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Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão Região Sul 1 Desenvolvimento de Pesquisa Interdisciplinar: Narrativa e Críticas de Construção de Ontologias no Âmbito do Projeto CNJ Acadêmico Egon Sewald Junior Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão de Conhecimento, Universidade Federal de Santa Catarina [email protected] Aires José Rover Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão de Conhecimento e Programa de Pós-Graduação em Direito, Universidade Federal de Santa Catarina [email protected] Mauricio José Ribeiro Rotta Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão de Conhecimento, Universidade Federal de Santa Catarina [email protected] Valter Moura Carmo Programa de Pós-Graduação em Direito, Universidade Federal de Santa Catarina [email protected] Eixo temático: Teoria e Prática da Interdisciplinaridade 1. Introdução Em maio de 2011, o grupo interdisciplinar Governo Eletrônico, Inclusão Digital e Sociedade do Conhecimento, formado por estudantes-pesquisadores e professores dos programas de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão de Conhecimento e de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina, coordenados pelos professores Aires José Rover e Orides Mezzaroba, aprovou o projeto “A Utilização da Tecnologia da Informação para o Aprimoramento do Poder Judici ário: Limites e Desafios” junto ao Edital n. 020/2010/CAPES/CNJ, chamado também como projeto CNJ Acadêmico. O projeto tem como objetivo o desenvolvimento e aplicação de pesquisas relacionadas a Tecnologia de Informação e Comunicação, Engenharia e Gestão de Conhecimento e Direito, com objetivo de propor melhorias na prestação jurisdicional. Uma das linhas de pesquisa relacionadas ao projeto é o desenvolvimento de Ontologias de domínio e aplicação na área do direito. Este artigo tem como objetivo demostrar a interação entre os participantes de uma equipe interdisciplinar para o desenvolvimento de ontologias de domínio da área jurídica. O processo de desenvolvimento de ontologias, estabelece claramente a formação de equipe multidisciplinar, visto que ele contempla conhecimentos de linguística, de engenharia de conhecimento, computação e do domínio, que nesse caso se trata de conhecimento de direito, mas obriga a interação entre as disciplinas.

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Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino,

na Pesquisa e na Extensão – Região Sul

1

Desenvolvimento de Pesquisa Interdisciplinar: Narrativa e Críticas de Construção de

Ontologias no Âmbito do Projeto CNJ Acadêmico

Egon Sewald Junior

Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão de Conhecimento, Universidade Federal de Santa

Catarina – [email protected]

Aires José Rover

Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão de Conhecimento e Programa de Pós-Graduação em

Direito, Universidade Federal de Santa Catarina – [email protected]

Mauricio José Ribeiro Rotta

Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão de Conhecimento, Universidade Federal de Santa

Catarina –[email protected]

Valter Moura Carmo

Programa de Pós-Graduação em Direito, Universidade Federal de Santa Catarina –

[email protected]

Eixo temático: Teoria e Prática da Interdisciplinaridade

1. Introdução

Em maio de 2011, o grupo interdisciplinar “Governo Eletrônico, Inclusão Digital e Sociedade do

Conhecimento”, formado por estudantes-pesquisadores e professores dos programas de Pós-Graduação em

Engenharia e Gestão de Conhecimento e de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Santa

Catarina, coordenados pelos professores Aires José Rover e Orides Mezzaroba, aprovou o projeto “A

Utilização da Tecnologia da Informação para o Aprimoramento do Poder Judiciário: Limites e Desafios”

junto ao Edital n. 020/2010/CAPES/CNJ, chamado também como projeto CNJ Acadêmico.

O projeto tem como objetivo o desenvolvimento e aplicação de pesquisas relacionadas a Tecnologia

de Informação e Comunicação, Engenharia e Gestão de Conhecimento e Direito, com objetivo de propor

melhorias na prestação jurisdicional. Uma das linhas de pesquisa relacionadas ao projeto é o

desenvolvimento de Ontologias de domínio e aplicação na área do direito.

Este artigo tem como objetivo demostrar a interação entre os participantes de uma equipe

interdisciplinar para o desenvolvimento de ontologias de domínio da área jurídica. O processo de

desenvolvimento de ontologias, estabelece claramente a formação de equipe multidisciplinar, visto que ele

contempla conhecimentos de linguística, de engenharia de conhecimento, computação e do domínio, que

nesse caso se trata de conhecimento de direito, mas obriga a interação entre as disciplinas.

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2. Procedimentos Metodológicos

O desenvolvimento de ontologias jurídicas tem como objetivo fornecer subsídios de conhecimento

linguístico ao Sistema de Conhecimento, de forma a possibilitar o desenvolvimento de ontologias de

aplicação. Para o desenvolvimento desta pesquisa, os papéis de engenheiro de conhecimento e o papel de

especialista de domínio, responsável pelo conhecimento a ser formalizado e estruturado sob o formato de

ontologias foram desenvolvidos, formando uma equipe interdisciplinar.

Esse trabalho é caraterizado por uma pesquisa-ação, que é definida por “unir a pesquisa à ação ou

prática, isto é, desenvolver o conhecimento e a compreensão como parte da prática” (ENGEL, 2000). A

Aplicação da pesquisa acontece de modo prático, com o desenvolvimento de resultados práticos. O presente

artigo apresenta narração das ações interdisciplinares, fazendo críticas e apresentando problemas

enfrentados, bem como explicar a formação da equipe.

O artigo apresenta uma narrativa do desenvolvimento e apresenta dificuldade, bem como críticas do

trabalho em equipe multidisciplinar, mas com objetivo de inter-relacionar as disciplinas, de modo a criar a

interdisciplinaridade.

3. Justificativa do eixo escolhido

O eixo “Teoria e Prática da Interdisciplinaridade” foi escolhido por se tratar de pesquisa de aplicação

prática da interdisciplinaridade, visto que a separação disciplinar não seria capaz de resolver tais problemas

de formalização do conhecimento linguístico.

4. Interdisciplinaridade

Com o surgimento da ciência e da filosofia, procurou-se maior especificação das disciplinas de modo

a resolver melhor os problemas encontrados na área em questão. Desta forma, estudava-se e pesquisava-se

muito mais, de objetos menores e, consequentemente, mais específicos, fragmentando o saber em áreas.

O grande problema desta forma de pensar aparece em problemas complexos e para um maior

entendimento holístico, sistêmico. Alguns problemas envolve conhecimento de várias disciplinas – a

multidisciplinaridade; que podem estar inter-relacionadas mais fortemente – interdisciplinaridade.

Pombo (2005) apresenta que a ciência é vista hoje como uma enorme organização dividida

internamente por inúmera comunidades de pares, que se isolam entrem si. Apresenta ainda, argumento que a

especialização, resultado dessa divisão, é causadora de um incomunicabilidade entre ramos fundamentais do

que era antes "A cultura científica".

Gusdorf mostra, em sua obra, que a divisão dos saberes em disciplinas isoladas, através de excessiva

especialização, limitam as possibilidades de entendimento do mundo:

O estudo exclusivo das ciências da natureza, como qualquer atividade exclusiva, reduz o campo das

ideias. As ciências da natureza limitam o horizonte ao que está sob os olhos, ao alcance das mãos, ao

que dá experiência imediata de sentido, com uma certeza que parece absoluta. Elas desviam o espírito

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das especulações gerais e menos certas e o desacostumam de se mover no domínio daquilo que é

indeterminado. Num certo sentido estimulamos nelas esta direção como uma vantagem muito

preciosa. Mas quando são consideradas em posição de domínio exclusivo, o espírito se toma pobre de ideias, a imaginação perde suas cores, a alma sua sensibilidade e a consequência é uma maneira de

ver estreita, seca, dura, afastada das Musas e das Graças. (GUSDORF, 1977 apud MINAYO, 1994,

p.48)

Desta forma, faz-se necessário uma distinção de como é dada as relações entre as disciplinas:

o princípio de distinção entre ser multi, pluri, inter ou transdisciplinar é sempre o mesmo: a

interdisciplinaridade se caracteriza pela intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau de integração real das disciplinas, no interior de um projeto específico de pesquisa. A distinção entre as

duas primeiras formas de colaboração e a terceira está em que ao multi e ao pluridisciplinar basta que

se justaponham os resultados de trabalhos de mais de um especialista, não havendo integração

conceitual, teórica e metodológica. (PACHECO et al, 2010, p.140)

Pacheco (et al, 2010) completa, ainda, que a interdisciplinaridade não se dá apenas incluindo

especialidades ou efetuando síntese de ordem filosófica dos saberes especializados.

Por sua vez, Minayo (1994, p. 48) apresenta o conceito de interdisciplinaridade como sendo “a

articulação entre os domínios das ciências humanas ou sociais e das ciências naturais. É nesse sentido ele faz

a crítica à fragmentação e propõe um humanismo radical”. Essa visão é corroborada por Leis (2005, p. 9),

quando este afirma que “a interdisciplinaridade pode ser definida como um ponto de cruzamento entre

atividades (disciplinares e interdisciplinares) com lógicas diferentes” e que “que interessa é o avanço do

conhecimento através de suas diferentes manifestações”.

Paviani apresenta como é dada a interdisciplinaridade:

A interdisciplinaridade pode ser realizada na produção de conhecimentos novos, na sistematização de

conhecimentos já produzidos, nas atividades de ensino, na elaboração de conferências, na organização

de manuais didáticos de ensino, na atuação profissional. (PAVIANI, 2008, p. 55).

Como base nos conceitos de interdisciplinaridade apresentados, é dado o projeto narrado neste artigo,

que visa a formalização de conhecimento de uma disciplina (direito e área jurídica), através de técnicas que

envolvem outras áreas, como computação, psicologia, linguística.

5. Engenharia de Conhecimento e Ontologias

Segundo a enciclopédia da filosofia, Ontologia (do grego ontos, "ser", "ente"; e logos, "saber",

"doutrina") é, em sentido estrito, o "estudo do ser". Uma vez que esta, com o tempo, passou a incluir outros

tipos de pesquisa e reflexão (cosmológicos e psicológicos, por exemplo), desde o século XVII, e sobretudo

na filosofia moderna, o termo ontologia passou a designar o estudo do ser enquanto tal.

Existem dois vieses para o estudo da Ontologia. Um viés estudaria os aspectos do ser sob ponto de

vista “existencial”, ou seja, um saber sobre aquilo que é fundamental ou irredutível, comum a todos os entes

singulares, e desta forma, descobrir um ente fundamental, do que todos os outros seriam feitos; a outra

abordagem seria o estudo do que é “essencial” do ser, e estabelecer como meta a determinação das estruturas

ou causas do ser em si: uma teoria formal dos objetos.

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A Engenharia de Conhecimento se apropriou do termo ontologia baseando no estudo de ontologia da

Filosofia, que tem como objetivo o estudo das coisas que existem, de descrição dos entes, de modo a

explicar o mundo através das características de seus entes, usando a linguagem. Segundo Gruber (1992,

tradução nossa): “Uma ontologia é uma especificação formal e explícita de uma conceitualização”. Entre as

principais razões para se desenvolver uma ontologia, destaca-se: compartilhar o entendimento comum da

estrutura da informação entre pessoas ou softwares agentes. Isso significa que os conceitos e termos

utilizados por um usuário poderão ser entendidos por um sistema, servindo como uma solução bastante

interessante na implementação de sistemas que se baseiam em bases de conhecimento (GUARINO, 1998).

Batres et al (2005 p. 76) define:

Na área de Inteligência Artificial o termo ontologia possui uma conotação diferente, sendo usado

como um termo geral para denotar sistemas conceituais utilizados como veículos promotores do

compartilhamento e reutilização do conhecimento. Adicionalmente também são usadas na integração

inteligente da informação, recuperação e extração de informação, sistemas de informação

cooperativos, extração de informações, comércio eletrônico e gestão do conhecimento.

Segundo Freitas (2003, p. 13), ontologias estão sendo aplicadas com sucesso em áreas em que a

necessidade de uso de contexto, e em especial de comunicação contextualizada, se fazem sentir. Com efeito,

agentes baseados em ontologias vêm sendo testados em diversos campos, como comércio eletrônico, gestão

de conhecimento, workflow e tratamento inteligente de informação.

Segundo Napoli (2011, p. 48), o uso de ontologias facilita a troca de informações sobre um domínio,

nosso objetivo ao propor o uso de descrições semânticas nessa aplicação é permitir intercambiar informação

entre os dois universos de fontes de informação: estruturadas e não estruturadas. Outro objetivo do trabalho

é permitir o acesso uniforme e transparente sobre as fontes de informação, para isso o próximo tópico

descreve as formas de integração de dados e, também, a necessidade de tratar a semântica dos dados no

processo de integração.

6. Narrativa da Pesquisa Interdisciplinar

O presente trabalho tem como objetivo narrar e criticar o trabalho de desenvolvimento de ontologias

jurídicas e mostrar que, para esse processo, é necessário uma equipe interdisciplinar. O desenvolvimento de

ontologias jurídicas tem como objetivo fornecer subsídios de conhecimento linguístico ao Sistemas de

Conhecimento, de forma a possibilitar a busca de documentos relevantes conforme termos solicitados.

Levando em consideração alguns modelos de ontologias levantadas, decidiu-se considerar como

princípio norteador a descrição com base em casos, visto que o processo de justificação da sentença, deve

citar o caso onde foi aplicada a lei, artigo, ou o documento onde consta a doutrina. Sendo assim, os termos

seguem o critério relacionado ao evento e documento relativo a ele. Para o evento que dá início a ação e

contém termos e fundamentação legal dos pedidos, tem-se a Petição Inicial, por exemplo.

A escolha deu-se, conforme apresentado em Sewald Junior (2012):

Assim como o modelo apresentado por McCarty que tem conceitos fundamentais em tempo, espaço,

eventos, ações; de "The Legal Case Ontology", cujos conceitos básicos são conceitos básicos são "Caso",

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"Decisão", "Jurisdição", "Participantes", "Evidencia", "Conceitos Legais", "Documentos"; e de “Legal

Mapping of Cyberspace”, cujo conhecimento jurídico é formalizado a partir dos casos. Para este trabalho

serão aproveitados alguns destes conceitos.

O uso de ontologias possibilita o reuso de ontologias genéricas de alto-nivel, porém elas não foram

exploradas, neste trabalho, devendo portanto, ter o modelo completude suficiente para que não sejam

faltadas formalizações. É sabido que o reuso de conceitos de outras fontes abertas poderia contribuir com

esse trabalho.

Para a definição destes levantamentos, foram inicialmente definidos os papéis relacionados a esse

projeto:

Agindo como papel de especialistas que detém conhecimento foram selecionados, pelo critério de

acessibilidade, membros do Grupo de Pesquisa “Governo Eletrônico, Inclusão Digital e Sociedade do

Conhecimento”: o gerente de relacionamento da Unidade de Justiça da empresa Softplan, Mauricio Rotta,

aluno do programa de Pós-graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento, da Universidade Federal

de Santa Catarina, em nível de mestrado A empresa é responsável pelo desenvolvimento do SAJ (Sistema de

Automação do Judiciário), sistema de informação implantado no Tribunal de Justiça do Amazonas, em varas

físicas e varas onde tramitam processos eletrônicos; também fez o papel do especialista o mestre em Direito,

Valter Moura de Carmo, aluno da curso de pós-graduação de Direito em nível de doutorado, da

Universidade Federal de Santa Catarina, levantando termos relevantes e seus relacionamentos, para a

modelagem do conhecimento sob a forma de ontologias (OWL). Carmo também fez o papel de usuário do

sistema de conhecimento, validando a proposta; Por sua vez, Egon Sewald Junior trabalho desenvolveu o

papel de engenheiro de conhecimento, efetuando os levantamentos desenvolvendo a modelagem segundo o

modelo CESM e aplicando a metodologia CommonKADS; e desenvolveu o papel de desenvolvedor do

sistema de conhecimento, visto que não contou com recursos humanos para tal tarefa; Rotta efetuou também

o os papel de engenheiro do conhecimento, no que tange o levantamento contextual; A coordenação do

projeto ficou sob responsabilidade do professor doutor Aires José Rover.

O desenvolvimento seguiu sequência de tarefas estabelecida na metodologia METHONTOLOGY,

que será explicado conforme sua aplicação.

A primeira tarefa definida pela metodologia é “Definição do Glossário de Termos”. Para

estabelecimento dos termos relevantes, o especialista de domínio selecionou 10 processos de primeiro grau,

junto ao Tribunal de Justiça do estado do Amazonas (TJAM), relacionado ao Assunto “Acidente de

Trânsito” (Assuntos código 10504 quando Dano Material e 9996, quando dano moral, da tabela unificada do

CNJ). Os processos selecionados referem-se a “Juizado Especial”. Para acessibilidade aos autos, foram

utilizados somente processos eletrônicos, visto o critério de disponibilidade pública, exceto em caso de

segredo de justiça. Destes processos jurídicos, foram marcados, pelo especialista de domínio Valter Carmo,

os termos relevantes em cada peça e, a partir destes foi elaborado glossário de termos. Junto a este processo,

os engenheiros de conhecimento propuseram-se a definir os termos relacionados ao trâmite do processo,

bem como os termos necessários para a formalização da ação na forma de casos. Os casos foram

selecionados e salvos, no formato PDF a partir da busca realizada no sistema “e-SAJ”, desenvolvido pela

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empresa Softplan e implantado junto ao TJAM. A figura 1 apresenta o processo de copia da pasta digital dos

processos, em formato PDF.

Figura 1 Seleção de Processos e Salvamento Local da Pasta Digital

Fonte: Acervo dos Autores

A figura 2 demonstra a seleção de palavras candidatas a fazerem parte da formalização a partir de

peças processuais e a tabela 3 refere-se a uma parte do glossário de termos.

Figura 2 Levantamento de termos candidatos junto as peças processuais

Fonte: Acervo dos Autores

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Tabela 1 Glossário de Termos

Nome Sinônimo Acrônimo Descrição Tipo

Artigo Art. Conceito

Processo Ação é o meio pelo qual se exercita o direito

de ação

Conceito

Processo Atividade Conjunto de tarefas Conceito

Número do

Processo

No

Processo

Identificador do processo junto ao

Tribunal

Atributo de

Instância

Parte Ativa Relação entre pessoas e o processo,

quando do polo ativo, ou seja, que move

a ação.

Relação

Documento Doc Peça documental que compõe o processo

Conceito

Petição Tipo de Documento que tem como

objetivo solicitar demandas ao

judiciário.

Conceito

Fonte: Acervo dos Autores

Após o levantamento de termos candidatos, são desenvolvidas taxonomias conceituais. Nesta tarefa,

os engenheiros de conhecimento desenvolveram tal taxonomia, validada pelo o especialista de domínio, que

sugeriu ajustes. A definição deste formato para a definição de termos relacionados ao caso jurídico se deu

pelo critério de (in) disponibilidade de recurso temporal do especialista de domínio.

Da mesma forma que as taxonomias, são desenvolvidas relações binárias entre os conceitos

levantados, pelos engenheiros de conhecimento e, posteriormente, valida a proposta e ajustada pelo

especialista de domínio. A figura 3 mostra, graficamente, parte das taxionomias conceituais que formalizam

conhecimento referente a tramitação do processo, bem como a sua composição. Da mesma forma, foram

desenvolvidas relações conceituais de termos utilizados nas peças processuais e que definem seu conteúdo.

Figura 3 Relações conceituais referentes ao caso jurídico (Parte de)

Fonte: Acervo dos Autores

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A partir dos conceitos de classes levantados, é elaborado o dicionário de conceitos. Essa fase foi

desenvolvida pelo Especialista de domínio e repassada ao Engenheiro de Conhecimento. Junto a essa fase,

foi descrita as relações entre os conceitos. As tabelas foram elaboradas e validadas a partir de algumas

interações (não documentadas) de forma a gerar documentos que fossem suficiente amplo para

entendimento dos dois papéis. A tabela 4 demonstra parte o dicionário de classe e a tabela 5 é composta pela

descrição dos mesmos (parte da descrição).

Tabela 2 Dicionário de Classe

Conceito Atributo de

Classe

Atributo de instância Relações

Processo Número

Petição Inicial Documento Número de páginas temTermos

éTipoDeDocumento

éParteDeProcesso

Decisão Documento Data temTermos

Pessoa Nome

CPF

Representante Pessoa Nome

CPF

OAB

Uno Automóvel éTipoDeAutomovel

Homicídio Crime Data

Hora

temPessoaReu

temPessoaAutor

Acidente de

Trânsito

Assunto Tipo de Dano

Número de vítimas fatais

Número de Veículos envolvidos

temPessoa

temVeiculo

temTermos

Veiculos Placa Cor

Marca

éVeiculoDe

Automovel Veiculo éTipoDeVeiculo

Fonte: Acervo dos Autores

Tabela 3 Descrição das Relações de Conceitos

Nome Conceito

Origem

Cardinalidade

Máxima

Conceito

Destino

Propriedades Relação Inversa

temTermos Documento N Termos éTermoDe

éTipoDeDocumento Petição

Inicial

1 Documento

éTipoDeDocumento Contestação 1 Documento

éTipoDeDocumento Decisão 1 Documento

temMagistrado Processo 1 Juiz éMagistradoDe

temParteAtiva Processo N Pessoa éParteAtivaDe

temPartePassiva Processo N Pessoa éPartePassivaDe

éTipoDeDano Dano Moral 1 Tipo de

Dano

temTipoDano Tipo de

Dano

N Processo

Fonte: Acervo dos Autores

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A metodologia prevê a descrição de atributos de instância e de atributos de classes. Para efeito deste

trabalho, essas tabelas não foram descritas formalmente, sendo desenvolvido diretamente na ferramenta

PROTÉGÉ. A formalização dos conceitos e classes inicialmente descritas foi procedida pela definição dos

atributos. A figura 4 demostra conceitos descritos na ferramenta e a figura 5 representa parte da ontologia

formalizada. Os atributos de classe determinam o valor de um atributo especificando uma especialização de

uma classe. A classe “PeticaoInicial”, está a um nível abaixo na taxonomia, ou seja, uma especialização de

“Documento”, e tem o atributo “TipoDocumento” com valor “PeticaoInicial” preenchido.

Figura 4 Conceitos e relações construídas na ferramenta Protégé

Fonte: Fonte: Acervo dos Autores

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Figura 5 Ontologia descrita (parte de)

Fonte: Acervo dos Autores

Em todas as fases, o especialista de domínio foi consultado e sob sua responsabilidade ficou a

palavra final relacionada a validação, visto se tratar de especificações do conhecimento do domínio jurídico.

7. Dificuldades Encontradas e Críticas

A formação da equipe se deu a partir de um grupo de pesquisa existente e formado a partir de

interesses em comum, o Governo Eletrônico com foco em aplicações no poder judiciário. Isso, de certa

forma, facilitou o alinhamento dos membros do projeto em torno do objetivo de desenvolver o projeto.

Porém, o desconhecimento do especialista de domínio com relação a tecnologia utilizada, bem como

a mesma falta de conhecimento do domínio (jurídico) por parte dos engenheiros de conhecimento, exigiram

um certo nivelamento para que os trabalhos pudessem ser iniciados.

A partir deste nivelamento, respeitando os papéis definidos no projeto, as tarefas foram sendo

executados e, cada qual aproveitando seu conhecimento em sua disciplina, realizou ações pertinentes ao

desenvolvimento de ontologias.

Observa-se que, os engenheiros de conhecimento não seriam capazes de desenvolvimento da

ontologia utilizando somente conhecimentos de computação. Por sua vez, somente os conhecimentos de

direito, da área jurídica, tácitos junto ao especialista de domínio, não seriam suficientes. A não participação

de um linguista, obrigou, principalmente aos engenheiros de conhecimento, estudo relacionado à linguagem,

relacionamento entre os termos e formação de conceitos.

8. Considerações finais

Esse trabalho demonstrou a formação de equipe interdisciplinar, bem como a aplicação de cada

disciplina no âmbito do projeto, de forma a demonstrar como elas se relacionam para o desenvolvimento do

produto final.

O desenvolvimento de ontologias se mostrou inviável sem a aplicação de disciplinas de engenharia

de conhecimento e computação, de linguística e da área do domínio, nesse caso, o direito. As disciplinas, de

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forma isoladas, não seriam suficientes para a formalização do conhecimento do domínio, como foi feito,

utilizando-se de ontologias.

A formação da equipe foi facilitada pelo eixo central em comum, fato formador do grupo de

pesquisa, que por natureza, nasceu interdisciplinar.

Referências

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