desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ Curitiba 2013 RUDOLF COPI ECKELBERG DESENVOLVIMENTO DE UM ACELERÔMETRO DE BOLHA DE SENSIBILIDADE VARIÁVEL

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Page 1: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

Curitiba

2013

RUDOLF COPI ECKELBERG

DESENVOLVIMENTO DE UM ACELERÔMETRO DE

BOLHA DE SENSIBILIDADE VARIÁVEL

Page 2: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

RUDOLF COPI ECKELBERG

Curitiba

2013

DESENVOLVIMENTO DE UM ACELERÔMETRO DE

BOLHA DE SENSIBILIDADE VARIÁVEL

Dissertação apresentada como requisito parcial à

obtenção de grau de Mestre. Área de

concentração: Engenharia e Ciência dos

Materiais, Programa de Pós-Graduação em

Engenharia e Ciência dos Materiais - PIPE. Setor

de Tecnologia, Universidade Federal do Paraná.

Orientador: Prof. Dr. Cyro Ketzer Saul

Page 3: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

E19d

Eckelberg, Rudolf Copi.

Desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

variável. – Curitiba, 2013.

87f. : il.; color.; 30 cm.

Dissertação (Mestre) - Universidade Federal do Paraná, Setor de

Tecnologia, Programa de Pós-graduação em Engenharia e Ciência dos

Materiais – PIPE, 2013.

Orientador: Cyro Ketzer Saul

Bibliografia: p. 86-87.

1. Engenharia. 2. Mecânica de Fluídos. I. Saul, Cyro Ketzer. II.

Universidade Federal do Paraná. III. Título.

CDD: 532

Page 4: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

1

Page 5: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

2

Agradecimentos

Primeiramente, e, sim, o mais importante, à minha família pelo apoio e suporte,

mesmo nos momentos em que as forças me faltaram e as dificuldades me fizeram

pensar em desistir.

Ao professor Cyro, por apostar em mim e por idealizar e abraçar comigo esse

projeto “maluco” (palavras dele) e se dedicar comigo até o final para que o trabalho

ficasse pronto e desse bons resultados.

Aos colegas e amigos de laboratório pelo apoio e pelos brainstorms e

compartilhamento de conhecimentos, em especial ao Leonardo Berlim Schneider, por

ter sido um amigo muito presente em todo o período de iniciação científica e mestrado,

fosse no laboratório, no estúdio ou no bar.

Às fundações Arduino e Python, por levarem adiante seus projetos fantásticos que

tornam simples e intuitivo o processo de prototipagem e automação no desenvolvimento

de dispositivos, e por manterem esses projetos abertos para a comunidade.

Page 6: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

3

"No fundo, todos temos necessidade de dizer quem somos

e o que é que estamos a fazer e a necessidade de deixar

algo feito, porque esta vida não é eterna e deixar coisas

feitas pode ser uma forma de eternidade."

José Saramago

Page 7: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

4

Resumo

Sensores de aceleração são largamente empregados nos dias de hoje, no

monitoramento de acelerações de veículos, para fins de determinação de posição e

atitude, no monitoramento de vibrações, ou até mesmo na determinação da orientação

de aparatos em relação à gravidade (nível de bolha). O presente trabalho apresenta o

desenvolvimento de um novo conceito de acelerômetro, que baseia seu funcionamento

na posição de uma bolha imersa em um fluido em rotação solidária com o disco

cilíndrico que o contém. Este acelerômetro permite medir acelerações no plano paralelo

ao seu corpo e possibilita alterar a faixa de acelerações medida pela simples mudança de

sua velocidade de rotação. O dispositivo e sua plataforma foram produzidos em acrílico,

empregando técnicas de usinagem a Laser, e o sistema de controle e aquisição de dados

foi baseado na plataforma aberta Arduino. A aquisição de dados referente à posição da

bolha, sob efeito de uma aceleração externa, foi efetuada por análise de imagens obtidas

por uma câmera CCD integrada à plataforma do dispositivo, e acelerações variando

entre 1,7 m/s² e 7,50 m/s² foram utilizadas para testes em diferentes níveis de

sensibilidade. Os resultados obtidos mostraram existir uma correlação direta entre a

posição da bolha e ambas a aceleração externa e a velocidade de rotação do fluido, o

que permite o emprego deste dispositivo na determinação de direção e intensidade das

acelerações às quais o mesmo está submetido. As margens de erro para esta versão do

dispositivo estão na faixa dos 5%.

Page 8: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

5

Abstract

Acceleration sensors are widely used nowadays, monitoring vehicles, to determine

position and attitude, monitoring vibrations and even to determine orientation regarding

the gravitational field (bubble level). This work presents the development of a novel

accelerometer concept, based on the position of a gas bubble within a fluid which is

rotating along with the cylindrical disc which contains it. This accelerometer allows

acceleration measurement in the plane parallel to its body and allows acceleration range

variation by simply changing its rotational speed. Both the device and its platform were

built using Laser machined Plexiglass. The control system and data acquisition were

based on the Arduino open system. The bubble position data, under external

acceleration, was obtained by platform integrated CCD camera image analysis, and

accelerations ranging between 1,7 m/s² and 7,5 m/s² were measured on different

sensitivity levels. Obtained results show a direct correlation between the bubble position

and both the external acceleration and the fluid rotation speed, allowing to determine the

acceleration direction and intensity to which the device is submitted. This device

version presents error margins within 5%.

Page 9: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

6

Símbolos

𝜌 – Densidade (massa específica);

– Campo velocidade;

𝑟 – Posição da partícula;

𝑟 0 – Centro do disco;

𝑟 ′ – Posição da partícula em um novo referencial;

𝑟 𝑛𝑖 - Posição do referencial não inercial em relação ao referencial original;

𝜔 – Velocidade angular;

𝑣 – Velocidade da partícula;

𝑎 𝑒 – Aceleração à qual o acelerômetro está sujeito;

𝑝 – Pressão;

𝜏 – Tensão de cisalhamento;

𝜇 – Viscosidade dinâmica;

𝐷𝑡 – Operador diferencial temporal total;

𝑓𝑗 – Força aplicada por unidade de volume;

𝑅𝑒 – Número de Reynolds;

𝐶𝐷 – Coeficiente de arrasto;

𝐹 𝐷 – Força de arrasto;

𝐹 𝐸 – Força de empuxo;

𝐹 𝑎𝑒 - Força que o fluido exerce sobre a bolha por causa de 𝑎 𝑒;

𝐹 𝐶 – Força similar a empuxo que aponta para o centro do disco;

𝐹 𝑆 – Força de sustentação;

𝐴 – Área projetada por um objeto;

𝑊𝑒 – Número de Weber;

𝜎 – Tensão superficial;

𝑉 – Volume;

𝑔 – Aceleração gravitacional;

𝜁 – Vorticidade;

𝛤 – Circulação;

𝐶𝐿 – Coeficiente de sustentação;

𝐶𝐿Ω – Coeficiente de sustentação alterado;

𝑏 – Coeficiente de arrasto viscoso;

Page 10: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

7

Sumário

1. Introdução ............................................................................................................ 11

1.1. Acelerômetros............................................................................................... 11

1.1.1. Acelerômetros fluidos ........................................................................... 13

1.1.2. Desafios e obstáculos em acelerômetros ............................................... 15

1.2. Fundamentação teórica ................................................................................. 15

1.2.1. Mecânica de Fluidos .............................................................................. 15

1.2.2. Sistemas de referência não inerciais ...................................................... 24

1.2.3. Fluidos em rotação ................................................................................ 26

1.3. Proposta e Objetivos ..................................................................................... 28

2. Processo experimental ......................................................................................... 32

2.1. Materiais e Métodos ..................................................................................... 32

2.1.1. A Fresadora ........................................................................................... 33

2.1.2. Arduino .................................................................................................. 34

2.1.3. Acelerômetro MM7361 ......................................................................... 35

2.1.4. Projeto.................................................................................................... 36

2.2. Evolução do modelo experimental ............................................................... 40

2.2.1. Modelo 1 ................................................................................................ 40

2.2.2. Modelo 2 ................................................................................................ 42

2.2.3. Modelo 3 ................................................................................................ 43

2.2.4. Modelo 4 ................................................................................................ 46

2.3. A escolha do fluido sensor ........................................................................... 49

2.3.1. Definição de um diâmetro estável da bolha .......................................... 50

2.4. Obtenção dos dados ...................................................................................... 51

2.4.1. Obtenção da aceleração ......................................................................... 51

2.4.2. Obtenção da distância da bolha ao centro ............................................. 51

2.5. Arranjo experimental .................................................................................... 53

Page 11: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

8

3. Resultados e discussão ........................................................................................ 56

3.1. Resultados experimentais ............................................................................. 56

3.1.1. Posição de equilíbrio da bolha ............................................................... 56

3.1.2. Resultados para posição da bolha .......................................................... 59

3.1.3. Análise da posição de equilíbrio da bolha ............................................. 66

4. Conclusão ............................................................................................................ 77

5. Apêndice A: Análise esquemática do arranjo experimental ................................ 79

6. Apêndice B: Códigos fonte ................................................................................. 82

6.1. Programa enviado ao Arduino (C) ............................................................... 82

6.2. Programa para a obtenção da aceleração (Python) ....................................... 84

7. Referências .......................................................................................................... 86

Page 12: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

9

Índice de Figuras

Figura 1-1 – Acelerômetro capacitivo (Freescale Semiconductor Inc.) ......................... 12

Figura 1-2 – Exemplo de acelerômetro de FBG de alavanca. a) montagem e geometria

do dispositivo; b) geometria do dispositivo exibindo elementos da malha (Basumallick

et al 2013) ....................................................................................................................... 13

Figura 1-3 – Exemplo de acelerômetro piezoelétrico proposto por Nemirovsky et al

(1995) ............................................................................................................................. 13

Figura 1-4 – Esquema do acelerômetro térmico proposto por Liao, Chen e Chou (2006)

........................................................................................................................................ 14

Figura 1-5 – de deformação de fluido viscoso contido entre placas paralelas móveis ... 17

Figura 1-6 – Modelo didático de acelerômetro de esfera de isopor. Da esquerda para a

direita, o acelerômetro pode ser visto acelerado para esquerda, em repouso e acelerado

para a direita. (representação artística) ........................................................................... 29

Figura 1-7 – Comportamento esperado para a bolha no dispositivo: a) em estado

inercial; b) sujeito a uma aceleração............................................................................... 30

Figura 2-1 – Fresadora a laser de CO2 Laser Solution 100, da Gravograph® ............... 33

Figura 2-2 – Modelo comercial de placa Arduino .......................................................... 34

Figura 2-3 – Placa MM7361, com acelerômetro MMA7361 ......................................... 36

Figura 2-4 – Peças do disco sensor em ordem de colagem ............................................ 37

Figura 2-5 – Disco sensor após montagem ..................................................................... 37

Figura 2-6 – Anel de volume com ranhura de admissão ................................................ 38

Figura 2-7 – Peças do modelo 1 em ordem de encaixe .................................................. 41

Figura 2-8 – Modelo 1 montado (representação artística) .............................................. 41

Figura 2-9 – Peças do modelo 2 em ordem de encaixe .................................................. 42

Figura 2-10 – Modelo 2 montado (representação artística) ............................................ 43

Figura 2-11 – Peças do disco de encaixe sem raster, em ordem de colagem ................ 44

Figura 2-12 – Peças da plataforma com pedestal para câmera, em ordem de colagem . 45

Figura 2-13 – Peças do modelo 3 em ordem de encaixe ................................................ 45

Figura 2-14 – Modelo 3 montado (representação artística) ............................................ 46

Figura 2-15 – Peças do disco de encaixe com anel de contagem em ordem de colagem47

Figura 2-16 – Peças do modelo 4 em ordem de encaixe ................................................ 48

Figura 2-17 – Plataforma do modelo 4 montada (representação artística) ..................... 49

Figura 2-18 – Pontos marcados no disco para cálculo de distância da bolha ao centro . 52

Page 13: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

10

Figura 2-19 – Arranjo experimental com rampa e transferidor (representação artística)54

Figura 2-20 – Ângulo de inclinação em relação à gravidade e aceleração equivalente . 54

Figura 2-21 – Arranjo experimental para observação do comportamento do sensor

sujeito a acelerações variáveis ........................................................................................ 55

Figura 3-1 – Ângulo da posição da bolha. a) aceleração nula; b) aceleração positiva em

y (resultado esperado); c) aceleração positiva em y (resultado observado) ................... 57

Figura 3-2 – Bateria completa de dados para distância da bolha ao centro em função da

aceleração medida e da velocidade angular do disco ..................................................... 60

Figura 3-3 – Número de Weber em função de 𝒂𝒆 e 𝝎 ................................................... 61

Figura 3-4 – Número de Reynolds em função de 𝒂𝒆 e 𝝎 .............................................. 62

Figura 3-5 – Posição da bolha (r) em função da aceleração medida (ae) para diferentes

valores de velocidade angular......................................................................................... 63

Figura 3-6 – Medidas da posição da bolha (r) em função da velocidade angular para

diferentes acelerações medidas ....................................................................................... 64

Figura 3-7 – Posição em função do inverso da velocidade angular ............................... 64

Figura 3-8 – Desvio padrão relativo médio para as medidas de distância de cada

aceleração utilizada......................................................................................................... 65

Figura 3-9 – Comparação dos dados experimentais (acima) com a equação deduzida

(abaixo). .......................................................................................................................... 67

Figura 3-10 – Diferença relativa entre modelo proposto e dados experimentais ........... 68

Figura 3-11 – Distribuição ponderada do módulo da diferença relativa entre modelo

proposto e dados experimentais (imprecisão do modelo) .............................................. 69

Figura 3-12 – Forças atuantes sobre a bolha: Sustentação, centrípeta, arrasto e força de

empuxo decorrente da aceleração externa ...................................................................... 70

Figura 3-13 – Diferença relativa entre dados experimentais e o segundo modelo

proposto .......................................................................................................................... 72

Figura 3-14 – Distribuição ponderada do módulo da diferença relativa entre o segundo

modelo e os dados experimentais (imprecisão do modelo) ............................................ 73

Figura 3-15 – Dados obtidos pelo acelerômetro de bolha em comparação com

acelerações equivalentes (pontos à esquerda) a partir da relação deduzida

empiricamente. ............................................................................................................... 75

Figura 5-1 – Visão geral do circuito do arranjo experimental ........................................ 79

Page 14: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

11

1. Introdução

O presente trabalho tem por objetivo o desenvolvimento de um acelerômetro que

baseia suas medidas na posição de uma bolha em um fluido rotativo.

Na fase introdutória desse trabalho, pesquisou-se sobre acelerômetros comerciais

e presentes na literatura da área de sensores. São analisados de forma breve os

princípios de funcionamento e a forma de saída de cada tipo de sensor.

Em seguida, conceitos relativos à mecânica de fluidos são analisados e o

comportamento de corpos imersos em fluidos para que o comportamento do sensor

proposto possa ser entendido.

1.1. Acelerômetros

Acelerômetros são dispositivos eletromecânicos elaborados com o intuito de

medir as acelerações a que estão sujeitos em relação a referenciais inerciais. Eles

geralmente utilizam massas de prova para realizar estimativas indiretas de

aceleração de acordo com seu comportamento.

Esses dispositivos são sensíveis a campos que produzam forças (como a

gravidade e campos eletromagnéticos, dependendo da forma utilizada) e forças

fictícias que atuam em seus mecanismos devido a efeitos de não inercialidade.

Eles são geralmente aplicados em situações em que é necessário conhecer

aceleração ou orientação em relação à gravidade. Podem-se destacar as aplicações

na engenharia civil, tanto para medição de nível quanto na detecção de vibrações

(integridade estrutural), tanto em edifícios em terra firme ou plataformas

marítimas; medição de oscilações de asas em aviões; em testes de segurança de

veículos automotores; aplicações em interatividade, como em dispositivos

eletrônicos com capacidade de conhecer a própria orientação em relação à

gravidade (como celulares por exemplo) ou equipamentos eletrônicos de

entretenimento.

Os acelerômetros encontrados na literatura estão classificados de acordo com a

forma que utilizam para definir sua massa de prova. Exemplos mais comuns na

literatura são os acelerômetros capacitivos, como o descrito por Zhou et al (2012)

e o acelerômetro comercial MMA7361L utilizado como suporte e referência nesse

trabalho.

Page 15: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

12

Um exemplo simplificado de funcionamento desse tipo de acelerômetro é

descrito pela Freescale Semiconductor Inc. como um capacitor de três placas

paralelas, das quais a central é móvel e sensível a acelerações, sendo ela a massa

de prova.

Figura 1-1 – Acelerômetro capacitivo (Freescale Semiconductor Inc.)

A capacitância do conjunto de capacitores varia de acordo com a espessura de

seus dielétricos, que por sua vez é alterada pela posição da placa central. A

variação nas capacitâncias dos dois pares de placas permite a estimativa da

aceleração.

A maioria desses acelerômetros tem como saída uma tensão analógica

proporcional à aceleração sentida. No caso do MMA7361L, a saída é diretamente

proporcional à aceleração sentida naquele eixo. Uma força restauradora atua na

placa central de forma que ela retorne ao centro. Essa força pode ser fornecida por

uma haste ou mola.

Acelerômetros de fibra óptica, baseados em redes de Bragg (também

conhecidos como FBG accelerometers – Fiber Bragg Grating accelerometers),

são largamente utilizados como sensores de vibração para aplicações em

engenharia e sismografia (Basumallick et al 2013) e compõem um nicho

significativo da literatura da área.

Basumallick et al (2013) propuseram um modelo de acelerômetro de FGB de

alavanca. Nessa variante, a massa de prova é fixada à extremidade de uma

alavanca conectada por sua outra extremidade a uma rede de Bragg. A vibração

deforma a rede e altera os comprimentos de onda filtrados, indicando assim a

oscilação do sistema.

Page 16: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

13

Figura 1-2 – Exemplo de acelerômetro de FBG de alavanca. a) montagem e geometria do

dispositivo; b) geometria do dispositivo exibindo elementos da malha (Basumallick et al 2013)

Outra variante comum de acelerômetro comercial utiliza de alavancas ou

materiais elásticos piezoelétricos ligados à massa de prova. A tensão ou a corrente

gerada por esse material é utilizada como medida para a aceleração. Essa é a

variante de sensores utilizados para medir acelerações em aviões. Nemirovsky, et

al (1995) propõe um modelo de acelerômetro seguindo esse princípio.

Figura 1-3 – Exemplo de acelerômetro piezoelétrico proposto por Nemirovsky et al (1995)

1.1.1. Acelerômetros fluidos

Outras formas de acelerômetro utilizam fluidos para a medida das forças

fictícias. Um exemplo bastante encontrado na literatura é o acelerômetro

térmico, para o qual uma fonte de calor em um meio fluido gera diferenças de

Page 17: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

14

densidade, e sensores térmicos estimam o deslocamento da fase quente para o

cálculo indireto da aceleração.

Algumas variantes desse princípio são descritas por Silva et al (2012) e

Liao, Chen e Chou (2006).

Figura 1-4 – Esquema do acelerômetro térmico proposto por Liao, Chen e Chou (2006)

O nível de bolha, que consiste em uma caixa de teto parabólico cheia de

fluido (normalmente álcool etílico) com uma bolha de ar, é uma forma comum

de acelerômetro utilizado especialmente na construção civil e em laboratórios.

Sua finalidade é sentir a gravidade e assim demonstrar a orientação de um

plano em relação a ela.

Tanto os acelerômetros térmicos quanto os níveis de bolha se beneficiam de

diferenças de densidade entre meio fluido e massa de prova, que no segundo

caso podem passar da razão 1000:1. Como as forças volumétricas atuantes em

corpos imersos em fluidos são proporcionais à massa do fluido deslocado pelo

objeto, diferenças grandes de densidade geram forças grandes em relação ao

peso ou forças fictícias que atuem sobre a massa de prova.

De forma semelhante ao nível de bolha, o presente trabalho propõe um

acelerômetro baseado na monitoração do comportamento de uma bolha imersa

em um fluido. Tirando proveito da grande diferença de densidade entre a

maioria dos líquidos com o ar, busca-se o desenvolvimento de um acelerômetro

Page 18: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

15

de sensibilidade variável usando, ao invés de uma caixa de face curva, um

sistema de rotação para gerar uma força restauradora.

1.1.2. Desafios e obstáculos em acelerômetros

As maiores barreiras para o desenvolvimento de uso de acelerômetros

residem em precisão e sensibilidade.

Em termos de precisão a maioria dos acelerômetros comerciais sofre com o

efeito de drift (ou “deriva”), que é uma oscilação constante ou um desvio na

medida que aumenta sensivelmente o desvio padrão dos resultados. Por

consequência, a maioria das aplicações que envolvem precisão dependem da

escolha cuidadosa do equipamento com a menor oscilação para aquela situação

específica. Em alguns casos pode haver um leve desvio na medida que introduz

um erro sistemático que pode ser resolvido com calibragem.

A maioria das variantes de acelerômetros tem sua sensibilidade (e alcance

de medidas) bem definida. Para aplicações em que diferentes sensibilidades são

necessárias, os aparatos costumam ser compostos por dois ou mais sensores

diferentes selecionáveis, como duas hastes de comprimentos diferentes ou

conjuntos diferentes de capacitores.

Os exemplos de acelerômetros aqui mencionados são todos

unidimensionais. Para cobrir duas ou três dimensões, os equipamentos

costumam contar com conjuntos de sensores ortogonais.

1.2. Fundamentação teórica

Para o entendimento dos fenômenos envolvidos no desenvolvimento do sensor

de aceleração aqui proposto serão abordados alguns tópicos fundamentais de

Mecânica dos Fluidos e de sistemas de referência não inerciais.

1.2.1. Mecânica de Fluidos

Hipótese do contínuo

A base da Mecânica dos Fluidos clássica é a hipótese do contínuo, forma de

análise que desconsidera o comportamento granular do fluido e o trata de

acordo com leis válidas para meios contínuos. Assim sendo, elas são válidas

apenas em limites em que essa aproximação é razoável, ou seja, quantidades de

Page 19: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

16

fluido grandes o suficiente para que o comportamento granular seja desprezível

(Fox, McDonald e Prichard, 2004, e Landau e Lifshitz, 1959).

Para um fluido contínuo é válida a definição de um campo escalar

densidade, que define a forma como a massa está distribuída no volume e no

tempo. Vale então:

𝜌 = 𝜌(𝑥, 𝑦, 𝑧, 𝑡) (1)

Outro campo relevante para a mecânica dos fluidos quanto se estuda o

movimento é o campo vetorial velocidade, que definirá o fluxo em cada ponto

do volume do fluido em estudo.

= (𝑥, 𝑦, 𝑧, 𝑡) (2)

A definição da velocidade como um campo e, portanto, uma propriedade do

ponto fixo no espaço é também conhecida como descrição de Euler. A análise

de uma partícula de fluido, ou de uma partícula nele imersa, e das forças que

nela atuam caracteriza a descrição de Lagrange (Batchelor, 2000). Em muitos

casos em que são analisadas partículas imersas em um fluido, uma abordagem

mista é empregada.

Outra grandeza importante para a Mecânica dos Fluidos é a pressão. Ela é

definida pelo campo escalar:

𝑝 = 𝑝(𝑥, 𝑦, 𝑧, 𝑡) (3)

A pressão define a força que um fluido exerce sobre uma superfície em seu

volume. Os gradientes de pressão serão particularmente importantes ao longo

desse trabalho, uma vez que são responsáveis pela maior parte das forças

participantes na dinâmica de fluidos.

Viscosidade

Um fluido sujeito a uma tensão de cisalhamento responde com uma

resistência à deformação. Isso decorre de forças intermoleculares internas a ele.

A propriedade atribuída aos fluidos devido a esse comportamento é a

viscosidade, que é um análogo à plasticidade nos sólidos.

Page 20: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

17

Figura 1-5 – de deformação de fluido viscoso contido entre placas paralelas móveis

A figura 1-5 mostra o perfil de deslocamento de um fluido confinado entre

duas placas paralelas que se deslocam entre si.

Fluidos que se deformam continuamente sob ação de uma tensão de

cisalhamento são denominados newtonianos e os demais são denominados não

newtonianos.

Para fluidos newtonianos vale (Fox, McDonald e Pritchard, 2004, Vanyo,

1993):

𝜏 = 𝜇𝑑𝑢

𝑑𝑦 (4)

onde 𝜏𝑦𝑥 é a tensão gerada pela força atuante e a derivada de u em y define o

perfil de velocidade do fluido ao longo do eixo y. A grandeza 𝜇 é a viscosidade

dinâmica.

Em casos de escoamento, situações onde a viscosidade é relevante ao

problema caracterizam escoamentos viscosos. Situações onde a viscosidade

pode ser desprezada sem prejuízo à análise são considerados não-viscosos (ou

invíscidos). É importante ressaltar que a definição de um problema viscoso ou

não viscoso é uma característica do fluxo e não algo intrínseco ao fluido

(Bejan, 1995).

Tensão superficial

Enquanto ao longo do volume as interações entre as moléculas tendem a

gerar efeitos de viscosidade, a superfície do fluido terá uma energia a ela

relacionada. Essa energia gera uma tensão chamada tensão superficial.

Page 21: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

18

Para efeitos de minimização de energia de superfície, as superfícies líquidas

tendem a gerar formas arredondadas, pois são as formas de menor área para um

dado volume. Esse é o principal motivo de bolhas e gotas tenderem a formas

esféricas.

Adimensionais

No estudo de Mecânica dos Fluidos, algumas grandezas adimensionais se

tornam particularmente úteis para a análise dos problemas.

A partir da equação de Navier-Stokes, uma relação entre velocidade,

densidade e viscosidade pode ser observada. Essa relação foi notada por

Reynolds que desenvolveu um adimensional particularmente útil na solução

dessa equação, dado por:

𝑅𝑒 =𝜌𝐿𝑈

𝜇 (5)

onde L é um comprimento característico do problema e U é a velocidade

característica (Vanyo, 1993).

O número de Reynolds, como é conhecido, é particularmente útil para a

estimativa do regime de escoamento quanto à laminaridade: baixos números de

Reynolds resultam de uma viscosidade alta em relação ao tamanho dos

obstáculos e as velocidades envolvidas no problema, o que sugere escoamentos

laminares.

De acordo com Bejan (1995), o número de Reynolds pode ser definido a

partir da camada limite (a distância do obstáculo ou parede a partir da qual sua

influência no movimento do fluido pode ser desprezada) e do tamanho do

obstáculo relevante. A definição é dada a partir da seguinte relação:

𝑅𝑒1/2 =𝐷𝑖𝑚𝑒𝑛𝑠ã𝑜 𝑑𝑜 𝑜𝑏𝑠𝑡á𝑐𝑢𝑙𝑜

𝐿𝑎𝑟𝑔𝑢𝑟𝑎 𝑑𝑎 𝑐𝑎𝑚𝑎𝑑𝑎 𝑙𝑖𝑚𝑖𝑡𝑒 (6)

O autor argumenta que o significado físico está na raiz quadrada do número

de Reynolds ao invés do número em si, pois é ela que tem uma interpretação

física mais concreta.

Esse adimensional também é útil para a definição da forma relevante do

arrasto para o problema (que será discutido adiante).

Page 22: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

19

O arrasto geométrico sobre um corpo imerso no fluido é fortemente

dependente do coeficiente de arrasto, definido como:

𝐶𝐷 =𝐹𝐷

12𝜌𝑉2𝐴

(7)

onde 𝐹𝐷é a força de arrasto e A é a área da sombra gerada pelo objeto. Para a

maioria das situações, o valor de 𝐶𝐷 deverá ser deduzido empiricamente.

Por conveniência, a maioria das deduções empíricas liga o coeficiente de

arrasto ao número de Reynolds. Para uma bolha de ar livre de deformações e

em fluxo uniforme de um líquido, Mei, Klausner e Lawrence (1994), citados

por Nierop et al (2007), deduziram uma formulação empírica válida para

limites altos e baixos de números de Reynolds:

𝐶𝐷 =16

𝑅𝑒[1 + [

8

𝑅𝑒+

1

2(1 + 3,314𝑅𝑒−1/2)]

−1

] (8)

Outro adimensional relevante para esse trabalho é o número de Weber

(Nierop et al, 2007), útil para o estudo do movimento de bolhas, definido como

𝑊𝑒 =2𝑅𝑏𝜌𝑙| − 𝑣 |

2

𝜎 (9)

onde 𝑅𝑏 é o raio da bolha, 𝜌𝑙 a densidade do líquido onde a bolha se forma, 𝜎 é

a tensão superficial, é o campo velocidade do fluido e 𝑣 a velocidade da

bolha, determina uma razão de peso entre as propriedades do fluido, a

velocidade relativa entre fluido e bolha e a tensão superficial, pesando assim a

influência da tensão superficial na formação de bolhas ao longo do problema.

De acordo com Nierop et al (2007) números de Weber muito menores que 1

indicam a tendência de bolhas serem esféricas, informação que será importante

para a formulação da força de arrasto.

O estudo do efeito da sustentação induzida por cisalhamento é fortemente

dependente de um coeficiente denominado coeficiente de sustentação, que a

princípio é desconhecido no início da análise de um problema.

A análise do comportamento de uma massa fluida sujeita a efeitos de massa

virtual (discutidos adiante) pode ser realizada de acordo com um coeficiente de

massa virtual, dependente especialmente da geometria do corpo.

Page 23: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

20

Regimes de escoamento laminar e não laminar

Um escoamento ocorre quando o campo velocidade possui uma média em

um dado sentido. Em um escoamento viscoso, a viscosidade tenderá atenuar o

perfil da distribuição da velocidade ao longo do volume.

Quando a viscosidade é suficientemente alta para o perfil de velocidade do

escoamento e a forma dos obstáculos, a velocidade tenderá a padrões suaves

aproximadamente unidirecionais. Essa situação caracteriza um escoamento

laminar.

Em velocidades mais altas e em situações onde o escoamento atravessa

obstáculos, o comportamento do campo velocidade se torna mais difícil de

modelar devido à geração de turbulências, que são vórtices no escoamento

ligados a dissipação de energia. O escoamento que segue esse regime é

considerado turbulento ou não laminar.

Essa distinção é realizada predominantemente pelo número de Reynolds,

discutido anteriormente. Em situações onde trocas de calor são relevantes ao

problema, a observação do número de Grashof ou do número de Rayleigh

(Bejan, 1995) oferece uma análise mais completa.

Para cada obstáculo ou largura de canal relevante para o problema existe

uma condição diferente de número de Reynolds que define o regime de

escoamento quanto à laminaridade. A situação onde o escoamento muda de

laminar para não laminar é chamada de regime de transição.

Para a maioria dos problemas, a largura do canal é o comprimento mais

relevante a ser considerado, mas em muitas situações outros parâmetros, como

tamanho de obstáculo ou afins podem ser mais importantes.

Bejan (1995) explica que para um número de Reynolds local (ou seja,

considerando a escala de velocidade longitudinal e tomando como

comprimento característico a dimensão transversal do canal) o número de

Reynolds que caracteriza regime de transição será tipicamente da ordem de

102.

Muitos estudos são desenvolvidos no sentido de entender a influência de

bolhas sobre o regime do fluido ao seu redor e, igualmente, os efeitos de

turbulências sobre os movimentos de bolhas.

Page 24: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

21

Nagami e Saito (2012) realizam um estudo de movimento ascendente de

bolhas de CO2 em líquidos em grade oscilatória (turbulência induzida).

Comparando seus resultados com os de Poorte e Biesheuel (2002), os autores

argumentam que as constantes mudanças de trajetórias de bolhas nessa situação

causadas por turbulências locais são menos intensas em bolhas de menor

diâmetro equivalente.

Fluidos compressíveis e incompressíveis

Um fluido é tido como compressível em uma análise se sua densidade pode

variar ao longo do espaço ou do tempo. Gases são bons exemplos de fluidos

compressíveis.

Um fluido incompressível não admite variações de densidade. Assim sendo,

gradientes de densidade não podem ser admitidos nesse regime. Outra

consequência natural da incompressibilidade é a não existência de divergentes

de velocidade (Landau e Lifshitz, 1959), uma vez que a massa não pode se

acumular em regiões de fluidos. A maior parte dos líquidos em temperaturas e

pressões tipicamente ambientes se comporta de forma incompressível.

É importante ressaltar que essa distinção é fortemente dependente do

problema analisado.

A Equação de Navier-Stokes

Como comentado anteriormente, a Mecânica dos Fluidos parte das leis da

Mecânica Clássica para meios contínuos. Isso significa que em limites

clássicos deve-se observar conservação de massa, momento e energia.

Com base nos campos descritos anteriormente e na conservação das

grandezas físicas, Navier e Stokes realizaram trabalhos no sentido de

desenvolver uma equação diferencial parcial que descreve o escoamento de

fluidos viscosos. Ela é obtida a partir da equação de Euler, e em sua forma

geral pode ser escrita como (Bruus, H, 2006):

𝜌(𝐷𝑡 ) = ∑𝑓 𝑗𝑗

(10)

O termo 𝐷𝑡 é o diferencial total temporal aplicado sobre o campo

velocidade, e pode ser descrito como:

𝐷𝑡 =

𝜕

𝜕𝑡+ ( . ∇) (11)

Page 25: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

22

Os termos 𝑓 𝑗 são as forças atuantes sobre a unidade de volume de massa

fluida.

Quando a pressão ao longo do volume de um fluido varia, forças de volume

tenderão a transportar massa fluida da região de maior para a de menor pressão.

Essa força, aplicada sobre uma unidade de volume, pode ser escrita como:

𝑓 𝑝 = −∇𝑝 (12)

que é a força de pressão.

Um fluido viscoso exerce forças sobre si mesmo ao longo do volume. Essa

força depende da laplaciana do campo velocidade e pode ser descrita da

seguinte forma:

𝑓 𝑣 = 𝜇∇2 (13)

onde 𝜇 é a viscosidade dinâmica.

Quando o escoamento em questão é incompressível e pode ser considerado

newtoniano e laminar, essas serão as forças relevantes para a maior parte dos

problemas. Nesse regime, a equação (10) assume a seguinte forma:

𝜌 (𝜕

𝜕𝑡+ ( . ∇) ) = −∇𝑝 + 𝜇∇2 (14)

Essa é a equação de Navier-Stokes (Landau e Lifshitz, 1959, e Vanyo,

1993) para escoamentos incompressíveis, newtonianos e laminares, e será

válida para velocidades subsônicas.

Outras forças que atuem sobre elementos de volume do fluido devem ser

adicionadas ao lado direito da equação.

Forças atuantes em corpos imersos em fluidos

Um meio fluido interage com corpos nele imersos de diversas formas. As

principais delas são o arrasto e o empuxo.

Arrasto

Todo corpo que se move em um fluido sofre uma resistência chamada

arrasto. O arrasto é uma combinação de forças de pressão e forças decorrentes

da viscosidade, e cresce com a velocidade relativa.

Page 26: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

23

A componente viscosa do arrasto é denominada arrasto viscoso e é

diretamente proporcional à velocidade. A componente de pressão do arrasto é

denominada arrasto de pressão ou arrasto geométrico e é proporcional ao

quadrado da velocidade.

A forma geral do arrasto viscoso é:

𝐹 𝐷 = −𝑏(𝑣 − ) (15)

onde 𝑏 é um valor fortemente dependente da viscosidade do fluido e da

geometria do objeto, e é obtido empiricamente para cada problema particular.

Para uma esfera sólida sujeita a um arrasto predominantemente viscoso

(números de Reynolds muito baixos), um valor conhecido para a força de

arrasto pode ser aplicado:

𝐹 𝐷 = −6𝜋𝜇𝑅(𝑣 − )

onde R é o raio da esfera.

O arrasto geométrico é dado pela equação do arrasto:

𝐹 𝐷 = −1

2𝜌|𝑣 − |

2𝐶𝐷𝐴

(𝑣 − )

|𝑣 − | (16)

onde A é a área da sombra do corpo perpendicular ao sentido do escoamento e

𝐶𝐷 é o coeficiente de arrasto.

A forma relevante para a força de arrasto é escolhida a partir do número de

Reynolds e da geometria do corpo em questão. De um ponto de vista geral, a

região de transição entre as duas formas está em números de Reynolds

próximos a 1000.

Empuxo

O empuxo é uma força decorrente de gradientes de pressão. Massas fluidas

sujeitas a forças de volume, como o peso ou uma ação eletromagnética,

formam gradientes de pressão em seu interior, de forma que corpos ali imersos

estarão sensíveis a eles.

A forma de empuxo mais comum na maioria dos problemas é o

gravitacional, dado por:

𝐹 𝐸 = −𝜌𝑔 𝑉

Page 27: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

24

onde 𝜌 é a densidade do fluido, 𝑔 é o vetor gravidade atuando na região e 𝑉 é o

volume de fluido que o corpo desloca. Outros campos que gerem forças sobre o

volume do fluido também poderão causar empuxo, como será visto adiante.

Força de Basset e efeito de massa virtual

Em sistemas fluidos que envolvem movimentação relativa entre fases, como

no caso de bolhas em fluidos, o movimento e a aceleração de uma fase gera

efeitos inerciais internos. Esses efeitos se dividem em duas componentes

principais: o chamado efeito de massa virtual (added mass effect) e a força de

Basset (Basset force ou history force).

O primeiro termo provém do fato da partícula fluida que se move não se

comportar como um corpo rígido, e apresentar internamente movimentos

decorrentes de acelerações.

O segundo termo corresponde ao efeito viscoso, e geralmente se manifesta

após a aceleração da massa fluida, atuando como um efeito de memória. Na

maioria dos casos, essa força tem pequeno peso sobre o resultado final do

problema, e pode ser negligenciada (por questões de conveniência). Para casos

de escoamento de partículas fluidas de múltiplas fases em baixos números de

Reynolds (Re<5), porém, seu efeito pode ser relevante.

1.2.2. Sistemas de referência não inerciais

A definição de sistemas de referência é vital e sempre está implícita na

análise de qualquer problema físico. As leis de Newton e aquelas que dela

derivam consideram o universo analisado de um referencial inercial, ou seja,

um referencial que não sofre acelerações (força resultante sobre o referencial é

nula).

Quando a análise por um referencial não inercial é conveniente, correções

precisam ser aplicadas às leis físicas relevantes, especialmente a Segunda Lei

de Newton. As acelerações a que esse referencial está sujeito são então

acopladas como correções nos corpos analisados.

Dado um corpo que se move de acordo com uma função 𝑟 (𝑡) em relação a

um referencial inercial, a segunda lei de Newton para esse referencial será:

∑𝐹 = 𝑚𝑑2𝑟

𝑑𝑡2(𝑡)

Page 28: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

25

Caso um referencial não inercial seja adotado, a relatividade de Galileu

sugere como transformação de referencial a subtração da variação de posição

do novo referencial. Dessa forma, se o novo referencial sofre uma aceleração

𝑎 , a nova forma para a segunda lei seria:

∑𝐹 ′ = 𝑚 [𝑑2𝑟

𝑑𝑡2(𝑡) − 𝑎 ] = 𝑚

𝑑2𝑟 ′

𝑑𝑡2

Por esse motivo, referenciais não inerciais observam forças denominadas

fictícias, que surgem dos termos adicionados à aceleração na segunda lei. As

possíveis componentes de forças fictícias a serem adicionadas aos modelos não

inerciais surgem de translações e rotações do referencial.

A Segunda Lei de acordo com um sistema de coordenadas em movimento

arbitrário pode ser descrita da seguinte forma (Thornton e Marion, 2004):

𝑚𝑑2𝑟 ′

𝑑𝑡2= 𝑚 [

𝑑2𝑟

𝑑𝑡2−

𝑑2𝑟 𝑛𝑖

𝑑𝑡2−

𝑑

𝑑𝑡× 𝑟 ′ − 2 × 𝑣 𝑀 − × ( × 𝑟 ′)] (17)

Onde:

𝑟 é a posição do corpo em relação ao referencial inercial anterior;

𝑟 𝑛𝑖 é a posição do novo referencial não inercial em relação ao

anterior;

é a velocidade angular com que o novo referencial gira em torno

de si;

𝑟 ′ é a posição do corpo em relação ao novo referencial.

O primeiro e o segundo termos subtraídos são decorrentes da aceleração de

translação e de rotação do referencial. O termo translacional é o mais relevante

para acelerômetros.

𝐹 𝑡𝑟𝑎𝑛𝑙 = −𝑚𝑑2𝑟 𝑛𝑖

𝑑𝑡2

𝐹 𝑟𝑜𝑡 = −𝑚𝑑

𝑑𝑡× 𝑟 ′

O termo seguinte é a aceleração de Coriolis, que decorre da variação de

trajetória observada quando o corpo se desloca em relação ao referencial. O

último termo é a aceleração centrífuga.

𝐹 𝑐𝑜𝑟 = −2 × 𝑟 ′

Page 29: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

26

𝐹 𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟 = − × ( × 𝑟 ′)

Referencial rotacional contra referencial não rotacional

É importante entender que a equação (17) leva em consideração fatores não

inerciais no referencial. As forças de cunho rotacional, dependentes de , só

existirão quando o sistema de referência gira.

No estudo de fluidos em rotação, essas forças só serão consideradas para

referenciais rotacionais. Assim sendo, as forças de Coriolis, centrípeta e fictícia

de aceleração angular não podem ser consideradas para referenciais de

aceleração puramente translacional (distinção importante nesse trabalho).

1.2.3. Fluidos em rotação

Para o estudo de fluidos em rotação é conveniente a introdução da grandeza

vorticidade (Vanyo, 1993), que está relacionada com a velocidade do fluido em

torno de um núcleo de rotação. Essa grandeza é estudada intensivamente em

engenharia para problemas em que turbulências influenciam drasticamente a

dinâmica do dispositivo.

A vorticidade é um vetor definido pelo rotacional do campo velocidade do

fluido:

𝜁 = ∇ ×

Para um fluido de velocidade angular constante , a vorticidade assume a

forma:

𝜁 = 2

Define-se como circulação ao redor de uma área a integral de caminho

fechado da velocidade do fluido pelo elemento de comprimento ao longo da

curva C, tal que C define a curva fechada que circunscreve a área.

𝛤 = ∮ . 𝑑𝑙 𝐶

Um corpo imerso em um vórtice estará sujeito a uma força de sustentação,

uma força que recebeu seu nome da aerodinâmica de aviões e surge da

diferença de pressão gerada pela diferença de velocidade do fluido em lados

opostos do objeto. Ela pode ser definida a partir da circulação ao redor do

objeto:

Page 30: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

27

𝐹𝑆 = −𝜌𝑉𝛤

Para um fluido em rotação, o conjunto de forças que garante a vorticidade

tem resultante centrípeta. O comportamento do fluido ao redor do vórtice pode

ser tratado como fruto de um mínimo de pressão no núcleo e um gradiente

radial que aponta do núcleo para a borda.

A conseqüência desse efeito é a existência de uma força similar ao empuxo

sobre corpos no vórtice, mas apontando para o centro. De acordo com esse

modelo, em um fluido que gira a uma velocidade angular constante 𝜔, corpos

próximos ao centro de vorticidade 𝑟 0estarão sujeitos a uma força 𝐹 𝑐 tal que:

𝐹 𝑐 = −𝜌𝑙𝑉𝜔2(𝑟 − 𝑟 0) (18)

onde 𝜌𝑙 é a densidade do fluido e 𝑉 é o volume do corpo. Essa força fará com

que corpos de densidade menor que a do fluido tendam a se concentrar no

centro de rotação. Essa força centrípeta será equivalente à força de massa

virtual.

Uma bolha esférica imersa em um fluido gera uma componente modificada

da força de sustentação, denominada sustentação induzida por cisalhamento.

Essa força surge do fato de que a presença da bolha muda o perfil de

velocidade do fluido ao seu redor.

Magnaudet e Eanes (2000) escreveram uma forma para a força resultante

sobre bolhas esféricas em escoamentos invíscidos. De acordo com seu modelo,

uma bolha tratada como partícula obedecerá à seguinte forma para a Segunda

Lei de Newton:

𝜌𝑙𝑉𝑏𝐶𝐴

𝑑𝑣

𝑑𝑡= 𝜌𝑙𝑉𝑏(𝐶𝐴 + 1)𝐷𝑡 + 𝜌𝑙𝑉𝑏𝐶𝐿( − 𝑣 ) × (∇ × )

+1

2𝜌𝑙𝐶𝐷𝐴| − 𝑣 |( − 𝑣 ) − 𝜌𝑙𝑉𝑏𝑔

(19)

Essa equação leva em consideração arrasto, empuxo, efeitos de massa

virtual e força de sustentação, e de acordo com os autores é válida para

números de Reynolds maiores que 5. O valor de 𝐶𝐴 para bolhas esféricas é 1/2

para qualquer número de Reynolds (Lamb, 1934, citado por Nierop et al 2007).

Para um fluido em rotação “rígida” (velocidade angular constante em

relação ao centro do vórtice), o perfil de velocidade pode ser descrito por:

(𝑟 ) = 𝜔𝑟𝜃

Page 31: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

28

Isso implica em afirmar que:

∇ × = 2

𝐷𝑡 = −𝜔2𝑟

Nierop et al (2007) concluíram que uma forma conveniente para a

combinação da força de sustentação induzida por cisalhamento com o efeito de

massa virtual para bolhas em repouso (𝑣 = 0) nesse regime de escoamento é:

𝐹𝑆 + 𝐹𝐴 = 2𝐶𝐿𝛺𝜌𝑙𝑉𝑏𝜔2𝑟 (20)

Onde:

𝐶𝐿𝛺 = 𝐶𝐿 −1

2(1 + 𝐶𝐴)

A equação (20) corresponde ao primeiro e ao segundo termos ao lado direito

da equação (19), e é possível verificar que ela inclui a força descrita pela

equação (18).

Essa equação revela uma característica importante do equilíbrio de forças

atuante sobre uma bolha em um vórtice: o conjunto de forças que resulta da

rotação do fluido tende a trazer a bolha para o centro da vorticidade. A

intensidade dessa força será proporcional à velocidade angular do vórtice.

1.3. Proposta e Objetivos

O modelo didático que inspirou o trabalho utiliza uma esfera de isopor imersa

em água. Acelerações sobre o recipiente geram gradientes de pressão que

movimentam a esfera na direção da aceleração. Um fio preso ao fundo do

recipiente garante que a esfera se mantenha longe das paredes e retorne ao centro

após o fim da aceleração.

Page 32: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

29

Figura 1-6 – Modelo didático de acelerômetro de esfera de isopor. Da esquerda para a direita, o

acelerômetro pode ser visto acelerado para esquerda, em repouso e acelerado para a direita.

(representação artística)

Observou-se que as características importantes para o funcionamento desse

modelo didático como sensor são a diferença de densidade entre a água e o isopor

e a tração do fio, que em conjunto com o empuxo atua como força restauradora.

Para esse trabalho, propôs-se o uso de uma bolha de ar e de um sistema em

rotação, de forma que as forças fictícias atuantes sobre o fluido gerassem um

gradiente de pressão que trouxesse a bolha ao centro. A intensidade dessas forças

poderia ser controlada a partir da velocidade angular com que se gira o fluido, o

que permitiria a mudança da sensibilidade do sensor.

Esperou-se que o sistema se comportasse de maneira que:

A bolha se mantivesse ao centro enquanto o sistema não fosse

acelerado;

A bolha se deslocasse no sentido da aceleração quando ela ocorresse;

O arrasto do fluido sobre a bolha deslocasse sua posição no sentido da

rotação;

A bolha se afastasse do centro de rotação a uma distância maior para

acelerações maiores.

Page 33: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

30

Figura 1-7 – Comportamento esperado para a bolha no dispositivo: a) em estado inercial; b) sujeito

a uma aceleração.

Assim sendo, definiu-se como o objetivo geral desse trabalho:

A elaboração de um acelerômetro fluido bidimensional de sensibilidade

variável a partir de uma bolha de ar em um disco de fluido em rotação.

Como objetivos específicos foram definidos:

O entendimento do comportamento do acelerômetro didático tomado

por base;

A aplicação de seu princípio em um acelerômetro de bolha de ar em

fluido em rotação;

A construção do dispositivo acelerômetro;

A análise dos parâmetros envolvidos em seu uso para medidas de

aceleração;

A caracterização do dispositivo enquanto sensor.

A escolha da bolha como massa de prova se deve especialmente à grande

diferença de densidade entre o ar e a maior parte dos líquidos.

Com a conclusão desse trabalho buscou-se a obtenção de um dispositivo sensor

de aceleração e sensibilidade continuamente variável. Na maior parte das

aplicações onde é necessária a variação da sensibilidade, os dispositivos

comerciais dispõem de múltiplos arranjos sensores, cada um com uma

sensibilidade distinta. O uso desse princípio na medida de acelerações é inédito e

até agora não pôde ser encontrado na literatura.

Page 34: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

31

Nesse trabalho foi desenvolvido um sensor cuja sensibilidade pode ser variada

arbitrariamente com a mudança da velocidade angular do disco, e o ajuste fino

pode ser realizado ao limite da precisão da variação de rotação.

Page 35: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

32

2. Processo experimental

Para atingir os objetivos propostos, o primeiro passo foi a construção de um disco

transparente plano e oco dentro do qual se pudesse injetar o fluido que atuará como

sensor.

Ao disco foi acoplado um mecanismo de rotação e foi escolhido um método de

captura de imagem para análise. Como a velocidade angular se mostrou um

parâmetro importante na análise do sensor, uma forma para sua medição foi

escolhida.

2.1. Materiais e Métodos

O material escolhido foi o PMMA por ser transparente e adequado para a

usinagem a laser, possibilitando a confecção de vários sensores e da reposição

mais rápida de peças danificadas. Diferentes formas de cola e vedação foram

experimentados.

Para a captura de imagem, foi utilizada uma câmera CCD de interface USB e

software de captura (Cheese).

Para a rotação do disco foram testados diversos motores com a finalidade de

determinar o mais adequado. Buscou-se um motor que permitisse uma rotação a

velocidade angular controlável e constante, com baixo ruído (tanto elétrico quanto

mecânico) e que não perdesse torque nas diversas situações de velocidade angular

experimentadas. Por fim, optou-se por um motor de corrente contínua com

redução.

O aparato foi controlado por um Arduino, uma plataforma de prototipagem

eletrônica de fonte aberta composta por um microprocessador capaz de realizar

tarefas programadas e com interface serial para comunicação com um

computador.

Como referência para medidas, utilizou-se um acelerômetro comercial, um

MMA7361, baseado em um acelerômetro microfabricado da Freescale

Semiconductors.

Page 36: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

33

2.1.1. A Fresadora

Para o corte de peças de acrílico, adotou-se a técnica da fresagem a laser. O

equipamento utilizado foi a fresadora a laser de CO2 Laser Solution 100, da

empresa Gravograph®.

Figura 2-1 – Fresadora a laser de CO2 Laser Solution 100, da Gravograph®

Este equipamento usa um laser de CO2 de 30W e uma lente convergente

com a finalidade de concentrar a incidência no ponto focal. O aparato é preso a

dois trilhos ortogonais e conduzido por motores de passo, de modo que há

liberdade de movimento em duas dimensões (mesa x-y).

O equipamento se conecta ao computador pela porta de impressora. O

software que o controla é compatível com desenho vetorial, permitindo assim

bom controle das linhas de corte de forma mais intuitiva.

Por software, as variáveis controláveis são a potência do laser e a velocidade

de deslocamento ao longo dos trilhos. Na máquina, a altura da bandeja pode ser

definida, de forma a variar a posição da peça fresada em relação ao foco da

lente do laser.

Foi utilizado nesse trabalho o software Corel Draw para o desenho das

peças e impressão. Schneider (2010) realizou um estudo pormenorizado do uso

dessa máquina para a confecção de peças em acrílico utilizando o mesmo

programa.

Os dois modos de trabalho disponíveis e utilizados nesse trabalho são:

Vector: o software utiliza os contornos das formas enviadas em formato

vetorial e o laser percorre o mesmo trajeto, sendo essa uma ferramenta ideal

para corte;

Raster: o software envia as áreas das formas geométricas e o laser faz um

mapeamento completo, sendo esse método ideal para a formação de escavações

nas peças.

Page 37: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

34

Análises dos perfis de corte por ablação a laser a partir desse equipamento

foram realizadas por Schneider (2010) e por Rahal (2011) para peças em

PMMA.

2.1.2. Arduino

O Arduino é uma iniciativa de fonte aberta que tem por intuito facilitar a

prototipagem eletrônica para fins de estudo e hobbismo.

Sua base é um processador das séries ATMega, que variam de 8 a 32 bits, e

tem por padrão 14 pinos digitais de entrada e saída (I/O) e 6 pinos analógicos

de entrada. Ele é capaz de armazenar um programa escrito em linguagem C

pelo usuário e enviado a partir de interface serial e usá-lo para definir seu

comportamento. A equipe Arduino disponibiliza gratuitamente na Internet todo

o software necessário para a operação desse equipamento, tal como referências

de programação e prototipagem eletrônica.

A alimentação do aparato pode ser fornecida por uma fonte externa, mas

pode também ser provida pela interface USB, que atuará como uma porta serial

virtual e fonte de alimentação simultaneamente.

Figura 2-2 – Modelo comercial de placa Arduino

Os pinos digitais podem ser inicializados como entrada (INPUT) ou saída

(OUTPUT). Quando configurado como entrada, o pino entra em um estado de

alta impedância e o processador passa a medir a tensão nele aplicada. Caso a

tensão seja maior ou igual a 3V em relação ao terra, diz-se que ele está em

estado ALTO (“HIGH” = 1 lógico) . Caso contrário, estará em estado BAIXO

Page 38: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

35

(“LOW” = 0 lógico). Uma função pode ser usada no programa passado à placa

para testar o estado de um pino de entrada.

Caso seja inicializado como saída, um pino digital entrará em estado de

baixa impedância. Uma função pode ser chamada pelo programa para que o

processador altere sua tensão para 5V (HIGH) ou terra (LOW). Uma saída

digital pode suprir uma corrente de 40mA, suficiente para alimentar um LED

ou fornecer corrente para alimentar a base de um transistor de junção bipolar.

O Arduino possui uma função interna para que um pino digital de saída se

comporte como um modulador de largura de pulso (PWM) controlado pelo

programa.

Os pinos analógicos do Arduino são usados para medir a tensão neles

aplicada, uma informação particularmente útil para a aquisição de dados de

sensores e potenciômetros. A tensão medida é convertida para um formato

digital de 10 bits, entendido como um número inteiro de 0 (para tensões iguais

ao terra) a 1023 (para tensões iguais a 5V ou a outra referência definida

externamente). Apesar dessa funcionalidade, esses pinos podem também ser

inicializados como pinos digitais de entrada ou saída.

A placa conta ainda com um pino de alimentação de 5V, cuja alimentação é

fornecida diretamente pela fonte externa, e outro de 3,3V, cuja alimentação é

fornecida pelo circuito FTDI1 interno (corrente máxima de 50mA).

2.1.3. Acelerômetro MM7361

O MM7361 é uma placa construída a partir de um circuito integrado

MMA7361L, produzido pela Freescale Semicondutors, que é um acelerômetro

capacitivo micro-usinado tridimensional de baixo consumo com compensação

de temperatura e dois níveis de sensibilidade.

Seu funcionamento se baseia em capacitores de três placas (duas placas

fixas ao aparato e uma placa central móvel sensível a acelerações). A placa

central está sujeita a uma força restauradora e sua posição varia de acordo com

a aceleração externa. A variação de sua posição altera a espessura do dielétrico

1 O circuito FTDI (FTDI chip) é um dispositivo desenvolvido pela Future Technology Devices

International (FTDI) para a conversão de sinal serial (RS-232 ou TTL) para formato USB, permitindo

assim que dispositivos microcontrolados que se beneficiem dessa tecnologia possam se comunicar

com computadores modernos. Este circuito está presente nas placas Arduino comerciais.

Maiores informações podem ser encontradas no site da empresa (http://www.ftdichip.com/).

Page 39: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

36

entre ela e as placas vizinhas, alterando assim a capacitância. Essa alteração é

utilizada para a medida eletrônica da aceleração, e o sinal de saída é uma

tensão analógica diretamente proporcional à aceleração aplicada.

Figura 2-3 – Placa MM7361, com acelerômetro MMA7361

As duas sensibilidades são 1,5g e 6g, onde g indica a aceleração da

gravidade. A seleção da sensibilidade é feita pela aplicação de um sinal

positivo no pino GS.

A placa tem três pinos de saída, x, y, e z, que correspondem a diferentes

conjuntos de capacitores e indicam acelerações em três eixos ortogonais,

permitindo assim medidas em três dimensões. A tensão de saída desses pinos

varia de terra a 3,3V, de forma que uma tensão de 1,65V indica aceleração nula

no eixo.

2.1.4. Projeto

A peça principal do sensor é o disco contendo um fluido com uma bolha,

chamado disco sensor. A forma mais conveniente encontrada foi a confecção

de um disco em três peças, sendo dois discos, chamados tampas, e um anel,

chamado anel de volume, coladas em forma de sanduíche. A espessura do anel

de volume define o volume máximo de fluido admitido pelo disco.

Para que o fluido pudesse ser introduzido após a colagem, uma ranhura no

anel, chamada ranhura de admissão, foi adicionada ao projeto de forma a

permitir a entrada de uma agulha de seringa hipodérmica.

O disco pronto foi então anexado a uma peça de encaixe que pudesse ser

acoplada a um motor. A cada novo modelo, aprimoramentos foram realizados

Page 40: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

37

para estabilizar a rotação do disco, reduzir a interferência da vibração do

motor, obter velocidades angulares mais constantes e melhores imagens para

análise.

As dimensões escolhidas para o disco sensor dão de 5,0cm de diâmetro

externo (diâmetro das tampas e diâmetro externo do anel de volume) e 4,8cm

de diâmetro interno (diâmetro interno do anel de volume). As espessuras de

anel de volume experimentadas foram de 1, 2 e 3 milímetros.

Figura 2-4 – Peças do disco sensor em ordem de colagem

Formas diferentes de vedação foram experimentadas, tanto na colagem das

peças quanto na ranhura de admissão. Uma vedação inadequada resultaria num

acréscimo do raio da bolha ao longo do tempo, o que é indesejável para esse

trabalho.

Figura 2-5 – Disco sensor após montagem

Para girar o disco sensor, um disco de encaixe foi elaborado em cada etapa

do projeto. A função do disco de encaixe é se prender ao disco sensor e ao eixo

Page 41: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

38

do motor, transferindo o torque de um para o outro. A forma desse disco sofreu

alterações e é diferente em cada modelo.

Até o segundo modelo experimental, o disco de encaixe foi experimentado

tanto encaixado ao disco sensor quanto colado.

Figura 2-6 – Anel de volume com ranhura de admissão

Formas de colagem e vedação

Para a colagem das peças de acrílico, três métodos foram testados: o uso de

fita adesiva dupla-face, a aplicação de clorofórmio e o uso de uma cola de

fabricação própria de acrílico dissolvido em clorofórmio.

Ao longo do progresso do trabalho, cada método foi testado diversas vezes

em cada situação para a busca do método ideal, não havendo assim a ligação de

nenhum método a protótipos específicos do experimento.

Fita adesiva dupla-face: O uso de fita adesiva dupla-face foi o primeiro

método experimentado. O material foi utilizado no momento da confecção do

anel de volume nas duas faces da placa de acrílico antes da fresa. A fresadora

foi então ajustada para ter potência suficiente para cortar as duas camadas de

fita adesiva junto com a placa de acrílico.

O anel então tinha então duas camadas de material adesivo e poderia

facilmente ser colado às tampas.

A maior vantagem desse método se encontra na facilidade de aplicação e

vedação do disco sensor, especialmente em comparação com os outros

métodos utilizados. Em discos de álcool, porém, a vedação teve sua duração

muito curta.

Page 42: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

39

Clorofórmio: O PMMA que constitui as placas utilizadas para a confecção

das peças é solúvel em clorofórmio. Uma vez que à temperatura ambiente esse

solvente é muito volátil, ele pôde ser utilizado para dissolver bordas de peças e

deixar, após sua evaporação, as peças unidas por uma liga do próprio PMMA,

um processo semelhante a uma solda.

O anel de volume era então posto sobre uma fina camada de clorofórmio em

um recipiente de vidro. A face molhada em clorofórmio estaria pronta para a

cola. O processo era repetido com a outra face e o anel molhado era posto entre

as duas tampas e prensado com uma morsa até a evaporação completa do

solvente.

Esse foi o método mais eficiente enquanto cola, permitindo a confecção de

peças mais resistentes e uma boa vedação. Seu maior contratempo era a

dificuldade de colar as peças na posição adequada, uma vez que o processo

deveria ser todo realizado antes do clorofórmio evaporar completamente. O

método a seguir foi a opção adotada para facilitar esse processo.

Cola de clorofórmio e PMMA de fabricação própria: Pequenas peças de

acrílico foram diluídas no clorofórmio ainda dentro de um recipiente de

armazenamento. Em um período de vinte e quatro horas aproximadamente, o

resultado era um fluido viscoso e denso, menos volátil que o clorofórmio puro.

Sua aplicação foi realizada nos dois lados do anel de volume com uma

seringa. O anel era então cuidadosamente apoiado sobre uma das tampas para

que a posição pudesse ser controlada. Após isso, a outra tampa era posta sobre

o anel e a peça completa era levada à morsa. A secagem a partir de então

seguiria o mesmo processo do clorofórmio puro.

A vantagem desse método é a possibilidade de colar as peças de forma mais

minuciosa. As peças fabricadas dessa forma, porém, não ficam tão resistentes

quanto as que usam clorofórmio puro. A vedação poderia ser aprimorada

depois da cola. Esse foi o método que apresentou os melhores resultados.

Em todos os métodos, uma forma de sanar as imperfeições na distribuição

da cola (que poderiam gerar vazamentos) foi a aplicação externa de cola ao

longo da borda do disco.

Page 43: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

40

Para fechar a ranhura de admissão após a introdução do fluido, o maior

desafio enfrentado foi vedar a passagem antes que a evaporação ou mudanças

de pressão do ambiente alterassem o tamanho da bolha. Para essa função,

foram experimentadas a parafina, a cola de fabricação própria e a cola

comercial Super Bonder®. As duas últimas deram bons resultados.

2.2. Evolução do modelo experimental

Ao longo da elaboração dos diversos modelos utilizados para estudar o

conceito do dispositivo proposto, a única peça que não sofreu alteração de design

foi o disco sensor (exceto pela experimentação com diferentes espessuras do anel

de volume).

2.2.1. Modelo 1

O primeiro modelo foi elaborado com o único objetivo de verificar questões

de dimensionamento do dispositivo. Um motor de corrente contínua foi

utilizado, primeiramente ligado a uma fonte de corrente contínua de tensão

variável. Posteriormente, ele foi ligado à saída amplificada de um PWM de

fabricação própria baseado em um circuito integrado 555.

Um disco de encaixe foi confeccionado em acrílico cortado com um

diâmetro de 5,4cm, e um círculo em raster de 5cm foi cavado dentro dele,

permitindo o encaixe do disco sensor.

O eixo do motor não tinha forma própria de encaixe, então esse modelo

incluiu uma peça intermediária entre o motor e o disco de encaixe em forma de

borboleta.

Page 44: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

41

Figura 2-7 – Peças do modelo 1 em ordem de encaixe

Esse modelo serviu como introdução ao dispositivo e revelou os primeiros

problemas a serem enfrentados. Primeiramente, notou-se que velocidades

angulares menores (𝜔 < 5 𝑟𝑒𝑣/𝑠) seriam melhores para medidas de

acelerações.

Figura 2-8 – Modelo 1 montado (representação artística)

Foi através desse modelo que foram observados os primeiros indícios de que

a posição de equilíbrio da bolha não seria próxima à linha que sai do centro do

disco na direção da aceleração. Acreditou-se através da observação do

comportamento da bolha nesse modelo que ela não atingiria uma posição de

equilíbrio.

Page 45: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

42

Esse modelo não foi viável para nenhum tipo de análise mais minuciosa,

uma vez que as velocidades angulares mais baixas eram difíceis de serem

obtidas, pois o motor perdia torque a baixas velocidades de rotação.

2.2.2. Modelo 2

O modelo 2 foi desenvolvido com o intuito de reduzir a velocidade de

rotação do disco sem perda de torque pela baixa tensão aplicada ao motor.

O disco de encaixe foi adaptado para funcionar como engrenagem enquanto

outra engrenagem de acrílico foi confeccionada para ser encaixada no motor.

Um eixo metálico foi utilizado para manter o centro de rotação do conjunto

disco de encaixe e disco sensor.

Figura 2-9 – Peças do modelo 2 em ordem de encaixe

Esse modelo demonstrou uma leve redução no ruído da posição da bolha em

relação ao primeiro. Por limitações do processo de fresa, porém, o eixo das

engrenagens tinha uma pequena liberdade para se movimentar para os lados

por conta do perfil de fresa em forma de cone.

Page 46: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

43

Figura 2-10 – Modelo 2 montado (representação artística)

A consequência desses defeitos de fresa para o encaixe das engrenagens é

que, durante a rotação, em diversos momentos uma peça era pressionada contra

a outra. Com efeito, a pressão sobre o eixo do motor o impedia de manter a

velocidade angular constante.

Foi verificado que as peças com largas extensões de raster, como o caso do

disco de encaixe até então utilizado, geralmente se deformavam após a fresa.

As peças que ainda poderiam se encaixar no disco sensor apresentavam leves

desníveis que resultavam em um disco desalinhado com o plano de rotação.

Para o próximo modelo foi necessário um sistema de redução mais eficiente

e a eliminação do raster sobre as peças na medida do possível.

2.2.3. Modelo 3

Para esse modelo, foi adquirido um motor com redução. Os motores

comerciais com redução demonstraram ser mais estáveis que a redução

fabricada especificamente para este trabalho, em acrílico, além de serem

disponibilizados em dimensões muito menores. Foi também nesse modelo que

a placa Arduino passou a ser utilizada.

A forma desses motores é similar a um motor comum de corrente contínua,

mas com um sistema de engrenagens encaixado ao eixo, encapsulado

geralmente por uma carenagem parafusada sobre o motor.

Um motor Servo de rotação também foi experimentado. Infelizmente,

apesar do alto torque e da rotação estável, esses motores não têm ajustes de

velocidade de rotação. Para esse trabalho a variação desse parâmetro é

Page 47: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

44

fundamental, então um motor reduzido ligado a um PWM foi a melhor

alternativa.

Figura 2-11 – Peças do disco de encaixe sem raster, em ordem de colagem

A plataforma foi adaptada para admitir o motor servo com parafusos, e

posteriormente adaptada para o motor com redução. O encaixe “borboleta” foi

adaptado para ser similar a uma das borboletas que acompanham o servo,

tornando assim possível fabricar discos de encaixe que servissem tanto para um

motor quanto para o outro.

O disco de encaixe foi reelaborado para não ter peças em raster. Ao invés

disso, um disco e dois milímetros de espessura foi cortado e um anel de um

milímetro foi colado sobre ele, formando assim o encaixe necessário para o

disco sensor.

Também nesse modelo, foi incluído um pedestal que permitisse o

acoplamento da câmera USB para a aquisição de imagens.

Page 48: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

45

Figura 2-12 – Peças da plataforma com pedestal para câmera, em ordem de colagem

Um encaixe para o acelerômetro MM7361 foi feito ao lado do espaço do

disco, de forma que disco e acelerômetro compartilhassem um de seus eixos e,

estando no mesmo plano, sentissem as mesmas acelerações. Para isso, foram

utilizados dois conectores de encaixe com cinco contatos, de forma que se

pudesse nos conectores soldar os fios que ligariam o acelerômetro às entradas

analógicas do Arduino.

Figura 2-13 – Peças do modelo 3 em ordem de encaixe

O modelo 3 foi importante por fornecer as primeiras imagens do

funcionamento do disco enquanto sensor. A forma da plataforma visava

Page 49: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

46

permitir seu acoplamento a um eixo de motor de passo, com o intuito de

inclinar o sistema a pequenas variações de ângulo.

Alguns problemas no design foram percebidos, e estes permitiram a chegada

a uma versão definitiva.

Figura 2-14 – Modelo 3 montado (representação artística)

O Arduino foi ligado às partes do aparato (motor e acelerômetro) através de

fios de cobre, que eram danificados pela sucessão de inclinações da plataforma.

Um segundo problema verificado era quanto à estabilidade do plano de

rotação do disco. Para solucionar esse problema, o disco de encaixe precisou

ainda sofrer pequenas alterações, mas seu princípio livre de raster foi

preservado.

A intenção inicial era a medida da velocidade angular do disco a partir da

filmagem pela câmera USB. Observou-se nessa etapa que esse método não

seria eficiente e, além disso, essa medida só poderia ser realizada

posteriormente, durante a análise das imagens. Uma forma de medida de

velocidade angular em tempo real seria necessária para uma aquisição mais

sistemática de dados.

2.2.4. Modelo 4

Após as correções feitas ao modelo três, foi obtido um modelo interessante

para medidas. Uma caixa plástica com tampa foi utilizada como base para a

Page 50: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

47

construção do aparato experimental completo. Dentro dela foram fixados o

Arduino e a placa com os circuitos necessários ao funcionamento do

experimento (como os circuitos para amplificação do sinal PWM do motor,

capacitores para filtrar o sinal de saída do acelerômetro, etc).

A plataforma para o disco e o acelerômetro foi fixada sobre a tampa, que

por sua vez recebeu furos para a passagem dos fios de contato e do eixo do

motor.

Nessa versão, o pedestal da câmera foi separado da plataforma. Ao invés de

colá-lo, optou-se por parafusá-lo. Um trilho foi cortado na plataforma para

permitir que o pedestal fosse deslocado de um lado para o outro.

Para a medida da velocidade angular foi escolhido um conjunto de diodo

emissor de luz (LED) de infra-vermelho associado a um fotodiodo, dentro de

uma armadura de proteção contra a luz ambiente. Uma adaptação no disco de

encaixe (a adição de um anel de contagem) permitiu que o fotodiodo pudesse

enviar ao Arduino informações sobre a rotação do disco, de forma que a

velocidade angular pudesse ser medida. Um suporte móvel foi incluído sobre a

plataforma para sustentar o conjunto.

Figura 2-15 – Peças do disco de encaixe com anel de contagem em ordem de colagem

Um anel de estabilização foi adicionado sob a base do disco de encaixe com

o objetivo de afastá-lo da peça de acrílico da base. Usando uma espessura

maior para esse anel (3mm), o conjunto colado ficaria mais estável em relação

ao plano. O encaixe em borboleta seria então composto de duas peças idênticas

coladas para que alcançassem o disco de encaixe. Com isso, o encaixe não

Page 51: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

48

ficava fixo ao disco de encaixe, evitando que seu desnível interferisse no nível

do disco.

O efeito final dessa adaptação foi uma rotação mais estável e uma maior

facilidade para nivelar o disco sensor com o plano da plataforma.

O cabo USB que alimenta o Arduino e permite sua comunicação com um

computador foi introduzido na caixa por um orifício lateral na caixa.

Figura 2-16 – Peças do modelo 4 em ordem de encaixe

Page 52: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

49

Figura 2-17 – Plataforma do modelo 4 montada (representação artística)

A caixa completa com a plataforma atua como acelerômetro.

Simultaneamente, dados da câmera USB e do MM7361 são obtidos para

comparação.

Foi observado também que o funcionamento do motor por PWM interferia

nos dados obtidos pelo acelerômetro. Para solucionar esse problema, tanto o

motor quando as entradas analógicas do Arduino foram filtradas com

capacitores. Simultaneamente, uma vez que a corrente fornecida pela USB do

computador é muito baixa, uma fonte externa de 5V foi utilizada para

alimentar o motor, garantindo um funcionamento mais estável.

2.3. A escolha do fluido sensor

Inicialmente, o experimento foi idealizado para ser realizado com água. O

disco sensor foi plenamente preenchido com água deixando bolhas de tamanhos

diferentes para testes.

A água é um fluido de tensão superficial bastante elevada. Devido a esse fator,

as bolhas em água tendem a ser esféricas para diâmetros maiores que em outros

fluidos, como o álcool.

O contratempo decorrente da elevada tensão superficial foi o fato de que, por

vezes, a bolha que encontrava uma parede de acrílico rompia o filme de água que

os separava. Uma vez que isso ocorria, se tornava muito difícil mover a bolha para

Page 53: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

50

longe dessa parede, gerando um efeito semelhante a uma fricção. A conseqüência

desse efeito se refletiu em um constante movimento da bolha, que dificilmente

encontrava uma posição de equilíbrio.

Percebido esse problema, o próximo passo foi tentar reduzir esse valor de

tensão superficial a um valor administrável, mas que ainda mantivesse as bolhas

esféricas, então fez-se a experiência com álcool etílico e álcool isopropílico. Na

ocasião, o material de vedação utilizado era a fita dupla face, que é solúvel em

álcool, o que inviabilizou essa escolha.

Foi realizada então a experiência de misturar água com um surfactante. Para

tanto, foi escolhido o Triton X-100, um surfactante não-iônico comumente

utilizado como detergente em indústrias.

Diferente da água pura, a água com o surfactante demonstrou maior potencial

para a obtenção de movimentos mais estáveis da bolha. Apesar disso, em

situações em que o disco sofre acelerações bruscas, o fluido transformava a bolha

em espuma, o que tornava mais medidas impossíveis até que esta fosse desfeita.

A partir do momento que passaram a ser usados os métodos de colagem à base

de clorofórmio, foi possível retomar o uso do álcool como fluido sensor. O álcool

escolhido como para o trabalho foi o etílico.

2.3.1. Definição de um diâmetro estável da bolha

Foi observado já nos primeiros modelos que as dimensões da bolha têm

certa influência na estabilidade de seu movimento, que será discutida ao longo

dos resultados experimentais.

Ao longo de um experimento, então, a título de sistematização, foi

necessário encontrar formas de manter o volume de ar dentro do disco estável,

de forma a não alterar o volume da bolha.

O primeiro obstáculo foi a má vedação na borda do disco sensor. As

vedações menos eficientes permitiam que ao longo das tomadas de medidas o

fluido sensor fosse expulso de dentro do disco, permitindo que nos intervalos

entre medidas o ar do ambiente entrasse pelos mesmos pontos de vazamento.

Apesar da otimização da vedação, foi observado que o volume da bolha não

se mantinha constante ao longo da tomada de dados. Ao invés disso, ele

aumentava até um certo valor e estagnava. Por esse motivo, a obtenção de

bolhas pequenas (1 a 2mm de diâmetro) era muito difícil. A razão para esse

Page 54: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

51

aumento no volume da bolha estava ligada ao ar absorvido no fluido sensor. O

movimento de rotação do disco concentra o ar no centro, agregando-o ao

volume da bolha até um certo limite.

A solução encontrada foi a expulsão do ar do fluido sensor por sonicação. O

fluido, após esse processo, era então utilizado para encher o disco sensor.

Nesse caso, o processo inverso ocorre: o fluido captura ar da bolha, reduzindo-

lhe o volume até um valor estável. Dessa forma, era possível obter bolhas de

diâmetros variantes entre 0,5 e 2,0 mm sem maiores dificuldades.

2.4. Obtenção dos dados

2.4.1. Obtenção da aceleração

Para simular acelerações constantes sofridas pelo sistema, ele era inclinado

para que uma componente da gravidade atuasse de forma semelhante a

acelerações de referencial não inercial.

Para obter o valor da aceleração a que o sistema está sujeito em cada

situação, dois métodos simultâneos foram utilizados: a medida do ângulo de

inclinação do plano da plataforma e os dados do acelerômetro MM7361, cuja

saída é um valor analógico que pode ser interpretado pelo Arduino.

2.4.2. Obtenção da distância da bolha ao centro

O programa de captura de imagem utilizado dava sua saída em formato

webm, um formato compacto e de resolução compatível com o equipamento

utilizado. A câmera capturava imagens a uma taxa aproximada de vinte e cinco

quadros por segundo.

Os arquivos em formato webm foram então convertidos em um formato sem

compactação (raw) para posterior análise quadro a quadro. Para realizar a

conversão, foi utilizado o Super® Video Converter, que utiliza o mencoder

(um encoder de código aberto) como seu motor.

Para a realização da análise dos vídeos foi utilizado o Datapoint, um

programa gratuito desenvolvido para análise de vídeos em laboratórios

didáticos. Esse programa permite que o usuário utilize a interface gráfica para

localizar em cada quadro o objeto que deseja, e dá como saída um arquivo

ASCII com os valores em pixels das posições nas duas dimensões e no tempo

de vídeo.

Page 55: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

52

De posse desses dados, partindo de distâncias conhecidas dentro da própria

imagem, é possível encontrar em milímetros a posição da bolha em relação ao

centro. Para tal, toma-se uma referência de distância conhecida na imagem,

encontra-se seu valor em pixels e aplica uma regra de proporção para encontrar

as distâncias desejadas.

A câmera utilizada gravou imagens a uma resolução de 352 pixels de

largura por 288 pixels de altura.

Figura 2-18 – Pontos marcados no disco para cálculo de distância da bolha ao centro

A Figura 2-18 mostra um instantâneo capturado de um vídeo em uma

tomada de dados. Os pontos utilizados interessantes a medida da distância entre

a bolha e o centro estão demarcados em vermelho e a bolha está circulada em

verde: a distância entre p1 e p2 é conhecida, tal como a distância entre p3 e p4

(o diâmetro do disco sensor). A distância 𝑟 da bolha em relação ao centro pode

ser encontra a partir das coordenadas x e y dela e desses pontos a partir da

seguinte relação:

𝑟 = √(𝑥 − 𝑥0)2 + (𝑦 − 𝑦0)

2 (21)

onde os valores com índice zero indicam coordenadas do centro (pc). Para uma

situação geral, deve-se levar em consideração que nem sempre a captura e

gravação de imagem obedece as mesmas proporções na horizontal e na

vertical. Assim sendo, as distâncias nas duas coordenadas devem

primeiramente ser transformadas para uma unidade real e depois unidas pela

relação acima.

Considerando que a posição em pixels da bolha seja (𝑝𝑥,𝑝𝑦), vale então:

𝑥 − 𝑥0 =(𝑝𝑥 − 𝑝𝑐𝑥)

(𝑝4𝑥 − 𝑝3𝑥)𝑑

Page 56: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

53

𝑦 − 𝑦0 =(𝑝𝑦 − 𝑝𝑐𝑦)

(𝑝1𝑦 − 𝑝2𝑦)𝑑

onde 𝑑 é o diâmetro do disco.

Apesar da distância d ser a mesma em x e em y, não se pode afirmar que o

vídeo capturado respeite a mesma proporção nas duas dimensões. Por esse

motivo, os cálculos para x utilizam p3 e p4 ao passo que os cálculos em y

utilizam p1 e p2.

As constantes:

𝐶𝑥 =𝑑

𝑝4𝑥 − 𝑝3𝑥

𝐶𝑦 =𝑑

𝑝1𝑦 − 𝑝2𝑦

são dependentes da resolução da câmera, do ângulo sólido coberto pelo seu

jogo de lentes e pela distância entre a câmera e o objeto. Elas são as constantes

de proporcionalidade entre as distâncias em pixels e as distâncias em

milímetros dos objetos, e serão equivalentes caso o vídeo capturado tenha a

exata mesma proporção nas duas dimensões.

2.5. Arranjo experimental

Para a realização do experimento, foi escolhido um plano inclinado como o

método mais conveniente para a obtenção de acelerações constante.

Um transferidor com precisão de um grau foi acoplado à plataforma do modelo

final. Em seu centro de referência foi feito um furo que permitisse a passagem de

um fio de barbante. À ponta do barbante foi presa uma peça de metal. O fio indica

a inclinação da plataforma em relação à gravidade.

Ao se definir um ângulo para a plataforma, uma bateria de dados era tomada

em diferentes velocidades angulares.

Após finalizada uma bateria de dados a um determinado ângulo, movia-se a

rampa até atingir o próximo ângulo desejado.

O valor da aceleração equivalente obtido a partir dessa inclinação pode ser

obtido geometricamente.

Page 57: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

54

Figura 2-19 – Arranjo experimental com rampa e transferidor (representação artística)

Figura 2-20 – Ângulo de inclinação em relação à gravidade e aceleração equivalente

Pode-se demonstrar geometricamente que o módulo de 𝑎 𝑒 será, nesse caso:

|𝑎 𝑒| = |𝑔 |𝑠𝑒𝑛𝛼 (22)

Page 58: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

55

Isso ocorre porque a força gravitacional se comporta de maneira análoga a uma

força de referencial não inercial devida a uma aceleração em sentido oposto. Essa

equação é a base para o cálculo das acelerações equivalentes utilizadas nesse

estudo.

Para a observação do comportamento da bolha em acelerações variáveis foi

adicionado ao aparato experimental uma plataforma sobre rodas. A plataforma foi

presa através de um fio a uma massa que era pendurada em uma roldana em uma

bancada.

A massa solta sofre ação da gravidade e exerce força constante sobre o carro

através do fio. Quando a massa toca o chão, o carro assume um movimento

retilíneo e uniforme.

Figura 2-21 – Arranjo experimental para observação do comportamento do sensor sujeito a

acelerações variáveis

Isso ocorre porque a força gravitacional se comporta de maneira análoga a uma

força de referencial não inercial devida a uma aceleração em sentido oposto. Essa

equação é a base para o cálculo das acelerações equivalentes utilizadas nesse

estudo.

Page 59: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

56

3. Resultados e discussão

3.1. Resultados experimentais

O experimento demonstrou a sensibilidade do acelerômetro de acordo com a

velocidade de rotação do disco e a aceleração externa aplicada.

3.1.1. Posição de equilíbrio da bolha

O experimento foi conduzido com o objetivo de estabelecer uma relação

entre a aceleração externa e a posição de equilíbrio da bolha dentro do fluido

sensor. O perfil de distâncias da bolha em função da aceleração variou com a

velocidade angular, conforme esperado.

Os valores de aceleração foram obtidos por inclinação do plano de rotação.

As diferentes inclinações utilizadas foram os valores entre 10 e 50 graus, a um

passo de 5 graus. As acelerações equivalentes podem ser obtidas a partir do

valor da gravidade.

A aceleração equivalente a cada inclinação foi calculada utilizando uma

aceleração gravitacional de 9,79 m/s². Os valores resultantes estão na Tabela

3-1.

Tabela 3-1 – Diferentes inclinações utilizadas para simular acelerações fixas e valores

correspondentes de aceleração

Inclinação

(graus) 10 15 20 25 30 35 40 45 50

Aceleração

(m/s2) 1,70 2,53 3,35 4,14 4,89 5,61 6,29 6,92 7,50

Os valores de velocidade angular utilizados na análise foram entre 2,0 e 4,0

revoluções por segundo, a um passo de 0,1 revoluções por segundo.

Cada valor obtido para posição da bolha foi calculado a partir da posição

média da bolha ao longo de aproximado um segundo de vídeo (25 quadros).

O diâmetro aproximado da bolha utilizada nessa bateria de dados era de

1,2mm e se manteve estável ao longo do experimento.

Verticalmente (ao longo da altura do cilindro), a bolha não oscilou durante o

experimento. Seu movimento foi exclusivamente no plano das tampas.

Page 60: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

57

Ângulo da aceleração e o ângulo de deslocamento da bolha

O primeiro resultado relevante para esse trabalho diz respeito ao ângulo

entre o deslocamento da bolha e a direção da aceleração.

Foi esperado que o deslocamento da bolha ocorresse na direção da

aceleração, como no modelo didático, mas que fosse deslocado na direção da

velocidade do fluido em rotação. Ao invés disso, foi observado que a bolha se

desloca em uma direção aproximadamente perpendicular à aceleração externa.

Figura 3-1 – Ângulo da posição da bolha. a) aceleração nula; b) aceleração positiva em y (resultado

esperado); c) aceleração positiva em y (resultado observado)

Condições para uma posição de equilíbrio

Foi possível observar que o diâmetro da bolha influencia em seu equilíbrio

dinâmico. Conforme as dimensões da bolha aumentavam, tornava-se difícil a

definição de sua geometria com maior precisão.

Bolhas maiores tendiam a se deformar em decorrência da atuação de forças

de pressão do fluido em movimento ao seu redor. O que impede essa

deformação é a tensão superficial do fluido sensor.

Page 61: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

58

Dessa forma, fluidos com maiores tensões superficiais permitiriam mais

facilmente uma situação de equilíbrio dinâmico sobre a bolha se esse fator for

considerado isoladamente, uma vez que a geometria mais constante reduz

variações nas forças de elevação e arrasto.

Como mencionado na Introdução, Nierop et al (2007) afirmam que o

número de Weber permite a estimativa da tendência da bolha a se deformar ou

permanecer esférica, levando em conta os fatores marcantes, como o raio da

bolha, as características do fluido e a velocidade relativa entre fluido e bolha. A

minimização desse parâmetro então garante melhores resultados em termos de

estabilidade.

Observa-se da equação (9) que o número de Weber cresce com a velocidade

relativa entre fluido e bolha. Sua influência no equilíbrio dinâmico do sistema

foi clara quando valores intermediários de diâmetro da bolha foram

experimentados: o desvio padrão na distância entre bolha e centro cresce com a

velocidade angular e com a aceleração experimentada (uma vez que a

aceleração aumenta a distância da bolha para o centro e, consequentemente, a

velocidade relativa entre bolha e fluido).

Dessa forma, pode-se afirmar que as medidas mais estáveis são aquelas em

que a velocidade angular do fluido, a aceleração sentida e o diâmetro da bolha

são menores.

O pior cenário (maior número de Weber) para este experimento é o disco a

4 revoluções por segundo (maior velocidade angular utilizada) com a bolha na

borda do disco (maior distância possível, o que implica em maior velocidade

escalar do fluido). O melhor cenário está em baixas acelerações e baixa

velocidade angular.

O número de Reynolds foi calculado de forma semelhante. Ele será

importante para definir a forma relevante para o arrasto e o regime de

escoamento quanto à laminaridade ou não-laminaridade. Ele é sensível ao

diâmetro da bolha, e nos limites testados foi possível trabalhar na região de

transição entre Reynolds que caracterizem regimes laminares e turbulentos

(102). Isso significa que diferenças no diâmetro da bolha também podem gerar

turbulências.

Page 62: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

59

Tabela 3-2 – Parâmetros para o número de Weber e número de Reynolds (álcool etílico e raio da

bolha utilizada)

Raio da bolha

(m)

Densidade

(kg/m³)

Tensão superficial

(N/m)

Viscosidade

(Pa.s)

6 × 10−4 789 2,227 × 10−2 0,248 × 10−3

A Tabela 3-2 mostra os parâmetros utilizados para o cálculo destes

adimensionais nas várias situações consideradas.

O plano de rotação deve ser mantido constante ao longo das medidas, pois

uma inclinação relativa entre a normal do disco e o eixo de rotação inclui

forças inerciais de rotação no sistema.

Vibrações e instabilidades na velocidade angular do disco também

contribuem para o aumento do desvio padrão das medidas. Dessa forma, a

escolha do motor é um parâmetro importante para definir a precisão do sensor.

3.1.2. Resultados para posição da bolha

A posição encontrada para o equilíbrio da bolha em função dos parâmetros

aceleração e velocidade angular obedeceu a alguns critérios da estimativa

realizada durante a motivação do trabalho.

Observou-se que a distância da bolha ao centro cresceu com a aceleração e

diminuiu com a velocidade angular.

Uma forma de resumir os dados obtidos está na Figura 3-2, que mostra o

comportamento do sensor em função dos dois parâmetros principais.

Page 63: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

60

Figura 3-2 – Bateria completa de dados para distância da bolha ao centro em função da aceleração

medida e da velocidade angular do disco

A análise dos parâmetros de forma independente se dará a seguir. Será

necessário partir da consideração de que a bolha, em uma aceleração nula,

tenderá ao centro do disco (a=0 → r=0).

A distância r pode ser escrita como uma função da velocidade angular e da

aceleração externa.

𝑟 = 𝑟(𝑎𝑒 , 𝜔) (23)

Número de Weber

O cálculo do número de Weber nesse trabalho considerou os dados

presentes na Tabela 3-2 e os dados constantes no gráfico da Figura 3-2.

Utilizando esses dados, os valores calculados formam o gráfico presente na

Figura 3-3.

Page 64: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

61

Figura 3-3 – Número de Weber em função de 𝒂𝒆 e 𝝎

Foi possível notar que o número de Weber tem variação muito pequena em

função da velocidade angular, mas uma variação acentuada proporcional à

aceleração externa.

Isso indicou que a forma da bolha tendeu a formas mais constantes em

valores baixos de aceleração. Em valores altos, a hipótese da bolha livre de

deformação não é precisa, o que tornou o modelo de forças proposto por

Magnaudet e Eanes (2000) impróprio para este trabalho.

A dependência da posição da bolha nos parâmetros 𝑎𝑒 e 𝜔 seria obtido mais

facilmente de forma empírica nesse caso.

Número de Reynolds

Utilizando os dados da Tabela 3-2 aplicados sobre os parâmetros medidos e

presentes no gráfico da Figura 3-2, o número de Reynolds na região da bolha

foi calculado considerando-se o diâmetro da bolha como dimensão

característica para o problema (uma vez que ela é o único obstáculo relevante

transversal ao movimento do fluido). Os resultados estão na Figura 3-4.

Page 65: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

62

Figura 3-4 – Número de Reynolds em função de 𝒂𝒆 e 𝝎

O número de Reynolds, como pode ser observado, se manteve no intervalo

entre 100 e 500. Analisando isoladamente por esses dados, pode-se dizer que o

regime de escoamento encontra-se na região de transição entre o escoamento

laminar e turbulento. Nessa situação, pequenas variações no diâmetro da bolha

podem ter grandes efeitos sobre a laminaridade do escoamento e, como

discutido na introdução, baseado nos resultados de Nagami e Saito (2012), na

influência da turbulência sobre a posição da bolha.

Posição em função da aceleração

Em todas as velocidades angulares experimentadas, a posição se comportou

de maneira similar em relação à aceleração.

Page 66: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

63

Figura 3-5 – Posição da bolha (r) em função da aceleração medida (ae) para diferentes valores de

velocidade angular

É possível verificar que a distância da bolha ao centro varia de forma

aproximadamente linear, especialmente em velocidades angulares mais altas.

Também é possível verificar que a taxa de variação dessa função é menor para

valores maiores de velocidade angular.

A forma mais coerente encontrada para a variação da distância em função

da aceleração externa foi a de uma combinação linear de um termo linear em

𝑎𝑒 com um termo de raiz quadrada. A explicação mais coerente encontrada

para isso está ligada à forma da força de arrasto.

Posição em função da velocidade angular

Como esperado, maiores valores de velocidade angular resultaram em

medidas mais próximas ao centro do disco. Isso é consequência da força

direcionada ao centro que o fluido sensor exerce sobre a bolha devido à

rotação.

Page 67: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

64

Figura 3-6 – Medidas da posição da bolha (r) em função da velocidade angular para diferentes

acelerações medidas

Foi observado através da Figura 3-6 que a posição da bolha em função da

velocidade angular tem uma taxa de proporcionalidade aproximadamente

inversa. Para verificar essa hipótese foi construído um novo gráfico utilizando

valores de 1/𝜔, utilizando radianos ao invés de revoluções.

Figura 3-7 – Posição em função do inverso da velocidade angular

Page 68: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

65

O gráfico da Figura 3-7 evidencia que a dependência da posição da bolha no

inverso da velocidade angular é linear, o que confirma a hipótese de

proporcionalidade inversa entre a posição da bolha (𝑟) e a velocidade angular

(𝜔).

Análise do desvio padrão

Foi possível observar através dos gráficos da e da que os desvios padrão

obtidos para as medidas foram bastante pequenos, especialmente para as

maiores medidas de 𝑟. As principais causas do desvio padrão nas medidas são a

dimensão da bolha e a instabilidade de sua posição.

Os valores absolutos de desvio padrão para cada medida dos gráficos foram

todos muito próximos, variando entre 0,13𝑚𝑚 e 0,25𝑚𝑚. Apesar disso, para

as medidas de menores acelerações (e consequentemente menores valores de

𝑟), os pesos relativos das incertezas em relação às medidas se tornam maiores.

Figura 3-8 – Desvio padrão relativo médio para as medidas de distância de cada aceleração

utilizada

O gráfico da Figura 3-8 mostra então o peso dos desvios padrão sobre o

valor das medidas em cada aceleração experimentada. As menores acelerações

Page 69: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

66

apresentam maiores erros relativos especialmente pelas medidas de distância

serem menores. Espera-se, nesse caso, que as medidas de menor aceleração

sejam as menos precisas.

3.1.3. Análise da posição de equilíbrio da bolha

A dependência linear na aceleração e inversa na velocidade angular

implicam que a função 𝑟(𝑎𝑒 , 𝜔) pode ser escrita como um produto de duas

funções, uma exclusivamente dependente de 𝑎𝑒 e outra exclusivamente

dependente de 𝜔.

𝑟(𝑎𝑒 , 𝜔) = 𝑓(𝑎𝑒)𝑔(𝜔) (24)

de forma que:

𝑓(𝑎𝑒) = 𝐶𝑎𝑒 (25)

𝑔(𝜔) = 𝐷𝜔−1 (26)

onde C e D são constantes. Dessa forma, a equação (24) pode ser reescrita

como a partir de (25) e (26):

𝑟(𝑎𝑒 , 𝜔) = 𝐸𝑎𝑒𝜔−1 (27)

onde E é uma constate. O valor de E estará relacionado às características do

dispositivo, como os parâmetros do fluido sensor, o diâmetro da bolha e o

diâmetro do disco sensor.

A equação (27) é a forma geral para determinar o a resposta do sensor a

acelerações constantes caso esse modelo seja satisfatório.

Convertendo as medidas para metros de forma que haja concordância nas

unidades de medida de distância, o valor estimado para E com base nos dados

obtidos é 0,00306 𝑠3/𝑟𝑒𝑣.

É conveniente utilizar r em milímetros e manter 𝑎𝑒 em 𝑚/𝑠2. Nesse caso, o

valor de E na unidade adequada é 3,06 𝑚𝑚 𝑠3 𝑟𝑒𝑣−1𝑚−1.

Page 70: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

67

Figura 3-9 – Comparação dos dados experimentais (acima) com a equação deduzida (abaixo).

Foi possível observar pelos gráficos tridimensionais que para valores mais

altos de 𝑎𝑒, a medida se diferenciou mais da previsão. Uma análise numérica

mostrou que para os valores médios, os resultados foram os mais precisos.

Para realizar essa verificação, foi feita a subtração dos dois gráficos. Os

valores das subtrações foram então divididos pelo valor esperado pela equação.

Page 71: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

68

Figura 3-10 – Diferença relativa entre modelo proposto e dados experimentais

Foi possível perceber pelo gráfico na Figura 3-10 que as diferenças relativas

são mais acentuadas quando mais próximo dos extremos de aceleração. Um

gráfico de erro relativo foi então feito a partir dos módulos da diferença

relativa distribuídos de forma ponderada.

Nesse gráfico, foi possível verificar que os maiores erros experimentais

estavam nas acelerações mais altas, ao passo que os valores médios

demonstraram resultados mais precisos.

Essa análise permitiu a percepção de que a consideração da dependência

linear de r em 𝑎𝑒 não é uma boa aproximação.

Page 72: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

69

Figura 3-11 – Distribuição ponderada do módulo da diferença relativa entre modelo proposto e

dados experimentais (imprecisão do modelo)

A elevação do erro experimental para baixas acelerações se devia

especialmente ao maior erro relativo das medidas para pequenas distâncias.

Para altas acelerações, o modelo proposto pela equação (27) se distanciou

mais do resultado experimental. Nessa região, a suposição de uma dependência

linear na aceleração se tornou gradativamente menos precisa. A melhor forma

para tentar entender essa dependência foi a partir de uma análise das forças

envolvidas.

Page 73: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

70

Figura 3-12 – Forças atuantes sobre a bolha: Sustentação, centrípeta, arrasto e força de empuxo

decorrente da aceleração externa

A Figura 3-12 mostra as forças atuando sobre a bolha para uma dada

aceleração externa. As duas forças relevantes são 𝐹 𝑎𝑒 , que surge do gradiente

de pressão no fluido quando o recipiente é acelerado, e 𝐹 𝑎𝑟𝑟, que é a força de

arrasto que surge do fato do fluido estar girando em torno do centro enquanto a

bolha está em repouso em relação a ele. A primeira força aponta na direção da

aceleração ao passo que a segunda é perpendicular ao vetor posição da bolha.

Assim sendo, em uma situação em que o vetor posição é perpendicular à

aceleração exerna, 𝐹 𝑎𝑒 e 𝐹 𝑎𝑟𝑟 serão colineares.

Para uma posição de equilíbrio, essas duas forças devem se anular. Assim

sendo, pode-se afirmar:

𝐹 𝑎𝑒 = −𝐹 𝑎𝑟𝑟 (28)

A forma de 𝐹 𝑎𝑟𝑟 será fortemente dependente do regime de escoamento em

questão. Os números de Reynolds considerados nesse trabalho caracterizam um

regime de transição entre o domínio viscoso do arrasto e o domínio

geométrico. Dessa forma, ambas as contribuições serão consideradas

relevantes. Assim,

𝐹𝑒 = 𝐴𝑣 + 𝐵𝑣2 (29)

será uma forma coerente para definir a igualdade de forças de (28), onde A e B

são constantes dependentes dos parâmetros do fluido e da bolha. Como a bolha

Page 74: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

71

está em repouso em relação ao referencial (posição de equilíbrio), a velocidade

no ponto será equivalente à velocidade linear do fluido que por ali passa.

𝐴𝑟𝜔 + 𝐵(𝑟𝜔)2 − 𝑎𝑒 = 0 (30)

A equação (30) tem solução da forma:

𝑟 =1

𝜔[𝐶1√𝐶2 + 𝐶3𝑎𝑒] + 𝐶4 (31)

É interessante ressaltar a permanência do termo inverso em 𝜔 na equação

(31).

Tentativas com valores para as constantes demonstraram que o termo não

linear é uma parte importante da equação e que 𝐶2 pode ser desprezada.

A relação (31) não resultou em um bom modelo empírico para os dados

encontrados. Para uma solução mais robusta, foi utilizada uma combinação

linear das duas soluções possíveis em 𝑎𝑒: uma para 𝜔𝑟 (força de arrasto

viscoso) e outra para (𝜔𝑟)2 (força de arrasto geométrico). A primeira resulta

em um termo linear em 𝑎𝑒 e a segunda em um termo de 𝑎𝑒1/2.

Assim, foi obtida uma relação empírica de baixo erro em comparação com

os modelos anteriores.

𝑟 =1

𝜔[𝐶1𝑎𝑒 + 𝐶2√𝑎𝑒] + 𝐶3 (32)

Realizando os ajustes manualmente e buscando os melhores resultados,

foram encontrados os seguintes valores para as constantes:

𝐶1 = 9,3653𝑚𝑚.𝑚−1𝑠3

𝐶2 = 23,8390𝑚𝑚.𝑚−1𝑠3

𝐶3 = −0,56𝑚𝑚

Idealmente, para um valor nulo de 𝑎𝑒, seria esperado um valor nulo de r, o

que indica que 𝐶3 deveria ter um valor nulo. Seu valor estimado é da ordem do

raio da bolha (6 × 10−4𝑚), um dos principais causadores do desvio padrão

como discutido anteriormente, o que torna sua medida realista dentro do

experimento. Apesar dessa constatação mostrar que o nível de incerteza é

tolerável, não se pode afirmar a partir do experimento realizado que o raio da

bolha e 𝐶3 tenham alguma relação.

Page 75: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

72

Foi possível perceber que o valor encontrado pelo ajuste manual se

aproximou da realidade, pois foi pequeno próximo aos valores encontrados

para r.

Apesar disso, em valores muito pequenos de r essa constante poderia incluir

um erro não desprezível nas previsões.

A exemplo do modelo anterior para a equação deduzida, uma razão entre a

diferença e os valores previstas foi realizada para encontrar uma estimativa do

quanto os resultados experimentais diferem dos valores previstos.

Figura 3-13 – Diferença relativa entre dados experimentais e o segundo modelo proposto

A Figura 3-13 mostra as diferenças relativas para todos os dados. Foi

possível perceber que, para a maior parte das medidas, o experimento fugiu das

previsões em valores inferiores a 5% para mais ou para menos. Para as regiões

de mais baixa aceleração, picos de erro surgiram, sugerindo uma região de

menor precisão. As hipóteses válidas para esse erro são a imprecisão da relação

de potências que exige um valor não nulo de 𝐶3 e a maior imprecisão relativa

das medidas para valores mais baixos de r.

Page 76: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

73

Realizando o módulo e distribuindo os erros ponderadamente, as regiões de

menor e maior erro foram facilmente observadas na bateria de dados, como

pode ser visto na Figura 3-14.

Figura 3-14 – Distribuição ponderada do módulo da diferença relativa entre o segundo modelo e os

dados experimentais (imprecisão do modelo)

Foi possível perceber nessa análise que valores mais baixos de aceleração

tornaram a relação (32) menos precisa, ao passo que os valores mais altos

demonstraram boa precisão.

Assim, concluiu-se que o melhor modelo para relacionar a aceleração

externa com a posição da bolha combina um termo linear com um termo

quadrado de 𝜔𝑟.

Com essa informação foi possível verificar qual é a resposta do

acelerômetro para cada valor de aceleração e velocidade angular utilizados.

Com os valores conhecidos de aceleração e utilizando os dados coletados foi

deduzida empiricamente uma relação para utilizar os valores de velocidade

angular e distância da bolha ao centro para calcular a aceleração a que o

aparato está sujeito. A forma da relação é:

Page 77: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

74

𝑎𝑒 = 𝐴𝜔𝑟 + 𝐵(𝜔𝑟)2 (33)

onde:

𝐴 = 43,34𝑠−1

𝐵 = 135,1𝑚−1

Com essa relação foi possível estimar o comportamento do acelerômetro em

vários regimes de aceleração e velocidade angular.

Com os dados obtidos e a relação deduzida foi possível estimar a precisão

do acelerômetro para diversos valores de aceleração externa. Assumindo os

valores médios de todas as velocidades angulares para cada aceleração é

possível estimar um desvio médio de medida. Os resultados estão na Tabela

3-3. A Figura 3-15 reúne todos os valores de aceleração calculados pelo

modelo empírico e os coloca ao lado dos valores esperados.

Aceleração

(m/s²) 1,70 2,53 3,35 4,14 4,90 5,62 6,29 6,92 7,50

Desvio

relativo 9,8% 5,1% 3,8% 3,6% 1,5% 4,0% 2,9% 0,9% 3,4%

Tabela 3-3 – Desvio relativo percentual entre a medida obtida a partir do acelerômetro de bolha e o

valor conhecido das acelerações equivalentes

Foi possível perceber que os desvios entre o modelo e os dados são maiores

nas regiões de mais baixas acelerações, o que concorda com a discussão sobre

desvio padrão no início desse capítulo.

Page 78: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

75

Figura 3-15 – Dados obtidos pelo acelerômetro de bolha em comparação com acelerações

equivalentes (pontos à esquerda) a partir da relação deduzida empiricamente.

Page 79: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

76

Medidas de aceleração variável

Para realizar as medidas de aceleração variável foram utilizados três valores

distintos de massa aceleradora: 200g, 300g e 400g. Para cada massa foram

realizadas dez observações.

O resultado da montagem experimental utilizada é um período de aceleração

nula (carro em repouso) seguido de um período de aceleração não nula

constante, com um período de transição entre eles. Após o período de

aceleração, a massa aceleradora toca o chão e o carro entre em um regime de

movimento retilíneo aproximadamente uniforme.

No momento da transição da aceleração nula para a não nula a bolha se

desloca em um ângulo intermediário entre o da aceleração e o ângulo em que a

bolha repousaria na aceleração constante. Após esse breve deslocamento, a

bolha entra rapidamente no regime de aceleração constante.

Quando a aceleração cessa, a bolha espirala lentamente até o centro do

disco.

A medida de aceleração variável serviu pra observar a limitação quanto a

tempo de resposta do tipo proposto de sensor. Para uma aplicação em que o

intervalo entre diferentes acelerações é muito curto sua aplicação pode não

retornar dados precisos.

Page 80: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

77

4. Conclusão

Nesse trabalho são apresentados resultados referentes à caracterização de um

acelerômetro fluido baseado na análise do comportamento de uma bolha dentro de

um disco com um fluido em rotação. Até o momento, não foi encontrado na literatura

nenhum modelo similar utilizando o mesmo mecanismo, o que indica a originalidade

da proposta.

Embora o comportamento do sensor não tenha sido o esperado no que diz respeito

à direção da aceleração aplicada, seu funcionamento foi demonstrado tanto para a

estimativa de valor de aceleração quanto para direção, após aplicada a correção no

ângulo.

Os diâmetros ideais para a bolha são fortemente dependentes das características

do fluido, mas como uma regra as menores bolhas dão os resultados mais confiáveis.

Esse fator se torna mais relevante levando-se em conta que os melhores fluidos para

esse tipo de trabalho são os de menor tensão superficial (o que prejudica a

estabilidade do formato da bolha). Atribuiu-se esse efeito à geração de turbulências

devida ao tamanho da bolha.

A distância da bolha ao centro cresce com a aceleração a uma taxa que combina

um termo linear somado a um termo de potência ½. A maior precisão das medidas

está nos pontos em que a bolha se afasta mais do centro por conta do desvio padrão

relativo às medidas ser menor. A imprecisão média do sensor esteve na faixa de 3%

nas regiões de menor desvio e na faixa de 10% para as acelerações mais baixas, as

regiões de maior erro.

O outro parâmetro, a velocidade angular, afeta a medida da distância da bolha ao

centro a uma razão inversa. Isso significa que maiores velocidades angulares farão

com que a bolha se afaste menos do centro, o que indica menor sensibilidade e a

possibilidade de medidas de acelerações de maior magnitude. Para baixas

velocidades angulares, a bolha tem maior liberdade de movimento, tornando o sensor

mais sensível e preciso para baixas acelerações.

Por conta do fator tensão superficial, o fluido mais adequado para as dimensões

usadas nesse trabalho é o álcool etílico. Para aplicações em miniaturização, fluidos

de menores tensões superficiais podem ser testados.

Page 81: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

78

Quando o sensor está sujeito a uma aceleração constante, a bolha tende a uma

posição de equilíbrio, ao passo que, em um movimento de aceleração crescente, a

bolha se desloca levemente na direção da aceleração, e mais pronunciadamente para

maiores acelerações.

A análise dos dados e a observação experimental demonstraram o potencial do

uso de bolhas em fluidos em rotação controlada para a medida de aceleração com

sensibilidade variável e para a medida de acelerações variáveis com um pequeno

atraso de resposta. Demonstraram também que esse princípio é mais confiável se

usado para medidas em regimes de acelerações constantes ou que variem suavemente

(como acelerações em navegação marítima ou em satélites artificiais em regime

orbital).

Page 82: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

79

5. Apêndice A: Análise esquemática do arranjo experimental

Como discutido na seção Materiais e Métodos, o experimento contou com um

motor reduzido, um contador de velocidade angular, uma câmera USB, uma placa

Arduino e uma fonte de alimentação externa.

Figura 5-1 – Visão geral do circuito do arranjo experimental

A Figura 5-1 mostra a visão geral do circuito utilizado. À esquerda está a placa do

acelerômetro e à direita o Arduino. Os pinos de saída do acelerômetro estão

denotados pelos símbolos correspondentes a seus eixos (x, y e z). As entradas

analógicas 0, 1 e 2 estão marcadas como EA0, EA1 e EA2, respectivamente. Ao ler

esses dados, o Arduino realiza uma conversão analógico-digital e armazena na

memória um valor numérico correspondente (0 para terra e 1024 para +5V).

A saída +3,3V do Arduino foi utilizada para alimentar o acelerômetro.

Os resistores R1, R2 e R3 foram adicionados por sugestão do manual do circuito

integrado, uma vez que após várias medidas consecutivas a corrente extraída dele

Page 83: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

80

reduz a carga nos capacitores internos e adultera a medida. Eles são denominados

então como resistores limitadores de corrente para fins desse trabalho.

Também para a saída do acelerômetro foi observada uma oscilação no sinal que

prejudicava a obtenção de medidas confiáveis. O manual sugere como solução para

esse problema a instalação de capacitores para estabilizar o sinal, nesse caso os

capacitores C1, C2 e C3.

As saídas digitais estão denotadas pela letra D seguida do número correspondente.

A parte demarcada como “Conjunto conta-giro” na imagem corresponde ao

conjunto formado pela armadura de LED e fotodiodo para detecção de obstruções e

os resistores a eles ligados. Os valores utilizados foram obtidos por experimentação.

Uma porta digital foi utilizada como PWM (no pino 9) e ligada à base de um

transistor TIP122, que foi utilizado para amplificar o sinal. Um capacitor eletrolítico

foi utilizado para filtrar o ruído gerado pelo motor para que ele não interferisse nas

medidas do conta-giro.

O LED D1 tem por finalidade a comunicação visual da etapa experimental. Em

alguns experimentos realizados com esse mesmo aparato, era importante exibir se a

tomada de medidas ainda estava ocorrendo.

A alimentação do Arduino foi fornecida pela interface USB. A fonte externa que

fornece os 5V utilizados pelo motor e pelo conjunto conta-giro é uma fonte ATX de

220W.

Nos primeiros experimentos, a saída de 12V da fonte foi utilizada para o motor,

mas, por conta dos motores utilizados, optou-se pelo uso apenas da saída de 5V. A

razão de se empregar uma fonte externa ao invés da alimentação 5V própria do

Arduino está no baixo fornecimento de corrente (e, consequentemente, de potência),

o que compromete a estabilidade da rotação.

Para simplificar o trabalho de comunicação e aquisição de dados, o Arduino foi

utilizado em conjunto com software em um computador auxiliar. O programa escrito

e enviado ao Arduino (Apêndice B) o torna um aparato que aguarda comandos de

porta serial e os executa, devolvendo pela mesma via os dados quando solicitado.

Os comandos seriais inclusos no código enviado ao Arduino são:

r – realizar a leitura do acelerômetro e enviar em formato numérico;

w – iniciar a tomada de dados do conta-giro;

d – parar a tomada de dados do conta-giro;

Page 84: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

81

h – liga o LED de comunicação;

l – desliga o LED de comunicação;

o – muda o valor de “motoron” para verdadeiro (desativa a trava de

segurança que mantém o motor desligado);

D – muda o valor de “motoron” para falso (reativa a trava de segurança

que mantém o motor desligado – opção padrão ao ligar a placa);

+ ou - – Ajuste fino da velocidade de rotação (muda o valor da variável

que define a potência controlada pelo PWM);

0 a 9 – Ajuste grosso da velocidade de rotação (0 equivale a potência

zero).

Para realizar a contagem do número de voltas para a velocidade angular, o

conjunto conta-giro detecta as mudanças de estado no material entre ela entre

transparente (sem fita adesiva) e opaco (com fita adesiva).

Como foram postos quatro trechos de fita adesiva, uma volta corresponde a oito

mudanças de estado. Assim sendo, cada vez que o contador de mudanças de estado

atinge o valor 8, o cálculo da velocidade angular é feito a partir do tempo atual. O

valor da velocidade angular é então enviado por interface serial em revoluções por

segundo. A saída de velocidade angular é realizada uma vez por volta.

O modelo para a contagem de voltas se mostrou eficaz e estável com imprecisão

de meio 0,05 volta por segundo para todos os valores de velocidade angular

utilizados nesse trabalho.

Page 85: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

82

6. Apêndice B: Códigos fonte

Nesse apêndice estão expostos os códigos fonte das versões finais do programa

enviado ao Arduino e do programa utilizado para obter a aceleração da placa de

acelerômetro.

6.1. Programa enviado ao Arduino (C)

Códigos fonte para programas para o Arduino são escritos em C por padrão. A

fundação Arduino disponibiliza gratuitamente na Internet o compilador que conta

com um editor de texto próprio com destaque de sintaxe e uma plataforma gráfica

para auxiliar a comunicação serial.

// -------------------------------------

// terceiro_prototipo.ino – versao final

// -------------------------------------

int ledPin = 3; // led para sincronizacao de video

int pwm = 9; // pwm do motor de rotacao constante

int XPin = 0; //

int YPin = 1; // pinos acelerometro

int ZPin = 2; //

int Photo = 4; // alterado desde o segundo_prototipo para uma

porta digital (segundo_prototipo utilizava porta analogica 3)

int valx = 0; //

int valy = 0; // valor lido no acelerometro

int valz = 0; //

int valPhoto=0;

int photoStat=0;

int photoStatOld=0;

int cont=0;

unsigned long time=0;

unsigned long time0=0;

unsigned long per=1;

float freq;

int pot = 0; // leitura do potenciômetro (10k)

char incomingByte = 0; // leitura serial

int temp = 0;

int motorOn = 0; // motor ligado ou não

int showfreq = 0; // decidir se mostra ou não a velocidade

angular w (adicionado no terceiro_prototipo)

void setup()

Serial.begin(9600); // setup serial

Page 86: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

83

pinMode(ledPin, OUTPUT);

pinMode(pwm, OUTPUT);

void loop()

if(Serial.available()>0)

incomingByte = Serial.read();

switch(incomingByte)

case '+':

pot = pot+1;

break;

case '-':

pot = pot-1;

break;

case 'h':

digitalWrite(ledPin, HIGH);

break;

case 'l':

digitalWrite(ledPin, LOW);

break;

case 'o':

motorOn = 1;

break;

case 'r':

valx = analogRead(XPin);

valy = analogRead(YPin);

valz = analogRead(ZPin);

valPhoto = digitalRead(Photo);

Serial.print(valx);

Serial.print(" ");

Serial.print(valy);

Serial.print(" ");

Serial.println(valz);

break;

case 'w':

showfreq = 1;

break;

case 'd':

showfreq = 0;

break;

case 'D':

motorOn = 0;

break;

default:

temp = atoi(&incomingByte);

if((temp>0) && (temp<=9)) pot = 25 * temp + 5;

if(temp==0) pot = 0;

break;

incomingByte = 0;

valPhoto = digitalRead(Photo);

if(valPhoto==HIGH)

photoStat=1;

else

photoStat=0;

Page 87: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

84

if(!(photoStat==photoStatOld))

cont+=1;

if(cont>8)

cont = 1;

time = millis();

per = time - time0;

time0 = time;

freq = 1000. / per;

photoStatOld=photoStat;

if(showfreq) Serial.println(freq);

if(motorOn)

analogWrite(pwm, pot);

else analogWrite(pwm, 0);

6.2. Programa para a obtenção da aceleração (Python)

O programa foi escrito com o intuito de capturar valores de aceleração do

acelerômetro através do Arduino. A saída é uma linha de texto com quatro valores

numéricos, correspondentes ao tempo de execução e aos eixos x, y e z.

O programa faz sua saída completa na linha de comando, o que permite

facilmente seu direcionamento para um arquivo ASCII.

####################################################

# medida.py – obtenção das medidas do acelerômetro #

####################################################

import serial

import time

import sys

print 'Serial...'

tend = 10 # Tempo de tomada de dados em segundos

t=0

i=0

h=0.2 # Intervalo entre tomadas de dados em segundos

ih=1 # Intervalo entre mudanças de estado do LED em número de

medidas

ard = serial.Serial('/dev/ttyUSB0', timeout=0.5) # Obter o caminho

para a porta serial via dmesg e alterar essa linha de acordo

time.sleep(2)

ard.write('0') # Certificar que o motor esta desligado (reduz ruído)

ard.write('h')

time.sleep(3)

ard.write('l')

Page 88: desenvolvimento de um acelerômetro de bolha de sensibilidade

85

on = 0

t0 = time.time()

tend = tend + t0

nt = t0

print 'Start!'

while t < tend:

t = time.time()

i = i+1

if t > nt:

ard.write('r')

nt = nt + h

accel = ard.readline().split(' ')

print "0:.2f 1 2 3".format(t - t0, int(accel[0]),

int(accel[1]), int(accel[2]))

if i >= ih:

if on:

ard.write('l')

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