descentralizacao, accountability vertical e governacao municipal em mocambique

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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE FACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Licenciatura em Administração Pública Autor: Miguel Agostinho Muzuza Adamo Natha Descentralização, Accountability Vertical e Governação Municipal em Moçambique: O Caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011) Supervisor: Salvador Cadete Forquilha Maputo Setembro de 2012

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Page 1: Descentralizacao, Accountability Vertical e Governacao Municipal em Mocambique

UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

FACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Licenciatura em Administração Pública

Autor:

Miguel Agostinho Muzuza Adamo Natha

Descentralização, Accountability Vertical e Governação Municipal em Moçambique:

O Caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

Supervisor: Salvador Cadete Forquilha

Maputo

Setembro de 2012

Page 2: Descentralizacao, Accountability Vertical e Governacao Municipal em Mocambique

Miguel Agostinho Muzuza Adamo Natha

Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em

Moçambique:

O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

Monografia apresentada ao curso de Administração

Pública da Universidade Eduardo Mondlane, como

requisito para obtenção do grau de Licenciatura.

________________________________________________

O Presidente

________________________________________________

O Supervisor

________________________________________________

O Oponente

Maputo

________/_______/ 2012

Page 3: Descentralizacao, Accountability Vertical e Governacao Municipal em Mocambique

ÍNDICE

Conteúdo pág.

DECLARAÇÃO ......................................................................................................................... I

DEDICATÓRIA ....................................................................................................................... II

AGRADECIMENTOS ............................................................................................................ III

ABREVIATURAS E SIGLAS................................................................................................. IV

RESUMO .................................................................................................................................. V

I. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 1

1. CONTEXTUALIZAÇÃO ......................................................................................................... 2

2. ENQUADRAMENTO LEGAL DA ACCOUNTABILITY VERTICAL NO CONTEXTO DA

GOVERNAÇÃO MUNICIPAL EM MOÇAMBIQUE .................................................................................... 5

3. DELIMITAÇÃO DO TEMA ..................................................................................................... 7

4. JUSTIFICAÇÃO DA ESCOLHA DO TEMA E SUA RELEVÂNCIA NO ESTUDO DA

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ................................................................................................................. 8

5. O PROBLEMA DE PESQUISA ................................................................................................. 9

6. OBJECTIVOS ..................................................................................................................... 12

6.1. Objectivo geral ........................................................................................................... 12

6.2. Objectivos específicos ................................................................................................. 12

II. REVISÃO DA LITERATURA .......................................................................................... 13

1. DEFINIÇÃO E OPERACIONALIZAÇÃO DE CONCEITOS ....................................................... 13

2. A DESCENTRALIZAÇÃO VISTA COMO CATALISADOR DA ACCOUNTABILITY VERTICAL ..... 20

III. QUADRO TEÓRICO ....................................................................................................... 23

1. TEORIAS DE BASE ....................................................................................................... 23

2. PERGUNTA DE PARTIDA .................................................................................................... 28

3. HIPÓTESE DO ESTUDO ...................................................................................................... 28

IV. QUADRO METODOLÓGICO DA PESQUISA .............................................................. 29

1. METODOLOGIA ................................................................................................................. 29

Page 4: Descentralizacao, Accountability Vertical e Governacao Municipal em Mocambique

2. LIMITAÇÕES DA PESQUISA ................................................................................................ 31

V. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ............................ 32

1. PERFIL DO MUNICÍPIO DA VILA DE ULÓNGUÈ .................................................... 32

1.1. Aspectos geográficos e divisão administrativa ............................................................. 32

1.2. Aspectos demográficos ................................................................................................ 32

1.3. O Clima ...................................................................................................................... 33

1.4. Infra-estruturas: Políticas, Administrativas, Sociais e Económicas .............................. 33

1.5. Economia .................................................................................................................... 34

1.6. Estrutura interna da autarquia da vila de Ulónguè ...................................................... 35

2. O PROCESSO DE ACCOUNTABILITY VERTICAL NO MUNICÍPIO DA VILA

DE ULÓNGUÈ: MECANISMOS E LÓGICAS DE FUNCIONAMENTO .................................... 36

2.1. Mecanismos de resposta criados pelo Conselho Municipal da vila de Ulónguè: a

dimensão answerability da accountability vertical .......................................................................... 36

2.2. Mecanismos de Pressão ao dispor dos munícipes criados pelo Conselho Municipal da

vila de Ulónguè: a dimensão enforcement da accountability vertical .............................................. 44

2.3. A questão dos mecanismos de premiação e punição: podem os munícipes avaliar os

agentes públicos municipais? ......................................................................................................... 49

2.4. Acesso à informação como um requisito para a monitoria da governação municipal e

elevação do conhecimento político dos munícipes........................................................................... 51

2.5. Implicações do processo da accountability vertical na governação a nível do Município

da vila de Ulónguè ......................................................................................................................... 52

VI. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ......................................................................... 54

1. CONCLUSÃO GERAL .......................................................................................................... 54

1.1. Conclusões específicas ................................................................................................ 54

2. RECOMENDAÇÕES E NOTAS DE REFLEXÃO PARA OS PRÓXIMOS ESTUDOS ....................... 56

BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................................... 57

ANEXOS .................................................................................................................................. 61

ANEXO 1. GUIÃO DE ENTREVISTAS .................................................................................... 62

ANEXO 2. LISTA DE ENTREVISTADOS................................................................................. 66

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

i Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

DECLARAÇÃO

Declaro por minha honra que este trabalho nunca foi apresentado, na sua essência, para a

obtenção de qualquer grau, e que constitui o resultado da minha investigação pessoal, estando

indicadas no texto e na bibliografia as fontes que utilizei para a elaboração do mesmo.

O Licenciando

__________________________________________

Miguel Agostinho Muzuza Adamo Natha

Page 6: Descentralizacao, Accountability Vertical e Governacao Municipal em Mocambique

Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

ii Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

DEDICATÓRIA

Aos meus pais Tomé Adamo Natha e Lúcia Meque Muzuza Adamo, meus eternos conselheiros

Meus irmãos, Edson, Sultan, Fátima, Anastácia, Paula

Uma grande e humilde família

O vosso amor e apoio tornaram tudo possível

Dedico igualmente à todos aqueles que, auxiliando-se em pilares teórico-científicos, procuram

responder aos mais diversificados problemas do país, na área da governação em particular e,

deste modo, edificar uma sociedade cada vez mais solidária e regida por princípios de justiça

social, liberdade e igualdade.

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

iii Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço à Deus, pela sabedoria, coragem e protecção contra as forças

do mal.

Ao meu supervisor, Dr. Salvador Cadete Forquilha, vai uma palavra de profundo e

sincero agradecimento primeiro, por ter aceite este desafio e, segundo, pelo tempo inestimável

dispensado para poder, com rigor, ler e corrigir o trabalho. As suas sugestões e conselhos

constituíram uma mais-valia para a concretização deste trabalho.

Ao Professor José Jaime Macuane, pelas sugestões feitas na fase inicial da elaboração do

projecto de pesquisa. As suas observações encorajaram-me a prosseguir com a investigação.

Ao dr. Egídio Guambe, por ter me despertado o interesse pelo tema.

Aos senhores Armando Júlio e Basílio Banda, presidentes do Conselho Municipal e da

Assembleia Municipal da Vila de Ulónguè respectivamente, os senhores vereadores Lucas

Mandaliza e José Windo, não se esquecendo de todos os munícipes que se disponibilizaram em

contribuir directa ou indirectamente. Os meus agradecimentos pela colaboração.

Agradecimentos especiais vão para a minha família, meus pais Tomé e Lúcia, meus

irmãos Edson, Sultan, Fátima, Anastácia e Paula, meus sobrinhos Willy, Ismail, Aissa, Yuran,

Walter, Zumira, Mayara e Ellen, minha tia Auxília, pelo apoio material e moral nos momentos

mais difíceis na realização deste trabalho.

Não poderia deixar de agradecer ao Dr. Raúl Chambote e família, o Professor David

Aloni (que Deus o tenha), por terem me acolhido e facilitado a minha estadia na cidade de

Maputo, num momento de total desespero.

Aos colegas das turmas de Administração Pública e Ciência Política (2008-11), Joel,

Tavares, Gimo, Lurdes, Líria, Idília, Jaqueline, Anabela, Manhiça, Renato, Inês, Uamusse,

Amália, Iandra, Cáfre, Osvaldo, Wilson, Piletiche, Goodyfry, Matusse, Amizade e aos amigos,

Padilha, Njikho, Hélder, Chetambala, Almerindo, Jardim, Samisson, Massango, Castiano,

Teixeira e Janeque.

À Todos que me ajudaram a reflectir neste trabalho, OS MEUS SINCEROS

AGRADECIMENTOS

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

iv Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

ABREVIATURAS E SIGLAS

CMVU Conselho Municipal da vila de Ulónguè

CM Conselho Municipal

PCM Presidente do Conselho Municipal

PAM Presidente da Assembleia Municipal

MVU Município da vila Ulónguè

AM Assembleia Municipal

AMVU Assembleia Municipal da vila de Ulónguè

OPL Órgão de Poder Local

FRELIMO Frente de Libertação de Moçambique

RENAMO Resistência Nacional de Moçambique

MDM Movimento Democrático de Moçambique

RTCA Rádio e Televisão Comunitária de Ulónguè

ONG‟s Organizações não-governamentais

ICRAF Centro Mundial Agro-florestal

MLTC Mozambique Leaf Tobaco Company

SEMOC Sementes de Moçambique

TDM Telecomunicações de Moçambique

EDM Electricidade de Moçambique

PES Plano Económico e Social

CRM Constituição da República de Moçambique

UD União Democrática

INSS Instituto Nacional de Segurança Social

CLUSA Cooperative League of the United States of America

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

v Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

RESUMO

A vasta literatura existente sobre a descentralização é unânime em reconhecer que esta

pode, dentre vários fins, contribuir para a elevação e consolidação dos níveis de accountability

vertical, levando os oficiais públicos eleitos a prestar contas sobre o seu desempenho àqueles que

os elegeram. Nesta perspectiva, tomando o Município da vila de Ulónguè como estudo de caso, o

trabalho pretende analisar em que medida as reformas em curso no país têm alcançado aquele que

é um dos grandes valores do processo governativo local – uma cada vez maior prestação de

contas do governo municipal aos munícipes. Os resultados da pesquisa permitiram-nos concluir

que a nível do CMVU a descentralização não tem permitido ainda a efectivação de um processo

de accountability vertical que conduza à responsabilização dos agentes e do executivo pela sua

conduta, seus actos e/ou decisões e ainda, os resultados alcançados. Não obstante terem sido

criados alguns mecanismos de accountability vertical, algumas deficiências que marcaram o

processo da sua criação associadas à lógica actual do seu funcionamento tem levado a uma maior

acentuação da assimetria de informação entre o executivo municipal local e os munícipes. Há um

fraco acesso por parte dos munícipes, à informação sobre as actividades dos órgãos autárquicos,

facto que impossibilita que aqueles façam a monitoria e/ou fiscalização da acção governativa

local. Este facto é agravado pelo fraco conhecimento sobre os seus direitos e deveres e mais

particularmente, o dever do CM de prestar contas. Por outro lado, as eleições continuam sendo o

único mecanismo de premiação e punição à disposição dos munícipes.

Palavras-chave: Descentralização, Accountability vertical e Governação.

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

vi Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

”Surpreender-se, estranhar-se, é começar a entender. É o desporto e o luxo específico do

intelectual.”

Ortega Y Gasset1

1 ORTEGA Y GASSET (1927). A Rebelião das massas. Lisboa: Relógio d‟Água Editores

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

1 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

I. INTRODUÇÃO

A presente pesquisa tem como tema Descentralização, Accountability2 vertical e

Governação Municipal em Moçambique: o caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011).

O tema insere-se no debate referente às reformas de descentralização no contexto da governação

municipal democrática que assinalou uma rápida evolução a nível do continente africano nos

finais da década de 80, passando a constar no rol de prioridades de académicos, policy makers e

agências internacionais de desenvolvimento.

Partindo de constatações teóricas segundo as quais a descentralização, ao aproximar os

governos aos cidadãos cria oportunidades para a elevação dos níveis de accountability vertical

que por sua vez conduzirá a uma gestão pública mais transparente e democrática, é objectivo do

presente estudo analisar em que medida a nível da governação municipal em Moçambique, as

reformas de descentralização têm contribuído para a introdução e consolidação de mecanismos de

accountability vertical. Pretende-se essencialmente, analisar o processo de prestação de contas

dos governos municipais aos munícipes, focalizando o estudo, por um lado, nos mecanismos

através dos quais o executivo municipal dá a conhecer as suas actividades e os resultados

alcançados aos munícipes e, por outro lado, os mecanismos ao dispor dos munícipes que lhes

permitem exercer pressão sobre o executivo.

Como estudo de caso, tomamos o Município da vila de Ulónguè, no período que vai de

2009 à 2011.

Este trabalho está dividido em 6 capítulos. No capítulo 1 faz-se a introdução do estudo, a

contextualização e o enquadramento legal da accountability vertical no contexto da governação

municipal em Moçambique. Faz-se a delimitação do tema, apresenta-se a justificativa, o

problema de pesquisa, e os objectivos. No capítulo 2 são definidos os conceitos-chave e faz-se a

revisão da literatura sobre a descentralização e accountability. No capítulo 3 apresenta-se o

quadro teórico, a pergunta de partida e a hipótese do estudo. No capítulo 4 apresenta-se a

2 Apesar do termo accountability poder ser traduzido para a língua portuguesa para referir-se a noção de

prestação de contas, grande parte da literatura que versa sobre esta matéria alerta que a referida tradução não exprime

na sua essência, o real significado do termo, dai que se justifique o uso da expressão inglesa mesmo por autores de

expressão portuguesa. Por isso, ao longo trabalho usar-se-á a expressão accountability na sua versão inglesa.

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

2 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

metodologia e as limitações da pesquisa. No capítulo 5, o centro do estudo, apresentam-se os

resultados da pesquisa. Descreve-se o perfil do local de estudo para logo de seguida, analisar-se o

processo de accountability vertical – a descrição e análise dos mecanismos criados e ainda, as

possíveis implicações do cenário descrito na governação municipal local. Finalmente, no capítulo

6 apresenta-se as conclusões do estudo, as recomendações e alguns elementos de reflexão para os

próximos estudos.

1. Contextualização

Em muitos países da África Sub-sahariana, os anos a seguir a conquista das

independências foram marcados pela adopção de modelos de administração pública

centralizados. Estes modelos, como refere Olowu, (1988: 109)3 citado por Eneumo (2000),

conduziram à marginalização administrativa dos governos locais em África, subestimando

também o papel das comunidades locais no processo governativo.

Na perspectiva de Olowu (1988) citado por Eneumo (2000: 185) três razões foram

atribuídas à marginalização administrativa dos governos locais em África: (i) o argumento

segundo o qual a natureza multi-étnica dos Estados africanos tornava ineficaz a concessão de

autonomia aos governos locais, dado o risco de captura destes por movimentos separatistas; (ii) a

existência no continente, de recursos humanos e materiais limitados que tornava impossível a

introdução de reformas de descentralização; (iii) a necessidade de acelerar o processo de

desenvolvimento e economizar os escassos recursos através duma planificação centralizada.

Nos finais da década de 80, largamente influenciadas pela onda de democratização que ia

se verificando um pouco à escala planetária, reformas de descentralização foram sendo

implementadas por vários países da África Sub-sahariana, tendo estas emergido como um valioso

objectivo, quer seja político ou económico (Agrawal & Ribot, 1999: 1).

Estas reformas, na maioria dos casos implementadas num contexto de Estados

centralizados e, associadas à ideia de reforço do processo de democratização e de uma

governação participativa e transparente, foram sendo visualizadas como um mecanismo que

3 OLOWU, D. (1988). Strategies for Decentralization Within Developing Countries: A Nigerian Case-

Study. In: ADAMOLEKUN, D. et al (eds). Local Government in West Africa Since Independence. Lagos:

University of Lagos Press

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

3 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

garantiria maior aproximação dos governos aos cidadãos e, deste modo possibilitar: (i) maior

eficiência e eficácia na provisão de serviços e bens públicos; (ii) maior participação da sociedade

civil e dos vários grupos associativos na monitoria da acção governativa local mediante a criação

de instituições que viabilizassem maior envolvimento das populações na identificação de

problemas e concepção de soluções; (iii) a institucionalização de iniciativas e acções que

pudessem introduzir e consolidar os mecanismos de controlo social dos órgãos e agentes da

administração pública (Accountability vertical), como forma de desenvolver a cultura de

prestação de contas por parte dos funcionários e agentes do governo aos cidadãos (Agrawal &

Ribot, 1999; Canhanga, 2007; Faria & Chichava, 1999; Forquilha, 2009.)

Foi dentro deste debate teórico-científico que um novo tema até então pouco explorado

começa a ganhar novos desenvolvimentos – o controlo social da Administração Pública, na sua

vertente mais particular, a accountability vertical. A necessidade dos órgãos da administração

pública estarem sujeitos a um controlo por parte da sociedade, tendo aqueles (os órgãos da

Administração Pública) a obrigatoriedade de prestarem contas aos cidadãos e serem

responsabilizados pelos seus actos, passou a ser vista como um requisito fundamental para elevar

os níveis de transparência na gestão dos recursos públicos e no processo de tomada de decisão, o

que no seu conjunto levaria a uma governação mais participativa e transparente. Assim, a

descentralização foi sendo visualizada como um mecanismo que não só poderia melhorar a

provisão de bens e serviços públicos às populações mas também, permitiria a consolidação dos

níveis de responsabilização e accountability vertical promovendo assim uma gestão pública mais

participativa e transparente.

Em Moçambique, à semelhança de outros países da região, logo a seguir a independência

o governo optou pela centralização do poder político e administrativo. Neste debate, Forquilha

(2007: 8) refere que uma forte dinâmica centralizadora do poder terá caracterizado o processo de

implementação da nova ordem política no período imediatamente a seguir a independência.

Segundo este autor, dentre outros, dois factores estiveram na origem deste fenómeno;

“[…] a herança de lógicas e práticas administrativas do Estado colonial (muito

hierarquizado e centralizado); o próprio projecto político da FRELIMO que

deixava pouco espaço para a manifestação das diferenças e sublinhava

sobremaneira o ideal da unidade nacional, a luta contra o tribalismo, o regionalismo, e tudo aquilo que se parecesse com tendências centrífugas”

(Forquilha, 2007: 8)

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

4 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

Esta forte centralização da administração pública aliada à exiguidade de recursos

materiais, financeiros e humanos e à acentuação da guerra civil tornou o Estado distante dos

cidadãos, na medida em que este tinha cada vez mais dificuldades em prover aos cidadãos o

serviço mínimo em áreas vitais tais como saúde, educação, transporte, habitação, água,

saneamento, etc. (Forquilha; 2007).

Além do mais, este carácter centralizador do Estado relegava para o segundo plano a

importância da participação dos vários segmentos sociais na monitoria da acção governativa,

afigurando-se como um forte impedimento ao exercício da accountability vertical.

Não obstante o III Congresso da FRELIMO ter declarado a intenção de dar início a

descentralização do Estado, o poder de decisão cabia em última instância ao partido e aos seus

órgãos largamente centralizados após a independência. Por outro lado, as funções dos órgãos

regionais, distritais e locais nunca foram claramente definidas (Soiri, 1999).

Uma série de factores estruturais viriam a ser determinantes para que uma nova

reconfiguração do Estado tivesse o seu início. O país foi assolado por calamidades naturais que

associadas à guerra civil, resultaram na deterioração da economia e do tecido produtivo, a

destruição de infra-estruturas socioeconómicas e da administração pública, situação que produziu

efeitos devastadores para a situação política e económica de Moçambique. O aumento da

pobreza, a crescente migração e deslocação da população em finais dos anos 80 obrigou a que em

1987 fosse lançado um Programa de Reabilitação Económica e Social (PRES), que viria a dar

início a um longo processo de reformas político-administrativas (Soiri, 1999; Canhanga, 2007).

Assim, Moçambique avançou rumo à implementação da reforma de descentralização que

é parte integrante de um conjunto de reformas e mudanças de natureza política, económica e

administrativa, em curso desde os anos 80, e tornadas praticamente inevitáveis pela contínua

degradação da situação económica, social e política do país (Faria & Chichava, 1999: 3).

Em 1997, foram criados através da Lei no 10/97, de 31 de Maio, os primeiros 33 municípios

de cidade e de vila enquanto que pela lei no 3/2008, de 2 de Maio, foram criados outros 43

municípios, sendo vinte e três de categoria de cidade e vinte de categoria de vila. Estando

distribuídos da seguinte forma: 14 na região norte, 16 na região centro e os restantes 13 na região

sul (Nguenha, 2009: 8).

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

5 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

2. Enquadramento legal da accountability vertical no contexto da

governação municipal em Moçambique

Pese embora as reformas tivessem já iniciado nos anos 80 como refere Canhanga (2007:

1), foi sobretudo com o processo de transição política dos anos 1990 que as reformas de

descentralização ganharam uma nova dinâmica, passando a estar “associadas à ideia do reforço

do processo de democratização e de uma governação participativa, transparente, capaz de

conduzir à redução da pobreza” (Forquilha, 2009: 5).

Em 1991 foi elaborado pelo governo e financiado pelo Banco Mundial o Programa de

Reforma dos Órgãos Locais (PROL), que tinha em vista a reconfiguração do sistema de

administração local do Estado vigente e a sua transformação em órgãos locais com personalidade

jurídica própria distinta da do Estado, dotados de autonomia administrativa, financeira e

patrimonial (Faria & Chichava, 1999).

Adiante, com a aprovação da lei no 3/94, de 13 de Setembro, viriam a ser criados os

alicerces para o processo de descentralização em Moçambique. Esta lei previa, obedecendo a

divisão administrativa do país, a transformação dos distritos administrativos em Municípios.

A legislação elaborada posteriormente na tentativa de complementar e aplicar essa lei

suscitou forte oposição da RENAMO, da União Democrática e alguns elementos da FRELIMO,

para além de ter levantado dúvidas quanto à sua conformidade com a Constituição da República.

Assim, procedeu-se a uma emenda da CRM através da lei no 9/96, de 22 de Novembro que

introduziu princípios e disposições sobre o poder local no texto da lei fundamental já que, a

Constituição da República de 1990 não previa a criação de órgãos desta natureza (Faria &

Chichava, 1999).

Neste contexto, foi introduzido na CRM o título IV – Poder Local. Consta no no 1 do

Artigo 189 que “o Poder Local compreende a existência de autarquias locais”.

Importa fazer referência ao facto de, conforme consta no artigo 192, nos

2 e 3, da lei no

9/96, quer a AM, quer seja o órgão executivo da autarquia respectivamente, “são eleitos por

sufrágio universal, directo, igual, secreto e pessoal dos cidadãos eleitores residentes na

circunscrição territorial da autarquia”. Fica aqui evidente uma relação contratual ou então de

delegação, onde os munícipes confiam à estes órgãos, a responsabilidade de representar e

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

6 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

defender os seus interesses (no caso da assembleia municipal) e, a responsabilidade de provisão

de bens e serviços públicos (no caso do Conselho Municipal).

Estudos realizados visando a criação do quadro jurídico-legal para a implantação das

autarquias locais viriam a culminar com a aprovação da lei no 2/97, de 18 de Fevereiro, que criou

o quadro jurídico para a implantação das autarquias locais (Faria & Chichava, 1999).

A questão da accountability vertical no contexto da governação municipal na sua

dimensão answerability, isto é, a necessidade dos órgãos autárquicos fundamentarem as suas

decisões, publicitarem os actos administrativos, prestarem contas aos munícipes e

disponibilizarem informação relevante sobre as várias acções levadas a cabo pelos órgãos

municipais encontra enquadramento legal nesta lei. O artigo 12 prevê que “as decisões dos

órgãos autárquicos que afectem direitos ou interesses legalmente protegidos, imponham ou

agravem deveres, encargos ou sanções, são expressamente fundamentadas. Por outro lado, as

deliberações dos órgãos das autarquias são publicadas, mediante afixação, durante 30 dias

consecutivos, na sede da autarquia local” (artigo 13, no 1); numa vertente mais específica, o

artigo 96, no 1, alínea a, aponta, como dever dos órgãos das autarquias locais, “prestar

regularmente contas perante os respectivos eleitores no desempenho do seu mandato”. A lei

confere ainda, a possibilidade de as autoridades municipais adoptarem mecanismos de

informação que se mostrem mais eficientes e permitam que os munícipes estejam devidamente

inteirados sobre as actividades desenvolvidas. “os órgãos das autarquias locais promoverão a

criação de um sistema adequado de informação sobre a actividade autárquica” (artigo 13, no 2)

Por outro lado, a lei no 2/97 abre também espaço para que os munícipes peçam

esclarecimentos, apresentem queixas, reclamações e petições à AM; “os cidadãos moradores no

município ou na povoação podem apresentar, verbalmente ou por escrito, queixas, reclamações

ou petições à respectiva assembleia” (artigo 110, no1). Isto remete-nos, como discutir-se-á mais

adiante, à dimensão enforcement do processo de accountability vertical.

Page 17: Descentralizacao, Accountability Vertical e Governacao Municipal em Mocambique

Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

7 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

3. Delimitação do tema

O presente estudo centra a análise em torno dos mecanismos de accountability vertical

criados pelo CMVU no período que vai de 2009 à 2011. Primeiro, procuramos identificar os

mecanismos criados para logo a seguir, analisar a lógica do funcionamento destes sob ponto de

vista da sua eficácia no processo de prestação de contas.

O tema accountability apresenta duas dimensões: accountability vertical e accountability

horizontal. Porém, o presente estudo centrar-se-á apenas na dimensão vertical da accountability,

considerando ambas vertentes que a compõe (answerability e enforcement) e assim, analisar o

processo de prestação de contas do CMVU aos munícipes desta autarquia. Importa ainda referir

que pese embora a literatura inclua nesta vertente as Organizações da Sociedade Civil, partidos

políticos, os media dentre outros actores extra-governamentais, o presente estudo, por opção

metodológica, direccionou a análise somente ao grupo dos cidadãos, isto é, a prestação de contas

vertical direccionada somente aos cidadãos (munícipes), dada a necessidade de se avaliar a

participação destes no processo da governação municipal quando não estão em representação dos

seus grupos associativos porém, respeitando os diversos estratos sociais a que estão inseridos.

Nesta perspectiva, a ênfase foi colocada na percepção que os cidadãos (entanto que simples

munícipes) têm, podendo não reflectir necessariamente a percepção e/ou opinião do grupo a que

pertencem4. Por outro lado, este enfoque particular nos cidadãos resulta do facto dos defensores

da descentralização apontarem como um dos ganhos, uma maior abertura do processo de

governação aos cidadãos, dai que se afigura relevante analisar até que ponto isto estará a se

concretizar.

O local de estudo foi o Município da Vila Ulónguè, situado a norte da província de Tete,

uma das dez autarquias criadas no ano de 2008. O horizonte temporal escolhido foi de 2009 à

2011.

4 Excepções sejam observadas aos membros que compõe os órgãos da autarquia e o representante da RTCA.

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

8 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

4. Justificação da escolha do tema e sua relevância no estudo da

Administração Pública

Este estudo é realizado num contexto em que são cada vez mais frequentes os apelos à

importância da participação dos diversos actores extra-governamentais no processo governativo

local, no caso mais particular no processo de accountability vertical, como um dos requisitos

fundamentais (mas não suficiente) para a consolidação duma governação e gestão pública mais

participativa e transparente.

Assim, a relevância e importância do estudo que nos propomos fazer pode ser

multifacetada. Por um lado, pode vir a ser no futuro, mais um contributo teórico-científico sobre

o tema da accountability vertical, ampliando e/ou aprofundando o debate e conhecimento sobre

este tema. Por outro lado, pode oferecer alguns elementos de reflexão capazes de ajudar os

decisores políticos na adopção de políticas e mecanismos de accountability vertical mais

ajustados aos contextos locais e que se mostrem mais eficazes, ao levar os agentes públicos a

prestar contas aos cidadãos e serem responsabilizados pelos seus actos.

A escolha do Município da Vila de Ulónguè deveu-se ao facto de este fazer parte das

últimas dez autarquias criadas (em 2008), pelo que nada de específico sobre esta autarquia já foi

escrito até ao momento (salvo documentos institucionais) e, estando numa fase embrionária, é

importante analisar em que medida todas as componentes da descentralização estão a ser tomadas

em consideração, por exemplo, a questão da accountability vertical.

Por outro lado, a opção por esta autarquia derivou também de motivações pessoais do

autor do trabalho visto que, primeiro, foi lá onde obteve o processo de socialização primária,

facto que lhe suscitou algum interesse em contribuir cientificamente no processo da governação

municipal local; segundo, o facto de poder trazer algumas facilidades, com destaque para as de

ordem logística e, associado a isto, estão também as de ordem informacional, dada a facilidade de

aceder as populações em língua local.

A escolha do período em análise (2009-2011) deveu-se ao facto de serem os primeiros

três anos de funcionamento efectivo da autarquia, pelo que, justifica-se a realização de um estudo

visando apurar os avanços e retrocessos neste processo nas suas mais variadas áreas, onde a

accountability vertical (que constitui objecto do presente estudo) é apenas uma delas.

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

9 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

5. O problema de pesquisa

A partir dos finais dos anos 80 a descentralização emergiu com um grande objectivo

político e económico em muitos dos países em desenvolvimento. No seio dos defensores desta

predominava, dentre outras, a visão segundo a qual a descentralização poderia conduzir a uma

maior participação dos cidadãos no processo governativo e ainda, uma maior responsabilização

dos governos diante dos cidadãos (Agrawal & Ribot, 1999: 1). A necessidade dos governos

prestarem contas de forma regular às populações foi sendo vista como um requisito indispensável

para um pleno funcionamento da máquina administrativa do Estado.

Assim, no âmbito desta preocupação a descentralização foi sendo visualizada como uma

alavanca que permitiria: (i) alcançar uma das aspirações centrais no processo da governação – a

democratização; (ii) contribuir para a materialização de vários objectivos no processo da

governação tais como a responsabilização e accountability vertical, ao instituir mecanismos

democráticos de pressão aos agentes da administração por parte dos cidadãos, exigindo por um

lado, maior qualidade dos serviços e por outro, serviços que vão ao encontro das suas

necessidades (Agrawal & Ribot, 1999; Wolman & McCormick, 1994).

Porém, estudos têm sido realizados um pouco por todo o continente visando avaliar o

impacto das reformas de descentralização nas suas mais variadas componentes. Importa-nos

apenas focalizar a componente da accountability vertical, objecto do presente estudo.

Eneumo (2000), numa análise mais abrangente afirma que apesar do fenómeno da

concentração dos poderes do Estado em sistemas de partido único estar a registar uma redução,

prevalecem ainda em África algumas características que constrangem a accountability,

participação popular e o bom desempenho dos governos locais a saber: (i) a fraqueza do Estado;

(ii) a instabilidade institucional e (iii) a exiguidade de recursos financeiros.

No contexto moçambicano, alguns estudos realizados (apesar de muitos deles não terem

especificado a discussão em torno da problemática da accountability vertical) tendem a concluir

que, se por um lado temos vindo a assistir a uma série de reformas político-administrativas e,

com estas, a emergência de novos actores e espaços de participação destes no processo da

governação, o desenrolar deste processo não tem permitido o alcance dos resultados então

previstos, ou seja, os novos espaços criados no âmbito das reformas de descentralização pouco

têm estado a contribuir para a consolidação de uma governação mais democrática e transparente,

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

10 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

no caso particular, na consolidação dos mecanismos de controlo social dos órgãos municipais

com destaque para accountability vertical (Adalima, 2009; Canhanga, 2007; Forquilha, 2007;

Lalá & Ostheimer, 2003; Nguenha, 2009).

Analisando o modelo de organização da administração pública implantado logo a seguir a

independência, Faria & Chichava (1999) afirmam que apesar de a administração pública

moçambicana ter consagrado ou então potenciado alguma descentralização pela divisão

administrativa em províncias, distritos e postos administrativos, funcionando supostamente com

base no poder popular, a efectivação dessa descentralização nunca chegou a concretizar-se. O

poder de decisão cabia em última instância ao partido único, cuja estrutura era já em si muito

centralizadora (Faria & Chichava, 1999: 3).

Numa análise feita após oito anos da assinatura do Acordo Geral de Paz (AGP), Weimer

(2002) considera que apesar de os discursos apontarem para a necessidade de avançar rumo às

reformas de descentralização, ainda se registam tendências centralizadoras, ou seja, adoptam-se

medidas de acomodação e evitam-se reformas profundas, chegando o autor a comparar o cenário

moçambicano com aquilo que Mazula (1995: 65) apelida de cooptação. “A cooptação é, na

substância, um mecanismo de centralização e concentração do poder. O Estado é dirigido no

sentido de resistir, habilmente, às interpelações da História, da diversidade cultural e da

descentralização” (Weimer, 2002: 56).

Forquilha (2007: 13) ao considerar o actual estágio das reformas de descentralização

como sendo condicionado pela trajectória do próprio Estado e do regime político em que essas

reformas tiveram lugar, defende que “os espaços políticos criados pelo processo de

municipalização no âmbito das reformas de descentralização, herdaram do Estado práticas

recorrentes do funcionamento da administração pública, nomeadamente a corrupção, o

nepotismo, o suborno, o clientelismo, entre outras” (Forquilha, 2007: 13).

Acrescenta o autor que, vigora nestes espaços, um modelo de dominação personalizada no

contexto do funcionamento das instituições públicas municipais que se caracteriza pela fraca

prestação de contas das próprias autoridades municipais, fraca inclusão e institucionalização de

mecanismos de consulta aos munícipes no processo de governação (Forquilha, 2007: 17).

Nguenha (2009: 11), num estudo sobre o orçamento participativo constata que “muitas

das experiências de governação participativa carecem de institucionalização, facto que as tornam

instáveis e vulneráveis à descontinuidades ou arbitrariedades dos gestores públicos”. Conclui o

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

11 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

autor defendendo a ideia de que “as actuais formas de governação participativa municipais são

frágeis e pouco profundas para uma governação local que se pretende mais democrática e

promotora do desenvolvimento local” (Nguenha, 2009: 1).

Para Lalá & Ostheimer (2003: 39), a nível local a legitimidade das instituições do Estado

é fraca. O que se regista é um défice democrático sendo que, a linha divisória entre as zonas

urbanas e rurais está a ser reforçada por um processo de descentralização que, em teoria, era

suposto poder eliminar as assimetrias existentes (Lalá & Ostheimer, 2003: 39).

No entanto, estas autoras constatam que “com maior incidência nas cidades, a governação

local tem vindo a tornar-se mais responsável pelo eleitorado e a administração praticada tem

procurado criar um estilo de governação que se insira nos anseios da sociedade local” (Lalá &

Ostheimer, 2003: 39).

Portanto, a discussão acima apresentada leva-nos a um hipotético e teórico ponto de

partida que sustenta o nosso problema de pesquisa segundo o qual, no que refere a componente

da accountability vertical, as reformas de descentralização não têm estado a alcançar os

objectivos que nortearam a sua introdução no país, ou seja, os novos espaços criados no âmbito

destas reformas pouco têm estado a contribuir para o fortalecimento de uma governação

municipal mais democrática, transparente e participativa marcada por um elevado nível de

prestação de contas dos governantes aos munícipes e um maior envolvimento destes na

fiscalização das acções levadas a cabo pelos órgãos municipais. Assim, alguns questionamentos

são passíveis de serem levantados: (i) que factores (de natureza histórica, política, sociocultural,

económica, administrativa) podem explicar o facto de os novos espaços gerados no âmbito das

reformas de descentralização continuem sendo caracterizados pela existência de mecanismos

frágeis de accountability vertical? (ii) Estará a população e os demais actores deste processo

devidamente consciencializados sobre os seus direitos e deveres por um lado, e sobre as

obrigações dos órgãos municipais por outro lado no âmbito da governação municipal? (iii) Estará

o quadro legal da descentralização devidamente ajustado às realidades (histórica e sociocultural)

locais? (iv) Estarão os governos municipais (em função da prerrogativa que a legislação lhes

concede pela lei 2/97, artigo 13, no 2) a instituir mecanismos de accountability vertical eficazes e

específicos aos contextos locais? (v) A prevalecer o cenário então apresentado, que implicações

esta realidade caracterizada por uma fraca prestação de contas pode trazer para a qualidade da

governação municipal e consolidação da democracia? Que lições, constatações, oportunidades e

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

12 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

desafios podem ser colhidos a partir da experiência de governação no município da vila de

Ulónguè?

6. Objectivos

6.1. Objectivo geral

Analisar em que medida as reformas de descentralização têm contribuído a nível da

governação municipal, para a introdução e consolidação de mecanismos de accountability

vertical.

6.2. Objectivos específicos

Descrever o contexto (político e administrativo) do surgimento das autarquias locais;

Descrever o quadro institucional da accountability vertical no contexto da governação

municipal em Moçambique;

Identificar os mecanismos de accountability (mecanismos de answerability e

mecanismos de enforcement) instituídos pelo Conselho Municipal;

Avaliar o nível de conhecimento e aderência a esses mecanismos e espaços por parte

dos munícipes;

Analisar a eficácia destes mecanismos e espaços no processo de prestação de contas

com destaque para a redução da assimetria de informação entre os autarcas e os

munícipes.

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

13 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

II. REVISÃO DA LITERATURA

1. Definição e operacionalização de conceitos

Governação

A origem etimológica da palavra governação pode ser situada no verbo grego kubernän

(pilotar ou conduzir) e foi usada por Platão com a preocupação de desenhar um sistema de regras.

O termo grego por sua vez, deu origem ao termo latim gubernare que também possui o mesmo

significado que pilotar, conduzir ou legislar (Kjaer, 2004: 3).

Durante muitos anos o conceito de governação foi tradicionalmente associado a palavra

governo, destacando o exercício do poder por parte de líderes políticos. Durante a década de 80 o

conceito emergiu com um novo significado, deixando de se referir simplesmente ao governo para

incluir também os processos e actores que se situam para além deste (Kjaer, 2004).

Assim, na perspectiva do Banco Mundial, a governação refere-se ao conjunto de

instituições através das quais a autoridade do Estado é exercida tendo em vista o bem comum.

Inclui, portanto, a capacidade do governo para gerir os recursos de forma eficaz e implementar

políticas sólidas (Masterson, 2004).

Rhodes (1997)5 citado por Kjaer (2004: 4) enfatiza na sua definição de governação a

inclusão de actores extra-governamentais que no seu conjunto compõe a sociedade civil;

“Governance refers to self-organizing, interorganizational networks characterized

by interdependence, resourse-exchange, rules of the game, and significant autonomy from the state” (Rhodes, 1997a: 15)

Para Kjaer (2004: 4) a definição de Rhodes pode ser enquadrada no ramo da

administração pública e políticas públicas já que, os pesquisadores destas áreas dedicam-se ao

estudo da estrutura de tarefas, organização, gestão e accountability dentro do sector público.

Assume-se, portanto, que a administração pública tenderá a funcionar melhor somente se esta for

apolítica, estruturada obedecendo uma hierarquia e ainda, quando for baseada num sistema de

recrutamento assente na meritocracia.

5 RHODES, R. A. W. (1997a). Understanding Governance: Policy networks, Governance, Reflexivity and

accountability. Buckingham: Open University Press

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

14 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

Okoth-Ogendo (2000: 38) defende por sua vez que um processo de governação que se

preze mais efectivo implica a criação de mecanismos que promovam maior participação dos

cidadãos em assuntos públicos, níveis elevados de accountability por parte do Estado e, por

último, a existência de arranjos institucionais criados e desenhados para sustentar tais valores.

Para o propósito do presente estudo, o conceito de governação deverá ser entendido

igualmente no contexto da relação entre as instituições públicas e os vários actores da sociedade,

entendido como a maneira como estes participam no processo governativo, desde a identificação

de problemas, a formulação e implementação de políticas até a monitoria e avaliação. Aqui, a

ênfase é colocada no papel que as instituições podem ter na criação de oportunidades de

participação dos cidadãos na governação.

Descentralização

Para Agrawal & Ribot (1999: 3) a descentralização é definida como sendo um acto

através do qual o governo central transfere poderes para as instituições e actores nos níveis

inferiores da hierarquia político-administrativa e territorial. Referem ainda que esta transferência

de poderes envolve a criação de um fórum de tomada de decisão no qual vários actores a nível

local podem efectivamente exercer alguma autonomia.

Penfold-Becerra (1998)6 citado por Guimarães (sd.) discute o conceito de

descentralização numa perspectiva multidisciplinar. De acordo como este autor, no campo das

ciências políticas a descentralização é tratada como mecanismo democrático que permite a

autonomia política dos níveis locais e regionais, com vista ao aprofundamento da

democratização. No campo das ciências económicas é vista como a transferência de

responsabilidades das actividades económicas públicas para o sector privado. No campo da

sociologia a descentralização é tida como um mecanismo para o emponderamento

(empowerment) da sociedade civil, com o objectivo de incrementar a cidadania. No campo da

Administração Pública ela constitui uma política para se diluir o poder decisório e administrativo

dentro das agências centrais, através da desconcentração, ou seja, da transferência de

6 PENFOLD-BECERRA, M. (1998). Towards a Political Theory of Decentralization: Passing the ball in

Venezuela

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

15 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

responsabilidade administrativa sobre os serviços públicos do nível nacional para os governos

regionais e locais.

A literatura aponta a existência de dois tipos de descentralização. De um lado, a

descentralização administrativa ou desconcentração, quando esta não envolve a transferência

definitiva do poder de decisão e implementação da administração central para outros agentes fora

dos órgãos centrais (Faria & Chichava, 1999: 5), ou ainda, na visão de Agrawal & Ribot (1999:

3) quando os poderes são transferidos para agentes nomeados pelo governo central. No contexto

moçambicano este modelo de reforma de descentralização levou à criação dos Órgãos Locais do

Estado que tem o suporte legal na lei 8/2003, de 19 Maio e no decreto 11/2005, de 10 de Junho.

Do outro lado, a descentralização política, quando a descentralização implica uma

transferência final do poder de decisão e implementação da administração central para órgãos

locais eleitos (Faria & Chichava, 1999: 5). Agrawal & Ribot (1999: 3) referem ainda que neste

caso, os poderes são transferidos para actores ou instituições que prestam contas à população

dentro da sua jurisdição, contrariamente quando se trata de desconcentração já que, neste último

modelo, os actores locais prestam contas aos seus superiores hierárquicos. Em Moçambique, a

descentralização política tem se traduzido na prática através da criação de autarquias locais sendo

que, actualmente o país conta com 43 autarquias.

Accountability vertical7

Importa referir que apesar do seu uso cada vez mais frequente a palavra accountability

permanece ainda sem uma tradução adequada para o português (Barros, 2008: 30),

Segundo Robertson (2002), podemos apontar no Estado moderno pelo menos dois

significados principais: (i) um sentido padrão e comum nas democracias, que sustenta que

aqueles que exercem o poder (os governos, quer sejam representantes eleitos ou dirigentes

oficialmente nomeados) são de certo modo administradores e devem ser capazes de mostrar que

exercem seus poderes e desempenham adequadamente seus deveres; (ii) accountability pode

7 Este conceito será discutido com maior profundidade, por termos constatado que são escassos a nível

nacional, estudos que versam sobre a matéria e por outro lado, por ser um conceito chave para a percepção e análise

do tema em estudo.

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

16 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

referir-se ainda aos arranjos feitos para assegurar a conformidade entre os valores de um órgão

delegante e da pessoa ou pessoas a quem os poderes e responsabilidades são delegadas.

Apesar de não existir uma definição consensual do conceito de accountability, maior

parte das definições tendem a convergir na visão segundo a qual accountability é um processo

através do qual os agentes e/ou funcionários públicos, governantes, etc., prestam contas aos

cidadãos, ou seja, informam e justificam os seus planos, acções e/ou actividades, seus

comportamentos, resultados e, em função disso são avaliados, podendo neste caso, ser

sancionados ou premiados. Accountability refere-se ainda a um conjunto de acções e mecanismos

em que os cidadãos, media independente e organizações da sociedade civil podem chamar os

agentes públicos e oficiais à prestação de contas. Assim, a accountability afigura-se como uma

obrigação que os detentores do poder (político, financeiro, administrativo ou outro) têm de

prestar contas ou então de assumir responsabilidade pelos seus actos. (Malena, Forster & Singh,

2004; Ackerman, 2005).

Schedler (1999: 17) resume a ideia de accountability nos seguintes termos; “A is

accountable to B when A is obliged to inform B about A’s (past or future) actions and decisions,

to justify them, and to suffer punishment in the case of eventual misconduct”.

O conceito de accountability aparece assim bastante interligando com a noção de

publicidade. Para Filgueiras (2011: 19) a publicidade exige que as políticas e as normas

emanadas do governo ocorram em um processo aberto de decisão democrática e que as

instituições sejam controladas por outras instituições e pelos próprios cidadãos. Acrescenta o

autor que a publicidade significa atrelar as decisões do governo à autoridade da cidadania, seja

por meio de instituições, seja por meio da participação da própria sociedade nos processos de

escolhas e decisões públicas. Nesta perspectiva, o Estado e o governo justificam a tomada de

posição por determinadas políticas e decisões frente à sociedade, com o intuito de fortalecer uma

ideia substantiva de accountability (Filgueiras 2011: 22).

Schedler (1994) introduz dois elementos na definição da accountability: (i) answerability,

que é a capacidade de resposta dos governos ou seja, a obrigação dos oficiais públicos

informarem e justificarem seus actos e (ii) enforcement, a capacidade das agências de

accountability, os cidadãos, media e os demais actores de impor sanções e perda de poder para

aqueles que violaram os deveres públicos e cuja conduta revelar-se inapropriada;

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

17 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

“It implies the idea that accounting actors do not just call into question but also

eventually punish improper behavior and, accordingly, that accountable persons not only tell what they have done and why, but bear the consequences for it,

including eventual negative sanctions” (Schedler, 1999:14, 15)

Para Acosta, Joshi & Ramshaw (2010) a dimensão da answerability aqui traduzida como

capacidade de resposta, englobaria por sua vez dois tipos de questões: uma dimensão relativa à

informação das decisões e outra condizente com a necessidade dos governantes explicarem tais

decisões. Assim, a noção de answerability requer que os agentes não somente providenciem

informação sobre as suas acções e decisões, mas também sejam capazes de justificar tais

decisões.

A literatura aponta a existência de duas formas principais de accountability:

accountability vertical e accountability horizontal.

Segundo O‟Donnell (1998: 112), accountability vertical refere-se a existência de

mecanismos de avaliação e punição de governos, proporcionado por eleições livres e justas, além

da liberdade de opinião e de associação, do oferecimento de ampla informação aos cidadãos e da

possibilidade de articulação de reivindicações e denúncias dos actos dos governos. Neste

contexto, Sharma (2009) refere que a accountability vertical é imposta externamente sobre os

governos, formalmente através de processos eleitorais ou indirectamente por meio de cidadãos e

da sociedade civil incluindo os media. Estes actores externos buscam fazer cumprir as normas

que garantem o bom desempenho dos funcionários. A accountability vertical refere-se, portanto,

como sublinham Acosta, Joshi & Ramshaw (2010) a relação entre cidadãos, considerados os

principais (eleitores, organizações da sociedade civil, media) e agentes estatais que possuem um

mandato efectivo para responderem pelas suas acções (representantes eleitos, o corpo executivo,

governos locais).

Do lado oposto, ainda segundo O‟Donnell (1998) citado por Amaral (2007) a

accountability horizontal refere-se à existência de agências estatais dotadas de poderes

legalmente conferidos, capazes de fiscalizar e punir os actos delituosos de governos através do

direito e do poder legal de fazê-los. Sharma (2009) acrescenta que a accountability horizontal é

imposta pelos governos internamente através de mecanismos institucionais de supervisão,

controlo e equilíbrio, e se refere à capacidade das instituições do Estado de verificar abusos por

parte de outros órgãos públicos e ramos do governo.

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

18 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

Uma terceira forma (pouco comum mas que vale a pena salientar) é apresentada por

alguns autores - accountability híbrida ou seja, prestação de contas diagonal. Esta refere-se à

participação dos cidadãos e/ou organizações da sociedade civil em alguns mecanismos de

accountability horizontal. Trata-se da participação dos cidadãos em órgãos de supervisão do

Estado, quebrando o monopólio estatal de supervisão do executivo (Sharma, 2009; Goetz &

Jenkins 2001).

Porém, para a presente pesquisa somente nos propusemos a abordar a accountability

vertical e, assim sendo, no contexto da governação municipal como afirma Bilério (2011: 17), o

autarca deve informar, justificar e explicar as suas decisões aos munícipes, devendo estes últimos

se posicionarem como actores de vigilância controlando os actos do autarca para poder sanciona-

lo ou recompensá-lo em função do seu desempenho.

Malena, Forster & Singh (2004: 2) defendem por sua vez que os oficiais governamentais

e burocratas devem prestar contas face: (i) a sua conduta e (ii) seu desempenho. Por outras

palavras, estes podem prestar contas por: (i) obedecerem e/ou respeitarem o aparato legal e não

abusarem do seu poder e, (ii) servir o interesse público de forma eficiente e eficaz.

No contexto deste debate, Ackerman (2005: 5) afirma que os agentes da administração

devem ser avaliados em função do seu envolvimento ou não em práticas ilegais e/ou corruptas.

Porém, não é satisfatório que os agentes da administração simplesmente obedeçam a lei no

exercício das suas funções quando as suas decisões e acções não levam à uma efectiva produção

de resultados de políticas. Assim sendo, torna-se necessário que os agentes, oficiais e

funcionários públicos sejam avaliados em função do seu desempenho (na tomada de decisões e

produção de resultados de políticas).

Nos Estados democráticos, um dos mecanismos importantes de accountability vertical são

as eleições. Vistas nesta perspectiva, de acordo com Prezeworski et al. (1999)8 citado por Acosta

(2010), as eleições são um mecanismo legal e institucional que garantem aos cidadãos o direito e

o dever de reeleger ou não os seus representantes políticos dependendo da sua prestação ao longo

do mandato. Porém, as eleições continuam sendo um mecanismo ineficaz de accountability. As

eleições não oferecem aos cidadãos a oportunidade de expressarem suas preferências em assuntos

específicos e, contribuir na tomada de decisão a respeito de determinadas políticas e ainda, levar

8 PRZEWORSKI, Adam et al (1999). Elections and representation. In: PRZEWORSKI, A et al. (ed.).

Democracy, Accountability, and Representation, Cambridge: Cambridge University Press.

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

19 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

os actores públicos à prestação de contas a respeito de certas decisões e comportamentos

(Malena, Forster & Singh, 2004: 3).

Ackerman (2005) levanta três problemas centrais quando olhamos para as eleições como

um mecanismo de accountability vertical: (i) existe um problema profundo da assimetria de

informação entre os agentes eleitos e os eleitores. É simplesmente impossível para os cidadãos

estarem a par de cada decisão tomada pelos representantes eleitos; (ii) outro problema é que este

somente opera de forma ex-post9; (iii) eleições somente permitem que os cidadãos exerçam

accountability externamente, visto que estes elegem por meio do voto os seus representantes,

levando a que não exerçam accountability de forma pessoal e directa (Ackerman, 2005: 7).

Assim, uma democracia deve ser acompanhada por reformas especificamente desenhadas para

elevar os níveis de accountability.

Acosta, Joshi & Ramshaw (2010) defendem por sua vez que um efectivo processo de

accountability vertical tornar-se-á mais efectivo quando os mecanismos forem

institucionalizados;

“We argue that the most effective form of democratic accountability takes place

when a series of conditions converge:

(i) there are legal and formal institutions and mechanisms to hold governments to account; (ii) there are clearly defined agents who demand government action; (iii)

there are clearly defined agents who are responsible for government action; (iv)

there are legally established and effective sanctions for those who are not

accountable” (Acosta, Joshi & Ramshaw, 2010: 15)

Portanto, a primeira dimensão refere-se a existência de regras do jogo, isto é, de

mecanismos legais que tornem mais efectivas as relações de accountability vertical que levem os

agentes a prestarem contas; a segunda refere-se a noção de answerability, na qual os agentes tem

o dever de disponibilizar informação relevante e justificar as suas decisões e acções; a terceira

refere-se a noção de responsabilização, isto é, que os governantes estejam dispostos e/ou capazes

de responder as demandas dos cidadãos, uma vez existirem recursos técnicos, económicos e um

bom ambiente político no qual interagem. É preciso que os agentes tenham incentivos para

puderem prestar contas sobre suas acções; a quarta refere-se a existência de sanções que podem

contribuir para o fortalecimento das relações de accountability vertical.

9 Accountability ex-post é aquela que é realizada depois que as actividades, os projectos tenham sido já

implementados e/ou realizados pelo que, os cidadãos estão impossibilitados de monitorar e/ou fiscalizar a medida

que as actividades vão sendo realizadas.

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

20 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

Entretanto, Ackerman alerta para o risco que se corre com a institucionalização dos

mecanismos de accountability vertical. Para este autor, a institucionalização dos mecanismos e

espaços para a accountability vertical pode levar a captura destes por parte do governo, isto é,

quando os mecanismos de participação são legalmente institucionalizados e socialmente

organizados estes também são controlados. Existe portanto, o risco de se criar uma elite, ou seja,

uma classe de indivíduos ou organizações da sociedade civil que supostamente falam em nome

do povo mas que não tenham uma base social ou legitimidade para representar as suas visões

(Ackerman, 2005: 19).

Importa referir que esta situação é mais provável de se verificar em contextos em que há

um monopólio estatal de todo o processo de accountability vertical, desde a criação dos

mecanismos até ao funcionamento dos mesmos, relegando-se para o segundo plano a

participação de outros actores extra-estatais. Assim, torna-se relevante a inclusão de todos os

actores dos mais variados estratos sociais no processo, de forma a garantir maior

representatividade e evitar a apropriação destes espaços por certos grupos ou elites. Em

Moçambique, alguns estudos têm alertado ao facto de a nível da governação local o processo de

criação de alguns espaços de participação estar a decorrer sob forte monopólio das estruturas

estatais, excluindo alguns grupos e actores locais, uma situação que pode levar a viciação da

lógica do funcionamento dos mesmos10

.

2. A descentralização vista como catalisador da accountability vertical

Vários estudos têm ressaltado o papel das reformas de descentralização na introdução e

consolidação dos mecanismos de accountability vertical.

A premissa chave da aposta democrática é de que os cidadãos podem levar os oficiais do

governo à prestação de contas pela provisão de bens e serviços públicos, ou seja, os agentes

10 Ver: Canhanga, N. (2007). Os desafios da descentralização e dinâmica da planificação participativa na

configuração das agendas políticas locais, p. 24-29

Forquilha, S. (2009). Reformas de Descentralização e Redução da Pobreza num Contexto de

Estado Neopatrimonial. Um olhar a partir dos Conselhos Locais e OIIL, p. 22-23. Nesta comunicação, o autor

apresenta o caso da composição do Conselho Consultivo do distrito de Gorongoza, em que 61% dos membros vem

de grupos sob controlo do administrador.

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

21 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

governamentais devem ser julgados pela forma como prestam os seus serviços, isto é, a qualidade

dos serviços prestados (Acosta, Joshi & Ramshaw, 2010; Hatry, 1994:163).

Além do mais, a existência de mecanismos eficientes de accountability vertical

encorajará melhorias na provisão de serviços, quer seja em termos de flexibilidade, melhor

qualidade ou respostas às demandas vindas da sociedade (Acosta, Joshi & Ramshaw, 2010: 5). É

neste contexto que a nível local, estudos realizados tendem a avançar que a descentralização

pode, dentre outros objectivos, elevar e consolidar os níveis de accountability vertical.

Segundo Olowu (1997: 116) a descentralização tem como objectivos alcançar uma maior

participação dos cidadãos e altos níveis de accountability do sistema político aos cidadãos, a

introdução de normas e políticas que conduzam a uma maior responsabilização das instituições e

ainda, a redução dos gastos e corrupção a nível dos governos.

Wolman & McCormick referem que a descentralização contribui para a materialização de

vários objectivos no processo da governação tais como a responsabilização e accountability. Ao

aproximar o governo às populações, a descentralização é vista como um mecanismo que

possibilita maior responsabilidade dos policy makers face às necessidades e desejos dos cidadãos

e ainda, maior congruência entre as preferências públicas e as políticas públicas. Acrescentam

estes autores que tal situação não resulta somente pelo facto de os líderes locais terem mais

informação das necessidades e dos problemas dos seus respectivos territórios, mas também

porque a descentralização permite que estes líderes eleitos prestem contas directamente aos

cidadãos (Wolman & McCormick, 1994: 253).

Ackerman (2005: 31) afirma que um dos objectivos das reformas de descentralização é de

aumentar a alocação de recursos e a provisão de bens e serviços públicos, ao trazer os decision

makers perto dos cidadãos, os utentes dos serviços. Assim sendo, supõe-se que a descentralização

poderá aumentar a responsabilização, participação comunitária e ainda, maior accountability.

Ainda na perspectiva de Ackerman (2005: 37), reformas de descentralização serão produtivas se

forem acompanhadas por esforços visando o envolvimento dos cidadãos com vista a estimular os

processos de accountability. Assim também o entendem Agrawal & Ribot (1999) quando

afirmam que os presumíveis benefícios da descentralização tornar-se-ão disponíveis às

populações somente quando os actores locais forem levados à prestação de contas.

Wolman & McCormick (1994) defendem que ao transferir a decisão sobre os serviços

públicos e a sua provisão para os beneficiários, a nível local, a descentralização cria condições

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

22 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

para que haja pressão aos oficiais públicos por parte dos cidadãos, exigindo por um lado, maior

qualidade dos serviços e por outro, serviços que vão ao encontro das suas necessidades. Na

mesma linha de pensamento, Agrawal & Ribot (1999: 4) afirmam que ao aproximar o processo

de tomada de decisão aos cidadãos, a descentralização pode dinamizar a accountability no sector

público.

A descentralização é também vista como um mecanismo que pode reforçar os valores

democráticos. Encoraja o debate e educação política, pré-requisitos para um funcionamento

efectivo de uma democracia, ao providenciar oportunidades para que os cidadãos a nível local

definam, discutam, debatam e decidam, através de um processo político, os problemas que lhes

assolam dentro do seu espaço territorial (Wolman & McCormick, 1994: 254)

Segundo Malena, Forster & Singh (2004: 7), através da monitoria do desempenho do

governo, maior demanda pela transparência e exposição das falhas do governo, a accountability é

visualizada como sendo um poderoso instrumento contra a corrupção perpetrada pelos oficiais

públicos e agentes da administração.

É neste contexto que a accountability está também directamente ligada à noção de

participação, já que esta tem o potencial de expandir as oportunidades de participação dos

cidadãos, comunidades e organizações da sociedade civil no processo da governação. Envolve

por exemplo, a integração dos cidadãos no processo de análise e elaboração, assim como na

monitoria e avaliação do orçamento (a nível macro e micro).

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

23 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

III. QUADRO TEÓRICO

1. Teorias de base

Para a realização da presente pesquisa duas teorias deverão guiar a reflexão teórico-

prática nomeadamente, a teoria da agência (teoria principal) e a teoria da escolha pública (teoria

complementar). A opção pela teoria da agência deveu-se ao facto de esta poder ser aplicada ao

estudo da relação de delegação entre dois actores num contexto de prestação de serviços e

provisão de bens públicos: de um lado, aquele que pretende beneficiar-se de algum serviço (o

principal) e, do outro lado, aquele a quem recai o dever de prestar tal serviço (o agente). Esta

teoria enfatiza e trata de forma específica o problema do controlo daqueles que recebem (por

delegação) poderes e competências para agir em nome de terceiros (aqueles que delegam),

visando garantir que a sua actuação satisfaça os interesses destes.

A teoria da escolha pública por sua vez, teve a sua relevância no presente trabalho dada

sua forte ênfase no individualismo metodológico no estudo das organizações, ou seja, ao analisar

as decisões e/ou escolhas colectivas como resultado de opções e preferências dos agentes

envolvidos, tidos não como uma estrutura orgânica mas sim individualmente considerados.

Assim, esta teoria permitiu-nos analisar a influência que o comportamento racional e auto-

interessado dos agentes públicos pode ter no processo do controlo social (accountability vertical).

Teoria da Agência

A teoria da agência tem origem no sector empresarial sendo que, as primeiras discussões

teóricas surgiram na segunda metade do século XX. O rápido crescimento das corporações

despertou a necessidade de uma gestão mais especializada das sociedades por acções, o que

passava pela separação entre propriedade e gestão, ou seja, entre accionistas e gestores (Gody,

2006). Originou-se assim uma relação de agência que nada mais é do que um contrato em que

uma ou mais pessoas (principais) outorgam autoridade a terceiros (agentes), para cuidarem de

seus interesses (Camargos & Coutinho, 2008).

De forma a maximizar os lucros dos proprietários, evitando assim que os gestores

priorizem interesses individuais em detrimento dos interesses dos proprietários, maior enfoque

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

24 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

passou a ser dado aos mecanismos de controlo, originando aquilo que passou a ser designado por

governança corporativa (Camargos & Coutinho, 2008).

Na actualidade, a teoria da agência tem sido usada em ramos diversos: contabilidade,

economia, finanças, marketing, ciência política, comportamento organizacional e na sociologia

(Gody, 2006).

Esta teoria procura perceber e explicar a relação de delegação (típica de uma democracia

representativa) que se verifica entre dois actores – Principal e Agente, assim como os problemas

que se verificam, decorrentes dessa delegação.

De acordo com Sanchez (2005: 34), no contexto desta teoria, existe uma relação Principal

- Agente quando um indivíduo, um grupo ou uma organização (Principal) que tem um poder

específico delega, por meio de um contracto, responsabilidades à um outro indivíduo, grupo ou

organização (Agente). Nesta relação, segundo Filgueiras (2011: 5) o principal delega ao agente

um poder para realizar algo em seu interesse, cabendo ao agente actuar em nome dos interesses

do principal.

Sanchez (2005: 34) refere por sua vez que para garantir que a actuação do agente vá ao

encontro das expectativas do principal existem contratos, escritos ou não, rígidos ou flexíveis,

que determinam a actuação de cada agente e a probabilidade desta actuação atender a expectativa

do principal, que delega responsabilidades.

Entretanto, Filgueiras (2011: 5) chama atenção ao facto de neste tipo de relações, o agente

somente poder agir no interesse do principal se ele poder perseguir, também, seus próprios

interesses. Surge assim a necessidade de adopção de mecanismos institucionais de

responsabilização do agente diante do principal. Ou seja, o principal deverá ter a possibilidade de

acompanhar as acções desenvolvidas pelo agente, para garantir que as mesmas estejam

enquadradas dentro dos padrões, regras e princípios previamente estabelecidos.

Porém, a relação Principal – Agente é caracterizada por um problema, o problema da

assimetria de informação, isto é, na maioria das vezes o principal nunca tem informação completa

sobre as actividades levadas a cabo pelo agente. Este problema reside, portanto, no facto de as

duas partes que se relacionam não deterem a mesma informação, colocando uma das partes que

delega responsabilidades, o titular, em desvantagem no relacionamento com o outro, o agente

(Sanchez, 2005: 34). Assim, do uso que os agentes podem fazer da informação privilegiada com

vista a auferir vantagens indevidas pode resultar um aumento de práticas clientelistas e corruptas

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

25 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

levando o Estado à ineficiência administrativa. É neste contexto que a questão da informação

acaba assumindo um papel fundamental na relação principal-agente.

De acordo com Sanchez (2005: 35), uma relação principal-agente possui as seguintes

características: (i) o agente dispõe de vários comportamentos possíveis de serem adoptados; (ii)

sua acção afecta o bem-estar das duas partes; e (iii) as acções do agente dificilmente são

observáveis pelo titular (é a questão da assimetria de informação).

Nestes termos, se é verdade que a teoria da agência procura explorar os problemas

gerados na relação de delegação entre o Principal e o Agente pelo facto de estes possuírem

interesses, necessidades, aspirações e motivações diferentes, não deixa também de ser verdade

que esta teoria procura igualmente encontrar a melhor arquitectura institucional que permita

maior compatibilização entre os interesses de ambos os actores ou seja, no caso mais específico,

garantir que a actuação do agente produza resultados que satisfaçam as necessidades e aspirações

do principal.

Como refere Filgueiras (2011), “pela perspectiva da teoria da agência, as reformas de

Estado devem assegurar a accountability minorando a assimetria de informação entre o principal

e o agente.

A teoria da agência foi alvo de críticas. Perrow (1986)11

citado por Monsma (2000: 90)

defende, primeiro, “que a teoria da agência não leva em conta as obrigações do principal para

com o agente e, segundo, que a teoria da agência enfatiza quase exclusivamente o não

cumprimento de deveres por parte dos subordinados (agentes) como a única forma de

comportamento egoísta e interesseiro contra o qual se deve proteger”.

No contexto da presente pesquisa, esta teoria serviu de fio condutor na reflexão sobre a

relação de accountability entre os munícipes da vila de Ulónguè (o principal) e as autoridades

municipais (o agente). Se partirmos da ideia segundo a qual por meio do voto, os munícipes (o

principal) delegam às autoridades municipais (o agente) responsabilidades, para que estes levem

a cabo acções que visem a satisfação das necessidades daqueles, a teoria da agência permitiu-nos

fazer uma reflexão em torno dos mecanismos instituídos a nível do Conselho Municipal da Vila

de Ulónguè que permitem, primeiro, que o munícipe tenha informação referente a actuação das

autoridades e, com base nesta informação, avalie o desempenho dos autarcas; segundo, os

11 PERROW, Charles. (1986). Complex organizations: a critical essay. 3 ed., Nova York: Random House.

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

26 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

mecanismos ao dispor dos munícipes para responsabilizarem os agentes municipais pelo seu

desempenho.

Teoria da Escolha Pública

A teoria da escolha pública utiliza o instrumental económico para analisar as questões

relacionadas ao Estado e à burocracia pública (Sanchez, 2005).

Buchanan (2005) enfatiza que as intervenções do Estado visando corrigir “falhas de

mercado” geram necessariamente “falhas de governo” que são o resultado do comportamento

auto-interessado dos agentes públicos;

“Individuals, organized groups, and governments are creating „„public bads‟‟ by departing increasingly from traditionally honored limits for behavior, by

increasingly violating both formal and informal law” (Buchanan, 1975: 160).

Na mesma linha de pensamento, Tullock também citado por Sanchez (2005) adverte que

o monopólio do conhecimento e informação por parte dos burocratas sobre as actividades que

realizam, pode levar a que estes ajam a favor dos seus próprios interesses em detrimento do

interesse público e ainda, abrirem oportunidades para a obtenção de rendas, o que levaria a

adopção de escolhas públicas não ideais.

No contexto da presente pesquisa, procuramos com base nos pressupostos teórico-

analíticos desta abordagem analisar em que medida a nível da governação municipal,

determinados comportamentos, práticas e/ou acções perpetrados pelos agentes municipais

poderiam estar a contribuir (positiva ou negativamente) para a institucionalização e consolidação

dos mecanismos de accountability vertical, ou seja, até que ponto a forma como o processo da

governação municipal a nível do Município da Vila de Ulónguè tem decorrido (a organização e

funcionamento dos órgãos do CM, as actividades desenvolvidas, a participação dos vários actores

locais e o processo de comunicação e diálogo com estes) poderia estar na origem de fracassos ou

de avanços no que a questão da accountability diz respeito.

As duas teorias discutidas complementam-se quando aplicadas ao tratamento do problema

de pesquisa apresentado neste trabalho. Pese embora com especificidades diferentes então

apresentadas, ambas as teorias têm como preocupação central a análise da questão do controlo

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

27 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

daqueles que exercem o poder de forma a garantir que as suas decisões e/ou acções possam ir ao

encontro das expectativas, interesses e aspirações do resto da colectividade. Isto resulta do facto

de as organizações se encontrarem em constante crescimento e cada vez mais complexas, dai a

necessidade de se aperfeiçoar os mecanismos de controlo social. No contexto da governação

autárquica em particular e, centrando a atenção na questão da accountability vertical, estas teorias

acabam por ser relevantes dada a necessidade de garantir que as acções e/ou decisões do governo

municipal estejam sujeitas a um controlo por parte dos cidadãos sendo que, a existência de

mecanismos de accountability vertical e a acessibilidade de informação sobre a acção

governativa local afiguram-se como elementos-chave do processo.

A questão da assimetria de informação, associada ao risco do monopólio de informação

por parte dos agentes públicos é outro elemento em comum que existe entre a teoria da agência e

a teoria da escolha pública. À luz destas abordagens, em certos casos os agentes públicos

municipais podem simplesmente dificultar a publicação e publicitação de informação quando em

certas circunstâncias esta poder reportar mau desempenho no exercício das suas funções, facto

que pode impossibilitar a sua reeleição e consecutivamente, a continuidade no exercício do

poder. Portanto, pode existir incerteza quanto ao tratamento que os cidadãos poderão fazer da

informação publicada.

A opção pela teoria da escolha pública como complementar à teoria da agência deveu-se

ao facto desta fornecer elementos de análise que não são discutidos com maior profundidade pela

teoria da agência. Se por um lado, o problema da assimetria de informação é tido pela teoria da

agência como sendo o elemento principal que fragiliza a relação de delegação entre o principal e

o agente, conferindo ao último, informação privilegiada da qual o principal não tem acesso, a

teoria da escolha pública acrescenta à abordagem da teoria da agência a questão do

comportamento racional e auto-interessado dos burocratas (o agente) visando a maximização dos

benefícios particulares em detrimento do interesse público. Defende esta teoria que assim como

no sector privado, no sector público, em virtude dos agentes públicos deterem conhecimentos e

informação privilegiada sobre assuntos específicos, estes tendem a agir visando a maximização

das suas utilidades em detrimento do interesse público.

Este enfoque da teoria da escolha pública é largamente influenciado pela sua forte ênfase

no individualismo metodológico na análise de escolhas colectivas em contextos organizacionais.

Assim, preferências colectivas são analisadas como sendo derivadas de preferências individuais.

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

28 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

2. Pergunta de partida

O teor analítico do presente estudo encontra suporte em constatações teóricas que

defendem a ideia segundo a qual, ao aproximar os governantes aos munícipes, a descentralização

é vista como um mecanismo que pode reduzir a assimetria de informação entre os oficiais

públicos (agente) e os munícipes (principal), possibilitando maior controlo da acção governativa

municipal por parte dos munícipes, o que levaria a uma maior prestação de contas por parte dos

governos municipais. Assim, no contexto da governação municipal que mecanismos devem ser

criados para garantir que a actuação do agente (o governo municipal) possa atender à expectativa

do principal (os munícipes) que delega responsabilidades, mas também permitir que os munícipes

tenham informação suficiente que lhes permitam fazer o controlo da governação e, dependendo

do desempenho dos oficiais públicos municipais, premia-los ou sanciona-los?

Tomando o Município da Vila de Ulónguè como estudo de caso, é levantada a seguinte

questão de partida: Em que medida as reformas de descentralização têm contribuído para a

introdução e consolidação de mecanismos de accountability vertical a nível da governação

municipal?

3. Hipótese do Estudo

A nível do Município da Vila de Ulónguè, não obstante terem sido criados alguns

mecanismos de accountability vertical, a lógica de funcionamento destes não parece poder levar à

sua consolidação devido à assimetria de informação entre os agentes municipais e os munícipes.

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

29 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

IV. QUADRO METODOLÓGICO DA PESQUISA

1. Metodologia

O estudo a que nos propusemos fazer é de natureza qualitativa. Segundo Neves (1996) ao

empregar este método o investigador não pretende medir ou enumerar eventos. Está sim

preocupado com o processo social, buscando visualizar o contexto e ter uma integração empática

com o processo objecto de estudo que implique melhor compreensão do fenómeno. Permite,

portanto, obter dados descritivos mediante o contacto directo e interactivo entre o pesquisador e o

objecto de estudo. Assim, procuramos com esta abordagem captar as percepções e perspectivas

que os actores locais da governação municipal têm com relação ao tema em análise.

Como forma de aprofundarmos o estudo optamos pelo método monográfico ou estudo de

caso. De acordo com Salvador (1980), o método monográfico consiste no estudo científico de

uma questão específica e limitada, realizado com profundidade e de forma exaustiva.

A primeira etapa da pesquisa consistiu num exercício exploratório onde através da

pesquisa bibliográfica, consultamos algumas fontes secundárias tais como livros, artigos

científicos, comunicações, monografias, dissertações e teses que versam sobre a descentralização,

accountability vertical e governação municipal. Este exercício permitiu-nos esboçar melhor o

problema de pesquisa, clarificar os conceitos chave, revisitar as novas tendências neste debate e

delimitar o horizonte da nossa reflexão.

Numa vertente mais analítica fizemos também uma pesquisa documental que consistiu na

leitura e análise de informação escrita, isto é, consulta de documentos que não foram ainda

objecto de tratamento analítico (consideradas fontes primárias) tais como legislação, relatórios

anuais, planos de actividades, documentos sobre organização dos OPL e outros.

Para melhor nos inteirar da realidade existente a nível do local de estudo e manter um

contacto directo com os actores da governação local fizemos um trabalho de campo. De acordo

com Markoni & Lakatos (2007: 188) a pesquisa de campo permite aprofundar os conhecimentos

acerca de um problema para o qual se procura uma resposta, ou de uma hipótese que se queira

comparar, descobrir novos fenómenos ou relações entre eles.

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

30 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

Como técnicas de colecta de dados privilegiamos as entrevistas semi-estruturadas e a

observação não participante. A opção por entrevistas semi-estrutuadas deveu-se a três razões: (i)

a possibilidade que este modelo oferece ao entrevistador de não se ater simplesmente ao roteiro,

colocando as questões tal como aparecem escritas no guião, o que permite clarificar melhor as

perguntas ao entrevistado, principalmente em temas com uma certa complexidade; (ii) há uma

forte tendência dos temas de natureza política suscitarem uma certa insegurança nos

entrevistados. Desta situação, surge a necessidade de conferir ao entrevistado maior liberdade de

resposta podendo (mesmo não trazendo respostas directas) trazer outros elementos de análise e;

(iii) a existência de percepções, sentimentos, gestos, expressões corporais e expectativas, capazes

de ser minuciosamente percebidos mediante um maior contacto e interacção com os entrevistados

e cuja quantificação pode dificultar a análise da sua influência no processo.

A observação não participante permitiu-nos acompanhar o funcionamento de alguns

mecanismos de accountability vertical e analisar a lógica do seu funcionamento sob ponto de

vista da sua eficácia.

A definição da amostra e a selecção dos entrevistados obedeceram ao critério de

amostragem não probabilística intencional. Segundo Markoni & Lakatos (2002), ao optar por esta

técnica, o pesquisador está interessado na opinião (acção, intenção, etc.) de determinados

elementos da população, isto é, o pesquisador dirige-se àqueles que, segundo seu entender, pela

função desempenhada, cargo ocupado, prestígio social, exercem as funções de líderes de opinião

na comunidade sendo que, os elementos não têm a mesma probabilidade de serem seleccionados.

Entretanto, Martins (2000: 40) adverte que pelo facto deste método não privilegiar uma selecção

aleatória dos entrevistados, os resultados da pesquisa não podem ser generalizados para outros

casos semelhantes. Assim, tendo o pessoal dos OPL e os munícipes como o grupo alvo principal,

tivemos o cuidado de captar percepções e opiniões que pudessem espelhar a realidade local,

procurando evitar a interferência de juízos e ideias pré-concebidas.

Definimos uma amostra de 28 elementos assim constituída: 3 do CM (PCM e 2

vereadores) 2 da AM (PAM e 1 deputado da FRELIMO), 1 membro da RENAMO12

3 secretários

de bairro, 1 responsável na área de programas da RTCA e os restantes 18 foram cidadãos

comuns, na sua maioria entrevistados em função da sua acessibilidade e disponibilidade. As

12 Candidato do partido, derrotado nas primeiras eleições autárquicas que na altura foi entrevistado dada a

indisponibilidade do único representante da RENAMO na AM.

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

31 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

entrevistas dirigidas aos munícipes decorreram em 7 bairros da autarquia sendo 4 urbanos e 3

periféricos. Em cada um dos bairros procuramos ouvir pelo menos 2 munícipes, de preferência

aqueles que vivem há pelo menos 10 anos. Para preservar a confidencialidade das informações,

alterou-se o nome dos entrevistados (excepção seja considerada em relação aos membros do CM,

da AM e/ou representantes de partidos políticos, os secretários dos bairros e o representante da

RTCA).

2. Limitações da pesquisa

Algumas dificuldades foram encaradas ao longo da elaboração deste trabalho. Numa primeira

fase deparamo-nos com a exiguidade de estudos específicos que versam sobre o tema

accountability vertical a nível do contexto moçambicano e que poderiam fornecer-nos mais

elementos para a elaboração do problema de pesquisa.

Aquando do trabalho de campo, houve dificuldades em aceder a alguns documentos

institucionais a nível do CM e também da AM, tais como relatórios e programas de actividades

que cobrem o período em estudo (2009-2011), com mais incidência para o ano de 2009. Em parte

esta situação deveu-se ao facto de algumas semanas antes da nossa deslocação ao local de estudo,

a sede do CM ter sido alvo de um assalto a mão armada, o que exigiu um breve período de

reorganização interna.

Por outro lado, associado ao exposto no parágrafo acima, muitas das actividades ainda

não tinham começado a ser realizadas, o que terá limitado a possibilidade de fazermos uma

observação participante e/ou não participante, que de certa forma complementaria a análise

documental e as entrevistas feitas.

A última dificuldade encarada tem que ver com a indisponibilidade de alguns

informantes-chave, nomeadamente o delegado político do MDM e o deputado da bancada da

RENAMO na AMVU e ainda, alguns munícipes que não quiseram conceder entrevistas por

temerem represálias e perseguições políticas. Outros ainda exigiram o pagamento de valores

monetários como requisito. Diante desta situação, vimo-nos forçados a reduzir o tamanho da

nossa amostra, de 30 para 28 elementos.

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

32 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

V. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

1. PERFIL DO MUNICÍPIO DA VILA DE ULÓNGUÈ

1.1. Aspectos geográficos e divisão administrativa

Segundo o folheto informativo ndithu Ulónguè de Julho de 201113

, o Município da vila de

Ulónguè localiza-se no distrito de Angónia, a norte da província de Tete, a cerca de 230 km da

capital provincial, a cidade de Tete. A norte, faz fronteira com as localidades de Mangane e

Dziwanga, a sul com o distrito de Tsangano através do rio Mawe, a leste com a localidade de

Namigona através dos rios Kapambadzi e Ntayankwangwa e, ao poente, com a localidade de

Chimuala.

A autarquia que tem como sede a vila de Ulónguè é composta por 17 bairros,

nomeadamente: Francisco Manyanga, Emília Daússe, Mateus Sansão Muthema e Filipe Samuel

Magaia (localizados na zona urbana, não obstante a existência de algumas casas construídas com

recurso a material precário); Chinzeze, Nseula Velha, Namalinde, Nancholi, Mangozo, Ndundu,

Kapuazi, Chibanda, Ntachi, Macuca, Matewere, Chindeque e Nsendeza (localizados na zona

periférica do município)

Os principais cursos de água são Mawe, Kapambadzi e Ntayankwangwa (folheto

informativo ndithu Ulónguè, Julho de 2011).

1.2. Aspectos demográficos

Segundo consta nos folhetos informativos Ndithu Ulónguè, a população residente no

Município da vila de Ulónguè está estimada em cerca de 45.525 habitantes14

. Porém, acredita-se

que este número tem vindo a registar um crescimento bastante acelerado, como resultado da

crescente deslocação de pessoas vindas de outras províncias do país para frequentarem o ensino

13 Edição alusiva ao V Conselho Coordenador do Ministério da Agricultura 14 Este número representa cerca de 2,1% do total da população da província, estimada para o ano 2011, em

cerca de 2.137.700 habitantes, de acordo com os resultados do Censo populacional realizado em 2007 (Instituto

Nacional de Estatística - INE, 2010).

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

33 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

superior e, por outro lado, em busca de oportunidades de negócios, nos ramos do comércio e

agricultura em particular.

Os principais grupos étnicos nativos são os chewa ou nyanja e, em pequena escala, os angoni,

que são uma mistura entre os povos chewa e nguni.

1.3. O Clima

Segundo o folheto informativo ndithu Ulónguè, a vila de Ulónguè é coberta pelo clima

tropical influenciado fortemente pela altitude. Apresenta uma precipitação média anual de 1500

mm, com maior parte da queda pluviométrica registando-se entre finais de Novembro e

princípios de Abril.

Os solos são do tipo vermelho acastanhados, de textura pesada e apresentam uma

excelente capacidade de retenção da água, o que lhes confere um forte potencial para a prática da

actividade agrícola.

1.4. Infra-estruturas: Políticas, Administrativas, Sociais e Económicas

Para além do Conselho Municipal e da Assembleia Municipal, encontram-se instalados e

em funcionamento no Município da vila de Ulónguè alguns órgãos e serviços distritais a saber: o

governo distrital, serviços distritais (Actividades Económicas; Educação, Juventude e

Tecnologia; Saúde, Mulher e Acção Social e, Planeamento e Infra-estruturas), Serviços dos

Registos e Notariado, Serviços de Meteorologia, Tribunal Judicial, Procuradoria distrital,

Comando da Polícia da República de Moçambique, Estação Zootécnica de Angónia, uma

delegação distrital do INSS e uma estação de Rádio e Televisão Comunitária.

O Município da vila de Ulónguè conta também com representação de ONG‟s

internacionais tais como a Visão Mundial, ICRAF - Centro Mundial Agroflorestal, CLUSA e

Total Land Care. Conta igualmente, com algumas delegações de alguns Bancos tais como o

Banco Oportunidade (2011), Banco Terra, BCI (2011) e algumas empresas de grande dimensão

com reapresentação na sede da vila como é o caso da MLTC, SEMOC, TDM e EDM. De referir

que encontra-se actualmente na fase conclusiva a construção de uma fábrica de processamento de

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

34 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

cerais com uma capacidade instalada de transformação de milho em 43200 toneladas por ano e

que estará sob gestão do Instituto de Cereais de Moçambique. Esta unidade deverá absorver os

excedentes de produção dos camponeses em toda a região do distrito de Angónia, uma potencial

zona agrícola desta região do país (Jornal notícias, 2012)15

.

Como consta no folheto informativo ndithu Ulónguè de Julho de 2011, a rede escolar no

Município da vila de Ulónguè é composta por 14 escolas primárias do 1o e 2

o graus, 1 escola

secundária geral, 1 Instituto de Formação de Professores, 1 Instituto superior cristão (HEFSIBA)

e uma faculdade de ciências agrárias da Universidade Zambeze.

A rede sanitária comporta 1 Hospital Rural de referência onde funciona o banco de

socorros e centro de internamento, para além de 1 centro de saúde também localizado na sede da

vila. De referir que os serviços de saúde continuam inacessíveis para uma grande maioria da

população que vive na periferia, que se vê obrigada a percorrer longas distâncias em busca de

atendimento hospitalar.

O sistema de abastecimento de água potável encontra-se há muito em avançado estado de

degradação, situação que tem condicionado fortemente o acesso a este líquido por parte dos

munícipes que vivem nos bairros urbanos, levando-os ao consumo de água imprópria.

1.5. Economia

Segundo informações contidas nos folheto informativo Ndithu Ulónguè, economia da

autarquia tem como base a actividade agropecuária, aliás, o seu clima temperado de altitude

oferece condições favoráveis para a produção de algumas culturas como o milho, feijão, batata-

reno, soja, girassol, tabaco e ainda, algumas frutas e hortícolas diversas. No que a pecuária diz

respeito, destaca-se a criação do gado bovino, ovino, suíno e caprino.

De acordo com o documento que estamos citando, a rede comercial é constituída

actualmente por 9 lojas, 131 barracas, 80 bancas e 92 tendas vocacionadas para a venda de

produtos alimentares, material de construção e outros serviços. O Município conta actualmente

15 Jornal Notícias (2012). Ensaia-se em Tete indústria de cereais. Disponível em

http://www.jornalnoticias.co.mz/pls/notimz2/berwsea0.simples . Consultado no dia 24.09.2012

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

35 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

com 2 mercados (o mercado central e o mercado Ngwenha), sendo que, está para breve a entrada

em funcionamento de um novo mercado no bairro de Chindeque.

1.6. Estrutura interna da autarquia da vila de Ulónguè

De acordo com o quadro normativo da descentralização, constituem órgãos do município:

a Assembleia Municipal, o Presidente do Conselho Municipal e o Conselho Municipal (lei no

2/97, artigo 32)

Assembleia Municipal (AM) é o órgão representativo do município dotado de poderes

deliberativos (artigo 34; lei no 2/97). A AM realiza cinco sessões ordinárias por ano (lei n

o 2/97,

artigo 41, no 1) mas também pode reunir-se extraordinariamente, para tratar assuntos específicos

que tenham justificado a sua convocação (lei no 2/97, artigo 42). A AMVU é composta por 13

membros dos quais 12 são da FRELIMO e 1 é da RENAMO. Encontra-se dividida em três

comissões de trabalho: (i) comissão para administração e finanças e actividades económicas; (ii)

comissão para área social e género; e (iii) comissão para urbanização e saneamento.

O Presidente do Conselho Municipal (PCM) é o órgão executivo singular do município

(lei no 2/97, artigo 57,), que é democraticamente eleito pelos munícipes através de um sufrágio

universal.

O Conselho Municipal (CM) é o órgão executivo colegial do município, constituído pelo

Presidente do Conselho Municipal e por vereadores por ele escolhidos e nomeados (lei no 2/97,

artigo 49). O CMVU é composto por quatro vereações que são: (i) vereação para a área

económica; (ii) vereação para a área de infraestruturas; (iii) vereação para a área social e (iv)

vereação para área de administração e finanças.

De Janeiro a Junho de 2009 o CMVU realizou 18 sessões, sendo 16 ordinárias e 2

extraordinárias. No ano de 2010, o CMVU promoveu 36 sessões ordinárias e 7 extraordinárias,

perfazendo um total de 43 sessões enquanto que em 2011, realizaram-se 20 sessões ordinárias, e

6 extraordinárias, totalizando 26 Sessões contra as 24 previstas (Informe do PCM, 2009; 2010 e

2011 respectivamente)

Semanalmente, todos os sectores de actividades do CM prestam contas ao PCM, num

processo de accountability horizontal ou institucional que visa fazer o balanço semanal das

actividades realizadas em cada um dos sectores;

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36 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

“Todas as terças-feiras o PCM reúne-se com todos os sectores, onde o chefe de

cada sector deve prestar contas de forma a se fazer um balanço semanal das actividades realizada nos respectivos sectores. Para além de apresentar aquilo que

foi realizado, cada sector deve igualmente, apresentar as dificuldades encontradas

e suas propostas de resolução”16

Exercício similar é efectuado de quinze em quinze dias, porém, envolvendo apenas os

vereadores e o PCM, visando fazer o balanço quinzenal das actividades realizadas em cada

vereação;

“De quinze em quinze dias o PCM reúne-se com os vereadores onde cada

vereador apresenta o balanço das actividades realizadas ao longo dos quinze dias.

Apresenta igualmente as dificuldades e propostas para a resolução das mesmas”17

Importa sublinhar que nos encontros semanais o enfoque é dado ao balanço das

actividades internas de cada sector a nível do conselho municipal, visando garantir o normal

funcionamento da instituição. Nos encontros semanais por sua vez, são discutidos assuntos que

dizem respeito a autarquia como um todo, um exercício que visa avaliar o grau de cumprimento

dos objectivos e metas então programados, isto é, o impacto das actividades realizadas a nível da

autarquia.

2. O PROCESSO DE ACCOUNTABILITY VERTICAL NO MUNICÍPIO DA VILA

DE ULÓNGUÈ: MECANISMOS E LÓGICAS DE FUNCIONAMENTO

2.1. Mecanismos de resposta criados pelo Conselho Municipal da vila de

Ulónguè: a dimensão answerability da accountability vertical

Como já foi discutido na secção referente a revisão da literatura, o processo de

accountability vertical envolve dois momentos: answerability e enforcement. Assim sendo,

iremos a seguir identificar, descrever e analisar os mecanismos de answerability instituídos e

usados pelo CM para informar, justificar e fundamentar as suas acções e/ou decisões aos

munícipes.

16 Entrevista com Lucas Mandaliza Evasse, vereador para Área Social e chefe do gabinete do PCM, sede do

CM, 18.01.12 17 Idem

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37 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

Actualmente, existem quatro mecanismos de answerability em vigor no MVU a saber: (i)

governação aberta; (ii) programa radiofónico, denominado ndithu Ulónguè18

; (iii) apresentação

de informação financeira semanal na vitrina do CM e; (iv) folhetos informativos ndithu Ulónguè.

2.1.1. Governação aberta

No âmbito da governação aberta, o PCM e os quatro vereadores deslocam-se aos bairros

para que num primeiro momento, apresentarem as realizações alcançadas em cada um dos bairros

em particular e no município em geral findo um determinado período de tempo, assim como

anunciar novas actividades programadas. Num segundo momento, é aberto um espaço onde os

munícipes podem apresentar as inquietações, problemas e dúvidas que lhes assolam. O PCM

pronunciou-se nos seguintes termos:

“[…] estas visitas visam essencialmente identificar os problemas que os munícipes enfrentam e ouvir a apreciação deles em relação ao nosso desempenho, as nossas acções. A gente explica o que já foi feito naquele bairro, dentro dos

pedidos e problemas que eles apresentaram”19

Em 2010 foram promovidas 30 deslocações no âmbito da governação aberta em 16

bairros municipais, nas quais se fez auscultação sobre as principais inquietações dos munícipes, a

divulgação do Plano Quinquenal, Plano Económico e Social, dos Regulamentos Municipais

aprovados pela Assembleia Municipal, sensibilização dos munícipes a se empenharem na

promoção de saúde, higiene e saneamento do meio e ainda a promoção da educação da rapariga.

(Informe do PCM, 2010)

Ainda no contexto da governação aberta, no ano de 2011 foram realizadas 31 visitas aos

bairros e mercados, sendo que para o ano de 2012 estão previstas 31 visitas para os 17 bairros e

12 reuniões com os líderes comunitários. A possibilidade que estas visitas ofereceram de o

governo municipal poder auscultar os munícipes, inteirando-se das suas prioridades que

necessitam de intervenção urgente, afigurou-se como o principal ganho deste mecanismo, não

obstante a noção de answerability não se limitar ao processo de auscultação pública.

18 A expressão Ndithu Ulónguè literalmente em língua local quer dizer “sim Sra! Ulónguè” 19 Entrevista com Armando Constantino Júlio, PCM, sede do CM, 12.01.12

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38 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

Entretanto, apesar de o CMVU ter instituído este mecanismo de contacto com os

munícipes que a priori, se afigura como uma grande oportunidade para o fortalecimento da

prática da accountability vertical, os moldes em que o mesmo tem vindo a ser implementado não

parece puder vir a trazer os resultados esperados, como demonstra a análise que se segue.

Não obstante no início de cada ano o CM ter as visitas já planificadas, estas carecem de

regularidade, uma situação que pode impossibilitar que os munícipes participem na discussão dos

vários assuntos a nível da autarquia em cada momento do processo de governação, desde a

planificação até a monitoria e avaliação. Por ano, cada bairro é visitado uma vez e, em alguns

casos, duas vezes (geralmente em caso do Município estiver para receber uma visita de dirigentes

superiores do Estado ou do partido FRELIMO). Esta situação, como deram a entender alguns dos

entrevistados, tem inquietado os munícipes que no período eleitoral mantiveram de forma regular

encontros com aqueles que hoje dirigem a autarquia;

“[…] Os encontros com os membros do CM não são regulares. Raramente eles

têm aparecido. Por exemplo, no ano passado, 2011, eles vieram só uma vez, com o propósito de resolver um conflito e nunca mais. Só no período de campanha é

que vêm com regularidade”20

“[…] O CM desloca-se aos bairros simplesmente quando há alguma resistência por parte dos munícipes em cumprir determinadas decisões”

21

Por outro lado, as sessões da governação aberta, na sua maioria, têm se traduzido mais em

mecanismos de auscultação dos problemas vividos pelos munícipes, para alem de que têm

também se centrado na sensibilização dos munícipes visando a sua participação em jornadas de

limpeza, campanhas agrícolas, campanhas de alfabetização e ainda, a observância dos seus

deveres tributários a que devem regularmente cumprir sendo que, questões relativas à alocação

das receitas, ao porquê de se optar por determinadas opções e não outras, os resultados

alcançados em termos de benefícios concretos para os munícipes não têm merecido uma

discussão conjunta;

“[…] O que eles têm nos dito é que devemos pagar impostos e taxas. Quando convocam reuniões é para nos informarem sobre os impostos que temos de pagar.

Nunca dizem o quanto foi gasto e o que foi feito com o nosso dinheiro”22

20 Entrevista com Kutama Eresson, secretário do bairro Francisco Manyanga, sua residência, 02.02.12 21 Entrevista com Zacarias Sevene, professor, sua residência, 23.01.12 22 Entrevista com Aida Moises Zulu, estudante, sua residência, 26.01.12

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

39 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

“Há cobranças de impostos mas há falta de explicação da aplicação do dinheiro

que é cobrado. Seria bom que o CM explicasse aos munícipes onde é que o dinheiro é alocado e quais são os benefícios, isto é, o que a gente ganha com isso.

Ma eles nos fecham, nós não vivemos as actividades deles. A aplicação dos

fundos não é explicada, seja os fundos locais ou os fundos que vêm do governo central”

23

Esta situação revela que a nível do CMVU, questões referentes à consciencialização dos

munícipes sobre a necessidade dos agentes municipais prestarem contas de forma regular e ainda,

o papel dos munícipes como monitores e fiscalizadores da acção governativa continua sendo

relegada para o segundo plano. Importa assim referir que, um processo governativo que exclui a

componente de informação, fundamentação das decisões e discussão dos resultados tende a ser

menos transparente e exclusivo aos dirigentes municipais, para além de que verificar-se-á sempre

a tendência à acentuação da assimetria de informação entre os dirigentes e os munícipes.

Ainda no âmbito da governação aberta, há registo de fraca aderência por parte dos

munícipes. Estes alegam que preferem cumprir com os seus afazeres diários que lhes garantem

algum rendimento ao invés de participarem nas reuniões a nível do bairro para discutirem

questões de interesse colectivo.

Assim, por forma a garantir a presença de um número significativo de munícipes, os

líderes locais a nível dos bairros vêm-se obrigados a seleccionar um certo número de Homens e

de mulheres para participarem no encontro com os autarcas, uma situação que pode levar ao

controlo destes espaços de accountability por parte dos líderes dos bairros ao seleccionar pessoas

da sua confiança, confirmando a ideia avançada por Ackerman (2005: 19) ao apontar o risco que

se corre ao institucionalizar os mecanismos de accountability vertical, que pode levar a captura

destes por parte do governo, isto é, o risco de se criar uma elite ou então uma classe de indivíduos

que supostamente falam em nome do povo mas que não tenham uma base social ou legitimidade

para representar as suas visões.

23 Entrevista com Humberto Baptista, professor, sua residência, 23.01.12

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

40 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

2.1.2. Programa radiofónico Ndithu Ulónguè

Um outro mecanismo adoptado pelo CM para prestar contas aos munícipes é o programa

radiofónico em directo que vai ao ar todas as sexta feiras das 18:05 – 19:00h, denominado Ndithu

Ulónguè, lançado no ano de 2010 mediante a assinatura de um memorando de entendimento

entre o CM e a RTCA. Assim, ao longo da semana é anunciada a presença nos estúdios de um

vereador para a realização de um debate, onde são discutidos vários assuntos relativos à vereação

representada. Depois são reservados vinte minutos onde são abertas linhas telefónicas através das

quais os munícipes podem ligar para interagirem com o vereador. Depois que todos vereadores

tenham já participado, o PCM também vai ao programa para fazer um balanço geral.

Em termos de resultados, estes programas têm permitido a apresentação das realizações

do governo municipal, pese embora na maioria das vezes as abordagens dos autarcas concentrar-

se mais na exortação dos munícipes apelando a sua participação nas diversas actividades e ainda,

na divulgação das obrigações dos munícipes, facto que não acontece em relação aos seus direitos.

Portanto, a fundamentação das decisões e acções desenvolvidas, assim como a discussão dos

resultados não tem ainda merecido maior destaque.

Assim, foram difundidos em 2011 um total de 35 sessões radiofónicas do Programa

Ndithu Ulónguè, uma execução de 67% do total previsto (CMVU, 2011)24

.

O memorando assinado contempla igualmente, a divulgação de alguns conteúdos ao

longo das emissões diárias, enviados pelo CM e pela AM. A maior parte destes conteúdos têm

sido referentes à demarcação e ocupações de talhões, actividades económicas, código de posturas

dentre outros assuntos de interesse colectivo.

O uso de programas radiofónicos desta natureza como instrumento de diálogo e de

prestação de contas é um passo positivo, dada abrangência que estes podem ter num determinado

território porém, o processo que vai desde a sua criação até a sua implementação deve ser

precedido por uma análise exaustiva do contexto em que se pretende implementar, com o risco do

mesmo poder vir a não alcançar os objectivos pretendidos. Por outro lado, a sua implementação

deve ser acompanhada por campanhas regulares de consciencialização do grupo alvo, no que a

importância e relevância do mesmo dizem respeito.

24 Informe do PCM à AM

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

41 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

No caso concreto do programa Ndithu Ulónguè, dados colhidos no terreno deram a

compreender que as reuniões com as populações a nível dos bairros foi, e continua na actualidade

sendo o meio de comunicação mais eficaz pelo que, grande parte dos munícipes interpelados

afirmou que não acompanha estas emissões.

Ademais, o facto de o programa ser transmitido em língua portuguesa foi apontado por

alguns munícipes como sendo uma das razões do porquê uma grande parte destes não

acompanharem e participarem nas discussões já que, grosso da população residente no Município

da vila de Ulónguè tem o cinyanja ou cichewa como a sua principal língua de comunicação no

dia-a-dia25

. Assim, os programas transmitidos em língua portuguesa não têm merecido a mesma

atenção por parte dos munícipes, facto por nós comprovado aquando dos trabalhos de campo, ao

constatarmos uma forte preferência por emissoras do país vizinho, o Malawi. Um dos

entrevistados pronunciou-se nos seguintes termos;

“[…] esse programa da rádio por exemplo, eu não sei se ajuda. O programa é em

português e muitos munícipes não percebem e mal falam a língua. Naquele momento em que o programa está a decorrer, eles preferem desligar ou então

sintonizar a emissora malawiana, até que a emissão em língua local retome”26

O cenário acima descrito é revelador de duas situações. Se por um lado, assiste-se no

CMVU a introdução de mecanismos de accountability vertical, como é o caso do programa

radiofónico Ndithu Ulónguè, constata-se, por outro lado, que uma grande parte dos munícipes

não os conhece e muito menos participa na materialização dos mesmos, tornando infrutífero o

processo de prestação de contas do executivo municipal aos munícipes. Esta atitude indiferente

dos munícipes para com o processo governativo, no caso particular a sua não aderência aos

mecanismos de accountability instituídos foi evidenciada pelo responsável da área de programas

da RTCA, quando declarou nos seguintes termos:

“ […] apesar da presença do autarca nos estúdios da RTCA ser anunciada ao longo da semana, os munícipes não vêm deixar quaisquer inquietações ou

questões que queiram ver esclarecidas ao longo do programa “Ndithu Ulónguè”27

.

25 Apesar dos resultados do Censo de 2007 não apresentar de forma específica os dados das vilas, os dados

agregados (provinciais) ajudam a perceber este cenário. Dados do INE (2010) apontam que 46% da população da

província de Tete tem como língua materna o Cinyanja, sendo que o português é a 5a língua materna (3,2%). Apenas

33,8% da população de 5 anos e mais em Tete sabe falar português, sendo que 77, 4% desta reside na zona urbana. 26 Entrevista com Julião Ganizani, comerciante, seu posto de venda, 25.01.12 27 Entrevista com Miqueias Lapuquene, funcionário da RTCA, sede da RTCA, 29.01.12

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

42 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

Assim, tais constatações remetem-nos por sua vez, à ideia avançada por Adalima (2010:

61) segundo a qual, os espaços participativos que têm sido institucionalizados continuam

obedecendo a uma lógica “top down”, isto é, são espaços criados (“invited espaces”) e não

espaços reivindicados (“claimed espaces”) criados pelos grupos ou comunidades visando

pressionar as entidades políticas ou administrativas com vista a produzir mudanças. Portanto, a

criação dos mecanismos de accountability vertical tem sido feita sem a devida auscultação e

consulta aos munícipes, aqueles que deveriam levar o governo municipal à prestação de contas.

2.1.3. Apresentação de informação financeira semanal na vitrina do CM

Outro mecanismo de answerability em funcionamento no CMVU é a divulgação de

informação financeira semanal que é afixada em todas as terças-feiras na vitrina da sede do CM,

resultante da cobrança de taxas sobre as actividades económicas nos mercados e feiras, taxa de

vendedores ambulantes e ainda, a taxa de estacionamento de veículos;

“Depois do balanço semanal que fazemos em todas as terças-feiras, afixamos

num quadro que temos ali na vitrina, informação sobre o total das receitas

colectadas ao longo da semana em cada um dos impostos e taxas assim como fazemos também o respectivo balanço, isto é, as tendências em termos de

crescimento ou redução da receita arrecadada ”28

A publicação de informação financeira, isto é, do total das receitas arrecadadas

semanalmente é um requisito necessário que se enquadra na vertente answerability já que, os

munícipes podem, com base na informação publicada, fazer a monitoria e avaliação das

actividades realizadas pelo governo municipal, quer sob ponto de vista da eficiência na afectação

das receitas, quer ainda sob ponto de vista do impacto destas mesmas actividades na melhoria de

prestação de serviços públicos por parte do CM.

Porém, esta informação financeira semanal que é publicada limita-se a apresentar

simplesmente o total das receitas arrecadadas em cada rubrica sem que no entanto, seja

acompanhada e complementada por outra informação que vise apresentar, justificar e

fundamentar as despesas realizadas e ainda, os resultados alcançados sob ponto de vista do seu

28 Entrevista com José Manuel Windo, vereador para a área de Administração e Finanças, sede do CM,

27.01.12

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43 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

impacto sobre as condições de vida dos munícipes, sejam estes quantitativos ou qualitativos. Este

mecanismo de answerability, ao não incluir esta componente das despesas realizadas e resultados

alcançados pode reduzir a possibilidade e capacidade dos munícipes fazerem o acompanhamento

sistemático e regular do processo governativo, avaliando o desempenho do governo municipal

sob ponto de vista da qualidade dos serviços públicos fornecidos e em função disto, sancionar ou

premiar os agentes públicos municipais.

Por outro lado, ao longo dos trabalhos de campo fomos constatando que apesar de a

informação ser regularmente publicada pelo CM, a aderência dos munícipes é quase nula, aliás,

nenhum dos entrevistados (salvo o pessoal do governo municipal) afirmou que dirige-se à sede

do CM para poder informar-se sobre as receitas arrecadadas semanalmente sendo que, a maioria

destes revelou que simplesmente tem visto o tal quadro informativo afixado quando vai resolver

assuntos do seu interesse no CM.

Isto revela por sua vez, à semelhança dos outros mecanismos analisados e discutidos, que

pese embora estes tenham sido instituídos, tendem a ser ineficazes dada a fraca aderência dos

munícipes, o que leva a concluir que o processo que vai desde a sua criação até a sua

implementação não tem sido acompanhado por jornadas de informação e sensibilização visando

dar a conhecer a existência destes mecanismos, visando ainda, a consciencialização dos

munícipes sobre a obrigação que os agentes municipais têm de prestar contas e o seu papel como

monitores, assim como a importância e relevância deste processo para a qualidade da governação

municipal.

2.1.4. Folhetos informativos Ndithu Ulónguè

Ainda na vertente answerability o CMVU publica ocasionalmente desde o ano de 2010,

folhetos informativos intitulados Ndithu Ulónguè29

. Estes folhetos apresentam informações

relativas ao perfil municipal nas suas mais variadas áreas (localização, população, geografia,

clima, economia, organização interna do CM e da AM, etc). Entretanto, pese embora este tipo de

informação não tenha o propósito de prestar contas aos munícipes, isto é, apresentar, justificar e

discutir as decisões e realizações do CM, pode contribuir de forma significativa para a elevação

29 É somente publicado em certas ocasiões. Até ao momento foram publicados dois folhetos, um alusivo ao

às comemorações do dia da Vila e o outro, alusivo ao Conselho Coordenador

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44 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

do nível de cidadania e conhecimento político dos munícipes, passando estes a possuir um certo

domínio sobre a organização, funcionamento, finalidade de uma autarquia local e ainda, o papel

que podem ter no processo da accountability vertical, entanto que monitores da acção

governativa municipal.

Porém, constatamos que a publicação destes folhetos não é regular (são publicados apenas

em ocasiões festivas, comemorações ou conselhos coordenadores) e, por outro lado, não são

amplamente divulgados e/ou publicitados para que os munícipes tenham acesso, razão pela qual

parte dos munícipes entrevistados afirmara não ter conhecimento da existência destes folhetos.

Assim, pensamos que uma publicação e publicitação mais regulares deste tipo de informação

contribuiriam em grande medida não só para a elevação do conhecimento político dos munícipes,

(ao conhecerem os mecanismos que lhes permitem levar o governo municipal a prestar contas e a

organização e funcionamento do CM e da AM) mas também do seu interesse em participar de

forma activa no processo governativo municipal.

2.2. Mecanismos de Pressão ao dispor dos munícipes criados pelo

Conselho Municipal da vila de Ulónguè: a dimensão enforcement da

accountability vertical

São essencialmente 5 mecanismos de enforcement em vigor no MVU: (i) as audiências

com o PCM e/ou vereadores; (ii) o livro de reclamações e sugestões; (iii) a governação aberta;

(iv) a informação que o CM recebe da AM e; (v) o programa radiofónico ndithu Ulónguè.

2.2.1. Audiências com o PCM ou vereadores

Através do programa semanal de audiências, o PCM recebe os munícipes no seu gabinete

para que estes apresentem os assuntos que queiram ver esclarecidos. Para tal, estão reservados

três dias por semana (segunda, quarta e quinta-feira), num intervalo de quatro horas de tempo.

Em função da agenda do PCM e da natureza do assunto, as audiências podem ser canalizadas aos

vereadores do CM.

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

45 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

Constatamos que este é o mecanismo mais conhecido e com maior aderência por parte

dos munícipes. Estes consideram-no ser o mais eficaz sob ponto de vista da celeridade decisória,

caso tenham um assunto por resolver. Este é um dado que pode explicar, em parte, o porquê da

fraca aderência aos outros mecanismos. Os trechos abaixo ajudam a perceber este sentimento dos

munícipes;

“Caso tenha algum problema, eu acho que é mais viável dirigir-se ao CM e

marcar uma audiência. Caso contrário, a pessoa pode demorar muito para resolvê-

lo”30

“Se a pessoa quer que o seu assunto não demore muito para ser resolvido é

melhor mesmo ir marcar uma audiência com o PCM. Porque ali, pelo menos a pessoa sai com uma resposta na hora, logo, você sabe o que vai fazer a seguir. Ao

passo que quando a gente levanta preocupações nas nossas reuniões no bairro,

geralmente demora muito para que tenhamos uma resposta do CM”31

Esta aderência massiva por parte dos munícipes às audiências não tem merecido porém,

uma resposta eficaz sob ponto de vista de flexibilidade no atendimento, levando a que ao fim das

quatro horas de tempo reservadas, muita gente ficasse ainda por ser atendida. É verdade que o

tempo de duração de uma audiência dependerá muito do assunto a ser colocado pelo munícipe

porém, o elevado número de cidadãos que se faz presente à sede do CM exige um repensar na

possibilidade de as audiências poderem levar menos tempo, por exemplo, num máximo de 15

minutos.

2.2.2. O Livro de Reclamações e Sugestões

O uso do Livro de Reclamações e Sugestões é outro mecanismo de enforcement criado

pelo CMVU, como avançou o PCM;

“Está sempre disponível no balcão de atendimento, o Livro de Reclamações e

Sugestões através do qual, o munícipe tem a oportunidade de apresentar a sua

inquietação, descontentamento, reclamação ou sugestão em relação aos serviços prestados pelo CM, ou seja, a apreciação que faz em relação ao nosso

desempenho em qualquer área”32

30 Entrevista com Alfredo Cipriano, professor reformado, sua residência, 15.01.12 31 Entrevista com Mateus Atanásio, munícipe, residência do autor, 15.01.12 32 Entrevista com Armando Júlio, PCM, sede do CM, 12.01.12

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46 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

Importa assinalar que, se por um lado, o Livro de Reclamações e Sugestões é visto pelo

PCM como um mecanismo onde os munícipes podem colocar as suas preocupações em relação

aos serviços prestados pelo governo municipal em qualquer área de actividade, a mesma

percepção não se alastra aos funcionários afectos à secretaria do CM, para quem o Livro de

Reclamações e Sugestões é apenas um instrumento de uso interno, isto é, para que os munícipes

possam manifestar o seu desagrado com relação ao desempenho do CM a nível da sede. Verifica-

se aqui, a ausência de uma interpretação uniforme dos mecanismos que são criados, facto que

pode originar dificuldades na sua implementação.

Esta constatação apresentada pode em parte, explicar o porquê deste instrumento ser o

mecanismo menos usado pelos munícipes, associado a dificuldade de escrita por parte de alguns

munícipes, o que os leva a considerar este mecanismo como sendo ineficaz. O livro que tivemos

acesso em Fevereiro de 2012, por exemplo, foi colocado à disposição dos munícipes em 2011

mas tinha até então, somente o registo de uma reclamação. Esta reclamação chamava atenção ao

estado de degradação em que se encontravam as vias que dão acesso a um dos mercados, o que

não mereceu o devido prosseguimento como esclareceu um dos funcionários da secretaria;

“[…] na altura, o chefe da secretaria teria explicado que o Livro de Reclamações e Sugestões não era para apresentar aquele tipo de preocupações, mas sim

reclamações e sugestões em relação aos serviços que nós prestamos a nível

interno, portanto, dentro do CM como instituição pública”33

A análise feita em relação a este mecanismo leva-nos a conclusão segundo a qual o Livro

de Reclamações e Sugestões, a olhar pelo âmbito e objecto da sua aplicação, não oferece real

oportunidade para que os munícipes possam exercer pressão sobre governo municipal nos mais

variados assuntos que dizem respeito a autarquia.

2.2.3. Governação aberta

A governação aberta, ao conceder oportunidade para que os munícipes presentes possam

intervir e dialogar com os autarcas, colocando questões, dúvidas e inquietações, foi apontada

como outro mecanismo de enforcement instituído pelo CMVU.

33 Declarações de Levissoni Basílio Bote, funcionário da secretaria do CM, contactado telefonicamente para

prestar alguns esclarecimentos, 20.08.12

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47 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

Importa porém referir que os mecanismos de enforcement devem não simplesmente ser

vistos como meros espaços de diálogo entre os munícipes e os autarcas. Devem acima de tudo,

ser um instrumento através do qual os munícipes podem efectivamente influenciar as decisões do

governo municipal, quer no processo de definição de prioridades, quer ainda levando os autarcas

a prestação de contas.

À luz desta reflexão, constatamos que a governação aberta não constitui ainda um

mecanismo eficiente de enforcement primeiro, pela dificuldade de percepção, análise e

interpretação dos vários assuntos sobre a vida do Município por parte dos munícipes, que lhes

impossibilita de emitir opiniões que podem influenciar as decisões do governo municipal e, por

outro lado, pelo receio que estes têm em criticar publicamente sob o risco de serem associados à

partidos da oposição, tal como explicou um dos munícipes entrevistados;

“Nas reuniões a nível dos bairros, as pessoas não se sentem livres para expressar o seu pensamento, as suas visões e ideias ou mesmo criticar, mesmo que sejam

boas para o Município. Aqui o que está estragar é política. O facto de pensarem

que aquele que pensa diferente ou critica o governo só pode ser da oposição e, a tua ideia pode ser boa mas ninguém vai considerar; o problema é que estão mais

preocupados com política em vez de resolver os problemas do município”34

2.2.4. Informação fornecida ao Conselho Municipal pela Assembleia

Municipal

A AM também foi-nos apresentada como um órgão que tem funcionado como um veículo

visando a canalização de informação (problemas, inquietações, etc.) para o CM, que vêm dos

munícipes sendo que este processo tem sido feito em dois momentos. Primeiro, aquando da

deslocação das comissões de trabalho para os bairros a fim de auscultar os munícipes e ainda,

divulgar os regulamentos aprovados e as realizações do CM, como afirmou o PAM;

“Todas as semanas, as comissões que temos deslocam-se aos bairros para

reunirem-se com a população, colher as preocupações que depois encaminhamos ao CM. Depois realizamos encontros quinzenais para fazermos o balanço e

avaliarmos o impacto da ida aos bairros”35

34 Entrevista com Daniel Feniasse, agente económico, sua residência, 08.02.12 35 Entrevista com Basílio K. Banda, PAM, sede da AM, 28.01.12

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

48 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

Entretanto, à semelhança do que se verifica com o programa da governação aberta, estas

visitas da AM carecem de regularidade, facto que foi justificado pelos membros da AM com

quem mantivemos contacto como sendo resultado da exiguidade de meios de transporte.

Por outro lado constatamos que há vezes em que nas suas deslocações aos bairros, ao

invés de desempenhar o seu papel de fiscalizador da actividade dos órgãos executivos municipais

abordando junto dos munícipes assuntos sobre o Município, a AM chega mesmo a reportar as

realizações do governo da República de Moçambique à escala nacional, como declarou um dos

secretários do bairro;

“No ano passado por exemplo, recebemos aqui no nosso bairro uma visita do

PAM e alguns membros. Eles informaram-nos o que é que o governo do Presidente Guebuza já fez, exortaram os munícipes a aderirem as campanhas de

alfabetização, as campanhas agrícolas, nas limpezas gerais”36

O extracto acima apresentado revela a existência, por parte de alguns actores locais a

nível do MVU, de dificuldades de percepção e interpretação da lógica de funcionamento de

algumas práticas da acção governativa municipal, ao deslocar o foco de intervenção da

circunscrição territorial da autarquia a que fazem parte para um âmbito nacional, facto que pode

inviabilizar o correcto funcionamento dos mecanismos de accountability vertical.

O segundo momento decorre aquando da realização das sessões da AM que à luz do

artigo 44 da lei 2/97, estas são abertas ao público.

De referir que as sessões da AM não podem ser considerados um mecanismo eficiente de

enforcement já que, apesar de estas serem públicas, os munícipes presentes não podem dar o seu

contributo intervindo ao longo da sessão, isto é, não têm o direito a palavra. O mesmo aplica-se

aos secretários dos bairros, não obstante a sua presença ser de carácter obrigatório.

Por outro lado, a afluência dos munícipes a estas sessões é reduzida sendo que, a falta de

tradução para a língua local que dificulta a percepção dos assuntos em discussão foi apontada por

alguns munícipes como sendo uma das razões. As dimensões reduzidas da sala de sessões

também foram apontadas pelo PAM como sendo um dos constrangimentos que impossibilita a

participação de mais pessoas.

36 Entrevista com Kutama Eressoni, secretário do bairro Francisco Manyanga, sua residência, 02.02.12

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

49 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

2.2.5. Programa radiofónico Ndithu Ulónguè

O programa radiofónico Ndithu Ulónguè é outro mecanismo de enforcement, ao conceder

um espaço de vinte minutos onde os munícipes podem efectuar ligações telefónicas e, por meio

destas, dialogar com os vereadores ou então com o PCM, levantado questões, pedindo

esclarecimentos, colocando sugestões e críticas sobre os assuntos que estiverem em discussão.

Não obstante a existência deste espaço de vinte minutos, há registo de fraca participação

dos munícipes, em parte, pelas dificuldades linguísticas já avançadas mas também, por outro

lado, alguns munícipes consideram ser desnecessário, ou seja, ligando ou não os problemas

tendem a persistir, como afirmou um dos entrevistados.

“Nesse programa Ndithu Ulónguè, se as linhas fossem gratuitas penso que mais munícipes estariam a participar de forma regular. Porque há pessoas que não

ligam simplesmente porque não podem gastar crédito por um assunto que eles

próprios consideram irrelevante”37

Este facto pode revelar, primeiro, que há fraca consciencialização dos munícipes em

relação a importância que uma maior participação neste tipo de iniciativas pode ter no processo

da governação municipal, em particular, na consolidação dos mecanismos de accountability

vertical e, segundo, que a criação deste mecanismo não foi antecedida pela criação de condições

que viabilizassem o seu pleno funcionamento, como por exemplo, a montagem de telefones

públicos de fácil acesso aos munícipes.

2.3. A questão dos mecanismos de premiação e punição: podem os

munícipes avaliar os agentes públicos municipais?

Consta na literatura consultada que a noção de accountability vertical exige, não somente

que os agentes públicos prestem contas aos cidadãos, ao publicar e fundamentar as suas

realizações e decisões, como também que os cidadãos avaliem o desempenho e a conduta

37 Entrevista com Amós dos Santos, docente universitário e líder religioso, seu escritório de trabalho,

28.01.12

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

50 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

daqueles e que em função desta avaliação, possam premiá-los ou sancioná-los, o que em alguns

casos, resultaria na perca do mandato por parte dos agentes públicos.

No ano de 2011 o CM atribuiu em evento público, diplomas de reconhecimento a alguns

dos seus funcionários que mais se destacaram no desempenho das suas funções. A ser esta

considerada uma forma de premiação, a mesma não se enquadra na lógica da accountability

vertical, porquanto continua sendo uma avaliação institucional mais associada a noção de

accountability horizontal pelo que, ao não ser feita pelos munícipes e sim pelo próprio órgão

executivo da autarquia, pode não reflectir a percepção e/ou apreciação daqueles.

Há um reconhecimento unânime a nível do órgão executivo do MVU da importância que

os mecanismos de premiação ou sanção à disposição dos munícipes podem vir a ter na motivação

dos agentes públicos municipais. Porém, notou-se por parte destes uma falta de confiança e

segurança na avaliação que os munícipes podem vir a fazer, facto que pode obstruir qualquer

tentativa de introdução destes mecanismos, tal como afirmou um dos vereadores;

“A experiência é boa porque cada um de nós, depois de ser avaliado, premiado ou

sancionado iria esforçar-se para melhorar mais o seu desempenho. Mas aqui será

difícil porque se te sancionam é porque não te querem ver. Dificilmente farão uma avaliação sincera.”

38

Conclui-se assim que a nível do CMVU, o único mecanismo que permite aos munícipes

premiar ou sancionar os agentes públicos municipais continua sendo as eleições. No entanto,

como já foi amplamente discutido, ao permitir apenas o exercício duma accountability ex-post, as

eleições tendem a perpetuar a assimetria de informação entre os agentes públicos municipais e os

munícipes.

Esta situação pode em parte, resultar do facto de o quadro legal da descentralização não

conceder esta possibilidade dos munícipes, uma vez tendo avaliado o desempenho dos órgãos e

agentes municipais, puderem sancioná-los ou premia-los.

38 Entrevista com José Manuel Windo, vereador para área de Administração e Finanças, sede do CM,

27.01.12

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51 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

2.4. Acesso à informação como um requisito para a monitoria da

governação municipal e elevação do conhecimento político dos munícipes

O acesso à informação é um elemento fundamental para a efectivação do processo de

accountability vertical. Uma efectivação deste processo no contexto da governação municipal

exige, por um lado, que os munícipes conheçam os mecanismos que lhes permitem participar e,

por outro lado, que estes tenham acesso regular à informação sobre as actividades que são

desenvolvidas, informação sobre seus direitos e deveres, os deveres dos órgãos autárquicos, as

decisões tomadas e o plano de actividades do CM, as receitas arrecadadas, as despesas realizadas

e ainda os resultados alcançados. Tal só é possível numa situação de alto nível de acesso à

informação.

Constatamos que grande parte dos munícipes possui um défice de conhecimento político

sobre o processo da governação municipal, desde a organização e estrutura interna da autarquia e

as funções dos respectivos órgãos até à noção dos seus direitos e deveres e ainda, os deveres dos

órgãos autárquicos. Por outro lado, parte dos munícipes entrevistados mostrou não ter

conhecimento sobre as actividades que têm sido planificadas, realizadas e os resultados

alcançados.

Alguns munícipes entrevistados mostraram ter algum conhecimento, porém, limitado às

suas obrigações tributárias e ainda, ao dever do CMVU de desenvolver acções com vista a

satisfação das necessidades colectivas tais como a abertura de estradas, fontes de água e

construção de escolas39

. O direito de ser informado ou então, o dever do CM prestar contas não

foi apontado por nenhum dos entrevistados. Um dos munícipes ouvidos pronunciou-se nos

seguintes termos;

“Tenho a impressão de que os munícipes não sabem que os órgãos municipais

devem prestar contas e isto estende-se até as pessoas escolarizadas (…) Penso que está faltar a divulgação de informação sobre o município, através de jornadas de

informação ou campanhas de educação cívica, o que contribui para que não haja

boa comunicação entre o CM e os munícipes”40

39 Este conhecimento mínimo que os munícipes têm (restrito às funções básicas de uma autarquia) pode em

grande medida, ter sido resultado das promessas que foram sendo feitas pelos candidatos e forças políticas

concorrentes ao longo da campanha eleitoral. 40 Entrevista com Amós dos Santos, docente universitário e líder religioso, seu escritório de trabalho,

28.01.12

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52 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

Por outro lado, o plano de actividades continua sendo um instrumento exclusivo aos

órgãos autárquicos, como deu a entender um dos munícipes entrevistados;

“[…] as pessoas não são dadas a conhecer o plano de actividades do CM,

simplesmente em cada actividade elas são comunicadas e convidadas a participar

na implementação”41

.

Esta situação revela que a interacção entre os munícipes, o CM e a AM não é eficaz, ou

seja, os mecanismos de answerability e de enforcement criados não têm permitido um maior

envolvimento dos munícipes nas discussões dos vários assuntos de interesse colectivo.

Assim, dois cenários podem advir desta situação a nível da governação municipal: (i) a

assimetria de informação entre os agentes municipais e os munícipes tenderá a aumentar; (ii)

dificilmente os cidadãos farão um acompanhamento regular das actividades e realizações do CM,

o que lhes impossibilitará de avaliar o desempenho deste e puder premiar ou sancionar – é a

impossibilidade de efectivação da dimensão enforcement num contexto de fraco acesso à

informação.

2.5. Implicações do processo da accountability vertical na governação a

nível do Município da vila de Ulónguè

Depois de termos apresentado nas secções anteriores os mecanismos de accountability

vertical instituídos a nível do MVU, assim como a lógica que tem marcado o funcionamento dos

mesmos, iremos agora analisar as implicações que tal processo (nos moldes em que tem sido

implementado) pode trazer a nível da governação municipal.

Os resultados da pesquisa mostraram que não obstante existirem a nível do MVU,

mecanismos de accountability vertical, estes têm demonstrado ser ineficazes, levando a uma cada

vez maior assimetria de informação entre os agentes municipais e os munícipes.

No contexto da governação democrática, este cenário pode dificultar o alcance de um dos

maiores objectivos das reformas de descentralização - uma maior aproximação entre os

governantes (o agente) e governados (o principal), traduzida numa cada vez maior participação

dos cidadãos no processo governativo local como monitores do desempenho dos agentes

41 Entrevista com Filipe Benjamim, pensionista militar, residência do autor, 25.01.12

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53 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

municipais. Assim, a governação municipal pode acabar por ser uma actividade exclusiva aos

titulares dos órgãos autárquicos.

Por outro lado, haverá maior tendência de aumento da assimetria de informação entre

estes dois actores, reduzindo a possibilidade e capacidade dos munícipes puderem fazer o

acompanhamento das actividades e avaliar o desempenho dos agentes públicos municipais. Esta

assimetria de informação pode constituir um terreno favorável para a adopção por parte dos

agentes municipais, de políticas e comportamentos incorrectos que visem a prossecução de

interesses particulares em detrimento do interesse público.

Enquanto os munícipes não forem efectivamente capazes de influenciar as decisões do

CM (facto que exige mais eficácia dos mecanismos de enforcement), haverá maior probabilidade

de se verificarem incongruências entre as reais necessidades e prioridades dos munícipes e as

alternativas e opções de políticas a serem adoptadas pelo executivo da autarquia com vista a

responder as demandas, o que conduziria por sua vez, a uma deficiente provisão de bens e

serviços públicos essenciais com vista à satisfação das necessidades colectivas.

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54 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

VI. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

1. Conclusão geral

Neste estudo colocamos inicialmente a seguinte questão: em que medida as reformas de

descentralização têm contribuído para a introdução e consolidação de mecanismos de

accountability vertical a nível da governação municipal?

Os resultados da pesquisa permitiram-nos concluir, duma forma geral e num plano mais

teórico, que não se pode estabelecer uma correlação directa entre a descentralização e

accountability vertical. A tese segundo a qual as reformas de descentralização conduzem à

elevação dos níveis de accountability vertical no contexto da governação municipal não deve ser

vista numa perspectiva mecanicista e aplicável à todos os contextos. Assim, especificidades

inerentes à cada realidade local devem ser tomadas em consideração e levadas à análise, sob o

risco de as reformas de descentralização puderem registar um fracasso.

1.1. Conclusões específicas

No caso específico do MVU, constatamos que de 2009 à 2011 foram criados alguns

mecanismos de accountability vertical que podem ser operacionalizados em ambas dimensões

(answerability e enforcement).

Entretanto, a análise feita a cada um dos mecanismos, focalizando a atenção na lógica do

seu funcionamento levou-nos a constatação segundo a qual a nível do MVU o processo de

accountability vertical ainda não oferece real oportunidade para que por um lado, os agentes

municipais possam fundamentar as suas decisões e/ou acções e, por outro, para que os munícipes

exerçam pressão sobre aqueles sendo que, a relação entre estes dois actores tem sido marcada por

níveis elevados de assimetria de informação. Esta constatação confirma a hipótese do presente

estudo então avançada.

Pelo facto de o processo da sua criação ter obedecido à uma lógica top down, sem que os

munícipes tivessem participado e/ou sido consultados, a aderência aos mesmos por parte dos

cidadãos tem se mostrado extremamente reduzida. Alguns elementos de natureza sociocultural,

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

55 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

linguística e práticas organizacionais inerentes à realidade local não foram tomados em

consideração, o que torna os mecanismos de accountability criados algo desajustados à realidade

local no contexto da governação municipal a nível do MVU.

O cenário acima descrito é agravado com a não realização por parte CM, de jornadas de

informação visando dar a conhecer a existência dos mecanismos criados e, por outro lado, a

importância do processo de prestação de contas, com destaque para o papel dos cidadãos como

monitores da acção governativa. A sensibilização dos munícipes tem se centrado em matérias

referentes à tributação, higiene e saneamento, saúde e educação. Como resultado, grande parte

dos munícipes mostrou ter um défice de conhecimento sobre o processo da governação com

destaque para questões referentes a organização e funcionamento dos órgãos autárquicos, os seus

direitos e deveres, os deveres dos órgãos autárquicos, etc.

Os conteúdos veiculados no processo de answerability limitam-se a apresentar as

realizações do CM sem que no entanto, sejam precedidas por sua respectiva fundamentação,

justificação e discussão conjunta com os munícipes, em torno dos resultados alcançados e

impacto das mesmas na vida dos munícipes. Este facto tem agravado a assimetria de informação

entre os agentes municipais e os munícipes, colocando estes em desvantagem no processo da

governação municipal, particularmente no que a monitoria do desempenho dos governantes diz

respeito.

Por outro lado, o plano de actividades do CM não é tornado público, facto que pode

impossibilitar, num primeiro momento, que os cidadãos façam o acompanhamento e fiscalização

das actividades que vão sendo realizadas e, num segundo momento, que avaliem o desempenho

dos autarcas podendo premia-los ou sanciona-los. Esta situação tende a reforçar a assimetria de

informação entre os autarcas e os munícipes, limitando ainda mais a possibilidade dos munícipes

influenciarem as decisões do CM nas várias áreas

A última constatação é que a nível do MVU, as eleições continuam sendo o único

mecanismo de premiação e punição, não obstante as deficiências que as caracterizam.

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

56 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

2. Recomendações e notas de reflexão para os próximos estudos

Para uma maior eficácia do processo de prestação de contas do CMVU aos munícipes

algumas recomendações são avançadas:

(i) Os órgãos autárquicos devem sensibilizar os munícipes a aderirem aos mecanismos de

accountability vertical, uma acção que passa pela adequação destes à realidade sociocultural,

linguística e organizacional locais e ainda, a realização de campanhas de educação cívica;

(iii) O CM em colaboração com a RTCA, deverá realizar sessões radiofónicas a nível dos

bairros através de estúdios móveis para permitir debates mais abertos e ainda, maior liberdade

para que os munícipes possam manifestar os seus posicionamentos em torno dos vários assuntos

sobre a vida do município;

(iv) Os órgãos autárquicos devem difundir informação sobre o município (informação

referente ao perfil e também sobre as actividades em curso e ainda, as decisões tomadas) devendo

afixar em locais públicos tais como mercados, terminais de transportes, escolas e universidades;

(v) Os órgãos centrais da administração do Estado, no caso particular o MAE e outras

organizações (governamentais ou não) que trabalham na área da governação devem apostar na

formação e capacitação dos autarcas, devendo elaborar um pacote de formação em matéria de

accountability vertical;

Alguns elementos podem constituir elementos de reflexão para os próximos estudos:

(i) Uma análise mais específica à relação entre os órgãos autárquicos e os líderes locais a

nível dos bairros e ainda, a relação destes com os cidadãos no contexto da accountability vertical;

(ii) Um estudo unicamente centrado na análise do quadro legal e institucional da

descentralização, visando apresentar subsídios para a regulamentação de um processo de

accountability vertical e quiçá, a criação de agências extra-estatais.

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Descentralização, Accountability vertical e Governação Municipal em Moçambique: O caso do Município da Vila de Ulónguè (2009-2011)

57 Trabalho de Licenciatura 2012 Miguel Natha

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Page 71: Descentralizacao, Accountability Vertical e Governacao Municipal em Mocambique

ANEXOS

Page 72: Descentralizacao, Accountability Vertical e Governacao Municipal em Mocambique

ANEXO 1. Guião de entrevistas

Questões dirigidas aos membros do Conselho Municipal (CM) - Presidente e Vereadores)

1. Identificação do entrevistado (nome, função)

2. Que mecanismos são usados para dar a conhecer os munícipes sobre as políticas e/ou

programas e realizações do governo municipal?

3. Donde surgiu a necessidade de criar tais mecanismos? Governo central, governo

municipal ou dos munícipes?

4. Na sua opinião, acha que os munícipes conhecem estes mecanismos? Eles têm ou não

aderido?

5. Acha que o governo municipal consegue manter os munícipes devidamente informados

no que diz respeito as políticas, programas e/ou planos de actividades e aos serviços

prestados pelos órgãos municipais?

6. Em caso de o CM não conseguir cumprir determinada actividade que tenha sido prevista e

prometida? Dirige-se aos munícipes para explicar as razões? Imagine um exemplo

concreto que possa usar para nos explicar.

7. Depois que uma actividade e/ou projecto tenha sido levado a cabo pelo governo

municipal, vocês discutem os seus resultados junto dos munícipes? Exemplos?

8. Quais são os actores que participam a nível da governação municipal e que tipo de relação

estabelecem com o CM?

9. O governo municipal (PCM e vereadores) tem feito visitas aos bairros?

10. Com que regularidade vocês realizam as visitas aos bairros?

11. Que avaliação faz da aderência dos munícipes à tais visitas? E em relação a sua

participação?

12. Quais têm sido os conteúdos difundidos durante as visitas a nível dos bairros?

13. Usam a rádio local para informar os munícipes sobre as políticas, programas e/ou

realizações do governo municipal?

14. Existe um programa radiofónico específico? Se sim, qual é o nome e em que período é

transmitido?

15. Que mecanismos de participação e auscultação dos munícipes foram criados?

16. Na sua opinião acha que existem espaços para que os munícipes possam expressar suas

opiniões, suas necessidades, aspirações e motivações antes de ser tomada qualquer

decisão pelo governo municipal?

17. Quais são esses espaços?

18. Tem recebido reclamações ou sugestões dos munícipes? Se sim, quais têm sido as áreas

mais frequentes? Que meios têm sido usados pelos munícipes?

19. Como é que tais opiniões, reclamações, sugestões, pontos de vista, ou então assuntos

discutidos são canalizados para agenda de governação?

20. Acha que os munícipes conhecem os seus direitos e deveres a nível da governação

municipal?

21. Que acções e/ou mecanismos vocês têm usado para dar a conhecer aos munícipes os seus

direitos e deveres

22. Existe algum instrumento legal que permite que os munícipes possam premiar ou

sancionar os membros do CM ou da AM em função dos seus desempenhos? Justifique.

Page 73: Descentralizacao, Accountability Vertical e Governacao Municipal em Mocambique

23. Fazendo uma avaliação, considera existir nos munícipes, capacidades e habilidades para

que estes possam de forma eficaz, influenciar as decisões, políticas e programas do

governo municipal?

24. Sendo a experiência de governação municipal nesta autarquia ainda recente, que avaliação

faz da familiarização deste processo por parte dos munícipes?

Questões dirigidas aos membros da Assembleia Municipal (AM) - Presidente e

deputados)

1. Identificação do entrevistado (nome, filiação partidária e cargo/função)

2. Fale da composição da AM: no de deputados, os partidos com representação na AM, as

comissões de trabalho existentes, etc.

3. Quantas sessões ordinárias da AM são realizadas em cada ano?

4. Quais são os actores que participam neste processo da governação municipal e que

relação estabelecem com a AM?

5. Para além dos deputados eleitos, que outros actores do município participam nas Sessões

da AM?

6. De que formas (mecanismos) a AM dá a conhecer aos munícipes sobre as deliberações

(políticas, programas, orçamento, etc)?

7. Existem espaços para que os munícipes possam expressar os seus pontos de vista e

opiniões antes que a AM proceda a qualquer deliberação? Quais são estes espaços?

8. Na sua opinião acha que os munícipes conseguem propor assuntos para serem debatidos

nas sessões da AM? Se sim, pode mostrar um exemplo?

9. A AM tem mantido contactos com os munícipes? Com que regularidade? Como é que

estes encontros têm sido realizados? Quais têm sido os assuntos discutidos?

10. Fazem campanhas nos bairros para informarem, discutirem certas políticas, programas ou

resultados de uma determinada actividade? Com que regularidade?

11. Quais tem sido os conteúdos discutidos durante as vossas visitas?

12. Em que momento são feitas tais discussões? Antes ou depois da aprovação dos

programas/políticas?

13. Como é que tem sido feita a colaboração entre as comissões de trabalho da AM e as

associações e grupos locais?

14. Acha que o governo municipal consegue manter os munícipes devidamente informados

no que diz respeito as políticas, programas e/ou planos de actividades e aos serviços

prestados pelos órgãos municipais?

15. Fazendo uma avaliação, considera existir nos munícipes, capacidades e habilidades para

que estes possam de forma eficaz, influenciar as decisões, políticas e programas do

governo municipal?

16. Como é que o governo municipal procede em caso de não conseguir cumprir determinada

actividade que tenha sido prevista e prometida? Dirige-se aos munícipes para explicar as

razões?

17. Depois que uma actividade e/ou projecto tenha sido levado a cabo pelo governo

municipal, os seus resultados são trazidos à discussão conjunta com os munícipes?

18. Na sua opinião acha que existem espaços para que os munícipes possam expressar suas

opiniões, suas necessidades, aspirações e motivações antes de ser tomada qualquer

decisão pelo governo municipal?

Page 74: Descentralizacao, Accountability Vertical e Governacao Municipal em Mocambique

19. Quais são esses espaços?

20. Existe algum instrumento legal que permite que os munícipes possam premiar ou

sancionar os membros do CM ou da AM em função dos seus desempenhos? Justifique.

21. No seu ponto de vista, acha que os munícipes estão devidamente consciencializados sobre

esta experiência de governação municipal, e em relação aos seus direitos e deveres em

particular?

22. Sendo a experiência de governação municipal nesta autarquia ainda recente, que avaliação

faz da familiarização deste processo por parte dos munícipes?

Questões dirigidas aos Cidadãos comuns – munícipes

1. Identificação (Nome, idade, profissão)

2. Que avaliação faz em relação a governação municipal ao longo destes três anos (2009-

2011)?

3. Fale-me do que sabe em relação a governação municipal (os órgãos, duração do mandato,

etc).

4. Conhece alguns dos seus direitos e deveres como munícipe? Se sim, pode menciona-los.

Se não, porque é que não conhece? De quem é a culpa?

5. Conhece os mecanismos existentes a nível do município que lhe permitem reclamar,

colocar sugestões, críticas, opiniões sobre os mais variados assuntos que afectam o

município? Se sim, quais são?

6. Conhece o plano de actividades do CM? Se sim, de que forma teve conhecimento?

7. Tem participado na sua materialização? Se não, porquê? Se sim, de forma forma? Na

planificação, implementação, monitoria, controlo, ou avaliação?

8. Conhece alguma política, programa, etc que foi aprovado pelo Conselho Municipal ou

Assembleia Municipal? Se sim, qual era o conteúdo e como teve conhecimento?

9. Participou na sua discussão e/ou elaboração? Em que momento (antes, depois ou durante

a aprovação)?

10. Depois que as políticas/programas são aprovados vocês são informados? Através de que

mecanismos?

11. O CM tem apresentado o relatório ou resultados do cumprimento das actividades que

estavam previstas para um determinado ano?

12. Tem tido acesso à esses relatórios? Se não, porquê? Se sim, de que forma?

13. Com que frequência os membros do governo municipal (PCM e vereadores) e da AM têm

visitado o seu bairro?

14. O governo municipal e a AM têm levado a cabo jornadas de informação no seu bairro?

15. Existem programas radiofónicos onde o CM ou a AM têm informado sobre as suas

realizações e/ou políticas?

16. Em caso de ter uma reclamação, queixa, sugestão a fazer aos membros do governo

municipal e da AM que mecanismos de têm usado?

17. Já manteve encontro com um membro do CM ou da AM? Qual? Quais foram os assuntos

arrolados na ocasião?

18. Costuma ter acesso aos assuntos e pontos de discussão a serem debatidos nas sessões da

AM?

Page 75: Descentralizacao, Accountability Vertical e Governacao Municipal em Mocambique

19. No seu ponto de vista, acha que os munícipes estão devidamente consciencializados sobre

esta experiência de governação municipal, e em relação aos seus direitos e deveres em

particular?

20. Na sua opinião acha que existem espaços para que os munícipes possam expressar suas

opiniões, suas necessidades, aspirações e motivações antes de ser tomada qualquer

decisão pelo governo municipal?

21. Existe algum instrumento legal que permite que os munícipes possam premiar ou

sancionar os membros do CM ou da AM em função dos seus desempenhos? Justifique.

22. Como é que o governo municipal procede em caso de não conseguir cumprir determinada

actividade que tenha sido previsto e prometido? Dirige-se aos munícipes para explicar as

razões?

23. Acha que o governo municipal consegue manter os munícipes devidamente informados

no que diz respeito as políticas, programas e/ou planos de actividades e aos serviços

prestados pelos órgãos municipais?

I. Estação de rádio comunitária local

1. Identificação do entrevistado (Nome, idade, função)

2. Na sua opinião qual é e deve ser o papel duma rádio comunitária no contexto da

governação municipal?

3. Esta estação tem transmitido alguns conteúdos referentes a vida do município? Com que

frequência e quais têm sido os assuntos dominantes?

4. É a rádio que vai ao encontro do governo municipal solicitar informação ou é o governo

municipal que vem depositar informação na rádio?

5. A informação transmitida tem merecido alguma reacção dos munícipes? Como é que tais

reacções são canalizadas a rádio?

6. Após receber tais reacções o que é que a rádio faz?

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ANEXO 2. Lista de Entrevistados

Nome

completo Fução/Ocupação/Profissão Local Data

Aida Moisés Zulu Estudante do nível médio Sua residência 26.01.12 Américo Sebastião Pedreiro Sua residência 19.01.12 Armando Cebola Sua residência 06.02.12

Armando C. Júlio Presidente do Conselho Municipal Sede do Conselho Municipal

12.01.12

Anunciada Alberto Agricultora Sua residência 14.01.12 Basílio K. Banda Presidente da Assembleia Municipal Sede da Assembleia

Municipal 28.01.12

Efigénia André Comerciante (venda de produtos

hortícolas) Sua residência 24.01.12

Alfredo Cipriano Professor reformado Sua residência 15.01.12 Fusilani Kanthenga Mecânico de bicicletas Seu posto de

trabalho 16.01.12

Isabel Gonzaga Membro da Assemleia Municipal –

bancada da FRELIMO Sua residência 05.02.12

Ana Maria de Almeida Doméstica Sua residência 20.01.12 Zacarias Sevene Professor do nível médio Sua residência 23.01.12 Filipe Benjamim Pensionista militar Residência do autor 25.01.12 José Manuel Windo Vereador para área de Administração e

Finanças no Conselho Municipal Sede do Conselho

Municipal 27.01.12

Lucas Mandaliza

Evasse Vereador para area Social Sede do Conselho

Municipal 18.01.12

Maria Benjamim Phiri Estudante do nível médio Interpelada e

entrevistada na rua 26.01.12

Mário Franque Agente da RENAMO, candidato

derrotado nas eleições autárquicas Seu escritório 27.01.12

Miqueias F. Lapuquene Locutor e responsável da área de

programas na Rádio e Televisão Comunitária de Angónia

Sede da RTCA 29.01.12

Amós dos Santos Docente universitário e pastor da Igreja

reformada unida de Moçambique Seu escritório 28.01.12

Miguel Odias Secretário do bairro Mateus Sansão Muhemba

Sua residência 31.01.12

Constantino Musipo Munícipe, reformado Residência do autor 29.01.12 Humberto Baptista Professor do nível médio Sua residência 23.01.12 Olga da Conceição Vasco

Comerciante (venda de veda de vestuário)

Seu posto de venda 13.01.12

Mateus Atanásio Munícipe, reformado Residência do autor 15.01.12 Julião Ganizani Comerciante (venda de produtos

alimentares) Seu posto de venda 25.01.12

Daniel Feniasse Agente económico Sua residência 08.02.12 Teresa Kanthunkunva Adjunta-secretária do bairro Emília

Daússe Sua residência 05.02.12

Kutama Eressoni Secretário do bairro Francisco Manyanga Sua residência 02.02.12

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