desenvolvimento de pesquisa 02

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37 Unidade 3 A pesquisa e o método científico Nas unidades anteriores, vimos que há várias formas de se conhe- cer o que quer que seja: por meio da análise sistemática, do levan- tamento de informações, das experiências pessoais, das crenças que norteiam os indivíduos. De maneira semelhante, uma pesquisa científica pode ser feita de di- ferentes maneiras, dependendo dos objetivos e da área a que se destina. Nesta unidade, refletiremos sobre a pesquisa, sobre como se pode levantar as informações necessárias para o estudo e organizá-las em um texto acadêmico. Além disso, conheceremos algumas particulari- dades de métodos de pesquisa e suas implicações nos resultados dos estudos. www.sxc.hu Pode ser que a primeira imagem que lhe venha à cabeça ao pensar em pesquisa e ciência seja a de um laboratório, no qual um cientista passa muitas horas observando seus objetos de estudo. De fato, há pesquisas que se desenvolvem dessa maneira, mas não se trata de uma regra: pode acontecer de uma pesquisa demandar saídas a campo ou maior ênfase no levantamento bibliográfico.

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Interessantes fundamentos sobre Pesquisa.

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    Unidade 3

    A pesquisa e o mtodo cientficoNas unidades anteriores, vimos que h vrias formas de se conhe-

    cer o que quer que seja: por meio da anlise sistemtica, do levan-tamento de informaes, das experincias pessoais, das crenas que norteiam os indivduos.

    De maneira semelhante, uma pesquisa cientfica pode ser feita de di-ferentes maneiras, dependendo dos objetivos e da rea a que se destina.

    Nesta unidade, refletiremos sobre a pesquisa, sobre como se pode levantar as informaes necessrias para o estudo e organiz-las em um texto acadmico. Alm disso, conheceremos algumas particulari-dades de mtodos de pesquisa e suas implicaes nos resultados dos estudos.

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    u Pode ser que a primeira imagem que lhe venha cabea ao pensar em pesquisa e cincia seja a de um laboratrio, no qual um cientista passa muitas horas observando seus objetos de estudo. De fato, h pesquisas que se desenvolvem dessa maneira, mas no se trata de uma regra: pode acontecer de uma pesquisa demandar sadas a campo ou maior nfase no levantamento bibliogrfico.

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    Mtodos de pesquisa

    Quando nos defrontamos com um objeto de pesquisa, preciso de-cidir que tipo de pesquisa ser utilizado para melhor investigar o objeto. Essa deciso cabe ao pesquisador, que deve considerar os objetivos do es-tudo ou seja, sob que aspectos se pretende analisar um determinado ob-jeto e de que maneira deve proceder pesquisa de modo a atingi-los.

    De acordo com Oliveira (2004, p. 57),

    mtodo deriva da metodologia e trata do conjunto de processos pelos quais se torna possvel conhecer uma determinada realidade, produzir determinado objeto ou desenvolver certos procedimentos ou comportamentos. Dessa forma, o mtodo nos leva a identificar a forma pela qual alcanamos determinado fim ou objetivo.

    No h um mtodo apenas, mas, sim, um conjunto de mtodos disponveis para que o pesquisador escolha de acordo com os objeti-vos que deseja alcanar. Para que essa explicao seja mais ilustrativa, leia, a seguir, os seguintes exemplos de aplicao de alguns mtodos:

    1) Todos os metais so condutores de eletricidade. A prata um metal; logo, a prata con-dutor de eletricidade. [...] se os metais pertencem ao grupo dos condutores de eletrici-dade e se a prata conduz eletricidade, necessariamente entendemos que a prata um metal. (FACHIN, 2006, p. 32)

    2) Descartes morreu, Rui Barbosa morreu, Carlos Gomes morreu. Ora, Descartes, Rui Bar-bosa e Carlos Gomes [...] eram homens. Logo, todos os homens so mortais. ( OLIVEIRA, 2004, p. 61)

    Pode ser que, primeira vista, os exemplos paream-lhe muito se-melhantes. Contudo, reflita mais detidamente: Qual dos dois parte de uma anlise mais especfica para propor uma verdade mais abrangen-te? Qual parte de uma afirmao mais abrangente para chegar a uma informao especfica?

    Observe que, no primeiro exemplo, a linha de raciocnio vai da afirmao mais ampla (todos os metais so condutores de eletrici-dade) para a particular (a prata um condutor de eletricidade). O exerccio que se prope nesse mtodo , portanto, de sntese.

    J o segundo exemplo prope uma anlise inversa, partindo de uma afirmao especfica (Descartes morreu) para se chegar a uma afirmao geral (todos os homens so mortais), realizando-se um exerccio de anlise.

    Ao mtodo que parte da afirmao mais geral para a mais espe-cfica chamamos dedutivo, e de indutivo o que toma a informao

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    especfica como ponto de partida para se chegar geral.

    Outro mtodo pelo qual uma pesquisa pode se desenvolver o dia-ltico, que no utiliza princpios rgidos, pois se fundamenta nas mu-danas que ocorrem naturalmente no ambiente fsico e na sociedade. Esse mtodo prope que se chegue verdade articulando-se perguntas e respostas. De acordo com Oliveira (2004, p. 67), a primeira pergun-ta a ser desenvolvida, por meio desse mtodo, a definio do tema de debate Tese obtida pela resposta. Fazia-se nova pergunta base do contedo e da anlise desta Anttese , e assim por diante, at se chegar verdade.

    Na primeira unidade estudamos um pouco sobre dialtica, lembra-se? Voc se recorda de qual filsofo propunha que por meio de questionamentos e respostas que se inicia o processo de construo do conhecimento e a busca pela verdade?

    Alm do dedutivo, do indutivo e do dialtico, h outros mtodos de pesquisa, como o hipottico-dedutivo, por meio do qual se estabe-lecem hipteses que so testadas ou falseadas com o objetivo de se explicar algo; e o fenomenolgico, em que o sujeito vivencia uma determinada experincia e procura descrev-la tal como .

    Pesquisas que buscam registrar experincias no devem ser vistas como um retrato da realidade, mas, sim, como uma possibilidade de viso de mundo. Os seres humanos inter-pretam as informaes de acordo com suas culturas e valores, e isso implica em diferentes leituras acerca de um mesmo fato. Podemos verificar isso observando essas fotos: as trs registram a mesma torre, mas cada uma sob determinada perspectiva, o que implica em trs resultados bastante distintos.

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    Esses mtodos auxiliam o pesquisador a seguir uma determinada linha de raciocnio, a fim de que conhea melhor seu objeto de estudo. Contudo, importante destacar que as investigaes cientficas pos-sibilitam que vrias ideias se revelem diante do pesquisador, que as aproveita e as compreende melhor se empregar mais de um mtodo. Dessa maneira, h mais probabilidade de se chegar a uma anlise mais ampla do problema.

    A seguir, conheceremos alguns dos tipos mais comuns de pesqui-sas realizadas com fins acadmicos.

    Tipos de pesquisaComo foi que voc aprendeu que o ferro de passar, quando quente,

    passa roupas amarrotadas? Decerto, observou parentes e conhecidos utilizando o objeto com essa finalidade. Ou ento, ouviu sobre sua utilidade e resolveu test-lo voc mesmo(a).

    Em muitos momentos de nossa vida, conhecemos o mundo de for-ma aleatria, at mesmo acidental. Todavia, quando chegamos es-cola, instituio que nos oferece a educao formal, o conhecimento nos passado de forma sistematizada. Assim, quanto mais permane-cemos no ambiente acadmico, mais nos aproximamos da pesquisa, ou seja, de um processo planejado e ordenado de busca e construo do conhecimento.

    Existem vrios tipos de pesquisa, que podem ser classificados de acordo com seus objetivos e os procedimentos ou as fontes de coleta de dados (SANTOS, 1999).

    Quanto aos objetivos, a pesquisa pode ser:

    exploratria primeira aproximao de um tema; descritiva descrio de um fato ou fenmeno j explorado; explicativa elaborao de uma teoria que explica o fenme-

    no investigado.

    Se a referncia for a coleta de dados, a pesquisa pode ser classifi-cada em:

    experimental reproduo controlada do fenmeno ou fato investigado;

    ex-post-facto experimento que se realiza depois da ocorrncia do fato;

    estudo de caso observao de um caso particular a respeito do fato ou fenmeno investigado;

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    bibliogrfica busca de fundamentao terica em livros, re-vistas, artigos e outras fontes similares;

    documental anlise de documentos que possam fornecer da-dos acerca do fenmeno investigado;

    pesquisa-ao pesquisa na qual o cientista est envolvido na investigao de um fenmeno e participa efetivamente na busca pela soluo do problema proposto;

    levantamento processo no qual o cientista efetivamente recolhe os dados para interpret-los. Entrevistas e questionrios so os instrumentos mais comuns de coleta e levantamento de dados.

    Se as fontes forem a referncia, a pesquisa pode ser classificada em: bibliogrfica, de campo (pesquisa in loco) e em laboratrio.

    Ressaltando que as pesquisas, muitas vezes, completam-se para dar qualidade e profundidade ao trabalho e, para isso, cabe a clare-za de objetivos do pesquisador. Estudaremos de maneira mais detida esses trs ltimos tipos de pesquisa citados, que so os mais utilizados no ambiente acadmico.

    Pesquisa bibliogrficaA pesquisa bibliogrfica busca as descobertas e investigaes j

    realizadas por outros pesquisadores. Ela d ao trabalho consistncia terica e justifica a utilizao de determinados mtodos de pesquisa e a proposio das ideias e/ou conceitos apresentados.

    Para Ludwig (2009, p. 51),

    sua importncia reside no fato de ser no s uma maneira especfica de estudar um determi-nado tema, mas tambm de se apresentar como um pr-requisito necessrio realizao de projetos de pesquisa e de outros tipos de investigao.

    Assim, conclui-se que os argumentos de autoridades so inerentes a uma pesquisa exclusivamente bibliogrfica, mas tambm so essen-ciais a qualquer tipo de pesquisa, pois todas elas devem ter fundamen-tao terica especfica.

    Compare essas duas afirmaes:1) Em terra onde todos so bares no possvel acordo coletivo durvel, a no ser

    por uma fora exterior respeitvel e temida. (HOLANDA, 1990, p. 4)2) Em terra onde todos so bares no possvel acordo coletivo durvel, a no ser

    por uma fora exterior respeitvel e temida.Qual dessas afirmaes lhe pareceria mais questionvel se voc estivesse lendo um trabalho acadmico? Por qu?

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    O uso de argumentos de autoridade, alm de demonstrar uma pes-quisa mais profunda acerca do assunto estudado, fundamenta ideias e posicionamentos. Ao utilizar citaes de importantes autores e/ou de livros essenciais para a rea estudada, d-se base s opinies defendi-das no trabalho, por mais controversas que possam ser.

    Retomando as duas afirmaes que nos serviram de reflexo, per-ceba que a primeira consiste em um fragmento de um cnone da cul-tura brasileira, o ensaio Razes do Brasil. Ainda que haja pessoas que julguem improcedente uma afirmao como essa alis, consideran-do o carter mutvel do conhecimento, costuma ser bastante benfico para a atividade cientfica que haja discordncia de ideias , elas re-conhecero que se trata de um posicionamento fundamentado em um livro clssico.

    Obviamente, isso no significa que seu posicionamento no po-der ser questionado. Como j dito, a discusso acadmica costuma ser muito produtiva, pois um elemento que permite a contestao de ideias preestabelecidas e a refutao de informaes que, muitas vezes, no condizem com estudos mais recentes da mesma rea ou de reas diferentes.

    Ao refletir sobre a confiabilidade das duas frases mencionadas an-teriormente, pode ser que voc tenha atentado para um outro detalhe: a nica diferena entre a primeira e a segunda frase que aquela aparece referenciada. Devido a isso, pode ter concludo que a segunda foi apro-priada indevidamente por algum e que, por isso, menos confivel.

    Com a expanso da internet, as possibilidades de pesquisa adquiri-ram um potencial quase infinito, o que nos possibilitou, entre outras tan-tas coisas, buscar referncias bibliogrficas tambm nos meios digitais.

    Contudo, se essa expanso possibilitou-nos amplitude de pesquisa, tambm tornou mais difcil o reconhecimento da autoria de conceitos, pesquisas, tabelas...

    Por isso, a pesquisa bibliogrfica requer critrios claros para a se-leo das fontes de informao, se so idneas, quem so os respons-veis pela manuteno da pgina pesquisada, quais suas relaes com a rea de estudo etc.

    Pesquisa de campoEnquanto a pesquisa bibliogrfica exige um levantamento de obras

    que abordem determinado objeto de estudo, a pesquisa de campo bus-ca seus dados in loco, ou seja, no ambiente onde o fenmeno investiga-do aconteceu ou acontece.

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    Esse tipo de pesquisa exige do pesquisador uma interatividade maior com a sociedade ou com um espao fsico, pois preciso ir at o local no qual ocorre o fenmeno para recolher dados, por meio de entrevis-tas, questionrios, testes, fotografias ou vdeos.

    Segundo Santos (1999, p. 30), a pesquisa de campo a que re-colhe os dados in natura, como percebidos pelo pesquisador. Normal-mente a pesquisa de campo se faz por observao direta, levantamento ou estudo de caso.

    importante destacar que a pesquisa de campo consiste em um olhar sobre determinado objeto de estudo, o qual interpretado pelo pesquisador. Como nos explica Martins (2006, p. 11),

    trata-se de uma investigao emprica que pesquisa fenmenos dentro de seu contexto real (pesquisa naturalstica), onde o pesquisador no tem controle sobre eventos e variveis, bus-cando apreender a totalidade de uma situao e, criativamente, descrever, compreender e interpretar a complexidade de um caso concreto.

    Tendo em vista que, nesse tipo de pesquisa, o fenmeno ocorre fora de um laboratrio ou de qualquer outro ambiente no qual se te-nha controle sobre o objeto estudado, o pesquisador deve ser paciente e atencioso em relao ao processo, a fim de que possa compreender de que maneira os fatos conduzem a determinados resultados.

    Por isso importante a articulao entre os vrios tipos de pesqui-sa, pois tambm no estudo de caso o pesquisador deve buscar antes fundamentao terica para que tenha uma viso deslocada do senso comum, apoiando-se na argumentao cientfica.

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    Considerando que a pesquisa de campo tem como principal caracterstica o grande envolvimento do pesquisador com o objeto

    de estudo o que implica, naturalmente, em uma expresso da subjetividade , em que medida o levantamento bibliogrfico pode auxili-lo na interpretao desse objeto?

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    Muitas vezes, as experincias pessoais do pesquisador motivam o desenvolvimento de estu-dos. Para identificar determinados fenmenos e perceb-los de maneiras diferentes da que se costuma captar, importante que o pesquisador proceda tambm a um levantamento bibliogrfico, por meio do qual possa se aprofundar e que lhe possibilite outras maneiras de observar o fenmeno estudado. No link http://www.usp.br/agen/?p=31348, voc pode ler um pouco sobre uma pesquisa de Peter R. Monteiro, que analisa a importncia social dos rios Pinheiros, Tamanduate e Tiet na capital paulista e os associa simbolicamente a portas, as quais possibilitam ou no a integrao entre a sociedade e os rios.

    Pesquisa em laboratrioA pesquisa em laboratrio indicada quando no h possibilidade

    de investigao in loco ou quando essa observao pode ser prejudica-da de alguma forma. Opta-se, ento, pela reproduo artificial e con-trolada do fenmeno ou fato investigado.

    Como afirma Santos (1999, p. 31), a pesquisa em laboratrio de-corre da necessidade de artificializar o ambiente ou os mecanismos de percepo, para que o fato/fenmeno seja produzido/percebido adequadamente.

    No incio desta unidade, afirmou-se que o pesquisador que atua em laboratrio , possivelmente, a primeira imagem que se tem quando se fala em pesquisa ou em pesquisador. Talvez essa lembrana se deva ao fato de essa imagem de pesquisador ser utilizada s vezes, de maneira estereoti-pada com frequncia pelos meios de comunicao.

    Ao contrrio do que a fico possa sugerir, as pesquisas, desen-volvidas ou no em laboratrios, tm como objetivo contribuir para o desenvolvimento humano, seja por meio da elaborao de projetos que possibilitem sua aplicao em sociedade ou pela verificao de problemas referentes aos aspectos humanos.

    Por isso, os pesquisadores precisam conhecer e compreender a fundo esses problemas, o que decorre de uma anlise humana e social. Dessa maneira, pode-se afirmar que a pesquisa em laboratrio volta-se constantemente para fora desse espao controlado, para a comunidade e o ambiente na qual est inserida.

    Projeto de pesquisaSegundo Gil (2007, p. 20), no h, evidentemente, regras fixas acer-

    ca da elaborao de um projeto. Sua estrutura determinada pelo tipo de problema a ser pesquisado e tambm pelo estilo de seus autores.

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    Considerando essa variao, sero apresentados os elementos usual mente empregados na construo de um projeto de pesquisa, os quais precisam estar articulados entre si, a fim de salvaguardar a coe-rncia e a unidade do trabalho.

    Tema a delimitao do que ser estudadoEscolher o tema de pesquisa o primeiro passo para iniciar o

    projeto. A delimitao do tema presta-se, em essncia, a viabilizar a pesquisa, ou seja, determinar os limites de um tema e verificar se realmente possvel de ser investigado, levando-se em considerao o contexto no qual a pesquisa se realizar o que inclui, entre outras coisas, os recursos materiais de que se dispe.

    Como h uma quantidade praticamente infinita de temas e manei-ras de trabalh-los, a delimitao pode ser um tanto quanto angustian-te, afinal, quando gostamos de um tema e nos identificamos com ele, tendemos a achar tudo importante e interessante.

    Embora haja essa dificuldade, h tambm algumas estratgias para que voc delimite o que pretende estudar, considerando seu desenvol-vimento e a estrutura com a qual pode contar durante a pesquisa:

    considere seu conhecimento prvio sobre o assunto, pois dis-correr sobre um tema com o qual voc tem ou j teve algum contato mais fcil do que iniciar uma pesquisa do zero. Busque, no seu cotidiano, os assuntos que lhe despertam inte-resse e/ou curiosidade;

    Os trabalhos realizados na faculdade podem ser o ponto de par-tida para pesquisas mais detalhadas, pois, por meio deles, tem-se al-gumas impresses gerais acerca do assunto e toma-se conhecimento de obras e autores que exploram o contedo que voc deseja estudar. Vale a pena atentar para isso.

    pense nos recursos que sero utilizados para a elaborao da pesquisa e no tempo disponvel para execut-la. Assim, se voc tem pouco tempo, talvez seja mais aconselhvel utilizar dados j coletados do que fazer isso voc mesmo;

    leve em considerao a aplicabilidade dos resultados dessa pes-quisa e quais benefcios ela pode trazer. importante, como j foi abordado anteriormente, que a pesquisa contribua (seja direta ou indiretamente) para a sociedade;

    lembre-se de que voc passar muito tempo lendo e escreven-do sobre o mesmo assunto, portanto escolha um tema do qual voc realmente goste;

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    verifique tambm, antes de iniciar a pesquisa, se as fontes de material terico disponveis so suficientes e de fcil ou mode-rado acesso, caso contrrio, as dificuldades sero maiores e os recursos despendidos tambm.

    Alm desses elementos, importante considerar os limites tempo-rais e geogrficos.

    Imagine que voc resolva estudar os movimentos de mercado du-rante o perodo natalino. O tema interessante, mas precisa ser deli-mitado, pois uma pesquisa no poder dar conta de todos os natais, no mesmo? Ento, preciso delimitar o momento (quando e quan-to tempo durou ou durar o evento pesquisado?). Depois, necessrio delimitar o espao (onde? em que cidade?). Pode-se, tambm, deli-mitar o setor/ramo do comrcio (supermercados, farmcias, lojas de presentes ou outros).

    Segundo Lakatos e Marconi (2000) apud Brenner e Jesus (2008, p.32), o processo de delimitao do tema somente estar concludo quando se fizer a delimitao geogrfica e espacial do mesmo. Assim, saber delimitar o objeto de estudo fundamental, sendo necessrio situ-lo no espao e no tempo.

    Considerando o tema movimentos de mercado no perodo natalino, quando comea-ria a analisar esse fenmeno? Sua pesquisa consideraria um ou mais de um Natal? Em que ou em quais municpios realizaria seu levantamento? O movimento do mercado seria anali-sado em que tipo de varejo: supermercado, lojas de brinquedos ou em lojas de roupas?

    Embora inicialmente essas delimitaes possam demandar mais tempo, so fundamentais para o desenvolvimento de um estudo coe-so e compreensvel para o leitor especialista. Esse o primeiro passo para o desenvolvimento de uma pesquisa cientfica mais aprofundada e mais distante do senso comum.

    JustificativaEssa etapa do projeto de pesquisa presta-se a expor os motivos

    pelos quais a pesquisa deve ser realizada. O pesquisador deve apontar aspectos relacionados ao contexto no qual a pesquisa se realizar e quais os benefcios que ela poder trazer para a comunidade e para a cincia com a qual est relacionada.

    Segundo Cervo e Bervian (1977, p. 41), a justificativa deve envol-ver a delimitao do problema, a anlise da situao que o projeto pretende modificar e uma demonstrao de como modificar a situa-o analisada.

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    Dessa forma, importante tambm apresentar uma retrospectiva sobre outras pesquisas j realizadas sobre o mesmo tema e os avanos impulsionados por essas pesquisas.

    Problema de pesquisaDesde Einstein, acredita-se que mais importante para o desenvolvimento da cincia saber formular problemas do que encontrar solues. (CERVO; BERVIAN, 1977, p. 50)

    A citao de Cervo e Bervian traduz a importncia da formulao do problema de pesquisa, pois por meio dele que os rumos da pes-quisa so traados. Se esse problema no for formulado devidamente, toda a pesquisa ficar comprometida, pois no haver clareza quanto aos objetivos do trabalho.

    O problema de pesquisa deve contemplar uma dificuldade terica ou prtica, em busca de solues. Para formular o problema, o pes-quisador deve questionar, inquirir sobre as questes que podem ser levantadas pelo tema delimitado. um processo de reflexo sobre o tema e sobre as contribuies e/ou consequncias que o estudo desse tema pode trazer.

    Para que essa reflexo realmente acontea, o pesquisador deve ter um conhecimento prvio sobre o assunto para formular um problema que permita as investigaes necessrias para desenvolver a pesquisa.

    Conhecimento prvio sobre o

    tema

    PROBLEMA DE PESQUISA

    Reflexo acerca do tema: que questes precisam ser mais estudadas, pois ainda no so

    compreendidas?

    Figura 2 Formulao do problema de pesquisa.

    Para Gil (2007, p. 26), h regras para formulao do problema:

    deve ser claro, preciso e formulado como pergunta o proble-ma assume a forma de pergunta a fim de indicar a procura por

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    respostas, por solues. Para isso, a pergunta deve ser clara e objetiva, evitando-se expresses dbias;

    deve ser emprico e suscetvel de soluo o problema precisa ser passvel de constatao. Problemas que envolvem valores morais no so mensurveis e, portanto, no podem ser solucionados;

    deve ser delimitado a uma dimenso vivel deve ser possvel responder ao problema de acordo com o tempo disponvel ao pesquisador.

    Aconselha-se que, ao formular o problema de pesquisa, apliquem-se os mesmos critrios utilizados para delimitar o tema de pesquisa.

    HiptesesPor meio da formulao de hipteses buscam-se solues possveis

    ao problema da pesquisa. As hipteses criadas direcionam a pesquisa, mas, por se tratarem de conjecturas, podem no se confirmar.

    No h regras para formulao de hipteses porque, em essncia, essa formulao surge da capacidade de assimilao de experincias e elaborao verbal relacionada ao tema.

    Nesse sentido, cabe lembrar o que escreveu De Morgan h mais de um sculo: Uma hipte-se no se obtm por meio de regras, mas graas a essa sagacidade impossvel de descrever, precisamente porque quem a possui no segue, ao agir, leis perceptveis para eles mesmos. (FERRARI, 1982 apud GIL, 2007, p. 35)

    Objetivo geralA redao do objetivo geral da pesquisa deve ser clara e precisa,

    alm de informar o real desejo do pesquisador. Segundo Brenner e Jesus (2008, p.34),

    os objetivos determinam para que a pesquisa feita. Os objetivos gerais do uma viso abrangente daquilo que se pretende alcanar. J os objetivos especficos so as aplicaes dos objetivos gerais a situaes bem particulares, concretas.

    Os verbos utilizados para construir esse enunciado devem estar no infinitivo e indicar uma ao que possa ser delimitada e represente um movimento intelectual, inerente pesquisa cientfica.

    Os verbos no infinitivo so terminados em -ar, -er ou -ir. Assim, analisar, descrever e corrigir so alguns dos verbos que podem iniciar a redao do objetivo geral de uma pesquisa.

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    Objetivos especficosOs objetivos especficos de um projeto de pesquisa apontam as

    aes que devem ser tomadas para que se alcance o objetivo geral. As-sim, se o objetivo geral de uma pesquisa descrever o funcionamento de um software, um dos objetivos especficos desse projeto pode ser analisar o funcionamento do software, ao que fundamental para que se possa descrever o funcionamento.

    Compreende-se, portanto, que os objetivos especficos devem aju-dar a alcanar o objetivo geral.

    MetodologiaMetodologia o conjunto de mtodos ou caminhos que so percorridos na busca do conheci-mento. (ANDRADE, 2006, p. 129)

    Sempre que se pensa em conhecer efetivamente algo, preciso traar o caminho que ser percorrido. A sistematizao das aes que sero desenvolvidas converte-se na metodologia adotada para a pesquisa.

    Para Andrade (2006, p. 140), na metodologia preciso apontar quais mtodos e tcnicas sero utilizados na pesquisa. Pode-se in-cluir um roteiro com as principais etapas do trabalho.

    Quando se escolhe a metodologia, deve-se ter em mente quais os m-todos e tcnicas que sero utilizados e saber que esses mtodos e tcnicas mudam de acordo com o tipo de pesquisa. Por isso, preciso deixar bem claro na redao do projeto quais sero os mtodos e tcnicas escolhidos.

    RecursosOs recursos podem se referir tanto a pessoas quanto a materiais

    necessrios para a realizao da pesquisa. Assim, entrevistados, livros e computadores so alguns dos exemplos de recursos, os quais variam de acordo com a natureza da pesquisa.

    Para Santos (1999, p. 68) quando o pesquisador delineia os pro-cedimentos de uma pesquisa, j o faz contando com certo tipo e volu-me de recursos. Alm disso, pode ser necessria a apresentao dos custos da pesquisa.

    Reviso de literaturaToda pesquisa deve apresentar um referencial terico que permita

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    ao leitor identificar as concepes adotadas pelo pesquisador. Alm disso, a reviso de literatura permite ao pesquisador transitar entre a teoria e a prtica, quando necessrio, a fim de propor solues que se afastem do senso comum.

    Nessa parte do projeto, o pesquisador deve discorrer sobre as prin-cipais concepes tericas que antecederam sua pesquisa e apontar as autoridades que fornecem suporte para suas consideraes.

    Como dissemos inicialmente, o projeto de pesquisa no tem uma forma de apresentao engessada, por isso alguns tericos utilizam outra nomenclatura para se referirem reviso de literatura, como reviso bibliogrfica ou fundamentao terica.

    Para Brenner e Jesus (2008, p. 35),

    a reviso bibliogrfica, tambm denominada fundamentao terica, o quadro terico que vai fundamentar os estudos. Assim sendo, necessria a realizao de uma pesquisa bibliogrfica em bibliotecas, arquivos, documentos eletrnicos, entre outros recursos, para busca do conheci-mento acumulado sobre o assunto, que ser desenvolvido e aprofundado posteriormente.

    Independente do nome que se d a esse elemento do projeto, ele essencial e deve ser redigido com cuidado e clareza, para que a arti-culao entre as teorias e o desenvolvimento da pesquisa seja evidente.

    CronogramaToda pesquisa deve ser, como j foi mencionado, planejada e siste-

    matizada. Sendo assim, o projeto de pesquisa deve apresentar tambm um cronograma de atividades, delimitando o tempo para execuo de cada uma das etapas da pesquisa.

    Na tabela a seguir, acompanhe um exemplo de uma pesquisa que deve se desenvolver em um semestre:

    Atividade Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.

    Escolha e delimitao do tema X

    Elaborao do projeto de pesquisa X

    Levantamento do referencial terico e leituras X X

    Pesquisa de campo (coleta de dados) X

    Anlise e interpretao dos dados X

    Redao do trabalho X

    Elaborao da apresentao e defesa do trabalho X

    Tabela 1 Exemplo de cronograma.

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    Observe que o cronograma auxilia o pesquisador a se organizar em cada etapa do trabalho, minimizando, assim, a possibilidade de consumir todo o tempo disponvel somente na execuo das primeiras atividades.

    Contudo, importante destacar que, por mais organizado que seja o pesquisador, o cronograma no elimina a possibilidade de haver im-previstos, como dificuldade de encontrar determinada bibliografia, problemas climticos que exijam outra estratgia para realizao da pesquisa de campo, necessidade de consulta em outras fontes biblio-grficas para interpretao dos dados etc.

    Outro problema que pode se impor no processo de desenvolvimen-to de pesquisa a dificuldade de redigir um texto acadmico. s vezes, no s a linguagem como estudamos na unidade 2 que causa estranhamento, mas, principalmente, o prprio gnero textual no qual o texto deve ser escrito.

    H vrios textos que lhe podem ser pedidos ao longo de sua vida escolar: resenhas, artigos, resumos, monografias, ensaios... Voc saberia diferenciar esses textos? Quais so as caractersticas de cada um, isto , que informaes precisam apresentar?