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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPIacuteRITO SANTO CENTRO DE CIEcircNCIAS HUMANAS E NATURAIS
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
MAIONNY SOARES QUIEZA DALLAPICOLA
DESNATURALIZACcedilAtildeO DO RIO DOCE UMA ABORDAGEM GEOGRAacuteFICA DAS INTERVENCcedilOtildeES NO SETOR URBANO DE
COLATINAES
Vitoacuteria - ES 2015
MAIONNY SOARES QUIEZA DALLAPICOLA
DESNATURALIZACcedilAtildeO DO RIO DOCE UMA ABORDAGEM GEOGRAacuteFICA DAS INTERVENCcedilOtildeES NO SETOR URBANO DE
COLATINAES
Monografia apresentada ao Departamento de
Geografia do Centro de Ciecircncias Humanas e
Naturais da Universidade Federal do Espiacuterito
Santo como requisito parcial para obtenccedilatildeo
do Grau de Bacharel em Geografia
Orientador Prof Dr Andreacute Luiz Nascentes Coelho
Vitoacuteria - ES 2015
AGRADECIMENTOS
Agradeccedilo a Deus pela forccedila dia a dia sem a qual natildeo seria possiacutevel superar
os obstaacuteculos e alcanccedilar a vitoacuteria
Aos meus pais Maxima e Francisco por todo ensinamento por acreditarem
na minha capacidade e por me ajudarem a sonhar e correr atraacutes dos meus
objetivos
Ao meu marido Cleder pela paciecircncia pela forccedila nos momentos de
desacircnimo e por todo apoio dedicado Sem vocecirc natildeo teria conseguido
Ao engenheiro Francisco Hermes pela experiecircncia e conhecimentos
partilhados da aacuterea de estudo
Aos meus amigos Mocircnica Regina Larissa Patriacutecia e Ronald por todo apoio
e ajuda durante esta pesquisa
Ao meu orientador Andreacute pela oportunidade desta pesquisa pela paciecircncia
dedicada a mim e por todos os ensinamentos compartilhados Muito obrigada
A todos aqueles que estiveram comigo durante a graduaccedilatildeo e que
contribuiacuteram de alguma forma com o meu aprendizado
RESUMO Este trabalho tem como objeto de estudo o setor do Rio Doce que corta a aacuterea
urbana de Colatina ndash ES O objetivo principal desta anaacutelise foi verificar como as
intervenccedilotildees humanas no canal fluvial tecircm contribuiacutedo para ampliaccedilatildeo das cheias
na planiacutecie de inundaccedilatildeo Partindo desta premissa a pesquisa baseou-se na
anaacutelise de fotos histoacutericas de 1906 a 2015 e imagens de sateacutelite em periacuteodos de
vazante (abril) e cheia (janeiro) do rio Doce por onde foi possiacutevel cartografar as
alteraccedilotildees nas margens deste corpo hiacutedrico O cruzamento das seacuteries temporais
histoacutericas de vazatildeo do rio com a ocupaccedilatildeo da Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente
(APP) permitiu delimitar os pontos mais fragilizados da Av Beira Rio Deste modo
os resultados indicaram que o crescimento urbano desordenado e contiacutenuo
associado agraves alteraccedilotildees nos processos geomorfoloacutegicos tem intensificado a
degradaccedilatildeo do canal fluvial potencializando as inundaccedilotildees
Palavras-chave Geomorfologia fluvial geotecnologias anaacutelise geograacutefica integrada
intervenccedilatildeo humana e inundaccedilatildeo
REacuteSUMEacute
Ce travail a pour objet deacutetude le secteur de la Riviegravere Doce coupe de la zone urbaine ne
de Colatina ndash ES Le principal objectif de cette analyse eacutetait de veacuterifier comme les
interventions humaines dans le chenal de la Riviegravere Doce ont contribueacute pour le submersion
de la plaine dinondation De cette preacutemisse la recherche a eacuteteacute baseacutee sur lanalyse de
photographies historiques de 1906 a 2015 et images en peacuteriode de reflux (avril) et flux
(janvier) de la Riviegravere Doce par lequel il a eacuteteacute possible de cartographier les changements
dans les marges de ce plan deau Gracircce agrave lanalyse de la seacuterie chronologique historique
de deacutebit de la riviegravere et de loccupation de la zone de preacuteservation permanent crsquoest possible
didentifier les points les plus vulneacuterables de lrsquoAvenue Beira-Rio Ainsi les reacutesultats
indiquent que la croissance urbaine deacutesordonneacutee et continue associeacutee aux changements
dans les processus geacuteomorphologiques a intensifieacute la deacutegradation du chenal de la riviegravere
en renforccedilant des inondations
Mots-cleacutes la geacuteomorphologie fluviale geacuteotechnologies analyse geacuteographique inteacutegreacutee
dintervention humaine et inondations
ABSTRACT
This paper has as object of study the sector of Doce River cutting the urban areas of
Colatina ndash ES The main objective of this analyze was to verify how human interventions on
Docersquos river channel have contributed how human interventions in river channel have
contributed to the tide of the floodplain From this premise the research was based on
analysis of historical photographs from 1906 to 2015 and aerial images in periods of ebb
(April) and flood (January) of Doce river by which it was possible to map the changes in the
margins of this water body Crossing the analysis of historical time series of river flow with
the occupation of areas of permanent preservation it was possible to delimitate the most
vulnerable points of Beira-Rio Avenue Thus the results indicated that the cluttered and
continuous urban growth associated with changes in geomorphological processes has
intensified de degradation of the river channel increasing flooding
Keywords fluvial geomorphology geotechnologies integrated geographical analysis
human intervention and flood
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e Rio Doce 18
Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 19
Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de
2013 19
Figura 4 - Tipos de leito fluvialvarzea 21
Figura 5 - Padrotildees dos canais 21
Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento 32
Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia 33
Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC) 37
Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906
Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce 41
Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da
regiatildeo 42
Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce 43
Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio
Doce 43
Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes 45
Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de
crescimento 47
Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios que interceptam a cidade de Colatina
48
Figura 16 - Traccedilado das mensuraccedilotildees da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de
vazante mecircs de abril2013 50
Figura 17 - Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro
urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal 51
Figura 18 - Representaccedilatildeo de inundaccedilatildeo urbana 53
Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de
1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 55
Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2)
Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do
recorte em rosa da APP de 50 m (amarelo claro) e 500 m (amarelo escuro) 56
Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponrte Florentino Aacutevidos (direita)
e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa
Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque
em vermelho para o curso atual do Santa Maria 58
Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de
proteccedilatildeo agrave ponte 59
Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o
traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas 60
Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o
calccediladatildeo da Av Beira-Rio61
Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento
iniciada em 2004 e finalizada em 2008 62
Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina 63
Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce antes e
depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas 64
Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 66
Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto da Beira-Rio 68
Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da
inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av
Beira-Rio em dezembro de 2013 69
Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do rio Aar Munster Alemanha (1998) 72
Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos 72
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Perfis Transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de vazante (abril) e cheia (janeiro) 50
Tabela 2 Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013 54
Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1 67
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 - Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais
(Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia) 25
Graacutefico 2 - Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 201045
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANA - Agecircncia Nacional de Aacuteguas
APP - Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente
CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais Serviccedilo Geoloacutegico Brasileiro
GEOBASES - Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espiacuterito Santo
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IJSN - Instituto Jones dos Santos Neves
INCAPER - Instituto Capixaba de Pesquisa Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural
PDM - Plano Diretor Municipal
PMC - Prefeitura Municipal de Colatina
PROATER - Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural
SIG - Sistema de Informaccedilotildees Geograacuteficas
UHE ndash Usina Hidreleacutetrica
UTM - Universal Tranverse Mercator
USGS - Geological Survey Serviccedilo Geoloacutegico Americano
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 14
11 Objetivo 16
111 Objetivo Geral 16
112 Objetivos Especiacuteficos 16
12 Justificativa 17
2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS 20
21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano 20
211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial 23
22 Aspectos Juriacutedicos 27
23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos 31
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS 36
4 RESULTADOS 40
41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana 40
411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade 46
42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce 49
421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie de
Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio 53
422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio 65
5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 71
6 CONCLUSAtildeO 74
7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 77
14
1 INTRODUCcedilAtildeO
A partir da deacutecada de 1930 com a transiccedilatildeo econocircmica de um eixo agraacuterio-exportador
para um polo urbano-industrial (CARNEIRO 2008) verificou-se no Brasil a migraccedilatildeo da
maior parte da populaccedilatildeo para as cidades Isso acarretou segundo Tucci (2013 p17) uma
ldquo[] concentraccedilatildeo urbana no Brasil da ordem de 80 da populaccedilatildeo e o seu
desenvolvimento tem sido realizado de forma pouco planejada com grandes conflitos
institucionais e tecnoloacutegicos []rdquo
De acordo com Canholi (2005 p15) a expansatildeo da aacuterea urbana ldquo[] consequentemente
impermeabilizada ocorreu a partir das zonas mais baixas proacuteximas agraves vaacuterzeas dos rios
ou agrave beira-mar em direccedilatildeo agraves colinas e morros em face da necessaacuteria interaccedilatildeo da
populaccedilatildeo com os corpos hiacutedricos []rdquo Neste cenaacuterio surgem as ocupaccedilotildees irregulares
nas Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) como as da planiacutecie de inundaccedilatildeo dos rios
e os topos de morros
Essas ocupaccedilotildees desordenadas satildeo proporcionadas pela precariedade da implantaccedilatildeo e
fiscalizaccedilatildeo das legislaccedilotildees urbaniacutesticas de ordenamento territorial e ambiental Neste
contexto satildeo relevantes as pesquisas que visam correlacionar o viacutenculo
sociedadenatureza de modo a entender como a ocupaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo no
solo conecta-se com a hidrodinacircmica dos recursos naturais uma vez que ldquo[] a tendecircncia
atual do limitado planejamento urbano integrado estaacute levando as cidades a um caos
ambiental urbano com custo extremamente alto para a sociedaderdquo (TUCCI 2013 p17)
Deve-se partir do pressuposto teoacuterico articulado com a ideia anterior de ldquo[]
indissociabilidade entre natureza e sociedade []rdquo (COELHO 2013 p21) em que a
sociedade natildeo pode ser apenas entendida como populaccedilatildeo e a natureza enquanto mero
ambiente fiacutesico mas que estes dois fatores estatildeo dinamicamente produzindo o espaccedilo
geograacutefico
Neste contexto a problemaacutetica se afirma no intuito de relacionar as legislaccedilotildees urbanas
(Lei de Parcelamento do Solo 676679 e PDM) e ambientais (Novo Coacutedigo Florestal 2012)
com as suas aplicaccedilotildees ou natildeo no periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina
principalmente nos bairros que se situam na planiacutecie de inundaccedilatildeo do Rio Doce
A escolha da temaacutetica tambeacutem teve como premissa a importacircncia regional de Colatina
como entreposto comercial e logiacutestico para os municiacutepios do noroeste capixaba conforme
15
relato do Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural - PROATER (INCAPER
2011)
Exportadores de cafeacute atacadistas e as lojas de pronta entrega dinamizam o comeacutercio local que atende aos municiacutepios do norte capixaba leste de Minas Gerais e sul da Bahia representando um universo de mais de 700 mil consumidores (INCAPER 2011 p5)
De acordo ainda com o INCAPER (op cit) Colatina tem crescido a uma margem de 188
anual o que representa a tendecircncia ao ecircxodo rural sendo que a populaccedilatildeo do campo vem
diminuindo de aproximadamente 19 em 1990 passou a 12 no Censo de 2010 Diante
do exposto entra em discussatildeo o planejamento urbano pois com o crescimento da
populaccedilatildeo citadina para cerca de 88 aumentam tambeacutem as pressotildees sobre o meio
ambiente em especial as regiotildees ribeirinhas
Estas uacuteltimas refletem o aumento das atividades humanas na bacia hidrograacutefica onde
pode-se destacar as mudanccedilas induzidas pelas accedilotildees antropogecircnicas que se dividem em
diretas (aquelas que atuam no canal fluvial para controle das vazotildees a exemplo dos
reservatoacuterios e desvios de aacuteguas) e indiretas relacionadas agraves aacutereas fora dos canais por
exemplo o desmatamento e urbanizaccedilatildeo sendo que estas comprometem a descarga e
carga soacutelida do rio (PARK1981 KNIGHTON1984 apud CUNHA 2001)
O interesse pela pesquisa surge da importacircncia regional do municiacutepio dos impactos
histoacutericos humanos materiais e imateriais sofridos diante de eventos hidroloacutegicos
extremos tendo em vista o fato de o periacutemetro urbano ser cortado por um corpo fluvial de
importacircncia regional Aleacutem disso a abordagem geograacutefica possibilita a correlaccedilatildeo dos
processos fluviais com a ocupaccedilatildeo urbana de modo mais integrado (COELHO 2009)
Portanto uma das finalidades deste trabalho eacute analisar por meio das geotecnologias e das
investigaccedilotildees de campo como a ocupaccedilatildeo urbana tem interferido nas margens do Rio
Doce de modo a delimitar os sucessivos aterros na margem direita no periacutemetro do bairro
Esplanada a Colatina Velha Ademais identificar como os processos deste canal fluvial
tecircm sido afetados pela intervenccedilatildeo humana em seu leito principal
16
11 Objetivo
111 Objetivo Geral
Correlacionar os processos fluviais do Rio Doce por meio da dinacircmica geomorfoloacutegica
deste canal com o uso e cobertura da terra no setor urbano do municiacutepio de Colatina
Espiacuterito Santo Contrapondo assim as intervenccedilotildees urbanas da beira-rio com o Plano
Diretor Municipal e o Novo Coacutedigo Florestal enfatizando as diretrizes adotadas no
parcelamento do solo para a planiacutecie de inundaccedilatildeo deste rio
112 Objetivos Especiacuteficos
Identificar os vetores de crescimento urbano do municiacutepio a fim de avaliar a
evoluccedilatildeo da mancha urbana junto ao canal principal
Determinar o comprimento da borda da calha do leito regular do Rio Doce no
periacutemetro urbano de Colatina para definiccedilatildeo da largura miacutenima da faixa marginal
de preservaccedilatildeo
Espacializar as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente beira-rio previstas em lei a fim
de analisar a ocupaccedilatildeo urbana nestes espaccedilos
Cartografar os principais pontos desnaturalizados no canal principal do Rio Doce
no setor urbano de Colatina
Demonstrar como o emprego das geotecnologias auxilia no planejamento urbano
e ambiental especialmente em acircmbito municipal
17
12 Justificativa
A aacuterea de estudo corresponde ao periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina situado na
Bacia Atlacircntico trecho leste sub-bacia do Rio Doce no baixo curso (ANA 2001)
Compreende a regiatildeo noroeste do estado do Espiacuterito Santo latitude 19deg 32rsquo 16rsquorsquo S e
longitude 40deg 37rsquo 59rsquorsquo W De acordo com os dados do censo de 2010 do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio possuiacutea uma populaccedilatildeo de 111788 mil
habitantes1 numa aacuterea territorial de 1416804 kmsup2
Devido a sua privilegiada posiccedilatildeo geograacutefica limiacutetrofe com o Rio Doce e a construccedilatildeo da
Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas em 1906 Colatina compreendia os territoacuterios dos atuais
municiacutepios de Baixo Guandu Linhares Pancas Satildeo Gabriel da Palha Marilacircndia Satildeo
Domingos do Norte e Governador Lindenberg (INCAPER 2011) Soacute a partir de 2001
passou a apresentar os atuais limites municipais e configurar uma aacuterea urbana com 59
bairros (Figura 1)
Colatina eacute um municiacutepio de importacircncia para regiatildeo noroeste capixaba seja em caraacuteter
econocircmico ou social Eacute responsaacutevel pelos fluxos de cargas da regiatildeo aleacutem de ser um polo
moveleiro de confecccedilatildeo metalmecacircnico e de comeacutercio e serviccedilos gerando emprego e
renda (INCAPER 2011) Aleacutem disso tem sofrido historicamente com as cheias do Rio
Doce principalmente porque parte do seu periacutemetro urbano eacute inundado com as aacuteguas da
calha principal desse rio o que compromete toda a dinacircmica local e potildee em risco os
colatinenses
Assim diante das crescentes demandas por territoacuterio no periacutemetro urbano a populaccedilatildeo
tem suprimido a cobertura vegetal e ocupado desde as margens do Rio Doce ateacute as
encostas dos morros Em periacuteodos de cheias principalmente nos meses de outubro a
marccedilo (INCAPER 2011 ANA 2001) verificam-se inundaccedilotildees de grande parte da aacuterea
urbana beira-rio aleacutem dos movimentos de massa nas encostas Como exemplo destes
acontecimentos tecircm-se os registros fotograacuteficos dos efeitos da chuva de dezembro de 2013
(Figuras 2 e 3)
1 De acordo com o a estimativa do IBGE de 2014 publicada no DOU o municiacutepio conta com uma populaccedilatildeo de 121670 habitantes
18
Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e o canal do Rio Doce Elaborado pela autora
19
Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 Fonte Noticias UOL (2013)
Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de 2013 Fonte Folha Vitoacuteria (2013)
Este estudo portanto eacute relevante tendo em vista as raras abordagens no acircmbito das
Ciecircncias Geograacuteficas especialmente no Espiacuterito Santo de pesquisas que correlacionem
aspectos da geomorfologia fluvial por meio da dinacircmica dos recursos hiacutedricos com o uso
e cobertura da terra particularmente o Plano Diretor Municipal (PDM) Discute dessa
forma as implicaccedilotildees da atuaccedilatildeo humana nas particularidades deste ecossistema natural
tendo em vista o disposto nas legislaccedilotildees urbaniacutesticas e ambientais que visam assegurar
a qualidade de vida das populaccedilotildees
Adiante seratildeo analisados os principais fundamentos da geomorfologia fluvial os aspectos
juriacutedicos e o papel da anaacutelise geograacutefica integrada para o entendimento dos fenocircmenos
das inundaccedilotildees no Centro de Colatina uma vez que eacute devido agraves intervenccedilotildees humanas
nos canais e suas margens que esses fenocircmenos tornam-se mais nocivos a cidade
20
2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS
21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano
Recurso essencial para a manutenccedilatildeo da vida a aacutegua foi um fator relevante para o
estabelecimento histoacuterico das sociedades no entorno dos cursos hiacutedricos Utilizados para
fins de abastecimento humano e animal irrigaccedilatildeo saneamento e transporte os rios
constituiacuteram-se nos principais propulsores de penetraccedilatildeo para o interior (CUNHA 2012a)
Logo em suas margens surgiram povoados que posteriormente transformaram-se em
cidades como as que se estabeleceram agraves margens do Rio Doce a exemplo da sede de
Colatina
Diante das potencialidades que os recursos hiacutedricos possibilitam agraves sociedades
destacamos a importacircncia do estudo da Geomorfologia Fluvial que se apresenta como
campo da Geomorfologia (ciecircncia que estuda as formas do relevo) sendo o interesse
daquela a pesquisa dos processos que relacionam o escoamento das aacuteguas fluviais num
contexto de bacia hidrograacutefica (CHRISTOFOLETTI 1980 CUNHA op cit) Enfoca assim
as alteraccedilotildees na fisionomia dos canais frente agraves intervenccedilotildees no ecossistema natural
beira-rio
A Geomorfologia Fluvial parte da condicionante de que o uso e ocupaccedilatildeo da terra refletem-
se na dinacircmica da bacia de drenagem interferindo nos processos morfogeneacuteticos ou seja
de modelagem do relevo fluvial escoamento superficial das aacuteguas e no ciclo hidroloacutegico
Frente agrave temaacutetica deste estudo faz-se necessaacuterio o entendimento dos conceitos da
fisiografia fluvial aqui referente aos diferentes setores que a aacutegua pode escoar num leito
(Figura 4) como
O leito menor corresponde agrave parte do canal ocupada pelas aacuteguas e cuja frequecircncia impede o crescimento da vegetaccedilatildeo Esse tipo de leito eacute delimitado por partes bem definidas O leito de vazante equivale agrave parte do canal ocupada durante o escoamento das aacuteguas de vazante Suas aacuteguas divagam dentro do leito menor seguindo o talvegue linha de maacutexima profundidade ao longo do leito e que eacute mais bem identificada na seccedilatildeo transversal do canal O leito maior tambeacutem denominado leito maior perioacutedico ou sazonal eacute ocupado pelas aacuteguas do rio regularmente e pelo menos uma vez ao ano durante as cheias Dependendo do tempo ocorrido entre as subidas das aacuteguas eacute possiacutevel haver a fixaccedilatildeo e o crescimento da vegetaccedilatildeo herbaacutecea
21
O leito maior excepcional eacute ocupado durante as grandes cheias no decorrer das enchentes (CUNHA 2001 p 213)
Figura 4 - Tipos de leito fluvial vaacuterzea Fonte Cunha (2001 p213)
Sendo assim as aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial (leitos) aquelas inundadas pelo corpo
hiacutedrico frente a um evento hidroloacutegico extremo tambeacutem satildeo conhecidas como vaacuterzeas
planiacutecie de inundaccedilatildeo ou ainda segundo Carneiro e Miguez (2011 p133) como ldquo[] zona
de passagem de cheia []rdquo Essas aacutereas de vaacuterzeas dependem da fisionomia que o rio
apresenta e segundo Cunha (op cit) o canal fluvial pode apresentar trecircs formas
principais conhecidas como padratildeo dos canais que satildeo retiliacuteneo anastomosado e
meacircndrico (Figura 5)
Figura 5 - Padrotildees dos canais (A) retiliacuteneo (B) anastomosado (C) meandrante (A) amplitude (Rc) raio meacutedio da curvatura do meandro (segundo Bigarella etal 1979) Fonte Cunha (2001 p216)
22
Aliada aos padrotildees dos canais estaacute a assimetria ou simetria dos leitos que para Cunha
(2001 p233) relaciona-se com a variaccedilatildeo da velocidade e turbulecircncia ao longo da secccedilatildeo
transversal o que diferencia o comportamento nos canais retiliacuteneos geralmente simeacutetricos
do canal meacircndrico onde
Em canais de leito simeacutetrico em geral padratildeo retiliacuteneo a velocidade maacutexima ocorre no centro do canal diminuindo em direccedilatildeo agraves margens Em leito assimeacutetrico de padratildeo meacircndrico a zona de maacutexima velocidade e turbulecircncia localiza-se nas proximidades das margens cocircncavas decrescendo de valor em direccedilatildeo agrave margem de menor profundidade
(convexa) (CUNHA opcit p 233)
Deste modo a capacidade de erosatildeo das margens transporte e deposiccedilatildeo da carga do rio
dependem entre outros fatores da velocidade das correntes fluviais E o material do fluxo
fluvial constitui-se da descarga liacutequida ou vazatildeo que estaacute relacionada ao tamanho do
material que pode ser transportado e do volume da carga que o rio eacute capaz de carregar
Tem-se ainda a carga soacutelida sedimentos que estaacute relacionada a suspensatildeo e fundo do
rio esta decresce a jusante indicando a diminuiccedilatildeo da competecircncia do corpo fluvial As
cargas de suspensatildeo satildeo constituiacutedas de partiacuteculas finas a exemplo do silte e por fim a
carga de fundo que eacute composta por partiacuteculas de tamanhos maiores a exemplo da areia
(CUNHA2001)
Christofoletti (1980) acrescenta que os sedimentos podem ser carregados de trecircs modos
principais no fluxo em soluccedilatildeo dissolvidos nos cursos hiacutedricos em suspensatildeo como o
silte e argila e em saltaccedilatildeo geralmente a areia e cascalho que compreendem a carga do
leito do rio Destaca-se que a carga detriacutetica natildeo proveacutem apenas da erosatildeo do fundo dos
leitos e margens fluviais mas que o material intemperizado de vertentes carreado nas
enchentes contribui significativamente para a carga sedimentar transportada
Cabe ressaltar ainda que a relaccedilatildeo do arranjo espacial dos canais com os processos
fluviais (a erosatildeo o transporte e a deposiccedilatildeo de sedimentos) eacute determinante para o
trabalho dos rios Tais processos satildeo diretamente influenciados pela vazatildeo velocidade e
pela intensidade da turbulecircncia (seja no fluxo laminar ou no fluxo turbulento) A
variabilidade no comportamento da velocidade e turbulecircncia das aacuteguas ao longo da seccedilatildeo
transversal condiciona os locais preferenciais de erosatildeo e deposiccedilatildeo ao longo do curso
hiacutedrico
23
Deste modo qualquer intervenccedilatildeo na bacia e canal fluvial compromete o equiliacutebrio natural
da drenagem levando o corpo hiacutedrico a se adaptar agraves mudanccedilas em sua fisionomia
fisiografia e em seus processos ateacute atingir um novo estado de equiliacutebrio Poreacutem eacute na
planiacutecie de inundaccedilatildeo que estas modificaccedilotildees seratildeo mais percebidas pela populaccedilatildeo pois
a maior parte das obras de engenharia como as canalizaccedilotildees e as ocupaccedilotildees das
margens acaba por romper com o equiliacutebrio natural do rio alterando sua dinacircmica e
intensificando seus processos o que na maioria das vezes potencializa as enchentes no
ambiente urbano
Nesse sentido o entendimento dos processos fluviais (erosatildeo transporte e deposiccedilatildeo)
combinado com a anaacutelise da fisiografia fluvial condicionam as peculiaridades na geometria
hidraacuteulica ou seja na relaccedilatildeo entre a vazatildeo velocidade de escoamento tipos de canais
de sedimentos e a topografia Logo o conhecimento geomorfoloacutegico do rio contribui para
pesquisas que necessitem relacionar o funcionamento deste corpo natural com um
planejamento urbano mais efetivo principalmente se considerarmos um recorte em niacutevel
de bacia hidrograacutefica em espaccedilo urbano
211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial
O capiacutetulo que segue versa sobre a atuaccedilatildeo antroacutepica relacionando-a a aacuterea de estudo o
rio Doce poreacutem este trata de forma macro a temaacutetica para contextualizar o leitor sendo
as especificidades das intervenccedilotildees neste recorte geograacutefico trabalhados nos resultados
desta pesquisa
Diante do exposto eacute possiacutevel acompanhar a evoluccedilatildeo dos processos fluviais nos canais
em especial aqueles que tiveram intervenccedilotildees em seu curso natural como as hidreleacutetricas
instaladas a montante a exemplo do Rio Doce onde a interferecircncia direta na vazatildeo e fluxo
de sedimentos altera a hidrodinacircmica do rio comprometendo a erosatildeo e transporte Para
Coelho (2007 p57) as
Mudanccedilas na Declividade Perfil Longitudinal Promovidas pela construccedilatildeo de reservatoacuterio satildeo variadas e caso o efeito da contenccedilatildeo de sedimentos seja significativo os processos fluviais reduziratildeo a capacidade de transporte de sedimento podendo promover um entalhamento do leito do rio imediatamente agrave jusante da barragem
Aleacutem disso esse processo erosivo poacutes-barragem eacute intensificado favorecendo o
assoreamento e sedimentaccedilatildeo do rio a jusante O que pode beneficiar a elevaccedilatildeo da cota
24
do canal fluvial frente a eventos hidroloacutegicos extremos potencializando os efeitos das
inundaccedilotildees nas vaacuterzeas
Ao mesmo tempo o Rio Doce trecho que compreende o Espiacuterito Santo meacutediobaixo curso
eacute impactado nas vazotildees miacutenimas e maacuteximas a jusante apoacutes a instalaccedilatildeo das
barragensUsinas Hidreleacutetricas (UHE) de Mascarenhas (iniacutecio de operaccedilatildeo em 1974)
localizada no Municiacutepio de Baixo Guandu e a de Aimoreacutes (iniacutecio de operaccedilatildeo em 2005)
localizada na divisa do Espiacuterito Santo com Minas Gerais (COELHO 2007)
De acordo com Coelho (opcit) apoacutes a implantaccedilatildeo das usinas ocorreu uma reduccedilatildeo
significativa na vazatildeo da calha principal do Rio Doce conforme Graacutefico 1
Considerando o periacuteodo de 1939 a 2012 a vazatildeo miacutenima apoacutes a instalaccedilatildeo das usinas
chega a atingir 411msup3s e a maacutexima chega apenas a 1251msup3s sendo que no periacuteodo
anterior agrave instalaccedilatildeo das usinas foi registrada a miacutenima de 533 msup3s e uma maacutexima de
1812 msup3s o que ressalta o impacto do barramento sobre o corpo hiacutedrico Aleacutem do
comprometimento dos processos de erosatildeo transporte e sedimentaccedilatildeo (COELHO 2008
e CUNHA 2001)
Diante desta perda de carga liacutequida nos barramentos Cunha (2001 p 241) observa ainda
que as aacutereas a jusante de reservatoacuterios
[hellip] onde o regime do rio sofre significativas modificaccedilotildees devidas ao controle das descargas liquidas e de sedimentos no reservatoacuterio As mudanccedilas ocorridas no regime das aacuteguas neste setor do rio acarretam significativos efeitos nos processos do canal tais como o entalhe do leito a erosatildeo das margens e a deposiccedilatildeo a jusante atingindo longas distacircncias
Aleacutem disso no periacutemetro urbano de Colatina o Rio Doce sofreu outras intervenccedilotildees em
seu canal principal como a implantaccedilatildeo de obras estruturais de macrodrenagem a
exemplo da construccedilatildeo da Av Beira-Rio com intuito de conter o avanccedilo das aacuteguas fluviais
em periacuteodos de cheias
25
Graacutefico 1
Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais (Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia)
Fonte adaptado de Coelho (2007 p154)
26
Como exemplo dos tipos de intervenccedilotildees humanas nas aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial
leitos Carneiro e Miguez (2011 p117) destacam
As accedilotildees de controle e cheias urbanas podem ser classificadas em estruturais quando a paisagem eacute alterada pela accedilatildeo do homem e em natildeo estruturais aqui denominada como estruturante quando o homem aprende a conviver com as enchentes No primeiro caso estatildeo as medidas de controle atraveacutes de obras hidraacuteulicas tais como barragens diques e canais entre outras No segundo caso encontram-se medidas do tipo preventivo tais como zoneamento de aacutereas de inundaccedilatildeo sistemas de alerta educaccedilatildeo ambiental lei de parcelamento e uso dos solos e seguros contra inundaccedilatildeo
Neste cenaacuterio abarcamos os impactos das obras de engenharia como a canalizaccedilatildeo que
altera a fisionomia e fisiografia do rio refletindo-se nos processos geomorfoloacutegicos do canal
e sua planiacutecie de inundaccedilatildeo Para estes a canalizaccedilatildeo eacute uma obra estrutural que aumenta
a capacidade do fluxo do canal aleacutem de intensificar a velocidade do escoamento
superficial antecipando o pico de cheia e transferindo os alagamentos para locais a jusante
na bacia hidrograacutefica
Articulado a esta ideia Cunha (2012b) reflete a desnaturalizaccedilatildeo dos rios por meio de
obras de retificaccedilatildeo com a reduccedilatildeo do comprimento do canal e eliminaccedilatildeo das
sinuosidades Satildeo obras que afetam a estabilidade do corpo hiacutedrico na medida em que
interferem na relaccedilatildeo entre erosatildeo sedimentaccedilatildeo e deposiccedilatildeo provocando efeitos como
alteraccedilatildeo na morfologia do canal Sendo assim ldquo[hellip] a diminuiccedilatildeo da rugosidade no fundo
do canal em conjunto com a perda dos meandros e a aceleraccedilatildeo das velocidades eacute a
principal responsaacutevel pelas mudanccedilas no balanccedilo da energia natural dos sedimentos
fluviais [hellip]rdquo Cunha (2012b p178) No caso do Rio Doce trecho correspondente agrave Av
Beira-Rio alterou-se a sua forma retilinizando-a e sua vegetaccedilatildeo natural foi substituiacuteda
por estruturas de pedras o que compromete a resistecircncia ao fluxo as margens e aos
bancos arenosos
Embora as obras de canalizaccedilatildeo sejam implantadas como eficazes nos canais fluviais para
questotildees de enchentes urbanas para Cunha (op cit) estas necessitam de manutenccedilatildeo
constante envolvendo desde dragagem remoccedilatildeo de obstruccedilotildees a recomposiccedilatildeo do
material utilizado Poreacutem toda a manutenccedilatildeo estaacute associada a alteraccedilotildees morfoloacutegicas e
bioloacutegicas como as que interferem nas soleiras e depressotildees do fundo dos leitos
desestabilizando a vazatildeo no curso a exemplo da
27
ldquo[hellip] eliminaccedilatildeo da sequecircncia de depressotildees e soleiras o aumento da velocidade da corrente a diminuiccedilatildeo da diversidade de habitats o ambiente instaacutevel resultante da flutuaccedilatildeo dos niacuteveis da aacutegua e do substrato moacutevel e a maior flutuaccedilatildeo da temperatura das aacuteguasrdquo (CUNHA 2012b p180)
Ao mesmo tempo o aumento da velocidade dos escoamentos no trecho retificado
possibilita maior erosatildeo transferindo para as aacutereas a jusante uma carga soacutelida
representativa que para Cunha (op cit) configura a formaccedilatildeo de bancos axiais e depoacutesitos
de sedimentaccedilatildeo marginais alterando o equiliacutebrio dos sedimentos a jusante Pois
A jusante das obras de retificaccedilatildeo verificam-se o aumentam da carga soacutelida o assoreamento durante a dragagem a erosatildeo no canal pelos eventos torrenciais do regime e a modificaccedilatildeo na dinacircmica na foz Os sedimentos resultantes da erosatildeo no canal retificado em conjunto com a excessiva carga de sedimentos posta em suspensatildeo durante a dragagem e na fase imediata de poacutes-construccedilatildeo - quando a erosatildeo dos bancos de areia sem vegetaccedilatildeo estaacute em seu niacutevel maacuteximo - originam a formaccedilatildeo de depoacutesitos fluviais de curta duraccedilatildeo a jusante do canal retificado Logo a seguir esses depoacutesitos satildeo erodidos juntamente com as margens e o fundo do leito pelos eventos torrenciais do regime vindo a formar bancos axiais e depoacutesitos de sedimentaccedilatildeo marginais (CUNHA2012b p183)
Portanto o estudo da geomorfologia fluvial contribui diretamente para o entendimento das
cheias nas planiacutecies de inundaccedilatildeo em especial nas bacias hidrograacuteficas que
compreendem a aacuterea urbana e que possuem intervenccedilotildees antroacutepicas diretas na fisiografia
do canal principal Seus processos explicam como as alteraccedilotildees no canal fluvial podem
maximizar os efeitos dos transbordamentos impactando principalmente as populaccedilotildees
ribeirinhas aleacutem de todo ecossistema local Ademais estes fundamentos geomorfoloacutegicos
devem ser associados agrave legislaccedilatildeo vigente afim de subsidiar a elaboraccedilatildeo de instrumentos
legais para atuaccedilatildeo do poder puacuteblico nestas zonas de risco
22 Aspectos Juriacutedicos
Frente agrave crescente demanda sobre os recursos hiacutedricos e solo urbano a partir da deacutecada
de 1930 surgem as primeiras diretrizes que visam regulamentar estes ambientes a
exemplo do Coacutedigo das Aacuteguas Mas soacute a partir dos anos 1960 surgem em acircmbito federal
leis como o Coacutedigo Florestal com o intuito de regular a exploraccedilatildeo das vegetaccedilotildees e
consequentemente proteger os mananciais e em 1979 com o objetivo de ordenar as
28
cidades eacute aprovada a Lei 676679 estabelecendo as normas do parcelamento do solo
urbano
Na medida em que as populaccedilotildees aumentam ampliam-se tambeacutem as pressotildees sobre os
recursos de aacutegua e solo Os processos de uso e a conscientizaccedilatildeo de que estes elementos
satildeo finitos intensificam as formas de controle e preservaccedilatildeo passando para as esferas
estaduais e municipais a responsabilidade de atuar em escala local na proteccedilatildeo desses
ambientes
Ainda em escala federal em 2012 eacute promulgado o Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012
em substituiccedilatildeo ao coacutedigo anterior Lei 47711965 que apresenta as normas de
apropriaccedilatildeo dos recursos naturais pelas novas necessidades das populaccedilotildees citadinas e
rurais No que compete agrave aacuterea de estudo cabe destacar as ocupaccedilotildees em aacutereas de
planiacutecie de inundaccedilatildeo em que de acordo com art 4ordm devem ser preservadas
I - as faixas marginais de qualquer curso drsquoaacutegua natural perene e intermitente excluiacutedos os efecircmeros desde a borda da calha do leito regular em largura miacutenima de (Incluiacutedo pela Lei nordm 12727 de 2012) a) 30 (trinta) metros para os cursos drsquoaacutegua de menos de 10 (dez) metros de largura b) 50 (cinquenta) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura c) 100 (cem) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura d) 200 (duzentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura e) 500 (quinhentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros []
A legislaccedilatildeo eacute riacutegida no que concerne agrave ocupaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo das terras nas faixas
marginais dos rios transferindo aos estados e municiacutepios a responsabilidade de fiscalizar
estes territoacuterios para garantir a efetividade da lei A questatildeo eacute que muitas vezes somada a
falta de planejamento estas fiscalizaccedilotildees satildeo ineficientes o que tem possibilitado o
surgimento cada vez maior das ocupaccedilotildees irregulares
Apoiado tambeacutem pela Constituiccedilatildeo Federal de 1988 nos artigos 182 e 183 surge o
Estatuto das Cidades Lei 102572001 com finalidade de garantir a funccedilatildeo social da
cidade e com este os primeiros Planos Diretores Municipais (PDM) que buscam o
ordenamento do crescimento das cidades em caraacuteter socioeconocircmico e ambiental cidades
sustentaacuteveis Ademais em Colatina eacute instituiacuteda a Lei 42281996 posteriormente revogada
29
pela Lei 52732007 que ldquoInstitui o Plano Diretor do Municiacutepio de Colatina estabelece os
objetivos instrumentos e diretrizes e daacute outras providecircncias para as accedilotildees de
planejamento do Municiacutepio de Colatina []rdquo
O PDM de Colatina assim como Coacutedigo Florestal prevecirc a preservaccedilatildeo dos ecossistemas
beira-rio Aquele ainda dispotildee sobre o parcelamento do solo sustentaacutevel a funccedilatildeo social
da cidade e da propriedade conforme o Plano Diretor de Colatina de 2007 nos artigos
transcritos
Artigo 22 - As diretrizes ambientais no Municiacutepio de Colatina satildeo I - aplicar os instrumentos de gestatildeo ambiental estabelecidos nas legislaccedilotildees federal estadual e municipal bem como a criaccedilatildeo de outros instrumentos adequando-os agraves metas estabelecidas pelas poliacuteticas ambientais II - compatibilizar as diretrizes de uso ocupaccedilatildeo e parcelamento do solo aos objetivos de proteccedilatildeo ambiental dos ecossistemas [] Artigo 23 - Satildeo diretrizes do sistema de drenagem urbana I - disciplinar a ocupaccedilatildeo das cabeceiras e vaacuterzeas das bacias hidrograacuteficas do Municiacutepio preservando a vegetaccedilatildeo existente e visando agrave sua recuperaccedilatildeo [] III - definir mecanismos de fomento para usos do solo compatiacuteveis com aacutereas de interesse para drenagem tais como parques lineares aacuterea de recreaccedilatildeo e lazer hortas comunitaacuterias e manutenccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa [] V - implantar medidas natildeo-estruturais [sic] de prevenccedilatildeo de inundaccedilotildees tais como controle de erosatildeo especialmente em movimentos de terra controle de transporte e deposiccedilatildeo de entulho e lixo combate ao desmatamento assentamentos clandestinos e a outros tipos de invasotildees nas aacutereas com interesse para drenagem [] VII - garantir e respeitar a necessaacuteria permeabilidade do solo inclusive buscando alternativas de pavimentaccedilatildeo com maior de permeabilidade [sic] [] Artigo 84 ndash Satildeo objetivos do ordenamento territorial do Municiacutepio de Colatina [] IV ndash conter a expansatildeo da ocupaccedilatildeo urbana em aacutereas de proteccedilatildeo ambiental [] Artigo 120 ndash Ficam desde jaacute identificadas como Zonas de Proteccedilatildeo Ambiental 2 ndash ZPA 2 as seguintes aacutereas [] III ndash as aacutereas existentes ao longo de qualquer curso drsquoagua desde o niacutevel mais alto em faixa marginal cuja largura miacutenima seraacute de a) 15m (trinta metros) [sic] para os cursos drsquoagua com menos de 10m (10
metros) de largura contidos no periacutemetro urbano [] c) 30m (trinta metros) para os cursos drsquoagua que tenham de10m (dez
metros a 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano
[]
30
e) 50m (cinquenta metros) para os cursos drsquoagua que tenham mais de 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 60422013)
[]
De modo geral verifica-se que a legislaccedilatildeo apresenta instrumentos que permitem a
prevenccedilatildeo ou controle de ocupaccedilotildees irregulares ou clandestinas em aacuterea de APP aleacutem de
propostas para resguardar de grandes impactos ambientais o corpo hiacutedrico principal do
municiacutepio o Rio Doce Possibilitando assim a minimizaccedilatildeo dos impactos causados pelas
cheias agrave populaccedilatildeo local
Poreacutem cabe destacar que o Plano Diretor Municipal de Colatina natildeo contempla o
estipulado no Coacutedigo Florestal 2012 Lei Federal onde os cursos drsquoaacutegua com largura
superior a 600(seiscentos) metros devem ser resguardados com aacutereas de preservaccedilatildeo
permanente de 500(quinhentos) metros entre outros sendo que a redaccedilatildeo desta parte do
PDM eacute dada pela lei 60422013 posterior a publicaccedilatildeo do novo Coacutedigo Florestal Sendo
assim verifica-se que apesar da intenccedilatildeo de resguardar uma faixa de no maacuteximo
50(cinquenta) metros em periacutemetro urbano para a contenccedilatildeo de cheias e mata ciliar o
PDM de Colatina natildeo atende o miacutenimo previsto em Lei Federal O que tem impactado todo
ecossistema beira rio e a populaccedilatildeo ribeirinha uma vez que a faixa marginal de proteccedilatildeo
de 50(cinquenta) metros em muitos casos natildeo tem comportado o impacto dos defluacutevios
No entanto a legislaccedilatildeo trata de aspectos gerais natildeo pontuando as aacutereas responsaacuteveis
por cada accedilatildeo aleacutem de sua aplicabilidade depender da elaboraccedilatildeo de um cronograma de
execuccedilatildeo bem como um conjunto de planos e normas especiacuteficos para cada diretriz com
detalhamento das propostas de intervenccedilatildeo Isto natildeo ocorreu ateacute o presente
Aleacutem disso a cidade de Colatina surgiu num cenaacuterio histoacuterico anterior agraves legislaccedilotildees
urbaniacutesticas e ambientais inclusive do Coacutedigo das Aacuteguas o que dificulta a execuccedilatildeo de
um planejamento que concilie a preservaccedilatildeo das matas beira-rio garantindo a faixa de
APP com a ocupaccedilatildeo urbana consolidada
A aacuterea de estudo se apresenta como ambiente fragilizado apesar de ser regida por
legislaccedilotildees desde a escala federal ateacute a municipal que visam proteger e ordenar o uso e
cobertura da terra nas faixas marginais dos rios Mas a dificuldade das prefeituras em
aplicar os instrumentos legais nestes ambientes seja por interesses privados ou falta de
recursos para investimentos em soluccedilotildees a longo prazo continua expondo as populaccedilotildees
31
aos impactos dos eventos hidroloacutegicos criacuteticos como os que resultam nas inundaccedilotildees
Para que se alcance esse parcelamento do solo sustentaacutevel satildeo necessaacuterios esforccedilos da
gestatildeo municipal em estipular prazos e metas de atuaccedilatildeo afora interagir os diferentes
setores no planejamento em niacutevel de bacia hidrograacutefica considerando as peculiaridades
desta escala de trabalho
23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos
Sendo a ciecircncia que estuda a relaccedilatildeo homemnatureza a Geografia tem muito a contribuir
nas anaacutelises que envolvem o meio ambiente que foi transformado pela dinacircmica da
sociedade Mas historicamente a dialeacutetica das correntes fiacutesica e humana tem imperado de
modo dissociado levando o geoacutegrafo a estudar estes processos separadamente Poreacutem
se o resultado pretendido eacute integrado fazem-se necessaacuterias pesquisas mais amplas que
cruzem as diferentes vertentes geograacuteficas
Considerando que a problemaacutetica dos impactos ambientais urbanos envolve a questatildeo
natural o rio e a questatildeo social e poliacutetica a sociedade e as leis (COELHO 2013) uma
pesquisa neste acircmbito requer o entendimento destes dois objetos a fim de se apreender
o processo de crescimento das cidades brasileiras e a sua relaccedilatildeo com os recursos
hiacutedricos
A partir da deacutecada de 1950 devido ao ecircxodo rural mais intenso as cidades brasileiras
incharam rapidamente com a migraccedilatildeo do camponecircs que buscava melhores condiccedilotildees de
vida como trabalho na induacutestria o acesso agraves escolas saneamento entre outros E
segundo Gorski (2010) a populaccedilatildeo brasileira passou desde o iniacutecio deste processo de 19
milhotildees de habitantes em 1950 para 138 milhotildees de habitantes em 2000 (dados do IBGE)
o que corrobora o raacutepido crescimento das cidades
Todavia as estruturas puacuteblicas natildeo estavam preparadas para um acreacutescimo populacional
tatildeo significativo e em curto espaccedilo de tempo E o que observamos eacute o acesso limitado
dessa populaccedilatildeo agraves aacutereas centrais da cidade sendo induzida a se estabelecer nas
periferias Nesta visatildeo
O difiacutecil acesso da populaccedilatildeo de baixa renda agraves aacutereas mais centrais das cidades contribuiu segundo Raquel Rolnik para a expansatildeo da periferia o que muitas vezes implicou e implica ainda invasatildeo de aacutereas de proteccedilatildeo de mananciais com a aquiescecircncia do poder puacuteblico Esta
32
dinacircmica agravou a situaccedilatildeo de risco dos mananciais pela eliminaccedilatildeo das matas ciliares e consequentemente erosatildeo das margens dos cursos drsquoaacutegua e assoreamento de suas calhas e pela contribuiccedilatildeo do esgoto in natura (ROLNIK1997 apud GORSKI 2010 p62)
Sendo assim a supressatildeo das matas ciliares e das vegetaccedilotildees das encostas para fins de
ocupaccedilatildeo urbana interfere diretamente no ciclo hidroloacutegico diminuindo a absorccedilatildeo de
aacutegua pelo subsolo e pela evapotranspiraccedilatildeo favorecendo o escoamento superficial (Figura
6) que intensifica a velocidade de drenagem das aacuteguas Este processo nas encostas eacute
mais significativo se considerarmos que com a supressatildeo da cobertura vegetal e
impermeabilizaccedilatildeo do solo as precipitaccedilotildees acabam por lavar todo o material
intemperizado sedimentos carregando-o diretamente para o corpo hiacutedrico e contribuindo
para o assoreamento
Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento Fonte Gorski (2010 p64)
Por outro lado as ocupaccedilotildees ribeirinhas nas vaacuterzeas dos rios modificam a dinacircmica fluvial
frente aos defluacutevios A compactaccedilatildeo e o nivelamento do solo associados agrave
impermeabilizaccedilatildeo por concreto asfalto e outros materiais alteram todo o sistema de
drenagem natural e contribuem para a erosatildeo fluvial Aleacutem disso a gestatildeo puacuteblica que
33
deveria investir num parcelamento do solo sustentaacutevel resguardando ldquouma alocaccedilatildeo de
espaccedilosrdquo (CANHOLI 2005 p 15) para a drenagem acaba por colaborar com as enchentes
urbanas na medida em que decide por obras estruturais como a canalizaccedilatildeo (Figura 7
p30) e a microdrenagem que transferem os impactos das inundaccedilotildees a jusante
Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia Fonte Gorski (2010 p69)
Cabe destacar que desde 1965 com o primeiro Coacutedigo Florestal as matas beira-rio jaacute
eram resguardadas da degradaccedilatildeo humana poreacutem com todo o boom urbano a partir de
1950 a falta de estrutura e ingerecircncia municipal no que se refere ao parcelamento e uso
e ocupaccedilatildeo da terra urbana possibilitou a formaccedilatildeo dos assentamentos clandestinos em
APP e na encosta de morros Em condiccedilotildees precaacuterias sem saneamento baacutesico e demais
infraestruturas urbanas estes assentamentos acabam sendo as regiotildees mais afetadas
com as inundaccedilotildees
Junto agraves questotildees jaacute levantadas vale destacar que as aacuteguas das inundaccedilotildees propiciam o
aumento das doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica (febre tifoide hepatite leptospirose
esquistossomose entre outras) pois carregam segundo Gorski (2010) toda uma poluiccedilatildeo
difusa efluentes domeacutesticos industriais e agroindustriais aleacutem do lixo urbano da poluiccedilatildeo
do ar e das ruas
34
Por outro lado esta ocupaccedilatildeo urbana natildeo planejada perde o benefiacutecio que os corpos
hiacutedricos podem oferecer como [] as paisagens fluviais que aos poucos foram sendo
apropriadas como paisagens urbanas [] (GORSKI 2010 38) aleacutem do microclima
associado agrave umidade pela evapotranspiraccedilatildeo que ameniza a sensaccedilatildeo teacutermica local
Poreacutem conforme observado por Graeff (2011) natildeo eacute cabiacutevel atualmente implantar a
legislaccedilatildeo de APP de modo jurista Deve-se considerar toda a representatividade cultural
assentada sobre os leitos destes rios (avenidas importantes casas com arquitetura
histoacuterica entre outros) Aleacutem disso para a demarcaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo
permanente hoje eacute necessaacuteria uma anaacutelise teacutecnica pautada na geomorfologia e
hidrologia de modo a interpretar o ldquocomportamento histoacuterico dos cursos drsquoaacutegua na
paisagem prevendo cenaacuterios de impactos futurosrdquo da atividade humana sobre suas faixas
marginais
Tendo em vista que grande parte da malha urbana brasileira estaacute alocada em APPs e que
segundo Graeff (2011) estas jaacute possuem uma unidade de paisagem estabelecida e muitas
vezes secular configurando siacutetios de importacircncia cultural e apreendendo que
De modo semelhante nas demais cidades haveraacute que ser entendido o meio urbano como ele realmente eacute ndash um encontro entre as necessidades de habitaccedilatildeo com atividades humanas e de conservaccedilatildeo ambiental esta segunda tambeacutem a serviccedilo do homem e natildeo somente de objetivos difusos e distanciados da sobrevivecircncia da sociedade (GRAEFF 2011 206)
Por tais motivos o trabalho com a geomorfologia fluvial urbana deve abarcar os princiacutepios
do bom senso compreendendo que nestas aacutereas de atividade antroacutepica consolidada pode-
se fazer uso de instrumentos de engenharia avanccedilados para uma convivecircncia equilibrada
do homem com a natureza no entorno Contudo deve-se incentivar as aacutereas de expansatildeo
urbana ou zona periurbana (zonas de transiccedilatildeo da aacuterea urbana para a rural) com poliacuteticas
de incentivo a pavimentaccedilotildees mais permeaacuteveis a fim de minimizar o escoamento
superficial para o rio favorecendo a infiltraccedilatildeo
Apesar de os impactos gerados pela interferecircncia humana nas aacutereas mais fragilizadas da
bacia hidrograacutefica vaacuterzeas e encostas refletirem-se em cataacutestrofes com prejuiacutezos
humanos ambientais e urbanos alguns autores brasileiros como Canholi Graeff Cunha
Carneiro e Miguez jaacute indicaram outros caminhos para uma convivecircncia harmoniosa com
a natureza Aleacutem do mais paiacuteses desenvolvidos como a Holanda deixaram de ldquolutar contra
35
as cheiasrdquo para permitir agraves aacuteguas das enchentes a capacidade de acumular e dispersar
com impacto reduzido para as populaccedilotildees (CARNEIRO MIGUEZ 2011)
Sendo assim a proposta deste estudo eacute identificar os principais agentes que influenciam
as inundaccedilotildees entendendo seu papel e atuaccedilatildeo no contexto urbano de Colatina Mas eacute
tambeacutem a de ampliar a abordagem da temaacutetica com uma anaacutelise geograacutefica integrada
ressaltando as medidas que constam no planejamento urbano e sua aplicaccedilatildeo nas faixas
marginais do corpo hiacutedrico
36
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS
Esta pesquisa eacute constituiacuteda de trecircs etapas principais sendo que a primeira teve como
premissa a confecccedilatildeo de um fluxograma (Figura 8) de trabalho para orientar a pesquisa
em seguida teve iniacutecio o levantamento de bibliografias que abordam temas como a
geomorfologia fluvial e urbanizaccedilatildeo em Colatina adotando-se como referecircncia as
pesquisas de Coelho (2006 2007 2008 e 2009) e Albani (2012) Aleacutem disso muito
contribuiacuteram para este trabalho o relatoacuterio do INCAPER da CPRM e os dados do IBGE
Cabe destacar tambeacutem as experiecircncias com recursos hiacutedricos em ambientes urbanos de
Carneiro e Miguez (2011) em especial Cunha (2001 2012ab)
Esta etapa consistiu tambeacutem na busca de material cartograacutefico como aquisiccedilatildeo de planos
de informaccedilatildeo de limite estadual municipal bairros mancha urbana corpo drsquoaacutegua e
logradouros atraveacutes de dados disponiacuteveis no Sistema Integrado de Bases Geoespaciais
do Estado do Espiacuterito Santo (GEOBASES 2014) no Instituto Jones dos Santos Neves
(IJSN 2015) e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2014) imagens
orbitais gratuitas do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI bandas 2-3-4 e 8 (Pan) oacuterbita 216
ponto 73 com datas de passagem em 02012014 e 22032014 agraves 946 (horaacuterio central
da oacuterbita) junto ao Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2014) aleacutem do ortofotomosaico
do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hiacutedricos (IEMA 2014) do Espiacuterito
Santo referente ao voo de 2007 a 2008
Na segunda etapa foram realizadas duas investigaccedilotildees de campo sendo a primeira no
dia 24 de junho de 2014 com a finalidade de fazer o reconhecimento da aacuterea de estudo
fotografar e conversar com moradores e teacutecnicos da prefeitura O segundo trabalho de
campo ocorreu no dia 14 de fevereiro de 2015 e por meio deste foi possiacutevel identificar
pontos sujeitos a inundaccedilatildeo analisar a topografia e realizar as entrevistas com moradores
e funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina
37
Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC)
38
Na terceira etapa foram realizados os mapeamentos e processamentos de todos os planos
de informaccedilatildeo vetoriais e matriciais em ambiente de SIG no sistema ArcGis 103 iniciando
com a ediccedilatildeo dos dados do Municiacutepio e adjacecircncias que foram ajustados quando
necessaacuterio ao sistema de projeccedilatildeo UTM no Datum SIRGAS ndash 2000 na Zona 24 sul com
meridiano central -39 W com todo o mapeamento produzido seguindo a padronizaccedilatildeo
cartograacutefica proposta por Fitz (2008 a b)
O geoprocessamento teve iniacutecio com a composiccedilatildeo das imagens orbitais do Landsat-8 na
cor natural da imagem (2R 3G 4B) e por meio da teacutecnica de Pan Sharpening ou fusatildeo
de imagens a imagem cor natural foi agrupada agrave da banda 8 pancromaacutetica para obtenccedilatildeo
de uma melhor resoluccedilatildeo espacial neste caso chegando a 15 metros sendo resguardado
o conteuacutedo da imagem composta Na sequecircncia foi realizada a extraccedilatildeo da maacutescara do
periacutemetro urbano de Colatina e gerada a classificaccedilatildeo supervisionada da imagem Landsat-
8 no periacuteodo de cheia (janeiro) e vazante (marccedilo) o que possibilitou a delimitaccedilatildeo da calha
do Doce nestes dois eventos
Em seguida foram realizadas as 8 (oito) mediccedilotildees do leito regular sendo 4 (quatro) no
periacuteodo de cheia e 4 (quatro) na vazante de modo a definir a largura meacutedia da calha do
leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina Para chegar a uma medida geral
da largura do rio utilizaram-se ferramentas estatiacutesticas como a meacutedia que eacute uma medida
de tendecircncia central onde numa amostra de tamanho N constituiacuteda por elementos de x
variando de eacute possiacutevel extrair a meacutedia aritmeacutetica atraveacutes da equaccedilatildeo
A meacutedia aponta para onde mais convergem os dados de uma distribuiccedilatildeo
A partir desta definiccedilatildeo da meacutedia da largura da calha do Rio Doce foi possiacutevel em consulta
ao Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e a Lei 52732007 determinar a faixa miacutenima
de preservaccedilatildeo permanente deste corpo fluvial aleacutem da confecccedilatildeo do mapa com o
poliacutegono de APP
Mediante a anaacutelise do mapa verificou-se que grande parte dos bairros do municiacutepio estatildeo
contidos nos poliacutegonos de APP em especial a preservaccedilatildeo de 500 metros conforme lei
federal E por meio deste foram cruzados os dados de vazatildeo as fotos histoacutericas das
enchentes e o poliacutegono de mata ciliar o que permitiu o entendimento das inundaccedilotildees
39
Em ambiente de SIG tambeacutem foram vetorizados os trecircs traccedilados da Estrada de Ferro
Vitoacuteria a Minas o trajeto do Rio Santa Maria do Doce antes e depois da retilinizaccedilatildeo e os
sucessivos aterros na margem direita do Rio Doce no periacutemetro que compreende a Av
Beira-Rio
As teacutecnicas de sensoriamento remoto como a classificaccedilatildeo supervisionada permitiram a
definiccedilatildeo do poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo atraveacutes da imagem da cheia de janeiro Para
tanto foi realizada tambeacutem a classificaccedilatildeo hiacutebrida objetivando aliar a interpretaccedilatildeo visual
com a digital (JENSEN 2009) Por fim foi realizada amarraccedilatildeo com o levantamento
geodeacutesico da CPRM (2014) para garantir a precisatildeo do traccedilado do poliacutegono de cheia
A partir do tratamento dos dados bibliograacuteficos cartograacuteficos e imagens foi possiacutevel
sistematizar este trabalho o que permitiu identificar elementos histoacutericos de intervenccedilatildeo
na paisagem do Doce como os aterros e a ocupaccedilatildeo urbana As visitas de campo a
entrevista e conversas com moradores foram fundamentais para a validaccedilatildeo das
informaccedilotildees o que tornou esta metodologia eficaz para anaacutelise do fenocircmeno da inundaccedilatildeo
em Colatina
40
4 RESULTADOS
41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana
A ocupaccedilatildeo ao longo das planiacutecies de inundaccedilatildeo dos rios tem ocorrido diante da
necessidade deste recurso para as atividades vitais humanas Cunha (2012b p219)
entende que ldquosuas margens tecircm sido o centro preferido da habitaccedilatildeo humana e o
suprimento de suas aacuteguas natildeo soacute fertiliza os campos para o cultivo como tambeacutem fornece
energia e permite recreaccedilatildeordquo Logo o estabelecimento das vilas nas bordas dos cursos
drsquoaacutegua favorece a logiacutestica ocupacional
Historicamente em solo espiacuterito-santense a formaccedilatildeo das vilas ocorreu agraves margens de
estrateacutegicos cursos drsquoaacutegua e a exploraccedilatildeo do ouro de Minas Gerais para Albani (2012)
determinou que a Coroa proibisse nos seacuteculos XVII a XIX a implantaccedilatildeo de estradas e
exploraccedilatildeo de terras na Capitania do Espiacuterito Santo pois os portugueses temiam incursotildees
estrangeiras deixando assim o desenvolvimento capixaba restrito agrave faixa litoracircnea
Relegada enquanto ldquobarreira verderdquo para defesa das minas de ouro e minerais do atual
territoacuterio das Minas Gerais segundo Coelho (2007) a Capitania do Espiacuterito Santo soacute
passou a se interiorizar para o centro-oeste onde se localiza atualmente a cidade de
Colatina a partir de 1847 por meio das ocupaccedilotildees de Santa Izabel e Santa Leopoldina
que permitiram a descida do Rio Santa Maria do Doce ateacute as imediaccedilotildees da atual cidade
de Colatina
Assim foi que o movimento colonizador desceu o vale do Santa Maria do Rio Doce atingindo em 1891 a regiatildeo das matas onde hoje se acha a cidade de Colatina [] Esta penetraccedilatildeo inicial foi feita com elementos alematildees de Santa Leopoldina e no rio Doce ficou muito anos restrita agrave aacuterea inicial A expansatildeo ao longo do vale tomou impulso com a chegada a Colatina em 1906 dos trilhos da Estrada de Ferro Diamantina (atual Vitoacuteria-Minas) (STRAUCH1955 apud COELHO 2007 p105)
Sendo assim Coelho (op cit) relata que a ocupaccedilatildeo se deu atraveacutes da supressatildeo da mata
nativa no baixo curso do Rio Doce de Colatina a Linhares sendo a madeira daiacute extraiacuteda
levada ateacute o rio e encaminhada ateacute Povoaccedilatildeo vilarejo junto agrave foz de onde eram carregados
os navios Neste periacuteodo tem-se a instalaccedilatildeo de um ciclo madeireiro na regiatildeo com a
disposiccedilatildeo de serrarias nas proximidades das matas
41
Todavia somente a partir de 1906 com a chegada da estrada de ferro na regiatildeo o
transporte madeireiro foi transferido para as locomotivas Agrave medida que a implantaccedilatildeo da
Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas avanccedilava para o interior levava consigo as frentes de
desmatamento modificando as paisagens das margens do Rio Doce e se apropriando dos
espaccedilos deste rio (Figura 9)
Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906 Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce Fonte Albani (2012 p 63)
Conforme Albani (2012) com a vinda dos mineiros e fluminenses reforccedilados
posteriormente a partir de 1889 por colonizadores italianos e alematildees eacute que as
ocupaccedilotildees territoriais ocorreram de modo efetivo Atraveacutes do Barracatildeo do Rio Santa Maria
(Figura 10) espaccedilo do governo inicialmente destinado a alojar os migrantes e a produccedilatildeo
surgiram as primeiras residecircncias nas proximidades da igreja de Satildeo Sebastiatildeo Sendo
assim
Eacute importante destacar que o desenvolvimento da regiatildeo onde se encontra o municiacutepio de Colatina teve iniacutecio no final do seacuteculo XIX no nuacutecleo de colonizaccedilatildeo Antocircnio Prado localizado no distrito de Boapaba antiga vila do Mutum O nuacutecleo recebeu dezenas de famiacutelias de imigrantes italianos e ali desenvolveram atividades de agricultura e com a expansatildeo da localidade surge tambeacutem o comeacutercio (ALBANI 2012 p61) [hellip] A vila de Colatina entretanto logo passou a se transformar no principal nuacutecleo e futuramente na sede do municiacutepio Aleacutem da facilidade da produccedilatildeo atraveacutes do Rio Doce a vila de Colatina tornou-se referecircncia dos imigrantes no caminho para a colonizaccedilatildeo das terras ao norte do estado (MADURO1985 apud ALBANI 2012 p62)
42
Desse modo com o desenvolvimento das atividades de cafeicultura madeireira e do
entroncamento logiacutestico de acesso agraves aacutereas do norte a vila eacute elevada em 1921 agrave categoria
de municiacutepio A atual configuraccedilatildeo territorial foi adquirida a partir de 2001 conforme IBGE
(2014) dispondo de seis distritos Colatina (sede) Acircngelo Frechiami Baunilha Boapaba
Graccedila Aranha e Itapina
Cabe destacar poreacutem que a ocupaccedilatildeo inicial da cidade de Colatina se perfaz pela margem
direita do Rio Doce onde se localiza o atual bairro de Colatina Velha e onde havia se
instalado o Barracatildeo de Santa Maria Nesse periacuteodo a ponte ainda natildeo fora edificada
limitando assim a ocupaccedilatildeo da margem esquerda
Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da regiatildeo Fonte Albani (2012 p62)
Conforme Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p65) a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro
Vitoacuteria a Minas em 1906 (Figura 11) possibilitou a expansatildeo da cidade de Colatina e seu
desenvolvimento econocircmico Todavia sua instalaccedilatildeo paralela agrave margem direita do Rio
Doce favoreceu a localizaccedilatildeo de avenidas e ruas centrais em sua proximidade
43
Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p65)
Entretanto foi com a construccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos (Figura 12) em 1928 que a
margem direita se conectou agrave margem esquerda da cidade o que aleacutem de possibilitar a
ocupaccedilatildeo facilitou o acesso agraves regiotildees mais ao norte do Estado
Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p66)
44
Por conseguinte a estrada de ferro e a ponte foram os fatores determinantes para o
estabelecimento dos migrantes agraves margens do Rio Doce e a formaccedilatildeo do atual municiacutepio
de Colatina Contudo foi a partir desta posiccedilatildeo privilegiada que a cidade passou a ser
entreposto comercial e logiacutestico da regiatildeo noroeste e com isso sua aacuterea urbana expandiu-
se de modo desordenado inicialmente ao longo da planiacutecie de inundaccedilatildeo do Doce Coelho
(2007 p108 e 109) relata que
Os efeitos dessa urbanizaccedilatildeo (novos parcelamentos) e do desmatamento produz [sic] normalmente o aumento da velocidade das aacuteguas superficiais (pluviais) que eram antes interceptadas pelas matas com boa parte absorvida pelo solo O que ocorre geralmente nessas aacutereas eacute a chegada mais raacutepida das aacuteguas das chuvas para o tributaacuterios e calha principal do rio por fluxos concentrados que provocam processos de erosotildees do tipo laminar ravina e voccediloroca transportando quantidades expressivas de sedimentos que por sua vez causam assoreamento e a ocorrecircncia de cheias mais frequentes no rio
Com o crescimento acelerado do periacutemetro urbano proporcionado pelo apogeu do ciclo
cafeeiro as proacuteximas deacutecadas levaratildeo a cidade de Colatina a sofrer com impactos
advindos das alteraccedilotildees no ambiente fluvial do Rio Doce em especial os referentes a
ocupaccedilatildeo (impermeabilizaccedilatildeo) e desmatamento das margens (interferecircncia na drenagem
natural) conforme destacado por Coelho (2007)
Eacute fato que o municiacutepio viveu nas deacutecadas de 1940 e 1950 o auge do ciclo cafeeiro
chegando a ser no ranking brasileiro o 13ordm municiacutepio produtor de cafeacute no ano de 1947
(CAMPOS JUNIOR 2004 apud ALBANI 2012 p69) Poreacutem a partir de 1960 este boom
entrou em colapso com crise do cafeacute que assolou todo o paiacutes levando grande parte dos
pequenos proprietaacuterios rurais a migrarem para centros urbanos em especial no Espiacuterito
Santo a regiatildeo da Grande Vitoacuteria e tambeacutem para o centro de Colatina
Em razatildeo da crise cafeeira a populaccedilatildeo rural migra para centros urbanos A populaccedilatildeo migrou em grande quantidade para a Grande Vitoacuteria para fora do estado e tambeacutem para a cidade de Colatina principal aglomerado urbano da regiatildeo Esse processo provoca o aumento da aacuterea urbana de Colatina A populaccedilatildeo da cidade que era de 3913 habitantes em 1940 cresceu para 26757 habitantes em1960 (ALBANI2012 p71)
O crescimento raacutepido do centro de Colatina aliado ao aumento populacional direciona
grande parte dos migrantes para as aacutereas menos centrais da cidade levando agrave ocupaccedilatildeo
de locais irregulares como os morros e as margens direita e esquerda do Rio Doce Este
45
processo configurou a nova paisagem do municiacutepio povoando do vale agraves encostas (Figura
13)
Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes Fonte Albani (2012 p73)
Associado a este processo de reconfiguraccedilatildeo espacial nas proacuteximas deacutecadas o municiacutepio
de Colatina passaraacute por sucessivas perdas de territoacuterios ateacute atingir os limites atuais (Figura
1 p17) Aliado a estas perdas territoriais seu quantitativo absoluto populacional tambeacutem
sofreraacute impactos poreacutem de modo geral a populaccedilatildeo urbana deste municiacutepio apresentou
crescimento continuo (Graacutefico 2)
Graacutefico 2
Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 2010
Elaborado pela autora Fonte 1940 e 1950 Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p82) 1960 a 2010 IBGE
0
20000
40000
60000
80000
100000
120000
1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020
Populaccedilatildeo Urbana Colatina 1940 - 2010
46
Assim como tem ocorrido nas grandes capitais Colatina cresceu em quantitativo
populacional e territorial urbano de modo muito raacutepido e por este desenvolvimento natildeo ter
sido aliado a um planejamento urbano e ambiental sustentaacutevel a cidade tem sentido os
reflexos das suas interferecircncias ao longo do canal do Doce O que tem provocado
antecipaccedilatildeo dos picos de vazatildeo que no periacutemetro urbano ocasiona as inundaccedilotildees pois
natildeo conseguindo o rio acomodar estes defluacutevios transfere em curto espaccedilo de tempo as
aacuteguas a sua planiacutecie de inundaccedilatildeo atingindo os bairros mais antigos do municiacutepio
Por fim entender o contexto histoacuterico do crescimento da cidade revela muito do panorama
atual E por meio de uma anaacutelise conjunta da histoacuteria com os novos planejamentos eacute
possiacutevel propor intervenccedilotildees urbanas que possibilitem um conviacutevio harmonioso entre
natureza e sociedade neste caso entre o Rio Doce e o centro de Colatina Diante desta
proposta adiante apresentaremos a evoluccedilatildeo dos bairros associando seus periacuteodos de
ocupaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo espacial nas imediaccedilotildees do curso principal do Doce
411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade
Com nuacutecleo inicial de povoamento no Barracatildeo de Santa Maria a cidade de Colatina
cresce a partir deste ponto agrave margem direita do Rio Doce de onde surgem as primeiras
residecircncias comeacutercios e a igreja Atualmente a regiatildeo compreende o bairro de Colatina
Velha que de acordo com Albani (2012 p91) [hellip] ldquopode ser considerado o primeiro polo
de crescimento da cidaderdquo
Aliado ao aumento da populaccedilatildeo migrante das fazendas com a crise do cafeacute o nuacutecleo de
Colatina Velha passa a ser um ponto de passagem obrigatoacuterio para os viajantes que
vinham majoritariamente do sul uma vez que o Rio Doce configurava uma barreira natural
agrave ocupaccedilatildeo das terras ao norte Aleacutem disso a margem esquerda deste canal fluvial era
habitat dos hostis iacutendios botocudos o que dificultava a sua apropriaccedilatildeo
Sendo assim a ocupaccedilatildeo de Colatina conteve-se agrave margem direita nesta primeira fase o
que define o primeiro vetor de crescimento da cidade na direccedilatildeo leste para oeste partindo
das imediaccedilotildees do Barracatildeo de Santa Maria sentido ao Rio Santa Maria do Doce (Figura
14) E a partir de 1906 com a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas da entatildeo
Companhia Vale do Rio Doce atual Vale este vetor de crescimento se consolida e
47
proporciona o surgimento de importantes avenidas paralelas agrave ferrovia a exemplo da Av
Getuacutelio Vargas
Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de crescimento Elaborado pela autora
48
O segundo vetor do crescimento de Colatina estava condicionado agrave construccedilatildeo da ponte
Florentino Aacutevidos a qual conectou a margem direita agrave esquerda do Rio Doce permitindo
a ocupaccedilatildeo da porccedilatildeo ao norte Portanto somente a partir de 1928 com a finalizaccedilatildeo da
obra da ponte a barreira natural pocircde ser transposta o que possibilitou ao lado esquerdo
desenvolver uma nova linha de crescimento urbano com a ocupaccedilatildeo do atual bairro de
Satildeo Silvano
O terceiro vetor de crescimento estaacute associado agrave implantaccedilatildeo do bairro Luiz Iglesias na
margem direita e os de Maria das Graccedilas e Coluacutembia na margem esquerda Albani (2012)
ressalta que esta fase da ocupaccedilatildeo urbana estaacute associada ao desenvolvimento do sistema
viaacuterio como a proximidade da BR-259 sentido Vitoacuteria- Colatina da ES-80 que liga
Colatina agrave regiatildeo norte da ES-256 que a conecta a Marilacircndia e da proximidade da
estaccedilatildeo ferroviaacuteria Carlos Germano Nauman (Figura 15)
Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios e linhas feacuterreas que interceptam a cidade de Colatina Elaborado pela autora
Jaacute na quarta e mais recente linha de crescimento da cidade temos os novos loteamentos
residenciais e industriais a exemplo do de Barbados e do bairro Santa Helena que surgem
49
acompanhando o traccedilado da ponte que contorna a leste a cidade como novo acesso agrave
porccedilatildeo norte do estado Albani (2012 p118) destaca que
Apesar da construccedilatildeo da Segunda Ponte ter sido iniciada em 1986 somente foi inaugurada em 2007 A conclusatildeo da ponte e a construccedilatildeo de uma rodovia de contorno desviaram a BR-259 do centro da cidade O desvio da rodovia federal trouxe um desafogamento do tracircnsito nas principais vias da cidade e um novo direcionamento na expansatildeo urbana Alguns loteamentos surgiram nesse periacuteodo proacuteximo agrave Segunda Ponte e ao contorno na margem norte do rio principalmente no bairro Santa Helena (Figura 55) Essa situaccedilatildeo indica mais uma vez que as linhas de crescimento em Colatina satildeo orientadas pelas vias de transporte
Portanto o crescimento do periacutemetro urbano de Colatina estaacute associado agrave superaccedilatildeo das
barreiras naturais em especial o Rio Doce por meio de investimentos em obras de
engenharia que permitiram o deslocamento humano para a margem esquerda deste curso
Sem duacutevida as vias de transporte foram elementares na construccedilatildeo do periacutemetro urbano
de Colatina pois na medida que se consolidava o sistema viaacuterio as ocupaccedilotildees tambeacutem se
favoreciam destas vias de locomoccedilatildeo A evoluccedilatildeo da aacuterea urbana portanto acompanha
as principais vias de transporte (Figura 15 p45) e estas se utilizam da posiccedilatildeo estrateacutegica
e geograficamente favoraacutevel do canal do Doce para a definiccedilatildeo de seus traccedilados
Apoacutes 94 anos de emancipaccedilatildeo de Linhares o territoacuterio de Colatina eacute fundamental para a
manutenccedilatildeo dos municiacutepios do noroeste capixaba Diante desta posiccedilatildeo estrateacutegica torna-
se relevante o entendimento de como o urbano se relaciona com o meio natural a fim de
se estabelecer poliacuteticas de ordenamento territorial que promovam a qualidade de vida no
municiacutepio Adiante seraacute analisada a situaccedilatildeo da calha principal do Rio Doce elemento
fundamental na compreensatildeo do uso e cobertura da terra de Colatina
42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce
Compreendendo uma aacuterea de 3330 kmsup2 o periacutemetro urbano de Colatina eacute afetado pela
velocidade dos defluacutevios de modo que grande parte dos bairros beira-rio eacute tomada pelas
aacuteguas excedentes da calha principal do Doce o que configura o fenocircmeno de inundaccedilatildeo
Ao pesquisar estes fenocircmenos eacute necessaacuterio relacionar o uso da terra com os processos
geomorfoloacutegicos do corpo hiacutedrico Sendo assim por meio de teacutecnicas de
geoprocessamento foram realizadas oito mediccedilotildees da calha principal do Rio Doce para
50
estabelecimento da distacircncia meacutedia da largura de sua calha O resultado esteve dentro do
esperado e pode ser verificado na tabela abaixo (Tabela 1) e no mapa em sequecircncia
(Figura 16)
Tabela 1 Perfis transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de
vazante (abril) e cheia (janeiro)
Largura do rio Doce periacuteodo de vazante e cheia
Abril2013(m) Janeiro2014(m)
P1 70735 75784
P2 62080 66483
P3 59209 65804
P4 63548 67650
Meacutedia dos Perfis 62814 67066
Meacutedia Geral 66143 Obs todas as medidas estatildeo em metros
Elaborado pela autora
Figura 16 - Traccedilado dos perfis transversais da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de vazante mecircs de abril2013 Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)
51
Com uso das imagens orbitais do Landsat-8 atraveacutes da classificaccedilatildeo hiacutebrida foram
gerados dois arquivos shapefiles correspondentes agraves bordas do Doce um no periacuteodo de
vazante e outro no de cheia Por meio destes dados foram definidos quatro traccedilados para
realizaccedilatildeo das mediccedilotildees a partir destas e com auxiacutelio das medidas de tendecircncia central
chegou-se a uma largura meacutedia total de 66143m de uma margem a outra Este resultado
indicou que tanto no periacuteodo de vazante quanto no periacuteodo de cheia a largura meacutedia
aponta para a maior faixa de APP proteccedilatildeo de 500m conforme previsto na legislaccedilatildeo
federal (Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e no revogado Lei 4771 1965)
Analisando a imagem abaixo (Figura 17) observa-se que grande parte do solo
naturalmente destinado a ldquoacomodaccedilatildeordquo das aacuteguas nas cheias (linha laranja) foi
incorporado agrave sociedade como espaccedilo criado (periacutemetro urbano em APP mancha em
amarelo) destinado a fins muacuteltiplos Deste modo sem planejamento territorial adequado
grande parte da planiacutecie de inundaccedilatildeo deu lugar a outras funccedilotildees diferentes das naturais
sendo incorporada ao espaccedilo urbano
Lanccedilando o buffer (mancha em amarelo) do entorno da calha do Doce (Figura 17) observa-
se que dos 59 bairros do municiacutepio cerca de 29 estatildeo dentro da aacuterea de 500m destinada
a preservaccedilatildeo permanente pelo Coacutedigo Florestal Considerando-se a delimitaccedilatildeo da APP
prevista no PDM de 1996 e 2007 (linha laranja mais proacutexima da borda do rio) este nuacutemero
cai para 18 bairros permanecendo apenas aqueles que possuem limites com o corpo
hiacutedrico
Uma vez que que lei municipal natildeo suplanta lei federal considerar-se-aacute neste estudo o
limite da faixa marginal de proteccedilatildeo definida na Lei Federal 126512012 Deste modo a
aacuterea de preservaccedilatildeo permanente do Doce neste recorte eacute de 1085 kmsup2 compreendendo
33 do periacutemetro urbano de Colatina
Cabe destacar ainda que mesmo o PDM de 1996 contendo enquanto objetivo no Art 14
ldquoI - estabelecer a ordenaccedilatildeo do uso e da ocupaccedilatildeo do solo urbanordquo (Lei 42281996 p4)
a gestatildeo municipal natildeo obteve sucesso na implementaccedilatildeo de tal legislaccedilatildeo O que se
verifica tanto nas deacutecadas de 1990 quanto no iniacutecio dos anos 2000 quando foram
aprovados novos parcelamentos urbanos agraves margens deste canal a exemplo dos bairros
de Barbados na margem direita e do bairro Mario Giurizato na margem esquerda
52
Figura 17- Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)
53
Articulado a esta ideia e pesquisando o trecho do bairro Esplanada a Colatina Velha palco
das uacuteltimas obras estruturantes de alto porte do municiacutepio consegue-se analisar os efeitos
das inundaccedilotildees nas margens deste rio Logo implementar medidas de prevenccedilatildeo de
cheias em aacutereas com urbanizaccedilotildees antigas requer um esforccedilo da gestatildeo na regulaccedilatildeo do
solo urbano
421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie
de Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio
Interceptada pelo curso do Rio Doce no perfil mais a jusante da bacia a cerca de 100km
do estuaacuterio com o Oceano Atlacircntico a cidade de Colatina polo moveleiro e de confecccedilotildees
do centro-oeste capixaba eacute palco recorrente de inundaccedilotildees urbanas
Conforme jaacute mencionado por Cunha (2012a) este fenocircmeno ocorre quando a bacia recebe
um percentual precipitado acima da sua capacidade de escoamento o que faz o leito
menor do rio extravasar para o leito maior ocupando as aacutereas de vaacuterzeas (Figura 18 p
50) Aliadas a esta questatildeo estatildeo as ocupaccedilotildees humanas das margens dos rios que ao
suprimir a vegetaccedilatildeo natural e alterar a condiccedilatildeo fiacutesica do solo acabam por reduzir a aacuterea
de drenagem das aacuteguas pluviais acelerando o escoamento superficial para o canal
principal e favorecendo os defluacutevios
Figura 18 - Representaccedilatildeo da inundaccedilatildeo urbana Fonte adaptado da Defesa Civil do Tocantins (2015)
Este fenocircmeno tem ganhado destaque em Colatina a partir de 1979 ano em que o Rio
Doce atingiu a vazatildeo de 12860msup3s tomando toda aacuterea aplainada que compotildee seu leito
maior afetando da atual Av Beira-Rio ateacute as redondezas da Av Getuacutelio Vargas Desde
entatildeo os estudos das inundaccedilotildees urbanas satildeo relevantes no municiacutepio o que levou o
54
Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) na deacutecada de 1980 a elaborar um ldquoPlano Diretor
de Contenccedilatildeo das Enchentes Proteccedilatildeo das Encostas e Drenagem Pluvial de Colatinardquo
Tal medida apresentou seis alternativas para o fenocircmeno Poreacutem tendo em vista o custo
operacional das obras apenas a alternativa seis que previa a construccedilatildeo de diques
marginais para a proteccedilatildeo das aacutereas mais centrais foi considerada viaacutevel na eacutepoca
Todavia em entrevistas com funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina (PMC) foi
relatado que todo o estudo foi arquivado e que ateacute agora natildeo haacute previsatildeo de
implementaccedilatildeo de tais medidas Fato este que eacute evidenciado (Tabela 2 p 51) quando da
ocorrecircncia de precipitaccedilotildees intensas na bacia durante as quais sazonalmente a cidade eacute
impactada com as aacuteguas das inundaccedilotildees Isto faz com que o municiacutepio passe
recorrentemente por cataacutestrofes conforme tabela com os principais picos de vazatildeo do rio
nos uacuteltimos 50 anos
Tabela 2
Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013
Ano Diamecircs Vazatildeo(msup3s)
1961 30jan 6613
1979 04fev 12860
1997 07jan 8687
2005 03ago 6549
2013 24dez 9028
Fonte Coelho (2007 apud DALLAPICOLA 2014 p4) e CPRM (2014 p85) Observo que os dados da tabela 1 para os anos de 1979 e 2013 estatildeo baseados na estimativa de vazatildeo meacutedia diaacuteria das maacuteximas anuais obtida atraveacutes de extrapolaccedilatildeo da curva-chave pelo grupo interdisciplinar dos relatoacuterios criacuteticos anteriores
As inundaccedilotildees de 1979 1997 e recentemente 2013 (Figura 19) foram as de maior vazatildeo
neste setor do rio e consequentemente as que mais atingiram a aacuterea urbana do municiacutepio
bloqueando os acessos ao centro da cidade e aos equipamentos essenciais como
hospitais escolas e demais oacutergatildeos puacuteblicos aleacutem de desalojarem muniacutecipes e
comprometerem a sauacutede puacuteblica
55
Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de 1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 Fonte1) Nossa Colatina 2) Nossa Linda Colatina 3) Nossa Colatina
Com o propoacutesito de identificar os principais fatores que acentuam as inundaccedilotildees seraacute
analisado como os processos geomorfoloacutegicos do Doce estatildeo sendo afetados pela accedilatildeo
antroacutepica Limitaremos a anaacutelise ao periacutemetro urbano no trecho que compreende do bairro
Esplanada ateacute o bairro Colatina Velha (Figura 20) Neste periacutemetro eacute possiacutevel visualizar a
evoluccedilatildeo da mancha urbana sobre o leito do rio aleacutem de identificar na margem direita os
pontos desnaturalizados deste canal fluvial
56
Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2) Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do recorte em rosa da APP de 50m (amarelo claro) e 500m (amarelo escuro) Fonte 3) Encontra Colatina (2015)
57
O recorte em questatildeo eacute margeado pela Av Beira-Rio e estaacute situado (Figura 20) dentro do
buffer de preservaccedilatildeo permanente previsto no PDM (buffer de 50m) e no Novo Coacutedigo
Florestal (buffer de 500m) Apesar desta aacuterea ser destinada a mata nativa e ou
reflorestada a ocupaccedilatildeo urbana antecede os artigos legais o que dificulta poliacuteticas de
gestatildeo territorial em um periacutemetro ao mesmo tempo histoacuterico e com funccedilatildeo relevante no
equiliacutebrio hidroloacutegico da bacia
O periacutemetro faz parte da vaacuterzea da margem direita do Rio Doce pois encontra-se em cota
topograacutefica de 50m caracterizando sua planiacutecie Logo a aacuterea em questatildeo tem a funccedilatildeo de
acomodar as aacuteguas das cheias quando a calha principal natildeo comporta o escoamento de
grandes vazotildees Esta tarefa passa a ser prejudicada na medida em que na bacia ou no
curso original satildeo implementadas obras que interferem na morfologia do corpo hiacutedrico
principal como a instalaccedilatildeo das hidreleacutetricas de Mascarenhas (1974) e Aimoreacutes (2005) a
montante
As UHErsquos a montante comprometem os processos do rio uma vez que o regime natural de
transporte de sedimentos eacute alterado com o barramento o que favorece a erosatildeo e
consequentemente o assoreamento com a formaccedilatildeo de bancos arenosos alteraccedilatildeo do
seu perfil transversal e reduccedilatildeo da profundidade Aleacutem disso segundo Coelho (2007) as
vazotildees maacuteximas e miacutenimas foram alteradas com a implantaccedilatildeo das hidreleacutetricas a
montante implicando em vazotildees meacutedias anuais miacutenimas cada vez mais reduzidas com
valores se distanciando da linha de tendecircncia (polinocircmio) provando o natildeo equiliacutebrio da
vazatildeo apoacutes a implantaccedilatildeo das barragens (Graacutefico 1 p22)
Entretanto a primeira intervenccedilatildeo direta no trecho em estudo foi a instalaccedilatildeo da estrada
de ferro que atraiu migrantes para Colatina permitindo o crescimento populacional e a
expansatildeo urbana desordenada agraves margens do Doce Este crescimento intensificou a
supressatildeo das matas ciliares e abriu espaccedilo para a impermeabilizaccedilatildeo do solo reduzindo
a infiltraccedilatildeo
Posteriormente a inauguraccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos ampliou o fluxo na regiatildeo pois
proporcionava a ligaccedilatildeo com as terras ao norte do Estado Atuou tambeacutem como obstaacuteculo
ao transporte de sedimentos carreados no fluxo natural do rio uma vez que sua
implantaccedilatildeo altera a topografia do fundo do canal afetando os processos geomorfoloacutegicos
58
Poreacutem foi no Morro das Cabritas (colina localizada no espaccedilo que compreende o atual
bairro Esplanada) que ocorreu a primeira desnaturalizaccedilatildeo nas margens do Doce Este
morro por onde o Rio Santa Maria do Doce meandrava ateacute desaguar no Rio Doce foi
cortado em meados de 1953 para abrigar a cidade em expansatildeo Devido a esta
intervenccedilatildeo o curso original do Santa Maria foi deslocado e passou a escoar
retilineamente ateacute a foz (Figura 21)
Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponte Florentino Aacutevidos (direita) e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque em vermelho para o curso atual do Santa Maria Fonte Nossa Colatina
As intervenccedilotildees na margem direita tornam-se mais intensas a partir da deacutecada de 1960
quando no ano de 1968 edificou-se um muro visando a proteccedilatildeo dos pilares da
extremidade direita da ponte Esta obra ficou paralisada por muitos anos e foi a primeira
de retificaccedilatildeo e aterro realizada neste trecho do rio Esta intervenccedilatildeo modificou o fluxo
natural das correntes do rio e reduziu a largura da sua calha alterando a morfologia do
canal (Figura 22)
59
Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de proteccedilatildeo da ponte Elaborado pela autora Fonte fotos histoacutericas Nossa Colatina
Contudo somente em 1972 teve iniacutecio o segundo aterro (Figura 23) com a finalidade de
alocar a estaccedilatildeo rodoviaacuteria de Colatina e ampliar a aacuterea de acesso agrave ponte Florentino
Aacutevidos A implementaccedilatildeo desta obra suprimiu parte do leito do Rio Doce pois removeu a
saliecircncia cocircncava que curvava o rio retilinizando esta parte do canal
60
Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora Fonte Nossa Colatina Nossa Linda Colatina
Apoacutes dez anos sem grandes intervenccedilotildees em 1982 o lado a montante da ponte bairro
Esplanada eacute acrescido de um aterro que estenderaacute a aacuterea do antigo Morro das Cabritas
para o rio (Figura 24)
Conhecido como Rua da Lama devido agrave umidade que o rio transferia ao aterro formando
um barro viscoso que persistia a maior parte do ano o trecho atualmente compreende a
Avenida Professor Joseacute Zouian popularmente denominada Avenida Beira-Rio de onde
surge a primeira forma do calccediladatildeo que seraacute estendido ateacute o bairro Colatina Velha
61
Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o calccediladatildeo da Av Beira-Rio Elaborado pela autora Fonte Bennachio (2015)
Somente em 2004 foi implementado o maior projeto de canalizaccedilatildeo do municiacutepio Naquele
ano teve iniacutecio a execuccedilatildeo do enrocamento da Av Beira-Rio (Figura 25) obra destinada
inicialmente a alocaccedilatildeo de equipamentos puacuteblicos de lazer e cultura praccedilas preacutedios aleacutem
da promessa de contribuir para a contenccedilatildeo dos transbordamentos do Rio Doce
Apesar de o referido manancial jaacute estar comprometido com problemas de poluiccedilatildeo
assoreamento e erosatildeo aleacutem dos impactos de duas hidreleacutetricas instaladas a montante a
obra abarcou a supressatildeo da vegetaccedilatildeo ciliar e aterro de parte do rio jaacute tatildeo degradado
62
Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento iniciada em 2004 e finalizada em 2008 Elaborado pela autora Fonte proacutepria autora em 240215
Ocupando uma aacuterea total de 130 mil msup2 do leito do Rio Doce o aterro teve iniacutecio em 2004
sendo construiacutedo com cerca de 90 mil msup3 de pedras 50 mil msup3 de areia retirada do leito do
rio e por fim o nivelamento com 200 mil msup3 de terra A obra era divulgada como um antigo
sonho dos colatinenses e serviria para ampliaccedilatildeo da Av Beira-Rio no bairro de Colatina
Velha instalaccedilatildeo de ciclovias calccediladatildeo equipamentos puacuteblicos e estacionamento (Figura
26) Apesar do fim da engenharia em 2008 o projeto ainda estaacute em fase de acabamento
na parte urbaniacutestica e na alocaccedilatildeo dos oacutergatildeos puacuteblicos
Cabe destacar que a obra sofreu embargos do Ministeacuterio Puacuteblico Federal (MPF) por
apresentar apenas cadastro na Agecircncia Nacional de Aacuteguas (ANA) que conforme parecer
da Procuradora Nadja Machado Botelho na Accedilatildeo Civil Puacuteblica ldquo[hellip] equivocadamente natildeo
realizou o procedimento de outorga [hellip]rdquo (MPF 2006 p2) Aleacutem disso a procuradora
solicitou tutela tendo em vista tratar-se de aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental e o fato de o
IBAMA ter concedido licenciamento com indevida dispensa do Estudo de Impacto
Ambiental (EIA)Relatoacuterio de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA)
63
Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina Fonte Prefeitura de Colatina (2015)
Por isso essa obra deve ser considerada faraocircnica para os cofres puacuteblicos e irreversiacutevel
para os processos geomorfoloacutegicos do Doce E sua efetivaccedilatildeo soacute foi possiacutevel com a
participaccedilatildeo e investimentos do Governo estadual Contudo seu objetivo foi frustrado pois
novamente na cheia do Rio Doce em dezembro de 2013 quando este atingiu a vazatildeo de
9028 msup3s a aacuterea foi inundada e por estar em cota maior que as casas que beiravam o
rio o enrocamento atuou como represa natildeo permitindo o retorno das aacuteguas quando o niacutevel
do rio retomou o equiliacutebrio
Por fim segue um mapa siacutentese (Figura 27) com a cartografia das quatro principais
intervenccedilotildees diretas e estruturais na margem direita do Doce no setor urbano de Colatina
representando o curso natural do rio em 1950 e suas desnaturalizaccedilotildees a partir da deacutecada
de 60 ateacute a atualidade
64
Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce ante e depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora
65
422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio
O recorte em estudo compreende as Zonas ZE-1 ZE-2 e ZUD 2-1 (Figura 28 p61) sendo
a Zona Especial 1 Zona Especial 2 e Zona de Uso Diverso 2-1 destinadas no PDM (Lei
52732007)
Artigo 103 - As Zonas de Usos Diversos ndash ZUD satildeo definidas em razatildeo da concentraccedilatildeo de atividades urbanas diversificadas com predominacircncia do uso comercial e de serviccedilos Artigo 104 - Satildeo objetivos das Zonas de Usos Diversos I - otimizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do solo priorizando a instalaccedilatildeo de novos empreendimentos em terrenos natildeo edificados contiacuteguos a empreendimentos jaacute instalados II - controle da implantaccedilatildeo de usos incompatiacuteveis com os definidos para estas zonas III - garantia de licenciamento e monitoramento ambiental dos empreendimentos IV - controle da expansatildeo comercial de serviccedilos e de induacutestrias de pequeno porte em direccedilatildeo a aacutereas residenciais [] Artigo 130 - As Zonas Especiais 1 ndash ZE 1 abrangem todas as aacutereas remanescentes do municiacutepio relativamente ao zoneamento estabelecido nesta lei ocupadas ou natildeo contida na lei de periacutemetro urbano para as quais natildeo foram ainda estabelecidos os criteacuterios de uso e ocupaccedilatildeo Artigo 131 - As Zonas Especiais 2 ndash ZE 2 satildeo as aacutereas existentes no prolongamento da avenida Beira Rio mais especificamente no trecho entre o 80 Batalhatildeo da Poliacutecia Militar e a rua Pedro Epichin incluindo o espaccedilo existente entre a margem do Rio Doce e o limite das construccedilotildees localizadas na rua Pedro Epichin
Cabe destacar que mesmo sendo palco das aacutereas mais afetadas com as inundaccedilotildees do
Rio Doce a Beira-Rio tem sido alvo da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria que aproveitando-se dos
iacutendices pouco restritos da ZUD 2 (Figura 28 p62) valoriza o espaccedilo promovendo a
instalaccedilatildeo de grandes estruturas como hipermercados edifiacutecios residenciais modernos e
hotelaria
66
Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 Fonte Colatina (2007)
A aacuterea contida na ZE (Figura 28) natildeo possui criteacuterio de ocupaccedilatildeo definido na legislaccedilatildeo
atual sendo adotado o disposto na Lei 41961995 que estabelece os iacutendices urbaniacutesticos
para as aacutereas conquistadas junto ao Rio Doce e na Lei 420595 que aprova os
parcelamentos na Beira-Rio Quanto agrave ZUD 2-1 apresenta iacutendices urbaniacutesticos no anexo
118 do Plano Diretor conforme tabela 3 abaixo
67
Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1
Fonte Colatina (2007 p36)8
68
Eacute relevante observar que numa aacuterea onde o corpo hiacutedrico foi reduzido pelos sucessivos
aterros tenha sido aprovada a instalaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto (Figura
29) com taxa de ocupaccedilatildeo de ateacute 80 e com baixo iacutendice de permeabilidade Ampliou-
se a aacuterea impermeaacutevel numa regiatildeo onde a drenagem jaacute eacute muito comprometida com a
expansatildeo urbana sobre o rio
Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto na Beira-Rio Fonte imagem do Google Maps 2015 E fotos da autora em 140215
Portanto analisando o conjunto de dados apresentado acima eacute possiacutevel entender como
as inundaccedilotildees satildeo potencializadas no municiacutepio atingindo a populaccedilatildeo mas em especial
afetando a dinacircmica de um corpo hiacutedrico tatildeo relevante para o Estado A fim de subsidiar a
gestatildeo puacuteblica com material cartograacutefico para a tomada de decisotildees delimitou-se o
poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo (Figura 30) Pois devem ser adotadas medidas que
minimizem impactos de futuros eventos hidroloacutegicos na bacia capazes de comprometer
novamente a aacuterea urbana mais central de Colatina
69
Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av Beira-Rio em dezembro de 2013 Elaborado pela autora
70
Diante do poliacutegono de inundaccedilatildeo da uacuteltima cheia (Figura 30) em dezembro de 2013 eacute
possiacutevel implementar medidas de convivecircncia com as grandes vazotildees a exemplo de
paiacuteses como Holanda que vem investindo em medidas de resiliecircncia a fim de reduzir a
velocidade dos defluacutevios possibilitando ao canal a capacidade de acumular e dispersar as
aacuteguas com impacto miacutenimo para as populaccedilotildees Conforme Carneiro e Miguez (2011) a
estrateacutegia adotada pelo paiacutes eacute reter armazenar e drenar sendo mais flexiacutevel e natildeo
interferindo drasticamente na dinacircmica do corpo hiacutedrico
Por fim a implementaccedilatildeo de soluccedilotildees de planejamento urbano em Colatina requer uma
anaacutelise integrada que abarque o urbano e o ambiental de modo a propor intervenccedilotildees que
produzam impactos reduzidos nos processos geomorfoloacutegicos do Rio Doce Logo a gestatildeo
municipal deve atuar em niacutevel de bacia hidrograacutefica interagindo com os municiacutepios a
montante propondo medidas de minimizaccedilatildeo das cheias urbanas Mas na escala local
pode-se atuar junto aos novos parcelamentos de modo a ampliar o percentual de aacutereas
permeaacuteveis no municiacutepio incentivando por exemplo os novos loteamentos a adotarem
pavimentaccedilotildees que permitam a drenagem natural do solo
71
5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Partindo da ideia de que eacute possiacutevel implementar medidas que minimizem o escoamento
superficial satildeo apresentadas propostas como forma de controlar ou ao menos reduzir os
impactos das inundaccedilotildees urbanas
Embora as implementaccedilotildees histoacutericas de estruturas de proteccedilatildeo ou barreiras mais altas
tenham sido muito disseminadas atualmente estatildeo sendo suplantadas pelo gerenciamento
de inundaccedilotildees de maneira mais sustentaacutevel Deste modo as experiecircncias fora do Brasil
apontam para soluccedilotildees mais flexiacuteveis que considerem o fluxo natural do canal enquanto
um ecossistema em equiliacutebrio Para tanto Carneiro e Miguez (2011 p150) destacam a
iniciativa alematilde no controle de inundaccedilotildees em bacias hidrograacuteficas metropolitanas
[hellip] A abordagem comum consiste na regulaccedilatildeo do uso do solo nas aacutereas inundaacuteveis e em ldquodar espaccedilo para o riordquo ao inveacutes de priorizar investimentos em estruturas de proteccedilatildeo contra inundaccedilotildees como a colocaccedilatildeo de diques de contenccedilatildeo as margens dos rios A utilizaccedilatildeo do conceito de resiliecircncia apropriado de ecologia decorre dessa abordagem A aplicaccedilatildeo praacutetica do conceito implica portanto em mudanccedilas de paradigma Deixa de ser preponderante a engenharia construtiva e entra em cena o planejamento de longo prazo voltado para o desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis capazes de conviver com as variaccedilotildees do ciclo hidroloacutegico sem significar necessariamente trageacutedias anunciadas
Aleacutem dessas propostas geoacutegrafos como Sandra Cunha tecircm estudado a recuperaccedilatildeo
natural ou ldquorenaturalizaccedilatildeordquo de corpos fluviais visando promover a estabilidade dos canais
de modo mais sustentaacutevel Para ela
[hellip] Recuperaccedilatildeo de canal significa de forma simples o retorno as condiccedilotildees anteriores aos distuacuterbios Em essecircncia eacute o processo de recuperaccedilatildeo do rio ou do ecossistema fluvial estabilizando o desenvolvimento de habitats e colonizaccedilatildeo a uma taxa mais raacutepida que dos processos naturais fiacutesicos e bioloacutegicos Na recuperaccedilatildeo de canais ocorrem consideraccedilotildees de aspecto hidroloacutegico morfoloacutegico e ecoloacutegico qualidade da aacutegua esteacutetica aleacutem da necessidade de uma visatildeo integradora do projeto sustentaacutevel de recuperaccedilatildeo (CUNHA 2012 p230 a 231)
Satildeo portanto medidas pontuais como o retorno agraves sinuosidades do rio (Figura 31 p 68)
ou a substituiccedilatildeo de estruturas de concreto por superfiacutecies mais permeaacuteveis a exemplo
das trincheiras de infiltraccedilatildeo ou pavrsquos (Figura 32) aacutereas mais vegetadas aleacutem de coleta e
uso de aacutegua da chuva bem como tratamento das aacuteguas superficiais por meio de
72
amenidades esteacuteticas como reservatoacuterios de retenccedilatildeo ou detenccedilatildeo que podem ser
associados a ambientes harmocircnicos como lagos artificiais Todas estas accedilotildees possibilitam
a minimizaccedilatildeo das grandes vazotildees no solo urbano pois pretendem atenuar os impactos
das cheias fazendo com que seja resgatada parte da drenagem existente anteriormente agrave
urbanizaccedilatildeo
Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do Rio Aa Munster Alemanha (1998) Fonte Cunha (2012 p233)
Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos Fonte Carneiro e Miguez (2011 p128)
A partir do exposto cabe agrave gestatildeo municipal implementar legislaccedilotildees que priorizem a
permeabilidade possibilitando uma maior infiltraccedilatildeo das aacuteguas das chuvas atraveacutes de
pavimentaccedilotildees menos impermeaacuteveis e da ampliaccedilatildeo de aacutereas vegetadas Satildeo medidas
que tornam a drenagem mais sustentaacutevel aleacutem de possibilitar a manutenccedilatildeo dos serviccedilos
puacuteblicos de forma menos custosa tendo em vista o elevado preccedilo das recomposiccedilotildees
asfaacutelticas
1 2
73
Aleacutem disso quando se fala em controle de cheias urbanas pressupotildee-se uma seacuterie de
medidas para minimizaccedilatildeo de seus impactos desde a operaccedilatildeo de sistemas de alerta
zoneamento de aacutereas inundaacuteveis construccedilatildeo de grandes reservatoacuterios de contenccedilatildeo de
cheias e diques ateacute accedilotildees de educaccedilatildeo ambiental
Cabe pensar tambeacutem na proacutexima revisatildeo do PDM em um plano de macrodrenagem
municipal que reuacutena accedilotildees de caraacuteter estruturantes com obras hidraacuteulicas de infraestrutura
que realizem a conduccedilatildeo final das aacuteguas dos escoamentos superficiais para a minimizaccedilatildeo
das inundaccedilotildees e em medidas natildeo-estruturantes que trabalhem a consciecircncia ambiental
e proponha um zoneamento de cheias a fim de se delimitar os pontos mais fragilizados nos
defluacutevios
Por fim pensar em drenagem num contexto de ocupaccedilatildeo irregular histoacuterico requer
profissionais que aleacutem de possuir afinidade com a temaacutetica tambeacutem possam analisar os
diferentes processos que constituem o espaccedilo geograacutefico Logo este tipo de estudo deve
abarcar uma equipe multidisciplinar que percorra a anaacutelise desde o ambiental estrutural
ateacute o aspecto humano a fim de se produzir resultados que de fato contribuam com o
controle das inundaccedilotildees urbanas
74
6 CONCLUSAtildeO
A partir do recorte espacial foi possiacutevel compreender que a abordagem da geomorfologia
fluvial com a anaacutelise espaccedilo-temporal da ocupaccedilatildeo urbana possibilita a identificaccedilatildeo das
accedilotildees do homem no meio ambiente pois estas resultam na alteraccedilatildeo das paisagens
naturais e na dinacircmica da bacia hidrograacutefica Assim o Rio Doce deve ser estudado de
modo integrado ao crescimento da cidade sobretudo para compreensatildeo da produccedilatildeo do
espaccedilo geograacutefico
Analisar a inundaccedilatildeo urbana em Colatina foi satisfatoacuterio pois o municiacutepio estaacute situado no
perfil meacutedio-baixo da bacia vazante e eacute neste trecho que os reflexos das intervenccedilotildees satildeo
mais acentuados principalmente se esta parte do canal tambeacutem tiver passado por obras
que modificaram seus processos hidroloacutegicos Aleacutem disso a perspectiva geograacutefica aponta
para vaacuterias outras questotildees como erosatildeo fluvial planejamento urbano poluiccedilatildeo ambiental
crise da aacutegua que conduzem a outras discussotildees acerca da relaccedilatildeo homemnatureza
Ao demonstrar a evoluccedilatildeo espaccedilo-temporal do uso e cobertura da terra na margem direita
do Doce associando esta ocupaccedilatildeo agraves obras estruturantes que foram executadas no
canal verificamos que todas as praacuteticas adotadas para conter o transbordamento do rio
acabaram alterando sua morfologia com a retificaccedilatildeo de trechos em meandros reduzindo
a largura do corpo hiacutedrico o que favoreceu a apropriaccedilatildeo urbana de suas vaacuterzeas Aliadas
a estas questotildees estatildeo a falta de planejamento urbano e a omissatildeo diante da supressatildeo
das matas ciliares principalmente se considerados os resultados do relatoacuterio teacutecnico do
IJSN contra enchentes em 1980
Cabe destacar tambeacutem que toda a anaacutelise da ocupaccedilatildeo urbana e desnaturalizaccedilatildeo do
Rio Doce foi melhor identificada a partir dos produtos cartograacuteficos deste trabalho Pois eacute
na espacialidade dos fenocircmenos e no registro de informaccedilotildees ainda natildeo mapeadas como
os aterros que o geoacutegrafo executa a anaacutelise do seu objeto de estudo o homem e a
natureza aqui representado pela sociedade e o canal do Doce
Apesar do municiacutepio apresentar leis que resguardam os leitos dos rios desde o primeiro
PDM em 1996 nada foi feito para conter as ocupaccedilotildees irregulares beira-rio Pelo contraacuterio
estas aacutereas foram incorporadas ao Plano Diretor em 2007 com possibilidades de
ocupaccedilotildees diversas o que tem levado especuladores a valorizar o solo com vista para o
rio apontando suas qualidades esteacuteticas e teacutermicas Este fato vem aumentando o
75
percentual de aacutereas impermeaacuteveis nesta margem comprometendo ainda mais a drenagem
dos defluacutevios
Eacute na Av Beira-Rio que crescem as implantaccedilotildees de grandes empreendimentos comerciais
como supermercado Casagrande Ogil Hotel e obras de construccedilatildeo de novos arranha-
ceacuteus em um periacutemetro que jaacute eacute totalmente comprometido com os extravasamentos do Rio
Doce Estas obras ocupam grandes aacutereas e na maioria das vezes apresentam reduzida
aacuterea permeaacutevel reservando apenas o obrigatoacuterio pela lei cerca de 10 Observa-se
tambeacutem que a implantaccedilatildeo desses projetos estaacute condicionada agrave apresentaccedilatildeo e
aprovaccedilatildeo por comissatildeo na prefeitura do Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV) sendo
difiacutecil conceber que seja concedida tal licenccedila para implementaccedilatildeo de obras num trecho
de risco ambiental
Embora as diretrizes do Estatuto das Cidades para a implementaccedilatildeo do uso da terra
sustentaacutevel e os instrumentos para a regulaccedilatildeo do solo urbano sejam avanccedilados Colatina
eacute mais um exemplo da carecircncia de profissionais capacitados para estudar de modo
integrado e em niacutevel de bacia hidrograacutefica os efeitos da accedilatildeo humana num ambiente tatildeo
peculiar como as margens do Doce Por isso com os objetivos traccedilados nesta pesquisa
podemos aleacutem de compreender o fenocircmeno criar uma metodologia de anaacutelise de aacutereas
inundaacuteveis em ambientes urbanos O que permite agrave gestatildeo municipal uma diretriz para a
tomada de decisotildees
Destaca-se tambeacutem que as legislaccedilotildees aqui referenciadas supriram a discussatildeo acerca do
objeto de estudo mas outras podem contribuir para esta pesquisa a exemplo do Coacutedigo
das Aacuteguas da Poliacutetica Nacional dos Recursos Hiacutedricos das Resoluccedilotildees do Conama do
Estatuto das Cidades entre outros
Sendo assim numa revisatildeo do PDM deve-se pensar nestes aspectos da cidade desde o
histoacuterico de ocupaccedilatildeo das margens ateacute os impactos das inundaccedilotildees e o presente trabalho
auxilia com uma nova abordagem na reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo fornecendo material
cartograacutefico para subsidiar propostas de proteccedilatildeo ao curso do Doce e consequentemente
da populaccedilatildeo
Por fim deve-se destacar que o recorte estaacute inserido num contexto maior de uma bacia
hidrograacutefica que se estende aleacutem dos limites de Colatina ou do estado do Espiacuterito Santo
Esta bacia compreende a Regiatildeo Hidrograacutefica do Atlacircntico Leste e estaacute alocada tambeacutem
76
no estado de Minas Gerais o que portanto torna as accedilotildees de controle das inundaccedilotildees
mais complexas tendo em vista as divergentes politicas territoriais
77
7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
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MAIONNY SOARES QUIEZA DALLAPICOLA
DESNATURALIZACcedilAtildeO DO RIO DOCE UMA ABORDAGEM GEOGRAacuteFICA DAS INTERVENCcedilOtildeES NO SETOR URBANO DE
COLATINAES
Monografia apresentada ao Departamento de
Geografia do Centro de Ciecircncias Humanas e
Naturais da Universidade Federal do Espiacuterito
Santo como requisito parcial para obtenccedilatildeo
do Grau de Bacharel em Geografia
Orientador Prof Dr Andreacute Luiz Nascentes Coelho
Vitoacuteria - ES 2015
AGRADECIMENTOS
Agradeccedilo a Deus pela forccedila dia a dia sem a qual natildeo seria possiacutevel superar
os obstaacuteculos e alcanccedilar a vitoacuteria
Aos meus pais Maxima e Francisco por todo ensinamento por acreditarem
na minha capacidade e por me ajudarem a sonhar e correr atraacutes dos meus
objetivos
Ao meu marido Cleder pela paciecircncia pela forccedila nos momentos de
desacircnimo e por todo apoio dedicado Sem vocecirc natildeo teria conseguido
Ao engenheiro Francisco Hermes pela experiecircncia e conhecimentos
partilhados da aacuterea de estudo
Aos meus amigos Mocircnica Regina Larissa Patriacutecia e Ronald por todo apoio
e ajuda durante esta pesquisa
Ao meu orientador Andreacute pela oportunidade desta pesquisa pela paciecircncia
dedicada a mim e por todos os ensinamentos compartilhados Muito obrigada
A todos aqueles que estiveram comigo durante a graduaccedilatildeo e que
contribuiacuteram de alguma forma com o meu aprendizado
RESUMO Este trabalho tem como objeto de estudo o setor do Rio Doce que corta a aacuterea
urbana de Colatina ndash ES O objetivo principal desta anaacutelise foi verificar como as
intervenccedilotildees humanas no canal fluvial tecircm contribuiacutedo para ampliaccedilatildeo das cheias
na planiacutecie de inundaccedilatildeo Partindo desta premissa a pesquisa baseou-se na
anaacutelise de fotos histoacutericas de 1906 a 2015 e imagens de sateacutelite em periacuteodos de
vazante (abril) e cheia (janeiro) do rio Doce por onde foi possiacutevel cartografar as
alteraccedilotildees nas margens deste corpo hiacutedrico O cruzamento das seacuteries temporais
histoacutericas de vazatildeo do rio com a ocupaccedilatildeo da Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente
(APP) permitiu delimitar os pontos mais fragilizados da Av Beira Rio Deste modo
os resultados indicaram que o crescimento urbano desordenado e contiacutenuo
associado agraves alteraccedilotildees nos processos geomorfoloacutegicos tem intensificado a
degradaccedilatildeo do canal fluvial potencializando as inundaccedilotildees
Palavras-chave Geomorfologia fluvial geotecnologias anaacutelise geograacutefica integrada
intervenccedilatildeo humana e inundaccedilatildeo
REacuteSUMEacute
Ce travail a pour objet deacutetude le secteur de la Riviegravere Doce coupe de la zone urbaine ne
de Colatina ndash ES Le principal objectif de cette analyse eacutetait de veacuterifier comme les
interventions humaines dans le chenal de la Riviegravere Doce ont contribueacute pour le submersion
de la plaine dinondation De cette preacutemisse la recherche a eacuteteacute baseacutee sur lanalyse de
photographies historiques de 1906 a 2015 et images en peacuteriode de reflux (avril) et flux
(janvier) de la Riviegravere Doce par lequel il a eacuteteacute possible de cartographier les changements
dans les marges de ce plan deau Gracircce agrave lanalyse de la seacuterie chronologique historique
de deacutebit de la riviegravere et de loccupation de la zone de preacuteservation permanent crsquoest possible
didentifier les points les plus vulneacuterables de lrsquoAvenue Beira-Rio Ainsi les reacutesultats
indiquent que la croissance urbaine deacutesordonneacutee et continue associeacutee aux changements
dans les processus geacuteomorphologiques a intensifieacute la deacutegradation du chenal de la riviegravere
en renforccedilant des inondations
Mots-cleacutes la geacuteomorphologie fluviale geacuteotechnologies analyse geacuteographique inteacutegreacutee
dintervention humaine et inondations
ABSTRACT
This paper has as object of study the sector of Doce River cutting the urban areas of
Colatina ndash ES The main objective of this analyze was to verify how human interventions on
Docersquos river channel have contributed how human interventions in river channel have
contributed to the tide of the floodplain From this premise the research was based on
analysis of historical photographs from 1906 to 2015 and aerial images in periods of ebb
(April) and flood (January) of Doce river by which it was possible to map the changes in the
margins of this water body Crossing the analysis of historical time series of river flow with
the occupation of areas of permanent preservation it was possible to delimitate the most
vulnerable points of Beira-Rio Avenue Thus the results indicated that the cluttered and
continuous urban growth associated with changes in geomorphological processes has
intensified de degradation of the river channel increasing flooding
Keywords fluvial geomorphology geotechnologies integrated geographical analysis
human intervention and flood
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e Rio Doce 18
Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 19
Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de
2013 19
Figura 4 - Tipos de leito fluvialvarzea 21
Figura 5 - Padrotildees dos canais 21
Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento 32
Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia 33
Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC) 37
Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906
Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce 41
Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da
regiatildeo 42
Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce 43
Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio
Doce 43
Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes 45
Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de
crescimento 47
Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios que interceptam a cidade de Colatina
48
Figura 16 - Traccedilado das mensuraccedilotildees da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de
vazante mecircs de abril2013 50
Figura 17 - Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro
urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal 51
Figura 18 - Representaccedilatildeo de inundaccedilatildeo urbana 53
Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de
1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 55
Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2)
Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do
recorte em rosa da APP de 50 m (amarelo claro) e 500 m (amarelo escuro) 56
Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponrte Florentino Aacutevidos (direita)
e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa
Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque
em vermelho para o curso atual do Santa Maria 58
Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de
proteccedilatildeo agrave ponte 59
Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o
traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas 60
Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o
calccediladatildeo da Av Beira-Rio61
Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento
iniciada em 2004 e finalizada em 2008 62
Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina 63
Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce antes e
depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas 64
Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 66
Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto da Beira-Rio 68
Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da
inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av
Beira-Rio em dezembro de 2013 69
Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do rio Aar Munster Alemanha (1998) 72
Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos 72
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Perfis Transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de vazante (abril) e cheia (janeiro) 50
Tabela 2 Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013 54
Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1 67
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 - Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais
(Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia) 25
Graacutefico 2 - Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 201045
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANA - Agecircncia Nacional de Aacuteguas
APP - Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente
CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais Serviccedilo Geoloacutegico Brasileiro
GEOBASES - Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espiacuterito Santo
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IJSN - Instituto Jones dos Santos Neves
INCAPER - Instituto Capixaba de Pesquisa Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural
PDM - Plano Diretor Municipal
PMC - Prefeitura Municipal de Colatina
PROATER - Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural
SIG - Sistema de Informaccedilotildees Geograacuteficas
UHE ndash Usina Hidreleacutetrica
UTM - Universal Tranverse Mercator
USGS - Geological Survey Serviccedilo Geoloacutegico Americano
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 14
11 Objetivo 16
111 Objetivo Geral 16
112 Objetivos Especiacuteficos 16
12 Justificativa 17
2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS 20
21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano 20
211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial 23
22 Aspectos Juriacutedicos 27
23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos 31
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS 36
4 RESULTADOS 40
41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana 40
411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade 46
42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce 49
421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie de
Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio 53
422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio 65
5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 71
6 CONCLUSAtildeO 74
7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 77
14
1 INTRODUCcedilAtildeO
A partir da deacutecada de 1930 com a transiccedilatildeo econocircmica de um eixo agraacuterio-exportador
para um polo urbano-industrial (CARNEIRO 2008) verificou-se no Brasil a migraccedilatildeo da
maior parte da populaccedilatildeo para as cidades Isso acarretou segundo Tucci (2013 p17) uma
ldquo[] concentraccedilatildeo urbana no Brasil da ordem de 80 da populaccedilatildeo e o seu
desenvolvimento tem sido realizado de forma pouco planejada com grandes conflitos
institucionais e tecnoloacutegicos []rdquo
De acordo com Canholi (2005 p15) a expansatildeo da aacuterea urbana ldquo[] consequentemente
impermeabilizada ocorreu a partir das zonas mais baixas proacuteximas agraves vaacuterzeas dos rios
ou agrave beira-mar em direccedilatildeo agraves colinas e morros em face da necessaacuteria interaccedilatildeo da
populaccedilatildeo com os corpos hiacutedricos []rdquo Neste cenaacuterio surgem as ocupaccedilotildees irregulares
nas Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) como as da planiacutecie de inundaccedilatildeo dos rios
e os topos de morros
Essas ocupaccedilotildees desordenadas satildeo proporcionadas pela precariedade da implantaccedilatildeo e
fiscalizaccedilatildeo das legislaccedilotildees urbaniacutesticas de ordenamento territorial e ambiental Neste
contexto satildeo relevantes as pesquisas que visam correlacionar o viacutenculo
sociedadenatureza de modo a entender como a ocupaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo no
solo conecta-se com a hidrodinacircmica dos recursos naturais uma vez que ldquo[] a tendecircncia
atual do limitado planejamento urbano integrado estaacute levando as cidades a um caos
ambiental urbano com custo extremamente alto para a sociedaderdquo (TUCCI 2013 p17)
Deve-se partir do pressuposto teoacuterico articulado com a ideia anterior de ldquo[]
indissociabilidade entre natureza e sociedade []rdquo (COELHO 2013 p21) em que a
sociedade natildeo pode ser apenas entendida como populaccedilatildeo e a natureza enquanto mero
ambiente fiacutesico mas que estes dois fatores estatildeo dinamicamente produzindo o espaccedilo
geograacutefico
Neste contexto a problemaacutetica se afirma no intuito de relacionar as legislaccedilotildees urbanas
(Lei de Parcelamento do Solo 676679 e PDM) e ambientais (Novo Coacutedigo Florestal 2012)
com as suas aplicaccedilotildees ou natildeo no periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina
principalmente nos bairros que se situam na planiacutecie de inundaccedilatildeo do Rio Doce
A escolha da temaacutetica tambeacutem teve como premissa a importacircncia regional de Colatina
como entreposto comercial e logiacutestico para os municiacutepios do noroeste capixaba conforme
15
relato do Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural - PROATER (INCAPER
2011)
Exportadores de cafeacute atacadistas e as lojas de pronta entrega dinamizam o comeacutercio local que atende aos municiacutepios do norte capixaba leste de Minas Gerais e sul da Bahia representando um universo de mais de 700 mil consumidores (INCAPER 2011 p5)
De acordo ainda com o INCAPER (op cit) Colatina tem crescido a uma margem de 188
anual o que representa a tendecircncia ao ecircxodo rural sendo que a populaccedilatildeo do campo vem
diminuindo de aproximadamente 19 em 1990 passou a 12 no Censo de 2010 Diante
do exposto entra em discussatildeo o planejamento urbano pois com o crescimento da
populaccedilatildeo citadina para cerca de 88 aumentam tambeacutem as pressotildees sobre o meio
ambiente em especial as regiotildees ribeirinhas
Estas uacuteltimas refletem o aumento das atividades humanas na bacia hidrograacutefica onde
pode-se destacar as mudanccedilas induzidas pelas accedilotildees antropogecircnicas que se dividem em
diretas (aquelas que atuam no canal fluvial para controle das vazotildees a exemplo dos
reservatoacuterios e desvios de aacuteguas) e indiretas relacionadas agraves aacutereas fora dos canais por
exemplo o desmatamento e urbanizaccedilatildeo sendo que estas comprometem a descarga e
carga soacutelida do rio (PARK1981 KNIGHTON1984 apud CUNHA 2001)
O interesse pela pesquisa surge da importacircncia regional do municiacutepio dos impactos
histoacutericos humanos materiais e imateriais sofridos diante de eventos hidroloacutegicos
extremos tendo em vista o fato de o periacutemetro urbano ser cortado por um corpo fluvial de
importacircncia regional Aleacutem disso a abordagem geograacutefica possibilita a correlaccedilatildeo dos
processos fluviais com a ocupaccedilatildeo urbana de modo mais integrado (COELHO 2009)
Portanto uma das finalidades deste trabalho eacute analisar por meio das geotecnologias e das
investigaccedilotildees de campo como a ocupaccedilatildeo urbana tem interferido nas margens do Rio
Doce de modo a delimitar os sucessivos aterros na margem direita no periacutemetro do bairro
Esplanada a Colatina Velha Ademais identificar como os processos deste canal fluvial
tecircm sido afetados pela intervenccedilatildeo humana em seu leito principal
16
11 Objetivo
111 Objetivo Geral
Correlacionar os processos fluviais do Rio Doce por meio da dinacircmica geomorfoloacutegica
deste canal com o uso e cobertura da terra no setor urbano do municiacutepio de Colatina
Espiacuterito Santo Contrapondo assim as intervenccedilotildees urbanas da beira-rio com o Plano
Diretor Municipal e o Novo Coacutedigo Florestal enfatizando as diretrizes adotadas no
parcelamento do solo para a planiacutecie de inundaccedilatildeo deste rio
112 Objetivos Especiacuteficos
Identificar os vetores de crescimento urbano do municiacutepio a fim de avaliar a
evoluccedilatildeo da mancha urbana junto ao canal principal
Determinar o comprimento da borda da calha do leito regular do Rio Doce no
periacutemetro urbano de Colatina para definiccedilatildeo da largura miacutenima da faixa marginal
de preservaccedilatildeo
Espacializar as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente beira-rio previstas em lei a fim
de analisar a ocupaccedilatildeo urbana nestes espaccedilos
Cartografar os principais pontos desnaturalizados no canal principal do Rio Doce
no setor urbano de Colatina
Demonstrar como o emprego das geotecnologias auxilia no planejamento urbano
e ambiental especialmente em acircmbito municipal
17
12 Justificativa
A aacuterea de estudo corresponde ao periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina situado na
Bacia Atlacircntico trecho leste sub-bacia do Rio Doce no baixo curso (ANA 2001)
Compreende a regiatildeo noroeste do estado do Espiacuterito Santo latitude 19deg 32rsquo 16rsquorsquo S e
longitude 40deg 37rsquo 59rsquorsquo W De acordo com os dados do censo de 2010 do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio possuiacutea uma populaccedilatildeo de 111788 mil
habitantes1 numa aacuterea territorial de 1416804 kmsup2
Devido a sua privilegiada posiccedilatildeo geograacutefica limiacutetrofe com o Rio Doce e a construccedilatildeo da
Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas em 1906 Colatina compreendia os territoacuterios dos atuais
municiacutepios de Baixo Guandu Linhares Pancas Satildeo Gabriel da Palha Marilacircndia Satildeo
Domingos do Norte e Governador Lindenberg (INCAPER 2011) Soacute a partir de 2001
passou a apresentar os atuais limites municipais e configurar uma aacuterea urbana com 59
bairros (Figura 1)
Colatina eacute um municiacutepio de importacircncia para regiatildeo noroeste capixaba seja em caraacuteter
econocircmico ou social Eacute responsaacutevel pelos fluxos de cargas da regiatildeo aleacutem de ser um polo
moveleiro de confecccedilatildeo metalmecacircnico e de comeacutercio e serviccedilos gerando emprego e
renda (INCAPER 2011) Aleacutem disso tem sofrido historicamente com as cheias do Rio
Doce principalmente porque parte do seu periacutemetro urbano eacute inundado com as aacuteguas da
calha principal desse rio o que compromete toda a dinacircmica local e potildee em risco os
colatinenses
Assim diante das crescentes demandas por territoacuterio no periacutemetro urbano a populaccedilatildeo
tem suprimido a cobertura vegetal e ocupado desde as margens do Rio Doce ateacute as
encostas dos morros Em periacuteodos de cheias principalmente nos meses de outubro a
marccedilo (INCAPER 2011 ANA 2001) verificam-se inundaccedilotildees de grande parte da aacuterea
urbana beira-rio aleacutem dos movimentos de massa nas encostas Como exemplo destes
acontecimentos tecircm-se os registros fotograacuteficos dos efeitos da chuva de dezembro de 2013
(Figuras 2 e 3)
1 De acordo com o a estimativa do IBGE de 2014 publicada no DOU o municiacutepio conta com uma populaccedilatildeo de 121670 habitantes
18
Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e o canal do Rio Doce Elaborado pela autora
19
Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 Fonte Noticias UOL (2013)
Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de 2013 Fonte Folha Vitoacuteria (2013)
Este estudo portanto eacute relevante tendo em vista as raras abordagens no acircmbito das
Ciecircncias Geograacuteficas especialmente no Espiacuterito Santo de pesquisas que correlacionem
aspectos da geomorfologia fluvial por meio da dinacircmica dos recursos hiacutedricos com o uso
e cobertura da terra particularmente o Plano Diretor Municipal (PDM) Discute dessa
forma as implicaccedilotildees da atuaccedilatildeo humana nas particularidades deste ecossistema natural
tendo em vista o disposto nas legislaccedilotildees urbaniacutesticas e ambientais que visam assegurar
a qualidade de vida das populaccedilotildees
Adiante seratildeo analisados os principais fundamentos da geomorfologia fluvial os aspectos
juriacutedicos e o papel da anaacutelise geograacutefica integrada para o entendimento dos fenocircmenos
das inundaccedilotildees no Centro de Colatina uma vez que eacute devido agraves intervenccedilotildees humanas
nos canais e suas margens que esses fenocircmenos tornam-se mais nocivos a cidade
20
2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS
21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano
Recurso essencial para a manutenccedilatildeo da vida a aacutegua foi um fator relevante para o
estabelecimento histoacuterico das sociedades no entorno dos cursos hiacutedricos Utilizados para
fins de abastecimento humano e animal irrigaccedilatildeo saneamento e transporte os rios
constituiacuteram-se nos principais propulsores de penetraccedilatildeo para o interior (CUNHA 2012a)
Logo em suas margens surgiram povoados que posteriormente transformaram-se em
cidades como as que se estabeleceram agraves margens do Rio Doce a exemplo da sede de
Colatina
Diante das potencialidades que os recursos hiacutedricos possibilitam agraves sociedades
destacamos a importacircncia do estudo da Geomorfologia Fluvial que se apresenta como
campo da Geomorfologia (ciecircncia que estuda as formas do relevo) sendo o interesse
daquela a pesquisa dos processos que relacionam o escoamento das aacuteguas fluviais num
contexto de bacia hidrograacutefica (CHRISTOFOLETTI 1980 CUNHA op cit) Enfoca assim
as alteraccedilotildees na fisionomia dos canais frente agraves intervenccedilotildees no ecossistema natural
beira-rio
A Geomorfologia Fluvial parte da condicionante de que o uso e ocupaccedilatildeo da terra refletem-
se na dinacircmica da bacia de drenagem interferindo nos processos morfogeneacuteticos ou seja
de modelagem do relevo fluvial escoamento superficial das aacuteguas e no ciclo hidroloacutegico
Frente agrave temaacutetica deste estudo faz-se necessaacuterio o entendimento dos conceitos da
fisiografia fluvial aqui referente aos diferentes setores que a aacutegua pode escoar num leito
(Figura 4) como
O leito menor corresponde agrave parte do canal ocupada pelas aacuteguas e cuja frequecircncia impede o crescimento da vegetaccedilatildeo Esse tipo de leito eacute delimitado por partes bem definidas O leito de vazante equivale agrave parte do canal ocupada durante o escoamento das aacuteguas de vazante Suas aacuteguas divagam dentro do leito menor seguindo o talvegue linha de maacutexima profundidade ao longo do leito e que eacute mais bem identificada na seccedilatildeo transversal do canal O leito maior tambeacutem denominado leito maior perioacutedico ou sazonal eacute ocupado pelas aacuteguas do rio regularmente e pelo menos uma vez ao ano durante as cheias Dependendo do tempo ocorrido entre as subidas das aacuteguas eacute possiacutevel haver a fixaccedilatildeo e o crescimento da vegetaccedilatildeo herbaacutecea
21
O leito maior excepcional eacute ocupado durante as grandes cheias no decorrer das enchentes (CUNHA 2001 p 213)
Figura 4 - Tipos de leito fluvial vaacuterzea Fonte Cunha (2001 p213)
Sendo assim as aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial (leitos) aquelas inundadas pelo corpo
hiacutedrico frente a um evento hidroloacutegico extremo tambeacutem satildeo conhecidas como vaacuterzeas
planiacutecie de inundaccedilatildeo ou ainda segundo Carneiro e Miguez (2011 p133) como ldquo[] zona
de passagem de cheia []rdquo Essas aacutereas de vaacuterzeas dependem da fisionomia que o rio
apresenta e segundo Cunha (op cit) o canal fluvial pode apresentar trecircs formas
principais conhecidas como padratildeo dos canais que satildeo retiliacuteneo anastomosado e
meacircndrico (Figura 5)
Figura 5 - Padrotildees dos canais (A) retiliacuteneo (B) anastomosado (C) meandrante (A) amplitude (Rc) raio meacutedio da curvatura do meandro (segundo Bigarella etal 1979) Fonte Cunha (2001 p216)
22
Aliada aos padrotildees dos canais estaacute a assimetria ou simetria dos leitos que para Cunha
(2001 p233) relaciona-se com a variaccedilatildeo da velocidade e turbulecircncia ao longo da secccedilatildeo
transversal o que diferencia o comportamento nos canais retiliacuteneos geralmente simeacutetricos
do canal meacircndrico onde
Em canais de leito simeacutetrico em geral padratildeo retiliacuteneo a velocidade maacutexima ocorre no centro do canal diminuindo em direccedilatildeo agraves margens Em leito assimeacutetrico de padratildeo meacircndrico a zona de maacutexima velocidade e turbulecircncia localiza-se nas proximidades das margens cocircncavas decrescendo de valor em direccedilatildeo agrave margem de menor profundidade
(convexa) (CUNHA opcit p 233)
Deste modo a capacidade de erosatildeo das margens transporte e deposiccedilatildeo da carga do rio
dependem entre outros fatores da velocidade das correntes fluviais E o material do fluxo
fluvial constitui-se da descarga liacutequida ou vazatildeo que estaacute relacionada ao tamanho do
material que pode ser transportado e do volume da carga que o rio eacute capaz de carregar
Tem-se ainda a carga soacutelida sedimentos que estaacute relacionada a suspensatildeo e fundo do
rio esta decresce a jusante indicando a diminuiccedilatildeo da competecircncia do corpo fluvial As
cargas de suspensatildeo satildeo constituiacutedas de partiacuteculas finas a exemplo do silte e por fim a
carga de fundo que eacute composta por partiacuteculas de tamanhos maiores a exemplo da areia
(CUNHA2001)
Christofoletti (1980) acrescenta que os sedimentos podem ser carregados de trecircs modos
principais no fluxo em soluccedilatildeo dissolvidos nos cursos hiacutedricos em suspensatildeo como o
silte e argila e em saltaccedilatildeo geralmente a areia e cascalho que compreendem a carga do
leito do rio Destaca-se que a carga detriacutetica natildeo proveacutem apenas da erosatildeo do fundo dos
leitos e margens fluviais mas que o material intemperizado de vertentes carreado nas
enchentes contribui significativamente para a carga sedimentar transportada
Cabe ressaltar ainda que a relaccedilatildeo do arranjo espacial dos canais com os processos
fluviais (a erosatildeo o transporte e a deposiccedilatildeo de sedimentos) eacute determinante para o
trabalho dos rios Tais processos satildeo diretamente influenciados pela vazatildeo velocidade e
pela intensidade da turbulecircncia (seja no fluxo laminar ou no fluxo turbulento) A
variabilidade no comportamento da velocidade e turbulecircncia das aacuteguas ao longo da seccedilatildeo
transversal condiciona os locais preferenciais de erosatildeo e deposiccedilatildeo ao longo do curso
hiacutedrico
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Deste modo qualquer intervenccedilatildeo na bacia e canal fluvial compromete o equiliacutebrio natural
da drenagem levando o corpo hiacutedrico a se adaptar agraves mudanccedilas em sua fisionomia
fisiografia e em seus processos ateacute atingir um novo estado de equiliacutebrio Poreacutem eacute na
planiacutecie de inundaccedilatildeo que estas modificaccedilotildees seratildeo mais percebidas pela populaccedilatildeo pois
a maior parte das obras de engenharia como as canalizaccedilotildees e as ocupaccedilotildees das
margens acaba por romper com o equiliacutebrio natural do rio alterando sua dinacircmica e
intensificando seus processos o que na maioria das vezes potencializa as enchentes no
ambiente urbano
Nesse sentido o entendimento dos processos fluviais (erosatildeo transporte e deposiccedilatildeo)
combinado com a anaacutelise da fisiografia fluvial condicionam as peculiaridades na geometria
hidraacuteulica ou seja na relaccedilatildeo entre a vazatildeo velocidade de escoamento tipos de canais
de sedimentos e a topografia Logo o conhecimento geomorfoloacutegico do rio contribui para
pesquisas que necessitem relacionar o funcionamento deste corpo natural com um
planejamento urbano mais efetivo principalmente se considerarmos um recorte em niacutevel
de bacia hidrograacutefica em espaccedilo urbano
211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial
O capiacutetulo que segue versa sobre a atuaccedilatildeo antroacutepica relacionando-a a aacuterea de estudo o
rio Doce poreacutem este trata de forma macro a temaacutetica para contextualizar o leitor sendo
as especificidades das intervenccedilotildees neste recorte geograacutefico trabalhados nos resultados
desta pesquisa
Diante do exposto eacute possiacutevel acompanhar a evoluccedilatildeo dos processos fluviais nos canais
em especial aqueles que tiveram intervenccedilotildees em seu curso natural como as hidreleacutetricas
instaladas a montante a exemplo do Rio Doce onde a interferecircncia direta na vazatildeo e fluxo
de sedimentos altera a hidrodinacircmica do rio comprometendo a erosatildeo e transporte Para
Coelho (2007 p57) as
Mudanccedilas na Declividade Perfil Longitudinal Promovidas pela construccedilatildeo de reservatoacuterio satildeo variadas e caso o efeito da contenccedilatildeo de sedimentos seja significativo os processos fluviais reduziratildeo a capacidade de transporte de sedimento podendo promover um entalhamento do leito do rio imediatamente agrave jusante da barragem
Aleacutem disso esse processo erosivo poacutes-barragem eacute intensificado favorecendo o
assoreamento e sedimentaccedilatildeo do rio a jusante O que pode beneficiar a elevaccedilatildeo da cota
24
do canal fluvial frente a eventos hidroloacutegicos extremos potencializando os efeitos das
inundaccedilotildees nas vaacuterzeas
Ao mesmo tempo o Rio Doce trecho que compreende o Espiacuterito Santo meacutediobaixo curso
eacute impactado nas vazotildees miacutenimas e maacuteximas a jusante apoacutes a instalaccedilatildeo das
barragensUsinas Hidreleacutetricas (UHE) de Mascarenhas (iniacutecio de operaccedilatildeo em 1974)
localizada no Municiacutepio de Baixo Guandu e a de Aimoreacutes (iniacutecio de operaccedilatildeo em 2005)
localizada na divisa do Espiacuterito Santo com Minas Gerais (COELHO 2007)
De acordo com Coelho (opcit) apoacutes a implantaccedilatildeo das usinas ocorreu uma reduccedilatildeo
significativa na vazatildeo da calha principal do Rio Doce conforme Graacutefico 1
Considerando o periacuteodo de 1939 a 2012 a vazatildeo miacutenima apoacutes a instalaccedilatildeo das usinas
chega a atingir 411msup3s e a maacutexima chega apenas a 1251msup3s sendo que no periacuteodo
anterior agrave instalaccedilatildeo das usinas foi registrada a miacutenima de 533 msup3s e uma maacutexima de
1812 msup3s o que ressalta o impacto do barramento sobre o corpo hiacutedrico Aleacutem do
comprometimento dos processos de erosatildeo transporte e sedimentaccedilatildeo (COELHO 2008
e CUNHA 2001)
Diante desta perda de carga liacutequida nos barramentos Cunha (2001 p 241) observa ainda
que as aacutereas a jusante de reservatoacuterios
[hellip] onde o regime do rio sofre significativas modificaccedilotildees devidas ao controle das descargas liquidas e de sedimentos no reservatoacuterio As mudanccedilas ocorridas no regime das aacuteguas neste setor do rio acarretam significativos efeitos nos processos do canal tais como o entalhe do leito a erosatildeo das margens e a deposiccedilatildeo a jusante atingindo longas distacircncias
Aleacutem disso no periacutemetro urbano de Colatina o Rio Doce sofreu outras intervenccedilotildees em
seu canal principal como a implantaccedilatildeo de obras estruturais de macrodrenagem a
exemplo da construccedilatildeo da Av Beira-Rio com intuito de conter o avanccedilo das aacuteguas fluviais
em periacuteodos de cheias
25
Graacutefico 1
Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais (Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia)
Fonte adaptado de Coelho (2007 p154)
26
Como exemplo dos tipos de intervenccedilotildees humanas nas aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial
leitos Carneiro e Miguez (2011 p117) destacam
As accedilotildees de controle e cheias urbanas podem ser classificadas em estruturais quando a paisagem eacute alterada pela accedilatildeo do homem e em natildeo estruturais aqui denominada como estruturante quando o homem aprende a conviver com as enchentes No primeiro caso estatildeo as medidas de controle atraveacutes de obras hidraacuteulicas tais como barragens diques e canais entre outras No segundo caso encontram-se medidas do tipo preventivo tais como zoneamento de aacutereas de inundaccedilatildeo sistemas de alerta educaccedilatildeo ambiental lei de parcelamento e uso dos solos e seguros contra inundaccedilatildeo
Neste cenaacuterio abarcamos os impactos das obras de engenharia como a canalizaccedilatildeo que
altera a fisionomia e fisiografia do rio refletindo-se nos processos geomorfoloacutegicos do canal
e sua planiacutecie de inundaccedilatildeo Para estes a canalizaccedilatildeo eacute uma obra estrutural que aumenta
a capacidade do fluxo do canal aleacutem de intensificar a velocidade do escoamento
superficial antecipando o pico de cheia e transferindo os alagamentos para locais a jusante
na bacia hidrograacutefica
Articulado a esta ideia Cunha (2012b) reflete a desnaturalizaccedilatildeo dos rios por meio de
obras de retificaccedilatildeo com a reduccedilatildeo do comprimento do canal e eliminaccedilatildeo das
sinuosidades Satildeo obras que afetam a estabilidade do corpo hiacutedrico na medida em que
interferem na relaccedilatildeo entre erosatildeo sedimentaccedilatildeo e deposiccedilatildeo provocando efeitos como
alteraccedilatildeo na morfologia do canal Sendo assim ldquo[hellip] a diminuiccedilatildeo da rugosidade no fundo
do canal em conjunto com a perda dos meandros e a aceleraccedilatildeo das velocidades eacute a
principal responsaacutevel pelas mudanccedilas no balanccedilo da energia natural dos sedimentos
fluviais [hellip]rdquo Cunha (2012b p178) No caso do Rio Doce trecho correspondente agrave Av
Beira-Rio alterou-se a sua forma retilinizando-a e sua vegetaccedilatildeo natural foi substituiacuteda
por estruturas de pedras o que compromete a resistecircncia ao fluxo as margens e aos
bancos arenosos
Embora as obras de canalizaccedilatildeo sejam implantadas como eficazes nos canais fluviais para
questotildees de enchentes urbanas para Cunha (op cit) estas necessitam de manutenccedilatildeo
constante envolvendo desde dragagem remoccedilatildeo de obstruccedilotildees a recomposiccedilatildeo do
material utilizado Poreacutem toda a manutenccedilatildeo estaacute associada a alteraccedilotildees morfoloacutegicas e
bioloacutegicas como as que interferem nas soleiras e depressotildees do fundo dos leitos
desestabilizando a vazatildeo no curso a exemplo da
27
ldquo[hellip] eliminaccedilatildeo da sequecircncia de depressotildees e soleiras o aumento da velocidade da corrente a diminuiccedilatildeo da diversidade de habitats o ambiente instaacutevel resultante da flutuaccedilatildeo dos niacuteveis da aacutegua e do substrato moacutevel e a maior flutuaccedilatildeo da temperatura das aacuteguasrdquo (CUNHA 2012b p180)
Ao mesmo tempo o aumento da velocidade dos escoamentos no trecho retificado
possibilita maior erosatildeo transferindo para as aacutereas a jusante uma carga soacutelida
representativa que para Cunha (op cit) configura a formaccedilatildeo de bancos axiais e depoacutesitos
de sedimentaccedilatildeo marginais alterando o equiliacutebrio dos sedimentos a jusante Pois
A jusante das obras de retificaccedilatildeo verificam-se o aumentam da carga soacutelida o assoreamento durante a dragagem a erosatildeo no canal pelos eventos torrenciais do regime e a modificaccedilatildeo na dinacircmica na foz Os sedimentos resultantes da erosatildeo no canal retificado em conjunto com a excessiva carga de sedimentos posta em suspensatildeo durante a dragagem e na fase imediata de poacutes-construccedilatildeo - quando a erosatildeo dos bancos de areia sem vegetaccedilatildeo estaacute em seu niacutevel maacuteximo - originam a formaccedilatildeo de depoacutesitos fluviais de curta duraccedilatildeo a jusante do canal retificado Logo a seguir esses depoacutesitos satildeo erodidos juntamente com as margens e o fundo do leito pelos eventos torrenciais do regime vindo a formar bancos axiais e depoacutesitos de sedimentaccedilatildeo marginais (CUNHA2012b p183)
Portanto o estudo da geomorfologia fluvial contribui diretamente para o entendimento das
cheias nas planiacutecies de inundaccedilatildeo em especial nas bacias hidrograacuteficas que
compreendem a aacuterea urbana e que possuem intervenccedilotildees antroacutepicas diretas na fisiografia
do canal principal Seus processos explicam como as alteraccedilotildees no canal fluvial podem
maximizar os efeitos dos transbordamentos impactando principalmente as populaccedilotildees
ribeirinhas aleacutem de todo ecossistema local Ademais estes fundamentos geomorfoloacutegicos
devem ser associados agrave legislaccedilatildeo vigente afim de subsidiar a elaboraccedilatildeo de instrumentos
legais para atuaccedilatildeo do poder puacuteblico nestas zonas de risco
22 Aspectos Juriacutedicos
Frente agrave crescente demanda sobre os recursos hiacutedricos e solo urbano a partir da deacutecada
de 1930 surgem as primeiras diretrizes que visam regulamentar estes ambientes a
exemplo do Coacutedigo das Aacuteguas Mas soacute a partir dos anos 1960 surgem em acircmbito federal
leis como o Coacutedigo Florestal com o intuito de regular a exploraccedilatildeo das vegetaccedilotildees e
consequentemente proteger os mananciais e em 1979 com o objetivo de ordenar as
28
cidades eacute aprovada a Lei 676679 estabelecendo as normas do parcelamento do solo
urbano
Na medida em que as populaccedilotildees aumentam ampliam-se tambeacutem as pressotildees sobre os
recursos de aacutegua e solo Os processos de uso e a conscientizaccedilatildeo de que estes elementos
satildeo finitos intensificam as formas de controle e preservaccedilatildeo passando para as esferas
estaduais e municipais a responsabilidade de atuar em escala local na proteccedilatildeo desses
ambientes
Ainda em escala federal em 2012 eacute promulgado o Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012
em substituiccedilatildeo ao coacutedigo anterior Lei 47711965 que apresenta as normas de
apropriaccedilatildeo dos recursos naturais pelas novas necessidades das populaccedilotildees citadinas e
rurais No que compete agrave aacuterea de estudo cabe destacar as ocupaccedilotildees em aacutereas de
planiacutecie de inundaccedilatildeo em que de acordo com art 4ordm devem ser preservadas
I - as faixas marginais de qualquer curso drsquoaacutegua natural perene e intermitente excluiacutedos os efecircmeros desde a borda da calha do leito regular em largura miacutenima de (Incluiacutedo pela Lei nordm 12727 de 2012) a) 30 (trinta) metros para os cursos drsquoaacutegua de menos de 10 (dez) metros de largura b) 50 (cinquenta) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura c) 100 (cem) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura d) 200 (duzentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura e) 500 (quinhentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros []
A legislaccedilatildeo eacute riacutegida no que concerne agrave ocupaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo das terras nas faixas
marginais dos rios transferindo aos estados e municiacutepios a responsabilidade de fiscalizar
estes territoacuterios para garantir a efetividade da lei A questatildeo eacute que muitas vezes somada a
falta de planejamento estas fiscalizaccedilotildees satildeo ineficientes o que tem possibilitado o
surgimento cada vez maior das ocupaccedilotildees irregulares
Apoiado tambeacutem pela Constituiccedilatildeo Federal de 1988 nos artigos 182 e 183 surge o
Estatuto das Cidades Lei 102572001 com finalidade de garantir a funccedilatildeo social da
cidade e com este os primeiros Planos Diretores Municipais (PDM) que buscam o
ordenamento do crescimento das cidades em caraacuteter socioeconocircmico e ambiental cidades
sustentaacuteveis Ademais em Colatina eacute instituiacuteda a Lei 42281996 posteriormente revogada
29
pela Lei 52732007 que ldquoInstitui o Plano Diretor do Municiacutepio de Colatina estabelece os
objetivos instrumentos e diretrizes e daacute outras providecircncias para as accedilotildees de
planejamento do Municiacutepio de Colatina []rdquo
O PDM de Colatina assim como Coacutedigo Florestal prevecirc a preservaccedilatildeo dos ecossistemas
beira-rio Aquele ainda dispotildee sobre o parcelamento do solo sustentaacutevel a funccedilatildeo social
da cidade e da propriedade conforme o Plano Diretor de Colatina de 2007 nos artigos
transcritos
Artigo 22 - As diretrizes ambientais no Municiacutepio de Colatina satildeo I - aplicar os instrumentos de gestatildeo ambiental estabelecidos nas legislaccedilotildees federal estadual e municipal bem como a criaccedilatildeo de outros instrumentos adequando-os agraves metas estabelecidas pelas poliacuteticas ambientais II - compatibilizar as diretrizes de uso ocupaccedilatildeo e parcelamento do solo aos objetivos de proteccedilatildeo ambiental dos ecossistemas [] Artigo 23 - Satildeo diretrizes do sistema de drenagem urbana I - disciplinar a ocupaccedilatildeo das cabeceiras e vaacuterzeas das bacias hidrograacuteficas do Municiacutepio preservando a vegetaccedilatildeo existente e visando agrave sua recuperaccedilatildeo [] III - definir mecanismos de fomento para usos do solo compatiacuteveis com aacutereas de interesse para drenagem tais como parques lineares aacuterea de recreaccedilatildeo e lazer hortas comunitaacuterias e manutenccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa [] V - implantar medidas natildeo-estruturais [sic] de prevenccedilatildeo de inundaccedilotildees tais como controle de erosatildeo especialmente em movimentos de terra controle de transporte e deposiccedilatildeo de entulho e lixo combate ao desmatamento assentamentos clandestinos e a outros tipos de invasotildees nas aacutereas com interesse para drenagem [] VII - garantir e respeitar a necessaacuteria permeabilidade do solo inclusive buscando alternativas de pavimentaccedilatildeo com maior de permeabilidade [sic] [] Artigo 84 ndash Satildeo objetivos do ordenamento territorial do Municiacutepio de Colatina [] IV ndash conter a expansatildeo da ocupaccedilatildeo urbana em aacutereas de proteccedilatildeo ambiental [] Artigo 120 ndash Ficam desde jaacute identificadas como Zonas de Proteccedilatildeo Ambiental 2 ndash ZPA 2 as seguintes aacutereas [] III ndash as aacutereas existentes ao longo de qualquer curso drsquoagua desde o niacutevel mais alto em faixa marginal cuja largura miacutenima seraacute de a) 15m (trinta metros) [sic] para os cursos drsquoagua com menos de 10m (10
metros) de largura contidos no periacutemetro urbano [] c) 30m (trinta metros) para os cursos drsquoagua que tenham de10m (dez
metros a 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano
[]
30
e) 50m (cinquenta metros) para os cursos drsquoagua que tenham mais de 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 60422013)
[]
De modo geral verifica-se que a legislaccedilatildeo apresenta instrumentos que permitem a
prevenccedilatildeo ou controle de ocupaccedilotildees irregulares ou clandestinas em aacuterea de APP aleacutem de
propostas para resguardar de grandes impactos ambientais o corpo hiacutedrico principal do
municiacutepio o Rio Doce Possibilitando assim a minimizaccedilatildeo dos impactos causados pelas
cheias agrave populaccedilatildeo local
Poreacutem cabe destacar que o Plano Diretor Municipal de Colatina natildeo contempla o
estipulado no Coacutedigo Florestal 2012 Lei Federal onde os cursos drsquoaacutegua com largura
superior a 600(seiscentos) metros devem ser resguardados com aacutereas de preservaccedilatildeo
permanente de 500(quinhentos) metros entre outros sendo que a redaccedilatildeo desta parte do
PDM eacute dada pela lei 60422013 posterior a publicaccedilatildeo do novo Coacutedigo Florestal Sendo
assim verifica-se que apesar da intenccedilatildeo de resguardar uma faixa de no maacuteximo
50(cinquenta) metros em periacutemetro urbano para a contenccedilatildeo de cheias e mata ciliar o
PDM de Colatina natildeo atende o miacutenimo previsto em Lei Federal O que tem impactado todo
ecossistema beira rio e a populaccedilatildeo ribeirinha uma vez que a faixa marginal de proteccedilatildeo
de 50(cinquenta) metros em muitos casos natildeo tem comportado o impacto dos defluacutevios
No entanto a legislaccedilatildeo trata de aspectos gerais natildeo pontuando as aacutereas responsaacuteveis
por cada accedilatildeo aleacutem de sua aplicabilidade depender da elaboraccedilatildeo de um cronograma de
execuccedilatildeo bem como um conjunto de planos e normas especiacuteficos para cada diretriz com
detalhamento das propostas de intervenccedilatildeo Isto natildeo ocorreu ateacute o presente
Aleacutem disso a cidade de Colatina surgiu num cenaacuterio histoacuterico anterior agraves legislaccedilotildees
urbaniacutesticas e ambientais inclusive do Coacutedigo das Aacuteguas o que dificulta a execuccedilatildeo de
um planejamento que concilie a preservaccedilatildeo das matas beira-rio garantindo a faixa de
APP com a ocupaccedilatildeo urbana consolidada
A aacuterea de estudo se apresenta como ambiente fragilizado apesar de ser regida por
legislaccedilotildees desde a escala federal ateacute a municipal que visam proteger e ordenar o uso e
cobertura da terra nas faixas marginais dos rios Mas a dificuldade das prefeituras em
aplicar os instrumentos legais nestes ambientes seja por interesses privados ou falta de
recursos para investimentos em soluccedilotildees a longo prazo continua expondo as populaccedilotildees
31
aos impactos dos eventos hidroloacutegicos criacuteticos como os que resultam nas inundaccedilotildees
Para que se alcance esse parcelamento do solo sustentaacutevel satildeo necessaacuterios esforccedilos da
gestatildeo municipal em estipular prazos e metas de atuaccedilatildeo afora interagir os diferentes
setores no planejamento em niacutevel de bacia hidrograacutefica considerando as peculiaridades
desta escala de trabalho
23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos
Sendo a ciecircncia que estuda a relaccedilatildeo homemnatureza a Geografia tem muito a contribuir
nas anaacutelises que envolvem o meio ambiente que foi transformado pela dinacircmica da
sociedade Mas historicamente a dialeacutetica das correntes fiacutesica e humana tem imperado de
modo dissociado levando o geoacutegrafo a estudar estes processos separadamente Poreacutem
se o resultado pretendido eacute integrado fazem-se necessaacuterias pesquisas mais amplas que
cruzem as diferentes vertentes geograacuteficas
Considerando que a problemaacutetica dos impactos ambientais urbanos envolve a questatildeo
natural o rio e a questatildeo social e poliacutetica a sociedade e as leis (COELHO 2013) uma
pesquisa neste acircmbito requer o entendimento destes dois objetos a fim de se apreender
o processo de crescimento das cidades brasileiras e a sua relaccedilatildeo com os recursos
hiacutedricos
A partir da deacutecada de 1950 devido ao ecircxodo rural mais intenso as cidades brasileiras
incharam rapidamente com a migraccedilatildeo do camponecircs que buscava melhores condiccedilotildees de
vida como trabalho na induacutestria o acesso agraves escolas saneamento entre outros E
segundo Gorski (2010) a populaccedilatildeo brasileira passou desde o iniacutecio deste processo de 19
milhotildees de habitantes em 1950 para 138 milhotildees de habitantes em 2000 (dados do IBGE)
o que corrobora o raacutepido crescimento das cidades
Todavia as estruturas puacuteblicas natildeo estavam preparadas para um acreacutescimo populacional
tatildeo significativo e em curto espaccedilo de tempo E o que observamos eacute o acesso limitado
dessa populaccedilatildeo agraves aacutereas centrais da cidade sendo induzida a se estabelecer nas
periferias Nesta visatildeo
O difiacutecil acesso da populaccedilatildeo de baixa renda agraves aacutereas mais centrais das cidades contribuiu segundo Raquel Rolnik para a expansatildeo da periferia o que muitas vezes implicou e implica ainda invasatildeo de aacutereas de proteccedilatildeo de mananciais com a aquiescecircncia do poder puacuteblico Esta
32
dinacircmica agravou a situaccedilatildeo de risco dos mananciais pela eliminaccedilatildeo das matas ciliares e consequentemente erosatildeo das margens dos cursos drsquoaacutegua e assoreamento de suas calhas e pela contribuiccedilatildeo do esgoto in natura (ROLNIK1997 apud GORSKI 2010 p62)
Sendo assim a supressatildeo das matas ciliares e das vegetaccedilotildees das encostas para fins de
ocupaccedilatildeo urbana interfere diretamente no ciclo hidroloacutegico diminuindo a absorccedilatildeo de
aacutegua pelo subsolo e pela evapotranspiraccedilatildeo favorecendo o escoamento superficial (Figura
6) que intensifica a velocidade de drenagem das aacuteguas Este processo nas encostas eacute
mais significativo se considerarmos que com a supressatildeo da cobertura vegetal e
impermeabilizaccedilatildeo do solo as precipitaccedilotildees acabam por lavar todo o material
intemperizado sedimentos carregando-o diretamente para o corpo hiacutedrico e contribuindo
para o assoreamento
Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento Fonte Gorski (2010 p64)
Por outro lado as ocupaccedilotildees ribeirinhas nas vaacuterzeas dos rios modificam a dinacircmica fluvial
frente aos defluacutevios A compactaccedilatildeo e o nivelamento do solo associados agrave
impermeabilizaccedilatildeo por concreto asfalto e outros materiais alteram todo o sistema de
drenagem natural e contribuem para a erosatildeo fluvial Aleacutem disso a gestatildeo puacuteblica que
33
deveria investir num parcelamento do solo sustentaacutevel resguardando ldquouma alocaccedilatildeo de
espaccedilosrdquo (CANHOLI 2005 p 15) para a drenagem acaba por colaborar com as enchentes
urbanas na medida em que decide por obras estruturais como a canalizaccedilatildeo (Figura 7
p30) e a microdrenagem que transferem os impactos das inundaccedilotildees a jusante
Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia Fonte Gorski (2010 p69)
Cabe destacar que desde 1965 com o primeiro Coacutedigo Florestal as matas beira-rio jaacute
eram resguardadas da degradaccedilatildeo humana poreacutem com todo o boom urbano a partir de
1950 a falta de estrutura e ingerecircncia municipal no que se refere ao parcelamento e uso
e ocupaccedilatildeo da terra urbana possibilitou a formaccedilatildeo dos assentamentos clandestinos em
APP e na encosta de morros Em condiccedilotildees precaacuterias sem saneamento baacutesico e demais
infraestruturas urbanas estes assentamentos acabam sendo as regiotildees mais afetadas
com as inundaccedilotildees
Junto agraves questotildees jaacute levantadas vale destacar que as aacuteguas das inundaccedilotildees propiciam o
aumento das doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica (febre tifoide hepatite leptospirose
esquistossomose entre outras) pois carregam segundo Gorski (2010) toda uma poluiccedilatildeo
difusa efluentes domeacutesticos industriais e agroindustriais aleacutem do lixo urbano da poluiccedilatildeo
do ar e das ruas
34
Por outro lado esta ocupaccedilatildeo urbana natildeo planejada perde o benefiacutecio que os corpos
hiacutedricos podem oferecer como [] as paisagens fluviais que aos poucos foram sendo
apropriadas como paisagens urbanas [] (GORSKI 2010 38) aleacutem do microclima
associado agrave umidade pela evapotranspiraccedilatildeo que ameniza a sensaccedilatildeo teacutermica local
Poreacutem conforme observado por Graeff (2011) natildeo eacute cabiacutevel atualmente implantar a
legislaccedilatildeo de APP de modo jurista Deve-se considerar toda a representatividade cultural
assentada sobre os leitos destes rios (avenidas importantes casas com arquitetura
histoacuterica entre outros) Aleacutem disso para a demarcaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo
permanente hoje eacute necessaacuteria uma anaacutelise teacutecnica pautada na geomorfologia e
hidrologia de modo a interpretar o ldquocomportamento histoacuterico dos cursos drsquoaacutegua na
paisagem prevendo cenaacuterios de impactos futurosrdquo da atividade humana sobre suas faixas
marginais
Tendo em vista que grande parte da malha urbana brasileira estaacute alocada em APPs e que
segundo Graeff (2011) estas jaacute possuem uma unidade de paisagem estabelecida e muitas
vezes secular configurando siacutetios de importacircncia cultural e apreendendo que
De modo semelhante nas demais cidades haveraacute que ser entendido o meio urbano como ele realmente eacute ndash um encontro entre as necessidades de habitaccedilatildeo com atividades humanas e de conservaccedilatildeo ambiental esta segunda tambeacutem a serviccedilo do homem e natildeo somente de objetivos difusos e distanciados da sobrevivecircncia da sociedade (GRAEFF 2011 206)
Por tais motivos o trabalho com a geomorfologia fluvial urbana deve abarcar os princiacutepios
do bom senso compreendendo que nestas aacutereas de atividade antroacutepica consolidada pode-
se fazer uso de instrumentos de engenharia avanccedilados para uma convivecircncia equilibrada
do homem com a natureza no entorno Contudo deve-se incentivar as aacutereas de expansatildeo
urbana ou zona periurbana (zonas de transiccedilatildeo da aacuterea urbana para a rural) com poliacuteticas
de incentivo a pavimentaccedilotildees mais permeaacuteveis a fim de minimizar o escoamento
superficial para o rio favorecendo a infiltraccedilatildeo
Apesar de os impactos gerados pela interferecircncia humana nas aacutereas mais fragilizadas da
bacia hidrograacutefica vaacuterzeas e encostas refletirem-se em cataacutestrofes com prejuiacutezos
humanos ambientais e urbanos alguns autores brasileiros como Canholi Graeff Cunha
Carneiro e Miguez jaacute indicaram outros caminhos para uma convivecircncia harmoniosa com
a natureza Aleacutem do mais paiacuteses desenvolvidos como a Holanda deixaram de ldquolutar contra
35
as cheiasrdquo para permitir agraves aacuteguas das enchentes a capacidade de acumular e dispersar
com impacto reduzido para as populaccedilotildees (CARNEIRO MIGUEZ 2011)
Sendo assim a proposta deste estudo eacute identificar os principais agentes que influenciam
as inundaccedilotildees entendendo seu papel e atuaccedilatildeo no contexto urbano de Colatina Mas eacute
tambeacutem a de ampliar a abordagem da temaacutetica com uma anaacutelise geograacutefica integrada
ressaltando as medidas que constam no planejamento urbano e sua aplicaccedilatildeo nas faixas
marginais do corpo hiacutedrico
36
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS
Esta pesquisa eacute constituiacuteda de trecircs etapas principais sendo que a primeira teve como
premissa a confecccedilatildeo de um fluxograma (Figura 8) de trabalho para orientar a pesquisa
em seguida teve iniacutecio o levantamento de bibliografias que abordam temas como a
geomorfologia fluvial e urbanizaccedilatildeo em Colatina adotando-se como referecircncia as
pesquisas de Coelho (2006 2007 2008 e 2009) e Albani (2012) Aleacutem disso muito
contribuiacuteram para este trabalho o relatoacuterio do INCAPER da CPRM e os dados do IBGE
Cabe destacar tambeacutem as experiecircncias com recursos hiacutedricos em ambientes urbanos de
Carneiro e Miguez (2011) em especial Cunha (2001 2012ab)
Esta etapa consistiu tambeacutem na busca de material cartograacutefico como aquisiccedilatildeo de planos
de informaccedilatildeo de limite estadual municipal bairros mancha urbana corpo drsquoaacutegua e
logradouros atraveacutes de dados disponiacuteveis no Sistema Integrado de Bases Geoespaciais
do Estado do Espiacuterito Santo (GEOBASES 2014) no Instituto Jones dos Santos Neves
(IJSN 2015) e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2014) imagens
orbitais gratuitas do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI bandas 2-3-4 e 8 (Pan) oacuterbita 216
ponto 73 com datas de passagem em 02012014 e 22032014 agraves 946 (horaacuterio central
da oacuterbita) junto ao Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2014) aleacutem do ortofotomosaico
do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hiacutedricos (IEMA 2014) do Espiacuterito
Santo referente ao voo de 2007 a 2008
Na segunda etapa foram realizadas duas investigaccedilotildees de campo sendo a primeira no
dia 24 de junho de 2014 com a finalidade de fazer o reconhecimento da aacuterea de estudo
fotografar e conversar com moradores e teacutecnicos da prefeitura O segundo trabalho de
campo ocorreu no dia 14 de fevereiro de 2015 e por meio deste foi possiacutevel identificar
pontos sujeitos a inundaccedilatildeo analisar a topografia e realizar as entrevistas com moradores
e funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina
37
Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC)
38
Na terceira etapa foram realizados os mapeamentos e processamentos de todos os planos
de informaccedilatildeo vetoriais e matriciais em ambiente de SIG no sistema ArcGis 103 iniciando
com a ediccedilatildeo dos dados do Municiacutepio e adjacecircncias que foram ajustados quando
necessaacuterio ao sistema de projeccedilatildeo UTM no Datum SIRGAS ndash 2000 na Zona 24 sul com
meridiano central -39 W com todo o mapeamento produzido seguindo a padronizaccedilatildeo
cartograacutefica proposta por Fitz (2008 a b)
O geoprocessamento teve iniacutecio com a composiccedilatildeo das imagens orbitais do Landsat-8 na
cor natural da imagem (2R 3G 4B) e por meio da teacutecnica de Pan Sharpening ou fusatildeo
de imagens a imagem cor natural foi agrupada agrave da banda 8 pancromaacutetica para obtenccedilatildeo
de uma melhor resoluccedilatildeo espacial neste caso chegando a 15 metros sendo resguardado
o conteuacutedo da imagem composta Na sequecircncia foi realizada a extraccedilatildeo da maacutescara do
periacutemetro urbano de Colatina e gerada a classificaccedilatildeo supervisionada da imagem Landsat-
8 no periacuteodo de cheia (janeiro) e vazante (marccedilo) o que possibilitou a delimitaccedilatildeo da calha
do Doce nestes dois eventos
Em seguida foram realizadas as 8 (oito) mediccedilotildees do leito regular sendo 4 (quatro) no
periacuteodo de cheia e 4 (quatro) na vazante de modo a definir a largura meacutedia da calha do
leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina Para chegar a uma medida geral
da largura do rio utilizaram-se ferramentas estatiacutesticas como a meacutedia que eacute uma medida
de tendecircncia central onde numa amostra de tamanho N constituiacuteda por elementos de x
variando de eacute possiacutevel extrair a meacutedia aritmeacutetica atraveacutes da equaccedilatildeo
A meacutedia aponta para onde mais convergem os dados de uma distribuiccedilatildeo
A partir desta definiccedilatildeo da meacutedia da largura da calha do Rio Doce foi possiacutevel em consulta
ao Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e a Lei 52732007 determinar a faixa miacutenima
de preservaccedilatildeo permanente deste corpo fluvial aleacutem da confecccedilatildeo do mapa com o
poliacutegono de APP
Mediante a anaacutelise do mapa verificou-se que grande parte dos bairros do municiacutepio estatildeo
contidos nos poliacutegonos de APP em especial a preservaccedilatildeo de 500 metros conforme lei
federal E por meio deste foram cruzados os dados de vazatildeo as fotos histoacutericas das
enchentes e o poliacutegono de mata ciliar o que permitiu o entendimento das inundaccedilotildees
39
Em ambiente de SIG tambeacutem foram vetorizados os trecircs traccedilados da Estrada de Ferro
Vitoacuteria a Minas o trajeto do Rio Santa Maria do Doce antes e depois da retilinizaccedilatildeo e os
sucessivos aterros na margem direita do Rio Doce no periacutemetro que compreende a Av
Beira-Rio
As teacutecnicas de sensoriamento remoto como a classificaccedilatildeo supervisionada permitiram a
definiccedilatildeo do poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo atraveacutes da imagem da cheia de janeiro Para
tanto foi realizada tambeacutem a classificaccedilatildeo hiacutebrida objetivando aliar a interpretaccedilatildeo visual
com a digital (JENSEN 2009) Por fim foi realizada amarraccedilatildeo com o levantamento
geodeacutesico da CPRM (2014) para garantir a precisatildeo do traccedilado do poliacutegono de cheia
A partir do tratamento dos dados bibliograacuteficos cartograacuteficos e imagens foi possiacutevel
sistematizar este trabalho o que permitiu identificar elementos histoacutericos de intervenccedilatildeo
na paisagem do Doce como os aterros e a ocupaccedilatildeo urbana As visitas de campo a
entrevista e conversas com moradores foram fundamentais para a validaccedilatildeo das
informaccedilotildees o que tornou esta metodologia eficaz para anaacutelise do fenocircmeno da inundaccedilatildeo
em Colatina
40
4 RESULTADOS
41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana
A ocupaccedilatildeo ao longo das planiacutecies de inundaccedilatildeo dos rios tem ocorrido diante da
necessidade deste recurso para as atividades vitais humanas Cunha (2012b p219)
entende que ldquosuas margens tecircm sido o centro preferido da habitaccedilatildeo humana e o
suprimento de suas aacuteguas natildeo soacute fertiliza os campos para o cultivo como tambeacutem fornece
energia e permite recreaccedilatildeordquo Logo o estabelecimento das vilas nas bordas dos cursos
drsquoaacutegua favorece a logiacutestica ocupacional
Historicamente em solo espiacuterito-santense a formaccedilatildeo das vilas ocorreu agraves margens de
estrateacutegicos cursos drsquoaacutegua e a exploraccedilatildeo do ouro de Minas Gerais para Albani (2012)
determinou que a Coroa proibisse nos seacuteculos XVII a XIX a implantaccedilatildeo de estradas e
exploraccedilatildeo de terras na Capitania do Espiacuterito Santo pois os portugueses temiam incursotildees
estrangeiras deixando assim o desenvolvimento capixaba restrito agrave faixa litoracircnea
Relegada enquanto ldquobarreira verderdquo para defesa das minas de ouro e minerais do atual
territoacuterio das Minas Gerais segundo Coelho (2007) a Capitania do Espiacuterito Santo soacute
passou a se interiorizar para o centro-oeste onde se localiza atualmente a cidade de
Colatina a partir de 1847 por meio das ocupaccedilotildees de Santa Izabel e Santa Leopoldina
que permitiram a descida do Rio Santa Maria do Doce ateacute as imediaccedilotildees da atual cidade
de Colatina
Assim foi que o movimento colonizador desceu o vale do Santa Maria do Rio Doce atingindo em 1891 a regiatildeo das matas onde hoje se acha a cidade de Colatina [] Esta penetraccedilatildeo inicial foi feita com elementos alematildees de Santa Leopoldina e no rio Doce ficou muito anos restrita agrave aacuterea inicial A expansatildeo ao longo do vale tomou impulso com a chegada a Colatina em 1906 dos trilhos da Estrada de Ferro Diamantina (atual Vitoacuteria-Minas) (STRAUCH1955 apud COELHO 2007 p105)
Sendo assim Coelho (op cit) relata que a ocupaccedilatildeo se deu atraveacutes da supressatildeo da mata
nativa no baixo curso do Rio Doce de Colatina a Linhares sendo a madeira daiacute extraiacuteda
levada ateacute o rio e encaminhada ateacute Povoaccedilatildeo vilarejo junto agrave foz de onde eram carregados
os navios Neste periacuteodo tem-se a instalaccedilatildeo de um ciclo madeireiro na regiatildeo com a
disposiccedilatildeo de serrarias nas proximidades das matas
41
Todavia somente a partir de 1906 com a chegada da estrada de ferro na regiatildeo o
transporte madeireiro foi transferido para as locomotivas Agrave medida que a implantaccedilatildeo da
Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas avanccedilava para o interior levava consigo as frentes de
desmatamento modificando as paisagens das margens do Rio Doce e se apropriando dos
espaccedilos deste rio (Figura 9)
Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906 Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce Fonte Albani (2012 p 63)
Conforme Albani (2012) com a vinda dos mineiros e fluminenses reforccedilados
posteriormente a partir de 1889 por colonizadores italianos e alematildees eacute que as
ocupaccedilotildees territoriais ocorreram de modo efetivo Atraveacutes do Barracatildeo do Rio Santa Maria
(Figura 10) espaccedilo do governo inicialmente destinado a alojar os migrantes e a produccedilatildeo
surgiram as primeiras residecircncias nas proximidades da igreja de Satildeo Sebastiatildeo Sendo
assim
Eacute importante destacar que o desenvolvimento da regiatildeo onde se encontra o municiacutepio de Colatina teve iniacutecio no final do seacuteculo XIX no nuacutecleo de colonizaccedilatildeo Antocircnio Prado localizado no distrito de Boapaba antiga vila do Mutum O nuacutecleo recebeu dezenas de famiacutelias de imigrantes italianos e ali desenvolveram atividades de agricultura e com a expansatildeo da localidade surge tambeacutem o comeacutercio (ALBANI 2012 p61) [hellip] A vila de Colatina entretanto logo passou a se transformar no principal nuacutecleo e futuramente na sede do municiacutepio Aleacutem da facilidade da produccedilatildeo atraveacutes do Rio Doce a vila de Colatina tornou-se referecircncia dos imigrantes no caminho para a colonizaccedilatildeo das terras ao norte do estado (MADURO1985 apud ALBANI 2012 p62)
42
Desse modo com o desenvolvimento das atividades de cafeicultura madeireira e do
entroncamento logiacutestico de acesso agraves aacutereas do norte a vila eacute elevada em 1921 agrave categoria
de municiacutepio A atual configuraccedilatildeo territorial foi adquirida a partir de 2001 conforme IBGE
(2014) dispondo de seis distritos Colatina (sede) Acircngelo Frechiami Baunilha Boapaba
Graccedila Aranha e Itapina
Cabe destacar poreacutem que a ocupaccedilatildeo inicial da cidade de Colatina se perfaz pela margem
direita do Rio Doce onde se localiza o atual bairro de Colatina Velha e onde havia se
instalado o Barracatildeo de Santa Maria Nesse periacuteodo a ponte ainda natildeo fora edificada
limitando assim a ocupaccedilatildeo da margem esquerda
Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da regiatildeo Fonte Albani (2012 p62)
Conforme Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p65) a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro
Vitoacuteria a Minas em 1906 (Figura 11) possibilitou a expansatildeo da cidade de Colatina e seu
desenvolvimento econocircmico Todavia sua instalaccedilatildeo paralela agrave margem direita do Rio
Doce favoreceu a localizaccedilatildeo de avenidas e ruas centrais em sua proximidade
43
Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p65)
Entretanto foi com a construccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos (Figura 12) em 1928 que a
margem direita se conectou agrave margem esquerda da cidade o que aleacutem de possibilitar a
ocupaccedilatildeo facilitou o acesso agraves regiotildees mais ao norte do Estado
Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p66)
44
Por conseguinte a estrada de ferro e a ponte foram os fatores determinantes para o
estabelecimento dos migrantes agraves margens do Rio Doce e a formaccedilatildeo do atual municiacutepio
de Colatina Contudo foi a partir desta posiccedilatildeo privilegiada que a cidade passou a ser
entreposto comercial e logiacutestico da regiatildeo noroeste e com isso sua aacuterea urbana expandiu-
se de modo desordenado inicialmente ao longo da planiacutecie de inundaccedilatildeo do Doce Coelho
(2007 p108 e 109) relata que
Os efeitos dessa urbanizaccedilatildeo (novos parcelamentos) e do desmatamento produz [sic] normalmente o aumento da velocidade das aacuteguas superficiais (pluviais) que eram antes interceptadas pelas matas com boa parte absorvida pelo solo O que ocorre geralmente nessas aacutereas eacute a chegada mais raacutepida das aacuteguas das chuvas para o tributaacuterios e calha principal do rio por fluxos concentrados que provocam processos de erosotildees do tipo laminar ravina e voccediloroca transportando quantidades expressivas de sedimentos que por sua vez causam assoreamento e a ocorrecircncia de cheias mais frequentes no rio
Com o crescimento acelerado do periacutemetro urbano proporcionado pelo apogeu do ciclo
cafeeiro as proacuteximas deacutecadas levaratildeo a cidade de Colatina a sofrer com impactos
advindos das alteraccedilotildees no ambiente fluvial do Rio Doce em especial os referentes a
ocupaccedilatildeo (impermeabilizaccedilatildeo) e desmatamento das margens (interferecircncia na drenagem
natural) conforme destacado por Coelho (2007)
Eacute fato que o municiacutepio viveu nas deacutecadas de 1940 e 1950 o auge do ciclo cafeeiro
chegando a ser no ranking brasileiro o 13ordm municiacutepio produtor de cafeacute no ano de 1947
(CAMPOS JUNIOR 2004 apud ALBANI 2012 p69) Poreacutem a partir de 1960 este boom
entrou em colapso com crise do cafeacute que assolou todo o paiacutes levando grande parte dos
pequenos proprietaacuterios rurais a migrarem para centros urbanos em especial no Espiacuterito
Santo a regiatildeo da Grande Vitoacuteria e tambeacutem para o centro de Colatina
Em razatildeo da crise cafeeira a populaccedilatildeo rural migra para centros urbanos A populaccedilatildeo migrou em grande quantidade para a Grande Vitoacuteria para fora do estado e tambeacutem para a cidade de Colatina principal aglomerado urbano da regiatildeo Esse processo provoca o aumento da aacuterea urbana de Colatina A populaccedilatildeo da cidade que era de 3913 habitantes em 1940 cresceu para 26757 habitantes em1960 (ALBANI2012 p71)
O crescimento raacutepido do centro de Colatina aliado ao aumento populacional direciona
grande parte dos migrantes para as aacutereas menos centrais da cidade levando agrave ocupaccedilatildeo
de locais irregulares como os morros e as margens direita e esquerda do Rio Doce Este
45
processo configurou a nova paisagem do municiacutepio povoando do vale agraves encostas (Figura
13)
Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes Fonte Albani (2012 p73)
Associado a este processo de reconfiguraccedilatildeo espacial nas proacuteximas deacutecadas o municiacutepio
de Colatina passaraacute por sucessivas perdas de territoacuterios ateacute atingir os limites atuais (Figura
1 p17) Aliado a estas perdas territoriais seu quantitativo absoluto populacional tambeacutem
sofreraacute impactos poreacutem de modo geral a populaccedilatildeo urbana deste municiacutepio apresentou
crescimento continuo (Graacutefico 2)
Graacutefico 2
Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 2010
Elaborado pela autora Fonte 1940 e 1950 Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p82) 1960 a 2010 IBGE
0
20000
40000
60000
80000
100000
120000
1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020
Populaccedilatildeo Urbana Colatina 1940 - 2010
46
Assim como tem ocorrido nas grandes capitais Colatina cresceu em quantitativo
populacional e territorial urbano de modo muito raacutepido e por este desenvolvimento natildeo ter
sido aliado a um planejamento urbano e ambiental sustentaacutevel a cidade tem sentido os
reflexos das suas interferecircncias ao longo do canal do Doce O que tem provocado
antecipaccedilatildeo dos picos de vazatildeo que no periacutemetro urbano ocasiona as inundaccedilotildees pois
natildeo conseguindo o rio acomodar estes defluacutevios transfere em curto espaccedilo de tempo as
aacuteguas a sua planiacutecie de inundaccedilatildeo atingindo os bairros mais antigos do municiacutepio
Por fim entender o contexto histoacuterico do crescimento da cidade revela muito do panorama
atual E por meio de uma anaacutelise conjunta da histoacuteria com os novos planejamentos eacute
possiacutevel propor intervenccedilotildees urbanas que possibilitem um conviacutevio harmonioso entre
natureza e sociedade neste caso entre o Rio Doce e o centro de Colatina Diante desta
proposta adiante apresentaremos a evoluccedilatildeo dos bairros associando seus periacuteodos de
ocupaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo espacial nas imediaccedilotildees do curso principal do Doce
411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade
Com nuacutecleo inicial de povoamento no Barracatildeo de Santa Maria a cidade de Colatina
cresce a partir deste ponto agrave margem direita do Rio Doce de onde surgem as primeiras
residecircncias comeacutercios e a igreja Atualmente a regiatildeo compreende o bairro de Colatina
Velha que de acordo com Albani (2012 p91) [hellip] ldquopode ser considerado o primeiro polo
de crescimento da cidaderdquo
Aliado ao aumento da populaccedilatildeo migrante das fazendas com a crise do cafeacute o nuacutecleo de
Colatina Velha passa a ser um ponto de passagem obrigatoacuterio para os viajantes que
vinham majoritariamente do sul uma vez que o Rio Doce configurava uma barreira natural
agrave ocupaccedilatildeo das terras ao norte Aleacutem disso a margem esquerda deste canal fluvial era
habitat dos hostis iacutendios botocudos o que dificultava a sua apropriaccedilatildeo
Sendo assim a ocupaccedilatildeo de Colatina conteve-se agrave margem direita nesta primeira fase o
que define o primeiro vetor de crescimento da cidade na direccedilatildeo leste para oeste partindo
das imediaccedilotildees do Barracatildeo de Santa Maria sentido ao Rio Santa Maria do Doce (Figura
14) E a partir de 1906 com a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas da entatildeo
Companhia Vale do Rio Doce atual Vale este vetor de crescimento se consolida e
47
proporciona o surgimento de importantes avenidas paralelas agrave ferrovia a exemplo da Av
Getuacutelio Vargas
Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de crescimento Elaborado pela autora
48
O segundo vetor do crescimento de Colatina estava condicionado agrave construccedilatildeo da ponte
Florentino Aacutevidos a qual conectou a margem direita agrave esquerda do Rio Doce permitindo
a ocupaccedilatildeo da porccedilatildeo ao norte Portanto somente a partir de 1928 com a finalizaccedilatildeo da
obra da ponte a barreira natural pocircde ser transposta o que possibilitou ao lado esquerdo
desenvolver uma nova linha de crescimento urbano com a ocupaccedilatildeo do atual bairro de
Satildeo Silvano
O terceiro vetor de crescimento estaacute associado agrave implantaccedilatildeo do bairro Luiz Iglesias na
margem direita e os de Maria das Graccedilas e Coluacutembia na margem esquerda Albani (2012)
ressalta que esta fase da ocupaccedilatildeo urbana estaacute associada ao desenvolvimento do sistema
viaacuterio como a proximidade da BR-259 sentido Vitoacuteria- Colatina da ES-80 que liga
Colatina agrave regiatildeo norte da ES-256 que a conecta a Marilacircndia e da proximidade da
estaccedilatildeo ferroviaacuteria Carlos Germano Nauman (Figura 15)
Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios e linhas feacuterreas que interceptam a cidade de Colatina Elaborado pela autora
Jaacute na quarta e mais recente linha de crescimento da cidade temos os novos loteamentos
residenciais e industriais a exemplo do de Barbados e do bairro Santa Helena que surgem
49
acompanhando o traccedilado da ponte que contorna a leste a cidade como novo acesso agrave
porccedilatildeo norte do estado Albani (2012 p118) destaca que
Apesar da construccedilatildeo da Segunda Ponte ter sido iniciada em 1986 somente foi inaugurada em 2007 A conclusatildeo da ponte e a construccedilatildeo de uma rodovia de contorno desviaram a BR-259 do centro da cidade O desvio da rodovia federal trouxe um desafogamento do tracircnsito nas principais vias da cidade e um novo direcionamento na expansatildeo urbana Alguns loteamentos surgiram nesse periacuteodo proacuteximo agrave Segunda Ponte e ao contorno na margem norte do rio principalmente no bairro Santa Helena (Figura 55) Essa situaccedilatildeo indica mais uma vez que as linhas de crescimento em Colatina satildeo orientadas pelas vias de transporte
Portanto o crescimento do periacutemetro urbano de Colatina estaacute associado agrave superaccedilatildeo das
barreiras naturais em especial o Rio Doce por meio de investimentos em obras de
engenharia que permitiram o deslocamento humano para a margem esquerda deste curso
Sem duacutevida as vias de transporte foram elementares na construccedilatildeo do periacutemetro urbano
de Colatina pois na medida que se consolidava o sistema viaacuterio as ocupaccedilotildees tambeacutem se
favoreciam destas vias de locomoccedilatildeo A evoluccedilatildeo da aacuterea urbana portanto acompanha
as principais vias de transporte (Figura 15 p45) e estas se utilizam da posiccedilatildeo estrateacutegica
e geograficamente favoraacutevel do canal do Doce para a definiccedilatildeo de seus traccedilados
Apoacutes 94 anos de emancipaccedilatildeo de Linhares o territoacuterio de Colatina eacute fundamental para a
manutenccedilatildeo dos municiacutepios do noroeste capixaba Diante desta posiccedilatildeo estrateacutegica torna-
se relevante o entendimento de como o urbano se relaciona com o meio natural a fim de
se estabelecer poliacuteticas de ordenamento territorial que promovam a qualidade de vida no
municiacutepio Adiante seraacute analisada a situaccedilatildeo da calha principal do Rio Doce elemento
fundamental na compreensatildeo do uso e cobertura da terra de Colatina
42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce
Compreendendo uma aacuterea de 3330 kmsup2 o periacutemetro urbano de Colatina eacute afetado pela
velocidade dos defluacutevios de modo que grande parte dos bairros beira-rio eacute tomada pelas
aacuteguas excedentes da calha principal do Doce o que configura o fenocircmeno de inundaccedilatildeo
Ao pesquisar estes fenocircmenos eacute necessaacuterio relacionar o uso da terra com os processos
geomorfoloacutegicos do corpo hiacutedrico Sendo assim por meio de teacutecnicas de
geoprocessamento foram realizadas oito mediccedilotildees da calha principal do Rio Doce para
50
estabelecimento da distacircncia meacutedia da largura de sua calha O resultado esteve dentro do
esperado e pode ser verificado na tabela abaixo (Tabela 1) e no mapa em sequecircncia
(Figura 16)
Tabela 1 Perfis transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de
vazante (abril) e cheia (janeiro)
Largura do rio Doce periacuteodo de vazante e cheia
Abril2013(m) Janeiro2014(m)
P1 70735 75784
P2 62080 66483
P3 59209 65804
P4 63548 67650
Meacutedia dos Perfis 62814 67066
Meacutedia Geral 66143 Obs todas as medidas estatildeo em metros
Elaborado pela autora
Figura 16 - Traccedilado dos perfis transversais da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de vazante mecircs de abril2013 Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)
51
Com uso das imagens orbitais do Landsat-8 atraveacutes da classificaccedilatildeo hiacutebrida foram
gerados dois arquivos shapefiles correspondentes agraves bordas do Doce um no periacuteodo de
vazante e outro no de cheia Por meio destes dados foram definidos quatro traccedilados para
realizaccedilatildeo das mediccedilotildees a partir destas e com auxiacutelio das medidas de tendecircncia central
chegou-se a uma largura meacutedia total de 66143m de uma margem a outra Este resultado
indicou que tanto no periacuteodo de vazante quanto no periacuteodo de cheia a largura meacutedia
aponta para a maior faixa de APP proteccedilatildeo de 500m conforme previsto na legislaccedilatildeo
federal (Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e no revogado Lei 4771 1965)
Analisando a imagem abaixo (Figura 17) observa-se que grande parte do solo
naturalmente destinado a ldquoacomodaccedilatildeordquo das aacuteguas nas cheias (linha laranja) foi
incorporado agrave sociedade como espaccedilo criado (periacutemetro urbano em APP mancha em
amarelo) destinado a fins muacuteltiplos Deste modo sem planejamento territorial adequado
grande parte da planiacutecie de inundaccedilatildeo deu lugar a outras funccedilotildees diferentes das naturais
sendo incorporada ao espaccedilo urbano
Lanccedilando o buffer (mancha em amarelo) do entorno da calha do Doce (Figura 17) observa-
se que dos 59 bairros do municiacutepio cerca de 29 estatildeo dentro da aacuterea de 500m destinada
a preservaccedilatildeo permanente pelo Coacutedigo Florestal Considerando-se a delimitaccedilatildeo da APP
prevista no PDM de 1996 e 2007 (linha laranja mais proacutexima da borda do rio) este nuacutemero
cai para 18 bairros permanecendo apenas aqueles que possuem limites com o corpo
hiacutedrico
Uma vez que que lei municipal natildeo suplanta lei federal considerar-se-aacute neste estudo o
limite da faixa marginal de proteccedilatildeo definida na Lei Federal 126512012 Deste modo a
aacuterea de preservaccedilatildeo permanente do Doce neste recorte eacute de 1085 kmsup2 compreendendo
33 do periacutemetro urbano de Colatina
Cabe destacar ainda que mesmo o PDM de 1996 contendo enquanto objetivo no Art 14
ldquoI - estabelecer a ordenaccedilatildeo do uso e da ocupaccedilatildeo do solo urbanordquo (Lei 42281996 p4)
a gestatildeo municipal natildeo obteve sucesso na implementaccedilatildeo de tal legislaccedilatildeo O que se
verifica tanto nas deacutecadas de 1990 quanto no iniacutecio dos anos 2000 quando foram
aprovados novos parcelamentos urbanos agraves margens deste canal a exemplo dos bairros
de Barbados na margem direita e do bairro Mario Giurizato na margem esquerda
52
Figura 17- Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)
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Articulado a esta ideia e pesquisando o trecho do bairro Esplanada a Colatina Velha palco
das uacuteltimas obras estruturantes de alto porte do municiacutepio consegue-se analisar os efeitos
das inundaccedilotildees nas margens deste rio Logo implementar medidas de prevenccedilatildeo de
cheias em aacutereas com urbanizaccedilotildees antigas requer um esforccedilo da gestatildeo na regulaccedilatildeo do
solo urbano
421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie
de Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio
Interceptada pelo curso do Rio Doce no perfil mais a jusante da bacia a cerca de 100km
do estuaacuterio com o Oceano Atlacircntico a cidade de Colatina polo moveleiro e de confecccedilotildees
do centro-oeste capixaba eacute palco recorrente de inundaccedilotildees urbanas
Conforme jaacute mencionado por Cunha (2012a) este fenocircmeno ocorre quando a bacia recebe
um percentual precipitado acima da sua capacidade de escoamento o que faz o leito
menor do rio extravasar para o leito maior ocupando as aacutereas de vaacuterzeas (Figura 18 p
50) Aliadas a esta questatildeo estatildeo as ocupaccedilotildees humanas das margens dos rios que ao
suprimir a vegetaccedilatildeo natural e alterar a condiccedilatildeo fiacutesica do solo acabam por reduzir a aacuterea
de drenagem das aacuteguas pluviais acelerando o escoamento superficial para o canal
principal e favorecendo os defluacutevios
Figura 18 - Representaccedilatildeo da inundaccedilatildeo urbana Fonte adaptado da Defesa Civil do Tocantins (2015)
Este fenocircmeno tem ganhado destaque em Colatina a partir de 1979 ano em que o Rio
Doce atingiu a vazatildeo de 12860msup3s tomando toda aacuterea aplainada que compotildee seu leito
maior afetando da atual Av Beira-Rio ateacute as redondezas da Av Getuacutelio Vargas Desde
entatildeo os estudos das inundaccedilotildees urbanas satildeo relevantes no municiacutepio o que levou o
54
Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) na deacutecada de 1980 a elaborar um ldquoPlano Diretor
de Contenccedilatildeo das Enchentes Proteccedilatildeo das Encostas e Drenagem Pluvial de Colatinardquo
Tal medida apresentou seis alternativas para o fenocircmeno Poreacutem tendo em vista o custo
operacional das obras apenas a alternativa seis que previa a construccedilatildeo de diques
marginais para a proteccedilatildeo das aacutereas mais centrais foi considerada viaacutevel na eacutepoca
Todavia em entrevistas com funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina (PMC) foi
relatado que todo o estudo foi arquivado e que ateacute agora natildeo haacute previsatildeo de
implementaccedilatildeo de tais medidas Fato este que eacute evidenciado (Tabela 2 p 51) quando da
ocorrecircncia de precipitaccedilotildees intensas na bacia durante as quais sazonalmente a cidade eacute
impactada com as aacuteguas das inundaccedilotildees Isto faz com que o municiacutepio passe
recorrentemente por cataacutestrofes conforme tabela com os principais picos de vazatildeo do rio
nos uacuteltimos 50 anos
Tabela 2
Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013
Ano Diamecircs Vazatildeo(msup3s)
1961 30jan 6613
1979 04fev 12860
1997 07jan 8687
2005 03ago 6549
2013 24dez 9028
Fonte Coelho (2007 apud DALLAPICOLA 2014 p4) e CPRM (2014 p85) Observo que os dados da tabela 1 para os anos de 1979 e 2013 estatildeo baseados na estimativa de vazatildeo meacutedia diaacuteria das maacuteximas anuais obtida atraveacutes de extrapolaccedilatildeo da curva-chave pelo grupo interdisciplinar dos relatoacuterios criacuteticos anteriores
As inundaccedilotildees de 1979 1997 e recentemente 2013 (Figura 19) foram as de maior vazatildeo
neste setor do rio e consequentemente as que mais atingiram a aacuterea urbana do municiacutepio
bloqueando os acessos ao centro da cidade e aos equipamentos essenciais como
hospitais escolas e demais oacutergatildeos puacuteblicos aleacutem de desalojarem muniacutecipes e
comprometerem a sauacutede puacuteblica
55
Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de 1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 Fonte1) Nossa Colatina 2) Nossa Linda Colatina 3) Nossa Colatina
Com o propoacutesito de identificar os principais fatores que acentuam as inundaccedilotildees seraacute
analisado como os processos geomorfoloacutegicos do Doce estatildeo sendo afetados pela accedilatildeo
antroacutepica Limitaremos a anaacutelise ao periacutemetro urbano no trecho que compreende do bairro
Esplanada ateacute o bairro Colatina Velha (Figura 20) Neste periacutemetro eacute possiacutevel visualizar a
evoluccedilatildeo da mancha urbana sobre o leito do rio aleacutem de identificar na margem direita os
pontos desnaturalizados deste canal fluvial
56
Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2) Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do recorte em rosa da APP de 50m (amarelo claro) e 500m (amarelo escuro) Fonte 3) Encontra Colatina (2015)
57
O recorte em questatildeo eacute margeado pela Av Beira-Rio e estaacute situado (Figura 20) dentro do
buffer de preservaccedilatildeo permanente previsto no PDM (buffer de 50m) e no Novo Coacutedigo
Florestal (buffer de 500m) Apesar desta aacuterea ser destinada a mata nativa e ou
reflorestada a ocupaccedilatildeo urbana antecede os artigos legais o que dificulta poliacuteticas de
gestatildeo territorial em um periacutemetro ao mesmo tempo histoacuterico e com funccedilatildeo relevante no
equiliacutebrio hidroloacutegico da bacia
O periacutemetro faz parte da vaacuterzea da margem direita do Rio Doce pois encontra-se em cota
topograacutefica de 50m caracterizando sua planiacutecie Logo a aacuterea em questatildeo tem a funccedilatildeo de
acomodar as aacuteguas das cheias quando a calha principal natildeo comporta o escoamento de
grandes vazotildees Esta tarefa passa a ser prejudicada na medida em que na bacia ou no
curso original satildeo implementadas obras que interferem na morfologia do corpo hiacutedrico
principal como a instalaccedilatildeo das hidreleacutetricas de Mascarenhas (1974) e Aimoreacutes (2005) a
montante
As UHErsquos a montante comprometem os processos do rio uma vez que o regime natural de
transporte de sedimentos eacute alterado com o barramento o que favorece a erosatildeo e
consequentemente o assoreamento com a formaccedilatildeo de bancos arenosos alteraccedilatildeo do
seu perfil transversal e reduccedilatildeo da profundidade Aleacutem disso segundo Coelho (2007) as
vazotildees maacuteximas e miacutenimas foram alteradas com a implantaccedilatildeo das hidreleacutetricas a
montante implicando em vazotildees meacutedias anuais miacutenimas cada vez mais reduzidas com
valores se distanciando da linha de tendecircncia (polinocircmio) provando o natildeo equiliacutebrio da
vazatildeo apoacutes a implantaccedilatildeo das barragens (Graacutefico 1 p22)
Entretanto a primeira intervenccedilatildeo direta no trecho em estudo foi a instalaccedilatildeo da estrada
de ferro que atraiu migrantes para Colatina permitindo o crescimento populacional e a
expansatildeo urbana desordenada agraves margens do Doce Este crescimento intensificou a
supressatildeo das matas ciliares e abriu espaccedilo para a impermeabilizaccedilatildeo do solo reduzindo
a infiltraccedilatildeo
Posteriormente a inauguraccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos ampliou o fluxo na regiatildeo pois
proporcionava a ligaccedilatildeo com as terras ao norte do Estado Atuou tambeacutem como obstaacuteculo
ao transporte de sedimentos carreados no fluxo natural do rio uma vez que sua
implantaccedilatildeo altera a topografia do fundo do canal afetando os processos geomorfoloacutegicos
58
Poreacutem foi no Morro das Cabritas (colina localizada no espaccedilo que compreende o atual
bairro Esplanada) que ocorreu a primeira desnaturalizaccedilatildeo nas margens do Doce Este
morro por onde o Rio Santa Maria do Doce meandrava ateacute desaguar no Rio Doce foi
cortado em meados de 1953 para abrigar a cidade em expansatildeo Devido a esta
intervenccedilatildeo o curso original do Santa Maria foi deslocado e passou a escoar
retilineamente ateacute a foz (Figura 21)
Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponte Florentino Aacutevidos (direita) e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque em vermelho para o curso atual do Santa Maria Fonte Nossa Colatina
As intervenccedilotildees na margem direita tornam-se mais intensas a partir da deacutecada de 1960
quando no ano de 1968 edificou-se um muro visando a proteccedilatildeo dos pilares da
extremidade direita da ponte Esta obra ficou paralisada por muitos anos e foi a primeira
de retificaccedilatildeo e aterro realizada neste trecho do rio Esta intervenccedilatildeo modificou o fluxo
natural das correntes do rio e reduziu a largura da sua calha alterando a morfologia do
canal (Figura 22)
59
Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de proteccedilatildeo da ponte Elaborado pela autora Fonte fotos histoacutericas Nossa Colatina
Contudo somente em 1972 teve iniacutecio o segundo aterro (Figura 23) com a finalidade de
alocar a estaccedilatildeo rodoviaacuteria de Colatina e ampliar a aacuterea de acesso agrave ponte Florentino
Aacutevidos A implementaccedilatildeo desta obra suprimiu parte do leito do Rio Doce pois removeu a
saliecircncia cocircncava que curvava o rio retilinizando esta parte do canal
60
Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora Fonte Nossa Colatina Nossa Linda Colatina
Apoacutes dez anos sem grandes intervenccedilotildees em 1982 o lado a montante da ponte bairro
Esplanada eacute acrescido de um aterro que estenderaacute a aacuterea do antigo Morro das Cabritas
para o rio (Figura 24)
Conhecido como Rua da Lama devido agrave umidade que o rio transferia ao aterro formando
um barro viscoso que persistia a maior parte do ano o trecho atualmente compreende a
Avenida Professor Joseacute Zouian popularmente denominada Avenida Beira-Rio de onde
surge a primeira forma do calccediladatildeo que seraacute estendido ateacute o bairro Colatina Velha
61
Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o calccediladatildeo da Av Beira-Rio Elaborado pela autora Fonte Bennachio (2015)
Somente em 2004 foi implementado o maior projeto de canalizaccedilatildeo do municiacutepio Naquele
ano teve iniacutecio a execuccedilatildeo do enrocamento da Av Beira-Rio (Figura 25) obra destinada
inicialmente a alocaccedilatildeo de equipamentos puacuteblicos de lazer e cultura praccedilas preacutedios aleacutem
da promessa de contribuir para a contenccedilatildeo dos transbordamentos do Rio Doce
Apesar de o referido manancial jaacute estar comprometido com problemas de poluiccedilatildeo
assoreamento e erosatildeo aleacutem dos impactos de duas hidreleacutetricas instaladas a montante a
obra abarcou a supressatildeo da vegetaccedilatildeo ciliar e aterro de parte do rio jaacute tatildeo degradado
62
Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento iniciada em 2004 e finalizada em 2008 Elaborado pela autora Fonte proacutepria autora em 240215
Ocupando uma aacuterea total de 130 mil msup2 do leito do Rio Doce o aterro teve iniacutecio em 2004
sendo construiacutedo com cerca de 90 mil msup3 de pedras 50 mil msup3 de areia retirada do leito do
rio e por fim o nivelamento com 200 mil msup3 de terra A obra era divulgada como um antigo
sonho dos colatinenses e serviria para ampliaccedilatildeo da Av Beira-Rio no bairro de Colatina
Velha instalaccedilatildeo de ciclovias calccediladatildeo equipamentos puacuteblicos e estacionamento (Figura
26) Apesar do fim da engenharia em 2008 o projeto ainda estaacute em fase de acabamento
na parte urbaniacutestica e na alocaccedilatildeo dos oacutergatildeos puacuteblicos
Cabe destacar que a obra sofreu embargos do Ministeacuterio Puacuteblico Federal (MPF) por
apresentar apenas cadastro na Agecircncia Nacional de Aacuteguas (ANA) que conforme parecer
da Procuradora Nadja Machado Botelho na Accedilatildeo Civil Puacuteblica ldquo[hellip] equivocadamente natildeo
realizou o procedimento de outorga [hellip]rdquo (MPF 2006 p2) Aleacutem disso a procuradora
solicitou tutela tendo em vista tratar-se de aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental e o fato de o
IBAMA ter concedido licenciamento com indevida dispensa do Estudo de Impacto
Ambiental (EIA)Relatoacuterio de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA)
63
Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina Fonte Prefeitura de Colatina (2015)
Por isso essa obra deve ser considerada faraocircnica para os cofres puacuteblicos e irreversiacutevel
para os processos geomorfoloacutegicos do Doce E sua efetivaccedilatildeo soacute foi possiacutevel com a
participaccedilatildeo e investimentos do Governo estadual Contudo seu objetivo foi frustrado pois
novamente na cheia do Rio Doce em dezembro de 2013 quando este atingiu a vazatildeo de
9028 msup3s a aacuterea foi inundada e por estar em cota maior que as casas que beiravam o
rio o enrocamento atuou como represa natildeo permitindo o retorno das aacuteguas quando o niacutevel
do rio retomou o equiliacutebrio
Por fim segue um mapa siacutentese (Figura 27) com a cartografia das quatro principais
intervenccedilotildees diretas e estruturais na margem direita do Doce no setor urbano de Colatina
representando o curso natural do rio em 1950 e suas desnaturalizaccedilotildees a partir da deacutecada
de 60 ateacute a atualidade
64
Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce ante e depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora
65
422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio
O recorte em estudo compreende as Zonas ZE-1 ZE-2 e ZUD 2-1 (Figura 28 p61) sendo
a Zona Especial 1 Zona Especial 2 e Zona de Uso Diverso 2-1 destinadas no PDM (Lei
52732007)
Artigo 103 - As Zonas de Usos Diversos ndash ZUD satildeo definidas em razatildeo da concentraccedilatildeo de atividades urbanas diversificadas com predominacircncia do uso comercial e de serviccedilos Artigo 104 - Satildeo objetivos das Zonas de Usos Diversos I - otimizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do solo priorizando a instalaccedilatildeo de novos empreendimentos em terrenos natildeo edificados contiacuteguos a empreendimentos jaacute instalados II - controle da implantaccedilatildeo de usos incompatiacuteveis com os definidos para estas zonas III - garantia de licenciamento e monitoramento ambiental dos empreendimentos IV - controle da expansatildeo comercial de serviccedilos e de induacutestrias de pequeno porte em direccedilatildeo a aacutereas residenciais [] Artigo 130 - As Zonas Especiais 1 ndash ZE 1 abrangem todas as aacutereas remanescentes do municiacutepio relativamente ao zoneamento estabelecido nesta lei ocupadas ou natildeo contida na lei de periacutemetro urbano para as quais natildeo foram ainda estabelecidos os criteacuterios de uso e ocupaccedilatildeo Artigo 131 - As Zonas Especiais 2 ndash ZE 2 satildeo as aacutereas existentes no prolongamento da avenida Beira Rio mais especificamente no trecho entre o 80 Batalhatildeo da Poliacutecia Militar e a rua Pedro Epichin incluindo o espaccedilo existente entre a margem do Rio Doce e o limite das construccedilotildees localizadas na rua Pedro Epichin
Cabe destacar que mesmo sendo palco das aacutereas mais afetadas com as inundaccedilotildees do
Rio Doce a Beira-Rio tem sido alvo da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria que aproveitando-se dos
iacutendices pouco restritos da ZUD 2 (Figura 28 p62) valoriza o espaccedilo promovendo a
instalaccedilatildeo de grandes estruturas como hipermercados edifiacutecios residenciais modernos e
hotelaria
66
Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 Fonte Colatina (2007)
A aacuterea contida na ZE (Figura 28) natildeo possui criteacuterio de ocupaccedilatildeo definido na legislaccedilatildeo
atual sendo adotado o disposto na Lei 41961995 que estabelece os iacutendices urbaniacutesticos
para as aacutereas conquistadas junto ao Rio Doce e na Lei 420595 que aprova os
parcelamentos na Beira-Rio Quanto agrave ZUD 2-1 apresenta iacutendices urbaniacutesticos no anexo
118 do Plano Diretor conforme tabela 3 abaixo
67
Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1
Fonte Colatina (2007 p36)8
68
Eacute relevante observar que numa aacuterea onde o corpo hiacutedrico foi reduzido pelos sucessivos
aterros tenha sido aprovada a instalaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto (Figura
29) com taxa de ocupaccedilatildeo de ateacute 80 e com baixo iacutendice de permeabilidade Ampliou-
se a aacuterea impermeaacutevel numa regiatildeo onde a drenagem jaacute eacute muito comprometida com a
expansatildeo urbana sobre o rio
Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto na Beira-Rio Fonte imagem do Google Maps 2015 E fotos da autora em 140215
Portanto analisando o conjunto de dados apresentado acima eacute possiacutevel entender como
as inundaccedilotildees satildeo potencializadas no municiacutepio atingindo a populaccedilatildeo mas em especial
afetando a dinacircmica de um corpo hiacutedrico tatildeo relevante para o Estado A fim de subsidiar a
gestatildeo puacuteblica com material cartograacutefico para a tomada de decisotildees delimitou-se o
poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo (Figura 30) Pois devem ser adotadas medidas que
minimizem impactos de futuros eventos hidroloacutegicos na bacia capazes de comprometer
novamente a aacuterea urbana mais central de Colatina
69
Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av Beira-Rio em dezembro de 2013 Elaborado pela autora
70
Diante do poliacutegono de inundaccedilatildeo da uacuteltima cheia (Figura 30) em dezembro de 2013 eacute
possiacutevel implementar medidas de convivecircncia com as grandes vazotildees a exemplo de
paiacuteses como Holanda que vem investindo em medidas de resiliecircncia a fim de reduzir a
velocidade dos defluacutevios possibilitando ao canal a capacidade de acumular e dispersar as
aacuteguas com impacto miacutenimo para as populaccedilotildees Conforme Carneiro e Miguez (2011) a
estrateacutegia adotada pelo paiacutes eacute reter armazenar e drenar sendo mais flexiacutevel e natildeo
interferindo drasticamente na dinacircmica do corpo hiacutedrico
Por fim a implementaccedilatildeo de soluccedilotildees de planejamento urbano em Colatina requer uma
anaacutelise integrada que abarque o urbano e o ambiental de modo a propor intervenccedilotildees que
produzam impactos reduzidos nos processos geomorfoloacutegicos do Rio Doce Logo a gestatildeo
municipal deve atuar em niacutevel de bacia hidrograacutefica interagindo com os municiacutepios a
montante propondo medidas de minimizaccedilatildeo das cheias urbanas Mas na escala local
pode-se atuar junto aos novos parcelamentos de modo a ampliar o percentual de aacutereas
permeaacuteveis no municiacutepio incentivando por exemplo os novos loteamentos a adotarem
pavimentaccedilotildees que permitam a drenagem natural do solo
71
5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Partindo da ideia de que eacute possiacutevel implementar medidas que minimizem o escoamento
superficial satildeo apresentadas propostas como forma de controlar ou ao menos reduzir os
impactos das inundaccedilotildees urbanas
Embora as implementaccedilotildees histoacutericas de estruturas de proteccedilatildeo ou barreiras mais altas
tenham sido muito disseminadas atualmente estatildeo sendo suplantadas pelo gerenciamento
de inundaccedilotildees de maneira mais sustentaacutevel Deste modo as experiecircncias fora do Brasil
apontam para soluccedilotildees mais flexiacuteveis que considerem o fluxo natural do canal enquanto
um ecossistema em equiliacutebrio Para tanto Carneiro e Miguez (2011 p150) destacam a
iniciativa alematilde no controle de inundaccedilotildees em bacias hidrograacuteficas metropolitanas
[hellip] A abordagem comum consiste na regulaccedilatildeo do uso do solo nas aacutereas inundaacuteveis e em ldquodar espaccedilo para o riordquo ao inveacutes de priorizar investimentos em estruturas de proteccedilatildeo contra inundaccedilotildees como a colocaccedilatildeo de diques de contenccedilatildeo as margens dos rios A utilizaccedilatildeo do conceito de resiliecircncia apropriado de ecologia decorre dessa abordagem A aplicaccedilatildeo praacutetica do conceito implica portanto em mudanccedilas de paradigma Deixa de ser preponderante a engenharia construtiva e entra em cena o planejamento de longo prazo voltado para o desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis capazes de conviver com as variaccedilotildees do ciclo hidroloacutegico sem significar necessariamente trageacutedias anunciadas
Aleacutem dessas propostas geoacutegrafos como Sandra Cunha tecircm estudado a recuperaccedilatildeo
natural ou ldquorenaturalizaccedilatildeordquo de corpos fluviais visando promover a estabilidade dos canais
de modo mais sustentaacutevel Para ela
[hellip] Recuperaccedilatildeo de canal significa de forma simples o retorno as condiccedilotildees anteriores aos distuacuterbios Em essecircncia eacute o processo de recuperaccedilatildeo do rio ou do ecossistema fluvial estabilizando o desenvolvimento de habitats e colonizaccedilatildeo a uma taxa mais raacutepida que dos processos naturais fiacutesicos e bioloacutegicos Na recuperaccedilatildeo de canais ocorrem consideraccedilotildees de aspecto hidroloacutegico morfoloacutegico e ecoloacutegico qualidade da aacutegua esteacutetica aleacutem da necessidade de uma visatildeo integradora do projeto sustentaacutevel de recuperaccedilatildeo (CUNHA 2012 p230 a 231)
Satildeo portanto medidas pontuais como o retorno agraves sinuosidades do rio (Figura 31 p 68)
ou a substituiccedilatildeo de estruturas de concreto por superfiacutecies mais permeaacuteveis a exemplo
das trincheiras de infiltraccedilatildeo ou pavrsquos (Figura 32) aacutereas mais vegetadas aleacutem de coleta e
uso de aacutegua da chuva bem como tratamento das aacuteguas superficiais por meio de
72
amenidades esteacuteticas como reservatoacuterios de retenccedilatildeo ou detenccedilatildeo que podem ser
associados a ambientes harmocircnicos como lagos artificiais Todas estas accedilotildees possibilitam
a minimizaccedilatildeo das grandes vazotildees no solo urbano pois pretendem atenuar os impactos
das cheias fazendo com que seja resgatada parte da drenagem existente anteriormente agrave
urbanizaccedilatildeo
Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do Rio Aa Munster Alemanha (1998) Fonte Cunha (2012 p233)
Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos Fonte Carneiro e Miguez (2011 p128)
A partir do exposto cabe agrave gestatildeo municipal implementar legislaccedilotildees que priorizem a
permeabilidade possibilitando uma maior infiltraccedilatildeo das aacuteguas das chuvas atraveacutes de
pavimentaccedilotildees menos impermeaacuteveis e da ampliaccedilatildeo de aacutereas vegetadas Satildeo medidas
que tornam a drenagem mais sustentaacutevel aleacutem de possibilitar a manutenccedilatildeo dos serviccedilos
puacuteblicos de forma menos custosa tendo em vista o elevado preccedilo das recomposiccedilotildees
asfaacutelticas
1 2
73
Aleacutem disso quando se fala em controle de cheias urbanas pressupotildee-se uma seacuterie de
medidas para minimizaccedilatildeo de seus impactos desde a operaccedilatildeo de sistemas de alerta
zoneamento de aacutereas inundaacuteveis construccedilatildeo de grandes reservatoacuterios de contenccedilatildeo de
cheias e diques ateacute accedilotildees de educaccedilatildeo ambiental
Cabe pensar tambeacutem na proacutexima revisatildeo do PDM em um plano de macrodrenagem
municipal que reuacutena accedilotildees de caraacuteter estruturantes com obras hidraacuteulicas de infraestrutura
que realizem a conduccedilatildeo final das aacuteguas dos escoamentos superficiais para a minimizaccedilatildeo
das inundaccedilotildees e em medidas natildeo-estruturantes que trabalhem a consciecircncia ambiental
e proponha um zoneamento de cheias a fim de se delimitar os pontos mais fragilizados nos
defluacutevios
Por fim pensar em drenagem num contexto de ocupaccedilatildeo irregular histoacuterico requer
profissionais que aleacutem de possuir afinidade com a temaacutetica tambeacutem possam analisar os
diferentes processos que constituem o espaccedilo geograacutefico Logo este tipo de estudo deve
abarcar uma equipe multidisciplinar que percorra a anaacutelise desde o ambiental estrutural
ateacute o aspecto humano a fim de se produzir resultados que de fato contribuam com o
controle das inundaccedilotildees urbanas
74
6 CONCLUSAtildeO
A partir do recorte espacial foi possiacutevel compreender que a abordagem da geomorfologia
fluvial com a anaacutelise espaccedilo-temporal da ocupaccedilatildeo urbana possibilita a identificaccedilatildeo das
accedilotildees do homem no meio ambiente pois estas resultam na alteraccedilatildeo das paisagens
naturais e na dinacircmica da bacia hidrograacutefica Assim o Rio Doce deve ser estudado de
modo integrado ao crescimento da cidade sobretudo para compreensatildeo da produccedilatildeo do
espaccedilo geograacutefico
Analisar a inundaccedilatildeo urbana em Colatina foi satisfatoacuterio pois o municiacutepio estaacute situado no
perfil meacutedio-baixo da bacia vazante e eacute neste trecho que os reflexos das intervenccedilotildees satildeo
mais acentuados principalmente se esta parte do canal tambeacutem tiver passado por obras
que modificaram seus processos hidroloacutegicos Aleacutem disso a perspectiva geograacutefica aponta
para vaacuterias outras questotildees como erosatildeo fluvial planejamento urbano poluiccedilatildeo ambiental
crise da aacutegua que conduzem a outras discussotildees acerca da relaccedilatildeo homemnatureza
Ao demonstrar a evoluccedilatildeo espaccedilo-temporal do uso e cobertura da terra na margem direita
do Doce associando esta ocupaccedilatildeo agraves obras estruturantes que foram executadas no
canal verificamos que todas as praacuteticas adotadas para conter o transbordamento do rio
acabaram alterando sua morfologia com a retificaccedilatildeo de trechos em meandros reduzindo
a largura do corpo hiacutedrico o que favoreceu a apropriaccedilatildeo urbana de suas vaacuterzeas Aliadas
a estas questotildees estatildeo a falta de planejamento urbano e a omissatildeo diante da supressatildeo
das matas ciliares principalmente se considerados os resultados do relatoacuterio teacutecnico do
IJSN contra enchentes em 1980
Cabe destacar tambeacutem que toda a anaacutelise da ocupaccedilatildeo urbana e desnaturalizaccedilatildeo do
Rio Doce foi melhor identificada a partir dos produtos cartograacuteficos deste trabalho Pois eacute
na espacialidade dos fenocircmenos e no registro de informaccedilotildees ainda natildeo mapeadas como
os aterros que o geoacutegrafo executa a anaacutelise do seu objeto de estudo o homem e a
natureza aqui representado pela sociedade e o canal do Doce
Apesar do municiacutepio apresentar leis que resguardam os leitos dos rios desde o primeiro
PDM em 1996 nada foi feito para conter as ocupaccedilotildees irregulares beira-rio Pelo contraacuterio
estas aacutereas foram incorporadas ao Plano Diretor em 2007 com possibilidades de
ocupaccedilotildees diversas o que tem levado especuladores a valorizar o solo com vista para o
rio apontando suas qualidades esteacuteticas e teacutermicas Este fato vem aumentando o
75
percentual de aacutereas impermeaacuteveis nesta margem comprometendo ainda mais a drenagem
dos defluacutevios
Eacute na Av Beira-Rio que crescem as implantaccedilotildees de grandes empreendimentos comerciais
como supermercado Casagrande Ogil Hotel e obras de construccedilatildeo de novos arranha-
ceacuteus em um periacutemetro que jaacute eacute totalmente comprometido com os extravasamentos do Rio
Doce Estas obras ocupam grandes aacutereas e na maioria das vezes apresentam reduzida
aacuterea permeaacutevel reservando apenas o obrigatoacuterio pela lei cerca de 10 Observa-se
tambeacutem que a implantaccedilatildeo desses projetos estaacute condicionada agrave apresentaccedilatildeo e
aprovaccedilatildeo por comissatildeo na prefeitura do Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV) sendo
difiacutecil conceber que seja concedida tal licenccedila para implementaccedilatildeo de obras num trecho
de risco ambiental
Embora as diretrizes do Estatuto das Cidades para a implementaccedilatildeo do uso da terra
sustentaacutevel e os instrumentos para a regulaccedilatildeo do solo urbano sejam avanccedilados Colatina
eacute mais um exemplo da carecircncia de profissionais capacitados para estudar de modo
integrado e em niacutevel de bacia hidrograacutefica os efeitos da accedilatildeo humana num ambiente tatildeo
peculiar como as margens do Doce Por isso com os objetivos traccedilados nesta pesquisa
podemos aleacutem de compreender o fenocircmeno criar uma metodologia de anaacutelise de aacutereas
inundaacuteveis em ambientes urbanos O que permite agrave gestatildeo municipal uma diretriz para a
tomada de decisotildees
Destaca-se tambeacutem que as legislaccedilotildees aqui referenciadas supriram a discussatildeo acerca do
objeto de estudo mas outras podem contribuir para esta pesquisa a exemplo do Coacutedigo
das Aacuteguas da Poliacutetica Nacional dos Recursos Hiacutedricos das Resoluccedilotildees do Conama do
Estatuto das Cidades entre outros
Sendo assim numa revisatildeo do PDM deve-se pensar nestes aspectos da cidade desde o
histoacuterico de ocupaccedilatildeo das margens ateacute os impactos das inundaccedilotildees e o presente trabalho
auxilia com uma nova abordagem na reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo fornecendo material
cartograacutefico para subsidiar propostas de proteccedilatildeo ao curso do Doce e consequentemente
da populaccedilatildeo
Por fim deve-se destacar que o recorte estaacute inserido num contexto maior de uma bacia
hidrograacutefica que se estende aleacutem dos limites de Colatina ou do estado do Espiacuterito Santo
Esta bacia compreende a Regiatildeo Hidrograacutefica do Atlacircntico Leste e estaacute alocada tambeacutem
76
no estado de Minas Gerais o que portanto torna as accedilotildees de controle das inundaccedilotildees
mais complexas tendo em vista as divergentes politicas territoriais
77
7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
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AGRADECIMENTOS
Agradeccedilo a Deus pela forccedila dia a dia sem a qual natildeo seria possiacutevel superar
os obstaacuteculos e alcanccedilar a vitoacuteria
Aos meus pais Maxima e Francisco por todo ensinamento por acreditarem
na minha capacidade e por me ajudarem a sonhar e correr atraacutes dos meus
objetivos
Ao meu marido Cleder pela paciecircncia pela forccedila nos momentos de
desacircnimo e por todo apoio dedicado Sem vocecirc natildeo teria conseguido
Ao engenheiro Francisco Hermes pela experiecircncia e conhecimentos
partilhados da aacuterea de estudo
Aos meus amigos Mocircnica Regina Larissa Patriacutecia e Ronald por todo apoio
e ajuda durante esta pesquisa
Ao meu orientador Andreacute pela oportunidade desta pesquisa pela paciecircncia
dedicada a mim e por todos os ensinamentos compartilhados Muito obrigada
A todos aqueles que estiveram comigo durante a graduaccedilatildeo e que
contribuiacuteram de alguma forma com o meu aprendizado
RESUMO Este trabalho tem como objeto de estudo o setor do Rio Doce que corta a aacuterea
urbana de Colatina ndash ES O objetivo principal desta anaacutelise foi verificar como as
intervenccedilotildees humanas no canal fluvial tecircm contribuiacutedo para ampliaccedilatildeo das cheias
na planiacutecie de inundaccedilatildeo Partindo desta premissa a pesquisa baseou-se na
anaacutelise de fotos histoacutericas de 1906 a 2015 e imagens de sateacutelite em periacuteodos de
vazante (abril) e cheia (janeiro) do rio Doce por onde foi possiacutevel cartografar as
alteraccedilotildees nas margens deste corpo hiacutedrico O cruzamento das seacuteries temporais
histoacutericas de vazatildeo do rio com a ocupaccedilatildeo da Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente
(APP) permitiu delimitar os pontos mais fragilizados da Av Beira Rio Deste modo
os resultados indicaram que o crescimento urbano desordenado e contiacutenuo
associado agraves alteraccedilotildees nos processos geomorfoloacutegicos tem intensificado a
degradaccedilatildeo do canal fluvial potencializando as inundaccedilotildees
Palavras-chave Geomorfologia fluvial geotecnologias anaacutelise geograacutefica integrada
intervenccedilatildeo humana e inundaccedilatildeo
REacuteSUMEacute
Ce travail a pour objet deacutetude le secteur de la Riviegravere Doce coupe de la zone urbaine ne
de Colatina ndash ES Le principal objectif de cette analyse eacutetait de veacuterifier comme les
interventions humaines dans le chenal de la Riviegravere Doce ont contribueacute pour le submersion
de la plaine dinondation De cette preacutemisse la recherche a eacuteteacute baseacutee sur lanalyse de
photographies historiques de 1906 a 2015 et images en peacuteriode de reflux (avril) et flux
(janvier) de la Riviegravere Doce par lequel il a eacuteteacute possible de cartographier les changements
dans les marges de ce plan deau Gracircce agrave lanalyse de la seacuterie chronologique historique
de deacutebit de la riviegravere et de loccupation de la zone de preacuteservation permanent crsquoest possible
didentifier les points les plus vulneacuterables de lrsquoAvenue Beira-Rio Ainsi les reacutesultats
indiquent que la croissance urbaine deacutesordonneacutee et continue associeacutee aux changements
dans les processus geacuteomorphologiques a intensifieacute la deacutegradation du chenal de la riviegravere
en renforccedilant des inondations
Mots-cleacutes la geacuteomorphologie fluviale geacuteotechnologies analyse geacuteographique inteacutegreacutee
dintervention humaine et inondations
ABSTRACT
This paper has as object of study the sector of Doce River cutting the urban areas of
Colatina ndash ES The main objective of this analyze was to verify how human interventions on
Docersquos river channel have contributed how human interventions in river channel have
contributed to the tide of the floodplain From this premise the research was based on
analysis of historical photographs from 1906 to 2015 and aerial images in periods of ebb
(April) and flood (January) of Doce river by which it was possible to map the changes in the
margins of this water body Crossing the analysis of historical time series of river flow with
the occupation of areas of permanent preservation it was possible to delimitate the most
vulnerable points of Beira-Rio Avenue Thus the results indicated that the cluttered and
continuous urban growth associated with changes in geomorphological processes has
intensified de degradation of the river channel increasing flooding
Keywords fluvial geomorphology geotechnologies integrated geographical analysis
human intervention and flood
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e Rio Doce 18
Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 19
Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de
2013 19
Figura 4 - Tipos de leito fluvialvarzea 21
Figura 5 - Padrotildees dos canais 21
Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento 32
Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia 33
Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC) 37
Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906
Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce 41
Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da
regiatildeo 42
Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce 43
Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio
Doce 43
Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes 45
Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de
crescimento 47
Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios que interceptam a cidade de Colatina
48
Figura 16 - Traccedilado das mensuraccedilotildees da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de
vazante mecircs de abril2013 50
Figura 17 - Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro
urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal 51
Figura 18 - Representaccedilatildeo de inundaccedilatildeo urbana 53
Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de
1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 55
Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2)
Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do
recorte em rosa da APP de 50 m (amarelo claro) e 500 m (amarelo escuro) 56
Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponrte Florentino Aacutevidos (direita)
e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa
Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque
em vermelho para o curso atual do Santa Maria 58
Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de
proteccedilatildeo agrave ponte 59
Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o
traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas 60
Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o
calccediladatildeo da Av Beira-Rio61
Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento
iniciada em 2004 e finalizada em 2008 62
Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina 63
Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce antes e
depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas 64
Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 66
Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto da Beira-Rio 68
Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da
inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av
Beira-Rio em dezembro de 2013 69
Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do rio Aar Munster Alemanha (1998) 72
Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos 72
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Perfis Transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de vazante (abril) e cheia (janeiro) 50
Tabela 2 Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013 54
Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1 67
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 - Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais
(Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia) 25
Graacutefico 2 - Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 201045
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANA - Agecircncia Nacional de Aacuteguas
APP - Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente
CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais Serviccedilo Geoloacutegico Brasileiro
GEOBASES - Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espiacuterito Santo
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IJSN - Instituto Jones dos Santos Neves
INCAPER - Instituto Capixaba de Pesquisa Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural
PDM - Plano Diretor Municipal
PMC - Prefeitura Municipal de Colatina
PROATER - Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural
SIG - Sistema de Informaccedilotildees Geograacuteficas
UHE ndash Usina Hidreleacutetrica
UTM - Universal Tranverse Mercator
USGS - Geological Survey Serviccedilo Geoloacutegico Americano
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 14
11 Objetivo 16
111 Objetivo Geral 16
112 Objetivos Especiacuteficos 16
12 Justificativa 17
2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS 20
21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano 20
211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial 23
22 Aspectos Juriacutedicos 27
23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos 31
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS 36
4 RESULTADOS 40
41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana 40
411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade 46
42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce 49
421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie de
Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio 53
422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio 65
5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 71
6 CONCLUSAtildeO 74
7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 77
14
1 INTRODUCcedilAtildeO
A partir da deacutecada de 1930 com a transiccedilatildeo econocircmica de um eixo agraacuterio-exportador
para um polo urbano-industrial (CARNEIRO 2008) verificou-se no Brasil a migraccedilatildeo da
maior parte da populaccedilatildeo para as cidades Isso acarretou segundo Tucci (2013 p17) uma
ldquo[] concentraccedilatildeo urbana no Brasil da ordem de 80 da populaccedilatildeo e o seu
desenvolvimento tem sido realizado de forma pouco planejada com grandes conflitos
institucionais e tecnoloacutegicos []rdquo
De acordo com Canholi (2005 p15) a expansatildeo da aacuterea urbana ldquo[] consequentemente
impermeabilizada ocorreu a partir das zonas mais baixas proacuteximas agraves vaacuterzeas dos rios
ou agrave beira-mar em direccedilatildeo agraves colinas e morros em face da necessaacuteria interaccedilatildeo da
populaccedilatildeo com os corpos hiacutedricos []rdquo Neste cenaacuterio surgem as ocupaccedilotildees irregulares
nas Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) como as da planiacutecie de inundaccedilatildeo dos rios
e os topos de morros
Essas ocupaccedilotildees desordenadas satildeo proporcionadas pela precariedade da implantaccedilatildeo e
fiscalizaccedilatildeo das legislaccedilotildees urbaniacutesticas de ordenamento territorial e ambiental Neste
contexto satildeo relevantes as pesquisas que visam correlacionar o viacutenculo
sociedadenatureza de modo a entender como a ocupaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo no
solo conecta-se com a hidrodinacircmica dos recursos naturais uma vez que ldquo[] a tendecircncia
atual do limitado planejamento urbano integrado estaacute levando as cidades a um caos
ambiental urbano com custo extremamente alto para a sociedaderdquo (TUCCI 2013 p17)
Deve-se partir do pressuposto teoacuterico articulado com a ideia anterior de ldquo[]
indissociabilidade entre natureza e sociedade []rdquo (COELHO 2013 p21) em que a
sociedade natildeo pode ser apenas entendida como populaccedilatildeo e a natureza enquanto mero
ambiente fiacutesico mas que estes dois fatores estatildeo dinamicamente produzindo o espaccedilo
geograacutefico
Neste contexto a problemaacutetica se afirma no intuito de relacionar as legislaccedilotildees urbanas
(Lei de Parcelamento do Solo 676679 e PDM) e ambientais (Novo Coacutedigo Florestal 2012)
com as suas aplicaccedilotildees ou natildeo no periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina
principalmente nos bairros que se situam na planiacutecie de inundaccedilatildeo do Rio Doce
A escolha da temaacutetica tambeacutem teve como premissa a importacircncia regional de Colatina
como entreposto comercial e logiacutestico para os municiacutepios do noroeste capixaba conforme
15
relato do Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural - PROATER (INCAPER
2011)
Exportadores de cafeacute atacadistas e as lojas de pronta entrega dinamizam o comeacutercio local que atende aos municiacutepios do norte capixaba leste de Minas Gerais e sul da Bahia representando um universo de mais de 700 mil consumidores (INCAPER 2011 p5)
De acordo ainda com o INCAPER (op cit) Colatina tem crescido a uma margem de 188
anual o que representa a tendecircncia ao ecircxodo rural sendo que a populaccedilatildeo do campo vem
diminuindo de aproximadamente 19 em 1990 passou a 12 no Censo de 2010 Diante
do exposto entra em discussatildeo o planejamento urbano pois com o crescimento da
populaccedilatildeo citadina para cerca de 88 aumentam tambeacutem as pressotildees sobre o meio
ambiente em especial as regiotildees ribeirinhas
Estas uacuteltimas refletem o aumento das atividades humanas na bacia hidrograacutefica onde
pode-se destacar as mudanccedilas induzidas pelas accedilotildees antropogecircnicas que se dividem em
diretas (aquelas que atuam no canal fluvial para controle das vazotildees a exemplo dos
reservatoacuterios e desvios de aacuteguas) e indiretas relacionadas agraves aacutereas fora dos canais por
exemplo o desmatamento e urbanizaccedilatildeo sendo que estas comprometem a descarga e
carga soacutelida do rio (PARK1981 KNIGHTON1984 apud CUNHA 2001)
O interesse pela pesquisa surge da importacircncia regional do municiacutepio dos impactos
histoacutericos humanos materiais e imateriais sofridos diante de eventos hidroloacutegicos
extremos tendo em vista o fato de o periacutemetro urbano ser cortado por um corpo fluvial de
importacircncia regional Aleacutem disso a abordagem geograacutefica possibilita a correlaccedilatildeo dos
processos fluviais com a ocupaccedilatildeo urbana de modo mais integrado (COELHO 2009)
Portanto uma das finalidades deste trabalho eacute analisar por meio das geotecnologias e das
investigaccedilotildees de campo como a ocupaccedilatildeo urbana tem interferido nas margens do Rio
Doce de modo a delimitar os sucessivos aterros na margem direita no periacutemetro do bairro
Esplanada a Colatina Velha Ademais identificar como os processos deste canal fluvial
tecircm sido afetados pela intervenccedilatildeo humana em seu leito principal
16
11 Objetivo
111 Objetivo Geral
Correlacionar os processos fluviais do Rio Doce por meio da dinacircmica geomorfoloacutegica
deste canal com o uso e cobertura da terra no setor urbano do municiacutepio de Colatina
Espiacuterito Santo Contrapondo assim as intervenccedilotildees urbanas da beira-rio com o Plano
Diretor Municipal e o Novo Coacutedigo Florestal enfatizando as diretrizes adotadas no
parcelamento do solo para a planiacutecie de inundaccedilatildeo deste rio
112 Objetivos Especiacuteficos
Identificar os vetores de crescimento urbano do municiacutepio a fim de avaliar a
evoluccedilatildeo da mancha urbana junto ao canal principal
Determinar o comprimento da borda da calha do leito regular do Rio Doce no
periacutemetro urbano de Colatina para definiccedilatildeo da largura miacutenima da faixa marginal
de preservaccedilatildeo
Espacializar as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente beira-rio previstas em lei a fim
de analisar a ocupaccedilatildeo urbana nestes espaccedilos
Cartografar os principais pontos desnaturalizados no canal principal do Rio Doce
no setor urbano de Colatina
Demonstrar como o emprego das geotecnologias auxilia no planejamento urbano
e ambiental especialmente em acircmbito municipal
17
12 Justificativa
A aacuterea de estudo corresponde ao periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina situado na
Bacia Atlacircntico trecho leste sub-bacia do Rio Doce no baixo curso (ANA 2001)
Compreende a regiatildeo noroeste do estado do Espiacuterito Santo latitude 19deg 32rsquo 16rsquorsquo S e
longitude 40deg 37rsquo 59rsquorsquo W De acordo com os dados do censo de 2010 do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio possuiacutea uma populaccedilatildeo de 111788 mil
habitantes1 numa aacuterea territorial de 1416804 kmsup2
Devido a sua privilegiada posiccedilatildeo geograacutefica limiacutetrofe com o Rio Doce e a construccedilatildeo da
Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas em 1906 Colatina compreendia os territoacuterios dos atuais
municiacutepios de Baixo Guandu Linhares Pancas Satildeo Gabriel da Palha Marilacircndia Satildeo
Domingos do Norte e Governador Lindenberg (INCAPER 2011) Soacute a partir de 2001
passou a apresentar os atuais limites municipais e configurar uma aacuterea urbana com 59
bairros (Figura 1)
Colatina eacute um municiacutepio de importacircncia para regiatildeo noroeste capixaba seja em caraacuteter
econocircmico ou social Eacute responsaacutevel pelos fluxos de cargas da regiatildeo aleacutem de ser um polo
moveleiro de confecccedilatildeo metalmecacircnico e de comeacutercio e serviccedilos gerando emprego e
renda (INCAPER 2011) Aleacutem disso tem sofrido historicamente com as cheias do Rio
Doce principalmente porque parte do seu periacutemetro urbano eacute inundado com as aacuteguas da
calha principal desse rio o que compromete toda a dinacircmica local e potildee em risco os
colatinenses
Assim diante das crescentes demandas por territoacuterio no periacutemetro urbano a populaccedilatildeo
tem suprimido a cobertura vegetal e ocupado desde as margens do Rio Doce ateacute as
encostas dos morros Em periacuteodos de cheias principalmente nos meses de outubro a
marccedilo (INCAPER 2011 ANA 2001) verificam-se inundaccedilotildees de grande parte da aacuterea
urbana beira-rio aleacutem dos movimentos de massa nas encostas Como exemplo destes
acontecimentos tecircm-se os registros fotograacuteficos dos efeitos da chuva de dezembro de 2013
(Figuras 2 e 3)
1 De acordo com o a estimativa do IBGE de 2014 publicada no DOU o municiacutepio conta com uma populaccedilatildeo de 121670 habitantes
18
Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e o canal do Rio Doce Elaborado pela autora
19
Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 Fonte Noticias UOL (2013)
Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de 2013 Fonte Folha Vitoacuteria (2013)
Este estudo portanto eacute relevante tendo em vista as raras abordagens no acircmbito das
Ciecircncias Geograacuteficas especialmente no Espiacuterito Santo de pesquisas que correlacionem
aspectos da geomorfologia fluvial por meio da dinacircmica dos recursos hiacutedricos com o uso
e cobertura da terra particularmente o Plano Diretor Municipal (PDM) Discute dessa
forma as implicaccedilotildees da atuaccedilatildeo humana nas particularidades deste ecossistema natural
tendo em vista o disposto nas legislaccedilotildees urbaniacutesticas e ambientais que visam assegurar
a qualidade de vida das populaccedilotildees
Adiante seratildeo analisados os principais fundamentos da geomorfologia fluvial os aspectos
juriacutedicos e o papel da anaacutelise geograacutefica integrada para o entendimento dos fenocircmenos
das inundaccedilotildees no Centro de Colatina uma vez que eacute devido agraves intervenccedilotildees humanas
nos canais e suas margens que esses fenocircmenos tornam-se mais nocivos a cidade
20
2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS
21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano
Recurso essencial para a manutenccedilatildeo da vida a aacutegua foi um fator relevante para o
estabelecimento histoacuterico das sociedades no entorno dos cursos hiacutedricos Utilizados para
fins de abastecimento humano e animal irrigaccedilatildeo saneamento e transporte os rios
constituiacuteram-se nos principais propulsores de penetraccedilatildeo para o interior (CUNHA 2012a)
Logo em suas margens surgiram povoados que posteriormente transformaram-se em
cidades como as que se estabeleceram agraves margens do Rio Doce a exemplo da sede de
Colatina
Diante das potencialidades que os recursos hiacutedricos possibilitam agraves sociedades
destacamos a importacircncia do estudo da Geomorfologia Fluvial que se apresenta como
campo da Geomorfologia (ciecircncia que estuda as formas do relevo) sendo o interesse
daquela a pesquisa dos processos que relacionam o escoamento das aacuteguas fluviais num
contexto de bacia hidrograacutefica (CHRISTOFOLETTI 1980 CUNHA op cit) Enfoca assim
as alteraccedilotildees na fisionomia dos canais frente agraves intervenccedilotildees no ecossistema natural
beira-rio
A Geomorfologia Fluvial parte da condicionante de que o uso e ocupaccedilatildeo da terra refletem-
se na dinacircmica da bacia de drenagem interferindo nos processos morfogeneacuteticos ou seja
de modelagem do relevo fluvial escoamento superficial das aacuteguas e no ciclo hidroloacutegico
Frente agrave temaacutetica deste estudo faz-se necessaacuterio o entendimento dos conceitos da
fisiografia fluvial aqui referente aos diferentes setores que a aacutegua pode escoar num leito
(Figura 4) como
O leito menor corresponde agrave parte do canal ocupada pelas aacuteguas e cuja frequecircncia impede o crescimento da vegetaccedilatildeo Esse tipo de leito eacute delimitado por partes bem definidas O leito de vazante equivale agrave parte do canal ocupada durante o escoamento das aacuteguas de vazante Suas aacuteguas divagam dentro do leito menor seguindo o talvegue linha de maacutexima profundidade ao longo do leito e que eacute mais bem identificada na seccedilatildeo transversal do canal O leito maior tambeacutem denominado leito maior perioacutedico ou sazonal eacute ocupado pelas aacuteguas do rio regularmente e pelo menos uma vez ao ano durante as cheias Dependendo do tempo ocorrido entre as subidas das aacuteguas eacute possiacutevel haver a fixaccedilatildeo e o crescimento da vegetaccedilatildeo herbaacutecea
21
O leito maior excepcional eacute ocupado durante as grandes cheias no decorrer das enchentes (CUNHA 2001 p 213)
Figura 4 - Tipos de leito fluvial vaacuterzea Fonte Cunha (2001 p213)
Sendo assim as aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial (leitos) aquelas inundadas pelo corpo
hiacutedrico frente a um evento hidroloacutegico extremo tambeacutem satildeo conhecidas como vaacuterzeas
planiacutecie de inundaccedilatildeo ou ainda segundo Carneiro e Miguez (2011 p133) como ldquo[] zona
de passagem de cheia []rdquo Essas aacutereas de vaacuterzeas dependem da fisionomia que o rio
apresenta e segundo Cunha (op cit) o canal fluvial pode apresentar trecircs formas
principais conhecidas como padratildeo dos canais que satildeo retiliacuteneo anastomosado e
meacircndrico (Figura 5)
Figura 5 - Padrotildees dos canais (A) retiliacuteneo (B) anastomosado (C) meandrante (A) amplitude (Rc) raio meacutedio da curvatura do meandro (segundo Bigarella etal 1979) Fonte Cunha (2001 p216)
22
Aliada aos padrotildees dos canais estaacute a assimetria ou simetria dos leitos que para Cunha
(2001 p233) relaciona-se com a variaccedilatildeo da velocidade e turbulecircncia ao longo da secccedilatildeo
transversal o que diferencia o comportamento nos canais retiliacuteneos geralmente simeacutetricos
do canal meacircndrico onde
Em canais de leito simeacutetrico em geral padratildeo retiliacuteneo a velocidade maacutexima ocorre no centro do canal diminuindo em direccedilatildeo agraves margens Em leito assimeacutetrico de padratildeo meacircndrico a zona de maacutexima velocidade e turbulecircncia localiza-se nas proximidades das margens cocircncavas decrescendo de valor em direccedilatildeo agrave margem de menor profundidade
(convexa) (CUNHA opcit p 233)
Deste modo a capacidade de erosatildeo das margens transporte e deposiccedilatildeo da carga do rio
dependem entre outros fatores da velocidade das correntes fluviais E o material do fluxo
fluvial constitui-se da descarga liacutequida ou vazatildeo que estaacute relacionada ao tamanho do
material que pode ser transportado e do volume da carga que o rio eacute capaz de carregar
Tem-se ainda a carga soacutelida sedimentos que estaacute relacionada a suspensatildeo e fundo do
rio esta decresce a jusante indicando a diminuiccedilatildeo da competecircncia do corpo fluvial As
cargas de suspensatildeo satildeo constituiacutedas de partiacuteculas finas a exemplo do silte e por fim a
carga de fundo que eacute composta por partiacuteculas de tamanhos maiores a exemplo da areia
(CUNHA2001)
Christofoletti (1980) acrescenta que os sedimentos podem ser carregados de trecircs modos
principais no fluxo em soluccedilatildeo dissolvidos nos cursos hiacutedricos em suspensatildeo como o
silte e argila e em saltaccedilatildeo geralmente a areia e cascalho que compreendem a carga do
leito do rio Destaca-se que a carga detriacutetica natildeo proveacutem apenas da erosatildeo do fundo dos
leitos e margens fluviais mas que o material intemperizado de vertentes carreado nas
enchentes contribui significativamente para a carga sedimentar transportada
Cabe ressaltar ainda que a relaccedilatildeo do arranjo espacial dos canais com os processos
fluviais (a erosatildeo o transporte e a deposiccedilatildeo de sedimentos) eacute determinante para o
trabalho dos rios Tais processos satildeo diretamente influenciados pela vazatildeo velocidade e
pela intensidade da turbulecircncia (seja no fluxo laminar ou no fluxo turbulento) A
variabilidade no comportamento da velocidade e turbulecircncia das aacuteguas ao longo da seccedilatildeo
transversal condiciona os locais preferenciais de erosatildeo e deposiccedilatildeo ao longo do curso
hiacutedrico
23
Deste modo qualquer intervenccedilatildeo na bacia e canal fluvial compromete o equiliacutebrio natural
da drenagem levando o corpo hiacutedrico a se adaptar agraves mudanccedilas em sua fisionomia
fisiografia e em seus processos ateacute atingir um novo estado de equiliacutebrio Poreacutem eacute na
planiacutecie de inundaccedilatildeo que estas modificaccedilotildees seratildeo mais percebidas pela populaccedilatildeo pois
a maior parte das obras de engenharia como as canalizaccedilotildees e as ocupaccedilotildees das
margens acaba por romper com o equiliacutebrio natural do rio alterando sua dinacircmica e
intensificando seus processos o que na maioria das vezes potencializa as enchentes no
ambiente urbano
Nesse sentido o entendimento dos processos fluviais (erosatildeo transporte e deposiccedilatildeo)
combinado com a anaacutelise da fisiografia fluvial condicionam as peculiaridades na geometria
hidraacuteulica ou seja na relaccedilatildeo entre a vazatildeo velocidade de escoamento tipos de canais
de sedimentos e a topografia Logo o conhecimento geomorfoloacutegico do rio contribui para
pesquisas que necessitem relacionar o funcionamento deste corpo natural com um
planejamento urbano mais efetivo principalmente se considerarmos um recorte em niacutevel
de bacia hidrograacutefica em espaccedilo urbano
211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial
O capiacutetulo que segue versa sobre a atuaccedilatildeo antroacutepica relacionando-a a aacuterea de estudo o
rio Doce poreacutem este trata de forma macro a temaacutetica para contextualizar o leitor sendo
as especificidades das intervenccedilotildees neste recorte geograacutefico trabalhados nos resultados
desta pesquisa
Diante do exposto eacute possiacutevel acompanhar a evoluccedilatildeo dos processos fluviais nos canais
em especial aqueles que tiveram intervenccedilotildees em seu curso natural como as hidreleacutetricas
instaladas a montante a exemplo do Rio Doce onde a interferecircncia direta na vazatildeo e fluxo
de sedimentos altera a hidrodinacircmica do rio comprometendo a erosatildeo e transporte Para
Coelho (2007 p57) as
Mudanccedilas na Declividade Perfil Longitudinal Promovidas pela construccedilatildeo de reservatoacuterio satildeo variadas e caso o efeito da contenccedilatildeo de sedimentos seja significativo os processos fluviais reduziratildeo a capacidade de transporte de sedimento podendo promover um entalhamento do leito do rio imediatamente agrave jusante da barragem
Aleacutem disso esse processo erosivo poacutes-barragem eacute intensificado favorecendo o
assoreamento e sedimentaccedilatildeo do rio a jusante O que pode beneficiar a elevaccedilatildeo da cota
24
do canal fluvial frente a eventos hidroloacutegicos extremos potencializando os efeitos das
inundaccedilotildees nas vaacuterzeas
Ao mesmo tempo o Rio Doce trecho que compreende o Espiacuterito Santo meacutediobaixo curso
eacute impactado nas vazotildees miacutenimas e maacuteximas a jusante apoacutes a instalaccedilatildeo das
barragensUsinas Hidreleacutetricas (UHE) de Mascarenhas (iniacutecio de operaccedilatildeo em 1974)
localizada no Municiacutepio de Baixo Guandu e a de Aimoreacutes (iniacutecio de operaccedilatildeo em 2005)
localizada na divisa do Espiacuterito Santo com Minas Gerais (COELHO 2007)
De acordo com Coelho (opcit) apoacutes a implantaccedilatildeo das usinas ocorreu uma reduccedilatildeo
significativa na vazatildeo da calha principal do Rio Doce conforme Graacutefico 1
Considerando o periacuteodo de 1939 a 2012 a vazatildeo miacutenima apoacutes a instalaccedilatildeo das usinas
chega a atingir 411msup3s e a maacutexima chega apenas a 1251msup3s sendo que no periacuteodo
anterior agrave instalaccedilatildeo das usinas foi registrada a miacutenima de 533 msup3s e uma maacutexima de
1812 msup3s o que ressalta o impacto do barramento sobre o corpo hiacutedrico Aleacutem do
comprometimento dos processos de erosatildeo transporte e sedimentaccedilatildeo (COELHO 2008
e CUNHA 2001)
Diante desta perda de carga liacutequida nos barramentos Cunha (2001 p 241) observa ainda
que as aacutereas a jusante de reservatoacuterios
[hellip] onde o regime do rio sofre significativas modificaccedilotildees devidas ao controle das descargas liquidas e de sedimentos no reservatoacuterio As mudanccedilas ocorridas no regime das aacuteguas neste setor do rio acarretam significativos efeitos nos processos do canal tais como o entalhe do leito a erosatildeo das margens e a deposiccedilatildeo a jusante atingindo longas distacircncias
Aleacutem disso no periacutemetro urbano de Colatina o Rio Doce sofreu outras intervenccedilotildees em
seu canal principal como a implantaccedilatildeo de obras estruturais de macrodrenagem a
exemplo da construccedilatildeo da Av Beira-Rio com intuito de conter o avanccedilo das aacuteguas fluviais
em periacuteodos de cheias
25
Graacutefico 1
Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais (Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia)
Fonte adaptado de Coelho (2007 p154)
26
Como exemplo dos tipos de intervenccedilotildees humanas nas aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial
leitos Carneiro e Miguez (2011 p117) destacam
As accedilotildees de controle e cheias urbanas podem ser classificadas em estruturais quando a paisagem eacute alterada pela accedilatildeo do homem e em natildeo estruturais aqui denominada como estruturante quando o homem aprende a conviver com as enchentes No primeiro caso estatildeo as medidas de controle atraveacutes de obras hidraacuteulicas tais como barragens diques e canais entre outras No segundo caso encontram-se medidas do tipo preventivo tais como zoneamento de aacutereas de inundaccedilatildeo sistemas de alerta educaccedilatildeo ambiental lei de parcelamento e uso dos solos e seguros contra inundaccedilatildeo
Neste cenaacuterio abarcamos os impactos das obras de engenharia como a canalizaccedilatildeo que
altera a fisionomia e fisiografia do rio refletindo-se nos processos geomorfoloacutegicos do canal
e sua planiacutecie de inundaccedilatildeo Para estes a canalizaccedilatildeo eacute uma obra estrutural que aumenta
a capacidade do fluxo do canal aleacutem de intensificar a velocidade do escoamento
superficial antecipando o pico de cheia e transferindo os alagamentos para locais a jusante
na bacia hidrograacutefica
Articulado a esta ideia Cunha (2012b) reflete a desnaturalizaccedilatildeo dos rios por meio de
obras de retificaccedilatildeo com a reduccedilatildeo do comprimento do canal e eliminaccedilatildeo das
sinuosidades Satildeo obras que afetam a estabilidade do corpo hiacutedrico na medida em que
interferem na relaccedilatildeo entre erosatildeo sedimentaccedilatildeo e deposiccedilatildeo provocando efeitos como
alteraccedilatildeo na morfologia do canal Sendo assim ldquo[hellip] a diminuiccedilatildeo da rugosidade no fundo
do canal em conjunto com a perda dos meandros e a aceleraccedilatildeo das velocidades eacute a
principal responsaacutevel pelas mudanccedilas no balanccedilo da energia natural dos sedimentos
fluviais [hellip]rdquo Cunha (2012b p178) No caso do Rio Doce trecho correspondente agrave Av
Beira-Rio alterou-se a sua forma retilinizando-a e sua vegetaccedilatildeo natural foi substituiacuteda
por estruturas de pedras o que compromete a resistecircncia ao fluxo as margens e aos
bancos arenosos
Embora as obras de canalizaccedilatildeo sejam implantadas como eficazes nos canais fluviais para
questotildees de enchentes urbanas para Cunha (op cit) estas necessitam de manutenccedilatildeo
constante envolvendo desde dragagem remoccedilatildeo de obstruccedilotildees a recomposiccedilatildeo do
material utilizado Poreacutem toda a manutenccedilatildeo estaacute associada a alteraccedilotildees morfoloacutegicas e
bioloacutegicas como as que interferem nas soleiras e depressotildees do fundo dos leitos
desestabilizando a vazatildeo no curso a exemplo da
27
ldquo[hellip] eliminaccedilatildeo da sequecircncia de depressotildees e soleiras o aumento da velocidade da corrente a diminuiccedilatildeo da diversidade de habitats o ambiente instaacutevel resultante da flutuaccedilatildeo dos niacuteveis da aacutegua e do substrato moacutevel e a maior flutuaccedilatildeo da temperatura das aacuteguasrdquo (CUNHA 2012b p180)
Ao mesmo tempo o aumento da velocidade dos escoamentos no trecho retificado
possibilita maior erosatildeo transferindo para as aacutereas a jusante uma carga soacutelida
representativa que para Cunha (op cit) configura a formaccedilatildeo de bancos axiais e depoacutesitos
de sedimentaccedilatildeo marginais alterando o equiliacutebrio dos sedimentos a jusante Pois
A jusante das obras de retificaccedilatildeo verificam-se o aumentam da carga soacutelida o assoreamento durante a dragagem a erosatildeo no canal pelos eventos torrenciais do regime e a modificaccedilatildeo na dinacircmica na foz Os sedimentos resultantes da erosatildeo no canal retificado em conjunto com a excessiva carga de sedimentos posta em suspensatildeo durante a dragagem e na fase imediata de poacutes-construccedilatildeo - quando a erosatildeo dos bancos de areia sem vegetaccedilatildeo estaacute em seu niacutevel maacuteximo - originam a formaccedilatildeo de depoacutesitos fluviais de curta duraccedilatildeo a jusante do canal retificado Logo a seguir esses depoacutesitos satildeo erodidos juntamente com as margens e o fundo do leito pelos eventos torrenciais do regime vindo a formar bancos axiais e depoacutesitos de sedimentaccedilatildeo marginais (CUNHA2012b p183)
Portanto o estudo da geomorfologia fluvial contribui diretamente para o entendimento das
cheias nas planiacutecies de inundaccedilatildeo em especial nas bacias hidrograacuteficas que
compreendem a aacuterea urbana e que possuem intervenccedilotildees antroacutepicas diretas na fisiografia
do canal principal Seus processos explicam como as alteraccedilotildees no canal fluvial podem
maximizar os efeitos dos transbordamentos impactando principalmente as populaccedilotildees
ribeirinhas aleacutem de todo ecossistema local Ademais estes fundamentos geomorfoloacutegicos
devem ser associados agrave legislaccedilatildeo vigente afim de subsidiar a elaboraccedilatildeo de instrumentos
legais para atuaccedilatildeo do poder puacuteblico nestas zonas de risco
22 Aspectos Juriacutedicos
Frente agrave crescente demanda sobre os recursos hiacutedricos e solo urbano a partir da deacutecada
de 1930 surgem as primeiras diretrizes que visam regulamentar estes ambientes a
exemplo do Coacutedigo das Aacuteguas Mas soacute a partir dos anos 1960 surgem em acircmbito federal
leis como o Coacutedigo Florestal com o intuito de regular a exploraccedilatildeo das vegetaccedilotildees e
consequentemente proteger os mananciais e em 1979 com o objetivo de ordenar as
28
cidades eacute aprovada a Lei 676679 estabelecendo as normas do parcelamento do solo
urbano
Na medida em que as populaccedilotildees aumentam ampliam-se tambeacutem as pressotildees sobre os
recursos de aacutegua e solo Os processos de uso e a conscientizaccedilatildeo de que estes elementos
satildeo finitos intensificam as formas de controle e preservaccedilatildeo passando para as esferas
estaduais e municipais a responsabilidade de atuar em escala local na proteccedilatildeo desses
ambientes
Ainda em escala federal em 2012 eacute promulgado o Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012
em substituiccedilatildeo ao coacutedigo anterior Lei 47711965 que apresenta as normas de
apropriaccedilatildeo dos recursos naturais pelas novas necessidades das populaccedilotildees citadinas e
rurais No que compete agrave aacuterea de estudo cabe destacar as ocupaccedilotildees em aacutereas de
planiacutecie de inundaccedilatildeo em que de acordo com art 4ordm devem ser preservadas
I - as faixas marginais de qualquer curso drsquoaacutegua natural perene e intermitente excluiacutedos os efecircmeros desde a borda da calha do leito regular em largura miacutenima de (Incluiacutedo pela Lei nordm 12727 de 2012) a) 30 (trinta) metros para os cursos drsquoaacutegua de menos de 10 (dez) metros de largura b) 50 (cinquenta) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura c) 100 (cem) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura d) 200 (duzentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura e) 500 (quinhentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros []
A legislaccedilatildeo eacute riacutegida no que concerne agrave ocupaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo das terras nas faixas
marginais dos rios transferindo aos estados e municiacutepios a responsabilidade de fiscalizar
estes territoacuterios para garantir a efetividade da lei A questatildeo eacute que muitas vezes somada a
falta de planejamento estas fiscalizaccedilotildees satildeo ineficientes o que tem possibilitado o
surgimento cada vez maior das ocupaccedilotildees irregulares
Apoiado tambeacutem pela Constituiccedilatildeo Federal de 1988 nos artigos 182 e 183 surge o
Estatuto das Cidades Lei 102572001 com finalidade de garantir a funccedilatildeo social da
cidade e com este os primeiros Planos Diretores Municipais (PDM) que buscam o
ordenamento do crescimento das cidades em caraacuteter socioeconocircmico e ambiental cidades
sustentaacuteveis Ademais em Colatina eacute instituiacuteda a Lei 42281996 posteriormente revogada
29
pela Lei 52732007 que ldquoInstitui o Plano Diretor do Municiacutepio de Colatina estabelece os
objetivos instrumentos e diretrizes e daacute outras providecircncias para as accedilotildees de
planejamento do Municiacutepio de Colatina []rdquo
O PDM de Colatina assim como Coacutedigo Florestal prevecirc a preservaccedilatildeo dos ecossistemas
beira-rio Aquele ainda dispotildee sobre o parcelamento do solo sustentaacutevel a funccedilatildeo social
da cidade e da propriedade conforme o Plano Diretor de Colatina de 2007 nos artigos
transcritos
Artigo 22 - As diretrizes ambientais no Municiacutepio de Colatina satildeo I - aplicar os instrumentos de gestatildeo ambiental estabelecidos nas legislaccedilotildees federal estadual e municipal bem como a criaccedilatildeo de outros instrumentos adequando-os agraves metas estabelecidas pelas poliacuteticas ambientais II - compatibilizar as diretrizes de uso ocupaccedilatildeo e parcelamento do solo aos objetivos de proteccedilatildeo ambiental dos ecossistemas [] Artigo 23 - Satildeo diretrizes do sistema de drenagem urbana I - disciplinar a ocupaccedilatildeo das cabeceiras e vaacuterzeas das bacias hidrograacuteficas do Municiacutepio preservando a vegetaccedilatildeo existente e visando agrave sua recuperaccedilatildeo [] III - definir mecanismos de fomento para usos do solo compatiacuteveis com aacutereas de interesse para drenagem tais como parques lineares aacuterea de recreaccedilatildeo e lazer hortas comunitaacuterias e manutenccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa [] V - implantar medidas natildeo-estruturais [sic] de prevenccedilatildeo de inundaccedilotildees tais como controle de erosatildeo especialmente em movimentos de terra controle de transporte e deposiccedilatildeo de entulho e lixo combate ao desmatamento assentamentos clandestinos e a outros tipos de invasotildees nas aacutereas com interesse para drenagem [] VII - garantir e respeitar a necessaacuteria permeabilidade do solo inclusive buscando alternativas de pavimentaccedilatildeo com maior de permeabilidade [sic] [] Artigo 84 ndash Satildeo objetivos do ordenamento territorial do Municiacutepio de Colatina [] IV ndash conter a expansatildeo da ocupaccedilatildeo urbana em aacutereas de proteccedilatildeo ambiental [] Artigo 120 ndash Ficam desde jaacute identificadas como Zonas de Proteccedilatildeo Ambiental 2 ndash ZPA 2 as seguintes aacutereas [] III ndash as aacutereas existentes ao longo de qualquer curso drsquoagua desde o niacutevel mais alto em faixa marginal cuja largura miacutenima seraacute de a) 15m (trinta metros) [sic] para os cursos drsquoagua com menos de 10m (10
metros) de largura contidos no periacutemetro urbano [] c) 30m (trinta metros) para os cursos drsquoagua que tenham de10m (dez
metros a 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano
[]
30
e) 50m (cinquenta metros) para os cursos drsquoagua que tenham mais de 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 60422013)
[]
De modo geral verifica-se que a legislaccedilatildeo apresenta instrumentos que permitem a
prevenccedilatildeo ou controle de ocupaccedilotildees irregulares ou clandestinas em aacuterea de APP aleacutem de
propostas para resguardar de grandes impactos ambientais o corpo hiacutedrico principal do
municiacutepio o Rio Doce Possibilitando assim a minimizaccedilatildeo dos impactos causados pelas
cheias agrave populaccedilatildeo local
Poreacutem cabe destacar que o Plano Diretor Municipal de Colatina natildeo contempla o
estipulado no Coacutedigo Florestal 2012 Lei Federal onde os cursos drsquoaacutegua com largura
superior a 600(seiscentos) metros devem ser resguardados com aacutereas de preservaccedilatildeo
permanente de 500(quinhentos) metros entre outros sendo que a redaccedilatildeo desta parte do
PDM eacute dada pela lei 60422013 posterior a publicaccedilatildeo do novo Coacutedigo Florestal Sendo
assim verifica-se que apesar da intenccedilatildeo de resguardar uma faixa de no maacuteximo
50(cinquenta) metros em periacutemetro urbano para a contenccedilatildeo de cheias e mata ciliar o
PDM de Colatina natildeo atende o miacutenimo previsto em Lei Federal O que tem impactado todo
ecossistema beira rio e a populaccedilatildeo ribeirinha uma vez que a faixa marginal de proteccedilatildeo
de 50(cinquenta) metros em muitos casos natildeo tem comportado o impacto dos defluacutevios
No entanto a legislaccedilatildeo trata de aspectos gerais natildeo pontuando as aacutereas responsaacuteveis
por cada accedilatildeo aleacutem de sua aplicabilidade depender da elaboraccedilatildeo de um cronograma de
execuccedilatildeo bem como um conjunto de planos e normas especiacuteficos para cada diretriz com
detalhamento das propostas de intervenccedilatildeo Isto natildeo ocorreu ateacute o presente
Aleacutem disso a cidade de Colatina surgiu num cenaacuterio histoacuterico anterior agraves legislaccedilotildees
urbaniacutesticas e ambientais inclusive do Coacutedigo das Aacuteguas o que dificulta a execuccedilatildeo de
um planejamento que concilie a preservaccedilatildeo das matas beira-rio garantindo a faixa de
APP com a ocupaccedilatildeo urbana consolidada
A aacuterea de estudo se apresenta como ambiente fragilizado apesar de ser regida por
legislaccedilotildees desde a escala federal ateacute a municipal que visam proteger e ordenar o uso e
cobertura da terra nas faixas marginais dos rios Mas a dificuldade das prefeituras em
aplicar os instrumentos legais nestes ambientes seja por interesses privados ou falta de
recursos para investimentos em soluccedilotildees a longo prazo continua expondo as populaccedilotildees
31
aos impactos dos eventos hidroloacutegicos criacuteticos como os que resultam nas inundaccedilotildees
Para que se alcance esse parcelamento do solo sustentaacutevel satildeo necessaacuterios esforccedilos da
gestatildeo municipal em estipular prazos e metas de atuaccedilatildeo afora interagir os diferentes
setores no planejamento em niacutevel de bacia hidrograacutefica considerando as peculiaridades
desta escala de trabalho
23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos
Sendo a ciecircncia que estuda a relaccedilatildeo homemnatureza a Geografia tem muito a contribuir
nas anaacutelises que envolvem o meio ambiente que foi transformado pela dinacircmica da
sociedade Mas historicamente a dialeacutetica das correntes fiacutesica e humana tem imperado de
modo dissociado levando o geoacutegrafo a estudar estes processos separadamente Poreacutem
se o resultado pretendido eacute integrado fazem-se necessaacuterias pesquisas mais amplas que
cruzem as diferentes vertentes geograacuteficas
Considerando que a problemaacutetica dos impactos ambientais urbanos envolve a questatildeo
natural o rio e a questatildeo social e poliacutetica a sociedade e as leis (COELHO 2013) uma
pesquisa neste acircmbito requer o entendimento destes dois objetos a fim de se apreender
o processo de crescimento das cidades brasileiras e a sua relaccedilatildeo com os recursos
hiacutedricos
A partir da deacutecada de 1950 devido ao ecircxodo rural mais intenso as cidades brasileiras
incharam rapidamente com a migraccedilatildeo do camponecircs que buscava melhores condiccedilotildees de
vida como trabalho na induacutestria o acesso agraves escolas saneamento entre outros E
segundo Gorski (2010) a populaccedilatildeo brasileira passou desde o iniacutecio deste processo de 19
milhotildees de habitantes em 1950 para 138 milhotildees de habitantes em 2000 (dados do IBGE)
o que corrobora o raacutepido crescimento das cidades
Todavia as estruturas puacuteblicas natildeo estavam preparadas para um acreacutescimo populacional
tatildeo significativo e em curto espaccedilo de tempo E o que observamos eacute o acesso limitado
dessa populaccedilatildeo agraves aacutereas centrais da cidade sendo induzida a se estabelecer nas
periferias Nesta visatildeo
O difiacutecil acesso da populaccedilatildeo de baixa renda agraves aacutereas mais centrais das cidades contribuiu segundo Raquel Rolnik para a expansatildeo da periferia o que muitas vezes implicou e implica ainda invasatildeo de aacutereas de proteccedilatildeo de mananciais com a aquiescecircncia do poder puacuteblico Esta
32
dinacircmica agravou a situaccedilatildeo de risco dos mananciais pela eliminaccedilatildeo das matas ciliares e consequentemente erosatildeo das margens dos cursos drsquoaacutegua e assoreamento de suas calhas e pela contribuiccedilatildeo do esgoto in natura (ROLNIK1997 apud GORSKI 2010 p62)
Sendo assim a supressatildeo das matas ciliares e das vegetaccedilotildees das encostas para fins de
ocupaccedilatildeo urbana interfere diretamente no ciclo hidroloacutegico diminuindo a absorccedilatildeo de
aacutegua pelo subsolo e pela evapotranspiraccedilatildeo favorecendo o escoamento superficial (Figura
6) que intensifica a velocidade de drenagem das aacuteguas Este processo nas encostas eacute
mais significativo se considerarmos que com a supressatildeo da cobertura vegetal e
impermeabilizaccedilatildeo do solo as precipitaccedilotildees acabam por lavar todo o material
intemperizado sedimentos carregando-o diretamente para o corpo hiacutedrico e contribuindo
para o assoreamento
Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento Fonte Gorski (2010 p64)
Por outro lado as ocupaccedilotildees ribeirinhas nas vaacuterzeas dos rios modificam a dinacircmica fluvial
frente aos defluacutevios A compactaccedilatildeo e o nivelamento do solo associados agrave
impermeabilizaccedilatildeo por concreto asfalto e outros materiais alteram todo o sistema de
drenagem natural e contribuem para a erosatildeo fluvial Aleacutem disso a gestatildeo puacuteblica que
33
deveria investir num parcelamento do solo sustentaacutevel resguardando ldquouma alocaccedilatildeo de
espaccedilosrdquo (CANHOLI 2005 p 15) para a drenagem acaba por colaborar com as enchentes
urbanas na medida em que decide por obras estruturais como a canalizaccedilatildeo (Figura 7
p30) e a microdrenagem que transferem os impactos das inundaccedilotildees a jusante
Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia Fonte Gorski (2010 p69)
Cabe destacar que desde 1965 com o primeiro Coacutedigo Florestal as matas beira-rio jaacute
eram resguardadas da degradaccedilatildeo humana poreacutem com todo o boom urbano a partir de
1950 a falta de estrutura e ingerecircncia municipal no que se refere ao parcelamento e uso
e ocupaccedilatildeo da terra urbana possibilitou a formaccedilatildeo dos assentamentos clandestinos em
APP e na encosta de morros Em condiccedilotildees precaacuterias sem saneamento baacutesico e demais
infraestruturas urbanas estes assentamentos acabam sendo as regiotildees mais afetadas
com as inundaccedilotildees
Junto agraves questotildees jaacute levantadas vale destacar que as aacuteguas das inundaccedilotildees propiciam o
aumento das doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica (febre tifoide hepatite leptospirose
esquistossomose entre outras) pois carregam segundo Gorski (2010) toda uma poluiccedilatildeo
difusa efluentes domeacutesticos industriais e agroindustriais aleacutem do lixo urbano da poluiccedilatildeo
do ar e das ruas
34
Por outro lado esta ocupaccedilatildeo urbana natildeo planejada perde o benefiacutecio que os corpos
hiacutedricos podem oferecer como [] as paisagens fluviais que aos poucos foram sendo
apropriadas como paisagens urbanas [] (GORSKI 2010 38) aleacutem do microclima
associado agrave umidade pela evapotranspiraccedilatildeo que ameniza a sensaccedilatildeo teacutermica local
Poreacutem conforme observado por Graeff (2011) natildeo eacute cabiacutevel atualmente implantar a
legislaccedilatildeo de APP de modo jurista Deve-se considerar toda a representatividade cultural
assentada sobre os leitos destes rios (avenidas importantes casas com arquitetura
histoacuterica entre outros) Aleacutem disso para a demarcaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo
permanente hoje eacute necessaacuteria uma anaacutelise teacutecnica pautada na geomorfologia e
hidrologia de modo a interpretar o ldquocomportamento histoacuterico dos cursos drsquoaacutegua na
paisagem prevendo cenaacuterios de impactos futurosrdquo da atividade humana sobre suas faixas
marginais
Tendo em vista que grande parte da malha urbana brasileira estaacute alocada em APPs e que
segundo Graeff (2011) estas jaacute possuem uma unidade de paisagem estabelecida e muitas
vezes secular configurando siacutetios de importacircncia cultural e apreendendo que
De modo semelhante nas demais cidades haveraacute que ser entendido o meio urbano como ele realmente eacute ndash um encontro entre as necessidades de habitaccedilatildeo com atividades humanas e de conservaccedilatildeo ambiental esta segunda tambeacutem a serviccedilo do homem e natildeo somente de objetivos difusos e distanciados da sobrevivecircncia da sociedade (GRAEFF 2011 206)
Por tais motivos o trabalho com a geomorfologia fluvial urbana deve abarcar os princiacutepios
do bom senso compreendendo que nestas aacutereas de atividade antroacutepica consolidada pode-
se fazer uso de instrumentos de engenharia avanccedilados para uma convivecircncia equilibrada
do homem com a natureza no entorno Contudo deve-se incentivar as aacutereas de expansatildeo
urbana ou zona periurbana (zonas de transiccedilatildeo da aacuterea urbana para a rural) com poliacuteticas
de incentivo a pavimentaccedilotildees mais permeaacuteveis a fim de minimizar o escoamento
superficial para o rio favorecendo a infiltraccedilatildeo
Apesar de os impactos gerados pela interferecircncia humana nas aacutereas mais fragilizadas da
bacia hidrograacutefica vaacuterzeas e encostas refletirem-se em cataacutestrofes com prejuiacutezos
humanos ambientais e urbanos alguns autores brasileiros como Canholi Graeff Cunha
Carneiro e Miguez jaacute indicaram outros caminhos para uma convivecircncia harmoniosa com
a natureza Aleacutem do mais paiacuteses desenvolvidos como a Holanda deixaram de ldquolutar contra
35
as cheiasrdquo para permitir agraves aacuteguas das enchentes a capacidade de acumular e dispersar
com impacto reduzido para as populaccedilotildees (CARNEIRO MIGUEZ 2011)
Sendo assim a proposta deste estudo eacute identificar os principais agentes que influenciam
as inundaccedilotildees entendendo seu papel e atuaccedilatildeo no contexto urbano de Colatina Mas eacute
tambeacutem a de ampliar a abordagem da temaacutetica com uma anaacutelise geograacutefica integrada
ressaltando as medidas que constam no planejamento urbano e sua aplicaccedilatildeo nas faixas
marginais do corpo hiacutedrico
36
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS
Esta pesquisa eacute constituiacuteda de trecircs etapas principais sendo que a primeira teve como
premissa a confecccedilatildeo de um fluxograma (Figura 8) de trabalho para orientar a pesquisa
em seguida teve iniacutecio o levantamento de bibliografias que abordam temas como a
geomorfologia fluvial e urbanizaccedilatildeo em Colatina adotando-se como referecircncia as
pesquisas de Coelho (2006 2007 2008 e 2009) e Albani (2012) Aleacutem disso muito
contribuiacuteram para este trabalho o relatoacuterio do INCAPER da CPRM e os dados do IBGE
Cabe destacar tambeacutem as experiecircncias com recursos hiacutedricos em ambientes urbanos de
Carneiro e Miguez (2011) em especial Cunha (2001 2012ab)
Esta etapa consistiu tambeacutem na busca de material cartograacutefico como aquisiccedilatildeo de planos
de informaccedilatildeo de limite estadual municipal bairros mancha urbana corpo drsquoaacutegua e
logradouros atraveacutes de dados disponiacuteveis no Sistema Integrado de Bases Geoespaciais
do Estado do Espiacuterito Santo (GEOBASES 2014) no Instituto Jones dos Santos Neves
(IJSN 2015) e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2014) imagens
orbitais gratuitas do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI bandas 2-3-4 e 8 (Pan) oacuterbita 216
ponto 73 com datas de passagem em 02012014 e 22032014 agraves 946 (horaacuterio central
da oacuterbita) junto ao Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2014) aleacutem do ortofotomosaico
do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hiacutedricos (IEMA 2014) do Espiacuterito
Santo referente ao voo de 2007 a 2008
Na segunda etapa foram realizadas duas investigaccedilotildees de campo sendo a primeira no
dia 24 de junho de 2014 com a finalidade de fazer o reconhecimento da aacuterea de estudo
fotografar e conversar com moradores e teacutecnicos da prefeitura O segundo trabalho de
campo ocorreu no dia 14 de fevereiro de 2015 e por meio deste foi possiacutevel identificar
pontos sujeitos a inundaccedilatildeo analisar a topografia e realizar as entrevistas com moradores
e funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina
37
Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC)
38
Na terceira etapa foram realizados os mapeamentos e processamentos de todos os planos
de informaccedilatildeo vetoriais e matriciais em ambiente de SIG no sistema ArcGis 103 iniciando
com a ediccedilatildeo dos dados do Municiacutepio e adjacecircncias que foram ajustados quando
necessaacuterio ao sistema de projeccedilatildeo UTM no Datum SIRGAS ndash 2000 na Zona 24 sul com
meridiano central -39 W com todo o mapeamento produzido seguindo a padronizaccedilatildeo
cartograacutefica proposta por Fitz (2008 a b)
O geoprocessamento teve iniacutecio com a composiccedilatildeo das imagens orbitais do Landsat-8 na
cor natural da imagem (2R 3G 4B) e por meio da teacutecnica de Pan Sharpening ou fusatildeo
de imagens a imagem cor natural foi agrupada agrave da banda 8 pancromaacutetica para obtenccedilatildeo
de uma melhor resoluccedilatildeo espacial neste caso chegando a 15 metros sendo resguardado
o conteuacutedo da imagem composta Na sequecircncia foi realizada a extraccedilatildeo da maacutescara do
periacutemetro urbano de Colatina e gerada a classificaccedilatildeo supervisionada da imagem Landsat-
8 no periacuteodo de cheia (janeiro) e vazante (marccedilo) o que possibilitou a delimitaccedilatildeo da calha
do Doce nestes dois eventos
Em seguida foram realizadas as 8 (oito) mediccedilotildees do leito regular sendo 4 (quatro) no
periacuteodo de cheia e 4 (quatro) na vazante de modo a definir a largura meacutedia da calha do
leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina Para chegar a uma medida geral
da largura do rio utilizaram-se ferramentas estatiacutesticas como a meacutedia que eacute uma medida
de tendecircncia central onde numa amostra de tamanho N constituiacuteda por elementos de x
variando de eacute possiacutevel extrair a meacutedia aritmeacutetica atraveacutes da equaccedilatildeo
A meacutedia aponta para onde mais convergem os dados de uma distribuiccedilatildeo
A partir desta definiccedilatildeo da meacutedia da largura da calha do Rio Doce foi possiacutevel em consulta
ao Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e a Lei 52732007 determinar a faixa miacutenima
de preservaccedilatildeo permanente deste corpo fluvial aleacutem da confecccedilatildeo do mapa com o
poliacutegono de APP
Mediante a anaacutelise do mapa verificou-se que grande parte dos bairros do municiacutepio estatildeo
contidos nos poliacutegonos de APP em especial a preservaccedilatildeo de 500 metros conforme lei
federal E por meio deste foram cruzados os dados de vazatildeo as fotos histoacutericas das
enchentes e o poliacutegono de mata ciliar o que permitiu o entendimento das inundaccedilotildees
39
Em ambiente de SIG tambeacutem foram vetorizados os trecircs traccedilados da Estrada de Ferro
Vitoacuteria a Minas o trajeto do Rio Santa Maria do Doce antes e depois da retilinizaccedilatildeo e os
sucessivos aterros na margem direita do Rio Doce no periacutemetro que compreende a Av
Beira-Rio
As teacutecnicas de sensoriamento remoto como a classificaccedilatildeo supervisionada permitiram a
definiccedilatildeo do poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo atraveacutes da imagem da cheia de janeiro Para
tanto foi realizada tambeacutem a classificaccedilatildeo hiacutebrida objetivando aliar a interpretaccedilatildeo visual
com a digital (JENSEN 2009) Por fim foi realizada amarraccedilatildeo com o levantamento
geodeacutesico da CPRM (2014) para garantir a precisatildeo do traccedilado do poliacutegono de cheia
A partir do tratamento dos dados bibliograacuteficos cartograacuteficos e imagens foi possiacutevel
sistematizar este trabalho o que permitiu identificar elementos histoacutericos de intervenccedilatildeo
na paisagem do Doce como os aterros e a ocupaccedilatildeo urbana As visitas de campo a
entrevista e conversas com moradores foram fundamentais para a validaccedilatildeo das
informaccedilotildees o que tornou esta metodologia eficaz para anaacutelise do fenocircmeno da inundaccedilatildeo
em Colatina
40
4 RESULTADOS
41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana
A ocupaccedilatildeo ao longo das planiacutecies de inundaccedilatildeo dos rios tem ocorrido diante da
necessidade deste recurso para as atividades vitais humanas Cunha (2012b p219)
entende que ldquosuas margens tecircm sido o centro preferido da habitaccedilatildeo humana e o
suprimento de suas aacuteguas natildeo soacute fertiliza os campos para o cultivo como tambeacutem fornece
energia e permite recreaccedilatildeordquo Logo o estabelecimento das vilas nas bordas dos cursos
drsquoaacutegua favorece a logiacutestica ocupacional
Historicamente em solo espiacuterito-santense a formaccedilatildeo das vilas ocorreu agraves margens de
estrateacutegicos cursos drsquoaacutegua e a exploraccedilatildeo do ouro de Minas Gerais para Albani (2012)
determinou que a Coroa proibisse nos seacuteculos XVII a XIX a implantaccedilatildeo de estradas e
exploraccedilatildeo de terras na Capitania do Espiacuterito Santo pois os portugueses temiam incursotildees
estrangeiras deixando assim o desenvolvimento capixaba restrito agrave faixa litoracircnea
Relegada enquanto ldquobarreira verderdquo para defesa das minas de ouro e minerais do atual
territoacuterio das Minas Gerais segundo Coelho (2007) a Capitania do Espiacuterito Santo soacute
passou a se interiorizar para o centro-oeste onde se localiza atualmente a cidade de
Colatina a partir de 1847 por meio das ocupaccedilotildees de Santa Izabel e Santa Leopoldina
que permitiram a descida do Rio Santa Maria do Doce ateacute as imediaccedilotildees da atual cidade
de Colatina
Assim foi que o movimento colonizador desceu o vale do Santa Maria do Rio Doce atingindo em 1891 a regiatildeo das matas onde hoje se acha a cidade de Colatina [] Esta penetraccedilatildeo inicial foi feita com elementos alematildees de Santa Leopoldina e no rio Doce ficou muito anos restrita agrave aacuterea inicial A expansatildeo ao longo do vale tomou impulso com a chegada a Colatina em 1906 dos trilhos da Estrada de Ferro Diamantina (atual Vitoacuteria-Minas) (STRAUCH1955 apud COELHO 2007 p105)
Sendo assim Coelho (op cit) relata que a ocupaccedilatildeo se deu atraveacutes da supressatildeo da mata
nativa no baixo curso do Rio Doce de Colatina a Linhares sendo a madeira daiacute extraiacuteda
levada ateacute o rio e encaminhada ateacute Povoaccedilatildeo vilarejo junto agrave foz de onde eram carregados
os navios Neste periacuteodo tem-se a instalaccedilatildeo de um ciclo madeireiro na regiatildeo com a
disposiccedilatildeo de serrarias nas proximidades das matas
41
Todavia somente a partir de 1906 com a chegada da estrada de ferro na regiatildeo o
transporte madeireiro foi transferido para as locomotivas Agrave medida que a implantaccedilatildeo da
Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas avanccedilava para o interior levava consigo as frentes de
desmatamento modificando as paisagens das margens do Rio Doce e se apropriando dos
espaccedilos deste rio (Figura 9)
Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906 Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce Fonte Albani (2012 p 63)
Conforme Albani (2012) com a vinda dos mineiros e fluminenses reforccedilados
posteriormente a partir de 1889 por colonizadores italianos e alematildees eacute que as
ocupaccedilotildees territoriais ocorreram de modo efetivo Atraveacutes do Barracatildeo do Rio Santa Maria
(Figura 10) espaccedilo do governo inicialmente destinado a alojar os migrantes e a produccedilatildeo
surgiram as primeiras residecircncias nas proximidades da igreja de Satildeo Sebastiatildeo Sendo
assim
Eacute importante destacar que o desenvolvimento da regiatildeo onde se encontra o municiacutepio de Colatina teve iniacutecio no final do seacuteculo XIX no nuacutecleo de colonizaccedilatildeo Antocircnio Prado localizado no distrito de Boapaba antiga vila do Mutum O nuacutecleo recebeu dezenas de famiacutelias de imigrantes italianos e ali desenvolveram atividades de agricultura e com a expansatildeo da localidade surge tambeacutem o comeacutercio (ALBANI 2012 p61) [hellip] A vila de Colatina entretanto logo passou a se transformar no principal nuacutecleo e futuramente na sede do municiacutepio Aleacutem da facilidade da produccedilatildeo atraveacutes do Rio Doce a vila de Colatina tornou-se referecircncia dos imigrantes no caminho para a colonizaccedilatildeo das terras ao norte do estado (MADURO1985 apud ALBANI 2012 p62)
42
Desse modo com o desenvolvimento das atividades de cafeicultura madeireira e do
entroncamento logiacutestico de acesso agraves aacutereas do norte a vila eacute elevada em 1921 agrave categoria
de municiacutepio A atual configuraccedilatildeo territorial foi adquirida a partir de 2001 conforme IBGE
(2014) dispondo de seis distritos Colatina (sede) Acircngelo Frechiami Baunilha Boapaba
Graccedila Aranha e Itapina
Cabe destacar poreacutem que a ocupaccedilatildeo inicial da cidade de Colatina se perfaz pela margem
direita do Rio Doce onde se localiza o atual bairro de Colatina Velha e onde havia se
instalado o Barracatildeo de Santa Maria Nesse periacuteodo a ponte ainda natildeo fora edificada
limitando assim a ocupaccedilatildeo da margem esquerda
Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da regiatildeo Fonte Albani (2012 p62)
Conforme Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p65) a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro
Vitoacuteria a Minas em 1906 (Figura 11) possibilitou a expansatildeo da cidade de Colatina e seu
desenvolvimento econocircmico Todavia sua instalaccedilatildeo paralela agrave margem direita do Rio
Doce favoreceu a localizaccedilatildeo de avenidas e ruas centrais em sua proximidade
43
Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p65)
Entretanto foi com a construccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos (Figura 12) em 1928 que a
margem direita se conectou agrave margem esquerda da cidade o que aleacutem de possibilitar a
ocupaccedilatildeo facilitou o acesso agraves regiotildees mais ao norte do Estado
Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p66)
44
Por conseguinte a estrada de ferro e a ponte foram os fatores determinantes para o
estabelecimento dos migrantes agraves margens do Rio Doce e a formaccedilatildeo do atual municiacutepio
de Colatina Contudo foi a partir desta posiccedilatildeo privilegiada que a cidade passou a ser
entreposto comercial e logiacutestico da regiatildeo noroeste e com isso sua aacuterea urbana expandiu-
se de modo desordenado inicialmente ao longo da planiacutecie de inundaccedilatildeo do Doce Coelho
(2007 p108 e 109) relata que
Os efeitos dessa urbanizaccedilatildeo (novos parcelamentos) e do desmatamento produz [sic] normalmente o aumento da velocidade das aacuteguas superficiais (pluviais) que eram antes interceptadas pelas matas com boa parte absorvida pelo solo O que ocorre geralmente nessas aacutereas eacute a chegada mais raacutepida das aacuteguas das chuvas para o tributaacuterios e calha principal do rio por fluxos concentrados que provocam processos de erosotildees do tipo laminar ravina e voccediloroca transportando quantidades expressivas de sedimentos que por sua vez causam assoreamento e a ocorrecircncia de cheias mais frequentes no rio
Com o crescimento acelerado do periacutemetro urbano proporcionado pelo apogeu do ciclo
cafeeiro as proacuteximas deacutecadas levaratildeo a cidade de Colatina a sofrer com impactos
advindos das alteraccedilotildees no ambiente fluvial do Rio Doce em especial os referentes a
ocupaccedilatildeo (impermeabilizaccedilatildeo) e desmatamento das margens (interferecircncia na drenagem
natural) conforme destacado por Coelho (2007)
Eacute fato que o municiacutepio viveu nas deacutecadas de 1940 e 1950 o auge do ciclo cafeeiro
chegando a ser no ranking brasileiro o 13ordm municiacutepio produtor de cafeacute no ano de 1947
(CAMPOS JUNIOR 2004 apud ALBANI 2012 p69) Poreacutem a partir de 1960 este boom
entrou em colapso com crise do cafeacute que assolou todo o paiacutes levando grande parte dos
pequenos proprietaacuterios rurais a migrarem para centros urbanos em especial no Espiacuterito
Santo a regiatildeo da Grande Vitoacuteria e tambeacutem para o centro de Colatina
Em razatildeo da crise cafeeira a populaccedilatildeo rural migra para centros urbanos A populaccedilatildeo migrou em grande quantidade para a Grande Vitoacuteria para fora do estado e tambeacutem para a cidade de Colatina principal aglomerado urbano da regiatildeo Esse processo provoca o aumento da aacuterea urbana de Colatina A populaccedilatildeo da cidade que era de 3913 habitantes em 1940 cresceu para 26757 habitantes em1960 (ALBANI2012 p71)
O crescimento raacutepido do centro de Colatina aliado ao aumento populacional direciona
grande parte dos migrantes para as aacutereas menos centrais da cidade levando agrave ocupaccedilatildeo
de locais irregulares como os morros e as margens direita e esquerda do Rio Doce Este
45
processo configurou a nova paisagem do municiacutepio povoando do vale agraves encostas (Figura
13)
Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes Fonte Albani (2012 p73)
Associado a este processo de reconfiguraccedilatildeo espacial nas proacuteximas deacutecadas o municiacutepio
de Colatina passaraacute por sucessivas perdas de territoacuterios ateacute atingir os limites atuais (Figura
1 p17) Aliado a estas perdas territoriais seu quantitativo absoluto populacional tambeacutem
sofreraacute impactos poreacutem de modo geral a populaccedilatildeo urbana deste municiacutepio apresentou
crescimento continuo (Graacutefico 2)
Graacutefico 2
Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 2010
Elaborado pela autora Fonte 1940 e 1950 Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p82) 1960 a 2010 IBGE
0
20000
40000
60000
80000
100000
120000
1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020
Populaccedilatildeo Urbana Colatina 1940 - 2010
46
Assim como tem ocorrido nas grandes capitais Colatina cresceu em quantitativo
populacional e territorial urbano de modo muito raacutepido e por este desenvolvimento natildeo ter
sido aliado a um planejamento urbano e ambiental sustentaacutevel a cidade tem sentido os
reflexos das suas interferecircncias ao longo do canal do Doce O que tem provocado
antecipaccedilatildeo dos picos de vazatildeo que no periacutemetro urbano ocasiona as inundaccedilotildees pois
natildeo conseguindo o rio acomodar estes defluacutevios transfere em curto espaccedilo de tempo as
aacuteguas a sua planiacutecie de inundaccedilatildeo atingindo os bairros mais antigos do municiacutepio
Por fim entender o contexto histoacuterico do crescimento da cidade revela muito do panorama
atual E por meio de uma anaacutelise conjunta da histoacuteria com os novos planejamentos eacute
possiacutevel propor intervenccedilotildees urbanas que possibilitem um conviacutevio harmonioso entre
natureza e sociedade neste caso entre o Rio Doce e o centro de Colatina Diante desta
proposta adiante apresentaremos a evoluccedilatildeo dos bairros associando seus periacuteodos de
ocupaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo espacial nas imediaccedilotildees do curso principal do Doce
411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade
Com nuacutecleo inicial de povoamento no Barracatildeo de Santa Maria a cidade de Colatina
cresce a partir deste ponto agrave margem direita do Rio Doce de onde surgem as primeiras
residecircncias comeacutercios e a igreja Atualmente a regiatildeo compreende o bairro de Colatina
Velha que de acordo com Albani (2012 p91) [hellip] ldquopode ser considerado o primeiro polo
de crescimento da cidaderdquo
Aliado ao aumento da populaccedilatildeo migrante das fazendas com a crise do cafeacute o nuacutecleo de
Colatina Velha passa a ser um ponto de passagem obrigatoacuterio para os viajantes que
vinham majoritariamente do sul uma vez que o Rio Doce configurava uma barreira natural
agrave ocupaccedilatildeo das terras ao norte Aleacutem disso a margem esquerda deste canal fluvial era
habitat dos hostis iacutendios botocudos o que dificultava a sua apropriaccedilatildeo
Sendo assim a ocupaccedilatildeo de Colatina conteve-se agrave margem direita nesta primeira fase o
que define o primeiro vetor de crescimento da cidade na direccedilatildeo leste para oeste partindo
das imediaccedilotildees do Barracatildeo de Santa Maria sentido ao Rio Santa Maria do Doce (Figura
14) E a partir de 1906 com a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas da entatildeo
Companhia Vale do Rio Doce atual Vale este vetor de crescimento se consolida e
47
proporciona o surgimento de importantes avenidas paralelas agrave ferrovia a exemplo da Av
Getuacutelio Vargas
Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de crescimento Elaborado pela autora
48
O segundo vetor do crescimento de Colatina estava condicionado agrave construccedilatildeo da ponte
Florentino Aacutevidos a qual conectou a margem direita agrave esquerda do Rio Doce permitindo
a ocupaccedilatildeo da porccedilatildeo ao norte Portanto somente a partir de 1928 com a finalizaccedilatildeo da
obra da ponte a barreira natural pocircde ser transposta o que possibilitou ao lado esquerdo
desenvolver uma nova linha de crescimento urbano com a ocupaccedilatildeo do atual bairro de
Satildeo Silvano
O terceiro vetor de crescimento estaacute associado agrave implantaccedilatildeo do bairro Luiz Iglesias na
margem direita e os de Maria das Graccedilas e Coluacutembia na margem esquerda Albani (2012)
ressalta que esta fase da ocupaccedilatildeo urbana estaacute associada ao desenvolvimento do sistema
viaacuterio como a proximidade da BR-259 sentido Vitoacuteria- Colatina da ES-80 que liga
Colatina agrave regiatildeo norte da ES-256 que a conecta a Marilacircndia e da proximidade da
estaccedilatildeo ferroviaacuteria Carlos Germano Nauman (Figura 15)
Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios e linhas feacuterreas que interceptam a cidade de Colatina Elaborado pela autora
Jaacute na quarta e mais recente linha de crescimento da cidade temos os novos loteamentos
residenciais e industriais a exemplo do de Barbados e do bairro Santa Helena que surgem
49
acompanhando o traccedilado da ponte que contorna a leste a cidade como novo acesso agrave
porccedilatildeo norte do estado Albani (2012 p118) destaca que
Apesar da construccedilatildeo da Segunda Ponte ter sido iniciada em 1986 somente foi inaugurada em 2007 A conclusatildeo da ponte e a construccedilatildeo de uma rodovia de contorno desviaram a BR-259 do centro da cidade O desvio da rodovia federal trouxe um desafogamento do tracircnsito nas principais vias da cidade e um novo direcionamento na expansatildeo urbana Alguns loteamentos surgiram nesse periacuteodo proacuteximo agrave Segunda Ponte e ao contorno na margem norte do rio principalmente no bairro Santa Helena (Figura 55) Essa situaccedilatildeo indica mais uma vez que as linhas de crescimento em Colatina satildeo orientadas pelas vias de transporte
Portanto o crescimento do periacutemetro urbano de Colatina estaacute associado agrave superaccedilatildeo das
barreiras naturais em especial o Rio Doce por meio de investimentos em obras de
engenharia que permitiram o deslocamento humano para a margem esquerda deste curso
Sem duacutevida as vias de transporte foram elementares na construccedilatildeo do periacutemetro urbano
de Colatina pois na medida que se consolidava o sistema viaacuterio as ocupaccedilotildees tambeacutem se
favoreciam destas vias de locomoccedilatildeo A evoluccedilatildeo da aacuterea urbana portanto acompanha
as principais vias de transporte (Figura 15 p45) e estas se utilizam da posiccedilatildeo estrateacutegica
e geograficamente favoraacutevel do canal do Doce para a definiccedilatildeo de seus traccedilados
Apoacutes 94 anos de emancipaccedilatildeo de Linhares o territoacuterio de Colatina eacute fundamental para a
manutenccedilatildeo dos municiacutepios do noroeste capixaba Diante desta posiccedilatildeo estrateacutegica torna-
se relevante o entendimento de como o urbano se relaciona com o meio natural a fim de
se estabelecer poliacuteticas de ordenamento territorial que promovam a qualidade de vida no
municiacutepio Adiante seraacute analisada a situaccedilatildeo da calha principal do Rio Doce elemento
fundamental na compreensatildeo do uso e cobertura da terra de Colatina
42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce
Compreendendo uma aacuterea de 3330 kmsup2 o periacutemetro urbano de Colatina eacute afetado pela
velocidade dos defluacutevios de modo que grande parte dos bairros beira-rio eacute tomada pelas
aacuteguas excedentes da calha principal do Doce o que configura o fenocircmeno de inundaccedilatildeo
Ao pesquisar estes fenocircmenos eacute necessaacuterio relacionar o uso da terra com os processos
geomorfoloacutegicos do corpo hiacutedrico Sendo assim por meio de teacutecnicas de
geoprocessamento foram realizadas oito mediccedilotildees da calha principal do Rio Doce para
50
estabelecimento da distacircncia meacutedia da largura de sua calha O resultado esteve dentro do
esperado e pode ser verificado na tabela abaixo (Tabela 1) e no mapa em sequecircncia
(Figura 16)
Tabela 1 Perfis transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de
vazante (abril) e cheia (janeiro)
Largura do rio Doce periacuteodo de vazante e cheia
Abril2013(m) Janeiro2014(m)
P1 70735 75784
P2 62080 66483
P3 59209 65804
P4 63548 67650
Meacutedia dos Perfis 62814 67066
Meacutedia Geral 66143 Obs todas as medidas estatildeo em metros
Elaborado pela autora
Figura 16 - Traccedilado dos perfis transversais da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de vazante mecircs de abril2013 Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)
51
Com uso das imagens orbitais do Landsat-8 atraveacutes da classificaccedilatildeo hiacutebrida foram
gerados dois arquivos shapefiles correspondentes agraves bordas do Doce um no periacuteodo de
vazante e outro no de cheia Por meio destes dados foram definidos quatro traccedilados para
realizaccedilatildeo das mediccedilotildees a partir destas e com auxiacutelio das medidas de tendecircncia central
chegou-se a uma largura meacutedia total de 66143m de uma margem a outra Este resultado
indicou que tanto no periacuteodo de vazante quanto no periacuteodo de cheia a largura meacutedia
aponta para a maior faixa de APP proteccedilatildeo de 500m conforme previsto na legislaccedilatildeo
federal (Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e no revogado Lei 4771 1965)
Analisando a imagem abaixo (Figura 17) observa-se que grande parte do solo
naturalmente destinado a ldquoacomodaccedilatildeordquo das aacuteguas nas cheias (linha laranja) foi
incorporado agrave sociedade como espaccedilo criado (periacutemetro urbano em APP mancha em
amarelo) destinado a fins muacuteltiplos Deste modo sem planejamento territorial adequado
grande parte da planiacutecie de inundaccedilatildeo deu lugar a outras funccedilotildees diferentes das naturais
sendo incorporada ao espaccedilo urbano
Lanccedilando o buffer (mancha em amarelo) do entorno da calha do Doce (Figura 17) observa-
se que dos 59 bairros do municiacutepio cerca de 29 estatildeo dentro da aacuterea de 500m destinada
a preservaccedilatildeo permanente pelo Coacutedigo Florestal Considerando-se a delimitaccedilatildeo da APP
prevista no PDM de 1996 e 2007 (linha laranja mais proacutexima da borda do rio) este nuacutemero
cai para 18 bairros permanecendo apenas aqueles que possuem limites com o corpo
hiacutedrico
Uma vez que que lei municipal natildeo suplanta lei federal considerar-se-aacute neste estudo o
limite da faixa marginal de proteccedilatildeo definida na Lei Federal 126512012 Deste modo a
aacuterea de preservaccedilatildeo permanente do Doce neste recorte eacute de 1085 kmsup2 compreendendo
33 do periacutemetro urbano de Colatina
Cabe destacar ainda que mesmo o PDM de 1996 contendo enquanto objetivo no Art 14
ldquoI - estabelecer a ordenaccedilatildeo do uso e da ocupaccedilatildeo do solo urbanordquo (Lei 42281996 p4)
a gestatildeo municipal natildeo obteve sucesso na implementaccedilatildeo de tal legislaccedilatildeo O que se
verifica tanto nas deacutecadas de 1990 quanto no iniacutecio dos anos 2000 quando foram
aprovados novos parcelamentos urbanos agraves margens deste canal a exemplo dos bairros
de Barbados na margem direita e do bairro Mario Giurizato na margem esquerda
52
Figura 17- Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)
53
Articulado a esta ideia e pesquisando o trecho do bairro Esplanada a Colatina Velha palco
das uacuteltimas obras estruturantes de alto porte do municiacutepio consegue-se analisar os efeitos
das inundaccedilotildees nas margens deste rio Logo implementar medidas de prevenccedilatildeo de
cheias em aacutereas com urbanizaccedilotildees antigas requer um esforccedilo da gestatildeo na regulaccedilatildeo do
solo urbano
421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie
de Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio
Interceptada pelo curso do Rio Doce no perfil mais a jusante da bacia a cerca de 100km
do estuaacuterio com o Oceano Atlacircntico a cidade de Colatina polo moveleiro e de confecccedilotildees
do centro-oeste capixaba eacute palco recorrente de inundaccedilotildees urbanas
Conforme jaacute mencionado por Cunha (2012a) este fenocircmeno ocorre quando a bacia recebe
um percentual precipitado acima da sua capacidade de escoamento o que faz o leito
menor do rio extravasar para o leito maior ocupando as aacutereas de vaacuterzeas (Figura 18 p
50) Aliadas a esta questatildeo estatildeo as ocupaccedilotildees humanas das margens dos rios que ao
suprimir a vegetaccedilatildeo natural e alterar a condiccedilatildeo fiacutesica do solo acabam por reduzir a aacuterea
de drenagem das aacuteguas pluviais acelerando o escoamento superficial para o canal
principal e favorecendo os defluacutevios
Figura 18 - Representaccedilatildeo da inundaccedilatildeo urbana Fonte adaptado da Defesa Civil do Tocantins (2015)
Este fenocircmeno tem ganhado destaque em Colatina a partir de 1979 ano em que o Rio
Doce atingiu a vazatildeo de 12860msup3s tomando toda aacuterea aplainada que compotildee seu leito
maior afetando da atual Av Beira-Rio ateacute as redondezas da Av Getuacutelio Vargas Desde
entatildeo os estudos das inundaccedilotildees urbanas satildeo relevantes no municiacutepio o que levou o
54
Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) na deacutecada de 1980 a elaborar um ldquoPlano Diretor
de Contenccedilatildeo das Enchentes Proteccedilatildeo das Encostas e Drenagem Pluvial de Colatinardquo
Tal medida apresentou seis alternativas para o fenocircmeno Poreacutem tendo em vista o custo
operacional das obras apenas a alternativa seis que previa a construccedilatildeo de diques
marginais para a proteccedilatildeo das aacutereas mais centrais foi considerada viaacutevel na eacutepoca
Todavia em entrevistas com funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina (PMC) foi
relatado que todo o estudo foi arquivado e que ateacute agora natildeo haacute previsatildeo de
implementaccedilatildeo de tais medidas Fato este que eacute evidenciado (Tabela 2 p 51) quando da
ocorrecircncia de precipitaccedilotildees intensas na bacia durante as quais sazonalmente a cidade eacute
impactada com as aacuteguas das inundaccedilotildees Isto faz com que o municiacutepio passe
recorrentemente por cataacutestrofes conforme tabela com os principais picos de vazatildeo do rio
nos uacuteltimos 50 anos
Tabela 2
Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013
Ano Diamecircs Vazatildeo(msup3s)
1961 30jan 6613
1979 04fev 12860
1997 07jan 8687
2005 03ago 6549
2013 24dez 9028
Fonte Coelho (2007 apud DALLAPICOLA 2014 p4) e CPRM (2014 p85) Observo que os dados da tabela 1 para os anos de 1979 e 2013 estatildeo baseados na estimativa de vazatildeo meacutedia diaacuteria das maacuteximas anuais obtida atraveacutes de extrapolaccedilatildeo da curva-chave pelo grupo interdisciplinar dos relatoacuterios criacuteticos anteriores
As inundaccedilotildees de 1979 1997 e recentemente 2013 (Figura 19) foram as de maior vazatildeo
neste setor do rio e consequentemente as que mais atingiram a aacuterea urbana do municiacutepio
bloqueando os acessos ao centro da cidade e aos equipamentos essenciais como
hospitais escolas e demais oacutergatildeos puacuteblicos aleacutem de desalojarem muniacutecipes e
comprometerem a sauacutede puacuteblica
55
Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de 1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 Fonte1) Nossa Colatina 2) Nossa Linda Colatina 3) Nossa Colatina
Com o propoacutesito de identificar os principais fatores que acentuam as inundaccedilotildees seraacute
analisado como os processos geomorfoloacutegicos do Doce estatildeo sendo afetados pela accedilatildeo
antroacutepica Limitaremos a anaacutelise ao periacutemetro urbano no trecho que compreende do bairro
Esplanada ateacute o bairro Colatina Velha (Figura 20) Neste periacutemetro eacute possiacutevel visualizar a
evoluccedilatildeo da mancha urbana sobre o leito do rio aleacutem de identificar na margem direita os
pontos desnaturalizados deste canal fluvial
56
Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2) Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do recorte em rosa da APP de 50m (amarelo claro) e 500m (amarelo escuro) Fonte 3) Encontra Colatina (2015)
57
O recorte em questatildeo eacute margeado pela Av Beira-Rio e estaacute situado (Figura 20) dentro do
buffer de preservaccedilatildeo permanente previsto no PDM (buffer de 50m) e no Novo Coacutedigo
Florestal (buffer de 500m) Apesar desta aacuterea ser destinada a mata nativa e ou
reflorestada a ocupaccedilatildeo urbana antecede os artigos legais o que dificulta poliacuteticas de
gestatildeo territorial em um periacutemetro ao mesmo tempo histoacuterico e com funccedilatildeo relevante no
equiliacutebrio hidroloacutegico da bacia
O periacutemetro faz parte da vaacuterzea da margem direita do Rio Doce pois encontra-se em cota
topograacutefica de 50m caracterizando sua planiacutecie Logo a aacuterea em questatildeo tem a funccedilatildeo de
acomodar as aacuteguas das cheias quando a calha principal natildeo comporta o escoamento de
grandes vazotildees Esta tarefa passa a ser prejudicada na medida em que na bacia ou no
curso original satildeo implementadas obras que interferem na morfologia do corpo hiacutedrico
principal como a instalaccedilatildeo das hidreleacutetricas de Mascarenhas (1974) e Aimoreacutes (2005) a
montante
As UHErsquos a montante comprometem os processos do rio uma vez que o regime natural de
transporte de sedimentos eacute alterado com o barramento o que favorece a erosatildeo e
consequentemente o assoreamento com a formaccedilatildeo de bancos arenosos alteraccedilatildeo do
seu perfil transversal e reduccedilatildeo da profundidade Aleacutem disso segundo Coelho (2007) as
vazotildees maacuteximas e miacutenimas foram alteradas com a implantaccedilatildeo das hidreleacutetricas a
montante implicando em vazotildees meacutedias anuais miacutenimas cada vez mais reduzidas com
valores se distanciando da linha de tendecircncia (polinocircmio) provando o natildeo equiliacutebrio da
vazatildeo apoacutes a implantaccedilatildeo das barragens (Graacutefico 1 p22)
Entretanto a primeira intervenccedilatildeo direta no trecho em estudo foi a instalaccedilatildeo da estrada
de ferro que atraiu migrantes para Colatina permitindo o crescimento populacional e a
expansatildeo urbana desordenada agraves margens do Doce Este crescimento intensificou a
supressatildeo das matas ciliares e abriu espaccedilo para a impermeabilizaccedilatildeo do solo reduzindo
a infiltraccedilatildeo
Posteriormente a inauguraccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos ampliou o fluxo na regiatildeo pois
proporcionava a ligaccedilatildeo com as terras ao norte do Estado Atuou tambeacutem como obstaacuteculo
ao transporte de sedimentos carreados no fluxo natural do rio uma vez que sua
implantaccedilatildeo altera a topografia do fundo do canal afetando os processos geomorfoloacutegicos
58
Poreacutem foi no Morro das Cabritas (colina localizada no espaccedilo que compreende o atual
bairro Esplanada) que ocorreu a primeira desnaturalizaccedilatildeo nas margens do Doce Este
morro por onde o Rio Santa Maria do Doce meandrava ateacute desaguar no Rio Doce foi
cortado em meados de 1953 para abrigar a cidade em expansatildeo Devido a esta
intervenccedilatildeo o curso original do Santa Maria foi deslocado e passou a escoar
retilineamente ateacute a foz (Figura 21)
Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponte Florentino Aacutevidos (direita) e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque em vermelho para o curso atual do Santa Maria Fonte Nossa Colatina
As intervenccedilotildees na margem direita tornam-se mais intensas a partir da deacutecada de 1960
quando no ano de 1968 edificou-se um muro visando a proteccedilatildeo dos pilares da
extremidade direita da ponte Esta obra ficou paralisada por muitos anos e foi a primeira
de retificaccedilatildeo e aterro realizada neste trecho do rio Esta intervenccedilatildeo modificou o fluxo
natural das correntes do rio e reduziu a largura da sua calha alterando a morfologia do
canal (Figura 22)
59
Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de proteccedilatildeo da ponte Elaborado pela autora Fonte fotos histoacutericas Nossa Colatina
Contudo somente em 1972 teve iniacutecio o segundo aterro (Figura 23) com a finalidade de
alocar a estaccedilatildeo rodoviaacuteria de Colatina e ampliar a aacuterea de acesso agrave ponte Florentino
Aacutevidos A implementaccedilatildeo desta obra suprimiu parte do leito do Rio Doce pois removeu a
saliecircncia cocircncava que curvava o rio retilinizando esta parte do canal
60
Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora Fonte Nossa Colatina Nossa Linda Colatina
Apoacutes dez anos sem grandes intervenccedilotildees em 1982 o lado a montante da ponte bairro
Esplanada eacute acrescido de um aterro que estenderaacute a aacuterea do antigo Morro das Cabritas
para o rio (Figura 24)
Conhecido como Rua da Lama devido agrave umidade que o rio transferia ao aterro formando
um barro viscoso que persistia a maior parte do ano o trecho atualmente compreende a
Avenida Professor Joseacute Zouian popularmente denominada Avenida Beira-Rio de onde
surge a primeira forma do calccediladatildeo que seraacute estendido ateacute o bairro Colatina Velha
61
Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o calccediladatildeo da Av Beira-Rio Elaborado pela autora Fonte Bennachio (2015)
Somente em 2004 foi implementado o maior projeto de canalizaccedilatildeo do municiacutepio Naquele
ano teve iniacutecio a execuccedilatildeo do enrocamento da Av Beira-Rio (Figura 25) obra destinada
inicialmente a alocaccedilatildeo de equipamentos puacuteblicos de lazer e cultura praccedilas preacutedios aleacutem
da promessa de contribuir para a contenccedilatildeo dos transbordamentos do Rio Doce
Apesar de o referido manancial jaacute estar comprometido com problemas de poluiccedilatildeo
assoreamento e erosatildeo aleacutem dos impactos de duas hidreleacutetricas instaladas a montante a
obra abarcou a supressatildeo da vegetaccedilatildeo ciliar e aterro de parte do rio jaacute tatildeo degradado
62
Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento iniciada em 2004 e finalizada em 2008 Elaborado pela autora Fonte proacutepria autora em 240215
Ocupando uma aacuterea total de 130 mil msup2 do leito do Rio Doce o aterro teve iniacutecio em 2004
sendo construiacutedo com cerca de 90 mil msup3 de pedras 50 mil msup3 de areia retirada do leito do
rio e por fim o nivelamento com 200 mil msup3 de terra A obra era divulgada como um antigo
sonho dos colatinenses e serviria para ampliaccedilatildeo da Av Beira-Rio no bairro de Colatina
Velha instalaccedilatildeo de ciclovias calccediladatildeo equipamentos puacuteblicos e estacionamento (Figura
26) Apesar do fim da engenharia em 2008 o projeto ainda estaacute em fase de acabamento
na parte urbaniacutestica e na alocaccedilatildeo dos oacutergatildeos puacuteblicos
Cabe destacar que a obra sofreu embargos do Ministeacuterio Puacuteblico Federal (MPF) por
apresentar apenas cadastro na Agecircncia Nacional de Aacuteguas (ANA) que conforme parecer
da Procuradora Nadja Machado Botelho na Accedilatildeo Civil Puacuteblica ldquo[hellip] equivocadamente natildeo
realizou o procedimento de outorga [hellip]rdquo (MPF 2006 p2) Aleacutem disso a procuradora
solicitou tutela tendo em vista tratar-se de aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental e o fato de o
IBAMA ter concedido licenciamento com indevida dispensa do Estudo de Impacto
Ambiental (EIA)Relatoacuterio de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA)
63
Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina Fonte Prefeitura de Colatina (2015)
Por isso essa obra deve ser considerada faraocircnica para os cofres puacuteblicos e irreversiacutevel
para os processos geomorfoloacutegicos do Doce E sua efetivaccedilatildeo soacute foi possiacutevel com a
participaccedilatildeo e investimentos do Governo estadual Contudo seu objetivo foi frustrado pois
novamente na cheia do Rio Doce em dezembro de 2013 quando este atingiu a vazatildeo de
9028 msup3s a aacuterea foi inundada e por estar em cota maior que as casas que beiravam o
rio o enrocamento atuou como represa natildeo permitindo o retorno das aacuteguas quando o niacutevel
do rio retomou o equiliacutebrio
Por fim segue um mapa siacutentese (Figura 27) com a cartografia das quatro principais
intervenccedilotildees diretas e estruturais na margem direita do Doce no setor urbano de Colatina
representando o curso natural do rio em 1950 e suas desnaturalizaccedilotildees a partir da deacutecada
de 60 ateacute a atualidade
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Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce ante e depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora
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422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio
O recorte em estudo compreende as Zonas ZE-1 ZE-2 e ZUD 2-1 (Figura 28 p61) sendo
a Zona Especial 1 Zona Especial 2 e Zona de Uso Diverso 2-1 destinadas no PDM (Lei
52732007)
Artigo 103 - As Zonas de Usos Diversos ndash ZUD satildeo definidas em razatildeo da concentraccedilatildeo de atividades urbanas diversificadas com predominacircncia do uso comercial e de serviccedilos Artigo 104 - Satildeo objetivos das Zonas de Usos Diversos I - otimizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do solo priorizando a instalaccedilatildeo de novos empreendimentos em terrenos natildeo edificados contiacuteguos a empreendimentos jaacute instalados II - controle da implantaccedilatildeo de usos incompatiacuteveis com os definidos para estas zonas III - garantia de licenciamento e monitoramento ambiental dos empreendimentos IV - controle da expansatildeo comercial de serviccedilos e de induacutestrias de pequeno porte em direccedilatildeo a aacutereas residenciais [] Artigo 130 - As Zonas Especiais 1 ndash ZE 1 abrangem todas as aacutereas remanescentes do municiacutepio relativamente ao zoneamento estabelecido nesta lei ocupadas ou natildeo contida na lei de periacutemetro urbano para as quais natildeo foram ainda estabelecidos os criteacuterios de uso e ocupaccedilatildeo Artigo 131 - As Zonas Especiais 2 ndash ZE 2 satildeo as aacutereas existentes no prolongamento da avenida Beira Rio mais especificamente no trecho entre o 80 Batalhatildeo da Poliacutecia Militar e a rua Pedro Epichin incluindo o espaccedilo existente entre a margem do Rio Doce e o limite das construccedilotildees localizadas na rua Pedro Epichin
Cabe destacar que mesmo sendo palco das aacutereas mais afetadas com as inundaccedilotildees do
Rio Doce a Beira-Rio tem sido alvo da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria que aproveitando-se dos
iacutendices pouco restritos da ZUD 2 (Figura 28 p62) valoriza o espaccedilo promovendo a
instalaccedilatildeo de grandes estruturas como hipermercados edifiacutecios residenciais modernos e
hotelaria
66
Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 Fonte Colatina (2007)
A aacuterea contida na ZE (Figura 28) natildeo possui criteacuterio de ocupaccedilatildeo definido na legislaccedilatildeo
atual sendo adotado o disposto na Lei 41961995 que estabelece os iacutendices urbaniacutesticos
para as aacutereas conquistadas junto ao Rio Doce e na Lei 420595 que aprova os
parcelamentos na Beira-Rio Quanto agrave ZUD 2-1 apresenta iacutendices urbaniacutesticos no anexo
118 do Plano Diretor conforme tabela 3 abaixo
67
Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1
Fonte Colatina (2007 p36)8
68
Eacute relevante observar que numa aacuterea onde o corpo hiacutedrico foi reduzido pelos sucessivos
aterros tenha sido aprovada a instalaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto (Figura
29) com taxa de ocupaccedilatildeo de ateacute 80 e com baixo iacutendice de permeabilidade Ampliou-
se a aacuterea impermeaacutevel numa regiatildeo onde a drenagem jaacute eacute muito comprometida com a
expansatildeo urbana sobre o rio
Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto na Beira-Rio Fonte imagem do Google Maps 2015 E fotos da autora em 140215
Portanto analisando o conjunto de dados apresentado acima eacute possiacutevel entender como
as inundaccedilotildees satildeo potencializadas no municiacutepio atingindo a populaccedilatildeo mas em especial
afetando a dinacircmica de um corpo hiacutedrico tatildeo relevante para o Estado A fim de subsidiar a
gestatildeo puacuteblica com material cartograacutefico para a tomada de decisotildees delimitou-se o
poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo (Figura 30) Pois devem ser adotadas medidas que
minimizem impactos de futuros eventos hidroloacutegicos na bacia capazes de comprometer
novamente a aacuterea urbana mais central de Colatina
69
Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av Beira-Rio em dezembro de 2013 Elaborado pela autora
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Diante do poliacutegono de inundaccedilatildeo da uacuteltima cheia (Figura 30) em dezembro de 2013 eacute
possiacutevel implementar medidas de convivecircncia com as grandes vazotildees a exemplo de
paiacuteses como Holanda que vem investindo em medidas de resiliecircncia a fim de reduzir a
velocidade dos defluacutevios possibilitando ao canal a capacidade de acumular e dispersar as
aacuteguas com impacto miacutenimo para as populaccedilotildees Conforme Carneiro e Miguez (2011) a
estrateacutegia adotada pelo paiacutes eacute reter armazenar e drenar sendo mais flexiacutevel e natildeo
interferindo drasticamente na dinacircmica do corpo hiacutedrico
Por fim a implementaccedilatildeo de soluccedilotildees de planejamento urbano em Colatina requer uma
anaacutelise integrada que abarque o urbano e o ambiental de modo a propor intervenccedilotildees que
produzam impactos reduzidos nos processos geomorfoloacutegicos do Rio Doce Logo a gestatildeo
municipal deve atuar em niacutevel de bacia hidrograacutefica interagindo com os municiacutepios a
montante propondo medidas de minimizaccedilatildeo das cheias urbanas Mas na escala local
pode-se atuar junto aos novos parcelamentos de modo a ampliar o percentual de aacutereas
permeaacuteveis no municiacutepio incentivando por exemplo os novos loteamentos a adotarem
pavimentaccedilotildees que permitam a drenagem natural do solo
71
5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Partindo da ideia de que eacute possiacutevel implementar medidas que minimizem o escoamento
superficial satildeo apresentadas propostas como forma de controlar ou ao menos reduzir os
impactos das inundaccedilotildees urbanas
Embora as implementaccedilotildees histoacutericas de estruturas de proteccedilatildeo ou barreiras mais altas
tenham sido muito disseminadas atualmente estatildeo sendo suplantadas pelo gerenciamento
de inundaccedilotildees de maneira mais sustentaacutevel Deste modo as experiecircncias fora do Brasil
apontam para soluccedilotildees mais flexiacuteveis que considerem o fluxo natural do canal enquanto
um ecossistema em equiliacutebrio Para tanto Carneiro e Miguez (2011 p150) destacam a
iniciativa alematilde no controle de inundaccedilotildees em bacias hidrograacuteficas metropolitanas
[hellip] A abordagem comum consiste na regulaccedilatildeo do uso do solo nas aacutereas inundaacuteveis e em ldquodar espaccedilo para o riordquo ao inveacutes de priorizar investimentos em estruturas de proteccedilatildeo contra inundaccedilotildees como a colocaccedilatildeo de diques de contenccedilatildeo as margens dos rios A utilizaccedilatildeo do conceito de resiliecircncia apropriado de ecologia decorre dessa abordagem A aplicaccedilatildeo praacutetica do conceito implica portanto em mudanccedilas de paradigma Deixa de ser preponderante a engenharia construtiva e entra em cena o planejamento de longo prazo voltado para o desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis capazes de conviver com as variaccedilotildees do ciclo hidroloacutegico sem significar necessariamente trageacutedias anunciadas
Aleacutem dessas propostas geoacutegrafos como Sandra Cunha tecircm estudado a recuperaccedilatildeo
natural ou ldquorenaturalizaccedilatildeordquo de corpos fluviais visando promover a estabilidade dos canais
de modo mais sustentaacutevel Para ela
[hellip] Recuperaccedilatildeo de canal significa de forma simples o retorno as condiccedilotildees anteriores aos distuacuterbios Em essecircncia eacute o processo de recuperaccedilatildeo do rio ou do ecossistema fluvial estabilizando o desenvolvimento de habitats e colonizaccedilatildeo a uma taxa mais raacutepida que dos processos naturais fiacutesicos e bioloacutegicos Na recuperaccedilatildeo de canais ocorrem consideraccedilotildees de aspecto hidroloacutegico morfoloacutegico e ecoloacutegico qualidade da aacutegua esteacutetica aleacutem da necessidade de uma visatildeo integradora do projeto sustentaacutevel de recuperaccedilatildeo (CUNHA 2012 p230 a 231)
Satildeo portanto medidas pontuais como o retorno agraves sinuosidades do rio (Figura 31 p 68)
ou a substituiccedilatildeo de estruturas de concreto por superfiacutecies mais permeaacuteveis a exemplo
das trincheiras de infiltraccedilatildeo ou pavrsquos (Figura 32) aacutereas mais vegetadas aleacutem de coleta e
uso de aacutegua da chuva bem como tratamento das aacuteguas superficiais por meio de
72
amenidades esteacuteticas como reservatoacuterios de retenccedilatildeo ou detenccedilatildeo que podem ser
associados a ambientes harmocircnicos como lagos artificiais Todas estas accedilotildees possibilitam
a minimizaccedilatildeo das grandes vazotildees no solo urbano pois pretendem atenuar os impactos
das cheias fazendo com que seja resgatada parte da drenagem existente anteriormente agrave
urbanizaccedilatildeo
Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do Rio Aa Munster Alemanha (1998) Fonte Cunha (2012 p233)
Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos Fonte Carneiro e Miguez (2011 p128)
A partir do exposto cabe agrave gestatildeo municipal implementar legislaccedilotildees que priorizem a
permeabilidade possibilitando uma maior infiltraccedilatildeo das aacuteguas das chuvas atraveacutes de
pavimentaccedilotildees menos impermeaacuteveis e da ampliaccedilatildeo de aacutereas vegetadas Satildeo medidas
que tornam a drenagem mais sustentaacutevel aleacutem de possibilitar a manutenccedilatildeo dos serviccedilos
puacuteblicos de forma menos custosa tendo em vista o elevado preccedilo das recomposiccedilotildees
asfaacutelticas
1 2
73
Aleacutem disso quando se fala em controle de cheias urbanas pressupotildee-se uma seacuterie de
medidas para minimizaccedilatildeo de seus impactos desde a operaccedilatildeo de sistemas de alerta
zoneamento de aacutereas inundaacuteveis construccedilatildeo de grandes reservatoacuterios de contenccedilatildeo de
cheias e diques ateacute accedilotildees de educaccedilatildeo ambiental
Cabe pensar tambeacutem na proacutexima revisatildeo do PDM em um plano de macrodrenagem
municipal que reuacutena accedilotildees de caraacuteter estruturantes com obras hidraacuteulicas de infraestrutura
que realizem a conduccedilatildeo final das aacuteguas dos escoamentos superficiais para a minimizaccedilatildeo
das inundaccedilotildees e em medidas natildeo-estruturantes que trabalhem a consciecircncia ambiental
e proponha um zoneamento de cheias a fim de se delimitar os pontos mais fragilizados nos
defluacutevios
Por fim pensar em drenagem num contexto de ocupaccedilatildeo irregular histoacuterico requer
profissionais que aleacutem de possuir afinidade com a temaacutetica tambeacutem possam analisar os
diferentes processos que constituem o espaccedilo geograacutefico Logo este tipo de estudo deve
abarcar uma equipe multidisciplinar que percorra a anaacutelise desde o ambiental estrutural
ateacute o aspecto humano a fim de se produzir resultados que de fato contribuam com o
controle das inundaccedilotildees urbanas
74
6 CONCLUSAtildeO
A partir do recorte espacial foi possiacutevel compreender que a abordagem da geomorfologia
fluvial com a anaacutelise espaccedilo-temporal da ocupaccedilatildeo urbana possibilita a identificaccedilatildeo das
accedilotildees do homem no meio ambiente pois estas resultam na alteraccedilatildeo das paisagens
naturais e na dinacircmica da bacia hidrograacutefica Assim o Rio Doce deve ser estudado de
modo integrado ao crescimento da cidade sobretudo para compreensatildeo da produccedilatildeo do
espaccedilo geograacutefico
Analisar a inundaccedilatildeo urbana em Colatina foi satisfatoacuterio pois o municiacutepio estaacute situado no
perfil meacutedio-baixo da bacia vazante e eacute neste trecho que os reflexos das intervenccedilotildees satildeo
mais acentuados principalmente se esta parte do canal tambeacutem tiver passado por obras
que modificaram seus processos hidroloacutegicos Aleacutem disso a perspectiva geograacutefica aponta
para vaacuterias outras questotildees como erosatildeo fluvial planejamento urbano poluiccedilatildeo ambiental
crise da aacutegua que conduzem a outras discussotildees acerca da relaccedilatildeo homemnatureza
Ao demonstrar a evoluccedilatildeo espaccedilo-temporal do uso e cobertura da terra na margem direita
do Doce associando esta ocupaccedilatildeo agraves obras estruturantes que foram executadas no
canal verificamos que todas as praacuteticas adotadas para conter o transbordamento do rio
acabaram alterando sua morfologia com a retificaccedilatildeo de trechos em meandros reduzindo
a largura do corpo hiacutedrico o que favoreceu a apropriaccedilatildeo urbana de suas vaacuterzeas Aliadas
a estas questotildees estatildeo a falta de planejamento urbano e a omissatildeo diante da supressatildeo
das matas ciliares principalmente se considerados os resultados do relatoacuterio teacutecnico do
IJSN contra enchentes em 1980
Cabe destacar tambeacutem que toda a anaacutelise da ocupaccedilatildeo urbana e desnaturalizaccedilatildeo do
Rio Doce foi melhor identificada a partir dos produtos cartograacuteficos deste trabalho Pois eacute
na espacialidade dos fenocircmenos e no registro de informaccedilotildees ainda natildeo mapeadas como
os aterros que o geoacutegrafo executa a anaacutelise do seu objeto de estudo o homem e a
natureza aqui representado pela sociedade e o canal do Doce
Apesar do municiacutepio apresentar leis que resguardam os leitos dos rios desde o primeiro
PDM em 1996 nada foi feito para conter as ocupaccedilotildees irregulares beira-rio Pelo contraacuterio
estas aacutereas foram incorporadas ao Plano Diretor em 2007 com possibilidades de
ocupaccedilotildees diversas o que tem levado especuladores a valorizar o solo com vista para o
rio apontando suas qualidades esteacuteticas e teacutermicas Este fato vem aumentando o
75
percentual de aacutereas impermeaacuteveis nesta margem comprometendo ainda mais a drenagem
dos defluacutevios
Eacute na Av Beira-Rio que crescem as implantaccedilotildees de grandes empreendimentos comerciais
como supermercado Casagrande Ogil Hotel e obras de construccedilatildeo de novos arranha-
ceacuteus em um periacutemetro que jaacute eacute totalmente comprometido com os extravasamentos do Rio
Doce Estas obras ocupam grandes aacutereas e na maioria das vezes apresentam reduzida
aacuterea permeaacutevel reservando apenas o obrigatoacuterio pela lei cerca de 10 Observa-se
tambeacutem que a implantaccedilatildeo desses projetos estaacute condicionada agrave apresentaccedilatildeo e
aprovaccedilatildeo por comissatildeo na prefeitura do Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV) sendo
difiacutecil conceber que seja concedida tal licenccedila para implementaccedilatildeo de obras num trecho
de risco ambiental
Embora as diretrizes do Estatuto das Cidades para a implementaccedilatildeo do uso da terra
sustentaacutevel e os instrumentos para a regulaccedilatildeo do solo urbano sejam avanccedilados Colatina
eacute mais um exemplo da carecircncia de profissionais capacitados para estudar de modo
integrado e em niacutevel de bacia hidrograacutefica os efeitos da accedilatildeo humana num ambiente tatildeo
peculiar como as margens do Doce Por isso com os objetivos traccedilados nesta pesquisa
podemos aleacutem de compreender o fenocircmeno criar uma metodologia de anaacutelise de aacutereas
inundaacuteveis em ambientes urbanos O que permite agrave gestatildeo municipal uma diretriz para a
tomada de decisotildees
Destaca-se tambeacutem que as legislaccedilotildees aqui referenciadas supriram a discussatildeo acerca do
objeto de estudo mas outras podem contribuir para esta pesquisa a exemplo do Coacutedigo
das Aacuteguas da Poliacutetica Nacional dos Recursos Hiacutedricos das Resoluccedilotildees do Conama do
Estatuto das Cidades entre outros
Sendo assim numa revisatildeo do PDM deve-se pensar nestes aspectos da cidade desde o
histoacuterico de ocupaccedilatildeo das margens ateacute os impactos das inundaccedilotildees e o presente trabalho
auxilia com uma nova abordagem na reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo fornecendo material
cartograacutefico para subsidiar propostas de proteccedilatildeo ao curso do Doce e consequentemente
da populaccedilatildeo
Por fim deve-se destacar que o recorte estaacute inserido num contexto maior de uma bacia
hidrograacutefica que se estende aleacutem dos limites de Colatina ou do estado do Espiacuterito Santo
Esta bacia compreende a Regiatildeo Hidrograacutefica do Atlacircntico Leste e estaacute alocada tambeacutem
76
no estado de Minas Gerais o que portanto torna as accedilotildees de controle das inundaccedilotildees
mais complexas tendo em vista as divergentes politicas territoriais
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RESUMO Este trabalho tem como objeto de estudo o setor do Rio Doce que corta a aacuterea
urbana de Colatina ndash ES O objetivo principal desta anaacutelise foi verificar como as
intervenccedilotildees humanas no canal fluvial tecircm contribuiacutedo para ampliaccedilatildeo das cheias
na planiacutecie de inundaccedilatildeo Partindo desta premissa a pesquisa baseou-se na
anaacutelise de fotos histoacutericas de 1906 a 2015 e imagens de sateacutelite em periacuteodos de
vazante (abril) e cheia (janeiro) do rio Doce por onde foi possiacutevel cartografar as
alteraccedilotildees nas margens deste corpo hiacutedrico O cruzamento das seacuteries temporais
histoacutericas de vazatildeo do rio com a ocupaccedilatildeo da Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente
(APP) permitiu delimitar os pontos mais fragilizados da Av Beira Rio Deste modo
os resultados indicaram que o crescimento urbano desordenado e contiacutenuo
associado agraves alteraccedilotildees nos processos geomorfoloacutegicos tem intensificado a
degradaccedilatildeo do canal fluvial potencializando as inundaccedilotildees
Palavras-chave Geomorfologia fluvial geotecnologias anaacutelise geograacutefica integrada
intervenccedilatildeo humana e inundaccedilatildeo
REacuteSUMEacute
Ce travail a pour objet deacutetude le secteur de la Riviegravere Doce coupe de la zone urbaine ne
de Colatina ndash ES Le principal objectif de cette analyse eacutetait de veacuterifier comme les
interventions humaines dans le chenal de la Riviegravere Doce ont contribueacute pour le submersion
de la plaine dinondation De cette preacutemisse la recherche a eacuteteacute baseacutee sur lanalyse de
photographies historiques de 1906 a 2015 et images en peacuteriode de reflux (avril) et flux
(janvier) de la Riviegravere Doce par lequel il a eacuteteacute possible de cartographier les changements
dans les marges de ce plan deau Gracircce agrave lanalyse de la seacuterie chronologique historique
de deacutebit de la riviegravere et de loccupation de la zone de preacuteservation permanent crsquoest possible
didentifier les points les plus vulneacuterables de lrsquoAvenue Beira-Rio Ainsi les reacutesultats
indiquent que la croissance urbaine deacutesordonneacutee et continue associeacutee aux changements
dans les processus geacuteomorphologiques a intensifieacute la deacutegradation du chenal de la riviegravere
en renforccedilant des inondations
Mots-cleacutes la geacuteomorphologie fluviale geacuteotechnologies analyse geacuteographique inteacutegreacutee
dintervention humaine et inondations
ABSTRACT
This paper has as object of study the sector of Doce River cutting the urban areas of
Colatina ndash ES The main objective of this analyze was to verify how human interventions on
Docersquos river channel have contributed how human interventions in river channel have
contributed to the tide of the floodplain From this premise the research was based on
analysis of historical photographs from 1906 to 2015 and aerial images in periods of ebb
(April) and flood (January) of Doce river by which it was possible to map the changes in the
margins of this water body Crossing the analysis of historical time series of river flow with
the occupation of areas of permanent preservation it was possible to delimitate the most
vulnerable points of Beira-Rio Avenue Thus the results indicated that the cluttered and
continuous urban growth associated with changes in geomorphological processes has
intensified de degradation of the river channel increasing flooding
Keywords fluvial geomorphology geotechnologies integrated geographical analysis
human intervention and flood
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e Rio Doce 18
Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 19
Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de
2013 19
Figura 4 - Tipos de leito fluvialvarzea 21
Figura 5 - Padrotildees dos canais 21
Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento 32
Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia 33
Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC) 37
Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906
Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce 41
Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da
regiatildeo 42
Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce 43
Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio
Doce 43
Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes 45
Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de
crescimento 47
Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios que interceptam a cidade de Colatina
48
Figura 16 - Traccedilado das mensuraccedilotildees da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de
vazante mecircs de abril2013 50
Figura 17 - Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro
urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal 51
Figura 18 - Representaccedilatildeo de inundaccedilatildeo urbana 53
Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de
1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 55
Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2)
Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do
recorte em rosa da APP de 50 m (amarelo claro) e 500 m (amarelo escuro) 56
Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponrte Florentino Aacutevidos (direita)
e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa
Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque
em vermelho para o curso atual do Santa Maria 58
Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de
proteccedilatildeo agrave ponte 59
Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o
traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas 60
Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o
calccediladatildeo da Av Beira-Rio61
Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento
iniciada em 2004 e finalizada em 2008 62
Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina 63
Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce antes e
depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas 64
Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 66
Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto da Beira-Rio 68
Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da
inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av
Beira-Rio em dezembro de 2013 69
Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do rio Aar Munster Alemanha (1998) 72
Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos 72
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Perfis Transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de vazante (abril) e cheia (janeiro) 50
Tabela 2 Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013 54
Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1 67
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 - Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais
(Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia) 25
Graacutefico 2 - Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 201045
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANA - Agecircncia Nacional de Aacuteguas
APP - Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente
CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais Serviccedilo Geoloacutegico Brasileiro
GEOBASES - Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espiacuterito Santo
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IJSN - Instituto Jones dos Santos Neves
INCAPER - Instituto Capixaba de Pesquisa Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural
PDM - Plano Diretor Municipal
PMC - Prefeitura Municipal de Colatina
PROATER - Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural
SIG - Sistema de Informaccedilotildees Geograacuteficas
UHE ndash Usina Hidreleacutetrica
UTM - Universal Tranverse Mercator
USGS - Geological Survey Serviccedilo Geoloacutegico Americano
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 14
11 Objetivo 16
111 Objetivo Geral 16
112 Objetivos Especiacuteficos 16
12 Justificativa 17
2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS 20
21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano 20
211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial 23
22 Aspectos Juriacutedicos 27
23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos 31
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS 36
4 RESULTADOS 40
41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana 40
411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade 46
42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce 49
421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie de
Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio 53
422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio 65
5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 71
6 CONCLUSAtildeO 74
7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 77
14
1 INTRODUCcedilAtildeO
A partir da deacutecada de 1930 com a transiccedilatildeo econocircmica de um eixo agraacuterio-exportador
para um polo urbano-industrial (CARNEIRO 2008) verificou-se no Brasil a migraccedilatildeo da
maior parte da populaccedilatildeo para as cidades Isso acarretou segundo Tucci (2013 p17) uma
ldquo[] concentraccedilatildeo urbana no Brasil da ordem de 80 da populaccedilatildeo e o seu
desenvolvimento tem sido realizado de forma pouco planejada com grandes conflitos
institucionais e tecnoloacutegicos []rdquo
De acordo com Canholi (2005 p15) a expansatildeo da aacuterea urbana ldquo[] consequentemente
impermeabilizada ocorreu a partir das zonas mais baixas proacuteximas agraves vaacuterzeas dos rios
ou agrave beira-mar em direccedilatildeo agraves colinas e morros em face da necessaacuteria interaccedilatildeo da
populaccedilatildeo com os corpos hiacutedricos []rdquo Neste cenaacuterio surgem as ocupaccedilotildees irregulares
nas Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) como as da planiacutecie de inundaccedilatildeo dos rios
e os topos de morros
Essas ocupaccedilotildees desordenadas satildeo proporcionadas pela precariedade da implantaccedilatildeo e
fiscalizaccedilatildeo das legislaccedilotildees urbaniacutesticas de ordenamento territorial e ambiental Neste
contexto satildeo relevantes as pesquisas que visam correlacionar o viacutenculo
sociedadenatureza de modo a entender como a ocupaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo no
solo conecta-se com a hidrodinacircmica dos recursos naturais uma vez que ldquo[] a tendecircncia
atual do limitado planejamento urbano integrado estaacute levando as cidades a um caos
ambiental urbano com custo extremamente alto para a sociedaderdquo (TUCCI 2013 p17)
Deve-se partir do pressuposto teoacuterico articulado com a ideia anterior de ldquo[]
indissociabilidade entre natureza e sociedade []rdquo (COELHO 2013 p21) em que a
sociedade natildeo pode ser apenas entendida como populaccedilatildeo e a natureza enquanto mero
ambiente fiacutesico mas que estes dois fatores estatildeo dinamicamente produzindo o espaccedilo
geograacutefico
Neste contexto a problemaacutetica se afirma no intuito de relacionar as legislaccedilotildees urbanas
(Lei de Parcelamento do Solo 676679 e PDM) e ambientais (Novo Coacutedigo Florestal 2012)
com as suas aplicaccedilotildees ou natildeo no periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina
principalmente nos bairros que se situam na planiacutecie de inundaccedilatildeo do Rio Doce
A escolha da temaacutetica tambeacutem teve como premissa a importacircncia regional de Colatina
como entreposto comercial e logiacutestico para os municiacutepios do noroeste capixaba conforme
15
relato do Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural - PROATER (INCAPER
2011)
Exportadores de cafeacute atacadistas e as lojas de pronta entrega dinamizam o comeacutercio local que atende aos municiacutepios do norte capixaba leste de Minas Gerais e sul da Bahia representando um universo de mais de 700 mil consumidores (INCAPER 2011 p5)
De acordo ainda com o INCAPER (op cit) Colatina tem crescido a uma margem de 188
anual o que representa a tendecircncia ao ecircxodo rural sendo que a populaccedilatildeo do campo vem
diminuindo de aproximadamente 19 em 1990 passou a 12 no Censo de 2010 Diante
do exposto entra em discussatildeo o planejamento urbano pois com o crescimento da
populaccedilatildeo citadina para cerca de 88 aumentam tambeacutem as pressotildees sobre o meio
ambiente em especial as regiotildees ribeirinhas
Estas uacuteltimas refletem o aumento das atividades humanas na bacia hidrograacutefica onde
pode-se destacar as mudanccedilas induzidas pelas accedilotildees antropogecircnicas que se dividem em
diretas (aquelas que atuam no canal fluvial para controle das vazotildees a exemplo dos
reservatoacuterios e desvios de aacuteguas) e indiretas relacionadas agraves aacutereas fora dos canais por
exemplo o desmatamento e urbanizaccedilatildeo sendo que estas comprometem a descarga e
carga soacutelida do rio (PARK1981 KNIGHTON1984 apud CUNHA 2001)
O interesse pela pesquisa surge da importacircncia regional do municiacutepio dos impactos
histoacutericos humanos materiais e imateriais sofridos diante de eventos hidroloacutegicos
extremos tendo em vista o fato de o periacutemetro urbano ser cortado por um corpo fluvial de
importacircncia regional Aleacutem disso a abordagem geograacutefica possibilita a correlaccedilatildeo dos
processos fluviais com a ocupaccedilatildeo urbana de modo mais integrado (COELHO 2009)
Portanto uma das finalidades deste trabalho eacute analisar por meio das geotecnologias e das
investigaccedilotildees de campo como a ocupaccedilatildeo urbana tem interferido nas margens do Rio
Doce de modo a delimitar os sucessivos aterros na margem direita no periacutemetro do bairro
Esplanada a Colatina Velha Ademais identificar como os processos deste canal fluvial
tecircm sido afetados pela intervenccedilatildeo humana em seu leito principal
16
11 Objetivo
111 Objetivo Geral
Correlacionar os processos fluviais do Rio Doce por meio da dinacircmica geomorfoloacutegica
deste canal com o uso e cobertura da terra no setor urbano do municiacutepio de Colatina
Espiacuterito Santo Contrapondo assim as intervenccedilotildees urbanas da beira-rio com o Plano
Diretor Municipal e o Novo Coacutedigo Florestal enfatizando as diretrizes adotadas no
parcelamento do solo para a planiacutecie de inundaccedilatildeo deste rio
112 Objetivos Especiacuteficos
Identificar os vetores de crescimento urbano do municiacutepio a fim de avaliar a
evoluccedilatildeo da mancha urbana junto ao canal principal
Determinar o comprimento da borda da calha do leito regular do Rio Doce no
periacutemetro urbano de Colatina para definiccedilatildeo da largura miacutenima da faixa marginal
de preservaccedilatildeo
Espacializar as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente beira-rio previstas em lei a fim
de analisar a ocupaccedilatildeo urbana nestes espaccedilos
Cartografar os principais pontos desnaturalizados no canal principal do Rio Doce
no setor urbano de Colatina
Demonstrar como o emprego das geotecnologias auxilia no planejamento urbano
e ambiental especialmente em acircmbito municipal
17
12 Justificativa
A aacuterea de estudo corresponde ao periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina situado na
Bacia Atlacircntico trecho leste sub-bacia do Rio Doce no baixo curso (ANA 2001)
Compreende a regiatildeo noroeste do estado do Espiacuterito Santo latitude 19deg 32rsquo 16rsquorsquo S e
longitude 40deg 37rsquo 59rsquorsquo W De acordo com os dados do censo de 2010 do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio possuiacutea uma populaccedilatildeo de 111788 mil
habitantes1 numa aacuterea territorial de 1416804 kmsup2
Devido a sua privilegiada posiccedilatildeo geograacutefica limiacutetrofe com o Rio Doce e a construccedilatildeo da
Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas em 1906 Colatina compreendia os territoacuterios dos atuais
municiacutepios de Baixo Guandu Linhares Pancas Satildeo Gabriel da Palha Marilacircndia Satildeo
Domingos do Norte e Governador Lindenberg (INCAPER 2011) Soacute a partir de 2001
passou a apresentar os atuais limites municipais e configurar uma aacuterea urbana com 59
bairros (Figura 1)
Colatina eacute um municiacutepio de importacircncia para regiatildeo noroeste capixaba seja em caraacuteter
econocircmico ou social Eacute responsaacutevel pelos fluxos de cargas da regiatildeo aleacutem de ser um polo
moveleiro de confecccedilatildeo metalmecacircnico e de comeacutercio e serviccedilos gerando emprego e
renda (INCAPER 2011) Aleacutem disso tem sofrido historicamente com as cheias do Rio
Doce principalmente porque parte do seu periacutemetro urbano eacute inundado com as aacuteguas da
calha principal desse rio o que compromete toda a dinacircmica local e potildee em risco os
colatinenses
Assim diante das crescentes demandas por territoacuterio no periacutemetro urbano a populaccedilatildeo
tem suprimido a cobertura vegetal e ocupado desde as margens do Rio Doce ateacute as
encostas dos morros Em periacuteodos de cheias principalmente nos meses de outubro a
marccedilo (INCAPER 2011 ANA 2001) verificam-se inundaccedilotildees de grande parte da aacuterea
urbana beira-rio aleacutem dos movimentos de massa nas encostas Como exemplo destes
acontecimentos tecircm-se os registros fotograacuteficos dos efeitos da chuva de dezembro de 2013
(Figuras 2 e 3)
1 De acordo com o a estimativa do IBGE de 2014 publicada no DOU o municiacutepio conta com uma populaccedilatildeo de 121670 habitantes
18
Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e o canal do Rio Doce Elaborado pela autora
19
Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 Fonte Noticias UOL (2013)
Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de 2013 Fonte Folha Vitoacuteria (2013)
Este estudo portanto eacute relevante tendo em vista as raras abordagens no acircmbito das
Ciecircncias Geograacuteficas especialmente no Espiacuterito Santo de pesquisas que correlacionem
aspectos da geomorfologia fluvial por meio da dinacircmica dos recursos hiacutedricos com o uso
e cobertura da terra particularmente o Plano Diretor Municipal (PDM) Discute dessa
forma as implicaccedilotildees da atuaccedilatildeo humana nas particularidades deste ecossistema natural
tendo em vista o disposto nas legislaccedilotildees urbaniacutesticas e ambientais que visam assegurar
a qualidade de vida das populaccedilotildees
Adiante seratildeo analisados os principais fundamentos da geomorfologia fluvial os aspectos
juriacutedicos e o papel da anaacutelise geograacutefica integrada para o entendimento dos fenocircmenos
das inundaccedilotildees no Centro de Colatina uma vez que eacute devido agraves intervenccedilotildees humanas
nos canais e suas margens que esses fenocircmenos tornam-se mais nocivos a cidade
20
2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS
21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano
Recurso essencial para a manutenccedilatildeo da vida a aacutegua foi um fator relevante para o
estabelecimento histoacuterico das sociedades no entorno dos cursos hiacutedricos Utilizados para
fins de abastecimento humano e animal irrigaccedilatildeo saneamento e transporte os rios
constituiacuteram-se nos principais propulsores de penetraccedilatildeo para o interior (CUNHA 2012a)
Logo em suas margens surgiram povoados que posteriormente transformaram-se em
cidades como as que se estabeleceram agraves margens do Rio Doce a exemplo da sede de
Colatina
Diante das potencialidades que os recursos hiacutedricos possibilitam agraves sociedades
destacamos a importacircncia do estudo da Geomorfologia Fluvial que se apresenta como
campo da Geomorfologia (ciecircncia que estuda as formas do relevo) sendo o interesse
daquela a pesquisa dos processos que relacionam o escoamento das aacuteguas fluviais num
contexto de bacia hidrograacutefica (CHRISTOFOLETTI 1980 CUNHA op cit) Enfoca assim
as alteraccedilotildees na fisionomia dos canais frente agraves intervenccedilotildees no ecossistema natural
beira-rio
A Geomorfologia Fluvial parte da condicionante de que o uso e ocupaccedilatildeo da terra refletem-
se na dinacircmica da bacia de drenagem interferindo nos processos morfogeneacuteticos ou seja
de modelagem do relevo fluvial escoamento superficial das aacuteguas e no ciclo hidroloacutegico
Frente agrave temaacutetica deste estudo faz-se necessaacuterio o entendimento dos conceitos da
fisiografia fluvial aqui referente aos diferentes setores que a aacutegua pode escoar num leito
(Figura 4) como
O leito menor corresponde agrave parte do canal ocupada pelas aacuteguas e cuja frequecircncia impede o crescimento da vegetaccedilatildeo Esse tipo de leito eacute delimitado por partes bem definidas O leito de vazante equivale agrave parte do canal ocupada durante o escoamento das aacuteguas de vazante Suas aacuteguas divagam dentro do leito menor seguindo o talvegue linha de maacutexima profundidade ao longo do leito e que eacute mais bem identificada na seccedilatildeo transversal do canal O leito maior tambeacutem denominado leito maior perioacutedico ou sazonal eacute ocupado pelas aacuteguas do rio regularmente e pelo menos uma vez ao ano durante as cheias Dependendo do tempo ocorrido entre as subidas das aacuteguas eacute possiacutevel haver a fixaccedilatildeo e o crescimento da vegetaccedilatildeo herbaacutecea
21
O leito maior excepcional eacute ocupado durante as grandes cheias no decorrer das enchentes (CUNHA 2001 p 213)
Figura 4 - Tipos de leito fluvial vaacuterzea Fonte Cunha (2001 p213)
Sendo assim as aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial (leitos) aquelas inundadas pelo corpo
hiacutedrico frente a um evento hidroloacutegico extremo tambeacutem satildeo conhecidas como vaacuterzeas
planiacutecie de inundaccedilatildeo ou ainda segundo Carneiro e Miguez (2011 p133) como ldquo[] zona
de passagem de cheia []rdquo Essas aacutereas de vaacuterzeas dependem da fisionomia que o rio
apresenta e segundo Cunha (op cit) o canal fluvial pode apresentar trecircs formas
principais conhecidas como padratildeo dos canais que satildeo retiliacuteneo anastomosado e
meacircndrico (Figura 5)
Figura 5 - Padrotildees dos canais (A) retiliacuteneo (B) anastomosado (C) meandrante (A) amplitude (Rc) raio meacutedio da curvatura do meandro (segundo Bigarella etal 1979) Fonte Cunha (2001 p216)
22
Aliada aos padrotildees dos canais estaacute a assimetria ou simetria dos leitos que para Cunha
(2001 p233) relaciona-se com a variaccedilatildeo da velocidade e turbulecircncia ao longo da secccedilatildeo
transversal o que diferencia o comportamento nos canais retiliacuteneos geralmente simeacutetricos
do canal meacircndrico onde
Em canais de leito simeacutetrico em geral padratildeo retiliacuteneo a velocidade maacutexima ocorre no centro do canal diminuindo em direccedilatildeo agraves margens Em leito assimeacutetrico de padratildeo meacircndrico a zona de maacutexima velocidade e turbulecircncia localiza-se nas proximidades das margens cocircncavas decrescendo de valor em direccedilatildeo agrave margem de menor profundidade
(convexa) (CUNHA opcit p 233)
Deste modo a capacidade de erosatildeo das margens transporte e deposiccedilatildeo da carga do rio
dependem entre outros fatores da velocidade das correntes fluviais E o material do fluxo
fluvial constitui-se da descarga liacutequida ou vazatildeo que estaacute relacionada ao tamanho do
material que pode ser transportado e do volume da carga que o rio eacute capaz de carregar
Tem-se ainda a carga soacutelida sedimentos que estaacute relacionada a suspensatildeo e fundo do
rio esta decresce a jusante indicando a diminuiccedilatildeo da competecircncia do corpo fluvial As
cargas de suspensatildeo satildeo constituiacutedas de partiacuteculas finas a exemplo do silte e por fim a
carga de fundo que eacute composta por partiacuteculas de tamanhos maiores a exemplo da areia
(CUNHA2001)
Christofoletti (1980) acrescenta que os sedimentos podem ser carregados de trecircs modos
principais no fluxo em soluccedilatildeo dissolvidos nos cursos hiacutedricos em suspensatildeo como o
silte e argila e em saltaccedilatildeo geralmente a areia e cascalho que compreendem a carga do
leito do rio Destaca-se que a carga detriacutetica natildeo proveacutem apenas da erosatildeo do fundo dos
leitos e margens fluviais mas que o material intemperizado de vertentes carreado nas
enchentes contribui significativamente para a carga sedimentar transportada
Cabe ressaltar ainda que a relaccedilatildeo do arranjo espacial dos canais com os processos
fluviais (a erosatildeo o transporte e a deposiccedilatildeo de sedimentos) eacute determinante para o
trabalho dos rios Tais processos satildeo diretamente influenciados pela vazatildeo velocidade e
pela intensidade da turbulecircncia (seja no fluxo laminar ou no fluxo turbulento) A
variabilidade no comportamento da velocidade e turbulecircncia das aacuteguas ao longo da seccedilatildeo
transversal condiciona os locais preferenciais de erosatildeo e deposiccedilatildeo ao longo do curso
hiacutedrico
23
Deste modo qualquer intervenccedilatildeo na bacia e canal fluvial compromete o equiliacutebrio natural
da drenagem levando o corpo hiacutedrico a se adaptar agraves mudanccedilas em sua fisionomia
fisiografia e em seus processos ateacute atingir um novo estado de equiliacutebrio Poreacutem eacute na
planiacutecie de inundaccedilatildeo que estas modificaccedilotildees seratildeo mais percebidas pela populaccedilatildeo pois
a maior parte das obras de engenharia como as canalizaccedilotildees e as ocupaccedilotildees das
margens acaba por romper com o equiliacutebrio natural do rio alterando sua dinacircmica e
intensificando seus processos o que na maioria das vezes potencializa as enchentes no
ambiente urbano
Nesse sentido o entendimento dos processos fluviais (erosatildeo transporte e deposiccedilatildeo)
combinado com a anaacutelise da fisiografia fluvial condicionam as peculiaridades na geometria
hidraacuteulica ou seja na relaccedilatildeo entre a vazatildeo velocidade de escoamento tipos de canais
de sedimentos e a topografia Logo o conhecimento geomorfoloacutegico do rio contribui para
pesquisas que necessitem relacionar o funcionamento deste corpo natural com um
planejamento urbano mais efetivo principalmente se considerarmos um recorte em niacutevel
de bacia hidrograacutefica em espaccedilo urbano
211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial
O capiacutetulo que segue versa sobre a atuaccedilatildeo antroacutepica relacionando-a a aacuterea de estudo o
rio Doce poreacutem este trata de forma macro a temaacutetica para contextualizar o leitor sendo
as especificidades das intervenccedilotildees neste recorte geograacutefico trabalhados nos resultados
desta pesquisa
Diante do exposto eacute possiacutevel acompanhar a evoluccedilatildeo dos processos fluviais nos canais
em especial aqueles que tiveram intervenccedilotildees em seu curso natural como as hidreleacutetricas
instaladas a montante a exemplo do Rio Doce onde a interferecircncia direta na vazatildeo e fluxo
de sedimentos altera a hidrodinacircmica do rio comprometendo a erosatildeo e transporte Para
Coelho (2007 p57) as
Mudanccedilas na Declividade Perfil Longitudinal Promovidas pela construccedilatildeo de reservatoacuterio satildeo variadas e caso o efeito da contenccedilatildeo de sedimentos seja significativo os processos fluviais reduziratildeo a capacidade de transporte de sedimento podendo promover um entalhamento do leito do rio imediatamente agrave jusante da barragem
Aleacutem disso esse processo erosivo poacutes-barragem eacute intensificado favorecendo o
assoreamento e sedimentaccedilatildeo do rio a jusante O que pode beneficiar a elevaccedilatildeo da cota
24
do canal fluvial frente a eventos hidroloacutegicos extremos potencializando os efeitos das
inundaccedilotildees nas vaacuterzeas
Ao mesmo tempo o Rio Doce trecho que compreende o Espiacuterito Santo meacutediobaixo curso
eacute impactado nas vazotildees miacutenimas e maacuteximas a jusante apoacutes a instalaccedilatildeo das
barragensUsinas Hidreleacutetricas (UHE) de Mascarenhas (iniacutecio de operaccedilatildeo em 1974)
localizada no Municiacutepio de Baixo Guandu e a de Aimoreacutes (iniacutecio de operaccedilatildeo em 2005)
localizada na divisa do Espiacuterito Santo com Minas Gerais (COELHO 2007)
De acordo com Coelho (opcit) apoacutes a implantaccedilatildeo das usinas ocorreu uma reduccedilatildeo
significativa na vazatildeo da calha principal do Rio Doce conforme Graacutefico 1
Considerando o periacuteodo de 1939 a 2012 a vazatildeo miacutenima apoacutes a instalaccedilatildeo das usinas
chega a atingir 411msup3s e a maacutexima chega apenas a 1251msup3s sendo que no periacuteodo
anterior agrave instalaccedilatildeo das usinas foi registrada a miacutenima de 533 msup3s e uma maacutexima de
1812 msup3s o que ressalta o impacto do barramento sobre o corpo hiacutedrico Aleacutem do
comprometimento dos processos de erosatildeo transporte e sedimentaccedilatildeo (COELHO 2008
e CUNHA 2001)
Diante desta perda de carga liacutequida nos barramentos Cunha (2001 p 241) observa ainda
que as aacutereas a jusante de reservatoacuterios
[hellip] onde o regime do rio sofre significativas modificaccedilotildees devidas ao controle das descargas liquidas e de sedimentos no reservatoacuterio As mudanccedilas ocorridas no regime das aacuteguas neste setor do rio acarretam significativos efeitos nos processos do canal tais como o entalhe do leito a erosatildeo das margens e a deposiccedilatildeo a jusante atingindo longas distacircncias
Aleacutem disso no periacutemetro urbano de Colatina o Rio Doce sofreu outras intervenccedilotildees em
seu canal principal como a implantaccedilatildeo de obras estruturais de macrodrenagem a
exemplo da construccedilatildeo da Av Beira-Rio com intuito de conter o avanccedilo das aacuteguas fluviais
em periacuteodos de cheias
25
Graacutefico 1
Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais (Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia)
Fonte adaptado de Coelho (2007 p154)
26
Como exemplo dos tipos de intervenccedilotildees humanas nas aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial
leitos Carneiro e Miguez (2011 p117) destacam
As accedilotildees de controle e cheias urbanas podem ser classificadas em estruturais quando a paisagem eacute alterada pela accedilatildeo do homem e em natildeo estruturais aqui denominada como estruturante quando o homem aprende a conviver com as enchentes No primeiro caso estatildeo as medidas de controle atraveacutes de obras hidraacuteulicas tais como barragens diques e canais entre outras No segundo caso encontram-se medidas do tipo preventivo tais como zoneamento de aacutereas de inundaccedilatildeo sistemas de alerta educaccedilatildeo ambiental lei de parcelamento e uso dos solos e seguros contra inundaccedilatildeo
Neste cenaacuterio abarcamos os impactos das obras de engenharia como a canalizaccedilatildeo que
altera a fisionomia e fisiografia do rio refletindo-se nos processos geomorfoloacutegicos do canal
e sua planiacutecie de inundaccedilatildeo Para estes a canalizaccedilatildeo eacute uma obra estrutural que aumenta
a capacidade do fluxo do canal aleacutem de intensificar a velocidade do escoamento
superficial antecipando o pico de cheia e transferindo os alagamentos para locais a jusante
na bacia hidrograacutefica
Articulado a esta ideia Cunha (2012b) reflete a desnaturalizaccedilatildeo dos rios por meio de
obras de retificaccedilatildeo com a reduccedilatildeo do comprimento do canal e eliminaccedilatildeo das
sinuosidades Satildeo obras que afetam a estabilidade do corpo hiacutedrico na medida em que
interferem na relaccedilatildeo entre erosatildeo sedimentaccedilatildeo e deposiccedilatildeo provocando efeitos como
alteraccedilatildeo na morfologia do canal Sendo assim ldquo[hellip] a diminuiccedilatildeo da rugosidade no fundo
do canal em conjunto com a perda dos meandros e a aceleraccedilatildeo das velocidades eacute a
principal responsaacutevel pelas mudanccedilas no balanccedilo da energia natural dos sedimentos
fluviais [hellip]rdquo Cunha (2012b p178) No caso do Rio Doce trecho correspondente agrave Av
Beira-Rio alterou-se a sua forma retilinizando-a e sua vegetaccedilatildeo natural foi substituiacuteda
por estruturas de pedras o que compromete a resistecircncia ao fluxo as margens e aos
bancos arenosos
Embora as obras de canalizaccedilatildeo sejam implantadas como eficazes nos canais fluviais para
questotildees de enchentes urbanas para Cunha (op cit) estas necessitam de manutenccedilatildeo
constante envolvendo desde dragagem remoccedilatildeo de obstruccedilotildees a recomposiccedilatildeo do
material utilizado Poreacutem toda a manutenccedilatildeo estaacute associada a alteraccedilotildees morfoloacutegicas e
bioloacutegicas como as que interferem nas soleiras e depressotildees do fundo dos leitos
desestabilizando a vazatildeo no curso a exemplo da
27
ldquo[hellip] eliminaccedilatildeo da sequecircncia de depressotildees e soleiras o aumento da velocidade da corrente a diminuiccedilatildeo da diversidade de habitats o ambiente instaacutevel resultante da flutuaccedilatildeo dos niacuteveis da aacutegua e do substrato moacutevel e a maior flutuaccedilatildeo da temperatura das aacuteguasrdquo (CUNHA 2012b p180)
Ao mesmo tempo o aumento da velocidade dos escoamentos no trecho retificado
possibilita maior erosatildeo transferindo para as aacutereas a jusante uma carga soacutelida
representativa que para Cunha (op cit) configura a formaccedilatildeo de bancos axiais e depoacutesitos
de sedimentaccedilatildeo marginais alterando o equiliacutebrio dos sedimentos a jusante Pois
A jusante das obras de retificaccedilatildeo verificam-se o aumentam da carga soacutelida o assoreamento durante a dragagem a erosatildeo no canal pelos eventos torrenciais do regime e a modificaccedilatildeo na dinacircmica na foz Os sedimentos resultantes da erosatildeo no canal retificado em conjunto com a excessiva carga de sedimentos posta em suspensatildeo durante a dragagem e na fase imediata de poacutes-construccedilatildeo - quando a erosatildeo dos bancos de areia sem vegetaccedilatildeo estaacute em seu niacutevel maacuteximo - originam a formaccedilatildeo de depoacutesitos fluviais de curta duraccedilatildeo a jusante do canal retificado Logo a seguir esses depoacutesitos satildeo erodidos juntamente com as margens e o fundo do leito pelos eventos torrenciais do regime vindo a formar bancos axiais e depoacutesitos de sedimentaccedilatildeo marginais (CUNHA2012b p183)
Portanto o estudo da geomorfologia fluvial contribui diretamente para o entendimento das
cheias nas planiacutecies de inundaccedilatildeo em especial nas bacias hidrograacuteficas que
compreendem a aacuterea urbana e que possuem intervenccedilotildees antroacutepicas diretas na fisiografia
do canal principal Seus processos explicam como as alteraccedilotildees no canal fluvial podem
maximizar os efeitos dos transbordamentos impactando principalmente as populaccedilotildees
ribeirinhas aleacutem de todo ecossistema local Ademais estes fundamentos geomorfoloacutegicos
devem ser associados agrave legislaccedilatildeo vigente afim de subsidiar a elaboraccedilatildeo de instrumentos
legais para atuaccedilatildeo do poder puacuteblico nestas zonas de risco
22 Aspectos Juriacutedicos
Frente agrave crescente demanda sobre os recursos hiacutedricos e solo urbano a partir da deacutecada
de 1930 surgem as primeiras diretrizes que visam regulamentar estes ambientes a
exemplo do Coacutedigo das Aacuteguas Mas soacute a partir dos anos 1960 surgem em acircmbito federal
leis como o Coacutedigo Florestal com o intuito de regular a exploraccedilatildeo das vegetaccedilotildees e
consequentemente proteger os mananciais e em 1979 com o objetivo de ordenar as
28
cidades eacute aprovada a Lei 676679 estabelecendo as normas do parcelamento do solo
urbano
Na medida em que as populaccedilotildees aumentam ampliam-se tambeacutem as pressotildees sobre os
recursos de aacutegua e solo Os processos de uso e a conscientizaccedilatildeo de que estes elementos
satildeo finitos intensificam as formas de controle e preservaccedilatildeo passando para as esferas
estaduais e municipais a responsabilidade de atuar em escala local na proteccedilatildeo desses
ambientes
Ainda em escala federal em 2012 eacute promulgado o Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012
em substituiccedilatildeo ao coacutedigo anterior Lei 47711965 que apresenta as normas de
apropriaccedilatildeo dos recursos naturais pelas novas necessidades das populaccedilotildees citadinas e
rurais No que compete agrave aacuterea de estudo cabe destacar as ocupaccedilotildees em aacutereas de
planiacutecie de inundaccedilatildeo em que de acordo com art 4ordm devem ser preservadas
I - as faixas marginais de qualquer curso drsquoaacutegua natural perene e intermitente excluiacutedos os efecircmeros desde a borda da calha do leito regular em largura miacutenima de (Incluiacutedo pela Lei nordm 12727 de 2012) a) 30 (trinta) metros para os cursos drsquoaacutegua de menos de 10 (dez) metros de largura b) 50 (cinquenta) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura c) 100 (cem) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura d) 200 (duzentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura e) 500 (quinhentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros []
A legislaccedilatildeo eacute riacutegida no que concerne agrave ocupaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo das terras nas faixas
marginais dos rios transferindo aos estados e municiacutepios a responsabilidade de fiscalizar
estes territoacuterios para garantir a efetividade da lei A questatildeo eacute que muitas vezes somada a
falta de planejamento estas fiscalizaccedilotildees satildeo ineficientes o que tem possibilitado o
surgimento cada vez maior das ocupaccedilotildees irregulares
Apoiado tambeacutem pela Constituiccedilatildeo Federal de 1988 nos artigos 182 e 183 surge o
Estatuto das Cidades Lei 102572001 com finalidade de garantir a funccedilatildeo social da
cidade e com este os primeiros Planos Diretores Municipais (PDM) que buscam o
ordenamento do crescimento das cidades em caraacuteter socioeconocircmico e ambiental cidades
sustentaacuteveis Ademais em Colatina eacute instituiacuteda a Lei 42281996 posteriormente revogada
29
pela Lei 52732007 que ldquoInstitui o Plano Diretor do Municiacutepio de Colatina estabelece os
objetivos instrumentos e diretrizes e daacute outras providecircncias para as accedilotildees de
planejamento do Municiacutepio de Colatina []rdquo
O PDM de Colatina assim como Coacutedigo Florestal prevecirc a preservaccedilatildeo dos ecossistemas
beira-rio Aquele ainda dispotildee sobre o parcelamento do solo sustentaacutevel a funccedilatildeo social
da cidade e da propriedade conforme o Plano Diretor de Colatina de 2007 nos artigos
transcritos
Artigo 22 - As diretrizes ambientais no Municiacutepio de Colatina satildeo I - aplicar os instrumentos de gestatildeo ambiental estabelecidos nas legislaccedilotildees federal estadual e municipal bem como a criaccedilatildeo de outros instrumentos adequando-os agraves metas estabelecidas pelas poliacuteticas ambientais II - compatibilizar as diretrizes de uso ocupaccedilatildeo e parcelamento do solo aos objetivos de proteccedilatildeo ambiental dos ecossistemas [] Artigo 23 - Satildeo diretrizes do sistema de drenagem urbana I - disciplinar a ocupaccedilatildeo das cabeceiras e vaacuterzeas das bacias hidrograacuteficas do Municiacutepio preservando a vegetaccedilatildeo existente e visando agrave sua recuperaccedilatildeo [] III - definir mecanismos de fomento para usos do solo compatiacuteveis com aacutereas de interesse para drenagem tais como parques lineares aacuterea de recreaccedilatildeo e lazer hortas comunitaacuterias e manutenccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa [] V - implantar medidas natildeo-estruturais [sic] de prevenccedilatildeo de inundaccedilotildees tais como controle de erosatildeo especialmente em movimentos de terra controle de transporte e deposiccedilatildeo de entulho e lixo combate ao desmatamento assentamentos clandestinos e a outros tipos de invasotildees nas aacutereas com interesse para drenagem [] VII - garantir e respeitar a necessaacuteria permeabilidade do solo inclusive buscando alternativas de pavimentaccedilatildeo com maior de permeabilidade [sic] [] Artigo 84 ndash Satildeo objetivos do ordenamento territorial do Municiacutepio de Colatina [] IV ndash conter a expansatildeo da ocupaccedilatildeo urbana em aacutereas de proteccedilatildeo ambiental [] Artigo 120 ndash Ficam desde jaacute identificadas como Zonas de Proteccedilatildeo Ambiental 2 ndash ZPA 2 as seguintes aacutereas [] III ndash as aacutereas existentes ao longo de qualquer curso drsquoagua desde o niacutevel mais alto em faixa marginal cuja largura miacutenima seraacute de a) 15m (trinta metros) [sic] para os cursos drsquoagua com menos de 10m (10
metros) de largura contidos no periacutemetro urbano [] c) 30m (trinta metros) para os cursos drsquoagua que tenham de10m (dez
metros a 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano
[]
30
e) 50m (cinquenta metros) para os cursos drsquoagua que tenham mais de 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 60422013)
[]
De modo geral verifica-se que a legislaccedilatildeo apresenta instrumentos que permitem a
prevenccedilatildeo ou controle de ocupaccedilotildees irregulares ou clandestinas em aacuterea de APP aleacutem de
propostas para resguardar de grandes impactos ambientais o corpo hiacutedrico principal do
municiacutepio o Rio Doce Possibilitando assim a minimizaccedilatildeo dos impactos causados pelas
cheias agrave populaccedilatildeo local
Poreacutem cabe destacar que o Plano Diretor Municipal de Colatina natildeo contempla o
estipulado no Coacutedigo Florestal 2012 Lei Federal onde os cursos drsquoaacutegua com largura
superior a 600(seiscentos) metros devem ser resguardados com aacutereas de preservaccedilatildeo
permanente de 500(quinhentos) metros entre outros sendo que a redaccedilatildeo desta parte do
PDM eacute dada pela lei 60422013 posterior a publicaccedilatildeo do novo Coacutedigo Florestal Sendo
assim verifica-se que apesar da intenccedilatildeo de resguardar uma faixa de no maacuteximo
50(cinquenta) metros em periacutemetro urbano para a contenccedilatildeo de cheias e mata ciliar o
PDM de Colatina natildeo atende o miacutenimo previsto em Lei Federal O que tem impactado todo
ecossistema beira rio e a populaccedilatildeo ribeirinha uma vez que a faixa marginal de proteccedilatildeo
de 50(cinquenta) metros em muitos casos natildeo tem comportado o impacto dos defluacutevios
No entanto a legislaccedilatildeo trata de aspectos gerais natildeo pontuando as aacutereas responsaacuteveis
por cada accedilatildeo aleacutem de sua aplicabilidade depender da elaboraccedilatildeo de um cronograma de
execuccedilatildeo bem como um conjunto de planos e normas especiacuteficos para cada diretriz com
detalhamento das propostas de intervenccedilatildeo Isto natildeo ocorreu ateacute o presente
Aleacutem disso a cidade de Colatina surgiu num cenaacuterio histoacuterico anterior agraves legislaccedilotildees
urbaniacutesticas e ambientais inclusive do Coacutedigo das Aacuteguas o que dificulta a execuccedilatildeo de
um planejamento que concilie a preservaccedilatildeo das matas beira-rio garantindo a faixa de
APP com a ocupaccedilatildeo urbana consolidada
A aacuterea de estudo se apresenta como ambiente fragilizado apesar de ser regida por
legislaccedilotildees desde a escala federal ateacute a municipal que visam proteger e ordenar o uso e
cobertura da terra nas faixas marginais dos rios Mas a dificuldade das prefeituras em
aplicar os instrumentos legais nestes ambientes seja por interesses privados ou falta de
recursos para investimentos em soluccedilotildees a longo prazo continua expondo as populaccedilotildees
31
aos impactos dos eventos hidroloacutegicos criacuteticos como os que resultam nas inundaccedilotildees
Para que se alcance esse parcelamento do solo sustentaacutevel satildeo necessaacuterios esforccedilos da
gestatildeo municipal em estipular prazos e metas de atuaccedilatildeo afora interagir os diferentes
setores no planejamento em niacutevel de bacia hidrograacutefica considerando as peculiaridades
desta escala de trabalho
23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos
Sendo a ciecircncia que estuda a relaccedilatildeo homemnatureza a Geografia tem muito a contribuir
nas anaacutelises que envolvem o meio ambiente que foi transformado pela dinacircmica da
sociedade Mas historicamente a dialeacutetica das correntes fiacutesica e humana tem imperado de
modo dissociado levando o geoacutegrafo a estudar estes processos separadamente Poreacutem
se o resultado pretendido eacute integrado fazem-se necessaacuterias pesquisas mais amplas que
cruzem as diferentes vertentes geograacuteficas
Considerando que a problemaacutetica dos impactos ambientais urbanos envolve a questatildeo
natural o rio e a questatildeo social e poliacutetica a sociedade e as leis (COELHO 2013) uma
pesquisa neste acircmbito requer o entendimento destes dois objetos a fim de se apreender
o processo de crescimento das cidades brasileiras e a sua relaccedilatildeo com os recursos
hiacutedricos
A partir da deacutecada de 1950 devido ao ecircxodo rural mais intenso as cidades brasileiras
incharam rapidamente com a migraccedilatildeo do camponecircs que buscava melhores condiccedilotildees de
vida como trabalho na induacutestria o acesso agraves escolas saneamento entre outros E
segundo Gorski (2010) a populaccedilatildeo brasileira passou desde o iniacutecio deste processo de 19
milhotildees de habitantes em 1950 para 138 milhotildees de habitantes em 2000 (dados do IBGE)
o que corrobora o raacutepido crescimento das cidades
Todavia as estruturas puacuteblicas natildeo estavam preparadas para um acreacutescimo populacional
tatildeo significativo e em curto espaccedilo de tempo E o que observamos eacute o acesso limitado
dessa populaccedilatildeo agraves aacutereas centrais da cidade sendo induzida a se estabelecer nas
periferias Nesta visatildeo
O difiacutecil acesso da populaccedilatildeo de baixa renda agraves aacutereas mais centrais das cidades contribuiu segundo Raquel Rolnik para a expansatildeo da periferia o que muitas vezes implicou e implica ainda invasatildeo de aacutereas de proteccedilatildeo de mananciais com a aquiescecircncia do poder puacuteblico Esta
32
dinacircmica agravou a situaccedilatildeo de risco dos mananciais pela eliminaccedilatildeo das matas ciliares e consequentemente erosatildeo das margens dos cursos drsquoaacutegua e assoreamento de suas calhas e pela contribuiccedilatildeo do esgoto in natura (ROLNIK1997 apud GORSKI 2010 p62)
Sendo assim a supressatildeo das matas ciliares e das vegetaccedilotildees das encostas para fins de
ocupaccedilatildeo urbana interfere diretamente no ciclo hidroloacutegico diminuindo a absorccedilatildeo de
aacutegua pelo subsolo e pela evapotranspiraccedilatildeo favorecendo o escoamento superficial (Figura
6) que intensifica a velocidade de drenagem das aacuteguas Este processo nas encostas eacute
mais significativo se considerarmos que com a supressatildeo da cobertura vegetal e
impermeabilizaccedilatildeo do solo as precipitaccedilotildees acabam por lavar todo o material
intemperizado sedimentos carregando-o diretamente para o corpo hiacutedrico e contribuindo
para o assoreamento
Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento Fonte Gorski (2010 p64)
Por outro lado as ocupaccedilotildees ribeirinhas nas vaacuterzeas dos rios modificam a dinacircmica fluvial
frente aos defluacutevios A compactaccedilatildeo e o nivelamento do solo associados agrave
impermeabilizaccedilatildeo por concreto asfalto e outros materiais alteram todo o sistema de
drenagem natural e contribuem para a erosatildeo fluvial Aleacutem disso a gestatildeo puacuteblica que
33
deveria investir num parcelamento do solo sustentaacutevel resguardando ldquouma alocaccedilatildeo de
espaccedilosrdquo (CANHOLI 2005 p 15) para a drenagem acaba por colaborar com as enchentes
urbanas na medida em que decide por obras estruturais como a canalizaccedilatildeo (Figura 7
p30) e a microdrenagem que transferem os impactos das inundaccedilotildees a jusante
Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia Fonte Gorski (2010 p69)
Cabe destacar que desde 1965 com o primeiro Coacutedigo Florestal as matas beira-rio jaacute
eram resguardadas da degradaccedilatildeo humana poreacutem com todo o boom urbano a partir de
1950 a falta de estrutura e ingerecircncia municipal no que se refere ao parcelamento e uso
e ocupaccedilatildeo da terra urbana possibilitou a formaccedilatildeo dos assentamentos clandestinos em
APP e na encosta de morros Em condiccedilotildees precaacuterias sem saneamento baacutesico e demais
infraestruturas urbanas estes assentamentos acabam sendo as regiotildees mais afetadas
com as inundaccedilotildees
Junto agraves questotildees jaacute levantadas vale destacar que as aacuteguas das inundaccedilotildees propiciam o
aumento das doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica (febre tifoide hepatite leptospirose
esquistossomose entre outras) pois carregam segundo Gorski (2010) toda uma poluiccedilatildeo
difusa efluentes domeacutesticos industriais e agroindustriais aleacutem do lixo urbano da poluiccedilatildeo
do ar e das ruas
34
Por outro lado esta ocupaccedilatildeo urbana natildeo planejada perde o benefiacutecio que os corpos
hiacutedricos podem oferecer como [] as paisagens fluviais que aos poucos foram sendo
apropriadas como paisagens urbanas [] (GORSKI 2010 38) aleacutem do microclima
associado agrave umidade pela evapotranspiraccedilatildeo que ameniza a sensaccedilatildeo teacutermica local
Poreacutem conforme observado por Graeff (2011) natildeo eacute cabiacutevel atualmente implantar a
legislaccedilatildeo de APP de modo jurista Deve-se considerar toda a representatividade cultural
assentada sobre os leitos destes rios (avenidas importantes casas com arquitetura
histoacuterica entre outros) Aleacutem disso para a demarcaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo
permanente hoje eacute necessaacuteria uma anaacutelise teacutecnica pautada na geomorfologia e
hidrologia de modo a interpretar o ldquocomportamento histoacuterico dos cursos drsquoaacutegua na
paisagem prevendo cenaacuterios de impactos futurosrdquo da atividade humana sobre suas faixas
marginais
Tendo em vista que grande parte da malha urbana brasileira estaacute alocada em APPs e que
segundo Graeff (2011) estas jaacute possuem uma unidade de paisagem estabelecida e muitas
vezes secular configurando siacutetios de importacircncia cultural e apreendendo que
De modo semelhante nas demais cidades haveraacute que ser entendido o meio urbano como ele realmente eacute ndash um encontro entre as necessidades de habitaccedilatildeo com atividades humanas e de conservaccedilatildeo ambiental esta segunda tambeacutem a serviccedilo do homem e natildeo somente de objetivos difusos e distanciados da sobrevivecircncia da sociedade (GRAEFF 2011 206)
Por tais motivos o trabalho com a geomorfologia fluvial urbana deve abarcar os princiacutepios
do bom senso compreendendo que nestas aacutereas de atividade antroacutepica consolidada pode-
se fazer uso de instrumentos de engenharia avanccedilados para uma convivecircncia equilibrada
do homem com a natureza no entorno Contudo deve-se incentivar as aacutereas de expansatildeo
urbana ou zona periurbana (zonas de transiccedilatildeo da aacuterea urbana para a rural) com poliacuteticas
de incentivo a pavimentaccedilotildees mais permeaacuteveis a fim de minimizar o escoamento
superficial para o rio favorecendo a infiltraccedilatildeo
Apesar de os impactos gerados pela interferecircncia humana nas aacutereas mais fragilizadas da
bacia hidrograacutefica vaacuterzeas e encostas refletirem-se em cataacutestrofes com prejuiacutezos
humanos ambientais e urbanos alguns autores brasileiros como Canholi Graeff Cunha
Carneiro e Miguez jaacute indicaram outros caminhos para uma convivecircncia harmoniosa com
a natureza Aleacutem do mais paiacuteses desenvolvidos como a Holanda deixaram de ldquolutar contra
35
as cheiasrdquo para permitir agraves aacuteguas das enchentes a capacidade de acumular e dispersar
com impacto reduzido para as populaccedilotildees (CARNEIRO MIGUEZ 2011)
Sendo assim a proposta deste estudo eacute identificar os principais agentes que influenciam
as inundaccedilotildees entendendo seu papel e atuaccedilatildeo no contexto urbano de Colatina Mas eacute
tambeacutem a de ampliar a abordagem da temaacutetica com uma anaacutelise geograacutefica integrada
ressaltando as medidas que constam no planejamento urbano e sua aplicaccedilatildeo nas faixas
marginais do corpo hiacutedrico
36
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS
Esta pesquisa eacute constituiacuteda de trecircs etapas principais sendo que a primeira teve como
premissa a confecccedilatildeo de um fluxograma (Figura 8) de trabalho para orientar a pesquisa
em seguida teve iniacutecio o levantamento de bibliografias que abordam temas como a
geomorfologia fluvial e urbanizaccedilatildeo em Colatina adotando-se como referecircncia as
pesquisas de Coelho (2006 2007 2008 e 2009) e Albani (2012) Aleacutem disso muito
contribuiacuteram para este trabalho o relatoacuterio do INCAPER da CPRM e os dados do IBGE
Cabe destacar tambeacutem as experiecircncias com recursos hiacutedricos em ambientes urbanos de
Carneiro e Miguez (2011) em especial Cunha (2001 2012ab)
Esta etapa consistiu tambeacutem na busca de material cartograacutefico como aquisiccedilatildeo de planos
de informaccedilatildeo de limite estadual municipal bairros mancha urbana corpo drsquoaacutegua e
logradouros atraveacutes de dados disponiacuteveis no Sistema Integrado de Bases Geoespaciais
do Estado do Espiacuterito Santo (GEOBASES 2014) no Instituto Jones dos Santos Neves
(IJSN 2015) e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2014) imagens
orbitais gratuitas do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI bandas 2-3-4 e 8 (Pan) oacuterbita 216
ponto 73 com datas de passagem em 02012014 e 22032014 agraves 946 (horaacuterio central
da oacuterbita) junto ao Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2014) aleacutem do ortofotomosaico
do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hiacutedricos (IEMA 2014) do Espiacuterito
Santo referente ao voo de 2007 a 2008
Na segunda etapa foram realizadas duas investigaccedilotildees de campo sendo a primeira no
dia 24 de junho de 2014 com a finalidade de fazer o reconhecimento da aacuterea de estudo
fotografar e conversar com moradores e teacutecnicos da prefeitura O segundo trabalho de
campo ocorreu no dia 14 de fevereiro de 2015 e por meio deste foi possiacutevel identificar
pontos sujeitos a inundaccedilatildeo analisar a topografia e realizar as entrevistas com moradores
e funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina
37
Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC)
38
Na terceira etapa foram realizados os mapeamentos e processamentos de todos os planos
de informaccedilatildeo vetoriais e matriciais em ambiente de SIG no sistema ArcGis 103 iniciando
com a ediccedilatildeo dos dados do Municiacutepio e adjacecircncias que foram ajustados quando
necessaacuterio ao sistema de projeccedilatildeo UTM no Datum SIRGAS ndash 2000 na Zona 24 sul com
meridiano central -39 W com todo o mapeamento produzido seguindo a padronizaccedilatildeo
cartograacutefica proposta por Fitz (2008 a b)
O geoprocessamento teve iniacutecio com a composiccedilatildeo das imagens orbitais do Landsat-8 na
cor natural da imagem (2R 3G 4B) e por meio da teacutecnica de Pan Sharpening ou fusatildeo
de imagens a imagem cor natural foi agrupada agrave da banda 8 pancromaacutetica para obtenccedilatildeo
de uma melhor resoluccedilatildeo espacial neste caso chegando a 15 metros sendo resguardado
o conteuacutedo da imagem composta Na sequecircncia foi realizada a extraccedilatildeo da maacutescara do
periacutemetro urbano de Colatina e gerada a classificaccedilatildeo supervisionada da imagem Landsat-
8 no periacuteodo de cheia (janeiro) e vazante (marccedilo) o que possibilitou a delimitaccedilatildeo da calha
do Doce nestes dois eventos
Em seguida foram realizadas as 8 (oito) mediccedilotildees do leito regular sendo 4 (quatro) no
periacuteodo de cheia e 4 (quatro) na vazante de modo a definir a largura meacutedia da calha do
leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina Para chegar a uma medida geral
da largura do rio utilizaram-se ferramentas estatiacutesticas como a meacutedia que eacute uma medida
de tendecircncia central onde numa amostra de tamanho N constituiacuteda por elementos de x
variando de eacute possiacutevel extrair a meacutedia aritmeacutetica atraveacutes da equaccedilatildeo
A meacutedia aponta para onde mais convergem os dados de uma distribuiccedilatildeo
A partir desta definiccedilatildeo da meacutedia da largura da calha do Rio Doce foi possiacutevel em consulta
ao Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e a Lei 52732007 determinar a faixa miacutenima
de preservaccedilatildeo permanente deste corpo fluvial aleacutem da confecccedilatildeo do mapa com o
poliacutegono de APP
Mediante a anaacutelise do mapa verificou-se que grande parte dos bairros do municiacutepio estatildeo
contidos nos poliacutegonos de APP em especial a preservaccedilatildeo de 500 metros conforme lei
federal E por meio deste foram cruzados os dados de vazatildeo as fotos histoacutericas das
enchentes e o poliacutegono de mata ciliar o que permitiu o entendimento das inundaccedilotildees
39
Em ambiente de SIG tambeacutem foram vetorizados os trecircs traccedilados da Estrada de Ferro
Vitoacuteria a Minas o trajeto do Rio Santa Maria do Doce antes e depois da retilinizaccedilatildeo e os
sucessivos aterros na margem direita do Rio Doce no periacutemetro que compreende a Av
Beira-Rio
As teacutecnicas de sensoriamento remoto como a classificaccedilatildeo supervisionada permitiram a
definiccedilatildeo do poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo atraveacutes da imagem da cheia de janeiro Para
tanto foi realizada tambeacutem a classificaccedilatildeo hiacutebrida objetivando aliar a interpretaccedilatildeo visual
com a digital (JENSEN 2009) Por fim foi realizada amarraccedilatildeo com o levantamento
geodeacutesico da CPRM (2014) para garantir a precisatildeo do traccedilado do poliacutegono de cheia
A partir do tratamento dos dados bibliograacuteficos cartograacuteficos e imagens foi possiacutevel
sistematizar este trabalho o que permitiu identificar elementos histoacutericos de intervenccedilatildeo
na paisagem do Doce como os aterros e a ocupaccedilatildeo urbana As visitas de campo a
entrevista e conversas com moradores foram fundamentais para a validaccedilatildeo das
informaccedilotildees o que tornou esta metodologia eficaz para anaacutelise do fenocircmeno da inundaccedilatildeo
em Colatina
40
4 RESULTADOS
41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana
A ocupaccedilatildeo ao longo das planiacutecies de inundaccedilatildeo dos rios tem ocorrido diante da
necessidade deste recurso para as atividades vitais humanas Cunha (2012b p219)
entende que ldquosuas margens tecircm sido o centro preferido da habitaccedilatildeo humana e o
suprimento de suas aacuteguas natildeo soacute fertiliza os campos para o cultivo como tambeacutem fornece
energia e permite recreaccedilatildeordquo Logo o estabelecimento das vilas nas bordas dos cursos
drsquoaacutegua favorece a logiacutestica ocupacional
Historicamente em solo espiacuterito-santense a formaccedilatildeo das vilas ocorreu agraves margens de
estrateacutegicos cursos drsquoaacutegua e a exploraccedilatildeo do ouro de Minas Gerais para Albani (2012)
determinou que a Coroa proibisse nos seacuteculos XVII a XIX a implantaccedilatildeo de estradas e
exploraccedilatildeo de terras na Capitania do Espiacuterito Santo pois os portugueses temiam incursotildees
estrangeiras deixando assim o desenvolvimento capixaba restrito agrave faixa litoracircnea
Relegada enquanto ldquobarreira verderdquo para defesa das minas de ouro e minerais do atual
territoacuterio das Minas Gerais segundo Coelho (2007) a Capitania do Espiacuterito Santo soacute
passou a se interiorizar para o centro-oeste onde se localiza atualmente a cidade de
Colatina a partir de 1847 por meio das ocupaccedilotildees de Santa Izabel e Santa Leopoldina
que permitiram a descida do Rio Santa Maria do Doce ateacute as imediaccedilotildees da atual cidade
de Colatina
Assim foi que o movimento colonizador desceu o vale do Santa Maria do Rio Doce atingindo em 1891 a regiatildeo das matas onde hoje se acha a cidade de Colatina [] Esta penetraccedilatildeo inicial foi feita com elementos alematildees de Santa Leopoldina e no rio Doce ficou muito anos restrita agrave aacuterea inicial A expansatildeo ao longo do vale tomou impulso com a chegada a Colatina em 1906 dos trilhos da Estrada de Ferro Diamantina (atual Vitoacuteria-Minas) (STRAUCH1955 apud COELHO 2007 p105)
Sendo assim Coelho (op cit) relata que a ocupaccedilatildeo se deu atraveacutes da supressatildeo da mata
nativa no baixo curso do Rio Doce de Colatina a Linhares sendo a madeira daiacute extraiacuteda
levada ateacute o rio e encaminhada ateacute Povoaccedilatildeo vilarejo junto agrave foz de onde eram carregados
os navios Neste periacuteodo tem-se a instalaccedilatildeo de um ciclo madeireiro na regiatildeo com a
disposiccedilatildeo de serrarias nas proximidades das matas
41
Todavia somente a partir de 1906 com a chegada da estrada de ferro na regiatildeo o
transporte madeireiro foi transferido para as locomotivas Agrave medida que a implantaccedilatildeo da
Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas avanccedilava para o interior levava consigo as frentes de
desmatamento modificando as paisagens das margens do Rio Doce e se apropriando dos
espaccedilos deste rio (Figura 9)
Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906 Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce Fonte Albani (2012 p 63)
Conforme Albani (2012) com a vinda dos mineiros e fluminenses reforccedilados
posteriormente a partir de 1889 por colonizadores italianos e alematildees eacute que as
ocupaccedilotildees territoriais ocorreram de modo efetivo Atraveacutes do Barracatildeo do Rio Santa Maria
(Figura 10) espaccedilo do governo inicialmente destinado a alojar os migrantes e a produccedilatildeo
surgiram as primeiras residecircncias nas proximidades da igreja de Satildeo Sebastiatildeo Sendo
assim
Eacute importante destacar que o desenvolvimento da regiatildeo onde se encontra o municiacutepio de Colatina teve iniacutecio no final do seacuteculo XIX no nuacutecleo de colonizaccedilatildeo Antocircnio Prado localizado no distrito de Boapaba antiga vila do Mutum O nuacutecleo recebeu dezenas de famiacutelias de imigrantes italianos e ali desenvolveram atividades de agricultura e com a expansatildeo da localidade surge tambeacutem o comeacutercio (ALBANI 2012 p61) [hellip] A vila de Colatina entretanto logo passou a se transformar no principal nuacutecleo e futuramente na sede do municiacutepio Aleacutem da facilidade da produccedilatildeo atraveacutes do Rio Doce a vila de Colatina tornou-se referecircncia dos imigrantes no caminho para a colonizaccedilatildeo das terras ao norte do estado (MADURO1985 apud ALBANI 2012 p62)
42
Desse modo com o desenvolvimento das atividades de cafeicultura madeireira e do
entroncamento logiacutestico de acesso agraves aacutereas do norte a vila eacute elevada em 1921 agrave categoria
de municiacutepio A atual configuraccedilatildeo territorial foi adquirida a partir de 2001 conforme IBGE
(2014) dispondo de seis distritos Colatina (sede) Acircngelo Frechiami Baunilha Boapaba
Graccedila Aranha e Itapina
Cabe destacar poreacutem que a ocupaccedilatildeo inicial da cidade de Colatina se perfaz pela margem
direita do Rio Doce onde se localiza o atual bairro de Colatina Velha e onde havia se
instalado o Barracatildeo de Santa Maria Nesse periacuteodo a ponte ainda natildeo fora edificada
limitando assim a ocupaccedilatildeo da margem esquerda
Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da regiatildeo Fonte Albani (2012 p62)
Conforme Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p65) a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro
Vitoacuteria a Minas em 1906 (Figura 11) possibilitou a expansatildeo da cidade de Colatina e seu
desenvolvimento econocircmico Todavia sua instalaccedilatildeo paralela agrave margem direita do Rio
Doce favoreceu a localizaccedilatildeo de avenidas e ruas centrais em sua proximidade
43
Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p65)
Entretanto foi com a construccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos (Figura 12) em 1928 que a
margem direita se conectou agrave margem esquerda da cidade o que aleacutem de possibilitar a
ocupaccedilatildeo facilitou o acesso agraves regiotildees mais ao norte do Estado
Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p66)
44
Por conseguinte a estrada de ferro e a ponte foram os fatores determinantes para o
estabelecimento dos migrantes agraves margens do Rio Doce e a formaccedilatildeo do atual municiacutepio
de Colatina Contudo foi a partir desta posiccedilatildeo privilegiada que a cidade passou a ser
entreposto comercial e logiacutestico da regiatildeo noroeste e com isso sua aacuterea urbana expandiu-
se de modo desordenado inicialmente ao longo da planiacutecie de inundaccedilatildeo do Doce Coelho
(2007 p108 e 109) relata que
Os efeitos dessa urbanizaccedilatildeo (novos parcelamentos) e do desmatamento produz [sic] normalmente o aumento da velocidade das aacuteguas superficiais (pluviais) que eram antes interceptadas pelas matas com boa parte absorvida pelo solo O que ocorre geralmente nessas aacutereas eacute a chegada mais raacutepida das aacuteguas das chuvas para o tributaacuterios e calha principal do rio por fluxos concentrados que provocam processos de erosotildees do tipo laminar ravina e voccediloroca transportando quantidades expressivas de sedimentos que por sua vez causam assoreamento e a ocorrecircncia de cheias mais frequentes no rio
Com o crescimento acelerado do periacutemetro urbano proporcionado pelo apogeu do ciclo
cafeeiro as proacuteximas deacutecadas levaratildeo a cidade de Colatina a sofrer com impactos
advindos das alteraccedilotildees no ambiente fluvial do Rio Doce em especial os referentes a
ocupaccedilatildeo (impermeabilizaccedilatildeo) e desmatamento das margens (interferecircncia na drenagem
natural) conforme destacado por Coelho (2007)
Eacute fato que o municiacutepio viveu nas deacutecadas de 1940 e 1950 o auge do ciclo cafeeiro
chegando a ser no ranking brasileiro o 13ordm municiacutepio produtor de cafeacute no ano de 1947
(CAMPOS JUNIOR 2004 apud ALBANI 2012 p69) Poreacutem a partir de 1960 este boom
entrou em colapso com crise do cafeacute que assolou todo o paiacutes levando grande parte dos
pequenos proprietaacuterios rurais a migrarem para centros urbanos em especial no Espiacuterito
Santo a regiatildeo da Grande Vitoacuteria e tambeacutem para o centro de Colatina
Em razatildeo da crise cafeeira a populaccedilatildeo rural migra para centros urbanos A populaccedilatildeo migrou em grande quantidade para a Grande Vitoacuteria para fora do estado e tambeacutem para a cidade de Colatina principal aglomerado urbano da regiatildeo Esse processo provoca o aumento da aacuterea urbana de Colatina A populaccedilatildeo da cidade que era de 3913 habitantes em 1940 cresceu para 26757 habitantes em1960 (ALBANI2012 p71)
O crescimento raacutepido do centro de Colatina aliado ao aumento populacional direciona
grande parte dos migrantes para as aacutereas menos centrais da cidade levando agrave ocupaccedilatildeo
de locais irregulares como os morros e as margens direita e esquerda do Rio Doce Este
45
processo configurou a nova paisagem do municiacutepio povoando do vale agraves encostas (Figura
13)
Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes Fonte Albani (2012 p73)
Associado a este processo de reconfiguraccedilatildeo espacial nas proacuteximas deacutecadas o municiacutepio
de Colatina passaraacute por sucessivas perdas de territoacuterios ateacute atingir os limites atuais (Figura
1 p17) Aliado a estas perdas territoriais seu quantitativo absoluto populacional tambeacutem
sofreraacute impactos poreacutem de modo geral a populaccedilatildeo urbana deste municiacutepio apresentou
crescimento continuo (Graacutefico 2)
Graacutefico 2
Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 2010
Elaborado pela autora Fonte 1940 e 1950 Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p82) 1960 a 2010 IBGE
0
20000
40000
60000
80000
100000
120000
1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020
Populaccedilatildeo Urbana Colatina 1940 - 2010
46
Assim como tem ocorrido nas grandes capitais Colatina cresceu em quantitativo
populacional e territorial urbano de modo muito raacutepido e por este desenvolvimento natildeo ter
sido aliado a um planejamento urbano e ambiental sustentaacutevel a cidade tem sentido os
reflexos das suas interferecircncias ao longo do canal do Doce O que tem provocado
antecipaccedilatildeo dos picos de vazatildeo que no periacutemetro urbano ocasiona as inundaccedilotildees pois
natildeo conseguindo o rio acomodar estes defluacutevios transfere em curto espaccedilo de tempo as
aacuteguas a sua planiacutecie de inundaccedilatildeo atingindo os bairros mais antigos do municiacutepio
Por fim entender o contexto histoacuterico do crescimento da cidade revela muito do panorama
atual E por meio de uma anaacutelise conjunta da histoacuteria com os novos planejamentos eacute
possiacutevel propor intervenccedilotildees urbanas que possibilitem um conviacutevio harmonioso entre
natureza e sociedade neste caso entre o Rio Doce e o centro de Colatina Diante desta
proposta adiante apresentaremos a evoluccedilatildeo dos bairros associando seus periacuteodos de
ocupaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo espacial nas imediaccedilotildees do curso principal do Doce
411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade
Com nuacutecleo inicial de povoamento no Barracatildeo de Santa Maria a cidade de Colatina
cresce a partir deste ponto agrave margem direita do Rio Doce de onde surgem as primeiras
residecircncias comeacutercios e a igreja Atualmente a regiatildeo compreende o bairro de Colatina
Velha que de acordo com Albani (2012 p91) [hellip] ldquopode ser considerado o primeiro polo
de crescimento da cidaderdquo
Aliado ao aumento da populaccedilatildeo migrante das fazendas com a crise do cafeacute o nuacutecleo de
Colatina Velha passa a ser um ponto de passagem obrigatoacuterio para os viajantes que
vinham majoritariamente do sul uma vez que o Rio Doce configurava uma barreira natural
agrave ocupaccedilatildeo das terras ao norte Aleacutem disso a margem esquerda deste canal fluvial era
habitat dos hostis iacutendios botocudos o que dificultava a sua apropriaccedilatildeo
Sendo assim a ocupaccedilatildeo de Colatina conteve-se agrave margem direita nesta primeira fase o
que define o primeiro vetor de crescimento da cidade na direccedilatildeo leste para oeste partindo
das imediaccedilotildees do Barracatildeo de Santa Maria sentido ao Rio Santa Maria do Doce (Figura
14) E a partir de 1906 com a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas da entatildeo
Companhia Vale do Rio Doce atual Vale este vetor de crescimento se consolida e
47
proporciona o surgimento de importantes avenidas paralelas agrave ferrovia a exemplo da Av
Getuacutelio Vargas
Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de crescimento Elaborado pela autora
48
O segundo vetor do crescimento de Colatina estava condicionado agrave construccedilatildeo da ponte
Florentino Aacutevidos a qual conectou a margem direita agrave esquerda do Rio Doce permitindo
a ocupaccedilatildeo da porccedilatildeo ao norte Portanto somente a partir de 1928 com a finalizaccedilatildeo da
obra da ponte a barreira natural pocircde ser transposta o que possibilitou ao lado esquerdo
desenvolver uma nova linha de crescimento urbano com a ocupaccedilatildeo do atual bairro de
Satildeo Silvano
O terceiro vetor de crescimento estaacute associado agrave implantaccedilatildeo do bairro Luiz Iglesias na
margem direita e os de Maria das Graccedilas e Coluacutembia na margem esquerda Albani (2012)
ressalta que esta fase da ocupaccedilatildeo urbana estaacute associada ao desenvolvimento do sistema
viaacuterio como a proximidade da BR-259 sentido Vitoacuteria- Colatina da ES-80 que liga
Colatina agrave regiatildeo norte da ES-256 que a conecta a Marilacircndia e da proximidade da
estaccedilatildeo ferroviaacuteria Carlos Germano Nauman (Figura 15)
Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios e linhas feacuterreas que interceptam a cidade de Colatina Elaborado pela autora
Jaacute na quarta e mais recente linha de crescimento da cidade temos os novos loteamentos
residenciais e industriais a exemplo do de Barbados e do bairro Santa Helena que surgem
49
acompanhando o traccedilado da ponte que contorna a leste a cidade como novo acesso agrave
porccedilatildeo norte do estado Albani (2012 p118) destaca que
Apesar da construccedilatildeo da Segunda Ponte ter sido iniciada em 1986 somente foi inaugurada em 2007 A conclusatildeo da ponte e a construccedilatildeo de uma rodovia de contorno desviaram a BR-259 do centro da cidade O desvio da rodovia federal trouxe um desafogamento do tracircnsito nas principais vias da cidade e um novo direcionamento na expansatildeo urbana Alguns loteamentos surgiram nesse periacuteodo proacuteximo agrave Segunda Ponte e ao contorno na margem norte do rio principalmente no bairro Santa Helena (Figura 55) Essa situaccedilatildeo indica mais uma vez que as linhas de crescimento em Colatina satildeo orientadas pelas vias de transporte
Portanto o crescimento do periacutemetro urbano de Colatina estaacute associado agrave superaccedilatildeo das
barreiras naturais em especial o Rio Doce por meio de investimentos em obras de
engenharia que permitiram o deslocamento humano para a margem esquerda deste curso
Sem duacutevida as vias de transporte foram elementares na construccedilatildeo do periacutemetro urbano
de Colatina pois na medida que se consolidava o sistema viaacuterio as ocupaccedilotildees tambeacutem se
favoreciam destas vias de locomoccedilatildeo A evoluccedilatildeo da aacuterea urbana portanto acompanha
as principais vias de transporte (Figura 15 p45) e estas se utilizam da posiccedilatildeo estrateacutegica
e geograficamente favoraacutevel do canal do Doce para a definiccedilatildeo de seus traccedilados
Apoacutes 94 anos de emancipaccedilatildeo de Linhares o territoacuterio de Colatina eacute fundamental para a
manutenccedilatildeo dos municiacutepios do noroeste capixaba Diante desta posiccedilatildeo estrateacutegica torna-
se relevante o entendimento de como o urbano se relaciona com o meio natural a fim de
se estabelecer poliacuteticas de ordenamento territorial que promovam a qualidade de vida no
municiacutepio Adiante seraacute analisada a situaccedilatildeo da calha principal do Rio Doce elemento
fundamental na compreensatildeo do uso e cobertura da terra de Colatina
42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce
Compreendendo uma aacuterea de 3330 kmsup2 o periacutemetro urbano de Colatina eacute afetado pela
velocidade dos defluacutevios de modo que grande parte dos bairros beira-rio eacute tomada pelas
aacuteguas excedentes da calha principal do Doce o que configura o fenocircmeno de inundaccedilatildeo
Ao pesquisar estes fenocircmenos eacute necessaacuterio relacionar o uso da terra com os processos
geomorfoloacutegicos do corpo hiacutedrico Sendo assim por meio de teacutecnicas de
geoprocessamento foram realizadas oito mediccedilotildees da calha principal do Rio Doce para
50
estabelecimento da distacircncia meacutedia da largura de sua calha O resultado esteve dentro do
esperado e pode ser verificado na tabela abaixo (Tabela 1) e no mapa em sequecircncia
(Figura 16)
Tabela 1 Perfis transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de
vazante (abril) e cheia (janeiro)
Largura do rio Doce periacuteodo de vazante e cheia
Abril2013(m) Janeiro2014(m)
P1 70735 75784
P2 62080 66483
P3 59209 65804
P4 63548 67650
Meacutedia dos Perfis 62814 67066
Meacutedia Geral 66143 Obs todas as medidas estatildeo em metros
Elaborado pela autora
Figura 16 - Traccedilado dos perfis transversais da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de vazante mecircs de abril2013 Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)
51
Com uso das imagens orbitais do Landsat-8 atraveacutes da classificaccedilatildeo hiacutebrida foram
gerados dois arquivos shapefiles correspondentes agraves bordas do Doce um no periacuteodo de
vazante e outro no de cheia Por meio destes dados foram definidos quatro traccedilados para
realizaccedilatildeo das mediccedilotildees a partir destas e com auxiacutelio das medidas de tendecircncia central
chegou-se a uma largura meacutedia total de 66143m de uma margem a outra Este resultado
indicou que tanto no periacuteodo de vazante quanto no periacuteodo de cheia a largura meacutedia
aponta para a maior faixa de APP proteccedilatildeo de 500m conforme previsto na legislaccedilatildeo
federal (Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e no revogado Lei 4771 1965)
Analisando a imagem abaixo (Figura 17) observa-se que grande parte do solo
naturalmente destinado a ldquoacomodaccedilatildeordquo das aacuteguas nas cheias (linha laranja) foi
incorporado agrave sociedade como espaccedilo criado (periacutemetro urbano em APP mancha em
amarelo) destinado a fins muacuteltiplos Deste modo sem planejamento territorial adequado
grande parte da planiacutecie de inundaccedilatildeo deu lugar a outras funccedilotildees diferentes das naturais
sendo incorporada ao espaccedilo urbano
Lanccedilando o buffer (mancha em amarelo) do entorno da calha do Doce (Figura 17) observa-
se que dos 59 bairros do municiacutepio cerca de 29 estatildeo dentro da aacuterea de 500m destinada
a preservaccedilatildeo permanente pelo Coacutedigo Florestal Considerando-se a delimitaccedilatildeo da APP
prevista no PDM de 1996 e 2007 (linha laranja mais proacutexima da borda do rio) este nuacutemero
cai para 18 bairros permanecendo apenas aqueles que possuem limites com o corpo
hiacutedrico
Uma vez que que lei municipal natildeo suplanta lei federal considerar-se-aacute neste estudo o
limite da faixa marginal de proteccedilatildeo definida na Lei Federal 126512012 Deste modo a
aacuterea de preservaccedilatildeo permanente do Doce neste recorte eacute de 1085 kmsup2 compreendendo
33 do periacutemetro urbano de Colatina
Cabe destacar ainda que mesmo o PDM de 1996 contendo enquanto objetivo no Art 14
ldquoI - estabelecer a ordenaccedilatildeo do uso e da ocupaccedilatildeo do solo urbanordquo (Lei 42281996 p4)
a gestatildeo municipal natildeo obteve sucesso na implementaccedilatildeo de tal legislaccedilatildeo O que se
verifica tanto nas deacutecadas de 1990 quanto no iniacutecio dos anos 2000 quando foram
aprovados novos parcelamentos urbanos agraves margens deste canal a exemplo dos bairros
de Barbados na margem direita e do bairro Mario Giurizato na margem esquerda
52
Figura 17- Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)
53
Articulado a esta ideia e pesquisando o trecho do bairro Esplanada a Colatina Velha palco
das uacuteltimas obras estruturantes de alto porte do municiacutepio consegue-se analisar os efeitos
das inundaccedilotildees nas margens deste rio Logo implementar medidas de prevenccedilatildeo de
cheias em aacutereas com urbanizaccedilotildees antigas requer um esforccedilo da gestatildeo na regulaccedilatildeo do
solo urbano
421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie
de Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio
Interceptada pelo curso do Rio Doce no perfil mais a jusante da bacia a cerca de 100km
do estuaacuterio com o Oceano Atlacircntico a cidade de Colatina polo moveleiro e de confecccedilotildees
do centro-oeste capixaba eacute palco recorrente de inundaccedilotildees urbanas
Conforme jaacute mencionado por Cunha (2012a) este fenocircmeno ocorre quando a bacia recebe
um percentual precipitado acima da sua capacidade de escoamento o que faz o leito
menor do rio extravasar para o leito maior ocupando as aacutereas de vaacuterzeas (Figura 18 p
50) Aliadas a esta questatildeo estatildeo as ocupaccedilotildees humanas das margens dos rios que ao
suprimir a vegetaccedilatildeo natural e alterar a condiccedilatildeo fiacutesica do solo acabam por reduzir a aacuterea
de drenagem das aacuteguas pluviais acelerando o escoamento superficial para o canal
principal e favorecendo os defluacutevios
Figura 18 - Representaccedilatildeo da inundaccedilatildeo urbana Fonte adaptado da Defesa Civil do Tocantins (2015)
Este fenocircmeno tem ganhado destaque em Colatina a partir de 1979 ano em que o Rio
Doce atingiu a vazatildeo de 12860msup3s tomando toda aacuterea aplainada que compotildee seu leito
maior afetando da atual Av Beira-Rio ateacute as redondezas da Av Getuacutelio Vargas Desde
entatildeo os estudos das inundaccedilotildees urbanas satildeo relevantes no municiacutepio o que levou o
54
Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) na deacutecada de 1980 a elaborar um ldquoPlano Diretor
de Contenccedilatildeo das Enchentes Proteccedilatildeo das Encostas e Drenagem Pluvial de Colatinardquo
Tal medida apresentou seis alternativas para o fenocircmeno Poreacutem tendo em vista o custo
operacional das obras apenas a alternativa seis que previa a construccedilatildeo de diques
marginais para a proteccedilatildeo das aacutereas mais centrais foi considerada viaacutevel na eacutepoca
Todavia em entrevistas com funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina (PMC) foi
relatado que todo o estudo foi arquivado e que ateacute agora natildeo haacute previsatildeo de
implementaccedilatildeo de tais medidas Fato este que eacute evidenciado (Tabela 2 p 51) quando da
ocorrecircncia de precipitaccedilotildees intensas na bacia durante as quais sazonalmente a cidade eacute
impactada com as aacuteguas das inundaccedilotildees Isto faz com que o municiacutepio passe
recorrentemente por cataacutestrofes conforme tabela com os principais picos de vazatildeo do rio
nos uacuteltimos 50 anos
Tabela 2
Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013
Ano Diamecircs Vazatildeo(msup3s)
1961 30jan 6613
1979 04fev 12860
1997 07jan 8687
2005 03ago 6549
2013 24dez 9028
Fonte Coelho (2007 apud DALLAPICOLA 2014 p4) e CPRM (2014 p85) Observo que os dados da tabela 1 para os anos de 1979 e 2013 estatildeo baseados na estimativa de vazatildeo meacutedia diaacuteria das maacuteximas anuais obtida atraveacutes de extrapolaccedilatildeo da curva-chave pelo grupo interdisciplinar dos relatoacuterios criacuteticos anteriores
As inundaccedilotildees de 1979 1997 e recentemente 2013 (Figura 19) foram as de maior vazatildeo
neste setor do rio e consequentemente as que mais atingiram a aacuterea urbana do municiacutepio
bloqueando os acessos ao centro da cidade e aos equipamentos essenciais como
hospitais escolas e demais oacutergatildeos puacuteblicos aleacutem de desalojarem muniacutecipes e
comprometerem a sauacutede puacuteblica
55
Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de 1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 Fonte1) Nossa Colatina 2) Nossa Linda Colatina 3) Nossa Colatina
Com o propoacutesito de identificar os principais fatores que acentuam as inundaccedilotildees seraacute
analisado como os processos geomorfoloacutegicos do Doce estatildeo sendo afetados pela accedilatildeo
antroacutepica Limitaremos a anaacutelise ao periacutemetro urbano no trecho que compreende do bairro
Esplanada ateacute o bairro Colatina Velha (Figura 20) Neste periacutemetro eacute possiacutevel visualizar a
evoluccedilatildeo da mancha urbana sobre o leito do rio aleacutem de identificar na margem direita os
pontos desnaturalizados deste canal fluvial
56
Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2) Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do recorte em rosa da APP de 50m (amarelo claro) e 500m (amarelo escuro) Fonte 3) Encontra Colatina (2015)
57
O recorte em questatildeo eacute margeado pela Av Beira-Rio e estaacute situado (Figura 20) dentro do
buffer de preservaccedilatildeo permanente previsto no PDM (buffer de 50m) e no Novo Coacutedigo
Florestal (buffer de 500m) Apesar desta aacuterea ser destinada a mata nativa e ou
reflorestada a ocupaccedilatildeo urbana antecede os artigos legais o que dificulta poliacuteticas de
gestatildeo territorial em um periacutemetro ao mesmo tempo histoacuterico e com funccedilatildeo relevante no
equiliacutebrio hidroloacutegico da bacia
O periacutemetro faz parte da vaacuterzea da margem direita do Rio Doce pois encontra-se em cota
topograacutefica de 50m caracterizando sua planiacutecie Logo a aacuterea em questatildeo tem a funccedilatildeo de
acomodar as aacuteguas das cheias quando a calha principal natildeo comporta o escoamento de
grandes vazotildees Esta tarefa passa a ser prejudicada na medida em que na bacia ou no
curso original satildeo implementadas obras que interferem na morfologia do corpo hiacutedrico
principal como a instalaccedilatildeo das hidreleacutetricas de Mascarenhas (1974) e Aimoreacutes (2005) a
montante
As UHErsquos a montante comprometem os processos do rio uma vez que o regime natural de
transporte de sedimentos eacute alterado com o barramento o que favorece a erosatildeo e
consequentemente o assoreamento com a formaccedilatildeo de bancos arenosos alteraccedilatildeo do
seu perfil transversal e reduccedilatildeo da profundidade Aleacutem disso segundo Coelho (2007) as
vazotildees maacuteximas e miacutenimas foram alteradas com a implantaccedilatildeo das hidreleacutetricas a
montante implicando em vazotildees meacutedias anuais miacutenimas cada vez mais reduzidas com
valores se distanciando da linha de tendecircncia (polinocircmio) provando o natildeo equiliacutebrio da
vazatildeo apoacutes a implantaccedilatildeo das barragens (Graacutefico 1 p22)
Entretanto a primeira intervenccedilatildeo direta no trecho em estudo foi a instalaccedilatildeo da estrada
de ferro que atraiu migrantes para Colatina permitindo o crescimento populacional e a
expansatildeo urbana desordenada agraves margens do Doce Este crescimento intensificou a
supressatildeo das matas ciliares e abriu espaccedilo para a impermeabilizaccedilatildeo do solo reduzindo
a infiltraccedilatildeo
Posteriormente a inauguraccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos ampliou o fluxo na regiatildeo pois
proporcionava a ligaccedilatildeo com as terras ao norte do Estado Atuou tambeacutem como obstaacuteculo
ao transporte de sedimentos carreados no fluxo natural do rio uma vez que sua
implantaccedilatildeo altera a topografia do fundo do canal afetando os processos geomorfoloacutegicos
58
Poreacutem foi no Morro das Cabritas (colina localizada no espaccedilo que compreende o atual
bairro Esplanada) que ocorreu a primeira desnaturalizaccedilatildeo nas margens do Doce Este
morro por onde o Rio Santa Maria do Doce meandrava ateacute desaguar no Rio Doce foi
cortado em meados de 1953 para abrigar a cidade em expansatildeo Devido a esta
intervenccedilatildeo o curso original do Santa Maria foi deslocado e passou a escoar
retilineamente ateacute a foz (Figura 21)
Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponte Florentino Aacutevidos (direita) e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque em vermelho para o curso atual do Santa Maria Fonte Nossa Colatina
As intervenccedilotildees na margem direita tornam-se mais intensas a partir da deacutecada de 1960
quando no ano de 1968 edificou-se um muro visando a proteccedilatildeo dos pilares da
extremidade direita da ponte Esta obra ficou paralisada por muitos anos e foi a primeira
de retificaccedilatildeo e aterro realizada neste trecho do rio Esta intervenccedilatildeo modificou o fluxo
natural das correntes do rio e reduziu a largura da sua calha alterando a morfologia do
canal (Figura 22)
59
Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de proteccedilatildeo da ponte Elaborado pela autora Fonte fotos histoacutericas Nossa Colatina
Contudo somente em 1972 teve iniacutecio o segundo aterro (Figura 23) com a finalidade de
alocar a estaccedilatildeo rodoviaacuteria de Colatina e ampliar a aacuterea de acesso agrave ponte Florentino
Aacutevidos A implementaccedilatildeo desta obra suprimiu parte do leito do Rio Doce pois removeu a
saliecircncia cocircncava que curvava o rio retilinizando esta parte do canal
60
Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora Fonte Nossa Colatina Nossa Linda Colatina
Apoacutes dez anos sem grandes intervenccedilotildees em 1982 o lado a montante da ponte bairro
Esplanada eacute acrescido de um aterro que estenderaacute a aacuterea do antigo Morro das Cabritas
para o rio (Figura 24)
Conhecido como Rua da Lama devido agrave umidade que o rio transferia ao aterro formando
um barro viscoso que persistia a maior parte do ano o trecho atualmente compreende a
Avenida Professor Joseacute Zouian popularmente denominada Avenida Beira-Rio de onde
surge a primeira forma do calccediladatildeo que seraacute estendido ateacute o bairro Colatina Velha
61
Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o calccediladatildeo da Av Beira-Rio Elaborado pela autora Fonte Bennachio (2015)
Somente em 2004 foi implementado o maior projeto de canalizaccedilatildeo do municiacutepio Naquele
ano teve iniacutecio a execuccedilatildeo do enrocamento da Av Beira-Rio (Figura 25) obra destinada
inicialmente a alocaccedilatildeo de equipamentos puacuteblicos de lazer e cultura praccedilas preacutedios aleacutem
da promessa de contribuir para a contenccedilatildeo dos transbordamentos do Rio Doce
Apesar de o referido manancial jaacute estar comprometido com problemas de poluiccedilatildeo
assoreamento e erosatildeo aleacutem dos impactos de duas hidreleacutetricas instaladas a montante a
obra abarcou a supressatildeo da vegetaccedilatildeo ciliar e aterro de parte do rio jaacute tatildeo degradado
62
Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento iniciada em 2004 e finalizada em 2008 Elaborado pela autora Fonte proacutepria autora em 240215
Ocupando uma aacuterea total de 130 mil msup2 do leito do Rio Doce o aterro teve iniacutecio em 2004
sendo construiacutedo com cerca de 90 mil msup3 de pedras 50 mil msup3 de areia retirada do leito do
rio e por fim o nivelamento com 200 mil msup3 de terra A obra era divulgada como um antigo
sonho dos colatinenses e serviria para ampliaccedilatildeo da Av Beira-Rio no bairro de Colatina
Velha instalaccedilatildeo de ciclovias calccediladatildeo equipamentos puacuteblicos e estacionamento (Figura
26) Apesar do fim da engenharia em 2008 o projeto ainda estaacute em fase de acabamento
na parte urbaniacutestica e na alocaccedilatildeo dos oacutergatildeos puacuteblicos
Cabe destacar que a obra sofreu embargos do Ministeacuterio Puacuteblico Federal (MPF) por
apresentar apenas cadastro na Agecircncia Nacional de Aacuteguas (ANA) que conforme parecer
da Procuradora Nadja Machado Botelho na Accedilatildeo Civil Puacuteblica ldquo[hellip] equivocadamente natildeo
realizou o procedimento de outorga [hellip]rdquo (MPF 2006 p2) Aleacutem disso a procuradora
solicitou tutela tendo em vista tratar-se de aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental e o fato de o
IBAMA ter concedido licenciamento com indevida dispensa do Estudo de Impacto
Ambiental (EIA)Relatoacuterio de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA)
63
Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina Fonte Prefeitura de Colatina (2015)
Por isso essa obra deve ser considerada faraocircnica para os cofres puacuteblicos e irreversiacutevel
para os processos geomorfoloacutegicos do Doce E sua efetivaccedilatildeo soacute foi possiacutevel com a
participaccedilatildeo e investimentos do Governo estadual Contudo seu objetivo foi frustrado pois
novamente na cheia do Rio Doce em dezembro de 2013 quando este atingiu a vazatildeo de
9028 msup3s a aacuterea foi inundada e por estar em cota maior que as casas que beiravam o
rio o enrocamento atuou como represa natildeo permitindo o retorno das aacuteguas quando o niacutevel
do rio retomou o equiliacutebrio
Por fim segue um mapa siacutentese (Figura 27) com a cartografia das quatro principais
intervenccedilotildees diretas e estruturais na margem direita do Doce no setor urbano de Colatina
representando o curso natural do rio em 1950 e suas desnaturalizaccedilotildees a partir da deacutecada
de 60 ateacute a atualidade
64
Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce ante e depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora
65
422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio
O recorte em estudo compreende as Zonas ZE-1 ZE-2 e ZUD 2-1 (Figura 28 p61) sendo
a Zona Especial 1 Zona Especial 2 e Zona de Uso Diverso 2-1 destinadas no PDM (Lei
52732007)
Artigo 103 - As Zonas de Usos Diversos ndash ZUD satildeo definidas em razatildeo da concentraccedilatildeo de atividades urbanas diversificadas com predominacircncia do uso comercial e de serviccedilos Artigo 104 - Satildeo objetivos das Zonas de Usos Diversos I - otimizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do solo priorizando a instalaccedilatildeo de novos empreendimentos em terrenos natildeo edificados contiacuteguos a empreendimentos jaacute instalados II - controle da implantaccedilatildeo de usos incompatiacuteveis com os definidos para estas zonas III - garantia de licenciamento e monitoramento ambiental dos empreendimentos IV - controle da expansatildeo comercial de serviccedilos e de induacutestrias de pequeno porte em direccedilatildeo a aacutereas residenciais [] Artigo 130 - As Zonas Especiais 1 ndash ZE 1 abrangem todas as aacutereas remanescentes do municiacutepio relativamente ao zoneamento estabelecido nesta lei ocupadas ou natildeo contida na lei de periacutemetro urbano para as quais natildeo foram ainda estabelecidos os criteacuterios de uso e ocupaccedilatildeo Artigo 131 - As Zonas Especiais 2 ndash ZE 2 satildeo as aacutereas existentes no prolongamento da avenida Beira Rio mais especificamente no trecho entre o 80 Batalhatildeo da Poliacutecia Militar e a rua Pedro Epichin incluindo o espaccedilo existente entre a margem do Rio Doce e o limite das construccedilotildees localizadas na rua Pedro Epichin
Cabe destacar que mesmo sendo palco das aacutereas mais afetadas com as inundaccedilotildees do
Rio Doce a Beira-Rio tem sido alvo da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria que aproveitando-se dos
iacutendices pouco restritos da ZUD 2 (Figura 28 p62) valoriza o espaccedilo promovendo a
instalaccedilatildeo de grandes estruturas como hipermercados edifiacutecios residenciais modernos e
hotelaria
66
Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 Fonte Colatina (2007)
A aacuterea contida na ZE (Figura 28) natildeo possui criteacuterio de ocupaccedilatildeo definido na legislaccedilatildeo
atual sendo adotado o disposto na Lei 41961995 que estabelece os iacutendices urbaniacutesticos
para as aacutereas conquistadas junto ao Rio Doce e na Lei 420595 que aprova os
parcelamentos na Beira-Rio Quanto agrave ZUD 2-1 apresenta iacutendices urbaniacutesticos no anexo
118 do Plano Diretor conforme tabela 3 abaixo
67
Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1
Fonte Colatina (2007 p36)8
68
Eacute relevante observar que numa aacuterea onde o corpo hiacutedrico foi reduzido pelos sucessivos
aterros tenha sido aprovada a instalaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto (Figura
29) com taxa de ocupaccedilatildeo de ateacute 80 e com baixo iacutendice de permeabilidade Ampliou-
se a aacuterea impermeaacutevel numa regiatildeo onde a drenagem jaacute eacute muito comprometida com a
expansatildeo urbana sobre o rio
Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto na Beira-Rio Fonte imagem do Google Maps 2015 E fotos da autora em 140215
Portanto analisando o conjunto de dados apresentado acima eacute possiacutevel entender como
as inundaccedilotildees satildeo potencializadas no municiacutepio atingindo a populaccedilatildeo mas em especial
afetando a dinacircmica de um corpo hiacutedrico tatildeo relevante para o Estado A fim de subsidiar a
gestatildeo puacuteblica com material cartograacutefico para a tomada de decisotildees delimitou-se o
poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo (Figura 30) Pois devem ser adotadas medidas que
minimizem impactos de futuros eventos hidroloacutegicos na bacia capazes de comprometer
novamente a aacuterea urbana mais central de Colatina
69
Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av Beira-Rio em dezembro de 2013 Elaborado pela autora
70
Diante do poliacutegono de inundaccedilatildeo da uacuteltima cheia (Figura 30) em dezembro de 2013 eacute
possiacutevel implementar medidas de convivecircncia com as grandes vazotildees a exemplo de
paiacuteses como Holanda que vem investindo em medidas de resiliecircncia a fim de reduzir a
velocidade dos defluacutevios possibilitando ao canal a capacidade de acumular e dispersar as
aacuteguas com impacto miacutenimo para as populaccedilotildees Conforme Carneiro e Miguez (2011) a
estrateacutegia adotada pelo paiacutes eacute reter armazenar e drenar sendo mais flexiacutevel e natildeo
interferindo drasticamente na dinacircmica do corpo hiacutedrico
Por fim a implementaccedilatildeo de soluccedilotildees de planejamento urbano em Colatina requer uma
anaacutelise integrada que abarque o urbano e o ambiental de modo a propor intervenccedilotildees que
produzam impactos reduzidos nos processos geomorfoloacutegicos do Rio Doce Logo a gestatildeo
municipal deve atuar em niacutevel de bacia hidrograacutefica interagindo com os municiacutepios a
montante propondo medidas de minimizaccedilatildeo das cheias urbanas Mas na escala local
pode-se atuar junto aos novos parcelamentos de modo a ampliar o percentual de aacutereas
permeaacuteveis no municiacutepio incentivando por exemplo os novos loteamentos a adotarem
pavimentaccedilotildees que permitam a drenagem natural do solo
71
5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Partindo da ideia de que eacute possiacutevel implementar medidas que minimizem o escoamento
superficial satildeo apresentadas propostas como forma de controlar ou ao menos reduzir os
impactos das inundaccedilotildees urbanas
Embora as implementaccedilotildees histoacutericas de estruturas de proteccedilatildeo ou barreiras mais altas
tenham sido muito disseminadas atualmente estatildeo sendo suplantadas pelo gerenciamento
de inundaccedilotildees de maneira mais sustentaacutevel Deste modo as experiecircncias fora do Brasil
apontam para soluccedilotildees mais flexiacuteveis que considerem o fluxo natural do canal enquanto
um ecossistema em equiliacutebrio Para tanto Carneiro e Miguez (2011 p150) destacam a
iniciativa alematilde no controle de inundaccedilotildees em bacias hidrograacuteficas metropolitanas
[hellip] A abordagem comum consiste na regulaccedilatildeo do uso do solo nas aacutereas inundaacuteveis e em ldquodar espaccedilo para o riordquo ao inveacutes de priorizar investimentos em estruturas de proteccedilatildeo contra inundaccedilotildees como a colocaccedilatildeo de diques de contenccedilatildeo as margens dos rios A utilizaccedilatildeo do conceito de resiliecircncia apropriado de ecologia decorre dessa abordagem A aplicaccedilatildeo praacutetica do conceito implica portanto em mudanccedilas de paradigma Deixa de ser preponderante a engenharia construtiva e entra em cena o planejamento de longo prazo voltado para o desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis capazes de conviver com as variaccedilotildees do ciclo hidroloacutegico sem significar necessariamente trageacutedias anunciadas
Aleacutem dessas propostas geoacutegrafos como Sandra Cunha tecircm estudado a recuperaccedilatildeo
natural ou ldquorenaturalizaccedilatildeordquo de corpos fluviais visando promover a estabilidade dos canais
de modo mais sustentaacutevel Para ela
[hellip] Recuperaccedilatildeo de canal significa de forma simples o retorno as condiccedilotildees anteriores aos distuacuterbios Em essecircncia eacute o processo de recuperaccedilatildeo do rio ou do ecossistema fluvial estabilizando o desenvolvimento de habitats e colonizaccedilatildeo a uma taxa mais raacutepida que dos processos naturais fiacutesicos e bioloacutegicos Na recuperaccedilatildeo de canais ocorrem consideraccedilotildees de aspecto hidroloacutegico morfoloacutegico e ecoloacutegico qualidade da aacutegua esteacutetica aleacutem da necessidade de uma visatildeo integradora do projeto sustentaacutevel de recuperaccedilatildeo (CUNHA 2012 p230 a 231)
Satildeo portanto medidas pontuais como o retorno agraves sinuosidades do rio (Figura 31 p 68)
ou a substituiccedilatildeo de estruturas de concreto por superfiacutecies mais permeaacuteveis a exemplo
das trincheiras de infiltraccedilatildeo ou pavrsquos (Figura 32) aacutereas mais vegetadas aleacutem de coleta e
uso de aacutegua da chuva bem como tratamento das aacuteguas superficiais por meio de
72
amenidades esteacuteticas como reservatoacuterios de retenccedilatildeo ou detenccedilatildeo que podem ser
associados a ambientes harmocircnicos como lagos artificiais Todas estas accedilotildees possibilitam
a minimizaccedilatildeo das grandes vazotildees no solo urbano pois pretendem atenuar os impactos
das cheias fazendo com que seja resgatada parte da drenagem existente anteriormente agrave
urbanizaccedilatildeo
Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do Rio Aa Munster Alemanha (1998) Fonte Cunha (2012 p233)
Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos Fonte Carneiro e Miguez (2011 p128)
A partir do exposto cabe agrave gestatildeo municipal implementar legislaccedilotildees que priorizem a
permeabilidade possibilitando uma maior infiltraccedilatildeo das aacuteguas das chuvas atraveacutes de
pavimentaccedilotildees menos impermeaacuteveis e da ampliaccedilatildeo de aacutereas vegetadas Satildeo medidas
que tornam a drenagem mais sustentaacutevel aleacutem de possibilitar a manutenccedilatildeo dos serviccedilos
puacuteblicos de forma menos custosa tendo em vista o elevado preccedilo das recomposiccedilotildees
asfaacutelticas
1 2
73
Aleacutem disso quando se fala em controle de cheias urbanas pressupotildee-se uma seacuterie de
medidas para minimizaccedilatildeo de seus impactos desde a operaccedilatildeo de sistemas de alerta
zoneamento de aacutereas inundaacuteveis construccedilatildeo de grandes reservatoacuterios de contenccedilatildeo de
cheias e diques ateacute accedilotildees de educaccedilatildeo ambiental
Cabe pensar tambeacutem na proacutexima revisatildeo do PDM em um plano de macrodrenagem
municipal que reuacutena accedilotildees de caraacuteter estruturantes com obras hidraacuteulicas de infraestrutura
que realizem a conduccedilatildeo final das aacuteguas dos escoamentos superficiais para a minimizaccedilatildeo
das inundaccedilotildees e em medidas natildeo-estruturantes que trabalhem a consciecircncia ambiental
e proponha um zoneamento de cheias a fim de se delimitar os pontos mais fragilizados nos
defluacutevios
Por fim pensar em drenagem num contexto de ocupaccedilatildeo irregular histoacuterico requer
profissionais que aleacutem de possuir afinidade com a temaacutetica tambeacutem possam analisar os
diferentes processos que constituem o espaccedilo geograacutefico Logo este tipo de estudo deve
abarcar uma equipe multidisciplinar que percorra a anaacutelise desde o ambiental estrutural
ateacute o aspecto humano a fim de se produzir resultados que de fato contribuam com o
controle das inundaccedilotildees urbanas
74
6 CONCLUSAtildeO
A partir do recorte espacial foi possiacutevel compreender que a abordagem da geomorfologia
fluvial com a anaacutelise espaccedilo-temporal da ocupaccedilatildeo urbana possibilita a identificaccedilatildeo das
accedilotildees do homem no meio ambiente pois estas resultam na alteraccedilatildeo das paisagens
naturais e na dinacircmica da bacia hidrograacutefica Assim o Rio Doce deve ser estudado de
modo integrado ao crescimento da cidade sobretudo para compreensatildeo da produccedilatildeo do
espaccedilo geograacutefico
Analisar a inundaccedilatildeo urbana em Colatina foi satisfatoacuterio pois o municiacutepio estaacute situado no
perfil meacutedio-baixo da bacia vazante e eacute neste trecho que os reflexos das intervenccedilotildees satildeo
mais acentuados principalmente se esta parte do canal tambeacutem tiver passado por obras
que modificaram seus processos hidroloacutegicos Aleacutem disso a perspectiva geograacutefica aponta
para vaacuterias outras questotildees como erosatildeo fluvial planejamento urbano poluiccedilatildeo ambiental
crise da aacutegua que conduzem a outras discussotildees acerca da relaccedilatildeo homemnatureza
Ao demonstrar a evoluccedilatildeo espaccedilo-temporal do uso e cobertura da terra na margem direita
do Doce associando esta ocupaccedilatildeo agraves obras estruturantes que foram executadas no
canal verificamos que todas as praacuteticas adotadas para conter o transbordamento do rio
acabaram alterando sua morfologia com a retificaccedilatildeo de trechos em meandros reduzindo
a largura do corpo hiacutedrico o que favoreceu a apropriaccedilatildeo urbana de suas vaacuterzeas Aliadas
a estas questotildees estatildeo a falta de planejamento urbano e a omissatildeo diante da supressatildeo
das matas ciliares principalmente se considerados os resultados do relatoacuterio teacutecnico do
IJSN contra enchentes em 1980
Cabe destacar tambeacutem que toda a anaacutelise da ocupaccedilatildeo urbana e desnaturalizaccedilatildeo do
Rio Doce foi melhor identificada a partir dos produtos cartograacuteficos deste trabalho Pois eacute
na espacialidade dos fenocircmenos e no registro de informaccedilotildees ainda natildeo mapeadas como
os aterros que o geoacutegrafo executa a anaacutelise do seu objeto de estudo o homem e a
natureza aqui representado pela sociedade e o canal do Doce
Apesar do municiacutepio apresentar leis que resguardam os leitos dos rios desde o primeiro
PDM em 1996 nada foi feito para conter as ocupaccedilotildees irregulares beira-rio Pelo contraacuterio
estas aacutereas foram incorporadas ao Plano Diretor em 2007 com possibilidades de
ocupaccedilotildees diversas o que tem levado especuladores a valorizar o solo com vista para o
rio apontando suas qualidades esteacuteticas e teacutermicas Este fato vem aumentando o
75
percentual de aacutereas impermeaacuteveis nesta margem comprometendo ainda mais a drenagem
dos defluacutevios
Eacute na Av Beira-Rio que crescem as implantaccedilotildees de grandes empreendimentos comerciais
como supermercado Casagrande Ogil Hotel e obras de construccedilatildeo de novos arranha-
ceacuteus em um periacutemetro que jaacute eacute totalmente comprometido com os extravasamentos do Rio
Doce Estas obras ocupam grandes aacutereas e na maioria das vezes apresentam reduzida
aacuterea permeaacutevel reservando apenas o obrigatoacuterio pela lei cerca de 10 Observa-se
tambeacutem que a implantaccedilatildeo desses projetos estaacute condicionada agrave apresentaccedilatildeo e
aprovaccedilatildeo por comissatildeo na prefeitura do Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV) sendo
difiacutecil conceber que seja concedida tal licenccedila para implementaccedilatildeo de obras num trecho
de risco ambiental
Embora as diretrizes do Estatuto das Cidades para a implementaccedilatildeo do uso da terra
sustentaacutevel e os instrumentos para a regulaccedilatildeo do solo urbano sejam avanccedilados Colatina
eacute mais um exemplo da carecircncia de profissionais capacitados para estudar de modo
integrado e em niacutevel de bacia hidrograacutefica os efeitos da accedilatildeo humana num ambiente tatildeo
peculiar como as margens do Doce Por isso com os objetivos traccedilados nesta pesquisa
podemos aleacutem de compreender o fenocircmeno criar uma metodologia de anaacutelise de aacutereas
inundaacuteveis em ambientes urbanos O que permite agrave gestatildeo municipal uma diretriz para a
tomada de decisotildees
Destaca-se tambeacutem que as legislaccedilotildees aqui referenciadas supriram a discussatildeo acerca do
objeto de estudo mas outras podem contribuir para esta pesquisa a exemplo do Coacutedigo
das Aacuteguas da Poliacutetica Nacional dos Recursos Hiacutedricos das Resoluccedilotildees do Conama do
Estatuto das Cidades entre outros
Sendo assim numa revisatildeo do PDM deve-se pensar nestes aspectos da cidade desde o
histoacuterico de ocupaccedilatildeo das margens ateacute os impactos das inundaccedilotildees e o presente trabalho
auxilia com uma nova abordagem na reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo fornecendo material
cartograacutefico para subsidiar propostas de proteccedilatildeo ao curso do Doce e consequentemente
da populaccedilatildeo
Por fim deve-se destacar que o recorte estaacute inserido num contexto maior de uma bacia
hidrograacutefica que se estende aleacutem dos limites de Colatina ou do estado do Espiacuterito Santo
Esta bacia compreende a Regiatildeo Hidrograacutefica do Atlacircntico Leste e estaacute alocada tambeacutem
76
no estado de Minas Gerais o que portanto torna as accedilotildees de controle das inundaccedilotildees
mais complexas tendo em vista as divergentes politicas territoriais
77
7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
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REacuteSUMEacute
Ce travail a pour objet deacutetude le secteur de la Riviegravere Doce coupe de la zone urbaine ne
de Colatina ndash ES Le principal objectif de cette analyse eacutetait de veacuterifier comme les
interventions humaines dans le chenal de la Riviegravere Doce ont contribueacute pour le submersion
de la plaine dinondation De cette preacutemisse la recherche a eacuteteacute baseacutee sur lanalyse de
photographies historiques de 1906 a 2015 et images en peacuteriode de reflux (avril) et flux
(janvier) de la Riviegravere Doce par lequel il a eacuteteacute possible de cartographier les changements
dans les marges de ce plan deau Gracircce agrave lanalyse de la seacuterie chronologique historique
de deacutebit de la riviegravere et de loccupation de la zone de preacuteservation permanent crsquoest possible
didentifier les points les plus vulneacuterables de lrsquoAvenue Beira-Rio Ainsi les reacutesultats
indiquent que la croissance urbaine deacutesordonneacutee et continue associeacutee aux changements
dans les processus geacuteomorphologiques a intensifieacute la deacutegradation du chenal de la riviegravere
en renforccedilant des inondations
Mots-cleacutes la geacuteomorphologie fluviale geacuteotechnologies analyse geacuteographique inteacutegreacutee
dintervention humaine et inondations
ABSTRACT
This paper has as object of study the sector of Doce River cutting the urban areas of
Colatina ndash ES The main objective of this analyze was to verify how human interventions on
Docersquos river channel have contributed how human interventions in river channel have
contributed to the tide of the floodplain From this premise the research was based on
analysis of historical photographs from 1906 to 2015 and aerial images in periods of ebb
(April) and flood (January) of Doce river by which it was possible to map the changes in the
margins of this water body Crossing the analysis of historical time series of river flow with
the occupation of areas of permanent preservation it was possible to delimitate the most
vulnerable points of Beira-Rio Avenue Thus the results indicated that the cluttered and
continuous urban growth associated with changes in geomorphological processes has
intensified de degradation of the river channel increasing flooding
Keywords fluvial geomorphology geotechnologies integrated geographical analysis
human intervention and flood
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e Rio Doce 18
Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 19
Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de
2013 19
Figura 4 - Tipos de leito fluvialvarzea 21
Figura 5 - Padrotildees dos canais 21
Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento 32
Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia 33
Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC) 37
Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906
Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce 41
Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da
regiatildeo 42
Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce 43
Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio
Doce 43
Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes 45
Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de
crescimento 47
Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios que interceptam a cidade de Colatina
48
Figura 16 - Traccedilado das mensuraccedilotildees da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de
vazante mecircs de abril2013 50
Figura 17 - Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro
urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal 51
Figura 18 - Representaccedilatildeo de inundaccedilatildeo urbana 53
Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de
1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 55
Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2)
Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do
recorte em rosa da APP de 50 m (amarelo claro) e 500 m (amarelo escuro) 56
Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponrte Florentino Aacutevidos (direita)
e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa
Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque
em vermelho para o curso atual do Santa Maria 58
Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de
proteccedilatildeo agrave ponte 59
Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o
traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas 60
Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o
calccediladatildeo da Av Beira-Rio61
Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento
iniciada em 2004 e finalizada em 2008 62
Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina 63
Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce antes e
depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas 64
Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 66
Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto da Beira-Rio 68
Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da
inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av
Beira-Rio em dezembro de 2013 69
Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do rio Aar Munster Alemanha (1998) 72
Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos 72
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Perfis Transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de vazante (abril) e cheia (janeiro) 50
Tabela 2 Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013 54
Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1 67
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 - Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais
(Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia) 25
Graacutefico 2 - Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 201045
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANA - Agecircncia Nacional de Aacuteguas
APP - Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente
CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais Serviccedilo Geoloacutegico Brasileiro
GEOBASES - Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espiacuterito Santo
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IJSN - Instituto Jones dos Santos Neves
INCAPER - Instituto Capixaba de Pesquisa Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural
PDM - Plano Diretor Municipal
PMC - Prefeitura Municipal de Colatina
PROATER - Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural
SIG - Sistema de Informaccedilotildees Geograacuteficas
UHE ndash Usina Hidreleacutetrica
UTM - Universal Tranverse Mercator
USGS - Geological Survey Serviccedilo Geoloacutegico Americano
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 14
11 Objetivo 16
111 Objetivo Geral 16
112 Objetivos Especiacuteficos 16
12 Justificativa 17
2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS 20
21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano 20
211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial 23
22 Aspectos Juriacutedicos 27
23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos 31
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS 36
4 RESULTADOS 40
41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana 40
411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade 46
42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce 49
421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie de
Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio 53
422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio 65
5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 71
6 CONCLUSAtildeO 74
7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 77
14
1 INTRODUCcedilAtildeO
A partir da deacutecada de 1930 com a transiccedilatildeo econocircmica de um eixo agraacuterio-exportador
para um polo urbano-industrial (CARNEIRO 2008) verificou-se no Brasil a migraccedilatildeo da
maior parte da populaccedilatildeo para as cidades Isso acarretou segundo Tucci (2013 p17) uma
ldquo[] concentraccedilatildeo urbana no Brasil da ordem de 80 da populaccedilatildeo e o seu
desenvolvimento tem sido realizado de forma pouco planejada com grandes conflitos
institucionais e tecnoloacutegicos []rdquo
De acordo com Canholi (2005 p15) a expansatildeo da aacuterea urbana ldquo[] consequentemente
impermeabilizada ocorreu a partir das zonas mais baixas proacuteximas agraves vaacuterzeas dos rios
ou agrave beira-mar em direccedilatildeo agraves colinas e morros em face da necessaacuteria interaccedilatildeo da
populaccedilatildeo com os corpos hiacutedricos []rdquo Neste cenaacuterio surgem as ocupaccedilotildees irregulares
nas Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) como as da planiacutecie de inundaccedilatildeo dos rios
e os topos de morros
Essas ocupaccedilotildees desordenadas satildeo proporcionadas pela precariedade da implantaccedilatildeo e
fiscalizaccedilatildeo das legislaccedilotildees urbaniacutesticas de ordenamento territorial e ambiental Neste
contexto satildeo relevantes as pesquisas que visam correlacionar o viacutenculo
sociedadenatureza de modo a entender como a ocupaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo no
solo conecta-se com a hidrodinacircmica dos recursos naturais uma vez que ldquo[] a tendecircncia
atual do limitado planejamento urbano integrado estaacute levando as cidades a um caos
ambiental urbano com custo extremamente alto para a sociedaderdquo (TUCCI 2013 p17)
Deve-se partir do pressuposto teoacuterico articulado com a ideia anterior de ldquo[]
indissociabilidade entre natureza e sociedade []rdquo (COELHO 2013 p21) em que a
sociedade natildeo pode ser apenas entendida como populaccedilatildeo e a natureza enquanto mero
ambiente fiacutesico mas que estes dois fatores estatildeo dinamicamente produzindo o espaccedilo
geograacutefico
Neste contexto a problemaacutetica se afirma no intuito de relacionar as legislaccedilotildees urbanas
(Lei de Parcelamento do Solo 676679 e PDM) e ambientais (Novo Coacutedigo Florestal 2012)
com as suas aplicaccedilotildees ou natildeo no periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina
principalmente nos bairros que se situam na planiacutecie de inundaccedilatildeo do Rio Doce
A escolha da temaacutetica tambeacutem teve como premissa a importacircncia regional de Colatina
como entreposto comercial e logiacutestico para os municiacutepios do noroeste capixaba conforme
15
relato do Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural - PROATER (INCAPER
2011)
Exportadores de cafeacute atacadistas e as lojas de pronta entrega dinamizam o comeacutercio local que atende aos municiacutepios do norte capixaba leste de Minas Gerais e sul da Bahia representando um universo de mais de 700 mil consumidores (INCAPER 2011 p5)
De acordo ainda com o INCAPER (op cit) Colatina tem crescido a uma margem de 188
anual o que representa a tendecircncia ao ecircxodo rural sendo que a populaccedilatildeo do campo vem
diminuindo de aproximadamente 19 em 1990 passou a 12 no Censo de 2010 Diante
do exposto entra em discussatildeo o planejamento urbano pois com o crescimento da
populaccedilatildeo citadina para cerca de 88 aumentam tambeacutem as pressotildees sobre o meio
ambiente em especial as regiotildees ribeirinhas
Estas uacuteltimas refletem o aumento das atividades humanas na bacia hidrograacutefica onde
pode-se destacar as mudanccedilas induzidas pelas accedilotildees antropogecircnicas que se dividem em
diretas (aquelas que atuam no canal fluvial para controle das vazotildees a exemplo dos
reservatoacuterios e desvios de aacuteguas) e indiretas relacionadas agraves aacutereas fora dos canais por
exemplo o desmatamento e urbanizaccedilatildeo sendo que estas comprometem a descarga e
carga soacutelida do rio (PARK1981 KNIGHTON1984 apud CUNHA 2001)
O interesse pela pesquisa surge da importacircncia regional do municiacutepio dos impactos
histoacutericos humanos materiais e imateriais sofridos diante de eventos hidroloacutegicos
extremos tendo em vista o fato de o periacutemetro urbano ser cortado por um corpo fluvial de
importacircncia regional Aleacutem disso a abordagem geograacutefica possibilita a correlaccedilatildeo dos
processos fluviais com a ocupaccedilatildeo urbana de modo mais integrado (COELHO 2009)
Portanto uma das finalidades deste trabalho eacute analisar por meio das geotecnologias e das
investigaccedilotildees de campo como a ocupaccedilatildeo urbana tem interferido nas margens do Rio
Doce de modo a delimitar os sucessivos aterros na margem direita no periacutemetro do bairro
Esplanada a Colatina Velha Ademais identificar como os processos deste canal fluvial
tecircm sido afetados pela intervenccedilatildeo humana em seu leito principal
16
11 Objetivo
111 Objetivo Geral
Correlacionar os processos fluviais do Rio Doce por meio da dinacircmica geomorfoloacutegica
deste canal com o uso e cobertura da terra no setor urbano do municiacutepio de Colatina
Espiacuterito Santo Contrapondo assim as intervenccedilotildees urbanas da beira-rio com o Plano
Diretor Municipal e o Novo Coacutedigo Florestal enfatizando as diretrizes adotadas no
parcelamento do solo para a planiacutecie de inundaccedilatildeo deste rio
112 Objetivos Especiacuteficos
Identificar os vetores de crescimento urbano do municiacutepio a fim de avaliar a
evoluccedilatildeo da mancha urbana junto ao canal principal
Determinar o comprimento da borda da calha do leito regular do Rio Doce no
periacutemetro urbano de Colatina para definiccedilatildeo da largura miacutenima da faixa marginal
de preservaccedilatildeo
Espacializar as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente beira-rio previstas em lei a fim
de analisar a ocupaccedilatildeo urbana nestes espaccedilos
Cartografar os principais pontos desnaturalizados no canal principal do Rio Doce
no setor urbano de Colatina
Demonstrar como o emprego das geotecnologias auxilia no planejamento urbano
e ambiental especialmente em acircmbito municipal
17
12 Justificativa
A aacuterea de estudo corresponde ao periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina situado na
Bacia Atlacircntico trecho leste sub-bacia do Rio Doce no baixo curso (ANA 2001)
Compreende a regiatildeo noroeste do estado do Espiacuterito Santo latitude 19deg 32rsquo 16rsquorsquo S e
longitude 40deg 37rsquo 59rsquorsquo W De acordo com os dados do censo de 2010 do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio possuiacutea uma populaccedilatildeo de 111788 mil
habitantes1 numa aacuterea territorial de 1416804 kmsup2
Devido a sua privilegiada posiccedilatildeo geograacutefica limiacutetrofe com o Rio Doce e a construccedilatildeo da
Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas em 1906 Colatina compreendia os territoacuterios dos atuais
municiacutepios de Baixo Guandu Linhares Pancas Satildeo Gabriel da Palha Marilacircndia Satildeo
Domingos do Norte e Governador Lindenberg (INCAPER 2011) Soacute a partir de 2001
passou a apresentar os atuais limites municipais e configurar uma aacuterea urbana com 59
bairros (Figura 1)
Colatina eacute um municiacutepio de importacircncia para regiatildeo noroeste capixaba seja em caraacuteter
econocircmico ou social Eacute responsaacutevel pelos fluxos de cargas da regiatildeo aleacutem de ser um polo
moveleiro de confecccedilatildeo metalmecacircnico e de comeacutercio e serviccedilos gerando emprego e
renda (INCAPER 2011) Aleacutem disso tem sofrido historicamente com as cheias do Rio
Doce principalmente porque parte do seu periacutemetro urbano eacute inundado com as aacuteguas da
calha principal desse rio o que compromete toda a dinacircmica local e potildee em risco os
colatinenses
Assim diante das crescentes demandas por territoacuterio no periacutemetro urbano a populaccedilatildeo
tem suprimido a cobertura vegetal e ocupado desde as margens do Rio Doce ateacute as
encostas dos morros Em periacuteodos de cheias principalmente nos meses de outubro a
marccedilo (INCAPER 2011 ANA 2001) verificam-se inundaccedilotildees de grande parte da aacuterea
urbana beira-rio aleacutem dos movimentos de massa nas encostas Como exemplo destes
acontecimentos tecircm-se os registros fotograacuteficos dos efeitos da chuva de dezembro de 2013
(Figuras 2 e 3)
1 De acordo com o a estimativa do IBGE de 2014 publicada no DOU o municiacutepio conta com uma populaccedilatildeo de 121670 habitantes
18
Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e o canal do Rio Doce Elaborado pela autora
19
Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 Fonte Noticias UOL (2013)
Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de 2013 Fonte Folha Vitoacuteria (2013)
Este estudo portanto eacute relevante tendo em vista as raras abordagens no acircmbito das
Ciecircncias Geograacuteficas especialmente no Espiacuterito Santo de pesquisas que correlacionem
aspectos da geomorfologia fluvial por meio da dinacircmica dos recursos hiacutedricos com o uso
e cobertura da terra particularmente o Plano Diretor Municipal (PDM) Discute dessa
forma as implicaccedilotildees da atuaccedilatildeo humana nas particularidades deste ecossistema natural
tendo em vista o disposto nas legislaccedilotildees urbaniacutesticas e ambientais que visam assegurar
a qualidade de vida das populaccedilotildees
Adiante seratildeo analisados os principais fundamentos da geomorfologia fluvial os aspectos
juriacutedicos e o papel da anaacutelise geograacutefica integrada para o entendimento dos fenocircmenos
das inundaccedilotildees no Centro de Colatina uma vez que eacute devido agraves intervenccedilotildees humanas
nos canais e suas margens que esses fenocircmenos tornam-se mais nocivos a cidade
20
2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS
21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano
Recurso essencial para a manutenccedilatildeo da vida a aacutegua foi um fator relevante para o
estabelecimento histoacuterico das sociedades no entorno dos cursos hiacutedricos Utilizados para
fins de abastecimento humano e animal irrigaccedilatildeo saneamento e transporte os rios
constituiacuteram-se nos principais propulsores de penetraccedilatildeo para o interior (CUNHA 2012a)
Logo em suas margens surgiram povoados que posteriormente transformaram-se em
cidades como as que se estabeleceram agraves margens do Rio Doce a exemplo da sede de
Colatina
Diante das potencialidades que os recursos hiacutedricos possibilitam agraves sociedades
destacamos a importacircncia do estudo da Geomorfologia Fluvial que se apresenta como
campo da Geomorfologia (ciecircncia que estuda as formas do relevo) sendo o interesse
daquela a pesquisa dos processos que relacionam o escoamento das aacuteguas fluviais num
contexto de bacia hidrograacutefica (CHRISTOFOLETTI 1980 CUNHA op cit) Enfoca assim
as alteraccedilotildees na fisionomia dos canais frente agraves intervenccedilotildees no ecossistema natural
beira-rio
A Geomorfologia Fluvial parte da condicionante de que o uso e ocupaccedilatildeo da terra refletem-
se na dinacircmica da bacia de drenagem interferindo nos processos morfogeneacuteticos ou seja
de modelagem do relevo fluvial escoamento superficial das aacuteguas e no ciclo hidroloacutegico
Frente agrave temaacutetica deste estudo faz-se necessaacuterio o entendimento dos conceitos da
fisiografia fluvial aqui referente aos diferentes setores que a aacutegua pode escoar num leito
(Figura 4) como
O leito menor corresponde agrave parte do canal ocupada pelas aacuteguas e cuja frequecircncia impede o crescimento da vegetaccedilatildeo Esse tipo de leito eacute delimitado por partes bem definidas O leito de vazante equivale agrave parte do canal ocupada durante o escoamento das aacuteguas de vazante Suas aacuteguas divagam dentro do leito menor seguindo o talvegue linha de maacutexima profundidade ao longo do leito e que eacute mais bem identificada na seccedilatildeo transversal do canal O leito maior tambeacutem denominado leito maior perioacutedico ou sazonal eacute ocupado pelas aacuteguas do rio regularmente e pelo menos uma vez ao ano durante as cheias Dependendo do tempo ocorrido entre as subidas das aacuteguas eacute possiacutevel haver a fixaccedilatildeo e o crescimento da vegetaccedilatildeo herbaacutecea
21
O leito maior excepcional eacute ocupado durante as grandes cheias no decorrer das enchentes (CUNHA 2001 p 213)
Figura 4 - Tipos de leito fluvial vaacuterzea Fonte Cunha (2001 p213)
Sendo assim as aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial (leitos) aquelas inundadas pelo corpo
hiacutedrico frente a um evento hidroloacutegico extremo tambeacutem satildeo conhecidas como vaacuterzeas
planiacutecie de inundaccedilatildeo ou ainda segundo Carneiro e Miguez (2011 p133) como ldquo[] zona
de passagem de cheia []rdquo Essas aacutereas de vaacuterzeas dependem da fisionomia que o rio
apresenta e segundo Cunha (op cit) o canal fluvial pode apresentar trecircs formas
principais conhecidas como padratildeo dos canais que satildeo retiliacuteneo anastomosado e
meacircndrico (Figura 5)
Figura 5 - Padrotildees dos canais (A) retiliacuteneo (B) anastomosado (C) meandrante (A) amplitude (Rc) raio meacutedio da curvatura do meandro (segundo Bigarella etal 1979) Fonte Cunha (2001 p216)
22
Aliada aos padrotildees dos canais estaacute a assimetria ou simetria dos leitos que para Cunha
(2001 p233) relaciona-se com a variaccedilatildeo da velocidade e turbulecircncia ao longo da secccedilatildeo
transversal o que diferencia o comportamento nos canais retiliacuteneos geralmente simeacutetricos
do canal meacircndrico onde
Em canais de leito simeacutetrico em geral padratildeo retiliacuteneo a velocidade maacutexima ocorre no centro do canal diminuindo em direccedilatildeo agraves margens Em leito assimeacutetrico de padratildeo meacircndrico a zona de maacutexima velocidade e turbulecircncia localiza-se nas proximidades das margens cocircncavas decrescendo de valor em direccedilatildeo agrave margem de menor profundidade
(convexa) (CUNHA opcit p 233)
Deste modo a capacidade de erosatildeo das margens transporte e deposiccedilatildeo da carga do rio
dependem entre outros fatores da velocidade das correntes fluviais E o material do fluxo
fluvial constitui-se da descarga liacutequida ou vazatildeo que estaacute relacionada ao tamanho do
material que pode ser transportado e do volume da carga que o rio eacute capaz de carregar
Tem-se ainda a carga soacutelida sedimentos que estaacute relacionada a suspensatildeo e fundo do
rio esta decresce a jusante indicando a diminuiccedilatildeo da competecircncia do corpo fluvial As
cargas de suspensatildeo satildeo constituiacutedas de partiacuteculas finas a exemplo do silte e por fim a
carga de fundo que eacute composta por partiacuteculas de tamanhos maiores a exemplo da areia
(CUNHA2001)
Christofoletti (1980) acrescenta que os sedimentos podem ser carregados de trecircs modos
principais no fluxo em soluccedilatildeo dissolvidos nos cursos hiacutedricos em suspensatildeo como o
silte e argila e em saltaccedilatildeo geralmente a areia e cascalho que compreendem a carga do
leito do rio Destaca-se que a carga detriacutetica natildeo proveacutem apenas da erosatildeo do fundo dos
leitos e margens fluviais mas que o material intemperizado de vertentes carreado nas
enchentes contribui significativamente para a carga sedimentar transportada
Cabe ressaltar ainda que a relaccedilatildeo do arranjo espacial dos canais com os processos
fluviais (a erosatildeo o transporte e a deposiccedilatildeo de sedimentos) eacute determinante para o
trabalho dos rios Tais processos satildeo diretamente influenciados pela vazatildeo velocidade e
pela intensidade da turbulecircncia (seja no fluxo laminar ou no fluxo turbulento) A
variabilidade no comportamento da velocidade e turbulecircncia das aacuteguas ao longo da seccedilatildeo
transversal condiciona os locais preferenciais de erosatildeo e deposiccedilatildeo ao longo do curso
hiacutedrico
23
Deste modo qualquer intervenccedilatildeo na bacia e canal fluvial compromete o equiliacutebrio natural
da drenagem levando o corpo hiacutedrico a se adaptar agraves mudanccedilas em sua fisionomia
fisiografia e em seus processos ateacute atingir um novo estado de equiliacutebrio Poreacutem eacute na
planiacutecie de inundaccedilatildeo que estas modificaccedilotildees seratildeo mais percebidas pela populaccedilatildeo pois
a maior parte das obras de engenharia como as canalizaccedilotildees e as ocupaccedilotildees das
margens acaba por romper com o equiliacutebrio natural do rio alterando sua dinacircmica e
intensificando seus processos o que na maioria das vezes potencializa as enchentes no
ambiente urbano
Nesse sentido o entendimento dos processos fluviais (erosatildeo transporte e deposiccedilatildeo)
combinado com a anaacutelise da fisiografia fluvial condicionam as peculiaridades na geometria
hidraacuteulica ou seja na relaccedilatildeo entre a vazatildeo velocidade de escoamento tipos de canais
de sedimentos e a topografia Logo o conhecimento geomorfoloacutegico do rio contribui para
pesquisas que necessitem relacionar o funcionamento deste corpo natural com um
planejamento urbano mais efetivo principalmente se considerarmos um recorte em niacutevel
de bacia hidrograacutefica em espaccedilo urbano
211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial
O capiacutetulo que segue versa sobre a atuaccedilatildeo antroacutepica relacionando-a a aacuterea de estudo o
rio Doce poreacutem este trata de forma macro a temaacutetica para contextualizar o leitor sendo
as especificidades das intervenccedilotildees neste recorte geograacutefico trabalhados nos resultados
desta pesquisa
Diante do exposto eacute possiacutevel acompanhar a evoluccedilatildeo dos processos fluviais nos canais
em especial aqueles que tiveram intervenccedilotildees em seu curso natural como as hidreleacutetricas
instaladas a montante a exemplo do Rio Doce onde a interferecircncia direta na vazatildeo e fluxo
de sedimentos altera a hidrodinacircmica do rio comprometendo a erosatildeo e transporte Para
Coelho (2007 p57) as
Mudanccedilas na Declividade Perfil Longitudinal Promovidas pela construccedilatildeo de reservatoacuterio satildeo variadas e caso o efeito da contenccedilatildeo de sedimentos seja significativo os processos fluviais reduziratildeo a capacidade de transporte de sedimento podendo promover um entalhamento do leito do rio imediatamente agrave jusante da barragem
Aleacutem disso esse processo erosivo poacutes-barragem eacute intensificado favorecendo o
assoreamento e sedimentaccedilatildeo do rio a jusante O que pode beneficiar a elevaccedilatildeo da cota
24
do canal fluvial frente a eventos hidroloacutegicos extremos potencializando os efeitos das
inundaccedilotildees nas vaacuterzeas
Ao mesmo tempo o Rio Doce trecho que compreende o Espiacuterito Santo meacutediobaixo curso
eacute impactado nas vazotildees miacutenimas e maacuteximas a jusante apoacutes a instalaccedilatildeo das
barragensUsinas Hidreleacutetricas (UHE) de Mascarenhas (iniacutecio de operaccedilatildeo em 1974)
localizada no Municiacutepio de Baixo Guandu e a de Aimoreacutes (iniacutecio de operaccedilatildeo em 2005)
localizada na divisa do Espiacuterito Santo com Minas Gerais (COELHO 2007)
De acordo com Coelho (opcit) apoacutes a implantaccedilatildeo das usinas ocorreu uma reduccedilatildeo
significativa na vazatildeo da calha principal do Rio Doce conforme Graacutefico 1
Considerando o periacuteodo de 1939 a 2012 a vazatildeo miacutenima apoacutes a instalaccedilatildeo das usinas
chega a atingir 411msup3s e a maacutexima chega apenas a 1251msup3s sendo que no periacuteodo
anterior agrave instalaccedilatildeo das usinas foi registrada a miacutenima de 533 msup3s e uma maacutexima de
1812 msup3s o que ressalta o impacto do barramento sobre o corpo hiacutedrico Aleacutem do
comprometimento dos processos de erosatildeo transporte e sedimentaccedilatildeo (COELHO 2008
e CUNHA 2001)
Diante desta perda de carga liacutequida nos barramentos Cunha (2001 p 241) observa ainda
que as aacutereas a jusante de reservatoacuterios
[hellip] onde o regime do rio sofre significativas modificaccedilotildees devidas ao controle das descargas liquidas e de sedimentos no reservatoacuterio As mudanccedilas ocorridas no regime das aacuteguas neste setor do rio acarretam significativos efeitos nos processos do canal tais como o entalhe do leito a erosatildeo das margens e a deposiccedilatildeo a jusante atingindo longas distacircncias
Aleacutem disso no periacutemetro urbano de Colatina o Rio Doce sofreu outras intervenccedilotildees em
seu canal principal como a implantaccedilatildeo de obras estruturais de macrodrenagem a
exemplo da construccedilatildeo da Av Beira-Rio com intuito de conter o avanccedilo das aacuteguas fluviais
em periacuteodos de cheias
25
Graacutefico 1
Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais (Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia)
Fonte adaptado de Coelho (2007 p154)
26
Como exemplo dos tipos de intervenccedilotildees humanas nas aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial
leitos Carneiro e Miguez (2011 p117) destacam
As accedilotildees de controle e cheias urbanas podem ser classificadas em estruturais quando a paisagem eacute alterada pela accedilatildeo do homem e em natildeo estruturais aqui denominada como estruturante quando o homem aprende a conviver com as enchentes No primeiro caso estatildeo as medidas de controle atraveacutes de obras hidraacuteulicas tais como barragens diques e canais entre outras No segundo caso encontram-se medidas do tipo preventivo tais como zoneamento de aacutereas de inundaccedilatildeo sistemas de alerta educaccedilatildeo ambiental lei de parcelamento e uso dos solos e seguros contra inundaccedilatildeo
Neste cenaacuterio abarcamos os impactos das obras de engenharia como a canalizaccedilatildeo que
altera a fisionomia e fisiografia do rio refletindo-se nos processos geomorfoloacutegicos do canal
e sua planiacutecie de inundaccedilatildeo Para estes a canalizaccedilatildeo eacute uma obra estrutural que aumenta
a capacidade do fluxo do canal aleacutem de intensificar a velocidade do escoamento
superficial antecipando o pico de cheia e transferindo os alagamentos para locais a jusante
na bacia hidrograacutefica
Articulado a esta ideia Cunha (2012b) reflete a desnaturalizaccedilatildeo dos rios por meio de
obras de retificaccedilatildeo com a reduccedilatildeo do comprimento do canal e eliminaccedilatildeo das
sinuosidades Satildeo obras que afetam a estabilidade do corpo hiacutedrico na medida em que
interferem na relaccedilatildeo entre erosatildeo sedimentaccedilatildeo e deposiccedilatildeo provocando efeitos como
alteraccedilatildeo na morfologia do canal Sendo assim ldquo[hellip] a diminuiccedilatildeo da rugosidade no fundo
do canal em conjunto com a perda dos meandros e a aceleraccedilatildeo das velocidades eacute a
principal responsaacutevel pelas mudanccedilas no balanccedilo da energia natural dos sedimentos
fluviais [hellip]rdquo Cunha (2012b p178) No caso do Rio Doce trecho correspondente agrave Av
Beira-Rio alterou-se a sua forma retilinizando-a e sua vegetaccedilatildeo natural foi substituiacuteda
por estruturas de pedras o que compromete a resistecircncia ao fluxo as margens e aos
bancos arenosos
Embora as obras de canalizaccedilatildeo sejam implantadas como eficazes nos canais fluviais para
questotildees de enchentes urbanas para Cunha (op cit) estas necessitam de manutenccedilatildeo
constante envolvendo desde dragagem remoccedilatildeo de obstruccedilotildees a recomposiccedilatildeo do
material utilizado Poreacutem toda a manutenccedilatildeo estaacute associada a alteraccedilotildees morfoloacutegicas e
bioloacutegicas como as que interferem nas soleiras e depressotildees do fundo dos leitos
desestabilizando a vazatildeo no curso a exemplo da
27
ldquo[hellip] eliminaccedilatildeo da sequecircncia de depressotildees e soleiras o aumento da velocidade da corrente a diminuiccedilatildeo da diversidade de habitats o ambiente instaacutevel resultante da flutuaccedilatildeo dos niacuteveis da aacutegua e do substrato moacutevel e a maior flutuaccedilatildeo da temperatura das aacuteguasrdquo (CUNHA 2012b p180)
Ao mesmo tempo o aumento da velocidade dos escoamentos no trecho retificado
possibilita maior erosatildeo transferindo para as aacutereas a jusante uma carga soacutelida
representativa que para Cunha (op cit) configura a formaccedilatildeo de bancos axiais e depoacutesitos
de sedimentaccedilatildeo marginais alterando o equiliacutebrio dos sedimentos a jusante Pois
A jusante das obras de retificaccedilatildeo verificam-se o aumentam da carga soacutelida o assoreamento durante a dragagem a erosatildeo no canal pelos eventos torrenciais do regime e a modificaccedilatildeo na dinacircmica na foz Os sedimentos resultantes da erosatildeo no canal retificado em conjunto com a excessiva carga de sedimentos posta em suspensatildeo durante a dragagem e na fase imediata de poacutes-construccedilatildeo - quando a erosatildeo dos bancos de areia sem vegetaccedilatildeo estaacute em seu niacutevel maacuteximo - originam a formaccedilatildeo de depoacutesitos fluviais de curta duraccedilatildeo a jusante do canal retificado Logo a seguir esses depoacutesitos satildeo erodidos juntamente com as margens e o fundo do leito pelos eventos torrenciais do regime vindo a formar bancos axiais e depoacutesitos de sedimentaccedilatildeo marginais (CUNHA2012b p183)
Portanto o estudo da geomorfologia fluvial contribui diretamente para o entendimento das
cheias nas planiacutecies de inundaccedilatildeo em especial nas bacias hidrograacuteficas que
compreendem a aacuterea urbana e que possuem intervenccedilotildees antroacutepicas diretas na fisiografia
do canal principal Seus processos explicam como as alteraccedilotildees no canal fluvial podem
maximizar os efeitos dos transbordamentos impactando principalmente as populaccedilotildees
ribeirinhas aleacutem de todo ecossistema local Ademais estes fundamentos geomorfoloacutegicos
devem ser associados agrave legislaccedilatildeo vigente afim de subsidiar a elaboraccedilatildeo de instrumentos
legais para atuaccedilatildeo do poder puacuteblico nestas zonas de risco
22 Aspectos Juriacutedicos
Frente agrave crescente demanda sobre os recursos hiacutedricos e solo urbano a partir da deacutecada
de 1930 surgem as primeiras diretrizes que visam regulamentar estes ambientes a
exemplo do Coacutedigo das Aacuteguas Mas soacute a partir dos anos 1960 surgem em acircmbito federal
leis como o Coacutedigo Florestal com o intuito de regular a exploraccedilatildeo das vegetaccedilotildees e
consequentemente proteger os mananciais e em 1979 com o objetivo de ordenar as
28
cidades eacute aprovada a Lei 676679 estabelecendo as normas do parcelamento do solo
urbano
Na medida em que as populaccedilotildees aumentam ampliam-se tambeacutem as pressotildees sobre os
recursos de aacutegua e solo Os processos de uso e a conscientizaccedilatildeo de que estes elementos
satildeo finitos intensificam as formas de controle e preservaccedilatildeo passando para as esferas
estaduais e municipais a responsabilidade de atuar em escala local na proteccedilatildeo desses
ambientes
Ainda em escala federal em 2012 eacute promulgado o Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012
em substituiccedilatildeo ao coacutedigo anterior Lei 47711965 que apresenta as normas de
apropriaccedilatildeo dos recursos naturais pelas novas necessidades das populaccedilotildees citadinas e
rurais No que compete agrave aacuterea de estudo cabe destacar as ocupaccedilotildees em aacutereas de
planiacutecie de inundaccedilatildeo em que de acordo com art 4ordm devem ser preservadas
I - as faixas marginais de qualquer curso drsquoaacutegua natural perene e intermitente excluiacutedos os efecircmeros desde a borda da calha do leito regular em largura miacutenima de (Incluiacutedo pela Lei nordm 12727 de 2012) a) 30 (trinta) metros para os cursos drsquoaacutegua de menos de 10 (dez) metros de largura b) 50 (cinquenta) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura c) 100 (cem) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura d) 200 (duzentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura e) 500 (quinhentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros []
A legislaccedilatildeo eacute riacutegida no que concerne agrave ocupaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo das terras nas faixas
marginais dos rios transferindo aos estados e municiacutepios a responsabilidade de fiscalizar
estes territoacuterios para garantir a efetividade da lei A questatildeo eacute que muitas vezes somada a
falta de planejamento estas fiscalizaccedilotildees satildeo ineficientes o que tem possibilitado o
surgimento cada vez maior das ocupaccedilotildees irregulares
Apoiado tambeacutem pela Constituiccedilatildeo Federal de 1988 nos artigos 182 e 183 surge o
Estatuto das Cidades Lei 102572001 com finalidade de garantir a funccedilatildeo social da
cidade e com este os primeiros Planos Diretores Municipais (PDM) que buscam o
ordenamento do crescimento das cidades em caraacuteter socioeconocircmico e ambiental cidades
sustentaacuteveis Ademais em Colatina eacute instituiacuteda a Lei 42281996 posteriormente revogada
29
pela Lei 52732007 que ldquoInstitui o Plano Diretor do Municiacutepio de Colatina estabelece os
objetivos instrumentos e diretrizes e daacute outras providecircncias para as accedilotildees de
planejamento do Municiacutepio de Colatina []rdquo
O PDM de Colatina assim como Coacutedigo Florestal prevecirc a preservaccedilatildeo dos ecossistemas
beira-rio Aquele ainda dispotildee sobre o parcelamento do solo sustentaacutevel a funccedilatildeo social
da cidade e da propriedade conforme o Plano Diretor de Colatina de 2007 nos artigos
transcritos
Artigo 22 - As diretrizes ambientais no Municiacutepio de Colatina satildeo I - aplicar os instrumentos de gestatildeo ambiental estabelecidos nas legislaccedilotildees federal estadual e municipal bem como a criaccedilatildeo de outros instrumentos adequando-os agraves metas estabelecidas pelas poliacuteticas ambientais II - compatibilizar as diretrizes de uso ocupaccedilatildeo e parcelamento do solo aos objetivos de proteccedilatildeo ambiental dos ecossistemas [] Artigo 23 - Satildeo diretrizes do sistema de drenagem urbana I - disciplinar a ocupaccedilatildeo das cabeceiras e vaacuterzeas das bacias hidrograacuteficas do Municiacutepio preservando a vegetaccedilatildeo existente e visando agrave sua recuperaccedilatildeo [] III - definir mecanismos de fomento para usos do solo compatiacuteveis com aacutereas de interesse para drenagem tais como parques lineares aacuterea de recreaccedilatildeo e lazer hortas comunitaacuterias e manutenccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa [] V - implantar medidas natildeo-estruturais [sic] de prevenccedilatildeo de inundaccedilotildees tais como controle de erosatildeo especialmente em movimentos de terra controle de transporte e deposiccedilatildeo de entulho e lixo combate ao desmatamento assentamentos clandestinos e a outros tipos de invasotildees nas aacutereas com interesse para drenagem [] VII - garantir e respeitar a necessaacuteria permeabilidade do solo inclusive buscando alternativas de pavimentaccedilatildeo com maior de permeabilidade [sic] [] Artigo 84 ndash Satildeo objetivos do ordenamento territorial do Municiacutepio de Colatina [] IV ndash conter a expansatildeo da ocupaccedilatildeo urbana em aacutereas de proteccedilatildeo ambiental [] Artigo 120 ndash Ficam desde jaacute identificadas como Zonas de Proteccedilatildeo Ambiental 2 ndash ZPA 2 as seguintes aacutereas [] III ndash as aacutereas existentes ao longo de qualquer curso drsquoagua desde o niacutevel mais alto em faixa marginal cuja largura miacutenima seraacute de a) 15m (trinta metros) [sic] para os cursos drsquoagua com menos de 10m (10
metros) de largura contidos no periacutemetro urbano [] c) 30m (trinta metros) para os cursos drsquoagua que tenham de10m (dez
metros a 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano
[]
30
e) 50m (cinquenta metros) para os cursos drsquoagua que tenham mais de 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 60422013)
[]
De modo geral verifica-se que a legislaccedilatildeo apresenta instrumentos que permitem a
prevenccedilatildeo ou controle de ocupaccedilotildees irregulares ou clandestinas em aacuterea de APP aleacutem de
propostas para resguardar de grandes impactos ambientais o corpo hiacutedrico principal do
municiacutepio o Rio Doce Possibilitando assim a minimizaccedilatildeo dos impactos causados pelas
cheias agrave populaccedilatildeo local
Poreacutem cabe destacar que o Plano Diretor Municipal de Colatina natildeo contempla o
estipulado no Coacutedigo Florestal 2012 Lei Federal onde os cursos drsquoaacutegua com largura
superior a 600(seiscentos) metros devem ser resguardados com aacutereas de preservaccedilatildeo
permanente de 500(quinhentos) metros entre outros sendo que a redaccedilatildeo desta parte do
PDM eacute dada pela lei 60422013 posterior a publicaccedilatildeo do novo Coacutedigo Florestal Sendo
assim verifica-se que apesar da intenccedilatildeo de resguardar uma faixa de no maacuteximo
50(cinquenta) metros em periacutemetro urbano para a contenccedilatildeo de cheias e mata ciliar o
PDM de Colatina natildeo atende o miacutenimo previsto em Lei Federal O que tem impactado todo
ecossistema beira rio e a populaccedilatildeo ribeirinha uma vez que a faixa marginal de proteccedilatildeo
de 50(cinquenta) metros em muitos casos natildeo tem comportado o impacto dos defluacutevios
No entanto a legislaccedilatildeo trata de aspectos gerais natildeo pontuando as aacutereas responsaacuteveis
por cada accedilatildeo aleacutem de sua aplicabilidade depender da elaboraccedilatildeo de um cronograma de
execuccedilatildeo bem como um conjunto de planos e normas especiacuteficos para cada diretriz com
detalhamento das propostas de intervenccedilatildeo Isto natildeo ocorreu ateacute o presente
Aleacutem disso a cidade de Colatina surgiu num cenaacuterio histoacuterico anterior agraves legislaccedilotildees
urbaniacutesticas e ambientais inclusive do Coacutedigo das Aacuteguas o que dificulta a execuccedilatildeo de
um planejamento que concilie a preservaccedilatildeo das matas beira-rio garantindo a faixa de
APP com a ocupaccedilatildeo urbana consolidada
A aacuterea de estudo se apresenta como ambiente fragilizado apesar de ser regida por
legislaccedilotildees desde a escala federal ateacute a municipal que visam proteger e ordenar o uso e
cobertura da terra nas faixas marginais dos rios Mas a dificuldade das prefeituras em
aplicar os instrumentos legais nestes ambientes seja por interesses privados ou falta de
recursos para investimentos em soluccedilotildees a longo prazo continua expondo as populaccedilotildees
31
aos impactos dos eventos hidroloacutegicos criacuteticos como os que resultam nas inundaccedilotildees
Para que se alcance esse parcelamento do solo sustentaacutevel satildeo necessaacuterios esforccedilos da
gestatildeo municipal em estipular prazos e metas de atuaccedilatildeo afora interagir os diferentes
setores no planejamento em niacutevel de bacia hidrograacutefica considerando as peculiaridades
desta escala de trabalho
23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos
Sendo a ciecircncia que estuda a relaccedilatildeo homemnatureza a Geografia tem muito a contribuir
nas anaacutelises que envolvem o meio ambiente que foi transformado pela dinacircmica da
sociedade Mas historicamente a dialeacutetica das correntes fiacutesica e humana tem imperado de
modo dissociado levando o geoacutegrafo a estudar estes processos separadamente Poreacutem
se o resultado pretendido eacute integrado fazem-se necessaacuterias pesquisas mais amplas que
cruzem as diferentes vertentes geograacuteficas
Considerando que a problemaacutetica dos impactos ambientais urbanos envolve a questatildeo
natural o rio e a questatildeo social e poliacutetica a sociedade e as leis (COELHO 2013) uma
pesquisa neste acircmbito requer o entendimento destes dois objetos a fim de se apreender
o processo de crescimento das cidades brasileiras e a sua relaccedilatildeo com os recursos
hiacutedricos
A partir da deacutecada de 1950 devido ao ecircxodo rural mais intenso as cidades brasileiras
incharam rapidamente com a migraccedilatildeo do camponecircs que buscava melhores condiccedilotildees de
vida como trabalho na induacutestria o acesso agraves escolas saneamento entre outros E
segundo Gorski (2010) a populaccedilatildeo brasileira passou desde o iniacutecio deste processo de 19
milhotildees de habitantes em 1950 para 138 milhotildees de habitantes em 2000 (dados do IBGE)
o que corrobora o raacutepido crescimento das cidades
Todavia as estruturas puacuteblicas natildeo estavam preparadas para um acreacutescimo populacional
tatildeo significativo e em curto espaccedilo de tempo E o que observamos eacute o acesso limitado
dessa populaccedilatildeo agraves aacutereas centrais da cidade sendo induzida a se estabelecer nas
periferias Nesta visatildeo
O difiacutecil acesso da populaccedilatildeo de baixa renda agraves aacutereas mais centrais das cidades contribuiu segundo Raquel Rolnik para a expansatildeo da periferia o que muitas vezes implicou e implica ainda invasatildeo de aacutereas de proteccedilatildeo de mananciais com a aquiescecircncia do poder puacuteblico Esta
32
dinacircmica agravou a situaccedilatildeo de risco dos mananciais pela eliminaccedilatildeo das matas ciliares e consequentemente erosatildeo das margens dos cursos drsquoaacutegua e assoreamento de suas calhas e pela contribuiccedilatildeo do esgoto in natura (ROLNIK1997 apud GORSKI 2010 p62)
Sendo assim a supressatildeo das matas ciliares e das vegetaccedilotildees das encostas para fins de
ocupaccedilatildeo urbana interfere diretamente no ciclo hidroloacutegico diminuindo a absorccedilatildeo de
aacutegua pelo subsolo e pela evapotranspiraccedilatildeo favorecendo o escoamento superficial (Figura
6) que intensifica a velocidade de drenagem das aacuteguas Este processo nas encostas eacute
mais significativo se considerarmos que com a supressatildeo da cobertura vegetal e
impermeabilizaccedilatildeo do solo as precipitaccedilotildees acabam por lavar todo o material
intemperizado sedimentos carregando-o diretamente para o corpo hiacutedrico e contribuindo
para o assoreamento
Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento Fonte Gorski (2010 p64)
Por outro lado as ocupaccedilotildees ribeirinhas nas vaacuterzeas dos rios modificam a dinacircmica fluvial
frente aos defluacutevios A compactaccedilatildeo e o nivelamento do solo associados agrave
impermeabilizaccedilatildeo por concreto asfalto e outros materiais alteram todo o sistema de
drenagem natural e contribuem para a erosatildeo fluvial Aleacutem disso a gestatildeo puacuteblica que
33
deveria investir num parcelamento do solo sustentaacutevel resguardando ldquouma alocaccedilatildeo de
espaccedilosrdquo (CANHOLI 2005 p 15) para a drenagem acaba por colaborar com as enchentes
urbanas na medida em que decide por obras estruturais como a canalizaccedilatildeo (Figura 7
p30) e a microdrenagem que transferem os impactos das inundaccedilotildees a jusante
Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia Fonte Gorski (2010 p69)
Cabe destacar que desde 1965 com o primeiro Coacutedigo Florestal as matas beira-rio jaacute
eram resguardadas da degradaccedilatildeo humana poreacutem com todo o boom urbano a partir de
1950 a falta de estrutura e ingerecircncia municipal no que se refere ao parcelamento e uso
e ocupaccedilatildeo da terra urbana possibilitou a formaccedilatildeo dos assentamentos clandestinos em
APP e na encosta de morros Em condiccedilotildees precaacuterias sem saneamento baacutesico e demais
infraestruturas urbanas estes assentamentos acabam sendo as regiotildees mais afetadas
com as inundaccedilotildees
Junto agraves questotildees jaacute levantadas vale destacar que as aacuteguas das inundaccedilotildees propiciam o
aumento das doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica (febre tifoide hepatite leptospirose
esquistossomose entre outras) pois carregam segundo Gorski (2010) toda uma poluiccedilatildeo
difusa efluentes domeacutesticos industriais e agroindustriais aleacutem do lixo urbano da poluiccedilatildeo
do ar e das ruas
34
Por outro lado esta ocupaccedilatildeo urbana natildeo planejada perde o benefiacutecio que os corpos
hiacutedricos podem oferecer como [] as paisagens fluviais que aos poucos foram sendo
apropriadas como paisagens urbanas [] (GORSKI 2010 38) aleacutem do microclima
associado agrave umidade pela evapotranspiraccedilatildeo que ameniza a sensaccedilatildeo teacutermica local
Poreacutem conforme observado por Graeff (2011) natildeo eacute cabiacutevel atualmente implantar a
legislaccedilatildeo de APP de modo jurista Deve-se considerar toda a representatividade cultural
assentada sobre os leitos destes rios (avenidas importantes casas com arquitetura
histoacuterica entre outros) Aleacutem disso para a demarcaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo
permanente hoje eacute necessaacuteria uma anaacutelise teacutecnica pautada na geomorfologia e
hidrologia de modo a interpretar o ldquocomportamento histoacuterico dos cursos drsquoaacutegua na
paisagem prevendo cenaacuterios de impactos futurosrdquo da atividade humana sobre suas faixas
marginais
Tendo em vista que grande parte da malha urbana brasileira estaacute alocada em APPs e que
segundo Graeff (2011) estas jaacute possuem uma unidade de paisagem estabelecida e muitas
vezes secular configurando siacutetios de importacircncia cultural e apreendendo que
De modo semelhante nas demais cidades haveraacute que ser entendido o meio urbano como ele realmente eacute ndash um encontro entre as necessidades de habitaccedilatildeo com atividades humanas e de conservaccedilatildeo ambiental esta segunda tambeacutem a serviccedilo do homem e natildeo somente de objetivos difusos e distanciados da sobrevivecircncia da sociedade (GRAEFF 2011 206)
Por tais motivos o trabalho com a geomorfologia fluvial urbana deve abarcar os princiacutepios
do bom senso compreendendo que nestas aacutereas de atividade antroacutepica consolidada pode-
se fazer uso de instrumentos de engenharia avanccedilados para uma convivecircncia equilibrada
do homem com a natureza no entorno Contudo deve-se incentivar as aacutereas de expansatildeo
urbana ou zona periurbana (zonas de transiccedilatildeo da aacuterea urbana para a rural) com poliacuteticas
de incentivo a pavimentaccedilotildees mais permeaacuteveis a fim de minimizar o escoamento
superficial para o rio favorecendo a infiltraccedilatildeo
Apesar de os impactos gerados pela interferecircncia humana nas aacutereas mais fragilizadas da
bacia hidrograacutefica vaacuterzeas e encostas refletirem-se em cataacutestrofes com prejuiacutezos
humanos ambientais e urbanos alguns autores brasileiros como Canholi Graeff Cunha
Carneiro e Miguez jaacute indicaram outros caminhos para uma convivecircncia harmoniosa com
a natureza Aleacutem do mais paiacuteses desenvolvidos como a Holanda deixaram de ldquolutar contra
35
as cheiasrdquo para permitir agraves aacuteguas das enchentes a capacidade de acumular e dispersar
com impacto reduzido para as populaccedilotildees (CARNEIRO MIGUEZ 2011)
Sendo assim a proposta deste estudo eacute identificar os principais agentes que influenciam
as inundaccedilotildees entendendo seu papel e atuaccedilatildeo no contexto urbano de Colatina Mas eacute
tambeacutem a de ampliar a abordagem da temaacutetica com uma anaacutelise geograacutefica integrada
ressaltando as medidas que constam no planejamento urbano e sua aplicaccedilatildeo nas faixas
marginais do corpo hiacutedrico
36
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS
Esta pesquisa eacute constituiacuteda de trecircs etapas principais sendo que a primeira teve como
premissa a confecccedilatildeo de um fluxograma (Figura 8) de trabalho para orientar a pesquisa
em seguida teve iniacutecio o levantamento de bibliografias que abordam temas como a
geomorfologia fluvial e urbanizaccedilatildeo em Colatina adotando-se como referecircncia as
pesquisas de Coelho (2006 2007 2008 e 2009) e Albani (2012) Aleacutem disso muito
contribuiacuteram para este trabalho o relatoacuterio do INCAPER da CPRM e os dados do IBGE
Cabe destacar tambeacutem as experiecircncias com recursos hiacutedricos em ambientes urbanos de
Carneiro e Miguez (2011) em especial Cunha (2001 2012ab)
Esta etapa consistiu tambeacutem na busca de material cartograacutefico como aquisiccedilatildeo de planos
de informaccedilatildeo de limite estadual municipal bairros mancha urbana corpo drsquoaacutegua e
logradouros atraveacutes de dados disponiacuteveis no Sistema Integrado de Bases Geoespaciais
do Estado do Espiacuterito Santo (GEOBASES 2014) no Instituto Jones dos Santos Neves
(IJSN 2015) e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2014) imagens
orbitais gratuitas do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI bandas 2-3-4 e 8 (Pan) oacuterbita 216
ponto 73 com datas de passagem em 02012014 e 22032014 agraves 946 (horaacuterio central
da oacuterbita) junto ao Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2014) aleacutem do ortofotomosaico
do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hiacutedricos (IEMA 2014) do Espiacuterito
Santo referente ao voo de 2007 a 2008
Na segunda etapa foram realizadas duas investigaccedilotildees de campo sendo a primeira no
dia 24 de junho de 2014 com a finalidade de fazer o reconhecimento da aacuterea de estudo
fotografar e conversar com moradores e teacutecnicos da prefeitura O segundo trabalho de
campo ocorreu no dia 14 de fevereiro de 2015 e por meio deste foi possiacutevel identificar
pontos sujeitos a inundaccedilatildeo analisar a topografia e realizar as entrevistas com moradores
e funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina
37
Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC)
38
Na terceira etapa foram realizados os mapeamentos e processamentos de todos os planos
de informaccedilatildeo vetoriais e matriciais em ambiente de SIG no sistema ArcGis 103 iniciando
com a ediccedilatildeo dos dados do Municiacutepio e adjacecircncias que foram ajustados quando
necessaacuterio ao sistema de projeccedilatildeo UTM no Datum SIRGAS ndash 2000 na Zona 24 sul com
meridiano central -39 W com todo o mapeamento produzido seguindo a padronizaccedilatildeo
cartograacutefica proposta por Fitz (2008 a b)
O geoprocessamento teve iniacutecio com a composiccedilatildeo das imagens orbitais do Landsat-8 na
cor natural da imagem (2R 3G 4B) e por meio da teacutecnica de Pan Sharpening ou fusatildeo
de imagens a imagem cor natural foi agrupada agrave da banda 8 pancromaacutetica para obtenccedilatildeo
de uma melhor resoluccedilatildeo espacial neste caso chegando a 15 metros sendo resguardado
o conteuacutedo da imagem composta Na sequecircncia foi realizada a extraccedilatildeo da maacutescara do
periacutemetro urbano de Colatina e gerada a classificaccedilatildeo supervisionada da imagem Landsat-
8 no periacuteodo de cheia (janeiro) e vazante (marccedilo) o que possibilitou a delimitaccedilatildeo da calha
do Doce nestes dois eventos
Em seguida foram realizadas as 8 (oito) mediccedilotildees do leito regular sendo 4 (quatro) no
periacuteodo de cheia e 4 (quatro) na vazante de modo a definir a largura meacutedia da calha do
leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina Para chegar a uma medida geral
da largura do rio utilizaram-se ferramentas estatiacutesticas como a meacutedia que eacute uma medida
de tendecircncia central onde numa amostra de tamanho N constituiacuteda por elementos de x
variando de eacute possiacutevel extrair a meacutedia aritmeacutetica atraveacutes da equaccedilatildeo
A meacutedia aponta para onde mais convergem os dados de uma distribuiccedilatildeo
A partir desta definiccedilatildeo da meacutedia da largura da calha do Rio Doce foi possiacutevel em consulta
ao Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e a Lei 52732007 determinar a faixa miacutenima
de preservaccedilatildeo permanente deste corpo fluvial aleacutem da confecccedilatildeo do mapa com o
poliacutegono de APP
Mediante a anaacutelise do mapa verificou-se que grande parte dos bairros do municiacutepio estatildeo
contidos nos poliacutegonos de APP em especial a preservaccedilatildeo de 500 metros conforme lei
federal E por meio deste foram cruzados os dados de vazatildeo as fotos histoacutericas das
enchentes e o poliacutegono de mata ciliar o que permitiu o entendimento das inundaccedilotildees
39
Em ambiente de SIG tambeacutem foram vetorizados os trecircs traccedilados da Estrada de Ferro
Vitoacuteria a Minas o trajeto do Rio Santa Maria do Doce antes e depois da retilinizaccedilatildeo e os
sucessivos aterros na margem direita do Rio Doce no periacutemetro que compreende a Av
Beira-Rio
As teacutecnicas de sensoriamento remoto como a classificaccedilatildeo supervisionada permitiram a
definiccedilatildeo do poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo atraveacutes da imagem da cheia de janeiro Para
tanto foi realizada tambeacutem a classificaccedilatildeo hiacutebrida objetivando aliar a interpretaccedilatildeo visual
com a digital (JENSEN 2009) Por fim foi realizada amarraccedilatildeo com o levantamento
geodeacutesico da CPRM (2014) para garantir a precisatildeo do traccedilado do poliacutegono de cheia
A partir do tratamento dos dados bibliograacuteficos cartograacuteficos e imagens foi possiacutevel
sistematizar este trabalho o que permitiu identificar elementos histoacutericos de intervenccedilatildeo
na paisagem do Doce como os aterros e a ocupaccedilatildeo urbana As visitas de campo a
entrevista e conversas com moradores foram fundamentais para a validaccedilatildeo das
informaccedilotildees o que tornou esta metodologia eficaz para anaacutelise do fenocircmeno da inundaccedilatildeo
em Colatina
40
4 RESULTADOS
41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana
A ocupaccedilatildeo ao longo das planiacutecies de inundaccedilatildeo dos rios tem ocorrido diante da
necessidade deste recurso para as atividades vitais humanas Cunha (2012b p219)
entende que ldquosuas margens tecircm sido o centro preferido da habitaccedilatildeo humana e o
suprimento de suas aacuteguas natildeo soacute fertiliza os campos para o cultivo como tambeacutem fornece
energia e permite recreaccedilatildeordquo Logo o estabelecimento das vilas nas bordas dos cursos
drsquoaacutegua favorece a logiacutestica ocupacional
Historicamente em solo espiacuterito-santense a formaccedilatildeo das vilas ocorreu agraves margens de
estrateacutegicos cursos drsquoaacutegua e a exploraccedilatildeo do ouro de Minas Gerais para Albani (2012)
determinou que a Coroa proibisse nos seacuteculos XVII a XIX a implantaccedilatildeo de estradas e
exploraccedilatildeo de terras na Capitania do Espiacuterito Santo pois os portugueses temiam incursotildees
estrangeiras deixando assim o desenvolvimento capixaba restrito agrave faixa litoracircnea
Relegada enquanto ldquobarreira verderdquo para defesa das minas de ouro e minerais do atual
territoacuterio das Minas Gerais segundo Coelho (2007) a Capitania do Espiacuterito Santo soacute
passou a se interiorizar para o centro-oeste onde se localiza atualmente a cidade de
Colatina a partir de 1847 por meio das ocupaccedilotildees de Santa Izabel e Santa Leopoldina
que permitiram a descida do Rio Santa Maria do Doce ateacute as imediaccedilotildees da atual cidade
de Colatina
Assim foi que o movimento colonizador desceu o vale do Santa Maria do Rio Doce atingindo em 1891 a regiatildeo das matas onde hoje se acha a cidade de Colatina [] Esta penetraccedilatildeo inicial foi feita com elementos alematildees de Santa Leopoldina e no rio Doce ficou muito anos restrita agrave aacuterea inicial A expansatildeo ao longo do vale tomou impulso com a chegada a Colatina em 1906 dos trilhos da Estrada de Ferro Diamantina (atual Vitoacuteria-Minas) (STRAUCH1955 apud COELHO 2007 p105)
Sendo assim Coelho (op cit) relata que a ocupaccedilatildeo se deu atraveacutes da supressatildeo da mata
nativa no baixo curso do Rio Doce de Colatina a Linhares sendo a madeira daiacute extraiacuteda
levada ateacute o rio e encaminhada ateacute Povoaccedilatildeo vilarejo junto agrave foz de onde eram carregados
os navios Neste periacuteodo tem-se a instalaccedilatildeo de um ciclo madeireiro na regiatildeo com a
disposiccedilatildeo de serrarias nas proximidades das matas
41
Todavia somente a partir de 1906 com a chegada da estrada de ferro na regiatildeo o
transporte madeireiro foi transferido para as locomotivas Agrave medida que a implantaccedilatildeo da
Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas avanccedilava para o interior levava consigo as frentes de
desmatamento modificando as paisagens das margens do Rio Doce e se apropriando dos
espaccedilos deste rio (Figura 9)
Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906 Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce Fonte Albani (2012 p 63)
Conforme Albani (2012) com a vinda dos mineiros e fluminenses reforccedilados
posteriormente a partir de 1889 por colonizadores italianos e alematildees eacute que as
ocupaccedilotildees territoriais ocorreram de modo efetivo Atraveacutes do Barracatildeo do Rio Santa Maria
(Figura 10) espaccedilo do governo inicialmente destinado a alojar os migrantes e a produccedilatildeo
surgiram as primeiras residecircncias nas proximidades da igreja de Satildeo Sebastiatildeo Sendo
assim
Eacute importante destacar que o desenvolvimento da regiatildeo onde se encontra o municiacutepio de Colatina teve iniacutecio no final do seacuteculo XIX no nuacutecleo de colonizaccedilatildeo Antocircnio Prado localizado no distrito de Boapaba antiga vila do Mutum O nuacutecleo recebeu dezenas de famiacutelias de imigrantes italianos e ali desenvolveram atividades de agricultura e com a expansatildeo da localidade surge tambeacutem o comeacutercio (ALBANI 2012 p61) [hellip] A vila de Colatina entretanto logo passou a se transformar no principal nuacutecleo e futuramente na sede do municiacutepio Aleacutem da facilidade da produccedilatildeo atraveacutes do Rio Doce a vila de Colatina tornou-se referecircncia dos imigrantes no caminho para a colonizaccedilatildeo das terras ao norte do estado (MADURO1985 apud ALBANI 2012 p62)
42
Desse modo com o desenvolvimento das atividades de cafeicultura madeireira e do
entroncamento logiacutestico de acesso agraves aacutereas do norte a vila eacute elevada em 1921 agrave categoria
de municiacutepio A atual configuraccedilatildeo territorial foi adquirida a partir de 2001 conforme IBGE
(2014) dispondo de seis distritos Colatina (sede) Acircngelo Frechiami Baunilha Boapaba
Graccedila Aranha e Itapina
Cabe destacar poreacutem que a ocupaccedilatildeo inicial da cidade de Colatina se perfaz pela margem
direita do Rio Doce onde se localiza o atual bairro de Colatina Velha e onde havia se
instalado o Barracatildeo de Santa Maria Nesse periacuteodo a ponte ainda natildeo fora edificada
limitando assim a ocupaccedilatildeo da margem esquerda
Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da regiatildeo Fonte Albani (2012 p62)
Conforme Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p65) a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro
Vitoacuteria a Minas em 1906 (Figura 11) possibilitou a expansatildeo da cidade de Colatina e seu
desenvolvimento econocircmico Todavia sua instalaccedilatildeo paralela agrave margem direita do Rio
Doce favoreceu a localizaccedilatildeo de avenidas e ruas centrais em sua proximidade
43
Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p65)
Entretanto foi com a construccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos (Figura 12) em 1928 que a
margem direita se conectou agrave margem esquerda da cidade o que aleacutem de possibilitar a
ocupaccedilatildeo facilitou o acesso agraves regiotildees mais ao norte do Estado
Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p66)
44
Por conseguinte a estrada de ferro e a ponte foram os fatores determinantes para o
estabelecimento dos migrantes agraves margens do Rio Doce e a formaccedilatildeo do atual municiacutepio
de Colatina Contudo foi a partir desta posiccedilatildeo privilegiada que a cidade passou a ser
entreposto comercial e logiacutestico da regiatildeo noroeste e com isso sua aacuterea urbana expandiu-
se de modo desordenado inicialmente ao longo da planiacutecie de inundaccedilatildeo do Doce Coelho
(2007 p108 e 109) relata que
Os efeitos dessa urbanizaccedilatildeo (novos parcelamentos) e do desmatamento produz [sic] normalmente o aumento da velocidade das aacuteguas superficiais (pluviais) que eram antes interceptadas pelas matas com boa parte absorvida pelo solo O que ocorre geralmente nessas aacutereas eacute a chegada mais raacutepida das aacuteguas das chuvas para o tributaacuterios e calha principal do rio por fluxos concentrados que provocam processos de erosotildees do tipo laminar ravina e voccediloroca transportando quantidades expressivas de sedimentos que por sua vez causam assoreamento e a ocorrecircncia de cheias mais frequentes no rio
Com o crescimento acelerado do periacutemetro urbano proporcionado pelo apogeu do ciclo
cafeeiro as proacuteximas deacutecadas levaratildeo a cidade de Colatina a sofrer com impactos
advindos das alteraccedilotildees no ambiente fluvial do Rio Doce em especial os referentes a
ocupaccedilatildeo (impermeabilizaccedilatildeo) e desmatamento das margens (interferecircncia na drenagem
natural) conforme destacado por Coelho (2007)
Eacute fato que o municiacutepio viveu nas deacutecadas de 1940 e 1950 o auge do ciclo cafeeiro
chegando a ser no ranking brasileiro o 13ordm municiacutepio produtor de cafeacute no ano de 1947
(CAMPOS JUNIOR 2004 apud ALBANI 2012 p69) Poreacutem a partir de 1960 este boom
entrou em colapso com crise do cafeacute que assolou todo o paiacutes levando grande parte dos
pequenos proprietaacuterios rurais a migrarem para centros urbanos em especial no Espiacuterito
Santo a regiatildeo da Grande Vitoacuteria e tambeacutem para o centro de Colatina
Em razatildeo da crise cafeeira a populaccedilatildeo rural migra para centros urbanos A populaccedilatildeo migrou em grande quantidade para a Grande Vitoacuteria para fora do estado e tambeacutem para a cidade de Colatina principal aglomerado urbano da regiatildeo Esse processo provoca o aumento da aacuterea urbana de Colatina A populaccedilatildeo da cidade que era de 3913 habitantes em 1940 cresceu para 26757 habitantes em1960 (ALBANI2012 p71)
O crescimento raacutepido do centro de Colatina aliado ao aumento populacional direciona
grande parte dos migrantes para as aacutereas menos centrais da cidade levando agrave ocupaccedilatildeo
de locais irregulares como os morros e as margens direita e esquerda do Rio Doce Este
45
processo configurou a nova paisagem do municiacutepio povoando do vale agraves encostas (Figura
13)
Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes Fonte Albani (2012 p73)
Associado a este processo de reconfiguraccedilatildeo espacial nas proacuteximas deacutecadas o municiacutepio
de Colatina passaraacute por sucessivas perdas de territoacuterios ateacute atingir os limites atuais (Figura
1 p17) Aliado a estas perdas territoriais seu quantitativo absoluto populacional tambeacutem
sofreraacute impactos poreacutem de modo geral a populaccedilatildeo urbana deste municiacutepio apresentou
crescimento continuo (Graacutefico 2)
Graacutefico 2
Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 2010
Elaborado pela autora Fonte 1940 e 1950 Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p82) 1960 a 2010 IBGE
0
20000
40000
60000
80000
100000
120000
1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020
Populaccedilatildeo Urbana Colatina 1940 - 2010
46
Assim como tem ocorrido nas grandes capitais Colatina cresceu em quantitativo
populacional e territorial urbano de modo muito raacutepido e por este desenvolvimento natildeo ter
sido aliado a um planejamento urbano e ambiental sustentaacutevel a cidade tem sentido os
reflexos das suas interferecircncias ao longo do canal do Doce O que tem provocado
antecipaccedilatildeo dos picos de vazatildeo que no periacutemetro urbano ocasiona as inundaccedilotildees pois
natildeo conseguindo o rio acomodar estes defluacutevios transfere em curto espaccedilo de tempo as
aacuteguas a sua planiacutecie de inundaccedilatildeo atingindo os bairros mais antigos do municiacutepio
Por fim entender o contexto histoacuterico do crescimento da cidade revela muito do panorama
atual E por meio de uma anaacutelise conjunta da histoacuteria com os novos planejamentos eacute
possiacutevel propor intervenccedilotildees urbanas que possibilitem um conviacutevio harmonioso entre
natureza e sociedade neste caso entre o Rio Doce e o centro de Colatina Diante desta
proposta adiante apresentaremos a evoluccedilatildeo dos bairros associando seus periacuteodos de
ocupaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo espacial nas imediaccedilotildees do curso principal do Doce
411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade
Com nuacutecleo inicial de povoamento no Barracatildeo de Santa Maria a cidade de Colatina
cresce a partir deste ponto agrave margem direita do Rio Doce de onde surgem as primeiras
residecircncias comeacutercios e a igreja Atualmente a regiatildeo compreende o bairro de Colatina
Velha que de acordo com Albani (2012 p91) [hellip] ldquopode ser considerado o primeiro polo
de crescimento da cidaderdquo
Aliado ao aumento da populaccedilatildeo migrante das fazendas com a crise do cafeacute o nuacutecleo de
Colatina Velha passa a ser um ponto de passagem obrigatoacuterio para os viajantes que
vinham majoritariamente do sul uma vez que o Rio Doce configurava uma barreira natural
agrave ocupaccedilatildeo das terras ao norte Aleacutem disso a margem esquerda deste canal fluvial era
habitat dos hostis iacutendios botocudos o que dificultava a sua apropriaccedilatildeo
Sendo assim a ocupaccedilatildeo de Colatina conteve-se agrave margem direita nesta primeira fase o
que define o primeiro vetor de crescimento da cidade na direccedilatildeo leste para oeste partindo
das imediaccedilotildees do Barracatildeo de Santa Maria sentido ao Rio Santa Maria do Doce (Figura
14) E a partir de 1906 com a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas da entatildeo
Companhia Vale do Rio Doce atual Vale este vetor de crescimento se consolida e
47
proporciona o surgimento de importantes avenidas paralelas agrave ferrovia a exemplo da Av
Getuacutelio Vargas
Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de crescimento Elaborado pela autora
48
O segundo vetor do crescimento de Colatina estava condicionado agrave construccedilatildeo da ponte
Florentino Aacutevidos a qual conectou a margem direita agrave esquerda do Rio Doce permitindo
a ocupaccedilatildeo da porccedilatildeo ao norte Portanto somente a partir de 1928 com a finalizaccedilatildeo da
obra da ponte a barreira natural pocircde ser transposta o que possibilitou ao lado esquerdo
desenvolver uma nova linha de crescimento urbano com a ocupaccedilatildeo do atual bairro de
Satildeo Silvano
O terceiro vetor de crescimento estaacute associado agrave implantaccedilatildeo do bairro Luiz Iglesias na
margem direita e os de Maria das Graccedilas e Coluacutembia na margem esquerda Albani (2012)
ressalta que esta fase da ocupaccedilatildeo urbana estaacute associada ao desenvolvimento do sistema
viaacuterio como a proximidade da BR-259 sentido Vitoacuteria- Colatina da ES-80 que liga
Colatina agrave regiatildeo norte da ES-256 que a conecta a Marilacircndia e da proximidade da
estaccedilatildeo ferroviaacuteria Carlos Germano Nauman (Figura 15)
Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios e linhas feacuterreas que interceptam a cidade de Colatina Elaborado pela autora
Jaacute na quarta e mais recente linha de crescimento da cidade temos os novos loteamentos
residenciais e industriais a exemplo do de Barbados e do bairro Santa Helena que surgem
49
acompanhando o traccedilado da ponte que contorna a leste a cidade como novo acesso agrave
porccedilatildeo norte do estado Albani (2012 p118) destaca que
Apesar da construccedilatildeo da Segunda Ponte ter sido iniciada em 1986 somente foi inaugurada em 2007 A conclusatildeo da ponte e a construccedilatildeo de uma rodovia de contorno desviaram a BR-259 do centro da cidade O desvio da rodovia federal trouxe um desafogamento do tracircnsito nas principais vias da cidade e um novo direcionamento na expansatildeo urbana Alguns loteamentos surgiram nesse periacuteodo proacuteximo agrave Segunda Ponte e ao contorno na margem norte do rio principalmente no bairro Santa Helena (Figura 55) Essa situaccedilatildeo indica mais uma vez que as linhas de crescimento em Colatina satildeo orientadas pelas vias de transporte
Portanto o crescimento do periacutemetro urbano de Colatina estaacute associado agrave superaccedilatildeo das
barreiras naturais em especial o Rio Doce por meio de investimentos em obras de
engenharia que permitiram o deslocamento humano para a margem esquerda deste curso
Sem duacutevida as vias de transporte foram elementares na construccedilatildeo do periacutemetro urbano
de Colatina pois na medida que se consolidava o sistema viaacuterio as ocupaccedilotildees tambeacutem se
favoreciam destas vias de locomoccedilatildeo A evoluccedilatildeo da aacuterea urbana portanto acompanha
as principais vias de transporte (Figura 15 p45) e estas se utilizam da posiccedilatildeo estrateacutegica
e geograficamente favoraacutevel do canal do Doce para a definiccedilatildeo de seus traccedilados
Apoacutes 94 anos de emancipaccedilatildeo de Linhares o territoacuterio de Colatina eacute fundamental para a
manutenccedilatildeo dos municiacutepios do noroeste capixaba Diante desta posiccedilatildeo estrateacutegica torna-
se relevante o entendimento de como o urbano se relaciona com o meio natural a fim de
se estabelecer poliacuteticas de ordenamento territorial que promovam a qualidade de vida no
municiacutepio Adiante seraacute analisada a situaccedilatildeo da calha principal do Rio Doce elemento
fundamental na compreensatildeo do uso e cobertura da terra de Colatina
42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce
Compreendendo uma aacuterea de 3330 kmsup2 o periacutemetro urbano de Colatina eacute afetado pela
velocidade dos defluacutevios de modo que grande parte dos bairros beira-rio eacute tomada pelas
aacuteguas excedentes da calha principal do Doce o que configura o fenocircmeno de inundaccedilatildeo
Ao pesquisar estes fenocircmenos eacute necessaacuterio relacionar o uso da terra com os processos
geomorfoloacutegicos do corpo hiacutedrico Sendo assim por meio de teacutecnicas de
geoprocessamento foram realizadas oito mediccedilotildees da calha principal do Rio Doce para
50
estabelecimento da distacircncia meacutedia da largura de sua calha O resultado esteve dentro do
esperado e pode ser verificado na tabela abaixo (Tabela 1) e no mapa em sequecircncia
(Figura 16)
Tabela 1 Perfis transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de
vazante (abril) e cheia (janeiro)
Largura do rio Doce periacuteodo de vazante e cheia
Abril2013(m) Janeiro2014(m)
P1 70735 75784
P2 62080 66483
P3 59209 65804
P4 63548 67650
Meacutedia dos Perfis 62814 67066
Meacutedia Geral 66143 Obs todas as medidas estatildeo em metros
Elaborado pela autora
Figura 16 - Traccedilado dos perfis transversais da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de vazante mecircs de abril2013 Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)
51
Com uso das imagens orbitais do Landsat-8 atraveacutes da classificaccedilatildeo hiacutebrida foram
gerados dois arquivos shapefiles correspondentes agraves bordas do Doce um no periacuteodo de
vazante e outro no de cheia Por meio destes dados foram definidos quatro traccedilados para
realizaccedilatildeo das mediccedilotildees a partir destas e com auxiacutelio das medidas de tendecircncia central
chegou-se a uma largura meacutedia total de 66143m de uma margem a outra Este resultado
indicou que tanto no periacuteodo de vazante quanto no periacuteodo de cheia a largura meacutedia
aponta para a maior faixa de APP proteccedilatildeo de 500m conforme previsto na legislaccedilatildeo
federal (Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e no revogado Lei 4771 1965)
Analisando a imagem abaixo (Figura 17) observa-se que grande parte do solo
naturalmente destinado a ldquoacomodaccedilatildeordquo das aacuteguas nas cheias (linha laranja) foi
incorporado agrave sociedade como espaccedilo criado (periacutemetro urbano em APP mancha em
amarelo) destinado a fins muacuteltiplos Deste modo sem planejamento territorial adequado
grande parte da planiacutecie de inundaccedilatildeo deu lugar a outras funccedilotildees diferentes das naturais
sendo incorporada ao espaccedilo urbano
Lanccedilando o buffer (mancha em amarelo) do entorno da calha do Doce (Figura 17) observa-
se que dos 59 bairros do municiacutepio cerca de 29 estatildeo dentro da aacuterea de 500m destinada
a preservaccedilatildeo permanente pelo Coacutedigo Florestal Considerando-se a delimitaccedilatildeo da APP
prevista no PDM de 1996 e 2007 (linha laranja mais proacutexima da borda do rio) este nuacutemero
cai para 18 bairros permanecendo apenas aqueles que possuem limites com o corpo
hiacutedrico
Uma vez que que lei municipal natildeo suplanta lei federal considerar-se-aacute neste estudo o
limite da faixa marginal de proteccedilatildeo definida na Lei Federal 126512012 Deste modo a
aacuterea de preservaccedilatildeo permanente do Doce neste recorte eacute de 1085 kmsup2 compreendendo
33 do periacutemetro urbano de Colatina
Cabe destacar ainda que mesmo o PDM de 1996 contendo enquanto objetivo no Art 14
ldquoI - estabelecer a ordenaccedilatildeo do uso e da ocupaccedilatildeo do solo urbanordquo (Lei 42281996 p4)
a gestatildeo municipal natildeo obteve sucesso na implementaccedilatildeo de tal legislaccedilatildeo O que se
verifica tanto nas deacutecadas de 1990 quanto no iniacutecio dos anos 2000 quando foram
aprovados novos parcelamentos urbanos agraves margens deste canal a exemplo dos bairros
de Barbados na margem direita e do bairro Mario Giurizato na margem esquerda
52
Figura 17- Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)
53
Articulado a esta ideia e pesquisando o trecho do bairro Esplanada a Colatina Velha palco
das uacuteltimas obras estruturantes de alto porte do municiacutepio consegue-se analisar os efeitos
das inundaccedilotildees nas margens deste rio Logo implementar medidas de prevenccedilatildeo de
cheias em aacutereas com urbanizaccedilotildees antigas requer um esforccedilo da gestatildeo na regulaccedilatildeo do
solo urbano
421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie
de Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio
Interceptada pelo curso do Rio Doce no perfil mais a jusante da bacia a cerca de 100km
do estuaacuterio com o Oceano Atlacircntico a cidade de Colatina polo moveleiro e de confecccedilotildees
do centro-oeste capixaba eacute palco recorrente de inundaccedilotildees urbanas
Conforme jaacute mencionado por Cunha (2012a) este fenocircmeno ocorre quando a bacia recebe
um percentual precipitado acima da sua capacidade de escoamento o que faz o leito
menor do rio extravasar para o leito maior ocupando as aacutereas de vaacuterzeas (Figura 18 p
50) Aliadas a esta questatildeo estatildeo as ocupaccedilotildees humanas das margens dos rios que ao
suprimir a vegetaccedilatildeo natural e alterar a condiccedilatildeo fiacutesica do solo acabam por reduzir a aacuterea
de drenagem das aacuteguas pluviais acelerando o escoamento superficial para o canal
principal e favorecendo os defluacutevios
Figura 18 - Representaccedilatildeo da inundaccedilatildeo urbana Fonte adaptado da Defesa Civil do Tocantins (2015)
Este fenocircmeno tem ganhado destaque em Colatina a partir de 1979 ano em que o Rio
Doce atingiu a vazatildeo de 12860msup3s tomando toda aacuterea aplainada que compotildee seu leito
maior afetando da atual Av Beira-Rio ateacute as redondezas da Av Getuacutelio Vargas Desde
entatildeo os estudos das inundaccedilotildees urbanas satildeo relevantes no municiacutepio o que levou o
54
Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) na deacutecada de 1980 a elaborar um ldquoPlano Diretor
de Contenccedilatildeo das Enchentes Proteccedilatildeo das Encostas e Drenagem Pluvial de Colatinardquo
Tal medida apresentou seis alternativas para o fenocircmeno Poreacutem tendo em vista o custo
operacional das obras apenas a alternativa seis que previa a construccedilatildeo de diques
marginais para a proteccedilatildeo das aacutereas mais centrais foi considerada viaacutevel na eacutepoca
Todavia em entrevistas com funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina (PMC) foi
relatado que todo o estudo foi arquivado e que ateacute agora natildeo haacute previsatildeo de
implementaccedilatildeo de tais medidas Fato este que eacute evidenciado (Tabela 2 p 51) quando da
ocorrecircncia de precipitaccedilotildees intensas na bacia durante as quais sazonalmente a cidade eacute
impactada com as aacuteguas das inundaccedilotildees Isto faz com que o municiacutepio passe
recorrentemente por cataacutestrofes conforme tabela com os principais picos de vazatildeo do rio
nos uacuteltimos 50 anos
Tabela 2
Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013
Ano Diamecircs Vazatildeo(msup3s)
1961 30jan 6613
1979 04fev 12860
1997 07jan 8687
2005 03ago 6549
2013 24dez 9028
Fonte Coelho (2007 apud DALLAPICOLA 2014 p4) e CPRM (2014 p85) Observo que os dados da tabela 1 para os anos de 1979 e 2013 estatildeo baseados na estimativa de vazatildeo meacutedia diaacuteria das maacuteximas anuais obtida atraveacutes de extrapolaccedilatildeo da curva-chave pelo grupo interdisciplinar dos relatoacuterios criacuteticos anteriores
As inundaccedilotildees de 1979 1997 e recentemente 2013 (Figura 19) foram as de maior vazatildeo
neste setor do rio e consequentemente as que mais atingiram a aacuterea urbana do municiacutepio
bloqueando os acessos ao centro da cidade e aos equipamentos essenciais como
hospitais escolas e demais oacutergatildeos puacuteblicos aleacutem de desalojarem muniacutecipes e
comprometerem a sauacutede puacuteblica
55
Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de 1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 Fonte1) Nossa Colatina 2) Nossa Linda Colatina 3) Nossa Colatina
Com o propoacutesito de identificar os principais fatores que acentuam as inundaccedilotildees seraacute
analisado como os processos geomorfoloacutegicos do Doce estatildeo sendo afetados pela accedilatildeo
antroacutepica Limitaremos a anaacutelise ao periacutemetro urbano no trecho que compreende do bairro
Esplanada ateacute o bairro Colatina Velha (Figura 20) Neste periacutemetro eacute possiacutevel visualizar a
evoluccedilatildeo da mancha urbana sobre o leito do rio aleacutem de identificar na margem direita os
pontos desnaturalizados deste canal fluvial
56
Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2) Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do recorte em rosa da APP de 50m (amarelo claro) e 500m (amarelo escuro) Fonte 3) Encontra Colatina (2015)
57
O recorte em questatildeo eacute margeado pela Av Beira-Rio e estaacute situado (Figura 20) dentro do
buffer de preservaccedilatildeo permanente previsto no PDM (buffer de 50m) e no Novo Coacutedigo
Florestal (buffer de 500m) Apesar desta aacuterea ser destinada a mata nativa e ou
reflorestada a ocupaccedilatildeo urbana antecede os artigos legais o que dificulta poliacuteticas de
gestatildeo territorial em um periacutemetro ao mesmo tempo histoacuterico e com funccedilatildeo relevante no
equiliacutebrio hidroloacutegico da bacia
O periacutemetro faz parte da vaacuterzea da margem direita do Rio Doce pois encontra-se em cota
topograacutefica de 50m caracterizando sua planiacutecie Logo a aacuterea em questatildeo tem a funccedilatildeo de
acomodar as aacuteguas das cheias quando a calha principal natildeo comporta o escoamento de
grandes vazotildees Esta tarefa passa a ser prejudicada na medida em que na bacia ou no
curso original satildeo implementadas obras que interferem na morfologia do corpo hiacutedrico
principal como a instalaccedilatildeo das hidreleacutetricas de Mascarenhas (1974) e Aimoreacutes (2005) a
montante
As UHErsquos a montante comprometem os processos do rio uma vez que o regime natural de
transporte de sedimentos eacute alterado com o barramento o que favorece a erosatildeo e
consequentemente o assoreamento com a formaccedilatildeo de bancos arenosos alteraccedilatildeo do
seu perfil transversal e reduccedilatildeo da profundidade Aleacutem disso segundo Coelho (2007) as
vazotildees maacuteximas e miacutenimas foram alteradas com a implantaccedilatildeo das hidreleacutetricas a
montante implicando em vazotildees meacutedias anuais miacutenimas cada vez mais reduzidas com
valores se distanciando da linha de tendecircncia (polinocircmio) provando o natildeo equiliacutebrio da
vazatildeo apoacutes a implantaccedilatildeo das barragens (Graacutefico 1 p22)
Entretanto a primeira intervenccedilatildeo direta no trecho em estudo foi a instalaccedilatildeo da estrada
de ferro que atraiu migrantes para Colatina permitindo o crescimento populacional e a
expansatildeo urbana desordenada agraves margens do Doce Este crescimento intensificou a
supressatildeo das matas ciliares e abriu espaccedilo para a impermeabilizaccedilatildeo do solo reduzindo
a infiltraccedilatildeo
Posteriormente a inauguraccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos ampliou o fluxo na regiatildeo pois
proporcionava a ligaccedilatildeo com as terras ao norte do Estado Atuou tambeacutem como obstaacuteculo
ao transporte de sedimentos carreados no fluxo natural do rio uma vez que sua
implantaccedilatildeo altera a topografia do fundo do canal afetando os processos geomorfoloacutegicos
58
Poreacutem foi no Morro das Cabritas (colina localizada no espaccedilo que compreende o atual
bairro Esplanada) que ocorreu a primeira desnaturalizaccedilatildeo nas margens do Doce Este
morro por onde o Rio Santa Maria do Doce meandrava ateacute desaguar no Rio Doce foi
cortado em meados de 1953 para abrigar a cidade em expansatildeo Devido a esta
intervenccedilatildeo o curso original do Santa Maria foi deslocado e passou a escoar
retilineamente ateacute a foz (Figura 21)
Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponte Florentino Aacutevidos (direita) e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque em vermelho para o curso atual do Santa Maria Fonte Nossa Colatina
As intervenccedilotildees na margem direita tornam-se mais intensas a partir da deacutecada de 1960
quando no ano de 1968 edificou-se um muro visando a proteccedilatildeo dos pilares da
extremidade direita da ponte Esta obra ficou paralisada por muitos anos e foi a primeira
de retificaccedilatildeo e aterro realizada neste trecho do rio Esta intervenccedilatildeo modificou o fluxo
natural das correntes do rio e reduziu a largura da sua calha alterando a morfologia do
canal (Figura 22)
59
Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de proteccedilatildeo da ponte Elaborado pela autora Fonte fotos histoacutericas Nossa Colatina
Contudo somente em 1972 teve iniacutecio o segundo aterro (Figura 23) com a finalidade de
alocar a estaccedilatildeo rodoviaacuteria de Colatina e ampliar a aacuterea de acesso agrave ponte Florentino
Aacutevidos A implementaccedilatildeo desta obra suprimiu parte do leito do Rio Doce pois removeu a
saliecircncia cocircncava que curvava o rio retilinizando esta parte do canal
60
Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora Fonte Nossa Colatina Nossa Linda Colatina
Apoacutes dez anos sem grandes intervenccedilotildees em 1982 o lado a montante da ponte bairro
Esplanada eacute acrescido de um aterro que estenderaacute a aacuterea do antigo Morro das Cabritas
para o rio (Figura 24)
Conhecido como Rua da Lama devido agrave umidade que o rio transferia ao aterro formando
um barro viscoso que persistia a maior parte do ano o trecho atualmente compreende a
Avenida Professor Joseacute Zouian popularmente denominada Avenida Beira-Rio de onde
surge a primeira forma do calccediladatildeo que seraacute estendido ateacute o bairro Colatina Velha
61
Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o calccediladatildeo da Av Beira-Rio Elaborado pela autora Fonte Bennachio (2015)
Somente em 2004 foi implementado o maior projeto de canalizaccedilatildeo do municiacutepio Naquele
ano teve iniacutecio a execuccedilatildeo do enrocamento da Av Beira-Rio (Figura 25) obra destinada
inicialmente a alocaccedilatildeo de equipamentos puacuteblicos de lazer e cultura praccedilas preacutedios aleacutem
da promessa de contribuir para a contenccedilatildeo dos transbordamentos do Rio Doce
Apesar de o referido manancial jaacute estar comprometido com problemas de poluiccedilatildeo
assoreamento e erosatildeo aleacutem dos impactos de duas hidreleacutetricas instaladas a montante a
obra abarcou a supressatildeo da vegetaccedilatildeo ciliar e aterro de parte do rio jaacute tatildeo degradado
62
Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento iniciada em 2004 e finalizada em 2008 Elaborado pela autora Fonte proacutepria autora em 240215
Ocupando uma aacuterea total de 130 mil msup2 do leito do Rio Doce o aterro teve iniacutecio em 2004
sendo construiacutedo com cerca de 90 mil msup3 de pedras 50 mil msup3 de areia retirada do leito do
rio e por fim o nivelamento com 200 mil msup3 de terra A obra era divulgada como um antigo
sonho dos colatinenses e serviria para ampliaccedilatildeo da Av Beira-Rio no bairro de Colatina
Velha instalaccedilatildeo de ciclovias calccediladatildeo equipamentos puacuteblicos e estacionamento (Figura
26) Apesar do fim da engenharia em 2008 o projeto ainda estaacute em fase de acabamento
na parte urbaniacutestica e na alocaccedilatildeo dos oacutergatildeos puacuteblicos
Cabe destacar que a obra sofreu embargos do Ministeacuterio Puacuteblico Federal (MPF) por
apresentar apenas cadastro na Agecircncia Nacional de Aacuteguas (ANA) que conforme parecer
da Procuradora Nadja Machado Botelho na Accedilatildeo Civil Puacuteblica ldquo[hellip] equivocadamente natildeo
realizou o procedimento de outorga [hellip]rdquo (MPF 2006 p2) Aleacutem disso a procuradora
solicitou tutela tendo em vista tratar-se de aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental e o fato de o
IBAMA ter concedido licenciamento com indevida dispensa do Estudo de Impacto
Ambiental (EIA)Relatoacuterio de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA)
63
Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina Fonte Prefeitura de Colatina (2015)
Por isso essa obra deve ser considerada faraocircnica para os cofres puacuteblicos e irreversiacutevel
para os processos geomorfoloacutegicos do Doce E sua efetivaccedilatildeo soacute foi possiacutevel com a
participaccedilatildeo e investimentos do Governo estadual Contudo seu objetivo foi frustrado pois
novamente na cheia do Rio Doce em dezembro de 2013 quando este atingiu a vazatildeo de
9028 msup3s a aacuterea foi inundada e por estar em cota maior que as casas que beiravam o
rio o enrocamento atuou como represa natildeo permitindo o retorno das aacuteguas quando o niacutevel
do rio retomou o equiliacutebrio
Por fim segue um mapa siacutentese (Figura 27) com a cartografia das quatro principais
intervenccedilotildees diretas e estruturais na margem direita do Doce no setor urbano de Colatina
representando o curso natural do rio em 1950 e suas desnaturalizaccedilotildees a partir da deacutecada
de 60 ateacute a atualidade
64
Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce ante e depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora
65
422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio
O recorte em estudo compreende as Zonas ZE-1 ZE-2 e ZUD 2-1 (Figura 28 p61) sendo
a Zona Especial 1 Zona Especial 2 e Zona de Uso Diverso 2-1 destinadas no PDM (Lei
52732007)
Artigo 103 - As Zonas de Usos Diversos ndash ZUD satildeo definidas em razatildeo da concentraccedilatildeo de atividades urbanas diversificadas com predominacircncia do uso comercial e de serviccedilos Artigo 104 - Satildeo objetivos das Zonas de Usos Diversos I - otimizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do solo priorizando a instalaccedilatildeo de novos empreendimentos em terrenos natildeo edificados contiacuteguos a empreendimentos jaacute instalados II - controle da implantaccedilatildeo de usos incompatiacuteveis com os definidos para estas zonas III - garantia de licenciamento e monitoramento ambiental dos empreendimentos IV - controle da expansatildeo comercial de serviccedilos e de induacutestrias de pequeno porte em direccedilatildeo a aacutereas residenciais [] Artigo 130 - As Zonas Especiais 1 ndash ZE 1 abrangem todas as aacutereas remanescentes do municiacutepio relativamente ao zoneamento estabelecido nesta lei ocupadas ou natildeo contida na lei de periacutemetro urbano para as quais natildeo foram ainda estabelecidos os criteacuterios de uso e ocupaccedilatildeo Artigo 131 - As Zonas Especiais 2 ndash ZE 2 satildeo as aacutereas existentes no prolongamento da avenida Beira Rio mais especificamente no trecho entre o 80 Batalhatildeo da Poliacutecia Militar e a rua Pedro Epichin incluindo o espaccedilo existente entre a margem do Rio Doce e o limite das construccedilotildees localizadas na rua Pedro Epichin
Cabe destacar que mesmo sendo palco das aacutereas mais afetadas com as inundaccedilotildees do
Rio Doce a Beira-Rio tem sido alvo da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria que aproveitando-se dos
iacutendices pouco restritos da ZUD 2 (Figura 28 p62) valoriza o espaccedilo promovendo a
instalaccedilatildeo de grandes estruturas como hipermercados edifiacutecios residenciais modernos e
hotelaria
66
Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 Fonte Colatina (2007)
A aacuterea contida na ZE (Figura 28) natildeo possui criteacuterio de ocupaccedilatildeo definido na legislaccedilatildeo
atual sendo adotado o disposto na Lei 41961995 que estabelece os iacutendices urbaniacutesticos
para as aacutereas conquistadas junto ao Rio Doce e na Lei 420595 que aprova os
parcelamentos na Beira-Rio Quanto agrave ZUD 2-1 apresenta iacutendices urbaniacutesticos no anexo
118 do Plano Diretor conforme tabela 3 abaixo
67
Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1
Fonte Colatina (2007 p36)8
68
Eacute relevante observar que numa aacuterea onde o corpo hiacutedrico foi reduzido pelos sucessivos
aterros tenha sido aprovada a instalaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto (Figura
29) com taxa de ocupaccedilatildeo de ateacute 80 e com baixo iacutendice de permeabilidade Ampliou-
se a aacuterea impermeaacutevel numa regiatildeo onde a drenagem jaacute eacute muito comprometida com a
expansatildeo urbana sobre o rio
Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto na Beira-Rio Fonte imagem do Google Maps 2015 E fotos da autora em 140215
Portanto analisando o conjunto de dados apresentado acima eacute possiacutevel entender como
as inundaccedilotildees satildeo potencializadas no municiacutepio atingindo a populaccedilatildeo mas em especial
afetando a dinacircmica de um corpo hiacutedrico tatildeo relevante para o Estado A fim de subsidiar a
gestatildeo puacuteblica com material cartograacutefico para a tomada de decisotildees delimitou-se o
poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo (Figura 30) Pois devem ser adotadas medidas que
minimizem impactos de futuros eventos hidroloacutegicos na bacia capazes de comprometer
novamente a aacuterea urbana mais central de Colatina
69
Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av Beira-Rio em dezembro de 2013 Elaborado pela autora
70
Diante do poliacutegono de inundaccedilatildeo da uacuteltima cheia (Figura 30) em dezembro de 2013 eacute
possiacutevel implementar medidas de convivecircncia com as grandes vazotildees a exemplo de
paiacuteses como Holanda que vem investindo em medidas de resiliecircncia a fim de reduzir a
velocidade dos defluacutevios possibilitando ao canal a capacidade de acumular e dispersar as
aacuteguas com impacto miacutenimo para as populaccedilotildees Conforme Carneiro e Miguez (2011) a
estrateacutegia adotada pelo paiacutes eacute reter armazenar e drenar sendo mais flexiacutevel e natildeo
interferindo drasticamente na dinacircmica do corpo hiacutedrico
Por fim a implementaccedilatildeo de soluccedilotildees de planejamento urbano em Colatina requer uma
anaacutelise integrada que abarque o urbano e o ambiental de modo a propor intervenccedilotildees que
produzam impactos reduzidos nos processos geomorfoloacutegicos do Rio Doce Logo a gestatildeo
municipal deve atuar em niacutevel de bacia hidrograacutefica interagindo com os municiacutepios a
montante propondo medidas de minimizaccedilatildeo das cheias urbanas Mas na escala local
pode-se atuar junto aos novos parcelamentos de modo a ampliar o percentual de aacutereas
permeaacuteveis no municiacutepio incentivando por exemplo os novos loteamentos a adotarem
pavimentaccedilotildees que permitam a drenagem natural do solo
71
5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Partindo da ideia de que eacute possiacutevel implementar medidas que minimizem o escoamento
superficial satildeo apresentadas propostas como forma de controlar ou ao menos reduzir os
impactos das inundaccedilotildees urbanas
Embora as implementaccedilotildees histoacutericas de estruturas de proteccedilatildeo ou barreiras mais altas
tenham sido muito disseminadas atualmente estatildeo sendo suplantadas pelo gerenciamento
de inundaccedilotildees de maneira mais sustentaacutevel Deste modo as experiecircncias fora do Brasil
apontam para soluccedilotildees mais flexiacuteveis que considerem o fluxo natural do canal enquanto
um ecossistema em equiliacutebrio Para tanto Carneiro e Miguez (2011 p150) destacam a
iniciativa alematilde no controle de inundaccedilotildees em bacias hidrograacuteficas metropolitanas
[hellip] A abordagem comum consiste na regulaccedilatildeo do uso do solo nas aacutereas inundaacuteveis e em ldquodar espaccedilo para o riordquo ao inveacutes de priorizar investimentos em estruturas de proteccedilatildeo contra inundaccedilotildees como a colocaccedilatildeo de diques de contenccedilatildeo as margens dos rios A utilizaccedilatildeo do conceito de resiliecircncia apropriado de ecologia decorre dessa abordagem A aplicaccedilatildeo praacutetica do conceito implica portanto em mudanccedilas de paradigma Deixa de ser preponderante a engenharia construtiva e entra em cena o planejamento de longo prazo voltado para o desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis capazes de conviver com as variaccedilotildees do ciclo hidroloacutegico sem significar necessariamente trageacutedias anunciadas
Aleacutem dessas propostas geoacutegrafos como Sandra Cunha tecircm estudado a recuperaccedilatildeo
natural ou ldquorenaturalizaccedilatildeordquo de corpos fluviais visando promover a estabilidade dos canais
de modo mais sustentaacutevel Para ela
[hellip] Recuperaccedilatildeo de canal significa de forma simples o retorno as condiccedilotildees anteriores aos distuacuterbios Em essecircncia eacute o processo de recuperaccedilatildeo do rio ou do ecossistema fluvial estabilizando o desenvolvimento de habitats e colonizaccedilatildeo a uma taxa mais raacutepida que dos processos naturais fiacutesicos e bioloacutegicos Na recuperaccedilatildeo de canais ocorrem consideraccedilotildees de aspecto hidroloacutegico morfoloacutegico e ecoloacutegico qualidade da aacutegua esteacutetica aleacutem da necessidade de uma visatildeo integradora do projeto sustentaacutevel de recuperaccedilatildeo (CUNHA 2012 p230 a 231)
Satildeo portanto medidas pontuais como o retorno agraves sinuosidades do rio (Figura 31 p 68)
ou a substituiccedilatildeo de estruturas de concreto por superfiacutecies mais permeaacuteveis a exemplo
das trincheiras de infiltraccedilatildeo ou pavrsquos (Figura 32) aacutereas mais vegetadas aleacutem de coleta e
uso de aacutegua da chuva bem como tratamento das aacuteguas superficiais por meio de
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amenidades esteacuteticas como reservatoacuterios de retenccedilatildeo ou detenccedilatildeo que podem ser
associados a ambientes harmocircnicos como lagos artificiais Todas estas accedilotildees possibilitam
a minimizaccedilatildeo das grandes vazotildees no solo urbano pois pretendem atenuar os impactos
das cheias fazendo com que seja resgatada parte da drenagem existente anteriormente agrave
urbanizaccedilatildeo
Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do Rio Aa Munster Alemanha (1998) Fonte Cunha (2012 p233)
Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos Fonte Carneiro e Miguez (2011 p128)
A partir do exposto cabe agrave gestatildeo municipal implementar legislaccedilotildees que priorizem a
permeabilidade possibilitando uma maior infiltraccedilatildeo das aacuteguas das chuvas atraveacutes de
pavimentaccedilotildees menos impermeaacuteveis e da ampliaccedilatildeo de aacutereas vegetadas Satildeo medidas
que tornam a drenagem mais sustentaacutevel aleacutem de possibilitar a manutenccedilatildeo dos serviccedilos
puacuteblicos de forma menos custosa tendo em vista o elevado preccedilo das recomposiccedilotildees
asfaacutelticas
1 2
73
Aleacutem disso quando se fala em controle de cheias urbanas pressupotildee-se uma seacuterie de
medidas para minimizaccedilatildeo de seus impactos desde a operaccedilatildeo de sistemas de alerta
zoneamento de aacutereas inundaacuteveis construccedilatildeo de grandes reservatoacuterios de contenccedilatildeo de
cheias e diques ateacute accedilotildees de educaccedilatildeo ambiental
Cabe pensar tambeacutem na proacutexima revisatildeo do PDM em um plano de macrodrenagem
municipal que reuacutena accedilotildees de caraacuteter estruturantes com obras hidraacuteulicas de infraestrutura
que realizem a conduccedilatildeo final das aacuteguas dos escoamentos superficiais para a minimizaccedilatildeo
das inundaccedilotildees e em medidas natildeo-estruturantes que trabalhem a consciecircncia ambiental
e proponha um zoneamento de cheias a fim de se delimitar os pontos mais fragilizados nos
defluacutevios
Por fim pensar em drenagem num contexto de ocupaccedilatildeo irregular histoacuterico requer
profissionais que aleacutem de possuir afinidade com a temaacutetica tambeacutem possam analisar os
diferentes processos que constituem o espaccedilo geograacutefico Logo este tipo de estudo deve
abarcar uma equipe multidisciplinar que percorra a anaacutelise desde o ambiental estrutural
ateacute o aspecto humano a fim de se produzir resultados que de fato contribuam com o
controle das inundaccedilotildees urbanas
74
6 CONCLUSAtildeO
A partir do recorte espacial foi possiacutevel compreender que a abordagem da geomorfologia
fluvial com a anaacutelise espaccedilo-temporal da ocupaccedilatildeo urbana possibilita a identificaccedilatildeo das
accedilotildees do homem no meio ambiente pois estas resultam na alteraccedilatildeo das paisagens
naturais e na dinacircmica da bacia hidrograacutefica Assim o Rio Doce deve ser estudado de
modo integrado ao crescimento da cidade sobretudo para compreensatildeo da produccedilatildeo do
espaccedilo geograacutefico
Analisar a inundaccedilatildeo urbana em Colatina foi satisfatoacuterio pois o municiacutepio estaacute situado no
perfil meacutedio-baixo da bacia vazante e eacute neste trecho que os reflexos das intervenccedilotildees satildeo
mais acentuados principalmente se esta parte do canal tambeacutem tiver passado por obras
que modificaram seus processos hidroloacutegicos Aleacutem disso a perspectiva geograacutefica aponta
para vaacuterias outras questotildees como erosatildeo fluvial planejamento urbano poluiccedilatildeo ambiental
crise da aacutegua que conduzem a outras discussotildees acerca da relaccedilatildeo homemnatureza
Ao demonstrar a evoluccedilatildeo espaccedilo-temporal do uso e cobertura da terra na margem direita
do Doce associando esta ocupaccedilatildeo agraves obras estruturantes que foram executadas no
canal verificamos que todas as praacuteticas adotadas para conter o transbordamento do rio
acabaram alterando sua morfologia com a retificaccedilatildeo de trechos em meandros reduzindo
a largura do corpo hiacutedrico o que favoreceu a apropriaccedilatildeo urbana de suas vaacuterzeas Aliadas
a estas questotildees estatildeo a falta de planejamento urbano e a omissatildeo diante da supressatildeo
das matas ciliares principalmente se considerados os resultados do relatoacuterio teacutecnico do
IJSN contra enchentes em 1980
Cabe destacar tambeacutem que toda a anaacutelise da ocupaccedilatildeo urbana e desnaturalizaccedilatildeo do
Rio Doce foi melhor identificada a partir dos produtos cartograacuteficos deste trabalho Pois eacute
na espacialidade dos fenocircmenos e no registro de informaccedilotildees ainda natildeo mapeadas como
os aterros que o geoacutegrafo executa a anaacutelise do seu objeto de estudo o homem e a
natureza aqui representado pela sociedade e o canal do Doce
Apesar do municiacutepio apresentar leis que resguardam os leitos dos rios desde o primeiro
PDM em 1996 nada foi feito para conter as ocupaccedilotildees irregulares beira-rio Pelo contraacuterio
estas aacutereas foram incorporadas ao Plano Diretor em 2007 com possibilidades de
ocupaccedilotildees diversas o que tem levado especuladores a valorizar o solo com vista para o
rio apontando suas qualidades esteacuteticas e teacutermicas Este fato vem aumentando o
75
percentual de aacutereas impermeaacuteveis nesta margem comprometendo ainda mais a drenagem
dos defluacutevios
Eacute na Av Beira-Rio que crescem as implantaccedilotildees de grandes empreendimentos comerciais
como supermercado Casagrande Ogil Hotel e obras de construccedilatildeo de novos arranha-
ceacuteus em um periacutemetro que jaacute eacute totalmente comprometido com os extravasamentos do Rio
Doce Estas obras ocupam grandes aacutereas e na maioria das vezes apresentam reduzida
aacuterea permeaacutevel reservando apenas o obrigatoacuterio pela lei cerca de 10 Observa-se
tambeacutem que a implantaccedilatildeo desses projetos estaacute condicionada agrave apresentaccedilatildeo e
aprovaccedilatildeo por comissatildeo na prefeitura do Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV) sendo
difiacutecil conceber que seja concedida tal licenccedila para implementaccedilatildeo de obras num trecho
de risco ambiental
Embora as diretrizes do Estatuto das Cidades para a implementaccedilatildeo do uso da terra
sustentaacutevel e os instrumentos para a regulaccedilatildeo do solo urbano sejam avanccedilados Colatina
eacute mais um exemplo da carecircncia de profissionais capacitados para estudar de modo
integrado e em niacutevel de bacia hidrograacutefica os efeitos da accedilatildeo humana num ambiente tatildeo
peculiar como as margens do Doce Por isso com os objetivos traccedilados nesta pesquisa
podemos aleacutem de compreender o fenocircmeno criar uma metodologia de anaacutelise de aacutereas
inundaacuteveis em ambientes urbanos O que permite agrave gestatildeo municipal uma diretriz para a
tomada de decisotildees
Destaca-se tambeacutem que as legislaccedilotildees aqui referenciadas supriram a discussatildeo acerca do
objeto de estudo mas outras podem contribuir para esta pesquisa a exemplo do Coacutedigo
das Aacuteguas da Poliacutetica Nacional dos Recursos Hiacutedricos das Resoluccedilotildees do Conama do
Estatuto das Cidades entre outros
Sendo assim numa revisatildeo do PDM deve-se pensar nestes aspectos da cidade desde o
histoacuterico de ocupaccedilatildeo das margens ateacute os impactos das inundaccedilotildees e o presente trabalho
auxilia com uma nova abordagem na reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo fornecendo material
cartograacutefico para subsidiar propostas de proteccedilatildeo ao curso do Doce e consequentemente
da populaccedilatildeo
Por fim deve-se destacar que o recorte estaacute inserido num contexto maior de uma bacia
hidrograacutefica que se estende aleacutem dos limites de Colatina ou do estado do Espiacuterito Santo
Esta bacia compreende a Regiatildeo Hidrograacutefica do Atlacircntico Leste e estaacute alocada tambeacutem
76
no estado de Minas Gerais o que portanto torna as accedilotildees de controle das inundaccedilotildees
mais complexas tendo em vista as divergentes politicas territoriais
77
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ABSTRACT
This paper has as object of study the sector of Doce River cutting the urban areas of
Colatina ndash ES The main objective of this analyze was to verify how human interventions on
Docersquos river channel have contributed how human interventions in river channel have
contributed to the tide of the floodplain From this premise the research was based on
analysis of historical photographs from 1906 to 2015 and aerial images in periods of ebb
(April) and flood (January) of Doce river by which it was possible to map the changes in the
margins of this water body Crossing the analysis of historical time series of river flow with
the occupation of areas of permanent preservation it was possible to delimitate the most
vulnerable points of Beira-Rio Avenue Thus the results indicated that the cluttered and
continuous urban growth associated with changes in geomorphological processes has
intensified de degradation of the river channel increasing flooding
Keywords fluvial geomorphology geotechnologies integrated geographical analysis
human intervention and flood
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e Rio Doce 18
Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 19
Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de
2013 19
Figura 4 - Tipos de leito fluvialvarzea 21
Figura 5 - Padrotildees dos canais 21
Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento 32
Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia 33
Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC) 37
Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906
Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce 41
Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da
regiatildeo 42
Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce 43
Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio
Doce 43
Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes 45
Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de
crescimento 47
Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios que interceptam a cidade de Colatina
48
Figura 16 - Traccedilado das mensuraccedilotildees da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de
vazante mecircs de abril2013 50
Figura 17 - Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro
urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal 51
Figura 18 - Representaccedilatildeo de inundaccedilatildeo urbana 53
Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de
1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 55
Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2)
Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do
recorte em rosa da APP de 50 m (amarelo claro) e 500 m (amarelo escuro) 56
Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponrte Florentino Aacutevidos (direita)
e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa
Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque
em vermelho para o curso atual do Santa Maria 58
Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de
proteccedilatildeo agrave ponte 59
Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o
traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas 60
Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o
calccediladatildeo da Av Beira-Rio61
Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento
iniciada em 2004 e finalizada em 2008 62
Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina 63
Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce antes e
depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas 64
Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 66
Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto da Beira-Rio 68
Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da
inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av
Beira-Rio em dezembro de 2013 69
Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do rio Aar Munster Alemanha (1998) 72
Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos 72
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Perfis Transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de vazante (abril) e cheia (janeiro) 50
Tabela 2 Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013 54
Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1 67
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 - Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais
(Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia) 25
Graacutefico 2 - Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 201045
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANA - Agecircncia Nacional de Aacuteguas
APP - Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente
CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais Serviccedilo Geoloacutegico Brasileiro
GEOBASES - Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espiacuterito Santo
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IJSN - Instituto Jones dos Santos Neves
INCAPER - Instituto Capixaba de Pesquisa Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural
PDM - Plano Diretor Municipal
PMC - Prefeitura Municipal de Colatina
PROATER - Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural
SIG - Sistema de Informaccedilotildees Geograacuteficas
UHE ndash Usina Hidreleacutetrica
UTM - Universal Tranverse Mercator
USGS - Geological Survey Serviccedilo Geoloacutegico Americano
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 14
11 Objetivo 16
111 Objetivo Geral 16
112 Objetivos Especiacuteficos 16
12 Justificativa 17
2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS 20
21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano 20
211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial 23
22 Aspectos Juriacutedicos 27
23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos 31
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS 36
4 RESULTADOS 40
41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana 40
411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade 46
42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce 49
421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie de
Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio 53
422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio 65
5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 71
6 CONCLUSAtildeO 74
7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 77
14
1 INTRODUCcedilAtildeO
A partir da deacutecada de 1930 com a transiccedilatildeo econocircmica de um eixo agraacuterio-exportador
para um polo urbano-industrial (CARNEIRO 2008) verificou-se no Brasil a migraccedilatildeo da
maior parte da populaccedilatildeo para as cidades Isso acarretou segundo Tucci (2013 p17) uma
ldquo[] concentraccedilatildeo urbana no Brasil da ordem de 80 da populaccedilatildeo e o seu
desenvolvimento tem sido realizado de forma pouco planejada com grandes conflitos
institucionais e tecnoloacutegicos []rdquo
De acordo com Canholi (2005 p15) a expansatildeo da aacuterea urbana ldquo[] consequentemente
impermeabilizada ocorreu a partir das zonas mais baixas proacuteximas agraves vaacuterzeas dos rios
ou agrave beira-mar em direccedilatildeo agraves colinas e morros em face da necessaacuteria interaccedilatildeo da
populaccedilatildeo com os corpos hiacutedricos []rdquo Neste cenaacuterio surgem as ocupaccedilotildees irregulares
nas Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) como as da planiacutecie de inundaccedilatildeo dos rios
e os topos de morros
Essas ocupaccedilotildees desordenadas satildeo proporcionadas pela precariedade da implantaccedilatildeo e
fiscalizaccedilatildeo das legislaccedilotildees urbaniacutesticas de ordenamento territorial e ambiental Neste
contexto satildeo relevantes as pesquisas que visam correlacionar o viacutenculo
sociedadenatureza de modo a entender como a ocupaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo no
solo conecta-se com a hidrodinacircmica dos recursos naturais uma vez que ldquo[] a tendecircncia
atual do limitado planejamento urbano integrado estaacute levando as cidades a um caos
ambiental urbano com custo extremamente alto para a sociedaderdquo (TUCCI 2013 p17)
Deve-se partir do pressuposto teoacuterico articulado com a ideia anterior de ldquo[]
indissociabilidade entre natureza e sociedade []rdquo (COELHO 2013 p21) em que a
sociedade natildeo pode ser apenas entendida como populaccedilatildeo e a natureza enquanto mero
ambiente fiacutesico mas que estes dois fatores estatildeo dinamicamente produzindo o espaccedilo
geograacutefico
Neste contexto a problemaacutetica se afirma no intuito de relacionar as legislaccedilotildees urbanas
(Lei de Parcelamento do Solo 676679 e PDM) e ambientais (Novo Coacutedigo Florestal 2012)
com as suas aplicaccedilotildees ou natildeo no periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina
principalmente nos bairros que se situam na planiacutecie de inundaccedilatildeo do Rio Doce
A escolha da temaacutetica tambeacutem teve como premissa a importacircncia regional de Colatina
como entreposto comercial e logiacutestico para os municiacutepios do noroeste capixaba conforme
15
relato do Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural - PROATER (INCAPER
2011)
Exportadores de cafeacute atacadistas e as lojas de pronta entrega dinamizam o comeacutercio local que atende aos municiacutepios do norte capixaba leste de Minas Gerais e sul da Bahia representando um universo de mais de 700 mil consumidores (INCAPER 2011 p5)
De acordo ainda com o INCAPER (op cit) Colatina tem crescido a uma margem de 188
anual o que representa a tendecircncia ao ecircxodo rural sendo que a populaccedilatildeo do campo vem
diminuindo de aproximadamente 19 em 1990 passou a 12 no Censo de 2010 Diante
do exposto entra em discussatildeo o planejamento urbano pois com o crescimento da
populaccedilatildeo citadina para cerca de 88 aumentam tambeacutem as pressotildees sobre o meio
ambiente em especial as regiotildees ribeirinhas
Estas uacuteltimas refletem o aumento das atividades humanas na bacia hidrograacutefica onde
pode-se destacar as mudanccedilas induzidas pelas accedilotildees antropogecircnicas que se dividem em
diretas (aquelas que atuam no canal fluvial para controle das vazotildees a exemplo dos
reservatoacuterios e desvios de aacuteguas) e indiretas relacionadas agraves aacutereas fora dos canais por
exemplo o desmatamento e urbanizaccedilatildeo sendo que estas comprometem a descarga e
carga soacutelida do rio (PARK1981 KNIGHTON1984 apud CUNHA 2001)
O interesse pela pesquisa surge da importacircncia regional do municiacutepio dos impactos
histoacutericos humanos materiais e imateriais sofridos diante de eventos hidroloacutegicos
extremos tendo em vista o fato de o periacutemetro urbano ser cortado por um corpo fluvial de
importacircncia regional Aleacutem disso a abordagem geograacutefica possibilita a correlaccedilatildeo dos
processos fluviais com a ocupaccedilatildeo urbana de modo mais integrado (COELHO 2009)
Portanto uma das finalidades deste trabalho eacute analisar por meio das geotecnologias e das
investigaccedilotildees de campo como a ocupaccedilatildeo urbana tem interferido nas margens do Rio
Doce de modo a delimitar os sucessivos aterros na margem direita no periacutemetro do bairro
Esplanada a Colatina Velha Ademais identificar como os processos deste canal fluvial
tecircm sido afetados pela intervenccedilatildeo humana em seu leito principal
16
11 Objetivo
111 Objetivo Geral
Correlacionar os processos fluviais do Rio Doce por meio da dinacircmica geomorfoloacutegica
deste canal com o uso e cobertura da terra no setor urbano do municiacutepio de Colatina
Espiacuterito Santo Contrapondo assim as intervenccedilotildees urbanas da beira-rio com o Plano
Diretor Municipal e o Novo Coacutedigo Florestal enfatizando as diretrizes adotadas no
parcelamento do solo para a planiacutecie de inundaccedilatildeo deste rio
112 Objetivos Especiacuteficos
Identificar os vetores de crescimento urbano do municiacutepio a fim de avaliar a
evoluccedilatildeo da mancha urbana junto ao canal principal
Determinar o comprimento da borda da calha do leito regular do Rio Doce no
periacutemetro urbano de Colatina para definiccedilatildeo da largura miacutenima da faixa marginal
de preservaccedilatildeo
Espacializar as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente beira-rio previstas em lei a fim
de analisar a ocupaccedilatildeo urbana nestes espaccedilos
Cartografar os principais pontos desnaturalizados no canal principal do Rio Doce
no setor urbano de Colatina
Demonstrar como o emprego das geotecnologias auxilia no planejamento urbano
e ambiental especialmente em acircmbito municipal
17
12 Justificativa
A aacuterea de estudo corresponde ao periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina situado na
Bacia Atlacircntico trecho leste sub-bacia do Rio Doce no baixo curso (ANA 2001)
Compreende a regiatildeo noroeste do estado do Espiacuterito Santo latitude 19deg 32rsquo 16rsquorsquo S e
longitude 40deg 37rsquo 59rsquorsquo W De acordo com os dados do censo de 2010 do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio possuiacutea uma populaccedilatildeo de 111788 mil
habitantes1 numa aacuterea territorial de 1416804 kmsup2
Devido a sua privilegiada posiccedilatildeo geograacutefica limiacutetrofe com o Rio Doce e a construccedilatildeo da
Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas em 1906 Colatina compreendia os territoacuterios dos atuais
municiacutepios de Baixo Guandu Linhares Pancas Satildeo Gabriel da Palha Marilacircndia Satildeo
Domingos do Norte e Governador Lindenberg (INCAPER 2011) Soacute a partir de 2001
passou a apresentar os atuais limites municipais e configurar uma aacuterea urbana com 59
bairros (Figura 1)
Colatina eacute um municiacutepio de importacircncia para regiatildeo noroeste capixaba seja em caraacuteter
econocircmico ou social Eacute responsaacutevel pelos fluxos de cargas da regiatildeo aleacutem de ser um polo
moveleiro de confecccedilatildeo metalmecacircnico e de comeacutercio e serviccedilos gerando emprego e
renda (INCAPER 2011) Aleacutem disso tem sofrido historicamente com as cheias do Rio
Doce principalmente porque parte do seu periacutemetro urbano eacute inundado com as aacuteguas da
calha principal desse rio o que compromete toda a dinacircmica local e potildee em risco os
colatinenses
Assim diante das crescentes demandas por territoacuterio no periacutemetro urbano a populaccedilatildeo
tem suprimido a cobertura vegetal e ocupado desde as margens do Rio Doce ateacute as
encostas dos morros Em periacuteodos de cheias principalmente nos meses de outubro a
marccedilo (INCAPER 2011 ANA 2001) verificam-se inundaccedilotildees de grande parte da aacuterea
urbana beira-rio aleacutem dos movimentos de massa nas encostas Como exemplo destes
acontecimentos tecircm-se os registros fotograacuteficos dos efeitos da chuva de dezembro de 2013
(Figuras 2 e 3)
1 De acordo com o a estimativa do IBGE de 2014 publicada no DOU o municiacutepio conta com uma populaccedilatildeo de 121670 habitantes
18
Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e o canal do Rio Doce Elaborado pela autora
19
Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 Fonte Noticias UOL (2013)
Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de 2013 Fonte Folha Vitoacuteria (2013)
Este estudo portanto eacute relevante tendo em vista as raras abordagens no acircmbito das
Ciecircncias Geograacuteficas especialmente no Espiacuterito Santo de pesquisas que correlacionem
aspectos da geomorfologia fluvial por meio da dinacircmica dos recursos hiacutedricos com o uso
e cobertura da terra particularmente o Plano Diretor Municipal (PDM) Discute dessa
forma as implicaccedilotildees da atuaccedilatildeo humana nas particularidades deste ecossistema natural
tendo em vista o disposto nas legislaccedilotildees urbaniacutesticas e ambientais que visam assegurar
a qualidade de vida das populaccedilotildees
Adiante seratildeo analisados os principais fundamentos da geomorfologia fluvial os aspectos
juriacutedicos e o papel da anaacutelise geograacutefica integrada para o entendimento dos fenocircmenos
das inundaccedilotildees no Centro de Colatina uma vez que eacute devido agraves intervenccedilotildees humanas
nos canais e suas margens que esses fenocircmenos tornam-se mais nocivos a cidade
20
2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS
21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano
Recurso essencial para a manutenccedilatildeo da vida a aacutegua foi um fator relevante para o
estabelecimento histoacuterico das sociedades no entorno dos cursos hiacutedricos Utilizados para
fins de abastecimento humano e animal irrigaccedilatildeo saneamento e transporte os rios
constituiacuteram-se nos principais propulsores de penetraccedilatildeo para o interior (CUNHA 2012a)
Logo em suas margens surgiram povoados que posteriormente transformaram-se em
cidades como as que se estabeleceram agraves margens do Rio Doce a exemplo da sede de
Colatina
Diante das potencialidades que os recursos hiacutedricos possibilitam agraves sociedades
destacamos a importacircncia do estudo da Geomorfologia Fluvial que se apresenta como
campo da Geomorfologia (ciecircncia que estuda as formas do relevo) sendo o interesse
daquela a pesquisa dos processos que relacionam o escoamento das aacuteguas fluviais num
contexto de bacia hidrograacutefica (CHRISTOFOLETTI 1980 CUNHA op cit) Enfoca assim
as alteraccedilotildees na fisionomia dos canais frente agraves intervenccedilotildees no ecossistema natural
beira-rio
A Geomorfologia Fluvial parte da condicionante de que o uso e ocupaccedilatildeo da terra refletem-
se na dinacircmica da bacia de drenagem interferindo nos processos morfogeneacuteticos ou seja
de modelagem do relevo fluvial escoamento superficial das aacuteguas e no ciclo hidroloacutegico
Frente agrave temaacutetica deste estudo faz-se necessaacuterio o entendimento dos conceitos da
fisiografia fluvial aqui referente aos diferentes setores que a aacutegua pode escoar num leito
(Figura 4) como
O leito menor corresponde agrave parte do canal ocupada pelas aacuteguas e cuja frequecircncia impede o crescimento da vegetaccedilatildeo Esse tipo de leito eacute delimitado por partes bem definidas O leito de vazante equivale agrave parte do canal ocupada durante o escoamento das aacuteguas de vazante Suas aacuteguas divagam dentro do leito menor seguindo o talvegue linha de maacutexima profundidade ao longo do leito e que eacute mais bem identificada na seccedilatildeo transversal do canal O leito maior tambeacutem denominado leito maior perioacutedico ou sazonal eacute ocupado pelas aacuteguas do rio regularmente e pelo menos uma vez ao ano durante as cheias Dependendo do tempo ocorrido entre as subidas das aacuteguas eacute possiacutevel haver a fixaccedilatildeo e o crescimento da vegetaccedilatildeo herbaacutecea
21
O leito maior excepcional eacute ocupado durante as grandes cheias no decorrer das enchentes (CUNHA 2001 p 213)
Figura 4 - Tipos de leito fluvial vaacuterzea Fonte Cunha (2001 p213)
Sendo assim as aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial (leitos) aquelas inundadas pelo corpo
hiacutedrico frente a um evento hidroloacutegico extremo tambeacutem satildeo conhecidas como vaacuterzeas
planiacutecie de inundaccedilatildeo ou ainda segundo Carneiro e Miguez (2011 p133) como ldquo[] zona
de passagem de cheia []rdquo Essas aacutereas de vaacuterzeas dependem da fisionomia que o rio
apresenta e segundo Cunha (op cit) o canal fluvial pode apresentar trecircs formas
principais conhecidas como padratildeo dos canais que satildeo retiliacuteneo anastomosado e
meacircndrico (Figura 5)
Figura 5 - Padrotildees dos canais (A) retiliacuteneo (B) anastomosado (C) meandrante (A) amplitude (Rc) raio meacutedio da curvatura do meandro (segundo Bigarella etal 1979) Fonte Cunha (2001 p216)
22
Aliada aos padrotildees dos canais estaacute a assimetria ou simetria dos leitos que para Cunha
(2001 p233) relaciona-se com a variaccedilatildeo da velocidade e turbulecircncia ao longo da secccedilatildeo
transversal o que diferencia o comportamento nos canais retiliacuteneos geralmente simeacutetricos
do canal meacircndrico onde
Em canais de leito simeacutetrico em geral padratildeo retiliacuteneo a velocidade maacutexima ocorre no centro do canal diminuindo em direccedilatildeo agraves margens Em leito assimeacutetrico de padratildeo meacircndrico a zona de maacutexima velocidade e turbulecircncia localiza-se nas proximidades das margens cocircncavas decrescendo de valor em direccedilatildeo agrave margem de menor profundidade
(convexa) (CUNHA opcit p 233)
Deste modo a capacidade de erosatildeo das margens transporte e deposiccedilatildeo da carga do rio
dependem entre outros fatores da velocidade das correntes fluviais E o material do fluxo
fluvial constitui-se da descarga liacutequida ou vazatildeo que estaacute relacionada ao tamanho do
material que pode ser transportado e do volume da carga que o rio eacute capaz de carregar
Tem-se ainda a carga soacutelida sedimentos que estaacute relacionada a suspensatildeo e fundo do
rio esta decresce a jusante indicando a diminuiccedilatildeo da competecircncia do corpo fluvial As
cargas de suspensatildeo satildeo constituiacutedas de partiacuteculas finas a exemplo do silte e por fim a
carga de fundo que eacute composta por partiacuteculas de tamanhos maiores a exemplo da areia
(CUNHA2001)
Christofoletti (1980) acrescenta que os sedimentos podem ser carregados de trecircs modos
principais no fluxo em soluccedilatildeo dissolvidos nos cursos hiacutedricos em suspensatildeo como o
silte e argila e em saltaccedilatildeo geralmente a areia e cascalho que compreendem a carga do
leito do rio Destaca-se que a carga detriacutetica natildeo proveacutem apenas da erosatildeo do fundo dos
leitos e margens fluviais mas que o material intemperizado de vertentes carreado nas
enchentes contribui significativamente para a carga sedimentar transportada
Cabe ressaltar ainda que a relaccedilatildeo do arranjo espacial dos canais com os processos
fluviais (a erosatildeo o transporte e a deposiccedilatildeo de sedimentos) eacute determinante para o
trabalho dos rios Tais processos satildeo diretamente influenciados pela vazatildeo velocidade e
pela intensidade da turbulecircncia (seja no fluxo laminar ou no fluxo turbulento) A
variabilidade no comportamento da velocidade e turbulecircncia das aacuteguas ao longo da seccedilatildeo
transversal condiciona os locais preferenciais de erosatildeo e deposiccedilatildeo ao longo do curso
hiacutedrico
23
Deste modo qualquer intervenccedilatildeo na bacia e canal fluvial compromete o equiliacutebrio natural
da drenagem levando o corpo hiacutedrico a se adaptar agraves mudanccedilas em sua fisionomia
fisiografia e em seus processos ateacute atingir um novo estado de equiliacutebrio Poreacutem eacute na
planiacutecie de inundaccedilatildeo que estas modificaccedilotildees seratildeo mais percebidas pela populaccedilatildeo pois
a maior parte das obras de engenharia como as canalizaccedilotildees e as ocupaccedilotildees das
margens acaba por romper com o equiliacutebrio natural do rio alterando sua dinacircmica e
intensificando seus processos o que na maioria das vezes potencializa as enchentes no
ambiente urbano
Nesse sentido o entendimento dos processos fluviais (erosatildeo transporte e deposiccedilatildeo)
combinado com a anaacutelise da fisiografia fluvial condicionam as peculiaridades na geometria
hidraacuteulica ou seja na relaccedilatildeo entre a vazatildeo velocidade de escoamento tipos de canais
de sedimentos e a topografia Logo o conhecimento geomorfoloacutegico do rio contribui para
pesquisas que necessitem relacionar o funcionamento deste corpo natural com um
planejamento urbano mais efetivo principalmente se considerarmos um recorte em niacutevel
de bacia hidrograacutefica em espaccedilo urbano
211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial
O capiacutetulo que segue versa sobre a atuaccedilatildeo antroacutepica relacionando-a a aacuterea de estudo o
rio Doce poreacutem este trata de forma macro a temaacutetica para contextualizar o leitor sendo
as especificidades das intervenccedilotildees neste recorte geograacutefico trabalhados nos resultados
desta pesquisa
Diante do exposto eacute possiacutevel acompanhar a evoluccedilatildeo dos processos fluviais nos canais
em especial aqueles que tiveram intervenccedilotildees em seu curso natural como as hidreleacutetricas
instaladas a montante a exemplo do Rio Doce onde a interferecircncia direta na vazatildeo e fluxo
de sedimentos altera a hidrodinacircmica do rio comprometendo a erosatildeo e transporte Para
Coelho (2007 p57) as
Mudanccedilas na Declividade Perfil Longitudinal Promovidas pela construccedilatildeo de reservatoacuterio satildeo variadas e caso o efeito da contenccedilatildeo de sedimentos seja significativo os processos fluviais reduziratildeo a capacidade de transporte de sedimento podendo promover um entalhamento do leito do rio imediatamente agrave jusante da barragem
Aleacutem disso esse processo erosivo poacutes-barragem eacute intensificado favorecendo o
assoreamento e sedimentaccedilatildeo do rio a jusante O que pode beneficiar a elevaccedilatildeo da cota
24
do canal fluvial frente a eventos hidroloacutegicos extremos potencializando os efeitos das
inundaccedilotildees nas vaacuterzeas
Ao mesmo tempo o Rio Doce trecho que compreende o Espiacuterito Santo meacutediobaixo curso
eacute impactado nas vazotildees miacutenimas e maacuteximas a jusante apoacutes a instalaccedilatildeo das
barragensUsinas Hidreleacutetricas (UHE) de Mascarenhas (iniacutecio de operaccedilatildeo em 1974)
localizada no Municiacutepio de Baixo Guandu e a de Aimoreacutes (iniacutecio de operaccedilatildeo em 2005)
localizada na divisa do Espiacuterito Santo com Minas Gerais (COELHO 2007)
De acordo com Coelho (opcit) apoacutes a implantaccedilatildeo das usinas ocorreu uma reduccedilatildeo
significativa na vazatildeo da calha principal do Rio Doce conforme Graacutefico 1
Considerando o periacuteodo de 1939 a 2012 a vazatildeo miacutenima apoacutes a instalaccedilatildeo das usinas
chega a atingir 411msup3s e a maacutexima chega apenas a 1251msup3s sendo que no periacuteodo
anterior agrave instalaccedilatildeo das usinas foi registrada a miacutenima de 533 msup3s e uma maacutexima de
1812 msup3s o que ressalta o impacto do barramento sobre o corpo hiacutedrico Aleacutem do
comprometimento dos processos de erosatildeo transporte e sedimentaccedilatildeo (COELHO 2008
e CUNHA 2001)
Diante desta perda de carga liacutequida nos barramentos Cunha (2001 p 241) observa ainda
que as aacutereas a jusante de reservatoacuterios
[hellip] onde o regime do rio sofre significativas modificaccedilotildees devidas ao controle das descargas liquidas e de sedimentos no reservatoacuterio As mudanccedilas ocorridas no regime das aacuteguas neste setor do rio acarretam significativos efeitos nos processos do canal tais como o entalhe do leito a erosatildeo das margens e a deposiccedilatildeo a jusante atingindo longas distacircncias
Aleacutem disso no periacutemetro urbano de Colatina o Rio Doce sofreu outras intervenccedilotildees em
seu canal principal como a implantaccedilatildeo de obras estruturais de macrodrenagem a
exemplo da construccedilatildeo da Av Beira-Rio com intuito de conter o avanccedilo das aacuteguas fluviais
em periacuteodos de cheias
25
Graacutefico 1
Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais (Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia)
Fonte adaptado de Coelho (2007 p154)
26
Como exemplo dos tipos de intervenccedilotildees humanas nas aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial
leitos Carneiro e Miguez (2011 p117) destacam
As accedilotildees de controle e cheias urbanas podem ser classificadas em estruturais quando a paisagem eacute alterada pela accedilatildeo do homem e em natildeo estruturais aqui denominada como estruturante quando o homem aprende a conviver com as enchentes No primeiro caso estatildeo as medidas de controle atraveacutes de obras hidraacuteulicas tais como barragens diques e canais entre outras No segundo caso encontram-se medidas do tipo preventivo tais como zoneamento de aacutereas de inundaccedilatildeo sistemas de alerta educaccedilatildeo ambiental lei de parcelamento e uso dos solos e seguros contra inundaccedilatildeo
Neste cenaacuterio abarcamos os impactos das obras de engenharia como a canalizaccedilatildeo que
altera a fisionomia e fisiografia do rio refletindo-se nos processos geomorfoloacutegicos do canal
e sua planiacutecie de inundaccedilatildeo Para estes a canalizaccedilatildeo eacute uma obra estrutural que aumenta
a capacidade do fluxo do canal aleacutem de intensificar a velocidade do escoamento
superficial antecipando o pico de cheia e transferindo os alagamentos para locais a jusante
na bacia hidrograacutefica
Articulado a esta ideia Cunha (2012b) reflete a desnaturalizaccedilatildeo dos rios por meio de
obras de retificaccedilatildeo com a reduccedilatildeo do comprimento do canal e eliminaccedilatildeo das
sinuosidades Satildeo obras que afetam a estabilidade do corpo hiacutedrico na medida em que
interferem na relaccedilatildeo entre erosatildeo sedimentaccedilatildeo e deposiccedilatildeo provocando efeitos como
alteraccedilatildeo na morfologia do canal Sendo assim ldquo[hellip] a diminuiccedilatildeo da rugosidade no fundo
do canal em conjunto com a perda dos meandros e a aceleraccedilatildeo das velocidades eacute a
principal responsaacutevel pelas mudanccedilas no balanccedilo da energia natural dos sedimentos
fluviais [hellip]rdquo Cunha (2012b p178) No caso do Rio Doce trecho correspondente agrave Av
Beira-Rio alterou-se a sua forma retilinizando-a e sua vegetaccedilatildeo natural foi substituiacuteda
por estruturas de pedras o que compromete a resistecircncia ao fluxo as margens e aos
bancos arenosos
Embora as obras de canalizaccedilatildeo sejam implantadas como eficazes nos canais fluviais para
questotildees de enchentes urbanas para Cunha (op cit) estas necessitam de manutenccedilatildeo
constante envolvendo desde dragagem remoccedilatildeo de obstruccedilotildees a recomposiccedilatildeo do
material utilizado Poreacutem toda a manutenccedilatildeo estaacute associada a alteraccedilotildees morfoloacutegicas e
bioloacutegicas como as que interferem nas soleiras e depressotildees do fundo dos leitos
desestabilizando a vazatildeo no curso a exemplo da
27
ldquo[hellip] eliminaccedilatildeo da sequecircncia de depressotildees e soleiras o aumento da velocidade da corrente a diminuiccedilatildeo da diversidade de habitats o ambiente instaacutevel resultante da flutuaccedilatildeo dos niacuteveis da aacutegua e do substrato moacutevel e a maior flutuaccedilatildeo da temperatura das aacuteguasrdquo (CUNHA 2012b p180)
Ao mesmo tempo o aumento da velocidade dos escoamentos no trecho retificado
possibilita maior erosatildeo transferindo para as aacutereas a jusante uma carga soacutelida
representativa que para Cunha (op cit) configura a formaccedilatildeo de bancos axiais e depoacutesitos
de sedimentaccedilatildeo marginais alterando o equiliacutebrio dos sedimentos a jusante Pois
A jusante das obras de retificaccedilatildeo verificam-se o aumentam da carga soacutelida o assoreamento durante a dragagem a erosatildeo no canal pelos eventos torrenciais do regime e a modificaccedilatildeo na dinacircmica na foz Os sedimentos resultantes da erosatildeo no canal retificado em conjunto com a excessiva carga de sedimentos posta em suspensatildeo durante a dragagem e na fase imediata de poacutes-construccedilatildeo - quando a erosatildeo dos bancos de areia sem vegetaccedilatildeo estaacute em seu niacutevel maacuteximo - originam a formaccedilatildeo de depoacutesitos fluviais de curta duraccedilatildeo a jusante do canal retificado Logo a seguir esses depoacutesitos satildeo erodidos juntamente com as margens e o fundo do leito pelos eventos torrenciais do regime vindo a formar bancos axiais e depoacutesitos de sedimentaccedilatildeo marginais (CUNHA2012b p183)
Portanto o estudo da geomorfologia fluvial contribui diretamente para o entendimento das
cheias nas planiacutecies de inundaccedilatildeo em especial nas bacias hidrograacuteficas que
compreendem a aacuterea urbana e que possuem intervenccedilotildees antroacutepicas diretas na fisiografia
do canal principal Seus processos explicam como as alteraccedilotildees no canal fluvial podem
maximizar os efeitos dos transbordamentos impactando principalmente as populaccedilotildees
ribeirinhas aleacutem de todo ecossistema local Ademais estes fundamentos geomorfoloacutegicos
devem ser associados agrave legislaccedilatildeo vigente afim de subsidiar a elaboraccedilatildeo de instrumentos
legais para atuaccedilatildeo do poder puacuteblico nestas zonas de risco
22 Aspectos Juriacutedicos
Frente agrave crescente demanda sobre os recursos hiacutedricos e solo urbano a partir da deacutecada
de 1930 surgem as primeiras diretrizes que visam regulamentar estes ambientes a
exemplo do Coacutedigo das Aacuteguas Mas soacute a partir dos anos 1960 surgem em acircmbito federal
leis como o Coacutedigo Florestal com o intuito de regular a exploraccedilatildeo das vegetaccedilotildees e
consequentemente proteger os mananciais e em 1979 com o objetivo de ordenar as
28
cidades eacute aprovada a Lei 676679 estabelecendo as normas do parcelamento do solo
urbano
Na medida em que as populaccedilotildees aumentam ampliam-se tambeacutem as pressotildees sobre os
recursos de aacutegua e solo Os processos de uso e a conscientizaccedilatildeo de que estes elementos
satildeo finitos intensificam as formas de controle e preservaccedilatildeo passando para as esferas
estaduais e municipais a responsabilidade de atuar em escala local na proteccedilatildeo desses
ambientes
Ainda em escala federal em 2012 eacute promulgado o Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012
em substituiccedilatildeo ao coacutedigo anterior Lei 47711965 que apresenta as normas de
apropriaccedilatildeo dos recursos naturais pelas novas necessidades das populaccedilotildees citadinas e
rurais No que compete agrave aacuterea de estudo cabe destacar as ocupaccedilotildees em aacutereas de
planiacutecie de inundaccedilatildeo em que de acordo com art 4ordm devem ser preservadas
I - as faixas marginais de qualquer curso drsquoaacutegua natural perene e intermitente excluiacutedos os efecircmeros desde a borda da calha do leito regular em largura miacutenima de (Incluiacutedo pela Lei nordm 12727 de 2012) a) 30 (trinta) metros para os cursos drsquoaacutegua de menos de 10 (dez) metros de largura b) 50 (cinquenta) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura c) 100 (cem) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura d) 200 (duzentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura e) 500 (quinhentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros []
A legislaccedilatildeo eacute riacutegida no que concerne agrave ocupaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo das terras nas faixas
marginais dos rios transferindo aos estados e municiacutepios a responsabilidade de fiscalizar
estes territoacuterios para garantir a efetividade da lei A questatildeo eacute que muitas vezes somada a
falta de planejamento estas fiscalizaccedilotildees satildeo ineficientes o que tem possibilitado o
surgimento cada vez maior das ocupaccedilotildees irregulares
Apoiado tambeacutem pela Constituiccedilatildeo Federal de 1988 nos artigos 182 e 183 surge o
Estatuto das Cidades Lei 102572001 com finalidade de garantir a funccedilatildeo social da
cidade e com este os primeiros Planos Diretores Municipais (PDM) que buscam o
ordenamento do crescimento das cidades em caraacuteter socioeconocircmico e ambiental cidades
sustentaacuteveis Ademais em Colatina eacute instituiacuteda a Lei 42281996 posteriormente revogada
29
pela Lei 52732007 que ldquoInstitui o Plano Diretor do Municiacutepio de Colatina estabelece os
objetivos instrumentos e diretrizes e daacute outras providecircncias para as accedilotildees de
planejamento do Municiacutepio de Colatina []rdquo
O PDM de Colatina assim como Coacutedigo Florestal prevecirc a preservaccedilatildeo dos ecossistemas
beira-rio Aquele ainda dispotildee sobre o parcelamento do solo sustentaacutevel a funccedilatildeo social
da cidade e da propriedade conforme o Plano Diretor de Colatina de 2007 nos artigos
transcritos
Artigo 22 - As diretrizes ambientais no Municiacutepio de Colatina satildeo I - aplicar os instrumentos de gestatildeo ambiental estabelecidos nas legislaccedilotildees federal estadual e municipal bem como a criaccedilatildeo de outros instrumentos adequando-os agraves metas estabelecidas pelas poliacuteticas ambientais II - compatibilizar as diretrizes de uso ocupaccedilatildeo e parcelamento do solo aos objetivos de proteccedilatildeo ambiental dos ecossistemas [] Artigo 23 - Satildeo diretrizes do sistema de drenagem urbana I - disciplinar a ocupaccedilatildeo das cabeceiras e vaacuterzeas das bacias hidrograacuteficas do Municiacutepio preservando a vegetaccedilatildeo existente e visando agrave sua recuperaccedilatildeo [] III - definir mecanismos de fomento para usos do solo compatiacuteveis com aacutereas de interesse para drenagem tais como parques lineares aacuterea de recreaccedilatildeo e lazer hortas comunitaacuterias e manutenccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa [] V - implantar medidas natildeo-estruturais [sic] de prevenccedilatildeo de inundaccedilotildees tais como controle de erosatildeo especialmente em movimentos de terra controle de transporte e deposiccedilatildeo de entulho e lixo combate ao desmatamento assentamentos clandestinos e a outros tipos de invasotildees nas aacutereas com interesse para drenagem [] VII - garantir e respeitar a necessaacuteria permeabilidade do solo inclusive buscando alternativas de pavimentaccedilatildeo com maior de permeabilidade [sic] [] Artigo 84 ndash Satildeo objetivos do ordenamento territorial do Municiacutepio de Colatina [] IV ndash conter a expansatildeo da ocupaccedilatildeo urbana em aacutereas de proteccedilatildeo ambiental [] Artigo 120 ndash Ficam desde jaacute identificadas como Zonas de Proteccedilatildeo Ambiental 2 ndash ZPA 2 as seguintes aacutereas [] III ndash as aacutereas existentes ao longo de qualquer curso drsquoagua desde o niacutevel mais alto em faixa marginal cuja largura miacutenima seraacute de a) 15m (trinta metros) [sic] para os cursos drsquoagua com menos de 10m (10
metros) de largura contidos no periacutemetro urbano [] c) 30m (trinta metros) para os cursos drsquoagua que tenham de10m (dez
metros a 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano
[]
30
e) 50m (cinquenta metros) para os cursos drsquoagua que tenham mais de 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 60422013)
[]
De modo geral verifica-se que a legislaccedilatildeo apresenta instrumentos que permitem a
prevenccedilatildeo ou controle de ocupaccedilotildees irregulares ou clandestinas em aacuterea de APP aleacutem de
propostas para resguardar de grandes impactos ambientais o corpo hiacutedrico principal do
municiacutepio o Rio Doce Possibilitando assim a minimizaccedilatildeo dos impactos causados pelas
cheias agrave populaccedilatildeo local
Poreacutem cabe destacar que o Plano Diretor Municipal de Colatina natildeo contempla o
estipulado no Coacutedigo Florestal 2012 Lei Federal onde os cursos drsquoaacutegua com largura
superior a 600(seiscentos) metros devem ser resguardados com aacutereas de preservaccedilatildeo
permanente de 500(quinhentos) metros entre outros sendo que a redaccedilatildeo desta parte do
PDM eacute dada pela lei 60422013 posterior a publicaccedilatildeo do novo Coacutedigo Florestal Sendo
assim verifica-se que apesar da intenccedilatildeo de resguardar uma faixa de no maacuteximo
50(cinquenta) metros em periacutemetro urbano para a contenccedilatildeo de cheias e mata ciliar o
PDM de Colatina natildeo atende o miacutenimo previsto em Lei Federal O que tem impactado todo
ecossistema beira rio e a populaccedilatildeo ribeirinha uma vez que a faixa marginal de proteccedilatildeo
de 50(cinquenta) metros em muitos casos natildeo tem comportado o impacto dos defluacutevios
No entanto a legislaccedilatildeo trata de aspectos gerais natildeo pontuando as aacutereas responsaacuteveis
por cada accedilatildeo aleacutem de sua aplicabilidade depender da elaboraccedilatildeo de um cronograma de
execuccedilatildeo bem como um conjunto de planos e normas especiacuteficos para cada diretriz com
detalhamento das propostas de intervenccedilatildeo Isto natildeo ocorreu ateacute o presente
Aleacutem disso a cidade de Colatina surgiu num cenaacuterio histoacuterico anterior agraves legislaccedilotildees
urbaniacutesticas e ambientais inclusive do Coacutedigo das Aacuteguas o que dificulta a execuccedilatildeo de
um planejamento que concilie a preservaccedilatildeo das matas beira-rio garantindo a faixa de
APP com a ocupaccedilatildeo urbana consolidada
A aacuterea de estudo se apresenta como ambiente fragilizado apesar de ser regida por
legislaccedilotildees desde a escala federal ateacute a municipal que visam proteger e ordenar o uso e
cobertura da terra nas faixas marginais dos rios Mas a dificuldade das prefeituras em
aplicar os instrumentos legais nestes ambientes seja por interesses privados ou falta de
recursos para investimentos em soluccedilotildees a longo prazo continua expondo as populaccedilotildees
31
aos impactos dos eventos hidroloacutegicos criacuteticos como os que resultam nas inundaccedilotildees
Para que se alcance esse parcelamento do solo sustentaacutevel satildeo necessaacuterios esforccedilos da
gestatildeo municipal em estipular prazos e metas de atuaccedilatildeo afora interagir os diferentes
setores no planejamento em niacutevel de bacia hidrograacutefica considerando as peculiaridades
desta escala de trabalho
23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos
Sendo a ciecircncia que estuda a relaccedilatildeo homemnatureza a Geografia tem muito a contribuir
nas anaacutelises que envolvem o meio ambiente que foi transformado pela dinacircmica da
sociedade Mas historicamente a dialeacutetica das correntes fiacutesica e humana tem imperado de
modo dissociado levando o geoacutegrafo a estudar estes processos separadamente Poreacutem
se o resultado pretendido eacute integrado fazem-se necessaacuterias pesquisas mais amplas que
cruzem as diferentes vertentes geograacuteficas
Considerando que a problemaacutetica dos impactos ambientais urbanos envolve a questatildeo
natural o rio e a questatildeo social e poliacutetica a sociedade e as leis (COELHO 2013) uma
pesquisa neste acircmbito requer o entendimento destes dois objetos a fim de se apreender
o processo de crescimento das cidades brasileiras e a sua relaccedilatildeo com os recursos
hiacutedricos
A partir da deacutecada de 1950 devido ao ecircxodo rural mais intenso as cidades brasileiras
incharam rapidamente com a migraccedilatildeo do camponecircs que buscava melhores condiccedilotildees de
vida como trabalho na induacutestria o acesso agraves escolas saneamento entre outros E
segundo Gorski (2010) a populaccedilatildeo brasileira passou desde o iniacutecio deste processo de 19
milhotildees de habitantes em 1950 para 138 milhotildees de habitantes em 2000 (dados do IBGE)
o que corrobora o raacutepido crescimento das cidades
Todavia as estruturas puacuteblicas natildeo estavam preparadas para um acreacutescimo populacional
tatildeo significativo e em curto espaccedilo de tempo E o que observamos eacute o acesso limitado
dessa populaccedilatildeo agraves aacutereas centrais da cidade sendo induzida a se estabelecer nas
periferias Nesta visatildeo
O difiacutecil acesso da populaccedilatildeo de baixa renda agraves aacutereas mais centrais das cidades contribuiu segundo Raquel Rolnik para a expansatildeo da periferia o que muitas vezes implicou e implica ainda invasatildeo de aacutereas de proteccedilatildeo de mananciais com a aquiescecircncia do poder puacuteblico Esta
32
dinacircmica agravou a situaccedilatildeo de risco dos mananciais pela eliminaccedilatildeo das matas ciliares e consequentemente erosatildeo das margens dos cursos drsquoaacutegua e assoreamento de suas calhas e pela contribuiccedilatildeo do esgoto in natura (ROLNIK1997 apud GORSKI 2010 p62)
Sendo assim a supressatildeo das matas ciliares e das vegetaccedilotildees das encostas para fins de
ocupaccedilatildeo urbana interfere diretamente no ciclo hidroloacutegico diminuindo a absorccedilatildeo de
aacutegua pelo subsolo e pela evapotranspiraccedilatildeo favorecendo o escoamento superficial (Figura
6) que intensifica a velocidade de drenagem das aacuteguas Este processo nas encostas eacute
mais significativo se considerarmos que com a supressatildeo da cobertura vegetal e
impermeabilizaccedilatildeo do solo as precipitaccedilotildees acabam por lavar todo o material
intemperizado sedimentos carregando-o diretamente para o corpo hiacutedrico e contribuindo
para o assoreamento
Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento Fonte Gorski (2010 p64)
Por outro lado as ocupaccedilotildees ribeirinhas nas vaacuterzeas dos rios modificam a dinacircmica fluvial
frente aos defluacutevios A compactaccedilatildeo e o nivelamento do solo associados agrave
impermeabilizaccedilatildeo por concreto asfalto e outros materiais alteram todo o sistema de
drenagem natural e contribuem para a erosatildeo fluvial Aleacutem disso a gestatildeo puacuteblica que
33
deveria investir num parcelamento do solo sustentaacutevel resguardando ldquouma alocaccedilatildeo de
espaccedilosrdquo (CANHOLI 2005 p 15) para a drenagem acaba por colaborar com as enchentes
urbanas na medida em que decide por obras estruturais como a canalizaccedilatildeo (Figura 7
p30) e a microdrenagem que transferem os impactos das inundaccedilotildees a jusante
Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia Fonte Gorski (2010 p69)
Cabe destacar que desde 1965 com o primeiro Coacutedigo Florestal as matas beira-rio jaacute
eram resguardadas da degradaccedilatildeo humana poreacutem com todo o boom urbano a partir de
1950 a falta de estrutura e ingerecircncia municipal no que se refere ao parcelamento e uso
e ocupaccedilatildeo da terra urbana possibilitou a formaccedilatildeo dos assentamentos clandestinos em
APP e na encosta de morros Em condiccedilotildees precaacuterias sem saneamento baacutesico e demais
infraestruturas urbanas estes assentamentos acabam sendo as regiotildees mais afetadas
com as inundaccedilotildees
Junto agraves questotildees jaacute levantadas vale destacar que as aacuteguas das inundaccedilotildees propiciam o
aumento das doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica (febre tifoide hepatite leptospirose
esquistossomose entre outras) pois carregam segundo Gorski (2010) toda uma poluiccedilatildeo
difusa efluentes domeacutesticos industriais e agroindustriais aleacutem do lixo urbano da poluiccedilatildeo
do ar e das ruas
34
Por outro lado esta ocupaccedilatildeo urbana natildeo planejada perde o benefiacutecio que os corpos
hiacutedricos podem oferecer como [] as paisagens fluviais que aos poucos foram sendo
apropriadas como paisagens urbanas [] (GORSKI 2010 38) aleacutem do microclima
associado agrave umidade pela evapotranspiraccedilatildeo que ameniza a sensaccedilatildeo teacutermica local
Poreacutem conforme observado por Graeff (2011) natildeo eacute cabiacutevel atualmente implantar a
legislaccedilatildeo de APP de modo jurista Deve-se considerar toda a representatividade cultural
assentada sobre os leitos destes rios (avenidas importantes casas com arquitetura
histoacuterica entre outros) Aleacutem disso para a demarcaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo
permanente hoje eacute necessaacuteria uma anaacutelise teacutecnica pautada na geomorfologia e
hidrologia de modo a interpretar o ldquocomportamento histoacuterico dos cursos drsquoaacutegua na
paisagem prevendo cenaacuterios de impactos futurosrdquo da atividade humana sobre suas faixas
marginais
Tendo em vista que grande parte da malha urbana brasileira estaacute alocada em APPs e que
segundo Graeff (2011) estas jaacute possuem uma unidade de paisagem estabelecida e muitas
vezes secular configurando siacutetios de importacircncia cultural e apreendendo que
De modo semelhante nas demais cidades haveraacute que ser entendido o meio urbano como ele realmente eacute ndash um encontro entre as necessidades de habitaccedilatildeo com atividades humanas e de conservaccedilatildeo ambiental esta segunda tambeacutem a serviccedilo do homem e natildeo somente de objetivos difusos e distanciados da sobrevivecircncia da sociedade (GRAEFF 2011 206)
Por tais motivos o trabalho com a geomorfologia fluvial urbana deve abarcar os princiacutepios
do bom senso compreendendo que nestas aacutereas de atividade antroacutepica consolidada pode-
se fazer uso de instrumentos de engenharia avanccedilados para uma convivecircncia equilibrada
do homem com a natureza no entorno Contudo deve-se incentivar as aacutereas de expansatildeo
urbana ou zona periurbana (zonas de transiccedilatildeo da aacuterea urbana para a rural) com poliacuteticas
de incentivo a pavimentaccedilotildees mais permeaacuteveis a fim de minimizar o escoamento
superficial para o rio favorecendo a infiltraccedilatildeo
Apesar de os impactos gerados pela interferecircncia humana nas aacutereas mais fragilizadas da
bacia hidrograacutefica vaacuterzeas e encostas refletirem-se em cataacutestrofes com prejuiacutezos
humanos ambientais e urbanos alguns autores brasileiros como Canholi Graeff Cunha
Carneiro e Miguez jaacute indicaram outros caminhos para uma convivecircncia harmoniosa com
a natureza Aleacutem do mais paiacuteses desenvolvidos como a Holanda deixaram de ldquolutar contra
35
as cheiasrdquo para permitir agraves aacuteguas das enchentes a capacidade de acumular e dispersar
com impacto reduzido para as populaccedilotildees (CARNEIRO MIGUEZ 2011)
Sendo assim a proposta deste estudo eacute identificar os principais agentes que influenciam
as inundaccedilotildees entendendo seu papel e atuaccedilatildeo no contexto urbano de Colatina Mas eacute
tambeacutem a de ampliar a abordagem da temaacutetica com uma anaacutelise geograacutefica integrada
ressaltando as medidas que constam no planejamento urbano e sua aplicaccedilatildeo nas faixas
marginais do corpo hiacutedrico
36
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS
Esta pesquisa eacute constituiacuteda de trecircs etapas principais sendo que a primeira teve como
premissa a confecccedilatildeo de um fluxograma (Figura 8) de trabalho para orientar a pesquisa
em seguida teve iniacutecio o levantamento de bibliografias que abordam temas como a
geomorfologia fluvial e urbanizaccedilatildeo em Colatina adotando-se como referecircncia as
pesquisas de Coelho (2006 2007 2008 e 2009) e Albani (2012) Aleacutem disso muito
contribuiacuteram para este trabalho o relatoacuterio do INCAPER da CPRM e os dados do IBGE
Cabe destacar tambeacutem as experiecircncias com recursos hiacutedricos em ambientes urbanos de
Carneiro e Miguez (2011) em especial Cunha (2001 2012ab)
Esta etapa consistiu tambeacutem na busca de material cartograacutefico como aquisiccedilatildeo de planos
de informaccedilatildeo de limite estadual municipal bairros mancha urbana corpo drsquoaacutegua e
logradouros atraveacutes de dados disponiacuteveis no Sistema Integrado de Bases Geoespaciais
do Estado do Espiacuterito Santo (GEOBASES 2014) no Instituto Jones dos Santos Neves
(IJSN 2015) e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2014) imagens
orbitais gratuitas do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI bandas 2-3-4 e 8 (Pan) oacuterbita 216
ponto 73 com datas de passagem em 02012014 e 22032014 agraves 946 (horaacuterio central
da oacuterbita) junto ao Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2014) aleacutem do ortofotomosaico
do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hiacutedricos (IEMA 2014) do Espiacuterito
Santo referente ao voo de 2007 a 2008
Na segunda etapa foram realizadas duas investigaccedilotildees de campo sendo a primeira no
dia 24 de junho de 2014 com a finalidade de fazer o reconhecimento da aacuterea de estudo
fotografar e conversar com moradores e teacutecnicos da prefeitura O segundo trabalho de
campo ocorreu no dia 14 de fevereiro de 2015 e por meio deste foi possiacutevel identificar
pontos sujeitos a inundaccedilatildeo analisar a topografia e realizar as entrevistas com moradores
e funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina
37
Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC)
38
Na terceira etapa foram realizados os mapeamentos e processamentos de todos os planos
de informaccedilatildeo vetoriais e matriciais em ambiente de SIG no sistema ArcGis 103 iniciando
com a ediccedilatildeo dos dados do Municiacutepio e adjacecircncias que foram ajustados quando
necessaacuterio ao sistema de projeccedilatildeo UTM no Datum SIRGAS ndash 2000 na Zona 24 sul com
meridiano central -39 W com todo o mapeamento produzido seguindo a padronizaccedilatildeo
cartograacutefica proposta por Fitz (2008 a b)
O geoprocessamento teve iniacutecio com a composiccedilatildeo das imagens orbitais do Landsat-8 na
cor natural da imagem (2R 3G 4B) e por meio da teacutecnica de Pan Sharpening ou fusatildeo
de imagens a imagem cor natural foi agrupada agrave da banda 8 pancromaacutetica para obtenccedilatildeo
de uma melhor resoluccedilatildeo espacial neste caso chegando a 15 metros sendo resguardado
o conteuacutedo da imagem composta Na sequecircncia foi realizada a extraccedilatildeo da maacutescara do
periacutemetro urbano de Colatina e gerada a classificaccedilatildeo supervisionada da imagem Landsat-
8 no periacuteodo de cheia (janeiro) e vazante (marccedilo) o que possibilitou a delimitaccedilatildeo da calha
do Doce nestes dois eventos
Em seguida foram realizadas as 8 (oito) mediccedilotildees do leito regular sendo 4 (quatro) no
periacuteodo de cheia e 4 (quatro) na vazante de modo a definir a largura meacutedia da calha do
leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina Para chegar a uma medida geral
da largura do rio utilizaram-se ferramentas estatiacutesticas como a meacutedia que eacute uma medida
de tendecircncia central onde numa amostra de tamanho N constituiacuteda por elementos de x
variando de eacute possiacutevel extrair a meacutedia aritmeacutetica atraveacutes da equaccedilatildeo
A meacutedia aponta para onde mais convergem os dados de uma distribuiccedilatildeo
A partir desta definiccedilatildeo da meacutedia da largura da calha do Rio Doce foi possiacutevel em consulta
ao Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e a Lei 52732007 determinar a faixa miacutenima
de preservaccedilatildeo permanente deste corpo fluvial aleacutem da confecccedilatildeo do mapa com o
poliacutegono de APP
Mediante a anaacutelise do mapa verificou-se que grande parte dos bairros do municiacutepio estatildeo
contidos nos poliacutegonos de APP em especial a preservaccedilatildeo de 500 metros conforme lei
federal E por meio deste foram cruzados os dados de vazatildeo as fotos histoacutericas das
enchentes e o poliacutegono de mata ciliar o que permitiu o entendimento das inundaccedilotildees
39
Em ambiente de SIG tambeacutem foram vetorizados os trecircs traccedilados da Estrada de Ferro
Vitoacuteria a Minas o trajeto do Rio Santa Maria do Doce antes e depois da retilinizaccedilatildeo e os
sucessivos aterros na margem direita do Rio Doce no periacutemetro que compreende a Av
Beira-Rio
As teacutecnicas de sensoriamento remoto como a classificaccedilatildeo supervisionada permitiram a
definiccedilatildeo do poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo atraveacutes da imagem da cheia de janeiro Para
tanto foi realizada tambeacutem a classificaccedilatildeo hiacutebrida objetivando aliar a interpretaccedilatildeo visual
com a digital (JENSEN 2009) Por fim foi realizada amarraccedilatildeo com o levantamento
geodeacutesico da CPRM (2014) para garantir a precisatildeo do traccedilado do poliacutegono de cheia
A partir do tratamento dos dados bibliograacuteficos cartograacuteficos e imagens foi possiacutevel
sistematizar este trabalho o que permitiu identificar elementos histoacutericos de intervenccedilatildeo
na paisagem do Doce como os aterros e a ocupaccedilatildeo urbana As visitas de campo a
entrevista e conversas com moradores foram fundamentais para a validaccedilatildeo das
informaccedilotildees o que tornou esta metodologia eficaz para anaacutelise do fenocircmeno da inundaccedilatildeo
em Colatina
40
4 RESULTADOS
41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana
A ocupaccedilatildeo ao longo das planiacutecies de inundaccedilatildeo dos rios tem ocorrido diante da
necessidade deste recurso para as atividades vitais humanas Cunha (2012b p219)
entende que ldquosuas margens tecircm sido o centro preferido da habitaccedilatildeo humana e o
suprimento de suas aacuteguas natildeo soacute fertiliza os campos para o cultivo como tambeacutem fornece
energia e permite recreaccedilatildeordquo Logo o estabelecimento das vilas nas bordas dos cursos
drsquoaacutegua favorece a logiacutestica ocupacional
Historicamente em solo espiacuterito-santense a formaccedilatildeo das vilas ocorreu agraves margens de
estrateacutegicos cursos drsquoaacutegua e a exploraccedilatildeo do ouro de Minas Gerais para Albani (2012)
determinou que a Coroa proibisse nos seacuteculos XVII a XIX a implantaccedilatildeo de estradas e
exploraccedilatildeo de terras na Capitania do Espiacuterito Santo pois os portugueses temiam incursotildees
estrangeiras deixando assim o desenvolvimento capixaba restrito agrave faixa litoracircnea
Relegada enquanto ldquobarreira verderdquo para defesa das minas de ouro e minerais do atual
territoacuterio das Minas Gerais segundo Coelho (2007) a Capitania do Espiacuterito Santo soacute
passou a se interiorizar para o centro-oeste onde se localiza atualmente a cidade de
Colatina a partir de 1847 por meio das ocupaccedilotildees de Santa Izabel e Santa Leopoldina
que permitiram a descida do Rio Santa Maria do Doce ateacute as imediaccedilotildees da atual cidade
de Colatina
Assim foi que o movimento colonizador desceu o vale do Santa Maria do Rio Doce atingindo em 1891 a regiatildeo das matas onde hoje se acha a cidade de Colatina [] Esta penetraccedilatildeo inicial foi feita com elementos alematildees de Santa Leopoldina e no rio Doce ficou muito anos restrita agrave aacuterea inicial A expansatildeo ao longo do vale tomou impulso com a chegada a Colatina em 1906 dos trilhos da Estrada de Ferro Diamantina (atual Vitoacuteria-Minas) (STRAUCH1955 apud COELHO 2007 p105)
Sendo assim Coelho (op cit) relata que a ocupaccedilatildeo se deu atraveacutes da supressatildeo da mata
nativa no baixo curso do Rio Doce de Colatina a Linhares sendo a madeira daiacute extraiacuteda
levada ateacute o rio e encaminhada ateacute Povoaccedilatildeo vilarejo junto agrave foz de onde eram carregados
os navios Neste periacuteodo tem-se a instalaccedilatildeo de um ciclo madeireiro na regiatildeo com a
disposiccedilatildeo de serrarias nas proximidades das matas
41
Todavia somente a partir de 1906 com a chegada da estrada de ferro na regiatildeo o
transporte madeireiro foi transferido para as locomotivas Agrave medida que a implantaccedilatildeo da
Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas avanccedilava para o interior levava consigo as frentes de
desmatamento modificando as paisagens das margens do Rio Doce e se apropriando dos
espaccedilos deste rio (Figura 9)
Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906 Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce Fonte Albani (2012 p 63)
Conforme Albani (2012) com a vinda dos mineiros e fluminenses reforccedilados
posteriormente a partir de 1889 por colonizadores italianos e alematildees eacute que as
ocupaccedilotildees territoriais ocorreram de modo efetivo Atraveacutes do Barracatildeo do Rio Santa Maria
(Figura 10) espaccedilo do governo inicialmente destinado a alojar os migrantes e a produccedilatildeo
surgiram as primeiras residecircncias nas proximidades da igreja de Satildeo Sebastiatildeo Sendo
assim
Eacute importante destacar que o desenvolvimento da regiatildeo onde se encontra o municiacutepio de Colatina teve iniacutecio no final do seacuteculo XIX no nuacutecleo de colonizaccedilatildeo Antocircnio Prado localizado no distrito de Boapaba antiga vila do Mutum O nuacutecleo recebeu dezenas de famiacutelias de imigrantes italianos e ali desenvolveram atividades de agricultura e com a expansatildeo da localidade surge tambeacutem o comeacutercio (ALBANI 2012 p61) [hellip] A vila de Colatina entretanto logo passou a se transformar no principal nuacutecleo e futuramente na sede do municiacutepio Aleacutem da facilidade da produccedilatildeo atraveacutes do Rio Doce a vila de Colatina tornou-se referecircncia dos imigrantes no caminho para a colonizaccedilatildeo das terras ao norte do estado (MADURO1985 apud ALBANI 2012 p62)
42
Desse modo com o desenvolvimento das atividades de cafeicultura madeireira e do
entroncamento logiacutestico de acesso agraves aacutereas do norte a vila eacute elevada em 1921 agrave categoria
de municiacutepio A atual configuraccedilatildeo territorial foi adquirida a partir de 2001 conforme IBGE
(2014) dispondo de seis distritos Colatina (sede) Acircngelo Frechiami Baunilha Boapaba
Graccedila Aranha e Itapina
Cabe destacar poreacutem que a ocupaccedilatildeo inicial da cidade de Colatina se perfaz pela margem
direita do Rio Doce onde se localiza o atual bairro de Colatina Velha e onde havia se
instalado o Barracatildeo de Santa Maria Nesse periacuteodo a ponte ainda natildeo fora edificada
limitando assim a ocupaccedilatildeo da margem esquerda
Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da regiatildeo Fonte Albani (2012 p62)
Conforme Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p65) a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro
Vitoacuteria a Minas em 1906 (Figura 11) possibilitou a expansatildeo da cidade de Colatina e seu
desenvolvimento econocircmico Todavia sua instalaccedilatildeo paralela agrave margem direita do Rio
Doce favoreceu a localizaccedilatildeo de avenidas e ruas centrais em sua proximidade
43
Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p65)
Entretanto foi com a construccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos (Figura 12) em 1928 que a
margem direita se conectou agrave margem esquerda da cidade o que aleacutem de possibilitar a
ocupaccedilatildeo facilitou o acesso agraves regiotildees mais ao norte do Estado
Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p66)
44
Por conseguinte a estrada de ferro e a ponte foram os fatores determinantes para o
estabelecimento dos migrantes agraves margens do Rio Doce e a formaccedilatildeo do atual municiacutepio
de Colatina Contudo foi a partir desta posiccedilatildeo privilegiada que a cidade passou a ser
entreposto comercial e logiacutestico da regiatildeo noroeste e com isso sua aacuterea urbana expandiu-
se de modo desordenado inicialmente ao longo da planiacutecie de inundaccedilatildeo do Doce Coelho
(2007 p108 e 109) relata que
Os efeitos dessa urbanizaccedilatildeo (novos parcelamentos) e do desmatamento produz [sic] normalmente o aumento da velocidade das aacuteguas superficiais (pluviais) que eram antes interceptadas pelas matas com boa parte absorvida pelo solo O que ocorre geralmente nessas aacutereas eacute a chegada mais raacutepida das aacuteguas das chuvas para o tributaacuterios e calha principal do rio por fluxos concentrados que provocam processos de erosotildees do tipo laminar ravina e voccediloroca transportando quantidades expressivas de sedimentos que por sua vez causam assoreamento e a ocorrecircncia de cheias mais frequentes no rio
Com o crescimento acelerado do periacutemetro urbano proporcionado pelo apogeu do ciclo
cafeeiro as proacuteximas deacutecadas levaratildeo a cidade de Colatina a sofrer com impactos
advindos das alteraccedilotildees no ambiente fluvial do Rio Doce em especial os referentes a
ocupaccedilatildeo (impermeabilizaccedilatildeo) e desmatamento das margens (interferecircncia na drenagem
natural) conforme destacado por Coelho (2007)
Eacute fato que o municiacutepio viveu nas deacutecadas de 1940 e 1950 o auge do ciclo cafeeiro
chegando a ser no ranking brasileiro o 13ordm municiacutepio produtor de cafeacute no ano de 1947
(CAMPOS JUNIOR 2004 apud ALBANI 2012 p69) Poreacutem a partir de 1960 este boom
entrou em colapso com crise do cafeacute que assolou todo o paiacutes levando grande parte dos
pequenos proprietaacuterios rurais a migrarem para centros urbanos em especial no Espiacuterito
Santo a regiatildeo da Grande Vitoacuteria e tambeacutem para o centro de Colatina
Em razatildeo da crise cafeeira a populaccedilatildeo rural migra para centros urbanos A populaccedilatildeo migrou em grande quantidade para a Grande Vitoacuteria para fora do estado e tambeacutem para a cidade de Colatina principal aglomerado urbano da regiatildeo Esse processo provoca o aumento da aacuterea urbana de Colatina A populaccedilatildeo da cidade que era de 3913 habitantes em 1940 cresceu para 26757 habitantes em1960 (ALBANI2012 p71)
O crescimento raacutepido do centro de Colatina aliado ao aumento populacional direciona
grande parte dos migrantes para as aacutereas menos centrais da cidade levando agrave ocupaccedilatildeo
de locais irregulares como os morros e as margens direita e esquerda do Rio Doce Este
45
processo configurou a nova paisagem do municiacutepio povoando do vale agraves encostas (Figura
13)
Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes Fonte Albani (2012 p73)
Associado a este processo de reconfiguraccedilatildeo espacial nas proacuteximas deacutecadas o municiacutepio
de Colatina passaraacute por sucessivas perdas de territoacuterios ateacute atingir os limites atuais (Figura
1 p17) Aliado a estas perdas territoriais seu quantitativo absoluto populacional tambeacutem
sofreraacute impactos poreacutem de modo geral a populaccedilatildeo urbana deste municiacutepio apresentou
crescimento continuo (Graacutefico 2)
Graacutefico 2
Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 2010
Elaborado pela autora Fonte 1940 e 1950 Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p82) 1960 a 2010 IBGE
0
20000
40000
60000
80000
100000
120000
1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020
Populaccedilatildeo Urbana Colatina 1940 - 2010
46
Assim como tem ocorrido nas grandes capitais Colatina cresceu em quantitativo
populacional e territorial urbano de modo muito raacutepido e por este desenvolvimento natildeo ter
sido aliado a um planejamento urbano e ambiental sustentaacutevel a cidade tem sentido os
reflexos das suas interferecircncias ao longo do canal do Doce O que tem provocado
antecipaccedilatildeo dos picos de vazatildeo que no periacutemetro urbano ocasiona as inundaccedilotildees pois
natildeo conseguindo o rio acomodar estes defluacutevios transfere em curto espaccedilo de tempo as
aacuteguas a sua planiacutecie de inundaccedilatildeo atingindo os bairros mais antigos do municiacutepio
Por fim entender o contexto histoacuterico do crescimento da cidade revela muito do panorama
atual E por meio de uma anaacutelise conjunta da histoacuteria com os novos planejamentos eacute
possiacutevel propor intervenccedilotildees urbanas que possibilitem um conviacutevio harmonioso entre
natureza e sociedade neste caso entre o Rio Doce e o centro de Colatina Diante desta
proposta adiante apresentaremos a evoluccedilatildeo dos bairros associando seus periacuteodos de
ocupaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo espacial nas imediaccedilotildees do curso principal do Doce
411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade
Com nuacutecleo inicial de povoamento no Barracatildeo de Santa Maria a cidade de Colatina
cresce a partir deste ponto agrave margem direita do Rio Doce de onde surgem as primeiras
residecircncias comeacutercios e a igreja Atualmente a regiatildeo compreende o bairro de Colatina
Velha que de acordo com Albani (2012 p91) [hellip] ldquopode ser considerado o primeiro polo
de crescimento da cidaderdquo
Aliado ao aumento da populaccedilatildeo migrante das fazendas com a crise do cafeacute o nuacutecleo de
Colatina Velha passa a ser um ponto de passagem obrigatoacuterio para os viajantes que
vinham majoritariamente do sul uma vez que o Rio Doce configurava uma barreira natural
agrave ocupaccedilatildeo das terras ao norte Aleacutem disso a margem esquerda deste canal fluvial era
habitat dos hostis iacutendios botocudos o que dificultava a sua apropriaccedilatildeo
Sendo assim a ocupaccedilatildeo de Colatina conteve-se agrave margem direita nesta primeira fase o
que define o primeiro vetor de crescimento da cidade na direccedilatildeo leste para oeste partindo
das imediaccedilotildees do Barracatildeo de Santa Maria sentido ao Rio Santa Maria do Doce (Figura
14) E a partir de 1906 com a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas da entatildeo
Companhia Vale do Rio Doce atual Vale este vetor de crescimento se consolida e
47
proporciona o surgimento de importantes avenidas paralelas agrave ferrovia a exemplo da Av
Getuacutelio Vargas
Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de crescimento Elaborado pela autora
48
O segundo vetor do crescimento de Colatina estava condicionado agrave construccedilatildeo da ponte
Florentino Aacutevidos a qual conectou a margem direita agrave esquerda do Rio Doce permitindo
a ocupaccedilatildeo da porccedilatildeo ao norte Portanto somente a partir de 1928 com a finalizaccedilatildeo da
obra da ponte a barreira natural pocircde ser transposta o que possibilitou ao lado esquerdo
desenvolver uma nova linha de crescimento urbano com a ocupaccedilatildeo do atual bairro de
Satildeo Silvano
O terceiro vetor de crescimento estaacute associado agrave implantaccedilatildeo do bairro Luiz Iglesias na
margem direita e os de Maria das Graccedilas e Coluacutembia na margem esquerda Albani (2012)
ressalta que esta fase da ocupaccedilatildeo urbana estaacute associada ao desenvolvimento do sistema
viaacuterio como a proximidade da BR-259 sentido Vitoacuteria- Colatina da ES-80 que liga
Colatina agrave regiatildeo norte da ES-256 que a conecta a Marilacircndia e da proximidade da
estaccedilatildeo ferroviaacuteria Carlos Germano Nauman (Figura 15)
Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios e linhas feacuterreas que interceptam a cidade de Colatina Elaborado pela autora
Jaacute na quarta e mais recente linha de crescimento da cidade temos os novos loteamentos
residenciais e industriais a exemplo do de Barbados e do bairro Santa Helena que surgem
49
acompanhando o traccedilado da ponte que contorna a leste a cidade como novo acesso agrave
porccedilatildeo norte do estado Albani (2012 p118) destaca que
Apesar da construccedilatildeo da Segunda Ponte ter sido iniciada em 1986 somente foi inaugurada em 2007 A conclusatildeo da ponte e a construccedilatildeo de uma rodovia de contorno desviaram a BR-259 do centro da cidade O desvio da rodovia federal trouxe um desafogamento do tracircnsito nas principais vias da cidade e um novo direcionamento na expansatildeo urbana Alguns loteamentos surgiram nesse periacuteodo proacuteximo agrave Segunda Ponte e ao contorno na margem norte do rio principalmente no bairro Santa Helena (Figura 55) Essa situaccedilatildeo indica mais uma vez que as linhas de crescimento em Colatina satildeo orientadas pelas vias de transporte
Portanto o crescimento do periacutemetro urbano de Colatina estaacute associado agrave superaccedilatildeo das
barreiras naturais em especial o Rio Doce por meio de investimentos em obras de
engenharia que permitiram o deslocamento humano para a margem esquerda deste curso
Sem duacutevida as vias de transporte foram elementares na construccedilatildeo do periacutemetro urbano
de Colatina pois na medida que se consolidava o sistema viaacuterio as ocupaccedilotildees tambeacutem se
favoreciam destas vias de locomoccedilatildeo A evoluccedilatildeo da aacuterea urbana portanto acompanha
as principais vias de transporte (Figura 15 p45) e estas se utilizam da posiccedilatildeo estrateacutegica
e geograficamente favoraacutevel do canal do Doce para a definiccedilatildeo de seus traccedilados
Apoacutes 94 anos de emancipaccedilatildeo de Linhares o territoacuterio de Colatina eacute fundamental para a
manutenccedilatildeo dos municiacutepios do noroeste capixaba Diante desta posiccedilatildeo estrateacutegica torna-
se relevante o entendimento de como o urbano se relaciona com o meio natural a fim de
se estabelecer poliacuteticas de ordenamento territorial que promovam a qualidade de vida no
municiacutepio Adiante seraacute analisada a situaccedilatildeo da calha principal do Rio Doce elemento
fundamental na compreensatildeo do uso e cobertura da terra de Colatina
42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce
Compreendendo uma aacuterea de 3330 kmsup2 o periacutemetro urbano de Colatina eacute afetado pela
velocidade dos defluacutevios de modo que grande parte dos bairros beira-rio eacute tomada pelas
aacuteguas excedentes da calha principal do Doce o que configura o fenocircmeno de inundaccedilatildeo
Ao pesquisar estes fenocircmenos eacute necessaacuterio relacionar o uso da terra com os processos
geomorfoloacutegicos do corpo hiacutedrico Sendo assim por meio de teacutecnicas de
geoprocessamento foram realizadas oito mediccedilotildees da calha principal do Rio Doce para
50
estabelecimento da distacircncia meacutedia da largura de sua calha O resultado esteve dentro do
esperado e pode ser verificado na tabela abaixo (Tabela 1) e no mapa em sequecircncia
(Figura 16)
Tabela 1 Perfis transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de
vazante (abril) e cheia (janeiro)
Largura do rio Doce periacuteodo de vazante e cheia
Abril2013(m) Janeiro2014(m)
P1 70735 75784
P2 62080 66483
P3 59209 65804
P4 63548 67650
Meacutedia dos Perfis 62814 67066
Meacutedia Geral 66143 Obs todas as medidas estatildeo em metros
Elaborado pela autora
Figura 16 - Traccedilado dos perfis transversais da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de vazante mecircs de abril2013 Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)
51
Com uso das imagens orbitais do Landsat-8 atraveacutes da classificaccedilatildeo hiacutebrida foram
gerados dois arquivos shapefiles correspondentes agraves bordas do Doce um no periacuteodo de
vazante e outro no de cheia Por meio destes dados foram definidos quatro traccedilados para
realizaccedilatildeo das mediccedilotildees a partir destas e com auxiacutelio das medidas de tendecircncia central
chegou-se a uma largura meacutedia total de 66143m de uma margem a outra Este resultado
indicou que tanto no periacuteodo de vazante quanto no periacuteodo de cheia a largura meacutedia
aponta para a maior faixa de APP proteccedilatildeo de 500m conforme previsto na legislaccedilatildeo
federal (Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e no revogado Lei 4771 1965)
Analisando a imagem abaixo (Figura 17) observa-se que grande parte do solo
naturalmente destinado a ldquoacomodaccedilatildeordquo das aacuteguas nas cheias (linha laranja) foi
incorporado agrave sociedade como espaccedilo criado (periacutemetro urbano em APP mancha em
amarelo) destinado a fins muacuteltiplos Deste modo sem planejamento territorial adequado
grande parte da planiacutecie de inundaccedilatildeo deu lugar a outras funccedilotildees diferentes das naturais
sendo incorporada ao espaccedilo urbano
Lanccedilando o buffer (mancha em amarelo) do entorno da calha do Doce (Figura 17) observa-
se que dos 59 bairros do municiacutepio cerca de 29 estatildeo dentro da aacuterea de 500m destinada
a preservaccedilatildeo permanente pelo Coacutedigo Florestal Considerando-se a delimitaccedilatildeo da APP
prevista no PDM de 1996 e 2007 (linha laranja mais proacutexima da borda do rio) este nuacutemero
cai para 18 bairros permanecendo apenas aqueles que possuem limites com o corpo
hiacutedrico
Uma vez que que lei municipal natildeo suplanta lei federal considerar-se-aacute neste estudo o
limite da faixa marginal de proteccedilatildeo definida na Lei Federal 126512012 Deste modo a
aacuterea de preservaccedilatildeo permanente do Doce neste recorte eacute de 1085 kmsup2 compreendendo
33 do periacutemetro urbano de Colatina
Cabe destacar ainda que mesmo o PDM de 1996 contendo enquanto objetivo no Art 14
ldquoI - estabelecer a ordenaccedilatildeo do uso e da ocupaccedilatildeo do solo urbanordquo (Lei 42281996 p4)
a gestatildeo municipal natildeo obteve sucesso na implementaccedilatildeo de tal legislaccedilatildeo O que se
verifica tanto nas deacutecadas de 1990 quanto no iniacutecio dos anos 2000 quando foram
aprovados novos parcelamentos urbanos agraves margens deste canal a exemplo dos bairros
de Barbados na margem direita e do bairro Mario Giurizato na margem esquerda
52
Figura 17- Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)
53
Articulado a esta ideia e pesquisando o trecho do bairro Esplanada a Colatina Velha palco
das uacuteltimas obras estruturantes de alto porte do municiacutepio consegue-se analisar os efeitos
das inundaccedilotildees nas margens deste rio Logo implementar medidas de prevenccedilatildeo de
cheias em aacutereas com urbanizaccedilotildees antigas requer um esforccedilo da gestatildeo na regulaccedilatildeo do
solo urbano
421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie
de Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio
Interceptada pelo curso do Rio Doce no perfil mais a jusante da bacia a cerca de 100km
do estuaacuterio com o Oceano Atlacircntico a cidade de Colatina polo moveleiro e de confecccedilotildees
do centro-oeste capixaba eacute palco recorrente de inundaccedilotildees urbanas
Conforme jaacute mencionado por Cunha (2012a) este fenocircmeno ocorre quando a bacia recebe
um percentual precipitado acima da sua capacidade de escoamento o que faz o leito
menor do rio extravasar para o leito maior ocupando as aacutereas de vaacuterzeas (Figura 18 p
50) Aliadas a esta questatildeo estatildeo as ocupaccedilotildees humanas das margens dos rios que ao
suprimir a vegetaccedilatildeo natural e alterar a condiccedilatildeo fiacutesica do solo acabam por reduzir a aacuterea
de drenagem das aacuteguas pluviais acelerando o escoamento superficial para o canal
principal e favorecendo os defluacutevios
Figura 18 - Representaccedilatildeo da inundaccedilatildeo urbana Fonte adaptado da Defesa Civil do Tocantins (2015)
Este fenocircmeno tem ganhado destaque em Colatina a partir de 1979 ano em que o Rio
Doce atingiu a vazatildeo de 12860msup3s tomando toda aacuterea aplainada que compotildee seu leito
maior afetando da atual Av Beira-Rio ateacute as redondezas da Av Getuacutelio Vargas Desde
entatildeo os estudos das inundaccedilotildees urbanas satildeo relevantes no municiacutepio o que levou o
54
Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) na deacutecada de 1980 a elaborar um ldquoPlano Diretor
de Contenccedilatildeo das Enchentes Proteccedilatildeo das Encostas e Drenagem Pluvial de Colatinardquo
Tal medida apresentou seis alternativas para o fenocircmeno Poreacutem tendo em vista o custo
operacional das obras apenas a alternativa seis que previa a construccedilatildeo de diques
marginais para a proteccedilatildeo das aacutereas mais centrais foi considerada viaacutevel na eacutepoca
Todavia em entrevistas com funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina (PMC) foi
relatado que todo o estudo foi arquivado e que ateacute agora natildeo haacute previsatildeo de
implementaccedilatildeo de tais medidas Fato este que eacute evidenciado (Tabela 2 p 51) quando da
ocorrecircncia de precipitaccedilotildees intensas na bacia durante as quais sazonalmente a cidade eacute
impactada com as aacuteguas das inundaccedilotildees Isto faz com que o municiacutepio passe
recorrentemente por cataacutestrofes conforme tabela com os principais picos de vazatildeo do rio
nos uacuteltimos 50 anos
Tabela 2
Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013
Ano Diamecircs Vazatildeo(msup3s)
1961 30jan 6613
1979 04fev 12860
1997 07jan 8687
2005 03ago 6549
2013 24dez 9028
Fonte Coelho (2007 apud DALLAPICOLA 2014 p4) e CPRM (2014 p85) Observo que os dados da tabela 1 para os anos de 1979 e 2013 estatildeo baseados na estimativa de vazatildeo meacutedia diaacuteria das maacuteximas anuais obtida atraveacutes de extrapolaccedilatildeo da curva-chave pelo grupo interdisciplinar dos relatoacuterios criacuteticos anteriores
As inundaccedilotildees de 1979 1997 e recentemente 2013 (Figura 19) foram as de maior vazatildeo
neste setor do rio e consequentemente as que mais atingiram a aacuterea urbana do municiacutepio
bloqueando os acessos ao centro da cidade e aos equipamentos essenciais como
hospitais escolas e demais oacutergatildeos puacuteblicos aleacutem de desalojarem muniacutecipes e
comprometerem a sauacutede puacuteblica
55
Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de 1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 Fonte1) Nossa Colatina 2) Nossa Linda Colatina 3) Nossa Colatina
Com o propoacutesito de identificar os principais fatores que acentuam as inundaccedilotildees seraacute
analisado como os processos geomorfoloacutegicos do Doce estatildeo sendo afetados pela accedilatildeo
antroacutepica Limitaremos a anaacutelise ao periacutemetro urbano no trecho que compreende do bairro
Esplanada ateacute o bairro Colatina Velha (Figura 20) Neste periacutemetro eacute possiacutevel visualizar a
evoluccedilatildeo da mancha urbana sobre o leito do rio aleacutem de identificar na margem direita os
pontos desnaturalizados deste canal fluvial
56
Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2) Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do recorte em rosa da APP de 50m (amarelo claro) e 500m (amarelo escuro) Fonte 3) Encontra Colatina (2015)
57
O recorte em questatildeo eacute margeado pela Av Beira-Rio e estaacute situado (Figura 20) dentro do
buffer de preservaccedilatildeo permanente previsto no PDM (buffer de 50m) e no Novo Coacutedigo
Florestal (buffer de 500m) Apesar desta aacuterea ser destinada a mata nativa e ou
reflorestada a ocupaccedilatildeo urbana antecede os artigos legais o que dificulta poliacuteticas de
gestatildeo territorial em um periacutemetro ao mesmo tempo histoacuterico e com funccedilatildeo relevante no
equiliacutebrio hidroloacutegico da bacia
O periacutemetro faz parte da vaacuterzea da margem direita do Rio Doce pois encontra-se em cota
topograacutefica de 50m caracterizando sua planiacutecie Logo a aacuterea em questatildeo tem a funccedilatildeo de
acomodar as aacuteguas das cheias quando a calha principal natildeo comporta o escoamento de
grandes vazotildees Esta tarefa passa a ser prejudicada na medida em que na bacia ou no
curso original satildeo implementadas obras que interferem na morfologia do corpo hiacutedrico
principal como a instalaccedilatildeo das hidreleacutetricas de Mascarenhas (1974) e Aimoreacutes (2005) a
montante
As UHErsquos a montante comprometem os processos do rio uma vez que o regime natural de
transporte de sedimentos eacute alterado com o barramento o que favorece a erosatildeo e
consequentemente o assoreamento com a formaccedilatildeo de bancos arenosos alteraccedilatildeo do
seu perfil transversal e reduccedilatildeo da profundidade Aleacutem disso segundo Coelho (2007) as
vazotildees maacuteximas e miacutenimas foram alteradas com a implantaccedilatildeo das hidreleacutetricas a
montante implicando em vazotildees meacutedias anuais miacutenimas cada vez mais reduzidas com
valores se distanciando da linha de tendecircncia (polinocircmio) provando o natildeo equiliacutebrio da
vazatildeo apoacutes a implantaccedilatildeo das barragens (Graacutefico 1 p22)
Entretanto a primeira intervenccedilatildeo direta no trecho em estudo foi a instalaccedilatildeo da estrada
de ferro que atraiu migrantes para Colatina permitindo o crescimento populacional e a
expansatildeo urbana desordenada agraves margens do Doce Este crescimento intensificou a
supressatildeo das matas ciliares e abriu espaccedilo para a impermeabilizaccedilatildeo do solo reduzindo
a infiltraccedilatildeo
Posteriormente a inauguraccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos ampliou o fluxo na regiatildeo pois
proporcionava a ligaccedilatildeo com as terras ao norte do Estado Atuou tambeacutem como obstaacuteculo
ao transporte de sedimentos carreados no fluxo natural do rio uma vez que sua
implantaccedilatildeo altera a topografia do fundo do canal afetando os processos geomorfoloacutegicos
58
Poreacutem foi no Morro das Cabritas (colina localizada no espaccedilo que compreende o atual
bairro Esplanada) que ocorreu a primeira desnaturalizaccedilatildeo nas margens do Doce Este
morro por onde o Rio Santa Maria do Doce meandrava ateacute desaguar no Rio Doce foi
cortado em meados de 1953 para abrigar a cidade em expansatildeo Devido a esta
intervenccedilatildeo o curso original do Santa Maria foi deslocado e passou a escoar
retilineamente ateacute a foz (Figura 21)
Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponte Florentino Aacutevidos (direita) e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque em vermelho para o curso atual do Santa Maria Fonte Nossa Colatina
As intervenccedilotildees na margem direita tornam-se mais intensas a partir da deacutecada de 1960
quando no ano de 1968 edificou-se um muro visando a proteccedilatildeo dos pilares da
extremidade direita da ponte Esta obra ficou paralisada por muitos anos e foi a primeira
de retificaccedilatildeo e aterro realizada neste trecho do rio Esta intervenccedilatildeo modificou o fluxo
natural das correntes do rio e reduziu a largura da sua calha alterando a morfologia do
canal (Figura 22)
59
Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de proteccedilatildeo da ponte Elaborado pela autora Fonte fotos histoacutericas Nossa Colatina
Contudo somente em 1972 teve iniacutecio o segundo aterro (Figura 23) com a finalidade de
alocar a estaccedilatildeo rodoviaacuteria de Colatina e ampliar a aacuterea de acesso agrave ponte Florentino
Aacutevidos A implementaccedilatildeo desta obra suprimiu parte do leito do Rio Doce pois removeu a
saliecircncia cocircncava que curvava o rio retilinizando esta parte do canal
60
Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora Fonte Nossa Colatina Nossa Linda Colatina
Apoacutes dez anos sem grandes intervenccedilotildees em 1982 o lado a montante da ponte bairro
Esplanada eacute acrescido de um aterro que estenderaacute a aacuterea do antigo Morro das Cabritas
para o rio (Figura 24)
Conhecido como Rua da Lama devido agrave umidade que o rio transferia ao aterro formando
um barro viscoso que persistia a maior parte do ano o trecho atualmente compreende a
Avenida Professor Joseacute Zouian popularmente denominada Avenida Beira-Rio de onde
surge a primeira forma do calccediladatildeo que seraacute estendido ateacute o bairro Colatina Velha
61
Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o calccediladatildeo da Av Beira-Rio Elaborado pela autora Fonte Bennachio (2015)
Somente em 2004 foi implementado o maior projeto de canalizaccedilatildeo do municiacutepio Naquele
ano teve iniacutecio a execuccedilatildeo do enrocamento da Av Beira-Rio (Figura 25) obra destinada
inicialmente a alocaccedilatildeo de equipamentos puacuteblicos de lazer e cultura praccedilas preacutedios aleacutem
da promessa de contribuir para a contenccedilatildeo dos transbordamentos do Rio Doce
Apesar de o referido manancial jaacute estar comprometido com problemas de poluiccedilatildeo
assoreamento e erosatildeo aleacutem dos impactos de duas hidreleacutetricas instaladas a montante a
obra abarcou a supressatildeo da vegetaccedilatildeo ciliar e aterro de parte do rio jaacute tatildeo degradado
62
Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento iniciada em 2004 e finalizada em 2008 Elaborado pela autora Fonte proacutepria autora em 240215
Ocupando uma aacuterea total de 130 mil msup2 do leito do Rio Doce o aterro teve iniacutecio em 2004
sendo construiacutedo com cerca de 90 mil msup3 de pedras 50 mil msup3 de areia retirada do leito do
rio e por fim o nivelamento com 200 mil msup3 de terra A obra era divulgada como um antigo
sonho dos colatinenses e serviria para ampliaccedilatildeo da Av Beira-Rio no bairro de Colatina
Velha instalaccedilatildeo de ciclovias calccediladatildeo equipamentos puacuteblicos e estacionamento (Figura
26) Apesar do fim da engenharia em 2008 o projeto ainda estaacute em fase de acabamento
na parte urbaniacutestica e na alocaccedilatildeo dos oacutergatildeos puacuteblicos
Cabe destacar que a obra sofreu embargos do Ministeacuterio Puacuteblico Federal (MPF) por
apresentar apenas cadastro na Agecircncia Nacional de Aacuteguas (ANA) que conforme parecer
da Procuradora Nadja Machado Botelho na Accedilatildeo Civil Puacuteblica ldquo[hellip] equivocadamente natildeo
realizou o procedimento de outorga [hellip]rdquo (MPF 2006 p2) Aleacutem disso a procuradora
solicitou tutela tendo em vista tratar-se de aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental e o fato de o
IBAMA ter concedido licenciamento com indevida dispensa do Estudo de Impacto
Ambiental (EIA)Relatoacuterio de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA)
63
Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina Fonte Prefeitura de Colatina (2015)
Por isso essa obra deve ser considerada faraocircnica para os cofres puacuteblicos e irreversiacutevel
para os processos geomorfoloacutegicos do Doce E sua efetivaccedilatildeo soacute foi possiacutevel com a
participaccedilatildeo e investimentos do Governo estadual Contudo seu objetivo foi frustrado pois
novamente na cheia do Rio Doce em dezembro de 2013 quando este atingiu a vazatildeo de
9028 msup3s a aacuterea foi inundada e por estar em cota maior que as casas que beiravam o
rio o enrocamento atuou como represa natildeo permitindo o retorno das aacuteguas quando o niacutevel
do rio retomou o equiliacutebrio
Por fim segue um mapa siacutentese (Figura 27) com a cartografia das quatro principais
intervenccedilotildees diretas e estruturais na margem direita do Doce no setor urbano de Colatina
representando o curso natural do rio em 1950 e suas desnaturalizaccedilotildees a partir da deacutecada
de 60 ateacute a atualidade
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Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce ante e depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora
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422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio
O recorte em estudo compreende as Zonas ZE-1 ZE-2 e ZUD 2-1 (Figura 28 p61) sendo
a Zona Especial 1 Zona Especial 2 e Zona de Uso Diverso 2-1 destinadas no PDM (Lei
52732007)
Artigo 103 - As Zonas de Usos Diversos ndash ZUD satildeo definidas em razatildeo da concentraccedilatildeo de atividades urbanas diversificadas com predominacircncia do uso comercial e de serviccedilos Artigo 104 - Satildeo objetivos das Zonas de Usos Diversos I - otimizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do solo priorizando a instalaccedilatildeo de novos empreendimentos em terrenos natildeo edificados contiacuteguos a empreendimentos jaacute instalados II - controle da implantaccedilatildeo de usos incompatiacuteveis com os definidos para estas zonas III - garantia de licenciamento e monitoramento ambiental dos empreendimentos IV - controle da expansatildeo comercial de serviccedilos e de induacutestrias de pequeno porte em direccedilatildeo a aacutereas residenciais [] Artigo 130 - As Zonas Especiais 1 ndash ZE 1 abrangem todas as aacutereas remanescentes do municiacutepio relativamente ao zoneamento estabelecido nesta lei ocupadas ou natildeo contida na lei de periacutemetro urbano para as quais natildeo foram ainda estabelecidos os criteacuterios de uso e ocupaccedilatildeo Artigo 131 - As Zonas Especiais 2 ndash ZE 2 satildeo as aacutereas existentes no prolongamento da avenida Beira Rio mais especificamente no trecho entre o 80 Batalhatildeo da Poliacutecia Militar e a rua Pedro Epichin incluindo o espaccedilo existente entre a margem do Rio Doce e o limite das construccedilotildees localizadas na rua Pedro Epichin
Cabe destacar que mesmo sendo palco das aacutereas mais afetadas com as inundaccedilotildees do
Rio Doce a Beira-Rio tem sido alvo da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria que aproveitando-se dos
iacutendices pouco restritos da ZUD 2 (Figura 28 p62) valoriza o espaccedilo promovendo a
instalaccedilatildeo de grandes estruturas como hipermercados edifiacutecios residenciais modernos e
hotelaria
66
Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 Fonte Colatina (2007)
A aacuterea contida na ZE (Figura 28) natildeo possui criteacuterio de ocupaccedilatildeo definido na legislaccedilatildeo
atual sendo adotado o disposto na Lei 41961995 que estabelece os iacutendices urbaniacutesticos
para as aacutereas conquistadas junto ao Rio Doce e na Lei 420595 que aprova os
parcelamentos na Beira-Rio Quanto agrave ZUD 2-1 apresenta iacutendices urbaniacutesticos no anexo
118 do Plano Diretor conforme tabela 3 abaixo
67
Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1
Fonte Colatina (2007 p36)8
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Eacute relevante observar que numa aacuterea onde o corpo hiacutedrico foi reduzido pelos sucessivos
aterros tenha sido aprovada a instalaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto (Figura
29) com taxa de ocupaccedilatildeo de ateacute 80 e com baixo iacutendice de permeabilidade Ampliou-
se a aacuterea impermeaacutevel numa regiatildeo onde a drenagem jaacute eacute muito comprometida com a
expansatildeo urbana sobre o rio
Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto na Beira-Rio Fonte imagem do Google Maps 2015 E fotos da autora em 140215
Portanto analisando o conjunto de dados apresentado acima eacute possiacutevel entender como
as inundaccedilotildees satildeo potencializadas no municiacutepio atingindo a populaccedilatildeo mas em especial
afetando a dinacircmica de um corpo hiacutedrico tatildeo relevante para o Estado A fim de subsidiar a
gestatildeo puacuteblica com material cartograacutefico para a tomada de decisotildees delimitou-se o
poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo (Figura 30) Pois devem ser adotadas medidas que
minimizem impactos de futuros eventos hidroloacutegicos na bacia capazes de comprometer
novamente a aacuterea urbana mais central de Colatina
69
Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av Beira-Rio em dezembro de 2013 Elaborado pela autora
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Diante do poliacutegono de inundaccedilatildeo da uacuteltima cheia (Figura 30) em dezembro de 2013 eacute
possiacutevel implementar medidas de convivecircncia com as grandes vazotildees a exemplo de
paiacuteses como Holanda que vem investindo em medidas de resiliecircncia a fim de reduzir a
velocidade dos defluacutevios possibilitando ao canal a capacidade de acumular e dispersar as
aacuteguas com impacto miacutenimo para as populaccedilotildees Conforme Carneiro e Miguez (2011) a
estrateacutegia adotada pelo paiacutes eacute reter armazenar e drenar sendo mais flexiacutevel e natildeo
interferindo drasticamente na dinacircmica do corpo hiacutedrico
Por fim a implementaccedilatildeo de soluccedilotildees de planejamento urbano em Colatina requer uma
anaacutelise integrada que abarque o urbano e o ambiental de modo a propor intervenccedilotildees que
produzam impactos reduzidos nos processos geomorfoloacutegicos do Rio Doce Logo a gestatildeo
municipal deve atuar em niacutevel de bacia hidrograacutefica interagindo com os municiacutepios a
montante propondo medidas de minimizaccedilatildeo das cheias urbanas Mas na escala local
pode-se atuar junto aos novos parcelamentos de modo a ampliar o percentual de aacutereas
permeaacuteveis no municiacutepio incentivando por exemplo os novos loteamentos a adotarem
pavimentaccedilotildees que permitam a drenagem natural do solo
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5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Partindo da ideia de que eacute possiacutevel implementar medidas que minimizem o escoamento
superficial satildeo apresentadas propostas como forma de controlar ou ao menos reduzir os
impactos das inundaccedilotildees urbanas
Embora as implementaccedilotildees histoacutericas de estruturas de proteccedilatildeo ou barreiras mais altas
tenham sido muito disseminadas atualmente estatildeo sendo suplantadas pelo gerenciamento
de inundaccedilotildees de maneira mais sustentaacutevel Deste modo as experiecircncias fora do Brasil
apontam para soluccedilotildees mais flexiacuteveis que considerem o fluxo natural do canal enquanto
um ecossistema em equiliacutebrio Para tanto Carneiro e Miguez (2011 p150) destacam a
iniciativa alematilde no controle de inundaccedilotildees em bacias hidrograacuteficas metropolitanas
[hellip] A abordagem comum consiste na regulaccedilatildeo do uso do solo nas aacutereas inundaacuteveis e em ldquodar espaccedilo para o riordquo ao inveacutes de priorizar investimentos em estruturas de proteccedilatildeo contra inundaccedilotildees como a colocaccedilatildeo de diques de contenccedilatildeo as margens dos rios A utilizaccedilatildeo do conceito de resiliecircncia apropriado de ecologia decorre dessa abordagem A aplicaccedilatildeo praacutetica do conceito implica portanto em mudanccedilas de paradigma Deixa de ser preponderante a engenharia construtiva e entra em cena o planejamento de longo prazo voltado para o desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis capazes de conviver com as variaccedilotildees do ciclo hidroloacutegico sem significar necessariamente trageacutedias anunciadas
Aleacutem dessas propostas geoacutegrafos como Sandra Cunha tecircm estudado a recuperaccedilatildeo
natural ou ldquorenaturalizaccedilatildeordquo de corpos fluviais visando promover a estabilidade dos canais
de modo mais sustentaacutevel Para ela
[hellip] Recuperaccedilatildeo de canal significa de forma simples o retorno as condiccedilotildees anteriores aos distuacuterbios Em essecircncia eacute o processo de recuperaccedilatildeo do rio ou do ecossistema fluvial estabilizando o desenvolvimento de habitats e colonizaccedilatildeo a uma taxa mais raacutepida que dos processos naturais fiacutesicos e bioloacutegicos Na recuperaccedilatildeo de canais ocorrem consideraccedilotildees de aspecto hidroloacutegico morfoloacutegico e ecoloacutegico qualidade da aacutegua esteacutetica aleacutem da necessidade de uma visatildeo integradora do projeto sustentaacutevel de recuperaccedilatildeo (CUNHA 2012 p230 a 231)
Satildeo portanto medidas pontuais como o retorno agraves sinuosidades do rio (Figura 31 p 68)
ou a substituiccedilatildeo de estruturas de concreto por superfiacutecies mais permeaacuteveis a exemplo
das trincheiras de infiltraccedilatildeo ou pavrsquos (Figura 32) aacutereas mais vegetadas aleacutem de coleta e
uso de aacutegua da chuva bem como tratamento das aacuteguas superficiais por meio de
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amenidades esteacuteticas como reservatoacuterios de retenccedilatildeo ou detenccedilatildeo que podem ser
associados a ambientes harmocircnicos como lagos artificiais Todas estas accedilotildees possibilitam
a minimizaccedilatildeo das grandes vazotildees no solo urbano pois pretendem atenuar os impactos
das cheias fazendo com que seja resgatada parte da drenagem existente anteriormente agrave
urbanizaccedilatildeo
Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do Rio Aa Munster Alemanha (1998) Fonte Cunha (2012 p233)
Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos Fonte Carneiro e Miguez (2011 p128)
A partir do exposto cabe agrave gestatildeo municipal implementar legislaccedilotildees que priorizem a
permeabilidade possibilitando uma maior infiltraccedilatildeo das aacuteguas das chuvas atraveacutes de
pavimentaccedilotildees menos impermeaacuteveis e da ampliaccedilatildeo de aacutereas vegetadas Satildeo medidas
que tornam a drenagem mais sustentaacutevel aleacutem de possibilitar a manutenccedilatildeo dos serviccedilos
puacuteblicos de forma menos custosa tendo em vista o elevado preccedilo das recomposiccedilotildees
asfaacutelticas
1 2
73
Aleacutem disso quando se fala em controle de cheias urbanas pressupotildee-se uma seacuterie de
medidas para minimizaccedilatildeo de seus impactos desde a operaccedilatildeo de sistemas de alerta
zoneamento de aacutereas inundaacuteveis construccedilatildeo de grandes reservatoacuterios de contenccedilatildeo de
cheias e diques ateacute accedilotildees de educaccedilatildeo ambiental
Cabe pensar tambeacutem na proacutexima revisatildeo do PDM em um plano de macrodrenagem
municipal que reuacutena accedilotildees de caraacuteter estruturantes com obras hidraacuteulicas de infraestrutura
que realizem a conduccedilatildeo final das aacuteguas dos escoamentos superficiais para a minimizaccedilatildeo
das inundaccedilotildees e em medidas natildeo-estruturantes que trabalhem a consciecircncia ambiental
e proponha um zoneamento de cheias a fim de se delimitar os pontos mais fragilizados nos
defluacutevios
Por fim pensar em drenagem num contexto de ocupaccedilatildeo irregular histoacuterico requer
profissionais que aleacutem de possuir afinidade com a temaacutetica tambeacutem possam analisar os
diferentes processos que constituem o espaccedilo geograacutefico Logo este tipo de estudo deve
abarcar uma equipe multidisciplinar que percorra a anaacutelise desde o ambiental estrutural
ateacute o aspecto humano a fim de se produzir resultados que de fato contribuam com o
controle das inundaccedilotildees urbanas
74
6 CONCLUSAtildeO
A partir do recorte espacial foi possiacutevel compreender que a abordagem da geomorfologia
fluvial com a anaacutelise espaccedilo-temporal da ocupaccedilatildeo urbana possibilita a identificaccedilatildeo das
accedilotildees do homem no meio ambiente pois estas resultam na alteraccedilatildeo das paisagens
naturais e na dinacircmica da bacia hidrograacutefica Assim o Rio Doce deve ser estudado de
modo integrado ao crescimento da cidade sobretudo para compreensatildeo da produccedilatildeo do
espaccedilo geograacutefico
Analisar a inundaccedilatildeo urbana em Colatina foi satisfatoacuterio pois o municiacutepio estaacute situado no
perfil meacutedio-baixo da bacia vazante e eacute neste trecho que os reflexos das intervenccedilotildees satildeo
mais acentuados principalmente se esta parte do canal tambeacutem tiver passado por obras
que modificaram seus processos hidroloacutegicos Aleacutem disso a perspectiva geograacutefica aponta
para vaacuterias outras questotildees como erosatildeo fluvial planejamento urbano poluiccedilatildeo ambiental
crise da aacutegua que conduzem a outras discussotildees acerca da relaccedilatildeo homemnatureza
Ao demonstrar a evoluccedilatildeo espaccedilo-temporal do uso e cobertura da terra na margem direita
do Doce associando esta ocupaccedilatildeo agraves obras estruturantes que foram executadas no
canal verificamos que todas as praacuteticas adotadas para conter o transbordamento do rio
acabaram alterando sua morfologia com a retificaccedilatildeo de trechos em meandros reduzindo
a largura do corpo hiacutedrico o que favoreceu a apropriaccedilatildeo urbana de suas vaacuterzeas Aliadas
a estas questotildees estatildeo a falta de planejamento urbano e a omissatildeo diante da supressatildeo
das matas ciliares principalmente se considerados os resultados do relatoacuterio teacutecnico do
IJSN contra enchentes em 1980
Cabe destacar tambeacutem que toda a anaacutelise da ocupaccedilatildeo urbana e desnaturalizaccedilatildeo do
Rio Doce foi melhor identificada a partir dos produtos cartograacuteficos deste trabalho Pois eacute
na espacialidade dos fenocircmenos e no registro de informaccedilotildees ainda natildeo mapeadas como
os aterros que o geoacutegrafo executa a anaacutelise do seu objeto de estudo o homem e a
natureza aqui representado pela sociedade e o canal do Doce
Apesar do municiacutepio apresentar leis que resguardam os leitos dos rios desde o primeiro
PDM em 1996 nada foi feito para conter as ocupaccedilotildees irregulares beira-rio Pelo contraacuterio
estas aacutereas foram incorporadas ao Plano Diretor em 2007 com possibilidades de
ocupaccedilotildees diversas o que tem levado especuladores a valorizar o solo com vista para o
rio apontando suas qualidades esteacuteticas e teacutermicas Este fato vem aumentando o
75
percentual de aacutereas impermeaacuteveis nesta margem comprometendo ainda mais a drenagem
dos defluacutevios
Eacute na Av Beira-Rio que crescem as implantaccedilotildees de grandes empreendimentos comerciais
como supermercado Casagrande Ogil Hotel e obras de construccedilatildeo de novos arranha-
ceacuteus em um periacutemetro que jaacute eacute totalmente comprometido com os extravasamentos do Rio
Doce Estas obras ocupam grandes aacutereas e na maioria das vezes apresentam reduzida
aacuterea permeaacutevel reservando apenas o obrigatoacuterio pela lei cerca de 10 Observa-se
tambeacutem que a implantaccedilatildeo desses projetos estaacute condicionada agrave apresentaccedilatildeo e
aprovaccedilatildeo por comissatildeo na prefeitura do Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV) sendo
difiacutecil conceber que seja concedida tal licenccedila para implementaccedilatildeo de obras num trecho
de risco ambiental
Embora as diretrizes do Estatuto das Cidades para a implementaccedilatildeo do uso da terra
sustentaacutevel e os instrumentos para a regulaccedilatildeo do solo urbano sejam avanccedilados Colatina
eacute mais um exemplo da carecircncia de profissionais capacitados para estudar de modo
integrado e em niacutevel de bacia hidrograacutefica os efeitos da accedilatildeo humana num ambiente tatildeo
peculiar como as margens do Doce Por isso com os objetivos traccedilados nesta pesquisa
podemos aleacutem de compreender o fenocircmeno criar uma metodologia de anaacutelise de aacutereas
inundaacuteveis em ambientes urbanos O que permite agrave gestatildeo municipal uma diretriz para a
tomada de decisotildees
Destaca-se tambeacutem que as legislaccedilotildees aqui referenciadas supriram a discussatildeo acerca do
objeto de estudo mas outras podem contribuir para esta pesquisa a exemplo do Coacutedigo
das Aacuteguas da Poliacutetica Nacional dos Recursos Hiacutedricos das Resoluccedilotildees do Conama do
Estatuto das Cidades entre outros
Sendo assim numa revisatildeo do PDM deve-se pensar nestes aspectos da cidade desde o
histoacuterico de ocupaccedilatildeo das margens ateacute os impactos das inundaccedilotildees e o presente trabalho
auxilia com uma nova abordagem na reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo fornecendo material
cartograacutefico para subsidiar propostas de proteccedilatildeo ao curso do Doce e consequentemente
da populaccedilatildeo
Por fim deve-se destacar que o recorte estaacute inserido num contexto maior de uma bacia
hidrograacutefica que se estende aleacutem dos limites de Colatina ou do estado do Espiacuterito Santo
Esta bacia compreende a Regiatildeo Hidrograacutefica do Atlacircntico Leste e estaacute alocada tambeacutem
76
no estado de Minas Gerais o que portanto torna as accedilotildees de controle das inundaccedilotildees
mais complexas tendo em vista as divergentes politicas territoriais
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e Rio Doce 18
Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 19
Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de
2013 19
Figura 4 - Tipos de leito fluvialvarzea 21
Figura 5 - Padrotildees dos canais 21
Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento 32
Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia 33
Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC) 37
Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906
Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce 41
Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da
regiatildeo 42
Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce 43
Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio
Doce 43
Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes 45
Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de
crescimento 47
Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios que interceptam a cidade de Colatina
48
Figura 16 - Traccedilado das mensuraccedilotildees da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de
vazante mecircs de abril2013 50
Figura 17 - Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro
urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal 51
Figura 18 - Representaccedilatildeo de inundaccedilatildeo urbana 53
Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de
1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 55
Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2)
Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do
recorte em rosa da APP de 50 m (amarelo claro) e 500 m (amarelo escuro) 56
Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponrte Florentino Aacutevidos (direita)
e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa
Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque
em vermelho para o curso atual do Santa Maria 58
Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de
proteccedilatildeo agrave ponte 59
Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o
traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas 60
Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o
calccediladatildeo da Av Beira-Rio61
Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento
iniciada em 2004 e finalizada em 2008 62
Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina 63
Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce antes e
depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas 64
Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 66
Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto da Beira-Rio 68
Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da
inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av
Beira-Rio em dezembro de 2013 69
Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do rio Aar Munster Alemanha (1998) 72
Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos 72
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Perfis Transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de vazante (abril) e cheia (janeiro) 50
Tabela 2 Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013 54
Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1 67
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 - Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais
(Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia) 25
Graacutefico 2 - Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 201045
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANA - Agecircncia Nacional de Aacuteguas
APP - Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente
CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais Serviccedilo Geoloacutegico Brasileiro
GEOBASES - Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espiacuterito Santo
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IJSN - Instituto Jones dos Santos Neves
INCAPER - Instituto Capixaba de Pesquisa Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural
PDM - Plano Diretor Municipal
PMC - Prefeitura Municipal de Colatina
PROATER - Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural
SIG - Sistema de Informaccedilotildees Geograacuteficas
UHE ndash Usina Hidreleacutetrica
UTM - Universal Tranverse Mercator
USGS - Geological Survey Serviccedilo Geoloacutegico Americano
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 14
11 Objetivo 16
111 Objetivo Geral 16
112 Objetivos Especiacuteficos 16
12 Justificativa 17
2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS 20
21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano 20
211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial 23
22 Aspectos Juriacutedicos 27
23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos 31
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS 36
4 RESULTADOS 40
41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana 40
411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade 46
42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce 49
421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie de
Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio 53
422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio 65
5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 71
6 CONCLUSAtildeO 74
7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 77
14
1 INTRODUCcedilAtildeO
A partir da deacutecada de 1930 com a transiccedilatildeo econocircmica de um eixo agraacuterio-exportador
para um polo urbano-industrial (CARNEIRO 2008) verificou-se no Brasil a migraccedilatildeo da
maior parte da populaccedilatildeo para as cidades Isso acarretou segundo Tucci (2013 p17) uma
ldquo[] concentraccedilatildeo urbana no Brasil da ordem de 80 da populaccedilatildeo e o seu
desenvolvimento tem sido realizado de forma pouco planejada com grandes conflitos
institucionais e tecnoloacutegicos []rdquo
De acordo com Canholi (2005 p15) a expansatildeo da aacuterea urbana ldquo[] consequentemente
impermeabilizada ocorreu a partir das zonas mais baixas proacuteximas agraves vaacuterzeas dos rios
ou agrave beira-mar em direccedilatildeo agraves colinas e morros em face da necessaacuteria interaccedilatildeo da
populaccedilatildeo com os corpos hiacutedricos []rdquo Neste cenaacuterio surgem as ocupaccedilotildees irregulares
nas Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) como as da planiacutecie de inundaccedilatildeo dos rios
e os topos de morros
Essas ocupaccedilotildees desordenadas satildeo proporcionadas pela precariedade da implantaccedilatildeo e
fiscalizaccedilatildeo das legislaccedilotildees urbaniacutesticas de ordenamento territorial e ambiental Neste
contexto satildeo relevantes as pesquisas que visam correlacionar o viacutenculo
sociedadenatureza de modo a entender como a ocupaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo no
solo conecta-se com a hidrodinacircmica dos recursos naturais uma vez que ldquo[] a tendecircncia
atual do limitado planejamento urbano integrado estaacute levando as cidades a um caos
ambiental urbano com custo extremamente alto para a sociedaderdquo (TUCCI 2013 p17)
Deve-se partir do pressuposto teoacuterico articulado com a ideia anterior de ldquo[]
indissociabilidade entre natureza e sociedade []rdquo (COELHO 2013 p21) em que a
sociedade natildeo pode ser apenas entendida como populaccedilatildeo e a natureza enquanto mero
ambiente fiacutesico mas que estes dois fatores estatildeo dinamicamente produzindo o espaccedilo
geograacutefico
Neste contexto a problemaacutetica se afirma no intuito de relacionar as legislaccedilotildees urbanas
(Lei de Parcelamento do Solo 676679 e PDM) e ambientais (Novo Coacutedigo Florestal 2012)
com as suas aplicaccedilotildees ou natildeo no periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina
principalmente nos bairros que se situam na planiacutecie de inundaccedilatildeo do Rio Doce
A escolha da temaacutetica tambeacutem teve como premissa a importacircncia regional de Colatina
como entreposto comercial e logiacutestico para os municiacutepios do noroeste capixaba conforme
15
relato do Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural - PROATER (INCAPER
2011)
Exportadores de cafeacute atacadistas e as lojas de pronta entrega dinamizam o comeacutercio local que atende aos municiacutepios do norte capixaba leste de Minas Gerais e sul da Bahia representando um universo de mais de 700 mil consumidores (INCAPER 2011 p5)
De acordo ainda com o INCAPER (op cit) Colatina tem crescido a uma margem de 188
anual o que representa a tendecircncia ao ecircxodo rural sendo que a populaccedilatildeo do campo vem
diminuindo de aproximadamente 19 em 1990 passou a 12 no Censo de 2010 Diante
do exposto entra em discussatildeo o planejamento urbano pois com o crescimento da
populaccedilatildeo citadina para cerca de 88 aumentam tambeacutem as pressotildees sobre o meio
ambiente em especial as regiotildees ribeirinhas
Estas uacuteltimas refletem o aumento das atividades humanas na bacia hidrograacutefica onde
pode-se destacar as mudanccedilas induzidas pelas accedilotildees antropogecircnicas que se dividem em
diretas (aquelas que atuam no canal fluvial para controle das vazotildees a exemplo dos
reservatoacuterios e desvios de aacuteguas) e indiretas relacionadas agraves aacutereas fora dos canais por
exemplo o desmatamento e urbanizaccedilatildeo sendo que estas comprometem a descarga e
carga soacutelida do rio (PARK1981 KNIGHTON1984 apud CUNHA 2001)
O interesse pela pesquisa surge da importacircncia regional do municiacutepio dos impactos
histoacutericos humanos materiais e imateriais sofridos diante de eventos hidroloacutegicos
extremos tendo em vista o fato de o periacutemetro urbano ser cortado por um corpo fluvial de
importacircncia regional Aleacutem disso a abordagem geograacutefica possibilita a correlaccedilatildeo dos
processos fluviais com a ocupaccedilatildeo urbana de modo mais integrado (COELHO 2009)
Portanto uma das finalidades deste trabalho eacute analisar por meio das geotecnologias e das
investigaccedilotildees de campo como a ocupaccedilatildeo urbana tem interferido nas margens do Rio
Doce de modo a delimitar os sucessivos aterros na margem direita no periacutemetro do bairro
Esplanada a Colatina Velha Ademais identificar como os processos deste canal fluvial
tecircm sido afetados pela intervenccedilatildeo humana em seu leito principal
16
11 Objetivo
111 Objetivo Geral
Correlacionar os processos fluviais do Rio Doce por meio da dinacircmica geomorfoloacutegica
deste canal com o uso e cobertura da terra no setor urbano do municiacutepio de Colatina
Espiacuterito Santo Contrapondo assim as intervenccedilotildees urbanas da beira-rio com o Plano
Diretor Municipal e o Novo Coacutedigo Florestal enfatizando as diretrizes adotadas no
parcelamento do solo para a planiacutecie de inundaccedilatildeo deste rio
112 Objetivos Especiacuteficos
Identificar os vetores de crescimento urbano do municiacutepio a fim de avaliar a
evoluccedilatildeo da mancha urbana junto ao canal principal
Determinar o comprimento da borda da calha do leito regular do Rio Doce no
periacutemetro urbano de Colatina para definiccedilatildeo da largura miacutenima da faixa marginal
de preservaccedilatildeo
Espacializar as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente beira-rio previstas em lei a fim
de analisar a ocupaccedilatildeo urbana nestes espaccedilos
Cartografar os principais pontos desnaturalizados no canal principal do Rio Doce
no setor urbano de Colatina
Demonstrar como o emprego das geotecnologias auxilia no planejamento urbano
e ambiental especialmente em acircmbito municipal
17
12 Justificativa
A aacuterea de estudo corresponde ao periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina situado na
Bacia Atlacircntico trecho leste sub-bacia do Rio Doce no baixo curso (ANA 2001)
Compreende a regiatildeo noroeste do estado do Espiacuterito Santo latitude 19deg 32rsquo 16rsquorsquo S e
longitude 40deg 37rsquo 59rsquorsquo W De acordo com os dados do censo de 2010 do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio possuiacutea uma populaccedilatildeo de 111788 mil
habitantes1 numa aacuterea territorial de 1416804 kmsup2
Devido a sua privilegiada posiccedilatildeo geograacutefica limiacutetrofe com o Rio Doce e a construccedilatildeo da
Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas em 1906 Colatina compreendia os territoacuterios dos atuais
municiacutepios de Baixo Guandu Linhares Pancas Satildeo Gabriel da Palha Marilacircndia Satildeo
Domingos do Norte e Governador Lindenberg (INCAPER 2011) Soacute a partir de 2001
passou a apresentar os atuais limites municipais e configurar uma aacuterea urbana com 59
bairros (Figura 1)
Colatina eacute um municiacutepio de importacircncia para regiatildeo noroeste capixaba seja em caraacuteter
econocircmico ou social Eacute responsaacutevel pelos fluxos de cargas da regiatildeo aleacutem de ser um polo
moveleiro de confecccedilatildeo metalmecacircnico e de comeacutercio e serviccedilos gerando emprego e
renda (INCAPER 2011) Aleacutem disso tem sofrido historicamente com as cheias do Rio
Doce principalmente porque parte do seu periacutemetro urbano eacute inundado com as aacuteguas da
calha principal desse rio o que compromete toda a dinacircmica local e potildee em risco os
colatinenses
Assim diante das crescentes demandas por territoacuterio no periacutemetro urbano a populaccedilatildeo
tem suprimido a cobertura vegetal e ocupado desde as margens do Rio Doce ateacute as
encostas dos morros Em periacuteodos de cheias principalmente nos meses de outubro a
marccedilo (INCAPER 2011 ANA 2001) verificam-se inundaccedilotildees de grande parte da aacuterea
urbana beira-rio aleacutem dos movimentos de massa nas encostas Como exemplo destes
acontecimentos tecircm-se os registros fotograacuteficos dos efeitos da chuva de dezembro de 2013
(Figuras 2 e 3)
1 De acordo com o a estimativa do IBGE de 2014 publicada no DOU o municiacutepio conta com uma populaccedilatildeo de 121670 habitantes
18
Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e o canal do Rio Doce Elaborado pela autora
19
Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 Fonte Noticias UOL (2013)
Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de 2013 Fonte Folha Vitoacuteria (2013)
Este estudo portanto eacute relevante tendo em vista as raras abordagens no acircmbito das
Ciecircncias Geograacuteficas especialmente no Espiacuterito Santo de pesquisas que correlacionem
aspectos da geomorfologia fluvial por meio da dinacircmica dos recursos hiacutedricos com o uso
e cobertura da terra particularmente o Plano Diretor Municipal (PDM) Discute dessa
forma as implicaccedilotildees da atuaccedilatildeo humana nas particularidades deste ecossistema natural
tendo em vista o disposto nas legislaccedilotildees urbaniacutesticas e ambientais que visam assegurar
a qualidade de vida das populaccedilotildees
Adiante seratildeo analisados os principais fundamentos da geomorfologia fluvial os aspectos
juriacutedicos e o papel da anaacutelise geograacutefica integrada para o entendimento dos fenocircmenos
das inundaccedilotildees no Centro de Colatina uma vez que eacute devido agraves intervenccedilotildees humanas
nos canais e suas margens que esses fenocircmenos tornam-se mais nocivos a cidade
20
2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS
21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano
Recurso essencial para a manutenccedilatildeo da vida a aacutegua foi um fator relevante para o
estabelecimento histoacuterico das sociedades no entorno dos cursos hiacutedricos Utilizados para
fins de abastecimento humano e animal irrigaccedilatildeo saneamento e transporte os rios
constituiacuteram-se nos principais propulsores de penetraccedilatildeo para o interior (CUNHA 2012a)
Logo em suas margens surgiram povoados que posteriormente transformaram-se em
cidades como as que se estabeleceram agraves margens do Rio Doce a exemplo da sede de
Colatina
Diante das potencialidades que os recursos hiacutedricos possibilitam agraves sociedades
destacamos a importacircncia do estudo da Geomorfologia Fluvial que se apresenta como
campo da Geomorfologia (ciecircncia que estuda as formas do relevo) sendo o interesse
daquela a pesquisa dos processos que relacionam o escoamento das aacuteguas fluviais num
contexto de bacia hidrograacutefica (CHRISTOFOLETTI 1980 CUNHA op cit) Enfoca assim
as alteraccedilotildees na fisionomia dos canais frente agraves intervenccedilotildees no ecossistema natural
beira-rio
A Geomorfologia Fluvial parte da condicionante de que o uso e ocupaccedilatildeo da terra refletem-
se na dinacircmica da bacia de drenagem interferindo nos processos morfogeneacuteticos ou seja
de modelagem do relevo fluvial escoamento superficial das aacuteguas e no ciclo hidroloacutegico
Frente agrave temaacutetica deste estudo faz-se necessaacuterio o entendimento dos conceitos da
fisiografia fluvial aqui referente aos diferentes setores que a aacutegua pode escoar num leito
(Figura 4) como
O leito menor corresponde agrave parte do canal ocupada pelas aacuteguas e cuja frequecircncia impede o crescimento da vegetaccedilatildeo Esse tipo de leito eacute delimitado por partes bem definidas O leito de vazante equivale agrave parte do canal ocupada durante o escoamento das aacuteguas de vazante Suas aacuteguas divagam dentro do leito menor seguindo o talvegue linha de maacutexima profundidade ao longo do leito e que eacute mais bem identificada na seccedilatildeo transversal do canal O leito maior tambeacutem denominado leito maior perioacutedico ou sazonal eacute ocupado pelas aacuteguas do rio regularmente e pelo menos uma vez ao ano durante as cheias Dependendo do tempo ocorrido entre as subidas das aacuteguas eacute possiacutevel haver a fixaccedilatildeo e o crescimento da vegetaccedilatildeo herbaacutecea
21
O leito maior excepcional eacute ocupado durante as grandes cheias no decorrer das enchentes (CUNHA 2001 p 213)
Figura 4 - Tipos de leito fluvial vaacuterzea Fonte Cunha (2001 p213)
Sendo assim as aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial (leitos) aquelas inundadas pelo corpo
hiacutedrico frente a um evento hidroloacutegico extremo tambeacutem satildeo conhecidas como vaacuterzeas
planiacutecie de inundaccedilatildeo ou ainda segundo Carneiro e Miguez (2011 p133) como ldquo[] zona
de passagem de cheia []rdquo Essas aacutereas de vaacuterzeas dependem da fisionomia que o rio
apresenta e segundo Cunha (op cit) o canal fluvial pode apresentar trecircs formas
principais conhecidas como padratildeo dos canais que satildeo retiliacuteneo anastomosado e
meacircndrico (Figura 5)
Figura 5 - Padrotildees dos canais (A) retiliacuteneo (B) anastomosado (C) meandrante (A) amplitude (Rc) raio meacutedio da curvatura do meandro (segundo Bigarella etal 1979) Fonte Cunha (2001 p216)
22
Aliada aos padrotildees dos canais estaacute a assimetria ou simetria dos leitos que para Cunha
(2001 p233) relaciona-se com a variaccedilatildeo da velocidade e turbulecircncia ao longo da secccedilatildeo
transversal o que diferencia o comportamento nos canais retiliacuteneos geralmente simeacutetricos
do canal meacircndrico onde
Em canais de leito simeacutetrico em geral padratildeo retiliacuteneo a velocidade maacutexima ocorre no centro do canal diminuindo em direccedilatildeo agraves margens Em leito assimeacutetrico de padratildeo meacircndrico a zona de maacutexima velocidade e turbulecircncia localiza-se nas proximidades das margens cocircncavas decrescendo de valor em direccedilatildeo agrave margem de menor profundidade
(convexa) (CUNHA opcit p 233)
Deste modo a capacidade de erosatildeo das margens transporte e deposiccedilatildeo da carga do rio
dependem entre outros fatores da velocidade das correntes fluviais E o material do fluxo
fluvial constitui-se da descarga liacutequida ou vazatildeo que estaacute relacionada ao tamanho do
material que pode ser transportado e do volume da carga que o rio eacute capaz de carregar
Tem-se ainda a carga soacutelida sedimentos que estaacute relacionada a suspensatildeo e fundo do
rio esta decresce a jusante indicando a diminuiccedilatildeo da competecircncia do corpo fluvial As
cargas de suspensatildeo satildeo constituiacutedas de partiacuteculas finas a exemplo do silte e por fim a
carga de fundo que eacute composta por partiacuteculas de tamanhos maiores a exemplo da areia
(CUNHA2001)
Christofoletti (1980) acrescenta que os sedimentos podem ser carregados de trecircs modos
principais no fluxo em soluccedilatildeo dissolvidos nos cursos hiacutedricos em suspensatildeo como o
silte e argila e em saltaccedilatildeo geralmente a areia e cascalho que compreendem a carga do
leito do rio Destaca-se que a carga detriacutetica natildeo proveacutem apenas da erosatildeo do fundo dos
leitos e margens fluviais mas que o material intemperizado de vertentes carreado nas
enchentes contribui significativamente para a carga sedimentar transportada
Cabe ressaltar ainda que a relaccedilatildeo do arranjo espacial dos canais com os processos
fluviais (a erosatildeo o transporte e a deposiccedilatildeo de sedimentos) eacute determinante para o
trabalho dos rios Tais processos satildeo diretamente influenciados pela vazatildeo velocidade e
pela intensidade da turbulecircncia (seja no fluxo laminar ou no fluxo turbulento) A
variabilidade no comportamento da velocidade e turbulecircncia das aacuteguas ao longo da seccedilatildeo
transversal condiciona os locais preferenciais de erosatildeo e deposiccedilatildeo ao longo do curso
hiacutedrico
23
Deste modo qualquer intervenccedilatildeo na bacia e canal fluvial compromete o equiliacutebrio natural
da drenagem levando o corpo hiacutedrico a se adaptar agraves mudanccedilas em sua fisionomia
fisiografia e em seus processos ateacute atingir um novo estado de equiliacutebrio Poreacutem eacute na
planiacutecie de inundaccedilatildeo que estas modificaccedilotildees seratildeo mais percebidas pela populaccedilatildeo pois
a maior parte das obras de engenharia como as canalizaccedilotildees e as ocupaccedilotildees das
margens acaba por romper com o equiliacutebrio natural do rio alterando sua dinacircmica e
intensificando seus processos o que na maioria das vezes potencializa as enchentes no
ambiente urbano
Nesse sentido o entendimento dos processos fluviais (erosatildeo transporte e deposiccedilatildeo)
combinado com a anaacutelise da fisiografia fluvial condicionam as peculiaridades na geometria
hidraacuteulica ou seja na relaccedilatildeo entre a vazatildeo velocidade de escoamento tipos de canais
de sedimentos e a topografia Logo o conhecimento geomorfoloacutegico do rio contribui para
pesquisas que necessitem relacionar o funcionamento deste corpo natural com um
planejamento urbano mais efetivo principalmente se considerarmos um recorte em niacutevel
de bacia hidrograacutefica em espaccedilo urbano
211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial
O capiacutetulo que segue versa sobre a atuaccedilatildeo antroacutepica relacionando-a a aacuterea de estudo o
rio Doce poreacutem este trata de forma macro a temaacutetica para contextualizar o leitor sendo
as especificidades das intervenccedilotildees neste recorte geograacutefico trabalhados nos resultados
desta pesquisa
Diante do exposto eacute possiacutevel acompanhar a evoluccedilatildeo dos processos fluviais nos canais
em especial aqueles que tiveram intervenccedilotildees em seu curso natural como as hidreleacutetricas
instaladas a montante a exemplo do Rio Doce onde a interferecircncia direta na vazatildeo e fluxo
de sedimentos altera a hidrodinacircmica do rio comprometendo a erosatildeo e transporte Para
Coelho (2007 p57) as
Mudanccedilas na Declividade Perfil Longitudinal Promovidas pela construccedilatildeo de reservatoacuterio satildeo variadas e caso o efeito da contenccedilatildeo de sedimentos seja significativo os processos fluviais reduziratildeo a capacidade de transporte de sedimento podendo promover um entalhamento do leito do rio imediatamente agrave jusante da barragem
Aleacutem disso esse processo erosivo poacutes-barragem eacute intensificado favorecendo o
assoreamento e sedimentaccedilatildeo do rio a jusante O que pode beneficiar a elevaccedilatildeo da cota
24
do canal fluvial frente a eventos hidroloacutegicos extremos potencializando os efeitos das
inundaccedilotildees nas vaacuterzeas
Ao mesmo tempo o Rio Doce trecho que compreende o Espiacuterito Santo meacutediobaixo curso
eacute impactado nas vazotildees miacutenimas e maacuteximas a jusante apoacutes a instalaccedilatildeo das
barragensUsinas Hidreleacutetricas (UHE) de Mascarenhas (iniacutecio de operaccedilatildeo em 1974)
localizada no Municiacutepio de Baixo Guandu e a de Aimoreacutes (iniacutecio de operaccedilatildeo em 2005)
localizada na divisa do Espiacuterito Santo com Minas Gerais (COELHO 2007)
De acordo com Coelho (opcit) apoacutes a implantaccedilatildeo das usinas ocorreu uma reduccedilatildeo
significativa na vazatildeo da calha principal do Rio Doce conforme Graacutefico 1
Considerando o periacuteodo de 1939 a 2012 a vazatildeo miacutenima apoacutes a instalaccedilatildeo das usinas
chega a atingir 411msup3s e a maacutexima chega apenas a 1251msup3s sendo que no periacuteodo
anterior agrave instalaccedilatildeo das usinas foi registrada a miacutenima de 533 msup3s e uma maacutexima de
1812 msup3s o que ressalta o impacto do barramento sobre o corpo hiacutedrico Aleacutem do
comprometimento dos processos de erosatildeo transporte e sedimentaccedilatildeo (COELHO 2008
e CUNHA 2001)
Diante desta perda de carga liacutequida nos barramentos Cunha (2001 p 241) observa ainda
que as aacutereas a jusante de reservatoacuterios
[hellip] onde o regime do rio sofre significativas modificaccedilotildees devidas ao controle das descargas liquidas e de sedimentos no reservatoacuterio As mudanccedilas ocorridas no regime das aacuteguas neste setor do rio acarretam significativos efeitos nos processos do canal tais como o entalhe do leito a erosatildeo das margens e a deposiccedilatildeo a jusante atingindo longas distacircncias
Aleacutem disso no periacutemetro urbano de Colatina o Rio Doce sofreu outras intervenccedilotildees em
seu canal principal como a implantaccedilatildeo de obras estruturais de macrodrenagem a
exemplo da construccedilatildeo da Av Beira-Rio com intuito de conter o avanccedilo das aacuteguas fluviais
em periacuteodos de cheias
25
Graacutefico 1
Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais (Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia)
Fonte adaptado de Coelho (2007 p154)
26
Como exemplo dos tipos de intervenccedilotildees humanas nas aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial
leitos Carneiro e Miguez (2011 p117) destacam
As accedilotildees de controle e cheias urbanas podem ser classificadas em estruturais quando a paisagem eacute alterada pela accedilatildeo do homem e em natildeo estruturais aqui denominada como estruturante quando o homem aprende a conviver com as enchentes No primeiro caso estatildeo as medidas de controle atraveacutes de obras hidraacuteulicas tais como barragens diques e canais entre outras No segundo caso encontram-se medidas do tipo preventivo tais como zoneamento de aacutereas de inundaccedilatildeo sistemas de alerta educaccedilatildeo ambiental lei de parcelamento e uso dos solos e seguros contra inundaccedilatildeo
Neste cenaacuterio abarcamos os impactos das obras de engenharia como a canalizaccedilatildeo que
altera a fisionomia e fisiografia do rio refletindo-se nos processos geomorfoloacutegicos do canal
e sua planiacutecie de inundaccedilatildeo Para estes a canalizaccedilatildeo eacute uma obra estrutural que aumenta
a capacidade do fluxo do canal aleacutem de intensificar a velocidade do escoamento
superficial antecipando o pico de cheia e transferindo os alagamentos para locais a jusante
na bacia hidrograacutefica
Articulado a esta ideia Cunha (2012b) reflete a desnaturalizaccedilatildeo dos rios por meio de
obras de retificaccedilatildeo com a reduccedilatildeo do comprimento do canal e eliminaccedilatildeo das
sinuosidades Satildeo obras que afetam a estabilidade do corpo hiacutedrico na medida em que
interferem na relaccedilatildeo entre erosatildeo sedimentaccedilatildeo e deposiccedilatildeo provocando efeitos como
alteraccedilatildeo na morfologia do canal Sendo assim ldquo[hellip] a diminuiccedilatildeo da rugosidade no fundo
do canal em conjunto com a perda dos meandros e a aceleraccedilatildeo das velocidades eacute a
principal responsaacutevel pelas mudanccedilas no balanccedilo da energia natural dos sedimentos
fluviais [hellip]rdquo Cunha (2012b p178) No caso do Rio Doce trecho correspondente agrave Av
Beira-Rio alterou-se a sua forma retilinizando-a e sua vegetaccedilatildeo natural foi substituiacuteda
por estruturas de pedras o que compromete a resistecircncia ao fluxo as margens e aos
bancos arenosos
Embora as obras de canalizaccedilatildeo sejam implantadas como eficazes nos canais fluviais para
questotildees de enchentes urbanas para Cunha (op cit) estas necessitam de manutenccedilatildeo
constante envolvendo desde dragagem remoccedilatildeo de obstruccedilotildees a recomposiccedilatildeo do
material utilizado Poreacutem toda a manutenccedilatildeo estaacute associada a alteraccedilotildees morfoloacutegicas e
bioloacutegicas como as que interferem nas soleiras e depressotildees do fundo dos leitos
desestabilizando a vazatildeo no curso a exemplo da
27
ldquo[hellip] eliminaccedilatildeo da sequecircncia de depressotildees e soleiras o aumento da velocidade da corrente a diminuiccedilatildeo da diversidade de habitats o ambiente instaacutevel resultante da flutuaccedilatildeo dos niacuteveis da aacutegua e do substrato moacutevel e a maior flutuaccedilatildeo da temperatura das aacuteguasrdquo (CUNHA 2012b p180)
Ao mesmo tempo o aumento da velocidade dos escoamentos no trecho retificado
possibilita maior erosatildeo transferindo para as aacutereas a jusante uma carga soacutelida
representativa que para Cunha (op cit) configura a formaccedilatildeo de bancos axiais e depoacutesitos
de sedimentaccedilatildeo marginais alterando o equiliacutebrio dos sedimentos a jusante Pois
A jusante das obras de retificaccedilatildeo verificam-se o aumentam da carga soacutelida o assoreamento durante a dragagem a erosatildeo no canal pelos eventos torrenciais do regime e a modificaccedilatildeo na dinacircmica na foz Os sedimentos resultantes da erosatildeo no canal retificado em conjunto com a excessiva carga de sedimentos posta em suspensatildeo durante a dragagem e na fase imediata de poacutes-construccedilatildeo - quando a erosatildeo dos bancos de areia sem vegetaccedilatildeo estaacute em seu niacutevel maacuteximo - originam a formaccedilatildeo de depoacutesitos fluviais de curta duraccedilatildeo a jusante do canal retificado Logo a seguir esses depoacutesitos satildeo erodidos juntamente com as margens e o fundo do leito pelos eventos torrenciais do regime vindo a formar bancos axiais e depoacutesitos de sedimentaccedilatildeo marginais (CUNHA2012b p183)
Portanto o estudo da geomorfologia fluvial contribui diretamente para o entendimento das
cheias nas planiacutecies de inundaccedilatildeo em especial nas bacias hidrograacuteficas que
compreendem a aacuterea urbana e que possuem intervenccedilotildees antroacutepicas diretas na fisiografia
do canal principal Seus processos explicam como as alteraccedilotildees no canal fluvial podem
maximizar os efeitos dos transbordamentos impactando principalmente as populaccedilotildees
ribeirinhas aleacutem de todo ecossistema local Ademais estes fundamentos geomorfoloacutegicos
devem ser associados agrave legislaccedilatildeo vigente afim de subsidiar a elaboraccedilatildeo de instrumentos
legais para atuaccedilatildeo do poder puacuteblico nestas zonas de risco
22 Aspectos Juriacutedicos
Frente agrave crescente demanda sobre os recursos hiacutedricos e solo urbano a partir da deacutecada
de 1930 surgem as primeiras diretrizes que visam regulamentar estes ambientes a
exemplo do Coacutedigo das Aacuteguas Mas soacute a partir dos anos 1960 surgem em acircmbito federal
leis como o Coacutedigo Florestal com o intuito de regular a exploraccedilatildeo das vegetaccedilotildees e
consequentemente proteger os mananciais e em 1979 com o objetivo de ordenar as
28
cidades eacute aprovada a Lei 676679 estabelecendo as normas do parcelamento do solo
urbano
Na medida em que as populaccedilotildees aumentam ampliam-se tambeacutem as pressotildees sobre os
recursos de aacutegua e solo Os processos de uso e a conscientizaccedilatildeo de que estes elementos
satildeo finitos intensificam as formas de controle e preservaccedilatildeo passando para as esferas
estaduais e municipais a responsabilidade de atuar em escala local na proteccedilatildeo desses
ambientes
Ainda em escala federal em 2012 eacute promulgado o Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012
em substituiccedilatildeo ao coacutedigo anterior Lei 47711965 que apresenta as normas de
apropriaccedilatildeo dos recursos naturais pelas novas necessidades das populaccedilotildees citadinas e
rurais No que compete agrave aacuterea de estudo cabe destacar as ocupaccedilotildees em aacutereas de
planiacutecie de inundaccedilatildeo em que de acordo com art 4ordm devem ser preservadas
I - as faixas marginais de qualquer curso drsquoaacutegua natural perene e intermitente excluiacutedos os efecircmeros desde a borda da calha do leito regular em largura miacutenima de (Incluiacutedo pela Lei nordm 12727 de 2012) a) 30 (trinta) metros para os cursos drsquoaacutegua de menos de 10 (dez) metros de largura b) 50 (cinquenta) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura c) 100 (cem) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura d) 200 (duzentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura e) 500 (quinhentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros []
A legislaccedilatildeo eacute riacutegida no que concerne agrave ocupaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo das terras nas faixas
marginais dos rios transferindo aos estados e municiacutepios a responsabilidade de fiscalizar
estes territoacuterios para garantir a efetividade da lei A questatildeo eacute que muitas vezes somada a
falta de planejamento estas fiscalizaccedilotildees satildeo ineficientes o que tem possibilitado o
surgimento cada vez maior das ocupaccedilotildees irregulares
Apoiado tambeacutem pela Constituiccedilatildeo Federal de 1988 nos artigos 182 e 183 surge o
Estatuto das Cidades Lei 102572001 com finalidade de garantir a funccedilatildeo social da
cidade e com este os primeiros Planos Diretores Municipais (PDM) que buscam o
ordenamento do crescimento das cidades em caraacuteter socioeconocircmico e ambiental cidades
sustentaacuteveis Ademais em Colatina eacute instituiacuteda a Lei 42281996 posteriormente revogada
29
pela Lei 52732007 que ldquoInstitui o Plano Diretor do Municiacutepio de Colatina estabelece os
objetivos instrumentos e diretrizes e daacute outras providecircncias para as accedilotildees de
planejamento do Municiacutepio de Colatina []rdquo
O PDM de Colatina assim como Coacutedigo Florestal prevecirc a preservaccedilatildeo dos ecossistemas
beira-rio Aquele ainda dispotildee sobre o parcelamento do solo sustentaacutevel a funccedilatildeo social
da cidade e da propriedade conforme o Plano Diretor de Colatina de 2007 nos artigos
transcritos
Artigo 22 - As diretrizes ambientais no Municiacutepio de Colatina satildeo I - aplicar os instrumentos de gestatildeo ambiental estabelecidos nas legislaccedilotildees federal estadual e municipal bem como a criaccedilatildeo de outros instrumentos adequando-os agraves metas estabelecidas pelas poliacuteticas ambientais II - compatibilizar as diretrizes de uso ocupaccedilatildeo e parcelamento do solo aos objetivos de proteccedilatildeo ambiental dos ecossistemas [] Artigo 23 - Satildeo diretrizes do sistema de drenagem urbana I - disciplinar a ocupaccedilatildeo das cabeceiras e vaacuterzeas das bacias hidrograacuteficas do Municiacutepio preservando a vegetaccedilatildeo existente e visando agrave sua recuperaccedilatildeo [] III - definir mecanismos de fomento para usos do solo compatiacuteveis com aacutereas de interesse para drenagem tais como parques lineares aacuterea de recreaccedilatildeo e lazer hortas comunitaacuterias e manutenccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa [] V - implantar medidas natildeo-estruturais [sic] de prevenccedilatildeo de inundaccedilotildees tais como controle de erosatildeo especialmente em movimentos de terra controle de transporte e deposiccedilatildeo de entulho e lixo combate ao desmatamento assentamentos clandestinos e a outros tipos de invasotildees nas aacutereas com interesse para drenagem [] VII - garantir e respeitar a necessaacuteria permeabilidade do solo inclusive buscando alternativas de pavimentaccedilatildeo com maior de permeabilidade [sic] [] Artigo 84 ndash Satildeo objetivos do ordenamento territorial do Municiacutepio de Colatina [] IV ndash conter a expansatildeo da ocupaccedilatildeo urbana em aacutereas de proteccedilatildeo ambiental [] Artigo 120 ndash Ficam desde jaacute identificadas como Zonas de Proteccedilatildeo Ambiental 2 ndash ZPA 2 as seguintes aacutereas [] III ndash as aacutereas existentes ao longo de qualquer curso drsquoagua desde o niacutevel mais alto em faixa marginal cuja largura miacutenima seraacute de a) 15m (trinta metros) [sic] para os cursos drsquoagua com menos de 10m (10
metros) de largura contidos no periacutemetro urbano [] c) 30m (trinta metros) para os cursos drsquoagua que tenham de10m (dez
metros a 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano
[]
30
e) 50m (cinquenta metros) para os cursos drsquoagua que tenham mais de 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 60422013)
[]
De modo geral verifica-se que a legislaccedilatildeo apresenta instrumentos que permitem a
prevenccedilatildeo ou controle de ocupaccedilotildees irregulares ou clandestinas em aacuterea de APP aleacutem de
propostas para resguardar de grandes impactos ambientais o corpo hiacutedrico principal do
municiacutepio o Rio Doce Possibilitando assim a minimizaccedilatildeo dos impactos causados pelas
cheias agrave populaccedilatildeo local
Poreacutem cabe destacar que o Plano Diretor Municipal de Colatina natildeo contempla o
estipulado no Coacutedigo Florestal 2012 Lei Federal onde os cursos drsquoaacutegua com largura
superior a 600(seiscentos) metros devem ser resguardados com aacutereas de preservaccedilatildeo
permanente de 500(quinhentos) metros entre outros sendo que a redaccedilatildeo desta parte do
PDM eacute dada pela lei 60422013 posterior a publicaccedilatildeo do novo Coacutedigo Florestal Sendo
assim verifica-se que apesar da intenccedilatildeo de resguardar uma faixa de no maacuteximo
50(cinquenta) metros em periacutemetro urbano para a contenccedilatildeo de cheias e mata ciliar o
PDM de Colatina natildeo atende o miacutenimo previsto em Lei Federal O que tem impactado todo
ecossistema beira rio e a populaccedilatildeo ribeirinha uma vez que a faixa marginal de proteccedilatildeo
de 50(cinquenta) metros em muitos casos natildeo tem comportado o impacto dos defluacutevios
No entanto a legislaccedilatildeo trata de aspectos gerais natildeo pontuando as aacutereas responsaacuteveis
por cada accedilatildeo aleacutem de sua aplicabilidade depender da elaboraccedilatildeo de um cronograma de
execuccedilatildeo bem como um conjunto de planos e normas especiacuteficos para cada diretriz com
detalhamento das propostas de intervenccedilatildeo Isto natildeo ocorreu ateacute o presente
Aleacutem disso a cidade de Colatina surgiu num cenaacuterio histoacuterico anterior agraves legislaccedilotildees
urbaniacutesticas e ambientais inclusive do Coacutedigo das Aacuteguas o que dificulta a execuccedilatildeo de
um planejamento que concilie a preservaccedilatildeo das matas beira-rio garantindo a faixa de
APP com a ocupaccedilatildeo urbana consolidada
A aacuterea de estudo se apresenta como ambiente fragilizado apesar de ser regida por
legislaccedilotildees desde a escala federal ateacute a municipal que visam proteger e ordenar o uso e
cobertura da terra nas faixas marginais dos rios Mas a dificuldade das prefeituras em
aplicar os instrumentos legais nestes ambientes seja por interesses privados ou falta de
recursos para investimentos em soluccedilotildees a longo prazo continua expondo as populaccedilotildees
31
aos impactos dos eventos hidroloacutegicos criacuteticos como os que resultam nas inundaccedilotildees
Para que se alcance esse parcelamento do solo sustentaacutevel satildeo necessaacuterios esforccedilos da
gestatildeo municipal em estipular prazos e metas de atuaccedilatildeo afora interagir os diferentes
setores no planejamento em niacutevel de bacia hidrograacutefica considerando as peculiaridades
desta escala de trabalho
23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos
Sendo a ciecircncia que estuda a relaccedilatildeo homemnatureza a Geografia tem muito a contribuir
nas anaacutelises que envolvem o meio ambiente que foi transformado pela dinacircmica da
sociedade Mas historicamente a dialeacutetica das correntes fiacutesica e humana tem imperado de
modo dissociado levando o geoacutegrafo a estudar estes processos separadamente Poreacutem
se o resultado pretendido eacute integrado fazem-se necessaacuterias pesquisas mais amplas que
cruzem as diferentes vertentes geograacuteficas
Considerando que a problemaacutetica dos impactos ambientais urbanos envolve a questatildeo
natural o rio e a questatildeo social e poliacutetica a sociedade e as leis (COELHO 2013) uma
pesquisa neste acircmbito requer o entendimento destes dois objetos a fim de se apreender
o processo de crescimento das cidades brasileiras e a sua relaccedilatildeo com os recursos
hiacutedricos
A partir da deacutecada de 1950 devido ao ecircxodo rural mais intenso as cidades brasileiras
incharam rapidamente com a migraccedilatildeo do camponecircs que buscava melhores condiccedilotildees de
vida como trabalho na induacutestria o acesso agraves escolas saneamento entre outros E
segundo Gorski (2010) a populaccedilatildeo brasileira passou desde o iniacutecio deste processo de 19
milhotildees de habitantes em 1950 para 138 milhotildees de habitantes em 2000 (dados do IBGE)
o que corrobora o raacutepido crescimento das cidades
Todavia as estruturas puacuteblicas natildeo estavam preparadas para um acreacutescimo populacional
tatildeo significativo e em curto espaccedilo de tempo E o que observamos eacute o acesso limitado
dessa populaccedilatildeo agraves aacutereas centrais da cidade sendo induzida a se estabelecer nas
periferias Nesta visatildeo
O difiacutecil acesso da populaccedilatildeo de baixa renda agraves aacutereas mais centrais das cidades contribuiu segundo Raquel Rolnik para a expansatildeo da periferia o que muitas vezes implicou e implica ainda invasatildeo de aacutereas de proteccedilatildeo de mananciais com a aquiescecircncia do poder puacuteblico Esta
32
dinacircmica agravou a situaccedilatildeo de risco dos mananciais pela eliminaccedilatildeo das matas ciliares e consequentemente erosatildeo das margens dos cursos drsquoaacutegua e assoreamento de suas calhas e pela contribuiccedilatildeo do esgoto in natura (ROLNIK1997 apud GORSKI 2010 p62)
Sendo assim a supressatildeo das matas ciliares e das vegetaccedilotildees das encostas para fins de
ocupaccedilatildeo urbana interfere diretamente no ciclo hidroloacutegico diminuindo a absorccedilatildeo de
aacutegua pelo subsolo e pela evapotranspiraccedilatildeo favorecendo o escoamento superficial (Figura
6) que intensifica a velocidade de drenagem das aacuteguas Este processo nas encostas eacute
mais significativo se considerarmos que com a supressatildeo da cobertura vegetal e
impermeabilizaccedilatildeo do solo as precipitaccedilotildees acabam por lavar todo o material
intemperizado sedimentos carregando-o diretamente para o corpo hiacutedrico e contribuindo
para o assoreamento
Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento Fonte Gorski (2010 p64)
Por outro lado as ocupaccedilotildees ribeirinhas nas vaacuterzeas dos rios modificam a dinacircmica fluvial
frente aos defluacutevios A compactaccedilatildeo e o nivelamento do solo associados agrave
impermeabilizaccedilatildeo por concreto asfalto e outros materiais alteram todo o sistema de
drenagem natural e contribuem para a erosatildeo fluvial Aleacutem disso a gestatildeo puacuteblica que
33
deveria investir num parcelamento do solo sustentaacutevel resguardando ldquouma alocaccedilatildeo de
espaccedilosrdquo (CANHOLI 2005 p 15) para a drenagem acaba por colaborar com as enchentes
urbanas na medida em que decide por obras estruturais como a canalizaccedilatildeo (Figura 7
p30) e a microdrenagem que transferem os impactos das inundaccedilotildees a jusante
Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia Fonte Gorski (2010 p69)
Cabe destacar que desde 1965 com o primeiro Coacutedigo Florestal as matas beira-rio jaacute
eram resguardadas da degradaccedilatildeo humana poreacutem com todo o boom urbano a partir de
1950 a falta de estrutura e ingerecircncia municipal no que se refere ao parcelamento e uso
e ocupaccedilatildeo da terra urbana possibilitou a formaccedilatildeo dos assentamentos clandestinos em
APP e na encosta de morros Em condiccedilotildees precaacuterias sem saneamento baacutesico e demais
infraestruturas urbanas estes assentamentos acabam sendo as regiotildees mais afetadas
com as inundaccedilotildees
Junto agraves questotildees jaacute levantadas vale destacar que as aacuteguas das inundaccedilotildees propiciam o
aumento das doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica (febre tifoide hepatite leptospirose
esquistossomose entre outras) pois carregam segundo Gorski (2010) toda uma poluiccedilatildeo
difusa efluentes domeacutesticos industriais e agroindustriais aleacutem do lixo urbano da poluiccedilatildeo
do ar e das ruas
34
Por outro lado esta ocupaccedilatildeo urbana natildeo planejada perde o benefiacutecio que os corpos
hiacutedricos podem oferecer como [] as paisagens fluviais que aos poucos foram sendo
apropriadas como paisagens urbanas [] (GORSKI 2010 38) aleacutem do microclima
associado agrave umidade pela evapotranspiraccedilatildeo que ameniza a sensaccedilatildeo teacutermica local
Poreacutem conforme observado por Graeff (2011) natildeo eacute cabiacutevel atualmente implantar a
legislaccedilatildeo de APP de modo jurista Deve-se considerar toda a representatividade cultural
assentada sobre os leitos destes rios (avenidas importantes casas com arquitetura
histoacuterica entre outros) Aleacutem disso para a demarcaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo
permanente hoje eacute necessaacuteria uma anaacutelise teacutecnica pautada na geomorfologia e
hidrologia de modo a interpretar o ldquocomportamento histoacuterico dos cursos drsquoaacutegua na
paisagem prevendo cenaacuterios de impactos futurosrdquo da atividade humana sobre suas faixas
marginais
Tendo em vista que grande parte da malha urbana brasileira estaacute alocada em APPs e que
segundo Graeff (2011) estas jaacute possuem uma unidade de paisagem estabelecida e muitas
vezes secular configurando siacutetios de importacircncia cultural e apreendendo que
De modo semelhante nas demais cidades haveraacute que ser entendido o meio urbano como ele realmente eacute ndash um encontro entre as necessidades de habitaccedilatildeo com atividades humanas e de conservaccedilatildeo ambiental esta segunda tambeacutem a serviccedilo do homem e natildeo somente de objetivos difusos e distanciados da sobrevivecircncia da sociedade (GRAEFF 2011 206)
Por tais motivos o trabalho com a geomorfologia fluvial urbana deve abarcar os princiacutepios
do bom senso compreendendo que nestas aacutereas de atividade antroacutepica consolidada pode-
se fazer uso de instrumentos de engenharia avanccedilados para uma convivecircncia equilibrada
do homem com a natureza no entorno Contudo deve-se incentivar as aacutereas de expansatildeo
urbana ou zona periurbana (zonas de transiccedilatildeo da aacuterea urbana para a rural) com poliacuteticas
de incentivo a pavimentaccedilotildees mais permeaacuteveis a fim de minimizar o escoamento
superficial para o rio favorecendo a infiltraccedilatildeo
Apesar de os impactos gerados pela interferecircncia humana nas aacutereas mais fragilizadas da
bacia hidrograacutefica vaacuterzeas e encostas refletirem-se em cataacutestrofes com prejuiacutezos
humanos ambientais e urbanos alguns autores brasileiros como Canholi Graeff Cunha
Carneiro e Miguez jaacute indicaram outros caminhos para uma convivecircncia harmoniosa com
a natureza Aleacutem do mais paiacuteses desenvolvidos como a Holanda deixaram de ldquolutar contra
35
as cheiasrdquo para permitir agraves aacuteguas das enchentes a capacidade de acumular e dispersar
com impacto reduzido para as populaccedilotildees (CARNEIRO MIGUEZ 2011)
Sendo assim a proposta deste estudo eacute identificar os principais agentes que influenciam
as inundaccedilotildees entendendo seu papel e atuaccedilatildeo no contexto urbano de Colatina Mas eacute
tambeacutem a de ampliar a abordagem da temaacutetica com uma anaacutelise geograacutefica integrada
ressaltando as medidas que constam no planejamento urbano e sua aplicaccedilatildeo nas faixas
marginais do corpo hiacutedrico
36
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS
Esta pesquisa eacute constituiacuteda de trecircs etapas principais sendo que a primeira teve como
premissa a confecccedilatildeo de um fluxograma (Figura 8) de trabalho para orientar a pesquisa
em seguida teve iniacutecio o levantamento de bibliografias que abordam temas como a
geomorfologia fluvial e urbanizaccedilatildeo em Colatina adotando-se como referecircncia as
pesquisas de Coelho (2006 2007 2008 e 2009) e Albani (2012) Aleacutem disso muito
contribuiacuteram para este trabalho o relatoacuterio do INCAPER da CPRM e os dados do IBGE
Cabe destacar tambeacutem as experiecircncias com recursos hiacutedricos em ambientes urbanos de
Carneiro e Miguez (2011) em especial Cunha (2001 2012ab)
Esta etapa consistiu tambeacutem na busca de material cartograacutefico como aquisiccedilatildeo de planos
de informaccedilatildeo de limite estadual municipal bairros mancha urbana corpo drsquoaacutegua e
logradouros atraveacutes de dados disponiacuteveis no Sistema Integrado de Bases Geoespaciais
do Estado do Espiacuterito Santo (GEOBASES 2014) no Instituto Jones dos Santos Neves
(IJSN 2015) e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2014) imagens
orbitais gratuitas do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI bandas 2-3-4 e 8 (Pan) oacuterbita 216
ponto 73 com datas de passagem em 02012014 e 22032014 agraves 946 (horaacuterio central
da oacuterbita) junto ao Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2014) aleacutem do ortofotomosaico
do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hiacutedricos (IEMA 2014) do Espiacuterito
Santo referente ao voo de 2007 a 2008
Na segunda etapa foram realizadas duas investigaccedilotildees de campo sendo a primeira no
dia 24 de junho de 2014 com a finalidade de fazer o reconhecimento da aacuterea de estudo
fotografar e conversar com moradores e teacutecnicos da prefeitura O segundo trabalho de
campo ocorreu no dia 14 de fevereiro de 2015 e por meio deste foi possiacutevel identificar
pontos sujeitos a inundaccedilatildeo analisar a topografia e realizar as entrevistas com moradores
e funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina
37
Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC)
38
Na terceira etapa foram realizados os mapeamentos e processamentos de todos os planos
de informaccedilatildeo vetoriais e matriciais em ambiente de SIG no sistema ArcGis 103 iniciando
com a ediccedilatildeo dos dados do Municiacutepio e adjacecircncias que foram ajustados quando
necessaacuterio ao sistema de projeccedilatildeo UTM no Datum SIRGAS ndash 2000 na Zona 24 sul com
meridiano central -39 W com todo o mapeamento produzido seguindo a padronizaccedilatildeo
cartograacutefica proposta por Fitz (2008 a b)
O geoprocessamento teve iniacutecio com a composiccedilatildeo das imagens orbitais do Landsat-8 na
cor natural da imagem (2R 3G 4B) e por meio da teacutecnica de Pan Sharpening ou fusatildeo
de imagens a imagem cor natural foi agrupada agrave da banda 8 pancromaacutetica para obtenccedilatildeo
de uma melhor resoluccedilatildeo espacial neste caso chegando a 15 metros sendo resguardado
o conteuacutedo da imagem composta Na sequecircncia foi realizada a extraccedilatildeo da maacutescara do
periacutemetro urbano de Colatina e gerada a classificaccedilatildeo supervisionada da imagem Landsat-
8 no periacuteodo de cheia (janeiro) e vazante (marccedilo) o que possibilitou a delimitaccedilatildeo da calha
do Doce nestes dois eventos
Em seguida foram realizadas as 8 (oito) mediccedilotildees do leito regular sendo 4 (quatro) no
periacuteodo de cheia e 4 (quatro) na vazante de modo a definir a largura meacutedia da calha do
leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina Para chegar a uma medida geral
da largura do rio utilizaram-se ferramentas estatiacutesticas como a meacutedia que eacute uma medida
de tendecircncia central onde numa amostra de tamanho N constituiacuteda por elementos de x
variando de eacute possiacutevel extrair a meacutedia aritmeacutetica atraveacutes da equaccedilatildeo
A meacutedia aponta para onde mais convergem os dados de uma distribuiccedilatildeo
A partir desta definiccedilatildeo da meacutedia da largura da calha do Rio Doce foi possiacutevel em consulta
ao Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e a Lei 52732007 determinar a faixa miacutenima
de preservaccedilatildeo permanente deste corpo fluvial aleacutem da confecccedilatildeo do mapa com o
poliacutegono de APP
Mediante a anaacutelise do mapa verificou-se que grande parte dos bairros do municiacutepio estatildeo
contidos nos poliacutegonos de APP em especial a preservaccedilatildeo de 500 metros conforme lei
federal E por meio deste foram cruzados os dados de vazatildeo as fotos histoacutericas das
enchentes e o poliacutegono de mata ciliar o que permitiu o entendimento das inundaccedilotildees
39
Em ambiente de SIG tambeacutem foram vetorizados os trecircs traccedilados da Estrada de Ferro
Vitoacuteria a Minas o trajeto do Rio Santa Maria do Doce antes e depois da retilinizaccedilatildeo e os
sucessivos aterros na margem direita do Rio Doce no periacutemetro que compreende a Av
Beira-Rio
As teacutecnicas de sensoriamento remoto como a classificaccedilatildeo supervisionada permitiram a
definiccedilatildeo do poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo atraveacutes da imagem da cheia de janeiro Para
tanto foi realizada tambeacutem a classificaccedilatildeo hiacutebrida objetivando aliar a interpretaccedilatildeo visual
com a digital (JENSEN 2009) Por fim foi realizada amarraccedilatildeo com o levantamento
geodeacutesico da CPRM (2014) para garantir a precisatildeo do traccedilado do poliacutegono de cheia
A partir do tratamento dos dados bibliograacuteficos cartograacuteficos e imagens foi possiacutevel
sistematizar este trabalho o que permitiu identificar elementos histoacutericos de intervenccedilatildeo
na paisagem do Doce como os aterros e a ocupaccedilatildeo urbana As visitas de campo a
entrevista e conversas com moradores foram fundamentais para a validaccedilatildeo das
informaccedilotildees o que tornou esta metodologia eficaz para anaacutelise do fenocircmeno da inundaccedilatildeo
em Colatina
40
4 RESULTADOS
41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana
A ocupaccedilatildeo ao longo das planiacutecies de inundaccedilatildeo dos rios tem ocorrido diante da
necessidade deste recurso para as atividades vitais humanas Cunha (2012b p219)
entende que ldquosuas margens tecircm sido o centro preferido da habitaccedilatildeo humana e o
suprimento de suas aacuteguas natildeo soacute fertiliza os campos para o cultivo como tambeacutem fornece
energia e permite recreaccedilatildeordquo Logo o estabelecimento das vilas nas bordas dos cursos
drsquoaacutegua favorece a logiacutestica ocupacional
Historicamente em solo espiacuterito-santense a formaccedilatildeo das vilas ocorreu agraves margens de
estrateacutegicos cursos drsquoaacutegua e a exploraccedilatildeo do ouro de Minas Gerais para Albani (2012)
determinou que a Coroa proibisse nos seacuteculos XVII a XIX a implantaccedilatildeo de estradas e
exploraccedilatildeo de terras na Capitania do Espiacuterito Santo pois os portugueses temiam incursotildees
estrangeiras deixando assim o desenvolvimento capixaba restrito agrave faixa litoracircnea
Relegada enquanto ldquobarreira verderdquo para defesa das minas de ouro e minerais do atual
territoacuterio das Minas Gerais segundo Coelho (2007) a Capitania do Espiacuterito Santo soacute
passou a se interiorizar para o centro-oeste onde se localiza atualmente a cidade de
Colatina a partir de 1847 por meio das ocupaccedilotildees de Santa Izabel e Santa Leopoldina
que permitiram a descida do Rio Santa Maria do Doce ateacute as imediaccedilotildees da atual cidade
de Colatina
Assim foi que o movimento colonizador desceu o vale do Santa Maria do Rio Doce atingindo em 1891 a regiatildeo das matas onde hoje se acha a cidade de Colatina [] Esta penetraccedilatildeo inicial foi feita com elementos alematildees de Santa Leopoldina e no rio Doce ficou muito anos restrita agrave aacuterea inicial A expansatildeo ao longo do vale tomou impulso com a chegada a Colatina em 1906 dos trilhos da Estrada de Ferro Diamantina (atual Vitoacuteria-Minas) (STRAUCH1955 apud COELHO 2007 p105)
Sendo assim Coelho (op cit) relata que a ocupaccedilatildeo se deu atraveacutes da supressatildeo da mata
nativa no baixo curso do Rio Doce de Colatina a Linhares sendo a madeira daiacute extraiacuteda
levada ateacute o rio e encaminhada ateacute Povoaccedilatildeo vilarejo junto agrave foz de onde eram carregados
os navios Neste periacuteodo tem-se a instalaccedilatildeo de um ciclo madeireiro na regiatildeo com a
disposiccedilatildeo de serrarias nas proximidades das matas
41
Todavia somente a partir de 1906 com a chegada da estrada de ferro na regiatildeo o
transporte madeireiro foi transferido para as locomotivas Agrave medida que a implantaccedilatildeo da
Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas avanccedilava para o interior levava consigo as frentes de
desmatamento modificando as paisagens das margens do Rio Doce e se apropriando dos
espaccedilos deste rio (Figura 9)
Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906 Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce Fonte Albani (2012 p 63)
Conforme Albani (2012) com a vinda dos mineiros e fluminenses reforccedilados
posteriormente a partir de 1889 por colonizadores italianos e alematildees eacute que as
ocupaccedilotildees territoriais ocorreram de modo efetivo Atraveacutes do Barracatildeo do Rio Santa Maria
(Figura 10) espaccedilo do governo inicialmente destinado a alojar os migrantes e a produccedilatildeo
surgiram as primeiras residecircncias nas proximidades da igreja de Satildeo Sebastiatildeo Sendo
assim
Eacute importante destacar que o desenvolvimento da regiatildeo onde se encontra o municiacutepio de Colatina teve iniacutecio no final do seacuteculo XIX no nuacutecleo de colonizaccedilatildeo Antocircnio Prado localizado no distrito de Boapaba antiga vila do Mutum O nuacutecleo recebeu dezenas de famiacutelias de imigrantes italianos e ali desenvolveram atividades de agricultura e com a expansatildeo da localidade surge tambeacutem o comeacutercio (ALBANI 2012 p61) [hellip] A vila de Colatina entretanto logo passou a se transformar no principal nuacutecleo e futuramente na sede do municiacutepio Aleacutem da facilidade da produccedilatildeo atraveacutes do Rio Doce a vila de Colatina tornou-se referecircncia dos imigrantes no caminho para a colonizaccedilatildeo das terras ao norte do estado (MADURO1985 apud ALBANI 2012 p62)
42
Desse modo com o desenvolvimento das atividades de cafeicultura madeireira e do
entroncamento logiacutestico de acesso agraves aacutereas do norte a vila eacute elevada em 1921 agrave categoria
de municiacutepio A atual configuraccedilatildeo territorial foi adquirida a partir de 2001 conforme IBGE
(2014) dispondo de seis distritos Colatina (sede) Acircngelo Frechiami Baunilha Boapaba
Graccedila Aranha e Itapina
Cabe destacar poreacutem que a ocupaccedilatildeo inicial da cidade de Colatina se perfaz pela margem
direita do Rio Doce onde se localiza o atual bairro de Colatina Velha e onde havia se
instalado o Barracatildeo de Santa Maria Nesse periacuteodo a ponte ainda natildeo fora edificada
limitando assim a ocupaccedilatildeo da margem esquerda
Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da regiatildeo Fonte Albani (2012 p62)
Conforme Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p65) a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro
Vitoacuteria a Minas em 1906 (Figura 11) possibilitou a expansatildeo da cidade de Colatina e seu
desenvolvimento econocircmico Todavia sua instalaccedilatildeo paralela agrave margem direita do Rio
Doce favoreceu a localizaccedilatildeo de avenidas e ruas centrais em sua proximidade
43
Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p65)
Entretanto foi com a construccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos (Figura 12) em 1928 que a
margem direita se conectou agrave margem esquerda da cidade o que aleacutem de possibilitar a
ocupaccedilatildeo facilitou o acesso agraves regiotildees mais ao norte do Estado
Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p66)
44
Por conseguinte a estrada de ferro e a ponte foram os fatores determinantes para o
estabelecimento dos migrantes agraves margens do Rio Doce e a formaccedilatildeo do atual municiacutepio
de Colatina Contudo foi a partir desta posiccedilatildeo privilegiada que a cidade passou a ser
entreposto comercial e logiacutestico da regiatildeo noroeste e com isso sua aacuterea urbana expandiu-
se de modo desordenado inicialmente ao longo da planiacutecie de inundaccedilatildeo do Doce Coelho
(2007 p108 e 109) relata que
Os efeitos dessa urbanizaccedilatildeo (novos parcelamentos) e do desmatamento produz [sic] normalmente o aumento da velocidade das aacuteguas superficiais (pluviais) que eram antes interceptadas pelas matas com boa parte absorvida pelo solo O que ocorre geralmente nessas aacutereas eacute a chegada mais raacutepida das aacuteguas das chuvas para o tributaacuterios e calha principal do rio por fluxos concentrados que provocam processos de erosotildees do tipo laminar ravina e voccediloroca transportando quantidades expressivas de sedimentos que por sua vez causam assoreamento e a ocorrecircncia de cheias mais frequentes no rio
Com o crescimento acelerado do periacutemetro urbano proporcionado pelo apogeu do ciclo
cafeeiro as proacuteximas deacutecadas levaratildeo a cidade de Colatina a sofrer com impactos
advindos das alteraccedilotildees no ambiente fluvial do Rio Doce em especial os referentes a
ocupaccedilatildeo (impermeabilizaccedilatildeo) e desmatamento das margens (interferecircncia na drenagem
natural) conforme destacado por Coelho (2007)
Eacute fato que o municiacutepio viveu nas deacutecadas de 1940 e 1950 o auge do ciclo cafeeiro
chegando a ser no ranking brasileiro o 13ordm municiacutepio produtor de cafeacute no ano de 1947
(CAMPOS JUNIOR 2004 apud ALBANI 2012 p69) Poreacutem a partir de 1960 este boom
entrou em colapso com crise do cafeacute que assolou todo o paiacutes levando grande parte dos
pequenos proprietaacuterios rurais a migrarem para centros urbanos em especial no Espiacuterito
Santo a regiatildeo da Grande Vitoacuteria e tambeacutem para o centro de Colatina
Em razatildeo da crise cafeeira a populaccedilatildeo rural migra para centros urbanos A populaccedilatildeo migrou em grande quantidade para a Grande Vitoacuteria para fora do estado e tambeacutem para a cidade de Colatina principal aglomerado urbano da regiatildeo Esse processo provoca o aumento da aacuterea urbana de Colatina A populaccedilatildeo da cidade que era de 3913 habitantes em 1940 cresceu para 26757 habitantes em1960 (ALBANI2012 p71)
O crescimento raacutepido do centro de Colatina aliado ao aumento populacional direciona
grande parte dos migrantes para as aacutereas menos centrais da cidade levando agrave ocupaccedilatildeo
de locais irregulares como os morros e as margens direita e esquerda do Rio Doce Este
45
processo configurou a nova paisagem do municiacutepio povoando do vale agraves encostas (Figura
13)
Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes Fonte Albani (2012 p73)
Associado a este processo de reconfiguraccedilatildeo espacial nas proacuteximas deacutecadas o municiacutepio
de Colatina passaraacute por sucessivas perdas de territoacuterios ateacute atingir os limites atuais (Figura
1 p17) Aliado a estas perdas territoriais seu quantitativo absoluto populacional tambeacutem
sofreraacute impactos poreacutem de modo geral a populaccedilatildeo urbana deste municiacutepio apresentou
crescimento continuo (Graacutefico 2)
Graacutefico 2
Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 2010
Elaborado pela autora Fonte 1940 e 1950 Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p82) 1960 a 2010 IBGE
0
20000
40000
60000
80000
100000
120000
1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020
Populaccedilatildeo Urbana Colatina 1940 - 2010
46
Assim como tem ocorrido nas grandes capitais Colatina cresceu em quantitativo
populacional e territorial urbano de modo muito raacutepido e por este desenvolvimento natildeo ter
sido aliado a um planejamento urbano e ambiental sustentaacutevel a cidade tem sentido os
reflexos das suas interferecircncias ao longo do canal do Doce O que tem provocado
antecipaccedilatildeo dos picos de vazatildeo que no periacutemetro urbano ocasiona as inundaccedilotildees pois
natildeo conseguindo o rio acomodar estes defluacutevios transfere em curto espaccedilo de tempo as
aacuteguas a sua planiacutecie de inundaccedilatildeo atingindo os bairros mais antigos do municiacutepio
Por fim entender o contexto histoacuterico do crescimento da cidade revela muito do panorama
atual E por meio de uma anaacutelise conjunta da histoacuteria com os novos planejamentos eacute
possiacutevel propor intervenccedilotildees urbanas que possibilitem um conviacutevio harmonioso entre
natureza e sociedade neste caso entre o Rio Doce e o centro de Colatina Diante desta
proposta adiante apresentaremos a evoluccedilatildeo dos bairros associando seus periacuteodos de
ocupaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo espacial nas imediaccedilotildees do curso principal do Doce
411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade
Com nuacutecleo inicial de povoamento no Barracatildeo de Santa Maria a cidade de Colatina
cresce a partir deste ponto agrave margem direita do Rio Doce de onde surgem as primeiras
residecircncias comeacutercios e a igreja Atualmente a regiatildeo compreende o bairro de Colatina
Velha que de acordo com Albani (2012 p91) [hellip] ldquopode ser considerado o primeiro polo
de crescimento da cidaderdquo
Aliado ao aumento da populaccedilatildeo migrante das fazendas com a crise do cafeacute o nuacutecleo de
Colatina Velha passa a ser um ponto de passagem obrigatoacuterio para os viajantes que
vinham majoritariamente do sul uma vez que o Rio Doce configurava uma barreira natural
agrave ocupaccedilatildeo das terras ao norte Aleacutem disso a margem esquerda deste canal fluvial era
habitat dos hostis iacutendios botocudos o que dificultava a sua apropriaccedilatildeo
Sendo assim a ocupaccedilatildeo de Colatina conteve-se agrave margem direita nesta primeira fase o
que define o primeiro vetor de crescimento da cidade na direccedilatildeo leste para oeste partindo
das imediaccedilotildees do Barracatildeo de Santa Maria sentido ao Rio Santa Maria do Doce (Figura
14) E a partir de 1906 com a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas da entatildeo
Companhia Vale do Rio Doce atual Vale este vetor de crescimento se consolida e
47
proporciona o surgimento de importantes avenidas paralelas agrave ferrovia a exemplo da Av
Getuacutelio Vargas
Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de crescimento Elaborado pela autora
48
O segundo vetor do crescimento de Colatina estava condicionado agrave construccedilatildeo da ponte
Florentino Aacutevidos a qual conectou a margem direita agrave esquerda do Rio Doce permitindo
a ocupaccedilatildeo da porccedilatildeo ao norte Portanto somente a partir de 1928 com a finalizaccedilatildeo da
obra da ponte a barreira natural pocircde ser transposta o que possibilitou ao lado esquerdo
desenvolver uma nova linha de crescimento urbano com a ocupaccedilatildeo do atual bairro de
Satildeo Silvano
O terceiro vetor de crescimento estaacute associado agrave implantaccedilatildeo do bairro Luiz Iglesias na
margem direita e os de Maria das Graccedilas e Coluacutembia na margem esquerda Albani (2012)
ressalta que esta fase da ocupaccedilatildeo urbana estaacute associada ao desenvolvimento do sistema
viaacuterio como a proximidade da BR-259 sentido Vitoacuteria- Colatina da ES-80 que liga
Colatina agrave regiatildeo norte da ES-256 que a conecta a Marilacircndia e da proximidade da
estaccedilatildeo ferroviaacuteria Carlos Germano Nauman (Figura 15)
Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios e linhas feacuterreas que interceptam a cidade de Colatina Elaborado pela autora
Jaacute na quarta e mais recente linha de crescimento da cidade temos os novos loteamentos
residenciais e industriais a exemplo do de Barbados e do bairro Santa Helena que surgem
49
acompanhando o traccedilado da ponte que contorna a leste a cidade como novo acesso agrave
porccedilatildeo norte do estado Albani (2012 p118) destaca que
Apesar da construccedilatildeo da Segunda Ponte ter sido iniciada em 1986 somente foi inaugurada em 2007 A conclusatildeo da ponte e a construccedilatildeo de uma rodovia de contorno desviaram a BR-259 do centro da cidade O desvio da rodovia federal trouxe um desafogamento do tracircnsito nas principais vias da cidade e um novo direcionamento na expansatildeo urbana Alguns loteamentos surgiram nesse periacuteodo proacuteximo agrave Segunda Ponte e ao contorno na margem norte do rio principalmente no bairro Santa Helena (Figura 55) Essa situaccedilatildeo indica mais uma vez que as linhas de crescimento em Colatina satildeo orientadas pelas vias de transporte
Portanto o crescimento do periacutemetro urbano de Colatina estaacute associado agrave superaccedilatildeo das
barreiras naturais em especial o Rio Doce por meio de investimentos em obras de
engenharia que permitiram o deslocamento humano para a margem esquerda deste curso
Sem duacutevida as vias de transporte foram elementares na construccedilatildeo do periacutemetro urbano
de Colatina pois na medida que se consolidava o sistema viaacuterio as ocupaccedilotildees tambeacutem se
favoreciam destas vias de locomoccedilatildeo A evoluccedilatildeo da aacuterea urbana portanto acompanha
as principais vias de transporte (Figura 15 p45) e estas se utilizam da posiccedilatildeo estrateacutegica
e geograficamente favoraacutevel do canal do Doce para a definiccedilatildeo de seus traccedilados
Apoacutes 94 anos de emancipaccedilatildeo de Linhares o territoacuterio de Colatina eacute fundamental para a
manutenccedilatildeo dos municiacutepios do noroeste capixaba Diante desta posiccedilatildeo estrateacutegica torna-
se relevante o entendimento de como o urbano se relaciona com o meio natural a fim de
se estabelecer poliacuteticas de ordenamento territorial que promovam a qualidade de vida no
municiacutepio Adiante seraacute analisada a situaccedilatildeo da calha principal do Rio Doce elemento
fundamental na compreensatildeo do uso e cobertura da terra de Colatina
42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce
Compreendendo uma aacuterea de 3330 kmsup2 o periacutemetro urbano de Colatina eacute afetado pela
velocidade dos defluacutevios de modo que grande parte dos bairros beira-rio eacute tomada pelas
aacuteguas excedentes da calha principal do Doce o que configura o fenocircmeno de inundaccedilatildeo
Ao pesquisar estes fenocircmenos eacute necessaacuterio relacionar o uso da terra com os processos
geomorfoloacutegicos do corpo hiacutedrico Sendo assim por meio de teacutecnicas de
geoprocessamento foram realizadas oito mediccedilotildees da calha principal do Rio Doce para
50
estabelecimento da distacircncia meacutedia da largura de sua calha O resultado esteve dentro do
esperado e pode ser verificado na tabela abaixo (Tabela 1) e no mapa em sequecircncia
(Figura 16)
Tabela 1 Perfis transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de
vazante (abril) e cheia (janeiro)
Largura do rio Doce periacuteodo de vazante e cheia
Abril2013(m) Janeiro2014(m)
P1 70735 75784
P2 62080 66483
P3 59209 65804
P4 63548 67650
Meacutedia dos Perfis 62814 67066
Meacutedia Geral 66143 Obs todas as medidas estatildeo em metros
Elaborado pela autora
Figura 16 - Traccedilado dos perfis transversais da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de vazante mecircs de abril2013 Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)
51
Com uso das imagens orbitais do Landsat-8 atraveacutes da classificaccedilatildeo hiacutebrida foram
gerados dois arquivos shapefiles correspondentes agraves bordas do Doce um no periacuteodo de
vazante e outro no de cheia Por meio destes dados foram definidos quatro traccedilados para
realizaccedilatildeo das mediccedilotildees a partir destas e com auxiacutelio das medidas de tendecircncia central
chegou-se a uma largura meacutedia total de 66143m de uma margem a outra Este resultado
indicou que tanto no periacuteodo de vazante quanto no periacuteodo de cheia a largura meacutedia
aponta para a maior faixa de APP proteccedilatildeo de 500m conforme previsto na legislaccedilatildeo
federal (Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e no revogado Lei 4771 1965)
Analisando a imagem abaixo (Figura 17) observa-se que grande parte do solo
naturalmente destinado a ldquoacomodaccedilatildeordquo das aacuteguas nas cheias (linha laranja) foi
incorporado agrave sociedade como espaccedilo criado (periacutemetro urbano em APP mancha em
amarelo) destinado a fins muacuteltiplos Deste modo sem planejamento territorial adequado
grande parte da planiacutecie de inundaccedilatildeo deu lugar a outras funccedilotildees diferentes das naturais
sendo incorporada ao espaccedilo urbano
Lanccedilando o buffer (mancha em amarelo) do entorno da calha do Doce (Figura 17) observa-
se que dos 59 bairros do municiacutepio cerca de 29 estatildeo dentro da aacuterea de 500m destinada
a preservaccedilatildeo permanente pelo Coacutedigo Florestal Considerando-se a delimitaccedilatildeo da APP
prevista no PDM de 1996 e 2007 (linha laranja mais proacutexima da borda do rio) este nuacutemero
cai para 18 bairros permanecendo apenas aqueles que possuem limites com o corpo
hiacutedrico
Uma vez que que lei municipal natildeo suplanta lei federal considerar-se-aacute neste estudo o
limite da faixa marginal de proteccedilatildeo definida na Lei Federal 126512012 Deste modo a
aacuterea de preservaccedilatildeo permanente do Doce neste recorte eacute de 1085 kmsup2 compreendendo
33 do periacutemetro urbano de Colatina
Cabe destacar ainda que mesmo o PDM de 1996 contendo enquanto objetivo no Art 14
ldquoI - estabelecer a ordenaccedilatildeo do uso e da ocupaccedilatildeo do solo urbanordquo (Lei 42281996 p4)
a gestatildeo municipal natildeo obteve sucesso na implementaccedilatildeo de tal legislaccedilatildeo O que se
verifica tanto nas deacutecadas de 1990 quanto no iniacutecio dos anos 2000 quando foram
aprovados novos parcelamentos urbanos agraves margens deste canal a exemplo dos bairros
de Barbados na margem direita e do bairro Mario Giurizato na margem esquerda
52
Figura 17- Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)
53
Articulado a esta ideia e pesquisando o trecho do bairro Esplanada a Colatina Velha palco
das uacuteltimas obras estruturantes de alto porte do municiacutepio consegue-se analisar os efeitos
das inundaccedilotildees nas margens deste rio Logo implementar medidas de prevenccedilatildeo de
cheias em aacutereas com urbanizaccedilotildees antigas requer um esforccedilo da gestatildeo na regulaccedilatildeo do
solo urbano
421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie
de Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio
Interceptada pelo curso do Rio Doce no perfil mais a jusante da bacia a cerca de 100km
do estuaacuterio com o Oceano Atlacircntico a cidade de Colatina polo moveleiro e de confecccedilotildees
do centro-oeste capixaba eacute palco recorrente de inundaccedilotildees urbanas
Conforme jaacute mencionado por Cunha (2012a) este fenocircmeno ocorre quando a bacia recebe
um percentual precipitado acima da sua capacidade de escoamento o que faz o leito
menor do rio extravasar para o leito maior ocupando as aacutereas de vaacuterzeas (Figura 18 p
50) Aliadas a esta questatildeo estatildeo as ocupaccedilotildees humanas das margens dos rios que ao
suprimir a vegetaccedilatildeo natural e alterar a condiccedilatildeo fiacutesica do solo acabam por reduzir a aacuterea
de drenagem das aacuteguas pluviais acelerando o escoamento superficial para o canal
principal e favorecendo os defluacutevios
Figura 18 - Representaccedilatildeo da inundaccedilatildeo urbana Fonte adaptado da Defesa Civil do Tocantins (2015)
Este fenocircmeno tem ganhado destaque em Colatina a partir de 1979 ano em que o Rio
Doce atingiu a vazatildeo de 12860msup3s tomando toda aacuterea aplainada que compotildee seu leito
maior afetando da atual Av Beira-Rio ateacute as redondezas da Av Getuacutelio Vargas Desde
entatildeo os estudos das inundaccedilotildees urbanas satildeo relevantes no municiacutepio o que levou o
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Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) na deacutecada de 1980 a elaborar um ldquoPlano Diretor
de Contenccedilatildeo das Enchentes Proteccedilatildeo das Encostas e Drenagem Pluvial de Colatinardquo
Tal medida apresentou seis alternativas para o fenocircmeno Poreacutem tendo em vista o custo
operacional das obras apenas a alternativa seis que previa a construccedilatildeo de diques
marginais para a proteccedilatildeo das aacutereas mais centrais foi considerada viaacutevel na eacutepoca
Todavia em entrevistas com funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina (PMC) foi
relatado que todo o estudo foi arquivado e que ateacute agora natildeo haacute previsatildeo de
implementaccedilatildeo de tais medidas Fato este que eacute evidenciado (Tabela 2 p 51) quando da
ocorrecircncia de precipitaccedilotildees intensas na bacia durante as quais sazonalmente a cidade eacute
impactada com as aacuteguas das inundaccedilotildees Isto faz com que o municiacutepio passe
recorrentemente por cataacutestrofes conforme tabela com os principais picos de vazatildeo do rio
nos uacuteltimos 50 anos
Tabela 2
Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013
Ano Diamecircs Vazatildeo(msup3s)
1961 30jan 6613
1979 04fev 12860
1997 07jan 8687
2005 03ago 6549
2013 24dez 9028
Fonte Coelho (2007 apud DALLAPICOLA 2014 p4) e CPRM (2014 p85) Observo que os dados da tabela 1 para os anos de 1979 e 2013 estatildeo baseados na estimativa de vazatildeo meacutedia diaacuteria das maacuteximas anuais obtida atraveacutes de extrapolaccedilatildeo da curva-chave pelo grupo interdisciplinar dos relatoacuterios criacuteticos anteriores
As inundaccedilotildees de 1979 1997 e recentemente 2013 (Figura 19) foram as de maior vazatildeo
neste setor do rio e consequentemente as que mais atingiram a aacuterea urbana do municiacutepio
bloqueando os acessos ao centro da cidade e aos equipamentos essenciais como
hospitais escolas e demais oacutergatildeos puacuteblicos aleacutem de desalojarem muniacutecipes e
comprometerem a sauacutede puacuteblica
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Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de 1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 Fonte1) Nossa Colatina 2) Nossa Linda Colatina 3) Nossa Colatina
Com o propoacutesito de identificar os principais fatores que acentuam as inundaccedilotildees seraacute
analisado como os processos geomorfoloacutegicos do Doce estatildeo sendo afetados pela accedilatildeo
antroacutepica Limitaremos a anaacutelise ao periacutemetro urbano no trecho que compreende do bairro
Esplanada ateacute o bairro Colatina Velha (Figura 20) Neste periacutemetro eacute possiacutevel visualizar a
evoluccedilatildeo da mancha urbana sobre o leito do rio aleacutem de identificar na margem direita os
pontos desnaturalizados deste canal fluvial
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Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2) Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do recorte em rosa da APP de 50m (amarelo claro) e 500m (amarelo escuro) Fonte 3) Encontra Colatina (2015)
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O recorte em questatildeo eacute margeado pela Av Beira-Rio e estaacute situado (Figura 20) dentro do
buffer de preservaccedilatildeo permanente previsto no PDM (buffer de 50m) e no Novo Coacutedigo
Florestal (buffer de 500m) Apesar desta aacuterea ser destinada a mata nativa e ou
reflorestada a ocupaccedilatildeo urbana antecede os artigos legais o que dificulta poliacuteticas de
gestatildeo territorial em um periacutemetro ao mesmo tempo histoacuterico e com funccedilatildeo relevante no
equiliacutebrio hidroloacutegico da bacia
O periacutemetro faz parte da vaacuterzea da margem direita do Rio Doce pois encontra-se em cota
topograacutefica de 50m caracterizando sua planiacutecie Logo a aacuterea em questatildeo tem a funccedilatildeo de
acomodar as aacuteguas das cheias quando a calha principal natildeo comporta o escoamento de
grandes vazotildees Esta tarefa passa a ser prejudicada na medida em que na bacia ou no
curso original satildeo implementadas obras que interferem na morfologia do corpo hiacutedrico
principal como a instalaccedilatildeo das hidreleacutetricas de Mascarenhas (1974) e Aimoreacutes (2005) a
montante
As UHErsquos a montante comprometem os processos do rio uma vez que o regime natural de
transporte de sedimentos eacute alterado com o barramento o que favorece a erosatildeo e
consequentemente o assoreamento com a formaccedilatildeo de bancos arenosos alteraccedilatildeo do
seu perfil transversal e reduccedilatildeo da profundidade Aleacutem disso segundo Coelho (2007) as
vazotildees maacuteximas e miacutenimas foram alteradas com a implantaccedilatildeo das hidreleacutetricas a
montante implicando em vazotildees meacutedias anuais miacutenimas cada vez mais reduzidas com
valores se distanciando da linha de tendecircncia (polinocircmio) provando o natildeo equiliacutebrio da
vazatildeo apoacutes a implantaccedilatildeo das barragens (Graacutefico 1 p22)
Entretanto a primeira intervenccedilatildeo direta no trecho em estudo foi a instalaccedilatildeo da estrada
de ferro que atraiu migrantes para Colatina permitindo o crescimento populacional e a
expansatildeo urbana desordenada agraves margens do Doce Este crescimento intensificou a
supressatildeo das matas ciliares e abriu espaccedilo para a impermeabilizaccedilatildeo do solo reduzindo
a infiltraccedilatildeo
Posteriormente a inauguraccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos ampliou o fluxo na regiatildeo pois
proporcionava a ligaccedilatildeo com as terras ao norte do Estado Atuou tambeacutem como obstaacuteculo
ao transporte de sedimentos carreados no fluxo natural do rio uma vez que sua
implantaccedilatildeo altera a topografia do fundo do canal afetando os processos geomorfoloacutegicos
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Poreacutem foi no Morro das Cabritas (colina localizada no espaccedilo que compreende o atual
bairro Esplanada) que ocorreu a primeira desnaturalizaccedilatildeo nas margens do Doce Este
morro por onde o Rio Santa Maria do Doce meandrava ateacute desaguar no Rio Doce foi
cortado em meados de 1953 para abrigar a cidade em expansatildeo Devido a esta
intervenccedilatildeo o curso original do Santa Maria foi deslocado e passou a escoar
retilineamente ateacute a foz (Figura 21)
Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponte Florentino Aacutevidos (direita) e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque em vermelho para o curso atual do Santa Maria Fonte Nossa Colatina
As intervenccedilotildees na margem direita tornam-se mais intensas a partir da deacutecada de 1960
quando no ano de 1968 edificou-se um muro visando a proteccedilatildeo dos pilares da
extremidade direita da ponte Esta obra ficou paralisada por muitos anos e foi a primeira
de retificaccedilatildeo e aterro realizada neste trecho do rio Esta intervenccedilatildeo modificou o fluxo
natural das correntes do rio e reduziu a largura da sua calha alterando a morfologia do
canal (Figura 22)
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Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de proteccedilatildeo da ponte Elaborado pela autora Fonte fotos histoacutericas Nossa Colatina
Contudo somente em 1972 teve iniacutecio o segundo aterro (Figura 23) com a finalidade de
alocar a estaccedilatildeo rodoviaacuteria de Colatina e ampliar a aacuterea de acesso agrave ponte Florentino
Aacutevidos A implementaccedilatildeo desta obra suprimiu parte do leito do Rio Doce pois removeu a
saliecircncia cocircncava que curvava o rio retilinizando esta parte do canal
60
Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora Fonte Nossa Colatina Nossa Linda Colatina
Apoacutes dez anos sem grandes intervenccedilotildees em 1982 o lado a montante da ponte bairro
Esplanada eacute acrescido de um aterro que estenderaacute a aacuterea do antigo Morro das Cabritas
para o rio (Figura 24)
Conhecido como Rua da Lama devido agrave umidade que o rio transferia ao aterro formando
um barro viscoso que persistia a maior parte do ano o trecho atualmente compreende a
Avenida Professor Joseacute Zouian popularmente denominada Avenida Beira-Rio de onde
surge a primeira forma do calccediladatildeo que seraacute estendido ateacute o bairro Colatina Velha
61
Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o calccediladatildeo da Av Beira-Rio Elaborado pela autora Fonte Bennachio (2015)
Somente em 2004 foi implementado o maior projeto de canalizaccedilatildeo do municiacutepio Naquele
ano teve iniacutecio a execuccedilatildeo do enrocamento da Av Beira-Rio (Figura 25) obra destinada
inicialmente a alocaccedilatildeo de equipamentos puacuteblicos de lazer e cultura praccedilas preacutedios aleacutem
da promessa de contribuir para a contenccedilatildeo dos transbordamentos do Rio Doce
Apesar de o referido manancial jaacute estar comprometido com problemas de poluiccedilatildeo
assoreamento e erosatildeo aleacutem dos impactos de duas hidreleacutetricas instaladas a montante a
obra abarcou a supressatildeo da vegetaccedilatildeo ciliar e aterro de parte do rio jaacute tatildeo degradado
62
Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento iniciada em 2004 e finalizada em 2008 Elaborado pela autora Fonte proacutepria autora em 240215
Ocupando uma aacuterea total de 130 mil msup2 do leito do Rio Doce o aterro teve iniacutecio em 2004
sendo construiacutedo com cerca de 90 mil msup3 de pedras 50 mil msup3 de areia retirada do leito do
rio e por fim o nivelamento com 200 mil msup3 de terra A obra era divulgada como um antigo
sonho dos colatinenses e serviria para ampliaccedilatildeo da Av Beira-Rio no bairro de Colatina
Velha instalaccedilatildeo de ciclovias calccediladatildeo equipamentos puacuteblicos e estacionamento (Figura
26) Apesar do fim da engenharia em 2008 o projeto ainda estaacute em fase de acabamento
na parte urbaniacutestica e na alocaccedilatildeo dos oacutergatildeos puacuteblicos
Cabe destacar que a obra sofreu embargos do Ministeacuterio Puacuteblico Federal (MPF) por
apresentar apenas cadastro na Agecircncia Nacional de Aacuteguas (ANA) que conforme parecer
da Procuradora Nadja Machado Botelho na Accedilatildeo Civil Puacuteblica ldquo[hellip] equivocadamente natildeo
realizou o procedimento de outorga [hellip]rdquo (MPF 2006 p2) Aleacutem disso a procuradora
solicitou tutela tendo em vista tratar-se de aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental e o fato de o
IBAMA ter concedido licenciamento com indevida dispensa do Estudo de Impacto
Ambiental (EIA)Relatoacuterio de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA)
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Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina Fonte Prefeitura de Colatina (2015)
Por isso essa obra deve ser considerada faraocircnica para os cofres puacuteblicos e irreversiacutevel
para os processos geomorfoloacutegicos do Doce E sua efetivaccedilatildeo soacute foi possiacutevel com a
participaccedilatildeo e investimentos do Governo estadual Contudo seu objetivo foi frustrado pois
novamente na cheia do Rio Doce em dezembro de 2013 quando este atingiu a vazatildeo de
9028 msup3s a aacuterea foi inundada e por estar em cota maior que as casas que beiravam o
rio o enrocamento atuou como represa natildeo permitindo o retorno das aacuteguas quando o niacutevel
do rio retomou o equiliacutebrio
Por fim segue um mapa siacutentese (Figura 27) com a cartografia das quatro principais
intervenccedilotildees diretas e estruturais na margem direita do Doce no setor urbano de Colatina
representando o curso natural do rio em 1950 e suas desnaturalizaccedilotildees a partir da deacutecada
de 60 ateacute a atualidade
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Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce ante e depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora
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422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio
O recorte em estudo compreende as Zonas ZE-1 ZE-2 e ZUD 2-1 (Figura 28 p61) sendo
a Zona Especial 1 Zona Especial 2 e Zona de Uso Diverso 2-1 destinadas no PDM (Lei
52732007)
Artigo 103 - As Zonas de Usos Diversos ndash ZUD satildeo definidas em razatildeo da concentraccedilatildeo de atividades urbanas diversificadas com predominacircncia do uso comercial e de serviccedilos Artigo 104 - Satildeo objetivos das Zonas de Usos Diversos I - otimizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do solo priorizando a instalaccedilatildeo de novos empreendimentos em terrenos natildeo edificados contiacuteguos a empreendimentos jaacute instalados II - controle da implantaccedilatildeo de usos incompatiacuteveis com os definidos para estas zonas III - garantia de licenciamento e monitoramento ambiental dos empreendimentos IV - controle da expansatildeo comercial de serviccedilos e de induacutestrias de pequeno porte em direccedilatildeo a aacutereas residenciais [] Artigo 130 - As Zonas Especiais 1 ndash ZE 1 abrangem todas as aacutereas remanescentes do municiacutepio relativamente ao zoneamento estabelecido nesta lei ocupadas ou natildeo contida na lei de periacutemetro urbano para as quais natildeo foram ainda estabelecidos os criteacuterios de uso e ocupaccedilatildeo Artigo 131 - As Zonas Especiais 2 ndash ZE 2 satildeo as aacutereas existentes no prolongamento da avenida Beira Rio mais especificamente no trecho entre o 80 Batalhatildeo da Poliacutecia Militar e a rua Pedro Epichin incluindo o espaccedilo existente entre a margem do Rio Doce e o limite das construccedilotildees localizadas na rua Pedro Epichin
Cabe destacar que mesmo sendo palco das aacutereas mais afetadas com as inundaccedilotildees do
Rio Doce a Beira-Rio tem sido alvo da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria que aproveitando-se dos
iacutendices pouco restritos da ZUD 2 (Figura 28 p62) valoriza o espaccedilo promovendo a
instalaccedilatildeo de grandes estruturas como hipermercados edifiacutecios residenciais modernos e
hotelaria
66
Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 Fonte Colatina (2007)
A aacuterea contida na ZE (Figura 28) natildeo possui criteacuterio de ocupaccedilatildeo definido na legislaccedilatildeo
atual sendo adotado o disposto na Lei 41961995 que estabelece os iacutendices urbaniacutesticos
para as aacutereas conquistadas junto ao Rio Doce e na Lei 420595 que aprova os
parcelamentos na Beira-Rio Quanto agrave ZUD 2-1 apresenta iacutendices urbaniacutesticos no anexo
118 do Plano Diretor conforme tabela 3 abaixo
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Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1
Fonte Colatina (2007 p36)8
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Eacute relevante observar que numa aacuterea onde o corpo hiacutedrico foi reduzido pelos sucessivos
aterros tenha sido aprovada a instalaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto (Figura
29) com taxa de ocupaccedilatildeo de ateacute 80 e com baixo iacutendice de permeabilidade Ampliou-
se a aacuterea impermeaacutevel numa regiatildeo onde a drenagem jaacute eacute muito comprometida com a
expansatildeo urbana sobre o rio
Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto na Beira-Rio Fonte imagem do Google Maps 2015 E fotos da autora em 140215
Portanto analisando o conjunto de dados apresentado acima eacute possiacutevel entender como
as inundaccedilotildees satildeo potencializadas no municiacutepio atingindo a populaccedilatildeo mas em especial
afetando a dinacircmica de um corpo hiacutedrico tatildeo relevante para o Estado A fim de subsidiar a
gestatildeo puacuteblica com material cartograacutefico para a tomada de decisotildees delimitou-se o
poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo (Figura 30) Pois devem ser adotadas medidas que
minimizem impactos de futuros eventos hidroloacutegicos na bacia capazes de comprometer
novamente a aacuterea urbana mais central de Colatina
69
Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av Beira-Rio em dezembro de 2013 Elaborado pela autora
70
Diante do poliacutegono de inundaccedilatildeo da uacuteltima cheia (Figura 30) em dezembro de 2013 eacute
possiacutevel implementar medidas de convivecircncia com as grandes vazotildees a exemplo de
paiacuteses como Holanda que vem investindo em medidas de resiliecircncia a fim de reduzir a
velocidade dos defluacutevios possibilitando ao canal a capacidade de acumular e dispersar as
aacuteguas com impacto miacutenimo para as populaccedilotildees Conforme Carneiro e Miguez (2011) a
estrateacutegia adotada pelo paiacutes eacute reter armazenar e drenar sendo mais flexiacutevel e natildeo
interferindo drasticamente na dinacircmica do corpo hiacutedrico
Por fim a implementaccedilatildeo de soluccedilotildees de planejamento urbano em Colatina requer uma
anaacutelise integrada que abarque o urbano e o ambiental de modo a propor intervenccedilotildees que
produzam impactos reduzidos nos processos geomorfoloacutegicos do Rio Doce Logo a gestatildeo
municipal deve atuar em niacutevel de bacia hidrograacutefica interagindo com os municiacutepios a
montante propondo medidas de minimizaccedilatildeo das cheias urbanas Mas na escala local
pode-se atuar junto aos novos parcelamentos de modo a ampliar o percentual de aacutereas
permeaacuteveis no municiacutepio incentivando por exemplo os novos loteamentos a adotarem
pavimentaccedilotildees que permitam a drenagem natural do solo
71
5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Partindo da ideia de que eacute possiacutevel implementar medidas que minimizem o escoamento
superficial satildeo apresentadas propostas como forma de controlar ou ao menos reduzir os
impactos das inundaccedilotildees urbanas
Embora as implementaccedilotildees histoacutericas de estruturas de proteccedilatildeo ou barreiras mais altas
tenham sido muito disseminadas atualmente estatildeo sendo suplantadas pelo gerenciamento
de inundaccedilotildees de maneira mais sustentaacutevel Deste modo as experiecircncias fora do Brasil
apontam para soluccedilotildees mais flexiacuteveis que considerem o fluxo natural do canal enquanto
um ecossistema em equiliacutebrio Para tanto Carneiro e Miguez (2011 p150) destacam a
iniciativa alematilde no controle de inundaccedilotildees em bacias hidrograacuteficas metropolitanas
[hellip] A abordagem comum consiste na regulaccedilatildeo do uso do solo nas aacutereas inundaacuteveis e em ldquodar espaccedilo para o riordquo ao inveacutes de priorizar investimentos em estruturas de proteccedilatildeo contra inundaccedilotildees como a colocaccedilatildeo de diques de contenccedilatildeo as margens dos rios A utilizaccedilatildeo do conceito de resiliecircncia apropriado de ecologia decorre dessa abordagem A aplicaccedilatildeo praacutetica do conceito implica portanto em mudanccedilas de paradigma Deixa de ser preponderante a engenharia construtiva e entra em cena o planejamento de longo prazo voltado para o desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis capazes de conviver com as variaccedilotildees do ciclo hidroloacutegico sem significar necessariamente trageacutedias anunciadas
Aleacutem dessas propostas geoacutegrafos como Sandra Cunha tecircm estudado a recuperaccedilatildeo
natural ou ldquorenaturalizaccedilatildeordquo de corpos fluviais visando promover a estabilidade dos canais
de modo mais sustentaacutevel Para ela
[hellip] Recuperaccedilatildeo de canal significa de forma simples o retorno as condiccedilotildees anteriores aos distuacuterbios Em essecircncia eacute o processo de recuperaccedilatildeo do rio ou do ecossistema fluvial estabilizando o desenvolvimento de habitats e colonizaccedilatildeo a uma taxa mais raacutepida que dos processos naturais fiacutesicos e bioloacutegicos Na recuperaccedilatildeo de canais ocorrem consideraccedilotildees de aspecto hidroloacutegico morfoloacutegico e ecoloacutegico qualidade da aacutegua esteacutetica aleacutem da necessidade de uma visatildeo integradora do projeto sustentaacutevel de recuperaccedilatildeo (CUNHA 2012 p230 a 231)
Satildeo portanto medidas pontuais como o retorno agraves sinuosidades do rio (Figura 31 p 68)
ou a substituiccedilatildeo de estruturas de concreto por superfiacutecies mais permeaacuteveis a exemplo
das trincheiras de infiltraccedilatildeo ou pavrsquos (Figura 32) aacutereas mais vegetadas aleacutem de coleta e
uso de aacutegua da chuva bem como tratamento das aacuteguas superficiais por meio de
72
amenidades esteacuteticas como reservatoacuterios de retenccedilatildeo ou detenccedilatildeo que podem ser
associados a ambientes harmocircnicos como lagos artificiais Todas estas accedilotildees possibilitam
a minimizaccedilatildeo das grandes vazotildees no solo urbano pois pretendem atenuar os impactos
das cheias fazendo com que seja resgatada parte da drenagem existente anteriormente agrave
urbanizaccedilatildeo
Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do Rio Aa Munster Alemanha (1998) Fonte Cunha (2012 p233)
Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos Fonte Carneiro e Miguez (2011 p128)
A partir do exposto cabe agrave gestatildeo municipal implementar legislaccedilotildees que priorizem a
permeabilidade possibilitando uma maior infiltraccedilatildeo das aacuteguas das chuvas atraveacutes de
pavimentaccedilotildees menos impermeaacuteveis e da ampliaccedilatildeo de aacutereas vegetadas Satildeo medidas
que tornam a drenagem mais sustentaacutevel aleacutem de possibilitar a manutenccedilatildeo dos serviccedilos
puacuteblicos de forma menos custosa tendo em vista o elevado preccedilo das recomposiccedilotildees
asfaacutelticas
1 2
73
Aleacutem disso quando se fala em controle de cheias urbanas pressupotildee-se uma seacuterie de
medidas para minimizaccedilatildeo de seus impactos desde a operaccedilatildeo de sistemas de alerta
zoneamento de aacutereas inundaacuteveis construccedilatildeo de grandes reservatoacuterios de contenccedilatildeo de
cheias e diques ateacute accedilotildees de educaccedilatildeo ambiental
Cabe pensar tambeacutem na proacutexima revisatildeo do PDM em um plano de macrodrenagem
municipal que reuacutena accedilotildees de caraacuteter estruturantes com obras hidraacuteulicas de infraestrutura
que realizem a conduccedilatildeo final das aacuteguas dos escoamentos superficiais para a minimizaccedilatildeo
das inundaccedilotildees e em medidas natildeo-estruturantes que trabalhem a consciecircncia ambiental
e proponha um zoneamento de cheias a fim de se delimitar os pontos mais fragilizados nos
defluacutevios
Por fim pensar em drenagem num contexto de ocupaccedilatildeo irregular histoacuterico requer
profissionais que aleacutem de possuir afinidade com a temaacutetica tambeacutem possam analisar os
diferentes processos que constituem o espaccedilo geograacutefico Logo este tipo de estudo deve
abarcar uma equipe multidisciplinar que percorra a anaacutelise desde o ambiental estrutural
ateacute o aspecto humano a fim de se produzir resultados que de fato contribuam com o
controle das inundaccedilotildees urbanas
74
6 CONCLUSAtildeO
A partir do recorte espacial foi possiacutevel compreender que a abordagem da geomorfologia
fluvial com a anaacutelise espaccedilo-temporal da ocupaccedilatildeo urbana possibilita a identificaccedilatildeo das
accedilotildees do homem no meio ambiente pois estas resultam na alteraccedilatildeo das paisagens
naturais e na dinacircmica da bacia hidrograacutefica Assim o Rio Doce deve ser estudado de
modo integrado ao crescimento da cidade sobretudo para compreensatildeo da produccedilatildeo do
espaccedilo geograacutefico
Analisar a inundaccedilatildeo urbana em Colatina foi satisfatoacuterio pois o municiacutepio estaacute situado no
perfil meacutedio-baixo da bacia vazante e eacute neste trecho que os reflexos das intervenccedilotildees satildeo
mais acentuados principalmente se esta parte do canal tambeacutem tiver passado por obras
que modificaram seus processos hidroloacutegicos Aleacutem disso a perspectiva geograacutefica aponta
para vaacuterias outras questotildees como erosatildeo fluvial planejamento urbano poluiccedilatildeo ambiental
crise da aacutegua que conduzem a outras discussotildees acerca da relaccedilatildeo homemnatureza
Ao demonstrar a evoluccedilatildeo espaccedilo-temporal do uso e cobertura da terra na margem direita
do Doce associando esta ocupaccedilatildeo agraves obras estruturantes que foram executadas no
canal verificamos que todas as praacuteticas adotadas para conter o transbordamento do rio
acabaram alterando sua morfologia com a retificaccedilatildeo de trechos em meandros reduzindo
a largura do corpo hiacutedrico o que favoreceu a apropriaccedilatildeo urbana de suas vaacuterzeas Aliadas
a estas questotildees estatildeo a falta de planejamento urbano e a omissatildeo diante da supressatildeo
das matas ciliares principalmente se considerados os resultados do relatoacuterio teacutecnico do
IJSN contra enchentes em 1980
Cabe destacar tambeacutem que toda a anaacutelise da ocupaccedilatildeo urbana e desnaturalizaccedilatildeo do
Rio Doce foi melhor identificada a partir dos produtos cartograacuteficos deste trabalho Pois eacute
na espacialidade dos fenocircmenos e no registro de informaccedilotildees ainda natildeo mapeadas como
os aterros que o geoacutegrafo executa a anaacutelise do seu objeto de estudo o homem e a
natureza aqui representado pela sociedade e o canal do Doce
Apesar do municiacutepio apresentar leis que resguardam os leitos dos rios desde o primeiro
PDM em 1996 nada foi feito para conter as ocupaccedilotildees irregulares beira-rio Pelo contraacuterio
estas aacutereas foram incorporadas ao Plano Diretor em 2007 com possibilidades de
ocupaccedilotildees diversas o que tem levado especuladores a valorizar o solo com vista para o
rio apontando suas qualidades esteacuteticas e teacutermicas Este fato vem aumentando o
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percentual de aacutereas impermeaacuteveis nesta margem comprometendo ainda mais a drenagem
dos defluacutevios
Eacute na Av Beira-Rio que crescem as implantaccedilotildees de grandes empreendimentos comerciais
como supermercado Casagrande Ogil Hotel e obras de construccedilatildeo de novos arranha-
ceacuteus em um periacutemetro que jaacute eacute totalmente comprometido com os extravasamentos do Rio
Doce Estas obras ocupam grandes aacutereas e na maioria das vezes apresentam reduzida
aacuterea permeaacutevel reservando apenas o obrigatoacuterio pela lei cerca de 10 Observa-se
tambeacutem que a implantaccedilatildeo desses projetos estaacute condicionada agrave apresentaccedilatildeo e
aprovaccedilatildeo por comissatildeo na prefeitura do Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV) sendo
difiacutecil conceber que seja concedida tal licenccedila para implementaccedilatildeo de obras num trecho
de risco ambiental
Embora as diretrizes do Estatuto das Cidades para a implementaccedilatildeo do uso da terra
sustentaacutevel e os instrumentos para a regulaccedilatildeo do solo urbano sejam avanccedilados Colatina
eacute mais um exemplo da carecircncia de profissionais capacitados para estudar de modo
integrado e em niacutevel de bacia hidrograacutefica os efeitos da accedilatildeo humana num ambiente tatildeo
peculiar como as margens do Doce Por isso com os objetivos traccedilados nesta pesquisa
podemos aleacutem de compreender o fenocircmeno criar uma metodologia de anaacutelise de aacutereas
inundaacuteveis em ambientes urbanos O que permite agrave gestatildeo municipal uma diretriz para a
tomada de decisotildees
Destaca-se tambeacutem que as legislaccedilotildees aqui referenciadas supriram a discussatildeo acerca do
objeto de estudo mas outras podem contribuir para esta pesquisa a exemplo do Coacutedigo
das Aacuteguas da Poliacutetica Nacional dos Recursos Hiacutedricos das Resoluccedilotildees do Conama do
Estatuto das Cidades entre outros
Sendo assim numa revisatildeo do PDM deve-se pensar nestes aspectos da cidade desde o
histoacuterico de ocupaccedilatildeo das margens ateacute os impactos das inundaccedilotildees e o presente trabalho
auxilia com uma nova abordagem na reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo fornecendo material
cartograacutefico para subsidiar propostas de proteccedilatildeo ao curso do Doce e consequentemente
da populaccedilatildeo
Por fim deve-se destacar que o recorte estaacute inserido num contexto maior de uma bacia
hidrograacutefica que se estende aleacutem dos limites de Colatina ou do estado do Espiacuterito Santo
Esta bacia compreende a Regiatildeo Hidrograacutefica do Atlacircntico Leste e estaacute alocada tambeacutem
76
no estado de Minas Gerais o que portanto torna as accedilotildees de controle das inundaccedilotildees
mais complexas tendo em vista as divergentes politicas territoriais
77
7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
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Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponrte Florentino Aacutevidos (direita)
e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa
Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque
em vermelho para o curso atual do Santa Maria 58
Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de
proteccedilatildeo agrave ponte 59
Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o
traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas 60
Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o
calccediladatildeo da Av Beira-Rio61
Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento
iniciada em 2004 e finalizada em 2008 62
Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina 63
Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce antes e
depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas 64
Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 66
Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto da Beira-Rio 68
Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da
inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av
Beira-Rio em dezembro de 2013 69
Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do rio Aar Munster Alemanha (1998) 72
Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos 72
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Perfis Transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de vazante (abril) e cheia (janeiro) 50
Tabela 2 Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013 54
Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1 67
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 - Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais
(Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia) 25
Graacutefico 2 - Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 201045
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANA - Agecircncia Nacional de Aacuteguas
APP - Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente
CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais Serviccedilo Geoloacutegico Brasileiro
GEOBASES - Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espiacuterito Santo
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IJSN - Instituto Jones dos Santos Neves
INCAPER - Instituto Capixaba de Pesquisa Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural
PDM - Plano Diretor Municipal
PMC - Prefeitura Municipal de Colatina
PROATER - Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural
SIG - Sistema de Informaccedilotildees Geograacuteficas
UHE ndash Usina Hidreleacutetrica
UTM - Universal Tranverse Mercator
USGS - Geological Survey Serviccedilo Geoloacutegico Americano
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 14
11 Objetivo 16
111 Objetivo Geral 16
112 Objetivos Especiacuteficos 16
12 Justificativa 17
2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS 20
21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano 20
211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial 23
22 Aspectos Juriacutedicos 27
23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos 31
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS 36
4 RESULTADOS 40
41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana 40
411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade 46
42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce 49
421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie de
Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio 53
422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio 65
5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 71
6 CONCLUSAtildeO 74
7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 77
14
1 INTRODUCcedilAtildeO
A partir da deacutecada de 1930 com a transiccedilatildeo econocircmica de um eixo agraacuterio-exportador
para um polo urbano-industrial (CARNEIRO 2008) verificou-se no Brasil a migraccedilatildeo da
maior parte da populaccedilatildeo para as cidades Isso acarretou segundo Tucci (2013 p17) uma
ldquo[] concentraccedilatildeo urbana no Brasil da ordem de 80 da populaccedilatildeo e o seu
desenvolvimento tem sido realizado de forma pouco planejada com grandes conflitos
institucionais e tecnoloacutegicos []rdquo
De acordo com Canholi (2005 p15) a expansatildeo da aacuterea urbana ldquo[] consequentemente
impermeabilizada ocorreu a partir das zonas mais baixas proacuteximas agraves vaacuterzeas dos rios
ou agrave beira-mar em direccedilatildeo agraves colinas e morros em face da necessaacuteria interaccedilatildeo da
populaccedilatildeo com os corpos hiacutedricos []rdquo Neste cenaacuterio surgem as ocupaccedilotildees irregulares
nas Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) como as da planiacutecie de inundaccedilatildeo dos rios
e os topos de morros
Essas ocupaccedilotildees desordenadas satildeo proporcionadas pela precariedade da implantaccedilatildeo e
fiscalizaccedilatildeo das legislaccedilotildees urbaniacutesticas de ordenamento territorial e ambiental Neste
contexto satildeo relevantes as pesquisas que visam correlacionar o viacutenculo
sociedadenatureza de modo a entender como a ocupaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo no
solo conecta-se com a hidrodinacircmica dos recursos naturais uma vez que ldquo[] a tendecircncia
atual do limitado planejamento urbano integrado estaacute levando as cidades a um caos
ambiental urbano com custo extremamente alto para a sociedaderdquo (TUCCI 2013 p17)
Deve-se partir do pressuposto teoacuterico articulado com a ideia anterior de ldquo[]
indissociabilidade entre natureza e sociedade []rdquo (COELHO 2013 p21) em que a
sociedade natildeo pode ser apenas entendida como populaccedilatildeo e a natureza enquanto mero
ambiente fiacutesico mas que estes dois fatores estatildeo dinamicamente produzindo o espaccedilo
geograacutefico
Neste contexto a problemaacutetica se afirma no intuito de relacionar as legislaccedilotildees urbanas
(Lei de Parcelamento do Solo 676679 e PDM) e ambientais (Novo Coacutedigo Florestal 2012)
com as suas aplicaccedilotildees ou natildeo no periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina
principalmente nos bairros que se situam na planiacutecie de inundaccedilatildeo do Rio Doce
A escolha da temaacutetica tambeacutem teve como premissa a importacircncia regional de Colatina
como entreposto comercial e logiacutestico para os municiacutepios do noroeste capixaba conforme
15
relato do Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural - PROATER (INCAPER
2011)
Exportadores de cafeacute atacadistas e as lojas de pronta entrega dinamizam o comeacutercio local que atende aos municiacutepios do norte capixaba leste de Minas Gerais e sul da Bahia representando um universo de mais de 700 mil consumidores (INCAPER 2011 p5)
De acordo ainda com o INCAPER (op cit) Colatina tem crescido a uma margem de 188
anual o que representa a tendecircncia ao ecircxodo rural sendo que a populaccedilatildeo do campo vem
diminuindo de aproximadamente 19 em 1990 passou a 12 no Censo de 2010 Diante
do exposto entra em discussatildeo o planejamento urbano pois com o crescimento da
populaccedilatildeo citadina para cerca de 88 aumentam tambeacutem as pressotildees sobre o meio
ambiente em especial as regiotildees ribeirinhas
Estas uacuteltimas refletem o aumento das atividades humanas na bacia hidrograacutefica onde
pode-se destacar as mudanccedilas induzidas pelas accedilotildees antropogecircnicas que se dividem em
diretas (aquelas que atuam no canal fluvial para controle das vazotildees a exemplo dos
reservatoacuterios e desvios de aacuteguas) e indiretas relacionadas agraves aacutereas fora dos canais por
exemplo o desmatamento e urbanizaccedilatildeo sendo que estas comprometem a descarga e
carga soacutelida do rio (PARK1981 KNIGHTON1984 apud CUNHA 2001)
O interesse pela pesquisa surge da importacircncia regional do municiacutepio dos impactos
histoacutericos humanos materiais e imateriais sofridos diante de eventos hidroloacutegicos
extremos tendo em vista o fato de o periacutemetro urbano ser cortado por um corpo fluvial de
importacircncia regional Aleacutem disso a abordagem geograacutefica possibilita a correlaccedilatildeo dos
processos fluviais com a ocupaccedilatildeo urbana de modo mais integrado (COELHO 2009)
Portanto uma das finalidades deste trabalho eacute analisar por meio das geotecnologias e das
investigaccedilotildees de campo como a ocupaccedilatildeo urbana tem interferido nas margens do Rio
Doce de modo a delimitar os sucessivos aterros na margem direita no periacutemetro do bairro
Esplanada a Colatina Velha Ademais identificar como os processos deste canal fluvial
tecircm sido afetados pela intervenccedilatildeo humana em seu leito principal
16
11 Objetivo
111 Objetivo Geral
Correlacionar os processos fluviais do Rio Doce por meio da dinacircmica geomorfoloacutegica
deste canal com o uso e cobertura da terra no setor urbano do municiacutepio de Colatina
Espiacuterito Santo Contrapondo assim as intervenccedilotildees urbanas da beira-rio com o Plano
Diretor Municipal e o Novo Coacutedigo Florestal enfatizando as diretrizes adotadas no
parcelamento do solo para a planiacutecie de inundaccedilatildeo deste rio
112 Objetivos Especiacuteficos
Identificar os vetores de crescimento urbano do municiacutepio a fim de avaliar a
evoluccedilatildeo da mancha urbana junto ao canal principal
Determinar o comprimento da borda da calha do leito regular do Rio Doce no
periacutemetro urbano de Colatina para definiccedilatildeo da largura miacutenima da faixa marginal
de preservaccedilatildeo
Espacializar as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente beira-rio previstas em lei a fim
de analisar a ocupaccedilatildeo urbana nestes espaccedilos
Cartografar os principais pontos desnaturalizados no canal principal do Rio Doce
no setor urbano de Colatina
Demonstrar como o emprego das geotecnologias auxilia no planejamento urbano
e ambiental especialmente em acircmbito municipal
17
12 Justificativa
A aacuterea de estudo corresponde ao periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina situado na
Bacia Atlacircntico trecho leste sub-bacia do Rio Doce no baixo curso (ANA 2001)
Compreende a regiatildeo noroeste do estado do Espiacuterito Santo latitude 19deg 32rsquo 16rsquorsquo S e
longitude 40deg 37rsquo 59rsquorsquo W De acordo com os dados do censo de 2010 do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio possuiacutea uma populaccedilatildeo de 111788 mil
habitantes1 numa aacuterea territorial de 1416804 kmsup2
Devido a sua privilegiada posiccedilatildeo geograacutefica limiacutetrofe com o Rio Doce e a construccedilatildeo da
Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas em 1906 Colatina compreendia os territoacuterios dos atuais
municiacutepios de Baixo Guandu Linhares Pancas Satildeo Gabriel da Palha Marilacircndia Satildeo
Domingos do Norte e Governador Lindenberg (INCAPER 2011) Soacute a partir de 2001
passou a apresentar os atuais limites municipais e configurar uma aacuterea urbana com 59
bairros (Figura 1)
Colatina eacute um municiacutepio de importacircncia para regiatildeo noroeste capixaba seja em caraacuteter
econocircmico ou social Eacute responsaacutevel pelos fluxos de cargas da regiatildeo aleacutem de ser um polo
moveleiro de confecccedilatildeo metalmecacircnico e de comeacutercio e serviccedilos gerando emprego e
renda (INCAPER 2011) Aleacutem disso tem sofrido historicamente com as cheias do Rio
Doce principalmente porque parte do seu periacutemetro urbano eacute inundado com as aacuteguas da
calha principal desse rio o que compromete toda a dinacircmica local e potildee em risco os
colatinenses
Assim diante das crescentes demandas por territoacuterio no periacutemetro urbano a populaccedilatildeo
tem suprimido a cobertura vegetal e ocupado desde as margens do Rio Doce ateacute as
encostas dos morros Em periacuteodos de cheias principalmente nos meses de outubro a
marccedilo (INCAPER 2011 ANA 2001) verificam-se inundaccedilotildees de grande parte da aacuterea
urbana beira-rio aleacutem dos movimentos de massa nas encostas Como exemplo destes
acontecimentos tecircm-se os registros fotograacuteficos dos efeitos da chuva de dezembro de 2013
(Figuras 2 e 3)
1 De acordo com o a estimativa do IBGE de 2014 publicada no DOU o municiacutepio conta com uma populaccedilatildeo de 121670 habitantes
18
Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e o canal do Rio Doce Elaborado pela autora
19
Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 Fonte Noticias UOL (2013)
Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de 2013 Fonte Folha Vitoacuteria (2013)
Este estudo portanto eacute relevante tendo em vista as raras abordagens no acircmbito das
Ciecircncias Geograacuteficas especialmente no Espiacuterito Santo de pesquisas que correlacionem
aspectos da geomorfologia fluvial por meio da dinacircmica dos recursos hiacutedricos com o uso
e cobertura da terra particularmente o Plano Diretor Municipal (PDM) Discute dessa
forma as implicaccedilotildees da atuaccedilatildeo humana nas particularidades deste ecossistema natural
tendo em vista o disposto nas legislaccedilotildees urbaniacutesticas e ambientais que visam assegurar
a qualidade de vida das populaccedilotildees
Adiante seratildeo analisados os principais fundamentos da geomorfologia fluvial os aspectos
juriacutedicos e o papel da anaacutelise geograacutefica integrada para o entendimento dos fenocircmenos
das inundaccedilotildees no Centro de Colatina uma vez que eacute devido agraves intervenccedilotildees humanas
nos canais e suas margens que esses fenocircmenos tornam-se mais nocivos a cidade
20
2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS
21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano
Recurso essencial para a manutenccedilatildeo da vida a aacutegua foi um fator relevante para o
estabelecimento histoacuterico das sociedades no entorno dos cursos hiacutedricos Utilizados para
fins de abastecimento humano e animal irrigaccedilatildeo saneamento e transporte os rios
constituiacuteram-se nos principais propulsores de penetraccedilatildeo para o interior (CUNHA 2012a)
Logo em suas margens surgiram povoados que posteriormente transformaram-se em
cidades como as que se estabeleceram agraves margens do Rio Doce a exemplo da sede de
Colatina
Diante das potencialidades que os recursos hiacutedricos possibilitam agraves sociedades
destacamos a importacircncia do estudo da Geomorfologia Fluvial que se apresenta como
campo da Geomorfologia (ciecircncia que estuda as formas do relevo) sendo o interesse
daquela a pesquisa dos processos que relacionam o escoamento das aacuteguas fluviais num
contexto de bacia hidrograacutefica (CHRISTOFOLETTI 1980 CUNHA op cit) Enfoca assim
as alteraccedilotildees na fisionomia dos canais frente agraves intervenccedilotildees no ecossistema natural
beira-rio
A Geomorfologia Fluvial parte da condicionante de que o uso e ocupaccedilatildeo da terra refletem-
se na dinacircmica da bacia de drenagem interferindo nos processos morfogeneacuteticos ou seja
de modelagem do relevo fluvial escoamento superficial das aacuteguas e no ciclo hidroloacutegico
Frente agrave temaacutetica deste estudo faz-se necessaacuterio o entendimento dos conceitos da
fisiografia fluvial aqui referente aos diferentes setores que a aacutegua pode escoar num leito
(Figura 4) como
O leito menor corresponde agrave parte do canal ocupada pelas aacuteguas e cuja frequecircncia impede o crescimento da vegetaccedilatildeo Esse tipo de leito eacute delimitado por partes bem definidas O leito de vazante equivale agrave parte do canal ocupada durante o escoamento das aacuteguas de vazante Suas aacuteguas divagam dentro do leito menor seguindo o talvegue linha de maacutexima profundidade ao longo do leito e que eacute mais bem identificada na seccedilatildeo transversal do canal O leito maior tambeacutem denominado leito maior perioacutedico ou sazonal eacute ocupado pelas aacuteguas do rio regularmente e pelo menos uma vez ao ano durante as cheias Dependendo do tempo ocorrido entre as subidas das aacuteguas eacute possiacutevel haver a fixaccedilatildeo e o crescimento da vegetaccedilatildeo herbaacutecea
21
O leito maior excepcional eacute ocupado durante as grandes cheias no decorrer das enchentes (CUNHA 2001 p 213)
Figura 4 - Tipos de leito fluvial vaacuterzea Fonte Cunha (2001 p213)
Sendo assim as aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial (leitos) aquelas inundadas pelo corpo
hiacutedrico frente a um evento hidroloacutegico extremo tambeacutem satildeo conhecidas como vaacuterzeas
planiacutecie de inundaccedilatildeo ou ainda segundo Carneiro e Miguez (2011 p133) como ldquo[] zona
de passagem de cheia []rdquo Essas aacutereas de vaacuterzeas dependem da fisionomia que o rio
apresenta e segundo Cunha (op cit) o canal fluvial pode apresentar trecircs formas
principais conhecidas como padratildeo dos canais que satildeo retiliacuteneo anastomosado e
meacircndrico (Figura 5)
Figura 5 - Padrotildees dos canais (A) retiliacuteneo (B) anastomosado (C) meandrante (A) amplitude (Rc) raio meacutedio da curvatura do meandro (segundo Bigarella etal 1979) Fonte Cunha (2001 p216)
22
Aliada aos padrotildees dos canais estaacute a assimetria ou simetria dos leitos que para Cunha
(2001 p233) relaciona-se com a variaccedilatildeo da velocidade e turbulecircncia ao longo da secccedilatildeo
transversal o que diferencia o comportamento nos canais retiliacuteneos geralmente simeacutetricos
do canal meacircndrico onde
Em canais de leito simeacutetrico em geral padratildeo retiliacuteneo a velocidade maacutexima ocorre no centro do canal diminuindo em direccedilatildeo agraves margens Em leito assimeacutetrico de padratildeo meacircndrico a zona de maacutexima velocidade e turbulecircncia localiza-se nas proximidades das margens cocircncavas decrescendo de valor em direccedilatildeo agrave margem de menor profundidade
(convexa) (CUNHA opcit p 233)
Deste modo a capacidade de erosatildeo das margens transporte e deposiccedilatildeo da carga do rio
dependem entre outros fatores da velocidade das correntes fluviais E o material do fluxo
fluvial constitui-se da descarga liacutequida ou vazatildeo que estaacute relacionada ao tamanho do
material que pode ser transportado e do volume da carga que o rio eacute capaz de carregar
Tem-se ainda a carga soacutelida sedimentos que estaacute relacionada a suspensatildeo e fundo do
rio esta decresce a jusante indicando a diminuiccedilatildeo da competecircncia do corpo fluvial As
cargas de suspensatildeo satildeo constituiacutedas de partiacuteculas finas a exemplo do silte e por fim a
carga de fundo que eacute composta por partiacuteculas de tamanhos maiores a exemplo da areia
(CUNHA2001)
Christofoletti (1980) acrescenta que os sedimentos podem ser carregados de trecircs modos
principais no fluxo em soluccedilatildeo dissolvidos nos cursos hiacutedricos em suspensatildeo como o
silte e argila e em saltaccedilatildeo geralmente a areia e cascalho que compreendem a carga do
leito do rio Destaca-se que a carga detriacutetica natildeo proveacutem apenas da erosatildeo do fundo dos
leitos e margens fluviais mas que o material intemperizado de vertentes carreado nas
enchentes contribui significativamente para a carga sedimentar transportada
Cabe ressaltar ainda que a relaccedilatildeo do arranjo espacial dos canais com os processos
fluviais (a erosatildeo o transporte e a deposiccedilatildeo de sedimentos) eacute determinante para o
trabalho dos rios Tais processos satildeo diretamente influenciados pela vazatildeo velocidade e
pela intensidade da turbulecircncia (seja no fluxo laminar ou no fluxo turbulento) A
variabilidade no comportamento da velocidade e turbulecircncia das aacuteguas ao longo da seccedilatildeo
transversal condiciona os locais preferenciais de erosatildeo e deposiccedilatildeo ao longo do curso
hiacutedrico
23
Deste modo qualquer intervenccedilatildeo na bacia e canal fluvial compromete o equiliacutebrio natural
da drenagem levando o corpo hiacutedrico a se adaptar agraves mudanccedilas em sua fisionomia
fisiografia e em seus processos ateacute atingir um novo estado de equiliacutebrio Poreacutem eacute na
planiacutecie de inundaccedilatildeo que estas modificaccedilotildees seratildeo mais percebidas pela populaccedilatildeo pois
a maior parte das obras de engenharia como as canalizaccedilotildees e as ocupaccedilotildees das
margens acaba por romper com o equiliacutebrio natural do rio alterando sua dinacircmica e
intensificando seus processos o que na maioria das vezes potencializa as enchentes no
ambiente urbano
Nesse sentido o entendimento dos processos fluviais (erosatildeo transporte e deposiccedilatildeo)
combinado com a anaacutelise da fisiografia fluvial condicionam as peculiaridades na geometria
hidraacuteulica ou seja na relaccedilatildeo entre a vazatildeo velocidade de escoamento tipos de canais
de sedimentos e a topografia Logo o conhecimento geomorfoloacutegico do rio contribui para
pesquisas que necessitem relacionar o funcionamento deste corpo natural com um
planejamento urbano mais efetivo principalmente se considerarmos um recorte em niacutevel
de bacia hidrograacutefica em espaccedilo urbano
211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial
O capiacutetulo que segue versa sobre a atuaccedilatildeo antroacutepica relacionando-a a aacuterea de estudo o
rio Doce poreacutem este trata de forma macro a temaacutetica para contextualizar o leitor sendo
as especificidades das intervenccedilotildees neste recorte geograacutefico trabalhados nos resultados
desta pesquisa
Diante do exposto eacute possiacutevel acompanhar a evoluccedilatildeo dos processos fluviais nos canais
em especial aqueles que tiveram intervenccedilotildees em seu curso natural como as hidreleacutetricas
instaladas a montante a exemplo do Rio Doce onde a interferecircncia direta na vazatildeo e fluxo
de sedimentos altera a hidrodinacircmica do rio comprometendo a erosatildeo e transporte Para
Coelho (2007 p57) as
Mudanccedilas na Declividade Perfil Longitudinal Promovidas pela construccedilatildeo de reservatoacuterio satildeo variadas e caso o efeito da contenccedilatildeo de sedimentos seja significativo os processos fluviais reduziratildeo a capacidade de transporte de sedimento podendo promover um entalhamento do leito do rio imediatamente agrave jusante da barragem
Aleacutem disso esse processo erosivo poacutes-barragem eacute intensificado favorecendo o
assoreamento e sedimentaccedilatildeo do rio a jusante O que pode beneficiar a elevaccedilatildeo da cota
24
do canal fluvial frente a eventos hidroloacutegicos extremos potencializando os efeitos das
inundaccedilotildees nas vaacuterzeas
Ao mesmo tempo o Rio Doce trecho que compreende o Espiacuterito Santo meacutediobaixo curso
eacute impactado nas vazotildees miacutenimas e maacuteximas a jusante apoacutes a instalaccedilatildeo das
barragensUsinas Hidreleacutetricas (UHE) de Mascarenhas (iniacutecio de operaccedilatildeo em 1974)
localizada no Municiacutepio de Baixo Guandu e a de Aimoreacutes (iniacutecio de operaccedilatildeo em 2005)
localizada na divisa do Espiacuterito Santo com Minas Gerais (COELHO 2007)
De acordo com Coelho (opcit) apoacutes a implantaccedilatildeo das usinas ocorreu uma reduccedilatildeo
significativa na vazatildeo da calha principal do Rio Doce conforme Graacutefico 1
Considerando o periacuteodo de 1939 a 2012 a vazatildeo miacutenima apoacutes a instalaccedilatildeo das usinas
chega a atingir 411msup3s e a maacutexima chega apenas a 1251msup3s sendo que no periacuteodo
anterior agrave instalaccedilatildeo das usinas foi registrada a miacutenima de 533 msup3s e uma maacutexima de
1812 msup3s o que ressalta o impacto do barramento sobre o corpo hiacutedrico Aleacutem do
comprometimento dos processos de erosatildeo transporte e sedimentaccedilatildeo (COELHO 2008
e CUNHA 2001)
Diante desta perda de carga liacutequida nos barramentos Cunha (2001 p 241) observa ainda
que as aacutereas a jusante de reservatoacuterios
[hellip] onde o regime do rio sofre significativas modificaccedilotildees devidas ao controle das descargas liquidas e de sedimentos no reservatoacuterio As mudanccedilas ocorridas no regime das aacuteguas neste setor do rio acarretam significativos efeitos nos processos do canal tais como o entalhe do leito a erosatildeo das margens e a deposiccedilatildeo a jusante atingindo longas distacircncias
Aleacutem disso no periacutemetro urbano de Colatina o Rio Doce sofreu outras intervenccedilotildees em
seu canal principal como a implantaccedilatildeo de obras estruturais de macrodrenagem a
exemplo da construccedilatildeo da Av Beira-Rio com intuito de conter o avanccedilo das aacuteguas fluviais
em periacuteodos de cheias
25
Graacutefico 1
Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais (Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia)
Fonte adaptado de Coelho (2007 p154)
26
Como exemplo dos tipos de intervenccedilotildees humanas nas aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial
leitos Carneiro e Miguez (2011 p117) destacam
As accedilotildees de controle e cheias urbanas podem ser classificadas em estruturais quando a paisagem eacute alterada pela accedilatildeo do homem e em natildeo estruturais aqui denominada como estruturante quando o homem aprende a conviver com as enchentes No primeiro caso estatildeo as medidas de controle atraveacutes de obras hidraacuteulicas tais como barragens diques e canais entre outras No segundo caso encontram-se medidas do tipo preventivo tais como zoneamento de aacutereas de inundaccedilatildeo sistemas de alerta educaccedilatildeo ambiental lei de parcelamento e uso dos solos e seguros contra inundaccedilatildeo
Neste cenaacuterio abarcamos os impactos das obras de engenharia como a canalizaccedilatildeo que
altera a fisionomia e fisiografia do rio refletindo-se nos processos geomorfoloacutegicos do canal
e sua planiacutecie de inundaccedilatildeo Para estes a canalizaccedilatildeo eacute uma obra estrutural que aumenta
a capacidade do fluxo do canal aleacutem de intensificar a velocidade do escoamento
superficial antecipando o pico de cheia e transferindo os alagamentos para locais a jusante
na bacia hidrograacutefica
Articulado a esta ideia Cunha (2012b) reflete a desnaturalizaccedilatildeo dos rios por meio de
obras de retificaccedilatildeo com a reduccedilatildeo do comprimento do canal e eliminaccedilatildeo das
sinuosidades Satildeo obras que afetam a estabilidade do corpo hiacutedrico na medida em que
interferem na relaccedilatildeo entre erosatildeo sedimentaccedilatildeo e deposiccedilatildeo provocando efeitos como
alteraccedilatildeo na morfologia do canal Sendo assim ldquo[hellip] a diminuiccedilatildeo da rugosidade no fundo
do canal em conjunto com a perda dos meandros e a aceleraccedilatildeo das velocidades eacute a
principal responsaacutevel pelas mudanccedilas no balanccedilo da energia natural dos sedimentos
fluviais [hellip]rdquo Cunha (2012b p178) No caso do Rio Doce trecho correspondente agrave Av
Beira-Rio alterou-se a sua forma retilinizando-a e sua vegetaccedilatildeo natural foi substituiacuteda
por estruturas de pedras o que compromete a resistecircncia ao fluxo as margens e aos
bancos arenosos
Embora as obras de canalizaccedilatildeo sejam implantadas como eficazes nos canais fluviais para
questotildees de enchentes urbanas para Cunha (op cit) estas necessitam de manutenccedilatildeo
constante envolvendo desde dragagem remoccedilatildeo de obstruccedilotildees a recomposiccedilatildeo do
material utilizado Poreacutem toda a manutenccedilatildeo estaacute associada a alteraccedilotildees morfoloacutegicas e
bioloacutegicas como as que interferem nas soleiras e depressotildees do fundo dos leitos
desestabilizando a vazatildeo no curso a exemplo da
27
ldquo[hellip] eliminaccedilatildeo da sequecircncia de depressotildees e soleiras o aumento da velocidade da corrente a diminuiccedilatildeo da diversidade de habitats o ambiente instaacutevel resultante da flutuaccedilatildeo dos niacuteveis da aacutegua e do substrato moacutevel e a maior flutuaccedilatildeo da temperatura das aacuteguasrdquo (CUNHA 2012b p180)
Ao mesmo tempo o aumento da velocidade dos escoamentos no trecho retificado
possibilita maior erosatildeo transferindo para as aacutereas a jusante uma carga soacutelida
representativa que para Cunha (op cit) configura a formaccedilatildeo de bancos axiais e depoacutesitos
de sedimentaccedilatildeo marginais alterando o equiliacutebrio dos sedimentos a jusante Pois
A jusante das obras de retificaccedilatildeo verificam-se o aumentam da carga soacutelida o assoreamento durante a dragagem a erosatildeo no canal pelos eventos torrenciais do regime e a modificaccedilatildeo na dinacircmica na foz Os sedimentos resultantes da erosatildeo no canal retificado em conjunto com a excessiva carga de sedimentos posta em suspensatildeo durante a dragagem e na fase imediata de poacutes-construccedilatildeo - quando a erosatildeo dos bancos de areia sem vegetaccedilatildeo estaacute em seu niacutevel maacuteximo - originam a formaccedilatildeo de depoacutesitos fluviais de curta duraccedilatildeo a jusante do canal retificado Logo a seguir esses depoacutesitos satildeo erodidos juntamente com as margens e o fundo do leito pelos eventos torrenciais do regime vindo a formar bancos axiais e depoacutesitos de sedimentaccedilatildeo marginais (CUNHA2012b p183)
Portanto o estudo da geomorfologia fluvial contribui diretamente para o entendimento das
cheias nas planiacutecies de inundaccedilatildeo em especial nas bacias hidrograacuteficas que
compreendem a aacuterea urbana e que possuem intervenccedilotildees antroacutepicas diretas na fisiografia
do canal principal Seus processos explicam como as alteraccedilotildees no canal fluvial podem
maximizar os efeitos dos transbordamentos impactando principalmente as populaccedilotildees
ribeirinhas aleacutem de todo ecossistema local Ademais estes fundamentos geomorfoloacutegicos
devem ser associados agrave legislaccedilatildeo vigente afim de subsidiar a elaboraccedilatildeo de instrumentos
legais para atuaccedilatildeo do poder puacuteblico nestas zonas de risco
22 Aspectos Juriacutedicos
Frente agrave crescente demanda sobre os recursos hiacutedricos e solo urbano a partir da deacutecada
de 1930 surgem as primeiras diretrizes que visam regulamentar estes ambientes a
exemplo do Coacutedigo das Aacuteguas Mas soacute a partir dos anos 1960 surgem em acircmbito federal
leis como o Coacutedigo Florestal com o intuito de regular a exploraccedilatildeo das vegetaccedilotildees e
consequentemente proteger os mananciais e em 1979 com o objetivo de ordenar as
28
cidades eacute aprovada a Lei 676679 estabelecendo as normas do parcelamento do solo
urbano
Na medida em que as populaccedilotildees aumentam ampliam-se tambeacutem as pressotildees sobre os
recursos de aacutegua e solo Os processos de uso e a conscientizaccedilatildeo de que estes elementos
satildeo finitos intensificam as formas de controle e preservaccedilatildeo passando para as esferas
estaduais e municipais a responsabilidade de atuar em escala local na proteccedilatildeo desses
ambientes
Ainda em escala federal em 2012 eacute promulgado o Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012
em substituiccedilatildeo ao coacutedigo anterior Lei 47711965 que apresenta as normas de
apropriaccedilatildeo dos recursos naturais pelas novas necessidades das populaccedilotildees citadinas e
rurais No que compete agrave aacuterea de estudo cabe destacar as ocupaccedilotildees em aacutereas de
planiacutecie de inundaccedilatildeo em que de acordo com art 4ordm devem ser preservadas
I - as faixas marginais de qualquer curso drsquoaacutegua natural perene e intermitente excluiacutedos os efecircmeros desde a borda da calha do leito regular em largura miacutenima de (Incluiacutedo pela Lei nordm 12727 de 2012) a) 30 (trinta) metros para os cursos drsquoaacutegua de menos de 10 (dez) metros de largura b) 50 (cinquenta) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura c) 100 (cem) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura d) 200 (duzentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura e) 500 (quinhentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros []
A legislaccedilatildeo eacute riacutegida no que concerne agrave ocupaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo das terras nas faixas
marginais dos rios transferindo aos estados e municiacutepios a responsabilidade de fiscalizar
estes territoacuterios para garantir a efetividade da lei A questatildeo eacute que muitas vezes somada a
falta de planejamento estas fiscalizaccedilotildees satildeo ineficientes o que tem possibilitado o
surgimento cada vez maior das ocupaccedilotildees irregulares
Apoiado tambeacutem pela Constituiccedilatildeo Federal de 1988 nos artigos 182 e 183 surge o
Estatuto das Cidades Lei 102572001 com finalidade de garantir a funccedilatildeo social da
cidade e com este os primeiros Planos Diretores Municipais (PDM) que buscam o
ordenamento do crescimento das cidades em caraacuteter socioeconocircmico e ambiental cidades
sustentaacuteveis Ademais em Colatina eacute instituiacuteda a Lei 42281996 posteriormente revogada
29
pela Lei 52732007 que ldquoInstitui o Plano Diretor do Municiacutepio de Colatina estabelece os
objetivos instrumentos e diretrizes e daacute outras providecircncias para as accedilotildees de
planejamento do Municiacutepio de Colatina []rdquo
O PDM de Colatina assim como Coacutedigo Florestal prevecirc a preservaccedilatildeo dos ecossistemas
beira-rio Aquele ainda dispotildee sobre o parcelamento do solo sustentaacutevel a funccedilatildeo social
da cidade e da propriedade conforme o Plano Diretor de Colatina de 2007 nos artigos
transcritos
Artigo 22 - As diretrizes ambientais no Municiacutepio de Colatina satildeo I - aplicar os instrumentos de gestatildeo ambiental estabelecidos nas legislaccedilotildees federal estadual e municipal bem como a criaccedilatildeo de outros instrumentos adequando-os agraves metas estabelecidas pelas poliacuteticas ambientais II - compatibilizar as diretrizes de uso ocupaccedilatildeo e parcelamento do solo aos objetivos de proteccedilatildeo ambiental dos ecossistemas [] Artigo 23 - Satildeo diretrizes do sistema de drenagem urbana I - disciplinar a ocupaccedilatildeo das cabeceiras e vaacuterzeas das bacias hidrograacuteficas do Municiacutepio preservando a vegetaccedilatildeo existente e visando agrave sua recuperaccedilatildeo [] III - definir mecanismos de fomento para usos do solo compatiacuteveis com aacutereas de interesse para drenagem tais como parques lineares aacuterea de recreaccedilatildeo e lazer hortas comunitaacuterias e manutenccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa [] V - implantar medidas natildeo-estruturais [sic] de prevenccedilatildeo de inundaccedilotildees tais como controle de erosatildeo especialmente em movimentos de terra controle de transporte e deposiccedilatildeo de entulho e lixo combate ao desmatamento assentamentos clandestinos e a outros tipos de invasotildees nas aacutereas com interesse para drenagem [] VII - garantir e respeitar a necessaacuteria permeabilidade do solo inclusive buscando alternativas de pavimentaccedilatildeo com maior de permeabilidade [sic] [] Artigo 84 ndash Satildeo objetivos do ordenamento territorial do Municiacutepio de Colatina [] IV ndash conter a expansatildeo da ocupaccedilatildeo urbana em aacutereas de proteccedilatildeo ambiental [] Artigo 120 ndash Ficam desde jaacute identificadas como Zonas de Proteccedilatildeo Ambiental 2 ndash ZPA 2 as seguintes aacutereas [] III ndash as aacutereas existentes ao longo de qualquer curso drsquoagua desde o niacutevel mais alto em faixa marginal cuja largura miacutenima seraacute de a) 15m (trinta metros) [sic] para os cursos drsquoagua com menos de 10m (10
metros) de largura contidos no periacutemetro urbano [] c) 30m (trinta metros) para os cursos drsquoagua que tenham de10m (dez
metros a 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano
[]
30
e) 50m (cinquenta metros) para os cursos drsquoagua que tenham mais de 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 60422013)
[]
De modo geral verifica-se que a legislaccedilatildeo apresenta instrumentos que permitem a
prevenccedilatildeo ou controle de ocupaccedilotildees irregulares ou clandestinas em aacuterea de APP aleacutem de
propostas para resguardar de grandes impactos ambientais o corpo hiacutedrico principal do
municiacutepio o Rio Doce Possibilitando assim a minimizaccedilatildeo dos impactos causados pelas
cheias agrave populaccedilatildeo local
Poreacutem cabe destacar que o Plano Diretor Municipal de Colatina natildeo contempla o
estipulado no Coacutedigo Florestal 2012 Lei Federal onde os cursos drsquoaacutegua com largura
superior a 600(seiscentos) metros devem ser resguardados com aacutereas de preservaccedilatildeo
permanente de 500(quinhentos) metros entre outros sendo que a redaccedilatildeo desta parte do
PDM eacute dada pela lei 60422013 posterior a publicaccedilatildeo do novo Coacutedigo Florestal Sendo
assim verifica-se que apesar da intenccedilatildeo de resguardar uma faixa de no maacuteximo
50(cinquenta) metros em periacutemetro urbano para a contenccedilatildeo de cheias e mata ciliar o
PDM de Colatina natildeo atende o miacutenimo previsto em Lei Federal O que tem impactado todo
ecossistema beira rio e a populaccedilatildeo ribeirinha uma vez que a faixa marginal de proteccedilatildeo
de 50(cinquenta) metros em muitos casos natildeo tem comportado o impacto dos defluacutevios
No entanto a legislaccedilatildeo trata de aspectos gerais natildeo pontuando as aacutereas responsaacuteveis
por cada accedilatildeo aleacutem de sua aplicabilidade depender da elaboraccedilatildeo de um cronograma de
execuccedilatildeo bem como um conjunto de planos e normas especiacuteficos para cada diretriz com
detalhamento das propostas de intervenccedilatildeo Isto natildeo ocorreu ateacute o presente
Aleacutem disso a cidade de Colatina surgiu num cenaacuterio histoacuterico anterior agraves legislaccedilotildees
urbaniacutesticas e ambientais inclusive do Coacutedigo das Aacuteguas o que dificulta a execuccedilatildeo de
um planejamento que concilie a preservaccedilatildeo das matas beira-rio garantindo a faixa de
APP com a ocupaccedilatildeo urbana consolidada
A aacuterea de estudo se apresenta como ambiente fragilizado apesar de ser regida por
legislaccedilotildees desde a escala federal ateacute a municipal que visam proteger e ordenar o uso e
cobertura da terra nas faixas marginais dos rios Mas a dificuldade das prefeituras em
aplicar os instrumentos legais nestes ambientes seja por interesses privados ou falta de
recursos para investimentos em soluccedilotildees a longo prazo continua expondo as populaccedilotildees
31
aos impactos dos eventos hidroloacutegicos criacuteticos como os que resultam nas inundaccedilotildees
Para que se alcance esse parcelamento do solo sustentaacutevel satildeo necessaacuterios esforccedilos da
gestatildeo municipal em estipular prazos e metas de atuaccedilatildeo afora interagir os diferentes
setores no planejamento em niacutevel de bacia hidrograacutefica considerando as peculiaridades
desta escala de trabalho
23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos
Sendo a ciecircncia que estuda a relaccedilatildeo homemnatureza a Geografia tem muito a contribuir
nas anaacutelises que envolvem o meio ambiente que foi transformado pela dinacircmica da
sociedade Mas historicamente a dialeacutetica das correntes fiacutesica e humana tem imperado de
modo dissociado levando o geoacutegrafo a estudar estes processos separadamente Poreacutem
se o resultado pretendido eacute integrado fazem-se necessaacuterias pesquisas mais amplas que
cruzem as diferentes vertentes geograacuteficas
Considerando que a problemaacutetica dos impactos ambientais urbanos envolve a questatildeo
natural o rio e a questatildeo social e poliacutetica a sociedade e as leis (COELHO 2013) uma
pesquisa neste acircmbito requer o entendimento destes dois objetos a fim de se apreender
o processo de crescimento das cidades brasileiras e a sua relaccedilatildeo com os recursos
hiacutedricos
A partir da deacutecada de 1950 devido ao ecircxodo rural mais intenso as cidades brasileiras
incharam rapidamente com a migraccedilatildeo do camponecircs que buscava melhores condiccedilotildees de
vida como trabalho na induacutestria o acesso agraves escolas saneamento entre outros E
segundo Gorski (2010) a populaccedilatildeo brasileira passou desde o iniacutecio deste processo de 19
milhotildees de habitantes em 1950 para 138 milhotildees de habitantes em 2000 (dados do IBGE)
o que corrobora o raacutepido crescimento das cidades
Todavia as estruturas puacuteblicas natildeo estavam preparadas para um acreacutescimo populacional
tatildeo significativo e em curto espaccedilo de tempo E o que observamos eacute o acesso limitado
dessa populaccedilatildeo agraves aacutereas centrais da cidade sendo induzida a se estabelecer nas
periferias Nesta visatildeo
O difiacutecil acesso da populaccedilatildeo de baixa renda agraves aacutereas mais centrais das cidades contribuiu segundo Raquel Rolnik para a expansatildeo da periferia o que muitas vezes implicou e implica ainda invasatildeo de aacutereas de proteccedilatildeo de mananciais com a aquiescecircncia do poder puacuteblico Esta
32
dinacircmica agravou a situaccedilatildeo de risco dos mananciais pela eliminaccedilatildeo das matas ciliares e consequentemente erosatildeo das margens dos cursos drsquoaacutegua e assoreamento de suas calhas e pela contribuiccedilatildeo do esgoto in natura (ROLNIK1997 apud GORSKI 2010 p62)
Sendo assim a supressatildeo das matas ciliares e das vegetaccedilotildees das encostas para fins de
ocupaccedilatildeo urbana interfere diretamente no ciclo hidroloacutegico diminuindo a absorccedilatildeo de
aacutegua pelo subsolo e pela evapotranspiraccedilatildeo favorecendo o escoamento superficial (Figura
6) que intensifica a velocidade de drenagem das aacuteguas Este processo nas encostas eacute
mais significativo se considerarmos que com a supressatildeo da cobertura vegetal e
impermeabilizaccedilatildeo do solo as precipitaccedilotildees acabam por lavar todo o material
intemperizado sedimentos carregando-o diretamente para o corpo hiacutedrico e contribuindo
para o assoreamento
Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento Fonte Gorski (2010 p64)
Por outro lado as ocupaccedilotildees ribeirinhas nas vaacuterzeas dos rios modificam a dinacircmica fluvial
frente aos defluacutevios A compactaccedilatildeo e o nivelamento do solo associados agrave
impermeabilizaccedilatildeo por concreto asfalto e outros materiais alteram todo o sistema de
drenagem natural e contribuem para a erosatildeo fluvial Aleacutem disso a gestatildeo puacuteblica que
33
deveria investir num parcelamento do solo sustentaacutevel resguardando ldquouma alocaccedilatildeo de
espaccedilosrdquo (CANHOLI 2005 p 15) para a drenagem acaba por colaborar com as enchentes
urbanas na medida em que decide por obras estruturais como a canalizaccedilatildeo (Figura 7
p30) e a microdrenagem que transferem os impactos das inundaccedilotildees a jusante
Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia Fonte Gorski (2010 p69)
Cabe destacar que desde 1965 com o primeiro Coacutedigo Florestal as matas beira-rio jaacute
eram resguardadas da degradaccedilatildeo humana poreacutem com todo o boom urbano a partir de
1950 a falta de estrutura e ingerecircncia municipal no que se refere ao parcelamento e uso
e ocupaccedilatildeo da terra urbana possibilitou a formaccedilatildeo dos assentamentos clandestinos em
APP e na encosta de morros Em condiccedilotildees precaacuterias sem saneamento baacutesico e demais
infraestruturas urbanas estes assentamentos acabam sendo as regiotildees mais afetadas
com as inundaccedilotildees
Junto agraves questotildees jaacute levantadas vale destacar que as aacuteguas das inundaccedilotildees propiciam o
aumento das doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica (febre tifoide hepatite leptospirose
esquistossomose entre outras) pois carregam segundo Gorski (2010) toda uma poluiccedilatildeo
difusa efluentes domeacutesticos industriais e agroindustriais aleacutem do lixo urbano da poluiccedilatildeo
do ar e das ruas
34
Por outro lado esta ocupaccedilatildeo urbana natildeo planejada perde o benefiacutecio que os corpos
hiacutedricos podem oferecer como [] as paisagens fluviais que aos poucos foram sendo
apropriadas como paisagens urbanas [] (GORSKI 2010 38) aleacutem do microclima
associado agrave umidade pela evapotranspiraccedilatildeo que ameniza a sensaccedilatildeo teacutermica local
Poreacutem conforme observado por Graeff (2011) natildeo eacute cabiacutevel atualmente implantar a
legislaccedilatildeo de APP de modo jurista Deve-se considerar toda a representatividade cultural
assentada sobre os leitos destes rios (avenidas importantes casas com arquitetura
histoacuterica entre outros) Aleacutem disso para a demarcaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo
permanente hoje eacute necessaacuteria uma anaacutelise teacutecnica pautada na geomorfologia e
hidrologia de modo a interpretar o ldquocomportamento histoacuterico dos cursos drsquoaacutegua na
paisagem prevendo cenaacuterios de impactos futurosrdquo da atividade humana sobre suas faixas
marginais
Tendo em vista que grande parte da malha urbana brasileira estaacute alocada em APPs e que
segundo Graeff (2011) estas jaacute possuem uma unidade de paisagem estabelecida e muitas
vezes secular configurando siacutetios de importacircncia cultural e apreendendo que
De modo semelhante nas demais cidades haveraacute que ser entendido o meio urbano como ele realmente eacute ndash um encontro entre as necessidades de habitaccedilatildeo com atividades humanas e de conservaccedilatildeo ambiental esta segunda tambeacutem a serviccedilo do homem e natildeo somente de objetivos difusos e distanciados da sobrevivecircncia da sociedade (GRAEFF 2011 206)
Por tais motivos o trabalho com a geomorfologia fluvial urbana deve abarcar os princiacutepios
do bom senso compreendendo que nestas aacutereas de atividade antroacutepica consolidada pode-
se fazer uso de instrumentos de engenharia avanccedilados para uma convivecircncia equilibrada
do homem com a natureza no entorno Contudo deve-se incentivar as aacutereas de expansatildeo
urbana ou zona periurbana (zonas de transiccedilatildeo da aacuterea urbana para a rural) com poliacuteticas
de incentivo a pavimentaccedilotildees mais permeaacuteveis a fim de minimizar o escoamento
superficial para o rio favorecendo a infiltraccedilatildeo
Apesar de os impactos gerados pela interferecircncia humana nas aacutereas mais fragilizadas da
bacia hidrograacutefica vaacuterzeas e encostas refletirem-se em cataacutestrofes com prejuiacutezos
humanos ambientais e urbanos alguns autores brasileiros como Canholi Graeff Cunha
Carneiro e Miguez jaacute indicaram outros caminhos para uma convivecircncia harmoniosa com
a natureza Aleacutem do mais paiacuteses desenvolvidos como a Holanda deixaram de ldquolutar contra
35
as cheiasrdquo para permitir agraves aacuteguas das enchentes a capacidade de acumular e dispersar
com impacto reduzido para as populaccedilotildees (CARNEIRO MIGUEZ 2011)
Sendo assim a proposta deste estudo eacute identificar os principais agentes que influenciam
as inundaccedilotildees entendendo seu papel e atuaccedilatildeo no contexto urbano de Colatina Mas eacute
tambeacutem a de ampliar a abordagem da temaacutetica com uma anaacutelise geograacutefica integrada
ressaltando as medidas que constam no planejamento urbano e sua aplicaccedilatildeo nas faixas
marginais do corpo hiacutedrico
36
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS
Esta pesquisa eacute constituiacuteda de trecircs etapas principais sendo que a primeira teve como
premissa a confecccedilatildeo de um fluxograma (Figura 8) de trabalho para orientar a pesquisa
em seguida teve iniacutecio o levantamento de bibliografias que abordam temas como a
geomorfologia fluvial e urbanizaccedilatildeo em Colatina adotando-se como referecircncia as
pesquisas de Coelho (2006 2007 2008 e 2009) e Albani (2012) Aleacutem disso muito
contribuiacuteram para este trabalho o relatoacuterio do INCAPER da CPRM e os dados do IBGE
Cabe destacar tambeacutem as experiecircncias com recursos hiacutedricos em ambientes urbanos de
Carneiro e Miguez (2011) em especial Cunha (2001 2012ab)
Esta etapa consistiu tambeacutem na busca de material cartograacutefico como aquisiccedilatildeo de planos
de informaccedilatildeo de limite estadual municipal bairros mancha urbana corpo drsquoaacutegua e
logradouros atraveacutes de dados disponiacuteveis no Sistema Integrado de Bases Geoespaciais
do Estado do Espiacuterito Santo (GEOBASES 2014) no Instituto Jones dos Santos Neves
(IJSN 2015) e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2014) imagens
orbitais gratuitas do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI bandas 2-3-4 e 8 (Pan) oacuterbita 216
ponto 73 com datas de passagem em 02012014 e 22032014 agraves 946 (horaacuterio central
da oacuterbita) junto ao Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2014) aleacutem do ortofotomosaico
do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hiacutedricos (IEMA 2014) do Espiacuterito
Santo referente ao voo de 2007 a 2008
Na segunda etapa foram realizadas duas investigaccedilotildees de campo sendo a primeira no
dia 24 de junho de 2014 com a finalidade de fazer o reconhecimento da aacuterea de estudo
fotografar e conversar com moradores e teacutecnicos da prefeitura O segundo trabalho de
campo ocorreu no dia 14 de fevereiro de 2015 e por meio deste foi possiacutevel identificar
pontos sujeitos a inundaccedilatildeo analisar a topografia e realizar as entrevistas com moradores
e funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina
37
Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC)
38
Na terceira etapa foram realizados os mapeamentos e processamentos de todos os planos
de informaccedilatildeo vetoriais e matriciais em ambiente de SIG no sistema ArcGis 103 iniciando
com a ediccedilatildeo dos dados do Municiacutepio e adjacecircncias que foram ajustados quando
necessaacuterio ao sistema de projeccedilatildeo UTM no Datum SIRGAS ndash 2000 na Zona 24 sul com
meridiano central -39 W com todo o mapeamento produzido seguindo a padronizaccedilatildeo
cartograacutefica proposta por Fitz (2008 a b)
O geoprocessamento teve iniacutecio com a composiccedilatildeo das imagens orbitais do Landsat-8 na
cor natural da imagem (2R 3G 4B) e por meio da teacutecnica de Pan Sharpening ou fusatildeo
de imagens a imagem cor natural foi agrupada agrave da banda 8 pancromaacutetica para obtenccedilatildeo
de uma melhor resoluccedilatildeo espacial neste caso chegando a 15 metros sendo resguardado
o conteuacutedo da imagem composta Na sequecircncia foi realizada a extraccedilatildeo da maacutescara do
periacutemetro urbano de Colatina e gerada a classificaccedilatildeo supervisionada da imagem Landsat-
8 no periacuteodo de cheia (janeiro) e vazante (marccedilo) o que possibilitou a delimitaccedilatildeo da calha
do Doce nestes dois eventos
Em seguida foram realizadas as 8 (oito) mediccedilotildees do leito regular sendo 4 (quatro) no
periacuteodo de cheia e 4 (quatro) na vazante de modo a definir a largura meacutedia da calha do
leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina Para chegar a uma medida geral
da largura do rio utilizaram-se ferramentas estatiacutesticas como a meacutedia que eacute uma medida
de tendecircncia central onde numa amostra de tamanho N constituiacuteda por elementos de x
variando de eacute possiacutevel extrair a meacutedia aritmeacutetica atraveacutes da equaccedilatildeo
A meacutedia aponta para onde mais convergem os dados de uma distribuiccedilatildeo
A partir desta definiccedilatildeo da meacutedia da largura da calha do Rio Doce foi possiacutevel em consulta
ao Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e a Lei 52732007 determinar a faixa miacutenima
de preservaccedilatildeo permanente deste corpo fluvial aleacutem da confecccedilatildeo do mapa com o
poliacutegono de APP
Mediante a anaacutelise do mapa verificou-se que grande parte dos bairros do municiacutepio estatildeo
contidos nos poliacutegonos de APP em especial a preservaccedilatildeo de 500 metros conforme lei
federal E por meio deste foram cruzados os dados de vazatildeo as fotos histoacutericas das
enchentes e o poliacutegono de mata ciliar o que permitiu o entendimento das inundaccedilotildees
39
Em ambiente de SIG tambeacutem foram vetorizados os trecircs traccedilados da Estrada de Ferro
Vitoacuteria a Minas o trajeto do Rio Santa Maria do Doce antes e depois da retilinizaccedilatildeo e os
sucessivos aterros na margem direita do Rio Doce no periacutemetro que compreende a Av
Beira-Rio
As teacutecnicas de sensoriamento remoto como a classificaccedilatildeo supervisionada permitiram a
definiccedilatildeo do poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo atraveacutes da imagem da cheia de janeiro Para
tanto foi realizada tambeacutem a classificaccedilatildeo hiacutebrida objetivando aliar a interpretaccedilatildeo visual
com a digital (JENSEN 2009) Por fim foi realizada amarraccedilatildeo com o levantamento
geodeacutesico da CPRM (2014) para garantir a precisatildeo do traccedilado do poliacutegono de cheia
A partir do tratamento dos dados bibliograacuteficos cartograacuteficos e imagens foi possiacutevel
sistematizar este trabalho o que permitiu identificar elementos histoacutericos de intervenccedilatildeo
na paisagem do Doce como os aterros e a ocupaccedilatildeo urbana As visitas de campo a
entrevista e conversas com moradores foram fundamentais para a validaccedilatildeo das
informaccedilotildees o que tornou esta metodologia eficaz para anaacutelise do fenocircmeno da inundaccedilatildeo
em Colatina
40
4 RESULTADOS
41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana
A ocupaccedilatildeo ao longo das planiacutecies de inundaccedilatildeo dos rios tem ocorrido diante da
necessidade deste recurso para as atividades vitais humanas Cunha (2012b p219)
entende que ldquosuas margens tecircm sido o centro preferido da habitaccedilatildeo humana e o
suprimento de suas aacuteguas natildeo soacute fertiliza os campos para o cultivo como tambeacutem fornece
energia e permite recreaccedilatildeordquo Logo o estabelecimento das vilas nas bordas dos cursos
drsquoaacutegua favorece a logiacutestica ocupacional
Historicamente em solo espiacuterito-santense a formaccedilatildeo das vilas ocorreu agraves margens de
estrateacutegicos cursos drsquoaacutegua e a exploraccedilatildeo do ouro de Minas Gerais para Albani (2012)
determinou que a Coroa proibisse nos seacuteculos XVII a XIX a implantaccedilatildeo de estradas e
exploraccedilatildeo de terras na Capitania do Espiacuterito Santo pois os portugueses temiam incursotildees
estrangeiras deixando assim o desenvolvimento capixaba restrito agrave faixa litoracircnea
Relegada enquanto ldquobarreira verderdquo para defesa das minas de ouro e minerais do atual
territoacuterio das Minas Gerais segundo Coelho (2007) a Capitania do Espiacuterito Santo soacute
passou a se interiorizar para o centro-oeste onde se localiza atualmente a cidade de
Colatina a partir de 1847 por meio das ocupaccedilotildees de Santa Izabel e Santa Leopoldina
que permitiram a descida do Rio Santa Maria do Doce ateacute as imediaccedilotildees da atual cidade
de Colatina
Assim foi que o movimento colonizador desceu o vale do Santa Maria do Rio Doce atingindo em 1891 a regiatildeo das matas onde hoje se acha a cidade de Colatina [] Esta penetraccedilatildeo inicial foi feita com elementos alematildees de Santa Leopoldina e no rio Doce ficou muito anos restrita agrave aacuterea inicial A expansatildeo ao longo do vale tomou impulso com a chegada a Colatina em 1906 dos trilhos da Estrada de Ferro Diamantina (atual Vitoacuteria-Minas) (STRAUCH1955 apud COELHO 2007 p105)
Sendo assim Coelho (op cit) relata que a ocupaccedilatildeo se deu atraveacutes da supressatildeo da mata
nativa no baixo curso do Rio Doce de Colatina a Linhares sendo a madeira daiacute extraiacuteda
levada ateacute o rio e encaminhada ateacute Povoaccedilatildeo vilarejo junto agrave foz de onde eram carregados
os navios Neste periacuteodo tem-se a instalaccedilatildeo de um ciclo madeireiro na regiatildeo com a
disposiccedilatildeo de serrarias nas proximidades das matas
41
Todavia somente a partir de 1906 com a chegada da estrada de ferro na regiatildeo o
transporte madeireiro foi transferido para as locomotivas Agrave medida que a implantaccedilatildeo da
Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas avanccedilava para o interior levava consigo as frentes de
desmatamento modificando as paisagens das margens do Rio Doce e se apropriando dos
espaccedilos deste rio (Figura 9)
Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906 Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce Fonte Albani (2012 p 63)
Conforme Albani (2012) com a vinda dos mineiros e fluminenses reforccedilados
posteriormente a partir de 1889 por colonizadores italianos e alematildees eacute que as
ocupaccedilotildees territoriais ocorreram de modo efetivo Atraveacutes do Barracatildeo do Rio Santa Maria
(Figura 10) espaccedilo do governo inicialmente destinado a alojar os migrantes e a produccedilatildeo
surgiram as primeiras residecircncias nas proximidades da igreja de Satildeo Sebastiatildeo Sendo
assim
Eacute importante destacar que o desenvolvimento da regiatildeo onde se encontra o municiacutepio de Colatina teve iniacutecio no final do seacuteculo XIX no nuacutecleo de colonizaccedilatildeo Antocircnio Prado localizado no distrito de Boapaba antiga vila do Mutum O nuacutecleo recebeu dezenas de famiacutelias de imigrantes italianos e ali desenvolveram atividades de agricultura e com a expansatildeo da localidade surge tambeacutem o comeacutercio (ALBANI 2012 p61) [hellip] A vila de Colatina entretanto logo passou a se transformar no principal nuacutecleo e futuramente na sede do municiacutepio Aleacutem da facilidade da produccedilatildeo atraveacutes do Rio Doce a vila de Colatina tornou-se referecircncia dos imigrantes no caminho para a colonizaccedilatildeo das terras ao norte do estado (MADURO1985 apud ALBANI 2012 p62)
42
Desse modo com o desenvolvimento das atividades de cafeicultura madeireira e do
entroncamento logiacutestico de acesso agraves aacutereas do norte a vila eacute elevada em 1921 agrave categoria
de municiacutepio A atual configuraccedilatildeo territorial foi adquirida a partir de 2001 conforme IBGE
(2014) dispondo de seis distritos Colatina (sede) Acircngelo Frechiami Baunilha Boapaba
Graccedila Aranha e Itapina
Cabe destacar poreacutem que a ocupaccedilatildeo inicial da cidade de Colatina se perfaz pela margem
direita do Rio Doce onde se localiza o atual bairro de Colatina Velha e onde havia se
instalado o Barracatildeo de Santa Maria Nesse periacuteodo a ponte ainda natildeo fora edificada
limitando assim a ocupaccedilatildeo da margem esquerda
Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da regiatildeo Fonte Albani (2012 p62)
Conforme Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p65) a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro
Vitoacuteria a Minas em 1906 (Figura 11) possibilitou a expansatildeo da cidade de Colatina e seu
desenvolvimento econocircmico Todavia sua instalaccedilatildeo paralela agrave margem direita do Rio
Doce favoreceu a localizaccedilatildeo de avenidas e ruas centrais em sua proximidade
43
Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p65)
Entretanto foi com a construccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos (Figura 12) em 1928 que a
margem direita se conectou agrave margem esquerda da cidade o que aleacutem de possibilitar a
ocupaccedilatildeo facilitou o acesso agraves regiotildees mais ao norte do Estado
Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p66)
44
Por conseguinte a estrada de ferro e a ponte foram os fatores determinantes para o
estabelecimento dos migrantes agraves margens do Rio Doce e a formaccedilatildeo do atual municiacutepio
de Colatina Contudo foi a partir desta posiccedilatildeo privilegiada que a cidade passou a ser
entreposto comercial e logiacutestico da regiatildeo noroeste e com isso sua aacuterea urbana expandiu-
se de modo desordenado inicialmente ao longo da planiacutecie de inundaccedilatildeo do Doce Coelho
(2007 p108 e 109) relata que
Os efeitos dessa urbanizaccedilatildeo (novos parcelamentos) e do desmatamento produz [sic] normalmente o aumento da velocidade das aacuteguas superficiais (pluviais) que eram antes interceptadas pelas matas com boa parte absorvida pelo solo O que ocorre geralmente nessas aacutereas eacute a chegada mais raacutepida das aacuteguas das chuvas para o tributaacuterios e calha principal do rio por fluxos concentrados que provocam processos de erosotildees do tipo laminar ravina e voccediloroca transportando quantidades expressivas de sedimentos que por sua vez causam assoreamento e a ocorrecircncia de cheias mais frequentes no rio
Com o crescimento acelerado do periacutemetro urbano proporcionado pelo apogeu do ciclo
cafeeiro as proacuteximas deacutecadas levaratildeo a cidade de Colatina a sofrer com impactos
advindos das alteraccedilotildees no ambiente fluvial do Rio Doce em especial os referentes a
ocupaccedilatildeo (impermeabilizaccedilatildeo) e desmatamento das margens (interferecircncia na drenagem
natural) conforme destacado por Coelho (2007)
Eacute fato que o municiacutepio viveu nas deacutecadas de 1940 e 1950 o auge do ciclo cafeeiro
chegando a ser no ranking brasileiro o 13ordm municiacutepio produtor de cafeacute no ano de 1947
(CAMPOS JUNIOR 2004 apud ALBANI 2012 p69) Poreacutem a partir de 1960 este boom
entrou em colapso com crise do cafeacute que assolou todo o paiacutes levando grande parte dos
pequenos proprietaacuterios rurais a migrarem para centros urbanos em especial no Espiacuterito
Santo a regiatildeo da Grande Vitoacuteria e tambeacutem para o centro de Colatina
Em razatildeo da crise cafeeira a populaccedilatildeo rural migra para centros urbanos A populaccedilatildeo migrou em grande quantidade para a Grande Vitoacuteria para fora do estado e tambeacutem para a cidade de Colatina principal aglomerado urbano da regiatildeo Esse processo provoca o aumento da aacuterea urbana de Colatina A populaccedilatildeo da cidade que era de 3913 habitantes em 1940 cresceu para 26757 habitantes em1960 (ALBANI2012 p71)
O crescimento raacutepido do centro de Colatina aliado ao aumento populacional direciona
grande parte dos migrantes para as aacutereas menos centrais da cidade levando agrave ocupaccedilatildeo
de locais irregulares como os morros e as margens direita e esquerda do Rio Doce Este
45
processo configurou a nova paisagem do municiacutepio povoando do vale agraves encostas (Figura
13)
Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes Fonte Albani (2012 p73)
Associado a este processo de reconfiguraccedilatildeo espacial nas proacuteximas deacutecadas o municiacutepio
de Colatina passaraacute por sucessivas perdas de territoacuterios ateacute atingir os limites atuais (Figura
1 p17) Aliado a estas perdas territoriais seu quantitativo absoluto populacional tambeacutem
sofreraacute impactos poreacutem de modo geral a populaccedilatildeo urbana deste municiacutepio apresentou
crescimento continuo (Graacutefico 2)
Graacutefico 2
Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 2010
Elaborado pela autora Fonte 1940 e 1950 Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p82) 1960 a 2010 IBGE
0
20000
40000
60000
80000
100000
120000
1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020
Populaccedilatildeo Urbana Colatina 1940 - 2010
46
Assim como tem ocorrido nas grandes capitais Colatina cresceu em quantitativo
populacional e territorial urbano de modo muito raacutepido e por este desenvolvimento natildeo ter
sido aliado a um planejamento urbano e ambiental sustentaacutevel a cidade tem sentido os
reflexos das suas interferecircncias ao longo do canal do Doce O que tem provocado
antecipaccedilatildeo dos picos de vazatildeo que no periacutemetro urbano ocasiona as inundaccedilotildees pois
natildeo conseguindo o rio acomodar estes defluacutevios transfere em curto espaccedilo de tempo as
aacuteguas a sua planiacutecie de inundaccedilatildeo atingindo os bairros mais antigos do municiacutepio
Por fim entender o contexto histoacuterico do crescimento da cidade revela muito do panorama
atual E por meio de uma anaacutelise conjunta da histoacuteria com os novos planejamentos eacute
possiacutevel propor intervenccedilotildees urbanas que possibilitem um conviacutevio harmonioso entre
natureza e sociedade neste caso entre o Rio Doce e o centro de Colatina Diante desta
proposta adiante apresentaremos a evoluccedilatildeo dos bairros associando seus periacuteodos de
ocupaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo espacial nas imediaccedilotildees do curso principal do Doce
411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade
Com nuacutecleo inicial de povoamento no Barracatildeo de Santa Maria a cidade de Colatina
cresce a partir deste ponto agrave margem direita do Rio Doce de onde surgem as primeiras
residecircncias comeacutercios e a igreja Atualmente a regiatildeo compreende o bairro de Colatina
Velha que de acordo com Albani (2012 p91) [hellip] ldquopode ser considerado o primeiro polo
de crescimento da cidaderdquo
Aliado ao aumento da populaccedilatildeo migrante das fazendas com a crise do cafeacute o nuacutecleo de
Colatina Velha passa a ser um ponto de passagem obrigatoacuterio para os viajantes que
vinham majoritariamente do sul uma vez que o Rio Doce configurava uma barreira natural
agrave ocupaccedilatildeo das terras ao norte Aleacutem disso a margem esquerda deste canal fluvial era
habitat dos hostis iacutendios botocudos o que dificultava a sua apropriaccedilatildeo
Sendo assim a ocupaccedilatildeo de Colatina conteve-se agrave margem direita nesta primeira fase o
que define o primeiro vetor de crescimento da cidade na direccedilatildeo leste para oeste partindo
das imediaccedilotildees do Barracatildeo de Santa Maria sentido ao Rio Santa Maria do Doce (Figura
14) E a partir de 1906 com a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas da entatildeo
Companhia Vale do Rio Doce atual Vale este vetor de crescimento se consolida e
47
proporciona o surgimento de importantes avenidas paralelas agrave ferrovia a exemplo da Av
Getuacutelio Vargas
Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de crescimento Elaborado pela autora
48
O segundo vetor do crescimento de Colatina estava condicionado agrave construccedilatildeo da ponte
Florentino Aacutevidos a qual conectou a margem direita agrave esquerda do Rio Doce permitindo
a ocupaccedilatildeo da porccedilatildeo ao norte Portanto somente a partir de 1928 com a finalizaccedilatildeo da
obra da ponte a barreira natural pocircde ser transposta o que possibilitou ao lado esquerdo
desenvolver uma nova linha de crescimento urbano com a ocupaccedilatildeo do atual bairro de
Satildeo Silvano
O terceiro vetor de crescimento estaacute associado agrave implantaccedilatildeo do bairro Luiz Iglesias na
margem direita e os de Maria das Graccedilas e Coluacutembia na margem esquerda Albani (2012)
ressalta que esta fase da ocupaccedilatildeo urbana estaacute associada ao desenvolvimento do sistema
viaacuterio como a proximidade da BR-259 sentido Vitoacuteria- Colatina da ES-80 que liga
Colatina agrave regiatildeo norte da ES-256 que a conecta a Marilacircndia e da proximidade da
estaccedilatildeo ferroviaacuteria Carlos Germano Nauman (Figura 15)
Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios e linhas feacuterreas que interceptam a cidade de Colatina Elaborado pela autora
Jaacute na quarta e mais recente linha de crescimento da cidade temos os novos loteamentos
residenciais e industriais a exemplo do de Barbados e do bairro Santa Helena que surgem
49
acompanhando o traccedilado da ponte que contorna a leste a cidade como novo acesso agrave
porccedilatildeo norte do estado Albani (2012 p118) destaca que
Apesar da construccedilatildeo da Segunda Ponte ter sido iniciada em 1986 somente foi inaugurada em 2007 A conclusatildeo da ponte e a construccedilatildeo de uma rodovia de contorno desviaram a BR-259 do centro da cidade O desvio da rodovia federal trouxe um desafogamento do tracircnsito nas principais vias da cidade e um novo direcionamento na expansatildeo urbana Alguns loteamentos surgiram nesse periacuteodo proacuteximo agrave Segunda Ponte e ao contorno na margem norte do rio principalmente no bairro Santa Helena (Figura 55) Essa situaccedilatildeo indica mais uma vez que as linhas de crescimento em Colatina satildeo orientadas pelas vias de transporte
Portanto o crescimento do periacutemetro urbano de Colatina estaacute associado agrave superaccedilatildeo das
barreiras naturais em especial o Rio Doce por meio de investimentos em obras de
engenharia que permitiram o deslocamento humano para a margem esquerda deste curso
Sem duacutevida as vias de transporte foram elementares na construccedilatildeo do periacutemetro urbano
de Colatina pois na medida que se consolidava o sistema viaacuterio as ocupaccedilotildees tambeacutem se
favoreciam destas vias de locomoccedilatildeo A evoluccedilatildeo da aacuterea urbana portanto acompanha
as principais vias de transporte (Figura 15 p45) e estas se utilizam da posiccedilatildeo estrateacutegica
e geograficamente favoraacutevel do canal do Doce para a definiccedilatildeo de seus traccedilados
Apoacutes 94 anos de emancipaccedilatildeo de Linhares o territoacuterio de Colatina eacute fundamental para a
manutenccedilatildeo dos municiacutepios do noroeste capixaba Diante desta posiccedilatildeo estrateacutegica torna-
se relevante o entendimento de como o urbano se relaciona com o meio natural a fim de
se estabelecer poliacuteticas de ordenamento territorial que promovam a qualidade de vida no
municiacutepio Adiante seraacute analisada a situaccedilatildeo da calha principal do Rio Doce elemento
fundamental na compreensatildeo do uso e cobertura da terra de Colatina
42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce
Compreendendo uma aacuterea de 3330 kmsup2 o periacutemetro urbano de Colatina eacute afetado pela
velocidade dos defluacutevios de modo que grande parte dos bairros beira-rio eacute tomada pelas
aacuteguas excedentes da calha principal do Doce o que configura o fenocircmeno de inundaccedilatildeo
Ao pesquisar estes fenocircmenos eacute necessaacuterio relacionar o uso da terra com os processos
geomorfoloacutegicos do corpo hiacutedrico Sendo assim por meio de teacutecnicas de
geoprocessamento foram realizadas oito mediccedilotildees da calha principal do Rio Doce para
50
estabelecimento da distacircncia meacutedia da largura de sua calha O resultado esteve dentro do
esperado e pode ser verificado na tabela abaixo (Tabela 1) e no mapa em sequecircncia
(Figura 16)
Tabela 1 Perfis transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de
vazante (abril) e cheia (janeiro)
Largura do rio Doce periacuteodo de vazante e cheia
Abril2013(m) Janeiro2014(m)
P1 70735 75784
P2 62080 66483
P3 59209 65804
P4 63548 67650
Meacutedia dos Perfis 62814 67066
Meacutedia Geral 66143 Obs todas as medidas estatildeo em metros
Elaborado pela autora
Figura 16 - Traccedilado dos perfis transversais da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de vazante mecircs de abril2013 Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)
51
Com uso das imagens orbitais do Landsat-8 atraveacutes da classificaccedilatildeo hiacutebrida foram
gerados dois arquivos shapefiles correspondentes agraves bordas do Doce um no periacuteodo de
vazante e outro no de cheia Por meio destes dados foram definidos quatro traccedilados para
realizaccedilatildeo das mediccedilotildees a partir destas e com auxiacutelio das medidas de tendecircncia central
chegou-se a uma largura meacutedia total de 66143m de uma margem a outra Este resultado
indicou que tanto no periacuteodo de vazante quanto no periacuteodo de cheia a largura meacutedia
aponta para a maior faixa de APP proteccedilatildeo de 500m conforme previsto na legislaccedilatildeo
federal (Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e no revogado Lei 4771 1965)
Analisando a imagem abaixo (Figura 17) observa-se que grande parte do solo
naturalmente destinado a ldquoacomodaccedilatildeordquo das aacuteguas nas cheias (linha laranja) foi
incorporado agrave sociedade como espaccedilo criado (periacutemetro urbano em APP mancha em
amarelo) destinado a fins muacuteltiplos Deste modo sem planejamento territorial adequado
grande parte da planiacutecie de inundaccedilatildeo deu lugar a outras funccedilotildees diferentes das naturais
sendo incorporada ao espaccedilo urbano
Lanccedilando o buffer (mancha em amarelo) do entorno da calha do Doce (Figura 17) observa-
se que dos 59 bairros do municiacutepio cerca de 29 estatildeo dentro da aacuterea de 500m destinada
a preservaccedilatildeo permanente pelo Coacutedigo Florestal Considerando-se a delimitaccedilatildeo da APP
prevista no PDM de 1996 e 2007 (linha laranja mais proacutexima da borda do rio) este nuacutemero
cai para 18 bairros permanecendo apenas aqueles que possuem limites com o corpo
hiacutedrico
Uma vez que que lei municipal natildeo suplanta lei federal considerar-se-aacute neste estudo o
limite da faixa marginal de proteccedilatildeo definida na Lei Federal 126512012 Deste modo a
aacuterea de preservaccedilatildeo permanente do Doce neste recorte eacute de 1085 kmsup2 compreendendo
33 do periacutemetro urbano de Colatina
Cabe destacar ainda que mesmo o PDM de 1996 contendo enquanto objetivo no Art 14
ldquoI - estabelecer a ordenaccedilatildeo do uso e da ocupaccedilatildeo do solo urbanordquo (Lei 42281996 p4)
a gestatildeo municipal natildeo obteve sucesso na implementaccedilatildeo de tal legislaccedilatildeo O que se
verifica tanto nas deacutecadas de 1990 quanto no iniacutecio dos anos 2000 quando foram
aprovados novos parcelamentos urbanos agraves margens deste canal a exemplo dos bairros
de Barbados na margem direita e do bairro Mario Giurizato na margem esquerda
52
Figura 17- Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)
53
Articulado a esta ideia e pesquisando o trecho do bairro Esplanada a Colatina Velha palco
das uacuteltimas obras estruturantes de alto porte do municiacutepio consegue-se analisar os efeitos
das inundaccedilotildees nas margens deste rio Logo implementar medidas de prevenccedilatildeo de
cheias em aacutereas com urbanizaccedilotildees antigas requer um esforccedilo da gestatildeo na regulaccedilatildeo do
solo urbano
421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie
de Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio
Interceptada pelo curso do Rio Doce no perfil mais a jusante da bacia a cerca de 100km
do estuaacuterio com o Oceano Atlacircntico a cidade de Colatina polo moveleiro e de confecccedilotildees
do centro-oeste capixaba eacute palco recorrente de inundaccedilotildees urbanas
Conforme jaacute mencionado por Cunha (2012a) este fenocircmeno ocorre quando a bacia recebe
um percentual precipitado acima da sua capacidade de escoamento o que faz o leito
menor do rio extravasar para o leito maior ocupando as aacutereas de vaacuterzeas (Figura 18 p
50) Aliadas a esta questatildeo estatildeo as ocupaccedilotildees humanas das margens dos rios que ao
suprimir a vegetaccedilatildeo natural e alterar a condiccedilatildeo fiacutesica do solo acabam por reduzir a aacuterea
de drenagem das aacuteguas pluviais acelerando o escoamento superficial para o canal
principal e favorecendo os defluacutevios
Figura 18 - Representaccedilatildeo da inundaccedilatildeo urbana Fonte adaptado da Defesa Civil do Tocantins (2015)
Este fenocircmeno tem ganhado destaque em Colatina a partir de 1979 ano em que o Rio
Doce atingiu a vazatildeo de 12860msup3s tomando toda aacuterea aplainada que compotildee seu leito
maior afetando da atual Av Beira-Rio ateacute as redondezas da Av Getuacutelio Vargas Desde
entatildeo os estudos das inundaccedilotildees urbanas satildeo relevantes no municiacutepio o que levou o
54
Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) na deacutecada de 1980 a elaborar um ldquoPlano Diretor
de Contenccedilatildeo das Enchentes Proteccedilatildeo das Encostas e Drenagem Pluvial de Colatinardquo
Tal medida apresentou seis alternativas para o fenocircmeno Poreacutem tendo em vista o custo
operacional das obras apenas a alternativa seis que previa a construccedilatildeo de diques
marginais para a proteccedilatildeo das aacutereas mais centrais foi considerada viaacutevel na eacutepoca
Todavia em entrevistas com funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina (PMC) foi
relatado que todo o estudo foi arquivado e que ateacute agora natildeo haacute previsatildeo de
implementaccedilatildeo de tais medidas Fato este que eacute evidenciado (Tabela 2 p 51) quando da
ocorrecircncia de precipitaccedilotildees intensas na bacia durante as quais sazonalmente a cidade eacute
impactada com as aacuteguas das inundaccedilotildees Isto faz com que o municiacutepio passe
recorrentemente por cataacutestrofes conforme tabela com os principais picos de vazatildeo do rio
nos uacuteltimos 50 anos
Tabela 2
Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013
Ano Diamecircs Vazatildeo(msup3s)
1961 30jan 6613
1979 04fev 12860
1997 07jan 8687
2005 03ago 6549
2013 24dez 9028
Fonte Coelho (2007 apud DALLAPICOLA 2014 p4) e CPRM (2014 p85) Observo que os dados da tabela 1 para os anos de 1979 e 2013 estatildeo baseados na estimativa de vazatildeo meacutedia diaacuteria das maacuteximas anuais obtida atraveacutes de extrapolaccedilatildeo da curva-chave pelo grupo interdisciplinar dos relatoacuterios criacuteticos anteriores
As inundaccedilotildees de 1979 1997 e recentemente 2013 (Figura 19) foram as de maior vazatildeo
neste setor do rio e consequentemente as que mais atingiram a aacuterea urbana do municiacutepio
bloqueando os acessos ao centro da cidade e aos equipamentos essenciais como
hospitais escolas e demais oacutergatildeos puacuteblicos aleacutem de desalojarem muniacutecipes e
comprometerem a sauacutede puacuteblica
55
Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de 1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 Fonte1) Nossa Colatina 2) Nossa Linda Colatina 3) Nossa Colatina
Com o propoacutesito de identificar os principais fatores que acentuam as inundaccedilotildees seraacute
analisado como os processos geomorfoloacutegicos do Doce estatildeo sendo afetados pela accedilatildeo
antroacutepica Limitaremos a anaacutelise ao periacutemetro urbano no trecho que compreende do bairro
Esplanada ateacute o bairro Colatina Velha (Figura 20) Neste periacutemetro eacute possiacutevel visualizar a
evoluccedilatildeo da mancha urbana sobre o leito do rio aleacutem de identificar na margem direita os
pontos desnaturalizados deste canal fluvial
56
Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2) Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do recorte em rosa da APP de 50m (amarelo claro) e 500m (amarelo escuro) Fonte 3) Encontra Colatina (2015)
57
O recorte em questatildeo eacute margeado pela Av Beira-Rio e estaacute situado (Figura 20) dentro do
buffer de preservaccedilatildeo permanente previsto no PDM (buffer de 50m) e no Novo Coacutedigo
Florestal (buffer de 500m) Apesar desta aacuterea ser destinada a mata nativa e ou
reflorestada a ocupaccedilatildeo urbana antecede os artigos legais o que dificulta poliacuteticas de
gestatildeo territorial em um periacutemetro ao mesmo tempo histoacuterico e com funccedilatildeo relevante no
equiliacutebrio hidroloacutegico da bacia
O periacutemetro faz parte da vaacuterzea da margem direita do Rio Doce pois encontra-se em cota
topograacutefica de 50m caracterizando sua planiacutecie Logo a aacuterea em questatildeo tem a funccedilatildeo de
acomodar as aacuteguas das cheias quando a calha principal natildeo comporta o escoamento de
grandes vazotildees Esta tarefa passa a ser prejudicada na medida em que na bacia ou no
curso original satildeo implementadas obras que interferem na morfologia do corpo hiacutedrico
principal como a instalaccedilatildeo das hidreleacutetricas de Mascarenhas (1974) e Aimoreacutes (2005) a
montante
As UHErsquos a montante comprometem os processos do rio uma vez que o regime natural de
transporte de sedimentos eacute alterado com o barramento o que favorece a erosatildeo e
consequentemente o assoreamento com a formaccedilatildeo de bancos arenosos alteraccedilatildeo do
seu perfil transversal e reduccedilatildeo da profundidade Aleacutem disso segundo Coelho (2007) as
vazotildees maacuteximas e miacutenimas foram alteradas com a implantaccedilatildeo das hidreleacutetricas a
montante implicando em vazotildees meacutedias anuais miacutenimas cada vez mais reduzidas com
valores se distanciando da linha de tendecircncia (polinocircmio) provando o natildeo equiliacutebrio da
vazatildeo apoacutes a implantaccedilatildeo das barragens (Graacutefico 1 p22)
Entretanto a primeira intervenccedilatildeo direta no trecho em estudo foi a instalaccedilatildeo da estrada
de ferro que atraiu migrantes para Colatina permitindo o crescimento populacional e a
expansatildeo urbana desordenada agraves margens do Doce Este crescimento intensificou a
supressatildeo das matas ciliares e abriu espaccedilo para a impermeabilizaccedilatildeo do solo reduzindo
a infiltraccedilatildeo
Posteriormente a inauguraccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos ampliou o fluxo na regiatildeo pois
proporcionava a ligaccedilatildeo com as terras ao norte do Estado Atuou tambeacutem como obstaacuteculo
ao transporte de sedimentos carreados no fluxo natural do rio uma vez que sua
implantaccedilatildeo altera a topografia do fundo do canal afetando os processos geomorfoloacutegicos
58
Poreacutem foi no Morro das Cabritas (colina localizada no espaccedilo que compreende o atual
bairro Esplanada) que ocorreu a primeira desnaturalizaccedilatildeo nas margens do Doce Este
morro por onde o Rio Santa Maria do Doce meandrava ateacute desaguar no Rio Doce foi
cortado em meados de 1953 para abrigar a cidade em expansatildeo Devido a esta
intervenccedilatildeo o curso original do Santa Maria foi deslocado e passou a escoar
retilineamente ateacute a foz (Figura 21)
Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponte Florentino Aacutevidos (direita) e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque em vermelho para o curso atual do Santa Maria Fonte Nossa Colatina
As intervenccedilotildees na margem direita tornam-se mais intensas a partir da deacutecada de 1960
quando no ano de 1968 edificou-se um muro visando a proteccedilatildeo dos pilares da
extremidade direita da ponte Esta obra ficou paralisada por muitos anos e foi a primeira
de retificaccedilatildeo e aterro realizada neste trecho do rio Esta intervenccedilatildeo modificou o fluxo
natural das correntes do rio e reduziu a largura da sua calha alterando a morfologia do
canal (Figura 22)
59
Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de proteccedilatildeo da ponte Elaborado pela autora Fonte fotos histoacutericas Nossa Colatina
Contudo somente em 1972 teve iniacutecio o segundo aterro (Figura 23) com a finalidade de
alocar a estaccedilatildeo rodoviaacuteria de Colatina e ampliar a aacuterea de acesso agrave ponte Florentino
Aacutevidos A implementaccedilatildeo desta obra suprimiu parte do leito do Rio Doce pois removeu a
saliecircncia cocircncava que curvava o rio retilinizando esta parte do canal
60
Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora Fonte Nossa Colatina Nossa Linda Colatina
Apoacutes dez anos sem grandes intervenccedilotildees em 1982 o lado a montante da ponte bairro
Esplanada eacute acrescido de um aterro que estenderaacute a aacuterea do antigo Morro das Cabritas
para o rio (Figura 24)
Conhecido como Rua da Lama devido agrave umidade que o rio transferia ao aterro formando
um barro viscoso que persistia a maior parte do ano o trecho atualmente compreende a
Avenida Professor Joseacute Zouian popularmente denominada Avenida Beira-Rio de onde
surge a primeira forma do calccediladatildeo que seraacute estendido ateacute o bairro Colatina Velha
61
Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o calccediladatildeo da Av Beira-Rio Elaborado pela autora Fonte Bennachio (2015)
Somente em 2004 foi implementado o maior projeto de canalizaccedilatildeo do municiacutepio Naquele
ano teve iniacutecio a execuccedilatildeo do enrocamento da Av Beira-Rio (Figura 25) obra destinada
inicialmente a alocaccedilatildeo de equipamentos puacuteblicos de lazer e cultura praccedilas preacutedios aleacutem
da promessa de contribuir para a contenccedilatildeo dos transbordamentos do Rio Doce
Apesar de o referido manancial jaacute estar comprometido com problemas de poluiccedilatildeo
assoreamento e erosatildeo aleacutem dos impactos de duas hidreleacutetricas instaladas a montante a
obra abarcou a supressatildeo da vegetaccedilatildeo ciliar e aterro de parte do rio jaacute tatildeo degradado
62
Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento iniciada em 2004 e finalizada em 2008 Elaborado pela autora Fonte proacutepria autora em 240215
Ocupando uma aacuterea total de 130 mil msup2 do leito do Rio Doce o aterro teve iniacutecio em 2004
sendo construiacutedo com cerca de 90 mil msup3 de pedras 50 mil msup3 de areia retirada do leito do
rio e por fim o nivelamento com 200 mil msup3 de terra A obra era divulgada como um antigo
sonho dos colatinenses e serviria para ampliaccedilatildeo da Av Beira-Rio no bairro de Colatina
Velha instalaccedilatildeo de ciclovias calccediladatildeo equipamentos puacuteblicos e estacionamento (Figura
26) Apesar do fim da engenharia em 2008 o projeto ainda estaacute em fase de acabamento
na parte urbaniacutestica e na alocaccedilatildeo dos oacutergatildeos puacuteblicos
Cabe destacar que a obra sofreu embargos do Ministeacuterio Puacuteblico Federal (MPF) por
apresentar apenas cadastro na Agecircncia Nacional de Aacuteguas (ANA) que conforme parecer
da Procuradora Nadja Machado Botelho na Accedilatildeo Civil Puacuteblica ldquo[hellip] equivocadamente natildeo
realizou o procedimento de outorga [hellip]rdquo (MPF 2006 p2) Aleacutem disso a procuradora
solicitou tutela tendo em vista tratar-se de aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental e o fato de o
IBAMA ter concedido licenciamento com indevida dispensa do Estudo de Impacto
Ambiental (EIA)Relatoacuterio de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA)
63
Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina Fonte Prefeitura de Colatina (2015)
Por isso essa obra deve ser considerada faraocircnica para os cofres puacuteblicos e irreversiacutevel
para os processos geomorfoloacutegicos do Doce E sua efetivaccedilatildeo soacute foi possiacutevel com a
participaccedilatildeo e investimentos do Governo estadual Contudo seu objetivo foi frustrado pois
novamente na cheia do Rio Doce em dezembro de 2013 quando este atingiu a vazatildeo de
9028 msup3s a aacuterea foi inundada e por estar em cota maior que as casas que beiravam o
rio o enrocamento atuou como represa natildeo permitindo o retorno das aacuteguas quando o niacutevel
do rio retomou o equiliacutebrio
Por fim segue um mapa siacutentese (Figura 27) com a cartografia das quatro principais
intervenccedilotildees diretas e estruturais na margem direita do Doce no setor urbano de Colatina
representando o curso natural do rio em 1950 e suas desnaturalizaccedilotildees a partir da deacutecada
de 60 ateacute a atualidade
64
Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce ante e depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora
65
422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio
O recorte em estudo compreende as Zonas ZE-1 ZE-2 e ZUD 2-1 (Figura 28 p61) sendo
a Zona Especial 1 Zona Especial 2 e Zona de Uso Diverso 2-1 destinadas no PDM (Lei
52732007)
Artigo 103 - As Zonas de Usos Diversos ndash ZUD satildeo definidas em razatildeo da concentraccedilatildeo de atividades urbanas diversificadas com predominacircncia do uso comercial e de serviccedilos Artigo 104 - Satildeo objetivos das Zonas de Usos Diversos I - otimizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do solo priorizando a instalaccedilatildeo de novos empreendimentos em terrenos natildeo edificados contiacuteguos a empreendimentos jaacute instalados II - controle da implantaccedilatildeo de usos incompatiacuteveis com os definidos para estas zonas III - garantia de licenciamento e monitoramento ambiental dos empreendimentos IV - controle da expansatildeo comercial de serviccedilos e de induacutestrias de pequeno porte em direccedilatildeo a aacutereas residenciais [] Artigo 130 - As Zonas Especiais 1 ndash ZE 1 abrangem todas as aacutereas remanescentes do municiacutepio relativamente ao zoneamento estabelecido nesta lei ocupadas ou natildeo contida na lei de periacutemetro urbano para as quais natildeo foram ainda estabelecidos os criteacuterios de uso e ocupaccedilatildeo Artigo 131 - As Zonas Especiais 2 ndash ZE 2 satildeo as aacutereas existentes no prolongamento da avenida Beira Rio mais especificamente no trecho entre o 80 Batalhatildeo da Poliacutecia Militar e a rua Pedro Epichin incluindo o espaccedilo existente entre a margem do Rio Doce e o limite das construccedilotildees localizadas na rua Pedro Epichin
Cabe destacar que mesmo sendo palco das aacutereas mais afetadas com as inundaccedilotildees do
Rio Doce a Beira-Rio tem sido alvo da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria que aproveitando-se dos
iacutendices pouco restritos da ZUD 2 (Figura 28 p62) valoriza o espaccedilo promovendo a
instalaccedilatildeo de grandes estruturas como hipermercados edifiacutecios residenciais modernos e
hotelaria
66
Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 Fonte Colatina (2007)
A aacuterea contida na ZE (Figura 28) natildeo possui criteacuterio de ocupaccedilatildeo definido na legislaccedilatildeo
atual sendo adotado o disposto na Lei 41961995 que estabelece os iacutendices urbaniacutesticos
para as aacutereas conquistadas junto ao Rio Doce e na Lei 420595 que aprova os
parcelamentos na Beira-Rio Quanto agrave ZUD 2-1 apresenta iacutendices urbaniacutesticos no anexo
118 do Plano Diretor conforme tabela 3 abaixo
67
Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1
Fonte Colatina (2007 p36)8
68
Eacute relevante observar que numa aacuterea onde o corpo hiacutedrico foi reduzido pelos sucessivos
aterros tenha sido aprovada a instalaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto (Figura
29) com taxa de ocupaccedilatildeo de ateacute 80 e com baixo iacutendice de permeabilidade Ampliou-
se a aacuterea impermeaacutevel numa regiatildeo onde a drenagem jaacute eacute muito comprometida com a
expansatildeo urbana sobre o rio
Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto na Beira-Rio Fonte imagem do Google Maps 2015 E fotos da autora em 140215
Portanto analisando o conjunto de dados apresentado acima eacute possiacutevel entender como
as inundaccedilotildees satildeo potencializadas no municiacutepio atingindo a populaccedilatildeo mas em especial
afetando a dinacircmica de um corpo hiacutedrico tatildeo relevante para o Estado A fim de subsidiar a
gestatildeo puacuteblica com material cartograacutefico para a tomada de decisotildees delimitou-se o
poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo (Figura 30) Pois devem ser adotadas medidas que
minimizem impactos de futuros eventos hidroloacutegicos na bacia capazes de comprometer
novamente a aacuterea urbana mais central de Colatina
69
Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av Beira-Rio em dezembro de 2013 Elaborado pela autora
70
Diante do poliacutegono de inundaccedilatildeo da uacuteltima cheia (Figura 30) em dezembro de 2013 eacute
possiacutevel implementar medidas de convivecircncia com as grandes vazotildees a exemplo de
paiacuteses como Holanda que vem investindo em medidas de resiliecircncia a fim de reduzir a
velocidade dos defluacutevios possibilitando ao canal a capacidade de acumular e dispersar as
aacuteguas com impacto miacutenimo para as populaccedilotildees Conforme Carneiro e Miguez (2011) a
estrateacutegia adotada pelo paiacutes eacute reter armazenar e drenar sendo mais flexiacutevel e natildeo
interferindo drasticamente na dinacircmica do corpo hiacutedrico
Por fim a implementaccedilatildeo de soluccedilotildees de planejamento urbano em Colatina requer uma
anaacutelise integrada que abarque o urbano e o ambiental de modo a propor intervenccedilotildees que
produzam impactos reduzidos nos processos geomorfoloacutegicos do Rio Doce Logo a gestatildeo
municipal deve atuar em niacutevel de bacia hidrograacutefica interagindo com os municiacutepios a
montante propondo medidas de minimizaccedilatildeo das cheias urbanas Mas na escala local
pode-se atuar junto aos novos parcelamentos de modo a ampliar o percentual de aacutereas
permeaacuteveis no municiacutepio incentivando por exemplo os novos loteamentos a adotarem
pavimentaccedilotildees que permitam a drenagem natural do solo
71
5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Partindo da ideia de que eacute possiacutevel implementar medidas que minimizem o escoamento
superficial satildeo apresentadas propostas como forma de controlar ou ao menos reduzir os
impactos das inundaccedilotildees urbanas
Embora as implementaccedilotildees histoacutericas de estruturas de proteccedilatildeo ou barreiras mais altas
tenham sido muito disseminadas atualmente estatildeo sendo suplantadas pelo gerenciamento
de inundaccedilotildees de maneira mais sustentaacutevel Deste modo as experiecircncias fora do Brasil
apontam para soluccedilotildees mais flexiacuteveis que considerem o fluxo natural do canal enquanto
um ecossistema em equiliacutebrio Para tanto Carneiro e Miguez (2011 p150) destacam a
iniciativa alematilde no controle de inundaccedilotildees em bacias hidrograacuteficas metropolitanas
[hellip] A abordagem comum consiste na regulaccedilatildeo do uso do solo nas aacutereas inundaacuteveis e em ldquodar espaccedilo para o riordquo ao inveacutes de priorizar investimentos em estruturas de proteccedilatildeo contra inundaccedilotildees como a colocaccedilatildeo de diques de contenccedilatildeo as margens dos rios A utilizaccedilatildeo do conceito de resiliecircncia apropriado de ecologia decorre dessa abordagem A aplicaccedilatildeo praacutetica do conceito implica portanto em mudanccedilas de paradigma Deixa de ser preponderante a engenharia construtiva e entra em cena o planejamento de longo prazo voltado para o desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis capazes de conviver com as variaccedilotildees do ciclo hidroloacutegico sem significar necessariamente trageacutedias anunciadas
Aleacutem dessas propostas geoacutegrafos como Sandra Cunha tecircm estudado a recuperaccedilatildeo
natural ou ldquorenaturalizaccedilatildeordquo de corpos fluviais visando promover a estabilidade dos canais
de modo mais sustentaacutevel Para ela
[hellip] Recuperaccedilatildeo de canal significa de forma simples o retorno as condiccedilotildees anteriores aos distuacuterbios Em essecircncia eacute o processo de recuperaccedilatildeo do rio ou do ecossistema fluvial estabilizando o desenvolvimento de habitats e colonizaccedilatildeo a uma taxa mais raacutepida que dos processos naturais fiacutesicos e bioloacutegicos Na recuperaccedilatildeo de canais ocorrem consideraccedilotildees de aspecto hidroloacutegico morfoloacutegico e ecoloacutegico qualidade da aacutegua esteacutetica aleacutem da necessidade de uma visatildeo integradora do projeto sustentaacutevel de recuperaccedilatildeo (CUNHA 2012 p230 a 231)
Satildeo portanto medidas pontuais como o retorno agraves sinuosidades do rio (Figura 31 p 68)
ou a substituiccedilatildeo de estruturas de concreto por superfiacutecies mais permeaacuteveis a exemplo
das trincheiras de infiltraccedilatildeo ou pavrsquos (Figura 32) aacutereas mais vegetadas aleacutem de coleta e
uso de aacutegua da chuva bem como tratamento das aacuteguas superficiais por meio de
72
amenidades esteacuteticas como reservatoacuterios de retenccedilatildeo ou detenccedilatildeo que podem ser
associados a ambientes harmocircnicos como lagos artificiais Todas estas accedilotildees possibilitam
a minimizaccedilatildeo das grandes vazotildees no solo urbano pois pretendem atenuar os impactos
das cheias fazendo com que seja resgatada parte da drenagem existente anteriormente agrave
urbanizaccedilatildeo
Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do Rio Aa Munster Alemanha (1998) Fonte Cunha (2012 p233)
Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos Fonte Carneiro e Miguez (2011 p128)
A partir do exposto cabe agrave gestatildeo municipal implementar legislaccedilotildees que priorizem a
permeabilidade possibilitando uma maior infiltraccedilatildeo das aacuteguas das chuvas atraveacutes de
pavimentaccedilotildees menos impermeaacuteveis e da ampliaccedilatildeo de aacutereas vegetadas Satildeo medidas
que tornam a drenagem mais sustentaacutevel aleacutem de possibilitar a manutenccedilatildeo dos serviccedilos
puacuteblicos de forma menos custosa tendo em vista o elevado preccedilo das recomposiccedilotildees
asfaacutelticas
1 2
73
Aleacutem disso quando se fala em controle de cheias urbanas pressupotildee-se uma seacuterie de
medidas para minimizaccedilatildeo de seus impactos desde a operaccedilatildeo de sistemas de alerta
zoneamento de aacutereas inundaacuteveis construccedilatildeo de grandes reservatoacuterios de contenccedilatildeo de
cheias e diques ateacute accedilotildees de educaccedilatildeo ambiental
Cabe pensar tambeacutem na proacutexima revisatildeo do PDM em um plano de macrodrenagem
municipal que reuacutena accedilotildees de caraacuteter estruturantes com obras hidraacuteulicas de infraestrutura
que realizem a conduccedilatildeo final das aacuteguas dos escoamentos superficiais para a minimizaccedilatildeo
das inundaccedilotildees e em medidas natildeo-estruturantes que trabalhem a consciecircncia ambiental
e proponha um zoneamento de cheias a fim de se delimitar os pontos mais fragilizados nos
defluacutevios
Por fim pensar em drenagem num contexto de ocupaccedilatildeo irregular histoacuterico requer
profissionais que aleacutem de possuir afinidade com a temaacutetica tambeacutem possam analisar os
diferentes processos que constituem o espaccedilo geograacutefico Logo este tipo de estudo deve
abarcar uma equipe multidisciplinar que percorra a anaacutelise desde o ambiental estrutural
ateacute o aspecto humano a fim de se produzir resultados que de fato contribuam com o
controle das inundaccedilotildees urbanas
74
6 CONCLUSAtildeO
A partir do recorte espacial foi possiacutevel compreender que a abordagem da geomorfologia
fluvial com a anaacutelise espaccedilo-temporal da ocupaccedilatildeo urbana possibilita a identificaccedilatildeo das
accedilotildees do homem no meio ambiente pois estas resultam na alteraccedilatildeo das paisagens
naturais e na dinacircmica da bacia hidrograacutefica Assim o Rio Doce deve ser estudado de
modo integrado ao crescimento da cidade sobretudo para compreensatildeo da produccedilatildeo do
espaccedilo geograacutefico
Analisar a inundaccedilatildeo urbana em Colatina foi satisfatoacuterio pois o municiacutepio estaacute situado no
perfil meacutedio-baixo da bacia vazante e eacute neste trecho que os reflexos das intervenccedilotildees satildeo
mais acentuados principalmente se esta parte do canal tambeacutem tiver passado por obras
que modificaram seus processos hidroloacutegicos Aleacutem disso a perspectiva geograacutefica aponta
para vaacuterias outras questotildees como erosatildeo fluvial planejamento urbano poluiccedilatildeo ambiental
crise da aacutegua que conduzem a outras discussotildees acerca da relaccedilatildeo homemnatureza
Ao demonstrar a evoluccedilatildeo espaccedilo-temporal do uso e cobertura da terra na margem direita
do Doce associando esta ocupaccedilatildeo agraves obras estruturantes que foram executadas no
canal verificamos que todas as praacuteticas adotadas para conter o transbordamento do rio
acabaram alterando sua morfologia com a retificaccedilatildeo de trechos em meandros reduzindo
a largura do corpo hiacutedrico o que favoreceu a apropriaccedilatildeo urbana de suas vaacuterzeas Aliadas
a estas questotildees estatildeo a falta de planejamento urbano e a omissatildeo diante da supressatildeo
das matas ciliares principalmente se considerados os resultados do relatoacuterio teacutecnico do
IJSN contra enchentes em 1980
Cabe destacar tambeacutem que toda a anaacutelise da ocupaccedilatildeo urbana e desnaturalizaccedilatildeo do
Rio Doce foi melhor identificada a partir dos produtos cartograacuteficos deste trabalho Pois eacute
na espacialidade dos fenocircmenos e no registro de informaccedilotildees ainda natildeo mapeadas como
os aterros que o geoacutegrafo executa a anaacutelise do seu objeto de estudo o homem e a
natureza aqui representado pela sociedade e o canal do Doce
Apesar do municiacutepio apresentar leis que resguardam os leitos dos rios desde o primeiro
PDM em 1996 nada foi feito para conter as ocupaccedilotildees irregulares beira-rio Pelo contraacuterio
estas aacutereas foram incorporadas ao Plano Diretor em 2007 com possibilidades de
ocupaccedilotildees diversas o que tem levado especuladores a valorizar o solo com vista para o
rio apontando suas qualidades esteacuteticas e teacutermicas Este fato vem aumentando o
75
percentual de aacutereas impermeaacuteveis nesta margem comprometendo ainda mais a drenagem
dos defluacutevios
Eacute na Av Beira-Rio que crescem as implantaccedilotildees de grandes empreendimentos comerciais
como supermercado Casagrande Ogil Hotel e obras de construccedilatildeo de novos arranha-
ceacuteus em um periacutemetro que jaacute eacute totalmente comprometido com os extravasamentos do Rio
Doce Estas obras ocupam grandes aacutereas e na maioria das vezes apresentam reduzida
aacuterea permeaacutevel reservando apenas o obrigatoacuterio pela lei cerca de 10 Observa-se
tambeacutem que a implantaccedilatildeo desses projetos estaacute condicionada agrave apresentaccedilatildeo e
aprovaccedilatildeo por comissatildeo na prefeitura do Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV) sendo
difiacutecil conceber que seja concedida tal licenccedila para implementaccedilatildeo de obras num trecho
de risco ambiental
Embora as diretrizes do Estatuto das Cidades para a implementaccedilatildeo do uso da terra
sustentaacutevel e os instrumentos para a regulaccedilatildeo do solo urbano sejam avanccedilados Colatina
eacute mais um exemplo da carecircncia de profissionais capacitados para estudar de modo
integrado e em niacutevel de bacia hidrograacutefica os efeitos da accedilatildeo humana num ambiente tatildeo
peculiar como as margens do Doce Por isso com os objetivos traccedilados nesta pesquisa
podemos aleacutem de compreender o fenocircmeno criar uma metodologia de anaacutelise de aacutereas
inundaacuteveis em ambientes urbanos O que permite agrave gestatildeo municipal uma diretriz para a
tomada de decisotildees
Destaca-se tambeacutem que as legislaccedilotildees aqui referenciadas supriram a discussatildeo acerca do
objeto de estudo mas outras podem contribuir para esta pesquisa a exemplo do Coacutedigo
das Aacuteguas da Poliacutetica Nacional dos Recursos Hiacutedricos das Resoluccedilotildees do Conama do
Estatuto das Cidades entre outros
Sendo assim numa revisatildeo do PDM deve-se pensar nestes aspectos da cidade desde o
histoacuterico de ocupaccedilatildeo das margens ateacute os impactos das inundaccedilotildees e o presente trabalho
auxilia com uma nova abordagem na reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo fornecendo material
cartograacutefico para subsidiar propostas de proteccedilatildeo ao curso do Doce e consequentemente
da populaccedilatildeo
Por fim deve-se destacar que o recorte estaacute inserido num contexto maior de uma bacia
hidrograacutefica que se estende aleacutem dos limites de Colatina ou do estado do Espiacuterito Santo
Esta bacia compreende a Regiatildeo Hidrograacutefica do Atlacircntico Leste e estaacute alocada tambeacutem
76
no estado de Minas Gerais o que portanto torna as accedilotildees de controle das inundaccedilotildees
mais complexas tendo em vista as divergentes politicas territoriais
77
7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Perfis Transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de vazante (abril) e cheia (janeiro) 50
Tabela 2 Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013 54
Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1 67
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 - Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais
(Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia) 25
Graacutefico 2 - Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 201045
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANA - Agecircncia Nacional de Aacuteguas
APP - Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente
CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais Serviccedilo Geoloacutegico Brasileiro
GEOBASES - Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espiacuterito Santo
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IJSN - Instituto Jones dos Santos Neves
INCAPER - Instituto Capixaba de Pesquisa Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural
PDM - Plano Diretor Municipal
PMC - Prefeitura Municipal de Colatina
PROATER - Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural
SIG - Sistema de Informaccedilotildees Geograacuteficas
UHE ndash Usina Hidreleacutetrica
UTM - Universal Tranverse Mercator
USGS - Geological Survey Serviccedilo Geoloacutegico Americano
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 14
11 Objetivo 16
111 Objetivo Geral 16
112 Objetivos Especiacuteficos 16
12 Justificativa 17
2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS 20
21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano 20
211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial 23
22 Aspectos Juriacutedicos 27
23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos 31
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS 36
4 RESULTADOS 40
41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana 40
411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade 46
42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce 49
421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie de
Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio 53
422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio 65
5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 71
6 CONCLUSAtildeO 74
7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 77
14
1 INTRODUCcedilAtildeO
A partir da deacutecada de 1930 com a transiccedilatildeo econocircmica de um eixo agraacuterio-exportador
para um polo urbano-industrial (CARNEIRO 2008) verificou-se no Brasil a migraccedilatildeo da
maior parte da populaccedilatildeo para as cidades Isso acarretou segundo Tucci (2013 p17) uma
ldquo[] concentraccedilatildeo urbana no Brasil da ordem de 80 da populaccedilatildeo e o seu
desenvolvimento tem sido realizado de forma pouco planejada com grandes conflitos
institucionais e tecnoloacutegicos []rdquo
De acordo com Canholi (2005 p15) a expansatildeo da aacuterea urbana ldquo[] consequentemente
impermeabilizada ocorreu a partir das zonas mais baixas proacuteximas agraves vaacuterzeas dos rios
ou agrave beira-mar em direccedilatildeo agraves colinas e morros em face da necessaacuteria interaccedilatildeo da
populaccedilatildeo com os corpos hiacutedricos []rdquo Neste cenaacuterio surgem as ocupaccedilotildees irregulares
nas Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) como as da planiacutecie de inundaccedilatildeo dos rios
e os topos de morros
Essas ocupaccedilotildees desordenadas satildeo proporcionadas pela precariedade da implantaccedilatildeo e
fiscalizaccedilatildeo das legislaccedilotildees urbaniacutesticas de ordenamento territorial e ambiental Neste
contexto satildeo relevantes as pesquisas que visam correlacionar o viacutenculo
sociedadenatureza de modo a entender como a ocupaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo no
solo conecta-se com a hidrodinacircmica dos recursos naturais uma vez que ldquo[] a tendecircncia
atual do limitado planejamento urbano integrado estaacute levando as cidades a um caos
ambiental urbano com custo extremamente alto para a sociedaderdquo (TUCCI 2013 p17)
Deve-se partir do pressuposto teoacuterico articulado com a ideia anterior de ldquo[]
indissociabilidade entre natureza e sociedade []rdquo (COELHO 2013 p21) em que a
sociedade natildeo pode ser apenas entendida como populaccedilatildeo e a natureza enquanto mero
ambiente fiacutesico mas que estes dois fatores estatildeo dinamicamente produzindo o espaccedilo
geograacutefico
Neste contexto a problemaacutetica se afirma no intuito de relacionar as legislaccedilotildees urbanas
(Lei de Parcelamento do Solo 676679 e PDM) e ambientais (Novo Coacutedigo Florestal 2012)
com as suas aplicaccedilotildees ou natildeo no periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina
principalmente nos bairros que se situam na planiacutecie de inundaccedilatildeo do Rio Doce
A escolha da temaacutetica tambeacutem teve como premissa a importacircncia regional de Colatina
como entreposto comercial e logiacutestico para os municiacutepios do noroeste capixaba conforme
15
relato do Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural - PROATER (INCAPER
2011)
Exportadores de cafeacute atacadistas e as lojas de pronta entrega dinamizam o comeacutercio local que atende aos municiacutepios do norte capixaba leste de Minas Gerais e sul da Bahia representando um universo de mais de 700 mil consumidores (INCAPER 2011 p5)
De acordo ainda com o INCAPER (op cit) Colatina tem crescido a uma margem de 188
anual o que representa a tendecircncia ao ecircxodo rural sendo que a populaccedilatildeo do campo vem
diminuindo de aproximadamente 19 em 1990 passou a 12 no Censo de 2010 Diante
do exposto entra em discussatildeo o planejamento urbano pois com o crescimento da
populaccedilatildeo citadina para cerca de 88 aumentam tambeacutem as pressotildees sobre o meio
ambiente em especial as regiotildees ribeirinhas
Estas uacuteltimas refletem o aumento das atividades humanas na bacia hidrograacutefica onde
pode-se destacar as mudanccedilas induzidas pelas accedilotildees antropogecircnicas que se dividem em
diretas (aquelas que atuam no canal fluvial para controle das vazotildees a exemplo dos
reservatoacuterios e desvios de aacuteguas) e indiretas relacionadas agraves aacutereas fora dos canais por
exemplo o desmatamento e urbanizaccedilatildeo sendo que estas comprometem a descarga e
carga soacutelida do rio (PARK1981 KNIGHTON1984 apud CUNHA 2001)
O interesse pela pesquisa surge da importacircncia regional do municiacutepio dos impactos
histoacutericos humanos materiais e imateriais sofridos diante de eventos hidroloacutegicos
extremos tendo em vista o fato de o periacutemetro urbano ser cortado por um corpo fluvial de
importacircncia regional Aleacutem disso a abordagem geograacutefica possibilita a correlaccedilatildeo dos
processos fluviais com a ocupaccedilatildeo urbana de modo mais integrado (COELHO 2009)
Portanto uma das finalidades deste trabalho eacute analisar por meio das geotecnologias e das
investigaccedilotildees de campo como a ocupaccedilatildeo urbana tem interferido nas margens do Rio
Doce de modo a delimitar os sucessivos aterros na margem direita no periacutemetro do bairro
Esplanada a Colatina Velha Ademais identificar como os processos deste canal fluvial
tecircm sido afetados pela intervenccedilatildeo humana em seu leito principal
16
11 Objetivo
111 Objetivo Geral
Correlacionar os processos fluviais do Rio Doce por meio da dinacircmica geomorfoloacutegica
deste canal com o uso e cobertura da terra no setor urbano do municiacutepio de Colatina
Espiacuterito Santo Contrapondo assim as intervenccedilotildees urbanas da beira-rio com o Plano
Diretor Municipal e o Novo Coacutedigo Florestal enfatizando as diretrizes adotadas no
parcelamento do solo para a planiacutecie de inundaccedilatildeo deste rio
112 Objetivos Especiacuteficos
Identificar os vetores de crescimento urbano do municiacutepio a fim de avaliar a
evoluccedilatildeo da mancha urbana junto ao canal principal
Determinar o comprimento da borda da calha do leito regular do Rio Doce no
periacutemetro urbano de Colatina para definiccedilatildeo da largura miacutenima da faixa marginal
de preservaccedilatildeo
Espacializar as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente beira-rio previstas em lei a fim
de analisar a ocupaccedilatildeo urbana nestes espaccedilos
Cartografar os principais pontos desnaturalizados no canal principal do Rio Doce
no setor urbano de Colatina
Demonstrar como o emprego das geotecnologias auxilia no planejamento urbano
e ambiental especialmente em acircmbito municipal
17
12 Justificativa
A aacuterea de estudo corresponde ao periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina situado na
Bacia Atlacircntico trecho leste sub-bacia do Rio Doce no baixo curso (ANA 2001)
Compreende a regiatildeo noroeste do estado do Espiacuterito Santo latitude 19deg 32rsquo 16rsquorsquo S e
longitude 40deg 37rsquo 59rsquorsquo W De acordo com os dados do censo de 2010 do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio possuiacutea uma populaccedilatildeo de 111788 mil
habitantes1 numa aacuterea territorial de 1416804 kmsup2
Devido a sua privilegiada posiccedilatildeo geograacutefica limiacutetrofe com o Rio Doce e a construccedilatildeo da
Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas em 1906 Colatina compreendia os territoacuterios dos atuais
municiacutepios de Baixo Guandu Linhares Pancas Satildeo Gabriel da Palha Marilacircndia Satildeo
Domingos do Norte e Governador Lindenberg (INCAPER 2011) Soacute a partir de 2001
passou a apresentar os atuais limites municipais e configurar uma aacuterea urbana com 59
bairros (Figura 1)
Colatina eacute um municiacutepio de importacircncia para regiatildeo noroeste capixaba seja em caraacuteter
econocircmico ou social Eacute responsaacutevel pelos fluxos de cargas da regiatildeo aleacutem de ser um polo
moveleiro de confecccedilatildeo metalmecacircnico e de comeacutercio e serviccedilos gerando emprego e
renda (INCAPER 2011) Aleacutem disso tem sofrido historicamente com as cheias do Rio
Doce principalmente porque parte do seu periacutemetro urbano eacute inundado com as aacuteguas da
calha principal desse rio o que compromete toda a dinacircmica local e potildee em risco os
colatinenses
Assim diante das crescentes demandas por territoacuterio no periacutemetro urbano a populaccedilatildeo
tem suprimido a cobertura vegetal e ocupado desde as margens do Rio Doce ateacute as
encostas dos morros Em periacuteodos de cheias principalmente nos meses de outubro a
marccedilo (INCAPER 2011 ANA 2001) verificam-se inundaccedilotildees de grande parte da aacuterea
urbana beira-rio aleacutem dos movimentos de massa nas encostas Como exemplo destes
acontecimentos tecircm-se os registros fotograacuteficos dos efeitos da chuva de dezembro de 2013
(Figuras 2 e 3)
1 De acordo com o a estimativa do IBGE de 2014 publicada no DOU o municiacutepio conta com uma populaccedilatildeo de 121670 habitantes
18
Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e o canal do Rio Doce Elaborado pela autora
19
Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 Fonte Noticias UOL (2013)
Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de 2013 Fonte Folha Vitoacuteria (2013)
Este estudo portanto eacute relevante tendo em vista as raras abordagens no acircmbito das
Ciecircncias Geograacuteficas especialmente no Espiacuterito Santo de pesquisas que correlacionem
aspectos da geomorfologia fluvial por meio da dinacircmica dos recursos hiacutedricos com o uso
e cobertura da terra particularmente o Plano Diretor Municipal (PDM) Discute dessa
forma as implicaccedilotildees da atuaccedilatildeo humana nas particularidades deste ecossistema natural
tendo em vista o disposto nas legislaccedilotildees urbaniacutesticas e ambientais que visam assegurar
a qualidade de vida das populaccedilotildees
Adiante seratildeo analisados os principais fundamentos da geomorfologia fluvial os aspectos
juriacutedicos e o papel da anaacutelise geograacutefica integrada para o entendimento dos fenocircmenos
das inundaccedilotildees no Centro de Colatina uma vez que eacute devido agraves intervenccedilotildees humanas
nos canais e suas margens que esses fenocircmenos tornam-se mais nocivos a cidade
20
2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS
21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano
Recurso essencial para a manutenccedilatildeo da vida a aacutegua foi um fator relevante para o
estabelecimento histoacuterico das sociedades no entorno dos cursos hiacutedricos Utilizados para
fins de abastecimento humano e animal irrigaccedilatildeo saneamento e transporte os rios
constituiacuteram-se nos principais propulsores de penetraccedilatildeo para o interior (CUNHA 2012a)
Logo em suas margens surgiram povoados que posteriormente transformaram-se em
cidades como as que se estabeleceram agraves margens do Rio Doce a exemplo da sede de
Colatina
Diante das potencialidades que os recursos hiacutedricos possibilitam agraves sociedades
destacamos a importacircncia do estudo da Geomorfologia Fluvial que se apresenta como
campo da Geomorfologia (ciecircncia que estuda as formas do relevo) sendo o interesse
daquela a pesquisa dos processos que relacionam o escoamento das aacuteguas fluviais num
contexto de bacia hidrograacutefica (CHRISTOFOLETTI 1980 CUNHA op cit) Enfoca assim
as alteraccedilotildees na fisionomia dos canais frente agraves intervenccedilotildees no ecossistema natural
beira-rio
A Geomorfologia Fluvial parte da condicionante de que o uso e ocupaccedilatildeo da terra refletem-
se na dinacircmica da bacia de drenagem interferindo nos processos morfogeneacuteticos ou seja
de modelagem do relevo fluvial escoamento superficial das aacuteguas e no ciclo hidroloacutegico
Frente agrave temaacutetica deste estudo faz-se necessaacuterio o entendimento dos conceitos da
fisiografia fluvial aqui referente aos diferentes setores que a aacutegua pode escoar num leito
(Figura 4) como
O leito menor corresponde agrave parte do canal ocupada pelas aacuteguas e cuja frequecircncia impede o crescimento da vegetaccedilatildeo Esse tipo de leito eacute delimitado por partes bem definidas O leito de vazante equivale agrave parte do canal ocupada durante o escoamento das aacuteguas de vazante Suas aacuteguas divagam dentro do leito menor seguindo o talvegue linha de maacutexima profundidade ao longo do leito e que eacute mais bem identificada na seccedilatildeo transversal do canal O leito maior tambeacutem denominado leito maior perioacutedico ou sazonal eacute ocupado pelas aacuteguas do rio regularmente e pelo menos uma vez ao ano durante as cheias Dependendo do tempo ocorrido entre as subidas das aacuteguas eacute possiacutevel haver a fixaccedilatildeo e o crescimento da vegetaccedilatildeo herbaacutecea
21
O leito maior excepcional eacute ocupado durante as grandes cheias no decorrer das enchentes (CUNHA 2001 p 213)
Figura 4 - Tipos de leito fluvial vaacuterzea Fonte Cunha (2001 p213)
Sendo assim as aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial (leitos) aquelas inundadas pelo corpo
hiacutedrico frente a um evento hidroloacutegico extremo tambeacutem satildeo conhecidas como vaacuterzeas
planiacutecie de inundaccedilatildeo ou ainda segundo Carneiro e Miguez (2011 p133) como ldquo[] zona
de passagem de cheia []rdquo Essas aacutereas de vaacuterzeas dependem da fisionomia que o rio
apresenta e segundo Cunha (op cit) o canal fluvial pode apresentar trecircs formas
principais conhecidas como padratildeo dos canais que satildeo retiliacuteneo anastomosado e
meacircndrico (Figura 5)
Figura 5 - Padrotildees dos canais (A) retiliacuteneo (B) anastomosado (C) meandrante (A) amplitude (Rc) raio meacutedio da curvatura do meandro (segundo Bigarella etal 1979) Fonte Cunha (2001 p216)
22
Aliada aos padrotildees dos canais estaacute a assimetria ou simetria dos leitos que para Cunha
(2001 p233) relaciona-se com a variaccedilatildeo da velocidade e turbulecircncia ao longo da secccedilatildeo
transversal o que diferencia o comportamento nos canais retiliacuteneos geralmente simeacutetricos
do canal meacircndrico onde
Em canais de leito simeacutetrico em geral padratildeo retiliacuteneo a velocidade maacutexima ocorre no centro do canal diminuindo em direccedilatildeo agraves margens Em leito assimeacutetrico de padratildeo meacircndrico a zona de maacutexima velocidade e turbulecircncia localiza-se nas proximidades das margens cocircncavas decrescendo de valor em direccedilatildeo agrave margem de menor profundidade
(convexa) (CUNHA opcit p 233)
Deste modo a capacidade de erosatildeo das margens transporte e deposiccedilatildeo da carga do rio
dependem entre outros fatores da velocidade das correntes fluviais E o material do fluxo
fluvial constitui-se da descarga liacutequida ou vazatildeo que estaacute relacionada ao tamanho do
material que pode ser transportado e do volume da carga que o rio eacute capaz de carregar
Tem-se ainda a carga soacutelida sedimentos que estaacute relacionada a suspensatildeo e fundo do
rio esta decresce a jusante indicando a diminuiccedilatildeo da competecircncia do corpo fluvial As
cargas de suspensatildeo satildeo constituiacutedas de partiacuteculas finas a exemplo do silte e por fim a
carga de fundo que eacute composta por partiacuteculas de tamanhos maiores a exemplo da areia
(CUNHA2001)
Christofoletti (1980) acrescenta que os sedimentos podem ser carregados de trecircs modos
principais no fluxo em soluccedilatildeo dissolvidos nos cursos hiacutedricos em suspensatildeo como o
silte e argila e em saltaccedilatildeo geralmente a areia e cascalho que compreendem a carga do
leito do rio Destaca-se que a carga detriacutetica natildeo proveacutem apenas da erosatildeo do fundo dos
leitos e margens fluviais mas que o material intemperizado de vertentes carreado nas
enchentes contribui significativamente para a carga sedimentar transportada
Cabe ressaltar ainda que a relaccedilatildeo do arranjo espacial dos canais com os processos
fluviais (a erosatildeo o transporte e a deposiccedilatildeo de sedimentos) eacute determinante para o
trabalho dos rios Tais processos satildeo diretamente influenciados pela vazatildeo velocidade e
pela intensidade da turbulecircncia (seja no fluxo laminar ou no fluxo turbulento) A
variabilidade no comportamento da velocidade e turbulecircncia das aacuteguas ao longo da seccedilatildeo
transversal condiciona os locais preferenciais de erosatildeo e deposiccedilatildeo ao longo do curso
hiacutedrico
23
Deste modo qualquer intervenccedilatildeo na bacia e canal fluvial compromete o equiliacutebrio natural
da drenagem levando o corpo hiacutedrico a se adaptar agraves mudanccedilas em sua fisionomia
fisiografia e em seus processos ateacute atingir um novo estado de equiliacutebrio Poreacutem eacute na
planiacutecie de inundaccedilatildeo que estas modificaccedilotildees seratildeo mais percebidas pela populaccedilatildeo pois
a maior parte das obras de engenharia como as canalizaccedilotildees e as ocupaccedilotildees das
margens acaba por romper com o equiliacutebrio natural do rio alterando sua dinacircmica e
intensificando seus processos o que na maioria das vezes potencializa as enchentes no
ambiente urbano
Nesse sentido o entendimento dos processos fluviais (erosatildeo transporte e deposiccedilatildeo)
combinado com a anaacutelise da fisiografia fluvial condicionam as peculiaridades na geometria
hidraacuteulica ou seja na relaccedilatildeo entre a vazatildeo velocidade de escoamento tipos de canais
de sedimentos e a topografia Logo o conhecimento geomorfoloacutegico do rio contribui para
pesquisas que necessitem relacionar o funcionamento deste corpo natural com um
planejamento urbano mais efetivo principalmente se considerarmos um recorte em niacutevel
de bacia hidrograacutefica em espaccedilo urbano
211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial
O capiacutetulo que segue versa sobre a atuaccedilatildeo antroacutepica relacionando-a a aacuterea de estudo o
rio Doce poreacutem este trata de forma macro a temaacutetica para contextualizar o leitor sendo
as especificidades das intervenccedilotildees neste recorte geograacutefico trabalhados nos resultados
desta pesquisa
Diante do exposto eacute possiacutevel acompanhar a evoluccedilatildeo dos processos fluviais nos canais
em especial aqueles que tiveram intervenccedilotildees em seu curso natural como as hidreleacutetricas
instaladas a montante a exemplo do Rio Doce onde a interferecircncia direta na vazatildeo e fluxo
de sedimentos altera a hidrodinacircmica do rio comprometendo a erosatildeo e transporte Para
Coelho (2007 p57) as
Mudanccedilas na Declividade Perfil Longitudinal Promovidas pela construccedilatildeo de reservatoacuterio satildeo variadas e caso o efeito da contenccedilatildeo de sedimentos seja significativo os processos fluviais reduziratildeo a capacidade de transporte de sedimento podendo promover um entalhamento do leito do rio imediatamente agrave jusante da barragem
Aleacutem disso esse processo erosivo poacutes-barragem eacute intensificado favorecendo o
assoreamento e sedimentaccedilatildeo do rio a jusante O que pode beneficiar a elevaccedilatildeo da cota
24
do canal fluvial frente a eventos hidroloacutegicos extremos potencializando os efeitos das
inundaccedilotildees nas vaacuterzeas
Ao mesmo tempo o Rio Doce trecho que compreende o Espiacuterito Santo meacutediobaixo curso
eacute impactado nas vazotildees miacutenimas e maacuteximas a jusante apoacutes a instalaccedilatildeo das
barragensUsinas Hidreleacutetricas (UHE) de Mascarenhas (iniacutecio de operaccedilatildeo em 1974)
localizada no Municiacutepio de Baixo Guandu e a de Aimoreacutes (iniacutecio de operaccedilatildeo em 2005)
localizada na divisa do Espiacuterito Santo com Minas Gerais (COELHO 2007)
De acordo com Coelho (opcit) apoacutes a implantaccedilatildeo das usinas ocorreu uma reduccedilatildeo
significativa na vazatildeo da calha principal do Rio Doce conforme Graacutefico 1
Considerando o periacuteodo de 1939 a 2012 a vazatildeo miacutenima apoacutes a instalaccedilatildeo das usinas
chega a atingir 411msup3s e a maacutexima chega apenas a 1251msup3s sendo que no periacuteodo
anterior agrave instalaccedilatildeo das usinas foi registrada a miacutenima de 533 msup3s e uma maacutexima de
1812 msup3s o que ressalta o impacto do barramento sobre o corpo hiacutedrico Aleacutem do
comprometimento dos processos de erosatildeo transporte e sedimentaccedilatildeo (COELHO 2008
e CUNHA 2001)
Diante desta perda de carga liacutequida nos barramentos Cunha (2001 p 241) observa ainda
que as aacutereas a jusante de reservatoacuterios
[hellip] onde o regime do rio sofre significativas modificaccedilotildees devidas ao controle das descargas liquidas e de sedimentos no reservatoacuterio As mudanccedilas ocorridas no regime das aacuteguas neste setor do rio acarretam significativos efeitos nos processos do canal tais como o entalhe do leito a erosatildeo das margens e a deposiccedilatildeo a jusante atingindo longas distacircncias
Aleacutem disso no periacutemetro urbano de Colatina o Rio Doce sofreu outras intervenccedilotildees em
seu canal principal como a implantaccedilatildeo de obras estruturais de macrodrenagem a
exemplo da construccedilatildeo da Av Beira-Rio com intuito de conter o avanccedilo das aacuteguas fluviais
em periacuteodos de cheias
25
Graacutefico 1
Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais (Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia)
Fonte adaptado de Coelho (2007 p154)
26
Como exemplo dos tipos de intervenccedilotildees humanas nas aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial
leitos Carneiro e Miguez (2011 p117) destacam
As accedilotildees de controle e cheias urbanas podem ser classificadas em estruturais quando a paisagem eacute alterada pela accedilatildeo do homem e em natildeo estruturais aqui denominada como estruturante quando o homem aprende a conviver com as enchentes No primeiro caso estatildeo as medidas de controle atraveacutes de obras hidraacuteulicas tais como barragens diques e canais entre outras No segundo caso encontram-se medidas do tipo preventivo tais como zoneamento de aacutereas de inundaccedilatildeo sistemas de alerta educaccedilatildeo ambiental lei de parcelamento e uso dos solos e seguros contra inundaccedilatildeo
Neste cenaacuterio abarcamos os impactos das obras de engenharia como a canalizaccedilatildeo que
altera a fisionomia e fisiografia do rio refletindo-se nos processos geomorfoloacutegicos do canal
e sua planiacutecie de inundaccedilatildeo Para estes a canalizaccedilatildeo eacute uma obra estrutural que aumenta
a capacidade do fluxo do canal aleacutem de intensificar a velocidade do escoamento
superficial antecipando o pico de cheia e transferindo os alagamentos para locais a jusante
na bacia hidrograacutefica
Articulado a esta ideia Cunha (2012b) reflete a desnaturalizaccedilatildeo dos rios por meio de
obras de retificaccedilatildeo com a reduccedilatildeo do comprimento do canal e eliminaccedilatildeo das
sinuosidades Satildeo obras que afetam a estabilidade do corpo hiacutedrico na medida em que
interferem na relaccedilatildeo entre erosatildeo sedimentaccedilatildeo e deposiccedilatildeo provocando efeitos como
alteraccedilatildeo na morfologia do canal Sendo assim ldquo[hellip] a diminuiccedilatildeo da rugosidade no fundo
do canal em conjunto com a perda dos meandros e a aceleraccedilatildeo das velocidades eacute a
principal responsaacutevel pelas mudanccedilas no balanccedilo da energia natural dos sedimentos
fluviais [hellip]rdquo Cunha (2012b p178) No caso do Rio Doce trecho correspondente agrave Av
Beira-Rio alterou-se a sua forma retilinizando-a e sua vegetaccedilatildeo natural foi substituiacuteda
por estruturas de pedras o que compromete a resistecircncia ao fluxo as margens e aos
bancos arenosos
Embora as obras de canalizaccedilatildeo sejam implantadas como eficazes nos canais fluviais para
questotildees de enchentes urbanas para Cunha (op cit) estas necessitam de manutenccedilatildeo
constante envolvendo desde dragagem remoccedilatildeo de obstruccedilotildees a recomposiccedilatildeo do
material utilizado Poreacutem toda a manutenccedilatildeo estaacute associada a alteraccedilotildees morfoloacutegicas e
bioloacutegicas como as que interferem nas soleiras e depressotildees do fundo dos leitos
desestabilizando a vazatildeo no curso a exemplo da
27
ldquo[hellip] eliminaccedilatildeo da sequecircncia de depressotildees e soleiras o aumento da velocidade da corrente a diminuiccedilatildeo da diversidade de habitats o ambiente instaacutevel resultante da flutuaccedilatildeo dos niacuteveis da aacutegua e do substrato moacutevel e a maior flutuaccedilatildeo da temperatura das aacuteguasrdquo (CUNHA 2012b p180)
Ao mesmo tempo o aumento da velocidade dos escoamentos no trecho retificado
possibilita maior erosatildeo transferindo para as aacutereas a jusante uma carga soacutelida
representativa que para Cunha (op cit) configura a formaccedilatildeo de bancos axiais e depoacutesitos
de sedimentaccedilatildeo marginais alterando o equiliacutebrio dos sedimentos a jusante Pois
A jusante das obras de retificaccedilatildeo verificam-se o aumentam da carga soacutelida o assoreamento durante a dragagem a erosatildeo no canal pelos eventos torrenciais do regime e a modificaccedilatildeo na dinacircmica na foz Os sedimentos resultantes da erosatildeo no canal retificado em conjunto com a excessiva carga de sedimentos posta em suspensatildeo durante a dragagem e na fase imediata de poacutes-construccedilatildeo - quando a erosatildeo dos bancos de areia sem vegetaccedilatildeo estaacute em seu niacutevel maacuteximo - originam a formaccedilatildeo de depoacutesitos fluviais de curta duraccedilatildeo a jusante do canal retificado Logo a seguir esses depoacutesitos satildeo erodidos juntamente com as margens e o fundo do leito pelos eventos torrenciais do regime vindo a formar bancos axiais e depoacutesitos de sedimentaccedilatildeo marginais (CUNHA2012b p183)
Portanto o estudo da geomorfologia fluvial contribui diretamente para o entendimento das
cheias nas planiacutecies de inundaccedilatildeo em especial nas bacias hidrograacuteficas que
compreendem a aacuterea urbana e que possuem intervenccedilotildees antroacutepicas diretas na fisiografia
do canal principal Seus processos explicam como as alteraccedilotildees no canal fluvial podem
maximizar os efeitos dos transbordamentos impactando principalmente as populaccedilotildees
ribeirinhas aleacutem de todo ecossistema local Ademais estes fundamentos geomorfoloacutegicos
devem ser associados agrave legislaccedilatildeo vigente afim de subsidiar a elaboraccedilatildeo de instrumentos
legais para atuaccedilatildeo do poder puacuteblico nestas zonas de risco
22 Aspectos Juriacutedicos
Frente agrave crescente demanda sobre os recursos hiacutedricos e solo urbano a partir da deacutecada
de 1930 surgem as primeiras diretrizes que visam regulamentar estes ambientes a
exemplo do Coacutedigo das Aacuteguas Mas soacute a partir dos anos 1960 surgem em acircmbito federal
leis como o Coacutedigo Florestal com o intuito de regular a exploraccedilatildeo das vegetaccedilotildees e
consequentemente proteger os mananciais e em 1979 com o objetivo de ordenar as
28
cidades eacute aprovada a Lei 676679 estabelecendo as normas do parcelamento do solo
urbano
Na medida em que as populaccedilotildees aumentam ampliam-se tambeacutem as pressotildees sobre os
recursos de aacutegua e solo Os processos de uso e a conscientizaccedilatildeo de que estes elementos
satildeo finitos intensificam as formas de controle e preservaccedilatildeo passando para as esferas
estaduais e municipais a responsabilidade de atuar em escala local na proteccedilatildeo desses
ambientes
Ainda em escala federal em 2012 eacute promulgado o Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012
em substituiccedilatildeo ao coacutedigo anterior Lei 47711965 que apresenta as normas de
apropriaccedilatildeo dos recursos naturais pelas novas necessidades das populaccedilotildees citadinas e
rurais No que compete agrave aacuterea de estudo cabe destacar as ocupaccedilotildees em aacutereas de
planiacutecie de inundaccedilatildeo em que de acordo com art 4ordm devem ser preservadas
I - as faixas marginais de qualquer curso drsquoaacutegua natural perene e intermitente excluiacutedos os efecircmeros desde a borda da calha do leito regular em largura miacutenima de (Incluiacutedo pela Lei nordm 12727 de 2012) a) 30 (trinta) metros para os cursos drsquoaacutegua de menos de 10 (dez) metros de largura b) 50 (cinquenta) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura c) 100 (cem) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura d) 200 (duzentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura e) 500 (quinhentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros []
A legislaccedilatildeo eacute riacutegida no que concerne agrave ocupaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo das terras nas faixas
marginais dos rios transferindo aos estados e municiacutepios a responsabilidade de fiscalizar
estes territoacuterios para garantir a efetividade da lei A questatildeo eacute que muitas vezes somada a
falta de planejamento estas fiscalizaccedilotildees satildeo ineficientes o que tem possibilitado o
surgimento cada vez maior das ocupaccedilotildees irregulares
Apoiado tambeacutem pela Constituiccedilatildeo Federal de 1988 nos artigos 182 e 183 surge o
Estatuto das Cidades Lei 102572001 com finalidade de garantir a funccedilatildeo social da
cidade e com este os primeiros Planos Diretores Municipais (PDM) que buscam o
ordenamento do crescimento das cidades em caraacuteter socioeconocircmico e ambiental cidades
sustentaacuteveis Ademais em Colatina eacute instituiacuteda a Lei 42281996 posteriormente revogada
29
pela Lei 52732007 que ldquoInstitui o Plano Diretor do Municiacutepio de Colatina estabelece os
objetivos instrumentos e diretrizes e daacute outras providecircncias para as accedilotildees de
planejamento do Municiacutepio de Colatina []rdquo
O PDM de Colatina assim como Coacutedigo Florestal prevecirc a preservaccedilatildeo dos ecossistemas
beira-rio Aquele ainda dispotildee sobre o parcelamento do solo sustentaacutevel a funccedilatildeo social
da cidade e da propriedade conforme o Plano Diretor de Colatina de 2007 nos artigos
transcritos
Artigo 22 - As diretrizes ambientais no Municiacutepio de Colatina satildeo I - aplicar os instrumentos de gestatildeo ambiental estabelecidos nas legislaccedilotildees federal estadual e municipal bem como a criaccedilatildeo de outros instrumentos adequando-os agraves metas estabelecidas pelas poliacuteticas ambientais II - compatibilizar as diretrizes de uso ocupaccedilatildeo e parcelamento do solo aos objetivos de proteccedilatildeo ambiental dos ecossistemas [] Artigo 23 - Satildeo diretrizes do sistema de drenagem urbana I - disciplinar a ocupaccedilatildeo das cabeceiras e vaacuterzeas das bacias hidrograacuteficas do Municiacutepio preservando a vegetaccedilatildeo existente e visando agrave sua recuperaccedilatildeo [] III - definir mecanismos de fomento para usos do solo compatiacuteveis com aacutereas de interesse para drenagem tais como parques lineares aacuterea de recreaccedilatildeo e lazer hortas comunitaacuterias e manutenccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa [] V - implantar medidas natildeo-estruturais [sic] de prevenccedilatildeo de inundaccedilotildees tais como controle de erosatildeo especialmente em movimentos de terra controle de transporte e deposiccedilatildeo de entulho e lixo combate ao desmatamento assentamentos clandestinos e a outros tipos de invasotildees nas aacutereas com interesse para drenagem [] VII - garantir e respeitar a necessaacuteria permeabilidade do solo inclusive buscando alternativas de pavimentaccedilatildeo com maior de permeabilidade [sic] [] Artigo 84 ndash Satildeo objetivos do ordenamento territorial do Municiacutepio de Colatina [] IV ndash conter a expansatildeo da ocupaccedilatildeo urbana em aacutereas de proteccedilatildeo ambiental [] Artigo 120 ndash Ficam desde jaacute identificadas como Zonas de Proteccedilatildeo Ambiental 2 ndash ZPA 2 as seguintes aacutereas [] III ndash as aacutereas existentes ao longo de qualquer curso drsquoagua desde o niacutevel mais alto em faixa marginal cuja largura miacutenima seraacute de a) 15m (trinta metros) [sic] para os cursos drsquoagua com menos de 10m (10
metros) de largura contidos no periacutemetro urbano [] c) 30m (trinta metros) para os cursos drsquoagua que tenham de10m (dez
metros a 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano
[]
30
e) 50m (cinquenta metros) para os cursos drsquoagua que tenham mais de 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 60422013)
[]
De modo geral verifica-se que a legislaccedilatildeo apresenta instrumentos que permitem a
prevenccedilatildeo ou controle de ocupaccedilotildees irregulares ou clandestinas em aacuterea de APP aleacutem de
propostas para resguardar de grandes impactos ambientais o corpo hiacutedrico principal do
municiacutepio o Rio Doce Possibilitando assim a minimizaccedilatildeo dos impactos causados pelas
cheias agrave populaccedilatildeo local
Poreacutem cabe destacar que o Plano Diretor Municipal de Colatina natildeo contempla o
estipulado no Coacutedigo Florestal 2012 Lei Federal onde os cursos drsquoaacutegua com largura
superior a 600(seiscentos) metros devem ser resguardados com aacutereas de preservaccedilatildeo
permanente de 500(quinhentos) metros entre outros sendo que a redaccedilatildeo desta parte do
PDM eacute dada pela lei 60422013 posterior a publicaccedilatildeo do novo Coacutedigo Florestal Sendo
assim verifica-se que apesar da intenccedilatildeo de resguardar uma faixa de no maacuteximo
50(cinquenta) metros em periacutemetro urbano para a contenccedilatildeo de cheias e mata ciliar o
PDM de Colatina natildeo atende o miacutenimo previsto em Lei Federal O que tem impactado todo
ecossistema beira rio e a populaccedilatildeo ribeirinha uma vez que a faixa marginal de proteccedilatildeo
de 50(cinquenta) metros em muitos casos natildeo tem comportado o impacto dos defluacutevios
No entanto a legislaccedilatildeo trata de aspectos gerais natildeo pontuando as aacutereas responsaacuteveis
por cada accedilatildeo aleacutem de sua aplicabilidade depender da elaboraccedilatildeo de um cronograma de
execuccedilatildeo bem como um conjunto de planos e normas especiacuteficos para cada diretriz com
detalhamento das propostas de intervenccedilatildeo Isto natildeo ocorreu ateacute o presente
Aleacutem disso a cidade de Colatina surgiu num cenaacuterio histoacuterico anterior agraves legislaccedilotildees
urbaniacutesticas e ambientais inclusive do Coacutedigo das Aacuteguas o que dificulta a execuccedilatildeo de
um planejamento que concilie a preservaccedilatildeo das matas beira-rio garantindo a faixa de
APP com a ocupaccedilatildeo urbana consolidada
A aacuterea de estudo se apresenta como ambiente fragilizado apesar de ser regida por
legislaccedilotildees desde a escala federal ateacute a municipal que visam proteger e ordenar o uso e
cobertura da terra nas faixas marginais dos rios Mas a dificuldade das prefeituras em
aplicar os instrumentos legais nestes ambientes seja por interesses privados ou falta de
recursos para investimentos em soluccedilotildees a longo prazo continua expondo as populaccedilotildees
31
aos impactos dos eventos hidroloacutegicos criacuteticos como os que resultam nas inundaccedilotildees
Para que se alcance esse parcelamento do solo sustentaacutevel satildeo necessaacuterios esforccedilos da
gestatildeo municipal em estipular prazos e metas de atuaccedilatildeo afora interagir os diferentes
setores no planejamento em niacutevel de bacia hidrograacutefica considerando as peculiaridades
desta escala de trabalho
23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos
Sendo a ciecircncia que estuda a relaccedilatildeo homemnatureza a Geografia tem muito a contribuir
nas anaacutelises que envolvem o meio ambiente que foi transformado pela dinacircmica da
sociedade Mas historicamente a dialeacutetica das correntes fiacutesica e humana tem imperado de
modo dissociado levando o geoacutegrafo a estudar estes processos separadamente Poreacutem
se o resultado pretendido eacute integrado fazem-se necessaacuterias pesquisas mais amplas que
cruzem as diferentes vertentes geograacuteficas
Considerando que a problemaacutetica dos impactos ambientais urbanos envolve a questatildeo
natural o rio e a questatildeo social e poliacutetica a sociedade e as leis (COELHO 2013) uma
pesquisa neste acircmbito requer o entendimento destes dois objetos a fim de se apreender
o processo de crescimento das cidades brasileiras e a sua relaccedilatildeo com os recursos
hiacutedricos
A partir da deacutecada de 1950 devido ao ecircxodo rural mais intenso as cidades brasileiras
incharam rapidamente com a migraccedilatildeo do camponecircs que buscava melhores condiccedilotildees de
vida como trabalho na induacutestria o acesso agraves escolas saneamento entre outros E
segundo Gorski (2010) a populaccedilatildeo brasileira passou desde o iniacutecio deste processo de 19
milhotildees de habitantes em 1950 para 138 milhotildees de habitantes em 2000 (dados do IBGE)
o que corrobora o raacutepido crescimento das cidades
Todavia as estruturas puacuteblicas natildeo estavam preparadas para um acreacutescimo populacional
tatildeo significativo e em curto espaccedilo de tempo E o que observamos eacute o acesso limitado
dessa populaccedilatildeo agraves aacutereas centrais da cidade sendo induzida a se estabelecer nas
periferias Nesta visatildeo
O difiacutecil acesso da populaccedilatildeo de baixa renda agraves aacutereas mais centrais das cidades contribuiu segundo Raquel Rolnik para a expansatildeo da periferia o que muitas vezes implicou e implica ainda invasatildeo de aacutereas de proteccedilatildeo de mananciais com a aquiescecircncia do poder puacuteblico Esta
32
dinacircmica agravou a situaccedilatildeo de risco dos mananciais pela eliminaccedilatildeo das matas ciliares e consequentemente erosatildeo das margens dos cursos drsquoaacutegua e assoreamento de suas calhas e pela contribuiccedilatildeo do esgoto in natura (ROLNIK1997 apud GORSKI 2010 p62)
Sendo assim a supressatildeo das matas ciliares e das vegetaccedilotildees das encostas para fins de
ocupaccedilatildeo urbana interfere diretamente no ciclo hidroloacutegico diminuindo a absorccedilatildeo de
aacutegua pelo subsolo e pela evapotranspiraccedilatildeo favorecendo o escoamento superficial (Figura
6) que intensifica a velocidade de drenagem das aacuteguas Este processo nas encostas eacute
mais significativo se considerarmos que com a supressatildeo da cobertura vegetal e
impermeabilizaccedilatildeo do solo as precipitaccedilotildees acabam por lavar todo o material
intemperizado sedimentos carregando-o diretamente para o corpo hiacutedrico e contribuindo
para o assoreamento
Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento Fonte Gorski (2010 p64)
Por outro lado as ocupaccedilotildees ribeirinhas nas vaacuterzeas dos rios modificam a dinacircmica fluvial
frente aos defluacutevios A compactaccedilatildeo e o nivelamento do solo associados agrave
impermeabilizaccedilatildeo por concreto asfalto e outros materiais alteram todo o sistema de
drenagem natural e contribuem para a erosatildeo fluvial Aleacutem disso a gestatildeo puacuteblica que
33
deveria investir num parcelamento do solo sustentaacutevel resguardando ldquouma alocaccedilatildeo de
espaccedilosrdquo (CANHOLI 2005 p 15) para a drenagem acaba por colaborar com as enchentes
urbanas na medida em que decide por obras estruturais como a canalizaccedilatildeo (Figura 7
p30) e a microdrenagem que transferem os impactos das inundaccedilotildees a jusante
Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia Fonte Gorski (2010 p69)
Cabe destacar que desde 1965 com o primeiro Coacutedigo Florestal as matas beira-rio jaacute
eram resguardadas da degradaccedilatildeo humana poreacutem com todo o boom urbano a partir de
1950 a falta de estrutura e ingerecircncia municipal no que se refere ao parcelamento e uso
e ocupaccedilatildeo da terra urbana possibilitou a formaccedilatildeo dos assentamentos clandestinos em
APP e na encosta de morros Em condiccedilotildees precaacuterias sem saneamento baacutesico e demais
infraestruturas urbanas estes assentamentos acabam sendo as regiotildees mais afetadas
com as inundaccedilotildees
Junto agraves questotildees jaacute levantadas vale destacar que as aacuteguas das inundaccedilotildees propiciam o
aumento das doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica (febre tifoide hepatite leptospirose
esquistossomose entre outras) pois carregam segundo Gorski (2010) toda uma poluiccedilatildeo
difusa efluentes domeacutesticos industriais e agroindustriais aleacutem do lixo urbano da poluiccedilatildeo
do ar e das ruas
34
Por outro lado esta ocupaccedilatildeo urbana natildeo planejada perde o benefiacutecio que os corpos
hiacutedricos podem oferecer como [] as paisagens fluviais que aos poucos foram sendo
apropriadas como paisagens urbanas [] (GORSKI 2010 38) aleacutem do microclima
associado agrave umidade pela evapotranspiraccedilatildeo que ameniza a sensaccedilatildeo teacutermica local
Poreacutem conforme observado por Graeff (2011) natildeo eacute cabiacutevel atualmente implantar a
legislaccedilatildeo de APP de modo jurista Deve-se considerar toda a representatividade cultural
assentada sobre os leitos destes rios (avenidas importantes casas com arquitetura
histoacuterica entre outros) Aleacutem disso para a demarcaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo
permanente hoje eacute necessaacuteria uma anaacutelise teacutecnica pautada na geomorfologia e
hidrologia de modo a interpretar o ldquocomportamento histoacuterico dos cursos drsquoaacutegua na
paisagem prevendo cenaacuterios de impactos futurosrdquo da atividade humana sobre suas faixas
marginais
Tendo em vista que grande parte da malha urbana brasileira estaacute alocada em APPs e que
segundo Graeff (2011) estas jaacute possuem uma unidade de paisagem estabelecida e muitas
vezes secular configurando siacutetios de importacircncia cultural e apreendendo que
De modo semelhante nas demais cidades haveraacute que ser entendido o meio urbano como ele realmente eacute ndash um encontro entre as necessidades de habitaccedilatildeo com atividades humanas e de conservaccedilatildeo ambiental esta segunda tambeacutem a serviccedilo do homem e natildeo somente de objetivos difusos e distanciados da sobrevivecircncia da sociedade (GRAEFF 2011 206)
Por tais motivos o trabalho com a geomorfologia fluvial urbana deve abarcar os princiacutepios
do bom senso compreendendo que nestas aacutereas de atividade antroacutepica consolidada pode-
se fazer uso de instrumentos de engenharia avanccedilados para uma convivecircncia equilibrada
do homem com a natureza no entorno Contudo deve-se incentivar as aacutereas de expansatildeo
urbana ou zona periurbana (zonas de transiccedilatildeo da aacuterea urbana para a rural) com poliacuteticas
de incentivo a pavimentaccedilotildees mais permeaacuteveis a fim de minimizar o escoamento
superficial para o rio favorecendo a infiltraccedilatildeo
Apesar de os impactos gerados pela interferecircncia humana nas aacutereas mais fragilizadas da
bacia hidrograacutefica vaacuterzeas e encostas refletirem-se em cataacutestrofes com prejuiacutezos
humanos ambientais e urbanos alguns autores brasileiros como Canholi Graeff Cunha
Carneiro e Miguez jaacute indicaram outros caminhos para uma convivecircncia harmoniosa com
a natureza Aleacutem do mais paiacuteses desenvolvidos como a Holanda deixaram de ldquolutar contra
35
as cheiasrdquo para permitir agraves aacuteguas das enchentes a capacidade de acumular e dispersar
com impacto reduzido para as populaccedilotildees (CARNEIRO MIGUEZ 2011)
Sendo assim a proposta deste estudo eacute identificar os principais agentes que influenciam
as inundaccedilotildees entendendo seu papel e atuaccedilatildeo no contexto urbano de Colatina Mas eacute
tambeacutem a de ampliar a abordagem da temaacutetica com uma anaacutelise geograacutefica integrada
ressaltando as medidas que constam no planejamento urbano e sua aplicaccedilatildeo nas faixas
marginais do corpo hiacutedrico
36
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS
Esta pesquisa eacute constituiacuteda de trecircs etapas principais sendo que a primeira teve como
premissa a confecccedilatildeo de um fluxograma (Figura 8) de trabalho para orientar a pesquisa
em seguida teve iniacutecio o levantamento de bibliografias que abordam temas como a
geomorfologia fluvial e urbanizaccedilatildeo em Colatina adotando-se como referecircncia as
pesquisas de Coelho (2006 2007 2008 e 2009) e Albani (2012) Aleacutem disso muito
contribuiacuteram para este trabalho o relatoacuterio do INCAPER da CPRM e os dados do IBGE
Cabe destacar tambeacutem as experiecircncias com recursos hiacutedricos em ambientes urbanos de
Carneiro e Miguez (2011) em especial Cunha (2001 2012ab)
Esta etapa consistiu tambeacutem na busca de material cartograacutefico como aquisiccedilatildeo de planos
de informaccedilatildeo de limite estadual municipal bairros mancha urbana corpo drsquoaacutegua e
logradouros atraveacutes de dados disponiacuteveis no Sistema Integrado de Bases Geoespaciais
do Estado do Espiacuterito Santo (GEOBASES 2014) no Instituto Jones dos Santos Neves
(IJSN 2015) e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2014) imagens
orbitais gratuitas do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI bandas 2-3-4 e 8 (Pan) oacuterbita 216
ponto 73 com datas de passagem em 02012014 e 22032014 agraves 946 (horaacuterio central
da oacuterbita) junto ao Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2014) aleacutem do ortofotomosaico
do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hiacutedricos (IEMA 2014) do Espiacuterito
Santo referente ao voo de 2007 a 2008
Na segunda etapa foram realizadas duas investigaccedilotildees de campo sendo a primeira no
dia 24 de junho de 2014 com a finalidade de fazer o reconhecimento da aacuterea de estudo
fotografar e conversar com moradores e teacutecnicos da prefeitura O segundo trabalho de
campo ocorreu no dia 14 de fevereiro de 2015 e por meio deste foi possiacutevel identificar
pontos sujeitos a inundaccedilatildeo analisar a topografia e realizar as entrevistas com moradores
e funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina
37
Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC)
38
Na terceira etapa foram realizados os mapeamentos e processamentos de todos os planos
de informaccedilatildeo vetoriais e matriciais em ambiente de SIG no sistema ArcGis 103 iniciando
com a ediccedilatildeo dos dados do Municiacutepio e adjacecircncias que foram ajustados quando
necessaacuterio ao sistema de projeccedilatildeo UTM no Datum SIRGAS ndash 2000 na Zona 24 sul com
meridiano central -39 W com todo o mapeamento produzido seguindo a padronizaccedilatildeo
cartograacutefica proposta por Fitz (2008 a b)
O geoprocessamento teve iniacutecio com a composiccedilatildeo das imagens orbitais do Landsat-8 na
cor natural da imagem (2R 3G 4B) e por meio da teacutecnica de Pan Sharpening ou fusatildeo
de imagens a imagem cor natural foi agrupada agrave da banda 8 pancromaacutetica para obtenccedilatildeo
de uma melhor resoluccedilatildeo espacial neste caso chegando a 15 metros sendo resguardado
o conteuacutedo da imagem composta Na sequecircncia foi realizada a extraccedilatildeo da maacutescara do
periacutemetro urbano de Colatina e gerada a classificaccedilatildeo supervisionada da imagem Landsat-
8 no periacuteodo de cheia (janeiro) e vazante (marccedilo) o que possibilitou a delimitaccedilatildeo da calha
do Doce nestes dois eventos
Em seguida foram realizadas as 8 (oito) mediccedilotildees do leito regular sendo 4 (quatro) no
periacuteodo de cheia e 4 (quatro) na vazante de modo a definir a largura meacutedia da calha do
leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina Para chegar a uma medida geral
da largura do rio utilizaram-se ferramentas estatiacutesticas como a meacutedia que eacute uma medida
de tendecircncia central onde numa amostra de tamanho N constituiacuteda por elementos de x
variando de eacute possiacutevel extrair a meacutedia aritmeacutetica atraveacutes da equaccedilatildeo
A meacutedia aponta para onde mais convergem os dados de uma distribuiccedilatildeo
A partir desta definiccedilatildeo da meacutedia da largura da calha do Rio Doce foi possiacutevel em consulta
ao Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e a Lei 52732007 determinar a faixa miacutenima
de preservaccedilatildeo permanente deste corpo fluvial aleacutem da confecccedilatildeo do mapa com o
poliacutegono de APP
Mediante a anaacutelise do mapa verificou-se que grande parte dos bairros do municiacutepio estatildeo
contidos nos poliacutegonos de APP em especial a preservaccedilatildeo de 500 metros conforme lei
federal E por meio deste foram cruzados os dados de vazatildeo as fotos histoacutericas das
enchentes e o poliacutegono de mata ciliar o que permitiu o entendimento das inundaccedilotildees
39
Em ambiente de SIG tambeacutem foram vetorizados os trecircs traccedilados da Estrada de Ferro
Vitoacuteria a Minas o trajeto do Rio Santa Maria do Doce antes e depois da retilinizaccedilatildeo e os
sucessivos aterros na margem direita do Rio Doce no periacutemetro que compreende a Av
Beira-Rio
As teacutecnicas de sensoriamento remoto como a classificaccedilatildeo supervisionada permitiram a
definiccedilatildeo do poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo atraveacutes da imagem da cheia de janeiro Para
tanto foi realizada tambeacutem a classificaccedilatildeo hiacutebrida objetivando aliar a interpretaccedilatildeo visual
com a digital (JENSEN 2009) Por fim foi realizada amarraccedilatildeo com o levantamento
geodeacutesico da CPRM (2014) para garantir a precisatildeo do traccedilado do poliacutegono de cheia
A partir do tratamento dos dados bibliograacuteficos cartograacuteficos e imagens foi possiacutevel
sistematizar este trabalho o que permitiu identificar elementos histoacutericos de intervenccedilatildeo
na paisagem do Doce como os aterros e a ocupaccedilatildeo urbana As visitas de campo a
entrevista e conversas com moradores foram fundamentais para a validaccedilatildeo das
informaccedilotildees o que tornou esta metodologia eficaz para anaacutelise do fenocircmeno da inundaccedilatildeo
em Colatina
40
4 RESULTADOS
41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana
A ocupaccedilatildeo ao longo das planiacutecies de inundaccedilatildeo dos rios tem ocorrido diante da
necessidade deste recurso para as atividades vitais humanas Cunha (2012b p219)
entende que ldquosuas margens tecircm sido o centro preferido da habitaccedilatildeo humana e o
suprimento de suas aacuteguas natildeo soacute fertiliza os campos para o cultivo como tambeacutem fornece
energia e permite recreaccedilatildeordquo Logo o estabelecimento das vilas nas bordas dos cursos
drsquoaacutegua favorece a logiacutestica ocupacional
Historicamente em solo espiacuterito-santense a formaccedilatildeo das vilas ocorreu agraves margens de
estrateacutegicos cursos drsquoaacutegua e a exploraccedilatildeo do ouro de Minas Gerais para Albani (2012)
determinou que a Coroa proibisse nos seacuteculos XVII a XIX a implantaccedilatildeo de estradas e
exploraccedilatildeo de terras na Capitania do Espiacuterito Santo pois os portugueses temiam incursotildees
estrangeiras deixando assim o desenvolvimento capixaba restrito agrave faixa litoracircnea
Relegada enquanto ldquobarreira verderdquo para defesa das minas de ouro e minerais do atual
territoacuterio das Minas Gerais segundo Coelho (2007) a Capitania do Espiacuterito Santo soacute
passou a se interiorizar para o centro-oeste onde se localiza atualmente a cidade de
Colatina a partir de 1847 por meio das ocupaccedilotildees de Santa Izabel e Santa Leopoldina
que permitiram a descida do Rio Santa Maria do Doce ateacute as imediaccedilotildees da atual cidade
de Colatina
Assim foi que o movimento colonizador desceu o vale do Santa Maria do Rio Doce atingindo em 1891 a regiatildeo das matas onde hoje se acha a cidade de Colatina [] Esta penetraccedilatildeo inicial foi feita com elementos alematildees de Santa Leopoldina e no rio Doce ficou muito anos restrita agrave aacuterea inicial A expansatildeo ao longo do vale tomou impulso com a chegada a Colatina em 1906 dos trilhos da Estrada de Ferro Diamantina (atual Vitoacuteria-Minas) (STRAUCH1955 apud COELHO 2007 p105)
Sendo assim Coelho (op cit) relata que a ocupaccedilatildeo se deu atraveacutes da supressatildeo da mata
nativa no baixo curso do Rio Doce de Colatina a Linhares sendo a madeira daiacute extraiacuteda
levada ateacute o rio e encaminhada ateacute Povoaccedilatildeo vilarejo junto agrave foz de onde eram carregados
os navios Neste periacuteodo tem-se a instalaccedilatildeo de um ciclo madeireiro na regiatildeo com a
disposiccedilatildeo de serrarias nas proximidades das matas
41
Todavia somente a partir de 1906 com a chegada da estrada de ferro na regiatildeo o
transporte madeireiro foi transferido para as locomotivas Agrave medida que a implantaccedilatildeo da
Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas avanccedilava para o interior levava consigo as frentes de
desmatamento modificando as paisagens das margens do Rio Doce e se apropriando dos
espaccedilos deste rio (Figura 9)
Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906 Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce Fonte Albani (2012 p 63)
Conforme Albani (2012) com a vinda dos mineiros e fluminenses reforccedilados
posteriormente a partir de 1889 por colonizadores italianos e alematildees eacute que as
ocupaccedilotildees territoriais ocorreram de modo efetivo Atraveacutes do Barracatildeo do Rio Santa Maria
(Figura 10) espaccedilo do governo inicialmente destinado a alojar os migrantes e a produccedilatildeo
surgiram as primeiras residecircncias nas proximidades da igreja de Satildeo Sebastiatildeo Sendo
assim
Eacute importante destacar que o desenvolvimento da regiatildeo onde se encontra o municiacutepio de Colatina teve iniacutecio no final do seacuteculo XIX no nuacutecleo de colonizaccedilatildeo Antocircnio Prado localizado no distrito de Boapaba antiga vila do Mutum O nuacutecleo recebeu dezenas de famiacutelias de imigrantes italianos e ali desenvolveram atividades de agricultura e com a expansatildeo da localidade surge tambeacutem o comeacutercio (ALBANI 2012 p61) [hellip] A vila de Colatina entretanto logo passou a se transformar no principal nuacutecleo e futuramente na sede do municiacutepio Aleacutem da facilidade da produccedilatildeo atraveacutes do Rio Doce a vila de Colatina tornou-se referecircncia dos imigrantes no caminho para a colonizaccedilatildeo das terras ao norte do estado (MADURO1985 apud ALBANI 2012 p62)
42
Desse modo com o desenvolvimento das atividades de cafeicultura madeireira e do
entroncamento logiacutestico de acesso agraves aacutereas do norte a vila eacute elevada em 1921 agrave categoria
de municiacutepio A atual configuraccedilatildeo territorial foi adquirida a partir de 2001 conforme IBGE
(2014) dispondo de seis distritos Colatina (sede) Acircngelo Frechiami Baunilha Boapaba
Graccedila Aranha e Itapina
Cabe destacar poreacutem que a ocupaccedilatildeo inicial da cidade de Colatina se perfaz pela margem
direita do Rio Doce onde se localiza o atual bairro de Colatina Velha e onde havia se
instalado o Barracatildeo de Santa Maria Nesse periacuteodo a ponte ainda natildeo fora edificada
limitando assim a ocupaccedilatildeo da margem esquerda
Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da regiatildeo Fonte Albani (2012 p62)
Conforme Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p65) a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro
Vitoacuteria a Minas em 1906 (Figura 11) possibilitou a expansatildeo da cidade de Colatina e seu
desenvolvimento econocircmico Todavia sua instalaccedilatildeo paralela agrave margem direita do Rio
Doce favoreceu a localizaccedilatildeo de avenidas e ruas centrais em sua proximidade
43
Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p65)
Entretanto foi com a construccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos (Figura 12) em 1928 que a
margem direita se conectou agrave margem esquerda da cidade o que aleacutem de possibilitar a
ocupaccedilatildeo facilitou o acesso agraves regiotildees mais ao norte do Estado
Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p66)
44
Por conseguinte a estrada de ferro e a ponte foram os fatores determinantes para o
estabelecimento dos migrantes agraves margens do Rio Doce e a formaccedilatildeo do atual municiacutepio
de Colatina Contudo foi a partir desta posiccedilatildeo privilegiada que a cidade passou a ser
entreposto comercial e logiacutestico da regiatildeo noroeste e com isso sua aacuterea urbana expandiu-
se de modo desordenado inicialmente ao longo da planiacutecie de inundaccedilatildeo do Doce Coelho
(2007 p108 e 109) relata que
Os efeitos dessa urbanizaccedilatildeo (novos parcelamentos) e do desmatamento produz [sic] normalmente o aumento da velocidade das aacuteguas superficiais (pluviais) que eram antes interceptadas pelas matas com boa parte absorvida pelo solo O que ocorre geralmente nessas aacutereas eacute a chegada mais raacutepida das aacuteguas das chuvas para o tributaacuterios e calha principal do rio por fluxos concentrados que provocam processos de erosotildees do tipo laminar ravina e voccediloroca transportando quantidades expressivas de sedimentos que por sua vez causam assoreamento e a ocorrecircncia de cheias mais frequentes no rio
Com o crescimento acelerado do periacutemetro urbano proporcionado pelo apogeu do ciclo
cafeeiro as proacuteximas deacutecadas levaratildeo a cidade de Colatina a sofrer com impactos
advindos das alteraccedilotildees no ambiente fluvial do Rio Doce em especial os referentes a
ocupaccedilatildeo (impermeabilizaccedilatildeo) e desmatamento das margens (interferecircncia na drenagem
natural) conforme destacado por Coelho (2007)
Eacute fato que o municiacutepio viveu nas deacutecadas de 1940 e 1950 o auge do ciclo cafeeiro
chegando a ser no ranking brasileiro o 13ordm municiacutepio produtor de cafeacute no ano de 1947
(CAMPOS JUNIOR 2004 apud ALBANI 2012 p69) Poreacutem a partir de 1960 este boom
entrou em colapso com crise do cafeacute que assolou todo o paiacutes levando grande parte dos
pequenos proprietaacuterios rurais a migrarem para centros urbanos em especial no Espiacuterito
Santo a regiatildeo da Grande Vitoacuteria e tambeacutem para o centro de Colatina
Em razatildeo da crise cafeeira a populaccedilatildeo rural migra para centros urbanos A populaccedilatildeo migrou em grande quantidade para a Grande Vitoacuteria para fora do estado e tambeacutem para a cidade de Colatina principal aglomerado urbano da regiatildeo Esse processo provoca o aumento da aacuterea urbana de Colatina A populaccedilatildeo da cidade que era de 3913 habitantes em 1940 cresceu para 26757 habitantes em1960 (ALBANI2012 p71)
O crescimento raacutepido do centro de Colatina aliado ao aumento populacional direciona
grande parte dos migrantes para as aacutereas menos centrais da cidade levando agrave ocupaccedilatildeo
de locais irregulares como os morros e as margens direita e esquerda do Rio Doce Este
45
processo configurou a nova paisagem do municiacutepio povoando do vale agraves encostas (Figura
13)
Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes Fonte Albani (2012 p73)
Associado a este processo de reconfiguraccedilatildeo espacial nas proacuteximas deacutecadas o municiacutepio
de Colatina passaraacute por sucessivas perdas de territoacuterios ateacute atingir os limites atuais (Figura
1 p17) Aliado a estas perdas territoriais seu quantitativo absoluto populacional tambeacutem
sofreraacute impactos poreacutem de modo geral a populaccedilatildeo urbana deste municiacutepio apresentou
crescimento continuo (Graacutefico 2)
Graacutefico 2
Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 2010
Elaborado pela autora Fonte 1940 e 1950 Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p82) 1960 a 2010 IBGE
0
20000
40000
60000
80000
100000
120000
1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020
Populaccedilatildeo Urbana Colatina 1940 - 2010
46
Assim como tem ocorrido nas grandes capitais Colatina cresceu em quantitativo
populacional e territorial urbano de modo muito raacutepido e por este desenvolvimento natildeo ter
sido aliado a um planejamento urbano e ambiental sustentaacutevel a cidade tem sentido os
reflexos das suas interferecircncias ao longo do canal do Doce O que tem provocado
antecipaccedilatildeo dos picos de vazatildeo que no periacutemetro urbano ocasiona as inundaccedilotildees pois
natildeo conseguindo o rio acomodar estes defluacutevios transfere em curto espaccedilo de tempo as
aacuteguas a sua planiacutecie de inundaccedilatildeo atingindo os bairros mais antigos do municiacutepio
Por fim entender o contexto histoacuterico do crescimento da cidade revela muito do panorama
atual E por meio de uma anaacutelise conjunta da histoacuteria com os novos planejamentos eacute
possiacutevel propor intervenccedilotildees urbanas que possibilitem um conviacutevio harmonioso entre
natureza e sociedade neste caso entre o Rio Doce e o centro de Colatina Diante desta
proposta adiante apresentaremos a evoluccedilatildeo dos bairros associando seus periacuteodos de
ocupaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo espacial nas imediaccedilotildees do curso principal do Doce
411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade
Com nuacutecleo inicial de povoamento no Barracatildeo de Santa Maria a cidade de Colatina
cresce a partir deste ponto agrave margem direita do Rio Doce de onde surgem as primeiras
residecircncias comeacutercios e a igreja Atualmente a regiatildeo compreende o bairro de Colatina
Velha que de acordo com Albani (2012 p91) [hellip] ldquopode ser considerado o primeiro polo
de crescimento da cidaderdquo
Aliado ao aumento da populaccedilatildeo migrante das fazendas com a crise do cafeacute o nuacutecleo de
Colatina Velha passa a ser um ponto de passagem obrigatoacuterio para os viajantes que
vinham majoritariamente do sul uma vez que o Rio Doce configurava uma barreira natural
agrave ocupaccedilatildeo das terras ao norte Aleacutem disso a margem esquerda deste canal fluvial era
habitat dos hostis iacutendios botocudos o que dificultava a sua apropriaccedilatildeo
Sendo assim a ocupaccedilatildeo de Colatina conteve-se agrave margem direita nesta primeira fase o
que define o primeiro vetor de crescimento da cidade na direccedilatildeo leste para oeste partindo
das imediaccedilotildees do Barracatildeo de Santa Maria sentido ao Rio Santa Maria do Doce (Figura
14) E a partir de 1906 com a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas da entatildeo
Companhia Vale do Rio Doce atual Vale este vetor de crescimento se consolida e
47
proporciona o surgimento de importantes avenidas paralelas agrave ferrovia a exemplo da Av
Getuacutelio Vargas
Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de crescimento Elaborado pela autora
48
O segundo vetor do crescimento de Colatina estava condicionado agrave construccedilatildeo da ponte
Florentino Aacutevidos a qual conectou a margem direita agrave esquerda do Rio Doce permitindo
a ocupaccedilatildeo da porccedilatildeo ao norte Portanto somente a partir de 1928 com a finalizaccedilatildeo da
obra da ponte a barreira natural pocircde ser transposta o que possibilitou ao lado esquerdo
desenvolver uma nova linha de crescimento urbano com a ocupaccedilatildeo do atual bairro de
Satildeo Silvano
O terceiro vetor de crescimento estaacute associado agrave implantaccedilatildeo do bairro Luiz Iglesias na
margem direita e os de Maria das Graccedilas e Coluacutembia na margem esquerda Albani (2012)
ressalta que esta fase da ocupaccedilatildeo urbana estaacute associada ao desenvolvimento do sistema
viaacuterio como a proximidade da BR-259 sentido Vitoacuteria- Colatina da ES-80 que liga
Colatina agrave regiatildeo norte da ES-256 que a conecta a Marilacircndia e da proximidade da
estaccedilatildeo ferroviaacuteria Carlos Germano Nauman (Figura 15)
Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios e linhas feacuterreas que interceptam a cidade de Colatina Elaborado pela autora
Jaacute na quarta e mais recente linha de crescimento da cidade temos os novos loteamentos
residenciais e industriais a exemplo do de Barbados e do bairro Santa Helena que surgem
49
acompanhando o traccedilado da ponte que contorna a leste a cidade como novo acesso agrave
porccedilatildeo norte do estado Albani (2012 p118) destaca que
Apesar da construccedilatildeo da Segunda Ponte ter sido iniciada em 1986 somente foi inaugurada em 2007 A conclusatildeo da ponte e a construccedilatildeo de uma rodovia de contorno desviaram a BR-259 do centro da cidade O desvio da rodovia federal trouxe um desafogamento do tracircnsito nas principais vias da cidade e um novo direcionamento na expansatildeo urbana Alguns loteamentos surgiram nesse periacuteodo proacuteximo agrave Segunda Ponte e ao contorno na margem norte do rio principalmente no bairro Santa Helena (Figura 55) Essa situaccedilatildeo indica mais uma vez que as linhas de crescimento em Colatina satildeo orientadas pelas vias de transporte
Portanto o crescimento do periacutemetro urbano de Colatina estaacute associado agrave superaccedilatildeo das
barreiras naturais em especial o Rio Doce por meio de investimentos em obras de
engenharia que permitiram o deslocamento humano para a margem esquerda deste curso
Sem duacutevida as vias de transporte foram elementares na construccedilatildeo do periacutemetro urbano
de Colatina pois na medida que se consolidava o sistema viaacuterio as ocupaccedilotildees tambeacutem se
favoreciam destas vias de locomoccedilatildeo A evoluccedilatildeo da aacuterea urbana portanto acompanha
as principais vias de transporte (Figura 15 p45) e estas se utilizam da posiccedilatildeo estrateacutegica
e geograficamente favoraacutevel do canal do Doce para a definiccedilatildeo de seus traccedilados
Apoacutes 94 anos de emancipaccedilatildeo de Linhares o territoacuterio de Colatina eacute fundamental para a
manutenccedilatildeo dos municiacutepios do noroeste capixaba Diante desta posiccedilatildeo estrateacutegica torna-
se relevante o entendimento de como o urbano se relaciona com o meio natural a fim de
se estabelecer poliacuteticas de ordenamento territorial que promovam a qualidade de vida no
municiacutepio Adiante seraacute analisada a situaccedilatildeo da calha principal do Rio Doce elemento
fundamental na compreensatildeo do uso e cobertura da terra de Colatina
42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce
Compreendendo uma aacuterea de 3330 kmsup2 o periacutemetro urbano de Colatina eacute afetado pela
velocidade dos defluacutevios de modo que grande parte dos bairros beira-rio eacute tomada pelas
aacuteguas excedentes da calha principal do Doce o que configura o fenocircmeno de inundaccedilatildeo
Ao pesquisar estes fenocircmenos eacute necessaacuterio relacionar o uso da terra com os processos
geomorfoloacutegicos do corpo hiacutedrico Sendo assim por meio de teacutecnicas de
geoprocessamento foram realizadas oito mediccedilotildees da calha principal do Rio Doce para
50
estabelecimento da distacircncia meacutedia da largura de sua calha O resultado esteve dentro do
esperado e pode ser verificado na tabela abaixo (Tabela 1) e no mapa em sequecircncia
(Figura 16)
Tabela 1 Perfis transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de
vazante (abril) e cheia (janeiro)
Largura do rio Doce periacuteodo de vazante e cheia
Abril2013(m) Janeiro2014(m)
P1 70735 75784
P2 62080 66483
P3 59209 65804
P4 63548 67650
Meacutedia dos Perfis 62814 67066
Meacutedia Geral 66143 Obs todas as medidas estatildeo em metros
Elaborado pela autora
Figura 16 - Traccedilado dos perfis transversais da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de vazante mecircs de abril2013 Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)
51
Com uso das imagens orbitais do Landsat-8 atraveacutes da classificaccedilatildeo hiacutebrida foram
gerados dois arquivos shapefiles correspondentes agraves bordas do Doce um no periacuteodo de
vazante e outro no de cheia Por meio destes dados foram definidos quatro traccedilados para
realizaccedilatildeo das mediccedilotildees a partir destas e com auxiacutelio das medidas de tendecircncia central
chegou-se a uma largura meacutedia total de 66143m de uma margem a outra Este resultado
indicou que tanto no periacuteodo de vazante quanto no periacuteodo de cheia a largura meacutedia
aponta para a maior faixa de APP proteccedilatildeo de 500m conforme previsto na legislaccedilatildeo
federal (Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e no revogado Lei 4771 1965)
Analisando a imagem abaixo (Figura 17) observa-se que grande parte do solo
naturalmente destinado a ldquoacomodaccedilatildeordquo das aacuteguas nas cheias (linha laranja) foi
incorporado agrave sociedade como espaccedilo criado (periacutemetro urbano em APP mancha em
amarelo) destinado a fins muacuteltiplos Deste modo sem planejamento territorial adequado
grande parte da planiacutecie de inundaccedilatildeo deu lugar a outras funccedilotildees diferentes das naturais
sendo incorporada ao espaccedilo urbano
Lanccedilando o buffer (mancha em amarelo) do entorno da calha do Doce (Figura 17) observa-
se que dos 59 bairros do municiacutepio cerca de 29 estatildeo dentro da aacuterea de 500m destinada
a preservaccedilatildeo permanente pelo Coacutedigo Florestal Considerando-se a delimitaccedilatildeo da APP
prevista no PDM de 1996 e 2007 (linha laranja mais proacutexima da borda do rio) este nuacutemero
cai para 18 bairros permanecendo apenas aqueles que possuem limites com o corpo
hiacutedrico
Uma vez que que lei municipal natildeo suplanta lei federal considerar-se-aacute neste estudo o
limite da faixa marginal de proteccedilatildeo definida na Lei Federal 126512012 Deste modo a
aacuterea de preservaccedilatildeo permanente do Doce neste recorte eacute de 1085 kmsup2 compreendendo
33 do periacutemetro urbano de Colatina
Cabe destacar ainda que mesmo o PDM de 1996 contendo enquanto objetivo no Art 14
ldquoI - estabelecer a ordenaccedilatildeo do uso e da ocupaccedilatildeo do solo urbanordquo (Lei 42281996 p4)
a gestatildeo municipal natildeo obteve sucesso na implementaccedilatildeo de tal legislaccedilatildeo O que se
verifica tanto nas deacutecadas de 1990 quanto no iniacutecio dos anos 2000 quando foram
aprovados novos parcelamentos urbanos agraves margens deste canal a exemplo dos bairros
de Barbados na margem direita e do bairro Mario Giurizato na margem esquerda
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Figura 17- Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)
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Articulado a esta ideia e pesquisando o trecho do bairro Esplanada a Colatina Velha palco
das uacuteltimas obras estruturantes de alto porte do municiacutepio consegue-se analisar os efeitos
das inundaccedilotildees nas margens deste rio Logo implementar medidas de prevenccedilatildeo de
cheias em aacutereas com urbanizaccedilotildees antigas requer um esforccedilo da gestatildeo na regulaccedilatildeo do
solo urbano
421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie
de Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio
Interceptada pelo curso do Rio Doce no perfil mais a jusante da bacia a cerca de 100km
do estuaacuterio com o Oceano Atlacircntico a cidade de Colatina polo moveleiro e de confecccedilotildees
do centro-oeste capixaba eacute palco recorrente de inundaccedilotildees urbanas
Conforme jaacute mencionado por Cunha (2012a) este fenocircmeno ocorre quando a bacia recebe
um percentual precipitado acima da sua capacidade de escoamento o que faz o leito
menor do rio extravasar para o leito maior ocupando as aacutereas de vaacuterzeas (Figura 18 p
50) Aliadas a esta questatildeo estatildeo as ocupaccedilotildees humanas das margens dos rios que ao
suprimir a vegetaccedilatildeo natural e alterar a condiccedilatildeo fiacutesica do solo acabam por reduzir a aacuterea
de drenagem das aacuteguas pluviais acelerando o escoamento superficial para o canal
principal e favorecendo os defluacutevios
Figura 18 - Representaccedilatildeo da inundaccedilatildeo urbana Fonte adaptado da Defesa Civil do Tocantins (2015)
Este fenocircmeno tem ganhado destaque em Colatina a partir de 1979 ano em que o Rio
Doce atingiu a vazatildeo de 12860msup3s tomando toda aacuterea aplainada que compotildee seu leito
maior afetando da atual Av Beira-Rio ateacute as redondezas da Av Getuacutelio Vargas Desde
entatildeo os estudos das inundaccedilotildees urbanas satildeo relevantes no municiacutepio o que levou o
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Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) na deacutecada de 1980 a elaborar um ldquoPlano Diretor
de Contenccedilatildeo das Enchentes Proteccedilatildeo das Encostas e Drenagem Pluvial de Colatinardquo
Tal medida apresentou seis alternativas para o fenocircmeno Poreacutem tendo em vista o custo
operacional das obras apenas a alternativa seis que previa a construccedilatildeo de diques
marginais para a proteccedilatildeo das aacutereas mais centrais foi considerada viaacutevel na eacutepoca
Todavia em entrevistas com funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina (PMC) foi
relatado que todo o estudo foi arquivado e que ateacute agora natildeo haacute previsatildeo de
implementaccedilatildeo de tais medidas Fato este que eacute evidenciado (Tabela 2 p 51) quando da
ocorrecircncia de precipitaccedilotildees intensas na bacia durante as quais sazonalmente a cidade eacute
impactada com as aacuteguas das inundaccedilotildees Isto faz com que o municiacutepio passe
recorrentemente por cataacutestrofes conforme tabela com os principais picos de vazatildeo do rio
nos uacuteltimos 50 anos
Tabela 2
Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013
Ano Diamecircs Vazatildeo(msup3s)
1961 30jan 6613
1979 04fev 12860
1997 07jan 8687
2005 03ago 6549
2013 24dez 9028
Fonte Coelho (2007 apud DALLAPICOLA 2014 p4) e CPRM (2014 p85) Observo que os dados da tabela 1 para os anos de 1979 e 2013 estatildeo baseados na estimativa de vazatildeo meacutedia diaacuteria das maacuteximas anuais obtida atraveacutes de extrapolaccedilatildeo da curva-chave pelo grupo interdisciplinar dos relatoacuterios criacuteticos anteriores
As inundaccedilotildees de 1979 1997 e recentemente 2013 (Figura 19) foram as de maior vazatildeo
neste setor do rio e consequentemente as que mais atingiram a aacuterea urbana do municiacutepio
bloqueando os acessos ao centro da cidade e aos equipamentos essenciais como
hospitais escolas e demais oacutergatildeos puacuteblicos aleacutem de desalojarem muniacutecipes e
comprometerem a sauacutede puacuteblica
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Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de 1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 Fonte1) Nossa Colatina 2) Nossa Linda Colatina 3) Nossa Colatina
Com o propoacutesito de identificar os principais fatores que acentuam as inundaccedilotildees seraacute
analisado como os processos geomorfoloacutegicos do Doce estatildeo sendo afetados pela accedilatildeo
antroacutepica Limitaremos a anaacutelise ao periacutemetro urbano no trecho que compreende do bairro
Esplanada ateacute o bairro Colatina Velha (Figura 20) Neste periacutemetro eacute possiacutevel visualizar a
evoluccedilatildeo da mancha urbana sobre o leito do rio aleacutem de identificar na margem direita os
pontos desnaturalizados deste canal fluvial
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Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2) Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do recorte em rosa da APP de 50m (amarelo claro) e 500m (amarelo escuro) Fonte 3) Encontra Colatina (2015)
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O recorte em questatildeo eacute margeado pela Av Beira-Rio e estaacute situado (Figura 20) dentro do
buffer de preservaccedilatildeo permanente previsto no PDM (buffer de 50m) e no Novo Coacutedigo
Florestal (buffer de 500m) Apesar desta aacuterea ser destinada a mata nativa e ou
reflorestada a ocupaccedilatildeo urbana antecede os artigos legais o que dificulta poliacuteticas de
gestatildeo territorial em um periacutemetro ao mesmo tempo histoacuterico e com funccedilatildeo relevante no
equiliacutebrio hidroloacutegico da bacia
O periacutemetro faz parte da vaacuterzea da margem direita do Rio Doce pois encontra-se em cota
topograacutefica de 50m caracterizando sua planiacutecie Logo a aacuterea em questatildeo tem a funccedilatildeo de
acomodar as aacuteguas das cheias quando a calha principal natildeo comporta o escoamento de
grandes vazotildees Esta tarefa passa a ser prejudicada na medida em que na bacia ou no
curso original satildeo implementadas obras que interferem na morfologia do corpo hiacutedrico
principal como a instalaccedilatildeo das hidreleacutetricas de Mascarenhas (1974) e Aimoreacutes (2005) a
montante
As UHErsquos a montante comprometem os processos do rio uma vez que o regime natural de
transporte de sedimentos eacute alterado com o barramento o que favorece a erosatildeo e
consequentemente o assoreamento com a formaccedilatildeo de bancos arenosos alteraccedilatildeo do
seu perfil transversal e reduccedilatildeo da profundidade Aleacutem disso segundo Coelho (2007) as
vazotildees maacuteximas e miacutenimas foram alteradas com a implantaccedilatildeo das hidreleacutetricas a
montante implicando em vazotildees meacutedias anuais miacutenimas cada vez mais reduzidas com
valores se distanciando da linha de tendecircncia (polinocircmio) provando o natildeo equiliacutebrio da
vazatildeo apoacutes a implantaccedilatildeo das barragens (Graacutefico 1 p22)
Entretanto a primeira intervenccedilatildeo direta no trecho em estudo foi a instalaccedilatildeo da estrada
de ferro que atraiu migrantes para Colatina permitindo o crescimento populacional e a
expansatildeo urbana desordenada agraves margens do Doce Este crescimento intensificou a
supressatildeo das matas ciliares e abriu espaccedilo para a impermeabilizaccedilatildeo do solo reduzindo
a infiltraccedilatildeo
Posteriormente a inauguraccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos ampliou o fluxo na regiatildeo pois
proporcionava a ligaccedilatildeo com as terras ao norte do Estado Atuou tambeacutem como obstaacuteculo
ao transporte de sedimentos carreados no fluxo natural do rio uma vez que sua
implantaccedilatildeo altera a topografia do fundo do canal afetando os processos geomorfoloacutegicos
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Poreacutem foi no Morro das Cabritas (colina localizada no espaccedilo que compreende o atual
bairro Esplanada) que ocorreu a primeira desnaturalizaccedilatildeo nas margens do Doce Este
morro por onde o Rio Santa Maria do Doce meandrava ateacute desaguar no Rio Doce foi
cortado em meados de 1953 para abrigar a cidade em expansatildeo Devido a esta
intervenccedilatildeo o curso original do Santa Maria foi deslocado e passou a escoar
retilineamente ateacute a foz (Figura 21)
Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponte Florentino Aacutevidos (direita) e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque em vermelho para o curso atual do Santa Maria Fonte Nossa Colatina
As intervenccedilotildees na margem direita tornam-se mais intensas a partir da deacutecada de 1960
quando no ano de 1968 edificou-se um muro visando a proteccedilatildeo dos pilares da
extremidade direita da ponte Esta obra ficou paralisada por muitos anos e foi a primeira
de retificaccedilatildeo e aterro realizada neste trecho do rio Esta intervenccedilatildeo modificou o fluxo
natural das correntes do rio e reduziu a largura da sua calha alterando a morfologia do
canal (Figura 22)
59
Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de proteccedilatildeo da ponte Elaborado pela autora Fonte fotos histoacutericas Nossa Colatina
Contudo somente em 1972 teve iniacutecio o segundo aterro (Figura 23) com a finalidade de
alocar a estaccedilatildeo rodoviaacuteria de Colatina e ampliar a aacuterea de acesso agrave ponte Florentino
Aacutevidos A implementaccedilatildeo desta obra suprimiu parte do leito do Rio Doce pois removeu a
saliecircncia cocircncava que curvava o rio retilinizando esta parte do canal
60
Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora Fonte Nossa Colatina Nossa Linda Colatina
Apoacutes dez anos sem grandes intervenccedilotildees em 1982 o lado a montante da ponte bairro
Esplanada eacute acrescido de um aterro que estenderaacute a aacuterea do antigo Morro das Cabritas
para o rio (Figura 24)
Conhecido como Rua da Lama devido agrave umidade que o rio transferia ao aterro formando
um barro viscoso que persistia a maior parte do ano o trecho atualmente compreende a
Avenida Professor Joseacute Zouian popularmente denominada Avenida Beira-Rio de onde
surge a primeira forma do calccediladatildeo que seraacute estendido ateacute o bairro Colatina Velha
61
Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o calccediladatildeo da Av Beira-Rio Elaborado pela autora Fonte Bennachio (2015)
Somente em 2004 foi implementado o maior projeto de canalizaccedilatildeo do municiacutepio Naquele
ano teve iniacutecio a execuccedilatildeo do enrocamento da Av Beira-Rio (Figura 25) obra destinada
inicialmente a alocaccedilatildeo de equipamentos puacuteblicos de lazer e cultura praccedilas preacutedios aleacutem
da promessa de contribuir para a contenccedilatildeo dos transbordamentos do Rio Doce
Apesar de o referido manancial jaacute estar comprometido com problemas de poluiccedilatildeo
assoreamento e erosatildeo aleacutem dos impactos de duas hidreleacutetricas instaladas a montante a
obra abarcou a supressatildeo da vegetaccedilatildeo ciliar e aterro de parte do rio jaacute tatildeo degradado
62
Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento iniciada em 2004 e finalizada em 2008 Elaborado pela autora Fonte proacutepria autora em 240215
Ocupando uma aacuterea total de 130 mil msup2 do leito do Rio Doce o aterro teve iniacutecio em 2004
sendo construiacutedo com cerca de 90 mil msup3 de pedras 50 mil msup3 de areia retirada do leito do
rio e por fim o nivelamento com 200 mil msup3 de terra A obra era divulgada como um antigo
sonho dos colatinenses e serviria para ampliaccedilatildeo da Av Beira-Rio no bairro de Colatina
Velha instalaccedilatildeo de ciclovias calccediladatildeo equipamentos puacuteblicos e estacionamento (Figura
26) Apesar do fim da engenharia em 2008 o projeto ainda estaacute em fase de acabamento
na parte urbaniacutestica e na alocaccedilatildeo dos oacutergatildeos puacuteblicos
Cabe destacar que a obra sofreu embargos do Ministeacuterio Puacuteblico Federal (MPF) por
apresentar apenas cadastro na Agecircncia Nacional de Aacuteguas (ANA) que conforme parecer
da Procuradora Nadja Machado Botelho na Accedilatildeo Civil Puacuteblica ldquo[hellip] equivocadamente natildeo
realizou o procedimento de outorga [hellip]rdquo (MPF 2006 p2) Aleacutem disso a procuradora
solicitou tutela tendo em vista tratar-se de aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental e o fato de o
IBAMA ter concedido licenciamento com indevida dispensa do Estudo de Impacto
Ambiental (EIA)Relatoacuterio de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA)
63
Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina Fonte Prefeitura de Colatina (2015)
Por isso essa obra deve ser considerada faraocircnica para os cofres puacuteblicos e irreversiacutevel
para os processos geomorfoloacutegicos do Doce E sua efetivaccedilatildeo soacute foi possiacutevel com a
participaccedilatildeo e investimentos do Governo estadual Contudo seu objetivo foi frustrado pois
novamente na cheia do Rio Doce em dezembro de 2013 quando este atingiu a vazatildeo de
9028 msup3s a aacuterea foi inundada e por estar em cota maior que as casas que beiravam o
rio o enrocamento atuou como represa natildeo permitindo o retorno das aacuteguas quando o niacutevel
do rio retomou o equiliacutebrio
Por fim segue um mapa siacutentese (Figura 27) com a cartografia das quatro principais
intervenccedilotildees diretas e estruturais na margem direita do Doce no setor urbano de Colatina
representando o curso natural do rio em 1950 e suas desnaturalizaccedilotildees a partir da deacutecada
de 60 ateacute a atualidade
64
Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce ante e depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora
65
422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio
O recorte em estudo compreende as Zonas ZE-1 ZE-2 e ZUD 2-1 (Figura 28 p61) sendo
a Zona Especial 1 Zona Especial 2 e Zona de Uso Diverso 2-1 destinadas no PDM (Lei
52732007)
Artigo 103 - As Zonas de Usos Diversos ndash ZUD satildeo definidas em razatildeo da concentraccedilatildeo de atividades urbanas diversificadas com predominacircncia do uso comercial e de serviccedilos Artigo 104 - Satildeo objetivos das Zonas de Usos Diversos I - otimizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do solo priorizando a instalaccedilatildeo de novos empreendimentos em terrenos natildeo edificados contiacuteguos a empreendimentos jaacute instalados II - controle da implantaccedilatildeo de usos incompatiacuteveis com os definidos para estas zonas III - garantia de licenciamento e monitoramento ambiental dos empreendimentos IV - controle da expansatildeo comercial de serviccedilos e de induacutestrias de pequeno porte em direccedilatildeo a aacutereas residenciais [] Artigo 130 - As Zonas Especiais 1 ndash ZE 1 abrangem todas as aacutereas remanescentes do municiacutepio relativamente ao zoneamento estabelecido nesta lei ocupadas ou natildeo contida na lei de periacutemetro urbano para as quais natildeo foram ainda estabelecidos os criteacuterios de uso e ocupaccedilatildeo Artigo 131 - As Zonas Especiais 2 ndash ZE 2 satildeo as aacutereas existentes no prolongamento da avenida Beira Rio mais especificamente no trecho entre o 80 Batalhatildeo da Poliacutecia Militar e a rua Pedro Epichin incluindo o espaccedilo existente entre a margem do Rio Doce e o limite das construccedilotildees localizadas na rua Pedro Epichin
Cabe destacar que mesmo sendo palco das aacutereas mais afetadas com as inundaccedilotildees do
Rio Doce a Beira-Rio tem sido alvo da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria que aproveitando-se dos
iacutendices pouco restritos da ZUD 2 (Figura 28 p62) valoriza o espaccedilo promovendo a
instalaccedilatildeo de grandes estruturas como hipermercados edifiacutecios residenciais modernos e
hotelaria
66
Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 Fonte Colatina (2007)
A aacuterea contida na ZE (Figura 28) natildeo possui criteacuterio de ocupaccedilatildeo definido na legislaccedilatildeo
atual sendo adotado o disposto na Lei 41961995 que estabelece os iacutendices urbaniacutesticos
para as aacutereas conquistadas junto ao Rio Doce e na Lei 420595 que aprova os
parcelamentos na Beira-Rio Quanto agrave ZUD 2-1 apresenta iacutendices urbaniacutesticos no anexo
118 do Plano Diretor conforme tabela 3 abaixo
67
Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1
Fonte Colatina (2007 p36)8
68
Eacute relevante observar que numa aacuterea onde o corpo hiacutedrico foi reduzido pelos sucessivos
aterros tenha sido aprovada a instalaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto (Figura
29) com taxa de ocupaccedilatildeo de ateacute 80 e com baixo iacutendice de permeabilidade Ampliou-
se a aacuterea impermeaacutevel numa regiatildeo onde a drenagem jaacute eacute muito comprometida com a
expansatildeo urbana sobre o rio
Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto na Beira-Rio Fonte imagem do Google Maps 2015 E fotos da autora em 140215
Portanto analisando o conjunto de dados apresentado acima eacute possiacutevel entender como
as inundaccedilotildees satildeo potencializadas no municiacutepio atingindo a populaccedilatildeo mas em especial
afetando a dinacircmica de um corpo hiacutedrico tatildeo relevante para o Estado A fim de subsidiar a
gestatildeo puacuteblica com material cartograacutefico para a tomada de decisotildees delimitou-se o
poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo (Figura 30) Pois devem ser adotadas medidas que
minimizem impactos de futuros eventos hidroloacutegicos na bacia capazes de comprometer
novamente a aacuterea urbana mais central de Colatina
69
Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av Beira-Rio em dezembro de 2013 Elaborado pela autora
70
Diante do poliacutegono de inundaccedilatildeo da uacuteltima cheia (Figura 30) em dezembro de 2013 eacute
possiacutevel implementar medidas de convivecircncia com as grandes vazotildees a exemplo de
paiacuteses como Holanda que vem investindo em medidas de resiliecircncia a fim de reduzir a
velocidade dos defluacutevios possibilitando ao canal a capacidade de acumular e dispersar as
aacuteguas com impacto miacutenimo para as populaccedilotildees Conforme Carneiro e Miguez (2011) a
estrateacutegia adotada pelo paiacutes eacute reter armazenar e drenar sendo mais flexiacutevel e natildeo
interferindo drasticamente na dinacircmica do corpo hiacutedrico
Por fim a implementaccedilatildeo de soluccedilotildees de planejamento urbano em Colatina requer uma
anaacutelise integrada que abarque o urbano e o ambiental de modo a propor intervenccedilotildees que
produzam impactos reduzidos nos processos geomorfoloacutegicos do Rio Doce Logo a gestatildeo
municipal deve atuar em niacutevel de bacia hidrograacutefica interagindo com os municiacutepios a
montante propondo medidas de minimizaccedilatildeo das cheias urbanas Mas na escala local
pode-se atuar junto aos novos parcelamentos de modo a ampliar o percentual de aacutereas
permeaacuteveis no municiacutepio incentivando por exemplo os novos loteamentos a adotarem
pavimentaccedilotildees que permitam a drenagem natural do solo
71
5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Partindo da ideia de que eacute possiacutevel implementar medidas que minimizem o escoamento
superficial satildeo apresentadas propostas como forma de controlar ou ao menos reduzir os
impactos das inundaccedilotildees urbanas
Embora as implementaccedilotildees histoacutericas de estruturas de proteccedilatildeo ou barreiras mais altas
tenham sido muito disseminadas atualmente estatildeo sendo suplantadas pelo gerenciamento
de inundaccedilotildees de maneira mais sustentaacutevel Deste modo as experiecircncias fora do Brasil
apontam para soluccedilotildees mais flexiacuteveis que considerem o fluxo natural do canal enquanto
um ecossistema em equiliacutebrio Para tanto Carneiro e Miguez (2011 p150) destacam a
iniciativa alematilde no controle de inundaccedilotildees em bacias hidrograacuteficas metropolitanas
[hellip] A abordagem comum consiste na regulaccedilatildeo do uso do solo nas aacutereas inundaacuteveis e em ldquodar espaccedilo para o riordquo ao inveacutes de priorizar investimentos em estruturas de proteccedilatildeo contra inundaccedilotildees como a colocaccedilatildeo de diques de contenccedilatildeo as margens dos rios A utilizaccedilatildeo do conceito de resiliecircncia apropriado de ecologia decorre dessa abordagem A aplicaccedilatildeo praacutetica do conceito implica portanto em mudanccedilas de paradigma Deixa de ser preponderante a engenharia construtiva e entra em cena o planejamento de longo prazo voltado para o desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis capazes de conviver com as variaccedilotildees do ciclo hidroloacutegico sem significar necessariamente trageacutedias anunciadas
Aleacutem dessas propostas geoacutegrafos como Sandra Cunha tecircm estudado a recuperaccedilatildeo
natural ou ldquorenaturalizaccedilatildeordquo de corpos fluviais visando promover a estabilidade dos canais
de modo mais sustentaacutevel Para ela
[hellip] Recuperaccedilatildeo de canal significa de forma simples o retorno as condiccedilotildees anteriores aos distuacuterbios Em essecircncia eacute o processo de recuperaccedilatildeo do rio ou do ecossistema fluvial estabilizando o desenvolvimento de habitats e colonizaccedilatildeo a uma taxa mais raacutepida que dos processos naturais fiacutesicos e bioloacutegicos Na recuperaccedilatildeo de canais ocorrem consideraccedilotildees de aspecto hidroloacutegico morfoloacutegico e ecoloacutegico qualidade da aacutegua esteacutetica aleacutem da necessidade de uma visatildeo integradora do projeto sustentaacutevel de recuperaccedilatildeo (CUNHA 2012 p230 a 231)
Satildeo portanto medidas pontuais como o retorno agraves sinuosidades do rio (Figura 31 p 68)
ou a substituiccedilatildeo de estruturas de concreto por superfiacutecies mais permeaacuteveis a exemplo
das trincheiras de infiltraccedilatildeo ou pavrsquos (Figura 32) aacutereas mais vegetadas aleacutem de coleta e
uso de aacutegua da chuva bem como tratamento das aacuteguas superficiais por meio de
72
amenidades esteacuteticas como reservatoacuterios de retenccedilatildeo ou detenccedilatildeo que podem ser
associados a ambientes harmocircnicos como lagos artificiais Todas estas accedilotildees possibilitam
a minimizaccedilatildeo das grandes vazotildees no solo urbano pois pretendem atenuar os impactos
das cheias fazendo com que seja resgatada parte da drenagem existente anteriormente agrave
urbanizaccedilatildeo
Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do Rio Aa Munster Alemanha (1998) Fonte Cunha (2012 p233)
Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos Fonte Carneiro e Miguez (2011 p128)
A partir do exposto cabe agrave gestatildeo municipal implementar legislaccedilotildees que priorizem a
permeabilidade possibilitando uma maior infiltraccedilatildeo das aacuteguas das chuvas atraveacutes de
pavimentaccedilotildees menos impermeaacuteveis e da ampliaccedilatildeo de aacutereas vegetadas Satildeo medidas
que tornam a drenagem mais sustentaacutevel aleacutem de possibilitar a manutenccedilatildeo dos serviccedilos
puacuteblicos de forma menos custosa tendo em vista o elevado preccedilo das recomposiccedilotildees
asfaacutelticas
1 2
73
Aleacutem disso quando se fala em controle de cheias urbanas pressupotildee-se uma seacuterie de
medidas para minimizaccedilatildeo de seus impactos desde a operaccedilatildeo de sistemas de alerta
zoneamento de aacutereas inundaacuteveis construccedilatildeo de grandes reservatoacuterios de contenccedilatildeo de
cheias e diques ateacute accedilotildees de educaccedilatildeo ambiental
Cabe pensar tambeacutem na proacutexima revisatildeo do PDM em um plano de macrodrenagem
municipal que reuacutena accedilotildees de caraacuteter estruturantes com obras hidraacuteulicas de infraestrutura
que realizem a conduccedilatildeo final das aacuteguas dos escoamentos superficiais para a minimizaccedilatildeo
das inundaccedilotildees e em medidas natildeo-estruturantes que trabalhem a consciecircncia ambiental
e proponha um zoneamento de cheias a fim de se delimitar os pontos mais fragilizados nos
defluacutevios
Por fim pensar em drenagem num contexto de ocupaccedilatildeo irregular histoacuterico requer
profissionais que aleacutem de possuir afinidade com a temaacutetica tambeacutem possam analisar os
diferentes processos que constituem o espaccedilo geograacutefico Logo este tipo de estudo deve
abarcar uma equipe multidisciplinar que percorra a anaacutelise desde o ambiental estrutural
ateacute o aspecto humano a fim de se produzir resultados que de fato contribuam com o
controle das inundaccedilotildees urbanas
74
6 CONCLUSAtildeO
A partir do recorte espacial foi possiacutevel compreender que a abordagem da geomorfologia
fluvial com a anaacutelise espaccedilo-temporal da ocupaccedilatildeo urbana possibilita a identificaccedilatildeo das
accedilotildees do homem no meio ambiente pois estas resultam na alteraccedilatildeo das paisagens
naturais e na dinacircmica da bacia hidrograacutefica Assim o Rio Doce deve ser estudado de
modo integrado ao crescimento da cidade sobretudo para compreensatildeo da produccedilatildeo do
espaccedilo geograacutefico
Analisar a inundaccedilatildeo urbana em Colatina foi satisfatoacuterio pois o municiacutepio estaacute situado no
perfil meacutedio-baixo da bacia vazante e eacute neste trecho que os reflexos das intervenccedilotildees satildeo
mais acentuados principalmente se esta parte do canal tambeacutem tiver passado por obras
que modificaram seus processos hidroloacutegicos Aleacutem disso a perspectiva geograacutefica aponta
para vaacuterias outras questotildees como erosatildeo fluvial planejamento urbano poluiccedilatildeo ambiental
crise da aacutegua que conduzem a outras discussotildees acerca da relaccedilatildeo homemnatureza
Ao demonstrar a evoluccedilatildeo espaccedilo-temporal do uso e cobertura da terra na margem direita
do Doce associando esta ocupaccedilatildeo agraves obras estruturantes que foram executadas no
canal verificamos que todas as praacuteticas adotadas para conter o transbordamento do rio
acabaram alterando sua morfologia com a retificaccedilatildeo de trechos em meandros reduzindo
a largura do corpo hiacutedrico o que favoreceu a apropriaccedilatildeo urbana de suas vaacuterzeas Aliadas
a estas questotildees estatildeo a falta de planejamento urbano e a omissatildeo diante da supressatildeo
das matas ciliares principalmente se considerados os resultados do relatoacuterio teacutecnico do
IJSN contra enchentes em 1980
Cabe destacar tambeacutem que toda a anaacutelise da ocupaccedilatildeo urbana e desnaturalizaccedilatildeo do
Rio Doce foi melhor identificada a partir dos produtos cartograacuteficos deste trabalho Pois eacute
na espacialidade dos fenocircmenos e no registro de informaccedilotildees ainda natildeo mapeadas como
os aterros que o geoacutegrafo executa a anaacutelise do seu objeto de estudo o homem e a
natureza aqui representado pela sociedade e o canal do Doce
Apesar do municiacutepio apresentar leis que resguardam os leitos dos rios desde o primeiro
PDM em 1996 nada foi feito para conter as ocupaccedilotildees irregulares beira-rio Pelo contraacuterio
estas aacutereas foram incorporadas ao Plano Diretor em 2007 com possibilidades de
ocupaccedilotildees diversas o que tem levado especuladores a valorizar o solo com vista para o
rio apontando suas qualidades esteacuteticas e teacutermicas Este fato vem aumentando o
75
percentual de aacutereas impermeaacuteveis nesta margem comprometendo ainda mais a drenagem
dos defluacutevios
Eacute na Av Beira-Rio que crescem as implantaccedilotildees de grandes empreendimentos comerciais
como supermercado Casagrande Ogil Hotel e obras de construccedilatildeo de novos arranha-
ceacuteus em um periacutemetro que jaacute eacute totalmente comprometido com os extravasamentos do Rio
Doce Estas obras ocupam grandes aacutereas e na maioria das vezes apresentam reduzida
aacuterea permeaacutevel reservando apenas o obrigatoacuterio pela lei cerca de 10 Observa-se
tambeacutem que a implantaccedilatildeo desses projetos estaacute condicionada agrave apresentaccedilatildeo e
aprovaccedilatildeo por comissatildeo na prefeitura do Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV) sendo
difiacutecil conceber que seja concedida tal licenccedila para implementaccedilatildeo de obras num trecho
de risco ambiental
Embora as diretrizes do Estatuto das Cidades para a implementaccedilatildeo do uso da terra
sustentaacutevel e os instrumentos para a regulaccedilatildeo do solo urbano sejam avanccedilados Colatina
eacute mais um exemplo da carecircncia de profissionais capacitados para estudar de modo
integrado e em niacutevel de bacia hidrograacutefica os efeitos da accedilatildeo humana num ambiente tatildeo
peculiar como as margens do Doce Por isso com os objetivos traccedilados nesta pesquisa
podemos aleacutem de compreender o fenocircmeno criar uma metodologia de anaacutelise de aacutereas
inundaacuteveis em ambientes urbanos O que permite agrave gestatildeo municipal uma diretriz para a
tomada de decisotildees
Destaca-se tambeacutem que as legislaccedilotildees aqui referenciadas supriram a discussatildeo acerca do
objeto de estudo mas outras podem contribuir para esta pesquisa a exemplo do Coacutedigo
das Aacuteguas da Poliacutetica Nacional dos Recursos Hiacutedricos das Resoluccedilotildees do Conama do
Estatuto das Cidades entre outros
Sendo assim numa revisatildeo do PDM deve-se pensar nestes aspectos da cidade desde o
histoacuterico de ocupaccedilatildeo das margens ateacute os impactos das inundaccedilotildees e o presente trabalho
auxilia com uma nova abordagem na reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo fornecendo material
cartograacutefico para subsidiar propostas de proteccedilatildeo ao curso do Doce e consequentemente
da populaccedilatildeo
Por fim deve-se destacar que o recorte estaacute inserido num contexto maior de uma bacia
hidrograacutefica que se estende aleacutem dos limites de Colatina ou do estado do Espiacuterito Santo
Esta bacia compreende a Regiatildeo Hidrograacutefica do Atlacircntico Leste e estaacute alocada tambeacutem
76
no estado de Minas Gerais o que portanto torna as accedilotildees de controle das inundaccedilotildees
mais complexas tendo em vista as divergentes politicas territoriais
77
7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANA - Agecircncia Nacional de Aacuteguas
APP - Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente
CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais Serviccedilo Geoloacutegico Brasileiro
GEOBASES - Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espiacuterito Santo
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IJSN - Instituto Jones dos Santos Neves
INCAPER - Instituto Capixaba de Pesquisa Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural
PDM - Plano Diretor Municipal
PMC - Prefeitura Municipal de Colatina
PROATER - Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural
SIG - Sistema de Informaccedilotildees Geograacuteficas
UHE ndash Usina Hidreleacutetrica
UTM - Universal Tranverse Mercator
USGS - Geological Survey Serviccedilo Geoloacutegico Americano
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 14
11 Objetivo 16
111 Objetivo Geral 16
112 Objetivos Especiacuteficos 16
12 Justificativa 17
2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS 20
21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano 20
211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial 23
22 Aspectos Juriacutedicos 27
23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos 31
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS 36
4 RESULTADOS 40
41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana 40
411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade 46
42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce 49
421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie de
Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio 53
422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio 65
5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 71
6 CONCLUSAtildeO 74
7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 77
14
1 INTRODUCcedilAtildeO
A partir da deacutecada de 1930 com a transiccedilatildeo econocircmica de um eixo agraacuterio-exportador
para um polo urbano-industrial (CARNEIRO 2008) verificou-se no Brasil a migraccedilatildeo da
maior parte da populaccedilatildeo para as cidades Isso acarretou segundo Tucci (2013 p17) uma
ldquo[] concentraccedilatildeo urbana no Brasil da ordem de 80 da populaccedilatildeo e o seu
desenvolvimento tem sido realizado de forma pouco planejada com grandes conflitos
institucionais e tecnoloacutegicos []rdquo
De acordo com Canholi (2005 p15) a expansatildeo da aacuterea urbana ldquo[] consequentemente
impermeabilizada ocorreu a partir das zonas mais baixas proacuteximas agraves vaacuterzeas dos rios
ou agrave beira-mar em direccedilatildeo agraves colinas e morros em face da necessaacuteria interaccedilatildeo da
populaccedilatildeo com os corpos hiacutedricos []rdquo Neste cenaacuterio surgem as ocupaccedilotildees irregulares
nas Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) como as da planiacutecie de inundaccedilatildeo dos rios
e os topos de morros
Essas ocupaccedilotildees desordenadas satildeo proporcionadas pela precariedade da implantaccedilatildeo e
fiscalizaccedilatildeo das legislaccedilotildees urbaniacutesticas de ordenamento territorial e ambiental Neste
contexto satildeo relevantes as pesquisas que visam correlacionar o viacutenculo
sociedadenatureza de modo a entender como a ocupaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo no
solo conecta-se com a hidrodinacircmica dos recursos naturais uma vez que ldquo[] a tendecircncia
atual do limitado planejamento urbano integrado estaacute levando as cidades a um caos
ambiental urbano com custo extremamente alto para a sociedaderdquo (TUCCI 2013 p17)
Deve-se partir do pressuposto teoacuterico articulado com a ideia anterior de ldquo[]
indissociabilidade entre natureza e sociedade []rdquo (COELHO 2013 p21) em que a
sociedade natildeo pode ser apenas entendida como populaccedilatildeo e a natureza enquanto mero
ambiente fiacutesico mas que estes dois fatores estatildeo dinamicamente produzindo o espaccedilo
geograacutefico
Neste contexto a problemaacutetica se afirma no intuito de relacionar as legislaccedilotildees urbanas
(Lei de Parcelamento do Solo 676679 e PDM) e ambientais (Novo Coacutedigo Florestal 2012)
com as suas aplicaccedilotildees ou natildeo no periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina
principalmente nos bairros que se situam na planiacutecie de inundaccedilatildeo do Rio Doce
A escolha da temaacutetica tambeacutem teve como premissa a importacircncia regional de Colatina
como entreposto comercial e logiacutestico para os municiacutepios do noroeste capixaba conforme
15
relato do Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural - PROATER (INCAPER
2011)
Exportadores de cafeacute atacadistas e as lojas de pronta entrega dinamizam o comeacutercio local que atende aos municiacutepios do norte capixaba leste de Minas Gerais e sul da Bahia representando um universo de mais de 700 mil consumidores (INCAPER 2011 p5)
De acordo ainda com o INCAPER (op cit) Colatina tem crescido a uma margem de 188
anual o que representa a tendecircncia ao ecircxodo rural sendo que a populaccedilatildeo do campo vem
diminuindo de aproximadamente 19 em 1990 passou a 12 no Censo de 2010 Diante
do exposto entra em discussatildeo o planejamento urbano pois com o crescimento da
populaccedilatildeo citadina para cerca de 88 aumentam tambeacutem as pressotildees sobre o meio
ambiente em especial as regiotildees ribeirinhas
Estas uacuteltimas refletem o aumento das atividades humanas na bacia hidrograacutefica onde
pode-se destacar as mudanccedilas induzidas pelas accedilotildees antropogecircnicas que se dividem em
diretas (aquelas que atuam no canal fluvial para controle das vazotildees a exemplo dos
reservatoacuterios e desvios de aacuteguas) e indiretas relacionadas agraves aacutereas fora dos canais por
exemplo o desmatamento e urbanizaccedilatildeo sendo que estas comprometem a descarga e
carga soacutelida do rio (PARK1981 KNIGHTON1984 apud CUNHA 2001)
O interesse pela pesquisa surge da importacircncia regional do municiacutepio dos impactos
histoacutericos humanos materiais e imateriais sofridos diante de eventos hidroloacutegicos
extremos tendo em vista o fato de o periacutemetro urbano ser cortado por um corpo fluvial de
importacircncia regional Aleacutem disso a abordagem geograacutefica possibilita a correlaccedilatildeo dos
processos fluviais com a ocupaccedilatildeo urbana de modo mais integrado (COELHO 2009)
Portanto uma das finalidades deste trabalho eacute analisar por meio das geotecnologias e das
investigaccedilotildees de campo como a ocupaccedilatildeo urbana tem interferido nas margens do Rio
Doce de modo a delimitar os sucessivos aterros na margem direita no periacutemetro do bairro
Esplanada a Colatina Velha Ademais identificar como os processos deste canal fluvial
tecircm sido afetados pela intervenccedilatildeo humana em seu leito principal
16
11 Objetivo
111 Objetivo Geral
Correlacionar os processos fluviais do Rio Doce por meio da dinacircmica geomorfoloacutegica
deste canal com o uso e cobertura da terra no setor urbano do municiacutepio de Colatina
Espiacuterito Santo Contrapondo assim as intervenccedilotildees urbanas da beira-rio com o Plano
Diretor Municipal e o Novo Coacutedigo Florestal enfatizando as diretrizes adotadas no
parcelamento do solo para a planiacutecie de inundaccedilatildeo deste rio
112 Objetivos Especiacuteficos
Identificar os vetores de crescimento urbano do municiacutepio a fim de avaliar a
evoluccedilatildeo da mancha urbana junto ao canal principal
Determinar o comprimento da borda da calha do leito regular do Rio Doce no
periacutemetro urbano de Colatina para definiccedilatildeo da largura miacutenima da faixa marginal
de preservaccedilatildeo
Espacializar as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente beira-rio previstas em lei a fim
de analisar a ocupaccedilatildeo urbana nestes espaccedilos
Cartografar os principais pontos desnaturalizados no canal principal do Rio Doce
no setor urbano de Colatina
Demonstrar como o emprego das geotecnologias auxilia no planejamento urbano
e ambiental especialmente em acircmbito municipal
17
12 Justificativa
A aacuterea de estudo corresponde ao periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina situado na
Bacia Atlacircntico trecho leste sub-bacia do Rio Doce no baixo curso (ANA 2001)
Compreende a regiatildeo noroeste do estado do Espiacuterito Santo latitude 19deg 32rsquo 16rsquorsquo S e
longitude 40deg 37rsquo 59rsquorsquo W De acordo com os dados do censo de 2010 do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio possuiacutea uma populaccedilatildeo de 111788 mil
habitantes1 numa aacuterea territorial de 1416804 kmsup2
Devido a sua privilegiada posiccedilatildeo geograacutefica limiacutetrofe com o Rio Doce e a construccedilatildeo da
Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas em 1906 Colatina compreendia os territoacuterios dos atuais
municiacutepios de Baixo Guandu Linhares Pancas Satildeo Gabriel da Palha Marilacircndia Satildeo
Domingos do Norte e Governador Lindenberg (INCAPER 2011) Soacute a partir de 2001
passou a apresentar os atuais limites municipais e configurar uma aacuterea urbana com 59
bairros (Figura 1)
Colatina eacute um municiacutepio de importacircncia para regiatildeo noroeste capixaba seja em caraacuteter
econocircmico ou social Eacute responsaacutevel pelos fluxos de cargas da regiatildeo aleacutem de ser um polo
moveleiro de confecccedilatildeo metalmecacircnico e de comeacutercio e serviccedilos gerando emprego e
renda (INCAPER 2011) Aleacutem disso tem sofrido historicamente com as cheias do Rio
Doce principalmente porque parte do seu periacutemetro urbano eacute inundado com as aacuteguas da
calha principal desse rio o que compromete toda a dinacircmica local e potildee em risco os
colatinenses
Assim diante das crescentes demandas por territoacuterio no periacutemetro urbano a populaccedilatildeo
tem suprimido a cobertura vegetal e ocupado desde as margens do Rio Doce ateacute as
encostas dos morros Em periacuteodos de cheias principalmente nos meses de outubro a
marccedilo (INCAPER 2011 ANA 2001) verificam-se inundaccedilotildees de grande parte da aacuterea
urbana beira-rio aleacutem dos movimentos de massa nas encostas Como exemplo destes
acontecimentos tecircm-se os registros fotograacuteficos dos efeitos da chuva de dezembro de 2013
(Figuras 2 e 3)
1 De acordo com o a estimativa do IBGE de 2014 publicada no DOU o municiacutepio conta com uma populaccedilatildeo de 121670 habitantes
18
Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e o canal do Rio Doce Elaborado pela autora
19
Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 Fonte Noticias UOL (2013)
Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de 2013 Fonte Folha Vitoacuteria (2013)
Este estudo portanto eacute relevante tendo em vista as raras abordagens no acircmbito das
Ciecircncias Geograacuteficas especialmente no Espiacuterito Santo de pesquisas que correlacionem
aspectos da geomorfologia fluvial por meio da dinacircmica dos recursos hiacutedricos com o uso
e cobertura da terra particularmente o Plano Diretor Municipal (PDM) Discute dessa
forma as implicaccedilotildees da atuaccedilatildeo humana nas particularidades deste ecossistema natural
tendo em vista o disposto nas legislaccedilotildees urbaniacutesticas e ambientais que visam assegurar
a qualidade de vida das populaccedilotildees
Adiante seratildeo analisados os principais fundamentos da geomorfologia fluvial os aspectos
juriacutedicos e o papel da anaacutelise geograacutefica integrada para o entendimento dos fenocircmenos
das inundaccedilotildees no Centro de Colatina uma vez que eacute devido agraves intervenccedilotildees humanas
nos canais e suas margens que esses fenocircmenos tornam-se mais nocivos a cidade
20
2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS
21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano
Recurso essencial para a manutenccedilatildeo da vida a aacutegua foi um fator relevante para o
estabelecimento histoacuterico das sociedades no entorno dos cursos hiacutedricos Utilizados para
fins de abastecimento humano e animal irrigaccedilatildeo saneamento e transporte os rios
constituiacuteram-se nos principais propulsores de penetraccedilatildeo para o interior (CUNHA 2012a)
Logo em suas margens surgiram povoados que posteriormente transformaram-se em
cidades como as que se estabeleceram agraves margens do Rio Doce a exemplo da sede de
Colatina
Diante das potencialidades que os recursos hiacutedricos possibilitam agraves sociedades
destacamos a importacircncia do estudo da Geomorfologia Fluvial que se apresenta como
campo da Geomorfologia (ciecircncia que estuda as formas do relevo) sendo o interesse
daquela a pesquisa dos processos que relacionam o escoamento das aacuteguas fluviais num
contexto de bacia hidrograacutefica (CHRISTOFOLETTI 1980 CUNHA op cit) Enfoca assim
as alteraccedilotildees na fisionomia dos canais frente agraves intervenccedilotildees no ecossistema natural
beira-rio
A Geomorfologia Fluvial parte da condicionante de que o uso e ocupaccedilatildeo da terra refletem-
se na dinacircmica da bacia de drenagem interferindo nos processos morfogeneacuteticos ou seja
de modelagem do relevo fluvial escoamento superficial das aacuteguas e no ciclo hidroloacutegico
Frente agrave temaacutetica deste estudo faz-se necessaacuterio o entendimento dos conceitos da
fisiografia fluvial aqui referente aos diferentes setores que a aacutegua pode escoar num leito
(Figura 4) como
O leito menor corresponde agrave parte do canal ocupada pelas aacuteguas e cuja frequecircncia impede o crescimento da vegetaccedilatildeo Esse tipo de leito eacute delimitado por partes bem definidas O leito de vazante equivale agrave parte do canal ocupada durante o escoamento das aacuteguas de vazante Suas aacuteguas divagam dentro do leito menor seguindo o talvegue linha de maacutexima profundidade ao longo do leito e que eacute mais bem identificada na seccedilatildeo transversal do canal O leito maior tambeacutem denominado leito maior perioacutedico ou sazonal eacute ocupado pelas aacuteguas do rio regularmente e pelo menos uma vez ao ano durante as cheias Dependendo do tempo ocorrido entre as subidas das aacuteguas eacute possiacutevel haver a fixaccedilatildeo e o crescimento da vegetaccedilatildeo herbaacutecea
21
O leito maior excepcional eacute ocupado durante as grandes cheias no decorrer das enchentes (CUNHA 2001 p 213)
Figura 4 - Tipos de leito fluvial vaacuterzea Fonte Cunha (2001 p213)
Sendo assim as aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial (leitos) aquelas inundadas pelo corpo
hiacutedrico frente a um evento hidroloacutegico extremo tambeacutem satildeo conhecidas como vaacuterzeas
planiacutecie de inundaccedilatildeo ou ainda segundo Carneiro e Miguez (2011 p133) como ldquo[] zona
de passagem de cheia []rdquo Essas aacutereas de vaacuterzeas dependem da fisionomia que o rio
apresenta e segundo Cunha (op cit) o canal fluvial pode apresentar trecircs formas
principais conhecidas como padratildeo dos canais que satildeo retiliacuteneo anastomosado e
meacircndrico (Figura 5)
Figura 5 - Padrotildees dos canais (A) retiliacuteneo (B) anastomosado (C) meandrante (A) amplitude (Rc) raio meacutedio da curvatura do meandro (segundo Bigarella etal 1979) Fonte Cunha (2001 p216)
22
Aliada aos padrotildees dos canais estaacute a assimetria ou simetria dos leitos que para Cunha
(2001 p233) relaciona-se com a variaccedilatildeo da velocidade e turbulecircncia ao longo da secccedilatildeo
transversal o que diferencia o comportamento nos canais retiliacuteneos geralmente simeacutetricos
do canal meacircndrico onde
Em canais de leito simeacutetrico em geral padratildeo retiliacuteneo a velocidade maacutexima ocorre no centro do canal diminuindo em direccedilatildeo agraves margens Em leito assimeacutetrico de padratildeo meacircndrico a zona de maacutexima velocidade e turbulecircncia localiza-se nas proximidades das margens cocircncavas decrescendo de valor em direccedilatildeo agrave margem de menor profundidade
(convexa) (CUNHA opcit p 233)
Deste modo a capacidade de erosatildeo das margens transporte e deposiccedilatildeo da carga do rio
dependem entre outros fatores da velocidade das correntes fluviais E o material do fluxo
fluvial constitui-se da descarga liacutequida ou vazatildeo que estaacute relacionada ao tamanho do
material que pode ser transportado e do volume da carga que o rio eacute capaz de carregar
Tem-se ainda a carga soacutelida sedimentos que estaacute relacionada a suspensatildeo e fundo do
rio esta decresce a jusante indicando a diminuiccedilatildeo da competecircncia do corpo fluvial As
cargas de suspensatildeo satildeo constituiacutedas de partiacuteculas finas a exemplo do silte e por fim a
carga de fundo que eacute composta por partiacuteculas de tamanhos maiores a exemplo da areia
(CUNHA2001)
Christofoletti (1980) acrescenta que os sedimentos podem ser carregados de trecircs modos
principais no fluxo em soluccedilatildeo dissolvidos nos cursos hiacutedricos em suspensatildeo como o
silte e argila e em saltaccedilatildeo geralmente a areia e cascalho que compreendem a carga do
leito do rio Destaca-se que a carga detriacutetica natildeo proveacutem apenas da erosatildeo do fundo dos
leitos e margens fluviais mas que o material intemperizado de vertentes carreado nas
enchentes contribui significativamente para a carga sedimentar transportada
Cabe ressaltar ainda que a relaccedilatildeo do arranjo espacial dos canais com os processos
fluviais (a erosatildeo o transporte e a deposiccedilatildeo de sedimentos) eacute determinante para o
trabalho dos rios Tais processos satildeo diretamente influenciados pela vazatildeo velocidade e
pela intensidade da turbulecircncia (seja no fluxo laminar ou no fluxo turbulento) A
variabilidade no comportamento da velocidade e turbulecircncia das aacuteguas ao longo da seccedilatildeo
transversal condiciona os locais preferenciais de erosatildeo e deposiccedilatildeo ao longo do curso
hiacutedrico
23
Deste modo qualquer intervenccedilatildeo na bacia e canal fluvial compromete o equiliacutebrio natural
da drenagem levando o corpo hiacutedrico a se adaptar agraves mudanccedilas em sua fisionomia
fisiografia e em seus processos ateacute atingir um novo estado de equiliacutebrio Poreacutem eacute na
planiacutecie de inundaccedilatildeo que estas modificaccedilotildees seratildeo mais percebidas pela populaccedilatildeo pois
a maior parte das obras de engenharia como as canalizaccedilotildees e as ocupaccedilotildees das
margens acaba por romper com o equiliacutebrio natural do rio alterando sua dinacircmica e
intensificando seus processos o que na maioria das vezes potencializa as enchentes no
ambiente urbano
Nesse sentido o entendimento dos processos fluviais (erosatildeo transporte e deposiccedilatildeo)
combinado com a anaacutelise da fisiografia fluvial condicionam as peculiaridades na geometria
hidraacuteulica ou seja na relaccedilatildeo entre a vazatildeo velocidade de escoamento tipos de canais
de sedimentos e a topografia Logo o conhecimento geomorfoloacutegico do rio contribui para
pesquisas que necessitem relacionar o funcionamento deste corpo natural com um
planejamento urbano mais efetivo principalmente se considerarmos um recorte em niacutevel
de bacia hidrograacutefica em espaccedilo urbano
211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial
O capiacutetulo que segue versa sobre a atuaccedilatildeo antroacutepica relacionando-a a aacuterea de estudo o
rio Doce poreacutem este trata de forma macro a temaacutetica para contextualizar o leitor sendo
as especificidades das intervenccedilotildees neste recorte geograacutefico trabalhados nos resultados
desta pesquisa
Diante do exposto eacute possiacutevel acompanhar a evoluccedilatildeo dos processos fluviais nos canais
em especial aqueles que tiveram intervenccedilotildees em seu curso natural como as hidreleacutetricas
instaladas a montante a exemplo do Rio Doce onde a interferecircncia direta na vazatildeo e fluxo
de sedimentos altera a hidrodinacircmica do rio comprometendo a erosatildeo e transporte Para
Coelho (2007 p57) as
Mudanccedilas na Declividade Perfil Longitudinal Promovidas pela construccedilatildeo de reservatoacuterio satildeo variadas e caso o efeito da contenccedilatildeo de sedimentos seja significativo os processos fluviais reduziratildeo a capacidade de transporte de sedimento podendo promover um entalhamento do leito do rio imediatamente agrave jusante da barragem
Aleacutem disso esse processo erosivo poacutes-barragem eacute intensificado favorecendo o
assoreamento e sedimentaccedilatildeo do rio a jusante O que pode beneficiar a elevaccedilatildeo da cota
24
do canal fluvial frente a eventos hidroloacutegicos extremos potencializando os efeitos das
inundaccedilotildees nas vaacuterzeas
Ao mesmo tempo o Rio Doce trecho que compreende o Espiacuterito Santo meacutediobaixo curso
eacute impactado nas vazotildees miacutenimas e maacuteximas a jusante apoacutes a instalaccedilatildeo das
barragensUsinas Hidreleacutetricas (UHE) de Mascarenhas (iniacutecio de operaccedilatildeo em 1974)
localizada no Municiacutepio de Baixo Guandu e a de Aimoreacutes (iniacutecio de operaccedilatildeo em 2005)
localizada na divisa do Espiacuterito Santo com Minas Gerais (COELHO 2007)
De acordo com Coelho (opcit) apoacutes a implantaccedilatildeo das usinas ocorreu uma reduccedilatildeo
significativa na vazatildeo da calha principal do Rio Doce conforme Graacutefico 1
Considerando o periacuteodo de 1939 a 2012 a vazatildeo miacutenima apoacutes a instalaccedilatildeo das usinas
chega a atingir 411msup3s e a maacutexima chega apenas a 1251msup3s sendo que no periacuteodo
anterior agrave instalaccedilatildeo das usinas foi registrada a miacutenima de 533 msup3s e uma maacutexima de
1812 msup3s o que ressalta o impacto do barramento sobre o corpo hiacutedrico Aleacutem do
comprometimento dos processos de erosatildeo transporte e sedimentaccedilatildeo (COELHO 2008
e CUNHA 2001)
Diante desta perda de carga liacutequida nos barramentos Cunha (2001 p 241) observa ainda
que as aacutereas a jusante de reservatoacuterios
[hellip] onde o regime do rio sofre significativas modificaccedilotildees devidas ao controle das descargas liquidas e de sedimentos no reservatoacuterio As mudanccedilas ocorridas no regime das aacuteguas neste setor do rio acarretam significativos efeitos nos processos do canal tais como o entalhe do leito a erosatildeo das margens e a deposiccedilatildeo a jusante atingindo longas distacircncias
Aleacutem disso no periacutemetro urbano de Colatina o Rio Doce sofreu outras intervenccedilotildees em
seu canal principal como a implantaccedilatildeo de obras estruturais de macrodrenagem a
exemplo da construccedilatildeo da Av Beira-Rio com intuito de conter o avanccedilo das aacuteguas fluviais
em periacuteodos de cheias
25
Graacutefico 1
Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais (Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia)
Fonte adaptado de Coelho (2007 p154)
26
Como exemplo dos tipos de intervenccedilotildees humanas nas aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial
leitos Carneiro e Miguez (2011 p117) destacam
As accedilotildees de controle e cheias urbanas podem ser classificadas em estruturais quando a paisagem eacute alterada pela accedilatildeo do homem e em natildeo estruturais aqui denominada como estruturante quando o homem aprende a conviver com as enchentes No primeiro caso estatildeo as medidas de controle atraveacutes de obras hidraacuteulicas tais como barragens diques e canais entre outras No segundo caso encontram-se medidas do tipo preventivo tais como zoneamento de aacutereas de inundaccedilatildeo sistemas de alerta educaccedilatildeo ambiental lei de parcelamento e uso dos solos e seguros contra inundaccedilatildeo
Neste cenaacuterio abarcamos os impactos das obras de engenharia como a canalizaccedilatildeo que
altera a fisionomia e fisiografia do rio refletindo-se nos processos geomorfoloacutegicos do canal
e sua planiacutecie de inundaccedilatildeo Para estes a canalizaccedilatildeo eacute uma obra estrutural que aumenta
a capacidade do fluxo do canal aleacutem de intensificar a velocidade do escoamento
superficial antecipando o pico de cheia e transferindo os alagamentos para locais a jusante
na bacia hidrograacutefica
Articulado a esta ideia Cunha (2012b) reflete a desnaturalizaccedilatildeo dos rios por meio de
obras de retificaccedilatildeo com a reduccedilatildeo do comprimento do canal e eliminaccedilatildeo das
sinuosidades Satildeo obras que afetam a estabilidade do corpo hiacutedrico na medida em que
interferem na relaccedilatildeo entre erosatildeo sedimentaccedilatildeo e deposiccedilatildeo provocando efeitos como
alteraccedilatildeo na morfologia do canal Sendo assim ldquo[hellip] a diminuiccedilatildeo da rugosidade no fundo
do canal em conjunto com a perda dos meandros e a aceleraccedilatildeo das velocidades eacute a
principal responsaacutevel pelas mudanccedilas no balanccedilo da energia natural dos sedimentos
fluviais [hellip]rdquo Cunha (2012b p178) No caso do Rio Doce trecho correspondente agrave Av
Beira-Rio alterou-se a sua forma retilinizando-a e sua vegetaccedilatildeo natural foi substituiacuteda
por estruturas de pedras o que compromete a resistecircncia ao fluxo as margens e aos
bancos arenosos
Embora as obras de canalizaccedilatildeo sejam implantadas como eficazes nos canais fluviais para
questotildees de enchentes urbanas para Cunha (op cit) estas necessitam de manutenccedilatildeo
constante envolvendo desde dragagem remoccedilatildeo de obstruccedilotildees a recomposiccedilatildeo do
material utilizado Poreacutem toda a manutenccedilatildeo estaacute associada a alteraccedilotildees morfoloacutegicas e
bioloacutegicas como as que interferem nas soleiras e depressotildees do fundo dos leitos
desestabilizando a vazatildeo no curso a exemplo da
27
ldquo[hellip] eliminaccedilatildeo da sequecircncia de depressotildees e soleiras o aumento da velocidade da corrente a diminuiccedilatildeo da diversidade de habitats o ambiente instaacutevel resultante da flutuaccedilatildeo dos niacuteveis da aacutegua e do substrato moacutevel e a maior flutuaccedilatildeo da temperatura das aacuteguasrdquo (CUNHA 2012b p180)
Ao mesmo tempo o aumento da velocidade dos escoamentos no trecho retificado
possibilita maior erosatildeo transferindo para as aacutereas a jusante uma carga soacutelida
representativa que para Cunha (op cit) configura a formaccedilatildeo de bancos axiais e depoacutesitos
de sedimentaccedilatildeo marginais alterando o equiliacutebrio dos sedimentos a jusante Pois
A jusante das obras de retificaccedilatildeo verificam-se o aumentam da carga soacutelida o assoreamento durante a dragagem a erosatildeo no canal pelos eventos torrenciais do regime e a modificaccedilatildeo na dinacircmica na foz Os sedimentos resultantes da erosatildeo no canal retificado em conjunto com a excessiva carga de sedimentos posta em suspensatildeo durante a dragagem e na fase imediata de poacutes-construccedilatildeo - quando a erosatildeo dos bancos de areia sem vegetaccedilatildeo estaacute em seu niacutevel maacuteximo - originam a formaccedilatildeo de depoacutesitos fluviais de curta duraccedilatildeo a jusante do canal retificado Logo a seguir esses depoacutesitos satildeo erodidos juntamente com as margens e o fundo do leito pelos eventos torrenciais do regime vindo a formar bancos axiais e depoacutesitos de sedimentaccedilatildeo marginais (CUNHA2012b p183)
Portanto o estudo da geomorfologia fluvial contribui diretamente para o entendimento das
cheias nas planiacutecies de inundaccedilatildeo em especial nas bacias hidrograacuteficas que
compreendem a aacuterea urbana e que possuem intervenccedilotildees antroacutepicas diretas na fisiografia
do canal principal Seus processos explicam como as alteraccedilotildees no canal fluvial podem
maximizar os efeitos dos transbordamentos impactando principalmente as populaccedilotildees
ribeirinhas aleacutem de todo ecossistema local Ademais estes fundamentos geomorfoloacutegicos
devem ser associados agrave legislaccedilatildeo vigente afim de subsidiar a elaboraccedilatildeo de instrumentos
legais para atuaccedilatildeo do poder puacuteblico nestas zonas de risco
22 Aspectos Juriacutedicos
Frente agrave crescente demanda sobre os recursos hiacutedricos e solo urbano a partir da deacutecada
de 1930 surgem as primeiras diretrizes que visam regulamentar estes ambientes a
exemplo do Coacutedigo das Aacuteguas Mas soacute a partir dos anos 1960 surgem em acircmbito federal
leis como o Coacutedigo Florestal com o intuito de regular a exploraccedilatildeo das vegetaccedilotildees e
consequentemente proteger os mananciais e em 1979 com o objetivo de ordenar as
28
cidades eacute aprovada a Lei 676679 estabelecendo as normas do parcelamento do solo
urbano
Na medida em que as populaccedilotildees aumentam ampliam-se tambeacutem as pressotildees sobre os
recursos de aacutegua e solo Os processos de uso e a conscientizaccedilatildeo de que estes elementos
satildeo finitos intensificam as formas de controle e preservaccedilatildeo passando para as esferas
estaduais e municipais a responsabilidade de atuar em escala local na proteccedilatildeo desses
ambientes
Ainda em escala federal em 2012 eacute promulgado o Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012
em substituiccedilatildeo ao coacutedigo anterior Lei 47711965 que apresenta as normas de
apropriaccedilatildeo dos recursos naturais pelas novas necessidades das populaccedilotildees citadinas e
rurais No que compete agrave aacuterea de estudo cabe destacar as ocupaccedilotildees em aacutereas de
planiacutecie de inundaccedilatildeo em que de acordo com art 4ordm devem ser preservadas
I - as faixas marginais de qualquer curso drsquoaacutegua natural perene e intermitente excluiacutedos os efecircmeros desde a borda da calha do leito regular em largura miacutenima de (Incluiacutedo pela Lei nordm 12727 de 2012) a) 30 (trinta) metros para os cursos drsquoaacutegua de menos de 10 (dez) metros de largura b) 50 (cinquenta) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura c) 100 (cem) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura d) 200 (duzentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura e) 500 (quinhentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros []
A legislaccedilatildeo eacute riacutegida no que concerne agrave ocupaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo das terras nas faixas
marginais dos rios transferindo aos estados e municiacutepios a responsabilidade de fiscalizar
estes territoacuterios para garantir a efetividade da lei A questatildeo eacute que muitas vezes somada a
falta de planejamento estas fiscalizaccedilotildees satildeo ineficientes o que tem possibilitado o
surgimento cada vez maior das ocupaccedilotildees irregulares
Apoiado tambeacutem pela Constituiccedilatildeo Federal de 1988 nos artigos 182 e 183 surge o
Estatuto das Cidades Lei 102572001 com finalidade de garantir a funccedilatildeo social da
cidade e com este os primeiros Planos Diretores Municipais (PDM) que buscam o
ordenamento do crescimento das cidades em caraacuteter socioeconocircmico e ambiental cidades
sustentaacuteveis Ademais em Colatina eacute instituiacuteda a Lei 42281996 posteriormente revogada
29
pela Lei 52732007 que ldquoInstitui o Plano Diretor do Municiacutepio de Colatina estabelece os
objetivos instrumentos e diretrizes e daacute outras providecircncias para as accedilotildees de
planejamento do Municiacutepio de Colatina []rdquo
O PDM de Colatina assim como Coacutedigo Florestal prevecirc a preservaccedilatildeo dos ecossistemas
beira-rio Aquele ainda dispotildee sobre o parcelamento do solo sustentaacutevel a funccedilatildeo social
da cidade e da propriedade conforme o Plano Diretor de Colatina de 2007 nos artigos
transcritos
Artigo 22 - As diretrizes ambientais no Municiacutepio de Colatina satildeo I - aplicar os instrumentos de gestatildeo ambiental estabelecidos nas legislaccedilotildees federal estadual e municipal bem como a criaccedilatildeo de outros instrumentos adequando-os agraves metas estabelecidas pelas poliacuteticas ambientais II - compatibilizar as diretrizes de uso ocupaccedilatildeo e parcelamento do solo aos objetivos de proteccedilatildeo ambiental dos ecossistemas [] Artigo 23 - Satildeo diretrizes do sistema de drenagem urbana I - disciplinar a ocupaccedilatildeo das cabeceiras e vaacuterzeas das bacias hidrograacuteficas do Municiacutepio preservando a vegetaccedilatildeo existente e visando agrave sua recuperaccedilatildeo [] III - definir mecanismos de fomento para usos do solo compatiacuteveis com aacutereas de interesse para drenagem tais como parques lineares aacuterea de recreaccedilatildeo e lazer hortas comunitaacuterias e manutenccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa [] V - implantar medidas natildeo-estruturais [sic] de prevenccedilatildeo de inundaccedilotildees tais como controle de erosatildeo especialmente em movimentos de terra controle de transporte e deposiccedilatildeo de entulho e lixo combate ao desmatamento assentamentos clandestinos e a outros tipos de invasotildees nas aacutereas com interesse para drenagem [] VII - garantir e respeitar a necessaacuteria permeabilidade do solo inclusive buscando alternativas de pavimentaccedilatildeo com maior de permeabilidade [sic] [] Artigo 84 ndash Satildeo objetivos do ordenamento territorial do Municiacutepio de Colatina [] IV ndash conter a expansatildeo da ocupaccedilatildeo urbana em aacutereas de proteccedilatildeo ambiental [] Artigo 120 ndash Ficam desde jaacute identificadas como Zonas de Proteccedilatildeo Ambiental 2 ndash ZPA 2 as seguintes aacutereas [] III ndash as aacutereas existentes ao longo de qualquer curso drsquoagua desde o niacutevel mais alto em faixa marginal cuja largura miacutenima seraacute de a) 15m (trinta metros) [sic] para os cursos drsquoagua com menos de 10m (10
metros) de largura contidos no periacutemetro urbano [] c) 30m (trinta metros) para os cursos drsquoagua que tenham de10m (dez
metros a 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano
[]
30
e) 50m (cinquenta metros) para os cursos drsquoagua que tenham mais de 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 60422013)
[]
De modo geral verifica-se que a legislaccedilatildeo apresenta instrumentos que permitem a
prevenccedilatildeo ou controle de ocupaccedilotildees irregulares ou clandestinas em aacuterea de APP aleacutem de
propostas para resguardar de grandes impactos ambientais o corpo hiacutedrico principal do
municiacutepio o Rio Doce Possibilitando assim a minimizaccedilatildeo dos impactos causados pelas
cheias agrave populaccedilatildeo local
Poreacutem cabe destacar que o Plano Diretor Municipal de Colatina natildeo contempla o
estipulado no Coacutedigo Florestal 2012 Lei Federal onde os cursos drsquoaacutegua com largura
superior a 600(seiscentos) metros devem ser resguardados com aacutereas de preservaccedilatildeo
permanente de 500(quinhentos) metros entre outros sendo que a redaccedilatildeo desta parte do
PDM eacute dada pela lei 60422013 posterior a publicaccedilatildeo do novo Coacutedigo Florestal Sendo
assim verifica-se que apesar da intenccedilatildeo de resguardar uma faixa de no maacuteximo
50(cinquenta) metros em periacutemetro urbano para a contenccedilatildeo de cheias e mata ciliar o
PDM de Colatina natildeo atende o miacutenimo previsto em Lei Federal O que tem impactado todo
ecossistema beira rio e a populaccedilatildeo ribeirinha uma vez que a faixa marginal de proteccedilatildeo
de 50(cinquenta) metros em muitos casos natildeo tem comportado o impacto dos defluacutevios
No entanto a legislaccedilatildeo trata de aspectos gerais natildeo pontuando as aacutereas responsaacuteveis
por cada accedilatildeo aleacutem de sua aplicabilidade depender da elaboraccedilatildeo de um cronograma de
execuccedilatildeo bem como um conjunto de planos e normas especiacuteficos para cada diretriz com
detalhamento das propostas de intervenccedilatildeo Isto natildeo ocorreu ateacute o presente
Aleacutem disso a cidade de Colatina surgiu num cenaacuterio histoacuterico anterior agraves legislaccedilotildees
urbaniacutesticas e ambientais inclusive do Coacutedigo das Aacuteguas o que dificulta a execuccedilatildeo de
um planejamento que concilie a preservaccedilatildeo das matas beira-rio garantindo a faixa de
APP com a ocupaccedilatildeo urbana consolidada
A aacuterea de estudo se apresenta como ambiente fragilizado apesar de ser regida por
legislaccedilotildees desde a escala federal ateacute a municipal que visam proteger e ordenar o uso e
cobertura da terra nas faixas marginais dos rios Mas a dificuldade das prefeituras em
aplicar os instrumentos legais nestes ambientes seja por interesses privados ou falta de
recursos para investimentos em soluccedilotildees a longo prazo continua expondo as populaccedilotildees
31
aos impactos dos eventos hidroloacutegicos criacuteticos como os que resultam nas inundaccedilotildees
Para que se alcance esse parcelamento do solo sustentaacutevel satildeo necessaacuterios esforccedilos da
gestatildeo municipal em estipular prazos e metas de atuaccedilatildeo afora interagir os diferentes
setores no planejamento em niacutevel de bacia hidrograacutefica considerando as peculiaridades
desta escala de trabalho
23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos
Sendo a ciecircncia que estuda a relaccedilatildeo homemnatureza a Geografia tem muito a contribuir
nas anaacutelises que envolvem o meio ambiente que foi transformado pela dinacircmica da
sociedade Mas historicamente a dialeacutetica das correntes fiacutesica e humana tem imperado de
modo dissociado levando o geoacutegrafo a estudar estes processos separadamente Poreacutem
se o resultado pretendido eacute integrado fazem-se necessaacuterias pesquisas mais amplas que
cruzem as diferentes vertentes geograacuteficas
Considerando que a problemaacutetica dos impactos ambientais urbanos envolve a questatildeo
natural o rio e a questatildeo social e poliacutetica a sociedade e as leis (COELHO 2013) uma
pesquisa neste acircmbito requer o entendimento destes dois objetos a fim de se apreender
o processo de crescimento das cidades brasileiras e a sua relaccedilatildeo com os recursos
hiacutedricos
A partir da deacutecada de 1950 devido ao ecircxodo rural mais intenso as cidades brasileiras
incharam rapidamente com a migraccedilatildeo do camponecircs que buscava melhores condiccedilotildees de
vida como trabalho na induacutestria o acesso agraves escolas saneamento entre outros E
segundo Gorski (2010) a populaccedilatildeo brasileira passou desde o iniacutecio deste processo de 19
milhotildees de habitantes em 1950 para 138 milhotildees de habitantes em 2000 (dados do IBGE)
o que corrobora o raacutepido crescimento das cidades
Todavia as estruturas puacuteblicas natildeo estavam preparadas para um acreacutescimo populacional
tatildeo significativo e em curto espaccedilo de tempo E o que observamos eacute o acesso limitado
dessa populaccedilatildeo agraves aacutereas centrais da cidade sendo induzida a se estabelecer nas
periferias Nesta visatildeo
O difiacutecil acesso da populaccedilatildeo de baixa renda agraves aacutereas mais centrais das cidades contribuiu segundo Raquel Rolnik para a expansatildeo da periferia o que muitas vezes implicou e implica ainda invasatildeo de aacutereas de proteccedilatildeo de mananciais com a aquiescecircncia do poder puacuteblico Esta
32
dinacircmica agravou a situaccedilatildeo de risco dos mananciais pela eliminaccedilatildeo das matas ciliares e consequentemente erosatildeo das margens dos cursos drsquoaacutegua e assoreamento de suas calhas e pela contribuiccedilatildeo do esgoto in natura (ROLNIK1997 apud GORSKI 2010 p62)
Sendo assim a supressatildeo das matas ciliares e das vegetaccedilotildees das encostas para fins de
ocupaccedilatildeo urbana interfere diretamente no ciclo hidroloacutegico diminuindo a absorccedilatildeo de
aacutegua pelo subsolo e pela evapotranspiraccedilatildeo favorecendo o escoamento superficial (Figura
6) que intensifica a velocidade de drenagem das aacuteguas Este processo nas encostas eacute
mais significativo se considerarmos que com a supressatildeo da cobertura vegetal e
impermeabilizaccedilatildeo do solo as precipitaccedilotildees acabam por lavar todo o material
intemperizado sedimentos carregando-o diretamente para o corpo hiacutedrico e contribuindo
para o assoreamento
Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento Fonte Gorski (2010 p64)
Por outro lado as ocupaccedilotildees ribeirinhas nas vaacuterzeas dos rios modificam a dinacircmica fluvial
frente aos defluacutevios A compactaccedilatildeo e o nivelamento do solo associados agrave
impermeabilizaccedilatildeo por concreto asfalto e outros materiais alteram todo o sistema de
drenagem natural e contribuem para a erosatildeo fluvial Aleacutem disso a gestatildeo puacuteblica que
33
deveria investir num parcelamento do solo sustentaacutevel resguardando ldquouma alocaccedilatildeo de
espaccedilosrdquo (CANHOLI 2005 p 15) para a drenagem acaba por colaborar com as enchentes
urbanas na medida em que decide por obras estruturais como a canalizaccedilatildeo (Figura 7
p30) e a microdrenagem que transferem os impactos das inundaccedilotildees a jusante
Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia Fonte Gorski (2010 p69)
Cabe destacar que desde 1965 com o primeiro Coacutedigo Florestal as matas beira-rio jaacute
eram resguardadas da degradaccedilatildeo humana poreacutem com todo o boom urbano a partir de
1950 a falta de estrutura e ingerecircncia municipal no que se refere ao parcelamento e uso
e ocupaccedilatildeo da terra urbana possibilitou a formaccedilatildeo dos assentamentos clandestinos em
APP e na encosta de morros Em condiccedilotildees precaacuterias sem saneamento baacutesico e demais
infraestruturas urbanas estes assentamentos acabam sendo as regiotildees mais afetadas
com as inundaccedilotildees
Junto agraves questotildees jaacute levantadas vale destacar que as aacuteguas das inundaccedilotildees propiciam o
aumento das doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica (febre tifoide hepatite leptospirose
esquistossomose entre outras) pois carregam segundo Gorski (2010) toda uma poluiccedilatildeo
difusa efluentes domeacutesticos industriais e agroindustriais aleacutem do lixo urbano da poluiccedilatildeo
do ar e das ruas
34
Por outro lado esta ocupaccedilatildeo urbana natildeo planejada perde o benefiacutecio que os corpos
hiacutedricos podem oferecer como [] as paisagens fluviais que aos poucos foram sendo
apropriadas como paisagens urbanas [] (GORSKI 2010 38) aleacutem do microclima
associado agrave umidade pela evapotranspiraccedilatildeo que ameniza a sensaccedilatildeo teacutermica local
Poreacutem conforme observado por Graeff (2011) natildeo eacute cabiacutevel atualmente implantar a
legislaccedilatildeo de APP de modo jurista Deve-se considerar toda a representatividade cultural
assentada sobre os leitos destes rios (avenidas importantes casas com arquitetura
histoacuterica entre outros) Aleacutem disso para a demarcaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo
permanente hoje eacute necessaacuteria uma anaacutelise teacutecnica pautada na geomorfologia e
hidrologia de modo a interpretar o ldquocomportamento histoacuterico dos cursos drsquoaacutegua na
paisagem prevendo cenaacuterios de impactos futurosrdquo da atividade humana sobre suas faixas
marginais
Tendo em vista que grande parte da malha urbana brasileira estaacute alocada em APPs e que
segundo Graeff (2011) estas jaacute possuem uma unidade de paisagem estabelecida e muitas
vezes secular configurando siacutetios de importacircncia cultural e apreendendo que
De modo semelhante nas demais cidades haveraacute que ser entendido o meio urbano como ele realmente eacute ndash um encontro entre as necessidades de habitaccedilatildeo com atividades humanas e de conservaccedilatildeo ambiental esta segunda tambeacutem a serviccedilo do homem e natildeo somente de objetivos difusos e distanciados da sobrevivecircncia da sociedade (GRAEFF 2011 206)
Por tais motivos o trabalho com a geomorfologia fluvial urbana deve abarcar os princiacutepios
do bom senso compreendendo que nestas aacutereas de atividade antroacutepica consolidada pode-
se fazer uso de instrumentos de engenharia avanccedilados para uma convivecircncia equilibrada
do homem com a natureza no entorno Contudo deve-se incentivar as aacutereas de expansatildeo
urbana ou zona periurbana (zonas de transiccedilatildeo da aacuterea urbana para a rural) com poliacuteticas
de incentivo a pavimentaccedilotildees mais permeaacuteveis a fim de minimizar o escoamento
superficial para o rio favorecendo a infiltraccedilatildeo
Apesar de os impactos gerados pela interferecircncia humana nas aacutereas mais fragilizadas da
bacia hidrograacutefica vaacuterzeas e encostas refletirem-se em cataacutestrofes com prejuiacutezos
humanos ambientais e urbanos alguns autores brasileiros como Canholi Graeff Cunha
Carneiro e Miguez jaacute indicaram outros caminhos para uma convivecircncia harmoniosa com
a natureza Aleacutem do mais paiacuteses desenvolvidos como a Holanda deixaram de ldquolutar contra
35
as cheiasrdquo para permitir agraves aacuteguas das enchentes a capacidade de acumular e dispersar
com impacto reduzido para as populaccedilotildees (CARNEIRO MIGUEZ 2011)
Sendo assim a proposta deste estudo eacute identificar os principais agentes que influenciam
as inundaccedilotildees entendendo seu papel e atuaccedilatildeo no contexto urbano de Colatina Mas eacute
tambeacutem a de ampliar a abordagem da temaacutetica com uma anaacutelise geograacutefica integrada
ressaltando as medidas que constam no planejamento urbano e sua aplicaccedilatildeo nas faixas
marginais do corpo hiacutedrico
36
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS
Esta pesquisa eacute constituiacuteda de trecircs etapas principais sendo que a primeira teve como
premissa a confecccedilatildeo de um fluxograma (Figura 8) de trabalho para orientar a pesquisa
em seguida teve iniacutecio o levantamento de bibliografias que abordam temas como a
geomorfologia fluvial e urbanizaccedilatildeo em Colatina adotando-se como referecircncia as
pesquisas de Coelho (2006 2007 2008 e 2009) e Albani (2012) Aleacutem disso muito
contribuiacuteram para este trabalho o relatoacuterio do INCAPER da CPRM e os dados do IBGE
Cabe destacar tambeacutem as experiecircncias com recursos hiacutedricos em ambientes urbanos de
Carneiro e Miguez (2011) em especial Cunha (2001 2012ab)
Esta etapa consistiu tambeacutem na busca de material cartograacutefico como aquisiccedilatildeo de planos
de informaccedilatildeo de limite estadual municipal bairros mancha urbana corpo drsquoaacutegua e
logradouros atraveacutes de dados disponiacuteveis no Sistema Integrado de Bases Geoespaciais
do Estado do Espiacuterito Santo (GEOBASES 2014) no Instituto Jones dos Santos Neves
(IJSN 2015) e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2014) imagens
orbitais gratuitas do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI bandas 2-3-4 e 8 (Pan) oacuterbita 216
ponto 73 com datas de passagem em 02012014 e 22032014 agraves 946 (horaacuterio central
da oacuterbita) junto ao Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2014) aleacutem do ortofotomosaico
do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hiacutedricos (IEMA 2014) do Espiacuterito
Santo referente ao voo de 2007 a 2008
Na segunda etapa foram realizadas duas investigaccedilotildees de campo sendo a primeira no
dia 24 de junho de 2014 com a finalidade de fazer o reconhecimento da aacuterea de estudo
fotografar e conversar com moradores e teacutecnicos da prefeitura O segundo trabalho de
campo ocorreu no dia 14 de fevereiro de 2015 e por meio deste foi possiacutevel identificar
pontos sujeitos a inundaccedilatildeo analisar a topografia e realizar as entrevistas com moradores
e funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina
37
Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC)
38
Na terceira etapa foram realizados os mapeamentos e processamentos de todos os planos
de informaccedilatildeo vetoriais e matriciais em ambiente de SIG no sistema ArcGis 103 iniciando
com a ediccedilatildeo dos dados do Municiacutepio e adjacecircncias que foram ajustados quando
necessaacuterio ao sistema de projeccedilatildeo UTM no Datum SIRGAS ndash 2000 na Zona 24 sul com
meridiano central -39 W com todo o mapeamento produzido seguindo a padronizaccedilatildeo
cartograacutefica proposta por Fitz (2008 a b)
O geoprocessamento teve iniacutecio com a composiccedilatildeo das imagens orbitais do Landsat-8 na
cor natural da imagem (2R 3G 4B) e por meio da teacutecnica de Pan Sharpening ou fusatildeo
de imagens a imagem cor natural foi agrupada agrave da banda 8 pancromaacutetica para obtenccedilatildeo
de uma melhor resoluccedilatildeo espacial neste caso chegando a 15 metros sendo resguardado
o conteuacutedo da imagem composta Na sequecircncia foi realizada a extraccedilatildeo da maacutescara do
periacutemetro urbano de Colatina e gerada a classificaccedilatildeo supervisionada da imagem Landsat-
8 no periacuteodo de cheia (janeiro) e vazante (marccedilo) o que possibilitou a delimitaccedilatildeo da calha
do Doce nestes dois eventos
Em seguida foram realizadas as 8 (oito) mediccedilotildees do leito regular sendo 4 (quatro) no
periacuteodo de cheia e 4 (quatro) na vazante de modo a definir a largura meacutedia da calha do
leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina Para chegar a uma medida geral
da largura do rio utilizaram-se ferramentas estatiacutesticas como a meacutedia que eacute uma medida
de tendecircncia central onde numa amostra de tamanho N constituiacuteda por elementos de x
variando de eacute possiacutevel extrair a meacutedia aritmeacutetica atraveacutes da equaccedilatildeo
A meacutedia aponta para onde mais convergem os dados de uma distribuiccedilatildeo
A partir desta definiccedilatildeo da meacutedia da largura da calha do Rio Doce foi possiacutevel em consulta
ao Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e a Lei 52732007 determinar a faixa miacutenima
de preservaccedilatildeo permanente deste corpo fluvial aleacutem da confecccedilatildeo do mapa com o
poliacutegono de APP
Mediante a anaacutelise do mapa verificou-se que grande parte dos bairros do municiacutepio estatildeo
contidos nos poliacutegonos de APP em especial a preservaccedilatildeo de 500 metros conforme lei
federal E por meio deste foram cruzados os dados de vazatildeo as fotos histoacutericas das
enchentes e o poliacutegono de mata ciliar o que permitiu o entendimento das inundaccedilotildees
39
Em ambiente de SIG tambeacutem foram vetorizados os trecircs traccedilados da Estrada de Ferro
Vitoacuteria a Minas o trajeto do Rio Santa Maria do Doce antes e depois da retilinizaccedilatildeo e os
sucessivos aterros na margem direita do Rio Doce no periacutemetro que compreende a Av
Beira-Rio
As teacutecnicas de sensoriamento remoto como a classificaccedilatildeo supervisionada permitiram a
definiccedilatildeo do poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo atraveacutes da imagem da cheia de janeiro Para
tanto foi realizada tambeacutem a classificaccedilatildeo hiacutebrida objetivando aliar a interpretaccedilatildeo visual
com a digital (JENSEN 2009) Por fim foi realizada amarraccedilatildeo com o levantamento
geodeacutesico da CPRM (2014) para garantir a precisatildeo do traccedilado do poliacutegono de cheia
A partir do tratamento dos dados bibliograacuteficos cartograacuteficos e imagens foi possiacutevel
sistematizar este trabalho o que permitiu identificar elementos histoacutericos de intervenccedilatildeo
na paisagem do Doce como os aterros e a ocupaccedilatildeo urbana As visitas de campo a
entrevista e conversas com moradores foram fundamentais para a validaccedilatildeo das
informaccedilotildees o que tornou esta metodologia eficaz para anaacutelise do fenocircmeno da inundaccedilatildeo
em Colatina
40
4 RESULTADOS
41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana
A ocupaccedilatildeo ao longo das planiacutecies de inundaccedilatildeo dos rios tem ocorrido diante da
necessidade deste recurso para as atividades vitais humanas Cunha (2012b p219)
entende que ldquosuas margens tecircm sido o centro preferido da habitaccedilatildeo humana e o
suprimento de suas aacuteguas natildeo soacute fertiliza os campos para o cultivo como tambeacutem fornece
energia e permite recreaccedilatildeordquo Logo o estabelecimento das vilas nas bordas dos cursos
drsquoaacutegua favorece a logiacutestica ocupacional
Historicamente em solo espiacuterito-santense a formaccedilatildeo das vilas ocorreu agraves margens de
estrateacutegicos cursos drsquoaacutegua e a exploraccedilatildeo do ouro de Minas Gerais para Albani (2012)
determinou que a Coroa proibisse nos seacuteculos XVII a XIX a implantaccedilatildeo de estradas e
exploraccedilatildeo de terras na Capitania do Espiacuterito Santo pois os portugueses temiam incursotildees
estrangeiras deixando assim o desenvolvimento capixaba restrito agrave faixa litoracircnea
Relegada enquanto ldquobarreira verderdquo para defesa das minas de ouro e minerais do atual
territoacuterio das Minas Gerais segundo Coelho (2007) a Capitania do Espiacuterito Santo soacute
passou a se interiorizar para o centro-oeste onde se localiza atualmente a cidade de
Colatina a partir de 1847 por meio das ocupaccedilotildees de Santa Izabel e Santa Leopoldina
que permitiram a descida do Rio Santa Maria do Doce ateacute as imediaccedilotildees da atual cidade
de Colatina
Assim foi que o movimento colonizador desceu o vale do Santa Maria do Rio Doce atingindo em 1891 a regiatildeo das matas onde hoje se acha a cidade de Colatina [] Esta penetraccedilatildeo inicial foi feita com elementos alematildees de Santa Leopoldina e no rio Doce ficou muito anos restrita agrave aacuterea inicial A expansatildeo ao longo do vale tomou impulso com a chegada a Colatina em 1906 dos trilhos da Estrada de Ferro Diamantina (atual Vitoacuteria-Minas) (STRAUCH1955 apud COELHO 2007 p105)
Sendo assim Coelho (op cit) relata que a ocupaccedilatildeo se deu atraveacutes da supressatildeo da mata
nativa no baixo curso do Rio Doce de Colatina a Linhares sendo a madeira daiacute extraiacuteda
levada ateacute o rio e encaminhada ateacute Povoaccedilatildeo vilarejo junto agrave foz de onde eram carregados
os navios Neste periacuteodo tem-se a instalaccedilatildeo de um ciclo madeireiro na regiatildeo com a
disposiccedilatildeo de serrarias nas proximidades das matas
41
Todavia somente a partir de 1906 com a chegada da estrada de ferro na regiatildeo o
transporte madeireiro foi transferido para as locomotivas Agrave medida que a implantaccedilatildeo da
Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas avanccedilava para o interior levava consigo as frentes de
desmatamento modificando as paisagens das margens do Rio Doce e se apropriando dos
espaccedilos deste rio (Figura 9)
Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906 Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce Fonte Albani (2012 p 63)
Conforme Albani (2012) com a vinda dos mineiros e fluminenses reforccedilados
posteriormente a partir de 1889 por colonizadores italianos e alematildees eacute que as
ocupaccedilotildees territoriais ocorreram de modo efetivo Atraveacutes do Barracatildeo do Rio Santa Maria
(Figura 10) espaccedilo do governo inicialmente destinado a alojar os migrantes e a produccedilatildeo
surgiram as primeiras residecircncias nas proximidades da igreja de Satildeo Sebastiatildeo Sendo
assim
Eacute importante destacar que o desenvolvimento da regiatildeo onde se encontra o municiacutepio de Colatina teve iniacutecio no final do seacuteculo XIX no nuacutecleo de colonizaccedilatildeo Antocircnio Prado localizado no distrito de Boapaba antiga vila do Mutum O nuacutecleo recebeu dezenas de famiacutelias de imigrantes italianos e ali desenvolveram atividades de agricultura e com a expansatildeo da localidade surge tambeacutem o comeacutercio (ALBANI 2012 p61) [hellip] A vila de Colatina entretanto logo passou a se transformar no principal nuacutecleo e futuramente na sede do municiacutepio Aleacutem da facilidade da produccedilatildeo atraveacutes do Rio Doce a vila de Colatina tornou-se referecircncia dos imigrantes no caminho para a colonizaccedilatildeo das terras ao norte do estado (MADURO1985 apud ALBANI 2012 p62)
42
Desse modo com o desenvolvimento das atividades de cafeicultura madeireira e do
entroncamento logiacutestico de acesso agraves aacutereas do norte a vila eacute elevada em 1921 agrave categoria
de municiacutepio A atual configuraccedilatildeo territorial foi adquirida a partir de 2001 conforme IBGE
(2014) dispondo de seis distritos Colatina (sede) Acircngelo Frechiami Baunilha Boapaba
Graccedila Aranha e Itapina
Cabe destacar poreacutem que a ocupaccedilatildeo inicial da cidade de Colatina se perfaz pela margem
direita do Rio Doce onde se localiza o atual bairro de Colatina Velha e onde havia se
instalado o Barracatildeo de Santa Maria Nesse periacuteodo a ponte ainda natildeo fora edificada
limitando assim a ocupaccedilatildeo da margem esquerda
Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da regiatildeo Fonte Albani (2012 p62)
Conforme Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p65) a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro
Vitoacuteria a Minas em 1906 (Figura 11) possibilitou a expansatildeo da cidade de Colatina e seu
desenvolvimento econocircmico Todavia sua instalaccedilatildeo paralela agrave margem direita do Rio
Doce favoreceu a localizaccedilatildeo de avenidas e ruas centrais em sua proximidade
43
Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p65)
Entretanto foi com a construccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos (Figura 12) em 1928 que a
margem direita se conectou agrave margem esquerda da cidade o que aleacutem de possibilitar a
ocupaccedilatildeo facilitou o acesso agraves regiotildees mais ao norte do Estado
Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p66)
44
Por conseguinte a estrada de ferro e a ponte foram os fatores determinantes para o
estabelecimento dos migrantes agraves margens do Rio Doce e a formaccedilatildeo do atual municiacutepio
de Colatina Contudo foi a partir desta posiccedilatildeo privilegiada que a cidade passou a ser
entreposto comercial e logiacutestico da regiatildeo noroeste e com isso sua aacuterea urbana expandiu-
se de modo desordenado inicialmente ao longo da planiacutecie de inundaccedilatildeo do Doce Coelho
(2007 p108 e 109) relata que
Os efeitos dessa urbanizaccedilatildeo (novos parcelamentos) e do desmatamento produz [sic] normalmente o aumento da velocidade das aacuteguas superficiais (pluviais) que eram antes interceptadas pelas matas com boa parte absorvida pelo solo O que ocorre geralmente nessas aacutereas eacute a chegada mais raacutepida das aacuteguas das chuvas para o tributaacuterios e calha principal do rio por fluxos concentrados que provocam processos de erosotildees do tipo laminar ravina e voccediloroca transportando quantidades expressivas de sedimentos que por sua vez causam assoreamento e a ocorrecircncia de cheias mais frequentes no rio
Com o crescimento acelerado do periacutemetro urbano proporcionado pelo apogeu do ciclo
cafeeiro as proacuteximas deacutecadas levaratildeo a cidade de Colatina a sofrer com impactos
advindos das alteraccedilotildees no ambiente fluvial do Rio Doce em especial os referentes a
ocupaccedilatildeo (impermeabilizaccedilatildeo) e desmatamento das margens (interferecircncia na drenagem
natural) conforme destacado por Coelho (2007)
Eacute fato que o municiacutepio viveu nas deacutecadas de 1940 e 1950 o auge do ciclo cafeeiro
chegando a ser no ranking brasileiro o 13ordm municiacutepio produtor de cafeacute no ano de 1947
(CAMPOS JUNIOR 2004 apud ALBANI 2012 p69) Poreacutem a partir de 1960 este boom
entrou em colapso com crise do cafeacute que assolou todo o paiacutes levando grande parte dos
pequenos proprietaacuterios rurais a migrarem para centros urbanos em especial no Espiacuterito
Santo a regiatildeo da Grande Vitoacuteria e tambeacutem para o centro de Colatina
Em razatildeo da crise cafeeira a populaccedilatildeo rural migra para centros urbanos A populaccedilatildeo migrou em grande quantidade para a Grande Vitoacuteria para fora do estado e tambeacutem para a cidade de Colatina principal aglomerado urbano da regiatildeo Esse processo provoca o aumento da aacuterea urbana de Colatina A populaccedilatildeo da cidade que era de 3913 habitantes em 1940 cresceu para 26757 habitantes em1960 (ALBANI2012 p71)
O crescimento raacutepido do centro de Colatina aliado ao aumento populacional direciona
grande parte dos migrantes para as aacutereas menos centrais da cidade levando agrave ocupaccedilatildeo
de locais irregulares como os morros e as margens direita e esquerda do Rio Doce Este
45
processo configurou a nova paisagem do municiacutepio povoando do vale agraves encostas (Figura
13)
Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes Fonte Albani (2012 p73)
Associado a este processo de reconfiguraccedilatildeo espacial nas proacuteximas deacutecadas o municiacutepio
de Colatina passaraacute por sucessivas perdas de territoacuterios ateacute atingir os limites atuais (Figura
1 p17) Aliado a estas perdas territoriais seu quantitativo absoluto populacional tambeacutem
sofreraacute impactos poreacutem de modo geral a populaccedilatildeo urbana deste municiacutepio apresentou
crescimento continuo (Graacutefico 2)
Graacutefico 2
Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 2010
Elaborado pela autora Fonte 1940 e 1950 Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p82) 1960 a 2010 IBGE
0
20000
40000
60000
80000
100000
120000
1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020
Populaccedilatildeo Urbana Colatina 1940 - 2010
46
Assim como tem ocorrido nas grandes capitais Colatina cresceu em quantitativo
populacional e territorial urbano de modo muito raacutepido e por este desenvolvimento natildeo ter
sido aliado a um planejamento urbano e ambiental sustentaacutevel a cidade tem sentido os
reflexos das suas interferecircncias ao longo do canal do Doce O que tem provocado
antecipaccedilatildeo dos picos de vazatildeo que no periacutemetro urbano ocasiona as inundaccedilotildees pois
natildeo conseguindo o rio acomodar estes defluacutevios transfere em curto espaccedilo de tempo as
aacuteguas a sua planiacutecie de inundaccedilatildeo atingindo os bairros mais antigos do municiacutepio
Por fim entender o contexto histoacuterico do crescimento da cidade revela muito do panorama
atual E por meio de uma anaacutelise conjunta da histoacuteria com os novos planejamentos eacute
possiacutevel propor intervenccedilotildees urbanas que possibilitem um conviacutevio harmonioso entre
natureza e sociedade neste caso entre o Rio Doce e o centro de Colatina Diante desta
proposta adiante apresentaremos a evoluccedilatildeo dos bairros associando seus periacuteodos de
ocupaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo espacial nas imediaccedilotildees do curso principal do Doce
411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade
Com nuacutecleo inicial de povoamento no Barracatildeo de Santa Maria a cidade de Colatina
cresce a partir deste ponto agrave margem direita do Rio Doce de onde surgem as primeiras
residecircncias comeacutercios e a igreja Atualmente a regiatildeo compreende o bairro de Colatina
Velha que de acordo com Albani (2012 p91) [hellip] ldquopode ser considerado o primeiro polo
de crescimento da cidaderdquo
Aliado ao aumento da populaccedilatildeo migrante das fazendas com a crise do cafeacute o nuacutecleo de
Colatina Velha passa a ser um ponto de passagem obrigatoacuterio para os viajantes que
vinham majoritariamente do sul uma vez que o Rio Doce configurava uma barreira natural
agrave ocupaccedilatildeo das terras ao norte Aleacutem disso a margem esquerda deste canal fluvial era
habitat dos hostis iacutendios botocudos o que dificultava a sua apropriaccedilatildeo
Sendo assim a ocupaccedilatildeo de Colatina conteve-se agrave margem direita nesta primeira fase o
que define o primeiro vetor de crescimento da cidade na direccedilatildeo leste para oeste partindo
das imediaccedilotildees do Barracatildeo de Santa Maria sentido ao Rio Santa Maria do Doce (Figura
14) E a partir de 1906 com a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas da entatildeo
Companhia Vale do Rio Doce atual Vale este vetor de crescimento se consolida e
47
proporciona o surgimento de importantes avenidas paralelas agrave ferrovia a exemplo da Av
Getuacutelio Vargas
Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de crescimento Elaborado pela autora
48
O segundo vetor do crescimento de Colatina estava condicionado agrave construccedilatildeo da ponte
Florentino Aacutevidos a qual conectou a margem direita agrave esquerda do Rio Doce permitindo
a ocupaccedilatildeo da porccedilatildeo ao norte Portanto somente a partir de 1928 com a finalizaccedilatildeo da
obra da ponte a barreira natural pocircde ser transposta o que possibilitou ao lado esquerdo
desenvolver uma nova linha de crescimento urbano com a ocupaccedilatildeo do atual bairro de
Satildeo Silvano
O terceiro vetor de crescimento estaacute associado agrave implantaccedilatildeo do bairro Luiz Iglesias na
margem direita e os de Maria das Graccedilas e Coluacutembia na margem esquerda Albani (2012)
ressalta que esta fase da ocupaccedilatildeo urbana estaacute associada ao desenvolvimento do sistema
viaacuterio como a proximidade da BR-259 sentido Vitoacuteria- Colatina da ES-80 que liga
Colatina agrave regiatildeo norte da ES-256 que a conecta a Marilacircndia e da proximidade da
estaccedilatildeo ferroviaacuteria Carlos Germano Nauman (Figura 15)
Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios e linhas feacuterreas que interceptam a cidade de Colatina Elaborado pela autora
Jaacute na quarta e mais recente linha de crescimento da cidade temos os novos loteamentos
residenciais e industriais a exemplo do de Barbados e do bairro Santa Helena que surgem
49
acompanhando o traccedilado da ponte que contorna a leste a cidade como novo acesso agrave
porccedilatildeo norte do estado Albani (2012 p118) destaca que
Apesar da construccedilatildeo da Segunda Ponte ter sido iniciada em 1986 somente foi inaugurada em 2007 A conclusatildeo da ponte e a construccedilatildeo de uma rodovia de contorno desviaram a BR-259 do centro da cidade O desvio da rodovia federal trouxe um desafogamento do tracircnsito nas principais vias da cidade e um novo direcionamento na expansatildeo urbana Alguns loteamentos surgiram nesse periacuteodo proacuteximo agrave Segunda Ponte e ao contorno na margem norte do rio principalmente no bairro Santa Helena (Figura 55) Essa situaccedilatildeo indica mais uma vez que as linhas de crescimento em Colatina satildeo orientadas pelas vias de transporte
Portanto o crescimento do periacutemetro urbano de Colatina estaacute associado agrave superaccedilatildeo das
barreiras naturais em especial o Rio Doce por meio de investimentos em obras de
engenharia que permitiram o deslocamento humano para a margem esquerda deste curso
Sem duacutevida as vias de transporte foram elementares na construccedilatildeo do periacutemetro urbano
de Colatina pois na medida que se consolidava o sistema viaacuterio as ocupaccedilotildees tambeacutem se
favoreciam destas vias de locomoccedilatildeo A evoluccedilatildeo da aacuterea urbana portanto acompanha
as principais vias de transporte (Figura 15 p45) e estas se utilizam da posiccedilatildeo estrateacutegica
e geograficamente favoraacutevel do canal do Doce para a definiccedilatildeo de seus traccedilados
Apoacutes 94 anos de emancipaccedilatildeo de Linhares o territoacuterio de Colatina eacute fundamental para a
manutenccedilatildeo dos municiacutepios do noroeste capixaba Diante desta posiccedilatildeo estrateacutegica torna-
se relevante o entendimento de como o urbano se relaciona com o meio natural a fim de
se estabelecer poliacuteticas de ordenamento territorial que promovam a qualidade de vida no
municiacutepio Adiante seraacute analisada a situaccedilatildeo da calha principal do Rio Doce elemento
fundamental na compreensatildeo do uso e cobertura da terra de Colatina
42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce
Compreendendo uma aacuterea de 3330 kmsup2 o periacutemetro urbano de Colatina eacute afetado pela
velocidade dos defluacutevios de modo que grande parte dos bairros beira-rio eacute tomada pelas
aacuteguas excedentes da calha principal do Doce o que configura o fenocircmeno de inundaccedilatildeo
Ao pesquisar estes fenocircmenos eacute necessaacuterio relacionar o uso da terra com os processos
geomorfoloacutegicos do corpo hiacutedrico Sendo assim por meio de teacutecnicas de
geoprocessamento foram realizadas oito mediccedilotildees da calha principal do Rio Doce para
50
estabelecimento da distacircncia meacutedia da largura de sua calha O resultado esteve dentro do
esperado e pode ser verificado na tabela abaixo (Tabela 1) e no mapa em sequecircncia
(Figura 16)
Tabela 1 Perfis transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de
vazante (abril) e cheia (janeiro)
Largura do rio Doce periacuteodo de vazante e cheia
Abril2013(m) Janeiro2014(m)
P1 70735 75784
P2 62080 66483
P3 59209 65804
P4 63548 67650
Meacutedia dos Perfis 62814 67066
Meacutedia Geral 66143 Obs todas as medidas estatildeo em metros
Elaborado pela autora
Figura 16 - Traccedilado dos perfis transversais da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de vazante mecircs de abril2013 Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)
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Com uso das imagens orbitais do Landsat-8 atraveacutes da classificaccedilatildeo hiacutebrida foram
gerados dois arquivos shapefiles correspondentes agraves bordas do Doce um no periacuteodo de
vazante e outro no de cheia Por meio destes dados foram definidos quatro traccedilados para
realizaccedilatildeo das mediccedilotildees a partir destas e com auxiacutelio das medidas de tendecircncia central
chegou-se a uma largura meacutedia total de 66143m de uma margem a outra Este resultado
indicou que tanto no periacuteodo de vazante quanto no periacuteodo de cheia a largura meacutedia
aponta para a maior faixa de APP proteccedilatildeo de 500m conforme previsto na legislaccedilatildeo
federal (Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e no revogado Lei 4771 1965)
Analisando a imagem abaixo (Figura 17) observa-se que grande parte do solo
naturalmente destinado a ldquoacomodaccedilatildeordquo das aacuteguas nas cheias (linha laranja) foi
incorporado agrave sociedade como espaccedilo criado (periacutemetro urbano em APP mancha em
amarelo) destinado a fins muacuteltiplos Deste modo sem planejamento territorial adequado
grande parte da planiacutecie de inundaccedilatildeo deu lugar a outras funccedilotildees diferentes das naturais
sendo incorporada ao espaccedilo urbano
Lanccedilando o buffer (mancha em amarelo) do entorno da calha do Doce (Figura 17) observa-
se que dos 59 bairros do municiacutepio cerca de 29 estatildeo dentro da aacuterea de 500m destinada
a preservaccedilatildeo permanente pelo Coacutedigo Florestal Considerando-se a delimitaccedilatildeo da APP
prevista no PDM de 1996 e 2007 (linha laranja mais proacutexima da borda do rio) este nuacutemero
cai para 18 bairros permanecendo apenas aqueles que possuem limites com o corpo
hiacutedrico
Uma vez que que lei municipal natildeo suplanta lei federal considerar-se-aacute neste estudo o
limite da faixa marginal de proteccedilatildeo definida na Lei Federal 126512012 Deste modo a
aacuterea de preservaccedilatildeo permanente do Doce neste recorte eacute de 1085 kmsup2 compreendendo
33 do periacutemetro urbano de Colatina
Cabe destacar ainda que mesmo o PDM de 1996 contendo enquanto objetivo no Art 14
ldquoI - estabelecer a ordenaccedilatildeo do uso e da ocupaccedilatildeo do solo urbanordquo (Lei 42281996 p4)
a gestatildeo municipal natildeo obteve sucesso na implementaccedilatildeo de tal legislaccedilatildeo O que se
verifica tanto nas deacutecadas de 1990 quanto no iniacutecio dos anos 2000 quando foram
aprovados novos parcelamentos urbanos agraves margens deste canal a exemplo dos bairros
de Barbados na margem direita e do bairro Mario Giurizato na margem esquerda
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Figura 17- Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)
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Articulado a esta ideia e pesquisando o trecho do bairro Esplanada a Colatina Velha palco
das uacuteltimas obras estruturantes de alto porte do municiacutepio consegue-se analisar os efeitos
das inundaccedilotildees nas margens deste rio Logo implementar medidas de prevenccedilatildeo de
cheias em aacutereas com urbanizaccedilotildees antigas requer um esforccedilo da gestatildeo na regulaccedilatildeo do
solo urbano
421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie
de Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio
Interceptada pelo curso do Rio Doce no perfil mais a jusante da bacia a cerca de 100km
do estuaacuterio com o Oceano Atlacircntico a cidade de Colatina polo moveleiro e de confecccedilotildees
do centro-oeste capixaba eacute palco recorrente de inundaccedilotildees urbanas
Conforme jaacute mencionado por Cunha (2012a) este fenocircmeno ocorre quando a bacia recebe
um percentual precipitado acima da sua capacidade de escoamento o que faz o leito
menor do rio extravasar para o leito maior ocupando as aacutereas de vaacuterzeas (Figura 18 p
50) Aliadas a esta questatildeo estatildeo as ocupaccedilotildees humanas das margens dos rios que ao
suprimir a vegetaccedilatildeo natural e alterar a condiccedilatildeo fiacutesica do solo acabam por reduzir a aacuterea
de drenagem das aacuteguas pluviais acelerando o escoamento superficial para o canal
principal e favorecendo os defluacutevios
Figura 18 - Representaccedilatildeo da inundaccedilatildeo urbana Fonte adaptado da Defesa Civil do Tocantins (2015)
Este fenocircmeno tem ganhado destaque em Colatina a partir de 1979 ano em que o Rio
Doce atingiu a vazatildeo de 12860msup3s tomando toda aacuterea aplainada que compotildee seu leito
maior afetando da atual Av Beira-Rio ateacute as redondezas da Av Getuacutelio Vargas Desde
entatildeo os estudos das inundaccedilotildees urbanas satildeo relevantes no municiacutepio o que levou o
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Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) na deacutecada de 1980 a elaborar um ldquoPlano Diretor
de Contenccedilatildeo das Enchentes Proteccedilatildeo das Encostas e Drenagem Pluvial de Colatinardquo
Tal medida apresentou seis alternativas para o fenocircmeno Poreacutem tendo em vista o custo
operacional das obras apenas a alternativa seis que previa a construccedilatildeo de diques
marginais para a proteccedilatildeo das aacutereas mais centrais foi considerada viaacutevel na eacutepoca
Todavia em entrevistas com funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina (PMC) foi
relatado que todo o estudo foi arquivado e que ateacute agora natildeo haacute previsatildeo de
implementaccedilatildeo de tais medidas Fato este que eacute evidenciado (Tabela 2 p 51) quando da
ocorrecircncia de precipitaccedilotildees intensas na bacia durante as quais sazonalmente a cidade eacute
impactada com as aacuteguas das inundaccedilotildees Isto faz com que o municiacutepio passe
recorrentemente por cataacutestrofes conforme tabela com os principais picos de vazatildeo do rio
nos uacuteltimos 50 anos
Tabela 2
Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013
Ano Diamecircs Vazatildeo(msup3s)
1961 30jan 6613
1979 04fev 12860
1997 07jan 8687
2005 03ago 6549
2013 24dez 9028
Fonte Coelho (2007 apud DALLAPICOLA 2014 p4) e CPRM (2014 p85) Observo que os dados da tabela 1 para os anos de 1979 e 2013 estatildeo baseados na estimativa de vazatildeo meacutedia diaacuteria das maacuteximas anuais obtida atraveacutes de extrapolaccedilatildeo da curva-chave pelo grupo interdisciplinar dos relatoacuterios criacuteticos anteriores
As inundaccedilotildees de 1979 1997 e recentemente 2013 (Figura 19) foram as de maior vazatildeo
neste setor do rio e consequentemente as que mais atingiram a aacuterea urbana do municiacutepio
bloqueando os acessos ao centro da cidade e aos equipamentos essenciais como
hospitais escolas e demais oacutergatildeos puacuteblicos aleacutem de desalojarem muniacutecipes e
comprometerem a sauacutede puacuteblica
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Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de 1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 Fonte1) Nossa Colatina 2) Nossa Linda Colatina 3) Nossa Colatina
Com o propoacutesito de identificar os principais fatores que acentuam as inundaccedilotildees seraacute
analisado como os processos geomorfoloacutegicos do Doce estatildeo sendo afetados pela accedilatildeo
antroacutepica Limitaremos a anaacutelise ao periacutemetro urbano no trecho que compreende do bairro
Esplanada ateacute o bairro Colatina Velha (Figura 20) Neste periacutemetro eacute possiacutevel visualizar a
evoluccedilatildeo da mancha urbana sobre o leito do rio aleacutem de identificar na margem direita os
pontos desnaturalizados deste canal fluvial
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Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2) Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do recorte em rosa da APP de 50m (amarelo claro) e 500m (amarelo escuro) Fonte 3) Encontra Colatina (2015)
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O recorte em questatildeo eacute margeado pela Av Beira-Rio e estaacute situado (Figura 20) dentro do
buffer de preservaccedilatildeo permanente previsto no PDM (buffer de 50m) e no Novo Coacutedigo
Florestal (buffer de 500m) Apesar desta aacuterea ser destinada a mata nativa e ou
reflorestada a ocupaccedilatildeo urbana antecede os artigos legais o que dificulta poliacuteticas de
gestatildeo territorial em um periacutemetro ao mesmo tempo histoacuterico e com funccedilatildeo relevante no
equiliacutebrio hidroloacutegico da bacia
O periacutemetro faz parte da vaacuterzea da margem direita do Rio Doce pois encontra-se em cota
topograacutefica de 50m caracterizando sua planiacutecie Logo a aacuterea em questatildeo tem a funccedilatildeo de
acomodar as aacuteguas das cheias quando a calha principal natildeo comporta o escoamento de
grandes vazotildees Esta tarefa passa a ser prejudicada na medida em que na bacia ou no
curso original satildeo implementadas obras que interferem na morfologia do corpo hiacutedrico
principal como a instalaccedilatildeo das hidreleacutetricas de Mascarenhas (1974) e Aimoreacutes (2005) a
montante
As UHErsquos a montante comprometem os processos do rio uma vez que o regime natural de
transporte de sedimentos eacute alterado com o barramento o que favorece a erosatildeo e
consequentemente o assoreamento com a formaccedilatildeo de bancos arenosos alteraccedilatildeo do
seu perfil transversal e reduccedilatildeo da profundidade Aleacutem disso segundo Coelho (2007) as
vazotildees maacuteximas e miacutenimas foram alteradas com a implantaccedilatildeo das hidreleacutetricas a
montante implicando em vazotildees meacutedias anuais miacutenimas cada vez mais reduzidas com
valores se distanciando da linha de tendecircncia (polinocircmio) provando o natildeo equiliacutebrio da
vazatildeo apoacutes a implantaccedilatildeo das barragens (Graacutefico 1 p22)
Entretanto a primeira intervenccedilatildeo direta no trecho em estudo foi a instalaccedilatildeo da estrada
de ferro que atraiu migrantes para Colatina permitindo o crescimento populacional e a
expansatildeo urbana desordenada agraves margens do Doce Este crescimento intensificou a
supressatildeo das matas ciliares e abriu espaccedilo para a impermeabilizaccedilatildeo do solo reduzindo
a infiltraccedilatildeo
Posteriormente a inauguraccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos ampliou o fluxo na regiatildeo pois
proporcionava a ligaccedilatildeo com as terras ao norte do Estado Atuou tambeacutem como obstaacuteculo
ao transporte de sedimentos carreados no fluxo natural do rio uma vez que sua
implantaccedilatildeo altera a topografia do fundo do canal afetando os processos geomorfoloacutegicos
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Poreacutem foi no Morro das Cabritas (colina localizada no espaccedilo que compreende o atual
bairro Esplanada) que ocorreu a primeira desnaturalizaccedilatildeo nas margens do Doce Este
morro por onde o Rio Santa Maria do Doce meandrava ateacute desaguar no Rio Doce foi
cortado em meados de 1953 para abrigar a cidade em expansatildeo Devido a esta
intervenccedilatildeo o curso original do Santa Maria foi deslocado e passou a escoar
retilineamente ateacute a foz (Figura 21)
Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponte Florentino Aacutevidos (direita) e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque em vermelho para o curso atual do Santa Maria Fonte Nossa Colatina
As intervenccedilotildees na margem direita tornam-se mais intensas a partir da deacutecada de 1960
quando no ano de 1968 edificou-se um muro visando a proteccedilatildeo dos pilares da
extremidade direita da ponte Esta obra ficou paralisada por muitos anos e foi a primeira
de retificaccedilatildeo e aterro realizada neste trecho do rio Esta intervenccedilatildeo modificou o fluxo
natural das correntes do rio e reduziu a largura da sua calha alterando a morfologia do
canal (Figura 22)
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Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de proteccedilatildeo da ponte Elaborado pela autora Fonte fotos histoacutericas Nossa Colatina
Contudo somente em 1972 teve iniacutecio o segundo aterro (Figura 23) com a finalidade de
alocar a estaccedilatildeo rodoviaacuteria de Colatina e ampliar a aacuterea de acesso agrave ponte Florentino
Aacutevidos A implementaccedilatildeo desta obra suprimiu parte do leito do Rio Doce pois removeu a
saliecircncia cocircncava que curvava o rio retilinizando esta parte do canal
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Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora Fonte Nossa Colatina Nossa Linda Colatina
Apoacutes dez anos sem grandes intervenccedilotildees em 1982 o lado a montante da ponte bairro
Esplanada eacute acrescido de um aterro que estenderaacute a aacuterea do antigo Morro das Cabritas
para o rio (Figura 24)
Conhecido como Rua da Lama devido agrave umidade que o rio transferia ao aterro formando
um barro viscoso que persistia a maior parte do ano o trecho atualmente compreende a
Avenida Professor Joseacute Zouian popularmente denominada Avenida Beira-Rio de onde
surge a primeira forma do calccediladatildeo que seraacute estendido ateacute o bairro Colatina Velha
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Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o calccediladatildeo da Av Beira-Rio Elaborado pela autora Fonte Bennachio (2015)
Somente em 2004 foi implementado o maior projeto de canalizaccedilatildeo do municiacutepio Naquele
ano teve iniacutecio a execuccedilatildeo do enrocamento da Av Beira-Rio (Figura 25) obra destinada
inicialmente a alocaccedilatildeo de equipamentos puacuteblicos de lazer e cultura praccedilas preacutedios aleacutem
da promessa de contribuir para a contenccedilatildeo dos transbordamentos do Rio Doce
Apesar de o referido manancial jaacute estar comprometido com problemas de poluiccedilatildeo
assoreamento e erosatildeo aleacutem dos impactos de duas hidreleacutetricas instaladas a montante a
obra abarcou a supressatildeo da vegetaccedilatildeo ciliar e aterro de parte do rio jaacute tatildeo degradado
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Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento iniciada em 2004 e finalizada em 2008 Elaborado pela autora Fonte proacutepria autora em 240215
Ocupando uma aacuterea total de 130 mil msup2 do leito do Rio Doce o aterro teve iniacutecio em 2004
sendo construiacutedo com cerca de 90 mil msup3 de pedras 50 mil msup3 de areia retirada do leito do
rio e por fim o nivelamento com 200 mil msup3 de terra A obra era divulgada como um antigo
sonho dos colatinenses e serviria para ampliaccedilatildeo da Av Beira-Rio no bairro de Colatina
Velha instalaccedilatildeo de ciclovias calccediladatildeo equipamentos puacuteblicos e estacionamento (Figura
26) Apesar do fim da engenharia em 2008 o projeto ainda estaacute em fase de acabamento
na parte urbaniacutestica e na alocaccedilatildeo dos oacutergatildeos puacuteblicos
Cabe destacar que a obra sofreu embargos do Ministeacuterio Puacuteblico Federal (MPF) por
apresentar apenas cadastro na Agecircncia Nacional de Aacuteguas (ANA) que conforme parecer
da Procuradora Nadja Machado Botelho na Accedilatildeo Civil Puacuteblica ldquo[hellip] equivocadamente natildeo
realizou o procedimento de outorga [hellip]rdquo (MPF 2006 p2) Aleacutem disso a procuradora
solicitou tutela tendo em vista tratar-se de aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental e o fato de o
IBAMA ter concedido licenciamento com indevida dispensa do Estudo de Impacto
Ambiental (EIA)Relatoacuterio de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA)
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Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina Fonte Prefeitura de Colatina (2015)
Por isso essa obra deve ser considerada faraocircnica para os cofres puacuteblicos e irreversiacutevel
para os processos geomorfoloacutegicos do Doce E sua efetivaccedilatildeo soacute foi possiacutevel com a
participaccedilatildeo e investimentos do Governo estadual Contudo seu objetivo foi frustrado pois
novamente na cheia do Rio Doce em dezembro de 2013 quando este atingiu a vazatildeo de
9028 msup3s a aacuterea foi inundada e por estar em cota maior que as casas que beiravam o
rio o enrocamento atuou como represa natildeo permitindo o retorno das aacuteguas quando o niacutevel
do rio retomou o equiliacutebrio
Por fim segue um mapa siacutentese (Figura 27) com a cartografia das quatro principais
intervenccedilotildees diretas e estruturais na margem direita do Doce no setor urbano de Colatina
representando o curso natural do rio em 1950 e suas desnaturalizaccedilotildees a partir da deacutecada
de 60 ateacute a atualidade
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Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce ante e depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora
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422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio
O recorte em estudo compreende as Zonas ZE-1 ZE-2 e ZUD 2-1 (Figura 28 p61) sendo
a Zona Especial 1 Zona Especial 2 e Zona de Uso Diverso 2-1 destinadas no PDM (Lei
52732007)
Artigo 103 - As Zonas de Usos Diversos ndash ZUD satildeo definidas em razatildeo da concentraccedilatildeo de atividades urbanas diversificadas com predominacircncia do uso comercial e de serviccedilos Artigo 104 - Satildeo objetivos das Zonas de Usos Diversos I - otimizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do solo priorizando a instalaccedilatildeo de novos empreendimentos em terrenos natildeo edificados contiacuteguos a empreendimentos jaacute instalados II - controle da implantaccedilatildeo de usos incompatiacuteveis com os definidos para estas zonas III - garantia de licenciamento e monitoramento ambiental dos empreendimentos IV - controle da expansatildeo comercial de serviccedilos e de induacutestrias de pequeno porte em direccedilatildeo a aacutereas residenciais [] Artigo 130 - As Zonas Especiais 1 ndash ZE 1 abrangem todas as aacutereas remanescentes do municiacutepio relativamente ao zoneamento estabelecido nesta lei ocupadas ou natildeo contida na lei de periacutemetro urbano para as quais natildeo foram ainda estabelecidos os criteacuterios de uso e ocupaccedilatildeo Artigo 131 - As Zonas Especiais 2 ndash ZE 2 satildeo as aacutereas existentes no prolongamento da avenida Beira Rio mais especificamente no trecho entre o 80 Batalhatildeo da Poliacutecia Militar e a rua Pedro Epichin incluindo o espaccedilo existente entre a margem do Rio Doce e o limite das construccedilotildees localizadas na rua Pedro Epichin
Cabe destacar que mesmo sendo palco das aacutereas mais afetadas com as inundaccedilotildees do
Rio Doce a Beira-Rio tem sido alvo da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria que aproveitando-se dos
iacutendices pouco restritos da ZUD 2 (Figura 28 p62) valoriza o espaccedilo promovendo a
instalaccedilatildeo de grandes estruturas como hipermercados edifiacutecios residenciais modernos e
hotelaria
66
Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 Fonte Colatina (2007)
A aacuterea contida na ZE (Figura 28) natildeo possui criteacuterio de ocupaccedilatildeo definido na legislaccedilatildeo
atual sendo adotado o disposto na Lei 41961995 que estabelece os iacutendices urbaniacutesticos
para as aacutereas conquistadas junto ao Rio Doce e na Lei 420595 que aprova os
parcelamentos na Beira-Rio Quanto agrave ZUD 2-1 apresenta iacutendices urbaniacutesticos no anexo
118 do Plano Diretor conforme tabela 3 abaixo
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Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1
Fonte Colatina (2007 p36)8
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Eacute relevante observar que numa aacuterea onde o corpo hiacutedrico foi reduzido pelos sucessivos
aterros tenha sido aprovada a instalaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto (Figura
29) com taxa de ocupaccedilatildeo de ateacute 80 e com baixo iacutendice de permeabilidade Ampliou-
se a aacuterea impermeaacutevel numa regiatildeo onde a drenagem jaacute eacute muito comprometida com a
expansatildeo urbana sobre o rio
Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto na Beira-Rio Fonte imagem do Google Maps 2015 E fotos da autora em 140215
Portanto analisando o conjunto de dados apresentado acima eacute possiacutevel entender como
as inundaccedilotildees satildeo potencializadas no municiacutepio atingindo a populaccedilatildeo mas em especial
afetando a dinacircmica de um corpo hiacutedrico tatildeo relevante para o Estado A fim de subsidiar a
gestatildeo puacuteblica com material cartograacutefico para a tomada de decisotildees delimitou-se o
poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo (Figura 30) Pois devem ser adotadas medidas que
minimizem impactos de futuros eventos hidroloacutegicos na bacia capazes de comprometer
novamente a aacuterea urbana mais central de Colatina
69
Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av Beira-Rio em dezembro de 2013 Elaborado pela autora
70
Diante do poliacutegono de inundaccedilatildeo da uacuteltima cheia (Figura 30) em dezembro de 2013 eacute
possiacutevel implementar medidas de convivecircncia com as grandes vazotildees a exemplo de
paiacuteses como Holanda que vem investindo em medidas de resiliecircncia a fim de reduzir a
velocidade dos defluacutevios possibilitando ao canal a capacidade de acumular e dispersar as
aacuteguas com impacto miacutenimo para as populaccedilotildees Conforme Carneiro e Miguez (2011) a
estrateacutegia adotada pelo paiacutes eacute reter armazenar e drenar sendo mais flexiacutevel e natildeo
interferindo drasticamente na dinacircmica do corpo hiacutedrico
Por fim a implementaccedilatildeo de soluccedilotildees de planejamento urbano em Colatina requer uma
anaacutelise integrada que abarque o urbano e o ambiental de modo a propor intervenccedilotildees que
produzam impactos reduzidos nos processos geomorfoloacutegicos do Rio Doce Logo a gestatildeo
municipal deve atuar em niacutevel de bacia hidrograacutefica interagindo com os municiacutepios a
montante propondo medidas de minimizaccedilatildeo das cheias urbanas Mas na escala local
pode-se atuar junto aos novos parcelamentos de modo a ampliar o percentual de aacutereas
permeaacuteveis no municiacutepio incentivando por exemplo os novos loteamentos a adotarem
pavimentaccedilotildees que permitam a drenagem natural do solo
71
5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Partindo da ideia de que eacute possiacutevel implementar medidas que minimizem o escoamento
superficial satildeo apresentadas propostas como forma de controlar ou ao menos reduzir os
impactos das inundaccedilotildees urbanas
Embora as implementaccedilotildees histoacutericas de estruturas de proteccedilatildeo ou barreiras mais altas
tenham sido muito disseminadas atualmente estatildeo sendo suplantadas pelo gerenciamento
de inundaccedilotildees de maneira mais sustentaacutevel Deste modo as experiecircncias fora do Brasil
apontam para soluccedilotildees mais flexiacuteveis que considerem o fluxo natural do canal enquanto
um ecossistema em equiliacutebrio Para tanto Carneiro e Miguez (2011 p150) destacam a
iniciativa alematilde no controle de inundaccedilotildees em bacias hidrograacuteficas metropolitanas
[hellip] A abordagem comum consiste na regulaccedilatildeo do uso do solo nas aacutereas inundaacuteveis e em ldquodar espaccedilo para o riordquo ao inveacutes de priorizar investimentos em estruturas de proteccedilatildeo contra inundaccedilotildees como a colocaccedilatildeo de diques de contenccedilatildeo as margens dos rios A utilizaccedilatildeo do conceito de resiliecircncia apropriado de ecologia decorre dessa abordagem A aplicaccedilatildeo praacutetica do conceito implica portanto em mudanccedilas de paradigma Deixa de ser preponderante a engenharia construtiva e entra em cena o planejamento de longo prazo voltado para o desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis capazes de conviver com as variaccedilotildees do ciclo hidroloacutegico sem significar necessariamente trageacutedias anunciadas
Aleacutem dessas propostas geoacutegrafos como Sandra Cunha tecircm estudado a recuperaccedilatildeo
natural ou ldquorenaturalizaccedilatildeordquo de corpos fluviais visando promover a estabilidade dos canais
de modo mais sustentaacutevel Para ela
[hellip] Recuperaccedilatildeo de canal significa de forma simples o retorno as condiccedilotildees anteriores aos distuacuterbios Em essecircncia eacute o processo de recuperaccedilatildeo do rio ou do ecossistema fluvial estabilizando o desenvolvimento de habitats e colonizaccedilatildeo a uma taxa mais raacutepida que dos processos naturais fiacutesicos e bioloacutegicos Na recuperaccedilatildeo de canais ocorrem consideraccedilotildees de aspecto hidroloacutegico morfoloacutegico e ecoloacutegico qualidade da aacutegua esteacutetica aleacutem da necessidade de uma visatildeo integradora do projeto sustentaacutevel de recuperaccedilatildeo (CUNHA 2012 p230 a 231)
Satildeo portanto medidas pontuais como o retorno agraves sinuosidades do rio (Figura 31 p 68)
ou a substituiccedilatildeo de estruturas de concreto por superfiacutecies mais permeaacuteveis a exemplo
das trincheiras de infiltraccedilatildeo ou pavrsquos (Figura 32) aacutereas mais vegetadas aleacutem de coleta e
uso de aacutegua da chuva bem como tratamento das aacuteguas superficiais por meio de
72
amenidades esteacuteticas como reservatoacuterios de retenccedilatildeo ou detenccedilatildeo que podem ser
associados a ambientes harmocircnicos como lagos artificiais Todas estas accedilotildees possibilitam
a minimizaccedilatildeo das grandes vazotildees no solo urbano pois pretendem atenuar os impactos
das cheias fazendo com que seja resgatada parte da drenagem existente anteriormente agrave
urbanizaccedilatildeo
Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do Rio Aa Munster Alemanha (1998) Fonte Cunha (2012 p233)
Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos Fonte Carneiro e Miguez (2011 p128)
A partir do exposto cabe agrave gestatildeo municipal implementar legislaccedilotildees que priorizem a
permeabilidade possibilitando uma maior infiltraccedilatildeo das aacuteguas das chuvas atraveacutes de
pavimentaccedilotildees menos impermeaacuteveis e da ampliaccedilatildeo de aacutereas vegetadas Satildeo medidas
que tornam a drenagem mais sustentaacutevel aleacutem de possibilitar a manutenccedilatildeo dos serviccedilos
puacuteblicos de forma menos custosa tendo em vista o elevado preccedilo das recomposiccedilotildees
asfaacutelticas
1 2
73
Aleacutem disso quando se fala em controle de cheias urbanas pressupotildee-se uma seacuterie de
medidas para minimizaccedilatildeo de seus impactos desde a operaccedilatildeo de sistemas de alerta
zoneamento de aacutereas inundaacuteveis construccedilatildeo de grandes reservatoacuterios de contenccedilatildeo de
cheias e diques ateacute accedilotildees de educaccedilatildeo ambiental
Cabe pensar tambeacutem na proacutexima revisatildeo do PDM em um plano de macrodrenagem
municipal que reuacutena accedilotildees de caraacuteter estruturantes com obras hidraacuteulicas de infraestrutura
que realizem a conduccedilatildeo final das aacuteguas dos escoamentos superficiais para a minimizaccedilatildeo
das inundaccedilotildees e em medidas natildeo-estruturantes que trabalhem a consciecircncia ambiental
e proponha um zoneamento de cheias a fim de se delimitar os pontos mais fragilizados nos
defluacutevios
Por fim pensar em drenagem num contexto de ocupaccedilatildeo irregular histoacuterico requer
profissionais que aleacutem de possuir afinidade com a temaacutetica tambeacutem possam analisar os
diferentes processos que constituem o espaccedilo geograacutefico Logo este tipo de estudo deve
abarcar uma equipe multidisciplinar que percorra a anaacutelise desde o ambiental estrutural
ateacute o aspecto humano a fim de se produzir resultados que de fato contribuam com o
controle das inundaccedilotildees urbanas
74
6 CONCLUSAtildeO
A partir do recorte espacial foi possiacutevel compreender que a abordagem da geomorfologia
fluvial com a anaacutelise espaccedilo-temporal da ocupaccedilatildeo urbana possibilita a identificaccedilatildeo das
accedilotildees do homem no meio ambiente pois estas resultam na alteraccedilatildeo das paisagens
naturais e na dinacircmica da bacia hidrograacutefica Assim o Rio Doce deve ser estudado de
modo integrado ao crescimento da cidade sobretudo para compreensatildeo da produccedilatildeo do
espaccedilo geograacutefico
Analisar a inundaccedilatildeo urbana em Colatina foi satisfatoacuterio pois o municiacutepio estaacute situado no
perfil meacutedio-baixo da bacia vazante e eacute neste trecho que os reflexos das intervenccedilotildees satildeo
mais acentuados principalmente se esta parte do canal tambeacutem tiver passado por obras
que modificaram seus processos hidroloacutegicos Aleacutem disso a perspectiva geograacutefica aponta
para vaacuterias outras questotildees como erosatildeo fluvial planejamento urbano poluiccedilatildeo ambiental
crise da aacutegua que conduzem a outras discussotildees acerca da relaccedilatildeo homemnatureza
Ao demonstrar a evoluccedilatildeo espaccedilo-temporal do uso e cobertura da terra na margem direita
do Doce associando esta ocupaccedilatildeo agraves obras estruturantes que foram executadas no
canal verificamos que todas as praacuteticas adotadas para conter o transbordamento do rio
acabaram alterando sua morfologia com a retificaccedilatildeo de trechos em meandros reduzindo
a largura do corpo hiacutedrico o que favoreceu a apropriaccedilatildeo urbana de suas vaacuterzeas Aliadas
a estas questotildees estatildeo a falta de planejamento urbano e a omissatildeo diante da supressatildeo
das matas ciliares principalmente se considerados os resultados do relatoacuterio teacutecnico do
IJSN contra enchentes em 1980
Cabe destacar tambeacutem que toda a anaacutelise da ocupaccedilatildeo urbana e desnaturalizaccedilatildeo do
Rio Doce foi melhor identificada a partir dos produtos cartograacuteficos deste trabalho Pois eacute
na espacialidade dos fenocircmenos e no registro de informaccedilotildees ainda natildeo mapeadas como
os aterros que o geoacutegrafo executa a anaacutelise do seu objeto de estudo o homem e a
natureza aqui representado pela sociedade e o canal do Doce
Apesar do municiacutepio apresentar leis que resguardam os leitos dos rios desde o primeiro
PDM em 1996 nada foi feito para conter as ocupaccedilotildees irregulares beira-rio Pelo contraacuterio
estas aacutereas foram incorporadas ao Plano Diretor em 2007 com possibilidades de
ocupaccedilotildees diversas o que tem levado especuladores a valorizar o solo com vista para o
rio apontando suas qualidades esteacuteticas e teacutermicas Este fato vem aumentando o
75
percentual de aacutereas impermeaacuteveis nesta margem comprometendo ainda mais a drenagem
dos defluacutevios
Eacute na Av Beira-Rio que crescem as implantaccedilotildees de grandes empreendimentos comerciais
como supermercado Casagrande Ogil Hotel e obras de construccedilatildeo de novos arranha-
ceacuteus em um periacutemetro que jaacute eacute totalmente comprometido com os extravasamentos do Rio
Doce Estas obras ocupam grandes aacutereas e na maioria das vezes apresentam reduzida
aacuterea permeaacutevel reservando apenas o obrigatoacuterio pela lei cerca de 10 Observa-se
tambeacutem que a implantaccedilatildeo desses projetos estaacute condicionada agrave apresentaccedilatildeo e
aprovaccedilatildeo por comissatildeo na prefeitura do Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV) sendo
difiacutecil conceber que seja concedida tal licenccedila para implementaccedilatildeo de obras num trecho
de risco ambiental
Embora as diretrizes do Estatuto das Cidades para a implementaccedilatildeo do uso da terra
sustentaacutevel e os instrumentos para a regulaccedilatildeo do solo urbano sejam avanccedilados Colatina
eacute mais um exemplo da carecircncia de profissionais capacitados para estudar de modo
integrado e em niacutevel de bacia hidrograacutefica os efeitos da accedilatildeo humana num ambiente tatildeo
peculiar como as margens do Doce Por isso com os objetivos traccedilados nesta pesquisa
podemos aleacutem de compreender o fenocircmeno criar uma metodologia de anaacutelise de aacutereas
inundaacuteveis em ambientes urbanos O que permite agrave gestatildeo municipal uma diretriz para a
tomada de decisotildees
Destaca-se tambeacutem que as legislaccedilotildees aqui referenciadas supriram a discussatildeo acerca do
objeto de estudo mas outras podem contribuir para esta pesquisa a exemplo do Coacutedigo
das Aacuteguas da Poliacutetica Nacional dos Recursos Hiacutedricos das Resoluccedilotildees do Conama do
Estatuto das Cidades entre outros
Sendo assim numa revisatildeo do PDM deve-se pensar nestes aspectos da cidade desde o
histoacuterico de ocupaccedilatildeo das margens ateacute os impactos das inundaccedilotildees e o presente trabalho
auxilia com uma nova abordagem na reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo fornecendo material
cartograacutefico para subsidiar propostas de proteccedilatildeo ao curso do Doce e consequentemente
da populaccedilatildeo
Por fim deve-se destacar que o recorte estaacute inserido num contexto maior de uma bacia
hidrograacutefica que se estende aleacutem dos limites de Colatina ou do estado do Espiacuterito Santo
Esta bacia compreende a Regiatildeo Hidrograacutefica do Atlacircntico Leste e estaacute alocada tambeacutem
76
no estado de Minas Gerais o que portanto torna as accedilotildees de controle das inundaccedilotildees
mais complexas tendo em vista as divergentes politicas territoriais
77
7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
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SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 14
11 Objetivo 16
111 Objetivo Geral 16
112 Objetivos Especiacuteficos 16
12 Justificativa 17
2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS 20
21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano 20
211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial 23
22 Aspectos Juriacutedicos 27
23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos 31
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS 36
4 RESULTADOS 40
41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana 40
411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade 46
42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce 49
421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie de
Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio 53
422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio 65
5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 71
6 CONCLUSAtildeO 74
7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 77
14
1 INTRODUCcedilAtildeO
A partir da deacutecada de 1930 com a transiccedilatildeo econocircmica de um eixo agraacuterio-exportador
para um polo urbano-industrial (CARNEIRO 2008) verificou-se no Brasil a migraccedilatildeo da
maior parte da populaccedilatildeo para as cidades Isso acarretou segundo Tucci (2013 p17) uma
ldquo[] concentraccedilatildeo urbana no Brasil da ordem de 80 da populaccedilatildeo e o seu
desenvolvimento tem sido realizado de forma pouco planejada com grandes conflitos
institucionais e tecnoloacutegicos []rdquo
De acordo com Canholi (2005 p15) a expansatildeo da aacuterea urbana ldquo[] consequentemente
impermeabilizada ocorreu a partir das zonas mais baixas proacuteximas agraves vaacuterzeas dos rios
ou agrave beira-mar em direccedilatildeo agraves colinas e morros em face da necessaacuteria interaccedilatildeo da
populaccedilatildeo com os corpos hiacutedricos []rdquo Neste cenaacuterio surgem as ocupaccedilotildees irregulares
nas Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) como as da planiacutecie de inundaccedilatildeo dos rios
e os topos de morros
Essas ocupaccedilotildees desordenadas satildeo proporcionadas pela precariedade da implantaccedilatildeo e
fiscalizaccedilatildeo das legislaccedilotildees urbaniacutesticas de ordenamento territorial e ambiental Neste
contexto satildeo relevantes as pesquisas que visam correlacionar o viacutenculo
sociedadenatureza de modo a entender como a ocupaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo no
solo conecta-se com a hidrodinacircmica dos recursos naturais uma vez que ldquo[] a tendecircncia
atual do limitado planejamento urbano integrado estaacute levando as cidades a um caos
ambiental urbano com custo extremamente alto para a sociedaderdquo (TUCCI 2013 p17)
Deve-se partir do pressuposto teoacuterico articulado com a ideia anterior de ldquo[]
indissociabilidade entre natureza e sociedade []rdquo (COELHO 2013 p21) em que a
sociedade natildeo pode ser apenas entendida como populaccedilatildeo e a natureza enquanto mero
ambiente fiacutesico mas que estes dois fatores estatildeo dinamicamente produzindo o espaccedilo
geograacutefico
Neste contexto a problemaacutetica se afirma no intuito de relacionar as legislaccedilotildees urbanas
(Lei de Parcelamento do Solo 676679 e PDM) e ambientais (Novo Coacutedigo Florestal 2012)
com as suas aplicaccedilotildees ou natildeo no periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina
principalmente nos bairros que se situam na planiacutecie de inundaccedilatildeo do Rio Doce
A escolha da temaacutetica tambeacutem teve como premissa a importacircncia regional de Colatina
como entreposto comercial e logiacutestico para os municiacutepios do noroeste capixaba conforme
15
relato do Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural - PROATER (INCAPER
2011)
Exportadores de cafeacute atacadistas e as lojas de pronta entrega dinamizam o comeacutercio local que atende aos municiacutepios do norte capixaba leste de Minas Gerais e sul da Bahia representando um universo de mais de 700 mil consumidores (INCAPER 2011 p5)
De acordo ainda com o INCAPER (op cit) Colatina tem crescido a uma margem de 188
anual o que representa a tendecircncia ao ecircxodo rural sendo que a populaccedilatildeo do campo vem
diminuindo de aproximadamente 19 em 1990 passou a 12 no Censo de 2010 Diante
do exposto entra em discussatildeo o planejamento urbano pois com o crescimento da
populaccedilatildeo citadina para cerca de 88 aumentam tambeacutem as pressotildees sobre o meio
ambiente em especial as regiotildees ribeirinhas
Estas uacuteltimas refletem o aumento das atividades humanas na bacia hidrograacutefica onde
pode-se destacar as mudanccedilas induzidas pelas accedilotildees antropogecircnicas que se dividem em
diretas (aquelas que atuam no canal fluvial para controle das vazotildees a exemplo dos
reservatoacuterios e desvios de aacuteguas) e indiretas relacionadas agraves aacutereas fora dos canais por
exemplo o desmatamento e urbanizaccedilatildeo sendo que estas comprometem a descarga e
carga soacutelida do rio (PARK1981 KNIGHTON1984 apud CUNHA 2001)
O interesse pela pesquisa surge da importacircncia regional do municiacutepio dos impactos
histoacutericos humanos materiais e imateriais sofridos diante de eventos hidroloacutegicos
extremos tendo em vista o fato de o periacutemetro urbano ser cortado por um corpo fluvial de
importacircncia regional Aleacutem disso a abordagem geograacutefica possibilita a correlaccedilatildeo dos
processos fluviais com a ocupaccedilatildeo urbana de modo mais integrado (COELHO 2009)
Portanto uma das finalidades deste trabalho eacute analisar por meio das geotecnologias e das
investigaccedilotildees de campo como a ocupaccedilatildeo urbana tem interferido nas margens do Rio
Doce de modo a delimitar os sucessivos aterros na margem direita no periacutemetro do bairro
Esplanada a Colatina Velha Ademais identificar como os processos deste canal fluvial
tecircm sido afetados pela intervenccedilatildeo humana em seu leito principal
16
11 Objetivo
111 Objetivo Geral
Correlacionar os processos fluviais do Rio Doce por meio da dinacircmica geomorfoloacutegica
deste canal com o uso e cobertura da terra no setor urbano do municiacutepio de Colatina
Espiacuterito Santo Contrapondo assim as intervenccedilotildees urbanas da beira-rio com o Plano
Diretor Municipal e o Novo Coacutedigo Florestal enfatizando as diretrizes adotadas no
parcelamento do solo para a planiacutecie de inundaccedilatildeo deste rio
112 Objetivos Especiacuteficos
Identificar os vetores de crescimento urbano do municiacutepio a fim de avaliar a
evoluccedilatildeo da mancha urbana junto ao canal principal
Determinar o comprimento da borda da calha do leito regular do Rio Doce no
periacutemetro urbano de Colatina para definiccedilatildeo da largura miacutenima da faixa marginal
de preservaccedilatildeo
Espacializar as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente beira-rio previstas em lei a fim
de analisar a ocupaccedilatildeo urbana nestes espaccedilos
Cartografar os principais pontos desnaturalizados no canal principal do Rio Doce
no setor urbano de Colatina
Demonstrar como o emprego das geotecnologias auxilia no planejamento urbano
e ambiental especialmente em acircmbito municipal
17
12 Justificativa
A aacuterea de estudo corresponde ao periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina situado na
Bacia Atlacircntico trecho leste sub-bacia do Rio Doce no baixo curso (ANA 2001)
Compreende a regiatildeo noroeste do estado do Espiacuterito Santo latitude 19deg 32rsquo 16rsquorsquo S e
longitude 40deg 37rsquo 59rsquorsquo W De acordo com os dados do censo de 2010 do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio possuiacutea uma populaccedilatildeo de 111788 mil
habitantes1 numa aacuterea territorial de 1416804 kmsup2
Devido a sua privilegiada posiccedilatildeo geograacutefica limiacutetrofe com o Rio Doce e a construccedilatildeo da
Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas em 1906 Colatina compreendia os territoacuterios dos atuais
municiacutepios de Baixo Guandu Linhares Pancas Satildeo Gabriel da Palha Marilacircndia Satildeo
Domingos do Norte e Governador Lindenberg (INCAPER 2011) Soacute a partir de 2001
passou a apresentar os atuais limites municipais e configurar uma aacuterea urbana com 59
bairros (Figura 1)
Colatina eacute um municiacutepio de importacircncia para regiatildeo noroeste capixaba seja em caraacuteter
econocircmico ou social Eacute responsaacutevel pelos fluxos de cargas da regiatildeo aleacutem de ser um polo
moveleiro de confecccedilatildeo metalmecacircnico e de comeacutercio e serviccedilos gerando emprego e
renda (INCAPER 2011) Aleacutem disso tem sofrido historicamente com as cheias do Rio
Doce principalmente porque parte do seu periacutemetro urbano eacute inundado com as aacuteguas da
calha principal desse rio o que compromete toda a dinacircmica local e potildee em risco os
colatinenses
Assim diante das crescentes demandas por territoacuterio no periacutemetro urbano a populaccedilatildeo
tem suprimido a cobertura vegetal e ocupado desde as margens do Rio Doce ateacute as
encostas dos morros Em periacuteodos de cheias principalmente nos meses de outubro a
marccedilo (INCAPER 2011 ANA 2001) verificam-se inundaccedilotildees de grande parte da aacuterea
urbana beira-rio aleacutem dos movimentos de massa nas encostas Como exemplo destes
acontecimentos tecircm-se os registros fotograacuteficos dos efeitos da chuva de dezembro de 2013
(Figuras 2 e 3)
1 De acordo com o a estimativa do IBGE de 2014 publicada no DOU o municiacutepio conta com uma populaccedilatildeo de 121670 habitantes
18
Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e o canal do Rio Doce Elaborado pela autora
19
Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 Fonte Noticias UOL (2013)
Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de 2013 Fonte Folha Vitoacuteria (2013)
Este estudo portanto eacute relevante tendo em vista as raras abordagens no acircmbito das
Ciecircncias Geograacuteficas especialmente no Espiacuterito Santo de pesquisas que correlacionem
aspectos da geomorfologia fluvial por meio da dinacircmica dos recursos hiacutedricos com o uso
e cobertura da terra particularmente o Plano Diretor Municipal (PDM) Discute dessa
forma as implicaccedilotildees da atuaccedilatildeo humana nas particularidades deste ecossistema natural
tendo em vista o disposto nas legislaccedilotildees urbaniacutesticas e ambientais que visam assegurar
a qualidade de vida das populaccedilotildees
Adiante seratildeo analisados os principais fundamentos da geomorfologia fluvial os aspectos
juriacutedicos e o papel da anaacutelise geograacutefica integrada para o entendimento dos fenocircmenos
das inundaccedilotildees no Centro de Colatina uma vez que eacute devido agraves intervenccedilotildees humanas
nos canais e suas margens que esses fenocircmenos tornam-se mais nocivos a cidade
20
2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS
21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano
Recurso essencial para a manutenccedilatildeo da vida a aacutegua foi um fator relevante para o
estabelecimento histoacuterico das sociedades no entorno dos cursos hiacutedricos Utilizados para
fins de abastecimento humano e animal irrigaccedilatildeo saneamento e transporte os rios
constituiacuteram-se nos principais propulsores de penetraccedilatildeo para o interior (CUNHA 2012a)
Logo em suas margens surgiram povoados que posteriormente transformaram-se em
cidades como as que se estabeleceram agraves margens do Rio Doce a exemplo da sede de
Colatina
Diante das potencialidades que os recursos hiacutedricos possibilitam agraves sociedades
destacamos a importacircncia do estudo da Geomorfologia Fluvial que se apresenta como
campo da Geomorfologia (ciecircncia que estuda as formas do relevo) sendo o interesse
daquela a pesquisa dos processos que relacionam o escoamento das aacuteguas fluviais num
contexto de bacia hidrograacutefica (CHRISTOFOLETTI 1980 CUNHA op cit) Enfoca assim
as alteraccedilotildees na fisionomia dos canais frente agraves intervenccedilotildees no ecossistema natural
beira-rio
A Geomorfologia Fluvial parte da condicionante de que o uso e ocupaccedilatildeo da terra refletem-
se na dinacircmica da bacia de drenagem interferindo nos processos morfogeneacuteticos ou seja
de modelagem do relevo fluvial escoamento superficial das aacuteguas e no ciclo hidroloacutegico
Frente agrave temaacutetica deste estudo faz-se necessaacuterio o entendimento dos conceitos da
fisiografia fluvial aqui referente aos diferentes setores que a aacutegua pode escoar num leito
(Figura 4) como
O leito menor corresponde agrave parte do canal ocupada pelas aacuteguas e cuja frequecircncia impede o crescimento da vegetaccedilatildeo Esse tipo de leito eacute delimitado por partes bem definidas O leito de vazante equivale agrave parte do canal ocupada durante o escoamento das aacuteguas de vazante Suas aacuteguas divagam dentro do leito menor seguindo o talvegue linha de maacutexima profundidade ao longo do leito e que eacute mais bem identificada na seccedilatildeo transversal do canal O leito maior tambeacutem denominado leito maior perioacutedico ou sazonal eacute ocupado pelas aacuteguas do rio regularmente e pelo menos uma vez ao ano durante as cheias Dependendo do tempo ocorrido entre as subidas das aacuteguas eacute possiacutevel haver a fixaccedilatildeo e o crescimento da vegetaccedilatildeo herbaacutecea
21
O leito maior excepcional eacute ocupado durante as grandes cheias no decorrer das enchentes (CUNHA 2001 p 213)
Figura 4 - Tipos de leito fluvial vaacuterzea Fonte Cunha (2001 p213)
Sendo assim as aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial (leitos) aquelas inundadas pelo corpo
hiacutedrico frente a um evento hidroloacutegico extremo tambeacutem satildeo conhecidas como vaacuterzeas
planiacutecie de inundaccedilatildeo ou ainda segundo Carneiro e Miguez (2011 p133) como ldquo[] zona
de passagem de cheia []rdquo Essas aacutereas de vaacuterzeas dependem da fisionomia que o rio
apresenta e segundo Cunha (op cit) o canal fluvial pode apresentar trecircs formas
principais conhecidas como padratildeo dos canais que satildeo retiliacuteneo anastomosado e
meacircndrico (Figura 5)
Figura 5 - Padrotildees dos canais (A) retiliacuteneo (B) anastomosado (C) meandrante (A) amplitude (Rc) raio meacutedio da curvatura do meandro (segundo Bigarella etal 1979) Fonte Cunha (2001 p216)
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Aliada aos padrotildees dos canais estaacute a assimetria ou simetria dos leitos que para Cunha
(2001 p233) relaciona-se com a variaccedilatildeo da velocidade e turbulecircncia ao longo da secccedilatildeo
transversal o que diferencia o comportamento nos canais retiliacuteneos geralmente simeacutetricos
do canal meacircndrico onde
Em canais de leito simeacutetrico em geral padratildeo retiliacuteneo a velocidade maacutexima ocorre no centro do canal diminuindo em direccedilatildeo agraves margens Em leito assimeacutetrico de padratildeo meacircndrico a zona de maacutexima velocidade e turbulecircncia localiza-se nas proximidades das margens cocircncavas decrescendo de valor em direccedilatildeo agrave margem de menor profundidade
(convexa) (CUNHA opcit p 233)
Deste modo a capacidade de erosatildeo das margens transporte e deposiccedilatildeo da carga do rio
dependem entre outros fatores da velocidade das correntes fluviais E o material do fluxo
fluvial constitui-se da descarga liacutequida ou vazatildeo que estaacute relacionada ao tamanho do
material que pode ser transportado e do volume da carga que o rio eacute capaz de carregar
Tem-se ainda a carga soacutelida sedimentos que estaacute relacionada a suspensatildeo e fundo do
rio esta decresce a jusante indicando a diminuiccedilatildeo da competecircncia do corpo fluvial As
cargas de suspensatildeo satildeo constituiacutedas de partiacuteculas finas a exemplo do silte e por fim a
carga de fundo que eacute composta por partiacuteculas de tamanhos maiores a exemplo da areia
(CUNHA2001)
Christofoletti (1980) acrescenta que os sedimentos podem ser carregados de trecircs modos
principais no fluxo em soluccedilatildeo dissolvidos nos cursos hiacutedricos em suspensatildeo como o
silte e argila e em saltaccedilatildeo geralmente a areia e cascalho que compreendem a carga do
leito do rio Destaca-se que a carga detriacutetica natildeo proveacutem apenas da erosatildeo do fundo dos
leitos e margens fluviais mas que o material intemperizado de vertentes carreado nas
enchentes contribui significativamente para a carga sedimentar transportada
Cabe ressaltar ainda que a relaccedilatildeo do arranjo espacial dos canais com os processos
fluviais (a erosatildeo o transporte e a deposiccedilatildeo de sedimentos) eacute determinante para o
trabalho dos rios Tais processos satildeo diretamente influenciados pela vazatildeo velocidade e
pela intensidade da turbulecircncia (seja no fluxo laminar ou no fluxo turbulento) A
variabilidade no comportamento da velocidade e turbulecircncia das aacuteguas ao longo da seccedilatildeo
transversal condiciona os locais preferenciais de erosatildeo e deposiccedilatildeo ao longo do curso
hiacutedrico
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Deste modo qualquer intervenccedilatildeo na bacia e canal fluvial compromete o equiliacutebrio natural
da drenagem levando o corpo hiacutedrico a se adaptar agraves mudanccedilas em sua fisionomia
fisiografia e em seus processos ateacute atingir um novo estado de equiliacutebrio Poreacutem eacute na
planiacutecie de inundaccedilatildeo que estas modificaccedilotildees seratildeo mais percebidas pela populaccedilatildeo pois
a maior parte das obras de engenharia como as canalizaccedilotildees e as ocupaccedilotildees das
margens acaba por romper com o equiliacutebrio natural do rio alterando sua dinacircmica e
intensificando seus processos o que na maioria das vezes potencializa as enchentes no
ambiente urbano
Nesse sentido o entendimento dos processos fluviais (erosatildeo transporte e deposiccedilatildeo)
combinado com a anaacutelise da fisiografia fluvial condicionam as peculiaridades na geometria
hidraacuteulica ou seja na relaccedilatildeo entre a vazatildeo velocidade de escoamento tipos de canais
de sedimentos e a topografia Logo o conhecimento geomorfoloacutegico do rio contribui para
pesquisas que necessitem relacionar o funcionamento deste corpo natural com um
planejamento urbano mais efetivo principalmente se considerarmos um recorte em niacutevel
de bacia hidrograacutefica em espaccedilo urbano
211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial
O capiacutetulo que segue versa sobre a atuaccedilatildeo antroacutepica relacionando-a a aacuterea de estudo o
rio Doce poreacutem este trata de forma macro a temaacutetica para contextualizar o leitor sendo
as especificidades das intervenccedilotildees neste recorte geograacutefico trabalhados nos resultados
desta pesquisa
Diante do exposto eacute possiacutevel acompanhar a evoluccedilatildeo dos processos fluviais nos canais
em especial aqueles que tiveram intervenccedilotildees em seu curso natural como as hidreleacutetricas
instaladas a montante a exemplo do Rio Doce onde a interferecircncia direta na vazatildeo e fluxo
de sedimentos altera a hidrodinacircmica do rio comprometendo a erosatildeo e transporte Para
Coelho (2007 p57) as
Mudanccedilas na Declividade Perfil Longitudinal Promovidas pela construccedilatildeo de reservatoacuterio satildeo variadas e caso o efeito da contenccedilatildeo de sedimentos seja significativo os processos fluviais reduziratildeo a capacidade de transporte de sedimento podendo promover um entalhamento do leito do rio imediatamente agrave jusante da barragem
Aleacutem disso esse processo erosivo poacutes-barragem eacute intensificado favorecendo o
assoreamento e sedimentaccedilatildeo do rio a jusante O que pode beneficiar a elevaccedilatildeo da cota
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do canal fluvial frente a eventos hidroloacutegicos extremos potencializando os efeitos das
inundaccedilotildees nas vaacuterzeas
Ao mesmo tempo o Rio Doce trecho que compreende o Espiacuterito Santo meacutediobaixo curso
eacute impactado nas vazotildees miacutenimas e maacuteximas a jusante apoacutes a instalaccedilatildeo das
barragensUsinas Hidreleacutetricas (UHE) de Mascarenhas (iniacutecio de operaccedilatildeo em 1974)
localizada no Municiacutepio de Baixo Guandu e a de Aimoreacutes (iniacutecio de operaccedilatildeo em 2005)
localizada na divisa do Espiacuterito Santo com Minas Gerais (COELHO 2007)
De acordo com Coelho (opcit) apoacutes a implantaccedilatildeo das usinas ocorreu uma reduccedilatildeo
significativa na vazatildeo da calha principal do Rio Doce conforme Graacutefico 1
Considerando o periacuteodo de 1939 a 2012 a vazatildeo miacutenima apoacutes a instalaccedilatildeo das usinas
chega a atingir 411msup3s e a maacutexima chega apenas a 1251msup3s sendo que no periacuteodo
anterior agrave instalaccedilatildeo das usinas foi registrada a miacutenima de 533 msup3s e uma maacutexima de
1812 msup3s o que ressalta o impacto do barramento sobre o corpo hiacutedrico Aleacutem do
comprometimento dos processos de erosatildeo transporte e sedimentaccedilatildeo (COELHO 2008
e CUNHA 2001)
Diante desta perda de carga liacutequida nos barramentos Cunha (2001 p 241) observa ainda
que as aacutereas a jusante de reservatoacuterios
[hellip] onde o regime do rio sofre significativas modificaccedilotildees devidas ao controle das descargas liquidas e de sedimentos no reservatoacuterio As mudanccedilas ocorridas no regime das aacuteguas neste setor do rio acarretam significativos efeitos nos processos do canal tais como o entalhe do leito a erosatildeo das margens e a deposiccedilatildeo a jusante atingindo longas distacircncias
Aleacutem disso no periacutemetro urbano de Colatina o Rio Doce sofreu outras intervenccedilotildees em
seu canal principal como a implantaccedilatildeo de obras estruturais de macrodrenagem a
exemplo da construccedilatildeo da Av Beira-Rio com intuito de conter o avanccedilo das aacuteguas fluviais
em periacuteodos de cheias
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Graacutefico 1
Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais (Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia)
Fonte adaptado de Coelho (2007 p154)
26
Como exemplo dos tipos de intervenccedilotildees humanas nas aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial
leitos Carneiro e Miguez (2011 p117) destacam
As accedilotildees de controle e cheias urbanas podem ser classificadas em estruturais quando a paisagem eacute alterada pela accedilatildeo do homem e em natildeo estruturais aqui denominada como estruturante quando o homem aprende a conviver com as enchentes No primeiro caso estatildeo as medidas de controle atraveacutes de obras hidraacuteulicas tais como barragens diques e canais entre outras No segundo caso encontram-se medidas do tipo preventivo tais como zoneamento de aacutereas de inundaccedilatildeo sistemas de alerta educaccedilatildeo ambiental lei de parcelamento e uso dos solos e seguros contra inundaccedilatildeo
Neste cenaacuterio abarcamos os impactos das obras de engenharia como a canalizaccedilatildeo que
altera a fisionomia e fisiografia do rio refletindo-se nos processos geomorfoloacutegicos do canal
e sua planiacutecie de inundaccedilatildeo Para estes a canalizaccedilatildeo eacute uma obra estrutural que aumenta
a capacidade do fluxo do canal aleacutem de intensificar a velocidade do escoamento
superficial antecipando o pico de cheia e transferindo os alagamentos para locais a jusante
na bacia hidrograacutefica
Articulado a esta ideia Cunha (2012b) reflete a desnaturalizaccedilatildeo dos rios por meio de
obras de retificaccedilatildeo com a reduccedilatildeo do comprimento do canal e eliminaccedilatildeo das
sinuosidades Satildeo obras que afetam a estabilidade do corpo hiacutedrico na medida em que
interferem na relaccedilatildeo entre erosatildeo sedimentaccedilatildeo e deposiccedilatildeo provocando efeitos como
alteraccedilatildeo na morfologia do canal Sendo assim ldquo[hellip] a diminuiccedilatildeo da rugosidade no fundo
do canal em conjunto com a perda dos meandros e a aceleraccedilatildeo das velocidades eacute a
principal responsaacutevel pelas mudanccedilas no balanccedilo da energia natural dos sedimentos
fluviais [hellip]rdquo Cunha (2012b p178) No caso do Rio Doce trecho correspondente agrave Av
Beira-Rio alterou-se a sua forma retilinizando-a e sua vegetaccedilatildeo natural foi substituiacuteda
por estruturas de pedras o que compromete a resistecircncia ao fluxo as margens e aos
bancos arenosos
Embora as obras de canalizaccedilatildeo sejam implantadas como eficazes nos canais fluviais para
questotildees de enchentes urbanas para Cunha (op cit) estas necessitam de manutenccedilatildeo
constante envolvendo desde dragagem remoccedilatildeo de obstruccedilotildees a recomposiccedilatildeo do
material utilizado Poreacutem toda a manutenccedilatildeo estaacute associada a alteraccedilotildees morfoloacutegicas e
bioloacutegicas como as que interferem nas soleiras e depressotildees do fundo dos leitos
desestabilizando a vazatildeo no curso a exemplo da
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ldquo[hellip] eliminaccedilatildeo da sequecircncia de depressotildees e soleiras o aumento da velocidade da corrente a diminuiccedilatildeo da diversidade de habitats o ambiente instaacutevel resultante da flutuaccedilatildeo dos niacuteveis da aacutegua e do substrato moacutevel e a maior flutuaccedilatildeo da temperatura das aacuteguasrdquo (CUNHA 2012b p180)
Ao mesmo tempo o aumento da velocidade dos escoamentos no trecho retificado
possibilita maior erosatildeo transferindo para as aacutereas a jusante uma carga soacutelida
representativa que para Cunha (op cit) configura a formaccedilatildeo de bancos axiais e depoacutesitos
de sedimentaccedilatildeo marginais alterando o equiliacutebrio dos sedimentos a jusante Pois
A jusante das obras de retificaccedilatildeo verificam-se o aumentam da carga soacutelida o assoreamento durante a dragagem a erosatildeo no canal pelos eventos torrenciais do regime e a modificaccedilatildeo na dinacircmica na foz Os sedimentos resultantes da erosatildeo no canal retificado em conjunto com a excessiva carga de sedimentos posta em suspensatildeo durante a dragagem e na fase imediata de poacutes-construccedilatildeo - quando a erosatildeo dos bancos de areia sem vegetaccedilatildeo estaacute em seu niacutevel maacuteximo - originam a formaccedilatildeo de depoacutesitos fluviais de curta duraccedilatildeo a jusante do canal retificado Logo a seguir esses depoacutesitos satildeo erodidos juntamente com as margens e o fundo do leito pelos eventos torrenciais do regime vindo a formar bancos axiais e depoacutesitos de sedimentaccedilatildeo marginais (CUNHA2012b p183)
Portanto o estudo da geomorfologia fluvial contribui diretamente para o entendimento das
cheias nas planiacutecies de inundaccedilatildeo em especial nas bacias hidrograacuteficas que
compreendem a aacuterea urbana e que possuem intervenccedilotildees antroacutepicas diretas na fisiografia
do canal principal Seus processos explicam como as alteraccedilotildees no canal fluvial podem
maximizar os efeitos dos transbordamentos impactando principalmente as populaccedilotildees
ribeirinhas aleacutem de todo ecossistema local Ademais estes fundamentos geomorfoloacutegicos
devem ser associados agrave legislaccedilatildeo vigente afim de subsidiar a elaboraccedilatildeo de instrumentos
legais para atuaccedilatildeo do poder puacuteblico nestas zonas de risco
22 Aspectos Juriacutedicos
Frente agrave crescente demanda sobre os recursos hiacutedricos e solo urbano a partir da deacutecada
de 1930 surgem as primeiras diretrizes que visam regulamentar estes ambientes a
exemplo do Coacutedigo das Aacuteguas Mas soacute a partir dos anos 1960 surgem em acircmbito federal
leis como o Coacutedigo Florestal com o intuito de regular a exploraccedilatildeo das vegetaccedilotildees e
consequentemente proteger os mananciais e em 1979 com o objetivo de ordenar as
28
cidades eacute aprovada a Lei 676679 estabelecendo as normas do parcelamento do solo
urbano
Na medida em que as populaccedilotildees aumentam ampliam-se tambeacutem as pressotildees sobre os
recursos de aacutegua e solo Os processos de uso e a conscientizaccedilatildeo de que estes elementos
satildeo finitos intensificam as formas de controle e preservaccedilatildeo passando para as esferas
estaduais e municipais a responsabilidade de atuar em escala local na proteccedilatildeo desses
ambientes
Ainda em escala federal em 2012 eacute promulgado o Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012
em substituiccedilatildeo ao coacutedigo anterior Lei 47711965 que apresenta as normas de
apropriaccedilatildeo dos recursos naturais pelas novas necessidades das populaccedilotildees citadinas e
rurais No que compete agrave aacuterea de estudo cabe destacar as ocupaccedilotildees em aacutereas de
planiacutecie de inundaccedilatildeo em que de acordo com art 4ordm devem ser preservadas
I - as faixas marginais de qualquer curso drsquoaacutegua natural perene e intermitente excluiacutedos os efecircmeros desde a borda da calha do leito regular em largura miacutenima de (Incluiacutedo pela Lei nordm 12727 de 2012) a) 30 (trinta) metros para os cursos drsquoaacutegua de menos de 10 (dez) metros de largura b) 50 (cinquenta) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura c) 100 (cem) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura d) 200 (duzentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura e) 500 (quinhentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros []
A legislaccedilatildeo eacute riacutegida no que concerne agrave ocupaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo das terras nas faixas
marginais dos rios transferindo aos estados e municiacutepios a responsabilidade de fiscalizar
estes territoacuterios para garantir a efetividade da lei A questatildeo eacute que muitas vezes somada a
falta de planejamento estas fiscalizaccedilotildees satildeo ineficientes o que tem possibilitado o
surgimento cada vez maior das ocupaccedilotildees irregulares
Apoiado tambeacutem pela Constituiccedilatildeo Federal de 1988 nos artigos 182 e 183 surge o
Estatuto das Cidades Lei 102572001 com finalidade de garantir a funccedilatildeo social da
cidade e com este os primeiros Planos Diretores Municipais (PDM) que buscam o
ordenamento do crescimento das cidades em caraacuteter socioeconocircmico e ambiental cidades
sustentaacuteveis Ademais em Colatina eacute instituiacuteda a Lei 42281996 posteriormente revogada
29
pela Lei 52732007 que ldquoInstitui o Plano Diretor do Municiacutepio de Colatina estabelece os
objetivos instrumentos e diretrizes e daacute outras providecircncias para as accedilotildees de
planejamento do Municiacutepio de Colatina []rdquo
O PDM de Colatina assim como Coacutedigo Florestal prevecirc a preservaccedilatildeo dos ecossistemas
beira-rio Aquele ainda dispotildee sobre o parcelamento do solo sustentaacutevel a funccedilatildeo social
da cidade e da propriedade conforme o Plano Diretor de Colatina de 2007 nos artigos
transcritos
Artigo 22 - As diretrizes ambientais no Municiacutepio de Colatina satildeo I - aplicar os instrumentos de gestatildeo ambiental estabelecidos nas legislaccedilotildees federal estadual e municipal bem como a criaccedilatildeo de outros instrumentos adequando-os agraves metas estabelecidas pelas poliacuteticas ambientais II - compatibilizar as diretrizes de uso ocupaccedilatildeo e parcelamento do solo aos objetivos de proteccedilatildeo ambiental dos ecossistemas [] Artigo 23 - Satildeo diretrizes do sistema de drenagem urbana I - disciplinar a ocupaccedilatildeo das cabeceiras e vaacuterzeas das bacias hidrograacuteficas do Municiacutepio preservando a vegetaccedilatildeo existente e visando agrave sua recuperaccedilatildeo [] III - definir mecanismos de fomento para usos do solo compatiacuteveis com aacutereas de interesse para drenagem tais como parques lineares aacuterea de recreaccedilatildeo e lazer hortas comunitaacuterias e manutenccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa [] V - implantar medidas natildeo-estruturais [sic] de prevenccedilatildeo de inundaccedilotildees tais como controle de erosatildeo especialmente em movimentos de terra controle de transporte e deposiccedilatildeo de entulho e lixo combate ao desmatamento assentamentos clandestinos e a outros tipos de invasotildees nas aacutereas com interesse para drenagem [] VII - garantir e respeitar a necessaacuteria permeabilidade do solo inclusive buscando alternativas de pavimentaccedilatildeo com maior de permeabilidade [sic] [] Artigo 84 ndash Satildeo objetivos do ordenamento territorial do Municiacutepio de Colatina [] IV ndash conter a expansatildeo da ocupaccedilatildeo urbana em aacutereas de proteccedilatildeo ambiental [] Artigo 120 ndash Ficam desde jaacute identificadas como Zonas de Proteccedilatildeo Ambiental 2 ndash ZPA 2 as seguintes aacutereas [] III ndash as aacutereas existentes ao longo de qualquer curso drsquoagua desde o niacutevel mais alto em faixa marginal cuja largura miacutenima seraacute de a) 15m (trinta metros) [sic] para os cursos drsquoagua com menos de 10m (10
metros) de largura contidos no periacutemetro urbano [] c) 30m (trinta metros) para os cursos drsquoagua que tenham de10m (dez
metros a 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano
[]
30
e) 50m (cinquenta metros) para os cursos drsquoagua que tenham mais de 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 60422013)
[]
De modo geral verifica-se que a legislaccedilatildeo apresenta instrumentos que permitem a
prevenccedilatildeo ou controle de ocupaccedilotildees irregulares ou clandestinas em aacuterea de APP aleacutem de
propostas para resguardar de grandes impactos ambientais o corpo hiacutedrico principal do
municiacutepio o Rio Doce Possibilitando assim a minimizaccedilatildeo dos impactos causados pelas
cheias agrave populaccedilatildeo local
Poreacutem cabe destacar que o Plano Diretor Municipal de Colatina natildeo contempla o
estipulado no Coacutedigo Florestal 2012 Lei Federal onde os cursos drsquoaacutegua com largura
superior a 600(seiscentos) metros devem ser resguardados com aacutereas de preservaccedilatildeo
permanente de 500(quinhentos) metros entre outros sendo que a redaccedilatildeo desta parte do
PDM eacute dada pela lei 60422013 posterior a publicaccedilatildeo do novo Coacutedigo Florestal Sendo
assim verifica-se que apesar da intenccedilatildeo de resguardar uma faixa de no maacuteximo
50(cinquenta) metros em periacutemetro urbano para a contenccedilatildeo de cheias e mata ciliar o
PDM de Colatina natildeo atende o miacutenimo previsto em Lei Federal O que tem impactado todo
ecossistema beira rio e a populaccedilatildeo ribeirinha uma vez que a faixa marginal de proteccedilatildeo
de 50(cinquenta) metros em muitos casos natildeo tem comportado o impacto dos defluacutevios
No entanto a legislaccedilatildeo trata de aspectos gerais natildeo pontuando as aacutereas responsaacuteveis
por cada accedilatildeo aleacutem de sua aplicabilidade depender da elaboraccedilatildeo de um cronograma de
execuccedilatildeo bem como um conjunto de planos e normas especiacuteficos para cada diretriz com
detalhamento das propostas de intervenccedilatildeo Isto natildeo ocorreu ateacute o presente
Aleacutem disso a cidade de Colatina surgiu num cenaacuterio histoacuterico anterior agraves legislaccedilotildees
urbaniacutesticas e ambientais inclusive do Coacutedigo das Aacuteguas o que dificulta a execuccedilatildeo de
um planejamento que concilie a preservaccedilatildeo das matas beira-rio garantindo a faixa de
APP com a ocupaccedilatildeo urbana consolidada
A aacuterea de estudo se apresenta como ambiente fragilizado apesar de ser regida por
legislaccedilotildees desde a escala federal ateacute a municipal que visam proteger e ordenar o uso e
cobertura da terra nas faixas marginais dos rios Mas a dificuldade das prefeituras em
aplicar os instrumentos legais nestes ambientes seja por interesses privados ou falta de
recursos para investimentos em soluccedilotildees a longo prazo continua expondo as populaccedilotildees
31
aos impactos dos eventos hidroloacutegicos criacuteticos como os que resultam nas inundaccedilotildees
Para que se alcance esse parcelamento do solo sustentaacutevel satildeo necessaacuterios esforccedilos da
gestatildeo municipal em estipular prazos e metas de atuaccedilatildeo afora interagir os diferentes
setores no planejamento em niacutevel de bacia hidrograacutefica considerando as peculiaridades
desta escala de trabalho
23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos
Sendo a ciecircncia que estuda a relaccedilatildeo homemnatureza a Geografia tem muito a contribuir
nas anaacutelises que envolvem o meio ambiente que foi transformado pela dinacircmica da
sociedade Mas historicamente a dialeacutetica das correntes fiacutesica e humana tem imperado de
modo dissociado levando o geoacutegrafo a estudar estes processos separadamente Poreacutem
se o resultado pretendido eacute integrado fazem-se necessaacuterias pesquisas mais amplas que
cruzem as diferentes vertentes geograacuteficas
Considerando que a problemaacutetica dos impactos ambientais urbanos envolve a questatildeo
natural o rio e a questatildeo social e poliacutetica a sociedade e as leis (COELHO 2013) uma
pesquisa neste acircmbito requer o entendimento destes dois objetos a fim de se apreender
o processo de crescimento das cidades brasileiras e a sua relaccedilatildeo com os recursos
hiacutedricos
A partir da deacutecada de 1950 devido ao ecircxodo rural mais intenso as cidades brasileiras
incharam rapidamente com a migraccedilatildeo do camponecircs que buscava melhores condiccedilotildees de
vida como trabalho na induacutestria o acesso agraves escolas saneamento entre outros E
segundo Gorski (2010) a populaccedilatildeo brasileira passou desde o iniacutecio deste processo de 19
milhotildees de habitantes em 1950 para 138 milhotildees de habitantes em 2000 (dados do IBGE)
o que corrobora o raacutepido crescimento das cidades
Todavia as estruturas puacuteblicas natildeo estavam preparadas para um acreacutescimo populacional
tatildeo significativo e em curto espaccedilo de tempo E o que observamos eacute o acesso limitado
dessa populaccedilatildeo agraves aacutereas centrais da cidade sendo induzida a se estabelecer nas
periferias Nesta visatildeo
O difiacutecil acesso da populaccedilatildeo de baixa renda agraves aacutereas mais centrais das cidades contribuiu segundo Raquel Rolnik para a expansatildeo da periferia o que muitas vezes implicou e implica ainda invasatildeo de aacutereas de proteccedilatildeo de mananciais com a aquiescecircncia do poder puacuteblico Esta
32
dinacircmica agravou a situaccedilatildeo de risco dos mananciais pela eliminaccedilatildeo das matas ciliares e consequentemente erosatildeo das margens dos cursos drsquoaacutegua e assoreamento de suas calhas e pela contribuiccedilatildeo do esgoto in natura (ROLNIK1997 apud GORSKI 2010 p62)
Sendo assim a supressatildeo das matas ciliares e das vegetaccedilotildees das encostas para fins de
ocupaccedilatildeo urbana interfere diretamente no ciclo hidroloacutegico diminuindo a absorccedilatildeo de
aacutegua pelo subsolo e pela evapotranspiraccedilatildeo favorecendo o escoamento superficial (Figura
6) que intensifica a velocidade de drenagem das aacuteguas Este processo nas encostas eacute
mais significativo se considerarmos que com a supressatildeo da cobertura vegetal e
impermeabilizaccedilatildeo do solo as precipitaccedilotildees acabam por lavar todo o material
intemperizado sedimentos carregando-o diretamente para o corpo hiacutedrico e contribuindo
para o assoreamento
Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento Fonte Gorski (2010 p64)
Por outro lado as ocupaccedilotildees ribeirinhas nas vaacuterzeas dos rios modificam a dinacircmica fluvial
frente aos defluacutevios A compactaccedilatildeo e o nivelamento do solo associados agrave
impermeabilizaccedilatildeo por concreto asfalto e outros materiais alteram todo o sistema de
drenagem natural e contribuem para a erosatildeo fluvial Aleacutem disso a gestatildeo puacuteblica que
33
deveria investir num parcelamento do solo sustentaacutevel resguardando ldquouma alocaccedilatildeo de
espaccedilosrdquo (CANHOLI 2005 p 15) para a drenagem acaba por colaborar com as enchentes
urbanas na medida em que decide por obras estruturais como a canalizaccedilatildeo (Figura 7
p30) e a microdrenagem que transferem os impactos das inundaccedilotildees a jusante
Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia Fonte Gorski (2010 p69)
Cabe destacar que desde 1965 com o primeiro Coacutedigo Florestal as matas beira-rio jaacute
eram resguardadas da degradaccedilatildeo humana poreacutem com todo o boom urbano a partir de
1950 a falta de estrutura e ingerecircncia municipal no que se refere ao parcelamento e uso
e ocupaccedilatildeo da terra urbana possibilitou a formaccedilatildeo dos assentamentos clandestinos em
APP e na encosta de morros Em condiccedilotildees precaacuterias sem saneamento baacutesico e demais
infraestruturas urbanas estes assentamentos acabam sendo as regiotildees mais afetadas
com as inundaccedilotildees
Junto agraves questotildees jaacute levantadas vale destacar que as aacuteguas das inundaccedilotildees propiciam o
aumento das doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica (febre tifoide hepatite leptospirose
esquistossomose entre outras) pois carregam segundo Gorski (2010) toda uma poluiccedilatildeo
difusa efluentes domeacutesticos industriais e agroindustriais aleacutem do lixo urbano da poluiccedilatildeo
do ar e das ruas
34
Por outro lado esta ocupaccedilatildeo urbana natildeo planejada perde o benefiacutecio que os corpos
hiacutedricos podem oferecer como [] as paisagens fluviais que aos poucos foram sendo
apropriadas como paisagens urbanas [] (GORSKI 2010 38) aleacutem do microclima
associado agrave umidade pela evapotranspiraccedilatildeo que ameniza a sensaccedilatildeo teacutermica local
Poreacutem conforme observado por Graeff (2011) natildeo eacute cabiacutevel atualmente implantar a
legislaccedilatildeo de APP de modo jurista Deve-se considerar toda a representatividade cultural
assentada sobre os leitos destes rios (avenidas importantes casas com arquitetura
histoacuterica entre outros) Aleacutem disso para a demarcaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo
permanente hoje eacute necessaacuteria uma anaacutelise teacutecnica pautada na geomorfologia e
hidrologia de modo a interpretar o ldquocomportamento histoacuterico dos cursos drsquoaacutegua na
paisagem prevendo cenaacuterios de impactos futurosrdquo da atividade humana sobre suas faixas
marginais
Tendo em vista que grande parte da malha urbana brasileira estaacute alocada em APPs e que
segundo Graeff (2011) estas jaacute possuem uma unidade de paisagem estabelecida e muitas
vezes secular configurando siacutetios de importacircncia cultural e apreendendo que
De modo semelhante nas demais cidades haveraacute que ser entendido o meio urbano como ele realmente eacute ndash um encontro entre as necessidades de habitaccedilatildeo com atividades humanas e de conservaccedilatildeo ambiental esta segunda tambeacutem a serviccedilo do homem e natildeo somente de objetivos difusos e distanciados da sobrevivecircncia da sociedade (GRAEFF 2011 206)
Por tais motivos o trabalho com a geomorfologia fluvial urbana deve abarcar os princiacutepios
do bom senso compreendendo que nestas aacutereas de atividade antroacutepica consolidada pode-
se fazer uso de instrumentos de engenharia avanccedilados para uma convivecircncia equilibrada
do homem com a natureza no entorno Contudo deve-se incentivar as aacutereas de expansatildeo
urbana ou zona periurbana (zonas de transiccedilatildeo da aacuterea urbana para a rural) com poliacuteticas
de incentivo a pavimentaccedilotildees mais permeaacuteveis a fim de minimizar o escoamento
superficial para o rio favorecendo a infiltraccedilatildeo
Apesar de os impactos gerados pela interferecircncia humana nas aacutereas mais fragilizadas da
bacia hidrograacutefica vaacuterzeas e encostas refletirem-se em cataacutestrofes com prejuiacutezos
humanos ambientais e urbanos alguns autores brasileiros como Canholi Graeff Cunha
Carneiro e Miguez jaacute indicaram outros caminhos para uma convivecircncia harmoniosa com
a natureza Aleacutem do mais paiacuteses desenvolvidos como a Holanda deixaram de ldquolutar contra
35
as cheiasrdquo para permitir agraves aacuteguas das enchentes a capacidade de acumular e dispersar
com impacto reduzido para as populaccedilotildees (CARNEIRO MIGUEZ 2011)
Sendo assim a proposta deste estudo eacute identificar os principais agentes que influenciam
as inundaccedilotildees entendendo seu papel e atuaccedilatildeo no contexto urbano de Colatina Mas eacute
tambeacutem a de ampliar a abordagem da temaacutetica com uma anaacutelise geograacutefica integrada
ressaltando as medidas que constam no planejamento urbano e sua aplicaccedilatildeo nas faixas
marginais do corpo hiacutedrico
36
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS
Esta pesquisa eacute constituiacuteda de trecircs etapas principais sendo que a primeira teve como
premissa a confecccedilatildeo de um fluxograma (Figura 8) de trabalho para orientar a pesquisa
em seguida teve iniacutecio o levantamento de bibliografias que abordam temas como a
geomorfologia fluvial e urbanizaccedilatildeo em Colatina adotando-se como referecircncia as
pesquisas de Coelho (2006 2007 2008 e 2009) e Albani (2012) Aleacutem disso muito
contribuiacuteram para este trabalho o relatoacuterio do INCAPER da CPRM e os dados do IBGE
Cabe destacar tambeacutem as experiecircncias com recursos hiacutedricos em ambientes urbanos de
Carneiro e Miguez (2011) em especial Cunha (2001 2012ab)
Esta etapa consistiu tambeacutem na busca de material cartograacutefico como aquisiccedilatildeo de planos
de informaccedilatildeo de limite estadual municipal bairros mancha urbana corpo drsquoaacutegua e
logradouros atraveacutes de dados disponiacuteveis no Sistema Integrado de Bases Geoespaciais
do Estado do Espiacuterito Santo (GEOBASES 2014) no Instituto Jones dos Santos Neves
(IJSN 2015) e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2014) imagens
orbitais gratuitas do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI bandas 2-3-4 e 8 (Pan) oacuterbita 216
ponto 73 com datas de passagem em 02012014 e 22032014 agraves 946 (horaacuterio central
da oacuterbita) junto ao Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2014) aleacutem do ortofotomosaico
do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hiacutedricos (IEMA 2014) do Espiacuterito
Santo referente ao voo de 2007 a 2008
Na segunda etapa foram realizadas duas investigaccedilotildees de campo sendo a primeira no
dia 24 de junho de 2014 com a finalidade de fazer o reconhecimento da aacuterea de estudo
fotografar e conversar com moradores e teacutecnicos da prefeitura O segundo trabalho de
campo ocorreu no dia 14 de fevereiro de 2015 e por meio deste foi possiacutevel identificar
pontos sujeitos a inundaccedilatildeo analisar a topografia e realizar as entrevistas com moradores
e funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina
37
Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC)
38
Na terceira etapa foram realizados os mapeamentos e processamentos de todos os planos
de informaccedilatildeo vetoriais e matriciais em ambiente de SIG no sistema ArcGis 103 iniciando
com a ediccedilatildeo dos dados do Municiacutepio e adjacecircncias que foram ajustados quando
necessaacuterio ao sistema de projeccedilatildeo UTM no Datum SIRGAS ndash 2000 na Zona 24 sul com
meridiano central -39 W com todo o mapeamento produzido seguindo a padronizaccedilatildeo
cartograacutefica proposta por Fitz (2008 a b)
O geoprocessamento teve iniacutecio com a composiccedilatildeo das imagens orbitais do Landsat-8 na
cor natural da imagem (2R 3G 4B) e por meio da teacutecnica de Pan Sharpening ou fusatildeo
de imagens a imagem cor natural foi agrupada agrave da banda 8 pancromaacutetica para obtenccedilatildeo
de uma melhor resoluccedilatildeo espacial neste caso chegando a 15 metros sendo resguardado
o conteuacutedo da imagem composta Na sequecircncia foi realizada a extraccedilatildeo da maacutescara do
periacutemetro urbano de Colatina e gerada a classificaccedilatildeo supervisionada da imagem Landsat-
8 no periacuteodo de cheia (janeiro) e vazante (marccedilo) o que possibilitou a delimitaccedilatildeo da calha
do Doce nestes dois eventos
Em seguida foram realizadas as 8 (oito) mediccedilotildees do leito regular sendo 4 (quatro) no
periacuteodo de cheia e 4 (quatro) na vazante de modo a definir a largura meacutedia da calha do
leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina Para chegar a uma medida geral
da largura do rio utilizaram-se ferramentas estatiacutesticas como a meacutedia que eacute uma medida
de tendecircncia central onde numa amostra de tamanho N constituiacuteda por elementos de x
variando de eacute possiacutevel extrair a meacutedia aritmeacutetica atraveacutes da equaccedilatildeo
A meacutedia aponta para onde mais convergem os dados de uma distribuiccedilatildeo
A partir desta definiccedilatildeo da meacutedia da largura da calha do Rio Doce foi possiacutevel em consulta
ao Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e a Lei 52732007 determinar a faixa miacutenima
de preservaccedilatildeo permanente deste corpo fluvial aleacutem da confecccedilatildeo do mapa com o
poliacutegono de APP
Mediante a anaacutelise do mapa verificou-se que grande parte dos bairros do municiacutepio estatildeo
contidos nos poliacutegonos de APP em especial a preservaccedilatildeo de 500 metros conforme lei
federal E por meio deste foram cruzados os dados de vazatildeo as fotos histoacutericas das
enchentes e o poliacutegono de mata ciliar o que permitiu o entendimento das inundaccedilotildees
39
Em ambiente de SIG tambeacutem foram vetorizados os trecircs traccedilados da Estrada de Ferro
Vitoacuteria a Minas o trajeto do Rio Santa Maria do Doce antes e depois da retilinizaccedilatildeo e os
sucessivos aterros na margem direita do Rio Doce no periacutemetro que compreende a Av
Beira-Rio
As teacutecnicas de sensoriamento remoto como a classificaccedilatildeo supervisionada permitiram a
definiccedilatildeo do poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo atraveacutes da imagem da cheia de janeiro Para
tanto foi realizada tambeacutem a classificaccedilatildeo hiacutebrida objetivando aliar a interpretaccedilatildeo visual
com a digital (JENSEN 2009) Por fim foi realizada amarraccedilatildeo com o levantamento
geodeacutesico da CPRM (2014) para garantir a precisatildeo do traccedilado do poliacutegono de cheia
A partir do tratamento dos dados bibliograacuteficos cartograacuteficos e imagens foi possiacutevel
sistematizar este trabalho o que permitiu identificar elementos histoacutericos de intervenccedilatildeo
na paisagem do Doce como os aterros e a ocupaccedilatildeo urbana As visitas de campo a
entrevista e conversas com moradores foram fundamentais para a validaccedilatildeo das
informaccedilotildees o que tornou esta metodologia eficaz para anaacutelise do fenocircmeno da inundaccedilatildeo
em Colatina
40
4 RESULTADOS
41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana
A ocupaccedilatildeo ao longo das planiacutecies de inundaccedilatildeo dos rios tem ocorrido diante da
necessidade deste recurso para as atividades vitais humanas Cunha (2012b p219)
entende que ldquosuas margens tecircm sido o centro preferido da habitaccedilatildeo humana e o
suprimento de suas aacuteguas natildeo soacute fertiliza os campos para o cultivo como tambeacutem fornece
energia e permite recreaccedilatildeordquo Logo o estabelecimento das vilas nas bordas dos cursos
drsquoaacutegua favorece a logiacutestica ocupacional
Historicamente em solo espiacuterito-santense a formaccedilatildeo das vilas ocorreu agraves margens de
estrateacutegicos cursos drsquoaacutegua e a exploraccedilatildeo do ouro de Minas Gerais para Albani (2012)
determinou que a Coroa proibisse nos seacuteculos XVII a XIX a implantaccedilatildeo de estradas e
exploraccedilatildeo de terras na Capitania do Espiacuterito Santo pois os portugueses temiam incursotildees
estrangeiras deixando assim o desenvolvimento capixaba restrito agrave faixa litoracircnea
Relegada enquanto ldquobarreira verderdquo para defesa das minas de ouro e minerais do atual
territoacuterio das Minas Gerais segundo Coelho (2007) a Capitania do Espiacuterito Santo soacute
passou a se interiorizar para o centro-oeste onde se localiza atualmente a cidade de
Colatina a partir de 1847 por meio das ocupaccedilotildees de Santa Izabel e Santa Leopoldina
que permitiram a descida do Rio Santa Maria do Doce ateacute as imediaccedilotildees da atual cidade
de Colatina
Assim foi que o movimento colonizador desceu o vale do Santa Maria do Rio Doce atingindo em 1891 a regiatildeo das matas onde hoje se acha a cidade de Colatina [] Esta penetraccedilatildeo inicial foi feita com elementos alematildees de Santa Leopoldina e no rio Doce ficou muito anos restrita agrave aacuterea inicial A expansatildeo ao longo do vale tomou impulso com a chegada a Colatina em 1906 dos trilhos da Estrada de Ferro Diamantina (atual Vitoacuteria-Minas) (STRAUCH1955 apud COELHO 2007 p105)
Sendo assim Coelho (op cit) relata que a ocupaccedilatildeo se deu atraveacutes da supressatildeo da mata
nativa no baixo curso do Rio Doce de Colatina a Linhares sendo a madeira daiacute extraiacuteda
levada ateacute o rio e encaminhada ateacute Povoaccedilatildeo vilarejo junto agrave foz de onde eram carregados
os navios Neste periacuteodo tem-se a instalaccedilatildeo de um ciclo madeireiro na regiatildeo com a
disposiccedilatildeo de serrarias nas proximidades das matas
41
Todavia somente a partir de 1906 com a chegada da estrada de ferro na regiatildeo o
transporte madeireiro foi transferido para as locomotivas Agrave medida que a implantaccedilatildeo da
Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas avanccedilava para o interior levava consigo as frentes de
desmatamento modificando as paisagens das margens do Rio Doce e se apropriando dos
espaccedilos deste rio (Figura 9)
Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906 Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce Fonte Albani (2012 p 63)
Conforme Albani (2012) com a vinda dos mineiros e fluminenses reforccedilados
posteriormente a partir de 1889 por colonizadores italianos e alematildees eacute que as
ocupaccedilotildees territoriais ocorreram de modo efetivo Atraveacutes do Barracatildeo do Rio Santa Maria
(Figura 10) espaccedilo do governo inicialmente destinado a alojar os migrantes e a produccedilatildeo
surgiram as primeiras residecircncias nas proximidades da igreja de Satildeo Sebastiatildeo Sendo
assim
Eacute importante destacar que o desenvolvimento da regiatildeo onde se encontra o municiacutepio de Colatina teve iniacutecio no final do seacuteculo XIX no nuacutecleo de colonizaccedilatildeo Antocircnio Prado localizado no distrito de Boapaba antiga vila do Mutum O nuacutecleo recebeu dezenas de famiacutelias de imigrantes italianos e ali desenvolveram atividades de agricultura e com a expansatildeo da localidade surge tambeacutem o comeacutercio (ALBANI 2012 p61) [hellip] A vila de Colatina entretanto logo passou a se transformar no principal nuacutecleo e futuramente na sede do municiacutepio Aleacutem da facilidade da produccedilatildeo atraveacutes do Rio Doce a vila de Colatina tornou-se referecircncia dos imigrantes no caminho para a colonizaccedilatildeo das terras ao norte do estado (MADURO1985 apud ALBANI 2012 p62)
42
Desse modo com o desenvolvimento das atividades de cafeicultura madeireira e do
entroncamento logiacutestico de acesso agraves aacutereas do norte a vila eacute elevada em 1921 agrave categoria
de municiacutepio A atual configuraccedilatildeo territorial foi adquirida a partir de 2001 conforme IBGE
(2014) dispondo de seis distritos Colatina (sede) Acircngelo Frechiami Baunilha Boapaba
Graccedila Aranha e Itapina
Cabe destacar poreacutem que a ocupaccedilatildeo inicial da cidade de Colatina se perfaz pela margem
direita do Rio Doce onde se localiza o atual bairro de Colatina Velha e onde havia se
instalado o Barracatildeo de Santa Maria Nesse periacuteodo a ponte ainda natildeo fora edificada
limitando assim a ocupaccedilatildeo da margem esquerda
Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da regiatildeo Fonte Albani (2012 p62)
Conforme Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p65) a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro
Vitoacuteria a Minas em 1906 (Figura 11) possibilitou a expansatildeo da cidade de Colatina e seu
desenvolvimento econocircmico Todavia sua instalaccedilatildeo paralela agrave margem direita do Rio
Doce favoreceu a localizaccedilatildeo de avenidas e ruas centrais em sua proximidade
43
Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p65)
Entretanto foi com a construccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos (Figura 12) em 1928 que a
margem direita se conectou agrave margem esquerda da cidade o que aleacutem de possibilitar a
ocupaccedilatildeo facilitou o acesso agraves regiotildees mais ao norte do Estado
Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p66)
44
Por conseguinte a estrada de ferro e a ponte foram os fatores determinantes para o
estabelecimento dos migrantes agraves margens do Rio Doce e a formaccedilatildeo do atual municiacutepio
de Colatina Contudo foi a partir desta posiccedilatildeo privilegiada que a cidade passou a ser
entreposto comercial e logiacutestico da regiatildeo noroeste e com isso sua aacuterea urbana expandiu-
se de modo desordenado inicialmente ao longo da planiacutecie de inundaccedilatildeo do Doce Coelho
(2007 p108 e 109) relata que
Os efeitos dessa urbanizaccedilatildeo (novos parcelamentos) e do desmatamento produz [sic] normalmente o aumento da velocidade das aacuteguas superficiais (pluviais) que eram antes interceptadas pelas matas com boa parte absorvida pelo solo O que ocorre geralmente nessas aacutereas eacute a chegada mais raacutepida das aacuteguas das chuvas para o tributaacuterios e calha principal do rio por fluxos concentrados que provocam processos de erosotildees do tipo laminar ravina e voccediloroca transportando quantidades expressivas de sedimentos que por sua vez causam assoreamento e a ocorrecircncia de cheias mais frequentes no rio
Com o crescimento acelerado do periacutemetro urbano proporcionado pelo apogeu do ciclo
cafeeiro as proacuteximas deacutecadas levaratildeo a cidade de Colatina a sofrer com impactos
advindos das alteraccedilotildees no ambiente fluvial do Rio Doce em especial os referentes a
ocupaccedilatildeo (impermeabilizaccedilatildeo) e desmatamento das margens (interferecircncia na drenagem
natural) conforme destacado por Coelho (2007)
Eacute fato que o municiacutepio viveu nas deacutecadas de 1940 e 1950 o auge do ciclo cafeeiro
chegando a ser no ranking brasileiro o 13ordm municiacutepio produtor de cafeacute no ano de 1947
(CAMPOS JUNIOR 2004 apud ALBANI 2012 p69) Poreacutem a partir de 1960 este boom
entrou em colapso com crise do cafeacute que assolou todo o paiacutes levando grande parte dos
pequenos proprietaacuterios rurais a migrarem para centros urbanos em especial no Espiacuterito
Santo a regiatildeo da Grande Vitoacuteria e tambeacutem para o centro de Colatina
Em razatildeo da crise cafeeira a populaccedilatildeo rural migra para centros urbanos A populaccedilatildeo migrou em grande quantidade para a Grande Vitoacuteria para fora do estado e tambeacutem para a cidade de Colatina principal aglomerado urbano da regiatildeo Esse processo provoca o aumento da aacuterea urbana de Colatina A populaccedilatildeo da cidade que era de 3913 habitantes em 1940 cresceu para 26757 habitantes em1960 (ALBANI2012 p71)
O crescimento raacutepido do centro de Colatina aliado ao aumento populacional direciona
grande parte dos migrantes para as aacutereas menos centrais da cidade levando agrave ocupaccedilatildeo
de locais irregulares como os morros e as margens direita e esquerda do Rio Doce Este
45
processo configurou a nova paisagem do municiacutepio povoando do vale agraves encostas (Figura
13)
Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes Fonte Albani (2012 p73)
Associado a este processo de reconfiguraccedilatildeo espacial nas proacuteximas deacutecadas o municiacutepio
de Colatina passaraacute por sucessivas perdas de territoacuterios ateacute atingir os limites atuais (Figura
1 p17) Aliado a estas perdas territoriais seu quantitativo absoluto populacional tambeacutem
sofreraacute impactos poreacutem de modo geral a populaccedilatildeo urbana deste municiacutepio apresentou
crescimento continuo (Graacutefico 2)
Graacutefico 2
Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 2010
Elaborado pela autora Fonte 1940 e 1950 Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p82) 1960 a 2010 IBGE
0
20000
40000
60000
80000
100000
120000
1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020
Populaccedilatildeo Urbana Colatina 1940 - 2010
46
Assim como tem ocorrido nas grandes capitais Colatina cresceu em quantitativo
populacional e territorial urbano de modo muito raacutepido e por este desenvolvimento natildeo ter
sido aliado a um planejamento urbano e ambiental sustentaacutevel a cidade tem sentido os
reflexos das suas interferecircncias ao longo do canal do Doce O que tem provocado
antecipaccedilatildeo dos picos de vazatildeo que no periacutemetro urbano ocasiona as inundaccedilotildees pois
natildeo conseguindo o rio acomodar estes defluacutevios transfere em curto espaccedilo de tempo as
aacuteguas a sua planiacutecie de inundaccedilatildeo atingindo os bairros mais antigos do municiacutepio
Por fim entender o contexto histoacuterico do crescimento da cidade revela muito do panorama
atual E por meio de uma anaacutelise conjunta da histoacuteria com os novos planejamentos eacute
possiacutevel propor intervenccedilotildees urbanas que possibilitem um conviacutevio harmonioso entre
natureza e sociedade neste caso entre o Rio Doce e o centro de Colatina Diante desta
proposta adiante apresentaremos a evoluccedilatildeo dos bairros associando seus periacuteodos de
ocupaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo espacial nas imediaccedilotildees do curso principal do Doce
411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade
Com nuacutecleo inicial de povoamento no Barracatildeo de Santa Maria a cidade de Colatina
cresce a partir deste ponto agrave margem direita do Rio Doce de onde surgem as primeiras
residecircncias comeacutercios e a igreja Atualmente a regiatildeo compreende o bairro de Colatina
Velha que de acordo com Albani (2012 p91) [hellip] ldquopode ser considerado o primeiro polo
de crescimento da cidaderdquo
Aliado ao aumento da populaccedilatildeo migrante das fazendas com a crise do cafeacute o nuacutecleo de
Colatina Velha passa a ser um ponto de passagem obrigatoacuterio para os viajantes que
vinham majoritariamente do sul uma vez que o Rio Doce configurava uma barreira natural
agrave ocupaccedilatildeo das terras ao norte Aleacutem disso a margem esquerda deste canal fluvial era
habitat dos hostis iacutendios botocudos o que dificultava a sua apropriaccedilatildeo
Sendo assim a ocupaccedilatildeo de Colatina conteve-se agrave margem direita nesta primeira fase o
que define o primeiro vetor de crescimento da cidade na direccedilatildeo leste para oeste partindo
das imediaccedilotildees do Barracatildeo de Santa Maria sentido ao Rio Santa Maria do Doce (Figura
14) E a partir de 1906 com a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas da entatildeo
Companhia Vale do Rio Doce atual Vale este vetor de crescimento se consolida e
47
proporciona o surgimento de importantes avenidas paralelas agrave ferrovia a exemplo da Av
Getuacutelio Vargas
Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de crescimento Elaborado pela autora
48
O segundo vetor do crescimento de Colatina estava condicionado agrave construccedilatildeo da ponte
Florentino Aacutevidos a qual conectou a margem direita agrave esquerda do Rio Doce permitindo
a ocupaccedilatildeo da porccedilatildeo ao norte Portanto somente a partir de 1928 com a finalizaccedilatildeo da
obra da ponte a barreira natural pocircde ser transposta o que possibilitou ao lado esquerdo
desenvolver uma nova linha de crescimento urbano com a ocupaccedilatildeo do atual bairro de
Satildeo Silvano
O terceiro vetor de crescimento estaacute associado agrave implantaccedilatildeo do bairro Luiz Iglesias na
margem direita e os de Maria das Graccedilas e Coluacutembia na margem esquerda Albani (2012)
ressalta que esta fase da ocupaccedilatildeo urbana estaacute associada ao desenvolvimento do sistema
viaacuterio como a proximidade da BR-259 sentido Vitoacuteria- Colatina da ES-80 que liga
Colatina agrave regiatildeo norte da ES-256 que a conecta a Marilacircndia e da proximidade da
estaccedilatildeo ferroviaacuteria Carlos Germano Nauman (Figura 15)
Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios e linhas feacuterreas que interceptam a cidade de Colatina Elaborado pela autora
Jaacute na quarta e mais recente linha de crescimento da cidade temos os novos loteamentos
residenciais e industriais a exemplo do de Barbados e do bairro Santa Helena que surgem
49
acompanhando o traccedilado da ponte que contorna a leste a cidade como novo acesso agrave
porccedilatildeo norte do estado Albani (2012 p118) destaca que
Apesar da construccedilatildeo da Segunda Ponte ter sido iniciada em 1986 somente foi inaugurada em 2007 A conclusatildeo da ponte e a construccedilatildeo de uma rodovia de contorno desviaram a BR-259 do centro da cidade O desvio da rodovia federal trouxe um desafogamento do tracircnsito nas principais vias da cidade e um novo direcionamento na expansatildeo urbana Alguns loteamentos surgiram nesse periacuteodo proacuteximo agrave Segunda Ponte e ao contorno na margem norte do rio principalmente no bairro Santa Helena (Figura 55) Essa situaccedilatildeo indica mais uma vez que as linhas de crescimento em Colatina satildeo orientadas pelas vias de transporte
Portanto o crescimento do periacutemetro urbano de Colatina estaacute associado agrave superaccedilatildeo das
barreiras naturais em especial o Rio Doce por meio de investimentos em obras de
engenharia que permitiram o deslocamento humano para a margem esquerda deste curso
Sem duacutevida as vias de transporte foram elementares na construccedilatildeo do periacutemetro urbano
de Colatina pois na medida que se consolidava o sistema viaacuterio as ocupaccedilotildees tambeacutem se
favoreciam destas vias de locomoccedilatildeo A evoluccedilatildeo da aacuterea urbana portanto acompanha
as principais vias de transporte (Figura 15 p45) e estas se utilizam da posiccedilatildeo estrateacutegica
e geograficamente favoraacutevel do canal do Doce para a definiccedilatildeo de seus traccedilados
Apoacutes 94 anos de emancipaccedilatildeo de Linhares o territoacuterio de Colatina eacute fundamental para a
manutenccedilatildeo dos municiacutepios do noroeste capixaba Diante desta posiccedilatildeo estrateacutegica torna-
se relevante o entendimento de como o urbano se relaciona com o meio natural a fim de
se estabelecer poliacuteticas de ordenamento territorial que promovam a qualidade de vida no
municiacutepio Adiante seraacute analisada a situaccedilatildeo da calha principal do Rio Doce elemento
fundamental na compreensatildeo do uso e cobertura da terra de Colatina
42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce
Compreendendo uma aacuterea de 3330 kmsup2 o periacutemetro urbano de Colatina eacute afetado pela
velocidade dos defluacutevios de modo que grande parte dos bairros beira-rio eacute tomada pelas
aacuteguas excedentes da calha principal do Doce o que configura o fenocircmeno de inundaccedilatildeo
Ao pesquisar estes fenocircmenos eacute necessaacuterio relacionar o uso da terra com os processos
geomorfoloacutegicos do corpo hiacutedrico Sendo assim por meio de teacutecnicas de
geoprocessamento foram realizadas oito mediccedilotildees da calha principal do Rio Doce para
50
estabelecimento da distacircncia meacutedia da largura de sua calha O resultado esteve dentro do
esperado e pode ser verificado na tabela abaixo (Tabela 1) e no mapa em sequecircncia
(Figura 16)
Tabela 1 Perfis transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de
vazante (abril) e cheia (janeiro)
Largura do rio Doce periacuteodo de vazante e cheia
Abril2013(m) Janeiro2014(m)
P1 70735 75784
P2 62080 66483
P3 59209 65804
P4 63548 67650
Meacutedia dos Perfis 62814 67066
Meacutedia Geral 66143 Obs todas as medidas estatildeo em metros
Elaborado pela autora
Figura 16 - Traccedilado dos perfis transversais da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de vazante mecircs de abril2013 Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)
51
Com uso das imagens orbitais do Landsat-8 atraveacutes da classificaccedilatildeo hiacutebrida foram
gerados dois arquivos shapefiles correspondentes agraves bordas do Doce um no periacuteodo de
vazante e outro no de cheia Por meio destes dados foram definidos quatro traccedilados para
realizaccedilatildeo das mediccedilotildees a partir destas e com auxiacutelio das medidas de tendecircncia central
chegou-se a uma largura meacutedia total de 66143m de uma margem a outra Este resultado
indicou que tanto no periacuteodo de vazante quanto no periacuteodo de cheia a largura meacutedia
aponta para a maior faixa de APP proteccedilatildeo de 500m conforme previsto na legislaccedilatildeo
federal (Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e no revogado Lei 4771 1965)
Analisando a imagem abaixo (Figura 17) observa-se que grande parte do solo
naturalmente destinado a ldquoacomodaccedilatildeordquo das aacuteguas nas cheias (linha laranja) foi
incorporado agrave sociedade como espaccedilo criado (periacutemetro urbano em APP mancha em
amarelo) destinado a fins muacuteltiplos Deste modo sem planejamento territorial adequado
grande parte da planiacutecie de inundaccedilatildeo deu lugar a outras funccedilotildees diferentes das naturais
sendo incorporada ao espaccedilo urbano
Lanccedilando o buffer (mancha em amarelo) do entorno da calha do Doce (Figura 17) observa-
se que dos 59 bairros do municiacutepio cerca de 29 estatildeo dentro da aacuterea de 500m destinada
a preservaccedilatildeo permanente pelo Coacutedigo Florestal Considerando-se a delimitaccedilatildeo da APP
prevista no PDM de 1996 e 2007 (linha laranja mais proacutexima da borda do rio) este nuacutemero
cai para 18 bairros permanecendo apenas aqueles que possuem limites com o corpo
hiacutedrico
Uma vez que que lei municipal natildeo suplanta lei federal considerar-se-aacute neste estudo o
limite da faixa marginal de proteccedilatildeo definida na Lei Federal 126512012 Deste modo a
aacuterea de preservaccedilatildeo permanente do Doce neste recorte eacute de 1085 kmsup2 compreendendo
33 do periacutemetro urbano de Colatina
Cabe destacar ainda que mesmo o PDM de 1996 contendo enquanto objetivo no Art 14
ldquoI - estabelecer a ordenaccedilatildeo do uso e da ocupaccedilatildeo do solo urbanordquo (Lei 42281996 p4)
a gestatildeo municipal natildeo obteve sucesso na implementaccedilatildeo de tal legislaccedilatildeo O que se
verifica tanto nas deacutecadas de 1990 quanto no iniacutecio dos anos 2000 quando foram
aprovados novos parcelamentos urbanos agraves margens deste canal a exemplo dos bairros
de Barbados na margem direita e do bairro Mario Giurizato na margem esquerda
52
Figura 17- Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)
53
Articulado a esta ideia e pesquisando o trecho do bairro Esplanada a Colatina Velha palco
das uacuteltimas obras estruturantes de alto porte do municiacutepio consegue-se analisar os efeitos
das inundaccedilotildees nas margens deste rio Logo implementar medidas de prevenccedilatildeo de
cheias em aacutereas com urbanizaccedilotildees antigas requer um esforccedilo da gestatildeo na regulaccedilatildeo do
solo urbano
421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie
de Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio
Interceptada pelo curso do Rio Doce no perfil mais a jusante da bacia a cerca de 100km
do estuaacuterio com o Oceano Atlacircntico a cidade de Colatina polo moveleiro e de confecccedilotildees
do centro-oeste capixaba eacute palco recorrente de inundaccedilotildees urbanas
Conforme jaacute mencionado por Cunha (2012a) este fenocircmeno ocorre quando a bacia recebe
um percentual precipitado acima da sua capacidade de escoamento o que faz o leito
menor do rio extravasar para o leito maior ocupando as aacutereas de vaacuterzeas (Figura 18 p
50) Aliadas a esta questatildeo estatildeo as ocupaccedilotildees humanas das margens dos rios que ao
suprimir a vegetaccedilatildeo natural e alterar a condiccedilatildeo fiacutesica do solo acabam por reduzir a aacuterea
de drenagem das aacuteguas pluviais acelerando o escoamento superficial para o canal
principal e favorecendo os defluacutevios
Figura 18 - Representaccedilatildeo da inundaccedilatildeo urbana Fonte adaptado da Defesa Civil do Tocantins (2015)
Este fenocircmeno tem ganhado destaque em Colatina a partir de 1979 ano em que o Rio
Doce atingiu a vazatildeo de 12860msup3s tomando toda aacuterea aplainada que compotildee seu leito
maior afetando da atual Av Beira-Rio ateacute as redondezas da Av Getuacutelio Vargas Desde
entatildeo os estudos das inundaccedilotildees urbanas satildeo relevantes no municiacutepio o que levou o
54
Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) na deacutecada de 1980 a elaborar um ldquoPlano Diretor
de Contenccedilatildeo das Enchentes Proteccedilatildeo das Encostas e Drenagem Pluvial de Colatinardquo
Tal medida apresentou seis alternativas para o fenocircmeno Poreacutem tendo em vista o custo
operacional das obras apenas a alternativa seis que previa a construccedilatildeo de diques
marginais para a proteccedilatildeo das aacutereas mais centrais foi considerada viaacutevel na eacutepoca
Todavia em entrevistas com funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina (PMC) foi
relatado que todo o estudo foi arquivado e que ateacute agora natildeo haacute previsatildeo de
implementaccedilatildeo de tais medidas Fato este que eacute evidenciado (Tabela 2 p 51) quando da
ocorrecircncia de precipitaccedilotildees intensas na bacia durante as quais sazonalmente a cidade eacute
impactada com as aacuteguas das inundaccedilotildees Isto faz com que o municiacutepio passe
recorrentemente por cataacutestrofes conforme tabela com os principais picos de vazatildeo do rio
nos uacuteltimos 50 anos
Tabela 2
Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013
Ano Diamecircs Vazatildeo(msup3s)
1961 30jan 6613
1979 04fev 12860
1997 07jan 8687
2005 03ago 6549
2013 24dez 9028
Fonte Coelho (2007 apud DALLAPICOLA 2014 p4) e CPRM (2014 p85) Observo que os dados da tabela 1 para os anos de 1979 e 2013 estatildeo baseados na estimativa de vazatildeo meacutedia diaacuteria das maacuteximas anuais obtida atraveacutes de extrapolaccedilatildeo da curva-chave pelo grupo interdisciplinar dos relatoacuterios criacuteticos anteriores
As inundaccedilotildees de 1979 1997 e recentemente 2013 (Figura 19) foram as de maior vazatildeo
neste setor do rio e consequentemente as que mais atingiram a aacuterea urbana do municiacutepio
bloqueando os acessos ao centro da cidade e aos equipamentos essenciais como
hospitais escolas e demais oacutergatildeos puacuteblicos aleacutem de desalojarem muniacutecipes e
comprometerem a sauacutede puacuteblica
55
Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de 1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 Fonte1) Nossa Colatina 2) Nossa Linda Colatina 3) Nossa Colatina
Com o propoacutesito de identificar os principais fatores que acentuam as inundaccedilotildees seraacute
analisado como os processos geomorfoloacutegicos do Doce estatildeo sendo afetados pela accedilatildeo
antroacutepica Limitaremos a anaacutelise ao periacutemetro urbano no trecho que compreende do bairro
Esplanada ateacute o bairro Colatina Velha (Figura 20) Neste periacutemetro eacute possiacutevel visualizar a
evoluccedilatildeo da mancha urbana sobre o leito do rio aleacutem de identificar na margem direita os
pontos desnaturalizados deste canal fluvial
56
Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2) Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do recorte em rosa da APP de 50m (amarelo claro) e 500m (amarelo escuro) Fonte 3) Encontra Colatina (2015)
57
O recorte em questatildeo eacute margeado pela Av Beira-Rio e estaacute situado (Figura 20) dentro do
buffer de preservaccedilatildeo permanente previsto no PDM (buffer de 50m) e no Novo Coacutedigo
Florestal (buffer de 500m) Apesar desta aacuterea ser destinada a mata nativa e ou
reflorestada a ocupaccedilatildeo urbana antecede os artigos legais o que dificulta poliacuteticas de
gestatildeo territorial em um periacutemetro ao mesmo tempo histoacuterico e com funccedilatildeo relevante no
equiliacutebrio hidroloacutegico da bacia
O periacutemetro faz parte da vaacuterzea da margem direita do Rio Doce pois encontra-se em cota
topograacutefica de 50m caracterizando sua planiacutecie Logo a aacuterea em questatildeo tem a funccedilatildeo de
acomodar as aacuteguas das cheias quando a calha principal natildeo comporta o escoamento de
grandes vazotildees Esta tarefa passa a ser prejudicada na medida em que na bacia ou no
curso original satildeo implementadas obras que interferem na morfologia do corpo hiacutedrico
principal como a instalaccedilatildeo das hidreleacutetricas de Mascarenhas (1974) e Aimoreacutes (2005) a
montante
As UHErsquos a montante comprometem os processos do rio uma vez que o regime natural de
transporte de sedimentos eacute alterado com o barramento o que favorece a erosatildeo e
consequentemente o assoreamento com a formaccedilatildeo de bancos arenosos alteraccedilatildeo do
seu perfil transversal e reduccedilatildeo da profundidade Aleacutem disso segundo Coelho (2007) as
vazotildees maacuteximas e miacutenimas foram alteradas com a implantaccedilatildeo das hidreleacutetricas a
montante implicando em vazotildees meacutedias anuais miacutenimas cada vez mais reduzidas com
valores se distanciando da linha de tendecircncia (polinocircmio) provando o natildeo equiliacutebrio da
vazatildeo apoacutes a implantaccedilatildeo das barragens (Graacutefico 1 p22)
Entretanto a primeira intervenccedilatildeo direta no trecho em estudo foi a instalaccedilatildeo da estrada
de ferro que atraiu migrantes para Colatina permitindo o crescimento populacional e a
expansatildeo urbana desordenada agraves margens do Doce Este crescimento intensificou a
supressatildeo das matas ciliares e abriu espaccedilo para a impermeabilizaccedilatildeo do solo reduzindo
a infiltraccedilatildeo
Posteriormente a inauguraccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos ampliou o fluxo na regiatildeo pois
proporcionava a ligaccedilatildeo com as terras ao norte do Estado Atuou tambeacutem como obstaacuteculo
ao transporte de sedimentos carreados no fluxo natural do rio uma vez que sua
implantaccedilatildeo altera a topografia do fundo do canal afetando os processos geomorfoloacutegicos
58
Poreacutem foi no Morro das Cabritas (colina localizada no espaccedilo que compreende o atual
bairro Esplanada) que ocorreu a primeira desnaturalizaccedilatildeo nas margens do Doce Este
morro por onde o Rio Santa Maria do Doce meandrava ateacute desaguar no Rio Doce foi
cortado em meados de 1953 para abrigar a cidade em expansatildeo Devido a esta
intervenccedilatildeo o curso original do Santa Maria foi deslocado e passou a escoar
retilineamente ateacute a foz (Figura 21)
Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponte Florentino Aacutevidos (direita) e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque em vermelho para o curso atual do Santa Maria Fonte Nossa Colatina
As intervenccedilotildees na margem direita tornam-se mais intensas a partir da deacutecada de 1960
quando no ano de 1968 edificou-se um muro visando a proteccedilatildeo dos pilares da
extremidade direita da ponte Esta obra ficou paralisada por muitos anos e foi a primeira
de retificaccedilatildeo e aterro realizada neste trecho do rio Esta intervenccedilatildeo modificou o fluxo
natural das correntes do rio e reduziu a largura da sua calha alterando a morfologia do
canal (Figura 22)
59
Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de proteccedilatildeo da ponte Elaborado pela autora Fonte fotos histoacutericas Nossa Colatina
Contudo somente em 1972 teve iniacutecio o segundo aterro (Figura 23) com a finalidade de
alocar a estaccedilatildeo rodoviaacuteria de Colatina e ampliar a aacuterea de acesso agrave ponte Florentino
Aacutevidos A implementaccedilatildeo desta obra suprimiu parte do leito do Rio Doce pois removeu a
saliecircncia cocircncava que curvava o rio retilinizando esta parte do canal
60
Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora Fonte Nossa Colatina Nossa Linda Colatina
Apoacutes dez anos sem grandes intervenccedilotildees em 1982 o lado a montante da ponte bairro
Esplanada eacute acrescido de um aterro que estenderaacute a aacuterea do antigo Morro das Cabritas
para o rio (Figura 24)
Conhecido como Rua da Lama devido agrave umidade que o rio transferia ao aterro formando
um barro viscoso que persistia a maior parte do ano o trecho atualmente compreende a
Avenida Professor Joseacute Zouian popularmente denominada Avenida Beira-Rio de onde
surge a primeira forma do calccediladatildeo que seraacute estendido ateacute o bairro Colatina Velha
61
Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o calccediladatildeo da Av Beira-Rio Elaborado pela autora Fonte Bennachio (2015)
Somente em 2004 foi implementado o maior projeto de canalizaccedilatildeo do municiacutepio Naquele
ano teve iniacutecio a execuccedilatildeo do enrocamento da Av Beira-Rio (Figura 25) obra destinada
inicialmente a alocaccedilatildeo de equipamentos puacuteblicos de lazer e cultura praccedilas preacutedios aleacutem
da promessa de contribuir para a contenccedilatildeo dos transbordamentos do Rio Doce
Apesar de o referido manancial jaacute estar comprometido com problemas de poluiccedilatildeo
assoreamento e erosatildeo aleacutem dos impactos de duas hidreleacutetricas instaladas a montante a
obra abarcou a supressatildeo da vegetaccedilatildeo ciliar e aterro de parte do rio jaacute tatildeo degradado
62
Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento iniciada em 2004 e finalizada em 2008 Elaborado pela autora Fonte proacutepria autora em 240215
Ocupando uma aacuterea total de 130 mil msup2 do leito do Rio Doce o aterro teve iniacutecio em 2004
sendo construiacutedo com cerca de 90 mil msup3 de pedras 50 mil msup3 de areia retirada do leito do
rio e por fim o nivelamento com 200 mil msup3 de terra A obra era divulgada como um antigo
sonho dos colatinenses e serviria para ampliaccedilatildeo da Av Beira-Rio no bairro de Colatina
Velha instalaccedilatildeo de ciclovias calccediladatildeo equipamentos puacuteblicos e estacionamento (Figura
26) Apesar do fim da engenharia em 2008 o projeto ainda estaacute em fase de acabamento
na parte urbaniacutestica e na alocaccedilatildeo dos oacutergatildeos puacuteblicos
Cabe destacar que a obra sofreu embargos do Ministeacuterio Puacuteblico Federal (MPF) por
apresentar apenas cadastro na Agecircncia Nacional de Aacuteguas (ANA) que conforme parecer
da Procuradora Nadja Machado Botelho na Accedilatildeo Civil Puacuteblica ldquo[hellip] equivocadamente natildeo
realizou o procedimento de outorga [hellip]rdquo (MPF 2006 p2) Aleacutem disso a procuradora
solicitou tutela tendo em vista tratar-se de aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental e o fato de o
IBAMA ter concedido licenciamento com indevida dispensa do Estudo de Impacto
Ambiental (EIA)Relatoacuterio de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA)
63
Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina Fonte Prefeitura de Colatina (2015)
Por isso essa obra deve ser considerada faraocircnica para os cofres puacuteblicos e irreversiacutevel
para os processos geomorfoloacutegicos do Doce E sua efetivaccedilatildeo soacute foi possiacutevel com a
participaccedilatildeo e investimentos do Governo estadual Contudo seu objetivo foi frustrado pois
novamente na cheia do Rio Doce em dezembro de 2013 quando este atingiu a vazatildeo de
9028 msup3s a aacuterea foi inundada e por estar em cota maior que as casas que beiravam o
rio o enrocamento atuou como represa natildeo permitindo o retorno das aacuteguas quando o niacutevel
do rio retomou o equiliacutebrio
Por fim segue um mapa siacutentese (Figura 27) com a cartografia das quatro principais
intervenccedilotildees diretas e estruturais na margem direita do Doce no setor urbano de Colatina
representando o curso natural do rio em 1950 e suas desnaturalizaccedilotildees a partir da deacutecada
de 60 ateacute a atualidade
64
Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce ante e depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora
65
422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio
O recorte em estudo compreende as Zonas ZE-1 ZE-2 e ZUD 2-1 (Figura 28 p61) sendo
a Zona Especial 1 Zona Especial 2 e Zona de Uso Diverso 2-1 destinadas no PDM (Lei
52732007)
Artigo 103 - As Zonas de Usos Diversos ndash ZUD satildeo definidas em razatildeo da concentraccedilatildeo de atividades urbanas diversificadas com predominacircncia do uso comercial e de serviccedilos Artigo 104 - Satildeo objetivos das Zonas de Usos Diversos I - otimizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do solo priorizando a instalaccedilatildeo de novos empreendimentos em terrenos natildeo edificados contiacuteguos a empreendimentos jaacute instalados II - controle da implantaccedilatildeo de usos incompatiacuteveis com os definidos para estas zonas III - garantia de licenciamento e monitoramento ambiental dos empreendimentos IV - controle da expansatildeo comercial de serviccedilos e de induacutestrias de pequeno porte em direccedilatildeo a aacutereas residenciais [] Artigo 130 - As Zonas Especiais 1 ndash ZE 1 abrangem todas as aacutereas remanescentes do municiacutepio relativamente ao zoneamento estabelecido nesta lei ocupadas ou natildeo contida na lei de periacutemetro urbano para as quais natildeo foram ainda estabelecidos os criteacuterios de uso e ocupaccedilatildeo Artigo 131 - As Zonas Especiais 2 ndash ZE 2 satildeo as aacutereas existentes no prolongamento da avenida Beira Rio mais especificamente no trecho entre o 80 Batalhatildeo da Poliacutecia Militar e a rua Pedro Epichin incluindo o espaccedilo existente entre a margem do Rio Doce e o limite das construccedilotildees localizadas na rua Pedro Epichin
Cabe destacar que mesmo sendo palco das aacutereas mais afetadas com as inundaccedilotildees do
Rio Doce a Beira-Rio tem sido alvo da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria que aproveitando-se dos
iacutendices pouco restritos da ZUD 2 (Figura 28 p62) valoriza o espaccedilo promovendo a
instalaccedilatildeo de grandes estruturas como hipermercados edifiacutecios residenciais modernos e
hotelaria
66
Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 Fonte Colatina (2007)
A aacuterea contida na ZE (Figura 28) natildeo possui criteacuterio de ocupaccedilatildeo definido na legislaccedilatildeo
atual sendo adotado o disposto na Lei 41961995 que estabelece os iacutendices urbaniacutesticos
para as aacutereas conquistadas junto ao Rio Doce e na Lei 420595 que aprova os
parcelamentos na Beira-Rio Quanto agrave ZUD 2-1 apresenta iacutendices urbaniacutesticos no anexo
118 do Plano Diretor conforme tabela 3 abaixo
67
Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1
Fonte Colatina (2007 p36)8
68
Eacute relevante observar que numa aacuterea onde o corpo hiacutedrico foi reduzido pelos sucessivos
aterros tenha sido aprovada a instalaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto (Figura
29) com taxa de ocupaccedilatildeo de ateacute 80 e com baixo iacutendice de permeabilidade Ampliou-
se a aacuterea impermeaacutevel numa regiatildeo onde a drenagem jaacute eacute muito comprometida com a
expansatildeo urbana sobre o rio
Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto na Beira-Rio Fonte imagem do Google Maps 2015 E fotos da autora em 140215
Portanto analisando o conjunto de dados apresentado acima eacute possiacutevel entender como
as inundaccedilotildees satildeo potencializadas no municiacutepio atingindo a populaccedilatildeo mas em especial
afetando a dinacircmica de um corpo hiacutedrico tatildeo relevante para o Estado A fim de subsidiar a
gestatildeo puacuteblica com material cartograacutefico para a tomada de decisotildees delimitou-se o
poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo (Figura 30) Pois devem ser adotadas medidas que
minimizem impactos de futuros eventos hidroloacutegicos na bacia capazes de comprometer
novamente a aacuterea urbana mais central de Colatina
69
Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av Beira-Rio em dezembro de 2013 Elaborado pela autora
70
Diante do poliacutegono de inundaccedilatildeo da uacuteltima cheia (Figura 30) em dezembro de 2013 eacute
possiacutevel implementar medidas de convivecircncia com as grandes vazotildees a exemplo de
paiacuteses como Holanda que vem investindo em medidas de resiliecircncia a fim de reduzir a
velocidade dos defluacutevios possibilitando ao canal a capacidade de acumular e dispersar as
aacuteguas com impacto miacutenimo para as populaccedilotildees Conforme Carneiro e Miguez (2011) a
estrateacutegia adotada pelo paiacutes eacute reter armazenar e drenar sendo mais flexiacutevel e natildeo
interferindo drasticamente na dinacircmica do corpo hiacutedrico
Por fim a implementaccedilatildeo de soluccedilotildees de planejamento urbano em Colatina requer uma
anaacutelise integrada que abarque o urbano e o ambiental de modo a propor intervenccedilotildees que
produzam impactos reduzidos nos processos geomorfoloacutegicos do Rio Doce Logo a gestatildeo
municipal deve atuar em niacutevel de bacia hidrograacutefica interagindo com os municiacutepios a
montante propondo medidas de minimizaccedilatildeo das cheias urbanas Mas na escala local
pode-se atuar junto aos novos parcelamentos de modo a ampliar o percentual de aacutereas
permeaacuteveis no municiacutepio incentivando por exemplo os novos loteamentos a adotarem
pavimentaccedilotildees que permitam a drenagem natural do solo
71
5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Partindo da ideia de que eacute possiacutevel implementar medidas que minimizem o escoamento
superficial satildeo apresentadas propostas como forma de controlar ou ao menos reduzir os
impactos das inundaccedilotildees urbanas
Embora as implementaccedilotildees histoacutericas de estruturas de proteccedilatildeo ou barreiras mais altas
tenham sido muito disseminadas atualmente estatildeo sendo suplantadas pelo gerenciamento
de inundaccedilotildees de maneira mais sustentaacutevel Deste modo as experiecircncias fora do Brasil
apontam para soluccedilotildees mais flexiacuteveis que considerem o fluxo natural do canal enquanto
um ecossistema em equiliacutebrio Para tanto Carneiro e Miguez (2011 p150) destacam a
iniciativa alematilde no controle de inundaccedilotildees em bacias hidrograacuteficas metropolitanas
[hellip] A abordagem comum consiste na regulaccedilatildeo do uso do solo nas aacutereas inundaacuteveis e em ldquodar espaccedilo para o riordquo ao inveacutes de priorizar investimentos em estruturas de proteccedilatildeo contra inundaccedilotildees como a colocaccedilatildeo de diques de contenccedilatildeo as margens dos rios A utilizaccedilatildeo do conceito de resiliecircncia apropriado de ecologia decorre dessa abordagem A aplicaccedilatildeo praacutetica do conceito implica portanto em mudanccedilas de paradigma Deixa de ser preponderante a engenharia construtiva e entra em cena o planejamento de longo prazo voltado para o desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis capazes de conviver com as variaccedilotildees do ciclo hidroloacutegico sem significar necessariamente trageacutedias anunciadas
Aleacutem dessas propostas geoacutegrafos como Sandra Cunha tecircm estudado a recuperaccedilatildeo
natural ou ldquorenaturalizaccedilatildeordquo de corpos fluviais visando promover a estabilidade dos canais
de modo mais sustentaacutevel Para ela
[hellip] Recuperaccedilatildeo de canal significa de forma simples o retorno as condiccedilotildees anteriores aos distuacuterbios Em essecircncia eacute o processo de recuperaccedilatildeo do rio ou do ecossistema fluvial estabilizando o desenvolvimento de habitats e colonizaccedilatildeo a uma taxa mais raacutepida que dos processos naturais fiacutesicos e bioloacutegicos Na recuperaccedilatildeo de canais ocorrem consideraccedilotildees de aspecto hidroloacutegico morfoloacutegico e ecoloacutegico qualidade da aacutegua esteacutetica aleacutem da necessidade de uma visatildeo integradora do projeto sustentaacutevel de recuperaccedilatildeo (CUNHA 2012 p230 a 231)
Satildeo portanto medidas pontuais como o retorno agraves sinuosidades do rio (Figura 31 p 68)
ou a substituiccedilatildeo de estruturas de concreto por superfiacutecies mais permeaacuteveis a exemplo
das trincheiras de infiltraccedilatildeo ou pavrsquos (Figura 32) aacutereas mais vegetadas aleacutem de coleta e
uso de aacutegua da chuva bem como tratamento das aacuteguas superficiais por meio de
72
amenidades esteacuteticas como reservatoacuterios de retenccedilatildeo ou detenccedilatildeo que podem ser
associados a ambientes harmocircnicos como lagos artificiais Todas estas accedilotildees possibilitam
a minimizaccedilatildeo das grandes vazotildees no solo urbano pois pretendem atenuar os impactos
das cheias fazendo com que seja resgatada parte da drenagem existente anteriormente agrave
urbanizaccedilatildeo
Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do Rio Aa Munster Alemanha (1998) Fonte Cunha (2012 p233)
Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos Fonte Carneiro e Miguez (2011 p128)
A partir do exposto cabe agrave gestatildeo municipal implementar legislaccedilotildees que priorizem a
permeabilidade possibilitando uma maior infiltraccedilatildeo das aacuteguas das chuvas atraveacutes de
pavimentaccedilotildees menos impermeaacuteveis e da ampliaccedilatildeo de aacutereas vegetadas Satildeo medidas
que tornam a drenagem mais sustentaacutevel aleacutem de possibilitar a manutenccedilatildeo dos serviccedilos
puacuteblicos de forma menos custosa tendo em vista o elevado preccedilo das recomposiccedilotildees
asfaacutelticas
1 2
73
Aleacutem disso quando se fala em controle de cheias urbanas pressupotildee-se uma seacuterie de
medidas para minimizaccedilatildeo de seus impactos desde a operaccedilatildeo de sistemas de alerta
zoneamento de aacutereas inundaacuteveis construccedilatildeo de grandes reservatoacuterios de contenccedilatildeo de
cheias e diques ateacute accedilotildees de educaccedilatildeo ambiental
Cabe pensar tambeacutem na proacutexima revisatildeo do PDM em um plano de macrodrenagem
municipal que reuacutena accedilotildees de caraacuteter estruturantes com obras hidraacuteulicas de infraestrutura
que realizem a conduccedilatildeo final das aacuteguas dos escoamentos superficiais para a minimizaccedilatildeo
das inundaccedilotildees e em medidas natildeo-estruturantes que trabalhem a consciecircncia ambiental
e proponha um zoneamento de cheias a fim de se delimitar os pontos mais fragilizados nos
defluacutevios
Por fim pensar em drenagem num contexto de ocupaccedilatildeo irregular histoacuterico requer
profissionais que aleacutem de possuir afinidade com a temaacutetica tambeacutem possam analisar os
diferentes processos que constituem o espaccedilo geograacutefico Logo este tipo de estudo deve
abarcar uma equipe multidisciplinar que percorra a anaacutelise desde o ambiental estrutural
ateacute o aspecto humano a fim de se produzir resultados que de fato contribuam com o
controle das inundaccedilotildees urbanas
74
6 CONCLUSAtildeO
A partir do recorte espacial foi possiacutevel compreender que a abordagem da geomorfologia
fluvial com a anaacutelise espaccedilo-temporal da ocupaccedilatildeo urbana possibilita a identificaccedilatildeo das
accedilotildees do homem no meio ambiente pois estas resultam na alteraccedilatildeo das paisagens
naturais e na dinacircmica da bacia hidrograacutefica Assim o Rio Doce deve ser estudado de
modo integrado ao crescimento da cidade sobretudo para compreensatildeo da produccedilatildeo do
espaccedilo geograacutefico
Analisar a inundaccedilatildeo urbana em Colatina foi satisfatoacuterio pois o municiacutepio estaacute situado no
perfil meacutedio-baixo da bacia vazante e eacute neste trecho que os reflexos das intervenccedilotildees satildeo
mais acentuados principalmente se esta parte do canal tambeacutem tiver passado por obras
que modificaram seus processos hidroloacutegicos Aleacutem disso a perspectiva geograacutefica aponta
para vaacuterias outras questotildees como erosatildeo fluvial planejamento urbano poluiccedilatildeo ambiental
crise da aacutegua que conduzem a outras discussotildees acerca da relaccedilatildeo homemnatureza
Ao demonstrar a evoluccedilatildeo espaccedilo-temporal do uso e cobertura da terra na margem direita
do Doce associando esta ocupaccedilatildeo agraves obras estruturantes que foram executadas no
canal verificamos que todas as praacuteticas adotadas para conter o transbordamento do rio
acabaram alterando sua morfologia com a retificaccedilatildeo de trechos em meandros reduzindo
a largura do corpo hiacutedrico o que favoreceu a apropriaccedilatildeo urbana de suas vaacuterzeas Aliadas
a estas questotildees estatildeo a falta de planejamento urbano e a omissatildeo diante da supressatildeo
das matas ciliares principalmente se considerados os resultados do relatoacuterio teacutecnico do
IJSN contra enchentes em 1980
Cabe destacar tambeacutem que toda a anaacutelise da ocupaccedilatildeo urbana e desnaturalizaccedilatildeo do
Rio Doce foi melhor identificada a partir dos produtos cartograacuteficos deste trabalho Pois eacute
na espacialidade dos fenocircmenos e no registro de informaccedilotildees ainda natildeo mapeadas como
os aterros que o geoacutegrafo executa a anaacutelise do seu objeto de estudo o homem e a
natureza aqui representado pela sociedade e o canal do Doce
Apesar do municiacutepio apresentar leis que resguardam os leitos dos rios desde o primeiro
PDM em 1996 nada foi feito para conter as ocupaccedilotildees irregulares beira-rio Pelo contraacuterio
estas aacutereas foram incorporadas ao Plano Diretor em 2007 com possibilidades de
ocupaccedilotildees diversas o que tem levado especuladores a valorizar o solo com vista para o
rio apontando suas qualidades esteacuteticas e teacutermicas Este fato vem aumentando o
75
percentual de aacutereas impermeaacuteveis nesta margem comprometendo ainda mais a drenagem
dos defluacutevios
Eacute na Av Beira-Rio que crescem as implantaccedilotildees de grandes empreendimentos comerciais
como supermercado Casagrande Ogil Hotel e obras de construccedilatildeo de novos arranha-
ceacuteus em um periacutemetro que jaacute eacute totalmente comprometido com os extravasamentos do Rio
Doce Estas obras ocupam grandes aacutereas e na maioria das vezes apresentam reduzida
aacuterea permeaacutevel reservando apenas o obrigatoacuterio pela lei cerca de 10 Observa-se
tambeacutem que a implantaccedilatildeo desses projetos estaacute condicionada agrave apresentaccedilatildeo e
aprovaccedilatildeo por comissatildeo na prefeitura do Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV) sendo
difiacutecil conceber que seja concedida tal licenccedila para implementaccedilatildeo de obras num trecho
de risco ambiental
Embora as diretrizes do Estatuto das Cidades para a implementaccedilatildeo do uso da terra
sustentaacutevel e os instrumentos para a regulaccedilatildeo do solo urbano sejam avanccedilados Colatina
eacute mais um exemplo da carecircncia de profissionais capacitados para estudar de modo
integrado e em niacutevel de bacia hidrograacutefica os efeitos da accedilatildeo humana num ambiente tatildeo
peculiar como as margens do Doce Por isso com os objetivos traccedilados nesta pesquisa
podemos aleacutem de compreender o fenocircmeno criar uma metodologia de anaacutelise de aacutereas
inundaacuteveis em ambientes urbanos O que permite agrave gestatildeo municipal uma diretriz para a
tomada de decisotildees
Destaca-se tambeacutem que as legislaccedilotildees aqui referenciadas supriram a discussatildeo acerca do
objeto de estudo mas outras podem contribuir para esta pesquisa a exemplo do Coacutedigo
das Aacuteguas da Poliacutetica Nacional dos Recursos Hiacutedricos das Resoluccedilotildees do Conama do
Estatuto das Cidades entre outros
Sendo assim numa revisatildeo do PDM deve-se pensar nestes aspectos da cidade desde o
histoacuterico de ocupaccedilatildeo das margens ateacute os impactos das inundaccedilotildees e o presente trabalho
auxilia com uma nova abordagem na reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo fornecendo material
cartograacutefico para subsidiar propostas de proteccedilatildeo ao curso do Doce e consequentemente
da populaccedilatildeo
Por fim deve-se destacar que o recorte estaacute inserido num contexto maior de uma bacia
hidrograacutefica que se estende aleacutem dos limites de Colatina ou do estado do Espiacuterito Santo
Esta bacia compreende a Regiatildeo Hidrograacutefica do Atlacircntico Leste e estaacute alocada tambeacutem
76
no estado de Minas Gerais o que portanto torna as accedilotildees de controle das inundaccedilotildees
mais complexas tendo em vista as divergentes politicas territoriais
77
7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
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14
1 INTRODUCcedilAtildeO
A partir da deacutecada de 1930 com a transiccedilatildeo econocircmica de um eixo agraacuterio-exportador
para um polo urbano-industrial (CARNEIRO 2008) verificou-se no Brasil a migraccedilatildeo da
maior parte da populaccedilatildeo para as cidades Isso acarretou segundo Tucci (2013 p17) uma
ldquo[] concentraccedilatildeo urbana no Brasil da ordem de 80 da populaccedilatildeo e o seu
desenvolvimento tem sido realizado de forma pouco planejada com grandes conflitos
institucionais e tecnoloacutegicos []rdquo
De acordo com Canholi (2005 p15) a expansatildeo da aacuterea urbana ldquo[] consequentemente
impermeabilizada ocorreu a partir das zonas mais baixas proacuteximas agraves vaacuterzeas dos rios
ou agrave beira-mar em direccedilatildeo agraves colinas e morros em face da necessaacuteria interaccedilatildeo da
populaccedilatildeo com os corpos hiacutedricos []rdquo Neste cenaacuterio surgem as ocupaccedilotildees irregulares
nas Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente (APP) como as da planiacutecie de inundaccedilatildeo dos rios
e os topos de morros
Essas ocupaccedilotildees desordenadas satildeo proporcionadas pela precariedade da implantaccedilatildeo e
fiscalizaccedilatildeo das legislaccedilotildees urbaniacutesticas de ordenamento territorial e ambiental Neste
contexto satildeo relevantes as pesquisas que visam correlacionar o viacutenculo
sociedadenatureza de modo a entender como a ocupaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo no
solo conecta-se com a hidrodinacircmica dos recursos naturais uma vez que ldquo[] a tendecircncia
atual do limitado planejamento urbano integrado estaacute levando as cidades a um caos
ambiental urbano com custo extremamente alto para a sociedaderdquo (TUCCI 2013 p17)
Deve-se partir do pressuposto teoacuterico articulado com a ideia anterior de ldquo[]
indissociabilidade entre natureza e sociedade []rdquo (COELHO 2013 p21) em que a
sociedade natildeo pode ser apenas entendida como populaccedilatildeo e a natureza enquanto mero
ambiente fiacutesico mas que estes dois fatores estatildeo dinamicamente produzindo o espaccedilo
geograacutefico
Neste contexto a problemaacutetica se afirma no intuito de relacionar as legislaccedilotildees urbanas
(Lei de Parcelamento do Solo 676679 e PDM) e ambientais (Novo Coacutedigo Florestal 2012)
com as suas aplicaccedilotildees ou natildeo no periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina
principalmente nos bairros que se situam na planiacutecie de inundaccedilatildeo do Rio Doce
A escolha da temaacutetica tambeacutem teve como premissa a importacircncia regional de Colatina
como entreposto comercial e logiacutestico para os municiacutepios do noroeste capixaba conforme
15
relato do Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural - PROATER (INCAPER
2011)
Exportadores de cafeacute atacadistas e as lojas de pronta entrega dinamizam o comeacutercio local que atende aos municiacutepios do norte capixaba leste de Minas Gerais e sul da Bahia representando um universo de mais de 700 mil consumidores (INCAPER 2011 p5)
De acordo ainda com o INCAPER (op cit) Colatina tem crescido a uma margem de 188
anual o que representa a tendecircncia ao ecircxodo rural sendo que a populaccedilatildeo do campo vem
diminuindo de aproximadamente 19 em 1990 passou a 12 no Censo de 2010 Diante
do exposto entra em discussatildeo o planejamento urbano pois com o crescimento da
populaccedilatildeo citadina para cerca de 88 aumentam tambeacutem as pressotildees sobre o meio
ambiente em especial as regiotildees ribeirinhas
Estas uacuteltimas refletem o aumento das atividades humanas na bacia hidrograacutefica onde
pode-se destacar as mudanccedilas induzidas pelas accedilotildees antropogecircnicas que se dividem em
diretas (aquelas que atuam no canal fluvial para controle das vazotildees a exemplo dos
reservatoacuterios e desvios de aacuteguas) e indiretas relacionadas agraves aacutereas fora dos canais por
exemplo o desmatamento e urbanizaccedilatildeo sendo que estas comprometem a descarga e
carga soacutelida do rio (PARK1981 KNIGHTON1984 apud CUNHA 2001)
O interesse pela pesquisa surge da importacircncia regional do municiacutepio dos impactos
histoacutericos humanos materiais e imateriais sofridos diante de eventos hidroloacutegicos
extremos tendo em vista o fato de o periacutemetro urbano ser cortado por um corpo fluvial de
importacircncia regional Aleacutem disso a abordagem geograacutefica possibilita a correlaccedilatildeo dos
processos fluviais com a ocupaccedilatildeo urbana de modo mais integrado (COELHO 2009)
Portanto uma das finalidades deste trabalho eacute analisar por meio das geotecnologias e das
investigaccedilotildees de campo como a ocupaccedilatildeo urbana tem interferido nas margens do Rio
Doce de modo a delimitar os sucessivos aterros na margem direita no periacutemetro do bairro
Esplanada a Colatina Velha Ademais identificar como os processos deste canal fluvial
tecircm sido afetados pela intervenccedilatildeo humana em seu leito principal
16
11 Objetivo
111 Objetivo Geral
Correlacionar os processos fluviais do Rio Doce por meio da dinacircmica geomorfoloacutegica
deste canal com o uso e cobertura da terra no setor urbano do municiacutepio de Colatina
Espiacuterito Santo Contrapondo assim as intervenccedilotildees urbanas da beira-rio com o Plano
Diretor Municipal e o Novo Coacutedigo Florestal enfatizando as diretrizes adotadas no
parcelamento do solo para a planiacutecie de inundaccedilatildeo deste rio
112 Objetivos Especiacuteficos
Identificar os vetores de crescimento urbano do municiacutepio a fim de avaliar a
evoluccedilatildeo da mancha urbana junto ao canal principal
Determinar o comprimento da borda da calha do leito regular do Rio Doce no
periacutemetro urbano de Colatina para definiccedilatildeo da largura miacutenima da faixa marginal
de preservaccedilatildeo
Espacializar as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente beira-rio previstas em lei a fim
de analisar a ocupaccedilatildeo urbana nestes espaccedilos
Cartografar os principais pontos desnaturalizados no canal principal do Rio Doce
no setor urbano de Colatina
Demonstrar como o emprego das geotecnologias auxilia no planejamento urbano
e ambiental especialmente em acircmbito municipal
17
12 Justificativa
A aacuterea de estudo corresponde ao periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina situado na
Bacia Atlacircntico trecho leste sub-bacia do Rio Doce no baixo curso (ANA 2001)
Compreende a regiatildeo noroeste do estado do Espiacuterito Santo latitude 19deg 32rsquo 16rsquorsquo S e
longitude 40deg 37rsquo 59rsquorsquo W De acordo com os dados do censo de 2010 do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio possuiacutea uma populaccedilatildeo de 111788 mil
habitantes1 numa aacuterea territorial de 1416804 kmsup2
Devido a sua privilegiada posiccedilatildeo geograacutefica limiacutetrofe com o Rio Doce e a construccedilatildeo da
Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas em 1906 Colatina compreendia os territoacuterios dos atuais
municiacutepios de Baixo Guandu Linhares Pancas Satildeo Gabriel da Palha Marilacircndia Satildeo
Domingos do Norte e Governador Lindenberg (INCAPER 2011) Soacute a partir de 2001
passou a apresentar os atuais limites municipais e configurar uma aacuterea urbana com 59
bairros (Figura 1)
Colatina eacute um municiacutepio de importacircncia para regiatildeo noroeste capixaba seja em caraacuteter
econocircmico ou social Eacute responsaacutevel pelos fluxos de cargas da regiatildeo aleacutem de ser um polo
moveleiro de confecccedilatildeo metalmecacircnico e de comeacutercio e serviccedilos gerando emprego e
renda (INCAPER 2011) Aleacutem disso tem sofrido historicamente com as cheias do Rio
Doce principalmente porque parte do seu periacutemetro urbano eacute inundado com as aacuteguas da
calha principal desse rio o que compromete toda a dinacircmica local e potildee em risco os
colatinenses
Assim diante das crescentes demandas por territoacuterio no periacutemetro urbano a populaccedilatildeo
tem suprimido a cobertura vegetal e ocupado desde as margens do Rio Doce ateacute as
encostas dos morros Em periacuteodos de cheias principalmente nos meses de outubro a
marccedilo (INCAPER 2011 ANA 2001) verificam-se inundaccedilotildees de grande parte da aacuterea
urbana beira-rio aleacutem dos movimentos de massa nas encostas Como exemplo destes
acontecimentos tecircm-se os registros fotograacuteficos dos efeitos da chuva de dezembro de 2013
(Figuras 2 e 3)
1 De acordo com o a estimativa do IBGE de 2014 publicada no DOU o municiacutepio conta com uma populaccedilatildeo de 121670 habitantes
18
Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e o canal do Rio Doce Elaborado pela autora
19
Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 Fonte Noticias UOL (2013)
Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de 2013 Fonte Folha Vitoacuteria (2013)
Este estudo portanto eacute relevante tendo em vista as raras abordagens no acircmbito das
Ciecircncias Geograacuteficas especialmente no Espiacuterito Santo de pesquisas que correlacionem
aspectos da geomorfologia fluvial por meio da dinacircmica dos recursos hiacutedricos com o uso
e cobertura da terra particularmente o Plano Diretor Municipal (PDM) Discute dessa
forma as implicaccedilotildees da atuaccedilatildeo humana nas particularidades deste ecossistema natural
tendo em vista o disposto nas legislaccedilotildees urbaniacutesticas e ambientais que visam assegurar
a qualidade de vida das populaccedilotildees
Adiante seratildeo analisados os principais fundamentos da geomorfologia fluvial os aspectos
juriacutedicos e o papel da anaacutelise geograacutefica integrada para o entendimento dos fenocircmenos
das inundaccedilotildees no Centro de Colatina uma vez que eacute devido agraves intervenccedilotildees humanas
nos canais e suas margens que esses fenocircmenos tornam-se mais nocivos a cidade
20
2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS
21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano
Recurso essencial para a manutenccedilatildeo da vida a aacutegua foi um fator relevante para o
estabelecimento histoacuterico das sociedades no entorno dos cursos hiacutedricos Utilizados para
fins de abastecimento humano e animal irrigaccedilatildeo saneamento e transporte os rios
constituiacuteram-se nos principais propulsores de penetraccedilatildeo para o interior (CUNHA 2012a)
Logo em suas margens surgiram povoados que posteriormente transformaram-se em
cidades como as que se estabeleceram agraves margens do Rio Doce a exemplo da sede de
Colatina
Diante das potencialidades que os recursos hiacutedricos possibilitam agraves sociedades
destacamos a importacircncia do estudo da Geomorfologia Fluvial que se apresenta como
campo da Geomorfologia (ciecircncia que estuda as formas do relevo) sendo o interesse
daquela a pesquisa dos processos que relacionam o escoamento das aacuteguas fluviais num
contexto de bacia hidrograacutefica (CHRISTOFOLETTI 1980 CUNHA op cit) Enfoca assim
as alteraccedilotildees na fisionomia dos canais frente agraves intervenccedilotildees no ecossistema natural
beira-rio
A Geomorfologia Fluvial parte da condicionante de que o uso e ocupaccedilatildeo da terra refletem-
se na dinacircmica da bacia de drenagem interferindo nos processos morfogeneacuteticos ou seja
de modelagem do relevo fluvial escoamento superficial das aacuteguas e no ciclo hidroloacutegico
Frente agrave temaacutetica deste estudo faz-se necessaacuterio o entendimento dos conceitos da
fisiografia fluvial aqui referente aos diferentes setores que a aacutegua pode escoar num leito
(Figura 4) como
O leito menor corresponde agrave parte do canal ocupada pelas aacuteguas e cuja frequecircncia impede o crescimento da vegetaccedilatildeo Esse tipo de leito eacute delimitado por partes bem definidas O leito de vazante equivale agrave parte do canal ocupada durante o escoamento das aacuteguas de vazante Suas aacuteguas divagam dentro do leito menor seguindo o talvegue linha de maacutexima profundidade ao longo do leito e que eacute mais bem identificada na seccedilatildeo transversal do canal O leito maior tambeacutem denominado leito maior perioacutedico ou sazonal eacute ocupado pelas aacuteguas do rio regularmente e pelo menos uma vez ao ano durante as cheias Dependendo do tempo ocorrido entre as subidas das aacuteguas eacute possiacutevel haver a fixaccedilatildeo e o crescimento da vegetaccedilatildeo herbaacutecea
21
O leito maior excepcional eacute ocupado durante as grandes cheias no decorrer das enchentes (CUNHA 2001 p 213)
Figura 4 - Tipos de leito fluvial vaacuterzea Fonte Cunha (2001 p213)
Sendo assim as aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial (leitos) aquelas inundadas pelo corpo
hiacutedrico frente a um evento hidroloacutegico extremo tambeacutem satildeo conhecidas como vaacuterzeas
planiacutecie de inundaccedilatildeo ou ainda segundo Carneiro e Miguez (2011 p133) como ldquo[] zona
de passagem de cheia []rdquo Essas aacutereas de vaacuterzeas dependem da fisionomia que o rio
apresenta e segundo Cunha (op cit) o canal fluvial pode apresentar trecircs formas
principais conhecidas como padratildeo dos canais que satildeo retiliacuteneo anastomosado e
meacircndrico (Figura 5)
Figura 5 - Padrotildees dos canais (A) retiliacuteneo (B) anastomosado (C) meandrante (A) amplitude (Rc) raio meacutedio da curvatura do meandro (segundo Bigarella etal 1979) Fonte Cunha (2001 p216)
22
Aliada aos padrotildees dos canais estaacute a assimetria ou simetria dos leitos que para Cunha
(2001 p233) relaciona-se com a variaccedilatildeo da velocidade e turbulecircncia ao longo da secccedilatildeo
transversal o que diferencia o comportamento nos canais retiliacuteneos geralmente simeacutetricos
do canal meacircndrico onde
Em canais de leito simeacutetrico em geral padratildeo retiliacuteneo a velocidade maacutexima ocorre no centro do canal diminuindo em direccedilatildeo agraves margens Em leito assimeacutetrico de padratildeo meacircndrico a zona de maacutexima velocidade e turbulecircncia localiza-se nas proximidades das margens cocircncavas decrescendo de valor em direccedilatildeo agrave margem de menor profundidade
(convexa) (CUNHA opcit p 233)
Deste modo a capacidade de erosatildeo das margens transporte e deposiccedilatildeo da carga do rio
dependem entre outros fatores da velocidade das correntes fluviais E o material do fluxo
fluvial constitui-se da descarga liacutequida ou vazatildeo que estaacute relacionada ao tamanho do
material que pode ser transportado e do volume da carga que o rio eacute capaz de carregar
Tem-se ainda a carga soacutelida sedimentos que estaacute relacionada a suspensatildeo e fundo do
rio esta decresce a jusante indicando a diminuiccedilatildeo da competecircncia do corpo fluvial As
cargas de suspensatildeo satildeo constituiacutedas de partiacuteculas finas a exemplo do silte e por fim a
carga de fundo que eacute composta por partiacuteculas de tamanhos maiores a exemplo da areia
(CUNHA2001)
Christofoletti (1980) acrescenta que os sedimentos podem ser carregados de trecircs modos
principais no fluxo em soluccedilatildeo dissolvidos nos cursos hiacutedricos em suspensatildeo como o
silte e argila e em saltaccedilatildeo geralmente a areia e cascalho que compreendem a carga do
leito do rio Destaca-se que a carga detriacutetica natildeo proveacutem apenas da erosatildeo do fundo dos
leitos e margens fluviais mas que o material intemperizado de vertentes carreado nas
enchentes contribui significativamente para a carga sedimentar transportada
Cabe ressaltar ainda que a relaccedilatildeo do arranjo espacial dos canais com os processos
fluviais (a erosatildeo o transporte e a deposiccedilatildeo de sedimentos) eacute determinante para o
trabalho dos rios Tais processos satildeo diretamente influenciados pela vazatildeo velocidade e
pela intensidade da turbulecircncia (seja no fluxo laminar ou no fluxo turbulento) A
variabilidade no comportamento da velocidade e turbulecircncia das aacuteguas ao longo da seccedilatildeo
transversal condiciona os locais preferenciais de erosatildeo e deposiccedilatildeo ao longo do curso
hiacutedrico
23
Deste modo qualquer intervenccedilatildeo na bacia e canal fluvial compromete o equiliacutebrio natural
da drenagem levando o corpo hiacutedrico a se adaptar agraves mudanccedilas em sua fisionomia
fisiografia e em seus processos ateacute atingir um novo estado de equiliacutebrio Poreacutem eacute na
planiacutecie de inundaccedilatildeo que estas modificaccedilotildees seratildeo mais percebidas pela populaccedilatildeo pois
a maior parte das obras de engenharia como as canalizaccedilotildees e as ocupaccedilotildees das
margens acaba por romper com o equiliacutebrio natural do rio alterando sua dinacircmica e
intensificando seus processos o que na maioria das vezes potencializa as enchentes no
ambiente urbano
Nesse sentido o entendimento dos processos fluviais (erosatildeo transporte e deposiccedilatildeo)
combinado com a anaacutelise da fisiografia fluvial condicionam as peculiaridades na geometria
hidraacuteulica ou seja na relaccedilatildeo entre a vazatildeo velocidade de escoamento tipos de canais
de sedimentos e a topografia Logo o conhecimento geomorfoloacutegico do rio contribui para
pesquisas que necessitem relacionar o funcionamento deste corpo natural com um
planejamento urbano mais efetivo principalmente se considerarmos um recorte em niacutevel
de bacia hidrograacutefica em espaccedilo urbano
211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial
O capiacutetulo que segue versa sobre a atuaccedilatildeo antroacutepica relacionando-a a aacuterea de estudo o
rio Doce poreacutem este trata de forma macro a temaacutetica para contextualizar o leitor sendo
as especificidades das intervenccedilotildees neste recorte geograacutefico trabalhados nos resultados
desta pesquisa
Diante do exposto eacute possiacutevel acompanhar a evoluccedilatildeo dos processos fluviais nos canais
em especial aqueles que tiveram intervenccedilotildees em seu curso natural como as hidreleacutetricas
instaladas a montante a exemplo do Rio Doce onde a interferecircncia direta na vazatildeo e fluxo
de sedimentos altera a hidrodinacircmica do rio comprometendo a erosatildeo e transporte Para
Coelho (2007 p57) as
Mudanccedilas na Declividade Perfil Longitudinal Promovidas pela construccedilatildeo de reservatoacuterio satildeo variadas e caso o efeito da contenccedilatildeo de sedimentos seja significativo os processos fluviais reduziratildeo a capacidade de transporte de sedimento podendo promover um entalhamento do leito do rio imediatamente agrave jusante da barragem
Aleacutem disso esse processo erosivo poacutes-barragem eacute intensificado favorecendo o
assoreamento e sedimentaccedilatildeo do rio a jusante O que pode beneficiar a elevaccedilatildeo da cota
24
do canal fluvial frente a eventos hidroloacutegicos extremos potencializando os efeitos das
inundaccedilotildees nas vaacuterzeas
Ao mesmo tempo o Rio Doce trecho que compreende o Espiacuterito Santo meacutediobaixo curso
eacute impactado nas vazotildees miacutenimas e maacuteximas a jusante apoacutes a instalaccedilatildeo das
barragensUsinas Hidreleacutetricas (UHE) de Mascarenhas (iniacutecio de operaccedilatildeo em 1974)
localizada no Municiacutepio de Baixo Guandu e a de Aimoreacutes (iniacutecio de operaccedilatildeo em 2005)
localizada na divisa do Espiacuterito Santo com Minas Gerais (COELHO 2007)
De acordo com Coelho (opcit) apoacutes a implantaccedilatildeo das usinas ocorreu uma reduccedilatildeo
significativa na vazatildeo da calha principal do Rio Doce conforme Graacutefico 1
Considerando o periacuteodo de 1939 a 2012 a vazatildeo miacutenima apoacutes a instalaccedilatildeo das usinas
chega a atingir 411msup3s e a maacutexima chega apenas a 1251msup3s sendo que no periacuteodo
anterior agrave instalaccedilatildeo das usinas foi registrada a miacutenima de 533 msup3s e uma maacutexima de
1812 msup3s o que ressalta o impacto do barramento sobre o corpo hiacutedrico Aleacutem do
comprometimento dos processos de erosatildeo transporte e sedimentaccedilatildeo (COELHO 2008
e CUNHA 2001)
Diante desta perda de carga liacutequida nos barramentos Cunha (2001 p 241) observa ainda
que as aacutereas a jusante de reservatoacuterios
[hellip] onde o regime do rio sofre significativas modificaccedilotildees devidas ao controle das descargas liquidas e de sedimentos no reservatoacuterio As mudanccedilas ocorridas no regime das aacuteguas neste setor do rio acarretam significativos efeitos nos processos do canal tais como o entalhe do leito a erosatildeo das margens e a deposiccedilatildeo a jusante atingindo longas distacircncias
Aleacutem disso no periacutemetro urbano de Colatina o Rio Doce sofreu outras intervenccedilotildees em
seu canal principal como a implantaccedilatildeo de obras estruturais de macrodrenagem a
exemplo da construccedilatildeo da Av Beira-Rio com intuito de conter o avanccedilo das aacuteguas fluviais
em periacuteodos de cheias
25
Graacutefico 1
Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais (Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia)
Fonte adaptado de Coelho (2007 p154)
26
Como exemplo dos tipos de intervenccedilotildees humanas nas aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial
leitos Carneiro e Miguez (2011 p117) destacam
As accedilotildees de controle e cheias urbanas podem ser classificadas em estruturais quando a paisagem eacute alterada pela accedilatildeo do homem e em natildeo estruturais aqui denominada como estruturante quando o homem aprende a conviver com as enchentes No primeiro caso estatildeo as medidas de controle atraveacutes de obras hidraacuteulicas tais como barragens diques e canais entre outras No segundo caso encontram-se medidas do tipo preventivo tais como zoneamento de aacutereas de inundaccedilatildeo sistemas de alerta educaccedilatildeo ambiental lei de parcelamento e uso dos solos e seguros contra inundaccedilatildeo
Neste cenaacuterio abarcamos os impactos das obras de engenharia como a canalizaccedilatildeo que
altera a fisionomia e fisiografia do rio refletindo-se nos processos geomorfoloacutegicos do canal
e sua planiacutecie de inundaccedilatildeo Para estes a canalizaccedilatildeo eacute uma obra estrutural que aumenta
a capacidade do fluxo do canal aleacutem de intensificar a velocidade do escoamento
superficial antecipando o pico de cheia e transferindo os alagamentos para locais a jusante
na bacia hidrograacutefica
Articulado a esta ideia Cunha (2012b) reflete a desnaturalizaccedilatildeo dos rios por meio de
obras de retificaccedilatildeo com a reduccedilatildeo do comprimento do canal e eliminaccedilatildeo das
sinuosidades Satildeo obras que afetam a estabilidade do corpo hiacutedrico na medida em que
interferem na relaccedilatildeo entre erosatildeo sedimentaccedilatildeo e deposiccedilatildeo provocando efeitos como
alteraccedilatildeo na morfologia do canal Sendo assim ldquo[hellip] a diminuiccedilatildeo da rugosidade no fundo
do canal em conjunto com a perda dos meandros e a aceleraccedilatildeo das velocidades eacute a
principal responsaacutevel pelas mudanccedilas no balanccedilo da energia natural dos sedimentos
fluviais [hellip]rdquo Cunha (2012b p178) No caso do Rio Doce trecho correspondente agrave Av
Beira-Rio alterou-se a sua forma retilinizando-a e sua vegetaccedilatildeo natural foi substituiacuteda
por estruturas de pedras o que compromete a resistecircncia ao fluxo as margens e aos
bancos arenosos
Embora as obras de canalizaccedilatildeo sejam implantadas como eficazes nos canais fluviais para
questotildees de enchentes urbanas para Cunha (op cit) estas necessitam de manutenccedilatildeo
constante envolvendo desde dragagem remoccedilatildeo de obstruccedilotildees a recomposiccedilatildeo do
material utilizado Poreacutem toda a manutenccedilatildeo estaacute associada a alteraccedilotildees morfoloacutegicas e
bioloacutegicas como as que interferem nas soleiras e depressotildees do fundo dos leitos
desestabilizando a vazatildeo no curso a exemplo da
27
ldquo[hellip] eliminaccedilatildeo da sequecircncia de depressotildees e soleiras o aumento da velocidade da corrente a diminuiccedilatildeo da diversidade de habitats o ambiente instaacutevel resultante da flutuaccedilatildeo dos niacuteveis da aacutegua e do substrato moacutevel e a maior flutuaccedilatildeo da temperatura das aacuteguasrdquo (CUNHA 2012b p180)
Ao mesmo tempo o aumento da velocidade dos escoamentos no trecho retificado
possibilita maior erosatildeo transferindo para as aacutereas a jusante uma carga soacutelida
representativa que para Cunha (op cit) configura a formaccedilatildeo de bancos axiais e depoacutesitos
de sedimentaccedilatildeo marginais alterando o equiliacutebrio dos sedimentos a jusante Pois
A jusante das obras de retificaccedilatildeo verificam-se o aumentam da carga soacutelida o assoreamento durante a dragagem a erosatildeo no canal pelos eventos torrenciais do regime e a modificaccedilatildeo na dinacircmica na foz Os sedimentos resultantes da erosatildeo no canal retificado em conjunto com a excessiva carga de sedimentos posta em suspensatildeo durante a dragagem e na fase imediata de poacutes-construccedilatildeo - quando a erosatildeo dos bancos de areia sem vegetaccedilatildeo estaacute em seu niacutevel maacuteximo - originam a formaccedilatildeo de depoacutesitos fluviais de curta duraccedilatildeo a jusante do canal retificado Logo a seguir esses depoacutesitos satildeo erodidos juntamente com as margens e o fundo do leito pelos eventos torrenciais do regime vindo a formar bancos axiais e depoacutesitos de sedimentaccedilatildeo marginais (CUNHA2012b p183)
Portanto o estudo da geomorfologia fluvial contribui diretamente para o entendimento das
cheias nas planiacutecies de inundaccedilatildeo em especial nas bacias hidrograacuteficas que
compreendem a aacuterea urbana e que possuem intervenccedilotildees antroacutepicas diretas na fisiografia
do canal principal Seus processos explicam como as alteraccedilotildees no canal fluvial podem
maximizar os efeitos dos transbordamentos impactando principalmente as populaccedilotildees
ribeirinhas aleacutem de todo ecossistema local Ademais estes fundamentos geomorfoloacutegicos
devem ser associados agrave legislaccedilatildeo vigente afim de subsidiar a elaboraccedilatildeo de instrumentos
legais para atuaccedilatildeo do poder puacuteblico nestas zonas de risco
22 Aspectos Juriacutedicos
Frente agrave crescente demanda sobre os recursos hiacutedricos e solo urbano a partir da deacutecada
de 1930 surgem as primeiras diretrizes que visam regulamentar estes ambientes a
exemplo do Coacutedigo das Aacuteguas Mas soacute a partir dos anos 1960 surgem em acircmbito federal
leis como o Coacutedigo Florestal com o intuito de regular a exploraccedilatildeo das vegetaccedilotildees e
consequentemente proteger os mananciais e em 1979 com o objetivo de ordenar as
28
cidades eacute aprovada a Lei 676679 estabelecendo as normas do parcelamento do solo
urbano
Na medida em que as populaccedilotildees aumentam ampliam-se tambeacutem as pressotildees sobre os
recursos de aacutegua e solo Os processos de uso e a conscientizaccedilatildeo de que estes elementos
satildeo finitos intensificam as formas de controle e preservaccedilatildeo passando para as esferas
estaduais e municipais a responsabilidade de atuar em escala local na proteccedilatildeo desses
ambientes
Ainda em escala federal em 2012 eacute promulgado o Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012
em substituiccedilatildeo ao coacutedigo anterior Lei 47711965 que apresenta as normas de
apropriaccedilatildeo dos recursos naturais pelas novas necessidades das populaccedilotildees citadinas e
rurais No que compete agrave aacuterea de estudo cabe destacar as ocupaccedilotildees em aacutereas de
planiacutecie de inundaccedilatildeo em que de acordo com art 4ordm devem ser preservadas
I - as faixas marginais de qualquer curso drsquoaacutegua natural perene e intermitente excluiacutedos os efecircmeros desde a borda da calha do leito regular em largura miacutenima de (Incluiacutedo pela Lei nordm 12727 de 2012) a) 30 (trinta) metros para os cursos drsquoaacutegua de menos de 10 (dez) metros de largura b) 50 (cinquenta) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura c) 100 (cem) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura d) 200 (duzentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura e) 500 (quinhentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros []
A legislaccedilatildeo eacute riacutegida no que concerne agrave ocupaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo das terras nas faixas
marginais dos rios transferindo aos estados e municiacutepios a responsabilidade de fiscalizar
estes territoacuterios para garantir a efetividade da lei A questatildeo eacute que muitas vezes somada a
falta de planejamento estas fiscalizaccedilotildees satildeo ineficientes o que tem possibilitado o
surgimento cada vez maior das ocupaccedilotildees irregulares
Apoiado tambeacutem pela Constituiccedilatildeo Federal de 1988 nos artigos 182 e 183 surge o
Estatuto das Cidades Lei 102572001 com finalidade de garantir a funccedilatildeo social da
cidade e com este os primeiros Planos Diretores Municipais (PDM) que buscam o
ordenamento do crescimento das cidades em caraacuteter socioeconocircmico e ambiental cidades
sustentaacuteveis Ademais em Colatina eacute instituiacuteda a Lei 42281996 posteriormente revogada
29
pela Lei 52732007 que ldquoInstitui o Plano Diretor do Municiacutepio de Colatina estabelece os
objetivos instrumentos e diretrizes e daacute outras providecircncias para as accedilotildees de
planejamento do Municiacutepio de Colatina []rdquo
O PDM de Colatina assim como Coacutedigo Florestal prevecirc a preservaccedilatildeo dos ecossistemas
beira-rio Aquele ainda dispotildee sobre o parcelamento do solo sustentaacutevel a funccedilatildeo social
da cidade e da propriedade conforme o Plano Diretor de Colatina de 2007 nos artigos
transcritos
Artigo 22 - As diretrizes ambientais no Municiacutepio de Colatina satildeo I - aplicar os instrumentos de gestatildeo ambiental estabelecidos nas legislaccedilotildees federal estadual e municipal bem como a criaccedilatildeo de outros instrumentos adequando-os agraves metas estabelecidas pelas poliacuteticas ambientais II - compatibilizar as diretrizes de uso ocupaccedilatildeo e parcelamento do solo aos objetivos de proteccedilatildeo ambiental dos ecossistemas [] Artigo 23 - Satildeo diretrizes do sistema de drenagem urbana I - disciplinar a ocupaccedilatildeo das cabeceiras e vaacuterzeas das bacias hidrograacuteficas do Municiacutepio preservando a vegetaccedilatildeo existente e visando agrave sua recuperaccedilatildeo [] III - definir mecanismos de fomento para usos do solo compatiacuteveis com aacutereas de interesse para drenagem tais como parques lineares aacuterea de recreaccedilatildeo e lazer hortas comunitaacuterias e manutenccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa [] V - implantar medidas natildeo-estruturais [sic] de prevenccedilatildeo de inundaccedilotildees tais como controle de erosatildeo especialmente em movimentos de terra controle de transporte e deposiccedilatildeo de entulho e lixo combate ao desmatamento assentamentos clandestinos e a outros tipos de invasotildees nas aacutereas com interesse para drenagem [] VII - garantir e respeitar a necessaacuteria permeabilidade do solo inclusive buscando alternativas de pavimentaccedilatildeo com maior de permeabilidade [sic] [] Artigo 84 ndash Satildeo objetivos do ordenamento territorial do Municiacutepio de Colatina [] IV ndash conter a expansatildeo da ocupaccedilatildeo urbana em aacutereas de proteccedilatildeo ambiental [] Artigo 120 ndash Ficam desde jaacute identificadas como Zonas de Proteccedilatildeo Ambiental 2 ndash ZPA 2 as seguintes aacutereas [] III ndash as aacutereas existentes ao longo de qualquer curso drsquoagua desde o niacutevel mais alto em faixa marginal cuja largura miacutenima seraacute de a) 15m (trinta metros) [sic] para os cursos drsquoagua com menos de 10m (10
metros) de largura contidos no periacutemetro urbano [] c) 30m (trinta metros) para os cursos drsquoagua que tenham de10m (dez
metros a 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano
[]
30
e) 50m (cinquenta metros) para os cursos drsquoagua que tenham mais de 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 60422013)
[]
De modo geral verifica-se que a legislaccedilatildeo apresenta instrumentos que permitem a
prevenccedilatildeo ou controle de ocupaccedilotildees irregulares ou clandestinas em aacuterea de APP aleacutem de
propostas para resguardar de grandes impactos ambientais o corpo hiacutedrico principal do
municiacutepio o Rio Doce Possibilitando assim a minimizaccedilatildeo dos impactos causados pelas
cheias agrave populaccedilatildeo local
Poreacutem cabe destacar que o Plano Diretor Municipal de Colatina natildeo contempla o
estipulado no Coacutedigo Florestal 2012 Lei Federal onde os cursos drsquoaacutegua com largura
superior a 600(seiscentos) metros devem ser resguardados com aacutereas de preservaccedilatildeo
permanente de 500(quinhentos) metros entre outros sendo que a redaccedilatildeo desta parte do
PDM eacute dada pela lei 60422013 posterior a publicaccedilatildeo do novo Coacutedigo Florestal Sendo
assim verifica-se que apesar da intenccedilatildeo de resguardar uma faixa de no maacuteximo
50(cinquenta) metros em periacutemetro urbano para a contenccedilatildeo de cheias e mata ciliar o
PDM de Colatina natildeo atende o miacutenimo previsto em Lei Federal O que tem impactado todo
ecossistema beira rio e a populaccedilatildeo ribeirinha uma vez que a faixa marginal de proteccedilatildeo
de 50(cinquenta) metros em muitos casos natildeo tem comportado o impacto dos defluacutevios
No entanto a legislaccedilatildeo trata de aspectos gerais natildeo pontuando as aacutereas responsaacuteveis
por cada accedilatildeo aleacutem de sua aplicabilidade depender da elaboraccedilatildeo de um cronograma de
execuccedilatildeo bem como um conjunto de planos e normas especiacuteficos para cada diretriz com
detalhamento das propostas de intervenccedilatildeo Isto natildeo ocorreu ateacute o presente
Aleacutem disso a cidade de Colatina surgiu num cenaacuterio histoacuterico anterior agraves legislaccedilotildees
urbaniacutesticas e ambientais inclusive do Coacutedigo das Aacuteguas o que dificulta a execuccedilatildeo de
um planejamento que concilie a preservaccedilatildeo das matas beira-rio garantindo a faixa de
APP com a ocupaccedilatildeo urbana consolidada
A aacuterea de estudo se apresenta como ambiente fragilizado apesar de ser regida por
legislaccedilotildees desde a escala federal ateacute a municipal que visam proteger e ordenar o uso e
cobertura da terra nas faixas marginais dos rios Mas a dificuldade das prefeituras em
aplicar os instrumentos legais nestes ambientes seja por interesses privados ou falta de
recursos para investimentos em soluccedilotildees a longo prazo continua expondo as populaccedilotildees
31
aos impactos dos eventos hidroloacutegicos criacuteticos como os que resultam nas inundaccedilotildees
Para que se alcance esse parcelamento do solo sustentaacutevel satildeo necessaacuterios esforccedilos da
gestatildeo municipal em estipular prazos e metas de atuaccedilatildeo afora interagir os diferentes
setores no planejamento em niacutevel de bacia hidrograacutefica considerando as peculiaridades
desta escala de trabalho
23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos
Sendo a ciecircncia que estuda a relaccedilatildeo homemnatureza a Geografia tem muito a contribuir
nas anaacutelises que envolvem o meio ambiente que foi transformado pela dinacircmica da
sociedade Mas historicamente a dialeacutetica das correntes fiacutesica e humana tem imperado de
modo dissociado levando o geoacutegrafo a estudar estes processos separadamente Poreacutem
se o resultado pretendido eacute integrado fazem-se necessaacuterias pesquisas mais amplas que
cruzem as diferentes vertentes geograacuteficas
Considerando que a problemaacutetica dos impactos ambientais urbanos envolve a questatildeo
natural o rio e a questatildeo social e poliacutetica a sociedade e as leis (COELHO 2013) uma
pesquisa neste acircmbito requer o entendimento destes dois objetos a fim de se apreender
o processo de crescimento das cidades brasileiras e a sua relaccedilatildeo com os recursos
hiacutedricos
A partir da deacutecada de 1950 devido ao ecircxodo rural mais intenso as cidades brasileiras
incharam rapidamente com a migraccedilatildeo do camponecircs que buscava melhores condiccedilotildees de
vida como trabalho na induacutestria o acesso agraves escolas saneamento entre outros E
segundo Gorski (2010) a populaccedilatildeo brasileira passou desde o iniacutecio deste processo de 19
milhotildees de habitantes em 1950 para 138 milhotildees de habitantes em 2000 (dados do IBGE)
o que corrobora o raacutepido crescimento das cidades
Todavia as estruturas puacuteblicas natildeo estavam preparadas para um acreacutescimo populacional
tatildeo significativo e em curto espaccedilo de tempo E o que observamos eacute o acesso limitado
dessa populaccedilatildeo agraves aacutereas centrais da cidade sendo induzida a se estabelecer nas
periferias Nesta visatildeo
O difiacutecil acesso da populaccedilatildeo de baixa renda agraves aacutereas mais centrais das cidades contribuiu segundo Raquel Rolnik para a expansatildeo da periferia o que muitas vezes implicou e implica ainda invasatildeo de aacutereas de proteccedilatildeo de mananciais com a aquiescecircncia do poder puacuteblico Esta
32
dinacircmica agravou a situaccedilatildeo de risco dos mananciais pela eliminaccedilatildeo das matas ciliares e consequentemente erosatildeo das margens dos cursos drsquoaacutegua e assoreamento de suas calhas e pela contribuiccedilatildeo do esgoto in natura (ROLNIK1997 apud GORSKI 2010 p62)
Sendo assim a supressatildeo das matas ciliares e das vegetaccedilotildees das encostas para fins de
ocupaccedilatildeo urbana interfere diretamente no ciclo hidroloacutegico diminuindo a absorccedilatildeo de
aacutegua pelo subsolo e pela evapotranspiraccedilatildeo favorecendo o escoamento superficial (Figura
6) que intensifica a velocidade de drenagem das aacuteguas Este processo nas encostas eacute
mais significativo se considerarmos que com a supressatildeo da cobertura vegetal e
impermeabilizaccedilatildeo do solo as precipitaccedilotildees acabam por lavar todo o material
intemperizado sedimentos carregando-o diretamente para o corpo hiacutedrico e contribuindo
para o assoreamento
Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento Fonte Gorski (2010 p64)
Por outro lado as ocupaccedilotildees ribeirinhas nas vaacuterzeas dos rios modificam a dinacircmica fluvial
frente aos defluacutevios A compactaccedilatildeo e o nivelamento do solo associados agrave
impermeabilizaccedilatildeo por concreto asfalto e outros materiais alteram todo o sistema de
drenagem natural e contribuem para a erosatildeo fluvial Aleacutem disso a gestatildeo puacuteblica que
33
deveria investir num parcelamento do solo sustentaacutevel resguardando ldquouma alocaccedilatildeo de
espaccedilosrdquo (CANHOLI 2005 p 15) para a drenagem acaba por colaborar com as enchentes
urbanas na medida em que decide por obras estruturais como a canalizaccedilatildeo (Figura 7
p30) e a microdrenagem que transferem os impactos das inundaccedilotildees a jusante
Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia Fonte Gorski (2010 p69)
Cabe destacar que desde 1965 com o primeiro Coacutedigo Florestal as matas beira-rio jaacute
eram resguardadas da degradaccedilatildeo humana poreacutem com todo o boom urbano a partir de
1950 a falta de estrutura e ingerecircncia municipal no que se refere ao parcelamento e uso
e ocupaccedilatildeo da terra urbana possibilitou a formaccedilatildeo dos assentamentos clandestinos em
APP e na encosta de morros Em condiccedilotildees precaacuterias sem saneamento baacutesico e demais
infraestruturas urbanas estes assentamentos acabam sendo as regiotildees mais afetadas
com as inundaccedilotildees
Junto agraves questotildees jaacute levantadas vale destacar que as aacuteguas das inundaccedilotildees propiciam o
aumento das doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica (febre tifoide hepatite leptospirose
esquistossomose entre outras) pois carregam segundo Gorski (2010) toda uma poluiccedilatildeo
difusa efluentes domeacutesticos industriais e agroindustriais aleacutem do lixo urbano da poluiccedilatildeo
do ar e das ruas
34
Por outro lado esta ocupaccedilatildeo urbana natildeo planejada perde o benefiacutecio que os corpos
hiacutedricos podem oferecer como [] as paisagens fluviais que aos poucos foram sendo
apropriadas como paisagens urbanas [] (GORSKI 2010 38) aleacutem do microclima
associado agrave umidade pela evapotranspiraccedilatildeo que ameniza a sensaccedilatildeo teacutermica local
Poreacutem conforme observado por Graeff (2011) natildeo eacute cabiacutevel atualmente implantar a
legislaccedilatildeo de APP de modo jurista Deve-se considerar toda a representatividade cultural
assentada sobre os leitos destes rios (avenidas importantes casas com arquitetura
histoacuterica entre outros) Aleacutem disso para a demarcaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo
permanente hoje eacute necessaacuteria uma anaacutelise teacutecnica pautada na geomorfologia e
hidrologia de modo a interpretar o ldquocomportamento histoacuterico dos cursos drsquoaacutegua na
paisagem prevendo cenaacuterios de impactos futurosrdquo da atividade humana sobre suas faixas
marginais
Tendo em vista que grande parte da malha urbana brasileira estaacute alocada em APPs e que
segundo Graeff (2011) estas jaacute possuem uma unidade de paisagem estabelecida e muitas
vezes secular configurando siacutetios de importacircncia cultural e apreendendo que
De modo semelhante nas demais cidades haveraacute que ser entendido o meio urbano como ele realmente eacute ndash um encontro entre as necessidades de habitaccedilatildeo com atividades humanas e de conservaccedilatildeo ambiental esta segunda tambeacutem a serviccedilo do homem e natildeo somente de objetivos difusos e distanciados da sobrevivecircncia da sociedade (GRAEFF 2011 206)
Por tais motivos o trabalho com a geomorfologia fluvial urbana deve abarcar os princiacutepios
do bom senso compreendendo que nestas aacutereas de atividade antroacutepica consolidada pode-
se fazer uso de instrumentos de engenharia avanccedilados para uma convivecircncia equilibrada
do homem com a natureza no entorno Contudo deve-se incentivar as aacutereas de expansatildeo
urbana ou zona periurbana (zonas de transiccedilatildeo da aacuterea urbana para a rural) com poliacuteticas
de incentivo a pavimentaccedilotildees mais permeaacuteveis a fim de minimizar o escoamento
superficial para o rio favorecendo a infiltraccedilatildeo
Apesar de os impactos gerados pela interferecircncia humana nas aacutereas mais fragilizadas da
bacia hidrograacutefica vaacuterzeas e encostas refletirem-se em cataacutestrofes com prejuiacutezos
humanos ambientais e urbanos alguns autores brasileiros como Canholi Graeff Cunha
Carneiro e Miguez jaacute indicaram outros caminhos para uma convivecircncia harmoniosa com
a natureza Aleacutem do mais paiacuteses desenvolvidos como a Holanda deixaram de ldquolutar contra
35
as cheiasrdquo para permitir agraves aacuteguas das enchentes a capacidade de acumular e dispersar
com impacto reduzido para as populaccedilotildees (CARNEIRO MIGUEZ 2011)
Sendo assim a proposta deste estudo eacute identificar os principais agentes que influenciam
as inundaccedilotildees entendendo seu papel e atuaccedilatildeo no contexto urbano de Colatina Mas eacute
tambeacutem a de ampliar a abordagem da temaacutetica com uma anaacutelise geograacutefica integrada
ressaltando as medidas que constam no planejamento urbano e sua aplicaccedilatildeo nas faixas
marginais do corpo hiacutedrico
36
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS
Esta pesquisa eacute constituiacuteda de trecircs etapas principais sendo que a primeira teve como
premissa a confecccedilatildeo de um fluxograma (Figura 8) de trabalho para orientar a pesquisa
em seguida teve iniacutecio o levantamento de bibliografias que abordam temas como a
geomorfologia fluvial e urbanizaccedilatildeo em Colatina adotando-se como referecircncia as
pesquisas de Coelho (2006 2007 2008 e 2009) e Albani (2012) Aleacutem disso muito
contribuiacuteram para este trabalho o relatoacuterio do INCAPER da CPRM e os dados do IBGE
Cabe destacar tambeacutem as experiecircncias com recursos hiacutedricos em ambientes urbanos de
Carneiro e Miguez (2011) em especial Cunha (2001 2012ab)
Esta etapa consistiu tambeacutem na busca de material cartograacutefico como aquisiccedilatildeo de planos
de informaccedilatildeo de limite estadual municipal bairros mancha urbana corpo drsquoaacutegua e
logradouros atraveacutes de dados disponiacuteveis no Sistema Integrado de Bases Geoespaciais
do Estado do Espiacuterito Santo (GEOBASES 2014) no Instituto Jones dos Santos Neves
(IJSN 2015) e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2014) imagens
orbitais gratuitas do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI bandas 2-3-4 e 8 (Pan) oacuterbita 216
ponto 73 com datas de passagem em 02012014 e 22032014 agraves 946 (horaacuterio central
da oacuterbita) junto ao Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2014) aleacutem do ortofotomosaico
do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hiacutedricos (IEMA 2014) do Espiacuterito
Santo referente ao voo de 2007 a 2008
Na segunda etapa foram realizadas duas investigaccedilotildees de campo sendo a primeira no
dia 24 de junho de 2014 com a finalidade de fazer o reconhecimento da aacuterea de estudo
fotografar e conversar com moradores e teacutecnicos da prefeitura O segundo trabalho de
campo ocorreu no dia 14 de fevereiro de 2015 e por meio deste foi possiacutevel identificar
pontos sujeitos a inundaccedilatildeo analisar a topografia e realizar as entrevistas com moradores
e funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina
37
Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC)
38
Na terceira etapa foram realizados os mapeamentos e processamentos de todos os planos
de informaccedilatildeo vetoriais e matriciais em ambiente de SIG no sistema ArcGis 103 iniciando
com a ediccedilatildeo dos dados do Municiacutepio e adjacecircncias que foram ajustados quando
necessaacuterio ao sistema de projeccedilatildeo UTM no Datum SIRGAS ndash 2000 na Zona 24 sul com
meridiano central -39 W com todo o mapeamento produzido seguindo a padronizaccedilatildeo
cartograacutefica proposta por Fitz (2008 a b)
O geoprocessamento teve iniacutecio com a composiccedilatildeo das imagens orbitais do Landsat-8 na
cor natural da imagem (2R 3G 4B) e por meio da teacutecnica de Pan Sharpening ou fusatildeo
de imagens a imagem cor natural foi agrupada agrave da banda 8 pancromaacutetica para obtenccedilatildeo
de uma melhor resoluccedilatildeo espacial neste caso chegando a 15 metros sendo resguardado
o conteuacutedo da imagem composta Na sequecircncia foi realizada a extraccedilatildeo da maacutescara do
periacutemetro urbano de Colatina e gerada a classificaccedilatildeo supervisionada da imagem Landsat-
8 no periacuteodo de cheia (janeiro) e vazante (marccedilo) o que possibilitou a delimitaccedilatildeo da calha
do Doce nestes dois eventos
Em seguida foram realizadas as 8 (oito) mediccedilotildees do leito regular sendo 4 (quatro) no
periacuteodo de cheia e 4 (quatro) na vazante de modo a definir a largura meacutedia da calha do
leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina Para chegar a uma medida geral
da largura do rio utilizaram-se ferramentas estatiacutesticas como a meacutedia que eacute uma medida
de tendecircncia central onde numa amostra de tamanho N constituiacuteda por elementos de x
variando de eacute possiacutevel extrair a meacutedia aritmeacutetica atraveacutes da equaccedilatildeo
A meacutedia aponta para onde mais convergem os dados de uma distribuiccedilatildeo
A partir desta definiccedilatildeo da meacutedia da largura da calha do Rio Doce foi possiacutevel em consulta
ao Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e a Lei 52732007 determinar a faixa miacutenima
de preservaccedilatildeo permanente deste corpo fluvial aleacutem da confecccedilatildeo do mapa com o
poliacutegono de APP
Mediante a anaacutelise do mapa verificou-se que grande parte dos bairros do municiacutepio estatildeo
contidos nos poliacutegonos de APP em especial a preservaccedilatildeo de 500 metros conforme lei
federal E por meio deste foram cruzados os dados de vazatildeo as fotos histoacutericas das
enchentes e o poliacutegono de mata ciliar o que permitiu o entendimento das inundaccedilotildees
39
Em ambiente de SIG tambeacutem foram vetorizados os trecircs traccedilados da Estrada de Ferro
Vitoacuteria a Minas o trajeto do Rio Santa Maria do Doce antes e depois da retilinizaccedilatildeo e os
sucessivos aterros na margem direita do Rio Doce no periacutemetro que compreende a Av
Beira-Rio
As teacutecnicas de sensoriamento remoto como a classificaccedilatildeo supervisionada permitiram a
definiccedilatildeo do poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo atraveacutes da imagem da cheia de janeiro Para
tanto foi realizada tambeacutem a classificaccedilatildeo hiacutebrida objetivando aliar a interpretaccedilatildeo visual
com a digital (JENSEN 2009) Por fim foi realizada amarraccedilatildeo com o levantamento
geodeacutesico da CPRM (2014) para garantir a precisatildeo do traccedilado do poliacutegono de cheia
A partir do tratamento dos dados bibliograacuteficos cartograacuteficos e imagens foi possiacutevel
sistematizar este trabalho o que permitiu identificar elementos histoacutericos de intervenccedilatildeo
na paisagem do Doce como os aterros e a ocupaccedilatildeo urbana As visitas de campo a
entrevista e conversas com moradores foram fundamentais para a validaccedilatildeo das
informaccedilotildees o que tornou esta metodologia eficaz para anaacutelise do fenocircmeno da inundaccedilatildeo
em Colatina
40
4 RESULTADOS
41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana
A ocupaccedilatildeo ao longo das planiacutecies de inundaccedilatildeo dos rios tem ocorrido diante da
necessidade deste recurso para as atividades vitais humanas Cunha (2012b p219)
entende que ldquosuas margens tecircm sido o centro preferido da habitaccedilatildeo humana e o
suprimento de suas aacuteguas natildeo soacute fertiliza os campos para o cultivo como tambeacutem fornece
energia e permite recreaccedilatildeordquo Logo o estabelecimento das vilas nas bordas dos cursos
drsquoaacutegua favorece a logiacutestica ocupacional
Historicamente em solo espiacuterito-santense a formaccedilatildeo das vilas ocorreu agraves margens de
estrateacutegicos cursos drsquoaacutegua e a exploraccedilatildeo do ouro de Minas Gerais para Albani (2012)
determinou que a Coroa proibisse nos seacuteculos XVII a XIX a implantaccedilatildeo de estradas e
exploraccedilatildeo de terras na Capitania do Espiacuterito Santo pois os portugueses temiam incursotildees
estrangeiras deixando assim o desenvolvimento capixaba restrito agrave faixa litoracircnea
Relegada enquanto ldquobarreira verderdquo para defesa das minas de ouro e minerais do atual
territoacuterio das Minas Gerais segundo Coelho (2007) a Capitania do Espiacuterito Santo soacute
passou a se interiorizar para o centro-oeste onde se localiza atualmente a cidade de
Colatina a partir de 1847 por meio das ocupaccedilotildees de Santa Izabel e Santa Leopoldina
que permitiram a descida do Rio Santa Maria do Doce ateacute as imediaccedilotildees da atual cidade
de Colatina
Assim foi que o movimento colonizador desceu o vale do Santa Maria do Rio Doce atingindo em 1891 a regiatildeo das matas onde hoje se acha a cidade de Colatina [] Esta penetraccedilatildeo inicial foi feita com elementos alematildees de Santa Leopoldina e no rio Doce ficou muito anos restrita agrave aacuterea inicial A expansatildeo ao longo do vale tomou impulso com a chegada a Colatina em 1906 dos trilhos da Estrada de Ferro Diamantina (atual Vitoacuteria-Minas) (STRAUCH1955 apud COELHO 2007 p105)
Sendo assim Coelho (op cit) relata que a ocupaccedilatildeo se deu atraveacutes da supressatildeo da mata
nativa no baixo curso do Rio Doce de Colatina a Linhares sendo a madeira daiacute extraiacuteda
levada ateacute o rio e encaminhada ateacute Povoaccedilatildeo vilarejo junto agrave foz de onde eram carregados
os navios Neste periacuteodo tem-se a instalaccedilatildeo de um ciclo madeireiro na regiatildeo com a
disposiccedilatildeo de serrarias nas proximidades das matas
41
Todavia somente a partir de 1906 com a chegada da estrada de ferro na regiatildeo o
transporte madeireiro foi transferido para as locomotivas Agrave medida que a implantaccedilatildeo da
Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas avanccedilava para o interior levava consigo as frentes de
desmatamento modificando as paisagens das margens do Rio Doce e se apropriando dos
espaccedilos deste rio (Figura 9)
Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906 Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce Fonte Albani (2012 p 63)
Conforme Albani (2012) com a vinda dos mineiros e fluminenses reforccedilados
posteriormente a partir de 1889 por colonizadores italianos e alematildees eacute que as
ocupaccedilotildees territoriais ocorreram de modo efetivo Atraveacutes do Barracatildeo do Rio Santa Maria
(Figura 10) espaccedilo do governo inicialmente destinado a alojar os migrantes e a produccedilatildeo
surgiram as primeiras residecircncias nas proximidades da igreja de Satildeo Sebastiatildeo Sendo
assim
Eacute importante destacar que o desenvolvimento da regiatildeo onde se encontra o municiacutepio de Colatina teve iniacutecio no final do seacuteculo XIX no nuacutecleo de colonizaccedilatildeo Antocircnio Prado localizado no distrito de Boapaba antiga vila do Mutum O nuacutecleo recebeu dezenas de famiacutelias de imigrantes italianos e ali desenvolveram atividades de agricultura e com a expansatildeo da localidade surge tambeacutem o comeacutercio (ALBANI 2012 p61) [hellip] A vila de Colatina entretanto logo passou a se transformar no principal nuacutecleo e futuramente na sede do municiacutepio Aleacutem da facilidade da produccedilatildeo atraveacutes do Rio Doce a vila de Colatina tornou-se referecircncia dos imigrantes no caminho para a colonizaccedilatildeo das terras ao norte do estado (MADURO1985 apud ALBANI 2012 p62)
42
Desse modo com o desenvolvimento das atividades de cafeicultura madeireira e do
entroncamento logiacutestico de acesso agraves aacutereas do norte a vila eacute elevada em 1921 agrave categoria
de municiacutepio A atual configuraccedilatildeo territorial foi adquirida a partir de 2001 conforme IBGE
(2014) dispondo de seis distritos Colatina (sede) Acircngelo Frechiami Baunilha Boapaba
Graccedila Aranha e Itapina
Cabe destacar poreacutem que a ocupaccedilatildeo inicial da cidade de Colatina se perfaz pela margem
direita do Rio Doce onde se localiza o atual bairro de Colatina Velha e onde havia se
instalado o Barracatildeo de Santa Maria Nesse periacuteodo a ponte ainda natildeo fora edificada
limitando assim a ocupaccedilatildeo da margem esquerda
Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da regiatildeo Fonte Albani (2012 p62)
Conforme Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p65) a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro
Vitoacuteria a Minas em 1906 (Figura 11) possibilitou a expansatildeo da cidade de Colatina e seu
desenvolvimento econocircmico Todavia sua instalaccedilatildeo paralela agrave margem direita do Rio
Doce favoreceu a localizaccedilatildeo de avenidas e ruas centrais em sua proximidade
43
Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p65)
Entretanto foi com a construccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos (Figura 12) em 1928 que a
margem direita se conectou agrave margem esquerda da cidade o que aleacutem de possibilitar a
ocupaccedilatildeo facilitou o acesso agraves regiotildees mais ao norte do Estado
Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p66)
44
Por conseguinte a estrada de ferro e a ponte foram os fatores determinantes para o
estabelecimento dos migrantes agraves margens do Rio Doce e a formaccedilatildeo do atual municiacutepio
de Colatina Contudo foi a partir desta posiccedilatildeo privilegiada que a cidade passou a ser
entreposto comercial e logiacutestico da regiatildeo noroeste e com isso sua aacuterea urbana expandiu-
se de modo desordenado inicialmente ao longo da planiacutecie de inundaccedilatildeo do Doce Coelho
(2007 p108 e 109) relata que
Os efeitos dessa urbanizaccedilatildeo (novos parcelamentos) e do desmatamento produz [sic] normalmente o aumento da velocidade das aacuteguas superficiais (pluviais) que eram antes interceptadas pelas matas com boa parte absorvida pelo solo O que ocorre geralmente nessas aacutereas eacute a chegada mais raacutepida das aacuteguas das chuvas para o tributaacuterios e calha principal do rio por fluxos concentrados que provocam processos de erosotildees do tipo laminar ravina e voccediloroca transportando quantidades expressivas de sedimentos que por sua vez causam assoreamento e a ocorrecircncia de cheias mais frequentes no rio
Com o crescimento acelerado do periacutemetro urbano proporcionado pelo apogeu do ciclo
cafeeiro as proacuteximas deacutecadas levaratildeo a cidade de Colatina a sofrer com impactos
advindos das alteraccedilotildees no ambiente fluvial do Rio Doce em especial os referentes a
ocupaccedilatildeo (impermeabilizaccedilatildeo) e desmatamento das margens (interferecircncia na drenagem
natural) conforme destacado por Coelho (2007)
Eacute fato que o municiacutepio viveu nas deacutecadas de 1940 e 1950 o auge do ciclo cafeeiro
chegando a ser no ranking brasileiro o 13ordm municiacutepio produtor de cafeacute no ano de 1947
(CAMPOS JUNIOR 2004 apud ALBANI 2012 p69) Poreacutem a partir de 1960 este boom
entrou em colapso com crise do cafeacute que assolou todo o paiacutes levando grande parte dos
pequenos proprietaacuterios rurais a migrarem para centros urbanos em especial no Espiacuterito
Santo a regiatildeo da Grande Vitoacuteria e tambeacutem para o centro de Colatina
Em razatildeo da crise cafeeira a populaccedilatildeo rural migra para centros urbanos A populaccedilatildeo migrou em grande quantidade para a Grande Vitoacuteria para fora do estado e tambeacutem para a cidade de Colatina principal aglomerado urbano da regiatildeo Esse processo provoca o aumento da aacuterea urbana de Colatina A populaccedilatildeo da cidade que era de 3913 habitantes em 1940 cresceu para 26757 habitantes em1960 (ALBANI2012 p71)
O crescimento raacutepido do centro de Colatina aliado ao aumento populacional direciona
grande parte dos migrantes para as aacutereas menos centrais da cidade levando agrave ocupaccedilatildeo
de locais irregulares como os morros e as margens direita e esquerda do Rio Doce Este
45
processo configurou a nova paisagem do municiacutepio povoando do vale agraves encostas (Figura
13)
Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes Fonte Albani (2012 p73)
Associado a este processo de reconfiguraccedilatildeo espacial nas proacuteximas deacutecadas o municiacutepio
de Colatina passaraacute por sucessivas perdas de territoacuterios ateacute atingir os limites atuais (Figura
1 p17) Aliado a estas perdas territoriais seu quantitativo absoluto populacional tambeacutem
sofreraacute impactos poreacutem de modo geral a populaccedilatildeo urbana deste municiacutepio apresentou
crescimento continuo (Graacutefico 2)
Graacutefico 2
Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 2010
Elaborado pela autora Fonte 1940 e 1950 Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p82) 1960 a 2010 IBGE
0
20000
40000
60000
80000
100000
120000
1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020
Populaccedilatildeo Urbana Colatina 1940 - 2010
46
Assim como tem ocorrido nas grandes capitais Colatina cresceu em quantitativo
populacional e territorial urbano de modo muito raacutepido e por este desenvolvimento natildeo ter
sido aliado a um planejamento urbano e ambiental sustentaacutevel a cidade tem sentido os
reflexos das suas interferecircncias ao longo do canal do Doce O que tem provocado
antecipaccedilatildeo dos picos de vazatildeo que no periacutemetro urbano ocasiona as inundaccedilotildees pois
natildeo conseguindo o rio acomodar estes defluacutevios transfere em curto espaccedilo de tempo as
aacuteguas a sua planiacutecie de inundaccedilatildeo atingindo os bairros mais antigos do municiacutepio
Por fim entender o contexto histoacuterico do crescimento da cidade revela muito do panorama
atual E por meio de uma anaacutelise conjunta da histoacuteria com os novos planejamentos eacute
possiacutevel propor intervenccedilotildees urbanas que possibilitem um conviacutevio harmonioso entre
natureza e sociedade neste caso entre o Rio Doce e o centro de Colatina Diante desta
proposta adiante apresentaremos a evoluccedilatildeo dos bairros associando seus periacuteodos de
ocupaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo espacial nas imediaccedilotildees do curso principal do Doce
411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade
Com nuacutecleo inicial de povoamento no Barracatildeo de Santa Maria a cidade de Colatina
cresce a partir deste ponto agrave margem direita do Rio Doce de onde surgem as primeiras
residecircncias comeacutercios e a igreja Atualmente a regiatildeo compreende o bairro de Colatina
Velha que de acordo com Albani (2012 p91) [hellip] ldquopode ser considerado o primeiro polo
de crescimento da cidaderdquo
Aliado ao aumento da populaccedilatildeo migrante das fazendas com a crise do cafeacute o nuacutecleo de
Colatina Velha passa a ser um ponto de passagem obrigatoacuterio para os viajantes que
vinham majoritariamente do sul uma vez que o Rio Doce configurava uma barreira natural
agrave ocupaccedilatildeo das terras ao norte Aleacutem disso a margem esquerda deste canal fluvial era
habitat dos hostis iacutendios botocudos o que dificultava a sua apropriaccedilatildeo
Sendo assim a ocupaccedilatildeo de Colatina conteve-se agrave margem direita nesta primeira fase o
que define o primeiro vetor de crescimento da cidade na direccedilatildeo leste para oeste partindo
das imediaccedilotildees do Barracatildeo de Santa Maria sentido ao Rio Santa Maria do Doce (Figura
14) E a partir de 1906 com a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas da entatildeo
Companhia Vale do Rio Doce atual Vale este vetor de crescimento se consolida e
47
proporciona o surgimento de importantes avenidas paralelas agrave ferrovia a exemplo da Av
Getuacutelio Vargas
Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de crescimento Elaborado pela autora
48
O segundo vetor do crescimento de Colatina estava condicionado agrave construccedilatildeo da ponte
Florentino Aacutevidos a qual conectou a margem direita agrave esquerda do Rio Doce permitindo
a ocupaccedilatildeo da porccedilatildeo ao norte Portanto somente a partir de 1928 com a finalizaccedilatildeo da
obra da ponte a barreira natural pocircde ser transposta o que possibilitou ao lado esquerdo
desenvolver uma nova linha de crescimento urbano com a ocupaccedilatildeo do atual bairro de
Satildeo Silvano
O terceiro vetor de crescimento estaacute associado agrave implantaccedilatildeo do bairro Luiz Iglesias na
margem direita e os de Maria das Graccedilas e Coluacutembia na margem esquerda Albani (2012)
ressalta que esta fase da ocupaccedilatildeo urbana estaacute associada ao desenvolvimento do sistema
viaacuterio como a proximidade da BR-259 sentido Vitoacuteria- Colatina da ES-80 que liga
Colatina agrave regiatildeo norte da ES-256 que a conecta a Marilacircndia e da proximidade da
estaccedilatildeo ferroviaacuteria Carlos Germano Nauman (Figura 15)
Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios e linhas feacuterreas que interceptam a cidade de Colatina Elaborado pela autora
Jaacute na quarta e mais recente linha de crescimento da cidade temos os novos loteamentos
residenciais e industriais a exemplo do de Barbados e do bairro Santa Helena que surgem
49
acompanhando o traccedilado da ponte que contorna a leste a cidade como novo acesso agrave
porccedilatildeo norte do estado Albani (2012 p118) destaca que
Apesar da construccedilatildeo da Segunda Ponte ter sido iniciada em 1986 somente foi inaugurada em 2007 A conclusatildeo da ponte e a construccedilatildeo de uma rodovia de contorno desviaram a BR-259 do centro da cidade O desvio da rodovia federal trouxe um desafogamento do tracircnsito nas principais vias da cidade e um novo direcionamento na expansatildeo urbana Alguns loteamentos surgiram nesse periacuteodo proacuteximo agrave Segunda Ponte e ao contorno na margem norte do rio principalmente no bairro Santa Helena (Figura 55) Essa situaccedilatildeo indica mais uma vez que as linhas de crescimento em Colatina satildeo orientadas pelas vias de transporte
Portanto o crescimento do periacutemetro urbano de Colatina estaacute associado agrave superaccedilatildeo das
barreiras naturais em especial o Rio Doce por meio de investimentos em obras de
engenharia que permitiram o deslocamento humano para a margem esquerda deste curso
Sem duacutevida as vias de transporte foram elementares na construccedilatildeo do periacutemetro urbano
de Colatina pois na medida que se consolidava o sistema viaacuterio as ocupaccedilotildees tambeacutem se
favoreciam destas vias de locomoccedilatildeo A evoluccedilatildeo da aacuterea urbana portanto acompanha
as principais vias de transporte (Figura 15 p45) e estas se utilizam da posiccedilatildeo estrateacutegica
e geograficamente favoraacutevel do canal do Doce para a definiccedilatildeo de seus traccedilados
Apoacutes 94 anos de emancipaccedilatildeo de Linhares o territoacuterio de Colatina eacute fundamental para a
manutenccedilatildeo dos municiacutepios do noroeste capixaba Diante desta posiccedilatildeo estrateacutegica torna-
se relevante o entendimento de como o urbano se relaciona com o meio natural a fim de
se estabelecer poliacuteticas de ordenamento territorial que promovam a qualidade de vida no
municiacutepio Adiante seraacute analisada a situaccedilatildeo da calha principal do Rio Doce elemento
fundamental na compreensatildeo do uso e cobertura da terra de Colatina
42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce
Compreendendo uma aacuterea de 3330 kmsup2 o periacutemetro urbano de Colatina eacute afetado pela
velocidade dos defluacutevios de modo que grande parte dos bairros beira-rio eacute tomada pelas
aacuteguas excedentes da calha principal do Doce o que configura o fenocircmeno de inundaccedilatildeo
Ao pesquisar estes fenocircmenos eacute necessaacuterio relacionar o uso da terra com os processos
geomorfoloacutegicos do corpo hiacutedrico Sendo assim por meio de teacutecnicas de
geoprocessamento foram realizadas oito mediccedilotildees da calha principal do Rio Doce para
50
estabelecimento da distacircncia meacutedia da largura de sua calha O resultado esteve dentro do
esperado e pode ser verificado na tabela abaixo (Tabela 1) e no mapa em sequecircncia
(Figura 16)
Tabela 1 Perfis transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de
vazante (abril) e cheia (janeiro)
Largura do rio Doce periacuteodo de vazante e cheia
Abril2013(m) Janeiro2014(m)
P1 70735 75784
P2 62080 66483
P3 59209 65804
P4 63548 67650
Meacutedia dos Perfis 62814 67066
Meacutedia Geral 66143 Obs todas as medidas estatildeo em metros
Elaborado pela autora
Figura 16 - Traccedilado dos perfis transversais da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de vazante mecircs de abril2013 Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)
51
Com uso das imagens orbitais do Landsat-8 atraveacutes da classificaccedilatildeo hiacutebrida foram
gerados dois arquivos shapefiles correspondentes agraves bordas do Doce um no periacuteodo de
vazante e outro no de cheia Por meio destes dados foram definidos quatro traccedilados para
realizaccedilatildeo das mediccedilotildees a partir destas e com auxiacutelio das medidas de tendecircncia central
chegou-se a uma largura meacutedia total de 66143m de uma margem a outra Este resultado
indicou que tanto no periacuteodo de vazante quanto no periacuteodo de cheia a largura meacutedia
aponta para a maior faixa de APP proteccedilatildeo de 500m conforme previsto na legislaccedilatildeo
federal (Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e no revogado Lei 4771 1965)
Analisando a imagem abaixo (Figura 17) observa-se que grande parte do solo
naturalmente destinado a ldquoacomodaccedilatildeordquo das aacuteguas nas cheias (linha laranja) foi
incorporado agrave sociedade como espaccedilo criado (periacutemetro urbano em APP mancha em
amarelo) destinado a fins muacuteltiplos Deste modo sem planejamento territorial adequado
grande parte da planiacutecie de inundaccedilatildeo deu lugar a outras funccedilotildees diferentes das naturais
sendo incorporada ao espaccedilo urbano
Lanccedilando o buffer (mancha em amarelo) do entorno da calha do Doce (Figura 17) observa-
se que dos 59 bairros do municiacutepio cerca de 29 estatildeo dentro da aacuterea de 500m destinada
a preservaccedilatildeo permanente pelo Coacutedigo Florestal Considerando-se a delimitaccedilatildeo da APP
prevista no PDM de 1996 e 2007 (linha laranja mais proacutexima da borda do rio) este nuacutemero
cai para 18 bairros permanecendo apenas aqueles que possuem limites com o corpo
hiacutedrico
Uma vez que que lei municipal natildeo suplanta lei federal considerar-se-aacute neste estudo o
limite da faixa marginal de proteccedilatildeo definida na Lei Federal 126512012 Deste modo a
aacuterea de preservaccedilatildeo permanente do Doce neste recorte eacute de 1085 kmsup2 compreendendo
33 do periacutemetro urbano de Colatina
Cabe destacar ainda que mesmo o PDM de 1996 contendo enquanto objetivo no Art 14
ldquoI - estabelecer a ordenaccedilatildeo do uso e da ocupaccedilatildeo do solo urbanordquo (Lei 42281996 p4)
a gestatildeo municipal natildeo obteve sucesso na implementaccedilatildeo de tal legislaccedilatildeo O que se
verifica tanto nas deacutecadas de 1990 quanto no iniacutecio dos anos 2000 quando foram
aprovados novos parcelamentos urbanos agraves margens deste canal a exemplo dos bairros
de Barbados na margem direita e do bairro Mario Giurizato na margem esquerda
52
Figura 17- Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)
53
Articulado a esta ideia e pesquisando o trecho do bairro Esplanada a Colatina Velha palco
das uacuteltimas obras estruturantes de alto porte do municiacutepio consegue-se analisar os efeitos
das inundaccedilotildees nas margens deste rio Logo implementar medidas de prevenccedilatildeo de
cheias em aacutereas com urbanizaccedilotildees antigas requer um esforccedilo da gestatildeo na regulaccedilatildeo do
solo urbano
421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie
de Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio
Interceptada pelo curso do Rio Doce no perfil mais a jusante da bacia a cerca de 100km
do estuaacuterio com o Oceano Atlacircntico a cidade de Colatina polo moveleiro e de confecccedilotildees
do centro-oeste capixaba eacute palco recorrente de inundaccedilotildees urbanas
Conforme jaacute mencionado por Cunha (2012a) este fenocircmeno ocorre quando a bacia recebe
um percentual precipitado acima da sua capacidade de escoamento o que faz o leito
menor do rio extravasar para o leito maior ocupando as aacutereas de vaacuterzeas (Figura 18 p
50) Aliadas a esta questatildeo estatildeo as ocupaccedilotildees humanas das margens dos rios que ao
suprimir a vegetaccedilatildeo natural e alterar a condiccedilatildeo fiacutesica do solo acabam por reduzir a aacuterea
de drenagem das aacuteguas pluviais acelerando o escoamento superficial para o canal
principal e favorecendo os defluacutevios
Figura 18 - Representaccedilatildeo da inundaccedilatildeo urbana Fonte adaptado da Defesa Civil do Tocantins (2015)
Este fenocircmeno tem ganhado destaque em Colatina a partir de 1979 ano em que o Rio
Doce atingiu a vazatildeo de 12860msup3s tomando toda aacuterea aplainada que compotildee seu leito
maior afetando da atual Av Beira-Rio ateacute as redondezas da Av Getuacutelio Vargas Desde
entatildeo os estudos das inundaccedilotildees urbanas satildeo relevantes no municiacutepio o que levou o
54
Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) na deacutecada de 1980 a elaborar um ldquoPlano Diretor
de Contenccedilatildeo das Enchentes Proteccedilatildeo das Encostas e Drenagem Pluvial de Colatinardquo
Tal medida apresentou seis alternativas para o fenocircmeno Poreacutem tendo em vista o custo
operacional das obras apenas a alternativa seis que previa a construccedilatildeo de diques
marginais para a proteccedilatildeo das aacutereas mais centrais foi considerada viaacutevel na eacutepoca
Todavia em entrevistas com funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina (PMC) foi
relatado que todo o estudo foi arquivado e que ateacute agora natildeo haacute previsatildeo de
implementaccedilatildeo de tais medidas Fato este que eacute evidenciado (Tabela 2 p 51) quando da
ocorrecircncia de precipitaccedilotildees intensas na bacia durante as quais sazonalmente a cidade eacute
impactada com as aacuteguas das inundaccedilotildees Isto faz com que o municiacutepio passe
recorrentemente por cataacutestrofes conforme tabela com os principais picos de vazatildeo do rio
nos uacuteltimos 50 anos
Tabela 2
Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013
Ano Diamecircs Vazatildeo(msup3s)
1961 30jan 6613
1979 04fev 12860
1997 07jan 8687
2005 03ago 6549
2013 24dez 9028
Fonte Coelho (2007 apud DALLAPICOLA 2014 p4) e CPRM (2014 p85) Observo que os dados da tabela 1 para os anos de 1979 e 2013 estatildeo baseados na estimativa de vazatildeo meacutedia diaacuteria das maacuteximas anuais obtida atraveacutes de extrapolaccedilatildeo da curva-chave pelo grupo interdisciplinar dos relatoacuterios criacuteticos anteriores
As inundaccedilotildees de 1979 1997 e recentemente 2013 (Figura 19) foram as de maior vazatildeo
neste setor do rio e consequentemente as que mais atingiram a aacuterea urbana do municiacutepio
bloqueando os acessos ao centro da cidade e aos equipamentos essenciais como
hospitais escolas e demais oacutergatildeos puacuteblicos aleacutem de desalojarem muniacutecipes e
comprometerem a sauacutede puacuteblica
55
Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de 1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 Fonte1) Nossa Colatina 2) Nossa Linda Colatina 3) Nossa Colatina
Com o propoacutesito de identificar os principais fatores que acentuam as inundaccedilotildees seraacute
analisado como os processos geomorfoloacutegicos do Doce estatildeo sendo afetados pela accedilatildeo
antroacutepica Limitaremos a anaacutelise ao periacutemetro urbano no trecho que compreende do bairro
Esplanada ateacute o bairro Colatina Velha (Figura 20) Neste periacutemetro eacute possiacutevel visualizar a
evoluccedilatildeo da mancha urbana sobre o leito do rio aleacutem de identificar na margem direita os
pontos desnaturalizados deste canal fluvial
56
Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2) Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do recorte em rosa da APP de 50m (amarelo claro) e 500m (amarelo escuro) Fonte 3) Encontra Colatina (2015)
57
O recorte em questatildeo eacute margeado pela Av Beira-Rio e estaacute situado (Figura 20) dentro do
buffer de preservaccedilatildeo permanente previsto no PDM (buffer de 50m) e no Novo Coacutedigo
Florestal (buffer de 500m) Apesar desta aacuterea ser destinada a mata nativa e ou
reflorestada a ocupaccedilatildeo urbana antecede os artigos legais o que dificulta poliacuteticas de
gestatildeo territorial em um periacutemetro ao mesmo tempo histoacuterico e com funccedilatildeo relevante no
equiliacutebrio hidroloacutegico da bacia
O periacutemetro faz parte da vaacuterzea da margem direita do Rio Doce pois encontra-se em cota
topograacutefica de 50m caracterizando sua planiacutecie Logo a aacuterea em questatildeo tem a funccedilatildeo de
acomodar as aacuteguas das cheias quando a calha principal natildeo comporta o escoamento de
grandes vazotildees Esta tarefa passa a ser prejudicada na medida em que na bacia ou no
curso original satildeo implementadas obras que interferem na morfologia do corpo hiacutedrico
principal como a instalaccedilatildeo das hidreleacutetricas de Mascarenhas (1974) e Aimoreacutes (2005) a
montante
As UHErsquos a montante comprometem os processos do rio uma vez que o regime natural de
transporte de sedimentos eacute alterado com o barramento o que favorece a erosatildeo e
consequentemente o assoreamento com a formaccedilatildeo de bancos arenosos alteraccedilatildeo do
seu perfil transversal e reduccedilatildeo da profundidade Aleacutem disso segundo Coelho (2007) as
vazotildees maacuteximas e miacutenimas foram alteradas com a implantaccedilatildeo das hidreleacutetricas a
montante implicando em vazotildees meacutedias anuais miacutenimas cada vez mais reduzidas com
valores se distanciando da linha de tendecircncia (polinocircmio) provando o natildeo equiliacutebrio da
vazatildeo apoacutes a implantaccedilatildeo das barragens (Graacutefico 1 p22)
Entretanto a primeira intervenccedilatildeo direta no trecho em estudo foi a instalaccedilatildeo da estrada
de ferro que atraiu migrantes para Colatina permitindo o crescimento populacional e a
expansatildeo urbana desordenada agraves margens do Doce Este crescimento intensificou a
supressatildeo das matas ciliares e abriu espaccedilo para a impermeabilizaccedilatildeo do solo reduzindo
a infiltraccedilatildeo
Posteriormente a inauguraccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos ampliou o fluxo na regiatildeo pois
proporcionava a ligaccedilatildeo com as terras ao norte do Estado Atuou tambeacutem como obstaacuteculo
ao transporte de sedimentos carreados no fluxo natural do rio uma vez que sua
implantaccedilatildeo altera a topografia do fundo do canal afetando os processos geomorfoloacutegicos
58
Poreacutem foi no Morro das Cabritas (colina localizada no espaccedilo que compreende o atual
bairro Esplanada) que ocorreu a primeira desnaturalizaccedilatildeo nas margens do Doce Este
morro por onde o Rio Santa Maria do Doce meandrava ateacute desaguar no Rio Doce foi
cortado em meados de 1953 para abrigar a cidade em expansatildeo Devido a esta
intervenccedilatildeo o curso original do Santa Maria foi deslocado e passou a escoar
retilineamente ateacute a foz (Figura 21)
Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponte Florentino Aacutevidos (direita) e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque em vermelho para o curso atual do Santa Maria Fonte Nossa Colatina
As intervenccedilotildees na margem direita tornam-se mais intensas a partir da deacutecada de 1960
quando no ano de 1968 edificou-se um muro visando a proteccedilatildeo dos pilares da
extremidade direita da ponte Esta obra ficou paralisada por muitos anos e foi a primeira
de retificaccedilatildeo e aterro realizada neste trecho do rio Esta intervenccedilatildeo modificou o fluxo
natural das correntes do rio e reduziu a largura da sua calha alterando a morfologia do
canal (Figura 22)
59
Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de proteccedilatildeo da ponte Elaborado pela autora Fonte fotos histoacutericas Nossa Colatina
Contudo somente em 1972 teve iniacutecio o segundo aterro (Figura 23) com a finalidade de
alocar a estaccedilatildeo rodoviaacuteria de Colatina e ampliar a aacuterea de acesso agrave ponte Florentino
Aacutevidos A implementaccedilatildeo desta obra suprimiu parte do leito do Rio Doce pois removeu a
saliecircncia cocircncava que curvava o rio retilinizando esta parte do canal
60
Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora Fonte Nossa Colatina Nossa Linda Colatina
Apoacutes dez anos sem grandes intervenccedilotildees em 1982 o lado a montante da ponte bairro
Esplanada eacute acrescido de um aterro que estenderaacute a aacuterea do antigo Morro das Cabritas
para o rio (Figura 24)
Conhecido como Rua da Lama devido agrave umidade que o rio transferia ao aterro formando
um barro viscoso que persistia a maior parte do ano o trecho atualmente compreende a
Avenida Professor Joseacute Zouian popularmente denominada Avenida Beira-Rio de onde
surge a primeira forma do calccediladatildeo que seraacute estendido ateacute o bairro Colatina Velha
61
Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o calccediladatildeo da Av Beira-Rio Elaborado pela autora Fonte Bennachio (2015)
Somente em 2004 foi implementado o maior projeto de canalizaccedilatildeo do municiacutepio Naquele
ano teve iniacutecio a execuccedilatildeo do enrocamento da Av Beira-Rio (Figura 25) obra destinada
inicialmente a alocaccedilatildeo de equipamentos puacuteblicos de lazer e cultura praccedilas preacutedios aleacutem
da promessa de contribuir para a contenccedilatildeo dos transbordamentos do Rio Doce
Apesar de o referido manancial jaacute estar comprometido com problemas de poluiccedilatildeo
assoreamento e erosatildeo aleacutem dos impactos de duas hidreleacutetricas instaladas a montante a
obra abarcou a supressatildeo da vegetaccedilatildeo ciliar e aterro de parte do rio jaacute tatildeo degradado
62
Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento iniciada em 2004 e finalizada em 2008 Elaborado pela autora Fonte proacutepria autora em 240215
Ocupando uma aacuterea total de 130 mil msup2 do leito do Rio Doce o aterro teve iniacutecio em 2004
sendo construiacutedo com cerca de 90 mil msup3 de pedras 50 mil msup3 de areia retirada do leito do
rio e por fim o nivelamento com 200 mil msup3 de terra A obra era divulgada como um antigo
sonho dos colatinenses e serviria para ampliaccedilatildeo da Av Beira-Rio no bairro de Colatina
Velha instalaccedilatildeo de ciclovias calccediladatildeo equipamentos puacuteblicos e estacionamento (Figura
26) Apesar do fim da engenharia em 2008 o projeto ainda estaacute em fase de acabamento
na parte urbaniacutestica e na alocaccedilatildeo dos oacutergatildeos puacuteblicos
Cabe destacar que a obra sofreu embargos do Ministeacuterio Puacuteblico Federal (MPF) por
apresentar apenas cadastro na Agecircncia Nacional de Aacuteguas (ANA) que conforme parecer
da Procuradora Nadja Machado Botelho na Accedilatildeo Civil Puacuteblica ldquo[hellip] equivocadamente natildeo
realizou o procedimento de outorga [hellip]rdquo (MPF 2006 p2) Aleacutem disso a procuradora
solicitou tutela tendo em vista tratar-se de aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental e o fato de o
IBAMA ter concedido licenciamento com indevida dispensa do Estudo de Impacto
Ambiental (EIA)Relatoacuterio de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA)
63
Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina Fonte Prefeitura de Colatina (2015)
Por isso essa obra deve ser considerada faraocircnica para os cofres puacuteblicos e irreversiacutevel
para os processos geomorfoloacutegicos do Doce E sua efetivaccedilatildeo soacute foi possiacutevel com a
participaccedilatildeo e investimentos do Governo estadual Contudo seu objetivo foi frustrado pois
novamente na cheia do Rio Doce em dezembro de 2013 quando este atingiu a vazatildeo de
9028 msup3s a aacuterea foi inundada e por estar em cota maior que as casas que beiravam o
rio o enrocamento atuou como represa natildeo permitindo o retorno das aacuteguas quando o niacutevel
do rio retomou o equiliacutebrio
Por fim segue um mapa siacutentese (Figura 27) com a cartografia das quatro principais
intervenccedilotildees diretas e estruturais na margem direita do Doce no setor urbano de Colatina
representando o curso natural do rio em 1950 e suas desnaturalizaccedilotildees a partir da deacutecada
de 60 ateacute a atualidade
64
Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce ante e depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora
65
422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio
O recorte em estudo compreende as Zonas ZE-1 ZE-2 e ZUD 2-1 (Figura 28 p61) sendo
a Zona Especial 1 Zona Especial 2 e Zona de Uso Diverso 2-1 destinadas no PDM (Lei
52732007)
Artigo 103 - As Zonas de Usos Diversos ndash ZUD satildeo definidas em razatildeo da concentraccedilatildeo de atividades urbanas diversificadas com predominacircncia do uso comercial e de serviccedilos Artigo 104 - Satildeo objetivos das Zonas de Usos Diversos I - otimizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do solo priorizando a instalaccedilatildeo de novos empreendimentos em terrenos natildeo edificados contiacuteguos a empreendimentos jaacute instalados II - controle da implantaccedilatildeo de usos incompatiacuteveis com os definidos para estas zonas III - garantia de licenciamento e monitoramento ambiental dos empreendimentos IV - controle da expansatildeo comercial de serviccedilos e de induacutestrias de pequeno porte em direccedilatildeo a aacutereas residenciais [] Artigo 130 - As Zonas Especiais 1 ndash ZE 1 abrangem todas as aacutereas remanescentes do municiacutepio relativamente ao zoneamento estabelecido nesta lei ocupadas ou natildeo contida na lei de periacutemetro urbano para as quais natildeo foram ainda estabelecidos os criteacuterios de uso e ocupaccedilatildeo Artigo 131 - As Zonas Especiais 2 ndash ZE 2 satildeo as aacutereas existentes no prolongamento da avenida Beira Rio mais especificamente no trecho entre o 80 Batalhatildeo da Poliacutecia Militar e a rua Pedro Epichin incluindo o espaccedilo existente entre a margem do Rio Doce e o limite das construccedilotildees localizadas na rua Pedro Epichin
Cabe destacar que mesmo sendo palco das aacutereas mais afetadas com as inundaccedilotildees do
Rio Doce a Beira-Rio tem sido alvo da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria que aproveitando-se dos
iacutendices pouco restritos da ZUD 2 (Figura 28 p62) valoriza o espaccedilo promovendo a
instalaccedilatildeo de grandes estruturas como hipermercados edifiacutecios residenciais modernos e
hotelaria
66
Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 Fonte Colatina (2007)
A aacuterea contida na ZE (Figura 28) natildeo possui criteacuterio de ocupaccedilatildeo definido na legislaccedilatildeo
atual sendo adotado o disposto na Lei 41961995 que estabelece os iacutendices urbaniacutesticos
para as aacutereas conquistadas junto ao Rio Doce e na Lei 420595 que aprova os
parcelamentos na Beira-Rio Quanto agrave ZUD 2-1 apresenta iacutendices urbaniacutesticos no anexo
118 do Plano Diretor conforme tabela 3 abaixo
67
Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1
Fonte Colatina (2007 p36)8
68
Eacute relevante observar que numa aacuterea onde o corpo hiacutedrico foi reduzido pelos sucessivos
aterros tenha sido aprovada a instalaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto (Figura
29) com taxa de ocupaccedilatildeo de ateacute 80 e com baixo iacutendice de permeabilidade Ampliou-
se a aacuterea impermeaacutevel numa regiatildeo onde a drenagem jaacute eacute muito comprometida com a
expansatildeo urbana sobre o rio
Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto na Beira-Rio Fonte imagem do Google Maps 2015 E fotos da autora em 140215
Portanto analisando o conjunto de dados apresentado acima eacute possiacutevel entender como
as inundaccedilotildees satildeo potencializadas no municiacutepio atingindo a populaccedilatildeo mas em especial
afetando a dinacircmica de um corpo hiacutedrico tatildeo relevante para o Estado A fim de subsidiar a
gestatildeo puacuteblica com material cartograacutefico para a tomada de decisotildees delimitou-se o
poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo (Figura 30) Pois devem ser adotadas medidas que
minimizem impactos de futuros eventos hidroloacutegicos na bacia capazes de comprometer
novamente a aacuterea urbana mais central de Colatina
69
Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av Beira-Rio em dezembro de 2013 Elaborado pela autora
70
Diante do poliacutegono de inundaccedilatildeo da uacuteltima cheia (Figura 30) em dezembro de 2013 eacute
possiacutevel implementar medidas de convivecircncia com as grandes vazotildees a exemplo de
paiacuteses como Holanda que vem investindo em medidas de resiliecircncia a fim de reduzir a
velocidade dos defluacutevios possibilitando ao canal a capacidade de acumular e dispersar as
aacuteguas com impacto miacutenimo para as populaccedilotildees Conforme Carneiro e Miguez (2011) a
estrateacutegia adotada pelo paiacutes eacute reter armazenar e drenar sendo mais flexiacutevel e natildeo
interferindo drasticamente na dinacircmica do corpo hiacutedrico
Por fim a implementaccedilatildeo de soluccedilotildees de planejamento urbano em Colatina requer uma
anaacutelise integrada que abarque o urbano e o ambiental de modo a propor intervenccedilotildees que
produzam impactos reduzidos nos processos geomorfoloacutegicos do Rio Doce Logo a gestatildeo
municipal deve atuar em niacutevel de bacia hidrograacutefica interagindo com os municiacutepios a
montante propondo medidas de minimizaccedilatildeo das cheias urbanas Mas na escala local
pode-se atuar junto aos novos parcelamentos de modo a ampliar o percentual de aacutereas
permeaacuteveis no municiacutepio incentivando por exemplo os novos loteamentos a adotarem
pavimentaccedilotildees que permitam a drenagem natural do solo
71
5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Partindo da ideia de que eacute possiacutevel implementar medidas que minimizem o escoamento
superficial satildeo apresentadas propostas como forma de controlar ou ao menos reduzir os
impactos das inundaccedilotildees urbanas
Embora as implementaccedilotildees histoacutericas de estruturas de proteccedilatildeo ou barreiras mais altas
tenham sido muito disseminadas atualmente estatildeo sendo suplantadas pelo gerenciamento
de inundaccedilotildees de maneira mais sustentaacutevel Deste modo as experiecircncias fora do Brasil
apontam para soluccedilotildees mais flexiacuteveis que considerem o fluxo natural do canal enquanto
um ecossistema em equiliacutebrio Para tanto Carneiro e Miguez (2011 p150) destacam a
iniciativa alematilde no controle de inundaccedilotildees em bacias hidrograacuteficas metropolitanas
[hellip] A abordagem comum consiste na regulaccedilatildeo do uso do solo nas aacutereas inundaacuteveis e em ldquodar espaccedilo para o riordquo ao inveacutes de priorizar investimentos em estruturas de proteccedilatildeo contra inundaccedilotildees como a colocaccedilatildeo de diques de contenccedilatildeo as margens dos rios A utilizaccedilatildeo do conceito de resiliecircncia apropriado de ecologia decorre dessa abordagem A aplicaccedilatildeo praacutetica do conceito implica portanto em mudanccedilas de paradigma Deixa de ser preponderante a engenharia construtiva e entra em cena o planejamento de longo prazo voltado para o desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis capazes de conviver com as variaccedilotildees do ciclo hidroloacutegico sem significar necessariamente trageacutedias anunciadas
Aleacutem dessas propostas geoacutegrafos como Sandra Cunha tecircm estudado a recuperaccedilatildeo
natural ou ldquorenaturalizaccedilatildeordquo de corpos fluviais visando promover a estabilidade dos canais
de modo mais sustentaacutevel Para ela
[hellip] Recuperaccedilatildeo de canal significa de forma simples o retorno as condiccedilotildees anteriores aos distuacuterbios Em essecircncia eacute o processo de recuperaccedilatildeo do rio ou do ecossistema fluvial estabilizando o desenvolvimento de habitats e colonizaccedilatildeo a uma taxa mais raacutepida que dos processos naturais fiacutesicos e bioloacutegicos Na recuperaccedilatildeo de canais ocorrem consideraccedilotildees de aspecto hidroloacutegico morfoloacutegico e ecoloacutegico qualidade da aacutegua esteacutetica aleacutem da necessidade de uma visatildeo integradora do projeto sustentaacutevel de recuperaccedilatildeo (CUNHA 2012 p230 a 231)
Satildeo portanto medidas pontuais como o retorno agraves sinuosidades do rio (Figura 31 p 68)
ou a substituiccedilatildeo de estruturas de concreto por superfiacutecies mais permeaacuteveis a exemplo
das trincheiras de infiltraccedilatildeo ou pavrsquos (Figura 32) aacutereas mais vegetadas aleacutem de coleta e
uso de aacutegua da chuva bem como tratamento das aacuteguas superficiais por meio de
72
amenidades esteacuteticas como reservatoacuterios de retenccedilatildeo ou detenccedilatildeo que podem ser
associados a ambientes harmocircnicos como lagos artificiais Todas estas accedilotildees possibilitam
a minimizaccedilatildeo das grandes vazotildees no solo urbano pois pretendem atenuar os impactos
das cheias fazendo com que seja resgatada parte da drenagem existente anteriormente agrave
urbanizaccedilatildeo
Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do Rio Aa Munster Alemanha (1998) Fonte Cunha (2012 p233)
Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos Fonte Carneiro e Miguez (2011 p128)
A partir do exposto cabe agrave gestatildeo municipal implementar legislaccedilotildees que priorizem a
permeabilidade possibilitando uma maior infiltraccedilatildeo das aacuteguas das chuvas atraveacutes de
pavimentaccedilotildees menos impermeaacuteveis e da ampliaccedilatildeo de aacutereas vegetadas Satildeo medidas
que tornam a drenagem mais sustentaacutevel aleacutem de possibilitar a manutenccedilatildeo dos serviccedilos
puacuteblicos de forma menos custosa tendo em vista o elevado preccedilo das recomposiccedilotildees
asfaacutelticas
1 2
73
Aleacutem disso quando se fala em controle de cheias urbanas pressupotildee-se uma seacuterie de
medidas para minimizaccedilatildeo de seus impactos desde a operaccedilatildeo de sistemas de alerta
zoneamento de aacutereas inundaacuteveis construccedilatildeo de grandes reservatoacuterios de contenccedilatildeo de
cheias e diques ateacute accedilotildees de educaccedilatildeo ambiental
Cabe pensar tambeacutem na proacutexima revisatildeo do PDM em um plano de macrodrenagem
municipal que reuacutena accedilotildees de caraacuteter estruturantes com obras hidraacuteulicas de infraestrutura
que realizem a conduccedilatildeo final das aacuteguas dos escoamentos superficiais para a minimizaccedilatildeo
das inundaccedilotildees e em medidas natildeo-estruturantes que trabalhem a consciecircncia ambiental
e proponha um zoneamento de cheias a fim de se delimitar os pontos mais fragilizados nos
defluacutevios
Por fim pensar em drenagem num contexto de ocupaccedilatildeo irregular histoacuterico requer
profissionais que aleacutem de possuir afinidade com a temaacutetica tambeacutem possam analisar os
diferentes processos que constituem o espaccedilo geograacutefico Logo este tipo de estudo deve
abarcar uma equipe multidisciplinar que percorra a anaacutelise desde o ambiental estrutural
ateacute o aspecto humano a fim de se produzir resultados que de fato contribuam com o
controle das inundaccedilotildees urbanas
74
6 CONCLUSAtildeO
A partir do recorte espacial foi possiacutevel compreender que a abordagem da geomorfologia
fluvial com a anaacutelise espaccedilo-temporal da ocupaccedilatildeo urbana possibilita a identificaccedilatildeo das
accedilotildees do homem no meio ambiente pois estas resultam na alteraccedilatildeo das paisagens
naturais e na dinacircmica da bacia hidrograacutefica Assim o Rio Doce deve ser estudado de
modo integrado ao crescimento da cidade sobretudo para compreensatildeo da produccedilatildeo do
espaccedilo geograacutefico
Analisar a inundaccedilatildeo urbana em Colatina foi satisfatoacuterio pois o municiacutepio estaacute situado no
perfil meacutedio-baixo da bacia vazante e eacute neste trecho que os reflexos das intervenccedilotildees satildeo
mais acentuados principalmente se esta parte do canal tambeacutem tiver passado por obras
que modificaram seus processos hidroloacutegicos Aleacutem disso a perspectiva geograacutefica aponta
para vaacuterias outras questotildees como erosatildeo fluvial planejamento urbano poluiccedilatildeo ambiental
crise da aacutegua que conduzem a outras discussotildees acerca da relaccedilatildeo homemnatureza
Ao demonstrar a evoluccedilatildeo espaccedilo-temporal do uso e cobertura da terra na margem direita
do Doce associando esta ocupaccedilatildeo agraves obras estruturantes que foram executadas no
canal verificamos que todas as praacuteticas adotadas para conter o transbordamento do rio
acabaram alterando sua morfologia com a retificaccedilatildeo de trechos em meandros reduzindo
a largura do corpo hiacutedrico o que favoreceu a apropriaccedilatildeo urbana de suas vaacuterzeas Aliadas
a estas questotildees estatildeo a falta de planejamento urbano e a omissatildeo diante da supressatildeo
das matas ciliares principalmente se considerados os resultados do relatoacuterio teacutecnico do
IJSN contra enchentes em 1980
Cabe destacar tambeacutem que toda a anaacutelise da ocupaccedilatildeo urbana e desnaturalizaccedilatildeo do
Rio Doce foi melhor identificada a partir dos produtos cartograacuteficos deste trabalho Pois eacute
na espacialidade dos fenocircmenos e no registro de informaccedilotildees ainda natildeo mapeadas como
os aterros que o geoacutegrafo executa a anaacutelise do seu objeto de estudo o homem e a
natureza aqui representado pela sociedade e o canal do Doce
Apesar do municiacutepio apresentar leis que resguardam os leitos dos rios desde o primeiro
PDM em 1996 nada foi feito para conter as ocupaccedilotildees irregulares beira-rio Pelo contraacuterio
estas aacutereas foram incorporadas ao Plano Diretor em 2007 com possibilidades de
ocupaccedilotildees diversas o que tem levado especuladores a valorizar o solo com vista para o
rio apontando suas qualidades esteacuteticas e teacutermicas Este fato vem aumentando o
75
percentual de aacutereas impermeaacuteveis nesta margem comprometendo ainda mais a drenagem
dos defluacutevios
Eacute na Av Beira-Rio que crescem as implantaccedilotildees de grandes empreendimentos comerciais
como supermercado Casagrande Ogil Hotel e obras de construccedilatildeo de novos arranha-
ceacuteus em um periacutemetro que jaacute eacute totalmente comprometido com os extravasamentos do Rio
Doce Estas obras ocupam grandes aacutereas e na maioria das vezes apresentam reduzida
aacuterea permeaacutevel reservando apenas o obrigatoacuterio pela lei cerca de 10 Observa-se
tambeacutem que a implantaccedilatildeo desses projetos estaacute condicionada agrave apresentaccedilatildeo e
aprovaccedilatildeo por comissatildeo na prefeitura do Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV) sendo
difiacutecil conceber que seja concedida tal licenccedila para implementaccedilatildeo de obras num trecho
de risco ambiental
Embora as diretrizes do Estatuto das Cidades para a implementaccedilatildeo do uso da terra
sustentaacutevel e os instrumentos para a regulaccedilatildeo do solo urbano sejam avanccedilados Colatina
eacute mais um exemplo da carecircncia de profissionais capacitados para estudar de modo
integrado e em niacutevel de bacia hidrograacutefica os efeitos da accedilatildeo humana num ambiente tatildeo
peculiar como as margens do Doce Por isso com os objetivos traccedilados nesta pesquisa
podemos aleacutem de compreender o fenocircmeno criar uma metodologia de anaacutelise de aacutereas
inundaacuteveis em ambientes urbanos O que permite agrave gestatildeo municipal uma diretriz para a
tomada de decisotildees
Destaca-se tambeacutem que as legislaccedilotildees aqui referenciadas supriram a discussatildeo acerca do
objeto de estudo mas outras podem contribuir para esta pesquisa a exemplo do Coacutedigo
das Aacuteguas da Poliacutetica Nacional dos Recursos Hiacutedricos das Resoluccedilotildees do Conama do
Estatuto das Cidades entre outros
Sendo assim numa revisatildeo do PDM deve-se pensar nestes aspectos da cidade desde o
histoacuterico de ocupaccedilatildeo das margens ateacute os impactos das inundaccedilotildees e o presente trabalho
auxilia com uma nova abordagem na reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo fornecendo material
cartograacutefico para subsidiar propostas de proteccedilatildeo ao curso do Doce e consequentemente
da populaccedilatildeo
Por fim deve-se destacar que o recorte estaacute inserido num contexto maior de uma bacia
hidrograacutefica que se estende aleacutem dos limites de Colatina ou do estado do Espiacuterito Santo
Esta bacia compreende a Regiatildeo Hidrograacutefica do Atlacircntico Leste e estaacute alocada tambeacutem
76
no estado de Minas Gerais o que portanto torna as accedilotildees de controle das inundaccedilotildees
mais complexas tendo em vista as divergentes politicas territoriais
77
7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
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15
relato do Programa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural - PROATER (INCAPER
2011)
Exportadores de cafeacute atacadistas e as lojas de pronta entrega dinamizam o comeacutercio local que atende aos municiacutepios do norte capixaba leste de Minas Gerais e sul da Bahia representando um universo de mais de 700 mil consumidores (INCAPER 2011 p5)
De acordo ainda com o INCAPER (op cit) Colatina tem crescido a uma margem de 188
anual o que representa a tendecircncia ao ecircxodo rural sendo que a populaccedilatildeo do campo vem
diminuindo de aproximadamente 19 em 1990 passou a 12 no Censo de 2010 Diante
do exposto entra em discussatildeo o planejamento urbano pois com o crescimento da
populaccedilatildeo citadina para cerca de 88 aumentam tambeacutem as pressotildees sobre o meio
ambiente em especial as regiotildees ribeirinhas
Estas uacuteltimas refletem o aumento das atividades humanas na bacia hidrograacutefica onde
pode-se destacar as mudanccedilas induzidas pelas accedilotildees antropogecircnicas que se dividem em
diretas (aquelas que atuam no canal fluvial para controle das vazotildees a exemplo dos
reservatoacuterios e desvios de aacuteguas) e indiretas relacionadas agraves aacutereas fora dos canais por
exemplo o desmatamento e urbanizaccedilatildeo sendo que estas comprometem a descarga e
carga soacutelida do rio (PARK1981 KNIGHTON1984 apud CUNHA 2001)
O interesse pela pesquisa surge da importacircncia regional do municiacutepio dos impactos
histoacutericos humanos materiais e imateriais sofridos diante de eventos hidroloacutegicos
extremos tendo em vista o fato de o periacutemetro urbano ser cortado por um corpo fluvial de
importacircncia regional Aleacutem disso a abordagem geograacutefica possibilita a correlaccedilatildeo dos
processos fluviais com a ocupaccedilatildeo urbana de modo mais integrado (COELHO 2009)
Portanto uma das finalidades deste trabalho eacute analisar por meio das geotecnologias e das
investigaccedilotildees de campo como a ocupaccedilatildeo urbana tem interferido nas margens do Rio
Doce de modo a delimitar os sucessivos aterros na margem direita no periacutemetro do bairro
Esplanada a Colatina Velha Ademais identificar como os processos deste canal fluvial
tecircm sido afetados pela intervenccedilatildeo humana em seu leito principal
16
11 Objetivo
111 Objetivo Geral
Correlacionar os processos fluviais do Rio Doce por meio da dinacircmica geomorfoloacutegica
deste canal com o uso e cobertura da terra no setor urbano do municiacutepio de Colatina
Espiacuterito Santo Contrapondo assim as intervenccedilotildees urbanas da beira-rio com o Plano
Diretor Municipal e o Novo Coacutedigo Florestal enfatizando as diretrizes adotadas no
parcelamento do solo para a planiacutecie de inundaccedilatildeo deste rio
112 Objetivos Especiacuteficos
Identificar os vetores de crescimento urbano do municiacutepio a fim de avaliar a
evoluccedilatildeo da mancha urbana junto ao canal principal
Determinar o comprimento da borda da calha do leito regular do Rio Doce no
periacutemetro urbano de Colatina para definiccedilatildeo da largura miacutenima da faixa marginal
de preservaccedilatildeo
Espacializar as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente beira-rio previstas em lei a fim
de analisar a ocupaccedilatildeo urbana nestes espaccedilos
Cartografar os principais pontos desnaturalizados no canal principal do Rio Doce
no setor urbano de Colatina
Demonstrar como o emprego das geotecnologias auxilia no planejamento urbano
e ambiental especialmente em acircmbito municipal
17
12 Justificativa
A aacuterea de estudo corresponde ao periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina situado na
Bacia Atlacircntico trecho leste sub-bacia do Rio Doce no baixo curso (ANA 2001)
Compreende a regiatildeo noroeste do estado do Espiacuterito Santo latitude 19deg 32rsquo 16rsquorsquo S e
longitude 40deg 37rsquo 59rsquorsquo W De acordo com os dados do censo de 2010 do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio possuiacutea uma populaccedilatildeo de 111788 mil
habitantes1 numa aacuterea territorial de 1416804 kmsup2
Devido a sua privilegiada posiccedilatildeo geograacutefica limiacutetrofe com o Rio Doce e a construccedilatildeo da
Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas em 1906 Colatina compreendia os territoacuterios dos atuais
municiacutepios de Baixo Guandu Linhares Pancas Satildeo Gabriel da Palha Marilacircndia Satildeo
Domingos do Norte e Governador Lindenberg (INCAPER 2011) Soacute a partir de 2001
passou a apresentar os atuais limites municipais e configurar uma aacuterea urbana com 59
bairros (Figura 1)
Colatina eacute um municiacutepio de importacircncia para regiatildeo noroeste capixaba seja em caraacuteter
econocircmico ou social Eacute responsaacutevel pelos fluxos de cargas da regiatildeo aleacutem de ser um polo
moveleiro de confecccedilatildeo metalmecacircnico e de comeacutercio e serviccedilos gerando emprego e
renda (INCAPER 2011) Aleacutem disso tem sofrido historicamente com as cheias do Rio
Doce principalmente porque parte do seu periacutemetro urbano eacute inundado com as aacuteguas da
calha principal desse rio o que compromete toda a dinacircmica local e potildee em risco os
colatinenses
Assim diante das crescentes demandas por territoacuterio no periacutemetro urbano a populaccedilatildeo
tem suprimido a cobertura vegetal e ocupado desde as margens do Rio Doce ateacute as
encostas dos morros Em periacuteodos de cheias principalmente nos meses de outubro a
marccedilo (INCAPER 2011 ANA 2001) verificam-se inundaccedilotildees de grande parte da aacuterea
urbana beira-rio aleacutem dos movimentos de massa nas encostas Como exemplo destes
acontecimentos tecircm-se os registros fotograacuteficos dos efeitos da chuva de dezembro de 2013
(Figuras 2 e 3)
1 De acordo com o a estimativa do IBGE de 2014 publicada no DOU o municiacutepio conta com uma populaccedilatildeo de 121670 habitantes
18
Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e o canal do Rio Doce Elaborado pela autora
19
Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 Fonte Noticias UOL (2013)
Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de 2013 Fonte Folha Vitoacuteria (2013)
Este estudo portanto eacute relevante tendo em vista as raras abordagens no acircmbito das
Ciecircncias Geograacuteficas especialmente no Espiacuterito Santo de pesquisas que correlacionem
aspectos da geomorfologia fluvial por meio da dinacircmica dos recursos hiacutedricos com o uso
e cobertura da terra particularmente o Plano Diretor Municipal (PDM) Discute dessa
forma as implicaccedilotildees da atuaccedilatildeo humana nas particularidades deste ecossistema natural
tendo em vista o disposto nas legislaccedilotildees urbaniacutesticas e ambientais que visam assegurar
a qualidade de vida das populaccedilotildees
Adiante seratildeo analisados os principais fundamentos da geomorfologia fluvial os aspectos
juriacutedicos e o papel da anaacutelise geograacutefica integrada para o entendimento dos fenocircmenos
das inundaccedilotildees no Centro de Colatina uma vez que eacute devido agraves intervenccedilotildees humanas
nos canais e suas margens que esses fenocircmenos tornam-se mais nocivos a cidade
20
2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS
21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano
Recurso essencial para a manutenccedilatildeo da vida a aacutegua foi um fator relevante para o
estabelecimento histoacuterico das sociedades no entorno dos cursos hiacutedricos Utilizados para
fins de abastecimento humano e animal irrigaccedilatildeo saneamento e transporte os rios
constituiacuteram-se nos principais propulsores de penetraccedilatildeo para o interior (CUNHA 2012a)
Logo em suas margens surgiram povoados que posteriormente transformaram-se em
cidades como as que se estabeleceram agraves margens do Rio Doce a exemplo da sede de
Colatina
Diante das potencialidades que os recursos hiacutedricos possibilitam agraves sociedades
destacamos a importacircncia do estudo da Geomorfologia Fluvial que se apresenta como
campo da Geomorfologia (ciecircncia que estuda as formas do relevo) sendo o interesse
daquela a pesquisa dos processos que relacionam o escoamento das aacuteguas fluviais num
contexto de bacia hidrograacutefica (CHRISTOFOLETTI 1980 CUNHA op cit) Enfoca assim
as alteraccedilotildees na fisionomia dos canais frente agraves intervenccedilotildees no ecossistema natural
beira-rio
A Geomorfologia Fluvial parte da condicionante de que o uso e ocupaccedilatildeo da terra refletem-
se na dinacircmica da bacia de drenagem interferindo nos processos morfogeneacuteticos ou seja
de modelagem do relevo fluvial escoamento superficial das aacuteguas e no ciclo hidroloacutegico
Frente agrave temaacutetica deste estudo faz-se necessaacuterio o entendimento dos conceitos da
fisiografia fluvial aqui referente aos diferentes setores que a aacutegua pode escoar num leito
(Figura 4) como
O leito menor corresponde agrave parte do canal ocupada pelas aacuteguas e cuja frequecircncia impede o crescimento da vegetaccedilatildeo Esse tipo de leito eacute delimitado por partes bem definidas O leito de vazante equivale agrave parte do canal ocupada durante o escoamento das aacuteguas de vazante Suas aacuteguas divagam dentro do leito menor seguindo o talvegue linha de maacutexima profundidade ao longo do leito e que eacute mais bem identificada na seccedilatildeo transversal do canal O leito maior tambeacutem denominado leito maior perioacutedico ou sazonal eacute ocupado pelas aacuteguas do rio regularmente e pelo menos uma vez ao ano durante as cheias Dependendo do tempo ocorrido entre as subidas das aacuteguas eacute possiacutevel haver a fixaccedilatildeo e o crescimento da vegetaccedilatildeo herbaacutecea
21
O leito maior excepcional eacute ocupado durante as grandes cheias no decorrer das enchentes (CUNHA 2001 p 213)
Figura 4 - Tipos de leito fluvial vaacuterzea Fonte Cunha (2001 p213)
Sendo assim as aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial (leitos) aquelas inundadas pelo corpo
hiacutedrico frente a um evento hidroloacutegico extremo tambeacutem satildeo conhecidas como vaacuterzeas
planiacutecie de inundaccedilatildeo ou ainda segundo Carneiro e Miguez (2011 p133) como ldquo[] zona
de passagem de cheia []rdquo Essas aacutereas de vaacuterzeas dependem da fisionomia que o rio
apresenta e segundo Cunha (op cit) o canal fluvial pode apresentar trecircs formas
principais conhecidas como padratildeo dos canais que satildeo retiliacuteneo anastomosado e
meacircndrico (Figura 5)
Figura 5 - Padrotildees dos canais (A) retiliacuteneo (B) anastomosado (C) meandrante (A) amplitude (Rc) raio meacutedio da curvatura do meandro (segundo Bigarella etal 1979) Fonte Cunha (2001 p216)
22
Aliada aos padrotildees dos canais estaacute a assimetria ou simetria dos leitos que para Cunha
(2001 p233) relaciona-se com a variaccedilatildeo da velocidade e turbulecircncia ao longo da secccedilatildeo
transversal o que diferencia o comportamento nos canais retiliacuteneos geralmente simeacutetricos
do canal meacircndrico onde
Em canais de leito simeacutetrico em geral padratildeo retiliacuteneo a velocidade maacutexima ocorre no centro do canal diminuindo em direccedilatildeo agraves margens Em leito assimeacutetrico de padratildeo meacircndrico a zona de maacutexima velocidade e turbulecircncia localiza-se nas proximidades das margens cocircncavas decrescendo de valor em direccedilatildeo agrave margem de menor profundidade
(convexa) (CUNHA opcit p 233)
Deste modo a capacidade de erosatildeo das margens transporte e deposiccedilatildeo da carga do rio
dependem entre outros fatores da velocidade das correntes fluviais E o material do fluxo
fluvial constitui-se da descarga liacutequida ou vazatildeo que estaacute relacionada ao tamanho do
material que pode ser transportado e do volume da carga que o rio eacute capaz de carregar
Tem-se ainda a carga soacutelida sedimentos que estaacute relacionada a suspensatildeo e fundo do
rio esta decresce a jusante indicando a diminuiccedilatildeo da competecircncia do corpo fluvial As
cargas de suspensatildeo satildeo constituiacutedas de partiacuteculas finas a exemplo do silte e por fim a
carga de fundo que eacute composta por partiacuteculas de tamanhos maiores a exemplo da areia
(CUNHA2001)
Christofoletti (1980) acrescenta que os sedimentos podem ser carregados de trecircs modos
principais no fluxo em soluccedilatildeo dissolvidos nos cursos hiacutedricos em suspensatildeo como o
silte e argila e em saltaccedilatildeo geralmente a areia e cascalho que compreendem a carga do
leito do rio Destaca-se que a carga detriacutetica natildeo proveacutem apenas da erosatildeo do fundo dos
leitos e margens fluviais mas que o material intemperizado de vertentes carreado nas
enchentes contribui significativamente para a carga sedimentar transportada
Cabe ressaltar ainda que a relaccedilatildeo do arranjo espacial dos canais com os processos
fluviais (a erosatildeo o transporte e a deposiccedilatildeo de sedimentos) eacute determinante para o
trabalho dos rios Tais processos satildeo diretamente influenciados pela vazatildeo velocidade e
pela intensidade da turbulecircncia (seja no fluxo laminar ou no fluxo turbulento) A
variabilidade no comportamento da velocidade e turbulecircncia das aacuteguas ao longo da seccedilatildeo
transversal condiciona os locais preferenciais de erosatildeo e deposiccedilatildeo ao longo do curso
hiacutedrico
23
Deste modo qualquer intervenccedilatildeo na bacia e canal fluvial compromete o equiliacutebrio natural
da drenagem levando o corpo hiacutedrico a se adaptar agraves mudanccedilas em sua fisionomia
fisiografia e em seus processos ateacute atingir um novo estado de equiliacutebrio Poreacutem eacute na
planiacutecie de inundaccedilatildeo que estas modificaccedilotildees seratildeo mais percebidas pela populaccedilatildeo pois
a maior parte das obras de engenharia como as canalizaccedilotildees e as ocupaccedilotildees das
margens acaba por romper com o equiliacutebrio natural do rio alterando sua dinacircmica e
intensificando seus processos o que na maioria das vezes potencializa as enchentes no
ambiente urbano
Nesse sentido o entendimento dos processos fluviais (erosatildeo transporte e deposiccedilatildeo)
combinado com a anaacutelise da fisiografia fluvial condicionam as peculiaridades na geometria
hidraacuteulica ou seja na relaccedilatildeo entre a vazatildeo velocidade de escoamento tipos de canais
de sedimentos e a topografia Logo o conhecimento geomorfoloacutegico do rio contribui para
pesquisas que necessitem relacionar o funcionamento deste corpo natural com um
planejamento urbano mais efetivo principalmente se considerarmos um recorte em niacutevel
de bacia hidrograacutefica em espaccedilo urbano
211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial
O capiacutetulo que segue versa sobre a atuaccedilatildeo antroacutepica relacionando-a a aacuterea de estudo o
rio Doce poreacutem este trata de forma macro a temaacutetica para contextualizar o leitor sendo
as especificidades das intervenccedilotildees neste recorte geograacutefico trabalhados nos resultados
desta pesquisa
Diante do exposto eacute possiacutevel acompanhar a evoluccedilatildeo dos processos fluviais nos canais
em especial aqueles que tiveram intervenccedilotildees em seu curso natural como as hidreleacutetricas
instaladas a montante a exemplo do Rio Doce onde a interferecircncia direta na vazatildeo e fluxo
de sedimentos altera a hidrodinacircmica do rio comprometendo a erosatildeo e transporte Para
Coelho (2007 p57) as
Mudanccedilas na Declividade Perfil Longitudinal Promovidas pela construccedilatildeo de reservatoacuterio satildeo variadas e caso o efeito da contenccedilatildeo de sedimentos seja significativo os processos fluviais reduziratildeo a capacidade de transporte de sedimento podendo promover um entalhamento do leito do rio imediatamente agrave jusante da barragem
Aleacutem disso esse processo erosivo poacutes-barragem eacute intensificado favorecendo o
assoreamento e sedimentaccedilatildeo do rio a jusante O que pode beneficiar a elevaccedilatildeo da cota
24
do canal fluvial frente a eventos hidroloacutegicos extremos potencializando os efeitos das
inundaccedilotildees nas vaacuterzeas
Ao mesmo tempo o Rio Doce trecho que compreende o Espiacuterito Santo meacutediobaixo curso
eacute impactado nas vazotildees miacutenimas e maacuteximas a jusante apoacutes a instalaccedilatildeo das
barragensUsinas Hidreleacutetricas (UHE) de Mascarenhas (iniacutecio de operaccedilatildeo em 1974)
localizada no Municiacutepio de Baixo Guandu e a de Aimoreacutes (iniacutecio de operaccedilatildeo em 2005)
localizada na divisa do Espiacuterito Santo com Minas Gerais (COELHO 2007)
De acordo com Coelho (opcit) apoacutes a implantaccedilatildeo das usinas ocorreu uma reduccedilatildeo
significativa na vazatildeo da calha principal do Rio Doce conforme Graacutefico 1
Considerando o periacuteodo de 1939 a 2012 a vazatildeo miacutenima apoacutes a instalaccedilatildeo das usinas
chega a atingir 411msup3s e a maacutexima chega apenas a 1251msup3s sendo que no periacuteodo
anterior agrave instalaccedilatildeo das usinas foi registrada a miacutenima de 533 msup3s e uma maacutexima de
1812 msup3s o que ressalta o impacto do barramento sobre o corpo hiacutedrico Aleacutem do
comprometimento dos processos de erosatildeo transporte e sedimentaccedilatildeo (COELHO 2008
e CUNHA 2001)
Diante desta perda de carga liacutequida nos barramentos Cunha (2001 p 241) observa ainda
que as aacutereas a jusante de reservatoacuterios
[hellip] onde o regime do rio sofre significativas modificaccedilotildees devidas ao controle das descargas liquidas e de sedimentos no reservatoacuterio As mudanccedilas ocorridas no regime das aacuteguas neste setor do rio acarretam significativos efeitos nos processos do canal tais como o entalhe do leito a erosatildeo das margens e a deposiccedilatildeo a jusante atingindo longas distacircncias
Aleacutem disso no periacutemetro urbano de Colatina o Rio Doce sofreu outras intervenccedilotildees em
seu canal principal como a implantaccedilatildeo de obras estruturais de macrodrenagem a
exemplo da construccedilatildeo da Av Beira-Rio com intuito de conter o avanccedilo das aacuteguas fluviais
em periacuteodos de cheias
25
Graacutefico 1
Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais (Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia)
Fonte adaptado de Coelho (2007 p154)
26
Como exemplo dos tipos de intervenccedilotildees humanas nas aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial
leitos Carneiro e Miguez (2011 p117) destacam
As accedilotildees de controle e cheias urbanas podem ser classificadas em estruturais quando a paisagem eacute alterada pela accedilatildeo do homem e em natildeo estruturais aqui denominada como estruturante quando o homem aprende a conviver com as enchentes No primeiro caso estatildeo as medidas de controle atraveacutes de obras hidraacuteulicas tais como barragens diques e canais entre outras No segundo caso encontram-se medidas do tipo preventivo tais como zoneamento de aacutereas de inundaccedilatildeo sistemas de alerta educaccedilatildeo ambiental lei de parcelamento e uso dos solos e seguros contra inundaccedilatildeo
Neste cenaacuterio abarcamos os impactos das obras de engenharia como a canalizaccedilatildeo que
altera a fisionomia e fisiografia do rio refletindo-se nos processos geomorfoloacutegicos do canal
e sua planiacutecie de inundaccedilatildeo Para estes a canalizaccedilatildeo eacute uma obra estrutural que aumenta
a capacidade do fluxo do canal aleacutem de intensificar a velocidade do escoamento
superficial antecipando o pico de cheia e transferindo os alagamentos para locais a jusante
na bacia hidrograacutefica
Articulado a esta ideia Cunha (2012b) reflete a desnaturalizaccedilatildeo dos rios por meio de
obras de retificaccedilatildeo com a reduccedilatildeo do comprimento do canal e eliminaccedilatildeo das
sinuosidades Satildeo obras que afetam a estabilidade do corpo hiacutedrico na medida em que
interferem na relaccedilatildeo entre erosatildeo sedimentaccedilatildeo e deposiccedilatildeo provocando efeitos como
alteraccedilatildeo na morfologia do canal Sendo assim ldquo[hellip] a diminuiccedilatildeo da rugosidade no fundo
do canal em conjunto com a perda dos meandros e a aceleraccedilatildeo das velocidades eacute a
principal responsaacutevel pelas mudanccedilas no balanccedilo da energia natural dos sedimentos
fluviais [hellip]rdquo Cunha (2012b p178) No caso do Rio Doce trecho correspondente agrave Av
Beira-Rio alterou-se a sua forma retilinizando-a e sua vegetaccedilatildeo natural foi substituiacuteda
por estruturas de pedras o que compromete a resistecircncia ao fluxo as margens e aos
bancos arenosos
Embora as obras de canalizaccedilatildeo sejam implantadas como eficazes nos canais fluviais para
questotildees de enchentes urbanas para Cunha (op cit) estas necessitam de manutenccedilatildeo
constante envolvendo desde dragagem remoccedilatildeo de obstruccedilotildees a recomposiccedilatildeo do
material utilizado Poreacutem toda a manutenccedilatildeo estaacute associada a alteraccedilotildees morfoloacutegicas e
bioloacutegicas como as que interferem nas soleiras e depressotildees do fundo dos leitos
desestabilizando a vazatildeo no curso a exemplo da
27
ldquo[hellip] eliminaccedilatildeo da sequecircncia de depressotildees e soleiras o aumento da velocidade da corrente a diminuiccedilatildeo da diversidade de habitats o ambiente instaacutevel resultante da flutuaccedilatildeo dos niacuteveis da aacutegua e do substrato moacutevel e a maior flutuaccedilatildeo da temperatura das aacuteguasrdquo (CUNHA 2012b p180)
Ao mesmo tempo o aumento da velocidade dos escoamentos no trecho retificado
possibilita maior erosatildeo transferindo para as aacutereas a jusante uma carga soacutelida
representativa que para Cunha (op cit) configura a formaccedilatildeo de bancos axiais e depoacutesitos
de sedimentaccedilatildeo marginais alterando o equiliacutebrio dos sedimentos a jusante Pois
A jusante das obras de retificaccedilatildeo verificam-se o aumentam da carga soacutelida o assoreamento durante a dragagem a erosatildeo no canal pelos eventos torrenciais do regime e a modificaccedilatildeo na dinacircmica na foz Os sedimentos resultantes da erosatildeo no canal retificado em conjunto com a excessiva carga de sedimentos posta em suspensatildeo durante a dragagem e na fase imediata de poacutes-construccedilatildeo - quando a erosatildeo dos bancos de areia sem vegetaccedilatildeo estaacute em seu niacutevel maacuteximo - originam a formaccedilatildeo de depoacutesitos fluviais de curta duraccedilatildeo a jusante do canal retificado Logo a seguir esses depoacutesitos satildeo erodidos juntamente com as margens e o fundo do leito pelos eventos torrenciais do regime vindo a formar bancos axiais e depoacutesitos de sedimentaccedilatildeo marginais (CUNHA2012b p183)
Portanto o estudo da geomorfologia fluvial contribui diretamente para o entendimento das
cheias nas planiacutecies de inundaccedilatildeo em especial nas bacias hidrograacuteficas que
compreendem a aacuterea urbana e que possuem intervenccedilotildees antroacutepicas diretas na fisiografia
do canal principal Seus processos explicam como as alteraccedilotildees no canal fluvial podem
maximizar os efeitos dos transbordamentos impactando principalmente as populaccedilotildees
ribeirinhas aleacutem de todo ecossistema local Ademais estes fundamentos geomorfoloacutegicos
devem ser associados agrave legislaccedilatildeo vigente afim de subsidiar a elaboraccedilatildeo de instrumentos
legais para atuaccedilatildeo do poder puacuteblico nestas zonas de risco
22 Aspectos Juriacutedicos
Frente agrave crescente demanda sobre os recursos hiacutedricos e solo urbano a partir da deacutecada
de 1930 surgem as primeiras diretrizes que visam regulamentar estes ambientes a
exemplo do Coacutedigo das Aacuteguas Mas soacute a partir dos anos 1960 surgem em acircmbito federal
leis como o Coacutedigo Florestal com o intuito de regular a exploraccedilatildeo das vegetaccedilotildees e
consequentemente proteger os mananciais e em 1979 com o objetivo de ordenar as
28
cidades eacute aprovada a Lei 676679 estabelecendo as normas do parcelamento do solo
urbano
Na medida em que as populaccedilotildees aumentam ampliam-se tambeacutem as pressotildees sobre os
recursos de aacutegua e solo Os processos de uso e a conscientizaccedilatildeo de que estes elementos
satildeo finitos intensificam as formas de controle e preservaccedilatildeo passando para as esferas
estaduais e municipais a responsabilidade de atuar em escala local na proteccedilatildeo desses
ambientes
Ainda em escala federal em 2012 eacute promulgado o Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012
em substituiccedilatildeo ao coacutedigo anterior Lei 47711965 que apresenta as normas de
apropriaccedilatildeo dos recursos naturais pelas novas necessidades das populaccedilotildees citadinas e
rurais No que compete agrave aacuterea de estudo cabe destacar as ocupaccedilotildees em aacutereas de
planiacutecie de inundaccedilatildeo em que de acordo com art 4ordm devem ser preservadas
I - as faixas marginais de qualquer curso drsquoaacutegua natural perene e intermitente excluiacutedos os efecircmeros desde a borda da calha do leito regular em largura miacutenima de (Incluiacutedo pela Lei nordm 12727 de 2012) a) 30 (trinta) metros para os cursos drsquoaacutegua de menos de 10 (dez) metros de largura b) 50 (cinquenta) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura c) 100 (cem) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura d) 200 (duzentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura e) 500 (quinhentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros []
A legislaccedilatildeo eacute riacutegida no que concerne agrave ocupaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo das terras nas faixas
marginais dos rios transferindo aos estados e municiacutepios a responsabilidade de fiscalizar
estes territoacuterios para garantir a efetividade da lei A questatildeo eacute que muitas vezes somada a
falta de planejamento estas fiscalizaccedilotildees satildeo ineficientes o que tem possibilitado o
surgimento cada vez maior das ocupaccedilotildees irregulares
Apoiado tambeacutem pela Constituiccedilatildeo Federal de 1988 nos artigos 182 e 183 surge o
Estatuto das Cidades Lei 102572001 com finalidade de garantir a funccedilatildeo social da
cidade e com este os primeiros Planos Diretores Municipais (PDM) que buscam o
ordenamento do crescimento das cidades em caraacuteter socioeconocircmico e ambiental cidades
sustentaacuteveis Ademais em Colatina eacute instituiacuteda a Lei 42281996 posteriormente revogada
29
pela Lei 52732007 que ldquoInstitui o Plano Diretor do Municiacutepio de Colatina estabelece os
objetivos instrumentos e diretrizes e daacute outras providecircncias para as accedilotildees de
planejamento do Municiacutepio de Colatina []rdquo
O PDM de Colatina assim como Coacutedigo Florestal prevecirc a preservaccedilatildeo dos ecossistemas
beira-rio Aquele ainda dispotildee sobre o parcelamento do solo sustentaacutevel a funccedilatildeo social
da cidade e da propriedade conforme o Plano Diretor de Colatina de 2007 nos artigos
transcritos
Artigo 22 - As diretrizes ambientais no Municiacutepio de Colatina satildeo I - aplicar os instrumentos de gestatildeo ambiental estabelecidos nas legislaccedilotildees federal estadual e municipal bem como a criaccedilatildeo de outros instrumentos adequando-os agraves metas estabelecidas pelas poliacuteticas ambientais II - compatibilizar as diretrizes de uso ocupaccedilatildeo e parcelamento do solo aos objetivos de proteccedilatildeo ambiental dos ecossistemas [] Artigo 23 - Satildeo diretrizes do sistema de drenagem urbana I - disciplinar a ocupaccedilatildeo das cabeceiras e vaacuterzeas das bacias hidrograacuteficas do Municiacutepio preservando a vegetaccedilatildeo existente e visando agrave sua recuperaccedilatildeo [] III - definir mecanismos de fomento para usos do solo compatiacuteveis com aacutereas de interesse para drenagem tais como parques lineares aacuterea de recreaccedilatildeo e lazer hortas comunitaacuterias e manutenccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa [] V - implantar medidas natildeo-estruturais [sic] de prevenccedilatildeo de inundaccedilotildees tais como controle de erosatildeo especialmente em movimentos de terra controle de transporte e deposiccedilatildeo de entulho e lixo combate ao desmatamento assentamentos clandestinos e a outros tipos de invasotildees nas aacutereas com interesse para drenagem [] VII - garantir e respeitar a necessaacuteria permeabilidade do solo inclusive buscando alternativas de pavimentaccedilatildeo com maior de permeabilidade [sic] [] Artigo 84 ndash Satildeo objetivos do ordenamento territorial do Municiacutepio de Colatina [] IV ndash conter a expansatildeo da ocupaccedilatildeo urbana em aacutereas de proteccedilatildeo ambiental [] Artigo 120 ndash Ficam desde jaacute identificadas como Zonas de Proteccedilatildeo Ambiental 2 ndash ZPA 2 as seguintes aacutereas [] III ndash as aacutereas existentes ao longo de qualquer curso drsquoagua desde o niacutevel mais alto em faixa marginal cuja largura miacutenima seraacute de a) 15m (trinta metros) [sic] para os cursos drsquoagua com menos de 10m (10
metros) de largura contidos no periacutemetro urbano [] c) 30m (trinta metros) para os cursos drsquoagua que tenham de10m (dez
metros a 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano
[]
30
e) 50m (cinquenta metros) para os cursos drsquoagua que tenham mais de 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 60422013)
[]
De modo geral verifica-se que a legislaccedilatildeo apresenta instrumentos que permitem a
prevenccedilatildeo ou controle de ocupaccedilotildees irregulares ou clandestinas em aacuterea de APP aleacutem de
propostas para resguardar de grandes impactos ambientais o corpo hiacutedrico principal do
municiacutepio o Rio Doce Possibilitando assim a minimizaccedilatildeo dos impactos causados pelas
cheias agrave populaccedilatildeo local
Poreacutem cabe destacar que o Plano Diretor Municipal de Colatina natildeo contempla o
estipulado no Coacutedigo Florestal 2012 Lei Federal onde os cursos drsquoaacutegua com largura
superior a 600(seiscentos) metros devem ser resguardados com aacutereas de preservaccedilatildeo
permanente de 500(quinhentos) metros entre outros sendo que a redaccedilatildeo desta parte do
PDM eacute dada pela lei 60422013 posterior a publicaccedilatildeo do novo Coacutedigo Florestal Sendo
assim verifica-se que apesar da intenccedilatildeo de resguardar uma faixa de no maacuteximo
50(cinquenta) metros em periacutemetro urbano para a contenccedilatildeo de cheias e mata ciliar o
PDM de Colatina natildeo atende o miacutenimo previsto em Lei Federal O que tem impactado todo
ecossistema beira rio e a populaccedilatildeo ribeirinha uma vez que a faixa marginal de proteccedilatildeo
de 50(cinquenta) metros em muitos casos natildeo tem comportado o impacto dos defluacutevios
No entanto a legislaccedilatildeo trata de aspectos gerais natildeo pontuando as aacutereas responsaacuteveis
por cada accedilatildeo aleacutem de sua aplicabilidade depender da elaboraccedilatildeo de um cronograma de
execuccedilatildeo bem como um conjunto de planos e normas especiacuteficos para cada diretriz com
detalhamento das propostas de intervenccedilatildeo Isto natildeo ocorreu ateacute o presente
Aleacutem disso a cidade de Colatina surgiu num cenaacuterio histoacuterico anterior agraves legislaccedilotildees
urbaniacutesticas e ambientais inclusive do Coacutedigo das Aacuteguas o que dificulta a execuccedilatildeo de
um planejamento que concilie a preservaccedilatildeo das matas beira-rio garantindo a faixa de
APP com a ocupaccedilatildeo urbana consolidada
A aacuterea de estudo se apresenta como ambiente fragilizado apesar de ser regida por
legislaccedilotildees desde a escala federal ateacute a municipal que visam proteger e ordenar o uso e
cobertura da terra nas faixas marginais dos rios Mas a dificuldade das prefeituras em
aplicar os instrumentos legais nestes ambientes seja por interesses privados ou falta de
recursos para investimentos em soluccedilotildees a longo prazo continua expondo as populaccedilotildees
31
aos impactos dos eventos hidroloacutegicos criacuteticos como os que resultam nas inundaccedilotildees
Para que se alcance esse parcelamento do solo sustentaacutevel satildeo necessaacuterios esforccedilos da
gestatildeo municipal em estipular prazos e metas de atuaccedilatildeo afora interagir os diferentes
setores no planejamento em niacutevel de bacia hidrograacutefica considerando as peculiaridades
desta escala de trabalho
23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos
Sendo a ciecircncia que estuda a relaccedilatildeo homemnatureza a Geografia tem muito a contribuir
nas anaacutelises que envolvem o meio ambiente que foi transformado pela dinacircmica da
sociedade Mas historicamente a dialeacutetica das correntes fiacutesica e humana tem imperado de
modo dissociado levando o geoacutegrafo a estudar estes processos separadamente Poreacutem
se o resultado pretendido eacute integrado fazem-se necessaacuterias pesquisas mais amplas que
cruzem as diferentes vertentes geograacuteficas
Considerando que a problemaacutetica dos impactos ambientais urbanos envolve a questatildeo
natural o rio e a questatildeo social e poliacutetica a sociedade e as leis (COELHO 2013) uma
pesquisa neste acircmbito requer o entendimento destes dois objetos a fim de se apreender
o processo de crescimento das cidades brasileiras e a sua relaccedilatildeo com os recursos
hiacutedricos
A partir da deacutecada de 1950 devido ao ecircxodo rural mais intenso as cidades brasileiras
incharam rapidamente com a migraccedilatildeo do camponecircs que buscava melhores condiccedilotildees de
vida como trabalho na induacutestria o acesso agraves escolas saneamento entre outros E
segundo Gorski (2010) a populaccedilatildeo brasileira passou desde o iniacutecio deste processo de 19
milhotildees de habitantes em 1950 para 138 milhotildees de habitantes em 2000 (dados do IBGE)
o que corrobora o raacutepido crescimento das cidades
Todavia as estruturas puacuteblicas natildeo estavam preparadas para um acreacutescimo populacional
tatildeo significativo e em curto espaccedilo de tempo E o que observamos eacute o acesso limitado
dessa populaccedilatildeo agraves aacutereas centrais da cidade sendo induzida a se estabelecer nas
periferias Nesta visatildeo
O difiacutecil acesso da populaccedilatildeo de baixa renda agraves aacutereas mais centrais das cidades contribuiu segundo Raquel Rolnik para a expansatildeo da periferia o que muitas vezes implicou e implica ainda invasatildeo de aacutereas de proteccedilatildeo de mananciais com a aquiescecircncia do poder puacuteblico Esta
32
dinacircmica agravou a situaccedilatildeo de risco dos mananciais pela eliminaccedilatildeo das matas ciliares e consequentemente erosatildeo das margens dos cursos drsquoaacutegua e assoreamento de suas calhas e pela contribuiccedilatildeo do esgoto in natura (ROLNIK1997 apud GORSKI 2010 p62)
Sendo assim a supressatildeo das matas ciliares e das vegetaccedilotildees das encostas para fins de
ocupaccedilatildeo urbana interfere diretamente no ciclo hidroloacutegico diminuindo a absorccedilatildeo de
aacutegua pelo subsolo e pela evapotranspiraccedilatildeo favorecendo o escoamento superficial (Figura
6) que intensifica a velocidade de drenagem das aacuteguas Este processo nas encostas eacute
mais significativo se considerarmos que com a supressatildeo da cobertura vegetal e
impermeabilizaccedilatildeo do solo as precipitaccedilotildees acabam por lavar todo o material
intemperizado sedimentos carregando-o diretamente para o corpo hiacutedrico e contribuindo
para o assoreamento
Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento Fonte Gorski (2010 p64)
Por outro lado as ocupaccedilotildees ribeirinhas nas vaacuterzeas dos rios modificam a dinacircmica fluvial
frente aos defluacutevios A compactaccedilatildeo e o nivelamento do solo associados agrave
impermeabilizaccedilatildeo por concreto asfalto e outros materiais alteram todo o sistema de
drenagem natural e contribuem para a erosatildeo fluvial Aleacutem disso a gestatildeo puacuteblica que
33
deveria investir num parcelamento do solo sustentaacutevel resguardando ldquouma alocaccedilatildeo de
espaccedilosrdquo (CANHOLI 2005 p 15) para a drenagem acaba por colaborar com as enchentes
urbanas na medida em que decide por obras estruturais como a canalizaccedilatildeo (Figura 7
p30) e a microdrenagem que transferem os impactos das inundaccedilotildees a jusante
Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia Fonte Gorski (2010 p69)
Cabe destacar que desde 1965 com o primeiro Coacutedigo Florestal as matas beira-rio jaacute
eram resguardadas da degradaccedilatildeo humana poreacutem com todo o boom urbano a partir de
1950 a falta de estrutura e ingerecircncia municipal no que se refere ao parcelamento e uso
e ocupaccedilatildeo da terra urbana possibilitou a formaccedilatildeo dos assentamentos clandestinos em
APP e na encosta de morros Em condiccedilotildees precaacuterias sem saneamento baacutesico e demais
infraestruturas urbanas estes assentamentos acabam sendo as regiotildees mais afetadas
com as inundaccedilotildees
Junto agraves questotildees jaacute levantadas vale destacar que as aacuteguas das inundaccedilotildees propiciam o
aumento das doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica (febre tifoide hepatite leptospirose
esquistossomose entre outras) pois carregam segundo Gorski (2010) toda uma poluiccedilatildeo
difusa efluentes domeacutesticos industriais e agroindustriais aleacutem do lixo urbano da poluiccedilatildeo
do ar e das ruas
34
Por outro lado esta ocupaccedilatildeo urbana natildeo planejada perde o benefiacutecio que os corpos
hiacutedricos podem oferecer como [] as paisagens fluviais que aos poucos foram sendo
apropriadas como paisagens urbanas [] (GORSKI 2010 38) aleacutem do microclima
associado agrave umidade pela evapotranspiraccedilatildeo que ameniza a sensaccedilatildeo teacutermica local
Poreacutem conforme observado por Graeff (2011) natildeo eacute cabiacutevel atualmente implantar a
legislaccedilatildeo de APP de modo jurista Deve-se considerar toda a representatividade cultural
assentada sobre os leitos destes rios (avenidas importantes casas com arquitetura
histoacuterica entre outros) Aleacutem disso para a demarcaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo
permanente hoje eacute necessaacuteria uma anaacutelise teacutecnica pautada na geomorfologia e
hidrologia de modo a interpretar o ldquocomportamento histoacuterico dos cursos drsquoaacutegua na
paisagem prevendo cenaacuterios de impactos futurosrdquo da atividade humana sobre suas faixas
marginais
Tendo em vista que grande parte da malha urbana brasileira estaacute alocada em APPs e que
segundo Graeff (2011) estas jaacute possuem uma unidade de paisagem estabelecida e muitas
vezes secular configurando siacutetios de importacircncia cultural e apreendendo que
De modo semelhante nas demais cidades haveraacute que ser entendido o meio urbano como ele realmente eacute ndash um encontro entre as necessidades de habitaccedilatildeo com atividades humanas e de conservaccedilatildeo ambiental esta segunda tambeacutem a serviccedilo do homem e natildeo somente de objetivos difusos e distanciados da sobrevivecircncia da sociedade (GRAEFF 2011 206)
Por tais motivos o trabalho com a geomorfologia fluvial urbana deve abarcar os princiacutepios
do bom senso compreendendo que nestas aacutereas de atividade antroacutepica consolidada pode-
se fazer uso de instrumentos de engenharia avanccedilados para uma convivecircncia equilibrada
do homem com a natureza no entorno Contudo deve-se incentivar as aacutereas de expansatildeo
urbana ou zona periurbana (zonas de transiccedilatildeo da aacuterea urbana para a rural) com poliacuteticas
de incentivo a pavimentaccedilotildees mais permeaacuteveis a fim de minimizar o escoamento
superficial para o rio favorecendo a infiltraccedilatildeo
Apesar de os impactos gerados pela interferecircncia humana nas aacutereas mais fragilizadas da
bacia hidrograacutefica vaacuterzeas e encostas refletirem-se em cataacutestrofes com prejuiacutezos
humanos ambientais e urbanos alguns autores brasileiros como Canholi Graeff Cunha
Carneiro e Miguez jaacute indicaram outros caminhos para uma convivecircncia harmoniosa com
a natureza Aleacutem do mais paiacuteses desenvolvidos como a Holanda deixaram de ldquolutar contra
35
as cheiasrdquo para permitir agraves aacuteguas das enchentes a capacidade de acumular e dispersar
com impacto reduzido para as populaccedilotildees (CARNEIRO MIGUEZ 2011)
Sendo assim a proposta deste estudo eacute identificar os principais agentes que influenciam
as inundaccedilotildees entendendo seu papel e atuaccedilatildeo no contexto urbano de Colatina Mas eacute
tambeacutem a de ampliar a abordagem da temaacutetica com uma anaacutelise geograacutefica integrada
ressaltando as medidas que constam no planejamento urbano e sua aplicaccedilatildeo nas faixas
marginais do corpo hiacutedrico
36
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS
Esta pesquisa eacute constituiacuteda de trecircs etapas principais sendo que a primeira teve como
premissa a confecccedilatildeo de um fluxograma (Figura 8) de trabalho para orientar a pesquisa
em seguida teve iniacutecio o levantamento de bibliografias que abordam temas como a
geomorfologia fluvial e urbanizaccedilatildeo em Colatina adotando-se como referecircncia as
pesquisas de Coelho (2006 2007 2008 e 2009) e Albani (2012) Aleacutem disso muito
contribuiacuteram para este trabalho o relatoacuterio do INCAPER da CPRM e os dados do IBGE
Cabe destacar tambeacutem as experiecircncias com recursos hiacutedricos em ambientes urbanos de
Carneiro e Miguez (2011) em especial Cunha (2001 2012ab)
Esta etapa consistiu tambeacutem na busca de material cartograacutefico como aquisiccedilatildeo de planos
de informaccedilatildeo de limite estadual municipal bairros mancha urbana corpo drsquoaacutegua e
logradouros atraveacutes de dados disponiacuteveis no Sistema Integrado de Bases Geoespaciais
do Estado do Espiacuterito Santo (GEOBASES 2014) no Instituto Jones dos Santos Neves
(IJSN 2015) e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2014) imagens
orbitais gratuitas do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI bandas 2-3-4 e 8 (Pan) oacuterbita 216
ponto 73 com datas de passagem em 02012014 e 22032014 agraves 946 (horaacuterio central
da oacuterbita) junto ao Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2014) aleacutem do ortofotomosaico
do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hiacutedricos (IEMA 2014) do Espiacuterito
Santo referente ao voo de 2007 a 2008
Na segunda etapa foram realizadas duas investigaccedilotildees de campo sendo a primeira no
dia 24 de junho de 2014 com a finalidade de fazer o reconhecimento da aacuterea de estudo
fotografar e conversar com moradores e teacutecnicos da prefeitura O segundo trabalho de
campo ocorreu no dia 14 de fevereiro de 2015 e por meio deste foi possiacutevel identificar
pontos sujeitos a inundaccedilatildeo analisar a topografia e realizar as entrevistas com moradores
e funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina
37
Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC)
38
Na terceira etapa foram realizados os mapeamentos e processamentos de todos os planos
de informaccedilatildeo vetoriais e matriciais em ambiente de SIG no sistema ArcGis 103 iniciando
com a ediccedilatildeo dos dados do Municiacutepio e adjacecircncias que foram ajustados quando
necessaacuterio ao sistema de projeccedilatildeo UTM no Datum SIRGAS ndash 2000 na Zona 24 sul com
meridiano central -39 W com todo o mapeamento produzido seguindo a padronizaccedilatildeo
cartograacutefica proposta por Fitz (2008 a b)
O geoprocessamento teve iniacutecio com a composiccedilatildeo das imagens orbitais do Landsat-8 na
cor natural da imagem (2R 3G 4B) e por meio da teacutecnica de Pan Sharpening ou fusatildeo
de imagens a imagem cor natural foi agrupada agrave da banda 8 pancromaacutetica para obtenccedilatildeo
de uma melhor resoluccedilatildeo espacial neste caso chegando a 15 metros sendo resguardado
o conteuacutedo da imagem composta Na sequecircncia foi realizada a extraccedilatildeo da maacutescara do
periacutemetro urbano de Colatina e gerada a classificaccedilatildeo supervisionada da imagem Landsat-
8 no periacuteodo de cheia (janeiro) e vazante (marccedilo) o que possibilitou a delimitaccedilatildeo da calha
do Doce nestes dois eventos
Em seguida foram realizadas as 8 (oito) mediccedilotildees do leito regular sendo 4 (quatro) no
periacuteodo de cheia e 4 (quatro) na vazante de modo a definir a largura meacutedia da calha do
leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina Para chegar a uma medida geral
da largura do rio utilizaram-se ferramentas estatiacutesticas como a meacutedia que eacute uma medida
de tendecircncia central onde numa amostra de tamanho N constituiacuteda por elementos de x
variando de eacute possiacutevel extrair a meacutedia aritmeacutetica atraveacutes da equaccedilatildeo
A meacutedia aponta para onde mais convergem os dados de uma distribuiccedilatildeo
A partir desta definiccedilatildeo da meacutedia da largura da calha do Rio Doce foi possiacutevel em consulta
ao Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e a Lei 52732007 determinar a faixa miacutenima
de preservaccedilatildeo permanente deste corpo fluvial aleacutem da confecccedilatildeo do mapa com o
poliacutegono de APP
Mediante a anaacutelise do mapa verificou-se que grande parte dos bairros do municiacutepio estatildeo
contidos nos poliacutegonos de APP em especial a preservaccedilatildeo de 500 metros conforme lei
federal E por meio deste foram cruzados os dados de vazatildeo as fotos histoacutericas das
enchentes e o poliacutegono de mata ciliar o que permitiu o entendimento das inundaccedilotildees
39
Em ambiente de SIG tambeacutem foram vetorizados os trecircs traccedilados da Estrada de Ferro
Vitoacuteria a Minas o trajeto do Rio Santa Maria do Doce antes e depois da retilinizaccedilatildeo e os
sucessivos aterros na margem direita do Rio Doce no periacutemetro que compreende a Av
Beira-Rio
As teacutecnicas de sensoriamento remoto como a classificaccedilatildeo supervisionada permitiram a
definiccedilatildeo do poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo atraveacutes da imagem da cheia de janeiro Para
tanto foi realizada tambeacutem a classificaccedilatildeo hiacutebrida objetivando aliar a interpretaccedilatildeo visual
com a digital (JENSEN 2009) Por fim foi realizada amarraccedilatildeo com o levantamento
geodeacutesico da CPRM (2014) para garantir a precisatildeo do traccedilado do poliacutegono de cheia
A partir do tratamento dos dados bibliograacuteficos cartograacuteficos e imagens foi possiacutevel
sistematizar este trabalho o que permitiu identificar elementos histoacutericos de intervenccedilatildeo
na paisagem do Doce como os aterros e a ocupaccedilatildeo urbana As visitas de campo a
entrevista e conversas com moradores foram fundamentais para a validaccedilatildeo das
informaccedilotildees o que tornou esta metodologia eficaz para anaacutelise do fenocircmeno da inundaccedilatildeo
em Colatina
40
4 RESULTADOS
41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana
A ocupaccedilatildeo ao longo das planiacutecies de inundaccedilatildeo dos rios tem ocorrido diante da
necessidade deste recurso para as atividades vitais humanas Cunha (2012b p219)
entende que ldquosuas margens tecircm sido o centro preferido da habitaccedilatildeo humana e o
suprimento de suas aacuteguas natildeo soacute fertiliza os campos para o cultivo como tambeacutem fornece
energia e permite recreaccedilatildeordquo Logo o estabelecimento das vilas nas bordas dos cursos
drsquoaacutegua favorece a logiacutestica ocupacional
Historicamente em solo espiacuterito-santense a formaccedilatildeo das vilas ocorreu agraves margens de
estrateacutegicos cursos drsquoaacutegua e a exploraccedilatildeo do ouro de Minas Gerais para Albani (2012)
determinou que a Coroa proibisse nos seacuteculos XVII a XIX a implantaccedilatildeo de estradas e
exploraccedilatildeo de terras na Capitania do Espiacuterito Santo pois os portugueses temiam incursotildees
estrangeiras deixando assim o desenvolvimento capixaba restrito agrave faixa litoracircnea
Relegada enquanto ldquobarreira verderdquo para defesa das minas de ouro e minerais do atual
territoacuterio das Minas Gerais segundo Coelho (2007) a Capitania do Espiacuterito Santo soacute
passou a se interiorizar para o centro-oeste onde se localiza atualmente a cidade de
Colatina a partir de 1847 por meio das ocupaccedilotildees de Santa Izabel e Santa Leopoldina
que permitiram a descida do Rio Santa Maria do Doce ateacute as imediaccedilotildees da atual cidade
de Colatina
Assim foi que o movimento colonizador desceu o vale do Santa Maria do Rio Doce atingindo em 1891 a regiatildeo das matas onde hoje se acha a cidade de Colatina [] Esta penetraccedilatildeo inicial foi feita com elementos alematildees de Santa Leopoldina e no rio Doce ficou muito anos restrita agrave aacuterea inicial A expansatildeo ao longo do vale tomou impulso com a chegada a Colatina em 1906 dos trilhos da Estrada de Ferro Diamantina (atual Vitoacuteria-Minas) (STRAUCH1955 apud COELHO 2007 p105)
Sendo assim Coelho (op cit) relata que a ocupaccedilatildeo se deu atraveacutes da supressatildeo da mata
nativa no baixo curso do Rio Doce de Colatina a Linhares sendo a madeira daiacute extraiacuteda
levada ateacute o rio e encaminhada ateacute Povoaccedilatildeo vilarejo junto agrave foz de onde eram carregados
os navios Neste periacuteodo tem-se a instalaccedilatildeo de um ciclo madeireiro na regiatildeo com a
disposiccedilatildeo de serrarias nas proximidades das matas
41
Todavia somente a partir de 1906 com a chegada da estrada de ferro na regiatildeo o
transporte madeireiro foi transferido para as locomotivas Agrave medida que a implantaccedilatildeo da
Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas avanccedilava para o interior levava consigo as frentes de
desmatamento modificando as paisagens das margens do Rio Doce e se apropriando dos
espaccedilos deste rio (Figura 9)
Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906 Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce Fonte Albani (2012 p 63)
Conforme Albani (2012) com a vinda dos mineiros e fluminenses reforccedilados
posteriormente a partir de 1889 por colonizadores italianos e alematildees eacute que as
ocupaccedilotildees territoriais ocorreram de modo efetivo Atraveacutes do Barracatildeo do Rio Santa Maria
(Figura 10) espaccedilo do governo inicialmente destinado a alojar os migrantes e a produccedilatildeo
surgiram as primeiras residecircncias nas proximidades da igreja de Satildeo Sebastiatildeo Sendo
assim
Eacute importante destacar que o desenvolvimento da regiatildeo onde se encontra o municiacutepio de Colatina teve iniacutecio no final do seacuteculo XIX no nuacutecleo de colonizaccedilatildeo Antocircnio Prado localizado no distrito de Boapaba antiga vila do Mutum O nuacutecleo recebeu dezenas de famiacutelias de imigrantes italianos e ali desenvolveram atividades de agricultura e com a expansatildeo da localidade surge tambeacutem o comeacutercio (ALBANI 2012 p61) [hellip] A vila de Colatina entretanto logo passou a se transformar no principal nuacutecleo e futuramente na sede do municiacutepio Aleacutem da facilidade da produccedilatildeo atraveacutes do Rio Doce a vila de Colatina tornou-se referecircncia dos imigrantes no caminho para a colonizaccedilatildeo das terras ao norte do estado (MADURO1985 apud ALBANI 2012 p62)
42
Desse modo com o desenvolvimento das atividades de cafeicultura madeireira e do
entroncamento logiacutestico de acesso agraves aacutereas do norte a vila eacute elevada em 1921 agrave categoria
de municiacutepio A atual configuraccedilatildeo territorial foi adquirida a partir de 2001 conforme IBGE
(2014) dispondo de seis distritos Colatina (sede) Acircngelo Frechiami Baunilha Boapaba
Graccedila Aranha e Itapina
Cabe destacar poreacutem que a ocupaccedilatildeo inicial da cidade de Colatina se perfaz pela margem
direita do Rio Doce onde se localiza o atual bairro de Colatina Velha e onde havia se
instalado o Barracatildeo de Santa Maria Nesse periacuteodo a ponte ainda natildeo fora edificada
limitando assim a ocupaccedilatildeo da margem esquerda
Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da regiatildeo Fonte Albani (2012 p62)
Conforme Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p65) a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro
Vitoacuteria a Minas em 1906 (Figura 11) possibilitou a expansatildeo da cidade de Colatina e seu
desenvolvimento econocircmico Todavia sua instalaccedilatildeo paralela agrave margem direita do Rio
Doce favoreceu a localizaccedilatildeo de avenidas e ruas centrais em sua proximidade
43
Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p65)
Entretanto foi com a construccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos (Figura 12) em 1928 que a
margem direita se conectou agrave margem esquerda da cidade o que aleacutem de possibilitar a
ocupaccedilatildeo facilitou o acesso agraves regiotildees mais ao norte do Estado
Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p66)
44
Por conseguinte a estrada de ferro e a ponte foram os fatores determinantes para o
estabelecimento dos migrantes agraves margens do Rio Doce e a formaccedilatildeo do atual municiacutepio
de Colatina Contudo foi a partir desta posiccedilatildeo privilegiada que a cidade passou a ser
entreposto comercial e logiacutestico da regiatildeo noroeste e com isso sua aacuterea urbana expandiu-
se de modo desordenado inicialmente ao longo da planiacutecie de inundaccedilatildeo do Doce Coelho
(2007 p108 e 109) relata que
Os efeitos dessa urbanizaccedilatildeo (novos parcelamentos) e do desmatamento produz [sic] normalmente o aumento da velocidade das aacuteguas superficiais (pluviais) que eram antes interceptadas pelas matas com boa parte absorvida pelo solo O que ocorre geralmente nessas aacutereas eacute a chegada mais raacutepida das aacuteguas das chuvas para o tributaacuterios e calha principal do rio por fluxos concentrados que provocam processos de erosotildees do tipo laminar ravina e voccediloroca transportando quantidades expressivas de sedimentos que por sua vez causam assoreamento e a ocorrecircncia de cheias mais frequentes no rio
Com o crescimento acelerado do periacutemetro urbano proporcionado pelo apogeu do ciclo
cafeeiro as proacuteximas deacutecadas levaratildeo a cidade de Colatina a sofrer com impactos
advindos das alteraccedilotildees no ambiente fluvial do Rio Doce em especial os referentes a
ocupaccedilatildeo (impermeabilizaccedilatildeo) e desmatamento das margens (interferecircncia na drenagem
natural) conforme destacado por Coelho (2007)
Eacute fato que o municiacutepio viveu nas deacutecadas de 1940 e 1950 o auge do ciclo cafeeiro
chegando a ser no ranking brasileiro o 13ordm municiacutepio produtor de cafeacute no ano de 1947
(CAMPOS JUNIOR 2004 apud ALBANI 2012 p69) Poreacutem a partir de 1960 este boom
entrou em colapso com crise do cafeacute que assolou todo o paiacutes levando grande parte dos
pequenos proprietaacuterios rurais a migrarem para centros urbanos em especial no Espiacuterito
Santo a regiatildeo da Grande Vitoacuteria e tambeacutem para o centro de Colatina
Em razatildeo da crise cafeeira a populaccedilatildeo rural migra para centros urbanos A populaccedilatildeo migrou em grande quantidade para a Grande Vitoacuteria para fora do estado e tambeacutem para a cidade de Colatina principal aglomerado urbano da regiatildeo Esse processo provoca o aumento da aacuterea urbana de Colatina A populaccedilatildeo da cidade que era de 3913 habitantes em 1940 cresceu para 26757 habitantes em1960 (ALBANI2012 p71)
O crescimento raacutepido do centro de Colatina aliado ao aumento populacional direciona
grande parte dos migrantes para as aacutereas menos centrais da cidade levando agrave ocupaccedilatildeo
de locais irregulares como os morros e as margens direita e esquerda do Rio Doce Este
45
processo configurou a nova paisagem do municiacutepio povoando do vale agraves encostas (Figura
13)
Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes Fonte Albani (2012 p73)
Associado a este processo de reconfiguraccedilatildeo espacial nas proacuteximas deacutecadas o municiacutepio
de Colatina passaraacute por sucessivas perdas de territoacuterios ateacute atingir os limites atuais (Figura
1 p17) Aliado a estas perdas territoriais seu quantitativo absoluto populacional tambeacutem
sofreraacute impactos poreacutem de modo geral a populaccedilatildeo urbana deste municiacutepio apresentou
crescimento continuo (Graacutefico 2)
Graacutefico 2
Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 2010
Elaborado pela autora Fonte 1940 e 1950 Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p82) 1960 a 2010 IBGE
0
20000
40000
60000
80000
100000
120000
1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020
Populaccedilatildeo Urbana Colatina 1940 - 2010
46
Assim como tem ocorrido nas grandes capitais Colatina cresceu em quantitativo
populacional e territorial urbano de modo muito raacutepido e por este desenvolvimento natildeo ter
sido aliado a um planejamento urbano e ambiental sustentaacutevel a cidade tem sentido os
reflexos das suas interferecircncias ao longo do canal do Doce O que tem provocado
antecipaccedilatildeo dos picos de vazatildeo que no periacutemetro urbano ocasiona as inundaccedilotildees pois
natildeo conseguindo o rio acomodar estes defluacutevios transfere em curto espaccedilo de tempo as
aacuteguas a sua planiacutecie de inundaccedilatildeo atingindo os bairros mais antigos do municiacutepio
Por fim entender o contexto histoacuterico do crescimento da cidade revela muito do panorama
atual E por meio de uma anaacutelise conjunta da histoacuteria com os novos planejamentos eacute
possiacutevel propor intervenccedilotildees urbanas que possibilitem um conviacutevio harmonioso entre
natureza e sociedade neste caso entre o Rio Doce e o centro de Colatina Diante desta
proposta adiante apresentaremos a evoluccedilatildeo dos bairros associando seus periacuteodos de
ocupaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo espacial nas imediaccedilotildees do curso principal do Doce
411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade
Com nuacutecleo inicial de povoamento no Barracatildeo de Santa Maria a cidade de Colatina
cresce a partir deste ponto agrave margem direita do Rio Doce de onde surgem as primeiras
residecircncias comeacutercios e a igreja Atualmente a regiatildeo compreende o bairro de Colatina
Velha que de acordo com Albani (2012 p91) [hellip] ldquopode ser considerado o primeiro polo
de crescimento da cidaderdquo
Aliado ao aumento da populaccedilatildeo migrante das fazendas com a crise do cafeacute o nuacutecleo de
Colatina Velha passa a ser um ponto de passagem obrigatoacuterio para os viajantes que
vinham majoritariamente do sul uma vez que o Rio Doce configurava uma barreira natural
agrave ocupaccedilatildeo das terras ao norte Aleacutem disso a margem esquerda deste canal fluvial era
habitat dos hostis iacutendios botocudos o que dificultava a sua apropriaccedilatildeo
Sendo assim a ocupaccedilatildeo de Colatina conteve-se agrave margem direita nesta primeira fase o
que define o primeiro vetor de crescimento da cidade na direccedilatildeo leste para oeste partindo
das imediaccedilotildees do Barracatildeo de Santa Maria sentido ao Rio Santa Maria do Doce (Figura
14) E a partir de 1906 com a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas da entatildeo
Companhia Vale do Rio Doce atual Vale este vetor de crescimento se consolida e
47
proporciona o surgimento de importantes avenidas paralelas agrave ferrovia a exemplo da Av
Getuacutelio Vargas
Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de crescimento Elaborado pela autora
48
O segundo vetor do crescimento de Colatina estava condicionado agrave construccedilatildeo da ponte
Florentino Aacutevidos a qual conectou a margem direita agrave esquerda do Rio Doce permitindo
a ocupaccedilatildeo da porccedilatildeo ao norte Portanto somente a partir de 1928 com a finalizaccedilatildeo da
obra da ponte a barreira natural pocircde ser transposta o que possibilitou ao lado esquerdo
desenvolver uma nova linha de crescimento urbano com a ocupaccedilatildeo do atual bairro de
Satildeo Silvano
O terceiro vetor de crescimento estaacute associado agrave implantaccedilatildeo do bairro Luiz Iglesias na
margem direita e os de Maria das Graccedilas e Coluacutembia na margem esquerda Albani (2012)
ressalta que esta fase da ocupaccedilatildeo urbana estaacute associada ao desenvolvimento do sistema
viaacuterio como a proximidade da BR-259 sentido Vitoacuteria- Colatina da ES-80 que liga
Colatina agrave regiatildeo norte da ES-256 que a conecta a Marilacircndia e da proximidade da
estaccedilatildeo ferroviaacuteria Carlos Germano Nauman (Figura 15)
Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios e linhas feacuterreas que interceptam a cidade de Colatina Elaborado pela autora
Jaacute na quarta e mais recente linha de crescimento da cidade temos os novos loteamentos
residenciais e industriais a exemplo do de Barbados e do bairro Santa Helena que surgem
49
acompanhando o traccedilado da ponte que contorna a leste a cidade como novo acesso agrave
porccedilatildeo norte do estado Albani (2012 p118) destaca que
Apesar da construccedilatildeo da Segunda Ponte ter sido iniciada em 1986 somente foi inaugurada em 2007 A conclusatildeo da ponte e a construccedilatildeo de uma rodovia de contorno desviaram a BR-259 do centro da cidade O desvio da rodovia federal trouxe um desafogamento do tracircnsito nas principais vias da cidade e um novo direcionamento na expansatildeo urbana Alguns loteamentos surgiram nesse periacuteodo proacuteximo agrave Segunda Ponte e ao contorno na margem norte do rio principalmente no bairro Santa Helena (Figura 55) Essa situaccedilatildeo indica mais uma vez que as linhas de crescimento em Colatina satildeo orientadas pelas vias de transporte
Portanto o crescimento do periacutemetro urbano de Colatina estaacute associado agrave superaccedilatildeo das
barreiras naturais em especial o Rio Doce por meio de investimentos em obras de
engenharia que permitiram o deslocamento humano para a margem esquerda deste curso
Sem duacutevida as vias de transporte foram elementares na construccedilatildeo do periacutemetro urbano
de Colatina pois na medida que se consolidava o sistema viaacuterio as ocupaccedilotildees tambeacutem se
favoreciam destas vias de locomoccedilatildeo A evoluccedilatildeo da aacuterea urbana portanto acompanha
as principais vias de transporte (Figura 15 p45) e estas se utilizam da posiccedilatildeo estrateacutegica
e geograficamente favoraacutevel do canal do Doce para a definiccedilatildeo de seus traccedilados
Apoacutes 94 anos de emancipaccedilatildeo de Linhares o territoacuterio de Colatina eacute fundamental para a
manutenccedilatildeo dos municiacutepios do noroeste capixaba Diante desta posiccedilatildeo estrateacutegica torna-
se relevante o entendimento de como o urbano se relaciona com o meio natural a fim de
se estabelecer poliacuteticas de ordenamento territorial que promovam a qualidade de vida no
municiacutepio Adiante seraacute analisada a situaccedilatildeo da calha principal do Rio Doce elemento
fundamental na compreensatildeo do uso e cobertura da terra de Colatina
42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce
Compreendendo uma aacuterea de 3330 kmsup2 o periacutemetro urbano de Colatina eacute afetado pela
velocidade dos defluacutevios de modo que grande parte dos bairros beira-rio eacute tomada pelas
aacuteguas excedentes da calha principal do Doce o que configura o fenocircmeno de inundaccedilatildeo
Ao pesquisar estes fenocircmenos eacute necessaacuterio relacionar o uso da terra com os processos
geomorfoloacutegicos do corpo hiacutedrico Sendo assim por meio de teacutecnicas de
geoprocessamento foram realizadas oito mediccedilotildees da calha principal do Rio Doce para
50
estabelecimento da distacircncia meacutedia da largura de sua calha O resultado esteve dentro do
esperado e pode ser verificado na tabela abaixo (Tabela 1) e no mapa em sequecircncia
(Figura 16)
Tabela 1 Perfis transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de
vazante (abril) e cheia (janeiro)
Largura do rio Doce periacuteodo de vazante e cheia
Abril2013(m) Janeiro2014(m)
P1 70735 75784
P2 62080 66483
P3 59209 65804
P4 63548 67650
Meacutedia dos Perfis 62814 67066
Meacutedia Geral 66143 Obs todas as medidas estatildeo em metros
Elaborado pela autora
Figura 16 - Traccedilado dos perfis transversais da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de vazante mecircs de abril2013 Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)
51
Com uso das imagens orbitais do Landsat-8 atraveacutes da classificaccedilatildeo hiacutebrida foram
gerados dois arquivos shapefiles correspondentes agraves bordas do Doce um no periacuteodo de
vazante e outro no de cheia Por meio destes dados foram definidos quatro traccedilados para
realizaccedilatildeo das mediccedilotildees a partir destas e com auxiacutelio das medidas de tendecircncia central
chegou-se a uma largura meacutedia total de 66143m de uma margem a outra Este resultado
indicou que tanto no periacuteodo de vazante quanto no periacuteodo de cheia a largura meacutedia
aponta para a maior faixa de APP proteccedilatildeo de 500m conforme previsto na legislaccedilatildeo
federal (Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e no revogado Lei 4771 1965)
Analisando a imagem abaixo (Figura 17) observa-se que grande parte do solo
naturalmente destinado a ldquoacomodaccedilatildeordquo das aacuteguas nas cheias (linha laranja) foi
incorporado agrave sociedade como espaccedilo criado (periacutemetro urbano em APP mancha em
amarelo) destinado a fins muacuteltiplos Deste modo sem planejamento territorial adequado
grande parte da planiacutecie de inundaccedilatildeo deu lugar a outras funccedilotildees diferentes das naturais
sendo incorporada ao espaccedilo urbano
Lanccedilando o buffer (mancha em amarelo) do entorno da calha do Doce (Figura 17) observa-
se que dos 59 bairros do municiacutepio cerca de 29 estatildeo dentro da aacuterea de 500m destinada
a preservaccedilatildeo permanente pelo Coacutedigo Florestal Considerando-se a delimitaccedilatildeo da APP
prevista no PDM de 1996 e 2007 (linha laranja mais proacutexima da borda do rio) este nuacutemero
cai para 18 bairros permanecendo apenas aqueles que possuem limites com o corpo
hiacutedrico
Uma vez que que lei municipal natildeo suplanta lei federal considerar-se-aacute neste estudo o
limite da faixa marginal de proteccedilatildeo definida na Lei Federal 126512012 Deste modo a
aacuterea de preservaccedilatildeo permanente do Doce neste recorte eacute de 1085 kmsup2 compreendendo
33 do periacutemetro urbano de Colatina
Cabe destacar ainda que mesmo o PDM de 1996 contendo enquanto objetivo no Art 14
ldquoI - estabelecer a ordenaccedilatildeo do uso e da ocupaccedilatildeo do solo urbanordquo (Lei 42281996 p4)
a gestatildeo municipal natildeo obteve sucesso na implementaccedilatildeo de tal legislaccedilatildeo O que se
verifica tanto nas deacutecadas de 1990 quanto no iniacutecio dos anos 2000 quando foram
aprovados novos parcelamentos urbanos agraves margens deste canal a exemplo dos bairros
de Barbados na margem direita e do bairro Mario Giurizato na margem esquerda
52
Figura 17- Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)
53
Articulado a esta ideia e pesquisando o trecho do bairro Esplanada a Colatina Velha palco
das uacuteltimas obras estruturantes de alto porte do municiacutepio consegue-se analisar os efeitos
das inundaccedilotildees nas margens deste rio Logo implementar medidas de prevenccedilatildeo de
cheias em aacutereas com urbanizaccedilotildees antigas requer um esforccedilo da gestatildeo na regulaccedilatildeo do
solo urbano
421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie
de Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio
Interceptada pelo curso do Rio Doce no perfil mais a jusante da bacia a cerca de 100km
do estuaacuterio com o Oceano Atlacircntico a cidade de Colatina polo moveleiro e de confecccedilotildees
do centro-oeste capixaba eacute palco recorrente de inundaccedilotildees urbanas
Conforme jaacute mencionado por Cunha (2012a) este fenocircmeno ocorre quando a bacia recebe
um percentual precipitado acima da sua capacidade de escoamento o que faz o leito
menor do rio extravasar para o leito maior ocupando as aacutereas de vaacuterzeas (Figura 18 p
50) Aliadas a esta questatildeo estatildeo as ocupaccedilotildees humanas das margens dos rios que ao
suprimir a vegetaccedilatildeo natural e alterar a condiccedilatildeo fiacutesica do solo acabam por reduzir a aacuterea
de drenagem das aacuteguas pluviais acelerando o escoamento superficial para o canal
principal e favorecendo os defluacutevios
Figura 18 - Representaccedilatildeo da inundaccedilatildeo urbana Fonte adaptado da Defesa Civil do Tocantins (2015)
Este fenocircmeno tem ganhado destaque em Colatina a partir de 1979 ano em que o Rio
Doce atingiu a vazatildeo de 12860msup3s tomando toda aacuterea aplainada que compotildee seu leito
maior afetando da atual Av Beira-Rio ateacute as redondezas da Av Getuacutelio Vargas Desde
entatildeo os estudos das inundaccedilotildees urbanas satildeo relevantes no municiacutepio o que levou o
54
Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) na deacutecada de 1980 a elaborar um ldquoPlano Diretor
de Contenccedilatildeo das Enchentes Proteccedilatildeo das Encostas e Drenagem Pluvial de Colatinardquo
Tal medida apresentou seis alternativas para o fenocircmeno Poreacutem tendo em vista o custo
operacional das obras apenas a alternativa seis que previa a construccedilatildeo de diques
marginais para a proteccedilatildeo das aacutereas mais centrais foi considerada viaacutevel na eacutepoca
Todavia em entrevistas com funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina (PMC) foi
relatado que todo o estudo foi arquivado e que ateacute agora natildeo haacute previsatildeo de
implementaccedilatildeo de tais medidas Fato este que eacute evidenciado (Tabela 2 p 51) quando da
ocorrecircncia de precipitaccedilotildees intensas na bacia durante as quais sazonalmente a cidade eacute
impactada com as aacuteguas das inundaccedilotildees Isto faz com que o municiacutepio passe
recorrentemente por cataacutestrofes conforme tabela com os principais picos de vazatildeo do rio
nos uacuteltimos 50 anos
Tabela 2
Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013
Ano Diamecircs Vazatildeo(msup3s)
1961 30jan 6613
1979 04fev 12860
1997 07jan 8687
2005 03ago 6549
2013 24dez 9028
Fonte Coelho (2007 apud DALLAPICOLA 2014 p4) e CPRM (2014 p85) Observo que os dados da tabela 1 para os anos de 1979 e 2013 estatildeo baseados na estimativa de vazatildeo meacutedia diaacuteria das maacuteximas anuais obtida atraveacutes de extrapolaccedilatildeo da curva-chave pelo grupo interdisciplinar dos relatoacuterios criacuteticos anteriores
As inundaccedilotildees de 1979 1997 e recentemente 2013 (Figura 19) foram as de maior vazatildeo
neste setor do rio e consequentemente as que mais atingiram a aacuterea urbana do municiacutepio
bloqueando os acessos ao centro da cidade e aos equipamentos essenciais como
hospitais escolas e demais oacutergatildeos puacuteblicos aleacutem de desalojarem muniacutecipes e
comprometerem a sauacutede puacuteblica
55
Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de 1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 Fonte1) Nossa Colatina 2) Nossa Linda Colatina 3) Nossa Colatina
Com o propoacutesito de identificar os principais fatores que acentuam as inundaccedilotildees seraacute
analisado como os processos geomorfoloacutegicos do Doce estatildeo sendo afetados pela accedilatildeo
antroacutepica Limitaremos a anaacutelise ao periacutemetro urbano no trecho que compreende do bairro
Esplanada ateacute o bairro Colatina Velha (Figura 20) Neste periacutemetro eacute possiacutevel visualizar a
evoluccedilatildeo da mancha urbana sobre o leito do rio aleacutem de identificar na margem direita os
pontos desnaturalizados deste canal fluvial
56
Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2) Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do recorte em rosa da APP de 50m (amarelo claro) e 500m (amarelo escuro) Fonte 3) Encontra Colatina (2015)
57
O recorte em questatildeo eacute margeado pela Av Beira-Rio e estaacute situado (Figura 20) dentro do
buffer de preservaccedilatildeo permanente previsto no PDM (buffer de 50m) e no Novo Coacutedigo
Florestal (buffer de 500m) Apesar desta aacuterea ser destinada a mata nativa e ou
reflorestada a ocupaccedilatildeo urbana antecede os artigos legais o que dificulta poliacuteticas de
gestatildeo territorial em um periacutemetro ao mesmo tempo histoacuterico e com funccedilatildeo relevante no
equiliacutebrio hidroloacutegico da bacia
O periacutemetro faz parte da vaacuterzea da margem direita do Rio Doce pois encontra-se em cota
topograacutefica de 50m caracterizando sua planiacutecie Logo a aacuterea em questatildeo tem a funccedilatildeo de
acomodar as aacuteguas das cheias quando a calha principal natildeo comporta o escoamento de
grandes vazotildees Esta tarefa passa a ser prejudicada na medida em que na bacia ou no
curso original satildeo implementadas obras que interferem na morfologia do corpo hiacutedrico
principal como a instalaccedilatildeo das hidreleacutetricas de Mascarenhas (1974) e Aimoreacutes (2005) a
montante
As UHErsquos a montante comprometem os processos do rio uma vez que o regime natural de
transporte de sedimentos eacute alterado com o barramento o que favorece a erosatildeo e
consequentemente o assoreamento com a formaccedilatildeo de bancos arenosos alteraccedilatildeo do
seu perfil transversal e reduccedilatildeo da profundidade Aleacutem disso segundo Coelho (2007) as
vazotildees maacuteximas e miacutenimas foram alteradas com a implantaccedilatildeo das hidreleacutetricas a
montante implicando em vazotildees meacutedias anuais miacutenimas cada vez mais reduzidas com
valores se distanciando da linha de tendecircncia (polinocircmio) provando o natildeo equiliacutebrio da
vazatildeo apoacutes a implantaccedilatildeo das barragens (Graacutefico 1 p22)
Entretanto a primeira intervenccedilatildeo direta no trecho em estudo foi a instalaccedilatildeo da estrada
de ferro que atraiu migrantes para Colatina permitindo o crescimento populacional e a
expansatildeo urbana desordenada agraves margens do Doce Este crescimento intensificou a
supressatildeo das matas ciliares e abriu espaccedilo para a impermeabilizaccedilatildeo do solo reduzindo
a infiltraccedilatildeo
Posteriormente a inauguraccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos ampliou o fluxo na regiatildeo pois
proporcionava a ligaccedilatildeo com as terras ao norte do Estado Atuou tambeacutem como obstaacuteculo
ao transporte de sedimentos carreados no fluxo natural do rio uma vez que sua
implantaccedilatildeo altera a topografia do fundo do canal afetando os processos geomorfoloacutegicos
58
Poreacutem foi no Morro das Cabritas (colina localizada no espaccedilo que compreende o atual
bairro Esplanada) que ocorreu a primeira desnaturalizaccedilatildeo nas margens do Doce Este
morro por onde o Rio Santa Maria do Doce meandrava ateacute desaguar no Rio Doce foi
cortado em meados de 1953 para abrigar a cidade em expansatildeo Devido a esta
intervenccedilatildeo o curso original do Santa Maria foi deslocado e passou a escoar
retilineamente ateacute a foz (Figura 21)
Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponte Florentino Aacutevidos (direita) e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque em vermelho para o curso atual do Santa Maria Fonte Nossa Colatina
As intervenccedilotildees na margem direita tornam-se mais intensas a partir da deacutecada de 1960
quando no ano de 1968 edificou-se um muro visando a proteccedilatildeo dos pilares da
extremidade direita da ponte Esta obra ficou paralisada por muitos anos e foi a primeira
de retificaccedilatildeo e aterro realizada neste trecho do rio Esta intervenccedilatildeo modificou o fluxo
natural das correntes do rio e reduziu a largura da sua calha alterando a morfologia do
canal (Figura 22)
59
Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de proteccedilatildeo da ponte Elaborado pela autora Fonte fotos histoacutericas Nossa Colatina
Contudo somente em 1972 teve iniacutecio o segundo aterro (Figura 23) com a finalidade de
alocar a estaccedilatildeo rodoviaacuteria de Colatina e ampliar a aacuterea de acesso agrave ponte Florentino
Aacutevidos A implementaccedilatildeo desta obra suprimiu parte do leito do Rio Doce pois removeu a
saliecircncia cocircncava que curvava o rio retilinizando esta parte do canal
60
Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora Fonte Nossa Colatina Nossa Linda Colatina
Apoacutes dez anos sem grandes intervenccedilotildees em 1982 o lado a montante da ponte bairro
Esplanada eacute acrescido de um aterro que estenderaacute a aacuterea do antigo Morro das Cabritas
para o rio (Figura 24)
Conhecido como Rua da Lama devido agrave umidade que o rio transferia ao aterro formando
um barro viscoso que persistia a maior parte do ano o trecho atualmente compreende a
Avenida Professor Joseacute Zouian popularmente denominada Avenida Beira-Rio de onde
surge a primeira forma do calccediladatildeo que seraacute estendido ateacute o bairro Colatina Velha
61
Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o calccediladatildeo da Av Beira-Rio Elaborado pela autora Fonte Bennachio (2015)
Somente em 2004 foi implementado o maior projeto de canalizaccedilatildeo do municiacutepio Naquele
ano teve iniacutecio a execuccedilatildeo do enrocamento da Av Beira-Rio (Figura 25) obra destinada
inicialmente a alocaccedilatildeo de equipamentos puacuteblicos de lazer e cultura praccedilas preacutedios aleacutem
da promessa de contribuir para a contenccedilatildeo dos transbordamentos do Rio Doce
Apesar de o referido manancial jaacute estar comprometido com problemas de poluiccedilatildeo
assoreamento e erosatildeo aleacutem dos impactos de duas hidreleacutetricas instaladas a montante a
obra abarcou a supressatildeo da vegetaccedilatildeo ciliar e aterro de parte do rio jaacute tatildeo degradado
62
Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento iniciada em 2004 e finalizada em 2008 Elaborado pela autora Fonte proacutepria autora em 240215
Ocupando uma aacuterea total de 130 mil msup2 do leito do Rio Doce o aterro teve iniacutecio em 2004
sendo construiacutedo com cerca de 90 mil msup3 de pedras 50 mil msup3 de areia retirada do leito do
rio e por fim o nivelamento com 200 mil msup3 de terra A obra era divulgada como um antigo
sonho dos colatinenses e serviria para ampliaccedilatildeo da Av Beira-Rio no bairro de Colatina
Velha instalaccedilatildeo de ciclovias calccediladatildeo equipamentos puacuteblicos e estacionamento (Figura
26) Apesar do fim da engenharia em 2008 o projeto ainda estaacute em fase de acabamento
na parte urbaniacutestica e na alocaccedilatildeo dos oacutergatildeos puacuteblicos
Cabe destacar que a obra sofreu embargos do Ministeacuterio Puacuteblico Federal (MPF) por
apresentar apenas cadastro na Agecircncia Nacional de Aacuteguas (ANA) que conforme parecer
da Procuradora Nadja Machado Botelho na Accedilatildeo Civil Puacuteblica ldquo[hellip] equivocadamente natildeo
realizou o procedimento de outorga [hellip]rdquo (MPF 2006 p2) Aleacutem disso a procuradora
solicitou tutela tendo em vista tratar-se de aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental e o fato de o
IBAMA ter concedido licenciamento com indevida dispensa do Estudo de Impacto
Ambiental (EIA)Relatoacuterio de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA)
63
Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina Fonte Prefeitura de Colatina (2015)
Por isso essa obra deve ser considerada faraocircnica para os cofres puacuteblicos e irreversiacutevel
para os processos geomorfoloacutegicos do Doce E sua efetivaccedilatildeo soacute foi possiacutevel com a
participaccedilatildeo e investimentos do Governo estadual Contudo seu objetivo foi frustrado pois
novamente na cheia do Rio Doce em dezembro de 2013 quando este atingiu a vazatildeo de
9028 msup3s a aacuterea foi inundada e por estar em cota maior que as casas que beiravam o
rio o enrocamento atuou como represa natildeo permitindo o retorno das aacuteguas quando o niacutevel
do rio retomou o equiliacutebrio
Por fim segue um mapa siacutentese (Figura 27) com a cartografia das quatro principais
intervenccedilotildees diretas e estruturais na margem direita do Doce no setor urbano de Colatina
representando o curso natural do rio em 1950 e suas desnaturalizaccedilotildees a partir da deacutecada
de 60 ateacute a atualidade
64
Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce ante e depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora
65
422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio
O recorte em estudo compreende as Zonas ZE-1 ZE-2 e ZUD 2-1 (Figura 28 p61) sendo
a Zona Especial 1 Zona Especial 2 e Zona de Uso Diverso 2-1 destinadas no PDM (Lei
52732007)
Artigo 103 - As Zonas de Usos Diversos ndash ZUD satildeo definidas em razatildeo da concentraccedilatildeo de atividades urbanas diversificadas com predominacircncia do uso comercial e de serviccedilos Artigo 104 - Satildeo objetivos das Zonas de Usos Diversos I - otimizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do solo priorizando a instalaccedilatildeo de novos empreendimentos em terrenos natildeo edificados contiacuteguos a empreendimentos jaacute instalados II - controle da implantaccedilatildeo de usos incompatiacuteveis com os definidos para estas zonas III - garantia de licenciamento e monitoramento ambiental dos empreendimentos IV - controle da expansatildeo comercial de serviccedilos e de induacutestrias de pequeno porte em direccedilatildeo a aacutereas residenciais [] Artigo 130 - As Zonas Especiais 1 ndash ZE 1 abrangem todas as aacutereas remanescentes do municiacutepio relativamente ao zoneamento estabelecido nesta lei ocupadas ou natildeo contida na lei de periacutemetro urbano para as quais natildeo foram ainda estabelecidos os criteacuterios de uso e ocupaccedilatildeo Artigo 131 - As Zonas Especiais 2 ndash ZE 2 satildeo as aacutereas existentes no prolongamento da avenida Beira Rio mais especificamente no trecho entre o 80 Batalhatildeo da Poliacutecia Militar e a rua Pedro Epichin incluindo o espaccedilo existente entre a margem do Rio Doce e o limite das construccedilotildees localizadas na rua Pedro Epichin
Cabe destacar que mesmo sendo palco das aacutereas mais afetadas com as inundaccedilotildees do
Rio Doce a Beira-Rio tem sido alvo da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria que aproveitando-se dos
iacutendices pouco restritos da ZUD 2 (Figura 28 p62) valoriza o espaccedilo promovendo a
instalaccedilatildeo de grandes estruturas como hipermercados edifiacutecios residenciais modernos e
hotelaria
66
Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 Fonte Colatina (2007)
A aacuterea contida na ZE (Figura 28) natildeo possui criteacuterio de ocupaccedilatildeo definido na legislaccedilatildeo
atual sendo adotado o disposto na Lei 41961995 que estabelece os iacutendices urbaniacutesticos
para as aacutereas conquistadas junto ao Rio Doce e na Lei 420595 que aprova os
parcelamentos na Beira-Rio Quanto agrave ZUD 2-1 apresenta iacutendices urbaniacutesticos no anexo
118 do Plano Diretor conforme tabela 3 abaixo
67
Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1
Fonte Colatina (2007 p36)8
68
Eacute relevante observar que numa aacuterea onde o corpo hiacutedrico foi reduzido pelos sucessivos
aterros tenha sido aprovada a instalaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto (Figura
29) com taxa de ocupaccedilatildeo de ateacute 80 e com baixo iacutendice de permeabilidade Ampliou-
se a aacuterea impermeaacutevel numa regiatildeo onde a drenagem jaacute eacute muito comprometida com a
expansatildeo urbana sobre o rio
Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto na Beira-Rio Fonte imagem do Google Maps 2015 E fotos da autora em 140215
Portanto analisando o conjunto de dados apresentado acima eacute possiacutevel entender como
as inundaccedilotildees satildeo potencializadas no municiacutepio atingindo a populaccedilatildeo mas em especial
afetando a dinacircmica de um corpo hiacutedrico tatildeo relevante para o Estado A fim de subsidiar a
gestatildeo puacuteblica com material cartograacutefico para a tomada de decisotildees delimitou-se o
poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo (Figura 30) Pois devem ser adotadas medidas que
minimizem impactos de futuros eventos hidroloacutegicos na bacia capazes de comprometer
novamente a aacuterea urbana mais central de Colatina
69
Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av Beira-Rio em dezembro de 2013 Elaborado pela autora
70
Diante do poliacutegono de inundaccedilatildeo da uacuteltima cheia (Figura 30) em dezembro de 2013 eacute
possiacutevel implementar medidas de convivecircncia com as grandes vazotildees a exemplo de
paiacuteses como Holanda que vem investindo em medidas de resiliecircncia a fim de reduzir a
velocidade dos defluacutevios possibilitando ao canal a capacidade de acumular e dispersar as
aacuteguas com impacto miacutenimo para as populaccedilotildees Conforme Carneiro e Miguez (2011) a
estrateacutegia adotada pelo paiacutes eacute reter armazenar e drenar sendo mais flexiacutevel e natildeo
interferindo drasticamente na dinacircmica do corpo hiacutedrico
Por fim a implementaccedilatildeo de soluccedilotildees de planejamento urbano em Colatina requer uma
anaacutelise integrada que abarque o urbano e o ambiental de modo a propor intervenccedilotildees que
produzam impactos reduzidos nos processos geomorfoloacutegicos do Rio Doce Logo a gestatildeo
municipal deve atuar em niacutevel de bacia hidrograacutefica interagindo com os municiacutepios a
montante propondo medidas de minimizaccedilatildeo das cheias urbanas Mas na escala local
pode-se atuar junto aos novos parcelamentos de modo a ampliar o percentual de aacutereas
permeaacuteveis no municiacutepio incentivando por exemplo os novos loteamentos a adotarem
pavimentaccedilotildees que permitam a drenagem natural do solo
71
5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Partindo da ideia de que eacute possiacutevel implementar medidas que minimizem o escoamento
superficial satildeo apresentadas propostas como forma de controlar ou ao menos reduzir os
impactos das inundaccedilotildees urbanas
Embora as implementaccedilotildees histoacutericas de estruturas de proteccedilatildeo ou barreiras mais altas
tenham sido muito disseminadas atualmente estatildeo sendo suplantadas pelo gerenciamento
de inundaccedilotildees de maneira mais sustentaacutevel Deste modo as experiecircncias fora do Brasil
apontam para soluccedilotildees mais flexiacuteveis que considerem o fluxo natural do canal enquanto
um ecossistema em equiliacutebrio Para tanto Carneiro e Miguez (2011 p150) destacam a
iniciativa alematilde no controle de inundaccedilotildees em bacias hidrograacuteficas metropolitanas
[hellip] A abordagem comum consiste na regulaccedilatildeo do uso do solo nas aacutereas inundaacuteveis e em ldquodar espaccedilo para o riordquo ao inveacutes de priorizar investimentos em estruturas de proteccedilatildeo contra inundaccedilotildees como a colocaccedilatildeo de diques de contenccedilatildeo as margens dos rios A utilizaccedilatildeo do conceito de resiliecircncia apropriado de ecologia decorre dessa abordagem A aplicaccedilatildeo praacutetica do conceito implica portanto em mudanccedilas de paradigma Deixa de ser preponderante a engenharia construtiva e entra em cena o planejamento de longo prazo voltado para o desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis capazes de conviver com as variaccedilotildees do ciclo hidroloacutegico sem significar necessariamente trageacutedias anunciadas
Aleacutem dessas propostas geoacutegrafos como Sandra Cunha tecircm estudado a recuperaccedilatildeo
natural ou ldquorenaturalizaccedilatildeordquo de corpos fluviais visando promover a estabilidade dos canais
de modo mais sustentaacutevel Para ela
[hellip] Recuperaccedilatildeo de canal significa de forma simples o retorno as condiccedilotildees anteriores aos distuacuterbios Em essecircncia eacute o processo de recuperaccedilatildeo do rio ou do ecossistema fluvial estabilizando o desenvolvimento de habitats e colonizaccedilatildeo a uma taxa mais raacutepida que dos processos naturais fiacutesicos e bioloacutegicos Na recuperaccedilatildeo de canais ocorrem consideraccedilotildees de aspecto hidroloacutegico morfoloacutegico e ecoloacutegico qualidade da aacutegua esteacutetica aleacutem da necessidade de uma visatildeo integradora do projeto sustentaacutevel de recuperaccedilatildeo (CUNHA 2012 p230 a 231)
Satildeo portanto medidas pontuais como o retorno agraves sinuosidades do rio (Figura 31 p 68)
ou a substituiccedilatildeo de estruturas de concreto por superfiacutecies mais permeaacuteveis a exemplo
das trincheiras de infiltraccedilatildeo ou pavrsquos (Figura 32) aacutereas mais vegetadas aleacutem de coleta e
uso de aacutegua da chuva bem como tratamento das aacuteguas superficiais por meio de
72
amenidades esteacuteticas como reservatoacuterios de retenccedilatildeo ou detenccedilatildeo que podem ser
associados a ambientes harmocircnicos como lagos artificiais Todas estas accedilotildees possibilitam
a minimizaccedilatildeo das grandes vazotildees no solo urbano pois pretendem atenuar os impactos
das cheias fazendo com que seja resgatada parte da drenagem existente anteriormente agrave
urbanizaccedilatildeo
Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do Rio Aa Munster Alemanha (1998) Fonte Cunha (2012 p233)
Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos Fonte Carneiro e Miguez (2011 p128)
A partir do exposto cabe agrave gestatildeo municipal implementar legislaccedilotildees que priorizem a
permeabilidade possibilitando uma maior infiltraccedilatildeo das aacuteguas das chuvas atraveacutes de
pavimentaccedilotildees menos impermeaacuteveis e da ampliaccedilatildeo de aacutereas vegetadas Satildeo medidas
que tornam a drenagem mais sustentaacutevel aleacutem de possibilitar a manutenccedilatildeo dos serviccedilos
puacuteblicos de forma menos custosa tendo em vista o elevado preccedilo das recomposiccedilotildees
asfaacutelticas
1 2
73
Aleacutem disso quando se fala em controle de cheias urbanas pressupotildee-se uma seacuterie de
medidas para minimizaccedilatildeo de seus impactos desde a operaccedilatildeo de sistemas de alerta
zoneamento de aacutereas inundaacuteveis construccedilatildeo de grandes reservatoacuterios de contenccedilatildeo de
cheias e diques ateacute accedilotildees de educaccedilatildeo ambiental
Cabe pensar tambeacutem na proacutexima revisatildeo do PDM em um plano de macrodrenagem
municipal que reuacutena accedilotildees de caraacuteter estruturantes com obras hidraacuteulicas de infraestrutura
que realizem a conduccedilatildeo final das aacuteguas dos escoamentos superficiais para a minimizaccedilatildeo
das inundaccedilotildees e em medidas natildeo-estruturantes que trabalhem a consciecircncia ambiental
e proponha um zoneamento de cheias a fim de se delimitar os pontos mais fragilizados nos
defluacutevios
Por fim pensar em drenagem num contexto de ocupaccedilatildeo irregular histoacuterico requer
profissionais que aleacutem de possuir afinidade com a temaacutetica tambeacutem possam analisar os
diferentes processos que constituem o espaccedilo geograacutefico Logo este tipo de estudo deve
abarcar uma equipe multidisciplinar que percorra a anaacutelise desde o ambiental estrutural
ateacute o aspecto humano a fim de se produzir resultados que de fato contribuam com o
controle das inundaccedilotildees urbanas
74
6 CONCLUSAtildeO
A partir do recorte espacial foi possiacutevel compreender que a abordagem da geomorfologia
fluvial com a anaacutelise espaccedilo-temporal da ocupaccedilatildeo urbana possibilita a identificaccedilatildeo das
accedilotildees do homem no meio ambiente pois estas resultam na alteraccedilatildeo das paisagens
naturais e na dinacircmica da bacia hidrograacutefica Assim o Rio Doce deve ser estudado de
modo integrado ao crescimento da cidade sobretudo para compreensatildeo da produccedilatildeo do
espaccedilo geograacutefico
Analisar a inundaccedilatildeo urbana em Colatina foi satisfatoacuterio pois o municiacutepio estaacute situado no
perfil meacutedio-baixo da bacia vazante e eacute neste trecho que os reflexos das intervenccedilotildees satildeo
mais acentuados principalmente se esta parte do canal tambeacutem tiver passado por obras
que modificaram seus processos hidroloacutegicos Aleacutem disso a perspectiva geograacutefica aponta
para vaacuterias outras questotildees como erosatildeo fluvial planejamento urbano poluiccedilatildeo ambiental
crise da aacutegua que conduzem a outras discussotildees acerca da relaccedilatildeo homemnatureza
Ao demonstrar a evoluccedilatildeo espaccedilo-temporal do uso e cobertura da terra na margem direita
do Doce associando esta ocupaccedilatildeo agraves obras estruturantes que foram executadas no
canal verificamos que todas as praacuteticas adotadas para conter o transbordamento do rio
acabaram alterando sua morfologia com a retificaccedilatildeo de trechos em meandros reduzindo
a largura do corpo hiacutedrico o que favoreceu a apropriaccedilatildeo urbana de suas vaacuterzeas Aliadas
a estas questotildees estatildeo a falta de planejamento urbano e a omissatildeo diante da supressatildeo
das matas ciliares principalmente se considerados os resultados do relatoacuterio teacutecnico do
IJSN contra enchentes em 1980
Cabe destacar tambeacutem que toda a anaacutelise da ocupaccedilatildeo urbana e desnaturalizaccedilatildeo do
Rio Doce foi melhor identificada a partir dos produtos cartograacuteficos deste trabalho Pois eacute
na espacialidade dos fenocircmenos e no registro de informaccedilotildees ainda natildeo mapeadas como
os aterros que o geoacutegrafo executa a anaacutelise do seu objeto de estudo o homem e a
natureza aqui representado pela sociedade e o canal do Doce
Apesar do municiacutepio apresentar leis que resguardam os leitos dos rios desde o primeiro
PDM em 1996 nada foi feito para conter as ocupaccedilotildees irregulares beira-rio Pelo contraacuterio
estas aacutereas foram incorporadas ao Plano Diretor em 2007 com possibilidades de
ocupaccedilotildees diversas o que tem levado especuladores a valorizar o solo com vista para o
rio apontando suas qualidades esteacuteticas e teacutermicas Este fato vem aumentando o
75
percentual de aacutereas impermeaacuteveis nesta margem comprometendo ainda mais a drenagem
dos defluacutevios
Eacute na Av Beira-Rio que crescem as implantaccedilotildees de grandes empreendimentos comerciais
como supermercado Casagrande Ogil Hotel e obras de construccedilatildeo de novos arranha-
ceacuteus em um periacutemetro que jaacute eacute totalmente comprometido com os extravasamentos do Rio
Doce Estas obras ocupam grandes aacutereas e na maioria das vezes apresentam reduzida
aacuterea permeaacutevel reservando apenas o obrigatoacuterio pela lei cerca de 10 Observa-se
tambeacutem que a implantaccedilatildeo desses projetos estaacute condicionada agrave apresentaccedilatildeo e
aprovaccedilatildeo por comissatildeo na prefeitura do Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV) sendo
difiacutecil conceber que seja concedida tal licenccedila para implementaccedilatildeo de obras num trecho
de risco ambiental
Embora as diretrizes do Estatuto das Cidades para a implementaccedilatildeo do uso da terra
sustentaacutevel e os instrumentos para a regulaccedilatildeo do solo urbano sejam avanccedilados Colatina
eacute mais um exemplo da carecircncia de profissionais capacitados para estudar de modo
integrado e em niacutevel de bacia hidrograacutefica os efeitos da accedilatildeo humana num ambiente tatildeo
peculiar como as margens do Doce Por isso com os objetivos traccedilados nesta pesquisa
podemos aleacutem de compreender o fenocircmeno criar uma metodologia de anaacutelise de aacutereas
inundaacuteveis em ambientes urbanos O que permite agrave gestatildeo municipal uma diretriz para a
tomada de decisotildees
Destaca-se tambeacutem que as legislaccedilotildees aqui referenciadas supriram a discussatildeo acerca do
objeto de estudo mas outras podem contribuir para esta pesquisa a exemplo do Coacutedigo
das Aacuteguas da Poliacutetica Nacional dos Recursos Hiacutedricos das Resoluccedilotildees do Conama do
Estatuto das Cidades entre outros
Sendo assim numa revisatildeo do PDM deve-se pensar nestes aspectos da cidade desde o
histoacuterico de ocupaccedilatildeo das margens ateacute os impactos das inundaccedilotildees e o presente trabalho
auxilia com uma nova abordagem na reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo fornecendo material
cartograacutefico para subsidiar propostas de proteccedilatildeo ao curso do Doce e consequentemente
da populaccedilatildeo
Por fim deve-se destacar que o recorte estaacute inserido num contexto maior de uma bacia
hidrograacutefica que se estende aleacutem dos limites de Colatina ou do estado do Espiacuterito Santo
Esta bacia compreende a Regiatildeo Hidrograacutefica do Atlacircntico Leste e estaacute alocada tambeacutem
76
no estado de Minas Gerais o que portanto torna as accedilotildees de controle das inundaccedilotildees
mais complexas tendo em vista as divergentes politicas territoriais
77
7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
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16
11 Objetivo
111 Objetivo Geral
Correlacionar os processos fluviais do Rio Doce por meio da dinacircmica geomorfoloacutegica
deste canal com o uso e cobertura da terra no setor urbano do municiacutepio de Colatina
Espiacuterito Santo Contrapondo assim as intervenccedilotildees urbanas da beira-rio com o Plano
Diretor Municipal e o Novo Coacutedigo Florestal enfatizando as diretrizes adotadas no
parcelamento do solo para a planiacutecie de inundaccedilatildeo deste rio
112 Objetivos Especiacuteficos
Identificar os vetores de crescimento urbano do municiacutepio a fim de avaliar a
evoluccedilatildeo da mancha urbana junto ao canal principal
Determinar o comprimento da borda da calha do leito regular do Rio Doce no
periacutemetro urbano de Colatina para definiccedilatildeo da largura miacutenima da faixa marginal
de preservaccedilatildeo
Espacializar as aacutereas de preservaccedilatildeo permanente beira-rio previstas em lei a fim
de analisar a ocupaccedilatildeo urbana nestes espaccedilos
Cartografar os principais pontos desnaturalizados no canal principal do Rio Doce
no setor urbano de Colatina
Demonstrar como o emprego das geotecnologias auxilia no planejamento urbano
e ambiental especialmente em acircmbito municipal
17
12 Justificativa
A aacuterea de estudo corresponde ao periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina situado na
Bacia Atlacircntico trecho leste sub-bacia do Rio Doce no baixo curso (ANA 2001)
Compreende a regiatildeo noroeste do estado do Espiacuterito Santo latitude 19deg 32rsquo 16rsquorsquo S e
longitude 40deg 37rsquo 59rsquorsquo W De acordo com os dados do censo de 2010 do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio possuiacutea uma populaccedilatildeo de 111788 mil
habitantes1 numa aacuterea territorial de 1416804 kmsup2
Devido a sua privilegiada posiccedilatildeo geograacutefica limiacutetrofe com o Rio Doce e a construccedilatildeo da
Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas em 1906 Colatina compreendia os territoacuterios dos atuais
municiacutepios de Baixo Guandu Linhares Pancas Satildeo Gabriel da Palha Marilacircndia Satildeo
Domingos do Norte e Governador Lindenberg (INCAPER 2011) Soacute a partir de 2001
passou a apresentar os atuais limites municipais e configurar uma aacuterea urbana com 59
bairros (Figura 1)
Colatina eacute um municiacutepio de importacircncia para regiatildeo noroeste capixaba seja em caraacuteter
econocircmico ou social Eacute responsaacutevel pelos fluxos de cargas da regiatildeo aleacutem de ser um polo
moveleiro de confecccedilatildeo metalmecacircnico e de comeacutercio e serviccedilos gerando emprego e
renda (INCAPER 2011) Aleacutem disso tem sofrido historicamente com as cheias do Rio
Doce principalmente porque parte do seu periacutemetro urbano eacute inundado com as aacuteguas da
calha principal desse rio o que compromete toda a dinacircmica local e potildee em risco os
colatinenses
Assim diante das crescentes demandas por territoacuterio no periacutemetro urbano a populaccedilatildeo
tem suprimido a cobertura vegetal e ocupado desde as margens do Rio Doce ateacute as
encostas dos morros Em periacuteodos de cheias principalmente nos meses de outubro a
marccedilo (INCAPER 2011 ANA 2001) verificam-se inundaccedilotildees de grande parte da aacuterea
urbana beira-rio aleacutem dos movimentos de massa nas encostas Como exemplo destes
acontecimentos tecircm-se os registros fotograacuteficos dos efeitos da chuva de dezembro de 2013
(Figuras 2 e 3)
1 De acordo com o a estimativa do IBGE de 2014 publicada no DOU o municiacutepio conta com uma populaccedilatildeo de 121670 habitantes
18
Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e o canal do Rio Doce Elaborado pela autora
19
Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 Fonte Noticias UOL (2013)
Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de 2013 Fonte Folha Vitoacuteria (2013)
Este estudo portanto eacute relevante tendo em vista as raras abordagens no acircmbito das
Ciecircncias Geograacuteficas especialmente no Espiacuterito Santo de pesquisas que correlacionem
aspectos da geomorfologia fluvial por meio da dinacircmica dos recursos hiacutedricos com o uso
e cobertura da terra particularmente o Plano Diretor Municipal (PDM) Discute dessa
forma as implicaccedilotildees da atuaccedilatildeo humana nas particularidades deste ecossistema natural
tendo em vista o disposto nas legislaccedilotildees urbaniacutesticas e ambientais que visam assegurar
a qualidade de vida das populaccedilotildees
Adiante seratildeo analisados os principais fundamentos da geomorfologia fluvial os aspectos
juriacutedicos e o papel da anaacutelise geograacutefica integrada para o entendimento dos fenocircmenos
das inundaccedilotildees no Centro de Colatina uma vez que eacute devido agraves intervenccedilotildees humanas
nos canais e suas margens que esses fenocircmenos tornam-se mais nocivos a cidade
20
2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS
21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano
Recurso essencial para a manutenccedilatildeo da vida a aacutegua foi um fator relevante para o
estabelecimento histoacuterico das sociedades no entorno dos cursos hiacutedricos Utilizados para
fins de abastecimento humano e animal irrigaccedilatildeo saneamento e transporte os rios
constituiacuteram-se nos principais propulsores de penetraccedilatildeo para o interior (CUNHA 2012a)
Logo em suas margens surgiram povoados que posteriormente transformaram-se em
cidades como as que se estabeleceram agraves margens do Rio Doce a exemplo da sede de
Colatina
Diante das potencialidades que os recursos hiacutedricos possibilitam agraves sociedades
destacamos a importacircncia do estudo da Geomorfologia Fluvial que se apresenta como
campo da Geomorfologia (ciecircncia que estuda as formas do relevo) sendo o interesse
daquela a pesquisa dos processos que relacionam o escoamento das aacuteguas fluviais num
contexto de bacia hidrograacutefica (CHRISTOFOLETTI 1980 CUNHA op cit) Enfoca assim
as alteraccedilotildees na fisionomia dos canais frente agraves intervenccedilotildees no ecossistema natural
beira-rio
A Geomorfologia Fluvial parte da condicionante de que o uso e ocupaccedilatildeo da terra refletem-
se na dinacircmica da bacia de drenagem interferindo nos processos morfogeneacuteticos ou seja
de modelagem do relevo fluvial escoamento superficial das aacuteguas e no ciclo hidroloacutegico
Frente agrave temaacutetica deste estudo faz-se necessaacuterio o entendimento dos conceitos da
fisiografia fluvial aqui referente aos diferentes setores que a aacutegua pode escoar num leito
(Figura 4) como
O leito menor corresponde agrave parte do canal ocupada pelas aacuteguas e cuja frequecircncia impede o crescimento da vegetaccedilatildeo Esse tipo de leito eacute delimitado por partes bem definidas O leito de vazante equivale agrave parte do canal ocupada durante o escoamento das aacuteguas de vazante Suas aacuteguas divagam dentro do leito menor seguindo o talvegue linha de maacutexima profundidade ao longo do leito e que eacute mais bem identificada na seccedilatildeo transversal do canal O leito maior tambeacutem denominado leito maior perioacutedico ou sazonal eacute ocupado pelas aacuteguas do rio regularmente e pelo menos uma vez ao ano durante as cheias Dependendo do tempo ocorrido entre as subidas das aacuteguas eacute possiacutevel haver a fixaccedilatildeo e o crescimento da vegetaccedilatildeo herbaacutecea
21
O leito maior excepcional eacute ocupado durante as grandes cheias no decorrer das enchentes (CUNHA 2001 p 213)
Figura 4 - Tipos de leito fluvial vaacuterzea Fonte Cunha (2001 p213)
Sendo assim as aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial (leitos) aquelas inundadas pelo corpo
hiacutedrico frente a um evento hidroloacutegico extremo tambeacutem satildeo conhecidas como vaacuterzeas
planiacutecie de inundaccedilatildeo ou ainda segundo Carneiro e Miguez (2011 p133) como ldquo[] zona
de passagem de cheia []rdquo Essas aacutereas de vaacuterzeas dependem da fisionomia que o rio
apresenta e segundo Cunha (op cit) o canal fluvial pode apresentar trecircs formas
principais conhecidas como padratildeo dos canais que satildeo retiliacuteneo anastomosado e
meacircndrico (Figura 5)
Figura 5 - Padrotildees dos canais (A) retiliacuteneo (B) anastomosado (C) meandrante (A) amplitude (Rc) raio meacutedio da curvatura do meandro (segundo Bigarella etal 1979) Fonte Cunha (2001 p216)
22
Aliada aos padrotildees dos canais estaacute a assimetria ou simetria dos leitos que para Cunha
(2001 p233) relaciona-se com a variaccedilatildeo da velocidade e turbulecircncia ao longo da secccedilatildeo
transversal o que diferencia o comportamento nos canais retiliacuteneos geralmente simeacutetricos
do canal meacircndrico onde
Em canais de leito simeacutetrico em geral padratildeo retiliacuteneo a velocidade maacutexima ocorre no centro do canal diminuindo em direccedilatildeo agraves margens Em leito assimeacutetrico de padratildeo meacircndrico a zona de maacutexima velocidade e turbulecircncia localiza-se nas proximidades das margens cocircncavas decrescendo de valor em direccedilatildeo agrave margem de menor profundidade
(convexa) (CUNHA opcit p 233)
Deste modo a capacidade de erosatildeo das margens transporte e deposiccedilatildeo da carga do rio
dependem entre outros fatores da velocidade das correntes fluviais E o material do fluxo
fluvial constitui-se da descarga liacutequida ou vazatildeo que estaacute relacionada ao tamanho do
material que pode ser transportado e do volume da carga que o rio eacute capaz de carregar
Tem-se ainda a carga soacutelida sedimentos que estaacute relacionada a suspensatildeo e fundo do
rio esta decresce a jusante indicando a diminuiccedilatildeo da competecircncia do corpo fluvial As
cargas de suspensatildeo satildeo constituiacutedas de partiacuteculas finas a exemplo do silte e por fim a
carga de fundo que eacute composta por partiacuteculas de tamanhos maiores a exemplo da areia
(CUNHA2001)
Christofoletti (1980) acrescenta que os sedimentos podem ser carregados de trecircs modos
principais no fluxo em soluccedilatildeo dissolvidos nos cursos hiacutedricos em suspensatildeo como o
silte e argila e em saltaccedilatildeo geralmente a areia e cascalho que compreendem a carga do
leito do rio Destaca-se que a carga detriacutetica natildeo proveacutem apenas da erosatildeo do fundo dos
leitos e margens fluviais mas que o material intemperizado de vertentes carreado nas
enchentes contribui significativamente para a carga sedimentar transportada
Cabe ressaltar ainda que a relaccedilatildeo do arranjo espacial dos canais com os processos
fluviais (a erosatildeo o transporte e a deposiccedilatildeo de sedimentos) eacute determinante para o
trabalho dos rios Tais processos satildeo diretamente influenciados pela vazatildeo velocidade e
pela intensidade da turbulecircncia (seja no fluxo laminar ou no fluxo turbulento) A
variabilidade no comportamento da velocidade e turbulecircncia das aacuteguas ao longo da seccedilatildeo
transversal condiciona os locais preferenciais de erosatildeo e deposiccedilatildeo ao longo do curso
hiacutedrico
23
Deste modo qualquer intervenccedilatildeo na bacia e canal fluvial compromete o equiliacutebrio natural
da drenagem levando o corpo hiacutedrico a se adaptar agraves mudanccedilas em sua fisionomia
fisiografia e em seus processos ateacute atingir um novo estado de equiliacutebrio Poreacutem eacute na
planiacutecie de inundaccedilatildeo que estas modificaccedilotildees seratildeo mais percebidas pela populaccedilatildeo pois
a maior parte das obras de engenharia como as canalizaccedilotildees e as ocupaccedilotildees das
margens acaba por romper com o equiliacutebrio natural do rio alterando sua dinacircmica e
intensificando seus processos o que na maioria das vezes potencializa as enchentes no
ambiente urbano
Nesse sentido o entendimento dos processos fluviais (erosatildeo transporte e deposiccedilatildeo)
combinado com a anaacutelise da fisiografia fluvial condicionam as peculiaridades na geometria
hidraacuteulica ou seja na relaccedilatildeo entre a vazatildeo velocidade de escoamento tipos de canais
de sedimentos e a topografia Logo o conhecimento geomorfoloacutegico do rio contribui para
pesquisas que necessitem relacionar o funcionamento deste corpo natural com um
planejamento urbano mais efetivo principalmente se considerarmos um recorte em niacutevel
de bacia hidrograacutefica em espaccedilo urbano
211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial
O capiacutetulo que segue versa sobre a atuaccedilatildeo antroacutepica relacionando-a a aacuterea de estudo o
rio Doce poreacutem este trata de forma macro a temaacutetica para contextualizar o leitor sendo
as especificidades das intervenccedilotildees neste recorte geograacutefico trabalhados nos resultados
desta pesquisa
Diante do exposto eacute possiacutevel acompanhar a evoluccedilatildeo dos processos fluviais nos canais
em especial aqueles que tiveram intervenccedilotildees em seu curso natural como as hidreleacutetricas
instaladas a montante a exemplo do Rio Doce onde a interferecircncia direta na vazatildeo e fluxo
de sedimentos altera a hidrodinacircmica do rio comprometendo a erosatildeo e transporte Para
Coelho (2007 p57) as
Mudanccedilas na Declividade Perfil Longitudinal Promovidas pela construccedilatildeo de reservatoacuterio satildeo variadas e caso o efeito da contenccedilatildeo de sedimentos seja significativo os processos fluviais reduziratildeo a capacidade de transporte de sedimento podendo promover um entalhamento do leito do rio imediatamente agrave jusante da barragem
Aleacutem disso esse processo erosivo poacutes-barragem eacute intensificado favorecendo o
assoreamento e sedimentaccedilatildeo do rio a jusante O que pode beneficiar a elevaccedilatildeo da cota
24
do canal fluvial frente a eventos hidroloacutegicos extremos potencializando os efeitos das
inundaccedilotildees nas vaacuterzeas
Ao mesmo tempo o Rio Doce trecho que compreende o Espiacuterito Santo meacutediobaixo curso
eacute impactado nas vazotildees miacutenimas e maacuteximas a jusante apoacutes a instalaccedilatildeo das
barragensUsinas Hidreleacutetricas (UHE) de Mascarenhas (iniacutecio de operaccedilatildeo em 1974)
localizada no Municiacutepio de Baixo Guandu e a de Aimoreacutes (iniacutecio de operaccedilatildeo em 2005)
localizada na divisa do Espiacuterito Santo com Minas Gerais (COELHO 2007)
De acordo com Coelho (opcit) apoacutes a implantaccedilatildeo das usinas ocorreu uma reduccedilatildeo
significativa na vazatildeo da calha principal do Rio Doce conforme Graacutefico 1
Considerando o periacuteodo de 1939 a 2012 a vazatildeo miacutenima apoacutes a instalaccedilatildeo das usinas
chega a atingir 411msup3s e a maacutexima chega apenas a 1251msup3s sendo que no periacuteodo
anterior agrave instalaccedilatildeo das usinas foi registrada a miacutenima de 533 msup3s e uma maacutexima de
1812 msup3s o que ressalta o impacto do barramento sobre o corpo hiacutedrico Aleacutem do
comprometimento dos processos de erosatildeo transporte e sedimentaccedilatildeo (COELHO 2008
e CUNHA 2001)
Diante desta perda de carga liacutequida nos barramentos Cunha (2001 p 241) observa ainda
que as aacutereas a jusante de reservatoacuterios
[hellip] onde o regime do rio sofre significativas modificaccedilotildees devidas ao controle das descargas liquidas e de sedimentos no reservatoacuterio As mudanccedilas ocorridas no regime das aacuteguas neste setor do rio acarretam significativos efeitos nos processos do canal tais como o entalhe do leito a erosatildeo das margens e a deposiccedilatildeo a jusante atingindo longas distacircncias
Aleacutem disso no periacutemetro urbano de Colatina o Rio Doce sofreu outras intervenccedilotildees em
seu canal principal como a implantaccedilatildeo de obras estruturais de macrodrenagem a
exemplo da construccedilatildeo da Av Beira-Rio com intuito de conter o avanccedilo das aacuteguas fluviais
em periacuteodos de cheias
25
Graacutefico 1
Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais (Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia)
Fonte adaptado de Coelho (2007 p154)
26
Como exemplo dos tipos de intervenccedilotildees humanas nas aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial
leitos Carneiro e Miguez (2011 p117) destacam
As accedilotildees de controle e cheias urbanas podem ser classificadas em estruturais quando a paisagem eacute alterada pela accedilatildeo do homem e em natildeo estruturais aqui denominada como estruturante quando o homem aprende a conviver com as enchentes No primeiro caso estatildeo as medidas de controle atraveacutes de obras hidraacuteulicas tais como barragens diques e canais entre outras No segundo caso encontram-se medidas do tipo preventivo tais como zoneamento de aacutereas de inundaccedilatildeo sistemas de alerta educaccedilatildeo ambiental lei de parcelamento e uso dos solos e seguros contra inundaccedilatildeo
Neste cenaacuterio abarcamos os impactos das obras de engenharia como a canalizaccedilatildeo que
altera a fisionomia e fisiografia do rio refletindo-se nos processos geomorfoloacutegicos do canal
e sua planiacutecie de inundaccedilatildeo Para estes a canalizaccedilatildeo eacute uma obra estrutural que aumenta
a capacidade do fluxo do canal aleacutem de intensificar a velocidade do escoamento
superficial antecipando o pico de cheia e transferindo os alagamentos para locais a jusante
na bacia hidrograacutefica
Articulado a esta ideia Cunha (2012b) reflete a desnaturalizaccedilatildeo dos rios por meio de
obras de retificaccedilatildeo com a reduccedilatildeo do comprimento do canal e eliminaccedilatildeo das
sinuosidades Satildeo obras que afetam a estabilidade do corpo hiacutedrico na medida em que
interferem na relaccedilatildeo entre erosatildeo sedimentaccedilatildeo e deposiccedilatildeo provocando efeitos como
alteraccedilatildeo na morfologia do canal Sendo assim ldquo[hellip] a diminuiccedilatildeo da rugosidade no fundo
do canal em conjunto com a perda dos meandros e a aceleraccedilatildeo das velocidades eacute a
principal responsaacutevel pelas mudanccedilas no balanccedilo da energia natural dos sedimentos
fluviais [hellip]rdquo Cunha (2012b p178) No caso do Rio Doce trecho correspondente agrave Av
Beira-Rio alterou-se a sua forma retilinizando-a e sua vegetaccedilatildeo natural foi substituiacuteda
por estruturas de pedras o que compromete a resistecircncia ao fluxo as margens e aos
bancos arenosos
Embora as obras de canalizaccedilatildeo sejam implantadas como eficazes nos canais fluviais para
questotildees de enchentes urbanas para Cunha (op cit) estas necessitam de manutenccedilatildeo
constante envolvendo desde dragagem remoccedilatildeo de obstruccedilotildees a recomposiccedilatildeo do
material utilizado Poreacutem toda a manutenccedilatildeo estaacute associada a alteraccedilotildees morfoloacutegicas e
bioloacutegicas como as que interferem nas soleiras e depressotildees do fundo dos leitos
desestabilizando a vazatildeo no curso a exemplo da
27
ldquo[hellip] eliminaccedilatildeo da sequecircncia de depressotildees e soleiras o aumento da velocidade da corrente a diminuiccedilatildeo da diversidade de habitats o ambiente instaacutevel resultante da flutuaccedilatildeo dos niacuteveis da aacutegua e do substrato moacutevel e a maior flutuaccedilatildeo da temperatura das aacuteguasrdquo (CUNHA 2012b p180)
Ao mesmo tempo o aumento da velocidade dos escoamentos no trecho retificado
possibilita maior erosatildeo transferindo para as aacutereas a jusante uma carga soacutelida
representativa que para Cunha (op cit) configura a formaccedilatildeo de bancos axiais e depoacutesitos
de sedimentaccedilatildeo marginais alterando o equiliacutebrio dos sedimentos a jusante Pois
A jusante das obras de retificaccedilatildeo verificam-se o aumentam da carga soacutelida o assoreamento durante a dragagem a erosatildeo no canal pelos eventos torrenciais do regime e a modificaccedilatildeo na dinacircmica na foz Os sedimentos resultantes da erosatildeo no canal retificado em conjunto com a excessiva carga de sedimentos posta em suspensatildeo durante a dragagem e na fase imediata de poacutes-construccedilatildeo - quando a erosatildeo dos bancos de areia sem vegetaccedilatildeo estaacute em seu niacutevel maacuteximo - originam a formaccedilatildeo de depoacutesitos fluviais de curta duraccedilatildeo a jusante do canal retificado Logo a seguir esses depoacutesitos satildeo erodidos juntamente com as margens e o fundo do leito pelos eventos torrenciais do regime vindo a formar bancos axiais e depoacutesitos de sedimentaccedilatildeo marginais (CUNHA2012b p183)
Portanto o estudo da geomorfologia fluvial contribui diretamente para o entendimento das
cheias nas planiacutecies de inundaccedilatildeo em especial nas bacias hidrograacuteficas que
compreendem a aacuterea urbana e que possuem intervenccedilotildees antroacutepicas diretas na fisiografia
do canal principal Seus processos explicam como as alteraccedilotildees no canal fluvial podem
maximizar os efeitos dos transbordamentos impactando principalmente as populaccedilotildees
ribeirinhas aleacutem de todo ecossistema local Ademais estes fundamentos geomorfoloacutegicos
devem ser associados agrave legislaccedilatildeo vigente afim de subsidiar a elaboraccedilatildeo de instrumentos
legais para atuaccedilatildeo do poder puacuteblico nestas zonas de risco
22 Aspectos Juriacutedicos
Frente agrave crescente demanda sobre os recursos hiacutedricos e solo urbano a partir da deacutecada
de 1930 surgem as primeiras diretrizes que visam regulamentar estes ambientes a
exemplo do Coacutedigo das Aacuteguas Mas soacute a partir dos anos 1960 surgem em acircmbito federal
leis como o Coacutedigo Florestal com o intuito de regular a exploraccedilatildeo das vegetaccedilotildees e
consequentemente proteger os mananciais e em 1979 com o objetivo de ordenar as
28
cidades eacute aprovada a Lei 676679 estabelecendo as normas do parcelamento do solo
urbano
Na medida em que as populaccedilotildees aumentam ampliam-se tambeacutem as pressotildees sobre os
recursos de aacutegua e solo Os processos de uso e a conscientizaccedilatildeo de que estes elementos
satildeo finitos intensificam as formas de controle e preservaccedilatildeo passando para as esferas
estaduais e municipais a responsabilidade de atuar em escala local na proteccedilatildeo desses
ambientes
Ainda em escala federal em 2012 eacute promulgado o Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012
em substituiccedilatildeo ao coacutedigo anterior Lei 47711965 que apresenta as normas de
apropriaccedilatildeo dos recursos naturais pelas novas necessidades das populaccedilotildees citadinas e
rurais No que compete agrave aacuterea de estudo cabe destacar as ocupaccedilotildees em aacutereas de
planiacutecie de inundaccedilatildeo em que de acordo com art 4ordm devem ser preservadas
I - as faixas marginais de qualquer curso drsquoaacutegua natural perene e intermitente excluiacutedos os efecircmeros desde a borda da calha do leito regular em largura miacutenima de (Incluiacutedo pela Lei nordm 12727 de 2012) a) 30 (trinta) metros para os cursos drsquoaacutegua de menos de 10 (dez) metros de largura b) 50 (cinquenta) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura c) 100 (cem) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura d) 200 (duzentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura e) 500 (quinhentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros []
A legislaccedilatildeo eacute riacutegida no que concerne agrave ocupaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo das terras nas faixas
marginais dos rios transferindo aos estados e municiacutepios a responsabilidade de fiscalizar
estes territoacuterios para garantir a efetividade da lei A questatildeo eacute que muitas vezes somada a
falta de planejamento estas fiscalizaccedilotildees satildeo ineficientes o que tem possibilitado o
surgimento cada vez maior das ocupaccedilotildees irregulares
Apoiado tambeacutem pela Constituiccedilatildeo Federal de 1988 nos artigos 182 e 183 surge o
Estatuto das Cidades Lei 102572001 com finalidade de garantir a funccedilatildeo social da
cidade e com este os primeiros Planos Diretores Municipais (PDM) que buscam o
ordenamento do crescimento das cidades em caraacuteter socioeconocircmico e ambiental cidades
sustentaacuteveis Ademais em Colatina eacute instituiacuteda a Lei 42281996 posteriormente revogada
29
pela Lei 52732007 que ldquoInstitui o Plano Diretor do Municiacutepio de Colatina estabelece os
objetivos instrumentos e diretrizes e daacute outras providecircncias para as accedilotildees de
planejamento do Municiacutepio de Colatina []rdquo
O PDM de Colatina assim como Coacutedigo Florestal prevecirc a preservaccedilatildeo dos ecossistemas
beira-rio Aquele ainda dispotildee sobre o parcelamento do solo sustentaacutevel a funccedilatildeo social
da cidade e da propriedade conforme o Plano Diretor de Colatina de 2007 nos artigos
transcritos
Artigo 22 - As diretrizes ambientais no Municiacutepio de Colatina satildeo I - aplicar os instrumentos de gestatildeo ambiental estabelecidos nas legislaccedilotildees federal estadual e municipal bem como a criaccedilatildeo de outros instrumentos adequando-os agraves metas estabelecidas pelas poliacuteticas ambientais II - compatibilizar as diretrizes de uso ocupaccedilatildeo e parcelamento do solo aos objetivos de proteccedilatildeo ambiental dos ecossistemas [] Artigo 23 - Satildeo diretrizes do sistema de drenagem urbana I - disciplinar a ocupaccedilatildeo das cabeceiras e vaacuterzeas das bacias hidrograacuteficas do Municiacutepio preservando a vegetaccedilatildeo existente e visando agrave sua recuperaccedilatildeo [] III - definir mecanismos de fomento para usos do solo compatiacuteveis com aacutereas de interesse para drenagem tais como parques lineares aacuterea de recreaccedilatildeo e lazer hortas comunitaacuterias e manutenccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa [] V - implantar medidas natildeo-estruturais [sic] de prevenccedilatildeo de inundaccedilotildees tais como controle de erosatildeo especialmente em movimentos de terra controle de transporte e deposiccedilatildeo de entulho e lixo combate ao desmatamento assentamentos clandestinos e a outros tipos de invasotildees nas aacutereas com interesse para drenagem [] VII - garantir e respeitar a necessaacuteria permeabilidade do solo inclusive buscando alternativas de pavimentaccedilatildeo com maior de permeabilidade [sic] [] Artigo 84 ndash Satildeo objetivos do ordenamento territorial do Municiacutepio de Colatina [] IV ndash conter a expansatildeo da ocupaccedilatildeo urbana em aacutereas de proteccedilatildeo ambiental [] Artigo 120 ndash Ficam desde jaacute identificadas como Zonas de Proteccedilatildeo Ambiental 2 ndash ZPA 2 as seguintes aacutereas [] III ndash as aacutereas existentes ao longo de qualquer curso drsquoagua desde o niacutevel mais alto em faixa marginal cuja largura miacutenima seraacute de a) 15m (trinta metros) [sic] para os cursos drsquoagua com menos de 10m (10
metros) de largura contidos no periacutemetro urbano [] c) 30m (trinta metros) para os cursos drsquoagua que tenham de10m (dez
metros a 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano
[]
30
e) 50m (cinquenta metros) para os cursos drsquoagua que tenham mais de 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 60422013)
[]
De modo geral verifica-se que a legislaccedilatildeo apresenta instrumentos que permitem a
prevenccedilatildeo ou controle de ocupaccedilotildees irregulares ou clandestinas em aacuterea de APP aleacutem de
propostas para resguardar de grandes impactos ambientais o corpo hiacutedrico principal do
municiacutepio o Rio Doce Possibilitando assim a minimizaccedilatildeo dos impactos causados pelas
cheias agrave populaccedilatildeo local
Poreacutem cabe destacar que o Plano Diretor Municipal de Colatina natildeo contempla o
estipulado no Coacutedigo Florestal 2012 Lei Federal onde os cursos drsquoaacutegua com largura
superior a 600(seiscentos) metros devem ser resguardados com aacutereas de preservaccedilatildeo
permanente de 500(quinhentos) metros entre outros sendo que a redaccedilatildeo desta parte do
PDM eacute dada pela lei 60422013 posterior a publicaccedilatildeo do novo Coacutedigo Florestal Sendo
assim verifica-se que apesar da intenccedilatildeo de resguardar uma faixa de no maacuteximo
50(cinquenta) metros em periacutemetro urbano para a contenccedilatildeo de cheias e mata ciliar o
PDM de Colatina natildeo atende o miacutenimo previsto em Lei Federal O que tem impactado todo
ecossistema beira rio e a populaccedilatildeo ribeirinha uma vez que a faixa marginal de proteccedilatildeo
de 50(cinquenta) metros em muitos casos natildeo tem comportado o impacto dos defluacutevios
No entanto a legislaccedilatildeo trata de aspectos gerais natildeo pontuando as aacutereas responsaacuteveis
por cada accedilatildeo aleacutem de sua aplicabilidade depender da elaboraccedilatildeo de um cronograma de
execuccedilatildeo bem como um conjunto de planos e normas especiacuteficos para cada diretriz com
detalhamento das propostas de intervenccedilatildeo Isto natildeo ocorreu ateacute o presente
Aleacutem disso a cidade de Colatina surgiu num cenaacuterio histoacuterico anterior agraves legislaccedilotildees
urbaniacutesticas e ambientais inclusive do Coacutedigo das Aacuteguas o que dificulta a execuccedilatildeo de
um planejamento que concilie a preservaccedilatildeo das matas beira-rio garantindo a faixa de
APP com a ocupaccedilatildeo urbana consolidada
A aacuterea de estudo se apresenta como ambiente fragilizado apesar de ser regida por
legislaccedilotildees desde a escala federal ateacute a municipal que visam proteger e ordenar o uso e
cobertura da terra nas faixas marginais dos rios Mas a dificuldade das prefeituras em
aplicar os instrumentos legais nestes ambientes seja por interesses privados ou falta de
recursos para investimentos em soluccedilotildees a longo prazo continua expondo as populaccedilotildees
31
aos impactos dos eventos hidroloacutegicos criacuteticos como os que resultam nas inundaccedilotildees
Para que se alcance esse parcelamento do solo sustentaacutevel satildeo necessaacuterios esforccedilos da
gestatildeo municipal em estipular prazos e metas de atuaccedilatildeo afora interagir os diferentes
setores no planejamento em niacutevel de bacia hidrograacutefica considerando as peculiaridades
desta escala de trabalho
23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos
Sendo a ciecircncia que estuda a relaccedilatildeo homemnatureza a Geografia tem muito a contribuir
nas anaacutelises que envolvem o meio ambiente que foi transformado pela dinacircmica da
sociedade Mas historicamente a dialeacutetica das correntes fiacutesica e humana tem imperado de
modo dissociado levando o geoacutegrafo a estudar estes processos separadamente Poreacutem
se o resultado pretendido eacute integrado fazem-se necessaacuterias pesquisas mais amplas que
cruzem as diferentes vertentes geograacuteficas
Considerando que a problemaacutetica dos impactos ambientais urbanos envolve a questatildeo
natural o rio e a questatildeo social e poliacutetica a sociedade e as leis (COELHO 2013) uma
pesquisa neste acircmbito requer o entendimento destes dois objetos a fim de se apreender
o processo de crescimento das cidades brasileiras e a sua relaccedilatildeo com os recursos
hiacutedricos
A partir da deacutecada de 1950 devido ao ecircxodo rural mais intenso as cidades brasileiras
incharam rapidamente com a migraccedilatildeo do camponecircs que buscava melhores condiccedilotildees de
vida como trabalho na induacutestria o acesso agraves escolas saneamento entre outros E
segundo Gorski (2010) a populaccedilatildeo brasileira passou desde o iniacutecio deste processo de 19
milhotildees de habitantes em 1950 para 138 milhotildees de habitantes em 2000 (dados do IBGE)
o que corrobora o raacutepido crescimento das cidades
Todavia as estruturas puacuteblicas natildeo estavam preparadas para um acreacutescimo populacional
tatildeo significativo e em curto espaccedilo de tempo E o que observamos eacute o acesso limitado
dessa populaccedilatildeo agraves aacutereas centrais da cidade sendo induzida a se estabelecer nas
periferias Nesta visatildeo
O difiacutecil acesso da populaccedilatildeo de baixa renda agraves aacutereas mais centrais das cidades contribuiu segundo Raquel Rolnik para a expansatildeo da periferia o que muitas vezes implicou e implica ainda invasatildeo de aacutereas de proteccedilatildeo de mananciais com a aquiescecircncia do poder puacuteblico Esta
32
dinacircmica agravou a situaccedilatildeo de risco dos mananciais pela eliminaccedilatildeo das matas ciliares e consequentemente erosatildeo das margens dos cursos drsquoaacutegua e assoreamento de suas calhas e pela contribuiccedilatildeo do esgoto in natura (ROLNIK1997 apud GORSKI 2010 p62)
Sendo assim a supressatildeo das matas ciliares e das vegetaccedilotildees das encostas para fins de
ocupaccedilatildeo urbana interfere diretamente no ciclo hidroloacutegico diminuindo a absorccedilatildeo de
aacutegua pelo subsolo e pela evapotranspiraccedilatildeo favorecendo o escoamento superficial (Figura
6) que intensifica a velocidade de drenagem das aacuteguas Este processo nas encostas eacute
mais significativo se considerarmos que com a supressatildeo da cobertura vegetal e
impermeabilizaccedilatildeo do solo as precipitaccedilotildees acabam por lavar todo o material
intemperizado sedimentos carregando-o diretamente para o corpo hiacutedrico e contribuindo
para o assoreamento
Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento Fonte Gorski (2010 p64)
Por outro lado as ocupaccedilotildees ribeirinhas nas vaacuterzeas dos rios modificam a dinacircmica fluvial
frente aos defluacutevios A compactaccedilatildeo e o nivelamento do solo associados agrave
impermeabilizaccedilatildeo por concreto asfalto e outros materiais alteram todo o sistema de
drenagem natural e contribuem para a erosatildeo fluvial Aleacutem disso a gestatildeo puacuteblica que
33
deveria investir num parcelamento do solo sustentaacutevel resguardando ldquouma alocaccedilatildeo de
espaccedilosrdquo (CANHOLI 2005 p 15) para a drenagem acaba por colaborar com as enchentes
urbanas na medida em que decide por obras estruturais como a canalizaccedilatildeo (Figura 7
p30) e a microdrenagem que transferem os impactos das inundaccedilotildees a jusante
Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia Fonte Gorski (2010 p69)
Cabe destacar que desde 1965 com o primeiro Coacutedigo Florestal as matas beira-rio jaacute
eram resguardadas da degradaccedilatildeo humana poreacutem com todo o boom urbano a partir de
1950 a falta de estrutura e ingerecircncia municipal no que se refere ao parcelamento e uso
e ocupaccedilatildeo da terra urbana possibilitou a formaccedilatildeo dos assentamentos clandestinos em
APP e na encosta de morros Em condiccedilotildees precaacuterias sem saneamento baacutesico e demais
infraestruturas urbanas estes assentamentos acabam sendo as regiotildees mais afetadas
com as inundaccedilotildees
Junto agraves questotildees jaacute levantadas vale destacar que as aacuteguas das inundaccedilotildees propiciam o
aumento das doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica (febre tifoide hepatite leptospirose
esquistossomose entre outras) pois carregam segundo Gorski (2010) toda uma poluiccedilatildeo
difusa efluentes domeacutesticos industriais e agroindustriais aleacutem do lixo urbano da poluiccedilatildeo
do ar e das ruas
34
Por outro lado esta ocupaccedilatildeo urbana natildeo planejada perde o benefiacutecio que os corpos
hiacutedricos podem oferecer como [] as paisagens fluviais que aos poucos foram sendo
apropriadas como paisagens urbanas [] (GORSKI 2010 38) aleacutem do microclima
associado agrave umidade pela evapotranspiraccedilatildeo que ameniza a sensaccedilatildeo teacutermica local
Poreacutem conforme observado por Graeff (2011) natildeo eacute cabiacutevel atualmente implantar a
legislaccedilatildeo de APP de modo jurista Deve-se considerar toda a representatividade cultural
assentada sobre os leitos destes rios (avenidas importantes casas com arquitetura
histoacuterica entre outros) Aleacutem disso para a demarcaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo
permanente hoje eacute necessaacuteria uma anaacutelise teacutecnica pautada na geomorfologia e
hidrologia de modo a interpretar o ldquocomportamento histoacuterico dos cursos drsquoaacutegua na
paisagem prevendo cenaacuterios de impactos futurosrdquo da atividade humana sobre suas faixas
marginais
Tendo em vista que grande parte da malha urbana brasileira estaacute alocada em APPs e que
segundo Graeff (2011) estas jaacute possuem uma unidade de paisagem estabelecida e muitas
vezes secular configurando siacutetios de importacircncia cultural e apreendendo que
De modo semelhante nas demais cidades haveraacute que ser entendido o meio urbano como ele realmente eacute ndash um encontro entre as necessidades de habitaccedilatildeo com atividades humanas e de conservaccedilatildeo ambiental esta segunda tambeacutem a serviccedilo do homem e natildeo somente de objetivos difusos e distanciados da sobrevivecircncia da sociedade (GRAEFF 2011 206)
Por tais motivos o trabalho com a geomorfologia fluvial urbana deve abarcar os princiacutepios
do bom senso compreendendo que nestas aacutereas de atividade antroacutepica consolidada pode-
se fazer uso de instrumentos de engenharia avanccedilados para uma convivecircncia equilibrada
do homem com a natureza no entorno Contudo deve-se incentivar as aacutereas de expansatildeo
urbana ou zona periurbana (zonas de transiccedilatildeo da aacuterea urbana para a rural) com poliacuteticas
de incentivo a pavimentaccedilotildees mais permeaacuteveis a fim de minimizar o escoamento
superficial para o rio favorecendo a infiltraccedilatildeo
Apesar de os impactos gerados pela interferecircncia humana nas aacutereas mais fragilizadas da
bacia hidrograacutefica vaacuterzeas e encostas refletirem-se em cataacutestrofes com prejuiacutezos
humanos ambientais e urbanos alguns autores brasileiros como Canholi Graeff Cunha
Carneiro e Miguez jaacute indicaram outros caminhos para uma convivecircncia harmoniosa com
a natureza Aleacutem do mais paiacuteses desenvolvidos como a Holanda deixaram de ldquolutar contra
35
as cheiasrdquo para permitir agraves aacuteguas das enchentes a capacidade de acumular e dispersar
com impacto reduzido para as populaccedilotildees (CARNEIRO MIGUEZ 2011)
Sendo assim a proposta deste estudo eacute identificar os principais agentes que influenciam
as inundaccedilotildees entendendo seu papel e atuaccedilatildeo no contexto urbano de Colatina Mas eacute
tambeacutem a de ampliar a abordagem da temaacutetica com uma anaacutelise geograacutefica integrada
ressaltando as medidas que constam no planejamento urbano e sua aplicaccedilatildeo nas faixas
marginais do corpo hiacutedrico
36
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS
Esta pesquisa eacute constituiacuteda de trecircs etapas principais sendo que a primeira teve como
premissa a confecccedilatildeo de um fluxograma (Figura 8) de trabalho para orientar a pesquisa
em seguida teve iniacutecio o levantamento de bibliografias que abordam temas como a
geomorfologia fluvial e urbanizaccedilatildeo em Colatina adotando-se como referecircncia as
pesquisas de Coelho (2006 2007 2008 e 2009) e Albani (2012) Aleacutem disso muito
contribuiacuteram para este trabalho o relatoacuterio do INCAPER da CPRM e os dados do IBGE
Cabe destacar tambeacutem as experiecircncias com recursos hiacutedricos em ambientes urbanos de
Carneiro e Miguez (2011) em especial Cunha (2001 2012ab)
Esta etapa consistiu tambeacutem na busca de material cartograacutefico como aquisiccedilatildeo de planos
de informaccedilatildeo de limite estadual municipal bairros mancha urbana corpo drsquoaacutegua e
logradouros atraveacutes de dados disponiacuteveis no Sistema Integrado de Bases Geoespaciais
do Estado do Espiacuterito Santo (GEOBASES 2014) no Instituto Jones dos Santos Neves
(IJSN 2015) e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2014) imagens
orbitais gratuitas do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI bandas 2-3-4 e 8 (Pan) oacuterbita 216
ponto 73 com datas de passagem em 02012014 e 22032014 agraves 946 (horaacuterio central
da oacuterbita) junto ao Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2014) aleacutem do ortofotomosaico
do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hiacutedricos (IEMA 2014) do Espiacuterito
Santo referente ao voo de 2007 a 2008
Na segunda etapa foram realizadas duas investigaccedilotildees de campo sendo a primeira no
dia 24 de junho de 2014 com a finalidade de fazer o reconhecimento da aacuterea de estudo
fotografar e conversar com moradores e teacutecnicos da prefeitura O segundo trabalho de
campo ocorreu no dia 14 de fevereiro de 2015 e por meio deste foi possiacutevel identificar
pontos sujeitos a inundaccedilatildeo analisar a topografia e realizar as entrevistas com moradores
e funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina
37
Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC)
38
Na terceira etapa foram realizados os mapeamentos e processamentos de todos os planos
de informaccedilatildeo vetoriais e matriciais em ambiente de SIG no sistema ArcGis 103 iniciando
com a ediccedilatildeo dos dados do Municiacutepio e adjacecircncias que foram ajustados quando
necessaacuterio ao sistema de projeccedilatildeo UTM no Datum SIRGAS ndash 2000 na Zona 24 sul com
meridiano central -39 W com todo o mapeamento produzido seguindo a padronizaccedilatildeo
cartograacutefica proposta por Fitz (2008 a b)
O geoprocessamento teve iniacutecio com a composiccedilatildeo das imagens orbitais do Landsat-8 na
cor natural da imagem (2R 3G 4B) e por meio da teacutecnica de Pan Sharpening ou fusatildeo
de imagens a imagem cor natural foi agrupada agrave da banda 8 pancromaacutetica para obtenccedilatildeo
de uma melhor resoluccedilatildeo espacial neste caso chegando a 15 metros sendo resguardado
o conteuacutedo da imagem composta Na sequecircncia foi realizada a extraccedilatildeo da maacutescara do
periacutemetro urbano de Colatina e gerada a classificaccedilatildeo supervisionada da imagem Landsat-
8 no periacuteodo de cheia (janeiro) e vazante (marccedilo) o que possibilitou a delimitaccedilatildeo da calha
do Doce nestes dois eventos
Em seguida foram realizadas as 8 (oito) mediccedilotildees do leito regular sendo 4 (quatro) no
periacuteodo de cheia e 4 (quatro) na vazante de modo a definir a largura meacutedia da calha do
leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina Para chegar a uma medida geral
da largura do rio utilizaram-se ferramentas estatiacutesticas como a meacutedia que eacute uma medida
de tendecircncia central onde numa amostra de tamanho N constituiacuteda por elementos de x
variando de eacute possiacutevel extrair a meacutedia aritmeacutetica atraveacutes da equaccedilatildeo
A meacutedia aponta para onde mais convergem os dados de uma distribuiccedilatildeo
A partir desta definiccedilatildeo da meacutedia da largura da calha do Rio Doce foi possiacutevel em consulta
ao Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e a Lei 52732007 determinar a faixa miacutenima
de preservaccedilatildeo permanente deste corpo fluvial aleacutem da confecccedilatildeo do mapa com o
poliacutegono de APP
Mediante a anaacutelise do mapa verificou-se que grande parte dos bairros do municiacutepio estatildeo
contidos nos poliacutegonos de APP em especial a preservaccedilatildeo de 500 metros conforme lei
federal E por meio deste foram cruzados os dados de vazatildeo as fotos histoacutericas das
enchentes e o poliacutegono de mata ciliar o que permitiu o entendimento das inundaccedilotildees
39
Em ambiente de SIG tambeacutem foram vetorizados os trecircs traccedilados da Estrada de Ferro
Vitoacuteria a Minas o trajeto do Rio Santa Maria do Doce antes e depois da retilinizaccedilatildeo e os
sucessivos aterros na margem direita do Rio Doce no periacutemetro que compreende a Av
Beira-Rio
As teacutecnicas de sensoriamento remoto como a classificaccedilatildeo supervisionada permitiram a
definiccedilatildeo do poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo atraveacutes da imagem da cheia de janeiro Para
tanto foi realizada tambeacutem a classificaccedilatildeo hiacutebrida objetivando aliar a interpretaccedilatildeo visual
com a digital (JENSEN 2009) Por fim foi realizada amarraccedilatildeo com o levantamento
geodeacutesico da CPRM (2014) para garantir a precisatildeo do traccedilado do poliacutegono de cheia
A partir do tratamento dos dados bibliograacuteficos cartograacuteficos e imagens foi possiacutevel
sistematizar este trabalho o que permitiu identificar elementos histoacutericos de intervenccedilatildeo
na paisagem do Doce como os aterros e a ocupaccedilatildeo urbana As visitas de campo a
entrevista e conversas com moradores foram fundamentais para a validaccedilatildeo das
informaccedilotildees o que tornou esta metodologia eficaz para anaacutelise do fenocircmeno da inundaccedilatildeo
em Colatina
40
4 RESULTADOS
41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana
A ocupaccedilatildeo ao longo das planiacutecies de inundaccedilatildeo dos rios tem ocorrido diante da
necessidade deste recurso para as atividades vitais humanas Cunha (2012b p219)
entende que ldquosuas margens tecircm sido o centro preferido da habitaccedilatildeo humana e o
suprimento de suas aacuteguas natildeo soacute fertiliza os campos para o cultivo como tambeacutem fornece
energia e permite recreaccedilatildeordquo Logo o estabelecimento das vilas nas bordas dos cursos
drsquoaacutegua favorece a logiacutestica ocupacional
Historicamente em solo espiacuterito-santense a formaccedilatildeo das vilas ocorreu agraves margens de
estrateacutegicos cursos drsquoaacutegua e a exploraccedilatildeo do ouro de Minas Gerais para Albani (2012)
determinou que a Coroa proibisse nos seacuteculos XVII a XIX a implantaccedilatildeo de estradas e
exploraccedilatildeo de terras na Capitania do Espiacuterito Santo pois os portugueses temiam incursotildees
estrangeiras deixando assim o desenvolvimento capixaba restrito agrave faixa litoracircnea
Relegada enquanto ldquobarreira verderdquo para defesa das minas de ouro e minerais do atual
territoacuterio das Minas Gerais segundo Coelho (2007) a Capitania do Espiacuterito Santo soacute
passou a se interiorizar para o centro-oeste onde se localiza atualmente a cidade de
Colatina a partir de 1847 por meio das ocupaccedilotildees de Santa Izabel e Santa Leopoldina
que permitiram a descida do Rio Santa Maria do Doce ateacute as imediaccedilotildees da atual cidade
de Colatina
Assim foi que o movimento colonizador desceu o vale do Santa Maria do Rio Doce atingindo em 1891 a regiatildeo das matas onde hoje se acha a cidade de Colatina [] Esta penetraccedilatildeo inicial foi feita com elementos alematildees de Santa Leopoldina e no rio Doce ficou muito anos restrita agrave aacuterea inicial A expansatildeo ao longo do vale tomou impulso com a chegada a Colatina em 1906 dos trilhos da Estrada de Ferro Diamantina (atual Vitoacuteria-Minas) (STRAUCH1955 apud COELHO 2007 p105)
Sendo assim Coelho (op cit) relata que a ocupaccedilatildeo se deu atraveacutes da supressatildeo da mata
nativa no baixo curso do Rio Doce de Colatina a Linhares sendo a madeira daiacute extraiacuteda
levada ateacute o rio e encaminhada ateacute Povoaccedilatildeo vilarejo junto agrave foz de onde eram carregados
os navios Neste periacuteodo tem-se a instalaccedilatildeo de um ciclo madeireiro na regiatildeo com a
disposiccedilatildeo de serrarias nas proximidades das matas
41
Todavia somente a partir de 1906 com a chegada da estrada de ferro na regiatildeo o
transporte madeireiro foi transferido para as locomotivas Agrave medida que a implantaccedilatildeo da
Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas avanccedilava para o interior levava consigo as frentes de
desmatamento modificando as paisagens das margens do Rio Doce e se apropriando dos
espaccedilos deste rio (Figura 9)
Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906 Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce Fonte Albani (2012 p 63)
Conforme Albani (2012) com a vinda dos mineiros e fluminenses reforccedilados
posteriormente a partir de 1889 por colonizadores italianos e alematildees eacute que as
ocupaccedilotildees territoriais ocorreram de modo efetivo Atraveacutes do Barracatildeo do Rio Santa Maria
(Figura 10) espaccedilo do governo inicialmente destinado a alojar os migrantes e a produccedilatildeo
surgiram as primeiras residecircncias nas proximidades da igreja de Satildeo Sebastiatildeo Sendo
assim
Eacute importante destacar que o desenvolvimento da regiatildeo onde se encontra o municiacutepio de Colatina teve iniacutecio no final do seacuteculo XIX no nuacutecleo de colonizaccedilatildeo Antocircnio Prado localizado no distrito de Boapaba antiga vila do Mutum O nuacutecleo recebeu dezenas de famiacutelias de imigrantes italianos e ali desenvolveram atividades de agricultura e com a expansatildeo da localidade surge tambeacutem o comeacutercio (ALBANI 2012 p61) [hellip] A vila de Colatina entretanto logo passou a se transformar no principal nuacutecleo e futuramente na sede do municiacutepio Aleacutem da facilidade da produccedilatildeo atraveacutes do Rio Doce a vila de Colatina tornou-se referecircncia dos imigrantes no caminho para a colonizaccedilatildeo das terras ao norte do estado (MADURO1985 apud ALBANI 2012 p62)
42
Desse modo com o desenvolvimento das atividades de cafeicultura madeireira e do
entroncamento logiacutestico de acesso agraves aacutereas do norte a vila eacute elevada em 1921 agrave categoria
de municiacutepio A atual configuraccedilatildeo territorial foi adquirida a partir de 2001 conforme IBGE
(2014) dispondo de seis distritos Colatina (sede) Acircngelo Frechiami Baunilha Boapaba
Graccedila Aranha e Itapina
Cabe destacar poreacutem que a ocupaccedilatildeo inicial da cidade de Colatina se perfaz pela margem
direita do Rio Doce onde se localiza o atual bairro de Colatina Velha e onde havia se
instalado o Barracatildeo de Santa Maria Nesse periacuteodo a ponte ainda natildeo fora edificada
limitando assim a ocupaccedilatildeo da margem esquerda
Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da regiatildeo Fonte Albani (2012 p62)
Conforme Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p65) a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro
Vitoacuteria a Minas em 1906 (Figura 11) possibilitou a expansatildeo da cidade de Colatina e seu
desenvolvimento econocircmico Todavia sua instalaccedilatildeo paralela agrave margem direita do Rio
Doce favoreceu a localizaccedilatildeo de avenidas e ruas centrais em sua proximidade
43
Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p65)
Entretanto foi com a construccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos (Figura 12) em 1928 que a
margem direita se conectou agrave margem esquerda da cidade o que aleacutem de possibilitar a
ocupaccedilatildeo facilitou o acesso agraves regiotildees mais ao norte do Estado
Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p66)
44
Por conseguinte a estrada de ferro e a ponte foram os fatores determinantes para o
estabelecimento dos migrantes agraves margens do Rio Doce e a formaccedilatildeo do atual municiacutepio
de Colatina Contudo foi a partir desta posiccedilatildeo privilegiada que a cidade passou a ser
entreposto comercial e logiacutestico da regiatildeo noroeste e com isso sua aacuterea urbana expandiu-
se de modo desordenado inicialmente ao longo da planiacutecie de inundaccedilatildeo do Doce Coelho
(2007 p108 e 109) relata que
Os efeitos dessa urbanizaccedilatildeo (novos parcelamentos) e do desmatamento produz [sic] normalmente o aumento da velocidade das aacuteguas superficiais (pluviais) que eram antes interceptadas pelas matas com boa parte absorvida pelo solo O que ocorre geralmente nessas aacutereas eacute a chegada mais raacutepida das aacuteguas das chuvas para o tributaacuterios e calha principal do rio por fluxos concentrados que provocam processos de erosotildees do tipo laminar ravina e voccediloroca transportando quantidades expressivas de sedimentos que por sua vez causam assoreamento e a ocorrecircncia de cheias mais frequentes no rio
Com o crescimento acelerado do periacutemetro urbano proporcionado pelo apogeu do ciclo
cafeeiro as proacuteximas deacutecadas levaratildeo a cidade de Colatina a sofrer com impactos
advindos das alteraccedilotildees no ambiente fluvial do Rio Doce em especial os referentes a
ocupaccedilatildeo (impermeabilizaccedilatildeo) e desmatamento das margens (interferecircncia na drenagem
natural) conforme destacado por Coelho (2007)
Eacute fato que o municiacutepio viveu nas deacutecadas de 1940 e 1950 o auge do ciclo cafeeiro
chegando a ser no ranking brasileiro o 13ordm municiacutepio produtor de cafeacute no ano de 1947
(CAMPOS JUNIOR 2004 apud ALBANI 2012 p69) Poreacutem a partir de 1960 este boom
entrou em colapso com crise do cafeacute que assolou todo o paiacutes levando grande parte dos
pequenos proprietaacuterios rurais a migrarem para centros urbanos em especial no Espiacuterito
Santo a regiatildeo da Grande Vitoacuteria e tambeacutem para o centro de Colatina
Em razatildeo da crise cafeeira a populaccedilatildeo rural migra para centros urbanos A populaccedilatildeo migrou em grande quantidade para a Grande Vitoacuteria para fora do estado e tambeacutem para a cidade de Colatina principal aglomerado urbano da regiatildeo Esse processo provoca o aumento da aacuterea urbana de Colatina A populaccedilatildeo da cidade que era de 3913 habitantes em 1940 cresceu para 26757 habitantes em1960 (ALBANI2012 p71)
O crescimento raacutepido do centro de Colatina aliado ao aumento populacional direciona
grande parte dos migrantes para as aacutereas menos centrais da cidade levando agrave ocupaccedilatildeo
de locais irregulares como os morros e as margens direita e esquerda do Rio Doce Este
45
processo configurou a nova paisagem do municiacutepio povoando do vale agraves encostas (Figura
13)
Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes Fonte Albani (2012 p73)
Associado a este processo de reconfiguraccedilatildeo espacial nas proacuteximas deacutecadas o municiacutepio
de Colatina passaraacute por sucessivas perdas de territoacuterios ateacute atingir os limites atuais (Figura
1 p17) Aliado a estas perdas territoriais seu quantitativo absoluto populacional tambeacutem
sofreraacute impactos poreacutem de modo geral a populaccedilatildeo urbana deste municiacutepio apresentou
crescimento continuo (Graacutefico 2)
Graacutefico 2
Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 2010
Elaborado pela autora Fonte 1940 e 1950 Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p82) 1960 a 2010 IBGE
0
20000
40000
60000
80000
100000
120000
1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020
Populaccedilatildeo Urbana Colatina 1940 - 2010
46
Assim como tem ocorrido nas grandes capitais Colatina cresceu em quantitativo
populacional e territorial urbano de modo muito raacutepido e por este desenvolvimento natildeo ter
sido aliado a um planejamento urbano e ambiental sustentaacutevel a cidade tem sentido os
reflexos das suas interferecircncias ao longo do canal do Doce O que tem provocado
antecipaccedilatildeo dos picos de vazatildeo que no periacutemetro urbano ocasiona as inundaccedilotildees pois
natildeo conseguindo o rio acomodar estes defluacutevios transfere em curto espaccedilo de tempo as
aacuteguas a sua planiacutecie de inundaccedilatildeo atingindo os bairros mais antigos do municiacutepio
Por fim entender o contexto histoacuterico do crescimento da cidade revela muito do panorama
atual E por meio de uma anaacutelise conjunta da histoacuteria com os novos planejamentos eacute
possiacutevel propor intervenccedilotildees urbanas que possibilitem um conviacutevio harmonioso entre
natureza e sociedade neste caso entre o Rio Doce e o centro de Colatina Diante desta
proposta adiante apresentaremos a evoluccedilatildeo dos bairros associando seus periacuteodos de
ocupaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo espacial nas imediaccedilotildees do curso principal do Doce
411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade
Com nuacutecleo inicial de povoamento no Barracatildeo de Santa Maria a cidade de Colatina
cresce a partir deste ponto agrave margem direita do Rio Doce de onde surgem as primeiras
residecircncias comeacutercios e a igreja Atualmente a regiatildeo compreende o bairro de Colatina
Velha que de acordo com Albani (2012 p91) [hellip] ldquopode ser considerado o primeiro polo
de crescimento da cidaderdquo
Aliado ao aumento da populaccedilatildeo migrante das fazendas com a crise do cafeacute o nuacutecleo de
Colatina Velha passa a ser um ponto de passagem obrigatoacuterio para os viajantes que
vinham majoritariamente do sul uma vez que o Rio Doce configurava uma barreira natural
agrave ocupaccedilatildeo das terras ao norte Aleacutem disso a margem esquerda deste canal fluvial era
habitat dos hostis iacutendios botocudos o que dificultava a sua apropriaccedilatildeo
Sendo assim a ocupaccedilatildeo de Colatina conteve-se agrave margem direita nesta primeira fase o
que define o primeiro vetor de crescimento da cidade na direccedilatildeo leste para oeste partindo
das imediaccedilotildees do Barracatildeo de Santa Maria sentido ao Rio Santa Maria do Doce (Figura
14) E a partir de 1906 com a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas da entatildeo
Companhia Vale do Rio Doce atual Vale este vetor de crescimento se consolida e
47
proporciona o surgimento de importantes avenidas paralelas agrave ferrovia a exemplo da Av
Getuacutelio Vargas
Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de crescimento Elaborado pela autora
48
O segundo vetor do crescimento de Colatina estava condicionado agrave construccedilatildeo da ponte
Florentino Aacutevidos a qual conectou a margem direita agrave esquerda do Rio Doce permitindo
a ocupaccedilatildeo da porccedilatildeo ao norte Portanto somente a partir de 1928 com a finalizaccedilatildeo da
obra da ponte a barreira natural pocircde ser transposta o que possibilitou ao lado esquerdo
desenvolver uma nova linha de crescimento urbano com a ocupaccedilatildeo do atual bairro de
Satildeo Silvano
O terceiro vetor de crescimento estaacute associado agrave implantaccedilatildeo do bairro Luiz Iglesias na
margem direita e os de Maria das Graccedilas e Coluacutembia na margem esquerda Albani (2012)
ressalta que esta fase da ocupaccedilatildeo urbana estaacute associada ao desenvolvimento do sistema
viaacuterio como a proximidade da BR-259 sentido Vitoacuteria- Colatina da ES-80 que liga
Colatina agrave regiatildeo norte da ES-256 que a conecta a Marilacircndia e da proximidade da
estaccedilatildeo ferroviaacuteria Carlos Germano Nauman (Figura 15)
Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios e linhas feacuterreas que interceptam a cidade de Colatina Elaborado pela autora
Jaacute na quarta e mais recente linha de crescimento da cidade temos os novos loteamentos
residenciais e industriais a exemplo do de Barbados e do bairro Santa Helena que surgem
49
acompanhando o traccedilado da ponte que contorna a leste a cidade como novo acesso agrave
porccedilatildeo norte do estado Albani (2012 p118) destaca que
Apesar da construccedilatildeo da Segunda Ponte ter sido iniciada em 1986 somente foi inaugurada em 2007 A conclusatildeo da ponte e a construccedilatildeo de uma rodovia de contorno desviaram a BR-259 do centro da cidade O desvio da rodovia federal trouxe um desafogamento do tracircnsito nas principais vias da cidade e um novo direcionamento na expansatildeo urbana Alguns loteamentos surgiram nesse periacuteodo proacuteximo agrave Segunda Ponte e ao contorno na margem norte do rio principalmente no bairro Santa Helena (Figura 55) Essa situaccedilatildeo indica mais uma vez que as linhas de crescimento em Colatina satildeo orientadas pelas vias de transporte
Portanto o crescimento do periacutemetro urbano de Colatina estaacute associado agrave superaccedilatildeo das
barreiras naturais em especial o Rio Doce por meio de investimentos em obras de
engenharia que permitiram o deslocamento humano para a margem esquerda deste curso
Sem duacutevida as vias de transporte foram elementares na construccedilatildeo do periacutemetro urbano
de Colatina pois na medida que se consolidava o sistema viaacuterio as ocupaccedilotildees tambeacutem se
favoreciam destas vias de locomoccedilatildeo A evoluccedilatildeo da aacuterea urbana portanto acompanha
as principais vias de transporte (Figura 15 p45) e estas se utilizam da posiccedilatildeo estrateacutegica
e geograficamente favoraacutevel do canal do Doce para a definiccedilatildeo de seus traccedilados
Apoacutes 94 anos de emancipaccedilatildeo de Linhares o territoacuterio de Colatina eacute fundamental para a
manutenccedilatildeo dos municiacutepios do noroeste capixaba Diante desta posiccedilatildeo estrateacutegica torna-
se relevante o entendimento de como o urbano se relaciona com o meio natural a fim de
se estabelecer poliacuteticas de ordenamento territorial que promovam a qualidade de vida no
municiacutepio Adiante seraacute analisada a situaccedilatildeo da calha principal do Rio Doce elemento
fundamental na compreensatildeo do uso e cobertura da terra de Colatina
42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce
Compreendendo uma aacuterea de 3330 kmsup2 o periacutemetro urbano de Colatina eacute afetado pela
velocidade dos defluacutevios de modo que grande parte dos bairros beira-rio eacute tomada pelas
aacuteguas excedentes da calha principal do Doce o que configura o fenocircmeno de inundaccedilatildeo
Ao pesquisar estes fenocircmenos eacute necessaacuterio relacionar o uso da terra com os processos
geomorfoloacutegicos do corpo hiacutedrico Sendo assim por meio de teacutecnicas de
geoprocessamento foram realizadas oito mediccedilotildees da calha principal do Rio Doce para
50
estabelecimento da distacircncia meacutedia da largura de sua calha O resultado esteve dentro do
esperado e pode ser verificado na tabela abaixo (Tabela 1) e no mapa em sequecircncia
(Figura 16)
Tabela 1 Perfis transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de
vazante (abril) e cheia (janeiro)
Largura do rio Doce periacuteodo de vazante e cheia
Abril2013(m) Janeiro2014(m)
P1 70735 75784
P2 62080 66483
P3 59209 65804
P4 63548 67650
Meacutedia dos Perfis 62814 67066
Meacutedia Geral 66143 Obs todas as medidas estatildeo em metros
Elaborado pela autora
Figura 16 - Traccedilado dos perfis transversais da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de vazante mecircs de abril2013 Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)
51
Com uso das imagens orbitais do Landsat-8 atraveacutes da classificaccedilatildeo hiacutebrida foram
gerados dois arquivos shapefiles correspondentes agraves bordas do Doce um no periacuteodo de
vazante e outro no de cheia Por meio destes dados foram definidos quatro traccedilados para
realizaccedilatildeo das mediccedilotildees a partir destas e com auxiacutelio das medidas de tendecircncia central
chegou-se a uma largura meacutedia total de 66143m de uma margem a outra Este resultado
indicou que tanto no periacuteodo de vazante quanto no periacuteodo de cheia a largura meacutedia
aponta para a maior faixa de APP proteccedilatildeo de 500m conforme previsto na legislaccedilatildeo
federal (Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e no revogado Lei 4771 1965)
Analisando a imagem abaixo (Figura 17) observa-se que grande parte do solo
naturalmente destinado a ldquoacomodaccedilatildeordquo das aacuteguas nas cheias (linha laranja) foi
incorporado agrave sociedade como espaccedilo criado (periacutemetro urbano em APP mancha em
amarelo) destinado a fins muacuteltiplos Deste modo sem planejamento territorial adequado
grande parte da planiacutecie de inundaccedilatildeo deu lugar a outras funccedilotildees diferentes das naturais
sendo incorporada ao espaccedilo urbano
Lanccedilando o buffer (mancha em amarelo) do entorno da calha do Doce (Figura 17) observa-
se que dos 59 bairros do municiacutepio cerca de 29 estatildeo dentro da aacuterea de 500m destinada
a preservaccedilatildeo permanente pelo Coacutedigo Florestal Considerando-se a delimitaccedilatildeo da APP
prevista no PDM de 1996 e 2007 (linha laranja mais proacutexima da borda do rio) este nuacutemero
cai para 18 bairros permanecendo apenas aqueles que possuem limites com o corpo
hiacutedrico
Uma vez que que lei municipal natildeo suplanta lei federal considerar-se-aacute neste estudo o
limite da faixa marginal de proteccedilatildeo definida na Lei Federal 126512012 Deste modo a
aacuterea de preservaccedilatildeo permanente do Doce neste recorte eacute de 1085 kmsup2 compreendendo
33 do periacutemetro urbano de Colatina
Cabe destacar ainda que mesmo o PDM de 1996 contendo enquanto objetivo no Art 14
ldquoI - estabelecer a ordenaccedilatildeo do uso e da ocupaccedilatildeo do solo urbanordquo (Lei 42281996 p4)
a gestatildeo municipal natildeo obteve sucesso na implementaccedilatildeo de tal legislaccedilatildeo O que se
verifica tanto nas deacutecadas de 1990 quanto no iniacutecio dos anos 2000 quando foram
aprovados novos parcelamentos urbanos agraves margens deste canal a exemplo dos bairros
de Barbados na margem direita e do bairro Mario Giurizato na margem esquerda
52
Figura 17- Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)
53
Articulado a esta ideia e pesquisando o trecho do bairro Esplanada a Colatina Velha palco
das uacuteltimas obras estruturantes de alto porte do municiacutepio consegue-se analisar os efeitos
das inundaccedilotildees nas margens deste rio Logo implementar medidas de prevenccedilatildeo de
cheias em aacutereas com urbanizaccedilotildees antigas requer um esforccedilo da gestatildeo na regulaccedilatildeo do
solo urbano
421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie
de Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio
Interceptada pelo curso do Rio Doce no perfil mais a jusante da bacia a cerca de 100km
do estuaacuterio com o Oceano Atlacircntico a cidade de Colatina polo moveleiro e de confecccedilotildees
do centro-oeste capixaba eacute palco recorrente de inundaccedilotildees urbanas
Conforme jaacute mencionado por Cunha (2012a) este fenocircmeno ocorre quando a bacia recebe
um percentual precipitado acima da sua capacidade de escoamento o que faz o leito
menor do rio extravasar para o leito maior ocupando as aacutereas de vaacuterzeas (Figura 18 p
50) Aliadas a esta questatildeo estatildeo as ocupaccedilotildees humanas das margens dos rios que ao
suprimir a vegetaccedilatildeo natural e alterar a condiccedilatildeo fiacutesica do solo acabam por reduzir a aacuterea
de drenagem das aacuteguas pluviais acelerando o escoamento superficial para o canal
principal e favorecendo os defluacutevios
Figura 18 - Representaccedilatildeo da inundaccedilatildeo urbana Fonte adaptado da Defesa Civil do Tocantins (2015)
Este fenocircmeno tem ganhado destaque em Colatina a partir de 1979 ano em que o Rio
Doce atingiu a vazatildeo de 12860msup3s tomando toda aacuterea aplainada que compotildee seu leito
maior afetando da atual Av Beira-Rio ateacute as redondezas da Av Getuacutelio Vargas Desde
entatildeo os estudos das inundaccedilotildees urbanas satildeo relevantes no municiacutepio o que levou o
54
Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) na deacutecada de 1980 a elaborar um ldquoPlano Diretor
de Contenccedilatildeo das Enchentes Proteccedilatildeo das Encostas e Drenagem Pluvial de Colatinardquo
Tal medida apresentou seis alternativas para o fenocircmeno Poreacutem tendo em vista o custo
operacional das obras apenas a alternativa seis que previa a construccedilatildeo de diques
marginais para a proteccedilatildeo das aacutereas mais centrais foi considerada viaacutevel na eacutepoca
Todavia em entrevistas com funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina (PMC) foi
relatado que todo o estudo foi arquivado e que ateacute agora natildeo haacute previsatildeo de
implementaccedilatildeo de tais medidas Fato este que eacute evidenciado (Tabela 2 p 51) quando da
ocorrecircncia de precipitaccedilotildees intensas na bacia durante as quais sazonalmente a cidade eacute
impactada com as aacuteguas das inundaccedilotildees Isto faz com que o municiacutepio passe
recorrentemente por cataacutestrofes conforme tabela com os principais picos de vazatildeo do rio
nos uacuteltimos 50 anos
Tabela 2
Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013
Ano Diamecircs Vazatildeo(msup3s)
1961 30jan 6613
1979 04fev 12860
1997 07jan 8687
2005 03ago 6549
2013 24dez 9028
Fonte Coelho (2007 apud DALLAPICOLA 2014 p4) e CPRM (2014 p85) Observo que os dados da tabela 1 para os anos de 1979 e 2013 estatildeo baseados na estimativa de vazatildeo meacutedia diaacuteria das maacuteximas anuais obtida atraveacutes de extrapolaccedilatildeo da curva-chave pelo grupo interdisciplinar dos relatoacuterios criacuteticos anteriores
As inundaccedilotildees de 1979 1997 e recentemente 2013 (Figura 19) foram as de maior vazatildeo
neste setor do rio e consequentemente as que mais atingiram a aacuterea urbana do municiacutepio
bloqueando os acessos ao centro da cidade e aos equipamentos essenciais como
hospitais escolas e demais oacutergatildeos puacuteblicos aleacutem de desalojarem muniacutecipes e
comprometerem a sauacutede puacuteblica
55
Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de 1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 Fonte1) Nossa Colatina 2) Nossa Linda Colatina 3) Nossa Colatina
Com o propoacutesito de identificar os principais fatores que acentuam as inundaccedilotildees seraacute
analisado como os processos geomorfoloacutegicos do Doce estatildeo sendo afetados pela accedilatildeo
antroacutepica Limitaremos a anaacutelise ao periacutemetro urbano no trecho que compreende do bairro
Esplanada ateacute o bairro Colatina Velha (Figura 20) Neste periacutemetro eacute possiacutevel visualizar a
evoluccedilatildeo da mancha urbana sobre o leito do rio aleacutem de identificar na margem direita os
pontos desnaturalizados deste canal fluvial
56
Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2) Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do recorte em rosa da APP de 50m (amarelo claro) e 500m (amarelo escuro) Fonte 3) Encontra Colatina (2015)
57
O recorte em questatildeo eacute margeado pela Av Beira-Rio e estaacute situado (Figura 20) dentro do
buffer de preservaccedilatildeo permanente previsto no PDM (buffer de 50m) e no Novo Coacutedigo
Florestal (buffer de 500m) Apesar desta aacuterea ser destinada a mata nativa e ou
reflorestada a ocupaccedilatildeo urbana antecede os artigos legais o que dificulta poliacuteticas de
gestatildeo territorial em um periacutemetro ao mesmo tempo histoacuterico e com funccedilatildeo relevante no
equiliacutebrio hidroloacutegico da bacia
O periacutemetro faz parte da vaacuterzea da margem direita do Rio Doce pois encontra-se em cota
topograacutefica de 50m caracterizando sua planiacutecie Logo a aacuterea em questatildeo tem a funccedilatildeo de
acomodar as aacuteguas das cheias quando a calha principal natildeo comporta o escoamento de
grandes vazotildees Esta tarefa passa a ser prejudicada na medida em que na bacia ou no
curso original satildeo implementadas obras que interferem na morfologia do corpo hiacutedrico
principal como a instalaccedilatildeo das hidreleacutetricas de Mascarenhas (1974) e Aimoreacutes (2005) a
montante
As UHErsquos a montante comprometem os processos do rio uma vez que o regime natural de
transporte de sedimentos eacute alterado com o barramento o que favorece a erosatildeo e
consequentemente o assoreamento com a formaccedilatildeo de bancos arenosos alteraccedilatildeo do
seu perfil transversal e reduccedilatildeo da profundidade Aleacutem disso segundo Coelho (2007) as
vazotildees maacuteximas e miacutenimas foram alteradas com a implantaccedilatildeo das hidreleacutetricas a
montante implicando em vazotildees meacutedias anuais miacutenimas cada vez mais reduzidas com
valores se distanciando da linha de tendecircncia (polinocircmio) provando o natildeo equiliacutebrio da
vazatildeo apoacutes a implantaccedilatildeo das barragens (Graacutefico 1 p22)
Entretanto a primeira intervenccedilatildeo direta no trecho em estudo foi a instalaccedilatildeo da estrada
de ferro que atraiu migrantes para Colatina permitindo o crescimento populacional e a
expansatildeo urbana desordenada agraves margens do Doce Este crescimento intensificou a
supressatildeo das matas ciliares e abriu espaccedilo para a impermeabilizaccedilatildeo do solo reduzindo
a infiltraccedilatildeo
Posteriormente a inauguraccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos ampliou o fluxo na regiatildeo pois
proporcionava a ligaccedilatildeo com as terras ao norte do Estado Atuou tambeacutem como obstaacuteculo
ao transporte de sedimentos carreados no fluxo natural do rio uma vez que sua
implantaccedilatildeo altera a topografia do fundo do canal afetando os processos geomorfoloacutegicos
58
Poreacutem foi no Morro das Cabritas (colina localizada no espaccedilo que compreende o atual
bairro Esplanada) que ocorreu a primeira desnaturalizaccedilatildeo nas margens do Doce Este
morro por onde o Rio Santa Maria do Doce meandrava ateacute desaguar no Rio Doce foi
cortado em meados de 1953 para abrigar a cidade em expansatildeo Devido a esta
intervenccedilatildeo o curso original do Santa Maria foi deslocado e passou a escoar
retilineamente ateacute a foz (Figura 21)
Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponte Florentino Aacutevidos (direita) e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque em vermelho para o curso atual do Santa Maria Fonte Nossa Colatina
As intervenccedilotildees na margem direita tornam-se mais intensas a partir da deacutecada de 1960
quando no ano de 1968 edificou-se um muro visando a proteccedilatildeo dos pilares da
extremidade direita da ponte Esta obra ficou paralisada por muitos anos e foi a primeira
de retificaccedilatildeo e aterro realizada neste trecho do rio Esta intervenccedilatildeo modificou o fluxo
natural das correntes do rio e reduziu a largura da sua calha alterando a morfologia do
canal (Figura 22)
59
Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de proteccedilatildeo da ponte Elaborado pela autora Fonte fotos histoacutericas Nossa Colatina
Contudo somente em 1972 teve iniacutecio o segundo aterro (Figura 23) com a finalidade de
alocar a estaccedilatildeo rodoviaacuteria de Colatina e ampliar a aacuterea de acesso agrave ponte Florentino
Aacutevidos A implementaccedilatildeo desta obra suprimiu parte do leito do Rio Doce pois removeu a
saliecircncia cocircncava que curvava o rio retilinizando esta parte do canal
60
Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora Fonte Nossa Colatina Nossa Linda Colatina
Apoacutes dez anos sem grandes intervenccedilotildees em 1982 o lado a montante da ponte bairro
Esplanada eacute acrescido de um aterro que estenderaacute a aacuterea do antigo Morro das Cabritas
para o rio (Figura 24)
Conhecido como Rua da Lama devido agrave umidade que o rio transferia ao aterro formando
um barro viscoso que persistia a maior parte do ano o trecho atualmente compreende a
Avenida Professor Joseacute Zouian popularmente denominada Avenida Beira-Rio de onde
surge a primeira forma do calccediladatildeo que seraacute estendido ateacute o bairro Colatina Velha
61
Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o calccediladatildeo da Av Beira-Rio Elaborado pela autora Fonte Bennachio (2015)
Somente em 2004 foi implementado o maior projeto de canalizaccedilatildeo do municiacutepio Naquele
ano teve iniacutecio a execuccedilatildeo do enrocamento da Av Beira-Rio (Figura 25) obra destinada
inicialmente a alocaccedilatildeo de equipamentos puacuteblicos de lazer e cultura praccedilas preacutedios aleacutem
da promessa de contribuir para a contenccedilatildeo dos transbordamentos do Rio Doce
Apesar de o referido manancial jaacute estar comprometido com problemas de poluiccedilatildeo
assoreamento e erosatildeo aleacutem dos impactos de duas hidreleacutetricas instaladas a montante a
obra abarcou a supressatildeo da vegetaccedilatildeo ciliar e aterro de parte do rio jaacute tatildeo degradado
62
Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento iniciada em 2004 e finalizada em 2008 Elaborado pela autora Fonte proacutepria autora em 240215
Ocupando uma aacuterea total de 130 mil msup2 do leito do Rio Doce o aterro teve iniacutecio em 2004
sendo construiacutedo com cerca de 90 mil msup3 de pedras 50 mil msup3 de areia retirada do leito do
rio e por fim o nivelamento com 200 mil msup3 de terra A obra era divulgada como um antigo
sonho dos colatinenses e serviria para ampliaccedilatildeo da Av Beira-Rio no bairro de Colatina
Velha instalaccedilatildeo de ciclovias calccediladatildeo equipamentos puacuteblicos e estacionamento (Figura
26) Apesar do fim da engenharia em 2008 o projeto ainda estaacute em fase de acabamento
na parte urbaniacutestica e na alocaccedilatildeo dos oacutergatildeos puacuteblicos
Cabe destacar que a obra sofreu embargos do Ministeacuterio Puacuteblico Federal (MPF) por
apresentar apenas cadastro na Agecircncia Nacional de Aacuteguas (ANA) que conforme parecer
da Procuradora Nadja Machado Botelho na Accedilatildeo Civil Puacuteblica ldquo[hellip] equivocadamente natildeo
realizou o procedimento de outorga [hellip]rdquo (MPF 2006 p2) Aleacutem disso a procuradora
solicitou tutela tendo em vista tratar-se de aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental e o fato de o
IBAMA ter concedido licenciamento com indevida dispensa do Estudo de Impacto
Ambiental (EIA)Relatoacuterio de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA)
63
Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina Fonte Prefeitura de Colatina (2015)
Por isso essa obra deve ser considerada faraocircnica para os cofres puacuteblicos e irreversiacutevel
para os processos geomorfoloacutegicos do Doce E sua efetivaccedilatildeo soacute foi possiacutevel com a
participaccedilatildeo e investimentos do Governo estadual Contudo seu objetivo foi frustrado pois
novamente na cheia do Rio Doce em dezembro de 2013 quando este atingiu a vazatildeo de
9028 msup3s a aacuterea foi inundada e por estar em cota maior que as casas que beiravam o
rio o enrocamento atuou como represa natildeo permitindo o retorno das aacuteguas quando o niacutevel
do rio retomou o equiliacutebrio
Por fim segue um mapa siacutentese (Figura 27) com a cartografia das quatro principais
intervenccedilotildees diretas e estruturais na margem direita do Doce no setor urbano de Colatina
representando o curso natural do rio em 1950 e suas desnaturalizaccedilotildees a partir da deacutecada
de 60 ateacute a atualidade
64
Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce ante e depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora
65
422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio
O recorte em estudo compreende as Zonas ZE-1 ZE-2 e ZUD 2-1 (Figura 28 p61) sendo
a Zona Especial 1 Zona Especial 2 e Zona de Uso Diverso 2-1 destinadas no PDM (Lei
52732007)
Artigo 103 - As Zonas de Usos Diversos ndash ZUD satildeo definidas em razatildeo da concentraccedilatildeo de atividades urbanas diversificadas com predominacircncia do uso comercial e de serviccedilos Artigo 104 - Satildeo objetivos das Zonas de Usos Diversos I - otimizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do solo priorizando a instalaccedilatildeo de novos empreendimentos em terrenos natildeo edificados contiacuteguos a empreendimentos jaacute instalados II - controle da implantaccedilatildeo de usos incompatiacuteveis com os definidos para estas zonas III - garantia de licenciamento e monitoramento ambiental dos empreendimentos IV - controle da expansatildeo comercial de serviccedilos e de induacutestrias de pequeno porte em direccedilatildeo a aacutereas residenciais [] Artigo 130 - As Zonas Especiais 1 ndash ZE 1 abrangem todas as aacutereas remanescentes do municiacutepio relativamente ao zoneamento estabelecido nesta lei ocupadas ou natildeo contida na lei de periacutemetro urbano para as quais natildeo foram ainda estabelecidos os criteacuterios de uso e ocupaccedilatildeo Artigo 131 - As Zonas Especiais 2 ndash ZE 2 satildeo as aacutereas existentes no prolongamento da avenida Beira Rio mais especificamente no trecho entre o 80 Batalhatildeo da Poliacutecia Militar e a rua Pedro Epichin incluindo o espaccedilo existente entre a margem do Rio Doce e o limite das construccedilotildees localizadas na rua Pedro Epichin
Cabe destacar que mesmo sendo palco das aacutereas mais afetadas com as inundaccedilotildees do
Rio Doce a Beira-Rio tem sido alvo da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria que aproveitando-se dos
iacutendices pouco restritos da ZUD 2 (Figura 28 p62) valoriza o espaccedilo promovendo a
instalaccedilatildeo de grandes estruturas como hipermercados edifiacutecios residenciais modernos e
hotelaria
66
Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 Fonte Colatina (2007)
A aacuterea contida na ZE (Figura 28) natildeo possui criteacuterio de ocupaccedilatildeo definido na legislaccedilatildeo
atual sendo adotado o disposto na Lei 41961995 que estabelece os iacutendices urbaniacutesticos
para as aacutereas conquistadas junto ao Rio Doce e na Lei 420595 que aprova os
parcelamentos na Beira-Rio Quanto agrave ZUD 2-1 apresenta iacutendices urbaniacutesticos no anexo
118 do Plano Diretor conforme tabela 3 abaixo
67
Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1
Fonte Colatina (2007 p36)8
68
Eacute relevante observar que numa aacuterea onde o corpo hiacutedrico foi reduzido pelos sucessivos
aterros tenha sido aprovada a instalaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto (Figura
29) com taxa de ocupaccedilatildeo de ateacute 80 e com baixo iacutendice de permeabilidade Ampliou-
se a aacuterea impermeaacutevel numa regiatildeo onde a drenagem jaacute eacute muito comprometida com a
expansatildeo urbana sobre o rio
Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto na Beira-Rio Fonte imagem do Google Maps 2015 E fotos da autora em 140215
Portanto analisando o conjunto de dados apresentado acima eacute possiacutevel entender como
as inundaccedilotildees satildeo potencializadas no municiacutepio atingindo a populaccedilatildeo mas em especial
afetando a dinacircmica de um corpo hiacutedrico tatildeo relevante para o Estado A fim de subsidiar a
gestatildeo puacuteblica com material cartograacutefico para a tomada de decisotildees delimitou-se o
poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo (Figura 30) Pois devem ser adotadas medidas que
minimizem impactos de futuros eventos hidroloacutegicos na bacia capazes de comprometer
novamente a aacuterea urbana mais central de Colatina
69
Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av Beira-Rio em dezembro de 2013 Elaborado pela autora
70
Diante do poliacutegono de inundaccedilatildeo da uacuteltima cheia (Figura 30) em dezembro de 2013 eacute
possiacutevel implementar medidas de convivecircncia com as grandes vazotildees a exemplo de
paiacuteses como Holanda que vem investindo em medidas de resiliecircncia a fim de reduzir a
velocidade dos defluacutevios possibilitando ao canal a capacidade de acumular e dispersar as
aacuteguas com impacto miacutenimo para as populaccedilotildees Conforme Carneiro e Miguez (2011) a
estrateacutegia adotada pelo paiacutes eacute reter armazenar e drenar sendo mais flexiacutevel e natildeo
interferindo drasticamente na dinacircmica do corpo hiacutedrico
Por fim a implementaccedilatildeo de soluccedilotildees de planejamento urbano em Colatina requer uma
anaacutelise integrada que abarque o urbano e o ambiental de modo a propor intervenccedilotildees que
produzam impactos reduzidos nos processos geomorfoloacutegicos do Rio Doce Logo a gestatildeo
municipal deve atuar em niacutevel de bacia hidrograacutefica interagindo com os municiacutepios a
montante propondo medidas de minimizaccedilatildeo das cheias urbanas Mas na escala local
pode-se atuar junto aos novos parcelamentos de modo a ampliar o percentual de aacutereas
permeaacuteveis no municiacutepio incentivando por exemplo os novos loteamentos a adotarem
pavimentaccedilotildees que permitam a drenagem natural do solo
71
5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Partindo da ideia de que eacute possiacutevel implementar medidas que minimizem o escoamento
superficial satildeo apresentadas propostas como forma de controlar ou ao menos reduzir os
impactos das inundaccedilotildees urbanas
Embora as implementaccedilotildees histoacutericas de estruturas de proteccedilatildeo ou barreiras mais altas
tenham sido muito disseminadas atualmente estatildeo sendo suplantadas pelo gerenciamento
de inundaccedilotildees de maneira mais sustentaacutevel Deste modo as experiecircncias fora do Brasil
apontam para soluccedilotildees mais flexiacuteveis que considerem o fluxo natural do canal enquanto
um ecossistema em equiliacutebrio Para tanto Carneiro e Miguez (2011 p150) destacam a
iniciativa alematilde no controle de inundaccedilotildees em bacias hidrograacuteficas metropolitanas
[hellip] A abordagem comum consiste na regulaccedilatildeo do uso do solo nas aacutereas inundaacuteveis e em ldquodar espaccedilo para o riordquo ao inveacutes de priorizar investimentos em estruturas de proteccedilatildeo contra inundaccedilotildees como a colocaccedilatildeo de diques de contenccedilatildeo as margens dos rios A utilizaccedilatildeo do conceito de resiliecircncia apropriado de ecologia decorre dessa abordagem A aplicaccedilatildeo praacutetica do conceito implica portanto em mudanccedilas de paradigma Deixa de ser preponderante a engenharia construtiva e entra em cena o planejamento de longo prazo voltado para o desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis capazes de conviver com as variaccedilotildees do ciclo hidroloacutegico sem significar necessariamente trageacutedias anunciadas
Aleacutem dessas propostas geoacutegrafos como Sandra Cunha tecircm estudado a recuperaccedilatildeo
natural ou ldquorenaturalizaccedilatildeordquo de corpos fluviais visando promover a estabilidade dos canais
de modo mais sustentaacutevel Para ela
[hellip] Recuperaccedilatildeo de canal significa de forma simples o retorno as condiccedilotildees anteriores aos distuacuterbios Em essecircncia eacute o processo de recuperaccedilatildeo do rio ou do ecossistema fluvial estabilizando o desenvolvimento de habitats e colonizaccedilatildeo a uma taxa mais raacutepida que dos processos naturais fiacutesicos e bioloacutegicos Na recuperaccedilatildeo de canais ocorrem consideraccedilotildees de aspecto hidroloacutegico morfoloacutegico e ecoloacutegico qualidade da aacutegua esteacutetica aleacutem da necessidade de uma visatildeo integradora do projeto sustentaacutevel de recuperaccedilatildeo (CUNHA 2012 p230 a 231)
Satildeo portanto medidas pontuais como o retorno agraves sinuosidades do rio (Figura 31 p 68)
ou a substituiccedilatildeo de estruturas de concreto por superfiacutecies mais permeaacuteveis a exemplo
das trincheiras de infiltraccedilatildeo ou pavrsquos (Figura 32) aacutereas mais vegetadas aleacutem de coleta e
uso de aacutegua da chuva bem como tratamento das aacuteguas superficiais por meio de
72
amenidades esteacuteticas como reservatoacuterios de retenccedilatildeo ou detenccedilatildeo que podem ser
associados a ambientes harmocircnicos como lagos artificiais Todas estas accedilotildees possibilitam
a minimizaccedilatildeo das grandes vazotildees no solo urbano pois pretendem atenuar os impactos
das cheias fazendo com que seja resgatada parte da drenagem existente anteriormente agrave
urbanizaccedilatildeo
Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do Rio Aa Munster Alemanha (1998) Fonte Cunha (2012 p233)
Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos Fonte Carneiro e Miguez (2011 p128)
A partir do exposto cabe agrave gestatildeo municipal implementar legislaccedilotildees que priorizem a
permeabilidade possibilitando uma maior infiltraccedilatildeo das aacuteguas das chuvas atraveacutes de
pavimentaccedilotildees menos impermeaacuteveis e da ampliaccedilatildeo de aacutereas vegetadas Satildeo medidas
que tornam a drenagem mais sustentaacutevel aleacutem de possibilitar a manutenccedilatildeo dos serviccedilos
puacuteblicos de forma menos custosa tendo em vista o elevado preccedilo das recomposiccedilotildees
asfaacutelticas
1 2
73
Aleacutem disso quando se fala em controle de cheias urbanas pressupotildee-se uma seacuterie de
medidas para minimizaccedilatildeo de seus impactos desde a operaccedilatildeo de sistemas de alerta
zoneamento de aacutereas inundaacuteveis construccedilatildeo de grandes reservatoacuterios de contenccedilatildeo de
cheias e diques ateacute accedilotildees de educaccedilatildeo ambiental
Cabe pensar tambeacutem na proacutexima revisatildeo do PDM em um plano de macrodrenagem
municipal que reuacutena accedilotildees de caraacuteter estruturantes com obras hidraacuteulicas de infraestrutura
que realizem a conduccedilatildeo final das aacuteguas dos escoamentos superficiais para a minimizaccedilatildeo
das inundaccedilotildees e em medidas natildeo-estruturantes que trabalhem a consciecircncia ambiental
e proponha um zoneamento de cheias a fim de se delimitar os pontos mais fragilizados nos
defluacutevios
Por fim pensar em drenagem num contexto de ocupaccedilatildeo irregular histoacuterico requer
profissionais que aleacutem de possuir afinidade com a temaacutetica tambeacutem possam analisar os
diferentes processos que constituem o espaccedilo geograacutefico Logo este tipo de estudo deve
abarcar uma equipe multidisciplinar que percorra a anaacutelise desde o ambiental estrutural
ateacute o aspecto humano a fim de se produzir resultados que de fato contribuam com o
controle das inundaccedilotildees urbanas
74
6 CONCLUSAtildeO
A partir do recorte espacial foi possiacutevel compreender que a abordagem da geomorfologia
fluvial com a anaacutelise espaccedilo-temporal da ocupaccedilatildeo urbana possibilita a identificaccedilatildeo das
accedilotildees do homem no meio ambiente pois estas resultam na alteraccedilatildeo das paisagens
naturais e na dinacircmica da bacia hidrograacutefica Assim o Rio Doce deve ser estudado de
modo integrado ao crescimento da cidade sobretudo para compreensatildeo da produccedilatildeo do
espaccedilo geograacutefico
Analisar a inundaccedilatildeo urbana em Colatina foi satisfatoacuterio pois o municiacutepio estaacute situado no
perfil meacutedio-baixo da bacia vazante e eacute neste trecho que os reflexos das intervenccedilotildees satildeo
mais acentuados principalmente se esta parte do canal tambeacutem tiver passado por obras
que modificaram seus processos hidroloacutegicos Aleacutem disso a perspectiva geograacutefica aponta
para vaacuterias outras questotildees como erosatildeo fluvial planejamento urbano poluiccedilatildeo ambiental
crise da aacutegua que conduzem a outras discussotildees acerca da relaccedilatildeo homemnatureza
Ao demonstrar a evoluccedilatildeo espaccedilo-temporal do uso e cobertura da terra na margem direita
do Doce associando esta ocupaccedilatildeo agraves obras estruturantes que foram executadas no
canal verificamos que todas as praacuteticas adotadas para conter o transbordamento do rio
acabaram alterando sua morfologia com a retificaccedilatildeo de trechos em meandros reduzindo
a largura do corpo hiacutedrico o que favoreceu a apropriaccedilatildeo urbana de suas vaacuterzeas Aliadas
a estas questotildees estatildeo a falta de planejamento urbano e a omissatildeo diante da supressatildeo
das matas ciliares principalmente se considerados os resultados do relatoacuterio teacutecnico do
IJSN contra enchentes em 1980
Cabe destacar tambeacutem que toda a anaacutelise da ocupaccedilatildeo urbana e desnaturalizaccedilatildeo do
Rio Doce foi melhor identificada a partir dos produtos cartograacuteficos deste trabalho Pois eacute
na espacialidade dos fenocircmenos e no registro de informaccedilotildees ainda natildeo mapeadas como
os aterros que o geoacutegrafo executa a anaacutelise do seu objeto de estudo o homem e a
natureza aqui representado pela sociedade e o canal do Doce
Apesar do municiacutepio apresentar leis que resguardam os leitos dos rios desde o primeiro
PDM em 1996 nada foi feito para conter as ocupaccedilotildees irregulares beira-rio Pelo contraacuterio
estas aacutereas foram incorporadas ao Plano Diretor em 2007 com possibilidades de
ocupaccedilotildees diversas o que tem levado especuladores a valorizar o solo com vista para o
rio apontando suas qualidades esteacuteticas e teacutermicas Este fato vem aumentando o
75
percentual de aacutereas impermeaacuteveis nesta margem comprometendo ainda mais a drenagem
dos defluacutevios
Eacute na Av Beira-Rio que crescem as implantaccedilotildees de grandes empreendimentos comerciais
como supermercado Casagrande Ogil Hotel e obras de construccedilatildeo de novos arranha-
ceacuteus em um periacutemetro que jaacute eacute totalmente comprometido com os extravasamentos do Rio
Doce Estas obras ocupam grandes aacutereas e na maioria das vezes apresentam reduzida
aacuterea permeaacutevel reservando apenas o obrigatoacuterio pela lei cerca de 10 Observa-se
tambeacutem que a implantaccedilatildeo desses projetos estaacute condicionada agrave apresentaccedilatildeo e
aprovaccedilatildeo por comissatildeo na prefeitura do Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV) sendo
difiacutecil conceber que seja concedida tal licenccedila para implementaccedilatildeo de obras num trecho
de risco ambiental
Embora as diretrizes do Estatuto das Cidades para a implementaccedilatildeo do uso da terra
sustentaacutevel e os instrumentos para a regulaccedilatildeo do solo urbano sejam avanccedilados Colatina
eacute mais um exemplo da carecircncia de profissionais capacitados para estudar de modo
integrado e em niacutevel de bacia hidrograacutefica os efeitos da accedilatildeo humana num ambiente tatildeo
peculiar como as margens do Doce Por isso com os objetivos traccedilados nesta pesquisa
podemos aleacutem de compreender o fenocircmeno criar uma metodologia de anaacutelise de aacutereas
inundaacuteveis em ambientes urbanos O que permite agrave gestatildeo municipal uma diretriz para a
tomada de decisotildees
Destaca-se tambeacutem que as legislaccedilotildees aqui referenciadas supriram a discussatildeo acerca do
objeto de estudo mas outras podem contribuir para esta pesquisa a exemplo do Coacutedigo
das Aacuteguas da Poliacutetica Nacional dos Recursos Hiacutedricos das Resoluccedilotildees do Conama do
Estatuto das Cidades entre outros
Sendo assim numa revisatildeo do PDM deve-se pensar nestes aspectos da cidade desde o
histoacuterico de ocupaccedilatildeo das margens ateacute os impactos das inundaccedilotildees e o presente trabalho
auxilia com uma nova abordagem na reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo fornecendo material
cartograacutefico para subsidiar propostas de proteccedilatildeo ao curso do Doce e consequentemente
da populaccedilatildeo
Por fim deve-se destacar que o recorte estaacute inserido num contexto maior de uma bacia
hidrograacutefica que se estende aleacutem dos limites de Colatina ou do estado do Espiacuterito Santo
Esta bacia compreende a Regiatildeo Hidrograacutefica do Atlacircntico Leste e estaacute alocada tambeacutem
76
no estado de Minas Gerais o que portanto torna as accedilotildees de controle das inundaccedilotildees
mais complexas tendo em vista as divergentes politicas territoriais
77
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12 Justificativa
A aacuterea de estudo corresponde ao periacutemetro urbano do municiacutepio de Colatina situado na
Bacia Atlacircntico trecho leste sub-bacia do Rio Doce no baixo curso (ANA 2001)
Compreende a regiatildeo noroeste do estado do Espiacuterito Santo latitude 19deg 32rsquo 16rsquorsquo S e
longitude 40deg 37rsquo 59rsquorsquo W De acordo com os dados do censo de 2010 do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) o municiacutepio possuiacutea uma populaccedilatildeo de 111788 mil
habitantes1 numa aacuterea territorial de 1416804 kmsup2
Devido a sua privilegiada posiccedilatildeo geograacutefica limiacutetrofe com o Rio Doce e a construccedilatildeo da
Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas em 1906 Colatina compreendia os territoacuterios dos atuais
municiacutepios de Baixo Guandu Linhares Pancas Satildeo Gabriel da Palha Marilacircndia Satildeo
Domingos do Norte e Governador Lindenberg (INCAPER 2011) Soacute a partir de 2001
passou a apresentar os atuais limites municipais e configurar uma aacuterea urbana com 59
bairros (Figura 1)
Colatina eacute um municiacutepio de importacircncia para regiatildeo noroeste capixaba seja em caraacuteter
econocircmico ou social Eacute responsaacutevel pelos fluxos de cargas da regiatildeo aleacutem de ser um polo
moveleiro de confecccedilatildeo metalmecacircnico e de comeacutercio e serviccedilos gerando emprego e
renda (INCAPER 2011) Aleacutem disso tem sofrido historicamente com as cheias do Rio
Doce principalmente porque parte do seu periacutemetro urbano eacute inundado com as aacuteguas da
calha principal desse rio o que compromete toda a dinacircmica local e potildee em risco os
colatinenses
Assim diante das crescentes demandas por territoacuterio no periacutemetro urbano a populaccedilatildeo
tem suprimido a cobertura vegetal e ocupado desde as margens do Rio Doce ateacute as
encostas dos morros Em periacuteodos de cheias principalmente nos meses de outubro a
marccedilo (INCAPER 2011 ANA 2001) verificam-se inundaccedilotildees de grande parte da aacuterea
urbana beira-rio aleacutem dos movimentos de massa nas encostas Como exemplo destes
acontecimentos tecircm-se os registros fotograacuteficos dos efeitos da chuva de dezembro de 2013
(Figuras 2 e 3)
1 De acordo com o a estimativa do IBGE de 2014 publicada no DOU o municiacutepio conta com uma populaccedilatildeo de 121670 habitantes
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Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e o canal do Rio Doce Elaborado pela autora
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Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 Fonte Noticias UOL (2013)
Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de 2013 Fonte Folha Vitoacuteria (2013)
Este estudo portanto eacute relevante tendo em vista as raras abordagens no acircmbito das
Ciecircncias Geograacuteficas especialmente no Espiacuterito Santo de pesquisas que correlacionem
aspectos da geomorfologia fluvial por meio da dinacircmica dos recursos hiacutedricos com o uso
e cobertura da terra particularmente o Plano Diretor Municipal (PDM) Discute dessa
forma as implicaccedilotildees da atuaccedilatildeo humana nas particularidades deste ecossistema natural
tendo em vista o disposto nas legislaccedilotildees urbaniacutesticas e ambientais que visam assegurar
a qualidade de vida das populaccedilotildees
Adiante seratildeo analisados os principais fundamentos da geomorfologia fluvial os aspectos
juriacutedicos e o papel da anaacutelise geograacutefica integrada para o entendimento dos fenocircmenos
das inundaccedilotildees no Centro de Colatina uma vez que eacute devido agraves intervenccedilotildees humanas
nos canais e suas margens que esses fenocircmenos tornam-se mais nocivos a cidade
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2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS
21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano
Recurso essencial para a manutenccedilatildeo da vida a aacutegua foi um fator relevante para o
estabelecimento histoacuterico das sociedades no entorno dos cursos hiacutedricos Utilizados para
fins de abastecimento humano e animal irrigaccedilatildeo saneamento e transporte os rios
constituiacuteram-se nos principais propulsores de penetraccedilatildeo para o interior (CUNHA 2012a)
Logo em suas margens surgiram povoados que posteriormente transformaram-se em
cidades como as que se estabeleceram agraves margens do Rio Doce a exemplo da sede de
Colatina
Diante das potencialidades que os recursos hiacutedricos possibilitam agraves sociedades
destacamos a importacircncia do estudo da Geomorfologia Fluvial que se apresenta como
campo da Geomorfologia (ciecircncia que estuda as formas do relevo) sendo o interesse
daquela a pesquisa dos processos que relacionam o escoamento das aacuteguas fluviais num
contexto de bacia hidrograacutefica (CHRISTOFOLETTI 1980 CUNHA op cit) Enfoca assim
as alteraccedilotildees na fisionomia dos canais frente agraves intervenccedilotildees no ecossistema natural
beira-rio
A Geomorfologia Fluvial parte da condicionante de que o uso e ocupaccedilatildeo da terra refletem-
se na dinacircmica da bacia de drenagem interferindo nos processos morfogeneacuteticos ou seja
de modelagem do relevo fluvial escoamento superficial das aacuteguas e no ciclo hidroloacutegico
Frente agrave temaacutetica deste estudo faz-se necessaacuterio o entendimento dos conceitos da
fisiografia fluvial aqui referente aos diferentes setores que a aacutegua pode escoar num leito
(Figura 4) como
O leito menor corresponde agrave parte do canal ocupada pelas aacuteguas e cuja frequecircncia impede o crescimento da vegetaccedilatildeo Esse tipo de leito eacute delimitado por partes bem definidas O leito de vazante equivale agrave parte do canal ocupada durante o escoamento das aacuteguas de vazante Suas aacuteguas divagam dentro do leito menor seguindo o talvegue linha de maacutexima profundidade ao longo do leito e que eacute mais bem identificada na seccedilatildeo transversal do canal O leito maior tambeacutem denominado leito maior perioacutedico ou sazonal eacute ocupado pelas aacuteguas do rio regularmente e pelo menos uma vez ao ano durante as cheias Dependendo do tempo ocorrido entre as subidas das aacuteguas eacute possiacutevel haver a fixaccedilatildeo e o crescimento da vegetaccedilatildeo herbaacutecea
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O leito maior excepcional eacute ocupado durante as grandes cheias no decorrer das enchentes (CUNHA 2001 p 213)
Figura 4 - Tipos de leito fluvial vaacuterzea Fonte Cunha (2001 p213)
Sendo assim as aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial (leitos) aquelas inundadas pelo corpo
hiacutedrico frente a um evento hidroloacutegico extremo tambeacutem satildeo conhecidas como vaacuterzeas
planiacutecie de inundaccedilatildeo ou ainda segundo Carneiro e Miguez (2011 p133) como ldquo[] zona
de passagem de cheia []rdquo Essas aacutereas de vaacuterzeas dependem da fisionomia que o rio
apresenta e segundo Cunha (op cit) o canal fluvial pode apresentar trecircs formas
principais conhecidas como padratildeo dos canais que satildeo retiliacuteneo anastomosado e
meacircndrico (Figura 5)
Figura 5 - Padrotildees dos canais (A) retiliacuteneo (B) anastomosado (C) meandrante (A) amplitude (Rc) raio meacutedio da curvatura do meandro (segundo Bigarella etal 1979) Fonte Cunha (2001 p216)
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Aliada aos padrotildees dos canais estaacute a assimetria ou simetria dos leitos que para Cunha
(2001 p233) relaciona-se com a variaccedilatildeo da velocidade e turbulecircncia ao longo da secccedilatildeo
transversal o que diferencia o comportamento nos canais retiliacuteneos geralmente simeacutetricos
do canal meacircndrico onde
Em canais de leito simeacutetrico em geral padratildeo retiliacuteneo a velocidade maacutexima ocorre no centro do canal diminuindo em direccedilatildeo agraves margens Em leito assimeacutetrico de padratildeo meacircndrico a zona de maacutexima velocidade e turbulecircncia localiza-se nas proximidades das margens cocircncavas decrescendo de valor em direccedilatildeo agrave margem de menor profundidade
(convexa) (CUNHA opcit p 233)
Deste modo a capacidade de erosatildeo das margens transporte e deposiccedilatildeo da carga do rio
dependem entre outros fatores da velocidade das correntes fluviais E o material do fluxo
fluvial constitui-se da descarga liacutequida ou vazatildeo que estaacute relacionada ao tamanho do
material que pode ser transportado e do volume da carga que o rio eacute capaz de carregar
Tem-se ainda a carga soacutelida sedimentos que estaacute relacionada a suspensatildeo e fundo do
rio esta decresce a jusante indicando a diminuiccedilatildeo da competecircncia do corpo fluvial As
cargas de suspensatildeo satildeo constituiacutedas de partiacuteculas finas a exemplo do silte e por fim a
carga de fundo que eacute composta por partiacuteculas de tamanhos maiores a exemplo da areia
(CUNHA2001)
Christofoletti (1980) acrescenta que os sedimentos podem ser carregados de trecircs modos
principais no fluxo em soluccedilatildeo dissolvidos nos cursos hiacutedricos em suspensatildeo como o
silte e argila e em saltaccedilatildeo geralmente a areia e cascalho que compreendem a carga do
leito do rio Destaca-se que a carga detriacutetica natildeo proveacutem apenas da erosatildeo do fundo dos
leitos e margens fluviais mas que o material intemperizado de vertentes carreado nas
enchentes contribui significativamente para a carga sedimentar transportada
Cabe ressaltar ainda que a relaccedilatildeo do arranjo espacial dos canais com os processos
fluviais (a erosatildeo o transporte e a deposiccedilatildeo de sedimentos) eacute determinante para o
trabalho dos rios Tais processos satildeo diretamente influenciados pela vazatildeo velocidade e
pela intensidade da turbulecircncia (seja no fluxo laminar ou no fluxo turbulento) A
variabilidade no comportamento da velocidade e turbulecircncia das aacuteguas ao longo da seccedilatildeo
transversal condiciona os locais preferenciais de erosatildeo e deposiccedilatildeo ao longo do curso
hiacutedrico
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Deste modo qualquer intervenccedilatildeo na bacia e canal fluvial compromete o equiliacutebrio natural
da drenagem levando o corpo hiacutedrico a se adaptar agraves mudanccedilas em sua fisionomia
fisiografia e em seus processos ateacute atingir um novo estado de equiliacutebrio Poreacutem eacute na
planiacutecie de inundaccedilatildeo que estas modificaccedilotildees seratildeo mais percebidas pela populaccedilatildeo pois
a maior parte das obras de engenharia como as canalizaccedilotildees e as ocupaccedilotildees das
margens acaba por romper com o equiliacutebrio natural do rio alterando sua dinacircmica e
intensificando seus processos o que na maioria das vezes potencializa as enchentes no
ambiente urbano
Nesse sentido o entendimento dos processos fluviais (erosatildeo transporte e deposiccedilatildeo)
combinado com a anaacutelise da fisiografia fluvial condicionam as peculiaridades na geometria
hidraacuteulica ou seja na relaccedilatildeo entre a vazatildeo velocidade de escoamento tipos de canais
de sedimentos e a topografia Logo o conhecimento geomorfoloacutegico do rio contribui para
pesquisas que necessitem relacionar o funcionamento deste corpo natural com um
planejamento urbano mais efetivo principalmente se considerarmos um recorte em niacutevel
de bacia hidrograacutefica em espaccedilo urbano
211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial
O capiacutetulo que segue versa sobre a atuaccedilatildeo antroacutepica relacionando-a a aacuterea de estudo o
rio Doce poreacutem este trata de forma macro a temaacutetica para contextualizar o leitor sendo
as especificidades das intervenccedilotildees neste recorte geograacutefico trabalhados nos resultados
desta pesquisa
Diante do exposto eacute possiacutevel acompanhar a evoluccedilatildeo dos processos fluviais nos canais
em especial aqueles que tiveram intervenccedilotildees em seu curso natural como as hidreleacutetricas
instaladas a montante a exemplo do Rio Doce onde a interferecircncia direta na vazatildeo e fluxo
de sedimentos altera a hidrodinacircmica do rio comprometendo a erosatildeo e transporte Para
Coelho (2007 p57) as
Mudanccedilas na Declividade Perfil Longitudinal Promovidas pela construccedilatildeo de reservatoacuterio satildeo variadas e caso o efeito da contenccedilatildeo de sedimentos seja significativo os processos fluviais reduziratildeo a capacidade de transporte de sedimento podendo promover um entalhamento do leito do rio imediatamente agrave jusante da barragem
Aleacutem disso esse processo erosivo poacutes-barragem eacute intensificado favorecendo o
assoreamento e sedimentaccedilatildeo do rio a jusante O que pode beneficiar a elevaccedilatildeo da cota
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do canal fluvial frente a eventos hidroloacutegicos extremos potencializando os efeitos das
inundaccedilotildees nas vaacuterzeas
Ao mesmo tempo o Rio Doce trecho que compreende o Espiacuterito Santo meacutediobaixo curso
eacute impactado nas vazotildees miacutenimas e maacuteximas a jusante apoacutes a instalaccedilatildeo das
barragensUsinas Hidreleacutetricas (UHE) de Mascarenhas (iniacutecio de operaccedilatildeo em 1974)
localizada no Municiacutepio de Baixo Guandu e a de Aimoreacutes (iniacutecio de operaccedilatildeo em 2005)
localizada na divisa do Espiacuterito Santo com Minas Gerais (COELHO 2007)
De acordo com Coelho (opcit) apoacutes a implantaccedilatildeo das usinas ocorreu uma reduccedilatildeo
significativa na vazatildeo da calha principal do Rio Doce conforme Graacutefico 1
Considerando o periacuteodo de 1939 a 2012 a vazatildeo miacutenima apoacutes a instalaccedilatildeo das usinas
chega a atingir 411msup3s e a maacutexima chega apenas a 1251msup3s sendo que no periacuteodo
anterior agrave instalaccedilatildeo das usinas foi registrada a miacutenima de 533 msup3s e uma maacutexima de
1812 msup3s o que ressalta o impacto do barramento sobre o corpo hiacutedrico Aleacutem do
comprometimento dos processos de erosatildeo transporte e sedimentaccedilatildeo (COELHO 2008
e CUNHA 2001)
Diante desta perda de carga liacutequida nos barramentos Cunha (2001 p 241) observa ainda
que as aacutereas a jusante de reservatoacuterios
[hellip] onde o regime do rio sofre significativas modificaccedilotildees devidas ao controle das descargas liquidas e de sedimentos no reservatoacuterio As mudanccedilas ocorridas no regime das aacuteguas neste setor do rio acarretam significativos efeitos nos processos do canal tais como o entalhe do leito a erosatildeo das margens e a deposiccedilatildeo a jusante atingindo longas distacircncias
Aleacutem disso no periacutemetro urbano de Colatina o Rio Doce sofreu outras intervenccedilotildees em
seu canal principal como a implantaccedilatildeo de obras estruturais de macrodrenagem a
exemplo da construccedilatildeo da Av Beira-Rio com intuito de conter o avanccedilo das aacuteguas fluviais
em periacuteodos de cheias
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Graacutefico 1
Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais (Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia)
Fonte adaptado de Coelho (2007 p154)
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Como exemplo dos tipos de intervenccedilotildees humanas nas aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial
leitos Carneiro e Miguez (2011 p117) destacam
As accedilotildees de controle e cheias urbanas podem ser classificadas em estruturais quando a paisagem eacute alterada pela accedilatildeo do homem e em natildeo estruturais aqui denominada como estruturante quando o homem aprende a conviver com as enchentes No primeiro caso estatildeo as medidas de controle atraveacutes de obras hidraacuteulicas tais como barragens diques e canais entre outras No segundo caso encontram-se medidas do tipo preventivo tais como zoneamento de aacutereas de inundaccedilatildeo sistemas de alerta educaccedilatildeo ambiental lei de parcelamento e uso dos solos e seguros contra inundaccedilatildeo
Neste cenaacuterio abarcamos os impactos das obras de engenharia como a canalizaccedilatildeo que
altera a fisionomia e fisiografia do rio refletindo-se nos processos geomorfoloacutegicos do canal
e sua planiacutecie de inundaccedilatildeo Para estes a canalizaccedilatildeo eacute uma obra estrutural que aumenta
a capacidade do fluxo do canal aleacutem de intensificar a velocidade do escoamento
superficial antecipando o pico de cheia e transferindo os alagamentos para locais a jusante
na bacia hidrograacutefica
Articulado a esta ideia Cunha (2012b) reflete a desnaturalizaccedilatildeo dos rios por meio de
obras de retificaccedilatildeo com a reduccedilatildeo do comprimento do canal e eliminaccedilatildeo das
sinuosidades Satildeo obras que afetam a estabilidade do corpo hiacutedrico na medida em que
interferem na relaccedilatildeo entre erosatildeo sedimentaccedilatildeo e deposiccedilatildeo provocando efeitos como
alteraccedilatildeo na morfologia do canal Sendo assim ldquo[hellip] a diminuiccedilatildeo da rugosidade no fundo
do canal em conjunto com a perda dos meandros e a aceleraccedilatildeo das velocidades eacute a
principal responsaacutevel pelas mudanccedilas no balanccedilo da energia natural dos sedimentos
fluviais [hellip]rdquo Cunha (2012b p178) No caso do Rio Doce trecho correspondente agrave Av
Beira-Rio alterou-se a sua forma retilinizando-a e sua vegetaccedilatildeo natural foi substituiacuteda
por estruturas de pedras o que compromete a resistecircncia ao fluxo as margens e aos
bancos arenosos
Embora as obras de canalizaccedilatildeo sejam implantadas como eficazes nos canais fluviais para
questotildees de enchentes urbanas para Cunha (op cit) estas necessitam de manutenccedilatildeo
constante envolvendo desde dragagem remoccedilatildeo de obstruccedilotildees a recomposiccedilatildeo do
material utilizado Poreacutem toda a manutenccedilatildeo estaacute associada a alteraccedilotildees morfoloacutegicas e
bioloacutegicas como as que interferem nas soleiras e depressotildees do fundo dos leitos
desestabilizando a vazatildeo no curso a exemplo da
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ldquo[hellip] eliminaccedilatildeo da sequecircncia de depressotildees e soleiras o aumento da velocidade da corrente a diminuiccedilatildeo da diversidade de habitats o ambiente instaacutevel resultante da flutuaccedilatildeo dos niacuteveis da aacutegua e do substrato moacutevel e a maior flutuaccedilatildeo da temperatura das aacuteguasrdquo (CUNHA 2012b p180)
Ao mesmo tempo o aumento da velocidade dos escoamentos no trecho retificado
possibilita maior erosatildeo transferindo para as aacutereas a jusante uma carga soacutelida
representativa que para Cunha (op cit) configura a formaccedilatildeo de bancos axiais e depoacutesitos
de sedimentaccedilatildeo marginais alterando o equiliacutebrio dos sedimentos a jusante Pois
A jusante das obras de retificaccedilatildeo verificam-se o aumentam da carga soacutelida o assoreamento durante a dragagem a erosatildeo no canal pelos eventos torrenciais do regime e a modificaccedilatildeo na dinacircmica na foz Os sedimentos resultantes da erosatildeo no canal retificado em conjunto com a excessiva carga de sedimentos posta em suspensatildeo durante a dragagem e na fase imediata de poacutes-construccedilatildeo - quando a erosatildeo dos bancos de areia sem vegetaccedilatildeo estaacute em seu niacutevel maacuteximo - originam a formaccedilatildeo de depoacutesitos fluviais de curta duraccedilatildeo a jusante do canal retificado Logo a seguir esses depoacutesitos satildeo erodidos juntamente com as margens e o fundo do leito pelos eventos torrenciais do regime vindo a formar bancos axiais e depoacutesitos de sedimentaccedilatildeo marginais (CUNHA2012b p183)
Portanto o estudo da geomorfologia fluvial contribui diretamente para o entendimento das
cheias nas planiacutecies de inundaccedilatildeo em especial nas bacias hidrograacuteficas que
compreendem a aacuterea urbana e que possuem intervenccedilotildees antroacutepicas diretas na fisiografia
do canal principal Seus processos explicam como as alteraccedilotildees no canal fluvial podem
maximizar os efeitos dos transbordamentos impactando principalmente as populaccedilotildees
ribeirinhas aleacutem de todo ecossistema local Ademais estes fundamentos geomorfoloacutegicos
devem ser associados agrave legislaccedilatildeo vigente afim de subsidiar a elaboraccedilatildeo de instrumentos
legais para atuaccedilatildeo do poder puacuteblico nestas zonas de risco
22 Aspectos Juriacutedicos
Frente agrave crescente demanda sobre os recursos hiacutedricos e solo urbano a partir da deacutecada
de 1930 surgem as primeiras diretrizes que visam regulamentar estes ambientes a
exemplo do Coacutedigo das Aacuteguas Mas soacute a partir dos anos 1960 surgem em acircmbito federal
leis como o Coacutedigo Florestal com o intuito de regular a exploraccedilatildeo das vegetaccedilotildees e
consequentemente proteger os mananciais e em 1979 com o objetivo de ordenar as
28
cidades eacute aprovada a Lei 676679 estabelecendo as normas do parcelamento do solo
urbano
Na medida em que as populaccedilotildees aumentam ampliam-se tambeacutem as pressotildees sobre os
recursos de aacutegua e solo Os processos de uso e a conscientizaccedilatildeo de que estes elementos
satildeo finitos intensificam as formas de controle e preservaccedilatildeo passando para as esferas
estaduais e municipais a responsabilidade de atuar em escala local na proteccedilatildeo desses
ambientes
Ainda em escala federal em 2012 eacute promulgado o Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012
em substituiccedilatildeo ao coacutedigo anterior Lei 47711965 que apresenta as normas de
apropriaccedilatildeo dos recursos naturais pelas novas necessidades das populaccedilotildees citadinas e
rurais No que compete agrave aacuterea de estudo cabe destacar as ocupaccedilotildees em aacutereas de
planiacutecie de inundaccedilatildeo em que de acordo com art 4ordm devem ser preservadas
I - as faixas marginais de qualquer curso drsquoaacutegua natural perene e intermitente excluiacutedos os efecircmeros desde a borda da calha do leito regular em largura miacutenima de (Incluiacutedo pela Lei nordm 12727 de 2012) a) 30 (trinta) metros para os cursos drsquoaacutegua de menos de 10 (dez) metros de largura b) 50 (cinquenta) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura c) 100 (cem) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura d) 200 (duzentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura e) 500 (quinhentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros []
A legislaccedilatildeo eacute riacutegida no que concerne agrave ocupaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo das terras nas faixas
marginais dos rios transferindo aos estados e municiacutepios a responsabilidade de fiscalizar
estes territoacuterios para garantir a efetividade da lei A questatildeo eacute que muitas vezes somada a
falta de planejamento estas fiscalizaccedilotildees satildeo ineficientes o que tem possibilitado o
surgimento cada vez maior das ocupaccedilotildees irregulares
Apoiado tambeacutem pela Constituiccedilatildeo Federal de 1988 nos artigos 182 e 183 surge o
Estatuto das Cidades Lei 102572001 com finalidade de garantir a funccedilatildeo social da
cidade e com este os primeiros Planos Diretores Municipais (PDM) que buscam o
ordenamento do crescimento das cidades em caraacuteter socioeconocircmico e ambiental cidades
sustentaacuteveis Ademais em Colatina eacute instituiacuteda a Lei 42281996 posteriormente revogada
29
pela Lei 52732007 que ldquoInstitui o Plano Diretor do Municiacutepio de Colatina estabelece os
objetivos instrumentos e diretrizes e daacute outras providecircncias para as accedilotildees de
planejamento do Municiacutepio de Colatina []rdquo
O PDM de Colatina assim como Coacutedigo Florestal prevecirc a preservaccedilatildeo dos ecossistemas
beira-rio Aquele ainda dispotildee sobre o parcelamento do solo sustentaacutevel a funccedilatildeo social
da cidade e da propriedade conforme o Plano Diretor de Colatina de 2007 nos artigos
transcritos
Artigo 22 - As diretrizes ambientais no Municiacutepio de Colatina satildeo I - aplicar os instrumentos de gestatildeo ambiental estabelecidos nas legislaccedilotildees federal estadual e municipal bem como a criaccedilatildeo de outros instrumentos adequando-os agraves metas estabelecidas pelas poliacuteticas ambientais II - compatibilizar as diretrizes de uso ocupaccedilatildeo e parcelamento do solo aos objetivos de proteccedilatildeo ambiental dos ecossistemas [] Artigo 23 - Satildeo diretrizes do sistema de drenagem urbana I - disciplinar a ocupaccedilatildeo das cabeceiras e vaacuterzeas das bacias hidrograacuteficas do Municiacutepio preservando a vegetaccedilatildeo existente e visando agrave sua recuperaccedilatildeo [] III - definir mecanismos de fomento para usos do solo compatiacuteveis com aacutereas de interesse para drenagem tais como parques lineares aacuterea de recreaccedilatildeo e lazer hortas comunitaacuterias e manutenccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa [] V - implantar medidas natildeo-estruturais [sic] de prevenccedilatildeo de inundaccedilotildees tais como controle de erosatildeo especialmente em movimentos de terra controle de transporte e deposiccedilatildeo de entulho e lixo combate ao desmatamento assentamentos clandestinos e a outros tipos de invasotildees nas aacutereas com interesse para drenagem [] VII - garantir e respeitar a necessaacuteria permeabilidade do solo inclusive buscando alternativas de pavimentaccedilatildeo com maior de permeabilidade [sic] [] Artigo 84 ndash Satildeo objetivos do ordenamento territorial do Municiacutepio de Colatina [] IV ndash conter a expansatildeo da ocupaccedilatildeo urbana em aacutereas de proteccedilatildeo ambiental [] Artigo 120 ndash Ficam desde jaacute identificadas como Zonas de Proteccedilatildeo Ambiental 2 ndash ZPA 2 as seguintes aacutereas [] III ndash as aacutereas existentes ao longo de qualquer curso drsquoagua desde o niacutevel mais alto em faixa marginal cuja largura miacutenima seraacute de a) 15m (trinta metros) [sic] para os cursos drsquoagua com menos de 10m (10
metros) de largura contidos no periacutemetro urbano [] c) 30m (trinta metros) para os cursos drsquoagua que tenham de10m (dez
metros a 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano
[]
30
e) 50m (cinquenta metros) para os cursos drsquoagua que tenham mais de 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 60422013)
[]
De modo geral verifica-se que a legislaccedilatildeo apresenta instrumentos que permitem a
prevenccedilatildeo ou controle de ocupaccedilotildees irregulares ou clandestinas em aacuterea de APP aleacutem de
propostas para resguardar de grandes impactos ambientais o corpo hiacutedrico principal do
municiacutepio o Rio Doce Possibilitando assim a minimizaccedilatildeo dos impactos causados pelas
cheias agrave populaccedilatildeo local
Poreacutem cabe destacar que o Plano Diretor Municipal de Colatina natildeo contempla o
estipulado no Coacutedigo Florestal 2012 Lei Federal onde os cursos drsquoaacutegua com largura
superior a 600(seiscentos) metros devem ser resguardados com aacutereas de preservaccedilatildeo
permanente de 500(quinhentos) metros entre outros sendo que a redaccedilatildeo desta parte do
PDM eacute dada pela lei 60422013 posterior a publicaccedilatildeo do novo Coacutedigo Florestal Sendo
assim verifica-se que apesar da intenccedilatildeo de resguardar uma faixa de no maacuteximo
50(cinquenta) metros em periacutemetro urbano para a contenccedilatildeo de cheias e mata ciliar o
PDM de Colatina natildeo atende o miacutenimo previsto em Lei Federal O que tem impactado todo
ecossistema beira rio e a populaccedilatildeo ribeirinha uma vez que a faixa marginal de proteccedilatildeo
de 50(cinquenta) metros em muitos casos natildeo tem comportado o impacto dos defluacutevios
No entanto a legislaccedilatildeo trata de aspectos gerais natildeo pontuando as aacutereas responsaacuteveis
por cada accedilatildeo aleacutem de sua aplicabilidade depender da elaboraccedilatildeo de um cronograma de
execuccedilatildeo bem como um conjunto de planos e normas especiacuteficos para cada diretriz com
detalhamento das propostas de intervenccedilatildeo Isto natildeo ocorreu ateacute o presente
Aleacutem disso a cidade de Colatina surgiu num cenaacuterio histoacuterico anterior agraves legislaccedilotildees
urbaniacutesticas e ambientais inclusive do Coacutedigo das Aacuteguas o que dificulta a execuccedilatildeo de
um planejamento que concilie a preservaccedilatildeo das matas beira-rio garantindo a faixa de
APP com a ocupaccedilatildeo urbana consolidada
A aacuterea de estudo se apresenta como ambiente fragilizado apesar de ser regida por
legislaccedilotildees desde a escala federal ateacute a municipal que visam proteger e ordenar o uso e
cobertura da terra nas faixas marginais dos rios Mas a dificuldade das prefeituras em
aplicar os instrumentos legais nestes ambientes seja por interesses privados ou falta de
recursos para investimentos em soluccedilotildees a longo prazo continua expondo as populaccedilotildees
31
aos impactos dos eventos hidroloacutegicos criacuteticos como os que resultam nas inundaccedilotildees
Para que se alcance esse parcelamento do solo sustentaacutevel satildeo necessaacuterios esforccedilos da
gestatildeo municipal em estipular prazos e metas de atuaccedilatildeo afora interagir os diferentes
setores no planejamento em niacutevel de bacia hidrograacutefica considerando as peculiaridades
desta escala de trabalho
23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos
Sendo a ciecircncia que estuda a relaccedilatildeo homemnatureza a Geografia tem muito a contribuir
nas anaacutelises que envolvem o meio ambiente que foi transformado pela dinacircmica da
sociedade Mas historicamente a dialeacutetica das correntes fiacutesica e humana tem imperado de
modo dissociado levando o geoacutegrafo a estudar estes processos separadamente Poreacutem
se o resultado pretendido eacute integrado fazem-se necessaacuterias pesquisas mais amplas que
cruzem as diferentes vertentes geograacuteficas
Considerando que a problemaacutetica dos impactos ambientais urbanos envolve a questatildeo
natural o rio e a questatildeo social e poliacutetica a sociedade e as leis (COELHO 2013) uma
pesquisa neste acircmbito requer o entendimento destes dois objetos a fim de se apreender
o processo de crescimento das cidades brasileiras e a sua relaccedilatildeo com os recursos
hiacutedricos
A partir da deacutecada de 1950 devido ao ecircxodo rural mais intenso as cidades brasileiras
incharam rapidamente com a migraccedilatildeo do camponecircs que buscava melhores condiccedilotildees de
vida como trabalho na induacutestria o acesso agraves escolas saneamento entre outros E
segundo Gorski (2010) a populaccedilatildeo brasileira passou desde o iniacutecio deste processo de 19
milhotildees de habitantes em 1950 para 138 milhotildees de habitantes em 2000 (dados do IBGE)
o que corrobora o raacutepido crescimento das cidades
Todavia as estruturas puacuteblicas natildeo estavam preparadas para um acreacutescimo populacional
tatildeo significativo e em curto espaccedilo de tempo E o que observamos eacute o acesso limitado
dessa populaccedilatildeo agraves aacutereas centrais da cidade sendo induzida a se estabelecer nas
periferias Nesta visatildeo
O difiacutecil acesso da populaccedilatildeo de baixa renda agraves aacutereas mais centrais das cidades contribuiu segundo Raquel Rolnik para a expansatildeo da periferia o que muitas vezes implicou e implica ainda invasatildeo de aacutereas de proteccedilatildeo de mananciais com a aquiescecircncia do poder puacuteblico Esta
32
dinacircmica agravou a situaccedilatildeo de risco dos mananciais pela eliminaccedilatildeo das matas ciliares e consequentemente erosatildeo das margens dos cursos drsquoaacutegua e assoreamento de suas calhas e pela contribuiccedilatildeo do esgoto in natura (ROLNIK1997 apud GORSKI 2010 p62)
Sendo assim a supressatildeo das matas ciliares e das vegetaccedilotildees das encostas para fins de
ocupaccedilatildeo urbana interfere diretamente no ciclo hidroloacutegico diminuindo a absorccedilatildeo de
aacutegua pelo subsolo e pela evapotranspiraccedilatildeo favorecendo o escoamento superficial (Figura
6) que intensifica a velocidade de drenagem das aacuteguas Este processo nas encostas eacute
mais significativo se considerarmos que com a supressatildeo da cobertura vegetal e
impermeabilizaccedilatildeo do solo as precipitaccedilotildees acabam por lavar todo o material
intemperizado sedimentos carregando-o diretamente para o corpo hiacutedrico e contribuindo
para o assoreamento
Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento Fonte Gorski (2010 p64)
Por outro lado as ocupaccedilotildees ribeirinhas nas vaacuterzeas dos rios modificam a dinacircmica fluvial
frente aos defluacutevios A compactaccedilatildeo e o nivelamento do solo associados agrave
impermeabilizaccedilatildeo por concreto asfalto e outros materiais alteram todo o sistema de
drenagem natural e contribuem para a erosatildeo fluvial Aleacutem disso a gestatildeo puacuteblica que
33
deveria investir num parcelamento do solo sustentaacutevel resguardando ldquouma alocaccedilatildeo de
espaccedilosrdquo (CANHOLI 2005 p 15) para a drenagem acaba por colaborar com as enchentes
urbanas na medida em que decide por obras estruturais como a canalizaccedilatildeo (Figura 7
p30) e a microdrenagem que transferem os impactos das inundaccedilotildees a jusante
Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia Fonte Gorski (2010 p69)
Cabe destacar que desde 1965 com o primeiro Coacutedigo Florestal as matas beira-rio jaacute
eram resguardadas da degradaccedilatildeo humana poreacutem com todo o boom urbano a partir de
1950 a falta de estrutura e ingerecircncia municipal no que se refere ao parcelamento e uso
e ocupaccedilatildeo da terra urbana possibilitou a formaccedilatildeo dos assentamentos clandestinos em
APP e na encosta de morros Em condiccedilotildees precaacuterias sem saneamento baacutesico e demais
infraestruturas urbanas estes assentamentos acabam sendo as regiotildees mais afetadas
com as inundaccedilotildees
Junto agraves questotildees jaacute levantadas vale destacar que as aacuteguas das inundaccedilotildees propiciam o
aumento das doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica (febre tifoide hepatite leptospirose
esquistossomose entre outras) pois carregam segundo Gorski (2010) toda uma poluiccedilatildeo
difusa efluentes domeacutesticos industriais e agroindustriais aleacutem do lixo urbano da poluiccedilatildeo
do ar e das ruas
34
Por outro lado esta ocupaccedilatildeo urbana natildeo planejada perde o benefiacutecio que os corpos
hiacutedricos podem oferecer como [] as paisagens fluviais que aos poucos foram sendo
apropriadas como paisagens urbanas [] (GORSKI 2010 38) aleacutem do microclima
associado agrave umidade pela evapotranspiraccedilatildeo que ameniza a sensaccedilatildeo teacutermica local
Poreacutem conforme observado por Graeff (2011) natildeo eacute cabiacutevel atualmente implantar a
legislaccedilatildeo de APP de modo jurista Deve-se considerar toda a representatividade cultural
assentada sobre os leitos destes rios (avenidas importantes casas com arquitetura
histoacuterica entre outros) Aleacutem disso para a demarcaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo
permanente hoje eacute necessaacuteria uma anaacutelise teacutecnica pautada na geomorfologia e
hidrologia de modo a interpretar o ldquocomportamento histoacuterico dos cursos drsquoaacutegua na
paisagem prevendo cenaacuterios de impactos futurosrdquo da atividade humana sobre suas faixas
marginais
Tendo em vista que grande parte da malha urbana brasileira estaacute alocada em APPs e que
segundo Graeff (2011) estas jaacute possuem uma unidade de paisagem estabelecida e muitas
vezes secular configurando siacutetios de importacircncia cultural e apreendendo que
De modo semelhante nas demais cidades haveraacute que ser entendido o meio urbano como ele realmente eacute ndash um encontro entre as necessidades de habitaccedilatildeo com atividades humanas e de conservaccedilatildeo ambiental esta segunda tambeacutem a serviccedilo do homem e natildeo somente de objetivos difusos e distanciados da sobrevivecircncia da sociedade (GRAEFF 2011 206)
Por tais motivos o trabalho com a geomorfologia fluvial urbana deve abarcar os princiacutepios
do bom senso compreendendo que nestas aacutereas de atividade antroacutepica consolidada pode-
se fazer uso de instrumentos de engenharia avanccedilados para uma convivecircncia equilibrada
do homem com a natureza no entorno Contudo deve-se incentivar as aacutereas de expansatildeo
urbana ou zona periurbana (zonas de transiccedilatildeo da aacuterea urbana para a rural) com poliacuteticas
de incentivo a pavimentaccedilotildees mais permeaacuteveis a fim de minimizar o escoamento
superficial para o rio favorecendo a infiltraccedilatildeo
Apesar de os impactos gerados pela interferecircncia humana nas aacutereas mais fragilizadas da
bacia hidrograacutefica vaacuterzeas e encostas refletirem-se em cataacutestrofes com prejuiacutezos
humanos ambientais e urbanos alguns autores brasileiros como Canholi Graeff Cunha
Carneiro e Miguez jaacute indicaram outros caminhos para uma convivecircncia harmoniosa com
a natureza Aleacutem do mais paiacuteses desenvolvidos como a Holanda deixaram de ldquolutar contra
35
as cheiasrdquo para permitir agraves aacuteguas das enchentes a capacidade de acumular e dispersar
com impacto reduzido para as populaccedilotildees (CARNEIRO MIGUEZ 2011)
Sendo assim a proposta deste estudo eacute identificar os principais agentes que influenciam
as inundaccedilotildees entendendo seu papel e atuaccedilatildeo no contexto urbano de Colatina Mas eacute
tambeacutem a de ampliar a abordagem da temaacutetica com uma anaacutelise geograacutefica integrada
ressaltando as medidas que constam no planejamento urbano e sua aplicaccedilatildeo nas faixas
marginais do corpo hiacutedrico
36
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS
Esta pesquisa eacute constituiacuteda de trecircs etapas principais sendo que a primeira teve como
premissa a confecccedilatildeo de um fluxograma (Figura 8) de trabalho para orientar a pesquisa
em seguida teve iniacutecio o levantamento de bibliografias que abordam temas como a
geomorfologia fluvial e urbanizaccedilatildeo em Colatina adotando-se como referecircncia as
pesquisas de Coelho (2006 2007 2008 e 2009) e Albani (2012) Aleacutem disso muito
contribuiacuteram para este trabalho o relatoacuterio do INCAPER da CPRM e os dados do IBGE
Cabe destacar tambeacutem as experiecircncias com recursos hiacutedricos em ambientes urbanos de
Carneiro e Miguez (2011) em especial Cunha (2001 2012ab)
Esta etapa consistiu tambeacutem na busca de material cartograacutefico como aquisiccedilatildeo de planos
de informaccedilatildeo de limite estadual municipal bairros mancha urbana corpo drsquoaacutegua e
logradouros atraveacutes de dados disponiacuteveis no Sistema Integrado de Bases Geoespaciais
do Estado do Espiacuterito Santo (GEOBASES 2014) no Instituto Jones dos Santos Neves
(IJSN 2015) e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2014) imagens
orbitais gratuitas do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI bandas 2-3-4 e 8 (Pan) oacuterbita 216
ponto 73 com datas de passagem em 02012014 e 22032014 agraves 946 (horaacuterio central
da oacuterbita) junto ao Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2014) aleacutem do ortofotomosaico
do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hiacutedricos (IEMA 2014) do Espiacuterito
Santo referente ao voo de 2007 a 2008
Na segunda etapa foram realizadas duas investigaccedilotildees de campo sendo a primeira no
dia 24 de junho de 2014 com a finalidade de fazer o reconhecimento da aacuterea de estudo
fotografar e conversar com moradores e teacutecnicos da prefeitura O segundo trabalho de
campo ocorreu no dia 14 de fevereiro de 2015 e por meio deste foi possiacutevel identificar
pontos sujeitos a inundaccedilatildeo analisar a topografia e realizar as entrevistas com moradores
e funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina
37
Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC)
38
Na terceira etapa foram realizados os mapeamentos e processamentos de todos os planos
de informaccedilatildeo vetoriais e matriciais em ambiente de SIG no sistema ArcGis 103 iniciando
com a ediccedilatildeo dos dados do Municiacutepio e adjacecircncias que foram ajustados quando
necessaacuterio ao sistema de projeccedilatildeo UTM no Datum SIRGAS ndash 2000 na Zona 24 sul com
meridiano central -39 W com todo o mapeamento produzido seguindo a padronizaccedilatildeo
cartograacutefica proposta por Fitz (2008 a b)
O geoprocessamento teve iniacutecio com a composiccedilatildeo das imagens orbitais do Landsat-8 na
cor natural da imagem (2R 3G 4B) e por meio da teacutecnica de Pan Sharpening ou fusatildeo
de imagens a imagem cor natural foi agrupada agrave da banda 8 pancromaacutetica para obtenccedilatildeo
de uma melhor resoluccedilatildeo espacial neste caso chegando a 15 metros sendo resguardado
o conteuacutedo da imagem composta Na sequecircncia foi realizada a extraccedilatildeo da maacutescara do
periacutemetro urbano de Colatina e gerada a classificaccedilatildeo supervisionada da imagem Landsat-
8 no periacuteodo de cheia (janeiro) e vazante (marccedilo) o que possibilitou a delimitaccedilatildeo da calha
do Doce nestes dois eventos
Em seguida foram realizadas as 8 (oito) mediccedilotildees do leito regular sendo 4 (quatro) no
periacuteodo de cheia e 4 (quatro) na vazante de modo a definir a largura meacutedia da calha do
leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina Para chegar a uma medida geral
da largura do rio utilizaram-se ferramentas estatiacutesticas como a meacutedia que eacute uma medida
de tendecircncia central onde numa amostra de tamanho N constituiacuteda por elementos de x
variando de eacute possiacutevel extrair a meacutedia aritmeacutetica atraveacutes da equaccedilatildeo
A meacutedia aponta para onde mais convergem os dados de uma distribuiccedilatildeo
A partir desta definiccedilatildeo da meacutedia da largura da calha do Rio Doce foi possiacutevel em consulta
ao Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e a Lei 52732007 determinar a faixa miacutenima
de preservaccedilatildeo permanente deste corpo fluvial aleacutem da confecccedilatildeo do mapa com o
poliacutegono de APP
Mediante a anaacutelise do mapa verificou-se que grande parte dos bairros do municiacutepio estatildeo
contidos nos poliacutegonos de APP em especial a preservaccedilatildeo de 500 metros conforme lei
federal E por meio deste foram cruzados os dados de vazatildeo as fotos histoacutericas das
enchentes e o poliacutegono de mata ciliar o que permitiu o entendimento das inundaccedilotildees
39
Em ambiente de SIG tambeacutem foram vetorizados os trecircs traccedilados da Estrada de Ferro
Vitoacuteria a Minas o trajeto do Rio Santa Maria do Doce antes e depois da retilinizaccedilatildeo e os
sucessivos aterros na margem direita do Rio Doce no periacutemetro que compreende a Av
Beira-Rio
As teacutecnicas de sensoriamento remoto como a classificaccedilatildeo supervisionada permitiram a
definiccedilatildeo do poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo atraveacutes da imagem da cheia de janeiro Para
tanto foi realizada tambeacutem a classificaccedilatildeo hiacutebrida objetivando aliar a interpretaccedilatildeo visual
com a digital (JENSEN 2009) Por fim foi realizada amarraccedilatildeo com o levantamento
geodeacutesico da CPRM (2014) para garantir a precisatildeo do traccedilado do poliacutegono de cheia
A partir do tratamento dos dados bibliograacuteficos cartograacuteficos e imagens foi possiacutevel
sistematizar este trabalho o que permitiu identificar elementos histoacutericos de intervenccedilatildeo
na paisagem do Doce como os aterros e a ocupaccedilatildeo urbana As visitas de campo a
entrevista e conversas com moradores foram fundamentais para a validaccedilatildeo das
informaccedilotildees o que tornou esta metodologia eficaz para anaacutelise do fenocircmeno da inundaccedilatildeo
em Colatina
40
4 RESULTADOS
41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana
A ocupaccedilatildeo ao longo das planiacutecies de inundaccedilatildeo dos rios tem ocorrido diante da
necessidade deste recurso para as atividades vitais humanas Cunha (2012b p219)
entende que ldquosuas margens tecircm sido o centro preferido da habitaccedilatildeo humana e o
suprimento de suas aacuteguas natildeo soacute fertiliza os campos para o cultivo como tambeacutem fornece
energia e permite recreaccedilatildeordquo Logo o estabelecimento das vilas nas bordas dos cursos
drsquoaacutegua favorece a logiacutestica ocupacional
Historicamente em solo espiacuterito-santense a formaccedilatildeo das vilas ocorreu agraves margens de
estrateacutegicos cursos drsquoaacutegua e a exploraccedilatildeo do ouro de Minas Gerais para Albani (2012)
determinou que a Coroa proibisse nos seacuteculos XVII a XIX a implantaccedilatildeo de estradas e
exploraccedilatildeo de terras na Capitania do Espiacuterito Santo pois os portugueses temiam incursotildees
estrangeiras deixando assim o desenvolvimento capixaba restrito agrave faixa litoracircnea
Relegada enquanto ldquobarreira verderdquo para defesa das minas de ouro e minerais do atual
territoacuterio das Minas Gerais segundo Coelho (2007) a Capitania do Espiacuterito Santo soacute
passou a se interiorizar para o centro-oeste onde se localiza atualmente a cidade de
Colatina a partir de 1847 por meio das ocupaccedilotildees de Santa Izabel e Santa Leopoldina
que permitiram a descida do Rio Santa Maria do Doce ateacute as imediaccedilotildees da atual cidade
de Colatina
Assim foi que o movimento colonizador desceu o vale do Santa Maria do Rio Doce atingindo em 1891 a regiatildeo das matas onde hoje se acha a cidade de Colatina [] Esta penetraccedilatildeo inicial foi feita com elementos alematildees de Santa Leopoldina e no rio Doce ficou muito anos restrita agrave aacuterea inicial A expansatildeo ao longo do vale tomou impulso com a chegada a Colatina em 1906 dos trilhos da Estrada de Ferro Diamantina (atual Vitoacuteria-Minas) (STRAUCH1955 apud COELHO 2007 p105)
Sendo assim Coelho (op cit) relata que a ocupaccedilatildeo se deu atraveacutes da supressatildeo da mata
nativa no baixo curso do Rio Doce de Colatina a Linhares sendo a madeira daiacute extraiacuteda
levada ateacute o rio e encaminhada ateacute Povoaccedilatildeo vilarejo junto agrave foz de onde eram carregados
os navios Neste periacuteodo tem-se a instalaccedilatildeo de um ciclo madeireiro na regiatildeo com a
disposiccedilatildeo de serrarias nas proximidades das matas
41
Todavia somente a partir de 1906 com a chegada da estrada de ferro na regiatildeo o
transporte madeireiro foi transferido para as locomotivas Agrave medida que a implantaccedilatildeo da
Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas avanccedilava para o interior levava consigo as frentes de
desmatamento modificando as paisagens das margens do Rio Doce e se apropriando dos
espaccedilos deste rio (Figura 9)
Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906 Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce Fonte Albani (2012 p 63)
Conforme Albani (2012) com a vinda dos mineiros e fluminenses reforccedilados
posteriormente a partir de 1889 por colonizadores italianos e alematildees eacute que as
ocupaccedilotildees territoriais ocorreram de modo efetivo Atraveacutes do Barracatildeo do Rio Santa Maria
(Figura 10) espaccedilo do governo inicialmente destinado a alojar os migrantes e a produccedilatildeo
surgiram as primeiras residecircncias nas proximidades da igreja de Satildeo Sebastiatildeo Sendo
assim
Eacute importante destacar que o desenvolvimento da regiatildeo onde se encontra o municiacutepio de Colatina teve iniacutecio no final do seacuteculo XIX no nuacutecleo de colonizaccedilatildeo Antocircnio Prado localizado no distrito de Boapaba antiga vila do Mutum O nuacutecleo recebeu dezenas de famiacutelias de imigrantes italianos e ali desenvolveram atividades de agricultura e com a expansatildeo da localidade surge tambeacutem o comeacutercio (ALBANI 2012 p61) [hellip] A vila de Colatina entretanto logo passou a se transformar no principal nuacutecleo e futuramente na sede do municiacutepio Aleacutem da facilidade da produccedilatildeo atraveacutes do Rio Doce a vila de Colatina tornou-se referecircncia dos imigrantes no caminho para a colonizaccedilatildeo das terras ao norte do estado (MADURO1985 apud ALBANI 2012 p62)
42
Desse modo com o desenvolvimento das atividades de cafeicultura madeireira e do
entroncamento logiacutestico de acesso agraves aacutereas do norte a vila eacute elevada em 1921 agrave categoria
de municiacutepio A atual configuraccedilatildeo territorial foi adquirida a partir de 2001 conforme IBGE
(2014) dispondo de seis distritos Colatina (sede) Acircngelo Frechiami Baunilha Boapaba
Graccedila Aranha e Itapina
Cabe destacar poreacutem que a ocupaccedilatildeo inicial da cidade de Colatina se perfaz pela margem
direita do Rio Doce onde se localiza o atual bairro de Colatina Velha e onde havia se
instalado o Barracatildeo de Santa Maria Nesse periacuteodo a ponte ainda natildeo fora edificada
limitando assim a ocupaccedilatildeo da margem esquerda
Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da regiatildeo Fonte Albani (2012 p62)
Conforme Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p65) a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro
Vitoacuteria a Minas em 1906 (Figura 11) possibilitou a expansatildeo da cidade de Colatina e seu
desenvolvimento econocircmico Todavia sua instalaccedilatildeo paralela agrave margem direita do Rio
Doce favoreceu a localizaccedilatildeo de avenidas e ruas centrais em sua proximidade
43
Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p65)
Entretanto foi com a construccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos (Figura 12) em 1928 que a
margem direita se conectou agrave margem esquerda da cidade o que aleacutem de possibilitar a
ocupaccedilatildeo facilitou o acesso agraves regiotildees mais ao norte do Estado
Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p66)
44
Por conseguinte a estrada de ferro e a ponte foram os fatores determinantes para o
estabelecimento dos migrantes agraves margens do Rio Doce e a formaccedilatildeo do atual municiacutepio
de Colatina Contudo foi a partir desta posiccedilatildeo privilegiada que a cidade passou a ser
entreposto comercial e logiacutestico da regiatildeo noroeste e com isso sua aacuterea urbana expandiu-
se de modo desordenado inicialmente ao longo da planiacutecie de inundaccedilatildeo do Doce Coelho
(2007 p108 e 109) relata que
Os efeitos dessa urbanizaccedilatildeo (novos parcelamentos) e do desmatamento produz [sic] normalmente o aumento da velocidade das aacuteguas superficiais (pluviais) que eram antes interceptadas pelas matas com boa parte absorvida pelo solo O que ocorre geralmente nessas aacutereas eacute a chegada mais raacutepida das aacuteguas das chuvas para o tributaacuterios e calha principal do rio por fluxos concentrados que provocam processos de erosotildees do tipo laminar ravina e voccediloroca transportando quantidades expressivas de sedimentos que por sua vez causam assoreamento e a ocorrecircncia de cheias mais frequentes no rio
Com o crescimento acelerado do periacutemetro urbano proporcionado pelo apogeu do ciclo
cafeeiro as proacuteximas deacutecadas levaratildeo a cidade de Colatina a sofrer com impactos
advindos das alteraccedilotildees no ambiente fluvial do Rio Doce em especial os referentes a
ocupaccedilatildeo (impermeabilizaccedilatildeo) e desmatamento das margens (interferecircncia na drenagem
natural) conforme destacado por Coelho (2007)
Eacute fato que o municiacutepio viveu nas deacutecadas de 1940 e 1950 o auge do ciclo cafeeiro
chegando a ser no ranking brasileiro o 13ordm municiacutepio produtor de cafeacute no ano de 1947
(CAMPOS JUNIOR 2004 apud ALBANI 2012 p69) Poreacutem a partir de 1960 este boom
entrou em colapso com crise do cafeacute que assolou todo o paiacutes levando grande parte dos
pequenos proprietaacuterios rurais a migrarem para centros urbanos em especial no Espiacuterito
Santo a regiatildeo da Grande Vitoacuteria e tambeacutem para o centro de Colatina
Em razatildeo da crise cafeeira a populaccedilatildeo rural migra para centros urbanos A populaccedilatildeo migrou em grande quantidade para a Grande Vitoacuteria para fora do estado e tambeacutem para a cidade de Colatina principal aglomerado urbano da regiatildeo Esse processo provoca o aumento da aacuterea urbana de Colatina A populaccedilatildeo da cidade que era de 3913 habitantes em 1940 cresceu para 26757 habitantes em1960 (ALBANI2012 p71)
O crescimento raacutepido do centro de Colatina aliado ao aumento populacional direciona
grande parte dos migrantes para as aacutereas menos centrais da cidade levando agrave ocupaccedilatildeo
de locais irregulares como os morros e as margens direita e esquerda do Rio Doce Este
45
processo configurou a nova paisagem do municiacutepio povoando do vale agraves encostas (Figura
13)
Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes Fonte Albani (2012 p73)
Associado a este processo de reconfiguraccedilatildeo espacial nas proacuteximas deacutecadas o municiacutepio
de Colatina passaraacute por sucessivas perdas de territoacuterios ateacute atingir os limites atuais (Figura
1 p17) Aliado a estas perdas territoriais seu quantitativo absoluto populacional tambeacutem
sofreraacute impactos poreacutem de modo geral a populaccedilatildeo urbana deste municiacutepio apresentou
crescimento continuo (Graacutefico 2)
Graacutefico 2
Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 2010
Elaborado pela autora Fonte 1940 e 1950 Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p82) 1960 a 2010 IBGE
0
20000
40000
60000
80000
100000
120000
1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020
Populaccedilatildeo Urbana Colatina 1940 - 2010
46
Assim como tem ocorrido nas grandes capitais Colatina cresceu em quantitativo
populacional e territorial urbano de modo muito raacutepido e por este desenvolvimento natildeo ter
sido aliado a um planejamento urbano e ambiental sustentaacutevel a cidade tem sentido os
reflexos das suas interferecircncias ao longo do canal do Doce O que tem provocado
antecipaccedilatildeo dos picos de vazatildeo que no periacutemetro urbano ocasiona as inundaccedilotildees pois
natildeo conseguindo o rio acomodar estes defluacutevios transfere em curto espaccedilo de tempo as
aacuteguas a sua planiacutecie de inundaccedilatildeo atingindo os bairros mais antigos do municiacutepio
Por fim entender o contexto histoacuterico do crescimento da cidade revela muito do panorama
atual E por meio de uma anaacutelise conjunta da histoacuteria com os novos planejamentos eacute
possiacutevel propor intervenccedilotildees urbanas que possibilitem um conviacutevio harmonioso entre
natureza e sociedade neste caso entre o Rio Doce e o centro de Colatina Diante desta
proposta adiante apresentaremos a evoluccedilatildeo dos bairros associando seus periacuteodos de
ocupaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo espacial nas imediaccedilotildees do curso principal do Doce
411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade
Com nuacutecleo inicial de povoamento no Barracatildeo de Santa Maria a cidade de Colatina
cresce a partir deste ponto agrave margem direita do Rio Doce de onde surgem as primeiras
residecircncias comeacutercios e a igreja Atualmente a regiatildeo compreende o bairro de Colatina
Velha que de acordo com Albani (2012 p91) [hellip] ldquopode ser considerado o primeiro polo
de crescimento da cidaderdquo
Aliado ao aumento da populaccedilatildeo migrante das fazendas com a crise do cafeacute o nuacutecleo de
Colatina Velha passa a ser um ponto de passagem obrigatoacuterio para os viajantes que
vinham majoritariamente do sul uma vez que o Rio Doce configurava uma barreira natural
agrave ocupaccedilatildeo das terras ao norte Aleacutem disso a margem esquerda deste canal fluvial era
habitat dos hostis iacutendios botocudos o que dificultava a sua apropriaccedilatildeo
Sendo assim a ocupaccedilatildeo de Colatina conteve-se agrave margem direita nesta primeira fase o
que define o primeiro vetor de crescimento da cidade na direccedilatildeo leste para oeste partindo
das imediaccedilotildees do Barracatildeo de Santa Maria sentido ao Rio Santa Maria do Doce (Figura
14) E a partir de 1906 com a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas da entatildeo
Companhia Vale do Rio Doce atual Vale este vetor de crescimento se consolida e
47
proporciona o surgimento de importantes avenidas paralelas agrave ferrovia a exemplo da Av
Getuacutelio Vargas
Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de crescimento Elaborado pela autora
48
O segundo vetor do crescimento de Colatina estava condicionado agrave construccedilatildeo da ponte
Florentino Aacutevidos a qual conectou a margem direita agrave esquerda do Rio Doce permitindo
a ocupaccedilatildeo da porccedilatildeo ao norte Portanto somente a partir de 1928 com a finalizaccedilatildeo da
obra da ponte a barreira natural pocircde ser transposta o que possibilitou ao lado esquerdo
desenvolver uma nova linha de crescimento urbano com a ocupaccedilatildeo do atual bairro de
Satildeo Silvano
O terceiro vetor de crescimento estaacute associado agrave implantaccedilatildeo do bairro Luiz Iglesias na
margem direita e os de Maria das Graccedilas e Coluacutembia na margem esquerda Albani (2012)
ressalta que esta fase da ocupaccedilatildeo urbana estaacute associada ao desenvolvimento do sistema
viaacuterio como a proximidade da BR-259 sentido Vitoacuteria- Colatina da ES-80 que liga
Colatina agrave regiatildeo norte da ES-256 que a conecta a Marilacircndia e da proximidade da
estaccedilatildeo ferroviaacuteria Carlos Germano Nauman (Figura 15)
Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios e linhas feacuterreas que interceptam a cidade de Colatina Elaborado pela autora
Jaacute na quarta e mais recente linha de crescimento da cidade temos os novos loteamentos
residenciais e industriais a exemplo do de Barbados e do bairro Santa Helena que surgem
49
acompanhando o traccedilado da ponte que contorna a leste a cidade como novo acesso agrave
porccedilatildeo norte do estado Albani (2012 p118) destaca que
Apesar da construccedilatildeo da Segunda Ponte ter sido iniciada em 1986 somente foi inaugurada em 2007 A conclusatildeo da ponte e a construccedilatildeo de uma rodovia de contorno desviaram a BR-259 do centro da cidade O desvio da rodovia federal trouxe um desafogamento do tracircnsito nas principais vias da cidade e um novo direcionamento na expansatildeo urbana Alguns loteamentos surgiram nesse periacuteodo proacuteximo agrave Segunda Ponte e ao contorno na margem norte do rio principalmente no bairro Santa Helena (Figura 55) Essa situaccedilatildeo indica mais uma vez que as linhas de crescimento em Colatina satildeo orientadas pelas vias de transporte
Portanto o crescimento do periacutemetro urbano de Colatina estaacute associado agrave superaccedilatildeo das
barreiras naturais em especial o Rio Doce por meio de investimentos em obras de
engenharia que permitiram o deslocamento humano para a margem esquerda deste curso
Sem duacutevida as vias de transporte foram elementares na construccedilatildeo do periacutemetro urbano
de Colatina pois na medida que se consolidava o sistema viaacuterio as ocupaccedilotildees tambeacutem se
favoreciam destas vias de locomoccedilatildeo A evoluccedilatildeo da aacuterea urbana portanto acompanha
as principais vias de transporte (Figura 15 p45) e estas se utilizam da posiccedilatildeo estrateacutegica
e geograficamente favoraacutevel do canal do Doce para a definiccedilatildeo de seus traccedilados
Apoacutes 94 anos de emancipaccedilatildeo de Linhares o territoacuterio de Colatina eacute fundamental para a
manutenccedilatildeo dos municiacutepios do noroeste capixaba Diante desta posiccedilatildeo estrateacutegica torna-
se relevante o entendimento de como o urbano se relaciona com o meio natural a fim de
se estabelecer poliacuteticas de ordenamento territorial que promovam a qualidade de vida no
municiacutepio Adiante seraacute analisada a situaccedilatildeo da calha principal do Rio Doce elemento
fundamental na compreensatildeo do uso e cobertura da terra de Colatina
42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce
Compreendendo uma aacuterea de 3330 kmsup2 o periacutemetro urbano de Colatina eacute afetado pela
velocidade dos defluacutevios de modo que grande parte dos bairros beira-rio eacute tomada pelas
aacuteguas excedentes da calha principal do Doce o que configura o fenocircmeno de inundaccedilatildeo
Ao pesquisar estes fenocircmenos eacute necessaacuterio relacionar o uso da terra com os processos
geomorfoloacutegicos do corpo hiacutedrico Sendo assim por meio de teacutecnicas de
geoprocessamento foram realizadas oito mediccedilotildees da calha principal do Rio Doce para
50
estabelecimento da distacircncia meacutedia da largura de sua calha O resultado esteve dentro do
esperado e pode ser verificado na tabela abaixo (Tabela 1) e no mapa em sequecircncia
(Figura 16)
Tabela 1 Perfis transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de
vazante (abril) e cheia (janeiro)
Largura do rio Doce periacuteodo de vazante e cheia
Abril2013(m) Janeiro2014(m)
P1 70735 75784
P2 62080 66483
P3 59209 65804
P4 63548 67650
Meacutedia dos Perfis 62814 67066
Meacutedia Geral 66143 Obs todas as medidas estatildeo em metros
Elaborado pela autora
Figura 16 - Traccedilado dos perfis transversais da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de vazante mecircs de abril2013 Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)
51
Com uso das imagens orbitais do Landsat-8 atraveacutes da classificaccedilatildeo hiacutebrida foram
gerados dois arquivos shapefiles correspondentes agraves bordas do Doce um no periacuteodo de
vazante e outro no de cheia Por meio destes dados foram definidos quatro traccedilados para
realizaccedilatildeo das mediccedilotildees a partir destas e com auxiacutelio das medidas de tendecircncia central
chegou-se a uma largura meacutedia total de 66143m de uma margem a outra Este resultado
indicou que tanto no periacuteodo de vazante quanto no periacuteodo de cheia a largura meacutedia
aponta para a maior faixa de APP proteccedilatildeo de 500m conforme previsto na legislaccedilatildeo
federal (Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e no revogado Lei 4771 1965)
Analisando a imagem abaixo (Figura 17) observa-se que grande parte do solo
naturalmente destinado a ldquoacomodaccedilatildeordquo das aacuteguas nas cheias (linha laranja) foi
incorporado agrave sociedade como espaccedilo criado (periacutemetro urbano em APP mancha em
amarelo) destinado a fins muacuteltiplos Deste modo sem planejamento territorial adequado
grande parte da planiacutecie de inundaccedilatildeo deu lugar a outras funccedilotildees diferentes das naturais
sendo incorporada ao espaccedilo urbano
Lanccedilando o buffer (mancha em amarelo) do entorno da calha do Doce (Figura 17) observa-
se que dos 59 bairros do municiacutepio cerca de 29 estatildeo dentro da aacuterea de 500m destinada
a preservaccedilatildeo permanente pelo Coacutedigo Florestal Considerando-se a delimitaccedilatildeo da APP
prevista no PDM de 1996 e 2007 (linha laranja mais proacutexima da borda do rio) este nuacutemero
cai para 18 bairros permanecendo apenas aqueles que possuem limites com o corpo
hiacutedrico
Uma vez que que lei municipal natildeo suplanta lei federal considerar-se-aacute neste estudo o
limite da faixa marginal de proteccedilatildeo definida na Lei Federal 126512012 Deste modo a
aacuterea de preservaccedilatildeo permanente do Doce neste recorte eacute de 1085 kmsup2 compreendendo
33 do periacutemetro urbano de Colatina
Cabe destacar ainda que mesmo o PDM de 1996 contendo enquanto objetivo no Art 14
ldquoI - estabelecer a ordenaccedilatildeo do uso e da ocupaccedilatildeo do solo urbanordquo (Lei 42281996 p4)
a gestatildeo municipal natildeo obteve sucesso na implementaccedilatildeo de tal legislaccedilatildeo O que se
verifica tanto nas deacutecadas de 1990 quanto no iniacutecio dos anos 2000 quando foram
aprovados novos parcelamentos urbanos agraves margens deste canal a exemplo dos bairros
de Barbados na margem direita e do bairro Mario Giurizato na margem esquerda
52
Figura 17- Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)
53
Articulado a esta ideia e pesquisando o trecho do bairro Esplanada a Colatina Velha palco
das uacuteltimas obras estruturantes de alto porte do municiacutepio consegue-se analisar os efeitos
das inundaccedilotildees nas margens deste rio Logo implementar medidas de prevenccedilatildeo de
cheias em aacutereas com urbanizaccedilotildees antigas requer um esforccedilo da gestatildeo na regulaccedilatildeo do
solo urbano
421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie
de Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio
Interceptada pelo curso do Rio Doce no perfil mais a jusante da bacia a cerca de 100km
do estuaacuterio com o Oceano Atlacircntico a cidade de Colatina polo moveleiro e de confecccedilotildees
do centro-oeste capixaba eacute palco recorrente de inundaccedilotildees urbanas
Conforme jaacute mencionado por Cunha (2012a) este fenocircmeno ocorre quando a bacia recebe
um percentual precipitado acima da sua capacidade de escoamento o que faz o leito
menor do rio extravasar para o leito maior ocupando as aacutereas de vaacuterzeas (Figura 18 p
50) Aliadas a esta questatildeo estatildeo as ocupaccedilotildees humanas das margens dos rios que ao
suprimir a vegetaccedilatildeo natural e alterar a condiccedilatildeo fiacutesica do solo acabam por reduzir a aacuterea
de drenagem das aacuteguas pluviais acelerando o escoamento superficial para o canal
principal e favorecendo os defluacutevios
Figura 18 - Representaccedilatildeo da inundaccedilatildeo urbana Fonte adaptado da Defesa Civil do Tocantins (2015)
Este fenocircmeno tem ganhado destaque em Colatina a partir de 1979 ano em que o Rio
Doce atingiu a vazatildeo de 12860msup3s tomando toda aacuterea aplainada que compotildee seu leito
maior afetando da atual Av Beira-Rio ateacute as redondezas da Av Getuacutelio Vargas Desde
entatildeo os estudos das inundaccedilotildees urbanas satildeo relevantes no municiacutepio o que levou o
54
Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) na deacutecada de 1980 a elaborar um ldquoPlano Diretor
de Contenccedilatildeo das Enchentes Proteccedilatildeo das Encostas e Drenagem Pluvial de Colatinardquo
Tal medida apresentou seis alternativas para o fenocircmeno Poreacutem tendo em vista o custo
operacional das obras apenas a alternativa seis que previa a construccedilatildeo de diques
marginais para a proteccedilatildeo das aacutereas mais centrais foi considerada viaacutevel na eacutepoca
Todavia em entrevistas com funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina (PMC) foi
relatado que todo o estudo foi arquivado e que ateacute agora natildeo haacute previsatildeo de
implementaccedilatildeo de tais medidas Fato este que eacute evidenciado (Tabela 2 p 51) quando da
ocorrecircncia de precipitaccedilotildees intensas na bacia durante as quais sazonalmente a cidade eacute
impactada com as aacuteguas das inundaccedilotildees Isto faz com que o municiacutepio passe
recorrentemente por cataacutestrofes conforme tabela com os principais picos de vazatildeo do rio
nos uacuteltimos 50 anos
Tabela 2
Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013
Ano Diamecircs Vazatildeo(msup3s)
1961 30jan 6613
1979 04fev 12860
1997 07jan 8687
2005 03ago 6549
2013 24dez 9028
Fonte Coelho (2007 apud DALLAPICOLA 2014 p4) e CPRM (2014 p85) Observo que os dados da tabela 1 para os anos de 1979 e 2013 estatildeo baseados na estimativa de vazatildeo meacutedia diaacuteria das maacuteximas anuais obtida atraveacutes de extrapolaccedilatildeo da curva-chave pelo grupo interdisciplinar dos relatoacuterios criacuteticos anteriores
As inundaccedilotildees de 1979 1997 e recentemente 2013 (Figura 19) foram as de maior vazatildeo
neste setor do rio e consequentemente as que mais atingiram a aacuterea urbana do municiacutepio
bloqueando os acessos ao centro da cidade e aos equipamentos essenciais como
hospitais escolas e demais oacutergatildeos puacuteblicos aleacutem de desalojarem muniacutecipes e
comprometerem a sauacutede puacuteblica
55
Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de 1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 Fonte1) Nossa Colatina 2) Nossa Linda Colatina 3) Nossa Colatina
Com o propoacutesito de identificar os principais fatores que acentuam as inundaccedilotildees seraacute
analisado como os processos geomorfoloacutegicos do Doce estatildeo sendo afetados pela accedilatildeo
antroacutepica Limitaremos a anaacutelise ao periacutemetro urbano no trecho que compreende do bairro
Esplanada ateacute o bairro Colatina Velha (Figura 20) Neste periacutemetro eacute possiacutevel visualizar a
evoluccedilatildeo da mancha urbana sobre o leito do rio aleacutem de identificar na margem direita os
pontos desnaturalizados deste canal fluvial
56
Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2) Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do recorte em rosa da APP de 50m (amarelo claro) e 500m (amarelo escuro) Fonte 3) Encontra Colatina (2015)
57
O recorte em questatildeo eacute margeado pela Av Beira-Rio e estaacute situado (Figura 20) dentro do
buffer de preservaccedilatildeo permanente previsto no PDM (buffer de 50m) e no Novo Coacutedigo
Florestal (buffer de 500m) Apesar desta aacuterea ser destinada a mata nativa e ou
reflorestada a ocupaccedilatildeo urbana antecede os artigos legais o que dificulta poliacuteticas de
gestatildeo territorial em um periacutemetro ao mesmo tempo histoacuterico e com funccedilatildeo relevante no
equiliacutebrio hidroloacutegico da bacia
O periacutemetro faz parte da vaacuterzea da margem direita do Rio Doce pois encontra-se em cota
topograacutefica de 50m caracterizando sua planiacutecie Logo a aacuterea em questatildeo tem a funccedilatildeo de
acomodar as aacuteguas das cheias quando a calha principal natildeo comporta o escoamento de
grandes vazotildees Esta tarefa passa a ser prejudicada na medida em que na bacia ou no
curso original satildeo implementadas obras que interferem na morfologia do corpo hiacutedrico
principal como a instalaccedilatildeo das hidreleacutetricas de Mascarenhas (1974) e Aimoreacutes (2005) a
montante
As UHErsquos a montante comprometem os processos do rio uma vez que o regime natural de
transporte de sedimentos eacute alterado com o barramento o que favorece a erosatildeo e
consequentemente o assoreamento com a formaccedilatildeo de bancos arenosos alteraccedilatildeo do
seu perfil transversal e reduccedilatildeo da profundidade Aleacutem disso segundo Coelho (2007) as
vazotildees maacuteximas e miacutenimas foram alteradas com a implantaccedilatildeo das hidreleacutetricas a
montante implicando em vazotildees meacutedias anuais miacutenimas cada vez mais reduzidas com
valores se distanciando da linha de tendecircncia (polinocircmio) provando o natildeo equiliacutebrio da
vazatildeo apoacutes a implantaccedilatildeo das barragens (Graacutefico 1 p22)
Entretanto a primeira intervenccedilatildeo direta no trecho em estudo foi a instalaccedilatildeo da estrada
de ferro que atraiu migrantes para Colatina permitindo o crescimento populacional e a
expansatildeo urbana desordenada agraves margens do Doce Este crescimento intensificou a
supressatildeo das matas ciliares e abriu espaccedilo para a impermeabilizaccedilatildeo do solo reduzindo
a infiltraccedilatildeo
Posteriormente a inauguraccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos ampliou o fluxo na regiatildeo pois
proporcionava a ligaccedilatildeo com as terras ao norte do Estado Atuou tambeacutem como obstaacuteculo
ao transporte de sedimentos carreados no fluxo natural do rio uma vez que sua
implantaccedilatildeo altera a topografia do fundo do canal afetando os processos geomorfoloacutegicos
58
Poreacutem foi no Morro das Cabritas (colina localizada no espaccedilo que compreende o atual
bairro Esplanada) que ocorreu a primeira desnaturalizaccedilatildeo nas margens do Doce Este
morro por onde o Rio Santa Maria do Doce meandrava ateacute desaguar no Rio Doce foi
cortado em meados de 1953 para abrigar a cidade em expansatildeo Devido a esta
intervenccedilatildeo o curso original do Santa Maria foi deslocado e passou a escoar
retilineamente ateacute a foz (Figura 21)
Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponte Florentino Aacutevidos (direita) e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque em vermelho para o curso atual do Santa Maria Fonte Nossa Colatina
As intervenccedilotildees na margem direita tornam-se mais intensas a partir da deacutecada de 1960
quando no ano de 1968 edificou-se um muro visando a proteccedilatildeo dos pilares da
extremidade direita da ponte Esta obra ficou paralisada por muitos anos e foi a primeira
de retificaccedilatildeo e aterro realizada neste trecho do rio Esta intervenccedilatildeo modificou o fluxo
natural das correntes do rio e reduziu a largura da sua calha alterando a morfologia do
canal (Figura 22)
59
Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de proteccedilatildeo da ponte Elaborado pela autora Fonte fotos histoacutericas Nossa Colatina
Contudo somente em 1972 teve iniacutecio o segundo aterro (Figura 23) com a finalidade de
alocar a estaccedilatildeo rodoviaacuteria de Colatina e ampliar a aacuterea de acesso agrave ponte Florentino
Aacutevidos A implementaccedilatildeo desta obra suprimiu parte do leito do Rio Doce pois removeu a
saliecircncia cocircncava que curvava o rio retilinizando esta parte do canal
60
Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora Fonte Nossa Colatina Nossa Linda Colatina
Apoacutes dez anos sem grandes intervenccedilotildees em 1982 o lado a montante da ponte bairro
Esplanada eacute acrescido de um aterro que estenderaacute a aacuterea do antigo Morro das Cabritas
para o rio (Figura 24)
Conhecido como Rua da Lama devido agrave umidade que o rio transferia ao aterro formando
um barro viscoso que persistia a maior parte do ano o trecho atualmente compreende a
Avenida Professor Joseacute Zouian popularmente denominada Avenida Beira-Rio de onde
surge a primeira forma do calccediladatildeo que seraacute estendido ateacute o bairro Colatina Velha
61
Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o calccediladatildeo da Av Beira-Rio Elaborado pela autora Fonte Bennachio (2015)
Somente em 2004 foi implementado o maior projeto de canalizaccedilatildeo do municiacutepio Naquele
ano teve iniacutecio a execuccedilatildeo do enrocamento da Av Beira-Rio (Figura 25) obra destinada
inicialmente a alocaccedilatildeo de equipamentos puacuteblicos de lazer e cultura praccedilas preacutedios aleacutem
da promessa de contribuir para a contenccedilatildeo dos transbordamentos do Rio Doce
Apesar de o referido manancial jaacute estar comprometido com problemas de poluiccedilatildeo
assoreamento e erosatildeo aleacutem dos impactos de duas hidreleacutetricas instaladas a montante a
obra abarcou a supressatildeo da vegetaccedilatildeo ciliar e aterro de parte do rio jaacute tatildeo degradado
62
Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento iniciada em 2004 e finalizada em 2008 Elaborado pela autora Fonte proacutepria autora em 240215
Ocupando uma aacuterea total de 130 mil msup2 do leito do Rio Doce o aterro teve iniacutecio em 2004
sendo construiacutedo com cerca de 90 mil msup3 de pedras 50 mil msup3 de areia retirada do leito do
rio e por fim o nivelamento com 200 mil msup3 de terra A obra era divulgada como um antigo
sonho dos colatinenses e serviria para ampliaccedilatildeo da Av Beira-Rio no bairro de Colatina
Velha instalaccedilatildeo de ciclovias calccediladatildeo equipamentos puacuteblicos e estacionamento (Figura
26) Apesar do fim da engenharia em 2008 o projeto ainda estaacute em fase de acabamento
na parte urbaniacutestica e na alocaccedilatildeo dos oacutergatildeos puacuteblicos
Cabe destacar que a obra sofreu embargos do Ministeacuterio Puacuteblico Federal (MPF) por
apresentar apenas cadastro na Agecircncia Nacional de Aacuteguas (ANA) que conforme parecer
da Procuradora Nadja Machado Botelho na Accedilatildeo Civil Puacuteblica ldquo[hellip] equivocadamente natildeo
realizou o procedimento de outorga [hellip]rdquo (MPF 2006 p2) Aleacutem disso a procuradora
solicitou tutela tendo em vista tratar-se de aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental e o fato de o
IBAMA ter concedido licenciamento com indevida dispensa do Estudo de Impacto
Ambiental (EIA)Relatoacuterio de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA)
63
Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina Fonte Prefeitura de Colatina (2015)
Por isso essa obra deve ser considerada faraocircnica para os cofres puacuteblicos e irreversiacutevel
para os processos geomorfoloacutegicos do Doce E sua efetivaccedilatildeo soacute foi possiacutevel com a
participaccedilatildeo e investimentos do Governo estadual Contudo seu objetivo foi frustrado pois
novamente na cheia do Rio Doce em dezembro de 2013 quando este atingiu a vazatildeo de
9028 msup3s a aacuterea foi inundada e por estar em cota maior que as casas que beiravam o
rio o enrocamento atuou como represa natildeo permitindo o retorno das aacuteguas quando o niacutevel
do rio retomou o equiliacutebrio
Por fim segue um mapa siacutentese (Figura 27) com a cartografia das quatro principais
intervenccedilotildees diretas e estruturais na margem direita do Doce no setor urbano de Colatina
representando o curso natural do rio em 1950 e suas desnaturalizaccedilotildees a partir da deacutecada
de 60 ateacute a atualidade
64
Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce ante e depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora
65
422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio
O recorte em estudo compreende as Zonas ZE-1 ZE-2 e ZUD 2-1 (Figura 28 p61) sendo
a Zona Especial 1 Zona Especial 2 e Zona de Uso Diverso 2-1 destinadas no PDM (Lei
52732007)
Artigo 103 - As Zonas de Usos Diversos ndash ZUD satildeo definidas em razatildeo da concentraccedilatildeo de atividades urbanas diversificadas com predominacircncia do uso comercial e de serviccedilos Artigo 104 - Satildeo objetivos das Zonas de Usos Diversos I - otimizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do solo priorizando a instalaccedilatildeo de novos empreendimentos em terrenos natildeo edificados contiacuteguos a empreendimentos jaacute instalados II - controle da implantaccedilatildeo de usos incompatiacuteveis com os definidos para estas zonas III - garantia de licenciamento e monitoramento ambiental dos empreendimentos IV - controle da expansatildeo comercial de serviccedilos e de induacutestrias de pequeno porte em direccedilatildeo a aacutereas residenciais [] Artigo 130 - As Zonas Especiais 1 ndash ZE 1 abrangem todas as aacutereas remanescentes do municiacutepio relativamente ao zoneamento estabelecido nesta lei ocupadas ou natildeo contida na lei de periacutemetro urbano para as quais natildeo foram ainda estabelecidos os criteacuterios de uso e ocupaccedilatildeo Artigo 131 - As Zonas Especiais 2 ndash ZE 2 satildeo as aacutereas existentes no prolongamento da avenida Beira Rio mais especificamente no trecho entre o 80 Batalhatildeo da Poliacutecia Militar e a rua Pedro Epichin incluindo o espaccedilo existente entre a margem do Rio Doce e o limite das construccedilotildees localizadas na rua Pedro Epichin
Cabe destacar que mesmo sendo palco das aacutereas mais afetadas com as inundaccedilotildees do
Rio Doce a Beira-Rio tem sido alvo da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria que aproveitando-se dos
iacutendices pouco restritos da ZUD 2 (Figura 28 p62) valoriza o espaccedilo promovendo a
instalaccedilatildeo de grandes estruturas como hipermercados edifiacutecios residenciais modernos e
hotelaria
66
Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 Fonte Colatina (2007)
A aacuterea contida na ZE (Figura 28) natildeo possui criteacuterio de ocupaccedilatildeo definido na legislaccedilatildeo
atual sendo adotado o disposto na Lei 41961995 que estabelece os iacutendices urbaniacutesticos
para as aacutereas conquistadas junto ao Rio Doce e na Lei 420595 que aprova os
parcelamentos na Beira-Rio Quanto agrave ZUD 2-1 apresenta iacutendices urbaniacutesticos no anexo
118 do Plano Diretor conforme tabela 3 abaixo
67
Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1
Fonte Colatina (2007 p36)8
68
Eacute relevante observar que numa aacuterea onde o corpo hiacutedrico foi reduzido pelos sucessivos
aterros tenha sido aprovada a instalaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto (Figura
29) com taxa de ocupaccedilatildeo de ateacute 80 e com baixo iacutendice de permeabilidade Ampliou-
se a aacuterea impermeaacutevel numa regiatildeo onde a drenagem jaacute eacute muito comprometida com a
expansatildeo urbana sobre o rio
Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto na Beira-Rio Fonte imagem do Google Maps 2015 E fotos da autora em 140215
Portanto analisando o conjunto de dados apresentado acima eacute possiacutevel entender como
as inundaccedilotildees satildeo potencializadas no municiacutepio atingindo a populaccedilatildeo mas em especial
afetando a dinacircmica de um corpo hiacutedrico tatildeo relevante para o Estado A fim de subsidiar a
gestatildeo puacuteblica com material cartograacutefico para a tomada de decisotildees delimitou-se o
poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo (Figura 30) Pois devem ser adotadas medidas que
minimizem impactos de futuros eventos hidroloacutegicos na bacia capazes de comprometer
novamente a aacuterea urbana mais central de Colatina
69
Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av Beira-Rio em dezembro de 2013 Elaborado pela autora
70
Diante do poliacutegono de inundaccedilatildeo da uacuteltima cheia (Figura 30) em dezembro de 2013 eacute
possiacutevel implementar medidas de convivecircncia com as grandes vazotildees a exemplo de
paiacuteses como Holanda que vem investindo em medidas de resiliecircncia a fim de reduzir a
velocidade dos defluacutevios possibilitando ao canal a capacidade de acumular e dispersar as
aacuteguas com impacto miacutenimo para as populaccedilotildees Conforme Carneiro e Miguez (2011) a
estrateacutegia adotada pelo paiacutes eacute reter armazenar e drenar sendo mais flexiacutevel e natildeo
interferindo drasticamente na dinacircmica do corpo hiacutedrico
Por fim a implementaccedilatildeo de soluccedilotildees de planejamento urbano em Colatina requer uma
anaacutelise integrada que abarque o urbano e o ambiental de modo a propor intervenccedilotildees que
produzam impactos reduzidos nos processos geomorfoloacutegicos do Rio Doce Logo a gestatildeo
municipal deve atuar em niacutevel de bacia hidrograacutefica interagindo com os municiacutepios a
montante propondo medidas de minimizaccedilatildeo das cheias urbanas Mas na escala local
pode-se atuar junto aos novos parcelamentos de modo a ampliar o percentual de aacutereas
permeaacuteveis no municiacutepio incentivando por exemplo os novos loteamentos a adotarem
pavimentaccedilotildees que permitam a drenagem natural do solo
71
5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Partindo da ideia de que eacute possiacutevel implementar medidas que minimizem o escoamento
superficial satildeo apresentadas propostas como forma de controlar ou ao menos reduzir os
impactos das inundaccedilotildees urbanas
Embora as implementaccedilotildees histoacutericas de estruturas de proteccedilatildeo ou barreiras mais altas
tenham sido muito disseminadas atualmente estatildeo sendo suplantadas pelo gerenciamento
de inundaccedilotildees de maneira mais sustentaacutevel Deste modo as experiecircncias fora do Brasil
apontam para soluccedilotildees mais flexiacuteveis que considerem o fluxo natural do canal enquanto
um ecossistema em equiliacutebrio Para tanto Carneiro e Miguez (2011 p150) destacam a
iniciativa alematilde no controle de inundaccedilotildees em bacias hidrograacuteficas metropolitanas
[hellip] A abordagem comum consiste na regulaccedilatildeo do uso do solo nas aacutereas inundaacuteveis e em ldquodar espaccedilo para o riordquo ao inveacutes de priorizar investimentos em estruturas de proteccedilatildeo contra inundaccedilotildees como a colocaccedilatildeo de diques de contenccedilatildeo as margens dos rios A utilizaccedilatildeo do conceito de resiliecircncia apropriado de ecologia decorre dessa abordagem A aplicaccedilatildeo praacutetica do conceito implica portanto em mudanccedilas de paradigma Deixa de ser preponderante a engenharia construtiva e entra em cena o planejamento de longo prazo voltado para o desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis capazes de conviver com as variaccedilotildees do ciclo hidroloacutegico sem significar necessariamente trageacutedias anunciadas
Aleacutem dessas propostas geoacutegrafos como Sandra Cunha tecircm estudado a recuperaccedilatildeo
natural ou ldquorenaturalizaccedilatildeordquo de corpos fluviais visando promover a estabilidade dos canais
de modo mais sustentaacutevel Para ela
[hellip] Recuperaccedilatildeo de canal significa de forma simples o retorno as condiccedilotildees anteriores aos distuacuterbios Em essecircncia eacute o processo de recuperaccedilatildeo do rio ou do ecossistema fluvial estabilizando o desenvolvimento de habitats e colonizaccedilatildeo a uma taxa mais raacutepida que dos processos naturais fiacutesicos e bioloacutegicos Na recuperaccedilatildeo de canais ocorrem consideraccedilotildees de aspecto hidroloacutegico morfoloacutegico e ecoloacutegico qualidade da aacutegua esteacutetica aleacutem da necessidade de uma visatildeo integradora do projeto sustentaacutevel de recuperaccedilatildeo (CUNHA 2012 p230 a 231)
Satildeo portanto medidas pontuais como o retorno agraves sinuosidades do rio (Figura 31 p 68)
ou a substituiccedilatildeo de estruturas de concreto por superfiacutecies mais permeaacuteveis a exemplo
das trincheiras de infiltraccedilatildeo ou pavrsquos (Figura 32) aacutereas mais vegetadas aleacutem de coleta e
uso de aacutegua da chuva bem como tratamento das aacuteguas superficiais por meio de
72
amenidades esteacuteticas como reservatoacuterios de retenccedilatildeo ou detenccedilatildeo que podem ser
associados a ambientes harmocircnicos como lagos artificiais Todas estas accedilotildees possibilitam
a minimizaccedilatildeo das grandes vazotildees no solo urbano pois pretendem atenuar os impactos
das cheias fazendo com que seja resgatada parte da drenagem existente anteriormente agrave
urbanizaccedilatildeo
Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do Rio Aa Munster Alemanha (1998) Fonte Cunha (2012 p233)
Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos Fonte Carneiro e Miguez (2011 p128)
A partir do exposto cabe agrave gestatildeo municipal implementar legislaccedilotildees que priorizem a
permeabilidade possibilitando uma maior infiltraccedilatildeo das aacuteguas das chuvas atraveacutes de
pavimentaccedilotildees menos impermeaacuteveis e da ampliaccedilatildeo de aacutereas vegetadas Satildeo medidas
que tornam a drenagem mais sustentaacutevel aleacutem de possibilitar a manutenccedilatildeo dos serviccedilos
puacuteblicos de forma menos custosa tendo em vista o elevado preccedilo das recomposiccedilotildees
asfaacutelticas
1 2
73
Aleacutem disso quando se fala em controle de cheias urbanas pressupotildee-se uma seacuterie de
medidas para minimizaccedilatildeo de seus impactos desde a operaccedilatildeo de sistemas de alerta
zoneamento de aacutereas inundaacuteveis construccedilatildeo de grandes reservatoacuterios de contenccedilatildeo de
cheias e diques ateacute accedilotildees de educaccedilatildeo ambiental
Cabe pensar tambeacutem na proacutexima revisatildeo do PDM em um plano de macrodrenagem
municipal que reuacutena accedilotildees de caraacuteter estruturantes com obras hidraacuteulicas de infraestrutura
que realizem a conduccedilatildeo final das aacuteguas dos escoamentos superficiais para a minimizaccedilatildeo
das inundaccedilotildees e em medidas natildeo-estruturantes que trabalhem a consciecircncia ambiental
e proponha um zoneamento de cheias a fim de se delimitar os pontos mais fragilizados nos
defluacutevios
Por fim pensar em drenagem num contexto de ocupaccedilatildeo irregular histoacuterico requer
profissionais que aleacutem de possuir afinidade com a temaacutetica tambeacutem possam analisar os
diferentes processos que constituem o espaccedilo geograacutefico Logo este tipo de estudo deve
abarcar uma equipe multidisciplinar que percorra a anaacutelise desde o ambiental estrutural
ateacute o aspecto humano a fim de se produzir resultados que de fato contribuam com o
controle das inundaccedilotildees urbanas
74
6 CONCLUSAtildeO
A partir do recorte espacial foi possiacutevel compreender que a abordagem da geomorfologia
fluvial com a anaacutelise espaccedilo-temporal da ocupaccedilatildeo urbana possibilita a identificaccedilatildeo das
accedilotildees do homem no meio ambiente pois estas resultam na alteraccedilatildeo das paisagens
naturais e na dinacircmica da bacia hidrograacutefica Assim o Rio Doce deve ser estudado de
modo integrado ao crescimento da cidade sobretudo para compreensatildeo da produccedilatildeo do
espaccedilo geograacutefico
Analisar a inundaccedilatildeo urbana em Colatina foi satisfatoacuterio pois o municiacutepio estaacute situado no
perfil meacutedio-baixo da bacia vazante e eacute neste trecho que os reflexos das intervenccedilotildees satildeo
mais acentuados principalmente se esta parte do canal tambeacutem tiver passado por obras
que modificaram seus processos hidroloacutegicos Aleacutem disso a perspectiva geograacutefica aponta
para vaacuterias outras questotildees como erosatildeo fluvial planejamento urbano poluiccedilatildeo ambiental
crise da aacutegua que conduzem a outras discussotildees acerca da relaccedilatildeo homemnatureza
Ao demonstrar a evoluccedilatildeo espaccedilo-temporal do uso e cobertura da terra na margem direita
do Doce associando esta ocupaccedilatildeo agraves obras estruturantes que foram executadas no
canal verificamos que todas as praacuteticas adotadas para conter o transbordamento do rio
acabaram alterando sua morfologia com a retificaccedilatildeo de trechos em meandros reduzindo
a largura do corpo hiacutedrico o que favoreceu a apropriaccedilatildeo urbana de suas vaacuterzeas Aliadas
a estas questotildees estatildeo a falta de planejamento urbano e a omissatildeo diante da supressatildeo
das matas ciliares principalmente se considerados os resultados do relatoacuterio teacutecnico do
IJSN contra enchentes em 1980
Cabe destacar tambeacutem que toda a anaacutelise da ocupaccedilatildeo urbana e desnaturalizaccedilatildeo do
Rio Doce foi melhor identificada a partir dos produtos cartograacuteficos deste trabalho Pois eacute
na espacialidade dos fenocircmenos e no registro de informaccedilotildees ainda natildeo mapeadas como
os aterros que o geoacutegrafo executa a anaacutelise do seu objeto de estudo o homem e a
natureza aqui representado pela sociedade e o canal do Doce
Apesar do municiacutepio apresentar leis que resguardam os leitos dos rios desde o primeiro
PDM em 1996 nada foi feito para conter as ocupaccedilotildees irregulares beira-rio Pelo contraacuterio
estas aacutereas foram incorporadas ao Plano Diretor em 2007 com possibilidades de
ocupaccedilotildees diversas o que tem levado especuladores a valorizar o solo com vista para o
rio apontando suas qualidades esteacuteticas e teacutermicas Este fato vem aumentando o
75
percentual de aacutereas impermeaacuteveis nesta margem comprometendo ainda mais a drenagem
dos defluacutevios
Eacute na Av Beira-Rio que crescem as implantaccedilotildees de grandes empreendimentos comerciais
como supermercado Casagrande Ogil Hotel e obras de construccedilatildeo de novos arranha-
ceacuteus em um periacutemetro que jaacute eacute totalmente comprometido com os extravasamentos do Rio
Doce Estas obras ocupam grandes aacutereas e na maioria das vezes apresentam reduzida
aacuterea permeaacutevel reservando apenas o obrigatoacuterio pela lei cerca de 10 Observa-se
tambeacutem que a implantaccedilatildeo desses projetos estaacute condicionada agrave apresentaccedilatildeo e
aprovaccedilatildeo por comissatildeo na prefeitura do Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV) sendo
difiacutecil conceber que seja concedida tal licenccedila para implementaccedilatildeo de obras num trecho
de risco ambiental
Embora as diretrizes do Estatuto das Cidades para a implementaccedilatildeo do uso da terra
sustentaacutevel e os instrumentos para a regulaccedilatildeo do solo urbano sejam avanccedilados Colatina
eacute mais um exemplo da carecircncia de profissionais capacitados para estudar de modo
integrado e em niacutevel de bacia hidrograacutefica os efeitos da accedilatildeo humana num ambiente tatildeo
peculiar como as margens do Doce Por isso com os objetivos traccedilados nesta pesquisa
podemos aleacutem de compreender o fenocircmeno criar uma metodologia de anaacutelise de aacutereas
inundaacuteveis em ambientes urbanos O que permite agrave gestatildeo municipal uma diretriz para a
tomada de decisotildees
Destaca-se tambeacutem que as legislaccedilotildees aqui referenciadas supriram a discussatildeo acerca do
objeto de estudo mas outras podem contribuir para esta pesquisa a exemplo do Coacutedigo
das Aacuteguas da Poliacutetica Nacional dos Recursos Hiacutedricos das Resoluccedilotildees do Conama do
Estatuto das Cidades entre outros
Sendo assim numa revisatildeo do PDM deve-se pensar nestes aspectos da cidade desde o
histoacuterico de ocupaccedilatildeo das margens ateacute os impactos das inundaccedilotildees e o presente trabalho
auxilia com uma nova abordagem na reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo fornecendo material
cartograacutefico para subsidiar propostas de proteccedilatildeo ao curso do Doce e consequentemente
da populaccedilatildeo
Por fim deve-se destacar que o recorte estaacute inserido num contexto maior de uma bacia
hidrograacutefica que se estende aleacutem dos limites de Colatina ou do estado do Espiacuterito Santo
Esta bacia compreende a Regiatildeo Hidrograacutefica do Atlacircntico Leste e estaacute alocada tambeacutem
76
no estado de Minas Gerais o que portanto torna as accedilotildees de controle das inundaccedilotildees
mais complexas tendo em vista as divergentes politicas territoriais
77
7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
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18
Figura 1 - Localizaccedilatildeo da aacuterea urbana de Colatina com Limite de Bairros e o canal do Rio Doce Elaborado pela autora
19
Figura 2 - Vista do Rio Doce pela ponte velha Inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 Fonte Noticias UOL (2013)
Figura 3 - Movimento de massa no bairro Satildeo Marcos Evento extremo de dezembro de 2013 Fonte Folha Vitoacuteria (2013)
Este estudo portanto eacute relevante tendo em vista as raras abordagens no acircmbito das
Ciecircncias Geograacuteficas especialmente no Espiacuterito Santo de pesquisas que correlacionem
aspectos da geomorfologia fluvial por meio da dinacircmica dos recursos hiacutedricos com o uso
e cobertura da terra particularmente o Plano Diretor Municipal (PDM) Discute dessa
forma as implicaccedilotildees da atuaccedilatildeo humana nas particularidades deste ecossistema natural
tendo em vista o disposto nas legislaccedilotildees urbaniacutesticas e ambientais que visam assegurar
a qualidade de vida das populaccedilotildees
Adiante seratildeo analisados os principais fundamentos da geomorfologia fluvial os aspectos
juriacutedicos e o papel da anaacutelise geograacutefica integrada para o entendimento dos fenocircmenos
das inundaccedilotildees no Centro de Colatina uma vez que eacute devido agraves intervenccedilotildees humanas
nos canais e suas margens que esses fenocircmenos tornam-se mais nocivos a cidade
20
2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS
21 Fundamentos da Geomorfologia Fluvial no Ambiente Urbano
Recurso essencial para a manutenccedilatildeo da vida a aacutegua foi um fator relevante para o
estabelecimento histoacuterico das sociedades no entorno dos cursos hiacutedricos Utilizados para
fins de abastecimento humano e animal irrigaccedilatildeo saneamento e transporte os rios
constituiacuteram-se nos principais propulsores de penetraccedilatildeo para o interior (CUNHA 2012a)
Logo em suas margens surgiram povoados que posteriormente transformaram-se em
cidades como as que se estabeleceram agraves margens do Rio Doce a exemplo da sede de
Colatina
Diante das potencialidades que os recursos hiacutedricos possibilitam agraves sociedades
destacamos a importacircncia do estudo da Geomorfologia Fluvial que se apresenta como
campo da Geomorfologia (ciecircncia que estuda as formas do relevo) sendo o interesse
daquela a pesquisa dos processos que relacionam o escoamento das aacuteguas fluviais num
contexto de bacia hidrograacutefica (CHRISTOFOLETTI 1980 CUNHA op cit) Enfoca assim
as alteraccedilotildees na fisionomia dos canais frente agraves intervenccedilotildees no ecossistema natural
beira-rio
A Geomorfologia Fluvial parte da condicionante de que o uso e ocupaccedilatildeo da terra refletem-
se na dinacircmica da bacia de drenagem interferindo nos processos morfogeneacuteticos ou seja
de modelagem do relevo fluvial escoamento superficial das aacuteguas e no ciclo hidroloacutegico
Frente agrave temaacutetica deste estudo faz-se necessaacuterio o entendimento dos conceitos da
fisiografia fluvial aqui referente aos diferentes setores que a aacutegua pode escoar num leito
(Figura 4) como
O leito menor corresponde agrave parte do canal ocupada pelas aacuteguas e cuja frequecircncia impede o crescimento da vegetaccedilatildeo Esse tipo de leito eacute delimitado por partes bem definidas O leito de vazante equivale agrave parte do canal ocupada durante o escoamento das aacuteguas de vazante Suas aacuteguas divagam dentro do leito menor seguindo o talvegue linha de maacutexima profundidade ao longo do leito e que eacute mais bem identificada na seccedilatildeo transversal do canal O leito maior tambeacutem denominado leito maior perioacutedico ou sazonal eacute ocupado pelas aacuteguas do rio regularmente e pelo menos uma vez ao ano durante as cheias Dependendo do tempo ocorrido entre as subidas das aacuteguas eacute possiacutevel haver a fixaccedilatildeo e o crescimento da vegetaccedilatildeo herbaacutecea
21
O leito maior excepcional eacute ocupado durante as grandes cheias no decorrer das enchentes (CUNHA 2001 p 213)
Figura 4 - Tipos de leito fluvial vaacuterzea Fonte Cunha (2001 p213)
Sendo assim as aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial (leitos) aquelas inundadas pelo corpo
hiacutedrico frente a um evento hidroloacutegico extremo tambeacutem satildeo conhecidas como vaacuterzeas
planiacutecie de inundaccedilatildeo ou ainda segundo Carneiro e Miguez (2011 p133) como ldquo[] zona
de passagem de cheia []rdquo Essas aacutereas de vaacuterzeas dependem da fisionomia que o rio
apresenta e segundo Cunha (op cit) o canal fluvial pode apresentar trecircs formas
principais conhecidas como padratildeo dos canais que satildeo retiliacuteneo anastomosado e
meacircndrico (Figura 5)
Figura 5 - Padrotildees dos canais (A) retiliacuteneo (B) anastomosado (C) meandrante (A) amplitude (Rc) raio meacutedio da curvatura do meandro (segundo Bigarella etal 1979) Fonte Cunha (2001 p216)
22
Aliada aos padrotildees dos canais estaacute a assimetria ou simetria dos leitos que para Cunha
(2001 p233) relaciona-se com a variaccedilatildeo da velocidade e turbulecircncia ao longo da secccedilatildeo
transversal o que diferencia o comportamento nos canais retiliacuteneos geralmente simeacutetricos
do canal meacircndrico onde
Em canais de leito simeacutetrico em geral padratildeo retiliacuteneo a velocidade maacutexima ocorre no centro do canal diminuindo em direccedilatildeo agraves margens Em leito assimeacutetrico de padratildeo meacircndrico a zona de maacutexima velocidade e turbulecircncia localiza-se nas proximidades das margens cocircncavas decrescendo de valor em direccedilatildeo agrave margem de menor profundidade
(convexa) (CUNHA opcit p 233)
Deste modo a capacidade de erosatildeo das margens transporte e deposiccedilatildeo da carga do rio
dependem entre outros fatores da velocidade das correntes fluviais E o material do fluxo
fluvial constitui-se da descarga liacutequida ou vazatildeo que estaacute relacionada ao tamanho do
material que pode ser transportado e do volume da carga que o rio eacute capaz de carregar
Tem-se ainda a carga soacutelida sedimentos que estaacute relacionada a suspensatildeo e fundo do
rio esta decresce a jusante indicando a diminuiccedilatildeo da competecircncia do corpo fluvial As
cargas de suspensatildeo satildeo constituiacutedas de partiacuteculas finas a exemplo do silte e por fim a
carga de fundo que eacute composta por partiacuteculas de tamanhos maiores a exemplo da areia
(CUNHA2001)
Christofoletti (1980) acrescenta que os sedimentos podem ser carregados de trecircs modos
principais no fluxo em soluccedilatildeo dissolvidos nos cursos hiacutedricos em suspensatildeo como o
silte e argila e em saltaccedilatildeo geralmente a areia e cascalho que compreendem a carga do
leito do rio Destaca-se que a carga detriacutetica natildeo proveacutem apenas da erosatildeo do fundo dos
leitos e margens fluviais mas que o material intemperizado de vertentes carreado nas
enchentes contribui significativamente para a carga sedimentar transportada
Cabe ressaltar ainda que a relaccedilatildeo do arranjo espacial dos canais com os processos
fluviais (a erosatildeo o transporte e a deposiccedilatildeo de sedimentos) eacute determinante para o
trabalho dos rios Tais processos satildeo diretamente influenciados pela vazatildeo velocidade e
pela intensidade da turbulecircncia (seja no fluxo laminar ou no fluxo turbulento) A
variabilidade no comportamento da velocidade e turbulecircncia das aacuteguas ao longo da seccedilatildeo
transversal condiciona os locais preferenciais de erosatildeo e deposiccedilatildeo ao longo do curso
hiacutedrico
23
Deste modo qualquer intervenccedilatildeo na bacia e canal fluvial compromete o equiliacutebrio natural
da drenagem levando o corpo hiacutedrico a se adaptar agraves mudanccedilas em sua fisionomia
fisiografia e em seus processos ateacute atingir um novo estado de equiliacutebrio Poreacutem eacute na
planiacutecie de inundaccedilatildeo que estas modificaccedilotildees seratildeo mais percebidas pela populaccedilatildeo pois
a maior parte das obras de engenharia como as canalizaccedilotildees e as ocupaccedilotildees das
margens acaba por romper com o equiliacutebrio natural do rio alterando sua dinacircmica e
intensificando seus processos o que na maioria das vezes potencializa as enchentes no
ambiente urbano
Nesse sentido o entendimento dos processos fluviais (erosatildeo transporte e deposiccedilatildeo)
combinado com a anaacutelise da fisiografia fluvial condicionam as peculiaridades na geometria
hidraacuteulica ou seja na relaccedilatildeo entre a vazatildeo velocidade de escoamento tipos de canais
de sedimentos e a topografia Logo o conhecimento geomorfoloacutegico do rio contribui para
pesquisas que necessitem relacionar o funcionamento deste corpo natural com um
planejamento urbano mais efetivo principalmente se considerarmos um recorte em niacutevel
de bacia hidrograacutefica em espaccedilo urbano
211 Atuaccedilatildeo Antroacutepica no Canal Fluvial
O capiacutetulo que segue versa sobre a atuaccedilatildeo antroacutepica relacionando-a a aacuterea de estudo o
rio Doce poreacutem este trata de forma macro a temaacutetica para contextualizar o leitor sendo
as especificidades das intervenccedilotildees neste recorte geograacutefico trabalhados nos resultados
desta pesquisa
Diante do exposto eacute possiacutevel acompanhar a evoluccedilatildeo dos processos fluviais nos canais
em especial aqueles que tiveram intervenccedilotildees em seu curso natural como as hidreleacutetricas
instaladas a montante a exemplo do Rio Doce onde a interferecircncia direta na vazatildeo e fluxo
de sedimentos altera a hidrodinacircmica do rio comprometendo a erosatildeo e transporte Para
Coelho (2007 p57) as
Mudanccedilas na Declividade Perfil Longitudinal Promovidas pela construccedilatildeo de reservatoacuterio satildeo variadas e caso o efeito da contenccedilatildeo de sedimentos seja significativo os processos fluviais reduziratildeo a capacidade de transporte de sedimento podendo promover um entalhamento do leito do rio imediatamente agrave jusante da barragem
Aleacutem disso esse processo erosivo poacutes-barragem eacute intensificado favorecendo o
assoreamento e sedimentaccedilatildeo do rio a jusante O que pode beneficiar a elevaccedilatildeo da cota
24
do canal fluvial frente a eventos hidroloacutegicos extremos potencializando os efeitos das
inundaccedilotildees nas vaacuterzeas
Ao mesmo tempo o Rio Doce trecho que compreende o Espiacuterito Santo meacutediobaixo curso
eacute impactado nas vazotildees miacutenimas e maacuteximas a jusante apoacutes a instalaccedilatildeo das
barragensUsinas Hidreleacutetricas (UHE) de Mascarenhas (iniacutecio de operaccedilatildeo em 1974)
localizada no Municiacutepio de Baixo Guandu e a de Aimoreacutes (iniacutecio de operaccedilatildeo em 2005)
localizada na divisa do Espiacuterito Santo com Minas Gerais (COELHO 2007)
De acordo com Coelho (opcit) apoacutes a implantaccedilatildeo das usinas ocorreu uma reduccedilatildeo
significativa na vazatildeo da calha principal do Rio Doce conforme Graacutefico 1
Considerando o periacuteodo de 1939 a 2012 a vazatildeo miacutenima apoacutes a instalaccedilatildeo das usinas
chega a atingir 411msup3s e a maacutexima chega apenas a 1251msup3s sendo que no periacuteodo
anterior agrave instalaccedilatildeo das usinas foi registrada a miacutenima de 533 msup3s e uma maacutexima de
1812 msup3s o que ressalta o impacto do barramento sobre o corpo hiacutedrico Aleacutem do
comprometimento dos processos de erosatildeo transporte e sedimentaccedilatildeo (COELHO 2008
e CUNHA 2001)
Diante desta perda de carga liacutequida nos barramentos Cunha (2001 p 241) observa ainda
que as aacutereas a jusante de reservatoacuterios
[hellip] onde o regime do rio sofre significativas modificaccedilotildees devidas ao controle das descargas liquidas e de sedimentos no reservatoacuterio As mudanccedilas ocorridas no regime das aacuteguas neste setor do rio acarretam significativos efeitos nos processos do canal tais como o entalhe do leito a erosatildeo das margens e a deposiccedilatildeo a jusante atingindo longas distacircncias
Aleacutem disso no periacutemetro urbano de Colatina o Rio Doce sofreu outras intervenccedilotildees em
seu canal principal como a implantaccedilatildeo de obras estruturais de macrodrenagem a
exemplo da construccedilatildeo da Av Beira-Rio com intuito de conter o avanccedilo das aacuteguas fluviais
em periacuteodos de cheias
25
Graacutefico 1
Vazatildeo meacutedia anual do Rio Doce a partir dos dados de vazotildees mensais (Estaccedilatildeo Fluviomeacutetrica de Colatina e a respectiva curva de tendecircncia)
Fonte adaptado de Coelho (2007 p154)
26
Como exemplo dos tipos de intervenccedilotildees humanas nas aacutereas de sedimentaccedilatildeo fluvial
leitos Carneiro e Miguez (2011 p117) destacam
As accedilotildees de controle e cheias urbanas podem ser classificadas em estruturais quando a paisagem eacute alterada pela accedilatildeo do homem e em natildeo estruturais aqui denominada como estruturante quando o homem aprende a conviver com as enchentes No primeiro caso estatildeo as medidas de controle atraveacutes de obras hidraacuteulicas tais como barragens diques e canais entre outras No segundo caso encontram-se medidas do tipo preventivo tais como zoneamento de aacutereas de inundaccedilatildeo sistemas de alerta educaccedilatildeo ambiental lei de parcelamento e uso dos solos e seguros contra inundaccedilatildeo
Neste cenaacuterio abarcamos os impactos das obras de engenharia como a canalizaccedilatildeo que
altera a fisionomia e fisiografia do rio refletindo-se nos processos geomorfoloacutegicos do canal
e sua planiacutecie de inundaccedilatildeo Para estes a canalizaccedilatildeo eacute uma obra estrutural que aumenta
a capacidade do fluxo do canal aleacutem de intensificar a velocidade do escoamento
superficial antecipando o pico de cheia e transferindo os alagamentos para locais a jusante
na bacia hidrograacutefica
Articulado a esta ideia Cunha (2012b) reflete a desnaturalizaccedilatildeo dos rios por meio de
obras de retificaccedilatildeo com a reduccedilatildeo do comprimento do canal e eliminaccedilatildeo das
sinuosidades Satildeo obras que afetam a estabilidade do corpo hiacutedrico na medida em que
interferem na relaccedilatildeo entre erosatildeo sedimentaccedilatildeo e deposiccedilatildeo provocando efeitos como
alteraccedilatildeo na morfologia do canal Sendo assim ldquo[hellip] a diminuiccedilatildeo da rugosidade no fundo
do canal em conjunto com a perda dos meandros e a aceleraccedilatildeo das velocidades eacute a
principal responsaacutevel pelas mudanccedilas no balanccedilo da energia natural dos sedimentos
fluviais [hellip]rdquo Cunha (2012b p178) No caso do Rio Doce trecho correspondente agrave Av
Beira-Rio alterou-se a sua forma retilinizando-a e sua vegetaccedilatildeo natural foi substituiacuteda
por estruturas de pedras o que compromete a resistecircncia ao fluxo as margens e aos
bancos arenosos
Embora as obras de canalizaccedilatildeo sejam implantadas como eficazes nos canais fluviais para
questotildees de enchentes urbanas para Cunha (op cit) estas necessitam de manutenccedilatildeo
constante envolvendo desde dragagem remoccedilatildeo de obstruccedilotildees a recomposiccedilatildeo do
material utilizado Poreacutem toda a manutenccedilatildeo estaacute associada a alteraccedilotildees morfoloacutegicas e
bioloacutegicas como as que interferem nas soleiras e depressotildees do fundo dos leitos
desestabilizando a vazatildeo no curso a exemplo da
27
ldquo[hellip] eliminaccedilatildeo da sequecircncia de depressotildees e soleiras o aumento da velocidade da corrente a diminuiccedilatildeo da diversidade de habitats o ambiente instaacutevel resultante da flutuaccedilatildeo dos niacuteveis da aacutegua e do substrato moacutevel e a maior flutuaccedilatildeo da temperatura das aacuteguasrdquo (CUNHA 2012b p180)
Ao mesmo tempo o aumento da velocidade dos escoamentos no trecho retificado
possibilita maior erosatildeo transferindo para as aacutereas a jusante uma carga soacutelida
representativa que para Cunha (op cit) configura a formaccedilatildeo de bancos axiais e depoacutesitos
de sedimentaccedilatildeo marginais alterando o equiliacutebrio dos sedimentos a jusante Pois
A jusante das obras de retificaccedilatildeo verificam-se o aumentam da carga soacutelida o assoreamento durante a dragagem a erosatildeo no canal pelos eventos torrenciais do regime e a modificaccedilatildeo na dinacircmica na foz Os sedimentos resultantes da erosatildeo no canal retificado em conjunto com a excessiva carga de sedimentos posta em suspensatildeo durante a dragagem e na fase imediata de poacutes-construccedilatildeo - quando a erosatildeo dos bancos de areia sem vegetaccedilatildeo estaacute em seu niacutevel maacuteximo - originam a formaccedilatildeo de depoacutesitos fluviais de curta duraccedilatildeo a jusante do canal retificado Logo a seguir esses depoacutesitos satildeo erodidos juntamente com as margens e o fundo do leito pelos eventos torrenciais do regime vindo a formar bancos axiais e depoacutesitos de sedimentaccedilatildeo marginais (CUNHA2012b p183)
Portanto o estudo da geomorfologia fluvial contribui diretamente para o entendimento das
cheias nas planiacutecies de inundaccedilatildeo em especial nas bacias hidrograacuteficas que
compreendem a aacuterea urbana e que possuem intervenccedilotildees antroacutepicas diretas na fisiografia
do canal principal Seus processos explicam como as alteraccedilotildees no canal fluvial podem
maximizar os efeitos dos transbordamentos impactando principalmente as populaccedilotildees
ribeirinhas aleacutem de todo ecossistema local Ademais estes fundamentos geomorfoloacutegicos
devem ser associados agrave legislaccedilatildeo vigente afim de subsidiar a elaboraccedilatildeo de instrumentos
legais para atuaccedilatildeo do poder puacuteblico nestas zonas de risco
22 Aspectos Juriacutedicos
Frente agrave crescente demanda sobre os recursos hiacutedricos e solo urbano a partir da deacutecada
de 1930 surgem as primeiras diretrizes que visam regulamentar estes ambientes a
exemplo do Coacutedigo das Aacuteguas Mas soacute a partir dos anos 1960 surgem em acircmbito federal
leis como o Coacutedigo Florestal com o intuito de regular a exploraccedilatildeo das vegetaccedilotildees e
consequentemente proteger os mananciais e em 1979 com o objetivo de ordenar as
28
cidades eacute aprovada a Lei 676679 estabelecendo as normas do parcelamento do solo
urbano
Na medida em que as populaccedilotildees aumentam ampliam-se tambeacutem as pressotildees sobre os
recursos de aacutegua e solo Os processos de uso e a conscientizaccedilatildeo de que estes elementos
satildeo finitos intensificam as formas de controle e preservaccedilatildeo passando para as esferas
estaduais e municipais a responsabilidade de atuar em escala local na proteccedilatildeo desses
ambientes
Ainda em escala federal em 2012 eacute promulgado o Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012
em substituiccedilatildeo ao coacutedigo anterior Lei 47711965 que apresenta as normas de
apropriaccedilatildeo dos recursos naturais pelas novas necessidades das populaccedilotildees citadinas e
rurais No que compete agrave aacuterea de estudo cabe destacar as ocupaccedilotildees em aacutereas de
planiacutecie de inundaccedilatildeo em que de acordo com art 4ordm devem ser preservadas
I - as faixas marginais de qualquer curso drsquoaacutegua natural perene e intermitente excluiacutedos os efecircmeros desde a borda da calha do leito regular em largura miacutenima de (Incluiacutedo pela Lei nordm 12727 de 2012) a) 30 (trinta) metros para os cursos drsquoaacutegua de menos de 10 (dez) metros de largura b) 50 (cinquenta) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura c) 100 (cem) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura d) 200 (duzentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura e) 500 (quinhentos) metros para os cursos drsquoaacutegua que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros []
A legislaccedilatildeo eacute riacutegida no que concerne agrave ocupaccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo das terras nas faixas
marginais dos rios transferindo aos estados e municiacutepios a responsabilidade de fiscalizar
estes territoacuterios para garantir a efetividade da lei A questatildeo eacute que muitas vezes somada a
falta de planejamento estas fiscalizaccedilotildees satildeo ineficientes o que tem possibilitado o
surgimento cada vez maior das ocupaccedilotildees irregulares
Apoiado tambeacutem pela Constituiccedilatildeo Federal de 1988 nos artigos 182 e 183 surge o
Estatuto das Cidades Lei 102572001 com finalidade de garantir a funccedilatildeo social da
cidade e com este os primeiros Planos Diretores Municipais (PDM) que buscam o
ordenamento do crescimento das cidades em caraacuteter socioeconocircmico e ambiental cidades
sustentaacuteveis Ademais em Colatina eacute instituiacuteda a Lei 42281996 posteriormente revogada
29
pela Lei 52732007 que ldquoInstitui o Plano Diretor do Municiacutepio de Colatina estabelece os
objetivos instrumentos e diretrizes e daacute outras providecircncias para as accedilotildees de
planejamento do Municiacutepio de Colatina []rdquo
O PDM de Colatina assim como Coacutedigo Florestal prevecirc a preservaccedilatildeo dos ecossistemas
beira-rio Aquele ainda dispotildee sobre o parcelamento do solo sustentaacutevel a funccedilatildeo social
da cidade e da propriedade conforme o Plano Diretor de Colatina de 2007 nos artigos
transcritos
Artigo 22 - As diretrizes ambientais no Municiacutepio de Colatina satildeo I - aplicar os instrumentos de gestatildeo ambiental estabelecidos nas legislaccedilotildees federal estadual e municipal bem como a criaccedilatildeo de outros instrumentos adequando-os agraves metas estabelecidas pelas poliacuteticas ambientais II - compatibilizar as diretrizes de uso ocupaccedilatildeo e parcelamento do solo aos objetivos de proteccedilatildeo ambiental dos ecossistemas [] Artigo 23 - Satildeo diretrizes do sistema de drenagem urbana I - disciplinar a ocupaccedilatildeo das cabeceiras e vaacuterzeas das bacias hidrograacuteficas do Municiacutepio preservando a vegetaccedilatildeo existente e visando agrave sua recuperaccedilatildeo [] III - definir mecanismos de fomento para usos do solo compatiacuteveis com aacutereas de interesse para drenagem tais como parques lineares aacuterea de recreaccedilatildeo e lazer hortas comunitaacuterias e manutenccedilatildeo da vegetaccedilatildeo nativa [] V - implantar medidas natildeo-estruturais [sic] de prevenccedilatildeo de inundaccedilotildees tais como controle de erosatildeo especialmente em movimentos de terra controle de transporte e deposiccedilatildeo de entulho e lixo combate ao desmatamento assentamentos clandestinos e a outros tipos de invasotildees nas aacutereas com interesse para drenagem [] VII - garantir e respeitar a necessaacuteria permeabilidade do solo inclusive buscando alternativas de pavimentaccedilatildeo com maior de permeabilidade [sic] [] Artigo 84 ndash Satildeo objetivos do ordenamento territorial do Municiacutepio de Colatina [] IV ndash conter a expansatildeo da ocupaccedilatildeo urbana em aacutereas de proteccedilatildeo ambiental [] Artigo 120 ndash Ficam desde jaacute identificadas como Zonas de Proteccedilatildeo Ambiental 2 ndash ZPA 2 as seguintes aacutereas [] III ndash as aacutereas existentes ao longo de qualquer curso drsquoagua desde o niacutevel mais alto em faixa marginal cuja largura miacutenima seraacute de a) 15m (trinta metros) [sic] para os cursos drsquoagua com menos de 10m (10
metros) de largura contidos no periacutemetro urbano [] c) 30m (trinta metros) para os cursos drsquoagua que tenham de10m (dez
metros a 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano
[]
30
e) 50m (cinquenta metros) para os cursos drsquoagua que tenham mais de 50m (cinquenta metros) de largura contidos no periacutemetro urbano (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 60422013)
[]
De modo geral verifica-se que a legislaccedilatildeo apresenta instrumentos que permitem a
prevenccedilatildeo ou controle de ocupaccedilotildees irregulares ou clandestinas em aacuterea de APP aleacutem de
propostas para resguardar de grandes impactos ambientais o corpo hiacutedrico principal do
municiacutepio o Rio Doce Possibilitando assim a minimizaccedilatildeo dos impactos causados pelas
cheias agrave populaccedilatildeo local
Poreacutem cabe destacar que o Plano Diretor Municipal de Colatina natildeo contempla o
estipulado no Coacutedigo Florestal 2012 Lei Federal onde os cursos drsquoaacutegua com largura
superior a 600(seiscentos) metros devem ser resguardados com aacutereas de preservaccedilatildeo
permanente de 500(quinhentos) metros entre outros sendo que a redaccedilatildeo desta parte do
PDM eacute dada pela lei 60422013 posterior a publicaccedilatildeo do novo Coacutedigo Florestal Sendo
assim verifica-se que apesar da intenccedilatildeo de resguardar uma faixa de no maacuteximo
50(cinquenta) metros em periacutemetro urbano para a contenccedilatildeo de cheias e mata ciliar o
PDM de Colatina natildeo atende o miacutenimo previsto em Lei Federal O que tem impactado todo
ecossistema beira rio e a populaccedilatildeo ribeirinha uma vez que a faixa marginal de proteccedilatildeo
de 50(cinquenta) metros em muitos casos natildeo tem comportado o impacto dos defluacutevios
No entanto a legislaccedilatildeo trata de aspectos gerais natildeo pontuando as aacutereas responsaacuteveis
por cada accedilatildeo aleacutem de sua aplicabilidade depender da elaboraccedilatildeo de um cronograma de
execuccedilatildeo bem como um conjunto de planos e normas especiacuteficos para cada diretriz com
detalhamento das propostas de intervenccedilatildeo Isto natildeo ocorreu ateacute o presente
Aleacutem disso a cidade de Colatina surgiu num cenaacuterio histoacuterico anterior agraves legislaccedilotildees
urbaniacutesticas e ambientais inclusive do Coacutedigo das Aacuteguas o que dificulta a execuccedilatildeo de
um planejamento que concilie a preservaccedilatildeo das matas beira-rio garantindo a faixa de
APP com a ocupaccedilatildeo urbana consolidada
A aacuterea de estudo se apresenta como ambiente fragilizado apesar de ser regida por
legislaccedilotildees desde a escala federal ateacute a municipal que visam proteger e ordenar o uso e
cobertura da terra nas faixas marginais dos rios Mas a dificuldade das prefeituras em
aplicar os instrumentos legais nestes ambientes seja por interesses privados ou falta de
recursos para investimentos em soluccedilotildees a longo prazo continua expondo as populaccedilotildees
31
aos impactos dos eventos hidroloacutegicos criacuteticos como os que resultam nas inundaccedilotildees
Para que se alcance esse parcelamento do solo sustentaacutevel satildeo necessaacuterios esforccedilos da
gestatildeo municipal em estipular prazos e metas de atuaccedilatildeo afora interagir os diferentes
setores no planejamento em niacutevel de bacia hidrograacutefica considerando as peculiaridades
desta escala de trabalho
23 Anaacutelise Geograacutefica dos Impactos Ambientais Urbanos
Sendo a ciecircncia que estuda a relaccedilatildeo homemnatureza a Geografia tem muito a contribuir
nas anaacutelises que envolvem o meio ambiente que foi transformado pela dinacircmica da
sociedade Mas historicamente a dialeacutetica das correntes fiacutesica e humana tem imperado de
modo dissociado levando o geoacutegrafo a estudar estes processos separadamente Poreacutem
se o resultado pretendido eacute integrado fazem-se necessaacuterias pesquisas mais amplas que
cruzem as diferentes vertentes geograacuteficas
Considerando que a problemaacutetica dos impactos ambientais urbanos envolve a questatildeo
natural o rio e a questatildeo social e poliacutetica a sociedade e as leis (COELHO 2013) uma
pesquisa neste acircmbito requer o entendimento destes dois objetos a fim de se apreender
o processo de crescimento das cidades brasileiras e a sua relaccedilatildeo com os recursos
hiacutedricos
A partir da deacutecada de 1950 devido ao ecircxodo rural mais intenso as cidades brasileiras
incharam rapidamente com a migraccedilatildeo do camponecircs que buscava melhores condiccedilotildees de
vida como trabalho na induacutestria o acesso agraves escolas saneamento entre outros E
segundo Gorski (2010) a populaccedilatildeo brasileira passou desde o iniacutecio deste processo de 19
milhotildees de habitantes em 1950 para 138 milhotildees de habitantes em 2000 (dados do IBGE)
o que corrobora o raacutepido crescimento das cidades
Todavia as estruturas puacuteblicas natildeo estavam preparadas para um acreacutescimo populacional
tatildeo significativo e em curto espaccedilo de tempo E o que observamos eacute o acesso limitado
dessa populaccedilatildeo agraves aacutereas centrais da cidade sendo induzida a se estabelecer nas
periferias Nesta visatildeo
O difiacutecil acesso da populaccedilatildeo de baixa renda agraves aacutereas mais centrais das cidades contribuiu segundo Raquel Rolnik para a expansatildeo da periferia o que muitas vezes implicou e implica ainda invasatildeo de aacutereas de proteccedilatildeo de mananciais com a aquiescecircncia do poder puacuteblico Esta
32
dinacircmica agravou a situaccedilatildeo de risco dos mananciais pela eliminaccedilatildeo das matas ciliares e consequentemente erosatildeo das margens dos cursos drsquoaacutegua e assoreamento de suas calhas e pela contribuiccedilatildeo do esgoto in natura (ROLNIK1997 apud GORSKI 2010 p62)
Sendo assim a supressatildeo das matas ciliares e das vegetaccedilotildees das encostas para fins de
ocupaccedilatildeo urbana interfere diretamente no ciclo hidroloacutegico diminuindo a absorccedilatildeo de
aacutegua pelo subsolo e pela evapotranspiraccedilatildeo favorecendo o escoamento superficial (Figura
6) que intensifica a velocidade de drenagem das aacuteguas Este processo nas encostas eacute
mais significativo se considerarmos que com a supressatildeo da cobertura vegetal e
impermeabilizaccedilatildeo do solo as precipitaccedilotildees acabam por lavar todo o material
intemperizado sedimentos carregando-o diretamente para o corpo hiacutedrico e contribuindo
para o assoreamento
Figura 6 - Relaccedilatildeo entre superfiacutecie impermeabilizada e superfiacutecie de escoamento Fonte Gorski (2010 p64)
Por outro lado as ocupaccedilotildees ribeirinhas nas vaacuterzeas dos rios modificam a dinacircmica fluvial
frente aos defluacutevios A compactaccedilatildeo e o nivelamento do solo associados agrave
impermeabilizaccedilatildeo por concreto asfalto e outros materiais alteram todo o sistema de
drenagem natural e contribuem para a erosatildeo fluvial Aleacutem disso a gestatildeo puacuteblica que
33
deveria investir num parcelamento do solo sustentaacutevel resguardando ldquouma alocaccedilatildeo de
espaccedilosrdquo (CANHOLI 2005 p 15) para a drenagem acaba por colaborar com as enchentes
urbanas na medida em que decide por obras estruturais como a canalizaccedilatildeo (Figura 7
p30) e a microdrenagem que transferem os impactos das inundaccedilotildees a jusante
Figura 7 - Canalizaccedilatildeo do rio modificando sua fisiografia Fonte Gorski (2010 p69)
Cabe destacar que desde 1965 com o primeiro Coacutedigo Florestal as matas beira-rio jaacute
eram resguardadas da degradaccedilatildeo humana poreacutem com todo o boom urbano a partir de
1950 a falta de estrutura e ingerecircncia municipal no que se refere ao parcelamento e uso
e ocupaccedilatildeo da terra urbana possibilitou a formaccedilatildeo dos assentamentos clandestinos em
APP e na encosta de morros Em condiccedilotildees precaacuterias sem saneamento baacutesico e demais
infraestruturas urbanas estes assentamentos acabam sendo as regiotildees mais afetadas
com as inundaccedilotildees
Junto agraves questotildees jaacute levantadas vale destacar que as aacuteguas das inundaccedilotildees propiciam o
aumento das doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica (febre tifoide hepatite leptospirose
esquistossomose entre outras) pois carregam segundo Gorski (2010) toda uma poluiccedilatildeo
difusa efluentes domeacutesticos industriais e agroindustriais aleacutem do lixo urbano da poluiccedilatildeo
do ar e das ruas
34
Por outro lado esta ocupaccedilatildeo urbana natildeo planejada perde o benefiacutecio que os corpos
hiacutedricos podem oferecer como [] as paisagens fluviais que aos poucos foram sendo
apropriadas como paisagens urbanas [] (GORSKI 2010 38) aleacutem do microclima
associado agrave umidade pela evapotranspiraccedilatildeo que ameniza a sensaccedilatildeo teacutermica local
Poreacutem conforme observado por Graeff (2011) natildeo eacute cabiacutevel atualmente implantar a
legislaccedilatildeo de APP de modo jurista Deve-se considerar toda a representatividade cultural
assentada sobre os leitos destes rios (avenidas importantes casas com arquitetura
histoacuterica entre outros) Aleacutem disso para a demarcaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo
permanente hoje eacute necessaacuteria uma anaacutelise teacutecnica pautada na geomorfologia e
hidrologia de modo a interpretar o ldquocomportamento histoacuterico dos cursos drsquoaacutegua na
paisagem prevendo cenaacuterios de impactos futurosrdquo da atividade humana sobre suas faixas
marginais
Tendo em vista que grande parte da malha urbana brasileira estaacute alocada em APPs e que
segundo Graeff (2011) estas jaacute possuem uma unidade de paisagem estabelecida e muitas
vezes secular configurando siacutetios de importacircncia cultural e apreendendo que
De modo semelhante nas demais cidades haveraacute que ser entendido o meio urbano como ele realmente eacute ndash um encontro entre as necessidades de habitaccedilatildeo com atividades humanas e de conservaccedilatildeo ambiental esta segunda tambeacutem a serviccedilo do homem e natildeo somente de objetivos difusos e distanciados da sobrevivecircncia da sociedade (GRAEFF 2011 206)
Por tais motivos o trabalho com a geomorfologia fluvial urbana deve abarcar os princiacutepios
do bom senso compreendendo que nestas aacutereas de atividade antroacutepica consolidada pode-
se fazer uso de instrumentos de engenharia avanccedilados para uma convivecircncia equilibrada
do homem com a natureza no entorno Contudo deve-se incentivar as aacutereas de expansatildeo
urbana ou zona periurbana (zonas de transiccedilatildeo da aacuterea urbana para a rural) com poliacuteticas
de incentivo a pavimentaccedilotildees mais permeaacuteveis a fim de minimizar o escoamento
superficial para o rio favorecendo a infiltraccedilatildeo
Apesar de os impactos gerados pela interferecircncia humana nas aacutereas mais fragilizadas da
bacia hidrograacutefica vaacuterzeas e encostas refletirem-se em cataacutestrofes com prejuiacutezos
humanos ambientais e urbanos alguns autores brasileiros como Canholi Graeff Cunha
Carneiro e Miguez jaacute indicaram outros caminhos para uma convivecircncia harmoniosa com
a natureza Aleacutem do mais paiacuteses desenvolvidos como a Holanda deixaram de ldquolutar contra
35
as cheiasrdquo para permitir agraves aacuteguas das enchentes a capacidade de acumular e dispersar
com impacto reduzido para as populaccedilotildees (CARNEIRO MIGUEZ 2011)
Sendo assim a proposta deste estudo eacute identificar os principais agentes que influenciam
as inundaccedilotildees entendendo seu papel e atuaccedilatildeo no contexto urbano de Colatina Mas eacute
tambeacutem a de ampliar a abordagem da temaacutetica com uma anaacutelise geograacutefica integrada
ressaltando as medidas que constam no planejamento urbano e sua aplicaccedilatildeo nas faixas
marginais do corpo hiacutedrico
36
3 MATERIAIS E MEacuteTODOS
Esta pesquisa eacute constituiacuteda de trecircs etapas principais sendo que a primeira teve como
premissa a confecccedilatildeo de um fluxograma (Figura 8) de trabalho para orientar a pesquisa
em seguida teve iniacutecio o levantamento de bibliografias que abordam temas como a
geomorfologia fluvial e urbanizaccedilatildeo em Colatina adotando-se como referecircncia as
pesquisas de Coelho (2006 2007 2008 e 2009) e Albani (2012) Aleacutem disso muito
contribuiacuteram para este trabalho o relatoacuterio do INCAPER da CPRM e os dados do IBGE
Cabe destacar tambeacutem as experiecircncias com recursos hiacutedricos em ambientes urbanos de
Carneiro e Miguez (2011) em especial Cunha (2001 2012ab)
Esta etapa consistiu tambeacutem na busca de material cartograacutefico como aquisiccedilatildeo de planos
de informaccedilatildeo de limite estadual municipal bairros mancha urbana corpo drsquoaacutegua e
logradouros atraveacutes de dados disponiacuteveis no Sistema Integrado de Bases Geoespaciais
do Estado do Espiacuterito Santo (GEOBASES 2014) no Instituto Jones dos Santos Neves
(IJSN 2015) e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2014) imagens
orbitais gratuitas do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI bandas 2-3-4 e 8 (Pan) oacuterbita 216
ponto 73 com datas de passagem em 02012014 e 22032014 agraves 946 (horaacuterio central
da oacuterbita) junto ao Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2014) aleacutem do ortofotomosaico
do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hiacutedricos (IEMA 2014) do Espiacuterito
Santo referente ao voo de 2007 a 2008
Na segunda etapa foram realizadas duas investigaccedilotildees de campo sendo a primeira no
dia 24 de junho de 2014 com a finalidade de fazer o reconhecimento da aacuterea de estudo
fotografar e conversar com moradores e teacutecnicos da prefeitura O segundo trabalho de
campo ocorreu no dia 14 de fevereiro de 2015 e por meio deste foi possiacutevel identificar
pontos sujeitos a inundaccedilatildeo analisar a topografia e realizar as entrevistas com moradores
e funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina
37
Figura 8 - Fluxograma de execuccedilatildeo do Trabalho de Conclusatildeo de Curso (TCC)
38
Na terceira etapa foram realizados os mapeamentos e processamentos de todos os planos
de informaccedilatildeo vetoriais e matriciais em ambiente de SIG no sistema ArcGis 103 iniciando
com a ediccedilatildeo dos dados do Municiacutepio e adjacecircncias que foram ajustados quando
necessaacuterio ao sistema de projeccedilatildeo UTM no Datum SIRGAS ndash 2000 na Zona 24 sul com
meridiano central -39 W com todo o mapeamento produzido seguindo a padronizaccedilatildeo
cartograacutefica proposta por Fitz (2008 a b)
O geoprocessamento teve iniacutecio com a composiccedilatildeo das imagens orbitais do Landsat-8 na
cor natural da imagem (2R 3G 4B) e por meio da teacutecnica de Pan Sharpening ou fusatildeo
de imagens a imagem cor natural foi agrupada agrave da banda 8 pancromaacutetica para obtenccedilatildeo
de uma melhor resoluccedilatildeo espacial neste caso chegando a 15 metros sendo resguardado
o conteuacutedo da imagem composta Na sequecircncia foi realizada a extraccedilatildeo da maacutescara do
periacutemetro urbano de Colatina e gerada a classificaccedilatildeo supervisionada da imagem Landsat-
8 no periacuteodo de cheia (janeiro) e vazante (marccedilo) o que possibilitou a delimitaccedilatildeo da calha
do Doce nestes dois eventos
Em seguida foram realizadas as 8 (oito) mediccedilotildees do leito regular sendo 4 (quatro) no
periacuteodo de cheia e 4 (quatro) na vazante de modo a definir a largura meacutedia da calha do
leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina Para chegar a uma medida geral
da largura do rio utilizaram-se ferramentas estatiacutesticas como a meacutedia que eacute uma medida
de tendecircncia central onde numa amostra de tamanho N constituiacuteda por elementos de x
variando de eacute possiacutevel extrair a meacutedia aritmeacutetica atraveacutes da equaccedilatildeo
A meacutedia aponta para onde mais convergem os dados de uma distribuiccedilatildeo
A partir desta definiccedilatildeo da meacutedia da largura da calha do Rio Doce foi possiacutevel em consulta
ao Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e a Lei 52732007 determinar a faixa miacutenima
de preservaccedilatildeo permanente deste corpo fluvial aleacutem da confecccedilatildeo do mapa com o
poliacutegono de APP
Mediante a anaacutelise do mapa verificou-se que grande parte dos bairros do municiacutepio estatildeo
contidos nos poliacutegonos de APP em especial a preservaccedilatildeo de 500 metros conforme lei
federal E por meio deste foram cruzados os dados de vazatildeo as fotos histoacutericas das
enchentes e o poliacutegono de mata ciliar o que permitiu o entendimento das inundaccedilotildees
39
Em ambiente de SIG tambeacutem foram vetorizados os trecircs traccedilados da Estrada de Ferro
Vitoacuteria a Minas o trajeto do Rio Santa Maria do Doce antes e depois da retilinizaccedilatildeo e os
sucessivos aterros na margem direita do Rio Doce no periacutemetro que compreende a Av
Beira-Rio
As teacutecnicas de sensoriamento remoto como a classificaccedilatildeo supervisionada permitiram a
definiccedilatildeo do poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo atraveacutes da imagem da cheia de janeiro Para
tanto foi realizada tambeacutem a classificaccedilatildeo hiacutebrida objetivando aliar a interpretaccedilatildeo visual
com a digital (JENSEN 2009) Por fim foi realizada amarraccedilatildeo com o levantamento
geodeacutesico da CPRM (2014) para garantir a precisatildeo do traccedilado do poliacutegono de cheia
A partir do tratamento dos dados bibliograacuteficos cartograacuteficos e imagens foi possiacutevel
sistematizar este trabalho o que permitiu identificar elementos histoacutericos de intervenccedilatildeo
na paisagem do Doce como os aterros e a ocupaccedilatildeo urbana As visitas de campo a
entrevista e conversas com moradores foram fundamentais para a validaccedilatildeo das
informaccedilotildees o que tornou esta metodologia eficaz para anaacutelise do fenocircmeno da inundaccedilatildeo
em Colatina
40
4 RESULTADOS
41 Anaacutelise Temporal da Evoluccedilatildeo da Mancha Urbana
A ocupaccedilatildeo ao longo das planiacutecies de inundaccedilatildeo dos rios tem ocorrido diante da
necessidade deste recurso para as atividades vitais humanas Cunha (2012b p219)
entende que ldquosuas margens tecircm sido o centro preferido da habitaccedilatildeo humana e o
suprimento de suas aacuteguas natildeo soacute fertiliza os campos para o cultivo como tambeacutem fornece
energia e permite recreaccedilatildeordquo Logo o estabelecimento das vilas nas bordas dos cursos
drsquoaacutegua favorece a logiacutestica ocupacional
Historicamente em solo espiacuterito-santense a formaccedilatildeo das vilas ocorreu agraves margens de
estrateacutegicos cursos drsquoaacutegua e a exploraccedilatildeo do ouro de Minas Gerais para Albani (2012)
determinou que a Coroa proibisse nos seacuteculos XVII a XIX a implantaccedilatildeo de estradas e
exploraccedilatildeo de terras na Capitania do Espiacuterito Santo pois os portugueses temiam incursotildees
estrangeiras deixando assim o desenvolvimento capixaba restrito agrave faixa litoracircnea
Relegada enquanto ldquobarreira verderdquo para defesa das minas de ouro e minerais do atual
territoacuterio das Minas Gerais segundo Coelho (2007) a Capitania do Espiacuterito Santo soacute
passou a se interiorizar para o centro-oeste onde se localiza atualmente a cidade de
Colatina a partir de 1847 por meio das ocupaccedilotildees de Santa Izabel e Santa Leopoldina
que permitiram a descida do Rio Santa Maria do Doce ateacute as imediaccedilotildees da atual cidade
de Colatina
Assim foi que o movimento colonizador desceu o vale do Santa Maria do Rio Doce atingindo em 1891 a regiatildeo das matas onde hoje se acha a cidade de Colatina [] Esta penetraccedilatildeo inicial foi feita com elementos alematildees de Santa Leopoldina e no rio Doce ficou muito anos restrita agrave aacuterea inicial A expansatildeo ao longo do vale tomou impulso com a chegada a Colatina em 1906 dos trilhos da Estrada de Ferro Diamantina (atual Vitoacuteria-Minas) (STRAUCH1955 apud COELHO 2007 p105)
Sendo assim Coelho (op cit) relata que a ocupaccedilatildeo se deu atraveacutes da supressatildeo da mata
nativa no baixo curso do Rio Doce de Colatina a Linhares sendo a madeira daiacute extraiacuteda
levada ateacute o rio e encaminhada ateacute Povoaccedilatildeo vilarejo junto agrave foz de onde eram carregados
os navios Neste periacuteodo tem-se a instalaccedilatildeo de um ciclo madeireiro na regiatildeo com a
disposiccedilatildeo de serrarias nas proximidades das matas
41
Todavia somente a partir de 1906 com a chegada da estrada de ferro na regiatildeo o
transporte madeireiro foi transferido para as locomotivas Agrave medida que a implantaccedilatildeo da
Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas avanccedilava para o interior levava consigo as frentes de
desmatamento modificando as paisagens das margens do Rio Doce e se apropriando dos
espaccedilos deste rio (Figura 9)
Figura 9 - Bairro de Colatina Velha apoacutes a inauguraccedilatildeo da estrada de ferro em 1906 Destaque agrave esquerda para o curso principal do Rio Doce Fonte Albani (2012 p 63)
Conforme Albani (2012) com a vinda dos mineiros e fluminenses reforccedilados
posteriormente a partir de 1889 por colonizadores italianos e alematildees eacute que as
ocupaccedilotildees territoriais ocorreram de modo efetivo Atraveacutes do Barracatildeo do Rio Santa Maria
(Figura 10) espaccedilo do governo inicialmente destinado a alojar os migrantes e a produccedilatildeo
surgiram as primeiras residecircncias nas proximidades da igreja de Satildeo Sebastiatildeo Sendo
assim
Eacute importante destacar que o desenvolvimento da regiatildeo onde se encontra o municiacutepio de Colatina teve iniacutecio no final do seacuteculo XIX no nuacutecleo de colonizaccedilatildeo Antocircnio Prado localizado no distrito de Boapaba antiga vila do Mutum O nuacutecleo recebeu dezenas de famiacutelias de imigrantes italianos e ali desenvolveram atividades de agricultura e com a expansatildeo da localidade surge tambeacutem o comeacutercio (ALBANI 2012 p61) [hellip] A vila de Colatina entretanto logo passou a se transformar no principal nuacutecleo e futuramente na sede do municiacutepio Aleacutem da facilidade da produccedilatildeo atraveacutes do Rio Doce a vila de Colatina tornou-se referecircncia dos imigrantes no caminho para a colonizaccedilatildeo das terras ao norte do estado (MADURO1985 apud ALBANI 2012 p62)
42
Desse modo com o desenvolvimento das atividades de cafeicultura madeireira e do
entroncamento logiacutestico de acesso agraves aacutereas do norte a vila eacute elevada em 1921 agrave categoria
de municiacutepio A atual configuraccedilatildeo territorial foi adquirida a partir de 2001 conforme IBGE
(2014) dispondo de seis distritos Colatina (sede) Acircngelo Frechiami Baunilha Boapaba
Graccedila Aranha e Itapina
Cabe destacar poreacutem que a ocupaccedilatildeo inicial da cidade de Colatina se perfaz pela margem
direita do Rio Doce onde se localiza o atual bairro de Colatina Velha e onde havia se
instalado o Barracatildeo de Santa Maria Nesse periacuteodo a ponte ainda natildeo fora edificada
limitando assim a ocupaccedilatildeo da margem esquerda
Figura 10 - Localizaccedilatildeo do Barracatildeo do Rio Santa Maria estopim para o povoamento da regiatildeo Fonte Albani (2012 p62)
Conforme Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p65) a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro
Vitoacuteria a Minas em 1906 (Figura 11) possibilitou a expansatildeo da cidade de Colatina e seu
desenvolvimento econocircmico Todavia sua instalaccedilatildeo paralela agrave margem direita do Rio
Doce favoreceu a localizaccedilatildeo de avenidas e ruas centrais em sua proximidade
43
Figura 11 - Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p65)
Entretanto foi com a construccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos (Figura 12) em 1928 que a
margem direita se conectou agrave margem esquerda da cidade o que aleacutem de possibilitar a
ocupaccedilatildeo facilitou o acesso agraves regiotildees mais ao norte do Estado
Figura 12 - Ponte Florentino Aacutevidos na deacutecada de 1930 vista da margem direita do Rio Doce Fonte Albani (2012 p66)
44
Por conseguinte a estrada de ferro e a ponte foram os fatores determinantes para o
estabelecimento dos migrantes agraves margens do Rio Doce e a formaccedilatildeo do atual municiacutepio
de Colatina Contudo foi a partir desta posiccedilatildeo privilegiada que a cidade passou a ser
entreposto comercial e logiacutestico da regiatildeo noroeste e com isso sua aacuterea urbana expandiu-
se de modo desordenado inicialmente ao longo da planiacutecie de inundaccedilatildeo do Doce Coelho
(2007 p108 e 109) relata que
Os efeitos dessa urbanizaccedilatildeo (novos parcelamentos) e do desmatamento produz [sic] normalmente o aumento da velocidade das aacuteguas superficiais (pluviais) que eram antes interceptadas pelas matas com boa parte absorvida pelo solo O que ocorre geralmente nessas aacutereas eacute a chegada mais raacutepida das aacuteguas das chuvas para o tributaacuterios e calha principal do rio por fluxos concentrados que provocam processos de erosotildees do tipo laminar ravina e voccediloroca transportando quantidades expressivas de sedimentos que por sua vez causam assoreamento e a ocorrecircncia de cheias mais frequentes no rio
Com o crescimento acelerado do periacutemetro urbano proporcionado pelo apogeu do ciclo
cafeeiro as proacuteximas deacutecadas levaratildeo a cidade de Colatina a sofrer com impactos
advindos das alteraccedilotildees no ambiente fluvial do Rio Doce em especial os referentes a
ocupaccedilatildeo (impermeabilizaccedilatildeo) e desmatamento das margens (interferecircncia na drenagem
natural) conforme destacado por Coelho (2007)
Eacute fato que o municiacutepio viveu nas deacutecadas de 1940 e 1950 o auge do ciclo cafeeiro
chegando a ser no ranking brasileiro o 13ordm municiacutepio produtor de cafeacute no ano de 1947
(CAMPOS JUNIOR 2004 apud ALBANI 2012 p69) Poreacutem a partir de 1960 este boom
entrou em colapso com crise do cafeacute que assolou todo o paiacutes levando grande parte dos
pequenos proprietaacuterios rurais a migrarem para centros urbanos em especial no Espiacuterito
Santo a regiatildeo da Grande Vitoacuteria e tambeacutem para o centro de Colatina
Em razatildeo da crise cafeeira a populaccedilatildeo rural migra para centros urbanos A populaccedilatildeo migrou em grande quantidade para a Grande Vitoacuteria para fora do estado e tambeacutem para a cidade de Colatina principal aglomerado urbano da regiatildeo Esse processo provoca o aumento da aacuterea urbana de Colatina A populaccedilatildeo da cidade que era de 3913 habitantes em 1940 cresceu para 26757 habitantes em1960 (ALBANI2012 p71)
O crescimento raacutepido do centro de Colatina aliado ao aumento populacional direciona
grande parte dos migrantes para as aacutereas menos centrais da cidade levando agrave ocupaccedilatildeo
de locais irregulares como os morros e as margens direita e esquerda do Rio Doce Este
45
processo configurou a nova paisagem do municiacutepio povoando do vale agraves encostas (Figura
13)
Figura 13 - Crescimento urbano de Colatina ocupaccedilatildeo do vale e vertentes Fonte Albani (2012 p73)
Associado a este processo de reconfiguraccedilatildeo espacial nas proacuteximas deacutecadas o municiacutepio
de Colatina passaraacute por sucessivas perdas de territoacuterios ateacute atingir os limites atuais (Figura
1 p17) Aliado a estas perdas territoriais seu quantitativo absoluto populacional tambeacutem
sofreraacute impactos poreacutem de modo geral a populaccedilatildeo urbana deste municiacutepio apresentou
crescimento continuo (Graacutefico 2)
Graacutefico 2
Populaccedilatildeo urbana de Colatina no periodo de 1940 a 2010
Elaborado pela autora Fonte 1940 e 1950 Teixeira (1974 apud ALBANI 2012 p82) 1960 a 2010 IBGE
0
20000
40000
60000
80000
100000
120000
1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020
Populaccedilatildeo Urbana Colatina 1940 - 2010
46
Assim como tem ocorrido nas grandes capitais Colatina cresceu em quantitativo
populacional e territorial urbano de modo muito raacutepido e por este desenvolvimento natildeo ter
sido aliado a um planejamento urbano e ambiental sustentaacutevel a cidade tem sentido os
reflexos das suas interferecircncias ao longo do canal do Doce O que tem provocado
antecipaccedilatildeo dos picos de vazatildeo que no periacutemetro urbano ocasiona as inundaccedilotildees pois
natildeo conseguindo o rio acomodar estes defluacutevios transfere em curto espaccedilo de tempo as
aacuteguas a sua planiacutecie de inundaccedilatildeo atingindo os bairros mais antigos do municiacutepio
Por fim entender o contexto histoacuterico do crescimento da cidade revela muito do panorama
atual E por meio de uma anaacutelise conjunta da histoacuteria com os novos planejamentos eacute
possiacutevel propor intervenccedilotildees urbanas que possibilitem um conviacutevio harmonioso entre
natureza e sociedade neste caso entre o Rio Doce e o centro de Colatina Diante desta
proposta adiante apresentaremos a evoluccedilatildeo dos bairros associando seus periacuteodos de
ocupaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo espacial nas imediaccedilotildees do curso principal do Doce
411 Identificaccedilatildeo do Vetor de Crescimento da Cidade
Com nuacutecleo inicial de povoamento no Barracatildeo de Santa Maria a cidade de Colatina
cresce a partir deste ponto agrave margem direita do Rio Doce de onde surgem as primeiras
residecircncias comeacutercios e a igreja Atualmente a regiatildeo compreende o bairro de Colatina
Velha que de acordo com Albani (2012 p91) [hellip] ldquopode ser considerado o primeiro polo
de crescimento da cidaderdquo
Aliado ao aumento da populaccedilatildeo migrante das fazendas com a crise do cafeacute o nuacutecleo de
Colatina Velha passa a ser um ponto de passagem obrigatoacuterio para os viajantes que
vinham majoritariamente do sul uma vez que o Rio Doce configurava uma barreira natural
agrave ocupaccedilatildeo das terras ao norte Aleacutem disso a margem esquerda deste canal fluvial era
habitat dos hostis iacutendios botocudos o que dificultava a sua apropriaccedilatildeo
Sendo assim a ocupaccedilatildeo de Colatina conteve-se agrave margem direita nesta primeira fase o
que define o primeiro vetor de crescimento da cidade na direccedilatildeo leste para oeste partindo
das imediaccedilotildees do Barracatildeo de Santa Maria sentido ao Rio Santa Maria do Doce (Figura
14) E a partir de 1906 com a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas da entatildeo
Companhia Vale do Rio Doce atual Vale este vetor de crescimento se consolida e
47
proporciona o surgimento de importantes avenidas paralelas agrave ferrovia a exemplo da Av
Getuacutelio Vargas
Figura 14 - Evoluccedilatildeo da mancha urbana de Colatina e os principais vetores de crescimento Elaborado pela autora
48
O segundo vetor do crescimento de Colatina estava condicionado agrave construccedilatildeo da ponte
Florentino Aacutevidos a qual conectou a margem direita agrave esquerda do Rio Doce permitindo
a ocupaccedilatildeo da porccedilatildeo ao norte Portanto somente a partir de 1928 com a finalizaccedilatildeo da
obra da ponte a barreira natural pocircde ser transposta o que possibilitou ao lado esquerdo
desenvolver uma nova linha de crescimento urbano com a ocupaccedilatildeo do atual bairro de
Satildeo Silvano
O terceiro vetor de crescimento estaacute associado agrave implantaccedilatildeo do bairro Luiz Iglesias na
margem direita e os de Maria das Graccedilas e Coluacutembia na margem esquerda Albani (2012)
ressalta que esta fase da ocupaccedilatildeo urbana estaacute associada ao desenvolvimento do sistema
viaacuterio como a proximidade da BR-259 sentido Vitoacuteria- Colatina da ES-80 que liga
Colatina agrave regiatildeo norte da ES-256 que a conecta a Marilacircndia e da proximidade da
estaccedilatildeo ferroviaacuteria Carlos Germano Nauman (Figura 15)
Figura 15 - Localizaccedilatildeo dos principais eixos viaacuterios e linhas feacuterreas que interceptam a cidade de Colatina Elaborado pela autora
Jaacute na quarta e mais recente linha de crescimento da cidade temos os novos loteamentos
residenciais e industriais a exemplo do de Barbados e do bairro Santa Helena que surgem
49
acompanhando o traccedilado da ponte que contorna a leste a cidade como novo acesso agrave
porccedilatildeo norte do estado Albani (2012 p118) destaca que
Apesar da construccedilatildeo da Segunda Ponte ter sido iniciada em 1986 somente foi inaugurada em 2007 A conclusatildeo da ponte e a construccedilatildeo de uma rodovia de contorno desviaram a BR-259 do centro da cidade O desvio da rodovia federal trouxe um desafogamento do tracircnsito nas principais vias da cidade e um novo direcionamento na expansatildeo urbana Alguns loteamentos surgiram nesse periacuteodo proacuteximo agrave Segunda Ponte e ao contorno na margem norte do rio principalmente no bairro Santa Helena (Figura 55) Essa situaccedilatildeo indica mais uma vez que as linhas de crescimento em Colatina satildeo orientadas pelas vias de transporte
Portanto o crescimento do periacutemetro urbano de Colatina estaacute associado agrave superaccedilatildeo das
barreiras naturais em especial o Rio Doce por meio de investimentos em obras de
engenharia que permitiram o deslocamento humano para a margem esquerda deste curso
Sem duacutevida as vias de transporte foram elementares na construccedilatildeo do periacutemetro urbano
de Colatina pois na medida que se consolidava o sistema viaacuterio as ocupaccedilotildees tambeacutem se
favoreciam destas vias de locomoccedilatildeo A evoluccedilatildeo da aacuterea urbana portanto acompanha
as principais vias de transporte (Figura 15 p45) e estas se utilizam da posiccedilatildeo estrateacutegica
e geograficamente favoraacutevel do canal do Doce para a definiccedilatildeo de seus traccedilados
Apoacutes 94 anos de emancipaccedilatildeo de Linhares o territoacuterio de Colatina eacute fundamental para a
manutenccedilatildeo dos municiacutepios do noroeste capixaba Diante desta posiccedilatildeo estrateacutegica torna-
se relevante o entendimento de como o urbano se relaciona com o meio natural a fim de
se estabelecer poliacuteticas de ordenamento territorial que promovam a qualidade de vida no
municiacutepio Adiante seraacute analisada a situaccedilatildeo da calha principal do Rio Doce elemento
fundamental na compreensatildeo do uso e cobertura da terra de Colatina
42 Anaacutelise do Planejamento Urbano e Ambiental das Margens do Rio Doce
Compreendendo uma aacuterea de 3330 kmsup2 o periacutemetro urbano de Colatina eacute afetado pela
velocidade dos defluacutevios de modo que grande parte dos bairros beira-rio eacute tomada pelas
aacuteguas excedentes da calha principal do Doce o que configura o fenocircmeno de inundaccedilatildeo
Ao pesquisar estes fenocircmenos eacute necessaacuterio relacionar o uso da terra com os processos
geomorfoloacutegicos do corpo hiacutedrico Sendo assim por meio de teacutecnicas de
geoprocessamento foram realizadas oito mediccedilotildees da calha principal do Rio Doce para
50
estabelecimento da distacircncia meacutedia da largura de sua calha O resultado esteve dentro do
esperado e pode ser verificado na tabela abaixo (Tabela 1) e no mapa em sequecircncia
(Figura 16)
Tabela 1 Perfis transversais do leito regular do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina nos periacuteodos de
vazante (abril) e cheia (janeiro)
Largura do rio Doce periacuteodo de vazante e cheia
Abril2013(m) Janeiro2014(m)
P1 70735 75784
P2 62080 66483
P3 59209 65804
P4 63548 67650
Meacutedia dos Perfis 62814 67066
Meacutedia Geral 66143 Obs todas as medidas estatildeo em metros
Elaborado pela autora
Figura 16 - Traccedilado dos perfis transversais da calha regular do Rio Doce no periacuteodo de vazante mecircs de abril2013 Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)
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Com uso das imagens orbitais do Landsat-8 atraveacutes da classificaccedilatildeo hiacutebrida foram
gerados dois arquivos shapefiles correspondentes agraves bordas do Doce um no periacuteodo de
vazante e outro no de cheia Por meio destes dados foram definidos quatro traccedilados para
realizaccedilatildeo das mediccedilotildees a partir destas e com auxiacutelio das medidas de tendecircncia central
chegou-se a uma largura meacutedia total de 66143m de uma margem a outra Este resultado
indicou que tanto no periacuteodo de vazante quanto no periacuteodo de cheia a largura meacutedia
aponta para a maior faixa de APP proteccedilatildeo de 500m conforme previsto na legislaccedilatildeo
federal (Novo Coacutedigo Florestal Lei 126512012 e no revogado Lei 4771 1965)
Analisando a imagem abaixo (Figura 17) observa-se que grande parte do solo
naturalmente destinado a ldquoacomodaccedilatildeordquo das aacuteguas nas cheias (linha laranja) foi
incorporado agrave sociedade como espaccedilo criado (periacutemetro urbano em APP mancha em
amarelo) destinado a fins muacuteltiplos Deste modo sem planejamento territorial adequado
grande parte da planiacutecie de inundaccedilatildeo deu lugar a outras funccedilotildees diferentes das naturais
sendo incorporada ao espaccedilo urbano
Lanccedilando o buffer (mancha em amarelo) do entorno da calha do Doce (Figura 17) observa-
se que dos 59 bairros do municiacutepio cerca de 29 estatildeo dentro da aacuterea de 500m destinada
a preservaccedilatildeo permanente pelo Coacutedigo Florestal Considerando-se a delimitaccedilatildeo da APP
prevista no PDM de 1996 e 2007 (linha laranja mais proacutexima da borda do rio) este nuacutemero
cai para 18 bairros permanecendo apenas aqueles que possuem limites com o corpo
hiacutedrico
Uma vez que que lei municipal natildeo suplanta lei federal considerar-se-aacute neste estudo o
limite da faixa marginal de proteccedilatildeo definida na Lei Federal 126512012 Deste modo a
aacuterea de preservaccedilatildeo permanente do Doce neste recorte eacute de 1085 kmsup2 compreendendo
33 do periacutemetro urbano de Colatina
Cabe destacar ainda que mesmo o PDM de 1996 contendo enquanto objetivo no Art 14
ldquoI - estabelecer a ordenaccedilatildeo do uso e da ocupaccedilatildeo do solo urbanordquo (Lei 42281996 p4)
a gestatildeo municipal natildeo obteve sucesso na implementaccedilatildeo de tal legislaccedilatildeo O que se
verifica tanto nas deacutecadas de 1990 quanto no iniacutecio dos anos 2000 quando foram
aprovados novos parcelamentos urbanos agraves margens deste canal a exemplo dos bairros
de Barbados na margem direita e do bairro Mario Giurizato na margem esquerda
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Figura 17- Delimitaccedilatildeo das aacutereas de preservaccedilatildeo permanente do Rio Doce no periacutemetro urbano de Colatina de acordo com o PDM e o Novo Coacutedigo Florestal Elaborado pela autora Fonte Imagem gratuita do sateacutelite Landsat-8 sensor OLI Serviccedilo Geoloacutegico Americano (USGS 2013)
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Articulado a esta ideia e pesquisando o trecho do bairro Esplanada a Colatina Velha palco
das uacuteltimas obras estruturantes de alto porte do municiacutepio consegue-se analisar os efeitos
das inundaccedilotildees nas margens deste rio Logo implementar medidas de prevenccedilatildeo de
cheias em aacutereas com urbanizaccedilotildees antigas requer um esforccedilo da gestatildeo na regulaccedilatildeo do
solo urbano
421 Anaacutelise Temporal dos Impactos do Uso e Cobertura da Terra na Planiacutecie
de Inundaccedilatildeo do Doce Destaque para a Avenida Beira-Rio
Interceptada pelo curso do Rio Doce no perfil mais a jusante da bacia a cerca de 100km
do estuaacuterio com o Oceano Atlacircntico a cidade de Colatina polo moveleiro e de confecccedilotildees
do centro-oeste capixaba eacute palco recorrente de inundaccedilotildees urbanas
Conforme jaacute mencionado por Cunha (2012a) este fenocircmeno ocorre quando a bacia recebe
um percentual precipitado acima da sua capacidade de escoamento o que faz o leito
menor do rio extravasar para o leito maior ocupando as aacutereas de vaacuterzeas (Figura 18 p
50) Aliadas a esta questatildeo estatildeo as ocupaccedilotildees humanas das margens dos rios que ao
suprimir a vegetaccedilatildeo natural e alterar a condiccedilatildeo fiacutesica do solo acabam por reduzir a aacuterea
de drenagem das aacuteguas pluviais acelerando o escoamento superficial para o canal
principal e favorecendo os defluacutevios
Figura 18 - Representaccedilatildeo da inundaccedilatildeo urbana Fonte adaptado da Defesa Civil do Tocantins (2015)
Este fenocircmeno tem ganhado destaque em Colatina a partir de 1979 ano em que o Rio
Doce atingiu a vazatildeo de 12860msup3s tomando toda aacuterea aplainada que compotildee seu leito
maior afetando da atual Av Beira-Rio ateacute as redondezas da Av Getuacutelio Vargas Desde
entatildeo os estudos das inundaccedilotildees urbanas satildeo relevantes no municiacutepio o que levou o
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Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) na deacutecada de 1980 a elaborar um ldquoPlano Diretor
de Contenccedilatildeo das Enchentes Proteccedilatildeo das Encostas e Drenagem Pluvial de Colatinardquo
Tal medida apresentou seis alternativas para o fenocircmeno Poreacutem tendo em vista o custo
operacional das obras apenas a alternativa seis que previa a construccedilatildeo de diques
marginais para a proteccedilatildeo das aacutereas mais centrais foi considerada viaacutevel na eacutepoca
Todavia em entrevistas com funcionaacuterios da Prefeitura Municipal de Colatina (PMC) foi
relatado que todo o estudo foi arquivado e que ateacute agora natildeo haacute previsatildeo de
implementaccedilatildeo de tais medidas Fato este que eacute evidenciado (Tabela 2 p 51) quando da
ocorrecircncia de precipitaccedilotildees intensas na bacia durante as quais sazonalmente a cidade eacute
impactada com as aacuteguas das inundaccedilotildees Isto faz com que o municiacutepio passe
recorrentemente por cataacutestrofes conforme tabela com os principais picos de vazatildeo do rio
nos uacuteltimos 50 anos
Tabela 2
Vazotildees Maacuteximas Anuais de Colatina de 1961 a 2013
Ano Diamecircs Vazatildeo(msup3s)
1961 30jan 6613
1979 04fev 12860
1997 07jan 8687
2005 03ago 6549
2013 24dez 9028
Fonte Coelho (2007 apud DALLAPICOLA 2014 p4) e CPRM (2014 p85) Observo que os dados da tabela 1 para os anos de 1979 e 2013 estatildeo baseados na estimativa de vazatildeo meacutedia diaacuteria das maacuteximas anuais obtida atraveacutes de extrapolaccedilatildeo da curva-chave pelo grupo interdisciplinar dos relatoacuterios criacuteticos anteriores
As inundaccedilotildees de 1979 1997 e recentemente 2013 (Figura 19) foram as de maior vazatildeo
neste setor do rio e consequentemente as que mais atingiram a aacuterea urbana do municiacutepio
bloqueando os acessos ao centro da cidade e aos equipamentos essenciais como
hospitais escolas e demais oacutergatildeos puacuteblicos aleacutem de desalojarem muniacutecipes e
comprometerem a sauacutede puacuteblica
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Figura 19 - 1) Av Getuacutelio Vargas inundaccedilatildeo de 1979 2) Bairro Esplanada inundaccedilatildeo de 1997 3) Praccedila Municipal inundaccedilatildeo de 2013 Fonte1) Nossa Colatina 2) Nossa Linda Colatina 3) Nossa Colatina
Com o propoacutesito de identificar os principais fatores que acentuam as inundaccedilotildees seraacute
analisado como os processos geomorfoloacutegicos do Doce estatildeo sendo afetados pela accedilatildeo
antroacutepica Limitaremos a anaacutelise ao periacutemetro urbano no trecho que compreende do bairro
Esplanada ateacute o bairro Colatina Velha (Figura 20) Neste periacutemetro eacute possiacutevel visualizar a
evoluccedilatildeo da mancha urbana sobre o leito do rio aleacutem de identificar na margem direita os
pontos desnaturalizados deste canal fluvial
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Figura 20 - 1) Destaque para os bairros que compotildeem o recorte (vermelho) 2) Visualizaccedilatildeo do recorte com a delimitaccedilatildeo da aacuterea de APP legal 3) Vista panoracircmica do recorte em rosa da APP de 50m (amarelo claro) e 500m (amarelo escuro) Fonte 3) Encontra Colatina (2015)
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O recorte em questatildeo eacute margeado pela Av Beira-Rio e estaacute situado (Figura 20) dentro do
buffer de preservaccedilatildeo permanente previsto no PDM (buffer de 50m) e no Novo Coacutedigo
Florestal (buffer de 500m) Apesar desta aacuterea ser destinada a mata nativa e ou
reflorestada a ocupaccedilatildeo urbana antecede os artigos legais o que dificulta poliacuteticas de
gestatildeo territorial em um periacutemetro ao mesmo tempo histoacuterico e com funccedilatildeo relevante no
equiliacutebrio hidroloacutegico da bacia
O periacutemetro faz parte da vaacuterzea da margem direita do Rio Doce pois encontra-se em cota
topograacutefica de 50m caracterizando sua planiacutecie Logo a aacuterea em questatildeo tem a funccedilatildeo de
acomodar as aacuteguas das cheias quando a calha principal natildeo comporta o escoamento de
grandes vazotildees Esta tarefa passa a ser prejudicada na medida em que na bacia ou no
curso original satildeo implementadas obras que interferem na morfologia do corpo hiacutedrico
principal como a instalaccedilatildeo das hidreleacutetricas de Mascarenhas (1974) e Aimoreacutes (2005) a
montante
As UHErsquos a montante comprometem os processos do rio uma vez que o regime natural de
transporte de sedimentos eacute alterado com o barramento o que favorece a erosatildeo e
consequentemente o assoreamento com a formaccedilatildeo de bancos arenosos alteraccedilatildeo do
seu perfil transversal e reduccedilatildeo da profundidade Aleacutem disso segundo Coelho (2007) as
vazotildees maacuteximas e miacutenimas foram alteradas com a implantaccedilatildeo das hidreleacutetricas a
montante implicando em vazotildees meacutedias anuais miacutenimas cada vez mais reduzidas com
valores se distanciando da linha de tendecircncia (polinocircmio) provando o natildeo equiliacutebrio da
vazatildeo apoacutes a implantaccedilatildeo das barragens (Graacutefico 1 p22)
Entretanto a primeira intervenccedilatildeo direta no trecho em estudo foi a instalaccedilatildeo da estrada
de ferro que atraiu migrantes para Colatina permitindo o crescimento populacional e a
expansatildeo urbana desordenada agraves margens do Doce Este crescimento intensificou a
supressatildeo das matas ciliares e abriu espaccedilo para a impermeabilizaccedilatildeo do solo reduzindo
a infiltraccedilatildeo
Posteriormente a inauguraccedilatildeo da ponte Florentino Aacutevidos ampliou o fluxo na regiatildeo pois
proporcionava a ligaccedilatildeo com as terras ao norte do Estado Atuou tambeacutem como obstaacuteculo
ao transporte de sedimentos carreados no fluxo natural do rio uma vez que sua
implantaccedilatildeo altera a topografia do fundo do canal afetando os processos geomorfoloacutegicos
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Poreacutem foi no Morro das Cabritas (colina localizada no espaccedilo que compreende o atual
bairro Esplanada) que ocorreu a primeira desnaturalizaccedilatildeo nas margens do Doce Este
morro por onde o Rio Santa Maria do Doce meandrava ateacute desaguar no Rio Doce foi
cortado em meados de 1953 para abrigar a cidade em expansatildeo Devido a esta
intervenccedilatildeo o curso original do Santa Maria foi deslocado e passou a escoar
retilineamente ateacute a foz (Figura 21)
Figura 21 - 1) Vista do Centro de Colatina (1925) com a ponte Florentino Aacutevidos (direita) e o Morro das Cabritas ao fundo destaque em azul para o traccedilado antigo do Rio Santa Maria do Doce 2) Vista da deacutecada de 1990 com o bairro Esplanada ao fundo e destaque em vermelho para o curso atual do Santa Maria Fonte Nossa Colatina
As intervenccedilotildees na margem direita tornam-se mais intensas a partir da deacutecada de 1960
quando no ano de 1968 edificou-se um muro visando a proteccedilatildeo dos pilares da
extremidade direita da ponte Esta obra ficou paralisada por muitos anos e foi a primeira
de retificaccedilatildeo e aterro realizada neste trecho do rio Esta intervenccedilatildeo modificou o fluxo
natural das correntes do rio e reduziu a largura da sua calha alterando a morfologia do
canal (Figura 22)
59
Figura 22 - Primeira obra de canalizaccedilatildeo no Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina muro de proteccedilatildeo da ponte Elaborado pela autora Fonte fotos histoacutericas Nossa Colatina
Contudo somente em 1972 teve iniacutecio o segundo aterro (Figura 23) com a finalidade de
alocar a estaccedilatildeo rodoviaacuteria de Colatina e ampliar a aacuterea de acesso agrave ponte Florentino
Aacutevidos A implementaccedilatildeo desta obra suprimiu parte do leito do Rio Doce pois removeu a
saliecircncia cocircncava que curvava o rio retilinizando esta parte do canal
60
Figura 23 - Segundo aterro do Rio Doce na aacuterea urbana de Colatina limita-se com o traccedilado antigo da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora Fonte Nossa Colatina Nossa Linda Colatina
Apoacutes dez anos sem grandes intervenccedilotildees em 1982 o lado a montante da ponte bairro
Esplanada eacute acrescido de um aterro que estenderaacute a aacuterea do antigo Morro das Cabritas
para o rio (Figura 24)
Conhecido como Rua da Lama devido agrave umidade que o rio transferia ao aterro formando
um barro viscoso que persistia a maior parte do ano o trecho atualmente compreende a
Avenida Professor Joseacute Zouian popularmente denominada Avenida Beira-Rio de onde
surge a primeira forma do calccediladatildeo que seraacute estendido ateacute o bairro Colatina Velha
61
Figura 24 - Terceiro aterro do Rio Doce compreende o atual bairro Esplanada e o calccediladatildeo da Av Beira-Rio Elaborado pela autora Fonte Bennachio (2015)
Somente em 2004 foi implementado o maior projeto de canalizaccedilatildeo do municiacutepio Naquele
ano teve iniacutecio a execuccedilatildeo do enrocamento da Av Beira-Rio (Figura 25) obra destinada
inicialmente a alocaccedilatildeo de equipamentos puacuteblicos de lazer e cultura praccedilas preacutedios aleacutem
da promessa de contribuir para a contenccedilatildeo dos transbordamentos do Rio Doce
Apesar de o referido manancial jaacute estar comprometido com problemas de poluiccedilatildeo
assoreamento e erosatildeo aleacutem dos impactos de duas hidreleacutetricas instaladas a montante a
obra abarcou a supressatildeo da vegetaccedilatildeo ciliar e aterro de parte do rio jaacute tatildeo degradado
62
Figura 25 - Limite da Calha atual do Rio Doce apoacutes o uacuteltimo aterro a obra de enrocamento iniciada em 2004 e finalizada em 2008 Elaborado pela autora Fonte proacutepria autora em 240215
Ocupando uma aacuterea total de 130 mil msup2 do leito do Rio Doce o aterro teve iniacutecio em 2004
sendo construiacutedo com cerca de 90 mil msup3 de pedras 50 mil msup3 de areia retirada do leito do
rio e por fim o nivelamento com 200 mil msup3 de terra A obra era divulgada como um antigo
sonho dos colatinenses e serviria para ampliaccedilatildeo da Av Beira-Rio no bairro de Colatina
Velha instalaccedilatildeo de ciclovias calccediladatildeo equipamentos puacuteblicos e estacionamento (Figura
26) Apesar do fim da engenharia em 2008 o projeto ainda estaacute em fase de acabamento
na parte urbaniacutestica e na alocaccedilatildeo dos oacutergatildeos puacuteblicos
Cabe destacar que a obra sofreu embargos do Ministeacuterio Puacuteblico Federal (MPF) por
apresentar apenas cadastro na Agecircncia Nacional de Aacuteguas (ANA) que conforme parecer
da Procuradora Nadja Machado Botelho na Accedilatildeo Civil Puacuteblica ldquo[hellip] equivocadamente natildeo
realizou o procedimento de outorga [hellip]rdquo (MPF 2006 p2) Aleacutem disso a procuradora
solicitou tutela tendo em vista tratar-se de aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental e o fato de o
IBAMA ter concedido licenciamento com indevida dispensa do Estudo de Impacto
Ambiental (EIA)Relatoacuterio de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA)
63
Figura 26 - Perspectiva do projeto de enrocamento da Av Beira-Rio de Colatina Fonte Prefeitura de Colatina (2015)
Por isso essa obra deve ser considerada faraocircnica para os cofres puacuteblicos e irreversiacutevel
para os processos geomorfoloacutegicos do Doce E sua efetivaccedilatildeo soacute foi possiacutevel com a
participaccedilatildeo e investimentos do Governo estadual Contudo seu objetivo foi frustrado pois
novamente na cheia do Rio Doce em dezembro de 2013 quando este atingiu a vazatildeo de
9028 msup3s a aacuterea foi inundada e por estar em cota maior que as casas que beiravam o
rio o enrocamento atuou como represa natildeo permitindo o retorno das aacuteguas quando o niacutevel
do rio retomou o equiliacutebrio
Por fim segue um mapa siacutentese (Figura 27) com a cartografia das quatro principais
intervenccedilotildees diretas e estruturais na margem direita do Doce no setor urbano de Colatina
representando o curso natural do rio em 1950 e suas desnaturalizaccedilotildees a partir da deacutecada
de 60 ateacute a atualidade
64
Figura 27 - Mapa siacutentese dos quatro aterros traccedilado do Rio Santa Maria do Doce ante e depois da obra de canalizaccedilatildeo traccedilados da Estrada de Ferro Vitoacuteria a Minas Elaborado pela autora
65
422 Zoneamento Urbano e as Inundaccedilotildees Na Av Beira-Rio
O recorte em estudo compreende as Zonas ZE-1 ZE-2 e ZUD 2-1 (Figura 28 p61) sendo
a Zona Especial 1 Zona Especial 2 e Zona de Uso Diverso 2-1 destinadas no PDM (Lei
52732007)
Artigo 103 - As Zonas de Usos Diversos ndash ZUD satildeo definidas em razatildeo da concentraccedilatildeo de atividades urbanas diversificadas com predominacircncia do uso comercial e de serviccedilos Artigo 104 - Satildeo objetivos das Zonas de Usos Diversos I - otimizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do solo priorizando a instalaccedilatildeo de novos empreendimentos em terrenos natildeo edificados contiacuteguos a empreendimentos jaacute instalados II - controle da implantaccedilatildeo de usos incompatiacuteveis com os definidos para estas zonas III - garantia de licenciamento e monitoramento ambiental dos empreendimentos IV - controle da expansatildeo comercial de serviccedilos e de induacutestrias de pequeno porte em direccedilatildeo a aacutereas residenciais [] Artigo 130 - As Zonas Especiais 1 ndash ZE 1 abrangem todas as aacutereas remanescentes do municiacutepio relativamente ao zoneamento estabelecido nesta lei ocupadas ou natildeo contida na lei de periacutemetro urbano para as quais natildeo foram ainda estabelecidos os criteacuterios de uso e ocupaccedilatildeo Artigo 131 - As Zonas Especiais 2 ndash ZE 2 satildeo as aacutereas existentes no prolongamento da avenida Beira Rio mais especificamente no trecho entre o 80 Batalhatildeo da Poliacutecia Militar e a rua Pedro Epichin incluindo o espaccedilo existente entre a margem do Rio Doce e o limite das construccedilotildees localizadas na rua Pedro Epichin
Cabe destacar que mesmo sendo palco das aacutereas mais afetadas com as inundaccedilotildees do
Rio Doce a Beira-Rio tem sido alvo da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria que aproveitando-se dos
iacutendices pouco restritos da ZUD 2 (Figura 28 p62) valoriza o espaccedilo promovendo a
instalaccedilatildeo de grandes estruturas como hipermercados edifiacutecios residenciais modernos e
hotelaria
66
Figura 28 - Mapa do Zoneamento da Lei 52732007 anexo 06 Fonte Colatina (2007)
A aacuterea contida na ZE (Figura 28) natildeo possui criteacuterio de ocupaccedilatildeo definido na legislaccedilatildeo
atual sendo adotado o disposto na Lei 41961995 que estabelece os iacutendices urbaniacutesticos
para as aacutereas conquistadas junto ao Rio Doce e na Lei 420595 que aprova os
parcelamentos na Beira-Rio Quanto agrave ZUD 2-1 apresenta iacutendices urbaniacutesticos no anexo
118 do Plano Diretor conforme tabela 3 abaixo
67
Tabela 3 Iacutendices urbaniacutesticos da ZUD 2-1
Fonte Colatina (2007 p36)8
68
Eacute relevante observar que numa aacuterea onde o corpo hiacutedrico foi reduzido pelos sucessivos
aterros tenha sido aprovada a instalaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto (Figura
29) com taxa de ocupaccedilatildeo de ateacute 80 e com baixo iacutendice de permeabilidade Ampliou-
se a aacuterea impermeaacutevel numa regiatildeo onde a drenagem jaacute eacute muito comprometida com a
expansatildeo urbana sobre o rio
Figura 29 - Localizaccedilatildeo de empreendimentos de grande impacto na Beira-Rio Fonte imagem do Google Maps 2015 E fotos da autora em 140215
Portanto analisando o conjunto de dados apresentado acima eacute possiacutevel entender como
as inundaccedilotildees satildeo potencializadas no municiacutepio atingindo a populaccedilatildeo mas em especial
afetando a dinacircmica de um corpo hiacutedrico tatildeo relevante para o Estado A fim de subsidiar a
gestatildeo puacuteblica com material cartograacutefico para a tomada de decisotildees delimitou-se o
poliacutegono da uacuteltima inundaccedilatildeo (Figura 30) Pois devem ser adotadas medidas que
minimizem impactos de futuros eventos hidroloacutegicos na bacia capazes de comprometer
novamente a aacuterea urbana mais central de Colatina
69
Figura 30 - Mapa siacutentese com a evoluccedilatildeo urbana sobre o Rio Doce e o poliacutegono da inundaccedilatildeo de dezembro de 2013 em azul No lado direito imagens da inundaccedilatildeo na Av Beira-Rio em dezembro de 2013 Elaborado pela autora
70
Diante do poliacutegono de inundaccedilatildeo da uacuteltima cheia (Figura 30) em dezembro de 2013 eacute
possiacutevel implementar medidas de convivecircncia com as grandes vazotildees a exemplo de
paiacuteses como Holanda que vem investindo em medidas de resiliecircncia a fim de reduzir a
velocidade dos defluacutevios possibilitando ao canal a capacidade de acumular e dispersar as
aacuteguas com impacto miacutenimo para as populaccedilotildees Conforme Carneiro e Miguez (2011) a
estrateacutegia adotada pelo paiacutes eacute reter armazenar e drenar sendo mais flexiacutevel e natildeo
interferindo drasticamente na dinacircmica do corpo hiacutedrico
Por fim a implementaccedilatildeo de soluccedilotildees de planejamento urbano em Colatina requer uma
anaacutelise integrada que abarque o urbano e o ambiental de modo a propor intervenccedilotildees que
produzam impactos reduzidos nos processos geomorfoloacutegicos do Rio Doce Logo a gestatildeo
municipal deve atuar em niacutevel de bacia hidrograacutefica interagindo com os municiacutepios a
montante propondo medidas de minimizaccedilatildeo das cheias urbanas Mas na escala local
pode-se atuar junto aos novos parcelamentos de modo a ampliar o percentual de aacutereas
permeaacuteveis no municiacutepio incentivando por exemplo os novos loteamentos a adotarem
pavimentaccedilotildees que permitam a drenagem natural do solo
71
5CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Partindo da ideia de que eacute possiacutevel implementar medidas que minimizem o escoamento
superficial satildeo apresentadas propostas como forma de controlar ou ao menos reduzir os
impactos das inundaccedilotildees urbanas
Embora as implementaccedilotildees histoacutericas de estruturas de proteccedilatildeo ou barreiras mais altas
tenham sido muito disseminadas atualmente estatildeo sendo suplantadas pelo gerenciamento
de inundaccedilotildees de maneira mais sustentaacutevel Deste modo as experiecircncias fora do Brasil
apontam para soluccedilotildees mais flexiacuteveis que considerem o fluxo natural do canal enquanto
um ecossistema em equiliacutebrio Para tanto Carneiro e Miguez (2011 p150) destacam a
iniciativa alematilde no controle de inundaccedilotildees em bacias hidrograacuteficas metropolitanas
[hellip] A abordagem comum consiste na regulaccedilatildeo do uso do solo nas aacutereas inundaacuteveis e em ldquodar espaccedilo para o riordquo ao inveacutes de priorizar investimentos em estruturas de proteccedilatildeo contra inundaccedilotildees como a colocaccedilatildeo de diques de contenccedilatildeo as margens dos rios A utilizaccedilatildeo do conceito de resiliecircncia apropriado de ecologia decorre dessa abordagem A aplicaccedilatildeo praacutetica do conceito implica portanto em mudanccedilas de paradigma Deixa de ser preponderante a engenharia construtiva e entra em cena o planejamento de longo prazo voltado para o desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis capazes de conviver com as variaccedilotildees do ciclo hidroloacutegico sem significar necessariamente trageacutedias anunciadas
Aleacutem dessas propostas geoacutegrafos como Sandra Cunha tecircm estudado a recuperaccedilatildeo
natural ou ldquorenaturalizaccedilatildeordquo de corpos fluviais visando promover a estabilidade dos canais
de modo mais sustentaacutevel Para ela
[hellip] Recuperaccedilatildeo de canal significa de forma simples o retorno as condiccedilotildees anteriores aos distuacuterbios Em essecircncia eacute o processo de recuperaccedilatildeo do rio ou do ecossistema fluvial estabilizando o desenvolvimento de habitats e colonizaccedilatildeo a uma taxa mais raacutepida que dos processos naturais fiacutesicos e bioloacutegicos Na recuperaccedilatildeo de canais ocorrem consideraccedilotildees de aspecto hidroloacutegico morfoloacutegico e ecoloacutegico qualidade da aacutegua esteacutetica aleacutem da necessidade de uma visatildeo integradora do projeto sustentaacutevel de recuperaccedilatildeo (CUNHA 2012 p230 a 231)
Satildeo portanto medidas pontuais como o retorno agraves sinuosidades do rio (Figura 31 p 68)
ou a substituiccedilatildeo de estruturas de concreto por superfiacutecies mais permeaacuteveis a exemplo
das trincheiras de infiltraccedilatildeo ou pavrsquos (Figura 32) aacutereas mais vegetadas aleacutem de coleta e
uso de aacutegua da chuva bem como tratamento das aacuteguas superficiais por meio de
72
amenidades esteacuteticas como reservatoacuterios de retenccedilatildeo ou detenccedilatildeo que podem ser
associados a ambientes harmocircnicos como lagos artificiais Todas estas accedilotildees possibilitam
a minimizaccedilatildeo das grandes vazotildees no solo urbano pois pretendem atenuar os impactos
das cheias fazendo com que seja resgatada parte da drenagem existente anteriormente agrave
urbanizaccedilatildeo
Figura 31 - Retorno agrave sinuosidade do canal do Rio Aa Munster Alemanha (1998) Fonte Cunha (2012 p233)
Figura 32 - 1) Trincheiras de infiltraccedilatildeo 2) Pavimentaccedilatildeo em pavrsquos Fonte Carneiro e Miguez (2011 p128)
A partir do exposto cabe agrave gestatildeo municipal implementar legislaccedilotildees que priorizem a
permeabilidade possibilitando uma maior infiltraccedilatildeo das aacuteguas das chuvas atraveacutes de
pavimentaccedilotildees menos impermeaacuteveis e da ampliaccedilatildeo de aacutereas vegetadas Satildeo medidas
que tornam a drenagem mais sustentaacutevel aleacutem de possibilitar a manutenccedilatildeo dos serviccedilos
puacuteblicos de forma menos custosa tendo em vista o elevado preccedilo das recomposiccedilotildees
asfaacutelticas
1 2
73
Aleacutem disso quando se fala em controle de cheias urbanas pressupotildee-se uma seacuterie de
medidas para minimizaccedilatildeo de seus impactos desde a operaccedilatildeo de sistemas de alerta
zoneamento de aacutereas inundaacuteveis construccedilatildeo de grandes reservatoacuterios de contenccedilatildeo de
cheias e diques ateacute accedilotildees de educaccedilatildeo ambiental
Cabe pensar tambeacutem na proacutexima revisatildeo do PDM em um plano de macrodrenagem
municipal que reuacutena accedilotildees de caraacuteter estruturantes com obras hidraacuteulicas de infraestrutura
que realizem a conduccedilatildeo final das aacuteguas dos escoamentos superficiais para a minimizaccedilatildeo
das inundaccedilotildees e em medidas natildeo-estruturantes que trabalhem a consciecircncia ambiental
e proponha um zoneamento de cheias a fim de se delimitar os pontos mais fragilizados nos
defluacutevios
Por fim pensar em drenagem num contexto de ocupaccedilatildeo irregular histoacuterico requer
profissionais que aleacutem de possuir afinidade com a temaacutetica tambeacutem possam analisar os
diferentes processos que constituem o espaccedilo geograacutefico Logo este tipo de estudo deve
abarcar uma equipe multidisciplinar que percorra a anaacutelise desde o ambiental estrutural
ateacute o aspecto humano a fim de se produzir resultados que de fato contribuam com o
controle das inundaccedilotildees urbanas
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6 CONCLUSAtildeO
A partir do recorte espacial foi possiacutevel compreender que a abordagem da geomorfologia
fluvial com a anaacutelise espaccedilo-temporal da ocupaccedilatildeo urbana possibilita a identificaccedilatildeo das
accedilotildees do homem no meio ambiente pois estas resultam na alteraccedilatildeo das paisagens
naturais e na dinacircmica da bacia hidrograacutefica Assim o Rio Doce deve ser estudado de
modo integrado ao crescimento da cidade sobretudo para compreensatildeo da produccedilatildeo do
espaccedilo geograacutefico
Analisar a inundaccedilatildeo urbana em Colatina foi satisfatoacuterio pois o municiacutepio estaacute situado no
perfil meacutedio-baixo da bacia vazante e eacute neste trecho que os reflexos das intervenccedilotildees satildeo
mais acentuados principalmente se esta parte do canal tambeacutem tiver passado por obras
que modificaram seus processos hidroloacutegicos Aleacutem disso a perspectiva geograacutefica aponta
para vaacuterias outras questotildees como erosatildeo fluvial planejamento urbano poluiccedilatildeo ambiental
crise da aacutegua que conduzem a outras discussotildees acerca da relaccedilatildeo homemnatureza
Ao demonstrar a evoluccedilatildeo espaccedilo-temporal do uso e cobertura da terra na margem direita
do Doce associando esta ocupaccedilatildeo agraves obras estruturantes que foram executadas no
canal verificamos que todas as praacuteticas adotadas para conter o transbordamento do rio
acabaram alterando sua morfologia com a retificaccedilatildeo de trechos em meandros reduzindo
a largura do corpo hiacutedrico o que favoreceu a apropriaccedilatildeo urbana de suas vaacuterzeas Aliadas
a estas questotildees estatildeo a falta de planejamento urbano e a omissatildeo diante da supressatildeo
das matas ciliares principalmente se considerados os resultados do relatoacuterio teacutecnico do
IJSN contra enchentes em 1980
Cabe destacar tambeacutem que toda a anaacutelise da ocupaccedilatildeo urbana e desnaturalizaccedilatildeo do
Rio Doce foi melhor identificada a partir dos produtos cartograacuteficos deste trabalho Pois eacute
na espacialidade dos fenocircmenos e no registro de informaccedilotildees ainda natildeo mapeadas como
os aterros que o geoacutegrafo executa a anaacutelise do seu objeto de estudo o homem e a
natureza aqui representado pela sociedade e o canal do Doce
Apesar do municiacutepio apresentar leis que resguardam os leitos dos rios desde o primeiro
PDM em 1996 nada foi feito para conter as ocupaccedilotildees irregulares beira-rio Pelo contraacuterio
estas aacutereas foram incorporadas ao Plano Diretor em 2007 com possibilidades de
ocupaccedilotildees diversas o que tem levado especuladores a valorizar o solo com vista para o
rio apontando suas qualidades esteacuteticas e teacutermicas Este fato vem aumentando o
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percentual de aacutereas impermeaacuteveis nesta margem comprometendo ainda mais a drenagem
dos defluacutevios
Eacute na Av Beira-Rio que crescem as implantaccedilotildees de grandes empreendimentos comerciais
como supermercado Casagrande Ogil Hotel e obras de construccedilatildeo de novos arranha-
ceacuteus em um periacutemetro que jaacute eacute totalmente comprometido com os extravasamentos do Rio
Doce Estas obras ocupam grandes aacutereas e na maioria das vezes apresentam reduzida
aacuterea permeaacutevel reservando apenas o obrigatoacuterio pela lei cerca de 10 Observa-se
tambeacutem que a implantaccedilatildeo desses projetos estaacute condicionada agrave apresentaccedilatildeo e
aprovaccedilatildeo por comissatildeo na prefeitura do Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV) sendo
difiacutecil conceber que seja concedida tal licenccedila para implementaccedilatildeo de obras num trecho
de risco ambiental
Embora as diretrizes do Estatuto das Cidades para a implementaccedilatildeo do uso da terra
sustentaacutevel e os instrumentos para a regulaccedilatildeo do solo urbano sejam avanccedilados Colatina
eacute mais um exemplo da carecircncia de profissionais capacitados para estudar de modo
integrado e em niacutevel de bacia hidrograacutefica os efeitos da accedilatildeo humana num ambiente tatildeo
peculiar como as margens do Doce Por isso com os objetivos traccedilados nesta pesquisa
podemos aleacutem de compreender o fenocircmeno criar uma metodologia de anaacutelise de aacutereas
inundaacuteveis em ambientes urbanos O que permite agrave gestatildeo municipal uma diretriz para a
tomada de decisotildees
Destaca-se tambeacutem que as legislaccedilotildees aqui referenciadas supriram a discussatildeo acerca do
objeto de estudo mas outras podem contribuir para esta pesquisa a exemplo do Coacutedigo
das Aacuteguas da Poliacutetica Nacional dos Recursos Hiacutedricos das Resoluccedilotildees do Conama do
Estatuto das Cidades entre outros
Sendo assim numa revisatildeo do PDM deve-se pensar nestes aspectos da cidade desde o
histoacuterico de ocupaccedilatildeo das margens ateacute os impactos das inundaccedilotildees e o presente trabalho
auxilia com uma nova abordagem na reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo fornecendo material
cartograacutefico para subsidiar propostas de proteccedilatildeo ao curso do Doce e consequentemente
da populaccedilatildeo
Por fim deve-se destacar que o recorte estaacute inserido num contexto maior de uma bacia
hidrograacutefica que se estende aleacutem dos limites de Colatina ou do estado do Espiacuterito Santo
Esta bacia compreende a Regiatildeo Hidrograacutefica do Atlacircntico Leste e estaacute alocada tambeacutem
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no estado de Minas Gerais o que portanto torna as accedilotildees de controle das inundaccedilotildees
mais complexas tendo em vista as divergentes politicas territoriais
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