desenvolvimento regional - modelos de governança territorial

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1 Desenvolvimento Regional - Modelos de Governança Territorial Liderar a agenda e a proposta política O grande objetivo do mandato federativo que agora se inicia é «ganhar as eleições autárquicas de 2013». Ora, para que tal propósito seja uma realidade em outubro de 2013, é necessário iniciar um trabalho sério, intenso e eficaz que nos permita levar aos eleitores dos 21 concelhos do distrito uma proposta política que cumpra 2 requisitos cumulativos: apresente o melhor programa e integre os melhores protagonistas. Esta moção setorial pretende contribuir (modestamente) para a reflexão em torno de questões que, não estando na ordem do dia do debate político-mediático, são, quanto a nós, decisivas para o desenvolvimento sustentado dos nossos concelhos e da nossa região e para a apresentação de uma proposta política robusta e substantiva que congregue os melhores protagonistas. De facto, o circo mediático e político-partidário tem estado mais entretido com a despropositada «reforma administrativa autárquica» do governo (que mais não é que um processo burocrático de extinção e fusão de freguesias feito em cima do joelho) e com a possibilidade de serem novamente debatidos projetos de alteração à lei eleitoral autárquica. Embora estas questões e outras, como o modelo de financiamento e funcionamento das autarquias locais, sejam importantes e mereçam a nossa atenção e a apresentação de propostas alternativas, temáticas decisivas para o nosso futuro coletivo desapareceram por completo do espectro atual do debate e da agenda política. Falamos da política de cidades e de desenvolvimento regional e dos modelos de governança que corporizam e enquadram a execução dessas políticas. Uma abordagem global e atualizada Nas últimas décadas, as políticas locais e regionais de desenvolvimento territorial têm sofrido grandes transformações devido a um conjunto de fatores que alteraram significativamente as dinâmicas de governança. Neste quadro, assume particular relevo a emergência das grandes cidades e áreas metropolitanas. Segundo a ONU, em 2030, 75% da população mundial viverá nas cidades, levando a que muitos apelidem o nosso planeta como «o planeta cidade». Estas novas realidades territoriais emergentes são metrópoles de difícil caracterização, de formação em nuvem, sem um modelo claro e definido de desenvolvimento socio-territorial e que se tornam do ponto de vista político e administrativo espaços triturados, opacos e conflituosos não se encaixando nos sistemas jurídico-políticos pré-definidos.

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XV - Congresso da Federação Distrital de SantarémMoção Setorial

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Page 1: Desenvolvimento Regional - Modelos de Governança Territorial

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Desenvolvimento Regional - Modelos de Governança Territorial

Liderar a agenda e a proposta política

O grande objetivo do mandato federativo que agora se inicia é «ganhar as eleições

autárquicas de 2013». Ora, para que tal propósito seja uma realidade em outubro

de 2013, é necessário iniciar um trabalho sério, intenso e eficaz que nos permita

levar aos eleitores dos 21 concelhos do distrito uma proposta política que cumpra 2

requisitos cumulativos: apresente o melhor programa e integre os melhores

protagonistas.

Esta moção setorial pretende contribuir (modestamente) para a reflexão em torno

de questões que, não estando na ordem do dia do debate político-mediático, são,

quanto a nós, decisivas para o desenvolvimento sustentado dos nossos concelhos e

da nossa região e para a apresentação de uma proposta política robusta e

substantiva que congregue os melhores protagonistas.

De facto, o circo mediático e político-partidário tem estado mais entretido com a

despropositada «reforma administrativa autárquica» do governo (que mais não é

que um processo burocrático de extinção e fusão de freguesias feito em cima do

joelho) e com a possibilidade de serem novamente debatidos projetos de alteração

à lei eleitoral autárquica. Embora estas questões e outras, como o modelo de

financiamento e funcionamento das autarquias locais, sejam importantes e

mereçam a nossa atenção e a apresentação de propostas alternativas, temáticas

decisivas para o nosso futuro coletivo desapareceram por completo do espectro

atual do debate e da agenda política.

Falamos da política de cidades e de desenvolvimento regional e dos modelos de

governança que corporizam e enquadram a execução dessas políticas.

Uma abordagem global e atualizada

Nas últimas décadas, as políticas locais e regionais de desenvolvimento territorial

têm sofrido grandes transformações devido a um conjunto de fatores que alteraram

significativamente as dinâmicas de governança.

Neste quadro, assume particular relevo a emergência das grandes cidades e áreas

metropolitanas. Segundo a ONU, em 2030, 75% da população mundial viverá nas

cidades, levando a que muitos apelidem o nosso planeta como «o planeta cidade».

Estas novas realidades territoriais emergentes são metrópoles de difícil

caracterização, de formação em nuvem, sem um modelo claro e definido de

desenvolvimento socio-territorial e que se tornam do ponto de vista político e

administrativo espaços triturados, opacos e conflituosos não se encaixando nos

sistemas jurídico-políticos pré-definidos.

Page 2: Desenvolvimento Regional - Modelos de Governança Territorial

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Ao invés, o chamado «mundo rural» continua a ser empurrado para a completa

subalternização populacional, política, económica e social, desempenhando um

papel cada vez mais secundário nas questões referentes à governança dos

territórios.

Esta nova realidade conduz:

Por um lado, a uma manifesta desadequação da organização administrativa

do território;

E por outro, à alteração do paradigma da gestão político-territorial.

Assim, na era da globalização e da sociedade em rede, os governos locais

convertem-se em atores institucionais flexíveis, capazes de se relacionarem

simultaneamente com os cidadãos locais e com os fluxos globais de poder (políticos

e financeiros). Esta capacidade de relacionamento bidirecional surge não porque os

governos locais são extremamente poderosos ou porque têm uma grande

capacidade financeira, mas sim porque a maioria dos outros níveis de governo,

incluindo o Estado-Nação, estão enfraquecidos na sua capacidade de comandar e

controlar quando tentam atuar isoladamente.

Deste modo, surge uma nova forma de Estado, o «Estado Rede», que integra

instituições supranacionais formadas por governos nacionais, estados-nação,

regiões transnacionais, governos regionais, governos locais e organizações não-

governamentais.

Os governos locais transformaram-se num nó na cadeia de gestão e representação

institucional, com a possibilidade de intervir em todo o processo e com o valor

acrescentado de representar de um modo mais direto e próximo os cidadãos.

De facto, na maioria dos países os estudos de opinião demonstram que as pessoas

têm maior grau de confiança nos seus governos locais que noutros níveis de

governo.

É neste contexto atualizado e global que temos de enquadrar os desafios da

Governança territorial e do desenvolvimento regional nas sociedades

contemporâneas.

Aliás, o «bom governo do território» exige uma abordagem permanente e

simultânea ao nível global, regional e local.

Somente neste quadro interativo é que se pode falar de governança territorial e

desenvolvimento regional.

Governança territorial – Liderar a agenda e a proposta política

A questão da governança tem sido debatida em torno de 4 fatores – reforma

administrativa do Estado, reformulação do papel do Estado, democracia

participativa e deliberativa, e europeização dos processos de decisão – e tende a

valorizar processos de decisão mais descentralizados face ao papel tradicionalmente

desempenhado pelo Estado moderno, assentes em mecanismos mais participados,

organizados em rede e colaborativos.

Page 3: Desenvolvimento Regional - Modelos de Governança Territorial

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A efetiva Governança de um território exige que as estruturas de governo não se

deixem arrastar por um quotidiano de gestão de processos e que rejeitem uma

lógica puramente reativa.

Assim, procura-se o fomento de instrumentos participativos, uma cultura

organizacional mais pró-ativa, uma gestão da própria mudança, um maior

pluralismo e a resposta aos desafios da «era informacional». O que implica que as

autoridades territoriais desenvolvam políticas de descentralização,

responsabilização, participação, coordenação, parcerias e contratualização.

Desta forma, as políticas regionais e locais tenderão para a busca de maiores

consensos, para climas de diálogo perante objetivos conflituantes e realidades

competitivas, rejeitando cada vez mais as abordagens do passado que ignoravam a

diversidade e evitavam o conflito.

A instituição de modelos de governação supramunicipal deve assentar em governos

locais fortes, revitalizados e motivados para a participação em dinâmicas de

desenvolvimento regional baseadas em mecanismos de coordenação, comunicação,

cooperação, accountability e parceria que promovam e potenciem o

desenvolvimento de políticas de carácter regional.

Esta premissa coloca, a priori, 2 questões:

1. Saber se as instituições político-administrativas locais e regionais, na sua atual

configuração, estão preparadas para responder positivamente a estes novos

desafios;

2. Saber se as instituições e os decisores políticos têm projeto, vontade e força

política para agir perante esta nova realidade.

Quanto a esta última questão, o que temos visto por parte do governo indica

precisamente o contrário:

O enfraquecimento dos governos locais (municípios e freguesias), num

ataque sem precedentes ao poder local democrático (exemplo: fusão e

extinção de freguesias e a asfixia financeira e administrativa dos

municípios);

E uma penosa e confrangedora ausência de pensamento, proposta e ação no

domínio da política de cidades e de desenvolvimento regional e de um

modelo institucional que as corporize.

Já em relação à primeira questão, no que concerne aos governos locais é evidente

a desadequação:

Do modelo de governo (é urgente a introdução de executivos maioritários e

o reforço dos poderes das assembleias);

E dos instrumentos, meios e mecanismos de governação postos à disposição

das autarquias (impõe-se a adoção de uma lógica flexível de adequação às

efetivas necessidades do território).

Page 4: Desenvolvimento Regional - Modelos de Governança Territorial

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Quanto às entidades ou estruturas de governação regionais o modelo atual -

corporizado pelas Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (NUTS

II) e num nível territorial inferior pelas Comunidades Intermunicipais (NUTS III) -

para além de não responder aos desafios institucionais, políticos e territoriais de

uma lógica de efetivo desenvolvimento regional, padece de uma incurável doença

genética: a falta de legitimidade democrática!

Assim, só através da implementação de um modelo de governança territorial

assente em governos locais fortes, adaptados às novas realidades e motivados para

a participação em dinâmicas de desenvolvimento regional e com uma estrutura

regional com aceitação territorial e legitimidade democrática é que se poderá

empreender uma verdadeira política de desenvolvimento regional.

Estas são questões incontornáveis no debate político a pouco mais de 1 ano das

eleições autárquicas.

Devemos estar à altura do lastro histórico de desenvolvimento sustentável e

solidário que tem sido a marca dos governos locais do PS no distrito, liderando a

agenda e a proposta política!

Subscritores:

João Sequeira

António Gameiro (Presidente da Federação)

Augusto Lopes (Presidente da Comissão Política de Rio Maior)

Hugo Costa (Presidente da JS Ribatejo)

Maria da Luz Lopes (Presidente do Departamento Federativo das Mulheres

Socialistas)