design editorial - trabalho final

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1 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - Pesquisas mostram as virtudes de dietas simples e saborosas que fazem bem a saúde. Moradores de favela sofrem com sanos causados pela chuva. Exposição de aparelhos da década de 20 é inaugurada no Rio de Janeiro. SAÚDE COTIDIANO DESIGN ARTES PLÁSTICAS BRASILIANA A expressão neoconcreto indica uma tomada de posição em face da arte De uma caixa de papelão para o colo da Daniele, a história de Agô. AQUECIMENTO GLOBAL informe VOCÊ SEMPRE BEM INFORMADO ANO 1 - N. 01 Pesquisa diz que 300 mil pessoas morrem todos os anos por causa do aquecimento global.

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Pesquisas mostram asvirtudes de dietas simples esaborosas que fazem bem a saúde.

Moradores de favela sofremcom sanos causados pelachuva.

Exposição de aparelhos dadécada de 20 é inauguradano Rio de Janeiro.

SAÚDE COTIDIANO DESIGN

ARTES PLÁSTICAS

BRASILIANA

A expressão neoconcreto indica uma tomada de posição em face da arte

De uma caixa de papelão para o colo da Daniele, ahistória de Agô.

AQUECIMENTOGLOBAL

informeVOCÊ SEMPRE BEM INFORMADOANO 1 - N. 01

Pesquisa diz que 300 mil pessoas morremtodos os anos por causa do aquecimento global.

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Fábio Casca@fabiocasca / Twitter@revistainforme ótimas matérias! Curti d+

Ana Luz@analuz / Twittermuito legal a matéria sobre o aquecimento global da @revistainforme

Gregoriano @Grego01 / Twitter@revistainforme começou

muito bem. Ótima revista

MENSAGENS

EXPEDIENTE

COMPONENTEScindel piccoliibilaine karinejosiane lourençolarissa mendespéricles christianrachel lopesthiago tristão

CAPA / CONTRA CAPAThiago Tristão

DESIGN NO BRASILIbilaine Karine

ARTES PLÁSTICASJosiane Lourenço

MEIO AMBIENTECindel Picoli

SAÚDELarissa Mendes

COTIDIANOPéricles Christian

BRASILIANARachel Lopes

SUPORTE / SAC0800 0000 0000

IMPRESSÃOgráfica graphic

ENDEREÇOr. guajajaras, 00, centrobelo horizonte/mg

PARA [email protected]

SAIBA ONDE PEGARwww.informe.com

FALE COM A GENTE@[email protected]

informe

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Design no Brasil

Com

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A exposição “Eletrodomésticos, Origens, História & Design no Brasil”, inaugurada no Museu Histórico Nacional, do Rio de Janeiro, nos faz prestar atenção nessas máquinas servidoras que povoam a maioria

dos lares brasileiros, A mostra é programa para toda a família. As bisavós ficarão encantadas com o fonógrafo de sua infância, as geladeiras que não gelavam – eram apenas armários bem vedados, nos quais se colocava gelo, trazidos por vendedor. Vão se lembrar das lides de cozinhar no fogão a carvão, nos difíceis anos da Segunda Guerra Mundial. Os avós vão lembrar das primeiras geladeiras elétricas, compradas em seríssima decisão de conselho familiar e aguardadas com festa e exibição aos vizinhos. Vão recordar dos programas da TV Tupi a que assistiam, sentados em poltronas com pés de palito e diante de telas com imagens em preto-e-branco, emolduradas por madeiras de alta qualidade. E também das novelas do rádio, a que suas mães ouviam, diariamente, enquanto bordavam ou cerziam roupas da família diante de enormes aparelhos de madeiras ou já menores, de baquelite.Quem tem mais de 40 anos vai reconhecer a enceradeira, presença obrigatória nas casas brasileiras de classe média para cima, nos anos 1950 e 1960. Seu ruído característico preenchia todos os cômodos, mesmo que fosse utilizada apenas na sala, deixando o assoalho de tacos brilhando para receber as visitas. Mas a exposição permite leituras mais precisas, especialmente para quem estuda história do design. Nos países com forte tradição na área, as mostras históricas se sucedem, reconstruindo visões do passado, recuperando personagens esquecidos, em tentativas de criar linhagens do presente. Elas partem de acervos preexistentes, reorganizando objetos em novas narrativas. O esforço brasileiro é bem maior. Aqui, o garimpo é um verdadeiro suplício, pois não temos centros de memória ¬¬industriais e os useus mal cumprem uma de suas prerrogativas básicas, a conservação de objetos. Não há instituições preocupadas com a memória recente, especialmente aquela da vida urbana, caracterizada pela industrialização. A pesquisa demonstra um rastreamento cuidadoso, que traz projetos de design brasileiro, como os fogões Dako e Wallig e os rádios da Invictus,

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Design no Brasil

Do primeiro aparelho de som, ninguém esquece. Jovens na faixa dos 20 anos ganharam, quando pequenos, o “meu primeiro Gradiente”, tradução do “my first Sony”, com dispositivo de Karaodê, estímulo à auto-exibição. Mas e o primeiro aspirador de pó, o fogão da in-fância a cafeteira, companheira das man-hãs sonolentas, quem se lembra desses itens triviais, alguns tão prestativos, que se tornam imprescindíveis? Ou alguém se imagina vivendo sem geladeira?

”assim como os primeiros objetos Arno e Walita. Sem qualquer ufanismo, a mostra revela as cópias de alguns produtos, como o ventilador Picolino, da Walita, “semelhante” ao modelo da Siemens alemã. No entanto, não há nessa constatação uma reprovação moral, mas o reconhecimento de esforços para acompanhar o patamar dos artigos importados. A televisão Philco Curvilínea, de 1969, em que o aparelho de TV é engastado a um painel curvo, que lhe serve de abrigo, foi projetada e vendida apenas no Brasil – e não deixa de ser interessante essa dualidade formal reto/curvo, plástico/madeira como expressão singular de nossa arquitetura moderna. Nesse mesmo mote, vale a pena observar os objetos reunidos – batedeira le liquidificador Walita e a TV Widevision, com referências explícitas às colunas do Palácio do Alvorada. Os esforços historiográficos dos últimos anos refletem-se na mostra. O reconhecimento das matrizes racionalistas européias (Peter Behrens) tem o mesmo peso das fontes norte-americanas, que incorporaram o streamlining e várias características do art déco em seus produtos. Ambas comparecem nos eletrodomésticos distribuídos e depois fabricados no Brasil, privilegiando o design como campo da história cultural. Destoando um pouco da expografia contemporânea, que não recomenda a profusão de textos, a mostra abusa de legendas explicativas, adotando postura didática e unívoca da narrativa apresentada. Parece medida acertada para

expor objetos tão prosaicos como fogões, ferros de passar roupas e aspiradores de pó num museu, prática aidna incipiente no Brasil. Ah, e grande curiosidade: a exposição foi patrocinaa pela rede de varejo Ponto Frio, que, quem diria, adotou esse nome pela tradução da famosa geladeira projetada por Raymond Loewy para a Sears, em 1935, a Coldspot!

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Artes Plásticas

A expressão neoconcreto indica uma tomada de posição em face da arte não-figurativa “geométrica” (neoplasticismo, construtivismo, suprematismo,

escola de Ulm) e particularmente em face da arte concreta levada a uma perigosa exacerbação racionalista. Trabalhando no campo da pintura, escultura, gravura e literatura, os artistas que participam dessa I Exposição Neoconcreta encontraram-se, por força de suas experiências, na contingência de rever as posições teóricas adotadas até aqui em face da arte concreta, uma vez que nenhuma delas “compreende” satisfatoriamente as possibilidades expressivas abertas por estas experiências.Nascida com o cubismo, de uma reação à dissolvência impressionista da linguagem pictórica, era natural que a arte dita geométrica se colocasse numa posição diametralmente oposta às facilidades técnicas e alusivas da pintura corrente. As novas conquistas da física e da mecânica, abrindo uma perspectiva ampla para o pensamento objetivo, incentivaram, nos continuadores dessa revolução, a tendência à racionalização cada vez maior dos processos e dos propósitos da pintura. Uma noção mecanicista de construção invadiria a linguagem dos pintores e dos escultores, gerando, por sua vez, reações igualmente extremistas de caráter retrógrado como o realismo mágico ou irracionalista como Dada e o surrealismo. Não resta dúvida, entretanto, que, por trás de suas teorias que consagravam a objetividade da ciência e a precisão de mecânica, os verdadeiros artistas – como é o caso, por exemplo, de Mondrian ou Pevsner – construíram sua obra e, no corpo-a-corpo com a expressão superaram, muitas vezes, os limites impostos pela teoria. Mas a obra desses artistas tem sido até hoje interpretado na base dos princípios teóricos, que essa obra mesma negou. Propomos uma reinterpretação do neoplasticismo, do construtivismo e dos demais movimentos afins, na base de suas conquistas de expressão e dando prevalência à obra sobre a teoria. Se pretendemos entender a pintura de Mondrian pelas suas teorias, seremos obrigados a escolher entre as duas. Ou bem a profecia de uma total integração de arte na vida cotidiana parece-nos possível – e vemos na obra de Mondrian os primeiros passos nesse sentido – ou essa integração nos parece cada vez mais remota e a sua obra se nos mostra frustrada. Ou bem a vertical e a horizontal

são mesmos os ritmos fundamentais do universo e a obra de Mondrian é a aplicação desse princípio universal ou o princípio é falho e sua obra se revela fundada sobre uma

ilusão Mas a verdade é que a obra de Mondrian aí está, viva e fecunda, acima dessas contradições teóricas. De nada nos servirá ver em Mondrian e desfrutar da superfície, do plano e da linha, se não atentamos para o novo espaço que essa destruição construiu. O mesmo se pode dizer de Vantangerloo ou de Pevsner. Não importa que equações matemáticas estejam na raiz de uma escultura ou de um quadro de Vantangerloo, desde que só à experiência direta da percepção a obra entrega a “significação” de seus ritmos e de suas cores. Se Pevsner partiu ou não de figuras de geometria descritiva é uma questão sem interesse em face do novo espaço que as suas esculturas fazem nascer e da expressão cósmico-orgânica que, através dele, suas formas revelam. Terá interesse cultural específico determinar as aproximações entre os objetos artísticos e os instrumentos científicos, entre a intuição do artista e o pensamento objetivo do físico e do engenheiro.

Manifesto Neoconcreto

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Ou bem a vertical e a horizontal são mesmos os ritmos fundamentais do universo e a obra de Mondrian é a aplicação desse princípio universal ou o princípio é falho e sua obra se revela fundada sobre uma ilusão.O neoconcreto, nascido de uma necessidade de exprimir a complexa realidade do homem moderno dentro da linguagem estrutural da nova plástica.

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Artes Plásticas

Mas, do ponto-de-vista estético, a obra começa a interessar precisamente pelo que nela há que transcende essas aproximações exteriores: pelo universo de significações existenciais que ela a um tempo funda e revela. Malevitch, por ter reconhecido o primado da pura sensibilidade na arte, salvou as suas definições teóricas das limitações do racionalismo e do mecanismo, dando à sua pintura uma dimensão transcendente que lhe garante hoje uma notável O neoconcreto, nascido de uma necessidade de exprimir a complexa realidade do homem moderno dentro da linguagem estrutural da nova plástica, nega a validez das atitudes cientificistas e positivistas em arte e repõe o problema da expressão, incorporando as novas dimensões “verbais” criadas pela arte não-figurativa construtiva. O racionalismo rouba à arte toda a autonomia e substitui as qualidades intransferíveis da obra de arte por noções da objetividade científica: assim os conceitos de forma, espaço, tempo, estrutura - que na linguagem das artes estão ligados a uma significação existencial, emotiva, afetiva - são confundidos com a aplicação teórica que deles faz a ciência. Na verdade, em nome de preconceitos que hoje a filosofia denuncia (M. Merleau-Ponty, E. Cassirer, S. Langer) - e que ruem em todos os campos a começar pela biologia moderna, que supero o mecanicismo pavloviano - os concretos-racionalistas ainda vêem o homem como uma máquina entre máquinas e procuram limitar a arte à expressão dessa realidade teórica.Não concebemos a obra de arte nem como “máquina” nem como “objeto”, mas como um quasi-corpus, isto é, um ser cuja realidade não se esgota nas relações exteriores de seus elementos; um ser que, decomponível em parte pela análise, só se dá plenamente à abordagem direta, fenomenológica. Acreditamos que a obra de arte supera o mecanicismo material sobre o qual repousa, não por alguma virtude extraterrena: supera-o por transcender essas relações mecânicas (que a Gestalt objetiva) e por

criar para si uma significação tácita (M. Ponty) que emerge nela pela primeira vez. Se tivéssemos que buscar um símile para a obra de arte não o poderíamos encontrar, portanto, nem na máquina nem no objeto tomados objetivamente, mas, como S. Langer e W.Wleidlé nos organismos vivos. Essa comparação, entretanto, ainda não bastaria pra expressar a realidade específica do organismo estético. Por sua vez, a prosa neoconcreta, abrindo um novo campo para as experiências expressivas, recupera a linguagem como fluxo, superando suas contingências, sintáticas e dando um sentido novo, mais amplo, a certas soluções tidas até aqui equivocadamente como poesia. É assim que, na pintura como na poesia, na prosa como na escultura e na gravura, a arte neoconcreta reafirma a independência da criação artística em face do conhecimento prático (moral, política, indústria, etc.)Os participantes desta I Exposição Neoconcreta não constituem um “grupo”. Não os ligam princípios dogmáticos. A afinidade evidente as pesquisas que realizam em vários campos os aproximou e os reuniu aqui. O compromisso que os prende, prende-os primeiramente cada um à sua experiência, e eles estarão juntos enquanto dure a afinidade profunda que os aproximou.

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Meio Ambiente

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Estudo divulgado pelo FórumHumanitário Global diz que número de mortes em decorrência das mudanças climáticas será de meio milhão por ano em 2030.POR MARGARIDA TELLES

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Qual o impacto, medido em números, do aquecimento global sobre os seres humanos? Até aqui, houve muita especulação e chute. Onde havia sombra agora no entanto, há luzes: foi publicado nesta sexta-feira (29) o estudo mais

completo e mais claro sobre o tema. A autoria não poderia ser mais qualificada: o Fórum Humanitário Global, uma organização internacional destinada a identificar os principais desafios da humanidade e presidida por Kofi Annan, antigo secretário-geral da ONU. Os números são alarmantes: segundo o relatório, 300 mil pessoas morrem anualmente em decorrência da mudança de clima, vitimadas por uma longa lista de catástrofes que vão de inundações à destruição de colheitas. Em 2030, mantidos os padrões atuais, as mortes chegarão a meio milhão por ano. As perdas econômicas batem em US$ 125 bilhões anualmente. Calcula-se que 325 milhões de pessoas sejam “seriamente afetadas” pelo aquecimento global. Quatro bilhões de pessoas estão “vulneráveis”, afirma ainda o relatório, e 500 milhões enfrentam “extremo risco”. Estes dados podem ser “conservadores”, diz o estudo. Apenas desastres ligados ao clima causaram prejuízos de US$ 230 bilhões nos últimos cinco anos. Pouco? Mesmo que a comunidade internacional seja eficiente e tenaz agora nas ações climáticas, “pelas próximas décadas a sociedade deve estar preparada para mudanças de clima mais fortes e para impactos mais perigosos sobre as pessoas”, de acordo com o relatório. “O aquecimento global já produz intensos danos para os seres humanos, mas é uma crise silenciosa: é uma área de pesquisa negligenciada, uma vez que o debate está focado nos efeitos físicos da mudança de clima a longo prazo.” O estudo, feito com a estimativa corrente de que a temperatura vem-se elevando anualmente 0,74 graus, vem a público poucos meses antes de uma conferência da ONU em Copenhague destinada a discutir medidas em regime de urgência para enfrentar o problema em escala global. “O tempo para agir é agora”, afirma o relatório. “Uma conclusão-chave dos estudos é que a sociedade global deve agir conjuntamente para enfrentar este drama compartilhado. Em Copenhague espera-se que os países ajam de acordo com seu interesse comum, e com uma só voz.” Um grupo de 20 cientistas, economistas e escritores já premiados com o Nobel uniu-se ao apelo do Fórum Humanitário Global em prol de ações imediatas. “As discussões em Copenhagen podem ser a última chance de evitar uma catástrofe global”, diz o grupo.

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Meio Ambiente

O relatório não é, todavia, unanimidade entre os estudiosos. O cientista político Roger Pielke Junior, da Universidade do Colorado, especialista em tendências de desastres, classificou o método utilizado no estudo como “um embaraço”, numa reportagem publicada no site do jornal The New York Times. “A mudança climática é um assunto importante que requer uma atenção profunda nossa”, disse Pielke. “Mas o relatório vai prejudicar a causa do combate ao aquecimento por ter tantos furos.” Choque de vaidades na busca da proeminência no combate ao aquecimento? Talvez. O que é indiscutível na essência do estudo – a despeito de discussões de metodologia -- é que não há desafio maior para a humanidade do que a mudança de clima.

Ideias para salvar o planetaDiante do estrago, surge todo tipo de loucura para remendar o clima da Terra. Simular erupções vulcânicas é só uma delas“É como estar em um carro sem freios, dirigindo no meio da neblina e indo em direção a um precipício.” Foi com essa frase que John Holdren, consultor de ciência de Barack Obama, se referiu à atual situação climática da Terra.A declaração de Holdren foi feita em seu primeiro pronunciamento oficial. Ele disse que a única medida para evitar um colapso climático seria a adoção de medidas tecnológicas de grande impacto, como refletores em órbita para bloquear o sol e diminuir a temperatura do planeta. Nos últimos dois anos, o rápido aumento da temperatura global e suas consequências levaram muitos cientistas, antes contrários à manipulação do clima, a se interessar pelas megaobras – chamadas de geoengenharia – como uma saída rápida o suficiente para evitar desastres ecológicos como o derretimento de parte significativa das calotas polares, enchentes, furacões e secas. Uma pesquisa recente feita pelo jornal britânico The Independent perguntou a 80 cientistas especializados em clima o que eles pensavam sobre geoengenharia. Dois terços afirmaram que apoiam a realização de mais pesquisas na área. A Academia Nacional de Ciência, uma associação americana que reúne alguns dos mais importantes nomes da ciência, vai sediar um debate sobre geoengenharia em junho. Na Inglaterra, o governo cogita a possibilidade de financiar novos estudos. Essa tentativa de reverter danos causados pelo homem ao planeta pode funcionar? Os arquitetos da geoengenharia têm duas estratégias para salvar o mundo. A primeira é tentar bloquear parte dos raios solares. Um dos projetos mais ambiciosos é do cientista Paul Crutzen. Ele ganhou o Nobel de Química em 1995, por estudar como a camada de ozônio é destruída. Agora se inspirou nos vulcões. Em 1991, o Vulcão Monte Pinatubo, nas Filipinas, lançou 10 milhões de toneladas de

enxofre na atmosfera terrestre. Os sedimentos criaram uma camada de poeira, que filtrou os raios solares durante dois anos reduzindo em 0,6 grau célsius a temperatura média da Terra. Inspirado por esse efeito, Crutzen defende lançar 1 milhão de toneladas de enxofre na atmosfera, para criar a primeira tela de proteção à radiação solar feita pelo homem. A tática poderia até resfriar o planeta, mas causaria outros danos, como problemas respiratórios nas pessoas, chuva ácida e, ironicamente, destruição da camada de ozônio. Outro efeito colateral peculiar seria afetar o crescimento das plantas e diminuir a produtividade da energia solar, uma das melhores alternativas de energia renovável e não poluente.

Outras possibilidades para bloquear o Sol parecem saídas de um filme de ficção científica. A mais controversa é colocar milhares de espelhos na atmosfera. “Alguns dos projetos que pretendem refletir o Sol são eficazes. O risco é que, se a iniciativa for abandonada, a temperatura pode subir bruscamente”, afirma Nem Vaughan, pesquisadora inglesa que conduziu um dos primeiros estudos comparativos sobre as diferentes técnicas de geoengenharia, ao lado do cientista Tim Lenton, da Universidade de East Anglia, no Reino Unido. Nem Vaughan acredita mais em outra estratégia de geoengenharia que vise tirar da atmosfera parte do gás carbônico responsável pelo aquecimento global. Uma das opções mais seguras é investir em grandes projetos de reflorestamento. Quando crescem, as árvores retiram carbono do ar. Mas não há área suficiente para limpar a atmosfera só com florestas plantadas. Uma opção para isso foi sugerida pela empresa californiana Planktos, em 2007. Ela iria despejar ferro no mar das Ilhas Galápagos. A ideia, chamada de fertilização do mar, era incentivar a proliferação de algas, que absorveriam uma grande quantidade de gás carbônico. Depois de mortas, elas afundariam, enterrando o carbono no leito marinho. A iniciativa gerou protestos de ambientalistas, que temiam a destruição de ecossistemas inteiros com a proliferação das algas. Neste ano, estudos comprovaram que a fertilização dos mares não combateria o aquecimento global, pois a quantidade de carbono retirada pelas algas seria insuficiente. Se tivesse sido executada em grande escala, teria danificado a fauna e a flora marinhas em vão.

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Comer bem para

Nos últimos anos, o prazer de comer passou a ser associado à culpa. Não precisa ser assim. Novos estudos mostram as virtudes de dietas simples e saborosas que fazem bem à saúde, e ao planeta

Os gregos antigos tinham razão. Hipócrates, o Pai da Medicina, notou 400 anos antes de Cristo que a escolha dos alimentos

certos para o ser humano era o resultado da sabedoria acumulada ao longo das gerações, ao preço de muitas tentativas, erros e descobertas. Desse esforço, dizia ele, nasceu a dieta ideal para “a saúde e a segurança” do homem. “A essas investigações e achados, que nome poderia se dar mais adequado do que Medicina?”, perguntou Hipócrates em sua obra Da medicina antiga.Dois milênios e meio depois, o ser humano entende cada vez melhor que a boa alimentação é um excelente método de medicina preventiva. Graças ao avanço da ciência da nutrição, descobrimos as substâncias benéficas e maléficas nos alimentos. Entendemos melhor do que nunca o que se deve comer para viver mais e melhor. E as pesquisas recentes levam a uma conclusão surpreendente, que faria Hipócrates sorrir: nas dietas tradicionais, criadas séculos atrás por diferentes povos em todos os cantos do planeta, estão muitas das virtudes indispensáveis a uma dieta saudável. Uma dieta que pode ser seguida sem a culpa incutida nos últimos anos por uma série de estudos que parecem nos proibir de comer o que é saboroso.Os estudos não devem ser ignorados – eles alertaram, por exemplo, para os danos à saúde provocados por muitas substâncias adicionadas aos alimentos industrializados –, mas não devem ser vistos como uma forma de repressão alimentar. “As pessoas têm de buscar o caminho do prazer, não da restrição”, diz Richard Béliveau, professor do Departamento de Bioquímica da Universidade do Québec, em Montreal. “A ‘junk food’ (‘comida lixo’, nome usado para definir a comida industrial de baixo valor nutricional) é, literalmente, monótona. As dietas tradicionais têm muito mais variedade: são simples e deliciosas.” Béliveau, autor do livro A saúde pelo prazer de comer bem (ainda inédito no Brasil), faz parte de um grupo de pesquisadores que prega o resgate das tradições culinárias de cada país como modo saudável – e saboroso

– de se alimentar.

Culinária mediterrâneaEntre as dietas capazes de conciliar saúde e prazer, a mais conhecida é a mediterrânea. Estudos e mais estudos relacionam os alimentos consumidos tradicionalmente em países como Grécia, Espanha e Itália à redução de doenças crônicas. Na dieta mediterrânea, destacam-se o azeite de oliva, as castanhas e o consumo moderado de álcool, geralmente vinho – todos associados à redução de risco de doenças cardiovasculares. Um dos estudos mais relevantes foi completado meses atrás pela Universidade de Florença, na Itália, e publicado no British Medical Journal. Uma equipe liderada por Francisco Sofi, pesquisador de nutrição clínica, compilou dados de várias pesquisas feitas entre 1966 e junho de 2008 e concluiu que a dieta mediterrânea está associada a uma redução de 9% na mortalidade geral e na mortalidade por doenças cardiovasculares, uma diminuição de 6% na incidência de câncer e de 13% na incidência de Parkinson e Alzheimer.A dieta mediterrânea, porém, não é a única capaz de garantir uma alimentação saudável sem culpa. Os estudos mais recentes mostram evidências dos benefícios de costumes de japoneses, indianos – e brasileiros – à mesa. Qualidades comuns às dietas tradicionais desses povos são a abundância e a variedade de legumes e verduras – e a ausência de alimentos industrializados. Da tradição culinária japonesa herdamos o consumo de alimentos valiosos, como soja e chá verde, contra o câncer, e peixes ricos em ômega-3, importantes para a saúde do coração e do cérebro. A dieta indiana nos inspira a substituir o sal por pimentas e especiarias como a cúrcuma, que combate o câncer, e a limitar o consumo de carne vermelha. E a brasileira nos ensina a respeitar uma proporção adequada

dos alimentos no prato e incentiva o consumo de frutas.

Saúde

viver melhor

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“A mistura do feijão com o arroz cria o mesmo tipo de proteína da carne, e a salada traz os fitoquímicos que combatem o câncer”, afirma o neurologista francês David Servan-Schreiber, autor do Best-seller Anticâncer (editora Objetiva),livro cuja tiragem mundial já ultrapassou 1 milhão de exemplares. “A proporção de 75% a 80% de vegetais para 20% a 25% de carne em um prato é perfeitamente saudável e costumava ser a base da maioria das dietas tradicionais”, diz ele. “O prato tradicional brasileiro é o que os nutricionistas gostariam que todo mundo comesse”, diz Mônica Elias Jorge, nutricionista da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de SãoPaulo.As tradições à mesa deram lugar a uma alimentação globalizada não necessariamente ideal. A predominantes dieta americana, segundo Servan- Schereiber, é perigosa. Não se trata de americanofobia francesa. Nesse tipo de dieta, 65% das calorias ingeridas vêm de três fontes: açúcar refinado, farinha refinada e óleos vegetais com ômega-6. Além de não fornecer nutrientes e vitaminas vitais, esses ingredientes levam à obesidade, considerada pela Organização Mundial da Saúde uma das ameaças mais graves à saúde. “A obesidade é o ponto comum de doenças como diabetes, câncer, doenças do coração e Alzheimer”, diz Richard Béliveau, da Universidade do Québec.Toda vez que comemos açúcar, nosso corpo secreta hormônios que estimulam o crescimento das células. Esse Processo é importante nas crianças, que precisam ficar mais altas, mas é prejudicial depois da fase de crescimento. “Nos adultos, as únicas coisas que crescem são gordura e câncer”, diz Servan-Schreiber. Segundo dados da American Herat Association, entidade americana de combate às doenças cardiovasculares, um índice de massa corporal acima de 30 reduz a expectativa de vida em cerca de sete e seis anos, respectivamente para

mulheres e homens não fumantes na faixa dos 40 anos. A obesidade parece estar relacionada a um aumento do risco de demência na terceira idade. Segundo uma pesquisa divulgada em janeiro pela Universidade Colúmbia, em Nova York, o acúmulo de gordura na cintura em adultos jovens amplia o risco de desenvolver Azheimer na velhice.Nos Estados Unidos, país com 32% de adultos obesos, a expectativa de vida é de 78 anos e a taxa de incidência de câncer é de 357 casos a cada 100 mil habitantes, segundo a International Agency for Research on Cancer. No Japão, 3% dos adultos são obesos, a expectativa de vida é de 82 anos e a incidência de câncer é de 214 por 100 mil. É claro que a alimentação não é o único fator para a obesidade – o sedentarismo também tem sua contribuição -, mas a comparação entre Japão e Estados Unidos, dois países ricos e com recursos médicos avançados, serve de alerta para o Brasil.Por aqui, a obesidade já afeta 11% da população adulta, 18% dos meninos e 15,5% das meninas. Como reduzir esses índices? “A tendência é que a medicina preventiva cresça cada vez mais”, afirma o médico Heno Lopes, da Unidade Clínica de Hipertenção do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo e autor do livro Dieta do coração (editora Abril). Mudar hábitos alimentares não só reduziria os custos com o tratamento de doenças, mas melhoraria a qualidade de vida da pessoas.

Saúde

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Cotidiano

Fa

vela

S

itia

da H á 20 dias, a desempregada Edna Cândida de Queiroz perdeu a principal fonte de renda. As chuvas das últimas semanas caíram com mais força e junto vieram os problemas. Buracos surgiram na rua sem

asfalto em frente à casa dela. Uma das crateras foi aumentando de tamanho até fazer a carroça de Edna virar e quebrar. Desde então, ela perdeu a chance de fazer os bicos que sustentam a família de seis pessoas. “Vou botar a culpa em quem: na chuva ou no governo?”, questiona. Como consolo, ela viu a prefeitura colocar cascalho no buraco.Junto com ela, outras duas mil famílias enfrentam as mesmas dificul-dades na favela Super Quadra (SQ) 19, na Cidade Ocidental, município de Goiás, no Entorno de Brasília, localizada a 47 quilômetros da Praça dos Três Poderes. No auge das chuvas, os buracos impedem a entrada de caminhões e ambulâncias na favela. Os moradores são obrigados então a colocar lixo na avenida lateral ao bairro. Muitas vezes, os caminhões não passam a tempo e a chuva arrasta o lixo e o espalha em frente às casas. Assim, ra-tos, baratas e outros insetos invadem os lares. No quarto do filho, Edna Cândida encontrou uma aranha, daquelas peludas, típicas dos filmes de terror. Na SQ 19, também não há esgoto e, por vezes, o cheiro de fezes das fossas domina o local. . Mas a chuva não pode ser considerada a principal causa para tantos males. A Super Quadra 19 – considerada bairro em razão do alto índice demográfi-co – é o espelho das políticas públicas feitas no Entorno nas últimas décadas. A região tem a pior distribuição de renda do País, segundo levantamento do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS), feito no ano passado. A maior parte da população da SQ 19 é desempregada e depende de bicos e cestas básicas da prefeitura. E o motivo dos problemas na Cidade Ocidental, com 50 mil habitantes, é o mesmo de toda a região de pobreza que cerca Brasília: distribuição eleitoreira de lotes e crescimento desenfreado.

Moradores de favela sofrem mais no período de chuvas

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Cotidiano

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Vou botar a culpa em quem: na chuva ou no governo? - Edna, desempregada

PROMESSAS

Antes, a favela era um brejo e ponto de diversão de crianças. No fim da década de 1990, começaram a se espalhar promessas de que a prefeitura iria doar lotes. Foi o suficiente para mais de duas mil famílias ocuparem o local em poucos anos. E os problemas fundiários estão longe de serem resolvidos. O terreno sequer é da prefeitura, até hoje enrolada na promessa da regularização da terra por parte do governo do Distrito Federal. Em novembro do ano passado, o município iniciou o processo de cadastramento dos moradores do bairro. “Não é porque o lote ainda não é nosso que a gente vai ficar aqui largado”, conclui o ajudante de pedreiro Messias Santos da Silva.

Os moradores da favela correm o risco de serem desapropriados. O bairro está localizado em uma área de proteção ambiental, em cima de um lençol freático. Além dos problemas típicos das chuvas, em algumas ruas, literalmente, brota água de nascentes. A dona-de-casa Iara Martins é uma das muitas moradoras acostumadas às infiltrações. Anualmente, ela é obrigada a reparar as paredes e refazer a pintura. “Se soubesse que essa terra seria só problema, eu não teria colocado o primeiro tijolo”, diz Iara, que veio do Maranhão. A dona-de-casa conta ter visto até um trator atolar em frente de casa.O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) prevê investimentos de 13 milhões de reais na Cidade Ocidental, até 2010. A prioridade será a construção de habitações para moradores de áreas de risco permanente. As obras estão em fase de contratação. No total, serão 1,4 bilhão de reais investidos no Entorno no mesmo período.Não é a primeira vez que o governo federal investe na região. Em 2004, o Ministério das Cidades começou um projeto de urbanização das favelas da Cidade Ocidental, em especial a SQ 19. As ruas serão asfaltadas e um sistema de saneamento básico e drenagem será construído, além de escola e posto policial.As obras, porém, estão paradas há seis meses, segundo os moradores. No local, não há qualquer vestígio de obras em andamento. No Ministério das Cidades, o projeto consta como “em execução” e com 33% concluído. O último acompanhamento feito pelo ministério é de outubro do ano passado, quando foram repassados 300 mil reais à construtora Coensa pelos serviços prestados.Segundo a assessoria do Ministério das Cidades, a responsabilidade de execução das obras é do município. O prefeito Plínio Araújo, do PSDB, está hospitalizado desde o início do mês, quando sofreu graves complicações em um pós-operatório. A vice-prefeita Sônia de Melo Augusto está no comando de Cidade Ocidental desde a terça-feira 11, mas não retornou os contatos de Carta Capital.Pessoas convivem em meio aos buracos e ao descaso.

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Brasiliana

A sorte de Agô

Do útero para uma caixa de papelão nas ruas de Ribeirão Pires, região metropolitana de São Paulo. De lá para a casa de Cida e, finalmente, para os braços de Daniele.

Ele não é patrocinado por um fabricante de material esportivo, não faz comerciais de cerveja e não atrai paparazzi, mas sem

dúvida é um fenômeno. Capaz até mesmo de superar o humor negro que originou o próprio nome. “Quem o encontrou nos disse que ele estava agonizando, repetia muito isso. Resolvemos colocar o nome nele de Agô”, conta Aline Cristina, técnica veterinária e funcionária do Clube dos Vira-Latas, a organização não governamental (ONG) que abrigou o cachorro. Desde a salvação, Agô demonstrava ter nascido com o rabo longilíneo em direção à lua. Coube à protetora de animais “Cláudia São Bernardo”, conhecida pela sorte de sempre encontrar cães da raça São Bernardo abandonados, topar com o SRD (sigla para sem raça definida) caramelo, acompanhado de duas irmãzinhas, uma delas sem vida. Logo que chegaram ao clube, com aproximadamente vinte dias de vida, os dois remanescentes da família Agô foram diagnosticados com cinomose, virose que ataca principalmente o sistema nervoso e costuma ser fatal. A maior parte dos animais sobreviventes sofre com sequelas como paralisia nas patas. Após dois dias, apenas ele resistiu, tratado à base de mamadeira e papinha. A única lembrança da enfermidade é uma leve fisgada na pata dianteira, espécie de tique nervoso, quase imperceptível. Além de refúgio para cerca de 350 cachorros, o Clube dos Vira-Latas é a residência de Cida

Lellis, presidente da entidade. Há quatro anos ela trocou a casa em que morava por outra de quase 400 metros quadrados em um município na grande São Paulo. Solteira e sem filhos, a professora aposentada optou por se dedicar exclusivamente ao socorro aos bichos. Sorte do então novo hóspede, recolhido à cozinha para evitar a contaminação dos demais. Aconchegado em uma bolsinha, Agô embarcou em um Táxi Dog, no colo de Aline, rumo a uma feira de animais deficientes promovida pela ONG Solidariedade à Vida Animal (Sava), organização que funciona como uma espécie de central responsável por convocar a rede de parceiros para as feiras e mutirões de castração.No Pet Shop Tancredo Dogs, na avenida Tancredo Neves, zona sul de São Paulo, as histórias e os latidos se misturam. Sem a pata direita dianteira, amputada após complicações causadas também por um atropelamento, Mel se faz perceber logo na entrada. Porte semelhante ao de um labrador, ela é a maior entre os vira- latas acomodados em duas fileiras de gaiolas com grades brancas e babados cor-de-rosa. Movimenta-se sem grande dificuldade e deixa os visitantes lhe acariciarem a cabeça, apesar de receosa com crianças. “Ela deve ter sido machucada por alguma”, acredita Eliana Matiussi, madrinha que custeia os gastos com o veterinário e a hospedagem da “afilhada”. Eliana é uma das milhares de pessoas dedicadas a recolher animais em situação de risco para mantê-los

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”“ Desde 2008, uma lei

estadual impede a eutanásia de animais saudáveis em São Paulo. Com isso, a carrocinha passou a atuar somente em casos de denúncia, como quando algum animal oferece perigo.

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em clínicas até a oportunidade de adoção. São os chamados cuidadores independentes. Graças à internet, o trabalho deles ficou muito mais fácil. Boa parte integra comunidades virtuais por meio das quais divulga a realização de eventos, faz denúncias de maus-tratos e pede socorro para a manutenção de abrigos e acolhimento de animais. Em consequência da ação desses grupos, cerca de mil interessados em adotar animais passaram pelo canil do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), na capital paulista, no primeiro semestre deste ano. “O CCZ não faz campanha de adoção, mistura cães sadios com doentes, grandes com pequenos. Os bichos acabam se matando, transmitindo viroses uns para os outros”, afirma Arlete Martinez, presidente da Sava. A pressão deu resultado. Algumas mudanças começaram a aparecer, entre elas parcerias com voluntários para passeios com animais e mutirões de banho e tosa aos que serão disponibilizados à adoção. Desde 2008, uma lei estadual impede a eutanásia de animais saudáveis em São Paulo. Com isso, a carrocinha passou a atuar somente em casos de denúncia, como quando algum animal oferece perigo.Para obter a guarda de um animal é preciso ter mais de 21 anos, apresentar RG, CPF, comprovante de residência, responder um questionário e ser capaz de amar e oferecer carinho. Parte do custo para a manutenção dos bichos é paga por meio da realização de bingos e bazares beneficentes. A grande fatia, contudo, sai do bolso dos protetores. No evento com animais deficientes, três encontraram um novo lugar para morar. Cego, um cão de cerca de 8 anos, pelos marrom-escuros e cujos olhos foram perfurados na rua, agora se chama Teco e fará companhia a Liliane Medeiros e Renato Kenjiro. “A maioria tinha protetor, menos ele. Fiquei sensibilizada e resolvi levá-lo”, declara Liliane. Mesmo destino teve Pandor,

depois Adamastor e atual Sheldon. “Meu marido tinha dificuldade para dizer Adamastor”, explica Natália Rogek, que chegou como voluntária ao Tancredo Dogs e saiu como mãe adotiva. Outra provável vítima do trânsito paulistano, o cachorro de pelos pretos e cerca de 2 anos teve de passar por uma cirurgia que retirou sua pata dianteira, após uma protetora encontrá-lo com uma fratura malcurada. Antes de todos eles, Agô mostrou a estrela mais uma vez. Daniele Jorge chegou às 2 da tarde na feira, motivada pelo desejo da filha de 5 anos de ter um mascote e com indicações de pessoas que anunciam animais na Gazeta do Ipiranga. Em vez de comprar, resolveu adotar . “É uma atitude mais de coração. Você vê tantos abandonados na rua”, comentou. Foi paixão à primeira vista. Da mesma forma que os outros, Agô mudou de nome e agora reina absoluto como Beethoven na Vila Carioca, zona sul de São Paulo. De acordo com os protetores, os grandes responsáveis pelo abandono são a falta de ação do poder público para promover campanhas de conscientização sobre posse responsável, pouquíssimos programas de castração para controlar a superpopulação e, no caso da capital paulista, a precária estrutura do Centro de Zoonoses para absorver animais abandonados. Há ainda o problema da aquisição de animais da moda por impulso. Certo mesmo é que a vida dos bichos seria mais difícil se não fossem as entidades e, principalmente, a ação dos defensores independentes. Como definiu Fowler Filho, presidente da ONG Focinhos Gelados, “um inestimável exército de gente que fica no anonimato”.

Agô, o Predestinado.

* CECÍLIA RUSSO TROIANO É PSICÓLOGA, DIRETORA-GERAL DO GRUPO TROIANO DE BRANDING, AUTORA DO LIVRO VIDA DE EQUILIBRISTA