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Revista Design Magazine

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2 • Edição 08

Carta do diretorFormado em design gráfico e atuando no merca-do desde 2010. Atualmente focado em direção de projetos. Dentre eles a revista digital Design Maga-zine Brasil e o “coletivo criativo” Grupo I3C3.

Lucas Fernandes

O que é o Design se não uma ferra-

menta de transformação? Sua função é

s imples: buscar soluções para os mais di-

versos problemas. Transformar o velho no

novo, o óbvio em algo incrível , o mundo

em um lugar melhor.

E quando eu digo isso, me refiro a real-

mente melhorar o mundo em todos os aspec-

tos possíveis. Torná-lo melhor para todos.

As pessoas são diferentes, cada uma

tem suas qualidades, seus defeitos, suas pre-

ferências e suas limitações. Podendo essas

variáveis estar relacionadas a questões físi-

cas, psicológicas, sociais, etc. Quando um de-

signer está trabalhando, deve levar em conta

tudo isso na hora de executar um projeto.

E uma outra missão (ou até mesmo de-

safio) do designer é fazer com que aqueles ao

seu redor entendam o valor daquilo que ele

faz. Mas antes de entender o valor é preciso

que as pessoas entendam o que é o Design.

Entendam que não é algo fácil, não é algo rá-

pido, não é algo supérfluo. O designer tem o

trabalho de apresentar para o mundo a im-

portância da sua profissão, que existe há tan-

to tempo, que está presente em tantos luga-

res, mas que tanta gente não percebe.

O Design precisa se expandir, precisa ser

conhecido e reconhecido por mais pessoas.

E esse ano é isso que a Bienal Brasileira

de Design vem celebrar, o Design para todos.

Em Florianópolis, esse ano nós poderemos

ver um pouco do cenário nacional de Design

e mostrar para todos do que são feitos os de-

signers brasileiros.

Viva o Design para todos!

4 • Edição 08

Sumário

A simplicidade do dia-a-dia

Pág. 08

Entrevista à artista: Adriana Amaral

Pág. 20

Entrevista com Roselie Lemos

Pág. 34

Cahier d’Art

Pág. 14

Preview: BBD 2015

Pág. 28

O “OBA”, de Pablo Cabistani

Pág. 42

Abril 2015 • 5

Design Magazine Brasil

6 • Edição 08

CréditosDiretor

Capa

Revisão

Logotipo

Site

Email

Redes Sociais

Projeto gráfico

Diagramação

Ilustrações

Idealizadores

RedatoresLucas Fernandes

Pablo Cabistani

Juliana TeixeraLourrane Alves

Elementos À Solta

designmagazine.com.br

[email protected]

facebook.com/revistadesignmagazine.brtwitter.com/DMBr_Oficial

Douglas SilvaHebert TomazineLeandro SiqueiraLucas FernandesThiago SeixasVitor Cardoso

Douglas SilvaHebert TomazineLeandro SiqueiraLucas Fernandes

Gilberto Ferreira

Diego GomesDouglas SilvaGilberto FerreiraLeandro SiqueiraLucas Fernandes

Clara CarneiroEliezer SantosMayara WalThiago ScramignanThiago SeixasTiago Krusse

Edição #08Abril/2015

A Design Magazine Brasil é uma projeto de LucasFAdS e Grupo I3C3.O conteúdo textual e imagético da revista pertence aos seus respectívos autores e não pode ser reproduzido sem autorização prévia.

Abril 2015 • 7

Design Magazine BrasilVENHA E DESCUBRAFLORIANÓPOLISDE 15 DE MAIO A12 DE JULHO DE 2015

Visite as exposições, workshops, seminários nacionais e internacionais, e outros eventos de design que tomarão conta da cidade.

CO-REALIZAÇÃO APOIO INSTITUCIONAL APOIO

APOIO CULTURAL REVISTA OFICIALCIA AÉREA OFICIAL

INICIATIVAPARCERIA

INCENTIVO PATROCÍNIO - OURO REALIZAÇÃOPATROCÍNIO - BRONZE

8 • Edição 08

A simplicidade do dia-a-diaIlustração da vitrine: Gilberto Ferreira

“Praticidade e beleza foram as principais motivações para

desenhá-la e criá-la.”

Trabalha com publicidade, design gráfico e diagra-mação desde 2010, principalmente com propagan-das de jornal, flyers e books fotográficos. Também já recebeu prêmios por vídeos que dirigiu.

Thiago Scramignan

Abril 2015 • 9

Design Magazine Brasil

Todos concordam que um bom design é

importante para qualquer produto, mas você já

parou pra analisar os designs nas coisas mais

comuns do dia a dia? Pois bem, repare! Um dos

intuitos do design não é apenas deixar as coisas

com um estilo diferente ou chamar a atenção,

muito do design se usa para a praticidade em

seus produtos.

Todo, ou grande parte, dos produtores

de bens de consumo querem levar um produto

bonito, barato e realmente funcional para seus

consumidores, e muitos designers passam dias

imaginando como um produto pode ter tantas

características diferentes. Alguns conseguem

criar de um simples “estalo” criativo, enquan-

to outros passam muito tempo em pranchetas

de desenho e discutindo até com engenheiros,

para obter o resultado esperado. Vamos tomar

como exemplo uma coisa simples do dia a dia,

uma caneta.

Se você vive nesse mundo, você já pegou

em suas mãos uma caneta Bic Cristal... Caso te-

nha uma em mãos, repare a simplicidade de seu

desenho, afinal é apenas uma caneta! Mas imagi-

ne como eles chegaram a esse produto com uma

ponta esferográfica, respeitando padrões muito

bem definidos, que não deixam escapar mais que

o necessário de tinta e também não a deixam fi-

car sem fluxo, seu corpo transparente, para que o

usuário consiga enxergar o nível de tinta em seu

reservatório, o formato hexagonal de seu corpo,

para melhor aderência/conforto e para evitar

que ela role de mesas inclinadas, a tampa com o

prendedor para se colocar no bolso, sem contar

sua abertura para evitar que aconteça um vácuo

e acabe puxando a tinta pela ponta, a tampa do

Imagem

: Wikipedia

10 • Edição 08

A simplicidade do dia-a-dia

fundo indicando a cor é muito bem vedada para

evitar vazamentos em caso de a tinta escapar

do compartimento, até esse furinho minúsculo

na lateral tem sua função! Simples não é? Nem

tanto! Imagine quanto tempo demorou para se

conseguir uma escrita tão contínua sem perder

muita tinta, imagine como eles descobriram que

esse furinho na lateral, que é para se manter a

pressão dentro do corpo constante e evitar va-

zamentos e até falta de fluxo, serviria para isso e

seria tão necessário.

E uma lixeira? Acha estranho esse item tão

despercebido ser comentado aqui? Sim, poderia

falar de outra coisa, mas não quando se trata da

lixeira Umbra Garbino.

Seu desenho é tão único que está no acervo

permanente do museu de arte moderna de Nova

York, seu estilo elegante e sexy, foi inspirado na

atriz Greta Garbo da década de 20. Seu designer,

Karim Rashid, quis criar um produto que chegas-

se a todos os níveis de consumo, um produto

que compusesse tão bem o ambiente e que fos-

se acessível, quase uma peça de decoração, mas

muito funcional. Ao olhar para ela, você já nota

suas alças altas, por estar acima da linha do lixo

o usuário não tem contato com ele, seu fundo

abobadado ajuda na limpeza de líquidos, ideia

de Karim por jogar inúmeros copos de café na li-

xeira e ter muito trabalho para limpá-las, pois os

líquidos ficaram nos cantos das lixeiras tradicio-

nais, e seu desenho fluido a deixa quase com um

tom de obra de arte. Praticidade e beleza foram

as principais motivações para desenhá-la e criá

-la, ele não esperava q ela fosse parar em um mu-

seu. Seu material a deixa com um preço atrativo

e competitivo, qualquer pessoa pode comprá-la.

Imagem

: Um

bra

Abril 2015 • 11

Design Magazine BrasilIm

agem: Productfind.interiordesign

12 • Edição 08

A simplicidade do dia-a-diaIm

agem: Ventilador Spirit

Abril 2015 • 13

Design Magazine Brasil

E o ventilador de teto? Já reparou nele?

Particularmente um modelo em especial, o Spirit

do designer carioca Guto Índio da Costa.

O Spirit foi encomendado por uma fábri-

ca de fitas de videocassete, para que ela assim

diversificasse sua produção, seu desenho com

duas pás foi inspirado nas hélices do ‘Spirit of

Saint Louis’, nome dado ao avião utilizado pelo

aviador americano Charles Lindhenberg na pri-

meira travessia aérea do Atlântico, em 1927. Uma

referência de peso para um singelo ventilador

não é? Nada disso! Pouco tempo depois de seu

lançamento ele ganhou prêmios de design no

Brasil e no mundo. Seu formato simples o deixa

leve o que diminui o consumo de energia, mas o

baixo consumo não o impede de ter um desem-

penho digno de seus prêmios e que faz frente a

seus concorrentes tradicionais, veja os ventila-

dores de teto de décadas atrás. Geralmente fei-

tos de ferro, pás gigantescas, altíssimo consumo

e quase que padronizados, como se fossem fei-

tos com uma espécie de molde, o Spirit veio com

um desenho inovador e muito funcional.

Com esses exemplos, conseguimos ver

que nem sempre um designer precisa ser ex-

travagante ou complicado, como diria alguém

com fome “nada melhor que um feijão com ar-

roz”, muitas vezes a simplicidade é o melhor ca-

minho a ser seguido.

Inspiração sempre é importante! Conhe-

cimento e cultura nunca são demais, leia, veja,

ouça, use sua curiosidade para ter o máximo de

informação sobre tudo, qualquer coisa pode ser

uma inspiração.

Lembre-se sempre que quem vai comprar a

sua ideia não será você!

Imag

em: V

entil

ador

Spi

rit

14 • Edição 08

Cahier d’ArtFotos: © Rebecca Fanuele - Cortesia de Cahiers d’Art

“[...] Refere-se ao mesmo tempo a uma editora, galeria de arte e revista. Sua concepção foi

inteiramente original [...]”

Designer de produto de formação e metida a docei-ra nas horas vagas. Formada desde 2011, buscando sempre estar antenada e se atualizar na área, atual-mente estuda Design de Serviços e Interação.

MayaraWal

Abril 2015 • 15

Design Magazine Brasil

Fundada em 1926 por Christian Zervos a

Cahiers d’Art, que fica no coração de Saint-Germain-

des-Prés, refere-se ao mesmo tempo a uma editora,

galeria de arte e revista. Sua concepção foi inteira-

mente original: uma revista de arte contemporânea

que combinava tipografia e layout, fotografias, e

mistura de arte antiga e moderna, onde escritores

como Tristan Tzara, Paul Éluard, René Char, Ernest

Hemingway e Samuel Beckett substituíram muitas

vezes os críticos de arte habituais.

Cahiers d ‘Art trabalha diretamente com ar-

tistas e suas obras criando revistas, livros de edição

limitada e catálogos - cada um dos quais é uma ce-

lebração de caráter e visão individual do artista.

Renomados artistas em colaborações com

a galeria, muitas vezes produziram obras de arte

originais. Por exemplo, Miró em 1937 com Aidez

L’Espagne, e Marcel Duchamp em 1936 com Flu-

ttering Heart, produziram em parceria com a ga-

leria algumas das imagens mais icônicas destes

dois artistas.

De 1930 até a eclosão da II Guerra Mundial, a

revista se concentrou no trabalho de Picasso, Ma-

tisse, Braque, Léger, Ernst, Arp, Calder e Giacomet-

ti, entre outros. Em 1932, Cahiers d’Art havia pu-

blicado o primeiro volume do Inventário Picasso,

um projeto que se tornaria o trabalho de uma vida,

elaborado por Zervos juntamente com Picasso.

História

Por Inge Mahn

16 • Edição 08

Cahier d’Art

Por Inge Mahn

Abril 2015 • 17

Design Magazine Brasil

Exposições

Martin Kippenberger (1953-1997)

A galeria que também exibiu exposição de

arquitetos como Le Corbusier, Frank Lloyd Wright e

Oscar Niemeyer, agora apresenta duas exposições

solo dos artistas alemães Inge Mahn e Martin Ki-

ppenberger, até junho.

Considerado um dos mais talentosos artistas

alemães de sua geração. Desde sua morte prematu-

ra, sua reputação continuou a crescer internacional-

mente, solidificando seu lugar como um dos artistas

mais influentes do século XX. Estudou arte na Hochs-

chule für Künste em Hamburgo, mas viveu em várias

cidades como Berlim, Florença, Espanha, Nova York

e Rio de Janeiro. Nas suas obras se utilizava de uma

grande variedade de mídias: pinturas, esculturas, fo-

tografias e gravuras, e tratava de temas provocativos,

quase sempre contendo comentários sociais.

O trabalho de Kippenberger pode ser encon-

trado em renomadas coleções permanentes de ins-

tituições de prestígio, como a Tate Modern, Centre

Pompidou, MoMA e outros.

Por Martin Kippenberger

18 • Edição 08

Cahier d’ArtPor Inge M

ahn

Abril 2015 • 19

Design Magazine Brasil

Inge Mahn (1943) Nascida em Teschen (agora parte da Polônia),

a artista estudou com Joseph Beuys na Kunstaka-

demie Dusseldorf, trabalhou como professora de

escultura na Academia de Belas Artes de Stuttgart

e na Academia de Arte de Berlim Weibensee, onde

atualmente é Professora Emérita.

Em 1972 Harald Szeemann a convidou para

exibir seu projeto Schulklasse em Kassel, onde já se

podia notar seu interesse em compor objetos do co-

tidiano com arquitetura.

Suas obras podem ser encontradas nas cole-

ções de Stiftung Kunstmuseum Düsseldorf, Deutsche

Bank e Kulturministerium Baden Württemberg.

Por M

artin

Kip

penb

erge

r

20 • Edição 08

Entrevista à artista: Adriana AmaralPinturas e fotografias: Adriana Amaral

“Não há nada melhor para não desanimar na jornada que

trilhamos profissionalmente, do que admirar o sucesso do outro.”

Estudante de Publicidade e Propaganda na Unigranrio, adoradora de diversas áreas do ramo, apaixonada por todo tipo de arte e pre-tensa desenhista.

ClaraCarneiro

Abril 2015 • 21

Design Magazine Brasil

22 • Edição 08

Não há nada melhor para não desanimar na

jornada que trilhamos profissionalmente, do que

admirar o sucesso do outro, isso nos motiva e con-

cede forças para vencer nossos próprios desafios.

Por isso, é com prazer que entrevistamos e traze-

mos a vocês, o resultado da nossa conversa com a

talentosa Adriana Amaral.

Desde jovem, nossa entrevistada fazia suas

artes, e até mesmo com materiais escassos, criava

desenhos e pinturas impressionantes para alguém

de sua idade. Nossa artista tem certamente um

dom. É certo que todos podemos aperfeiçoar nossa

arte, a própria Adriana motiva isso nas pessoas que

conhece ou passou a conhecer com seu trabalho,

mas existem também aqueles que já nasceram pre-

destinados - acredito eu.

Pouco incentivada pela família a seguir na

carreira que desejava, Adriana não se abateu e se-

guiu na busca de seu sonho. Se antes ela desenha-

va inocentemente, como toda criança faz, hoje, ela

é apoiada por seus admiradores e está a cada pas-

so mais próxima de tornar seu desejo realidade, se

manter com sua arte.

- - -

É um prazer ter você nos concedendo essa

entrevista Adriana, que tal começarmos contan-

do ao leitor no que se baseiam seus trabalhos e

qual o seu estilo de desenho?

Primeiramente, muito obrigada pelo convite,

adianto que o prazer é todo meu em participar des-

sa entrevista. Bem, vamos lá, meus trabalhos artís-

ticos são baseados em coisas que me cercam no dia

a dia. Sempre fui apaixonada por paisagismo, natu-

reza, verde e mesmo sem entender nada de nada,

eu comecei a me arriscar nesse mundo e comecei a

pintar telas com 10 anos de idade – por telas, enten-

da-se pedaços de compensado ou madeira velha

que ninguém mais queria e tintas guache. Aos 13

anos ganhei de uma tia muito querida, minha pri-

meira tela de verdade e tintas a óleo, desde então

não parei mais, comprava revistas de pinturas em

telas para me basear e aprender. Passei a maior par-

te da minha adolescência no quarto e sozinha fui

aprimorando as técnicas e aprendendo a manuse-

ar os pincéis. Não tenho um estilo fixo de desenho,

faço desde traços infantis ao realismo, gosto de de-

senhar mangá, por causa de suas técnicas maravi-

lhosas de corpo e movimento e estou começando a

me arriscar nos traços de HQ. Quem sabe desenhar

HQ, sabe desenhar qualquer coisa [RISOS].

“Procuro passar firmeza e mostro a todos que a história de ninguém

precisa ser fácil para se ter ‘sucesso’.”

Sei que você também faz palestras, o que

procura passar a quem te assiste?

Sim, comecei a palestrar ano passado e pelo

visto não vou parar mais. Desde a primeira palestra

procuro passar firmeza e mostro a todos que a histó-

ria de ninguém precisa ser fácil para se ter “sucesso”

naquilo que acredita. A minha história de vida tem

sido inspiradora para muitas pessoas, porque eu

mostro a elas que a fé e a persistência gera resulta-

dos avassaladores. Correr atrás do que se deseja é

mais que apenas um esforço, é abrir mão de coisas,

é um desafio diário. Eu tenho mostrado às crianças e

Entrevista à artista: Adriana Amaral

Abril 2015 • 23

Design Magazine Brasil

aos adolescentes que a vida deles está aí e que eles

têm um futuro brilhante à sua espera, basta querer.

No término da maioria das palestras, os alunos vêm

me abraçar e agradecer pela motivação.

Então conte mais, como é a profissão,

quais os percalços?

Por mais que eu esteja envolvida nesse mun-

do até o pescoço, graças a Deus, eu ainda não estou

nele totalmente, como eu realmente desejo. Há dois

anos saí da casa dos meus pais, justamente por isso,

para ter meu espaço com minhas tintas, telas espa-

lhadas pela sala e os pincéis organizados do meu jei-

to. Passei então a pagar aluguel - e essa é a parte em

que digo que tem de se abrir mão de algumas coisas

para se ter outras -, com isso, tenho que ter um em-

prego fixo, que eu ganhe o suficiente para pagar meu

aluguel sem dores de cabeça. Preciso ter essa base,

ainda não pude largar tudo para viver só da arte e

para a arte, e mesmo assim eu vivo. Chego em casa

a noite e é aí que minha real história começa, tenho

encomendas de todo o Brasil e faço de um tudo para

dar conta de atender tanta gente. Eu sei que é a hora

de eu pensar que posso viver disso, mas ainda tenho

alguns poréns que me impedem.

Nada tem sido fácil, mas mesmo com alguns

tropeços, bloqueio criativo, falta de ânimo, eu tenho

24 • Edição 08

conseguido forças para continuar. Ao contrário do

que muitos pensam, vida de artista não é nada fácil e

o que vem me motivando a cada dia é o público que

consegui conquistar.

O que te motivou a seguir até hoje, algum

momento especial que queira dividir conosco?

Todos os dias recebo muitas mensagens de

pessoas que eu nem conheço me incentivando com

palavras poderosas. A demanda de pedidos de cami-

sas pintadas a mão, desenhos e telas tem aumenta-

do a cada dia, é incrível você sentir que as pessoas

gostam do que você faz com amor.

Muita coisa já aconteceu para que eu vis-

se que tudo têm valido a pena, mas tem um

momento que gosto de recordar sempre. Pintei

uma camisa para entregar para o grande dubla-

dor Orlando Drummond (Scooby-Doo, Popeye,

Alf, etc.) e consegui fazer isso pessoalmente -

com a ajuda do querido Guilherme Briggs -, no

Prêmio de Dublagem Carioca em 2012. Poder

estar junto deles foi épico. Drummond é um

lord, elogiou meu trabalho e de quebra agrade-

ceu com a voz do Scooby.

Como é ter, finalmente, pessoas que real-

mente admiram o que você faz? Na sua página

no Facebook percebemos claramente o apoio

que você menciona.

É gratificante demais, esse tem sido o grande

motivo para eu continuar com o gás todo. Cada elo-

gio, cada mensagem de carinho é como um abra-

ço caloroso em tudo que venho fazendo. Recebo

mensagens de pais me dizendo que eu tenho sido

o motivo para seus filhos quererem desenhar ou até

mensagens de pessoas que dizem ter voltado a pin-

tar telas por causa das minhas pinturas e postagens

motivadoras. Tudo que tenho feito tem me dado

Entrevista à artista: Adriana Amaral

Abril 2015 • 25

Design Magazine Brasil

bons frutos, eu espero fazer muito pelas pessoas al-

gum dia. Sinto-me com vontade de retribuir.

Você se sente realizada atualmente? Sei

que já teve a oportunidade de expor seus tra-

balhos, isso é certamente uma realização.

Eu me sinto andando pela estrada de tijo-

los amarelos, a caminho da realização. Sinto que

estou cada vez mais perto, mas ainda não estou

100% realizada.

Sim, minha primeira exposição foi em mar-

ço de 2014, fui pega de surpresa quando fui cha-

mada no Instituto de Artes da minha cidade para

receber a notícia de que eu havia ganhado minha

primeira exposição de quadros, uma exposição

só minha, aquilo foi o céu pra mim, eu não podia

acreditar. Em seguida, fui chamada para expôr

alguns dos meus quadros da serie Sherlock (Tra-

balho criado pela artista devido a sua admiração

ao personagem Sherlock Holmes e a homônima

série de TV da BBC) na FNAC do Barra shopping,

Rio de Janeiro e em Santo André, São Paulo, em

setembro de 2014.

26 • Edição 08

Então, você faz palestras, exposições, só

posso parabenizá-la pelo sucesso! Mas o que

o futuro reserva agora?

O futuro é incerto como dizem, mas tenho

feito de um tudo para estar o mais envolvida

com a arte possível. Começarei a dar aulas de

desenho e pintura esse ano e darei mais pales-

tras. Já fui chamada para palestrar fora da região

do Rio, mas ainda não foi possível. Continuarei

lutando para mostrar que qualquer pessoa pode

alcançar seus objetivos, basta querer. Continu-

arei pintando, desenhando, criando enquanto

tiver forças pra isso. Uma certeza eu tenho, no

meu futuro existe cor.

E onde podemos conferir mais dos

seus trabalhos?

Vocês podem encontrar todos os meus tra-

balhos no meu facebook pessoal (Adriana Neves

do Amaral), na minha página (Driih Desenhos) e

no meu Instagram (@DRIIHDESENHOS), sejam

muito bem vindos.

Para finalizar, alguma mensagem pros

nossos leitores?

Sim, claro. Eu gosto muito de falar de so-

nhos e isso porque todos temos sonhos dentro

de nós, sonhos grandes, pequenos, sonhos que

pareçam impossíveis, e como já dizia Walt Dis-

ney: “Se podemos sonhar, também podemos

tornar nossos sonhos realidade”. Nunca desista

dos seus objetivos, por mais que te digam pa-

lavras de desaprovação, siga suas metas. Eu já

fui muito criticada, não tive apoio nenhum dos

meus pais e mesmo assim não desisti. Não de-

sista também, seja qual for o seu sonho, até esse

mais louco que está passando por sua cabeça

nesse instante. Não desista tão fácil.

Entrevista à artista: Adriana Amaral

Abril 2015 • 27

Design Magazine Brasil

Obrigada a todos que dedicaram o seu

tempo lendo essa entrevista, foi bom falar um

pouquinho do que amo fazer. Mais uma vez,

agradeço imensamente o convite, foi um prazer.

A DMB também agradece Adriana, foi

maravilhoso poder ouvir sua história. Te-

nho certeza que servirá de inspiração para

muitos de nossos leitores e que muitos de-

les se identificarão com sua trajetória. A

DMB também está aqui para inspirar, e que

tenhamos ainda muitas outras histórias ins-

piradoras a contar.

28 • Edição 08

Preview: BBD 2015

“Embora tenhamos alcançado uma notoriedade no âmbito nacional,

ainda sofremos com muitos problemas, principalmente com relação ao reconhecimento e

entendimento sobrenossa profissão.”

Designer gráfico e de produto, apaixonado por artes e futebol. Buscando conhecimento e expe-riências, para um dia poder ser uma referência e inspiração para os novos designers.

Thiago Seixas

Foto da vitrine: Fernando Willadino

Abril 2015 • 29

Design Magazine Brasil

A história

Promover o design no Brasil é uma tarefa que

muitas organizações e indivíduos vêm fazendo ar-

duamente ao longo das últimas décadas, e, embora

tenhamos alcançado uma notoriedade no âmbito

nacional, ainda sofremos com muitos problemas,

principalmente com relação ao reconhecimento e

entendimento sobre nossa profissão.

Indo a favor desta corrente, a Bienal Brasilei-

ra de Design foi criada com o objetivo de divulgar

e promover trabalhos nacionais, profissionais, dis-

cussões e principalmente o reconhecimento da im-

portância na esfera econômica para o Brasil.

A história da Bienal tem início no fim da déca-

da de 1960, quando, por iniciativa dos professores da

Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI), o Mu-

seu de Arte Moderna sediou uma mostra de projetos

nacionais e estrangeiros, que se caracterizavam pelo

ideal da boa forma. As três primeiras edições ocor-

reram em 1968, 1970 e 1972. Após um longo hiato,

o evento voltou a ocorrer em 1990 e em 1992, com a

curadoria de Ivens Fontoura, com objetivo de reto-

mar as discussões sobre o design no Brasil.

30 • Edição 08

Foto: José Marconi Bezerra de Souza

Preview: BBD 2015

A “Primeira” Bienal

A maior de todas

Mais um longo tempo se passa até que nova-

mente se cria um movimento entre organizações

para a criação de um evento que voltasse a discu-

tir o verdadeiro papel e valor do design. E em 2006,

São Paulo sedia aquela que é considerada a primei-

ra Bienal, por ter alcançado uma repercussão muito

maior e pelo grande volume de projetos apresenta-

dos. Com a curadoria-geral de Fábio Magalhães, crí-

tico e historiador de Arte e Design e gestor cultural,

a primeira Bienal Brasileira de Design expôs cerca

de 600 produtos, tendo recebido 35 mil visitantes. O

evento teve ainda mais relevância, por ter ocorrido

simultaneamente com outros eventos importantes

como a São Paulo Design Week e a Bienal Brasileira

de Design Gráfico.

Após o sucesso de 2006, o evento foi ganhando

cada vez mais importância e notoriedade, até chegar

em sua terceira edição, na cidade de Curitiba. Movi-

mentando completamente a cidade, o evento atraiu

mais de 300 mil visitantes, sendo um recorde de pú-

blico até hoje. Além disso, foi a primeira Bienal onde

se estabeleceu um tema, a sustentabilidade.

A Bienal de Curitiba foi um grande sucesso

por ter transbordado os limites dos espaços insti-

tucionais. Ela levou para espaços públicos, como o

Parque Barigui e o Jardim Botânico, exposições que

contribuíram para o elevado número de interação

com os visitantes.

O sucesso da exposição “Sustentabilidade: E

eu com isso?”, que teve a curadoria de André Sto-

larski e Rico Lins, foi tão grande que lhe garantiu

passaporte para outros grandes eventos, como a

conferência Rio +20.

Freddy Van Camp, curador geral da BBD 2015

Abril 2015 • 31

Design Magazine Brasil

32 • Edição 08

O pulo do gatoDando continuidade ao sucesso de suas pre-

cedentes, a Bienal de 2012, em Belo Horizonte, teve

como tema a diversidade brasileira. Essa Bienal

teve um grande sucesso no âmbito internacional,

com seminários e ações de negócios que atraíram

jornalistas e compradores estrangeiros.

Sua sucessora, a Bienal de 2014, acabou não

acontecendo. Devido ao fato de no ano de 2014

dois grandes eventos estarem ocorrendo no Bra-

sil, a Copa do Mundo de Futebol e as eleições, o

comitê organizador decidiu então pular um ano e,

assim, realizar a 5ª Bienal Brasileira de Design no

ano de 2015.

Preview: BBD 2015

Abril 2015 • 33

Design Magazine Brasil

sas ações é mostrar para as pessoas que o design

não é somente uma disciplina estética que visa o

encarecimento de produtos, mas sim, uma forma

de pensamento que agrega vantagens e valores,

que não é somente mercadológico, mas que tam-

bém tem como objetivo gerar um bem estar para a

sociedade e seus indivíduos.

Por esses e muitos outros motivos, a Bienal

Brasileira de Design é um evento importantíssimo

para nosso setor, e o mínimo que nós como estu-

dantes e profissionais da área devemos fazer é dar

suporte, divulgar e fazer o máximo esforço para es-

tar presentes e fazer parte desta grande mobiliza-

ção em prol do progresso do Design no Brasil.

O grande desafioA Bienal 2015 irá ocorrer na cidade de Floria-

nópolis - Santa Catarina, entre os dias 15 de maio

e 12 de julho. Serão 60 dias de evento, que con-

tará com exposições, mostras, workshops e semi-

nários. O objetivo da organização é fazer com que

essa seja a maior e a melhor Bienal já realizada. O

desafio é realizar um evento que tenha uma repre-

sentatividade nacional, um vínculo com a comu-

nidade local e que gere uma repercussão interna-

cional positiva. Além disso, a organização contará

com ações que visão a aproximação do público

geral, não só aquele que já está conectado de al-

guma forma com a área do Design. O objetivo des-

34 • Edição 08

Entrevista com Roselie LemosFoto da vitrine: Estúdio Fotográfico Univali – Campus Florianópolis

“O Brasil é pioneiro na produção de bienais de design e muito recentemente deu um

passo em frente”

Fundador e diretor da DESIGN MAGAZINE. Jorna-lista profissional há mais de 20 anos. Sempre se dedicando à produção de informação sobre de-sign, arquitetura e arte por esse mundo afora.

Tiago Krusse

Abril 2015 • 35

Design Magazine Brasil

O Brasil é pioneiro na produção de bienais

de design e muito recentemente deu um passo em

frente no que diz respeito à regulamentação da

profissão. A coordenadora executiva da Bienal Bra-

sileira de Design Floripa 2015, expressa como todo

o processo foi desenvolvido e deixa-nos as razões

pelas quais ela tem tão boas expectativas em rela-

ção ao evento. Designer, professora e presidente da

Associação Santa Catarina Design, Roselie Lemos

sublinha um trabalho de cooperação pleno entre

o governo e instituições com o propósito de trazer

um acontecimento mais democrático sob o mote

“Design for All” e a consciência de contribuir para

o desenvolvimento social, cultural, industrial e eco-

nômico da região.

36 • Edição 08

O Brasil é pioneiro na produção de bienais

de design. Que diferenças encontra na produção

de um evento destas caraterísticas nos anos 60

para os dias de hoje?

Na década de 60 o design mundial se expan-

diu e passou a expressar a diferença entre gerações

e a enorme mudança do pensamento e comporta-

mento da sociedade. Naquele momento o Brasil se

industrializava seguindo os propósitos do Presiden-

te Juscelino Kubitschek e do então governador pro-

gressista do estado da Guanabara, Carlos Lacerda.

Neste cenário foi criada a Escola Superior de

Desenho Industrial (ESDI) no Rio de Janeiro que atraiu

estudantes de arquitetura de todo o país e novatos

como eu, que se encantaram com a nova profissão.

O design passava por uma fase mundial de

super valorização da tecnologia e da funcionalida-

de. Esse processo racional abriu as portas para a

experimentação de novas formas, conceitos e pro-

cessos de produção.

Estava aberto o campo para a realização de

uma Bienal Internacional de Design que buscava avi-

damente mais informação, mais exemplos de bom

design com maior grau de industrialização e novos

conceitos. Foram realizadas 3 Bienais em 68, 70 e 72

no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro com

grande empenho dos professores da ESDI, profissio-

nais e políticos da época.

Quem é responsável por avançar com a

Bienal Brasileira de Design 2015 Floripa?

Fui buscar a Bienal para acontecer em Floria-

nópolis por estar ligada a um curso novo de design

e por ter a consciência de que seria necessário abrir

o mercado para os novos formandos, dos quais

uma grande parte deles era de minha responsabili-

dade. Foi uma saída racional para um problema de

falta da cultura de design em um estado altamente

industrializado. Mais que isso, Santa Catarina preci-

sava retomar seu papel pioneiro do design que co-

meçou nos anos 80 com o LBDI.

Quando é que se deu o início do processo?

Que obstáculos e oportunidades foram contabi-

lizados desde essa altura?

Começou justamente na Bienal de Curitiba

e naquele momento já estava escolhida a cidade

de Belo Horizonte para sediar a Bienal de 2012.

Era necessário batalhar a Bienal de 2014, fazen-

do uma grande articulação política unindo a área

acadêmica e de pesquisa com a política e a in-

dústria do estado.

Foram 2 anos de muitas reuniões em Floria-

nópolis com representantes do Governo, Fapesc,

SCParcerias, Fiesc e das Universidades.

Esses contatos fizeram com que notasse que

o design precisava somente de um empurrãozinho

para deslanchar no estado, com um grande poten-

cial criativo e industrial.

Como foi possível apresentar tamanho

evento em Florianópolis?

Foi possível introduzir a Bienal em Santa

Catarina com o apoio institucional do Fiesc, do

Estado, da Prefeitura, das Universidades além do

reconhecimento do potencial turístico do evento.

Floripa é conhecida no Brasil todo pelas suas lindas

“Neste cenário foi criada a Escola Superior de

Desenho Industrial (ESDI)”

Entrevista com Roselie Lemos

Abril 2015 • 37

Design Magazine BrasilFotografia: Estúdio Fotográfico U

nivali – Campus Florianópolis

38 • Edição 08

praias e pela sua gastronomia. Unir o design com a

beleza da ilha é um dos pontos mais explorados na

divulgação da Bienal. Ou seja, quem vier participar

da Bienal terá como ganho extra o céu, o mar e a

grande energia positiva da cidade.

Por que razão o estado de Santa Catarina é

relevante para abraçar a bienal?

Pelo seu desenvolvimento industrial e pelo

desempenho de sua economia. Mesmo nesse mo-

mento em que o Brasil mostra resultados insig-

nificantes na economia, o índice de crescimento

da indústria catarinense não caiu. Ao contrário, a

economia catarinense cresceu mais do que a bra-

sileira em 2013.

O Índice de Atividade Econômica Regional de

Santa Catarina (IBCR-SC) subiu 4,1% no ano passa-

do, enquanto a média do Brasil ficou em 2,52%(fon-

te IBC-Br). Pode-se dizer que Santa Catarina pos-

sui uma vocação para o desenvolvimento e para a

competitividade, que é um dos objetivos do design.

É feita assim a integração entre indústria, o

design e a inovação na construção de uma econo-

mia forte e sustentável.

Entrevista com Roselie Lemos

Abril 2015 • 39

Design Magazine Brasil

Que novas oportunidades, vai o evento tra-

zer para a região e empresas locais?

As empresas poderão entrar em contato com

novos conceitos de empresas criativas, novas tec-

nologias de makers, com a tecnologia de impres-

são 3D, novos métodos de co-participação coletiva

concretizando um novo olhar na construção de um

design catarinense contemporâneo.

Como é que o design e o papel da profis-

são são percebidos pela entidade regionais,

bem como os agentes industriais e comerciais?

As empresas e as autoridades governa-

mentais investem muito na inovação tecnológi-

ca em Santa Catarina. No entanto, é necessária

a visão de que não existe inovação sem design

nem design sem inovação. O conjunto dessas

duas forças mais a compreensão de que a cria-

tividade é um elemento essencial para a inova-

ção, trará como resultado o reconhecimento do

valor do design para a construção de uma eco-

nomia mais sustentável a longo prazo.

Em que estágio de desenvolvimento

Santa Catarina se encontra quando conside-

ramos os níveis educacionais e tecnológicos?

Santa Catarina possui 75 cursos de design

(graduação, técnicos e tecnológicos), 15 cursos

de mestrado e um doutorado em design. Só

perde em número para São Paulo. Uma gran-

de força na educação corporativa está sendo

incentivada pela Fiesc junto às empresas e às

industrias catarinenses. O IEL e o Senai man-

tém convênios com o Politécnico de Milão, com

a Steinbeis University de Berlin e com o MIT

(Massachusetts Institute of Technology). É a

busca do conhecimento através do intercâm-

bio e transferência de tecnologia.

40 • Edição 08

Quais são as principais atividades ligadas

ao design?

O design está em tudo: Na atividade projetu-

al, na gestão organizacional e política, na concep-

ção dos novos conceitos de produtos, nas novas

formas de produção de produtos, em intervenções

estéticas e até na forma de construir novos modelos

de negócios. Pensar como um designer é mais do

que um novo processo de desenvolvimento de pro-

dutos, serviços ou modelos de negócios, para ser

um reconhecimento da transversalidade do pensa-

mento criativo do designer.

O que dá corpo ao mote da bienal

“Design for All”?

A democratização total do design: Para

uso de todos os públicos com configurações

físicas diversas relacionadas à idade, peso,

altura e possibilidades cognitivas além de

necessidades especiais de acessibilidade.

Estamos construindo uma Bienal para

todos, acessível a públicos diversos, de di-

versas faixas de compreensão, mas que pos-

sam se beneficiar dos conceitos universais

do design.

Abril 2015 • 41

Design Magazine Brasil

O processo de regulamentação da profis-

são designer é um passo conquistado por toda

a comunidade. Como tem sido o envolvimento

dos designers brasileiros e instituições profissio-

nais, relativo à missão e objetivos da bienal?

Grande parte dos designers brasileiros se en-

volvem e se mobilizam enviando seus trabalhos

para seleção pelos curadores e criando novas ma-

neiras de participação nos eventos, não só pela im-

portância de uma Bienal como a sua grande visibi-

lidade e com a oportunidade para novos contatos e

montando um novo networking.

Quais são as suas principais expectativas?

Espero que o resultado seja positivo para os

profissionais de design, empresários e gestores pú-

blicos valorizando o design como conhecimento e

fazendo com que o público possa celebrar o design

brasileiro nessa grande festa. Espero principalmente

que esta seja a melhor e mais instigante das Bienais.

Como vê o papel do Centro Design Cata-

rina depois da bienal?

O Centro de Design Catarina vai se benefi-

ciar do papel que tem de realização e execução

da Bienal criando oportunidades em ampliar

as suas funções de pesquisa e observação de

sinais e novas tendências, difundir informações

e preservar a memória histórica do design, vir-

tual e fisicamente.

“Grande parte dos designers brasileiros se envolvem e se mobilizam enviando seus trabalhos”

42 • Edição 08

O “OBA”, de Pablo Cabistani

“Há ainda uma grande confusão por parte da nossa sociedade em saber o que é a profissão e qual a

importância do designer paraa sociedade. ”

Atua como freelancer desde 2012 com criação de logotipos, peças publicitárias, etc. Atual-mente tem se dedicado a edição de vídeo e motion design.

Eliezer Santos

Foto da vitrine: Arquivo pessoal de Pablo Cabistani

Abril 2015 • 43

Design Magazine Brasil

O ano era 2013. O mês, Julho. A Bienal Bra-

sileira de Design lançava então um concurso que

seria um grande desafio para designers em todo

território nacional.

A proposta era criar uma identidade visual

para o próximo evento, que, como o nome já define,

acontece de dois em dois anos, e voltaria a aconte-

cer no presente ano de 2015, na cidade de Florianó-

polis, Santa Catarina. O tema do concurso era “Oba

– Design for all (Design para todos)”, uma celebra-

ção ao conceito criado pela fundação Design for All

(designforall.org). E a proposta era criar uma ID vi-

sual que incorporasse este tema em si. O vencedor

viria a ser o designer Pablo Cabistani.

Natural do Rio grande do Sul, o Gaúcho con-

seguiu a proeza de ter seu trabalho escolhido numa

disputa que movimentou cerca de 1.300 designers

inscritos de todo o Brasil (e também oriundos de

países de língua portuguesa), num total de 90 pro-

postas válidas.

Trabalhando como designer profissional há

10 anos, Cabistani já trabalhou em um escritório de

Design em São Paulo, e tem vários de seus traba-

lhos exibidos em seu site (pablocabistani.com). Ele

começou a trabalhar no projeto da Bienal em Julho

de 2013, e trabalhou nele por 3 meses. O interessan-

te é que o projeto poderia ser elaborado em grupos,

mas Cabistani preferiu se dedicar sozinho, o que

valoriza ainda mais o seu feito. O projeto realmente

impressiona: desenvolvido com cores fortes e varia-

das, usando muitas texturas e vários elementos da

nossa cultura, Cabistani conseguiu incorporar com

excelência a proposta do concurso em seu projeto.

Ele conseguiu criar uma identidade visual alegre,

que representa a variedade e a diversidade huma-

na, e celebra o tema proposto.

44 • Edição 08

O “OBA”, de Pablo Cabistani

“Eu acredito que as orientações (para o de-

senvolvimento da ID visual) são as mesmas para

qualquer projeto de Design: foco em resolver o

problema apresentado, criar algo único e, como

diz a bem conhecida expressão de Massimo Vig-

nelli: “visualmente poderoso”. Disse ele, em en-

trevista para a Design Magazine de Portugal (ed.

Janeiro-Fevereiro de 2015).

A Identidade é composta por um conjunto

de elementos que interagem uns com os outros:

(1) Uma versão temática da logo tradicional da

Bienal, que recebeu um detalhe colorido em seu

símbolo, (2) o grafismo “OBA” (a geométrica e colo-

rida palavra OBA), que complementa o tema “De-

sign for All” e é um toque modernista, baseado na

Escola Modernista Brasileira, um movimento que

tem lançado grandes e já conhecidos designers,

como Alexandre Wollner e Aloísio Magalhães, (3)

as “caras OBA”, um conjunto de rostos de pessoas

de várias idades e etnias, e (4) um conjunto especí-

fico de cores e texturas.

Perguntado sobre o que poderia ter levado os

jurados a escolherem seu projeto como vencedor,

Cabistani respondeu que não sabia.

“Não é fácil dizer exatamente por que um gru-

po de experts prefere um conceito ao outro”, disse.

Ele complementou dizendo que considera que seu

projeto tenha sido o escolhido pela sua relevância e

pelo seu aspecto “humano”. Ele também considera

que a criação da logo específica para essa edição,

sem alterar a logo tradicional, apenas inserindo

nela um detalhe colorido tenha sido uma boa sa-

cada, e pode ter tido alguma relevância na escolha

dos jurados.

Abril 2015 • 45

Design Magazine Brasil

A aplicação na cultura e sociedade brasileiras

de um dos tópicos a serem discutidos na Bienal, por

outro lado, mereceu críticas de Cabistani. Pergun-

tado sobre sua opinião sobre como a importância

do designer vem sendo difundida na sociedade,

ele afirmou que há ainda uma grande confusão

por parte da nossa sociedade em saber o que é a

profissão e qual a importância do designer para a

sociedade. Segundo ele, há dez anos, quando ele

ainda era um iniciante, a situação era a mesma ou

era muito parecida com o que vivemos agora, não

tendo uma evolução significativa de lá pra cá. Ele

considera que com a ajuda da internet, o Design se

tornou mais comerciável, mas que sua incorpora-

ção junto à sociedade e a cultura brasileira ainda

estão muito distantes.

Cabistani citou ainda algumas referências

que ele usa para desenvolver seus projetos, tais

como os estúdios Wolf Ollins, RedAntler e Duf-

fy&Partners. Citou ainda alguns designers: Jason

Little e Jessica Walsh, que ele definiu como “bri-

lhantes”, e Gustavo Piqueira.

Sobre o que ele espera da Bienal, ele afirmou:

“A Bienal é um dos maiores eventos de Design

do Brasil. Eu costumo visitar as praias de Florianó-

polis nas férias e tenho um carinho muito especial

por aquele lugar. Estou muito orgulhoso do meu

projeto ter sido escolhido e pelo que tenho lido a

respeito, será uma Bienal memorável, e eu estarei

lá, com certeza”.

46 • Edição 08