design de corpos

Upload: familia-da-cuiica

Post on 13-Feb-2018

231 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    1/118

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    2/118

    UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

    ELAINE CAMARENA SOARES

    DESIGN DE CORPOS: UMA ANLISE NA COMUNICAO ENTREDESIGNERS DE MODA E MODELISTAS

    DISSERTAO DE MESTRADO

    MESTRADO EM DESIGN

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO STRICTO SENSU

    So Paulo, agosto/2011

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    3/118

    UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

    ELAINE CAMARENA SOARES

    DESIGN DE CORPOS: UMA ANLISE NA COMUNICAO ENTREDESIGNERS DE MODA E MODELISTAS

    DISSERTAO DE MESTRADO

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-GraduaoStricto Sensu em Design Mestrado da UniversidadeAnhembi Morumbi, como requisito parcial para obteno

    do ttulo de Mestre em Design

    Orientador: Prof. Dr. Jofre Silva PhD

    So Paulo, agosto/2011

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    4/118

    UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

    ELAINE CAMARENA SOARES

    DESIGN DE CORPOS: UMA ANLISE NA COMUNICAO ENTREDESIGNERS DE MODA E MODELISTAS

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao StrictoSensu em Design Mestrado da Universidade Anhembi

    Morumbi, como requisito parcial para obteno do ttulo deMestre em Design. Aprovada pela seguinte Banca Examinadora:

    Prof. Dr. Jofre Silva PhD Orientador Universidade Anhembi Morumbi

    Profa. Dra. Rachel Zuanon

    Avaliador Interno Universidade Anhembi Morumbi

    Profa. Dra. Marly de MenezesAvaliador Externo

    Faculdade Santa Marcelina

    So Paulo, agosto/2011

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    5/118

    Todos os direitos reservados. proibida a reproduo total ou parcial dotrabalho sem autorizao do autor.

    ELAINE CAMARENA SOARES (El Camarena)

    Mestre em Design pela Universidade Anhembi Morumbi. Bacharel em Desenho de Moda pela Faculdade Santa Mar-celina. Atua profissionalmente como scia diretora da Camarena & Dualiby em So Paulo. professora na FAAP eSanta Marcelina nos cursos de extenso em Design de Moda e no Istituto Europeo di Design, nos cursos de gradu-ao em Moda. Leciona Desenho Digital de Moda, Laboratrio de Tendncias, Projeto de Coleo e Apresentaode projeto. [[email protected]].

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    6/118

    Dedico este trabalho a Rafael, meu pai(in memoriam)

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    7/118

    Agradecimentos

    Agradeo a oportunidade em fazer parte do programa de mestrado da Universidade Anhembi Morumbi.Foi um momento muito importante na minha vida.

    Agradeo a todos os professores do programa, em especial aprofa. Dra. Kathia Castilho, que sempre me ouviu nos momentos em que precisei. A

    profa. Dra. Rachel Zuanon, pelas suas sbias palavras e ao

    prof. Dr. Jofre Silva PhD, que sempre soube me orientar e me acalmar nos momentosem que me afastei do meu caminho.

    Agradeo minha colega de mestrado, Tasa Vieira, por ter me ajudado em diversos momentos.

    Agradeo a profa. Dra. Maria Izabel Branco Ribeiro, que com sua grande experincia,generosidade e inteligncia, acreditou em mim e me

    orientou para iniciar todas minhas pesquisas.

    Agradeo a Antnia Costa, pela imensa pacincia e carinho.

    Agradeo Gloria Motta. Ela surgiu no momento mais importante em todo este processo e foi a responsvel para que eucontinuasse minhas pesquisas. Com sua infinita inteligncia e generosidade, compartilhou seus conhecimentos, ofereceu

    sua ajuda e me manteve entusiasmada para finalizar esta etapa.

    E agradeo especialmente Odete, minha me, minha irm Cristina e ao Joo, meu marido. Sem o apoio deles,no teria iniciado e concludo este trabalho.

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    8/118

    Deixem que o futuro diga a verdade e avalie cada um de acordo com o seutrabalho e realizaes. O presente pertence a eles, mas o futuro pelo qual eu

    sempre trabalhei pertence a mim.

    Nikola Tesla

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    9/118

    Esta pesquisa se prope a estudar o desenho de moda e suasrelaes com o corpo humano de acordo com as questesdo design, como uma das possveis solues na comunicaoentre designers de moda e modelistas em uma confeco.Apresenta o uso de corpos 3D como suporte ao desenho tc-nico de moda, para que as colees sejam criadas de acordocom a proporo humana e que possam servir ao projeto decoleo confeccionado distante das equipes de criao. Aofinal, apresenta um projeto experimental realizado por umamodelista e pela pesquisadora a partir da tcnica de moula-ge, para avaliar o uso da tecnologia tridimensional como umadas formas de comunicao entre equipes.

    Palavras-chave: Design. Moda. Desenho. Tecnologia 3D

    This research is proposed to study fashion design and its rela-

    tions to the human body concerning questions of design, as

    one of the possible solutions for the problem of communica-

    tion among fashion designer and modellers in a confeccion

    assemble. Its presented in 3D bodies as bases for the thec-

    nical fashion drawing, allowing the collections to be created

    and developed according to the human measures and pro-

    portions, so that they can be used by the colection project

    developed out of the creation teams/crews/staffs.It ends up

    presenting an experimental project realized from the mou-

    lage thecniques, by a modeller and a researcher, in order to

    evaluate the use of the three-dimensional technology, as a

    means of communication among teams.

    Keywords: Design. Fashion. Drawing. 3D technology

    ABSTRACTRESUMO

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    10/118

    NDICECaptulo 1 - O olhar do designer de moda

    Introduo.................................................................21

    1.1. Breve histria do corpo na moda......................25

    1.2. Corpo e proporo na moda............................33

    1.3. Desenho nas empresas e na academia

    de moda..........................................................41

    Capitulo 2 - O olhar do modelista

    2.1. Corpo vestido..................................................53

    2.2. Desenho de moda e modelagem......................59

    Capitulo 3 - O olhar digital

    3.1. Desenho digital de moda.................................69

    3.2. Corpo 3D........................................................79

    3.3. Projeto experimental: Construo de modelos

    por moulagea partir da tecnologia 3D.............89

    Consideraes finais...................................................97

    Glossrio...................................................................103

    Bibliografia................................................................115

    Webgrafia.................................................................121

    Anexos......................................................................127

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    11/118

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    12/118

    12

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modeli stas

    INTRODUO

    Figura 1 - Martins, Vero 2011/12. Apresentao dodesenho de moda ilustrativo com proporo diferente do

    corpo humano (www.usefashion.com)

    Ainda no h um nico mtodo que contemple o desenho

    tcnico de moda para a construo de colees. A academia de moda

    e os profissionais dedicados rea, possuem propostas diferentes

    para tratar o desenho. Cada um define um formato a ser desenvolvi-

    do de acordo com suas necessidades e perspectivas prprias.

    Outro aspecto do desenho tcnico de moda seu distanciamen-

    to em relao ao corpo humano. comum que ele possua um car-ter ilustrativo, por esse motivo, podem surgir dvidas relacionadas

    proporo da pea de vesturio no momento da confeco.

    Nesta pesquisa, sugere-se a utilizao de corpos construdos

    com medidas prximas da morfologia humana como referncia para

    o desenho tcnico de moda (ver glossrio) que ser utilizado como

    projeto na construo de colees.

    O objetivo sugerir a computao grfica 2D e 3D como

    suporte ao desenho tcnico de moda assim como parmetros em re-

    lao s medidas entre corpo e vesturio, com a inteno de sugerir

    um desenho que possa ser lido por todos os envolvidos no processo

    de confeco no Brasil e, principalmente, no exterior.

    Como resultado, espera-se oferecer s equipes de criao e

    confeco uma anlise sobre qual desenho de moda deve ser uti-

    lizado em cada etapa de produo de uma coleo e sugerir a es-cala humana para o desenho tcnico (ver glossrio), unificando a

    comunicao entre designers de moda, modelistas e profissionais da

    indstria.

    H desenhos de vesturio que podem no ter como base as

    medidas de um corpo humano fsico, ou podem estar relacionados

    a um corpo construdo de forma geomtrica que um modelo de

    construo utilizado em escolas de moda como a escola francesa

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    13/118

    13

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modelistas

    ESMOD (1995) mais utilizados em propostas ilustrativas.

    Essa forma de representao corporal pode no ser a mais

    adequada para o profissional que pretende utilizar as medidas do ser

    humano como parmetro de construo do desenho tcnico direcio-

    nado modelagem, na construo de uma coleo confeccionada

    distante do designer de moda.

    O corpo geomtrico utilizado em algumas escolas de moda,possui modificaes para se aproximar de regras estabelecidas para

    ilustrao (ver glossrio) nas escolas de moda, com propostas mais

    alongadas e magras que diferem da morfologia humana. So cor-

    pos que, normalmente, oferecem uma alterao de proporo para

    favorecer a ilustrao (Roig e Fernndez, 2010), e podem no servir

    de base para a construo de colees que precisam de uma leitura

    mais precisa.

    Figura 2 - Corpo geomtrico do livro NineHeads em comparao ao corpo humano

    fsico real (www.naked-people.de/)

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    14/118

    14

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modeli stas

    Essa alterao corporal, com inteno ilustrativa, modifica

    o vesturio desenhado sobre o corpo. As propores, s vezes mais

    alongadas, podem alterar a interpretao para o processo produtivo,

    que demanda um vesturio com base em medidas reais e que tem

    como funo vestir um ser humano.

    O corpo de forma geomtrica apresentado prioriza uma si-

    lhueta magra, sem volumes, com linhas rgidas e alteraes consi-derveis em relao s suas partes, como comprimento de braos,

    largura de ombros e pescoo, alm de apresentar uma imagem dis-

    tante das caractersticas humanas, como suavidade de contornos e

    posicionamento correto das articulaes.

    Esses desenhos com alteraes corpreas so utilizados

    como suporte ao desenho de moda, mas existem ainda os desenhos

    construdos sem nenhuma base com medidas humanas.

    No trabalho realizado na confeco, o designer precisa co-

    nhecer a anatomia do corpo humano para criar sobre ele modelos

    de vesturio que sejam compreensveis quando este profissional no

    estiver presente nos processos de modelagem (ver glossrio) e con-

    feco. Deve conhecer tambm o meio cultural onde est inserido e

    os valores atribudos por esta sociedade ao vesturio (Silveira, Iclia,

    2002: 661). Neste contexto, o presente trabalho prope uma abordagem

    do desenho de moda que leve em considerao esses dois aspectos

    para o processo de fabricao de roupas.

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    15/118

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    16/118

    16

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modeli stas

    O olhar do designer

    1.1 Breve histria do corpo na moda

    Captulo 1

    Na Histria ocidental humana, encontram-se diversas formas

    de representao do desenho do corpo humano.

    De acordo com Gombrich (1986), o ser humano interpreta o

    mundo pelo desenho, por meio de estruturas fundamentais e reco-

    nhecveis, articuladas com flexibilidade para comportar as mudanas

    impostas por alteraes de conceitos, de funo e mesmo por meio

    de necessidades expressivas. Atribui a elas a denominao schema-ta (Gombrich, 1986), e relata que sua caracterizao dependente

    de fatores diversos, que variam de cultura para cultura. Conforme a

    funo atribuda, a schemata pode assumir diferentes aspectos em

    uma mesma cultura.

    Na era Vitoriana (1837 - 1901) a classe mdia controlava suas

    formas com dietas que restringiam o consumo de alimentos, resul-

    tando em um corpo esbelto e idealizado, e o corpo obeso esteve,

    desde ento relacionado preguia e falta de vontade, atributos

    no estimados na cultura ocidental at os nossos dias. (Svendsen,

    2010).

    Esse interesse pelos corpos esguios influenciaram os desig-

    ners de moda na construo do corpo humano para o vesturio. So

    diversos os exemplos dessa inteno, com aspectos distantes da

    morfologia humana, na histria da moda. Para Svendsen (2010), o desejo de um corpo ideal, magro e

    alongado para a moda pode ter inmeras origens. Em culturas como

    a aristocracia helnica, por exemplo, a moderao do apetite indica-

    va um autocontrole sobre o corpo, por isso, o corpo dentro de um

    padro esguio era o mais apreciado.

    Um fator importante envolvido no atual formato de repre-

    sentao do corpo humano para o desenho de moda a ideia de

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    17/118

    17

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modelistas

    ilustradores fizeram o mesmo com a arte que apresentou uma nova

    proporo do corpo sem a base clssica at ento conhecida. As

    referncias so outras quando estudadas e apresentadas por uma

    cultura que partiu de um principio diverso do Ocidente.

    A obra A Cortes, de Van Gogh, foi baseada na ilustrao

    da capa da edio de maio de 1886 de Paris Illustr, que por sua

    vez, era uma releitura do trabalho do artista Keisai Eisen (1848). Apintura, realizada por Van Gogh a partir da cpia da gravura , apre-

    senta uma das formas utilizadas pelos artistas do final do sculo XIX

    para estudar a nova arte oriental, o que tambm mostra como eles

    interpretavam a proporo corporal oriental, utilizando pinceladas

    caractersticas do Impressionismo, mantendo praticamente o mesmo

    desenho da ilustrao japonesa.

    No final do sculo XIX e incio do sculo XX, surgiu uma srie

    Figura 3 - Vincent Van Gogh, A Cortes (1887)(Hughes, 1998)

    Figura 4 - Paris Illustr(1886)(www.daylilyart.com)

    Figura 5 - Keisai EisenA Cortes (1820)

    (Hughes, 1998)

    apresent-lo como um corpo magro e longilneo, um padro aprecia-

    do em nossa atual cultura ocidental.

    Dentre os vrios artistas e movimentos artsticos, a influncia

    oriental na virada do sculo XIX para o sculo XX, pode ter sido

    uma dos precursores da modificao para formas mais alongadas da

    figura humana, comuns entre os designers de moda da atualidade.

    O interesse pelo Oriente um fator de grande influncia queacaba por estabelecer uma nova proporo corprea e de represen-

    tao do vesturio. Isso fez com que o corpo fosse representado com

    outra proporo.

    Alguns artistas, como Van Gogh, copiavam as gravuras japo-

    nesas para entenderem e aprenderem a nova grafia pictrica oriental.

    Assim como feito nas guildas, em que o artista copiava as pinceladas

    dos grandes mestres da Renascena para aprender suas tcnicas, os

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    18/118

    18

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modeli stas

    Figura 6Anlise da altura da Garota Gibson,

    utilizandosua cabea como medida.

    (The Gibson Girl &Her America, 2010)

    de ilustradores com trabalhos bastante elaborados que chamaram

    a ateno do pblico, principalmente feminino. Dentre eles, Charles

    Dana Gibson (1867/1944), que por mais de trinta anos, publicou

    seus desenhos em diversas revistas, tornando-se famoso pelas ilus-

    traes femininas conhecidas como Garota Gibson. Devido a cir-

    culao macia de suas ilustraes nas principais revistas americanas,

    estabeleceu-se a primeira norma nacional de beleza feminina nosEstados Unidos (Morris, 2006).

    A proporo da figura feminina pela qual se tornou conheci-

    do, A Garota Gibson, tem um corpo bastante alongado, definido, no

    momento de sua concepo, como um corpo ideal pela cultura do

    sculo XIX, talvez desejado pela maioria das mulheres, muito prova-

    velmente por Gibson acreditar que uma figura elegante deveria ter

    essa conformao. Suspeita-se que o modelo de inspirao tenha

    sido sua esposa. (Morris, 2006).

    A Garota Gibson era alta e magra e a anlise da sua altura

    em relao medida clssica grega revela que ela possua quase

    nove cabeas. Ela tornou-se um cone de elegncia, foi representada

    nos palcos, referendava produtos para confeco e serviu de inspira-

    o at para msicas (Morris, 2006).

    .Mulheres de todas as partes tentavam imitar a A Garota Gibson

    (Morris, 2006).

    Nas garotas de Gibson, pode-se presenciar a influncia da

    Art Nouveau, assim como da arte grega. Suas ilustraes influencia-

    ram hbitos, comportamento e aparncia das mulheres e revelam o

    retrato de uma poca. Sua arte transformou uma grande parcela da

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    19/118

    19

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modelistas

    Figura 7 - Ilustrao de Gibson, apre-sentando o desejo de uma menina emquerer ser uma Garota Gibson.(The Gibson Girl & Her America, 2010)

    Figura 8 - Camille Clifford (1885 - 1971) atriz, queapareceu como uma Garota Gibson na comdia

    musical chamada, O Prncipe de Pilsen (1904).(www.oocities.org/ther_over/clifford.html)

    populao feminina americana e pde ser vista nos Estados Unidos

    e Europa.

    Gibson captou os anseios das mulheres em seu tempo, os

    quais ele concretizou em cativantes e expressivas imagens em suas

    gravuras publicadas em revistas como Times, Colliers e Harpers Ba-

    zar (Gillon Jr. 2010).

    Seus desenhos possuem uma excelente estrutura construtivaem relao anatomia humana, mas esta alterada e alongada na

    ideia de que essa proporo a colocar como uma figura elegante.

    Nos desenhos de Gibson, h a presena de um estudo elaborado de

    proporo, ateno a expresses e movimentao da figura humana

    feminina e masculina tambm em diversas situaes fsicas.

    As alteraes na proporo corprea so constantes nas ilus-

    traes e pinturas dos artistas nos sculos XIX e XX, pois registraram

    a moda ou os costumes de sua poca decidindo alterar ou se dis-

    tanciar dos esquemas clssicos de construo da figura humana. A

    seduo do uso da cor, relao de luz e sombra, tratamento grfico

    e fluidez do trao eram tpicos da poca.

    Toda a movimentao artstica no final do sculo XIX, de

    influncia oriental, modificou a forma de representao do corpo

    humano e, consequentemente, dos desenhos dedicados moda. AGarota Gibson um exemplo dessas transformaes e mostra, tam-

    bm, como as ilustraes de moda no final do sculo XIX e incio

    do sculo XX tiveram o poder de influenciar as mulheres da poca,

    assim como hoje acontece com a TV, o cinema e as publicaes de

    moda Gillon Jr. 2010).

    Um corpo influenciado por uma esttica com novas refern-

    cias com base no movimento Art Noveau para sua construo o

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    20/118

    20

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modeli stas

    Figura 10 - RevistaO Cruzeiro (1928)

    Figura 9 - Anlise da proporo humanacom o desenho de Gibson.(www.istockphoto.com eThe Gibson Girl & Her America, 2010)

    que se pode ver nas ilustraes e croquis (ver glossrio) de moda a

    partir do sculo XX. Todas essas transformaes contriburam para

    a diversidade na percepo das referncias a serem utilizadas no

    tratamento de cada desenho de moda no sculo XXI que busca-se

    uma forma de construo que atenda s questes relacionadas

    confeco, especialmente quando no h o acompanhamento do

    seu criador. A representao do corpo direcionado ao desenho tcnico

    (ver glossrio), tem como inteno, sugerir caminhos na comunica-

    o entre profissionais em uma confeco. Percebe-se que a constru-

    o corprea mais prxima da morfologia humana, pode apresentar

    uma estrutura com preciso e detalhes construtivos a serem lidos e

    utilizados por modelistas.

    A proposta ilustrativa do corpo e vesturio tem seu lugar no

    desenho de moda. Esse desenho, como analisado e apresentado at

    o momento, prioriza a esttica, e os desejos e costumes da poca em

    que foi criado, representando o vesturio da cultura em sua poca de

    criao. no havendo, por isso, a necessidade de compromisso com a

    confeco do traje.

    No cenrio brasileiro, um exemplo na representao dos

    costumes atravs do desenho ilustrativo de moda foi apresentadana revista O Cruzeiro, que se tornou um fenmeno editorial sem

    precedentes da imprensa nacional na primeira metade do sculo XX

    (Junior, 2011). Ela foi o testemunho da modificao da moda e do

    comportamento social e poltico da mulher brasileira da poca.

    Com incio em 1928, tal publicao trouxe em suas pginas,

    a partir do ano de 1933, ilustraes de Alceu Penna (1915 - 1980)

    na sua coluna As Garotas.

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    21/118

    21

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modelistas

    Figura 11 - Alceu Penna eas Garotas do Brasil (2011)

    Figura 12 - Desenhos emodelagem de Gil Brando,

    Revista Figurino (1974)

    Com uma adolescncia reprimida, Penna foi responsvel

    pela diverso de seus colegas com desenhos ousados de mulheres

    seminuas, fruto da sua imaginao, prenncio do que fazia profissio-

    nalmente. Tambm teve a influncia das pin ups (ver glossrio), que

    conheceu em viagens aos Estados Unidos, a partir do contato com

    o trabalho de diversos ilustradores, como Charles Dana Gibson por

    exemplo. As ilustraes de Penna exerceram influncia na cultu-

    ra brasileira durante algumas geraes, representando

    a expresso da vida moderna, com forte inspirao na

    mulher carioca, propondo ousadas mudanas no pa-

    dro de comportamento feminino, alm de se tornarem

    vitrine de tendncias de moda. (Junior, 2011).

    Seu longo tempo de trabalho na revista O Cruzeiro serviu

    como referncia tambm para desenhistas de moda . O corpo mo-

    dificado sob os desenhos ilustravam as pginas da revista e eram

    usados como guia para desenvolvimento das colees. As costas e

    indicaes de recortes, cavas e materiais a serem utilizados estavam

    nos moldes que acompanhavam as revistas.

    Por quase trs dcadas, em variados estilos, o corpo nos desenhos deAlceu Penna passou por diferentes formatos e acompanhou as mudanas da

    moda e tambm dos desejos estticos em relao ao corpo feminino no Brasil.

    As ilustraes podiam no estar de acordo com as regras cls-

    sicas de estrutura corporal conforme visto nas construes corporais

    gregas, como tambm podiam no servir de forma eficaz para a cons-

    truo dos modelos, por faltar o detalhamento tcnico necessrio

    comunicao com profissionais de modelagem.

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    22/118

    22

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modeli stas

    Figura 14 - Gil Brando,Revista Fon Fon (1953)

    Figura 13 - Gil Brando,Revista Fon Fon (1953)

    Os modelos podiam ser reproduzidos exatamente como pro-

    jetados pelos designers de moda por virem acompanhados das mo-

    delagens dessas ilustraes, para que o vesturio pudesse se apro-

    ximar do corpo da cliente, compradora da revista e do projeto do

    designer de moda, conforme definio atual do termo.

    A partir da dcada de 1930, as revistas femininas foram o

    meio de comunicao que designers encontraram para se relacionarcom suas clientes, pois elas poderiam ser donas de casa ou iniciantes

    em modelagem e confeco que utilizariam seus desenhos para con-

    feccionar os modelos escolhidos nas publicaes. Foram muitos

    artistas - s vezes tambm modelistas, como o figurinista, mdico e

    arquiteto Gil Brando (1925 - 1982) - que apresentaram suas ideias e,

    tambm, fotos dos modelos e a modelagem, para que as leitoras con-

    feccionassem as colees exatamente com o conceito definido por eles.

    Gabaritos complexos apresentavam cada parte a ser passa-

    da para o tecido para sua confeco, e as ilustraes eram apenas

    uma indicao do modelo, no o projeto final. As costas eram pe-

    quenos esboos que apareciam ao lado dos modelos.

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    23/118

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    24/118

    24

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modeli stas

    O olhar do designer

    1.2 Corpo e proporo na moda

    Captulo 1

    Figura 15 - Anlise do esquemade Riegelman e o corpo humanoem relao proporo medida

    por cabeas humanas(ESMOD, 1995) e

    www.naked-people.de)

    No ensino do desenho de colees nas escolas de moda,

    usa-se a cabea, assim como os gregos, como mtodo de construo

    do corpo humano para criao do vesturio sobre ele. H diversos

    autores que apresentam propostas de quantas cabeas o corpo hu-

    mano deve ter para ser construdo de acordo com a proporo, fato

    que suscita divergncias em relao a essa medida.

    Para Riegelman (2005), a construo ideal da figura humanadeve ter nove cabeas para altura total do corpo.

    A modificao se d, principalmente, no alongamento das pernas,

    e como se v em seu livro Nine Heads (2005) essa proposta corporal

    apresentada para as ilustraes de moda e tambm para os dese-

    nhos planificados de vesturio.

    A partir de estudos do que a autora acredita ser a medida

    mais prxima das medidas do corpo fsico, oito cabeas, ela prope

    a alterao para nove como a correta para o desenho de moda tanto

    ilustrativo como planificado (ver glossrio).

    A medida de nove cabeas no est de acordo com a morfolo-

    gia humana, que tambm no tem, frequentemente oito cabeas de

    altura, nem possui a largura de ombros, cintura e membros apresen-

    tados nos esquemas de Riegelman. Tais esquemas geomtricos so

    possveis no processo do desenho de moda, quando h o acompa-nhamento do designer durante o desenvolvimento da confeco.

    Na figura 15, foi feita uma anlise pela pesquisadora so-

    bre as diferenas do corpo humano fsico em relao aos esquemas

    de construo corporal apresentada por Riegelman.

    Durante a Histria, diversos artistas e pesquisadores estu-

    daram o corpo e apresentaram ideias a respeito do que proporo

    para definir qual a altura do ser humano a ser utilizada em suas

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    25/118

    25

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modelistas

    obras. Deve-se levar em considerao que diversos fatores como cul-

    tura, costumes e poca nos quais ocorreram as medies, modifica-

    ram consideravelmente o que se estabeleceu como padro em cada

    momento histrico.

    Para Gombrich, os gregos utilizaram todo o conhecimen-

    to que adquiriram a partir da observao do ser humano. Com os

    estudos realizados, foram em busca da construo de corpos que

    pudessem representar a beleza de sua estrutura e a anatomia dos

    ossos e msculos para formar uma figura humana convincente com

    naturalidade (Gombrich, 1988: 56).

    De acordo com Panofsky, os gregos foram em busca de suas

    prprias experincias a partir da observao da realidade, seguindo

    um caminho que os levaria a estudos direcionados a um ideal estti-

    co humano. De acordo com o autor, para eles, a meta do artista a

    imitao da vida (Panofsky, 2001: 98).

    Para o autor, a arte grega evoluiu em direo a uma arte que se apro-

    ximou, cada vez mais, de uma representao mais natural e orgnica

    do corpo humano (Panofsky, 2001).

    Ainda sobre os estudos das propores gregas, Claudius Ga-

    leno, mdico e filsofo grego (129 d.C. - 199 ou 217 d.C.), faz refe-

    rncia ao escultor grego Policleto (460 420 ou 410 a. C), em seu

    texto, Placita Hippocratis et Platonis que diz:

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    26/118

    26

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modeli stas

    Figura 16 - O Doriforo dePolicleto, representao daproporo na estaturia grega,Museu Arqueolgico Nacionalde Npoles(www.nypl.com)

    Crisipo sustenta que a beleza no consiste nos elemen-

    tos, mas na proporo harmoniosa das partes, a propor-

    o de um dedo para outro, de todos os dedos para o

    resto da mo, do resto da mo para o pulso, desses para

    o antebrao, do antebrao para o brao inteiro, ou seja,

    de todas as partes entre si, como est escrito no cnone

    de Policleto (Panofsky, 2001: 101).

    No desenho de moda atual, o direcionamento da construo

    do corpo para o planejamento das colees permanece com altera-

    es em sua estrutura, distante das medidas do corpo fsico como

    estudado pelos gregos. O alongamento e a modificao para se en-

    caixar em um padro contemporneo tm sido definidos de acordo

    com cada escola nos diversos cursos de moda.

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    27/118

    27

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modelistas

    Figura 17 - Escultura deLisipo, Apoxyomenos,

    Museu do Vaticano

    (https://woc.uc.pt)

    A bibliografia utilizada nas escolas e cursos apresenta medidas

    diversas, podendo o corpo ter como altura nove, oito e oito cabeas

    e meia. At o presente trabalho, no h estudos que envolvam pro-

    fessores e profissionais de moda que estabeleam uma medida que

    seja utilizada de forma mais ampla.

    Roig e Fernndez (2010) especificam que, para a moda, o

    mais adequado a figura alongada com oito cabeas e meia para o

    corpo feminino e nove para o corpo masculino.

    Explicam que as razes para essa alterao nas medidas que

    o corpo precisa ser mais esbelto e ter a altura destacada em relao

    mdia da maioria dos modelos profissionais.

    O cnone clssico uma boa referncia para aprender a desenhar

    figuras. No entanto, o desenho de moda requer um corpo mais esbelto, ade-

    quado para a representao do figurino de moda (Roig e Fernndez, 2010: 35).

    O desejo de alterao do corpo pode ser encontrado desde

    o perodo Helnico, pois mesmo nas obras do escultor grego Lisipo

    (cerca de 360 a.C 305 a.C) considerado discpulo de Policleto, essa

    proporo tambm foi modificada. O cnone de Lisipo prope como

    medida ideal de beleza do corpo humano a medida de oito cabe-

    as: uma modificao em relao ao cnone de Policleto (Panofsky,

    2001).

    Ao estudarmos corpos reais e os analisarmos de acordo com

    as ideias de Policleto e Lisipo, chegamos concluso de que o uso

    da cabea humana como unidade de medida e as concluses dos es-

    cultores gregos em relao a quantas cabeas o representam ainda

    podero ter alteraes, assim como ocorre hoje em nossa sociedade.

    A relevncia do estudo da proporo do corpo no desenho

    de moda se deve ao fato de que esse corpo, quando modificado e

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    28/118

    28

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modeli stas

    Figura 18 - Anlise de vesturiosobre o esquema corporal da

    ESMOD (1995) e umcorpo humano (www.naked-people)

    utilizado como base para a construo do vesturio, poder apresen-

    tar dvidas em relao proporo do que for desenhado sobre ele

    e ao que se transformar em coleo.

    Quando o designer de moda ou modelista est presente des-

    de a concepo at a confeco da coleo, a alterao na proporo

    do vesturio acompanhada com mais proximidade, e as questes

    que surjam e que modifiquem, de alguma forma, a ideia inicial do

    designer de moda podem ser corrigidas, se existir uma comunicao

    prxima entre os profissionais envolvidos.

    Nos processos construtivos em que o designer de moda se

    distancia da produo, a comunicao constante para a elaborao

    do projeto de coleo se torna mais escassa. A ideia de ter um corpo

    de acordo com a morfologia humana como suporte para o desenho

    tcnico de vesturio, pode ser um dos fatores que contribui para a

    minimizao desse distanciamento entre o entendimento de deta-

    lhes e a proporo do modelo.

    Nos estudos sobre a altura corporal, encontrou-se, com mais

    frequncia, a medida de aproximadamente sete cabeas de altura.

    Tal medida, relacionada proporo do corpo humano em nossa

    sociedade, a sugesto apresentada nesta pesquisa como modelo a

    ser utilizado para o desenho tcnico desenvolvido distante do desig-

    ner de moda.

    O modelo da proporo do corpo humano tem a vantagem

    de usar um corpo dedicado ao desenho planificado (ver glossrio)

    para que as peas de vesturio estejam mais prximas das partes do

    corpo daquele que vestir as peas de roupa.

    Radicetti, proprietria da Draft, que desenvolve manequins

    de moulage (2011) para uma empresa de moda que cliente sua

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    29/118

    29

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modelistas

    Figura 19 - Anlise daproporo corporal emseres humanos cometnias diferentes(www.naked-people.de,2011)

    percebeu, em uma consultoria que realizou, que havia um proble-

    ma na construo das blusas de uma coleo. Elas estavam sendo

    modeladas e confeccionadas com a altura do corpo menor do que

    deveriam.

    Ao pesquisar a origem do problema, Radicetti descobriu que

    o motivo da alterao estava no desenho tcnico do modelo, a partir

    do qual as modelistas tinham se baseado para a modelagem. Nele,

    a altura do corpo estava mais curta do que deveria, e ao questio-

    nar as modelistas, as profissionais disseram que estavam seguindo

    a proporo do vesturio sobre o corpo utilizado no desenho dos

    designers de moda e que por isso, a altura da blusa fora modificada.

    As medidas de uma pessoa podem ser diferentes conforme

    sua biologia, modificaes corporais, em razo de aspectos existen-

    tes na sua cultura, hbitos alimentares e local onde vive.

    Um exemplo em relao etnia e s grandes diferenas cor-

    porais existentes no planeta so encontrados no continente africano.

    A mulher niltica, que habita o Sudo, possui uma alta estatura e

    chega a ter, em mdia, 168,9 cm, com a proporo de sete cabeas

    e meia em oposio estatura da mulher pigmeia com 137, 2 cm,

    em mdia, e com a proporo de seis cabeas de altura, tambm

    encontrada nesse continente (Santos C. S. 2009). A diferena se d,

    principalmente, no tamanho maior da cabea da pigmeia e menor

    comprimento das pernas, modificando sua medida no s na altura

    total do corpo como tambm na medio de acordo com a regra

    clssica grega.

    Na indstria do vesturio e, mais especificamente, na rea do

    design de moda, imprescindvel visualizar o corpo antes de elabo-

    rar qualquer proposta, inclusive a prpria coleo (Santos C. S. 2009).

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    30/118

    30

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modeli stas

    Figura 20 - Anlise da proporo corporal de uma mu-lher niltica em relao a mulher pigmia

    (http://comentandocomentado.blogspot.com)e www.elpais.com)

    Essas duas culturas africanas exemplificam as diferenas ex-

    tremas entre seres humanos que no estejam relacionadas a nenhu-

    ma anormalidade gentica (Santos C. S. 2009), sendo assim, exem-

    plos de como a proporo humana poder variar de acordo com sua

    situao socioeconmica, etnia e local em que habita.

    interessante que o designer de moda encontre, dentre

    todas essas correlaes, um caminho que satisfaa as questes do

    design como, por exemplo, a necessidade de encontrar solues de

    acordo com cada projeto e com a cultura que pretende representar e

    propor em sua coleo.

    Esses aspectos devero ser lembrados para estudar cami-

    nhos que forneam uma base cientfica para a idealizao de um cor-

    po mais aproximado de sua morfologia natural, utilizando-o como

    suporte para desenhos de vesturio construdos tecnicamente. A pro-

    poro corprea, quando alterada em funo do conceito vigente na

    moda em que o corpo precisa ser mais alongado que o corpo real

    (Roig e Fernndez, 2010), interfere no desenho do vesturio feito

    sobre ele. Esta alterao poder gerar dvidas na ideia inicial do de-

    signer de moda em relao ao conceito de sua coleo e na posterior

    leitura pelo profissional que ir desenvolv-la.

    . Se a construo do corpo para o desenho de moda tiver

    como inteno uma base construtiva prxima das medidas utilizadas

    por modelistas em relao s medidas do corpo humano real, talvez

    os modelos sejam mais facilmente interpretados sem a necessidade

    de que o designer de moda seja consultado constantemente.

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    31/118

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    32/118

    32

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modeli stas

    O olhar do designer

    1.3 Desenho nas empresas e na academia de moda

    Captulo 1

    Com os gregos, o estudo das propores do corpo foi rea-

    lizado pela diviso em partes, com base na cabea humana, para

    definio de suas medidas. Durante o sculo XIX, esse corpo sofreu

    diversas influncias, como a do Oriente, cuja interferncia proporcio-

    nou novos parmetros para a construo da figura humana.

    No incio do sculo XX, ilustradores de moda se tornaram famosos,

    muitas vezes por apresentarem estilos de vida que algumas mulhe-

    res desejariam ter, por estarem isoladas em suas vidas domsticas.

    No final do sculo XX surgiram as escolas de moda, primeiro

    com os cursos profissionalizantes, que criaram um caminho para o

    significativo crescimento dos cursos de graduao que vieram logo

    em seguida.

    No incio da dcada de 1980, ressentindo-se de um pro-

    fissional criador, capaz de reger o grande concerto que

    envolve o complexo mecanismo da moda, as capitais

    dos estados de So Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais,

    com a iniciativa do prprio setor e o apoio de algumas

    instituies de ensino, inauguraram os primeiros cursos

    profissionalizantes para o ensino da criao de moda no

    Brasil. Em 1988 na cidade de So Paulo, surgiu o primei-

    ro curso superior de moda do Brasil. A idia era formar

    um profissional bem-informado e de slida formao,

    pronto a qualificar a produo brasileira de moda e abrir

    espao para novas idias (Pires, 2002).

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    33/118

    33

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modelistas

    Nesses cursos, os diversos profissionais com as mais variadas

    formaes acadmicas, aceitaram a funo de professor com o gran-

    de desafio de estabelecer as diretrizes a seguir para a formao dos

    primeiros alunos graduados em moda no Brasil.

    No incio dos anos 1990 surgiram os primeiros profissionais

    com essa formao acadmica. Cada um com uma forma de repre-

    sentar o desenho de coleo definida pelo seu professor, que muitas

    vezes, tinha o conhecimento prtico desenvolvido em seu dia-a-dia

    de trabalho ou influenciado pelas escolas relacionadas arte, arqui-

    tetura ou desenho industrial.

    No decorrer do final do sculo XX, diversos professores e

    profissionais buscaram formas para estabelecer, cada um em sua

    escola e empresa e de acordo com sua percepo, uma forma de

    comunicao entre profissionais de desenho e modelagem.

    A Faculdade Santa Marcelina, iniciou o bacharelado em de-

    senho de Moda em 1988, criado a partir do curso de Bacharelado

    em Desenho considerado o primeiro curso superior de moda no Bra-

    sil. Alguns professores como Carlos Mauro Rosas, Donato Chiarelli,

    Ivan Bismara entre outros profissionais de fotografia, arte, moda e

    desenho industrial, com a coordenao de Vera Ligia Gilbert, foram

    os primeiros professores incumbidos em desenvolver disciplinas ne-

    cessrias para a formao de profissionais com qualificao acad-

    mica para atender as indstrias que buscavam aprimoramento no

    setor de confeco.

    Raquel Valente Fulchiron, atual coordenadora do curso de

    graduao em moda da Faculdade Santa Marcelina, tambm foi uma

    das primeiras professoras de moda no Brasil. Suas referncias para

    formatar o curso de desenho de moda na faculdade foram baseadas

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    34/118

    34

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modeli stas

    em suas experincias nas empresas de moda onde trabalhou.

    Os primeiros desenhos que viu nessas empresas dedicadas

    confeco foram na C&A, na dcada de 1980. Raquel Valente Fu-

    chiron trabalhou como consultora em planejamento de colees e

    foi responsvel por estabelecer formatos de trabalho para que seus

    clientes desenvolvessem suas colees em confeces, dentro e fora

    do Brasil, assim como outros profissionais fizeram na poca.

    Quando deu incio ao seu trabalho com moda, Raquel Valen-

    te Fulchiron j sabia da importncia de estabelecer uma proposta de

    trabalho que atendesse tanto s questes de criao dos modelos

    relacionados ao design (concepo e processos produtivos) quanto a

    necessidade de que esses desenhos fossem compreendidos por mo-

    delistas, pois ela j conhecia a criao e os processos de produo

    fabril.

    Nas empresas em que trabalhou, Raquel Valente Fulchiron

    diz que os primeiros desenhos com os quais teve contato foram

    prximos a croquis com tratamento ilustrativo sem a preocupao

    de que se aproximassem de alguma proporo humana. Cabia aos

    modelistas a interpretao de tais desenhos, possivelmente, com

    algumas etapas a mais em relao pilotagem dos modelos (ver

    glossrio).

    Acostumada ao desenvolvimento das colees em confec-

    es distantes dos escritrios de criao, Raquel Valente Fulchiron

    iniciou uma investigao para encontrar solues que facilitassem

    a comunicao entre as empresas. Essa busca resultou no interesse

    por programas grficos digitais, porm, com o inconveniente de exis-

    tirem ainda, poucas pessoas que soubessem utilizar essa tecnologia

    para o desenho de moda.

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    35/118

    35

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modelistas

    Figura 20 - Molde em papel, El Camarena (1992)

    Demorou algum tempo, em relao aos pases do hemisfrio

    norte, para que empresrios brasileiros descobrissem os caminhos

    do desenho digital para o desenho de vesturio, o que aconteceu

    no final dos anos 1980 e fez parte do incio de uma revoluo que,

    sem dvida, mudou definitivamente a forma de representao do

    desenho no projeto de coleo, ainda que pouqussimas empresas e

    designers de moda aceitassem esse formato na poca (Raquel Valen-

    te Fulchiron, 2011).

    No inicio no se tinha ideia clara de como seria utilizar um

    ferramenta digital para o desenho de moda. No havia cursos ou

    livros que pudessem indicar o que podia ser feito e que oferecessem

    recursos para o desenho com proposta tcnica.

    Raquel Valente Fulchiron menciona que antes das ferramen-

    tas digitais, os desenhos eram feitos com caneta ou lpis e s vezes,

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    36/118

    36

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modeli stas

    Figura 21 - El Camarena (1992).Desenho para o

    catlogo SPEEDO/Brasil,Copa do Mundo de 1994

    (catlogo da SPEEDO, 1992)

    a partir de moldes de papel com perfuraes. O objetivo das marca-

    es era padronizar a localizao de bolsos e detalhes do modelo

    para agilizar o desenvolvimento da coleo e sua reproduo, caso

    ela precisasse ser distribuda entre as vrias fases na confeco.

    A colorizao e reproduo dos desenhos de vesturio eram

    um trabalho artesanal e demorado. A introduo dos programas gr-

    ficos, como o CorelDRAW II e das impressoras nas empresas nas

    quais os profissionais de moda prestavam consultoria, possibilitou

    que as colees em fichas-tcnicas (ver glossrio), sofressem modifi-

    caes e variantes de cores (ver glossrio) com agilidade.

    Com os desenhos orientados por designers, o uso dessas

    ferramentas digitais proporcionou maior rapidez na concluso das

    colees, o que s era possvel a partir de exaustivas pesquisas e

    estudos relacionados ao processo criativo. Nessa poca, no havia

    informao alguma de como utilizar a tecnologia digital para o de-

    senho de moda e sua relao com as equipes de produo.

    Ainda hoje h muitas dvidas de como esse desenho deve

    ser feito em programas grficos, pois a resistncia ao digital, na ideia

    de que ele possa prejudicar a liberdade de expresso, ainda um

    estigma que alguns profissionais mantm em relao a tecnologia,

    e faz com que o processo de uma metodologia se torne lento.

    O desenho de vesturio nas escolas de moda tambm en-

    sinado por meio de diferentes tcnicas e com diversas referncias,

    no existindo entre professores, um formato que prevalea e que

    possa criar uma nica linguagem de comunicao entre os futuros

    profissionais de moda.

    A histria da moda oferece exemplos e tem como apoio estudiosos do

    corpo e vesturio para chegar a concluses em relao a sua construo.

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    37/118

    37

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modelistas

    Alguns desses exemplos foram utilizados por professores e

    profissionais para o desenho dedicado confeco. H professores

    e designers de moda que utilizam o corpo humano ilustrativo como

    base para o desenho tcnico de colees. Outros profissionais, como

    a pesquisadora, esto em busca de formatos que possam ser defi-

    nidos como um padro para ser utilizado, principalmente quando

    a coleo desenvolvida em confeces distantes do processo de

    criao. (Camarena, 2011).

    Outro aspecto relacionado ao desenho de moda se refere

    ao status que o designer representa perante a produo. Suspeita-

    se que o designer de moda, como responsvel pela criao ou pelo

    conceito da coleo, tenha liberdade em desenh-la livre do rigor

    tcnico. Por sua vez, no h necessidade do uso de ferramentas que

    possibilitassem um desenho tcnico mais preciso (Christo, 2010).

    De acordo com Christo (2010), o estilista de moda est rela-

    cionado ao campo da arte e por isso, um profissional criativo, desvin-

    culado das questes que envolvem o mercado e as necessidades do

    design. Este profissional se assemelharia ento, ao conceito de ar-

    tista como um gnio, pertencente ao campo da arte (Christo, 2010),

    no precisando portanto, ter comprometimento com ferramentas

    grficas que pudessem impedir que ele se expressasse livremente.

    As primeiras geraes de designers de moda brasileiros

    como Dener Pamplona de Abreu (1936 - 1978) e Clodovil Hernan-

    des (1937 - 2009), e os ilustradores de moda como Gibson e Penna

    tiveram um processo de criao com base no desenho ilustrativo que

    influenciou as propores corporais e os traos de algumas geraes

    dedicadas ao desenho de moda do sculo XX.

    Na gerao posterior ao final do sculo XX, no incio das

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    38/118

    38

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modeli stas

    Figura 22 - Desenho tcnico de umacamisa utilizada em escolasde moda (Lectra Sistmes) ,

    esquerda em relao a uma camisareal (Abercrombie), direita

    primeiras faculdades de moda brasileiras, os exemplos apresenta-

    dos por professores, na maioria profissionais de reas afins, foram

    variantes dessa representao grfica do desenho de moda como,

    tambm, de concluses proporcionadas pela prtica profissional que

    alguns tiveram durante seus trabalhos dentro de confeces. O de-

    senho de moda apresentou diversas formas de representao, com

    ou sem base corporal, mas na maioria, baseado em um corpo prxi-

    mo ao ilustrativo e distante de sua morfologia humana.

    O resultado desse desenho de vesturio, desenvolvido tam-

    bm por professores que no tiveram experincia em empresas de

    confeco de moda, criou formas para o desenvolvimento das cole-

    es, sem as medidas da base corporal fsica. A figura a seguir mos-

    tra como uma camisa, ensinada em uma das escolas de moda atuais,

    no est de acordo com o corpo humano.

    Nota-se como a gola da camisa estreita em relao ao

    pescoo. Sua largura e comprimento tambm esto em desacordo

    com as propores praticadas na modelagem.

    A camisa direita apresenta os detalhes, forma e proporo

    que deviam ter sido desenhados na camisa esquerda, importantes

    para que o modelo fosse confeccionado distante da criao.

    Essa diversidade em relao ao ensino e construo das

    colees de moda culminaram em alguns caminhos para a interpre-

    tao do que seria o desenho para o projeto de coleo. Os profissio-

    nais, agora formados pelas faculdades, tiveram em cada uma delas,

    a certeza de que o que aprenderam seria o mais adequado para a

    construo de uma coleo de moda.

    Regras foram criadas de acordo com cada escola na constru-

    o das colees. Algumas um pouco mais prximas de um corpo e

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    39/118

    39

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modelistas

    Figura 23 - Detalhe dodesenho de Magalhes(2011)

    Figura 24 - El Camarena(2011)

    de um desenho com base em medidas do ser humano. Outras bem

    distantes dessas propores. Essas medidas humanas no desenho de

    moda tem sido questionadas atravs de pesquisas como, por exem-

    plo, na escola SENAI Cetiqt no Rio de Janeiro, mas at o momento,

    no h uma codificao nica de construo txtil, que possa ser

    utilizada de forma mais ampla por professores, alunos e profissionais

    da moda.

    A computao grfica pode contribuir para a criao des-

    sas diretrizes, auxiliando na construo de um formato de desenho

    que atenda s questes necessrias na confeco dos modelos, que

    possa ser repetida sem alteraes na proporo e distribudas nas

    diversas fases de construo da coleo dentro e fora do pas. Mas,

    junto com o desafio de se estabelecer essas regras e ainda saber usar

    a tecnologia, h a resistncia por parte de alguns designers de moda

    que preferem manter o desenho tradicional ou digital com conceito

    ilustrativo, o que pode dificultar a comunicao entre os profissionais

    de moda na confeco.

    Na figura 23, o desenho de Magalhes (2011), feito em pro-

    gramas digitais, mostra um desenho de moda que ilustra o conceito

    de sua coleo.

    Esse desenho, algumas vezes, o mesmo apresentado para

    modelistas, em que no possvel ter certeza sobre as costuras

    de mangas, cavas e bolso e tambm, de como o acabamento no

    decote. A proporo tambm deixa em dvida se a pea mais ou

    menos ajustada ao corpo, alm de no haver uma definio no com-

    primento da camiseta.

    Na figura 24, uma interpretao planificada do mesmo mo-

    delo feito pela pesquisadora no programa CorelDRAW X5 , h a

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    40/118

    40

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modeli stas

    indicao das costuras e posicionamento correto da estampa nas

    mangas, sugerindo como deve ser o decote e, para ter a certeza do

    comprimento, a medida dever constar na ficha-tcnica (ver gloss-

    rio) que acompanhar o desenho, assim como as costas do modelo

    e todos os materiais necessrios para a sua confeco. Esse desenho

    poder ser mais bem interpretado pela produo caso o designer de

    moda no esteja prximo no momento da confeco. uma suges-

    to em relao a qual desenho deve ser realizado com a proposta

    de confeco distante das equipes criativas. Seria adequado anexar,

    a modelagem (ver glossrio) para garantir sua execuo de acordo

    com o projeto inicial.

    Somente o uso de corpos com medidas prximas da morfo-

    logia humana no suficiente para que a coleo seja desenhada

    e compreendida pela produo. O interesse pelo conhecimento do

    vesturio tambm necessrio para firmar uma comunicao mais

    fluente entre profissionais e empresas.

    A moda, desenhada e ensinada por professores e profissio-

    nais nas escolas e empresas de moda, mostra um corpo modificado

    com uma esttica magra para cumprir um desejo no nosso sculo

    (Svendsen, 2010). A mdia digital, assim como a fotografia, oferece

    a construo ou a imagem de um corpo baseado na morfologia hu-

    mana, possibilitando a observao correta do posicionamento dos

    membros, altura e largura de acordo com a proporo exata do ser

    humano. Aprender a utilizar a tecnologia digital a partir de imagens

    e medidas corpreas em conjunto com o conhecimento construtivo

    do vesturio, poder auxiliar na criao de mtodos e regras que

    facilitem a comunicao entre desenhistas e modelistas.

    No atual desenho tcnico de moda, todos os estudos de pro-

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    41/118

    41

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modelistas

    poro humana desde o perodo clssico parecem ser ignorados ou

    modificados, resultando em uma base para o desenho de vesturio

    que no chega a ter um carter de croquis ou ilustrao. Esses es-

    tudos tambm no tm as atribuies necessrias para um desenho

    que precisar ter especificaes em relao a sua confeco.

    Quaisquer que sejam seus ideais, os designers de moda pre-

    cisam do parmetro de realidade, conhecendo o corpo humano e

    suas interaes com os tecidos e as roupas (Jones, 2005).

    Os cursos de moda no costumam fazer com que os

    alunos raciocinem de forma cientfica. Chegam apenas

    ao prottipo dos modelos sem o compromisso com sua

    funcionalidade e adequao ao corpo humano (Forna-

    sier; Martins; Demarchi, 2010: 127).

    Esses alunos so os que ingressam no mercado de moda e

    carregam com eles a falta de repertrio cultural e tcnico e continu-

    am, muitas vezes, com a ideia de que podem desenvolver colees

    sem o compromisso com o design. Outro fator complicador neste

    cenrio so os profissionais que aprovam a entrada desses alunos

    nas empresas (Camarena, 2008).

    O desenho de modelos de vesturio com inteno ilustrativa

    seduz e um facilitador em algumas empresas de moda nas ava-

    liaes de candidatos. Cabe dizer que h uma tendncia a acreditar

    que apenas esse tipo de desenho suficiente para o desenvolvimen-

    to de colees, alm de ser bastante valorizado por ter o trao do

    designer de moda.

    A aceitao desse tipo de representao ilustrativa pelos

    acadmicos e pelo mercado, pode ocorrer devido a melhor aceitao

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    42/118

    42

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modeli stas

    das tcnicas tradicionais do desenho e da pintura. Talvez por ser algo

    que acompanhe a cultura humana por mais tempo e esteja mais

    prximo do que aceitvel como desenho de moda.

    O rompimento dessa aceitao pode quebrar o encantamen-

    to e a resistncia ao tcnico que se localiza exatamente no lado

    oposto ao trao solto, pode ser uma forma de resistncia ao uso

    de mquinas por ser algo recente e ainda a ser discutido em nossa

    sociedade.

    H uma impreciso em relao ao uso do desenho tcnico e

    do desenho ilustrativo, e h algum tempo discute-se que o ato de de-

    senhar um modelo de vesturio est mais ligado arte, por acreditar

    que est relacionado somente criao, ou ao desenho que servir

    para produo do modelo, direcionado, portanto, a um desenho que

    deveria ser tcnico. Acredita-se que o desenho tcnico poder, de

    alguma forma, substituir o desenho manual (Christo, 2010).

    Os meios de comunicao, a tecnologia e a proliferao de

    cursos de moda facilitaram o acesso para que qualquer pessoa possa

    se denominar designer de moda em detrimento do conhecimento ne-

    cessrio profisso, o que pode prejudicar muito a qualidade concei-

    tual e tcnica necessria metodologia projetual (Camarena, 2008).

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    43/118

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    44/118

    44

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modeli stas

    O olhar do modelista

    2.1 Corpo vestido

    Captulo 2

    Figura 25 - Anlise de um desenho tcnico desenvolvidoem escolas de moda em relao ao corpo humano, e o

    desenho da pesquisadora sobre o corpo humano

    Em uma confeco, as colees so desenvolvidas a partir de

    diversas formas, no havendo definio de um nico mtodo de de-

    senho em comum entre os profissionais de criao, assim como no

    se observa uma definio na academia de moda (Cruz, 2011). H

    designers de moda habituados ao uso da tecnologia digital e outros

    que permanecem utilizando tcnicas tradicionais, e tm como ferra-

    mentas canetas, lpis e papel. Em ambos os casos, o desenho tcnico

    pode ser desenvolvido sem base corporal, ou pode-se usar um corpo

    com base nas regras utilizadas na ilustrao, com a proporo do

    corpo humano, a partir de uma esttica idealizada.

    A cala, esquerda, na figura 25, foi realizada sem um corpo

    humano como suporte ao desenho, alm da utilizao de tcnicas

    ilustrativas para indicar o gancho da cala (ver glossrio). Tambm

    no foram levadas em considerao as costuras duplas utilizadas em

    calas jeans, entre outros detalhes importantes para confeco da

    pea.

    No desenho da direita, a cala foi desenhada sobre o corpo hu-

    mano. Pode-se comparar as diferenas em relao proporo nos

    dois desenhos, observando-se que a cala esquerda no se ajusta

    ao corpo humano. J a cala direita est mais adequada ao corpo

    porque o desenho foi feito sobre ele, sendo, portanto, mais fcil com-

    preender a forma e o posicionamento em relao altura e largura de

    todos os detalhes do modelo.

    A cala sobre o corpo humano pode facilitar a compreenso

    no momento da modelagem, mesmo que o designer de moda no

    tenha acesso a modelos em 3D do corpo humano para o desen-

    volvimento de suas colees. A figura 30 apresenta um corpo real

    fotografado e poder substituir qualquer desenho feito em trs di-

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    45/118

    45

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modelistas

    Figura 26 - Estudos realizadospela pesquisador sobre proporocorporal (www.naked-people.dke corpo 3D feito no programaCinema 4D)

    Figura 27 - Anlise do desenhocorporal representado em blo-cos pela escola ESMOD (1995)em relao ao corpo humanoreal (www.istockphoto.com)

    menses. O corpo humano em 3D apresentado nesta pesquisa copia

    as medidas do ser humano fsico e oferece a possibilidade de us-lo

    como suporte ao desenho de moda.

    A ausncia do corpo no desenho do vesturio dificulta sua

    compreenso e estabelece dvidas em relao a sua execuo. Tam-

    bm, quando o corpo humano alterado oferece interpretaes di-

    versas em relao ao projeto do designer de moda, em anlise s

    tcnicas construtivas do modelista, resulta na criao do vesturio

    sem um comprometimento com as medidas humanas.

    Corpos que podemos chamar de geomtricos (ver glossrio) so

    utilizados como base para a construo do vesturio, possuindo as

    medidas mais prximas do desenho ilustrativo, mais magros e com

    propores diferentes em relao ao corpo humano real. Mesmo que

    esses corpos tenham suas linhas suavizadas, a proporo alterada

    interfere no desenho de vesturio e no corresponde ao corpo hu-

    mano fsico.

    Esse corpo geomtrico, com medidas distantes da morfolo-

    gia humana, utilizado como suporte ao desenho tcnico de moda,

    oferece alteraes nas propores do vesturio desenhado sobre ele,

    o que pode acarretar em uma leitura tcnica diferente daquela esta-

    belecida pelo designer de moda.

    Como j foi dito antes, uma das hipteses levantadas para

    saber a origem desse desenho geomtrico o uso de manequins

    utilizados para o desenho de moda ilustrativo, desenvolvidos em es-

    colas de moda a partir da dcada de 1960, como a escola francesa

    ESMOD (1995). Ao comparar o desenho construdo pela geometri-

    zao do corpo humano, que utiliza blocos para simular tronco e

    membros de um corpo humano fisico, percebe-se como a estrutura

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    46/118

    46

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modeli stas

    foi modificada e se distancia de um corpo humano. As larguras dos

    ombros dos desenhos, que representam o corpo, no coincidem com

    a figura humana, assim como cintura, cabea, pescoo e articulaes.

    Durante o processo criativo da coleo, o desenho de moda

    pode ser feito de forma intuitiva, sem preciso tcnica. A inteno

    o estudo das formas, cores e volumes, de modo que a criatividade

    e o estudo das tendncias (ver glossrio), assim como o perfil do

    consumidor, sirvam de inspirao e guia para a criao do modelo.

    comum que nessa fase do desenho de moda no haja um rigor tc-

    nico, pois existe a crena de que isso possa impedir, de alguma forma,

    a criatividade do designer de moda.

    O desejo criativo e a tendncia ao desenho de peas de

    vesturio, elaborados a partir da memria e com soluo ilustrativa,

    podem ser um agravante na comunicao entre os profissionais de

    estilo e modelagem, quando distantes um do outro. Os modelistas

    sero os responsveis pelo desenvolvimento das peas-piloto, e caso

    tenham dificuldade na compreenso do desenho apresentado pelo

    designer de moda, a comunicao dever ser mais prxima, caso

    contrrio poder acarretar problemas de repetio da pea-piloto

    (ver glossrio).

    A aparente falta de compromisso em relao morfologia

    humana cria um desenho de vesturio sem relao com as propor-

    es corporais, e tal desenho, desenvolvido nesse corpo sem base

    humana, poder ser mal interpretado por modelistas, ocasionando

    falhas na comunicao com os designers de moda.

    Em entrevista com modelistas e costureiras, comum ou-

    vir que os desenhos que recebem dos designers de moda precisam

    passar por uma espcie de decodificao necessria para a corre-

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    47/118

    47

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modelistas

    o das distores apresentadas pela perspectiva do traje vestido no

    croqui, e pelo desejo e necessidade de movimento dos tecidos que

    esses profissionais tanto admiram e necessitam para concretizao

    de suas ideias.

    O designer de moda observa seu trabalho como algo a ser

    apreciado, mas, muitas vezes no o considera como um projeto que

    ser utilizado para confeccionar uma coleo que ser vestida por

    um ser humano. O modelista por sua vez, analisa o desenho do pon-

    to de vista tcnico e pode no compreender aspectos ilustrativos que

    o designer de moda considera essenciais para criao do modelo.

    H ainda a dificuldade que o designer de moda poder en-

    frentar caso no tenha domnio da tcnica a ser utilizada no produto

    para a produo da coleo. E Novamente a combinao de conhe-

    cimentos entre designers de moda e modelistas se torna oportuna,

    mas imprescindvel saber quais so as atribuies e limites dessa

    unio, s vezes benfica, se tiver o esprito de colaborao, ou no

    to benfica assim, se o conceito for modificado pelo tcnico, caso

    ele se sobreponha s ideias do designer de moda.

    (...) seria interessante que o designer dominasse todas

    as tcnicas, conhecendo os pontos fortes e fracos de

    cada um. Assim poderia escolher aquela tcnica que

    mais se adaptasse a cada tipo de problema (Baxter,

    1998: 61).

    Quando o modelo de confeco visa seu desenvolvimento dis-

    tante do designer de moda, a interao com outros profissionais, como

    gerentes de produto ou diretores de criao, colocam a confeco da

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    48/118

    48

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modeli stas

    coleo totalmente nas mos de pessoas sem qualificao tcnica

    ou conceitual. Nesse modelo, o projeto se torna totalmente essencial.

    A necessidade de desenhos compreensveis do ponto de vista tcni-

    co pode ser a base para que eles sejam confeccionados de acordo

    com o planejado.

    Cabe ressaltar que todas as etapas no processo de desenvol-

    vimento de coleo se tornam necessrias e fundamentais para que o

    projeto seja finalizado de forma adequada aos processos industriais.

    A presena do designer de moda em cada etapa do processo de

    criao fundamental para que o conceito da coleo fique intacto du-

    rante todo o percurso de sua construo e para as tomadas de deci-

    so referentes a ajustes de ordem tcnica e ou txtil.

    Por isso, a mudana de atitude do designer de moda mais pre-

    ocupado com obras nicas sem compromisso com a reproduo, deve

    caminhar para um comportamento mais adequado ao processo indus-

    trial, de acordo com o conceito do profissional de design, preocupado

    com as questes objetivas e especficas do objeto (Pires, 2010: 30).

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    49/118

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    50/118

    50

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modeli stas

    O olhar do modelista

    2.2 Desenho de moda e modelagem

    Captulo 2

    Figura 28 - Busto paramoulage, ESMOD (2011)

    O conhecimento do corpo humano para os modelistas fun-

    damental, e o ponto de partida para a construo de toda coleo.

    Cada empresa ou profissional possui tabelas de medidas de acordo

    com cada segmento de moda que ser trabalhado (Dinis; Vascon-

    celos, 2009). Essas medidas sero os parmetros a serem seguidos

    para que os modelos estejam de acordo com um corpo aproximado

    aos consumidores que vestiro a coleo.

    Nos manequins ou busto de moulage (ver glossrio) utiliza-

    dos para modelagem de colees para alta costura e para produo,

    as medidas so estudadas e definidas de acordo com o biotipo da

    populao em que a coleo ser comercializada.

    De acordo com Radicetti (2011), os manequins femininos que fabri-

    ca so utilizados em diversas escolas e empresas e foram desenvolvidos

    com base na mdia das medidas da populao feminina brasileira.

    Em escolas nacionais, no ensino do desenho tcnico de moda,

    frequente a construo de corpos geomtricos com medidas que

    no tm base cientfica em pesquisas como as que foram realizadas

    para os manequins de moulage, pois at o momento no h um

    estudo aprofundado que valide essa construo.

    Esses corpos geomtricos (ver glossrio) so construdos pelos

    prprios alunos a partir de diversas tabelas de medidas desenvol-

    vidas para a modelagem plana e no para a construo corprea

    tridimensional.

    Os manequins em relao ao corpo, esquerda na figura 28,

    esto distantes do que se pode considerar um corpo humano: eles

    tm sua estrutura bastante modificada pela falta de base corporal

    em sua construo, assim como a mistura de conceitos ilustrativos

    e tcnicos, resultando em um modelo que no chega a ser tcnico

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    51/118

    51

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modelistas

    Figura 29 - Anlise da proporohumana (Istockphoto) em relao acorpos geomtricos utilizados emescolas de moda

    Figura 30 - Anlisede vesturio sobre o

    corpo humano (Fineart)em relao ao corpo

    geomtrico utilizado emescolas de moda

    nem ilustrativo. Esse manequim utilizado para a construo das

    colees sem uma proporo equivalente ao corpo humano.

    O vesturio desenhado sobre esses corpos geomtricos estaro

    distantes da proporo a ser desenvolvida na modelagem, que utilizar

    medidas do corpo humano biolgico para sua construo no papel de

    modelagem ou no manequim para moulage. Na figura a seguir observa-

    se uma anlise sobre as diferenas em relao ao corpo fisico e o corpo

    geomtrico, e como o vesturio no se encaixa no corpo geomtrico

    (imagem central). As especificaes do modelo sobre o corpo geomtrico

    no esto de acordo com o que se v na cala sobre o corpo humano.

    Os modelistas, quando recebem desenhos tcnicos (como na

    imagem direita na figura 28), seguem seus conhecimentos sobre a

    modelagem, pois o desenho no define com preciso o modelo da

    cala em relao cala real.

    (...) todos os que pretendem dominar o projeto do ves-

    turio devem adquirir a noo de escala, propores e

    dimenses do corpo. Para que o vesturio se ajuste e

    se mova em harmonia, o designer de moda precisa ter

    conhecimento bsico sobre anatomia, a estrutura, os

    movimentos, a forma e as medidas do corpo (Boueri,

    2010: 347).

    A falta de parmetro em relao a realidade do corpo huma-

    no modifica de forma considervel o desenho de moda feito sobre ele.

    Cabe a interpretao de modelistas para aproximar o desenho do desig-

    ner de moda s medidas desenvolvidas na modelagem plana, com base

    nas medidas de um corpo humano real.

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    52/118

    52

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modeli stas

    Figura 31 - Juliana Guo

    Em entrevista com Janine Niepceron, precursora do mtodo de

    moulage no Brasil (Anais do P&D, 2002), percebe-se uma animosidade

    entre o designer de moda profissional, criador responsvel pelo projeto

    a ser reproduzido, e os modelistas, vistos como operrios responsveis

    pela produo da coleo.

    Niepceron conta que em seu trabalho em uma das empresas em

    que presta consultoria, o designer de moda faz rapidamente alguns tra-

    os em um movimento aproximado aos feitos com pincel de um artista

    e assim, define o croquis. Esse desenho utilizado como projeto para o

    traje, traduzido para os tecidos a serem modelados sobre o manequim.

    O croquis (ver glossrio) ter uma liberdade gestual, bastante

    distanciada da proporo a ser ajustada ao corpo do manequim. Este,

    desenvolvido com base no corpo humano, passar pelas mos e per-

    cepo da modelista. Caber a ela os ajustes necessrios para que o

    conceito definido no trao rpido do designer de moda se aproxime de

    uma proporo vestvel de acordo com a proporo humana e questes

    relacionadas ao design.

    Ao contrrio da Europa, no Brasil a modelagem se desvinculou

    do conhecimento necessrio ao designer de moda como profissional

    responsvel pela coleo. Niepceron diz que na Academia francesa onde

    estudou, os designers de moda aprendiam, entre diversas disciplinas

    (conceito, desenho, costura), como modelar. Por isso, quando desenha-

    vam, mesmo que esses desenhos fossem apenas esboos do que preten-

    diam para sua coleo, os designers finalizavam o traje e eles mesmos

    colocavam os tecidos a serem trabalhados sobre o manequim (Niepce-

    ron, 2011).

    Na rea de contato entre designers de moda e modelistas po-

    deria haver uma interface em que ambos cruzassem conhecimentos e

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    53/118

    53

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modelistas

    Figura 32 - Croquis da designer de modaSophie Hulme

    habilidades. Assim como o modelista poderia compreender as questes

    relacionadas ao conceito definido para a criao das colees, o desig-

    ner de moda poderia se aproximar das questes da modelagem para

    compreender a necessidade de desenvolvimento de projeto baseado em

    um modelo compreensvel, com ou sem sua presena.

    No atual processo de confeco utilizado por uma boa parte

    das empresas brasileiras, o envio de desenhos de moda para confeco

    fora do Brasil uma realidade. Por questes comerciais, mo de obra

    especializada e busca de matrias-primas diferenciadas, pases como

    China, ndia e vrios outros, recebem esses desenhos que precisam ser

    interpretados para sua construo.

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    54/118

    54

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modeli stas

    Quando a produo de uma empresa se internacionaliza,

    qualquer canal que se considere oportuno para vencer as

    barreiras do idioma pode oferecer maneiras muito efeti-

    vas para acelerar o processo de produo e eliminar erros

    causados por confuses. O desenho um meio de comu-

    nicao universal, uma linguagem visual que faz tudo mais

    fcil (Szkutnicka, 2010: 9).

    H empresas como a Penalty que enviam um profissional, ge-

    rente de produto ou diretor criativo, para acompanhar os modelos nes-

    ses pases, com o objetivo de garantir que a coleo seja desenvolvida

    de acordo com o que foi planejado pela equipe de criao.

    Em outras empresas como a M5, conforme entrevista com

    Niepceron, os desenhos enviados so anexados aos prottipos desen-

    volvidos em tecidos, com todos os detalhes necessrios sua confeco,

    inclusive modelagem plana em papel.

    De acordo com a definio de Christo, o estilista um profis-

    sional criativo e livre para conceituao de um objeto desvinculado das

    questes que envolvem mercado: um sujeito dedicado a criar peas ni-

    cas (Christo 2010). Nesse caso, apresentar o croquis para modelistas

    ser suficiente, caso ele acompanhe o processo de modelagem at sua

    finalizao.

    Durante o desenvolvimento da coleo, o estilista precisar do

    apoio da modelista, pois ser um trabalho em conjunto, no s na tcni-

    ca, mas tambm na concluso de suas ideias. Conforme entrevista com

    Yaeko Yamashita, professora de moulage na Faculdade Santa Marcelina,

    pode-se dizer que nesse formato de trabalho, a modelista atuar como

    coautora do projeto de coleo, pois participar do processo de criao,

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    55/118

    55

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modelistas

    discutida em reunies entre modelistas e designers de moda.

    As dificuldades que surgem nessa relao de coautoria se tor-

    nam mais crticas quando o desenho feito pelo designer de moda possui

    tendncias ilustrativas. A ilustrao ensinada nas escolas de moda de-

    senvolvida pelos alunos, assim como por profissionais, com o objetivo de

    apresentar os modelos e o conceito da coleo. Ao contrrio dos croquis,

    um desenho finalizado com diversas tcnicas de pintura, tradicionais

    ou digitais, e so utilizadas para destacar o caimento dos tecidos, a

    inspirao e a proposta da coleo que so apresentadas.

    s vezes, essas ilustraes possuem detalhamento tcnico e em ou-

    tros momentos no. Os profissionais de modelagem precisam compreend-las

    para o desenvolvimento dos modelos, sem se distanciar da ideia do designer

    de moda.

    Rodrigues (2011) trabalha como modelista na sua empresa, Ris-

    ca 3, especializada na modelagem e confeco de modelos exclusivos

    normalmente apresentados aos seus clientes a partir de desenhos ilus-

    trativos. Ela tem se dedicado confeco de trajes de alunos em final

    de concluso de cursos das faculdades de moda em So Paulo e em

    vestidos para festas e eventos.

    A modelista faz o primeiro contato com seus clientes para defi-

    nir verbalmente quais so os volumes, propores ou recortes, quando

    estes itens no foram detalhados nos desenhos recebidos.

    Um primeiro prottipo desenvolvido para apresentar aos seus

    clientes, que s conseguem uma boa comunicao com a modelista a

    partir desta primeira etapa, e comum que essas peas teste, tambm

    chamadas de peas-piloto, sejam refeitas at cinco vezes a partir da pri-

    meira confeco para atingir o conceito definido pelos designers de moda,

    quando no especificam em detalhes o que querem para suas colees.

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    56/118

    56

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modeli stas

    Figura 33 - TCC SENAC,Lemos (2010)

    Figura 34 - Ilustrao, TCCSENAC, Lemos (2010)

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    57/118

    57

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modelistas

    Todos os aviamentos, tecidos e funcionalidade do modelo so

    definidos na maioria das vezes por Rodrigues para que ele seja vestvel

    e esteja de acordo com o que foi solicitado pelo seu cliente.

    A partir do seu conhecimento em modelagem, Rodrigues faz todos

    os ajustes necessrios de acordo com os materiais definidos para o modelo

    pelo seu cliente, com o objetivo de se aproximar do desenho recebido.

    Na figura 34, veem-se algumas alteraes no modelo final para que

    ele possa ser modelado e confeccionado. Essa proposta de trabalho s

    possvel com uma comunicao bem prxima entre designers de moda e

    modelistas, e as concluses so realizadas pelos dois profissionais.

    O desenho ilustrativo da figura 34 no est adequado para seu desen-

    volvimento distante do modelista. Ele no possui detalhamento dos materiais,

    no tem definido onde o fechamento do vestido, no tem o desenho das costas,

    e sua proporo est em desacordo com as medidas do corpo humano.

    comum nas empresas de confeco que os modelistas re-

    solvam os problemas com relao as propores humanas e definam

    as questes relacionadas funo dos modelos. Na prtica e com a

    responsabilidade de que os desenhos se tornem peas que vistam um

    ser humano, recair sobre o modelista a funo de traduzir e resolver

    qualquer problema que possa surgir pela falta de informaes que o

    designer de moda possa no ter indicado nas fichas-tcnicas.

    Muitas vezes, as empresas no percebem a importncia dessas

    informaes e acreditam no ser necessrio ter algum que possa ge-

    renciar ou facilitar a comunicao entre profissionais ou propor solues

    em relao comunicao entre as equipes.

    Como dito, com a globalizao, a produo de modelos de ves-

    turio se tornou possvel em diversos pases e precisa de um projeto

    acompanhado de todas as especificaes necessrias para a confeco.

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    58/118

    58

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modeli stas

    Esses desenhos precisam partir do princpio que outras pessoas pode-

    ro interpret-los de forma diferente do que foi planejado inicialmente.

    Designers de moda com experincia nesse formato de trabalho precisam

    encontrar uma representao grfica que gere o menor nmero de dvidas poss-

    vel e que atenda s necessidades das empresas que recebem esses desenhos.

    Outros aspectos relevantes esto relacionados ao envio desses

    materiais para as empresas. A computao grfica e a internet tm

    sido aliadas importantes no desenvolvimento dessa linguagem contem-

    pornea. Nesse novo olhar, de acordo com as novas tecnologias, as so-

    lues digitais tm sido uma tima opo para o desenvolvimento de

    mtodos e formatos de trabalho que atendam as equipes nas confec-

    es desde o processo criativo at a concluso da coleo.

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    59/118

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    60/118

    60

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modeli stas

    O olhar digital

    3.1 Desenho digital de moda

    Captulo 3

    H alguns anos, pensar no desenho de moda como algo re-

    lacionado ao que se aprendia apenas a partir de tcnicas ilustrativas,

    com lpis, papel e canetas coloridas, era suficiente para que ele fosse

    utilizado tanto para aprovao dos modelos criados para a academia de

    moda quanto para as empresas de confeco. O inconveniente dos de-

    senhos tradicionais feitos no papel era quando precisavam ser enviados

    rapidamente para confeces distantes dos escritrios de criao, pois a

    tecnologia disponvel, como o fac-smile, no possibilitava que as cores

    fossem mantidas no documento enviado.

    At ento, no h uma ampla bibliografia no Brasil com estu-

    diosos interessados nas tecnologias digitais e na possibilidade de apre-

    sentao de desenhos de moda para colees, com base na comunica-

    o entre profissionais em programas digitais.

    Em 1993, a Faculdade Santa Marcelina ofereceu aos seus alu-

    nos um dos primeiros cursos de extenso em desenho digital de moda

    intitulado Informtica x Moda. Esse curso est entre um dos primeiros

    dedicados ao ensino da computao grfica para moda no pas utilizan-

    do o CorelDRAW III .

    Ainda com grandes dvidas sobre o que seria importante ofe-

    recer como contedo aos alunos, o curso, ministrado pela pesquisadora

    priorizava o ensino do desenho planificado dedicado confeco da

    coleo que deveria ser apresentada como projeto final pelos alunos.

    A partir de pesquisas e de aulas de desenho de moda em tcnicas tradi-

    cionais, a pesquisadora deu incio ao ensino do desenho na Faculdade

    Santa Marcelina e SENAC, utilizando o conceito direcionado ao desenho

    tcnico.

    Durante alguns anos o desenho foi feito manualmente, com caneta pre-

    ta, para depois ser digitalizado e finalizado em programas grficos. A

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    61/118

    61

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modelistas

    Figura 35 - Desenho tcnico planificadoda camisa de goleiro da Adidas

    (Catlogo Adidas, 1995)

    partir de referncias vistas em catlogos e visitas a outros pases, deu-se

    inicio ao desenho feito totalmente no computador com a utilizao de

    programas vetoriais (ver glossrio).

    Sobre a figura 35, ao iniciar a criao de camisas esportivas na

    empresa esportiva Rhumell (2000), houve a necessidade do desenvol-

    vimento do desenho tcnico em tamanho natural para poder definir a

    localizao exata de estampas, do posicionamento das etiquetas, distin-

    tivos e gales (ver glossrio) na camisa. Todos os elementos definidos

    para o modelo tambm foram desenhados em tamanho natural para

    que fossem enviados s empresas fabricantes.

    A partir da medio de peas prontas e das bases de modela-

    gens, os modelos foram construdos diretamente em programas grfi-

    cos. As medidas e distncias dos elementos faziam parte do projeto. As

    camisas, desenvolvidas em empresas espalhadas pelo pas, precisavam

    ter o desenho feito de forma clara e especifica para que as equipes res-

    ponsveis por sua confeco compreendessem o modelo, na ausncia

    da designer de moda.

    Nesses projetos, o corpo humano estava ausente, e todos os

    desenhos eram feitos a partir da modelagem plana realizada com base

    nas medidas do corpo humano fsico. Aps a transferncia do desenho

    em tamanho natural para o computador, a pesquisadora desenvolveu

    um mtodo de trabalho que reduzia o modelo e todos os elementos nele

    contidos para uma proporo que coubesse em uma folha de tamanho

    padro (formato A4). Dessa forma, era possvel saber, antes da con-

    feco do modelo, como e onde ficariam todas as etiquetas e detalhes

    definidos pela designer na camisa.

    Esse mtodo de trabalho criado pela pesquisadora foi bem acei-

    to pelas confeces para quem ela prestava consultoria, e se desenvol-

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    62/118

    62

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modeli stas

    Figura 36 - Camisa 1 do time defutebol Palmeiras, El Camarena

    (2000)

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    63/118

    63

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modelistas

    Figura 37 - Puls , (2008)

    veu sem a necessidade de sua presena em quaisquer das etapas de

    produo do modelo. O resultado da pea confeccionada foi bastante

    aproximado do conceito definido em seu projeto.

    Com base na observao de peas fsicas, na transferncia para

    o meio digital das medidas dos modelos, assim como de todos os avia-

    mentos e etiquetas em tamanho natural, foi possvel a construo pla-

    nificada da camisa de forma que pudesse ser compreendida pelas mo-

    delistas e pela linha de produo. A pesquisadora acredita que se nesteformato de trabalho estiver incluso a modelagem plana (ver glossrio)

    do modelo, o resultado poder ser mais preciso em relao a ideia inicial.

    Diversos pesquisadores no meio acadmico e profissional tm

    buscado caminhos para que o desenho de moda acompanhe as neces-

    sidades tcnicas necessrias ao seu desenvolvimento nas confeces.

    Puls (2008) apresenta outro formato de corpo para o desenho

    tcnico de moda. Em suas pesquisas, ela planifica o corpo humano pre-

    parando-o como base para o desenho tcnico do vesturio.

    A partir de pesquisas junto a alunos da Universidade do Estado

    de Santa Catarina onde Puls leciona, foi construdo um corpo com base

    nas medidas de peas de vesturio e nas normas estabelecidas pela

    Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT). O resultado foi um

    corpo que no corresponde proporo corprea fsica. Ele representa

    as peas de vesturio que sero desenhadas sobre ele como se estives-sem em uma superfcie plana. um mtodo baseado na modificao do

    corpo para adequ-lo a uma proposta de planificao.

    Essas pesquisas trazem inovaes no desenho de moda e do

    corpo ao buscar formatos que se aproximem da mesma planificao

    ocorrida na modelagem plana (ver glossrio).

    Na moulage existe o corpo fsico como base para o projeto. O

  • 7/23/2019 Design de Corpos

    64/118

    64

    Design de Corpos: Uma Anlise na Comunicao entre Designers de Moda e Modeli stas

    papel ou tecido precisa envolv-lo para que a pea de vesturio seja

    construda. Na modelagem plana existem regras de construo que pre-

    viamente planificaram o corpo para que o vesturio seja modelado sem

    sua presena.

    A busca por um desenho de moda a partir de uma base corporal,

    tem sido o objeto de estudo de diversos acadmicos da rea de moda.

    Essa busca tem sido feita tambm pelos profissionais que utilizam a

    computao grfica na construo de corpos e colees.Os corpos e desenhos feitos em tcnicas tr