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    INSTITUTO DE PESQUISAS ENERGTICAS E NUCLEARES

    AUTARQUIA ASSOCIADA UNIVERSIDADE DE SO PAULO

    Desenvolvimento de cermicas porosas

    base de Nitreto de Silcio

    RODRIGO MENDES MESQUITA

    Dissertao apresentada comoparte dos requisitos para aobteno do Grau de Mestreem Cincias na rea deTecnologia Nuclear - Materiais

    Orientador: Dr. Luis A. Genova

    So Paulo

    2009

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    i

    DEDICATRIA

    minha av, que meapoiou incondicionalmente

    em todos os momentos, me

    dando o carinho de uma

    me.

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    AGRADECIMENTOS

    Ao Instituto de Pesquisas Energticas e Nucleares, pela oportunidade dedesenvolver este trabalho, pelo rico ambiente acadmico, e pelo conhecimento

    adquirido;

    Inicialmente a minha famlia, em especial a minha av, pois sem seu

    carinho e apoio meu desenvolvimento acadmico teria parado;

    Ao Dr. Lus Antnio Genova, pela orientao e por me auxiliar no

    desenvolvimento do tema;

    A Dra. Ana Helena Bressiani pelo apoio e pelas diversas contribuies;

    Ao meu grande amigo Rodrigo Alves de Souza, pela amizade e

    companheirismo;

    A minha grande amiga Suelanny Carvalho da Silva, pela amizade, carinhoe apoio, e por estar sempre por perto quando necessrio;

    A minha grande amiga Karolina Pereira dos Santos Tonello, pela

    amizade, e carinho durante todos estes anos;

    A minha amada noiva Soraia Mariana de Souza por seu carinho e amor

    incondicional que me deram foras para continuar prosseguindo com o projeto;

    Ao liner, Cris, Deby, Tamie, Pedro, Ren, Celso e Nildemar pelo apoio e

    amizade;

    Ao CNPq, cujo auxlio por meio da bolsa, permitiu que eu continuasse

    meus estudos

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    Desenvolvimento de cermicas porosas base de

    Nitreto de Silcio

    RODRIGO MENDES MESQUITA

    Resumo

    Cermicas porosas base de nitreto de silcio vm sendo amplamente

    estudadas por possibilitarem a obteno de corpos que aliam porosidade e

    resistncia mecnica. Isto se deve, principalmente ao caracterstico mecanismo

    de reforo in-situ que o material apresenta, obtido com o crescimento anisotrpico

    de gros de Si3N4. Neste estudo foram obtidos corpos de Si3N4 com diferentes

    porosidades (percentual, distribuio de tamanhos, etc.), por trs tcnicas

    diferentes: gel-casting de espumas com diferentes gelificantes (albumina, gar e

    gelatina), gel-casting com amido e fase sacrificial com amido. As tcnicas de

    obteno de cermicas porosas por gel-casting de espuma, utilizando gar,

    gelatina ou albumina como agentes gelificantes gerou muitos resultados,

    produzindo alteraes em termos de estrutura de poros desenvolvida (ampla faixa

    de porosidade e de tamanho de poros), mas devido s dificuldades encontradas

    para um rgido controle do processamento (estabilizao e reprodutibilidade da

    estrutura de bolhas) e consequentemente dos corpos obtidos, o tema foi

    desenvolvido apenas parcialmente. Com a utilizao da tcnica gel-casting com

    amido, as amostras produzidas apresentaram maior reprodutibilidade, sendo que

    a porosidade obtida variou de acordo com o amido empregado: com a utilizao

    do amido de arroz obteve-se a menor porosidade (entre 17,4% e 20,8%),

    enquanto com o amido de batata atingiu-se a maior porosidade (entre 23% e

    36%) e com o amido de milho, chegou-se a valores intermedirios de porosidade

    (entre 18,9% e 28,1%). As amostras obtidas foram sinterizadas a 1800 C e

    caracterizadas quanto porosidade aparente, microestrutura e resistnciamecnica por ensaio de compresso, podendo-se relacionar a porosidade e o tipo

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    de amido adicionado com a resistncia mecnica. Utilizando-se a tcnica da fase

    sacrificial, adicionou-se matriz de nitreto de silcio diferentes tipos de amido (de

    arroz, de milho ou de batata), em diferentes percentuais (20, 30 e 40 % em

    volume), sendo as amostras obtidas sinterizadas sob diferentes temperaturas e

    tempos. Estas amostras foram caracterizadas de modo semelhante s descritas

    anteriormente, podendo-se relacionar a porosidade e tratamento trmico com a

    resistncia mecnica. Os resultados obtidos com as amostras com o amido

    usando as duas tcnicas foram comparados, permitindo-se concluir que as

    amostras obtidas por gel-casting apresentam maior resistncia mecnica quando

    comparadas a amostras com porosidade semelhante, produzidas por fase

    sacrificial.

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    Development of Porous Silicon Nitride-Based

    Ceramics

    Rodrigo Mendes Mesquita

    Abstract

    Porous silicon nitride based-ceramics have been widely studied by the

    combination of mechanical strength and porosity. This is due mainly by the

    characteristic mechanism of in-situ reinforcement obtained with the anisotropic

    grain growth of Si3N4. In this study were obtained bodies of Si3N4 with different

    porosities (amount, pore size distribution, etc.) using three different techniques:

    gel-casting foams with different gelling agents (albumin, gelatin and agar), gel-

    casting with starch as gelling agent, and sacrificial phase with starch as fugitive

    additive. The techniques of obtaining porous ceramics by gel-casting foams, using

    agar, gelatin or albumin as gelling agent had interesting results and is versatile in

    terms of the structure of pore developed (broad range of porosity and pore size),

    but due to difficulties in the processing control (stabilization and reproducibility of

    the bubbles structure) and thus in the characteristics of the obtained bodies, the

    issue was only partially developed. With the use of gel-casting technique with

    starch, the samples produced showed higher reproducibility, and the porosity

    obtained varied with the starch employed: with the use of rice starch was obtained

    the lowest porosity (between 17.4% and 20.8%), while with potato starch was

    reached higher porosity (between 23% and 36%) and with corn starch reached to

    intermediate values of porosity (between 18.9% and 28.1%). The samples were

    sintered at 1800 C and characterized by apparent porosity measurement,

    microstructure and mechanical strength by compression test, relating the porosity

    and type of starch with mechanical strength. Another method used to produce

    porous silicon nitride was the technique of sacrificial phase with different types of

    starch (rice, maize or potato) added to the matrix of silicon nitride in different

    amounts (20, 30 and 40% in volume). The samples obtained were sintered under

    different temperatures and times, and the obtained samples were characterized ina similar manner to those described above. It was possible to relate to porosity

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    and heat treatment with mechanical strength. The results obtained with the

    samples produced with the starch using the two techniques were compared

    allowing concluding that the samples obtained by gel-casting have greater

    strength when compared to samples with similar porosity produced by sacrificial

    phase.

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    SUMRIO

    1. Introduo.......................................................................................................... 1

    2. Objetivo.............................................................................................................. 5

    3. Reviso bibl iogrfica ........................................................................................ 6

    3.1 Cermicas porosas ..................................................................................... 6

    3.2 Mtodos de produo de cermicas porosas ........................................... 83.3.1 Mtodo da rplica: ................................................................................ 93.3.2 Mtodo da fase sacrif icial .................................................................. 11

    3.3.3 Mtodo do Gel-casting de espumas .................................................. 123.3.3.1 Util izao de albumina como gelif icante ....................................... 173.3.3.2 Util izao de amido como gelificante ............................................ 18

    3.4 Propr iedades Mecnicas e sua relao com a porosidade ...................21

    3.5 Produo de cermicas porosas base de nitreto de silcio ................25

    4. Materiais e Mtodos .................................................................................... 30

    4.1 Gel-casting utilizando-se amido como gelificante ................................. 31

    4.2 Obteno de corpos porosos pelo mtodo da fase sacrificialutilizando-se diferentes amidos ..................................................................... 33

    4.3 Gel-casting de espumas ut ilizando-se albumina, a gelatina ou garcomo gelificante .............................................................................................. 35

    4.4 Caracterizao das amostras obtidas ..................................................... 37

    5. Resultados e Discusso ................................................................................. 40

    5.1 Produo de amostras pelo mtodo gel-casting .................................... 40

    5.2 Amostras obtidas pelo mtodo gel-casting ut ilizando-se amido ..........47

    5.3 Amido como fase sacrificial ..................................................................... 58

    6. Concluses...................................................................................................... 79

    7.Trabalhos Futuros............................................................................................ 81

    8. Publicaes ..................................................................................................... 82

    9. Referncias Bibliogrficas ............................................................................. 83

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    NDICE DE FIGURAS

    Figura 3.1: Diagrama da classificao de materiais porosos proposta por KELLY.[4]............................................................................................................................. 8

    Figura 3.2: Estruturas obtidas pela tcnica da rplica, ambas de Al2O3, (a) a partir

    da esponja polimrica e (b) e partir do pinheiro.[12]............................................... 10

    Figura 3.3: Estrutura obtida pelo mtodo da fase sacrificial. Cermica de -fosfato

    triclcico cujos poros foram originados de eliminao de esferas de PMMA........12

    Figura 3.4: Estrutura porosa de uma alumina obtida por gel-casting de espumas,

    sendo, neste caso foi utilizada como agente gelificante albumina.[32]................... 14

    Figura 3.5: Fenmeno do escoamento, F simboliza o sentido do fluxo das bolhas,

    e a imagem ampliada mostra detalhes das clulas polidricas.[6]......................... 14

    Figura 3.6: Representao esquemtica do processo de coalescncia e do efeito

    de surfactantes.[6].................................................................................................. 15

    Figura 3.7: Comparao do efeito de surfactantes e de partculas coloidais na

    estabilizao de espumas. Em (a) mostrada uma espuma estabilizada com um

    surfactante aps 4 horas de repouso, enquanto em (b) a espuma contendopartculas coloidais se mostra bem mais estabilizada, mesmo por perodos bem

    mais longos (4 dias).[6].......................................................................................... 16

    Figura 3.8: Estrutura molecular do amido.[46]........................................................ 19

    Figura 3.9: Exemplo de estrutura de alumina porosa obtida por gel-casting com

    amido de batata.[45]............................................................................................... 20

    Figura 3.10: Exemplo de mtodos de produo de cermicas porosas.[6]............21

    Figura 3.11: Desenho mostrando a ruptura de uma clula aberta similar a dos

    poros abertos.[55]................................................................................................... 24

    Figura 3.12: Esquema de transformao de fases .do nitreto de silcio [71]...26

    Figura 3.13: Esquema indicando os principais mecanismos de tenacificao que

    podem ocorrer em cermicas estruturais.[71]......................................................... 27

    Figura 3.14: Micrografia demonstrando o mecanismo de tenacificao em ao.[71]

    .............................................................................................................................. 27

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    Figura 4.1: Processamento das amostras por gel-casting com amido..................33

    Figura 4.2: Processamento das amostras por fase sacrificial com amido.............34

    Figura 4.3: Processamento das amostras por gel-casting de espumas comalbumina. .............................................................................................................. 37

    Figura 5.1: Efeito do tratamento de oxidao superficial do p nas caractersticas

    reolgicas de suspenses aquosas de Si3N4........................................................ 41

    Figura 5.2: Efeito da oxidao superficial das partculas de Si3N4na viscosidade

    de suspenses aquosas contendo diferentes teores de slido............................. 42

    Figura 5.3: Estruturas porosas obtidas a partir de suspenses contendo

    LSS/glicerina, por aerao mecnica com diferentes hastes: (a) haste planetria

    (amostra 1), (b) haste 4 ps (amostra 2)............................................................... 43

    Figura 5.4: Estruturas porosas obtidas a partir de suspenses contendo albumina,

    por aerao mecnica com diferentes hastes: (a) haste planetria (amostra 3), (b)

    haste 4 ps (amostra 4). ....................................................................................... 44

    Figura 5.5: Hastes utilizadas para os teste, 4 ps (a) e planetria (b). .................44

    Figura 5.6: Distribuio de poros obtida por porosimetria de Hg para as amostras

    descritas na tabela 5.1. ......................................................................................... 45

    Figura 5.7: Estruturas porosas obtidas com diferentes gelificantes; (a) agar, (b)

    albumina. .............................................................................................................. 46

    Figura 5.8: Exemplo de uma estrutura porosa de nitreto de silcio da amostra na

    qual se utiliza gar como gelificante, mostrando os gros crescidos

    anisotropicamente, formando uma estrutura reforada pelo entrelaamento destes

    gros..................................................................................................................... 47

    Figura 5.9: Distribuio de tamanho de partculas de cada um dos amidos.........48

    Figura 5.10: Densidade relativa (a) e porosidade aparente (b) das amostras

    obtidas por gel-casting, com diferentes amidos e percentuais de slido na

    suspenso............................................................................................................. 50

    Figura 5.11: Micrografias das amostras produzidas via gel-casting com adio de

    30% em volume de amido de milho: (a) suspenso contendo 50% de slido e (b)

    suspenso contendo 55% de slido...................................................................... 52

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    Figura 5.12: Micrografias das amostras produzidas viam gel-casting com amido de

    milho com suspenses contendo 50% de slido. As diferentes percentagens em

    volume de amido adicionado, 20% em (a), 30% em (b) e 40% em (c) deram

    origem a cermicas com porosidade aparente de 21,4%, 26,9% e 28,1%

    respectivamente.................................................................................................... 54

    Figura 5.13: Micrografia das amostras produzidas via gel-casting utilizando-se

    como agente gelificante o amido de milho (a) e de batata (b); para estes

    exemplos, as suspenses contm 50% de slidos e 40% em volume de amido..55

    Figura 5.14: Defeito em amostra produzida via gel-casting com amido de milho;

    neste caso a suspenso continha 50% de slidos e 20% de amido em volume. .56

    Figura 5.15: Relao do mdulo de ruptura compresso versus porosidade das

    amostras obtidas por gel-casting utilizando diferentes amidos e a partir de

    suspenses com diferentes percentuais de slido................................................58

    Figura 5.16: Relao entre a retrao volumtrica e o percentual de amido

    adicionado a matriz cermica................................................................................61

    Figura 5.17: Relao entre densidade a verde e amido adicionado matriz

    cermica. ..............................................................................................................63

    Figura 5.18: Relao entre perda de massa e adio de amido(% em peso), para

    os amidos de arroz (a), milho (b) e batata (c). A linha tracejada nos grficos indica

    qual a perda referente apenas ao amido adicionado. ...........................................65

    Figura 5.19: Porosidade aparente e densidade aparente versus percentual de

    amido para amostras porosas de Si3N4obtidas por fase sacrificial, e sinterizadas

    sob diferentes tratamentos trmicos. Em (a) amido de arroz, em (b) amido demilho e em (c) amido de batata.............................................................................68

    Figura 5.20: Porosidade aparente versus frao volumtrica de amido adicionado

    para amostras porosas de Si3N4 obtidas por fase sacrificial, e sinterizadas sob

    diferentes tratamentos trmicos............................................................................69

    Figura 5.21: Amostras porosas de Si3N4obtidas com a adio de 20 % (a), 30 %

    (b) e 40 % (c) de amido de arroz, sinterizadas a 1800C por 1 hora. ...................70

    Figura 5.22: Detalhes da estrutura de poros de amostra obtida com a adio de

    30 % de amido de arroz, sinterizada a 1800C por 1 hora...................................70

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    Figura 5.23: Difratogramas de raios-x das amostras,porosas de Si3N4sinterizadas

    sob diferentes condies. .....................................................................................71

    Figura 5.24: Parte do difratograma de raios X indicando os picos relacionados

    equao de Yeheskel e Gefen..............................................................................72

    Figura 5.25: Mdulo de ruptura versus porosidade aparente para amostras

    processadas com amido de arroz submetidas a diferentes tratamentos trmicos.

    ..............................................................................................................................74

    Figura 5.26: Mdulo de ruptura versus porosidade aparente para amostras

    processadas com amido de milho submetidas a diferentes tratamentos trmicos.

    ..............................................................................................................................74

    Figura 5.27: Mdulo de ruptura versus porosidade aparente para amostras

    processadas com amido de batata submetidas a diferentes tratamentos trmicos.

    ..............................................................................................................................75

    Figura 5.28: Relao do mdulo de ruptura versus porosidade das amostras

    processadas com amidos de arroz, batata e milho e submetidas a diferentes

    tratamentos trmicos.............................................................................................76

    Figura 5.29: Mdulo de ruptura versus porosidade aparente para amostras

    produzidas pelos mtodos gel-casting e fase sacrifical, submetidas sinterizao

    a 1800 C por 1 hora. Em (a) amostras obtidas a partir do amido de milho e em (b)

    a partir do amido de batata. ..................................................................................78

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    1. Introduo

    Os materiais cermicos so utilizados em aplicaes onde as outras

    classes de materiais (metais, polmeros e compsitos) no podem ser utilizadasou apresentam um baixo desempenho. A maioria das aplicaes tecnolgicas

    envolve cermicas densas, mas h um crescente nmero de aplicaes para as

    quais se utilizam cermicas porosas. As aplicaes mais conhecidas para as

    cermicas porosas so como: isolantes trmicos, catalisadores e suportes de

    catalisadores, filtros e membranas para filtrao e separao de partculas, gases

    e lquidos (incluindo metais fundidos), queimadores de gases e difusores. O

    campo de utilizao destas cermicas porosas vem experimentando uma recentee contnua expanso para novos setores tecnologicamente estratgicos, como o

    de biomateriais, farmacutico, alimentcio, aeroespacial, petroqumico, de

    engenharia ambiental, etc. [1-7]

    As cermicas porosas podem ser obtidas por diferentes mtodos de

    fabricao, os quais interferem significativamente nas caractersticas e

    propriedades dos produtos obtidos. Dentre os principais mtodos que vm sendo

    utilizados para a produo de cermicas porosas podem ser citados asinterizao parcial, o mtodo da rplica de substratos celulares, o mtodo da

    fase sacrifical e o mtodo do gel-casting de espuma. Cabe ressaltar que estes

    mtodos podem se complementar uns aos outros ou serem adaptados e/ou

    adequados de modo a se poder obter estruturas com as mais variadas

    caractersticas, envolvendo diferentes materiais cermicos. As caractersticas de

    uma estrutura de poros englobam a porosidade total, a distribuio de tamanho

    de poros, a conectividade entre os mesmos (poros abertos ou fechados), alm dageometria (esfricos, cilndricos, etc.).

    O mtodo da rplica baseado na impregnao de substratos de

    estruturas celulares com uma suspenso cermica ou soluo precursora

    cermica, de maneira a produzir uma estrutura porosa similar do substrato.

    Muitas estruturas celulares sintticas e naturais podem ser usadas como

    substratos, sendo que o exemplo mais comum o de espumas polimricas. As

    cermicas obtidas pelo mtodo da rplica podem apresentar porosidade entre40% e 95%, com uma estrutura reticulada e altamente interconectada, com o

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    tamanho mdio de poros variando entre 200m a 3 mm. A grande desvantagem

    dessa tcnica o surgimento de trincas nos filamentos durante a pirlise do

    substrato, o que compromete suas propriedades mecnicas. [6,12-17]

    Outro mtodo interessante e bastante utilizado o da fase sacrificial,

    que consiste na conformao de corpos a partir de uma mistura contendo uma

    matriz cermica contnua (ou precursores cermicos) e uma segunda fase

    sacrificial dispersa de maneira homognea. A partir da eliminao desta fase

    sacrificial (normalmente por pirlise), os espaos ocupados pela mesma se

    transformam em poros com tamanho e forma similares aos das partculas da fase

    eliminada. A eliminao desta fase sacrificial a etapa mais crtica do processo,

    requerendo normalmente tratamentos por longos perodos. Alm disso, o

    processo de eliminao desta fase sacrificial gera uma quantidade significativa de

    produtos gasosos que podem ser danosos sade e/ou ao meio ambiente. A

    principal vantagem do mtodo da fase sacrificial, se comparada aos outros

    mtodos, a possibilidade de controlar a porosidade, distribuio de tamanhos e

    a forma dos poros no produto final pela escolha adequada da fase sacrificial.

    Podem ser obtidas porosidades de 20% a 90% e poros de 1m a 700m. [6,18-26]

    O mtodo gel-casting de espumas que uma variao do mtodo gel-

    casting originalmente desenvolvido para a produo de corpos densos. Partindo-

    se de uma suspenso cermica estvel, contendo monmeros ou polmeros

    especficos (alm de outros componentes, como surfactante, espumante, etc.),

    produz-se uma espuma por meio da aerao (normalmente por agitao

    mecnica), que vertida em molde, passando ento por um processo de

    gelificao (ou polimerizao), de modo que o corpo rgido obtido mantenha a

    estrutura porosa originada pelas bolhas da suspenso aerada. Variveis de

    processo que influenciam nas caractersticas e propriedades da cermica obtida

    por este mtodo so as caractersticas da suspenso inicial, o mtodo de

    aerao, presena de surfactantes, espumantes ou outros modificadores que

    permitem o controle do processo e a estabilizao da espuma, etc.. [6,11,26-41]. A

    grande desvantagem do mtodo gel-casting de espuma originalmente proposto

    que apresenta os mesmos problemas que o mtodo desenvolvido para a

    produo de cermicas densas: os agentes gelificantes so neurotxicos eexigem que se trabalhe em atmosfera controlada (isenta de oxignio).

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    Devido a estes problemas, grandes esforos vm sendo feitos no

    sentido de se desenvolver mtodos alternativos de gel-casting, utilizando-se

    agentes gelificantes atxicos, que no necessitam de atmosfera controlada e que,

    alm disso, sejam de custo relativamente baixo. Exemplos destes agentes

    gelificantes que vm sendo propostos so o gar, a gelatina, o amido e a

    albumina.[30-54]

    Pelo mtodo gel-casting de espumas possvel obter poros na faixa de

    35m a 1,2mm e porosidades variando de 40% at 97%, com filamentos entre os

    poros isentos de trincas e altamente densificados, o que proporciona altos valores

    para as propriedades mecnicas das cermicas. [6]

    A relao entre as propriedades mecnicas e a porosidade de

    materiais cermicos vem sendo intensamente estudada [55,56]. Diferentes

    abordagens indicam que a reduo da resistncia mecnica de materiais porosos

    pode ser relacionada tanto a fatores macroestruturais (diferentes caractersticas

    da estrutura de poros) como a fatores microestruturais (caractersticas da matriz

    contnua, como densidade, composio, etc.).

    Este comprometimento das propriedades mecnicas um dosprincipais fatores que limitam a utilizao mais ampla das cermicas porosas, j

    que h uma relao inversa entre porosidade e resistncia mecnica. Para se

    contornar esse obstculo, vm sendo desenvolvidas novas cermicas porosas de

    alto desempenho, base de nitreto de silcio e seus compsitos. [50,61-64]. As

    cermicas base de nitreto de silcio apresentam um interessante conjunto de

    propriedades (mecnicas, trmicas e qumicas) que sugerem um grande potencial

    para aplicaes estruturais, mesmo em altas temperaturas. Alm disso, possui

    como uma de suas principais caractersticas, o fenmeno do reforo in-situ, que

    se d pelo crescimento anisotrpico dos gros durante a sinterizao, tornando-

    os alongados e promovendo uma microestrutura reforada pelo entrelaamento

    dos mesmos. Estes gros alongados, alm de interferir positivamente na

    resistncia mecnica do material, promovem o surgimento de mecanismos

    tenacificadores, podendo-se atingir valores de tenacidade fratura to alta como

    10 MPa.m1/2, quando para a maioria das cermicas esse valor no ultrapassa 4

    MPa.m1/2. [52,62-63]. Este fenmeno do reforo in-situ, exaustivamente estudado

    para a produo de cermicas densas base de Si3N4, vem sendo explorado nos

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    ltimos anos visando a obteno de cermicas porosas de alto desempenho

    mecnico.

    Dentre os estudos para a obteno de cermicas porosas base de nitreto

    de silcio destaca-se o trabalho de Hampshire et al. [52]que utilizou o amido de

    milho como fase sacrificial para a formao dos poros. Outro grupo que vem

    investindo grandes esforos na produo e caracterizao de cermicas porosas

    base de Si3N4 coordenado por Tatsuki Ohji[65-69]. Dentre os estudos deste

    grupo, destaca-se a fabricao de corpos de nitreto de silcio porosos pela tcnica

    de tape-casting que promove um expressivo alinhamento dos gros de Si3N4,

    formando uma microestrutura altamente anisotrpica; assim possvel atingir

    elevados valores de propriedades mecnicas na direo perpendicular aos gros

    alinhados [65]. Num trabalho recente os grupos de Ohji e Hampshire estudaram em

    conjunto a influncia de diferentes mtodos de processamento nas propriedades

    dos corpos porosos obtidos [70].Neste estudo concluram que o tamanho do amido

    utilizado no influencia no valor do mdulo de ruptura do material obtido, sendo

    este valor prximo ao de materiais obtidos por meio da sinterizao parcial. No

    caso de amostras porosas obtidas por sinterizao parcial seguida de prensagem

    a quente, a tenso de ruptura foi maior que a exigida para amostras obtidas por

    outras tcnicas de processamento.

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    2. Objetivo

    O objetivo deste trabalho foi o desenvolvimento de cermicas porosas

    a base de -Si3N4com diferentes caractersticas referentes porosidade, e queapresentem microestrutura isotrpica e propriedades mecnicas elevadas. Como

    parte deste objetivo principal, partindo-se de uma composio base, foram

    desenvolvidas e/ou adaptadas diferentes tcnicas de processamento (gel-casting

    e fase sacrificial) que possibilitaram a fabricao destas cermicas com diferentes

    nveis de porosidade (entre 15 e 50%), variando-se tambm a distribuio de

    tamanho de poros. Estas diferentes estruturas porosas obtidas foram

    relacionadas aos valores de resistncia mecnica, de modo a se poder sugeriruma relao entre porosidade e resistncia mecnica.

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    3. Reviso bibliogrfica

    3.1 Cermicas porosas

    Os materiais cermicos apresentam um conjunto de interessantes

    propriedades e caractersticas que os habilitam a serem utilizados em aplicaes

    nas quais as outras classes de materiais (metais e polmeros) no podem ser

    utilizadas ou tem, de um modo geral, um desempenho abaixo do necessrio.

    Dentre estas propriedades podemos citar a elevada resistncia mecnica, a alta

    dureza, a resistncia ao desgaste, o baixo coeficiente de expanso trmica e de

    condutividade trmica, resistncia oxidao e corroso, elevada

    refratariedade, etc. Apesar da maioria destas aplicaes tecnolgicas envolverem

    cermicas densas, h um crescente nmero de aplicaes para as quais se

    utilizam cermicas porosas.[1-7]

    A classificao das cermicas porosas no um tema consensual, pois

    varia de acordo com o setor ao qual as mesmas so aplicadas. Kelly discute que

    infelizmente no h uma consistncia quanto classificao das cermicas

    porosas com relao ao tamanho dos poros presentes. Pode-se ter cermicas

    com a distribuio de tamanho de poros dentro de uma ampla faixa de tamanho

    de poros (de 1 nm a 1 cm), alm desta porosidade poder variar desde alguns

    pontos percentuais at 90%. Por exemplo, pela recomendao da IUPAC

    (International Union of Pure and Applied Chemistry), poros maiores que 50 nm

    so considerados macroporos. Dessa forma a nomenclatura utilizada est

    intimamente relacionada aplicao em questo. Aqueles que utilizam a

    nomenclatura IUPAC certamente trabalham com temas correlatos a catalisadores,

    membranas e absorventes. Em aplicaes onde o tamanho de poros muito

    maior que os da classificao da IUPAC, esta deixa de ser vlida, pois todos

    ficam na categoria de materiais macroporosos. Para os objetivos deste projeto,

    consideramos a porosidade na faixa entre 15 e 75% em volume, com tamanho de

    poros variando de m a mm.

    Por outro lado as cermicas porosas podem ser classificadas quanto

    interconectividade dos poros em duas categorias gerais: as cermicas reticuladas,

    que apresentam estrutura de poros ordenada e simtrica, e as espumas

    cermicas, cujos poros so distribudos de maneira homognea na matriz

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    cermica. Estas diferentes estruturas de poros determinam em grande parte as

    caractersticas (permeabilidade, condutividade trmica, etc.) e possveis

    aplicaes destes materiais. Logicamente para cada uma destas diferentes

    estruturas, a distribuio de tamanhos e a frao volumtrica dos poros presentes

    tambm interferem fortemente nas caractersticas e propriedades do material.Na

    Figura 3.1 apresentada a classificao proposta por Kelly, relacionando as

    diferentes aplicaes com tamanho, volume e interconectividade de poros. [4]

    Em recente publicao, Rdel et.al,[8] indicam que cada vez mais as

    cermicas porosas devero expandir sua importncia tecnolgica, j que sero

    utilizadas em diversas novas aplicaes. Entre estas novas aplicaes, os autores

    citam:

    Como componentes de clulas a combustvel de alta temperatura,

    Como membranas de filtrao para a produo de gua limpa e potvel,

    Membranas de separao para o uso em catalisadores automotivos mais

    eficientes,

    Como cermicas estruturais, e mesmo sendo materiais mais leves,

    atingiro propriedades mecnicas prximas s das cermicas densas,

    Na rea de biomateriais, principalmente como suportes para o

    crescimento de tecidos e cultura de clulas.

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    Figura 3.1: Diagrama da classificao de materiais porosos proposta por KELLY.[4]

    3.2 Mtodos de produo de cermicas porosas

    Cermicas porosas podem ser obtidas por diferentes mtodos, sendo

    que alguns destes so adaptaes de mtodos clssicos de conformao de

    materiais cermicos densos. [1-7] A escolha do mtodo mais adequado est

    relacionada, alm da geometria da pea a ser produzida, s caractersticas daestrutura de poros que se deseja. Os mtodos empregados para a produo de

    cermicas com poros na escala nanomtrica no sero descritos aqui, sendo

    ento detalhados apenas os principais mtodos para a produo de corpos com

    porosidade na escala micromtrica a milimtrica, que descreveremos como

    cermicas macroporosas.

    Para a produo destas cermicas macroporosas existem diferentes

    mtodos, sendo cada qual mais adequado produo de determinadas estruturasde poros, e dessa forma determinando as propriedades do produto final.[5-7]

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    Um dos mtodos para produo mais simples o da sinterizao

    parcial, onde a porosidade controlada pelos parmetros de sinterizao do

    material, como por exemplo o empacotamento das partculas, a presena de

    aditivos, a temperatura e tempo de sinterizao etc. [3,5]

    O mtodo da prensagem isosttica a quente tambm utilizado para

    produo de cermicas porosas; nesse caso os corpos de prova j conformados

    so introduzidos na prensa sem serem selados, permitindo assim que o gs sob

    alta presso penetre nos poros, impedindo que os mesmos se fechem durante a

    sinterizao. A porosidade resultante e o tamanho dos poros do corpo tratado na

    prensa isosttica a quente muito similar a do corpo a verde original.[5]

    Existem outros mtodos descritos na literatura e alguns largamente

    utilizados na indstria como a prototipagem rpida, o mtodo da rplica, da fase

    sacrificial e gel-casting de espumas. A seguir sero descritos detalhadamente os

    mtodos mais utilizados.[7]

    3.3.1 Mtodo da rplica:

    Este mtodo desenvolvido no incio dos anos 60 por Schwartzwalder e

    Somers [6] baseado na impregnao de substratos de estruturas celulares com

    uma suspenso cermica ou soluo precursora de maneira a produzir uma

    estrutura porosa similar do substrato. Muitas estruturas celulares sintticas e

    naturais podem ser usadas como gabarito para fabricar cermicas porosas por

    meio deste mtodo, sendo que o exemplo mais comum o de esponjas

    polimricas. Na Figura 3.2 vemos um exemplo de uma cermica produzida com

    uso de esponjas polimricas e outra obtida a partir da madeira de pinheiro[12].

    No caso da produo de cermicas porosas a partir de uma estrutura

    natural como a madeira, procede-se inicialmente a um processo de pirlise da

    mesma para a eliminao de fases orgnicas, restando no final uma estrutura de

    carbono. A partir desta estrutura pode-se, por infiltrao de metais ou gases,

    promover reaes que levem formao de diferentes fases cermicas, sejam

    covalentes ou inicas. [6,12]As cermicas porosas obtidas pelo mtodo da rplica

    apresentam porosidade entre 40% e 95% com uma estrutura reticulada e

    altamente interconectada, com o tamanho mdio de poros podendo variar entre

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    200m e 3mm, o que faz com que estas cermicas sejam adequadas para

    aplicaes que necessitem de alta permeabilidade. [6,12-17]

    Figura 3.2: Estruturas obtidas pela tcnica da rplica, ambas de Al2O3, (a) a partir

    da esponja polimrica e (b) e partir do pinheiro.[12]

    Um dos problemas que pode ocorrer com a utilizao deste mtodo da

    rplica o surgimento de trincas nos filamentos durante a pirlise da esponja, o

    que pode comprometer as propriedades mecnicas da cermica. Visando evitar

    esse problema foram propostas algumas solues, como melhorar amolhabilidade da suspenso no substrato a ser impregnado, fazer mais de uma

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    impregnao para o preenchimento das trincas dos filamentos, adio de fibras

    na suspenso cermica, desgaseificao da mesma, etc.[6,12-17]

    Quando se utiliza como base uma estrutura natural, as propriedades

    mecnicas so comumente melhores, pois a estrutura mantm sua forma original

    e transformada por meio de processos fsico-qumicos em um material

    cermico, gerando uma estrutura sem falhas e sem vazios dentro dos filetes.[6,12]

    3.3.2 Mtodo da fase sacrificial

    O mtodo da fase sacrificial consiste na conformao de corpos a partir

    de uma mistura contendo uma matriz cermica contnua (ou precursores

    cermicos) e uma segunda fase sacrificial dispersa homogeneamente. Com a

    eliminao desta fase sacrificial (geralmente por tratamento trmico), os espaos

    ocupados pela mesma se transformam em poros com tamanho e forma similares

    s partculas que os originaram. [6,18-26]

    Uma grande variedade de materiais pode ser usada como formadores

    de poros, como serragem, amidos, polietileno, PMMA, parafina, etc.[6]

    Quando da eliminao da fase sacrificial por tratamento trmico, o

    material submetido a processo de aquecimento bastante lento, com patamares

    em temperaturas intermedirias para que no ocorra a formao de defeitos que

    venham a comprometer as propriedades mecnicas do produto final. Alm disso,

    durante a pirlise pode ser gerada uma quantidade considervel de produtos

    gasosos, prejudiciais sade e/ou ao meio ambiente, o que exige que estes

    produtos da pirlise sejam tratados antes de serem lanados na atmosfera. Na

    Figura 3.3 apresentada uma estrutura obtida por este mtodo; Neste caso

    adicionou-se a uma suspenso de -fosfato triclcico, esferas de PMMA (poli

    metil meta-acrilato) que aps a pirlise deixaram poros nos espaos que

    ocupavam.[18]

    A maior vantagem do mtodo da fase sacrificial, se comparada aos

    outros mtodos, a possibilidade de controlar a porosidade, distribuio de

    tamanhos e a forma dos poros no produto final pela escolha adequada da fase a

    ser eliminada na pirlise. Um levantamento da literatura permite afirmar que

    podem ser obtidas cermicas com porosidades de 20% a 90% e poros variando

    de 1m a 700m. [6,18,22,26]

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    Figura 3.3: Estrutura obtida pelo mtodo da fase sacrificial. Cermica de -fosfato

    triclcico cujos poros foram originados de eliminao de esferas de PMMA.

    Como neste mtodo o produto final corresponde a um negativo da fase

    sacrificial, no ocorrem trincas nos filamentos como na tcnica da rplica, fazendo

    com que essas cermicas porosas tenham melhores propriedades mecnicas que

    as produzidas por rplica.[6]

    3.3.3 Mtodo do Gel-casting de espumas

    O mtodo gel-casting foi originalmente desenvolvido para produo

    de corpos densos de geometria complexa. Uma suspenso cermica estvel,

    contendo monmeros ou polmeros especficos, vertida em um molde,

    passando ento por um processo de gelificao (ou polimerizao), de modo aobter um corpo rgido. A pea conformada submetida a sucessivas etapas de

    secagem com posterior tratamento trmico para eliminao de orgnicos e

    sinterizao. Variveis de processo como as caractersticas da suspenso inicial

    (umidade, viscosidade, etc.), influenciam nas caractersticas dos corpos

    obtidos.[6,11,27-44].

    A partir do mtodo original de gel-casting foi proposta uma adaptao

    (gel-casting de espumas) para a produo de cermicas porosas.[27]

    . Por estemtodo, uma suspenso cermica contendo o agente gelificante passa por um

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    processo de aerao (normalmente por agitao mecnica), sendo que a espuma

    obtida vertida em um molde, passando ento por processo de gelificao (ou

    polimerizao) similar ao mtodo original, de modo que o corpo rgido obtido

    mantenha a estrutura de bolhas formada pela aerao da suspenso. A pea

    conformada submetida a sucessivas etapas de secagem com posterior

    tratamento trmico para eliminao de orgnicos e sinterizao. Variveis de

    processo como as caractersticas da suspenso inicial (umidade, viscosidade,

    etc.), mtodo de aerao, presena de surfactantes, espumantes ou outros

    modificadores permitem que se possa controlar o processo de modo a se obter

    diferentes estruturas porosas, seja quanto ao percentual de poros, distribuio

    de tamanho e forma dos mesmos, ou ainda quanto s caractersticas fsicas dafase cermica entre os poros. Este controle do processo permite que se interfira

    nas caractersticas do corpo poroso como sua resistncia mecnica,

    permeabilidade, condutividade trmica, etc. O mtodo de conformao por gel-

    casting original apresenta o inconveniente de utilizar monmeros que podem ser

    neurotxicos, e que, alm disso, polimerizam in-situ, e exigem que a operao

    ocorra em atmosfera controlada (sem a presena de O2).[6,27-29]Na Figura 3.4

    mostrada uma estrutura obtida por esse mtodo.[32]

    Um fator muito importante no processo gel-casting de espumas a

    estabilidade das bolhas formadas, pois estas so termodinamicamente instveis

    devido grande rea de superfcie na interface entre o gs e o lquido. Assim no

    intuito de diminuir a rea de superfcie nesta interface trs fenmenos podem

    ocorrer:escoamento, coalescncia e desproporo (Ostwald rippening).[6]

    O escoamento consiste na separao fsica (pelo efeito da gravidade)

    entre as bolhas e a fase lquida, com as bolhas se concentrando no topo do

    recipiente. Estas bolhas, ao se concentrarem, deformam-se e se tornam clulas

    polidricas, com filmes finos entre as mesmas; na juno de 3 clulas aparece

    uma regio conhecida como plat,(Figura 3.5).[6]

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    Figura 3.4: Estrutura porosa de uma alumina obtida por gel-casting de espumas,

    sendo, neste caso foi utilizada como agente gelificante albumina.[32]

    Figura 3.5: Fenmeno do escoamento, F simboliza o sentido do fluxo das bolhas,

    e a imagem ampliada mostra detalhes das clulas polidricas.[6]

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    A coalescncia ocorre quando o filme formado durante o escoamento

    no estvel, provocando a associao de clulas vizinhas. A estabilidade do

    filme definida pelas foras de atrao e repulso entre as bolhas. A fora motriz

    deste processo so as foras atrativas de Van der Waals, que empurram as

    bolhas umas contra as outras, colapsando o filme entre as mesmas. A nica

    maneira de se evitar esse colapso prover as bolhas de foras de repulso

    estrica e/ou eletrosttica que superem as foras de van der Waals. Isto feito

    por meio de molculas surfactantes ou partculas na interface gs-lquido. Na

    Figura 3.6 mostrado esquematicamente este processo.[6]

    Figura 3.6: Representao esquemtica do processo de coalescncia e do efeito

    de surfactantes.[6]

    Por fim tem-se o mecanismo de desproporo ou Otswald rippening

    que controlado pela diferena da presso laplaciana entre bolhas de tamanhodiferentes; esta diferena de presso faz com que o ar difunda das bolhas

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    menores para as maiores, que dessa forma crescem, absorvendo as menores.

    Este processo pode ser minimizado por meio da utilizao de surfactantes (ou de

    partculas coloidais, discutido a seguir), que reduzem a difuso de gs entre as

    bolhas, aumentando a estabilidade de uma espuma de minutos para horas.

    Recentemente foi proposta a utilizao de partculas coloidais, em

    substituio aos surfactantes para a estabilizao das espumas. Estas partculas

    so adsorvidas irreversivelmente na interface gs-lquido adquirindo um aspecto

    de uma rede, estabilizando as bolhas. Na Figura 3.7 pode-se comparar o efeito da

    adio de surfactante e de partculas coloidais na estabilizao de uma espuma,

    constatando-se a maior eficincia para o caso da adio das partculas.[6]

    Figura 3.7: Comparao do efeito de surfactantes e de partculas coloidais na

    estabilizao de espumas. Em (a) mostrada uma espuma estabilizada com um

    surfactante aps 4 horas de repouso, enquanto em (b) a espuma contendo

    partculas coloidais se mostra bem mais estabilizada, mesmo por perodos bem

    mais longos (4 dias).[6]

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    A estabilidade das espumas, por esse novo mtodo, obtida pela

    adsoro irreversvel das partculas coloidais na interface gs-lquido, atuam

    impedindo a coalescncia entre bolhas vizinhas e tambm a desproporo,

    formando uma barreira difuso gasosa, e variao volumtrica das bolhas [6]

    Pelo mtodo gel-casting de espumas possvel obter poros na faixa de

    35 m a 1,2 mm e porosidades variando de 40% at 97% [6]. Os poros obtidos so

    esfricos e podem ser tanto fechados quanto abertos dependendo dos

    parmetros de processo. Poros abertos so obtidos quando as partculas do p

    cermico segregam na regio de plat gerando janelas nas paredes e

    interconectando os poros; j poros fechados so obtidos quando o p cermico se

    distribui uniformemente na superfcie da bolha. [6]

    O mtodo gel-casting de espumas normalmente gera filamentos

    densos e sem trincas no produto sinterizado, o que aumenta as propriedades

    mecnicas das cermicas em comparao s obtidas pelo mtodo da rplica.

    Para porosidades acima de 90% as paredes se tornam to finas que as

    propriedades ficam abaixo do previsto teoricamente para uma cermica porosa de

    clulas abertas. Para menores valores de porosidade, ocorre a melhoria nas

    propriedades mecnicas a ponto de ultrapassar o previsto para clulas

    fechadas.[6] Este tpico onde se relaciona porosidade com a propriedade

    mecnica ser discutido na seo 3.4.

    Como dito anteriormente o mtodo de produo via gel-casting

    convencional apresenta restries quanto sade do operador e ao meio

    ambiente, alm de restries operacionais (exigncia de atmosfera controlada).

    Diante disso, diferentes mtodos alternativos vm sendo desenvolvidos,

    utilizando-se agentes gelificantes atxicos, e que no necessitam de atmosfera

    controlada. Alm disso, busca-se empregar gelificantes de custo relativamente

    baixo. Exemplos de agentes gelificantes que cumprem os requisitos acima so o

    gar, a gelatina, o amido e a albumina. [31-44]

    3.3.3.1 Utilizao de albumina como geli ficante

    A albumina, como outras protenas, um composto molecular

    condensado de aminocidos. Devido sua estrutura globular, a albumina

    adsorvida na interface gs/gua, gerando stios hidrofbicos que reduzem a

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    tenso superficial dessa interface, estabilizando dessa forma a espuma formada.

    Quando aquecida entre 70 e 90 C, a albumina sofre um processo de

    desnaturao, saindo do seu estado ordenado sem romper as ligaes

    covalentes. As cadeias estendidas se ligam umas s outras por meio de pontes

    de hidrognio, formando assim uma estrutura entrelaada (gel), termicamente

    irreversvel.[30,32,40,41]

    Diversos estudos indicam a albumina como uma alternativa bastante

    promissora e interessante para ser utilizada como agente gelificante na produo

    de espumas cermicas pelo mtodo gel-casting. Alm de ser um agente

    gelificante, a albumina um eficiente espumante para as suspenses cermicas,

    tendo a vantagem, em relao a espumantes inicos, de poder ser acrescida

    suspenso sem interferir na estabilizao da mesma. Os mesmos estudos

    mostram que possvel, a partir da utilizao da albumina como gelificante para o

    processo de gel-casting de espuma, produzir cermicas com at 95% de

    porosidade. [31, 33,41]

    3.3.3.2 Utilizao de amido como gelificante

    O amido, por suas caractersticas especficas, pode ser utilizado naobteno de cermicas porosas, tanto como fase sacrificial quanto como agente

    gelificante no mtodo gel-casting. Pode ser extrado de diferentes vegetais (como

    o milho, a mandioca, o arroz, a batata, etc.), sendo que suas caractersticas e

    propriedades variam significativamente, dependendo da sua origem. Por exemplo,

    o tamanho mdio das partculas do amido pode variar entre 2 e 170 m (Tabela

    3.1), assim como sua forma (arredondada ou anisomtrico). Quando em contato

    com a gua e aquecido acima de determinada temperatura, que tambm variaconforme a sua origem, o amido tem as suas ligaes intermoleculares

    enfraquecidas, ocorrendo a absoro de gua de maneira irreversvel pelas

    partculas, com o conseqente inchamento das mesmas, que podem atingir at

    20% (de expanso). As partculas de amido so formadas por misturas de 2 tipos

    de polissacardeos, um linear (amilose) e um altamente ramificado (amilopectina),

    sendo a amilose a responsvel pela gelificao do amido em suspenses

    aquosas. As unidades de glicose, que compem as cadeias polimricas deixamexposta uma grande quantidade de grupos hidroxila, fazendo com que as

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    partculas de amido sejam fortemente hidroflicas. Na Figura 3.8 mostrada a

    estrutura do amido.[45-54].

    Figura 3.8: Estrutura molecular do amido. [46]

    Tabela 3.1: Diferentes tipos de amidos e suas caractersticas [53]:

    Amido Amilose

    (%)

    Amilopectina

    (%)

    Taxa de

    inchamento

    granular

    Incio de

    gelificao

    (C)

    Trmino de

    gelificao

    (C)

    Batata 20-21 79-80 Rpida 50-56 68

    Trigo 25-30 70-75 Lenta 58 64

    Mandioca 16-17 83-84 Rpida 49 65

    Milho 25-28 72-75 Lenta 62 72-80

    Arroz 17-30 70-83 Lenta 58-69 79-86

    Como dito anteriormente existem duas maneiras de se utilizar o amido

    para a produo de corpos cermicos porosos: como material de sacrifcio, ou

    seja, adicionado mistura cermica (em suspenso ou mistura slida) e aps a

    conformao do corpo cermico, este submetido a tratamento trmico para

    eliminao dos orgnicos, e a conseqente formao de poros nas posies que

    estes ocupavam. A outra maneira a sua utilizao como agente gelificante no

    processo gel-casting, aproveitando-se ainda da expanso volumtrica que

    experimenta quando aquecido em contato com a gua: a suspenso cermicacontendo amido vertida em molde (com ou sem agitao anterior para a

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    20

    formao de espuma) e aquecida adequadamente de maneira que o amido

    absorva gua e gelifique, enrijecendo a suspenso; seguem-se as etapas de

    desmoldagem, secagem, eliminao de orgnicos e sinterizao dos corpos

    produzidos. Na Figura 3.9 mostrada a microestrutura de uma cermica

    produzida por este mtodo. [45-54]

    Na Figura 3.10 se encontram resumidos os mtodos que discutidos

    neste tpico de produo de cermicas macroporosas.

    Figura 3.9: Exemplo de estrutura de alumina porosa obtida por gel-casting com

    amido de batata.[45]

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    21

    Figura 3.10: Exemplo de mtodos de produo de cermicas porosas.[6]

    3.4 Propriedades Mecnicas e sua relao com a porosidade

    um fato conhecido que a porosidade provoca uma diminuio nos

    valores das propriedades mecnicas dos materiais de um modo geral.

    Existem as mais diversas abordagens para o estudo das propriedades

    mecnicas de cermicas porosas, sendo que um dos principais critrios para a

    definio de um modelo a ser empregado a porosidade, pois cada modelo

    trabalha dentro de faixas especficas de porosidade.

    No caso das espumas cermicas, de porosidade acima de 70% em

    volume, as propriedades mecnicas dependem das caractersticas

    macroestruturais (densidade relativa, interconectividade e forma dos poros) e

    microestruturais relacionadas com o material que constitui as paredes dos poros

    (densidade, o mdulo elstico, resistncia mecnica e fluncia). Segundo ASHBY

    as espumas apresentam, quando submetidas compresso/trao, um

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    comportamento mecnico que pode ser dividido em 3estgios diferentes: linear

    elstico, plat e densificao.[55]

    Inicialmente ocorre a deformao elstica das paredes e filamentos dos

    poros da espuma. O mdulo elstico nessa regio pode ser calculado pela

    equao 3.4.1, que vlida apenas para os casos de poros interconectados:

    2

    0

    1

    =

    C

    E

    E

    p (3.4.1)

    E= mdulo elstico da espumaEp= mdulo elstico do material da parede da espuma

    = densidade da espuma

    0= densidade do material das paredes

    C1=constante de valor prximo a 1.

    Para o caso da espuma ser constitudo por poros fechados, o Mdulo

    Elstico se torna dependente da frao volumtrica de material () nas faces do

    poro, ou seja, da espessura das paredes que constituem o poro. Neste caso o

    Mdulo Elstico descrito pela equao 3.4.2:[55]

    ( )

    +

    =

    0

    2

    2

    0

    2

    1 1

    CC

    E

    E

    p

    (3.4.2)

    onde C1e C2 so constantes com valor de aproximadamente 1.

    O segundo estgio do comportamento de uma espuma cermica sob

    compresso, ou seja, a regio de plat da curva tenso versus deformao, inicia-

    se quando ocorre a fratura do material, o que leva a uma queda da tenso. Neste

    estgio observam-se sucessivos aumentos e quedas na tenso devido quebra

    gradual dos filamentos que constituem a espuma. O mdulo de ruptura sob

    compresso de espumas cermicas est associado com tenso que provoca afratura inicial do material, como mostrado na equao 3.4.3:[55]

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    23

    2

    3

    0

    3

    0

    =

    C (3.3.3)

    =mdulo de ruptura da espuma

    0=mdulo de ruptura do material das paredes

    /0=densidade relativa da espuma

    C3= constante com valor de 0,2

    Na figura 3.11 mostrado um desenho esquemtico da ruptura da

    clula por compresso.[55]

    Ainda para o estgio do plat, mas para cermicas com os poros

    fechados, deve-se ainda levar em conta a frao volumtrica () do material das

    paredes, o que reflete na adequao da equao anterior que se transforma na

    equao 3.4.4: [55]

    ++

    =

    0

    3

    2

    3

    0

    3

    0

    *)1(**

    CC

    (3.3.4)

    No terceiro estgio do processo de ruptura, a espuma comea a

    densificar gerando um aumento na tenso. [55]

    Outra abordagem proposta por Mackenzie relaciona o mdulo elstico

    das cermicas com a porosidade. Segundo o autor o mdulo elstico de um corpo

    isotrpico e homogneo (no importando se as clulas so abertas ou fechadas),

    varia com a porosidade de acordo com a equao 3.4.5:[56]

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    ( )20 9,09,11)( ppEpE += (3.4.5)

    E0 = Mdulo Elstico do material denso

    p= frao volumtrica dos poros

    Figura 3.11: Desenho mostrando a ruptura de uma clula aberta similar a dos

    poros abertos.[55]

    Em um estudo recentemente publicado por Pabst et al, so propostas

    equaes que se baseiam na relao entre o Mdulo Elstico relativo e o Mdulo

    Elstico Intrnseco (do material) E0; neste estudo as principais equaes j

    propostas, para modelar o comportamento mecnico de cermicas porosas foram

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    classificadas e exaustivamente analisadas confrontando-se as mesmas com

    resultados experimentais. [56]

    Neste estudo Pabst et al., apresentam a equao (3.4.6) como a que

    melhor se ajusta aos dados coletados experimentalmente. Esta equao inclui um

    fator de ajuste, denominado porosidade crtica (C), que leva em considerao o

    fenmeno da percolao, sendo sugerido pelos autores como sendo 0,684. [56]

    =

    c

    rE

    1*)1( (eq. 3.4.6)

    onde Er o Mdulo Elasticidade relativo e a porosidade total e C a

    porosidade crtica.

    3.5 Produo de cermicas porosas base de nitreto de silcio

    Uma das principais limitaes para a utilizao mais ampla das

    cermicas porosas a sua baixa resistncia mecnica, j que h uma relao

    inversa entre porosidade e resistncia mecnica. Para se contornar esseobstculo, vm sendo desenvolvidas novas cermicas porosas de alto

    desempenho, base de nitreto de silcio e seus compsitos, que podem

    apresentar melhor desempenho mecnico em relao s cermicas atualmente

    em uso (cordierita, mulita, alumina, carbeto de silcio).[52,64-67]

    O nitreto de silcio possui duas diferentes fases cristalinas estveis,

    ambas com similares estruturas cristalinas hexagonais: o -Si3N4 com simetria

    trigonal e o - Si3N4 com simetria hexagonal. O nitreto de silcio por ser uma

    cermica covalente, apresenta baixo coeficiente de difuso, e com isso apresenta

    dificuldade de densificar via estado slido. Normalmente so introduzidos aditivos

    de sinterizao (xidos como Al2O3, Y2O3, MgO etc.) que reagem com a camada

    de slica na superfcie do nitreto, formando de uma fase lquida. Esta fase lquida

    dissolve continuamente as partculas de -Si3N4, e com a supersaturao da

    mesma, ocorre a precipitao de gros -Si3N4. Com o resfriamento, surge uma

    microestrutura composta basicamente de gros de Si3N4(-Si3N4podendo ocorrer

    -Si3N4 residual) e uma fase intergranular amorfa (podendo ocorrer a cristalizao

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    parcial desta). Os gros de -Si3N4crescem anisotropicamente na presena de

    fase lquida, na forma de prismas hexagonais, formando gros alongados, de alta

    razo de aspecto, ocorrendo ento o fenmeno do reforo in-situ da

    microestrutura do nitreto de silcio. Na Figura 3.12 apresenta-se de modo

    esquemtico a evoluo microestrutural do Si3N4durante a sinterizao.

    P de part idaTransformao

    Si3N 4Denso

    fase lquidaaditivo

    fase vtrea

    Figura 3.12: Esquema de transformao de fases .do nitreto de silcio [71].

    O nitreto de silcio possui um conjunto mpar de propriedades

    (mecnicas, trmicas e qumicas) e, alm disso, possui como uma de suas

    principais caractersticas, o fenmeno do reforo in-situ, que se d pelo

    crescimento anisotrpico dos gros durante a sinterizao, tornando-os

    alongados e promovendo uma microestrutura reforada pelo entrelaamento dos

    mesmos. Estes gros alongados, alm de interferir positivamente na resistnciamecnica do material, promovem o surgimento de mecanismos tenacificadores,

    podendo-se atingir valores de tenacidade fratura to altos como 10 MPa.m1/2,

    quando para a maioria das cermicas esse valor no ultrapassa 4 MPa.m1/2. Este

    fenmeno mostrado nas Figuras 3.13 e 3.14. [52,64-67]

    Esta particularidade microestrutural do nitreto de silcio, que j vem

    sendo bastante explorada para a obteno de peas densas de alto desempenho

    mecnico, pode tambm ser altamente benfica para o desenvolvimento de

    cermicas porosas com superior resistncia mecnica, fazendo com que

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    27

    diferentes grupos de pesquisadores se dediquem explorao deste tema. [52,64-

    67]

    Figura 3.13: Esquema indicando os principais mecanismos de tenacificao que

    podem ocorrer em cermicas estruturais.[71]

    Figura 3.14: Micrografia demonstrando o mecanismo de tenacificao em ao.[71]

    Dentre os estudos para a obteno de cermicas porosas base de

    nitreto de silcio destaca-se o trabalho de Hampshire et al. [52] que utilizaram

    amido de milho como fase sacrificial para a produo deste material. Neste a

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    influncia do teor de amido na porosidade e conseqentemente foi analisado.

    Para uma porosidade de 20% o valor de mdulo de ruptura varia de 150 a 300

    MPa.

    Outro grupo que vem sistematicamente estudando a produo e

    caracterizao de cermicas porosas base de Si3N4 o grupo coordenado por

    Tatsuki Ohji. Dentre os estudos deste grupo, destaca-se a fabricao de corpos

    de nitreto de silcio porosos pela tcnica de tape-casting que promove, com a

    sinterizao, um expressivo alinhamento dos gros de Si3N4, formando uma

    microestrutura altamente anisotrpica; os autores do estudo demonstram que

    possvel atingir elevados valores de propriedades mecnicas (resistncia fratura

    de 1080 MPa) na direo perpendicular aos gros alinhados. [65]Em outro estudo,

    partindo de um p de nitreto de silcio de baixa pureza obtiveram corpos com

    porosidade variando de 43,8% a 47%, mdulo de elasticidade de 62 GPa 75

    GPa e resistncia mecnica de 110 MPa a 170 MPa. [66]. Em um outro trabalho,

    utilizando fibras de resina de fenol-formaldedo como fase sacrificial, produziram

    corpos de Si3N4com 42% de porosidade, sendo os poros na forma de canais de

    10 m de dimetro. [67].Partindo de suspenses aquosas de Si3N4e utilizando a

    tcnica de conformao e secagem por freeze-drying, estes mesmos autores

    obtiveram corpos com porosidade variando entre 49 e 69%, com os poros na

    forma de canais alinhados. [68]

    Este mesmo grupo ainda explorou a possibilidade de se obter corpos

    porosos de Si3N4 aliando sinterizao parcial e prensagem a quente, obtendo

    valores expressivos de resistncia mecnica (780 MPa).[69]

    Por fim, em uma publicao recente, os grupos de Ohji e Hampshire

    estudaram em conjunto a influncia de diferentes mtodos de processamento nas

    propriedades dos corpos de Si3N4porosos obtidos. Concluram que para o caso

    da utilizao do amido como fase sacrificial, o tamanho deste no deve influenciar

    no mdulo de ruptura do material. Concluram ainda que amostras produzidas por

    sinterizao parcial seguida por prensagem a quente, e com porosidade de at

    25%, so as que apresentam, at o momento maiores valores de resistncia

    mecnica, se comparadas s obtidas por outras tcnicas reportadas. [70]

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    Diversos estudos indicam que a estabilizao da suspenso um

    importante fator que interfere nas propriedades mecnicas dos corpos de Si3N4

    porosos, quando estes so obtidos a partir suspenses aquosas de nitreto de

    silcio.[55-62] Uma eficiente maneira de estabilizar o nitreto de silcio em meio

    aquoso atravs do uso do poliacrilato de amnia (NH4PA) como defloculante; no

    entanto este defloculante efetivo para a estabilizao de xidos, de modo que

    duas alternativas so propostas na literatura: o recobrimento da superfcie das

    partculas de nitreto com hidrxido de alumnio, ou a calcinao do p de nitreto

    para que ocorra oxidao superficial das partculas, formando uma camada de

    SiO2. A calcinao a 600C, aumenta a carga positiva na superfcie dos aditivos

    de sinterizao (Al2O3e Y2O3) e a quantidade de grupos silanis em detrimentodos grupos aminas, mudando o ponto isoeltrico para regio cida e favorecendo

    a estabilizao as valores de pH prximos a 8. As suspenses obtidas com nitreto

    calcinado com concentraes relativamente altas de slidos (60% em volume)

    possuem comportamento pseudo-plstico, com baixa viscosidade.[57-64]

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    4. Materiais e Mtodos

    Para todo o estudo fixou-se uma composio padro consistindo de

    92% de -Si3N4, 6% de Y2O3e 2% de Al2O3(percentuais em peso). A mistura dos

    componentes foi moda em moinho de alta energia, tipo Atritor, por 4 horas a 300

    rpm, utilizando-se esferas e recipiente de Si3N4, e lcool isoproplico como meio

    lquido. Aps a moagem, a suspenso foi seca em rotoevaporador e

    desaglomerada. Abaixo so apresentadas as caractersticas fsicas e qumicas

    das matrias-primas utilizadas. [71,72]:

    Nitreto de slicio:

    M11 H.C. Starck

    D50= 0,66 m

    rea especfica= 14,5 m2/g

    -Si3N4= acima de 93%

    Tabela 4.1: Anlise qumica do Si3N4M11-H. C. Starck[71]

    Elemento Concentrao

    N 38,99%

    C 0,17%

    O 1,68%

    Fe 13 ppm

    Al 380 ppm

    Ca 35 ppm

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    Alumina (Al2O3):

    A-16 - Alcoa

    D50= 0,32 m

    99,7% de pureza

    xido de trio (Y2O3):

    Aldrich Chemical Company, Inc:

    D50= 0,60 m

    99,9% de pureza

    Foram realizados estudos com o intuito de avaliar o efeito do

    tratamento trmico a 600C/ 1h (oxidao das partculas de Si3N4) nas

    caractersticas reolgicas de suspenses aquosas de nitreto de silcio. Aps estes

    estudos definiu-se por utilizar este tratamento prvio para todas as conformaes

    a partir de suspenses aquosas, j que dessa forma estas se mostraram mais

    fceis de serem, estabilizadas.

    4.1 Gel-casting uti lizando-se amido como gelificante

    Para este estudo foram usados amidos de 3 diferentes procedncias,

    amido de batata, de milho e de arroz. Foram preparadas suspenses aquosas

    contendo 50 e 55% em peso de slido, sendo adicionado s mesmas 10,3, 16,4 e

    23,4% em peso de amido (com relao massa de Si3N4) que corresponde a 20,

    30 e 40% em volume. As composies estudadas so apresentadas na Tabela

    4.2. A mistura foi feita em moinho atritor por 30 minutos sob uma rotao baixa

    (150 rpm) de modo a minimizar possvel cominuio das partculas j modas

    anteriormente. As suspenses contendo amido foram vertidas em moldes

    cilndricos e aquecidas em banho termosttico em temperaturas tpicas de

    gelificao para cada amido especfico: a 65 C para a suspenso contendo

    amido de batata, 75 C para a suspenso contendo amido de milho e 82,5 C para

    a suspenso contendo amido de arroz. Todos os corpos foram mantidos na

    temperatura de gelificao por 2horas. Aps isso os corpos foram desmoldados,

    secos, e tratados termicamente, por meio de um processo lento de secagem (24 h

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    ao ar a temperatura ambiente, seguido de 24 h a 60 C em estufa e por fim 24 h a

    120 C). Aps a secagem ocorreu a fase de eliminao dos orgnicos por

    tratamento trmico, aquecendo-se lentamente os corpos de prova a uma taxa de

    1 C/min, com patamares de 60 minutos a 200, 300 e 400 C, seguido de

    resfriamento. Por fim os corpos de prova foram sinterizados em forno com

    elemento resistivo de grafite (Astro furnace), a 1800 C por 60 minutos, sob

    atmosfera de 0,2 MPa de N2, com taxa de aquecimento de 15 C/min., e

    resfriamento com o desligamento do forno. Na Figura 4.1 mostrado um

    fluxograma esquemtico do processo.

    Tabela 4.2: Composies estudadas para produo de amostras via gel-casting

    com amido.

    Amostra Amido Total de slidos

    (%)

    Amido (%vol)

    5520A Arroz 55 20

    5530A Arroz 55 30

    5020A Arroz 50 20

    5030A Arroz 50 30

    5040A Arroz 50 40

    5520B Batata 55 20

    5530B Batata 55 30

    5020B Batata 50 20

    5030B Batata 50 30

    5040B Batata 50 40

    5520M Milho 55 20

    5530M Milho 55 30

    5020M Milho 50 20

    5030M Milho 50 30

    5040M Milho 50 40

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    Figura 4.1: Processamento das amostras por gel-casting com amido.

    4.2 Obteno de corpos porosos pelo mtodo da fase sacrif icial

    utilizando-se diferentes amidos

    Para este estudo foram utilizados os mesmos amidos citados

    anteriormente, que foram adicionados suspenso aquosa de Si3N4 em

    propores tais que ao final correspondesse a 20, 30 e 40% em volume da

    mistura seca. As composies estudadas so apresentadas na Tabela 4.3. A

    adio dos amidos se deu em moinho tipo atritor por 30 minutos a 150 RPM. As

    suspenses foram secas em estufa a 70C por 48 horas, sendo os ps obtidos,

    desaglomerados em almofariz de alumina e homogeneizados em misturadorTrbula por 90 minutos. Os ps foram ento prensados uniaxialmente em

    CP

    Mistura com 20, 30 e 40% vol amido(*) e gua destilada

    Atritor 150 rpm/30

    Gelificao por 2h em banho isotrmico

    (*) amido de

    Milho, amido deArroz e amido de

    Batata

    Conformao

    Desmoldagem/secagem

    Retirada da fase Orgnica

    Sinterizao (1800 C/1h)

    CaracterizaoMecnica

    Caracterizao Fsica CaracterizaoMicroestrutural

    82,5 C (amido de arroz)

    75 C (amido de milho)

    65 C (amido de batata)

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    pastilhas 14mm, sob presso de 32 MPa, sendo estas sinterizadas sob 5

    diferentes condies (1600 C, 1800 C e 1850 C por 1 hora, 1700 C por 30

    minutos e 3 horas), em atmosfera de nitrognio. Na Figura 4.2 mostrado um

    fluxograma esquemtico do processo de produo via fase sacrificial.

    Figura 4.2: Processamento das amostras por fase sacrificial com amido.

    Caracteriza o Fsica CaracterizaoMicroestrutural

    CaracterizaoMecnica

    Sinterizao (1850C/ 1800C/ 1600C por 1 hora e1700C or 0,5 e 3 horas

    CP

    Mistura com 20, 30 e 40% vol amido(*) e gua

    (*) amido de

    Milho, amido deArroz e amido

    de Batata

    Atritor 150 rpm/30

    Seca em a 70C or 48

    Desaglomerao/homogeneizao em misturador tipo trbula por 90

    Prensagem uniaxial

    Retirada da fase Or nica

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    Tabela 4.3: Composies estudadas.

    Amostra Amido Amido (%vol)

    A20 Arroz 20

    A30 Arroz 30

    A40 Arroz 40

    B20 Batata 20

    B30 Batata 30

    B40 Batata 40

    M20 Milho 20

    M30 Milho 30

    M40 Milho 40

    4.3 Gel-casting de espumas utilizando-se albumina, a gelatina ougar como gelificante

    Foram realizados estudos preliminares para avaliao de outros

    agentes de gelificao como a gelatina, gar ou albumina. Para o caso da

    utilizao da albumina, as suspenses contendo 3% em peso do agentegelificante (em relao ao peso do Si3N4) foram preparadas a temperatura

    ambiente, passando por um processo de aerao por diferentes mtodos (mistura

    em batedeira domstica, com o auxlio de agitador sob diferentes rotaes e

    diferentes tipos de hastes, etc.), e com a adio de diferentes agentes

    espumantes. Aps a etapa de aerao, as suspenses foram vertidas em

    diferentes moldes e aquecidas a temperaturas acima de 90 C, para que

    ocorresse o processo de gelificao. Esta etapa de gelificao bastante crtica,pois se deve evitar que ocorra simultaneamente a secagem no uniforme dos

    corpos. Neste sentido foram testados diferentes mtodos de aquecimento,

    inclusive com a utilizao de autoclave. Os corpos obtidos passaram ento por

    processo de secagem lenta, eliminao dos orgnicos e sinterizao de maneira

    similar ao descrito para o amido.

    Com relao utilizao de gelatina ou gar como agentes

    gelificantes, as suspenses foram preparadas em temperaturas adequadas para adissoluo destes (acima de 60 C para a gelatina e acima de 80 C para o agar),

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    passando por processos de aerao similar ao descrito anteriormente, sendo

    vertidas ento nos moldes e resfriadas para a gelificao. Posteriormente

    passaram pelas etapas de secagem lenta, eliminao de orgnicos e sinterizao

    como descrito anteriormente. Um exemplo de fluxograma do processo (no

    exemplo para albumina) mostrado na Figura 4.3.

    Os estudos com estes gelificantes no prosseguiram como aqueles

    referentes ao uso do amido, pois no se conseguiu, at ento, um controle rgido

    do processo que permitisse a reprodutibilidade dos resultados, particularmente no

    que se refere etapa de aerao e estabilizao da espuma formada. Estes

    estudos sero retomados oportunamente, j que este mtodo de obteno de

    cermicas porosas por gel-casting se mostra bastante verstil, permitindo a

    obteno de uma ampla variedade de estruturas de poros.

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    Figura 4.3: Processamento das amostras por gel-casting de espumas comalbumina.

    4.4 Caracterizao das amostras obtidas

    As suspenses foram caracterizadas utilizando-se um remetro

    Brookfield LVD-III com a velocidade variando de 0 a 60 rpm.

    A distribuio do tamanho de partculas do amido for analisada

    utilizando-se o mtodo de espalhamento de laser com o equipamento (CILAS

    1064).

    CP

    Suspenso de CP+ gelificante e/ou LSS/glicerina

    Aerao mecnica

    Conformao

    Gelificao em estufa a 90C

    Desmoldagem/Secagem

    Caracterizao Fsica CaracterizaoMicroestrutural

    Sinterizao (1815C/1h)

    Retirada da fase Orgnica

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    Todas as amostras produzidas pelos mtodos que utilizaram o amido,

    descritos anteriormente, foram caracterizadas quanto densidade e porosidade

    aparentes (mtodo de Archimedes):

    imersamida

    a

    aparenteMassaMassa

    MassaDensidade

    = sec

    imersamida

    amida

    aparenteMassaMassa

    MassaMassaPorosidade

    = sec

    A porosimetria de mercrio foi feita com o uso do porosmetro Autopore

    III.

    A resistncia mecnica foi obtida por meio de ensaio de compresso,

    utilizando-se uma mquina de ensaio universal Instron 4400R com clula de

    carga de 10 toneladas e o avano de 0,5 mm por minuto, sendo ensaiadas, em

    mdia 5 amostras de cada condio. As amostras cilndricas possuam

    aproximadamente altura de 10 mm e dimetro de 12mm, sendo que tiveram suas

    faces retificadas com rebolo diamantado (45 m) antes de serem ensaiadas.

    As amostras para a anlise microestrutural foram embutidas com

    resina, sob vcuo, para que esta se infiltrasse nos poros, tornado assim possvelo tratamento ceramogrfico. As amostras foram desbastadas e posteriormente

    polidas em uma politriz MOTOPOL 2000 com suspenses de diamante de 30m,

    15m, 6m e 1m. As amostras foram recobertas com ouro e depois analisadas

    no MEV. Por meio das imagens obtidas buscou-se verificar a existncia de

    diferentes nveis de porosidade e tamanho de poro.

    As amostras sinterizadas foram analisadas por difrao de raios-X

    utilizando uma varredura de 2 de 10 a 60 e velocidade contnua de 2graus/minuto. O percentual relativo das fases -Si3N4 e -Si3N4, em relao

    quantidade total de fases -Si3N4+ -Si3N4, foi calculado utilizando as equaes a

    seguir, propostas por Yeheskel e Gefen[73], que relacionam as intensidades de

    difrao de picos especficos.

    O percentual relativo de -Si3N4 dado por:

    100)210()200()201()210(

    )201()210(

    )(

    xIIII

    II

    C

    +++

    +=

    +

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    e consequentemente, o percentual de -Si3N4,

    100)1()()(

    XCC

    ++

    =

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    40

    5. Resultados e Discusso

    5.1 Produo de amost ras pelo mtodo gel-casting

    Na figura 5.1 so apresentadas curvas de viscosidade com relao

    velocidade de rotao onde so comparados os comportamentos de suspenses

    aquosas produzidas com ps de Si3N4 oxidados superficialmente e no oxidados.

    Constata-se que os ps oxidados contribuem para uma significativa reduo da

    viscosidade da suspenso; isso ocorre porque o comportamento das partculas de

    nitreto de silcio se torna similar ao do xido de silcio, j que esto envoltas por

    uma camada superficial de SiO2formada durante o tratamento trmico a 600 C.

    Como conseqncia desta reduo na viscosidade, possvel, com os ps

    oxidados, produzir cermicas porosas pelo mtodo gel-casting de espumas a

    partir de suspenses com uma maior faixa de teor de slido, comparado com as

    suspenses processadas com ps no oxidados. Com os ps oxidados pode-se

    processar suspenses aquosas com elevados teores de slido (acima de 75%),

    enquanto para o caso da utilizao de ps no oxidados, suspenses contendo

    acima de 50% de slidos apresentaram viscosidade to alta que inviabilizou a

    produo de cermicas porosas por gel-casting de espuma.

    Na Figura 5.2 so apresentadas curvas de viscosidade versus

    velocidade de rotao para suspenses produzidas com os dois tipos de ps,

    contendo diferentes teores de slido. O teor de slido um fator extremamente

    importante, pois afeta significativamente a etapa de secagem dos corpos obtidos

    aps a gelificao.

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    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    40

    45

    v

    iscosidade(MPa.s

    )

    Velocidade (rpm)

    46% - no oxidado48% - no oxidado46% - oxidado48% - oxidado

    Figura 5.1: Efeito do tratamento de oxidao superficial do p nas caractersticas

    reolgicas de suspenses aquosas de Si3N4.

    No incio do trabalho foram testados diversos parmetros do processo

    de gel-casting, que geraram resultados interessantes, mas que devido falta de

    reprodutibilidade do processo, foram interrompidos para serem retomados

    posteriormente. Na Tabela 5.1 e Figuras 5.3 a 5.4 so apresentados alguns

    destes resultados, quando foram testados diferentes tipos de haste (mostradas na

    Figura 5.5) para a aerao da suspenso, assim como da presena de compostos

    que atuam como surfactantes e/ou espumantes (por exemplo, a mistura comercial

    lauril sulfato de sdio-LSS /glicerina)

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    10

    20

    30

    40

    50

    60

    Viscosidade(MPa.s

    )

    Velocidade (rpm)

    75% sol70% sol65% sol60% sol50% sol48% sol

    (a) a partir de ps oxidados

    0 10 20 30 40 50 600

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    Viscosidade(mPa.s)

    Velocidade (rpm)

    50% sol

    48% sol46% sol44% sol

    (b) a partir de ps no oxidados

    Figura 5.2: Efeito da oxidao superficial das partculas de Si3N4na viscosidade

    de suspenses aquosas contendo diferentes teores de slido.

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    43

    Tabela 5.1: Efeito do tipo de haste e do agente espumante nas caractersticas das

    cermicas porosas obtidas por gel-casting com albumina.

    Amostra haste LSS/glicerina Densidaderelativa (%)

    Porosidadeaparente (%)

    Porosidade (%)porosmetro Hg

    1 planetria Sim 44,0 6,0 44,09,0 49,5

    2 4 ps Sim 51,0 2,0 37,02,0 46,5

    3 planetria No 38,0 9,0 49,06,0 53,5

    4 4 ps No 50,0 4,0 39,04,0 40,2

    (a) (b)

    Figura 5.3: Estruturas porosas obtidas a partir de suspenses contendo

    LSS/glicerina, por aerao mecnica com diferentes hastes: (a) haste planetria

    (amostra 1), (b) haste 4 ps (amostra 2).

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    (a) (b)

    Figura 5.4: Estruturas porosas obtidas a partir de suspenses contendo albumina,por aerao mecnica com diferentes hastes: (a) haste planetria (amostra 3), (b)

    haste 4 ps (amostra 4).

    Figura 5.5: Hastes utilizadas para os teste, 4 ps (a) e planetria (b).

    Algumas amostras tambm foram analisadas por meio de porosimetria

    de mercrio, sendo apresentado na Figura 5.6, alguns destes resultados. Pelos

    resultados obtidos com a porosimetria de Hg observa-se uma distribuio bimodal

    de tamanho de poros para as amostras 1, 2 e 3, sendo que a amostra 4

    apresentou maior tamanho de poros e uma distribuio de tamanhos mais

    estreita, sem a presena de poros submicromtricos. Apesar disso no se pode

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    tirar concluses definitivas quanto a isto devido pouca reprodutibilidade do

    processo, j citada anteriormente.

    Uma das etapas crticas do processo de gel-casting utilizando-se

    albumina a de gelificao, pois com o aquecimento em estufa em temperaturas

    acima de 60 C (foram testadas diferentes temperaturas) ocorre a perda de

    gua na superfcie dos corpos de prova, provocando a formao de defeitos como

    trincas e deformao do corpo. Foram testadas diferentes alternativas para este

    tratamento de gelificao, como aquecimento em banho isotrmico, em panela de

    presso domstica e em autoclave. Apesar de o tratamento de gelificao em

    autoclave ter se mostrado promissor (utilizando-se ciclos de autoclavagem de

    lquidos), estas tcnicas devero ser mais bem exploradas posteriormente.

    100 10 1 0,1 0,01 1E-3

    0,00

    0,01

    0,02

    0,03

    0,04

    0,05

    0,06

    0,07

    0,08

    In

    crementono

    Volume(mL/g)

    Dimetro de poro (m)

    Amostra 1 (Planetria + Lss/glicerina)

    100 10 1 0,1 0,01 1E-3

    0,00

    0,01

    0,02

    0,03

    0,04

    0,05

    0,06

    0,07

    0,08

    In

    crementodovolume(mL/g)

    Dimetro de poro (m)