desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

106
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Programa de Pós-Graduação em Toxicologia e Análises Toxicológicas Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no diagnóstico e prognóstico da intoxicação aguda por paraquat e diquat Rafael Menck de Almeida Dissertação para obtenção do grau de MESTRE Orientador Prof. Dr. Mauricio Yonamine São Paulo, 2007

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Page 1: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS

Programa de Pós-Graduação em Toxicologia e Análises Toxicológicas

Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas

no diagnóstico e prognóstico da intoxicação aguda por

paraquat e diquat

Rafael Menck de Almeida

Dissertação para obtenção do grau de MESTRE

Orientador Prof. Dr. Mauricio Yonamine

São Paulo, 2007

Page 2: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Rafael Menck de Almeida

Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

diagnóstico e prognóstico da intoxicação aguda por

paraquat e diquat

Comissão julgadora da

Dissertação para obtenção do grau de Mestre

Prof. Dr. Mauricio Yonamine Orientador / presidente

Dra. Maria Zilda Nunes Carrazza

Prof. Dra. Elizabeth de Souza Nascimento

São Paulo (SP), 18 de dezembro de 2007.

Page 3: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Ficha Catalográfica Elaborada pela Divisão de Biblioteca e

Documentação do Conjunto das Químicas da USP.

Almeida, Rafael Menck de

A447d Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

diagnóstico e prognóstico da intoxicação aguda por paraquat e

diquat / Rafael Menck de Almeida. – São Paulo, 2007.

111p.

Dissertação (mestrado) – Faculdade de Ciências Farmacêuticas da

Universidade de São Paulo. Departamento de Análises Clínicas e

Toxicológicas.

Orientador: Yonamine, Mauricio

1. Análises toxicológicas 2. Praguicidas : Toxicologia I.

T. II. Yonamine, Mauricio, orientador.

615.907 CDD

Page 4: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Dedico este trabalho

aos meus pais José Reinaldo e Rita

por me mostrarem que o trabalho,

honestidade e dedicação

são as melhores escolhas;

aos meus irmãos Rogéria e Dido pelo carinho e amizade;

à minha namorada Yara Popst pelo

carinho e compreensão nos momentos

difíceis para a conclusão desta dissertação.

Page 5: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no
Page 6: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Ao Prof. Dr. Mauricio Yonamine

Pela amizade, confiança e orientação nesta

dissertação e pelos ensinamentos que proporcionaram

meu crescimento pessoal e profissional.

Page 7: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

AGRADECIMENTOS

A Deus por me conceder a vida.

Ao professor Maurício Yonamine pela amizade e orientação.

À FAPESP pelo financiamento do projeto e a CAPES pela concessão de

bolsa de estudos.

Às Professoras Doutoras Alice A. da Matta Chasin e Cristiana Leslie Correa

pelas importantes sugestões no exame de qualificação.

Ao Professor Dr. Ernani Pinto pela amizade e pelas importantes sugestões

no exame de qualificação.

À Professora Dra. Yoko Oshima Franco pelo incentivo na escolha da

Toxicologia.

Aos meus amigos pós-graduandos, Daniela, Carolina, Marli, Melissa, Felipe,

Alexandre, Sandrinha, Kaline, Daniela, Cristina, Leandro, Tiago, Rafael

Lanaro, Emerson, Larissa, Cecília, Stella, Paula, Vânia, Vanessa e Faby

pela convivência pelo apoio no desenvolvimento deste trabalho.

Ao amigo de pós-graduação Sidnei (Nóia) pelo auxílio na síntese dos

padrões.

Aos colegas do Laboratório de Análises Toxicológicas, funcionários e

estagiários, Ângelo, Helena, Roseli, Karla, Dalva e Luzia, pela colaboração

e amizade.

Page 8: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Aos colegas da República Solar dos Príncipes, Rodrigo, Fabriciano, Sidnei,

Filmon, Renato, George, Tiago e Maurício pelo convívio e amizade.

Ao Donizetti, Jane, Mayra, Hécio e Zenaide pelo carinho e incentivo.

Ao Jorge e Elaine pelo auxílio na documentação junto à secretaria de pós-

graduação.

À Leila Bonadio pela revisão das referências.

Page 9: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

“Nenhum vento sopra a favor de quem não sabe pra onde ir.”

SênecaSênecaSênecaSêneca

“A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso,

cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a

cortina se feche e a peça termine sem aplausos”

Charles ChaplinCharles ChaplinCharles ChaplinCharles Chaplin

Page 10: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no
Page 11: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

SUMÁRIOSUMÁRIOSUMÁRIOSUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 17

2. GENERALIDADES ............................................................................................................ 24

2.1 HERBICIDAS ................................................................................................................... 24

2.2 ESTRUTURA QUÍMICA E PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS ................................................ 26

2.2 TOXICOCINÉTICA ............................................................................................................ 28

2.3 EFEITOS TÓXICOS ........................................................................................................... 30

2.4 SUPORTES AO PACIENTE INTOXICADO .............................................................................. 34

2.5 MÉTODOS DE DIAGNÓSTICO DA INTOXICAÇÃO AGUDA POR PARAQUAT E DIQUAT ................. 36

3. OBJETIVO E PLANO DE TRABALHO............................................................................... 45

4. MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................................... 47

4.1 MATERIAL ...................................................................................................................... 47

4.1.1 Reagentes e cartuchos de extração ...................................................................... 47

4.1.2 Soluções-padrão .................................................................................................... 47

4.1.3 Equipamentos e Acessórios ................................................................................... 48

4.1.4 Amostras ................................................................................................................ 48

4.2 MÉTODOS ...................................................................................................................... 49

4.2.1 Método Enzimático-Espectrofotométrico para detecção de paraquat e diquat em

amostras biológicas ........................................................................................................ 49

4.2.1.1 Preparação da amostra ....................................................................................... 50

4.2.1.2 Oxidação de NADPH ........................................................................................... 51

4.2.1.3 Linearidade .......................................................................................................... 51

4.2.1.4 Análises de amostras de urina ............................................................................ 51

4.2.2 Análise quantitativa confirmatória por cromatografia em fase gasosa acoplada à

espectrometria de massa (GC-MS) ................................................................................ 52

4.2.2.1 Preparação dos padrões reduzidos ..................................................................... 52

4.2.2.2 Preparação da amostra ....................................................................................... 53

4.2.2.3 Condições Cromatográficas ................................................................................ 54

4.2.3 Otimização do método ........................................................................................... 55

4.2.3.1 Estudo do pH ótimo para reação e extração dos analitos ................................... 56

4.2.3.2 Estudo da influência do tempo de reação no rendimento da derivatização ........ 56

4.2.3.3 Determinação da quantidade necessária de NaBH4 ........................................... 56

4.2.4 Validação do método ............................................................................................. 57

4.2.4.1 Limite de detecção (LD) e quantificação (LQ) ..................................................... 57

4.2.4.2 Linearidade .......................................................................................................... 57

Page 12: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

4.2.4.3 Precisão intra-ensaio e interensaio ..................................................................... 58

4.2.4.5 Aplicação do método em amostras de pacientes com suspeita de intoxicação . 59

5. RESULTADOS ................................................................................................................... 61

5.1 RESULTADOS OBTIDOS COM O MÉTODO ENZIMÁTICO-ESPECTROFOTOMÉTRICO ................. 61

5.1.1 Resultado do estudo de oxidação de NADPH ....................................................... 61

5.1.2 Resultado da linearidade do método enzimático em amostras de urina ............... 62

5.1.3 Resultado da análise de amostras de urina de pacientes com suspeita de

intoxicação ...................................................................................................................... 64

5.2 RESULTADO DO MÉTODO CONFIRMATÓRIO EM GC-MS ..................................................... 64

5.2.1 Resultado da preparação dos padrões reduzidos ................................................. 65

5.2.2 Cromatograma característico e espectros de massa do paraquat e diquat

reduzidos ......................................................................................................................... 66

5.2.3 Resultados do estudo do pH ótimo para extração ................................................. 68

5.2.4 Resultados do estudo da influência do tempo de reação no rendimento da

derivatização ................................................................................................................... 68

5.2.5 Estudo da influência da quantidade necessária de NaBH4 ................................... 69

5.2.6 Resultados da validação do método para determinação de paraquat e diquat em

plasma e urina ................................................................................................................. 70

5.2.6.1 Limite de detecção e quantificação ..................................................................... 70

5.2.6.2 Linearidade ......................................................................................................... 70

5.2.6.3 Precisão intra-ensaio e interensaio ..................................................................... 71

5.2.6.4 Recuperação ....................................................................................................... 72

5.3 RESULTADO DAS AMOSTRAS DOS PACIENTES COM SUSPEITA DE INTOXICAÇÃO ................... 73

6. DISCUSSÃO ...................................................................................................................... 77

7. CONCLUSÃO .................................................................................................................... 90

8. REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 92

ANEXOS .............................................................................................................................. 104

Page 13: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

RESUMORESUMORESUMORESUMO Uma das classes químicas de herbicidas que merece particular atenção é a dos bipiridílicos, representada pelo paraquat e diquat. Atualmente, muitos países têm banido ou restringido o uso destes herbicidas devido à grande quantidade de casos de intoxicação acidental, suicídio e envenenamento (tentativa de homicídio) ocorridos no passado. Em contrapartida, o paraquat ainda é bastante utilizado em cerca de 130 nações, com prevalência em países subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento. O presente trabalho tem por objetivo o estudo e o desenvolvimento de métodos analíticos semi-quantitativo e quantitativo em amostras biológicas (plasma e urina) e aplicação no diagnóstico e investigação da intoxicação aguda por paraquat e diquat. Análises semi-quantitativas de triagem foram realizadas pela técnica enzimática-colorimétrica. Análises confirmatórias foram realizadas pela técnica de cromatografia em fase gasosa acoplada à espectrometria de massa (GC-MS). Após o desenvolvimento e validação dos métodos, as análises foram aplicadas em amostras de pacientes suspeitos de intoxicação aguda por paraquat/diquat atendidos no Hospital Regional do Vale do Ribeira (Pariquera-Açu) e no Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (SP). Foram avaliadas a efetividade do teste rápido semi-quantitativo e a correlação das concentrações plasmáticas e urinárias do paraquat/diquat obtidas com o método por GC-MS com o grau de intoxicação e o prognóstico de sobrevida dos pacientes após o diagnóstico e tratamento.

Page 14: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

ABSTRACTABSTRACTABSTRACTABSTRACT One of the chemical classes of herbicides that deserve particular attention is that of bipyridyl, represented by paraquat and diquat. Currently, many countries have banned or restricted these herbicides since large number of accidental intoxication, poisoning and suicide attempt cases occurred in the past. In spite of this, paraquat is still used in more than 130 countries, with prevalence in developing countries. The aim of this work was the study and the development of a screening test and a quantitative analytical method in biological samples (plasma and urine) and their application in diagnosis and prognosis of acute paraquat and diquat intoxication. Semi-quantitative analyses were performed by an enzymatic-colorimetric technique. Confirmatory analyses were performed by a gas chromatographic-mass spectrometric (GC-MS) method. After the development and the validation of both methods, analyses were applied to samples from patients suspected of acute paraquat/diquat poisoning attended in Hospital Regional do Vale do Ribeira (Pariquera-Açu) and Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (SP). In this present paper, we also evaluated the effectiveness of the rapid test and the correlation of paraquat/diquat plasma and urinary concentrations obtained with the GC-MS method with the degree of intoxication and prognosis of survival of patients after diagnosis and treatment.

Page 15: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no
Page 16: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

IIIIntroduçãontroduçãontroduçãontrodução

Page 17: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Introdução 17

1. INTRODUÇÃO

A classe dos herbicidas bipiridílicos é composta pelas seguintes

substâncias: chlormequat, difenzoquat, mepiquat, diquat e paraquat (Figura

1). O protótipo desse grupo e o mais utilizado no mundo como herbicida de

contato é sem dúvida o paraquat (CAVALLI, 2002). O paraquat foi

primeiramente sintetizado em 1882, mas sua propriedade como herbicida só

foi descoberta em 1959. A partir de 1962, seu uso difundiu-se por todo o

mundo devido principalmente à sua baixa ação residual e à possibilidade de

utilização para um grande e diversificado número de culturas (BRASIL,

2000).

N N

2Cl-

Paraquat

N N

2Br

Diquat

Cl(CH2)2N(CH3)3 Cl

Clormequat

NNCH3SO4-

Difenzoquat

NCl

Mepiquat

Figura 1. Estrutura química dos principais herbicidas bipiridílicos.

Atualmente o paraquat é amplamente utilizado em vários países do

mundo nas culturas de abacate, abacaxi, algodão, arroz, aspargo, banana,

batata, beterraba, cacau, café, cana-de-açúcar, chá, citros, coco, couve,

Page 18: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Introdução 18

feijão, maçã, milho, pastagens, pêra, pêssego, seringueiras, soja, sorgo,

trigo, uva e no controle de plantas classificadas como daninhas do ambiente

aquático (BROMILOW, 2003; ANVISA, 2003).

O paraquat é comercializado com os nomes de Dextrone X e

Gramoxone. É ingrediente do Dexuron, Pathclear e Weedol. O diquat é

comercializado com o nome de Aquacide e Reglone. Também é

ingrediente ativo do Pathclear e Weedol (MOFFAT et al., 2004). Portanto,

em algumas formulações comerciais, paraquat e diquat são utilizados em

associação.

Devido à dificuldade de encontrar dados a respeito da

comercialização de paraquat no mundo, optou-se por dados de uma

Organização Não Governamental (ONG). De acordo com levantamento

realizado pela Pesticide Action Network Europe (PAN), em 2003, foi

verificado que o grande mercado de paraquat se concentra nos países

subdesenvolvidos como El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua,

Brasil, Panamá e outros. De fato, as vendas do paraquat na América

Central, América do Sul e Ásia representam por volta de 75% da venda

mundial desse praguicida, enquanto na União Européia esse índice chega a

apenas 8% do consumo mundial (Figura 2) (PAN, 2007).

Page 19: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Introdução 19

Figura 2. Uso do paraquat por continente (PAN, 2007).

De acordo com uma pesquisa realizada em 2000,

surpreendentemente os Estados Unidos aparecem como o país que mais

utiliza paraquat no mundo, seguidos da Coréia do Sul, Brasil, China,

Tailândia, México, Japão, Malásia, Colômbia, Espanha, Índia e Guatemala

(Figura 3) (PAN, 2007).

Page 20: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Introdução 20

Figura 3. Países que mais utilizam paraquat no mundo (PAN, 2007).

Em decorrência da falta de antídoto especifico para reverter o quadro

clínico do paciente (SERRA et al., 2003), índices de mortalidade superior a

70% têm sido registrados na literatura após exposição aguda (SCHMITT,

2006; GELLER, 2007). Acidentes ocupacionais, quando ocorrem, envolvem

efeitos corrosivos devido ao contato com a pele, mucosas e olhos.

Entretanto, um grande número de intoxicações graves e fatalidades têm

sido relatados como conseqüência da ingestão de formulações líquidas de

paraquat (contendo de 20 a 40%). Na maioria das vezes, a ingestão é

intencional (tentativa de suicídio), mas acidentes, principalmente envolvendo

crianças, têm ocorrido quando o produto é manipulado ou armazenado

incorretamente (BAGCHI, 1993). Ocasionalmente, o paraquat também tem

sido utilizado como agente de envenenamento (TINOCO et al., 1993).

Page 21: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Introdução 21

Segundo WESSELING (2001), muitos países baniram o uso de

paraquat em seu território. O paraquat foi proibido na Suécia, Finlândia e

Áustria devido à toxicidade aguda e à falta de antídoto específico para

reverter este quadro de intoxicação. Na Noruega, os próprios fabricantes

cancelaram espontaneamente o registro para a produção do paraquat. Na

Alemanha e Holanda o paraquat foi banido devido à persistência deste no

solo.

Como visto anteriormente, o Brasil é um dos principais mercados

consumidores para o paraquat e conseqüentemente, casos de intoxicações

têm sido registrados em todo país (KOZIKOSKI, 1999; CAVALLI, 2002;

PIRES, 2005; SCHMITT, 2006; DE ANDRADE, PARÁ & OLIVEIRA, 2007).

Uma vez que a severidade e o prognóstico da intoxicação por

paraquat/diquat correlacionam-se bem com suas concentrações no sangue

e urina, métodos sensíveis e rápidos, capazes de determinar estes

compostos em material biológico são de grande importância nas

investigações clínicas e toxicológicas. Para a análise de triagem qualitativa,

métodos espectrofotométricos foram propostos com a utilização de ditionito

de sódio (KUO et al., 2001; FUKE et al., 1992; MOFFAT et al., 2004). Com

esse método, somente são detectadas concentrações acima de 2,0 mg/L.

Para a quantificação, a técnica de cromatografia líquida é geralmente

empregada (GILL et al., 1983; LEE et al., 1998; ARYS et al., 2000; CASTRO

et al., 2001; TAYLOR et al., 2001; PAIXÃO et al., 2002; FUKE et al., 2002;

LEE et al., 2004). Entretanto, nenhum trabalho se refere à detecção por

técnicas enzimáticas e poucos métodos foram desenvolvidos empregando a

Page 22: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Introdução 22

cromatografia em fase gasosa acoplada à espectrometria de massa (GC-

MS) na determinação desses compostos em matrizes biológicas. Desta

forma, a proposta do presente trabalho foi o desenvolvimento e aplicação de

métodos analíticos para a identificação de paraquat e diquat em amostras

biológicas, utilizando a via enzimática-espectrofotométrica como técnica de

triagem e a cromatografia em fase gasosa acoplada à espectrometria de

massas (GC-MS) como técnica confirmatória. Os herbicidas foram

determinados em amostras de plasma e urina de pacientes com suspeitas

de intoxicação aguda admitidos no Hospital Regional do Vale do Ribeira

(Pariquera-Açu-SP) e no Hospital de Clínicas da Universidade de Campinas

(HC-Unicamp). Os resultados das análises foram avaliados,

correlacionando-se as concentrações plasmáticas e urinárias do

paraquat/diquat com o grau de intoxicação e o prognóstico de sobrevida dos

pacientes após o diagnóstico e tratamento.

Page 23: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

GeneralidadesGeneralidadesGeneralidadesGeneralidades

Page 24: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Generalidades 24

2. GENERALIDADES

2.1 Herbicidas

Herbicidas são substâncias utilizadas para controlar ervas

classificadas como daninhas. Sua origem está no latim: herba que significa

erva e caedere que significa matar. A importância do uso dessas

substâncias na lavoura está no fato de que as ervas classificadas como

daninhas competem em nutrientes, água, luz e espaço com as outras

culturas.

De acordo com o modo de ação e o tempo de aplicação em relação

com o desenvolvimento da erva, os herbicidas podem ser classificados

como: residuais, de contato, sistêmicos, pré-plantação, pré-emergente, pós-

emergente, não-seletivo e seletivo (BUCHEL, 1983 apud CÓRDOVA, 2003):

• Residuais - permanecem no solo o tempo suficiente para matar as

ervas classificadas como daninhas no momento da germinação.

Estes produtos geralmente não são tóxicos para a planta cultivada.

Aplica-se depois do cultivo e antes do nascimento da cultura.

• De contato - matam as plantas nas quais entram em contato. Sua

ação tóxica é muito curta e se decompõe rapidamente.

• Sistêmicos – penetram na planta, distribuindo-se por todo

organismo. Também são denominados herbicidas por translocação.

Page 25: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Generalidades 25

• Pré-plantação – são aplicados logo após a preparação do solo,

porém antes da plantação.

• Pré-emergente – são aplicados antes da germinação das sementes

das ervas classificadas como daninhas.

• Pós-emergente – são aplicados após o nascimento das ervas

classificadas como daninhas e da planta cultivada.

• Não seletivo ou total – destroem toda a vegetação sobre qual se

aplica, podendo ser seletivo se aplicado em doses menores.

• Seletivos – em condições normais, destroem as ervas classificadas

como daninhas e não o cultivo. Em um tratamento seletivo devem-se

considerar vários fatores como a máxima uniformidade possível na

distribuição do produto, a natureza da planta, a dose exata

recomendada e o uso de produto de atividade específica.

A efetividade dos herbicidas pode variar segundo inúmeros fatores

como: absorção, natureza do solo, acidez do solo, disponibilidade dos

herbicidas no solo, natureza do herbicida, umidade, volatilização,

degradação, atividade solar, temperatura, precipitação, vento e outros

fatores (BUCHEL, 1983 apud CÓRDOVA, 2003).

O paraquat e diquat podem ser aplicados nas culturas como pós-

emergentes e dessecantes. O limite máximo de resíduo (LMR) para

paraquat varia de 0,05 a 0,2 mg/Kg e para o diquat de 0,02 a 0,5 mg/Kg,

com intervalos de segurança que variam de 1 a 7 dias para paraquat e de 1

Page 26: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Generalidades 26

a 16 dias para diquat. A ingestão diária aceitável (IDA) é de 0,004 mg/Kg

para paraquat e 0,002 mg/Kg para diquat. O paraquat está classificado

como classe 1 e o diquat classe 2 (ANVISA, 2003).

2.2 Estrutura Química e Propriedades Físico-químicas

Os compostos chlormequat, difenzoquat, mepiquat, diquat e paraquat

são herbicidas pertencentes à classe do bipiridílicos. Dentre estes

herbicidas, o mais utilizado é o paraquat, seguido do diquat. O paraquat

(1,1-dimetil-4,4-bipiridil) e o diquat (1,1-etileno-2,2-bipiridil) são compostos

quaternários de amônio. O diquat é constituído por dois anéis piridílicos

unidos pela posição orto e também pelo nitrogênio do anel que mantém a

dupla carga positiva da molécula. O paraquat por sua vez tem uma estrutura

maior sendo que os dois anéis piridílicos encontram-se unidos de maneira

que os átomos de nitrogênio encontram-se diametralmente opostos

(posição para) (Figura 4) (WHO, 1984).

Figura 4. Estrutura química do paraquat e diquat.

NN CH3CH3

++

Paraquat

N N+ +

Diquat

Page 27: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Generalidades 27

Os herbicidas diquat e paraquat são sólidos cristalinos, incolores,

higroscópicos e em suas formulações comerciais são líquidos de cor

marrom. Estes herbicidas, por serem sais de amônio quaternário têm

elevada polaridade, sendo altamente solúveis em água, ligeiramente

solúveis em metanol e praticamente insolúvel em solventes orgânicos.

Paraquat e diquat em formulações aquosas não são explosivos e

nem inflamáveis, são estáveis em meio levemente ácido ou neutro, mas

podem ser hidrolisados em soluções fortemente alcalinas. Na Tabela 1 são

apresentadas as propriedades físico-químicas do paraquat e do diquat.

Tabela 1 - Propriedades físico-químicas do paraquat e diquat (WHO, 1984).

Propriedades físico-químicas Diquat Paraquat

Densidade (g/L) (20º C) 1,200 1,240 – 1,260

Ponto de Fusão ºC 300 com decomposição ~300 com decomposição

Solubilidade em água (g/L) (20º C) 700 700

pH de formulações líquidas 6,0 – 7,0 6,5 – 7,5

Volatilidade Não volátil Não volátil

Pressão de vapor Não determinada Não determinada

Page 28: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Generalidades 28

2.2 Toxicocinética

Embora existam relatos de intoxicações por via dérmica, vaginal,

ocular, injeção intramuscular, subcutânea e endovenosa, as intoxicações

resultantes da ingestão de paraquat, acidentais ou por tentativa de suicídio

são as mais importantes do ponto de vista toxicológico (ONG, 1989;

PEDRAZZINI, 1991; GARNIER et al., 1994; CHANDRASIRI, 1999; XARAU,

2000; HSU et al., 2001; RIVERO-GONZÁLEZ et al., 2001; SOLOUKIDES,

2007).

A absorção do paraquat e diquat não ocorre quando em contato com

a pele íntegra, devido à alta polaridade destes compostos; porém quando

grandes quantidades dos herbicidas entram em contato com a pele

provocam irritações e ulcerações, tornando-se permeável e ocorrendo a

absorção por esta via.

Pela via respiratória o paraquat e diquat não oferecem grandes

riscos, e dificilmente são inalados, pois são compostos praticamente não-

voláteis (pressão de vapor ser praticamente nula). A inalação pode ocorrer,

entretanto, quando gotículas são produzidas pelos aparelhos de

vaporização. Neste caso, as partículas em suspensão formadas durante a

pulverização das culturas são relativamente grandes, ficando retidas nas

vias aéreas superiores e não atingindo os alvéolos (PEDROSA, 1984).

O paraquat quando ingerido (acidental ou intencional) causa lesões

cáusticas em todo trato gastrintestinal, principalmente na boca, esôfago e

garganta. A alta polaridade destes herbicidas caracteriza uma baixa

Page 29: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Generalidades 29

absorção pelo trato gastrintestinal (> 10%), porém pode ser rapidamente

absorvido: seu pico plasmático por ser atingido aproximadamente de 2-4

horas após a ingestão. Em geral, a presença de alimento no estômago pode

reduzir a absorção deste herbicida (BISMUTH et al., 1987; POND, 2001;

GELLER, 2007).

O paraquat se distribui por vários órgãos como pulmões, rins,

fígados, tecidos musculares e praticamente por todo o organismo. O volume

de distribuição é por volta de 1,2 – 1,6 L/kg, não se ligando às proteínas

plasmáticas. A concentração pulmonar pode chegar a ser 20 vezes maior

quando comparada à plasmática. A alta concentração renal reflete o papel

dos rins na eliminação do paraquat: mais de 90% da dose absorvida é

eliminada como composto inalterado por essa via em período de 12 a 24

horas após a exposição. A ½-vida do paraquat está em torno de 5 horas

(BISMUTH et al., 1987; POND, 2001; GELLER, 2007).

Mesmo após os níveis plasmáticos estarem muito baixos, a

concentração de paraquat nos pulmões continua a apresentar níveis

relativamente altos. Esse fenômeno é reflexo da captura do paraquat pelas

células epiteliais alveolares tipo I e tipo II, a chamada via de captação de

poliaminas. A captura é resultado da similaridade estrutural entre o paraquat

e poliaminas biogênicas como a putrescina e a espermidina, essenciais

para o crescimento celular. Essas substâncias são ativamente captadas nos

pulmões por um sistema transportador na membrana que tem

especificidade por compostos com duas aminas quaternárias carregadas

Page 30: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Generalidades 30

positivamente e separadas por uma distância de 0,6 a 0,7 nm, o que não se

aplica ao diquat (Figura 5) (POND, 1998).

Foi observado que, mesmo em pacientes que ingeriram altas doses,

as funções renais e o clearance do paraquat permanecem inalterados

durante horas. Como a deterioração da função renal e a liberação do

paraquat retido nos pulmões e músculos para a corrente sangüínea é lenta,

baixas concentrações de paraquat podem ser detectadas na urina por

vários dias após a exposição (POND, 1998).

Estudos posmortem mostraram que o paraquat se distribui

preferencialmente no rim, pulmão e fígado, sendo também detectável na

tiróide, testículos, humor vítreo e líquido cérebro-espinal, atravessando a

placenta, onde atinge valores mais elevados que no sangue da mãe

(TSATSAKIS, 1996).

2.3 Efeitos tóxicos

Indiferente da via de exposição, os pulmões são os órgãos que

apresentam as mais sérias alterações patológicas causadas pelos efeitos

tóxicos do paraquat. O principal mecanismo de intoxicação do paraquat está

no ciclo de oxido-redução que ocorre no pneumócito, no qual se utiliza

nicotinamida adenina dinucleotídeo (NADPH) como doador de elétrons para

a formação de paraquat monoradical cátion (PQ+•). A reação espontânea

deste monoradical com o oxigênio molecular retorna a forma original de

duplo-cátion do paraquat (PQ++), que pode ser reduzido novamente. Esse

Page 31: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Generalidades 31

processo, conhecido como ciclo redox, é abastecido pelo suprimento de

elétrons e O2 presente em grandes quantidades nos pulmões. Esta reação e

as reações subseqüentes explicam porque a presença do O2 aumenta a

toxicidade do paraquat. Nesta reação também é produzido o ânion

superóxido (O2-•) que é convertido em peróxido de hidrogênio (H2O2) pela

enzima superóxido dismutase. O ânion superóxido e o H2O2 também

produzem uma série de reações catalisadas por ferro na produção de

radicais hidroxila (OH•). Estas espécies reativas podem reagir com lipídios

poliinsaturados (lipoperoxidação) formando hidroperóxidos lipídios que, por

sua vez, reagem com lipídios insaturados, perpetuando a reação destrutiva

(degradação de membranas celulares) (POND, 1998; ECOBICHON, 2001;

WOOLLEY, 2004).

O diquat produz efeitos tóxicos similares àqueles observados com o

paraquat exceto pela extensão de danos pulmonares e fibrose progressiva.

Este fato pode ser explicado pela falta de afinidade do diquat com os

sistemas de captação de poliaminas das células epiteliais alveolares.

Experimentos realizados em animais utilizando altas doses de diquat

demonstraram que os órgãos alvos são: trato gastrintestinal, fígado e rins. A

necrose tecidual está associada com o mecanismo de ação semelhante ao

do paraquat, onde a peroxidação lipídica é desencadeada (ECOBICHON,

2001; MOFFAT et al., 2004).

A intoxicação aguda por paraquat é caracterizada pela combinação

de sinais e sintomas que incluem dores abdominais e torácicas, secreções

sanguinolentas, dispnéia, anóxia, fibrose progressiva, coma e morte. Apesar

Page 32: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Generalidades 32

das lesões pulmonares serem as mais preocupantes, o paraquat induz

hemorragias e danos a múltiplos órgãos como fígado, rins e coração

(ECONBICHON, 2001; MOFFAT et al., 2001). O paraquat é um dos mais

específicos agentes tóxicos pulmonares conhecidos (CAVALLI, 2002). Dois

tipos de intoxicações fatais são observados: uma intoxicação fulminante que

leva à morte em algumas horas e uma forma menos grave, que pode durar

cerca de algumas semanas, conduzindo progressivamente para fibrose

pulmonar letal (SERRA et al., 2003).

Page 33: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Generalidades 33

Figura 5. Mecanismo de ação tóxica do paraquat. (A) Transporte ativo do paraquat (PQ2+) e putrescina através da membrana alveolar pela via de captação de poliaminas. (B) Redução do NADPH e oxidação do PQ2+ para o monoradical cátion (PQ+•). (C) Formação de espécies reativas de oxigênio, promovendo lipoperoxidação e morte celular e ação de sistemas antioxidantes (superóxido dismutase-SOD e glutationa peroxidase-GPX) (modificado de SMITH, 1987).

NADPH

NADP+

PQ2+

PQ+•

receptor

H3N (CH2)4 NH3

+ +NN CH3CH3

++

............ 0,702 ............ ........ 0,622 ........

Paraquat (PQ2+) Putrescina (A)

EXTRACELULAR

Membrana epitelial

alveolar

INTRACELULAR

NADPH NADP+

O2-•

O2

2 O2-•

+ 2H+ O2 + H2O2

SOD

Fe2+

+ H2O2 Fe3+

+ OH• + OH

-

lipoperoxidação

morte celular H2O

GSSG

GSH

GR GPx

(B)

(C)

Page 34: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Generalidades 34

2.4 Suportes ao paciente intoxicado

Qualquer paciente exposto ao paraquat deve ser considerado como

caso de urgência, mesmo se os sinais e sintomas típicos da intoxicação não

forem visíveis. Quando o paciente for diagnosticado, o tratamento deve ser

vigoroso e iniciado rapidamente (POND, 1998). Os principais sinais e

sintomas iniciais incluem dor e queimação na boca, faringe, esôfago, dores

abdominais, irritação gastrintestinal, náuseas, vômitos, diarréia, letargia,

hipóxia, dispnéia, taquicardia, hiperpnéia, ataxia, hiperexitabilidade e

convulsão além de úlcera local e/ou necrose tecidual. Embora rara, a

perfuração do esôfago pode ocorrer (ECOBICHON, 2001; SCHMITT, 2006).

Até o momento, não existe antídoto eficaz que reverta os quadros

clínicos de uma intoxicação por paraquat. Desta forma, o tratamento da

intoxicação aguda baseia-se essencialmente em três pontos: prevenção da

absorção, aumento da velocidade de excreção do paraquat absorvido e

modificações dos efeitos tissulares do paraquat absorvido e não excretado

(POND, 2001; SERRA et al., 2003).

Os pacientes que ingeriram paraquat invariavelmente vomitam

devido ao seu efeito irritante ou às substâncias eméticas que são

acrescentadas em suas formulações comerciais. Entretanto, mesmo que o

paciente tenha vomitado, uma intervenção imediata se faz necessária na

tentativa de minimizar os efeitos do agente tóxico remanescente.

Embora alguns métodos alternativos tenham sido propostos para o

tratamento dessa intoxicação, o método mais indicado sugere lavagem

Page 35: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Generalidades 35

gástrica seguida pela administração de adsorventes minerais como a terra

de Fuller e/ou carvão ativado a fim de evitar ou diminuir a absorção do

paraquat e/ou diquat. Para promover maior grau de remoção do agente

tóxico, purgativos também podem ser administrados. A fração absorvida

pelo trato gastrintestinal pode ser removida por hemodiálise e/ou

hemoperfusão. Para evitar excessivo dano ao pulmão, alguns especialistas

sugerem que o suplemento de O2 deva ser reduzido ao nível suficiente para

manter uma aceitável demanda de 10% de oxigênio, para manter uma

pressão arterial de PO2 de 40 a 50 mmHg. Apesar dos pacientes poderem

sofrer de hipóxia e insuficiência respiratória, uma condição hiperbárica de

O2 é contra indicada, uma vez que esse procedimento pode aumentar os

efeitos tóxicos do paraquat nos alvéolos pulmonares (IPCS, 1995a;

ARIYAMA et al., 2000; BOTELLA DE MAGLIA & BELENGUER TARIN,

2000; ECOBICHON, 2001; CALDAS et al., 2004).

O aumento da eliminação renal ou diurese forçada também tem sido

indicado a fim de aumentar ou acelerar a excreção do paraquat por essa via

de eliminação. Para esse procedimento, utilizam-se soros, medicamentos,

manitol, suplementação de potássio e hemodiálise/hemoperfusão com

carvão ativado (SCHMITT, 2006).

A terapêutica medicamentosa também pode ser utilizada. Frente ao

mecanismo de ação do paraquat, é indicado o uso de beta-bloqueadores,

pois acredita-se que estes fármacos são capazes de bloquear o influxo de

paraquat para os pulmões, diminuindo assim o acúmulo neste órgão

(POND, 1998). Para diminuir ou minimizar o estresse oxidativo causado

Page 36: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Generalidades 36

pelo ciclo redox desencadeado pelo efeito tóxico do paraquat, a terapêutica

com medicamentos anti-oxidantes tem sido indicada. Para essa finalidade,

os mais utilizados são: desferoxamina, N-acetilcisteína, vitamina E, vitamina

C, selênio e anti-oxidante biológico (RIVERO-GONZÁLEZ et al., 2001;

POND, 2001; EDDLESTON, WILKS & BUCKLEY, 2003).

Acredita-se que a fibrose pulmonar possa ser diminuída com a

utilização de corticosteróides, imunossupressores, agentes fibrinolíticos,

radioterapia e colchicina (RIVERO-GONZÁLEZ et al., 2001; POND, 2001).

Devido aos danos causados pelo paraquat nos alvéolos, alguns

autores sugerem o transplante pulmonar como uma alternativa, podendo ser

mono ou bilateral (WALDER, 1997; LICKER, 1998). Existe o caso de um

paciente que foi submetido ao transplante bilateral de pulmão após

intoxicação por paraquat. Após sobrevida de seis meses, o paciente foi a

óbito por problema no miocárdio não descrito como sendo associado à

intoxicação (POND, 2001).

2.5 Métodos de diagnóstico da intoxicação aguda por paraquat e

diquat

As possibilidades de sobrevivência dos pacientes intoxicados com

paraquat estão diretamente relacionadas com o tempo decorrido da

ingestão do composto e ao tratamento adequado. Portanto, a rápida

definição do diagnóstico e a conduta terapêutica são fundamentais. Para

Page 37: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Generalidades 37

isso é necessário que se tenham métodos analíticos adequados e capazes

de mensurar o herbicida em material biológico.

A dose letal média por via oral para paraquat em animais (DL50) é de

22 e 262 mg/kg, dependendo da espécie (ECOBICHON, 2001). Para seres

humanos, embora a dose letal de paraquat esteja estimada por volta de 15

a 20 mL da formulação a 20%, há relatos de casos de mortes ocorridas com

doses tão baixas quanto 1 mL, tornando-se difícil fazer um prognóstico

baseado na dose ingerida (SERRA et al., 2003). Desta forma, a

quantificação do paraquat e/ou diquat em amostras biológicas constitui um

importante dado na avaliação do grau de exposição ao agente tóxico. Para

este fim, testes qualitativos rápidos (triagem) seguidos por testes

confirmatórios em amostras biológicas (sangue ou urina) são recomendados

(Tabela 2) (TAYLOR et al., 2001).

Quando um paciente chega a um hospital com suspeita de

intoxicação por paraquat, após os procedimentos de urgência

desempenhados pelos médicos, a coleta imediata das amostras biológicas

para o método de triagem é de extrema importância. O método de triagem

mais utilizado é o que envolve a reação de redução com ditionito de sódio

em meio alcalino. Nestas condições, o paraquat ou diquat recebem um

elétron e são reduzidos ao seu radical monocátion, gerando assim uma

coloração azul para o paraquat e uma coloração verde para diquat. O

método é bastante utilizado para triagem, porém a grande limitação é o seu

limite de detecção, pois concentrações abaixo de 1,0 mg/L de paraquat e

5,0 mg/L de diquat não são possíveis de serem detectadas. (IKEBUCHI,

Page 38: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Generalidades 38

YUASA & KOTOKU, 1988; IPCS, 1995a; POND, 1998; MOFFAT et al.,

2004).

Tabela 2 – Principais métodos para quantificação e detecção de paraquat e ou diquat.

SPE – Extração em fase sólida; Liq-liq. - Extração líquido líquido; GC-MS – Cromatografia em fase gasosa acoplado a espectrometria de massas; CE – Eletroforese capilar; HPLC – Cromatografia líquida de alta eficiência; HPLC-MS - Cromatografia líquida de alta eficiência acoplado à espectrometria de massas; HPLC-UV - Cromatografia líquida de alta eficiência com detector ultra violeta.

Matriz Analito Extração Detecção Limite de quantificação Autor Ano

Plasma Paraquat e diquat Liq-liq GC-MS - DRAFFAN 1977

Urina Paraquat Liq-liq GC, GC-MS 200ng/mL LUKASZEWSKI 1985

Soro Paraquat e diquat SPE CE 0,5 µg/mL TOMITA 1992

Soro Paraquat - HPLC 0,4 µg/mL CROES 1993

Sangue, urina,

fígado, rim e bile

Diquat SPE HPLC - MADHU 1995

Urina Paraquat e diquat SPE CE 15 e 8 ng/mL WU e TSAI 1998

Plasma e urina

Paraquat e diquat Liq-liq CE-UV 13-23 ng/mL VINNER 2000

Plasma, urina e

conteúdo estomacal

Paraquat Liq-liq HPLC-DAD 32 e 63 µg/L ARYS 2000

Plasma e urina Paraquat SPE HPLC-UV 0,1 mg/L TAYLOR 2001

Plasma e soro Paraquat SPE HPLC 0,4 µg/mL PAIXÃO 2002

Amostras biológicas diversas

Paraquat e diquat

SPE HPLC-UV 1; 1; 0,02 e 0,02 ng/mL

FUKE 2002

Sangue e plasma Paraquat Injeção

direta HPLC 0,005 µg/mL BRUNETTO 2003

Urina e sangue

Paraquat e diquat SPE HPLC-

MS 10 e 5 ng/mL LEE 2004

Soro Paraquat e diquat Liq-liq HPLC 0,1 µg/mL ITO 2005

Soro Paraquat e diquat SPE HPLC 0,5 µg/mL HARA 2007

Page 39: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Generalidades 39

A técnica de espectrofotometria também pode ser aplicada na análise

destes herbicidas em material biológico. FUKE et al. (1992) empregaram a

desproteinização do plasma com ácido sulfosalicílico e para redução dos

analitos, o ditionito de sódio. Os dados foram analisados com a aplicação da

segunda derivada, que consiste em um método matemático de

processamento de espectros onde busca eliminar os interferentes e realçar

os espectros.

Para a análise quantitativa destes herbicidas em amostras biológicas,

alguns métodos têm sido propostos na literatura científica. Os métodos que

possibilitam a quantificação do herbicida são: a cromatografia gasosa (GC),

a cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) e a eletroforese capilar

(CE). De fato, a grande maioria dos métodos utilizados para esse fim usa a

técnica de cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) e seus diferentes

tipos de detectores (GILL et al., 1983; CROES, MARTENS & DESMET,

1993; LEE et al., 1998; ARYS et al., 2000; CASTRO et al., 2001; TAYLOR

et al., 2001; PAIXÃO et al., 2002; FUKE et al., 2002; LEE et al., 2004; ITO,

2005).

Para a quantificação de paraquat por HPLC, no preparo das

amostras (plasma, soro e sangue total) utilizaram-se inicialmente as

técnicas de precipitação de proteínas por meio da adição de ácidos, sais e

solventes orgânicos (CROES, MARTENS & DESMET, 1993; ARYS et al.,

2000; PAIXÃO et al., 2002; FUKE et al., 2002; BRUNETTO, 2003).

Com relação à extração dos herbicidas das matrizes biológicas,

algumas técnicas são descritas, sendo na grande maioria empregada a

Page 40: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Generalidades 40

extração em fase sólida com cartuchos C18 (CROES, MARTENS &

DESMET, 1993; FUKE et al., 2002). Embora ARYS (2002) tenha

empregado éter etílico na técnica de extração líquido-líquido, este tipo de

extração não é muito utilizado devido à alta polaridade do paraquat e diquat.

Para a aplicação deste tipo de extração, os analitos devem ser previamente

derivatizados a fim de torná-los menos polares.

O detector de ultravioleta com comprimento de onda entre 258 a 290

nm é mais comumente utilizado nas técnicas onde se empregam HPLC

(PAIXÃO et al., 2002; FUKE et al., 2002; BRUNETTO, 2003). O detector

ultravioleta pode também ser utilizado no método de varredura com o auxílio

do detector de fotodiodo (ITO, 2005). LEE et al., (2004) utilizou

espectrometria de massas acoplado à cromatografia líquida (LC-MS).

A técnica de extração em fase sólida (SPE) de paraquat e diquat

também pode ser empregada em análises para quantificação desses

herbicidas por eletroforese capilar (CE). Para a demonstração da eficiência

da extração em fase sólida, WU & TSAI, (1998) desenvolveram dois

métodos para análise de paraquat e diquat em urina, sendo que em um

método utilizaram a técnica de injeção direta e no segundo empregaram a

SPE. Neste experimento, os limites de detecção obtidos com injeção direta

foram de 0,1 e 0,2 mg/mL (para paraquat e diquat, respectivamente) e com

o método utilizando SPE os limites de detecção foram de 15 e 8 nm/mL

(TOMITA et al.,1992; WU & TSAI, 1998; VINNER et al., 2001).

VINNER et al. (2001) extraíram paraquat e diquat com fenol liquefeito

para posterior quantificação por CE. O detector comumente utilizado na CE

Page 41: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Generalidades 41

é o ultravioleta, porém a espectrometria de massas também tem sido

empregada em conjunto com eletroforese capilar para a determinação

destes herbicidas em amostras biológicas (NÚÑEZ, MOVANO & GALCERA,

2002).

A alta polaridade e a baixa volatilidade dos herbicidas paraquat e

diquat não permitem a análise direta por cromatografia em fase gasosa.

Devido a essa limitação, um método foi proposto utilizando boridreto de

sódio como agente derivatizante para preparar as substâncias e deixá-las

aptas a serem extraídas por meio apolar (éter etílico) e analisadas por

cromatografia em fase gasosa acoplada a espectrometria de massas

(DRAFFAN et al., 1977; LUKASZEWSKI, 1985).

Métodos analíticos para quantificação de paraquat/diquat em

amostras biológicas podem fornecer um prognóstico de sobrevida de

indivíduos intoxicados. SCHERRMANN et al. (1987) realizaram um estudo

com 53 casos de intoxicação por este herbicida e verificaram que

concentrações urinárias menores que 1,0 mg/L quando coletada nas

primeiras 24 horas, representavam sobrevivência do paciente. As

concentrações urinárias daqueles que morreram dentro de 24 horas

estavam entre 10 a 10.000 mg/L e as concentrações daqueles que

morreram posteriormente de fibrose pulmonar estavam entre 1 a 1,000

mg/L.

A concentração plasmática do agente tóxico medida em função do

tempo decorrente da exposição aguda também pode ser determinante para

o prognóstico da sobrevivência do intoxicado. O ideal é que essa medidab

Page 42: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Generalidades 42

seja exponencialmente menor a partir das primeiras quatro horas após a

exposição ao agente (SCHMITT et al., 2006). JONES et al. (1999),

analisaram 375 casos de intoxicação por paraquat e com os resultados

obtidos construíram uma equação matemática na qual a probabilidade de

sobrevivência era correlacionada com a concentração plasmática de

paraquat em um determinado tempo após a ingestão do praguicida.

Baseado neste aspecto, HART et al. (1984) construíram nomograma,

(Figura 6) no qual concentrações plasmáticas de paraquat determinadas em

amostras coletadas dentro de um período de até 28 horas após ingestão,

eram correlacionadas com a evolução dos efeitos tóxicos. No nomograma

apresentado é possível observar que a concentração plasmática de 1

µg/mL, após quatro horas de ingestão, representaria 50% de chance de

sobrevivência e que se esta fosse menor que 0,5 µg/mL poderia passar

para até 90% de chance. Desta forma, a determinação da concentração

plasmática do paraquat poderia indicar o prognóstico da sobrevivência do

indivíduo exposto agudamente a este herbicida (SCHMITT et al., 2006).

Page 43: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Generalidades 43

Figura 6. Probabilidade de sobrevivência do indivíduo após a ingestão do paraquat através da correlação da concentração plasmática em µg/mL e o tempo em horas após a ingestão, segundo Hart, 1984. Retirado de SCHMITT et al., (2006).

Page 44: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

ObjetivoObjetivoObjetivoObjetivo

Page 45: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Objetivo 45

3. Objetivo e plano de trabalho

O objetivo do trabalho foi o desenvolvimento e a aplicação de

métodos qualitativo (triagem) e quantitativo para detecção e determinação

de paraquat e diquat em amostras de plasma e urina. Amostras de

pacientes com suspeita de intoxicação por estes praguicidas foram

submetidas aos métodos desenvolvidos. Os resultados foram avaliados

quanto a sua aplicabilidade na investigação clínica e os valores de

concentração sangüínea e urinária de paraquat/diquat foram

correlacionados com a evolução da intoxicação. Para obtenção deste

objetivo, o seguinte plano de trabalho foi seguido:

-Desenvolvimento e otimização dos métodos semi-quantitativo enzimático-

espectrofotométrico e confirmatório quantitativo por GC-MS.

-Validação dos métodos, avaliando-se parâmetros como limite de detecção

e quantificação, linearidade, precisão intra e interensaio e recuperação.

-Aplicação dos métodos validados em amostras de plasma e urina

provenientes de pacientes com suspeita de intoxicação por paraquat e/ou

diquat.

-Avaliação dos resultados obtidos, tentando correlacionar as concentrações

do agente tóxico medido nas amostras biológicas e o grau de intoxicação do

paciente.

Page 46: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Material Material Material Material e Me Me Me Métodosétodosétodosétodos

Page 47: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Material e Métodos 47

4. Material e Métodos

4.1 Material

4.1.1 Reagentes e cartuchos de extração

Boridreto de sódio, fosfato de potássio, hidróxido de sódio e carbonato

de sódio anidro foram obtidos da Merck (Darmstadt, Alemanha). O Cofator β-

nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato reduzido (NADPH) e enzima

NADPH-P450 redutase humana foram obtidos da Sigma-Aldrich (Milwaukee,

EUA). Para o procedimento de extração em fase sólida (SPE), foram

utilizados cartuchos C18 com (360mg) da Waters (Milford, EUA).

4.1.2 Soluções-padrão

• Padrões de dicloreto de paraquat, dicloreto de diquat e dibrometo de

etilparaquat (padrão interno) foram obtidos da Sigma-Aldrich

(Milwaukee, EUA). A partir dos padrões foram preparadas soluções

de trabalho a 1,0 mg/mL em água destilada.

• Soluções-padrão de trabalho foram preparadas em água, dicloreto de

paraquat, dicloreto de diquat e dibrometo de etilparaquat nas

concentrações de 1,0 mg/L, 100 µg/mL, 10 µg/mL, para cada padrão,

obtidas pela diluição em água das soluções-padrão estoque.

Page 48: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Material e Métodos 48

4.1.3 Equipamentos e Acessórios

- Espectrofotômetro Powerware X340 da BioTek Instruments

(Winooski, EUA).

- Equipamento de cromatografia em fase gasosa modelo 6890

acoplado ao espectrômetro de massa modelo 5972 (GC-MS), ambos da

Hewlett Packard (Little Falls, EUA), equipado com coluna capilar de sílica

fundida HP-5MS (Hewlett Packard) com as seguintes dimensões: 30m x

0,25mm x 0,10µm.

-Espectrômetro de massas tipo ion trap, modelo Esquire HCT (Bruker

Daltonics, Alemanha), acoplado a um cromatógrafo líquido modelo

Prominence (Shimadzu, Japão), composto por três bombas modelo LC-

20AD, injetor automático SIL-20AC, forno para coluna CTO-20AC,

controladora CBM-20A, e detector DAD ( diode array) SPD-M20A. Para o

acoplamento dispõe-se das seguintes fontes de ionização: electrospray,

APCI e nanospray. Para infusão direta possui bomba Cole Parmer ®

(Illinois, EUA).

4.1.4 Amostras

Amostras de plasma heparinizadas e urina foram obtidas de

pacientes com suspeita de intoxicação aguda que foram admitidos nos

Hospital Regional do Vale do Ribeira (Pariquera-Açu-SP) e Hospital de

Clínicas da Universidade de Campinas (HC-Unicamp). As amostras foram

coletadas por enfermeiros e armazenadas em frascos de plástico (pois o

Page 49: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Material e Métodos 49

paraquat se liga ao vidro) e congeladas até o momento da análise. Dados

relativos ao paciente foram coletados como idade, sexo, histórico da

intoxicação (circunstância, quantidade estimada ingerida, evolução da

intoxicação) (POND, 1998). O Projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em

Pesquisa da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP (CEP n.

122/2005) – ANEXO A.

4.2 Métodos

4.2.1 Método Enzimático-Espectrofotométrico para detecção de

paraquat e diquat em amostras biológicas

Conforme descrito anteriormente, no suposto mecanismo de ação

tóxica do paraquat (PQ2+), essa substância sofre redução enzimática para o

monoradical cátion (PQ+•) na dependência de NADPH nos pneumócitos. A

reação espontânea deste monoradical com o O2 retorna a forma original

duplo-cátion do paraquat (PQ2+), que pode ser reduzido novamente,

formando o ciclo redox. (ECOBICHON, 2001; WOOLLEY, 2004). Baseado

nesse mecanismo, foi estudada a possibilidade do desenvolvimento de um

método enzimático-espectrofotométrico de triagem mais sensível que o

método colorimétrico convencional com ditionito de sódio (que detecta

somente concentrações acima de 1,0 mg/L) (IPCS, 1995b; MOFFAT et al.,

2004), uma vez que, teoricamente, uma única molécula de paraquat poderia

consumir relativamente grande quantidade de NADPH e O2 (devido ao ciclo

redox), conforme ilustrada na Figura 7.

Page 50: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Material e Métodos 50

Figura 7. Ciclo redox do paraquat.

4.2.1.1 Preparação da amostra

Inicialmente, os principais fatores que poderiam afetar a velocidade

de reação foram verificados: quantidade de NADPH, temperatura e pH. As

melhores condições foram observadas em pH 7,4 e temperatura de 37 °C.

Em seguida, o procedimento adotado foi: em cubetas de quartzo foram

adicionados, 0,5 mL de amostra de urina, 0,5 mL de tampão potássio pH

7,4, 0,64 UI de NADPH P-450 redutase e 0,156 µmol de NADPH preparado

em tampão potássio a 100 mM. Neste método foi monitorada a velocidade

de consumo de NADPH a 340 nm na presença de diferentes concentrações

de paraquat. A temperatura utilizada no aparelho foi de 37º C, o consumo

do NADPH foi monitorado por 20 minutos.

NADPH NADP+

Citocromo P450 redutase

PQ+•••• PQ2+

O2- O2

Page 51: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Material e Métodos 51

4.2.1.2 Oxidação de NADPH

Para verificar a oxidação espontânea do NADPH, foram realizados

alguns testes baseados no procedimento 4.2.1.1. Em cubetas de quartzo

foram adicionados, 875 µL de tampão potássio pH 7,4, a 340 nm, a 37º C

por um período de 20 minutos. As variações foram:

NADPH

Enzima + NADPH

Paraquat + NADPH

Enzima + NADPH + Paraquat.

4.2.1.3 Linearidade

O estudo de linearidade foi realizado pela análise das amostras de

urina submetidas ao método em triplicata nas seguintes concentrações de

paraquat 0,05; 2,0 e 5,0 mg/L. A curva de calibração foi construída e o

coeficiente de correlação foi calculado.

4.2.1.4 Análises de amostras de urina

Amostra de urina de paciente com suspeita de intoxicação foi

submetida ao método enzimático-espectrofotométrico, e o procedimento

adotado foi o seguinte: em cubetas de quartzo foram adicionados, 0,5 mL

de amostra de urina, 0,5 mL de tampão potássio pH 7,4, 0,64 UI de NADPH

P-450 redutase e 0,156 µmol de NADPH preparado em tampão potássio a

Page 52: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Material e Métodos 52

100 mM. Neste método foi monitorada a velocidade de consumo de NADPH

a 340 nm. A temperatura utilizada no aparelho foi de 37º C, o consumo do

NADPH foi monitorado por 20 minutos.

4.2.2 Análise quantitativa confirmatória por cromatografia em

fase gasosa acoplada à espectrometria de massa (GC-MS)

Um método foi desenvolvido para determinação do paraquat/diquat

em plasma e urina por cromatografia em fase gasosa acoplada à

espectrometria de massas (GC-MS). O etilparaquat foi utilizado como

padrão interno.

4.2.2.1 Preparação dos padrões reduzidos

Em diferentes tubos plásticos, foram adicionados 50 mg de paraquat,

diquat, etilparaquat, foram também adicionados em todos os tubos 300 mg

de boridreto de sódio e 5 mL de tampão fosfato pH 8,0. Deixou-se reagir por

90 minutos sob agitação mecânica. A reação de redução está ilustrada na

Figura 8. Os produtos de redução dos analitos foram extraídos com 2

porções de 20 mL de éter etílico destilado. Para precipitação dos

compostos, foi utilizado um sistema para borbulhar HCl concentrado e obter

assim a formação dos sais de cloridrato dos respectivos produtos reduzidos.

Fluxo de nitrogênio e bomba de alto vácuo foram utilizados para evaporar o

excesso de éter dos sais obtidos. Após esse processo, os sais foram

submetidos ao processo de cristalização para a purificação.

Page 53: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Material e Métodos 53

Os analitos foram injetados no equipamento de cromatografia líquida

acoplada à espectrometria de massas (LC-MS) e no GC-MS para

comprovar a estrutura das substâncias formadas e a ausência de

subprodutos. Ao final, soluções-padrão dos analitos reduzidos foram

preparados na concentração de 1,0 mg/mL.

Figura 8. Reação de redução de paraquat, diquat e etilparaquat com boridreto de sódio e produtos formados.

4.2.2.2 Preparação da amostra

Em tubos de plásticos foram adicionados 1,5 mL de tampão pH 8,0,

500µL de plasma ou urina, 20 µL de etilparaquat a 100 µL/mL e 10 mg de

boridreto de sódio (NaBH4). As amostras foram submetidas a banho de

água a 60º C por 10 minutos. Após o resfriamento da solução a temperatura

ambiente, foi iniciado o procedimento de extração em fase sólida (SPE).

paraquat

NaBH4

60 ºC, 10 min.

NaBH4

60 ºC, 10 min.

diquat

+N N+CH3 CH3 N NCH3 CH3

N N+ +

N N

+N N+CH3CH2 CH2CH3 N NCH3CH2 CH2CH3

Etilparaquat

NaBH4

60 ºC, 10 min.

Page 54: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Material e Métodos 54

Para tanto, foram utilizados cartuchos C18 (360 mg) da Waters (Milford,

EUA). Os cartuchos foram condicionados com 2,0 mL de metanol e 2,0 mL

de tampão fosfato pH 8,0. Adicionou-se a amostra a um fluxo de 1,0 mL/min

e lavou-se com 2,0 mL de água deionizada. Para a eluição dos analitos

utilizou-se 2,0 mL de metanol. Após evaporação do extrato, o resíduo foi

ressuspendido com 100 µL de metanol e 2 µL foram injetados no GC-MS

(Figura 9).

Figura 9. Esquema para extração em fase sólida de amostras de paraquat

e diquat.

4.2.2.3 Condições Cromatográficas

As seguintes condições foram padronizadas para análise de paraquat

e diquat extraídos de plasma e urina:

-Injetor: - temperatura: 270°C.

- Modo splitless

2 mL Metanol + 2 mL tampão fosfato pH 8,0

2 mL Amostra + 2 mL de água

DQ

PQ

Interf.

PI

DQ

PQ

PI

2 mL Metanol

Page 55: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Material e Métodos 55

-Coluna: - fluxo de hélio constante: 0,6 mL/minuto;

- temperatura inicial do forno: 80°C por 1 minuto;

- rampa: 10°C por minuto até 200°C

- rampa: 20°C por minuto até 270°C

- temperatura final do forno: 270°C por 4 minutos.

-Interface: - temperatura: 260°C.

-Gás de arraste: Hélio

-Detector: espectrômetro de massas (modo de operação: fragmentação por

impacto de elétrons e monitoramento seletivo de íons-SIM)

Íons selecionados (íons sublinhados utilizados para quantificação):

Paraquat: 134, 148, 192

Diquat: 108, 135, 190

Etil Paraquat: 148, 162, 220

4.2.3 Otimização do método

Antes de se efetuar os ensaios necessários para validação de um

método, alguns testes preliminares foram feitos para verificar a situação

ótima para cada parâmetro que compõe o método. Os parâmetros

analisados trabalhados em triplicata, observando a abundância absoluta

obtida no GC-MS.

Page 56: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Material e Métodos 56

4.2.3.1 Estudo do pH ótimo para reação e extração dos analitos

Os valores de pH testados para derivatização e extração foram: 8,0;

9,0 e 10,0. Padrões de paraquat, diquat e etilparaquat foram adicionados às

amostras na concentração de 5 mg/L, as quais foram submetidas ao

procedimento descrito no item 4.2.2.2. A eficiência da reação também foi

avaliada através da área absoluta formada pelos analitos frente a diferentes

valores de pH. Para cada valor de pH, as análises foram conduzidas em

triplicata.

4.2.3.2 Estudo da influência do tempo de reação no rendimento

da derivatização

Amostras de plasma foram adicionadas 50 mg/L de paraquat e diquat

e foram submetidas ao método descrito em 4.2.2.2, variando-se o tempo de

aquecimento da amostra em banho de água a 60º C, foram utilizados os

seguintes tempos: 10, 20, 30, 40 e 60 minutos. Para cada tempo, as

análises foram conduzidas em triplicata.

4.2.3.3 Determinação da quantidade necessária de NaBH4

Amostras de plasma foram adicionadas 50 mg/L de paraquat e diquat

e submetidas ao método descrito 4.2.2.2, variando-se a quantidade de

NaBH4, foram utilizados os seguintes massas: 10, 20, 30, 50, 100 e 150 mg.

Para cada concentração as análises foram conduzidas em triplicata.

Page 57: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Material e Métodos 57

4.2.4 Validação do método

A validação do método foi realizada estabelecendo-se os valores de

recuperação, linearidade, precisão intra e interensaio, limite de detecção e

limite de quantificação.

4.2.4.1 Limite de detecção (LD) e quantificação (LQ)

O LD e o LQ do método foram determinados pelo método empírico

que consiste em analisar uma série de amostras de plasma e urina

contendo quantidades decrescentes dos analitos (ARMBRUSTER,

TILLMAN & HUBBS, 1994). O LD foi considerado a menor concentração

que apresentou um coeficiente de variação que não excedeu 20% e o LQ a

menor concentração que apresentou um coeficiente de variação que não

excedeu 10%. O LD e o LQ deveriam ainda satisfazer um critério de

aceitação de qualificação pré-determinado (tempos de retenção com

variação menor que 1% e razão de íons com variação menor que 20%,

quando comparados com os padrões dos analitos) (PEAT & DAVIS, 1998).

4.2.4.2 Linearidade

Linearidade é a capacidade de um método analítico demonstrar

resultados diretamente proporcionais à concentração do analito na amostra,

dentro de um intervalo especificado (RIBANI et al., 2004). O estudo de

linearidade foi realizado pela análise das amostras de plasma e urina

Page 58: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Material e Métodos 58

submetidas ao método em triplicata nas seguintes concentrações de

paraquat e diquat: (0,1; 1,0; 5,0; 10; 20 e 50 mg/L). Foi verificada a

possibilidade de existência de heteroscedasticidade e alguns fatores de

peso (1/x; 1/x2; 1/x1/2; 1/y; 1/y2; 1/y1/2) foram avaliados.

4.2.4.3 Precisão intra-ensaio e interensaio

A precisão intra e interensaio foram determinadas indiretamente pelo

cálculo de imprecisão através da determinação do coeficiente de variação

do método (CV). O estudo foi conduzido analisando-se amostras de plasma

e urina em três dias diferentes, contendo as seguintes concentrações de

paraquat e diquat (0,3; 25 e 38 mg/L). As análises foram realizadas em

cinco replicatas para cada concentração.

4.2.4.4 Recuperação

Para o estudo da recuperação do método, dois grupos de amostras

de plasma e urina contendo diferentes concentrações foram analisados. No

primeiro grupo, consistindo de três concentrações das substâncias

pesquisadas (0,3; 25 e 38 mg/L) padrões de paraquat, diquat e etilparaquat

(PI) reduzidos foram adicionados às amostras, as quais foram submetidas à

extração conforme procedimento 4.2.2.2. em cinco replicatas para cada

concentração. No segundo grupo, consistindo também de cinco replicatas

para cada concentração (0,3; 25 e 38 mg/L) padrões de paraquat e diquat

reduzidos foram adicionados somente após a extração. O padrão interno

Page 59: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Material e Métodos 59

etilparaquat reduzido foi adicionado antes da extração. A recuperação

absoluta foi avaliada pela área relativa média obtida no primeiro grupo em

relação à área relativa média obtida no segundo.

4.2.4.5 Aplicação do método em amostras de pacientes com

suspeita de intoxicação

Amostras de plasma e/ou urina de pacientes atendidos no Hospital

Regional do Vale do Ribeira (Pariquera-Açu-SP) e Hospital de Clínicas da

Universidade de Campinas (HC-Unicamp) com suspeita de intoxicação por

paraquat e ou diquat foram submetidas ao método.

Page 60: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Resultados Resultados Resultados Resultados

Page 61: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Resultados 61

5. RESULTADOS

5.1 Resultados obtidos com o método Enzimático-

Espectrofotométrico

Nesta seção são apresentados os resultados do método enzimático-

espectrofotométrico em urina e em seguida os resultados das análises

realizadas com este método em amostras de urina de pacientes com

suspeita de intoxicação aguda por paraquat e/ou diquat.

5.1.1 Resultado do estudo de oxidação de NADPH

Não foi observada oxidação espontânea de NAPDH, isolada ou na

presença de paraquat ou de enzima NADPH redutase. Com a adição dos

três componentes, a reação inicia-se e assim o consumo deste cofator é

monitorado a 340nm (Figura 10).

Page 62: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Resultados 62

Redução NADPH

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

00:00:00 00:07:12 00:14:24 00:21:36

Tempo

Ab

sob

Ân

cia

340

nm

Reduação NADPH na presença de enzima

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

00:00:00 00:07:12 00:14:24 00:21:36

Tempo

Ab

sorb

ânci

a 3

40n

m

Redução de NADPH na presença de paraquat

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

00:00:00 00:07:12 00:14:24 00:21:36

Tempo

Ab

sorb

ânc

ia 3

40

nm

Redução do NADPH na presença de Enzima e NADPH

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

00:00:00 00:07:12 00:14:24 00:21:36

TempoA

bso

rbân

cia

340

nm

(A) (B)

(C) (D)

Figura 10. Verificação da oxidação de NADPH em algumas condições: (A) somente NADPH e tampão; (B) NADPH na presença de paraquat; (C) NADPH na presença de enzima redutase e (D) NADPH na presença de paraquat e enzima.

5.1.2 Resultado da linearidade do método enzimático em

amostras de urina

A Figura 11 ilustra às curvas de decaimento de NADPH com

amostras de urina com diferentes concentrações de paraquat através da

monitorização em espectrofômetro a 340 nm. O método demonstrou ser

linear na faixa de concentração estudada: 0,05 a 5,0 mg/L. O coeficiente de

correlação para o paraquat foi de 0,9991. A Figura 12 ilustra a curva de

calibração obtida, confeccionada a partir da inclinação da reta do consumo

de NADPH, (velocidade de reação, calculada pela razão de variação da

Page 63: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Resultados 63

absorbância pela respectiva variação no tempo) em função da concentração

de paraquat na amostra.

Figura 11. Cinética de consumo de NADPH através da monitorização espectrofotométrica a 340 nm com amostras de urina contendo diferentes concentrações de paraquat. (A) amostra negativa; (B) amostra contendo 0,05 mg/L; (C) amostra contendo 2,0 mg/L e (D) amostra contendo 5,0 mg/L.

Curva de calibração paraquat

y = 0,0077x + 0,0086

R2 = 0,9991

00,0050,01

0,0150,02

0,0250,03

0,0350,04

0,0450,05

0 1 2 3 4 5 6

concentração mg/L

Vel

oci

dad

e d

e re

ação

Figura 12. Curva de calibração do paraquat pelo método enzimático-

espectrofotométrico.

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

00:00:00

00:02:53

00:05:46

00:08:38

00:11:31

00:14:24

00:17:17

00:20:10

00:23:02

Time (min)

Ab

sorb

ance

at

340

nm

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,70,8

0,91

00:00:00 00:02:53 00:05:46 00:08:38 00:11:31 00:14:24 00:17:17 00:20:10 00:23:02

Time (min)

Ab

sorb

ance

at

340

nm

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

00:00:00 00:02:53 00:05:46 00:08:38 00:11:31 00:14:24 00:17:17 00:20:10 00:23:02

Time (min)

Ab

sorb

ance

at

340

nm

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

00:00:00

00:02:53

00:05:46

00:08:38

00:11:31

00:14:24

00:17:17

00:20:10

00:23:02

Time (min)

Ab

sorb

ance

at

340

nm

(A) (B)

(C) (D)

Page 64: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Resultados 64

5.1.3 Resultado da análise de amostras de urina de pacientes

com suspeita de intoxicação

A Figura 13 ilustra a curva de consumo de NADPH de uma amostra

de urina de paciente com suspeita de intoxicação por paraquat. A análise

revelou a presença de paraquat na concentração de 4,2 mg/L., após

extrapolação da velocidade de reação obtida na curva de calibração da

Figura 12.

Amotra de paciente

0

0,10,2

0,30,4

0,5

0,60,7

0,80,9

1

00:00:00

00:02:53

00:05:46

00:08:38

00:11:31

00:14:24

00:17:17

00:20:10

00:23:02

Tempo

Ab

sorb

ânci

a 34

0 n

m

Figura 13. Curva de decaimento de NADPH com amostra de urina coletada de paciente com suspeita de intoxicação por paraquat.

5.2 Resultado do método confirmatório em GC-MS

Nessa seção são apresentados, inicialmente, a validação do método

analítico desenvolvido para determinação de paraquat e diquat em plasma e

urina por cromatografia gasosa acoplada ao detector de espectrometria de

massas GC-MS e os cromatogramas característicos da análise desses

Page 65: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Resultados 65

compostos. Em seguida são apresentados os resultados obtidos com as

análises de amostras de pacientes com suspeitas de intoxicação.

5.2.1 Resultado da preparação dos padrões reduzidos

Após purificação dos padrões, foram analisados no LC-MS por

injeção direta (Figura 14) e no GC-MS (Figura 15), o rendimento da reação

foi por volta de 100 % para os três padrões.

Figura 14. Espectros de massa (LC-MS) obtidos através da injeção direta dos padrões reduzidos de (A) diquat, (B) paraquat e (C) etilparaquat.

C

B

A

Page 66: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Resultados 66

5.2.2 Cromatograma característico e espectros de massa do

paraquat e diquat reduzidos

A Figura 15 Ilustra um perfil cromatográfico obtido com a análise de

uma amostra de plasma adicionada com paraquat e diquat submetida ao

método proposto. Na Figura 16 são apresentados os espectros de massa

do paraquat, do diquat e do etilparaquat (padrão interno) após redução com

boridreto de sódio.

Figura 15. Cromatograma (GC-MS) obtido dos padrões reduzidos de (A) diquat, (B) paraquat e (C) etilparaquat.

A

B

C

Page 67: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Resultados 67

Figura 16. Espectros de massa (GC-MS) obtidos dos padrões reduzidos de (A) paraquat, (B) diquat e (C) etilparaquat.

N NCH3CH2 CH2CH3

(B)

(C)

N N

N N CH3 CH 3

N N

(A)

Page 68: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Resultados 68

5.2.3 Resultados do estudo do pH ótimo para extração

Na Figura 17, pode-se observar que a recuperação do paraquat

decresce conforme aumenta o pH, por outro lado observa-se que em pH 10,

o diquat está em torno de 110 % de recuperação, já a recuperação do

paraquat no mesmo valor de pH está em torno de 70 % recuperação. A

melhor recuperação observada foi em pH 8 que teve recuperação em torno

de 91% para o paraquat e diquat.

Figura 17. Porcentagens da recuperação de paraquat e diquat em diferentes valores de pH.

5.2.4 Resultados do estudo da influência do tempo de reação no

rendimento da derivatização

Nesse procedimento analítico, fixando-se a quantidade de boridreto

utilizado (10 mg), o pH adotado foi 8,0 e a temperatura a 60º C em banho de

Page 69: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Resultados 69

água. O tempo escolhido foi o de 10 minutos, pois nos outros tempos

estudados os rendimentos foram menores (Figura 18).

Figura 18. Tempo de reação com boridreto de sódio, em pH 8,0 e a

temperatura a 60º C em banho de água.

5.2.5 Estudo da influência da quantidade necessária de NaBH4

Não foram observadas diferenças entre as áreas produzidas pelos

analitos nas diferentes quantidades utilizadas. Desta forma, a mínima

quantidade testada (10 mg) foi escolhida.

Page 70: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Resultados 70

5.2.6 Resultados da validação do método para determinação de

paraquat e diquat em plasma e urina

5.2.6.1 Limite de detecção e quantificação

Os limites de detecção (LD) e quantificação (LQ) dos analitos obtidos

para o método proposto para determinação de paraquat e diquat em

amostras de plasma e urina foram de 0,05 mg/L para LD e para LQ 0,1

mg/L.

5.2.6.2 Linearidade

Para avaliar a homocedasticidade ou heteroscedasticidade dos

desvios da curva de calibração, utilizou-se o teste F. que analisa a variância

entre as médias. Para esse teste foram utilizados a variância dos desvios-

padrão do menor e do maior ponto da curva de calibração. A

homocedasticidade é verificada quando a distribuição dos erros entre as

médias está dentro do fator F. Quando o valor do teste de F estiver acima

do aceitável, é confirmada então a existência de heterocedasticidade do

conjunto. Nesse caso, a regressão linear ponderada é recomendada.

Utiliza-se então esta relação para estimar os desvios-padrão referentes a

cada ponto da curva. Os coeficientes de ponderação são utilizados para a

construção da curva de calibração.

Pela utilização da regressão ponderada atribui-se menor importância

aos pontos que apresentam maior desvio-padrão. Isto resulta no

deslocamento do ponto centróide da curva com estreitamento dos intervalos

Page 71: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Resultados 71

de confiança em baixas concentrações e conseqüente alargamento dos

intervalos de confiança nas concentrações mais elevadas (ALMEIDA,

CASTEL-BRANCO & FALCÃO, 2002).

O método de regressão linear convencional poderia resultar em

grandes erros especialmente em concentrações próximas ao limite de

quantificação. Aplicando-se fatores de peso (1/x; 1/x2; 1/x1/2; 1/y; 1/y2; 1/y1/2),

verificou-se que a soma da porcentagem de erro relativo (% RE) em toda a

faixa de concentração era menor quando aplicado o peso 1/x1/2 para plasma

e 1/y para urina. Os coeficientes de correlação para o paraquat e diquat

foram acima de 0,98. As equações lineares e coeficientes de correlação

obtidos foram: diquat: y = 0,138x−0,040; r2 = 0,981 e paraquat: y = 0,200x +

0,201; r2 = 0,9811 para amostras de plasma e diquat: y = 0,109x + 0,017; r2

= 0,990 e paraquat: y = 0,198x + 0,051; r2 = 0,997 para amostras de urina,

onde y e x representam a relação entre a razão de áreas dos picos

(analito/padrão interno) e as concentrações de calibradores

respectivamente.

5.2.6.3 Precisão intra-ensaio e interensaio

Os resultados de precisão intra-ensaio e interensaio obtidos para a

determinação de paraquat e diquat em amostras de plasma e urina são

apresentados na Tabela 3. Valores de precisão menores que 18% foram

encontrados em todos os casos.

Page 72: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Resultados 72

Tabela 3 - Valores de precisão intra-ensaio e interensaio obtidos com a aplicação do método proposto em amostras de plasma e urina.

Precisão Intra-ensaio (%)

Precisão Interensaio (%)

Amostras Analitos CQ1 CQ2 CQ3 CQ1 CQ2 CQ3

URINA PARAQUAT 9,9 9,2 4,7 14,9 7,3 5,2

DIQUAT 11,6 10,5 13,1 11,7 5,7 8,8

PLASMA

PARAQUAT

9,3 14,1 11,0 6,0 16,8 12,6

DIQUAT 10,1 6,3 8,0 11 7,2 17,2

CQ1 – 0,3 mg/L, CQ2 – 25 mg/L e CQ3 – 38 mg/L

5.2.6.4 Recuperação

Os valores de recuperação obtidos para a determinação de paraquat

e diquat em amostras de plasma e urina são apresentados na Tabela 4.

Tabela 4 - Valores de precisão intra-ensaio e interensaio obtidos com a aplicação do método proposto em amostras de plasma e urina.

Recuperação %

Amostras Analitos CQ1 CQ2 CQ3

URINA PARAQUAT 82,7 85,9 88,4

DIQUAT 83,2 88,4 108,8

PLASMA

PARAQUAT 75,2 87,3 92,0

DIQUAT 87,9 110,4 81,9

CQ1 – 0,3 mg/L, CQ2 – 25 mg/L e CQ3 – 38 mg/L

Page 73: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Resultados 73

Os dados de desenvolvimento e validação do método para

determinação de paraquat e diquat em amostras de plasma e urina foram

publicados no Journal of Chromatography B (Anexo B) (ALMEIDA &

YONAMINE, 2007).

5.3 Resultado das amostras dos pacientes com suspeita de

intoxicação

A Figura 19 mostra o perfil cromatográfico da análise de uma

amostra de urina de um paciente no qual há concentração de 32,4 mg/L

paraquat.

Figura 19. Cromatogramas obtidos com a análise GC-MS de: (A) urina adicionada de paraquat (PQ) e diquat (DQ) na concentração de 0,1 mg/L; (B) Amostra de referência negativa e (C) urina de paciente intoxicado. A análise revelou a presença de paraquat na concentração de 32,4 mg/L.

DQ PQ

EPQ

(A)

EPQ

(B)

(C)

PQ

EPQ

Page 74: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Resultados 74

Os resultados das análises e as informações obtidas através da

aplicação do questionário ou análise do histórico dos pacientes estão

apresentados na TABELA 5.

Page 75: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Tabela 5 - Dados do paciente, histórico e resultados das análises toxicológicas para determinação de paraquat em urina e plasma.

NI – não informada. NC – Não coletada. Neg – Negativo.

Paciente Idade Sexo Quantidade ingerida Ocasião Suporte

após Coleta após Resultado mg/L Conseqüência

urina plasma

A 21 F 100 mL suicídio 18 horas 18 horas 32,4 NC óbito

B 17 F 50 mL suicídio 12 horas 12 horas 89,6 NC alta

C 67 M NI suicídio NI NI 268,6 1,6 óbito

D 33 M 30 mL suicídio 2 horas 14 horas 400,3 0,34 óbito

E 21 M 5-10 mL suicídio 40 min 12 horas 0,66 0,31 alta

F NI M NI NI NI NI NC NEG NI

G 17 M 40 mL suicídio 3 horas 15 horas 5,3 NC alta

H 38 M 50 mL suicídio 5 horas 5 horas Neg NC alta

I 25 M indeterminada suicídio 1 hora NI 1575,2 NC óbito

J 27 M 50 mL suicídio 48 horas 48 horas NC 0,26 óbito

L 23 M 10 mL suicídio 12 horas 12 horas 1,5 NC alta

M 37 M 300 mL suicídio NI NI NC 0,37 óbito

N NI M NI NI NI NI NC 0,22 NI

O 22 F 500 mL suicídio 9 horas 9 horas 33,5 0,61 óbito

Page 76: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

DiscussãoDiscussãoDiscussãoDiscussão

Page 77: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Discussão 77

6. DISCUSSÃO

A utilização de técnicas de triagem ou qualitativas são bastante

empregadas na rotina clínica de urgência toxicológica, devido à praticidade,

rapidez e baixo custo. Um paciente quando encaminhado para um serviço

de urgência ou emergência médica, necessita de um rápido diagnóstico

para a exclusão ou confirmação de uma suspeita clínica. No caso de

pacientes com suspeitas de intoxicações, a análise laboratorial de

emergência (triagem) é de extrema importância e deve ser realizada com

agilidade e em um curto período de pelo menos uma hora (LOUIS, 2001).

Particularmente para identificação do paraquat e diquat em amostras

biológicas, o teste colorimétrico com ditionito de sódio a 1% ainda é muito

utilizado (SCHMITT, 2006). Entretanto, apesar dessa técnica convencional

de triagem ser simples e rápida, ela só é capaz de detectar concentrações

acima de 1,0 mg/L (IPCS, 1995b; MOFFAT et al., 2004). Por outro lado,

mesmo concentrações abaixo de 1,0 mg/L podem representar um nível de

intoxicação importante e também deveriam ser consideradas (IPCS, 1995b;

POND, 1988; SOLOUKIDES et al., 2007).

Outros métodos de triagem utilizando técnicas espectrofotométricas

foram desenvolvidos, contudo, um procedimento de extração em fase sólida

(SPE) é necessário para fornecer limites de detecção mais baixos, o que

tornam os métodos menos práticos (KOIVUNEN et al., 2005; KUO et al.,

2001).

No presente trabalho, um método enzimático-espectrofotométrico,

baseado no próprio mecanismo de ação tóxica foi desenvolvido para rápida

Page 78: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Discussão 78

detecção de paraquat em amostras biológicas. Durante o desenvolvimento

do método, não foi observada oxidação espontânea de NAPDH, isolada ou

na presença de paraquat ou de enzima NADPH redutase. Com a adição dos

três componentes, a reação inicia-se e assim o consumo deste cofator pode

ser monitorado a 340 nm (Figura 10). Quando o NADPH é exposto a

apenas uma substância, sua oxidação não ocorre. Isso evidencia a proposta

do mecanismo de ação do paraquat na produção de espécies reativas de

oxigênio e assim ocasionando morte celular (ECOBICHON, 2001 e BUS,

1976). Este mecanismo de ação no qual o método foi embasado consiste na

transferência de um elétron do NADPH catalisado pela NADPH P-450

redutase para o paraquat dicátion, formando assim o paraquat monoradical

que por sua vez se oxida espontaneamente na presença de oxigênio,

voltando a sua forma inicial. Nessa forma, o paraquat pode se reduzir

novamente através do NADPH e novas espécies reativas de oxigênio são

geradas, formando assim o ciclo redox. Embora esse mecanismo de ação

tóxica seja aplicado apenas para o paraquat, quando o diquat foi submetido

ao método enzimático-espectrofotométrico, a redução do NADPH também

foi constatada. Desta forma, o fato do diquat não desencadear o ciclo redox

in vivo pode ser explicado pelo fato desta substância não se ligar tão

efetivamente ao sistema transportador de poliaminas localizado na

membrana dos alvéolos, como faz o paraquat (POND, 1998; ECOBICHON,

2001; MOFFAT et al., 2004).

A velocidade do consumo de NADPH era proporcional à

concentração de paraquat até 5 mg/L. O método de triagem proposto

Page 79: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Discussão 79

demonstrou ser simples e sensível, sendo possível a detecção de paraquat

em urina em concentrações tão baixas quanto 0,05 mg/L, utilizando

somente 0,5 mL de amostra. Quando o aplicado em amostra de urina de

paciente com suspeita de intoxicação por paraquat, a análise revelou a

presença de paraquat na concentração de 4,2 mg/L. Em conclusão, o

método proposto pode ser uma alternativa de triagem para detectar baixas

concentrações de paraquat em casos de suspeita de intoxicação. A única

limitação do método é o elevado custo, neste momento o valor agregado

para se obter as enzimas específicas para esse tipo de reação é o que

impossibilita a aplicabilidade deste método semi-quantitativo na rotina

laboratorial.

A quantificação e/ou confirmação, para presença ou não de paraquat

e diquat em amostras biológicas também pode ser muito importante na

avaliação do grau de exposição ao agente tóxico. A cromatografia em fase

gasosa com detector de espectrometria de massas (GC-MS) foi a técnica

escolhida para a quantificação e confirmação de paraquat e diquat em

amostras biológicas de plasma e urina de pacientes com suspeita de

intoxicação aguda. Como se tratam de compostos quaternários de amônio

e, portanto com características bastante polares, a identificação por

cromatografia em fase gasosa torna-se impossibilitada sem que os analitos

originais sejam previamente alterados quimicamente para substâncias com

maior volatilidade. Desta forma, avaliou-se a possibilidade da utilização de

NaBH4 como agente redutor para conversão do paraquat, diquat e do

etilparaquat (utilizado como padrão interno nas análises cromatográficas)

nos respectivos compostos reduzidos e mais voláteis. Inicialmente, tentou-

Page 80: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Discussão 80

se reproduzir as condições de reação descritas no trabalho de DRAFFAN et

al. (1977), monitorando os produtos formados através do GC-MS.

Posteriormente, adaptou-se o método utilizando a microextração em fase

sólida (SPME), fazendo a imersão direta da fibra de polidimetilsiloxano

(PDMS) de 100 µm na solução aquosa ou expondo a fibra aos vapores da

amostra (extração por headspace).

Realizou-se o método por imersão direta da fibra, no qual os analitos

reduzidos puderam ser extraídos pela fibra de SPME. Observou-se que o

boridreto de sódio na presença de proteínas do plasma levava à formação

de espuma que era incompatível com o sistema de extração. Ao utilizar-se

da dimeticona como agente antiespumante, não houve mais a formação de

espuma; porém, vários picos interferentes foram detectados no GC-MS,

conforme pode ser visualizado na Figura 20.

Figura 20. Cromatograma obtido utilizando dimeticona como agente antiespumogênico. Picos relativos aos compostos reduzidos de (A) diquat, (B) paraquat e (C) etilparaquat.

A segunda tentativa para aplicação da SPME foi por headspace, pois

é um método rápido e, teoricamente, produziria cromatogramas com

A B

C

Page 81: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Discussão 81

menores quantidades de interferentes. Devido à formação de espuma na

reação de derivatização dos analitos e a impossibilidade da utilização de

dimeticona como agente antiespumante, a desproteinização das amostras

de plasmas foi necessária para eliminar as proteínas e diminuir a formação

de espuma. Ácido tricloroacético foi utilizado com essa finalidade. Embora

tenha parecido promissor à primeira vista, os ensaios posteriores de

validação demonstraram que o método de SPME por headspace não

apresentava bons índices de reprodutibilidade.

Desta forma, optou-se em aplicar a extração em fase sólida no

desenvolvimento do método. Primeiramente cartuchos C18 contendo

200mg de sílica foram avaliados e não foi obtida boa recuperação (inferior a

50%). O mesmo ocorreu quando foram utilizados cartuchos com outro tipo

de fase estacionária como a Bond Elut Certify da Varian (Harbor City, EUA).

Estes contêm grupos benzenossulfônico e C8 como elementos ativos. Com

cartuchos C18 contendo 500mg de fase, verificou-se a obstrução da

passagem de amostra, uma vez que, com o procedimento desenvolvido,

não se precipitou as proteínas. O cartucho de C18 com 360 mg de sílica

(Waters: Milford, EUA) apresentou bons índices de recuperação e foi o

empregado para o desenvolvimento do método.

Após eleger o cartucho de SPE para o procedimento de extração,

testes para definir alguns parâmetros foram realizados para posterior

validação do método analítico. Os parâmetros avaliados foram: temperatura,

tempo de reação dos analitos em banho de água, pH e quantidade de

agente redutor.

Page 82: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Discussão 82

Com o intuito de se obter condições ótimas do meio para a reação

química de redução dos analitos nas amostras, alguns parâmetros foram

avaliados. A temperatura usada para a reação (60º C) é a mesma utilizada

por ARYS et al. (2000). É sabido que o meio alcalino é uma condição

favorável para ocorrer a reação de redução do paraquat e diquat

(DRAFFAN et al., 1977; ARYS et al., 2000). No presente experimento, o

melhor valor de pH encontrado para a reação de redução foi 8,0, também foi

observado que em pH 9,0 e 10,0 a eficiência da reação diminuía

progressivamente. Este fenômeno pode ser associado com a instabilidade

química do paraquat e diquat em alguns valores mais elevados de pH

(IBÁÑEZ, PICÓ & MAÑES, 1998; SERRA et al., 2003). A duração do tempo

de reação em banho a 60º C também tem uma influência considerável no

rendimento da reação. Observou-se que o período de 10 minutos é o

melhor tempo para a incubação. Períodos mais longos (20, 30, 40 e 60

minutos), causam perdas progressivas dos produtos. Nenhuma diferença foi

observada com relação à quantidade do boridreto de sódio empregada. A

quantidade mínima testada (10 mg) foi o bastante para reduzir

eficientemente os analitos na maior concentração utilizada na curva de

calibração (50 mg/L). Observou-se que a taxa de conversão dos analitos foi

de aproximadamente 100%, quando comparado aos padrões reduzidos.

Após definição dos valores de pH, quantidade de agente redutor, e

tempo da reação, a validação do método analítico pôde ser iniciada. Os

parâmetros analisados para a validação do método analítico foram:

recuperação, limite de detecção (LD) e quantificação (LQ), precisão intra-

ensaio e interensaio e linearidade.

Page 83: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Discussão 83

Para o estudo da recuperação foi necessária a síntese dos padrões

reduzidos não disponíveis comercialmente. No estudo de recuperação, foi

avaliada a quantidade de analito que se consegue extrair pelo procedimento

analítico desenvolvido comparando a resposta obtida com soluções-padrão

reduzidas (padrões sintetizados) dos herbicidas. Os resultados de

recuperação utilizando os padrões reduzidos foram adequados.

Portanto, a recuperação sendo satisfatória foi possível atingir bons

valores de LD e LQ no método desenvolvido. Estes valores de LQ e LD são

compatíveis com outros métodos analíticos similares descritos na literatura

científica.

Tanto a precisão interensaio como a intra-ensaio produziram valores

adequados para métodos cromatográficos, obtendo-se valores de

coeficientes de variação menores que 10% para a precisão interensaio e

menores que 20% para a precisão intra-ensaio. A escolha do PI adequado

deve ter contribuído para obtenção desses valores, pois o padrão interno

utilizado é muito parecido quimicamente com os analitos, o que possibilitou

a participação do PI em todas as etapas analíticas do método desenvolvido

como, a reação de redução e a extração.

Para o estudo de linearidade, uma ampla faixa de trabalho foi

avaliada (0,1 a 50 mg/L) com base nas concentrações geralmente

verificadas em casos de intoxicações agudas relatados na literatura.

Trabalhos mencionam desde intoxicações com uma mínima exposição até

casos com ingestão de uma grande quantidade destes herbicidas (ARYS,

2000; SOLOUKIDES, 2007). Entretanto, devido a grande faixa de trabalho

Page 84: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Discussão 84

(mais que duas ordens de magnitude), foi verificado que o fenômeno de

heteroscedasticidade estava presente. Neste caso, os maiores desvios

encontrados em altas concentrações tendem a apresentar maior influência

na linha de regressão do que menores desvios associados a baixas

concentrações. No entanto o método de regressão linear ordinária poderia

resultar em grandes erros nos cálculos das concentrações de paraquat e

diquat, especialmente nas concentrações baixas. Entretanto, utilizando a

regressão linear ponderada onde são atribuídos diferentes coeficientes de

ponderação (1/x; 1/x2; 1/x1/2; 1/y; 1/y2; 1/y1/2), o coeficiente que apresentou

melhor resultado, ou seja, menor valor da soma dos erros foi o 1/x1⁄2 para o

plasma e 1/y para urina.

As condições cromatográficas empregadas foram adequadas,

possibilitando uma boa separação e resolução dos picos de interesse e sem

a presença de interferentes. O tempo empregado para cada análise foi de

20,5 min. Para a detecção dos analitos no espectrômetro de massas,

utilizou-se o monitoramento seletivo de íons (SIM), que é um modo de

operação do MS que possibilita o instrumento monitorar dois, três ou mais

fragmentos específicos de cada uma das substâncias a serem analisadas.

Esse modo possibilita detectar concentrações bem menores de substância

quando comparado com o modo Full Scan. Neste modo, o equipamento

gera um espectro completo, fornecendo melhor informação quando se

deseja identificar a substância.

Page 85: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Discussão 85

O método desenvolvido para determinação de paraquat e diquat em

amostras de urina e plasma por GC-MS demonstrou ser prático e preciso

com a utilização do padrão interno etilparaquat.

O método proposto e validado neste trabalho consiste basicamente

no emprego da técnica de derivatização dos herbicidas (boridreto de sódio),

seguido do procedimento de extração (SPE). Após a extração, as amostras

foram evaporadas (concentradas) em fluxo de nitrogênio, ressuspendidas

(100 µL metanol) e injetadas (2 µL) no GC-MS. O tempo necessário para a

realização do procedimento analítico seja de 60 minutos. Como citado

anteriormente, nos casos de intoxicações por paraquat e diquat, o tempo é

um dos fatores determinante para o prognóstico da sobrevida do paciente e

a determinação destes herbicidas deve ser rápida e eficiente para auxiliar

este prognóstico.

Após o desenvolvimento e validação do método para determinação

de paraquat e diquat em plasma e urina por GC-MS, este foi aplicado em

amostras de pacientes com suspeita de intoxicação aguda. Na Tabela 5

foram apresentados os resultados das análises e alguns dados referentes

aos pacientes atendidos com suspeitas de intoxicação por estes herbicidas.

Analisando os relatos dos pacientes (ou acompanhante), constatou-se que

todos os casos foram por administração oral, a maioria dos casos foi

tentativa de suicídio, exceto dois casos não relatados. O tempo para o

atendimento e a concentração plasmática do agente tóxico são fatores

decisivos para sobrevivência dos pacientes, porém a grande maioria dos

Page 86: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Discussão 86

pacientes procurou ou foi encaminhada tardiamente para os hospitais,

ocasionando um atraso no atendimento.

Dentre os casos, observou-se que um indivíduo que ingeriu 100 mL

da solução de paraquat, com coleta de amostra biológica realizada após 18

horas do incidente, o resultado da análise urinária foi de 32,4 mg/L. Em

outro caso, um paciente que ingeriu 50 mL, com coleta da amostra de urina

após 12 horas, verificou-se a presença de paraquat na concentração de

89,6 mg/L. O paraquat é pouco absorvido pelo trato gastrintestinal e existem

outros fatores que podem influenciar na absorção ou eliminação do

herbicida, por exemplo o conteúdo estomacal e função renal. Os suportes

realizados aos pacientes para a desintoxicação, como administração de

carvão ativado ou substâncias adsorventes, também podem influenciar na

absorção do paraquat e assim na sua concentração plasmática ou urinária.

A porcentagem de sobrevivência do paciente é inversamente

proporcional ao tempo da exposição ao suporte clínico e a concentração

plasmática do herbicida. A paciente O, de 22 anos, depois de ter ingerido

500 mL do composto contendo paraquat e a sua amostra de sangue

coletada após 9 horas da exposição, o resultado da análise indicou 0,61

mg/L. Confrontando o valor plasmático com o nomograma da Figura 5,

verificou-se que a porcentagem de sobrevivência deste paciente seria

entorno de 40 %. Este caso seria classificado como uma intoxicação

fulminante que leva a morte em algumas horas. A intoxicação fulminante é a

mais comum nos casos de suicídio ou tentativa de suicídio, nos quais os

Page 87: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Discussão 87

indivíduos ingerem geralmente grandes quantidades destes herbicidas

(SERRA et al., 2003).

Das amostras de plasma e/ou urina dos 14 pacientes atendidos com

suspeitas de intoxicação nos hospitais anteriormente descritos, 7 pacientes

tiveram amostras de plasma coletadas e dessas 7 amostras de plasma,

apenas 3 continham informações suficientes para determinar o prognóstico

de sobrevida dos pacientes. Confrontando-se os valores encontrados em

plasma (mg/L) com o nomograma (Figura 5), constatou-se que o

prognóstico de sobrevida dos pacientes era de 40 % para o paciente O e de

50 % para os pacientes D e E, sendo que o paciente E sobreviveu.

A grande dificuldade para confrontar esses valores com os valores

propostos no nomograma é a precisão das informações. Na grande maioria

das vezes o indivíduo que fornece as informações é o próprio paciente

quando apto ou o seu acompanhante. Entretanto, estas informações podem

não ser precisas, o que pode ser um fator complicador para estimar a

probabilidade de sobrevivência do intoxicado.

O método desenvolvido permitiu a determinação e confirmação de

paraquat e diquat em amostras de plasma e urina. Como descrito

anteriormente existe a necessidade de uma análise toxicológica de

emergência ser rápida e eficiente. O método desenvolvido demonstrou que

preenche todos os requisitos de uma análise de urgência, podendo assim

ser aplicado na rotina dos Centros de Controle de Intoxicações - CCI como

uma ferramenta para auxiliar os diagnósticos e prognósticos dos casos de

suspeita de intoxicação por paraquat e diquat. O método também pode ser

Page 88: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Discussão 88

empregado nas áreas de ocupacional, toxicologia ambiental e toxicologia

forense.

Page 89: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

ConclusãoConclusãoConclusãoConclusão

Page 90: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

Conclusão 90

7. CONCLUSÃO

De acordo com os resultados obtidos, pode-se concluir que:

– O método de triagem apresentou bom limite de detecção, podendo

detectar até 0,05 mg/L de paraquat em amostras de urina

– O método de quantificação e confirmação proposto apresentou limites de

detecção de 0,05 mg/L e limites de quantificação de 0,1 mg/L. Os

resultados obtidos na validação do método mostram que trata-se de um

método rápido, preciso, prático e linear, que pode ser aplicado para a

determinação quantitativa e confirmatória de herbicidas paraquat e

diquat em plasma e urina de pacientes com suspeitas de intoxicação

aguda.

– As amostras analisadas apresentaram um valor alto de concentração,

devido à utilização destes herbicidas como agentes para suicídio ou

homicídio.

Page 91: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

ReferêReferêReferêReferênciasnciasnciasncias

Page 92: Desenvolvimento e aplicação das análises toxicológicas no

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AAAANEXOSNEXOSNEXOSNEXOS

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ANEXO A – Comitê de Ética

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