desmonte do giratória para o serviço público. demissão, privatização, licença sem vencimento,...

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CORREIOS 9912264199/2015-DR/PE SINDSEP/PE Mala Direta Postal Básica Sindicato dos Servidores Públicos Federais no Estado de Pernambuco RECIFE | SETEMBRO | 2017 Informavo - Ano XVI - nº 201 Receba nossos informativos online.Cadastre seu e-mail no site www.sindsep-pe.com.br @Sindsep_PE www.sindsep-pe.com.br Sindsep-PE Faça parte do Sindsep-PE. Sindicalize-se! Agência Brasil Prédio da Sudene é esvaziado página 10 páginas 3 a 9 Governo acelera desmonte do Estado e mira servidor federal Depois de destruir os direitos trabalhistas dos empregados na iniciativa privada, o governo ilegítimo de Michel Temer mira sua metralhadora giratória para o serviço público. Demissão, privatização, licença sem vencimento, cortes no serviço público voltam a assustar os servidores federais e atingem principalmente a população de baixa renda PDV Privatizações Licença sem vencimento Corte de verbas

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Page 1: desmonte do giratória para o serviço público. Demissão, privatização, licença sem vencimento, ... cOm pessOal, que vai prejudicar O FunciOnalismO e, principalmente, O serviçO

CORREIOS

9912264199/2015-DR/PESINDSEP/PE

Mala Direta PostalBásica

Sindicato dos Servidores Públicos Federais no Estado de Pernambuco RECIFE | SETEMBRO | 2017 Informativo - Ano XVI - nº 201

Receba nossos informativos online.Cadastre seu e-mail no site www.sindsep-pe.com.br

@Sindsep_PEwww.sindsep-pe.com.br Sindsep-PEFaça parte do Sindsep-PE. Sindicalize-se!

Agên

cia

Bras

il

Prédio da Sudene é esvaziado página 10

páginas 3 a 9

Governo acelera

desmonte do Estado e mira

servidor federal

Depois de destruir os direitos trabalhistas

dos empregados na iniciativa privada, o governo ilegítimo de Michel Temer mira sua

metralhadora giratória para o serviço público. Demissão,

privatização, licença sem vencimento, cortes no serviço público voltam a assustar os servidores federais

e atingem principalmente a população de

baixa rendaPDV

Priv

atiz

açõe

s

Licença sem vencimento

Corte de verbas

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RECIFE | SETEMBRO| 2017| || |RECIFE | SETEMBRO | 20172 3

o governo ilegítimo anistia uma dívida bilioná-ria de empresário e banqueiros. Além disso, prometeu liberar mais de R$ 13 bilhões em compra de votos de deputados federais que recusaram, no início de agosto, a denúncia da Procuradoria-Geral da República para in-vestigar Michel Temer por corrupção passiva. Da bancada pernambucana, votaram contra a investigação Bruno Araújo, PSDB; Fernando Bezerra Filho, João Fernando Coutinho e Ma-rinaldo Resende, PSB; Mendonça Filho, DEM; Jorge Corte Real, Adalberto Cavalcanti e Zeca Cavalcanti, PTB; Luciano Bivar, PSL; Augusto Coutinho, SD; Sebastião Oliveira, PR; Fernando Monteiro e Eduardo da Fonte, PP; e Ricardo Teobaldo, do Podemos.

É aí que nossa impotência acaba: vamos dar o troco nas urnas, no ano que vem, não votan-do nessa corja de políticos contrários aos tra-balhadores e aos servidores e favoráveis a um governo formado por uma quadrilha coman-dada por corruptos. Nada de desânimo. Vamos continuar resistindo.

Sem falar do ataque brutal ao servidor federal e ao serviço público. Primeiro veio a Emenda Constitucional 95, que congela investimentos no serviço público por 20 anos, comprome-tendo em cheio áreas como educação, saúde e assistência social.

Agora, a lógica é reduzir ainda mais o Esta-do, demitindo, licenciando e reduzindo carga horária do funcionalismo federal. Essas são as mais recentes ações do governo ilegítimo, que pretende aprovar a Medida Provisória (MP) 792, que propõe Plano de Demissão Voluntá-ria (PDV), licença sem vencimento de até seis anos de servidores e redução de carga horá-ria de 8 horas para 6 horas ou 4 horas diárias, com redução de salário. Para além de todas essas maldades, no dia 15 de agosto, a equipe econômica do governo anunciou a revisão da meta fiscal, a qual tem como alvo, mais uma vez, o servidor e o serviço público.

Enquanto massacra os trabalhadores de forma geral e o funcionalismo em particular,

Asensação é de terra arrasada e o sentimento é de impotência. Essa é a primeira impressão que se tem ao

fazer uma análise do quadro econômico, polí-tico e social do Brasil. Em menos de um ano e meio, o governo ilegítimo que tomou de assal-to o poder está conseguindo destruir os pouco direitos conquistados a duras penas pelas clas-ses subalternas. Todavia, nada disso acontece sem que a classe trabalhadora não esteja nas ruas, protestando, resistindo até o último mi-nuto para garantir seus direitos. Mas, governo e Congresso Nacional desdenham da opinião pública e dão continuidade ao golpe iniciado em 2016. É como se a voz das ruas não tivesse importância.

De maio de 2016 para cá, foram cortes drásticos no Bolsa Família e nas universidades, reforma trabalhista, terceirização, retrocesso na política de reajuste do salário mínimo, fim da Farmácia Popular e reforma da Previdência - que ainda não foi aprovada, mas se for, repre-sentará o fim da aposentadoria do trabalhador.

Revista editada pela Secretaria de Imprensa do Sindicato dos Servidores Públicos Federais no Estado de Pernambuco

Rua João Fernandes Vieira, 67 – Boa Vista CEP 50.050-200 Recife – PE Fone: 3131.6350 Fax: 3423.7839Home: www.sindsep-pe.com.br e-mail: [email protected] [email protected]

Jornalista Responsável e Edição Fabíola Mendonça (DRT-2506)

Texto Fabíola Mendonça, Deyse Lemos (DRT 3909), Alexandre Yuri (DRT 2942)

Revisão Mª de Lourdes Souto Maior Araujo

EDITORIAL

CHARGE SAMUCA

EXPEDIENTEATENÇÃOCoordenação Geral Maria das Graças de Oliveira

Secretaria Geral José Carlos de Oliveira

Secretaria de Imprensa e Divulgação Isac dos Santos Neto, Sérgio da Silva Goiana e Valdemar Joaquim de Santana

Fotos Arquivo SINDSEP-PE e Divulgação

Ilustrações Samuca

Projeto gráfico, capa e diagramação Karla Tenório (DRT-2468)

Impressão CCS Fone: 3458.0000 Tiragem 12.000 exemplares

Nada de desânimo!

ÚLTIMAS

Eleições SindsepO Sindsep-PE realiza, nos dias 11, 12 e 13 de setembro, as eleições para escolha da nova direção da entidade, para o triênio 2017-2020. Duas chapas estão concorrendo ao pleito: a Chapa 1, Dignidade na Luta – Nenhum Direito a Menos, e a Chapa 2, Um Passo à Frente – Sindsep pela Base, Democrático e Transparente. A Chapa 1 é encabeçada por Graça Oliveira e a Chapa 2 por José Carlos de Oliveira, atuais coordenadora geral e secretário geral do sindicato, respectivamente. Serão eleitos os membros da direção administrativa e o Conselho Fiscal. Mais informações sobre as eleições, acessar o site do sindicato, www.sindsep-pe.com.br.

VAM

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“Amor à natureza”

ENTREVISTA

“Os cortes do governo são liberais e negam o papel do Estado”O discursO dO gOvernO é de melhOra nOs númerOs da ecOnOmia. Fala que é precisO cOrtar ainda mais para que O país saia da crise e O desempregO diminua. para issO, nO dia 15 de agOstO, a equipe ecOnômica anunciOu uma nOva meta de déFicit Fiscal. O rOmbO passOu de r$ 139 bilhões para r$ 159 bilhões em 2018. nO mesmO dia, apresentOu uma prOpOsta de cOrtes de despesa cOm pessOal, que vai prejudicar O FunciOnalismO e, principalmente, O serviçO públicO (ver páginas 4 e 5). é esse O caminhO? para Falar sObre O assuntO, O garra entrevistOu a ecOnOmista tânia bacelar.

GARRA - Existe de fato melhora nos números da economia?TÂNIA BACELAR - Minha síntese é: A economia em 2017 está

tentando respirar. O potencial que o Brasil tem é forte, mesmo a política do governo não sendo dirigida para estimular a economia. Se a gente observar, a trajetória de 2015 e 2016 foi pior. É como se a economia estivesse chegado no fundo do poço, com taxas de declínio da atividade econômica muito altas. Quando a gente observa 2017, as taxas continuam no negativo, mas não são tão elevadas como foram nos dois últimos anos. Isso acontece com o PIB, com as estimativas do Banco Central sobre as atividades econômicas, com os dados do IBGE sobre comércio. Serviço não. Serviço continua estável e baixo. É como se não tivesse reagindo. Na verdade, quem está bem mesmo é a agropecuária. Pesa pouco no total da economia, mas está tendo uma super-safra e o comércio externo está favorável ao Brasil.

GARRA - Por que os ajustes do governo não estão influenciando na economia?

TÂNIA - A política do governo está sendo dirigida para fazer reformas. É uma agenda de reforma e dentro dessas reformas a contração do Estado. Eles não apostam na capacidade do Estado de estimular a economia. Pelo

contrário, eles fazem a leitura sobre e crise fiscal do Estado brasileiro, que é real, dão a interpretação deles sobre essa crise e tomam iniciativas que restringem a presença do Estado na economia. Então, quem deve estar dando esse movimento de “tentar respirar” é o setor privado e não o setor público, pelo potencial que o Brasil tem porque a agenda do governo cola na agenda empresarial. A agenda do governo é benéfica ao setor empresarial. É só lembrar a reforma trabalhista.

GARRA - Esse movimento se sustenta e tende a melhorar?TÂNIA - Hoje a conjuntura é mais complicada porque não dá

para olhar só para a economia. Existem ao mesmo tempo uma crise econômica e uma crise política e eu aprendi na vida que essas duas esferas interagem. O agente econômico é também um agente político. Basta ver a situação do Congresso Nacional, que reflete a presença de setores econômicos importantes. Tirar uma presidenta eleita por impeachment dividiu o país ao meio. O governo que a substitui não tem respaldo na sociedade. As pesquisas de opinião sobre o governo mostram que ele tem a aprovação de uma fatia muito pequena da população. Isso é um elemento de instabilidade muito grande.

GARRA – O ano de 2018 será um divisor de águas?TÂNIA - Acredito. Só vamos tender a sair dessa crise em 2018. Então

eu espero que a eleição, primeiro, aconteça. Tem gente que acredita que pode surgir um parlamentarismo. Espero que em 2018 possamos discutir o Brasil. A gente viveu um bom momento no início do Século 21, mas o mundo mudou muito e o Brasil está precisando se reposicionar. A gente teve um projeto muito claro de Brasil no Século 20. Queríamos ser uma potência industrial e urbana e a gente conseguiu. Em poucas décadas chegamos a oitava base industrial do mundo. Teve ditadura, teve democracia, mas o projeto era o mesmo. Essa base industrial se desgastou. A indústria no mundo está mudando. E evolução da indústria 4.0 é uma realidade e o Brasil não pode desconhecer isso. A não ser que queira deixar esse projeto. Eu acho que não deveria desistir.

GARRA - E dentro dessa nova realidade que a senhora fala, o Estado precisa ser forte?

TÂNIA - Isso é um debate entre os liberais e os não-liberais. Eu me situo nos não-liberais, principalmente num país como o Brasil, que tem muito potencial, mas é um país muito desigual. Quando o Brasil se transformou na oitava potência industrial, era o terceiro pior país em concentração de renda, em desigualdade social, perdendo apenas para Honduras e Serra Leoa. Então o Brasil não é um país qualquer. É um país com muito potencial, mas com uma história de desigualdade social, regional, muito grande. O liberalismo pressupõe uma certa homogeneidade. A Inglaterra dialoga muito bem com o liberalismo, mas vá na sociedade inglesa para ver se existe o tamanho das desigualdades existentes no Brasil. Então qual é o papel do Estado? É equilibrar isso (desigualdades). Agora o Brasil é tão incrível que o papel do Estado foi contrário: reforça as desigualdades. Os cortes do governo Temer são cortes liberais. Eles negam que o Estado desempenha um papel importante. 7

Tânia Bacelar| Economista

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RECIFE | SETEMBRO| 2017| || |RECIFE | SETEMBRO | 20174 5

CORTE DE DESPESAS

Governo Temer ataca serviço público e servidores federaisO discurso hegemônico propagado pela

mídia brasileira sobre os servidores públicos é sempre o mesmo: são ma-

rajás, uma casta privilegiada da classe traba-lhadora do país com os melhores salários do mercado, maus trabalhadores. É um discurso mentiroso, mas, mesmo ciente disso, o go-verno resolveu pegar carona nesse senso co-mum e mais uma vez atacar o funcionalismo e o serviço público. Privatizações, demissão de servidores, licença sem vencimento, cor-tes de direitos trabalhistas, fantasmas de um passado distante, voltam a rondar o setor público.

No dia 15 de agosto, a equipe econômi-ca de Temer, ao anunciar a revisão da meta fiscal para 2017 e 2018 e apontar um déficit de R$ 159 bilhões para cada ano, anunciou um corte de despesas para os servidores do Executivo. O governo pretende aumentar a alíquota da Previdência de 11% para 14% do que exceder o teto da Previdência (R$ 5.531); limitar o salário inicial do servidor a até R$ 5 mil; reestruturar carreiras do Executivo im-pondo 30 níveis com prazos maiores para progressão e promoção; e jogar o reajuste de 2018 dos servidores civis ativos, aposen-tados e pensionistas da União para 2019.

A expectativa é economizar R$ 1,2 bilhão até 2019. Em quatro anos, a economia se-ria de R$ 12,7 bilhões, valor inferior ao que Temer desembolsou no início do mês de agosto com emendas parlamentares para se livrar das investigações sobre corrupção passiva no âmbito da Operação Lava Jato. O “cala a boca” dos deputados custou R$ 13,2 bilhões aos cofres públicos. De forma irônica e cínica, em entrevista à imprensa, os minis-tros Henrique Meirelles (Fazenda) e Dyogo Oliveira (Planejamento) afirmaram que os salários pagos aos servidores são até três ve-zes maiores que os da iniciativa privada em ocupações de nível médio e fundamental. Em relação ao nível superior, disseram que correspondem a 2,1 vezes mais que o setor privado.

Também questionaram a carreira do ser-vidor, alegando que a categoria chega muito rápido ao final da carreira, em média 15 anos. E o absurdo maior veio com a afirmação de que os servidores que ganham até R$ 4,9 mil por mês estão entre os mais ricos do país. O

Os cortes do governo Temer atingem vários setores do ser-viço público, inclusive a educação. As verbas para os institutos federais, por exemplo, são um desses alvos, foram diminuídas drasticamente. Com isso, mais uma vez, Temer deixa claro que a prioridade não é a educação, muito pelo contrário, o gover-no atende o mercado.

Em resposta a esse descaso está sendo desenhada uma greve no setor. É possível que ainda neste semestre seja de-flagrada paralisação por tempo indeterminado. O movimento paredista tem apoio dos estudantes e da direção do Sindsep-PE, que acredita que a educação é estratégica para tirar o país do subdesenvolvimento e diminuir as desigualdades socais.

O corte de verbas dos institutos e universidades federais tem comprometido o pagamento de despesas básicas como energia e água, bem como a compra de produtos de higiene. Já existem informações de que algumas unidades só possuem verba para funcionar até setembro. Esse é mais um desmonte do serviço público brasileiro.

EBSERH

Em assembleia realizada pelo Sindsep-PE no dia 22 de agosto, os empregados da Ebserh aprovaram um indicativo de paralisação para setembro. A ideia de cruzar os braços é uma resposta à direção da Ebserh, que não avança nas negociações do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) 2017/2018 dos traba-lhadores da empresa.

No dia 18 de agosto, em mais uma rodada de negociação, a direção da Ebserh reafirmou a decisão de não conceder re-ajuste nos salários nem nos benefícios. Também se negou a discutir as cláusulas sociais, mesmo as que não têm impacto financeiro. Os representantes da Ebserh foram mais além e sinalizaram a possibilidade de corte nos benefícios, alegando que a proposta parte da Secretaria Coordenação e Governança das Empresas Estatais, ligada ao Ministério do Planejamento.

Desde fevereiro, a Condsef/Fernadsef entrou com um pe-dido de conciliação no Superior Tribunal do Trabalho (TST), mas, até agora, não obteve resposta. Diante do impasse nas negociações, os funcionários já cogitam a possibilidade de um dissídio, mas a Ebserh não quer. Para que o dissídio aconteça, as duas partes precisam concordar ou então se for a alternati-va para por fim a uma greve prolongada.

A avaliação que a Condsef/Fernadsef faz é que a Ebserh quer ganhar tempo para que a reforma trabalhista entre em vigor, em novembro, para, então, revogar os direitos acorda-dos no ACT atual e não fechar o ACT 2017/2018. A ideia da pa-ralisação é que aconteça ainda em setembro, antes da reforma trabalhista passar a valer. 7

Funcionários da educação e da Ebserh já cogitam greve

primeiro equívoco desse discurso falacioso do governo é a heterogeneidade do serviço público.

“Existem muitas desigualdades entre as carreiras do mesmo poder, entre os poderes (Execu-tivo, Legislativo e Judiciário) e as três esferas (federal, estadual e municipal)”, explica a econo-mista do Dieese, Alessandra de Moura Cadamuro. Ela pegou como exemplo o salário inicial do Plano Geral de Cargos do Poder Executivo (PGPE). A remuneração inicial de um nível superior é de R$ 3.607,97 e o final R$ 4.914,16.

“Para comparar o setor público com o privado é preciso dar as devidas proporções. É preciso lembrar também que a iniciativa privada utiliza a rotatividade para reduzir custos e se algumas vezes o setor público paga mais, não é porque paga muito, mas porque o setor privado remunera pouco”, frisa Alessandra.

FOLHA DE PESSOAL

Outra grande mentira do governo é que a folha de pagamento com pessoal onera os cofres públicos e estão acima da expectativa. As despesas com pessoal (civis dos três poderes, militares e Distrito Federal) correspondem a 38,4% da Receita Corrente Líquida da União (RCLU). Segundo a Lei de Responsabilidade Fiscal, poderia chegar a 50%. Ou seja, está dentro da normalidade. Destrinchando essa margem legal, o Legislativo poderia comprometer 2,5% dessa receita, o Ju-diciário 6% e o Executivo 40,9%, mas esse último só compromete 25,29%.

“Não há descontrole com as despesas de pessoal”, garante a economista do Dieese. Ela com-prara também as despesas de pessoal da União com o Produto Interno Bruto. Hoje, essas des-pesas só comprometem 4,4% do PIB. O percentual, além de baixo, vem se mantendo estável nos últimos anos. Depois de um período de baixa, teve um pequeno acréscimo a partir de 2015 por conta da crise econômica e do próprio desempenho do indicador.

ASSEMBLEIA Trabalhadores da Ebserh aprovaram greve

RECEITA X FOLHA DE PESSOAL

0 10 20 30 40 50 60

54,46

Relação de Despesas de Pessoal e Receita Corrente Líquida da União (em %) - 1995 a 2016

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

48,10

38,03

42,65

46,23

35,12

38,20

32,04

30,25

31,22

27,31

29,12

30,48

34,23

33,33

32,08

31,12

30,05

34,39

38,02

38,38

29,73

1

1 - Inclui o Poder Executivo Federal

(Administração direta e Administração Indireta:

Autarquias, BACEN, Fundações, Empresas Públicas e Sociedade de Economia Mista),

MPU, FCDF, Militares e os Poderes Legislativo e

Judiciário.

Média 95 a 98 = 47,86%

Média 99 a 2002 =

35,85%

Média 2003 a 2006 =

29,63%

Média 2007 a 2010 =

31,79%

Média 2011 a 2014 =

31,91%

Média 2015 e 2016 =

38,20%

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RECIFE | SETEMBRO| 2017| || |RECIFE | SETEMBRO | 20176 7

SERVIÇO PÚBLICO

PDV: mais uma armadilha de Temer para o servidorNo governo FHC (1995-2002), a

economia brasileira, apresen-tava uma situação muito seme-

lhante ao que vemos hoje no governo Michel Temer, que tem à frente da equipe econômica o liberal Henrique Meirelles, ex-deputado federal pelo PSDB, ex-presidente do BankBoston e residente nos Estados Unidos até o ano de 2002. Naquela época, com o hoje, o governo se empenhava em arruinar a economia brasileira e deixá-la a mercê dos exploradores nacionais e interna-cionais. Paralelamente a esse trabalho, houve um grande desmonte do serviço público. A ideia era privatizar o que pu-dessem para entregar à iniciativa priva-da. O mesmo voltou a acontecer agora. A ordem do governo Temer também é privatizar o que puder e cortar ao máxi-mo investimentos no setor público.

Dentro dessa estratégia, o governo ilegítimo quer convencer o servidor fe-deral a abrir mão do seu trabalho, seja pedindo demissão, se afastando por licença sem vencimento ou reduzindo carga horária com redução de salário. Para isso, lançou, no final de julho, a Medida Provisória (MP) 792, que insti-tui o Programa de Demissão Voluntária (PDV), uma armadilha para o servidor público. Além da demissão voluntária, da redução de jornada de trabalho com redução de salários e da licença sem remuneração, a MP dá autonomia aos gestores dos órgãos estatais a decidirem pela licença e redução de carga horária.

O PDV visa a reduzir o número de servidores federais em um momento em que os investimentos no setor também estão sendo cortados. Ou seja, a popula-ção, que via a necessidade de mais inves-timento em saúde, educação, segurança pública, moradia, ciência e tecnologia e na melhoria do atendimento em órgãos públicos, será mais uma vez golpeada. Importante destacar que o Brasil passa por um momento ímpar em sua história, com o maior índice de desemprego das últimas duas décadas. São mais de 14 milhões de desempregados.

Diante de tal cenário, os servidores não podem se arriscar a largar o empre-go. Há uma atmosfera de insegurança e falta de perspectivas. Por que as pesso-

as entrariam no programa e migra-riam para a iniciativa privada com tanto desemprego? A abertura de uma empresa também não se mos-tra razoável.

O Sindsep-PE orienta todos os seus servidores a não aderi-rem ao PDV. Isso porque os servidores que aderirem ao PDV irão abrir mão de toda uma vida de estabilida-de financeira por receber uma indenização em um período de forte crise econômica e quando muitas empresas estão fechan-do suas portas. O Governo do golpe quer con-vencer cinco mil fun-cionários a deixa-rem a administração pública. O número é o mesmo do perío-do FHC.

FALÁCIA

O servidor que ade-rir ao PDV vai receber uma indenização no valor de um salário intei-ro mais 25% desse valor a cada ano de serviço. Essa “bonificação” será calculada a partir do salário base da data que for publicado o ato de exone-ração. Detalhe: esse “bônus” pode ser pago integral e parcelado, a depender do valor total. Caso o servidor que ade-rir ao PDV passe em novo concurso e

A investida contra o funcio-nalismo público federal, num quadro de crise fiscal e como a

Emenda Constitucional 95 – que con-gela investimento no setor público por

20 anos -, faz parte de uma estratégia mais ampla que tem como elemento principal a

redução do papel do Estado, enquan-to gestor e executor de políticas públicas e, como consequência imediata, a piora na qualidade de seus serviços, indo na contramão do que deseja a população brasi-

leira.

A justificativa de máquina pública inchada dada pelo governo é uma mentira e recebe

críticas de diferentes entidades. Na ver-dade, o Estado brasileiro é de tamanho reduzido frente à sua população. Se le-

varmos em conta outros países, fica ainda

Programa é mais um

golpe contra o Brasil

volte a exercer um cargo público, o tempo calculado para tal incentivo não poderá ser computado para programas si-milares. Resumindo: o servidor só tem a perder. O “bônus” é uma falácia.

A MP prevê, ainda, que algumas carreiras no serviço público poderão optar por redução da jornada de trabalho de 8 horas diá-rias e 40 horas semanais para 6 horas diárias e 30 horas semanais ou 4 horas diárias e 20 horas semanais. Nesses casos, a remuneração também será reduzida proporcionalmente às horas trabalhadas. Essa redução pode ser revertida a qualquer momento, tanto a pedido do servidor como do gestor. O Programa institui também a licença sem remuneração, com duração de três anos consecutivos, prorrogáveis por mais três. E mais: a medida autoriza os gestores dos órgãos a afas-tarem servidores estáveis, caso declarem “interesse público” para justificar o corte. A avaliação jurídica é de que esse tipo de licença é frágil. Mas esse detalhe pouco importa para um governo ilegíti-mo, que quer apenas se livrar do servidor. A MP 792 constitui um ataque brutal aos servidores federais e ao serviço públi-co. Veja no quadro ao lado um resumo da MP 792.

mais clara a redução do número de funcionários públicos proporcionalmente à população. Impor-

tante destacar ainda que o governo federal nunca atingiu os limites estabelecidos pela Lei de Respon-sabilidade Fiscal (LRF), em relação aos seus gastos com o funcionalismo público.

Números do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) comprovam o pouco número de servidores federais. São 3,20% de servidores municipais, 1,58% de estaduais e 0,35% de federais. Somados, os números indicam que, de cada 100 brasileiros, apenas 5,13 se ocupam atualmente do serviço público. Em proporção à força de trabalho do país, esse percentual fica entre 11% e 12%.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) elaborou um relatório sobre o tema em 2010, chegando à conclusão de que “o total de servidores públicos (governo federal, estadual e municipal) no Brasil é bastante limitado em termos de tamanho (de 11% a 12%, incluindo empresas estatais) em comparação com os países-membros da OCDE (22% em média)”. Mesmo as despesas com pessoal da União apresentam trajetória de queda ao longo do tempo, “abaixo do limite máximo de 50% da receita corrente líquida estabelecido pela LRF”. 7

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RECIFE | SETEMBRO| 2017| || |RECIFE | SETEMBRO | 20178 9

Quem aderiu ao PDF de FHC se arrepende até hojeOdesespero de ver sua empresa falir e

de todo investimento feito nela ser tragado pelo desastre financeiro e por

dívidas. Pior ainda: olhar para trás e lembrar que até pouco tempo se tinha uma seguran-ça econômica garantida por um emprego no serviço público. Emprego deixado de lado pela esperança de dias melhores propagados por um governo que prometia a felicidade ao servidor que pedisse demissão. Foi com pro-fundo desânimo que o empresário Marcelo Martins de Moura, 54 anos, lidou com essa situação.

Marcelo Martins foi um dos servidores públicos federais que aderiu ao segundo Programa de Demissão Voluntária (PDV) proposto pelo governo Fernando Henrique Cardoso, em 1999. Na época, muitos outros servidores seguiram o mesmo caminho. To-dos esperançosos com a possibilidade de receber uma boa indenização - por estarem abandonando um emprego que lhes garan-tia estabilidade financeira – e convictos que poderiam crescer como empresários. Na época, matérias jornalísticas que traziam como assunto principal o sucesso de alguns empresários brasileiros começaram a ser veiculadas nos meios de comunicação para estimular os indecisos.

“Teve o primeiro Programa e eu não ade-ri. Fiquei receoso. Apenas quando o governo lançou o segundo PDV é que tomei a deci-são”, lembrou Marcelo Martins, que ingres-sou no serviço público em 1974, na antiga Companhia Nordestina de Serviços Gerais.

Quando aderiu ao PDV, Marcelo traba-lhava como agente administrativo e a Com-panhia havia se tornado a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sude-ne). Após decidir sair do serviço público e aderir ao plano, o empresário abriu um mis-to de mercado e padaria ao lado da sua re-sidência, na Imbiribeira. Dois anos depois, o empreendimento decretou falência. “Fiquei muito preocupado. Eu já tinha quatro filhos. E não podia mais retornar ao serviço públi-co”, afirmou o empresário.

Mas depois de ver a maior parte de sua indenização escorrer pelo ralo da instabilida-de econômica do período FHC, Marcelo teve

SERVIÇO PÚBLICOSERVIÇO PÚBLICO

uma luz: resolveu retomar o trabalho que ti-nha, quando ainda era servidor público, de compra e venda de veículos. Aos poucos, e depois de muito trabalho e dor de cabeça, ele foi reconstruindo a vida. “Era um ramo que eu já havia trabalhado. Foi difícil, mas acabei obtendo sucesso. Ao contrário da maioria dos meus amigos que aderiram ao PDV naquela época”, destacou.

Segundo Marcelo Martins, a maioria dos servidores que aderiu ao PDV se deu muito mal. “Achávamos que o dinheiro da indeni-zação era muita coisa, nos iludimos. Muita gente perdeu tudo o que tinha. O emprego e, depois, o dinheiro. Porque é muito difí-cil investir um ramo sem ter conhecimento. Teve gente que passou fome e que morreu desesperada”, sublinhou.

Perguntado se hoje voltaria ao serviço pú-blico ele foi enfático: “Claro que sim! Quem não quer ter uma estabilidade! Até hoje eu não consegui me aposentar, porque a gente se aco-moda e não recolhe o INSS”, lamentou. 7

Achávamos que o dinheiro da indenização era muita coisa, nos iludimos. Muita gente perdeu tudo. O emprego e, depois, o dinheiro. Teve gente que passou fome e que morreu desesperada”

MARCELO MARTINS

Depois de destruir a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) ao aprovar a re-forma trabalhista, e de oficializar a ter-

ceirização para todos os níveis, precarizando as relações de trabalho, o governo ilegítimo de Michel Temer mira agora o serviço público e servidor federal. O ilegítimo não se confor-mou em congelar por 20 anos investimentos no serviço público, previsto na Emenda Cons-titucional (EC) 95. Quer agora extinguir órgãos federais e demitir servidor (ver reportagem sobre PDV nas páginas 6, 7 e 8).

O corte de verbas no Ministério do Traba-lho (MT) é um exemplo do ataque ao serviço público. O governo quer o fechamento de várias agências e gerências do MT em todo o Brasil. Apenas em São Paulo, a previsão é de redução de 113 unidades para apenas 54 lo-cais de atendimento. Esse encerramento das atividades do Ministério do Trabalho deve se estender para outras cidades brasileiras. Com isso, a população será obrigada a percorrer grandes distâncias, caso tenha condições, até uma agência em funcionamento.

Os cortes irão atingir o serviço de fiscali-zação contra o trabalho escravo e o trabalho infantil, além de outros serviços essenciais na área, como o de emissão da Carteira de Traba-lho. Em julho, o MT cortou recursos para to-das as superintendências estaduais. Na área de fiscalização, o corte foi de 70% das verbas previstas no Orçamento de 2017, enquanto nos gastos administrativos, a redução impedi-rá a utilização de 30% do valor orçado.

O fechamento de agências e gerências do Ministério faz parte da política desse governo, de desmonte do serviço público brasileiro. Com o esvaziamento do órgão, o Ministério irá se adequar à reforma trabalhista de modo a impossibilitar que os trabalhadores busquem os seus direitos. Além disso, irá beneficiar em-presas escravocratas existentes no Brasil.

Com a supressão de 70% das verbas dispo-níveis, as ações de fiscalização do Ministério ficarão praticamente inviabilizadas. Gastos com deslocamento e alimentação dos fiscais em campo serão afetados, prejudicando es-pecialmente as ações de combate ao trabalho escravo e uso de mão-de-obra infantil, que dependem de flagrantes e demandam um

DESMONTE

Governo reduz verba do Ministério do Trabalho

PREJUÍZO Trabalhador será penalizado com o corte no orçamento do MT

custo logístico maior.

A previsão é que as ações de fiscalização sejam interrompidas nesse segundo semes-tre de 2017. Lembrando que a quantidade de estabelecimentos fiscalizados por trabalho es-cravo no país, no primeiro semestre de 2017, já caiu para menos da metade na comparação com 2016, segundo levantamento divulgado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT).

O corte na área administrativa também terá impacto em áreas como Tecnologia de Informação, locação de impressoras e logísti-ca, imprescindíveis ao serviço de emissão das carteiras de trabalho. Quem mais será atingi-do com a medida é o trabalhador, que busca no órgão atendimento para garantir seus di-reitos.

DNPM

No último dia 26 de julho, o Departamen-to Nacional de Produção Mineral (DNPM) foi substituído pela Agência Nacional de Mine-ração (ANM). A mudança aconteceu por uma Medida Provisória (MP) publicada pelo go-verno Temer. Na mesma ocasião, editou mais duas medidas que promoveram mudanças na legislação que trata da Compensação Fi-nanceira pela Exploração de Recursos Mine-rais (CFEM) e alterou o Código de Mineração. É o desmonte do serviço público em ritmo acelerado.7

Em São Paulo, quase 60 unidades do Ministério do Trabalho serão fechadas

Page 6: desmonte do giratória para o serviço público. Demissão, privatização, licença sem vencimento, ... cOm pessOal, que vai prejudicar O FunciOnalismO e, principalmente, O serviçO

RECIFE | SETEMBRO| 2017| || |RECIFE | SETEMBRO | 201710 11

Prédio da Sudene é esvaziado, depois de 43 anos em funcionamento

SERVIÇO PÚBLICODESMONTE

Campanha nacional em defesa do serviço público

Um dos ícones da arquitetura moderna não só de Pernambuco mas do Bra-sil, o prédio da Superintendência do

Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), no Engenho do Meio, foi fechado para reforma. O prazo para esvaziamento do edifício expi-rou no final de julho, mas até agora o gover-no federal não apresentou o projeto, muito menos o orçamento e as datas para início e término das obras. A direção do Sindsep-PE teme que o local seja esquecido ou entregue à iniciativa privada sem retorno efetivo para o Estado, mais uma ação do desmonte do serviço público.

Conhecido pela estética e funcionalidade, o local foi inaugurado em 1974 para abrigar as diretorias da Sudene. Com o fechamento da superintendência, em 2001, ele foi ocupa-do por outros órgãos públicos como a Justiça do Trabalho, o IBGE, os ministérios da Saúde e Integração, o INSS e a Reitoria do IFPE. O prédio está bem danificado e as instalações elétrica e hidráulica estão comprometidas. A reforma é necessária e, caso não seja feita, existe o risco de o local cair no esquecimen-to, como já aconteceu com o Edificio JK do INSS, no centro do Recife.

Na contramão dessa reforma sem previ-são de acontecer e de toda a crise financeira que se abate sobre o país, o governo Federal fecha contratos milionários para aluguel de imóveis na Zona Sul do Recife para abrigar os órgãos públicos que estão saindo do pré-dio da Sudene. Além do gasto, a transferên-cia desses órgãos também causa transtorno para os servidores. A principal queixa é o congestionamento naquela área.

São vários os interesses em jogo com o fechamento do prédio da Sudene, um órgão criado por Celso Furtado para o desenvolvi-mento do Nordeste, diminuição da desigual-dade regional e promoção da inclusão social,

com geração de emprego e renda. Foram mais de dois mil projetos aprovados e mais de 3 milhões de empregos diretos e indiretos gerados, em áreas de infraestrutura, trans-porte, construção civil e hotelaria. Graças a Sudene, foram criados polos agroindustriais e industriais, como o Petroquímico de Cama-çari, na Bahia.

Para o Sindsep-PE, o encerramento dos trabalhos no prédio da Sudene sem data para reforma é mais um descaso do governo. A manutenção do patrimônio público é feita com as verbas de custeio, que estão sendo drasticamente reduzidas pelo governo ilegí-timo. 7

POLÍTICO Michel Zaidan Filho - Cientista político| POLÍTICO

Sobre revoluçõesAhistoriografia brasileira é pródiga em

descobrir revoluções. Talvez, pelo fato de que nós nunca tivemos um

evento digno de ser chamado de “Revolução”, os autores falem tanto de revolução. Existe até mesmo um livro com o título: “Revoluções do Brasil Contemporâneo”. Revoluções, no plural. Outros mais modestos falam de revoltas, sedi-ções, insurreições etc. E até os golpistas prefe-rem chamar os golpes de revoluções. Embora seja sempre possível descobrir grandes mudan-ças e transformações encobertas pela fachada de “pardieiros políticos”. São as conhecidas “re-voluções pelo alto”, ou outras revoluções sem revolução”, como diz Gramsci, ao tratar do caso da Itália no século 19. País de capitalismo tardio - como a Itália - nossas “revoluções” são de facha-da, de superestruturas jurídicas e políticas, não são “revoluções” propriamente ditas, enquanto processos sociais de longa duração, como que-ria Sérgio Buarque de Holanda. Ou são “revo-luções” das classes dominantes, que atendem aos seus interesses.

Quando se trata de movimentos políticos do povo, da arraia miúda, são indisciplinas, suble-vações da ordem e dos bons costumes. A isso é preciso acrescentar a “mitologia pernambuca-na” do estado-nação”: o Brasil nasceu aqui, no marco zero, em Olinda ou nos Montes Guarara-pes etc. A produção de uma memória histórica a serviço da ordem, da identidade nacional, do espírito de coesão e unidade. Nisso nossos histo-riadores do Instituto Histórico e Geográfico são bons. Fabricadores de mitos, epopeias e legen-das que, glorificando os feitos do passado, le-gitimam o presente, a dominação social do pre-sente, abolindo as diferenças, as desigualdades.

Esse preâmbulo foi escrito para que pudes-se falar do aniversário da chamada Revolução de 1817 em Pernambuco, efeméride que já ga-nhou até cartazes do obscuro e incompetente governador do Estado. Neste ponto, temos de convir que a “revolução” tornou-se, há muito tempo, um campo semântico que pode ser res-significado de acordo com os interesses do his-toriador ou de seus patrocinadores. Como mais um campo semântico, o evento que se quer re-volucionário se presta às mais variadas formas de utilização, inclusive a da oligarquia pernam-bucana ora representada pela família Campos. Afinal, que “Revolução” foi essa, que já ganhou até um dia durante o ano para ser comemorada?

Vamos situar a “Revolução de 1817” no marco histórico das rebeliões do período colonial contra a dominação portuguesa no Brasil e do moderno constitucionalismo liberal anglo-saxão. A impor-tância desse evento, para além das festividades

cívicas, está relacionada com a proto-história tan-to da busca da autonomia política, por parte de uma província colonial, como pela instauração de um regime político contratualista entre Estado e sociedade. Sem entrar na consideração do ges-to desassombrado e corajoso dos que pagaram com a vida por terem participado da insurgeição, mais importa chamar a atenção para o cadinho das inúmeras revoltas e insurreições que toma-ram conta da nossa história colonial, ora só com a participação das elites ora com a participação de escravos e a população em geral.

Movimentos guiados pela ideia de autono-mia e emancipação do jugo colonial lusitano e sua opressiva política fiscalista e arrecadadora, numa fase de empobrecimento da economia portuguesa, causada pelas emigrações do cam-po para as cidades e a aventura ultramarina por-tuguesa. É quando a metrópole vai se tornando um mero entreposto entre as colônias do além- -mar e a Inglaterra. A ação predatória da Coroa vai se intensificando sobre as possessões colo-niais e vai suscitando mais revoltas e descon-tentamentos. O século 19 foi palco de inúmeras sublevações no Brasil, beneficiando-se dos in-fluxos externos, como a revolução americana, a revolução francesa, a revolução de 1948 etc. Como já foi sobejamente demonstrado, havia uma influência do pensamento liberal e consti-tucionalista nas igrejas, mosteiros e outras cor-porações aqui na colônia portuguesa.

A presença de autores e de obras políticas e jurídicas que anunciavam a nova era contratu-alista e liberal influenciou muito a mentalidade daqueles que animaram os movimentos de rup-tura do pacto colonial, antevendo a instalação de um país livre e constitucional. Leia-se, por exemplo, o livro O diabo na livraria do Cônego,

onde se encontra a lista de livros e autores eu-ropeus lidos pelos mineiros da “inconfidência”. Era de se esperar que a infusão desse pensa-mento liberal produzisse seus frutos na abafada colônia de Portugal. E produziram.

A “Revolução de 1817”, estudada por Amaro Quintas, Isabel Marson, Carlos Guilherme Mota e outros, foi um desses episódios da produti-vidade das idéias liberais e autonomistas em nosso passado colonial. Num momento crítico de constituição ou não da monarquia portugue-sa no Brasil. Caso tivesse vingado aquele movi-mento, o futuro do país seria dominado por um conjunto de pequenas repúblicas, inviabilizando o projeto lusitano de construir um grande rei-nado na América do Sul. Frise-se que a dura re-pressão que se abateu sobre o movimento teve caráter preventivo e exemplar, com o objetivo de dissuadir outras tentativas provinciais de autonomia e constitucionalização. Vem daí a ca-racterística unionista e monárquica - autoritária - que ganhou o império brasileiro, sob a dinastia dos Orleans e Bragança.

Caso tivesse triunfado a experiência per-nambucana, dificilmente o projeto unionista e monárquico da casa de Bragança teria vencido. A excelência dos argumentos liberais e consti-tucionais de um Frei Caneca, imortalizada nas páginas do “Tifis pernambucano”, ficaram para a História das Ideias Políticas, enquanto pros-perou uma modalidade de Monarquia Consti-tucional”, avessa a qualquer tentativa de fede-ralismo e descentralização. O empréstimo da fantasia de um “Poder Moderador”, tomado de Benjamin Constant, na França, mal disfarçou o sempre presente poder interveniente do Impe-rador, fazendo e desfazendo os gabinetes, sob o pretexto de crise institucional.

É possível que os eventos ocorridos em Per-nambuco tenham alertado João VI e seus des-cendentes sobre a necessidade de uma inter-venção militar rápida e eficiente, como foi feita em Minas Gerais, para preparar o caminho até a Monarquia Brasileira. As rebeliões, insurrei-ções e revoltas continuaram século 19 adentro, em várias províncias do reino português além--mar. Mas o tratamento impiedoso dado aos revoltosos foi o sinal de que os colonizadores não tolerariam a difusão do pensamento liberal e constitucionalista entre nós, até um príncipe lusitano resolver “fazer” a independência da colônia e instaurar a sua modalidade de monar-quia constitucional, autoritária, centralizadora e escravagista. Por tudo isso, as idéias dos inconfi-dentes de 1817 em Pernambuco merecem ser lembradas, estudadas e compreendidas no seu devido contexto histórico.7

O Brasil nasceu no marco zero, em Olinda ou nos Montes Guararapes”

O encerramento dos trabalhos no prédio da Sudene sem data para reforma é mais um descaso do governo

Durante a 15ª Plenária/Congresso Nacio-nal Extraordinário da CUT, realizado de 28 a 31 de agosto, em São Paulo, enti-

dades que representam os servidores públi-cos, entre elas a Condsef/Fenadsef, aprovaram uma resolução em defesa do serviço público. Dentro dessa proposta, a central deve realizar uma campanha nacional com várias frentes de atuação. A ideia é produzir peças de divul-gação para várias mídias e também ir às ruas pra mobilizar os trabalhadores e conscientizar a população.

Segundo a direção da Condsef/Fenadsef, a resolução aprovada dialoga com outros se-tores da classe trabalhadora. Por se tratar de uma frente unificada, o objetivo é não produ-zir algo específico devido à necessidade de falar à população de forma geral dos riscos da terceirização e extinção de órgãos públicos, como a Eletrobrás. A entidade entende que, no final, o mais prejudicado será o povo, os usuários.

A CUT divulgou ainda um calendário de lu-tas contra as reformas trabalhista e previdenci-ária e contra a entrega das empresas públicas. A primeira ação votada e aprovada durante o encontro foi a campanha, lançada no dia 7 de setembro, que terá a missão de colher ao menos 1,3 milhão de assinaturas para enviar ao Congresso Nacional um projeto de lei de iniciativa popular para revogar a retirada dos direitos trabalhistas.

A CUT e parceiros de movimentos sociais estão disponibilizando kits para coletas de as-sinaturas. No dia de 14 de setembro, a CUT também ajuda a organizar um dia de lutas ao lado do movimento Brasil Metalúrgico em de-fesa dos empregos na indústria e das estatais, numa manifestação que recebeu forte adesão da Federação Nacional dos Urbanitários, em defesa da manutenção da Eletrobrás como pa-trimônio nacional.

No dia 3 de outubro, aniversário da Petro-brás, será a vez das principais capitais do país promoverem manifestações contra a entrega da empresa e de outros patrimônios públicos. Além desses pontos, a Central também estará na campanha em defesa de democracia e do direito de Lula disputar as eleições. 7

PLENÁRIA CUT

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| |RECIFE | SETEMBRO | 201712

Os dados acerca da violência sexual praticada contra as mulheres e meninas estão sendo obriga-toriamente notificados pelos serviços de saúde (públicos e privados) desde 2011. Eles são agrupados no Sistema de Informação do Ministério (Sinan). Eles também revelam que há mais de 450 mil vítimas sem acesso à Justiça porque, efetivamente, a misoginia é sentida por nós, tanto quanto o medo e a vergonha, porque falta estrutura de acolhimento e o atendimento, em parte considerável das vezes, é precário e ruim, chegando a ser sexista e a culpabilizar as vítimas. Tudo isso alimenta a cultura do estupro no Brasil.

O caso em questão nos leva a refletir acerca dos resultados de uma pesquisa sobre a violência contra a mulher, realizada pelo Instituto Patrícia Galvão, em 2016: 69% das mulheres entrevistadas atribuíram a violência sexual ao machismo; 42% dos homens acreditam que a violência sexual acon-tece porque a mulher provoca. Espontaneamente, 11% das mulheres afirmam já ter sofrido violência sexual e, diante de uma lista de situações, 39% reconhecem que já foram submetidas a algum tipo de violência sexual.

E pensar que temos parlamentares que tentam, a todo custo, evitar discussões sobre relações de gênero nas escolas e barrar qualquer tipo de ação que denuncie a misoginia, capazes de empoderar docentes e estudantes de unidades públicas e privadas de ensino para confrontar os diversos projetos de políticas que pretendem imputar o silenciamento às mulheres e meninas vítimas de crimes sexuais, tais como a do bolsa estupro...

É fundamental denunciar o problema, mas é imprescindível que a sociedade e o Estado possam construir políticas de cunho estruturador, que possam problematizar as relações de poder entre ho-mens e mulheres para que tenhamos uma efetiva ação contra o avanço dos casos de estupro no Brasil. É necessário, inclusive, que a sociedade invista no enfrentamento à impunidade dos agressores e em medidas de proteção, de cuidado e tratamento para as vítimas. 7

*Colaborou Nataly Queiroz, jornalista, professora universitária e doutoranda em Comunicação.

POLÍTICO Ana Veloso - Professora da UFPE/Observatório de Mídia

Um estudo do Ministério da Saúde, divulgado na segunda quinzena de agosto pela Folha de São Paulo,

aponta que as notificações de casos de estu-pro coletivo subiram de 1.570, em 2011, para 3.526, em 2016. São notificados cerca de 10 estupros coletivos todos os dias no Brasil. Por estupro coletivo denominamos uma ação agressiva de cunho sexual praticada contra mulheres e meninas, por um grupo de ho-mens, o que caracteriza a dimensão cultural da violência. O mais alarmante é pensar que, apesar dos altos índices, apenas 10% dos ca-sos são notificados, ou seja, estamos diante de um fenômeno muito mais avassalador do que os dados apresentados acima. Pelo me-nos 450 mil mulheres foram violentadas sem que constem nos números oficiais.

Mais de 60% das vítimas de estupro cole-tivo são crianças e adolescentes e ainda há quem alegue não ver problema na hiperse-xualização das meninas nas propagandas e na indústria cultural. Elas são vítimas de um crime que representa 15% dos casos de vio-lência sexual atendidos pelas unidades de saúde brasileiras, com 22.804 registros só em 2016.

Mulheres e meninas e o medo do estupro

| HUMANO

Venezuela reage a governos impopulares

Greve geral na Argentina

O presidente ilegítimo do Brasil, Michel Temer, juntamente com os governos de direita do Paraguai e da Argentina, quer isolar politicamente a Venezuela na América do Sul. A acusação foi feita pelo presidente Nicolás Maduro, em entrevista à imprensa. “Três dos governos mais impopulares da região estão atuando contra a Venezuela em uma tríplice aliança. O presidente do Paraguai tem 90% de reprovação do povo. No Brasil, Temer tem rejeição de 95% da população. E a Argentina tem o governo mais desastroso dos últimos anos”, avaliou o presidente venezuelano. No entanto, Maduro não se sente acuado e disse que a Venezuela irá manter as relações comerciais com os países do Mercosul. O presidente mostrou-se disposto a dialogar com os presidentes dos países sul-americanos e com os líderes da oposição venezuelana.

No dia 22 de agosto, o movimento sindical argentino realizou uma grande manifestação contra as políticas neoliberais do governo de Maurício Macri. O protesto foi coordenado pelas centrais sindicais e movimentos populares e reuniu cerca de 200 mil pessoas no centro de Buenos Aires. Todas as categorias de trabalhadores participaram do movimento, inclusive os informais e desempregados. Após o protesto, a Confederação Geral do Trabalho (CGT) propôs uma greve geral a partir de 25 de setembro. Há menos de seis meses, já ouve uma greve geral na Argentina. Já são mais de 70 mil postos de trabalho formais fechados no governo Macri e uma redução em torno de 10% do poder aquisitivo da população, em relação a 2015.

PELO MUNDO