diretamente no ciclo hidroloacutegico diminuindo a absorccedilatildeo de

aacutegua pelo subsolo e pela evapotranspiraccedilatildeo favorecendo o escoamento superficial (Figura

6) que intensifica a velocidade de drenagem das aacuteguas Este processo nas encostas eacute

mais significativo se considerarmos que com a supressatildeo da cobertura vegetal e

impermeabilizaccedilatildeo do solo as precipitaccedilotildees acabam por lavar todo o material

intemperizado sedimentos carregando-o diretamente para o corpo hiacutedrico e contribuindo

para o assoreamento

Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento Fonte Gorski (2010 p64)

Por outro lado as ocupaccedilotildees ribeirinhas nas vaacuterzeas dos rios modificam a dinacircmica fluvial

frente aos defluacutevios A compactaccedilatildeo e o nivelamento do solo associados agrave

impermeabilizaccedilatildeo por concreto asfalto e outros materiais alteram todo o sistema de

drenagem natural e contribuem para a erosatildeo fluvial Aleacutem disso a gestatildeo puacuteblica que

33

deveria investir num parcelamento do solo sustentaacutevel resguardando ldquouma alocaccedilatildeo de

espaccedilosrdquo (CANHOLI 2005 p 15) para a drenagem acaba por colaborar com as enchentes

urbanas na medida em que decide por obras estruturais como a canalizaccedilatildeo (Figura 7

p30) e a microdrenagem que transferem os impactos das inundaccedilotildees a jusante

Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia Fonte Gorski (2010 p69)

Cabe destacar que desde 1965 com o primeiro Coacutedigo Florestal as matas beira-rio jaacute

eram resguardadas da degradaccedilatildeo humana poreacutem com todo o boom urbano a partir de

1950 a falta de estrutura e ingerecircncia municipal no que se refere ao parcelamento e uso

e ocupaccedilatildeo da terra urbana possibilitou a formaccedilatildeo dos assentamentos clandestinos em

APP e na encosta de morros Em condiccedilotildees precaacuterias sem saneamento baacutesico e demais

infraestruturas urbanas estes assentamentos acabam sendo as regiotildees mais afetadas

com as inundaccedilotildees

Junto agraves questotildees jaacute levantadas vale destacar que as aacuteguas das inundaccedilotildees propiciam o

aumento das doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica (febre tifoide hepatite leptospirose

esquistossomose entre outras) pois carregam segundo Gorski (2010) toda uma poluiccedilatildeo

difusa efluentes domeacutesticos industriais e agroindustriais aleacutem do lixo urbano da poluiccedilatildeo

do ar e das ruas

34

Por outro lado esta ocupaccedilatildeo urbana natildeo planejada perde o benefiacutecio que os corpos

hiacutedricos podem oferecer como [] as paisagens fluviais que aos poucos foram sendo

apropriadas como paisagens urbanas [] (GORSKI 2010 38) aleacutem do microclima

associado agrave umidade pela evapotranspiraccedilatildeo que ameniza a sensaccedilatildeo teacutermica local

Poreacutem conforme observado por Graeff (2011) natildeo eacute cabiacutevel atualmente implantar a

legislaccedilatildeo de APP de modo jurista Deve-se considerar toda a representatividade cultural

assentada sobre os leitos destes rios (avenidas importantes casas com arquitetura

histoacuterica entre outros) Aleacutem disso para a demarcaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo

permanente hoje eacute necessaacuteria uma anaacutelise teacutecnica pautada na geomorfologia e

hidrologia de modo a interpretar o ldquocomportamento histoacuterico dos cursos drsquoaacutegua na

paisagem prevendo cenaacuterios de impactos futurosrdquo da atividade humana sobre suas faixas

marginais

Tendo em vista que grande parte da malha urbana brasileira estaacute alocada em APPs e que

segundo Graeff (2011) estas jaacute possuem uma unidade de paisagem estabelecida e muitas

vezes secular configurando siacutetios de importacircncia cultural e apreendendo que

De modo semelhante nas demais cidades haveraacute que ser entendido o meio urbano como ele realmente eacute ndash um encontro entre as necessidades de habitaccedilatildeo com atividades humanas e de conservaccedilatildeo ambiental esta segunda tambeacutem a serviccedilo do homem e natildeo somente de objetivos difusos e distanciados da sobrevivecircncia da sociedade (GRAEFF 2011 206)

Por tais motivos o trabalho com a geomorfologia fluvial urbana deve abarcar os princiacutepios

do bom senso compreendendo que nestas aacutereas de atividade antroacutepica consolidada pode-

se fazer uso de instrumentos de engenharia avanccedilados para uma convivecircncia equilibrada

do homem com a natureza no entorno Contudo deve-se incentivar as aacutereas de expansatildeo

urbana ou zona periurbana (zonas de transiccedilatildeo da aacuterea urbana para a rural) com poliacuteticas

de incentivo a pavimentaccedilotildees mais permeaacuteveis a fim de minimizar o escoamento

superficial para o rio favorecendo a infiltraccedilatildeo

Apesar de os impactos gerados pela interferecircncia humana nas aacutereas mais fragilizadas da

bacia hidrograacutefica vaacuterzeas e encostas refletirem-se em cataacutestrofes com prejuiacutezos

humanos ambientais e urbanos alguns autores brasileiros como Canholi Graeff Cunha

Carneiro e Miguez jaacute indicaram outros caminhos para uma convivecircncia harmoniosa com

a natureza Aleacutem do mais paiacuteses desenvolvidos como a Holanda deixaram de ldquolutar contra

35

as cheiasrdquo para permitir agraves aacuteguas das enchentes a capacidade de acumular e dispersar

com impacto reduzido para as populaccedilotildees (CARNEIRO MIGUEZ 2011)

Sendo assim a proposta deste estudo eacute identificar os principais agentes que influenciam

as inundaccedilotildees entendendo seu papel e atuaccedilatildeo no contexto urbano de Colatina Mas eacute

tambeacutem a de ampliar a abordagem da temaacutetica com uma anaacutelise geograacutefica integrada

ressaltando as medidas que constam no planejamento urbano e sua aplicaccedilatildeo nas faixas

marginais do corpo hiacutedrico

36

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS

Esta pesquisa eacute constituiacuteda de trecircs etapas principais sendo que a primeira teve como

premissa a confecccedilatildeo de um fluxograma (Figura 8) de trabalho para orientar a pesquisa

em seguida teve iniacutecio o levantamento de bibliografias que abordam temas como a

geomorfologia fluvial e urbanizaccedilatildeo em Colatina adotando-se como referecircncia as

pesquisas de Coelho (2006 2007 2008 e 2009) e Albani (2012) Aleacutem disso muito

contribuiacuteram para este trabalho o relatoacuterio do INCAPER da CPRM e os dados do IBGE

Cabe destacar tambeacutem as experiecircncias com recursos hiacutedricos em ambientes urbanos de

Carneiro e Miguez (2011) em especial Cunha (2001 2012ab)

Esta etapa consistiu tambeacutem na busca de material cartograacutefico como aquisiccedilatildeo de planos

de informaccedilatildeo de limite estadual municipal bairros mancha urbana corpo drsquoaacutegua e

logradouros atraveacutes de dados disponiacuteveis no Sistema Integrado de Bases Geoespaciais

do Estado do Espiacuterito Santo (GEOBASES 2014) no Instituto Jones dos Santos Neves

(IJSN 2015) e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2014) imagens

orbitais gratuitas do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI bandas 2-3-4 e 8 (Pan) oacuterbita 216

ponto 73 com datas de passagem em 02012014 e 22032014 agraves 946 (horaacuterio central

da oacuterbita) junto ao Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2014) aleacutem do ortofotomosaico

do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hiacutedricos (IEMA 2014) do Espiacuterito

Santo referente ao voo de 2007 a 2008

Na segunda etapa foram realizadas duas investigaccedilotildees de campo sendo a primeira no

dia 24 de junho de 2014 com a finalidade de fazer o reconhecimento da aacuterea de estudo

fotografar e conversar com moradores e teacutecnicos da prefeitura O segundo trabalho de

campo ocorreu no dia 14 de fevereiro de 2015 e por meio deste foi possiacutevel identificar

pontos sujeitos a inundaccedilatildeo analisar a topografia e realizar as entrevistas com moradores

e funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina

37

Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC)

38

Na terceira etapa foram realizados os mapeamentos e processamentos de todos os planos

de informaccedilatildeo vetoriais e matriciais em ambiente de SIG no sistema ArcGis 103 iniciando

com a ediccedilatildeo dos dados do Municiacutepio e adjacecircncias que foram ajustados quando

necessaacuterio ao sistema de projeccedilatildeo UTM no Datum SIRGAS ndash 2000 na Zona 24 sul com

meridiano central -39 W com todo o mapeamento produzido seguindo a padronizaccedilatildeo

cartograacutefica proposta por Fitz (2008 a b)

O geoprocessamento teve iniacutecio com a composiccedilatildeo das imagens orbitais do Landsat-8 na

cor natural da imagem (2R 3G 4B) e por meio da teacutecnica de Pan Sharpening ou fusatildeo

de imagens a imagem cor natural foi agrupada agrave da banda 8 pancromaacutetica para obtenccedilatildeo

de uma melhor resoluccedilatildeo espacial neste caso chegando a 15 metros sendo resguardado

o conteuacutedo da imagem composta Na sequecircncia foi realizada a extraccedilatildeo da maacutescara do

periacutemetro urbano de Colatina e gerada a classificaccedilatildeo supervisionada da imagem Landsat-

8 no periacuteodo de cheia (janeiro) e vazante (marccedilo) o que possibilitou a delimitaccedilatildeo da calha

do Doce nestes dois eventos

Em seguida foram realizadas as 8 (oito) mediccedilotildees do leito regular sendo 4 (quatro) no

periacuteodo de cheia e 4 (quatro) na vazante de modo a definir a largura meacutedia da calha do

leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina Para chegar a uma medida geral

da largura do rio utilizaram-se ferramentas estatiacutesticas como a meacutedia que eacute uma medida

de tendecircncia central onde numa amostra de tamanho N constituiacuteda por elementos de x

variando de eacute possiacutevel extrair a meacutedia aritmeacutetica atraveacutes da equaccedilatildeo

A meacutedia aponta para onde mais convergem os dados de uma distribuiccedilatildeo

A partir desta definiccedilatildeo da meacutedia da largura da calha do Rio Doce foi possiacutevel em consulta

ao Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e a Lei 52732007 determinar a faixa miacutenima

de preservaccedilatildeo permanente deste corpo fluvial aleacutem da confecccedilatildeo do mapa com o

poliacutegono de APP

Mediante a anaacutelise do mapa verificou-se que grande parte dos bairros do municiacutepio estatildeo

contidos nos poliacutegonos de APP em especial a preservaccedilatildeo de 500 metros conforme lei

federal E por meio deste foram cruzados os dados de vazatildeo as fotos histoacutericas das

enchentes e o poliacutegono de mata ciliar o que permitiu o entendimento das inundaccedilotildees

39

Em ambiente de SIG tambeacutem foram vetorizados os trecircs traccedilados da Estrada de Ferro

Vitoacuteria a Minas o trajeto do Rio Santa Maria do Doce antes e depois da retilinizaccedilatildeo e os

sucessivos aterros na margem direita do Rio Doce no periacutemetro que compreende a Av

Beira-Rio

As teacutecnicas de sensoriamento remoto como a classificaccedilatildeo supervisionada permitiram a

definiccedilatildeo do poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo atraveacutes da imagem da cheia de janeiro Para

tanto foi realizada tambeacutem a classificaccedilatildeo hiacutebrida objetivando aliar a interpretaccedilatildeo visual

com a digital (JENSEN 2009) Por fim foi realizada amarraccedilatildeo com o levantamento

geodeacutesico da CPRM (2014) para garantir a precisatildeo do traccedilado do poliacutegono de cheia

A partir do tratamento dos dados bibliograacuteficos cartograacuteficos e imagens foi possiacutevel

sistematizar este trabalho o que permitiu identificar elementos histoacutericos de intervenccedilatildeo

na paisagem do Doce como os aterros e a ocupaccedilatildeo urbana As visitas de campo a

entrevista e conversas com moradores foram fundamentais para a validaccedilatildeo das

informaccedilotildees o que tornou esta metodologia eficaz para anaacutelise do fenocircmeno da inundaccedilatildeo

em Colatina

40

4 RESULTADOS

41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana

A ocupaccedilatildeo ao longo das planiacutecies de inundaccedilatildeo dos rios tem ocorrido diante da

necessidade deste recurso para as atividades vitais humanas Cunha (2012b p219)

entende que ldquosuas margens tecircm sido o centro preferido da habitaccedilatildeo humana e o

suprimento de suas aacuteguas natildeo soacute fertiliza os campos para o cultivo como tambeacutem fornece

energia e permite recreaccedilatildeordquo Logo o estabelecimento das vilas nas bordas dos cursos

drsquoaacutegua favorece a logiacutestica ocupacional

Historicamente em solo espiacuterito-santense a formaccedilatildeo das vilas ocorreu agraves margens de

estrateacutegicos cursos drsquoaacutegua e a exploraccedilatildeo do ouro de Minas Gerais para Albani (2012)

determinou que a Coroa proibisse nos seacuteculos XVII a XIX a implantaccedilatildeo de estradas e

exploraccedilatildeo de terras na Capitania do Espiacuterito Santo pois os portugueses temiam incursotildees

estrangeiras deixando assim o desenvolvimento capixaba restrito agrave faixa litoracircnea

Relegada enquanto ldquobarreira verderdquo para defesa das minas de ouro e minerais do atual

territoacuterio das Minas Gerais segundo Coelho (2007) a Capitania do Espiacuterito Santo soacute

passou a se interiorizar para o centro-oeste onde se localiza atualmente a cidade de

Colatina a partir de 1847 por meio das ocupaccedilotildees de Santa Izabel e Santa Leopoldina

que permitiram a descida do Rio Santa Maria do Doce ateacute as imediaccedilotildees da atual cidade

de Colatina

Assim foi que o movimento colonizador desceu o vale do Santa Maria do Rio Doce atingindo em 1891 a regiatildeo das matas onde hoje se acha a cidade de Colatina [] Esta penetraccedilatildeo inicial foi feita com elementos alematildees de Santa Leopoldina e no rio Doce ficou muito anos restrita agrave aacuterea inicial A expansatildeo ao longo do vale tomou impulso com a chegada a Colatina em 1906 dos trilhos da Estrada de Ferro Diamantina (atual Vitoacuteria-Minas) (STRAUCH1955 apud COELHO 2007 p105)

Sendo assim Coelho (op cit) relata que a ocupaccedilatildeo se deu atraveacutes da supressatildeo da mata

nativa no baixo curso do Rio Doce de Colatina a Linhares sendo a madeira daiacute extraiacuteda

levada ateacute o rio e encaminhada ateacute Povoaccedilatildeo vilarejo junto agrave foz de onde eram carregados

os navios Neste periacuteodo tem-se a instalaccedilatildeo de um ciclo madeireiro na regiatildeo com a

disposiccedilatildeo de serrarias nas proximidades das matas

41

Todavia somente a partir de 1906 com a chegada da estrada de ferro na regiatildeo o

transporte madeireiro foi transferido para as locomotivas Agrave medida que a implantaccedilatildeo da

Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas avanccedilava para o interior levava consigo as frentes de

desmatamento modificando as paisagens das margens do Rio Doce e se apropriando dos

espaccedilos deste rio (Figura 9)

Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906 Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce Fonte Albani (2012 p 63)

Conforme Albani (2012) com a vinda dos mineiros e fluminenses reforccedilados

posteriormente a partir de 1889 por colonizadores italianos e alematildees eacute que as

ocupaccedilotildees territoriais ocorreram de modo efetivo Atraveacutes do Barracatildeo do Rio Santa Maria

(Figura 10) espaccedilo do governo inicialmente destinado a alojar os migrantes e a produccedilatildeo

surgiram as primeiras residecircncias nas proximidades da igreja de Satildeo Sebastiatildeo Sendo

assim

Eacute importante destacar que o desenvolvimento da regiatildeo onde se encontra o municiacutepio de Colatina teve iniacutecio no final do seacuteculo XIX no nuacutecleo de colonizaccedilatildeo Antocircnio Prado localizado no distrito de Boapaba antiga vila do Mutum O nuacutecleo recebeu dezenas de famiacutelias de imigrantes italianos e ali desenvolveram atividades de agricultura e com a expansatildeo da localidade surge tambeacutem o comeacutercio (ALBANI 2012 p61) [hellip] A vila de Colatina entretanto logo passou a se transformar no principal nuacutecleo e futuramente na sede do municiacutepio Aleacutem da facilidade da produccedilatildeo atraveacutes do Rio Doce a vila de Colatina tornou-se referecircncia dos imigrantes no caminho para a colonizaccedilatildeo das terras ao norte do estado (MADURO1985 apud ALBANI 2012 p62)

42

Desse modo com o desenvolvimento das atividades de cafeicultura madeireira e do

entroncamento logiacutestico de acesso agraves aacutereas do norte a vila eacute elevada em 1921 agrave categoria

de municiacutepio A atual configuraccedilatildeo territorial foi adquirida a partir de 2001 conforme IBGE

(2014) dispondo de seis distritos Colatina (sede) Acircngelo Frechiami Baunilha Boapaba

Graccedila Aranha e Itapina

Cabe destacar poreacutem que a ocupaccedilatildeo inicial da cidade de Colatina se perfaz pela margem

direita do Rio Doce onde se localiza o atual bairro de Colatina Velha e onde havia se

instalado o Barracatildeo de Santa Maria Nesse periacuteodo a ponte ainda natildeo fora edificada

limitando assim a ocupaccedilatildeo da margem esquerda

Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da regiatildeo Fonte Albani (2012 p62)

Conforme Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p65) a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro

Vitoacuteria a Minas em 1906 (Figura 11) possibilitou a expansatildeo da cidade de Colatina e seu

desenvolvimento econocircmico Todavia sua instalaccedilatildeo paralela agrave margem direita do Rio

Doce favoreceu a localizaccedilatildeo de avenidas e ruas centrais em sua proximidade

43

Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p65)

Entretanto foi com a construccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos (Figura 12) em 1928 que a

margem direita se conectou agrave margem esquerda da cidade o que aleacutem de possibilitar a

ocupaccedilatildeo facilitou o acesso agraves regiotildees mais ao norte do Estado

Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p66)

44

Por conseguinte a estrada de ferro e a ponte foram os fatores determinantes para o

estabelecimento dos migrantes agraves margens do Rio Doce e a formaccedilatildeo do atual municiacutepio

de Colatina Contudo foi a partir desta posiccedilatildeo privilegiada que a cidade passou a ser

entreposto comercial e logiacutestico da regiatildeo noroeste e com isso sua aacuterea urbana expandiu-

se de modo desordenado inicialmente ao longo da planiacutecie de inundaccedilatildeo do Doce Coelho

(2007 p108 e 109) relata que

Os efeitos dessa urbanizaccedilatildeo (novos parcelamentos) e do desmatamento produz [sic] normalmente o aumento da velocidade das aacuteguas superficiais (pluviais) que eram antes interceptadas pelas matas com boa parte absorvida pelo solo O que ocorre geralmente nessas aacutereas eacute a chegada mais raacutepida das aacuteguas das chuvas para o tributaacuterios e calha principal do rio por fluxos concentrados que provocam processos de erosotildees do tipo laminar ravina e voccediloroca transportando quantidades expressivas de sedimentos que por sua vez causam assoreamento e a ocorrecircncia de cheias mais frequentes no rio

Com o crescimento acelerado do periacutemetro urbano proporcionado pelo apogeu do ciclo

cafeeiro as proacuteximas deacutecadas levaratildeo a cidade de Colatina a sofrer com impactos

advindos das alteraccedilotildees no ambiente fluvial do Rio Doce em especial os referentes a

ocupaccedilatildeo (impermeabilizaccedilatildeo) e desmatamento das margens (interferecircncia na drenagem

natural) conforme destacado por Coelho (2007)

Eacute fato que o municiacutepio viveu nas deacutecadas de 1940 e 1950 o auge do ciclo cafeeiro

chegando a ser no ranking brasileiro o 13ordm municiacutepio produtor de cafeacute no ano de 1947

(CAMPOS JUNIOR 2004 apud ALBANI 2012 p69) Poreacutem a partir de 1960 este boom

entrou em colapso com crise do cafeacute que assolou todo o paiacutes levando grande parte dos

pequenos proprietaacuterios rurais a migrarem para centros urbanos em especial no Espiacuterito

Santo a regiatildeo da Grande Vitoacuteria e tambeacutem para o centro de Colatina

Em razatildeo da crise cafeeira a populaccedilatildeo rural migra para centros urbanos A populaccedilatildeo migrou em grande quantidade para a Grande Vitoacuteria para fora do estado e tambeacutem para a cidade de Colatina principal aglomerado urbano da regiatildeo Esse processo provoca o aumento da aacuterea urbana de Colatina A populaccedilatildeo da cidade que era de 3913 habitantes em 1940 cresceu para 26757 habitantes em1960 (ALBANI2012 p71)

O crescimento raacutepido do centro de Colatina aliado ao aumento populacional direciona

grande parte dos migrantes para as aacutereas menos centrais da cidade levando agrave ocupaccedilatildeo

de locais irregulares como os morros e as margens direita e esquerda do Rio Doce Este

45

processo configurou a nova paisagem do municiacutepio povoando do vale agraves encostas (Figura

13)

Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes Fonte Albani (2012 p73)

Associado a este processo de reconfiguraccedilatildeo espacial nas proacuteximas deacutecadas o municiacutepio

de Colatina passaraacute por sucessivas perdas de territoacuterios ateacute atingir os limites atuais (Figura

1 p17) Aliado a estas perdas territoriais seu quantitativo absoluto populacional tambeacutem

sofreraacute impactos poreacutem de modo geral a populaccedilatildeo urbana deste municiacutepio apresentou

crescimento continuo (Graacutefico 2)

Graacutefico 2

Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 2010

Elaborado pela autora Fonte 1940 e 1950 Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p82) 1960 a 2010 IBGE

0

20000

40000

60000

80000

100000

120000

1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020

Populaccedilatildeo Urbana Colatina 1940 - 2010

46

Assim como tem ocorrido nas grandes capitais Colatina cresceu em quantitativo

populacional e territorial urbano de modo muito raacutepido e por este desenvolvimento natildeo ter

sido aliado a um planejamento urbano e ambiental sustentaacutevel a cidade tem sentido os

reflexos das suas interferecircncias ao longo do canal do Doce O que tem provocado

antecipaccedilatildeo dos picos de vazatildeo que no periacutemetro urbano ocasiona as inundaccedilotildees pois

natildeo conseguindo o rio acomodar estes defluacutevios transfere em curto espaccedilo de tempo as

aacuteguas a sua planiacutecie de inundaccedilatildeo atingindo os bairros mais antigos do municiacutepio

Por fim entender o contexto histoacuterico do crescimento da cidade revela muito do panorama

atual E por meio de uma anaacutelise conjunta da histoacuteria com os novos planejamentos eacute

possiacutevel propor intervenccedilotildees urbanas que possibilitem um conviacutevio harmonioso entre

natureza e sociedade neste caso entre o Rio Doce e o centro de Colatina Diante desta

proposta adiante apresentaremos a evoluccedilatildeo dos bairros associando seus periacuteodos de

ocupaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo espacial nas imediaccedilotildees do curso principal do Doce

411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade

Com nuacutecleo inicial de povoamento no Barracatildeo de Santa Maria a cidade de Colatina

cresce a partir deste ponto agrave margem direita do Rio Doce de onde surgem as primeiras

residecircncias comeacutercios e a igreja Atualmente a regiatildeo compreende o bairro de Colatina

Velha que de acordo com Albani (2012 p91) [hellip] ldquopode ser considerado o primeiro polo

de crescimento da cidaderdquo

Aliado ao aumento da populaccedilatildeo migrante das fazendas com a crise do cafeacute o nuacutecleo de

Colatina Velha passa a ser um ponto de passagem obrigatoacuterio para os viajantes que

vinham majoritariamente do sul uma vez que o Rio Doce configurava uma barreira natural

agrave ocupaccedilatildeo das terras ao norte Aleacutem disso a margem esquerda deste canal fluvial era

habitat dos hostis iacutendios botocudos o que dificultava a sua apropriaccedilatildeo

Sendo assim a ocupaccedilatildeo de Colatina conteve-se agrave margem direita nesta primeira fase o

que define o primeiro vetor de crescimento da cidade na direccedilatildeo leste para oeste partindo

das imediaccedilotildees do Barracatildeo de Santa Maria sentido ao Rio Santa Maria do Doce (Figura

14) E a partir de 1906 com a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas da entatildeo

Companhia Vale do Rio Doce atual Vale este vetor de crescimento se consolida e

47

proporciona o surgimento de importantes avenidas paralelas agrave ferrovia a exemplo da Av

Getuacutelio Vargas

Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de crescimento Elaborado pela autora

48

O segundo vetor do crescimento de Colatina estava condicionado agrave construccedilatildeo da ponte

Florentino Aacutevidos a qual conectou a margem direita agrave esquerda do Rio Doce permitindo

a ocupaccedilatildeo da porccedilatildeo ao norte Portanto somente a partir de 1928 com a finalizaccedilatildeo da

obra da ponte a barreira natural pocircde ser transposta o que possibilitou ao lado esquerdo

desenvolver uma nova linha de crescimento urbano com a ocupaccedilatildeo do atual bairro de

Satildeo Silvano

O terceiro vetor de crescimento estaacute associado agrave implantaccedilatildeo do bairro Luiz Iglesias na

margem direita e os de Maria das Graccedilas e Coluacutembia na margem esquerda Albani (2012)

ressalta que esta fase da ocupaccedilatildeo urbana estaacute associada ao desenvolvimento do sistema

viaacuterio como a proximidade da BR-259 sentido Vitoacuteria- Colatina da ES-80 que liga

Colatina agrave regiatildeo norte da ES-256 que a conecta a Marilacircndia e da proximidade da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria Carlos Germano Nauman (Figura 15)

Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios e linhas feacuterreas que interceptam a cidade de Colatina Elaborado pela autora

Jaacute na quarta e mais recente linha de crescimento da cidade temos os novos loteamentos

residenciais e industriais a exemplo do de Barbados e do bairro Santa Helena que surgem

49

acompanhando o traccedilado da ponte que contorna a leste a cidade como novo acesso agrave

porccedilatildeo norte do estado Albani (2012 p118) destaca que

Apesar da construccedilatildeo da Segunda Ponte ter sido iniciada em 1986 somente foi inaugurada em 2007 A conclusatildeo da ponte e a construccedilatildeo de uma rodovia de contorno desviaram a BR-259 do centro da cidade O desvio da rodovia federal trouxe um desafogamento do tracircnsito nas principais vias da cidade e um novo direcionamento na expansatildeo urbana Alguns loteamentos surgiram nesse periacuteodo proacuteximo agrave Segunda Ponte e ao contorno na margem norte do rio principalmente no bairro Santa Helena (Figura 55) Essa situaccedilatildeo indica mais uma vez que as linhas de crescimento em Colatina satildeo orientadas pelas vias de transporte

Portanto o crescimento do periacutemetro urbano de Colatina estaacute associado agrave superaccedilatildeo das

barreiras naturais em especial o Rio Doce por meio de investimentos em obras de

engenharia que permitiram o deslocamento humano para a margem esquerda deste curso

Sem duacutevida as vias de transporte foram elementares na construccedilatildeo do periacutemetro urbano

de Colatina pois na medida que se consolidava o sistema viaacuterio as ocupaccedilotildees tambeacutem se

favoreciam destas vias de locomoccedilatildeo A evoluccedilatildeo da aacuterea urbana portanto acompanha

as principais vias de transporte (Figura 15 p45) e estas se utilizam da posiccedilatildeo estrateacutegica

e geograficamente favoraacutevel do canal do Doce para a definiccedilatildeo de seus traccedilados

Apoacutes 94 anos de emancipaccedilatildeo de Linhares o territoacuterio de Colatina eacute fundamental para a

manutenccedilatildeo dos municiacutepios do noroeste capixaba Diante desta posiccedilatildeo estrateacutegica torna-

se relevante o entendimento de como o urbano se relaciona com o meio natural a fim de

se estabelecer poliacuteticas de ordenamento territorial que promovam a qualidade de vida no

municiacutepio Adiante seraacute analisada a situaccedilatildeo da calha principal do Rio Doce elemento

fundamental na compreensatildeo do uso e cobertura da terra de Colatina

42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce

Compreendendo uma aacuterea de 3330 kmsup2 o periacutemetro urbano de Colatina eacute afetado pela

velocidade dos defluacutevios de modo que grande parte dos bairros beira-rio eacute tomada pelas

aacuteguas excedentes da calha principal do Doce o que configura o fenocircmeno de inundaccedilatildeo

Ao pesquisar estes fenocircmenos eacute necessaacuterio relacionar o uso da terra com os processos

geomorfoloacutegicos do corpo hiacutedrico Sendo assim por meio de teacutecnicas de

geoprocessamento foram realizadas oito mediccedilotildees da calha principal do Rio Doce para

50

estabelecimento da distacircncia meacutedia da largura de sua calha O resultado esteve dentro do

esperado e pode ser verificado na tabela abaixo (Tabela 1) e no mapa em sequecircncia

(Figura 16)

Tabela 1 Perfis transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de

vazante (abril) e cheia (janeiro)

Largura do rio Doce periacuteodo de vazante e cheia

Abril2013(m) Janeiro2014(m)

P1 70735 75784

P2 62080 66483

P3 59209 65804

P4 63548 67650

Meacutedia dos Perfis 62814 67066

Meacutedia Geral 66143 Obs todas as medidas estatildeo em metros

Elaborado pela autora

Figura 16 - Traccedilado dos perfis transversais da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de vazante mecircs de abril2013 Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)

51

Com uso das imagens orbitais do Landsat-8 atraveacutes da classificaccedilatildeo hiacutebrida foram

gerados dois arquivos shapefiles correspondentes agraves bordas do Doce um no periacuteodo de

vazante e outro no de cheia Por meio destes dados foram definidos quatro traccedilados para

realizaccedilatildeo das mediccedilotildees a partir destas e com auxiacutelio das medidas de tendecircncia central

chegou-se a uma largura meacutedia total de 66143m de uma margem a outra Este resultado

indicou que tanto no periacuteodo de vazante quanto no periacuteodo de cheia a largura meacutedia

aponta para a maior faixa de APP proteccedilatildeo de 500m conforme previsto na legislaccedilatildeo

federal (Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e no revogado Lei 4771 1965)

Analisando a imagem abaixo (Figura 17) observa-se que grande parte do solo

naturalmente destinado a ldquoacomodaccedilatildeordquo das aacuteguas nas cheias (linha laranja) foi

incorporado agrave sociedade como espaccedilo criado (periacutemetro urbano em APP mancha em

amarelo) destinado a fins muacuteltiplos Deste modo sem planejamento territorial adequado

grande parte da planiacutecie de inundaccedilatildeo deu lugar a outras funccedilotildees diferentes das naturais

sendo incorporada ao espaccedilo urbano

Lanccedilando o buffer (mancha em amarelo) do entorno da calha do Doce (Figura 17) observa-

se que dos 59 bairros do municiacutepio cerca de 29 estatildeo dentro da aacuterea de 500m destinada

a preservaccedilatildeo permanente pelo Coacutedigo Florestal Considerando-se a delimitaccedilatildeo da APP

prevista no PDM de 1996 e 2007 (linha laranja mais proacutexima da borda do rio) este nuacutemero

cai para 18 bairros permanecendo apenas aqueles que possuem limites com o corpo

hiacutedrico

Uma vez que que lei municipal natildeo suplanta lei federal considerar-se-aacute neste estudo o

limite da faixa marginal de proteccedilatildeo definida na Lei Federal 126512012 Deste modo a

aacuterea de preservaccedilatildeo permanente do Doce neste recorte eacute de 1085 kmsup2 compreendendo

33 do periacutemetro urbano de Colatina

Cabe destacar ainda que mesmo o PDM de 1996 contendo enquanto objetivo no Art 14

ldquoI - estabelecer a ordenaccedilatildeo do uso e da ocupaccedilatildeo do solo urbanordquo (Lei 42281996 p4)

a gestatildeo municipal natildeo obteve sucesso na implementaccedilatildeo de tal legislaccedilatildeo O que se

verifica tanto nas deacutecadas de 1990 quanto no iniacutecio dos anos 2000 quando foram

aprovados novos parcelamentos urbanos agraves margens deste canal a exemplo dos bairros

de Barbados na margem direita e do bairro Mario Giurizato na margem esquerda

52

Figura 17- Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)

53

Articulado a esta ideia e pesquisando o trecho do bairro Esplanada a Colatina Velha palco

das uacuteltimas obras estruturantes de alto porte do municiacutepio consegue-se analisar os efeitos

das inundaccedilotildees nas margens deste rio Logo implementar medidas de prevenccedilatildeo de

cheias em aacutereas com urbanizaccedilotildees antigas requer um esforccedilo da gestatildeo na regulaccedilatildeo do

solo urbano

421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie

de Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio

Interceptada pelo curso do Rio Doce no perfil mais a jusante da bacia a cerca de 100km

do estuaacuterio com o Oceano Atlacircntico a cidade de Colatina polo moveleiro e de confecccedilotildees

do centro-oeste capixaba eacute palco recorrente de inundaccedilotildees urbanas

Conforme jaacute mencionado por Cunha (2012a) este fenocircmeno ocorre quando a bacia recebe

um percentual precipitado acima da sua capacidade de escoamento o que faz o leito

menor do rio extravasar para o leito maior ocupando as aacutereas de vaacuterzeas (Figura 18 p

50) Aliadas a esta questatildeo estatildeo as ocupaccedilotildees humanas das margens dos rios que ao

suprimir a vegetaccedilatildeo natural e alterar a condiccedilatildeo fiacutesica do solo acabam por reduzir a aacuterea

de drenagem das aacuteguas pluviais acelerando o escoamento superficial para o canal

principal e favorecendo os defluacutevios

Figura 18 - Representaccedilatildeo da inundaccedilatildeo urbana Fonte adaptado da Defesa Civil do Tocantins (2015)

Este fenocircmeno tem ganhado destaque em Colatina a partir de 1979 ano em que o Rio

Doce atingiu a vazatildeo de 12860msup3s tomando toda aacuterea aplainada que compotildee seu leito

maior afetando da atual Av Beira-Rio ateacute as redondezas da Av Getuacutelio Vargas Desde

entatildeo os estudos das inundaccedilotildees urbanas satildeo relevantes no municiacutepio o que levou o

54

Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) na deacutecada de 1980 a elaborar um ldquoPlano Diretor

de Contenccedilatildeo das Enchentes Proteccedilatildeo das Encostas e Drenagem Pluvial de Colatinardquo

Tal medida apresentou seis alternativas para o fenocircmeno Poreacutem tendo em vista o custo

operacional das obras apenas a alternativa seis que previa a construccedilatildeo de diques

marginais para a proteccedilatildeo das aacutereas mais centrais foi considerada viaacutevel na eacutepoca

Todavia em entrevistas com funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina (PMC) foi

relatado que todo o estudo foi arquivado e que ateacute agora natildeo haacute previsatildeo de

implementaccedilatildeo de tais medidas Fato este que eacute evidenciado (Tabela 2 p 51) quando da

ocorrecircncia de precipitaccedilotildees intensas na bacia durante as quais sazonalmente a cidade eacute

impactada com as aacuteguas das inundaccedilotildees Isto faz com que o municiacutepio passe

recorrentemente por cataacutestrofes conforme tabela com os principais picos de vazatildeo do rio

nos uacuteltimos 50 anos

Tabela 2

Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013

Ano Diamecircs Vazatildeo(msup3s)

1961 30jan 6613

1979 04fev 12860

1997 07jan 8687

2005 03ago 6549

2013 24dez 9028

Fonte Coelho (2007 apud DALLAPICOLA 2014 p4) e CPRM (2014 p85) Observo que os dados da tabela 1 para os anos de 1979 e 2013 estatildeo baseados na estimativa de vazatildeo meacutedia diaacuteria das maacuteximas anuais obtida atraveacutes de extrapolaccedilatildeo da curva-chave pelo grupo interdisciplinar dos relatoacuterios criacuteticos anteriores

As inundaccedilotildees de 1979 1997 e recentemente 2013 (Figura 19) foram as de maior vazatildeo

neste setor do rio e consequentemente as que mais atingiram a aacuterea urbana do municiacutepio

bloqueando os acessos ao centro da cidade e aos equipamentos essenciais como

hospitais escolas e demais oacutergatildeos puacuteblicos aleacutem de desalojarem muniacutecipes e

comprometerem a sauacutede puacuteblica

55

Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de 1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 Fonte1) Nossa Colatina 2) Nossa Linda Colatina 3) Nossa Colatina

Com o propoacutesito de identificar os principais fatores que acentuam as inundaccedilotildees seraacute

analisado como os processos geomorfoloacutegicos do Doce estatildeo sendo afetados pela accedilatildeo

antroacutepica Limitaremos a anaacutelise ao periacutemetro urbano no trecho que compreende do bairro

Esplanada ateacute o bairro Colatina Velha (Figura 20) Neste periacutemetro eacute possiacutevel visualizar a

evoluccedilatildeo da mancha urbana sobre o leito do rio aleacutem de identificar na margem direita os

pontos desnaturalizados deste canal fluvial

56

Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2) Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do recorte em rosa da APP de 50m (amarelo claro) e 500m (amarelo escuro) Fonte 3) Encontra Colatina (2015)

57

O recorte em questatildeo eacute margeado pela Av Beira-Rio e estaacute situado (Figura 20) dentro do

buffer de preservaccedilatildeo permanente previsto no PDM (buffer de 50m) e no Novo Coacutedigo

Florestal (buffer de 500m) Apesar desta aacuterea ser destinada a mata nativa e ou

reflorestada a ocupaccedilatildeo urbana antecede os artigos legais o que dificulta poliacuteticas de

gestatildeo territorial em um periacutemetro ao mesmo tempo histoacuterico e com funccedilatildeo relevante no

equiliacutebrio hidroloacutegico da bacia

O periacutemetro faz parte da vaacuterzea da margem direita do Rio Doce pois encontra-se em cota

topograacutefica de 50m caracterizando sua planiacutecie Logo a aacuterea em questatildeo tem a funccedilatildeo de

acomodar as aacuteguas das cheias quando a calha principal natildeo comporta o escoamento de

grandes vazotildees Esta tarefa passa a ser prejudicada na medida em que na bacia ou no

curso original satildeo implementadas obras que interferem na morfologia do corpo hiacutedrico

principal como a instalaccedilatildeo das hidreleacutetricas de Mascarenhas (1974) e Aimoreacutes (2005) a

montante

As UHErsquos a montante comprometem os processos do rio uma vez que o regime natural de

transporte de sedimentos eacute alterado com o barramento o que favorece a erosatildeo e

consequentemente o assoreamento com a formaccedilatildeo de bancos arenosos alteraccedilatildeo do

seu perfil transversal e reduccedilatildeo da profundidade Aleacutem disso segundo Coelho (2007) as

vazotildees maacuteximas e miacutenimas foram alteradas com a implantaccedilatildeo das hidreleacutetricas a

montante implicando em vazotildees meacutedias anuais miacutenimas cada vez mais reduzidas com

valores se distanciando da linha de tendecircncia (polinocircmio) provando o natildeo equiliacutebrio da

vazatildeo apoacutes a implantaccedilatildeo das barragens (Graacutefico 1 p22)

Entretanto a primeira intervenccedilatildeo direta no trecho em estudo foi a instalaccedilatildeo da estrada

de ferro que atraiu migrantes para Colatina permitindo o crescimento populacional e a

expansatildeo urbana desordenada agraves margens do Doce Este crescimento intensificou a

supressatildeo das matas ciliares e abriu espaccedilo para a impermeabilizaccedilatildeo do solo reduzindo

a infiltraccedilatildeo

Posteriormente a inauguraccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos ampliou o fluxo na regiatildeo pois

proporcionava a ligaccedilatildeo com as terras ao norte do Estado Atuou tambeacutem como obstaacuteculo

ao transporte de sedimentos carreados no fluxo natural do rio uma vez que sua

implantaccedilatildeo altera a topografia do fundo do canal afetando os processos geomorfoloacutegicos

58

Poreacutem foi no Morro das Cabritas (colina localizada no espaccedilo que compreende o atual

bairro Esplanada) que ocorreu a primeira desnaturalizaccedilatildeo nas margens do Doce Este

morro por onde o Rio Santa Maria do Doce meandrava ateacute desaguar no Rio Doce foi

cortado em meados de 1953 para abrigar a cidade em expansatildeo Devido a esta

intervenccedilatildeo o curso original do Santa Maria foi deslocado e passou a escoar

retilineamente ateacute a foz (Figura 21)

Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponte Florentino Aacutevidos (direita) e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque em vermelho para o curso atual do Santa Maria Fonte Nossa Colatina

As intervenccedilotildees na margem direita tornam-se mais intensas a partir da deacutecada de 1960

quando no ano de 1968 edificou-se um muro visando a proteccedilatildeo dos pilares da

extremidade direita da ponte Esta obra ficou paralisada por muitos anos e foi a primeira

de retificaccedilatildeo e aterro realizada neste trecho do rio Esta intervenccedilatildeo modificou o fluxo

natural das correntes do rio e reduziu a largura da sua calha alterando a morfologia do

canal (Figura 22)

59

Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de proteccedilatildeo da ponte Elaborado pela autora Fonte fotos histoacutericas Nossa Colatina

Contudo somente em 1972 teve iniacutecio o segundo aterro (Figura 23) com a finalidade de

alocar a estaccedilatildeo rodoviaacuteria de Colatina e ampliar a aacuterea de acesso agrave ponte Florentino

Aacutevidos A implementaccedilatildeo desta obra suprimiu parte do leito do Rio Doce pois removeu a

saliecircncia cocircncava que curvava o rio retilinizando esta parte do canal

60

Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora Fonte Nossa Colatina Nossa Linda Colatina

Apoacutes dez anos sem grandes intervenccedilotildees em 1982 o lado a montante da ponte bairro

Esplanada eacute acrescido de um aterro que estenderaacute a aacuterea do antigo Morro das Cabritas

para o rio (Figura 24)

Conhecido como Rua da Lama devido agrave umidade que o rio transferia ao aterro formando

um barro viscoso que persistia a maior parte do ano o trecho atualmente compreende a

Avenida Professor Joseacute Zouian popularmente denominada Avenida Beira-Rio de onde

surge a primeira forma do calccediladatildeo que seraacute estendido ateacute o bairro Colatina Velha

61

Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o calccediladatildeo da Av Beira-Rio Elaborado pela autora Fonte Bennachio (2015)

Somente em 2004 foi implementado o maior projeto de canalizaccedilatildeo do municiacutepio Naquele

ano teve iniacutecio a execuccedilatildeo do enrocamento da Av Beira-Rio (Figura 25) obra destinada

inicialmente a alocaccedilatildeo de equipamentos puacuteblicos de lazer e cultura praccedilas preacutedios aleacutem

da promessa de contribuir para a contenccedilatildeo dos transbordamentos do Rio Doce

Apesar de o referido manancial jaacute estar comprometido com problemas de poluiccedilatildeo

assoreamento e erosatildeo aleacutem dos impactos de duas hidreleacutetricas instaladas a montante a

obra abarcou a supressatildeo da vegetaccedilatildeo ciliar e aterro de parte do rio jaacute tatildeo degradado

62

Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento iniciada em 2004 e finalizada em 2008 Elaborado pela autora Fonte proacutepria autora em 240215

Ocupando uma aacuterea total de 130 mil msup2 do leito do Rio Doce o aterro teve iniacutecio em 2004

sendo construiacutedo com cerca de 90 mil msup3 de pedras 50 mil msup3 de areia retirada do leito do

rio e por fim o nivelamento com 200 mil msup3 de terra A obra era divulgada como um antigo

sonho dos colatinenses e serviria para ampliaccedilatildeo da Av Beira-Rio no bairro de Colatina

Velha instalaccedilatildeo de ciclovias calccediladatildeo equipamentos puacuteblicos e estacionamento (Figura

26) Apesar do fim da engenharia em 2008 o projeto ainda estaacute em fase de acabamento

na parte urbaniacutestica e na alocaccedilatildeo dos oacutergatildeos puacuteblicos

Cabe destacar que a obra sofreu embargos do Ministeacuterio Puacuteblico Federal (MPF) por

apresentar apenas cadastro na Agecircncia Nacional de Aacuteguas (ANA) que conforme parecer

da Procuradora Nadja Machado Botelho na Accedilatildeo Civil Puacuteblica ldquo[hellip] equivocadamente natildeo

realizou o procedimento de outorga [hellip]rdquo (MPF 2006 p2) Aleacutem disso a procuradora

solicitou tutela tendo em vista tratar-se de aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental e o fato de o

IBAMA ter concedido licenciamento com indevida dispensa do Estudo de Impacto

Ambiental (EIA)Relatoacuterio de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA)

63

Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina Fonte Prefeitura de Colatina (2015)

Por isso essa obra deve ser considerada faraocircnica para os cofres puacuteblicos e irreversiacutevel

para os processos geomorfoloacutegicos do Doce E sua efetivaccedilatildeo soacute foi possiacutevel com a

participaccedilatildeo e investimentos do Governo estadual Contudo seu objetivo foi frustrado pois

novamente na cheia do Rio Doce em dezembro de 2013 quando este atingiu a vazatildeo de

9028 msup3s a aacuterea foi inundada e por estar em cota maior que as casas que beiravam o

rio o enrocamento atuou como represa natildeo permitindo o retorno das aacuteguas quando o niacutevel

do rio retomou o equiliacutebrio

Por fim segue um mapa siacutentese (Figura 27) com a cartografia das quatro principais

intervenccedilotildees diretas e estruturais na margem direita do Doce no setor urbano de Colatina

representando o curso natural do rio em 1950 e suas desnaturalizaccedilotildees a partir da deacutecada

de 60 ateacute a atualidade

64

Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce ante e depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora

65

422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio

O recorte em estudo compreende as Zonas ZE-1 ZE-2 e ZUD 2-1 (Figura 28 p61) sendo

a Zona Especial 1 Zona Especial 2 e Zona de Uso Diverso 2-1 destinadas no PDM (Lei

52732007)

Artigo 103 - As Zonas de Usos Diversos ndash ZUD satildeo definidas em razatildeo da concentraccedilatildeo de atividades urbanas diversificadas com predominacircncia do uso comercial e de serviccedilos Artigo 104 - Satildeo objetivos das Zonas de Usos Diversos I - otimizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do solo priorizando a instalaccedilatildeo de novos empreendimentos em terrenos natildeo edificados contiacuteguos a empreendimentos jaacute instalados II - controle da implantaccedilatildeo de usos incompatiacuteveis com os definidos para estas zonas III - garantia de licenciamento e monitoramento ambiental dos empreendimentos IV - controle da expansatildeo comercial de serviccedilos e de induacutestrias de pequeno porte em direccedilatildeo a aacutereas residenciais [] Artigo 130 - As Zonas Especiais 1 ndash ZE 1 abrangem todas as aacutereas remanescentes do municiacutepio relativamente ao zoneamento estabelecido nesta lei ocupadas ou natildeo contida na lei de periacutemetro urbano para as quais natildeo foram ainda estabelecidos os criteacuterios de uso e ocupaccedilatildeo Artigo 131 - As Zonas Especiais 2 ndash ZE 2 satildeo as aacutereas existentes no prolongamento da avenida Beira Rio mais especificamente no trecho entre o 80 Batalhatildeo da Poliacutecia Militar e a rua Pedro Epichin incluindo o espaccedilo existente entre a margem do Rio Doce e o limite das construccedilotildees localizadas na rua Pedro Epichin

Cabe destacar que mesmo sendo palco das aacutereas mais afetadas com as inundaccedilotildees do

Rio Doce a Beira-Rio tem sido alvo da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria que aproveitando-se dos

iacutendices pouco restritos da ZUD 2 (Figura 28 p62) valoriza o espaccedilo promovendo a

instalaccedilatildeo de grandes estruturas como hipermercados edifiacutecios residenciais modernos e

hotelaria

66

Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 Fonte Colatina (2007)

A aacuterea contida na ZE (Figura 28) natildeo possui criteacuterio de ocupaccedilatildeo definido na legislaccedilatildeo

atual sendo adotado o disposto na Lei 41961995 que estabelece os iacutendices urbaniacutesticos

para as aacutereas conquistadas junto ao Rio Doce e na Lei 420595 que aprova os

parcelamentos na Beira-Rio Quanto agrave ZUD 2-1 apresenta iacutendices urbaniacutesticos no anexo

118 do Plano Diretor conforme tabela 3 abaixo

67

Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1

Fonte Colatina (2007 p36)8

68

Eacute relevante observar que numa aacuterea onde o corpo hiacutedrico foi reduzido pelos sucessivos

aterros tenha sido aprovada a instalaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto (Figura

29) com taxa de ocupaccedilatildeo de ateacute 80 e com baixo iacutendice de permeabilidade Ampliou-

se a aacuterea impermeaacutevel numa regiatildeo onde a drenagem jaacute eacute muito comprometida com a

expansatildeo urbana sobre o rio

Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto na Beira-Rio Fonte imagem do Google Maps 2015 E fotos da autora em 140215

Portanto analisando o conjunto de dados apresentado acima eacute possiacutevel entender como

as inundaccedilotildees satildeo potencializadas no municiacutepio atingindo a populaccedilatildeo mas em especial

afetando a dinacircmica de um corpo hiacutedrico tatildeo relevante para o Estado A fim de subsidiar a

gestatildeo puacuteblica com material cartograacutefico para a tomada de decisotildees delimitou-se o

poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo (Figura 30) Pois devem ser adotadas medidas que

minimizem impactos de futuros eventos hidroloacutegicos na bacia capazes de comprometer

novamente a aacuterea urbana mais central de Colatina

69

Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av Beira-Rio em dezembro de 2013 Elaborado pela autora

70

Diante do poliacutegono de inundaccedilatildeo da uacuteltima cheia (Figura 30) em dezembro de 2013 eacute

possiacutevel implementar medidas de convivecircncia com as grandes vazotildees a exemplo de

paiacuteses como Holanda que vem investindo em medidas de resiliecircncia a fim de reduzir a

velocidade dos defluacutevios possibilitando ao canal a capacidade de acumular e dispersar as

aacuteguas com impacto miacutenimo para as populaccedilotildees Conforme Carneiro e Miguez (2011) a

estrateacutegia adotada pelo paiacutes eacute reter armazenar e drenar sendo mais flexiacutevel e natildeo

interferindo drasticamente na dinacircmica do corpo hiacutedrico

Por fim a implementaccedilatildeo de soluccedilotildees de planejamento urbano em Colatina requer uma

anaacutelise integrada que abarque o urbano e o ambiental de modo a propor intervenccedilotildees que

produzam impactos reduzidos nos processos geomorfoloacutegicos do Rio Doce Logo a gestatildeo

municipal deve atuar em niacutevel de bacia hidrograacutefica interagindo com os municiacutepios a

montante propondo medidas de minimizaccedilatildeo das cheias urbanas Mas na escala local

pode-se atuar junto aos novos parcelamentos de modo a ampliar o percentual de aacutereas

permeaacuteveis no municiacutepio incentivando por exemplo os novos loteamentos a adotarem

pavimentaccedilotildees que permitam a drenagem natural do solo

71

5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Partindo da ideia de que eacute possiacutevel implementar medidas que minimizem o escoamento

superficial satildeo apresentadas propostas como forma de controlar ou ao menos reduzir os

impactos das inundaccedilotildees urbanas

Embora as implementaccedilotildees histoacutericas de estruturas de proteccedilatildeo ou barreiras mais altas

tenham sido muito disseminadas atualmente estatildeo sendo suplantadas pelo gerenciamento

de inundaccedilotildees de maneira mais sustentaacutevel Deste modo as experiecircncias fora do Brasil

apontam para soluccedilotildees mais flexiacuteveis que considerem o fluxo natural do canal enquanto

um ecossistema em equiliacutebrio Para tanto Carneiro e Miguez (2011 p150) destacam a

iniciativa alematilde no controle de inundaccedilotildees em bacias hidrograacuteficas metropolitanas

[hellip] A abordagem comum consiste na regulaccedilatildeo do uso do solo nas aacutereas inundaacuteveis e em ldquodar espaccedilo para o riordquo ao inveacutes de priorizar investimentos em estruturas de proteccedilatildeo contra inundaccedilotildees como a colocaccedilatildeo de diques de contenccedilatildeo as margens dos rios A utilizaccedilatildeo do conceito de resiliecircncia apropriado de ecologia decorre dessa abordagem A aplicaccedilatildeo praacutetica do conceito implica portanto em mudanccedilas de paradigma Deixa de ser preponderante a engenharia construtiva e entra em cena o planejamento de longo prazo voltado para o desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis capazes de conviver com as variaccedilotildees do ciclo hidroloacutegico sem significar necessariamente trageacutedias anunciadas

Aleacutem dessas propostas geoacutegrafos como Sandra Cunha tecircm estudado a recuperaccedilatildeo

natural ou ldquorenaturalizaccedilatildeordquo de corpos fluviais visando promover a estabilidade dos canais

de modo mais sustentaacutevel Para ela

[hellip] Recuperaccedilatildeo de canal significa de forma simples o retorno as condiccedilotildees anteriores aos distuacuterbios Em essecircncia eacute o processo de recuperaccedilatildeo do rio ou do ecossistema fluvial estabilizando o desenvolvimento de habitats e colonizaccedilatildeo a uma taxa mais raacutepida que dos processos naturais fiacutesicos e bioloacutegicos Na recuperaccedilatildeo de canais ocorrem consideraccedilotildees de aspecto hidroloacutegico morfoloacutegico e ecoloacutegico qualidade da aacutegua esteacutetica aleacutem da necessidade de uma visatildeo integradora do projeto sustentaacutevel de recuperaccedilatildeo (CUNHA 2012 p230 a 231)

Satildeo portanto medidas pontuais como o retorno agraves sinuosidades do rio (Figura 31 p 68)

ou a substituiccedilatildeo de estruturas de concreto por superfiacutecies mais permeaacuteveis a exemplo

das trincheiras de infiltraccedilatildeo ou pavrsquos (Figura 32) aacutereas mais vegetadas aleacutem de coleta e

uso de aacutegua da chuva bem como tratamento das aacuteguas superficiais por meio de

72

amenidades esteacuteticas como reservatoacuterios de retenccedilatildeo ou detenccedilatildeo que podem ser

associados a ambientes harmocircnicos como lagos artificiais Todas estas accedilotildees possibilitam

a minimizaccedilatildeo das grandes vazotildees no solo urbano pois pretendem atenuar os impactos

das cheias fazendo com que seja resgatada parte da drenagem existente anteriormente agrave

urbanizaccedilatildeo

Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do Rio Aa Munster Alemanha (1998) Fonte Cunha (2012 p233)

Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos Fonte Carneiro e Miguez (2011 p128)

A partir do exposto cabe agrave gestatildeo municipal implementar legislaccedilotildees que priorizem a

permeabilidade possibilitando uma maior infiltraccedilatildeo das aacuteguas das chuvas atraveacutes de

pavimentaccedilotildees menos impermeaacuteveis e da ampliaccedilatildeo de aacutereas vegetadas Satildeo medidas

que tornam a drenagem mais sustentaacutevel aleacutem de possibilitar a manutenccedilatildeo dos serviccedilos

puacuteblicos de forma menos custosa tendo em vista o elevado preccedilo das recomposiccedilotildees

asfaacutelticas

1 2

73

Aleacutem disso quando se fala em controle de cheias urbanas pressupotildee-se uma seacuterie de

medidas para minimizaccedilatildeo de seus impactos desde a operaccedilatildeo de sistemas de alerta

zoneamento de aacutereas inundaacuteveis construccedilatildeo de grandes reservatoacuterios de contenccedilatildeo de

cheias e diques ateacute accedilotildees de educaccedilatildeo ambiental

Cabe pensar tambeacutem na proacutexima revisatildeo do PDM em um plano de macrodrenagem

municipal que reuacutena accedilotildees de caraacuteter estruturantes com obras hidraacuteulicas de infraestrutura

que realizem a conduccedilatildeo final das aacuteguas dos escoamentos superficiais para a minimizaccedilatildeo

das inundaccedilotildees e em medidas natildeo-estruturantes que trabalhem a consciecircncia ambiental

e proponha um zoneamento de cheias a fim de se delimitar os pontos mais fragilizados nos

defluacutevios

Por fim pensar em drenagem num contexto de ocupaccedilatildeo irregular histoacuterico requer

profissionais que aleacutem de possuir afinidade com a temaacutetica tambeacutem possam analisar os

diferentes processos que constituem o espaccedilo geograacutefico Logo este tipo de estudo deve

abarcar uma equipe multidisciplinar que percorra a anaacutelise desde o ambiental estrutural

ateacute o aspecto humano a fim de se produzir resultados que de fato contribuam com o

controle das inundaccedilotildees urbanas

74

6 CONCLUSAtildeO

A partir do recorte espacial foi possiacutevel compreender que a abordagem da geomorfologia

fluvial com a anaacutelise espaccedilo-temporal da ocupaccedilatildeo urbana possibilita a identificaccedilatildeo das

accedilotildees do homem no meio ambiente pois estas resultam na alteraccedilatildeo das paisagens

naturais e na dinacircmica da bacia hidrograacutefica Assim o Rio Doce deve ser estudado de

modo integrado ao crescimento da cidade sobretudo para compreensatildeo da produccedilatildeo do

espaccedilo geograacutefico

Analisar a inundaccedilatildeo urbana em Colatina foi satisfatoacuterio pois o municiacutepio estaacute situado no

perfil meacutedio-baixo da bacia vazante e eacute neste trecho que os reflexos das intervenccedilotildees satildeo

mais acentuados principalmente se esta parte do canal tambeacutem tiver passado por obras

que modificaram seus processos hidroloacutegicos Aleacutem disso a perspectiva geograacutefica aponta

para vaacuterias outras questotildees como erosatildeo fluvial planejamento urbano poluiccedilatildeo ambiental

crise da aacutegua que conduzem a outras discussotildees acerca da relaccedilatildeo homemnatureza

Ao demonstrar a evoluccedilatildeo espaccedilo-temporal do uso e cobertura da terra na margem direita

do Doce associando esta ocupaccedilatildeo agraves obras estruturantes que foram executadas no

canal verificamos que todas as praacuteticas adotadas para conter o transbordamento do rio

acabaram alterando sua morfologia com a retificaccedilatildeo de trechos em meandros reduzindo

a largura do corpo hiacutedrico o que favoreceu a apropriaccedilatildeo urbana de suas vaacuterzeas Aliadas

a estas questotildees estatildeo a falta de planejamento urbano e a omissatildeo diante da supressatildeo

das matas ciliares principalmente se considerados os resultados do relatoacuterio teacutecnico do

IJSN contra enchentes em 1980

Cabe destacar tambeacutem que toda a anaacutelise da ocupaccedilatildeo urbana e desnaturalizaccedilatildeo do

Rio Doce foi melhor identificada a partir dos produtos cartograacuteficos deste trabalho Pois eacute

na espacialidade dos fenocircmenos e no registro de informaccedilotildees ainda natildeo mapeadas como

os aterros que o geoacutegrafo executa a anaacutelise do seu objeto de estudo o homem e a

natureza aqui representado pela sociedade e o canal do Doce

Apesar do municiacutepio apresentar leis que resguardam os leitos dos rios desde o primeiro

PDM em 1996 nada foi feito para conter as ocupaccedilotildees irregulares beira-rio Pelo contraacuterio

estas aacutereas foram incorporadas ao Plano Diretor em 2007 com possibilidades de

ocupaccedilotildees diversas o que tem levado especuladores a valorizar o solo com vista para o

rio apontando suas qualidades esteacuteticas e teacutermicas Este fato vem aumentando o

75

percentual de aacutereas impermeaacuteveis nesta margem comprometendo ainda mais a drenagem

dos defluacutevios

Eacute na Av Beira-Rio que crescem as implantaccedilotildees de grandes empreendimentos comerciais

como supermercado Casagrande Ogil Hotel e obras de construccedilatildeo de novos arranha-

ceacuteus em um periacutemetro que jaacute eacute totalmente comprometido com os extravasamentos do Rio

Doce Estas obras ocupam grandes aacutereas e na maioria das vezes apresentam reduzida

aacuterea permeaacutevel reservando apenas o obrigatoacuterio pela lei cerca de 10 Observa-se

tambeacutem que a implantaccedilatildeo desses projetos estaacute condicionada agrave apresentaccedilatildeo e

aprovaccedilatildeo por comissatildeo na prefeitura do Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV) sendo

difiacutecil conceber que seja concedida tal licenccedila para implementaccedilatildeo de obras num trecho

de risco ambiental

Embora as diretrizes do Estatuto das Cidades para a implementaccedilatildeo do uso da terra

sustentaacutevel e os instrumentos para a regulaccedilatildeo do solo urbano sejam avanccedilados Colatina

eacute mais um exemplo da carecircncia de profissionais capacitados para estudar de modo

integrado e em niacutevel de bacia hidrograacutefica os efeitos da accedilatildeo humana num ambiente tatildeo

peculiar como as margens do Doce Por isso com os objetivos traccedilados nesta pesquisa

podemos aleacutem de compreender o fenocircmeno criar uma metodologia de anaacutelise de aacutereas

inundaacuteveis em ambientes urbanos O que permite agrave gestatildeo municipal uma diretriz para a

tomada de decisotildees

Destaca-se tambeacutem que as legislaccedilotildees aqui referenciadas supriram a discussatildeo acerca do

objeto de estudo mas outras podem contribuir para esta pesquisa a exemplo do Coacutedigo

das Aacuteguas da Poliacutetica Nacional dos Recursos Hiacutedricos das Resoluccedilotildees do Conama do

Estatuto das Cidades entre outros

Sendo assim numa revisatildeo do PDM deve-se pensar nestes aspectos da cidade desde o

histoacuterico de ocupaccedilatildeo das margens ateacute os impactos das inundaccedilotildees e o presente trabalho

auxilia com uma nova abordagem na reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo fornecendo material

cartograacutefico para subsidiar propostas de proteccedilatildeo ao curso do Doce e consequentemente

da populaccedilatildeo

Por fim deve-se destacar que o recorte estaacute inserido num contexto maior de uma bacia

hidrograacutefica que se estende aleacutem dos limites de Colatina ou do estado do Espiacuterito Santo

Esta bacia compreende a Regiatildeo Hidrograacutefica do Atlacircntico Leste e estaacute alocada tambeacutem

76

no estado de Minas Gerais o que portanto torna as accedilotildees de controle das inundaccedilotildees

mais complexas tendo em vista as divergentes politicas territoriais

77

7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

Agecircncia Nacional de Aacuteguas - ANA Sinopse das Bacias Hidrograacuteficas do Atlacircntico Sul Brasiacutelia 2001 Disponiacutevel em lt httpwww2anagovbrPaginasportaisbaciasAtlanticoLesteaspxgt Acesso em 14 de Junho de 2014 ALBANI V Trajetoacuteria do crescimento da cidade de Colatina 2012 161f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) ndash Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo do Centro de Artes da Universidade Federal do Espirito Santo Vitoria 2012 BENNACHIO MARINELSON Cidade de Colatina princesa do norte 2015 Disponiacutevel em lthttpwwwmarinelsoncombrcolatina gt Acesso em 05 de Fevereiro de 2015 BRASIL Novo Coacutedigo Florestal Lei nordm 12651 de 25 de Maio de 2012 Dispotildee sobre a proteccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_ato2011-20142012leil12651htm gt - Acesso em 24 de Maio de 2014 BRASIL Estatuto das Cidades guia para implantaccedilatildeo pelos municiacutepios e cidadatildeos Lei 10257 de julho de 2001 Regulamenta os Artigos 182 e 183 da Constituiccedilatildeo Federal Estabelece Diretrizes Gerais da Poliacutetica Urbana e daacute Outras Providecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisleis_2001l10257htmgt Acesso em 13 de Julho de 2014 CANHOLI A P Drenagem urbana e controle de enchentes Oficina de textos Satildeo Paulo 2005 CARNEIRO PRF Controle De Inundaccedilotildees Em Bacias Metropolitanas Considerando A Integraccedilatildeo Do Planejamento Do Uso Do Solo Agrave Gestatildeo Dos Recursos Hiacutedricos Estudo De Caso Bacia Dos Rios IguaccediluSarapuiacute Na Regiatildeo Metropolitana Do Rio De Janeiro 2008 305f Tese (Doutorado em Engenharia Civil) - Programa De Poacutes-Graduaccedilatildeo De Engenharia Da Universidade Federal Do Rio De Janeiro Rio de Janeiro 2008 CARNEIRO PRF MIGUEZ MG Controle de inundaccedilotildees em bacias hidrograacuteficas metropolitanas 1ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Annablume 2011 CHRISTOFOLETTI A Geomorfologia 2ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Edgard Blucher Ed da Universidade de Satildeo Paulo 1980 COELHO A L N Bacia Hidrograacutefica do Rio Doce (MGES) uma anaacutelise socioambiental integrada Revista GeografarES Vitoacuteria ndash ES nordm 7 2009 P 131-146 ______ Geomorfologia Fluvial de Rios Impactados por Barragens Revista Caminhos de Geografia Uberlacircndia v 9 n 26 Jun2008 p 16 - 32 ______ Situaccedilatildeo Hiacutedrico-Geomorfoloacutegica da Bacia Do Rio Doce com Base nos Dados da Seacuterie Histoacuterica de Vazotildees da Estaccedilatildeo de Colatina - ES Caminhos da Geografia (UFU Online) v 6 p 56-79 2006

78

______ Alteraccedilotildees Hidrogeomorfoloacutegicas no meacutedio-baixo Rio Doce ES 2007 227f Tese (Doutorado em Geografia) ndash Programa de Poacutes- Graduaccedilatildeo do Departamento de Geografia da Universidade Federal Fluminense Niteroacutei 2007 COELHO MCN Impactos ambientais em aacutereas urbanas ndash Teorias conceitos e meacutetodos de pesquisa In GUERRA e CUNHA (orgs) Impactos Ambientais Urbanos no Brasil 10ordf Ediccedilatildeo Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2013 COLATINA Lei Municipal nordm 4 227 de 12 de fevereiro de 1996 Dispotildee sobre o Parcelamento do Solo Urbano Disponiacutevel em lt httpwwwlegislacaoonlinecombrcolatinaimagesleishtmlL42271996html gt - Acesso em 24 de Abril de 2014 ______ Lei Municipal nordm 4228 de 12 de fevereiro de 1996 Dispotildee sobre o Plano Diretor Municipal de Colatina Revogada Disponiacutevel em lt httpwwwlegislacaoonlinecombrcolatinaimagesleishtmlL42281996html gt - Acesso em 24 de Abril de 2014 ______ Lei Municipal nordm 5273 de 12 de Marccedilo de 2007 Dispotildee sobre o Plano Diretor Municipal de Colatina Disponiacutevel em lt httpwwwlegislacaoonlinecombrcolatinaimagesleishtmlL52732007htmlgt - Acesso em 19 de Abril de 2014 ______ Imagem aeacuterea da margem direita do Doce anterior a deacutecada de 1950 e posterior a deacutecada de 1990 Dispotildee sobre a ocupaccedilatildeo na margem direita do Doce no centro de Colatina Disponiacutevel em lt httpwwwcolatinaesgovbrnoticiasmostrar_noticiaphparea=gabinampmateria=1971gt - Acesso em 04 de Fevereiro de 2015 ______ Projeto de enrocamento da Av Beira Rio de Colatina 2015 Disponiacutevel em lt httpwwwcolatinaesgovbrobraspagina=enroncamento gt - Acesso em 14 de setembro de 2014 CUNHA SB Geomorfologia fluvial In GUERRA e CUNHA (orgs) Geomorfologia uma atualizaccedilatildeo de bases e conceitos 4ordf Ediccedilatildeo Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2001 ______ Canais Fluviais e a Questatildeo Ambiental In GUERRA e CUNHA (orgs) A questatildeo ambiental diferentes abordagens 8ordf Ediccedilatildeo Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2012a ______ Rios Desnaturalizados In BARBOSA e LIMONAD (orgs) Ordenamento territorial e ambiental 1ordf Ediccedilatildeo Niteroacutei Editora da UFF 2012b DALLAPICOLA M S Q COELHO A LN Transbordamento das aacuteguas do rio Doce na aacuterea urbana de Colatina ES em dezembro de 2013 Disponiacutevel em lt httpwwwdsrinpebrsbsr2015filesindexauthtmletraM gt Acesso em 18 de fevereiro de

2015 DEFESA CIVIL DO TOCANTINS Esquema de representaccedilatildeo das inundaccedilotildees e enchentes urbanas 2015 Disponiacutevel em lthttpdefesaciviltogovbrenchente gt Acesso em 22 de Marccedilo de 2015

79

ENCONTRA COLATINA Foto aeacuterea de Colatina do Bairro Esplanada sentido a foz do rio Doce 2015 Disponiacutevel em lt httpwwwencontracolatinacombrsobre-colatinagt Acesso em 17 de fevereiro de 2015 FITZ P R Geoprocessamento sem Complicaccedilatildeo Satildeo Paulo Ed Oficina de Textos 2008a ______ Cartografia Baacutesica (nova ediccedilatildeo) Satildeo Paulo Ed Oficina de Textos 2008b FOLHA VITORIA Preacutedio e quatro casas desabam em Colatina Noroeste do Estado Vitoria 24 de dezembro de 2013 lt httpwwwfolhavitoriacombrgeralnoticia201312predio-e-quatro-casas-desabam-em-colatina-noroeste-do-estadohtml gt - Acesso em 25 de Maio de 2014 GAZETA G1 Espirito Santo imagens da enchente de Colatina em dezembro de 2013 Disponiacutevel em lthttpg1globocomespirito-santonoticia201312sobe-para-40-mil-o-numero-pessoas-fora-de-casa-no-es-diz-defesa-civilhtmlgt Acesso em 16 de fevereiro de 2015 GORSKI MCB Rios e cidades ruptura e reconciliaccedilatildeo 1ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Senac Satildeo Paulo 2010 GRAEFF OR Licenciamento Ambiental Urbano In GUERRA (org) Geomorfologia Urbana 1ordf Ediccedilatildeo Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2011 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Cidades Disponiacutevel em lthttpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=320150ampsearch=||infograacuteficos-informaccedilotildees-completasgt Acesso em 25 de Maio de 2014 Instituto Capixaba de Pesquisa Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural - INCAPER Relatoacuterio do Programa De Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural (PROATER 2011) Disponiacutevel em ltwwwincaperesgovbrproatermunicipiosNoroesteColatinapdfgt Acesso em 24 de Maio de 2014 Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hiacutedricos ndash IEMA Ortofotos Espirito Santo do vocirco de 2007 a 2008 Disponiacutevel em lt http18984218229aplicmapgeralhtm5fc6ad50c096dbb2c3dc4bf3e379ae63 gt Acesso em 18 de fevereiro de 2015 Instituto Jones dos Santos Neves ndash IJSN Plano Diretor de Contenccedilatildeo as Enchentes Proteccedilatildeo as Encostas e Drenagem Pluvial de Colatina de abril de 1982 Disponiacutevel em lthttpwwwijsnesgovbrConteudoDigital20120801_ij00163_planodiretor_custo_mapa_v4pdf gt Acesso em 26 de janeiro de 2015 ______ Planos de Informaccedilatildeo formato shapefile 2015 Disponiacutevel em lthttpwwwijsnesgovbrSitioindexphpoption=com_contentampview=articleampid=3780ampItemid=330 gt Acesso em 26 de janeiro de 2015 JAILSON MONTEIRO Imagens da inundaccedilatildeo da Av Beira Rio de Colatina em dezembro de 2013 Disponiacutevel em httptecmixinforblogspotcombr201312enchente-colatinahtmlgt Acesso em 17 de Fevereiro de 2015

80

JENSEN J R Sensoriamento Remoto do Ambiente uma perspectiva em recursos terrestres Satildeo Joseacute dos Campos SP Parecircntese 2009 MINISTERIO PUBLICO FEDERAL - MPF Accedilatildeo Civil Puacuteblica com pedido de Antecipaccedilatildeo de Tutela - da obra de Enrocamento da Av Beira Rio em ColatinaES2006 Disponiacutevel emlt wwwpresmpfmpbracp_riodoce_colatinadocgt Acesso em 14 de marccedilo de 2015 NOSSA COLATINA Fatos Histoacutericos Culturais Curiosidades Informaccedilatildeo Variedades Disponiacutevel em lt httpswwwfacebookcomnossacolatinagt Acesso em 29 de Janeiro de 2015 NOSSA LINDA COLATINA Fotos histoacutericas do centro de Colatina Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomNossaLindaColatinaphotosgt Acesso em 29 de Janeiro de 2015 Serviccedilo Geoloacutegico do Brasil ndash CPRM Relatoacuterio Teacutecnico do Periacuteodo Criacutetico de Dezembro de 2013 (CPRM 2014) Disponiacutevel emlthttpwwwcprmgovbrpubliquemediarelatorio_eventos_criticos_190314pdfgt Acesso em 16 de Setembro de 2014 Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espiacuterito Santo - GEOBASES Downloads de planos de informaccedilatildeo do estado municiacutepio bairros corpo drsquoagua entre outros Disponiacutevel em httpwwwgeobasesesgovbr Acesso em 07 de Setembro de 2014 SITE BARRA Colatina debaixo drsquoaacutegua na maior enchente da histoacuteria do municiacutepio Colatina 24 de dezembro de 2013 lt httpwwwsitebarracombr201312colatina-debaixo-dagua-na-maior-enchente-da-historia-do-municipiohtml gt - Acesso em 25 de Maio de 2014 TUCCI CEM Prefacio In GUERRA e CUNHA (orgs) Impactos Ambientais Urbanos no Brasil 10ordf Ediccedilatildeo Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2013 UOL NOTiacuteCIAS Chuvas causam estragos em mais de dois terccedilos dos municiacutepios do Espiacuterito Santo Vitoacuteria 26 de dezembro de 2013 lt httpnoticiasuolcombralbum20131223chuvas-causam-estragos-em-metade-dos-municipios-do-espirito-santohtmfotoNav=62 gt ndash Acesso em 31 de Maio de 2014 USGS - Geological Survey Serviccedilo Geoloacutegico Americano Aquisiccedilatildeo de imagens orbita digitais gratuitas do sateacutelite LandSat-8 datas de passagem 02012014 e 22032014 EUA Disponiacutevel em lthttpearthexplorerusgsgovgt Acesso em 05 de setembro de 2014

Page 10: DESNATURALIZAÇÃO DO RIO DOCE: UMA ABORDAGEM … · Ao engenheiro Francisco Hermes, pela experiência e conhecimentos partilhados da área de estudo. Aos meus amigos Mônica Regina,

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANA - Agecircncia Nacional de Aacuteguas

APP - Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente

CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais Serviccedilo Geoloacutegico Brasileiro

GEOBASES - Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espiacuterito Santo

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IJSN - Instituto Jones dos Santos Neves

INCAPER - Instituto Capixaba de Pesquisa Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural

PDM - Plano Diretor Municipal

PMC - Prefeitura Municipal de Colatina

PROATER - Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural

SIG - Sistema de Informaccedilotildees Geograacuteficas

UHE ndash Usina Hidreleacutetrica

UTM - Universal Tranverse Mercator

USGS - Geological Survey Serviccedilo Geoloacutegico Americano

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14

11 Objetivo 16

111 Objetivo Geral 16

112 Objetivos Especiacuteficos 16

12 Justificativa 17

2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS 20

21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano 20

211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial 23

22 Aspectos Juriacutedicos 27

23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos 31

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS 36

4 RESULTADOS 40

41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana 40

411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade 46

42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce 49

421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie de

Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio 53

422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio 65

5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 71

6 CONCLUSAtildeO 74

7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 77

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

A partir da deacutecada de 1930 com a transiccedilatildeo econocircmica de um eixo agraacuterio-exportador

para um polo urbano-industrial (CARNEIRO 2008) verificou-se no Brasil a migraccedilatildeo da

maior parte da populaccedilatildeo para as cidades Isso acarretou segundo Tucci (2013 p17) uma

ldquo[] concentraccedilatildeo urbana no Brasil da ordem de 80 da populaccedilatildeo e o seu

desenvolvimento tem sido realizado de forma pouco planejada com grandes conflitos

institucionais e tecnoloacutegicos []rdquo

De acordo com Canholi (2005 p15) a expansatildeo da aacuterea urbana ldquo[] consequentemente

impermeabilizada ocorreu a partir das zonas mais baixas proacuteximas agraves vaacuterzeas dos rios

ou agrave beira-mar em direccedilatildeo agraves colinas e morros em face da necessaacuteria interaccedilatildeo da

populaccedilatildeo com os corpos hiacutedricos []rdquo Neste cenaacuterio surgem as ocupaccedilotildees irregulares

nas Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) como as da planiacutecie de inundaccedilatildeo dos rios

e os topos de morros

Essas ocupaccedilotildees desordenadas satildeo proporcionadas pela precariedade da implantaccedilatildeo e

fiscalizaccedilatildeo das legislaccedilotildees urbaniacutesticas de ordenamento territorial e ambiental Neste

contexto satildeo relevantes as pesquisas que visam correlacionar o viacutenculo

sociedadenatureza de modo a entender como a ocupaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo no

solo conecta-se com a hidrodinacircmica dos recursos naturais uma vez que ldquo[] a tendecircncia

atual do limitado planejamento urbano integrado estaacute levando as cidades a um caos

ambiental urbano com custo extremamente alto para a sociedaderdquo (TUCCI 2013 p17)

Deve-se partir do pressuposto teoacuterico articulado com a ideia anterior de ldquo[]

indissociabilidade entre natureza e sociedade []rdquo (COELHO 2013 p21) em que a

sociedade natildeo pode ser apenas entendida como populaccedilatildeo e a natureza enquanto mero

ambiente fiacutesico mas que estes dois fatores estatildeo dinamicamente produzindo o espaccedilo

geograacutefico

Neste contexto a problemaacutetica se afirma no intuito de relacionar as legislaccedilotildees urbanas

(Lei de Parcelamento do Solo 676679 e PDM) e ambientais (Novo Coacutedigo Florestal 2012)

com as suas aplicaccedilotildees ou natildeo no periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina

principalmente nos bairros que se situam na planiacutecie de inundaccedilatildeo do Rio Doce

A escolha da temaacutetica tambeacutem teve como premissa a importacircncia regional de Colatina

como entreposto comercial e logiacutestico para os municiacutepios do noroeste capixaba conforme

15

relato do Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural - PROATER (INCAPER

2011)

Exportadores de cafeacute atacadistas e as lojas de pronta entrega dinamizam o comeacutercio local que atende aos municiacutepios do norte capixaba leste de Minas Gerais e sul da Bahia representando um universo de mais de 700 mil consumidores (INCAPER 2011 p5)

De acordo ainda com o INCAPER (op cit) Colatina tem crescido a uma margem de 188

anual o que representa a tendecircncia ao ecircxodo rural sendo que a populaccedilatildeo do campo vem

diminuindo de aproximadamente 19 em 1990 passou a 12 no Censo de 2010 Diante

do exposto entra em discussatildeo o planejamento urbano pois com o crescimento da

populaccedilatildeo citadina para cerca de 88 aumentam tambeacutem as pressotildees sobre o meio

ambiente em especial as regiotildees ribeirinhas

Estas uacuteltimas refletem o aumento das atividades humanas na bacia hidrograacutefica onde

pode-se destacar as mudanccedilas induzidas pelas accedilotildees antropogecircnicas que se dividem em

diretas (aquelas que atuam no canal fluvial para controle das vazotildees a exemplo dos

reservatoacuterios e desvios de aacuteguas) e indiretas relacionadas agraves aacutereas fora dos canais por

exemplo o desmatamento e urbanizaccedilatildeo sendo que estas comprometem a descarga e

carga soacutelida do rio (PARK1981 KNIGHTON1984 apud CUNHA 2001)

O interesse pela pesquisa surge da importacircncia regional do municiacutepio dos impactos

histoacutericos humanos materiais e imateriais sofridos diante de eventos hidroloacutegicos

extremos tendo em vista o fato de o periacutemetro urbano ser cortado por um corpo fluvial de

importacircncia regional Aleacutem disso a abordagem geograacutefica possibilita a correlaccedilatildeo dos

processos fluviais com a ocupaccedilatildeo urbana de modo mais integrado (COELHO 2009)

Portanto uma das finalidades deste trabalho eacute analisar por meio das geotecnologias e das

investigaccedilotildees de campo como a ocupaccedilatildeo urbana tem interferido nas margens do Rio

Doce de modo a delimitar os sucessivos aterros na margem direita no periacutemetro do bairro

Esplanada a Colatina Velha Ademais identificar como os processos deste canal fluvial

tecircm sido afetados pela intervenccedilatildeo humana em seu leito principal

16

11 Objetivo

111 Objetivo Geral

Correlacionar os processos fluviais do Rio Doce por meio da dinacircmica geomorfoloacutegica

deste canal com o uso e cobertura da terra no setor urbano do municiacutepio de Colatina

Espiacuterito Santo Contrapondo assim as intervenccedilotildees urbanas da beira-rio com o Plano

Diretor Municipal e o Novo Coacutedigo Florestal enfatizando as diretrizes adotadas no

parcelamento do solo para a planiacutecie de inundaccedilatildeo deste rio

112 Objetivos Especiacuteficos

Identificar os vetores de crescimento urbano do municiacutepio a fim de avaliar a

evoluccedilatildeo da mancha urbana junto ao canal principal

Determinar o comprimento da borda da calha do leito regular do Rio Doce no

periacutemetro urbano de Colatina para definiccedilatildeo da largura miacutenima da faixa marginal

de preservaccedilatildeo

Espacializar as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente beira-rio previstas em lei a fim

de analisar a ocupaccedilatildeo urbana nestes espaccedilos

Cartografar os principais pontos desnaturalizados no canal principal do Rio Doce

no setor urbano de Colatina

Demonstrar como o emprego das geotecnologias auxilia no planejamento urbano

e ambiental especialmente em acircmbito municipal

17

12 Justificativa

A aacuterea de estudo corresponde ao periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina situado na

Bacia Atlacircntico trecho leste sub-bacia do Rio Doce no baixo curso (ANA 2001)

Compreende a regiatildeo noroeste do estado do Espiacuterito Santo latitude 19deg 32rsquo 16rsquorsquo S e

longitude 40deg 37rsquo 59rsquorsquo W De acordo com os dados do censo de 2010 do Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio possuiacutea uma populaccedilatildeo de 111788 mil

habitantes1 numa aacuterea territorial de 1416804 kmsup2

Devido a sua privilegiada posiccedilatildeo geograacutefica limiacutetrofe com o Rio Doce e a construccedilatildeo da

Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas em 1906 Colatina compreendia os territoacuterios dos atuais

municiacutepios de Baixo Guandu Linhares Pancas Satildeo Gabriel da Palha Marilacircndia Satildeo

Domingos do Norte e Governador Lindenberg (INCAPER 2011) Soacute a partir de 2001

passou a apresentar os atuais limites municipais e configurar uma aacuterea urbana com 59

bairros (Figura 1)

Colatina eacute um municiacutepio de importacircncia para regiatildeo noroeste capixaba seja em caraacuteter

econocircmico ou social Eacute responsaacutevel pelos fluxos de cargas da regiatildeo aleacutem de ser um polo

moveleiro de confecccedilatildeo metalmecacircnico e de comeacutercio e serviccedilos gerando emprego e

renda (INCAPER 2011) Aleacutem disso tem sofrido historicamente com as cheias do Rio

Doce principalmente porque parte do seu periacutemetro urbano eacute inundado com as aacuteguas da

calha principal desse rio o que compromete toda a dinacircmica local e potildee em risco os

colatinenses

Assim diante das crescentes demandas por territoacuterio no periacutemetro urbano a populaccedilatildeo

tem suprimido a cobertura vegetal e ocupado desde as margens do Rio Doce ateacute as

encostas dos morros Em periacuteodos de cheias principalmente nos meses de outubro a

marccedilo (INCAPER 2011 ANA 2001) verificam-se inundaccedilotildees de grande parte da aacuterea

urbana beira-rio aleacutem dos movimentos de massa nas encostas Como exemplo destes

acontecimentos tecircm-se os registros fotograacuteficos dos efeitos da chuva de dezembro de 2013

(Figuras 2 e 3)

1 De acordo com o a estimativa do IBGE de 2014 publicada no DOU o municiacutepio conta com uma populaccedilatildeo de 121670 habitantes

18

Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e o canal do Rio Doce Elaborado pela autora

19

Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 Fonte Noticias UOL (2013)

Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de 2013 Fonte Folha Vitoacuteria (2013)

Este estudo portanto eacute relevante tendo em vista as raras abordagens no acircmbito das

Ciecircncias Geograacuteficas especialmente no Espiacuterito Santo de pesquisas que correlacionem

aspectos da geomorfologia fluvial por meio da dinacircmica dos recursos hiacutedricos com o uso

e cobertura da terra particularmente o Plano Diretor Municipal (PDM) Discute dessa

forma as implicaccedilotildees da atuaccedilatildeo humana nas particularidades deste ecossistema natural

tendo em vista o disposto nas legislaccedilotildees urbaniacutesticas e ambientais que visam assegurar

a qualidade de vida das populaccedilotildees

Adiante seratildeo analisados os principais fundamentos da geomorfologia fluvial os aspectos

juriacutedicos e o papel da anaacutelise geograacutefica integrada para o entendimento dos fenocircmenos

das inundaccedilotildees no Centro de Colatina uma vez que eacute devido agraves intervenccedilotildees humanas

nos canais e suas margens que esses fenocircmenos tornam-se mais nocivos a cidade

20

2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS

21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano

Recurso essencial para a manutenccedilatildeo da vida a aacutegua foi um fator relevante para o

estabelecimento histoacuterico das sociedades no entorno dos cursos hiacutedricos Utilizados para

fins de abastecimento humano e animal irrigaccedilatildeo saneamento e transporte os rios

constituiacuteram-se nos principais propulsores de penetraccedilatildeo para o interior (CUNHA 2012a)

Logo em suas margens surgiram povoados que posteriormente transformaram-se em

cidades como as que se estabeleceram agraves margens do Rio Doce a exemplo da sede de

Colatina

Diante das potencialidades que os recursos hiacutedricos possibilitam agraves sociedades

destacamos a importacircncia do estudo da Geomorfologia Fluvial que se apresenta como

campo da Geomorfologia (ciecircncia que estuda as formas do relevo) sendo o interesse

daquela a pesquisa dos processos que relacionam o escoamento das aacuteguas fluviais num

contexto de bacia hidrograacutefica (CHRISTOFOLETTI 1980 CUNHA op cit) Enfoca assim

as alteraccedilotildees na fisionomia dos canais frente agraves intervenccedilotildees no ecossistema natural

beira-rio

A Geomorfologia Fluvial parte da condicionante de que o uso e ocupaccedilatildeo da terra refletem-

se na dinacircmica da bacia de drenagem interferindo nos processos morfogeneacuteticos ou seja

de modelagem do relevo fluvial escoamento superficial das aacuteguas e no ciclo hidroloacutegico

Frente agrave temaacutetica deste estudo faz-se necessaacuterio o entendimento dos conceitos da

fisiografia fluvial aqui referente aos diferentes setores que a aacutegua pode escoar num leito

(Figura 4) como

O leito menor corresponde agrave parte do canal ocupada pelas aacuteguas e cuja frequecircncia impede o crescimento da vegetaccedilatildeo Esse tipo de leito eacute delimitado por partes bem definidas O leito de vazante equivale agrave parte do canal ocupada durante o escoamento das aacuteguas de vazante Suas aacuteguas divagam dentro do leito menor seguindo o talvegue linha de maacutexima profundidade ao longo do leito e que eacute mais bem identificada na seccedilatildeo transversal do canal O leito maior tambeacutem denominado leito maior perioacutedico ou sazonal eacute ocupado pelas aacuteguas do rio regularmente e pelo menos uma vez ao ano durante as cheias Dependendo do tempo ocorrido entre as subidas das aacuteguas eacute possiacutevel haver a fixaccedilatildeo e o crescimento da vegetaccedilatildeo herbaacutecea

21

O leito maior excepcional eacute ocupado durante as grandes cheias no decorrer das enchentes (CUNHA 2001 p 213)

Figura 4 - Tipos de leito fluvial vaacuterzea Fonte Cunha (2001 p213)

Sendo assim as aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial (leitos) aquelas inundadas pelo corpo

hiacutedrico frente a um evento hidroloacutegico extremo tambeacutem satildeo conhecidas como vaacuterzeas

planiacutecie de inundaccedilatildeo ou ainda segundo Carneiro e Miguez (2011 p133) como ldquo[] zona

de passagem de cheia []rdquo Essas aacutereas de vaacuterzeas dependem da fisionomia que o rio

apresenta e segundo Cunha (op cit) o canal fluvial pode apresentar trecircs formas

principais conhecidas como padratildeo dos canais que satildeo retiliacuteneo anastomosado e

meacircndrico (Figura 5)

Figura 5 - Padrotildees dos canais (A) retiliacuteneo (B) anastomosado (C) meandrante (A) amplitude (Rc) raio meacutedio da curvatura do meandro (segundo Bigarella etal 1979) Fonte Cunha (2001 p216)

22

Aliada aos padrotildees dos canais estaacute a assimetria ou simetria dos leitos que para Cunha

(2001 p233) relaciona-se com a variaccedilatildeo da velocidade e turbulecircncia ao longo da secccedilatildeo

transversal o que diferencia o comportamento nos canais retiliacuteneos geralmente simeacutetricos

do canal meacircndrico onde

Em canais de leito simeacutetrico em geral padratildeo retiliacuteneo a velocidade maacutexima ocorre no centro do canal diminuindo em direccedilatildeo agraves margens Em leito assimeacutetrico de padratildeo meacircndrico a zona de maacutexima velocidade e turbulecircncia localiza-se nas proximidades das margens cocircncavas decrescendo de valor em direccedilatildeo agrave margem de menor profundidade

(convexa) (CUNHA opcit p 233)

Deste modo a capacidade de erosatildeo das margens transporte e deposiccedilatildeo da carga do rio

dependem entre outros fatores da velocidade das correntes fluviais E o material do fluxo

fluvial constitui-se da descarga liacutequida ou vazatildeo que estaacute relacionada ao tamanho do

material que pode ser transportado e do volume da carga que o rio eacute capaz de carregar

Tem-se ainda a carga soacutelida sedimentos que estaacute relacionada a suspensatildeo e fundo do

rio esta decresce a jusante indicando a diminuiccedilatildeo da competecircncia do corpo fluvial As

cargas de suspensatildeo satildeo constituiacutedas de partiacuteculas finas a exemplo do silte e por fim a

carga de fundo que eacute composta por partiacuteculas de tamanhos maiores a exemplo da areia

(CUNHA2001)

Christofoletti (1980) acrescenta que os sedimentos podem ser carregados de trecircs modos

principais no fluxo em soluccedilatildeo dissolvidos nos cursos hiacutedricos em suspensatildeo como o

silte e argila e em saltaccedilatildeo geralmente a areia e cascalho que compreendem a carga do

leito do rio Destaca-se que a carga detriacutetica natildeo proveacutem apenas da erosatildeo do fundo dos

leitos e margens fluviais mas que o material intemperizado de vertentes carreado nas

enchentes contribui significativamente para a carga sedimentar transportada

Cabe ressaltar ainda que a relaccedilatildeo do arranjo espacial dos canais com os processos

fluviais (a erosatildeo o transporte e a deposiccedilatildeo de sedimentos) eacute determinante para o

trabalho dos rios Tais processos satildeo diretamente influenciados pela vazatildeo velocidade e

pela intensidade da turbulecircncia (seja no fluxo laminar ou no fluxo turbulento) A

variabilidade no comportamento da velocidade e turbulecircncia das aacuteguas ao longo da seccedilatildeo

transversal condiciona os locais preferenciais de erosatildeo e deposiccedilatildeo ao longo do curso

hiacutedrico

23

Deste modo qualquer intervenccedilatildeo na bacia e canal fluvial compromete o equiliacutebrio natural

da drenagem levando o corpo hiacutedrico a se adaptar agraves mudanccedilas em sua fisionomia

fisiografia e em seus processos ateacute atingir um novo estado de equiliacutebrio Poreacutem eacute na

planiacutecie de inundaccedilatildeo que estas modificaccedilotildees seratildeo mais percebidas pela populaccedilatildeo pois

a maior parte das obras de engenharia como as canalizaccedilotildees e as ocupaccedilotildees das

margens acaba por romper com o equiliacutebrio natural do rio alterando sua dinacircmica e

intensificando seus processos o que na maioria das vezes potencializa as enchentes no

ambiente urbano

Nesse sentido o entendimento dos processos fluviais (erosatildeo transporte e deposiccedilatildeo)

combinado com a anaacutelise da fisiografia fluvial condicionam as peculiaridades na geometria

hidraacuteulica ou seja na relaccedilatildeo entre a vazatildeo velocidade de escoamento tipos de canais

de sedimentos e a topografia Logo o conhecimento geomorfoloacutegico do rio contribui para

pesquisas que necessitem relacionar o funcionamento deste corpo natural com um

planejamento urbano mais efetivo principalmente se considerarmos um recorte em niacutevel

de bacia hidrograacutefica em espaccedilo urbano

211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial

O capiacutetulo que segue versa sobre a atuaccedilatildeo antroacutepica relacionando-a a aacuterea de estudo o

rio Doce poreacutem este trata de forma macro a temaacutetica para contextualizar o leitor sendo

as especificidades das intervenccedilotildees neste recorte geograacutefico trabalhados nos resultados

desta pesquisa

Diante do exposto eacute possiacutevel acompanhar a evoluccedilatildeo dos processos fluviais nos canais

em especial aqueles que tiveram intervenccedilotildees em seu curso natural como as hidreleacutetricas

instaladas a montante a exemplo do Rio Doce onde a interferecircncia direta na vazatildeo e fluxo

de sedimentos altera a hidrodinacircmica do rio comprometendo a erosatildeo e transporte Para

Coelho (2007 p57) as

Mudanccedilas na Declividade Perfil Longitudinal Promovidas pela construccedilatildeo de reservatoacuterio satildeo variadas e caso o efeito da contenccedilatildeo de sedimentos seja significativo os processos fluviais reduziratildeo a capacidade de transporte de sedimento podendo promover um entalhamento do leito do rio imediatamente agrave jusante da barragem

Aleacutem disso esse processo erosivo poacutes-barragem eacute intensificado favorecendo o

assoreamento e sedimentaccedilatildeo do rio a jusante O que pode beneficiar a elevaccedilatildeo da cota

24

do canal fluvial frente a eventos hidroloacutegicos extremos potencializando os efeitos das

inundaccedilotildees nas vaacuterzeas

Ao mesmo tempo o Rio Doce trecho que compreende o Espiacuterito Santo meacutediobaixo curso

eacute impactado nas vazotildees miacutenimas e maacuteximas a jusante apoacutes a instalaccedilatildeo das

barragensUsinas Hidreleacutetricas (UHE) de Mascarenhas (iniacutecio de operaccedilatildeo em 1974)

localizada no Municiacutepio de Baixo Guandu e a de Aimoreacutes (iniacutecio de operaccedilatildeo em 2005)

localizada na divisa do Espiacuterito Santo com Minas Gerais (COELHO 2007)

De acordo com Coelho (opcit) apoacutes a implantaccedilatildeo das usinas ocorreu uma reduccedilatildeo

significativa na vazatildeo da calha principal do Rio Doce conforme Graacutefico 1

Considerando o periacuteodo de 1939 a 2012 a vazatildeo miacutenima apoacutes a instalaccedilatildeo das usinas

chega a atingir 411msup3s e a maacutexima chega apenas a 1251msup3s sendo que no periacuteodo

anterior agrave instalaccedilatildeo das usinas foi registrada a miacutenima de 533 msup3s e uma maacutexima de

1812 msup3s o que ressalta o impacto do barramento sobre o corpo hiacutedrico Aleacutem do

comprometimento dos processos de erosatildeo transporte e sedimentaccedilatildeo (COELHO 2008

e CUNHA 2001)

Diante desta perda de carga liacutequida nos barramentos Cunha (2001 p 241) observa ainda

que as aacutereas a jusante de reservatoacuterios

[hellip] onde o regime do rio sofre significativas modificaccedilotildees devidas ao controle das descargas liquidas e de sedimentos no reservatoacuterio As mudanccedilas ocorridas no regime das aacuteguas neste setor do rio acarretam significativos efeitos nos processos do canal tais como o entalhe do leito a erosatildeo das margens e a deposiccedilatildeo a jusante atingindo longas distacircncias

Aleacutem disso no periacutemetro urbano de Colatina o Rio Doce sofreu outras intervenccedilotildees em

seu canal principal como a implantaccedilatildeo de obras estruturais de macrodrenagem a

exemplo da construccedilatildeo da Av Beira-Rio com intuito de conter o avanccedilo das aacuteguas fluviais

em periacuteodos de cheias

25

Graacutefico 1

Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais (Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia)

Fonte adaptado de Coelho (2007 p154)

26

Como exemplo dos tipos de intervenccedilotildees humanas nas aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial

leitos Carneiro e Miguez (2011 p117) destacam

As accedilotildees de controle e cheias urbanas podem ser classificadas em estruturais quando a paisagem eacute alterada pela accedilatildeo do homem e em natildeo estruturais aqui denominada como estruturante quando o homem aprende a conviver com as enchentes No primeiro caso estatildeo as medidas de controle atraveacutes de obras hidraacuteulicas tais como barragens diques e canais entre outras No segundo caso encontram-se medidas do tipo preventivo tais como zoneamento de aacutereas de inundaccedilatildeo sistemas de alerta educaccedilatildeo ambiental lei de parcelamento e uso dos solos e seguros contra inundaccedilatildeo

Neste cenaacuterio abarcamos os impactos das obras de engenharia como a canalizaccedilatildeo que

altera a fisionomia e fisiografia do rio refletindo-se nos processos geomorfoloacutegicos do canal

e sua planiacutecie de inundaccedilatildeo Para estes a canalizaccedilatildeo eacute uma obra estrutural que aumenta

a capacidade do fluxo do canal aleacutem de intensificar a velocidade do escoamento

superficial antecipando o pico de cheia e transferindo os alagamentos para locais a jusante

na bacia hidrograacutefica

Articulado a esta ideia Cunha (2012b) reflete a desnaturalizaccedilatildeo dos rios por meio de

obras de retificaccedilatildeo com a reduccedilatildeo do comprimento do canal e eliminaccedilatildeo das

sinuosidades Satildeo obras que afetam a estabilidade do corpo hiacutedrico na medida em que

interferem na relaccedilatildeo entre erosatildeo sedimentaccedilatildeo e deposiccedilatildeo provocando efeitos como

alteraccedilatildeo na morfologia do canal Sendo assim ldquo[hellip] a diminuiccedilatildeo da rugosidade no fundo

do canal em conjunto com a perda dos meandros e a aceleraccedilatildeo das velocidades eacute a

principal responsaacutevel pelas mudanccedilas no balanccedilo da energia natural dos sedimentos

fluviais [hellip]rdquo Cunha (2012b p178) No caso do Rio Doce trecho correspondente agrave Av

Beira-Rio alterou-se a sua forma retilinizando-a e sua vegetaccedilatildeo natural foi substituiacuteda

por estruturas de pedras o que compromete a resistecircncia ao fluxo as margens e aos

bancos arenosos

Embora as obras de canalizaccedilatildeo sejam implantadas como eficazes nos canais fluviais para

questotildees de enchentes urbanas para Cunha (op cit) estas necessitam de manutenccedilatildeo

constante envolvendo desde dragagem remoccedilatildeo de obstruccedilotildees a recomposiccedilatildeo do

material utilizado Poreacutem toda a manutenccedilatildeo estaacute associada a alteraccedilotildees morfoloacutegicas e

bioloacutegicas como as que interferem nas soleiras e depressotildees do fundo dos leitos

desestabilizando a vazatildeo no curso a exemplo da

27

ldquo[hellip] eliminaccedilatildeo da sequecircncia de depressotildees e soleiras o aumento da velocidade da corrente a diminuiccedilatildeo da diversidade de habitats o ambiente instaacutevel resultante da flutuaccedilatildeo dos niacuteveis da aacutegua e do substrato moacutevel e a maior flutuaccedilatildeo da temperatura das aacuteguasrdquo (CUNHA 2012b p180)

Ao mesmo tempo o aumento da velocidade dos escoamentos no trecho retificado

possibilita maior erosatildeo transferindo para as aacutereas a jusante uma carga soacutelida

representativa que para Cunha (op cit) configura a formaccedilatildeo de bancos axiais e depoacutesitos

de sedimentaccedilatildeo marginais alterando o equiliacutebrio dos sedimentos a jusante Pois

A jusante das obras de retificaccedilatildeo verificam-se o aumentam da carga soacutelida o assoreamento durante a dragagem a erosatildeo no canal pelos eventos torrenciais do regime e a modificaccedilatildeo na dinacircmica na foz Os sedimentos resultantes da erosatildeo no canal retificado em conjunto com a excessiva carga de sedimentos posta em suspensatildeo durante a dragagem e na fase imediata de poacutes-construccedilatildeo - quando a erosatildeo dos bancos de areia sem vegetaccedilatildeo estaacute em seu niacutevel maacuteximo - originam a formaccedilatildeo de depoacutesitos fluviais de curta duraccedilatildeo a jusante do canal retificado Logo a seguir esses depoacutesitos satildeo erodidos juntamente com as margens e o fundo do leito pelos eventos torrenciais do regime vindo a formar bancos axiais e depoacutesitos de sedimentaccedilatildeo marginais (CUNHA2012b p183)

Portanto o estudo da geomorfologia fluvial contribui diretamente para o entendimento das

cheias nas planiacutecies de inundaccedilatildeo em especial nas bacias hidrograacuteficas que

compreendem a aacuterea urbana e que possuem intervenccedilotildees antroacutepicas diretas na fisiografia

do canal principal Seus processos explicam como as alteraccedilotildees no canal fluvial podem

maximizar os efeitos dos transbordamentos impactando principalmente as populaccedilotildees

ribeirinhas aleacutem de todo ecossistema local Ademais estes fundamentos geomorfoloacutegicos

devem ser associados agrave legislaccedilatildeo vigente afim de subsidiar a elaboraccedilatildeo de instrumentos

legais para atuaccedilatildeo do poder puacuteblico nestas zonas de risco

22 Aspectos Juriacutedicos

Frente agrave crescente demanda sobre os recursos hiacutedricos e solo urbano a partir da deacutecada

de 1930 surgem as primeiras diretrizes que visam regulamentar estes ambientes a

exemplo do Coacutedigo das Aacuteguas Mas soacute a partir dos anos 1960 surgem em acircmbito federal

leis como o Coacutedigo Florestal com o intuito de regular a exploraccedilatildeo das vegetaccedilotildees e

consequentemente proteger os mananciais e em 1979 com o objetivo de ordenar as

28

cidades eacute aprovada a Lei 676679 estabelecendo as normas do parcelamento do solo

urbano

Na medida em que as populaccedilotildees aumentam ampliam-se tambeacutem as pressotildees sobre os

recursos de aacutegua e solo Os processos de uso e a conscientizaccedilatildeo de que estes elementos

satildeo finitos intensificam as formas de controle e preservaccedilatildeo passando para as esferas

estaduais e municipais a responsabilidade de atuar em escala local na proteccedilatildeo desses

ambientes

Ainda em escala federal em 2012 eacute promulgado o Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012

em substituiccedilatildeo ao coacutedigo anterior Lei 47711965 que apresenta as normas de

apropriaccedilatildeo dos recursos naturais pelas novas necessidades das populaccedilotildees citadinas e

rurais No que compete agrave aacuterea de estudo cabe destacar as ocupaccedilotildees em aacutereas de

planiacutecie de inundaccedilatildeo em que de acordo com art 4ordm devem ser preservadas

I - as faixas marginais de qualquer curso drsquoaacutegua natural perene e intermitente excluiacutedos os efecircmeros desde a borda da calha do leito regular em largura miacutenima de (Incluiacutedo pela Lei nordm 12727 de 2012) a) 30 (trinta) metros para os cursos drsquoaacutegua de menos de 10 (dez) metros de largura b) 50 (cinquenta) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura c) 100 (cem) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura d) 200 (duzentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura e) 500 (quinhentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros []

A legislaccedilatildeo eacute riacutegida no que concerne agrave ocupaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo das terras nas faixas

marginais dos rios transferindo aos estados e municiacutepios a responsabilidade de fiscalizar

estes territoacuterios para garantir a efetividade da lei A questatildeo eacute que muitas vezes somada a

falta de planejamento estas fiscalizaccedilotildees satildeo ineficientes o que tem possibilitado o

surgimento cada vez maior das ocupaccedilotildees irregulares

Apoiado tambeacutem pela Constituiccedilatildeo Federal de 1988 nos artigos 182 e 183 surge o

Estatuto das Cidades Lei 102572001 com finalidade de garantir a funccedilatildeo social da

cidade e com este os primeiros Planos Diretores Municipais (PDM) que buscam o

ordenamento do crescimento das cidades em caraacuteter socioeconocircmico e ambiental cidades

sustentaacuteveis Ademais em Colatina eacute instituiacuteda a Lei 42281996 posteriormente revogada

29

pela Lei 52732007 que ldquoInstitui o Plano Diretor do Municiacutepio de Colatina estabelece os

objetivos instrumentos e diretrizes e daacute outras providecircncias para as accedilotildees de

planejamento do Municiacutepio de Colatina []rdquo

O PDM de Colatina assim como Coacutedigo Florestal prevecirc a preservaccedilatildeo dos ecossistemas

beira-rio Aquele ainda dispotildee sobre o parcelamento do solo sustentaacutevel a funccedilatildeo social

da cidade e da propriedade conforme o Plano Diretor de Colatina de 2007 nos artigos

transcritos

Artigo 22 - As diretrizes ambientais no Municiacutepio de Colatina satildeo I - aplicar os instrumentos de gestatildeo ambiental estabelecidos nas legislaccedilotildees federal estadual e municipal bem como a criaccedilatildeo de outros instrumentos adequando-os agraves metas estabelecidas pelas poliacuteticas ambientais II - compatibilizar as diretrizes de uso ocupaccedilatildeo e parcelamento do solo aos objetivos de proteccedilatildeo ambiental dos ecossistemas [] Artigo 23 - Satildeo diretrizes do sistema de drenagem urbana I - disciplinar a ocupaccedilatildeo das cabeceiras e vaacuterzeas das bacias hidrograacuteficas do Municiacutepio preservando a vegetaccedilatildeo existente e visando agrave sua recuperaccedilatildeo [] III - definir mecanismos de fomento para usos do solo compatiacuteveis com aacutereas de interesse para drenagem tais como parques lineares aacuterea de recreaccedilatildeo e lazer hortas comunitaacuterias e manutenccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa [] V - implantar medidas natildeo-estruturais [sic] de prevenccedilatildeo de inundaccedilotildees tais como controle de erosatildeo especialmente em movimentos de terra controle de transporte e deposiccedilatildeo de entulho e lixo combate ao desmatamento assentamentos clandestinos e a outros tipos de invasotildees nas aacutereas com interesse para drenagem [] VII - garantir e respeitar a necessaacuteria permeabilidade do solo inclusive buscando alternativas de pavimentaccedilatildeo com maior de permeabilidade [sic] [] Artigo 84 ndash Satildeo objetivos do ordenamento territorial do Municiacutepio de Colatina [] IV ndash conter a expansatildeo da ocupaccedilatildeo urbana em aacutereas de proteccedilatildeo ambiental [] Artigo 120 ndash Ficam desde jaacute identificadas como Zonas de Proteccedilatildeo Ambiental 2 ndash ZPA 2 as seguintes aacutereas [] III ndash as aacutereas existentes ao longo de qualquer curso drsquoagua desde o niacutevel mais alto em faixa marginal cuja largura miacutenima seraacute de a) 15m (trinta metros) [sic] para os cursos drsquoagua com menos de 10m (10

metros) de largura contidos no periacutemetro urbano [] c) 30m (trinta metros) para os cursos drsquoagua que tenham de10m (dez

metros a 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano

[]

30

e) 50m (cinquenta metros) para os cursos drsquoagua que tenham mais de 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 60422013)

[]

De modo geral verifica-se que a legislaccedilatildeo apresenta instrumentos que permitem a

prevenccedilatildeo ou controle de ocupaccedilotildees irregulares ou clandestinas em aacuterea de APP aleacutem de

propostas para resguardar de grandes impactos ambientais o corpo hiacutedrico principal do

municiacutepio o Rio Doce Possibilitando assim a minimizaccedilatildeo dos impactos causados pelas

cheias agrave populaccedilatildeo local

Poreacutem cabe destacar que o Plano Diretor Municipal de Colatina natildeo contempla o

estipulado no Coacutedigo Florestal 2012 Lei Federal onde os cursos drsquoaacutegua com largura

superior a 600(seiscentos) metros devem ser resguardados com aacutereas de preservaccedilatildeo

permanente de 500(quinhentos) metros entre outros sendo que a redaccedilatildeo desta parte do

PDM eacute dada pela lei 60422013 posterior a publicaccedilatildeo do novo Coacutedigo Florestal Sendo

assim verifica-se que apesar da intenccedilatildeo de resguardar uma faixa de no maacuteximo

50(cinquenta) metros em periacutemetro urbano para a contenccedilatildeo de cheias e mata ciliar o

PDM de Colatina natildeo atende o miacutenimo previsto em Lei Federal O que tem impactado todo

ecossistema beira rio e a populaccedilatildeo ribeirinha uma vez que a faixa marginal de proteccedilatildeo

de 50(cinquenta) metros em muitos casos natildeo tem comportado o impacto dos defluacutevios

No entanto a legislaccedilatildeo trata de aspectos gerais natildeo pontuando as aacutereas responsaacuteveis

por cada accedilatildeo aleacutem de sua aplicabilidade depender da elaboraccedilatildeo de um cronograma de

execuccedilatildeo bem como um conjunto de planos e normas especiacuteficos para cada diretriz com

detalhamento das propostas de intervenccedilatildeo Isto natildeo ocorreu ateacute o presente

Aleacutem disso a cidade de Colatina surgiu num cenaacuterio histoacuterico anterior agraves legislaccedilotildees

urbaniacutesticas e ambientais inclusive do Coacutedigo das Aacuteguas o que dificulta a execuccedilatildeo de

um planejamento que concilie a preservaccedilatildeo das matas beira-rio garantindo a faixa de

APP com a ocupaccedilatildeo urbana consolidada

A aacuterea de estudo se apresenta como ambiente fragilizado apesar de ser regida por

legislaccedilotildees desde a escala federal ateacute a municipal que visam proteger e ordenar o uso e

cobertura da terra nas faixas marginais dos rios Mas a dificuldade das prefeituras em

aplicar os instrumentos legais nestes ambientes seja por interesses privados ou falta de

recursos para investimentos em soluccedilotildees a longo prazo continua expondo as populaccedilotildees

31

aos impactos dos eventos hidroloacutegicos criacuteticos como os que resultam nas inundaccedilotildees

Para que se alcance esse parcelamento do solo sustentaacutevel satildeo necessaacuterios esforccedilos da

gestatildeo municipal em estipular prazos e metas de atuaccedilatildeo afora interagir os diferentes

setores no planejamento em niacutevel de bacia hidrograacutefica considerando as peculiaridades

desta escala de trabalho

23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos

Sendo a ciecircncia que estuda a relaccedilatildeo homemnatureza a Geografia tem muito a contribuir

nas anaacutelises que envolvem o meio ambiente que foi transformado pela dinacircmica da

sociedade Mas historicamente a dialeacutetica das correntes fiacutesica e humana tem imperado de

modo dissociado levando o geoacutegrafo a estudar estes processos separadamente Poreacutem

se o resultado pretendido eacute integrado fazem-se necessaacuterias pesquisas mais amplas que

cruzem as diferentes vertentes geograacuteficas

Considerando que a problemaacutetica dos impactos ambientais urbanos envolve a questatildeo

natural o rio e a questatildeo social e poliacutetica a sociedade e as leis (COELHO 2013) uma

pesquisa neste acircmbito requer o entendimento destes dois objetos a fim de se apreender

o processo de crescimento das cidades brasileiras e a sua relaccedilatildeo com os recursos

hiacutedricos

A partir da deacutecada de 1950 devido ao ecircxodo rural mais intenso as cidades brasileiras

incharam rapidamente com a migraccedilatildeo do camponecircs que buscava melhores condiccedilotildees de

vida como trabalho na induacutestria o acesso agraves escolas saneamento entre outros E

segundo Gorski (2010) a populaccedilatildeo brasileira passou desde o iniacutecio deste processo de 19

milhotildees de habitantes em 1950 para 138 milhotildees de habitantes em 2000 (dados do IBGE)

o que corrobora o raacutepido crescimento das cidades

Todavia as estruturas puacuteblicas natildeo estavam preparadas para um acreacutescimo populacional

tatildeo significativo e em curto espaccedilo de tempo E o que observamos eacute o acesso limitado

dessa populaccedilatildeo agraves aacutereas centrais da cidade sendo induzida a se estabelecer nas

periferias Nesta visatildeo

O difiacutecil acesso da populaccedilatildeo de baixa renda agraves aacutereas mais centrais das cidades contribuiu segundo Raquel Rolnik para a expansatildeo da periferia o que muitas vezes implicou e implica ainda invasatildeo de aacutereas de proteccedilatildeo de mananciais com a aquiescecircncia do poder puacuteblico Esta

32

dinacircmica agravou a situaccedilatildeo de risco dos mananciais pela eliminaccedilatildeo das matas ciliares e consequentemente erosatildeo das margens dos cursos drsquoaacutegua e assoreamento de suas calhas e pela contribuiccedilatildeo do esgoto in natura (ROLNIK1997 apud GORSKI 2010 p62)

Sendo assim a supressatildeo das matas ciliares e das vegetaccedilotildees das encostas para fins de

ocupaccedilatildeo urbana interfere diretamente no ciclo hidroloacutegico diminuindo a absorccedilatildeo de

aacutegua pelo subsolo e pela evapotranspiraccedilatildeo favorecendo o escoamento superficial (Figura

6) que intensifica a velocidade de drenagem das aacuteguas Este processo nas encostas eacute

mais significativo se considerarmos que com a supressatildeo da cobertura vegetal e

impermeabilizaccedilatildeo do solo as precipitaccedilotildees acabam por lavar todo o material

intemperizado sedimentos carregando-o diretamente para o corpo hiacutedrico e contribuindo

para o assoreamento

Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento Fonte Gorski (2010 p64)

Por outro lado as ocupaccedilotildees ribeirinhas nas vaacuterzeas dos rios modificam a dinacircmica fluvial

frente aos defluacutevios A compactaccedilatildeo e o nivelamento do solo associados agrave

impermeabilizaccedilatildeo por concreto asfalto e outros materiais alteram todo o sistema de

drenagem natural e contribuem para a erosatildeo fluvial Aleacutem disso a gestatildeo puacuteblica que

33

deveria investir num parcelamento do solo sustentaacutevel resguardando ldquouma alocaccedilatildeo de

espaccedilosrdquo (CANHOLI 2005 p 15) para a drenagem acaba por colaborar com as enchentes

urbanas na medida em que decide por obras estruturais como a canalizaccedilatildeo (Figura 7

p30) e a microdrenagem que transferem os impactos das inundaccedilotildees a jusante

Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia Fonte Gorski (2010 p69)

Cabe destacar que desde 1965 com o primeiro Coacutedigo Florestal as matas beira-rio jaacute

eram resguardadas da degradaccedilatildeo humana poreacutem com todo o boom urbano a partir de

1950 a falta de estrutura e ingerecircncia municipal no que se refere ao parcelamento e uso

e ocupaccedilatildeo da terra urbana possibilitou a formaccedilatildeo dos assentamentos clandestinos em

APP e na encosta de morros Em condiccedilotildees precaacuterias sem saneamento baacutesico e demais

infraestruturas urbanas estes assentamentos acabam sendo as regiotildees mais afetadas

com as inundaccedilotildees

Junto agraves questotildees jaacute levantadas vale destacar que as aacuteguas das inundaccedilotildees propiciam o

aumento das doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica (febre tifoide hepatite leptospirose

esquistossomose entre outras) pois carregam segundo Gorski (2010) toda uma poluiccedilatildeo

difusa efluentes domeacutesticos industriais e agroindustriais aleacutem do lixo urbano da poluiccedilatildeo

do ar e das ruas

34

Por outro lado esta ocupaccedilatildeo urbana natildeo planejada perde o benefiacutecio que os corpos

hiacutedricos podem oferecer como [] as paisagens fluviais que aos poucos foram sendo

apropriadas como paisagens urbanas [] (GORSKI 2010 38) aleacutem do microclima

associado agrave umidade pela evapotranspiraccedilatildeo que ameniza a sensaccedilatildeo teacutermica local

Poreacutem conforme observado por Graeff (2011) natildeo eacute cabiacutevel atualmente implantar a

legislaccedilatildeo de APP de modo jurista Deve-se considerar toda a representatividade cultural

assentada sobre os leitos destes rios (avenidas importantes casas com arquitetura

histoacuterica entre outros) Aleacutem disso para a demarcaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo

permanente hoje eacute necessaacuteria uma anaacutelise teacutecnica pautada na geomorfologia e

hidrologia de modo a interpretar o ldquocomportamento histoacuterico dos cursos drsquoaacutegua na

paisagem prevendo cenaacuterios de impactos futurosrdquo da atividade humana sobre suas faixas

marginais

Tendo em vista que grande parte da malha urbana brasileira estaacute alocada em APPs e que

segundo Graeff (2011) estas jaacute possuem uma unidade de paisagem estabelecida e muitas

vezes secular configurando siacutetios de importacircncia cultural e apreendendo que

De modo semelhante nas demais cidades haveraacute que ser entendido o meio urbano como ele realmente eacute ndash um encontro entre as necessidades de habitaccedilatildeo com atividades humanas e de conservaccedilatildeo ambiental esta segunda tambeacutem a serviccedilo do homem e natildeo somente de objetivos difusos e distanciados da sobrevivecircncia da sociedade (GRAEFF 2011 206)

Por tais motivos o trabalho com a geomorfologia fluvial urbana deve abarcar os princiacutepios

do bom senso compreendendo que nestas aacutereas de atividade antroacutepica consolidada pode-

se fazer uso de instrumentos de engenharia avanccedilados para uma convivecircncia equilibrada

do homem com a natureza no entorno Contudo deve-se incentivar as aacutereas de expansatildeo

urbana ou zona periurbana (zonas de transiccedilatildeo da aacuterea urbana para a rural) com poliacuteticas

de incentivo a pavimentaccedilotildees mais permeaacuteveis a fim de minimizar o escoamento

superficial para o rio favorecendo a infiltraccedilatildeo

Apesar de os impactos gerados pela interferecircncia humana nas aacutereas mais fragilizadas da

bacia hidrograacutefica vaacuterzeas e encostas refletirem-se em cataacutestrofes com prejuiacutezos

humanos ambientais e urbanos alguns autores brasileiros como Canholi Graeff Cunha

Carneiro e Miguez jaacute indicaram outros caminhos para uma convivecircncia harmoniosa com

a natureza Aleacutem do mais paiacuteses desenvolvidos como a Holanda deixaram de ldquolutar contra

35

as cheiasrdquo para permitir agraves aacuteguas das enchentes a capacidade de acumular e dispersar

com impacto reduzido para as populaccedilotildees (CARNEIRO MIGUEZ 2011)

Sendo assim a proposta deste estudo eacute identificar os principais agentes que influenciam

as inundaccedilotildees entendendo seu papel e atuaccedilatildeo no contexto urbano de Colatina Mas eacute

tambeacutem a de ampliar a abordagem da temaacutetica com uma anaacutelise geograacutefica integrada

ressaltando as medidas que constam no planejamento urbano e sua aplicaccedilatildeo nas faixas

marginais do corpo hiacutedrico

36

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS

Esta pesquisa eacute constituiacuteda de trecircs etapas principais sendo que a primeira teve como

premissa a confecccedilatildeo de um fluxograma (Figura 8) de trabalho para orientar a pesquisa

em seguida teve iniacutecio o levantamento de bibliografias que abordam temas como a

geomorfologia fluvial e urbanizaccedilatildeo em Colatina adotando-se como referecircncia as

pesquisas de Coelho (2006 2007 2008 e 2009) e Albani (2012) Aleacutem disso muito

contribuiacuteram para este trabalho o relatoacuterio do INCAPER da CPRM e os dados do IBGE

Cabe destacar tambeacutem as experiecircncias com recursos hiacutedricos em ambientes urbanos de

Carneiro e Miguez (2011) em especial Cunha (2001 2012ab)

Esta etapa consistiu tambeacutem na busca de material cartograacutefico como aquisiccedilatildeo de planos

de informaccedilatildeo de limite estadual municipal bairros mancha urbana corpo drsquoaacutegua e

logradouros atraveacutes de dados disponiacuteveis no Sistema Integrado de Bases Geoespaciais

do Estado do Espiacuterito Santo (GEOBASES 2014) no Instituto Jones dos Santos Neves

(IJSN 2015) e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2014) imagens

orbitais gratuitas do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI bandas 2-3-4 e 8 (Pan) oacuterbita 216

ponto 73 com datas de passagem em 02012014 e 22032014 agraves 946 (horaacuterio central

da oacuterbita) junto ao Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2014) aleacutem do ortofotomosaico

do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hiacutedricos (IEMA 2014) do Espiacuterito

Santo referente ao voo de 2007 a 2008

Na segunda etapa foram realizadas duas investigaccedilotildees de campo sendo a primeira no

dia 24 de junho de 2014 com a finalidade de fazer o reconhecimento da aacuterea de estudo

fotografar e conversar com moradores e teacutecnicos da prefeitura O segundo trabalho de

campo ocorreu no dia 14 de fevereiro de 2015 e por meio deste foi possiacutevel identificar

pontos sujeitos a inundaccedilatildeo analisar a topografia e realizar as entrevistas com moradores

e funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina

37

Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC)

38

Na terceira etapa foram realizados os mapeamentos e processamentos de todos os planos

de informaccedilatildeo vetoriais e matriciais em ambiente de SIG no sistema ArcGis 103 iniciando

com a ediccedilatildeo dos dados do Municiacutepio e adjacecircncias que foram ajustados quando

necessaacuterio ao sistema de projeccedilatildeo UTM no Datum SIRGAS ndash 2000 na Zona 24 sul com

meridiano central -39 W com todo o mapeamento produzido seguindo a padronizaccedilatildeo

cartograacutefica proposta por Fitz (2008 a b)

O geoprocessamento teve iniacutecio com a composiccedilatildeo das imagens orbitais do Landsat-8 na

cor natural da imagem (2R 3G 4B) e por meio da teacutecnica de Pan Sharpening ou fusatildeo

de imagens a imagem cor natural foi agrupada agrave da banda 8 pancromaacutetica para obtenccedilatildeo

de uma melhor resoluccedilatildeo espacial neste caso chegando a 15 metros sendo resguardado

o conteuacutedo da imagem composta Na sequecircncia foi realizada a extraccedilatildeo da maacutescara do

periacutemetro urbano de Colatina e gerada a classificaccedilatildeo supervisionada da imagem Landsat-

8 no periacuteodo de cheia (janeiro) e vazante (marccedilo) o que possibilitou a delimitaccedilatildeo da calha

do Doce nestes dois eventos

Em seguida foram realizadas as 8 (oito) mediccedilotildees do leito regular sendo 4 (quatro) no

periacuteodo de cheia e 4 (quatro) na vazante de modo a definir a largura meacutedia da calha do

leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina Para chegar a uma medida geral

da largura do rio utilizaram-se ferramentas estatiacutesticas como a meacutedia que eacute uma medida

de tendecircncia central onde numa amostra de tamanho N constituiacuteda por elementos de x

variando de eacute possiacutevel extrair a meacutedia aritmeacutetica atraveacutes da equaccedilatildeo

A meacutedia aponta para onde mais convergem os dados de uma distribuiccedilatildeo

A partir desta definiccedilatildeo da meacutedia da largura da calha do Rio Doce foi possiacutevel em consulta

ao Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e a Lei 52732007 determinar a faixa miacutenima

de preservaccedilatildeo permanente deste corpo fluvial aleacutem da confecccedilatildeo do mapa com o

poliacutegono de APP

Mediante a anaacutelise do mapa verificou-se que grande parte dos bairros do municiacutepio estatildeo

contidos nos poliacutegonos de APP em especial a preservaccedilatildeo de 500 metros conforme lei

federal E por meio deste foram cruzados os dados de vazatildeo as fotos histoacutericas das

enchentes e o poliacutegono de mata ciliar o que permitiu o entendimento das inundaccedilotildees

39

Em ambiente de SIG tambeacutem foram vetorizados os trecircs traccedilados da Estrada de Ferro

Vitoacuteria a Minas o trajeto do Rio Santa Maria do Doce antes e depois da retilinizaccedilatildeo e os

sucessivos aterros na margem direita do Rio Doce no periacutemetro que compreende a Av

Beira-Rio

As teacutecnicas de sensoriamento remoto como a classificaccedilatildeo supervisionada permitiram a

definiccedilatildeo do poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo atraveacutes da imagem da cheia de janeiro Para

tanto foi realizada tambeacutem a classificaccedilatildeo hiacutebrida objetivando aliar a interpretaccedilatildeo visual

com a digital (JENSEN 2009) Por fim foi realizada amarraccedilatildeo com o levantamento

geodeacutesico da CPRM (2014) para garantir a precisatildeo do traccedilado do poliacutegono de cheia

A partir do tratamento dos dados bibliograacuteficos cartograacuteficos e imagens foi possiacutevel

sistematizar este trabalho o que permitiu identificar elementos histoacutericos de intervenccedilatildeo

na paisagem do Doce como os aterros e a ocupaccedilatildeo urbana As visitas de campo a

entrevista e conversas com moradores foram fundamentais para a validaccedilatildeo das

informaccedilotildees o que tornou esta metodologia eficaz para anaacutelise do fenocircmeno da inundaccedilatildeo

em Colatina

40

4 RESULTADOS

41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana

A ocupaccedilatildeo ao longo das planiacutecies de inundaccedilatildeo dos rios tem ocorrido diante da

necessidade deste recurso para as atividades vitais humanas Cunha (2012b p219)

entende que ldquosuas margens tecircm sido o centro preferido da habitaccedilatildeo humana e o

suprimento de suas aacuteguas natildeo soacute fertiliza os campos para o cultivo como tambeacutem fornece

energia e permite recreaccedilatildeordquo Logo o estabelecimento das vilas nas bordas dos cursos

drsquoaacutegua favorece a logiacutestica ocupacional

Historicamente em solo espiacuterito-santense a formaccedilatildeo das vilas ocorreu agraves margens de

estrateacutegicos cursos drsquoaacutegua e a exploraccedilatildeo do ouro de Minas Gerais para Albani (2012)

determinou que a Coroa proibisse nos seacuteculos XVII a XIX a implantaccedilatildeo de estradas e

exploraccedilatildeo de terras na Capitania do Espiacuterito Santo pois os portugueses temiam incursotildees

estrangeiras deixando assim o desenvolvimento capixaba restrito agrave faixa litoracircnea

Relegada enquanto ldquobarreira verderdquo para defesa das minas de ouro e minerais do atual

territoacuterio das Minas Gerais segundo Coelho (2007) a Capitania do Espiacuterito Santo soacute

passou a se interiorizar para o centro-oeste onde se localiza atualmente a cidade de

Colatina a partir de 1847 por meio das ocupaccedilotildees de Santa Izabel e Santa Leopoldina

que permitiram a descida do Rio Santa Maria do Doce ateacute as imediaccedilotildees da atual cidade

de Colatina

Assim foi que o movimento colonizador desceu o vale do Santa Maria do Rio Doce atingindo em 1891 a regiatildeo das matas onde hoje se acha a cidade de Colatina [] Esta penetraccedilatildeo inicial foi feita com elementos alematildees de Santa Leopoldina e no rio Doce ficou muito anos restrita agrave aacuterea inicial A expansatildeo ao longo do vale tomou impulso com a chegada a Colatina em 1906 dos trilhos da Estrada de Ferro Diamantina (atual Vitoacuteria-Minas) (STRAUCH1955 apud COELHO 2007 p105)

Sendo assim Coelho (op cit) relata que a ocupaccedilatildeo se deu atraveacutes da supressatildeo da mata

nativa no baixo curso do Rio Doce de Colatina a Linhares sendo a madeira daiacute extraiacuteda

levada ateacute o rio e encaminhada ateacute Povoaccedilatildeo vilarejo junto agrave foz de onde eram carregados

os navios Neste periacuteodo tem-se a instalaccedilatildeo de um ciclo madeireiro na regiatildeo com a

disposiccedilatildeo de serrarias nas proximidades das matas

41

Todavia somente a partir de 1906 com a chegada da estrada de ferro na regiatildeo o

transporte madeireiro foi transferido para as locomotivas Agrave medida que a implantaccedilatildeo da

Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas avanccedilava para o interior levava consigo as frentes de

desmatamento modificando as paisagens das margens do Rio Doce e se apropriando dos

espaccedilos deste rio (Figura 9)

Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906 Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce Fonte Albani (2012 p 63)

Conforme Albani (2012) com a vinda dos mineiros e fluminenses reforccedilados

posteriormente a partir de 1889 por colonizadores italianos e alematildees eacute que as

ocupaccedilotildees territoriais ocorreram de modo efetivo Atraveacutes do Barracatildeo do Rio Santa Maria

(Figura 10) espaccedilo do governo inicialmente destinado a alojar os migrantes e a produccedilatildeo

surgiram as primeiras residecircncias nas proximidades da igreja de Satildeo Sebastiatildeo Sendo

assim

Eacute importante destacar que o desenvolvimento da regiatildeo onde se encontra o municiacutepio de Colatina teve iniacutecio no final do seacuteculo XIX no nuacutecleo de colonizaccedilatildeo Antocircnio Prado localizado no distrito de Boapaba antiga vila do Mutum O nuacutecleo recebeu dezenas de famiacutelias de imigrantes italianos e ali desenvolveram atividades de agricultura e com a expansatildeo da localidade surge tambeacutem o comeacutercio (ALBANI 2012 p61) [hellip] A vila de Colatina entretanto logo passou a se transformar no principal nuacutecleo e futuramente na sede do municiacutepio Aleacutem da facilidade da produccedilatildeo atraveacutes do Rio Doce a vila de Colatina tornou-se referecircncia dos imigrantes no caminho para a colonizaccedilatildeo das terras ao norte do estado (MADURO1985 apud ALBANI 2012 p62)

42

Desse modo com o desenvolvimento das atividades de cafeicultura madeireira e do

entroncamento logiacutestico de acesso agraves aacutereas do norte a vila eacute elevada em 1921 agrave categoria

de municiacutepio A atual configuraccedilatildeo territorial foi adquirida a partir de 2001 conforme IBGE

(2014) dispondo de seis distritos Colatina (sede) Acircngelo Frechiami Baunilha Boapaba

Graccedila Aranha e Itapina

Cabe destacar poreacutem que a ocupaccedilatildeo inicial da cidade de Colatina se perfaz pela margem

direita do Rio Doce onde se localiza o atual bairro de Colatina Velha e onde havia se

instalado o Barracatildeo de Santa Maria Nesse periacuteodo a ponte ainda natildeo fora edificada

limitando assim a ocupaccedilatildeo da margem esquerda

Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da regiatildeo Fonte Albani (2012 p62)

Conforme Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p65) a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro

Vitoacuteria a Minas em 1906 (Figura 11) possibilitou a expansatildeo da cidade de Colatina e seu

desenvolvimento econocircmico Todavia sua instalaccedilatildeo paralela agrave margem direita do Rio

Doce favoreceu a localizaccedilatildeo de avenidas e ruas centrais em sua proximidade

43

Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p65)

Entretanto foi com a construccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos (Figura 12) em 1928 que a

margem direita se conectou agrave margem esquerda da cidade o que aleacutem de possibilitar a

ocupaccedilatildeo facilitou o acesso agraves regiotildees mais ao norte do Estado

Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p66)

44

Por conseguinte a estrada de ferro e a ponte foram os fatores determinantes para o

estabelecimento dos migrantes agraves margens do Rio Doce e a formaccedilatildeo do atual municiacutepio

de Colatina Contudo foi a partir desta posiccedilatildeo privilegiada que a cidade passou a ser

entreposto comercial e logiacutestico da regiatildeo noroeste e com isso sua aacuterea urbana expandiu-

se de modo desordenado inicialmente ao longo da planiacutecie de inundaccedilatildeo do Doce Coelho

(2007 p108 e 109) relata que

Os efeitos dessa urbanizaccedilatildeo (novos parcelamentos) e do desmatamento produz [sic] normalmente o aumento da velocidade das aacuteguas superficiais (pluviais) que eram antes interceptadas pelas matas com boa parte absorvida pelo solo O que ocorre geralmente nessas aacutereas eacute a chegada mais raacutepida das aacuteguas das chuvas para o tributaacuterios e calha principal do rio por fluxos concentrados que provocam processos de erosotildees do tipo laminar ravina e voccediloroca transportando quantidades expressivas de sedimentos que por sua vez causam assoreamento e a ocorrecircncia de cheias mais frequentes no rio

Com o crescimento acelerado do periacutemetro urbano proporcionado pelo apogeu do ciclo

cafeeiro as proacuteximas deacutecadas levaratildeo a cidade de Colatina a sofrer com impactos

advindos das alteraccedilotildees no ambiente fluvial do Rio Doce em especial os referentes a

ocupaccedilatildeo (impermeabilizaccedilatildeo) e desmatamento das margens (interferecircncia na drenagem

natural) conforme destacado por Coelho (2007)

Eacute fato que o municiacutepio viveu nas deacutecadas de 1940 e 1950 o auge do ciclo cafeeiro

chegando a ser no ranking brasileiro o 13ordm municiacutepio produtor de cafeacute no ano de 1947

(CAMPOS JUNIOR 2004 apud ALBANI 2012 p69) Poreacutem a partir de 1960 este boom

entrou em colapso com crise do cafeacute que assolou todo o paiacutes levando grande parte dos

pequenos proprietaacuterios rurais a migrarem para centros urbanos em especial no Espiacuterito

Santo a regiatildeo da Grande Vitoacuteria e tambeacutem para o centro de Colatina

Em razatildeo da crise cafeeira a populaccedilatildeo rural migra para centros urbanos A populaccedilatildeo migrou em grande quantidade para a Grande Vitoacuteria para fora do estado e tambeacutem para a cidade de Colatina principal aglomerado urbano da regiatildeo Esse processo provoca o aumento da aacuterea urbana de Colatina A populaccedilatildeo da cidade que era de 3913 habitantes em 1940 cresceu para 26757 habitantes em1960 (ALBANI2012 p71)

O crescimento raacutepido do centro de Colatina aliado ao aumento populacional direciona

grande parte dos migrantes para as aacutereas menos centrais da cidade levando agrave ocupaccedilatildeo

de locais irregulares como os morros e as margens direita e esquerda do Rio Doce Este

45

processo configurou a nova paisagem do municiacutepio povoando do vale agraves encostas (Figura

13)

Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes Fonte Albani (2012 p73)

Associado a este processo de reconfiguraccedilatildeo espacial nas proacuteximas deacutecadas o municiacutepio

de Colatina passaraacute por sucessivas perdas de territoacuterios ateacute atingir os limites atuais (Figura

1 p17) Aliado a estas perdas territoriais seu quantitativo absoluto populacional tambeacutem

sofreraacute impactos poreacutem de modo geral a populaccedilatildeo urbana deste municiacutepio apresentou

crescimento continuo (Graacutefico 2)

Graacutefico 2

Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 2010

Elaborado pela autora Fonte 1940 e 1950 Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p82) 1960 a 2010 IBGE

0

20000

40000

60000

80000

100000

120000

1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020

Populaccedilatildeo Urbana Colatina 1940 - 2010

46

Assim como tem ocorrido nas grandes capitais Colatina cresceu em quantitativo

populacional e territorial urbano de modo muito raacutepido e por este desenvolvimento natildeo ter

sido aliado a um planejamento urbano e ambiental sustentaacutevel a cidade tem sentido os

reflexos das suas interferecircncias ao longo do canal do Doce O que tem provocado

antecipaccedilatildeo dos picos de vazatildeo que no periacutemetro urbano ocasiona as inundaccedilotildees pois

natildeo conseguindo o rio acomodar estes defluacutevios transfere em curto espaccedilo de tempo as

aacuteguas a sua planiacutecie de inundaccedilatildeo atingindo os bairros mais antigos do municiacutepio

Por fim entender o contexto histoacuterico do crescimento da cidade revela muito do panorama

atual E por meio de uma anaacutelise conjunta da histoacuteria com os novos planejamentos eacute

possiacutevel propor intervenccedilotildees urbanas que possibilitem um conviacutevio harmonioso entre

natureza e sociedade neste caso entre o Rio Doce e o centro de Colatina Diante desta

proposta adiante apresentaremos a evoluccedilatildeo dos bairros associando seus periacuteodos de

ocupaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo espacial nas imediaccedilotildees do curso principal do Doce

411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade

Com nuacutecleo inicial de povoamento no Barracatildeo de Santa Maria a cidade de Colatina

cresce a partir deste ponto agrave margem direita do Rio Doce de onde surgem as primeiras

residecircncias comeacutercios e a igreja Atualmente a regiatildeo compreende o bairro de Colatina

Velha que de acordo com Albani (2012 p91) [hellip] ldquopode ser considerado o primeiro polo

de crescimento da cidaderdquo

Aliado ao aumento da populaccedilatildeo migrante das fazendas com a crise do cafeacute o nuacutecleo de

Colatina Velha passa a ser um ponto de passagem obrigatoacuterio para os viajantes que

vinham majoritariamente do sul uma vez que o Rio Doce configurava uma barreira natural

agrave ocupaccedilatildeo das terras ao norte Aleacutem disso a margem esquerda deste canal fluvial era

habitat dos hostis iacutendios botocudos o que dificultava a sua apropriaccedilatildeo

Sendo assim a ocupaccedilatildeo de Colatina conteve-se agrave margem direita nesta primeira fase o

que define o primeiro vetor de crescimento da cidade na direccedilatildeo leste para oeste partindo

das imediaccedilotildees do Barracatildeo de Santa Maria sentido ao Rio Santa Maria do Doce (Figura

14) E a partir de 1906 com a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas da entatildeo

Companhia Vale do Rio Doce atual Vale este vetor de crescimento se consolida e

47

proporciona o surgimento de importantes avenidas paralelas agrave ferrovia a exemplo da Av

Getuacutelio Vargas

Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de crescimento Elaborado pela autora

48

O segundo vetor do crescimento de Colatina estava condicionado agrave construccedilatildeo da ponte

Florentino Aacutevidos a qual conectou a margem direita agrave esquerda do Rio Doce permitindo

a ocupaccedilatildeo da porccedilatildeo ao norte Portanto somente a partir de 1928 com a finalizaccedilatildeo da

obra da ponte a barreira natural pocircde ser transposta o que possibilitou ao lado esquerdo

desenvolver uma nova linha de crescimento urbano com a ocupaccedilatildeo do atual bairro de

Satildeo Silvano

O terceiro vetor de crescimento estaacute associado agrave implantaccedilatildeo do bairro Luiz Iglesias na

margem direita e os de Maria das Graccedilas e Coluacutembia na margem esquerda Albani (2012)

ressalta que esta fase da ocupaccedilatildeo urbana estaacute associada ao desenvolvimento do sistema

viaacuterio como a proximidade da BR-259 sentido Vitoacuteria- Colatina da ES-80 que liga

Colatina agrave regiatildeo norte da ES-256 que a conecta a Marilacircndia e da proximidade da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria Carlos Germano Nauman (Figura 15)

Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios e linhas feacuterreas que interceptam a cidade de Colatina Elaborado pela autora

Jaacute na quarta e mais recente linha de crescimento da cidade temos os novos loteamentos

residenciais e industriais a exemplo do de Barbados e do bairro Santa Helena que surgem

49

acompanhando o traccedilado da ponte que contorna a leste a cidade como novo acesso agrave

porccedilatildeo norte do estado Albani (2012 p118) destaca que

Apesar da construccedilatildeo da Segunda Ponte ter sido iniciada em 1986 somente foi inaugurada em 2007 A conclusatildeo da ponte e a construccedilatildeo de uma rodovia de contorno desviaram a BR-259 do centro da cidade O desvio da rodovia federal trouxe um desafogamento do tracircnsito nas principais vias da cidade e um novo direcionamento na expansatildeo urbana Alguns loteamentos surgiram nesse periacuteodo proacuteximo agrave Segunda Ponte e ao contorno na margem norte do rio principalmente no bairro Santa Helena (Figura 55) Essa situaccedilatildeo indica mais uma vez que as linhas de crescimento em Colatina satildeo orientadas pelas vias de transporte

Portanto o crescimento do periacutemetro urbano de Colatina estaacute associado agrave superaccedilatildeo das

barreiras naturais em especial o Rio Doce por meio de investimentos em obras de

engenharia que permitiram o deslocamento humano para a margem esquerda deste curso

Sem duacutevida as vias de transporte foram elementares na construccedilatildeo do periacutemetro urbano

de Colatina pois na medida que se consolidava o sistema viaacuterio as ocupaccedilotildees tambeacutem se

favoreciam destas vias de locomoccedilatildeo A evoluccedilatildeo da aacuterea urbana portanto acompanha

as principais vias de transporte (Figura 15 p45) e estas se utilizam da posiccedilatildeo estrateacutegica

e geograficamente favoraacutevel do canal do Doce para a definiccedilatildeo de seus traccedilados

Apoacutes 94 anos de emancipaccedilatildeo de Linhares o territoacuterio de Colatina eacute fundamental para a

manutenccedilatildeo dos municiacutepios do noroeste capixaba Diante desta posiccedilatildeo estrateacutegica torna-

se relevante o entendimento de como o urbano se relaciona com o meio natural a fim de

se estabelecer poliacuteticas de ordenamento territorial que promovam a qualidade de vida no

municiacutepio Adiante seraacute analisada a situaccedilatildeo da calha principal do Rio Doce elemento

fundamental na compreensatildeo do uso e cobertura da terra de Colatina

42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce

Compreendendo uma aacuterea de 3330 kmsup2 o periacutemetro urbano de Colatina eacute afetado pela

velocidade dos defluacutevios de modo que grande parte dos bairros beira-rio eacute tomada pelas

aacuteguas excedentes da calha principal do Doce o que configura o fenocircmeno de inundaccedilatildeo

Ao pesquisar estes fenocircmenos eacute necessaacuterio relacionar o uso da terra com os processos

geomorfoloacutegicos do corpo hiacutedrico Sendo assim por meio de teacutecnicas de

geoprocessamento foram realizadas oito mediccedilotildees da calha principal do Rio Doce para

50

estabelecimento da distacircncia meacutedia da largura de sua calha O resultado esteve dentro do

esperado e pode ser verificado na tabela abaixo (Tabela 1) e no mapa em sequecircncia

(Figura 16)

Tabela 1 Perfis transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de

vazante (abril) e cheia (janeiro)

Largura do rio Doce periacuteodo de vazante e cheia

Abril2013(m) Janeiro2014(m)

P1 70735 75784

P2 62080 66483

P3 59209 65804

P4 63548 67650

Meacutedia dos Perfis 62814 67066

Meacutedia Geral 66143 Obs todas as medidas estatildeo em metros

Elaborado pela autora

Figura 16 - Traccedilado dos perfis transversais da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de vazante mecircs de abril2013 Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)

51

Com uso das imagens orbitais do Landsat-8 atraveacutes da classificaccedilatildeo hiacutebrida foram

gerados dois arquivos shapefiles correspondentes agraves bordas do Doce um no periacuteodo de

vazante e outro no de cheia Por meio destes dados foram definidos quatro traccedilados para

realizaccedilatildeo das mediccedilotildees a partir destas e com auxiacutelio das medidas de tendecircncia central

chegou-se a uma largura meacutedia total de 66143m de uma margem a outra Este resultado

indicou que tanto no periacuteodo de vazante quanto no periacuteodo de cheia a largura meacutedia

aponta para a maior faixa de APP proteccedilatildeo de 500m conforme previsto na legislaccedilatildeo

federal (Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e no revogado Lei 4771 1965)

Analisando a imagem abaixo (Figura 17) observa-se que grande parte do solo

naturalmente destinado a ldquoacomodaccedilatildeordquo das aacuteguas nas cheias (linha laranja) foi

incorporado agrave sociedade como espaccedilo criado (periacutemetro urbano em APP mancha em

amarelo) destinado a fins muacuteltiplos Deste modo sem planejamento territorial adequado

grande parte da planiacutecie de inundaccedilatildeo deu lugar a outras funccedilotildees diferentes das naturais

sendo incorporada ao espaccedilo urbano

Lanccedilando o buffer (mancha em amarelo) do entorno da calha do Doce (Figura 17) observa-

se que dos 59 bairros do municiacutepio cerca de 29 estatildeo dentro da aacuterea de 500m destinada

a preservaccedilatildeo permanente pelo Coacutedigo Florestal Considerando-se a delimitaccedilatildeo da APP

prevista no PDM de 1996 e 2007 (linha laranja mais proacutexima da borda do rio) este nuacutemero

cai para 18 bairros permanecendo apenas aqueles que possuem limites com o corpo

hiacutedrico

Uma vez que que lei municipal natildeo suplanta lei federal considerar-se-aacute neste estudo o

limite da faixa marginal de proteccedilatildeo definida na Lei Federal 126512012 Deste modo a

aacuterea de preservaccedilatildeo permanente do Doce neste recorte eacute de 1085 kmsup2 compreendendo

33 do periacutemetro urbano de Colatina

Cabe destacar ainda que mesmo o PDM de 1996 contendo enquanto objetivo no Art 14

ldquoI - estabelecer a ordenaccedilatildeo do uso e da ocupaccedilatildeo do solo urbanordquo (Lei 42281996 p4)

a gestatildeo municipal natildeo obteve sucesso na implementaccedilatildeo de tal legislaccedilatildeo O que se

verifica tanto nas deacutecadas de 1990 quanto no iniacutecio dos anos 2000 quando foram

aprovados novos parcelamentos urbanos agraves margens deste canal a exemplo dos bairros

de Barbados na margem direita e do bairro Mario Giurizato na margem esquerda

52

Figura 17- Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)

53

Articulado a esta ideia e pesquisando o trecho do bairro Esplanada a Colatina Velha palco

das uacuteltimas obras estruturantes de alto porte do municiacutepio consegue-se analisar os efeitos

das inundaccedilotildees nas margens deste rio Logo implementar medidas de prevenccedilatildeo de

cheias em aacutereas com urbanizaccedilotildees antigas requer um esforccedilo da gestatildeo na regulaccedilatildeo do

solo urbano

421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie

de Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio

Interceptada pelo curso do Rio Doce no perfil mais a jusante da bacia a cerca de 100km

do estuaacuterio com o Oceano Atlacircntico a cidade de Colatina polo moveleiro e de confecccedilotildees

do centro-oeste capixaba eacute palco recorrente de inundaccedilotildees urbanas

Conforme jaacute mencionado por Cunha (2012a) este fenocircmeno ocorre quando a bacia recebe

um percentual precipitado acima da sua capacidade de escoamento o que faz o leito

menor do rio extravasar para o leito maior ocupando as aacutereas de vaacuterzeas (Figura 18 p

50) Aliadas a esta questatildeo estatildeo as ocupaccedilotildees humanas das margens dos rios que ao

suprimir a vegetaccedilatildeo natural e alterar a condiccedilatildeo fiacutesica do solo acabam por reduzir a aacuterea

de drenagem das aacuteguas pluviais acelerando o escoamento superficial para o canal

principal e favorecendo os defluacutevios

Figura 18 - Representaccedilatildeo da inundaccedilatildeo urbana Fonte adaptado da Defesa Civil do Tocantins (2015)

Este fenocircmeno tem ganhado destaque em Colatina a partir de 1979 ano em que o Rio

Doce atingiu a vazatildeo de 12860msup3s tomando toda aacuterea aplainada que compotildee seu leito

maior afetando da atual Av Beira-Rio ateacute as redondezas da Av Getuacutelio Vargas Desde

entatildeo os estudos das inundaccedilotildees urbanas satildeo relevantes no municiacutepio o que levou o

54

Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) na deacutecada de 1980 a elaborar um ldquoPlano Diretor

de Contenccedilatildeo das Enchentes Proteccedilatildeo das Encostas e Drenagem Pluvial de Colatinardquo

Tal medida apresentou seis alternativas para o fenocircmeno Poreacutem tendo em vista o custo

operacional das obras apenas a alternativa seis que previa a construccedilatildeo de diques

marginais para a proteccedilatildeo das aacutereas mais centrais foi considerada viaacutevel na eacutepoca

Todavia em entrevistas com funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina (PMC) foi

relatado que todo o estudo foi arquivado e que ateacute agora natildeo haacute previsatildeo de

implementaccedilatildeo de tais medidas Fato este que eacute evidenciado (Tabela 2 p 51) quando da

ocorrecircncia de precipitaccedilotildees intensas na bacia durante as quais sazonalmente a cidade eacute

impactada com as aacuteguas das inundaccedilotildees Isto faz com que o municiacutepio passe

recorrentemente por cataacutestrofes conforme tabela com os principais picos de vazatildeo do rio

nos uacuteltimos 50 anos

Tabela 2

Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013

Ano Diamecircs Vazatildeo(msup3s)

1961 30jan 6613

1979 04fev 12860

1997 07jan 8687

2005 03ago 6549

2013 24dez 9028

Fonte Coelho (2007 apud DALLAPICOLA 2014 p4) e CPRM (2014 p85) Observo que os dados da tabela 1 para os anos de 1979 e 2013 estatildeo baseados na estimativa de vazatildeo meacutedia diaacuteria das maacuteximas anuais obtida atraveacutes de extrapolaccedilatildeo da curva-chave pelo grupo interdisciplinar dos relatoacuterios criacuteticos anteriores

As inundaccedilotildees de 1979 1997 e recentemente 2013 (Figura 19) foram as de maior vazatildeo

neste setor do rio e consequentemente as que mais atingiram a aacuterea urbana do municiacutepio

bloqueando os acessos ao centro da cidade e aos equipamentos essenciais como

hospitais escolas e demais oacutergatildeos puacuteblicos aleacutem de desalojarem muniacutecipes e

comprometerem a sauacutede puacuteblica

55

Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de 1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 Fonte1) Nossa Colatina 2) Nossa Linda Colatina 3) Nossa Colatina

Com o propoacutesito de identificar os principais fatores que acentuam as inundaccedilotildees seraacute

analisado como os processos geomorfoloacutegicos do Doce estatildeo sendo afetados pela accedilatildeo

antroacutepica Limitaremos a anaacutelise ao periacutemetro urbano no trecho que compreende do bairro

Esplanada ateacute o bairro Colatina Velha (Figura 20) Neste periacutemetro eacute possiacutevel visualizar a

evoluccedilatildeo da mancha urbana sobre o leito do rio aleacutem de identificar na margem direita os

pontos desnaturalizados deste canal fluvial

56

Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2) Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do recorte em rosa da APP de 50m (amarelo claro) e 500m (amarelo escuro) Fonte 3) Encontra Colatina (2015)

57

O recorte em questatildeo eacute margeado pela Av Beira-Rio e estaacute situado (Figura 20) dentro do

buffer de preservaccedilatildeo permanente previsto no PDM (buffer de 50m) e no Novo Coacutedigo

Florestal (buffer de 500m) Apesar desta aacuterea ser destinada a mata nativa e ou

reflorestada a ocupaccedilatildeo urbana antecede os artigos legais o que dificulta poliacuteticas de

gestatildeo territorial em um periacutemetro ao mesmo tempo histoacuterico e com funccedilatildeo relevante no

equiliacutebrio hidroloacutegico da bacia

O periacutemetro faz parte da vaacuterzea da margem direita do Rio Doce pois encontra-se em cota

topograacutefica de 50m caracterizando sua planiacutecie Logo a aacuterea em questatildeo tem a funccedilatildeo de

acomodar as aacuteguas das cheias quando a calha principal natildeo comporta o escoamento de

grandes vazotildees Esta tarefa passa a ser prejudicada na medida em que na bacia ou no

curso original satildeo implementadas obras que interferem na morfologia do corpo hiacutedrico

principal como a instalaccedilatildeo das hidreleacutetricas de Mascarenhas (1974) e Aimoreacutes (2005) a

montante

As UHErsquos a montante comprometem os processos do rio uma vez que o regime natural de

transporte de sedimentos eacute alterado com o barramento o que favorece a erosatildeo e

consequentemente o assoreamento com a formaccedilatildeo de bancos arenosos alteraccedilatildeo do

seu perfil transversal e reduccedilatildeo da profundidade Aleacutem disso segundo Coelho (2007) as

vazotildees maacuteximas e miacutenimas foram alteradas com a implantaccedilatildeo das hidreleacutetricas a

montante implicando em vazotildees meacutedias anuais miacutenimas cada vez mais reduzidas com

valores se distanciando da linha de tendecircncia (polinocircmio) provando o natildeo equiliacutebrio da

vazatildeo apoacutes a implantaccedilatildeo das barragens (Graacutefico 1 p22)

Entretanto a primeira intervenccedilatildeo direta no trecho em estudo foi a instalaccedilatildeo da estrada

de ferro que atraiu migrantes para Colatina permitindo o crescimento populacional e a

expansatildeo urbana desordenada agraves margens do Doce Este crescimento intensificou a

supressatildeo das matas ciliares e abriu espaccedilo para a impermeabilizaccedilatildeo do solo reduzindo

a infiltraccedilatildeo

Posteriormente a inauguraccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos ampliou o fluxo na regiatildeo pois

proporcionava a ligaccedilatildeo com as terras ao norte do Estado Atuou tambeacutem como obstaacuteculo

ao transporte de sedimentos carreados no fluxo natural do rio uma vez que sua

implantaccedilatildeo altera a topografia do fundo do canal afetando os processos geomorfoloacutegicos

58

Poreacutem foi no Morro das Cabritas (colina localizada no espaccedilo que compreende o atual

bairro Esplanada) que ocorreu a primeira desnaturalizaccedilatildeo nas margens do Doce Este

morro por onde o Rio Santa Maria do Doce meandrava ateacute desaguar no Rio Doce foi

cortado em meados de 1953 para abrigar a cidade em expansatildeo Devido a esta

intervenccedilatildeo o curso original do Santa Maria foi deslocado e passou a escoar

retilineamente ateacute a foz (Figura 21)

Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponte Florentino Aacutevidos (direita) e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque em vermelho para o curso atual do Santa Maria Fonte Nossa Colatina

As intervenccedilotildees na margem direita tornam-se mais intensas a partir da deacutecada de 1960

quando no ano de 1968 edificou-se um muro visando a proteccedilatildeo dos pilares da

extremidade direita da ponte Esta obra ficou paralisada por muitos anos e foi a primeira

de retificaccedilatildeo e aterro realizada neste trecho do rio Esta intervenccedilatildeo modificou o fluxo

natural das correntes do rio e reduziu a largura da sua calha alterando a morfologia do

canal (Figura 22)

59

Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de proteccedilatildeo da ponte Elaborado pela autora Fonte fotos histoacutericas Nossa Colatina

Contudo somente em 1972 teve iniacutecio o segundo aterro (Figura 23) com a finalidade de

alocar a estaccedilatildeo rodoviaacuteria de Colatina e ampliar a aacuterea de acesso agrave ponte Florentino

Aacutevidos A implementaccedilatildeo desta obra suprimiu parte do leito do Rio Doce pois removeu a

saliecircncia cocircncava que curvava o rio retilinizando esta parte do canal

60

Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora Fonte Nossa Colatina Nossa Linda Colatina

Apoacutes dez anos sem grandes intervenccedilotildees em 1982 o lado a montante da ponte bairro

Esplanada eacute acrescido de um aterro que estenderaacute a aacuterea do antigo Morro das Cabritas

para o rio (Figura 24)

Conhecido como Rua da Lama devido agrave umidade que o rio transferia ao aterro formando

um barro viscoso que persistia a maior parte do ano o trecho atualmente compreende a

Avenida Professor Joseacute Zouian popularmente denominada Avenida Beira-Rio de onde

surge a primeira forma do calccediladatildeo que seraacute estendido ateacute o bairro Colatina Velha

61

Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o calccediladatildeo da Av Beira-Rio Elaborado pela autora Fonte Bennachio (2015)

Somente em 2004 foi implementado o maior projeto de canalizaccedilatildeo do municiacutepio Naquele

ano teve iniacutecio a execuccedilatildeo do enrocamento da Av Beira-Rio (Figura 25) obra destinada

inicialmente a alocaccedilatildeo de equipamentos puacuteblicos de lazer e cultura praccedilas preacutedios aleacutem

da promessa de contribuir para a contenccedilatildeo dos transbordamentos do Rio Doce

Apesar de o referido manancial jaacute estar comprometido com problemas de poluiccedilatildeo

assoreamento e erosatildeo aleacutem dos impactos de duas hidreleacutetricas instaladas a montante a

obra abarcou a supressatildeo da vegetaccedilatildeo ciliar e aterro de parte do rio jaacute tatildeo degradado

62

Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento iniciada em 2004 e finalizada em 2008 Elaborado pela autora Fonte proacutepria autora em 240215

Ocupando uma aacuterea total de 130 mil msup2 do leito do Rio Doce o aterro teve iniacutecio em 2004

sendo construiacutedo com cerca de 90 mil msup3 de pedras 50 mil msup3 de areia retirada do leito do

rio e por fim o nivelamento com 200 mil msup3 de terra A obra era divulgada como um antigo

sonho dos colatinenses e serviria para ampliaccedilatildeo da Av Beira-Rio no bairro de Colatina

Velha instalaccedilatildeo de ciclovias calccediladatildeo equipamentos puacuteblicos e estacionamento (Figura

26) Apesar do fim da engenharia em 2008 o projeto ainda estaacute em fase de acabamento

na parte urbaniacutestica e na alocaccedilatildeo dos oacutergatildeos puacuteblicos

Cabe destacar que a obra sofreu embargos do Ministeacuterio Puacuteblico Federal (MPF) por

apresentar apenas cadastro na Agecircncia Nacional de Aacuteguas (ANA) que conforme parecer

da Procuradora Nadja Machado Botelho na Accedilatildeo Civil Puacuteblica ldquo[hellip] equivocadamente natildeo

realizou o procedimento de outorga [hellip]rdquo (MPF 2006 p2) Aleacutem disso a procuradora

solicitou tutela tendo em vista tratar-se de aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental e o fato de o

IBAMA ter concedido licenciamento com indevida dispensa do Estudo de Impacto

Ambiental (EIA)Relatoacuterio de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA)

63

Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina Fonte Prefeitura de Colatina (2015)

Por isso essa obra deve ser considerada faraocircnica para os cofres puacuteblicos e irreversiacutevel

para os processos geomorfoloacutegicos do Doce E sua efetivaccedilatildeo soacute foi possiacutevel com a

participaccedilatildeo e investimentos do Governo estadual Contudo seu objetivo foi frustrado pois

novamente na cheia do Rio Doce em dezembro de 2013 quando este atingiu a vazatildeo de

9028 msup3s a aacuterea foi inundada e por estar em cota maior que as casas que beiravam o

rio o enrocamento atuou como represa natildeo permitindo o retorno das aacuteguas quando o niacutevel

do rio retomou o equiliacutebrio

Por fim segue um mapa siacutentese (Figura 27) com a cartografia das quatro principais

intervenccedilotildees diretas e estruturais na margem direita do Doce no setor urbano de Colatina

representando o curso natural do rio em 1950 e suas desnaturalizaccedilotildees a partir da deacutecada

de 60 ateacute a atualidade

64

Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce ante e depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora

65

422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio

O recorte em estudo compreende as Zonas ZE-1 ZE-2 e ZUD 2-1 (Figura 28 p61) sendo

a Zona Especial 1 Zona Especial 2 e Zona de Uso Diverso 2-1 destinadas no PDM (Lei

52732007)

Artigo 103 - As Zonas de Usos Diversos ndash ZUD satildeo definidas em razatildeo da concentraccedilatildeo de atividades urbanas diversificadas com predominacircncia do uso comercial e de serviccedilos Artigo 104 - Satildeo objetivos das Zonas de Usos Diversos I - otimizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do solo priorizando a instalaccedilatildeo de novos empreendimentos em terrenos natildeo edificados contiacuteguos a empreendimentos jaacute instalados II - controle da implantaccedilatildeo de usos incompatiacuteveis com os definidos para estas zonas III - garantia de licenciamento e monitoramento ambiental dos empreendimentos IV - controle da expansatildeo comercial de serviccedilos e de induacutestrias de pequeno porte em direccedilatildeo a aacutereas residenciais [] Artigo 130 - As Zonas Especiais 1 ndash ZE 1 abrangem todas as aacutereas remanescentes do municiacutepio relativamente ao zoneamento estabelecido nesta lei ocupadas ou natildeo contida na lei de periacutemetro urbano para as quais natildeo foram ainda estabelecidos os criteacuterios de uso e ocupaccedilatildeo Artigo 131 - As Zonas Especiais 2 ndash ZE 2 satildeo as aacutereas existentes no prolongamento da avenida Beira Rio mais especificamente no trecho entre o 80 Batalhatildeo da Poliacutecia Militar e a rua Pedro Epichin incluindo o espaccedilo existente entre a margem do Rio Doce e o limite das construccedilotildees localizadas na rua Pedro Epichin

Cabe destacar que mesmo sendo palco das aacutereas mais afetadas com as inundaccedilotildees do

Rio Doce a Beira-Rio tem sido alvo da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria que aproveitando-se dos

iacutendices pouco restritos da ZUD 2 (Figura 28 p62) valoriza o espaccedilo promovendo a

instalaccedilatildeo de grandes estruturas como hipermercados edifiacutecios residenciais modernos e

hotelaria

66

Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 Fonte Colatina (2007)

A aacuterea contida na ZE (Figura 28) natildeo possui criteacuterio de ocupaccedilatildeo definido na legislaccedilatildeo

atual sendo adotado o disposto na Lei 41961995 que estabelece os iacutendices urbaniacutesticos

para as aacutereas conquistadas junto ao Rio Doce e na Lei 420595 que aprova os

parcelamentos na Beira-Rio Quanto agrave ZUD 2-1 apresenta iacutendices urbaniacutesticos no anexo

118 do Plano Diretor conforme tabela 3 abaixo

67

Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1

Fonte Colatina (2007 p36)8

68

Eacute relevante observar que numa aacuterea onde o corpo hiacutedrico foi reduzido pelos sucessivos

aterros tenha sido aprovada a instalaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto (Figura

29) com taxa de ocupaccedilatildeo de ateacute 80 e com baixo iacutendice de permeabilidade Ampliou-

se a aacuterea impermeaacutevel numa regiatildeo onde a drenagem jaacute eacute muito comprometida com a

expansatildeo urbana sobre o rio

Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto na Beira-Rio Fonte imagem do Google Maps 2015 E fotos da autora em 140215

Portanto analisando o conjunto de dados apresentado acima eacute possiacutevel entender como

as inundaccedilotildees satildeo potencializadas no municiacutepio atingindo a populaccedilatildeo mas em especial

afetando a dinacircmica de um corpo hiacutedrico tatildeo relevante para o Estado A fim de subsidiar a

gestatildeo puacuteblica com material cartograacutefico para a tomada de decisotildees delimitou-se o

poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo (Figura 30) Pois devem ser adotadas medidas que

minimizem impactos de futuros eventos hidroloacutegicos na bacia capazes de comprometer

novamente a aacuterea urbana mais central de Colatina

69

Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av Beira-Rio em dezembro de 2013 Elaborado pela autora

70

Diante do poliacutegono de inundaccedilatildeo da uacuteltima cheia (Figura 30) em dezembro de 2013 eacute

possiacutevel implementar medidas de convivecircncia com as grandes vazotildees a exemplo de

paiacuteses como Holanda que vem investindo em medidas de resiliecircncia a fim de reduzir a

velocidade dos defluacutevios possibilitando ao canal a capacidade de acumular e dispersar as

aacuteguas com impacto miacutenimo para as populaccedilotildees Conforme Carneiro e Miguez (2011) a

estrateacutegia adotada pelo paiacutes eacute reter armazenar e drenar sendo mais flexiacutevel e natildeo

interferindo drasticamente na dinacircmica do corpo hiacutedrico

Por fim a implementaccedilatildeo de soluccedilotildees de planejamento urbano em Colatina requer uma

anaacutelise integrada que abarque o urbano e o ambiental de modo a propor intervenccedilotildees que

produzam impactos reduzidos nos processos geomorfoloacutegicos do Rio Doce Logo a gestatildeo

municipal deve atuar em niacutevel de bacia hidrograacutefica interagindo com os municiacutepios a

montante propondo medidas de minimizaccedilatildeo das cheias urbanas Mas na escala local

pode-se atuar junto aos novos parcelamentos de modo a ampliar o percentual de aacutereas

permeaacuteveis no municiacutepio incentivando por exemplo os novos loteamentos a adotarem

pavimentaccedilotildees que permitam a drenagem natural do solo

71

5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Partindo da ideia de que eacute possiacutevel implementar medidas que minimizem o escoamento

superficial satildeo apresentadas propostas como forma de controlar ou ao menos reduzir os

impactos das inundaccedilotildees urbanas

Embora as implementaccedilotildees histoacutericas de estruturas de proteccedilatildeo ou barreiras mais altas

tenham sido muito disseminadas atualmente estatildeo sendo suplantadas pelo gerenciamento

de inundaccedilotildees de maneira mais sustentaacutevel Deste modo as experiecircncias fora do Brasil

apontam para soluccedilotildees mais flexiacuteveis que considerem o fluxo natural do canal enquanto

um ecossistema em equiliacutebrio Para tanto Carneiro e Miguez (2011 p150) destacam a

iniciativa alematilde no controle de inundaccedilotildees em bacias hidrograacuteficas metropolitanas

[hellip] A abordagem comum consiste na regulaccedilatildeo do uso do solo nas aacutereas inundaacuteveis e em ldquodar espaccedilo para o riordquo ao inveacutes de priorizar investimentos em estruturas de proteccedilatildeo contra inundaccedilotildees como a colocaccedilatildeo de diques de contenccedilatildeo as margens dos rios A utilizaccedilatildeo do conceito de resiliecircncia apropriado de ecologia decorre dessa abordagem A aplicaccedilatildeo praacutetica do conceito implica portanto em mudanccedilas de paradigma Deixa de ser preponderante a engenharia construtiva e entra em cena o planejamento de longo prazo voltado para o desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis capazes de conviver com as variaccedilotildees do ciclo hidroloacutegico sem significar necessariamente trageacutedias anunciadas

Aleacutem dessas propostas geoacutegrafos como Sandra Cunha tecircm estudado a recuperaccedilatildeo

natural ou ldquorenaturalizaccedilatildeordquo de corpos fluviais visando promover a estabilidade dos canais

de modo mais sustentaacutevel Para ela

[hellip] Recuperaccedilatildeo de canal significa de forma simples o retorno as condiccedilotildees anteriores aos distuacuterbios Em essecircncia eacute o processo de recuperaccedilatildeo do rio ou do ecossistema fluvial estabilizando o desenvolvimento de habitats e colonizaccedilatildeo a uma taxa mais raacutepida que dos processos naturais fiacutesicos e bioloacutegicos Na recuperaccedilatildeo de canais ocorrem consideraccedilotildees de aspecto hidroloacutegico morfoloacutegico e ecoloacutegico qualidade da aacutegua esteacutetica aleacutem da necessidade de uma visatildeo integradora do projeto sustentaacutevel de recuperaccedilatildeo (CUNHA 2012 p230 a 231)

Satildeo portanto medidas pontuais como o retorno agraves sinuosidades do rio (Figura 31 p 68)

ou a substituiccedilatildeo de estruturas de concreto por superfiacutecies mais permeaacuteveis a exemplo

das trincheiras de infiltraccedilatildeo ou pavrsquos (Figura 32) aacutereas mais vegetadas aleacutem de coleta e

uso de aacutegua da chuva bem como tratamento das aacuteguas superficiais por meio de

72

amenidades esteacuteticas como reservatoacuterios de retenccedilatildeo ou detenccedilatildeo que podem ser

associados a ambientes harmocircnicos como lagos artificiais Todas estas accedilotildees possibilitam

a minimizaccedilatildeo das grandes vazotildees no solo urbano pois pretendem atenuar os impactos

das cheias fazendo com que seja resgatada parte da drenagem existente anteriormente agrave

urbanizaccedilatildeo

Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do Rio Aa Munster Alemanha (1998) Fonte Cunha (2012 p233)

Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos Fonte Carneiro e Miguez (2011 p128)

A partir do exposto cabe agrave gestatildeo municipal implementar legislaccedilotildees que priorizem a

permeabilidade possibilitando uma maior infiltraccedilatildeo das aacuteguas das chuvas atraveacutes de

pavimentaccedilotildees menos impermeaacuteveis e da ampliaccedilatildeo de aacutereas vegetadas Satildeo medidas

que tornam a drenagem mais sustentaacutevel aleacutem de possibilitar a manutenccedilatildeo dos serviccedilos

puacuteblicos de forma menos custosa tendo em vista o elevado preccedilo das recomposiccedilotildees

asfaacutelticas

1 2

73

Aleacutem disso quando se fala em controle de cheias urbanas pressupotildee-se uma seacuterie de

medidas para minimizaccedilatildeo de seus impactos desde a operaccedilatildeo de sistemas de alerta

zoneamento de aacutereas inundaacuteveis construccedilatildeo de grandes reservatoacuterios de contenccedilatildeo de

cheias e diques ateacute accedilotildees de educaccedilatildeo ambiental

Cabe pensar tambeacutem na proacutexima revisatildeo do PDM em um plano de macrodrenagem

municipal que reuacutena accedilotildees de caraacuteter estruturantes com obras hidraacuteulicas de infraestrutura

que realizem a conduccedilatildeo final das aacuteguas dos escoamentos superficiais para a minimizaccedilatildeo

das inundaccedilotildees e em medidas natildeo-estruturantes que trabalhem a consciecircncia ambiental

e proponha um zoneamento de cheias a fim de se delimitar os pontos mais fragilizados nos

defluacutevios

Por fim pensar em drenagem num contexto de ocupaccedilatildeo irregular histoacuterico requer

profissionais que aleacutem de possuir afinidade com a temaacutetica tambeacutem possam analisar os

diferentes processos que constituem o espaccedilo geograacutefico Logo este tipo de estudo deve

abarcar uma equipe multidisciplinar que percorra a anaacutelise desde o ambiental estrutural

ateacute o aspecto humano a fim de se produzir resultados que de fato contribuam com o

controle das inundaccedilotildees urbanas

74

6 CONCLUSAtildeO

A partir do recorte espacial foi possiacutevel compreender que a abordagem da geomorfologia

fluvial com a anaacutelise espaccedilo-temporal da ocupaccedilatildeo urbana possibilita a identificaccedilatildeo das

accedilotildees do homem no meio ambiente pois estas resultam na alteraccedilatildeo das paisagens

naturais e na dinacircmica da bacia hidrograacutefica Assim o Rio Doce deve ser estudado de

modo integrado ao crescimento da cidade sobretudo para compreensatildeo da produccedilatildeo do

espaccedilo geograacutefico

Analisar a inundaccedilatildeo urbana em Colatina foi satisfatoacuterio pois o municiacutepio estaacute situado no

perfil meacutedio-baixo da bacia vazante e eacute neste trecho que os reflexos das intervenccedilotildees satildeo

mais acentuados principalmente se esta parte do canal tambeacutem tiver passado por obras

que modificaram seus processos hidroloacutegicos Aleacutem disso a perspectiva geograacutefica aponta

para vaacuterias outras questotildees como erosatildeo fluvial planejamento urbano poluiccedilatildeo ambiental

crise da aacutegua que conduzem a outras discussotildees acerca da relaccedilatildeo homemnatureza

Ao demonstrar a evoluccedilatildeo espaccedilo-temporal do uso e cobertura da terra na margem direita

do Doce associando esta ocupaccedilatildeo agraves obras estruturantes que foram executadas no

canal verificamos que todas as praacuteticas adotadas para conter o transbordamento do rio

acabaram alterando sua morfologia com a retificaccedilatildeo de trechos em meandros reduzindo

a largura do corpo hiacutedrico o que favoreceu a apropriaccedilatildeo urbana de suas vaacuterzeas Aliadas

a estas questotildees estatildeo a falta de planejamento urbano e a omissatildeo diante da supressatildeo

das matas ciliares principalmente se considerados os resultados do relatoacuterio teacutecnico do

IJSN contra enchentes em 1980

Cabe destacar tambeacutem que toda a anaacutelise da ocupaccedilatildeo urbana e desnaturalizaccedilatildeo do

Rio Doce foi melhor identificada a partir dos produtos cartograacuteficos deste trabalho Pois eacute

na espacialidade dos fenocircmenos e no registro de informaccedilotildees ainda natildeo mapeadas como

os aterros que o geoacutegrafo executa a anaacutelise do seu objeto de estudo o homem e a

natureza aqui representado pela sociedade e o canal do Doce

Apesar do municiacutepio apresentar leis que resguardam os leitos dos rios desde o primeiro

PDM em 1996 nada foi feito para conter as ocupaccedilotildees irregulares beira-rio Pelo contraacuterio

estas aacutereas foram incorporadas ao Plano Diretor em 2007 com possibilidades de

ocupaccedilotildees diversas o que tem levado especuladores a valorizar o solo com vista para o

rio apontando suas qualidades esteacuteticas e teacutermicas Este fato vem aumentando o

75

percentual de aacutereas impermeaacuteveis nesta margem comprometendo ainda mais a drenagem

dos defluacutevios

Eacute na Av Beira-Rio que crescem as implantaccedilotildees de grandes empreendimentos comerciais

como supermercado Casagrande Ogil Hotel e obras de construccedilatildeo de novos arranha-

ceacuteus em um periacutemetro que jaacute eacute totalmente comprometido com os extravasamentos do Rio

Doce Estas obras ocupam grandes aacutereas e na maioria das vezes apresentam reduzida

aacuterea permeaacutevel reservando apenas o obrigatoacuterio pela lei cerca de 10 Observa-se

tambeacutem que a implantaccedilatildeo desses projetos estaacute condicionada agrave apresentaccedilatildeo e

aprovaccedilatildeo por comissatildeo na prefeitura do Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV) sendo

difiacutecil conceber que seja concedida tal licenccedila para implementaccedilatildeo de obras num trecho

de risco ambiental

Embora as diretrizes do Estatuto das Cidades para a implementaccedilatildeo do uso da terra

sustentaacutevel e os instrumentos para a regulaccedilatildeo do solo urbano sejam avanccedilados Colatina

eacute mais um exemplo da carecircncia de profissionais capacitados para estudar de modo

integrado e em niacutevel de bacia hidrograacutefica os efeitos da accedilatildeo humana num ambiente tatildeo

peculiar como as margens do Doce Por isso com os objetivos traccedilados nesta pesquisa

podemos aleacutem de compreender o fenocircmeno criar uma metodologia de anaacutelise de aacutereas

inundaacuteveis em ambientes urbanos O que permite agrave gestatildeo municipal uma diretriz para a

tomada de decisotildees

Destaca-se tambeacutem que as legislaccedilotildees aqui referenciadas supriram a discussatildeo acerca do

objeto de estudo mas outras podem contribuir para esta pesquisa a exemplo do Coacutedigo

das Aacuteguas da Poliacutetica Nacional dos Recursos Hiacutedricos das Resoluccedilotildees do Conama do

Estatuto das Cidades entre outros

Sendo assim numa revisatildeo do PDM deve-se pensar nestes aspectos da cidade desde o

histoacuterico de ocupaccedilatildeo das margens ateacute os impactos das inundaccedilotildees e o presente trabalho

auxilia com uma nova abordagem na reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo fornecendo material

cartograacutefico para subsidiar propostas de proteccedilatildeo ao curso do Doce e consequentemente

da populaccedilatildeo

Por fim deve-se destacar que o recorte estaacute inserido num contexto maior de uma bacia

hidrograacutefica que se estende aleacutem dos limites de Colatina ou do estado do Espiacuterito Santo

Esta bacia compreende a Regiatildeo Hidrograacutefica do Atlacircntico Leste e estaacute alocada tambeacutem

76

no estado de Minas Gerais o que portanto torna as accedilotildees de controle das inundaccedilotildees

mais complexas tendo em vista as divergentes politicas territoriais

77

7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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78

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Page 11: DESNATURALIZAÇÃO DO RIO DOCE: UMA ABORDAGEM … · Ao engenheiro Francisco Hermes, pela experiência e conhecimentos partilhados da área de estudo. Aos meus amigos Mônica Regina,

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14

11 Objetivo 16

111 Objetivo Geral 16

112 Objetivos Especiacuteficos 16

12 Justificativa 17

2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS 20

21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano 20

211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial 23

22 Aspectos Juriacutedicos 27

23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos 31

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS 36

4 RESULTADOS 40

41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana 40

411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade 46

42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce 49

421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie de

Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio 53

422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio 65

5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 71

6 CONCLUSAtildeO 74

7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 77

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

A partir da deacutecada de 1930 com a transiccedilatildeo econocircmica de um eixo agraacuterio-exportador

para um polo urbano-industrial (CARNEIRO 2008) verificou-se no Brasil a migraccedilatildeo da

maior parte da populaccedilatildeo para as cidades Isso acarretou segundo Tucci (2013 p17) uma

ldquo[] concentraccedilatildeo urbana no Brasil da ordem de 80 da populaccedilatildeo e o seu

desenvolvimento tem sido realizado de forma pouco planejada com grandes conflitos

institucionais e tecnoloacutegicos []rdquo

De acordo com Canholi (2005 p15) a expansatildeo da aacuterea urbana ldquo[] consequentemente

impermeabilizada ocorreu a partir das zonas mais baixas proacuteximas agraves vaacuterzeas dos rios

ou agrave beira-mar em direccedilatildeo agraves colinas e morros em face da necessaacuteria interaccedilatildeo da

populaccedilatildeo com os corpos hiacutedricos []rdquo Neste cenaacuterio surgem as ocupaccedilotildees irregulares

nas Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) como as da planiacutecie de inundaccedilatildeo dos rios

e os topos de morros

Essas ocupaccedilotildees desordenadas satildeo proporcionadas pela precariedade da implantaccedilatildeo e

fiscalizaccedilatildeo das legislaccedilotildees urbaniacutesticas de ordenamento territorial e ambiental Neste

contexto satildeo relevantes as pesquisas que visam correlacionar o viacutenculo

sociedadenatureza de modo a entender como a ocupaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo no

solo conecta-se com a hidrodinacircmica dos recursos naturais uma vez que ldquo[] a tendecircncia

atual do limitado planejamento urbano integrado estaacute levando as cidades a um caos

ambiental urbano com custo extremamente alto para a sociedaderdquo (TUCCI 2013 p17)

Deve-se partir do pressuposto teoacuterico articulado com a ideia anterior de ldquo[]

indissociabilidade entre natureza e sociedade []rdquo (COELHO 2013 p21) em que a

sociedade natildeo pode ser apenas entendida como populaccedilatildeo e a natureza enquanto mero

ambiente fiacutesico mas que estes dois fatores estatildeo dinamicamente produzindo o espaccedilo

geograacutefico

Neste contexto a problemaacutetica se afirma no intuito de relacionar as legislaccedilotildees urbanas

(Lei de Parcelamento do Solo 676679 e PDM) e ambientais (Novo Coacutedigo Florestal 2012)

com as suas aplicaccedilotildees ou natildeo no periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina

principalmente nos bairros que se situam na planiacutecie de inundaccedilatildeo do Rio Doce

A escolha da temaacutetica tambeacutem teve como premissa a importacircncia regional de Colatina

como entreposto comercial e logiacutestico para os municiacutepios do noroeste capixaba conforme

15

relato do Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural - PROATER (INCAPER

2011)

Exportadores de cafeacute atacadistas e as lojas de pronta entrega dinamizam o comeacutercio local que atende aos municiacutepios do norte capixaba leste de Minas Gerais e sul da Bahia representando um universo de mais de 700 mil consumidores (INCAPER 2011 p5)

De acordo ainda com o INCAPER (op cit) Colatina tem crescido a uma margem de 188

anual o que representa a tendecircncia ao ecircxodo rural sendo que a populaccedilatildeo do campo vem

diminuindo de aproximadamente 19 em 1990 passou a 12 no Censo de 2010 Diante

do exposto entra em discussatildeo o planejamento urbano pois com o crescimento da

populaccedilatildeo citadina para cerca de 88 aumentam tambeacutem as pressotildees sobre o meio

ambiente em especial as regiotildees ribeirinhas

Estas uacuteltimas refletem o aumento das atividades humanas na bacia hidrograacutefica onde

pode-se destacar as mudanccedilas induzidas pelas accedilotildees antropogecircnicas que se dividem em

diretas (aquelas que atuam no canal fluvial para controle das vazotildees a exemplo dos

reservatoacuterios e desvios de aacuteguas) e indiretas relacionadas agraves aacutereas fora dos canais por

exemplo o desmatamento e urbanizaccedilatildeo sendo que estas comprometem a descarga e

carga soacutelida do rio (PARK1981 KNIGHTON1984 apud CUNHA 2001)

O interesse pela pesquisa surge da importacircncia regional do municiacutepio dos impactos

histoacutericos humanos materiais e imateriais sofridos diante de eventos hidroloacutegicos

extremos tendo em vista o fato de o periacutemetro urbano ser cortado por um corpo fluvial de

importacircncia regional Aleacutem disso a abordagem geograacutefica possibilita a correlaccedilatildeo dos

processos fluviais com a ocupaccedilatildeo urbana de modo mais integrado (COELHO 2009)

Portanto uma das finalidades deste trabalho eacute analisar por meio das geotecnologias e das

investigaccedilotildees de campo como a ocupaccedilatildeo urbana tem interferido nas margens do Rio

Doce de modo a delimitar os sucessivos aterros na margem direita no periacutemetro do bairro

Esplanada a Colatina Velha Ademais identificar como os processos deste canal fluvial

tecircm sido afetados pela intervenccedilatildeo humana em seu leito principal

16

11 Objetivo

111 Objetivo Geral

Correlacionar os processos fluviais do Rio Doce por meio da dinacircmica geomorfoloacutegica

deste canal com o uso e cobertura da terra no setor urbano do municiacutepio de Colatina

Espiacuterito Santo Contrapondo assim as intervenccedilotildees urbanas da beira-rio com o Plano

Diretor Municipal e o Novo Coacutedigo Florestal enfatizando as diretrizes adotadas no

parcelamento do solo para a planiacutecie de inundaccedilatildeo deste rio

112 Objetivos Especiacuteficos

Identificar os vetores de crescimento urbano do municiacutepio a fim de avaliar a

evoluccedilatildeo da mancha urbana junto ao canal principal

Determinar o comprimento da borda da calha do leito regular do Rio Doce no

periacutemetro urbano de Colatina para definiccedilatildeo da largura miacutenima da faixa marginal

de preservaccedilatildeo

Espacializar as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente beira-rio previstas em lei a fim

de analisar a ocupaccedilatildeo urbana nestes espaccedilos

Cartografar os principais pontos desnaturalizados no canal principal do Rio Doce

no setor urbano de Colatina

Demonstrar como o emprego das geotecnologias auxilia no planejamento urbano

e ambiental especialmente em acircmbito municipal

17

12 Justificativa

A aacuterea de estudo corresponde ao periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina situado na

Bacia Atlacircntico trecho leste sub-bacia do Rio Doce no baixo curso (ANA 2001)

Compreende a regiatildeo noroeste do estado do Espiacuterito Santo latitude 19deg 32rsquo 16rsquorsquo S e

longitude 40deg 37rsquo 59rsquorsquo W De acordo com os dados do censo de 2010 do Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio possuiacutea uma populaccedilatildeo de 111788 mil

habitantes1 numa aacuterea territorial de 1416804 kmsup2

Devido a sua privilegiada posiccedilatildeo geograacutefica limiacutetrofe com o Rio Doce e a construccedilatildeo da

Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas em 1906 Colatina compreendia os territoacuterios dos atuais

municiacutepios de Baixo Guandu Linhares Pancas Satildeo Gabriel da Palha Marilacircndia Satildeo

Domingos do Norte e Governador Lindenberg (INCAPER 2011) Soacute a partir de 2001

passou a apresentar os atuais limites municipais e configurar uma aacuterea urbana com 59

bairros (Figura 1)

Colatina eacute um municiacutepio de importacircncia para regiatildeo noroeste capixaba seja em caraacuteter

econocircmico ou social Eacute responsaacutevel pelos fluxos de cargas da regiatildeo aleacutem de ser um polo

moveleiro de confecccedilatildeo metalmecacircnico e de comeacutercio e serviccedilos gerando emprego e

renda (INCAPER 2011) Aleacutem disso tem sofrido historicamente com as cheias do Rio

Doce principalmente porque parte do seu periacutemetro urbano eacute inundado com as aacuteguas da

calha principal desse rio o que compromete toda a dinacircmica local e potildee em risco os

colatinenses

Assim diante das crescentes demandas por territoacuterio no periacutemetro urbano a populaccedilatildeo

tem suprimido a cobertura vegetal e ocupado desde as margens do Rio Doce ateacute as

encostas dos morros Em periacuteodos de cheias principalmente nos meses de outubro a

marccedilo (INCAPER 2011 ANA 2001) verificam-se inundaccedilotildees de grande parte da aacuterea

urbana beira-rio aleacutem dos movimentos de massa nas encostas Como exemplo destes

acontecimentos tecircm-se os registros fotograacuteficos dos efeitos da chuva de dezembro de 2013

(Figuras 2 e 3)

1 De acordo com o a estimativa do IBGE de 2014 publicada no DOU o municiacutepio conta com uma populaccedilatildeo de 121670 habitantes

18

Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e o canal do Rio Doce Elaborado pela autora

19

Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 Fonte Noticias UOL (2013)

Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de 2013 Fonte Folha Vitoacuteria (2013)

Este estudo portanto eacute relevante tendo em vista as raras abordagens no acircmbito das

Ciecircncias Geograacuteficas especialmente no Espiacuterito Santo de pesquisas que correlacionem

aspectos da geomorfologia fluvial por meio da dinacircmica dos recursos hiacutedricos com o uso

e cobertura da terra particularmente o Plano Diretor Municipal (PDM) Discute dessa

forma as implicaccedilotildees da atuaccedilatildeo humana nas particularidades deste ecossistema natural

tendo em vista o disposto nas legislaccedilotildees urbaniacutesticas e ambientais que visam assegurar

a qualidade de vida das populaccedilotildees

Adiante seratildeo analisados os principais fundamentos da geomorfologia fluvial os aspectos

juriacutedicos e o papel da anaacutelise geograacutefica integrada para o entendimento dos fenocircmenos

das inundaccedilotildees no Centro de Colatina uma vez que eacute devido agraves intervenccedilotildees humanas

nos canais e suas margens que esses fenocircmenos tornam-se mais nocivos a cidade

20

2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS

21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano

Recurso essencial para a manutenccedilatildeo da vida a aacutegua foi um fator relevante para o

estabelecimento histoacuterico das sociedades no entorno dos cursos hiacutedricos Utilizados para

fins de abastecimento humano e animal irrigaccedilatildeo saneamento e transporte os rios

constituiacuteram-se nos principais propulsores de penetraccedilatildeo para o interior (CUNHA 2012a)

Logo em suas margens surgiram povoados que posteriormente transformaram-se em

cidades como as que se estabeleceram agraves margens do Rio Doce a exemplo da sede de

Colatina

Diante das potencialidades que os recursos hiacutedricos possibilitam agraves sociedades

destacamos a importacircncia do estudo da Geomorfologia Fluvial que se apresenta como

campo da Geomorfologia (ciecircncia que estuda as formas do relevo) sendo o interesse

daquela a pesquisa dos processos que relacionam o escoamento das aacuteguas fluviais num

contexto de bacia hidrograacutefica (CHRISTOFOLETTI 1980 CUNHA op cit) Enfoca assim

as alteraccedilotildees na fisionomia dos canais frente agraves intervenccedilotildees no ecossistema natural

beira-rio

A Geomorfologia Fluvial parte da condicionante de que o uso e ocupaccedilatildeo da terra refletem-

se na dinacircmica da bacia de drenagem interferindo nos processos morfogeneacuteticos ou seja

de modelagem do relevo fluvial escoamento superficial das aacuteguas e no ciclo hidroloacutegico

Frente agrave temaacutetica deste estudo faz-se necessaacuterio o entendimento dos conceitos da

fisiografia fluvial aqui referente aos diferentes setores que a aacutegua pode escoar num leito

(Figura 4) como

O leito menor corresponde agrave parte do canal ocupada pelas aacuteguas e cuja frequecircncia impede o crescimento da vegetaccedilatildeo Esse tipo de leito eacute delimitado por partes bem definidas O leito de vazante equivale agrave parte do canal ocupada durante o escoamento das aacuteguas de vazante Suas aacuteguas divagam dentro do leito menor seguindo o talvegue linha de maacutexima profundidade ao longo do leito e que eacute mais bem identificada na seccedilatildeo transversal do canal O leito maior tambeacutem denominado leito maior perioacutedico ou sazonal eacute ocupado pelas aacuteguas do rio regularmente e pelo menos uma vez ao ano durante as cheias Dependendo do tempo ocorrido entre as subidas das aacuteguas eacute possiacutevel haver a fixaccedilatildeo e o crescimento da vegetaccedilatildeo herbaacutecea

21

O leito maior excepcional eacute ocupado durante as grandes cheias no decorrer das enchentes (CUNHA 2001 p 213)

Figura 4 - Tipos de leito fluvial vaacuterzea Fonte Cunha (2001 p213)

Sendo assim as aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial (leitos) aquelas inundadas pelo corpo

hiacutedrico frente a um evento hidroloacutegico extremo tambeacutem satildeo conhecidas como vaacuterzeas

planiacutecie de inundaccedilatildeo ou ainda segundo Carneiro e Miguez (2011 p133) como ldquo[] zona

de passagem de cheia []rdquo Essas aacutereas de vaacuterzeas dependem da fisionomia que o rio

apresenta e segundo Cunha (op cit) o canal fluvial pode apresentar trecircs formas

principais conhecidas como padratildeo dos canais que satildeo retiliacuteneo anastomosado e

meacircndrico (Figura 5)

Figura 5 - Padrotildees dos canais (A) retiliacuteneo (B) anastomosado (C) meandrante (A) amplitude (Rc) raio meacutedio da curvatura do meandro (segundo Bigarella etal 1979) Fonte Cunha (2001 p216)

22

Aliada aos padrotildees dos canais estaacute a assimetria ou simetria dos leitos que para Cunha

(2001 p233) relaciona-se com a variaccedilatildeo da velocidade e turbulecircncia ao longo da secccedilatildeo

transversal o que diferencia o comportamento nos canais retiliacuteneos geralmente simeacutetricos

do canal meacircndrico onde

Em canais de leito simeacutetrico em geral padratildeo retiliacuteneo a velocidade maacutexima ocorre no centro do canal diminuindo em direccedilatildeo agraves margens Em leito assimeacutetrico de padratildeo meacircndrico a zona de maacutexima velocidade e turbulecircncia localiza-se nas proximidades das margens cocircncavas decrescendo de valor em direccedilatildeo agrave margem de menor profundidade

(convexa) (CUNHA opcit p 233)

Deste modo a capacidade de erosatildeo das margens transporte e deposiccedilatildeo da carga do rio

dependem entre outros fatores da velocidade das correntes fluviais E o material do fluxo

fluvial constitui-se da descarga liacutequida ou vazatildeo que estaacute relacionada ao tamanho do

material que pode ser transportado e do volume da carga que o rio eacute capaz de carregar

Tem-se ainda a carga soacutelida sedimentos que estaacute relacionada a suspensatildeo e fundo do

rio esta decresce a jusante indicando a diminuiccedilatildeo da competecircncia do corpo fluvial As

cargas de suspensatildeo satildeo constituiacutedas de partiacuteculas finas a exemplo do silte e por fim a

carga de fundo que eacute composta por partiacuteculas de tamanhos maiores a exemplo da areia

(CUNHA2001)

Christofoletti (1980) acrescenta que os sedimentos podem ser carregados de trecircs modos

principais no fluxo em soluccedilatildeo dissolvidos nos cursos hiacutedricos em suspensatildeo como o

silte e argila e em saltaccedilatildeo geralmente a areia e cascalho que compreendem a carga do

leito do rio Destaca-se que a carga detriacutetica natildeo proveacutem apenas da erosatildeo do fundo dos

leitos e margens fluviais mas que o material intemperizado de vertentes carreado nas

enchentes contribui significativamente para a carga sedimentar transportada

Cabe ressaltar ainda que a relaccedilatildeo do arranjo espacial dos canais com os processos

fluviais (a erosatildeo o transporte e a deposiccedilatildeo de sedimentos) eacute determinante para o

trabalho dos rios Tais processos satildeo diretamente influenciados pela vazatildeo velocidade e

pela intensidade da turbulecircncia (seja no fluxo laminar ou no fluxo turbulento) A

variabilidade no comportamento da velocidade e turbulecircncia das aacuteguas ao longo da seccedilatildeo

transversal condiciona os locais preferenciais de erosatildeo e deposiccedilatildeo ao longo do curso

hiacutedrico

23

Deste modo qualquer intervenccedilatildeo na bacia e canal fluvial compromete o equiliacutebrio natural

da drenagem levando o corpo hiacutedrico a se adaptar agraves mudanccedilas em sua fisionomia

fisiografia e em seus processos ateacute atingir um novo estado de equiliacutebrio Poreacutem eacute na

planiacutecie de inundaccedilatildeo que estas modificaccedilotildees seratildeo mais percebidas pela populaccedilatildeo pois

a maior parte das obras de engenharia como as canalizaccedilotildees e as ocupaccedilotildees das

margens acaba por romper com o equiliacutebrio natural do rio alterando sua dinacircmica e

intensificando seus processos o que na maioria das vezes potencializa as enchentes no

ambiente urbano

Nesse sentido o entendimento dos processos fluviais (erosatildeo transporte e deposiccedilatildeo)

combinado com a anaacutelise da fisiografia fluvial condicionam as peculiaridades na geometria

hidraacuteulica ou seja na relaccedilatildeo entre a vazatildeo velocidade de escoamento tipos de canais

de sedimentos e a topografia Logo o conhecimento geomorfoloacutegico do rio contribui para

pesquisas que necessitem relacionar o funcionamento deste corpo natural com um

planejamento urbano mais efetivo principalmente se considerarmos um recorte em niacutevel

de bacia hidrograacutefica em espaccedilo urbano

211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial

O capiacutetulo que segue versa sobre a atuaccedilatildeo antroacutepica relacionando-a a aacuterea de estudo o

rio Doce poreacutem este trata de forma macro a temaacutetica para contextualizar o leitor sendo

as especificidades das intervenccedilotildees neste recorte geograacutefico trabalhados nos resultados

desta pesquisa

Diante do exposto eacute possiacutevel acompanhar a evoluccedilatildeo dos processos fluviais nos canais

em especial aqueles que tiveram intervenccedilotildees em seu curso natural como as hidreleacutetricas

instaladas a montante a exemplo do Rio Doce onde a interferecircncia direta na vazatildeo e fluxo

de sedimentos altera a hidrodinacircmica do rio comprometendo a erosatildeo e transporte Para

Coelho (2007 p57) as

Mudanccedilas na Declividade Perfil Longitudinal Promovidas pela construccedilatildeo de reservatoacuterio satildeo variadas e caso o efeito da contenccedilatildeo de sedimentos seja significativo os processos fluviais reduziratildeo a capacidade de transporte de sedimento podendo promover um entalhamento do leito do rio imediatamente agrave jusante da barragem

Aleacutem disso esse processo erosivo poacutes-barragem eacute intensificado favorecendo o

assoreamento e sedimentaccedilatildeo do rio a jusante O que pode beneficiar a elevaccedilatildeo da cota

24

do canal fluvial frente a eventos hidroloacutegicos extremos potencializando os efeitos das

inundaccedilotildees nas vaacuterzeas

Ao mesmo tempo o Rio Doce trecho que compreende o Espiacuterito Santo meacutediobaixo curso

eacute impactado nas vazotildees miacutenimas e maacuteximas a jusante apoacutes a instalaccedilatildeo das

barragensUsinas Hidreleacutetricas (UHE) de Mascarenhas (iniacutecio de operaccedilatildeo em 1974)

localizada no Municiacutepio de Baixo Guandu e a de Aimoreacutes (iniacutecio de operaccedilatildeo em 2005)

localizada na divisa do Espiacuterito Santo com Minas Gerais (COELHO 2007)

De acordo com Coelho (opcit) apoacutes a implantaccedilatildeo das usinas ocorreu uma reduccedilatildeo

significativa na vazatildeo da calha principal do Rio Doce conforme Graacutefico 1

Considerando o periacuteodo de 1939 a 2012 a vazatildeo miacutenima apoacutes a instalaccedilatildeo das usinas

chega a atingir 411msup3s e a maacutexima chega apenas a 1251msup3s sendo que no periacuteodo

anterior agrave instalaccedilatildeo das usinas foi registrada a miacutenima de 533 msup3s e uma maacutexima de

1812 msup3s o que ressalta o impacto do barramento sobre o corpo hiacutedrico Aleacutem do

comprometimento dos processos de erosatildeo transporte e sedimentaccedilatildeo (COELHO 2008

e CUNHA 2001)

Diante desta perda de carga liacutequida nos barramentos Cunha (2001 p 241) observa ainda

que as aacutereas a jusante de reservatoacuterios

[hellip] onde o regime do rio sofre significativas modificaccedilotildees devidas ao controle das descargas liquidas e de sedimentos no reservatoacuterio As mudanccedilas ocorridas no regime das aacuteguas neste setor do rio acarretam significativos efeitos nos processos do canal tais como o entalhe do leito a erosatildeo das margens e a deposiccedilatildeo a jusante atingindo longas distacircncias

Aleacutem disso no periacutemetro urbano de Colatina o Rio Doce sofreu outras intervenccedilotildees em

seu canal principal como a implantaccedilatildeo de obras estruturais de macrodrenagem a

exemplo da construccedilatildeo da Av Beira-Rio com intuito de conter o avanccedilo das aacuteguas fluviais

em periacuteodos de cheias

25

Graacutefico 1

Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais (Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia)

Fonte adaptado de Coelho (2007 p154)

26

Como exemplo dos tipos de intervenccedilotildees humanas nas aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial

leitos Carneiro e Miguez (2011 p117) destacam

As accedilotildees de controle e cheias urbanas podem ser classificadas em estruturais quando a paisagem eacute alterada pela accedilatildeo do homem e em natildeo estruturais aqui denominada como estruturante quando o homem aprende a conviver com as enchentes No primeiro caso estatildeo as medidas de controle atraveacutes de obras hidraacuteulicas tais como barragens diques e canais entre outras No segundo caso encontram-se medidas do tipo preventivo tais como zoneamento de aacutereas de inundaccedilatildeo sistemas de alerta educaccedilatildeo ambiental lei de parcelamento e uso dos solos e seguros contra inundaccedilatildeo

Neste cenaacuterio abarcamos os impactos das obras de engenharia como a canalizaccedilatildeo que

altera a fisionomia e fisiografia do rio refletindo-se nos processos geomorfoloacutegicos do canal

e sua planiacutecie de inundaccedilatildeo Para estes a canalizaccedilatildeo eacute uma obra estrutural que aumenta

a capacidade do fluxo do canal aleacutem de intensificar a velocidade do escoamento

superficial antecipando o pico de cheia e transferindo os alagamentos para locais a jusante

na bacia hidrograacutefica

Articulado a esta ideia Cunha (2012b) reflete a desnaturalizaccedilatildeo dos rios por meio de

obras de retificaccedilatildeo com a reduccedilatildeo do comprimento do canal e eliminaccedilatildeo das

sinuosidades Satildeo obras que afetam a estabilidade do corpo hiacutedrico na medida em que

interferem na relaccedilatildeo entre erosatildeo sedimentaccedilatildeo e deposiccedilatildeo provocando efeitos como

alteraccedilatildeo na morfologia do canal Sendo assim ldquo[hellip] a diminuiccedilatildeo da rugosidade no fundo

do canal em conjunto com a perda dos meandros e a aceleraccedilatildeo das velocidades eacute a

principal responsaacutevel pelas mudanccedilas no balanccedilo da energia natural dos sedimentos

fluviais [hellip]rdquo Cunha (2012b p178) No caso do Rio Doce trecho correspondente agrave Av

Beira-Rio alterou-se a sua forma retilinizando-a e sua vegetaccedilatildeo natural foi substituiacuteda

por estruturas de pedras o que compromete a resistecircncia ao fluxo as margens e aos

bancos arenosos

Embora as obras de canalizaccedilatildeo sejam implantadas como eficazes nos canais fluviais para

questotildees de enchentes urbanas para Cunha (op cit) estas necessitam de manutenccedilatildeo

constante envolvendo desde dragagem remoccedilatildeo de obstruccedilotildees a recomposiccedilatildeo do

material utilizado Poreacutem toda a manutenccedilatildeo estaacute associada a alteraccedilotildees morfoloacutegicas e

bioloacutegicas como as que interferem nas soleiras e depressotildees do fundo dos leitos

desestabilizando a vazatildeo no curso a exemplo da

27

ldquo[hellip] eliminaccedilatildeo da sequecircncia de depressotildees e soleiras o aumento da velocidade da corrente a diminuiccedilatildeo da diversidade de habitats o ambiente instaacutevel resultante da flutuaccedilatildeo dos niacuteveis da aacutegua e do substrato moacutevel e a maior flutuaccedilatildeo da temperatura das aacuteguasrdquo (CUNHA 2012b p180)

Ao mesmo tempo o aumento da velocidade dos escoamentos no trecho retificado

possibilita maior erosatildeo transferindo para as aacutereas a jusante uma carga soacutelida

representativa que para Cunha (op cit) configura a formaccedilatildeo de bancos axiais e depoacutesitos

de sedimentaccedilatildeo marginais alterando o equiliacutebrio dos sedimentos a jusante Pois

A jusante das obras de retificaccedilatildeo verificam-se o aumentam da carga soacutelida o assoreamento durante a dragagem a erosatildeo no canal pelos eventos torrenciais do regime e a modificaccedilatildeo na dinacircmica na foz Os sedimentos resultantes da erosatildeo no canal retificado em conjunto com a excessiva carga de sedimentos posta em suspensatildeo durante a dragagem e na fase imediata de poacutes-construccedilatildeo - quando a erosatildeo dos bancos de areia sem vegetaccedilatildeo estaacute em seu niacutevel maacuteximo - originam a formaccedilatildeo de depoacutesitos fluviais de curta duraccedilatildeo a jusante do canal retificado Logo a seguir esses depoacutesitos satildeo erodidos juntamente com as margens e o fundo do leito pelos eventos torrenciais do regime vindo a formar bancos axiais e depoacutesitos de sedimentaccedilatildeo marginais (CUNHA2012b p183)

Portanto o estudo da geomorfologia fluvial contribui diretamente para o entendimento das

cheias nas planiacutecies de inundaccedilatildeo em especial nas bacias hidrograacuteficas que

compreendem a aacuterea urbana e que possuem intervenccedilotildees antroacutepicas diretas na fisiografia

do canal principal Seus processos explicam como as alteraccedilotildees no canal fluvial podem

maximizar os efeitos dos transbordamentos impactando principalmente as populaccedilotildees

ribeirinhas aleacutem de todo ecossistema local Ademais estes fundamentos geomorfoloacutegicos

devem ser associados agrave legislaccedilatildeo vigente afim de subsidiar a elaboraccedilatildeo de instrumentos

legais para atuaccedilatildeo do poder puacuteblico nestas zonas de risco

22 Aspectos Juriacutedicos

Frente agrave crescente demanda sobre os recursos hiacutedricos e solo urbano a partir da deacutecada

de 1930 surgem as primeiras diretrizes que visam regulamentar estes ambientes a

exemplo do Coacutedigo das Aacuteguas Mas soacute a partir dos anos 1960 surgem em acircmbito federal

leis como o Coacutedigo Florestal com o intuito de regular a exploraccedilatildeo das vegetaccedilotildees e

consequentemente proteger os mananciais e em 1979 com o objetivo de ordenar as

28

cidades eacute aprovada a Lei 676679 estabelecendo as normas do parcelamento do solo

urbano

Na medida em que as populaccedilotildees aumentam ampliam-se tambeacutem as pressotildees sobre os

recursos de aacutegua e solo Os processos de uso e a conscientizaccedilatildeo de que estes elementos

satildeo finitos intensificam as formas de controle e preservaccedilatildeo passando para as esferas

estaduais e municipais a responsabilidade de atuar em escala local na proteccedilatildeo desses

ambientes

Ainda em escala federal em 2012 eacute promulgado o Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012

em substituiccedilatildeo ao coacutedigo anterior Lei 47711965 que apresenta as normas de

apropriaccedilatildeo dos recursos naturais pelas novas necessidades das populaccedilotildees citadinas e

rurais No que compete agrave aacuterea de estudo cabe destacar as ocupaccedilotildees em aacutereas de

planiacutecie de inundaccedilatildeo em que de acordo com art 4ordm devem ser preservadas

I - as faixas marginais de qualquer curso drsquoaacutegua natural perene e intermitente excluiacutedos os efecircmeros desde a borda da calha do leito regular em largura miacutenima de (Incluiacutedo pela Lei nordm 12727 de 2012) a) 30 (trinta) metros para os cursos drsquoaacutegua de menos de 10 (dez) metros de largura b) 50 (cinquenta) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura c) 100 (cem) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura d) 200 (duzentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura e) 500 (quinhentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros []

A legislaccedilatildeo eacute riacutegida no que concerne agrave ocupaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo das terras nas faixas

marginais dos rios transferindo aos estados e municiacutepios a responsabilidade de fiscalizar

estes territoacuterios para garantir a efetividade da lei A questatildeo eacute que muitas vezes somada a

falta de planejamento estas fiscalizaccedilotildees satildeo ineficientes o que tem possibilitado o

surgimento cada vez maior das ocupaccedilotildees irregulares

Apoiado tambeacutem pela Constituiccedilatildeo Federal de 1988 nos artigos 182 e 183 surge o

Estatuto das Cidades Lei 102572001 com finalidade de garantir a funccedilatildeo social da

cidade e com este os primeiros Planos Diretores Municipais (PDM) que buscam o

ordenamento do crescimento das cidades em caraacuteter socioeconocircmico e ambiental cidades

sustentaacuteveis Ademais em Colatina eacute instituiacuteda a Lei 42281996 posteriormente revogada

29

pela Lei 52732007 que ldquoInstitui o Plano Diretor do Municiacutepio de Colatina estabelece os

objetivos instrumentos e diretrizes e daacute outras providecircncias para as accedilotildees de

planejamento do Municiacutepio de Colatina []rdquo

O PDM de Colatina assim como Coacutedigo Florestal prevecirc a preservaccedilatildeo dos ecossistemas

beira-rio Aquele ainda dispotildee sobre o parcelamento do solo sustentaacutevel a funccedilatildeo social

da cidade e da propriedade conforme o Plano Diretor de Colatina de 2007 nos artigos

transcritos

Artigo 22 - As diretrizes ambientais no Municiacutepio de Colatina satildeo I - aplicar os instrumentos de gestatildeo ambiental estabelecidos nas legislaccedilotildees federal estadual e municipal bem como a criaccedilatildeo de outros instrumentos adequando-os agraves metas estabelecidas pelas poliacuteticas ambientais II - compatibilizar as diretrizes de uso ocupaccedilatildeo e parcelamento do solo aos objetivos de proteccedilatildeo ambiental dos ecossistemas [] Artigo 23 - Satildeo diretrizes do sistema de drenagem urbana I - disciplinar a ocupaccedilatildeo das cabeceiras e vaacuterzeas das bacias hidrograacuteficas do Municiacutepio preservando a vegetaccedilatildeo existente e visando agrave sua recuperaccedilatildeo [] III - definir mecanismos de fomento para usos do solo compatiacuteveis com aacutereas de interesse para drenagem tais como parques lineares aacuterea de recreaccedilatildeo e lazer hortas comunitaacuterias e manutenccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa [] V - implantar medidas natildeo-estruturais [sic] de prevenccedilatildeo de inundaccedilotildees tais como controle de erosatildeo especialmente em movimentos de terra controle de transporte e deposiccedilatildeo de entulho e lixo combate ao desmatamento assentamentos clandestinos e a outros tipos de invasotildees nas aacutereas com interesse para drenagem [] VII - garantir e respeitar a necessaacuteria permeabilidade do solo inclusive buscando alternativas de pavimentaccedilatildeo com maior de permeabilidade [sic] [] Artigo 84 ndash Satildeo objetivos do ordenamento territorial do Municiacutepio de Colatina [] IV ndash conter a expansatildeo da ocupaccedilatildeo urbana em aacutereas de proteccedilatildeo ambiental [] Artigo 120 ndash Ficam desde jaacute identificadas como Zonas de Proteccedilatildeo Ambiental 2 ndash ZPA 2 as seguintes aacutereas [] III ndash as aacutereas existentes ao longo de qualquer curso drsquoagua desde o niacutevel mais alto em faixa marginal cuja largura miacutenima seraacute de a) 15m (trinta metros) [sic] para os cursos drsquoagua com menos de 10m (10

metros) de largura contidos no periacutemetro urbano [] c) 30m (trinta metros) para os cursos drsquoagua que tenham de10m (dez

metros a 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano

[]

30

e) 50m (cinquenta metros) para os cursos drsquoagua que tenham mais de 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 60422013)

[]

De modo geral verifica-se que a legislaccedilatildeo apresenta instrumentos que permitem a

prevenccedilatildeo ou controle de ocupaccedilotildees irregulares ou clandestinas em aacuterea de APP aleacutem de

propostas para resguardar de grandes impactos ambientais o corpo hiacutedrico principal do

municiacutepio o Rio Doce Possibilitando assim a minimizaccedilatildeo dos impactos causados pelas

cheias agrave populaccedilatildeo local

Poreacutem cabe destacar que o Plano Diretor Municipal de Colatina natildeo contempla o

estipulado no Coacutedigo Florestal 2012 Lei Federal onde os cursos drsquoaacutegua com largura

superior a 600(seiscentos) metros devem ser resguardados com aacutereas de preservaccedilatildeo

permanente de 500(quinhentos) metros entre outros sendo que a redaccedilatildeo desta parte do

PDM eacute dada pela lei 60422013 posterior a publicaccedilatildeo do novo Coacutedigo Florestal Sendo

assim verifica-se que apesar da intenccedilatildeo de resguardar uma faixa de no maacuteximo

50(cinquenta) metros em periacutemetro urbano para a contenccedilatildeo de cheias e mata ciliar o

PDM de Colatina natildeo atende o miacutenimo previsto em Lei Federal O que tem impactado todo

ecossistema beira rio e a populaccedilatildeo ribeirinha uma vez que a faixa marginal de proteccedilatildeo

de 50(cinquenta) metros em muitos casos natildeo tem comportado o impacto dos defluacutevios

No entanto a legislaccedilatildeo trata de aspectos gerais natildeo pontuando as aacutereas responsaacuteveis

por cada accedilatildeo aleacutem de sua aplicabilidade depender da elaboraccedilatildeo de um cronograma de

execuccedilatildeo bem como um conjunto de planos e normas especiacuteficos para cada diretriz com

detalhamento das propostas de intervenccedilatildeo Isto natildeo ocorreu ateacute o presente

Aleacutem disso a cidade de Colatina surgiu num cenaacuterio histoacuterico anterior agraves legislaccedilotildees

urbaniacutesticas e ambientais inclusive do Coacutedigo das Aacuteguas o que dificulta a execuccedilatildeo de

um planejamento que concilie a preservaccedilatildeo das matas beira-rio garantindo a faixa de

APP com a ocupaccedilatildeo urbana consolidada

A aacuterea de estudo se apresenta como ambiente fragilizado apesar de ser regida por

legislaccedilotildees desde a escala federal ateacute a municipal que visam proteger e ordenar o uso e

cobertura da terra nas faixas marginais dos rios Mas a dificuldade das prefeituras em

aplicar os instrumentos legais nestes ambientes seja por interesses privados ou falta de

recursos para investimentos em soluccedilotildees a longo prazo continua expondo as populaccedilotildees

31

aos impactos dos eventos hidroloacutegicos criacuteticos como os que resultam nas inundaccedilotildees

Para que se alcance esse parcelamento do solo sustentaacutevel satildeo necessaacuterios esforccedilos da

gestatildeo municipal em estipular prazos e metas de atuaccedilatildeo afora interagir os diferentes

setores no planejamento em niacutevel de bacia hidrograacutefica considerando as peculiaridades

desta escala de trabalho

23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos

Sendo a ciecircncia que estuda a relaccedilatildeo homemnatureza a Geografia tem muito a contribuir

nas anaacutelises que envolvem o meio ambiente que foi transformado pela dinacircmica da

sociedade Mas historicamente a dialeacutetica das correntes fiacutesica e humana tem imperado de

modo dissociado levando o geoacutegrafo a estudar estes processos separadamente Poreacutem

se o resultado pretendido eacute integrado fazem-se necessaacuterias pesquisas mais amplas que

cruzem as diferentes vertentes geograacuteficas

Considerando que a problemaacutetica dos impactos ambientais urbanos envolve a questatildeo

natural o rio e a questatildeo social e poliacutetica a sociedade e as leis (COELHO 2013) uma

pesquisa neste acircmbito requer o entendimento destes dois objetos a fim de se apreender

o processo de crescimento das cidades brasileiras e a sua relaccedilatildeo com os recursos

hiacutedricos

A partir da deacutecada de 1950 devido ao ecircxodo rural mais intenso as cidades brasileiras

incharam rapidamente com a migraccedilatildeo do camponecircs que buscava melhores condiccedilotildees de

vida como trabalho na induacutestria o acesso agraves escolas saneamento entre outros E

segundo Gorski (2010) a populaccedilatildeo brasileira passou desde o iniacutecio deste processo de 19

milhotildees de habitantes em 1950 para 138 milhotildees de habitantes em 2000 (dados do IBGE)

o que corrobora o raacutepido crescimento das cidades

Todavia as estruturas puacuteblicas natildeo estavam preparadas para um acreacutescimo populacional

tatildeo significativo e em curto espaccedilo de tempo E o que observamos eacute o acesso limitado

dessa populaccedilatildeo agraves aacutereas centrais da cidade sendo induzida a se estabelecer nas

periferias Nesta visatildeo

O difiacutecil acesso da populaccedilatildeo de baixa renda agraves aacutereas mais centrais das cidades contribuiu segundo Raquel Rolnik para a expansatildeo da periferia o que muitas vezes implicou e implica ainda invasatildeo de aacutereas de proteccedilatildeo de mananciais com a aquiescecircncia do poder puacuteblico Esta

32

dinacircmica agravou a situaccedilatildeo de risco dos mananciais pela eliminaccedilatildeo das matas ciliares e consequentemente erosatildeo das margens dos cursos drsquoaacutegua e assoreamento de suas calhas e pela contribuiccedilatildeo do esgoto in natura (ROLNIK1997 apud GORSKI 2010 p62)

Sendo assim a supressatildeo das matas ciliares e das vegetaccedilotildees das encostas para fins de

ocupaccedilatildeo urbana interfere diretamente no ciclo hidroloacutegico diminuindo a absorccedilatildeo de

aacutegua pelo subsolo e pela evapotranspiraccedilatildeo favorecendo o escoamento superficial (Figura

6) que intensifica a velocidade de drenagem das aacuteguas Este processo nas encostas eacute

mais significativo se considerarmos que com a supressatildeo da cobertura vegetal e

impermeabilizaccedilatildeo do solo as precipitaccedilotildees acabam por lavar todo o material

intemperizado sedimentos carregando-o diretamente para o corpo hiacutedrico e contribuindo

para o assoreamento

Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento Fonte Gorski (2010 p64)

Por outro lado as ocupaccedilotildees ribeirinhas nas vaacuterzeas dos rios modificam a dinacircmica fluvial

frente aos defluacutevios A compactaccedilatildeo e o nivelamento do solo associados agrave

impermeabilizaccedilatildeo por concreto asfalto e outros materiais alteram todo o sistema de

drenagem natural e contribuem para a erosatildeo fluvial Aleacutem disso a gestatildeo puacuteblica que

33

deveria investir num parcelamento do solo sustentaacutevel resguardando ldquouma alocaccedilatildeo de

espaccedilosrdquo (CANHOLI 2005 p 15) para a drenagem acaba por colaborar com as enchentes

urbanas na medida em que decide por obras estruturais como a canalizaccedilatildeo (Figura 7

p30) e a microdrenagem que transferem os impactos das inundaccedilotildees a jusante

Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia Fonte Gorski (2010 p69)

Cabe destacar que desde 1965 com o primeiro Coacutedigo Florestal as matas beira-rio jaacute

eram resguardadas da degradaccedilatildeo humana poreacutem com todo o boom urbano a partir de

1950 a falta de estrutura e ingerecircncia municipal no que se refere ao parcelamento e uso

e ocupaccedilatildeo da terra urbana possibilitou a formaccedilatildeo dos assentamentos clandestinos em

APP e na encosta de morros Em condiccedilotildees precaacuterias sem saneamento baacutesico e demais

infraestruturas urbanas estes assentamentos acabam sendo as regiotildees mais afetadas

com as inundaccedilotildees

Junto agraves questotildees jaacute levantadas vale destacar que as aacuteguas das inundaccedilotildees propiciam o

aumento das doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica (febre tifoide hepatite leptospirose

esquistossomose entre outras) pois carregam segundo Gorski (2010) toda uma poluiccedilatildeo

difusa efluentes domeacutesticos industriais e agroindustriais aleacutem do lixo urbano da poluiccedilatildeo

do ar e das ruas

34

Por outro lado esta ocupaccedilatildeo urbana natildeo planejada perde o benefiacutecio que os corpos

hiacutedricos podem oferecer como [] as paisagens fluviais que aos poucos foram sendo

apropriadas como paisagens urbanas [] (GORSKI 2010 38) aleacutem do microclima

associado agrave umidade pela evapotranspiraccedilatildeo que ameniza a sensaccedilatildeo teacutermica local

Poreacutem conforme observado por Graeff (2011) natildeo eacute cabiacutevel atualmente implantar a

legislaccedilatildeo de APP de modo jurista Deve-se considerar toda a representatividade cultural

assentada sobre os leitos destes rios (avenidas importantes casas com arquitetura

histoacuterica entre outros) Aleacutem disso para a demarcaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo

permanente hoje eacute necessaacuteria uma anaacutelise teacutecnica pautada na geomorfologia e

hidrologia de modo a interpretar o ldquocomportamento histoacuterico dos cursos drsquoaacutegua na

paisagem prevendo cenaacuterios de impactos futurosrdquo da atividade humana sobre suas faixas

marginais

Tendo em vista que grande parte da malha urbana brasileira estaacute alocada em APPs e que

segundo Graeff (2011) estas jaacute possuem uma unidade de paisagem estabelecida e muitas

vezes secular configurando siacutetios de importacircncia cultural e apreendendo que

De modo semelhante nas demais cidades haveraacute que ser entendido o meio urbano como ele realmente eacute ndash um encontro entre as necessidades de habitaccedilatildeo com atividades humanas e de conservaccedilatildeo ambiental esta segunda tambeacutem a serviccedilo do homem e natildeo somente de objetivos difusos e distanciados da sobrevivecircncia da sociedade (GRAEFF 2011 206)

Por tais motivos o trabalho com a geomorfologia fluvial urbana deve abarcar os princiacutepios

do bom senso compreendendo que nestas aacutereas de atividade antroacutepica consolidada pode-

se fazer uso de instrumentos de engenharia avanccedilados para uma convivecircncia equilibrada

do homem com a natureza no entorno Contudo deve-se incentivar as aacutereas de expansatildeo

urbana ou zona periurbana (zonas de transiccedilatildeo da aacuterea urbana para a rural) com poliacuteticas

de incentivo a pavimentaccedilotildees mais permeaacuteveis a fim de minimizar o escoamento

superficial para o rio favorecendo a infiltraccedilatildeo

Apesar de os impactos gerados pela interferecircncia humana nas aacutereas mais fragilizadas da

bacia hidrograacutefica vaacuterzeas e encostas refletirem-se em cataacutestrofes com prejuiacutezos

humanos ambientais e urbanos alguns autores brasileiros como Canholi Graeff Cunha

Carneiro e Miguez jaacute indicaram outros caminhos para uma convivecircncia harmoniosa com

a natureza Aleacutem do mais paiacuteses desenvolvidos como a Holanda deixaram de ldquolutar contra

35

as cheiasrdquo para permitir agraves aacuteguas das enchentes a capacidade de acumular e dispersar

com impacto reduzido para as populaccedilotildees (CARNEIRO MIGUEZ 2011)

Sendo assim a proposta deste estudo eacute identificar os principais agentes que influenciam

as inundaccedilotildees entendendo seu papel e atuaccedilatildeo no contexto urbano de Colatina Mas eacute

tambeacutem a de ampliar a abordagem da temaacutetica com uma anaacutelise geograacutefica integrada

ressaltando as medidas que constam no planejamento urbano e sua aplicaccedilatildeo nas faixas

marginais do corpo hiacutedrico

36

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS

Esta pesquisa eacute constituiacuteda de trecircs etapas principais sendo que a primeira teve como

premissa a confecccedilatildeo de um fluxograma (Figura 8) de trabalho para orientar a pesquisa

em seguida teve iniacutecio o levantamento de bibliografias que abordam temas como a

geomorfologia fluvial e urbanizaccedilatildeo em Colatina adotando-se como referecircncia as

pesquisas de Coelho (2006 2007 2008 e 2009) e Albani (2012) Aleacutem disso muito

contribuiacuteram para este trabalho o relatoacuterio do INCAPER da CPRM e os dados do IBGE

Cabe destacar tambeacutem as experiecircncias com recursos hiacutedricos em ambientes urbanos de

Carneiro e Miguez (2011) em especial Cunha (2001 2012ab)

Esta etapa consistiu tambeacutem na busca de material cartograacutefico como aquisiccedilatildeo de planos

de informaccedilatildeo de limite estadual municipal bairros mancha urbana corpo drsquoaacutegua e

logradouros atraveacutes de dados disponiacuteveis no Sistema Integrado de Bases Geoespaciais

do Estado do Espiacuterito Santo (GEOBASES 2014) no Instituto Jones dos Santos Neves

(IJSN 2015) e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2014) imagens

orbitais gratuitas do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI bandas 2-3-4 e 8 (Pan) oacuterbita 216

ponto 73 com datas de passagem em 02012014 e 22032014 agraves 946 (horaacuterio central

da oacuterbita) junto ao Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2014) aleacutem do ortofotomosaico

do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hiacutedricos (IEMA 2014) do Espiacuterito

Santo referente ao voo de 2007 a 2008

Na segunda etapa foram realizadas duas investigaccedilotildees de campo sendo a primeira no

dia 24 de junho de 2014 com a finalidade de fazer o reconhecimento da aacuterea de estudo

fotografar e conversar com moradores e teacutecnicos da prefeitura O segundo trabalho de

campo ocorreu no dia 14 de fevereiro de 2015 e por meio deste foi possiacutevel identificar

pontos sujeitos a inundaccedilatildeo analisar a topografia e realizar as entrevistas com moradores

e funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina

37

Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC)

38

Na terceira etapa foram realizados os mapeamentos e processamentos de todos os planos

de informaccedilatildeo vetoriais e matriciais em ambiente de SIG no sistema ArcGis 103 iniciando

com a ediccedilatildeo dos dados do Municiacutepio e adjacecircncias que foram ajustados quando

necessaacuterio ao sistema de projeccedilatildeo UTM no Datum SIRGAS ndash 2000 na Zona 24 sul com

meridiano central -39 W com todo o mapeamento produzido seguindo a padronizaccedilatildeo

cartograacutefica proposta por Fitz (2008 a b)

O geoprocessamento teve iniacutecio com a composiccedilatildeo das imagens orbitais do Landsat-8 na

cor natural da imagem (2R 3G 4B) e por meio da teacutecnica de Pan Sharpening ou fusatildeo

de imagens a imagem cor natural foi agrupada agrave da banda 8 pancromaacutetica para obtenccedilatildeo

de uma melhor resoluccedilatildeo espacial neste caso chegando a 15 metros sendo resguardado

o conteuacutedo da imagem composta Na sequecircncia foi realizada a extraccedilatildeo da maacutescara do

periacutemetro urbano de Colatina e gerada a classificaccedilatildeo supervisionada da imagem Landsat-

8 no periacuteodo de cheia (janeiro) e vazante (marccedilo) o que possibilitou a delimitaccedilatildeo da calha

do Doce nestes dois eventos

Em seguida foram realizadas as 8 (oito) mediccedilotildees do leito regular sendo 4 (quatro) no

periacuteodo de cheia e 4 (quatro) na vazante de modo a definir a largura meacutedia da calha do

leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina Para chegar a uma medida geral

da largura do rio utilizaram-se ferramentas estatiacutesticas como a meacutedia que eacute uma medida

de tendecircncia central onde numa amostra de tamanho N constituiacuteda por elementos de x

variando de eacute possiacutevel extrair a meacutedia aritmeacutetica atraveacutes da equaccedilatildeo

A meacutedia aponta para onde mais convergem os dados de uma distribuiccedilatildeo

A partir desta definiccedilatildeo da meacutedia da largura da calha do Rio Doce foi possiacutevel em consulta

ao Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e a Lei 52732007 determinar a faixa miacutenima

de preservaccedilatildeo permanente deste corpo fluvial aleacutem da confecccedilatildeo do mapa com o

poliacutegono de APP

Mediante a anaacutelise do mapa verificou-se que grande parte dos bairros do municiacutepio estatildeo

contidos nos poliacutegonos de APP em especial a preservaccedilatildeo de 500 metros conforme lei

federal E por meio deste foram cruzados os dados de vazatildeo as fotos histoacutericas das

enchentes e o poliacutegono de mata ciliar o que permitiu o entendimento das inundaccedilotildees

39

Em ambiente de SIG tambeacutem foram vetorizados os trecircs traccedilados da Estrada de Ferro

Vitoacuteria a Minas o trajeto do Rio Santa Maria do Doce antes e depois da retilinizaccedilatildeo e os

sucessivos aterros na margem direita do Rio Doce no periacutemetro que compreende a Av

Beira-Rio

As teacutecnicas de sensoriamento remoto como a classificaccedilatildeo supervisionada permitiram a

definiccedilatildeo do poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo atraveacutes da imagem da cheia de janeiro Para

tanto foi realizada tambeacutem a classificaccedilatildeo hiacutebrida objetivando aliar a interpretaccedilatildeo visual

com a digital (JENSEN 2009) Por fim foi realizada amarraccedilatildeo com o levantamento

geodeacutesico da CPRM (2014) para garantir a precisatildeo do traccedilado do poliacutegono de cheia

A partir do tratamento dos dados bibliograacuteficos cartograacuteficos e imagens foi possiacutevel

sistematizar este trabalho o que permitiu identificar elementos histoacutericos de intervenccedilatildeo

na paisagem do Doce como os aterros e a ocupaccedilatildeo urbana As visitas de campo a

entrevista e conversas com moradores foram fundamentais para a validaccedilatildeo das

informaccedilotildees o que tornou esta metodologia eficaz para anaacutelise do fenocircmeno da inundaccedilatildeo

em Colatina

40

4 RESULTADOS

41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana

A ocupaccedilatildeo ao longo das planiacutecies de inundaccedilatildeo dos rios tem ocorrido diante da

necessidade deste recurso para as atividades vitais humanas Cunha (2012b p219)

entende que ldquosuas margens tecircm sido o centro preferido da habitaccedilatildeo humana e o

suprimento de suas aacuteguas natildeo soacute fertiliza os campos para o cultivo como tambeacutem fornece

energia e permite recreaccedilatildeordquo Logo o estabelecimento das vilas nas bordas dos cursos

drsquoaacutegua favorece a logiacutestica ocupacional

Historicamente em solo espiacuterito-santense a formaccedilatildeo das vilas ocorreu agraves margens de

estrateacutegicos cursos drsquoaacutegua e a exploraccedilatildeo do ouro de Minas Gerais para Albani (2012)

determinou que a Coroa proibisse nos seacuteculos XVII a XIX a implantaccedilatildeo de estradas e

exploraccedilatildeo de terras na Capitania do Espiacuterito Santo pois os portugueses temiam incursotildees

estrangeiras deixando assim o desenvolvimento capixaba restrito agrave faixa litoracircnea

Relegada enquanto ldquobarreira verderdquo para defesa das minas de ouro e minerais do atual

territoacuterio das Minas Gerais segundo Coelho (2007) a Capitania do Espiacuterito Santo soacute

passou a se interiorizar para o centro-oeste onde se localiza atualmente a cidade de

Colatina a partir de 1847 por meio das ocupaccedilotildees de Santa Izabel e Santa Leopoldina

que permitiram a descida do Rio Santa Maria do Doce ateacute as imediaccedilotildees da atual cidade

de Colatina

Assim foi que o movimento colonizador desceu o vale do Santa Maria do Rio Doce atingindo em 1891 a regiatildeo das matas onde hoje se acha a cidade de Colatina [] Esta penetraccedilatildeo inicial foi feita com elementos alematildees de Santa Leopoldina e no rio Doce ficou muito anos restrita agrave aacuterea inicial A expansatildeo ao longo do vale tomou impulso com a chegada a Colatina em 1906 dos trilhos da Estrada de Ferro Diamantina (atual Vitoacuteria-Minas) (STRAUCH1955 apud COELHO 2007 p105)

Sendo assim Coelho (op cit) relata que a ocupaccedilatildeo se deu atraveacutes da supressatildeo da mata

nativa no baixo curso do Rio Doce de Colatina a Linhares sendo a madeira daiacute extraiacuteda

levada ateacute o rio e encaminhada ateacute Povoaccedilatildeo vilarejo junto agrave foz de onde eram carregados

os navios Neste periacuteodo tem-se a instalaccedilatildeo de um ciclo madeireiro na regiatildeo com a

disposiccedilatildeo de serrarias nas proximidades das matas

41

Todavia somente a partir de 1906 com a chegada da estrada de ferro na regiatildeo o

transporte madeireiro foi transferido para as locomotivas Agrave medida que a implantaccedilatildeo da

Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas avanccedilava para o interior levava consigo as frentes de

desmatamento modificando as paisagens das margens do Rio Doce e se apropriando dos

espaccedilos deste rio (Figura 9)

Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906 Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce Fonte Albani (2012 p 63)

Conforme Albani (2012) com a vinda dos mineiros e fluminenses reforccedilados

posteriormente a partir de 1889 por colonizadores italianos e alematildees eacute que as

ocupaccedilotildees territoriais ocorreram de modo efetivo Atraveacutes do Barracatildeo do Rio Santa Maria

(Figura 10) espaccedilo do governo inicialmente destinado a alojar os migrantes e a produccedilatildeo

surgiram as primeiras residecircncias nas proximidades da igreja de Satildeo Sebastiatildeo Sendo

assim

Eacute importante destacar que o desenvolvimento da regiatildeo onde se encontra o municiacutepio de Colatina teve iniacutecio no final do seacuteculo XIX no nuacutecleo de colonizaccedilatildeo Antocircnio Prado localizado no distrito de Boapaba antiga vila do Mutum O nuacutecleo recebeu dezenas de famiacutelias de imigrantes italianos e ali desenvolveram atividades de agricultura e com a expansatildeo da localidade surge tambeacutem o comeacutercio (ALBANI 2012 p61) [hellip] A vila de Colatina entretanto logo passou a se transformar no principal nuacutecleo e futuramente na sede do municiacutepio Aleacutem da facilidade da produccedilatildeo atraveacutes do Rio Doce a vila de Colatina tornou-se referecircncia dos imigrantes no caminho para a colonizaccedilatildeo das terras ao norte do estado (MADURO1985 apud ALBANI 2012 p62)

42

Desse modo com o desenvolvimento das atividades de cafeicultura madeireira e do

entroncamento logiacutestico de acesso agraves aacutereas do norte a vila eacute elevada em 1921 agrave categoria

de municiacutepio A atual configuraccedilatildeo territorial foi adquirida a partir de 2001 conforme IBGE

(2014) dispondo de seis distritos Colatina (sede) Acircngelo Frechiami Baunilha Boapaba

Graccedila Aranha e Itapina

Cabe destacar poreacutem que a ocupaccedilatildeo inicial da cidade de Colatina se perfaz pela margem

direita do Rio Doce onde se localiza o atual bairro de Colatina Velha e onde havia se

instalado o Barracatildeo de Santa Maria Nesse periacuteodo a ponte ainda natildeo fora edificada

limitando assim a ocupaccedilatildeo da margem esquerda

Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da regiatildeo Fonte Albani (2012 p62)

Conforme Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p65) a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro

Vitoacuteria a Minas em 1906 (Figura 11) possibilitou a expansatildeo da cidade de Colatina e seu

desenvolvimento econocircmico Todavia sua instalaccedilatildeo paralela agrave margem direita do Rio

Doce favoreceu a localizaccedilatildeo de avenidas e ruas centrais em sua proximidade

43

Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p65)

Entretanto foi com a construccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos (Figura 12) em 1928 que a

margem direita se conectou agrave margem esquerda da cidade o que aleacutem de possibilitar a

ocupaccedilatildeo facilitou o acesso agraves regiotildees mais ao norte do Estado

Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p66)

44

Por conseguinte a estrada de ferro e a ponte foram os fatores determinantes para o

estabelecimento dos migrantes agraves margens do Rio Doce e a formaccedilatildeo do atual municiacutepio

de Colatina Contudo foi a partir desta posiccedilatildeo privilegiada que a cidade passou a ser

entreposto comercial e logiacutestico da regiatildeo noroeste e com isso sua aacuterea urbana expandiu-

se de modo desordenado inicialmente ao longo da planiacutecie de inundaccedilatildeo do Doce Coelho

(2007 p108 e 109) relata que

Os efeitos dessa urbanizaccedilatildeo (novos parcelamentos) e do desmatamento produz [sic] normalmente o aumento da velocidade das aacuteguas superficiais (pluviais) que eram antes interceptadas pelas matas com boa parte absorvida pelo solo O que ocorre geralmente nessas aacutereas eacute a chegada mais raacutepida das aacuteguas das chuvas para o tributaacuterios e calha principal do rio por fluxos concentrados que provocam processos de erosotildees do tipo laminar ravina e voccediloroca transportando quantidades expressivas de sedimentos que por sua vez causam assoreamento e a ocorrecircncia de cheias mais frequentes no rio

Com o crescimento acelerado do periacutemetro urbano proporcionado pelo apogeu do ciclo

cafeeiro as proacuteximas deacutecadas levaratildeo a cidade de Colatina a sofrer com impactos

advindos das alteraccedilotildees no ambiente fluvial do Rio Doce em especial os referentes a

ocupaccedilatildeo (impermeabilizaccedilatildeo) e desmatamento das margens (interferecircncia na drenagem

natural) conforme destacado por Coelho (2007)

Eacute fato que o municiacutepio viveu nas deacutecadas de 1940 e 1950 o auge do ciclo cafeeiro

chegando a ser no ranking brasileiro o 13ordm municiacutepio produtor de cafeacute no ano de 1947

(CAMPOS JUNIOR 2004 apud ALBANI 2012 p69) Poreacutem a partir de 1960 este boom

entrou em colapso com crise do cafeacute que assolou todo o paiacutes levando grande parte dos

pequenos proprietaacuterios rurais a migrarem para centros urbanos em especial no Espiacuterito

Santo a regiatildeo da Grande Vitoacuteria e tambeacutem para o centro de Colatina

Em razatildeo da crise cafeeira a populaccedilatildeo rural migra para centros urbanos A populaccedilatildeo migrou em grande quantidade para a Grande Vitoacuteria para fora do estado e tambeacutem para a cidade de Colatina principal aglomerado urbano da regiatildeo Esse processo provoca o aumento da aacuterea urbana de Colatina A populaccedilatildeo da cidade que era de 3913 habitantes em 1940 cresceu para 26757 habitantes em1960 (ALBANI2012 p71)

O crescimento raacutepido do centro de Colatina aliado ao aumento populacional direciona

grande parte dos migrantes para as aacutereas menos centrais da cidade levando agrave ocupaccedilatildeo

de locais irregulares como os morros e as margens direita e esquerda do Rio Doce Este

45

processo configurou a nova paisagem do municiacutepio povoando do vale agraves encostas (Figura

13)

Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes Fonte Albani (2012 p73)

Associado a este processo de reconfiguraccedilatildeo espacial nas proacuteximas deacutecadas o municiacutepio

de Colatina passaraacute por sucessivas perdas de territoacuterios ateacute atingir os limites atuais (Figura

1 p17) Aliado a estas perdas territoriais seu quantitativo absoluto populacional tambeacutem

sofreraacute impactos poreacutem de modo geral a populaccedilatildeo urbana deste municiacutepio apresentou

crescimento continuo (Graacutefico 2)

Graacutefico 2

Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 2010

Elaborado pela autora Fonte 1940 e 1950 Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p82) 1960 a 2010 IBGE

0

20000

40000

60000

80000

100000

120000

1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020

Populaccedilatildeo Urbana Colatina 1940 - 2010

46

Assim como tem ocorrido nas grandes capitais Colatina cresceu em quantitativo

populacional e territorial urbano de modo muito raacutepido e por este desenvolvimento natildeo ter

sido aliado a um planejamento urbano e ambiental sustentaacutevel a cidade tem sentido os

reflexos das suas interferecircncias ao longo do canal do Doce O que tem provocado

antecipaccedilatildeo dos picos de vazatildeo que no periacutemetro urbano ocasiona as inundaccedilotildees pois

natildeo conseguindo o rio acomodar estes defluacutevios transfere em curto espaccedilo de tempo as

aacuteguas a sua planiacutecie de inundaccedilatildeo atingindo os bairros mais antigos do municiacutepio

Por fim entender o contexto histoacuterico do crescimento da cidade revela muito do panorama

atual E por meio de uma anaacutelise conjunta da histoacuteria com os novos planejamentos eacute

possiacutevel propor intervenccedilotildees urbanas que possibilitem um conviacutevio harmonioso entre

natureza e sociedade neste caso entre o Rio Doce e o centro de Colatina Diante desta

proposta adiante apresentaremos a evoluccedilatildeo dos bairros associando seus periacuteodos de

ocupaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo espacial nas imediaccedilotildees do curso principal do Doce

411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade

Com nuacutecleo inicial de povoamento no Barracatildeo de Santa Maria a cidade de Colatina

cresce a partir deste ponto agrave margem direita do Rio Doce de onde surgem as primeiras

residecircncias comeacutercios e a igreja Atualmente a regiatildeo compreende o bairro de Colatina

Velha que de acordo com Albani (2012 p91) [hellip] ldquopode ser considerado o primeiro polo

de crescimento da cidaderdquo

Aliado ao aumento da populaccedilatildeo migrante das fazendas com a crise do cafeacute o nuacutecleo de

Colatina Velha passa a ser um ponto de passagem obrigatoacuterio para os viajantes que

vinham majoritariamente do sul uma vez que o Rio Doce configurava uma barreira natural

agrave ocupaccedilatildeo das terras ao norte Aleacutem disso a margem esquerda deste canal fluvial era

habitat dos hostis iacutendios botocudos o que dificultava a sua apropriaccedilatildeo

Sendo assim a ocupaccedilatildeo de Colatina conteve-se agrave margem direita nesta primeira fase o

que define o primeiro vetor de crescimento da cidade na direccedilatildeo leste para oeste partindo

das imediaccedilotildees do Barracatildeo de Santa Maria sentido ao Rio Santa Maria do Doce (Figura

14) E a partir de 1906 com a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas da entatildeo

Companhia Vale do Rio Doce atual Vale este vetor de crescimento se consolida e

47

proporciona o surgimento de importantes avenidas paralelas agrave ferrovia a exemplo da Av

Getuacutelio Vargas

Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de crescimento Elaborado pela autora

48

O segundo vetor do crescimento de Colatina estava condicionado agrave construccedilatildeo da ponte

Florentino Aacutevidos a qual conectou a margem direita agrave esquerda do Rio Doce permitindo

a ocupaccedilatildeo da porccedilatildeo ao norte Portanto somente a partir de 1928 com a finalizaccedilatildeo da

obra da ponte a barreira natural pocircde ser transposta o que possibilitou ao lado esquerdo

desenvolver uma nova linha de crescimento urbano com a ocupaccedilatildeo do atual bairro de

Satildeo Silvano

O terceiro vetor de crescimento estaacute associado agrave implantaccedilatildeo do bairro Luiz Iglesias na

margem direita e os de Maria das Graccedilas e Coluacutembia na margem esquerda Albani (2012)

ressalta que esta fase da ocupaccedilatildeo urbana estaacute associada ao desenvolvimento do sistema

viaacuterio como a proximidade da BR-259 sentido Vitoacuteria- Colatina da ES-80 que liga

Colatina agrave regiatildeo norte da ES-256 que a conecta a Marilacircndia e da proximidade da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria Carlos Germano Nauman (Figura 15)

Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios e linhas feacuterreas que interceptam a cidade de Colatina Elaborado pela autora

Jaacute na quarta e mais recente linha de crescimento da cidade temos os novos loteamentos

residenciais e industriais a exemplo do de Barbados e do bairro Santa Helena que surgem

49

acompanhando o traccedilado da ponte que contorna a leste a cidade como novo acesso agrave

porccedilatildeo norte do estado Albani (2012 p118) destaca que

Apesar da construccedilatildeo da Segunda Ponte ter sido iniciada em 1986 somente foi inaugurada em 2007 A conclusatildeo da ponte e a construccedilatildeo de uma rodovia de contorno desviaram a BR-259 do centro da cidade O desvio da rodovia federal trouxe um desafogamento do tracircnsito nas principais vias da cidade e um novo direcionamento na expansatildeo urbana Alguns loteamentos surgiram nesse periacuteodo proacuteximo agrave Segunda Ponte e ao contorno na margem norte do rio principalmente no bairro Santa Helena (Figura 55) Essa situaccedilatildeo indica mais uma vez que as linhas de crescimento em Colatina satildeo orientadas pelas vias de transporte

Portanto o crescimento do periacutemetro urbano de Colatina estaacute associado agrave superaccedilatildeo das

barreiras naturais em especial o Rio Doce por meio de investimentos em obras de

engenharia que permitiram o deslocamento humano para a margem esquerda deste curso

Sem duacutevida as vias de transporte foram elementares na construccedilatildeo do periacutemetro urbano

de Colatina pois na medida que se consolidava o sistema viaacuterio as ocupaccedilotildees tambeacutem se

favoreciam destas vias de locomoccedilatildeo A evoluccedilatildeo da aacuterea urbana portanto acompanha

as principais vias de transporte (Figura 15 p45) e estas se utilizam da posiccedilatildeo estrateacutegica

e geograficamente favoraacutevel do canal do Doce para a definiccedilatildeo de seus traccedilados

Apoacutes 94 anos de emancipaccedilatildeo de Linhares o territoacuterio de Colatina eacute fundamental para a

manutenccedilatildeo dos municiacutepios do noroeste capixaba Diante desta posiccedilatildeo estrateacutegica torna-

se relevante o entendimento de como o urbano se relaciona com o meio natural a fim de

se estabelecer poliacuteticas de ordenamento territorial que promovam a qualidade de vida no

municiacutepio Adiante seraacute analisada a situaccedilatildeo da calha principal do Rio Doce elemento

fundamental na compreensatildeo do uso e cobertura da terra de Colatina

42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce

Compreendendo uma aacuterea de 3330 kmsup2 o periacutemetro urbano de Colatina eacute afetado pela

velocidade dos defluacutevios de modo que grande parte dos bairros beira-rio eacute tomada pelas

aacuteguas excedentes da calha principal do Doce o que configura o fenocircmeno de inundaccedilatildeo

Ao pesquisar estes fenocircmenos eacute necessaacuterio relacionar o uso da terra com os processos

geomorfoloacutegicos do corpo hiacutedrico Sendo assim por meio de teacutecnicas de

geoprocessamento foram realizadas oito mediccedilotildees da calha principal do Rio Doce para

50

estabelecimento da distacircncia meacutedia da largura de sua calha O resultado esteve dentro do

esperado e pode ser verificado na tabela abaixo (Tabela 1) e no mapa em sequecircncia

(Figura 16)

Tabela 1 Perfis transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de

vazante (abril) e cheia (janeiro)

Largura do rio Doce periacuteodo de vazante e cheia

Abril2013(m) Janeiro2014(m)

P1 70735 75784

P2 62080 66483

P3 59209 65804

P4 63548 67650

Meacutedia dos Perfis 62814 67066

Meacutedia Geral 66143 Obs todas as medidas estatildeo em metros

Elaborado pela autora

Figura 16 - Traccedilado dos perfis transversais da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de vazante mecircs de abril2013 Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)

51

Com uso das imagens orbitais do Landsat-8 atraveacutes da classificaccedilatildeo hiacutebrida foram

gerados dois arquivos shapefiles correspondentes agraves bordas do Doce um no periacuteodo de

vazante e outro no de cheia Por meio destes dados foram definidos quatro traccedilados para

realizaccedilatildeo das mediccedilotildees a partir destas e com auxiacutelio das medidas de tendecircncia central

chegou-se a uma largura meacutedia total de 66143m de uma margem a outra Este resultado

indicou que tanto no periacuteodo de vazante quanto no periacuteodo de cheia a largura meacutedia

aponta para a maior faixa de APP proteccedilatildeo de 500m conforme previsto na legislaccedilatildeo

federal (Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e no revogado Lei 4771 1965)

Analisando a imagem abaixo (Figura 17) observa-se que grande parte do solo

naturalmente destinado a ldquoacomodaccedilatildeordquo das aacuteguas nas cheias (linha laranja) foi

incorporado agrave sociedade como espaccedilo criado (periacutemetro urbano em APP mancha em

amarelo) destinado a fins muacuteltiplos Deste modo sem planejamento territorial adequado

grande parte da planiacutecie de inundaccedilatildeo deu lugar a outras funccedilotildees diferentes das naturais

sendo incorporada ao espaccedilo urbano

Lanccedilando o buffer (mancha em amarelo) do entorno da calha do Doce (Figura 17) observa-

se que dos 59 bairros do municiacutepio cerca de 29 estatildeo dentro da aacuterea de 500m destinada

a preservaccedilatildeo permanente pelo Coacutedigo Florestal Considerando-se a delimitaccedilatildeo da APP

prevista no PDM de 1996 e 2007 (linha laranja mais proacutexima da borda do rio) este nuacutemero

cai para 18 bairros permanecendo apenas aqueles que possuem limites com o corpo

hiacutedrico

Uma vez que que lei municipal natildeo suplanta lei federal considerar-se-aacute neste estudo o

limite da faixa marginal de proteccedilatildeo definida na Lei Federal 126512012 Deste modo a

aacuterea de preservaccedilatildeo permanente do Doce neste recorte eacute de 1085 kmsup2 compreendendo

33 do periacutemetro urbano de Colatina

Cabe destacar ainda que mesmo o PDM de 1996 contendo enquanto objetivo no Art 14

ldquoI - estabelecer a ordenaccedilatildeo do uso e da ocupaccedilatildeo do solo urbanordquo (Lei 42281996 p4)

a gestatildeo municipal natildeo obteve sucesso na implementaccedilatildeo de tal legislaccedilatildeo O que se

verifica tanto nas deacutecadas de 1990 quanto no iniacutecio dos anos 2000 quando foram

aprovados novos parcelamentos urbanos agraves margens deste canal a exemplo dos bairros

de Barbados na margem direita e do bairro Mario Giurizato na margem esquerda

52

Figura 17- Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)

53

Articulado a esta ideia e pesquisando o trecho do bairro Esplanada a Colatina Velha palco

das uacuteltimas obras estruturantes de alto porte do municiacutepio consegue-se analisar os efeitos

das inundaccedilotildees nas margens deste rio Logo implementar medidas de prevenccedilatildeo de

cheias em aacutereas com urbanizaccedilotildees antigas requer um esforccedilo da gestatildeo na regulaccedilatildeo do

solo urbano

421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie

de Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio

Interceptada pelo curso do Rio Doce no perfil mais a jusante da bacia a cerca de 100km

do estuaacuterio com o Oceano Atlacircntico a cidade de Colatina polo moveleiro e de confecccedilotildees

do centro-oeste capixaba eacute palco recorrente de inundaccedilotildees urbanas

Conforme jaacute mencionado por Cunha (2012a) este fenocircmeno ocorre quando a bacia recebe

um percentual precipitado acima da sua capacidade de escoamento o que faz o leito

menor do rio extravasar para o leito maior ocupando as aacutereas de vaacuterzeas (Figura 18 p

50) Aliadas a esta questatildeo estatildeo as ocupaccedilotildees humanas das margens dos rios que ao

suprimir a vegetaccedilatildeo natural e alterar a condiccedilatildeo fiacutesica do solo acabam por reduzir a aacuterea

de drenagem das aacuteguas pluviais acelerando o escoamento superficial para o canal

principal e favorecendo os defluacutevios

Figura 18 - Representaccedilatildeo da inundaccedilatildeo urbana Fonte adaptado da Defesa Civil do Tocantins (2015)

Este fenocircmeno tem ganhado destaque em Colatina a partir de 1979 ano em que o Rio

Doce atingiu a vazatildeo de 12860msup3s tomando toda aacuterea aplainada que compotildee seu leito

maior afetando da atual Av Beira-Rio ateacute as redondezas da Av Getuacutelio Vargas Desde

entatildeo os estudos das inundaccedilotildees urbanas satildeo relevantes no municiacutepio o que levou o

54

Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) na deacutecada de 1980 a elaborar um ldquoPlano Diretor

de Contenccedilatildeo das Enchentes Proteccedilatildeo das Encostas e Drenagem Pluvial de Colatinardquo

Tal medida apresentou seis alternativas para o fenocircmeno Poreacutem tendo em vista o custo

operacional das obras apenas a alternativa seis que previa a construccedilatildeo de diques

marginais para a proteccedilatildeo das aacutereas mais centrais foi considerada viaacutevel na eacutepoca

Todavia em entrevistas com funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina (PMC) foi

relatado que todo o estudo foi arquivado e que ateacute agora natildeo haacute previsatildeo de

implementaccedilatildeo de tais medidas Fato este que eacute evidenciado (Tabela 2 p 51) quando da

ocorrecircncia de precipitaccedilotildees intensas na bacia durante as quais sazonalmente a cidade eacute

impactada com as aacuteguas das inundaccedilotildees Isto faz com que o municiacutepio passe

recorrentemente por cataacutestrofes conforme tabela com os principais picos de vazatildeo do rio

nos uacuteltimos 50 anos

Tabela 2

Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013

Ano Diamecircs Vazatildeo(msup3s)

1961 30jan 6613

1979 04fev 12860

1997 07jan 8687

2005 03ago 6549

2013 24dez 9028

Fonte Coelho (2007 apud DALLAPICOLA 2014 p4) e CPRM (2014 p85) Observo que os dados da tabela 1 para os anos de 1979 e 2013 estatildeo baseados na estimativa de vazatildeo meacutedia diaacuteria das maacuteximas anuais obtida atraveacutes de extrapolaccedilatildeo da curva-chave pelo grupo interdisciplinar dos relatoacuterios criacuteticos anteriores

As inundaccedilotildees de 1979 1997 e recentemente 2013 (Figura 19) foram as de maior vazatildeo

neste setor do rio e consequentemente as que mais atingiram a aacuterea urbana do municiacutepio

bloqueando os acessos ao centro da cidade e aos equipamentos essenciais como

hospitais escolas e demais oacutergatildeos puacuteblicos aleacutem de desalojarem muniacutecipes e

comprometerem a sauacutede puacuteblica

55

Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de 1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 Fonte1) Nossa Colatina 2) Nossa Linda Colatina 3) Nossa Colatina

Com o propoacutesito de identificar os principais fatores que acentuam as inundaccedilotildees seraacute

analisado como os processos geomorfoloacutegicos do Doce estatildeo sendo afetados pela accedilatildeo

antroacutepica Limitaremos a anaacutelise ao periacutemetro urbano no trecho que compreende do bairro

Esplanada ateacute o bairro Colatina Velha (Figura 20) Neste periacutemetro eacute possiacutevel visualizar a

evoluccedilatildeo da mancha urbana sobre o leito do rio aleacutem de identificar na margem direita os

pontos desnaturalizados deste canal fluvial

56

Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2) Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do recorte em rosa da APP de 50m (amarelo claro) e 500m (amarelo escuro) Fonte 3) Encontra Colatina (2015)

57

O recorte em questatildeo eacute margeado pela Av Beira-Rio e estaacute situado (Figura 20) dentro do

buffer de preservaccedilatildeo permanente previsto no PDM (buffer de 50m) e no Novo Coacutedigo

Florestal (buffer de 500m) Apesar desta aacuterea ser destinada a mata nativa e ou

reflorestada a ocupaccedilatildeo urbana antecede os artigos legais o que dificulta poliacuteticas de

gestatildeo territorial em um periacutemetro ao mesmo tempo histoacuterico e com funccedilatildeo relevante no

equiliacutebrio hidroloacutegico da bacia

O periacutemetro faz parte da vaacuterzea da margem direita do Rio Doce pois encontra-se em cota

topograacutefica de 50m caracterizando sua planiacutecie Logo a aacuterea em questatildeo tem a funccedilatildeo de

acomodar as aacuteguas das cheias quando a calha principal natildeo comporta o escoamento de

grandes vazotildees Esta tarefa passa a ser prejudicada na medida em que na bacia ou no

curso original satildeo implementadas obras que interferem na morfologia do corpo hiacutedrico

principal como a instalaccedilatildeo das hidreleacutetricas de Mascarenhas (1974) e Aimoreacutes (2005) a

montante

As UHErsquos a montante comprometem os processos do rio uma vez que o regime natural de

transporte de sedimentos eacute alterado com o barramento o que favorece a erosatildeo e

consequentemente o assoreamento com a formaccedilatildeo de bancos arenosos alteraccedilatildeo do

seu perfil transversal e reduccedilatildeo da profundidade Aleacutem disso segundo Coelho (2007) as

vazotildees maacuteximas e miacutenimas foram alteradas com a implantaccedilatildeo das hidreleacutetricas a

montante implicando em vazotildees meacutedias anuais miacutenimas cada vez mais reduzidas com

valores se distanciando da linha de tendecircncia (polinocircmio) provando o natildeo equiliacutebrio da

vazatildeo apoacutes a implantaccedilatildeo das barragens (Graacutefico 1 p22)

Entretanto a primeira intervenccedilatildeo direta no trecho em estudo foi a instalaccedilatildeo da estrada

de ferro que atraiu migrantes para Colatina permitindo o crescimento populacional e a

expansatildeo urbana desordenada agraves margens do Doce Este crescimento intensificou a

supressatildeo das matas ciliares e abriu espaccedilo para a impermeabilizaccedilatildeo do solo reduzindo

a infiltraccedilatildeo

Posteriormente a inauguraccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos ampliou o fluxo na regiatildeo pois

proporcionava a ligaccedilatildeo com as terras ao norte do Estado Atuou tambeacutem como obstaacuteculo

ao transporte de sedimentos carreados no fluxo natural do rio uma vez que sua

implantaccedilatildeo altera a topografia do fundo do canal afetando os processos geomorfoloacutegicos

58

Poreacutem foi no Morro das Cabritas (colina localizada no espaccedilo que compreende o atual

bairro Esplanada) que ocorreu a primeira desnaturalizaccedilatildeo nas margens do Doce Este

morro por onde o Rio Santa Maria do Doce meandrava ateacute desaguar no Rio Doce foi

cortado em meados de 1953 para abrigar a cidade em expansatildeo Devido a esta

intervenccedilatildeo o curso original do Santa Maria foi deslocado e passou a escoar

retilineamente ateacute a foz (Figura 21)

Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponte Florentino Aacutevidos (direita) e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque em vermelho para o curso atual do Santa Maria Fonte Nossa Colatina

As intervenccedilotildees na margem direita tornam-se mais intensas a partir da deacutecada de 1960

quando no ano de 1968 edificou-se um muro visando a proteccedilatildeo dos pilares da

extremidade direita da ponte Esta obra ficou paralisada por muitos anos e foi a primeira

de retificaccedilatildeo e aterro realizada neste trecho do rio Esta intervenccedilatildeo modificou o fluxo

natural das correntes do rio e reduziu a largura da sua calha alterando a morfologia do

canal (Figura 22)

59

Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de proteccedilatildeo da ponte Elaborado pela autora Fonte fotos histoacutericas Nossa Colatina

Contudo somente em 1972 teve iniacutecio o segundo aterro (Figura 23) com a finalidade de

alocar a estaccedilatildeo rodoviaacuteria de Colatina e ampliar a aacuterea de acesso agrave ponte Florentino

Aacutevidos A implementaccedilatildeo desta obra suprimiu parte do leito do Rio Doce pois removeu a

saliecircncia cocircncava que curvava o rio retilinizando esta parte do canal

60

Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora Fonte Nossa Colatina Nossa Linda Colatina

Apoacutes dez anos sem grandes intervenccedilotildees em 1982 o lado a montante da ponte bairro

Esplanada eacute acrescido de um aterro que estenderaacute a aacuterea do antigo Morro das Cabritas

para o rio (Figura 24)

Conhecido como Rua da Lama devido agrave umidade que o rio transferia ao aterro formando

um barro viscoso que persistia a maior parte do ano o trecho atualmente compreende a

Avenida Professor Joseacute Zouian popularmente denominada Avenida Beira-Rio de onde

surge a primeira forma do calccediladatildeo que seraacute estendido ateacute o bairro Colatina Velha

61

Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o calccediladatildeo da Av Beira-Rio Elaborado pela autora Fonte Bennachio (2015)

Somente em 2004 foi implementado o maior projeto de canalizaccedilatildeo do municiacutepio Naquele

ano teve iniacutecio a execuccedilatildeo do enrocamento da Av Beira-Rio (Figura 25) obra destinada

inicialmente a alocaccedilatildeo de equipamentos puacuteblicos de lazer e cultura praccedilas preacutedios aleacutem

da promessa de contribuir para a contenccedilatildeo dos transbordamentos do Rio Doce

Apesar de o referido manancial jaacute estar comprometido com problemas de poluiccedilatildeo

assoreamento e erosatildeo aleacutem dos impactos de duas hidreleacutetricas instaladas a montante a

obra abarcou a supressatildeo da vegetaccedilatildeo ciliar e aterro de parte do rio jaacute tatildeo degradado

62

Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento iniciada em 2004 e finalizada em 2008 Elaborado pela autora Fonte proacutepria autora em 240215

Ocupando uma aacuterea total de 130 mil msup2 do leito do Rio Doce o aterro teve iniacutecio em 2004

sendo construiacutedo com cerca de 90 mil msup3 de pedras 50 mil msup3 de areia retirada do leito do

rio e por fim o nivelamento com 200 mil msup3 de terra A obra era divulgada como um antigo

sonho dos colatinenses e serviria para ampliaccedilatildeo da Av Beira-Rio no bairro de Colatina

Velha instalaccedilatildeo de ciclovias calccediladatildeo equipamentos puacuteblicos e estacionamento (Figura

26) Apesar do fim da engenharia em 2008 o projeto ainda estaacute em fase de acabamento

na parte urbaniacutestica e na alocaccedilatildeo dos oacutergatildeos puacuteblicos

Cabe destacar que a obra sofreu embargos do Ministeacuterio Puacuteblico Federal (MPF) por

apresentar apenas cadastro na Agecircncia Nacional de Aacuteguas (ANA) que conforme parecer

da Procuradora Nadja Machado Botelho na Accedilatildeo Civil Puacuteblica ldquo[hellip] equivocadamente natildeo

realizou o procedimento de outorga [hellip]rdquo (MPF 2006 p2) Aleacutem disso a procuradora

solicitou tutela tendo em vista tratar-se de aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental e o fato de o

IBAMA ter concedido licenciamento com indevida dispensa do Estudo de Impacto

Ambiental (EIA)Relatoacuterio de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA)

63

Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina Fonte Prefeitura de Colatina (2015)

Por isso essa obra deve ser considerada faraocircnica para os cofres puacuteblicos e irreversiacutevel

para os processos geomorfoloacutegicos do Doce E sua efetivaccedilatildeo soacute foi possiacutevel com a

participaccedilatildeo e investimentos do Governo estadual Contudo seu objetivo foi frustrado pois

novamente na cheia do Rio Doce em dezembro de 2013 quando este atingiu a vazatildeo de

9028 msup3s a aacuterea foi inundada e por estar em cota maior que as casas que beiravam o

rio o enrocamento atuou como represa natildeo permitindo o retorno das aacuteguas quando o niacutevel

do rio retomou o equiliacutebrio

Por fim segue um mapa siacutentese (Figura 27) com a cartografia das quatro principais

intervenccedilotildees diretas e estruturais na margem direita do Doce no setor urbano de Colatina

representando o curso natural do rio em 1950 e suas desnaturalizaccedilotildees a partir da deacutecada

de 60 ateacute a atualidade

64

Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce ante e depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora

65

422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio

O recorte em estudo compreende as Zonas ZE-1 ZE-2 e ZUD 2-1 (Figura 28 p61) sendo

a Zona Especial 1 Zona Especial 2 e Zona de Uso Diverso 2-1 destinadas no PDM (Lei

52732007)

Artigo 103 - As Zonas de Usos Diversos ndash ZUD satildeo definidas em razatildeo da concentraccedilatildeo de atividades urbanas diversificadas com predominacircncia do uso comercial e de serviccedilos Artigo 104 - Satildeo objetivos das Zonas de Usos Diversos I - otimizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do solo priorizando a instalaccedilatildeo de novos empreendimentos em terrenos natildeo edificados contiacuteguos a empreendimentos jaacute instalados II - controle da implantaccedilatildeo de usos incompatiacuteveis com os definidos para estas zonas III - garantia de licenciamento e monitoramento ambiental dos empreendimentos IV - controle da expansatildeo comercial de serviccedilos e de induacutestrias de pequeno porte em direccedilatildeo a aacutereas residenciais [] Artigo 130 - As Zonas Especiais 1 ndash ZE 1 abrangem todas as aacutereas remanescentes do municiacutepio relativamente ao zoneamento estabelecido nesta lei ocupadas ou natildeo contida na lei de periacutemetro urbano para as quais natildeo foram ainda estabelecidos os criteacuterios de uso e ocupaccedilatildeo Artigo 131 - As Zonas Especiais 2 ndash ZE 2 satildeo as aacutereas existentes no prolongamento da avenida Beira Rio mais especificamente no trecho entre o 80 Batalhatildeo da Poliacutecia Militar e a rua Pedro Epichin incluindo o espaccedilo existente entre a margem do Rio Doce e o limite das construccedilotildees localizadas na rua Pedro Epichin

Cabe destacar que mesmo sendo palco das aacutereas mais afetadas com as inundaccedilotildees do

Rio Doce a Beira-Rio tem sido alvo da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria que aproveitando-se dos

iacutendices pouco restritos da ZUD 2 (Figura 28 p62) valoriza o espaccedilo promovendo a

instalaccedilatildeo de grandes estruturas como hipermercados edifiacutecios residenciais modernos e

hotelaria

66

Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 Fonte Colatina (2007)

A aacuterea contida na ZE (Figura 28) natildeo possui criteacuterio de ocupaccedilatildeo definido na legislaccedilatildeo

atual sendo adotado o disposto na Lei 41961995 que estabelece os iacutendices urbaniacutesticos

para as aacutereas conquistadas junto ao Rio Doce e na Lei 420595 que aprova os

parcelamentos na Beira-Rio Quanto agrave ZUD 2-1 apresenta iacutendices urbaniacutesticos no anexo

118 do Plano Diretor conforme tabela 3 abaixo

67

Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1

Fonte Colatina (2007 p36)8

68

Eacute relevante observar que numa aacuterea onde o corpo hiacutedrico foi reduzido pelos sucessivos

aterros tenha sido aprovada a instalaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto (Figura

29) com taxa de ocupaccedilatildeo de ateacute 80 e com baixo iacutendice de permeabilidade Ampliou-

se a aacuterea impermeaacutevel numa regiatildeo onde a drenagem jaacute eacute muito comprometida com a

expansatildeo urbana sobre o rio

Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto na Beira-Rio Fonte imagem do Google Maps 2015 E fotos da autora em 140215

Portanto analisando o conjunto de dados apresentado acima eacute possiacutevel entender como

as inundaccedilotildees satildeo potencializadas no municiacutepio atingindo a populaccedilatildeo mas em especial

afetando a dinacircmica de um corpo hiacutedrico tatildeo relevante para o Estado A fim de subsidiar a

gestatildeo puacuteblica com material cartograacutefico para a tomada de decisotildees delimitou-se o

poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo (Figura 30) Pois devem ser adotadas medidas que

minimizem impactos de futuros eventos hidroloacutegicos na bacia capazes de comprometer

novamente a aacuterea urbana mais central de Colatina

69

Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av Beira-Rio em dezembro de 2013 Elaborado pela autora

70

Diante do poliacutegono de inundaccedilatildeo da uacuteltima cheia (Figura 30) em dezembro de 2013 eacute

possiacutevel implementar medidas de convivecircncia com as grandes vazotildees a exemplo de

paiacuteses como Holanda que vem investindo em medidas de resiliecircncia a fim de reduzir a

velocidade dos defluacutevios possibilitando ao canal a capacidade de acumular e dispersar as

aacuteguas com impacto miacutenimo para as populaccedilotildees Conforme Carneiro e Miguez (2011) a

estrateacutegia adotada pelo paiacutes eacute reter armazenar e drenar sendo mais flexiacutevel e natildeo

interferindo drasticamente na dinacircmica do corpo hiacutedrico

Por fim a implementaccedilatildeo de soluccedilotildees de planejamento urbano em Colatina requer uma

anaacutelise integrada que abarque o urbano e o ambiental de modo a propor intervenccedilotildees que

produzam impactos reduzidos nos processos geomorfoloacutegicos do Rio Doce Logo a gestatildeo

municipal deve atuar em niacutevel de bacia hidrograacutefica interagindo com os municiacutepios a

montante propondo medidas de minimizaccedilatildeo das cheias urbanas Mas na escala local

pode-se atuar junto aos novos parcelamentos de modo a ampliar o percentual de aacutereas

permeaacuteveis no municiacutepio incentivando por exemplo os novos loteamentos a adotarem

pavimentaccedilotildees que permitam a drenagem natural do solo

71

5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Partindo da ideia de que eacute possiacutevel implementar medidas que minimizem o escoamento

superficial satildeo apresentadas propostas como forma de controlar ou ao menos reduzir os

impactos das inundaccedilotildees urbanas

Embora as implementaccedilotildees histoacutericas de estruturas de proteccedilatildeo ou barreiras mais altas

tenham sido muito disseminadas atualmente estatildeo sendo suplantadas pelo gerenciamento

de inundaccedilotildees de maneira mais sustentaacutevel Deste modo as experiecircncias fora do Brasil

apontam para soluccedilotildees mais flexiacuteveis que considerem o fluxo natural do canal enquanto

um ecossistema em equiliacutebrio Para tanto Carneiro e Miguez (2011 p150) destacam a

iniciativa alematilde no controle de inundaccedilotildees em bacias hidrograacuteficas metropolitanas

[hellip] A abordagem comum consiste na regulaccedilatildeo do uso do solo nas aacutereas inundaacuteveis e em ldquodar espaccedilo para o riordquo ao inveacutes de priorizar investimentos em estruturas de proteccedilatildeo contra inundaccedilotildees como a colocaccedilatildeo de diques de contenccedilatildeo as margens dos rios A utilizaccedilatildeo do conceito de resiliecircncia apropriado de ecologia decorre dessa abordagem A aplicaccedilatildeo praacutetica do conceito implica portanto em mudanccedilas de paradigma Deixa de ser preponderante a engenharia construtiva e entra em cena o planejamento de longo prazo voltado para o desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis capazes de conviver com as variaccedilotildees do ciclo hidroloacutegico sem significar necessariamente trageacutedias anunciadas

Aleacutem dessas propostas geoacutegrafos como Sandra Cunha tecircm estudado a recuperaccedilatildeo

natural ou ldquorenaturalizaccedilatildeordquo de corpos fluviais visando promover a estabilidade dos canais

de modo mais sustentaacutevel Para ela

[hellip] Recuperaccedilatildeo de canal significa de forma simples o retorno as condiccedilotildees anteriores aos distuacuterbios Em essecircncia eacute o processo de recuperaccedilatildeo do rio ou do ecossistema fluvial estabilizando o desenvolvimento de habitats e colonizaccedilatildeo a uma taxa mais raacutepida que dos processos naturais fiacutesicos e bioloacutegicos Na recuperaccedilatildeo de canais ocorrem consideraccedilotildees de aspecto hidroloacutegico morfoloacutegico e ecoloacutegico qualidade da aacutegua esteacutetica aleacutem da necessidade de uma visatildeo integradora do projeto sustentaacutevel de recuperaccedilatildeo (CUNHA 2012 p230 a 231)

Satildeo portanto medidas pontuais como o retorno agraves sinuosidades do rio (Figura 31 p 68)

ou a substituiccedilatildeo de estruturas de concreto por superfiacutecies mais permeaacuteveis a exemplo

das trincheiras de infiltraccedilatildeo ou pavrsquos (Figura 32) aacutereas mais vegetadas aleacutem de coleta e

uso de aacutegua da chuva bem como tratamento das aacuteguas superficiais por meio de

72

amenidades esteacuteticas como reservatoacuterios de retenccedilatildeo ou detenccedilatildeo que podem ser

associados a ambientes harmocircnicos como lagos artificiais Todas estas accedilotildees possibilitam

a minimizaccedilatildeo das grandes vazotildees no solo urbano pois pretendem atenuar os impactos

das cheias fazendo com que seja resgatada parte da drenagem existente anteriormente agrave

urbanizaccedilatildeo

Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do Rio Aa Munster Alemanha (1998) Fonte Cunha (2012 p233)

Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos Fonte Carneiro e Miguez (2011 p128)

A partir do exposto cabe agrave gestatildeo municipal implementar legislaccedilotildees que priorizem a

permeabilidade possibilitando uma maior infiltraccedilatildeo das aacuteguas das chuvas atraveacutes de

pavimentaccedilotildees menos impermeaacuteveis e da ampliaccedilatildeo de aacutereas vegetadas Satildeo medidas

que tornam a drenagem mais sustentaacutevel aleacutem de possibilitar a manutenccedilatildeo dos serviccedilos

puacuteblicos de forma menos custosa tendo em vista o elevado preccedilo das recomposiccedilotildees

asfaacutelticas

1 2

73

Aleacutem disso quando se fala em controle de cheias urbanas pressupotildee-se uma seacuterie de

medidas para minimizaccedilatildeo de seus impactos desde a operaccedilatildeo de sistemas de alerta

zoneamento de aacutereas inundaacuteveis construccedilatildeo de grandes reservatoacuterios de contenccedilatildeo de

cheias e diques ateacute accedilotildees de educaccedilatildeo ambiental

Cabe pensar tambeacutem na proacutexima revisatildeo do PDM em um plano de macrodrenagem

municipal que reuacutena accedilotildees de caraacuteter estruturantes com obras hidraacuteulicas de infraestrutura

que realizem a conduccedilatildeo final das aacuteguas dos escoamentos superficiais para a minimizaccedilatildeo

das inundaccedilotildees e em medidas natildeo-estruturantes que trabalhem a consciecircncia ambiental

e proponha um zoneamento de cheias a fim de se delimitar os pontos mais fragilizados nos

defluacutevios

Por fim pensar em drenagem num contexto de ocupaccedilatildeo irregular histoacuterico requer

profissionais que aleacutem de possuir afinidade com a temaacutetica tambeacutem possam analisar os

diferentes processos que constituem o espaccedilo geograacutefico Logo este tipo de estudo deve

abarcar uma equipe multidisciplinar que percorra a anaacutelise desde o ambiental estrutural

ateacute o aspecto humano a fim de se produzir resultados que de fato contribuam com o

controle das inundaccedilotildees urbanas

74

6 CONCLUSAtildeO

A partir do recorte espacial foi possiacutevel compreender que a abordagem da geomorfologia

fluvial com a anaacutelise espaccedilo-temporal da ocupaccedilatildeo urbana possibilita a identificaccedilatildeo das

accedilotildees do homem no meio ambiente pois estas resultam na alteraccedilatildeo das paisagens

naturais e na dinacircmica da bacia hidrograacutefica Assim o Rio Doce deve ser estudado de

modo integrado ao crescimento da cidade sobretudo para compreensatildeo da produccedilatildeo do

espaccedilo geograacutefico

Analisar a inundaccedilatildeo urbana em Colatina foi satisfatoacuterio pois o municiacutepio estaacute situado no

perfil meacutedio-baixo da bacia vazante e eacute neste trecho que os reflexos das intervenccedilotildees satildeo

mais acentuados principalmente se esta parte do canal tambeacutem tiver passado por obras

que modificaram seus processos hidroloacutegicos Aleacutem disso a perspectiva geograacutefica aponta

para vaacuterias outras questotildees como erosatildeo fluvial planejamento urbano poluiccedilatildeo ambiental

crise da aacutegua que conduzem a outras discussotildees acerca da relaccedilatildeo homemnatureza

Ao demonstrar a evoluccedilatildeo espaccedilo-temporal do uso e cobertura da terra na margem direita

do Doce associando esta ocupaccedilatildeo agraves obras estruturantes que foram executadas no

canal verificamos que todas as praacuteticas adotadas para conter o transbordamento do rio

acabaram alterando sua morfologia com a retificaccedilatildeo de trechos em meandros reduzindo

a largura do corpo hiacutedrico o que favoreceu a apropriaccedilatildeo urbana de suas vaacuterzeas Aliadas

a estas questotildees estatildeo a falta de planejamento urbano e a omissatildeo diante da supressatildeo

das matas ciliares principalmente se considerados os resultados do relatoacuterio teacutecnico do

IJSN contra enchentes em 1980

Cabe destacar tambeacutem que toda a anaacutelise da ocupaccedilatildeo urbana e desnaturalizaccedilatildeo do

Rio Doce foi melhor identificada a partir dos produtos cartograacuteficos deste trabalho Pois eacute

na espacialidade dos fenocircmenos e no registro de informaccedilotildees ainda natildeo mapeadas como

os aterros que o geoacutegrafo executa a anaacutelise do seu objeto de estudo o homem e a

natureza aqui representado pela sociedade e o canal do Doce

Apesar do municiacutepio apresentar leis que resguardam os leitos dos rios desde o primeiro

PDM em 1996 nada foi feito para conter as ocupaccedilotildees irregulares beira-rio Pelo contraacuterio

estas aacutereas foram incorporadas ao Plano Diretor em 2007 com possibilidades de

ocupaccedilotildees diversas o que tem levado especuladores a valorizar o solo com vista para o

rio apontando suas qualidades esteacuteticas e teacutermicas Este fato vem aumentando o

75

percentual de aacutereas impermeaacuteveis nesta margem comprometendo ainda mais a drenagem

dos defluacutevios

Eacute na Av Beira-Rio que crescem as implantaccedilotildees de grandes empreendimentos comerciais

como supermercado Casagrande Ogil Hotel e obras de construccedilatildeo de novos arranha-

ceacuteus em um periacutemetro que jaacute eacute totalmente comprometido com os extravasamentos do Rio

Doce Estas obras ocupam grandes aacutereas e na maioria das vezes apresentam reduzida

aacuterea permeaacutevel reservando apenas o obrigatoacuterio pela lei cerca de 10 Observa-se

tambeacutem que a implantaccedilatildeo desses projetos estaacute condicionada agrave apresentaccedilatildeo e

aprovaccedilatildeo por comissatildeo na prefeitura do Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV) sendo

difiacutecil conceber que seja concedida tal licenccedila para implementaccedilatildeo de obras num trecho

de risco ambiental

Embora as diretrizes do Estatuto das Cidades para a implementaccedilatildeo do uso da terra

sustentaacutevel e os instrumentos para a regulaccedilatildeo do solo urbano sejam avanccedilados Colatina

eacute mais um exemplo da carecircncia de profissionais capacitados para estudar de modo

integrado e em niacutevel de bacia hidrograacutefica os efeitos da accedilatildeo humana num ambiente tatildeo

peculiar como as margens do Doce Por isso com os objetivos traccedilados nesta pesquisa

podemos aleacutem de compreender o fenocircmeno criar uma metodologia de anaacutelise de aacutereas

inundaacuteveis em ambientes urbanos O que permite agrave gestatildeo municipal uma diretriz para a

tomada de decisotildees

Destaca-se tambeacutem que as legislaccedilotildees aqui referenciadas supriram a discussatildeo acerca do

objeto de estudo mas outras podem contribuir para esta pesquisa a exemplo do Coacutedigo

das Aacuteguas da Poliacutetica Nacional dos Recursos Hiacutedricos das Resoluccedilotildees do Conama do

Estatuto das Cidades entre outros

Sendo assim numa revisatildeo do PDM deve-se pensar nestes aspectos da cidade desde o

histoacuterico de ocupaccedilatildeo das margens ateacute os impactos das inundaccedilotildees e o presente trabalho

auxilia com uma nova abordagem na reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo fornecendo material

cartograacutefico para subsidiar propostas de proteccedilatildeo ao curso do Doce e consequentemente

da populaccedilatildeo

Por fim deve-se destacar que o recorte estaacute inserido num contexto maior de uma bacia

hidrograacutefica que se estende aleacutem dos limites de Colatina ou do estado do Espiacuterito Santo

Esta bacia compreende a Regiatildeo Hidrograacutefica do Atlacircntico Leste e estaacute alocada tambeacutem

76

no estado de Minas Gerais o que portanto torna as accedilotildees de controle das inundaccedilotildees

mais complexas tendo em vista as divergentes politicas territoriais

77

7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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78

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Page 12: DESNATURALIZAÇÃO DO RIO DOCE: UMA ABORDAGEM … · Ao engenheiro Francisco Hermes, pela experiência e conhecimentos partilhados da área de estudo. Aos meus amigos Mônica Regina,

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

A partir da deacutecada de 1930 com a transiccedilatildeo econocircmica de um eixo agraacuterio-exportador

para um polo urbano-industrial (CARNEIRO 2008) verificou-se no Brasil a migraccedilatildeo da

maior parte da populaccedilatildeo para as cidades Isso acarretou segundo Tucci (2013 p17) uma

ldquo[] concentraccedilatildeo urbana no Brasil da ordem de 80 da populaccedilatildeo e o seu

desenvolvimento tem sido realizado de forma pouco planejada com grandes conflitos

institucionais e tecnoloacutegicos []rdquo

De acordo com Canholi (2005 p15) a expansatildeo da aacuterea urbana ldquo[] consequentemente

impermeabilizada ocorreu a partir das zonas mais baixas proacuteximas agraves vaacuterzeas dos rios

ou agrave beira-mar em direccedilatildeo agraves colinas e morros em face da necessaacuteria interaccedilatildeo da

populaccedilatildeo com os corpos hiacutedricos []rdquo Neste cenaacuterio surgem as ocupaccedilotildees irregulares

nas Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) como as da planiacutecie de inundaccedilatildeo dos rios

e os topos de morros

Essas ocupaccedilotildees desordenadas satildeo proporcionadas pela precariedade da implantaccedilatildeo e

fiscalizaccedilatildeo das legislaccedilotildees urbaniacutesticas de ordenamento territorial e ambiental Neste

contexto satildeo relevantes as pesquisas que visam correlacionar o viacutenculo

sociedadenatureza de modo a entender como a ocupaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo no

solo conecta-se com a hidrodinacircmica dos recursos naturais uma vez que ldquo[] a tendecircncia

atual do limitado planejamento urbano integrado estaacute levando as cidades a um caos

ambiental urbano com custo extremamente alto para a sociedaderdquo (TUCCI 2013 p17)

Deve-se partir do pressuposto teoacuterico articulado com a ideia anterior de ldquo[]

indissociabilidade entre natureza e sociedade []rdquo (COELHO 2013 p21) em que a

sociedade natildeo pode ser apenas entendida como populaccedilatildeo e a natureza enquanto mero

ambiente fiacutesico mas que estes dois fatores estatildeo dinamicamente produzindo o espaccedilo

geograacutefico

Neste contexto a problemaacutetica se afirma no intuito de relacionar as legislaccedilotildees urbanas

(Lei de Parcelamento do Solo 676679 e PDM) e ambientais (Novo Coacutedigo Florestal 2012)

com as suas aplicaccedilotildees ou natildeo no periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina

principalmente nos bairros que se situam na planiacutecie de inundaccedilatildeo do Rio Doce

A escolha da temaacutetica tambeacutem teve como premissa a importacircncia regional de Colatina

como entreposto comercial e logiacutestico para os municiacutepios do noroeste capixaba conforme

15

relato do Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural - PROATER (INCAPER

2011)

Exportadores de cafeacute atacadistas e as lojas de pronta entrega dinamizam o comeacutercio local que atende aos municiacutepios do norte capixaba leste de Minas Gerais e sul da Bahia representando um universo de mais de 700 mil consumidores (INCAPER 2011 p5)

De acordo ainda com o INCAPER (op cit) Colatina tem crescido a uma margem de 188

anual o que representa a tendecircncia ao ecircxodo rural sendo que a populaccedilatildeo do campo vem

diminuindo de aproximadamente 19 em 1990 passou a 12 no Censo de 2010 Diante

do exposto entra em discussatildeo o planejamento urbano pois com o crescimento da

populaccedilatildeo citadina para cerca de 88 aumentam tambeacutem as pressotildees sobre o meio

ambiente em especial as regiotildees ribeirinhas

Estas uacuteltimas refletem o aumento das atividades humanas na bacia hidrograacutefica onde

pode-se destacar as mudanccedilas induzidas pelas accedilotildees antropogecircnicas que se dividem em

diretas (aquelas que atuam no canal fluvial para controle das vazotildees a exemplo dos

reservatoacuterios e desvios de aacuteguas) e indiretas relacionadas agraves aacutereas fora dos canais por

exemplo o desmatamento e urbanizaccedilatildeo sendo que estas comprometem a descarga e

carga soacutelida do rio (PARK1981 KNIGHTON1984 apud CUNHA 2001)

O interesse pela pesquisa surge da importacircncia regional do municiacutepio dos impactos

histoacutericos humanos materiais e imateriais sofridos diante de eventos hidroloacutegicos

extremos tendo em vista o fato de o periacutemetro urbano ser cortado por um corpo fluvial de

importacircncia regional Aleacutem disso a abordagem geograacutefica possibilita a correlaccedilatildeo dos

processos fluviais com a ocupaccedilatildeo urbana de modo mais integrado (COELHO 2009)

Portanto uma das finalidades deste trabalho eacute analisar por meio das geotecnologias e das

investigaccedilotildees de campo como a ocupaccedilatildeo urbana tem interferido nas margens do Rio

Doce de modo a delimitar os sucessivos aterros na margem direita no periacutemetro do bairro

Esplanada a Colatina Velha Ademais identificar como os processos deste canal fluvial

tecircm sido afetados pela intervenccedilatildeo humana em seu leito principal

16

11 Objetivo

111 Objetivo Geral

Correlacionar os processos fluviais do Rio Doce por meio da dinacircmica geomorfoloacutegica

deste canal com o uso e cobertura da terra no setor urbano do municiacutepio de Colatina

Espiacuterito Santo Contrapondo assim as intervenccedilotildees urbanas da beira-rio com o Plano

Diretor Municipal e o Novo Coacutedigo Florestal enfatizando as diretrizes adotadas no

parcelamento do solo para a planiacutecie de inundaccedilatildeo deste rio

112 Objetivos Especiacuteficos

Identificar os vetores de crescimento urbano do municiacutepio a fim de avaliar a

evoluccedilatildeo da mancha urbana junto ao canal principal

Determinar o comprimento da borda da calha do leito regular do Rio Doce no

periacutemetro urbano de Colatina para definiccedilatildeo da largura miacutenima da faixa marginal

de preservaccedilatildeo

Espacializar as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente beira-rio previstas em lei a fim

de analisar a ocupaccedilatildeo urbana nestes espaccedilos

Cartografar os principais pontos desnaturalizados no canal principal do Rio Doce

no setor urbano de Colatina

Demonstrar como o emprego das geotecnologias auxilia no planejamento urbano

e ambiental especialmente em acircmbito municipal

17

12 Justificativa

A aacuterea de estudo corresponde ao periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina situado na

Bacia Atlacircntico trecho leste sub-bacia do Rio Doce no baixo curso (ANA 2001)

Compreende a regiatildeo noroeste do estado do Espiacuterito Santo latitude 19deg 32rsquo 16rsquorsquo S e

longitude 40deg 37rsquo 59rsquorsquo W De acordo com os dados do censo de 2010 do Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio possuiacutea uma populaccedilatildeo de 111788 mil

habitantes1 numa aacuterea territorial de 1416804 kmsup2

Devido a sua privilegiada posiccedilatildeo geograacutefica limiacutetrofe com o Rio Doce e a construccedilatildeo da

Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas em 1906 Colatina compreendia os territoacuterios dos atuais

municiacutepios de Baixo Guandu Linhares Pancas Satildeo Gabriel da Palha Marilacircndia Satildeo

Domingos do Norte e Governador Lindenberg (INCAPER 2011) Soacute a partir de 2001

passou a apresentar os atuais limites municipais e configurar uma aacuterea urbana com 59

bairros (Figura 1)

Colatina eacute um municiacutepio de importacircncia para regiatildeo noroeste capixaba seja em caraacuteter

econocircmico ou social Eacute responsaacutevel pelos fluxos de cargas da regiatildeo aleacutem de ser um polo

moveleiro de confecccedilatildeo metalmecacircnico e de comeacutercio e serviccedilos gerando emprego e

renda (INCAPER 2011) Aleacutem disso tem sofrido historicamente com as cheias do Rio

Doce principalmente porque parte do seu periacutemetro urbano eacute inundado com as aacuteguas da

calha principal desse rio o que compromete toda a dinacircmica local e potildee em risco os

colatinenses

Assim diante das crescentes demandas por territoacuterio no periacutemetro urbano a populaccedilatildeo

tem suprimido a cobertura vegetal e ocupado desde as margens do Rio Doce ateacute as

encostas dos morros Em periacuteodos de cheias principalmente nos meses de outubro a

marccedilo (INCAPER 2011 ANA 2001) verificam-se inundaccedilotildees de grande parte da aacuterea

urbana beira-rio aleacutem dos movimentos de massa nas encostas Como exemplo destes

acontecimentos tecircm-se os registros fotograacuteficos dos efeitos da chuva de dezembro de 2013

(Figuras 2 e 3)

1 De acordo com o a estimativa do IBGE de 2014 publicada no DOU o municiacutepio conta com uma populaccedilatildeo de 121670 habitantes

18

Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e o canal do Rio Doce Elaborado pela autora

19

Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 Fonte Noticias UOL (2013)

Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de 2013 Fonte Folha Vitoacuteria (2013)

Este estudo portanto eacute relevante tendo em vista as raras abordagens no acircmbito das

Ciecircncias Geograacuteficas especialmente no Espiacuterito Santo de pesquisas que correlacionem

aspectos da geomorfologia fluvial por meio da dinacircmica dos recursos hiacutedricos com o uso

e cobertura da terra particularmente o Plano Diretor Municipal (PDM) Discute dessa

forma as implicaccedilotildees da atuaccedilatildeo humana nas particularidades deste ecossistema natural

tendo em vista o disposto nas legislaccedilotildees urbaniacutesticas e ambientais que visam assegurar

a qualidade de vida das populaccedilotildees

Adiante seratildeo analisados os principais fundamentos da geomorfologia fluvial os aspectos

juriacutedicos e o papel da anaacutelise geograacutefica integrada para o entendimento dos fenocircmenos

das inundaccedilotildees no Centro de Colatina uma vez que eacute devido agraves intervenccedilotildees humanas

nos canais e suas margens que esses fenocircmenos tornam-se mais nocivos a cidade

20

2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS

21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano

Recurso essencial para a manutenccedilatildeo da vida a aacutegua foi um fator relevante para o

estabelecimento histoacuterico das sociedades no entorno dos cursos hiacutedricos Utilizados para

fins de abastecimento humano e animal irrigaccedilatildeo saneamento e transporte os rios

constituiacuteram-se nos principais propulsores de penetraccedilatildeo para o interior (CUNHA 2012a)

Logo em suas margens surgiram povoados que posteriormente transformaram-se em

cidades como as que se estabeleceram agraves margens do Rio Doce a exemplo da sede de

Colatina

Diante das potencialidades que os recursos hiacutedricos possibilitam agraves sociedades

destacamos a importacircncia do estudo da Geomorfologia Fluvial que se apresenta como

campo da Geomorfologia (ciecircncia que estuda as formas do relevo) sendo o interesse

daquela a pesquisa dos processos que relacionam o escoamento das aacuteguas fluviais num

contexto de bacia hidrograacutefica (CHRISTOFOLETTI 1980 CUNHA op cit) Enfoca assim

as alteraccedilotildees na fisionomia dos canais frente agraves intervenccedilotildees no ecossistema natural

beira-rio

A Geomorfologia Fluvial parte da condicionante de que o uso e ocupaccedilatildeo da terra refletem-

se na dinacircmica da bacia de drenagem interferindo nos processos morfogeneacuteticos ou seja

de modelagem do relevo fluvial escoamento superficial das aacuteguas e no ciclo hidroloacutegico

Frente agrave temaacutetica deste estudo faz-se necessaacuterio o entendimento dos conceitos da

fisiografia fluvial aqui referente aos diferentes setores que a aacutegua pode escoar num leito

(Figura 4) como

O leito menor corresponde agrave parte do canal ocupada pelas aacuteguas e cuja frequecircncia impede o crescimento da vegetaccedilatildeo Esse tipo de leito eacute delimitado por partes bem definidas O leito de vazante equivale agrave parte do canal ocupada durante o escoamento das aacuteguas de vazante Suas aacuteguas divagam dentro do leito menor seguindo o talvegue linha de maacutexima profundidade ao longo do leito e que eacute mais bem identificada na seccedilatildeo transversal do canal O leito maior tambeacutem denominado leito maior perioacutedico ou sazonal eacute ocupado pelas aacuteguas do rio regularmente e pelo menos uma vez ao ano durante as cheias Dependendo do tempo ocorrido entre as subidas das aacuteguas eacute possiacutevel haver a fixaccedilatildeo e o crescimento da vegetaccedilatildeo herbaacutecea

21

O leito maior excepcional eacute ocupado durante as grandes cheias no decorrer das enchentes (CUNHA 2001 p 213)

Figura 4 - Tipos de leito fluvial vaacuterzea Fonte Cunha (2001 p213)

Sendo assim as aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial (leitos) aquelas inundadas pelo corpo

hiacutedrico frente a um evento hidroloacutegico extremo tambeacutem satildeo conhecidas como vaacuterzeas

planiacutecie de inundaccedilatildeo ou ainda segundo Carneiro e Miguez (2011 p133) como ldquo[] zona

de passagem de cheia []rdquo Essas aacutereas de vaacuterzeas dependem da fisionomia que o rio

apresenta e segundo Cunha (op cit) o canal fluvial pode apresentar trecircs formas

principais conhecidas como padratildeo dos canais que satildeo retiliacuteneo anastomosado e

meacircndrico (Figura 5)

Figura 5 - Padrotildees dos canais (A) retiliacuteneo (B) anastomosado (C) meandrante (A) amplitude (Rc) raio meacutedio da curvatura do meandro (segundo Bigarella etal 1979) Fonte Cunha (2001 p216)

22

Aliada aos padrotildees dos canais estaacute a assimetria ou simetria dos leitos que para Cunha

(2001 p233) relaciona-se com a variaccedilatildeo da velocidade e turbulecircncia ao longo da secccedilatildeo

transversal o que diferencia o comportamento nos canais retiliacuteneos geralmente simeacutetricos

do canal meacircndrico onde

Em canais de leito simeacutetrico em geral padratildeo retiliacuteneo a velocidade maacutexima ocorre no centro do canal diminuindo em direccedilatildeo agraves margens Em leito assimeacutetrico de padratildeo meacircndrico a zona de maacutexima velocidade e turbulecircncia localiza-se nas proximidades das margens cocircncavas decrescendo de valor em direccedilatildeo agrave margem de menor profundidade

(convexa) (CUNHA opcit p 233)

Deste modo a capacidade de erosatildeo das margens transporte e deposiccedilatildeo da carga do rio

dependem entre outros fatores da velocidade das correntes fluviais E o material do fluxo

fluvial constitui-se da descarga liacutequida ou vazatildeo que estaacute relacionada ao tamanho do

material que pode ser transportado e do volume da carga que o rio eacute capaz de carregar

Tem-se ainda a carga soacutelida sedimentos que estaacute relacionada a suspensatildeo e fundo do

rio esta decresce a jusante indicando a diminuiccedilatildeo da competecircncia do corpo fluvial As

cargas de suspensatildeo satildeo constituiacutedas de partiacuteculas finas a exemplo do silte e por fim a

carga de fundo que eacute composta por partiacuteculas de tamanhos maiores a exemplo da areia

(CUNHA2001)

Christofoletti (1980) acrescenta que os sedimentos podem ser carregados de trecircs modos

principais no fluxo em soluccedilatildeo dissolvidos nos cursos hiacutedricos em suspensatildeo como o

silte e argila e em saltaccedilatildeo geralmente a areia e cascalho que compreendem a carga do

leito do rio Destaca-se que a carga detriacutetica natildeo proveacutem apenas da erosatildeo do fundo dos

leitos e margens fluviais mas que o material intemperizado de vertentes carreado nas

enchentes contribui significativamente para a carga sedimentar transportada

Cabe ressaltar ainda que a relaccedilatildeo do arranjo espacial dos canais com os processos

fluviais (a erosatildeo o transporte e a deposiccedilatildeo de sedimentos) eacute determinante para o

trabalho dos rios Tais processos satildeo diretamente influenciados pela vazatildeo velocidade e

pela intensidade da turbulecircncia (seja no fluxo laminar ou no fluxo turbulento) A

variabilidade no comportamento da velocidade e turbulecircncia das aacuteguas ao longo da seccedilatildeo

transversal condiciona os locais preferenciais de erosatildeo e deposiccedilatildeo ao longo do curso

hiacutedrico

23

Deste modo qualquer intervenccedilatildeo na bacia e canal fluvial compromete o equiliacutebrio natural

da drenagem levando o corpo hiacutedrico a se adaptar agraves mudanccedilas em sua fisionomia

fisiografia e em seus processos ateacute atingir um novo estado de equiliacutebrio Poreacutem eacute na

planiacutecie de inundaccedilatildeo que estas modificaccedilotildees seratildeo mais percebidas pela populaccedilatildeo pois

a maior parte das obras de engenharia como as canalizaccedilotildees e as ocupaccedilotildees das

margens acaba por romper com o equiliacutebrio natural do rio alterando sua dinacircmica e

intensificando seus processos o que na maioria das vezes potencializa as enchentes no

ambiente urbano

Nesse sentido o entendimento dos processos fluviais (erosatildeo transporte e deposiccedilatildeo)

combinado com a anaacutelise da fisiografia fluvial condicionam as peculiaridades na geometria

hidraacuteulica ou seja na relaccedilatildeo entre a vazatildeo velocidade de escoamento tipos de canais

de sedimentos e a topografia Logo o conhecimento geomorfoloacutegico do rio contribui para

pesquisas que necessitem relacionar o funcionamento deste corpo natural com um

planejamento urbano mais efetivo principalmente se considerarmos um recorte em niacutevel

de bacia hidrograacutefica em espaccedilo urbano

211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial

O capiacutetulo que segue versa sobre a atuaccedilatildeo antroacutepica relacionando-a a aacuterea de estudo o

rio Doce poreacutem este trata de forma macro a temaacutetica para contextualizar o leitor sendo

as especificidades das intervenccedilotildees neste recorte geograacutefico trabalhados nos resultados

desta pesquisa

Diante do exposto eacute possiacutevel acompanhar a evoluccedilatildeo dos processos fluviais nos canais

em especial aqueles que tiveram intervenccedilotildees em seu curso natural como as hidreleacutetricas

instaladas a montante a exemplo do Rio Doce onde a interferecircncia direta na vazatildeo e fluxo

de sedimentos altera a hidrodinacircmica do rio comprometendo a erosatildeo e transporte Para

Coelho (2007 p57) as

Mudanccedilas na Declividade Perfil Longitudinal Promovidas pela construccedilatildeo de reservatoacuterio satildeo variadas e caso o efeito da contenccedilatildeo de sedimentos seja significativo os processos fluviais reduziratildeo a capacidade de transporte de sedimento podendo promover um entalhamento do leito do rio imediatamente agrave jusante da barragem

Aleacutem disso esse processo erosivo poacutes-barragem eacute intensificado favorecendo o

assoreamento e sedimentaccedilatildeo do rio a jusante O que pode beneficiar a elevaccedilatildeo da cota

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do canal fluvial frente a eventos hidroloacutegicos extremos potencializando os efeitos das

inundaccedilotildees nas vaacuterzeas

Ao mesmo tempo o Rio Doce trecho que compreende o Espiacuterito Santo meacutediobaixo curso

eacute impactado nas vazotildees miacutenimas e maacuteximas a jusante apoacutes a instalaccedilatildeo das

barragensUsinas Hidreleacutetricas (UHE) de Mascarenhas (iniacutecio de operaccedilatildeo em 1974)

localizada no Municiacutepio de Baixo Guandu e a de Aimoreacutes (iniacutecio de operaccedilatildeo em 2005)

localizada na divisa do Espiacuterito Santo com Minas Gerais (COELHO 2007)

De acordo com Coelho (opcit) apoacutes a implantaccedilatildeo das usinas ocorreu uma reduccedilatildeo

significativa na vazatildeo da calha principal do Rio Doce conforme Graacutefico 1

Considerando o periacuteodo de 1939 a 2012 a vazatildeo miacutenima apoacutes a instalaccedilatildeo das usinas

chega a atingir 411msup3s e a maacutexima chega apenas a 1251msup3s sendo que no periacuteodo

anterior agrave instalaccedilatildeo das usinas foi registrada a miacutenima de 533 msup3s e uma maacutexima de

1812 msup3s o que ressalta o impacto do barramento sobre o corpo hiacutedrico Aleacutem do

comprometimento dos processos de erosatildeo transporte e sedimentaccedilatildeo (COELHO 2008

e CUNHA 2001)

Diante desta perda de carga liacutequida nos barramentos Cunha (2001 p 241) observa ainda

que as aacutereas a jusante de reservatoacuterios

[hellip] onde o regime do rio sofre significativas modificaccedilotildees devidas ao controle das descargas liquidas e de sedimentos no reservatoacuterio As mudanccedilas ocorridas no regime das aacuteguas neste setor do rio acarretam significativos efeitos nos processos do canal tais como o entalhe do leito a erosatildeo das margens e a deposiccedilatildeo a jusante atingindo longas distacircncias

Aleacutem disso no periacutemetro urbano de Colatina o Rio Doce sofreu outras intervenccedilotildees em

seu canal principal como a implantaccedilatildeo de obras estruturais de macrodrenagem a

exemplo da construccedilatildeo da Av Beira-Rio com intuito de conter o avanccedilo das aacuteguas fluviais

em periacuteodos de cheias

25

Graacutefico 1

Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais (Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia)

Fonte adaptado de Coelho (2007 p154)

26

Como exemplo dos tipos de intervenccedilotildees humanas nas aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial

leitos Carneiro e Miguez (2011 p117) destacam

As accedilotildees de controle e cheias urbanas podem ser classificadas em estruturais quando a paisagem eacute alterada pela accedilatildeo do homem e em natildeo estruturais aqui denominada como estruturante quando o homem aprende a conviver com as enchentes No primeiro caso estatildeo as medidas de controle atraveacutes de obras hidraacuteulicas tais como barragens diques e canais entre outras No segundo caso encontram-se medidas do tipo preventivo tais como zoneamento de aacutereas de inundaccedilatildeo sistemas de alerta educaccedilatildeo ambiental lei de parcelamento e uso dos solos e seguros contra inundaccedilatildeo

Neste cenaacuterio abarcamos os impactos das obras de engenharia como a canalizaccedilatildeo que

altera a fisionomia e fisiografia do rio refletindo-se nos processos geomorfoloacutegicos do canal

e sua planiacutecie de inundaccedilatildeo Para estes a canalizaccedilatildeo eacute uma obra estrutural que aumenta

a capacidade do fluxo do canal aleacutem de intensificar a velocidade do escoamento

superficial antecipando o pico de cheia e transferindo os alagamentos para locais a jusante

na bacia hidrograacutefica

Articulado a esta ideia Cunha (2012b) reflete a desnaturalizaccedilatildeo dos rios por meio de

obras de retificaccedilatildeo com a reduccedilatildeo do comprimento do canal e eliminaccedilatildeo das

sinuosidades Satildeo obras que afetam a estabilidade do corpo hiacutedrico na medida em que

interferem na relaccedilatildeo entre erosatildeo sedimentaccedilatildeo e deposiccedilatildeo provocando efeitos como

alteraccedilatildeo na morfologia do canal Sendo assim ldquo[hellip] a diminuiccedilatildeo da rugosidade no fundo

do canal em conjunto com a perda dos meandros e a aceleraccedilatildeo das velocidades eacute a

principal responsaacutevel pelas mudanccedilas no balanccedilo da energia natural dos sedimentos

fluviais [hellip]rdquo Cunha (2012b p178) No caso do Rio Doce trecho correspondente agrave Av

Beira-Rio alterou-se a sua forma retilinizando-a e sua vegetaccedilatildeo natural foi substituiacuteda

por estruturas de pedras o que compromete a resistecircncia ao fluxo as margens e aos

bancos arenosos

Embora as obras de canalizaccedilatildeo sejam implantadas como eficazes nos canais fluviais para

questotildees de enchentes urbanas para Cunha (op cit) estas necessitam de manutenccedilatildeo

constante envolvendo desde dragagem remoccedilatildeo de obstruccedilotildees a recomposiccedilatildeo do

material utilizado Poreacutem toda a manutenccedilatildeo estaacute associada a alteraccedilotildees morfoloacutegicas e

bioloacutegicas como as que interferem nas soleiras e depressotildees do fundo dos leitos

desestabilizando a vazatildeo no curso a exemplo da

27

ldquo[hellip] eliminaccedilatildeo da sequecircncia de depressotildees e soleiras o aumento da velocidade da corrente a diminuiccedilatildeo da diversidade de habitats o ambiente instaacutevel resultante da flutuaccedilatildeo dos niacuteveis da aacutegua e do substrato moacutevel e a maior flutuaccedilatildeo da temperatura das aacuteguasrdquo (CUNHA 2012b p180)

Ao mesmo tempo o aumento da velocidade dos escoamentos no trecho retificado

possibilita maior erosatildeo transferindo para as aacutereas a jusante uma carga soacutelida

representativa que para Cunha (op cit) configura a formaccedilatildeo de bancos axiais e depoacutesitos

de sedimentaccedilatildeo marginais alterando o equiliacutebrio dos sedimentos a jusante Pois

A jusante das obras de retificaccedilatildeo verificam-se o aumentam da carga soacutelida o assoreamento durante a dragagem a erosatildeo no canal pelos eventos torrenciais do regime e a modificaccedilatildeo na dinacircmica na foz Os sedimentos resultantes da erosatildeo no canal retificado em conjunto com a excessiva carga de sedimentos posta em suspensatildeo durante a dragagem e na fase imediata de poacutes-construccedilatildeo - quando a erosatildeo dos bancos de areia sem vegetaccedilatildeo estaacute em seu niacutevel maacuteximo - originam a formaccedilatildeo de depoacutesitos fluviais de curta duraccedilatildeo a jusante do canal retificado Logo a seguir esses depoacutesitos satildeo erodidos juntamente com as margens e o fundo do leito pelos eventos torrenciais do regime vindo a formar bancos axiais e depoacutesitos de sedimentaccedilatildeo marginais (CUNHA2012b p183)

Portanto o estudo da geomorfologia fluvial contribui diretamente para o entendimento das

cheias nas planiacutecies de inundaccedilatildeo em especial nas bacias hidrograacuteficas que

compreendem a aacuterea urbana e que possuem intervenccedilotildees antroacutepicas diretas na fisiografia

do canal principal Seus processos explicam como as alteraccedilotildees no canal fluvial podem

maximizar os efeitos dos transbordamentos impactando principalmente as populaccedilotildees

ribeirinhas aleacutem de todo ecossistema local Ademais estes fundamentos geomorfoloacutegicos

devem ser associados agrave legislaccedilatildeo vigente afim de subsidiar a elaboraccedilatildeo de instrumentos

legais para atuaccedilatildeo do poder puacuteblico nestas zonas de risco

22 Aspectos Juriacutedicos

Frente agrave crescente demanda sobre os recursos hiacutedricos e solo urbano a partir da deacutecada

de 1930 surgem as primeiras diretrizes que visam regulamentar estes ambientes a

exemplo do Coacutedigo das Aacuteguas Mas soacute a partir dos anos 1960 surgem em acircmbito federal

leis como o Coacutedigo Florestal com o intuito de regular a exploraccedilatildeo das vegetaccedilotildees e

consequentemente proteger os mananciais e em 1979 com o objetivo de ordenar as

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cidades eacute aprovada a Lei 676679 estabelecendo as normas do parcelamento do solo

urbano

Na medida em que as populaccedilotildees aumentam ampliam-se tambeacutem as pressotildees sobre os

recursos de aacutegua e solo Os processos de uso e a conscientizaccedilatildeo de que estes elementos

satildeo finitos intensificam as formas de controle e preservaccedilatildeo passando para as esferas

estaduais e municipais a responsabilidade de atuar em escala local na proteccedilatildeo desses

ambientes

Ainda em escala federal em 2012 eacute promulgado o Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012

em substituiccedilatildeo ao coacutedigo anterior Lei 47711965 que apresenta as normas de

apropriaccedilatildeo dos recursos naturais pelas novas necessidades das populaccedilotildees citadinas e

rurais No que compete agrave aacuterea de estudo cabe destacar as ocupaccedilotildees em aacutereas de

planiacutecie de inundaccedilatildeo em que de acordo com art 4ordm devem ser preservadas

I - as faixas marginais de qualquer curso drsquoaacutegua natural perene e intermitente excluiacutedos os efecircmeros desde a borda da calha do leito regular em largura miacutenima de (Incluiacutedo pela Lei nordm 12727 de 2012) a) 30 (trinta) metros para os cursos drsquoaacutegua de menos de 10 (dez) metros de largura b) 50 (cinquenta) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura c) 100 (cem) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura d) 200 (duzentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura e) 500 (quinhentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros []

A legislaccedilatildeo eacute riacutegida no que concerne agrave ocupaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo das terras nas faixas

marginais dos rios transferindo aos estados e municiacutepios a responsabilidade de fiscalizar

estes territoacuterios para garantir a efetividade da lei A questatildeo eacute que muitas vezes somada a

falta de planejamento estas fiscalizaccedilotildees satildeo ineficientes o que tem possibilitado o

surgimento cada vez maior das ocupaccedilotildees irregulares

Apoiado tambeacutem pela Constituiccedilatildeo Federal de 1988 nos artigos 182 e 183 surge o

Estatuto das Cidades Lei 102572001 com finalidade de garantir a funccedilatildeo social da

cidade e com este os primeiros Planos Diretores Municipais (PDM) que buscam o

ordenamento do crescimento das cidades em caraacuteter socioeconocircmico e ambiental cidades

sustentaacuteveis Ademais em Colatina eacute instituiacuteda a Lei 42281996 posteriormente revogada

29

pela Lei 52732007 que ldquoInstitui o Plano Diretor do Municiacutepio de Colatina estabelece os

objetivos instrumentos e diretrizes e daacute outras providecircncias para as accedilotildees de

planejamento do Municiacutepio de Colatina []rdquo

O PDM de Colatina assim como Coacutedigo Florestal prevecirc a preservaccedilatildeo dos ecossistemas

beira-rio Aquele ainda dispotildee sobre o parcelamento do solo sustentaacutevel a funccedilatildeo social

da cidade e da propriedade conforme o Plano Diretor de Colatina de 2007 nos artigos

transcritos

Artigo 22 - As diretrizes ambientais no Municiacutepio de Colatina satildeo I - aplicar os instrumentos de gestatildeo ambiental estabelecidos nas legislaccedilotildees federal estadual e municipal bem como a criaccedilatildeo de outros instrumentos adequando-os agraves metas estabelecidas pelas poliacuteticas ambientais II - compatibilizar as diretrizes de uso ocupaccedilatildeo e parcelamento do solo aos objetivos de proteccedilatildeo ambiental dos ecossistemas [] Artigo 23 - Satildeo diretrizes do sistema de drenagem urbana I - disciplinar a ocupaccedilatildeo das cabeceiras e vaacuterzeas das bacias hidrograacuteficas do Municiacutepio preservando a vegetaccedilatildeo existente e visando agrave sua recuperaccedilatildeo [] III - definir mecanismos de fomento para usos do solo compatiacuteveis com aacutereas de interesse para drenagem tais como parques lineares aacuterea de recreaccedilatildeo e lazer hortas comunitaacuterias e manutenccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa [] V - implantar medidas natildeo-estruturais [sic] de prevenccedilatildeo de inundaccedilotildees tais como controle de erosatildeo especialmente em movimentos de terra controle de transporte e deposiccedilatildeo de entulho e lixo combate ao desmatamento assentamentos clandestinos e a outros tipos de invasotildees nas aacutereas com interesse para drenagem [] VII - garantir e respeitar a necessaacuteria permeabilidade do solo inclusive buscando alternativas de pavimentaccedilatildeo com maior de permeabilidade [sic] [] Artigo 84 ndash Satildeo objetivos do ordenamento territorial do Municiacutepio de Colatina [] IV ndash conter a expansatildeo da ocupaccedilatildeo urbana em aacutereas de proteccedilatildeo ambiental [] Artigo 120 ndash Ficam desde jaacute identificadas como Zonas de Proteccedilatildeo Ambiental 2 ndash ZPA 2 as seguintes aacutereas [] III ndash as aacutereas existentes ao longo de qualquer curso drsquoagua desde o niacutevel mais alto em faixa marginal cuja largura miacutenima seraacute de a) 15m (trinta metros) [sic] para os cursos drsquoagua com menos de 10m (10

metros) de largura contidos no periacutemetro urbano [] c) 30m (trinta metros) para os cursos drsquoagua que tenham de10m (dez

metros a 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano

[]

30

e) 50m (cinquenta metros) para os cursos drsquoagua que tenham mais de 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 60422013)

[]

De modo geral verifica-se que a legislaccedilatildeo apresenta instrumentos que permitem a

prevenccedilatildeo ou controle de ocupaccedilotildees irregulares ou clandestinas em aacuterea de APP aleacutem de

propostas para resguardar de grandes impactos ambientais o corpo hiacutedrico principal do

municiacutepio o Rio Doce Possibilitando assim a minimizaccedilatildeo dos impactos causados pelas

cheias agrave populaccedilatildeo local

Poreacutem cabe destacar que o Plano Diretor Municipal de Colatina natildeo contempla o

estipulado no Coacutedigo Florestal 2012 Lei Federal onde os cursos drsquoaacutegua com largura

superior a 600(seiscentos) metros devem ser resguardados com aacutereas de preservaccedilatildeo

permanente de 500(quinhentos) metros entre outros sendo que a redaccedilatildeo desta parte do

PDM eacute dada pela lei 60422013 posterior a publicaccedilatildeo do novo Coacutedigo Florestal Sendo

assim verifica-se que apesar da intenccedilatildeo de resguardar uma faixa de no maacuteximo

50(cinquenta) metros em periacutemetro urbano para a contenccedilatildeo de cheias e mata ciliar o

PDM de Colatina natildeo atende o miacutenimo previsto em Lei Federal O que tem impactado todo

ecossistema beira rio e a populaccedilatildeo ribeirinha uma vez que a faixa marginal de proteccedilatildeo

de 50(cinquenta) metros em muitos casos natildeo tem comportado o impacto dos defluacutevios

No entanto a legislaccedilatildeo trata de aspectos gerais natildeo pontuando as aacutereas responsaacuteveis

por cada accedilatildeo aleacutem de sua aplicabilidade depender da elaboraccedilatildeo de um cronograma de

execuccedilatildeo bem como um conjunto de planos e normas especiacuteficos para cada diretriz com

detalhamento das propostas de intervenccedilatildeo Isto natildeo ocorreu ateacute o presente

Aleacutem disso a cidade de Colatina surgiu num cenaacuterio histoacuterico anterior agraves legislaccedilotildees

urbaniacutesticas e ambientais inclusive do Coacutedigo das Aacuteguas o que dificulta a execuccedilatildeo de

um planejamento que concilie a preservaccedilatildeo das matas beira-rio garantindo a faixa de

APP com a ocupaccedilatildeo urbana consolidada

A aacuterea de estudo se apresenta como ambiente fragilizado apesar de ser regida por

legislaccedilotildees desde a escala federal ateacute a municipal que visam proteger e ordenar o uso e

cobertura da terra nas faixas marginais dos rios Mas a dificuldade das prefeituras em

aplicar os instrumentos legais nestes ambientes seja por interesses privados ou falta de

recursos para investimentos em soluccedilotildees a longo prazo continua expondo as populaccedilotildees

31

aos impactos dos eventos hidroloacutegicos criacuteticos como os que resultam nas inundaccedilotildees

Para que se alcance esse parcelamento do solo sustentaacutevel satildeo necessaacuterios esforccedilos da

gestatildeo municipal em estipular prazos e metas de atuaccedilatildeo afora interagir os diferentes

setores no planejamento em niacutevel de bacia hidrograacutefica considerando as peculiaridades

desta escala de trabalho

23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos

Sendo a ciecircncia que estuda a relaccedilatildeo homemnatureza a Geografia tem muito a contribuir

nas anaacutelises que envolvem o meio ambiente que foi transformado pela dinacircmica da

sociedade Mas historicamente a dialeacutetica das correntes fiacutesica e humana tem imperado de

modo dissociado levando o geoacutegrafo a estudar estes processos separadamente Poreacutem

se o resultado pretendido eacute integrado fazem-se necessaacuterias pesquisas mais amplas que

cruzem as diferentes vertentes geograacuteficas

Considerando que a problemaacutetica dos impactos ambientais urbanos envolve a questatildeo

natural o rio e a questatildeo social e poliacutetica a sociedade e as leis (COELHO 2013) uma

pesquisa neste acircmbito requer o entendimento destes dois objetos a fim de se apreender

o processo de crescimento das cidades brasileiras e a sua relaccedilatildeo com os recursos

hiacutedricos

A partir da deacutecada de 1950 devido ao ecircxodo rural mais intenso as cidades brasileiras

incharam rapidamente com a migraccedilatildeo do camponecircs que buscava melhores condiccedilotildees de

vida como trabalho na induacutestria o acesso agraves escolas saneamento entre outros E

segundo Gorski (2010) a populaccedilatildeo brasileira passou desde o iniacutecio deste processo de 19

milhotildees de habitantes em 1950 para 138 milhotildees de habitantes em 2000 (dados do IBGE)

o que corrobora o raacutepido crescimento das cidades

Todavia as estruturas puacuteblicas natildeo estavam preparadas para um acreacutescimo populacional

tatildeo significativo e em curto espaccedilo de tempo E o que observamos eacute o acesso limitado

dessa populaccedilatildeo agraves aacutereas centrais da cidade sendo induzida a se estabelecer nas

periferias Nesta visatildeo

O difiacutecil acesso da populaccedilatildeo de baixa renda agraves aacutereas mais centrais das cidades contribuiu segundo Raquel Rolnik para a expansatildeo da periferia o que muitas vezes implicou e implica ainda invasatildeo de aacutereas de proteccedilatildeo de mananciais com a aquiescecircncia do poder puacuteblico Esta

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dinacircmica agravou a situaccedilatildeo de risco dos mananciais pela eliminaccedilatildeo das matas ciliares e consequentemente erosatildeo das margens dos cursos drsquoaacutegua e assoreamento de suas calhas e pela contribuiccedilatildeo do esgoto in natura (ROLNIK1997 apud GORSKI 2010 p62)

Sendo assim a supressatildeo das matas ciliares e das vegetaccedilotildees das encostas para fins de

ocupaccedilatildeo urbana interfere diretamente no ciclo hidroloacutegico diminuindo a absorccedilatildeo de

aacutegua pelo subsolo e pela evapotranspiraccedilatildeo favorecendo o escoamento superficial (Figura

6) que intensifica a velocidade de drenagem das aacuteguas Este processo nas encostas eacute

mais significativo se considerarmos que com a supressatildeo da cobertura vegetal e

impermeabilizaccedilatildeo do solo as precipitaccedilotildees acabam por lavar todo o material

intemperizado sedimentos carregando-o diretamente para o corpo hiacutedrico e contribuindo

para o assoreamento

Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento Fonte Gorski (2010 p64)

Por outro lado as ocupaccedilotildees ribeirinhas nas vaacuterzeas dos rios modificam a dinacircmica fluvial

frente aos defluacutevios A compactaccedilatildeo e o nivelamento do solo associados agrave

impermeabilizaccedilatildeo por concreto asfalto e outros materiais alteram todo o sistema de

drenagem natural e contribuem para a erosatildeo fluvial Aleacutem disso a gestatildeo puacuteblica que

33

deveria investir num parcelamento do solo sustentaacutevel resguardando ldquouma alocaccedilatildeo de

espaccedilosrdquo (CANHOLI 2005 p 15) para a drenagem acaba por colaborar com as enchentes

urbanas na medida em que decide por obras estruturais como a canalizaccedilatildeo (Figura 7

p30) e a microdrenagem que transferem os impactos das inundaccedilotildees a jusante

Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia Fonte Gorski (2010 p69)

Cabe destacar que desde 1965 com o primeiro Coacutedigo Florestal as matas beira-rio jaacute

eram resguardadas da degradaccedilatildeo humana poreacutem com todo o boom urbano a partir de

1950 a falta de estrutura e ingerecircncia municipal no que se refere ao parcelamento e uso

e ocupaccedilatildeo da terra urbana possibilitou a formaccedilatildeo dos assentamentos clandestinos em

APP e na encosta de morros Em condiccedilotildees precaacuterias sem saneamento baacutesico e demais

infraestruturas urbanas estes assentamentos acabam sendo as regiotildees mais afetadas

com as inundaccedilotildees

Junto agraves questotildees jaacute levantadas vale destacar que as aacuteguas das inundaccedilotildees propiciam o

aumento das doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica (febre tifoide hepatite leptospirose

esquistossomose entre outras) pois carregam segundo Gorski (2010) toda uma poluiccedilatildeo

difusa efluentes domeacutesticos industriais e agroindustriais aleacutem do lixo urbano da poluiccedilatildeo

do ar e das ruas

34

Por outro lado esta ocupaccedilatildeo urbana natildeo planejada perde o benefiacutecio que os corpos

hiacutedricos podem oferecer como [] as paisagens fluviais que aos poucos foram sendo

apropriadas como paisagens urbanas [] (GORSKI 2010 38) aleacutem do microclima

associado agrave umidade pela evapotranspiraccedilatildeo que ameniza a sensaccedilatildeo teacutermica local

Poreacutem conforme observado por Graeff (2011) natildeo eacute cabiacutevel atualmente implantar a

legislaccedilatildeo de APP de modo jurista Deve-se considerar toda a representatividade cultural

assentada sobre os leitos destes rios (avenidas importantes casas com arquitetura

histoacuterica entre outros) Aleacutem disso para a demarcaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo

permanente hoje eacute necessaacuteria uma anaacutelise teacutecnica pautada na geomorfologia e

hidrologia de modo a interpretar o ldquocomportamento histoacuterico dos cursos drsquoaacutegua na

paisagem prevendo cenaacuterios de impactos futurosrdquo da atividade humana sobre suas faixas

marginais

Tendo em vista que grande parte da malha urbana brasileira estaacute alocada em APPs e que

segundo Graeff (2011) estas jaacute possuem uma unidade de paisagem estabelecida e muitas

vezes secular configurando siacutetios de importacircncia cultural e apreendendo que

De modo semelhante nas demais cidades haveraacute que ser entendido o meio urbano como ele realmente eacute ndash um encontro entre as necessidades de habitaccedilatildeo com atividades humanas e de conservaccedilatildeo ambiental esta segunda tambeacutem a serviccedilo do homem e natildeo somente de objetivos difusos e distanciados da sobrevivecircncia da sociedade (GRAEFF 2011 206)

Por tais motivos o trabalho com a geomorfologia fluvial urbana deve abarcar os princiacutepios

do bom senso compreendendo que nestas aacutereas de atividade antroacutepica consolidada pode-

se fazer uso de instrumentos de engenharia avanccedilados para uma convivecircncia equilibrada

do homem com a natureza no entorno Contudo deve-se incentivar as aacutereas de expansatildeo

urbana ou zona periurbana (zonas de transiccedilatildeo da aacuterea urbana para a rural) com poliacuteticas

de incentivo a pavimentaccedilotildees mais permeaacuteveis a fim de minimizar o escoamento

superficial para o rio favorecendo a infiltraccedilatildeo

Apesar de os impactos gerados pela interferecircncia humana nas aacutereas mais fragilizadas da

bacia hidrograacutefica vaacuterzeas e encostas refletirem-se em cataacutestrofes com prejuiacutezos

humanos ambientais e urbanos alguns autores brasileiros como Canholi Graeff Cunha

Carneiro e Miguez jaacute indicaram outros caminhos para uma convivecircncia harmoniosa com

a natureza Aleacutem do mais paiacuteses desenvolvidos como a Holanda deixaram de ldquolutar contra

35

as cheiasrdquo para permitir agraves aacuteguas das enchentes a capacidade de acumular e dispersar

com impacto reduzido para as populaccedilotildees (CARNEIRO MIGUEZ 2011)

Sendo assim a proposta deste estudo eacute identificar os principais agentes que influenciam

as inundaccedilotildees entendendo seu papel e atuaccedilatildeo no contexto urbano de Colatina Mas eacute

tambeacutem a de ampliar a abordagem da temaacutetica com uma anaacutelise geograacutefica integrada

ressaltando as medidas que constam no planejamento urbano e sua aplicaccedilatildeo nas faixas

marginais do corpo hiacutedrico

36

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS

Esta pesquisa eacute constituiacuteda de trecircs etapas principais sendo que a primeira teve como

premissa a confecccedilatildeo de um fluxograma (Figura 8) de trabalho para orientar a pesquisa

em seguida teve iniacutecio o levantamento de bibliografias que abordam temas como a

geomorfologia fluvial e urbanizaccedilatildeo em Colatina adotando-se como referecircncia as

pesquisas de Coelho (2006 2007 2008 e 2009) e Albani (2012) Aleacutem disso muito

contribuiacuteram para este trabalho o relatoacuterio do INCAPER da CPRM e os dados do IBGE

Cabe destacar tambeacutem as experiecircncias com recursos hiacutedricos em ambientes urbanos de

Carneiro e Miguez (2011) em especial Cunha (2001 2012ab)

Esta etapa consistiu tambeacutem na busca de material cartograacutefico como aquisiccedilatildeo de planos

de informaccedilatildeo de limite estadual municipal bairros mancha urbana corpo drsquoaacutegua e

logradouros atraveacutes de dados disponiacuteveis no Sistema Integrado de Bases Geoespaciais

do Estado do Espiacuterito Santo (GEOBASES 2014) no Instituto Jones dos Santos Neves

(IJSN 2015) e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2014) imagens

orbitais gratuitas do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI bandas 2-3-4 e 8 (Pan) oacuterbita 216

ponto 73 com datas de passagem em 02012014 e 22032014 agraves 946 (horaacuterio central

da oacuterbita) junto ao Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2014) aleacutem do ortofotomosaico

do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hiacutedricos (IEMA 2014) do Espiacuterito

Santo referente ao voo de 2007 a 2008

Na segunda etapa foram realizadas duas investigaccedilotildees de campo sendo a primeira no

dia 24 de junho de 2014 com a finalidade de fazer o reconhecimento da aacuterea de estudo

fotografar e conversar com moradores e teacutecnicos da prefeitura O segundo trabalho de

campo ocorreu no dia 14 de fevereiro de 2015 e por meio deste foi possiacutevel identificar

pontos sujeitos a inundaccedilatildeo analisar a topografia e realizar as entrevistas com moradores

e funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina

37

Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC)

38

Na terceira etapa foram realizados os mapeamentos e processamentos de todos os planos

de informaccedilatildeo vetoriais e matriciais em ambiente de SIG no sistema ArcGis 103 iniciando

com a ediccedilatildeo dos dados do Municiacutepio e adjacecircncias que foram ajustados quando

necessaacuterio ao sistema de projeccedilatildeo UTM no Datum SIRGAS ndash 2000 na Zona 24 sul com

meridiano central -39 W com todo o mapeamento produzido seguindo a padronizaccedilatildeo

cartograacutefica proposta por Fitz (2008 a b)

O geoprocessamento teve iniacutecio com a composiccedilatildeo das imagens orbitais do Landsat-8 na

cor natural da imagem (2R 3G 4B) e por meio da teacutecnica de Pan Sharpening ou fusatildeo

de imagens a imagem cor natural foi agrupada agrave da banda 8 pancromaacutetica para obtenccedilatildeo

de uma melhor resoluccedilatildeo espacial neste caso chegando a 15 metros sendo resguardado

o conteuacutedo da imagem composta Na sequecircncia foi realizada a extraccedilatildeo da maacutescara do

periacutemetro urbano de Colatina e gerada a classificaccedilatildeo supervisionada da imagem Landsat-

8 no periacuteodo de cheia (janeiro) e vazante (marccedilo) o que possibilitou a delimitaccedilatildeo da calha

do Doce nestes dois eventos

Em seguida foram realizadas as 8 (oito) mediccedilotildees do leito regular sendo 4 (quatro) no

periacuteodo de cheia e 4 (quatro) na vazante de modo a definir a largura meacutedia da calha do

leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina Para chegar a uma medida geral

da largura do rio utilizaram-se ferramentas estatiacutesticas como a meacutedia que eacute uma medida

de tendecircncia central onde numa amostra de tamanho N constituiacuteda por elementos de x

variando de eacute possiacutevel extrair a meacutedia aritmeacutetica atraveacutes da equaccedilatildeo

A meacutedia aponta para onde mais convergem os dados de uma distribuiccedilatildeo

A partir desta definiccedilatildeo da meacutedia da largura da calha do Rio Doce foi possiacutevel em consulta

ao Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e a Lei 52732007 determinar a faixa miacutenima

de preservaccedilatildeo permanente deste corpo fluvial aleacutem da confecccedilatildeo do mapa com o

poliacutegono de APP

Mediante a anaacutelise do mapa verificou-se que grande parte dos bairros do municiacutepio estatildeo

contidos nos poliacutegonos de APP em especial a preservaccedilatildeo de 500 metros conforme lei

federal E por meio deste foram cruzados os dados de vazatildeo as fotos histoacutericas das

enchentes e o poliacutegono de mata ciliar o que permitiu o entendimento das inundaccedilotildees

39

Em ambiente de SIG tambeacutem foram vetorizados os trecircs traccedilados da Estrada de Ferro

Vitoacuteria a Minas o trajeto do Rio Santa Maria do Doce antes e depois da retilinizaccedilatildeo e os

sucessivos aterros na margem direita do Rio Doce no periacutemetro que compreende a Av

Beira-Rio

As teacutecnicas de sensoriamento remoto como a classificaccedilatildeo supervisionada permitiram a

definiccedilatildeo do poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo atraveacutes da imagem da cheia de janeiro Para

tanto foi realizada tambeacutem a classificaccedilatildeo hiacutebrida objetivando aliar a interpretaccedilatildeo visual

com a digital (JENSEN 2009) Por fim foi realizada amarraccedilatildeo com o levantamento

geodeacutesico da CPRM (2014) para garantir a precisatildeo do traccedilado do poliacutegono de cheia

A partir do tratamento dos dados bibliograacuteficos cartograacuteficos e imagens foi possiacutevel

sistematizar este trabalho o que permitiu identificar elementos histoacutericos de intervenccedilatildeo

na paisagem do Doce como os aterros e a ocupaccedilatildeo urbana As visitas de campo a

entrevista e conversas com moradores foram fundamentais para a validaccedilatildeo das

informaccedilotildees o que tornou esta metodologia eficaz para anaacutelise do fenocircmeno da inundaccedilatildeo

em Colatina

40

4 RESULTADOS

41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana

A ocupaccedilatildeo ao longo das planiacutecies de inundaccedilatildeo dos rios tem ocorrido diante da

necessidade deste recurso para as atividades vitais humanas Cunha (2012b p219)

entende que ldquosuas margens tecircm sido o centro preferido da habitaccedilatildeo humana e o

suprimento de suas aacuteguas natildeo soacute fertiliza os campos para o cultivo como tambeacutem fornece

energia e permite recreaccedilatildeordquo Logo o estabelecimento das vilas nas bordas dos cursos

drsquoaacutegua favorece a logiacutestica ocupacional

Historicamente em solo espiacuterito-santense a formaccedilatildeo das vilas ocorreu agraves margens de

estrateacutegicos cursos drsquoaacutegua e a exploraccedilatildeo do ouro de Minas Gerais para Albani (2012)

determinou que a Coroa proibisse nos seacuteculos XVII a XIX a implantaccedilatildeo de estradas e

exploraccedilatildeo de terras na Capitania do Espiacuterito Santo pois os portugueses temiam incursotildees

estrangeiras deixando assim o desenvolvimento capixaba restrito agrave faixa litoracircnea

Relegada enquanto ldquobarreira verderdquo para defesa das minas de ouro e minerais do atual

territoacuterio das Minas Gerais segundo Coelho (2007) a Capitania do Espiacuterito Santo soacute

passou a se interiorizar para o centro-oeste onde se localiza atualmente a cidade de

Colatina a partir de 1847 por meio das ocupaccedilotildees de Santa Izabel e Santa Leopoldina

que permitiram a descida do Rio Santa Maria do Doce ateacute as imediaccedilotildees da atual cidade

de Colatina

Assim foi que o movimento colonizador desceu o vale do Santa Maria do Rio Doce atingindo em 1891 a regiatildeo das matas onde hoje se acha a cidade de Colatina [] Esta penetraccedilatildeo inicial foi feita com elementos alematildees de Santa Leopoldina e no rio Doce ficou muito anos restrita agrave aacuterea inicial A expansatildeo ao longo do vale tomou impulso com a chegada a Colatina em 1906 dos trilhos da Estrada de Ferro Diamantina (atual Vitoacuteria-Minas) (STRAUCH1955 apud COELHO 2007 p105)

Sendo assim Coelho (op cit) relata que a ocupaccedilatildeo se deu atraveacutes da supressatildeo da mata

nativa no baixo curso do Rio Doce de Colatina a Linhares sendo a madeira daiacute extraiacuteda

levada ateacute o rio e encaminhada ateacute Povoaccedilatildeo vilarejo junto agrave foz de onde eram carregados

os navios Neste periacuteodo tem-se a instalaccedilatildeo de um ciclo madeireiro na regiatildeo com a

disposiccedilatildeo de serrarias nas proximidades das matas

41

Todavia somente a partir de 1906 com a chegada da estrada de ferro na regiatildeo o

transporte madeireiro foi transferido para as locomotivas Agrave medida que a implantaccedilatildeo da

Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas avanccedilava para o interior levava consigo as frentes de

desmatamento modificando as paisagens das margens do Rio Doce e se apropriando dos

espaccedilos deste rio (Figura 9)

Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906 Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce Fonte Albani (2012 p 63)

Conforme Albani (2012) com a vinda dos mineiros e fluminenses reforccedilados

posteriormente a partir de 1889 por colonizadores italianos e alematildees eacute que as

ocupaccedilotildees territoriais ocorreram de modo efetivo Atraveacutes do Barracatildeo do Rio Santa Maria

(Figura 10) espaccedilo do governo inicialmente destinado a alojar os migrantes e a produccedilatildeo

surgiram as primeiras residecircncias nas proximidades da igreja de Satildeo Sebastiatildeo Sendo

assim

Eacute importante destacar que o desenvolvimento da regiatildeo onde se encontra o municiacutepio de Colatina teve iniacutecio no final do seacuteculo XIX no nuacutecleo de colonizaccedilatildeo Antocircnio Prado localizado no distrito de Boapaba antiga vila do Mutum O nuacutecleo recebeu dezenas de famiacutelias de imigrantes italianos e ali desenvolveram atividades de agricultura e com a expansatildeo da localidade surge tambeacutem o comeacutercio (ALBANI 2012 p61) [hellip] A vila de Colatina entretanto logo passou a se transformar no principal nuacutecleo e futuramente na sede do municiacutepio Aleacutem da facilidade da produccedilatildeo atraveacutes do Rio Doce a vila de Colatina tornou-se referecircncia dos imigrantes no caminho para a colonizaccedilatildeo das terras ao norte do estado (MADURO1985 apud ALBANI 2012 p62)

42

Desse modo com o desenvolvimento das atividades de cafeicultura madeireira e do

entroncamento logiacutestico de acesso agraves aacutereas do norte a vila eacute elevada em 1921 agrave categoria

de municiacutepio A atual configuraccedilatildeo territorial foi adquirida a partir de 2001 conforme IBGE

(2014) dispondo de seis distritos Colatina (sede) Acircngelo Frechiami Baunilha Boapaba

Graccedila Aranha e Itapina

Cabe destacar poreacutem que a ocupaccedilatildeo inicial da cidade de Colatina se perfaz pela margem

direita do Rio Doce onde se localiza o atual bairro de Colatina Velha e onde havia se

instalado o Barracatildeo de Santa Maria Nesse periacuteodo a ponte ainda natildeo fora edificada

limitando assim a ocupaccedilatildeo da margem esquerda

Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da regiatildeo Fonte Albani (2012 p62)

Conforme Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p65) a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro

Vitoacuteria a Minas em 1906 (Figura 11) possibilitou a expansatildeo da cidade de Colatina e seu

desenvolvimento econocircmico Todavia sua instalaccedilatildeo paralela agrave margem direita do Rio

Doce favoreceu a localizaccedilatildeo de avenidas e ruas centrais em sua proximidade

43

Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p65)

Entretanto foi com a construccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos (Figura 12) em 1928 que a

margem direita se conectou agrave margem esquerda da cidade o que aleacutem de possibilitar a

ocupaccedilatildeo facilitou o acesso agraves regiotildees mais ao norte do Estado

Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p66)

44

Por conseguinte a estrada de ferro e a ponte foram os fatores determinantes para o

estabelecimento dos migrantes agraves margens do Rio Doce e a formaccedilatildeo do atual municiacutepio

de Colatina Contudo foi a partir desta posiccedilatildeo privilegiada que a cidade passou a ser

entreposto comercial e logiacutestico da regiatildeo noroeste e com isso sua aacuterea urbana expandiu-

se de modo desordenado inicialmente ao longo da planiacutecie de inundaccedilatildeo do Doce Coelho

(2007 p108 e 109) relata que

Os efeitos dessa urbanizaccedilatildeo (novos parcelamentos) e do desmatamento produz [sic] normalmente o aumento da velocidade das aacuteguas superficiais (pluviais) que eram antes interceptadas pelas matas com boa parte absorvida pelo solo O que ocorre geralmente nessas aacutereas eacute a chegada mais raacutepida das aacuteguas das chuvas para o tributaacuterios e calha principal do rio por fluxos concentrados que provocam processos de erosotildees do tipo laminar ravina e voccediloroca transportando quantidades expressivas de sedimentos que por sua vez causam assoreamento e a ocorrecircncia de cheias mais frequentes no rio

Com o crescimento acelerado do periacutemetro urbano proporcionado pelo apogeu do ciclo

cafeeiro as proacuteximas deacutecadas levaratildeo a cidade de Colatina a sofrer com impactos

advindos das alteraccedilotildees no ambiente fluvial do Rio Doce em especial os referentes a

ocupaccedilatildeo (impermeabilizaccedilatildeo) e desmatamento das margens (interferecircncia na drenagem

natural) conforme destacado por Coelho (2007)

Eacute fato que o municiacutepio viveu nas deacutecadas de 1940 e 1950 o auge do ciclo cafeeiro

chegando a ser no ranking brasileiro o 13ordm municiacutepio produtor de cafeacute no ano de 1947

(CAMPOS JUNIOR 2004 apud ALBANI 2012 p69) Poreacutem a partir de 1960 este boom

entrou em colapso com crise do cafeacute que assolou todo o paiacutes levando grande parte dos

pequenos proprietaacuterios rurais a migrarem para centros urbanos em especial no Espiacuterito

Santo a regiatildeo da Grande Vitoacuteria e tambeacutem para o centro de Colatina

Em razatildeo da crise cafeeira a populaccedilatildeo rural migra para centros urbanos A populaccedilatildeo migrou em grande quantidade para a Grande Vitoacuteria para fora do estado e tambeacutem para a cidade de Colatina principal aglomerado urbano da regiatildeo Esse processo provoca o aumento da aacuterea urbana de Colatina A populaccedilatildeo da cidade que era de 3913 habitantes em 1940 cresceu para 26757 habitantes em1960 (ALBANI2012 p71)

O crescimento raacutepido do centro de Colatina aliado ao aumento populacional direciona

grande parte dos migrantes para as aacutereas menos centrais da cidade levando agrave ocupaccedilatildeo

de locais irregulares como os morros e as margens direita e esquerda do Rio Doce Este

45

processo configurou a nova paisagem do municiacutepio povoando do vale agraves encostas (Figura

13)

Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes Fonte Albani (2012 p73)

Associado a este processo de reconfiguraccedilatildeo espacial nas proacuteximas deacutecadas o municiacutepio

de Colatina passaraacute por sucessivas perdas de territoacuterios ateacute atingir os limites atuais (Figura

1 p17) Aliado a estas perdas territoriais seu quantitativo absoluto populacional tambeacutem

sofreraacute impactos poreacutem de modo geral a populaccedilatildeo urbana deste municiacutepio apresentou

crescimento continuo (Graacutefico 2)

Graacutefico 2

Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 2010

Elaborado pela autora Fonte 1940 e 1950 Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p82) 1960 a 2010 IBGE

0

20000

40000

60000

80000

100000

120000

1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020

Populaccedilatildeo Urbana Colatina 1940 - 2010

46

Assim como tem ocorrido nas grandes capitais Colatina cresceu em quantitativo

populacional e territorial urbano de modo muito raacutepido e por este desenvolvimento natildeo ter

sido aliado a um planejamento urbano e ambiental sustentaacutevel a cidade tem sentido os

reflexos das suas interferecircncias ao longo do canal do Doce O que tem provocado

antecipaccedilatildeo dos picos de vazatildeo que no periacutemetro urbano ocasiona as inundaccedilotildees pois

natildeo conseguindo o rio acomodar estes defluacutevios transfere em curto espaccedilo de tempo as

aacuteguas a sua planiacutecie de inundaccedilatildeo atingindo os bairros mais antigos do municiacutepio

Por fim entender o contexto histoacuterico do crescimento da cidade revela muito do panorama

atual E por meio de uma anaacutelise conjunta da histoacuteria com os novos planejamentos eacute

possiacutevel propor intervenccedilotildees urbanas que possibilitem um conviacutevio harmonioso entre

natureza e sociedade neste caso entre o Rio Doce e o centro de Colatina Diante desta

proposta adiante apresentaremos a evoluccedilatildeo dos bairros associando seus periacuteodos de

ocupaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo espacial nas imediaccedilotildees do curso principal do Doce

411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade

Com nuacutecleo inicial de povoamento no Barracatildeo de Santa Maria a cidade de Colatina

cresce a partir deste ponto agrave margem direita do Rio Doce de onde surgem as primeiras

residecircncias comeacutercios e a igreja Atualmente a regiatildeo compreende o bairro de Colatina

Velha que de acordo com Albani (2012 p91) [hellip] ldquopode ser considerado o primeiro polo

de crescimento da cidaderdquo

Aliado ao aumento da populaccedilatildeo migrante das fazendas com a crise do cafeacute o nuacutecleo de

Colatina Velha passa a ser um ponto de passagem obrigatoacuterio para os viajantes que

vinham majoritariamente do sul uma vez que o Rio Doce configurava uma barreira natural

agrave ocupaccedilatildeo das terras ao norte Aleacutem disso a margem esquerda deste canal fluvial era

habitat dos hostis iacutendios botocudos o que dificultava a sua apropriaccedilatildeo

Sendo assim a ocupaccedilatildeo de Colatina conteve-se agrave margem direita nesta primeira fase o

que define o primeiro vetor de crescimento da cidade na direccedilatildeo leste para oeste partindo

das imediaccedilotildees do Barracatildeo de Santa Maria sentido ao Rio Santa Maria do Doce (Figura

14) E a partir de 1906 com a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas da entatildeo

Companhia Vale do Rio Doce atual Vale este vetor de crescimento se consolida e

47

proporciona o surgimento de importantes avenidas paralelas agrave ferrovia a exemplo da Av

Getuacutelio Vargas

Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de crescimento Elaborado pela autora

48

O segundo vetor do crescimento de Colatina estava condicionado agrave construccedilatildeo da ponte

Florentino Aacutevidos a qual conectou a margem direita agrave esquerda do Rio Doce permitindo

a ocupaccedilatildeo da porccedilatildeo ao norte Portanto somente a partir de 1928 com a finalizaccedilatildeo da

obra da ponte a barreira natural pocircde ser transposta o que possibilitou ao lado esquerdo

desenvolver uma nova linha de crescimento urbano com a ocupaccedilatildeo do atual bairro de

Satildeo Silvano

O terceiro vetor de crescimento estaacute associado agrave implantaccedilatildeo do bairro Luiz Iglesias na

margem direita e os de Maria das Graccedilas e Coluacutembia na margem esquerda Albani (2012)

ressalta que esta fase da ocupaccedilatildeo urbana estaacute associada ao desenvolvimento do sistema

viaacuterio como a proximidade da BR-259 sentido Vitoacuteria- Colatina da ES-80 que liga

Colatina agrave regiatildeo norte da ES-256 que a conecta a Marilacircndia e da proximidade da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria Carlos Germano Nauman (Figura 15)

Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios e linhas feacuterreas que interceptam a cidade de Colatina Elaborado pela autora

Jaacute na quarta e mais recente linha de crescimento da cidade temos os novos loteamentos

residenciais e industriais a exemplo do de Barbados e do bairro Santa Helena que surgem

49

acompanhando o traccedilado da ponte que contorna a leste a cidade como novo acesso agrave

porccedilatildeo norte do estado Albani (2012 p118) destaca que

Apesar da construccedilatildeo da Segunda Ponte ter sido iniciada em 1986 somente foi inaugurada em 2007 A conclusatildeo da ponte e a construccedilatildeo de uma rodovia de contorno desviaram a BR-259 do centro da cidade O desvio da rodovia federal trouxe um desafogamento do tracircnsito nas principais vias da cidade e um novo direcionamento na expansatildeo urbana Alguns loteamentos surgiram nesse periacuteodo proacuteximo agrave Segunda Ponte e ao contorno na margem norte do rio principalmente no bairro Santa Helena (Figura 55) Essa situaccedilatildeo indica mais uma vez que as linhas de crescimento em Colatina satildeo orientadas pelas vias de transporte

Portanto o crescimento do periacutemetro urbano de Colatina estaacute associado agrave superaccedilatildeo das

barreiras naturais em especial o Rio Doce por meio de investimentos em obras de

engenharia que permitiram o deslocamento humano para a margem esquerda deste curso

Sem duacutevida as vias de transporte foram elementares na construccedilatildeo do periacutemetro urbano

de Colatina pois na medida que se consolidava o sistema viaacuterio as ocupaccedilotildees tambeacutem se

favoreciam destas vias de locomoccedilatildeo A evoluccedilatildeo da aacuterea urbana portanto acompanha

as principais vias de transporte (Figura 15 p45) e estas se utilizam da posiccedilatildeo estrateacutegica

e geograficamente favoraacutevel do canal do Doce para a definiccedilatildeo de seus traccedilados

Apoacutes 94 anos de emancipaccedilatildeo de Linhares o territoacuterio de Colatina eacute fundamental para a

manutenccedilatildeo dos municiacutepios do noroeste capixaba Diante desta posiccedilatildeo estrateacutegica torna-

se relevante o entendimento de como o urbano se relaciona com o meio natural a fim de

se estabelecer poliacuteticas de ordenamento territorial que promovam a qualidade de vida no

municiacutepio Adiante seraacute analisada a situaccedilatildeo da calha principal do Rio Doce elemento

fundamental na compreensatildeo do uso e cobertura da terra de Colatina

42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce

Compreendendo uma aacuterea de 3330 kmsup2 o periacutemetro urbano de Colatina eacute afetado pela

velocidade dos defluacutevios de modo que grande parte dos bairros beira-rio eacute tomada pelas

aacuteguas excedentes da calha principal do Doce o que configura o fenocircmeno de inundaccedilatildeo

Ao pesquisar estes fenocircmenos eacute necessaacuterio relacionar o uso da terra com os processos

geomorfoloacutegicos do corpo hiacutedrico Sendo assim por meio de teacutecnicas de

geoprocessamento foram realizadas oito mediccedilotildees da calha principal do Rio Doce para

50

estabelecimento da distacircncia meacutedia da largura de sua calha O resultado esteve dentro do

esperado e pode ser verificado na tabela abaixo (Tabela 1) e no mapa em sequecircncia

(Figura 16)

Tabela 1 Perfis transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de

vazante (abril) e cheia (janeiro)

Largura do rio Doce periacuteodo de vazante e cheia

Abril2013(m) Janeiro2014(m)

P1 70735 75784

P2 62080 66483

P3 59209 65804

P4 63548 67650

Meacutedia dos Perfis 62814 67066

Meacutedia Geral 66143 Obs todas as medidas estatildeo em metros

Elaborado pela autora

Figura 16 - Traccedilado dos perfis transversais da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de vazante mecircs de abril2013 Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)

51

Com uso das imagens orbitais do Landsat-8 atraveacutes da classificaccedilatildeo hiacutebrida foram

gerados dois arquivos shapefiles correspondentes agraves bordas do Doce um no periacuteodo de

vazante e outro no de cheia Por meio destes dados foram definidos quatro traccedilados para

realizaccedilatildeo das mediccedilotildees a partir destas e com auxiacutelio das medidas de tendecircncia central

chegou-se a uma largura meacutedia total de 66143m de uma margem a outra Este resultado

indicou que tanto no periacuteodo de vazante quanto no periacuteodo de cheia a largura meacutedia

aponta para a maior faixa de APP proteccedilatildeo de 500m conforme previsto na legislaccedilatildeo

federal (Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e no revogado Lei 4771 1965)

Analisando a imagem abaixo (Figura 17) observa-se que grande parte do solo

naturalmente destinado a ldquoacomodaccedilatildeordquo das aacuteguas nas cheias (linha laranja) foi

incorporado agrave sociedade como espaccedilo criado (periacutemetro urbano em APP mancha em

amarelo) destinado a fins muacuteltiplos Deste modo sem planejamento territorial adequado

grande parte da planiacutecie de inundaccedilatildeo deu lugar a outras funccedilotildees diferentes das naturais

sendo incorporada ao espaccedilo urbano

Lanccedilando o buffer (mancha em amarelo) do entorno da calha do Doce (Figura 17) observa-

se que dos 59 bairros do municiacutepio cerca de 29 estatildeo dentro da aacuterea de 500m destinada

a preservaccedilatildeo permanente pelo Coacutedigo Florestal Considerando-se a delimitaccedilatildeo da APP

prevista no PDM de 1996 e 2007 (linha laranja mais proacutexima da borda do rio) este nuacutemero

cai para 18 bairros permanecendo apenas aqueles que possuem limites com o corpo

hiacutedrico

Uma vez que que lei municipal natildeo suplanta lei federal considerar-se-aacute neste estudo o

limite da faixa marginal de proteccedilatildeo definida na Lei Federal 126512012 Deste modo a

aacuterea de preservaccedilatildeo permanente do Doce neste recorte eacute de 1085 kmsup2 compreendendo

33 do periacutemetro urbano de Colatina

Cabe destacar ainda que mesmo o PDM de 1996 contendo enquanto objetivo no Art 14

ldquoI - estabelecer a ordenaccedilatildeo do uso e da ocupaccedilatildeo do solo urbanordquo (Lei 42281996 p4)

a gestatildeo municipal natildeo obteve sucesso na implementaccedilatildeo de tal legislaccedilatildeo O que se

verifica tanto nas deacutecadas de 1990 quanto no iniacutecio dos anos 2000 quando foram

aprovados novos parcelamentos urbanos agraves margens deste canal a exemplo dos bairros

de Barbados na margem direita e do bairro Mario Giurizato na margem esquerda

52

Figura 17- Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)

53

Articulado a esta ideia e pesquisando o trecho do bairro Esplanada a Colatina Velha palco

das uacuteltimas obras estruturantes de alto porte do municiacutepio consegue-se analisar os efeitos

das inundaccedilotildees nas margens deste rio Logo implementar medidas de prevenccedilatildeo de

cheias em aacutereas com urbanizaccedilotildees antigas requer um esforccedilo da gestatildeo na regulaccedilatildeo do

solo urbano

421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie

de Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio

Interceptada pelo curso do Rio Doce no perfil mais a jusante da bacia a cerca de 100km

do estuaacuterio com o Oceano Atlacircntico a cidade de Colatina polo moveleiro e de confecccedilotildees

do centro-oeste capixaba eacute palco recorrente de inundaccedilotildees urbanas

Conforme jaacute mencionado por Cunha (2012a) este fenocircmeno ocorre quando a bacia recebe

um percentual precipitado acima da sua capacidade de escoamento o que faz o leito

menor do rio extravasar para o leito maior ocupando as aacutereas de vaacuterzeas (Figura 18 p

50) Aliadas a esta questatildeo estatildeo as ocupaccedilotildees humanas das margens dos rios que ao

suprimir a vegetaccedilatildeo natural e alterar a condiccedilatildeo fiacutesica do solo acabam por reduzir a aacuterea

de drenagem das aacuteguas pluviais acelerando o escoamento superficial para o canal

principal e favorecendo os defluacutevios

Figura 18 - Representaccedilatildeo da inundaccedilatildeo urbana Fonte adaptado da Defesa Civil do Tocantins (2015)

Este fenocircmeno tem ganhado destaque em Colatina a partir de 1979 ano em que o Rio

Doce atingiu a vazatildeo de 12860msup3s tomando toda aacuterea aplainada que compotildee seu leito

maior afetando da atual Av Beira-Rio ateacute as redondezas da Av Getuacutelio Vargas Desde

entatildeo os estudos das inundaccedilotildees urbanas satildeo relevantes no municiacutepio o que levou o

54

Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) na deacutecada de 1980 a elaborar um ldquoPlano Diretor

de Contenccedilatildeo das Enchentes Proteccedilatildeo das Encostas e Drenagem Pluvial de Colatinardquo

Tal medida apresentou seis alternativas para o fenocircmeno Poreacutem tendo em vista o custo

operacional das obras apenas a alternativa seis que previa a construccedilatildeo de diques

marginais para a proteccedilatildeo das aacutereas mais centrais foi considerada viaacutevel na eacutepoca

Todavia em entrevistas com funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina (PMC) foi

relatado que todo o estudo foi arquivado e que ateacute agora natildeo haacute previsatildeo de

implementaccedilatildeo de tais medidas Fato este que eacute evidenciado (Tabela 2 p 51) quando da

ocorrecircncia de precipitaccedilotildees intensas na bacia durante as quais sazonalmente a cidade eacute

impactada com as aacuteguas das inundaccedilotildees Isto faz com que o municiacutepio passe

recorrentemente por cataacutestrofes conforme tabela com os principais picos de vazatildeo do rio

nos uacuteltimos 50 anos

Tabela 2

Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013

Ano Diamecircs Vazatildeo(msup3s)

1961 30jan 6613

1979 04fev 12860

1997 07jan 8687

2005 03ago 6549

2013 24dez 9028

Fonte Coelho (2007 apud DALLAPICOLA 2014 p4) e CPRM (2014 p85) Observo que os dados da tabela 1 para os anos de 1979 e 2013 estatildeo baseados na estimativa de vazatildeo meacutedia diaacuteria das maacuteximas anuais obtida atraveacutes de extrapolaccedilatildeo da curva-chave pelo grupo interdisciplinar dos relatoacuterios criacuteticos anteriores

As inundaccedilotildees de 1979 1997 e recentemente 2013 (Figura 19) foram as de maior vazatildeo

neste setor do rio e consequentemente as que mais atingiram a aacuterea urbana do municiacutepio

bloqueando os acessos ao centro da cidade e aos equipamentos essenciais como

hospitais escolas e demais oacutergatildeos puacuteblicos aleacutem de desalojarem muniacutecipes e

comprometerem a sauacutede puacuteblica

55

Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de 1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 Fonte1) Nossa Colatina 2) Nossa Linda Colatina 3) Nossa Colatina

Com o propoacutesito de identificar os principais fatores que acentuam as inundaccedilotildees seraacute

analisado como os processos geomorfoloacutegicos do Doce estatildeo sendo afetados pela accedilatildeo

antroacutepica Limitaremos a anaacutelise ao periacutemetro urbano no trecho que compreende do bairro

Esplanada ateacute o bairro Colatina Velha (Figura 20) Neste periacutemetro eacute possiacutevel visualizar a

evoluccedilatildeo da mancha urbana sobre o leito do rio aleacutem de identificar na margem direita os

pontos desnaturalizados deste canal fluvial

56

Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2) Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do recorte em rosa da APP de 50m (amarelo claro) e 500m (amarelo escuro) Fonte 3) Encontra Colatina (2015)

57

O recorte em questatildeo eacute margeado pela Av Beira-Rio e estaacute situado (Figura 20) dentro do

buffer de preservaccedilatildeo permanente previsto no PDM (buffer de 50m) e no Novo Coacutedigo

Florestal (buffer de 500m) Apesar desta aacuterea ser destinada a mata nativa e ou

reflorestada a ocupaccedilatildeo urbana antecede os artigos legais o que dificulta poliacuteticas de

gestatildeo territorial em um periacutemetro ao mesmo tempo histoacuterico e com funccedilatildeo relevante no

equiliacutebrio hidroloacutegico da bacia

O periacutemetro faz parte da vaacuterzea da margem direita do Rio Doce pois encontra-se em cota

topograacutefica de 50m caracterizando sua planiacutecie Logo a aacuterea em questatildeo tem a funccedilatildeo de

acomodar as aacuteguas das cheias quando a calha principal natildeo comporta o escoamento de

grandes vazotildees Esta tarefa passa a ser prejudicada na medida em que na bacia ou no

curso original satildeo implementadas obras que interferem na morfologia do corpo hiacutedrico

principal como a instalaccedilatildeo das hidreleacutetricas de Mascarenhas (1974) e Aimoreacutes (2005) a

montante

As UHErsquos a montante comprometem os processos do rio uma vez que o regime natural de

transporte de sedimentos eacute alterado com o barramento o que favorece a erosatildeo e

consequentemente o assoreamento com a formaccedilatildeo de bancos arenosos alteraccedilatildeo do

seu perfil transversal e reduccedilatildeo da profundidade Aleacutem disso segundo Coelho (2007) as

vazotildees maacuteximas e miacutenimas foram alteradas com a implantaccedilatildeo das hidreleacutetricas a

montante implicando em vazotildees meacutedias anuais miacutenimas cada vez mais reduzidas com

valores se distanciando da linha de tendecircncia (polinocircmio) provando o natildeo equiliacutebrio da

vazatildeo apoacutes a implantaccedilatildeo das barragens (Graacutefico 1 p22)

Entretanto a primeira intervenccedilatildeo direta no trecho em estudo foi a instalaccedilatildeo da estrada

de ferro que atraiu migrantes para Colatina permitindo o crescimento populacional e a

expansatildeo urbana desordenada agraves margens do Doce Este crescimento intensificou a

supressatildeo das matas ciliares e abriu espaccedilo para a impermeabilizaccedilatildeo do solo reduzindo

a infiltraccedilatildeo

Posteriormente a inauguraccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos ampliou o fluxo na regiatildeo pois

proporcionava a ligaccedilatildeo com as terras ao norte do Estado Atuou tambeacutem como obstaacuteculo

ao transporte de sedimentos carreados no fluxo natural do rio uma vez que sua

implantaccedilatildeo altera a topografia do fundo do canal afetando os processos geomorfoloacutegicos

58

Poreacutem foi no Morro das Cabritas (colina localizada no espaccedilo que compreende o atual

bairro Esplanada) que ocorreu a primeira desnaturalizaccedilatildeo nas margens do Doce Este

morro por onde o Rio Santa Maria do Doce meandrava ateacute desaguar no Rio Doce foi

cortado em meados de 1953 para abrigar a cidade em expansatildeo Devido a esta

intervenccedilatildeo o curso original do Santa Maria foi deslocado e passou a escoar

retilineamente ateacute a foz (Figura 21)

Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponte Florentino Aacutevidos (direita) e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque em vermelho para o curso atual do Santa Maria Fonte Nossa Colatina

As intervenccedilotildees na margem direita tornam-se mais intensas a partir da deacutecada de 1960

quando no ano de 1968 edificou-se um muro visando a proteccedilatildeo dos pilares da

extremidade direita da ponte Esta obra ficou paralisada por muitos anos e foi a primeira

de retificaccedilatildeo e aterro realizada neste trecho do rio Esta intervenccedilatildeo modificou o fluxo

natural das correntes do rio e reduziu a largura da sua calha alterando a morfologia do

canal (Figura 22)

59

Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de proteccedilatildeo da ponte Elaborado pela autora Fonte fotos histoacutericas Nossa Colatina

Contudo somente em 1972 teve iniacutecio o segundo aterro (Figura 23) com a finalidade de

alocar a estaccedilatildeo rodoviaacuteria de Colatina e ampliar a aacuterea de acesso agrave ponte Florentino

Aacutevidos A implementaccedilatildeo desta obra suprimiu parte do leito do Rio Doce pois removeu a

saliecircncia cocircncava que curvava o rio retilinizando esta parte do canal

60

Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora Fonte Nossa Colatina Nossa Linda Colatina

Apoacutes dez anos sem grandes intervenccedilotildees em 1982 o lado a montante da ponte bairro

Esplanada eacute acrescido de um aterro que estenderaacute a aacuterea do antigo Morro das Cabritas

para o rio (Figura 24)

Conhecido como Rua da Lama devido agrave umidade que o rio transferia ao aterro formando

um barro viscoso que persistia a maior parte do ano o trecho atualmente compreende a

Avenida Professor Joseacute Zouian popularmente denominada Avenida Beira-Rio de onde

surge a primeira forma do calccediladatildeo que seraacute estendido ateacute o bairro Colatina Velha

61

Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o calccediladatildeo da Av Beira-Rio Elaborado pela autora Fonte Bennachio (2015)

Somente em 2004 foi implementado o maior projeto de canalizaccedilatildeo do municiacutepio Naquele

ano teve iniacutecio a execuccedilatildeo do enrocamento da Av Beira-Rio (Figura 25) obra destinada

inicialmente a alocaccedilatildeo de equipamentos puacuteblicos de lazer e cultura praccedilas preacutedios aleacutem

da promessa de contribuir para a contenccedilatildeo dos transbordamentos do Rio Doce

Apesar de o referido manancial jaacute estar comprometido com problemas de poluiccedilatildeo

assoreamento e erosatildeo aleacutem dos impactos de duas hidreleacutetricas instaladas a montante a

obra abarcou a supressatildeo da vegetaccedilatildeo ciliar e aterro de parte do rio jaacute tatildeo degradado

62

Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento iniciada em 2004 e finalizada em 2008 Elaborado pela autora Fonte proacutepria autora em 240215

Ocupando uma aacuterea total de 130 mil msup2 do leito do Rio Doce o aterro teve iniacutecio em 2004

sendo construiacutedo com cerca de 90 mil msup3 de pedras 50 mil msup3 de areia retirada do leito do

rio e por fim o nivelamento com 200 mil msup3 de terra A obra era divulgada como um antigo

sonho dos colatinenses e serviria para ampliaccedilatildeo da Av Beira-Rio no bairro de Colatina

Velha instalaccedilatildeo de ciclovias calccediladatildeo equipamentos puacuteblicos e estacionamento (Figura

26) Apesar do fim da engenharia em 2008 o projeto ainda estaacute em fase de acabamento

na parte urbaniacutestica e na alocaccedilatildeo dos oacutergatildeos puacuteblicos

Cabe destacar que a obra sofreu embargos do Ministeacuterio Puacuteblico Federal (MPF) por

apresentar apenas cadastro na Agecircncia Nacional de Aacuteguas (ANA) que conforme parecer

da Procuradora Nadja Machado Botelho na Accedilatildeo Civil Puacuteblica ldquo[hellip] equivocadamente natildeo

realizou o procedimento de outorga [hellip]rdquo (MPF 2006 p2) Aleacutem disso a procuradora

solicitou tutela tendo em vista tratar-se de aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental e o fato de o

IBAMA ter concedido licenciamento com indevida dispensa do Estudo de Impacto

Ambiental (EIA)Relatoacuterio de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA)

63

Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina Fonte Prefeitura de Colatina (2015)

Por isso essa obra deve ser considerada faraocircnica para os cofres puacuteblicos e irreversiacutevel

para os processos geomorfoloacutegicos do Doce E sua efetivaccedilatildeo soacute foi possiacutevel com a

participaccedilatildeo e investimentos do Governo estadual Contudo seu objetivo foi frustrado pois

novamente na cheia do Rio Doce em dezembro de 2013 quando este atingiu a vazatildeo de

9028 msup3s a aacuterea foi inundada e por estar em cota maior que as casas que beiravam o

rio o enrocamento atuou como represa natildeo permitindo o retorno das aacuteguas quando o niacutevel

do rio retomou o equiliacutebrio

Por fim segue um mapa siacutentese (Figura 27) com a cartografia das quatro principais

intervenccedilotildees diretas e estruturais na margem direita do Doce no setor urbano de Colatina

representando o curso natural do rio em 1950 e suas desnaturalizaccedilotildees a partir da deacutecada

de 60 ateacute a atualidade

64

Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce ante e depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora

65

422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio

O recorte em estudo compreende as Zonas ZE-1 ZE-2 e ZUD 2-1 (Figura 28 p61) sendo

a Zona Especial 1 Zona Especial 2 e Zona de Uso Diverso 2-1 destinadas no PDM (Lei

52732007)

Artigo 103 - As Zonas de Usos Diversos ndash ZUD satildeo definidas em razatildeo da concentraccedilatildeo de atividades urbanas diversificadas com predominacircncia do uso comercial e de serviccedilos Artigo 104 - Satildeo objetivos das Zonas de Usos Diversos I - otimizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do solo priorizando a instalaccedilatildeo de novos empreendimentos em terrenos natildeo edificados contiacuteguos a empreendimentos jaacute instalados II - controle da implantaccedilatildeo de usos incompatiacuteveis com os definidos para estas zonas III - garantia de licenciamento e monitoramento ambiental dos empreendimentos IV - controle da expansatildeo comercial de serviccedilos e de induacutestrias de pequeno porte em direccedilatildeo a aacutereas residenciais [] Artigo 130 - As Zonas Especiais 1 ndash ZE 1 abrangem todas as aacutereas remanescentes do municiacutepio relativamente ao zoneamento estabelecido nesta lei ocupadas ou natildeo contida na lei de periacutemetro urbano para as quais natildeo foram ainda estabelecidos os criteacuterios de uso e ocupaccedilatildeo Artigo 131 - As Zonas Especiais 2 ndash ZE 2 satildeo as aacutereas existentes no prolongamento da avenida Beira Rio mais especificamente no trecho entre o 80 Batalhatildeo da Poliacutecia Militar e a rua Pedro Epichin incluindo o espaccedilo existente entre a margem do Rio Doce e o limite das construccedilotildees localizadas na rua Pedro Epichin

Cabe destacar que mesmo sendo palco das aacutereas mais afetadas com as inundaccedilotildees do

Rio Doce a Beira-Rio tem sido alvo da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria que aproveitando-se dos

iacutendices pouco restritos da ZUD 2 (Figura 28 p62) valoriza o espaccedilo promovendo a

instalaccedilatildeo de grandes estruturas como hipermercados edifiacutecios residenciais modernos e

hotelaria

66

Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 Fonte Colatina (2007)

A aacuterea contida na ZE (Figura 28) natildeo possui criteacuterio de ocupaccedilatildeo definido na legislaccedilatildeo

atual sendo adotado o disposto na Lei 41961995 que estabelece os iacutendices urbaniacutesticos

para as aacutereas conquistadas junto ao Rio Doce e na Lei 420595 que aprova os

parcelamentos na Beira-Rio Quanto agrave ZUD 2-1 apresenta iacutendices urbaniacutesticos no anexo

118 do Plano Diretor conforme tabela 3 abaixo

67

Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1

Fonte Colatina (2007 p36)8

68

Eacute relevante observar que numa aacuterea onde o corpo hiacutedrico foi reduzido pelos sucessivos

aterros tenha sido aprovada a instalaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto (Figura

29) com taxa de ocupaccedilatildeo de ateacute 80 e com baixo iacutendice de permeabilidade Ampliou-

se a aacuterea impermeaacutevel numa regiatildeo onde a drenagem jaacute eacute muito comprometida com a

expansatildeo urbana sobre o rio

Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto na Beira-Rio Fonte imagem do Google Maps 2015 E fotos da autora em 140215

Portanto analisando o conjunto de dados apresentado acima eacute possiacutevel entender como

as inundaccedilotildees satildeo potencializadas no municiacutepio atingindo a populaccedilatildeo mas em especial

afetando a dinacircmica de um corpo hiacutedrico tatildeo relevante para o Estado A fim de subsidiar a

gestatildeo puacuteblica com material cartograacutefico para a tomada de decisotildees delimitou-se o

poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo (Figura 30) Pois devem ser adotadas medidas que

minimizem impactos de futuros eventos hidroloacutegicos na bacia capazes de comprometer

novamente a aacuterea urbana mais central de Colatina

69

Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av Beira-Rio em dezembro de 2013 Elaborado pela autora

70

Diante do poliacutegono de inundaccedilatildeo da uacuteltima cheia (Figura 30) em dezembro de 2013 eacute

possiacutevel implementar medidas de convivecircncia com as grandes vazotildees a exemplo de

paiacuteses como Holanda que vem investindo em medidas de resiliecircncia a fim de reduzir a

velocidade dos defluacutevios possibilitando ao canal a capacidade de acumular e dispersar as

aacuteguas com impacto miacutenimo para as populaccedilotildees Conforme Carneiro e Miguez (2011) a

estrateacutegia adotada pelo paiacutes eacute reter armazenar e drenar sendo mais flexiacutevel e natildeo

interferindo drasticamente na dinacircmica do corpo hiacutedrico

Por fim a implementaccedilatildeo de soluccedilotildees de planejamento urbano em Colatina requer uma

anaacutelise integrada que abarque o urbano e o ambiental de modo a propor intervenccedilotildees que

produzam impactos reduzidos nos processos geomorfoloacutegicos do Rio Doce Logo a gestatildeo

municipal deve atuar em niacutevel de bacia hidrograacutefica interagindo com os municiacutepios a

montante propondo medidas de minimizaccedilatildeo das cheias urbanas Mas na escala local

pode-se atuar junto aos novos parcelamentos de modo a ampliar o percentual de aacutereas

permeaacuteveis no municiacutepio incentivando por exemplo os novos loteamentos a adotarem

pavimentaccedilotildees que permitam a drenagem natural do solo

71

5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Partindo da ideia de que eacute possiacutevel implementar medidas que minimizem o escoamento

superficial satildeo apresentadas propostas como forma de controlar ou ao menos reduzir os

impactos das inundaccedilotildees urbanas

Embora as implementaccedilotildees histoacutericas de estruturas de proteccedilatildeo ou barreiras mais altas

tenham sido muito disseminadas atualmente estatildeo sendo suplantadas pelo gerenciamento

de inundaccedilotildees de maneira mais sustentaacutevel Deste modo as experiecircncias fora do Brasil

apontam para soluccedilotildees mais flexiacuteveis que considerem o fluxo natural do canal enquanto

um ecossistema em equiliacutebrio Para tanto Carneiro e Miguez (2011 p150) destacam a

iniciativa alematilde no controle de inundaccedilotildees em bacias hidrograacuteficas metropolitanas

[hellip] A abordagem comum consiste na regulaccedilatildeo do uso do solo nas aacutereas inundaacuteveis e em ldquodar espaccedilo para o riordquo ao inveacutes de priorizar investimentos em estruturas de proteccedilatildeo contra inundaccedilotildees como a colocaccedilatildeo de diques de contenccedilatildeo as margens dos rios A utilizaccedilatildeo do conceito de resiliecircncia apropriado de ecologia decorre dessa abordagem A aplicaccedilatildeo praacutetica do conceito implica portanto em mudanccedilas de paradigma Deixa de ser preponderante a engenharia construtiva e entra em cena o planejamento de longo prazo voltado para o desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis capazes de conviver com as variaccedilotildees do ciclo hidroloacutegico sem significar necessariamente trageacutedias anunciadas

Aleacutem dessas propostas geoacutegrafos como Sandra Cunha tecircm estudado a recuperaccedilatildeo

natural ou ldquorenaturalizaccedilatildeordquo de corpos fluviais visando promover a estabilidade dos canais

de modo mais sustentaacutevel Para ela

[hellip] Recuperaccedilatildeo de canal significa de forma simples o retorno as condiccedilotildees anteriores aos distuacuterbios Em essecircncia eacute o processo de recuperaccedilatildeo do rio ou do ecossistema fluvial estabilizando o desenvolvimento de habitats e colonizaccedilatildeo a uma taxa mais raacutepida que dos processos naturais fiacutesicos e bioloacutegicos Na recuperaccedilatildeo de canais ocorrem consideraccedilotildees de aspecto hidroloacutegico morfoloacutegico e ecoloacutegico qualidade da aacutegua esteacutetica aleacutem da necessidade de uma visatildeo integradora do projeto sustentaacutevel de recuperaccedilatildeo (CUNHA 2012 p230 a 231)

Satildeo portanto medidas pontuais como o retorno agraves sinuosidades do rio (Figura 31 p 68)

ou a substituiccedilatildeo de estruturas de concreto por superfiacutecies mais permeaacuteveis a exemplo

das trincheiras de infiltraccedilatildeo ou pavrsquos (Figura 32) aacutereas mais vegetadas aleacutem de coleta e

uso de aacutegua da chuva bem como tratamento das aacuteguas superficiais por meio de

72

amenidades esteacuteticas como reservatoacuterios de retenccedilatildeo ou detenccedilatildeo que podem ser

associados a ambientes harmocircnicos como lagos artificiais Todas estas accedilotildees possibilitam

a minimizaccedilatildeo das grandes vazotildees no solo urbano pois pretendem atenuar os impactos

das cheias fazendo com que seja resgatada parte da drenagem existente anteriormente agrave

urbanizaccedilatildeo

Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do Rio Aa Munster Alemanha (1998) Fonte Cunha (2012 p233)

Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos Fonte Carneiro e Miguez (2011 p128)

A partir do exposto cabe agrave gestatildeo municipal implementar legislaccedilotildees que priorizem a

permeabilidade possibilitando uma maior infiltraccedilatildeo das aacuteguas das chuvas atraveacutes de

pavimentaccedilotildees menos impermeaacuteveis e da ampliaccedilatildeo de aacutereas vegetadas Satildeo medidas

que tornam a drenagem mais sustentaacutevel aleacutem de possibilitar a manutenccedilatildeo dos serviccedilos

puacuteblicos de forma menos custosa tendo em vista o elevado preccedilo das recomposiccedilotildees

asfaacutelticas

1 2

73

Aleacutem disso quando se fala em controle de cheias urbanas pressupotildee-se uma seacuterie de

medidas para minimizaccedilatildeo de seus impactos desde a operaccedilatildeo de sistemas de alerta

zoneamento de aacutereas inundaacuteveis construccedilatildeo de grandes reservatoacuterios de contenccedilatildeo de

cheias e diques ateacute accedilotildees de educaccedilatildeo ambiental

Cabe pensar tambeacutem na proacutexima revisatildeo do PDM em um plano de macrodrenagem

municipal que reuacutena accedilotildees de caraacuteter estruturantes com obras hidraacuteulicas de infraestrutura

que realizem a conduccedilatildeo final das aacuteguas dos escoamentos superficiais para a minimizaccedilatildeo

das inundaccedilotildees e em medidas natildeo-estruturantes que trabalhem a consciecircncia ambiental

e proponha um zoneamento de cheias a fim de se delimitar os pontos mais fragilizados nos

defluacutevios

Por fim pensar em drenagem num contexto de ocupaccedilatildeo irregular histoacuterico requer

profissionais que aleacutem de possuir afinidade com a temaacutetica tambeacutem possam analisar os

diferentes processos que constituem o espaccedilo geograacutefico Logo este tipo de estudo deve

abarcar uma equipe multidisciplinar que percorra a anaacutelise desde o ambiental estrutural

ateacute o aspecto humano a fim de se produzir resultados que de fato contribuam com o

controle das inundaccedilotildees urbanas

74

6 CONCLUSAtildeO

A partir do recorte espacial foi possiacutevel compreender que a abordagem da geomorfologia

fluvial com a anaacutelise espaccedilo-temporal da ocupaccedilatildeo urbana possibilita a identificaccedilatildeo das

accedilotildees do homem no meio ambiente pois estas resultam na alteraccedilatildeo das paisagens

naturais e na dinacircmica da bacia hidrograacutefica Assim o Rio Doce deve ser estudado de

modo integrado ao crescimento da cidade sobretudo para compreensatildeo da produccedilatildeo do

espaccedilo geograacutefico

Analisar a inundaccedilatildeo urbana em Colatina foi satisfatoacuterio pois o municiacutepio estaacute situado no

perfil meacutedio-baixo da bacia vazante e eacute neste trecho que os reflexos das intervenccedilotildees satildeo

mais acentuados principalmente se esta parte do canal tambeacutem tiver passado por obras

que modificaram seus processos hidroloacutegicos Aleacutem disso a perspectiva geograacutefica aponta

para vaacuterias outras questotildees como erosatildeo fluvial planejamento urbano poluiccedilatildeo ambiental

crise da aacutegua que conduzem a outras discussotildees acerca da relaccedilatildeo homemnatureza

Ao demonstrar a evoluccedilatildeo espaccedilo-temporal do uso e cobertura da terra na margem direita

do Doce associando esta ocupaccedilatildeo agraves obras estruturantes que foram executadas no

canal verificamos que todas as praacuteticas adotadas para conter o transbordamento do rio

acabaram alterando sua morfologia com a retificaccedilatildeo de trechos em meandros reduzindo

a largura do corpo hiacutedrico o que favoreceu a apropriaccedilatildeo urbana de suas vaacuterzeas Aliadas

a estas questotildees estatildeo a falta de planejamento urbano e a omissatildeo diante da supressatildeo

das matas ciliares principalmente se considerados os resultados do relatoacuterio teacutecnico do

IJSN contra enchentes em 1980

Cabe destacar tambeacutem que toda a anaacutelise da ocupaccedilatildeo urbana e desnaturalizaccedilatildeo do

Rio Doce foi melhor identificada a partir dos produtos cartograacuteficos deste trabalho Pois eacute

na espacialidade dos fenocircmenos e no registro de informaccedilotildees ainda natildeo mapeadas como

os aterros que o geoacutegrafo executa a anaacutelise do seu objeto de estudo o homem e a

natureza aqui representado pela sociedade e o canal do Doce

Apesar do municiacutepio apresentar leis que resguardam os leitos dos rios desde o primeiro

PDM em 1996 nada foi feito para conter as ocupaccedilotildees irregulares beira-rio Pelo contraacuterio

estas aacutereas foram incorporadas ao Plano Diretor em 2007 com possibilidades de

ocupaccedilotildees diversas o que tem levado especuladores a valorizar o solo com vista para o

rio apontando suas qualidades esteacuteticas e teacutermicas Este fato vem aumentando o

75

percentual de aacutereas impermeaacuteveis nesta margem comprometendo ainda mais a drenagem

dos defluacutevios

Eacute na Av Beira-Rio que crescem as implantaccedilotildees de grandes empreendimentos comerciais

como supermercado Casagrande Ogil Hotel e obras de construccedilatildeo de novos arranha-

ceacuteus em um periacutemetro que jaacute eacute totalmente comprometido com os extravasamentos do Rio

Doce Estas obras ocupam grandes aacutereas e na maioria das vezes apresentam reduzida

aacuterea permeaacutevel reservando apenas o obrigatoacuterio pela lei cerca de 10 Observa-se

tambeacutem que a implantaccedilatildeo desses projetos estaacute condicionada agrave apresentaccedilatildeo e

aprovaccedilatildeo por comissatildeo na prefeitura do Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV) sendo

difiacutecil conceber que seja concedida tal licenccedila para implementaccedilatildeo de obras num trecho

de risco ambiental

Embora as diretrizes do Estatuto das Cidades para a implementaccedilatildeo do uso da terra

sustentaacutevel e os instrumentos para a regulaccedilatildeo do solo urbano sejam avanccedilados Colatina

eacute mais um exemplo da carecircncia de profissionais capacitados para estudar de modo

integrado e em niacutevel de bacia hidrograacutefica os efeitos da accedilatildeo humana num ambiente tatildeo

peculiar como as margens do Doce Por isso com os objetivos traccedilados nesta pesquisa

podemos aleacutem de compreender o fenocircmeno criar uma metodologia de anaacutelise de aacutereas

inundaacuteveis em ambientes urbanos O que permite agrave gestatildeo municipal uma diretriz para a

tomada de decisotildees

Destaca-se tambeacutem que as legislaccedilotildees aqui referenciadas supriram a discussatildeo acerca do

objeto de estudo mas outras podem contribuir para esta pesquisa a exemplo do Coacutedigo

das Aacuteguas da Poliacutetica Nacional dos Recursos Hiacutedricos das Resoluccedilotildees do Conama do

Estatuto das Cidades entre outros

Sendo assim numa revisatildeo do PDM deve-se pensar nestes aspectos da cidade desde o

histoacuterico de ocupaccedilatildeo das margens ateacute os impactos das inundaccedilotildees e o presente trabalho

auxilia com uma nova abordagem na reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo fornecendo material

cartograacutefico para subsidiar propostas de proteccedilatildeo ao curso do Doce e consequentemente

da populaccedilatildeo

Por fim deve-se destacar que o recorte estaacute inserido num contexto maior de uma bacia

hidrograacutefica que se estende aleacutem dos limites de Colatina ou do estado do Espiacuterito Santo

Esta bacia compreende a Regiatildeo Hidrograacutefica do Atlacircntico Leste e estaacute alocada tambeacutem

76

no estado de Minas Gerais o que portanto torna as accedilotildees de controle das inundaccedilotildees

mais complexas tendo em vista as divergentes politicas territoriais

77

7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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78

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Page 13: DESNATURALIZAÇÃO DO RIO DOCE: UMA ABORDAGEM … · Ao engenheiro Francisco Hermes, pela experiência e conhecimentos partilhados da área de estudo. Aos meus amigos Mônica Regina,

15

relato do Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural - PROATER (INCAPER

2011)

Exportadores de cafeacute atacadistas e as lojas de pronta entrega dinamizam o comeacutercio local que atende aos municiacutepios do norte capixaba leste de Minas Gerais e sul da Bahia representando um universo de mais de 700 mil consumidores (INCAPER 2011 p5)

De acordo ainda com o INCAPER (op cit) Colatina tem crescido a uma margem de 188

anual o que representa a tendecircncia ao ecircxodo rural sendo que a populaccedilatildeo do campo vem

diminuindo de aproximadamente 19 em 1990 passou a 12 no Censo de 2010 Diante

do exposto entra em discussatildeo o planejamento urbano pois com o crescimento da

populaccedilatildeo citadina para cerca de 88 aumentam tambeacutem as pressotildees sobre o meio

ambiente em especial as regiotildees ribeirinhas

Estas uacuteltimas refletem o aumento das atividades humanas na bacia hidrograacutefica onde

pode-se destacar as mudanccedilas induzidas pelas accedilotildees antropogecircnicas que se dividem em

diretas (aquelas que atuam no canal fluvial para controle das vazotildees a exemplo dos

reservatoacuterios e desvios de aacuteguas) e indiretas relacionadas agraves aacutereas fora dos canais por

exemplo o desmatamento e urbanizaccedilatildeo sendo que estas comprometem a descarga e

carga soacutelida do rio (PARK1981 KNIGHTON1984 apud CUNHA 2001)

O interesse pela pesquisa surge da importacircncia regional do municiacutepio dos impactos

histoacutericos humanos materiais e imateriais sofridos diante de eventos hidroloacutegicos

extremos tendo em vista o fato de o periacutemetro urbano ser cortado por um corpo fluvial de

importacircncia regional Aleacutem disso a abordagem geograacutefica possibilita a correlaccedilatildeo dos

processos fluviais com a ocupaccedilatildeo urbana de modo mais integrado (COELHO 2009)

Portanto uma das finalidades deste trabalho eacute analisar por meio das geotecnologias e das

investigaccedilotildees de campo como a ocupaccedilatildeo urbana tem interferido nas margens do Rio

Doce de modo a delimitar os sucessivos aterros na margem direita no periacutemetro do bairro

Esplanada a Colatina Velha Ademais identificar como os processos deste canal fluvial

tecircm sido afetados pela intervenccedilatildeo humana em seu leito principal

16

11 Objetivo

111 Objetivo Geral

Correlacionar os processos fluviais do Rio Doce por meio da dinacircmica geomorfoloacutegica

deste canal com o uso e cobertura da terra no setor urbano do municiacutepio de Colatina

Espiacuterito Santo Contrapondo assim as intervenccedilotildees urbanas da beira-rio com o Plano

Diretor Municipal e o Novo Coacutedigo Florestal enfatizando as diretrizes adotadas no

parcelamento do solo para a planiacutecie de inundaccedilatildeo deste rio

112 Objetivos Especiacuteficos

Identificar os vetores de crescimento urbano do municiacutepio a fim de avaliar a

evoluccedilatildeo da mancha urbana junto ao canal principal

Determinar o comprimento da borda da calha do leito regular do Rio Doce no

periacutemetro urbano de Colatina para definiccedilatildeo da largura miacutenima da faixa marginal

de preservaccedilatildeo

Espacializar as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente beira-rio previstas em lei a fim

de analisar a ocupaccedilatildeo urbana nestes espaccedilos

Cartografar os principais pontos desnaturalizados no canal principal do Rio Doce

no setor urbano de Colatina

Demonstrar como o emprego das geotecnologias auxilia no planejamento urbano

e ambiental especialmente em acircmbito municipal

17

12 Justificativa

A aacuterea de estudo corresponde ao periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina situado na

Bacia Atlacircntico trecho leste sub-bacia do Rio Doce no baixo curso (ANA 2001)

Compreende a regiatildeo noroeste do estado do Espiacuterito Santo latitude 19deg 32rsquo 16rsquorsquo S e

longitude 40deg 37rsquo 59rsquorsquo W De acordo com os dados do censo de 2010 do Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio possuiacutea uma populaccedilatildeo de 111788 mil

habitantes1 numa aacuterea territorial de 1416804 kmsup2

Devido a sua privilegiada posiccedilatildeo geograacutefica limiacutetrofe com o Rio Doce e a construccedilatildeo da

Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas em 1906 Colatina compreendia os territoacuterios dos atuais

municiacutepios de Baixo Guandu Linhares Pancas Satildeo Gabriel da Palha Marilacircndia Satildeo

Domingos do Norte e Governador Lindenberg (INCAPER 2011) Soacute a partir de 2001

passou a apresentar os atuais limites municipais e configurar uma aacuterea urbana com 59

bairros (Figura 1)

Colatina eacute um municiacutepio de importacircncia para regiatildeo noroeste capixaba seja em caraacuteter

econocircmico ou social Eacute responsaacutevel pelos fluxos de cargas da regiatildeo aleacutem de ser um polo

moveleiro de confecccedilatildeo metalmecacircnico e de comeacutercio e serviccedilos gerando emprego e

renda (INCAPER 2011) Aleacutem disso tem sofrido historicamente com as cheias do Rio

Doce principalmente porque parte do seu periacutemetro urbano eacute inundado com as aacuteguas da

calha principal desse rio o que compromete toda a dinacircmica local e potildee em risco os

colatinenses

Assim diante das crescentes demandas por territoacuterio no periacutemetro urbano a populaccedilatildeo

tem suprimido a cobertura vegetal e ocupado desde as margens do Rio Doce ateacute as

encostas dos morros Em periacuteodos de cheias principalmente nos meses de outubro a

marccedilo (INCAPER 2011 ANA 2001) verificam-se inundaccedilotildees de grande parte da aacuterea

urbana beira-rio aleacutem dos movimentos de massa nas encostas Como exemplo destes

acontecimentos tecircm-se os registros fotograacuteficos dos efeitos da chuva de dezembro de 2013

(Figuras 2 e 3)

1 De acordo com o a estimativa do IBGE de 2014 publicada no DOU o municiacutepio conta com uma populaccedilatildeo de 121670 habitantes

18

Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e o canal do Rio Doce Elaborado pela autora

19

Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 Fonte Noticias UOL (2013)

Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de 2013 Fonte Folha Vitoacuteria (2013)

Este estudo portanto eacute relevante tendo em vista as raras abordagens no acircmbito das

Ciecircncias Geograacuteficas especialmente no Espiacuterito Santo de pesquisas que correlacionem

aspectos da geomorfologia fluvial por meio da dinacircmica dos recursos hiacutedricos com o uso

e cobertura da terra particularmente o Plano Diretor Municipal (PDM) Discute dessa

forma as implicaccedilotildees da atuaccedilatildeo humana nas particularidades deste ecossistema natural

tendo em vista o disposto nas legislaccedilotildees urbaniacutesticas e ambientais que visam assegurar

a qualidade de vida das populaccedilotildees

Adiante seratildeo analisados os principais fundamentos da geomorfologia fluvial os aspectos

juriacutedicos e o papel da anaacutelise geograacutefica integrada para o entendimento dos fenocircmenos

das inundaccedilotildees no Centro de Colatina uma vez que eacute devido agraves intervenccedilotildees humanas

nos canais e suas margens que esses fenocircmenos tornam-se mais nocivos a cidade

20

2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS

21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano

Recurso essencial para a manutenccedilatildeo da vida a aacutegua foi um fator relevante para o

estabelecimento histoacuterico das sociedades no entorno dos cursos hiacutedricos Utilizados para

fins de abastecimento humano e animal irrigaccedilatildeo saneamento e transporte os rios

constituiacuteram-se nos principais propulsores de penetraccedilatildeo para o interior (CUNHA 2012a)

Logo em suas margens surgiram povoados que posteriormente transformaram-se em

cidades como as que se estabeleceram agraves margens do Rio Doce a exemplo da sede de

Colatina

Diante das potencialidades que os recursos hiacutedricos possibilitam agraves sociedades

destacamos a importacircncia do estudo da Geomorfologia Fluvial que se apresenta como

campo da Geomorfologia (ciecircncia que estuda as formas do relevo) sendo o interesse

daquela a pesquisa dos processos que relacionam o escoamento das aacuteguas fluviais num

contexto de bacia hidrograacutefica (CHRISTOFOLETTI 1980 CUNHA op cit) Enfoca assim

as alteraccedilotildees na fisionomia dos canais frente agraves intervenccedilotildees no ecossistema natural

beira-rio

A Geomorfologia Fluvial parte da condicionante de que o uso e ocupaccedilatildeo da terra refletem-

se na dinacircmica da bacia de drenagem interferindo nos processos morfogeneacuteticos ou seja

de modelagem do relevo fluvial escoamento superficial das aacuteguas e no ciclo hidroloacutegico

Frente agrave temaacutetica deste estudo faz-se necessaacuterio o entendimento dos conceitos da

fisiografia fluvial aqui referente aos diferentes setores que a aacutegua pode escoar num leito

(Figura 4) como

O leito menor corresponde agrave parte do canal ocupada pelas aacuteguas e cuja frequecircncia impede o crescimento da vegetaccedilatildeo Esse tipo de leito eacute delimitado por partes bem definidas O leito de vazante equivale agrave parte do canal ocupada durante o escoamento das aacuteguas de vazante Suas aacuteguas divagam dentro do leito menor seguindo o talvegue linha de maacutexima profundidade ao longo do leito e que eacute mais bem identificada na seccedilatildeo transversal do canal O leito maior tambeacutem denominado leito maior perioacutedico ou sazonal eacute ocupado pelas aacuteguas do rio regularmente e pelo menos uma vez ao ano durante as cheias Dependendo do tempo ocorrido entre as subidas das aacuteguas eacute possiacutevel haver a fixaccedilatildeo e o crescimento da vegetaccedilatildeo herbaacutecea

21

O leito maior excepcional eacute ocupado durante as grandes cheias no decorrer das enchentes (CUNHA 2001 p 213)

Figura 4 - Tipos de leito fluvial vaacuterzea Fonte Cunha (2001 p213)

Sendo assim as aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial (leitos) aquelas inundadas pelo corpo

hiacutedrico frente a um evento hidroloacutegico extremo tambeacutem satildeo conhecidas como vaacuterzeas

planiacutecie de inundaccedilatildeo ou ainda segundo Carneiro e Miguez (2011 p133) como ldquo[] zona

de passagem de cheia []rdquo Essas aacutereas de vaacuterzeas dependem da fisionomia que o rio

apresenta e segundo Cunha (op cit) o canal fluvial pode apresentar trecircs formas

principais conhecidas como padratildeo dos canais que satildeo retiliacuteneo anastomosado e

meacircndrico (Figura 5)

Figura 5 - Padrotildees dos canais (A) retiliacuteneo (B) anastomosado (C) meandrante (A) amplitude (Rc) raio meacutedio da curvatura do meandro (segundo Bigarella etal 1979) Fonte Cunha (2001 p216)

22

Aliada aos padrotildees dos canais estaacute a assimetria ou simetria dos leitos que para Cunha

(2001 p233) relaciona-se com a variaccedilatildeo da velocidade e turbulecircncia ao longo da secccedilatildeo

transversal o que diferencia o comportamento nos canais retiliacuteneos geralmente simeacutetricos

do canal meacircndrico onde

Em canais de leito simeacutetrico em geral padratildeo retiliacuteneo a velocidade maacutexima ocorre no centro do canal diminuindo em direccedilatildeo agraves margens Em leito assimeacutetrico de padratildeo meacircndrico a zona de maacutexima velocidade e turbulecircncia localiza-se nas proximidades das margens cocircncavas decrescendo de valor em direccedilatildeo agrave margem de menor profundidade

(convexa) (CUNHA opcit p 233)

Deste modo a capacidade de erosatildeo das margens transporte e deposiccedilatildeo da carga do rio

dependem entre outros fatores da velocidade das correntes fluviais E o material do fluxo

fluvial constitui-se da descarga liacutequida ou vazatildeo que estaacute relacionada ao tamanho do

material que pode ser transportado e do volume da carga que o rio eacute capaz de carregar

Tem-se ainda a carga soacutelida sedimentos que estaacute relacionada a suspensatildeo e fundo do

rio esta decresce a jusante indicando a diminuiccedilatildeo da competecircncia do corpo fluvial As

cargas de suspensatildeo satildeo constituiacutedas de partiacuteculas finas a exemplo do silte e por fim a

carga de fundo que eacute composta por partiacuteculas de tamanhos maiores a exemplo da areia

(CUNHA2001)

Christofoletti (1980) acrescenta que os sedimentos podem ser carregados de trecircs modos

principais no fluxo em soluccedilatildeo dissolvidos nos cursos hiacutedricos em suspensatildeo como o

silte e argila e em saltaccedilatildeo geralmente a areia e cascalho que compreendem a carga do

leito do rio Destaca-se que a carga detriacutetica natildeo proveacutem apenas da erosatildeo do fundo dos

leitos e margens fluviais mas que o material intemperizado de vertentes carreado nas

enchentes contribui significativamente para a carga sedimentar transportada

Cabe ressaltar ainda que a relaccedilatildeo do arranjo espacial dos canais com os processos

fluviais (a erosatildeo o transporte e a deposiccedilatildeo de sedimentos) eacute determinante para o

trabalho dos rios Tais processos satildeo diretamente influenciados pela vazatildeo velocidade e

pela intensidade da turbulecircncia (seja no fluxo laminar ou no fluxo turbulento) A

variabilidade no comportamento da velocidade e turbulecircncia das aacuteguas ao longo da seccedilatildeo

transversal condiciona os locais preferenciais de erosatildeo e deposiccedilatildeo ao longo do curso

hiacutedrico

23

Deste modo qualquer intervenccedilatildeo na bacia e canal fluvial compromete o equiliacutebrio natural

da drenagem levando o corpo hiacutedrico a se adaptar agraves mudanccedilas em sua fisionomia

fisiografia e em seus processos ateacute atingir um novo estado de equiliacutebrio Poreacutem eacute na

planiacutecie de inundaccedilatildeo que estas modificaccedilotildees seratildeo mais percebidas pela populaccedilatildeo pois

a maior parte das obras de engenharia como as canalizaccedilotildees e as ocupaccedilotildees das

margens acaba por romper com o equiliacutebrio natural do rio alterando sua dinacircmica e

intensificando seus processos o que na maioria das vezes potencializa as enchentes no

ambiente urbano

Nesse sentido o entendimento dos processos fluviais (erosatildeo transporte e deposiccedilatildeo)

combinado com a anaacutelise da fisiografia fluvial condicionam as peculiaridades na geometria

hidraacuteulica ou seja na relaccedilatildeo entre a vazatildeo velocidade de escoamento tipos de canais

de sedimentos e a topografia Logo o conhecimento geomorfoloacutegico do rio contribui para

pesquisas que necessitem relacionar o funcionamento deste corpo natural com um

planejamento urbano mais efetivo principalmente se considerarmos um recorte em niacutevel

de bacia hidrograacutefica em espaccedilo urbano

211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial

O capiacutetulo que segue versa sobre a atuaccedilatildeo antroacutepica relacionando-a a aacuterea de estudo o

rio Doce poreacutem este trata de forma macro a temaacutetica para contextualizar o leitor sendo

as especificidades das intervenccedilotildees neste recorte geograacutefico trabalhados nos resultados

desta pesquisa

Diante do exposto eacute possiacutevel acompanhar a evoluccedilatildeo dos processos fluviais nos canais

em especial aqueles que tiveram intervenccedilotildees em seu curso natural como as hidreleacutetricas

instaladas a montante a exemplo do Rio Doce onde a interferecircncia direta na vazatildeo e fluxo

de sedimentos altera a hidrodinacircmica do rio comprometendo a erosatildeo e transporte Para

Coelho (2007 p57) as

Mudanccedilas na Declividade Perfil Longitudinal Promovidas pela construccedilatildeo de reservatoacuterio satildeo variadas e caso o efeito da contenccedilatildeo de sedimentos seja significativo os processos fluviais reduziratildeo a capacidade de transporte de sedimento podendo promover um entalhamento do leito do rio imediatamente agrave jusante da barragem

Aleacutem disso esse processo erosivo poacutes-barragem eacute intensificado favorecendo o

assoreamento e sedimentaccedilatildeo do rio a jusante O que pode beneficiar a elevaccedilatildeo da cota

24

do canal fluvial frente a eventos hidroloacutegicos extremos potencializando os efeitos das

inundaccedilotildees nas vaacuterzeas

Ao mesmo tempo o Rio Doce trecho que compreende o Espiacuterito Santo meacutediobaixo curso

eacute impactado nas vazotildees miacutenimas e maacuteximas a jusante apoacutes a instalaccedilatildeo das

barragensUsinas Hidreleacutetricas (UHE) de Mascarenhas (iniacutecio de operaccedilatildeo em 1974)

localizada no Municiacutepio de Baixo Guandu e a de Aimoreacutes (iniacutecio de operaccedilatildeo em 2005)

localizada na divisa do Espiacuterito Santo com Minas Gerais (COELHO 2007)

De acordo com Coelho (opcit) apoacutes a implantaccedilatildeo das usinas ocorreu uma reduccedilatildeo

significativa na vazatildeo da calha principal do Rio Doce conforme Graacutefico 1

Considerando o periacuteodo de 1939 a 2012 a vazatildeo miacutenima apoacutes a instalaccedilatildeo das usinas

chega a atingir 411msup3s e a maacutexima chega apenas a 1251msup3s sendo que no periacuteodo

anterior agrave instalaccedilatildeo das usinas foi registrada a miacutenima de 533 msup3s e uma maacutexima de

1812 msup3s o que ressalta o impacto do barramento sobre o corpo hiacutedrico Aleacutem do

comprometimento dos processos de erosatildeo transporte e sedimentaccedilatildeo (COELHO 2008

e CUNHA 2001)

Diante desta perda de carga liacutequida nos barramentos Cunha (2001 p 241) observa ainda

que as aacutereas a jusante de reservatoacuterios

[hellip] onde o regime do rio sofre significativas modificaccedilotildees devidas ao controle das descargas liquidas e de sedimentos no reservatoacuterio As mudanccedilas ocorridas no regime das aacuteguas neste setor do rio acarretam significativos efeitos nos processos do canal tais como o entalhe do leito a erosatildeo das margens e a deposiccedilatildeo a jusante atingindo longas distacircncias

Aleacutem disso no periacutemetro urbano de Colatina o Rio Doce sofreu outras intervenccedilotildees em

seu canal principal como a implantaccedilatildeo de obras estruturais de macrodrenagem a

exemplo da construccedilatildeo da Av Beira-Rio com intuito de conter o avanccedilo das aacuteguas fluviais

em periacuteodos de cheias

25

Graacutefico 1

Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais (Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia)

Fonte adaptado de Coelho (2007 p154)

26

Como exemplo dos tipos de intervenccedilotildees humanas nas aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial

leitos Carneiro e Miguez (2011 p117) destacam

As accedilotildees de controle e cheias urbanas podem ser classificadas em estruturais quando a paisagem eacute alterada pela accedilatildeo do homem e em natildeo estruturais aqui denominada como estruturante quando o homem aprende a conviver com as enchentes No primeiro caso estatildeo as medidas de controle atraveacutes de obras hidraacuteulicas tais como barragens diques e canais entre outras No segundo caso encontram-se medidas do tipo preventivo tais como zoneamento de aacutereas de inundaccedilatildeo sistemas de alerta educaccedilatildeo ambiental lei de parcelamento e uso dos solos e seguros contra inundaccedilatildeo

Neste cenaacuterio abarcamos os impactos das obras de engenharia como a canalizaccedilatildeo que

altera a fisionomia e fisiografia do rio refletindo-se nos processos geomorfoloacutegicos do canal

e sua planiacutecie de inundaccedilatildeo Para estes a canalizaccedilatildeo eacute uma obra estrutural que aumenta

a capacidade do fluxo do canal aleacutem de intensificar a velocidade do escoamento

superficial antecipando o pico de cheia e transferindo os alagamentos para locais a jusante

na bacia hidrograacutefica

Articulado a esta ideia Cunha (2012b) reflete a desnaturalizaccedilatildeo dos rios por meio de

obras de retificaccedilatildeo com a reduccedilatildeo do comprimento do canal e eliminaccedilatildeo das

sinuosidades Satildeo obras que afetam a estabilidade do corpo hiacutedrico na medida em que

interferem na relaccedilatildeo entre erosatildeo sedimentaccedilatildeo e deposiccedilatildeo provocando efeitos como

alteraccedilatildeo na morfologia do canal Sendo assim ldquo[hellip] a diminuiccedilatildeo da rugosidade no fundo

do canal em conjunto com a perda dos meandros e a aceleraccedilatildeo das velocidades eacute a

principal responsaacutevel pelas mudanccedilas no balanccedilo da energia natural dos sedimentos

fluviais [hellip]rdquo Cunha (2012b p178) No caso do Rio Doce trecho correspondente agrave Av

Beira-Rio alterou-se a sua forma retilinizando-a e sua vegetaccedilatildeo natural foi substituiacuteda

por estruturas de pedras o que compromete a resistecircncia ao fluxo as margens e aos

bancos arenosos

Embora as obras de canalizaccedilatildeo sejam implantadas como eficazes nos canais fluviais para

questotildees de enchentes urbanas para Cunha (op cit) estas necessitam de manutenccedilatildeo

constante envolvendo desde dragagem remoccedilatildeo de obstruccedilotildees a recomposiccedilatildeo do

material utilizado Poreacutem toda a manutenccedilatildeo estaacute associada a alteraccedilotildees morfoloacutegicas e

bioloacutegicas como as que interferem nas soleiras e depressotildees do fundo dos leitos

desestabilizando a vazatildeo no curso a exemplo da

27

ldquo[hellip] eliminaccedilatildeo da sequecircncia de depressotildees e soleiras o aumento da velocidade da corrente a diminuiccedilatildeo da diversidade de habitats o ambiente instaacutevel resultante da flutuaccedilatildeo dos niacuteveis da aacutegua e do substrato moacutevel e a maior flutuaccedilatildeo da temperatura das aacuteguasrdquo (CUNHA 2012b p180)

Ao mesmo tempo o aumento da velocidade dos escoamentos no trecho retificado

possibilita maior erosatildeo transferindo para as aacutereas a jusante uma carga soacutelida

representativa que para Cunha (op cit) configura a formaccedilatildeo de bancos axiais e depoacutesitos

de sedimentaccedilatildeo marginais alterando o equiliacutebrio dos sedimentos a jusante Pois

A jusante das obras de retificaccedilatildeo verificam-se o aumentam da carga soacutelida o assoreamento durante a dragagem a erosatildeo no canal pelos eventos torrenciais do regime e a modificaccedilatildeo na dinacircmica na foz Os sedimentos resultantes da erosatildeo no canal retificado em conjunto com a excessiva carga de sedimentos posta em suspensatildeo durante a dragagem e na fase imediata de poacutes-construccedilatildeo - quando a erosatildeo dos bancos de areia sem vegetaccedilatildeo estaacute em seu niacutevel maacuteximo - originam a formaccedilatildeo de depoacutesitos fluviais de curta duraccedilatildeo a jusante do canal retificado Logo a seguir esses depoacutesitos satildeo erodidos juntamente com as margens e o fundo do leito pelos eventos torrenciais do regime vindo a formar bancos axiais e depoacutesitos de sedimentaccedilatildeo marginais (CUNHA2012b p183)

Portanto o estudo da geomorfologia fluvial contribui diretamente para o entendimento das

cheias nas planiacutecies de inundaccedilatildeo em especial nas bacias hidrograacuteficas que

compreendem a aacuterea urbana e que possuem intervenccedilotildees antroacutepicas diretas na fisiografia

do canal principal Seus processos explicam como as alteraccedilotildees no canal fluvial podem

maximizar os efeitos dos transbordamentos impactando principalmente as populaccedilotildees

ribeirinhas aleacutem de todo ecossistema local Ademais estes fundamentos geomorfoloacutegicos

devem ser associados agrave legislaccedilatildeo vigente afim de subsidiar a elaboraccedilatildeo de instrumentos

legais para atuaccedilatildeo do poder puacuteblico nestas zonas de risco

22 Aspectos Juriacutedicos

Frente agrave crescente demanda sobre os recursos hiacutedricos e solo urbano a partir da deacutecada

de 1930 surgem as primeiras diretrizes que visam regulamentar estes ambientes a

exemplo do Coacutedigo das Aacuteguas Mas soacute a partir dos anos 1960 surgem em acircmbito federal

leis como o Coacutedigo Florestal com o intuito de regular a exploraccedilatildeo das vegetaccedilotildees e

consequentemente proteger os mananciais e em 1979 com o objetivo de ordenar as

28

cidades eacute aprovada a Lei 676679 estabelecendo as normas do parcelamento do solo

urbano

Na medida em que as populaccedilotildees aumentam ampliam-se tambeacutem as pressotildees sobre os

recursos de aacutegua e solo Os processos de uso e a conscientizaccedilatildeo de que estes elementos

satildeo finitos intensificam as formas de controle e preservaccedilatildeo passando para as esferas

estaduais e municipais a responsabilidade de atuar em escala local na proteccedilatildeo desses

ambientes

Ainda em escala federal em 2012 eacute promulgado o Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012

em substituiccedilatildeo ao coacutedigo anterior Lei 47711965 que apresenta as normas de

apropriaccedilatildeo dos recursos naturais pelas novas necessidades das populaccedilotildees citadinas e

rurais No que compete agrave aacuterea de estudo cabe destacar as ocupaccedilotildees em aacutereas de

planiacutecie de inundaccedilatildeo em que de acordo com art 4ordm devem ser preservadas

I - as faixas marginais de qualquer curso drsquoaacutegua natural perene e intermitente excluiacutedos os efecircmeros desde a borda da calha do leito regular em largura miacutenima de (Incluiacutedo pela Lei nordm 12727 de 2012) a) 30 (trinta) metros para os cursos drsquoaacutegua de menos de 10 (dez) metros de largura b) 50 (cinquenta) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura c) 100 (cem) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura d) 200 (duzentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura e) 500 (quinhentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros []

A legislaccedilatildeo eacute riacutegida no que concerne agrave ocupaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo das terras nas faixas

marginais dos rios transferindo aos estados e municiacutepios a responsabilidade de fiscalizar

estes territoacuterios para garantir a efetividade da lei A questatildeo eacute que muitas vezes somada a

falta de planejamento estas fiscalizaccedilotildees satildeo ineficientes o que tem possibilitado o

surgimento cada vez maior das ocupaccedilotildees irregulares

Apoiado tambeacutem pela Constituiccedilatildeo Federal de 1988 nos artigos 182 e 183 surge o

Estatuto das Cidades Lei 102572001 com finalidade de garantir a funccedilatildeo social da

cidade e com este os primeiros Planos Diretores Municipais (PDM) que buscam o

ordenamento do crescimento das cidades em caraacuteter socioeconocircmico e ambiental cidades

sustentaacuteveis Ademais em Colatina eacute instituiacuteda a Lei 42281996 posteriormente revogada

29

pela Lei 52732007 que ldquoInstitui o Plano Diretor do Municiacutepio de Colatina estabelece os

objetivos instrumentos e diretrizes e daacute outras providecircncias para as accedilotildees de

planejamento do Municiacutepio de Colatina []rdquo

O PDM de Colatina assim como Coacutedigo Florestal prevecirc a preservaccedilatildeo dos ecossistemas

beira-rio Aquele ainda dispotildee sobre o parcelamento do solo sustentaacutevel a funccedilatildeo social

da cidade e da propriedade conforme o Plano Diretor de Colatina de 2007 nos artigos

transcritos

Artigo 22 - As diretrizes ambientais no Municiacutepio de Colatina satildeo I - aplicar os instrumentos de gestatildeo ambiental estabelecidos nas legislaccedilotildees federal estadual e municipal bem como a criaccedilatildeo de outros instrumentos adequando-os agraves metas estabelecidas pelas poliacuteticas ambientais II - compatibilizar as diretrizes de uso ocupaccedilatildeo e parcelamento do solo aos objetivos de proteccedilatildeo ambiental dos ecossistemas [] Artigo 23 - Satildeo diretrizes do sistema de drenagem urbana I - disciplinar a ocupaccedilatildeo das cabeceiras e vaacuterzeas das bacias hidrograacuteficas do Municiacutepio preservando a vegetaccedilatildeo existente e visando agrave sua recuperaccedilatildeo [] III - definir mecanismos de fomento para usos do solo compatiacuteveis com aacutereas de interesse para drenagem tais como parques lineares aacuterea de recreaccedilatildeo e lazer hortas comunitaacuterias e manutenccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa [] V - implantar medidas natildeo-estruturais [sic] de prevenccedilatildeo de inundaccedilotildees tais como controle de erosatildeo especialmente em movimentos de terra controle de transporte e deposiccedilatildeo de entulho e lixo combate ao desmatamento assentamentos clandestinos e a outros tipos de invasotildees nas aacutereas com interesse para drenagem [] VII - garantir e respeitar a necessaacuteria permeabilidade do solo inclusive buscando alternativas de pavimentaccedilatildeo com maior de permeabilidade [sic] [] Artigo 84 ndash Satildeo objetivos do ordenamento territorial do Municiacutepio de Colatina [] IV ndash conter a expansatildeo da ocupaccedilatildeo urbana em aacutereas de proteccedilatildeo ambiental [] Artigo 120 ndash Ficam desde jaacute identificadas como Zonas de Proteccedilatildeo Ambiental 2 ndash ZPA 2 as seguintes aacutereas [] III ndash as aacutereas existentes ao longo de qualquer curso drsquoagua desde o niacutevel mais alto em faixa marginal cuja largura miacutenima seraacute de a) 15m (trinta metros) [sic] para os cursos drsquoagua com menos de 10m (10

metros) de largura contidos no periacutemetro urbano [] c) 30m (trinta metros) para os cursos drsquoagua que tenham de10m (dez

metros a 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano

[]

30

e) 50m (cinquenta metros) para os cursos drsquoagua que tenham mais de 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 60422013)

[]

De modo geral verifica-se que a legislaccedilatildeo apresenta instrumentos que permitem a

prevenccedilatildeo ou controle de ocupaccedilotildees irregulares ou clandestinas em aacuterea de APP aleacutem de

propostas para resguardar de grandes impactos ambientais o corpo hiacutedrico principal do

municiacutepio o Rio Doce Possibilitando assim a minimizaccedilatildeo dos impactos causados pelas

cheias agrave populaccedilatildeo local

Poreacutem cabe destacar que o Plano Diretor Municipal de Colatina natildeo contempla o

estipulado no Coacutedigo Florestal 2012 Lei Federal onde os cursos drsquoaacutegua com largura

superior a 600(seiscentos) metros devem ser resguardados com aacutereas de preservaccedilatildeo

permanente de 500(quinhentos) metros entre outros sendo que a redaccedilatildeo desta parte do

PDM eacute dada pela lei 60422013 posterior a publicaccedilatildeo do novo Coacutedigo Florestal Sendo

assim verifica-se que apesar da intenccedilatildeo de resguardar uma faixa de no maacuteximo

50(cinquenta) metros em periacutemetro urbano para a contenccedilatildeo de cheias e mata ciliar o

PDM de Colatina natildeo atende o miacutenimo previsto em Lei Federal O que tem impactado todo

ecossistema beira rio e a populaccedilatildeo ribeirinha uma vez que a faixa marginal de proteccedilatildeo

de 50(cinquenta) metros em muitos casos natildeo tem comportado o impacto dos defluacutevios

No entanto a legislaccedilatildeo trata de aspectos gerais natildeo pontuando as aacutereas responsaacuteveis

por cada accedilatildeo aleacutem de sua aplicabilidade depender da elaboraccedilatildeo de um cronograma de

execuccedilatildeo bem como um conjunto de planos e normas especiacuteficos para cada diretriz com

detalhamento das propostas de intervenccedilatildeo Isto natildeo ocorreu ateacute o presente

Aleacutem disso a cidade de Colatina surgiu num cenaacuterio histoacuterico anterior agraves legislaccedilotildees

urbaniacutesticas e ambientais inclusive do Coacutedigo das Aacuteguas o que dificulta a execuccedilatildeo de

um planejamento que concilie a preservaccedilatildeo das matas beira-rio garantindo a faixa de

APP com a ocupaccedilatildeo urbana consolidada

A aacuterea de estudo se apresenta como ambiente fragilizado apesar de ser regida por

legislaccedilotildees desde a escala federal ateacute a municipal que visam proteger e ordenar o uso e

cobertura da terra nas faixas marginais dos rios Mas a dificuldade das prefeituras em

aplicar os instrumentos legais nestes ambientes seja por interesses privados ou falta de

recursos para investimentos em soluccedilotildees a longo prazo continua expondo as populaccedilotildees

31

aos impactos dos eventos hidroloacutegicos criacuteticos como os que resultam nas inundaccedilotildees

Para que se alcance esse parcelamento do solo sustentaacutevel satildeo necessaacuterios esforccedilos da

gestatildeo municipal em estipular prazos e metas de atuaccedilatildeo afora interagir os diferentes

setores no planejamento em niacutevel de bacia hidrograacutefica considerando as peculiaridades

desta escala de trabalho

23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos

Sendo a ciecircncia que estuda a relaccedilatildeo homemnatureza a Geografia tem muito a contribuir

nas anaacutelises que envolvem o meio ambiente que foi transformado pela dinacircmica da

sociedade Mas historicamente a dialeacutetica das correntes fiacutesica e humana tem imperado de

modo dissociado levando o geoacutegrafo a estudar estes processos separadamente Poreacutem

se o resultado pretendido eacute integrado fazem-se necessaacuterias pesquisas mais amplas que

cruzem as diferentes vertentes geograacuteficas

Considerando que a problemaacutetica dos impactos ambientais urbanos envolve a questatildeo

natural o rio e a questatildeo social e poliacutetica a sociedade e as leis (COELHO 2013) uma

pesquisa neste acircmbito requer o entendimento destes dois objetos a fim de se apreender

o processo de crescimento das cidades brasileiras e a sua relaccedilatildeo com os recursos

hiacutedricos

A partir da deacutecada de 1950 devido ao ecircxodo rural mais intenso as cidades brasileiras

incharam rapidamente com a migraccedilatildeo do camponecircs que buscava melhores condiccedilotildees de

vida como trabalho na induacutestria o acesso agraves escolas saneamento entre outros E

segundo Gorski (2010) a populaccedilatildeo brasileira passou desde o iniacutecio deste processo de 19

milhotildees de habitantes em 1950 para 138 milhotildees de habitantes em 2000 (dados do IBGE)

o que corrobora o raacutepido crescimento das cidades

Todavia as estruturas puacuteblicas natildeo estavam preparadas para um acreacutescimo populacional

tatildeo significativo e em curto espaccedilo de tempo E o que observamos eacute o acesso limitado

dessa populaccedilatildeo agraves aacutereas centrais da cidade sendo induzida a se estabelecer nas

periferias Nesta visatildeo

O difiacutecil acesso da populaccedilatildeo de baixa renda agraves aacutereas mais centrais das cidades contribuiu segundo Raquel Rolnik para a expansatildeo da periferia o que muitas vezes implicou e implica ainda invasatildeo de aacutereas de proteccedilatildeo de mananciais com a aquiescecircncia do poder puacuteblico Esta

32

dinacircmica agravou a situaccedilatildeo de risco dos mananciais pela eliminaccedilatildeo das matas ciliares e consequentemente erosatildeo das margens dos cursos drsquoaacutegua e assoreamento de suas calhas e pela contribuiccedilatildeo do esgoto in natura (ROLNIK1997 apud GORSKI 2010 p62)

Sendo assim a supressatildeo das matas ciliares e das vegetaccedilotildees das encostas para fins de

ocupaccedilatildeo urbana interfere diretamente no ciclo hidroloacutegico diminuindo a absorccedilatildeo de

aacutegua pelo subsolo e pela evapotranspiraccedilatildeo favorecendo o escoamento superficial (Figura

6) que intensifica a velocidade de drenagem das aacuteguas Este processo nas encostas eacute

mais significativo se considerarmos que com a supressatildeo da cobertura vegetal e

impermeabilizaccedilatildeo do solo as precipitaccedilotildees acabam por lavar todo o material

intemperizado sedimentos carregando-o diretamente para o corpo hiacutedrico e contribuindo

para o assoreamento

Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento Fonte Gorski (2010 p64)

Por outro lado as ocupaccedilotildees ribeirinhas nas vaacuterzeas dos rios modificam a dinacircmica fluvial

frente aos defluacutevios A compactaccedilatildeo e o nivelamento do solo associados agrave

impermeabilizaccedilatildeo por concreto asfalto e outros materiais alteram todo o sistema de

drenagem natural e contribuem para a erosatildeo fluvial Aleacutem disso a gestatildeo puacuteblica que

33

deveria investir num parcelamento do solo sustentaacutevel resguardando ldquouma alocaccedilatildeo de

espaccedilosrdquo (CANHOLI 2005 p 15) para a drenagem acaba por colaborar com as enchentes

urbanas na medida em que decide por obras estruturais como a canalizaccedilatildeo (Figura 7

p30) e a microdrenagem que transferem os impactos das inundaccedilotildees a jusante

Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia Fonte Gorski (2010 p69)

Cabe destacar que desde 1965 com o primeiro Coacutedigo Florestal as matas beira-rio jaacute

eram resguardadas da degradaccedilatildeo humana poreacutem com todo o boom urbano a partir de

1950 a falta de estrutura e ingerecircncia municipal no que se refere ao parcelamento e uso

e ocupaccedilatildeo da terra urbana possibilitou a formaccedilatildeo dos assentamentos clandestinos em

APP e na encosta de morros Em condiccedilotildees precaacuterias sem saneamento baacutesico e demais

infraestruturas urbanas estes assentamentos acabam sendo as regiotildees mais afetadas

com as inundaccedilotildees

Junto agraves questotildees jaacute levantadas vale destacar que as aacuteguas das inundaccedilotildees propiciam o

aumento das doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica (febre tifoide hepatite leptospirose

esquistossomose entre outras) pois carregam segundo Gorski (2010) toda uma poluiccedilatildeo

difusa efluentes domeacutesticos industriais e agroindustriais aleacutem do lixo urbano da poluiccedilatildeo

do ar e das ruas

34

Por outro lado esta ocupaccedilatildeo urbana natildeo planejada perde o benefiacutecio que os corpos

hiacutedricos podem oferecer como [] as paisagens fluviais que aos poucos foram sendo

apropriadas como paisagens urbanas [] (GORSKI 2010 38) aleacutem do microclima

associado agrave umidade pela evapotranspiraccedilatildeo que ameniza a sensaccedilatildeo teacutermica local

Poreacutem conforme observado por Graeff (2011) natildeo eacute cabiacutevel atualmente implantar a

legislaccedilatildeo de APP de modo jurista Deve-se considerar toda a representatividade cultural

assentada sobre os leitos destes rios (avenidas importantes casas com arquitetura

histoacuterica entre outros) Aleacutem disso para a demarcaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo

permanente hoje eacute necessaacuteria uma anaacutelise teacutecnica pautada na geomorfologia e

hidrologia de modo a interpretar o ldquocomportamento histoacuterico dos cursos drsquoaacutegua na

paisagem prevendo cenaacuterios de impactos futurosrdquo da atividade humana sobre suas faixas

marginais

Tendo em vista que grande parte da malha urbana brasileira estaacute alocada em APPs e que

segundo Graeff (2011) estas jaacute possuem uma unidade de paisagem estabelecida e muitas

vezes secular configurando siacutetios de importacircncia cultural e apreendendo que

De modo semelhante nas demais cidades haveraacute que ser entendido o meio urbano como ele realmente eacute ndash um encontro entre as necessidades de habitaccedilatildeo com atividades humanas e de conservaccedilatildeo ambiental esta segunda tambeacutem a serviccedilo do homem e natildeo somente de objetivos difusos e distanciados da sobrevivecircncia da sociedade (GRAEFF 2011 206)

Por tais motivos o trabalho com a geomorfologia fluvial urbana deve abarcar os princiacutepios

do bom senso compreendendo que nestas aacutereas de atividade antroacutepica consolidada pode-

se fazer uso de instrumentos de engenharia avanccedilados para uma convivecircncia equilibrada

do homem com a natureza no entorno Contudo deve-se incentivar as aacutereas de expansatildeo

urbana ou zona periurbana (zonas de transiccedilatildeo da aacuterea urbana para a rural) com poliacuteticas

de incentivo a pavimentaccedilotildees mais permeaacuteveis a fim de minimizar o escoamento

superficial para o rio favorecendo a infiltraccedilatildeo

Apesar de os impactos gerados pela interferecircncia humana nas aacutereas mais fragilizadas da

bacia hidrograacutefica vaacuterzeas e encostas refletirem-se em cataacutestrofes com prejuiacutezos

humanos ambientais e urbanos alguns autores brasileiros como Canholi Graeff Cunha

Carneiro e Miguez jaacute indicaram outros caminhos para uma convivecircncia harmoniosa com

a natureza Aleacutem do mais paiacuteses desenvolvidos como a Holanda deixaram de ldquolutar contra

35

as cheiasrdquo para permitir agraves aacuteguas das enchentes a capacidade de acumular e dispersar

com impacto reduzido para as populaccedilotildees (CARNEIRO MIGUEZ 2011)

Sendo assim a proposta deste estudo eacute identificar os principais agentes que influenciam

as inundaccedilotildees entendendo seu papel e atuaccedilatildeo no contexto urbano de Colatina Mas eacute

tambeacutem a de ampliar a abordagem da temaacutetica com uma anaacutelise geograacutefica integrada

ressaltando as medidas que constam no planejamento urbano e sua aplicaccedilatildeo nas faixas

marginais do corpo hiacutedrico

36

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS

Esta pesquisa eacute constituiacuteda de trecircs etapas principais sendo que a primeira teve como

premissa a confecccedilatildeo de um fluxograma (Figura 8) de trabalho para orientar a pesquisa

em seguida teve iniacutecio o levantamento de bibliografias que abordam temas como a

geomorfologia fluvial e urbanizaccedilatildeo em Colatina adotando-se como referecircncia as

pesquisas de Coelho (2006 2007 2008 e 2009) e Albani (2012) Aleacutem disso muito

contribuiacuteram para este trabalho o relatoacuterio do INCAPER da CPRM e os dados do IBGE

Cabe destacar tambeacutem as experiecircncias com recursos hiacutedricos em ambientes urbanos de

Carneiro e Miguez (2011) em especial Cunha (2001 2012ab)

Esta etapa consistiu tambeacutem na busca de material cartograacutefico como aquisiccedilatildeo de planos

de informaccedilatildeo de limite estadual municipal bairros mancha urbana corpo drsquoaacutegua e

logradouros atraveacutes de dados disponiacuteveis no Sistema Integrado de Bases Geoespaciais

do Estado do Espiacuterito Santo (GEOBASES 2014) no Instituto Jones dos Santos Neves

(IJSN 2015) e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2014) imagens

orbitais gratuitas do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI bandas 2-3-4 e 8 (Pan) oacuterbita 216

ponto 73 com datas de passagem em 02012014 e 22032014 agraves 946 (horaacuterio central

da oacuterbita) junto ao Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2014) aleacutem do ortofotomosaico

do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hiacutedricos (IEMA 2014) do Espiacuterito

Santo referente ao voo de 2007 a 2008

Na segunda etapa foram realizadas duas investigaccedilotildees de campo sendo a primeira no

dia 24 de junho de 2014 com a finalidade de fazer o reconhecimento da aacuterea de estudo

fotografar e conversar com moradores e teacutecnicos da prefeitura O segundo trabalho de

campo ocorreu no dia 14 de fevereiro de 2015 e por meio deste foi possiacutevel identificar

pontos sujeitos a inundaccedilatildeo analisar a topografia e realizar as entrevistas com moradores

e funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina

37

Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC)

38

Na terceira etapa foram realizados os mapeamentos e processamentos de todos os planos

de informaccedilatildeo vetoriais e matriciais em ambiente de SIG no sistema ArcGis 103 iniciando

com a ediccedilatildeo dos dados do Municiacutepio e adjacecircncias que foram ajustados quando

necessaacuterio ao sistema de projeccedilatildeo UTM no Datum SIRGAS ndash 2000 na Zona 24 sul com

meridiano central -39 W com todo o mapeamento produzido seguindo a padronizaccedilatildeo

cartograacutefica proposta por Fitz (2008 a b)

O geoprocessamento teve iniacutecio com a composiccedilatildeo das imagens orbitais do Landsat-8 na

cor natural da imagem (2R 3G 4B) e por meio da teacutecnica de Pan Sharpening ou fusatildeo

de imagens a imagem cor natural foi agrupada agrave da banda 8 pancromaacutetica para obtenccedilatildeo

de uma melhor resoluccedilatildeo espacial neste caso chegando a 15 metros sendo resguardado

o conteuacutedo da imagem composta Na sequecircncia foi realizada a extraccedilatildeo da maacutescara do

periacutemetro urbano de Colatina e gerada a classificaccedilatildeo supervisionada da imagem Landsat-

8 no periacuteodo de cheia (janeiro) e vazante (marccedilo) o que possibilitou a delimitaccedilatildeo da calha

do Doce nestes dois eventos

Em seguida foram realizadas as 8 (oito) mediccedilotildees do leito regular sendo 4 (quatro) no

periacuteodo de cheia e 4 (quatro) na vazante de modo a definir a largura meacutedia da calha do

leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina Para chegar a uma medida geral

da largura do rio utilizaram-se ferramentas estatiacutesticas como a meacutedia que eacute uma medida

de tendecircncia central onde numa amostra de tamanho N constituiacuteda por elementos de x

variando de eacute possiacutevel extrair a meacutedia aritmeacutetica atraveacutes da equaccedilatildeo

A meacutedia aponta para onde mais convergem os dados de uma distribuiccedilatildeo

A partir desta definiccedilatildeo da meacutedia da largura da calha do Rio Doce foi possiacutevel em consulta

ao Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e a Lei 52732007 determinar a faixa miacutenima

de preservaccedilatildeo permanente deste corpo fluvial aleacutem da confecccedilatildeo do mapa com o

poliacutegono de APP

Mediante a anaacutelise do mapa verificou-se que grande parte dos bairros do municiacutepio estatildeo

contidos nos poliacutegonos de APP em especial a preservaccedilatildeo de 500 metros conforme lei

federal E por meio deste foram cruzados os dados de vazatildeo as fotos histoacutericas das

enchentes e o poliacutegono de mata ciliar o que permitiu o entendimento das inundaccedilotildees

39

Em ambiente de SIG tambeacutem foram vetorizados os trecircs traccedilados da Estrada de Ferro

Vitoacuteria a Minas o trajeto do Rio Santa Maria do Doce antes e depois da retilinizaccedilatildeo e os

sucessivos aterros na margem direita do Rio Doce no periacutemetro que compreende a Av

Beira-Rio

As teacutecnicas de sensoriamento remoto como a classificaccedilatildeo supervisionada permitiram a

definiccedilatildeo do poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo atraveacutes da imagem da cheia de janeiro Para

tanto foi realizada tambeacutem a classificaccedilatildeo hiacutebrida objetivando aliar a interpretaccedilatildeo visual

com a digital (JENSEN 2009) Por fim foi realizada amarraccedilatildeo com o levantamento

geodeacutesico da CPRM (2014) para garantir a precisatildeo do traccedilado do poliacutegono de cheia

A partir do tratamento dos dados bibliograacuteficos cartograacuteficos e imagens foi possiacutevel

sistematizar este trabalho o que permitiu identificar elementos histoacutericos de intervenccedilatildeo

na paisagem do Doce como os aterros e a ocupaccedilatildeo urbana As visitas de campo a

entrevista e conversas com moradores foram fundamentais para a validaccedilatildeo das

informaccedilotildees o que tornou esta metodologia eficaz para anaacutelise do fenocircmeno da inundaccedilatildeo

em Colatina

40

4 RESULTADOS

41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana

A ocupaccedilatildeo ao longo das planiacutecies de inundaccedilatildeo dos rios tem ocorrido diante da

necessidade deste recurso para as atividades vitais humanas Cunha (2012b p219)

entende que ldquosuas margens tecircm sido o centro preferido da habitaccedilatildeo humana e o

suprimento de suas aacuteguas natildeo soacute fertiliza os campos para o cultivo como tambeacutem fornece

energia e permite recreaccedilatildeordquo Logo o estabelecimento das vilas nas bordas dos cursos

drsquoaacutegua favorece a logiacutestica ocupacional

Historicamente em solo espiacuterito-santense a formaccedilatildeo das vilas ocorreu agraves margens de

estrateacutegicos cursos drsquoaacutegua e a exploraccedilatildeo do ouro de Minas Gerais para Albani (2012)

determinou que a Coroa proibisse nos seacuteculos XVII a XIX a implantaccedilatildeo de estradas e

exploraccedilatildeo de terras na Capitania do Espiacuterito Santo pois os portugueses temiam incursotildees

estrangeiras deixando assim o desenvolvimento capixaba restrito agrave faixa litoracircnea

Relegada enquanto ldquobarreira verderdquo para defesa das minas de ouro e minerais do atual

territoacuterio das Minas Gerais segundo Coelho (2007) a Capitania do Espiacuterito Santo soacute

passou a se interiorizar para o centro-oeste onde se localiza atualmente a cidade de

Colatina a partir de 1847 por meio das ocupaccedilotildees de Santa Izabel e Santa Leopoldina

que permitiram a descida do Rio Santa Maria do Doce ateacute as imediaccedilotildees da atual cidade

de Colatina

Assim foi que o movimento colonizador desceu o vale do Santa Maria do Rio Doce atingindo em 1891 a regiatildeo das matas onde hoje se acha a cidade de Colatina [] Esta penetraccedilatildeo inicial foi feita com elementos alematildees de Santa Leopoldina e no rio Doce ficou muito anos restrita agrave aacuterea inicial A expansatildeo ao longo do vale tomou impulso com a chegada a Colatina em 1906 dos trilhos da Estrada de Ferro Diamantina (atual Vitoacuteria-Minas) (STRAUCH1955 apud COELHO 2007 p105)

Sendo assim Coelho (op cit) relata que a ocupaccedilatildeo se deu atraveacutes da supressatildeo da mata

nativa no baixo curso do Rio Doce de Colatina a Linhares sendo a madeira daiacute extraiacuteda

levada ateacute o rio e encaminhada ateacute Povoaccedilatildeo vilarejo junto agrave foz de onde eram carregados

os navios Neste periacuteodo tem-se a instalaccedilatildeo de um ciclo madeireiro na regiatildeo com a

disposiccedilatildeo de serrarias nas proximidades das matas

41

Todavia somente a partir de 1906 com a chegada da estrada de ferro na regiatildeo o

transporte madeireiro foi transferido para as locomotivas Agrave medida que a implantaccedilatildeo da

Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas avanccedilava para o interior levava consigo as frentes de

desmatamento modificando as paisagens das margens do Rio Doce e se apropriando dos

espaccedilos deste rio (Figura 9)

Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906 Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce Fonte Albani (2012 p 63)

Conforme Albani (2012) com a vinda dos mineiros e fluminenses reforccedilados

posteriormente a partir de 1889 por colonizadores italianos e alematildees eacute que as

ocupaccedilotildees territoriais ocorreram de modo efetivo Atraveacutes do Barracatildeo do Rio Santa Maria

(Figura 10) espaccedilo do governo inicialmente destinado a alojar os migrantes e a produccedilatildeo

surgiram as primeiras residecircncias nas proximidades da igreja de Satildeo Sebastiatildeo Sendo

assim

Eacute importante destacar que o desenvolvimento da regiatildeo onde se encontra o municiacutepio de Colatina teve iniacutecio no final do seacuteculo XIX no nuacutecleo de colonizaccedilatildeo Antocircnio Prado localizado no distrito de Boapaba antiga vila do Mutum O nuacutecleo recebeu dezenas de famiacutelias de imigrantes italianos e ali desenvolveram atividades de agricultura e com a expansatildeo da localidade surge tambeacutem o comeacutercio (ALBANI 2012 p61) [hellip] A vila de Colatina entretanto logo passou a se transformar no principal nuacutecleo e futuramente na sede do municiacutepio Aleacutem da facilidade da produccedilatildeo atraveacutes do Rio Doce a vila de Colatina tornou-se referecircncia dos imigrantes no caminho para a colonizaccedilatildeo das terras ao norte do estado (MADURO1985 apud ALBANI 2012 p62)

42

Desse modo com o desenvolvimento das atividades de cafeicultura madeireira e do

entroncamento logiacutestico de acesso agraves aacutereas do norte a vila eacute elevada em 1921 agrave categoria

de municiacutepio A atual configuraccedilatildeo territorial foi adquirida a partir de 2001 conforme IBGE

(2014) dispondo de seis distritos Colatina (sede) Acircngelo Frechiami Baunilha Boapaba

Graccedila Aranha e Itapina

Cabe destacar poreacutem que a ocupaccedilatildeo inicial da cidade de Colatina se perfaz pela margem

direita do Rio Doce onde se localiza o atual bairro de Colatina Velha e onde havia se

instalado o Barracatildeo de Santa Maria Nesse periacuteodo a ponte ainda natildeo fora edificada

limitando assim a ocupaccedilatildeo da margem esquerda

Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da regiatildeo Fonte Albani (2012 p62)

Conforme Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p65) a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro

Vitoacuteria a Minas em 1906 (Figura 11) possibilitou a expansatildeo da cidade de Colatina e seu

desenvolvimento econocircmico Todavia sua instalaccedilatildeo paralela agrave margem direita do Rio

Doce favoreceu a localizaccedilatildeo de avenidas e ruas centrais em sua proximidade

43

Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p65)

Entretanto foi com a construccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos (Figura 12) em 1928 que a

margem direita se conectou agrave margem esquerda da cidade o que aleacutem de possibilitar a

ocupaccedilatildeo facilitou o acesso agraves regiotildees mais ao norte do Estado

Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p66)

44

Por conseguinte a estrada de ferro e a ponte foram os fatores determinantes para o

estabelecimento dos migrantes agraves margens do Rio Doce e a formaccedilatildeo do atual municiacutepio

de Colatina Contudo foi a partir desta posiccedilatildeo privilegiada que a cidade passou a ser

entreposto comercial e logiacutestico da regiatildeo noroeste e com isso sua aacuterea urbana expandiu-

se de modo desordenado inicialmente ao longo da planiacutecie de inundaccedilatildeo do Doce Coelho

(2007 p108 e 109) relata que

Os efeitos dessa urbanizaccedilatildeo (novos parcelamentos) e do desmatamento produz [sic] normalmente o aumento da velocidade das aacuteguas superficiais (pluviais) que eram antes interceptadas pelas matas com boa parte absorvida pelo solo O que ocorre geralmente nessas aacutereas eacute a chegada mais raacutepida das aacuteguas das chuvas para o tributaacuterios e calha principal do rio por fluxos concentrados que provocam processos de erosotildees do tipo laminar ravina e voccediloroca transportando quantidades expressivas de sedimentos que por sua vez causam assoreamento e a ocorrecircncia de cheias mais frequentes no rio

Com o crescimento acelerado do periacutemetro urbano proporcionado pelo apogeu do ciclo

cafeeiro as proacuteximas deacutecadas levaratildeo a cidade de Colatina a sofrer com impactos

advindos das alteraccedilotildees no ambiente fluvial do Rio Doce em especial os referentes a

ocupaccedilatildeo (impermeabilizaccedilatildeo) e desmatamento das margens (interferecircncia na drenagem

natural) conforme destacado por Coelho (2007)

Eacute fato que o municiacutepio viveu nas deacutecadas de 1940 e 1950 o auge do ciclo cafeeiro

chegando a ser no ranking brasileiro o 13ordm municiacutepio produtor de cafeacute no ano de 1947

(CAMPOS JUNIOR 2004 apud ALBANI 2012 p69) Poreacutem a partir de 1960 este boom

entrou em colapso com crise do cafeacute que assolou todo o paiacutes levando grande parte dos

pequenos proprietaacuterios rurais a migrarem para centros urbanos em especial no Espiacuterito

Santo a regiatildeo da Grande Vitoacuteria e tambeacutem para o centro de Colatina

Em razatildeo da crise cafeeira a populaccedilatildeo rural migra para centros urbanos A populaccedilatildeo migrou em grande quantidade para a Grande Vitoacuteria para fora do estado e tambeacutem para a cidade de Colatina principal aglomerado urbano da regiatildeo Esse processo provoca o aumento da aacuterea urbana de Colatina A populaccedilatildeo da cidade que era de 3913 habitantes em 1940 cresceu para 26757 habitantes em1960 (ALBANI2012 p71)

O crescimento raacutepido do centro de Colatina aliado ao aumento populacional direciona

grande parte dos migrantes para as aacutereas menos centrais da cidade levando agrave ocupaccedilatildeo

de locais irregulares como os morros e as margens direita e esquerda do Rio Doce Este

45

processo configurou a nova paisagem do municiacutepio povoando do vale agraves encostas (Figura

13)

Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes Fonte Albani (2012 p73)

Associado a este processo de reconfiguraccedilatildeo espacial nas proacuteximas deacutecadas o municiacutepio

de Colatina passaraacute por sucessivas perdas de territoacuterios ateacute atingir os limites atuais (Figura

1 p17) Aliado a estas perdas territoriais seu quantitativo absoluto populacional tambeacutem

sofreraacute impactos poreacutem de modo geral a populaccedilatildeo urbana deste municiacutepio apresentou

crescimento continuo (Graacutefico 2)

Graacutefico 2

Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 2010

Elaborado pela autora Fonte 1940 e 1950 Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p82) 1960 a 2010 IBGE

0

20000

40000

60000

80000

100000

120000

1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020

Populaccedilatildeo Urbana Colatina 1940 - 2010

46

Assim como tem ocorrido nas grandes capitais Colatina cresceu em quantitativo

populacional e territorial urbano de modo muito raacutepido e por este desenvolvimento natildeo ter

sido aliado a um planejamento urbano e ambiental sustentaacutevel a cidade tem sentido os

reflexos das suas interferecircncias ao longo do canal do Doce O que tem provocado

antecipaccedilatildeo dos picos de vazatildeo que no periacutemetro urbano ocasiona as inundaccedilotildees pois

natildeo conseguindo o rio acomodar estes defluacutevios transfere em curto espaccedilo de tempo as

aacuteguas a sua planiacutecie de inundaccedilatildeo atingindo os bairros mais antigos do municiacutepio

Por fim entender o contexto histoacuterico do crescimento da cidade revela muito do panorama

atual E por meio de uma anaacutelise conjunta da histoacuteria com os novos planejamentos eacute

possiacutevel propor intervenccedilotildees urbanas que possibilitem um conviacutevio harmonioso entre

natureza e sociedade neste caso entre o Rio Doce e o centro de Colatina Diante desta

proposta adiante apresentaremos a evoluccedilatildeo dos bairros associando seus periacuteodos de

ocupaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo espacial nas imediaccedilotildees do curso principal do Doce

411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade

Com nuacutecleo inicial de povoamento no Barracatildeo de Santa Maria a cidade de Colatina

cresce a partir deste ponto agrave margem direita do Rio Doce de onde surgem as primeiras

residecircncias comeacutercios e a igreja Atualmente a regiatildeo compreende o bairro de Colatina

Velha que de acordo com Albani (2012 p91) [hellip] ldquopode ser considerado o primeiro polo

de crescimento da cidaderdquo

Aliado ao aumento da populaccedilatildeo migrante das fazendas com a crise do cafeacute o nuacutecleo de

Colatina Velha passa a ser um ponto de passagem obrigatoacuterio para os viajantes que

vinham majoritariamente do sul uma vez que o Rio Doce configurava uma barreira natural

agrave ocupaccedilatildeo das terras ao norte Aleacutem disso a margem esquerda deste canal fluvial era

habitat dos hostis iacutendios botocudos o que dificultava a sua apropriaccedilatildeo

Sendo assim a ocupaccedilatildeo de Colatina conteve-se agrave margem direita nesta primeira fase o

que define o primeiro vetor de crescimento da cidade na direccedilatildeo leste para oeste partindo

das imediaccedilotildees do Barracatildeo de Santa Maria sentido ao Rio Santa Maria do Doce (Figura

14) E a partir de 1906 com a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas da entatildeo

Companhia Vale do Rio Doce atual Vale este vetor de crescimento se consolida e

47

proporciona o surgimento de importantes avenidas paralelas agrave ferrovia a exemplo da Av

Getuacutelio Vargas

Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de crescimento Elaborado pela autora

48

O segundo vetor do crescimento de Colatina estava condicionado agrave construccedilatildeo da ponte

Florentino Aacutevidos a qual conectou a margem direita agrave esquerda do Rio Doce permitindo

a ocupaccedilatildeo da porccedilatildeo ao norte Portanto somente a partir de 1928 com a finalizaccedilatildeo da

obra da ponte a barreira natural pocircde ser transposta o que possibilitou ao lado esquerdo

desenvolver uma nova linha de crescimento urbano com a ocupaccedilatildeo do atual bairro de

Satildeo Silvano

O terceiro vetor de crescimento estaacute associado agrave implantaccedilatildeo do bairro Luiz Iglesias na

margem direita e os de Maria das Graccedilas e Coluacutembia na margem esquerda Albani (2012)

ressalta que esta fase da ocupaccedilatildeo urbana estaacute associada ao desenvolvimento do sistema

viaacuterio como a proximidade da BR-259 sentido Vitoacuteria- Colatina da ES-80 que liga

Colatina agrave regiatildeo norte da ES-256 que a conecta a Marilacircndia e da proximidade da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria Carlos Germano Nauman (Figura 15)

Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios e linhas feacuterreas que interceptam a cidade de Colatina Elaborado pela autora

Jaacute na quarta e mais recente linha de crescimento da cidade temos os novos loteamentos

residenciais e industriais a exemplo do de Barbados e do bairro Santa Helena que surgem

49

acompanhando o traccedilado da ponte que contorna a leste a cidade como novo acesso agrave

porccedilatildeo norte do estado Albani (2012 p118) destaca que

Apesar da construccedilatildeo da Segunda Ponte ter sido iniciada em 1986 somente foi inaugurada em 2007 A conclusatildeo da ponte e a construccedilatildeo de uma rodovia de contorno desviaram a BR-259 do centro da cidade O desvio da rodovia federal trouxe um desafogamento do tracircnsito nas principais vias da cidade e um novo direcionamento na expansatildeo urbana Alguns loteamentos surgiram nesse periacuteodo proacuteximo agrave Segunda Ponte e ao contorno na margem norte do rio principalmente no bairro Santa Helena (Figura 55) Essa situaccedilatildeo indica mais uma vez que as linhas de crescimento em Colatina satildeo orientadas pelas vias de transporte

Portanto o crescimento do periacutemetro urbano de Colatina estaacute associado agrave superaccedilatildeo das

barreiras naturais em especial o Rio Doce por meio de investimentos em obras de

engenharia que permitiram o deslocamento humano para a margem esquerda deste curso

Sem duacutevida as vias de transporte foram elementares na construccedilatildeo do periacutemetro urbano

de Colatina pois na medida que se consolidava o sistema viaacuterio as ocupaccedilotildees tambeacutem se

favoreciam destas vias de locomoccedilatildeo A evoluccedilatildeo da aacuterea urbana portanto acompanha

as principais vias de transporte (Figura 15 p45) e estas se utilizam da posiccedilatildeo estrateacutegica

e geograficamente favoraacutevel do canal do Doce para a definiccedilatildeo de seus traccedilados

Apoacutes 94 anos de emancipaccedilatildeo de Linhares o territoacuterio de Colatina eacute fundamental para a

manutenccedilatildeo dos municiacutepios do noroeste capixaba Diante desta posiccedilatildeo estrateacutegica torna-

se relevante o entendimento de como o urbano se relaciona com o meio natural a fim de

se estabelecer poliacuteticas de ordenamento territorial que promovam a qualidade de vida no

municiacutepio Adiante seraacute analisada a situaccedilatildeo da calha principal do Rio Doce elemento

fundamental na compreensatildeo do uso e cobertura da terra de Colatina

42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce

Compreendendo uma aacuterea de 3330 kmsup2 o periacutemetro urbano de Colatina eacute afetado pela

velocidade dos defluacutevios de modo que grande parte dos bairros beira-rio eacute tomada pelas

aacuteguas excedentes da calha principal do Doce o que configura o fenocircmeno de inundaccedilatildeo

Ao pesquisar estes fenocircmenos eacute necessaacuterio relacionar o uso da terra com os processos

geomorfoloacutegicos do corpo hiacutedrico Sendo assim por meio de teacutecnicas de

geoprocessamento foram realizadas oito mediccedilotildees da calha principal do Rio Doce para

50

estabelecimento da distacircncia meacutedia da largura de sua calha O resultado esteve dentro do

esperado e pode ser verificado na tabela abaixo (Tabela 1) e no mapa em sequecircncia

(Figura 16)

Tabela 1 Perfis transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de

vazante (abril) e cheia (janeiro)

Largura do rio Doce periacuteodo de vazante e cheia

Abril2013(m) Janeiro2014(m)

P1 70735 75784

P2 62080 66483

P3 59209 65804

P4 63548 67650

Meacutedia dos Perfis 62814 67066

Meacutedia Geral 66143 Obs todas as medidas estatildeo em metros

Elaborado pela autora

Figura 16 - Traccedilado dos perfis transversais da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de vazante mecircs de abril2013 Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)

51

Com uso das imagens orbitais do Landsat-8 atraveacutes da classificaccedilatildeo hiacutebrida foram

gerados dois arquivos shapefiles correspondentes agraves bordas do Doce um no periacuteodo de

vazante e outro no de cheia Por meio destes dados foram definidos quatro traccedilados para

realizaccedilatildeo das mediccedilotildees a partir destas e com auxiacutelio das medidas de tendecircncia central

chegou-se a uma largura meacutedia total de 66143m de uma margem a outra Este resultado

indicou que tanto no periacuteodo de vazante quanto no periacuteodo de cheia a largura meacutedia

aponta para a maior faixa de APP proteccedilatildeo de 500m conforme previsto na legislaccedilatildeo

federal (Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e no revogado Lei 4771 1965)

Analisando a imagem abaixo (Figura 17) observa-se que grande parte do solo

naturalmente destinado a ldquoacomodaccedilatildeordquo das aacuteguas nas cheias (linha laranja) foi

incorporado agrave sociedade como espaccedilo criado (periacutemetro urbano em APP mancha em

amarelo) destinado a fins muacuteltiplos Deste modo sem planejamento territorial adequado

grande parte da planiacutecie de inundaccedilatildeo deu lugar a outras funccedilotildees diferentes das naturais

sendo incorporada ao espaccedilo urbano

Lanccedilando o buffer (mancha em amarelo) do entorno da calha do Doce (Figura 17) observa-

se que dos 59 bairros do municiacutepio cerca de 29 estatildeo dentro da aacuterea de 500m destinada

a preservaccedilatildeo permanente pelo Coacutedigo Florestal Considerando-se a delimitaccedilatildeo da APP

prevista no PDM de 1996 e 2007 (linha laranja mais proacutexima da borda do rio) este nuacutemero

cai para 18 bairros permanecendo apenas aqueles que possuem limites com o corpo

hiacutedrico

Uma vez que que lei municipal natildeo suplanta lei federal considerar-se-aacute neste estudo o

limite da faixa marginal de proteccedilatildeo definida na Lei Federal 126512012 Deste modo a

aacuterea de preservaccedilatildeo permanente do Doce neste recorte eacute de 1085 kmsup2 compreendendo

33 do periacutemetro urbano de Colatina

Cabe destacar ainda que mesmo o PDM de 1996 contendo enquanto objetivo no Art 14

ldquoI - estabelecer a ordenaccedilatildeo do uso e da ocupaccedilatildeo do solo urbanordquo (Lei 42281996 p4)

a gestatildeo municipal natildeo obteve sucesso na implementaccedilatildeo de tal legislaccedilatildeo O que se

verifica tanto nas deacutecadas de 1990 quanto no iniacutecio dos anos 2000 quando foram

aprovados novos parcelamentos urbanos agraves margens deste canal a exemplo dos bairros

de Barbados na margem direita e do bairro Mario Giurizato na margem esquerda

52

Figura 17- Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)

53

Articulado a esta ideia e pesquisando o trecho do bairro Esplanada a Colatina Velha palco

das uacuteltimas obras estruturantes de alto porte do municiacutepio consegue-se analisar os efeitos

das inundaccedilotildees nas margens deste rio Logo implementar medidas de prevenccedilatildeo de

cheias em aacutereas com urbanizaccedilotildees antigas requer um esforccedilo da gestatildeo na regulaccedilatildeo do

solo urbano

421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie

de Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio

Interceptada pelo curso do Rio Doce no perfil mais a jusante da bacia a cerca de 100km

do estuaacuterio com o Oceano Atlacircntico a cidade de Colatina polo moveleiro e de confecccedilotildees

do centro-oeste capixaba eacute palco recorrente de inundaccedilotildees urbanas

Conforme jaacute mencionado por Cunha (2012a) este fenocircmeno ocorre quando a bacia recebe

um percentual precipitado acima da sua capacidade de escoamento o que faz o leito

menor do rio extravasar para o leito maior ocupando as aacutereas de vaacuterzeas (Figura 18 p

50) Aliadas a esta questatildeo estatildeo as ocupaccedilotildees humanas das margens dos rios que ao

suprimir a vegetaccedilatildeo natural e alterar a condiccedilatildeo fiacutesica do solo acabam por reduzir a aacuterea

de drenagem das aacuteguas pluviais acelerando o escoamento superficial para o canal

principal e favorecendo os defluacutevios

Figura 18 - Representaccedilatildeo da inundaccedilatildeo urbana Fonte adaptado da Defesa Civil do Tocantins (2015)

Este fenocircmeno tem ganhado destaque em Colatina a partir de 1979 ano em que o Rio

Doce atingiu a vazatildeo de 12860msup3s tomando toda aacuterea aplainada que compotildee seu leito

maior afetando da atual Av Beira-Rio ateacute as redondezas da Av Getuacutelio Vargas Desde

entatildeo os estudos das inundaccedilotildees urbanas satildeo relevantes no municiacutepio o que levou o

54

Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) na deacutecada de 1980 a elaborar um ldquoPlano Diretor

de Contenccedilatildeo das Enchentes Proteccedilatildeo das Encostas e Drenagem Pluvial de Colatinardquo

Tal medida apresentou seis alternativas para o fenocircmeno Poreacutem tendo em vista o custo

operacional das obras apenas a alternativa seis que previa a construccedilatildeo de diques

marginais para a proteccedilatildeo das aacutereas mais centrais foi considerada viaacutevel na eacutepoca

Todavia em entrevistas com funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina (PMC) foi

relatado que todo o estudo foi arquivado e que ateacute agora natildeo haacute previsatildeo de

implementaccedilatildeo de tais medidas Fato este que eacute evidenciado (Tabela 2 p 51) quando da

ocorrecircncia de precipitaccedilotildees intensas na bacia durante as quais sazonalmente a cidade eacute

impactada com as aacuteguas das inundaccedilotildees Isto faz com que o municiacutepio passe

recorrentemente por cataacutestrofes conforme tabela com os principais picos de vazatildeo do rio

nos uacuteltimos 50 anos

Tabela 2

Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013

Ano Diamecircs Vazatildeo(msup3s)

1961 30jan 6613

1979 04fev 12860

1997 07jan 8687

2005 03ago 6549

2013 24dez 9028

Fonte Coelho (2007 apud DALLAPICOLA 2014 p4) e CPRM (2014 p85) Observo que os dados da tabela 1 para os anos de 1979 e 2013 estatildeo baseados na estimativa de vazatildeo meacutedia diaacuteria das maacuteximas anuais obtida atraveacutes de extrapolaccedilatildeo da curva-chave pelo grupo interdisciplinar dos relatoacuterios criacuteticos anteriores

As inundaccedilotildees de 1979 1997 e recentemente 2013 (Figura 19) foram as de maior vazatildeo

neste setor do rio e consequentemente as que mais atingiram a aacuterea urbana do municiacutepio

bloqueando os acessos ao centro da cidade e aos equipamentos essenciais como

hospitais escolas e demais oacutergatildeos puacuteblicos aleacutem de desalojarem muniacutecipes e

comprometerem a sauacutede puacuteblica

55

Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de 1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 Fonte1) Nossa Colatina 2) Nossa Linda Colatina 3) Nossa Colatina

Com o propoacutesito de identificar os principais fatores que acentuam as inundaccedilotildees seraacute

analisado como os processos geomorfoloacutegicos do Doce estatildeo sendo afetados pela accedilatildeo

antroacutepica Limitaremos a anaacutelise ao periacutemetro urbano no trecho que compreende do bairro

Esplanada ateacute o bairro Colatina Velha (Figura 20) Neste periacutemetro eacute possiacutevel visualizar a

evoluccedilatildeo da mancha urbana sobre o leito do rio aleacutem de identificar na margem direita os

pontos desnaturalizados deste canal fluvial

56

Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2) Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do recorte em rosa da APP de 50m (amarelo claro) e 500m (amarelo escuro) Fonte 3) Encontra Colatina (2015)

57

O recorte em questatildeo eacute margeado pela Av Beira-Rio e estaacute situado (Figura 20) dentro do

buffer de preservaccedilatildeo permanente previsto no PDM (buffer de 50m) e no Novo Coacutedigo

Florestal (buffer de 500m) Apesar desta aacuterea ser destinada a mata nativa e ou

reflorestada a ocupaccedilatildeo urbana antecede os artigos legais o que dificulta poliacuteticas de

gestatildeo territorial em um periacutemetro ao mesmo tempo histoacuterico e com funccedilatildeo relevante no

equiliacutebrio hidroloacutegico da bacia

O periacutemetro faz parte da vaacuterzea da margem direita do Rio Doce pois encontra-se em cota

topograacutefica de 50m caracterizando sua planiacutecie Logo a aacuterea em questatildeo tem a funccedilatildeo de

acomodar as aacuteguas das cheias quando a calha principal natildeo comporta o escoamento de

grandes vazotildees Esta tarefa passa a ser prejudicada na medida em que na bacia ou no

curso original satildeo implementadas obras que interferem na morfologia do corpo hiacutedrico

principal como a instalaccedilatildeo das hidreleacutetricas de Mascarenhas (1974) e Aimoreacutes (2005) a

montante

As UHErsquos a montante comprometem os processos do rio uma vez que o regime natural de

transporte de sedimentos eacute alterado com o barramento o que favorece a erosatildeo e

consequentemente o assoreamento com a formaccedilatildeo de bancos arenosos alteraccedilatildeo do

seu perfil transversal e reduccedilatildeo da profundidade Aleacutem disso segundo Coelho (2007) as

vazotildees maacuteximas e miacutenimas foram alteradas com a implantaccedilatildeo das hidreleacutetricas a

montante implicando em vazotildees meacutedias anuais miacutenimas cada vez mais reduzidas com

valores se distanciando da linha de tendecircncia (polinocircmio) provando o natildeo equiliacutebrio da

vazatildeo apoacutes a implantaccedilatildeo das barragens (Graacutefico 1 p22)

Entretanto a primeira intervenccedilatildeo direta no trecho em estudo foi a instalaccedilatildeo da estrada

de ferro que atraiu migrantes para Colatina permitindo o crescimento populacional e a

expansatildeo urbana desordenada agraves margens do Doce Este crescimento intensificou a

supressatildeo das matas ciliares e abriu espaccedilo para a impermeabilizaccedilatildeo do solo reduzindo

a infiltraccedilatildeo

Posteriormente a inauguraccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos ampliou o fluxo na regiatildeo pois

proporcionava a ligaccedilatildeo com as terras ao norte do Estado Atuou tambeacutem como obstaacuteculo

ao transporte de sedimentos carreados no fluxo natural do rio uma vez que sua

implantaccedilatildeo altera a topografia do fundo do canal afetando os processos geomorfoloacutegicos

58

Poreacutem foi no Morro das Cabritas (colina localizada no espaccedilo que compreende o atual

bairro Esplanada) que ocorreu a primeira desnaturalizaccedilatildeo nas margens do Doce Este

morro por onde o Rio Santa Maria do Doce meandrava ateacute desaguar no Rio Doce foi

cortado em meados de 1953 para abrigar a cidade em expansatildeo Devido a esta

intervenccedilatildeo o curso original do Santa Maria foi deslocado e passou a escoar

retilineamente ateacute a foz (Figura 21)

Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponte Florentino Aacutevidos (direita) e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque em vermelho para o curso atual do Santa Maria Fonte Nossa Colatina

As intervenccedilotildees na margem direita tornam-se mais intensas a partir da deacutecada de 1960

quando no ano de 1968 edificou-se um muro visando a proteccedilatildeo dos pilares da

extremidade direita da ponte Esta obra ficou paralisada por muitos anos e foi a primeira

de retificaccedilatildeo e aterro realizada neste trecho do rio Esta intervenccedilatildeo modificou o fluxo

natural das correntes do rio e reduziu a largura da sua calha alterando a morfologia do

canal (Figura 22)

59

Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de proteccedilatildeo da ponte Elaborado pela autora Fonte fotos histoacutericas Nossa Colatina

Contudo somente em 1972 teve iniacutecio o segundo aterro (Figura 23) com a finalidade de

alocar a estaccedilatildeo rodoviaacuteria de Colatina e ampliar a aacuterea de acesso agrave ponte Florentino

Aacutevidos A implementaccedilatildeo desta obra suprimiu parte do leito do Rio Doce pois removeu a

saliecircncia cocircncava que curvava o rio retilinizando esta parte do canal

60

Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora Fonte Nossa Colatina Nossa Linda Colatina

Apoacutes dez anos sem grandes intervenccedilotildees em 1982 o lado a montante da ponte bairro

Esplanada eacute acrescido de um aterro que estenderaacute a aacuterea do antigo Morro das Cabritas

para o rio (Figura 24)

Conhecido como Rua da Lama devido agrave umidade que o rio transferia ao aterro formando

um barro viscoso que persistia a maior parte do ano o trecho atualmente compreende a

Avenida Professor Joseacute Zouian popularmente denominada Avenida Beira-Rio de onde

surge a primeira forma do calccediladatildeo que seraacute estendido ateacute o bairro Colatina Velha

61

Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o calccediladatildeo da Av Beira-Rio Elaborado pela autora Fonte Bennachio (2015)

Somente em 2004 foi implementado o maior projeto de canalizaccedilatildeo do municiacutepio Naquele

ano teve iniacutecio a execuccedilatildeo do enrocamento da Av Beira-Rio (Figura 25) obra destinada

inicialmente a alocaccedilatildeo de equipamentos puacuteblicos de lazer e cultura praccedilas preacutedios aleacutem

da promessa de contribuir para a contenccedilatildeo dos transbordamentos do Rio Doce

Apesar de o referido manancial jaacute estar comprometido com problemas de poluiccedilatildeo

assoreamento e erosatildeo aleacutem dos impactos de duas hidreleacutetricas instaladas a montante a

obra abarcou a supressatildeo da vegetaccedilatildeo ciliar e aterro de parte do rio jaacute tatildeo degradado

62

Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento iniciada em 2004 e finalizada em 2008 Elaborado pela autora Fonte proacutepria autora em 240215

Ocupando uma aacuterea total de 130 mil msup2 do leito do Rio Doce o aterro teve iniacutecio em 2004

sendo construiacutedo com cerca de 90 mil msup3 de pedras 50 mil msup3 de areia retirada do leito do

rio e por fim o nivelamento com 200 mil msup3 de terra A obra era divulgada como um antigo

sonho dos colatinenses e serviria para ampliaccedilatildeo da Av Beira-Rio no bairro de Colatina

Velha instalaccedilatildeo de ciclovias calccediladatildeo equipamentos puacuteblicos e estacionamento (Figura

26) Apesar do fim da engenharia em 2008 o projeto ainda estaacute em fase de acabamento

na parte urbaniacutestica e na alocaccedilatildeo dos oacutergatildeos puacuteblicos

Cabe destacar que a obra sofreu embargos do Ministeacuterio Puacuteblico Federal (MPF) por

apresentar apenas cadastro na Agecircncia Nacional de Aacuteguas (ANA) que conforme parecer

da Procuradora Nadja Machado Botelho na Accedilatildeo Civil Puacuteblica ldquo[hellip] equivocadamente natildeo

realizou o procedimento de outorga [hellip]rdquo (MPF 2006 p2) Aleacutem disso a procuradora

solicitou tutela tendo em vista tratar-se de aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental e o fato de o

IBAMA ter concedido licenciamento com indevida dispensa do Estudo de Impacto

Ambiental (EIA)Relatoacuterio de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA)

63

Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina Fonte Prefeitura de Colatina (2015)

Por isso essa obra deve ser considerada faraocircnica para os cofres puacuteblicos e irreversiacutevel

para os processos geomorfoloacutegicos do Doce E sua efetivaccedilatildeo soacute foi possiacutevel com a

participaccedilatildeo e investimentos do Governo estadual Contudo seu objetivo foi frustrado pois

novamente na cheia do Rio Doce em dezembro de 2013 quando este atingiu a vazatildeo de

9028 msup3s a aacuterea foi inundada e por estar em cota maior que as casas que beiravam o

rio o enrocamento atuou como represa natildeo permitindo o retorno das aacuteguas quando o niacutevel

do rio retomou o equiliacutebrio

Por fim segue um mapa siacutentese (Figura 27) com a cartografia das quatro principais

intervenccedilotildees diretas e estruturais na margem direita do Doce no setor urbano de Colatina

representando o curso natural do rio em 1950 e suas desnaturalizaccedilotildees a partir da deacutecada

de 60 ateacute a atualidade

64

Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce ante e depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora

65

422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio

O recorte em estudo compreende as Zonas ZE-1 ZE-2 e ZUD 2-1 (Figura 28 p61) sendo

a Zona Especial 1 Zona Especial 2 e Zona de Uso Diverso 2-1 destinadas no PDM (Lei

52732007)

Artigo 103 - As Zonas de Usos Diversos ndash ZUD satildeo definidas em razatildeo da concentraccedilatildeo de atividades urbanas diversificadas com predominacircncia do uso comercial e de serviccedilos Artigo 104 - Satildeo objetivos das Zonas de Usos Diversos I - otimizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do solo priorizando a instalaccedilatildeo de novos empreendimentos em terrenos natildeo edificados contiacuteguos a empreendimentos jaacute instalados II - controle da implantaccedilatildeo de usos incompatiacuteveis com os definidos para estas zonas III - garantia de licenciamento e monitoramento ambiental dos empreendimentos IV - controle da expansatildeo comercial de serviccedilos e de induacutestrias de pequeno porte em direccedilatildeo a aacutereas residenciais [] Artigo 130 - As Zonas Especiais 1 ndash ZE 1 abrangem todas as aacutereas remanescentes do municiacutepio relativamente ao zoneamento estabelecido nesta lei ocupadas ou natildeo contida na lei de periacutemetro urbano para as quais natildeo foram ainda estabelecidos os criteacuterios de uso e ocupaccedilatildeo Artigo 131 - As Zonas Especiais 2 ndash ZE 2 satildeo as aacutereas existentes no prolongamento da avenida Beira Rio mais especificamente no trecho entre o 80 Batalhatildeo da Poliacutecia Militar e a rua Pedro Epichin incluindo o espaccedilo existente entre a margem do Rio Doce e o limite das construccedilotildees localizadas na rua Pedro Epichin

Cabe destacar que mesmo sendo palco das aacutereas mais afetadas com as inundaccedilotildees do

Rio Doce a Beira-Rio tem sido alvo da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria que aproveitando-se dos

iacutendices pouco restritos da ZUD 2 (Figura 28 p62) valoriza o espaccedilo promovendo a

instalaccedilatildeo de grandes estruturas como hipermercados edifiacutecios residenciais modernos e

hotelaria

66

Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 Fonte Colatina (2007)

A aacuterea contida na ZE (Figura 28) natildeo possui criteacuterio de ocupaccedilatildeo definido na legislaccedilatildeo

atual sendo adotado o disposto na Lei 41961995 que estabelece os iacutendices urbaniacutesticos

para as aacutereas conquistadas junto ao Rio Doce e na Lei 420595 que aprova os

parcelamentos na Beira-Rio Quanto agrave ZUD 2-1 apresenta iacutendices urbaniacutesticos no anexo

118 do Plano Diretor conforme tabela 3 abaixo

67

Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1

Fonte Colatina (2007 p36)8

68

Eacute relevante observar que numa aacuterea onde o corpo hiacutedrico foi reduzido pelos sucessivos

aterros tenha sido aprovada a instalaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto (Figura

29) com taxa de ocupaccedilatildeo de ateacute 80 e com baixo iacutendice de permeabilidade Ampliou-

se a aacuterea impermeaacutevel numa regiatildeo onde a drenagem jaacute eacute muito comprometida com a

expansatildeo urbana sobre o rio

Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto na Beira-Rio Fonte imagem do Google Maps 2015 E fotos da autora em 140215

Portanto analisando o conjunto de dados apresentado acima eacute possiacutevel entender como

as inundaccedilotildees satildeo potencializadas no municiacutepio atingindo a populaccedilatildeo mas em especial

afetando a dinacircmica de um corpo hiacutedrico tatildeo relevante para o Estado A fim de subsidiar a

gestatildeo puacuteblica com material cartograacutefico para a tomada de decisotildees delimitou-se o

poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo (Figura 30) Pois devem ser adotadas medidas que

minimizem impactos de futuros eventos hidroloacutegicos na bacia capazes de comprometer

novamente a aacuterea urbana mais central de Colatina

69

Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av Beira-Rio em dezembro de 2013 Elaborado pela autora

70

Diante do poliacutegono de inundaccedilatildeo da uacuteltima cheia (Figura 30) em dezembro de 2013 eacute

possiacutevel implementar medidas de convivecircncia com as grandes vazotildees a exemplo de

paiacuteses como Holanda que vem investindo em medidas de resiliecircncia a fim de reduzir a

velocidade dos defluacutevios possibilitando ao canal a capacidade de acumular e dispersar as

aacuteguas com impacto miacutenimo para as populaccedilotildees Conforme Carneiro e Miguez (2011) a

estrateacutegia adotada pelo paiacutes eacute reter armazenar e drenar sendo mais flexiacutevel e natildeo

interferindo drasticamente na dinacircmica do corpo hiacutedrico

Por fim a implementaccedilatildeo de soluccedilotildees de planejamento urbano em Colatina requer uma

anaacutelise integrada que abarque o urbano e o ambiental de modo a propor intervenccedilotildees que

produzam impactos reduzidos nos processos geomorfoloacutegicos do Rio Doce Logo a gestatildeo

municipal deve atuar em niacutevel de bacia hidrograacutefica interagindo com os municiacutepios a

montante propondo medidas de minimizaccedilatildeo das cheias urbanas Mas na escala local

pode-se atuar junto aos novos parcelamentos de modo a ampliar o percentual de aacutereas

permeaacuteveis no municiacutepio incentivando por exemplo os novos loteamentos a adotarem

pavimentaccedilotildees que permitam a drenagem natural do solo

71

5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Partindo da ideia de que eacute possiacutevel implementar medidas que minimizem o escoamento

superficial satildeo apresentadas propostas como forma de controlar ou ao menos reduzir os

impactos das inundaccedilotildees urbanas

Embora as implementaccedilotildees histoacutericas de estruturas de proteccedilatildeo ou barreiras mais altas

tenham sido muito disseminadas atualmente estatildeo sendo suplantadas pelo gerenciamento

de inundaccedilotildees de maneira mais sustentaacutevel Deste modo as experiecircncias fora do Brasil

apontam para soluccedilotildees mais flexiacuteveis que considerem o fluxo natural do canal enquanto

um ecossistema em equiliacutebrio Para tanto Carneiro e Miguez (2011 p150) destacam a

iniciativa alematilde no controle de inundaccedilotildees em bacias hidrograacuteficas metropolitanas

[hellip] A abordagem comum consiste na regulaccedilatildeo do uso do solo nas aacutereas inundaacuteveis e em ldquodar espaccedilo para o riordquo ao inveacutes de priorizar investimentos em estruturas de proteccedilatildeo contra inundaccedilotildees como a colocaccedilatildeo de diques de contenccedilatildeo as margens dos rios A utilizaccedilatildeo do conceito de resiliecircncia apropriado de ecologia decorre dessa abordagem A aplicaccedilatildeo praacutetica do conceito implica portanto em mudanccedilas de paradigma Deixa de ser preponderante a engenharia construtiva e entra em cena o planejamento de longo prazo voltado para o desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis capazes de conviver com as variaccedilotildees do ciclo hidroloacutegico sem significar necessariamente trageacutedias anunciadas

Aleacutem dessas propostas geoacutegrafos como Sandra Cunha tecircm estudado a recuperaccedilatildeo

natural ou ldquorenaturalizaccedilatildeordquo de corpos fluviais visando promover a estabilidade dos canais

de modo mais sustentaacutevel Para ela

[hellip] Recuperaccedilatildeo de canal significa de forma simples o retorno as condiccedilotildees anteriores aos distuacuterbios Em essecircncia eacute o processo de recuperaccedilatildeo do rio ou do ecossistema fluvial estabilizando o desenvolvimento de habitats e colonizaccedilatildeo a uma taxa mais raacutepida que dos processos naturais fiacutesicos e bioloacutegicos Na recuperaccedilatildeo de canais ocorrem consideraccedilotildees de aspecto hidroloacutegico morfoloacutegico e ecoloacutegico qualidade da aacutegua esteacutetica aleacutem da necessidade de uma visatildeo integradora do projeto sustentaacutevel de recuperaccedilatildeo (CUNHA 2012 p230 a 231)

Satildeo portanto medidas pontuais como o retorno agraves sinuosidades do rio (Figura 31 p 68)

ou a substituiccedilatildeo de estruturas de concreto por superfiacutecies mais permeaacuteveis a exemplo

das trincheiras de infiltraccedilatildeo ou pavrsquos (Figura 32) aacutereas mais vegetadas aleacutem de coleta e

uso de aacutegua da chuva bem como tratamento das aacuteguas superficiais por meio de

72

amenidades esteacuteticas como reservatoacuterios de retenccedilatildeo ou detenccedilatildeo que podem ser

associados a ambientes harmocircnicos como lagos artificiais Todas estas accedilotildees possibilitam

a minimizaccedilatildeo das grandes vazotildees no solo urbano pois pretendem atenuar os impactos

das cheias fazendo com que seja resgatada parte da drenagem existente anteriormente agrave

urbanizaccedilatildeo

Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do Rio Aa Munster Alemanha (1998) Fonte Cunha (2012 p233)

Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos Fonte Carneiro e Miguez (2011 p128)

A partir do exposto cabe agrave gestatildeo municipal implementar legislaccedilotildees que priorizem a

permeabilidade possibilitando uma maior infiltraccedilatildeo das aacuteguas das chuvas atraveacutes de

pavimentaccedilotildees menos impermeaacuteveis e da ampliaccedilatildeo de aacutereas vegetadas Satildeo medidas

que tornam a drenagem mais sustentaacutevel aleacutem de possibilitar a manutenccedilatildeo dos serviccedilos

puacuteblicos de forma menos custosa tendo em vista o elevado preccedilo das recomposiccedilotildees

asfaacutelticas

1 2

73

Aleacutem disso quando se fala em controle de cheias urbanas pressupotildee-se uma seacuterie de

medidas para minimizaccedilatildeo de seus impactos desde a operaccedilatildeo de sistemas de alerta

zoneamento de aacutereas inundaacuteveis construccedilatildeo de grandes reservatoacuterios de contenccedilatildeo de

cheias e diques ateacute accedilotildees de educaccedilatildeo ambiental

Cabe pensar tambeacutem na proacutexima revisatildeo do PDM em um plano de macrodrenagem

municipal que reuacutena accedilotildees de caraacuteter estruturantes com obras hidraacuteulicas de infraestrutura

que realizem a conduccedilatildeo final das aacuteguas dos escoamentos superficiais para a minimizaccedilatildeo

das inundaccedilotildees e em medidas natildeo-estruturantes que trabalhem a consciecircncia ambiental

e proponha um zoneamento de cheias a fim de se delimitar os pontos mais fragilizados nos

defluacutevios

Por fim pensar em drenagem num contexto de ocupaccedilatildeo irregular histoacuterico requer

profissionais que aleacutem de possuir afinidade com a temaacutetica tambeacutem possam analisar os

diferentes processos que constituem o espaccedilo geograacutefico Logo este tipo de estudo deve

abarcar uma equipe multidisciplinar que percorra a anaacutelise desde o ambiental estrutural

ateacute o aspecto humano a fim de se produzir resultados que de fato contribuam com o

controle das inundaccedilotildees urbanas

74

6 CONCLUSAtildeO

A partir do recorte espacial foi possiacutevel compreender que a abordagem da geomorfologia

fluvial com a anaacutelise espaccedilo-temporal da ocupaccedilatildeo urbana possibilita a identificaccedilatildeo das

accedilotildees do homem no meio ambiente pois estas resultam na alteraccedilatildeo das paisagens

naturais e na dinacircmica da bacia hidrograacutefica Assim o Rio Doce deve ser estudado de

modo integrado ao crescimento da cidade sobretudo para compreensatildeo da produccedilatildeo do

espaccedilo geograacutefico

Analisar a inundaccedilatildeo urbana em Colatina foi satisfatoacuterio pois o municiacutepio estaacute situado no

perfil meacutedio-baixo da bacia vazante e eacute neste trecho que os reflexos das intervenccedilotildees satildeo

mais acentuados principalmente se esta parte do canal tambeacutem tiver passado por obras

que modificaram seus processos hidroloacutegicos Aleacutem disso a perspectiva geograacutefica aponta

para vaacuterias outras questotildees como erosatildeo fluvial planejamento urbano poluiccedilatildeo ambiental

crise da aacutegua que conduzem a outras discussotildees acerca da relaccedilatildeo homemnatureza

Ao demonstrar a evoluccedilatildeo espaccedilo-temporal do uso e cobertura da terra na margem direita

do Doce associando esta ocupaccedilatildeo agraves obras estruturantes que foram executadas no

canal verificamos que todas as praacuteticas adotadas para conter o transbordamento do rio

acabaram alterando sua morfologia com a retificaccedilatildeo de trechos em meandros reduzindo

a largura do corpo hiacutedrico o que favoreceu a apropriaccedilatildeo urbana de suas vaacuterzeas Aliadas

a estas questotildees estatildeo a falta de planejamento urbano e a omissatildeo diante da supressatildeo

das matas ciliares principalmente se considerados os resultados do relatoacuterio teacutecnico do

IJSN contra enchentes em 1980

Cabe destacar tambeacutem que toda a anaacutelise da ocupaccedilatildeo urbana e desnaturalizaccedilatildeo do

Rio Doce foi melhor identificada a partir dos produtos cartograacuteficos deste trabalho Pois eacute

na espacialidade dos fenocircmenos e no registro de informaccedilotildees ainda natildeo mapeadas como

os aterros que o geoacutegrafo executa a anaacutelise do seu objeto de estudo o homem e a

natureza aqui representado pela sociedade e o canal do Doce

Apesar do municiacutepio apresentar leis que resguardam os leitos dos rios desde o primeiro

PDM em 1996 nada foi feito para conter as ocupaccedilotildees irregulares beira-rio Pelo contraacuterio

estas aacutereas foram incorporadas ao Plano Diretor em 2007 com possibilidades de

ocupaccedilotildees diversas o que tem levado especuladores a valorizar o solo com vista para o

rio apontando suas qualidades esteacuteticas e teacutermicas Este fato vem aumentando o

75

percentual de aacutereas impermeaacuteveis nesta margem comprometendo ainda mais a drenagem

dos defluacutevios

Eacute na Av Beira-Rio que crescem as implantaccedilotildees de grandes empreendimentos comerciais

como supermercado Casagrande Ogil Hotel e obras de construccedilatildeo de novos arranha-

ceacuteus em um periacutemetro que jaacute eacute totalmente comprometido com os extravasamentos do Rio

Doce Estas obras ocupam grandes aacutereas e na maioria das vezes apresentam reduzida

aacuterea permeaacutevel reservando apenas o obrigatoacuterio pela lei cerca de 10 Observa-se

tambeacutem que a implantaccedilatildeo desses projetos estaacute condicionada agrave apresentaccedilatildeo e

aprovaccedilatildeo por comissatildeo na prefeitura do Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV) sendo

difiacutecil conceber que seja concedida tal licenccedila para implementaccedilatildeo de obras num trecho

de risco ambiental

Embora as diretrizes do Estatuto das Cidades para a implementaccedilatildeo do uso da terra

sustentaacutevel e os instrumentos para a regulaccedilatildeo do solo urbano sejam avanccedilados Colatina

eacute mais um exemplo da carecircncia de profissionais capacitados para estudar de modo

integrado e em niacutevel de bacia hidrograacutefica os efeitos da accedilatildeo humana num ambiente tatildeo

peculiar como as margens do Doce Por isso com os objetivos traccedilados nesta pesquisa

podemos aleacutem de compreender o fenocircmeno criar uma metodologia de anaacutelise de aacutereas

inundaacuteveis em ambientes urbanos O que permite agrave gestatildeo municipal uma diretriz para a

tomada de decisotildees

Destaca-se tambeacutem que as legislaccedilotildees aqui referenciadas supriram a discussatildeo acerca do

objeto de estudo mas outras podem contribuir para esta pesquisa a exemplo do Coacutedigo

das Aacuteguas da Poliacutetica Nacional dos Recursos Hiacutedricos das Resoluccedilotildees do Conama do

Estatuto das Cidades entre outros

Sendo assim numa revisatildeo do PDM deve-se pensar nestes aspectos da cidade desde o

histoacuterico de ocupaccedilatildeo das margens ateacute os impactos das inundaccedilotildees e o presente trabalho

auxilia com uma nova abordagem na reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo fornecendo material

cartograacutefico para subsidiar propostas de proteccedilatildeo ao curso do Doce e consequentemente

da populaccedilatildeo

Por fim deve-se destacar que o recorte estaacute inserido num contexto maior de uma bacia

hidrograacutefica que se estende aleacutem dos limites de Colatina ou do estado do Espiacuterito Santo

Esta bacia compreende a Regiatildeo Hidrograacutefica do Atlacircntico Leste e estaacute alocada tambeacutem

76

no estado de Minas Gerais o que portanto torna as accedilotildees de controle das inundaccedilotildees

mais complexas tendo em vista as divergentes politicas territoriais

77

7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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78

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Page 14: DESNATURALIZAÇÃO DO RIO DOCE: UMA ABORDAGEM … · Ao engenheiro Francisco Hermes, pela experiência e conhecimentos partilhados da área de estudo. Aos meus amigos Mônica Regina,

16

11 Objetivo

111 Objetivo Geral

Correlacionar os processos fluviais do Rio Doce por meio da dinacircmica geomorfoloacutegica

deste canal com o uso e cobertura da terra no setor urbano do municiacutepio de Colatina

Espiacuterito Santo Contrapondo assim as intervenccedilotildees urbanas da beira-rio com o Plano

Diretor Municipal e o Novo Coacutedigo Florestal enfatizando as diretrizes adotadas no

parcelamento do solo para a planiacutecie de inundaccedilatildeo deste rio

112 Objetivos Especiacuteficos

Identificar os vetores de crescimento urbano do municiacutepio a fim de avaliar a

evoluccedilatildeo da mancha urbana junto ao canal principal

Determinar o comprimento da borda da calha do leito regular do Rio Doce no

periacutemetro urbano de Colatina para definiccedilatildeo da largura miacutenima da faixa marginal

de preservaccedilatildeo

Espacializar as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente beira-rio previstas em lei a fim

de analisar a ocupaccedilatildeo urbana nestes espaccedilos

Cartografar os principais pontos desnaturalizados no canal principal do Rio Doce

no setor urbano de Colatina

Demonstrar como o emprego das geotecnologias auxilia no planejamento urbano

e ambiental especialmente em acircmbito municipal

17

12 Justificativa

A aacuterea de estudo corresponde ao periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina situado na

Bacia Atlacircntico trecho leste sub-bacia do Rio Doce no baixo curso (ANA 2001)

Compreende a regiatildeo noroeste do estado do Espiacuterito Santo latitude 19deg 32rsquo 16rsquorsquo S e

longitude 40deg 37rsquo 59rsquorsquo W De acordo com os dados do censo de 2010 do Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio possuiacutea uma populaccedilatildeo de 111788 mil

habitantes1 numa aacuterea territorial de 1416804 kmsup2

Devido a sua privilegiada posiccedilatildeo geograacutefica limiacutetrofe com o Rio Doce e a construccedilatildeo da

Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas em 1906 Colatina compreendia os territoacuterios dos atuais

municiacutepios de Baixo Guandu Linhares Pancas Satildeo Gabriel da Palha Marilacircndia Satildeo

Domingos do Norte e Governador Lindenberg (INCAPER 2011) Soacute a partir de 2001

passou a apresentar os atuais limites municipais e configurar uma aacuterea urbana com 59

bairros (Figura 1)

Colatina eacute um municiacutepio de importacircncia para regiatildeo noroeste capixaba seja em caraacuteter

econocircmico ou social Eacute responsaacutevel pelos fluxos de cargas da regiatildeo aleacutem de ser um polo

moveleiro de confecccedilatildeo metalmecacircnico e de comeacutercio e serviccedilos gerando emprego e

renda (INCAPER 2011) Aleacutem disso tem sofrido historicamente com as cheias do Rio

Doce principalmente porque parte do seu periacutemetro urbano eacute inundado com as aacuteguas da

calha principal desse rio o que compromete toda a dinacircmica local e potildee em risco os

colatinenses

Assim diante das crescentes demandas por territoacuterio no periacutemetro urbano a populaccedilatildeo

tem suprimido a cobertura vegetal e ocupado desde as margens do Rio Doce ateacute as

encostas dos morros Em periacuteodos de cheias principalmente nos meses de outubro a

marccedilo (INCAPER 2011 ANA 2001) verificam-se inundaccedilotildees de grande parte da aacuterea

urbana beira-rio aleacutem dos movimentos de massa nas encostas Como exemplo destes

acontecimentos tecircm-se os registros fotograacuteficos dos efeitos da chuva de dezembro de 2013

(Figuras 2 e 3)

1 De acordo com o a estimativa do IBGE de 2014 publicada no DOU o municiacutepio conta com uma populaccedilatildeo de 121670 habitantes

18

Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e o canal do Rio Doce Elaborado pela autora

19

Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 Fonte Noticias UOL (2013)

Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de 2013 Fonte Folha Vitoacuteria (2013)

Este estudo portanto eacute relevante tendo em vista as raras abordagens no acircmbito das

Ciecircncias Geograacuteficas especialmente no Espiacuterito Santo de pesquisas que correlacionem

aspectos da geomorfologia fluvial por meio da dinacircmica dos recursos hiacutedricos com o uso

e cobertura da terra particularmente o Plano Diretor Municipal (PDM) Discute dessa

forma as implicaccedilotildees da atuaccedilatildeo humana nas particularidades deste ecossistema natural

tendo em vista o disposto nas legislaccedilotildees urbaniacutesticas e ambientais que visam assegurar

a qualidade de vida das populaccedilotildees

Adiante seratildeo analisados os principais fundamentos da geomorfologia fluvial os aspectos

juriacutedicos e o papel da anaacutelise geograacutefica integrada para o entendimento dos fenocircmenos

das inundaccedilotildees no Centro de Colatina uma vez que eacute devido agraves intervenccedilotildees humanas

nos canais e suas margens que esses fenocircmenos tornam-se mais nocivos a cidade

20

2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS

21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano

Recurso essencial para a manutenccedilatildeo da vida a aacutegua foi um fator relevante para o

estabelecimento histoacuterico das sociedades no entorno dos cursos hiacutedricos Utilizados para

fins de abastecimento humano e animal irrigaccedilatildeo saneamento e transporte os rios

constituiacuteram-se nos principais propulsores de penetraccedilatildeo para o interior (CUNHA 2012a)

Logo em suas margens surgiram povoados que posteriormente transformaram-se em

cidades como as que se estabeleceram agraves margens do Rio Doce a exemplo da sede de

Colatina

Diante das potencialidades que os recursos hiacutedricos possibilitam agraves sociedades

destacamos a importacircncia do estudo da Geomorfologia Fluvial que se apresenta como

campo da Geomorfologia (ciecircncia que estuda as formas do relevo) sendo o interesse

daquela a pesquisa dos processos que relacionam o escoamento das aacuteguas fluviais num

contexto de bacia hidrograacutefica (CHRISTOFOLETTI 1980 CUNHA op cit) Enfoca assim

as alteraccedilotildees na fisionomia dos canais frente agraves intervenccedilotildees no ecossistema natural

beira-rio

A Geomorfologia Fluvial parte da condicionante de que o uso e ocupaccedilatildeo da terra refletem-

se na dinacircmica da bacia de drenagem interferindo nos processos morfogeneacuteticos ou seja

de modelagem do relevo fluvial escoamento superficial das aacuteguas e no ciclo hidroloacutegico

Frente agrave temaacutetica deste estudo faz-se necessaacuterio o entendimento dos conceitos da

fisiografia fluvial aqui referente aos diferentes setores que a aacutegua pode escoar num leito

(Figura 4) como

O leito menor corresponde agrave parte do canal ocupada pelas aacuteguas e cuja frequecircncia impede o crescimento da vegetaccedilatildeo Esse tipo de leito eacute delimitado por partes bem definidas O leito de vazante equivale agrave parte do canal ocupada durante o escoamento das aacuteguas de vazante Suas aacuteguas divagam dentro do leito menor seguindo o talvegue linha de maacutexima profundidade ao longo do leito e que eacute mais bem identificada na seccedilatildeo transversal do canal O leito maior tambeacutem denominado leito maior perioacutedico ou sazonal eacute ocupado pelas aacuteguas do rio regularmente e pelo menos uma vez ao ano durante as cheias Dependendo do tempo ocorrido entre as subidas das aacuteguas eacute possiacutevel haver a fixaccedilatildeo e o crescimento da vegetaccedilatildeo herbaacutecea

21

O leito maior excepcional eacute ocupado durante as grandes cheias no decorrer das enchentes (CUNHA 2001 p 213)

Figura 4 - Tipos de leito fluvial vaacuterzea Fonte Cunha (2001 p213)

Sendo assim as aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial (leitos) aquelas inundadas pelo corpo

hiacutedrico frente a um evento hidroloacutegico extremo tambeacutem satildeo conhecidas como vaacuterzeas

planiacutecie de inundaccedilatildeo ou ainda segundo Carneiro e Miguez (2011 p133) como ldquo[] zona

de passagem de cheia []rdquo Essas aacutereas de vaacuterzeas dependem da fisionomia que o rio

apresenta e segundo Cunha (op cit) o canal fluvial pode apresentar trecircs formas

principais conhecidas como padratildeo dos canais que satildeo retiliacuteneo anastomosado e

meacircndrico (Figura 5)

Figura 5 - Padrotildees dos canais (A) retiliacuteneo (B) anastomosado (C) meandrante (A) amplitude (Rc) raio meacutedio da curvatura do meandro (segundo Bigarella etal 1979) Fonte Cunha (2001 p216)

22

Aliada aos padrotildees dos canais estaacute a assimetria ou simetria dos leitos que para Cunha

(2001 p233) relaciona-se com a variaccedilatildeo da velocidade e turbulecircncia ao longo da secccedilatildeo

transversal o que diferencia o comportamento nos canais retiliacuteneos geralmente simeacutetricos

do canal meacircndrico onde

Em canais de leito simeacutetrico em geral padratildeo retiliacuteneo a velocidade maacutexima ocorre no centro do canal diminuindo em direccedilatildeo agraves margens Em leito assimeacutetrico de padratildeo meacircndrico a zona de maacutexima velocidade e turbulecircncia localiza-se nas proximidades das margens cocircncavas decrescendo de valor em direccedilatildeo agrave margem de menor profundidade

(convexa) (CUNHA opcit p 233)

Deste modo a capacidade de erosatildeo das margens transporte e deposiccedilatildeo da carga do rio

dependem entre outros fatores da velocidade das correntes fluviais E o material do fluxo

fluvial constitui-se da descarga liacutequida ou vazatildeo que estaacute relacionada ao tamanho do

material que pode ser transportado e do volume da carga que o rio eacute capaz de carregar

Tem-se ainda a carga soacutelida sedimentos que estaacute relacionada a suspensatildeo e fundo do

rio esta decresce a jusante indicando a diminuiccedilatildeo da competecircncia do corpo fluvial As

cargas de suspensatildeo satildeo constituiacutedas de partiacuteculas finas a exemplo do silte e por fim a

carga de fundo que eacute composta por partiacuteculas de tamanhos maiores a exemplo da areia

(CUNHA2001)

Christofoletti (1980) acrescenta que os sedimentos podem ser carregados de trecircs modos

principais no fluxo em soluccedilatildeo dissolvidos nos cursos hiacutedricos em suspensatildeo como o

silte e argila e em saltaccedilatildeo geralmente a areia e cascalho que compreendem a carga do

leito do rio Destaca-se que a carga detriacutetica natildeo proveacutem apenas da erosatildeo do fundo dos

leitos e margens fluviais mas que o material intemperizado de vertentes carreado nas

enchentes contribui significativamente para a carga sedimentar transportada

Cabe ressaltar ainda que a relaccedilatildeo do arranjo espacial dos canais com os processos

fluviais (a erosatildeo o transporte e a deposiccedilatildeo de sedimentos) eacute determinante para o

trabalho dos rios Tais processos satildeo diretamente influenciados pela vazatildeo velocidade e

pela intensidade da turbulecircncia (seja no fluxo laminar ou no fluxo turbulento) A

variabilidade no comportamento da velocidade e turbulecircncia das aacuteguas ao longo da seccedilatildeo

transversal condiciona os locais preferenciais de erosatildeo e deposiccedilatildeo ao longo do curso

hiacutedrico

23

Deste modo qualquer intervenccedilatildeo na bacia e canal fluvial compromete o equiliacutebrio natural

da drenagem levando o corpo hiacutedrico a se adaptar agraves mudanccedilas em sua fisionomia

fisiografia e em seus processos ateacute atingir um novo estado de equiliacutebrio Poreacutem eacute na

planiacutecie de inundaccedilatildeo que estas modificaccedilotildees seratildeo mais percebidas pela populaccedilatildeo pois

a maior parte das obras de engenharia como as canalizaccedilotildees e as ocupaccedilotildees das

margens acaba por romper com o equiliacutebrio natural do rio alterando sua dinacircmica e

intensificando seus processos o que na maioria das vezes potencializa as enchentes no

ambiente urbano

Nesse sentido o entendimento dos processos fluviais (erosatildeo transporte e deposiccedilatildeo)

combinado com a anaacutelise da fisiografia fluvial condicionam as peculiaridades na geometria

hidraacuteulica ou seja na relaccedilatildeo entre a vazatildeo velocidade de escoamento tipos de canais

de sedimentos e a topografia Logo o conhecimento geomorfoloacutegico do rio contribui para

pesquisas que necessitem relacionar o funcionamento deste corpo natural com um

planejamento urbano mais efetivo principalmente se considerarmos um recorte em niacutevel

de bacia hidrograacutefica em espaccedilo urbano

211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial

O capiacutetulo que segue versa sobre a atuaccedilatildeo antroacutepica relacionando-a a aacuterea de estudo o

rio Doce poreacutem este trata de forma macro a temaacutetica para contextualizar o leitor sendo

as especificidades das intervenccedilotildees neste recorte geograacutefico trabalhados nos resultados

desta pesquisa

Diante do exposto eacute possiacutevel acompanhar a evoluccedilatildeo dos processos fluviais nos canais

em especial aqueles que tiveram intervenccedilotildees em seu curso natural como as hidreleacutetricas

instaladas a montante a exemplo do Rio Doce onde a interferecircncia direta na vazatildeo e fluxo

de sedimentos altera a hidrodinacircmica do rio comprometendo a erosatildeo e transporte Para

Coelho (2007 p57) as

Mudanccedilas na Declividade Perfil Longitudinal Promovidas pela construccedilatildeo de reservatoacuterio satildeo variadas e caso o efeito da contenccedilatildeo de sedimentos seja significativo os processos fluviais reduziratildeo a capacidade de transporte de sedimento podendo promover um entalhamento do leito do rio imediatamente agrave jusante da barragem

Aleacutem disso esse processo erosivo poacutes-barragem eacute intensificado favorecendo o

assoreamento e sedimentaccedilatildeo do rio a jusante O que pode beneficiar a elevaccedilatildeo da cota

24

do canal fluvial frente a eventos hidroloacutegicos extremos potencializando os efeitos das

inundaccedilotildees nas vaacuterzeas

Ao mesmo tempo o Rio Doce trecho que compreende o Espiacuterito Santo meacutediobaixo curso

eacute impactado nas vazotildees miacutenimas e maacuteximas a jusante apoacutes a instalaccedilatildeo das

barragensUsinas Hidreleacutetricas (UHE) de Mascarenhas (iniacutecio de operaccedilatildeo em 1974)

localizada no Municiacutepio de Baixo Guandu e a de Aimoreacutes (iniacutecio de operaccedilatildeo em 2005)

localizada na divisa do Espiacuterito Santo com Minas Gerais (COELHO 2007)

De acordo com Coelho (opcit) apoacutes a implantaccedilatildeo das usinas ocorreu uma reduccedilatildeo

significativa na vazatildeo da calha principal do Rio Doce conforme Graacutefico 1

Considerando o periacuteodo de 1939 a 2012 a vazatildeo miacutenima apoacutes a instalaccedilatildeo das usinas

chega a atingir 411msup3s e a maacutexima chega apenas a 1251msup3s sendo que no periacuteodo

anterior agrave instalaccedilatildeo das usinas foi registrada a miacutenima de 533 msup3s e uma maacutexima de

1812 msup3s o que ressalta o impacto do barramento sobre o corpo hiacutedrico Aleacutem do

comprometimento dos processos de erosatildeo transporte e sedimentaccedilatildeo (COELHO 2008

e CUNHA 2001)

Diante desta perda de carga liacutequida nos barramentos Cunha (2001 p 241) observa ainda

que as aacutereas a jusante de reservatoacuterios

[hellip] onde o regime do rio sofre significativas modificaccedilotildees devidas ao controle das descargas liquidas e de sedimentos no reservatoacuterio As mudanccedilas ocorridas no regime das aacuteguas neste setor do rio acarretam significativos efeitos nos processos do canal tais como o entalhe do leito a erosatildeo das margens e a deposiccedilatildeo a jusante atingindo longas distacircncias

Aleacutem disso no periacutemetro urbano de Colatina o Rio Doce sofreu outras intervenccedilotildees em

seu canal principal como a implantaccedilatildeo de obras estruturais de macrodrenagem a

exemplo da construccedilatildeo da Av Beira-Rio com intuito de conter o avanccedilo das aacuteguas fluviais

em periacuteodos de cheias

25

Graacutefico 1

Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais (Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia)

Fonte adaptado de Coelho (2007 p154)

26

Como exemplo dos tipos de intervenccedilotildees humanas nas aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial

leitos Carneiro e Miguez (2011 p117) destacam

As accedilotildees de controle e cheias urbanas podem ser classificadas em estruturais quando a paisagem eacute alterada pela accedilatildeo do homem e em natildeo estruturais aqui denominada como estruturante quando o homem aprende a conviver com as enchentes No primeiro caso estatildeo as medidas de controle atraveacutes de obras hidraacuteulicas tais como barragens diques e canais entre outras No segundo caso encontram-se medidas do tipo preventivo tais como zoneamento de aacutereas de inundaccedilatildeo sistemas de alerta educaccedilatildeo ambiental lei de parcelamento e uso dos solos e seguros contra inundaccedilatildeo

Neste cenaacuterio abarcamos os impactos das obras de engenharia como a canalizaccedilatildeo que

altera a fisionomia e fisiografia do rio refletindo-se nos processos geomorfoloacutegicos do canal

e sua planiacutecie de inundaccedilatildeo Para estes a canalizaccedilatildeo eacute uma obra estrutural que aumenta

a capacidade do fluxo do canal aleacutem de intensificar a velocidade do escoamento

superficial antecipando o pico de cheia e transferindo os alagamentos para locais a jusante

na bacia hidrograacutefica

Articulado a esta ideia Cunha (2012b) reflete a desnaturalizaccedilatildeo dos rios por meio de

obras de retificaccedilatildeo com a reduccedilatildeo do comprimento do canal e eliminaccedilatildeo das

sinuosidades Satildeo obras que afetam a estabilidade do corpo hiacutedrico na medida em que

interferem na relaccedilatildeo entre erosatildeo sedimentaccedilatildeo e deposiccedilatildeo provocando efeitos como

alteraccedilatildeo na morfologia do canal Sendo assim ldquo[hellip] a diminuiccedilatildeo da rugosidade no fundo

do canal em conjunto com a perda dos meandros e a aceleraccedilatildeo das velocidades eacute a

principal responsaacutevel pelas mudanccedilas no balanccedilo da energia natural dos sedimentos

fluviais [hellip]rdquo Cunha (2012b p178) No caso do Rio Doce trecho correspondente agrave Av

Beira-Rio alterou-se a sua forma retilinizando-a e sua vegetaccedilatildeo natural foi substituiacuteda

por estruturas de pedras o que compromete a resistecircncia ao fluxo as margens e aos

bancos arenosos

Embora as obras de canalizaccedilatildeo sejam implantadas como eficazes nos canais fluviais para

questotildees de enchentes urbanas para Cunha (op cit) estas necessitam de manutenccedilatildeo

constante envolvendo desde dragagem remoccedilatildeo de obstruccedilotildees a recomposiccedilatildeo do

material utilizado Poreacutem toda a manutenccedilatildeo estaacute associada a alteraccedilotildees morfoloacutegicas e

bioloacutegicas como as que interferem nas soleiras e depressotildees do fundo dos leitos

desestabilizando a vazatildeo no curso a exemplo da

27

ldquo[hellip] eliminaccedilatildeo da sequecircncia de depressotildees e soleiras o aumento da velocidade da corrente a diminuiccedilatildeo da diversidade de habitats o ambiente instaacutevel resultante da flutuaccedilatildeo dos niacuteveis da aacutegua e do substrato moacutevel e a maior flutuaccedilatildeo da temperatura das aacuteguasrdquo (CUNHA 2012b p180)

Ao mesmo tempo o aumento da velocidade dos escoamentos no trecho retificado

possibilita maior erosatildeo transferindo para as aacutereas a jusante uma carga soacutelida

representativa que para Cunha (op cit) configura a formaccedilatildeo de bancos axiais e depoacutesitos

de sedimentaccedilatildeo marginais alterando o equiliacutebrio dos sedimentos a jusante Pois

A jusante das obras de retificaccedilatildeo verificam-se o aumentam da carga soacutelida o assoreamento durante a dragagem a erosatildeo no canal pelos eventos torrenciais do regime e a modificaccedilatildeo na dinacircmica na foz Os sedimentos resultantes da erosatildeo no canal retificado em conjunto com a excessiva carga de sedimentos posta em suspensatildeo durante a dragagem e na fase imediata de poacutes-construccedilatildeo - quando a erosatildeo dos bancos de areia sem vegetaccedilatildeo estaacute em seu niacutevel maacuteximo - originam a formaccedilatildeo de depoacutesitos fluviais de curta duraccedilatildeo a jusante do canal retificado Logo a seguir esses depoacutesitos satildeo erodidos juntamente com as margens e o fundo do leito pelos eventos torrenciais do regime vindo a formar bancos axiais e depoacutesitos de sedimentaccedilatildeo marginais (CUNHA2012b p183)

Portanto o estudo da geomorfologia fluvial contribui diretamente para o entendimento das

cheias nas planiacutecies de inundaccedilatildeo em especial nas bacias hidrograacuteficas que

compreendem a aacuterea urbana e que possuem intervenccedilotildees antroacutepicas diretas na fisiografia

do canal principal Seus processos explicam como as alteraccedilotildees no canal fluvial podem

maximizar os efeitos dos transbordamentos impactando principalmente as populaccedilotildees

ribeirinhas aleacutem de todo ecossistema local Ademais estes fundamentos geomorfoloacutegicos

devem ser associados agrave legislaccedilatildeo vigente afim de subsidiar a elaboraccedilatildeo de instrumentos

legais para atuaccedilatildeo do poder puacuteblico nestas zonas de risco

22 Aspectos Juriacutedicos

Frente agrave crescente demanda sobre os recursos hiacutedricos e solo urbano a partir da deacutecada

de 1930 surgem as primeiras diretrizes que visam regulamentar estes ambientes a

exemplo do Coacutedigo das Aacuteguas Mas soacute a partir dos anos 1960 surgem em acircmbito federal

leis como o Coacutedigo Florestal com o intuito de regular a exploraccedilatildeo das vegetaccedilotildees e

consequentemente proteger os mananciais e em 1979 com o objetivo de ordenar as

28

cidades eacute aprovada a Lei 676679 estabelecendo as normas do parcelamento do solo

urbano

Na medida em que as populaccedilotildees aumentam ampliam-se tambeacutem as pressotildees sobre os

recursos de aacutegua e solo Os processos de uso e a conscientizaccedilatildeo de que estes elementos

satildeo finitos intensificam as formas de controle e preservaccedilatildeo passando para as esferas

estaduais e municipais a responsabilidade de atuar em escala local na proteccedilatildeo desses

ambientes

Ainda em escala federal em 2012 eacute promulgado o Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012

em substituiccedilatildeo ao coacutedigo anterior Lei 47711965 que apresenta as normas de

apropriaccedilatildeo dos recursos naturais pelas novas necessidades das populaccedilotildees citadinas e

rurais No que compete agrave aacuterea de estudo cabe destacar as ocupaccedilotildees em aacutereas de

planiacutecie de inundaccedilatildeo em que de acordo com art 4ordm devem ser preservadas

I - as faixas marginais de qualquer curso drsquoaacutegua natural perene e intermitente excluiacutedos os efecircmeros desde a borda da calha do leito regular em largura miacutenima de (Incluiacutedo pela Lei nordm 12727 de 2012) a) 30 (trinta) metros para os cursos drsquoaacutegua de menos de 10 (dez) metros de largura b) 50 (cinquenta) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura c) 100 (cem) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura d) 200 (duzentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura e) 500 (quinhentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros []

A legislaccedilatildeo eacute riacutegida no que concerne agrave ocupaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo das terras nas faixas

marginais dos rios transferindo aos estados e municiacutepios a responsabilidade de fiscalizar

estes territoacuterios para garantir a efetividade da lei A questatildeo eacute que muitas vezes somada a

falta de planejamento estas fiscalizaccedilotildees satildeo ineficientes o que tem possibilitado o

surgimento cada vez maior das ocupaccedilotildees irregulares

Apoiado tambeacutem pela Constituiccedilatildeo Federal de 1988 nos artigos 182 e 183 surge o

Estatuto das Cidades Lei 102572001 com finalidade de garantir a funccedilatildeo social da

cidade e com este os primeiros Planos Diretores Municipais (PDM) que buscam o

ordenamento do crescimento das cidades em caraacuteter socioeconocircmico e ambiental cidades

sustentaacuteveis Ademais em Colatina eacute instituiacuteda a Lei 42281996 posteriormente revogada

29

pela Lei 52732007 que ldquoInstitui o Plano Diretor do Municiacutepio de Colatina estabelece os

objetivos instrumentos e diretrizes e daacute outras providecircncias para as accedilotildees de

planejamento do Municiacutepio de Colatina []rdquo

O PDM de Colatina assim como Coacutedigo Florestal prevecirc a preservaccedilatildeo dos ecossistemas

beira-rio Aquele ainda dispotildee sobre o parcelamento do solo sustentaacutevel a funccedilatildeo social

da cidade e da propriedade conforme o Plano Diretor de Colatina de 2007 nos artigos

transcritos

Artigo 22 - As diretrizes ambientais no Municiacutepio de Colatina satildeo I - aplicar os instrumentos de gestatildeo ambiental estabelecidos nas legislaccedilotildees federal estadual e municipal bem como a criaccedilatildeo de outros instrumentos adequando-os agraves metas estabelecidas pelas poliacuteticas ambientais II - compatibilizar as diretrizes de uso ocupaccedilatildeo e parcelamento do solo aos objetivos de proteccedilatildeo ambiental dos ecossistemas [] Artigo 23 - Satildeo diretrizes do sistema de drenagem urbana I - disciplinar a ocupaccedilatildeo das cabeceiras e vaacuterzeas das bacias hidrograacuteficas do Municiacutepio preservando a vegetaccedilatildeo existente e visando agrave sua recuperaccedilatildeo [] III - definir mecanismos de fomento para usos do solo compatiacuteveis com aacutereas de interesse para drenagem tais como parques lineares aacuterea de recreaccedilatildeo e lazer hortas comunitaacuterias e manutenccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa [] V - implantar medidas natildeo-estruturais [sic] de prevenccedilatildeo de inundaccedilotildees tais como controle de erosatildeo especialmente em movimentos de terra controle de transporte e deposiccedilatildeo de entulho e lixo combate ao desmatamento assentamentos clandestinos e a outros tipos de invasotildees nas aacutereas com interesse para drenagem [] VII - garantir e respeitar a necessaacuteria permeabilidade do solo inclusive buscando alternativas de pavimentaccedilatildeo com maior de permeabilidade [sic] [] Artigo 84 ndash Satildeo objetivos do ordenamento territorial do Municiacutepio de Colatina [] IV ndash conter a expansatildeo da ocupaccedilatildeo urbana em aacutereas de proteccedilatildeo ambiental [] Artigo 120 ndash Ficam desde jaacute identificadas como Zonas de Proteccedilatildeo Ambiental 2 ndash ZPA 2 as seguintes aacutereas [] III ndash as aacutereas existentes ao longo de qualquer curso drsquoagua desde o niacutevel mais alto em faixa marginal cuja largura miacutenima seraacute de a) 15m (trinta metros) [sic] para os cursos drsquoagua com menos de 10m (10

metros) de largura contidos no periacutemetro urbano [] c) 30m (trinta metros) para os cursos drsquoagua que tenham de10m (dez

metros a 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano

[]

30

e) 50m (cinquenta metros) para os cursos drsquoagua que tenham mais de 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 60422013)

[]

De modo geral verifica-se que a legislaccedilatildeo apresenta instrumentos que permitem a

prevenccedilatildeo ou controle de ocupaccedilotildees irregulares ou clandestinas em aacuterea de APP aleacutem de

propostas para resguardar de grandes impactos ambientais o corpo hiacutedrico principal do

municiacutepio o Rio Doce Possibilitando assim a minimizaccedilatildeo dos impactos causados pelas

cheias agrave populaccedilatildeo local

Poreacutem cabe destacar que o Plano Diretor Municipal de Colatina natildeo contempla o

estipulado no Coacutedigo Florestal 2012 Lei Federal onde os cursos drsquoaacutegua com largura

superior a 600(seiscentos) metros devem ser resguardados com aacutereas de preservaccedilatildeo

permanente de 500(quinhentos) metros entre outros sendo que a redaccedilatildeo desta parte do

PDM eacute dada pela lei 60422013 posterior a publicaccedilatildeo do novo Coacutedigo Florestal Sendo

assim verifica-se que apesar da intenccedilatildeo de resguardar uma faixa de no maacuteximo

50(cinquenta) metros em periacutemetro urbano para a contenccedilatildeo de cheias e mata ciliar o

PDM de Colatina natildeo atende o miacutenimo previsto em Lei Federal O que tem impactado todo

ecossistema beira rio e a populaccedilatildeo ribeirinha uma vez que a faixa marginal de proteccedilatildeo

de 50(cinquenta) metros em muitos casos natildeo tem comportado o impacto dos defluacutevios

No entanto a legislaccedilatildeo trata de aspectos gerais natildeo pontuando as aacutereas responsaacuteveis

por cada accedilatildeo aleacutem de sua aplicabilidade depender da elaboraccedilatildeo de um cronograma de

execuccedilatildeo bem como um conjunto de planos e normas especiacuteficos para cada diretriz com

detalhamento das propostas de intervenccedilatildeo Isto natildeo ocorreu ateacute o presente

Aleacutem disso a cidade de Colatina surgiu num cenaacuterio histoacuterico anterior agraves legislaccedilotildees

urbaniacutesticas e ambientais inclusive do Coacutedigo das Aacuteguas o que dificulta a execuccedilatildeo de

um planejamento que concilie a preservaccedilatildeo das matas beira-rio garantindo a faixa de

APP com a ocupaccedilatildeo urbana consolidada

A aacuterea de estudo se apresenta como ambiente fragilizado apesar de ser regida por

legislaccedilotildees desde a escala federal ateacute a municipal que visam proteger e ordenar o uso e

cobertura da terra nas faixas marginais dos rios Mas a dificuldade das prefeituras em

aplicar os instrumentos legais nestes ambientes seja por interesses privados ou falta de

recursos para investimentos em soluccedilotildees a longo prazo continua expondo as populaccedilotildees

31

aos impactos dos eventos hidroloacutegicos criacuteticos como os que resultam nas inundaccedilotildees

Para que se alcance esse parcelamento do solo sustentaacutevel satildeo necessaacuterios esforccedilos da

gestatildeo municipal em estipular prazos e metas de atuaccedilatildeo afora interagir os diferentes

setores no planejamento em niacutevel de bacia hidrograacutefica considerando as peculiaridades

desta escala de trabalho

23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos

Sendo a ciecircncia que estuda a relaccedilatildeo homemnatureza a Geografia tem muito a contribuir

nas anaacutelises que envolvem o meio ambiente que foi transformado pela dinacircmica da

sociedade Mas historicamente a dialeacutetica das correntes fiacutesica e humana tem imperado de

modo dissociado levando o geoacutegrafo a estudar estes processos separadamente Poreacutem

se o resultado pretendido eacute integrado fazem-se necessaacuterias pesquisas mais amplas que

cruzem as diferentes vertentes geograacuteficas

Considerando que a problemaacutetica dos impactos ambientais urbanos envolve a questatildeo

natural o rio e a questatildeo social e poliacutetica a sociedade e as leis (COELHO 2013) uma

pesquisa neste acircmbito requer o entendimento destes dois objetos a fim de se apreender

o processo de crescimento das cidades brasileiras e a sua relaccedilatildeo com os recursos

hiacutedricos

A partir da deacutecada de 1950 devido ao ecircxodo rural mais intenso as cidades brasileiras

incharam rapidamente com a migraccedilatildeo do camponecircs que buscava melhores condiccedilotildees de

vida como trabalho na induacutestria o acesso agraves escolas saneamento entre outros E

segundo Gorski (2010) a populaccedilatildeo brasileira passou desde o iniacutecio deste processo de 19

milhotildees de habitantes em 1950 para 138 milhotildees de habitantes em 2000 (dados do IBGE)

o que corrobora o raacutepido crescimento das cidades

Todavia as estruturas puacuteblicas natildeo estavam preparadas para um acreacutescimo populacional

tatildeo significativo e em curto espaccedilo de tempo E o que observamos eacute o acesso limitado

dessa populaccedilatildeo agraves aacutereas centrais da cidade sendo induzida a se estabelecer nas

periferias Nesta visatildeo

O difiacutecil acesso da populaccedilatildeo de baixa renda agraves aacutereas mais centrais das cidades contribuiu segundo Raquel Rolnik para a expansatildeo da periferia o que muitas vezes implicou e implica ainda invasatildeo de aacutereas de proteccedilatildeo de mananciais com a aquiescecircncia do poder puacuteblico Esta

32

dinacircmica agravou a situaccedilatildeo de risco dos mananciais pela eliminaccedilatildeo das matas ciliares e consequentemente erosatildeo das margens dos cursos drsquoaacutegua e assoreamento de suas calhas e pela contribuiccedilatildeo do esgoto in natura (ROLNIK1997 apud GORSKI 2010 p62)

Sendo assim a supressatildeo das matas ciliares e das vegetaccedilotildees das encostas para fins de

ocupaccedilatildeo urbana interfere diretamente no ciclo hidroloacutegico diminuindo a absorccedilatildeo de

aacutegua pelo subsolo e pela evapotranspiraccedilatildeo favorecendo o escoamento superficial (Figura

6) que intensifica a velocidade de drenagem das aacuteguas Este processo nas encostas eacute

mais significativo se considerarmos que com a supressatildeo da cobertura vegetal e

impermeabilizaccedilatildeo do solo as precipitaccedilotildees acabam por lavar todo o material

intemperizado sedimentos carregando-o diretamente para o corpo hiacutedrico e contribuindo

para o assoreamento

Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento Fonte Gorski (2010 p64)

Por outro lado as ocupaccedilotildees ribeirinhas nas vaacuterzeas dos rios modificam a dinacircmica fluvial

frente aos defluacutevios A compactaccedilatildeo e o nivelamento do solo associados agrave

impermeabilizaccedilatildeo por concreto asfalto e outros materiais alteram todo o sistema de

drenagem natural e contribuem para a erosatildeo fluvial Aleacutem disso a gestatildeo puacuteblica que

33

deveria investir num parcelamento do solo sustentaacutevel resguardando ldquouma alocaccedilatildeo de

espaccedilosrdquo (CANHOLI 2005 p 15) para a drenagem acaba por colaborar com as enchentes

urbanas na medida em que decide por obras estruturais como a canalizaccedilatildeo (Figura 7

p30) e a microdrenagem que transferem os impactos das inundaccedilotildees a jusante

Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia Fonte Gorski (2010 p69)

Cabe destacar que desde 1965 com o primeiro Coacutedigo Florestal as matas beira-rio jaacute

eram resguardadas da degradaccedilatildeo humana poreacutem com todo o boom urbano a partir de

1950 a falta de estrutura e ingerecircncia municipal no que se refere ao parcelamento e uso

e ocupaccedilatildeo da terra urbana possibilitou a formaccedilatildeo dos assentamentos clandestinos em

APP e na encosta de morros Em condiccedilotildees precaacuterias sem saneamento baacutesico e demais

infraestruturas urbanas estes assentamentos acabam sendo as regiotildees mais afetadas

com as inundaccedilotildees

Junto agraves questotildees jaacute levantadas vale destacar que as aacuteguas das inundaccedilotildees propiciam o

aumento das doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica (febre tifoide hepatite leptospirose

esquistossomose entre outras) pois carregam segundo Gorski (2010) toda uma poluiccedilatildeo

difusa efluentes domeacutesticos industriais e agroindustriais aleacutem do lixo urbano da poluiccedilatildeo

do ar e das ruas

34

Por outro lado esta ocupaccedilatildeo urbana natildeo planejada perde o benefiacutecio que os corpos

hiacutedricos podem oferecer como [] as paisagens fluviais que aos poucos foram sendo

apropriadas como paisagens urbanas [] (GORSKI 2010 38) aleacutem do microclima

associado agrave umidade pela evapotranspiraccedilatildeo que ameniza a sensaccedilatildeo teacutermica local

Poreacutem conforme observado por Graeff (2011) natildeo eacute cabiacutevel atualmente implantar a

legislaccedilatildeo de APP de modo jurista Deve-se considerar toda a representatividade cultural

assentada sobre os leitos destes rios (avenidas importantes casas com arquitetura

histoacuterica entre outros) Aleacutem disso para a demarcaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo

permanente hoje eacute necessaacuteria uma anaacutelise teacutecnica pautada na geomorfologia e

hidrologia de modo a interpretar o ldquocomportamento histoacuterico dos cursos drsquoaacutegua na

paisagem prevendo cenaacuterios de impactos futurosrdquo da atividade humana sobre suas faixas

marginais

Tendo em vista que grande parte da malha urbana brasileira estaacute alocada em APPs e que

segundo Graeff (2011) estas jaacute possuem uma unidade de paisagem estabelecida e muitas

vezes secular configurando siacutetios de importacircncia cultural e apreendendo que

De modo semelhante nas demais cidades haveraacute que ser entendido o meio urbano como ele realmente eacute ndash um encontro entre as necessidades de habitaccedilatildeo com atividades humanas e de conservaccedilatildeo ambiental esta segunda tambeacutem a serviccedilo do homem e natildeo somente de objetivos difusos e distanciados da sobrevivecircncia da sociedade (GRAEFF 2011 206)

Por tais motivos o trabalho com a geomorfologia fluvial urbana deve abarcar os princiacutepios

do bom senso compreendendo que nestas aacutereas de atividade antroacutepica consolidada pode-

se fazer uso de instrumentos de engenharia avanccedilados para uma convivecircncia equilibrada

do homem com a natureza no entorno Contudo deve-se incentivar as aacutereas de expansatildeo

urbana ou zona periurbana (zonas de transiccedilatildeo da aacuterea urbana para a rural) com poliacuteticas

de incentivo a pavimentaccedilotildees mais permeaacuteveis a fim de minimizar o escoamento

superficial para o rio favorecendo a infiltraccedilatildeo

Apesar de os impactos gerados pela interferecircncia humana nas aacutereas mais fragilizadas da

bacia hidrograacutefica vaacuterzeas e encostas refletirem-se em cataacutestrofes com prejuiacutezos

humanos ambientais e urbanos alguns autores brasileiros como Canholi Graeff Cunha

Carneiro e Miguez jaacute indicaram outros caminhos para uma convivecircncia harmoniosa com

a natureza Aleacutem do mais paiacuteses desenvolvidos como a Holanda deixaram de ldquolutar contra

35

as cheiasrdquo para permitir agraves aacuteguas das enchentes a capacidade de acumular e dispersar

com impacto reduzido para as populaccedilotildees (CARNEIRO MIGUEZ 2011)

Sendo assim a proposta deste estudo eacute identificar os principais agentes que influenciam

as inundaccedilotildees entendendo seu papel e atuaccedilatildeo no contexto urbano de Colatina Mas eacute

tambeacutem a de ampliar a abordagem da temaacutetica com uma anaacutelise geograacutefica integrada

ressaltando as medidas que constam no planejamento urbano e sua aplicaccedilatildeo nas faixas

marginais do corpo hiacutedrico

36

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS

Esta pesquisa eacute constituiacuteda de trecircs etapas principais sendo que a primeira teve como

premissa a confecccedilatildeo de um fluxograma (Figura 8) de trabalho para orientar a pesquisa

em seguida teve iniacutecio o levantamento de bibliografias que abordam temas como a

geomorfologia fluvial e urbanizaccedilatildeo em Colatina adotando-se como referecircncia as

pesquisas de Coelho (2006 2007 2008 e 2009) e Albani (2012) Aleacutem disso muito

contribuiacuteram para este trabalho o relatoacuterio do INCAPER da CPRM e os dados do IBGE

Cabe destacar tambeacutem as experiecircncias com recursos hiacutedricos em ambientes urbanos de

Carneiro e Miguez (2011) em especial Cunha (2001 2012ab)

Esta etapa consistiu tambeacutem na busca de material cartograacutefico como aquisiccedilatildeo de planos

de informaccedilatildeo de limite estadual municipal bairros mancha urbana corpo drsquoaacutegua e

logradouros atraveacutes de dados disponiacuteveis no Sistema Integrado de Bases Geoespaciais

do Estado do Espiacuterito Santo (GEOBASES 2014) no Instituto Jones dos Santos Neves

(IJSN 2015) e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2014) imagens

orbitais gratuitas do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI bandas 2-3-4 e 8 (Pan) oacuterbita 216

ponto 73 com datas de passagem em 02012014 e 22032014 agraves 946 (horaacuterio central

da oacuterbita) junto ao Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2014) aleacutem do ortofotomosaico

do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hiacutedricos (IEMA 2014) do Espiacuterito

Santo referente ao voo de 2007 a 2008

Na segunda etapa foram realizadas duas investigaccedilotildees de campo sendo a primeira no

dia 24 de junho de 2014 com a finalidade de fazer o reconhecimento da aacuterea de estudo

fotografar e conversar com moradores e teacutecnicos da prefeitura O segundo trabalho de

campo ocorreu no dia 14 de fevereiro de 2015 e por meio deste foi possiacutevel identificar

pontos sujeitos a inundaccedilatildeo analisar a topografia e realizar as entrevistas com moradores

e funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina

37

Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC)

38

Na terceira etapa foram realizados os mapeamentos e processamentos de todos os planos

de informaccedilatildeo vetoriais e matriciais em ambiente de SIG no sistema ArcGis 103 iniciando

com a ediccedilatildeo dos dados do Municiacutepio e adjacecircncias que foram ajustados quando

necessaacuterio ao sistema de projeccedilatildeo UTM no Datum SIRGAS ndash 2000 na Zona 24 sul com

meridiano central -39 W com todo o mapeamento produzido seguindo a padronizaccedilatildeo

cartograacutefica proposta por Fitz (2008 a b)

O geoprocessamento teve iniacutecio com a composiccedilatildeo das imagens orbitais do Landsat-8 na

cor natural da imagem (2R 3G 4B) e por meio da teacutecnica de Pan Sharpening ou fusatildeo

de imagens a imagem cor natural foi agrupada agrave da banda 8 pancromaacutetica para obtenccedilatildeo

de uma melhor resoluccedilatildeo espacial neste caso chegando a 15 metros sendo resguardado

o conteuacutedo da imagem composta Na sequecircncia foi realizada a extraccedilatildeo da maacutescara do

periacutemetro urbano de Colatina e gerada a classificaccedilatildeo supervisionada da imagem Landsat-

8 no periacuteodo de cheia (janeiro) e vazante (marccedilo) o que possibilitou a delimitaccedilatildeo da calha

do Doce nestes dois eventos

Em seguida foram realizadas as 8 (oito) mediccedilotildees do leito regular sendo 4 (quatro) no

periacuteodo de cheia e 4 (quatro) na vazante de modo a definir a largura meacutedia da calha do

leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina Para chegar a uma medida geral

da largura do rio utilizaram-se ferramentas estatiacutesticas como a meacutedia que eacute uma medida

de tendecircncia central onde numa amostra de tamanho N constituiacuteda por elementos de x

variando de eacute possiacutevel extrair a meacutedia aritmeacutetica atraveacutes da equaccedilatildeo

A meacutedia aponta para onde mais convergem os dados de uma distribuiccedilatildeo

A partir desta definiccedilatildeo da meacutedia da largura da calha do Rio Doce foi possiacutevel em consulta

ao Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e a Lei 52732007 determinar a faixa miacutenima

de preservaccedilatildeo permanente deste corpo fluvial aleacutem da confecccedilatildeo do mapa com o

poliacutegono de APP

Mediante a anaacutelise do mapa verificou-se que grande parte dos bairros do municiacutepio estatildeo

contidos nos poliacutegonos de APP em especial a preservaccedilatildeo de 500 metros conforme lei

federal E por meio deste foram cruzados os dados de vazatildeo as fotos histoacutericas das

enchentes e o poliacutegono de mata ciliar o que permitiu o entendimento das inundaccedilotildees

39

Em ambiente de SIG tambeacutem foram vetorizados os trecircs traccedilados da Estrada de Ferro

Vitoacuteria a Minas o trajeto do Rio Santa Maria do Doce antes e depois da retilinizaccedilatildeo e os

sucessivos aterros na margem direita do Rio Doce no periacutemetro que compreende a Av

Beira-Rio

As teacutecnicas de sensoriamento remoto como a classificaccedilatildeo supervisionada permitiram a

definiccedilatildeo do poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo atraveacutes da imagem da cheia de janeiro Para

tanto foi realizada tambeacutem a classificaccedilatildeo hiacutebrida objetivando aliar a interpretaccedilatildeo visual

com a digital (JENSEN 2009) Por fim foi realizada amarraccedilatildeo com o levantamento

geodeacutesico da CPRM (2014) para garantir a precisatildeo do traccedilado do poliacutegono de cheia

A partir do tratamento dos dados bibliograacuteficos cartograacuteficos e imagens foi possiacutevel

sistematizar este trabalho o que permitiu identificar elementos histoacutericos de intervenccedilatildeo

na paisagem do Doce como os aterros e a ocupaccedilatildeo urbana As visitas de campo a

entrevista e conversas com moradores foram fundamentais para a validaccedilatildeo das

informaccedilotildees o que tornou esta metodologia eficaz para anaacutelise do fenocircmeno da inundaccedilatildeo

em Colatina

40

4 RESULTADOS

41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana

A ocupaccedilatildeo ao longo das planiacutecies de inundaccedilatildeo dos rios tem ocorrido diante da

necessidade deste recurso para as atividades vitais humanas Cunha (2012b p219)

entende que ldquosuas margens tecircm sido o centro preferido da habitaccedilatildeo humana e o

suprimento de suas aacuteguas natildeo soacute fertiliza os campos para o cultivo como tambeacutem fornece

energia e permite recreaccedilatildeordquo Logo o estabelecimento das vilas nas bordas dos cursos

drsquoaacutegua favorece a logiacutestica ocupacional

Historicamente em solo espiacuterito-santense a formaccedilatildeo das vilas ocorreu agraves margens de

estrateacutegicos cursos drsquoaacutegua e a exploraccedilatildeo do ouro de Minas Gerais para Albani (2012)

determinou que a Coroa proibisse nos seacuteculos XVII a XIX a implantaccedilatildeo de estradas e

exploraccedilatildeo de terras na Capitania do Espiacuterito Santo pois os portugueses temiam incursotildees

estrangeiras deixando assim o desenvolvimento capixaba restrito agrave faixa litoracircnea

Relegada enquanto ldquobarreira verderdquo para defesa das minas de ouro e minerais do atual

territoacuterio das Minas Gerais segundo Coelho (2007) a Capitania do Espiacuterito Santo soacute

passou a se interiorizar para o centro-oeste onde se localiza atualmente a cidade de

Colatina a partir de 1847 por meio das ocupaccedilotildees de Santa Izabel e Santa Leopoldina

que permitiram a descida do Rio Santa Maria do Doce ateacute as imediaccedilotildees da atual cidade

de Colatina

Assim foi que o movimento colonizador desceu o vale do Santa Maria do Rio Doce atingindo em 1891 a regiatildeo das matas onde hoje se acha a cidade de Colatina [] Esta penetraccedilatildeo inicial foi feita com elementos alematildees de Santa Leopoldina e no rio Doce ficou muito anos restrita agrave aacuterea inicial A expansatildeo ao longo do vale tomou impulso com a chegada a Colatina em 1906 dos trilhos da Estrada de Ferro Diamantina (atual Vitoacuteria-Minas) (STRAUCH1955 apud COELHO 2007 p105)

Sendo assim Coelho (op cit) relata que a ocupaccedilatildeo se deu atraveacutes da supressatildeo da mata

nativa no baixo curso do Rio Doce de Colatina a Linhares sendo a madeira daiacute extraiacuteda

levada ateacute o rio e encaminhada ateacute Povoaccedilatildeo vilarejo junto agrave foz de onde eram carregados

os navios Neste periacuteodo tem-se a instalaccedilatildeo de um ciclo madeireiro na regiatildeo com a

disposiccedilatildeo de serrarias nas proximidades das matas

41

Todavia somente a partir de 1906 com a chegada da estrada de ferro na regiatildeo o

transporte madeireiro foi transferido para as locomotivas Agrave medida que a implantaccedilatildeo da

Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas avanccedilava para o interior levava consigo as frentes de

desmatamento modificando as paisagens das margens do Rio Doce e se apropriando dos

espaccedilos deste rio (Figura 9)

Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906 Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce Fonte Albani (2012 p 63)

Conforme Albani (2012) com a vinda dos mineiros e fluminenses reforccedilados

posteriormente a partir de 1889 por colonizadores italianos e alematildees eacute que as

ocupaccedilotildees territoriais ocorreram de modo efetivo Atraveacutes do Barracatildeo do Rio Santa Maria

(Figura 10) espaccedilo do governo inicialmente destinado a alojar os migrantes e a produccedilatildeo

surgiram as primeiras residecircncias nas proximidades da igreja de Satildeo Sebastiatildeo Sendo

assim

Eacute importante destacar que o desenvolvimento da regiatildeo onde se encontra o municiacutepio de Colatina teve iniacutecio no final do seacuteculo XIX no nuacutecleo de colonizaccedilatildeo Antocircnio Prado localizado no distrito de Boapaba antiga vila do Mutum O nuacutecleo recebeu dezenas de famiacutelias de imigrantes italianos e ali desenvolveram atividades de agricultura e com a expansatildeo da localidade surge tambeacutem o comeacutercio (ALBANI 2012 p61) [hellip] A vila de Colatina entretanto logo passou a se transformar no principal nuacutecleo e futuramente na sede do municiacutepio Aleacutem da facilidade da produccedilatildeo atraveacutes do Rio Doce a vila de Colatina tornou-se referecircncia dos imigrantes no caminho para a colonizaccedilatildeo das terras ao norte do estado (MADURO1985 apud ALBANI 2012 p62)

42

Desse modo com o desenvolvimento das atividades de cafeicultura madeireira e do

entroncamento logiacutestico de acesso agraves aacutereas do norte a vila eacute elevada em 1921 agrave categoria

de municiacutepio A atual configuraccedilatildeo territorial foi adquirida a partir de 2001 conforme IBGE

(2014) dispondo de seis distritos Colatina (sede) Acircngelo Frechiami Baunilha Boapaba

Graccedila Aranha e Itapina

Cabe destacar poreacutem que a ocupaccedilatildeo inicial da cidade de Colatina se perfaz pela margem

direita do Rio Doce onde se localiza o atual bairro de Colatina Velha e onde havia se

instalado o Barracatildeo de Santa Maria Nesse periacuteodo a ponte ainda natildeo fora edificada

limitando assim a ocupaccedilatildeo da margem esquerda

Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da regiatildeo Fonte Albani (2012 p62)

Conforme Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p65) a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro

Vitoacuteria a Minas em 1906 (Figura 11) possibilitou a expansatildeo da cidade de Colatina e seu

desenvolvimento econocircmico Todavia sua instalaccedilatildeo paralela agrave margem direita do Rio

Doce favoreceu a localizaccedilatildeo de avenidas e ruas centrais em sua proximidade

43

Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p65)

Entretanto foi com a construccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos (Figura 12) em 1928 que a

margem direita se conectou agrave margem esquerda da cidade o que aleacutem de possibilitar a

ocupaccedilatildeo facilitou o acesso agraves regiotildees mais ao norte do Estado

Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p66)

44

Por conseguinte a estrada de ferro e a ponte foram os fatores determinantes para o

estabelecimento dos migrantes agraves margens do Rio Doce e a formaccedilatildeo do atual municiacutepio

de Colatina Contudo foi a partir desta posiccedilatildeo privilegiada que a cidade passou a ser

entreposto comercial e logiacutestico da regiatildeo noroeste e com isso sua aacuterea urbana expandiu-

se de modo desordenado inicialmente ao longo da planiacutecie de inundaccedilatildeo do Doce Coelho

(2007 p108 e 109) relata que

Os efeitos dessa urbanizaccedilatildeo (novos parcelamentos) e do desmatamento produz [sic] normalmente o aumento da velocidade das aacuteguas superficiais (pluviais) que eram antes interceptadas pelas matas com boa parte absorvida pelo solo O que ocorre geralmente nessas aacutereas eacute a chegada mais raacutepida das aacuteguas das chuvas para o tributaacuterios e calha principal do rio por fluxos concentrados que provocam processos de erosotildees do tipo laminar ravina e voccediloroca transportando quantidades expressivas de sedimentos que por sua vez causam assoreamento e a ocorrecircncia de cheias mais frequentes no rio

Com o crescimento acelerado do periacutemetro urbano proporcionado pelo apogeu do ciclo

cafeeiro as proacuteximas deacutecadas levaratildeo a cidade de Colatina a sofrer com impactos

advindos das alteraccedilotildees no ambiente fluvial do Rio Doce em especial os referentes a

ocupaccedilatildeo (impermeabilizaccedilatildeo) e desmatamento das margens (interferecircncia na drenagem

natural) conforme destacado por Coelho (2007)

Eacute fato que o municiacutepio viveu nas deacutecadas de 1940 e 1950 o auge do ciclo cafeeiro

chegando a ser no ranking brasileiro o 13ordm municiacutepio produtor de cafeacute no ano de 1947

(CAMPOS JUNIOR 2004 apud ALBANI 2012 p69) Poreacutem a partir de 1960 este boom

entrou em colapso com crise do cafeacute que assolou todo o paiacutes levando grande parte dos

pequenos proprietaacuterios rurais a migrarem para centros urbanos em especial no Espiacuterito

Santo a regiatildeo da Grande Vitoacuteria e tambeacutem para o centro de Colatina

Em razatildeo da crise cafeeira a populaccedilatildeo rural migra para centros urbanos A populaccedilatildeo migrou em grande quantidade para a Grande Vitoacuteria para fora do estado e tambeacutem para a cidade de Colatina principal aglomerado urbano da regiatildeo Esse processo provoca o aumento da aacuterea urbana de Colatina A populaccedilatildeo da cidade que era de 3913 habitantes em 1940 cresceu para 26757 habitantes em1960 (ALBANI2012 p71)

O crescimento raacutepido do centro de Colatina aliado ao aumento populacional direciona

grande parte dos migrantes para as aacutereas menos centrais da cidade levando agrave ocupaccedilatildeo

de locais irregulares como os morros e as margens direita e esquerda do Rio Doce Este

45

processo configurou a nova paisagem do municiacutepio povoando do vale agraves encostas (Figura

13)

Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes Fonte Albani (2012 p73)

Associado a este processo de reconfiguraccedilatildeo espacial nas proacuteximas deacutecadas o municiacutepio

de Colatina passaraacute por sucessivas perdas de territoacuterios ateacute atingir os limites atuais (Figura

1 p17) Aliado a estas perdas territoriais seu quantitativo absoluto populacional tambeacutem

sofreraacute impactos poreacutem de modo geral a populaccedilatildeo urbana deste municiacutepio apresentou

crescimento continuo (Graacutefico 2)

Graacutefico 2

Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 2010

Elaborado pela autora Fonte 1940 e 1950 Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p82) 1960 a 2010 IBGE

0

20000

40000

60000

80000

100000

120000

1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020

Populaccedilatildeo Urbana Colatina 1940 - 2010

46

Assim como tem ocorrido nas grandes capitais Colatina cresceu em quantitativo

populacional e territorial urbano de modo muito raacutepido e por este desenvolvimento natildeo ter

sido aliado a um planejamento urbano e ambiental sustentaacutevel a cidade tem sentido os

reflexos das suas interferecircncias ao longo do canal do Doce O que tem provocado

antecipaccedilatildeo dos picos de vazatildeo que no periacutemetro urbano ocasiona as inundaccedilotildees pois

natildeo conseguindo o rio acomodar estes defluacutevios transfere em curto espaccedilo de tempo as

aacuteguas a sua planiacutecie de inundaccedilatildeo atingindo os bairros mais antigos do municiacutepio

Por fim entender o contexto histoacuterico do crescimento da cidade revela muito do panorama

atual E por meio de uma anaacutelise conjunta da histoacuteria com os novos planejamentos eacute

possiacutevel propor intervenccedilotildees urbanas que possibilitem um conviacutevio harmonioso entre

natureza e sociedade neste caso entre o Rio Doce e o centro de Colatina Diante desta

proposta adiante apresentaremos a evoluccedilatildeo dos bairros associando seus periacuteodos de

ocupaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo espacial nas imediaccedilotildees do curso principal do Doce

411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade

Com nuacutecleo inicial de povoamento no Barracatildeo de Santa Maria a cidade de Colatina

cresce a partir deste ponto agrave margem direita do Rio Doce de onde surgem as primeiras

residecircncias comeacutercios e a igreja Atualmente a regiatildeo compreende o bairro de Colatina

Velha que de acordo com Albani (2012 p91) [hellip] ldquopode ser considerado o primeiro polo

de crescimento da cidaderdquo

Aliado ao aumento da populaccedilatildeo migrante das fazendas com a crise do cafeacute o nuacutecleo de

Colatina Velha passa a ser um ponto de passagem obrigatoacuterio para os viajantes que

vinham majoritariamente do sul uma vez que o Rio Doce configurava uma barreira natural

agrave ocupaccedilatildeo das terras ao norte Aleacutem disso a margem esquerda deste canal fluvial era

habitat dos hostis iacutendios botocudos o que dificultava a sua apropriaccedilatildeo

Sendo assim a ocupaccedilatildeo de Colatina conteve-se agrave margem direita nesta primeira fase o

que define o primeiro vetor de crescimento da cidade na direccedilatildeo leste para oeste partindo

das imediaccedilotildees do Barracatildeo de Santa Maria sentido ao Rio Santa Maria do Doce (Figura

14) E a partir de 1906 com a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas da entatildeo

Companhia Vale do Rio Doce atual Vale este vetor de crescimento se consolida e

47

proporciona o surgimento de importantes avenidas paralelas agrave ferrovia a exemplo da Av

Getuacutelio Vargas

Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de crescimento Elaborado pela autora

48

O segundo vetor do crescimento de Colatina estava condicionado agrave construccedilatildeo da ponte

Florentino Aacutevidos a qual conectou a margem direita agrave esquerda do Rio Doce permitindo

a ocupaccedilatildeo da porccedilatildeo ao norte Portanto somente a partir de 1928 com a finalizaccedilatildeo da

obra da ponte a barreira natural pocircde ser transposta o que possibilitou ao lado esquerdo

desenvolver uma nova linha de crescimento urbano com a ocupaccedilatildeo do atual bairro de

Satildeo Silvano

O terceiro vetor de crescimento estaacute associado agrave implantaccedilatildeo do bairro Luiz Iglesias na

margem direita e os de Maria das Graccedilas e Coluacutembia na margem esquerda Albani (2012)

ressalta que esta fase da ocupaccedilatildeo urbana estaacute associada ao desenvolvimento do sistema

viaacuterio como a proximidade da BR-259 sentido Vitoacuteria- Colatina da ES-80 que liga

Colatina agrave regiatildeo norte da ES-256 que a conecta a Marilacircndia e da proximidade da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria Carlos Germano Nauman (Figura 15)

Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios e linhas feacuterreas que interceptam a cidade de Colatina Elaborado pela autora

Jaacute na quarta e mais recente linha de crescimento da cidade temos os novos loteamentos

residenciais e industriais a exemplo do de Barbados e do bairro Santa Helena que surgem

49

acompanhando o traccedilado da ponte que contorna a leste a cidade como novo acesso agrave

porccedilatildeo norte do estado Albani (2012 p118) destaca que

Apesar da construccedilatildeo da Segunda Ponte ter sido iniciada em 1986 somente foi inaugurada em 2007 A conclusatildeo da ponte e a construccedilatildeo de uma rodovia de contorno desviaram a BR-259 do centro da cidade O desvio da rodovia federal trouxe um desafogamento do tracircnsito nas principais vias da cidade e um novo direcionamento na expansatildeo urbana Alguns loteamentos surgiram nesse periacuteodo proacuteximo agrave Segunda Ponte e ao contorno na margem norte do rio principalmente no bairro Santa Helena (Figura 55) Essa situaccedilatildeo indica mais uma vez que as linhas de crescimento em Colatina satildeo orientadas pelas vias de transporte

Portanto o crescimento do periacutemetro urbano de Colatina estaacute associado agrave superaccedilatildeo das

barreiras naturais em especial o Rio Doce por meio de investimentos em obras de

engenharia que permitiram o deslocamento humano para a margem esquerda deste curso

Sem duacutevida as vias de transporte foram elementares na construccedilatildeo do periacutemetro urbano

de Colatina pois na medida que se consolidava o sistema viaacuterio as ocupaccedilotildees tambeacutem se

favoreciam destas vias de locomoccedilatildeo A evoluccedilatildeo da aacuterea urbana portanto acompanha

as principais vias de transporte (Figura 15 p45) e estas se utilizam da posiccedilatildeo estrateacutegica

e geograficamente favoraacutevel do canal do Doce para a definiccedilatildeo de seus traccedilados

Apoacutes 94 anos de emancipaccedilatildeo de Linhares o territoacuterio de Colatina eacute fundamental para a

manutenccedilatildeo dos municiacutepios do noroeste capixaba Diante desta posiccedilatildeo estrateacutegica torna-

se relevante o entendimento de como o urbano se relaciona com o meio natural a fim de

se estabelecer poliacuteticas de ordenamento territorial que promovam a qualidade de vida no

municiacutepio Adiante seraacute analisada a situaccedilatildeo da calha principal do Rio Doce elemento

fundamental na compreensatildeo do uso e cobertura da terra de Colatina

42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce

Compreendendo uma aacuterea de 3330 kmsup2 o periacutemetro urbano de Colatina eacute afetado pela

velocidade dos defluacutevios de modo que grande parte dos bairros beira-rio eacute tomada pelas

aacuteguas excedentes da calha principal do Doce o que configura o fenocircmeno de inundaccedilatildeo

Ao pesquisar estes fenocircmenos eacute necessaacuterio relacionar o uso da terra com os processos

geomorfoloacutegicos do corpo hiacutedrico Sendo assim por meio de teacutecnicas de

geoprocessamento foram realizadas oito mediccedilotildees da calha principal do Rio Doce para

50

estabelecimento da distacircncia meacutedia da largura de sua calha O resultado esteve dentro do

esperado e pode ser verificado na tabela abaixo (Tabela 1) e no mapa em sequecircncia

(Figura 16)

Tabela 1 Perfis transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de

vazante (abril) e cheia (janeiro)

Largura do rio Doce periacuteodo de vazante e cheia

Abril2013(m) Janeiro2014(m)

P1 70735 75784

P2 62080 66483

P3 59209 65804

P4 63548 67650

Meacutedia dos Perfis 62814 67066

Meacutedia Geral 66143 Obs todas as medidas estatildeo em metros

Elaborado pela autora

Figura 16 - Traccedilado dos perfis transversais da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de vazante mecircs de abril2013 Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)

51

Com uso das imagens orbitais do Landsat-8 atraveacutes da classificaccedilatildeo hiacutebrida foram

gerados dois arquivos shapefiles correspondentes agraves bordas do Doce um no periacuteodo de

vazante e outro no de cheia Por meio destes dados foram definidos quatro traccedilados para

realizaccedilatildeo das mediccedilotildees a partir destas e com auxiacutelio das medidas de tendecircncia central

chegou-se a uma largura meacutedia total de 66143m de uma margem a outra Este resultado

indicou que tanto no periacuteodo de vazante quanto no periacuteodo de cheia a largura meacutedia

aponta para a maior faixa de APP proteccedilatildeo de 500m conforme previsto na legislaccedilatildeo

federal (Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e no revogado Lei 4771 1965)

Analisando a imagem abaixo (Figura 17) observa-se que grande parte do solo

naturalmente destinado a ldquoacomodaccedilatildeordquo das aacuteguas nas cheias (linha laranja) foi

incorporado agrave sociedade como espaccedilo criado (periacutemetro urbano em APP mancha em

amarelo) destinado a fins muacuteltiplos Deste modo sem planejamento territorial adequado

grande parte da planiacutecie de inundaccedilatildeo deu lugar a outras funccedilotildees diferentes das naturais

sendo incorporada ao espaccedilo urbano

Lanccedilando o buffer (mancha em amarelo) do entorno da calha do Doce (Figura 17) observa-

se que dos 59 bairros do municiacutepio cerca de 29 estatildeo dentro da aacuterea de 500m destinada

a preservaccedilatildeo permanente pelo Coacutedigo Florestal Considerando-se a delimitaccedilatildeo da APP

prevista no PDM de 1996 e 2007 (linha laranja mais proacutexima da borda do rio) este nuacutemero

cai para 18 bairros permanecendo apenas aqueles que possuem limites com o corpo

hiacutedrico

Uma vez que que lei municipal natildeo suplanta lei federal considerar-se-aacute neste estudo o

limite da faixa marginal de proteccedilatildeo definida na Lei Federal 126512012 Deste modo a

aacuterea de preservaccedilatildeo permanente do Doce neste recorte eacute de 1085 kmsup2 compreendendo

33 do periacutemetro urbano de Colatina

Cabe destacar ainda que mesmo o PDM de 1996 contendo enquanto objetivo no Art 14

ldquoI - estabelecer a ordenaccedilatildeo do uso e da ocupaccedilatildeo do solo urbanordquo (Lei 42281996 p4)

a gestatildeo municipal natildeo obteve sucesso na implementaccedilatildeo de tal legislaccedilatildeo O que se

verifica tanto nas deacutecadas de 1990 quanto no iniacutecio dos anos 2000 quando foram

aprovados novos parcelamentos urbanos agraves margens deste canal a exemplo dos bairros

de Barbados na margem direita e do bairro Mario Giurizato na margem esquerda

52

Figura 17- Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)

53

Articulado a esta ideia e pesquisando o trecho do bairro Esplanada a Colatina Velha palco

das uacuteltimas obras estruturantes de alto porte do municiacutepio consegue-se analisar os efeitos

das inundaccedilotildees nas margens deste rio Logo implementar medidas de prevenccedilatildeo de

cheias em aacutereas com urbanizaccedilotildees antigas requer um esforccedilo da gestatildeo na regulaccedilatildeo do

solo urbano

421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie

de Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio

Interceptada pelo curso do Rio Doce no perfil mais a jusante da bacia a cerca de 100km

do estuaacuterio com o Oceano Atlacircntico a cidade de Colatina polo moveleiro e de confecccedilotildees

do centro-oeste capixaba eacute palco recorrente de inundaccedilotildees urbanas

Conforme jaacute mencionado por Cunha (2012a) este fenocircmeno ocorre quando a bacia recebe

um percentual precipitado acima da sua capacidade de escoamento o que faz o leito

menor do rio extravasar para o leito maior ocupando as aacutereas de vaacuterzeas (Figura 18 p

50) Aliadas a esta questatildeo estatildeo as ocupaccedilotildees humanas das margens dos rios que ao

suprimir a vegetaccedilatildeo natural e alterar a condiccedilatildeo fiacutesica do solo acabam por reduzir a aacuterea

de drenagem das aacuteguas pluviais acelerando o escoamento superficial para o canal

principal e favorecendo os defluacutevios

Figura 18 - Representaccedilatildeo da inundaccedilatildeo urbana Fonte adaptado da Defesa Civil do Tocantins (2015)

Este fenocircmeno tem ganhado destaque em Colatina a partir de 1979 ano em que o Rio

Doce atingiu a vazatildeo de 12860msup3s tomando toda aacuterea aplainada que compotildee seu leito

maior afetando da atual Av Beira-Rio ateacute as redondezas da Av Getuacutelio Vargas Desde

entatildeo os estudos das inundaccedilotildees urbanas satildeo relevantes no municiacutepio o que levou o

54

Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) na deacutecada de 1980 a elaborar um ldquoPlano Diretor

de Contenccedilatildeo das Enchentes Proteccedilatildeo das Encostas e Drenagem Pluvial de Colatinardquo

Tal medida apresentou seis alternativas para o fenocircmeno Poreacutem tendo em vista o custo

operacional das obras apenas a alternativa seis que previa a construccedilatildeo de diques

marginais para a proteccedilatildeo das aacutereas mais centrais foi considerada viaacutevel na eacutepoca

Todavia em entrevistas com funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina (PMC) foi

relatado que todo o estudo foi arquivado e que ateacute agora natildeo haacute previsatildeo de

implementaccedilatildeo de tais medidas Fato este que eacute evidenciado (Tabela 2 p 51) quando da

ocorrecircncia de precipitaccedilotildees intensas na bacia durante as quais sazonalmente a cidade eacute

impactada com as aacuteguas das inundaccedilotildees Isto faz com que o municiacutepio passe

recorrentemente por cataacutestrofes conforme tabela com os principais picos de vazatildeo do rio

nos uacuteltimos 50 anos

Tabela 2

Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013

Ano Diamecircs Vazatildeo(msup3s)

1961 30jan 6613

1979 04fev 12860

1997 07jan 8687

2005 03ago 6549

2013 24dez 9028

Fonte Coelho (2007 apud DALLAPICOLA 2014 p4) e CPRM (2014 p85) Observo que os dados da tabela 1 para os anos de 1979 e 2013 estatildeo baseados na estimativa de vazatildeo meacutedia diaacuteria das maacuteximas anuais obtida atraveacutes de extrapolaccedilatildeo da curva-chave pelo grupo interdisciplinar dos relatoacuterios criacuteticos anteriores

As inundaccedilotildees de 1979 1997 e recentemente 2013 (Figura 19) foram as de maior vazatildeo

neste setor do rio e consequentemente as que mais atingiram a aacuterea urbana do municiacutepio

bloqueando os acessos ao centro da cidade e aos equipamentos essenciais como

hospitais escolas e demais oacutergatildeos puacuteblicos aleacutem de desalojarem muniacutecipes e

comprometerem a sauacutede puacuteblica

55

Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de 1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 Fonte1) Nossa Colatina 2) Nossa Linda Colatina 3) Nossa Colatina

Com o propoacutesito de identificar os principais fatores que acentuam as inundaccedilotildees seraacute

analisado como os processos geomorfoloacutegicos do Doce estatildeo sendo afetados pela accedilatildeo

antroacutepica Limitaremos a anaacutelise ao periacutemetro urbano no trecho que compreende do bairro

Esplanada ateacute o bairro Colatina Velha (Figura 20) Neste periacutemetro eacute possiacutevel visualizar a

evoluccedilatildeo da mancha urbana sobre o leito do rio aleacutem de identificar na margem direita os

pontos desnaturalizados deste canal fluvial

56

Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2) Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do recorte em rosa da APP de 50m (amarelo claro) e 500m (amarelo escuro) Fonte 3) Encontra Colatina (2015)

57

O recorte em questatildeo eacute margeado pela Av Beira-Rio e estaacute situado (Figura 20) dentro do

buffer de preservaccedilatildeo permanente previsto no PDM (buffer de 50m) e no Novo Coacutedigo

Florestal (buffer de 500m) Apesar desta aacuterea ser destinada a mata nativa e ou

reflorestada a ocupaccedilatildeo urbana antecede os artigos legais o que dificulta poliacuteticas de

gestatildeo territorial em um periacutemetro ao mesmo tempo histoacuterico e com funccedilatildeo relevante no

equiliacutebrio hidroloacutegico da bacia

O periacutemetro faz parte da vaacuterzea da margem direita do Rio Doce pois encontra-se em cota

topograacutefica de 50m caracterizando sua planiacutecie Logo a aacuterea em questatildeo tem a funccedilatildeo de

acomodar as aacuteguas das cheias quando a calha principal natildeo comporta o escoamento de

grandes vazotildees Esta tarefa passa a ser prejudicada na medida em que na bacia ou no

curso original satildeo implementadas obras que interferem na morfologia do corpo hiacutedrico

principal como a instalaccedilatildeo das hidreleacutetricas de Mascarenhas (1974) e Aimoreacutes (2005) a

montante

As UHErsquos a montante comprometem os processos do rio uma vez que o regime natural de

transporte de sedimentos eacute alterado com o barramento o que favorece a erosatildeo e

consequentemente o assoreamento com a formaccedilatildeo de bancos arenosos alteraccedilatildeo do

seu perfil transversal e reduccedilatildeo da profundidade Aleacutem disso segundo Coelho (2007) as

vazotildees maacuteximas e miacutenimas foram alteradas com a implantaccedilatildeo das hidreleacutetricas a

montante implicando em vazotildees meacutedias anuais miacutenimas cada vez mais reduzidas com

valores se distanciando da linha de tendecircncia (polinocircmio) provando o natildeo equiliacutebrio da

vazatildeo apoacutes a implantaccedilatildeo das barragens (Graacutefico 1 p22)

Entretanto a primeira intervenccedilatildeo direta no trecho em estudo foi a instalaccedilatildeo da estrada

de ferro que atraiu migrantes para Colatina permitindo o crescimento populacional e a

expansatildeo urbana desordenada agraves margens do Doce Este crescimento intensificou a

supressatildeo das matas ciliares e abriu espaccedilo para a impermeabilizaccedilatildeo do solo reduzindo

a infiltraccedilatildeo

Posteriormente a inauguraccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos ampliou o fluxo na regiatildeo pois

proporcionava a ligaccedilatildeo com as terras ao norte do Estado Atuou tambeacutem como obstaacuteculo

ao transporte de sedimentos carreados no fluxo natural do rio uma vez que sua

implantaccedilatildeo altera a topografia do fundo do canal afetando os processos geomorfoloacutegicos

58

Poreacutem foi no Morro das Cabritas (colina localizada no espaccedilo que compreende o atual

bairro Esplanada) que ocorreu a primeira desnaturalizaccedilatildeo nas margens do Doce Este

morro por onde o Rio Santa Maria do Doce meandrava ateacute desaguar no Rio Doce foi

cortado em meados de 1953 para abrigar a cidade em expansatildeo Devido a esta

intervenccedilatildeo o curso original do Santa Maria foi deslocado e passou a escoar

retilineamente ateacute a foz (Figura 21)

Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponte Florentino Aacutevidos (direita) e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque em vermelho para o curso atual do Santa Maria Fonte Nossa Colatina

As intervenccedilotildees na margem direita tornam-se mais intensas a partir da deacutecada de 1960

quando no ano de 1968 edificou-se um muro visando a proteccedilatildeo dos pilares da

extremidade direita da ponte Esta obra ficou paralisada por muitos anos e foi a primeira

de retificaccedilatildeo e aterro realizada neste trecho do rio Esta intervenccedilatildeo modificou o fluxo

natural das correntes do rio e reduziu a largura da sua calha alterando a morfologia do

canal (Figura 22)

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Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de proteccedilatildeo da ponte Elaborado pela autora Fonte fotos histoacutericas Nossa Colatina

Contudo somente em 1972 teve iniacutecio o segundo aterro (Figura 23) com a finalidade de

alocar a estaccedilatildeo rodoviaacuteria de Colatina e ampliar a aacuterea de acesso agrave ponte Florentino

Aacutevidos A implementaccedilatildeo desta obra suprimiu parte do leito do Rio Doce pois removeu a

saliecircncia cocircncava que curvava o rio retilinizando esta parte do canal

60

Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora Fonte Nossa Colatina Nossa Linda Colatina

Apoacutes dez anos sem grandes intervenccedilotildees em 1982 o lado a montante da ponte bairro

Esplanada eacute acrescido de um aterro que estenderaacute a aacuterea do antigo Morro das Cabritas

para o rio (Figura 24)

Conhecido como Rua da Lama devido agrave umidade que o rio transferia ao aterro formando

um barro viscoso que persistia a maior parte do ano o trecho atualmente compreende a

Avenida Professor Joseacute Zouian popularmente denominada Avenida Beira-Rio de onde

surge a primeira forma do calccediladatildeo que seraacute estendido ateacute o bairro Colatina Velha

61

Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o calccediladatildeo da Av Beira-Rio Elaborado pela autora Fonte Bennachio (2015)

Somente em 2004 foi implementado o maior projeto de canalizaccedilatildeo do municiacutepio Naquele

ano teve iniacutecio a execuccedilatildeo do enrocamento da Av Beira-Rio (Figura 25) obra destinada

inicialmente a alocaccedilatildeo de equipamentos puacuteblicos de lazer e cultura praccedilas preacutedios aleacutem

da promessa de contribuir para a contenccedilatildeo dos transbordamentos do Rio Doce

Apesar de o referido manancial jaacute estar comprometido com problemas de poluiccedilatildeo

assoreamento e erosatildeo aleacutem dos impactos de duas hidreleacutetricas instaladas a montante a

obra abarcou a supressatildeo da vegetaccedilatildeo ciliar e aterro de parte do rio jaacute tatildeo degradado

62

Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento iniciada em 2004 e finalizada em 2008 Elaborado pela autora Fonte proacutepria autora em 240215

Ocupando uma aacuterea total de 130 mil msup2 do leito do Rio Doce o aterro teve iniacutecio em 2004

sendo construiacutedo com cerca de 90 mil msup3 de pedras 50 mil msup3 de areia retirada do leito do

rio e por fim o nivelamento com 200 mil msup3 de terra A obra era divulgada como um antigo

sonho dos colatinenses e serviria para ampliaccedilatildeo da Av Beira-Rio no bairro de Colatina

Velha instalaccedilatildeo de ciclovias calccediladatildeo equipamentos puacuteblicos e estacionamento (Figura

26) Apesar do fim da engenharia em 2008 o projeto ainda estaacute em fase de acabamento

na parte urbaniacutestica e na alocaccedilatildeo dos oacutergatildeos puacuteblicos

Cabe destacar que a obra sofreu embargos do Ministeacuterio Puacuteblico Federal (MPF) por

apresentar apenas cadastro na Agecircncia Nacional de Aacuteguas (ANA) que conforme parecer

da Procuradora Nadja Machado Botelho na Accedilatildeo Civil Puacuteblica ldquo[hellip] equivocadamente natildeo

realizou o procedimento de outorga [hellip]rdquo (MPF 2006 p2) Aleacutem disso a procuradora

solicitou tutela tendo em vista tratar-se de aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental e o fato de o

IBAMA ter concedido licenciamento com indevida dispensa do Estudo de Impacto

Ambiental (EIA)Relatoacuterio de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA)

63

Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina Fonte Prefeitura de Colatina (2015)

Por isso essa obra deve ser considerada faraocircnica para os cofres puacuteblicos e irreversiacutevel

para os processos geomorfoloacutegicos do Doce E sua efetivaccedilatildeo soacute foi possiacutevel com a

participaccedilatildeo e investimentos do Governo estadual Contudo seu objetivo foi frustrado pois

novamente na cheia do Rio Doce em dezembro de 2013 quando este atingiu a vazatildeo de

9028 msup3s a aacuterea foi inundada e por estar em cota maior que as casas que beiravam o

rio o enrocamento atuou como represa natildeo permitindo o retorno das aacuteguas quando o niacutevel

do rio retomou o equiliacutebrio

Por fim segue um mapa siacutentese (Figura 27) com a cartografia das quatro principais

intervenccedilotildees diretas e estruturais na margem direita do Doce no setor urbano de Colatina

representando o curso natural do rio em 1950 e suas desnaturalizaccedilotildees a partir da deacutecada

de 60 ateacute a atualidade

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Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce ante e depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora

65

422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio

O recorte em estudo compreende as Zonas ZE-1 ZE-2 e ZUD 2-1 (Figura 28 p61) sendo

a Zona Especial 1 Zona Especial 2 e Zona de Uso Diverso 2-1 destinadas no PDM (Lei

52732007)

Artigo 103 - As Zonas de Usos Diversos ndash ZUD satildeo definidas em razatildeo da concentraccedilatildeo de atividades urbanas diversificadas com predominacircncia do uso comercial e de serviccedilos Artigo 104 - Satildeo objetivos das Zonas de Usos Diversos I - otimizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do solo priorizando a instalaccedilatildeo de novos empreendimentos em terrenos natildeo edificados contiacuteguos a empreendimentos jaacute instalados II - controle da implantaccedilatildeo de usos incompatiacuteveis com os definidos para estas zonas III - garantia de licenciamento e monitoramento ambiental dos empreendimentos IV - controle da expansatildeo comercial de serviccedilos e de induacutestrias de pequeno porte em direccedilatildeo a aacutereas residenciais [] Artigo 130 - As Zonas Especiais 1 ndash ZE 1 abrangem todas as aacutereas remanescentes do municiacutepio relativamente ao zoneamento estabelecido nesta lei ocupadas ou natildeo contida na lei de periacutemetro urbano para as quais natildeo foram ainda estabelecidos os criteacuterios de uso e ocupaccedilatildeo Artigo 131 - As Zonas Especiais 2 ndash ZE 2 satildeo as aacutereas existentes no prolongamento da avenida Beira Rio mais especificamente no trecho entre o 80 Batalhatildeo da Poliacutecia Militar e a rua Pedro Epichin incluindo o espaccedilo existente entre a margem do Rio Doce e o limite das construccedilotildees localizadas na rua Pedro Epichin

Cabe destacar que mesmo sendo palco das aacutereas mais afetadas com as inundaccedilotildees do

Rio Doce a Beira-Rio tem sido alvo da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria que aproveitando-se dos

iacutendices pouco restritos da ZUD 2 (Figura 28 p62) valoriza o espaccedilo promovendo a

instalaccedilatildeo de grandes estruturas como hipermercados edifiacutecios residenciais modernos e

hotelaria

66

Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 Fonte Colatina (2007)

A aacuterea contida na ZE (Figura 28) natildeo possui criteacuterio de ocupaccedilatildeo definido na legislaccedilatildeo

atual sendo adotado o disposto na Lei 41961995 que estabelece os iacutendices urbaniacutesticos

para as aacutereas conquistadas junto ao Rio Doce e na Lei 420595 que aprova os

parcelamentos na Beira-Rio Quanto agrave ZUD 2-1 apresenta iacutendices urbaniacutesticos no anexo

118 do Plano Diretor conforme tabela 3 abaixo

67

Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1

Fonte Colatina (2007 p36)8

68

Eacute relevante observar que numa aacuterea onde o corpo hiacutedrico foi reduzido pelos sucessivos

aterros tenha sido aprovada a instalaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto (Figura

29) com taxa de ocupaccedilatildeo de ateacute 80 e com baixo iacutendice de permeabilidade Ampliou-

se a aacuterea impermeaacutevel numa regiatildeo onde a drenagem jaacute eacute muito comprometida com a

expansatildeo urbana sobre o rio

Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto na Beira-Rio Fonte imagem do Google Maps 2015 E fotos da autora em 140215

Portanto analisando o conjunto de dados apresentado acima eacute possiacutevel entender como

as inundaccedilotildees satildeo potencializadas no municiacutepio atingindo a populaccedilatildeo mas em especial

afetando a dinacircmica de um corpo hiacutedrico tatildeo relevante para o Estado A fim de subsidiar a

gestatildeo puacuteblica com material cartograacutefico para a tomada de decisotildees delimitou-se o

poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo (Figura 30) Pois devem ser adotadas medidas que

minimizem impactos de futuros eventos hidroloacutegicos na bacia capazes de comprometer

novamente a aacuterea urbana mais central de Colatina

69

Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av Beira-Rio em dezembro de 2013 Elaborado pela autora

70

Diante do poliacutegono de inundaccedilatildeo da uacuteltima cheia (Figura 30) em dezembro de 2013 eacute

possiacutevel implementar medidas de convivecircncia com as grandes vazotildees a exemplo de

paiacuteses como Holanda que vem investindo em medidas de resiliecircncia a fim de reduzir a

velocidade dos defluacutevios possibilitando ao canal a capacidade de acumular e dispersar as

aacuteguas com impacto miacutenimo para as populaccedilotildees Conforme Carneiro e Miguez (2011) a

estrateacutegia adotada pelo paiacutes eacute reter armazenar e drenar sendo mais flexiacutevel e natildeo

interferindo drasticamente na dinacircmica do corpo hiacutedrico

Por fim a implementaccedilatildeo de soluccedilotildees de planejamento urbano em Colatina requer uma

anaacutelise integrada que abarque o urbano e o ambiental de modo a propor intervenccedilotildees que

produzam impactos reduzidos nos processos geomorfoloacutegicos do Rio Doce Logo a gestatildeo

municipal deve atuar em niacutevel de bacia hidrograacutefica interagindo com os municiacutepios a

montante propondo medidas de minimizaccedilatildeo das cheias urbanas Mas na escala local

pode-se atuar junto aos novos parcelamentos de modo a ampliar o percentual de aacutereas

permeaacuteveis no municiacutepio incentivando por exemplo os novos loteamentos a adotarem

pavimentaccedilotildees que permitam a drenagem natural do solo

71

5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Partindo da ideia de que eacute possiacutevel implementar medidas que minimizem o escoamento

superficial satildeo apresentadas propostas como forma de controlar ou ao menos reduzir os

impactos das inundaccedilotildees urbanas

Embora as implementaccedilotildees histoacutericas de estruturas de proteccedilatildeo ou barreiras mais altas

tenham sido muito disseminadas atualmente estatildeo sendo suplantadas pelo gerenciamento

de inundaccedilotildees de maneira mais sustentaacutevel Deste modo as experiecircncias fora do Brasil

apontam para soluccedilotildees mais flexiacuteveis que considerem o fluxo natural do canal enquanto

um ecossistema em equiliacutebrio Para tanto Carneiro e Miguez (2011 p150) destacam a

iniciativa alematilde no controle de inundaccedilotildees em bacias hidrograacuteficas metropolitanas

[hellip] A abordagem comum consiste na regulaccedilatildeo do uso do solo nas aacutereas inundaacuteveis e em ldquodar espaccedilo para o riordquo ao inveacutes de priorizar investimentos em estruturas de proteccedilatildeo contra inundaccedilotildees como a colocaccedilatildeo de diques de contenccedilatildeo as margens dos rios A utilizaccedilatildeo do conceito de resiliecircncia apropriado de ecologia decorre dessa abordagem A aplicaccedilatildeo praacutetica do conceito implica portanto em mudanccedilas de paradigma Deixa de ser preponderante a engenharia construtiva e entra em cena o planejamento de longo prazo voltado para o desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis capazes de conviver com as variaccedilotildees do ciclo hidroloacutegico sem significar necessariamente trageacutedias anunciadas

Aleacutem dessas propostas geoacutegrafos como Sandra Cunha tecircm estudado a recuperaccedilatildeo

natural ou ldquorenaturalizaccedilatildeordquo de corpos fluviais visando promover a estabilidade dos canais

de modo mais sustentaacutevel Para ela

[hellip] Recuperaccedilatildeo de canal significa de forma simples o retorno as condiccedilotildees anteriores aos distuacuterbios Em essecircncia eacute o processo de recuperaccedilatildeo do rio ou do ecossistema fluvial estabilizando o desenvolvimento de habitats e colonizaccedilatildeo a uma taxa mais raacutepida que dos processos naturais fiacutesicos e bioloacutegicos Na recuperaccedilatildeo de canais ocorrem consideraccedilotildees de aspecto hidroloacutegico morfoloacutegico e ecoloacutegico qualidade da aacutegua esteacutetica aleacutem da necessidade de uma visatildeo integradora do projeto sustentaacutevel de recuperaccedilatildeo (CUNHA 2012 p230 a 231)

Satildeo portanto medidas pontuais como o retorno agraves sinuosidades do rio (Figura 31 p 68)

ou a substituiccedilatildeo de estruturas de concreto por superfiacutecies mais permeaacuteveis a exemplo

das trincheiras de infiltraccedilatildeo ou pavrsquos (Figura 32) aacutereas mais vegetadas aleacutem de coleta e

uso de aacutegua da chuva bem como tratamento das aacuteguas superficiais por meio de

72

amenidades esteacuteticas como reservatoacuterios de retenccedilatildeo ou detenccedilatildeo que podem ser

associados a ambientes harmocircnicos como lagos artificiais Todas estas accedilotildees possibilitam

a minimizaccedilatildeo das grandes vazotildees no solo urbano pois pretendem atenuar os impactos

das cheias fazendo com que seja resgatada parte da drenagem existente anteriormente agrave

urbanizaccedilatildeo

Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do Rio Aa Munster Alemanha (1998) Fonte Cunha (2012 p233)

Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos Fonte Carneiro e Miguez (2011 p128)

A partir do exposto cabe agrave gestatildeo municipal implementar legislaccedilotildees que priorizem a

permeabilidade possibilitando uma maior infiltraccedilatildeo das aacuteguas das chuvas atraveacutes de

pavimentaccedilotildees menos impermeaacuteveis e da ampliaccedilatildeo de aacutereas vegetadas Satildeo medidas

que tornam a drenagem mais sustentaacutevel aleacutem de possibilitar a manutenccedilatildeo dos serviccedilos

puacuteblicos de forma menos custosa tendo em vista o elevado preccedilo das recomposiccedilotildees

asfaacutelticas

1 2

73

Aleacutem disso quando se fala em controle de cheias urbanas pressupotildee-se uma seacuterie de

medidas para minimizaccedilatildeo de seus impactos desde a operaccedilatildeo de sistemas de alerta

zoneamento de aacutereas inundaacuteveis construccedilatildeo de grandes reservatoacuterios de contenccedilatildeo de

cheias e diques ateacute accedilotildees de educaccedilatildeo ambiental

Cabe pensar tambeacutem na proacutexima revisatildeo do PDM em um plano de macrodrenagem

municipal que reuacutena accedilotildees de caraacuteter estruturantes com obras hidraacuteulicas de infraestrutura

que realizem a conduccedilatildeo final das aacuteguas dos escoamentos superficiais para a minimizaccedilatildeo

das inundaccedilotildees e em medidas natildeo-estruturantes que trabalhem a consciecircncia ambiental

e proponha um zoneamento de cheias a fim de se delimitar os pontos mais fragilizados nos

defluacutevios

Por fim pensar em drenagem num contexto de ocupaccedilatildeo irregular histoacuterico requer

profissionais que aleacutem de possuir afinidade com a temaacutetica tambeacutem possam analisar os

diferentes processos que constituem o espaccedilo geograacutefico Logo este tipo de estudo deve

abarcar uma equipe multidisciplinar que percorra a anaacutelise desde o ambiental estrutural

ateacute o aspecto humano a fim de se produzir resultados que de fato contribuam com o

controle das inundaccedilotildees urbanas

74

6 CONCLUSAtildeO

A partir do recorte espacial foi possiacutevel compreender que a abordagem da geomorfologia

fluvial com a anaacutelise espaccedilo-temporal da ocupaccedilatildeo urbana possibilita a identificaccedilatildeo das

accedilotildees do homem no meio ambiente pois estas resultam na alteraccedilatildeo das paisagens

naturais e na dinacircmica da bacia hidrograacutefica Assim o Rio Doce deve ser estudado de

modo integrado ao crescimento da cidade sobretudo para compreensatildeo da produccedilatildeo do

espaccedilo geograacutefico

Analisar a inundaccedilatildeo urbana em Colatina foi satisfatoacuterio pois o municiacutepio estaacute situado no

perfil meacutedio-baixo da bacia vazante e eacute neste trecho que os reflexos das intervenccedilotildees satildeo

mais acentuados principalmente se esta parte do canal tambeacutem tiver passado por obras

que modificaram seus processos hidroloacutegicos Aleacutem disso a perspectiva geograacutefica aponta

para vaacuterias outras questotildees como erosatildeo fluvial planejamento urbano poluiccedilatildeo ambiental

crise da aacutegua que conduzem a outras discussotildees acerca da relaccedilatildeo homemnatureza

Ao demonstrar a evoluccedilatildeo espaccedilo-temporal do uso e cobertura da terra na margem direita

do Doce associando esta ocupaccedilatildeo agraves obras estruturantes que foram executadas no

canal verificamos que todas as praacuteticas adotadas para conter o transbordamento do rio

acabaram alterando sua morfologia com a retificaccedilatildeo de trechos em meandros reduzindo

a largura do corpo hiacutedrico o que favoreceu a apropriaccedilatildeo urbana de suas vaacuterzeas Aliadas

a estas questotildees estatildeo a falta de planejamento urbano e a omissatildeo diante da supressatildeo

das matas ciliares principalmente se considerados os resultados do relatoacuterio teacutecnico do

IJSN contra enchentes em 1980

Cabe destacar tambeacutem que toda a anaacutelise da ocupaccedilatildeo urbana e desnaturalizaccedilatildeo do

Rio Doce foi melhor identificada a partir dos produtos cartograacuteficos deste trabalho Pois eacute

na espacialidade dos fenocircmenos e no registro de informaccedilotildees ainda natildeo mapeadas como

os aterros que o geoacutegrafo executa a anaacutelise do seu objeto de estudo o homem e a

natureza aqui representado pela sociedade e o canal do Doce

Apesar do municiacutepio apresentar leis que resguardam os leitos dos rios desde o primeiro

PDM em 1996 nada foi feito para conter as ocupaccedilotildees irregulares beira-rio Pelo contraacuterio

estas aacutereas foram incorporadas ao Plano Diretor em 2007 com possibilidades de

ocupaccedilotildees diversas o que tem levado especuladores a valorizar o solo com vista para o

rio apontando suas qualidades esteacuteticas e teacutermicas Este fato vem aumentando o

75

percentual de aacutereas impermeaacuteveis nesta margem comprometendo ainda mais a drenagem

dos defluacutevios

Eacute na Av Beira-Rio que crescem as implantaccedilotildees de grandes empreendimentos comerciais

como supermercado Casagrande Ogil Hotel e obras de construccedilatildeo de novos arranha-

ceacuteus em um periacutemetro que jaacute eacute totalmente comprometido com os extravasamentos do Rio

Doce Estas obras ocupam grandes aacutereas e na maioria das vezes apresentam reduzida

aacuterea permeaacutevel reservando apenas o obrigatoacuterio pela lei cerca de 10 Observa-se

tambeacutem que a implantaccedilatildeo desses projetos estaacute condicionada agrave apresentaccedilatildeo e

aprovaccedilatildeo por comissatildeo na prefeitura do Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV) sendo

difiacutecil conceber que seja concedida tal licenccedila para implementaccedilatildeo de obras num trecho

de risco ambiental

Embora as diretrizes do Estatuto das Cidades para a implementaccedilatildeo do uso da terra

sustentaacutevel e os instrumentos para a regulaccedilatildeo do solo urbano sejam avanccedilados Colatina

eacute mais um exemplo da carecircncia de profissionais capacitados para estudar de modo

integrado e em niacutevel de bacia hidrograacutefica os efeitos da accedilatildeo humana num ambiente tatildeo

peculiar como as margens do Doce Por isso com os objetivos traccedilados nesta pesquisa

podemos aleacutem de compreender o fenocircmeno criar uma metodologia de anaacutelise de aacutereas

inundaacuteveis em ambientes urbanos O que permite agrave gestatildeo municipal uma diretriz para a

tomada de decisotildees

Destaca-se tambeacutem que as legislaccedilotildees aqui referenciadas supriram a discussatildeo acerca do

objeto de estudo mas outras podem contribuir para esta pesquisa a exemplo do Coacutedigo

das Aacuteguas da Poliacutetica Nacional dos Recursos Hiacutedricos das Resoluccedilotildees do Conama do

Estatuto das Cidades entre outros

Sendo assim numa revisatildeo do PDM deve-se pensar nestes aspectos da cidade desde o

histoacuterico de ocupaccedilatildeo das margens ateacute os impactos das inundaccedilotildees e o presente trabalho

auxilia com uma nova abordagem na reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo fornecendo material

cartograacutefico para subsidiar propostas de proteccedilatildeo ao curso do Doce e consequentemente

da populaccedilatildeo

Por fim deve-se destacar que o recorte estaacute inserido num contexto maior de uma bacia

hidrograacutefica que se estende aleacutem dos limites de Colatina ou do estado do Espiacuterito Santo

Esta bacia compreende a Regiatildeo Hidrograacutefica do Atlacircntico Leste e estaacute alocada tambeacutem

76

no estado de Minas Gerais o que portanto torna as accedilotildees de controle das inundaccedilotildees

mais complexas tendo em vista as divergentes politicas territoriais

77

7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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Page 15: DESNATURALIZAÇÃO DO RIO DOCE: UMA ABORDAGEM … · Ao engenheiro Francisco Hermes, pela experiência e conhecimentos partilhados da área de estudo. Aos meus amigos Mônica Regina,

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12 Justificativa

A aacuterea de estudo corresponde ao periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina situado na

Bacia Atlacircntico trecho leste sub-bacia do Rio Doce no baixo curso (ANA 2001)

Compreende a regiatildeo noroeste do estado do Espiacuterito Santo latitude 19deg 32rsquo 16rsquorsquo S e

longitude 40deg 37rsquo 59rsquorsquo W De acordo com os dados do censo de 2010 do Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio possuiacutea uma populaccedilatildeo de 111788 mil

habitantes1 numa aacuterea territorial de 1416804 kmsup2

Devido a sua privilegiada posiccedilatildeo geograacutefica limiacutetrofe com o Rio Doce e a construccedilatildeo da

Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas em 1906 Colatina compreendia os territoacuterios dos atuais

municiacutepios de Baixo Guandu Linhares Pancas Satildeo Gabriel da Palha Marilacircndia Satildeo

Domingos do Norte e Governador Lindenberg (INCAPER 2011) Soacute a partir de 2001

passou a apresentar os atuais limites municipais e configurar uma aacuterea urbana com 59

bairros (Figura 1)

Colatina eacute um municiacutepio de importacircncia para regiatildeo noroeste capixaba seja em caraacuteter

econocircmico ou social Eacute responsaacutevel pelos fluxos de cargas da regiatildeo aleacutem de ser um polo

moveleiro de confecccedilatildeo metalmecacircnico e de comeacutercio e serviccedilos gerando emprego e

renda (INCAPER 2011) Aleacutem disso tem sofrido historicamente com as cheias do Rio

Doce principalmente porque parte do seu periacutemetro urbano eacute inundado com as aacuteguas da

calha principal desse rio o que compromete toda a dinacircmica local e potildee em risco os

colatinenses

Assim diante das crescentes demandas por territoacuterio no periacutemetro urbano a populaccedilatildeo

tem suprimido a cobertura vegetal e ocupado desde as margens do Rio Doce ateacute as

encostas dos morros Em periacuteodos de cheias principalmente nos meses de outubro a

marccedilo (INCAPER 2011 ANA 2001) verificam-se inundaccedilotildees de grande parte da aacuterea

urbana beira-rio aleacutem dos movimentos de massa nas encostas Como exemplo destes

acontecimentos tecircm-se os registros fotograacuteficos dos efeitos da chuva de dezembro de 2013

(Figuras 2 e 3)

1 De acordo com o a estimativa do IBGE de 2014 publicada no DOU o municiacutepio conta com uma populaccedilatildeo de 121670 habitantes

18

Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e o canal do Rio Doce Elaborado pela autora

19

Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 Fonte Noticias UOL (2013)

Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de 2013 Fonte Folha Vitoacuteria (2013)

Este estudo portanto eacute relevante tendo em vista as raras abordagens no acircmbito das

Ciecircncias Geograacuteficas especialmente no Espiacuterito Santo de pesquisas que correlacionem

aspectos da geomorfologia fluvial por meio da dinacircmica dos recursos hiacutedricos com o uso

e cobertura da terra particularmente o Plano Diretor Municipal (PDM) Discute dessa

forma as implicaccedilotildees da atuaccedilatildeo humana nas particularidades deste ecossistema natural

tendo em vista o disposto nas legislaccedilotildees urbaniacutesticas e ambientais que visam assegurar

a qualidade de vida das populaccedilotildees

Adiante seratildeo analisados os principais fundamentos da geomorfologia fluvial os aspectos

juriacutedicos e o papel da anaacutelise geograacutefica integrada para o entendimento dos fenocircmenos

das inundaccedilotildees no Centro de Colatina uma vez que eacute devido agraves intervenccedilotildees humanas

nos canais e suas margens que esses fenocircmenos tornam-se mais nocivos a cidade

20

2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS

21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano

Recurso essencial para a manutenccedilatildeo da vida a aacutegua foi um fator relevante para o

estabelecimento histoacuterico das sociedades no entorno dos cursos hiacutedricos Utilizados para

fins de abastecimento humano e animal irrigaccedilatildeo saneamento e transporte os rios

constituiacuteram-se nos principais propulsores de penetraccedilatildeo para o interior (CUNHA 2012a)

Logo em suas margens surgiram povoados que posteriormente transformaram-se em

cidades como as que se estabeleceram agraves margens do Rio Doce a exemplo da sede de

Colatina

Diante das potencialidades que os recursos hiacutedricos possibilitam agraves sociedades

destacamos a importacircncia do estudo da Geomorfologia Fluvial que se apresenta como

campo da Geomorfologia (ciecircncia que estuda as formas do relevo) sendo o interesse

daquela a pesquisa dos processos que relacionam o escoamento das aacuteguas fluviais num

contexto de bacia hidrograacutefica (CHRISTOFOLETTI 1980 CUNHA op cit) Enfoca assim

as alteraccedilotildees na fisionomia dos canais frente agraves intervenccedilotildees no ecossistema natural

beira-rio

A Geomorfologia Fluvial parte da condicionante de que o uso e ocupaccedilatildeo da terra refletem-

se na dinacircmica da bacia de drenagem interferindo nos processos morfogeneacuteticos ou seja

de modelagem do relevo fluvial escoamento superficial das aacuteguas e no ciclo hidroloacutegico

Frente agrave temaacutetica deste estudo faz-se necessaacuterio o entendimento dos conceitos da

fisiografia fluvial aqui referente aos diferentes setores que a aacutegua pode escoar num leito

(Figura 4) como

O leito menor corresponde agrave parte do canal ocupada pelas aacuteguas e cuja frequecircncia impede o crescimento da vegetaccedilatildeo Esse tipo de leito eacute delimitado por partes bem definidas O leito de vazante equivale agrave parte do canal ocupada durante o escoamento das aacuteguas de vazante Suas aacuteguas divagam dentro do leito menor seguindo o talvegue linha de maacutexima profundidade ao longo do leito e que eacute mais bem identificada na seccedilatildeo transversal do canal O leito maior tambeacutem denominado leito maior perioacutedico ou sazonal eacute ocupado pelas aacuteguas do rio regularmente e pelo menos uma vez ao ano durante as cheias Dependendo do tempo ocorrido entre as subidas das aacuteguas eacute possiacutevel haver a fixaccedilatildeo e o crescimento da vegetaccedilatildeo herbaacutecea

21

O leito maior excepcional eacute ocupado durante as grandes cheias no decorrer das enchentes (CUNHA 2001 p 213)

Figura 4 - Tipos de leito fluvial vaacuterzea Fonte Cunha (2001 p213)

Sendo assim as aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial (leitos) aquelas inundadas pelo corpo

hiacutedrico frente a um evento hidroloacutegico extremo tambeacutem satildeo conhecidas como vaacuterzeas

planiacutecie de inundaccedilatildeo ou ainda segundo Carneiro e Miguez (2011 p133) como ldquo[] zona

de passagem de cheia []rdquo Essas aacutereas de vaacuterzeas dependem da fisionomia que o rio

apresenta e segundo Cunha (op cit) o canal fluvial pode apresentar trecircs formas

principais conhecidas como padratildeo dos canais que satildeo retiliacuteneo anastomosado e

meacircndrico (Figura 5)

Figura 5 - Padrotildees dos canais (A) retiliacuteneo (B) anastomosado (C) meandrante (A) amplitude (Rc) raio meacutedio da curvatura do meandro (segundo Bigarella etal 1979) Fonte Cunha (2001 p216)

22

Aliada aos padrotildees dos canais estaacute a assimetria ou simetria dos leitos que para Cunha

(2001 p233) relaciona-se com a variaccedilatildeo da velocidade e turbulecircncia ao longo da secccedilatildeo

transversal o que diferencia o comportamento nos canais retiliacuteneos geralmente simeacutetricos

do canal meacircndrico onde

Em canais de leito simeacutetrico em geral padratildeo retiliacuteneo a velocidade maacutexima ocorre no centro do canal diminuindo em direccedilatildeo agraves margens Em leito assimeacutetrico de padratildeo meacircndrico a zona de maacutexima velocidade e turbulecircncia localiza-se nas proximidades das margens cocircncavas decrescendo de valor em direccedilatildeo agrave margem de menor profundidade

(convexa) (CUNHA opcit p 233)

Deste modo a capacidade de erosatildeo das margens transporte e deposiccedilatildeo da carga do rio

dependem entre outros fatores da velocidade das correntes fluviais E o material do fluxo

fluvial constitui-se da descarga liacutequida ou vazatildeo que estaacute relacionada ao tamanho do

material que pode ser transportado e do volume da carga que o rio eacute capaz de carregar

Tem-se ainda a carga soacutelida sedimentos que estaacute relacionada a suspensatildeo e fundo do

rio esta decresce a jusante indicando a diminuiccedilatildeo da competecircncia do corpo fluvial As

cargas de suspensatildeo satildeo constituiacutedas de partiacuteculas finas a exemplo do silte e por fim a

carga de fundo que eacute composta por partiacuteculas de tamanhos maiores a exemplo da areia

(CUNHA2001)

Christofoletti (1980) acrescenta que os sedimentos podem ser carregados de trecircs modos

principais no fluxo em soluccedilatildeo dissolvidos nos cursos hiacutedricos em suspensatildeo como o

silte e argila e em saltaccedilatildeo geralmente a areia e cascalho que compreendem a carga do

leito do rio Destaca-se que a carga detriacutetica natildeo proveacutem apenas da erosatildeo do fundo dos

leitos e margens fluviais mas que o material intemperizado de vertentes carreado nas

enchentes contribui significativamente para a carga sedimentar transportada

Cabe ressaltar ainda que a relaccedilatildeo do arranjo espacial dos canais com os processos

fluviais (a erosatildeo o transporte e a deposiccedilatildeo de sedimentos) eacute determinante para o

trabalho dos rios Tais processos satildeo diretamente influenciados pela vazatildeo velocidade e

pela intensidade da turbulecircncia (seja no fluxo laminar ou no fluxo turbulento) A

variabilidade no comportamento da velocidade e turbulecircncia das aacuteguas ao longo da seccedilatildeo

transversal condiciona os locais preferenciais de erosatildeo e deposiccedilatildeo ao longo do curso

hiacutedrico

23

Deste modo qualquer intervenccedilatildeo na bacia e canal fluvial compromete o equiliacutebrio natural

da drenagem levando o corpo hiacutedrico a se adaptar agraves mudanccedilas em sua fisionomia

fisiografia e em seus processos ateacute atingir um novo estado de equiliacutebrio Poreacutem eacute na

planiacutecie de inundaccedilatildeo que estas modificaccedilotildees seratildeo mais percebidas pela populaccedilatildeo pois

a maior parte das obras de engenharia como as canalizaccedilotildees e as ocupaccedilotildees das

margens acaba por romper com o equiliacutebrio natural do rio alterando sua dinacircmica e

intensificando seus processos o que na maioria das vezes potencializa as enchentes no

ambiente urbano

Nesse sentido o entendimento dos processos fluviais (erosatildeo transporte e deposiccedilatildeo)

combinado com a anaacutelise da fisiografia fluvial condicionam as peculiaridades na geometria

hidraacuteulica ou seja na relaccedilatildeo entre a vazatildeo velocidade de escoamento tipos de canais

de sedimentos e a topografia Logo o conhecimento geomorfoloacutegico do rio contribui para

pesquisas que necessitem relacionar o funcionamento deste corpo natural com um

planejamento urbano mais efetivo principalmente se considerarmos um recorte em niacutevel

de bacia hidrograacutefica em espaccedilo urbano

211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial

O capiacutetulo que segue versa sobre a atuaccedilatildeo antroacutepica relacionando-a a aacuterea de estudo o

rio Doce poreacutem este trata de forma macro a temaacutetica para contextualizar o leitor sendo

as especificidades das intervenccedilotildees neste recorte geograacutefico trabalhados nos resultados

desta pesquisa

Diante do exposto eacute possiacutevel acompanhar a evoluccedilatildeo dos processos fluviais nos canais

em especial aqueles que tiveram intervenccedilotildees em seu curso natural como as hidreleacutetricas

instaladas a montante a exemplo do Rio Doce onde a interferecircncia direta na vazatildeo e fluxo

de sedimentos altera a hidrodinacircmica do rio comprometendo a erosatildeo e transporte Para

Coelho (2007 p57) as

Mudanccedilas na Declividade Perfil Longitudinal Promovidas pela construccedilatildeo de reservatoacuterio satildeo variadas e caso o efeito da contenccedilatildeo de sedimentos seja significativo os processos fluviais reduziratildeo a capacidade de transporte de sedimento podendo promover um entalhamento do leito do rio imediatamente agrave jusante da barragem

Aleacutem disso esse processo erosivo poacutes-barragem eacute intensificado favorecendo o

assoreamento e sedimentaccedilatildeo do rio a jusante O que pode beneficiar a elevaccedilatildeo da cota

24

do canal fluvial frente a eventos hidroloacutegicos extremos potencializando os efeitos das

inundaccedilotildees nas vaacuterzeas

Ao mesmo tempo o Rio Doce trecho que compreende o Espiacuterito Santo meacutediobaixo curso

eacute impactado nas vazotildees miacutenimas e maacuteximas a jusante apoacutes a instalaccedilatildeo das

barragensUsinas Hidreleacutetricas (UHE) de Mascarenhas (iniacutecio de operaccedilatildeo em 1974)

localizada no Municiacutepio de Baixo Guandu e a de Aimoreacutes (iniacutecio de operaccedilatildeo em 2005)

localizada na divisa do Espiacuterito Santo com Minas Gerais (COELHO 2007)

De acordo com Coelho (opcit) apoacutes a implantaccedilatildeo das usinas ocorreu uma reduccedilatildeo

significativa na vazatildeo da calha principal do Rio Doce conforme Graacutefico 1

Considerando o periacuteodo de 1939 a 2012 a vazatildeo miacutenima apoacutes a instalaccedilatildeo das usinas

chega a atingir 411msup3s e a maacutexima chega apenas a 1251msup3s sendo que no periacuteodo

anterior agrave instalaccedilatildeo das usinas foi registrada a miacutenima de 533 msup3s e uma maacutexima de

1812 msup3s o que ressalta o impacto do barramento sobre o corpo hiacutedrico Aleacutem do

comprometimento dos processos de erosatildeo transporte e sedimentaccedilatildeo (COELHO 2008

e CUNHA 2001)

Diante desta perda de carga liacutequida nos barramentos Cunha (2001 p 241) observa ainda

que as aacutereas a jusante de reservatoacuterios

[hellip] onde o regime do rio sofre significativas modificaccedilotildees devidas ao controle das descargas liquidas e de sedimentos no reservatoacuterio As mudanccedilas ocorridas no regime das aacuteguas neste setor do rio acarretam significativos efeitos nos processos do canal tais como o entalhe do leito a erosatildeo das margens e a deposiccedilatildeo a jusante atingindo longas distacircncias

Aleacutem disso no periacutemetro urbano de Colatina o Rio Doce sofreu outras intervenccedilotildees em

seu canal principal como a implantaccedilatildeo de obras estruturais de macrodrenagem a

exemplo da construccedilatildeo da Av Beira-Rio com intuito de conter o avanccedilo das aacuteguas fluviais

em periacuteodos de cheias

25

Graacutefico 1

Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais (Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia)

Fonte adaptado de Coelho (2007 p154)

26

Como exemplo dos tipos de intervenccedilotildees humanas nas aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial

leitos Carneiro e Miguez (2011 p117) destacam

As accedilotildees de controle e cheias urbanas podem ser classificadas em estruturais quando a paisagem eacute alterada pela accedilatildeo do homem e em natildeo estruturais aqui denominada como estruturante quando o homem aprende a conviver com as enchentes No primeiro caso estatildeo as medidas de controle atraveacutes de obras hidraacuteulicas tais como barragens diques e canais entre outras No segundo caso encontram-se medidas do tipo preventivo tais como zoneamento de aacutereas de inundaccedilatildeo sistemas de alerta educaccedilatildeo ambiental lei de parcelamento e uso dos solos e seguros contra inundaccedilatildeo

Neste cenaacuterio abarcamos os impactos das obras de engenharia como a canalizaccedilatildeo que

altera a fisionomia e fisiografia do rio refletindo-se nos processos geomorfoloacutegicos do canal

e sua planiacutecie de inundaccedilatildeo Para estes a canalizaccedilatildeo eacute uma obra estrutural que aumenta

a capacidade do fluxo do canal aleacutem de intensificar a velocidade do escoamento

superficial antecipando o pico de cheia e transferindo os alagamentos para locais a jusante

na bacia hidrograacutefica

Articulado a esta ideia Cunha (2012b) reflete a desnaturalizaccedilatildeo dos rios por meio de

obras de retificaccedilatildeo com a reduccedilatildeo do comprimento do canal e eliminaccedilatildeo das

sinuosidades Satildeo obras que afetam a estabilidade do corpo hiacutedrico na medida em que

interferem na relaccedilatildeo entre erosatildeo sedimentaccedilatildeo e deposiccedilatildeo provocando efeitos como

alteraccedilatildeo na morfologia do canal Sendo assim ldquo[hellip] a diminuiccedilatildeo da rugosidade no fundo

do canal em conjunto com a perda dos meandros e a aceleraccedilatildeo das velocidades eacute a

principal responsaacutevel pelas mudanccedilas no balanccedilo da energia natural dos sedimentos

fluviais [hellip]rdquo Cunha (2012b p178) No caso do Rio Doce trecho correspondente agrave Av

Beira-Rio alterou-se a sua forma retilinizando-a e sua vegetaccedilatildeo natural foi substituiacuteda

por estruturas de pedras o que compromete a resistecircncia ao fluxo as margens e aos

bancos arenosos

Embora as obras de canalizaccedilatildeo sejam implantadas como eficazes nos canais fluviais para

questotildees de enchentes urbanas para Cunha (op cit) estas necessitam de manutenccedilatildeo

constante envolvendo desde dragagem remoccedilatildeo de obstruccedilotildees a recomposiccedilatildeo do

material utilizado Poreacutem toda a manutenccedilatildeo estaacute associada a alteraccedilotildees morfoloacutegicas e

bioloacutegicas como as que interferem nas soleiras e depressotildees do fundo dos leitos

desestabilizando a vazatildeo no curso a exemplo da

27

ldquo[hellip] eliminaccedilatildeo da sequecircncia de depressotildees e soleiras o aumento da velocidade da corrente a diminuiccedilatildeo da diversidade de habitats o ambiente instaacutevel resultante da flutuaccedilatildeo dos niacuteveis da aacutegua e do substrato moacutevel e a maior flutuaccedilatildeo da temperatura das aacuteguasrdquo (CUNHA 2012b p180)

Ao mesmo tempo o aumento da velocidade dos escoamentos no trecho retificado

possibilita maior erosatildeo transferindo para as aacutereas a jusante uma carga soacutelida

representativa que para Cunha (op cit) configura a formaccedilatildeo de bancos axiais e depoacutesitos

de sedimentaccedilatildeo marginais alterando o equiliacutebrio dos sedimentos a jusante Pois

A jusante das obras de retificaccedilatildeo verificam-se o aumentam da carga soacutelida o assoreamento durante a dragagem a erosatildeo no canal pelos eventos torrenciais do regime e a modificaccedilatildeo na dinacircmica na foz Os sedimentos resultantes da erosatildeo no canal retificado em conjunto com a excessiva carga de sedimentos posta em suspensatildeo durante a dragagem e na fase imediata de poacutes-construccedilatildeo - quando a erosatildeo dos bancos de areia sem vegetaccedilatildeo estaacute em seu niacutevel maacuteximo - originam a formaccedilatildeo de depoacutesitos fluviais de curta duraccedilatildeo a jusante do canal retificado Logo a seguir esses depoacutesitos satildeo erodidos juntamente com as margens e o fundo do leito pelos eventos torrenciais do regime vindo a formar bancos axiais e depoacutesitos de sedimentaccedilatildeo marginais (CUNHA2012b p183)

Portanto o estudo da geomorfologia fluvial contribui diretamente para o entendimento das

cheias nas planiacutecies de inundaccedilatildeo em especial nas bacias hidrograacuteficas que

compreendem a aacuterea urbana e que possuem intervenccedilotildees antroacutepicas diretas na fisiografia

do canal principal Seus processos explicam como as alteraccedilotildees no canal fluvial podem

maximizar os efeitos dos transbordamentos impactando principalmente as populaccedilotildees

ribeirinhas aleacutem de todo ecossistema local Ademais estes fundamentos geomorfoloacutegicos

devem ser associados agrave legislaccedilatildeo vigente afim de subsidiar a elaboraccedilatildeo de instrumentos

legais para atuaccedilatildeo do poder puacuteblico nestas zonas de risco

22 Aspectos Juriacutedicos

Frente agrave crescente demanda sobre os recursos hiacutedricos e solo urbano a partir da deacutecada

de 1930 surgem as primeiras diretrizes que visam regulamentar estes ambientes a

exemplo do Coacutedigo das Aacuteguas Mas soacute a partir dos anos 1960 surgem em acircmbito federal

leis como o Coacutedigo Florestal com o intuito de regular a exploraccedilatildeo das vegetaccedilotildees e

consequentemente proteger os mananciais e em 1979 com o objetivo de ordenar as

28

cidades eacute aprovada a Lei 676679 estabelecendo as normas do parcelamento do solo

urbano

Na medida em que as populaccedilotildees aumentam ampliam-se tambeacutem as pressotildees sobre os

recursos de aacutegua e solo Os processos de uso e a conscientizaccedilatildeo de que estes elementos

satildeo finitos intensificam as formas de controle e preservaccedilatildeo passando para as esferas

estaduais e municipais a responsabilidade de atuar em escala local na proteccedilatildeo desses

ambientes

Ainda em escala federal em 2012 eacute promulgado o Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012

em substituiccedilatildeo ao coacutedigo anterior Lei 47711965 que apresenta as normas de

apropriaccedilatildeo dos recursos naturais pelas novas necessidades das populaccedilotildees citadinas e

rurais No que compete agrave aacuterea de estudo cabe destacar as ocupaccedilotildees em aacutereas de

planiacutecie de inundaccedilatildeo em que de acordo com art 4ordm devem ser preservadas

I - as faixas marginais de qualquer curso drsquoaacutegua natural perene e intermitente excluiacutedos os efecircmeros desde a borda da calha do leito regular em largura miacutenima de (Incluiacutedo pela Lei nordm 12727 de 2012) a) 30 (trinta) metros para os cursos drsquoaacutegua de menos de 10 (dez) metros de largura b) 50 (cinquenta) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura c) 100 (cem) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura d) 200 (duzentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura e) 500 (quinhentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros []

A legislaccedilatildeo eacute riacutegida no que concerne agrave ocupaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo das terras nas faixas

marginais dos rios transferindo aos estados e municiacutepios a responsabilidade de fiscalizar

estes territoacuterios para garantir a efetividade da lei A questatildeo eacute que muitas vezes somada a

falta de planejamento estas fiscalizaccedilotildees satildeo ineficientes o que tem possibilitado o

surgimento cada vez maior das ocupaccedilotildees irregulares

Apoiado tambeacutem pela Constituiccedilatildeo Federal de 1988 nos artigos 182 e 183 surge o

Estatuto das Cidades Lei 102572001 com finalidade de garantir a funccedilatildeo social da

cidade e com este os primeiros Planos Diretores Municipais (PDM) que buscam o

ordenamento do crescimento das cidades em caraacuteter socioeconocircmico e ambiental cidades

sustentaacuteveis Ademais em Colatina eacute instituiacuteda a Lei 42281996 posteriormente revogada

29

pela Lei 52732007 que ldquoInstitui o Plano Diretor do Municiacutepio de Colatina estabelece os

objetivos instrumentos e diretrizes e daacute outras providecircncias para as accedilotildees de

planejamento do Municiacutepio de Colatina []rdquo

O PDM de Colatina assim como Coacutedigo Florestal prevecirc a preservaccedilatildeo dos ecossistemas

beira-rio Aquele ainda dispotildee sobre o parcelamento do solo sustentaacutevel a funccedilatildeo social

da cidade e da propriedade conforme o Plano Diretor de Colatina de 2007 nos artigos

transcritos

Artigo 22 - As diretrizes ambientais no Municiacutepio de Colatina satildeo I - aplicar os instrumentos de gestatildeo ambiental estabelecidos nas legislaccedilotildees federal estadual e municipal bem como a criaccedilatildeo de outros instrumentos adequando-os agraves metas estabelecidas pelas poliacuteticas ambientais II - compatibilizar as diretrizes de uso ocupaccedilatildeo e parcelamento do solo aos objetivos de proteccedilatildeo ambiental dos ecossistemas [] Artigo 23 - Satildeo diretrizes do sistema de drenagem urbana I - disciplinar a ocupaccedilatildeo das cabeceiras e vaacuterzeas das bacias hidrograacuteficas do Municiacutepio preservando a vegetaccedilatildeo existente e visando agrave sua recuperaccedilatildeo [] III - definir mecanismos de fomento para usos do solo compatiacuteveis com aacutereas de interesse para drenagem tais como parques lineares aacuterea de recreaccedilatildeo e lazer hortas comunitaacuterias e manutenccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa [] V - implantar medidas natildeo-estruturais [sic] de prevenccedilatildeo de inundaccedilotildees tais como controle de erosatildeo especialmente em movimentos de terra controle de transporte e deposiccedilatildeo de entulho e lixo combate ao desmatamento assentamentos clandestinos e a outros tipos de invasotildees nas aacutereas com interesse para drenagem [] VII - garantir e respeitar a necessaacuteria permeabilidade do solo inclusive buscando alternativas de pavimentaccedilatildeo com maior de permeabilidade [sic] [] Artigo 84 ndash Satildeo objetivos do ordenamento territorial do Municiacutepio de Colatina [] IV ndash conter a expansatildeo da ocupaccedilatildeo urbana em aacutereas de proteccedilatildeo ambiental [] Artigo 120 ndash Ficam desde jaacute identificadas como Zonas de Proteccedilatildeo Ambiental 2 ndash ZPA 2 as seguintes aacutereas [] III ndash as aacutereas existentes ao longo de qualquer curso drsquoagua desde o niacutevel mais alto em faixa marginal cuja largura miacutenima seraacute de a) 15m (trinta metros) [sic] para os cursos drsquoagua com menos de 10m (10

metros) de largura contidos no periacutemetro urbano [] c) 30m (trinta metros) para os cursos drsquoagua que tenham de10m (dez

metros a 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano

[]

30

e) 50m (cinquenta metros) para os cursos drsquoagua que tenham mais de 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 60422013)

[]

De modo geral verifica-se que a legislaccedilatildeo apresenta instrumentos que permitem a

prevenccedilatildeo ou controle de ocupaccedilotildees irregulares ou clandestinas em aacuterea de APP aleacutem de

propostas para resguardar de grandes impactos ambientais o corpo hiacutedrico principal do

municiacutepio o Rio Doce Possibilitando assim a minimizaccedilatildeo dos impactos causados pelas

cheias agrave populaccedilatildeo local

Poreacutem cabe destacar que o Plano Diretor Municipal de Colatina natildeo contempla o

estipulado no Coacutedigo Florestal 2012 Lei Federal onde os cursos drsquoaacutegua com largura

superior a 600(seiscentos) metros devem ser resguardados com aacutereas de preservaccedilatildeo

permanente de 500(quinhentos) metros entre outros sendo que a redaccedilatildeo desta parte do

PDM eacute dada pela lei 60422013 posterior a publicaccedilatildeo do novo Coacutedigo Florestal Sendo

assim verifica-se que apesar da intenccedilatildeo de resguardar uma faixa de no maacuteximo

50(cinquenta) metros em periacutemetro urbano para a contenccedilatildeo de cheias e mata ciliar o

PDM de Colatina natildeo atende o miacutenimo previsto em Lei Federal O que tem impactado todo

ecossistema beira rio e a populaccedilatildeo ribeirinha uma vez que a faixa marginal de proteccedilatildeo

de 50(cinquenta) metros em muitos casos natildeo tem comportado o impacto dos defluacutevios

No entanto a legislaccedilatildeo trata de aspectos gerais natildeo pontuando as aacutereas responsaacuteveis

por cada accedilatildeo aleacutem de sua aplicabilidade depender da elaboraccedilatildeo de um cronograma de

execuccedilatildeo bem como um conjunto de planos e normas especiacuteficos para cada diretriz com

detalhamento das propostas de intervenccedilatildeo Isto natildeo ocorreu ateacute o presente

Aleacutem disso a cidade de Colatina surgiu num cenaacuterio histoacuterico anterior agraves legislaccedilotildees

urbaniacutesticas e ambientais inclusive do Coacutedigo das Aacuteguas o que dificulta a execuccedilatildeo de

um planejamento que concilie a preservaccedilatildeo das matas beira-rio garantindo a faixa de

APP com a ocupaccedilatildeo urbana consolidada

A aacuterea de estudo se apresenta como ambiente fragilizado apesar de ser regida por

legislaccedilotildees desde a escala federal ateacute a municipal que visam proteger e ordenar o uso e

cobertura da terra nas faixas marginais dos rios Mas a dificuldade das prefeituras em

aplicar os instrumentos legais nestes ambientes seja por interesses privados ou falta de

recursos para investimentos em soluccedilotildees a longo prazo continua expondo as populaccedilotildees

31

aos impactos dos eventos hidroloacutegicos criacuteticos como os que resultam nas inundaccedilotildees

Para que se alcance esse parcelamento do solo sustentaacutevel satildeo necessaacuterios esforccedilos da

gestatildeo municipal em estipular prazos e metas de atuaccedilatildeo afora interagir os diferentes

setores no planejamento em niacutevel de bacia hidrograacutefica considerando as peculiaridades

desta escala de trabalho

23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos

Sendo a ciecircncia que estuda a relaccedilatildeo homemnatureza a Geografia tem muito a contribuir

nas anaacutelises que envolvem o meio ambiente que foi transformado pela dinacircmica da

sociedade Mas historicamente a dialeacutetica das correntes fiacutesica e humana tem imperado de

modo dissociado levando o geoacutegrafo a estudar estes processos separadamente Poreacutem

se o resultado pretendido eacute integrado fazem-se necessaacuterias pesquisas mais amplas que

cruzem as diferentes vertentes geograacuteficas

Considerando que a problemaacutetica dos impactos ambientais urbanos envolve a questatildeo

natural o rio e a questatildeo social e poliacutetica a sociedade e as leis (COELHO 2013) uma

pesquisa neste acircmbito requer o entendimento destes dois objetos a fim de se apreender

o processo de crescimento das cidades brasileiras e a sua relaccedilatildeo com os recursos

hiacutedricos

A partir da deacutecada de 1950 devido ao ecircxodo rural mais intenso as cidades brasileiras

incharam rapidamente com a migraccedilatildeo do camponecircs que buscava melhores condiccedilotildees de

vida como trabalho na induacutestria o acesso agraves escolas saneamento entre outros E

segundo Gorski (2010) a populaccedilatildeo brasileira passou desde o iniacutecio deste processo de 19

milhotildees de habitantes em 1950 para 138 milhotildees de habitantes em 2000 (dados do IBGE)

o que corrobora o raacutepido crescimento das cidades

Todavia as estruturas puacuteblicas natildeo estavam preparadas para um acreacutescimo populacional

tatildeo significativo e em curto espaccedilo de tempo E o que observamos eacute o acesso limitado

dessa populaccedilatildeo agraves aacutereas centrais da cidade sendo induzida a se estabelecer nas

periferias Nesta visatildeo

O difiacutecil acesso da populaccedilatildeo de baixa renda agraves aacutereas mais centrais das cidades contribuiu segundo Raquel Rolnik para a expansatildeo da periferia o que muitas vezes implicou e implica ainda invasatildeo de aacutereas de proteccedilatildeo de mananciais com a aquiescecircncia do poder puacuteblico Esta

32

dinacircmica agravou a situaccedilatildeo de risco dos mananciais pela eliminaccedilatildeo das matas ciliares e consequentemente erosatildeo das margens dos cursos drsquoaacutegua e assoreamento de suas calhas e pela contribuiccedilatildeo do esgoto in natura (ROLNIK1997 apud GORSKI 2010 p62)

Sendo assim a supressatildeo das matas ciliares e das vegetaccedilotildees das encostas para fins de

ocupaccedilatildeo urbana interfere diretamente no ciclo hidroloacutegico diminuindo a absorccedilatildeo de

aacutegua pelo subsolo e pela evapotranspiraccedilatildeo favorecendo o escoamento superficial (Figura

6) que intensifica a velocidade de drenagem das aacuteguas Este processo nas encostas eacute

mais significativo se considerarmos que com a supressatildeo da cobertura vegetal e

impermeabilizaccedilatildeo do solo as precipitaccedilotildees acabam por lavar todo o material

intemperizado sedimentos carregando-o diretamente para o corpo hiacutedrico e contribuindo

para o assoreamento

Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento Fonte Gorski (2010 p64)

Por outro lado as ocupaccedilotildees ribeirinhas nas vaacuterzeas dos rios modificam a dinacircmica fluvial

frente aos defluacutevios A compactaccedilatildeo e o nivelamento do solo associados agrave

impermeabilizaccedilatildeo por concreto asfalto e outros materiais alteram todo o sistema de

drenagem natural e contribuem para a erosatildeo fluvial Aleacutem disso a gestatildeo puacuteblica que

33

deveria investir num parcelamento do solo sustentaacutevel resguardando ldquouma alocaccedilatildeo de

espaccedilosrdquo (CANHOLI 2005 p 15) para a drenagem acaba por colaborar com as enchentes

urbanas na medida em que decide por obras estruturais como a canalizaccedilatildeo (Figura 7

p30) e a microdrenagem que transferem os impactos das inundaccedilotildees a jusante

Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia Fonte Gorski (2010 p69)

Cabe destacar que desde 1965 com o primeiro Coacutedigo Florestal as matas beira-rio jaacute

eram resguardadas da degradaccedilatildeo humana poreacutem com todo o boom urbano a partir de

1950 a falta de estrutura e ingerecircncia municipal no que se refere ao parcelamento e uso

e ocupaccedilatildeo da terra urbana possibilitou a formaccedilatildeo dos assentamentos clandestinos em

APP e na encosta de morros Em condiccedilotildees precaacuterias sem saneamento baacutesico e demais

infraestruturas urbanas estes assentamentos acabam sendo as regiotildees mais afetadas

com as inundaccedilotildees

Junto agraves questotildees jaacute levantadas vale destacar que as aacuteguas das inundaccedilotildees propiciam o

aumento das doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica (febre tifoide hepatite leptospirose

esquistossomose entre outras) pois carregam segundo Gorski (2010) toda uma poluiccedilatildeo

difusa efluentes domeacutesticos industriais e agroindustriais aleacutem do lixo urbano da poluiccedilatildeo

do ar e das ruas

34

Por outro lado esta ocupaccedilatildeo urbana natildeo planejada perde o benefiacutecio que os corpos

hiacutedricos podem oferecer como [] as paisagens fluviais que aos poucos foram sendo

apropriadas como paisagens urbanas [] (GORSKI 2010 38) aleacutem do microclima

associado agrave umidade pela evapotranspiraccedilatildeo que ameniza a sensaccedilatildeo teacutermica local

Poreacutem conforme observado por Graeff (2011) natildeo eacute cabiacutevel atualmente implantar a

legislaccedilatildeo de APP de modo jurista Deve-se considerar toda a representatividade cultural

assentada sobre os leitos destes rios (avenidas importantes casas com arquitetura

histoacuterica entre outros) Aleacutem disso para a demarcaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo

permanente hoje eacute necessaacuteria uma anaacutelise teacutecnica pautada na geomorfologia e

hidrologia de modo a interpretar o ldquocomportamento histoacuterico dos cursos drsquoaacutegua na

paisagem prevendo cenaacuterios de impactos futurosrdquo da atividade humana sobre suas faixas

marginais

Tendo em vista que grande parte da malha urbana brasileira estaacute alocada em APPs e que

segundo Graeff (2011) estas jaacute possuem uma unidade de paisagem estabelecida e muitas

vezes secular configurando siacutetios de importacircncia cultural e apreendendo que

De modo semelhante nas demais cidades haveraacute que ser entendido o meio urbano como ele realmente eacute ndash um encontro entre as necessidades de habitaccedilatildeo com atividades humanas e de conservaccedilatildeo ambiental esta segunda tambeacutem a serviccedilo do homem e natildeo somente de objetivos difusos e distanciados da sobrevivecircncia da sociedade (GRAEFF 2011 206)

Por tais motivos o trabalho com a geomorfologia fluvial urbana deve abarcar os princiacutepios

do bom senso compreendendo que nestas aacutereas de atividade antroacutepica consolidada pode-

se fazer uso de instrumentos de engenharia avanccedilados para uma convivecircncia equilibrada

do homem com a natureza no entorno Contudo deve-se incentivar as aacutereas de expansatildeo

urbana ou zona periurbana (zonas de transiccedilatildeo da aacuterea urbana para a rural) com poliacuteticas

de incentivo a pavimentaccedilotildees mais permeaacuteveis a fim de minimizar o escoamento

superficial para o rio favorecendo a infiltraccedilatildeo

Apesar de os impactos gerados pela interferecircncia humana nas aacutereas mais fragilizadas da

bacia hidrograacutefica vaacuterzeas e encostas refletirem-se em cataacutestrofes com prejuiacutezos

humanos ambientais e urbanos alguns autores brasileiros como Canholi Graeff Cunha

Carneiro e Miguez jaacute indicaram outros caminhos para uma convivecircncia harmoniosa com

a natureza Aleacutem do mais paiacuteses desenvolvidos como a Holanda deixaram de ldquolutar contra

35

as cheiasrdquo para permitir agraves aacuteguas das enchentes a capacidade de acumular e dispersar

com impacto reduzido para as populaccedilotildees (CARNEIRO MIGUEZ 2011)

Sendo assim a proposta deste estudo eacute identificar os principais agentes que influenciam

as inundaccedilotildees entendendo seu papel e atuaccedilatildeo no contexto urbano de Colatina Mas eacute

tambeacutem a de ampliar a abordagem da temaacutetica com uma anaacutelise geograacutefica integrada

ressaltando as medidas que constam no planejamento urbano e sua aplicaccedilatildeo nas faixas

marginais do corpo hiacutedrico

36

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS

Esta pesquisa eacute constituiacuteda de trecircs etapas principais sendo que a primeira teve como

premissa a confecccedilatildeo de um fluxograma (Figura 8) de trabalho para orientar a pesquisa

em seguida teve iniacutecio o levantamento de bibliografias que abordam temas como a

geomorfologia fluvial e urbanizaccedilatildeo em Colatina adotando-se como referecircncia as

pesquisas de Coelho (2006 2007 2008 e 2009) e Albani (2012) Aleacutem disso muito

contribuiacuteram para este trabalho o relatoacuterio do INCAPER da CPRM e os dados do IBGE

Cabe destacar tambeacutem as experiecircncias com recursos hiacutedricos em ambientes urbanos de

Carneiro e Miguez (2011) em especial Cunha (2001 2012ab)

Esta etapa consistiu tambeacutem na busca de material cartograacutefico como aquisiccedilatildeo de planos

de informaccedilatildeo de limite estadual municipal bairros mancha urbana corpo drsquoaacutegua e

logradouros atraveacutes de dados disponiacuteveis no Sistema Integrado de Bases Geoespaciais

do Estado do Espiacuterito Santo (GEOBASES 2014) no Instituto Jones dos Santos Neves

(IJSN 2015) e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2014) imagens

orbitais gratuitas do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI bandas 2-3-4 e 8 (Pan) oacuterbita 216

ponto 73 com datas de passagem em 02012014 e 22032014 agraves 946 (horaacuterio central

da oacuterbita) junto ao Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2014) aleacutem do ortofotomosaico

do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hiacutedricos (IEMA 2014) do Espiacuterito

Santo referente ao voo de 2007 a 2008

Na segunda etapa foram realizadas duas investigaccedilotildees de campo sendo a primeira no

dia 24 de junho de 2014 com a finalidade de fazer o reconhecimento da aacuterea de estudo

fotografar e conversar com moradores e teacutecnicos da prefeitura O segundo trabalho de

campo ocorreu no dia 14 de fevereiro de 2015 e por meio deste foi possiacutevel identificar

pontos sujeitos a inundaccedilatildeo analisar a topografia e realizar as entrevistas com moradores

e funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina

37

Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC)

38

Na terceira etapa foram realizados os mapeamentos e processamentos de todos os planos

de informaccedilatildeo vetoriais e matriciais em ambiente de SIG no sistema ArcGis 103 iniciando

com a ediccedilatildeo dos dados do Municiacutepio e adjacecircncias que foram ajustados quando

necessaacuterio ao sistema de projeccedilatildeo UTM no Datum SIRGAS ndash 2000 na Zona 24 sul com

meridiano central -39 W com todo o mapeamento produzido seguindo a padronizaccedilatildeo

cartograacutefica proposta por Fitz (2008 a b)

O geoprocessamento teve iniacutecio com a composiccedilatildeo das imagens orbitais do Landsat-8 na

cor natural da imagem (2R 3G 4B) e por meio da teacutecnica de Pan Sharpening ou fusatildeo

de imagens a imagem cor natural foi agrupada agrave da banda 8 pancromaacutetica para obtenccedilatildeo

de uma melhor resoluccedilatildeo espacial neste caso chegando a 15 metros sendo resguardado

o conteuacutedo da imagem composta Na sequecircncia foi realizada a extraccedilatildeo da maacutescara do

periacutemetro urbano de Colatina e gerada a classificaccedilatildeo supervisionada da imagem Landsat-

8 no periacuteodo de cheia (janeiro) e vazante (marccedilo) o que possibilitou a delimitaccedilatildeo da calha

do Doce nestes dois eventos

Em seguida foram realizadas as 8 (oito) mediccedilotildees do leito regular sendo 4 (quatro) no

periacuteodo de cheia e 4 (quatro) na vazante de modo a definir a largura meacutedia da calha do

leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina Para chegar a uma medida geral

da largura do rio utilizaram-se ferramentas estatiacutesticas como a meacutedia que eacute uma medida

de tendecircncia central onde numa amostra de tamanho N constituiacuteda por elementos de x

variando de eacute possiacutevel extrair a meacutedia aritmeacutetica atraveacutes da equaccedilatildeo

A meacutedia aponta para onde mais convergem os dados de uma distribuiccedilatildeo

A partir desta definiccedilatildeo da meacutedia da largura da calha do Rio Doce foi possiacutevel em consulta

ao Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e a Lei 52732007 determinar a faixa miacutenima

de preservaccedilatildeo permanente deste corpo fluvial aleacutem da confecccedilatildeo do mapa com o

poliacutegono de APP

Mediante a anaacutelise do mapa verificou-se que grande parte dos bairros do municiacutepio estatildeo

contidos nos poliacutegonos de APP em especial a preservaccedilatildeo de 500 metros conforme lei

federal E por meio deste foram cruzados os dados de vazatildeo as fotos histoacutericas das

enchentes e o poliacutegono de mata ciliar o que permitiu o entendimento das inundaccedilotildees

39

Em ambiente de SIG tambeacutem foram vetorizados os trecircs traccedilados da Estrada de Ferro

Vitoacuteria a Minas o trajeto do Rio Santa Maria do Doce antes e depois da retilinizaccedilatildeo e os

sucessivos aterros na margem direita do Rio Doce no periacutemetro que compreende a Av

Beira-Rio

As teacutecnicas de sensoriamento remoto como a classificaccedilatildeo supervisionada permitiram a

definiccedilatildeo do poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo atraveacutes da imagem da cheia de janeiro Para

tanto foi realizada tambeacutem a classificaccedilatildeo hiacutebrida objetivando aliar a interpretaccedilatildeo visual

com a digital (JENSEN 2009) Por fim foi realizada amarraccedilatildeo com o levantamento

geodeacutesico da CPRM (2014) para garantir a precisatildeo do traccedilado do poliacutegono de cheia

A partir do tratamento dos dados bibliograacuteficos cartograacuteficos e imagens foi possiacutevel

sistematizar este trabalho o que permitiu identificar elementos histoacutericos de intervenccedilatildeo

na paisagem do Doce como os aterros e a ocupaccedilatildeo urbana As visitas de campo a

entrevista e conversas com moradores foram fundamentais para a validaccedilatildeo das

informaccedilotildees o que tornou esta metodologia eficaz para anaacutelise do fenocircmeno da inundaccedilatildeo

em Colatina

40

4 RESULTADOS

41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana

A ocupaccedilatildeo ao longo das planiacutecies de inundaccedilatildeo dos rios tem ocorrido diante da

necessidade deste recurso para as atividades vitais humanas Cunha (2012b p219)

entende que ldquosuas margens tecircm sido o centro preferido da habitaccedilatildeo humana e o

suprimento de suas aacuteguas natildeo soacute fertiliza os campos para o cultivo como tambeacutem fornece

energia e permite recreaccedilatildeordquo Logo o estabelecimento das vilas nas bordas dos cursos

drsquoaacutegua favorece a logiacutestica ocupacional

Historicamente em solo espiacuterito-santense a formaccedilatildeo das vilas ocorreu agraves margens de

estrateacutegicos cursos drsquoaacutegua e a exploraccedilatildeo do ouro de Minas Gerais para Albani (2012)

determinou que a Coroa proibisse nos seacuteculos XVII a XIX a implantaccedilatildeo de estradas e

exploraccedilatildeo de terras na Capitania do Espiacuterito Santo pois os portugueses temiam incursotildees

estrangeiras deixando assim o desenvolvimento capixaba restrito agrave faixa litoracircnea

Relegada enquanto ldquobarreira verderdquo para defesa das minas de ouro e minerais do atual

territoacuterio das Minas Gerais segundo Coelho (2007) a Capitania do Espiacuterito Santo soacute

passou a se interiorizar para o centro-oeste onde se localiza atualmente a cidade de

Colatina a partir de 1847 por meio das ocupaccedilotildees de Santa Izabel e Santa Leopoldina

que permitiram a descida do Rio Santa Maria do Doce ateacute as imediaccedilotildees da atual cidade

de Colatina

Assim foi que o movimento colonizador desceu o vale do Santa Maria do Rio Doce atingindo em 1891 a regiatildeo das matas onde hoje se acha a cidade de Colatina [] Esta penetraccedilatildeo inicial foi feita com elementos alematildees de Santa Leopoldina e no rio Doce ficou muito anos restrita agrave aacuterea inicial A expansatildeo ao longo do vale tomou impulso com a chegada a Colatina em 1906 dos trilhos da Estrada de Ferro Diamantina (atual Vitoacuteria-Minas) (STRAUCH1955 apud COELHO 2007 p105)

Sendo assim Coelho (op cit) relata que a ocupaccedilatildeo se deu atraveacutes da supressatildeo da mata

nativa no baixo curso do Rio Doce de Colatina a Linhares sendo a madeira daiacute extraiacuteda

levada ateacute o rio e encaminhada ateacute Povoaccedilatildeo vilarejo junto agrave foz de onde eram carregados

os navios Neste periacuteodo tem-se a instalaccedilatildeo de um ciclo madeireiro na regiatildeo com a

disposiccedilatildeo de serrarias nas proximidades das matas

41

Todavia somente a partir de 1906 com a chegada da estrada de ferro na regiatildeo o

transporte madeireiro foi transferido para as locomotivas Agrave medida que a implantaccedilatildeo da

Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas avanccedilava para o interior levava consigo as frentes de

desmatamento modificando as paisagens das margens do Rio Doce e se apropriando dos

espaccedilos deste rio (Figura 9)

Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906 Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce Fonte Albani (2012 p 63)

Conforme Albani (2012) com a vinda dos mineiros e fluminenses reforccedilados

posteriormente a partir de 1889 por colonizadores italianos e alematildees eacute que as

ocupaccedilotildees territoriais ocorreram de modo efetivo Atraveacutes do Barracatildeo do Rio Santa Maria

(Figura 10) espaccedilo do governo inicialmente destinado a alojar os migrantes e a produccedilatildeo

surgiram as primeiras residecircncias nas proximidades da igreja de Satildeo Sebastiatildeo Sendo

assim

Eacute importante destacar que o desenvolvimento da regiatildeo onde se encontra o municiacutepio de Colatina teve iniacutecio no final do seacuteculo XIX no nuacutecleo de colonizaccedilatildeo Antocircnio Prado localizado no distrito de Boapaba antiga vila do Mutum O nuacutecleo recebeu dezenas de famiacutelias de imigrantes italianos e ali desenvolveram atividades de agricultura e com a expansatildeo da localidade surge tambeacutem o comeacutercio (ALBANI 2012 p61) [hellip] A vila de Colatina entretanto logo passou a se transformar no principal nuacutecleo e futuramente na sede do municiacutepio Aleacutem da facilidade da produccedilatildeo atraveacutes do Rio Doce a vila de Colatina tornou-se referecircncia dos imigrantes no caminho para a colonizaccedilatildeo das terras ao norte do estado (MADURO1985 apud ALBANI 2012 p62)

42

Desse modo com o desenvolvimento das atividades de cafeicultura madeireira e do

entroncamento logiacutestico de acesso agraves aacutereas do norte a vila eacute elevada em 1921 agrave categoria

de municiacutepio A atual configuraccedilatildeo territorial foi adquirida a partir de 2001 conforme IBGE

(2014) dispondo de seis distritos Colatina (sede) Acircngelo Frechiami Baunilha Boapaba

Graccedila Aranha e Itapina

Cabe destacar poreacutem que a ocupaccedilatildeo inicial da cidade de Colatina se perfaz pela margem

direita do Rio Doce onde se localiza o atual bairro de Colatina Velha e onde havia se

instalado o Barracatildeo de Santa Maria Nesse periacuteodo a ponte ainda natildeo fora edificada

limitando assim a ocupaccedilatildeo da margem esquerda

Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da regiatildeo Fonte Albani (2012 p62)

Conforme Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p65) a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro

Vitoacuteria a Minas em 1906 (Figura 11) possibilitou a expansatildeo da cidade de Colatina e seu

desenvolvimento econocircmico Todavia sua instalaccedilatildeo paralela agrave margem direita do Rio

Doce favoreceu a localizaccedilatildeo de avenidas e ruas centrais em sua proximidade

43

Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p65)

Entretanto foi com a construccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos (Figura 12) em 1928 que a

margem direita se conectou agrave margem esquerda da cidade o que aleacutem de possibilitar a

ocupaccedilatildeo facilitou o acesso agraves regiotildees mais ao norte do Estado

Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p66)

44

Por conseguinte a estrada de ferro e a ponte foram os fatores determinantes para o

estabelecimento dos migrantes agraves margens do Rio Doce e a formaccedilatildeo do atual municiacutepio

de Colatina Contudo foi a partir desta posiccedilatildeo privilegiada que a cidade passou a ser

entreposto comercial e logiacutestico da regiatildeo noroeste e com isso sua aacuterea urbana expandiu-

se de modo desordenado inicialmente ao longo da planiacutecie de inundaccedilatildeo do Doce Coelho

(2007 p108 e 109) relata que

Os efeitos dessa urbanizaccedilatildeo (novos parcelamentos) e do desmatamento produz [sic] normalmente o aumento da velocidade das aacuteguas superficiais (pluviais) que eram antes interceptadas pelas matas com boa parte absorvida pelo solo O que ocorre geralmente nessas aacutereas eacute a chegada mais raacutepida das aacuteguas das chuvas para o tributaacuterios e calha principal do rio por fluxos concentrados que provocam processos de erosotildees do tipo laminar ravina e voccediloroca transportando quantidades expressivas de sedimentos que por sua vez causam assoreamento e a ocorrecircncia de cheias mais frequentes no rio

Com o crescimento acelerado do periacutemetro urbano proporcionado pelo apogeu do ciclo

cafeeiro as proacuteximas deacutecadas levaratildeo a cidade de Colatina a sofrer com impactos

advindos das alteraccedilotildees no ambiente fluvial do Rio Doce em especial os referentes a

ocupaccedilatildeo (impermeabilizaccedilatildeo) e desmatamento das margens (interferecircncia na drenagem

natural) conforme destacado por Coelho (2007)

Eacute fato que o municiacutepio viveu nas deacutecadas de 1940 e 1950 o auge do ciclo cafeeiro

chegando a ser no ranking brasileiro o 13ordm municiacutepio produtor de cafeacute no ano de 1947

(CAMPOS JUNIOR 2004 apud ALBANI 2012 p69) Poreacutem a partir de 1960 este boom

entrou em colapso com crise do cafeacute que assolou todo o paiacutes levando grande parte dos

pequenos proprietaacuterios rurais a migrarem para centros urbanos em especial no Espiacuterito

Santo a regiatildeo da Grande Vitoacuteria e tambeacutem para o centro de Colatina

Em razatildeo da crise cafeeira a populaccedilatildeo rural migra para centros urbanos A populaccedilatildeo migrou em grande quantidade para a Grande Vitoacuteria para fora do estado e tambeacutem para a cidade de Colatina principal aglomerado urbano da regiatildeo Esse processo provoca o aumento da aacuterea urbana de Colatina A populaccedilatildeo da cidade que era de 3913 habitantes em 1940 cresceu para 26757 habitantes em1960 (ALBANI2012 p71)

O crescimento raacutepido do centro de Colatina aliado ao aumento populacional direciona

grande parte dos migrantes para as aacutereas menos centrais da cidade levando agrave ocupaccedilatildeo

de locais irregulares como os morros e as margens direita e esquerda do Rio Doce Este

45

processo configurou a nova paisagem do municiacutepio povoando do vale agraves encostas (Figura

13)

Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes Fonte Albani (2012 p73)

Associado a este processo de reconfiguraccedilatildeo espacial nas proacuteximas deacutecadas o municiacutepio

de Colatina passaraacute por sucessivas perdas de territoacuterios ateacute atingir os limites atuais (Figura

1 p17) Aliado a estas perdas territoriais seu quantitativo absoluto populacional tambeacutem

sofreraacute impactos poreacutem de modo geral a populaccedilatildeo urbana deste municiacutepio apresentou

crescimento continuo (Graacutefico 2)

Graacutefico 2

Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 2010

Elaborado pela autora Fonte 1940 e 1950 Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p82) 1960 a 2010 IBGE

0

20000

40000

60000

80000

100000

120000

1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020

Populaccedilatildeo Urbana Colatina 1940 - 2010

46

Assim como tem ocorrido nas grandes capitais Colatina cresceu em quantitativo

populacional e territorial urbano de modo muito raacutepido e por este desenvolvimento natildeo ter

sido aliado a um planejamento urbano e ambiental sustentaacutevel a cidade tem sentido os

reflexos das suas interferecircncias ao longo do canal do Doce O que tem provocado

antecipaccedilatildeo dos picos de vazatildeo que no periacutemetro urbano ocasiona as inundaccedilotildees pois

natildeo conseguindo o rio acomodar estes defluacutevios transfere em curto espaccedilo de tempo as

aacuteguas a sua planiacutecie de inundaccedilatildeo atingindo os bairros mais antigos do municiacutepio

Por fim entender o contexto histoacuterico do crescimento da cidade revela muito do panorama

atual E por meio de uma anaacutelise conjunta da histoacuteria com os novos planejamentos eacute

possiacutevel propor intervenccedilotildees urbanas que possibilitem um conviacutevio harmonioso entre

natureza e sociedade neste caso entre o Rio Doce e o centro de Colatina Diante desta

proposta adiante apresentaremos a evoluccedilatildeo dos bairros associando seus periacuteodos de

ocupaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo espacial nas imediaccedilotildees do curso principal do Doce

411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade

Com nuacutecleo inicial de povoamento no Barracatildeo de Santa Maria a cidade de Colatina

cresce a partir deste ponto agrave margem direita do Rio Doce de onde surgem as primeiras

residecircncias comeacutercios e a igreja Atualmente a regiatildeo compreende o bairro de Colatina

Velha que de acordo com Albani (2012 p91) [hellip] ldquopode ser considerado o primeiro polo

de crescimento da cidaderdquo

Aliado ao aumento da populaccedilatildeo migrante das fazendas com a crise do cafeacute o nuacutecleo de

Colatina Velha passa a ser um ponto de passagem obrigatoacuterio para os viajantes que

vinham majoritariamente do sul uma vez que o Rio Doce configurava uma barreira natural

agrave ocupaccedilatildeo das terras ao norte Aleacutem disso a margem esquerda deste canal fluvial era

habitat dos hostis iacutendios botocudos o que dificultava a sua apropriaccedilatildeo

Sendo assim a ocupaccedilatildeo de Colatina conteve-se agrave margem direita nesta primeira fase o

que define o primeiro vetor de crescimento da cidade na direccedilatildeo leste para oeste partindo

das imediaccedilotildees do Barracatildeo de Santa Maria sentido ao Rio Santa Maria do Doce (Figura

14) E a partir de 1906 com a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas da entatildeo

Companhia Vale do Rio Doce atual Vale este vetor de crescimento se consolida e

47

proporciona o surgimento de importantes avenidas paralelas agrave ferrovia a exemplo da Av

Getuacutelio Vargas

Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de crescimento Elaborado pela autora

48

O segundo vetor do crescimento de Colatina estava condicionado agrave construccedilatildeo da ponte

Florentino Aacutevidos a qual conectou a margem direita agrave esquerda do Rio Doce permitindo

a ocupaccedilatildeo da porccedilatildeo ao norte Portanto somente a partir de 1928 com a finalizaccedilatildeo da

obra da ponte a barreira natural pocircde ser transposta o que possibilitou ao lado esquerdo

desenvolver uma nova linha de crescimento urbano com a ocupaccedilatildeo do atual bairro de

Satildeo Silvano

O terceiro vetor de crescimento estaacute associado agrave implantaccedilatildeo do bairro Luiz Iglesias na

margem direita e os de Maria das Graccedilas e Coluacutembia na margem esquerda Albani (2012)

ressalta que esta fase da ocupaccedilatildeo urbana estaacute associada ao desenvolvimento do sistema

viaacuterio como a proximidade da BR-259 sentido Vitoacuteria- Colatina da ES-80 que liga

Colatina agrave regiatildeo norte da ES-256 que a conecta a Marilacircndia e da proximidade da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria Carlos Germano Nauman (Figura 15)

Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios e linhas feacuterreas que interceptam a cidade de Colatina Elaborado pela autora

Jaacute na quarta e mais recente linha de crescimento da cidade temos os novos loteamentos

residenciais e industriais a exemplo do de Barbados e do bairro Santa Helena que surgem

49

acompanhando o traccedilado da ponte que contorna a leste a cidade como novo acesso agrave

porccedilatildeo norte do estado Albani (2012 p118) destaca que

Apesar da construccedilatildeo da Segunda Ponte ter sido iniciada em 1986 somente foi inaugurada em 2007 A conclusatildeo da ponte e a construccedilatildeo de uma rodovia de contorno desviaram a BR-259 do centro da cidade O desvio da rodovia federal trouxe um desafogamento do tracircnsito nas principais vias da cidade e um novo direcionamento na expansatildeo urbana Alguns loteamentos surgiram nesse periacuteodo proacuteximo agrave Segunda Ponte e ao contorno na margem norte do rio principalmente no bairro Santa Helena (Figura 55) Essa situaccedilatildeo indica mais uma vez que as linhas de crescimento em Colatina satildeo orientadas pelas vias de transporte

Portanto o crescimento do periacutemetro urbano de Colatina estaacute associado agrave superaccedilatildeo das

barreiras naturais em especial o Rio Doce por meio de investimentos em obras de

engenharia que permitiram o deslocamento humano para a margem esquerda deste curso

Sem duacutevida as vias de transporte foram elementares na construccedilatildeo do periacutemetro urbano

de Colatina pois na medida que se consolidava o sistema viaacuterio as ocupaccedilotildees tambeacutem se

favoreciam destas vias de locomoccedilatildeo A evoluccedilatildeo da aacuterea urbana portanto acompanha

as principais vias de transporte (Figura 15 p45) e estas se utilizam da posiccedilatildeo estrateacutegica

e geograficamente favoraacutevel do canal do Doce para a definiccedilatildeo de seus traccedilados

Apoacutes 94 anos de emancipaccedilatildeo de Linhares o territoacuterio de Colatina eacute fundamental para a

manutenccedilatildeo dos municiacutepios do noroeste capixaba Diante desta posiccedilatildeo estrateacutegica torna-

se relevante o entendimento de como o urbano se relaciona com o meio natural a fim de

se estabelecer poliacuteticas de ordenamento territorial que promovam a qualidade de vida no

municiacutepio Adiante seraacute analisada a situaccedilatildeo da calha principal do Rio Doce elemento

fundamental na compreensatildeo do uso e cobertura da terra de Colatina

42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce

Compreendendo uma aacuterea de 3330 kmsup2 o periacutemetro urbano de Colatina eacute afetado pela

velocidade dos defluacutevios de modo que grande parte dos bairros beira-rio eacute tomada pelas

aacuteguas excedentes da calha principal do Doce o que configura o fenocircmeno de inundaccedilatildeo

Ao pesquisar estes fenocircmenos eacute necessaacuterio relacionar o uso da terra com os processos

geomorfoloacutegicos do corpo hiacutedrico Sendo assim por meio de teacutecnicas de

geoprocessamento foram realizadas oito mediccedilotildees da calha principal do Rio Doce para

50

estabelecimento da distacircncia meacutedia da largura de sua calha O resultado esteve dentro do

esperado e pode ser verificado na tabela abaixo (Tabela 1) e no mapa em sequecircncia

(Figura 16)

Tabela 1 Perfis transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de

vazante (abril) e cheia (janeiro)

Largura do rio Doce periacuteodo de vazante e cheia

Abril2013(m) Janeiro2014(m)

P1 70735 75784

P2 62080 66483

P3 59209 65804

P4 63548 67650

Meacutedia dos Perfis 62814 67066

Meacutedia Geral 66143 Obs todas as medidas estatildeo em metros

Elaborado pela autora

Figura 16 - Traccedilado dos perfis transversais da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de vazante mecircs de abril2013 Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)

51

Com uso das imagens orbitais do Landsat-8 atraveacutes da classificaccedilatildeo hiacutebrida foram

gerados dois arquivos shapefiles correspondentes agraves bordas do Doce um no periacuteodo de

vazante e outro no de cheia Por meio destes dados foram definidos quatro traccedilados para

realizaccedilatildeo das mediccedilotildees a partir destas e com auxiacutelio das medidas de tendecircncia central

chegou-se a uma largura meacutedia total de 66143m de uma margem a outra Este resultado

indicou que tanto no periacuteodo de vazante quanto no periacuteodo de cheia a largura meacutedia

aponta para a maior faixa de APP proteccedilatildeo de 500m conforme previsto na legislaccedilatildeo

federal (Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e no revogado Lei 4771 1965)

Analisando a imagem abaixo (Figura 17) observa-se que grande parte do solo

naturalmente destinado a ldquoacomodaccedilatildeordquo das aacuteguas nas cheias (linha laranja) foi

incorporado agrave sociedade como espaccedilo criado (periacutemetro urbano em APP mancha em

amarelo) destinado a fins muacuteltiplos Deste modo sem planejamento territorial adequado

grande parte da planiacutecie de inundaccedilatildeo deu lugar a outras funccedilotildees diferentes das naturais

sendo incorporada ao espaccedilo urbano

Lanccedilando o buffer (mancha em amarelo) do entorno da calha do Doce (Figura 17) observa-

se que dos 59 bairros do municiacutepio cerca de 29 estatildeo dentro da aacuterea de 500m destinada

a preservaccedilatildeo permanente pelo Coacutedigo Florestal Considerando-se a delimitaccedilatildeo da APP

prevista no PDM de 1996 e 2007 (linha laranja mais proacutexima da borda do rio) este nuacutemero

cai para 18 bairros permanecendo apenas aqueles que possuem limites com o corpo

hiacutedrico

Uma vez que que lei municipal natildeo suplanta lei federal considerar-se-aacute neste estudo o

limite da faixa marginal de proteccedilatildeo definida na Lei Federal 126512012 Deste modo a

aacuterea de preservaccedilatildeo permanente do Doce neste recorte eacute de 1085 kmsup2 compreendendo

33 do periacutemetro urbano de Colatina

Cabe destacar ainda que mesmo o PDM de 1996 contendo enquanto objetivo no Art 14

ldquoI - estabelecer a ordenaccedilatildeo do uso e da ocupaccedilatildeo do solo urbanordquo (Lei 42281996 p4)

a gestatildeo municipal natildeo obteve sucesso na implementaccedilatildeo de tal legislaccedilatildeo O que se

verifica tanto nas deacutecadas de 1990 quanto no iniacutecio dos anos 2000 quando foram

aprovados novos parcelamentos urbanos agraves margens deste canal a exemplo dos bairros

de Barbados na margem direita e do bairro Mario Giurizato na margem esquerda

52

Figura 17- Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)

53

Articulado a esta ideia e pesquisando o trecho do bairro Esplanada a Colatina Velha palco

das uacuteltimas obras estruturantes de alto porte do municiacutepio consegue-se analisar os efeitos

das inundaccedilotildees nas margens deste rio Logo implementar medidas de prevenccedilatildeo de

cheias em aacutereas com urbanizaccedilotildees antigas requer um esforccedilo da gestatildeo na regulaccedilatildeo do

solo urbano

421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie

de Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio

Interceptada pelo curso do Rio Doce no perfil mais a jusante da bacia a cerca de 100km

do estuaacuterio com o Oceano Atlacircntico a cidade de Colatina polo moveleiro e de confecccedilotildees

do centro-oeste capixaba eacute palco recorrente de inundaccedilotildees urbanas

Conforme jaacute mencionado por Cunha (2012a) este fenocircmeno ocorre quando a bacia recebe

um percentual precipitado acima da sua capacidade de escoamento o que faz o leito

menor do rio extravasar para o leito maior ocupando as aacutereas de vaacuterzeas (Figura 18 p

50) Aliadas a esta questatildeo estatildeo as ocupaccedilotildees humanas das margens dos rios que ao

suprimir a vegetaccedilatildeo natural e alterar a condiccedilatildeo fiacutesica do solo acabam por reduzir a aacuterea

de drenagem das aacuteguas pluviais acelerando o escoamento superficial para o canal

principal e favorecendo os defluacutevios

Figura 18 - Representaccedilatildeo da inundaccedilatildeo urbana Fonte adaptado da Defesa Civil do Tocantins (2015)

Este fenocircmeno tem ganhado destaque em Colatina a partir de 1979 ano em que o Rio

Doce atingiu a vazatildeo de 12860msup3s tomando toda aacuterea aplainada que compotildee seu leito

maior afetando da atual Av Beira-Rio ateacute as redondezas da Av Getuacutelio Vargas Desde

entatildeo os estudos das inundaccedilotildees urbanas satildeo relevantes no municiacutepio o que levou o

54

Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) na deacutecada de 1980 a elaborar um ldquoPlano Diretor

de Contenccedilatildeo das Enchentes Proteccedilatildeo das Encostas e Drenagem Pluvial de Colatinardquo

Tal medida apresentou seis alternativas para o fenocircmeno Poreacutem tendo em vista o custo

operacional das obras apenas a alternativa seis que previa a construccedilatildeo de diques

marginais para a proteccedilatildeo das aacutereas mais centrais foi considerada viaacutevel na eacutepoca

Todavia em entrevistas com funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina (PMC) foi

relatado que todo o estudo foi arquivado e que ateacute agora natildeo haacute previsatildeo de

implementaccedilatildeo de tais medidas Fato este que eacute evidenciado (Tabela 2 p 51) quando da

ocorrecircncia de precipitaccedilotildees intensas na bacia durante as quais sazonalmente a cidade eacute

impactada com as aacuteguas das inundaccedilotildees Isto faz com que o municiacutepio passe

recorrentemente por cataacutestrofes conforme tabela com os principais picos de vazatildeo do rio

nos uacuteltimos 50 anos

Tabela 2

Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013

Ano Diamecircs Vazatildeo(msup3s)

1961 30jan 6613

1979 04fev 12860

1997 07jan 8687

2005 03ago 6549

2013 24dez 9028

Fonte Coelho (2007 apud DALLAPICOLA 2014 p4) e CPRM (2014 p85) Observo que os dados da tabela 1 para os anos de 1979 e 2013 estatildeo baseados na estimativa de vazatildeo meacutedia diaacuteria das maacuteximas anuais obtida atraveacutes de extrapolaccedilatildeo da curva-chave pelo grupo interdisciplinar dos relatoacuterios criacuteticos anteriores

As inundaccedilotildees de 1979 1997 e recentemente 2013 (Figura 19) foram as de maior vazatildeo

neste setor do rio e consequentemente as que mais atingiram a aacuterea urbana do municiacutepio

bloqueando os acessos ao centro da cidade e aos equipamentos essenciais como

hospitais escolas e demais oacutergatildeos puacuteblicos aleacutem de desalojarem muniacutecipes e

comprometerem a sauacutede puacuteblica

55

Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de 1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 Fonte1) Nossa Colatina 2) Nossa Linda Colatina 3) Nossa Colatina

Com o propoacutesito de identificar os principais fatores que acentuam as inundaccedilotildees seraacute

analisado como os processos geomorfoloacutegicos do Doce estatildeo sendo afetados pela accedilatildeo

antroacutepica Limitaremos a anaacutelise ao periacutemetro urbano no trecho que compreende do bairro

Esplanada ateacute o bairro Colatina Velha (Figura 20) Neste periacutemetro eacute possiacutevel visualizar a

evoluccedilatildeo da mancha urbana sobre o leito do rio aleacutem de identificar na margem direita os

pontos desnaturalizados deste canal fluvial

56

Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2) Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do recorte em rosa da APP de 50m (amarelo claro) e 500m (amarelo escuro) Fonte 3) Encontra Colatina (2015)

57

O recorte em questatildeo eacute margeado pela Av Beira-Rio e estaacute situado (Figura 20) dentro do

buffer de preservaccedilatildeo permanente previsto no PDM (buffer de 50m) e no Novo Coacutedigo

Florestal (buffer de 500m) Apesar desta aacuterea ser destinada a mata nativa e ou

reflorestada a ocupaccedilatildeo urbana antecede os artigos legais o que dificulta poliacuteticas de

gestatildeo territorial em um periacutemetro ao mesmo tempo histoacuterico e com funccedilatildeo relevante no

equiliacutebrio hidroloacutegico da bacia

O periacutemetro faz parte da vaacuterzea da margem direita do Rio Doce pois encontra-se em cota

topograacutefica de 50m caracterizando sua planiacutecie Logo a aacuterea em questatildeo tem a funccedilatildeo de

acomodar as aacuteguas das cheias quando a calha principal natildeo comporta o escoamento de

grandes vazotildees Esta tarefa passa a ser prejudicada na medida em que na bacia ou no

curso original satildeo implementadas obras que interferem na morfologia do corpo hiacutedrico

principal como a instalaccedilatildeo das hidreleacutetricas de Mascarenhas (1974) e Aimoreacutes (2005) a

montante

As UHErsquos a montante comprometem os processos do rio uma vez que o regime natural de

transporte de sedimentos eacute alterado com o barramento o que favorece a erosatildeo e

consequentemente o assoreamento com a formaccedilatildeo de bancos arenosos alteraccedilatildeo do

seu perfil transversal e reduccedilatildeo da profundidade Aleacutem disso segundo Coelho (2007) as

vazotildees maacuteximas e miacutenimas foram alteradas com a implantaccedilatildeo das hidreleacutetricas a

montante implicando em vazotildees meacutedias anuais miacutenimas cada vez mais reduzidas com

valores se distanciando da linha de tendecircncia (polinocircmio) provando o natildeo equiliacutebrio da

vazatildeo apoacutes a implantaccedilatildeo das barragens (Graacutefico 1 p22)

Entretanto a primeira intervenccedilatildeo direta no trecho em estudo foi a instalaccedilatildeo da estrada

de ferro que atraiu migrantes para Colatina permitindo o crescimento populacional e a

expansatildeo urbana desordenada agraves margens do Doce Este crescimento intensificou a

supressatildeo das matas ciliares e abriu espaccedilo para a impermeabilizaccedilatildeo do solo reduzindo

a infiltraccedilatildeo

Posteriormente a inauguraccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos ampliou o fluxo na regiatildeo pois

proporcionava a ligaccedilatildeo com as terras ao norte do Estado Atuou tambeacutem como obstaacuteculo

ao transporte de sedimentos carreados no fluxo natural do rio uma vez que sua

implantaccedilatildeo altera a topografia do fundo do canal afetando os processos geomorfoloacutegicos

58

Poreacutem foi no Morro das Cabritas (colina localizada no espaccedilo que compreende o atual

bairro Esplanada) que ocorreu a primeira desnaturalizaccedilatildeo nas margens do Doce Este

morro por onde o Rio Santa Maria do Doce meandrava ateacute desaguar no Rio Doce foi

cortado em meados de 1953 para abrigar a cidade em expansatildeo Devido a esta

intervenccedilatildeo o curso original do Santa Maria foi deslocado e passou a escoar

retilineamente ateacute a foz (Figura 21)

Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponte Florentino Aacutevidos (direita) e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque em vermelho para o curso atual do Santa Maria Fonte Nossa Colatina

As intervenccedilotildees na margem direita tornam-se mais intensas a partir da deacutecada de 1960

quando no ano de 1968 edificou-se um muro visando a proteccedilatildeo dos pilares da

extremidade direita da ponte Esta obra ficou paralisada por muitos anos e foi a primeira

de retificaccedilatildeo e aterro realizada neste trecho do rio Esta intervenccedilatildeo modificou o fluxo

natural das correntes do rio e reduziu a largura da sua calha alterando a morfologia do

canal (Figura 22)

59

Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de proteccedilatildeo da ponte Elaborado pela autora Fonte fotos histoacutericas Nossa Colatina

Contudo somente em 1972 teve iniacutecio o segundo aterro (Figura 23) com a finalidade de

alocar a estaccedilatildeo rodoviaacuteria de Colatina e ampliar a aacuterea de acesso agrave ponte Florentino

Aacutevidos A implementaccedilatildeo desta obra suprimiu parte do leito do Rio Doce pois removeu a

saliecircncia cocircncava que curvava o rio retilinizando esta parte do canal

60

Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora Fonte Nossa Colatina Nossa Linda Colatina

Apoacutes dez anos sem grandes intervenccedilotildees em 1982 o lado a montante da ponte bairro

Esplanada eacute acrescido de um aterro que estenderaacute a aacuterea do antigo Morro das Cabritas

para o rio (Figura 24)

Conhecido como Rua da Lama devido agrave umidade que o rio transferia ao aterro formando

um barro viscoso que persistia a maior parte do ano o trecho atualmente compreende a

Avenida Professor Joseacute Zouian popularmente denominada Avenida Beira-Rio de onde

surge a primeira forma do calccediladatildeo que seraacute estendido ateacute o bairro Colatina Velha

61

Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o calccediladatildeo da Av Beira-Rio Elaborado pela autora Fonte Bennachio (2015)

Somente em 2004 foi implementado o maior projeto de canalizaccedilatildeo do municiacutepio Naquele

ano teve iniacutecio a execuccedilatildeo do enrocamento da Av Beira-Rio (Figura 25) obra destinada

inicialmente a alocaccedilatildeo de equipamentos puacuteblicos de lazer e cultura praccedilas preacutedios aleacutem

da promessa de contribuir para a contenccedilatildeo dos transbordamentos do Rio Doce

Apesar de o referido manancial jaacute estar comprometido com problemas de poluiccedilatildeo

assoreamento e erosatildeo aleacutem dos impactos de duas hidreleacutetricas instaladas a montante a

obra abarcou a supressatildeo da vegetaccedilatildeo ciliar e aterro de parte do rio jaacute tatildeo degradado

62

Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento iniciada em 2004 e finalizada em 2008 Elaborado pela autora Fonte proacutepria autora em 240215

Ocupando uma aacuterea total de 130 mil msup2 do leito do Rio Doce o aterro teve iniacutecio em 2004

sendo construiacutedo com cerca de 90 mil msup3 de pedras 50 mil msup3 de areia retirada do leito do

rio e por fim o nivelamento com 200 mil msup3 de terra A obra era divulgada como um antigo

sonho dos colatinenses e serviria para ampliaccedilatildeo da Av Beira-Rio no bairro de Colatina

Velha instalaccedilatildeo de ciclovias calccediladatildeo equipamentos puacuteblicos e estacionamento (Figura

26) Apesar do fim da engenharia em 2008 o projeto ainda estaacute em fase de acabamento

na parte urbaniacutestica e na alocaccedilatildeo dos oacutergatildeos puacuteblicos

Cabe destacar que a obra sofreu embargos do Ministeacuterio Puacuteblico Federal (MPF) por

apresentar apenas cadastro na Agecircncia Nacional de Aacuteguas (ANA) que conforme parecer

da Procuradora Nadja Machado Botelho na Accedilatildeo Civil Puacuteblica ldquo[hellip] equivocadamente natildeo

realizou o procedimento de outorga [hellip]rdquo (MPF 2006 p2) Aleacutem disso a procuradora

solicitou tutela tendo em vista tratar-se de aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental e o fato de o

IBAMA ter concedido licenciamento com indevida dispensa do Estudo de Impacto

Ambiental (EIA)Relatoacuterio de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA)

63

Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina Fonte Prefeitura de Colatina (2015)

Por isso essa obra deve ser considerada faraocircnica para os cofres puacuteblicos e irreversiacutevel

para os processos geomorfoloacutegicos do Doce E sua efetivaccedilatildeo soacute foi possiacutevel com a

participaccedilatildeo e investimentos do Governo estadual Contudo seu objetivo foi frustrado pois

novamente na cheia do Rio Doce em dezembro de 2013 quando este atingiu a vazatildeo de

9028 msup3s a aacuterea foi inundada e por estar em cota maior que as casas que beiravam o

rio o enrocamento atuou como represa natildeo permitindo o retorno das aacuteguas quando o niacutevel

do rio retomou o equiliacutebrio

Por fim segue um mapa siacutentese (Figura 27) com a cartografia das quatro principais

intervenccedilotildees diretas e estruturais na margem direita do Doce no setor urbano de Colatina

representando o curso natural do rio em 1950 e suas desnaturalizaccedilotildees a partir da deacutecada

de 60 ateacute a atualidade

64

Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce ante e depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora

65

422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio

O recorte em estudo compreende as Zonas ZE-1 ZE-2 e ZUD 2-1 (Figura 28 p61) sendo

a Zona Especial 1 Zona Especial 2 e Zona de Uso Diverso 2-1 destinadas no PDM (Lei

52732007)

Artigo 103 - As Zonas de Usos Diversos ndash ZUD satildeo definidas em razatildeo da concentraccedilatildeo de atividades urbanas diversificadas com predominacircncia do uso comercial e de serviccedilos Artigo 104 - Satildeo objetivos das Zonas de Usos Diversos I - otimizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do solo priorizando a instalaccedilatildeo de novos empreendimentos em terrenos natildeo edificados contiacuteguos a empreendimentos jaacute instalados II - controle da implantaccedilatildeo de usos incompatiacuteveis com os definidos para estas zonas III - garantia de licenciamento e monitoramento ambiental dos empreendimentos IV - controle da expansatildeo comercial de serviccedilos e de induacutestrias de pequeno porte em direccedilatildeo a aacutereas residenciais [] Artigo 130 - As Zonas Especiais 1 ndash ZE 1 abrangem todas as aacutereas remanescentes do municiacutepio relativamente ao zoneamento estabelecido nesta lei ocupadas ou natildeo contida na lei de periacutemetro urbano para as quais natildeo foram ainda estabelecidos os criteacuterios de uso e ocupaccedilatildeo Artigo 131 - As Zonas Especiais 2 ndash ZE 2 satildeo as aacutereas existentes no prolongamento da avenida Beira Rio mais especificamente no trecho entre o 80 Batalhatildeo da Poliacutecia Militar e a rua Pedro Epichin incluindo o espaccedilo existente entre a margem do Rio Doce e o limite das construccedilotildees localizadas na rua Pedro Epichin

Cabe destacar que mesmo sendo palco das aacutereas mais afetadas com as inundaccedilotildees do

Rio Doce a Beira-Rio tem sido alvo da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria que aproveitando-se dos

iacutendices pouco restritos da ZUD 2 (Figura 28 p62) valoriza o espaccedilo promovendo a

instalaccedilatildeo de grandes estruturas como hipermercados edifiacutecios residenciais modernos e

hotelaria

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Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 Fonte Colatina (2007)

A aacuterea contida na ZE (Figura 28) natildeo possui criteacuterio de ocupaccedilatildeo definido na legislaccedilatildeo

atual sendo adotado o disposto na Lei 41961995 que estabelece os iacutendices urbaniacutesticos

para as aacutereas conquistadas junto ao Rio Doce e na Lei 420595 que aprova os

parcelamentos na Beira-Rio Quanto agrave ZUD 2-1 apresenta iacutendices urbaniacutesticos no anexo

118 do Plano Diretor conforme tabela 3 abaixo

67

Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1

Fonte Colatina (2007 p36)8

68

Eacute relevante observar que numa aacuterea onde o corpo hiacutedrico foi reduzido pelos sucessivos

aterros tenha sido aprovada a instalaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto (Figura

29) com taxa de ocupaccedilatildeo de ateacute 80 e com baixo iacutendice de permeabilidade Ampliou-

se a aacuterea impermeaacutevel numa regiatildeo onde a drenagem jaacute eacute muito comprometida com a

expansatildeo urbana sobre o rio

Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto na Beira-Rio Fonte imagem do Google Maps 2015 E fotos da autora em 140215

Portanto analisando o conjunto de dados apresentado acima eacute possiacutevel entender como

as inundaccedilotildees satildeo potencializadas no municiacutepio atingindo a populaccedilatildeo mas em especial

afetando a dinacircmica de um corpo hiacutedrico tatildeo relevante para o Estado A fim de subsidiar a

gestatildeo puacuteblica com material cartograacutefico para a tomada de decisotildees delimitou-se o

poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo (Figura 30) Pois devem ser adotadas medidas que

minimizem impactos de futuros eventos hidroloacutegicos na bacia capazes de comprometer

novamente a aacuterea urbana mais central de Colatina

69

Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av Beira-Rio em dezembro de 2013 Elaborado pela autora

70

Diante do poliacutegono de inundaccedilatildeo da uacuteltima cheia (Figura 30) em dezembro de 2013 eacute

possiacutevel implementar medidas de convivecircncia com as grandes vazotildees a exemplo de

paiacuteses como Holanda que vem investindo em medidas de resiliecircncia a fim de reduzir a

velocidade dos defluacutevios possibilitando ao canal a capacidade de acumular e dispersar as

aacuteguas com impacto miacutenimo para as populaccedilotildees Conforme Carneiro e Miguez (2011) a

estrateacutegia adotada pelo paiacutes eacute reter armazenar e drenar sendo mais flexiacutevel e natildeo

interferindo drasticamente na dinacircmica do corpo hiacutedrico

Por fim a implementaccedilatildeo de soluccedilotildees de planejamento urbano em Colatina requer uma

anaacutelise integrada que abarque o urbano e o ambiental de modo a propor intervenccedilotildees que

produzam impactos reduzidos nos processos geomorfoloacutegicos do Rio Doce Logo a gestatildeo

municipal deve atuar em niacutevel de bacia hidrograacutefica interagindo com os municiacutepios a

montante propondo medidas de minimizaccedilatildeo das cheias urbanas Mas na escala local

pode-se atuar junto aos novos parcelamentos de modo a ampliar o percentual de aacutereas

permeaacuteveis no municiacutepio incentivando por exemplo os novos loteamentos a adotarem

pavimentaccedilotildees que permitam a drenagem natural do solo

71

5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Partindo da ideia de que eacute possiacutevel implementar medidas que minimizem o escoamento

superficial satildeo apresentadas propostas como forma de controlar ou ao menos reduzir os

impactos das inundaccedilotildees urbanas

Embora as implementaccedilotildees histoacutericas de estruturas de proteccedilatildeo ou barreiras mais altas

tenham sido muito disseminadas atualmente estatildeo sendo suplantadas pelo gerenciamento

de inundaccedilotildees de maneira mais sustentaacutevel Deste modo as experiecircncias fora do Brasil

apontam para soluccedilotildees mais flexiacuteveis que considerem o fluxo natural do canal enquanto

um ecossistema em equiliacutebrio Para tanto Carneiro e Miguez (2011 p150) destacam a

iniciativa alematilde no controle de inundaccedilotildees em bacias hidrograacuteficas metropolitanas

[hellip] A abordagem comum consiste na regulaccedilatildeo do uso do solo nas aacutereas inundaacuteveis e em ldquodar espaccedilo para o riordquo ao inveacutes de priorizar investimentos em estruturas de proteccedilatildeo contra inundaccedilotildees como a colocaccedilatildeo de diques de contenccedilatildeo as margens dos rios A utilizaccedilatildeo do conceito de resiliecircncia apropriado de ecologia decorre dessa abordagem A aplicaccedilatildeo praacutetica do conceito implica portanto em mudanccedilas de paradigma Deixa de ser preponderante a engenharia construtiva e entra em cena o planejamento de longo prazo voltado para o desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis capazes de conviver com as variaccedilotildees do ciclo hidroloacutegico sem significar necessariamente trageacutedias anunciadas

Aleacutem dessas propostas geoacutegrafos como Sandra Cunha tecircm estudado a recuperaccedilatildeo

natural ou ldquorenaturalizaccedilatildeordquo de corpos fluviais visando promover a estabilidade dos canais

de modo mais sustentaacutevel Para ela

[hellip] Recuperaccedilatildeo de canal significa de forma simples o retorno as condiccedilotildees anteriores aos distuacuterbios Em essecircncia eacute o processo de recuperaccedilatildeo do rio ou do ecossistema fluvial estabilizando o desenvolvimento de habitats e colonizaccedilatildeo a uma taxa mais raacutepida que dos processos naturais fiacutesicos e bioloacutegicos Na recuperaccedilatildeo de canais ocorrem consideraccedilotildees de aspecto hidroloacutegico morfoloacutegico e ecoloacutegico qualidade da aacutegua esteacutetica aleacutem da necessidade de uma visatildeo integradora do projeto sustentaacutevel de recuperaccedilatildeo (CUNHA 2012 p230 a 231)

Satildeo portanto medidas pontuais como o retorno agraves sinuosidades do rio (Figura 31 p 68)

ou a substituiccedilatildeo de estruturas de concreto por superfiacutecies mais permeaacuteveis a exemplo

das trincheiras de infiltraccedilatildeo ou pavrsquos (Figura 32) aacutereas mais vegetadas aleacutem de coleta e

uso de aacutegua da chuva bem como tratamento das aacuteguas superficiais por meio de

72

amenidades esteacuteticas como reservatoacuterios de retenccedilatildeo ou detenccedilatildeo que podem ser

associados a ambientes harmocircnicos como lagos artificiais Todas estas accedilotildees possibilitam

a minimizaccedilatildeo das grandes vazotildees no solo urbano pois pretendem atenuar os impactos

das cheias fazendo com que seja resgatada parte da drenagem existente anteriormente agrave

urbanizaccedilatildeo

Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do Rio Aa Munster Alemanha (1998) Fonte Cunha (2012 p233)

Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos Fonte Carneiro e Miguez (2011 p128)

A partir do exposto cabe agrave gestatildeo municipal implementar legislaccedilotildees que priorizem a

permeabilidade possibilitando uma maior infiltraccedilatildeo das aacuteguas das chuvas atraveacutes de

pavimentaccedilotildees menos impermeaacuteveis e da ampliaccedilatildeo de aacutereas vegetadas Satildeo medidas

que tornam a drenagem mais sustentaacutevel aleacutem de possibilitar a manutenccedilatildeo dos serviccedilos

puacuteblicos de forma menos custosa tendo em vista o elevado preccedilo das recomposiccedilotildees

asfaacutelticas

1 2

73

Aleacutem disso quando se fala em controle de cheias urbanas pressupotildee-se uma seacuterie de

medidas para minimizaccedilatildeo de seus impactos desde a operaccedilatildeo de sistemas de alerta

zoneamento de aacutereas inundaacuteveis construccedilatildeo de grandes reservatoacuterios de contenccedilatildeo de

cheias e diques ateacute accedilotildees de educaccedilatildeo ambiental

Cabe pensar tambeacutem na proacutexima revisatildeo do PDM em um plano de macrodrenagem

municipal que reuacutena accedilotildees de caraacuteter estruturantes com obras hidraacuteulicas de infraestrutura

que realizem a conduccedilatildeo final das aacuteguas dos escoamentos superficiais para a minimizaccedilatildeo

das inundaccedilotildees e em medidas natildeo-estruturantes que trabalhem a consciecircncia ambiental

e proponha um zoneamento de cheias a fim de se delimitar os pontos mais fragilizados nos

defluacutevios

Por fim pensar em drenagem num contexto de ocupaccedilatildeo irregular histoacuterico requer

profissionais que aleacutem de possuir afinidade com a temaacutetica tambeacutem possam analisar os

diferentes processos que constituem o espaccedilo geograacutefico Logo este tipo de estudo deve

abarcar uma equipe multidisciplinar que percorra a anaacutelise desde o ambiental estrutural

ateacute o aspecto humano a fim de se produzir resultados que de fato contribuam com o

controle das inundaccedilotildees urbanas

74

6 CONCLUSAtildeO

A partir do recorte espacial foi possiacutevel compreender que a abordagem da geomorfologia

fluvial com a anaacutelise espaccedilo-temporal da ocupaccedilatildeo urbana possibilita a identificaccedilatildeo das

accedilotildees do homem no meio ambiente pois estas resultam na alteraccedilatildeo das paisagens

naturais e na dinacircmica da bacia hidrograacutefica Assim o Rio Doce deve ser estudado de

modo integrado ao crescimento da cidade sobretudo para compreensatildeo da produccedilatildeo do

espaccedilo geograacutefico

Analisar a inundaccedilatildeo urbana em Colatina foi satisfatoacuterio pois o municiacutepio estaacute situado no

perfil meacutedio-baixo da bacia vazante e eacute neste trecho que os reflexos das intervenccedilotildees satildeo

mais acentuados principalmente se esta parte do canal tambeacutem tiver passado por obras

que modificaram seus processos hidroloacutegicos Aleacutem disso a perspectiva geograacutefica aponta

para vaacuterias outras questotildees como erosatildeo fluvial planejamento urbano poluiccedilatildeo ambiental

crise da aacutegua que conduzem a outras discussotildees acerca da relaccedilatildeo homemnatureza

Ao demonstrar a evoluccedilatildeo espaccedilo-temporal do uso e cobertura da terra na margem direita

do Doce associando esta ocupaccedilatildeo agraves obras estruturantes que foram executadas no

canal verificamos que todas as praacuteticas adotadas para conter o transbordamento do rio

acabaram alterando sua morfologia com a retificaccedilatildeo de trechos em meandros reduzindo

a largura do corpo hiacutedrico o que favoreceu a apropriaccedilatildeo urbana de suas vaacuterzeas Aliadas

a estas questotildees estatildeo a falta de planejamento urbano e a omissatildeo diante da supressatildeo

das matas ciliares principalmente se considerados os resultados do relatoacuterio teacutecnico do

IJSN contra enchentes em 1980

Cabe destacar tambeacutem que toda a anaacutelise da ocupaccedilatildeo urbana e desnaturalizaccedilatildeo do

Rio Doce foi melhor identificada a partir dos produtos cartograacuteficos deste trabalho Pois eacute

na espacialidade dos fenocircmenos e no registro de informaccedilotildees ainda natildeo mapeadas como

os aterros que o geoacutegrafo executa a anaacutelise do seu objeto de estudo o homem e a

natureza aqui representado pela sociedade e o canal do Doce

Apesar do municiacutepio apresentar leis que resguardam os leitos dos rios desde o primeiro

PDM em 1996 nada foi feito para conter as ocupaccedilotildees irregulares beira-rio Pelo contraacuterio

estas aacutereas foram incorporadas ao Plano Diretor em 2007 com possibilidades de

ocupaccedilotildees diversas o que tem levado especuladores a valorizar o solo com vista para o

rio apontando suas qualidades esteacuteticas e teacutermicas Este fato vem aumentando o

75

percentual de aacutereas impermeaacuteveis nesta margem comprometendo ainda mais a drenagem

dos defluacutevios

Eacute na Av Beira-Rio que crescem as implantaccedilotildees de grandes empreendimentos comerciais

como supermercado Casagrande Ogil Hotel e obras de construccedilatildeo de novos arranha-

ceacuteus em um periacutemetro que jaacute eacute totalmente comprometido com os extravasamentos do Rio

Doce Estas obras ocupam grandes aacutereas e na maioria das vezes apresentam reduzida

aacuterea permeaacutevel reservando apenas o obrigatoacuterio pela lei cerca de 10 Observa-se

tambeacutem que a implantaccedilatildeo desses projetos estaacute condicionada agrave apresentaccedilatildeo e

aprovaccedilatildeo por comissatildeo na prefeitura do Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV) sendo

difiacutecil conceber que seja concedida tal licenccedila para implementaccedilatildeo de obras num trecho

de risco ambiental

Embora as diretrizes do Estatuto das Cidades para a implementaccedilatildeo do uso da terra

sustentaacutevel e os instrumentos para a regulaccedilatildeo do solo urbano sejam avanccedilados Colatina

eacute mais um exemplo da carecircncia de profissionais capacitados para estudar de modo

integrado e em niacutevel de bacia hidrograacutefica os efeitos da accedilatildeo humana num ambiente tatildeo

peculiar como as margens do Doce Por isso com os objetivos traccedilados nesta pesquisa

podemos aleacutem de compreender o fenocircmeno criar uma metodologia de anaacutelise de aacutereas

inundaacuteveis em ambientes urbanos O que permite agrave gestatildeo municipal uma diretriz para a

tomada de decisotildees

Destaca-se tambeacutem que as legislaccedilotildees aqui referenciadas supriram a discussatildeo acerca do

objeto de estudo mas outras podem contribuir para esta pesquisa a exemplo do Coacutedigo

das Aacuteguas da Poliacutetica Nacional dos Recursos Hiacutedricos das Resoluccedilotildees do Conama do

Estatuto das Cidades entre outros

Sendo assim numa revisatildeo do PDM deve-se pensar nestes aspectos da cidade desde o

histoacuterico de ocupaccedilatildeo das margens ateacute os impactos das inundaccedilotildees e o presente trabalho

auxilia com uma nova abordagem na reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo fornecendo material

cartograacutefico para subsidiar propostas de proteccedilatildeo ao curso do Doce e consequentemente

da populaccedilatildeo

Por fim deve-se destacar que o recorte estaacute inserido num contexto maior de uma bacia

hidrograacutefica que se estende aleacutem dos limites de Colatina ou do estado do Espiacuterito Santo

Esta bacia compreende a Regiatildeo Hidrograacutefica do Atlacircntico Leste e estaacute alocada tambeacutem

76

no estado de Minas Gerais o que portanto torna as accedilotildees de controle das inundaccedilotildees

mais complexas tendo em vista as divergentes politicas territoriais

77

7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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Page 16: DESNATURALIZAÇÃO DO RIO DOCE: UMA ABORDAGEM … · Ao engenheiro Francisco Hermes, pela experiência e conhecimentos partilhados da área de estudo. Aos meus amigos Mônica Regina,

18

Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e o canal do Rio Doce Elaborado pela autora

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Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 Fonte Noticias UOL (2013)

Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de 2013 Fonte Folha Vitoacuteria (2013)

Este estudo portanto eacute relevante tendo em vista as raras abordagens no acircmbito das

Ciecircncias Geograacuteficas especialmente no Espiacuterito Santo de pesquisas que correlacionem

aspectos da geomorfologia fluvial por meio da dinacircmica dos recursos hiacutedricos com o uso

e cobertura da terra particularmente o Plano Diretor Municipal (PDM) Discute dessa

forma as implicaccedilotildees da atuaccedilatildeo humana nas particularidades deste ecossistema natural

tendo em vista o disposto nas legislaccedilotildees urbaniacutesticas e ambientais que visam assegurar

a qualidade de vida das populaccedilotildees

Adiante seratildeo analisados os principais fundamentos da geomorfologia fluvial os aspectos

juriacutedicos e o papel da anaacutelise geograacutefica integrada para o entendimento dos fenocircmenos

das inundaccedilotildees no Centro de Colatina uma vez que eacute devido agraves intervenccedilotildees humanas

nos canais e suas margens que esses fenocircmenos tornam-se mais nocivos a cidade

20

2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS

21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano

Recurso essencial para a manutenccedilatildeo da vida a aacutegua foi um fator relevante para o

estabelecimento histoacuterico das sociedades no entorno dos cursos hiacutedricos Utilizados para

fins de abastecimento humano e animal irrigaccedilatildeo saneamento e transporte os rios

constituiacuteram-se nos principais propulsores de penetraccedilatildeo para o interior (CUNHA 2012a)

Logo em suas margens surgiram povoados que posteriormente transformaram-se em

cidades como as que se estabeleceram agraves margens do Rio Doce a exemplo da sede de

Colatina

Diante das potencialidades que os recursos hiacutedricos possibilitam agraves sociedades

destacamos a importacircncia do estudo da Geomorfologia Fluvial que se apresenta como

campo da Geomorfologia (ciecircncia que estuda as formas do relevo) sendo o interesse

daquela a pesquisa dos processos que relacionam o escoamento das aacuteguas fluviais num

contexto de bacia hidrograacutefica (CHRISTOFOLETTI 1980 CUNHA op cit) Enfoca assim

as alteraccedilotildees na fisionomia dos canais frente agraves intervenccedilotildees no ecossistema natural

beira-rio

A Geomorfologia Fluvial parte da condicionante de que o uso e ocupaccedilatildeo da terra refletem-

se na dinacircmica da bacia de drenagem interferindo nos processos morfogeneacuteticos ou seja

de modelagem do relevo fluvial escoamento superficial das aacuteguas e no ciclo hidroloacutegico

Frente agrave temaacutetica deste estudo faz-se necessaacuterio o entendimento dos conceitos da

fisiografia fluvial aqui referente aos diferentes setores que a aacutegua pode escoar num leito

(Figura 4) como

O leito menor corresponde agrave parte do canal ocupada pelas aacuteguas e cuja frequecircncia impede o crescimento da vegetaccedilatildeo Esse tipo de leito eacute delimitado por partes bem definidas O leito de vazante equivale agrave parte do canal ocupada durante o escoamento das aacuteguas de vazante Suas aacuteguas divagam dentro do leito menor seguindo o talvegue linha de maacutexima profundidade ao longo do leito e que eacute mais bem identificada na seccedilatildeo transversal do canal O leito maior tambeacutem denominado leito maior perioacutedico ou sazonal eacute ocupado pelas aacuteguas do rio regularmente e pelo menos uma vez ao ano durante as cheias Dependendo do tempo ocorrido entre as subidas das aacuteguas eacute possiacutevel haver a fixaccedilatildeo e o crescimento da vegetaccedilatildeo herbaacutecea

21

O leito maior excepcional eacute ocupado durante as grandes cheias no decorrer das enchentes (CUNHA 2001 p 213)

Figura 4 - Tipos de leito fluvial vaacuterzea Fonte Cunha (2001 p213)

Sendo assim as aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial (leitos) aquelas inundadas pelo corpo

hiacutedrico frente a um evento hidroloacutegico extremo tambeacutem satildeo conhecidas como vaacuterzeas

planiacutecie de inundaccedilatildeo ou ainda segundo Carneiro e Miguez (2011 p133) como ldquo[] zona

de passagem de cheia []rdquo Essas aacutereas de vaacuterzeas dependem da fisionomia que o rio

apresenta e segundo Cunha (op cit) o canal fluvial pode apresentar trecircs formas

principais conhecidas como padratildeo dos canais que satildeo retiliacuteneo anastomosado e

meacircndrico (Figura 5)

Figura 5 - Padrotildees dos canais (A) retiliacuteneo (B) anastomosado (C) meandrante (A) amplitude (Rc) raio meacutedio da curvatura do meandro (segundo Bigarella etal 1979) Fonte Cunha (2001 p216)

22

Aliada aos padrotildees dos canais estaacute a assimetria ou simetria dos leitos que para Cunha

(2001 p233) relaciona-se com a variaccedilatildeo da velocidade e turbulecircncia ao longo da secccedilatildeo

transversal o que diferencia o comportamento nos canais retiliacuteneos geralmente simeacutetricos

do canal meacircndrico onde

Em canais de leito simeacutetrico em geral padratildeo retiliacuteneo a velocidade maacutexima ocorre no centro do canal diminuindo em direccedilatildeo agraves margens Em leito assimeacutetrico de padratildeo meacircndrico a zona de maacutexima velocidade e turbulecircncia localiza-se nas proximidades das margens cocircncavas decrescendo de valor em direccedilatildeo agrave margem de menor profundidade

(convexa) (CUNHA opcit p 233)

Deste modo a capacidade de erosatildeo das margens transporte e deposiccedilatildeo da carga do rio

dependem entre outros fatores da velocidade das correntes fluviais E o material do fluxo

fluvial constitui-se da descarga liacutequida ou vazatildeo que estaacute relacionada ao tamanho do

material que pode ser transportado e do volume da carga que o rio eacute capaz de carregar

Tem-se ainda a carga soacutelida sedimentos que estaacute relacionada a suspensatildeo e fundo do

rio esta decresce a jusante indicando a diminuiccedilatildeo da competecircncia do corpo fluvial As

cargas de suspensatildeo satildeo constituiacutedas de partiacuteculas finas a exemplo do silte e por fim a

carga de fundo que eacute composta por partiacuteculas de tamanhos maiores a exemplo da areia

(CUNHA2001)

Christofoletti (1980) acrescenta que os sedimentos podem ser carregados de trecircs modos

principais no fluxo em soluccedilatildeo dissolvidos nos cursos hiacutedricos em suspensatildeo como o

silte e argila e em saltaccedilatildeo geralmente a areia e cascalho que compreendem a carga do

leito do rio Destaca-se que a carga detriacutetica natildeo proveacutem apenas da erosatildeo do fundo dos

leitos e margens fluviais mas que o material intemperizado de vertentes carreado nas

enchentes contribui significativamente para a carga sedimentar transportada

Cabe ressaltar ainda que a relaccedilatildeo do arranjo espacial dos canais com os processos

fluviais (a erosatildeo o transporte e a deposiccedilatildeo de sedimentos) eacute determinante para o

trabalho dos rios Tais processos satildeo diretamente influenciados pela vazatildeo velocidade e

pela intensidade da turbulecircncia (seja no fluxo laminar ou no fluxo turbulento) A

variabilidade no comportamento da velocidade e turbulecircncia das aacuteguas ao longo da seccedilatildeo

transversal condiciona os locais preferenciais de erosatildeo e deposiccedilatildeo ao longo do curso

hiacutedrico

23

Deste modo qualquer intervenccedilatildeo na bacia e canal fluvial compromete o equiliacutebrio natural

da drenagem levando o corpo hiacutedrico a se adaptar agraves mudanccedilas em sua fisionomia

fisiografia e em seus processos ateacute atingir um novo estado de equiliacutebrio Poreacutem eacute na

planiacutecie de inundaccedilatildeo que estas modificaccedilotildees seratildeo mais percebidas pela populaccedilatildeo pois

a maior parte das obras de engenharia como as canalizaccedilotildees e as ocupaccedilotildees das

margens acaba por romper com o equiliacutebrio natural do rio alterando sua dinacircmica e

intensificando seus processos o que na maioria das vezes potencializa as enchentes no

ambiente urbano

Nesse sentido o entendimento dos processos fluviais (erosatildeo transporte e deposiccedilatildeo)

combinado com a anaacutelise da fisiografia fluvial condicionam as peculiaridades na geometria

hidraacuteulica ou seja na relaccedilatildeo entre a vazatildeo velocidade de escoamento tipos de canais

de sedimentos e a topografia Logo o conhecimento geomorfoloacutegico do rio contribui para

pesquisas que necessitem relacionar o funcionamento deste corpo natural com um

planejamento urbano mais efetivo principalmente se considerarmos um recorte em niacutevel

de bacia hidrograacutefica em espaccedilo urbano

211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial

O capiacutetulo que segue versa sobre a atuaccedilatildeo antroacutepica relacionando-a a aacuterea de estudo o

rio Doce poreacutem este trata de forma macro a temaacutetica para contextualizar o leitor sendo

as especificidades das intervenccedilotildees neste recorte geograacutefico trabalhados nos resultados

desta pesquisa

Diante do exposto eacute possiacutevel acompanhar a evoluccedilatildeo dos processos fluviais nos canais

em especial aqueles que tiveram intervenccedilotildees em seu curso natural como as hidreleacutetricas

instaladas a montante a exemplo do Rio Doce onde a interferecircncia direta na vazatildeo e fluxo

de sedimentos altera a hidrodinacircmica do rio comprometendo a erosatildeo e transporte Para

Coelho (2007 p57) as

Mudanccedilas na Declividade Perfil Longitudinal Promovidas pela construccedilatildeo de reservatoacuterio satildeo variadas e caso o efeito da contenccedilatildeo de sedimentos seja significativo os processos fluviais reduziratildeo a capacidade de transporte de sedimento podendo promover um entalhamento do leito do rio imediatamente agrave jusante da barragem

Aleacutem disso esse processo erosivo poacutes-barragem eacute intensificado favorecendo o

assoreamento e sedimentaccedilatildeo do rio a jusante O que pode beneficiar a elevaccedilatildeo da cota

24

do canal fluvial frente a eventos hidroloacutegicos extremos potencializando os efeitos das

inundaccedilotildees nas vaacuterzeas

Ao mesmo tempo o Rio Doce trecho que compreende o Espiacuterito Santo meacutediobaixo curso

eacute impactado nas vazotildees miacutenimas e maacuteximas a jusante apoacutes a instalaccedilatildeo das

barragensUsinas Hidreleacutetricas (UHE) de Mascarenhas (iniacutecio de operaccedilatildeo em 1974)

localizada no Municiacutepio de Baixo Guandu e a de Aimoreacutes (iniacutecio de operaccedilatildeo em 2005)

localizada na divisa do Espiacuterito Santo com Minas Gerais (COELHO 2007)

De acordo com Coelho (opcit) apoacutes a implantaccedilatildeo das usinas ocorreu uma reduccedilatildeo

significativa na vazatildeo da calha principal do Rio Doce conforme Graacutefico 1

Considerando o periacuteodo de 1939 a 2012 a vazatildeo miacutenima apoacutes a instalaccedilatildeo das usinas

chega a atingir 411msup3s e a maacutexima chega apenas a 1251msup3s sendo que no periacuteodo

anterior agrave instalaccedilatildeo das usinas foi registrada a miacutenima de 533 msup3s e uma maacutexima de

1812 msup3s o que ressalta o impacto do barramento sobre o corpo hiacutedrico Aleacutem do

comprometimento dos processos de erosatildeo transporte e sedimentaccedilatildeo (COELHO 2008

e CUNHA 2001)

Diante desta perda de carga liacutequida nos barramentos Cunha (2001 p 241) observa ainda

que as aacutereas a jusante de reservatoacuterios

[hellip] onde o regime do rio sofre significativas modificaccedilotildees devidas ao controle das descargas liquidas e de sedimentos no reservatoacuterio As mudanccedilas ocorridas no regime das aacuteguas neste setor do rio acarretam significativos efeitos nos processos do canal tais como o entalhe do leito a erosatildeo das margens e a deposiccedilatildeo a jusante atingindo longas distacircncias

Aleacutem disso no periacutemetro urbano de Colatina o Rio Doce sofreu outras intervenccedilotildees em

seu canal principal como a implantaccedilatildeo de obras estruturais de macrodrenagem a

exemplo da construccedilatildeo da Av Beira-Rio com intuito de conter o avanccedilo das aacuteguas fluviais

em periacuteodos de cheias

25

Graacutefico 1

Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais (Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia)

Fonte adaptado de Coelho (2007 p154)

26

Como exemplo dos tipos de intervenccedilotildees humanas nas aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial

leitos Carneiro e Miguez (2011 p117) destacam

As accedilotildees de controle e cheias urbanas podem ser classificadas em estruturais quando a paisagem eacute alterada pela accedilatildeo do homem e em natildeo estruturais aqui denominada como estruturante quando o homem aprende a conviver com as enchentes No primeiro caso estatildeo as medidas de controle atraveacutes de obras hidraacuteulicas tais como barragens diques e canais entre outras No segundo caso encontram-se medidas do tipo preventivo tais como zoneamento de aacutereas de inundaccedilatildeo sistemas de alerta educaccedilatildeo ambiental lei de parcelamento e uso dos solos e seguros contra inundaccedilatildeo

Neste cenaacuterio abarcamos os impactos das obras de engenharia como a canalizaccedilatildeo que

altera a fisionomia e fisiografia do rio refletindo-se nos processos geomorfoloacutegicos do canal

e sua planiacutecie de inundaccedilatildeo Para estes a canalizaccedilatildeo eacute uma obra estrutural que aumenta

a capacidade do fluxo do canal aleacutem de intensificar a velocidade do escoamento

superficial antecipando o pico de cheia e transferindo os alagamentos para locais a jusante

na bacia hidrograacutefica

Articulado a esta ideia Cunha (2012b) reflete a desnaturalizaccedilatildeo dos rios por meio de

obras de retificaccedilatildeo com a reduccedilatildeo do comprimento do canal e eliminaccedilatildeo das

sinuosidades Satildeo obras que afetam a estabilidade do corpo hiacutedrico na medida em que

interferem na relaccedilatildeo entre erosatildeo sedimentaccedilatildeo e deposiccedilatildeo provocando efeitos como

alteraccedilatildeo na morfologia do canal Sendo assim ldquo[hellip] a diminuiccedilatildeo da rugosidade no fundo

do canal em conjunto com a perda dos meandros e a aceleraccedilatildeo das velocidades eacute a

principal responsaacutevel pelas mudanccedilas no balanccedilo da energia natural dos sedimentos

fluviais [hellip]rdquo Cunha (2012b p178) No caso do Rio Doce trecho correspondente agrave Av

Beira-Rio alterou-se a sua forma retilinizando-a e sua vegetaccedilatildeo natural foi substituiacuteda

por estruturas de pedras o que compromete a resistecircncia ao fluxo as margens e aos

bancos arenosos

Embora as obras de canalizaccedilatildeo sejam implantadas como eficazes nos canais fluviais para

questotildees de enchentes urbanas para Cunha (op cit) estas necessitam de manutenccedilatildeo

constante envolvendo desde dragagem remoccedilatildeo de obstruccedilotildees a recomposiccedilatildeo do

material utilizado Poreacutem toda a manutenccedilatildeo estaacute associada a alteraccedilotildees morfoloacutegicas e

bioloacutegicas como as que interferem nas soleiras e depressotildees do fundo dos leitos

desestabilizando a vazatildeo no curso a exemplo da

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ldquo[hellip] eliminaccedilatildeo da sequecircncia de depressotildees e soleiras o aumento da velocidade da corrente a diminuiccedilatildeo da diversidade de habitats o ambiente instaacutevel resultante da flutuaccedilatildeo dos niacuteveis da aacutegua e do substrato moacutevel e a maior flutuaccedilatildeo da temperatura das aacuteguasrdquo (CUNHA 2012b p180)

Ao mesmo tempo o aumento da velocidade dos escoamentos no trecho retificado

possibilita maior erosatildeo transferindo para as aacutereas a jusante uma carga soacutelida

representativa que para Cunha (op cit) configura a formaccedilatildeo de bancos axiais e depoacutesitos

de sedimentaccedilatildeo marginais alterando o equiliacutebrio dos sedimentos a jusante Pois

A jusante das obras de retificaccedilatildeo verificam-se o aumentam da carga soacutelida o assoreamento durante a dragagem a erosatildeo no canal pelos eventos torrenciais do regime e a modificaccedilatildeo na dinacircmica na foz Os sedimentos resultantes da erosatildeo no canal retificado em conjunto com a excessiva carga de sedimentos posta em suspensatildeo durante a dragagem e na fase imediata de poacutes-construccedilatildeo - quando a erosatildeo dos bancos de areia sem vegetaccedilatildeo estaacute em seu niacutevel maacuteximo - originam a formaccedilatildeo de depoacutesitos fluviais de curta duraccedilatildeo a jusante do canal retificado Logo a seguir esses depoacutesitos satildeo erodidos juntamente com as margens e o fundo do leito pelos eventos torrenciais do regime vindo a formar bancos axiais e depoacutesitos de sedimentaccedilatildeo marginais (CUNHA2012b p183)

Portanto o estudo da geomorfologia fluvial contribui diretamente para o entendimento das

cheias nas planiacutecies de inundaccedilatildeo em especial nas bacias hidrograacuteficas que

compreendem a aacuterea urbana e que possuem intervenccedilotildees antroacutepicas diretas na fisiografia

do canal principal Seus processos explicam como as alteraccedilotildees no canal fluvial podem

maximizar os efeitos dos transbordamentos impactando principalmente as populaccedilotildees

ribeirinhas aleacutem de todo ecossistema local Ademais estes fundamentos geomorfoloacutegicos

devem ser associados agrave legislaccedilatildeo vigente afim de subsidiar a elaboraccedilatildeo de instrumentos

legais para atuaccedilatildeo do poder puacuteblico nestas zonas de risco

22 Aspectos Juriacutedicos

Frente agrave crescente demanda sobre os recursos hiacutedricos e solo urbano a partir da deacutecada

de 1930 surgem as primeiras diretrizes que visam regulamentar estes ambientes a

exemplo do Coacutedigo das Aacuteguas Mas soacute a partir dos anos 1960 surgem em acircmbito federal

leis como o Coacutedigo Florestal com o intuito de regular a exploraccedilatildeo das vegetaccedilotildees e

consequentemente proteger os mananciais e em 1979 com o objetivo de ordenar as

28

cidades eacute aprovada a Lei 676679 estabelecendo as normas do parcelamento do solo

urbano

Na medida em que as populaccedilotildees aumentam ampliam-se tambeacutem as pressotildees sobre os

recursos de aacutegua e solo Os processos de uso e a conscientizaccedilatildeo de que estes elementos

satildeo finitos intensificam as formas de controle e preservaccedilatildeo passando para as esferas

estaduais e municipais a responsabilidade de atuar em escala local na proteccedilatildeo desses

ambientes

Ainda em escala federal em 2012 eacute promulgado o Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012

em substituiccedilatildeo ao coacutedigo anterior Lei 47711965 que apresenta as normas de

apropriaccedilatildeo dos recursos naturais pelas novas necessidades das populaccedilotildees citadinas e

rurais No que compete agrave aacuterea de estudo cabe destacar as ocupaccedilotildees em aacutereas de

planiacutecie de inundaccedilatildeo em que de acordo com art 4ordm devem ser preservadas

I - as faixas marginais de qualquer curso drsquoaacutegua natural perene e intermitente excluiacutedos os efecircmeros desde a borda da calha do leito regular em largura miacutenima de (Incluiacutedo pela Lei nordm 12727 de 2012) a) 30 (trinta) metros para os cursos drsquoaacutegua de menos de 10 (dez) metros de largura b) 50 (cinquenta) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura c) 100 (cem) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura d) 200 (duzentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura e) 500 (quinhentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros []

A legislaccedilatildeo eacute riacutegida no que concerne agrave ocupaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo das terras nas faixas

marginais dos rios transferindo aos estados e municiacutepios a responsabilidade de fiscalizar

estes territoacuterios para garantir a efetividade da lei A questatildeo eacute que muitas vezes somada a

falta de planejamento estas fiscalizaccedilotildees satildeo ineficientes o que tem possibilitado o

surgimento cada vez maior das ocupaccedilotildees irregulares

Apoiado tambeacutem pela Constituiccedilatildeo Federal de 1988 nos artigos 182 e 183 surge o

Estatuto das Cidades Lei 102572001 com finalidade de garantir a funccedilatildeo social da

cidade e com este os primeiros Planos Diretores Municipais (PDM) que buscam o

ordenamento do crescimento das cidades em caraacuteter socioeconocircmico e ambiental cidades

sustentaacuteveis Ademais em Colatina eacute instituiacuteda a Lei 42281996 posteriormente revogada

29

pela Lei 52732007 que ldquoInstitui o Plano Diretor do Municiacutepio de Colatina estabelece os

objetivos instrumentos e diretrizes e daacute outras providecircncias para as accedilotildees de

planejamento do Municiacutepio de Colatina []rdquo

O PDM de Colatina assim como Coacutedigo Florestal prevecirc a preservaccedilatildeo dos ecossistemas

beira-rio Aquele ainda dispotildee sobre o parcelamento do solo sustentaacutevel a funccedilatildeo social

da cidade e da propriedade conforme o Plano Diretor de Colatina de 2007 nos artigos

transcritos

Artigo 22 - As diretrizes ambientais no Municiacutepio de Colatina satildeo I - aplicar os instrumentos de gestatildeo ambiental estabelecidos nas legislaccedilotildees federal estadual e municipal bem como a criaccedilatildeo de outros instrumentos adequando-os agraves metas estabelecidas pelas poliacuteticas ambientais II - compatibilizar as diretrizes de uso ocupaccedilatildeo e parcelamento do solo aos objetivos de proteccedilatildeo ambiental dos ecossistemas [] Artigo 23 - Satildeo diretrizes do sistema de drenagem urbana I - disciplinar a ocupaccedilatildeo das cabeceiras e vaacuterzeas das bacias hidrograacuteficas do Municiacutepio preservando a vegetaccedilatildeo existente e visando agrave sua recuperaccedilatildeo [] III - definir mecanismos de fomento para usos do solo compatiacuteveis com aacutereas de interesse para drenagem tais como parques lineares aacuterea de recreaccedilatildeo e lazer hortas comunitaacuterias e manutenccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa [] V - implantar medidas natildeo-estruturais [sic] de prevenccedilatildeo de inundaccedilotildees tais como controle de erosatildeo especialmente em movimentos de terra controle de transporte e deposiccedilatildeo de entulho e lixo combate ao desmatamento assentamentos clandestinos e a outros tipos de invasotildees nas aacutereas com interesse para drenagem [] VII - garantir e respeitar a necessaacuteria permeabilidade do solo inclusive buscando alternativas de pavimentaccedilatildeo com maior de permeabilidade [sic] [] Artigo 84 ndash Satildeo objetivos do ordenamento territorial do Municiacutepio de Colatina [] IV ndash conter a expansatildeo da ocupaccedilatildeo urbana em aacutereas de proteccedilatildeo ambiental [] Artigo 120 ndash Ficam desde jaacute identificadas como Zonas de Proteccedilatildeo Ambiental 2 ndash ZPA 2 as seguintes aacutereas [] III ndash as aacutereas existentes ao longo de qualquer curso drsquoagua desde o niacutevel mais alto em faixa marginal cuja largura miacutenima seraacute de a) 15m (trinta metros) [sic] para os cursos drsquoagua com menos de 10m (10

metros) de largura contidos no periacutemetro urbano [] c) 30m (trinta metros) para os cursos drsquoagua que tenham de10m (dez

metros a 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano

[]

30

e) 50m (cinquenta metros) para os cursos drsquoagua que tenham mais de 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 60422013)

[]

De modo geral verifica-se que a legislaccedilatildeo apresenta instrumentos que permitem a

prevenccedilatildeo ou controle de ocupaccedilotildees irregulares ou clandestinas em aacuterea de APP aleacutem de

propostas para resguardar de grandes impactos ambientais o corpo hiacutedrico principal do

municiacutepio o Rio Doce Possibilitando assim a minimizaccedilatildeo dos impactos causados pelas

cheias agrave populaccedilatildeo local

Poreacutem cabe destacar que o Plano Diretor Municipal de Colatina natildeo contempla o

estipulado no Coacutedigo Florestal 2012 Lei Federal onde os cursos drsquoaacutegua com largura

superior a 600(seiscentos) metros devem ser resguardados com aacutereas de preservaccedilatildeo

permanente de 500(quinhentos) metros entre outros sendo que a redaccedilatildeo desta parte do

PDM eacute dada pela lei 60422013 posterior a publicaccedilatildeo do novo Coacutedigo Florestal Sendo

assim verifica-se que apesar da intenccedilatildeo de resguardar uma faixa de no maacuteximo

50(cinquenta) metros em periacutemetro urbano para a contenccedilatildeo de cheias e mata ciliar o

PDM de Colatina natildeo atende o miacutenimo previsto em Lei Federal O que tem impactado todo

ecossistema beira rio e a populaccedilatildeo ribeirinha uma vez que a faixa marginal de proteccedilatildeo

de 50(cinquenta) metros em muitos casos natildeo tem comportado o impacto dos defluacutevios

No entanto a legislaccedilatildeo trata de aspectos gerais natildeo pontuando as aacutereas responsaacuteveis

por cada accedilatildeo aleacutem de sua aplicabilidade depender da elaboraccedilatildeo de um cronograma de

execuccedilatildeo bem como um conjunto de planos e normas especiacuteficos para cada diretriz com

detalhamento das propostas de intervenccedilatildeo Isto natildeo ocorreu ateacute o presente

Aleacutem disso a cidade de Colatina surgiu num cenaacuterio histoacuterico anterior agraves legislaccedilotildees

urbaniacutesticas e ambientais inclusive do Coacutedigo das Aacuteguas o que dificulta a execuccedilatildeo de

um planejamento que concilie a preservaccedilatildeo das matas beira-rio garantindo a faixa de

APP com a ocupaccedilatildeo urbana consolidada

A aacuterea de estudo se apresenta como ambiente fragilizado apesar de ser regida por

legislaccedilotildees desde a escala federal ateacute a municipal que visam proteger e ordenar o uso e

cobertura da terra nas faixas marginais dos rios Mas a dificuldade das prefeituras em

aplicar os instrumentos legais nestes ambientes seja por interesses privados ou falta de

recursos para investimentos em soluccedilotildees a longo prazo continua expondo as populaccedilotildees

31

aos impactos dos eventos hidroloacutegicos criacuteticos como os que resultam nas inundaccedilotildees

Para que se alcance esse parcelamento do solo sustentaacutevel satildeo necessaacuterios esforccedilos da

gestatildeo municipal em estipular prazos e metas de atuaccedilatildeo afora interagir os diferentes

setores no planejamento em niacutevel de bacia hidrograacutefica considerando as peculiaridades

desta escala de trabalho

23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos

Sendo a ciecircncia que estuda a relaccedilatildeo homemnatureza a Geografia tem muito a contribuir

nas anaacutelises que envolvem o meio ambiente que foi transformado pela dinacircmica da

sociedade Mas historicamente a dialeacutetica das correntes fiacutesica e humana tem imperado de

modo dissociado levando o geoacutegrafo a estudar estes processos separadamente Poreacutem

se o resultado pretendido eacute integrado fazem-se necessaacuterias pesquisas mais amplas que

cruzem as diferentes vertentes geograacuteficas

Considerando que a problemaacutetica dos impactos ambientais urbanos envolve a questatildeo

natural o rio e a questatildeo social e poliacutetica a sociedade e as leis (COELHO 2013) uma

pesquisa neste acircmbito requer o entendimento destes dois objetos a fim de se apreender

o processo de crescimento das cidades brasileiras e a sua relaccedilatildeo com os recursos

hiacutedricos

A partir da deacutecada de 1950 devido ao ecircxodo rural mais intenso as cidades brasileiras

incharam rapidamente com a migraccedilatildeo do camponecircs que buscava melhores condiccedilotildees de

vida como trabalho na induacutestria o acesso agraves escolas saneamento entre outros E

segundo Gorski (2010) a populaccedilatildeo brasileira passou desde o iniacutecio deste processo de 19

milhotildees de habitantes em 1950 para 138 milhotildees de habitantes em 2000 (dados do IBGE)

o que corrobora o raacutepido crescimento das cidades

Todavia as estruturas puacuteblicas natildeo estavam preparadas para um acreacutescimo populacional

tatildeo significativo e em curto espaccedilo de tempo E o que observamos eacute o acesso limitado

dessa populaccedilatildeo agraves aacutereas centrais da cidade sendo induzida a se estabelecer nas

periferias Nesta visatildeo

O difiacutecil acesso da populaccedilatildeo de baixa renda agraves aacutereas mais centrais das cidades contribuiu segundo Raquel Rolnik para a expansatildeo da periferia o que muitas vezes implicou e implica ainda invasatildeo de aacutereas de proteccedilatildeo de mananciais com a aquiescecircncia do poder puacuteblico Esta

32

dinacircmica agravou a situaccedilatildeo de risco dos mananciais pela eliminaccedilatildeo das matas ciliares e consequentemente erosatildeo das margens dos cursos drsquoaacutegua e assoreamento de suas calhas e pela contribuiccedilatildeo do esgoto in natura (ROLNIK1997 apud GORSKI 2010 p62)

Sendo assim a supressatildeo das matas ciliares e das vegetaccedilotildees das encostas para fins de

ocupaccedilatildeo urbana interfere diretamente no ciclo hidroloacutegico diminuindo a absorccedilatildeo de

aacutegua pelo subsolo e pela evapotranspiraccedilatildeo favorecendo o escoamento superficial (Figura

6) que intensifica a velocidade de drenagem das aacuteguas Este processo nas encostas eacute

mais significativo se considerarmos que com a supressatildeo da cobertura vegetal e

impermeabilizaccedilatildeo do solo as precipitaccedilotildees acabam por lavar todo o material

intemperizado sedimentos carregando-o diretamente para o corpo hiacutedrico e contribuindo

para o assoreamento

Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento Fonte Gorski (2010 p64)

Por outro lado as ocupaccedilotildees ribeirinhas nas vaacuterzeas dos rios modificam a dinacircmica fluvial

frente aos defluacutevios A compactaccedilatildeo e o nivelamento do solo associados agrave

impermeabilizaccedilatildeo por concreto asfalto e outros materiais alteram todo o sistema de

drenagem natural e contribuem para a erosatildeo fluvial Aleacutem disso a gestatildeo puacuteblica que

33

deveria investir num parcelamento do solo sustentaacutevel resguardando ldquouma alocaccedilatildeo de

espaccedilosrdquo (CANHOLI 2005 p 15) para a drenagem acaba por colaborar com as enchentes

urbanas na medida em que decide por obras estruturais como a canalizaccedilatildeo (Figura 7

p30) e a microdrenagem que transferem os impactos das inundaccedilotildees a jusante

Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia Fonte Gorski (2010 p69)

Cabe destacar que desde 1965 com o primeiro Coacutedigo Florestal as matas beira-rio jaacute

eram resguardadas da degradaccedilatildeo humana poreacutem com todo o boom urbano a partir de

1950 a falta de estrutura e ingerecircncia municipal no que se refere ao parcelamento e uso

e ocupaccedilatildeo da terra urbana possibilitou a formaccedilatildeo dos assentamentos clandestinos em

APP e na encosta de morros Em condiccedilotildees precaacuterias sem saneamento baacutesico e demais

infraestruturas urbanas estes assentamentos acabam sendo as regiotildees mais afetadas

com as inundaccedilotildees

Junto agraves questotildees jaacute levantadas vale destacar que as aacuteguas das inundaccedilotildees propiciam o

aumento das doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica (febre tifoide hepatite leptospirose

esquistossomose entre outras) pois carregam segundo Gorski (2010) toda uma poluiccedilatildeo

difusa efluentes domeacutesticos industriais e agroindustriais aleacutem do lixo urbano da poluiccedilatildeo

do ar e das ruas

34

Por outro lado esta ocupaccedilatildeo urbana natildeo planejada perde o benefiacutecio que os corpos

hiacutedricos podem oferecer como [] as paisagens fluviais que aos poucos foram sendo

apropriadas como paisagens urbanas [] (GORSKI 2010 38) aleacutem do microclima

associado agrave umidade pela evapotranspiraccedilatildeo que ameniza a sensaccedilatildeo teacutermica local

Poreacutem conforme observado por Graeff (2011) natildeo eacute cabiacutevel atualmente implantar a

legislaccedilatildeo de APP de modo jurista Deve-se considerar toda a representatividade cultural

assentada sobre os leitos destes rios (avenidas importantes casas com arquitetura

histoacuterica entre outros) Aleacutem disso para a demarcaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo

permanente hoje eacute necessaacuteria uma anaacutelise teacutecnica pautada na geomorfologia e

hidrologia de modo a interpretar o ldquocomportamento histoacuterico dos cursos drsquoaacutegua na

paisagem prevendo cenaacuterios de impactos futurosrdquo da atividade humana sobre suas faixas

marginais

Tendo em vista que grande parte da malha urbana brasileira estaacute alocada em APPs e que

segundo Graeff (2011) estas jaacute possuem uma unidade de paisagem estabelecida e muitas

vezes secular configurando siacutetios de importacircncia cultural e apreendendo que

De modo semelhante nas demais cidades haveraacute que ser entendido o meio urbano como ele realmente eacute ndash um encontro entre as necessidades de habitaccedilatildeo com atividades humanas e de conservaccedilatildeo ambiental esta segunda tambeacutem a serviccedilo do homem e natildeo somente de objetivos difusos e distanciados da sobrevivecircncia da sociedade (GRAEFF 2011 206)

Por tais motivos o trabalho com a geomorfologia fluvial urbana deve abarcar os princiacutepios

do bom senso compreendendo que nestas aacutereas de atividade antroacutepica consolidada pode-

se fazer uso de instrumentos de engenharia avanccedilados para uma convivecircncia equilibrada

do homem com a natureza no entorno Contudo deve-se incentivar as aacutereas de expansatildeo

urbana ou zona periurbana (zonas de transiccedilatildeo da aacuterea urbana para a rural) com poliacuteticas

de incentivo a pavimentaccedilotildees mais permeaacuteveis a fim de minimizar o escoamento

superficial para o rio favorecendo a infiltraccedilatildeo

Apesar de os impactos gerados pela interferecircncia humana nas aacutereas mais fragilizadas da

bacia hidrograacutefica vaacuterzeas e encostas refletirem-se em cataacutestrofes com prejuiacutezos

humanos ambientais e urbanos alguns autores brasileiros como Canholi Graeff Cunha

Carneiro e Miguez jaacute indicaram outros caminhos para uma convivecircncia harmoniosa com

a natureza Aleacutem do mais paiacuteses desenvolvidos como a Holanda deixaram de ldquolutar contra

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as cheiasrdquo para permitir agraves aacuteguas das enchentes a capacidade de acumular e dispersar

com impacto reduzido para as populaccedilotildees (CARNEIRO MIGUEZ 2011)

Sendo assim a proposta deste estudo eacute identificar os principais agentes que influenciam

as inundaccedilotildees entendendo seu papel e atuaccedilatildeo no contexto urbano de Colatina Mas eacute

tambeacutem a de ampliar a abordagem da temaacutetica com uma anaacutelise geograacutefica integrada

ressaltando as medidas que constam no planejamento urbano e sua aplicaccedilatildeo nas faixas

marginais do corpo hiacutedrico

36

3 MATERIAIS E MEacuteTODOS

Esta pesquisa eacute constituiacuteda de trecircs etapas principais sendo que a primeira teve como

premissa a confecccedilatildeo de um fluxograma (Figura 8) de trabalho para orientar a pesquisa

em seguida teve iniacutecio o levantamento de bibliografias que abordam temas como a

geomorfologia fluvial e urbanizaccedilatildeo em Colatina adotando-se como referecircncia as

pesquisas de Coelho (2006 2007 2008 e 2009) e Albani (2012) Aleacutem disso muito

contribuiacuteram para este trabalho o relatoacuterio do INCAPER da CPRM e os dados do IBGE

Cabe destacar tambeacutem as experiecircncias com recursos hiacutedricos em ambientes urbanos de

Carneiro e Miguez (2011) em especial Cunha (2001 2012ab)

Esta etapa consistiu tambeacutem na busca de material cartograacutefico como aquisiccedilatildeo de planos

de informaccedilatildeo de limite estadual municipal bairros mancha urbana corpo drsquoaacutegua e

logradouros atraveacutes de dados disponiacuteveis no Sistema Integrado de Bases Geoespaciais

do Estado do Espiacuterito Santo (GEOBASES 2014) no Instituto Jones dos Santos Neves

(IJSN 2015) e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2014) imagens

orbitais gratuitas do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI bandas 2-3-4 e 8 (Pan) oacuterbita 216

ponto 73 com datas de passagem em 02012014 e 22032014 agraves 946 (horaacuterio central

da oacuterbita) junto ao Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2014) aleacutem do ortofotomosaico

do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hiacutedricos (IEMA 2014) do Espiacuterito

Santo referente ao voo de 2007 a 2008

Na segunda etapa foram realizadas duas investigaccedilotildees de campo sendo a primeira no

dia 24 de junho de 2014 com a finalidade de fazer o reconhecimento da aacuterea de estudo

fotografar e conversar com moradores e teacutecnicos da prefeitura O segundo trabalho de

campo ocorreu no dia 14 de fevereiro de 2015 e por meio deste foi possiacutevel identificar

pontos sujeitos a inundaccedilatildeo analisar a topografia e realizar as entrevistas com moradores

e funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina

37

Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC)

38

Na terceira etapa foram realizados os mapeamentos e processamentos de todos os planos

de informaccedilatildeo vetoriais e matriciais em ambiente de SIG no sistema ArcGis 103 iniciando

com a ediccedilatildeo dos dados do Municiacutepio e adjacecircncias que foram ajustados quando

necessaacuterio ao sistema de projeccedilatildeo UTM no Datum SIRGAS ndash 2000 na Zona 24 sul com

meridiano central -39 W com todo o mapeamento produzido seguindo a padronizaccedilatildeo

cartograacutefica proposta por Fitz (2008 a b)

O geoprocessamento teve iniacutecio com a composiccedilatildeo das imagens orbitais do Landsat-8 na

cor natural da imagem (2R 3G 4B) e por meio da teacutecnica de Pan Sharpening ou fusatildeo

de imagens a imagem cor natural foi agrupada agrave da banda 8 pancromaacutetica para obtenccedilatildeo

de uma melhor resoluccedilatildeo espacial neste caso chegando a 15 metros sendo resguardado

o conteuacutedo da imagem composta Na sequecircncia foi realizada a extraccedilatildeo da maacutescara do

periacutemetro urbano de Colatina e gerada a classificaccedilatildeo supervisionada da imagem Landsat-

8 no periacuteodo de cheia (janeiro) e vazante (marccedilo) o que possibilitou a delimitaccedilatildeo da calha

do Doce nestes dois eventos

Em seguida foram realizadas as 8 (oito) mediccedilotildees do leito regular sendo 4 (quatro) no

periacuteodo de cheia e 4 (quatro) na vazante de modo a definir a largura meacutedia da calha do

leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina Para chegar a uma medida geral

da largura do rio utilizaram-se ferramentas estatiacutesticas como a meacutedia que eacute uma medida

de tendecircncia central onde numa amostra de tamanho N constituiacuteda por elementos de x

variando de eacute possiacutevel extrair a meacutedia aritmeacutetica atraveacutes da equaccedilatildeo

A meacutedia aponta para onde mais convergem os dados de uma distribuiccedilatildeo

A partir desta definiccedilatildeo da meacutedia da largura da calha do Rio Doce foi possiacutevel em consulta

ao Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e a Lei 52732007 determinar a faixa miacutenima

de preservaccedilatildeo permanente deste corpo fluvial aleacutem da confecccedilatildeo do mapa com o

poliacutegono de APP

Mediante a anaacutelise do mapa verificou-se que grande parte dos bairros do municiacutepio estatildeo

contidos nos poliacutegonos de APP em especial a preservaccedilatildeo de 500 metros conforme lei

federal E por meio deste foram cruzados os dados de vazatildeo as fotos histoacutericas das

enchentes e o poliacutegono de mata ciliar o que permitiu o entendimento das inundaccedilotildees

39

Em ambiente de SIG tambeacutem foram vetorizados os trecircs traccedilados da Estrada de Ferro

Vitoacuteria a Minas o trajeto do Rio Santa Maria do Doce antes e depois da retilinizaccedilatildeo e os

sucessivos aterros na margem direita do Rio Doce no periacutemetro que compreende a Av

Beira-Rio

As teacutecnicas de sensoriamento remoto como a classificaccedilatildeo supervisionada permitiram a

definiccedilatildeo do poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo atraveacutes da imagem da cheia de janeiro Para

tanto foi realizada tambeacutem a classificaccedilatildeo hiacutebrida objetivando aliar a interpretaccedilatildeo visual

com a digital (JENSEN 2009) Por fim foi realizada amarraccedilatildeo com o levantamento

geodeacutesico da CPRM (2014) para garantir a precisatildeo do traccedilado do poliacutegono de cheia

A partir do tratamento dos dados bibliograacuteficos cartograacuteficos e imagens foi possiacutevel

sistematizar este trabalho o que permitiu identificar elementos histoacutericos de intervenccedilatildeo

na paisagem do Doce como os aterros e a ocupaccedilatildeo urbana As visitas de campo a

entrevista e conversas com moradores foram fundamentais para a validaccedilatildeo das

informaccedilotildees o que tornou esta metodologia eficaz para anaacutelise do fenocircmeno da inundaccedilatildeo

em Colatina

40

4 RESULTADOS

41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana

A ocupaccedilatildeo ao longo das planiacutecies de inundaccedilatildeo dos rios tem ocorrido diante da

necessidade deste recurso para as atividades vitais humanas Cunha (2012b p219)

entende que ldquosuas margens tecircm sido o centro preferido da habitaccedilatildeo humana e o

suprimento de suas aacuteguas natildeo soacute fertiliza os campos para o cultivo como tambeacutem fornece

energia e permite recreaccedilatildeordquo Logo o estabelecimento das vilas nas bordas dos cursos

drsquoaacutegua favorece a logiacutestica ocupacional

Historicamente em solo espiacuterito-santense a formaccedilatildeo das vilas ocorreu agraves margens de

estrateacutegicos cursos drsquoaacutegua e a exploraccedilatildeo do ouro de Minas Gerais para Albani (2012)

determinou que a Coroa proibisse nos seacuteculos XVII a XIX a implantaccedilatildeo de estradas e

exploraccedilatildeo de terras na Capitania do Espiacuterito Santo pois os portugueses temiam incursotildees

estrangeiras deixando assim o desenvolvimento capixaba restrito agrave faixa litoracircnea

Relegada enquanto ldquobarreira verderdquo para defesa das minas de ouro e minerais do atual

territoacuterio das Minas Gerais segundo Coelho (2007) a Capitania do Espiacuterito Santo soacute

passou a se interiorizar para o centro-oeste onde se localiza atualmente a cidade de

Colatina a partir de 1847 por meio das ocupaccedilotildees de Santa Izabel e Santa Leopoldina

que permitiram a descida do Rio Santa Maria do Doce ateacute as imediaccedilotildees da atual cidade

de Colatina

Assim foi que o movimento colonizador desceu o vale do Santa Maria do Rio Doce atingindo em 1891 a regiatildeo das matas onde hoje se acha a cidade de Colatina [] Esta penetraccedilatildeo inicial foi feita com elementos alematildees de Santa Leopoldina e no rio Doce ficou muito anos restrita agrave aacuterea inicial A expansatildeo ao longo do vale tomou impulso com a chegada a Colatina em 1906 dos trilhos da Estrada de Ferro Diamantina (atual Vitoacuteria-Minas) (STRAUCH1955 apud COELHO 2007 p105)

Sendo assim Coelho (op cit) relata que a ocupaccedilatildeo se deu atraveacutes da supressatildeo da mata

nativa no baixo curso do Rio Doce de Colatina a Linhares sendo a madeira daiacute extraiacuteda

levada ateacute o rio e encaminhada ateacute Povoaccedilatildeo vilarejo junto agrave foz de onde eram carregados

os navios Neste periacuteodo tem-se a instalaccedilatildeo de um ciclo madeireiro na regiatildeo com a

disposiccedilatildeo de serrarias nas proximidades das matas

41

Todavia somente a partir de 1906 com a chegada da estrada de ferro na regiatildeo o

transporte madeireiro foi transferido para as locomotivas Agrave medida que a implantaccedilatildeo da

Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas avanccedilava para o interior levava consigo as frentes de

desmatamento modificando as paisagens das margens do Rio Doce e se apropriando dos

espaccedilos deste rio (Figura 9)

Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906 Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce Fonte Albani (2012 p 63)

Conforme Albani (2012) com a vinda dos mineiros e fluminenses reforccedilados

posteriormente a partir de 1889 por colonizadores italianos e alematildees eacute que as

ocupaccedilotildees territoriais ocorreram de modo efetivo Atraveacutes do Barracatildeo do Rio Santa Maria

(Figura 10) espaccedilo do governo inicialmente destinado a alojar os migrantes e a produccedilatildeo

surgiram as primeiras residecircncias nas proximidades da igreja de Satildeo Sebastiatildeo Sendo

assim

Eacute importante destacar que o desenvolvimento da regiatildeo onde se encontra o municiacutepio de Colatina teve iniacutecio no final do seacuteculo XIX no nuacutecleo de colonizaccedilatildeo Antocircnio Prado localizado no distrito de Boapaba antiga vila do Mutum O nuacutecleo recebeu dezenas de famiacutelias de imigrantes italianos e ali desenvolveram atividades de agricultura e com a expansatildeo da localidade surge tambeacutem o comeacutercio (ALBANI 2012 p61) [hellip] A vila de Colatina entretanto logo passou a se transformar no principal nuacutecleo e futuramente na sede do municiacutepio Aleacutem da facilidade da produccedilatildeo atraveacutes do Rio Doce a vila de Colatina tornou-se referecircncia dos imigrantes no caminho para a colonizaccedilatildeo das terras ao norte do estado (MADURO1985 apud ALBANI 2012 p62)

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Desse modo com o desenvolvimento das atividades de cafeicultura madeireira e do

entroncamento logiacutestico de acesso agraves aacutereas do norte a vila eacute elevada em 1921 agrave categoria

de municiacutepio A atual configuraccedilatildeo territorial foi adquirida a partir de 2001 conforme IBGE

(2014) dispondo de seis distritos Colatina (sede) Acircngelo Frechiami Baunilha Boapaba

Graccedila Aranha e Itapina

Cabe destacar poreacutem que a ocupaccedilatildeo inicial da cidade de Colatina se perfaz pela margem

direita do Rio Doce onde se localiza o atual bairro de Colatina Velha e onde havia se

instalado o Barracatildeo de Santa Maria Nesse periacuteodo a ponte ainda natildeo fora edificada

limitando assim a ocupaccedilatildeo da margem esquerda

Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da regiatildeo Fonte Albani (2012 p62)

Conforme Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p65) a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro

Vitoacuteria a Minas em 1906 (Figura 11) possibilitou a expansatildeo da cidade de Colatina e seu

desenvolvimento econocircmico Todavia sua instalaccedilatildeo paralela agrave margem direita do Rio

Doce favoreceu a localizaccedilatildeo de avenidas e ruas centrais em sua proximidade

43

Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p65)

Entretanto foi com a construccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos (Figura 12) em 1928 que a

margem direita se conectou agrave margem esquerda da cidade o que aleacutem de possibilitar a

ocupaccedilatildeo facilitou o acesso agraves regiotildees mais ao norte do Estado

Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p66)

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Por conseguinte a estrada de ferro e a ponte foram os fatores determinantes para o

estabelecimento dos migrantes agraves margens do Rio Doce e a formaccedilatildeo do atual municiacutepio

de Colatina Contudo foi a partir desta posiccedilatildeo privilegiada que a cidade passou a ser

entreposto comercial e logiacutestico da regiatildeo noroeste e com isso sua aacuterea urbana expandiu-

se de modo desordenado inicialmente ao longo da planiacutecie de inundaccedilatildeo do Doce Coelho

(2007 p108 e 109) relata que

Os efeitos dessa urbanizaccedilatildeo (novos parcelamentos) e do desmatamento produz [sic] normalmente o aumento da velocidade das aacuteguas superficiais (pluviais) que eram antes interceptadas pelas matas com boa parte absorvida pelo solo O que ocorre geralmente nessas aacutereas eacute a chegada mais raacutepida das aacuteguas das chuvas para o tributaacuterios e calha principal do rio por fluxos concentrados que provocam processos de erosotildees do tipo laminar ravina e voccediloroca transportando quantidades expressivas de sedimentos que por sua vez causam assoreamento e a ocorrecircncia de cheias mais frequentes no rio

Com o crescimento acelerado do periacutemetro urbano proporcionado pelo apogeu do ciclo

cafeeiro as proacuteximas deacutecadas levaratildeo a cidade de Colatina a sofrer com impactos

advindos das alteraccedilotildees no ambiente fluvial do Rio Doce em especial os referentes a

ocupaccedilatildeo (impermeabilizaccedilatildeo) e desmatamento das margens (interferecircncia na drenagem

natural) conforme destacado por Coelho (2007)

Eacute fato que o municiacutepio viveu nas deacutecadas de 1940 e 1950 o auge do ciclo cafeeiro

chegando a ser no ranking brasileiro o 13ordm municiacutepio produtor de cafeacute no ano de 1947

(CAMPOS JUNIOR 2004 apud ALBANI 2012 p69) Poreacutem a partir de 1960 este boom

entrou em colapso com crise do cafeacute que assolou todo o paiacutes levando grande parte dos

pequenos proprietaacuterios rurais a migrarem para centros urbanos em especial no Espiacuterito

Santo a regiatildeo da Grande Vitoacuteria e tambeacutem para o centro de Colatina

Em razatildeo da crise cafeeira a populaccedilatildeo rural migra para centros urbanos A populaccedilatildeo migrou em grande quantidade para a Grande Vitoacuteria para fora do estado e tambeacutem para a cidade de Colatina principal aglomerado urbano da regiatildeo Esse processo provoca o aumento da aacuterea urbana de Colatina A populaccedilatildeo da cidade que era de 3913 habitantes em 1940 cresceu para 26757 habitantes em1960 (ALBANI2012 p71)

O crescimento raacutepido do centro de Colatina aliado ao aumento populacional direciona

grande parte dos migrantes para as aacutereas menos centrais da cidade levando agrave ocupaccedilatildeo

de locais irregulares como os morros e as margens direita e esquerda do Rio Doce Este

45

processo configurou a nova paisagem do municiacutepio povoando do vale agraves encostas (Figura

13)

Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes Fonte Albani (2012 p73)

Associado a este processo de reconfiguraccedilatildeo espacial nas proacuteximas deacutecadas o municiacutepio

de Colatina passaraacute por sucessivas perdas de territoacuterios ateacute atingir os limites atuais (Figura

1 p17) Aliado a estas perdas territoriais seu quantitativo absoluto populacional tambeacutem

sofreraacute impactos poreacutem de modo geral a populaccedilatildeo urbana deste municiacutepio apresentou

crescimento continuo (Graacutefico 2)

Graacutefico 2

Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 2010

Elaborado pela autora Fonte 1940 e 1950 Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p82) 1960 a 2010 IBGE

0

20000

40000

60000

80000

100000

120000

1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020

Populaccedilatildeo Urbana Colatina 1940 - 2010

46

Assim como tem ocorrido nas grandes capitais Colatina cresceu em quantitativo

populacional e territorial urbano de modo muito raacutepido e por este desenvolvimento natildeo ter

sido aliado a um planejamento urbano e ambiental sustentaacutevel a cidade tem sentido os

reflexos das suas interferecircncias ao longo do canal do Doce O que tem provocado

antecipaccedilatildeo dos picos de vazatildeo que no periacutemetro urbano ocasiona as inundaccedilotildees pois

natildeo conseguindo o rio acomodar estes defluacutevios transfere em curto espaccedilo de tempo as

aacuteguas a sua planiacutecie de inundaccedilatildeo atingindo os bairros mais antigos do municiacutepio

Por fim entender o contexto histoacuterico do crescimento da cidade revela muito do panorama

atual E por meio de uma anaacutelise conjunta da histoacuteria com os novos planejamentos eacute

possiacutevel propor intervenccedilotildees urbanas que possibilitem um conviacutevio harmonioso entre

natureza e sociedade neste caso entre o Rio Doce e o centro de Colatina Diante desta

proposta adiante apresentaremos a evoluccedilatildeo dos bairros associando seus periacuteodos de

ocupaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo espacial nas imediaccedilotildees do curso principal do Doce

411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade

Com nuacutecleo inicial de povoamento no Barracatildeo de Santa Maria a cidade de Colatina

cresce a partir deste ponto agrave margem direita do Rio Doce de onde surgem as primeiras

residecircncias comeacutercios e a igreja Atualmente a regiatildeo compreende o bairro de Colatina

Velha que de acordo com Albani (2012 p91) [hellip] ldquopode ser considerado o primeiro polo

de crescimento da cidaderdquo

Aliado ao aumento da populaccedilatildeo migrante das fazendas com a crise do cafeacute o nuacutecleo de

Colatina Velha passa a ser um ponto de passagem obrigatoacuterio para os viajantes que

vinham majoritariamente do sul uma vez que o Rio Doce configurava uma barreira natural

agrave ocupaccedilatildeo das terras ao norte Aleacutem disso a margem esquerda deste canal fluvial era

habitat dos hostis iacutendios botocudos o que dificultava a sua apropriaccedilatildeo

Sendo assim a ocupaccedilatildeo de Colatina conteve-se agrave margem direita nesta primeira fase o

que define o primeiro vetor de crescimento da cidade na direccedilatildeo leste para oeste partindo

das imediaccedilotildees do Barracatildeo de Santa Maria sentido ao Rio Santa Maria do Doce (Figura

14) E a partir de 1906 com a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas da entatildeo

Companhia Vale do Rio Doce atual Vale este vetor de crescimento se consolida e

47

proporciona o surgimento de importantes avenidas paralelas agrave ferrovia a exemplo da Av

Getuacutelio Vargas

Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de crescimento Elaborado pela autora

48

O segundo vetor do crescimento de Colatina estava condicionado agrave construccedilatildeo da ponte

Florentino Aacutevidos a qual conectou a margem direita agrave esquerda do Rio Doce permitindo

a ocupaccedilatildeo da porccedilatildeo ao norte Portanto somente a partir de 1928 com a finalizaccedilatildeo da

obra da ponte a barreira natural pocircde ser transposta o que possibilitou ao lado esquerdo

desenvolver uma nova linha de crescimento urbano com a ocupaccedilatildeo do atual bairro de

Satildeo Silvano

O terceiro vetor de crescimento estaacute associado agrave implantaccedilatildeo do bairro Luiz Iglesias na

margem direita e os de Maria das Graccedilas e Coluacutembia na margem esquerda Albani (2012)

ressalta que esta fase da ocupaccedilatildeo urbana estaacute associada ao desenvolvimento do sistema

viaacuterio como a proximidade da BR-259 sentido Vitoacuteria- Colatina da ES-80 que liga

Colatina agrave regiatildeo norte da ES-256 que a conecta a Marilacircndia e da proximidade da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria Carlos Germano Nauman (Figura 15)

Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios e linhas feacuterreas que interceptam a cidade de Colatina Elaborado pela autora

Jaacute na quarta e mais recente linha de crescimento da cidade temos os novos loteamentos

residenciais e industriais a exemplo do de Barbados e do bairro Santa Helena que surgem

49

acompanhando o traccedilado da ponte que contorna a leste a cidade como novo acesso agrave

porccedilatildeo norte do estado Albani (2012 p118) destaca que

Apesar da construccedilatildeo da Segunda Ponte ter sido iniciada em 1986 somente foi inaugurada em 2007 A conclusatildeo da ponte e a construccedilatildeo de uma rodovia de contorno desviaram a BR-259 do centro da cidade O desvio da rodovia federal trouxe um desafogamento do tracircnsito nas principais vias da cidade e um novo direcionamento na expansatildeo urbana Alguns loteamentos surgiram nesse periacuteodo proacuteximo agrave Segunda Ponte e ao contorno na margem norte do rio principalmente no bairro Santa Helena (Figura 55) Essa situaccedilatildeo indica mais uma vez que as linhas de crescimento em Colatina satildeo orientadas pelas vias de transporte

Portanto o crescimento do periacutemetro urbano de Colatina estaacute associado agrave superaccedilatildeo das

barreiras naturais em especial o Rio Doce por meio de investimentos em obras de

engenharia que permitiram o deslocamento humano para a margem esquerda deste curso

Sem duacutevida as vias de transporte foram elementares na construccedilatildeo do periacutemetro urbano

de Colatina pois na medida que se consolidava o sistema viaacuterio as ocupaccedilotildees tambeacutem se

favoreciam destas vias de locomoccedilatildeo A evoluccedilatildeo da aacuterea urbana portanto acompanha

as principais vias de transporte (Figura 15 p45) e estas se utilizam da posiccedilatildeo estrateacutegica

e geograficamente favoraacutevel do canal do Doce para a definiccedilatildeo de seus traccedilados

Apoacutes 94 anos de emancipaccedilatildeo de Linhares o territoacuterio de Colatina eacute fundamental para a

manutenccedilatildeo dos municiacutepios do noroeste capixaba Diante desta posiccedilatildeo estrateacutegica torna-

se relevante o entendimento de como o urbano se relaciona com o meio natural a fim de

se estabelecer poliacuteticas de ordenamento territorial que promovam a qualidade de vida no

municiacutepio Adiante seraacute analisada a situaccedilatildeo da calha principal do Rio Doce elemento

fundamental na compreensatildeo do uso e cobertura da terra de Colatina

42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce

Compreendendo uma aacuterea de 3330 kmsup2 o periacutemetro urbano de Colatina eacute afetado pela

velocidade dos defluacutevios de modo que grande parte dos bairros beira-rio eacute tomada pelas

aacuteguas excedentes da calha principal do Doce o que configura o fenocircmeno de inundaccedilatildeo

Ao pesquisar estes fenocircmenos eacute necessaacuterio relacionar o uso da terra com os processos

geomorfoloacutegicos do corpo hiacutedrico Sendo assim por meio de teacutecnicas de

geoprocessamento foram realizadas oito mediccedilotildees da calha principal do Rio Doce para

50

estabelecimento da distacircncia meacutedia da largura de sua calha O resultado esteve dentro do

esperado e pode ser verificado na tabela abaixo (Tabela 1) e no mapa em sequecircncia

(Figura 16)

Tabela 1 Perfis transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de

vazante (abril) e cheia (janeiro)

Largura do rio Doce periacuteodo de vazante e cheia

Abril2013(m) Janeiro2014(m)

P1 70735 75784

P2 62080 66483

P3 59209 65804

P4 63548 67650

Meacutedia dos Perfis 62814 67066

Meacutedia Geral 66143 Obs todas as medidas estatildeo em metros

Elaborado pela autora

Figura 16 - Traccedilado dos perfis transversais da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de vazante mecircs de abril2013 Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)

51

Com uso das imagens orbitais do Landsat-8 atraveacutes da classificaccedilatildeo hiacutebrida foram

gerados dois arquivos shapefiles correspondentes agraves bordas do Doce um no periacuteodo de

vazante e outro no de cheia Por meio destes dados foram definidos quatro traccedilados para

realizaccedilatildeo das mediccedilotildees a partir destas e com auxiacutelio das medidas de tendecircncia central

chegou-se a uma largura meacutedia total de 66143m de uma margem a outra Este resultado

indicou que tanto no periacuteodo de vazante quanto no periacuteodo de cheia a largura meacutedia

aponta para a maior faixa de APP proteccedilatildeo de 500m conforme previsto na legislaccedilatildeo

federal (Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e no revogado Lei 4771 1965)

Analisando a imagem abaixo (Figura 17) observa-se que grande parte do solo

naturalmente destinado a ldquoacomodaccedilatildeordquo das aacuteguas nas cheias (linha laranja) foi

incorporado agrave sociedade como espaccedilo criado (periacutemetro urbano em APP mancha em

amarelo) destinado a fins muacuteltiplos Deste modo sem planejamento territorial adequado

grande parte da planiacutecie de inundaccedilatildeo deu lugar a outras funccedilotildees diferentes das naturais

sendo incorporada ao espaccedilo urbano

Lanccedilando o buffer (mancha em amarelo) do entorno da calha do Doce (Figura 17) observa-

se que dos 59 bairros do municiacutepio cerca de 29 estatildeo dentro da aacuterea de 500m destinada

a preservaccedilatildeo permanente pelo Coacutedigo Florestal Considerando-se a delimitaccedilatildeo da APP

prevista no PDM de 1996 e 2007 (linha laranja mais proacutexima da borda do rio) este nuacutemero

cai para 18 bairros permanecendo apenas aqueles que possuem limites com o corpo

hiacutedrico

Uma vez que que lei municipal natildeo suplanta lei federal considerar-se-aacute neste estudo o

limite da faixa marginal de proteccedilatildeo definida na Lei Federal 126512012 Deste modo a

aacuterea de preservaccedilatildeo permanente do Doce neste recorte eacute de 1085 kmsup2 compreendendo

33 do periacutemetro urbano de Colatina

Cabe destacar ainda que mesmo o PDM de 1996 contendo enquanto objetivo no Art 14

ldquoI - estabelecer a ordenaccedilatildeo do uso e da ocupaccedilatildeo do solo urbanordquo (Lei 42281996 p4)

a gestatildeo municipal natildeo obteve sucesso na implementaccedilatildeo de tal legislaccedilatildeo O que se

verifica tanto nas deacutecadas de 1990 quanto no iniacutecio dos anos 2000 quando foram

aprovados novos parcelamentos urbanos agraves margens deste canal a exemplo dos bairros

de Barbados na margem direita e do bairro Mario Giurizato na margem esquerda

52

Figura 17- Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)

53

Articulado a esta ideia e pesquisando o trecho do bairro Esplanada a Colatina Velha palco

das uacuteltimas obras estruturantes de alto porte do municiacutepio consegue-se analisar os efeitos

das inundaccedilotildees nas margens deste rio Logo implementar medidas de prevenccedilatildeo de

cheias em aacutereas com urbanizaccedilotildees antigas requer um esforccedilo da gestatildeo na regulaccedilatildeo do

solo urbano

421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie

de Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio

Interceptada pelo curso do Rio Doce no perfil mais a jusante da bacia a cerca de 100km

do estuaacuterio com o Oceano Atlacircntico a cidade de Colatina polo moveleiro e de confecccedilotildees

do centro-oeste capixaba eacute palco recorrente de inundaccedilotildees urbanas

Conforme jaacute mencionado por Cunha (2012a) este fenocircmeno ocorre quando a bacia recebe

um percentual precipitado acima da sua capacidade de escoamento o que faz o leito

menor do rio extravasar para o leito maior ocupando as aacutereas de vaacuterzeas (Figura 18 p

50) Aliadas a esta questatildeo estatildeo as ocupaccedilotildees humanas das margens dos rios que ao

suprimir a vegetaccedilatildeo natural e alterar a condiccedilatildeo fiacutesica do solo acabam por reduzir a aacuterea

de drenagem das aacuteguas pluviais acelerando o escoamento superficial para o canal

principal e favorecendo os defluacutevios

Figura 18 - Representaccedilatildeo da inundaccedilatildeo urbana Fonte adaptado da Defesa Civil do Tocantins (2015)

Este fenocircmeno tem ganhado destaque em Colatina a partir de 1979 ano em que o Rio

Doce atingiu a vazatildeo de 12860msup3s tomando toda aacuterea aplainada que compotildee seu leito

maior afetando da atual Av Beira-Rio ateacute as redondezas da Av Getuacutelio Vargas Desde

entatildeo os estudos das inundaccedilotildees urbanas satildeo relevantes no municiacutepio o que levou o

54

Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) na deacutecada de 1980 a elaborar um ldquoPlano Diretor

de Contenccedilatildeo das Enchentes Proteccedilatildeo das Encostas e Drenagem Pluvial de Colatinardquo

Tal medida apresentou seis alternativas para o fenocircmeno Poreacutem tendo em vista o custo

operacional das obras apenas a alternativa seis que previa a construccedilatildeo de diques

marginais para a proteccedilatildeo das aacutereas mais centrais foi considerada viaacutevel na eacutepoca

Todavia em entrevistas com funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina (PMC) foi

relatado que todo o estudo foi arquivado e que ateacute agora natildeo haacute previsatildeo de

implementaccedilatildeo de tais medidas Fato este que eacute evidenciado (Tabela 2 p 51) quando da

ocorrecircncia de precipitaccedilotildees intensas na bacia durante as quais sazonalmente a cidade eacute

impactada com as aacuteguas das inundaccedilotildees Isto faz com que o municiacutepio passe

recorrentemente por cataacutestrofes conforme tabela com os principais picos de vazatildeo do rio

nos uacuteltimos 50 anos

Tabela 2

Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013

Ano Diamecircs Vazatildeo(msup3s)

1961 30jan 6613

1979 04fev 12860

1997 07jan 8687

2005 03ago 6549

2013 24dez 9028

Fonte Coelho (2007 apud DALLAPICOLA 2014 p4) e CPRM (2014 p85) Observo que os dados da tabela 1 para os anos de 1979 e 2013 estatildeo baseados na estimativa de vazatildeo meacutedia diaacuteria das maacuteximas anuais obtida atraveacutes de extrapolaccedilatildeo da curva-chave pelo grupo interdisciplinar dos relatoacuterios criacuteticos anteriores

As inundaccedilotildees de 1979 1997 e recentemente 2013 (Figura 19) foram as de maior vazatildeo

neste setor do rio e consequentemente as que mais atingiram a aacuterea urbana do municiacutepio

bloqueando os acessos ao centro da cidade e aos equipamentos essenciais como

hospitais escolas e demais oacutergatildeos puacuteblicos aleacutem de desalojarem muniacutecipes e

comprometerem a sauacutede puacuteblica

55

Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de 1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 Fonte1) Nossa Colatina 2) Nossa Linda Colatina 3) Nossa Colatina

Com o propoacutesito de identificar os principais fatores que acentuam as inundaccedilotildees seraacute

analisado como os processos geomorfoloacutegicos do Doce estatildeo sendo afetados pela accedilatildeo

antroacutepica Limitaremos a anaacutelise ao periacutemetro urbano no trecho que compreende do bairro

Esplanada ateacute o bairro Colatina Velha (Figura 20) Neste periacutemetro eacute possiacutevel visualizar a

evoluccedilatildeo da mancha urbana sobre o leito do rio aleacutem de identificar na margem direita os

pontos desnaturalizados deste canal fluvial

56

Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2) Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do recorte em rosa da APP de 50m (amarelo claro) e 500m (amarelo escuro) Fonte 3) Encontra Colatina (2015)

57

O recorte em questatildeo eacute margeado pela Av Beira-Rio e estaacute situado (Figura 20) dentro do

buffer de preservaccedilatildeo permanente previsto no PDM (buffer de 50m) e no Novo Coacutedigo

Florestal (buffer de 500m) Apesar desta aacuterea ser destinada a mata nativa e ou

reflorestada a ocupaccedilatildeo urbana antecede os artigos legais o que dificulta poliacuteticas de

gestatildeo territorial em um periacutemetro ao mesmo tempo histoacuterico e com funccedilatildeo relevante no

equiliacutebrio hidroloacutegico da bacia

O periacutemetro faz parte da vaacuterzea da margem direita do Rio Doce pois encontra-se em cota

topograacutefica de 50m caracterizando sua planiacutecie Logo a aacuterea em questatildeo tem a funccedilatildeo de

acomodar as aacuteguas das cheias quando a calha principal natildeo comporta o escoamento de

grandes vazotildees Esta tarefa passa a ser prejudicada na medida em que na bacia ou no

curso original satildeo implementadas obras que interferem na morfologia do corpo hiacutedrico

principal como a instalaccedilatildeo das hidreleacutetricas de Mascarenhas (1974) e Aimoreacutes (2005) a

montante

As UHErsquos a montante comprometem os processos do rio uma vez que o regime natural de

transporte de sedimentos eacute alterado com o barramento o que favorece a erosatildeo e

consequentemente o assoreamento com a formaccedilatildeo de bancos arenosos alteraccedilatildeo do

seu perfil transversal e reduccedilatildeo da profundidade Aleacutem disso segundo Coelho (2007) as

vazotildees maacuteximas e miacutenimas foram alteradas com a implantaccedilatildeo das hidreleacutetricas a

montante implicando em vazotildees meacutedias anuais miacutenimas cada vez mais reduzidas com

valores se distanciando da linha de tendecircncia (polinocircmio) provando o natildeo equiliacutebrio da

vazatildeo apoacutes a implantaccedilatildeo das barragens (Graacutefico 1 p22)

Entretanto a primeira intervenccedilatildeo direta no trecho em estudo foi a instalaccedilatildeo da estrada

de ferro que atraiu migrantes para Colatina permitindo o crescimento populacional e a

expansatildeo urbana desordenada agraves margens do Doce Este crescimento intensificou a

supressatildeo das matas ciliares e abriu espaccedilo para a impermeabilizaccedilatildeo do solo reduzindo

a infiltraccedilatildeo

Posteriormente a inauguraccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos ampliou o fluxo na regiatildeo pois

proporcionava a ligaccedilatildeo com as terras ao norte do Estado Atuou tambeacutem como obstaacuteculo

ao transporte de sedimentos carreados no fluxo natural do rio uma vez que sua

implantaccedilatildeo altera a topografia do fundo do canal afetando os processos geomorfoloacutegicos

58

Poreacutem foi no Morro das Cabritas (colina localizada no espaccedilo que compreende o atual

bairro Esplanada) que ocorreu a primeira desnaturalizaccedilatildeo nas margens do Doce Este

morro por onde o Rio Santa Maria do Doce meandrava ateacute desaguar no Rio Doce foi

cortado em meados de 1953 para abrigar a cidade em expansatildeo Devido a esta

intervenccedilatildeo o curso original do Santa Maria foi deslocado e passou a escoar

retilineamente ateacute a foz (Figura 21)

Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponte Florentino Aacutevidos (direita) e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque em vermelho para o curso atual do Santa Maria Fonte Nossa Colatina

As intervenccedilotildees na margem direita tornam-se mais intensas a partir da deacutecada de 1960

quando no ano de 1968 edificou-se um muro visando a proteccedilatildeo dos pilares da

extremidade direita da ponte Esta obra ficou paralisada por muitos anos e foi a primeira

de retificaccedilatildeo e aterro realizada neste trecho do rio Esta intervenccedilatildeo modificou o fluxo

natural das correntes do rio e reduziu a largura da sua calha alterando a morfologia do

canal (Figura 22)

59

Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de proteccedilatildeo da ponte Elaborado pela autora Fonte fotos histoacutericas Nossa Colatina

Contudo somente em 1972 teve iniacutecio o segundo aterro (Figura 23) com a finalidade de

alocar a estaccedilatildeo rodoviaacuteria de Colatina e ampliar a aacuterea de acesso agrave ponte Florentino

Aacutevidos A implementaccedilatildeo desta obra suprimiu parte do leito do Rio Doce pois removeu a

saliecircncia cocircncava que curvava o rio retilinizando esta parte do canal

60

Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora Fonte Nossa Colatina Nossa Linda Colatina

Apoacutes dez anos sem grandes intervenccedilotildees em 1982 o lado a montante da ponte bairro

Esplanada eacute acrescido de um aterro que estenderaacute a aacuterea do antigo Morro das Cabritas

para o rio (Figura 24)

Conhecido como Rua da Lama devido agrave umidade que o rio transferia ao aterro formando

um barro viscoso que persistia a maior parte do ano o trecho atualmente compreende a

Avenida Professor Joseacute Zouian popularmente denominada Avenida Beira-Rio de onde

surge a primeira forma do calccediladatildeo que seraacute estendido ateacute o bairro Colatina Velha

61

Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o calccediladatildeo da Av Beira-Rio Elaborado pela autora Fonte Bennachio (2015)

Somente em 2004 foi implementado o maior projeto de canalizaccedilatildeo do municiacutepio Naquele

ano teve iniacutecio a execuccedilatildeo do enrocamento da Av Beira-Rio (Figura 25) obra destinada

inicialmente a alocaccedilatildeo de equipamentos puacuteblicos de lazer e cultura praccedilas preacutedios aleacutem

da promessa de contribuir para a contenccedilatildeo dos transbordamentos do Rio Doce

Apesar de o referido manancial jaacute estar comprometido com problemas de poluiccedilatildeo

assoreamento e erosatildeo aleacutem dos impactos de duas hidreleacutetricas instaladas a montante a

obra abarcou a supressatildeo da vegetaccedilatildeo ciliar e aterro de parte do rio jaacute tatildeo degradado

62

Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento iniciada em 2004 e finalizada em 2008 Elaborado pela autora Fonte proacutepria autora em 240215

Ocupando uma aacuterea total de 130 mil msup2 do leito do Rio Doce o aterro teve iniacutecio em 2004

sendo construiacutedo com cerca de 90 mil msup3 de pedras 50 mil msup3 de areia retirada do leito do

rio e por fim o nivelamento com 200 mil msup3 de terra A obra era divulgada como um antigo

sonho dos colatinenses e serviria para ampliaccedilatildeo da Av Beira-Rio no bairro de Colatina

Velha instalaccedilatildeo de ciclovias calccediladatildeo equipamentos puacuteblicos e estacionamento (Figura

26) Apesar do fim da engenharia em 2008 o projeto ainda estaacute em fase de acabamento

na parte urbaniacutestica e na alocaccedilatildeo dos oacutergatildeos puacuteblicos

Cabe destacar que a obra sofreu embargos do Ministeacuterio Puacuteblico Federal (MPF) por

apresentar apenas cadastro na Agecircncia Nacional de Aacuteguas (ANA) que conforme parecer

da Procuradora Nadja Machado Botelho na Accedilatildeo Civil Puacuteblica ldquo[hellip] equivocadamente natildeo

realizou o procedimento de outorga [hellip]rdquo (MPF 2006 p2) Aleacutem disso a procuradora

solicitou tutela tendo em vista tratar-se de aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental e o fato de o

IBAMA ter concedido licenciamento com indevida dispensa do Estudo de Impacto

Ambiental (EIA)Relatoacuterio de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA)

63

Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina Fonte Prefeitura de Colatina (2015)

Por isso essa obra deve ser considerada faraocircnica para os cofres puacuteblicos e irreversiacutevel

para os processos geomorfoloacutegicos do Doce E sua efetivaccedilatildeo soacute foi possiacutevel com a

participaccedilatildeo e investimentos do Governo estadual Contudo seu objetivo foi frustrado pois

novamente na cheia do Rio Doce em dezembro de 2013 quando este atingiu a vazatildeo de

9028 msup3s a aacuterea foi inundada e por estar em cota maior que as casas que beiravam o

rio o enrocamento atuou como represa natildeo permitindo o retorno das aacuteguas quando o niacutevel

do rio retomou o equiliacutebrio

Por fim segue um mapa siacutentese (Figura 27) com a cartografia das quatro principais

intervenccedilotildees diretas e estruturais na margem direita do Doce no setor urbano de Colatina

representando o curso natural do rio em 1950 e suas desnaturalizaccedilotildees a partir da deacutecada

de 60 ateacute a atualidade

64

Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce ante e depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora

65

422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio

O recorte em estudo compreende as Zonas ZE-1 ZE-2 e ZUD 2-1 (Figura 28 p61) sendo

a Zona Especial 1 Zona Especial 2 e Zona de Uso Diverso 2-1 destinadas no PDM (Lei

52732007)

Artigo 103 - As Zonas de Usos Diversos ndash ZUD satildeo definidas em razatildeo da concentraccedilatildeo de atividades urbanas diversificadas com predominacircncia do uso comercial e de serviccedilos Artigo 104 - Satildeo objetivos das Zonas de Usos Diversos I - otimizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do solo priorizando a instalaccedilatildeo de novos empreendimentos em terrenos natildeo edificados contiacuteguos a empreendimentos jaacute instalados II - controle da implantaccedilatildeo de usos incompatiacuteveis com os definidos para estas zonas III - garantia de licenciamento e monitoramento ambiental dos empreendimentos IV - controle da expansatildeo comercial de serviccedilos e de induacutestrias de pequeno porte em direccedilatildeo a aacutereas residenciais [] Artigo 130 - As Zonas Especiais 1 ndash ZE 1 abrangem todas as aacutereas remanescentes do municiacutepio relativamente ao zoneamento estabelecido nesta lei ocupadas ou natildeo contida na lei de periacutemetro urbano para as quais natildeo foram ainda estabelecidos os criteacuterios de uso e ocupaccedilatildeo Artigo 131 - As Zonas Especiais 2 ndash ZE 2 satildeo as aacutereas existentes no prolongamento da avenida Beira Rio mais especificamente no trecho entre o 80 Batalhatildeo da Poliacutecia Militar e a rua Pedro Epichin incluindo o espaccedilo existente entre a margem do Rio Doce e o limite das construccedilotildees localizadas na rua Pedro Epichin

Cabe destacar que mesmo sendo palco das aacutereas mais afetadas com as inundaccedilotildees do

Rio Doce a Beira-Rio tem sido alvo da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria que aproveitando-se dos

iacutendices pouco restritos da ZUD 2 (Figura 28 p62) valoriza o espaccedilo promovendo a

instalaccedilatildeo de grandes estruturas como hipermercados edifiacutecios residenciais modernos e

hotelaria

66

Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 Fonte Colatina (2007)

A aacuterea contida na ZE (Figura 28) natildeo possui criteacuterio de ocupaccedilatildeo definido na legislaccedilatildeo

atual sendo adotado o disposto na Lei 41961995 que estabelece os iacutendices urbaniacutesticos

para as aacutereas conquistadas junto ao Rio Doce e na Lei 420595 que aprova os

parcelamentos na Beira-Rio Quanto agrave ZUD 2-1 apresenta iacutendices urbaniacutesticos no anexo

118 do Plano Diretor conforme tabela 3 abaixo

67

Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1

Fonte Colatina (2007 p36)8

68

Eacute relevante observar que numa aacuterea onde o corpo hiacutedrico foi reduzido pelos sucessivos

aterros tenha sido aprovada a instalaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto (Figura

29) com taxa de ocupaccedilatildeo de ateacute 80 e com baixo iacutendice de permeabilidade Ampliou-

se a aacuterea impermeaacutevel numa regiatildeo onde a drenagem jaacute eacute muito comprometida com a

expansatildeo urbana sobre o rio

Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto na Beira-Rio Fonte imagem do Google Maps 2015 E fotos da autora em 140215

Portanto analisando o conjunto de dados apresentado acima eacute possiacutevel entender como

as inundaccedilotildees satildeo potencializadas no municiacutepio atingindo a populaccedilatildeo mas em especial

afetando a dinacircmica de um corpo hiacutedrico tatildeo relevante para o Estado A fim de subsidiar a

gestatildeo puacuteblica com material cartograacutefico para a tomada de decisotildees delimitou-se o

poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo (Figura 30) Pois devem ser adotadas medidas que

minimizem impactos de futuros eventos hidroloacutegicos na bacia capazes de comprometer

novamente a aacuterea urbana mais central de Colatina

69

Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av Beira-Rio em dezembro de 2013 Elaborado pela autora

70

Diante do poliacutegono de inundaccedilatildeo da uacuteltima cheia (Figura 30) em dezembro de 2013 eacute

possiacutevel implementar medidas de convivecircncia com as grandes vazotildees a exemplo de

paiacuteses como Holanda que vem investindo em medidas de resiliecircncia a fim de reduzir a

velocidade dos defluacutevios possibilitando ao canal a capacidade de acumular e dispersar as

aacuteguas com impacto miacutenimo para as populaccedilotildees Conforme Carneiro e Miguez (2011) a

estrateacutegia adotada pelo paiacutes eacute reter armazenar e drenar sendo mais flexiacutevel e natildeo

interferindo drasticamente na dinacircmica do corpo hiacutedrico

Por fim a implementaccedilatildeo de soluccedilotildees de planejamento urbano em Colatina requer uma

anaacutelise integrada que abarque o urbano e o ambiental de modo a propor intervenccedilotildees que

produzam impactos reduzidos nos processos geomorfoloacutegicos do Rio Doce Logo a gestatildeo

municipal deve atuar em niacutevel de bacia hidrograacutefica interagindo com os municiacutepios a

montante propondo medidas de minimizaccedilatildeo das cheias urbanas Mas na escala local

pode-se atuar junto aos novos parcelamentos de modo a ampliar o percentual de aacutereas

permeaacuteveis no municiacutepio incentivando por exemplo os novos loteamentos a adotarem

pavimentaccedilotildees que permitam a drenagem natural do solo

71

5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Partindo da ideia de que eacute possiacutevel implementar medidas que minimizem o escoamento

superficial satildeo apresentadas propostas como forma de controlar ou ao menos reduzir os

impactos das inundaccedilotildees urbanas

Embora as implementaccedilotildees histoacutericas de estruturas de proteccedilatildeo ou barreiras mais altas

tenham sido muito disseminadas atualmente estatildeo sendo suplantadas pelo gerenciamento

de inundaccedilotildees de maneira mais sustentaacutevel Deste modo as experiecircncias fora do Brasil

apontam para soluccedilotildees mais flexiacuteveis que considerem o fluxo natural do canal enquanto

um ecossistema em equiliacutebrio Para tanto Carneiro e Miguez (2011 p150) destacam a

iniciativa alematilde no controle de inundaccedilotildees em bacias hidrograacuteficas metropolitanas

[hellip] A abordagem comum consiste na regulaccedilatildeo do uso do solo nas aacutereas inundaacuteveis e em ldquodar espaccedilo para o riordquo ao inveacutes de priorizar investimentos em estruturas de proteccedilatildeo contra inundaccedilotildees como a colocaccedilatildeo de diques de contenccedilatildeo as margens dos rios A utilizaccedilatildeo do conceito de resiliecircncia apropriado de ecologia decorre dessa abordagem A aplicaccedilatildeo praacutetica do conceito implica portanto em mudanccedilas de paradigma Deixa de ser preponderante a engenharia construtiva e entra em cena o planejamento de longo prazo voltado para o desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis capazes de conviver com as variaccedilotildees do ciclo hidroloacutegico sem significar necessariamente trageacutedias anunciadas

Aleacutem dessas propostas geoacutegrafos como Sandra Cunha tecircm estudado a recuperaccedilatildeo

natural ou ldquorenaturalizaccedilatildeordquo de corpos fluviais visando promover a estabilidade dos canais

de modo mais sustentaacutevel Para ela

[hellip] Recuperaccedilatildeo de canal significa de forma simples o retorno as condiccedilotildees anteriores aos distuacuterbios Em essecircncia eacute o processo de recuperaccedilatildeo do rio ou do ecossistema fluvial estabilizando o desenvolvimento de habitats e colonizaccedilatildeo a uma taxa mais raacutepida que dos processos naturais fiacutesicos e bioloacutegicos Na recuperaccedilatildeo de canais ocorrem consideraccedilotildees de aspecto hidroloacutegico morfoloacutegico e ecoloacutegico qualidade da aacutegua esteacutetica aleacutem da necessidade de uma visatildeo integradora do projeto sustentaacutevel de recuperaccedilatildeo (CUNHA 2012 p230 a 231)

Satildeo portanto medidas pontuais como o retorno agraves sinuosidades do rio (Figura 31 p 68)

ou a substituiccedilatildeo de estruturas de concreto por superfiacutecies mais permeaacuteveis a exemplo

das trincheiras de infiltraccedilatildeo ou pavrsquos (Figura 32) aacutereas mais vegetadas aleacutem de coleta e

uso de aacutegua da chuva bem como tratamento das aacuteguas superficiais por meio de

72

amenidades esteacuteticas como reservatoacuterios de retenccedilatildeo ou detenccedilatildeo que podem ser

associados a ambientes harmocircnicos como lagos artificiais Todas estas accedilotildees possibilitam

a minimizaccedilatildeo das grandes vazotildees no solo urbano pois pretendem atenuar os impactos

das cheias fazendo com que seja resgatada parte da drenagem existente anteriormente agrave

urbanizaccedilatildeo

Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do Rio Aa Munster Alemanha (1998) Fonte Cunha (2012 p233)

Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos Fonte Carneiro e Miguez (2011 p128)

A partir do exposto cabe agrave gestatildeo municipal implementar legislaccedilotildees que priorizem a

permeabilidade possibilitando uma maior infiltraccedilatildeo das aacuteguas das chuvas atraveacutes de

pavimentaccedilotildees menos impermeaacuteveis e da ampliaccedilatildeo de aacutereas vegetadas Satildeo medidas

que tornam a drenagem mais sustentaacutevel aleacutem de possibilitar a manutenccedilatildeo dos serviccedilos

puacuteblicos de forma menos custosa tendo em vista o elevado preccedilo das recomposiccedilotildees

asfaacutelticas

1 2

73

Aleacutem disso quando se fala em controle de cheias urbanas pressupotildee-se uma seacuterie de

medidas para minimizaccedilatildeo de seus impactos desde a operaccedilatildeo de sistemas de alerta

zoneamento de aacutereas inundaacuteveis construccedilatildeo de grandes reservatoacuterios de contenccedilatildeo de

cheias e diques ateacute accedilotildees de educaccedilatildeo ambiental

Cabe pensar tambeacutem na proacutexima revisatildeo do PDM em um plano de macrodrenagem

municipal que reuacutena accedilotildees de caraacuteter estruturantes com obras hidraacuteulicas de infraestrutura

que realizem a conduccedilatildeo final das aacuteguas dos escoamentos superficiais para a minimizaccedilatildeo

das inundaccedilotildees e em medidas natildeo-estruturantes que trabalhem a consciecircncia ambiental

e proponha um zoneamento de cheias a fim de se delimitar os pontos mais fragilizados nos

defluacutevios

Por fim pensar em drenagem num contexto de ocupaccedilatildeo irregular histoacuterico requer

profissionais que aleacutem de possuir afinidade com a temaacutetica tambeacutem possam analisar os

diferentes processos que constituem o espaccedilo geograacutefico Logo este tipo de estudo deve

abarcar uma equipe multidisciplinar que percorra a anaacutelise desde o ambiental estrutural

ateacute o aspecto humano a fim de se produzir resultados que de fato contribuam com o

controle das inundaccedilotildees urbanas

74

6 CONCLUSAtildeO

A partir do recorte espacial foi possiacutevel compreender que a abordagem da geomorfologia

fluvial com a anaacutelise espaccedilo-temporal da ocupaccedilatildeo urbana possibilita a identificaccedilatildeo das

accedilotildees do homem no meio ambiente pois estas resultam na alteraccedilatildeo das paisagens

naturais e na dinacircmica da bacia hidrograacutefica Assim o Rio Doce deve ser estudado de

modo integrado ao crescimento da cidade sobretudo para compreensatildeo da produccedilatildeo do

espaccedilo geograacutefico

Analisar a inundaccedilatildeo urbana em Colatina foi satisfatoacuterio pois o municiacutepio estaacute situado no

perfil meacutedio-baixo da bacia vazante e eacute neste trecho que os reflexos das intervenccedilotildees satildeo

mais acentuados principalmente se esta parte do canal tambeacutem tiver passado por obras

que modificaram seus processos hidroloacutegicos Aleacutem disso a perspectiva geograacutefica aponta

para vaacuterias outras questotildees como erosatildeo fluvial planejamento urbano poluiccedilatildeo ambiental

crise da aacutegua que conduzem a outras discussotildees acerca da relaccedilatildeo homemnatureza

Ao demonstrar a evoluccedilatildeo espaccedilo-temporal do uso e cobertura da terra na margem direita

do Doce associando esta ocupaccedilatildeo agraves obras estruturantes que foram executadas no

canal verificamos que todas as praacuteticas adotadas para conter o transbordamento do rio

acabaram alterando sua morfologia com a retificaccedilatildeo de trechos em meandros reduzindo

a largura do corpo hiacutedrico o que favoreceu a apropriaccedilatildeo urbana de suas vaacuterzeas Aliadas

a estas questotildees estatildeo a falta de planejamento urbano e a omissatildeo diante da supressatildeo

das matas ciliares principalmente se considerados os resultados do relatoacuterio teacutecnico do

IJSN contra enchentes em 1980

Cabe destacar tambeacutem que toda a anaacutelise da ocupaccedilatildeo urbana e desnaturalizaccedilatildeo do

Rio Doce foi melhor identificada a partir dos produtos cartograacuteficos deste trabalho Pois eacute

na espacialidade dos fenocircmenos e no registro de informaccedilotildees ainda natildeo mapeadas como

os aterros que o geoacutegrafo executa a anaacutelise do seu objeto de estudo o homem e a

natureza aqui representado pela sociedade e o canal do Doce

Apesar do municiacutepio apresentar leis que resguardam os leitos dos rios desde o primeiro

PDM em 1996 nada foi feito para conter as ocupaccedilotildees irregulares beira-rio Pelo contraacuterio

estas aacutereas foram incorporadas ao Plano Diretor em 2007 com possibilidades de

ocupaccedilotildees diversas o que tem levado especuladores a valorizar o solo com vista para o

rio apontando suas qualidades esteacuteticas e teacutermicas Este fato vem aumentando o

75

percentual de aacutereas impermeaacuteveis nesta margem comprometendo ainda mais a drenagem

dos defluacutevios

Eacute na Av Beira-Rio que crescem as implantaccedilotildees de grandes empreendimentos comerciais

como supermercado Casagrande Ogil Hotel e obras de construccedilatildeo de novos arranha-

ceacuteus em um periacutemetro que jaacute eacute totalmente comprometido com os extravasamentos do Rio

Doce Estas obras ocupam grandes aacutereas e na maioria das vezes apresentam reduzida

aacuterea permeaacutevel reservando apenas o obrigatoacuterio pela lei cerca de 10 Observa-se

tambeacutem que a implantaccedilatildeo desses projetos estaacute condicionada agrave apresentaccedilatildeo e

aprovaccedilatildeo por comissatildeo na prefeitura do Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV) sendo

difiacutecil conceber que seja concedida tal licenccedila para implementaccedilatildeo de obras num trecho

de risco ambiental

Embora as diretrizes do Estatuto das Cidades para a implementaccedilatildeo do uso da terra

sustentaacutevel e os instrumentos para a regulaccedilatildeo do solo urbano sejam avanccedilados Colatina

eacute mais um exemplo da carecircncia de profissionais capacitados para estudar de modo

integrado e em niacutevel de bacia hidrograacutefica os efeitos da accedilatildeo humana num ambiente tatildeo

peculiar como as margens do Doce Por isso com os objetivos traccedilados nesta pesquisa

podemos aleacutem de compreender o fenocircmeno criar uma metodologia de anaacutelise de aacutereas

inundaacuteveis em ambientes urbanos O que permite agrave gestatildeo municipal uma diretriz para a

tomada de decisotildees

Destaca-se tambeacutem que as legislaccedilotildees aqui referenciadas supriram a discussatildeo acerca do

objeto de estudo mas outras podem contribuir para esta pesquisa a exemplo do Coacutedigo

das Aacuteguas da Poliacutetica Nacional dos Recursos Hiacutedricos das Resoluccedilotildees do Conama do

Estatuto das Cidades entre outros

Sendo assim numa revisatildeo do PDM deve-se pensar nestes aspectos da cidade desde o

histoacuterico de ocupaccedilatildeo das margens ateacute os impactos das inundaccedilotildees e o presente trabalho

auxilia com uma nova abordagem na reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo fornecendo material

cartograacutefico para subsidiar propostas de proteccedilatildeo ao curso do Doce e consequentemente

da populaccedilatildeo

Por fim deve-se destacar que o recorte estaacute inserido num contexto maior de uma bacia

hidrograacutefica que se estende aleacutem dos limites de Colatina ou do estado do Espiacuterito Santo

Esta bacia compreende a Regiatildeo Hidrograacutefica do Atlacircntico Leste e estaacute alocada tambeacutem

76

no estado de Minas Gerais o que portanto torna as accedilotildees de controle das inundaccedilotildees

mais complexas tendo em vista as divergentes politicas territoriais

77

7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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78

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JENSEN J R Sensoriamento Remoto do Ambiente uma perspectiva em recursos terrestres Satildeo Joseacute dos Campos SP Parecircntese 2009 MINISTERIO PUBLICO FEDERAL - MPF Accedilatildeo Civil Puacuteblica com pedido de Antecipaccedilatildeo de Tutela - da obra de Enrocamento da Av Beira Rio em ColatinaES2006 Disponiacutevel emlt wwwpresmpfmpbracp_riodoce_colatinadocgt Acesso em 14 de marccedilo de 2015 NOSSA COLATINA Fatos Histoacutericos Culturais Curiosidades Informaccedilatildeo Variedades Disponiacutevel em lt httpswwwfacebookcomnossacolatinagt Acesso em 29 de Janeiro de 2015 NOSSA LINDA COLATINA Fotos histoacutericas do centro de Colatina Disponiacutevel em lthttpswwwfacebookcomNossaLindaColatinaphotosgt Acesso em 29 de Janeiro de 2015 Serviccedilo Geoloacutegico do Brasil ndash CPRM Relatoacuterio Teacutecnico do Periacuteodo Criacutetico de Dezembro de 2013 (CPRM 2014) Disponiacutevel emlthttpwwwcprmgovbrpubliquemediarelatorio_eventos_criticos_190314pdfgt Acesso em 16 de Setembro de 2014 Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espiacuterito Santo - GEOBASES Downloads de planos de informaccedilatildeo do estado municiacutepio bairros corpo drsquoagua entre outros Disponiacutevel em httpwwwgeobasesesgovbr Acesso em 07 de Setembro de 2014 SITE BARRA Colatina debaixo drsquoaacutegua na maior enchente da histoacuteria do municiacutepio Colatina 24 de dezembro de 2013 lt httpwwwsitebarracombr201312colatina-debaixo-dagua-na-maior-enchente-da-historia-do-municipiohtml gt - Acesso em 25 de Maio de 2014 TUCCI CEM Prefacio In GUERRA e CUNHA (orgs) Impactos Ambientais Urbanos no Brasil 10ordf Ediccedilatildeo Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2013 UOL NOTiacuteCIAS Chuvas causam estragos em mais de dois terccedilos dos municiacutepios do Espiacuterito Santo Vitoacuteria 26 de dezembro de 2013 lt httpnoticiasuolcombralbum20131223chuvas-causam-estragos-em-metade-dos-municipios-do-espirito-santohtmfotoNav=62 gt ndash Acesso em 31 de Maio de 2014 USGS - Geological Survey Serviccedilo Geoloacutegico Americano Aquisiccedilatildeo de imagens orbita digitais gratuitas do sateacutelite LandSat-8 datas de passagem 02012014 e 22032014 EUA Disponiacutevel em lthttpearthexplorerusgsgovgt Acesso em 05 de setembro de 2014

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