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UNIVERSIDADE TUITI DO PARANÁ LUCIANO PIZZATTO KASECKER NICOLAS TULIO DESENVOLVIMENTO DE PLANILHA EM EXCEL PARA A COMPARAÇÃO ENTRE CÁLCULOS DE RECALQUE EM ESTACA ISOLADA E EFEITO DE GRUPO DE ESTACAS CURITIBA 2016

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UNIVERSIDADE TUITI DO PARANÁ

LUCIANO PIZZATTO KASECKER

NICOLAS TULIO

DESENVOLVIMENTO DE PLANILHA EM EXCEL PARA A

COMPARAÇÃO ENTRE CÁLCULOS DE RECALQUE EM ESTACA

ISOLADA E EFEITO DE GRUPO DE ESTACAS

CURITIBA

2016

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LUCIANO PIZZATO KASECKER

NICOLAS TULIO

DESENVOLVIMENTO DE PLANILHA EM EXCEL PARA A

COMPARAÇÃO ENTRE CÁLCULOS DE RECALQUE EM ESTACA

ISOLADA E EFEITO DE GRUPO DE ESTACAS

CURITIBA

2016

Parte manuscrita do Projeto de Graduação dos

alunos Luciano Pizzatto Kasecker e Nicolas Tulio,

apresentado ao Departamento de Engenharia Civil

do Centro Tecnológico da Universidade Tuiuti do

Paraná, como requisito parcial para obtenção do

grau de Engenheiro Civil.

Orientador: Heber Augusto Cotarelli de Andrade

Coordenador: Eliane Pereira de Lima

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“ De erro em erro, vai-se descobrindo toda a verdade. ”

Sigmund Freud.

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RESUMO

Ante o problema do cálculo da estimativa de recalque em fundações profundas não

seguir um padrão coerente em todas as obras, o presente trabalho objetiva

desenvolver uma planilha em Excel que, de forma fácil ao usuário e com base na NBR

6122, disponibilize maior segurança entre o recalque previsto e aquele de fato ocorrido

em campo. Para isso, implementou-se métodos de cálculos, que, automatizados em

planilha em Excel, facilitam a estimativa final de recalque. Optou-se, ainda, pela

implementação do método de Aoki (2010) para a comparação direta com o método de

efeito de grupo. Com dados coletados em campo, como o ensaio SPT, inseridos pelo

usuário, a planilha desenvolvida em Excel calcula automaticamente a carga

admissível do solo pelos métodos de Aoki & Velloso e Décourt & Quaresma, o número

de estacas mínimas no bloco de coroamento, e, em seguida, o recalque de cada uma

delas pelo método de Aoki e o método do radier fictício. Após o desenvolvimento e

análise do estudo, concluiu-se que, embora as situações fáticas interfiram de forma

significativa nos resultados obtidos em campo, o método mostrou-se apto a embasar

uma previsão mais exata do recalque final encontrado na prática, validando-se,

portanto.

Palavras-chave: Recalque. Efeito de grupo. Radier fictício. Carga admissível.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 Fundação profunda. .................................................................................... 13

Figura 2 Estaqueamento formado por um grupo de estacas raiz .............................. 20

Figura 3 Distribuição das estacas no bloco ............................................................... 22

Figura 4 Estaqueamento feito segundo a menor direção do pilar (menos

recomendável) ........................................................................................................... 23

Figura 5 Estaqueamento com pilar sobre estaca ...................................................... 23

Figura 6 Estaqueamento submetido a carga vertical e momentos segundo as direções

x e y. .......................................................................................................................... 24

Figura 7 torre de pisa ................................................................................................ 25

Figura 8 Diagrama de carga normal gerado automaticamente pela planilha. ........... 27

Figura 9 Esquema de cálculo para estimativa da parcela devido ao adensamento das

camadas compressíveis. Fonte:Aoki(2010);.............................................................. 28

Figura 10 Modelo de cálculo da estimativa do recalque pelo método do radier fictício

NBR6122/2010 FONTE: NBR6122.. ......................................................................... 30

Figura 11 Tela de inserção de dados ........................................................................ 33

Figura 12 Inserção de dados do ensaio SPT. ........................................................... 34

Figura 13 Inserção de dados referentes às características da estaca. ..................... 35

Figura 14 Demonstração de planilha auxiliar para cálculo de resistência de ponta.. 35

Figura 15 Demonstração de planilha auxiliar para obtenção da resistência lateral. .. 36

Figura 16 Região 3, exemplo de inserção de dados para cálculo do estaqueamento.

.................................................................................................................................. 36

Figura 17 Região 5, exemplo de saída de dados permitindo a comparação direta dos

valores de recalque.. ................................................................................................. 37

Figura 18 Região 4, exemplo de demonstração da disposição das estacas no bloco

de coroamento com sua respectiva carga.. ............................................................... 37

Figura 19 Exemplo de diagrama de carga normal de uma estaca do bloco de

coroamento. .............................................................................................................. 38

Figura 20 Exemplo ilustrativo do diagrama do efeito de grupo.................................. 39

Figura 21 Locação dos pilares analisados.. .............................................................. 41

Figura 22 Resumo das características dos pilares analisados. ................................. 41

Figura 23 Análise do P26. ......................................................................................... 42

Figura 24 Análise do P38. ......................................................................................... 43

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Figura 25 Parcelas de recalque da estaca. ............................................................... 52

Figura 26 Diagrama de esforço normal na estaca ..................................................... 54

Figura 27 Recalque do Solo ...................................................................................... 56

Figura 28 Propagação de tensões devido à reação de ponta. .................................. 57

Figura 29 Propagação de tensões devido às cargas laterais. ................................... 58

Figura 30 Grupo de elementos de fundação profunda .............................................. 63

Figura 31 Massa de solo mobilizada pelo carregamento (a) de uma estaca isolada e

(b) de um grupo de estacas....................................................................................... 64

Figura 32 Esquema de cálculo pelo radie fictício, com sugestões para a profundidade

do radier. ................................................................................................................... 64

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Valores dos coeficientes K e α propostos por Aoki e Velloso ................. 17

Tabela 2 – Valores dos coeficientes F1 e F2 propostos por Aoki e Velloso .............. 18

Tabela 3 – Valores atribuídos à variável K empregada no método de Décourt e

Quaresma.................................................................................................................. 19

Tabela 4 – Valores atribuídos ao coeficiente 𝛼𝛼 empregado no método de Décourt e

Quaresma (1978) em função do tipo de estaca e do tipo de solo ............................. 19

Tabela 5 – Valores atribuídos ao coeficiente 𝛽𝛽 empregado no método de Décourt e

Quaresma (1978) em função do tipo de estaca e do tipo de solo ............................. 19

Tabela 6 Distribuição de cargas nos pilares. ............................................................. 40

Tabela 7 Recalque estimado x recalque medido. ...................................................... 44

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 9

2. OBJETIVOS .......................................................................................................... 11

2.1. OBJETIVO GERAL ............................................................................................ 11

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS .............................................................................. 11

3. JUSTIFICATIVA .................................................................................................... 11

4. REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................... 13

4.1. FUNDAÇÃO PROFUNDA .................................................................................. 13

4.2. ENSAIO SPT ...................................................................................................... 14

4.2.1. Procedimento spt ............................................................................................ 14

4.3. CAPACIDADE DE CARGA ................................................................................ 15

4.4. ESTAQUEAMENTO ........................................................................................... 20

4.5. RECALQUE ........................................................................................................ 25

4.5.1. Estimativas de recalques sob carga axial ........................................................ 26

5. MATERIAIS E METODOLOGIA ............................................................................ 31

5.1. PROCESSAMENTO DE DADOS NA PLANILHA EM EXCEL ............................ 33

6. ANÁLISE DE RECALQUES CALCULADOS X RECALQUES REAIS ................... 40

7. CONCLUSÃO ........................................................................................................ 45

8. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 47

9. ANEXOS ............................................................................................................... 50

9.1.1. Encurtamento elástico ..................................................................................... 53

9.1.2. Recalque do solo ............................................................................................. 56

9.1.3. Previsão da curva carga x recalque ................................................................ 60

9.2. EFEITO DE GRUPO .......................................................................................... 63

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1. INTRODUÇÃO

As fundações são a base estrutural de uma edificação, sendo conhecida

também como infraestrutura. Este é um elemento de grande importância para

performance plena da edificação. Quando mal projetada, o risco de aparecer trincas

e fissuras é eminente, também podendo levar a obra a ruína completa. Para isto ser

evitado, os cálculos de cargas admissíveis e recalques devem ser representativos

para idealizar o comportamento da estrutura em um todo.

A infraestrutura é dividida em dois grandes grupos, fundações diretas e

fundações indiretas. As diretas são constituídas por sapatas e radiers, enquanto as

profundas são compostas por tubulões e estacas.

Abordaremos neste trabalho apenas as fundações profundas em estacas. Os

cálculos serão implementados em uma tabela no Excel para que, de uma maneira

rápida e confiável, o projetista tenha a segurança para analisar o comportamento da

infraestrutura escolhida.

O recalque é um grande vilão para as estruturas, e a compatibilidade no método

de cálculo minimiza os problemas após a execução das mesmas. Usualmente,

calcula-se o recalque de uma estaca isolada, já os métodos consagrados de cálculo

do recalque em grupo admitem as estacas trabalhando de forma conjunta, tendo

assim algumas divergências no resultado final.

Portanto, buscaremos dados suficientes para comparar os dois métodos de

forma rápida e simples para o problema acima. Assim será possível analisar qual

método é mais preciso para a estimativa do recalque.

Para o desenvolvimento deste trabalho serão utilizadas pesquisas

bibliográficas, além de estudos de caso para a validação do método. A pesquisa

bibliográfica baseou-se em publicações científicas da área de fundações, geologia e

geotécnica.

O trabalho de conclusão de curso estrutura-se em seis capítulos,

apresentando-se no primeiro a fundação profunda baseada na NBR 6122/2010. No

segundo capítulo aborda-se o ensaio SPT, que é a entrada básica de dados para a

utilização da planilha Excel. O terceiro capítulo caracteriza a capacidade de carga em

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fundação profunda segundo os métodos de Aoki & Velloso (1975) e o método de

Décourt & Quaresma (1978). No quarto trata-se sobre o estaqueamento, a disposição

das estacas em um bloco rígido, segundo Alonso (1989) e a carga atuante em cada

estaca. O quinto capítulo versa sobre o recalque de uma estaca isolada, não levando

em consideração o grupo, assim teremos base para a comparação final entre os

métodos. Por fim, o sexto capítulo explana acerca do efeito de grupo.

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2. OBJETIVOS

2.1. OBJETIVO GERAL

O objetivo geral deste trabalho de conclusão de curso é estudar os diferentes

métodos de cálculo de recalque de uma fundação profunda e compará-los, a fim de

identificar com qual há o melhor comportamento estrutural de uma edificação.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Calcular a capacidade de carga de uma estaca implementando em planilha

Excel os métodos de Aoki & Velloso (1975) e Décourt & Quaresma (1978).

Definir o estaqueamento para calcular a distribuição de carga em cada estaca

do bloco de coroamento automaticamente pela planilha em Excel.

Calcular o recalque de uma estaca isolada pelo método de Aoki (2010) pela

planilha em Excel.

Calcular o recalque de um grupo de estacas pelo método do radier fictício (NBR

6122) pela planilha em Excel.

Comparar a diferença entre o método de recalque de estacas isoladas e o

recalque em grupo de estacas obtidos automaticamente pela planilha em Excel com

os recalques reais medidos em campo na tese de Russo Neto (2005).

3. JUSTIFICATIVA

Será analisado os dois mencionados métodos pois eles possuem divergências

em seus resultados. Ademais, por não existirem muitos estudos comparando-os, há

constante dúvida em projetistas a respeito de qual método desenvolver seus cálculos.

Tendo isto em vista, serão implementados os métodos de cálculo de recalque de

estaca isolada e em grupo que comparará os dois automaticamente, facilitando e

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agilizando o trabalho dos usuários desta planilha, na análise e dimensionamento de

fundações profundas.

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4. REFERENCIAL TEÓRICO

4.1. FUNDAÇÃO PROFUNDA

Conforme a NBR 6122/2010,

As fundações rasas são elementos de fundação em que a carga é transmitida ao terreno, predominantemente pelas pressões distribuídas sob a base da fundação.

As fundações rasas são tipicamente projetadas com pequenas escavações no solo não sendo necessários grandes equipamentos para execução.

São tipos de fundações rasas as sapatas (sapatas isoladas, sapatas associadas, vigas de fundação e sapatas corridas), os blocos, os radiers.

Já as fundações profundas são elementos que transmitem a carga ao terreno pela base (resistência de ponta), por sua superfície lateral (resistência de fuste) ou por uma combinação da duas.

As fundações profundas são utilizadas geralmente em projetos grandes que precisam transmitir maiores cargas ao terreno e quando as camadas superficiais do solo são pobres ou fracas.

Incluem-se neste tipo de fundação as estacas, tubulões e caixões.

Figura 1 Fundação profunda FONTE: NBR 6122/2010.

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4.2. ENSAIO SPT

A NBR6484/2001 prescreve o método de execução de sondagens de simples

reconhecimento de solos, com SPT, cujas finalidades para aplicações em Engenharia

Civil são:

a) a determinação dos tipos de solo em suas respectivas profundidades de

ocorrência;

b) a posição do nível d’água; e

c) os índices de resistência à penetração (N) a cada metro

N: Abreviatura do índice de resistência à penetração do SPT, cuja

determinação se dá pelo número de golpes do martelo padrão correspondente à

cravação de 30 cm finais do amostrador padrão, após a cravação inicial de 15 cm.

4.2.1. Procedimento spt

De acordo com as características do terreno e tipo de obra, é determinada a

quantidade e a posição dos pontos à serem sondados NBR 6484/2001. Em cada ponto

monta-se um tripé com um conjunto de roldanas e cordas, sendo a amostra à zero

metro coletada. Na base do furo apoia-se o amostrador padrão acoplado à haste de

perfuração.

Marca-se na haste, com giz, um segmento de 45 cm divididos em trechos iguais

de 15 cm. Ergue-se o peso do martelo de 65 kg até a altura de 75 cm e deixa-se cair

em queda livre sobre a haste. Tal procedimento é repetido até que o amostrador

penetre 45 cm do solo. A soma do número de golpes necessário para a penetração

do amostrador nos últimos 30 cm é o que dará o índice de resistência do solo na

profundidade ensaiada.

O ensaio será interrompido/finalizado quando já tiver atingido os critérios de

paralização previstos na NBR6484/2001 ou atingir o impenetrável.

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4.3. CAPACIDADE DE CARGA

Segundo a NBR 6122/2010, a capacidade de carga de uma fundação profunda,

(estaca ou tubulão isolado) é definida como a força aplicada sobre um artefato de

fundação que provoca apenas recalques que a construção pode suportar sem grandes

problemas e com segurança.

O cálculo da capacidade de carga de uma estaca pode ser feito por meio de

dois métodos semi-empíricos:

• Aoki & Velloso (1975);

• Décourt & Quaresma (1978).

Neste trabalho explanaremos os métodos semi-empíricos de Aoki e Velloso

(1975) e Décourt e Quaresma (1978), que são os métodos mais usuais no Brasil para

o cálculo da capacidade de carga de uma estaca. Segundo notas de aula o modelo

de cálculo de ambos os métodos se assemelham entre si, sendo que consistem na

soma da parcela da resistência devido ao atrito lateral da estaca com o solo, com a

resistência de ponta da estaca conforme apresentado na figura 1. A carga de ruptura

e a capacidade de carga em estacas são calculadas como:

𝑃𝑃𝑅𝑅 = 𝑃𝑃𝑃𝑃 + 𝑃𝑃𝐿𝐿

Onde:

𝑃𝑃𝑅𝑅: carga de ruptura, ou capacidade de carga de uma fundação em estaca;

𝑃𝑃𝐿𝐿: parcela da carga de ruptura devido ao atrito lateral solo-estaca desenvolvido ao

longo do fuste da estaca (capacidade de carga do fuste);

𝑃𝑃𝑃𝑃: parcela da carga de ruptura resistida pela ponta da estaca (capacidade de carga

de ponta);

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Os valores de PL e PP podem ser determinados, respectivamente, por meio

das seguintes expressões (Alonso, 1983):

𝑃𝑃𝐿𝐿 = 𝑈𝑈 ∗ ∑ (∆𝑙𝑙 ∗ 𝑟𝑟𝐿𝐿)𝑖𝑖

e,

𝑃𝑃𝑃𝑃 = 𝐴𝐴𝑃𝑃 ∗ 𝑟𝑟𝑃𝑃

Onde:

𝑟𝑟𝐿𝐿: atrito lateral na ruptura desenvolvido no contato fuste-solo;

𝑟𝑟𝑃𝑃: resistência de ponta na ruptura;

𝐴𝐴𝑃𝑃: área da ponta da estaca;

𝑈𝑈: perímetro da seção transversal do fuste;

∆𝑙𝑙: trecho do fuste onde se admite 𝑟𝑟𝐿𝐿 constante.

As diferenças mais notáveis existentes entre os métodos semi-empíricos

explanados, mais especificamente entre os métodos de Aoki e Velloso (1975) e

Décourt e Quaresma (1978), consistem de que forma são determinadas a resistência

de ponta (𝑟𝑟𝐿𝐿) e a resistência por atrito lateral (𝑟𝑟𝐿𝐿).

O método de Aoki e Velloso (1975) foi originalmente desenvolvido a partir de

resultados obtidos do ensaio de cone (CPT), sendo possível a sua utilização a partir

de ensaios de penetração dinâmica (SPT) com a junção de um fator de correção (K).

Por este método, as resistências de ponta (𝑟𝑟𝑃𝑃) e lateral (𝑟𝑟𝐿𝐿) são calculadas como:

𝑟𝑟𝑃𝑃 =𝑞𝑞𝑝𝑝𝐹𝐹1

; 𝑞𝑞𝑝𝑝 = 𝑘𝑘 ∗ 𝑁𝑁𝑆𝑆𝑃𝑃𝑆𝑆

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E,

𝑟𝑟𝐿𝐿 =𝛼𝛼 ∗ 𝑘𝑘 ∗ 𝑁𝑁𝑆𝑆𝑃𝑃𝑆𝑆

𝐹𝐹2

Onde:

𝑁𝑁𝑆𝑆𝑃𝑃𝑆𝑆: valor da resistência à penetração dinâmica obtida nos ensaios SPT na região da

ponta;

𝛼𝛼: relação entre as resistências de ponta e lateral local do ensaio de penetração

estática, segundo Vargas (1977) apud Schnaid (2000);

𝐾𝐾: coeficiente de conversão da resistência de ponta do cone para NSPT;

𝐹𝐹1 e 𝐹𝐹2: coeficientes de correção das resistências de ponta e lateral;

𝑞𝑞𝑝𝑝: resistência de ponta do cone;

Os valores de α e K que estão apresentados na Tabela1 são em função do tipo

de solo, e os valores de F1 e F2 são apresentados na Tabela 2, em função do tipo de

estaca.

Tipo de solo K (MPa) α (%) Areia 1,00 1,4 Areia siltosa 0,80 2,0 Areia silto-argilosa 0,70 2,4 Areia argilosa 0,60 3,0 Areia argilo-siltosa 0,50 2,8 Silte 0,40 3,0 Silte arenoso 0,55 2,2 Silte areno-argiloso 0,45 2,8 Silte argiloso 0,23 3,4 Silte argilo-siltoso 0,25 3,0 Argila 0,20 6,0 Argila arenosa 0,35 2,4 Argila areno-siltosa 0,30 2,8 Argila siltosa 0,22 4,0 Argila silto-arenosa 0,33 3,0

Tabela 1 – Valores dos coeficientes K e α propostos por Aoki e Velloso FONTE: ALONSO,1983

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Tipo de estaca F1 F2

Franki 2,5 5,0 Pré-moldadas 1,75 3,7 Escavadas 3,0 6,0

Tabela 2 – Valores dos coeficientes F1 e F2 propostos por Aoki e Velloso FONTE: ALONSO,1983

O método de Décourt e Quaresma (1978) consiste num método para a

estimativa da capacidade de carga que foi desenvolvido exclusivamente a partir de

ensaios SPT. Este método foi originalmente desenvolvido para estacas pré-moldadas

de concreto, tendo sido difundido posteriormente para outros tipos de estacas

usualmente encontrados no país, como as estacas escavadas em geral, hélice

contínua e injetadas (Schnaid, 2000).

Segundo o método mencionado acima, as resistências de ponta e lateral são

calculadas, respectivamente, pelas seguintes expressões:

𝑟𝑟𝑃𝑃 = 𝛼𝛼 ∗ 𝐾𝐾 ∗ 𝑁𝑁𝑆𝑆𝑃𝑃𝑆𝑆

E,

𝑟𝑟𝐿𝐿 = 𝛽𝛽 ∗ 10 �𝑁𝑁𝑚𝑚3

+ 1�

Onde:

𝐾𝐾: coeficiente que relaciona a resistência de ponta com o valor de NP, dado na Tabela

4.12;

𝛼𝛼 e 𝛽𝛽: determinados em função do tipo de estaca e apresentados na Tabela 3 e na

Tabela 4, respectivamente;

𝑁𝑁𝑆𝑆𝑃𝑃𝑆𝑆: média dos valores de 𝑁𝑁𝑆𝑆𝑃𝑃𝑆𝑆 na ponta da estaca, imediatamente acima e abaixo;

𝑁𝑁𝑚𝑚: média de valores 𝑁𝑁𝑆𝑆𝑃𝑃𝑆𝑆 atuantes nas camadas de solo em que a estaca atua.

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Tipo de solo K (kN/m²) Argilas 120 Siltes argilosos (solos residuais) 200 Siltes arenosos (solos residuais) 250 Areias 400

Tabela 3 – Valores atribuídos à variável K empregada no método de Décourt e Quaresma (Schnaid, 2000)

Solo/estaca Cravada Escavada (em geral)

Escavada (bentonita)

Hélice Contínua Raiz Injetadas

(alta pressão) Argilas 1,0 0,85 0,85 0,30 0,85 1,0 Solos intermediários 1,0 0,60 0,60 0,30 0,60 1,0

Areias 1,0 0,50 0,50 0,30 0,50 1,0 Tabela 4 – Valores atribuídos ao coeficiente 𝛼𝛼 empregado no método de Décourt e Quaresma (1978) em função do tipo de estaca e do tipo de solo (Schnaid, 2000)

Solo/estaca Cravada Escavada (em geral)

Escavada (bentonita)

Hélice Contínua Raiz Injetadas

(alta pressão) Argilas 1,0 0,85 0,90 1,0 1,5 3,0 Solos intermediários 1,0 0,65 0,75 1,0 1,5 3,0

Areias 1,0 0,50 0,60 1,0 1,5 3,0 Tabela 5 – Valores atribuídos ao coeficiente 𝛽𝛽 empregado no método de Décourt e Quaresma (1978) em função do tipo de estaca e do tipo de solo (Schnaid, 2000)

Após a determinação da carga de ruptura (PR), ou capacidade de carga da

estaca, a carga admissível das estacas (𝑃𝑃𝑎𝑎𝑎𝑎𝑚𝑚) será calculada como:

1. Pelo método de Aoki & Velloso (1975):

𝑃𝑃𝑎𝑎𝑎𝑎𝑚𝑚 ≤

⎩⎪⎨

⎪⎧

𝑃𝑃𝑃𝑃2

𝑃𝑃𝑙𝑙0,8

(𝑃𝑃𝑃𝑃𝑟𝑟𝑃𝑃 𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑃𝑃𝑒𝑒𝑃𝑃𝑒𝑒 𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑃𝑃𝑒𝑒𝑃𝑃𝑒𝑒𝑃𝑃𝑒𝑒)

𝑃𝑃𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑎𝑎𝑒𝑒 ⎭⎪⎬

⎪⎫

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2. Pelo método de Décourt & Quaresma (1978):

𝑃𝑃� ≤

⎩⎪⎪⎨

⎪⎪⎧

𝑃𝑃𝑅𝑅2,0

𝑃𝑃𝑃𝑃4,0

+𝑃𝑃𝑃𝑃1,3

𝑃𝑃𝐿𝐿0,8

(𝑃𝑃𝑃𝑃𝑟𝑟𝑃𝑃 𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑃𝑃𝑒𝑒𝑃𝑃𝑒𝑒 𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑃𝑃𝑒𝑒𝑃𝑃𝑒𝑒𝑃𝑃𝑒𝑒)

𝑃𝑃𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑎𝑎𝑒𝑒 ⎭⎪⎪⎬

⎪⎪⎫

A critério do projetista é possível considerar ou não a carga do peso próprio das

estacas.

4.4. ESTAQUEAMENTO

Um bloco de coroamento de estacas é definido como um conjunto qualquer de

no mínimo duas estacas destinadas a receber a carga nativa da estrutura e transmiti-

la ao solo de fundação pelos métodos citados anteriormente mantendo a estrutura

estática. A Figura 2 mostra um estaqueamento formado por um grupo de estacas-raiz.

Para a estimativa do número de estacas em um bloco pode-se calcular como:

𝑁𝑁 =𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝐿𝐿𝑃𝑃𝑅𝑅𝑃𝑃𝑎𝑎𝑎𝑎𝑚𝑚

Figura 2 Estaqueamento formado por um grupo de estacas raiz FONTE: http://www.dicionariogeotecnico.com.br acesso: Set/2016

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21

Onde:

𝑁𝑁: número de estacas que constituem do bloco;

𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝐿𝐿𝑃𝑃𝑅𝑅: carga do pilar;

𝑃𝑃𝑎𝑎𝑎𝑎𝑚𝑚 : carga admissível da estaca.

Uma vez determinado o número de estacas, as suas dimensões e a sua carga

admissível, o espaçamento mínimo entre estacas pode ser determinado da seguinte

maneira:

- 2,5 x diâmetro da estaca para as pré-moldadas.

- 3,0 x diâmetro da estaca para as moldadas no local.

A disposição das estacas em um estaqueamento deve ser feita, sempre que

possível, de forma a gerar blocos com a melhor distribuição das cargas. Alonso (1989)

apresenta algumas recomendações para a desenvolvimento dos blocos de estacas

ou estaqueamentos:

A distribuição das estacas deve ser feita, sempre que possível, em torno do

centro de carga do pilar e de acordo com os blocos padronizados apresentados na

Figura 3.

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Algumas recombinações geométricas serão listadas a seguir:

a) O espaçamento mínimo entre estacas deve ser respeitado entre eixos das

estacas do mesmo estaqueamento

Figura 3 Distribuição das estacas no bloco FONTE: ALONSO, 1989. P.39.

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23

b) No caso de não ter esforços de momentos atuantes a distribuição do pilar deve

ser feita, no sentido da maior dimensão do pilar, devendo-se evitar a

configuração apresentada na Figura 4:

c) No caso de um bloco associado com mais de um pilar, o estaqueamento

adotado deverá ter o seu centro geométrico coincidente com o centro de carga

dos pilares;

d) No caso de blocos com duas estacas para dois pilares, deve-se evitar a posição

da estaca embaixo dos pilares:

Figura 4 Estaqueamento feito segundo a menor direção do pilar (menos recomendável)

Figura 5 Estaqueamento com pilar sobre estaca

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24

e) Blocos submetidos a carga vertical e momentos:

A seguir apresenta-se uma formula genérica para o cálculo da distribuição da

carga do pilar em cada estaca do bloco de coroamento, consiste no rateio da parcela

da carga normal de forma uniforme para cada estaca e o acréscimo ou alivio de carga

devido aos esforços do momento. Para a utilização desse método de distribuição de

cargas as estacas devem ter os mesmos parâmetros geométricos: comprimento,

geometria, do mesmo tipo e dispostas na vertical. E podem estar organizadas em

qualquer arranjo.

𝐸𝐸𝑖𝑖 =𝑃𝑃𝑝𝑝𝑖𝑖𝑒𝑒𝑎𝑎𝑒𝑒𝑁𝑁

±𝑀𝑀𝑀𝑀 ∗ 𝑌𝑌𝑖𝑖∑𝑌𝑌𝑖𝑖2

±𝑀𝑀𝑀𝑀 ∗ 𝑋𝑋𝑖𝑖∑𝑋𝑋𝑖𝑖2

Onde:

𝐸𝐸𝑖𝑖: carga atuante na estaca i;

𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝐿𝐿𝑃𝑃𝑅𝑅: carga vertical do pilar;

𝑁𝑁: número de estacas do estaqueamento;

𝑀𝑀𝑥𝑥: momento transmitido pelo pilar na direção x;

𝑀𝑀𝑌𝑌: momento transmitido pelo pilar na direção y;

Figura 6 Estaqueamento submetido a carga vertical e momentos segundo as direções x e y Fonte: Os autores.

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25

𝑀𝑀𝑖𝑖 e 𝑀𝑀𝑖𝑖: coordenadas da estaca i, segundo as direções x e y, respectivamente.

4.5. RECALQUE

É definido como um deslocamento vertical para baixo que ocorre na base da

fundação em relação a superfície do terreno. Esse deslocamento vertical é uma

consequência da deformação do solo devido a aplicação de cargas ou mesmo pelo

peso próprio das camadas sobrejacentes de onde se apoia o elemento da fundação.

Recalque ou assentamento é o termo utilizado em Arquitetura e Engenharia

civil para indicar o fenômeno proveniente de um rebaixamento que a obra sofre devido

a deformações elásticas e plásticas.

Adensamento do solo é um processo lento e gradual de redução do índice de

vazios de uma camada compressível, devido ao acréscimo de poro pressão gerado

por uma sobrecarga em argilas moles e saturadas. Assim, o solo tende a diminuir seu

volume provocando o recalque por adensamento.

O recalque é a principal causa de trincas e rachaduras em edificações,

principalmente quando ocorre o recalque diferencial, que é quando uma parte da obra

se rebaixa mais que a outra, o que gera esforços estruturais não previstos na fase de

projeto, o que pode levar esta obra a ruína. Um grande exemplo de recalque

diferencial é a Torre de Pisa na Itália (figura 7).

Figura 7 torre de pisa FONTE: /blogdopetcivil.com acesso: SET/2016

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Causas de deformação de uma estrutura (Simons e Menzies, 1981).

1. Aplicação de cargas estruturais;

2. Rebaixamento do nível d’água;

3. Colapso da estrutura do solo devido ao encharcamento (Solos colapsíveis);

4. Inchamento de solos expansivos;

5. Árvores de crescimento rápido em solos argilosos;

6. Deterioração da fundação (desagregação do concreto por ataque de sulfatos,

corrosão de estacas metálicas, envelhecimento de estacas de madeira);

7. Subsidência devido à exploração de minas, túneis, cavernas e erosões;

8. Buracos de escoamento;

9. Vibrações em solos arenosos;

10. Variações sazonais de umidade;

11. Efeitos de congelamento.

4.5.1. Estimativas de recalques sob carga axial

Os métodos de cálculo utilizados são adequados para calcular o

comportamento de uma estaca isolada. Sendo que o grupo de estacas será analisado

pelos métodos de cálculo de recalque de grupo.

No anexo (I) está apresentado o método de Aoki (2010), para estimativa do

recalque do grupo de estacas considerando as estacas isoladas. Esse método

consiste na soma da parcela devido ao encurtamento elástico da estaca e da parcela

devido ao recalque por adensamento das camadas compressíveis de solo abaixo da

ponta da estaca.

Para o cálculo da primeira parcela deve ser feito o gráfico de carga normal

atuante na estaca conforme a figura 8.

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Figura 8 Diagrama de carga normal gerado automaticamente pela planilha. FONTE: Os autores.

Pode-se observar o mecanismo de transferência de carga devido a parcela de

resistência pelo atrito lateral de cada camada de solo.

Aplicando na fórmula do encurtamento elástico de Aoki(2010) apresentada tem-

se a primeira parcela do recalque.

𝜌𝜌𝑒𝑒′ =1

𝐸𝐸𝑒𝑒 ∗ 𝐴𝐴0∗ ∑(𝑁𝑁𝑁𝑁���� ∗ ∆𝑁𝑁)

Onde:

𝜌𝜌𝑒𝑒′= parcela de recalque devido ao encurtamento elástico da estaca;

𝐸𝐸𝑒𝑒=Módulo de deformabilidade do concreto da estaca;

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𝐴𝐴0=Área da ponta da estaca;

∑(𝑁𝑁𝑁𝑁���� ∗ ∆𝑁𝑁)= Área do diagrama onde a estaca está sendo solicitada.

A segunda parcela para obtenção do recalque total se dá pelo deslocamento

vertical para baixo das camadas compressíveis subjacentes à ponta da estaca.

Primeiramente deve-se obter o plano médio da ponta da estaca até o

impenetrável ou interface de solos e fazer o espraiamento na angulação 1 para 2 do

ponto médio de cada camada de solo onde a estaca é solicitada até esse plano

traçado como demostrado na figura 9.

Deve se obter a tensão nessa área do plano espraiado e aplicar na formula da

parcela devido ao adensamento das camadas compressíveis apresentada a seguir:

𝜌𝜌𝑒𝑒′′ =∆𝜎𝜎 ∗ 𝐻𝐻0𝐸𝐸𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆𝑒𝑒𝑆𝑆

Onde:

Figura 9 Esquema de cálculo para estimativa da parcela devido ao adensamento das camadas compressíveis. Fonte:Aoki(2010); Adaptado:Os Autores.

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𝜌𝜌𝑒𝑒′′= parcela do recalque devido ao adensamento das camadas compressíveis abaixo

da ponta da estaca;

∆𝜎𝜎= tensão na base espraiada;

𝐻𝐻0= altura da camada compressível;

𝐸𝐸𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆𝑒𝑒𝑆𝑆= módulo de elasticidade do solo.

O recalque total estimado pelo método de Aoki (2010) se dá pela soma das

duas parcelas obtidas anteriormente (𝜌𝜌𝑒𝑒′) e (𝜌𝜌𝑒𝑒′′):

𝜌𝜌 = 𝜌𝜌𝑒𝑒′ + 𝜌𝜌𝑒𝑒′′

O anexo (II) mostra o procedimento para cálculo da estimativa do recalque pelo

método da NBR6122/2010 e algumas considerações adicionais feitas por Velloso &

Lopes (2011) para o cálculo pelo método do radier fictício.

O método para cálculo da estimativa do recalque da NBR6122/2010 consiste

no posicionamento de um radier fictício a 1/3 contado da ponta da estaca para cima

na camada de suporte, ou seja, desconsiderando o solo mole dos primeiros metros

caso houver. Em seguida faz-se o espraiamento na angulação 1 para 2 do ponto em

que o radier foi posicionado até o plano médio da ponta da estaca com o impenetrável

ou interface de cada solo subjacente.

Por fim, aplica-se os valores encontrados na formula de estimativa do recalque

pelo método do radier fictício da NBR6122/2010.

𝜌𝜌𝑒𝑒 =∆𝜎𝜎 ∗ 𝐻𝐻0𝐸𝐸𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆𝑒𝑒𝑆𝑆

Onde:

𝜌𝜌𝑒𝑒= recalque estimado;

∆𝜎𝜎= tensão na base espraiada;

𝐻𝐻0= altura da camada compressível;

𝐸𝐸𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆𝑒𝑒𝑆𝑆= Módulo de elasticidade do solo.

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Figura 10 Modelo de cálculo da estimativa do recalque pelo método do radier fictício NBR6122/2010 FONTE: NBR6122. Adaptado: Os autores.

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5. MATERIAIS E METODOLOGIA

Para o início dos cálculos de uma fundação profunda alguns dados devem ser

colhidos em campo para se ter conhecimento dos tipos de solo e resistência dos

mesmos em que a estrutura será construída. Para a coleta destas informações, o

método mais utilizado é o ensaio SPT (Standard Penetration Test). Com este ensaio

é possível saber especificamente os tipos de solo, o número Nspt de cada camada e

onde se encontra o nível da água ou lençol freático.

A partir destas informações, já é viável fazer o cálculo do pré-dimensionamento

de uma estaca. Com esta estaca já pré-dimensionada, pode-se seguir adiante e

calcular a capacidade de carga desta. A capacidade de carga pode ser calculada por

dois métodos: método de Aoki & Velloso (1975) e o método de Décourt & Quaresma

(1978). Eles possuem algumas divergências nos valores finais de carga admissível, a

razão destas divergências são os coeficientes do tipo de solo utilizado, Décourt &

Quaresma decidiram generalizar todos os tipos de areia, silte e argila com um só

coeficiente para cada um deles, e Aoki & Velloso dão um coeficiente para cada tipo

destes solos de forma mais discretizada. Além dos coeficientes de tipo de solo serem

diferentes, foram feitas algumas considerações nos coeficientes de ponderação para

cada tipo de estaca utilizada.

A capacidade de carga na ruptura de uma estaca é a soma entre sua resistência

de ponta e sua resistência lateral dividindo-os por um coeficiente de segurança. Cada

um dos métodos mencionados acima, calcula estas resistências de uma forma

diferente utilizando os seus respectivos coeficientes de ponderação estimados pelos

autores dos métodos e chegando a valores finais distintos.

Com a capacidade de carga já calculada, e sabendo a carga que chegará no

bloco já informada pelo projeto estrutural da edificação, pode-se partir para a

quantidade de estacas que será necessária neste bloco. Dividindo o valor da carga da

edificação pela carga admissível da estaca tem-se o número de estacas no bloco,

caso este valor não seja inteiro, arredonda-se para cima, sempre a favor da

segurança. Caso exista momento em uma direção o número mínimo de estacas a ser

considerado são duas, caso ocorra esforços de momento em duas direções a

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consideração é de três estacas no mínimo. Estes momentos também são

especificados pelo projeto estrutural da edificação.

Definido a quantidade de estacas no bloco, parte-se para a carga específica

que atuará em cada estaca. Considera-se a posição delas conforme o livro de Alonso

(1989), não são muitas opções de tipos de blocos, porém consegue-se especificar

blocos de uma até nove estacas. Para o cálculo destas cargas atuantes, utiliza-se um

simples plano cartesiano e cada estaca terá sua posição x e y no plano e assim tem-

se os valores finais de carga em cada estaca que não podem ultrapassar a tensão

admissível calculada previamente. Para chegar nestes valores finais de cada estaca

calcula-se somando separadamente os efeitos da carga vertical e dos momentos.

Para isto é necessário que os eixos x e y sejam os eixos principais de inercia, e que

as estacas sejam verticais, do mesmo tipo, diâmetro e comprimento.

Em seguida, calcula-se o recalque isolado de cada estaca do bloco de

coroamento com sua carga previamente calculada. O recalque final é a soma entre o

recalque elástico e o recalque por adensamento de cada estaca. Para o cálculo do

recalque elástico considera-se um diagrama de esforço normal ao longo da estaca,

por meio de uma metodologia adaptada de Aoki (1979). Este diagrama é criado com

as cargas laterais na ruptura da estaca, o qual fornecerá as informações necessária

para aplicar a Lei de Hooke e obter o encurtamento elástico da estaca. Para o cálculo

do recalque por adensamento, será necessária a cota do impenetrável ou a cota final

do ensaio SPT. Em seguida, calcula-se o acréscimo de tensão na linha média da

camada do impenetrável até o final da estaca solicitada, supondo a propagação de

tensões 1:2. Com estes valores definidos, o recalque por adensamento finalmente é

calculado pela multiplicação entre o acréscimo de tensão pela média da distância do

impenetrável até onde a estaca é solicitada dividindo-os pelo módulo de elasticidade

do solo.

Por fim, o efeito de grupo. Para este cálculo, considera-se uma radier fictício de

mesmo formato do grupo, que será assentado a uma profundidade acima da ponta

das estacas igual a um terço do comprimento de penetração na camada de suporte,

ou seja, desprezando o solo mole acima, segundo a NBR 6122/2010.

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5.1. PROCESSAMENTO DE DADOS NA PLANILHA EM EXCEL

Como subsídios para a planilha em Excel, faz-se necessário os seguintes

dados pré-coletados pelo usuário: a) ensaio SPT; b) características da estaca (tipo de

estaca, dimensões, cota de arrasamento); c) Fck do concreto utilizado; d) esforços

atuantes no bloco de coroamento obtidos do projeto estrutural da edificação.

Os dados coletados devem ser informados na planilha em Excel na forma

demonstrada abaixo:

Nspt deve ser inserido em cotas métricas inteiras, informando o seu valor

coletado em campo e o tipo de solo. Características da estaca conforme o projeto

estrutural. Uma lista disponibilizará os tipos de estaca suportados pela planilha, sua

geometria deve ser especificada em seguida e seu comprimento informado em cota

métrica inteira. O espaçamento mínimo será calculado automaticamente e o valor

deste poderá ser alterado pelo usuário caso seja necessário.

Na região (1) apresentada na figura 11, o usuário irá inserir os valores de um

ensaio Spt conforme a figura 12.

Figura 11 Tela de inserção de dados Fonte: Os autores

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Após a inserção dos dados do ensaio SPT parte-se para as características da

estaca, que deverão ser preenchidas no campo 2 da figura 11 como demonstrado na

figura 13 abaixo.

Figura 12 Inserção de dados do ensaio SPT. Fonte: Os autores.

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Frente à inserção de tais informações, a planilha em Excel calculará a tensão

admissível do solo pelos métodos de Aoki & Velloso (1975) e Décourt e Quaresma

(1978), cuja explicação de cálculo foi anteriormente detalhada. Para o cálculo dessa

capacidade de carga, foram criadas planilhas auxiliares para facilitar e automatizar a

obtenção desses resultados conforme mostra a figura 14 e figura 15.

Figura 13 Inserção de dados referentes às características da estaca. FONTE: Os autores.

Figura 14 Demonstração de planilha auxiliar para cálculo de resistência de ponta. FONTE: Os autores.

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Na sequência, na região 3 da figura 11 o usuário deverá inserir os valores do

carregamento do pilar e escolher qual método de capacidade de carga a planilha

utilizará para calcular o número mínimo de estacas, sendo que este sempre pode ser

alterado para mais caso se faça necessário. A carga em cada estaca do bloco de

coroamento também será calculada. O produto do cálculo do estaqueamento está

demonstrado em um gráfico de coordenadas x e y com a posição das estacas no bloco

de coroamento e sua carga especifica. Abaixo, exemplo de inserção de dados e

gráfico gerado automaticamente na região 4 da figura 11.

Figura 15 Demonstração de planilha auxiliar para obtenção da resistência lateral. FONTE: Os autores.

Figura 16 Região 3, exemplo de inserção de dados para cálculo do estaqueamento. FONTE: Os autores.

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A partir desde ponto, será possível comparar os dados de recalque do grupo

pelo método das estacas isoladas de Aoki (2010) com o método de efeito de grupo

NBR6122/2010 na região 5 apresentada na figura 11.

Figura 18 Região 4, exemplo de demonstração da disposição das estacas no bloco de coroamento com sua respectiva carga. FONTE: Os autores.

Figura 17 Região 5, exemplo de saída de dados permitindo a comparação direta dos valores de recalque. FONTE: Os autores.

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Por fim, em uma nova aba da planilha alguns dados mais específicos podem

ser visualizados pelo usuário, como o diagrama de carga normal em cada estaca

solicitada e o diagrama representativo do efeito de grupo. Segue um exemplo.

Figura 19 Exemplo de diagrama de carga normal de uma estaca do bloco de coroamento. Fonte: Os Autores.

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Figura 20 Exemplo ilustrativo do diagrama do efeito de grupo. Fonte: Os Autores.

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6. ANÁLISE DE RECALQUES CALCULADOS X RECALQUES REAIS

Para análise de resultados e validação do método implementado, será utilizado

um estudo de caso apresentado por Russo Neto (2005). Neste estudo de caso foi

coletada a informação do recalque real de cada estaca e comparado com o método

implementado por ele. No presente estudo, será comparado o recalque real medido

em campo com os valores do método implementado na planilha em Excel.

O caso de obra utilizado neste, possui uma fundação em estacas tipo pré-

moldada cravada. A edificação possui 4 pavimentos e 40 pilares.

O solo local foi caracterizado por 6 sondagens SPT, o perfil de sondagem

utilizado para o estudo de caso foi o SP06 apresentado no anexo (III).

A tabela abaixo apresenta um resumo da planta de cargas, indicando a carga

aplicada em cada pilar.

Os módulos de elasticidade do solo foram calculados pelo método de Décourt

e Quaresma (1978).

Os pilares considerados serão os que apresentem as condições necessárias

para serem aplicadas na planilha em Excel, neste caso serão eles: P26, P06, P37,

P27, P17, P07, P38, P28, P18, P08, P39, P29, P19, P09, P40, P30 e P10.

Tabela 6 Distribuição de cargas nos pilares. Fonte: Russo Neto. p.189.

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Figura 22 Resumo das características dos pilares analisados. Fonte: Russo Neto (2005); adaptado: Os Autores.

Figura 21 Locação dos pilares analisados. FONTE: Russo Neto 2005. Adaptado: Os autores.

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Análise do P26:

O recalque real medido em campo foi de 1,30mm, o estimado pelo método da

NBR6122/2010 implementado na tabela em Excel foi de 0,90mm, e o estimado por

Aoki (2010), utilizando as resistências laterais de Aoki & Velloso (1975) e Décourt &

Quaresma (1979) respectivamente, são de 1,31mm e 0,56mm.

Figura 23 Análise do P26. Fonte: Os Autores.

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Análise do P38:

O recalque real medido em campo foi de 2,20mm, o estimado pelo método da

NBR6122/2010 implementado na tabela em Excel foi de 1,82mm, e o estimado por

Aoki (2010), utilizando as resistências laterais de Aoki & Velloso (1975) e Décourt &

Quaresma (1979) respectivamente, são de 6,69mm e 2,24mm.

Abaixo, segue tabela comparativa de todos os recalques medidos x estimados

pelo método do radier fictício e Aoki (2010). As resistências laterais consideradas

foram a do método de Décourt & Quaresma (1978) pois foi a mais adequada para o

ensaio SPT realizado em campo na tese de Russo Neto (2005), cuja qual não ofereceu

uma discretização de solo tão específica para tornar o método de Aoki & Velloso

(1975) o mais indicado.

Figura 24 Análise do P38. Fonte: Os Autores.

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A estimativa de recalque pelo método do radier fictício se aproximou mais do

real em 9 dos 17 casos estudados acima. O método de recalque por estacas isoladas

implementado por Aoki (2010) mostrou-se mais preciso em 8 dos 17 casos, tornando

os dois métodos muito precisos e condizentes com a realidade.

Observamos que as estacas do P06 apresentaram um recalque estimado muita

acima do in loco pelo método de Aoki (2010). Frente a esta situação, percebeu-se que

ela se encontra com a ponta em um solo muito mole, a solução para este problema

seria aumentar o comprimento da estaca em apenas 1m, fazendo com que a ponta

dessa estaca esteja assente em uma camada com maior capacidade de suporte

diminuindo o recalque estimado.

Tabela 7 Recalque estimado x recalque medido. Fonte: Os autores.

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7. CONCLUSÃO

O trabalho apresentado teve por objetivo calcular a capacidade de carga do

solo pelos métodos de Aoki & Velloso (1975) e Décourt & Quaresma (1979), a

distribuição de cargas por estaca em um bloco de coroamento, o recalque do grupo

de estacas pelo método de Aoki (2010), e pelo método do radier fictício (NBR6122),

tudo disposto em uma planilha em Excel automatizada para a comparação de dados

entre os métodos e o que realmente ocorre in loco.

O desenvolvimento do presente estudo possibilitou uma análise de estudos de

recalque de uma forma didática. Além disso, permitiu a comparação destes resultados

com um caso real, tornando estes dados mais consistentes confrontando a teoria com

a prática.

De um modo geral, observou-se que os dois métodos se aproximaram dos

recalques medidos in loco por Russo Neto (2005), validando assim a implementação

destes na planilha em Excel. Foi observado também que o método de Aoki (2010)

para estimativa do recalque considerando as resistências laterais (PL) do método de

Aoki & Velloso (1975) não tem a precisão esperada. As possíveis causas para tal

divergência são: a falta de discretização quanto ao tipo de solo pelo ensaio SPT

realizado na tese Do Russo Neto (2005), e a consideração das cargas laterais ao

longo de todo o comprimento da estaca, sendo que o solo analisado não possui uma

grande resistência lateral ao longo dos primeiros metros.

O módulo de elasticidade do solo é calculado de forma empírica pelo método

de Décourt (1978), o qual também possui divergências nos resultados, afetando

diretamente o recalque final das estacas. Assim averiguou-se analisando casos não

demonstrados nesse trabalho que se a camada compressível abaixo da ponta da

estaca cujo módulo de elasticidade calculado pelo método de Décourt (1978) não tiver

a precisão adequada, o recalque final do grupo também pode apresentar divergências.

Ao fazer a análise da obra apresentada no tópico 6, verificou-se que os

resultados de estimativa de recalque são rapidamente obtidos devido a planilha

automatizada em Excel. Também se mostrou possível a obtenção da capacidade de

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carga pelo método de Aoki & Velloso (1975) e pelo método de Décourt & Quaresma

(1978), cálculo do estaqueamento e carga específica em cada estaca do bloco de

coroamento. Ademais, a inserção de dados é simples e intuitiva.

Os resultados encontrados ao final da análise da obra foram aqueles previstos

no começo do estudo, pois a estimativa de recalque pelo método de Aoki (2010) e

pelo método do radier fictício da NBR6122/2010 implementados apresentaram-se

muito precisos, tornando os cálculos feitos automaticamente pela planilha válidos.

Neste sentido, conclui-se que calcular os recalques tanto pelo método do radier

fictício da NBR6122/2010 quanto pelo método de Aoki (2010), é possível se aproximar

muito do real, embora algumas divergências ainda possam ser observadas com o que

realmente acontece in loco. Sendo assim, todos os objetivos propostos para este

estudo foram alcançados.

SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS

Conforme exposto por inúmeros autores, o acompanhamento e a estimativa de

recalques em fundações continua sendo um campo de pesquisa a ser explorado.

O presente trabalho tratou da aplicação de apenas um caso particular real.

Dessa forma, novos estudos experimentais, similares ao ora apresentado, devem ser

considerados, já que muitas são as possibilidades de obras de engenharia.

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8. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALONSO, U. R. Estimativa da transferência de carga de estacas escavadas a partir

do SPT, Solos e Rochas, v. 6, n. l, 1983.

ALONSO, Urbano Rodriguez. Dimensionamento de fundações profundas. 3. ed. São

Paulo: Edgard Blücher LTDA, 1989.

AOKI, N; VELLOSO, D.A. An approximate method to estimate the bearing capacity of

piles. In: PANAMERICAN CONFERENCE ON SOIL MECHANICS AND

FOUNDATION ENGINEERING,5., Buenos Aires, 1975. Anais. Buenos Aires:

ISSMFE, 1975, v.1.

AOKI, N. Considerações sobre projeto e execução de fundações profundas. Palestra

proferida no Seminário de Fundações, Sociedade Mineira de Engenharia, Belo

Horizonte, 1979.

AOKI, N.; CINTRA, J. C. A. Fundações por estacas projeto geotécnico. Editora Oficina

de Textos, 2010.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6484: Solo - Sondagens

de simples reconhecimento com SPT - Método de ensaios. Rio de Janeiro, 2001. 17

p.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6122: Projeto e

execução de fundações. Rio de Janeiro, 2010. 91 p.

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CINTRA, José Carlos A.; AOKI, Nelson. Fundações por estacas: projeto geotécnico.

1. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2010.

DÉCOURT, L.; QUARESMA, A. R. Capacidade de carga de estacas a partir de valores

de SPT. ln: CBMSEF, 6., 1978, Rio de Janeiro. Anais ... Rio de Janeiro, 1978. v. 1.

NEVES, Luís Fernando de Seixas; Dicionário de engenharia geotécnica e fundações.

Disponível em:

<http://www.dicionariogeotecnico.com.br/album/fundacoes/blocos/pages/image/imag

epage5.html/>. Acesso em 14 de setembro de 2016.

PET ENGENHARIA CIVIL, UFJF. Disponível em:

<https://blogdopetcivil.com/2011/02/03/desentortando-predios/>. Acesso em 14 de

setembro de 2016.

RUSSO NETO. LUIZ. Interpretação de deformação e recalque na fase de montagem

de estrutura de concreto com fundação em estaca cravada. São Carlos, 2005.

SCHNAID. F. Ensaios de campo e suas aplicações à engenharia de fundações. São

Paulo: Oficina de Textos, 2000.

SIMONS, N. E.; MENZIES, B. K. Introdução a engenharia de fundações. Rio de

Janeiro: Editora Interciência, 1981.

TERZAGHI, K.; PECK, R. B. Sail mechanics in engineering practice. New York: John

Wiley & Sons, 1948.

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49

VARGAS, M. – Uma experiência brasileira em fundações por estacas – Conferências

proferidas no LNEC, 1977, publicação da ABMS.

VELLOSO, Dirceu de Alencar; LOPES, Francisco de Rezende. Fundações. 1. ed. São

Paulo: Oficina de Textos, 2011.

VESIC, A. S. Experiments with instrumented pile groups in sand, Performance of Deep

Foundations, ASTM STP, n. 444, 1969.

WHITAKER, H. The design of piled foundations. Oxford: Pergamon Press, 1957.

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9. ANEXOS

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ANEXO (I) MÉTODO DE AOKI (2010) PARA ESTIMATIVA DO RECALQUE

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Método de Aoki 2010 para estimativa do recalque:

Seja uma estaca qualquer, de comprimento L, embutida no terreno, e com a sua base distante C da profundidade em que se encontra a superfície do indeslocável, como representada na Fig.25 (a superfície do indeslocável, abaixo da qual podemos desprezar as deformações decorrentes das cargas aplicadas ao maciço, é determinada pelo topo rochoso ou o topo da camada de solo tão rígida que possa ser considerada "indeformável"). A aplicação de uma carga vertical P na cabeça dessa estaca provocará dois tipos de deformações¹.

1ª. o encurtamento elástico da própria estaca, como peça estrutural submetida a

Compressão, o que equivale a um recalque de igual magnitude da cabeça da estaca

(𝜌𝜌𝑒𝑒), mantida imóvel a sua base;

___________________

¹ A variação de distância entre dois pontos quaisquer de um corpo constitui uma deformação. O deslocamento de

um ponto é a mudança de sua posição em relação a um sistema fixo de referência. Recalque de um ponto da

estrutura é o seu deslocamento vertical, de cima para baixo. Para monitorar os recalques de pontos da estrutura,

em geral nos pilares ao nível do terreno, transportamos a referência fixa (superfície rochosa ou camada suposta

indeformável) para a superfície do terreno, por meio da execução dos chamados benchmarks.

Figura 25 Parcelas de recalque da estaca FONTE: AOKI, 2010, P.53.

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2ª. as deformações verticais de compressão dos estratos de solo subjacentes à base

da estaca, até o indeslocável, o que resulta um recalque (𝜌𝜌𝑒𝑒) da base. Em

consequência, conforme indicado na Fig. 25, o comprimento L será diminuído para:

𝑃𝑃 − 𝑝𝑝𝑒𝑒

E a distância C, reduzida para:

𝐶𝐶 − 𝜌𝜌𝑒𝑒

Portanto, considerados esses dois efeitos, a cabeça da estaca sofrerá um recalque

(𝜌𝜌), ou um deslocamento total, vertical, para baixo, dado por:

𝜌𝜌 = 𝜌𝜌𝑒𝑒 + 𝜌𝜌𝑒𝑒

9.1.1. ENCURTAMENTO ELÁSTICO

Para o cálculo do encurtamento elástico, vamos construir o diagrama de esforço

normal ao longo da estaca, por meio de uma metodologia adaptada de Aoki (1979).

Retomando a estaca da Fig. 26, suposta cilíndrica, maciça, de concreto, e

atravessando camadas distintas de solo (por exemplo, três), consideremos que seja

conhecida a capacidade de carga (R) desse elemento de fundação:

𝑃𝑃𝑃𝑃 = 𝑟𝑟𝑃𝑃 + 𝑃𝑃𝑃𝑃 = 𝑃𝑃𝑃𝑃 + (𝑃𝑃𝐿𝐿1 + 𝑃𝑃𝐿𝐿2 + 𝑃𝑃𝐿𝐿3)

Além disso, admitamos que:

A carga vertical P, aplicada na cabeça da estaca, seja superior à resistência lateral

(Ri), isto é, um valor intermediário entre a resistência lateral e a capacidade de carga

(R):

𝑃𝑃𝑃𝑃 < 𝑃𝑃 < 𝑃𝑃

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Todo o atrito lateral (RL) esteja mobilizado; e a reação mobilizada na ponta (𝑃𝑃𝑝𝑝 ), que

é inferior à resistência de ponta na ruptura (𝑃𝑃𝑝𝑝), seja o suficiente para o equilíbrio das

forças:

𝑃𝑃𝑃𝑃 = 𝑃𝑃 − 𝑃𝑃𝑒𝑒 < 𝑃𝑃𝑝𝑝

Examinando essa estaca, ao longo da profundidade (z), podemos observar a

diminuição do esforço normal 𝑁𝑁(𝑧𝑧), de um valor máximo P (na cabeça da estaca) até

um mínimo 𝑃𝑃𝑃𝑃 (na base da estaca), por conta da transferência de carga que ocorre da

estaca para o solo circundante, devido à resistência lateral que o solo oferece.

Supondo linear a variação de 𝑁𝑁(𝑧𝑧) em cada segmento de estaca correspondente a

uma camada de solo, podemos esboçar um diagrama simplificado para o esforço

normal na estaca, tal como apresentado na Fig. 26, em que P1, P2 e P3 representam

os valores médios do esforço normal nos segmentos de estaca, de comprimentos L1,

L2 e L3, respectivamente, de cima para baixo.

Figura 26 Diagrama de esforço normal na estaca FONTE: AOKI,2010, p.55.

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Dessa figura, temos:

𝑃𝑃1 = 𝑃𝑃 −𝑃𝑃𝐿𝐿1

2

𝑃𝑃2 = 𝑃𝑃 − 𝑃𝑃𝐿𝐿1 −𝑃𝑃𝐿𝐿2

2

𝑃𝑃3 = 𝑃𝑃 − 𝑃𝑃𝐿𝐿1 − 𝑃𝑃𝐿𝐿2 −𝑃𝑃𝐿𝐿3

2

Finalmente, aplicando a lei de Hooke, obtemos o encurtamento elástico da estaca:

𝜌𝜌𝑒𝑒 =1

𝐴𝐴 ∗ 𝐸𝐸𝑒𝑒∗ ∑(𝑃𝑃𝑖𝑖 ∗ 𝑃𝑃𝑖𝑖)

Em que A é a área da seção transversal do fuste da estaca e 𝐸𝐸𝑒𝑒 é o módulo de

elasticidade do concreto, suposto constante. Na ausência de valor específico de 𝐸𝐸𝑒𝑒,

podemos considerar:

Ec = 28 a 30 GPa para estaca pré-moldada;

Ec = 21 GPa para hélice contínua, Franki e estacão;

Ec = 18 GPa para Strauss e escavada a seco.

Para o aço, temos E = 210 GPa, enquanto para a madeira, podemos citar apenas a

ordem de grandeza: E = 10 GPa.

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9.1.2. RECALQUE DO SOLO

Pelo princípio da ação e reação, à estaca aplica cargas 𝑃𝑃𝑃𝑃𝑅𝑅 ao solo, ao longo do

contato com o fuste, e transmite a carga 𝑃𝑃𝑃𝑃 ao solo situado junto à sua base. Devido

a esse carregamento, as camadas situadas entre a base da estaca e a superfície do

indeslocável sofrem deformações que resultam no recalque (𝜌𝜌𝑒𝑒) do solo e, portanto,

da base da estaca, conforme esquematizado na Fig. 27.

De acordo com Vesic (1975), esse deslocamento (𝜌𝜌𝑆𝑆) pode ser subdividido em duas

parcelas:

𝜌𝜌𝑒𝑒 = 𝜌𝜌𝑒𝑒,𝑝𝑝 + 𝜌𝜌𝑒𝑒,𝑒𝑒

em que 𝜌𝜌𝑒𝑒,𝑝𝑝 é o recalque devido à reação de ponta e 𝜌𝜌𝑒𝑒,𝑒𝑒 é a parcela relativa à reação

às cargas laterais.

Para deduzir uma expressão para a estimativa do recalque(𝜌𝜌𝑆𝑆), vamos seguir a

metodologia de Aoki (1984). Primeiro, consideremos a força 𝑃𝑃𝑃𝑃′ vertical para abaixo,

aplicada ao solo, provocando um acréscimo de tensões numa camada subjacente

Figura 27 Recalque do Solo FONTE: AOKI,2010, P.57.

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qualquer, de espessura H, e que h seja a distância vertical do ponto de aplicação da

força ao topo dessa camada, de acordo com a Fig. 28.

Sendo;

H= Camada compressível.

Supondo a propagação de tensões 1:2, o acréscimo de tensões na linha média dessa

camada é dado pela expressão:

∆𝜎𝜎𝑝𝑝 =4𝑃𝑃𝑝𝑝

𝜋𝜋 �𝐷𝐷 + ℎ + 𝐻𝐻2�

2

Figura 28 Propagação de tensões devido à reação de ponta FONTE: AOKI,2010,p.57.

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em que D é o diâmetro da base da estaca. Para uma base quadrada, teríamos uma

expressão similar.

De maneira análoga, as reações às parcelas de resistência lateral constituem forças

aplicadas pela estaca ao solo, verticais para baixo, as quais também provocam

acréscimo de tensões naquela mesma camada. A Fig. 29 ilustra essa condição para

a força 𝑃𝑃𝑃𝑃𝑅𝑅 , relativa a um segmento intermediário da estaca, considerando seu ponto

de aplicação como o centroide desse segmento.

Nessas condições, a expressão para o acréscimo de tensões será:

∆𝜎𝜎𝑖𝑖 =4𝑃𝑃𝐿𝐿𝑖𝑖

𝜋𝜋 �𝐷𝐷 + ℎ + 𝐻𝐻2�

2

Figura 29 Propagação de tensões devido às cargas laterais FONTE: AOKI, 2010, p.58.

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em que D é o diâmetro do fuste da estaca (seção circular).

Assim, levando em conta todas as parcelas 𝑃𝑃𝐿𝐿𝑖𝑖 mais a força 𝑃𝑃𝑃𝑃, o acréscimo total de

tensões ∆𝜎𝜎 na camada será dado por:

∆𝜎𝜎 = ∆𝜎𝜎𝑝𝑝 + ∑∆𝜎𝜎𝑖𝑖

Repetindo esse procedimento, podemos estimar o acréscimo de tensões para cada

uma das camadas que quisermos considerar, a partir da base da estaca, até o

indeslocável. Finalmente, o recalque devido ao solo (𝜌𝜌𝑒𝑒) pode ser estimado pela

Teoria da Elasticidade Linear:

𝜌𝜌𝑒𝑒 = ∑�∆𝜎𝜎𝐸𝐸𝑒𝑒

𝐻𝐻�

em que 𝐸𝐸𝑆𝑆 é o módulo de deformabilidade da camada de solo, cujo valor pode ser

obtido pela expressão a seguir, adaptada de Janbu (1963):

𝐸𝐸𝑆𝑆 = 𝐸𝐸𝑂𝑂 �𝜎𝜎𝑂𝑂 + ∆𝜎𝜎

𝜎𝜎0�𝑛𝑛

em que:

𝐸𝐸0 - Módulo de deformabilidade do solo antes da execução da estaca;

𝜎𝜎0 - Tensão geostática no centro da camada;

n - Expoente que depende da natureza do solo: n=0,5 para materiais granulares e n=0

para argilas duras e rijas (em areia, temos o aumento do módulo de deformabilidade

em função do acréscimo de tensões, o que não ocorre nas argilas).

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Para a avaliação de 𝐸𝐸0 Aoki (1984) considera:

𝐸𝐸0 = 6 K 𝑁𝑁𝑆𝑆𝑃𝑃𝑆𝑆para estacas cravadas

𝐸𝐸0 = 4 K 𝑁𝑁𝑆𝑆𝑃𝑃𝑆𝑆 para estacas hélice contínua

𝐸𝐸0 = 3 K 𝑁𝑁𝑆𝑆𝑃𝑃𝑆𝑆 para estacas escavadas

em que K é o coeficiente empírico do método Aoki-Velloso (1975), função do tipo de

solo.

Podemos considerar para maior precisão:

𝐸𝐸0 = 𝛼𝛼𝐾𝐾𝑁𝑁𝑆𝑆𝑃𝑃𝑆𝑆

Sendo 𝛼𝛼 coeficiente empírico do método Aoki-Velloso (1975) em função do tipo da

estaca.

9.1.3. PREVISÃO DA CURVA CARGA x RECALQUE

Van Der Veen (1979) propõe uma metodologia para a previsão da curva carga x

recalque de um elemento de fundação por estaca, conhecido um ponto dessa curva e

considerando aplicável a expressão de Van der Veen (1953):

𝑃𝑃 = 𝑃𝑃(1 − 𝑒𝑒−𝑎𝑎∗𝑝𝑝)

em que o parâmetro 𝑃𝑃 define a forma da curva.

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Assim, calculada a capacidade de carga (𝑃𝑃𝑎𝑎𝑎𝑎𝑚𝑚) e feita a estimativa do recalque (𝜌𝜌),

para uma carga (𝑃𝑃𝑝𝑝𝑖𝑖𝑒𝑒𝑎𝑎𝑒𝑒), compreendida entre PR/2:

𝑃𝑃 ≤ 𝑃𝑃𝑃𝑃/2

podemos determinar o valor de 𝑃𝑃:

𝑃𝑃 = − ln �1 −𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃

� / 𝜌𝜌

resultando conhecida a expressão matemática da curva carga x recalque.

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ANEXO (II) MÉTODO DO RADIER FICTÍCIO NBR6122/2010 PARA ESTIMATIVA

DO RECALQUE

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9.2. EFEITO DE GRUPO

a) Segundo a NBR6122/2010:

Efeito de grupo

Entende-se por efeito de grupo de estacas ou tubulões como o processo de interação

dos diversos elementos que constituem uma fundação ao transmitirem ao solo as

cargas que lhes são aplicadas. Esta interação acarreta uma superposição de tensões,

de tal sorte que o recalque do grupo seja, em geral, diferente daquele do elemento

isolado.

A carga admissível ou carga resistente de projeto de um grupo de estacas ou tubulões

não pode ser superior à de uma sapata hipotética de mesmo contorno que o do grupo

seja assente a uma profundidade acima da ponta das estacas ou tubulões igual a 1/3

do comprimento de penetração na camada de suporte, como mostrado na Figura 30.

Essas considerações não são válidas para blocos apoiados em fundações profundas

com elementos inclinados.

Atendidas essas condições, o espaçamento mínimo entre estacas ou tubulões deve

levar em consideração a forma de transferência de carga ao solo e o efeito do

processo executivo nas estacas adjacentes.

Em particular deve ser feita uma verificação de recalques, que são mais importantes

quando houver uma camada compressível abaixo da camada onde se apoia a ponta

das estacas ou bases dos tubulões.

Figura 30 Grupo de elementos de fundação profunda FONTE: NBR6122/2010, p.29.

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b) Segundo Velloso & Lopes, 2011:

GRUPO DE ESTACAS

Frequentemente, as estacas e, às vezes, os tubulões trabalham em grupo.

Caracteriza-se um grupo pela ligação estrutural no topo, geralmente um bloco de

coroamento. Nessa condição, a capacidade de carga e os recalques do grupo são

diferentes do comportamento de uma estaca isolada. A diferença se deve a interação

entre estacas (ou tubulões) próximas através do solo que as circunda, como ilustrado

na Fig. 31, e é chamada de efeito de grupo.

Os grupos são uma decorrência (a) de cargas elevadas nos pilares em relação a carga

de trabalho das estacas disponíveis ou (b) de esforços nas fundações, tais que a

utilização de um grupo de estacas inclinadas ou em cavaletes oferece uma melhor

maneira de absorver os esforços.

Convencionalmente, estuda-se o efeito de grupo separadamente em termos de

capacidade de carga e em termos de recalques, o que será feito nos itens a seguir.

Um último aspecto a ser examinado é o cálculo da distribuição de esforços entre

Figura 31 Massa de solo mobilizada pelo carregamento (a) de uma estaca isolada e (b) de um grupo de estacas FONTE: VELLOSO & LOPES, 2011, p.427.

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estacas do grupo sob um carregamento qualquer, usualmente chamado cálculo do

estaqueamento.

A primeira abordagem do problema de estimativa de recalques de um grupo de

estacas foi feita por Terzaghi e Peck (1948) através do chamado radier fictício, uma

fundação direta imaginada a alguma altura acima da base das estacas (dependendo

de as estacas trabalharem mais por atrito ou por ponta), como mostrado na Fig. 32. O

objetivo é calcular o acréscimo de tensões em camadas compressíveis abaixo da

ponta das estacas para um cálculo convencional de recalques, como o de fundações

superficiais (Cap. 5). Esse esquema de cálculo é aceito pela norma brasileira NBR

6122.

Figura 32 Esquema de cálculo pelo radie fictício, com sugestões para a profundidade do radier FONTE: VELLOSO & LOPES, 2011, p.428.

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ANEXO (III) ENSAIO SPT

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