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  • DESENVOLVIMENTO DE UMA METODOLOGIA DE AVALIAO DE RISCOS AMBIENTAIS PARA APOIAR A ELABORAO DE PLANOS DE EMERGNCIA

    Patrcia Carla Mendes Pires

  • ii

    DESENVOLVIMENTO DE UMA METODOLOGIA DE

    AVALIAO DE RISCOS AMBIENTAIS PARA APOIAR A

    ELABORAO DE PLANOS DE EMERGNCIA

    Dissertao orientada por

    Professora Doutora Jlia Seixas

    Novembro de 2005

  • iii

    DESENVOLVIMENTO DE UMA METODOLOGIA DE

    AVALIAO DE RISCOS AMBIENTAIS PARA APOIAR A

    ELABORAO DE PLANOS DE EMERGNCIA

    RESUMO

    Neste trabalho apresenta-se uma metodologia para avaliao de riscos ambientais

    com o objectivo de contribuir para a elaborao de planos de emergncia. A

    metodologia - MARA composta por 5 etapas: (1) definio de mbito; (2)

    identificao de perigos; (3) caracterizao do risco; (4) anlise de vulnerabilidades e

    (5) avaliao do risco. Devido dimenso espacial que caracteriza o risco, a

    implementao da MARA inteiramente suportada por ferramentas de anlise

    espacial, sendo desenvolvida num Sistema de Informao Geogrfica, com recurso ao

    software ArcGis.

    A metodologia foi aplicada Pennsula da Mitrena, localizada no Esturio do Sado,

    concelho de Setbal, com o objectivo de avaliar os danos para o meio aqutico

    originados por um acidente envolvendo fuelleo (classificado como nocivo para

    organismos aquticos, podendo causar efeitos nefastos a longo prazo no ambiente

    aqutico), e contribuir para a elaborao de um plano de emergncia para resposta a

    acidentes envolvendo substncias perigosas. Foram avaliados potenciais danos

    ambientais em espcies pisccolas, poliquetas (utilizadas como isco para a pesca) e

    na comunidade de golfinhos roazes.

  • iv

    DESENVOLVIMENTO DE UMA METODOLOGIA DE

    AVALIAO DE RISCOS AMBIENTAIS PARA APOIAR A

    ELABORAO DE PLANOS DE EMERGNCIA

    ABSTRACT

    A methodology to assess environmental risk and vulnerability under an accident with

    dangerous substances to implement an emergency response is presented. The

    methodology - MARA - is developed in five steps: (1) scope definition; (2)

    identification of dangerous substances and estimation of quantities; (3) risk

    characterization with evaluation consequences and risk estimation; (4) environmental

    vulnerability and (5) risk assessment. Due to the explicit spatial dimension of the

    problem, the implementation of such a methodology is fully supported by geographic

    information data and tools, and is developed on a Geographic Information System

    (ArcGis Software).

    MARA was applied in Mitrena Peninsula located besides Sado estuary, at Setbal

    municipality, to assess the water damages associated with an accident involving fuel

    oil (classified as harmful to aquatic organisms and that may cause long term adverse

    effects in the aquatic environment) and contribute to develop a emergency plan to

    minimize the consequences. Potential environmental damages were evaluated in fish

    species, polychaete (used as fishing bait) and bottlenose dolphin.

  • v

    PALAVRAS-CHAVE

    Riscos ambientais

    Avaliao de riscos ambientais

    Vulnerabilidade

    Plano de emergncia

    MARA

    Esturio do Sado

    Fuelleo

    KEYWORDS

    Environmental risks

    Environmental risk assessment

    Vulnerability

    Emergency plan

    MARA

    Sado Estuary

    Fuel oil

  • vi

    ABREVIATURAS

    AIA Avaliao de Impacte Ambiental

    APSS Administrao dos Portos de Setbal e Sesimbra

    CPPE Companhia Portuguesa de Produo de Electricidade, S.A

    EDP Energias de Portugal, S.A.

    EEA European Environment Agency (Agncia Europeia do Ambiente)

    EPA Environmental Protection Agency (Agncia de Proteco do

    Ambiente dos Estados Unidos da Amrica)

    ERA Environmental Risk Assessment (Avaliao de Risco Ambiental)

    EcoRA Ecological Risk Assessment (Avaliao de Risco Ecolgico)

    EFFECTS Software tool for calculation of physical effects TNO

    MARA Metodologia de Avaliao de Riscos Ambientais

    MOHID 3D Water Modelling System Maretec

    RNES Reserva Natural do Esturio do Sado

    SIG Sistema de Informao Geogrfica

    TPSS Terminal Porturio Praias do Sado

    ZPE Zona de Proteco Especial para a Avifauna

  • vii

    AGRADECIMENTOS

    Professora Doutora Jlia Seixas por todo o apoio dado ao longo da orientao,

    especialmente pelo pragmatismo nas diversas reunies de trabalho;

    Eng. Catarina Venncio, Chefe da Diviso de Riscos Naturais e Tecnolgicos do

    Servio Nacional de Bombeiros e Proteco Civil, por todo o apoio para que este

    trabalho fosse realizado;

    Eng.. ngela Canas e ao Eng. Frank Braunschweig, do MARETEC/IST pela

    simpatia com que esclareceram as dvidas de modelao com o MOHID.

  • viii

    NDICE DO TEXTO

    RESUMO...............................................................................................................................iii ABSTRACT .......................................................................................................................... iv PALAVRAS-CHAVE................................................................................................................ v KEYWORDS.......................................................................................................................... v ABREVIATURAS .................................................................................................................. vi AGRADECIMENTOS.............................................................................................................vii NDICE DE TABELAS........................................................................................................... xi NDICE DE FIGURAS...........................................................................................................xii 1. Introduo ................................................................................................................ 1

    1.1 Enquadramento.................................................................................................. 1 1.2 Objectivos .......................................................................................................... 3 1.3 Organizao da dissertao ............................................................................... 4

    2. Estado da arte .......................................................................................................... 5 2.1 Definies........................................................................................................... 5

    2.1.1 Perigo............................................................................................................. 5 2.1.2 Substncias perigosas.................................................................................... 6 2.1.3 Risco .............................................................................................................. 6 2.1.4 Dano ambiental.............................................................................................. 7 2.1.5 Vulnerabilidade .............................................................................................. 7 2.1.6 Acidente grave ............................................................................................... 7 2.1.7 Planos de emergncia.................................................................................... 8 2.1.8 Avaliao de risco .......................................................................................... 9

    2.2 Metodologias de avaliao de risco ambiental................................................. 10 2.2.1 Banco Mundial.............................................................................................. 11 2.2.2 Agncia de Proteco do Ambiente (EPA) ................................................... 13 2.2.3 Norma experimental UNE 15008EX:2000 (AENOR)..................................... 14 2.2.4 Direco-Geral de Proteco Civil de Espanha ............................................ 15 2.2.5 Discusso ..................................................................................................... 15

    2.3 Dimenso espacial do risco .............................................................................. 17 3. Desenvolvimento de uma Metodologia de Avaliao de Riscos Ambientais........... 19

    3.1 Definio de mbito ......................................................................................... 21 3.2 Identificao de perigos ................................................................................... 22 3.3 Caracterizao do risco .................................................................................... 23

  • ix

    3.3.1 Anlise de consequncias ............................................................................ 23 3.3.2 Estimao do risco ....................................................................................... 25

    3.4 Anlise de vulnerabilidades .............................................................................. 26 3.5 Avaliao do risco ............................................................................................ 26

    4. Aplicao da Metodologia de Avaliao de Riscos Ambientais - MARA .................. 27 4.1 Definio de mbito ......................................................................................... 27

    4.1.1 Objectivo ...................................................................................................... 28 4.1.2 Pressupostos ................................................................................................ 29 4.1.3 Caracterizao da rea de estudo ............................................................... 29

    4.2 Identificao de perigos ................................................................................... 43 4.2.1 Identificao de perigos............................................................................... 43 4.2.2 Identificao de acidentes envolvendo fuelleo .......................................... 44 4.2.3 Inventrio de fuelleo.................................................................................. 45 4.2.4 Carta de perigos........................................................................................... 49

    4.3 Caracterizao do risco .................................................................................... 50 4.3.1 Anlise de consequncias ............................................................................ 51 4.3.2 Estimao de frequncias ............................................................................ 70

    4.4 Anlise de vulnerabilidades .............................................................................. 72 4.4.1 Captura de Poliquetas.................................................................................. 72 4.4.2 Ictiofauna..................................................................................................... 73 4.4.3 Golfinhos Roazes.......................................................................................... 76

    4.5 Avaliao de riscos ........................................................................................... 77 5. Contributos para a elaborao de um Plano de Emergncia.................................. 79

    5.1 Medidas destinadas a limitar os danos para o ambiente ................................. 80 5.2 Equipamentos e recursos ................................................................................. 83

    6. Operacionalizao do Sistema de Informao Geogrfica...................................... 84 6.1 Avaliao de necessidades de dados espaciais................................................ 85 6.2 Desenho fsico e conceptual............................................................................. 86 6.3 Insero de dados............................................................................................ 87

    6.3.1 Digitalizao de dados ................................................................................. 87 6.3.2 Resultados do EFFECTS ............................................................................... 87 6.3.3 Resultados do MOHID.................................................................................. 88

    6.4 implementao final ......................................................................................... 89 7. Concluses .............................................................................................................. 90 8. Referncias Bibliogrficas ....................................................................................... 92 Anexo 1- Glossrio........................................................................................................... 101

  • x

    Anexo 2- Caracterizao ambiental do esturio do Sado ................................................ 104 Anexo 3- Ficha de dados de segurana do fuelleo........................................................ 114 Anexo 4- Dados de entrada do modelo MOHID .............................................................. 132 Anexo 5- Resultados do MOHID ...................................................................................... 144 Anexo 6- Carta de risco - reas afectadas por um derrame de fuelleo ........................ 153 Anexo 7- Relatrio de acidente grave ............................................................................. 156

  • xi

    NDICE DE TABELAS

    Tabela 3-1 Tipologia de acidentes graves ......................................................................... 25 Tabela 4-1 Estatutos de conservao definidos para o esturio do Sado ......................... 32 Tabela 4-2 Estabelecimentos abrangidos pelo Decreto-Lei n 194/2001 ......................... 42 Tabela 4-3 Estabelecimentos abrangidos pelo Decreto-Lei n 164/2001 ......................... 43 Tabela 4-4 Inventrio de fuelleo no Parque de Armazenagem da Tanquisado - Terminais

    Martimos, S.A. ........................................................................................................... 46 Tabela 4-5 Inventrio de fuelleo no Centro de Produo Setbal da CPPE S.A.............. 47 Tabela 4-6 Movimento de fuelleo no esturio do Sado ................................................... 48 Tabela 4-7 Cenrio 1 - Parmetros de entrada do EFFECTS ........................................... 55 Tabela 4-8 Cenrio 1 - Nveis de radiao resultantes de um incndio tipo piscina ........ 56 Tabela 4-9 Danos resultantes exposio a diferentes nveis de radiao ...................... 56 Tabela 4-10 Cenrio 2- reas do esturio potencialmente afectadas por um derrame de

    fuelleo....................................................................................................................... 61 Tabela 4-11 Cenrio 3 Parmetros de entrada do EFFECTS .......................................... 64 Tabela 4-12 Cenrio 3 Nveis de radiao resultantes de um incndio tipo piscina ...... 64 Tabela 4-13 Cenrio 4 reas do esturio do Sado potencialmente afectadas por um

    derrame ...................................................................................................................... 67 Tabela 4-14 Ictiofauna potencialmente afectada por um derrame de fuelleo ................ 75 Tabela 4-15 reas de presena de golfinhos roazes potencialmente afectadas por um

    derrame ...................................................................................................................... 77 Tabela 6-1 Dados espaciais para caracterizao da rea de estudo.............................. 85 Tabela 6-2 Dados espaciais a importar para o SIG ......................................................... 86 Tabela 6-3 Atributos dos dados geogrficos .................................................................. 86 Tabela 6-4 Operaes de anlise espacial....................................................................... 89

  • xii

    NDICE DE FIGURAS

    Figura 3-1 Metodologia de Avaliao de Riscos Ambientais (MARA) ................................ 22 Figura 4-1 Localizao do esturio do Sado ...................................................................... 30 Figura 4-2 Delimitao da RNES ( esquerda) e ZPE ( direita)...................................... 33 Figura 4-3 Sitio Esturio do Sado - PTCON00011 ............................................................. 34 Figura 4-4 Locais de ocorrncia de savelha ...................................................................... 35 Figura 4-5 Locais de ocorrncia de enguia........................................................................ 36 Figura 4-6 Locais de ocorrncia do sargo.......................................................................... 37 Figura 4-7 Locais de ocorrncia do linguado..................................................................... 37 Figura 4-8 Locais de ocorrncia do charroco..................................................................... 38 Figura 4-9 Locais de ocorrncia de roazes ........................................................................ 39 Figura 4-10 Locais de captura do minhoco ..................................................................... 40 Figura 4-11 Carta de localizao de perigos .................................................................. 50 Figura 4-12 rvore de eventos considerados na aplicao da MARA............................... 52 Figura 4-13 rvore de eventos Derrame com origem em reservatrio de fuelleo ....... 54 Figura 4-14 Interface do EFFECTS .................................................................................... 55 Figura 4-15 Cenrio 1 rea potencialmente afectada por nveis de radiao superiores a

    1,7kW/m2 ................................................................................................................... 57 Figura 4-16 Cenrio 2a Derrame com inicio em baixa-mar com origem na CPPE S.A.

    (esq) e Tanquisado S.A.(dta) ..................................................................................... 59 Figura 4-17 Cenrio 2b Derrame com incio em preia-mar com origem na CPPE (esq) e

    Tanquisado (dta) ........................................................................................................ 60 Figura 4-18 Cenrio 2 - reas do esturio potencialmente afectadas por um derrame de

    fuelleo....................................................................................................................... 61 Figura 4-19 rvore de eventos- Derrame com origem em veiculo-cisterna...................... 63 Figura 4-20 Cenrio 3 - rea potencialmente afectada por nveis de radiao superior a

    1,7 kW/m2.................................................................................................................. 65 Figura 4-21 rvore de eventos em derrame de fuelleo com origem em navio ............... 66 Figura 4-22 Cenrio 4 - reas do esturio do Sado potencialmente afectadas por um

    derrame ...................................................................................................................... 67 Figura 4-23 Cenrio 4a - Derrame com inicio em baixa-mar com origem no Terminal

    Porturio de Praias do Sado (esq) e Terminal Porturio da Tanquisado (dta) ......... 68 Figura 4-24 Cenrio 4b - Derrame com inicio em preia-mar com origem no Terminal

    Porturio de Praias do Sado (esq) e Terminal Porturio da Tanquisado (dta) ......... 69

  • xiii

    Figura 4-25 Carta de risco - reas afectadas por um derrame de fuelleo....................... 71 Figura 4-26 Carta de vulnerabilidades - locais de captura de minhoco potencialmente

    afectados por um derrame de fuelleo ...................................................................... 73 Figura 4-27 Cartas de vulnerabilidades - locais de ocorrncia da savelha (esquerda) e da

    enguia (direita) potencialmente afectados por um derrame...................................... 74 Figura 4-28 Cartas de vulnerabilidades - locais de ocorrncia do sargo (esquerda) e da

    linguado (direita) potencialmente afectados por um derrame................................... 74 Figura 4-29 Carta de vulnerabilidades -locais de ocorrncia de charroco potencialmente

    afectados por um derrame ......................................................................................... 75 Figura 4-30 Carta de vulnerabilidades - Locais de presena de golfinhos roazes

    potencialmente afectados por um derrame ............................................................... 76 Figura 6-1 Processo de desenho da base de dados SIG ................................................... 84

  • Introduo

    1

    1. INTRODUO 1.1 ENQUADRAMENTO

    Os acidentes ocorridos nos ltimos anos que envolveram a emisso para o ambiente

    de substncias perigosas, como o acidente de Doana em 1998, o acidente de Baia

    Mare em 2000 e o acidente com o navio Prestige em 2002, originaram impactes

    econmicos e ambientais relevantes, provocando danos graves para os ecossistemas

    aquticos (EEA, 2003b). Como consequncia, os Estados-Membros da Unio

    Europeia consciencializaram-se dos riscos ambientais associados a acidentes

    envolvendo substncias perigosas, reforando a necessidade de implementao de

    medidas de preveno de acidentes graves e minimizao de consequncias quando

    estes ocorram.

    A nvel europeu, a preveno de acidentes com potenciais impactes no ambiente

    est prevista na Directiva Seveso II (Directiva 96/82/CE), Directiva PCIP (Directiva

    96/61/CE) e Directiva de Responsabilidade Ambiental (Directiva 2004/35/CE). A

    Directiva Seveso II, transposta para o direito nacional pelo Decreto-Lei n 164/2001,

    tem como objectivo a preveno de acidentes graves que envolvam substncias

    perigosas e, em caso de ocorrncia de acidentes, limitar as suas consequncias para

    o homem e para o ambiente.

    A Directiva PCIP, relativa Preveno e Controlo Integrado de Poluio, transposta

    em Portugal pelo Decreto-Lei n 194/2001, assenta na implementao de medidas

    de preveno, destinadas a evitar ou, quando tal no for possvel, reduzir, as

    emisses de determinadas actividades para o ar, gua e solo.

    A Directiva 2004/35/CE, a transpor para o direito nacional at 2007, tem como

    objectivo estabelecer um quadro baseado na responsabilidade ambiental, mediante o

    qual os danos ambientais possam ser alvo de preveno ou reparao e, em caso de

    acidente que provoque danos para o ambiente, sejam tomadas as necessrias

    medidas de reparao.

  • Introduo

    2

    A aplicao de metodologias de avaliao de riscos est explicita apenas na Directiva

    Seveso II, mas no entanto, a sua aplicao em estabelecimentos abrangidos pelas

    Directivas PCIP e Responsabilidade Ambiental, permite a identificao de medidas a

    aplicar, com vista ao cumprimento dos objectivos preconizados na legislao. As

    metodologias desempenham um papel fundamental para a previso, gesto e

    mitigao dos riscos, quer para os estabelecimentos abrangidos, quer para as

    autoridades de proteco civil (Lonka, 1999), como ferramenta para apoio deciso

    na escolha de medidas para diminuio do risco.

    Na Unio Europeia, a preveno de acidentes graves e a anlise das suas

    consequncias, em particular aqueles que envolvem substncias perigosas, uma

    das principais actividades desenvolvidas pelos Estados-Membros na rea da

    proteco civil (Lonka, 1999). Neste contexto, a aplicao de metodologias de

    avaliao de risco para identificao de locais onde a ocorrncia de um acidente

    mais provvel, permite a preparao da resposta adequada, minimizando os danos

    em pessoas, bens e ambiente (EEA, 2003a). As metodologias de anlise de risco so

    uma ferramenta essencial na elaborao de planos de emergncia, uma vez que

    permitem avaliar de modo sistemtico os riscos e vulnerabilidades existentes,

    identificar prioridades de actuao e definir as medidas de interveno necessrias,

    obtendo-se um melhor nvel de preparao para a emergncia e consequentemente

    uma potencial minimizao das consequncias originadas por um acidente (EPA,

    1997).

    No entanto, nos diversos Estados-Membros, as metodologias de avaliao e anlise

    de risco so usadas principalmente pelos operadores de estabelecimentos industriais,

    de modo a dar cumprimento a disposies legislativas, no frequente a sua

    implementao pelas autoridades com o objectivo de aumentar o nvel de resposta a

    uma emergncia e dimensionar correctamente os meios e recursos num acidente a

    nvel local (Lonka, 2002).

  • Introduo

    3

    Com o objectivo de fomentar a implementao de metodologias de avaliao de risco

    pelas autoridades de proteco civil, no mbito da resposta a acidentes graves, foi

    promovida pela Comisso Europeia a criao de grupos de trabalho para definio de

    directrizes e linhas de actuao. Em 2003 foram identificadas como prioridades (i) a

    definio de metodologias para identificao de nveis de risco; (ii) elaborao de

    mapas de risco; (iii) elaborao de planos de emergncia; (iv) implementao de

    medidas para a reduo dos riscos ou a adopo de medidas de minimizao quando

    o risco atinja um nvel inaceitvel (Directorate-General Environment, 2003).

    Por este motivo, a resposta a acidentes envolvendo substncias perigosas deve ser

    estudada e preparada previamente, de modo a capacitar os diversos intervenientes

    para as tarefas a desempenhar, definindo as estratgias de actuao nas diversas

    fases da emergncia.

    1.2 OBJECTIVOS

    Na presente dissertao apresenta-se uma metodologia para avaliao de riscos

    ambientais associados a acidentes envolvendo substncias perigosas, que se

    designou por Metodologia de Avaliao de Riscos Ambientais (MARA), desenvolvida

    para apoiar a elaborao de planos de emergncia, de modo a dar resposta a

    acidentes graves. Dada a componente espacial associada avaliao de riscos

    ambientais, a aplicao da metodologia totalmente suportada por um Sistema de

    Informao Geogrfica.

    Constituem objectivos especficos da presente dissertao:

    a) desenvolvimento de uma metodologia de avaliao de riscos ambientais

    envolvendo substncias perigosas MARA ;

    b) aplicao da MARA rea industrial da pennsula da Mitrena, localizada no

    esturio do Sado, para identificao dos riscos e vulnerabilidades ambientais

    associados presena de fuelleo;

    c) produo de cartas de perigo, risco e vulnerabilidade ambiental;

    d) fornecer contributos para a elaborao de um plano de emergncia para a

    resposta a acidentes graves envolvendo fuelleo.

  • Introduo

    4

    1.3 ORGANIZAO DA DISSERTAO

    Esta dissertao encontra-se organizada em 7 captulos e anexos. No Capitulo 1

    enquadra-se o tema proposto, definem-se os principais objectivos da dissertao e

    apresentada a estrutura do trabalho. No Captulo 2 apresenta-se a reviso dos

    conceitos relevantes no mbito da dissertao e revem-se algumas metodologias

    existentes para avaliao de riscos ambientais. Ainda neste captulo feito o

    enquadramento da dimenso espacial que caracteriza o risco.

    No Captulo 3 apresenta-se a proposta de uma metodologia para a avaliao de

    riscos ambientais (MARA), para apoiar a elaborao de planos de emergncia. A

    metodologia foi aplicada na pennsula da Mitrena, localizada no municpio de Setbal,

    para avaliao dos riscos e vulnerabilidades ambientais decorrentes de um acidente

    grave envolvendo fuelleo, apresentando-se no Captulo 4 o resultado da sua

    aplicao.

    Os contributos para a elaborao de um plano de emergncia para resposta a

    acidentes envolvendo fuelleo na pennsula da Mitrena e reas envolventes so

    apresentados no Captulo 5, tendo por base os resultados obtidos com a aplicao da

    MARA. No Captulo 6 apresentam-se os componentes necessrios para a

    operacionalizao do SIG, no mbito da MARA e no Captulo 7 apresentam-se as

    concluses.

  • Estado da Arte

    5

    2. ESTADO DA ARTE Ao longo deste trabalho alguns conceitos relacionados com o risco e metodologias de

    avaliao de risco assumem especial destaque, pelo que se considerou importante a

    reviso destes conceitos. Foi dado especial nfase s definies apresentadas em

    diplomas legislativos nacionais, legislao elaborada no mbito da Unio Europeia e

    normas tcnicas publicadas por organismos de certificao europeus, pela relevncia

    dos conceitos enquanto enquadramento legislativo, relevante no mbito das

    autoridades de proteco civil durante a elaborao de planos de emergncia.

    Ao longo deste captulo revem-se ainda algumas metodologias de avaliao de

    risco, comparando-se as diversas abordagens existentes para anlise e avaliao de

    riscos ambientais. No final aborda-se a componente espacial no mbito da avaliao

    de consequncias.

    2.1 DEFINIES

    2.1.1 PERIGO

    Perigo a propriedade, condio ou situao de uma substncia ou de um sistema

    que possa causar danos (UNE 150008 EX:2000). Mais concretamente, perigo

    definido como uma situao fsica com o potencial para provocar danos no homem,

    em bens ou no ambiente ou a combinao destes (Andrews;Moss, 1993;

    EN1473:1997), isto , com potencial para gerar uma consequncia adversa (ISO

    Guide 73:2002). Segundo o Decreto-Lei n 164/2001, que transpe a Directiva

    Seveso II para o direito nacional, perigo definido como a propriedade intrnseca de

    uma substncia ou de uma situao fsica de poder provocar danos sade humana

    ou ao ambiente.

    No mbito desta dissertao, onde so focados os danos ambientais decorrentes de

    um acidente envolvendo substncias perigosas, perigo refere-se propriedade

    intrnseca de uma substncia ou de uma situao fsica com potencial para provocar

    danos no ambiente.

  • Estado da Arte

    6

    2.1.2 SUBSTNCIAS PERIGOSAS

    A Directiva 67/548/CEE de 27 de Junho de 1967 e actos modificativos posteriores,

    relativa aproximao das disposies legislativas, regulamentares e administrativas

    respeitantes classificao, embalagem e rotulagem das substncias perigosas,

    define substncias como elementos qumicos e seus compostos tal como se

    apresentam no estado natural ou como os produz a indstria e preparao as

    misturas ou solues compostas por duas ou mais substncias. Segundo esta

    mesma Directiva, as substncias perigosas agrupam-se nas seguintes classes de

    perigosidade: explosivo, comburente; extremamente inflamvel; facilmente

    inflamvel; inflamvel; muito txico; txico; nocivo; corrosivo; irritante;

    sensibilizante; cancergeno; mutagnico; txico para a reproduo; perigoso para o

    ambiente.

    Para efeitos desta dissertao, substncias perigosas so definidas como substncias

    ou preparaes que devido s suas caractersticas de perigosidade, por meio de

    eventos como derrame, emisso, incndio ou exploso possam provocar situaes

    com efeitos negativos para o homem e para o ambiente (SNBPC, s/d).

    2.1.3 RISCO

    Segundo Lohani et al (1997), risco a possibilidade de ocorrer um dano num

    determinado espao de tempo, isto , risco representa a probabilidade de um perigo

    potencial se manifestar num determinado periodo. Esta noo temporal associada ao

    risco est igualmente presente na Norma Europeia EN 1473:1997 e no Decreto-Lei

    n 164/2001, onde risco definido como a probabilidade de que um evento

    especfico ocorra dentro de um perodo determinado ou em circunstncias

    determinadas.

    Outras fontes apresentam o risco como a combinao da frequncia ou probabilidade

    de ocorrncia de um evento com a magnitude das suas consequncias (ISO Guide

    73:2002; BS 8444:1996; UNE 150008 EX:2000), isto , risco como a probabilidade

    de um evento provocar um determinado dano.

  • Estado da Arte

    7

    Ao longo desta dissertao, e considerando o objectivo de avaliar os riscos e

    vulnerabilidades ambientais originados por acidentes envolvendo substncias

    perigosas, risco definido como a probabilidade ou frequncia de um determinado

    evento produzir danos ambientais, isto , originar um acontecimento com efeitos

    negativos para o ambiente.

    2.1.4 DANO AMBIENTAL

    A Directiva de Responsabilidade Ambiental (Directiva 2004/35/CE) define danos

    ambientais como aqueles que so produzidos sobre os elementos naturais e que

    podem ser expressos pela alterao adversa de um recurso natural ou a deteriorao

    de um recurso natural, quer ocorram directa ou indirectamente sobre espcies e

    habitats protegidos, gua ou solo. Ao longo deste trabalho, esta definio utilizada

    para dano ambiental.

    2.1.5 VULNERABILIDADE

    Segundo a norma UNE 150008 EX:2000, o termo vulnerabilidade reflecte a reflecte a

    potencial afectao de pessoas, bens e ambiente devido ocorrncia de um

    determinado evento. Considerando os objectivos definidos para esta dissertao, o

    termo vulnerabilidade refere-se potencial afectao de um recurso natural por um

    determinado evento envolvendo substncias perigosas, quer ocorra directa ou

    indirectamente sobre espcies e habitats protegidos, gua ou solo.

    2.1.6 ACIDENTE GRAVE

    Uma das questes mais relevantes quando se trabalha com avaliao de riscos a

    clarificao do que se entende por acidente grave. Segundo a Lei de Bases de

    Proteco Civil (Lei n 113/91), acidente grave um acontecimento repentino e

    imprevisto, provocado por aco do homem ou da natureza, com efeitos

    relativamente limitados no tempo e no espao, susceptveis de atingirem pessoas,

    bens e ambiente. O Decreto-Lei n 164/2001 define acidente grave como um

    acontecimento, tal como um incndio, uma exploso, uma emisso ou um derrame

  • Estado da Arte

    8

    que envolva uma ou mais substncias perigosas, resultante de desenvolvimentos

    incontrolados e que constitua perigo grave, imediato ou retardado, para a sade

    humana e ambiente.

    Para efeitos deste trabalho, acidente grave refere-se um acontecimento repentino e

    imprevisto, tal como um incndio, uma exploso, uma emisso ou um derrame que

    envolva uma ou mais substncias perigosas, susceptveis de causar danos

    ambientais.

    2.1.7 PLANOS DE EMERGNCIA

    A necessidade de preparao da resposta a acidentes ambientais est prevista na Lei

    de Bases do Ambiente (Lei n 11/87 de 7 de Abril), onde se refere que ser feito o

    planeamento das medidas imediatas necessrias para ocorrer a casos de acidentes

    sempre que estes provoquem aumentos bruscos e significativos dos ndices de

    poluio permitidos ou que, pela sua natureza, faam prever a possibilidade desta

    ocorrncia. Se estes acidentes colocarem em causa a sade humana ou o ambiente,

    as reas afectadas [ficam] sujeitas a medidas especiais e aces a estabelecer pelo

    departamento encarregado da proteco civil em conjugao com as demais

    autoridades da administrao central e local, demonstrando a necessidade de existir

    o planeamento e preparao das aces a tomar em caso de acidentes. Estas aces

    so consubstanciadas em termos de proteco civil, nos planos de emergncia e nas

    operaes de emergncia.

    Segundo a Lei de Bases de Proteco Civil (Lei n 113/91) os planos de emergncia

    estabelecem (i) o inventrio dos meios e recursos mobilizveis em situao de

    acidente grave; (ii) as normas de actuao dos organismos com responsabilidades no

    domnio da proteco civil; (iii) os critrios de mobilizao e mecanismos de

    coordenao dos meios e recursos utilizveis e (iv) a estrutura operacional para

    garantir a direco das operaes.

    No mbito da preveno de acidentes envolvendo substncias perigosas, o Decreto-

    Lei n 164/2001, os planos de emergncia tem como objectivos (i) circunscrever e

  • Estado da Arte

    9

    controlar os incidentes, de forma a minimizar os seus efeitos e a limitar os danos

    potencialmente ocasionados no homem, no ambiente e nos bens; (ii) aplicar as

    medidas necessrias para proteger o homem e o ambiente contra os efeitos de

    acidentes graves; (iii) comunicar as informaes necessrias ao pblico e aos

    servios ou autoridades territorialmente competentes e (iv) prever medidas para a

    reabilitao e saneamento do ambiente na sequncia de um acidente grave.

    No mbito deste trabalho, planos de emergncia tm como objectivo circunscrever e

    controlar os acidentes, de forma a minimizar os seus efeitos e a limitar os danos

    ambientais. Com este objectivo os planos de emergncia devem i) identificar os

    meios e recursos necessrios para proteco do ambiente contra os efeitos de

    acidentes graves e ii) definir os mecanismos de coordenao e estrutura operacional.

    2.1.8 AVALIAO DE RISCO

    A avaliao de risco o processo no qual so tomadas decises sobre a

    tolerabilidade do risco (BS 8444:1996) atravs da comparao entre o risco estimado

    e o risco definido como sendo tolervel, de modo a determinar o nvel de

    significncia do risco (ISO Guide 73:2002; UNE 150008 EX:2000; ISO Guide

    51:1999).

    H diversas metodologias desenvolvidas para avaliao de riscos que podem variar

    entre uma simples identificao de perigos a tcnicas de modelao matemticas e

    quantitativas. Apesar da diversidade de metodologias existentes, h etapas que

    servem de estrutura grande maioria das metodologias desenvolvidas para avaliao

    de riscos (World Bank, 1997) que consiste em (i) identificao de riscos; (ii)

    caracterizao do risco e; (iii) prioritizao dos riscos identificados (ISO Guide

    73:2002; ISO Guide 51:1999; BS 8444:1996).

    Ao conjunto das etapas (i) identificao de riscos e (ii) caracterizao do risco

    denomina-se anlise de risco, que consiste no uso sistemtico de toda a informao

    disponvel para a identificao de perigos e a caracterizao dos riscos existentes

  • Estado da Arte

    10

    (ISO Guide 73:2002; ISO Guide 51:1999) para a populao, bens e ambiente (BS

    8444:1996; UNE 150008 EX:2000). A anlise de risco permite dispor de informao

    objectiva e fundamentada para a tomada de deciso relativamente gesto dos

    riscos (BS 8444:1996) como a escolha entre potenciais medidas de reduo ou

    mitigao do risco e estabelecer prioridades face ao risco identificado.

    Segundo o Regulamento (CE) n 1488/94 e Portaria 732-A/96A, a caracterizao de

    risco consiste na estimativa da incidncia e da gravidade dos efeitos adversos que

    podem ocorrer numa populao humana ou num compartimento ambiental, devido

    exposio efectiva ou previsvel a uma substncia, podendo incluir a estimativa dos

    riscos, isto , a quantificao dessa probabilidade.

    Segundo a norma ISO Guide 73:2002, a caracterizao do risco consiste consiste na

    associao de valores de frequncia ou de probabilidade a determinadas

    consequncias de um risco, atravs da identificao da probabilidade de ocorrncia

    de um determinado evento. Esta probabilidade ou frequncia pode ser expressa em

    termos qualitativos ou quantitativos. Quando a probabilidade definida atravs de

    intervalos de valores ou classes como alta, mdia e baixa, obtm-se uma estimativa

    qualitativa. Quando se recorrem a tcnicas de modelao, associando um valor

    numrico probabilidade, o risco estimado de modo quantitativo.

    Ao longo desta dissertao, avaliao de risco definida como o mtodo de

    organizar a informao de um modo sistemtico, com o objectivo de determinar a

    probabilidade de ocorrncia de um determinado evento e suas consequncias, para

    definio das aces de reduo e mitigao do risco.

    2.2 METODOLOGIAS DE AVALIAO DE RISCO AMBIENTAL

    Nos pontos seguintes revem-se algumas metodologias de avaliao de riscos

    ambientais divulgadas pelo Banco Mundial, Agncia de Proteco do Ambiente dos

    Estados Unidos da Amrica (EPA), Associao Espanhola para Certificao e

    Normalizao (AENOR) e Direco-Geral de Proteco Civil de Espanha.

  • Estado da Arte

    11

    2.2.1 BANCO MUNDIAL

    O Banco Mundial, no mbito do financiamento de projectos a executar em pases em

    vias de desenvolvimento, nomeadamente no continente asitico, desenvolveu

    directrizes para apoiar o processo de avaliao dos impactes ambientais (AIA) que

    determinados projectos poderiam causar no ambiente. Em alguns destes

    documentos orientadores, como o Environmental Impact Assessment for Developing

    Countries in Asia (Lohani et al, 1997), a vertente da avaliao do risco ambiental

    (ERA - Environmental Risk Management) e da avaliao do risco ecolgico (EcoRA -

    Ecological Risk Management) includa no processo de AIA.

    Segundo Lohani et al (1997), a ERA consiste no processo de avaliar a possibilidade

    de ocorrncia de efeitos adversos no ambiente, ou transmitidos por este, originados

    por actividades associadas ao homem, como as actividades em instalaes industriais

    e o transporte de substncias perigosas. A EcoRA est includa na ERA, mas lida

    apenas com potenciais danos em ecossistemas ou habitats, em detrimento de uma

    anlise mais detalhada na sade humana, contemplada na ERA.

    A aplicao da ERA a ecossistemas geralmente comparativa e qualitativa, uma vez

    que raramente se encontram disponveis dados quantitativos sobre os efeitos das

    presses exercidas no ambiente e respectivos impactes nos ecossistemas. No

    entanto, aplicao da ERA til para as entidades decisoras porque permite a

    hierarquizao dos riscos ambientais existentes e a identificao de medidas de

    minimizao do risco (Lohani et al, 1997). Caso as entidades competentes

    considerem que os riscos no so aceitveis podem implementar alteraes de modo

    a diminuir o risco ou limitar as suas consequncias.

    As etapas consideradas na implementao da ERA so (1) identificao de perigos;

    (2) avaliao de perigos; (3) cenrios de exposio; (4) caracterizao do risco e (5)

    gesto do risco.

    Na identificao de perigos so listadas as potenciais fontes de perigo para o

    ambiente e nesta etapa a presena de substncias perigosas assume grande

  • Estado da Arte

    12

    relevncia. Neste mbito o Banco Mundial desenvolveu diversos documentos

    orientadores para identificao de potenciais acidentes e avaliao da necessidade

    de aplicao de metodologias de avaliao de risco, baseados nas caractersticas de

    toxicidade, inflamabilidade e reactividade de matrias perigosas, (Lohani et al, 1997).

    Na etapa de avaliao dos perigos, definido o mbito da anlise de risco e

    avaliada a potencial ocorrncia de emisses de substncias de modo acidental ou

    regular.

    Na ERA a definio de cenrios de exposio consiste na identificao dos potenciais

    cenrios de acidente e da sua probabilidade de ocorrncia. Os mtodos aplicados

    para identificao de cenrios derivam das metodologias de anlise de risco industrial

    e alguns dos mtodos mais utilizados com esta finalidade so a anlise funcional de

    operacionalidade (Hazard and Operability Studies HAZOP), a anlise de rvore de

    falhas (Fault Tree) e a anlise de rvore de acontecimentos (Event Tree). A anlise

    HAZOP uma tcnica que se baseia no pressuposto de que os riscos, os acidentes

    ou os problemas de operao se produzem como consequncia de um desvio de

    variveis do processo em relao aos parmetros normais de operao num

    determinado sistema a uma dada ocasio (Macedo, 2005). A anlise por rvore de

    falhas uma tcnica que se inicia com o acidente e atravs de uma anlise dedutiva

    determina as causas que provocaram esse mesmo acidente enquanto que a anlise

    da rvore de eventos parte da identificao de uma componente de falha do sistema

    para identificao das consequncias resultantes desse evento inicial (Lohani et al,

    1997; Macedo, 2005).

    A caracterizao do risco (etapa 4) consiste em estimar as probabilidades de

    ocorrncia de um acidente e determinar e severidade dos impactes dos diversos

    cenrios analisados. A comunicao dos resultados obtidos s entidades decisoras

    nesta etapa, indicando os riscos associados a cada cenrio e os resultados de uma

    anlise custo-beneficio, permite implementar a gesto do risco (etapa 5), com o

    objectivo de minimizar ou eliminar riscos considerados inaceitveis.

  • Estado da Arte

    13

    A EcoRa aplica-se geralmente a habitats com elevado nvel de preservao,

    excluindo-se a aplicao da metodologia a reas urbanas ou reas muito

    intervencionadas. Geralmente, a avaliao e riscos ecolgicos decorrente da

    execuo de um determinado projecto implementada com i) identificao de perigo

    ou fontes de perigo; ii) identificao de presses e meios de exposio aos

    organismos; iii) determinao de impactes adversos nas espcies e comunidades e

    iv) quantificao das alteraes mensurveis nas condies do ecossistema.

    2.2.2 AGNCIA DE PROTECO DO AMBIENTE (EPA)

    A descrio da metodologia descrita neste sub-capitulo tem como base o documento

    Guidelines for Ecological Assessment, editado em 1998 pela EPA, que designa

    como Avaliao de Risco Ecolgico (Ecological Risk Assessement) a metodologia

    desenvolvida com o objectivo de avaliar a probabilidade que efeitos ecolgicos

    adversos possam ocorrer como resultado de press es exercidas no ambiente (EPA,

    1992 in EPA, 1998). De modo idntico metodologia do Banco Mundial, a sua

    aplicao permite s entidades competentes a tomada de decises com base em

    dados tcnicos, que permitem a adopo de medidas para a reduo do risco e

    mitigao das consequncias de um acidente. A metodologia desenvolvida com o

    objectivo de avaliar as alteraes induzidas por actividades que produzam potenciais

    danos ambientais e compreende 3 fases principais: i) a formulao do problema; ii)

    anlise de riscos e iii) caracterizao do risco.

    Na etapa de formulao do problema so definidos os objectivos pretendidos com a

    avaliao de risco e desenvolve-se o modelo conceptual para a anlise de riscos. As

    tarefas incluem a recolha de informao sobre fontes de perigo, factores de presso

    e caractersticas dos ecossistemas a analisar, o que permite a definio de critrios

    para avaliao de consequncias.

    Durante a etapa de anlise de risco, so avaliadas as consequncias da exposio

    dos ecossistemas aos factores de presso. Esta etapa inclui duas actividades que

    interagem entre si, a caracterizao dos nveis de exposio que descreve as fontes

  • Estado da Arte

    14

    de presso e a sua distribuio no ambiente e a caracterizao dos efeitos

    ecolgicos.

    Na ltima etapa, a caracterizao do risco, o risco ecolgico estimado com base

    nos factores de presso e consequente resposta dos elementos em risco. indicado

    o grau de confiana da estimao do risco e so identificados os efeitos adversos

    resultantes da exposio ao risco.

    2.2.3 NORMA EXPERIMENTAL UNE 15008EX:2000 (AENOR)

    Em 2000 foi publicada em Espanha uma norma de aplicao voluntria para

    identificao, anlise e avaliao de riscos ambientais especialmente vocacionada

    para aplicao em instalaes industriais, a UNE 15008EX, publicada pela AENOR

    Associao Espanhola para Certificao e Normalizao.

    Esta norma divide a metodologia para avaliao de riscos em (1) anlise de risco e

    (2) avaliao de risco. A etapa de anlise de risco consiste em i) identificao de

    perigos existentes na instalao; ii) identificao de cenrios de acidentes que

    podem ocorrer; iii) estimao da probabilidade ou frequncia de ocorrncia de um

    determinado cenrio e iv) identificao consequncias da manifestao do perigo.

    Ao conjunto das etapas de estimao do risco e identificao de consequncias

    designa-se por caracterizao do risco, que caracteriza o risco sobre o meio natural,

    envolvente humana e envolvente socio-econmica, consoante os objectivos definidos

    para a avaliao de risco.

    A estimao de consequncias para as envolventes do patrimnio natural, humano e

    socio-econmico calculada com base em frmulas que integram a quantidade de

    substncias perigosa envolvida no acidente, a sua perigosidade, a extenso dos

    danos e a caracterizao do descritor ambiental afectado. Cada parmetro

    classificado numa escala de 1 a 5 consoante a valorizao que se d ao seu impacte

    e como resultado final, para cada cenrio definido a estimao das consequncias

    encontra-se classificada num intervalo entre 1 e 5.

  • Estado da Arte

    15

    A probabilidade ou frequncia de ocorrncia de um determinado cenrio estimada

    de modo qualitativo, sendo associado a cada cenrio um valor entre 1 e 5, ao valor 1

    corresponde um cenrio improvvel e o valor 5 a um cenrio muito provvel.

    A caracterizao do risco obtm-se atravs da multiplicao dos valores estimados

    das classes de probabilidade ou frequncia (valores entre 1 e 5) e classes de

    consequncias (valores entre 1 e 5), obtendo-se resultados com valores entre 1 e 25.

    Os nveis de risco so definidos em 5 classes, de modo equitativo: Risco Muito Alto

    para valores estimados entre 21 a 25; Risco Alto para valores estimados entre 16 e

    20; Risco Mdio para valores calculados entre 11 e 15; Risco Moderado para valores

    compreendidos entre 6 e 10 e Risco Baixo para valores determinados entre 1 e 5.

    2.2.4 DIRECO-GERAL DE PROTECO CIVIL DE ESPANHA

    No mbito da avaliao de riscos requerida pela Directiva Seveso II, a Direco-Geral

    de Proteco Civil de Espanha elaborou em 2002 uma metodologia para anlise de

    riscos ambientais para avaliao de danos na atmosfera, guas superficiais, guas

    subterrneas, solo, fauna, flora e patrimnio histrico. Esta metodologia

    fundamenta-se na identificao, caracterizao e avaliao sistemtica e objectiva de

    cada um dos componentes do sistema de risco: i) fontes de risco; ii) sistemas de

    controlo primrio; iii) sistemas de transporte e iv) receptores vulnerveis.

    So consideradas fontes de risco aquelas substncias que, por causa acidental ou por

    uma situao fora de controlo, possam alcanar o exterior e afectar meios receptores

    vulnerveis. Os equipamentos ou medidas de controlo que o operador da instalao

    possui com a finalidade de controlar as substncias perigosas de modo a no

    provocar danos no ambiente so definidos como sistemas de controlo primrio. A

    avaliao dos sistemas de transporte consiste em determinar os impactes e

    magnitude das substncias perigosas no meio receptor (ar, gua ou solo).

    2.2.5 DISCUSSO

    As diversas metodologias de avaliao de risco apresentadas anteriormente tm em

    comum o facto de colocarem disposio das entidades competentes os meios para

  • Estado da Arte

    16

    avaliao dos riscos existentes e com base em dados tcnicos permitirem a tomada

    de decises para reduo dos riscos ou mitigao das consequncias. A sua

    aplicao baseada na sua aplicao na identificao de actividades, usualmente

    associadas actividade industrial, que apresentem fontes de perigo e atravs da

    implementao da metodologia so identificados os danos potenciais no ambiente.

    No entanto, a avaliao de riscos ambientais baseada na actividade de instalaes

    industriais, como o caso das metodologias da Direco Geral de Proteco Civil

    espanhola e a norma UNE 150008 EX:2000, limita a identificao de todos os riscos

    existentes associados a substncias perigosas, excluindo as actividades de transporte

    por via rodoviria, martima ou ferroviria.

    Nas metodologias apresentadas, o ambiente considerado quer em sentido lato,

    como na norma publicada pela AENOR, e na ERA apresentada pelo Banco Mundial,

    que incluem todos os impactes potenciais derivados de um acidente no meio natural,

    envolvente humana e envolvente socio-econmica, quer em sentido restrito, como a

    EcoRa e a metodologia apresentada pela Direccin General de Proteccin Civil de

    Espanha, que limita a avaliao de danos aos descritores ar, gua e solo. A

    separao entre risco ecolgico e risco ambiental (ERA e EcoRA) pertinente

    fundamentalmente em situaes de avaliao de toxicidade ambiental, para

    avaliao de efeitos de exposio a substncias poluentes derivadas de actividades

    humanas, onde a EcoRA apresenta uma metodologia mais robusta para quantificao

    dos efeitos detectados, ao invs de uma expresso qualitativa associada ERA. No

    entanto, os dados necessrios para a implementao de uma EcoRA, como os dados

    ecotoxicologicos de substncias perigosas e dados mensurveis de efeitos nos

    habitats, no permitem a sua aplicao num largo espectro tipologia de acidentes

    graves.

    Nas diversas metodologias apresentadas, a avaliao de riscos no considera a

    avaliao de riscos ambientais de modo integrado, analisando todos os riscos

    existentes numa determinada rea geogrfica. No entanto, uma avaliao integrada

    de riscos ambientais, permitiria uma gesto das emergncias associadas a acidentes

    graves de um modo global, com a optimizao de recursos e meios.

  • Estado da Arte

    17

    Deste modo, considera-se pertinente o desenvolvimento de uma metodologia para

    avaliao de riscos ambientais, para identificao de potenciais danos ambientais,

    com vista elaborao de planos de emergncia.

    2.3 DIMENSO ESPACIAL DO RISCO

    Segundo Alexander (2002), cada situao de emergncia caracterizada por quatro

    dimenses: tempo, espao, magnitude e intensidade. O tempo representa a medida

    linear do desenvolvimento dos eventos, isto , o modo como os eventos se

    desenrolam e a sua sequncia ao longo do tempo. A dimenso espacial refere-se

    rea geogrfica onde os eventos tm lugar e de que modo a situao de emergncia

    e acontecimentos associados afectam e interagem com a envolvente. A magnitude e

    intensidade referem-se energia gerada pelo evento e intensidade dos efeitos e

    reaces que essas energias provocam.

    Com o objectivo de planear e preparar os meios e recursos necessrios para actuar

    numa situao de emergncia, necessrio identificar os eventos passveis de

    ocorrer, determinar a sua evoluo no espao e no tempo e avaliar as consequncias

    dos acidentes. Neste mbito, as tcnicas cartogrficas, atravs da explanao das

    relaes espaciais, desempenham um papel importante para a preveno e avaliao

    dos riscos, uma vez que permitem localizar fontes de perigo, determinar zonas de

    risco e reas vulnerveis (Alexander, 2002). Assim, a implementao de

    metodologias de anlise de risco perfeitamente suportada por Sistemas de

    Informao Geogrfica (SIG) uma vez que a utilizao de ferramentas de anlise

    espacial permite a obteno de relaes espaciais e determinao de reas

    potencialmente afectadas. Como resultado, obtm-se mapas de perigo, risco ou

    vulnerabilidade, que podem ser definidos como conjuntos de dados organizados de

    modo a apresentar de modo cartogrfico os perigos, riscos ou vulnerabilidades

    existentes numa dada rea.

    Os mapas de risco e vulnerabilidades desempenham um papel fundamental no

    contexto da preveno de acidentes e resposta emergncia, uma vez que

  • Estado da Arte

    18

    permitem formular, definir e reforar medidas de preveno e mitigao de

    acidentes, no caso de existncia de fontes de risco em locais prximos de locais

    vulnerveis (RIVM, s/d). A cartografia de risco permite ainda a definio de planos

    de emergncia e a avaliao das necessidades dos meios e recursos necessrios para

    controlo e minimizao de consequncias caso ocorra um acidente (RIVM, s/d).

  • Desenvolvimento de uma Metodologia de Avaliao de Riscos Ambientais

    19

    3. DESENVOLVIMENTO DE UMA METODOLOGIA DE AVALIAO DE RISCOS AMBIENTAIS

    Neste captulo apresenta-se uma proposta de metodologia para a avaliao de riscos

    ambientais, para apoiar a elaborao de planos de emergncia e contribuir para

    preparar a resposta a um acidente envolvendo substncias perigosas. Esta

    metodologia pretende ser uma ferramenta para as autoridades com responsabilidade

    na elaborao de planos de emergncia, permitindo a identificao dos meios e

    recursos necessrios para a resposta emergncia e definio de critrios de

    mobilizao.

    A metodologia proposta baseia-se nas metodologias para anlise de riscos

    apresentadas no Captulo 2.2, com especial destaque para as metodologias

    desenvolvidas pelo Banco Mundial (Lohani et al, 1997) e Agncia de Proteco do

    Ambiente dos Estados Unidos da Amrica (EPA, 1997; EPA, 1998).

    A metdologia que se apresenta, designada por Metodologia de Avaliao de Riscos

    Ambientais (MARA), tem como objectivo avaliar os riscos ambientais e

    vulnerabilidades decorrentes de acidentes graves envolvendo substncias perigosas

    presentes numa determinada rea, com vista a fornecer elementos tcnicos para a

    elaborao de planos de emergncia e aumentar o nvel de preparao para resposta

    a um potencial acidente. Pretende-se que seja uma avaliao de risco integrada, de

    modo a incluir todos os riscos de acidente associados a substncias perigosas,

    independentemente das actividades que possibilitem a sua presena, como sejam as

    actividades de armazenagem, transporte, manipulao, transformao ou fabrico de

    matrias perigosas.

    O desenvolvimento da MARA teve como assumpo principal permitir a sua utilizao

    em situaes onde se torne necessria a avaliao de riscos ambientais, sendo por

    isso uma metodologia abrangente, considerando as especificidades de cada

    substncia a analisar. Pretende-se ainda que os resultados obtidos com a aplicao

  • Desenvolvimento de uma Metodologia de Avaliao de Riscos Ambientais

    20

    da metodologia sejam tcnicos e objectivos, de modo a que as autoridades

    competentes os possam incorporar na elaborao de planos de emergncia.

    Constituem objectivos especficos da aplicao da MARA (1) tipificar os acidentes

    credveis na rea de estudo associado presena de substncias perigosas; (2)

    determinar os alcances dos acidentes identificados; (3) identificar as zonas de maior

    vulnerabilidade ambiental nos recursos naturais, quer ocorram directamente ou

    indirectamente sobre espcies e habitats protegidos, ar, gua e solo; (4) produzir

    cartas de risco e vulnerabilidade ambiental; (5) hierarquizar os diversos riscos

    identificados consoante a magnitude das consequncias e prioritizar aces de

    interveno.

    A implementao da MARA, com o objectivo de servir de apoio elaborao de

    planos de emergncia pelas autoridades competentes, assenta nos seguintes

    pressupostos:

    (1) A MARA no aplicvel a situaes de poluio ou descargas regulares de

    substncias perigosas em meio receptor. A MARA aplica-se apenas para identificao

    de consequncias resultantes de um evento resultante de acontecimentos repentinos

    e imprevistos;

    (2) No caso de acidentes com origem em estabelecimentos industriais, so

    analisados apenas os danos para o exterior do estabelecimento e apenas estes

    revertem para a tomada de medidas a incluir no plano de emergncia;

    (3) No caso de acidentes com origem em estabelecimentos industriais, no so

    identificadas as causas potenciais de um acidente nem so analisados os

    mecanismos de preveno de acidentes e segurana existentes na instalao;

    (4) As situaes em que a ocorrncia de um acidente possa aumentar a

    probabilidade e a possibilidade de ocorrncia de outro acidente ou agravar as

    consequncias de outro acidente (efeito domin) no so analisadas;

  • Desenvolvimento de uma Metodologia de Avaliao de Riscos Ambientais

    21

    (5) A MARA no tem como objectivo identificar e propor medidas de preveno de

    acidentes e medidas de requalificao ambientais necessrias aps de um acidente

    envolvendo substncias perigosas.

    A anlise de riscos e vulnerabilidades ambientais que se prope com a aplicao da

    metodologia torna fundamental a utilizao de um Sistema de Informao Geogrfica

    (SIG), dada a facilidade de manipulao e anlise de toda a informao geogrfica

    para a definio de reas de risco e reas vulnerveis para a definio de medidas

    de mitigao de consequncias.

    A MARA composta por 5 etapas sequenciais: (1) definio de mbito; (2)

    identificao de perigos; (3) caracterizao do risco; (4) anlise de vulnerabilidades;

    e (5) avaliao de risco, que se apresentam na Figura 3.1. A descrio detalhada de

    cada etapa apresenta-se nos sub-captulos seguintes.

    3.1 DEFINIO DE MBITO

    A etapa de definio de mbito consiste na identificao dos motivos para

    implementao da metodologia e na definio dos objectivos que se pretendem

    alcanar, detalhando quais os objectivos da anlise de risco, quais os pressupostos

    considerados na anlise de risco e definio da rea de estudo, incluindo a

    caracterizao geral da reas e descritores ambientais a analisar. Devem ainda ser

    identificados os eventuais constrangimentos da aplicao da metodologia: prazo

    disponvel, meios tcnicos e lacunas de informao.

  • Desenvolvimento de uma Metodologia de Avaliao de Riscos Ambientais

    22

    Figura 3-1 Metodologia de Avaliao de Riscos Ambientais (MARA)

    3.2 IDENTIFICAO DE PERIGOS

    Na etapa de identificao de perigos, so quantificadas as substncias perigosas

    presentes na rea de estudo e identificados os potenciais perigos e danos causados

    por acidentes envolvendo as substncias perigosas a analisar. A caracterizao dos

    perigos inclui (i) identificao de perigosidade potencial da substncia, como sejam a

    explosividade, inflamabilidade, toxicidade, etc; (ii) identificao de efeitos imediatos

    e diferidos nos potenciais receptores em caso de acidente, (iii) identificao de

    1. Definio de mbito

    2. Identificao de Perigos

    3. Caracterizao do risco

    4. Anlise de vulnerabilidades

    5. Avaliao de riscos:

    - Prioritizao de riscos

    - Anlise de opes

    An

    lise

    de R

    isco

    Ava

    lia

    o de

    Ris

    co

    Contributos para planos de emergncia

  • Desenvolvimento de uma Metodologia de Avaliao de Riscos Ambientais

    23

    factores que podem condicionar o seu comportamento e (iv) quantificao das

    substncias perigosas presentes na rea de estudo.

    No final desta etapa deve ser obtido um inventrio de substncias perigosas, com a

    identificao das quantidades em massa mximas instantneas das substncias

    perigosas presentes na rea de estudo. De acordo com SNPC (2001), no caso de

    substncias perigosas em instalaes industriais, deve ser inventariada a capacidade

    dos reservatrios instalados e em caso de transporte de substncias perigosas por

    rodovia, ferrovia ou pipeline devem ser identificados os percursos utilizados e

    identificadas as quantidades transportadas.

    3.3 CARACTERIZAO DO RISCO

    Com base nos perigos identificados na etapa 1 da MARA, so definidos os cenrios a

    considerar na anlise de risco, de modo a produzir uma estimativa do risco

    ambiental, caracterizando o risco em termos de i) extenso das consequncias (EPA,

    1997) e ii) frequncia ou probabilidade de ocorrncia.

    3.3.1 ANLISE DE CONSEQUNCIAS

    A anlise de consequncias consiste no clculo dos efeitos fsicos que um acidente

    envolvendo substncias perigosas pode originar nos recursos naturais e na definio

    das zonas afectadas para diferentes nveis de dano (Ferrads;Boada, 2002), ou seja,

    quantifica os possveis danos causados pela exposio ao perigo nos diversos

    receptores ambientais, atravs da avaliao da extenso e da gravidade das

    consequncias dos acidentes identificados. Esta anlise baseada em eventos

    previamente seleccionados e suporta-se fundamentalmente na utilizao de tcnicas

    de modelao matemtica para quantificao dos danos.

    A escolha dos cenrios a modelar assume especial relevncia na implementao da

    MARA. A elaborao de um plano de emergncia baseia-se na identificao dos

    eventos potenciais para identificao das medidas necessrias para controlo da

  • Desenvolvimento de uma Metodologia de Avaliao de Riscos Ambientais

    24

    situao e limitao de danos e por este motivo, a seleco dos cenrios a considerar

    assume um papel fundamental (Lees, 1996). Neves (2003) refere ainda a

    importncia que a simulao de diversos cenrios de acidente e a avaliao dos

    danos ambientais e econmicos associados a esses cenrios tem no apoio deciso

    em situaes de emergncia. Os resultados das simulaes permitem a anlise das

    possveis opes de interveno na emergncia e seleccionar aquelas que mais se

    adequam na fase prvia ocorrncia do acidente.

    Os cenrios a modelar so escolhidos com base nos base nos perigos identificados,

    que podem dar origem a eventos como emisso de substncias qumicas, ocorrncia

    de incndios, exploses, ondas de sobrepresso, radiao trmica. A anlise de

    consequncias para o ambiente tem por base a quantidade e perigosidade de

    substncias libertadas e a envolvente afectada pelo acidente, considerando as

    diferentes formas de transporte e afectao do ar, gua e solo. Com recurso a

    tcnicas de modelao so quantificadas as consequncias de um potencial acidente,

    em termos de valores de exposio a concentraes txicas, radiao trmica ou

    sobrepresses. Sempre que possvel, como definio da fronteira da rea afectada

    por um acidente devem ser considerados valores que repercutam efeitos ligeiros e

    transientes, isto , que no permaneam aps o trmino das manifestaes

    perigosas. Os cenrios a considerar para anlise de consequncias de um acidente

    podem consistir em emisses de substncias perigosas, incndio, exploso ou outros.

    Na Portaria 193/2002 encontram-se tipificados diversos acidentes que podem servir

    de base para a escolha dos eventos, apresentados na tabela seguinte.

    As consequncias resultantes de um acidente envolvendo substncias perigosas

    podem ser diversas, como por exemplo a anlise de acidentes ocorridos na rea de

    estudo, consulta de bases de dados com histrico de acidentes ou a inquritos a

    peritos.

  • Desenvolvimento de uma Metodologia de Avaliao de Riscos Ambientais

    25

    Tabela 3-1 Tipologia de acidentes graves

    Emisso Emisso de gases, de vapores, de gotculas, etc. para o ar

    Emisso de fluidos para o solo

    Emisso de fluidos para a gua

    Emisso de slidos para o solo

    Emisso de slidos para a gua

    Incndio Conflagrao conflagration (incndio envolvente e generalizado)

    Incndio tipo piscina pool fire (incndio de piscina de lquido, confinado ou no)

    Incndio tipo jacto jet fire (incndio de jacto de fluido a partir de um orifcio)

    Incndio tipo labareda flash fire (incndio de nuvem de vapor com frente de chama

    subsnica)

    Bola de fogo fireball (incndio de massa ascendente no ar, frequentemente aps um

    BLEVE)

    Exploso Rebentamento por presso pressure burst (rotura de sistema pressurizado)

    BLEVE boiling liquid expanding vapour explosion (exploso de vapor proveniente da

    expanso de lquido em ebulio)

    Exploso rpida de transio de fase (mudana rpida de estado fsico)

    Exploso de reaco descontrolada (normalmente exotrmica)

    Exploso de poeiras

    Decomposio explosiva (de material instvel)

    VCE vapour cloud explosion (exploso de nuvem de vapor com frente de onda supersnica)

    Outros Emisso de produtos de combusto para o ar

    Emisso de produtos de combusto para o solo

    Emisso de produtos de combusto para a gua

    Escorrncia de gua proveniente da extino de incndios para o solo

    Escorrncia de gua proveniente da extino de incndios para a gua

    Fonte: Portaria 193/2002.

    3.3.2 ESTIMAO DO RISCO

    Os dados de estimao do risco que se pretendem obter nesta fase referem-se

    determinao da probabilidade ou frequncia de uma rea ser afectada pelas

    consequncias de um acidente envolvendo substncias perigosas, ou seja, a

    probabilidade de uma dada rea sofrer um dano ambiental, de modo a caracterizar o

    risco e prever os meios e recursos necessrios para a resposta emergncia.

    A estimao da probabilidade de ocorrncia de um dano ambiental est fortemente

    relacionada com os cenrios considerados, podendo esta estimao ser quantitativa,

  • Desenvolvimento de uma Metodologia de Avaliao de Riscos Ambientais

    26

    quando expressa atravs de classes de risco, como sejam elevado, mdio e

    reduzido, ou quantitativa quando expressa por valores probabilsticos.

    3.4 ANLISE DE VULNERABILIDADES

    Com base nos elementos de caracterizao de risco, possvel determinar as

    vulnerabilidades ambientais, nomeadamente atravs da avaliao dos impactes que

    um dado acidente provoca no ar, gua ou solo. Nesta etapa fundamental a

    identificao dos recursos ambientais relevantes na rea de estudo, atravs da

    caracterizao ambiental do estado de conservao, categoria de proteco, grau de

    perturbao e nvel de proteco dos descritores ambientais.

    A nvel humano, importante considerar as caractersticas da populao, e a nvel de

    impactes em bens, devem ser identificadas infra-estruturas sensveis, patrimnio

    edificado, actividades com relevncia econmica.

    Consoante o compartimento ambiental em causa, a avaliao das vulnerabilidades

    pode ser realizada atravs da comparao dos valores de exposio resultantes da

    ocorrncia do acidente com valores guia definidos em diplomas legislativos nacionais,

    3.5 AVALIAO DO RISCO

    A avaliao de risco baseia-se nos resultados obtidos na anlise de risco,

    considerando a avaliao das vulnerabilidades dos acidentes cenarizados, de modo a

    sugerir medidas de mitigao (aces imediatas) necessrias para minimizar as

    consequncias decorrentes de um acidente. Esta etapa permite assim s autoridades

    competentes dispor de uma avaliao de todos os riscos existentes e possibilita uma

    hierarquizao das aces a tomar, de modo a preparar um plano de proteco das

    reas consideradas ambientalmente mais sensveis, considerando os diversos

    cenrios de acidente.

  • Aplicao da MARA

    27

    4. APLICAO DA METODOLOGIA DE AVALIAO DE RISCOS AMBIENTAIS - MARA No captulo anterior foi apresentada a metodologia proposta para avaliao de riscos

    e vulnerabilidades ambientais, e neste captulo apresentam-se os resultados da

    aplicao da MARA pennsula da Mitrena, com o objectivo de identificar os riscos e

    vulnerabilidades ambientais associados presena de substncias perigosas. A

    pennsula da Mitrena, localizada no concelho de Setbal, uma rea fortemente

    industrializada, inserida no esturio do Sado, que pelos valores ambientais aqui

    presentes se encontra classificado como Reserva Natural e Zona de Proteco

    Especial para a Avifauna. A ocupao industrial desta pennsula com consequente

    presena de substncias perigosas tem provocado alguns conflitos entre o

    desenvolvimento industrial e conservao da natureza e levantado a necessidade da

    avaliao dos riscos inerentes s actividades instaladas na Mitrena.

    4.1 DEFINIO DE MBITO A Pennsula da Mitrena uma rea fortemente industrializada, onde esto

    implantados diversos estabelecimentos industriais e infra-estruturas de apoio,

    incluindo os cais martimos, na rea de jurisdio da Administrao dos Portos de

    Setbal e Sesimbra (APSS) e o ramal ferrovirio da SAPEC/Portucel, destinado

    exclusivamente ao transporte de mercadorias.

    O facto de a pennsula da Mitrena estar integrada numa rea classificada como

    Reserva Natural, Zona de Proteco Especial para a Avifauna e ter sido proposto

    como Stio ao abrigo da Directiva Habitats, tem levantado diversas questes sobre a

    compatibilizao entre a actividade industrial e preservao ambiental da rea

    envolvente, nomeadamente riscos que as actividades aqui instaladas representam

    para o ambiente. A conflitualidade entre os usos existentes nesta rea destacado

    no parecer da Comisso de Avaliao do Projecto de substituio da Estacada Saci

    com Especializao para Descarga de Granis Lquidos, Terminal da Sapec na

    Mitrena, (Direco-Geral do Ambiente, 2001), elaborado no mbito do processo de

    avaliao de impacte ambiental (AIA), onde referida a necessidade de

  • Aplicao da MARA

    28

    compatibilizao entre as actividades implantadas na pennsula da Mitrena e a

    recuperao e manuteno do esturio do Sado como importante reserva natural.

    Ainda neste parecer, a Comisso de Avaliao prope um estudo integrado das

    actividades porturias e industriais aqui desenvolvidas, para avaliar a capacidade de

    carga do esturio do Sado e apoiar uma gesto integrada da zona industrial e rea

    estuarina. Este estudo passaria obrigatoriamente pelo desenvolvimento de uma

    anlise de risco de modo a integrar as actividades de armazenagem e transporte

    martimo, rodovirio e ferrovirio de substncias perigosas. Nas propostas

    apresentadas destaca-se ainda a elaborao de um plano de contingncia

    minimizao dos impactes negativos nos ecossistemas originados por um eventual

    acidente.

    Neste contexto, a aplicao da MARA para avaliao dos riscos e vulnerabilidades

    ambientais associados presena de substncias perigosas na pennsula da Mitrena

    pode contribuir para a identificao de reas sensveis e para a definio de aces

    com vista preservao dos recursos naturais do esturio, concretamente atravs de

    contributos para a elaborao de um plano de emergncia.

    4.1.1 OBJECTIVO

    A aplicao da MARA ter como objectivo a identificao de potenciais acidentes que

    possam afectar o esturio do Sado e a diversidade ecolgica associada e contribuir

    para a execuo de um plano de emergncia que d resposta aos riscos

    identificados. A avaliao de riscos ambientais de substncias com perigosidade para

    o meio aqutico deve ser uma prioridade e por este motivo a MARA ser testada

    para o fuelleo, substncia perigosa classificada como nociva para o meio aqutico,

    podendo causar efeitos nefastos a longo prazo. Pretende-se avaliar as

    vulnerabilidades para espcies pisccolas com interesse conservacionista e espcies

    que dependem directamente do esturio ao longo do seu ciclo de vida; a potencial

    afectao dos locais de captura de minhoco, usado como isco para a pesca e

    importante suporte scio-econmico da comunidade local e a vulnerabilidade para a

    comunidade de golfinhos roazes, o ex-libris por excelncia do esturio do Sado.

  • Aplicao da MARA

    29

    4.1.2 PRESSUPOSTOS

    A aplicao da MARA pennsula da Mitrena para avaliao dos riscos ambientais

    decorrentes de um acidente envolvendo fuelleo baseia-se nos seguintes

    pressupostos:

    (i) a rea geogrfica a considerar na aplicao da MARA restringe-se

    pennsula da Mitrena, localizada no municpio de Setbal, sendo o limite

    definido a Este pela Estrada Nacional EN-10-4;

    (ii) a avaliao de riscos ambientais considera os perigos, riscos e

    vulnerabilidades de um acidente envolvendo fuelleo, no sendo

    consideradas as restantes substncias perigosas existentes na Mitrena;

    4.1.3 CARACTERIZAO DA REA DE ESTUDO

    4.1.3.1 HIDRODINMICA DO ESTURIO DO SADO

    O esturio do Sado situa-se ao sul da pennsula de Setbal (ver Figura 4.1) e em

    termos de dimenso o segundo maior de Portugal, com uma superfcie de cerca de

    160 km2 (Impacte, 2002). O esturio apresenta 35 km de comprimento total (MAOT,

    2000) e uma profundidade mdia de 10 m na zona do bacia do esturio (Castro,

    1990 , Rodrigues, 1992 in Garcs 2004) atingindo nos locais mais profundos cerca

    de 50 m (MATETEC/IST ; INAG, 2001a).

    O interior do esturio apresenta a montante uma zona fluvial pouco profunda,

    identificando-se os canais da Comporta, de guas de Moura ou Marateca, com

    extensas zonas de espraiados de mar e sapais (Rodrigues,1992 in Garcs, 2004):

    Ilha do Cavalo e Esteiros da Marateca, Carrasqueira e Comporta.

  • Aplicao da MARA

    30

    Figura 4-1 Localizao do esturio do Sado

    A zona a jusante caracteriza-se pela existncia de bancos de areia intertidais

    (Campanrio, Cabra, Cabecinha, Carrava e Escama Ferro) dispostos

    longitudinalmente (Impacte, 2002) que diferenciam dois canais, com uma extenso

    de 7 km, vulgarmente designados por canal Norte e canal Sul. Estes canais

    apresentam caractersticas hidrodinmicas de diferentes intensidades, sendo o canal

    sul mais profundo e hidraulicamente mais activo. (MATETEC/IST;INAG, 2001a;

    Impacte, 2002). A comunicao do esturio com o Oceano Atlntico feita atravs

    de um canal com 2 km de largura e uma profundidade mxima de 50 m.

    A gua doce afluente ao esturio provm maioritariamente do rio Sado, que contribui

    com 80 a 90% do volume total de gua (Cabeadas et al, 1994 in Pimentel, 1999) e

    da ribeira da Marateca, a mais importante das pequenas ribeiras que aflui a este

    esturio, que contribui com menos de 10% do volume total (Vale ; Sundby, 1982,

    Vale ; Cortesao, 1988 in Garcs 2004). O caudal do Rio Sado mdio afluente ao

    esturio do tipo torrencial, da ordem dos 40 m3/s, (Cabeadas, 1993 in

  • Aplicao da MARA

    31

    MARETEC/IST;INAG, 2001) com uma forte variabilidade sazonal apresentando

    caudais mdios inferiores a 1 m3 no Vero e superiores a 150 m3 no Inverno

    (Cabeadas, 1993 in MARETEC/IST; INAG, 2001), mas onde os valores mximos do

    caudal raramente ultrapassam os 25 m3/s (Impacte, 2002). O volume de gua fluvial

    afluente cerca de 1000 vezes inferior ao volume de gua afluente das mars

    (Neves, 1985 in Pimentel 1999) e consequentemente o escoamento do esturio do

    Sado forado principalmente pela mar (MARETEC/IST; INAG, 2001).

    O regime de mar semi-diurno, com amplitudes que variam entre 1,2 m em mar

    morta e 3,2 m em mar viva (MATETEC/IST; INAG, 2001) criando zonas de baixa

    profundidade e elevadas reas intertidais, como esteiros e sapais, que apresentam

    cerca de 50% da zona hmida da Reserva Natural do Esturio do Sado (Cabeadas

    et al, 1993 in Garcs, 2004).

    A circulao da gua no esturio geralmente influenciada pela geometria e

    batimetria do esturio, onde a profundidade reduzida e a irregularidade dos fundos

    explicam a propagao da mar e a homogenizao da coluna de gua (Rocha, 1991

    in Garcs 2004). A circulao estuarina determinada essencialmente pela

    assimetria existente entre o canal norte e o canal sul. No canal sul a velocidade

    residual toma a direco do oceano e no canal norte a circulao toma a direco do

    interior do esturio (Neves 1985 in Pimentel 1999). Durante a vazante, o

    escoamento efectua-se preferencialmente pelo canal sul e durante a enchente inicia-

    se primeiro no canal norte (com gua de vazante do canal Sul) e s depois neste

    canal, pondo em evidncia a tendncia para que materiais que descem o canal sul

    durante a vazante entrem e subam o canal norte durante a enchente seguinte

    (MATETEC/IST; INAG, 2001).

    4.1.3.2 VALORES ECOLGICOS

    Neste captulo so apresentados os valores ambientais com potencial interesse no

    mbito da aplicao da MARA, seleccionados com base nos objectivos previamente

    definidos. Apesar da enorme importncia ecolgica do esturio do Sado, patente nos

    diversos estatutos de conservao indicados na Tabela 4.1, excluiu-se deste captulo

  • Aplicao da MARA

    32

    a descrio de elementos que no se consideraram relevantes de acordo com o

    objectivo proposto para aplicao da MARA, sendo apresentada no Anexo 1 uma

    caracterizao ambiental genrica.

    Tabela 4-1 Estatutos de conservao definidos para o esturio do Sado

    Classificao Enquadramento legal

    Reserva Natural do Esturio do Sado Decreto-Lei n 430/80 de 1 Outubro

    Zona de Proteco Especial (ZPE) do Esturio

    do Sado (Directiva Aves, 79/409/CEE)

    Decreto-Lei n 384-B/99 de 23 de Setembro

    Stio da Lista Nacional da Directiva Habitats -

    Esturio do Sado (PTCON00011) (Directiva

    Habitats 92/43/CEE)

    Resoluo do Conselhos de Ministros n 142/97

    de 28 de Agosto.

    Esturio do Sado - Stio Ramsar n 826 Decreto-Lei n 45/78 de 2 de Maio

    A Reserva Natural do Esturio do Sado (RNES), apresentada na Figura 4-2, foi criada

    pelo Decreto-Lei n 430/80, com o objectivo de proteger os elevados valores

    ecolgicos e econmicos associados a esta zona estuarina. A elevada produtividade

    associada ao esturio, a diversidade de habitats, a riqueza faunstica e florstica e o

    facto de constituir um local de reproduo e viveiro para muitas espcies pisccolas

    levaram definio desta rea protegida. A RNES, que abrange uma rea de 23.160

    ha, engloba a maior parte da rea estuarina, onde 13.500 ha esto classificados

    como Reserva Natural. Da restante rea total da RNES, cerca de 9.500 ha so

    constitudos por zonas hmidas convertidas para a salinicultura, piscicultura e

    orizicultura, por reas terrestres e por pequenos cursos permanentes de gua doce

    (MAOT, 1999).

    A Zona de Proteco Especial (ZPE) do Esturio do Sado abrange uma rea de

    24.632,50 ha e foi criada com o objectivo de garantir a conservao das espcies de

    aves migratrias, e seus habitats, mencionadas no anexo I da Directiva Aves, e cuja

    ocorrncia seja regular. O esturio do Sado alberga uma grande diversidade de aves

    aquticas e na ZPE do Esturio do Sado encontram-se com regularidade 16 espcies

    classificadas no Anexo I da referida Directiva. Na Figura 4.2 apresenta-se a

    delimitao ZPE.

  • Aplicao da MARA

    33

    Figura 4-2 Delimitao da RNES ( esquerda) e ZPE ( direita)

    O esturio do Sado encontra-se includo na Lista Nacional de Stios (1 fase) da

    Directiva Habitats, proposto para incluir a Rede Natura 2000 ao abrigo da directiva

    Habitats e da Zona de Proteco Especial para a Avifauna, ao abrigo da Directiva

    Aves, atravs da Resoluo do Conselho de Ministros n 142/97. O Sitio Esturio do

    Sado (PTCON00011) apresenta uma rea de 30.968 ha e encontram-se identificados

    37 habitats do Anexo 1, dos quais 7 so prioritrios. Encontram-se aqui 9 espcies

    de flora constantes do Anexo II, das quais 4 so prioritrias e ainda 5 espcies de

    fauna. Na Figura 4.3 apresenta-se a delimitao do Stio do Esturio do Sado.

    No mbito da Conveno de Ramsar destinada proteco de zonas hmidas de

    importncia internacional, especialmente relevantes como habitat de aves aquticas,

    o esturio do Sado foi classificado como Sitio Ramsar n826, abrangendo cerca de

    25588 ha. Entre os critrios considerados para esta classificao inclui-se o facto de

    durante o perodo de invernada estarem regularmente presentes mais de 20.000

    aves aquticas, bem como o de albergar mais de 1% populao internacional

    invernante de vrias espcies aquticas.

  • Aplicao da MARA

    34

    Figura 4-3 Sitio Esturio do Sado - PTCON00011

    Ictiofauna

    Os esturios constituem locais de passagem obrigatria para espcies pisccolas que

    realizam migraes reprodutoras, quer aquelas que habitam no mar e se deslocam

    s guas doces para efectuar a postura, como o svel e a savelha, quer as espcies

    de gua doce que se deslocam para efectuar a postura no mar, como a enguia

    (Sobral; Gomes, 1997). A alimentao abundante e as condies de refgio contra

    predadores tornam os esturios como locais preferncias de crescimento (nursery),

    que assume uma importncia vital para diversas espcies, algumas das quais com

    elevado valor comercial.

    na poca primaveril que se registam os quantitativos mximos de peixes no

    esturio, como resultado da elevada disponibilidade de alimento, comparativamente

    com as zonas costeiras adjacentes. A existncia de condies favorveis para o

    crescimento rpido, resulta na migrao de muitas espcies para a zona estuarina. A

  • Aplicao da MARA

    35

    alterao das condies do esturio reflecte-se na diversidade biolgica, verificando-

    se um decrscimo progressivo a partir da Primavera dos quantitativos presentes no

    esturio, atingindo o valor mnimo no perodo do Inverno.

    O esturio do Sado rico em espcies pisccolas, onde surgem diversas espcies,

    com elevado valor ecolgico e econmico. A nvel ecolgico destaca-se a savelha,

    listada na Directiva Habitats e classificada como vulnervel no Livro Vermelho dos

    Vertebrados de Portugal e a enguia, considerada comercialmente ameaada. Na

    Figuras 4.4 e 4.5 apresenta-se a distribuio destas espcies no esturio, com base

    em Sobral & Gomes (1997).

    Figura 4-4 Locais de ocorrncia de savelha

  • Aplicao da MARA

    36

    Figura 4-5 Locais de ocorrncia de enguia

    O esturio do Sado utilizado como rea de viveiro para um conjunto de espcies

    relativamente restrito, designadamente para o linguado (Solea vulgaris) e sargo

    (Diplodus sp.), espcies abundantes no esturio e com valor comercial. O sargo

    apresenta no esturio uma elevada populao de juvenis, o que refora a

    importncia do esturio do Sado como local de nursery. Na Figuras 4.6 e 4.7

    apresenta-se a distribuio destas espcies na rea estuarina.

  • Aplicao da MARA

    37

    Figura 4-6 Locais de ocorrncia do sargo

    Figura 4-7 Locais de ocorrncia do linguado

  • Aplicao da MARA

    38

    Outra espcie com especial interesse ecolgico o charroco (Halobatrachus

    didactylus), bastante abundante neste esturio e que apresenta uma distribuio

    ampla neste local (ver Figura 4.8). Esta espcie residente no esturio e por esta

    razo apresenta uma elevada vulnerabilidade a alteraes que se verifiquem no seu

    habitat (Sobral; Gomes, 1997). Para esta espcie, a alterao drstica das condies

    ambientais do esturio pode ter repercusses no seu ciclo de vida com

    consequncias graves para a sua sobrevivncia.

    Figura 4-8 Locais de ocorrncia do charroco

    Golfinhos roazes

    O esturio do Sado suporta uma comunidade de roazes (Tursiops truncatus)

    constituda por cerca de 30 indivduos, que apresentam caractersticas nicas em

    Portugal. O roaz um cetceo da famlia dos golfinhos, uma espcie tipicamente

    litoral, sendo este o nico esturio do pas onde esta espcie ocorre de modo regular

    (Freitas, 1995; Santos, 1997; MAOT, 1999a), sendo considerado o ex-libris do

    Esturio do Sado. Esta espcie encontra-se classificada como estritamente protegida

    pela Conveno de Berna, e encontra-se listada no Anexo II da Directiva Habitats.

  • Aplicao da MARA

    39

    Para alm do roaz, esporadicamente avistado outro cetceo, o boto (Phocoena

    phocoena) que habita em guas costeiras, sendo observado por ve