desconto salarial x riscos do negÓcio

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http://www.trabalhismoemdebate.com.br/2010/08/o-desconto-salarial-x-riscos-do-negocio/ 1 - O DESCONTO SALARIAL X RISCOS DO NEGCIO Alguns empregadores buscando melhores resultados tm adotado a prtica de forar as vendas, repassando aos seus empregados parte do risco do negcio, descontando parte da comisso. No estamos tratando aqui da perda do direito de receber a comisso por uma venda no liquidada, mas sim de situaes que o empregado arca com o pagamento do produto [sofre desconto salarial], em favor do seu empregador. Temos presenciado vrias notcias de empresas que repassam uma cota de produtos que devem ser vendidos at determinada data, caso negativo, ou o empregado compra ele mesmo os produtos ou ter a sua demisso sem justa causa exercida, pela falta de atingimento de metas. Os casos mais comuns so das redes de lanches rpidos [pizza, hamburgers, etc...] que prometem entrega imediata e dos alimentos ainda quentes, sob o compromisso de ser o consumidor dispensado do pagamento, caso tal promessa no seja atendida. O detalhe que quem vem pagando a conta, nesses casos de insucesso, tem sido o empregado [ o entregador ], que perde o direito a comisso e ainda paga o preo de custo do lanche no entregue no prazo. Isso alm de ser proibido por Lei, pode ser alvo de altssima indenizao por danos morais em favor do trabalhador, pois evidente o abuso do poderio econmico e social de quem emprega. A prtica mais pitoresca que tive notcia, foi de um Posto de Gasolina que o gerente obrigava os frentistas a venderem no mnimo 03 produtos das gondlas [ bucha de limpeza, ceras de polir, lustra cromados, etc..] e no final do expediente se o frentista no conseguisse tal intento, ele prprio deveria comprar a mercadoria !?! sob as mais variadas penas, advertncia escrita, suspenso e at casos de demisso. As queixas dos frentistas eram frequentes, suplicavam aos clientes do Posto que comprasse algo, pois caso contrrio ficariam com o encargo da compra. Um deles se queixava relatando que no aguentava mais ter que levar para casa, quase todos os dias, buchas de polir [ esse era o produto mais barato ], que a sua esposa j fazia a limpeza da casa usando esses produtos, ou seja, uma trgica comdia. Em suma, no pode o empregado arcar com os riscos do negcio, tal procedimento ilegal, e pode sair muito caro em face o risco iminente de uma condenao no pagamento de indenizao por danos morais. 1.1 - TST VETA DESCONTO DA COMISSO DE VENDEDOR Relator do recurso, o ministro Horcio Senna Pires afirma que os riscos pelo negcio devem ser suportados pelo empregador Um vendedor no pode ter descontado de sua comisso o valor de cheque sem fundo emitido por cliente, devendo o prejuzo ser arcado pelo empregador. O entendimento da 6 Turma do TST (Tribunal Superior do Trabalho) e foi firmado no julgamento do recurso movido pela Editora Grfica Industrial de Minas Gerais contra deciso do TRT (Tribunal Regional do Trabalho) da 3 Regio. Segundo o ministro Horcio Senna Pires, relator do recurso, os riscos pelo negcio devem ser suportados pelo empregador. Para o TRT mineiro, o direito comisso comea a surgir no momento em que o empregado estabelece o contato com o fregus. nesse sentido a interpretao dada expresso ultimada a transao, citada no artigo 466 da CLT (Consolidao das Leis do Trabalho). O ministro Horcio Senna Pires manteve o entendimento. De acordo com o relator, a lei s possibilita o estorno da comisso quando o comprador se v impossibilitado de pagar o que deve, encerrando a negociao, no no caso de no-pagamento. nula a clusula contratual prevendo o estorno ou no-pagamento de comisso quando no efetivado o pagamento da compra pelo devedor, destaca. Para o advogado Leonardo Tadeu, coordenador da rea de direito do trabalho do projeto Jurisway, sempre foi costume, no mundo dos negcios, o fato de empregadores tentarem, sempre que possvel, repassar os prejuzos da atividade econmica para seus empregados. Segundo ele, na maioria dos casos este procedimento encontra-se expressamente previsto em contratos de trabalho de frentistas de postos de gasolina e, tambm, para os trabalhadores comissionistas. Desta forma, mesmo admitindo-se a hiptese do vendedor, que aps fechado o negcio, j tenha recebido a comisso, o desconto em seu salrio ser procedimento normal, em se

verificando algum problema com a venda realizada, ensina Leonardo. No entando, destaca, no obstante ser costume a realizao de tais procedimentos no comrcio, no mundo jurdico, esta conduta encontra grandes restries. Leonardo explica que em se tratando de direito, as hipteses de descontos diretamente no salrio do empregado so reduzidssimas e somente so admitidas quando a conduta do trabalhador tenha contribudo para aquele prejuzo, como por exemplo, no caso de um trabalhador frentista receber um cheque em um posto de gasolina, e no verificar se esse cliente tem alguma restrio de crdito, contrariando assim o procedimento da empresa. Desta forma, ressalvadas hipteses em que a culpa do trabalhador notria, nosso ordenamento jurdico tem vedado a possibilidade do desconto direto no salrio do empregado, enfatiza o coordenador do JurisWay. Ele destaca que tal diretriz encontra-se expressamente calcada no artigo 2 da CLT que estabelece que o empregador, alm de dirigir seu negcio, admitindo empregados, pagando salrios e tomando decises, tem o nus de suportar os riscos da atividade econmica. Para Leonardo, esta deciso teve como fundamento legal o fato de ser nus exclusivo do empregador suportar os riscos da atividade econmica, sendo nula qualquer clusula contratual que preveja o estorno da comisso quando no efetivado o pagamento da compra realizada. No demais lembrar que esta deciso representa um sensvel avano da jurisprudncia no mbito do Tribunal Superior do Trabalho em favor dos trabalhadores, o que poder resultar no surgimento de milhares de novas aes trabalhistas, nas quais os empregados iro reivindicar o estorno de valores cobrados indevidamente de seus salrios, comemora. ANLISEO entendimento esposado neste julgamento corrobora com tendncia que tem sido verificada na jurisprudncia trabalhista de alguns anos para c. De fato, todos os riscos do negcio pertencem ao seu proprietrio, incluindo a possibilidade de inadimplncia pelo seu cliente. Quem faz a anlise o advogado piracicabano Marcelo Rosenthal, da Rosenthal Advogados Associados, para quem o lucro, mesmo que exorbitante, pertence exclusivamente ao proprietrio do negcio. Para ele, o resultado do trabalhador comissionado deve ser considerado encerrado a partir do momento que a venda se concretiza e, neste caso, a concretizao se d com a tradio da mercadoria pelo cheque, que representa a ordem de pagamento. Em outras palavras, o vendedor levou a cabo seu mister, com a concretizao da venda, e, assim sendo, faz jus comisso contratada, explica Rosenthal. O advogado destaca que o negcio jurdico que representa a compra e a venda no se desfaz caso o cheque emitido pelo cliente da empresa no seja compensado. Para que esse negcio seja cancelado, necessrio que a empresa ajuze ao, visando anulao do ato jurdico. Segundo Rosenthal, mesmo que o negcio seja judicialmente rescindido, a jurisprudncia no admite posterior desconto do vendedor que recebeu a comisso. Diferente seria, pondera, se o vendedor comissionado tivesse conseguido apenas a adeso de um cliente a uma proposta de venda, porque, nesse caso, o cliente da empresa pode desistir da proposta, mesmo que tenha emitido cheque a ttulo de cauo e, caso isso acontea, a comisso no ser devida, diante da no concretizao do negcio. Para o advogado, este entendimento dos Tribunais do Trabalho est escorado no artigo 466 da CLT, o qual diz que o pagamento de comisses e percentagens s exigvel depois de ultimada a transo a que se referem. Para os julgadores, explica, a ultimao se d com a tradio do cheque pela mercadoria. Rosenthal lembra o artigo 462 da CLT, que diz que em caso de dano causado pelo empregado, o desconto ser lcito, desde que esta possibilidade tenha sido acordada ou na ocorrncia de dolo do empregado. Deste modo, o julgamento deste caso poderia ter sido outro, permitindo o desconto da comisso da remunerao do trabalhador, caso este ltimo tivesse concordado com o desconto especfico, a ttulo de dano, ensina. DESCONTO SALARIAL RESTITUIO Se o desconto no foi autorizado pelo empregado, a quantia correspondente deve ser restituda. (TRT 5 R. RO 02666.2001.011.05.00.8 (129/03) 4 T. Rel Juza Graa Boness J. 14.01.2003) SALRIO (EM GERAL) DESCONTO SALARIAL DESCONTOS SALARIAIS Ilicitude. Taxativamente, o artigo 2 da Consolidao das Leis do Trabalho atribui ao empregador o risco da atividade econmica. No pode, assim, transferi-lo para o empregado, valendo-se de artifcios como a disciplinao em regulamento interno de descontos por diferenas de

caixa. (TRT 2 R. RO 20000411234 (20020080276) 8 T. Rel. Juiz Jose Carlos da Silva Arouca DOESP 12.03.2002) DESCONTO SALARIAL AUSNCIA DE JUSTIFICATIVA PARA A EFETIVAO DO DBITO RESTITUIO DEVIDA Como medida protetiva remunerao obreira, a possibilidade de descontos salariais restrita s hipteses elencadas no art. 462, caput da CLT, cabendo ao empregador comprovar a legalidade dos dbitos salariais que efetiva, quando estes so questionados pelo empregado. No logrando xito a reclamada em justificar os descontos, a devoluo do respectivo montante medida que se impe. (TRT 3 R. RO 9.576/00 5 T. Rel Juza Rosemary de Oliveira Pires DJMG 21.04.2001 p. 32) DESCONTO SALARIAL PROVA DESCONTO SALARIAL NEGADO PELO EMPREGADOR INVERSO DO NUS PROBATRIO PRINCPIO DA APTIDO PARA A PROVA A lei determina que o salrio seja pago mediante recibo. O empregador tem, pois, pleno acesso a esse meio de prova, sendo a parte em melhores condies de apresent-lo. Se nega ter efetuado qualquer desconto no pagamento do salrio, seu o encargo de comprovar o alegado. Nesse caso, inverte-se o nus probatrio, por aplicao do princpio da aptido para a prova. No apresentado o recibo, de forma a comprovar a negativa, o juiz julgar em favor do empregado, a quem a prova favoreceria. (TRT 3 R. RO 7083/02 5 T. Rel. Juiz Eduardo Augusto Lobato DJMG 14.08.2002 p. 14) 2 - A INTANGIBILIDADE SALARIAL E A VEDAO DE TRANSFERNCIA DOS RISCOS DO NEGCIO AO EMPREGADO Existe, atualmente, na legislao trabalhista, um universo de protees e garantias ao salrio do trabalhador, criado em virtude do reconhecimento do salrio como a principal fonte para o atendimento de todas as necessidades essenciais do empregado, provendo o seu sustento e de sua famlia. No entanto, a realidade nas relaes de trabalho no Brasil, a despeito de todas as garantias legais de proteo ao salrio, aponta para a submisso dos empregados aos mais diversos regimes de prticas empresariais ilegais, que objetivam a transferncia dos riscos do negcio aos obreiros. O trabalhador, por ser a parte economicamente mais fraca da relao de emprego, por vezes acaba suportando a leso ao seu patrimnio, sem se insurgir contra as diversas formas de descontos abusivos em seu salrio, decorrentes da transferncia de prejuzos inerentes prpria atividade econmica da empresa ao empregado. Tais prticas, no entanto, so completamente vedadas pelo ordenamento jurdico, que, como j mencionado, confere ao salrio um articulado sistema de protees e garantias. Do prprio conceito de empregador trazido pela legislao trabalhista, verifica-se que se faz necessrio que o empregador assuma os riscos de sua atividade econmica, conforme se pode verificar da norma constante no art. 2 da CLT: Art. 2. Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econmica, admite, assalaria e dirige a prestao pessoal de servios. O artigo 462, pargrafo primeiro, da CLT, que trata acerca da vedao aos descontos efetuados no salrio dos empregados, assim dispe: Art. 462. Ao empregador vedado efetuar qualquer desconto nos salrios do empregado, salvo quando este resultar de adiantamentos, de dispositivos de lei ou conveno coletiva. 1. Em caso de dano causado pelo empregado, o desconto ser lcito, desde que esta possibilidade tenha sido acordada ou na ocorrncia de dolo do empregado. O dispositivo legal acima citado bastante claro, dispondo que somente permitida a reteno do salrio, por dano causado pelo empregado, quando esta possibilidade tenha

sido acordada e, ainda, assim, nos casos de comprovada culpa do empregado - ou, ainda, quando houver dolo por parte do mesmo. A Constituio Federal, em seu artigo 7, X, tambm traz norma de garantia proteo ao salrio, conforme se pode verificar: Art. 7. So direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, alm de outros que visem melhoria de sua condio social: X - proteo do salrio na forma da lei, constituindo crime sua reteno dolosa; A OIT (Organizao Internao do Trabalho), que tem suas convenes incorporadas ao ordenamento jurdico nacional por disposio do Decreto n 41.721/57, traz em sua Conveno N 95 inmeras normas de proteo ao salrio, dentre elas, a proteo contra os descontos efetuados pelo empregador sobre o salrio dos empregados, conforme se pode verificar em seu art. 8: Conveno OIT N 95, Artigo 8: 1 - No sero autorizados descontos sobre os salrios, a no ser em condies e limites prescritos para legislao nacional ou fixados por uma conveno colectiva ou uma sentena arbitral Dessa forma, em virtude do sistema legal de proteo ao salrio, verifica-se a vedao aos descontos no salrio do empregado para a cobertura de prejuzos decorrentes da prpria atividade econmica do empregador, sendo certo que referidos prejuzos devem ser assumidos apenas pela empresa, pois fazem parte dos riscos do negcio, que jamais podem ser transferidos ao empregado. No entanto, em total desrespeito a todas as normas acima citadas, constantemente se observa que muitas empresas, visando o lucro mximo, transferem os riscos inerentes ao negcio para seus empregados, que se vem obrigados a suportar, com seu prprio salrio, diversos prejuzos decorrentes da atividade econmica da empresa. Como exemplo de tais prticas ilegais, observa-se os casos em que empresas obrigam seus funcionrios a suportarem prejuzos para os quais sequer concorreram, como nos casos de prejuzos causados pela inadimplncia de clientes, ou at mesmo decorrentes de casos fortuitos, como assaltos ou sinistros, tratando-se tais hipteses de riscos inerentes atividade empresarial, sendo completamente ilegal a responsabilizao do empregado em tais casos. A par dos casos em que os prejuzos decorrem de fatos alheios atuao do obreiro, observa-se que tambm h desrespeito s normas de proteo ao salrio quando se trata de descontos salariais efetivados em virtude de danos causados empresa pelo empregado. Isso porque, nesses casos, ainda que o dano tenha sido causado pelo empregado, a legislao trabalhista impe alguns requisitos para que se verifique a possibilidade de desconto no salrio do trabalhador. De acordo com o art. 462, 1 da CLT, j transcrito acima, em caso de danos causados pelo empregado, somente sero lcitos os descontos no salrio do obreiro quando esta possibilidade tenha sido previamente acordada ou na ocorrncia de dolo do empregado. Mesmo nos casos em que haja prvio acordo acerca de descontos salariais nos casos de danos causados pelo empregado, tem-se que, tendo em vista as medidas de proteo ao salrio, a culpa do empregado deve ser devidamente comprovada, para que se permita a ingerncia do empregador no seu salrio, no bastando a simples previso contratual ou em Conveno Coletiva para autorizar o desconto salarial. Dessa forma, observa-se que, tendo em vista as normas de proteo ao salrio, expressamente vedado o desconto no salrio do empregado para cobertura de prejuzos cuja origem possa ser imputada ao risco da atividade empresarial. Assim, deve ser observado que, sempre que houver dvida acerca da possibilidade de efetivao de descontos nos salrios dos empregados para cobertura de prejuzos ou de danos causados pelos mesmos, dever prevalecer o princpio geral da assuno dos riscos pelo empregador, em detrimento da responsabilizao do empregado. Com efeito, somente podero ser efetivados os descontos no salrio do trabalhador nos casos expressamente previstos na legislao trabalhista, devendo, ainda, ser necessariamente comprovada a culpa do empregado nos referidos casos.

DESCONTOS INDEVIDOS. ARTIGO 462 DA CLT. Compete ao empregador arcar com os riscos do negcio, no podendo transferi-los aos empregados. Desta forma, se os recolhimentos previdencirios dos clientes da reclamada foram efetuados a destempo, gerando o pagamento de multas e juros, referidos valores no podem ser descontados do empregado. Aplicao do art. 462 da CLT. (TRT2 - RO 2784200407002002/ SP 027842004-070-02-00-2, Rela. Mercia Tomazinho, 3 T, J 23/09/2008, DJ 07/10/2008)