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PROJETO DE PESQUISA DESENVOLVIMENTO DO ATLAS DA QUESTÃO AGRÁRIA BRASILEIRA E ANÁLISE DA AGRICULTURA CAMPONESA NO ESTADO DE SÃO PAULO Responsável: Prof. Dr. Eduardo Paulon Girardi Benificiário: Lucas Pauli Presidente Prudente, março de 2015

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PROJETO DE PESQUISA

DESENVOLVIMENTO DO ATLAS DA QUESTÃO AGRÁRIA BRASILEIRA E ANÁLISE DA

AGRICULTURA CAMPONESA NO ESTADO DE SÃO PAULO

Responsável: Prof. Dr. Eduardo Paulon Girardi

Benificiário: Lucas Pauli

Presidente Prudente, março de 2015

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SUMÁRIO

RESUMO.............................................................................................

1

1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA.............................................

1

2. OBJETIVOS....................................................................................

15

2.1 OBJETIVO GERAL......................................................................

15

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .......................................................

15

3. PLANO DE TRABALHO E CRONOGRAMA.............................

16

4. MATERIAL E METÓDOS.............................................................

17

5. FORMAS DE ANÁLISE DOS RESULTADOS............................ 18

REFERÊNCIAS BIBLÍOGRAFICAS...............................................

19

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RESUMO O objetivo deste projeto de iniciação científica auxiliar na atualização e no aprimoramento do Atlas da Questão Agrária Brasileira tendo como foco e recorte o mapeamento e análise da agricultura camponesa no estado de São Paulo. A referência teórica do trabalho está pautada na abordagem do campo a partir da questão agrária pela geografia, que considera os problemas no campo causados pelo desenvolvimento do capitalismo. Sendo assim, serão mapeados e analisados vários temas da questão agrária nacionalmente, contextualizando o estado de São Paulo e, em seguida, será realizada uma análise específica para a agricultura camponesa no estado, incluindo as mudanças recentes provenientes da territorialização do setor sucroalcooleiro no oeste paulista. Os procedimentos metodológicos são sobretudo o mapeamento e análise exploratória de dados, trabalhos de campo exploratórios e leituras. Com isso esperamos identificar e analisar as características da agricultura camponesa paulista e sua importância na estrutura agrária atual, bem como suas transformações recentes. 1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA

O Atlas da Questão Agrária Brasileira (AQAB), disponível em

www.fct.unesp.br/nera/atlas, foi publicado em 2008 e é um produto da tese de

doutorado do orientador deste projeto de pesquisa de iniciação científica. O AQAB

foi elaborado a partir dos pressupostos da Cartografia Geográfica Crítica (CGC)

(GIRARDI, 2008, 2011), cuja base é a leitura crítica do mapa e da cartografia

(HARLEY, 1989) e três abordagens cartográficas: a semiologia gráfica, a

visualização cartográfica e a modelização gráfica (GIRARDI, 2008, 2011). Para a

CGC, o mapa deve ser compreendido como um instrumento de análise geográfica e

parte inerente ao discurso geográfico. Por tomar como referência a questão agrária,

o Atlas enfatiza os problemas no campo e as disputas territoriais entre camponeses,

sem-terra, latifundiários e capitalistas do agronegócio, apresentando uma análise da

dinâmica territorial da questão agrária brasileira.

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Desde sua publicação em 2008, exclusivamente on-line, o Atlas teve 79.359

acessos provenientes de 60 países1. Os mapas do AQAB foram utilizados por

diversos jornais, pelos movimentos sociais e editoras de material didático (a título

gratuito), além dos usos em trabalhos acadêmicos. Embora desde sua publicação

vários dados novos tenham sido publicados pelas fontes utilizadas, só no final de

2013 uma atualização do AQAB teve início via aprovação de financiamento do

projeto intitulado “Desenvolvimento do Atlas da Questão Agrária Brasileira e

análise da agricultura camponesa” no Edital Universal MCTI/CNPq Nº 14/2013.

Os dois objetivos principais do projeto aprovado junto ao CNPq e cuja vigência vai

até 10/2016 são: a) atualizar e aprimorar o AQAB, com a adição de mapas

atualizados dos temas já existentes e também a inclusão de mapas de novos temas;

b) fazer uma análise da agricultura camponesa brasileira que inclua discussões

teóricas sobre os paradigmas de interpretação e também o mapeamento e análise de

dados específicos deste tipo de agricultura.

Em 2012 o orientador iniciou, como projeto de pesquisa trienal, outra

pesquisa intitulada “Setor sucroalcooleiro paulista: importância econômica,

internacionalização e impactos na questão agrária – 2000-2014”. Um dos objetivos

nesse segundo projeto também desenvolvido pelo orientador é analisar os impactos

da expansão do setor sucroalcooleiro sobre a agricultura camponesa no estado de

São Paulo, sendo necessário para isso uma avaliação da agricultura camponesa no

estado de São Paulo, que é um dos objetivos do deste projeto de iniciação científica.

É no contexto dessas duas pesquisas desenvolvidas pelo orientador que se

insere o presente projeto de iniciação científica, que contribuirá com esses dois

projetos e desenvolverá atividades de investigação específicas, contribuindo para a

                                                                                                                                       1  Informações obtidas através das estatísticas geradas pelo Google Analytics.  

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formação científica do orientando. O objetivo principal do presente projeto de

iniciação científica é auxiliar na atualização e no aprimoramento do Atlas da

Questão Agrária Brasileira tendo como foco e recorte o mapeamento e análise da

agricultura camponesa no estado de São Paulo.

O Brasil é um país caracterizado por desigualdades sociais e regionais

resultantes da histórica concentração da riqueza. A questão agrária passou a ser tema

de pesquisa da Geografia principalmente a partir da década de 1980, no contexto do

desenvolvimento da corrente da Geografia Crítica. As análises enfocavam questões

teóricas e sobre o desenvolvimento histórico da questão, enfatizando a luta de

classes e o processo desigual de apropriação privada da terra, formando

latifundiários, camponeses e sem-terra (OLIVEIRA, 2007). Contudo, nunca havia

sido elaborado um Atlas que tratasse especificamente da questão agrária, sendo o

AQAB o primeiro sobre o tema, exceto um que representa unicamente a estrutura

fundiária, publicado pelo INCRA.

O AQAB não é um simples conjunto de mapas descritivos, mas enfatiza a

exploração analítica de dados de vários temas que compõem a questão agrária, em

especial através da visualização cartográfica. O AQAB apresenta uma análise da

questão agrária no Brasil e nele o mapa é utilizado como um importante instrumento

na análise e no discurso geográfico sobre o tema. Para desenvolver a análise da

questão agrária no AQAB, foi tomado como referência o paradigma da questão

agrária (FERNANDES, 2005), que enfatiza os conflitos e problemas no campo. A

partir desse paradigma foram desenvolvidas análises tomando como referência dois

territórios que configuram a questão agrária brasileira: o campesinato e o latifúndio

e agronegócio. Esses territórios foram enfatizados tanto nos estabelecimentos

teóricos sobre a questão agrária quanto no desenvolvimento das análises do

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problema agrário. Os principais temas analisados no AQAB são: a) a configuração

territorial; b) as características socioeconômicas que configuram o campo; c) a

estrutura fundiária; d) a produção agropecuária; e) a luta pela terra e sua

conquista; f) a violência no campo. O recorte da agricultura camponesa será outro

tema importante a ser adicionado ao Atlas.

Para iniciarmos uma reflexão sobre a questão agrária brasileira devemos nos

remeter à ocupação do território brasileiro, pois esse processo e seus

desdobramentos influenciam a questão agrária atual. As capitanias hereditárias

foram o primeiro processo de apropriação do território brasileiro pelos colonizadores,

sistema instituído no Brasil em 1536 pelo rei de Portugal, Dom João III, criando 14

capitanias, divididas em 15 lotes e distribuídas a 12 donatários, que eram

representantes da nobreza portuguesa. A condição para a manutenção concessão de

uso era a produção na terra e o consequente pagamento de tributos à Coroa. Segundo

Faoro (2000) “a coroa conseguiu formar, desde os primeiros golpes da conquista,

imenso patrimônio rural [...] cuja propriedade se confundia com o domínio da casa

real.” (p.22).

A partir das capitanias hereditárias, as terras foram ocupadas com o regime

de sesmarias, que eram parcelas de terra cujo uso era concedido ao sesmeiro ante a

circunstância de promover o desbaste da mata e produzir na terra. Graziano da Silva

(1980) salienta que o regime de sesmarias foi preponderante na formação do

latifúndio sob trabalho escravo no sistema agrícola “plantation”. Naquele período a

colônia, Brasil, tinha quase todas as suas atividades econômicas voltadas para

agricultura comercial. (GRAZIANO DA SILVA, 1980).

No início do século XIX, com a independência do Brasil, o regime de

sesmarias como forma de apropriação da terra cessou. Outro processo importante

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acontece em meados do mesmo século - o declínio do regime escravocrata, sendo

sine qua non para entender a questão agrária no período que se estende de 1822 até

1850, quando todas as concessões de terras foram suspensas, não havendo nenhum

tipo de lei que o ordenasse até 1850, ano em que foi promulgada a Lei de Terras.

Nesse período, conforme Feliciano,

A formação de ocupações das terras deu-se, portanto, através do denominado regime de posse de terrenos devolutos. Esse período comportou dois tipos de posses no Brasil. A grande ocupação, proveniente tanto das concessões anteriores, assim como sua própria expansão, pelos grandes apossamentos (sesmarias que não tinham sido regularizadas); e também as pequenas posses, que surgiram com a ousadia de colonos ou imigrantes, os quais não tinham outra possibilidade de reprodução senão pela ocupação acompanhada do cultivo e aproveitamento do solo. (FELICIANO, 2009, p.66)

A Lei de Terras instituía uma mudança na estrutura fundiária no que tange a

propriedade das terras. Segundo Martins (1981) “a Lei de Terras proibia a abertura

de novas posses, estabelecendo que ficavam proibidas as aquisições de terras

devolutas por outro título que não fosse o de compra.” Em 1888 ocorre a abolição da

escravidão, mas da Lei de Terras de 1850 já havia cuidado para que a massa a ser

liberta e os imigrantes que haviam de chegar não tivessem acesso à terra e

continuassem (tanto a terra quanto os trabalhadores) sob o domínio dos grandes

proprietários, tendo reflexos até hoje. Era o cativeiro da terra como homem livre

(MARTINS, 2010). A Lei de terras culminou na mercantilização da terra, a terra

virando mercadoria, condição profícua para o conflito (FELICIANO, 2009).

O “trabalho livre” é consolidado no Brasil, especialmente na região Sudeste,

destaca-se o estado de São Paulo, onde o café foi a principal monocultura presente,

assim formando a oligarquia cafeeira do estado de São Paulo. No período que se

estende de 1889 a 1929, o Brasil vive o que ficou conhecido como “República

Velha”. Segundo Germani (2006), “em 15 de novembro de 1889, um golpe militar

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alterou o regime político do país, que passou de Império a República Federativa”.

Com a elaboração da constituição brasileira de 1981, instalou-se o federalismo,

descentralizando o poder legislativo. Feliciano (2009) evidencia que:

[...] ficou transferido aos Estados da Federação o poder de atuar sobre as terras devolutas. Com isso, os Estados passaram a ter o controle para legislar, agora sobre suas terras (exceto sobre a faixa de fronteira e de marinha), além de fixar normas sobre as demais atividades, como, por exemplo, imigração e agricultura. (FELICIANO, 2009, p. 67).

Os elementos que perpassam a questão agrária no período da República

Velha evidenciam uma estrutura fundiária concentrada na mão das oligarquias e dos

coronéis e uma grande produção de café para o mercado externo. Várias revoltas

camponesas acontecem no campo brasileiro no período da República Velha, como a

guerra de Canudos e do Contestado, Martins (1981) afirma que:

As primeiras grandes lutas camponesas no Brasil coincidiram com o fim do Império e o começo da República. Nas movimentações predominantemente camponesas, mas exclusivamente, do sertão de Canudos, na Bahia (1893-1897), e sertão do Contestado, no Paraná e em Santa Catarina (1912-1916), foram apresentadas e violentamente combatidas, por forças militares compostas por milhares de soldados do Exercito e das politicas estaduais, como se fossem tentativas de restauração monárquica. (MARTINS, 1981, p.41)

As Ligas Camponesas eclodem no Nordeste brasileiro em meados das

décadas de 40 e 50. O Partido Comunista Brasileiro (PCB) foi o principal

organizador da luta dos camponeses frente ao latifúndio e pela reforma agrária neste

período, a sua grande atuação se dá pelo momento politico vivido no Brasil.

Movimento das Ligas Camponesas possuem grande relevância na

contextualização da questão agrária brasileira, pois a partir das Ligas a reforma

agrária tornou-se assunto significativo nível nacional, em Oliveira (2007, p.106) é

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visto essa afirmação, “Foi, portanto, com as Ligas Camponesas, nas décadas de 40 a

60, que a luta pela reforma agrária no Brasil ganhou dimensão nacional”. A reforma

agrária era tratada com urgência pelas Ligas, “Reforma agrária na lei ou na marra”,

sendo o lema principal.

João Goulart, presidente do Brasil (1961 a 1964), período em que as Ligas

estavam atuando em pró da reforma agrária, cria em 1962 a Superintendência da

Política Agrária (SUPRA), que tinha como principal intuito executar programas de

colonização e reforma agrária. Carvalho (2005) acentua que:

No dia 13 de março de 1964, foi assinado pelo presidente da república o decreto prevendo a desapropriação para fins de reforma agrária das terras localizadas numa faixa de dez quilômetros ao longo das rodovias, ferrovias e açudes construídos pela União. (CARVALHO, 2005, p.3)

Em abril de 1964 acontece o golpe de Estado, estabelecendo a Ditadura

Militar no país. Oliveira (2007) evidencia que:

O movimento militar de 64, que assumiu o controle do país, instaurou a perseguição e “desaparecimento” das lideranças do movimento das Ligas Camponesas, e sua desarticulação foi inevitável. Deu-se, aí, o início de um grande número de assassinatos no campo brasileiro. (OLIVEIRA, 2007, p.110)

O período da Ditadura Militar é estreitamente importante frente à questão

agrária brasileira e sobre o objeto da pesquisa, a análise da agricultura camponesa no

Atlas da Questão Agrária. Neste período, a modernização da agricultura, fronteira

agrícola e o Estatuto da Terra são características que implicam sobre campesinato de

forma devastadora e também sobre o território brasileiro.

O Estatuto da Terra foi promulgado em 30 de novembro de 1964, segundo

Andrade (1989) essa lei orientava a politica de reforma e desenvolvimento agrário

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no país e criava institutos, de Reforma Agrária (IBRA) e de Desenvolvimento

Agrário (INDA), que substituíram a Superintendência da Reforma Agrária (SUPRA).

As principais finalidades da lei compreendiam segundo Andrade (1989):

Realizar uma melhor distribuição da propriedade, classificar os imóveis em categorias, dar função social à propriedade, criar o Fundo Nacional de Reforma Agrária, fazer zoneamento e levantamentos cadastrais, patrocinar a colonização oficial e particular, apoiar o desenvolvimento do cooperativismo, estimulando a implantação das Cooperativas Integrais de Reforma Agrária (CIRA), estimular o seguro agrícola, regulamentar a arrendamento rural, como a parceria agrícola, pecuária e extrativista. (ANDRADE, 1989, p.44).

Martins (1985) afirma que o verdadeiro caráter do Estatuto da Terra é a

função de controle das tensões sócias e dos conflitos gerados por esse processo de

expropriação e concentração da propriedade e do capital, o Estatuto garante a partir

das suas aplicações, desmobilizar os conflitos e garantir o desenvolvimento

econômico baseado nos incentivos à progressiva e ampla penetração do grande

capital agropecuário. Assim, Martins (1985) também contribui:

O próprio Estatuto da Terra foi elaborado de tal forma que se orienta para estimular e privilegiar o desenvolvimento e a proliferação da empresa rural. O destinatário privilegiado do Estatuto não é o camponês, o pequeno lavrador apoiado no trabalho da família. O destinatário do Estatuto é o empresário, o produtor dotado de espírito capitalista, que organiza a sua atividade econômica segundo os critérios da racionalidade do capital. (MARTINS, 1985, p.33).

A faceta da modernização da agricultura ou industrialização da agricultura

se dá segundo Delgado (1985) e Graziano da Silva (1996), diante da mudança da

base técnica da produção no campo. A modernização da agricultura é predominante

na Ditatura militar a partir da década de 1960.

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A modernização da agricultura, junto com o discurso da Ditatura militar em

ocupar o território brasileiro como quesito de segurança nacional, motivou a

expansão da fronteira agrícola para os meandros da Amazônia e do Cerrado.

Segundo Girardi (2008):

No início da década de 1970 o Centro-Oeste brasileiro (região dos cerrados) e a região amazônica passaram a ser a nova fronteira agropecuária brasileira. Configurada até então pela baixa densidade de ocupação e grande disponibilidade de terras, a região passou a receber os contingentes de camponeses expropriados de outras regiões e, ao mesmo tempo, o investimento de capitais produtivos e especulativos. O Estado teve papel determinante na definição desta nova fronteira agropecuária, ainda em expansão atualmente. A ocupação dessas novas áreas de fronteira ocorreu a partir de projetos de colonização públicos e privados em uma parceria entre Estado e capital. Grandes porções de terras foram vendidas a preços irrisórios ou doadas a empresas privadas para o estabelecimento dos projetos de colonização ou extrativismo florestal e mineral. (p.127).

A relação da fronteira agrícola com a modernização da agricultura se dá pelo

fato da expropriação do campesinato pela expansão das monoculturas, requerendo

grande proporção de terra, dessa forma o êxodo rural é imposto pela modernização,

segundo Girardi (2008)

A migração para a fronteira agropecuária a partir do final da década de 1960 e início da década de 1970 foi ocasionada principalmente pela modernização da agricultura e consequente êxodo rural, pela não realização da reforma agrária nas áreas já densamente ocupadas e pela não solução do problema da seca e da pobreza no Nordeste. (p.312).

Nesse contexto da modernização conservadora surge o que é hoje um dos

maiores movimentos socioterritoriais do Brasil, o movimento dos trabalhadores sem

terra (MST). De fato, a gênese do MST se dá neste contexto, segundo Stedile e

Fernandes:

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No sul do país, considerado o berço do MST, o fenômeno da introdução da soja agilizou a mecanização da agricultura, seja no Rio Grande do Sul, com uma lavoura casada com o trigo, que já tinha uma certa tradição, seja no Paraná, como uma alternativa ao café. A mecanização da lavoura e a introdução, digamos, de uma agricultura com características mais capitalistas expulsaram do campo, de uma maneira muito rápida, grandes contingentes populacionais. (STEDILE e FERNANDES, p.15, 2005).

Os problemas da questão agrária, relativos à vida e produção no campo,

compõem o conjunto de questões estruturais que barram outro modelo de

desenvolvimento para o país, mantendo suas características contraditórias em favor

de um pequeno número privilegiados que detém os meios de produção e controla a

política e as finanças. Com apenas 15,8% da população rural e a extinção de 1,5

milhões de postos de trabalho no campo no período 1996-2006, o Brasil é o quinto

maior exportador mundial de produtos agropecuários, especialmente soja, açúcar e

álcool, suco de laranja, café, papel e celulose, fumo, algodão e milho, além de ser o

maior exportador mundial de carne. Ao lado, convivemos com indicadores de

extrema desigualdade social e concentração da riqueza, inclusive da terra, fruto do

cercamento secular promovido no país, tornando as desigualdades do campo ainda

mais graves. (OLIVEIRA, 2007).

Em 2003 o índice de Gini da estrutura fundiária brasileira era de 0,816, valor

que indica alta concentração da propriedade. Entre 1992 e 2003 o índice caiu de

0,826 para 0,816, uma redução ínfima que indica que o grau de concentração da

estrutura fundiária brasileira se manteve praticamente intocado ao longo de mais de

uma década. A utilização da terra no Brasil é ainda bastante extensiva,

predominando as áreas de pastagens. Segundo o IBGE, em 2006, 330 milhões de

hectares dos estabelecimentos agropecuários, 18,9% eram ocupados com lavouras,

50% com pastagens e 31% com matas e florestas.

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Na divulgação dos dados do Censo Agropecuário 2006 o IBGE (2006)

realizou, com base na Lei 11.326, de 24 de julho de 2006, um recorte nos dados que

permitisse a seleção dos estabelecimentos agropecuários familiares2 e não familiares.

Segundo este recorte, os estabelecimentos de base familiar são 84,4% dos

estabelecimentos agropecuários brasileiros e compreendem 24,3% da área total dos

estabelecimentos, com área média de 18,4 ha. A área utilizada com pastagens nos

estabelecimentos familiares em 2006 representava 45% da área total desses

estabelecimentos e as lavouras ocupavam naquele ano 22% da área. Segundo o

IBGE (2006) a agricultura familiar é determinante no suprimento de alimentos para

o país e teve a seguinte participação na produção nacional: 87% da mandioca, 70%

do feijão, 46% do milho, 38% do café, 34% do arroz, 58% do leite, 59% do rebanho

suíno, 50% do rebanho de aves e 30% dos bovinos. (IBGE, 2006). Esses dados

indicam a grande contribuição desse modelo de agricultura para o atendimento à

demanda interna de alimentos no Brasil, sendo esta mais uma justificativa para

intensificar seu estudo, objetivo da presente proposta de pesquisa.

O recorte feito pelo IBGE nos dados do Censo Agropecuário 2006 mostra

que 74,7% dos agricultores familiares eram proprietários das terras. Os

estabelecimentos familiares eram responsáveis por 74,4% do pessoal ocupado em

todos os estabelecimentos brasileiros, sendo que 90% do pessoal ocupado em

estabelecimentos familiares possuíam laço de parentesco com o produtor. Os

estabelecimentos familiares respondiam por um terço da receita dos

estabelecimentos brasileiros, porém 31% dos estabelecimentos familiares declararam

não ter tido rendimento no ano de 2006. O rendimento médio dos estabelecimentos

familiares que declararam ter tido rendimentos em 2006 foi de R$ 13,6 mil e 39%                                                                                                                                        2 Nesta parte do texto utilizamos o termo agricultura familiar por tratarmos da definição dada pelo IBGE. Contudo, no trabalho adotamos o termo agricultura camponesa que, em nossa compreensão, é sinônimo de agricultura familiar, sendo a base o trabalho familiar.

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dos estabelecimentos familiares declararam ter tido em 2006 outras formas de

rendimento externos ao estabelecimento, as quais perfaziam a média de R$ 4,5 mil,

sendo provenientes principalmente de pensões, aposentadorias e salários. Quanto ao

financiamento, apenas 17,9% dos estabelecimentos familiares captou alguma forma

de financiamento.

Numa breve conclusão, na análise desses dados preliminares podemos

afirmar que a agricultura camponesa brasileira é decisiva para o suprimento dos

alimentos no país, principal responsável pelos postos de trabalho gerados no campo

e, contraditoriamente, detentora de pouca terra, de baixo rendimento monetário e

independente dos projetos governamentais, que se reduzem basicamente ao crédito,

não captado pela grande maioria dos estabelecimentos familiares. O detalhamento

dessas características gerais será perseguido no desenvolvimento desta pesquisa,

sendo que o mapeamento de todas essas informações tomando como recorte a

agricultura familiar, as quais ainda não constam no AQAB, será a principal

contribuição deste projeto de iniciação científica.

Atualmente, uma das principais forças da dinâmicas do campo brasileiro tem

sido o avanço do setor sucroalcooleiro, que ocorre principalmente no estado de São

Paulo e transborda para os estados vizinhos do Paraná, Mato Grosso do Sul, Minas

Gerais e também de Goiás. Essa territorialização tem impactado a agricultura

camponesa. No estado de São Paulo o setor sucroalcooleiro se territorializa em

direção ao oeste e se consolida em áreas onde já marcava presença em meados da

década de 1990. O Governo estadual e os governos municipais apostam no setor

como gerador de riqueza e emprego, não medindo esforços para a atração das

plantas industriais para suas áreas. Este processo cria municípios dependentes e

estruturados para a produção da cana-de-açúcar neles e a agricultura é impactada

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diretamente, principalmente com a pressão para o arrendamento das terras e poluição

por agrotóxicos pulverizados por avião, que podem até inviabilizar outras culturas

em terras próximas aos canaviais.

O desenvolvimento do setor sucroalcooleiro tem repercussões diretas na

questão agrária brasileira. O primeiro aspecto diz respeito à concorrência da

produção de cana-de-açúcar com culturas alimentares e com o rebanho de gado de

leite. Embora a cana ocupe uma pequena porcentagem da área cultivável do país, ela

está nas melhores terras, principalmente em São Paulo e no Paraná, áreas em que a

produção de alimentos poderia ser desenvolvida de forma mais adequada, já que

estão próximas dos grandes centros e também a necessidade de insumos seria menor.

Os dados mostram que, embora o Zoneamento Agroecológico da Cana (MAPA,

2009) tenha proibido a expansão do seu Plantio na Amazônia, Pantanal e Alto

Paraguai, o crescimento da área plantada no Centro-Sul tem deslocado o rebanho

bovino de corte e de leite para essas regiões, forçando a expansão e consolidação da

fronteira agropecuária. Além de competir a respeito do uso da terra com outras

culturas socialmente mais importantes, a cana-de-açúcar também força a alta do

preço da terra, dos insumos e capta recursos do Estado voltados à agricultura e que

poderiam ser utilizados para outros fins. A própria burguesia agrária dos diferentes

setores entra em um conflito setorial. (GIRARDI, 2011; NOVO et al., 2010;

SCHLESINGER, 2007).

Outro impacto importante que a cana-de-açúcar representa na questão

agrária é quanto à consolidação das grilagens de terra e a desarticulação da luta pela

terra (FERNANDES; WELCH; GONÇALVES, 2010; GIRARDI, 2011; THOMAZ

JR., 2009), pois torna menos contundente os preceitos constitucionais de

produtividade – embora não ocorra o mesmo com o preceito de função social. A

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cultura da cana promove este processo nas áreas de ocupação mais antiga, a exemplo

do Pontal do Paranapanema, cujos problemas de legalidade da terra são bastante

evidentes (FERNANDES, 1999; LEITE, 1998; MONBEIG, 1984 [1949]), mas

também na fronteira agropecuária, já que os grandes latifúndios passam à criação de

gado bovino com a migração do rebanho. (GIRARDI, 2011). Thomaz Jr. (2009)

demonstra que o setor sucroalcooleiro promove um rearranjo da estrutura agrária

com financiamento do BNDES, sendo este processo muito conveniente à burguesia

agrária, que passa a se apropriar de forma crescente da renda da terra, além de ver as

possibilidades de contestação da produtividade de sua terra se esvaírem.

Um terceiro impacto da cana-de-açúcar na questão agrária é relativo à

entrada da cana dos assentamentos rurais, o que ocorre principalmente no estado de

São Paulo, visto a grande área plantada da cultura e sua expansão para o Pontal do

Paranapanema, região com o maior número de assentamentos no estado. Isso ocorre

em parte pela ineficiência da política agrária, que não permite ao assentado

condições adequadas de produção, sendo obrigado a submeter-se ao arrendamento

de sua terra ou ao cultivo da cana. Trata-se de uma questão complexa a ser analisada

a partir das possibilidades e perspectivas de produção e permanência dos assentados

nos lotes. (FERNANDES; WELCH; GONÇALVES, 2010; GONÇALVES, 2011;

THOMAZ JR., 2009).

É a partir da problemática apresentada que desenvolveremos dos objetivos

do projeto, contribuindo com o Atlas da Questão Agrária Brasileira e analisando a

agricultura camponesa especificamente no estado de São Paulo, incluindo os

impactos que sofreu recentemente com a expansão do setor sucroalcooleiro. Todo

esse trabalho terá como procedimento metodológico principal o mapeamento e

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análise exploratória de dados (visualização cartográfica) (GIRARDI, 2008), que será

subsidiado por trabalho de campo exploratório e leituras.

2. OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Auxiliar na atualização e no aprimoramento do Atlas da Questão Agrária

Brasileira tendo como foco e recorte o mapeamento e análise da agricultura

camponesa no estado de São Paulo.

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

1. Auxiliar na atualização do Atlas da Questão Agrária Brasileira com o

mapeamento, em escala nacional, dos dados de 2006 até 2012 dos diversos temas

que compõem o Atlas, já que os dados mais recentes mapeados e publicados no

AQAB são de 2006, os mais atuais disponíveis no momento da sua publicação

em 2008. Neste processo será observado e analisado como o estado de São Paulo

está contextualizado no Brasil;

2. Aprimorar o AQAB com o mapeamento de dados específicos da agricultura

camponesa, disponibilizados principalmente pelo IBGE (mas também pelo

INCRA no caso da estrutura fundiária), os quais ainda não foram mapeados e

disponibilizados no Atlas. Quando o Atlas foi lançado, apenas parte dos dados do

Censo Agropecuário 2006 havia sido publicada e não havida sido disponibilizada

informação específica para a agricultura familiar, sendo os dados apenas totais

naquele momento. Hoje o IBGE já tem disponibilizados no site dados

selecionados da agricultura familiar a partir da classificação Lei 11.326, de 24 de

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julho de 2006 e segundo a classificação da FAO, o que permitirá enriquecer o

Atlas e ampliar as possibilidades de análise;

3. Realizar um diagnóstico e uma análise das dinâmicas recentes da agricultura

camponesa no estado de São Paulo, especialmente sua importância na produção e

no trabalho no campo, através de mapeamento exploratório, trabalhos de campo

exploratórios e discussão de bibliografia específica;

4. Investigar as implicações do avanço recente (a partir de 2013) do setor

sucroalcooleiro no estado de São Paulo para a agricultura camponesa e para a

produção de alimentos;

5. Contribuir com a disponibilização e divulgação de material cartográfico que

auxilie os diversos setores da sociedade e a academia na análise do tema da

questão agrária;

3. PLANO DE TRABALHO E CRONOGRAMA

1. Revisão bibliográfica sobre a questão agrária, agricultura camponesa e a

cartografia geográfica;

2. Levantamento e tratamento de dados junto ao IBGE e o INCRA;

3. Mapeamento dos dados;

4. Diagramação final dos mapas;

5. Análise dos dados com base na bibliografia revisada;

6. Apresentação dos resultados em eventos científicos;

7. Colóquios como orientador;

8. Elaboração de relatório.

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CRONOGRAMA DE ATIVIDADES

ATIVIDADE TRIMESTRE 1o 2o 3o 4o

1 x x x 2 x x x 3 x x x x 4 x x x x 5 x x 6 x 7 x x x x 8 x x

4. MATERIAL E MÉTODOS

Coleta e sistematização dos dados: serão coletados dados do IBGE,

principalmente do Censo Agropecuário de 2006, sobre os estabelecimentos

agropecuários classificados como familiares (o IBGE disponibiliza duas

classificações: segundo a Lei 11.326, de 24 de julho de 2006 e segundo a

classificação da FAO). Também serão utilizados dados do INCRA sobre a estrutura

fundiária, cuja base de classificação é o módulo fiscal. Esses dados serão

sistematizados em forma de tabelas, gráficos e mapas;

Mapeamento exploratório dos dados: os dados das três classificações acima

indicadas serão mapeados para o Brasil, sendo inseridos no AQAB e para o estado

de São Paulo, no segundo caso, com o objetivo de realizar análises específicas para a

agricultura camponesa no estado. Os mapas do Brasil também irão contribuir para a

análise do estado de São Paulo, pois permitirão fazer relações regionais das

dinâmicas verificadas. O mapeamento será realizado utilizando o programa Philcarto,

que permite também técnicas de exploração de dados (visualização cartográfica). Os

mapas passarão por diagramação final no Adobe Illustrator e todos serão publicados

no portal do Atlas da Questão Agrária Brasileira. Os dados do estado de São Paulo

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vão formar uma mapoteca específica no AQAB. Quando forem necessárias

ferramentas de SIG será utilizado o programa QGIS;

Revisão bibliográfica e discussão teórica: para dar subsídio às análises, serão

realizadas revisões bibliográficas sobre cartografia geográfica (base teórica e técnica

para aprimoramento da prática cartográfica) e sobre agricultura camponesa. O

objetivo será entender a discussão conceitual e política sobre agricultura camponesa

e agricultura familiar a partir da questão agrária. Também serão levantadas e

revisadas bibliografia mais ampla sobre a agricultura camponesa no Brasil;

Trabalho de campo: após o levantamento e análise inicial de dados serão

realizados três trabalhos de campo em regiões do estado de São Paulo que tenha

agricultura camponesa mais significativa na estrutura agrária, incluindo a

investigação sobre os impactos da expansão recente do setor sucroalcooleiro nessas

regiões, se for o caso. Esses trabalhos de campo possuem caráter exploratório, para

subsidiar as análises de dados e teóricas;

5. FORMA DE ANÁLISE DOS RESULTADOS

Os vários resultados conseguidos com a pesquisa, especialmente os dados

sistematizados, os mapas e as observações de campo serão analisados à luz da

bibliografia sobre agricultura camponesa. O foco da análise será compreender as

dinâmicas recentes da agricultura camponesa no estado de São Paulo tendo como

contexto o Brasil e o processo recente de territorialização do setor sucroalcooleiro no

estado de São Paulo. Com isso, objetivamos identificar e analisar as características

da agricultura camponesa paulista e sua importância na estrutura agrária atual, bem

como suas transformações recentes.

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