desafios de mobilidade enfrentados por idosos em seu meio. · importantes preditores para a...

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V Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação PUCRS, 2010 V Mostra de Pesquisa da Pós- Graduação Desafios de Mobilidade Enfrentados por Idosos em seu Meio. Milena Abreu Tavares de Sousa-Fischer 1 , Irênio Gomes da Silva Filho 2 (orientador) 1 Mestranda em Geriatria e Gerontolgia Biomédica, IGG/PUCRS, 2 Coordenador do Programa de Pós- Graduação do Institutode Geriatria e Gerontologia da PUCRS. Resumo Os inúmeros problemas que afetam a qualidade de vida dos idosos demandam respostas urgentes em diversas áreas. Sendo assim, são de extrema importância, para essa população, ações de caráter mais preventivo, principalmente no controle da autonomia, e consequentemente, na qualidade de vida. Um dos elementos que determinam a expectativa de vida ativa ou com qualidade é a independência para realização das atividades habituais. Essa independência depende não somente das condições clínicas e de saúde dos idosos, mas também da adequação do meio onde eles vivem (JOHNSTON et al., 2006). A autonomia está interligada a incapacidade funcional, que ocorre à medida que os idosos não conseguem se adaptar às mudanças decorrentes do processo de envelhecimento e ao meio onde vivem (RAMOS, 2003). A capacidade funcional é um paradigma à saúde dos idosos, em que a qualidade de vida passa a ser resultante da interação entre saúde física, mental, independência na vida diária e o ambiente, dentro de uma integração social. Outro fato importante a ser considerado é que saúde para a população idosa não se restringe ao controle e à prevenção de agravos de doenças crônicas não-transmissíveis. Saúde da pessoa idosa é a interação entre a saúde física, a saúde mental, a independência financeira, a capacidade funcional e o suporte social (BRASIL, 2009). Desta forma, se a qualidade do espaço urbano for comprovada como fator atenuante para a pouca mobilidade do idoso, poderia dessa forma, sugerir melhoras no espaço físico urbano para facilitar a mobilidade dos idosos com maior incapacidade, assim, o processo de dependência do idoso poderia ser revertido ou atenuado e consequentemente melhorar sua autonomia e qualidade de vida. 698

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V Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2010

V Mostra de

Pesquisa da Pós-Graduação

Desafios de Mobilidade Enfrentados por Idosos em seu Meio.

Milena Abreu Tavares de Sousa-Fischer1, Irênio Gomes da Silva Filho

2 (orientador)

1Mestranda em Geriatria e Gerontolgia Biomédica, IGG/PUCRS,

2 Coordenador do Programa de Pós-

Graduação do Institutode Geriatria e Gerontologia da PUCRS.

Resumo

Os inúmeros problemas que afetam a qualidade de vida dos idosos demandam respostas

urgentes em diversas áreas. Sendo assim, são de extrema importância, para essa população,

ações de caráter mais preventivo, principalmente no controle da autonomia, e

consequentemente, na qualidade de vida. Um dos elementos que determinam a expectativa de

vida ativa ou com qualidade é a independência para realização das atividades habituais. Essa

independência depende não somente das condições clínicas e de saúde dos idosos, mas

também da adequação do meio onde eles vivem (JOHNSTON et al., 2006).

A autonomia está interligada a incapacidade funcional, que ocorre à medida que os

idosos não conseguem se adaptar às mudanças decorrentes do processo de envelhecimento e

ao meio onde vivem (RAMOS, 2003). A capacidade funcional é um paradigma à saúde dos

idosos, em que a qualidade de vida passa a ser resultante da interação entre saúde física,

mental, independência na vida diária e o ambiente, dentro de uma integração social.

Outro fato importante a ser considerado é que saúde para a população idosa não se

restringe ao controle e à prevenção de agravos de doenças crônicas não-transmissíveis. Saúde

da pessoa idosa é a interação entre a saúde física, a saúde mental, a independência financeira,

a capacidade funcional e o suporte social (BRASIL, 2009).

Desta forma, se a qualidade do espaço urbano for comprovada como fator atenuante

para a pouca mobilidade do idoso, poderia dessa forma, sugerir melhoras no espaço físico

urbano para facilitar a mobilidade dos idosos com maior incapacidade, assim, o processo de

dependência do idoso poderia ser revertido ou atenuado e consequentemente melhorar sua

autonomia e qualidade de vida.

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Este estudo pode servir também como ferramenta para dar suporte para a Geriatria

Preventiva, enfatizando a melhoria da qualidade de vida dos idosos. Os idosos quantificarão e

avaliarão a qualidade do ambiente onde eles vivem através das suas experiências. Esta

abordagem fornecerá informações essenciais a serem analisadas por profissionais de saúde

buscando compreender e melhor trabalhar para o envelhecimento ativo. Além disso, pode

possibilitar maiores conhecimentos para dar suporte a gestores públicos para adaptar as

intervenções e políticas.

Portanto, o objetivo deste trabalho é estudar a frequência com que os idosos do

município de Dois Irmãos saem dos seus domicílios, as dificuldades relatadas pelos idosos;

características ambientais observadas; características sócio-demográficos e de saúde

relacionados a essas dificuldades. Desta forma, será possível observar se ambientes construído

de forma menos acessível são susceptíveis a aumentar a incapacidade de mobilidade,

diminuindo assim, a dependência entre aqueles idosos com incapacidade física mais severa.

Introdução

A Organização Panamericana de Saúde (OPAS) define o envelhecimento como um

processo sequencial, individual, acumulativo, irreversível, universal, não patológico, de

deterioração de um organismo maduro, próprio a todos os membros de uma espécie, de

maneira que o tempo o torne menos capaz de fazer frente ao estresse do meio ambiente e,

portanto, aumente sua possibilidade de morte (OPAS, 2003).

O processo do envelhecimento provoca a perda gradativa da capacidade funcional dos

órgãos e sistemas. Entretanto, é importante ressaltar que nem sempre essas alterações se

traduzem em incapacidades, e que a presença e a intensidade das alterações orgânicas podem

variar de um indivíduo para outro (KAWAMOTO et al., 1995).

O envelhecimento humano é um fato presente na grande maioria das sociedades do

mundo. O número de pessoas com idade superior ou igual a 60 anos tem crescido rapidamente

(FREITAS, 2006). Portanto, o envelhecimento da população é um fenômeno mundial,

característico, principalmente, dos países desenvolvidos e vem ocorrendo de modo mais

crescente nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil (KALACHE et al., 1987).

Dados demonstram que o Brasil desponta como um país cuja população se encontra em

rápido processo de envelhecimento, o que tem se refletido na elevação da expectativa de vida.

Tal acontecimento é determinado pela diminuição nas taxas de fecundidade e natalidade e

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pelo aumento da expectativa de vida. As melhores condições de saneamento, nutrição,

ambiente de trabalho, moradia, higiene pessoal e avanço tecnológico em especial na área da

saúde, têm sido responsáveis por elevar o nível de vida e contribuírem para aumentar a

longevidade (PAPALÉO & PONTE, 2005).

Dessa forma, o envelhecimento demográfico, ao mesmo tempo em que pode ser

considerado um êxito pelo fato de ter obtido uma redução da mortalidade infantil e do

controle da fertilidade é, também, um fator de preocupação pela inexistência, hoje, de

medidas políticas que satisfaçam as necessidades da população idosa (SCORTEGAGNA,

2004).

O aumento da população idosa deve despertar preocupação entre as autoridades, pois

eles custam mais para o Estado devido a esse grupo etário consumir mais recursos de saúde e

utilizam mais estes serviços. Investir em prevenção, não somente a nível primário, mas

também secundário e terciário, em centros qualificados aos idosos, aumentaria a autonomia e

a qualidade de vida da pessoa idosa, diminuindo a relação do custo ao sistema prestador de

serviço (FORTENZA, 2000).

Resultados obtidos num estudo longitudinal em uma comunidade rural do Japão, a

prevalência de idosos confinados em casa (foi considerado idoso confinado em casa aquele

que saia de casa uma vez ou menos por semana) foi de 8,5%. O confinamento em casa é um

fator de risco para a desabilidade nos indivíduos idosos com idade de 65 a 85 anos, que vivem

de forma independente, e que uma baixa interação social representa também um fator de risco

para a desabilidade. Este estudo afirma que a frequência de sair de casa é um guia válido para

determinação do estatuto do confinamento em casa (WATANABE et al., 2005).

Em um estudo que avaliou idosos confinados em casa para serviços sociais, utilizando

a escala de depressão geriátrica (GDS), observou que entre os idosos confinados em casa,

aqueles com sintomas de depressão significativas são mais susceptíveis a deterioração

funcional e da qualidade de vida superior a seis meses de experiência. Contudo, aqueles que

recebiam mais apoio mostraram melhoria significativa no componente mental da escala de

qualidade de vida (SF-36) em seis meses. Sintomas de depressão identificam idosos em alto

risco de isolamento em casa (CHARLSON et al., 2008).

Idosos completamente independentes na função, capazes de andar sozinhos sem ajuda

foram entrevistados quando tinha 70 anos e depois com 77 anos. Foi observado que durante o

período de sete anos houve uma transição no comportamento de sair de casa. Entre os 115

participantes que saiam menos que uma vez por semana aos 77 anos, 49 tinham reportando

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sair diariamente aos 70 anos. Entre os participantes que saiam diariamente, houve maior

percentual de idosos com mais anos de ensino, menos solidão, auto-percepção da saúde como

boa, níveis mais altos de atividade física e cormobidade baixa. Foi observado então, que nesta

coorte mesmo entre idosos com robusta funcionalidade e preservada função cognitiva, sair de

casa mostrou ter repercussões graves de saúde em longo prazo (JACOBS et al., 2008).

Em um estudo longitudinal durante nove meses, foi verificado que a baixa frequência de

sair de casa é um preditor do declínio funcional e intelectual entre os idosos frágeis,

considerando que sair de casa frequentemente correspondia com a melhoria da auto-eficácia

na realização das atividades da vida diária e na promoção da saúde (KONO et al, 2004).

A incidência de ausência de mobilidade foi superior em indivíduos confinados em casa

em comparação com os não confinados. A incidência de imobilidade de acordo com a idade

foi superior em grupos confinados em casa do que nos não confinados em indivíduos idosos

com idade até 85 anos, mas não foram encontradas diferenças significativas nas pessoas com

idade superior a 85 (WATANABE et al., 2005).

Infelizmente, o aumento do número de idosos na população tem se traduzido também

em maior número de problemas de longa duração, tanto em nível social quanto pessoal. O

envelhecimento pode trazer como uma de suas consequências a diminuição do desempenho

motor para a realização de atividades habituais, porém, este fato não leva, necessariamente, ao

idoso se tornar dependente (ANDREOTTI & OKUMA, 1999).

As doenças crônicas não transmissíveis são a principal causa de incapacidade, a maior

razão para a demanda a serviços de saúde e respondem por parte considerável dos gastos

efetuados no setor (ALMEIDA et al., 2002).

Além de considerar o aumento da expectativa de vida da população, é também

necessário avaliar se os anos adicionais à vida de um indivíduo serão saudáveis. Um dos

elementos que determina a expectativa de vida ativa ou saudável é a independência para

realização de atividades cotidianas (PAVARANI & NÉRI, 2000).

Em estudos transversais foi mostrado que a frequência de sair de casa estava associada

a alterações funcionais e psicossociais (LINDSAY & THOMPSON,1993; GANGULI et al.,

1996).

A dificuldade ou incapacidade na realização das atividades habituais cotidianas dos

idosos representa um risco elevado para a perda da independência funcional. Além disso, a

incapacidade funcional tem sido associada com o baixo nível de interação social

(SIMONSICK et al., 1998; THOMPSON & HELLER, 1990).

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O contato e a interação social têm sido identificados em vários estudos como

importantes preditores para a morbidade e mortalidade em populações idosas (SCHNEIDER

et al., 2008; BLAZER, 1982). Dentre os fatores que favorecem a vulnerabilidade social dos

idosos, podemos citar a saúde pobre e as incapacidades de mobilidade como limitações que

desfavorecem a participação social dos idosos (FIELD et al., 1993).

Uma limitação desses estudos é que características dos idosos confinados e os não

confinados em casa foram comparadas sem controlar seus níveis de mobilidade. Pois, os

idosos podem ficar limitados a sua casa devido aos seus níveis de baixa mobilidade, mesmo

que eles gostariam de sair de casa. Ou ainda, por fatores psicossociais, apesar da mobilidade

suficiente para sair de casa. Fatores associados ao confinamento em casa devem ser mostrados

em termos de nível de mobilidade de uma pessoa (KONO & KANAGAWA, 2001).

As dificuldades que os idosos apresentam no meio em que vivem mesmo aqueles

independentes, provocam um grande impacto sobre a mobilidade, a independência e a

qualidade de vida dos idosos e afetam a sua capacidade de locomoção. Além do ambiente

externo a habitação e o sistema de transporte contribuem para a mobilidade confiante,

comportamentos saudáveis, participação social e a determinação, porém o inverso pode

provocar o isolamento, a inatividade e a exclusão social (KALACHE & KICKBUSCH,

2007).

Metodologia

DELINEAMENTO DO ESTUDO

Estudo transversal, de base populacional, domiciliar, com coleta de dados primários.

POPULAÇÃO

A população em estudo será idosos (com 60 anos ou mais), não institucionalizados e

residentes em domicílios urbanos do município de Dois Irmãos - RS.

AMOSTRA

Para este estudo, serão utilizados os idosos identificados por visita domiciliar a

endereços aleatoriamente selecionados na zona urbana do município de Dois Irmãos – RS.

MUNICÍPIO DE DOIS IRMÃOS

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Dois Irmãos está situada na encosta do Planalto Meridional, numa altitude média de 175

metros, distante 55 km de Porto Alegre, capital do Estado. O município de Dois Irmãos é

comporta de uma área de 66,8 Km². O município ainda preserva a característica original de

região agrícola, os principais produtos no setor primário são flores, acácia negra e

hortifrutigranjeira, já no setor secundário são sapatos, móveis, estofados e esquadrias.

O crescimento demográfico e econômico foi acompanhado de mudanças político-

administrativas: em 1857, Dois Irmãos é transformado no 4º Distrito do município de São

Leopoldo; em 1938, a povoação é elevada a categoria de Vila e, em 1959 , é criado o

município de Dois Irmãos.

De acordo com a estimativa da população residente de 2009 elaborada pelo DATASUS

(2010), a polução total do município de Dois Irmãos é de 26.423 habitantes, destes

aproximadamente 7% são idosos, conforme a Tabela 1.

Tabela 1. Distribuição da população idosa do município de Dois Irmãos – RS.

Dois Irmãos 60 a 69 anos 70 a 79 anos 80 anos e

mais

Total de

idosos

Homens 477 216 71 764

Mulheres 556 319 137 1012

População idosa 1.033 535 208 1.776

Fonte: DATASUS, 2010.

PROCEDIMENTO AMOSTRAL / RECRUTAMENTO

O delineamento da amostra foi planejado de acordo com a metodologia utilizada pelo

IBGE, que divide os municípios em setores censitários. Obteve-se, junto ao IBGE, a relação

dos 24 setores censitários urbanos e rurais do município de Dois Irmãos. Os mesmos serão

numerados de forma sequencial, em seguida, proceder-se-á a escolha de dez setores,

utilizando-se um sorteio de forma aleatória.

Os domicílios entrevistados serão selecionados de modo aleatório em cada um dos

setores censitários selecionados para a pesquisa. A obtenção da amostra será realizada da

seguinte forma: todos os quarteirões de cada setor censitário serão numerados, para posterior

sorteio. Com a identificação do quarteirão, o próximo passo será a escolha do domicílio que

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ocorrerá considerando como ponto de início a esquina inicial do quarteirão, em sentido

horário. A cada domicílio selecionado, será saltado um número de oito domicílios, de acordo

com cada setor censitário, e assim sucessivamente, a fim de obter-se melhor distribuição.

Serão realizadas 19 entrevistas por setor. A aleatoriedade será distinta para o sexo,

serão entrevistados oito homens e 11 mulheres, respeitando a relação percentual de 43% e

57% de homens e mulheres, respectivamente, no município de Dois Irmãos - RS, segundo

projeção intercensitária de 2009 do IBGE.

Os setores censitários constituídos por estabelecimentos coletivos como: hospitais,

clínicas, escolas, clubes, quartéis e similares; mesmo que destinados aos idosos, serão

excluídos do sorteio, por conseguinte, do estudo.

Caso não resida idoso na casa selecionada ou se o mesmo não aceitar ou não puder

participar do estudo, ou ainda, não coincida a casa escolhida com a presença do gênero

sorteado, ele será procurado no domicílio seguinte. Na existência de mais de um idoso no

domicílio, será feito o sorteio de um deles.

Nos casos em que se chegará ao final do setor sem atingir a cota de dezenove idosos,

retornar-se-á ao ponto inicial, reiniciando todo o processo a partir do segundo domicílio, até

que o número necessário se complete.

Nos casos em que residir idoso no domicílio, mas o mesmo estiver ausente, serão

realizadas até mais três visitas de retorno (em dias e horários diferentes).

CRITÉRIO DE SELEÇÃO

Critérios de inclusão

Os critérios de inclusão serão idosos com idade igual ou superior a 60 anos e que

sejam residentes em domicílios particulares da zona urbana da cidade de Dois Irmãos - RS.

Critérios de exclusão

E os critérios de exclusão serão os idosos que moram a menos de seis meses na

residência atual do dia em que foi realizada a entrevista.

COLETA DE DADOS

Serão coletados dados que objetivarão obter informações sócio-demográficas, situação

de saúde, e do grau de dificuldade e facilidade na execução de atividades diárias, desafios de

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mobilidade através da aplicação de um questionário específico. Além disso, será utilizado a

Escala de Depressão Geriátrica (GDS), a Avaliação Cognitiva Montreal (MOCA), será

realizado o Time Up & Go Test (TUG) e aplicado um Relatório do Espaço Urbano Físico.

Os dados serão coletados pela pesquisadora responsável por este estudo que esta sendo

devidamente treinada. Os instrumentos serão aplicados por meio de entrevista individual,

sendo pausadamente lida cada questão. No caso do questionário específico, para as questões

de múltipla escolha será feita a leitura de cada item para os idosos.

INSTRUMENTO

Serão utilizados cinco instrumentos para este estudo:

Escala de Depressão Geriátrica (GDS-Yesavage): se refere a um instrumento

de rastreio reconhecido como recursos rápidos, tem como objetivo identificar e

quantificar sintomas depressivos na população idosa, que foi desenvolvida por

Yesavage et al. (1983). O instrumento consiste em um questionário de 15

questões, com duas opções de respostas: sim e não. Os escores inferiores a 5

são considerados normais; de 5 a 10 indicam depressão leve à moderada; e,

acima de 10 indicam depressão grave.

Avaliação Cognitiva Montreal (MOCA): esta avaliação foi desenvolvida como

um instrumento breve de rastreio para deficiência cognitiva leve. O mesmo

acessa diferentes domínios cognitivos: atenção e concentração, funções

executivas, memória, linguagem, habilidades viso-construtivas, conceituação,

cálculo e orientação. O tempo de aplicação do MOCA é de aproximadamente

dez minutos. O escore total é de 30 pontos; sendo o escore de 26 ou mais

considerado normal.

Time Up & Go Test (TUG): este teste é amplamente utilizado por ser de fácil

aplicação, avalia a mobilidade e o equilíbrio. O teste quantifica em segundos a

mobilidade funcional através do tempo que o individuo realiza a seguinte

tarefa: em quantos segundos ele levanta de uma cadeira padronizada com apoio

e braços e de aproximadamente 46 cm de altura e braços de 65 cm de altura,

caminha 3 metros, vira, volta rumo à cadeira e senta novamente.

Relatório do Espaço Urbano Físico: Relatório preenchido pelo próprio

entrevistador através de observação direta do espaço físico das ruas e

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adjacências para cada casa selecionada para a coleta, com o objetivo de relatar

condições desfavoráveis no ambiente físico.

Questionário composto por 72 questões fechadas com escolha simples ou

múltipla agrupadas em blocos temáticos.

VARIÁVEIS DO ESTUDO

Variável dependente (desfecho)

Frequência com que os idosos saem de casa: Será verificado através da seguinte pergunta:

“Com que frequência costuma sair de casa ou propriedade?”. Conforme o grau de distribuição

das frequências com que os idosos entrevistados costumam sair de casa será dividido em três

grupos: baixa, média e alta frequência.

Variáveis independentes (fatores em estudo)

Sócio-demográficas: Os dados sócio-demográficos incluem informações sobre sexo, faixa

etária, etnia, escolaridade, renda, estado civil e arranjo familiar.

Situação de saúde: Será verificada através da auto-percepção da saúde e comorbidades.

Auto-percepção da saúde: Para a avaliação auto-percepção da saúde, o entrevistado

responderá à pergunta de como considera a sua saúde (ótima, boa, regular, má ou

péssima).

Comorbidades: Será investigada através do relato de doenças, o entrevistado

responderá à seguinte pergunta: Algum médico ou outro profissional da saúde lhe

disse que tinha ou tem determinada doença? No questionário as resposta se limitarão a

dezesseis condições crônicas: problemas do coração; hipertensão; diabetes;

osteoporose; problemas intestinais; infecções respiratórias; artrite/artrose/reumatismo;

doença da tireóide; esclerose múltipla; doença de Parkinson; derrame ou isquemia

cerebral; demências ou Alzheimer; depressão; ansiedade; problemas nos olhos e

excesso ou baixo peso.

Uso de medicamentos

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V Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2010

Saúde emocional: Será verificada através da Escala de Depressão Geriátrica (GDS), esta é

composta por 15 questões que identificam sintomas depressivos ou de vulnerabilidade à

depressão. Considerando os resultados com dez ou mais respostas depressivas.

Saúde mental: Será verificado através da Avaliação Cognitiva Montreal (MOCA), é um

instrumento breve de rastreio para deficiência cognitiva leve.

Grau de facilidade ou dificuldade na realização de atividades habituais: Será determinado

pelas respostas que avaliam o quão fácil ou difícil é para o idoso desempenhar as seguintes

atividades: caminhar 400 metros; subir dez degraus; carregar objetos de cinco quilos;

levantar-se de uma cadeira sem usar as mãos; abaixar-se e levantar-se para pegar algum

objeto no chão; levantar os braços a cima da cabeça; agarrar objetos firmemente com a mão;

transferir-se; banha-se; vestir-se; alimentar-se sozinho e usar banheiro para suas necessidades.

Desafios à mobilidade: Será verificado através do relato das dificuldades que os idosos

enfrentam para sair de casa, e estas dificuldades podem ser:

Dificuldades intrínsecas (relacionada ao declínio fisiológico do processo de

envelhecimento);

Dificuldades extrínsecas (o meio não contribui para sua mobilidade, ou ainda,

acrescenta desafios);

Ambas (tanto devido a dificuldades intrínsecas quanto as extrínsecas).

Capacidade Funcional (dificuldade intrínseca aferida): Será verificado através do Time Up &

Go Teste.

Espaço Urbano Físico (dificuldade extrínseca aferida): Será avaliado por observação direta do

pesquisador a cada rua e redondezas da localização da residência dos idosos entrevistados.

ANÁLISE ESTATÍSTICA

As informações estatísticas serão digitalizadas com o auxílio do aplicativo Access e

analisadas através do programa SPSS.

Nas análises será utilizado o nível de significância < 5%. A análise descritiva será

feita por frequências, medianas, médias e desvios padrões.

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Abordagem analítica

As variáveis numéricas ou contínuas, idade e renda, inseridas nos dados sócio-

demográficos, terão suas médias comparadas entre os níveis de mobilidade pela análise de

variância (ANOVA). A homogeneidade das variâncias será testada pelo teste de Bartlett.

Quando este teste é significativo as médias não apresentam variâncias semelhantes. Neste

caso, a significância das diferenças entre os grupos será testada pelo teste, não paramétrico de

Kruskal-Wallis.

Tabelas de distribuição entre sexo, escolaridade, etnia, estado civil (dados sócio-

demográficos) e nível de mobilidade serão criadas e testadas pelo teste Qui-quadrado (2).

Tabela de distribuição da variável desafios à mobilidade será criada comparando com os

níveis de mobilidade e testadas pelo Qui-quadrado. Os desafios de maior frequência serão

identificados entre os subgrupos de desafios intrínsecos, extrínsecos e mistos, e testados pelo

teste Z para proporções.

Tabelas de distribuição serão criadas para analisar o grau de facilidade na execução de

atividades habituais com os níveis de mobilidade através do Qui-quadrado.

Tabelas de distribuição serão, também, criadas para analisar a situação de saúde e

comorbidades com os níveis de mobilidade também através do Qui-quadrado.

As diferenças das médias das variáveis quantitativas (escores do MOCA e da GDS)

entre os grupos com diferentes frequências que saem de casa serão avaliadas por meio do teste

“t” de Student para amostras independentes, sendo antes verificado se os grupos apresentarão

variâncias semelhantes, através do teste de Levene.

TAMANHO AMOSTRAL

O cálculo do tamanho amostral foi baseado na prevalência da frequência que os idosos

saem de casa observada na literatura. Poucos estudos abordam esse tema, foram encontrados

prevalência em torno de 5%, 10% e 20%.

Considerando um poder de estudo de 95%, para a prevalência de 5% e margem de erro

de 0,03 é necessário 183 idosos; para a prevalência de 10% e margem de erro de 0,05 é

necessário 129 idosos e para a prevalência de 20% e margem de erro de 0,06 é necessário 156

idosos.

Dessa forma, foi considerado o maior n (183 idosos), levando em conta possíveis

perdas foi decidido estudar 190 idosos.

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QUESTÕES ÉTICAS

Os idosos entrevistados receberão explicações e serão esclarecidos sobre o objetivo do

estudo e, ao concordarem com a participação, assinarão um termo de consentimento livre

esclarecido (De acordo com Resolução no 196, de 10 de outubro de 1996 do CONSELHO

NACIONAL DE SAÚDE que regulamenta pesquisas envolvendo seres humanos).

Serão respeitados os referenciais básicos da bioética, de acordo com Goldim (1999) no

que diz respeito à autonomia, não-maleficência, beneficência e justiça, visando assegurar com

isso os direitos e deveres do pesquisador e dos sujeitos pesquisados. Além desses

procedimentos, irá ser garantido a confidencialidade e o anonimato, não permitindo a

identificação dos sujeitos por meio dos dados coletados.

O termo de consentimento livre e esclarecido será emitido em duas vias, uma será

entregue para cada sujeito da pesquisa e a outra via irá ficar com a pesquisadora.

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