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Page 1: Descolonizar o dispositivo Foucault - idaes.edu.ar. Dotto Descolonizar o dispositivo... · Foucault, a qual culminou na edição de um livro de ensaios denominado Il dispositivo Foucault

Descolonizar o dispositivo Foucault

(Mesa Temática: Epistemologías coloniales/des/poscoloniales)

Pedro Dotto1 ([email protected])

Por que razão, nos dois últimos séculos, a epistemologia dominante eliminou da

reflexão epistemológica o contexto cultural e político da produção e reprodução do

conhecimento? Quais as consequências desta descontextualização? São hoje possíveis

outras epistemologias?2

Daniel Defert relata-nos sobre a recepção na Itália da produção teórica de Michel

Foucault, a qual culminou na edição de um livro de ensaios denominado Il dispositivo

Foucault. Ainda, conforme a fala de Defert, dizia-se que naquele momento "l' effeto

Marx" havia sido subitamente substituído por "l'effeto Foucault."3

Da nossa parte, devemo-nos perguntar se em nossas universidades latino-

americanas um fenômeno semelhante não se operou no interior do nosso trabalho

intelectual. O pensamento marxista e o método dialético materialista, enquanto

legitimadores e fiadores da haste de discursos críticos, teriam soçobrado, ou, ao menos,

enfraquecido-se em proveito da analítica do poder foucaultiana nas últimas décadas?

Qual é a dimensão da autoridade que a palavra de Foucault exerce em nossos meios

acadêmicos? Seu pensar, de fato, provocou uma inflexão na produção acadêmica de

nossos países, a ponto de ter assumido o posto canônico que outrora o nome de Marx

evocava?

Diante dessas perguntas, propomos uma incursão pelos meandros dos estudos

pós-coloniais - particularmente, abordando o trabalho de "tradução" e de "tradução

cultural", em toda sua potência política e criativa -, para tratarmos de certos aspectos da

recepção da obra de Michel Foucault. Entendemos ser de grande importância uma

abordagem mais cuidadosa e distanciada em relação às investigações foucaultianas, de

modo a não cairmos nas armadilhas da "metafísica", em virtude de abstrações e 1 Pedro Dotto é membro do Grupo de Pesquisas Michel Foucault (PUC-SP/CNPq), bacharel em Direito e

mestrando em Filosofia pela PUC-SP.

2 Prefácio do livro Epistemologias do Sul organizado por Boaventura de Sousa Santos e Maria Paula

Meneses. SANTOS, Boaventura de Sousa e MENESES, Maria Paula (orgs.). Epistemologias do sul. São

Paulo: Corteza, 2010, p. 11. 3 DEFERT, Daniel. "Heterotopias: Tribulações de um conceito entre Veneza, Berlim e Los Angeles. In:

FOUCAULT, Michel O corpo utópico; As heteroropias; posfácio de Daniel Defert. Trad. Salma Tannus

Muchail. 1ªed. São Paulo: n-1 Edições, 2013, p. 47-8.

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generalizações que acabem por esvaziar suas reflexões das coordenadas históricas e

geográficas precisas nas quais foram gestadas. A tendência às generalizações

abstratizantes das teses de Foucault sobre a sociedade disciplinar, pesquisadas no

coração da Europa dos séculos 18 e seguintes, pode-se revelar como um grande

desserviço ao nosso próprio instrumental crítico de análise no Brasil e na América

Latina, caso não manobremos com precaução o arsenal conceitual do teórico francês.

Dentro dessa linha, cabe-nos, então, indagar: qual a traduzibilidade, por

exemplo, das tecnologias de poder disciplinar e de seus dispositivos correlatos que

Foucault investiga no cárcere francês do século 18-19 com o funcionamento interno do

sistema prisional brasileiro? O "panoptismo" - enquanto mecanismo de vigilância,

controle e correção - é, de fato, um dos traços fundamentais na configuração do

exercício do poder em nossa sociedade, como o próprio Foucault argumenta, em uma

série de conferências realizadas no Brasil, em maio de 19734? Qual é a operacionalidade

que seus conceitos podem assumir considerando as especificidades históricas, políticas,

econômicas e culturais do Brasil em sua rica e dinâmica complexidade?

Ensaiaremos, ao final, uma proposta epistemológica que se poderia chamar de

"antropofágica", na linha de Oswald de Andrade e, posteriormente, na reapropriação de

Haroldo de Campos em relação à herança da antropofagia - o mais intenso movimento

artístico delineado em meio às convulsões do modernismo brasileiro da primeira metade

do século passado. Entendemos que, em razão da proliferação de estudos sobre o legado

foucautiano nos últimos anos, seus conceitos são, no mais das vezes, assimilados de

modo acrítico, isto é, sua analítica das engrenagens do (bio)poder moderno é

transplantada para nossas realidades culturais de forma superficial, vazia. Não há um

exercício de tradução cultural do seu aparato conceitual para inscrever seu pensamento

em nossos universos locais. É necessário "antropofagizar" Foucault, em um movimento

crítico e criativo, a fim de extrairmos sua radicalidade política para incitar

reimaginações da nossa atualidade.

Tradução, traição e descolonização

O ato da tradução está incondicionalmente marcado pela traição, pela violação

do original. O ressabido brocardo italiano sussurra em nossos ouvidos: traduttore,

4 FOUCAULT, Michel. A verdade e as formas jurídicas. Trad. Roberto Cabral de Melo Machado e

Eduardo Jardim Morais. 3ª ed. Rio de Janeiro: NAU Editora, 2003, p.114-26.

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traditore A traição, no entanto, assume na tradução um conteúdo positivo, uma vez que

a transgressão rompe com as barreiras linguísticas que aprisionam a obra original nas

armações gramáticas de determinado idioma e, assim, o texto cruza as fronteiras de

outras línguas. (A gramática enclausura a linguagem na língua.) Por essa razão,

compreende-se por que foi em face da necessidade da propagação da Bíblia - o mais

traduzido de todos os textos - que a teoria e a prática tradutória hegemônicas tenham

surgido e se desenvolvido5. Aliás, traduzir possuía um significado aproximado ao de

converter. Verter as Escrituras para certo idioma era uma das condições primárias para

con-verter a população dentro da fé cristã e à sua moral da obediência irrestrita.

Já a expressão "tradução cultural" foi concebida na disciplina antropológica, a

fim de repensar a compreensão quando há uma "distância cultural" imensa entre dois

grupos. Uma discrepância muito grande na compreensão da realidade cria diversos

obstáculos para que haja uma comunicação dialógicas entre esses grupos culturais

radicalmente distintos. O entendimento foi, assim, pensado em termos da tradução,

inclusive, para trabalhar-se os limites da compreensão cultural nos marcos da

"traduzibilidade" e "intraduzibilidade" de certas práticas, crenças, ideias,

conhecimentos, signos e gestos6.

Depois de cunhada, a expressão "tradução cultural" é apropriada no âmbito da

literatura, da ciência da vida cotidiana, da semiótica e, mais recentemente, pela matriz

de estudos pós-coloniais. A tradução cultural é então retrabalhada a partir de diversas

perspectivas, por autores/as distintos/as, como técnica política de rearticulação crítica

de saberes e práticas produzidos em outras circunstância, com a finalidade de

operacionalizá-los no aqui-agora.

Sobre os estudos pós-coloniais, poderíamos afirmar, preliminarmente, com o

pesquisador Sérgio Costa, que:

O ponto de partida dos estudos pós-coloniais é a constatação de que toda

enunciação tem um lugar de origem. Com efeito, é sobre essa observação, hoje

5 COSTA, Claudia de Lima. "As teorias feministas nas Américas e a política transnacional de tradução."

In: Revista Estudos Feministas, v. 8, nº2, p.43-48. 6 BURKE, Peter. "Cultura da tradução nos primórdios da Europa Moderna." In: A tradução cultural nos

primórdios da Europa Moderna. Trad. Roger Maioli dos Santos. São Paulo: Editora Unesp, 2009, p.14-5.

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já trivial, que os estudos pós-coloniais alicerçam sua crítica ao processo de

produção do conhecimento científico7.

Tal premissa dos estudos pós-coloniais descortina os postulados de

"neutralidade", "universalidade" e "objetividade" da rede de discursos científicos.

Dentro desse novo paradigma, a produção discursiva é, desde seu principiar-se, um

engajamento efetivo do sujeito de conhecimento com certo modo de vida, certa cultura,

certa "ideologia". (Não existe discurso isento, não existe prática discursiva

"desinteressada".) As ciências foram, por muito tempo, utilizadas como um dispositivo

discursivo de legitimação do poder colonial e, para além disso, de sua intensificação e

aprofundamento. E a sua eficácia nesse âmbito estava assegurada de antemão por

aqueles postulados-dogmas que mencionamos ("neutralidade", "universalidade" e

"objetividade"), os quais fundamentam a prática científica da Modernidade no mesmo

gesto em que negam, acobertam sua politicidade. “Sim, a ciência é de fato a política

executada por outros meios, os quais só têm força porque permanecem radicalmente

outros”8, Bruno Latour vai nos dizer.

Dessa forma, na contramão do eurocentrismo embutido no DNA da ciência

moderna - com suas implicações racializantes e racistas -, os estudos pós-coloniais

apontam o lugar de enunciação discursiva, além do seu recorte histórico e de classe, de

gênero e de cor, para apreender a intencionalidade política e os efeitos latentes que cada

prática discursiva implica. Nessa direção, a tradução cultural é tomada para pensar-se a

recepção dos discursos originados em outra localização, em outro tempo, com base nas

críticas do presente e nas especificidades locais de um outro contexto. Assim, é no

"futuro intersticial, que emerge no entre-meio entre as exigências do passado e as

necessidade do presente"9, como anota Homi Bhabha, que a prática da tradução cultural

habita.

Além disso, poderíamos acrescentar, com o sociólogo Boaventura de Sousa

Santos, que "o trabalho de tradução e, particularmente, de tradução cultural, repousa

7 COSTA, Sérgio. "(Re)Encontrando-se nas redes? As ciências humanas e a nova geopolítica do

conhecimento." In: ALMEIDA, Júlia, MIGLIEVICH-RIBEIRO, Adelia e GOMES, Heloisa Toller (orgs).

Crítica pós-colonial: panorama de leituras contemporâneas. 1ª ed. Rio de Janeiro: 7Letras, 2013, p.260. 8 LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos: ensaios de antropologia simétrica. Trad. de Carlos Irineu

da Costa. 1ª ed. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1994, p.109. 9 "Como o novo entra no mundo: O espaço pós-moderno, os tempos pós-coloniais e as provações da

tradução cultural." In: BHABHA, Homi K. O local da cultura. Trad. de Myriam Ávila, Eliana Lourenço

de Lima Reis e Gláucia Renate Gonçalves. 2ªed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013, p. 346.

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num pressuposto teórico transcultural: 'a teoria geral da impossibilidade de uma teoria

geral'": uma espécie de "universalismo negativo"10

, como o pensador designa. Desse

modo, ante a recusa do reinado universalizante, imparcial e "puro" da epistemologia de

raízes eurocêntricas, que tanto contribui para o funcionamento da máquina colonial, a

tradução cultural emerge como proposta política de produção de conhecimentos e de

práticas não marcada pela hierarquização de saberes e de experiências.

Dessa forma, o sociólogo português vai tratar da tradução cultural como

negociação dialógica, necessária para articular práticas sociais, saberes e agentes

políticos, dentro de uma perspectiva contra-hegemômica, transformadora. Segundo ele:

"a tradução é, simultaneamente, um trabalho intelectual e um trabalho político. E é

também um trabalho emocional porque pressupõe o inconformismo perante uma

carência decorrente do carácter incompleto ou deficiente de um dado conhecimento ou

de uma dada prática."11

Mais ainda: a tradução cultural apresenta-se como ferramenta

política e poiética (criadora, doadora de sentido, no sentido grego de poíesis) de

reapropriação de teorias e práticas "estrangeiras", "estranhas", para sua "qualificação

específica" em outros contextos (espaciais, temporais, culturais, políticos, econômicos

etc.), tendo em vista um horizonte crítico.

Como Peter Burke coloca: a atividade de tradução necessariamente envolve uma

prática de descontextualização e de recontextualização12

. Em termos deleuzianos:

desterritorialização e reterritorialização. Por isso, entre um contexto e o outro, entre um

"território" e o outro, a tradução/traição intervém como operadora da passagem, do

trânsito intercultural, indispensável para uma apropriação crítica e atenta às

especificidades locais, exatamente o contrário de uma absorção leviana e servil das

produções "de fora."

A pesquisadora Claudia de Lima Costa entende que o "giro pós-colonial" das

últimas décadas fez-se acompanhar por uma "virada tradutória", a qual implica que "a

tradução excede o processo linguístico de transferências de significados e busca abarcar

10 SANTOS, Boaventura de Sousa. "Para uma sociologia das ausências e das emergências." Revista

Crítica de Ciências Sociais,63, 237-280. 11

Idem, p. 37. 12

BURKE, Peter. "Cultura da tradução nos primórdios da Europa Moderna." In: A tradução cultural nos

primórdios da Europa Moderna. Trad. Roger Maioli dos Santos. São Paulo: Editora Unesp, 2009, p.46.

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o próprio ato de enunciação[...]."13

Sendo assim, o paradigma tradutório e a estratégia

de tradução cultural apontam para a "politização do lugar" e a "descolonização do

saber."14

Por sua vez, nos dizeres de Bhabha: "A tradução cultural dessacraliza as

pressuposição transparentes da supremacia cultural e, nesse próprio ato, exige uma

especificidade contextual, uma diferenciação histórica no interior das posições

minoritárias."15

Nada de servilismo intelectual, nada de idolatria... A tradução-como-

violação (translation-as-violation), a qual a teórica Gayatri Spivak16

nos convida,

envolve, necessariamente, um gesto profanatório17

(Agambem) e "um ato até certo

ponto usurpatório, que se rege pelas necessidades do presente de criação", como escreve

Haroldo de Campos18

.

"Leitura de mundo", lentes foucaultianas e paralaxe: A instituição prisional nas

franjas do capitalismo

A filosofia da linguagem moderna passou por uma reviravolta a partir do

momento em que certos/as teóricos/as começaram a reivindicar a compreensão da

"tessitura do mundo" em termos de texto e (inter)textualidade. Tratava-se de uma

"noção expandida da linguagem"19

que apreendia nossa própria experiência com a

realidade em termos de leitura, escrita e tradução. Pensemos, por exemplo, em como o

educador Paulo Freire trabalha com o conceito de "leitura de mundo" para falar do

relacionamento do sujeito com seu entorno sócio-histórico: em como interpreta os

signos circundantes e age sobre seu meio social.

Em suas palavras:

13

COSTA, Claudia de Lima. "Feminismo, tradução cultural e a descolonização do saber." In:

Fragmentos, número 39. Florianópolis, jul-dez, 2010, p.54. 14

Idem, p.52. 15

"Como o novo entra no mundo: O espaço pós-moderno, os tempos pós-coloniais e as provações da

tradução cultural." In: BHABHA, Homi K. O local da cultura. Trad. de Myriam Ávila, Eliana Lourenço

de Lima Reis e Gláucia Renate Gonçalves. 2ªed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013, p. 360. 16

SPIVAK, Gayatri Chakravorty. A Critique of Postcolonial Reason: Towards a History of the Vanishing

Presente. Cambridge, Massachussets /London, England: Harvard University Press, 1999, 162-4. 17

"Puro, profano, livre dos nomes sagrados, é o que é restituído ao uso comum dos homens. Mas o uso

aqui não aparece como algo natural; aliás, só se tem acesso ao mesmo através de uma profanação."

"Elogio da profanação." In: AGAMBEM, Giorgio. Profanações. Trad. de Selvino José Assmann. 1ª ed.

São Paulo: Boitempo, 2007, p. 65. 18

"Tradução, ideologia e história." In: CAMPOS, Haroldo de. Transcriação. Marcelo Tápia e Thelma

Médici Nóbrega (organizadores). 1ªed. São Paulo: Perspectiva, 2013, p. 39. 19

SELIGMANN-SILVA, Márcio. "Haroldo de Campos: tradução como formação e 'abandono' da

identidade." In: Revista USP, São Paulo (36): 158-171, dezembro/fevereiro, 1997-98.

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"A leitura do mundo prece a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta

não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade

se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua

leitura crítica implica a percepção das relações entre texto e contexto."20

Com base nessa breve reflexão, gostaríamos de abordar alguns inconvenientes

que podem haver na leitura do texto-Foucault como material crítico de decifração da

nossa própria realidade periférica. A contragosto das ressalvas do filósofo-historiador

francês21

, pesquisadores/as tendem a fazer um uso irrefletido e acrítico dos conceitos

por ele fabricados e tentam transpor suas formulações teóricas sobre a "sociedade

disciplinar" e a "sociedade de segurança" de maneira automática para o contexto

brasileiro. Valendo-nos, mais uma vez, de Paulo Freire, poderíamos dizer que nesses

casos há uma dissonância no cerne do movimento da "palavramundo."22

Nesse sentido, a ideia de paralaxe pode ser útil para refletirmos a esse respeito.

A paralaxe é um fenômeno ótico causado pela mudança do posicionamento do

observador e que tem como efeito um "aparente" deslocamento do objeto observado.

Escrevemos aparente entre aspas, porque, mediante um perspectivismo radical, na

esteira de Nietzsche, entendemos que é a posicionalidade mesma do sujeito que produz

o objeto, num jogo de embates e confrontos. Com isso em mente, entendemos por que

razão que transportar a analítica foucaultiana da prisão e dos dispositivos disciplinares

de maneira geral suscitaria uma espécie de paralaxe. O funcionamento do dispositivo-

prisão na França do período moderno pouco se assemelha à dinâmica de violência e

brutalidade que regem os presídios das nossas terras. Forçar uma aproximação entre as

teses foucaultianas presentes em Vigiar e punir ao tentar-se transpor barreiras históricas

e geográficas para interpretar nossos sistema prisional revelar-se-ia como uma "má

20

"A importância do ato de ler." In: FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se

completam. 23ª ed. São Paulo: Autores Associados: Cortez, 1989, p.9. 21

"Não gostaria de que aquilo que pude escrever ou dizer apareça como trazendo em si uma pretensão à

totalidade. Não quero universalizar o que digo: e, inversamente, o que não digo, não o recuso, não o tenho

como forçosamente não essencial (...) O que digo deve ser considerado como proposições, 'ofertas de

jogo', às quais aqueles a quem isso possa interessar estão convidados a participar; não são afirmações

dogmáticas a tomar em bloco. Meus livros não são nem tratados de filosofia nem estudos históricos; no

máximo fragmentos filosóficos em canteiros históricos." FOUCAULT, Michel. "Mesa redonda em 20 de

Maio de 1978." In: Ditos & Escritos v. IV: Estratégia, poder-saber. Organização e seleção de textos,

Manoel Barros da Motta. Trad. Vera Lucia Avellar Ribeiro. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003,

p.336. 22

"A importância do ato de ler." In: FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se

completam. 23ª ed. São Paulo: Autores Associados: Cortez, 1989, p.9.

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tradução" de Foucault. (Às vezes, a fidelidade em excesso ao "texto" acaba por deturpar

sua tradução por subestimar o ato de traição, tão indispensável à pratica tradutória.)

O "projeto disciplinar", lado subterrâneo do projeto iluminista, não se efetuou no

Brasil com a mesma força e extensão do que na França. A esse propósito, a criminóloga

Cristina Rauter anota que:

[...] o esquadrinhamento do social, efeito característico do poder disciplinar, não

se operou no Brasil de maneira tão acabada quanto nos países de onde

importamos tais métodos. Ou seu modo de articulação foi diverso do europeu,

com estratégias peculiares de poder [...] Espaços sociais em que o

esquadrinhamento disciplinar se deu de modo mais ou menos generalizados

convivem com outros, onde a repressão violenta, sem sutilezas, segue sendo a

forma de que o Estado se vale para a sua normalização. Ou, ainda, pode haver a

combinação de estratégias sutis de normalização com formas de repressão

violentas, que de certo modo denunciam e contradizem as primeiras [...] Se as

disciplinas não puderam se expandir a contento no Brasil, conclui-se que a

norma não pôde ser generalizada a ponto de atuar como complemento adequado

de um contrato social em bases liberais.23

Na pesquisa da criminóloga, transparece que a disciplinarização dos espaços

sociais constituiria mais um apelo constante na esfera discursiva do direito, da

medicina, do campo legislativo, mas que não chegou a materializar-se amplamente.

Segundo ela, o processo de medicalização foi o indutor de um certo regime disciplinar

dentro das prisões, com base na regulação do contato, na reorganização dos espaços, na

"reforma moral"e em certas interdições. Entretanto, a implementação das tecnologias

disciplinares dentro nosso sistema carcerário foi muito restrita e limitada, pois, em sua

imensa maioria, eles seguem sendo "depósitos de presos" em que a ordenação das

condutas e a vigilância contínua - mecanismos do panoptismo enquanto modelo social -

não se aplicam.

Há ainda outro elemento que complexifica uma investigação sobre a realidade

carcerária no Brasil: a existência de organizações criminosas altamente articuladas e

com um grande poderio político que, em determinados casos, gerenciam o cotidiano do

funcionamento da prisão. Por meio de alianças subterrâneas com o poder público, certas

facções se incumbem, no interior da instituição prisional, da administração do material e

23

RAUTER, Cristina. Criminologia e subjetividade no Brasil. Rio de Janeiro: Revan, 2003, p.23.

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da regulação das relações sociais. Certamente, a dinâmica social nesses casos não pode

ser captada mediante o recurso aos esquemas de poder da sociedade disciplinar descritos

por Foucault.

Dito isso, acompanhamos a ponderação de Cristina Rauter no sentido de que:

É sabido que a generalização da medicalização e da escolarização, no Brasil,

permanecem como um projeto embrionário. Podemos dizer que regiões de

amontoados humanos - de prisões-masmorras cheias de presos sem nome ou

número, de favelas e bairros pobres sem médico ou escola, onde crianças

morrem de verminose - convivem com regiões esquadrinhas onda a tecnologia

disciplinar de fato se efetivo.24

Assim sendo, parece-nos que a perspectiva de um realismo marginal proposta

por Eugenio Raúl Zaffaroni seja interessante exatamente por reivindicar uma visada

teórica desde as margens, desde as bordas do capitalismo. Apesar de seu clamor por

uma "aproximação marginal" diga respeito ao âmbito da criminologia, entendemos ser

produtivo alargar essa noção para outros terrenos de conhecimento, sempre a partir de

uma postura crítica e contracultural; se por cultural nós entendermos, como Zaffaroni

vai nos dizer, "las pautas y hábitos de pensamiento de nuestras clases medias y de sus

intelectuales (...)"25

Com efeito, a importação de teorias das chamadas "sociedades

centrais" não pode se dar de maneira passiva entre nós.

De outra parte, associando o realismo marginal de Zaffaroni com a antropofagia

de Oswald de Antrade, a criminóloga Vera Malaguti Batista tece algumas

considerações, tangenciando a linha da tradução cultural que estamos trabalhando, sobre

a apropriação dos discursos "de fora" para a análise da nossa própria realidade história.

Em seu dizer:

Os textos sagrados têm que ser profanados, mergulhados no saber local, na

realidade nua e crua da história dos nossos povos. Só assim, poderemos

reconstruir um pensamento crítico. Somos nós os responsáveis pela

compreensão que as sociedades disciplinares de Foucault se cruzam por aqui

24

Idem, p. 74-5. 25

ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Criminología: aproximación desde un margen. Bogotá, Colobia: Editorial

Temis S.A., 1988, p. 24.

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com a barbárie do sistema colonial escravista que se eterniza estética e

subjetivamente no dia-a-dia das cidades brasileiras.26

A corrente tradicional de tradução, presa que está à fidelidade textual e à

autoridade absoluta do autor, tanto no campo literário quanto no epistemológico, deve

ser suplantado por uma teoria da tradução que a enxergue em sua positividade crítica e

criativa, como atividade transcriadora, tal qual nos ensaios de Haroldo de Campos27

.

Foucault e a necessidade da "vacina antropofágica"

Apesar de sua curta duração histórica, o movimento antropofágico, irrompido no

Brasil como desdobramento selvagem da Semana de Arte Moderna de 1922, possui uma

orientação político-cultural revolucionária para o enquadramento da época e mesmo

para a nossa atualidade. O caldeirão de ideias e proposições desse movimento em muito

pode contribuir para a qualificação crítica das reflexões que envolvem a tradução

cultural e os próprios estudos pós-coloniais.

O Manifesto Antropófago (1928) de Oswald de Andrade, marco histórico nas

artes brasileiras, protesta contra o "mundo reversível e as ideias objetivadas"28

que estão

no âmago da planificação política, cultural, econômica e social que a modernidade

ocidental tentou imprimir ao mundo e que prossegue hoje em dia com o processo de

globalização. Conforme visto em Boaventura, a tradução cultural emerge exatamente

dessa fratura, dessa impossibilidade de universalização de conceitos, práticas e

discursos29

, além de envolver uma postura dialógica e um horizonte de abertura

permanente. Nessa linha, a perspectiva antropofágica implode as hierarquizações

culturais para reivindicar, em pé de igualdade, o patrimônio artístico da humanidade

como laboratório de experimentação e criação. Não faz apelo à identidade, à unidade e à

conciliação, mas às reinvenções híbridas, fugidias, ziguezagueantes.

26

BATISTA, Vera Malaguti. "Marx com Foucault: Análises acerca de um programa criminalizante." In:

Veredas do Direitos, Belo Horizonte, v.2, n.4, p.31. Julho-Dezembro de 2005. 27

CAMPOS, Haroldo de. Transcriação. TÁPIA, Marcelo e NÓBREGA, Thelma Médici

(organizadores.) 1ªed. São Paulo: Perspectiva, 2013. 28

ANDRADE, Oswald de. "Manifesto Antropófago". In: BOPP, Raul. Vida e morte da Antropofagia. 2ª

ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2008, p.131. 29

"O trabalho de tradução é o procedimento que nos resta para dar sentido ao mundo depois de ele ter

perdido o sentido e a direção automáticas que a modernidade ocidental pretendeu conferir-lhes ao

planificar a história, a sociedade e a natureza." SANTOS, Boaventura de Sousa. "Para uma sociologia das

ausências e das emergências." Revista Crítica de Ciências Sociais,63, 237-280.

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De acordo com o poeta Raul Bopp, participante ao lado de Oswald de Andrade,

Tarsila do Amaral, entre outros/as, do movimento antropofágico, em um texto

publicado em Manaus, também do ano de 1928:

A descida antropofágica veio a determinar uma estrutura nova do pensamento

de hoje. Violenta e agressiva, mas necessária. Não podíamos pretender um

reajustamento com o que já existia. Armistícios no sentido das conveniências do

maior Número. Não. Foi preciso sair fora da caserna. Tomar posse da época.

Meio a força. A pau. Fraturar o pensamento velho. Enfiar polpas moles no

espeto. Dentro de uma clareira florestal. Entre alaridos e cauim. Como nos dias

de festa grande. ANTROPOFAGICAMENTE.30

Assim considerada, enquanto "estrutura do pensamento", ou, ainda, enquanto

"atitude epistemológica", como preferiríamos chamar, a antropofagia encarna uma

vocação de descolonização que enriquece a compreensão sobre a tradução cultural e

sobre os estudos pós-coloniais de forma geral.

Segundo o poeta-tradutor-pensador Haroldo de Campos, quem mais extremou a

cultura antropofágica, dentro do campo teórico, mas, também, em sua arte poética e

tradutória, a "razão antropofágica" é marcada pela irreverência e pela insubmissão.

Recusa o "bom selvagem" idealizado, rousseauniano, para confrontar-se com a postura

canibalesca do "mau selvagem".

A "Antropofagia" oswaldiana (...) é o pensamento da devoração crítica do

legado universal, elaborado não a partir da perspectiva submissa e reconciliada

do "bom selvagem" (idealizado sob o modelo das virtudes européias no

Romantismo brasileiro de tipo nativista, em Gonçalves Dias e José de Alencar,

por exemplo), mas segundo o ponto de vista desabusado do "mau selvagem",

devorador de brancos antropófago.31

Com relação à produção teórica estrangeira, alienígena, como é o caso, entre

nós, da obra de Michel Foucault, entendemos que esse exercício crítico de "devoração",

"mastigação" e "deglutição" deve ser elaborado para que seu pensamento disruptivo seja

por nós apropriado de maneira proveitosa, útil e operativa. Há toda uma manobra de

30

"Brasil, choca o teu ovo..." In: BOPP, Raul. Vida e morte da Antropofagia. 2ª ed. Rio de Janeiro: José

Olympio, 2008, p.107. 31

"Da razão antropofágica: Diálogo e diferença na cultura brasileira." In: CAMPOS, Haroldo.

Metlinguagem & outras metas: ensaios de teoria e crítica literária. 4ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2013,

p.234.

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"morfologia cultural"32

para ajustar o texto-Foucault ao nosso contexto periférico,

marginal, em um procedimento construtivo e criativo. Por isso que, no rastro do

Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade, poderíamos falar da "necessidade da

vacina antropofágica" nessa prática usurpatória, recombinatória das conceituações

foucaultianas, em um comprometido exercício de tradução cultural.

Porém, Oswald também tem o cuidado de nos precaver contra o que ele chama

de baixa antropofagia: "peste dos povos cultos e cristianizados." Assim, embora sob a

aparência de um exercício antropofágico, a assimilação do "Outro", na baixa

antropofagia, não se efetua: seja porque sua matéria não se compõe com nossas

partículas, seja porque ainda somos cativos de uma mentalidade servil, colonizada. Por

outro lado, a "alta antropofagia" - termo que ele não chega a usar - acarreta uma

transmutação do "Eu" e do "Outro" em um movimento vertiginoso e feroz a ponto do

jorro intersticial sobrepor-se sobre ambos.

A nosso ver, a teoria da tradução cultural, embebida de uma proposta

epistemológica antropofágica, potencializa a sua índole crítica-criativa e,

necessariamente, insubmissa, indócil. A tradução cultural como técnica política de

criação de "nexos de sentido" intensifica-se com os atravessamentos do gesto

antropofágico. As formulações teóricas de Michel Foucault, quem nós tomamos como

exemplo pela importância que seu pensamento exerce em nossas academias, bem como

de outros/as pensadores/as, tanto do Norte global, quanto do Sul, tanto no "centro" do

capitalismo, quanto da sua periferia, deve cruzar-se com nosso "instinto" antropofágico,

na atividade de tradução cultural, para a inscrição crítica de seus saberes em nossas

realidades culturais.

32

CAMPOS, Haroldo. "Da Transcriação." In: TÁPIA, Marcelo e NÓBREGA, Thelma Médici

(organizadores.) Transcriação. 1ªed. São Paulo: Perspectiva, 2013, p.79.

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Nota de autorização

Eu, Pedro Mauricio Garcia Dotto, autorizo a publicação do artigo "Descolonizar

o dispositivo Foucault" em qualquer formato que o Comitê Acadêmico do II Congreso

de Estudios Poscoloniales/III Jornadas de Feminismo Poscolonial defina.

______________________________________________________________________

Mesa Temática: Epistemologias coloniales/des/poscoloniales

Título Descolonizar o dispositivo Foucault

Autoría Pedro Mauricio Garcia Dotto

Pertenencia institucional Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

(mestrando em Filosofia) e membro do Grupo de Pesquisas Michel Foucault

(PUC-SP/CNPq)

Correo de contacto [email protected]