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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL DISCIPLINA DE SEMINÁRIOS APLICADOS DESEQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE EM BOVINOS: aspectos etiológicos, diagnósticos e de tratamento Antônio Dionísio Feitosa Noronha Filho Orientador: Prof. Dr. Luiz Antônio Franco da Silva GOIÂNIA 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL

DISCIPLINA DE SEMINÁRIOS APLICADOS

DESEQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE EM BOVINOS: aspectos

etiológicos, diagnósticos e de tratamento

Antônio Dionísio Feitosa Noronha Filho

Orientador: Prof. Dr. Luiz Antônio Franco da Silva

GOIÂNIA

2013

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ANTÔNIO DIONÍSIO FEITOSA NORONHA FILHO

DESEQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE EM BOVINOS: aspectos

etiológicos, diagnósticos e de tratamento

Seminário apresentado à Disciplina de

Seminários Aplicados do Programa de

Pós-Graduação em Ciência Animal da

Escola de Veterinária e Zootecnia da

Universidade Federal de Goiás

Nível: Doutorado

Área de concentração:

Patologia, Clínica e Cirurgia Animal

Orientador:

Luiz Antônio Franco da Silva

Comitê de Orientação:

Profa. Dra. Maria Clorinda Soares Fioravanti

Prof. Dr. Paulo Henrique Jorge da Cunha

GOIÂNIA

2013

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 1

2 FISIOLOGIA DO EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE ..................................................... 3

2.1 PRINCÍPIOS BIOQUÍMICOS DO EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE ......................... 4

2.2 Regulação do equilíbrio ácido-base ................................................................. 7

2.2.1 Sistema tampão ácido carbônico e bicarbonato ............................................ 8

2.2.2 Outros sistemas tampões ............................................................................ 10

2.3 Classificação dos distúrbios do equilíbrio ácido-base .................................... 11

2.4 Avaliação dos distúrbios do equilíbrio ácido-base .......................................... 12

2.4.1 Hemogasometria ......................................................................................... 12

2.5 Abordagem quantitativa do equilíbrio acido-base ........................................... 14

3 DISTÚRBIOS DO EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE EM BOVINOS .......................... 19

3.1 Particularidades no diagnóstico de alterações do equilíbrio ácido-base em

bovinos ................................................................................................................. 19

3.2 Acidose metabólica ........................................................................................ 21

3.2.1 Ácidose lática .............................................................................................. 21

3.3 Alcalose metabólica ....................................................................................... 23

3.4 Distúrbios respiratórios ................................................................................... 24

3.5 Tratamento dos distúrbios do equilíbrio ácido-base ....................................... 24

3.5.1 Vias de aplicação de soluções de fluidoterapia ........................................... 24

3.5.2 Estimativa de volume a ser usado na fluidoterapia ..................................... 25

3.5.3 Soluções utilizadas na fluidoterapia ............................................................ 25

3.5.4 Tratamento da acidose ................................................................................ 28

3.5.5 Tratamento da alcalose ............................................................................... 30

3.5.6 Considerações sobre realização de fluidoterapia em bovinos a campo ...... 31

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 34

REFERÊNCIAS .................................................................................................... 36

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LISTA DE ABREVIATURAS

H+ íon hidrogênio

H2O água

CO2 dióxido de carbono

HCO-3 íon bicarbonato

H2CO3 ácido carbônico

[ ] concentração de elemento

K constante de dissociação de íons fracos

pH logaritmo negativo da concentração de

íons H+

pk logaritmo negativo da constante de

dissociação

PCO2 pressão parcial do dióxido de carbono

AG intervalo aniônico

SID diferença de íons fortes

Atot concentração total de ânions fracos não

voláteis

EB excesso de bases

mmol/L milimol/litro

mEq/l miliequivalente/litro

TCO2 total de dióxido de carbono

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1 INTRODUÇÃO

Nos bovinos, como nas demais espécies animais, o organismo

emprega vários mecanismos para assegurar seu equilíbrio interno. A manutenção

de diversos parâmetros físicos e químicos dentro de intervalos relativamente

estreitos é essencial para o desempenho das inúmeras funções do organismo,

desde o nível molecular até o macroscópico. Dentre os diversos parâmetros

cuidadosamente regulados pelo organismo, um dos mais importantes é a

concentração de íons hidrogênio, [H+], também denominados prótons, tanto no

espaço intracelular quanto extracelular. A [H+] é normalmente referida no termo de

seu logaritmo negativo, pH, de modo que aumento na [H+] resulta em redução de

pH e redução da [H+] resulta em aumento do pH. Variações no pH provocam

alterações estruturais e funcionais nas enzimas do organismo, podendo interferir

em praticamente todas as reações fisiológicas. A manutenção da concentração de

íons hidrogênio no organismo em estado fisiológico ou patológico é referido como

equilíbrio ácido-base. A concentração de íons hidrogênio é, portanto, um

parâmetro vital e suas alterações têm importantes implicações clínicas para os

animais.

Diversas condições clínicas nos bovinos como desequilíbrio hídrico,

eletrolítico e doenças dos tratos digestório e respiratório se caracterizam, entre

outros aspectos, por alterações no equilíbrio ácido-base (FÜRLL, 2005; FREITAS,

2010). Estas alterações geralmente possuem sinais clínicos pouco específicos

necessitando de exames complementares para o diagnóstico e escolha do

protocolo terapêutico mais adequado. Porém, por falta de acesso a apoio

laboratorial ou falta de conhecimentos aprofundados sobre os desequilíbrios

ácido-base, estes costumam ser subdiagnosticados. Assim, não são corrigidos

adequadamente ou mesmo não recebem nenhuma atenção específica na

formulação do protocolo terapêutico. Portanto, o conhecimento do equilíbrio

ácido-base e suas alterações nos bovinos é importante e deve ser mais e melhor

empregado no atendimento destes animais, seja no campo seja em hospitais

veterinários.

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Com este trabalho objetivou-se discorrer sobre os princípios fisiológicos

do equilíbrio ácido-base e suas alterações nos bovinos abordando aspectos como

patogenia, diagnóstico e tratamento das alterações.

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2 FISIOLOGIA DO EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE

O equilíbrio ácido-base diz respeito ao pH dos líquidos corporais, ou

seja, à concentração de íons hidrogênio, [H+], nos compartimentos intra e

extracelulares. Este é considerado um equilíbrio dinâmico com uma carga de

ácidos sendo produzida pelo metabolismo energético tecidual e de aminoácidos

no fígado e sendo eliminada diariamente pelos pulmões e rins (Di BARTOLA,

2012; POUPIN et al. 2012). O pH é um parâmetro de suma importância biológica,

especialmente em função de sua influência na atividade enzimática (Figura 1), e o

organismo possui diversas linhas de defesa contra mudanças na concentração de

íons hidrogênio. Aspectos importantes para a compreensão do equilíbrio ácido-

base são as características bioquímicas da água como solvente, bem como dos

diferentes solutos aí dissolvidos, e os mecanismos fisiológicos pelos quais o

organismo tenta manter o pH sanguíneo dentro de estreitos limites.

FIGURA 1 – Efeito do pH sobre a atividade enzimática

Fonte:http://web.squ.edu.om/medlib/med_cd/e_c

ds/health%20development/html/clients/WAWFSA

/html/u13/u1312f05.htm

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2.1 PRINCÍPIOS BIOQUÍMICOS DO EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE

A água é a molécula mais abundante no organismo compondo cerca

de 60% deste nos mamíferos adultos. Ela atua como um solvente universal onde

ocorrem praticamente todas as reações biológicas, de modo que suas

características químicas são determinantes para a vida como conhecemos. A

água é considerada uma molécula polar, pois o núcleo do átomo de oxigênio atrai

para si os elétrons compartilhados com os átomos de hidrogênio. Em função do

caráter dipolar da água, sais inorgânicos polares dissolvidos nesta se dissociam

facilmente. Moléculas orgânicas não iônicas, mas com grupos polares fracos

também são solúveis em água (DEVLIN, 2011; DI BARTOLA, 2012).

Em meio aquoso, moléculas se dissociam formando cátions, íons

carregados positivamente e ânions, íons carregados negativamente. Estas

moléculas são denominadas eletrólitos, pois os íons facilitam a passagem de

corrente elétrica. Os eletrólitos podem ser classificados em fortes ou fracos.

Eletrólitos fortes são moléculas que se dissociam completamente. O ânion

formado pode se ligar a um próton livre, H+, para formar um ácido não dissociado.

Os eletrólitos fracos, geralmente ácidos orgânicos, são assim chamados, pois

possuem menor capacidade de condução de corrente elétrica. Estes se dissociam

parcialmente e observa-se uma relação constante entre formas dissociada e

conjugada. A relação entre formas dissociada e conjugada de um eletrólito fraco é

determinada por uma equação de equilíbrio (DEVLIN, 2011).

k = [H+][A-]/[HA]

Nesta equação, k representa a constante de equilíbrio de dissociação,

[H+], a concentração do íon hidrogênio, [A], a concentração do ânion dissociado e

[HA] concentração do ácido dissociado. Da equação deduz-se que o grau de

dissociação será grande se a constante de equilíbrio k for grande e pequeno se k

for pequeno. A água é considerada um eletrólito fraco, pois possui k baixo, 1,8 X

10-16, se dissociando em H+ e OH-. Devido ao baixo k, a maior parte da água se

encontra conjugada, H2O, na concentração praticamente constante de 55

milimol/L (mmol/L). Um importante índice para o comportamento dos solutos em

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água é o seu produto iônico, obtido a partir da equação de equilíbrio da água e

tendo o valor de 1X10-14 (DEVLIN, 2011).

K = [H+][OH-]/[H2O]

reformulando a equação:

k [H2O]= [H+][OH-]

Conhecendo-se os valores de k e [H2O]

1,8 10-16 55= [H+][OH-]

1 10-14= [H+][OH-]

Em água pura, a concentração de H+ é igual à de OH-. Aplicando-se

isso à equação do produto iônico da água tem-se que a concentração de cada um

é 1X10-7 mol/L em água pura. A constante de dissociação da água é sempre

respeitada, independente da adição de solutos, de modo que se for adicionado

um ácido forte, este se dissociará aumentando a [H+] e consequentemente

reduzindo a [OH-]. O contrário também acontece, quando se adiciona uma base

forte, esta se dissocia liberando OH- que se liga ao H+ para formar água. Desse

modo pode-se dizer que mudanças na [H+] causam um efeito contrário na [OH-],e

vice versa (DEVLIN, 2011). A concentração de íons hidrogênio é de grande

importância biológica e varia em torno de 36 a 43 nanomols/litro (nmol/L). Mesmo

em concentrações aparentemente baixas, a [H+] influencia praticamente todos os

processos bioquímicos, interferindo na estrutura e função enzimáticas e

dissociação e deslocamento de íons (HUBBLE, 2006; HUGHES & BRAIN, 2013).

Visando facilitar sua expressão, a concentração de íons hidrogênio, H+,

é designada nos termos de seu logaritmo negativo, o chamado pH. Em água pura

a [H+] é 1X10-7 e, portanto, o pH é 7,0, sendo denominado pH neutro. O pH

plasmático é em torno de 7,4. As diferentes moléculas dissolvidas em água

podem funcionar como doadores ou receptores de prótons. Os primeiros são

denominados ácidos e os segundos bases, de acordo com a definição de

Brönsted e Lowry (SEVERINGHAUS et al., 1998).

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A adição de ácidos ou bases pode interferir na concentração de íons

hidrogênio, altera a proporção entre a água e seus produtos de dissociação e

consequentemente altera o pH. Nos sistemas biológicos, um ácido fraco, eletrólito

fraco, e sua base dissociada, ânion, formam o chamado par conjugado. Da

mesma maneira que se convencionou denominar o logaritmo negativo da [H+] de

pH, o logaritmo negativo da constante de dissociação de um par conjugado, k, é

denominado pk. Rearranjando a equação de equilíbrio de um ácido fraco e

adotando-se o logaritmo negativo para todos os termos, tem-se a chamada

equação de Henderson-Hasselbach. Esta equação permite determinar a

influência de um par conjugado no pH da solução (DEVLIN, 2011).

k´eq= [H+][A-]/[HA]

[H+] = k . [HA]/[A-]

pH = pk+ log [base conjugada]/[ácido conjugado]

Outra implicação da equação de Henderson-Hasselbach é que

sabendo-se o pH do meio e o pk de um par conjugado, pode-se dizer o grau de

dissociação desse par na solução. Pela equação, pode-se dizer que quando os

elementos do par conjugado estão em concentrações iguais, ou seja, o ácido está

na mesma concentração de sua base conjugada, o pH é igual ao pK (DEVLIN,

2011).

pH = pk + log [base conjugada]/[ácido conjugado]

pH = pk + log1

pH = pk

Quando o pH de uma solução se encontra próximo ao pk de um par

conjugado, este apresenta o chamado efeito tampão. O par ácido e base fracos

minimizam alterações no pH do meio quando são adicionados outros ácidos ou

bases na solução (Figura 2).

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FIGURA 2 – Relação entre pH, pk e efeito de um tampão

Fonte:http://www.wiley.com/college/pratt/0471393878/st

udent/review/acid_base/6_hh_equation.html

O organismo possui diversos sistemas tampões e estes são centrais na

regulação do equilíbrio ácido-base. A equação de Henderson-Hasselbach foi

formulada em 1917 inicialmente para descrever o comportamento do mais

importante tampão do organismo, o par conjugado ácido carbônico e bicarbonato.

Por décadas e ainda hoje esses princípios são utilizados para avaliação do

equilíbrio ácido-base na Medicina e na Medicina Veterinária (SEVERINGHAUS et

al., 1998; COREY, 2005; FREITAS et al., 2010; GOEL & CALVERT, 2011).

2.2 Regulação do equilíbrio ácido-base

A regulação do pH nos líquidos corpóreos depende da ação de

diferentes tampões e de órgãos como pulmões e rins que, por sua vez, regulam a

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concentração de alguns desses tampões. Os principais tampões presentes no

sangue são o par ácido carbônico (H2CO3) e bicarbonato (HCO-3), hemoglobina,

proteínas plasmáticas e fosfatos. No liquido intersticial, o principal tampão é o par

H2CO3 e HCO-3. Os principais tampões no liquido intracelular são proteínas e

fosfatos (HUBBLE, 2006; HICKISH & FARMERY, 2012).

Os tampões presentes nos líquidos corporais são considerados uma

primeira linha de defesa contra alterações do pH pela adição ou perda de ácidos

ou bases. Quando a causa de alteração do pH persiste por mais tempo ou ocorre

uma mudança brusca e acentuada com adição de grandes quantidades de ácidos

ou bases,os tampões não são capazes de manter a [H+] nos níveis fisiológicos.

São executados então pelos pulmões e pelos rins mecanismos compensatórios

que interferem diretamente nas concentrações de H2CO3 e HCO-3 de modo a

corrigir o desequilíbrio ácido-base (Figura 3) (GOEL & CALVERT, 2011;

ORTOLANI et al., 2011; ANTONELLI et al., 2012).

2.2.1 Sistema tampão ácido carbônico e bicarbonato

Como pode ser deduzido da equação de Henderson-Hasselbach, o par

de tampões ácido carbônico e bicarbonato é o principal determinante do pH

plasmático. O CO2 (dióxido de carbono), produzido pelo metabolismo oxidativo

nos tecidos, é dissolvido no plasma onde se combina com água para formar

H2CO3, reação catalisada pela enzima anidrase carbônica. Após se atingir o

equilíbrio da reação, observa-se uma proporção entre H2CO3 e CO2 de 1:340.

Além disso, em pH fisiológico, em torno de 7,4, a imensa maioria de moléculas de

H2CO3 se dissocia em HCO-3, numa proporção de 1:6800. Em função da

quantidade mínima de H2CO3 em relação à CO2 e HCO-3, o sistema tampão

H2CO3 e HCO-3 é expresso em CO2 e HCO-

3 (Di BARTOLA, 2012).

CO2 + H2O ↔ H2CO3 ↔HCO-3 + H+

CO2 + H2O ↔HCO-3 + H+

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FIGURA 3 – Regulação do pH pela interação do sistema tampão bicarbonato e dióxido de carbono, rins e pulmões. pH, logaritmo negativo da concentração de íon hidrogênio; HCO-

3, íon bicarbonato; H2CO3, ácido carbônico; CO2, dióxido de carbono; PCO2, pressão parcial de dióxido de carbono Fonte: GOEL & CALVERT (2011)

Os motivos que fazem do par CO2 e HCO-3 o principal tampão do

organismo são o fato de estes íons se encontrarem em grandes concentrações no

organismo e terem suas concentrações reguladas pelos pulmões e rins,

respectivamente, fazendo deste um sistema aberto (CARLSON & BRUSS, 2008;

HUGHES & BRAIN, 2013). Em situações que alterem o equilíbrio ácido-base, os

pulmões podem regular a pressão parcial de dióxido de carbono (PCO2) por meio

de maior ou menor ventilação e os rins podem aumentar ou diminuir a reabsorção

de HCO-3, provendo dessa maneira a quantidade de tampão necessária. O fato

de CO2 e HCO-3 formarem um sistema aberto aumenta sua capacidade

tamponante consideravelmente (AYERS & DIXON, 2011; GUAIS et al., 2011).

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2.2.2 Outros sistemas tampões

Além do sistema ácido carbônico e bicarbonato, os outros sistemas

tampões são as proteínas, plasmáticas e intracelulares, e fosfatos, intracelulares

principalmente. A capacidade tamponante de proteínas se deve a diferentes

grupos dissociáveis em sua estrutura como anéis de imidazol de resíduos de

histidina e radicais terminais amina. A hemoglobina é responsável por

aproximadamente 80% da capacidade tamponante não relacionada a bicarbonato

no sangue total. Os outros 20% se referem a proteínas plasmáticas,

predominantemente albumina. Fosfatos inorgânicos e orgânicos são importantes

tampões intracelulares. Entre os orgânicos podem ser citados o trifosfato de

adenosina, difosfato de adenosina e 2,3 difosfoglicerato. Os fosfatos inorgânicos

são considerados importantes tampões urinários (CARLSON & BRUSS, 2008; Di

BARTOLA, 2012).

2.3.4 Mecanismos compensatórios do equilíbrio ácido-base

Os rins e pulmões atuam integradamente para controlar desvios

acentuados na [H+] e, consequentemente, no pH sanguíneo. Estes órgãos são

capazes de interferir no equilíbrio ácido-base por regularem o principal tampão do

organismo, o par CO2 e HCO-3. Após a adição ou acúmulo de uma determinada

quantidade de ácido não volátil, por exemplo, este é imediatamente tamponado

pelo HCO-3 que, ao ligar-se ao íon hidrogênio proveniente do ácido não volátil,

forma H2CO3. Este, por sua vez, é convertido em CO2 pela enzima anidrase

carbônica. O aumento da [CO2] estimula maior ventilação pulmonar de modo a

eliminar o CO2 adicional formado. Os rins, por sua vez, podem aumentar a

reabsorção de HCO-3 filtrado de modo a repor a quantidade perdida na titulação

de ácido. Dessa maneira os rins e pulmões contribuem para a manutenção do pH

em níveis fisiológicos (CARLSON & BRUSS, 2008; FREITAS et al., 2010).

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2.3 Classificação dos distúrbios do equilíbrio ácido-base

Distúrbios do equilíbrio ácido-base são classificados de acordo com o

componente responsável pela alteração. O processo patológico que provoca

acúmulo de ácidos é chamado acidose e o que causa acúmulo de bases é

denominado alcalose. A redução do pH sanguíneo é denominada acidemia, por

outro lado, a elevação do pH sanguíneo é denominado alcalemia. Dependendo da

natureza, volátil ou não, do elemento acumulado o desequilíbrio pode ser

classificado também em metabólico ou respiratório (GOEL & CALVERT).

A adição de ácidos não voláteis como em casos de acidose ruminal ou

diarreia em bovinos, por exemplo, caracterizam quadros de acidose metabólica

(ORTOLANI et al., 2010; LEAL et al., 2012). A perda de ácidos não voláteis ou

adição excessiva de tampões caracteriza um quadro de alcalose metabólica como

pode ser observado em casos de deslocamento de abomaso em bovinos e

administração excessiva de bicarbonato de sódio (WHITEHAIR et al., 1995;

CARLSON & BRUSS, 2008). A adição de ácido volátil, CO2, geralmente está

associada a bradipnéia, dispneia ou alterações patológicas no parênquima

pulmonar e caracteriza uma acidose respiratória podendo ser observada em

casos de pneumonia, depressão do centro respiratório e pneumotórax. A redução

de PCO2 é associada a hiperventilação como em casos de febre, severa anemia

ou situação de dor e estresse sua redução caracteriza uma alcalose respiratória

(CARLSON & BRUSS, 2008; AYERS & DIXON, 2011; Di BARTOLA, 2012).

Uma determinada alteração no equilíbrio ácido-base é seguida de uma

resposta compensatória em sentido oposto. Acidose metabólica, por exemplo, é

compensada por maior ventilação pulmonar resultando em alcalose respiratória e

uma alcalose metabólica é compensada por uma acidose respiratória (Figura 2).

As respostas compensatórias, porém, induzem o pH no sentido oposto à

alteração primária, mas não a ponto de causar uma alteração de pH no sentido

oposto. A alcalose respiratória em resposta a uma acidose metabólica eleva o pH

aos valores fisiológicos, não chegando ao extremo de provocar uma alcalemia

(GOEL & CALVERT, 2011; ORTOLANI et al., 2011; ANTONELLI et al., 2012).

Em algumas situações, porém, um quadro clínico mais complexo pode

se caracterizar por dois ou mais distúrbios primários. Nesse caso, tem-se então

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os chamados distúrbios mistos. A ocorrência destes é suspeitada quando os

valores de pH e demais variáveis associadas ao equilíbrio ácido base não

correspondem ao esperado em função das suspeitas clínicas iniciais e respostas

compensatórias previstas (HUBBLE, 2006; AYERS & DIXON, 2011; ESCALERA-

VALENTE et al., 2013).

2.4 Avaliação dos distúrbios do equilíbrio ácido-base

A avaliação adequada dos distúrbios do equilíbrio ácido base requer a

interpretação conjunta dos achados de exame físico, histórico e suspeita clínica e

exames complementares. Os achados do exame físico nem sempre são

específicos para determinado desequilíbrio, conduzindo, porém a uma ou mais

suspeitas clínicas. Pela suspeita clínica, podem-se deduzir as alterações ácido-

base esperadas, e estas são avaliadas por exames laboratoriais (FURL, 2005;

FREITAS et al., 2010). Dentre os exames laboratoriais, a hemogasometria é o

que fornece mais informações a respeito do equilíbrio ácido-base

(SEVERINGHAUS et al., 1998; MONNIG, 2013).

2.4.1 Hemogasometria

No exame hemogasométrico, os parâmetros mais relevantes para

avaliação do equilíbrio ácido base são pH, pressão parcial de dióxido de carbono

(PCO2), pressão parcial de oxigênio (PO2), bicarbonato (HCO-3), total de CO2

(TCO2), excesso de bases, ou base excess (BE), e intervalo aniônico, ou anion

gap (AG) (RUSSELL & ROUSSEL, 2007; Di BARTOLA, 2012). O pH é o resultado

final da interação de todos os elementos envolvidos no equilíbrio ácido-base,

portanto é tomado como ponto de partida na avaliação do exame

hemogasométrico. A redução no valor de pH indica uma acidemia, causada por

acidose metabólica, respiratória ou ambas. Elevação no pH indica alcalemia,

igualmente causada por alcalose metabólica, respiratória ou ambas. Valores de

pH dentro do intervalo de referência não excluem alterações do equilíbrio ácido-

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base pois podem indicar uma desordem primária devidamente compensada ou

um distúrbio misto no qual as influências da acidose e alcalose no pH se anulam

(GOEL & CALVERT, 2011; MONNIG, 2013).

Após avaliação do pH, deve-se investigar se a causa da alteração é

metabólica, respiratória ou ambas. A PCO2 é indicativa de ventilação pulmonar e é

considerada como o componente respiratório do equilíbrio ácido-base. Elevações

em seu valor indicam acidose respiratória e reduções indicam alcalose

respiratória. O HCO-3 é considerado o componente metabólico do equilíbrio ácido-

base, sendo que sua redução indica acidose metabólica e sua elevação indica

alcalose metabólica. O TCO2 envolve a soma do HCO-3 e do CO2, sendo

ligeiramente maior que o HCO-3. Sua redução indica uma acidose e sua elevação

indica uma alcalose, porém, por envolver os componentes metabólicos e

respiratórios, é pouco específico quanto a origem do desequilíbrio (RUSSELL &

ROUSSEL, 2007; BATEMAN, 2008; FREITAS et al., 2010).

Para quantificar o componente metabólico do desequilíbrio, criou-se o

conceito de excesso de base que significa a quantidade de base, ou ácido,

necessária para titular a amostra de sangue até o pH de 7,4 com a PCO2 em

40mmHg. Sua variação é interpretada de maneira semelhante ao HCO-3, sendo

que a redução indica acidose metabólica e elevação indica alcalose metabólica. O

excesso de base também é utilizado para calcular a dose de bicarbonato de sódio

no tratamento da acidose metabólica (CONSTABLE, 2003; KELLUM, 2005)

O conceito de intervalo aniônico (AG) foi criado para auxiliar a

caracterizar mais especificamente os desequilíbrios metabólicos. É calculado

pela diferença entre os principais cátions, sódio e potássio, e os principais ânions,

cloreto e bicarbonato, do líquido extracelular. No entanto, essa diferença não é

real, pois a homeostase do organismo exige a manutenção da eletroneutralidade,

ou seja, a soma da carga de todos os cátions deve ser igual à soma da carga de

todos os ânions. O AG é equivalente à diferença entre os ânions não mensurados

e cátions não mensurados. A principal alteração no AG se deve a elevação de

ânions não mensurados que, atendendo ao princípio da eletroneutralidade, resulta

em uma redução dos ânions mensurados e, consequentemente, num aumento do

AG. Ânions não mensurados incluem fosfatos, sulfatos, lactato e corpos

cetônicos. A vantagem do AG é que ânions não mensurados como lactato e

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corpos cetônicos são clinicamente relevantes (CONSTABLE, 2000; RUSSELL &

ROUSSEL, 2007; FREITAS et al., 2010). Aumento do ânion gap em bovinos pode

ocorrer em importantes condições clínicas como a cetose, a diarreia de bezerros

e a acidose lática ruminal, devido ao acúmulo de corpos cetônicos e lactato

respectivamente (FÜRLL, 2005; ORTOLANI et al., 2010; MÜLLER et al., 2012).

2.5 Abordagem quantitativa do equilíbrio acido-base

Os princípios fisiológicos e abordagem diagnóstica até então

comentada é amplamente utilizada até os dias de hoje. Por ter seus princípios

estabelecidos no começo do século passado, é denominada abordagem

tradicional, ou abordagem de Henderson-Hasselbach (SEVERINGHAUS et al.,

1998; HUBBLE, 2006). Porém, com o passar do tempo surgiram questionamentos

sobre a validade desses conceitos na avaliação do equilíbrio ácido-base.

Especialmente em pacientes em estado crítico, observa-se grande número de

casos nos quais pela abordagem tradicional não se encontra uma resposta

satisfatória para o complexo quadro clínico observado (BARBOSA et al., 2006;

LINDNER et al., 2013; MOVIAT et al., 2013). Essas inconsistências passaram a

ser atribuídas a falhas na abordagem de Henderson-Hasselbach da avaliação

ácido-base do organismo. As principais incoerências do modelo tradicional foram

considerar o bicarbonato/dióxido de carbono como elementos independentes na

determinação do pH sanguíneo (Figura 2) e desconsiderar, ou pelo menos

subestimar, a participação de eletrólitos e ácidos fracos, como proteínas e

fosfatos, no equilíbrio ácido-base (STORY & KELLUM, 2005; HUGHES & BRAIN,

2013).

O modelo de Henderson-Hasselbach considera o pH sanguíneo como

função da relação entre HCO-3 e CO2 (SEVERINGHAUS et al., 1998). O sistema

tampão HCO-3 e CO2 de fato é um dos, se não o mais importante tampão do

organismo. Pelo fato de HCO-3 e CO2 serem regulados por órgãos diferentes,

poderiam até ser considerados como variáveis independentes. Porém, o HCO-3

nada mais é que o produto da dissociação do H2CO3, sendo conhecida a equação

que correlaciona este com o CO2 e HCO-3 (Figura 7) (CONSTABLE, 2000; GOEL

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& CALVERT, 2011). De fato, alterações no CO2 num primeiro momento,

costumam ser acompanhadas, num segundo momento, por alterações no HCO-3

no mesmo sentido, o contrário também sendo observado. A abordagem

tradicional atribui esse fato a uma resposta compensatória executada pelos rins

ou pulmões. Porém, desse fato não se pode concluir necessariamente que CO2 e

HCO-3 sejam parâmetros independentes, como a abordagem tradicional sugere

(HUGHES & BRAIN, 2013).

São bastante conhecidas as alterações eletrolíticas que

frequentemente acompanham distúrbios no equilíbrio ácido-base. Hipernatremia,

hipocalemia e hipocloremia podem ser observados em casos de alcalose

metabólica e hiponatremia, hipercalemia e hipercloremia podem ser observados

em casos de acidose metabólica. Da mesma maneira que a concentração de íons

hidrogênio, o equilíbrio eletrolítico é rigorosamente controlado, pois estes

interferem na formação dos potenciais de ação das membranas celulares e na

osmolaridade dos líquidos corporais. Ao se dissociarem, os ácidos formam ânions

como, por exemplo, o H2CO3 que ao se dissociar forma o HCO-3. Fica evidente

então que existe uma interdependência entre o equilíbrio eletrolítico e ácido-base

influenciando a concentração de íons hidrogênio e o pH (RUSSELL & ROUSSEL,

2007; FREITAS et al., 2010). Essa relação é frequentemente observada na

clínica, porém, não é bem explicada pela abordagem tradicional (WHITEHAIR et

al., 1995; CONSTABLE et al., 2005; MORAIS, 2005)

Proteínas intra e extracelulares quando dentro de seus limites

fisiológicos exercem efeito tamponante contribuindo para estabilização do pH

sanguíneo. Isso se deve ao fato de muitas de suas terminações atuarem como

pares de ácidos, que se dissociam, e bases fracas. Porém, observa-se que

alterações no teor plasmático de proteínas interferem no pH sanguíneo, o que não

estaria previsto pela avaliação tradicional do equilíbrio ácido-base (Figura 2)

(CONSTABLE, 2000; AGRAFIOTIS, 2011; MOVIAT et al., 2013).

As inconsistências no modelo de Henderson-Hasselbach levaram Peter

Stewart, um químico canadense, a propor uma nova abordagem para

interpretação do equilíbrio ácido-base (KOREY, 2003). Baseado nas leis de

manutenção da eletroneutralidade, do equilíbrio de dissociação para solutos

incompletamente dissolvidos e de conservação de massas, Stewart formulou oito

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equações que simultaneamente resolvidas indicariam as variáveis realmente

determinantes do pH sanguíneo. A estas ele denominou variáveis independentes

pois só seriam influenciadas por fatores externos ao sistema, ou seja, uma não

interfere na outra. Estas, por sua vez, determinariam as variáveis dependentes,

que só seriam influenciadas por alterações nas variáveis independentes. As três

variáveis independentes são a diferença de íons fortes, ou strong ion diference

(SID), pressão parcial de dióxido de carbono (PCO2) e concentração total de

ânions fracos não voláteis (Atot). As variáveis dependentes são concentração de

íons hidrogênio [H+], e consequentemente pH, e HCO-3 (COREY, 2003;

MATOUSEK et al., 2011; HICKISH & FARMERY, 2012)

Íons fortes são aqueles completamente dissociados em pH fisiológico

e, portanto, não exercem efeito tampão. Íons fracos são aqueles parcialmente

dissociados no plasma, podendo ser voláteis, PCO2, ou não voláteis, Atot. A SID é

calculada pela diferença entre cátions fortes, sódio, potássio, cálcio, magnésio, e

os principais ânions fortes, cloreto e lactato. Sua elevação caracteriza alcalose

metabólica e decorre de elevação em algum cátion forte, especialmente sódio, ou

redução de cloreto. Por outro lado, sua redução caracteriza acidose metabólica e

decorre de redução de algum cátion forte, sódio principalmente, ou elevação de

algum ânion forte como cloreto ou lactato. A redução de SID também pode

ocorrer por aumento de ânions fortes não mensurados como corpos cetônicos ou

sulfatos. A PCO2, representando ânion fraco volátil, é interpretada da mesma

maneira que na abordagem tradicional, ou seja, causando acidose ou alcalose

respiratória. Os ânions fracos não voláteis são as proteínas e fosfatos. Sua

elevação caracteriza uma acidose metabólica e sua redução uma alcalose

metabólica (CARLSON & BRUSS, 2008; Di BARTOLA, 2012).

Com relação às variáveis dependentes, elas seriam manipuladas pelo

organismo secundariamente à alterações primárias nas variáveis independentes.

O bicarbonato seria regulado pelos rins, mas em função das alterações da PCO2.

A concentração de íons hidrogênio, e consequentemente o pH, seria determinado

principalmente pela dissociação da água, solvente das soluções biológicas.

Apesar de sua importância nos processos fisiológicos, quantitativamente a [H+]

não seria tão importante do ponto de vista da eletroneutralidade, pois esta se

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encontra na magnitude de nmol/L enquanto outros íons se encontram em escala

1.000.000 de vezes maior, mmol/L (STORY & KELLUM, 2005; HUBBLE, 2006).

Dessa maneira, pela abordagem de Stewart, podem ser observados

seis distúrbios do equilíbrio ácido base, ao invés de quatro na abordagem

tradicional, distúrbios metabólicos por alterações de diferença de íons fortes ou

ânions fracos não voláteis totais, ou respiratórios por alterações de pressão

parcial de dióxido de carbono (Quadro 1) (CONSTABLE, 2000). Por essa

abordagem, o equilíbrio ácido-base muda de foco, o organismo priorizaria a

manutenção das variáveis independentes, a correção das alterações destas por

sua vez corrigiria também desvios na [H+]. Apesar de mais complexa, a

abordagem quantitativa é considerada mais precisa pois leva em consideração

aspectos como eletrólitos e teor de proteínas plasmáticas, sabidamente

importantes em diversas condições clínicas. Essa nova perspectiva ajudaria a

explicar as aparentes inconsistências nos exames laboratoriais quando

interpretados de acordo com a abordagem tradicional (CONSTABLE et al., 2005;

MOVIET et al., 2013).

QUADRO 1 – Classificação dos distúrbios do equilíbrio ácido base pelas abordagens tradicional e quantitativa

Fonte: Adaptado de CONSTABLE (2000) e GOEL & CALVERT (2011)

Apesar de aparentemente explicar melhor o equilíbrio ácido-base, a

abordagem quantitativa não substituiu completamente a abordagem tradicional. A

Abordagem tradicional (Henderson-Hasselbach) Distúrbio Característica primária

Acidose metabólica ↓HCO-3

Alcalose metabólica ↑HCO-3

Acidose respiratória ↑PCO2

Alcalose respiratória ↓PCO2

Abordagem quantitativa (Stewart) Distúrbio Característica primária

Acidose metabólica ↓SID

Acidose metabólica ↑Atot

Alcalose metabólica ↑SID

Alcalose metabólica ↓Atot

Acidose respiratória ↑PCO2

Alcalose respiratória ↓PCO2

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interpretação clínica pela equação de Henderson-Hasselbach conjuntamente com

outros conceitos desenvolvidos posteriormente como o excesso de base e o

intervalo aniônico ainda elucida satisfatoriamente boa parte dos distúrbios no

equilíbrio ácido-base, principalmente quando os níveis de proteína plasmática e

eletrólitos não apresentam desvios acentuados. Além disso, sua avaliação requer

a mensuração de menos parâmetros e, por sua menor complexidade, facilita a

interpretação os distúrbios. A abordagem quantitativa requer a aferição de mais

parâmetros laboratoriais, que podem não estar disponíveis em muitos

laboratórios, e sua interpretação mais complexa e mais demorada, pode

prejudicar sua aceitação entre os clínicos. Além do mais, o conhecimento da

influência de cada parâmetro de ambas abordagens sobre o equilíbrio ácido-base

permite uma avaliação clínica mais abrangente (Quadro 2) (CONSTABLE, 2000;

MORAIS, 2005; BARBOSA et al., 2006).

QUADRO 2 - Influência dos parâmetros das duas abordagens nos distúrbios do equilíbrio ácido-base

Parâmetro Influência no pH ↓pH ↑pH

[H+] ↑ ↓

PCO2 ↑ ↓

HCO-3

↓ ↑

AG ↑ ↓

SID:

Na+

Mg2+

Ca2+

Cl-

Lactato

Ânions não mensurados

↓ ↑

↓ ↑

↓ ↑

↓ ↑

↑ ↓

↑ -

↑ -

↑ -

Atot:

Proteínas plasmáticas

Fosfatos

↑ ↓

↑ ↓

↑ ↓

Fonte: Adaptado de CONSTABLE (2000) e RUSSELL & ROUSSEL (2007)

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3 DISTÚRBIOS DO EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE EM BOVINOS

Os bovinos estão sujeitos a diversas condições clínicas que cursam

com alterações do equilíbrio ácido-base (ROUSSEL & RUSSEL, 2007; FREITAS

et al., 2010).

3.1 Particularidades no diagnóstico de alterações do equilíbrio ácido-base

em bovinos

O diagnóstico das alterações no equilíbrio ácido-base requer a

consideração do histórico, sinais clínicos e, preferencialmente, exames

complementares como a hemogasometria (Quadro 3). Em bovinos, o exame pode

ser realizado com amostras de sangue venoso ou arterial quando se avaliam

possíveis alterações metabólicas (SUCUPIRA & ORTOLANI, 2003; GOKCE et al.,

2004). Em alterações respiratórias, porém, é mais indicado o uso de sangue

arterial (BATEMAN, 2008; GOEL & CALVERT, 2011). A amostra deve ser colhida

em seringa heparinizada, aproximadamente 1000 unidades internacionais de

heparina, e imediatamente enviada para análise, pois com o passar do tempo

ocorrem alterações significativas nos parâmetros avaliados. Não sendo possível o

exame imediato, as amostras podem ser mantidas sob refrigeração até chegada

ao laboratório. Em até seis horas as amostras não apresentam alterações

significativas e, portanto, pode ser considerado como tempo limite para avaliação

(LISBÔA et al., 2001).

Nem sempre, porém, se tem acesso a um laboratório, especialmente

em atendimento a campo. Nessas situações podem ser empregados aparelhos

portáteis de hemogasometria (ROLLIN, 2006; VAP & WEISER, 2007;

ESCALERA-VALENTE et al., 2013). Caso não se disponha de aparelho portátil,

existem outras opções de exames complementares a campo como a aferição do

pH urinário (QUIROZ-ROCHA et al., 2000). MARUTA et al. (2008) compararam o

pH urinário e sanguíneo em bovinos com acidose metabólica e observaram

correlações positivas entre pH urinário e pH sanguíneo, entre pH urinário e

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excesso de base sanguíneo e entre excesso de base urinário e excesso de base

sanguíneo.

QUADRO 3 - Valores de referência de hemogasometria e eletrólitos em bovinos

Parâmetro RADOSTITS et

al. (2007) CARLSON & BRUSS

(2008)

FREITAS (2009)

bezerros

pH 7,35-7,5 7,32-7,44 7,399-7,42

PCO2(mm/Hg) 34-45 35-44 -

HCO-3 (mEq/L) 20-30 20-30 29,55-30,6

Intervalo aniônico

(mEq/L) 14-26 13,9-20,2 11,79-12,94

Fósforo (mg/dL) 5,6-6,5 5,6-6,5 -

Magnésio (mg/dL) 1,8-2,3 1,8-2,3 -

Cálcio (mg/dL) 9,7-12,4 9,7-12,4 -

Cloreto (mEq/L) 95-110 97-111 98,36-99,32

Potássio (mEq/L) 3,9-5,8 3,9-5,8 4,36-4,58

Sódio (mEq/L) 132-152 132-152 136,41-137,65

Em algumas situações, pela condição clínica suspeitada, pode-se

inferir a possível alteração ácido-base em curso. Portanto, alguns exames

complementares podem fornecer informações para o diagnóstico de alterações

relacionadas ao equilíbrio ácido-base. A aferição do pH ruminal permite o

diagnóstico de acidose ruminal aguda, frequentemente associada à acidose

metabólica (ORTOLANI et al., 2010). Outra prova importante nesse sentido é a

dosagem do teor ruminal de cloretos. Condições como deslocamento ou

compactação de abomaso cursam com refluxo de conteúdo abomasal rico em

cloretos para o rúmen. Esta alteração causa o aumento no teor ruminal de

cloretos e também está associada à alcalose metabólica hipoclorêmica

(WHITEHAIR et al., 1995; CÂMARA et al., 2009; CÂMARA et al., 2010). Outra

condição clínica associada à acidose metabólica é a cetose. Seu diagnóstico

pode ser obtido pela dosagem de corpos cetônicos, particularmente o beta-

hidroxibutirato, no sangue ou urina podendo assim confirmar a etiologia de um

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quadro de acidose metabólica (CAMPOS et al., 2005; ROUSSELL & RUSSELL,

2007; LeBLANC, 2010).

3.2 Acidose metabólica

A acidose metabólica é um dos desequilíbrios mais comuns do

equilíbrio ácido base em bovinos. É caracterizada por redução do pH sanguíneo,

HCO-3 e excesso de bases. Apresenta como resposta compensatória uma

redução na PCO2 decorrente de hiperventilação pulmonar. As principais causas

de acidose metabólica em bovinos são acúmulo de ácido lático, a mais frequente,

corpos cetônicos, perda de bicarbonato (HCO-3), de eletrólitos e desidratação com

aumento relativo da proteinemia (PARKER et al., 2003; FÜRL, 2005; RUSSELL &

ROUSSEL, 2007).

3.2.1 Ácidose lática

As causas de acidose lática em bovinos são acidose ruminal, diarreia,

especialmente em bezerros, hipovolemia com falha na perfusão tecidual e intensa

atividade muscular. O ácido lático pode estar presente em duas formas

isoméricas, a forma dextrogira, D-lactato, e a forma levogira, L-lactato

(EWASCHUK et al., 2005; ALLEM & HOLM, 2008; ESCALERA-VALENTE et al.,

2013).

A forma levógira do lactato é produzida durante o metabolismo da

glicose por células da pele, encéfalo, medula renal, músculo esquelético,

eritrócitos e leucócitos. Durante o metabolismo anaeróbico da glicose, o piruvato é

convertido a lactato pela enzima lactato desidrogenase (LDH). O lactato então sai

da célula onde foi produzido e é metabolizado em outros tecidos como músculo

cardíaco, tecido hepático e córtex renal. Nessas novas células o lactato é

novamente convertido pela LDH em piruvato que então é usado no ciclo de Krebs

e fosforilação oxidativa para produção de energia. A produção de lactato em um

tecido e sua posterior metabolização em outro é denominado ciclo de Cori. O

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lactato normalmente se encontra em níveis inferiores a 2 mmol/L que resultam do

equilíbrio entre produção e consumo pelos tecidos. Hipóxia, tecidual, geralmente

secundária a hipovolemia e hipoperfusão induzem as células a realizarem

metabolismo anaeróbio para produzirem energia e então quantidades maiores de

lactato são produzidas, se acumulando no organismo e causando acidose

metabólica (ALLEM & HOLM, 2008; VERNON & LeTOURNEAU, 2010).

A forma dextrógira do lactato é formada pelo metabolismo bacteriano

da glicose. Acidose lática pelo D-lactato é observada em bovinos com acidose

ruminal, um desequilíbrio da fermentação ruminal de carboidratos. Durante o

distúrbio fermentativo são produzidas grandes quantidades de lactato nas formas

D e L, que posteriormente são absorvidas pelo organismo provocando a acidose

metabólica (ORTOLANI et al., 2008; ORTOLANI et al., 2010). Outra importante

causa de acidose lática em bovinos pelo D-lactato é a diarreia de bezerros.

Durante os quadros de infecção intestinal a ação, geralmente conjunta, de

bactérias e vírus provoca extensos danos nas microvilosidades, reduzindo

consideravelmente a capacidade de absorção de nutrientes. O acúmulo de

carboidratos não fibrosos no lúmen intestinal leva à proliferação de bactérias

produtoras de lactato. Da mesma maneira que na acidose ruminal, o lactato é

produzido nas formas levogira e dextrogira e é absorvido pelo organismo

causando acidose metabólica (EWASCHUK et al., 2004; BERCHTOLD; 2009;

LORENZ, 2009).

Após absorção pelo organismo, parte do lactato é metabolizada pelo

fígado e parte é eliminada pelos rins. Porém, são observadas diferenças quanto à

cinética das formas levogira e dextrogira do lactato após sua absorção pelo

organismo. Acredita-se que os ruminantes possuam baixa atividade das enzimas

D-lactato desidrogenase e D-α-hidroxiácido desidrogenase, responsáveis pela

metabolização da forma dextrogira do lactato. Como resultado observa-se acidose

metabólica causada pelo D-lactato com níveis normais de L-lactato (CAMMACK,

1969; CONSTABLE, 2003).

Acidose pelo lactato-D é conhecida causadora de sintomatologia

neurológica. Sinais neurológicos como redução do reflexo palpebral, severa

apatia, ataxia, decúbito prolongado, menor responsividade à estímulos ambientais

podem ser observados em bovinos com acidose ruminal ou diarreia (LORENZ et

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al., 2005; ORTOLANI et al., 2010; TREFZ et al., 2012). Acredita-se que esses

sinais se devam a uma interferência causada pelo D-lactato no metabolismo do

piruvato no tecido nervoso. Outra hipótese seria que a forma dextrogira do lactato

bloquearia competitivamente a entrada do L-lactato nas células nervosas, onde é

utilizado como importante fonte de energia (ABEYSEKARA et al., 2007; LORENZ,

2009).

Com relação à acidose metabólica em bezerros com diarreia,

acreditava-se que esta ocorria em função de perdas intestinais de HCO-3 e pela

hipovolemia, levando à produção tecidual excessiva de L-lactato e reduzindo o

aporte sanguíneo aos rins, que é responsável pela eliminação de grande parte

dos ácidos (BERCHTOLD, 2009; LORENZ, 2009). CONSTABLE et al. (2005)

avaliaram bezerros com diarreia interpretando os achados pela abordagem

quantitativa. Os autores chegaram a conclusão que as causas da acidose

metabólica observada eram uma menor diferença de íons fortes, por aumento de

D-lactato, ânion não mensurado, e redução do sódio e uma maior carga de

tampões não voláteis, no caso o teor de proteínas elevado em função da

desidratação (CONSTABLE et al., 2005).

3.3 Alcalose metabólica

Alcalose metabólica se caracteriza por elevação do pH sanguíneo,

bicarbonato e excesso de bases, apresentando como resposta compensatória

primária menor ventilação pulmonar e maior PCO2 (FÜRL, 2005; RUSSELL &

ROUSSEL, 2007). A principal causa de alcalose metabólica em bovinos é o

sequestro gastrointestinal de cloretos em casos de obstrução funcional ou

mecânica de abomaso e intestino delgado (WHITEHAIR et al., 1995; CÂMARA et

al., 2009; CÂMARA et al., 2010). Bovinos adultos desidratados, inapetentes e com

hipomotilidade gastrointestinal, situação observada em quadros de endotoxemia,

tendem a apresentar alcalose com mais frequência que acidose, exceto em casos

de acidose ruminal (CONSTABLE, 2003; SMITH, 2005b).

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3.4 Distúrbios respiratórios

Acidose ou alcalose respiratória ocorrem por alterações de ventilação

pulmonar e consequentemente PCO2. Acidose respiratória ocorre principalmente

por bloqueio funcional dos mecanismos ventilatórios como em casos de

pneumonia, edema pulmonar, obstrução de vias aéreas, intoxicação por

organofosforados, botulismo, tétano e fraturas de costela (QUIROZ-ROCHA et al.,

2000). Bezerros prematuros ou nascidos de parto distócico frequentemente

apresentam acidose respiratória em função de falta de surfactante pulmonar ou

hipóxia em função da distocia (BLEUL, 2009; PROBO et al., 2012). Alcalose

pulmonar é causada por hiperventilação e pode ser observada em vacas durante

parto distócico em função do esforço empreendido. Outras causas de

hiperventilação são anemia, febre e estresse térmico, durante o qual os animais

aumentam a frequência respiratória para melhor dissipar calor (KADZERE et al.,

2002; FÜRL, 2005).

3.5 Tratamento dos distúrbios do equilíbrio ácido-base

A correção dos distúrbios do equilíbrio ácido-base se dá pela

fluidoterapia. Na escolha do tratamento devem ser consideradas as

características do desequilíbrio a ser tratado, especialmente quando

desequilíbrios eletrolíticos também estão em curso, via de aplicação e custos.

(CONSTABLE, 2003; RIBEIRO FILHO et al., 2011).

3.5.1 Vias de aplicação de soluções de fluidoterapia

As principais vias usadas na fluidoterapia em bovinos são a

intravenosa e a oral. A via intravenosa permite a infusão de líquidos na circulação,

exercendo um efeito rápido sobre a volemia, determinantes do equilíbrio ácido-

base e eletrólitos. Esta via pode ser usada em animais jovens e adultos e sua

principal indicação é a correção de desidratação e desequilíbrios graves (SMITH,

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2005a; BERCHTOLD, 2009). Algumas desvantagens são o maior custo com as

soluções utilizadas e a dificuldade de se infundir grandes volumes de fluidos em

animais adultos, geralmente demorada e requerendo cuidados especiais de

contenção e monitoração da integridade do circuito (CONSTABLE, 2003). A via

oral é indicada como tratamento de suporte em caso menos graves. As vantagens

são o menor custo das soluções empregadas, é a via fisiológica de absorção de

nutrientes e em animais adultos permite a administração de grandes volumes de

liquido em pouco tempo. A principal desvantagem é a falta de um efeito mais

imediato, o que é importante em casos graves (SMITH, 2009; RIBEIRO FILHO et

al., 2011).

3.5.2 Estimativa de volume a ser usado na fluidoterapia

Para o cálculo do volume de solução a ser administrado durante a

fluidoterapia devem ser considerados os volumes de reposição, de manutenção e

de perdas continuadas. O volume de reposição é calculado em litros

multiplicando-se o peso corporal pelo grau de desidratação e se dividindo por 100.

O volume de manutenção deve ser administrado lentamente ao longo do dia e

varia com a idade. Para um neonato o valor em litros é de 0,05 multiplicado pelo

peso corporal. Para um animal jovem o peso corporal é multiplicado por 0,1 e no

adulto por 0,15. O volume de perdas contínuas é de difícil mensuração, o que o

torna pouco utilizado na prática (LISBÔA, 2004).

3.5.3 Soluções utilizadas na fluidoterapia

A solução empregada em fluidoterapia deve ter uma concentração dos

principais eletrólitos, semelhante a do plasma, e ser isotônica. Em situações

particulares podem ser usadas soluções hipertônicas e com capacidade

alcalinizante ou acidificante. Algumas das soluções intravenosas empregadas na

fluidoterapia de bovinos são a solução salina a 0,9%, solução salina a 7,2%,

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solução de Ringer, solução de Ringer com Lactato e solução de bicarbonato de

sódio, nas concentrações de 1,3; 6 a 8,4% (CONSTABLE, 2003).

A solução de cloreto de sódio, salina, a 0,9%, erroneamente chamada

de “solução fisiológica”, é uma das mais empregadas na Medicina para reposição

da volemia apesar de muitas evidências recomendarem outras opções (LOBO,

2012; PIPER & KAPLAN, 2012). É pouco recomendada em bovinos, pois é

considerada acidificante e com pouca variedade de eletrólitos. A solução salina a

0,9% possui uma concentração de cloro, em mEq/L, muito superior à do plasma,

entre 97 e 110 mEq/L nos bovinos. Especialmente quando são infundidos grandes

volumes, pode-se provocar um quadro de acidose metabólica hiperclorêmica em

função de redução na diferença de íons fortes (SID). Além disso, a solução não

contém outros eletrólitos importantes como cálcio e potássio, podendo agravar

casos de hipocalcemia e hipocalemia em animais inapetentes (CONSTABLE,

2003; PIPER & KAPLAN, 2012).

A solução salina hipertônica a 7,2% tem grande aplicação clínica em

bovinos. Esta tem um rápido efeito no aumento da volemia e da pressão arterial.

Sua aplicação aumenta a osmolaridade plasmática, provocando um deslocamento

de líquido de outros compartimentos para o plasma. É usada no tratamento de

pacientes em choque e, nos bovinos, foi testado seu uso no tratamento de

acidose metabólica em bezerros com diarreia e em animais adultos com acidose

ruminal (RODRIGUES et al., 2011; LEAL et al., 2012).

Apesar de o aumento na volemia e pressão arterial, a solução salina

hipertônica sozinha não promove a reidratação do animal, apenas provoca uma

redistribuição dos líquidos corporais, sendo considerada uma medida

emergencial. É necessário, portanto, o fornecimento de fluidos de reposição após

a administração da solução salina hipertônica. Estes fluidos podem ser fornecidos

pela via intravenosa, porém em bovinos adultos seriam necessários grandes

volumes, o que tornaria o protocolo pouco prático. Em função dessa questão

adotou-se a associação da solução salina hipertônica pela via intravenosa com

grandes volumes de fluido pela via oral. Esta combinação promove rápida

expansão do volume plasmático e permite a reidratação do organismo de maneira

satisfatória e prática (CONSTABLE, 2003; SMITH, 2005b).

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A solução de Ringer é uma solução isotônica com concentrações

fisiológicas de sódio, cloreto, cálcio e potássio. Por possuir uma diferença de íons

fortes igual a zero, é considerada uma solução levemente acidificante. Essas

características tornam a solução de Ringer uma das mais recomendadas para

fluidoterapia em bovinos adultos, exceto aqueles em quadros de acidose ruminal

ou cetose clínica (CONSTABLE, 2003; SMITH, 2005a).

A solução de Ringer com lactato é uma solução hipotônica com

concentrações fisiológicas de sódio, cloreto, cálcio e potássio. É uma solução

comumente empregada em reposição volêmica na Medicina e na Medicina

Veterinária também é empregada no tratamento de acidose metabólica. Após

infusão, o lactato é metabolizado e durante o processo, são consumidos íons H+,

de onde vem sua capacidade alcalinizante. CONSTABLE (2003) não recomendou

essa solução para tratamento da acidose metabólica, pois esta é uma mistura

racêmica de L e D-lactato. Sabendo-se que a metabolização do lactato dextrogiro

é lenta, o efeito tamponante desta solução seria muito baixo.

Foi avaliada na Brasil a porcentagem de L-lactato em oito soluções

comerciais de Ringer com lactato (LISBÔA et al., 2007). Foi observado que do

total de lactato, em média 89,8% estava na forma de L-lactato, o que lhe confere

maior potencial tamponante. A diferença observada em relação a publicações nos

Estados Unidos e Europa é que nessas regiões, o lactato usado na solução tem

origem sintética, sendo uma mistura racêmica, com iguais concentrações dos dois

isômeros. No Brasil a origem é tanto sintética quanto por fermentação microbiana,

com predomínio do isômero L. Isso explica a alta porcentagem de lactato levógiro

compondo as soluções nacionais (LISBÔA et al., 2007).

Mesmo com essa diferença de origem do lactato na composição,

COSENZA et al. (2013) não observaram efeito alcalinizante da solução de Ringer

com lactato em equinos, ovinos e bezerros. Os autores atribuem esse fato à baixa

concentração do lactato na solução. Outros estudos observaram efeitos positivos

de solução com lactato nos tratamentos da acidose metabólica em bezerros com

diarreia e garrotes com acidose ruminal. Porém, estes trabalhos utilizaram

soluções com concentração de lactato cinco vezes maior que a presente na

solução de Ringer com lactato (NAYLOR & FORSYTH, 1986; LEAL et al., 2007b).

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Uma das soluções mais usadas no tratamento da acidose metabólica é

a solução de bicarbonato de sódio. É recomendada em casos mais acentuados

de acidose metabólica com pH menor que 7,2. Podem ser encontradas soluções

comerciais nas concentrações de 1,3%, isotônica, e 8,4%, hipertônica. A

vantagem da solução hipertônica é que nessa concentração um mL equivale a um

mEq de bicarbonato, facilitando o cálculo para reposição. Seu efeito alcalinizante

se deve ao tamponamento realizado pelo bicarbonato e pelo aumento causado na

diferença plasmática de íons fortes em função da presença do sódio

(CONSTABLE, 2003; MÜLLER et al., 2012). Para utilização do bicarbonato é

necessário calcular seu déficit para reposição. Caso contrário corre-se o risco de

causar uma alcalose metabólica iatrogênica.

Déficit de bicarbonato (mEql/L) = peso corporal X 0,3 X excesso de base (mEq/L)

A fluidoterapia oral apresenta menores custos, é considerada mais

prática e permite formulação da composição de acordo com as necessidades do

paciente. As soluções orais devem conter os principais eletrólitos como sódio,

potássio e cloreto, auxiliar na correção de alterações do equilíbrio ácido-base e

fornecer alguma fonte de energia. Para bezerros a fonte de energia utilizada

costuma ser a glicose e para bovinos adultos o propilenoglicol (SMITH, 2009;

RIBEIRO FILHO et al., 2011). A composição da solução indicará seu efeito no

equilíbrio ácido-base. A adição de tampões como bicarbonato, propionato ou

acetato promovem um efeito alcalinizante e podem ser utilizados em soluções

para bezerros diarréicos. Um efeito acidificante pode ser conferido à solução pela

sua composição eletrolítica, com maiores teores de cloreto, de modo a ter uma

baixa diferença de íons fortes (SMITH, 2005b; RIBEIRO FILHO, 2011; LEAL et al.,

2012).

3.5.4 Tratamento da acidose

Existem várias opções de tratamento para acidose metabólica.

Geralmente os tratamentos se baseiam na adição de algum tampão para

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neutralizar os ácidos em excesso (LEAL et al., 2007a). O tratamento da acidose

metabólica pode ser feito com soluções contendo bicarbonato de sódio ou

tampões metabolizáveis como lactato, acetato ou propionato. O bicarbonato

exerce o efeito tamponante rapidamente quando infundido, sendo recomendado

em casos mais graves de acidose metabólica (BERCHTOLD, 2009). Outros

tampões ao serem metabolizados no organismo consomem íons hidrogênio. A

vantagem dos tampões metabolizáveis é que dificilmente causariam alcalose

metabólica, sendo, portanto considerados mais seguros (LEAL et al., 2007a;

LEAL et al., 2007b).

Uma solução intravenosa contendo tampão metabolizável e

comumente utilizada na Medicina Veterinária é o Ringer com lactato (LISBÔA et

al, 2007). Foi realizado um trabalho comparando o uso da solução de Ringer com

lactato e o bicarbonato de sódio na correção da acidose metabólica secundária à

acidose ruminal. Observou-se uma capacidade alcalinizante semelhante a do

bicarbonato e efeito tamponante mais prolongado, indicando que a solução de

Ringer com lactato pode ser empregada nos casos de acidose metabólica por

sobrecarga por grãos (LEAL et al., 2007b). Na correção da acidose metabólica em

bezerros com diarreia, BERCHTOLD (2009) recomenda o uso de Ringer com

Lactato em casos de acidemia menos acentuada, pH>7.2, e bicarbonato de sódio

em acidemias mais graves.

Além do uso de tampões, a fluidoterapia pode auxiliar na correção da

acidose metabólica aumentando o fluxo sanguíneo renal. Este órgão recebe 20%

do débito cardíaco e tem grande capacidade de eliminar íons H+, contribuindo

para o controle da acidose. Uma maneira de se aumentar rapidamente o volume

plasmático é o uso de solução salina hipertônica a 7,2%. Sua infusão provoca um

aumento acentuado da osmolaridade plasmática provocando um trânsito de

líquido tissular para o plasma. RODRIGUES et al. (2011) e LEAL et al. (2012)

empregaram solução salina hipertônica seguida de fluidoterapia oral no

tratamento da acidose metabólica provocada por acidose ruminal e diarreia em

bezerros respectivamente. O uso da solução hipertônica associada à fluidoterapia

oral corrigiu a acidose metabólica no estudo de bezerros com diarreia (LEAL et

al., 2012, porém no estudo sobre acidose ruminal, apenas corrigiu-se a

desidratação, não corrigindo a acidose metabólica (RODRIGUES et al., 2011).

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Particularmente em bezerros, a fluidoterapia oral é frequentemente

empregada na correção da acidose metabólica decorrente de diarreia. A solução

utilizada deve conter quantidade suficiente de sódio e potássio em relação ao

cloro para provocar um aumento na diferença de íons fortes estimulando um

aumento do pH sanguíneo. Além disso, deve-se adicionar tampões como

bicarbonato de sódio, propionato ou acetato que ao serem absorvidos contribuirão

na neutralização de ácidos (CONSTABLE, 2003; SMITH, 2009).

O bicarbonato de sódio apresenta algumas desvantagens nas soluções

para fluidoterapia oral. Ele provoca aumento no pH abomasal, tendo dois efeitos

importantes, a diminuição do poder bactericida do suco gástrico e a menor

coagulação do leite. Esses dois fatores permitem a chegada de mais bactérias

patogênicas e leite não coagulado ao intestino delgado, favorecendo a

proliferação bacteriana e podendo aumentar a gravidade a diarreia. Acetato e

propionato não possuem esse efeito abomasal, sendo considerado, portanto,

mais seguros no tratamento da acidose metabólica de bezerros. Além disso,

propionato e acetato auxiliam a absorção de sódio pela mucosa intestinal e são

metabolizados, fornecendo energia. O bicarbonato não apresenta nenhuma

dessas vantagens (CONSTABLE, 2003; SMITH, 2009).

3.5.5 Tratamento da alcalose

O tratamento da alcalose requer o uso de soluções acidificantes, seja

pela via intravenosa ou oral. As soluções acidificantes são aquelas com uma

pequena diferença de íons fortes. Comercialmente podem ser encontradas as

soluções salina, a 0,9% ou hipertônica a 7,2%, e a solução de Ringer para infusão

intravenosa. Soluções acidificantes para fluidoterapia oral devem conter sais de

cloro como cloreto de sódio, cloreto de potássio e cloreto de cálcio. A escolha da

via deve levar em conta o estado clínico do animal, sendo que casos severos de

desidratação devem ser tratados pela via intravenosa. Porém, sempre que

possível deve-se dar preferência a via oral, mais econômica e prática. A alcalose

respiratória pode ser corrigida com infusão de solução salina a 0,9% (FÜRL,

2005; SMITH, 2005a).

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Frequentemente, bovinos adultos em endotoxemia, desidratados e

inapetentes se encontram em alcalose metabólica. Uma maneira de se obter um

efeito acidificante e rapidamente corrigir a desidratação e a administração de

solução salina hipertônica seguida da administração oral de grande quantidade de

água ou solução hipotônica. O alto teor de cloreto na solução salina favorece uma

redução na diferença de íons fortes exercendo efeito acidificante. Além disso, a

diferença de osmolaridade que se cria entre o plasma e o conteúdo ruminal

favorece o trânsito de grandes volumes de líquido no sentido do plasma,

corrigindo-se dessa maneira a hipovolemia e alcalose metabólica (CONSTABLE,

2003; SMITH, 2005b).

3.5.6 Considerações sobre realização de fluidoterapia em bovinos a campo

O atendimento a campo de bovinos com alterações no equilíbrio ácido-

base pode apresentar algumas limitações quanto ao diagnóstico e tratamento. A

quase sempre ausência de recursos auxiliares de diagnóstico exige do clínico um

exame minucioso bem como conhecimento da fisiopatologia das possíveis

alterações no equilíbrio ácido-base em curso. Além disso, a fluidoterapia em

bovinos costuma ser restringida por questões financeiras e de ordem prática,

como a dificuldade de se manter um cateter intravenoso por longos períodos em

animais adultos. Visando contornar essas dificuldades, alguns autores

propuseram recomendações para fluidoterapia de bovinos a campo

(CONSTABLE, 2003; LISBÔA, 2004; SMITH, 2005,b; BERCHTOLD, 2009).

SMITH (2005b) propôs um algoritmo baseado em achados clínicos

para tratamento de suporte de bovinos em alcalose metabólica ou endotoxemia

não causada por acidose ruminal (FIGURA 4). Com relação à acidose metabólica

secundária à sobrecarga ruminal por carboidratos, LISBÔA (2004) recomendou

considerar-se um déficit de 10 mEq/L de bicarbonato para o calculo de sua

reposição em bovinos apáticos mas ainda em posição quadrupedal. Com relação

a bezerros diarreicos, animais com desidratação e acidose metabólica mais

branda devem ser tratados com soluções orais. Animais clinicamente mais

comprometidos devem receber fluidoterapia intravenosa. Visando calcular o déficit

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de bicarbonato para reposição, LISBÔA (2004) recomendou que em animais

diarreicos com desidratação de moderada a severa pode-se considerar um déficit

de base de 10 mEq/L. BERCHTOLD (2009) propôs um algoritmo simplificado para

tratamento de bezerros diarreicos (FIGURA 5).

FIGURA 4 - Algoritmo para fluidoterapia em vacas com endotoxemia Fonte: Adaptado de SMITH (2005b)

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FIGURA 5 - Algoritmo para fluidoterapia em bezerros com diarreia Fonte: Adaptado de BERCHTOLD (2009)

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O equilíbrio ácido-base é rigorosamente mantido pelo organismo. Um

complexo sistema de tampões fisiológicos e respostas de diferentes sistemas

permitem a manutenção da concentração de íons hidrogênio nos níveis

adequados. O conhecimento dos princípios fisiológicos permite uma melhor

avaliação das alterações do equilíbrio acido-base e uma escolha mais racional do

tratamento a ser empregado. Isso é especialmente válido para a terapia na

espécie bovina, quando geralmente se possuem poucos recursos auxiliares de

diagnóstico, exigindo do clínico mais conhecimento sobre o assunto.

Diversas condições clínicas podem provocar alterações no equilíbrio

ácido-base. Alterações circulatórias, neurológicas, respiratórias, metabólicas, do

trato gastrointestinal e urinário podem causar quadros de acidose ou alcalose

metabólica ou respiratória. A avaliação de exames complementares,

especialmente a hemogasometria, permite o diagnóstico preciso, inclusive

sugerindo a etiopatogenia em muitos casos. Outros exames complementares

como avaliação de conteúdo ruminal ou de corpos cetônicos permitem o

diagnóstico de doenças relacionadas ao equilíbrio acido-base em bovinos.

Novas abordagens na compreensão do equilíbrio ácido-base tornaram

mais clara a participação de desequilíbrios eletrolíticos em muitos casos de

acidose ou alcalose. Apesar de terem se formado correntes de pensamento

divergentes, a consideração integrada dos aspectos apresentados por ambas as

abordagens permite uma compreensão mais abrangente dos distúrbios do

equilíbrio ácido-base. Para a espécie bovina, talvez a maior contribuição da nova

abordagem seja na escolha mais racional das soluções empregadas na

fluidoterapia, considerando a influência do perfil de eletrólitos.

Os bovinos apresentam em diversas condições clínicas alterações do

equilíbrio ácido-base. Por seguirem os mesmo princípios fisiológicos, o

diagnóstico dessas alterações também é confirmado e melhor caracterizado pela

hemogasometria. Na impossibilidade de sua realização, outros exames

complementares podem diagnosticar alterações que sabidamente interferem no

equilíbrio ácido-base.

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O tratamento consiste principalmente na fluidoterapia e esta deve levar

em consideração o tipo de desequilíbrio em curso, o tipo de solução a ser

empregada e a via de aplicação utilizada. Apesar de complexa, a compreensão

da fisiopatologia do equilíbrio ácido-base permite um diagnóstico e terapia mais

precisos destas importantes alterações da homeostase no organismo bovino.

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