design magazine 10 - marÇo/abril 2013

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Edição nº10 da Design Magazine (Março/Abril 2013)

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EDITORIAL

Há uma nova revolução industrial a tomar lugar no Mundo e que não é de agora, pois já arrancou há mais de três dé-cadas. A nanotecnologia faz hoje parte do nosso quotidiano e em várias vertentes da vida. Não são de agora os pri-meiros passos que três importantes centros de estudo em nanotecnologia têm vindo a efectuar no aprofundamento dos universos das coisas mais do que pequenas, invisíveis a olho nu. Os países que estão a apostar mais nestas in-vestigações são os Estados Unidos da América, Finlândia e França. A nanotecnologia tem várias particularidades, ela envolve todas as disciplinas conhecidas do Homem e, mais do que isso, abre um novo universo de procedimentos de estudo que vão desde a pesquisa e análise de dados, pas-sando pela experimentação e terminando na aplicação. A natureza, uma vez mais princípio e fim de tudo, tem sido o ponto de partida desta odisseia pelos imensos universos moleculares. Pois é na natureza que têm sido encontradas a composição de estruturas que revelam aquela qualidade quase perfeita em que ela assenta. A composição estrutural de búzios, asas de borboleta ou de madeira têm revelado a excelência construtiva, se assim pudemos chamar, da na-tureza. E a natureza de todas essas pequenas coisas vai certamente servir de inspiração ao surgimento de novas ideias que nos vão trazer conceitos para lá de toda a imagi-nação. Mesmo estando tudo no início de uma nova era de conhecimento, antigas questões como a primazia das ne-cessidades, a aplicação dos conhecimentos e a contribuição de novos produtos serão tidas em conta no que aos valores humanistas e critérios éticos das sociedades diz respeito?A nanotecnologia tem potencialidades tão grandes quanto é a infinita imensidão de todas as pequenas partículas. Esta-rão cientistas e todos os estudiosos na matéria conscientes dos hipotéticos riscos de segurança que novas realidades trarão para a vida das pessoas?

Fotografia da capa da autoria de Rui Gonçalves Moreno

[email protected]

Tiago Krusse

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Ensaio por Francisco Vilaça

Opinião de Ana Lopes

Em Foco Simon Reynaud

Em Foco Daniel Vieira

Persianas Reinterpretadas

Olhos postos em Milão

imm recupera dinâmica

Princípios e inovação

Food Design por José Avillez

Reforma no Montijo

Por dentro da terra

O Aleph

Catedral no Ártico

Leituras

Escutas

SUMÁRIO

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ESTA REVISTA ESTÁ REDIGIDA NA ORTOGRAFIA PORTUGUESA

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http://www.elementosasolta.pt

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www.revistadesignmagazine.com

DIRECTOR EDITORTIAGO KRUSSE PRODUÇÃO GRÁFICA E DIGITALJOEL COSTA / CÁTIA CUNHA REDACÇÃ[email protected] COLABORADORESANA LOPES (LISBOA)CARLOS PEDRO SANT’ANA (ILHABELA) FRANCISCO VILAÇA (ESTOCOLMO)HELENA ABRIL LANZUELA (VALÊNCIA)JOSÉ LUÍS DE SALDANHA (LISBOA)RODRIGO COSTA (PORTO) FOTOGRAFIAFG+SG – FOTOGRAFIA DE ARQUITECTURAJOÃO MORGADO – FOTOGRAFIA DE ARQUITECTURARUI GONÇALVES MORENO

PUBLICIDADEhttp://revistadesignmagazine.com/publicidade/ COMUNICAÇÃONEWSABILITY COMUNICAÇÃO ANA TEIXEIRA ALVES [email protected] ENVIO DE CORRESPONDÊNCIAJARDIM DOS MALMEQUERES, 4, 2 ESQUERDO1675-139 PONTINHA – PORTUGAL

EDITORA ELEMENTOS À SOLTA - DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS MULTIMÉDIA LDARUA ADRIANO CORREIA OLIVEIRA, 153, 1B - 3880-316 OVAR - PORTUGALNIPC: 508 654 858www.elementosasolta.pt PUBLICAÇÃO CRIADA EM 2011PUBLICAÇÃO BIMESTRALREGISTO DA ENTIDADE REGULADORA DA COMUNICAÇÃO 126124

designMAGAZINE

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http://revistadesignmagazine.com/subscreva/

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“Existes tão fundo em mim, com tão numerosas, e musculadas raízes que nada, nem eu mesmo, as poderei jamais cortar.” António Lobo Antunes in Memória de Elefante

ENSAIOFrancisco Vilaça

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Novo mundo velho

Erguem-se harmónicos. Para o seu existir, toneladas de aço foram aprisionadas a si mesmas. O ferro e o betão secundam a pedra, e o elevador trouxe consigo novas crenças. Trouxe a possibilidade de rasgar os céus e bater à porta do Senhor. Os templos, locais de introspecção, expressão colectiva de fé, e culto ao intangível, paulatinamente deram lugar a locais de trânsito, onde religiosamente milhares passam todos os dias; locais de expressão individual, de destino incerto sem estória ou memória. É o Homem todo-poderoso a servir-se da Natureza e a servi-la a seu propósito, num exercício de estilo quase profano. O Homem criativo na sua versão deificada, que ao construir ergue-se de orgulho, e paradoxalmente ofe-rece o seu Eu mais generoso e altruísta, proporcionando às manadas tão preciosa mobilidade e abrigo. É meta-morfose natural, de um mundo que evolui com a mesma ferocidade que gira em torno de si próprio, dia após dia.A mim, os imensuráveis edifícios citadinos, recolhem-me a um lugar imenso, onde os meus sentimentos se mis-turam com os meus pensamentos e o meu corpo existe independente de mim, flutuando esquivo por entre as milhares de outras almas que coexistem sem se conhe-cerem, ou se repararem. Almas que se olham, ouvem-se, e se tocam sem saber, desconhecendo se em algum mo-mento ou lapso de tempo, se voltarão a ver ou encontrar num recanto de uma qualquer híper urbe.

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OPINIÃOAna Lopes

Redefinir o design anónimo

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As nossas vidas estão repletas de pequenos objectos que, embora simples, têm o condão de torna-las mais práticas e funcionais. Mas estes objectos, de tão simples que são, geralmente não têm o mérito que merecem. Nasceram anónimos e assim permanecem. Mas nos dias de hoje um novo tipo de design anónimo emerge, um de-sign cujo anonimato se esconde nas grandes empresas, na produção em massa e nos preços baixos.Olhe em volta na sua casa. Acha que consegue identificar a pessoa por detrás das cadeiras da sua sala ou da roupa que traz vestida?Variados produtos de design do nosso dia-a-dia têm evoluído de forma anónima através de um processo de “selecção natural”, impulsionado mais pela necessidade prática que pela preocupação estética. Na maioria dos casos, estes objectos são estritamente funcionais, tendo o seu desempenho sido aperfeiçoado ao longo dos anos. E apesar de algures no curso da história alguém os ter patenteado, a sua verdadeira data e autoria permanecem anónimas. Exemplos disso são o garfo, o clip de papel, o fecho éclair, a rolha, o cadeado ou o alfinete de seguran-ça, entre muitos outros.Mas hoje em dia é possível encontrar uma redefinição deste design anónimo. Já não há invenções, é certo, so-mente recriações, mas muitas das peças que chegam hoje até nós escondem um novo tipo de anonimato. O design de hoje é anónimo, não por não se conseguir rastrear a marca, mas por as indústrias de produção em massa mascararem o verdadeiro autor. As empresas atribuem aos produtos um nome e uma data, enquanto a pessoa por detrás da concepção fica para sempre anónima. O designer perde a sua identidade em prol do nome da em-presa. E tal como os designs cuja invenção se perderam na história, também estes se perdem.Tomamos por certo e aceitamos que certa cadeira é da empresa X e certa camisola é da empresa Y, esquecendo que há um criador por trás. Massificar as peças sem lhe atribuir um nome, e apenas um conceito, retira ao verda-deiro autor todo o seu cunho e assinatura. A peça deixa de possuir certas características emocionais que o autor lhe deu, para passar a ser mais uma peça no molho. É certo que o processo da produção em massa permitiu baixar preços de produção e de venda, mas também le-

vou a uma desvalorização do autor, traduzindo-se no fac-to de um nome valer milhares enquanto o anónimo vale pouquíssimo. Criou-se um abismo entre os dois, que por um lado desvaloriza o design, enquanto sobrevaloriza o poder de uma assinatura.Os vários exemplos de design anónimo existentes po-dem ser caracterizados como objectos humildes, práticos e belos na sua simplicidade, que nasceram de uma ne-cessidade existente, e sem qualquer interesse estético. Porém, os designs anónimos actuais introduzem uma pe-quena diferença. Já não são somente objectos humildes, simples e puramente funcionais, têm também a preocu-pação de aliar o sentido de moda, a estética à sua fun-cionalidade. O seu valor já não é apenas funcional, a sua forma adquire uma importância vital no acto da compra, o que se traduz num ponto positivo e negativo: apesar de existirem para colmatar necessidades, estes objectos já não aparecem sem uma preocupação estética e um sen-tido de styling, fazendo com que estes sejam apreciados mais pela forma que pela função, perdendo parte da im-portância que deveriam ter e fomentando o consumismo. No entanto, e apesar de os efeitos da massificação, da competição e do consumismo promoverem uma postura descartável relativamente a estes objectos, estes produ-tos não deixam de nos ser essenciais.E assim, sem quase nunca lhe reconhecermos a impor-tância ou sequer a existência, nem nos apercebemos que vivemos rodeados por um constante anonimato inanima-do.

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EM FOCOSimon Reynaud

Licenciado em design de produto pela Universidade de Sheffield e Halam, Simon Reynaud juntou-se à equipa do estúdio de Tord Boonjte, para quem trabalhou alguns anos. Durante esse período de tempo o designer francês teve a oportunidade de se envolver em diferentes eta-pas de projectos, desde a concepção aos desenvolvimen-tos técnicos de diversos produtos. Foi uma boa etapa da sua vida profissional, que lhe permitiu adquirir um leque vasto de conhecimentos através de projectos elaborados para marcas como a Moroso, Bisazza ou Swarovsky.Há três anos Simon Reynaud decide abrir o seu próprio estúdio em França, encetando um trabalho por diferentes campos do design. Começou com a produção de acessó-rios para a casa e estendeu a sua actividade até à produ-ção de mobiliário. Para 2013 tem agendado o lançamento de novos produtos como acessórios para o editor francês Pylônes, um alarme para casa que foi desenvolvido em colaboração com a equipa de design da Hager Security e uma gama de mobiliário de interior.Destacamos três produtos da autoria de Simon Reynaud, a cadeira em madeira, de 2011, o cabide de pé em alu-mínio e o serviço de mesa em aço inoxidável, ambos de 2012. A emotividade acrescida à funcionalidade dos con-ceitos e o gosto em trabalhar materiais tão distintos como a madeira e o aço são traços que revelam as afinidades e capacidades deste autor.

www.simonreynaud.com

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EM FOCODaniel Vieira

Fotografia: Cortesia da Daniel Vieira Design

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Mesa Régua

Cinzeiro Cinza

Nascido em Braga em 1982, Daniel Vieira licenciou-se em design industrial em 2006. Três anos após a licenciatura, é distinguido com o Prémio Nacional de Design Daciano da Costa, na categoria de design industrial e equipamen-to. Os jurados desse prémio expressaram a simplicidade e coerência conceptual revelada pelo designer nos pro-dutos e sistemas apresentados. Em 2010 junta ao seu percurso académico um mestrado em design integrado com a monografia sobre o designer industrial Eduardo Afonso Dias intitulada “Duas Décadas de Design de Pro-duto em Português”, referindo o designer Carlos Aguiar como seu orientador.Este ano forma a Daniel Vieira Design cuja missão é ex-plorar as ligações entre o design industrial e o espaço que nos rodeia, criando novas identidades para os objectos. No atelier são criados diversos objectos com propósitos distintos e numa relação com o seu espaço e ambiente cultural. Contando também com um percurso profissio-nal, com trabalho efectuado em Portugal e no estrangei-ro, o designer tem sido solicitado pela sua capacidade de trabalhar para um todo, quer nos aspectos criativos do design como nas mais-valias apresentadas no capítulo do pensamento comercial. As áreas de trabalho da Da-niel Vieira Design são produto, mobiliário, exposições e interiores.

www.danielvieira.pt

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Burel Bag Gonçalo

Office Régua

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Banco Régua

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Persianas reinterpretadas

Texto: Tiago KrusseFotografias: Cortesia de El Nebot del Persianer

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Salvador Nadal Belda

Lucas Sanz Belda

Quando Salvador Nadal Belda fundou em 2012 o atelier de design El Nebot del Persianer ele já trazia consigo toda uma tradição familiar que uniu à sua visão criativa. Desde 1955 que a família de Salvador se dedica ao fabrico de persianas e foi Lucas Sanz Belda quem encetou essa ma-nufactura de persianas. Na soalheira cidade de Valência, em Espanha, o negócio familiar encontrou mercado não só pela procura mas também pela arte e o engenho re-velado por Lucas Sanz Belda a estruturar essas pequenas laminas móveis de madeira para colocar no exterior das janelas, protegendo as casas da luz natural mais intensa. Este negócio artesanal e familiar, com mais de meio sé-culo, consiste em produzir persianas, repará-las e montá--las. A persiana é um produto tradicional, característico não só na região de Valência como também de diversas regiões do Mediterrâneo. Daí se explique a continuidade de todo um negócio que também ajuda a perpetuar par-te do imaginário das janelas que encontramos nalgumas cidades mediterrânicas.Foi no espírito deste ambiente familiar, marcado por um historial particular e inserido num contexto cultural, que Salvador Nadal Belda decidiu dar aso à criatividade, ar-rancando com um atelier multidisciplinar que vai desde o design de produto, passando por interiores e chegan-do à comunicação. Com uma paixão pela manufactura e os processos artesanais, o atelier aposta numa vertente verde fazendo uso da inteligência e dos aspectos emo-

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Candeeiros de chão e de pé Tilu

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Candeeiro Adela

Detalhe da mesa Maru

cionais. Há uma procura por novos materiais e produtos naturais que se adequem ao meio ambiente, promoven-do também a utilização de materiais reciclados. Há uma predisposição natural para os processos meticulosos e um objectivo marcado que passa por desenhar um futuro sustentável e emotivo.A persiana foi mais do que um mote para o atelier avan-çar para a produção de uma linha de mobiliário que inte-gra três candeeiros e uma mesa. Estas gamas de produ-tos promovem a recuperação e utilização de elementos de um espaço específico, por via de métodos tradicionais, integrando-os como peças-chave do design de produto. Na memória descritiva enviada por Salvador encontra-mos uma interessante frase que parece sintetizar toda esta nova actividade: “reinterpretar o passado reinven-tando o inventado”. E todos estes elementos ligados à memória e à origem das coisas interligam-se com novas técnicas e tecnologias correntes, através de um proces-so de produção em que são respeitados e potenciados os pormenores e detalhes de um todo. Importante será dizer que o atelier tem a vantagem de conhecer profun-damente e em primeira-mão todas as particularidades do processo artesanal de produzir persianas.

www.elnebotdelpersianer.com

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OLHOS POSTOS EM MILÃOReportagem: Tiago KrusseFotografia: Cortesia da Cosmit

Num convite da Cosmit, organização responsável pelo Salão Internacional do Móvel de Milão, estivemos, entre os dias 6 e 10 de Fevereiro passado, numa viagem para imprensa para assistir à apresentação de mais uma edi-ção do evento de design. É a 52ª edição do Salão Inter-nacional do Móvel de Milão, que decorrerá entre os dias 9 e 14 do próximo mês de Abril. Uma das novidades é Claudio Lutti, que assume o cargo de novo presidente da Cosmit, empresa subsidiária da FederlegnoArredo, que organiza o Salão Internacional do Móvel de Milão. O patrão da Kartell, Claudio Lutti, toma assim o lugar de Carlos Guglielmi, designando como seu braço direito Roberto Snaidero, o presidente da Feder-legnoArredo. A mudança de presidência na Cosmit bem como no seu elenco administrativo de topo surge numa altura em que este evento, com esta sua 52ª edição em 2013, precisa de continuar a afirmar a sua importância como a feira mais importante da agenda mundial no sec-tor do design. O novo presidente, homem desde sempre ligado à moda e amigo próximo de Gianni Versace, disse na conferência de imprensa que Milão se mantêm como o palco privilegiado da inovação e como feira que lidera a posição pela sua capacidade de chamar até si o que de melhor e de novo se faz no sector. Para além das novidades no sector do mobiliário, a feira apresentará também a bienal Euroluce, Salone Ufficio e Salone Sa-tellite. Um pequeno destaque para o convidado especial desta edição, o arquitecto Jean Nouvel que será o res-ponsável pela construção de uma área expositiva com mais de 1,200 m2 localizada nos pavilhões dedicados ao Salone Ufficio, orientado para o mercado de escritório. O arquitecto francês deixará a sua visão sobre a mobilidade dos espaços de trabalho e uma postura mais natural de experienciar os escritórios.Muito se tem falado sobre a dimensão das principais fei-ras do sector. No caso de Milão a organização e a sua nova presidência quiseram salientar que apesar do es-sencial envolvimento do município e das estreitas parce-rias estabelecidas com os principais intervenientes locais, é para a feira que se concentram todas as atenções. A dimensão do parque expositivo e a forma como a progra-mação está delineada, permite que os visitantes fiquem com uma boa impressão da maioria dos eventos. Ape-sar da agressividade da comunicação durante os dias de feira ser bastante intensa, o evento consegue manter a desejada dimensão humana e dar tempo para obter in-formação, falar com os principais intervenientes e fazer negócio. Sobre a realização de eventos paralelos que se alimentam da importância da feira, a organização não

os condena nem se mostra preocupada com essas acti-vidades. No que se relaciona com os eventos de marcas italianas, com lojas bandeira espalhadas na cidade, Clau-dio Lutti diz que eles não interferem e que são apenas formas de reforçar elos com clientes especiais.Despois da bem-sucedida edição do Salone em Moscovo, na Rússia, em Outubro do ano passado, existe no ar uma sensação de aproximação ao mercado chinês. Numa ses-são apenas destinada à imprensa, a cúpula administrati-va da Cosmit, Caludio Lutti e Roberto Saneidero, deixou claro que têm existido iniciativas do lado italiano em levar o evento até à China mas o facto é que ainda há uma sé-rie de constrangimentos que não permitem para tão cedo essa concretização. Talvez seja por questões ligadas à defesa dos direitos de propriedade intelectual bem como o facto do mercado europeu e os seus originais produtos serem mais atractivos para os milionários chineses?

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imm RECUPERA DINÂMICAReportagem: Tiago Krusse

No início de Janeiro deste ano visitámos a feira imm em Colónia, na Alemanha, evento que decorreu entre os dias 14 e 20 desse mês. As baixas temperaturas que se fize-ram sentir não demoveram os visitantes da feira, e este ano eles puderam verificar um regresso de marcas es-trangeiras e um conjunto de iniciativas como Das Haus, com Luca Nichetto a deixar-nos todas as sensações que fazem dele um nome seguro do design mundial, e uma série de eventos ligados à criatividade e ao produto. Não esqueçamos que a imm incluiu duas feiras numa, a pri-meira dedicada à produção de mobiliário e a segunda, Li-ving Kitchen, sobre o universo do ambiente de cozinha. A organização estabeleceu uma programação bem definida pelos seus pavilhões, permitindo uma visão transversal no campo do design, indo do mobiliário para todas as divisões da casa, passando pelo têxtil, interiorismo, aces-sórios e primeiras edições. O Concurso D’ Design Talents e outras iniciativas em parceria com as principais organi-zações alemãs ligadas ao design trouxeram uma desejada frescura a este tipo de evento, profundamente marcado pelas novas tecnologias de produção e pelas tendências de mercado impostas pelos maiores produtores.Numa época de crise os números da imm, mais de 1,200 expositores oriundos de 50 países diferentes, são de-monstrativos da recuperação que a feira verifica não só nesse campo como também na adesão de visitantes na-cionais e estrangeiros. Apesar do mercado alemão dar mostras de um crescimento baixo a tender para a es-tagnação, os produtores voltam a demonstrar confiança no evento. A postura das empresas denotou essa boa tendência para a sustentabilidade do mercado isto é, a capacidade de produzir sem colocar em perigo a conti-nuidade comercial e com atenção redobrada no que ao desperdício diz respeito. A indústria alemã do sector dei-xou bem patente a sua capacidade de providenciar novas utilidades e ir ao encontro dos diferentes requisitos dos consumidores. Dias de reequilíbrios e que apontam para uma perspectiva positiva do futuro.

Candeeiro “LT02 SEAM TWO”, da E15

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“Seating Stones”, design de UNStudio/Ben van Berkel para a Walter Knoll “”Euvira”, design de Jader Almeida para a ClassiCon

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PRINCÍPIOS E INOVAÇÃOFotografias: cortesia da Artek

A Artek foi fundada em 1935 por quatro jovens idealistas de seu nome Alvar e Aino Aalto, Maire Gullichsen e Nils-Gustav Hahl. Ideia orientadora para o negócio da empresa era “vender mobiliário e promover uma moderna cultura de habi-tar através de exposições e outros meios educacionais”. No espírito radical dos seus fundadores, a empresa pretende manter-se na vanguarda da sua pesquisa para os caminhos do futuro, com e entre as disciplinas do design, arquitectura e arte. Foi um encontro mágico aquele que tivemos com responsáveis desta empresa finlandesa no decorrer da edição da imm em Colónia. Deixamos ao longo destas páginas alguns dos fascinantes produtos que experimentámos. Uma pequena mas sentida homenagem. TK

www.artek.fi

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Edição especial para o 80º aniversário do Stool 60, o banco de três pernas desenhado por Alvar Aalto, da autoria do designer alemão Mike Meiré

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Baby Rocket, design de Eero Aarnio. Fotografia de Juha Nenonen

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Sedia 1, design de Enzo Mari. Fotografia de Jouko Lehtola

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A330, design de Alvar Aalto. Fotografia de Juha Nenonen

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U336, design de Jorn Utzon. Fotografia de Sabine Schweigert

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Domus Lounge Chair, design de Ilmari Tapiovaara. Fotografia de Juha Nenonen

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P Lento Lounge Chair, design de Harri Koskinen. Fotografia de Tuomas Uusheimo

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41, design de Alvar Aalto. Fotografia de Juha Nenonen

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901 carrinho de chá, design de Alvar Aalto. Fotografia de Juha Nenonen

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FOOD DESIGNJosé Avillez

Modo de preparação

1.Triture tudo na Bimby na velocidade 5. 2.Passe por um passador de rede.3.Rectifique os temperos, passe para o saco pasteleiro e reserve no frigorífico.

1.Envolva a sapateira em película aderente, coloque num saco de vácuo e feche. Coza1h10min em forno a vapor a 75ºC. 2.Após a cozedura, deixe repousar 10 minutos com a porta do forno aberta.3.Passe por água corrente durante 10 minutos.4.Coloque em água com gelo durante, pelo menos, 24h. 5.Abra o saco e aproveite todos os líquidos libertados para fazer o caldo.6.Separe as pernas e as pinças da carcaça.7.Retire a carne das pinças, cotovelos e antebraços ten-tando deixar tudo o mais inteiro possível. Reserve sepa-radamente. Lave em água salgada.8.Desfie o resto da sapateira. 9.Faça doses de 30g de sapateira desfiada. Reserve cada dose com meia pinça e um cotovelo ou meia pinça e um antebraço.

1.Coloque todos os ingredientes num tacho e deixe cozer em lume brando. Retire a espuma que se for formando durante a fervura.2.Coe por um passador de rede. 3.Passe para um recipiente e congele. Descongele len-tamente, durante 2 dias, num tabuleiro, no frigorífico a passar por papel grosso. 4.O caldo deverá ficar translúcido e com um sabor forte (idealmente de cor âmbar).

1.Demolhe a gelatina em água fria e derreta-a no caldo de sapateira ligeiramente aquecido.

1.Coloque o tomate e o sal na Bimby e triture durante 2 minutos, na velocidade máxima. Deixe escorrer em pa-pel.2.Texturize com a xantana. Retire o ar.

SAPATEIRA E ABACATE

Ingredientes 4 pessoas

Para o Puré de Abacate 1kg Abacate

2g Ácido ascórbico50ml de sumo de limão

Sal q.b.Pimenta preta moída q.b.

Para a Sapateira1 Sapateira de 1kg (4 doses)

Para o Caldo de Sapateira1 kg de cascas

Água da cozeduraCarro

4 Tomates maduros cortados em 41 Alho francês cortado ao meio

Para a Gelatina de Sapateira200ml de caldo de sapateira

2 folhas de gelatina

Para a Água de Tomate 2kg Tomate bem maduro

q.b. Sal0,3g xantana/100ml água

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1.Num recipiente junte todos os ingredientes, triture e deixe repousar durante 2h.

Num prato fundo, coloque o puré de abacate e por cima, ao centro, a sapateira desfiada, a pinça de sapateira e o cotovelo de sapateira. Também em cima do abacate, mas à volta da sapateira, coloque 3 pequenas quenelles de abacate intercaladas com 3 colheres de café de gela-tina de sapateira. Finalize com os cubos de pão frito, um pouco de cebola roxa, rebentos de coentros, um fio de azeite e um pouco de flor de sal. Com cuidado, coloque a água de tomate à volta do puré de abacate. No momento de servir, coloque um pouco de ar de limão por cima da sapateira. Sirva de imediato.

www.joseavillez.pt

Para o Ar de Limão100ml Água mineral

100ml sumo de Limão0,4g Cominhos em pó

0,6g Lecite2,5g Sal

1g Azeite picante

Para a Guarnição5g rebentos de coentros

3g de brunesa de cebola roxa marinada em azeite e sumo de limão

5 cubos de pão fritoAzeite

Flôr de salSapateira desfiada

Cotovelo de Sapateira½ Pinça de Sapateira50g Puré de Abacate

15g Abacate (3 quenelle com colher de café)

15g Gelatina de Sapateira (3 colheres de café)30ml Água de Tomate

Ar de Limão

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REFORMA NO MONTIJOArquitectura: Paulo Tormenta PintoTexto: Tiago KrusseFotografia: FG + SG – Fotografia de Arquitectura

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As últimas três décadas têm trazido consigo um conjunto de novas realidades para todas as cidades portuguesas. Nalgumas o planeamento e os modelos de crescimento ou requalificação adoptados não foram os melhores. Um dos elementos que mais tem saltado à vista é a redução elevada e gradual do número de residentes nas maiores cidades portuguesas. Em Lisboa, em toda a sua exten-são, esse fenómeno também se tem verificado e, apesar da existência e proliferação de novos serviços directa-mente ligados à indústria do turismo, os centros da ci-dade estão, na sua maioria, desertos. Os limites urbanos e suburbanos continuam a expandir-se de forma quase anárquica.Há um elevado número de pessoas que trabalha na região metropolitana de Lisboa mas que vive afastado da cida-de, tendo as suas residências nas periferias. O concelho do Montijo tem sido uma dessas localidades que registou algumas transformações, sobretudo desde a construção da Ponte Vasco da Gama. A extensão de Lisboa fez-se através de novas vias de comunicação rodoviárias, o que reduziu tempo e distâncias até às suas zonas periféricas.A casa na Rua Humberto de Sousa, no Montijo, faz parte de uma série de intervenções de pequena escala levada a cabo no centro urbano da cidade. O arquitecto Paulo Tormenta Pinto que liderou esta obra, contando com a colaboração de Rosa Maria Bastos com Ivone Gonçalves e Pedro Baptista Coelho, salienta, na memória descriti-va que nos facultou, que são “intervenções que visam investimentos lançados com o objectivo de estimular a renovação urbana do ponto de vista social”.Esta reforma foi efectuada tendo como limite de orça-mento o não ultrapassar os 30 mil Euros, sendo o objec-tivo final destinar a casa ao mercado de arrendamento.O novo programa levou em consideração “a morfologia do tecido urbano envolvente, onde estreitos pátios, ras-gam os quarteirões permitindo o acesso a pequenas par-celas habitacionais.” Para além das características cons-trutivas da zona, o Montijo tem uma área curiosa, com duas partes distintas que se diferenciam por uma estar na margem esquerda do rio Tejo e a outra localizar-se entre Palmela e Montemor-o-Novo.A memória descritiva deste trabalho referencia “a inte-gração de uma materialidade local baseada na aplicação da cortiça”. Para além de alguma vida agrícola que ainda subsiste, o Montijo foi em tempos um importante cen-tro industrial e nesse sector de actividades, a da indús-tria corticeira era, a par com a preparação de carnes de porco, uma das principais. O arquitecto Paulo Tormenta Pinto não deixa de sublinhar que “a exploração e trans-

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formação de cortiça é uma das principais indústrias do Montijo desde o século XIX”.Esta nova casa ganhou iluminação e ventilação no espaço habitável. Para estes propósitos “foi desenhado um pá-tio longitudinal que estrutura o ingresso na casa”. Neste espaço longilíneo a aplicação da cortiça dá-lhe um carác-ter expressivo e tem como funcionalidades o garantir da eficiência térmica desta habitação como daquela que lhe está adjacente. No interior, os elementos soltos reflectem o espírito do arquitecto e estabelecem o novo programa. Os espaços definidos são marcados pela chaminé, balcão de cozinha, escada e o mezanino. “O miolo da casa existente foi substituído por uma nova organização fluida, tirando-se partido do volume dispo-nível. Com a introdução da cortiça preconizou-se o con-forto do pátio e da qualidade térmica da própria casa. A

pequena dimensão da casa transformou-se com o jogo de profundidades que se instalou, vendo-se sempre algo mais nas sucessões de planos e texturas. A fachada prin-cipal foi limpa de ornamentos, deixando-se em evidência a expressão Art Deco que caracteriza a cimalha do edifí-cio”.É nossa opinião que estamos perante boa arquitectura, que não só serve o Homem como também revela criati-vidade, preocupações ambientais e uma capacidade para fazer bem com orçamento limitado. O nível da reabilita-ção é elevado e comprova as capacidades de responder às exigências técnicas exigidas quando trabalhando so-bre edificado.

www.domitianus.com

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POR DENTRO DA TERRA

Arquitectura: Moral ArquitecturaTexto: Tiago KrusseFotografia: Jorge López-Conde

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Em Moratinos, nas proximidades de Palência, em Espa-nha, o atelier liderado pelo arquitecto Fernando Moral Andrés meteu literalmente as mãos numa intervenção muito particular. Procedeu-se à reforma de uma bicen-tenária adega com uma área com mais de 255 m2. Está localizada num povoado onde a actividade rural é a pre-dominante e os seus vinte habitantes são oriundos de di-versos países. O propósito da obra foi o de transformar a adega existente num restaurante. O espaço com mais de dois séculos de história esteve sempre nas mãos de uma família. A adega foi toda ela escavada no monte, criando uma galeria subterrânea caracterizada pelas suas abóbo-das toscas e simples. A secura do terreno, as acentuadas amplitudes térmicas e o passar dos anos foram transfor-mando o espaço acentuando o seu aspecto rugoso.O trabalho efectuado na galeria exigiu uma reforma do programa e uma adequação ao propósito final, tornar a galeria subterrânea na principal sala de jantar e na nova estrutura térrea criar as áreas de bar, cozinhas e anexos de apoio. O atelier focou a importância da nova cons-trução no facto de conseguir criar uma continuidade de sensações por todas as áreas. O monte em que está albergada toda a estrutura é com-posto por terra e uma rocha castanha, matérias que lhe atribuem boas energias. A antiga caverna foi escavada e

esculpida à mão na sua totalidade, sendo esse processo um factor determinante para a nova abordagem operada. O novo edifício foi construído em betão, que levou no exterior uma aplicação de cor em toda a sua superfície. No interior foram fixadas tiras de madeira pobre, com o propósito de serem vistas a degradar-se chamando dessa forma para a percepção do tempo a passar. O arquitec-to salienta que o trabalho só se tornou possível por um processo continuado, exaustivo e experimental desde o início ao fim. Foi também uma aventura também marca-da pelo grande uso das mãos e de um espírito faça você mesmo. O resultado último deve a sua aparência não só ao pré-existente como também ao lugar que o projecta. Um serviço duro, firme e sério, marcado pela pressão, clima e tempo.

www.moralarquitectura.com

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A requalificação do antigo distrito industrial e portuário de Puerto Madero, nas proximidades do centro financeiro de Buenos Aires, na Argentina, representa um encontro dinâmico entre o espaço público, artes, comércio e a co-munidade. Planeando a vida da cidade até à zona ribeiri-nha, o design do Aleph – o capítulo final do distrito Faena Artes e Tecnologia – combina nova construção com uma selectiva renovação de edifícios existentes, de forma a criar um quarteirão urbano sustentável e com uma ampla gama de infraestruturas sociais e culturais.Congregando séries de 3 esquemas de programas resi-denciais mistos, a requalificação irá criar uma nova co-munidade ribeirinha que terá no seu centro um generoso espaço público que oferece a oportunidade de vivenciar arte e cultura. O nome Aleph é não só uma homenagem ao escritor argentino Jorge Luis Borges e um dos seus co-nhecidos livros de contos fantásticos como também uma analogia para a missão artística e cultural desta primeira

grande obra da Foster + Partners na América do Sul.Desenhando sobre as tradições nativas de pátios e de terraços abertos, o esquema promove a vida no exterior e um sector público rico, que vai ao encontro do estilo de vida local e clima. Inspirado no legado arquitectónico e cultural da Belle Époque, os apartamentos são impo-nentes e generosos. A primeira fase do programa urbano consiste num bloco de apartamentos, de 9 andares, no enfiamento de um pátio público. Os materiais seleccio-nados são claros e quentes, como o alumínio em tons de bronze, pavimento em pedra calcária e um programa de cores orgânicas. Os apartamentos preenchidos por luz natural e bem ventilados, contêm uma combinação de secções separadas por tectos abobadados e um bom pé-direito. Os espaços no exterior dissimulam os limites entre as áreas externas e internas.

www.fosterandpartners.com

O ALEPH

Arquitectura: Foster + PartnersTexto: Tiago KrusseFotografia: Nigel Young

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CATEDRAL NO ÁRTICO

Arquitectura: Schmidt Hammer Lassen Architects and Link Arkitektur A/STexto: Tiago KrusseFotografia: Adam Mørk

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No município de Alta, na Noruega, a cerca de 500 quiló-metros do círculo polar ártico, foi inaugurada a Catedral das Luzes do Norte, um projecto com design da Schmidt Hammer Lassen Architects em cooperação com a Link Arkitektur. A catedral, com os seus 47 metros de altu-ra, foi percebida, ainda antes da sua inauguração oficial, como um símbolo e um monumento arquitectónico de toda a região.O concurso para a construção da catedral teve início em 2001 e nas especificações da câmara municipal de Alta encontrava-se a necessidade da construção não servir apenas como uma igreja mas que ela se tornasse um monumento que servisse de ponto público de encontro a partir do qual os fenómenos naturais das luzes do norte,

as auroras boreais, fossem observados. Com uma área de 1,917 m² o monumento enquadra-se com a paisagem e cultura locais. Nas palavras de John F. Lassen, sócio fundador da Schmidt Hammer Lassen Architects, “a cate-dral reflecte, quer literal como metaforicamente, as luzes do norte: etérea, hóspede, poética e bonita”. Acrescenta que se “apresenta como uma escultura solitária em inte-racção com a espectacularidade natural”.Os contornos da igreja erguem-se como uma forma es-piral até ao topo do campanário, a 47 metros de altura. A fachada, coberta em titânio, espelha as auroras bore-ais durante o longo período do escuro Inverno do Ártico, dando ênfase à experiência percebida do fenómeno na-tural.

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No interior, na área principal da catedral, a igreja cria um harmonioso contraste com a dinâmica patenteada no ex-terior do edifício. Os materiais utilizados foram o betão e a madeira, presente no chão, painéis e tectos, sublinhando o contexto nórdico. A luz do dia entre pela igreja através de janelas altas e esguias, apresentando uma disposição irregular. Uma claraboia sobre o altar ilumina a parede de fundo criando uma particular atmosfera na igreja. Com uma capacidade para albergar 350 pessoas na igreja, o edifício conta ainda com escritórios administrativos, salas

de aula, áreas de exposição e uma zona paroquial.O município de Alta fez um investimento de mais de 16 milões de euros e o período para a construção da cate-dral decorreu entre 2009 e o presente ano. Trata-se de um dos últimos projectos de uma série de construções culturais levado a cabo pela Schmidt Hammer Lassen Ar-chitects.

www.shl.dk

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LEITURAS

É um e-book este “As Árvores que Comiam Papel, no qual se encontram mais de 300 páginas com uma selecção das melhores fotografias tiradas por crianças durienses por ocasião da primeira edição do projecto de educação ambiental, criado e organizado por Susana Neves, na res-posta a um convite feito pelo Museu do Douro. Pensado como um diário colectivo de viagem e das experiências vividas por todas essas crianças, este e-book apresenta uma série de árvores emblemáticas da região do Douro, uma série de fotografias apanhadas no Alto de São Do-mingos, em Armamar, Quinta da Pacheca, em Cambres, Quinta das Brôlhas, Quinta das Leiras e nos Eirados, em Valdigem. Para além dos registos das crianças foram in-cluídas “fotografias antigas algumas inéditas e restaura-das, imagens do the making off do projecto, fotografias de páginas pop up com poesia visual dos diários dos par-ticipantes, receitas de tintas vegetais ensinadas em vá-rios ateliers desenvolvidos no decurso de “As Árvores que Comiam Papel” e, entre outras surpresas, um herbário simbólico, onde aparecem brinquedos e miniaturas”.O livro de fotografia e textos, da autoria das crianças, complementa-se com os depoimentos dos professores que as acompanharam e dos proprietários das quintas. São ainda integradas “notas etimológicas sobre os luga-res fotografados, e excertos de bibliografia antiga e con-temporânea, à maneira de uma antologia etnobotânica, a partir da qual é possível começar a compreender e a reinventar a memória das árvores no Douro”.

Edição: Susana NevesDesign: Inês Sena

Obra subsidiada pela Direcção Regional de Cultura do Norte

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Numa definição enciclopédica de árvore lê-se que é ter-mo ligado à botânica e que se trata de uma “planta le-nhosa que pode atingir a estatura de, pelo menos, 4 a 5 metros e forma um distinto caule principal, o fuste”.Nesta bonita e bela edição de “Historias que Fugiram das Árvores – Um arboretum português” vamos não só ver um conjunto de muito boas fotografias como também ler uma série de textos selecionados, tudo da autoria de Susana Neves. A excelência da fotografia já nos era familiar, desde o tempo de “Viagem ao Polén Sul”, exposição de 2007, e fomos descobrindo ainda mais essa capacidade para olhar e captar os momentos mágicos no decorrer destes anos e mais recentemente em “ Douro: Fauna Digital”. A selecção fotográfica desta edição dá-nos uma boa ideia da qualidade, paciência e gosto que Susana Neves retira das suas objectivas. A qualidade da reprodução dessas imagens são também muito elevadas, o que entrega ao livro uma elegância desejada e uma exacta percepção cromática do todo captado, ora nos pequenos grandes pormenores ora na atmosfera especial de um enquadra-mento fotográfico. Um trabalho minucioso e com critérios definidos, que nos chama para esse meio botânico cheio de contrastes e infinita beleza.No que há selecção de textos diz respeito, ela resulta de uma escolha de artigos produzidos por Susana Neves e editados desde 2007 na revista da Fundação do Inatel. E são histórias deliciosas, as escolhidas, que nos dão uma informação baseada em muita investigação, num rit-mo bem delineado e que nos expressa, sobretudo, esse imenso gosto da autora pelo tema.Vemos em todo este trabalho mais do que uma profunda homenagem à antiga botânica nacional, cujos estudos científicos nos reportam para o Século XVI, é um levan-tamento com muitas raízes e actualização de factos. Su-sana Neves recupera e projecta este interesse maior pela botânica sendo das únicas autoras no mundo a dedicar--se, de forma tão apaixonada e rigorosa, a este trabalho de investigação. Um prefácio intimista e mais 30 histórias de árvores, tão distintas em todas as suas especificida-des. Um encanto e um privilégio. TK

Histórias que Fugiram das Árvores – Um arboretum portuguêsAutor: Susana Neves

Tradução para o Inglês: Miguel de Castro HenriquesEditor: By the Book

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ESCUTAS

Não é anarca quem quer, é preciso ter estofo para ser um anarquista de facto. De forma totalmente desproporcio-nada diríamos que é quase preciso o mesmo estofo para ser punk. Este primeiro álbum das Anarchicks vem numa atmosfera punk e percebemos bem essa intencional suji-dade nos registos. Encontramos neste Really alguns bons balanços e ideias sonoras capazes de nos captar a aten-ção. Não é nossa intenção sentenciar o que estas quatro miúdas nos trazem mas parece-nos importante expressar que é possível ir muito para além do que aqui, em Really foi atingido. Talvez uma frase óbvia, pois que a evolução é sempre infinita, mas neste clima punk parece-nos mais importante que bateria, baixo, guitarra e voz se expres-sassem com uma maior consistência. Há caminho para desbravar para além de uma atitude de boa onda!

Álbum: Really?!Autor: Anarchicks

Editora: Chifre

O gosto por cantar as suas canções parece-nos evidente, quer na voz de Martim Torres como no aglomerado ins-trumental. É muito possivelmente uma pretensiosa defi-nição nossa mas neste Em Banho Maria há uma postura baixa-fidelidade aliada ao universo adolescente do quarto dos sonhos. Há um notório domínio dos géneros e das fórmulas da composição. Associando estas capacidades a um espírito lírico de um imaginário quase-adulto, os poemas destes nove temas acabam por nos divertir.É uma estreia conseguida e destacamos as músicas Do-mingo de Manhã, Cais do Sodré e Belzebu, Meu Amor, que não nos deixam indiferentes. Foram traçados objec-tivos, transpuseram-se ideias para um quadro sonoro e a palavra cantada, em Português, traz consigo todas as virtudes e todos os defeitos no uso da linguagem em melodias.

Álbum: Em Banho MariaAutor: O MartimEditora: Azáfama

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Há uma dose de verdadeira ingenuidade neste novo ál-bum homónimo de Weatherman. A ingenuidade a que nos referimos é saudável, trata-se da simplicidade com que se apresenta este leque de canções e a forma livre como o imaginário do músico Alexandre Monteiro é ex-planado. Notas positivas que nos assaltam de imediato são a qualidade sonora do registo, a harmonia das com-posições e as noções de tempo. A qualidade deste ter-ceiro álbum vem no seguimento dos níveis elevados que tinham ficado no passado. O denominado processo de masterização pelas mãos de Tim Debney, no Fluid Maste-ring, em Londres, Reino Unido, revelam-se fundamentais para a consistência da criatividade musical de Alexandre Monteiro e dos seus parceiros instrumentais. As composi-ções deste álbum vagueiam no universo da música popu-lar anglo-saxónica e, tal como outros bons compositores nacionais, os padrões encontram-se a par com o que de melhor se faz neste campo. Sobre as noções de tempo, não estamos a referir-nos às dinâmicas nem à qualidade da construção musical, que é notória, mas antes à noção de duração de cada tema. Muitas das vezes percebemos que algumas músicas populares de qualidade pecam pelo seu carácter repetitivo e pela exploração desmesurada de uma orelhuda harmonia de notas e um verso bem concebido. Não é o caso de Weatherman, há uma segu-rança absoluta de todos estes aspectos e tudo isto sem perder essa qualidade universal e libertadora de fazer boas canções. Um único reparo talvez para uma maior e desejada maturidade lírica para futuras canções, pois que a linguagem pode ser também ela mais libertadora e de imaginário mais infinito.No final a sensação que nos fica é de um conjunto di-versificado onde as 12 canções têm um cunho próprio, independentemente dessa terrível tendência de sermos levados a reduzir tudo à comparação do que já ouvimos. Não temos essa soberba e deixámo-nos ir pelo alinha-mento do registo. Uma boa companhia.

Álbum: WeathermanAutor: The Weatherman

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