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VALLI, A. M. F. Descoberta de Restos Fósseis de Preguiça Gigante no Município de Mauriti, CE, Brasil Fumdhamentos (2016), vol. XIII. PP. 31-59. 31 DESCOBERTA DE RESTOS FÓSSEIS DE PREGUIÇA GIGANTE NO MUNICÍPIO DE MAURITI, CE, BRASIL Andrea M. F. Valli 1 Resumo: Durante a escavação dos canais para a realização do Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional (PISF), foram encontrados restos fósseis de uma preguiça gigante, na localidade de Agrovila do Coité, município de Mauriti (CE, Brasil). As feições anatômicas e tafonômicas dos fósseis são aqui descritos: o padrão dos processos tafonômicos da preguiça gigante é compatível com uma chegada dos ossos ainda articulados e espalhados subsequentemente. Ressaltamos, também, que é a primeira vez que restos fósseis pleistocênicos foram assinalados neste município. Palavras-Chave: Agrovilla do Coité; Fósseis; Preguiça Gigante. Abstract: During the realization of the channels for the "Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional" (PISF), were found fossil remains of a giant sloth in the locality Agrovila of Coité, municipality of Mauriti (Ceará, Brazil). The anatomical and taphonomic features of the fossils are described herein: the pattern of taphonomic processes of the giant sloth remains is compatible with an arrival of the bones still articulated and subsequently spread apart. We also point out that is the first time that Pleistocene fossils are signaled from this municipality. Keywords: Agrovila of Coité; Fossil; giant sloth. 1 Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham), Istituto Italiano di Paleontologia Umana (IIPU) e Sociedade Brasileira de Paleontologia (SBP).

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Fumdhamentos (2016), vol. XIII. PP. 31-59. 31

DESCOBERTA DE RESTOS FÓSSEIS DE PREGUIÇA GIGANTE NO MUNICÍPIO

DE MAURITI, CE, BRASIL

Andrea M. F. Valli 1

Resumo: Durante a escavação dos canais para a realização do Projeto de Integração do Rio São

Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional (PISF), foram encontrados restos fósseis

de uma preguiça gigante, na localidade de Agrovila do Coité, município de Mauriti (CE, Brasil). As feições

anatômicas e tafonômicas dos fósseis são aqui descritos: o padrão dos processos tafonômicos da

preguiça gigante é compatível com uma chegada dos ossos ainda articulados e espalhados

subsequentemente. Ressaltamos, também, que é a primeira vez que restos fósseis pleistocênicos foram

assinalados neste município. Palavras-Chave: Agrovilla do Coité; Fósseis; Preguiça Gigante.

Abstract: During the realization of the channels for the "Projeto de Integração do Rio São Francisco com

as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional" (PISF), were found fossil remains of a giant sloth in the

locality Agrovila of Coité, municipality of Mauriti (Ceará, Brazil). The anatomical and taphonomic

features of the fossils are described herein: the pattern of taphonomic processes of the giant sloth

remains is compatible with an arrival of the bones still articulated and subsequently spread apart. We

also point out that is the first time that Pleistocene fossils are signaled from this municipality. Keywords:

Agrovila of Coité; Fossil; giant sloth.

1 Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham), Istituto Italiano di Paleontologia Umana (IIPU) e Sociedade Brasileira de

Paleontologia (SBP).

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Introdução

Durante as obras do Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do

Nordeste Setentrional - Ministério da Integração Nacional (PISF) foram encontradas algumas

localidades de interesse paleontológico. Os resultados preliminares foram indicados nos

relatórios realizados para o IPHAN (Fumdham, 2011).

Aqui descreve-se, mais em detalhe, de uma descoberta efetuada perto da localidade Agrovila

do Coité (Figura 1), na zona rural do município de Mauriti (CE). Esta área tem as coordenadas

38o 42’ 13”W e 7o 22’ 38”S e é localizada no segmento de canal 1232, entre as estacas 510 e

513, no Lote 6, Trecho II do projeto (Fumdham, 2011).

Figura 1: Esquerda, localização geográfica do sítio Agrovila do Coité (Mauriti, CE). Direita, imagem da área escavada (Fonte foto: MATOS, 2011).

Bem que já foram reportadas ocorrências de megafauna quaternária no Ceará (Castelanos,

1942; Paula Couto, 1954, 1980; Moreira, 1965; Rolim, 1974; Guérin, 1993; Cartelle e de Iuliis,

1995; Berqvist et al., 1997; Andrade et al., 1999; Viana et al., 2007, 2010; Ximenes, 2009;

Oliveira, 2010; Beltrame et al., 2013; Porpino et al., 2014, e bibliografia citada), o interesse

destes restos reside no fato que:

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1) seria a primeira evidência de fósseis plestocênicos no município de Mauriti, uma área

situada no interior da Formação Mauriti, quem é paleozóica (Reis, 2011);

2) os ossos de preguiça gigante descritos no presente artigo pertencem todos ao mesmo

indivíduo.

Os restos foram encontrados durante a abertura do canal, a uma profundeza de cerca 4 m do

solo. A este respeito, foi realizada uma escavação em uma área de 12,40 m de comprimento

per 4 m de largura, atingindo uma profundeza de mais de 5 m (Figura 1; Fumdham, 2011). No

entanto, a superfície onde foram coletados os fósseis media acerca de 16 m2 (mais ou menos

um quadrado de 4 m de lado). Foram prospectados os arredores, para procurar vestígios

ulteriores, mas não foi encontrado nenhum outro tipo de restos de interesse paleontológico.

A Figura 2 apresenta a seção estratigráfica do depósito reinterpretada a partir dos desenhos

efetuados no campo, das informações obtidas da escavação (Matos, 2011; Fumdham, 2011) e

dos dados do relatório geológico (Reis, 2011). Foi possível reconhecer, pelo menos, sete

camadas com os fósseis posicionados na última.

A primeira unidade, aquela do topo (Figura 2), é formada por uma camada composta de areia

escura onde foi observada a presença de raízes. Em essa, como em todos os seis primeiros

estratos, predominam o quartzo e o feldspato, sendo os grãos subangulosos a subesféricos.

O nível 2 é uma camada arenosa de coloração branca clara com estruturas alongadas da

mesma cor e composição do arenito e do mesmo tamanho do que os grãos. A presença de

raízes é menor do que na camada superior. Neste estrato, como no 1, são indicadas

bioturbações (acima da parte oeste da seção: Figura 2), mas não é claro,dos relatórios, se essas

incluem também as marcas de raízes (camadas 1 e 2) e as estruturas alongadas (camada 2).

A camada 3 é constituída por um arenito branco e mosqueado de amarelo. As raízes são pouco

comuns (como na camada 2) e, na base da unidade, foram encontrados raros seixos, indicando

uma diferença de energia de deposição.

A camada 4 é formada por um arenito esbranquiçado e mosqueado de amarelo. Foram

encontradas poucas raízes, mas tiveram sido evidenciados vários minerais, também muito

intemperizados. Alguns foram interpretados como um começo de um ambiente anóxico (Reis,

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2011). Estes minerais não são indicados na Figura 2, porque falta uma indicação precisa do seu

posicionamento tanto no relatório técnico geológico quanto nos desenhos de campo.

Figura 2: Seção estratigráfica da área escavada: as linhas contínuas indicam as limites de camadas; as duas linhas pontilhadas superiores os degraus da escavação (o primeiro coincide com o limite entre as camadas 2 e 3) e a inferior a profundidade do bloco onde foi encontrada a maioria dos fósseis; ossos em preto e seixos em branco; a banda preta, no baixo da seção, é a camada de rocha de base (ver o texto); os números das camadas são indicados a direita. Modificado do desenho original de Saldanha e Matos (Matos, 2011).

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A camada 5 é formada por um arenito de cor cinza mosqueado de amarelo com muitas raízes.

A 6, por um arenito lutáceo de cor esverdeada com fragmentos de carbonatos. Neste estrato

foram observadas marcas de raízes.

A camada 7 é aquela onde foram encontrados os fósseis. Alguns fragmentos foram coletados

no seu topo (Figura 2); a maioria jazia abaixo de 4,61 m de profundidade (Matos, 2011;

Fumdham, 2011). A parte superficial da camada é formada por um argilito, com matéria

orgânica de cor verde, indicando um ambiente anóxico (Reis, 2011). Juntos com os fósseis,

haviam também seixos avermelhados (de dimensões entre 3 e 4 cm) e concreções. Os seixos

indicam uma energia relativamente importante, uma situação análoga aquela encontrada em

algumas camadas fossilíferas dos depósitos brasileiros de tanques (Araújo-Júnior et al., 2013a).

Ao final, a base da sequência, estava a camada de rocha base (que encontrava-se friável) com

presença de argilito (Figura 2, faixa preta do baixo).

Apesar das dificuldades da reconstituição estratigráfica, o material preservado, o seu

posicionamento e o contexto geral permitem não somente de descrever os fósseis mas

também de avançar alguns padrões tafonômicos que os afetaram.

Material e métodos

Os fósseis de Agrovila do Coité estão atualmente conservados no Laboratório de Paleontologia

da Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM) em São Raimundo Nonato (PI). No

artigo, eles serão indicados pelo código numérico marcado na cima de cada um deles. Ele inclui

a sigla do projeto (PISF "Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas

do Nordeste Setentrional"), o código atribuído ao sítio (161), e o número de etiqueta (podendo

incluir um dígito) que identifica sem ambiguidade cada espécime preciso (por exemplo, PISF-

161-5041-1).

No caso de série de números, os elementos idênticos (por exemplo, PISF-161) não serão

repetidos no texto. O termo "/" considera todos os números incluídos nos dois extremos de

ambos os lados da barra.

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Na literatura científica existe uma discordância de interpretação relativa ao número de

espécies de Eremotherium Spillmann, 1948 e à taxônomia da forma gigante no Nordeste do

Brasil. Alguns autores pensam que existem dois taxa de dimensões bem diferentes (Guérin e

Faure, 2000; Faure et al., 2014): eles designam a espécie maior, do tamanho de um elefante, E.

rusconii (Schaub, 1935) e a menor, das dimensões aproximativas de uma anta, E. laurillardi

(Lund, 1842).

Outros cientistas, em particular os paleontólogos brasileiros, consideram que os

representantes do táxon de tamanho menor seriam simplesmente os indivíduos jovens da

espécie gigante. Esta teria que ser apelada E. laurillardi por razões de prioridade (Cartelle & de

Iuliis, 2006; Fariña et al., 2013; Cartelle et al., 2014).

Na nossa opinião, no estado atual dos conhecimentos, é difícil preferir uma das duas

hipóteses: tanto uma que a outra poderiam revelar-se válida. De fato, nenhuma prova

definitiva foi avançada para comprovar a primeira sugestão como a segunda. No entanto, no

sítio de Agrovila do Coité, foi reconhecida apenas uma espécie, a gigantesca e, nesta

publicação, seguimos a tradição da revista (Guérin e Faure, 2008; Faure e Guérin, 2013),

chamando o animal E. rusconii.

Para as medidas foi utilizado um paquímetro; as mediações são sempre indicados em mm, o

erro sendo posto a 0,5 mm. As medidas sobre o astrágalo foram realizadas como em Cartelle e

de Iuliis (1995). Os termos anatômicos utilizados são aqueles dos tratados de Paula Couto

(1979) e de Benton (2004).

Relativamente as feições tafonômicas, as condições da escavação (obra de resgate a realizar-se

em um tempo mínimo) não permitiram um estudo completo desta disciplina. Além da

descrição anatomo-taxonômica dos restos, apenas puderam ser analisadas as marcas

(interperismo e algo) presentes na cima dos ossos uma vez que esses foram trazidos para o

laboratório e restaurados.

Igualmente, não foi possível realizar um estudo espacial completo, porque a equipe de campo

não teve a oportunidade de conseguir um mapa detalhado com o posicionamento preciso de

cada fóssil no área de escavação. Foram apenas tiradas algumas fotografias (Figura 3) que

testemunham a proximidade dos restos maiores. Por outro lado, o tamanho restrito da área

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onde foram encontrados todos os espécimes (acerca de 16 m2), juntamente a algumas feições

tafonômicas, permite de avançar algumas hipóteses sobre as modalidades de acumulo dos

restos.

Figura 3: Ossos de E. rusconii na camada 7. Escala métrica = 20 cm. Fonte: Fumdham 2011.

O intemperismo (o "weatering" dos autores ingleses) e as marcas biológicas foram analisados,

respectivamente, segundo as indicações preconizadas na publicação de Behrensmeyer (1978)

e nas principais obras consagradas ao segundo assunto (Binford, 1981; Gifford, 1981; Shipman

et al., 1984; Olsen e Shipman, 1988; Blumenschine et al., 1996; Domíniguez-Rodrigo, 1999;

Lyman, 1994; Dominato et al., 2011; Andrés et al., 2012).

Relativamente ao intemperismo, as suas marcas foram investigadas sobre porções não demais

comprometidas da superfície óssea, mesmo se tal ação significou limitar fortemente a

superfície disponível, a causa do estado extremamente danificado dos ossos. Porém, esta

escolha permitiu de garantir a qualidade das observações.

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Resultados anatomo-taxonômicos

Foram coletados 229 restos fósseis do sítio de Agrovila do Coité. Contudo, a maioria resultam

fragmentos não identificáveis, tanto anatomicamente quanto taxonomicamente.

Praticamente, todos os ossos (o quase; ver abaixo) que podem ser atribuídos a um táxon certo

pertencem a um único indivíduo de E. rusconii. As rações da atribuição desses ossos a um

único animal serão indicadas abaixo, no item consagrado aos resultados tafonômicos. A seguir,

são descritos os elementos mais significativos.

Não formam encontrados fragmentos notáveis de crânio ou das mandíbulas. Porém, foram

coletados alguns restos dentários (PISF-161-2457-1/2;-2472-1/2;-2482-5/6), todos

incompletos, mas pertencente a animais de grande tamanho e caracterizados pelo padrão

paralelo dos seus lados, feições típicas dos dentes molariformes de E. rusconii (Figura 4). Não

foi possível identificar mais precisamente a anatomia destes restos, exceto no caso do

espécime PISF-161-2482-5, que poderia ser um IV molariforme inferior esquerdo.

Figura 4: Fragmento de dente molariforme de E. rusconii (PISF-161-2457-2). Escala métrica = 50 mm. Fonte: arquivo Fumdham.

Ao lado de alguns elementos incompletos do esterno (PISF-161-2477-4/5;-2481-1), a cintura

escapular está representada por uma clavícula direita (PISF-161-2480-1). Este último é um osso

forte, com o lado anterior bem marcado, e em forma de "S" relativamente curto. Este

impressão, neste espécime, é fortalecida pela falta da extremidade proximal do osso.

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Reportamos as dimensões da terminação distal: os diâmetros transversal e anteroposterior

medem, respectivamente, 106,5 mm e 54 mm.

O membro anterior é representado por uma porção articular proximal de úmero (PISF-161-

2462) que, devido à sua incompletude, não pode ser determinado como direito ou esquerdo, e

dois fragmentos do rádio direito (PISF-161-2482-1), o primeiro terço proximal e a parte central.

O terço distal falta completamente. Os dois fragmentos de rádio necessitaram de várias

restaurações e apresentam-se relativamente danificados. A articulação proximal, circular e

côncava, é completa, mas é sulcada no meio par uma fenda cheia de sedimento (uma fratura

que se abriu durante os processos do depósito e/ou do enterramento do osso). O diâmetro

transversal da extremidade proximal mede 111 mm, o anteroposterior 95 mm.

Figura 5: Lunar direito de E. rusconii (PISF-161-5047-1), em vista lateral. Escala métrica = 50 mm (Fonte: arquivo Fumdham).

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Figura 6: Pisiforme (?) de E. rusconii (PISF-161-2473-2). Escala métrica = 50 mm (Fonte: arquivo Fumdham).

Foi encontrado também um lunar direito (PISF-161-5047-1) quase completo (Figura 5), com o

lado antero-medial danificado, afetando a superfície articular proximal. Ao contrário, as

articulações distais são praticamente intactas. Estas superfícies são fortemente côncavas, para

adaptar-se à morfologia do magno e do unciforme (De Iuliis e Cartelle, 1993). O seu

comprimento anteroposterior e a sua altura, as únicas mensurações possíveis deste espécime,

medem respectivamente 100,5 mm e 79,5 mm.

Um outro osso que poderia pertencer ao carpo é o espécime PISF-161-2473-2, identificado

tentativamente como um pisiforme. É um osso subtriangular (Figura 6) de 71,5 mm de altura.

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O comprimento transversal mede 70 mm e aquele anteroposterior 47 mm. A articulação com

o cuneiforme é oval e côncava.

Às pélvis podem ser atribuídos alguns fragmentos: PISF-161-2456-13;-30/31;-37;-2480-3. Em

particular, o último corresponde a uma porção do acetábulo direito.

São presentes também três fragmentos da superfície articular proximal de fêmur, mas o

estado de conservação não permite de precisar se trata-se de elementos de ambos os ossos

(do direito e do esquerdo), ou apenas de um dos dois.

O espécime PISF-161-5041-1 é uma tíbia direita (Figura 7), enquanto o dígito "2" é associado a

fragmentos da fíbula. A tíbia de Eremotherium é um osso muito maciço, com a espinha tibial

reduzida e as extremidades articulares, distal e proximal, relativamente comprimidas

anteroposteriormente. Este espécime apresenta uma fraturarão importante ao nível das

bordas posteriores de ambas as extremidades. No entanto, foi possível medir o comprimento:

555,5 mm. Os diâmetros transversais proximal e distal avaliam, respectivamente, 291,5 mm e

232 mm. As regiões de contato com a fíbula não estão preservadas e a articulação distal

apresenta-se parcialmente deformada. Porém, foi possível verificar que se adaptava com o

astrágalo direito PISF-161-5041-1.

Figura 7: Tíbia direita de E. rusconii (PISF-161-5041-1), em vista anterior. Escala métrica = 100 mm (Fonte: arquivo FUMDHAM).

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Este último osso (Figure 8), espesso e arredondado, apresenta no seu meio uma apófise, dita

odontóide, para encaixar-se com a parte laterodistal da tíbia (Faure e Guérin, 2013). A grande

superfície, onde esta apófise se ergue, se articula com a sessão medial da extremidade distal

da tíbia e com a fíbula. O osso é praticamente completo, mesmo se necessitou várias

restaurações depois da sua extração e apresenta-se danificado. A sua altura proximodistal

mede 201 mm, enquanto que o seu comprimento anteroposterior é de 217 mm.

Figura 8: Astrágalo direito de E. rusconii (PISF-161-2451), em vista proximal. Notam-se também as marcas de raízes em cima da superfície proximal da articulação com a tíbia. Escala métrica = 100 mm (Fonte: arquivo FUMDHAM).

Relativamente aos calcâneos, foram coletados fragmentos dos dois ossos: do direito e do

esquerdo. O primeiro (PISF-161- 2351-1) é representado pela porção central com a articulação

maior para o astrágalo, uma superfície côncavo-convexa (côncava no sentido anteroposterior,

convexa naquele proximodistal).

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O esquerdo (PISF-161-5042-1/5) é bem mais fragmentado: são presentes a base do tuber calcis

com a parte proximal da articulação maior para o astrágalo e quatro outros fragmentos com

partes de superfícies articulares.

Completam a série vários fragmentos de costelas e de vértebras, cujo tamanho (e morfologia)

acorda-se com as dimensões de E. rusconii. Uma lista completa dos elementos determináveis

que podem ser atribuídos a este táxon é apresentada na Tabela 1.

Ao final, é necessário relatar sobre um espécime particular (PISF-161- 2480-9), que não parece

pertencer ao esqueleto da preguiça gigante. Pela morfologia assemelha mais a um fragmento

distal, porção lateral, de um fêmur (Figura 9) de grande mamífero (o seu tamanho acorda-se

aquele de um asno). No entanto, a presença de uma projeção lateral entre as articulações

posterior e anterior, permite de excluir os perissodátilos e os artiodáctilos sul-americanos,

fósseis ou recentes. A sua morphologia é bem diferente daquela de um fêmur de Xenarthra. A

sua aparência lembra mais um fragmento do fêmur de Toxodontidae, sem, no entanto, ser

igual àquele de um dos dois táxons conhecidos na região, Toxodon platensis Owen, 1840 e

Piauhytherium capivarae Guérin e Faure, 2013 (Guérin e Faure, 2013).

O estado incompleto do osso não permite uma identificação satisfatória. Aqui, nós limitamo-

nos dizendo que este espécime pertence a um grande mamífero indeterminado, diferente de

E. rusconii.

Resultados tafonômicos

Todos os restos fósseis determináveis de Agrovila do Coité pertencem a E. rusconii, exceto o

fragmento de osso PISF-161- 2480-9. A equipe de campo não teve a oportunidade de mapear

precisamente o posicionamento e a orientação de cada fóssil, mas sabemos que todo o

material mencionado neste artigo foi coletado em uma superfície relativamente pequena,

cerca de 16 m2, abaixo de 4 m da superfície do solo. Alem disso, o tamanho e a anatomia de

cada elemento do esqueleto de E. rusconii é compatível com a presença de apenas um

indivíduo.

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Figura 9: Espécime etiqueta PISF-161-2480-9. Escala métrica = 50 mm (Fonte: arquivo FUMDHAM).

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É possível também que os numerosos fragmentos não identificáveis coletados na área (ou

parte deles) possam pertencer ao mesmo animal. Então, nenhum osso foi encontrado

articulado, mas os membros dos diversos grupos de Voorhies (as categorias que representam

vários graus de mobilidades; Voorhies, 1969; Araújo-Júnior et al., 2012) estavam todos

relativamente próximos.

Os restos analisados jazem em uma camada concrecionada mexidos com seixos de vários

dimensões. Neste último aspecto, a jazida fossilífera assemelha aquela encontrada

normalmente nas tanques naturais e nas lagoas, onde os fósseis estão associados a

sedimentos que indicam condições hidroenergéticas mais importante daquelas das camadas

sobrejacentes (ver, por exemplo, Araújo-Júnior et al., 2013a e bibliografia citada).

É também importante precisar que os fósseis foram encontrados no baixo da uma camada

com sedimentos que testemunham a existência de um ambiente anóxico (Fumdham, 2011;

REIS, 2011). Esta última feição deixa pensar que os restos se acumularam dentro de uma

depressão do solo (tanque ou lagoa?).

Da Tabela 1, apesar de vários fragmentos de vértebras e de costelas (cuja lateralidade não foi

possível definir) a grande maioria dos ossos identificados pertence ao lado direito do animal (a

clavícula, o rádio, o lunar, a porção do acetábulo, a tíbia, o astrágalo, um fragmento de

calcâneo). Relativamente os elementos dos membros, do lado esquerdo foram encontrados

apenas fragmentos do calcâneo. Como o estado dos restos de úmero e de fêmur não permite

de investigar a lateralidade, não é possível relatar sobre este aspecto dos dois elementos.

Também o osso tentativamente identificado como um pisiforme é problemático relativamente

à atribuição desta feição. No entanto, no estado atual de nosso conhecimento, os elementos

do lado direito predominam no acervo.

Nenhum resto apresenta clara marca de abrasão (Tabela 1). Os ossos são muitos fraturados e

cinco dele têm bordas suaves. Porém, este não significa necessariamente que eles foram

transportados: o significado mais certo é que as suas fraturas não são recentes.

Na Tabela 1 é mostrado também o resultado da análise do intemperismo. Se a maioria dos

restos não se presta a este tipo de estudo ("Não aplicável"), segundo os parâmetros de

Behrensmeyer (1978), nos outros o estágio predominante é o "1" (Figura 10), encontrado

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sobre 17 fósseis diferentes. O estágio "0" foi encontrado apenas seis vezes, enquanto cinco

ossos, a causa do estado da superfície, mesmo se potencialmente aptos à análise, não

permitiram algum exame. Todavia, as numerosas fraturas limitaram muito a superfície

disponível e o estágio máximo real poderia ser subestimado. De fato, é bem possível que

vários danos afetaram os ossos, superpondo-se os efeitos do intemperismo, e puderam

contribuir a mascarar a verdadeira aparência da superfície óssea.

Figura 10: Seta = estágio "1" na escala de intemperismo de Behrensmeyer (1978). Asterisco = fenda cheia de sedimento. Observados na cima da superfície da tíbia de E. rusconii (PISF-161-5041-1). Escala métrica = 50 mm (Fonte: arquivo FUMDHAM).

A presença do estágio "1" indica que os restos foram expostos ao ar livre algum tempo antes

de ser recobertos pelos sedimentos (Behrensmeyer, 1978).

A danificação intensa rendeu difícil a análise da superfície óssea para detectar as marcas. Os

resultados são relatados na Tabela 1: ao lado de cinco fraturas com sedimento no interior

(Figura 10) e das bordas suaves, há um claro choque (Figura 11) e uma possível marca causada

pelo pisoteamento (depressão assimétrica - em apenas um lado do fóssil - com exposição do

osso esponjoso).

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Figura 11: Seta = marca de choque na cima do fragmento de superfície articular proximal do fêmur de E. rusconii (PISF-161-2456-34). Escala métrica = 50 mm (Fonte: arquivo FUMDHAM).

Não foram encontradas marcas de dentes de carnívoros nem marcas antrópicas. As que

predominam são aquelas de raízes (Figura 8): o 63,64% dos ossos da Tabela 1 (35 em um total

de 55) apresenta este tipo de traço. Pelo menos 29 outros fragmentos indeterminados (não

incluídos na Tabela) possuem marcas de raízes. O espécime PISF-161- 2480-9, o fragmento de

fêmur indeterminado, também. Então, no total, pelo menos o 28,38% dos restos coletados a

Agrovila do Coité as apresentam.

Todavia, o resultado mais importante, não é a quantidade, mas simplesmente a sua presença.

Além disso, os ossos apresentam-se todos brancos mosqueados de cinzento com manchas

marron-ferrugem onde foram recobertos pelas raízes.

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Comparação e discussão

As características morfológicas observadas nos ossos de Agrovila do Coité permitem de

atribuir-los, sem dúvidas, à espécie sul-americana gigante do gênero Eremotherium, aqui

chamada E. rusconii. O comprimento total da tíbia (555 mm) é muito próximo da meia medida

por Faure e Guérin (2013) sobre um amostra de 11 até 15 indivíduos do Nordeste brasileiro.

Trata-se, por conseguinte, de um animal adulto de tamanho médio.

Um outro táxon, também, poderia ter sido presente no depósito fossilífero; ele deixou o

fragmento com etiqueta PISF-161- 2480-9. Por causa da incompletude do resto, é impossível

identificar com precisão o táxon. É um fragmento de fêmur de um grande mamífero (do

tamanho de um asno) não identificado.

Os restos fósseis foram encontrados em uma camada concrecionada com evidencia de

hidrodinamismo importante (presença de seixos associados aos ossos), uma situação

relativamente semelhante aquela dos restos da Lagoa Uri de Cima (Salgueiro, PE; Mutzenberg

et al., 2013). De fato, nos tanques naturais, os fósseis estão praticamente sempre

acompanhados de sedimentos que testemunham de uma energia hídrica relativamente

importante (Araújo-Júnior et al., 2013a, b), come se uma enxurrada os tivesse acumulados em

uma "armadilha" natural.

No caso específico de Agrovila do Coité, nada da geomorfologia do lugar deixa pensar à

existência de um tanque ou de algo de semelhante. Porém, a presença de um nível anóxico,

associado com os ossos, acredita que, no passado, havia uma depressão neste lugar: nessa

teriam podido acumular-se os restos de E. rusconii. Depois dos ossos terem sido depostos e

parcialmente enterrados, no fundo cheio de água da bacia, se formou uma camada anóxica,

cujas marcas ainda se encontram na sedimentologia, sob forma de um nível com matéria

orgânica verdeada (Reis, 2011).

Os vários elementos encontrados do esqueleto de E. rusconii, as suas dimensões, assim que o

pequeno tamanho da área onde foram coletados, são coerentes com a presença de um único

indivíduo. Porém nenhum resto estava em conexão. Os ossos estão muitos danificados e

fragmentados; além disso, faltam também marcas certas de abrasão e de transporte na sua

superfície.

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A maioria dos fósseis dos membros, cuja lateralidade foi possível reconhecer, pertencem ao

lado direito: sete espécimes, contra um do esquerdo (o calcâneo). Além disso, há pelo menos

um fêmur e um úmero cujo estado fragmentário não permite de certificar, com segurança, a

lateralidade correta: eles poderiam ser tão direitos que esquerdos. Há também vários restos

incompletos de vértebras e de costelas, mais numerosos fragmentos de ossos indeterminados.

Parte da incompletude do esqueleto poderia ser devida à ação dos escavadores do PISF, que

contribuíram ao descobrimento dos fósseis. Porém, os elementos que carecem poderiam

apenas não ter-se preservados durante os processos de fossilização.

À luz de todos estes dados, é possível avançar uma hipótese: que este indivíduo tinha sido

trazido no lugar onde foi encontrado como carcaça, pelo menos parcial, ou que o animal tinha

sido falecido in situ. Uma situação semelhante foi já documentada na Lagoa Uri de Cima,

mencionada acima (Valli e Mutzenberg, no prelo) e no sítio de Picos II, município de Piranhas,

estado brasiliano de Alagoas (Asakura et al., 2014). Este fenômeno poderia ser mais frequente

do que resulta das várias análises de depósitos de tanques naturais resumidas por Araújo-

Júnior et al. (2013a).

O estágio de intemperismo encontrado na cima de alguns ossos prova que foram expostos ao

ar. Portanto, tiveram podido estar sujeitos ao pisoteamento dos outros componentes da

megafauna, passando pela área. Pelo menos duas marcas (Tabela 1) encontradas na cima dos

ossos (o choque do espécime, etiqueta PISF-161-2456-34, Figura 11, e o dano sofrido pela

costela, etiqueta PISF-161-2456-33), podem ser explicadas graça a esta causa.

Tabela 1: Fósseis de E. rusconii coletados no sítio Agrovila do Coité (CE).

Espécime (PISF-161)

Elemento anatômico

Intemperismo Abrasão Raízes Marcas

particulares

2351-1 Frag. calcâneo D Não aplicável Não evidente Sim

2451 Astrágalo D Não aplicável Não evidente Sim

2452 Frag. costela 1 Não Sim

2456-4 Frag. costela 1 Não evidente Sim

2456-13 Frag. pélvis Não visível Não evidente Sim

2456-30 Frag. pélvis 1 Não Sim

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2456-31 Frag. pélvis Não visível Não evidente Sim

2456-33 Frag. costela 1 Não Não Sedimento na fenda e pisoteamento?

2456-34 Frag. fêmur Não aplicável Não Sim Choque

2456-35 Frag. fêmur Não aplicável Não evidente Sim Sedimento na fenda

2456-36 Frag. fêmur Não aplicável Não evidente Sim

2456-37 Frag. pélvis 1 Não Sim

2457-1 Frag. dente Não aplicável Não Sim

2457-2 Frag. dente Não aplicável Não Sim

2458 Frag. costela 1 Não Sim

2462 Frag. úmero Não aplicável Não evidente Sim

2469-1 Frag. costela 1 Não Sim

2469-2 Frag. costela 1 Não Sim

2472-1 Frag. dente Não aplicável Não evidente Sim Bordas suaves

2472-2 Frag. dente Não aplicável Não Não

2473-2 Pisiforme? Não aplicável Não Não

2475 Frag. costela 1 Não Sim

2476-1 Frag. vértebra Não aplicável Não Não

2476-2 Frag. costela 1 Não Sim

2477-1 Frag. vértebra Não visível Não evidente Não

2477-2 Frag. vértebra Não visível Não evidente Sim

2477-4 Frag. elemento do esterno

Não aplicável Não evidente Não

2477-5 Frag. elemento do esterno

Não aplicável Não evidente Não

2477-7 Frag. costela 0 Não Não

2479-2 Frag. vértebra 0 Não Sim

2480-1 Clavícula D inc. 0 Não evidente Sim

2480-2 Frag. vértebra 0 Não Sim

2480-3 Pélvis (acetábulo D) 0 Não evidente Sim

2480-4 Frag. vértebra Não aplicável Não Não

2480-6 Frag. vértebra Não aplicável Não Não

2480-7 Frag. costela 0 Não Não

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2480-8 Frag. costela 1 Não Sim

2480-10 Frag. costela 1 Não Sim

2480-11 Frag. costela 1 Não Sim

2480-12 Frag. costela Não visível Não Sim

2480-14 Frag. costela Não aplicável Não Não

2481-1 Frag. elemento do esterno

Não aplicável Não Não

2482-1 Rádio D inc. 1 Não Sim Sedimento na fenda

2482-2 Frag. costela 1 Não Sim

2482-5 Frag. dente Não aplicável Não Não

2482-6 Frag. dente Não aplicável Não Não

2485-1 Frag. vértebra Não aplicável Não Não

5041-1 Tíbia D 1 Não Não Sedimento na fenda

5041-2 Frag. fíbula Não aplicável Não Não

5042-1 Frag. calcâneo E (tuber calcis)

1 Não Não Sedimento na fenda e bordas suaves

5042-2 Frag. calcâneo E Não aplicável Não Sim Bordas suaves

5042-3 Frag. calcâneo E Não aplicável Não Sim Bordas suaves

5042-4 Frag. calcâneo E Não aplicável Não Sim Bordas suaves

5042-5 Frag. calcâneo E Não aplicável Não Não

5047-1 Lunar D Não aplicável Não Sim

Feições anatômicas e tafonômicas: a expressão "Sedimento na fenda" indica a presença de fenda(s), no osso, com sedimento no seu interior; " Não aplicável " significa que o osso ou o fragmento não se presta para a análise de interperismo como indicado em Behrensmeyer, 1978; D = direito(a); E = esquerdo(a); Frag. = fragmento; inc. = incompleto(a). Os restos indeterminados não foram incluídos nesta tabela: no entanto, eles não apresentam nenhuma marca particular, exceto a de raízes, discutida no texto.

O pisoteio pode também esclarecer outros tipos de dano, como a suavidade das bordas das

fraturas e a destruição de elementos do esqueleto (Hill, 1979; Laporte e Behrensmeyer, 1980;

gifford, 1981; Andrews e Cook, 1985; Behrensmeyer et al., 1986; Lyman, 1994). Ele pôde

também ter causado o espalhamento dos ossos dos seus posicionamentos originários (Hill e

Behrensmeyer, 1984).

Infelizmente, a diferença da Lagoa Uri de Cima, no sítio de Agrovila do Coité careceu a

oportunidade de medir exatamente a posição de cada fóssil coletado e também de reconhecer

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Fumdhamentos (2016), vol. XIII. PP. 31-59. 52

o lado dos ossos exposto à atmosfera daquele em contato com o solo. Por isso, não é possível

testar mais precisamente a hipótese da sequência dos eventos considerada até agora

(presença dos restos esqueléticos ainda recoberto pela carne, intemperismo dos elementos

atmosféricos sobre os ossos descarnados e pisoteio causado por outros animais).

Em seguida, os ossos foram recobertos pelos sedimentos e subterrados. O depósito

sedimentário acrescentou-se até alcançar mais de 4 metros, causando danos e fraturas

ulteriores, talvez superpondo-se as marcas devidas ao intemperismo. O padrão de várias

fraturas observadas sobre muitos ossos de Agrovila do Coité, paralelas aos eixos longitudinal,

são consistentes com os danos causados pela pressão dos sedimentos sobrejacentes (Villa e

Mahieu, 1991).

Depois do enterramento, as raízes das plantas, em busca de água e de íons minerais, afetaram

os restos ósseos, deixando as suas marcas características (Fernández-Jalvo et al., 2002). A

presença de raízes atuais é acertada nas diferentes camadas acima da fossilífera e de marcas

de raízes nesta mesma (Fumdham, 2011).

Conclusões

O patrimônio fósseis do Ceará é conhecido sobretudo graça à rica fauna mesozóica da Bacia de

Araripe (Pinheiro & Fernandes-Ferreira, 2014). Das suas camadas fossilíferas, foram coletadas

numerosas espécies extintas de plantas, insetos, peixes, crocodilos, pterossauros e também

dinossauros (ver, por exemplo, Maisey, 1991; Kellner, 1999, 2002; Kellner e Tomida, 2000;

Fortier & Schltz, 2009; Martill et al., 2011; Vila-Nova et al., 2011, e bibliografia citada).

Porém, são também conhecidos alguns restos de mamíferos quaternários, encontrados no

Ceará. As majores descobertas pleistocênicas neste estado foram feitas por Paula Couto, em

Itapipoca (Pinheiro & Fernandes-Ferreira, 2014). Ainda hoje, esta localidade é lembrada por o

seu patrimônio de fósseis quaternários, onde destacam-se as preguiças gigantes

(Eremotherium e Glossotherium Owen, 1840), o mastodonte Haplomastodon Hoffstetter,

1950, o Glyptodontidae Glyptodon Owen, 1839 e o Toxodontidae Toxodon Owen, 1837 (Paula

Couto, 1954, 1980; Berqvist et al., 1997; Ximenes, 2009; Beltrame et al., 2013). Além disso, a

lista dos sítios pleistocenos e dos fósseis do Ceará é bem maior, incluindo outros municípios,

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assim bem que outros taxa (ver por exemplo, Castelanos, 1942; Moreira, 1965; Rolim, 1974;

Guérin, 1993; cartelle e de Iuliis, 1995; Andrade et al., 1999; Viana et al., 2007, 2010; Oliveira,

2010; Porpino et al., 2014, e a bibliografia citada).

Agora, a megafauna quaternária é também conhecida no município de Mauriti, onde foi

recolhido o esqueleto de um indivíduo adulto de E. rusconii, muito parcial e fragmentado.

Apesar das condições particular para retirar o material dos sedimentos (tratou-se de uma

escavação de resgate a realizar-se rapidamente), os dados coletados e as evidências de campo

permitiram de especular que os restos recolhidos de E. rusconii tivessem chegado juntos,

sendo-se espalhados e fraturados posteriormente (provavelmente a causa do pisoteio de

outros elementos da megafauna).

Juntamente ao caso da Lagoa Uri de Cima (Valli & Mutzenberg, no prelo) e do sítio de Picos II

(município de Piranhas, Alagoas; Asakura et al., 2014) é pelo menos a terceira vez que esta

particular combinação de eventos (chegada in situ dos restos ainda retidos pela carne ou, de

qualquer jeito, articulados, e espalhamento sucessivo) é evocada para explicar a acumulação

fóssil de uma localidade. O fenômeno poderia ser mais comum do que os tafônomos pensam,

sobretudo em depressões situadas nas planícies aluviais.

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