depositÁrio infiel em face do controle de …

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133 Edson de Sousa Brito * Leonardo Rodrigues de Souza ** Eumar Evangelista de Menezes Júnior *** Silvair Félix dos Santos Júnior **** DEPOSITÁRIO INFIEL EM FACE DO CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE DEPOSITARY INFIDEL IN THE FACE OF THE CONTROL OF CONVENCIONALIDADE INFIEL ENCARGADO EN LA CARA DE CONTROL CONVENCIONALIDAD Resumo: Este artigo tem o objetivo de desbastar o fenômeno jurídico da prisão do depositário infiel sob o enfoque do controle de convencionalidade, à luz da adoção pelo ordenamento jurídico pátrio do Pacto de San Jose da Costa Rica de 1969 e os efeitos jurídicos dele decorrentes. A priori, caberá a análise do gênero contratual depósito e em específico da efí- gie do depositário infiel bem como da previsão legal e constitucional que contempla a sua prisão. Utilizando de método bibliográfico e ex- perimental, desbastará a recepção pelo direito pátrio do Pacto de San José da Costa Rica de 1969, em face da 45ª Emenda à Constituição da República Federativa do Brasil, e o acolhimento pelo Supremo Tri- bunal Federal da Teoria da Supralegalidade dos Tratados Internacionais que versam sobre direitos humanos não sujeitados à liturgia determi- nada pela inovação ao texto constitucional retro aludida. * Doutor em Educação pela PUC-GO. Mestre em Filosofia pela UFG. Prof. Titular da UFG. Filosofo. ** Mestre em Linguística. Professor Adjunto do Curso de Direito da UniEVANGÉLICA. Advogado. *** Mestre em Sociedade, Tecnologia e Meio Ambiente pela UniEVANGÉLICA. Espe- cialista em Direito Notarial e Registral pela UNISUL e . Especialista em Magistério Su- perior pela UNISUL. Membro da União Literária Anapolina - ULA. Prof. Adjunto, Pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Direito, Supervisor do Núcleo de Atividades Complementares e Orientador de TCC da UniEVANGÉLICA. Prof. do programa de pós-graduação do Centro de Ensino Moderna Educacional. Especialista em Direito Notarial e Registral pela UNISUL. Especialista em Magistério Superior pela UNISUL. ****Graduando do Curso de Direito da UniEVANGÉLICA.

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Page 1: DEPOSITÁRIO INFIEL EM FACE DO CONTROLE DE …

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Edson de Sousa Brito*

Leonardo Rodrigues de Souza**

Eumar Evangelista de Menezes Júnior***

Silvair Félix dos Santos Júnior****

DEPOSITÁRIO INFIEL EM FACE DO CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE

DEPOSITARY INFIDEL IN THE FACE OF THE CONTROL OF CONVENCIONALIDADE

INFIEL ENCARGADO EN LA CARA DE CONTROL CONVENCIONALIDAD

Resumo:

Este artigo tem o objetivo de desbastar o fenômeno jurídico da prisão

do depositário infiel sob o enfoque do controle de convencionalidade,

à luz da adoção pelo ordenamento jurídico pátrio do Pacto de San Jose

da Costa Rica de 1969 e os efeitos jurídicos dele decorrentes. A priori,

caberá a análise do gênero contratual depósito e em específico da efí-

gie do depositário infiel bem como da previsão legal e constitucional

que contempla a sua prisão. Utilizando de método bibliográfico e ex-

perimental, desbastará a recepção pelo direito pátrio do Pacto de San

José da Costa Rica de 1969, em face da 45ª Emenda à Constituição

da República Federativa do Brasil, e o acolhimento pelo Supremo Tri-

bunal Federal da Teoria da Supralegalidade dos Tratados Internacionais

que versam sobre direitos humanos não sujeitados à liturgia determi-

nada pela inovação ao texto constitucional retro aludida.

* Doutor em Educação pela PUC-GO. Mestre em Filosofia pela UFG. Prof. Titularda UFG. Filosofo. ** Mestre em Linguística. Professor Adjunto do Curso de Direito da UniEVANGÉLICA.Advogado.*** Mestre em Sociedade, Tecnologia e Meio Ambiente pela UniEVANGÉLICA. Espe-cialista em Direito Notarial e Registral pela UNISUL e . Especialista em Magistério Su-perior pela UNISUL. Membro da União Literária Anapolina - ULA. Prof. Adjunto,Pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Direito, Supervisor do Núcleo de AtividadesComplementares e Orientador de TCC da UniEVANGÉLICA. Prof. do programa depós-graduação do Centro de Ensino Moderna Educacional. Especialista em DireitoNotarial e Registral pela UNISUL. Especialista em Magistério Superior pela UNISUL. ****Graduando do Curso de Direito da UniEVANGÉLICA.

Page 2: DEPOSITÁRIO INFIEL EM FACE DO CONTROLE DE …

Abstract:

This article aims to chip away at the phenomenon of the arrest of the

defaulted guardian under the focus of Control of Conventionality in the

light of the adoption by the the Brazilian legal system San Jose of Costa

Rica Pact of 1969 and the resulting legal effects. A priori, the analysis

of contractual Deposit and genre the effigy of the defaulted guardian

as well as the legal and constitutional forecast contemplates his arrest.

Using bibliographic and experimental method, the desbastará receipt

by the Brazilian law of San José of Costa Rica Pact of 1969 in face of

the 45th amendment to the Constitution of the Federative Republic of

Brazil and the host by the Supreme Federal Court of Supralegalidade

theory of international treaties about human rights not subjected to li-

turgy determined by innovation to constitutional text retro alluded.

Resumen:

El presente trabajo pretende hacer mella en el fenómeno jurídico de

la Cárcel Infiel Custodio bajo el enfoque del control de convencionali-

dad en vista de la aprobación por la ley paterna del Pacto de San José

de Costa Rica 1969 y los efectos jurídicos que resultan de ella. A priori,

será el análisis del género extracontractual depósito y efigie específica

del depositario infiel así como la disposición legal y constitucional que

contempla su detención. Utilizando el método bibliográfico y experi-

mental, se pique la recepción por los derechos de los padres del Pacto

de San José, Costa Rica 1969 en la faz de la Enmienda 45ª de la

Constitución de la República Federativa del Brasil y la aceptación por

parte del Supralegalidade Teoría Supremo de la Corte Federal de Tra-

tados Internacionales hacer frente a los derechos humanos no sujetos

a la liturgia determinada por la innovación en retro Constitución alude.

Palavras-chave:

Depositário; controle; convencionalidade; supralegalidade.

Keywords:

Depositary; control; conventionality; supralegalidade.

Palabras clave:

Depositario; control; convencionalidad; supralegalidade.

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Page 3: DEPOSITÁRIO INFIEL EM FACE DO CONTROLE DE …

"A conquista da justiça conclama além de normas, princípios."

DEPOSITÁRIO INFIEL

Forçosa será, quando o depositário não restituir o depósito,a propositura de ação de depósito nos termos da lei Instrumentalcivil, em seus artigos 901 a 906. Dessa maneira, evoca-se a redaçãodo artigo 652 do diploma civilista [...] "seja o depósito voluntário ounecessário, o depositário que não o restituir quando exigido serácompelido a fazê-lo mediante prisão não excedente a um ano, e res-sarcir os prejuízos". Nos termos da legislação em comento, quando o depositá-

rio, de maneira não fundamentada, não devolvia o objeto que foi de-positado, embora acabado o prazo estabelecido no instrumentocontratual ou ainda reclamado o objeto pelo depositante pressu-pondo seu fiel adimplemento, caberia a aplicação ao depositário demedida coercitiva que culminasse no cumprimento da obrigação. Assim, vale-nos o briefing fornecido pelo eminente professorCarlos Roberto Gonçalves, que destila o assunto:

A sanção atuava como meio de coerção e não propriamente como pena,pois a lei não estabeleceu um prazo mínimo para sua duração, estandoele na própria vontade do depositário, que pode dela liberar-se desde omomento em que cumpra a obrigação de restituir. Resultando esta decontrato, a prisão só seria decretada em ação de depósito.1

Como se depreende, a natureza da medida era puramentecoercitiva, cujo objetivo seria assegurar o retorno da coisa depositadaao depositante. Sendo assim, satisfeita a obrigação de restituir o bemextinguiria a necessidade dessa providência e o depositário deveriaser liberado da prisão civil excepcionada pelo texto constitucional. Quando julgada procedente a pretensão do depositante, eo depositário permanecesse inerte em cumprir a ordem judicial, eraconvertido em depositário infiel, amoldando-se à hipótese excepcio-nada pelo ordenamento jurídico, em que se admitia a prisão civil,

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1GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Contratos e Atos Unilaterais.V. 3. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 480.

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como medida coercitiva a fim do adimplemento da obrigação. Vale-nos, assim, a preleção do mestre processualista FlávioTartuce, que reitera a polêmica questão aludida à prisão do deposi-tário. Colaciona-se a seguir:

O art. 5.º, LXVII, da CF/1988 possibilita a prisão civil por dívidas em doiscasos: inadimplemento voluntário e inescusável da obrigação alimentare depositário infiel. Questão que sempre levantou enorme polêmica re-fere-se à possibilidade de prisão do depositário infiel diante do descum-primento do contrato.2

Outrossim, o artigo 652 do diploma civil retrocitado recebe tra-tamento legal no artigo 904, parágrafo único, do Código de ProcessoCivil, a seguir:

Julgada procedente a ação, ordenará o juiz a expedição de mandadopara a entrega, em 24 (vinte e quatro) horas, da coisa ou do equivalenteem dinheiro. Parágrafo único. Não sendo cumprido o mandado, o juiz de-cretará a prisão do depositário infiel.

Dessa maneira, a sanção disposta no artigo 904, parágrafoúnico, do Código de Processo Civil correspondia a meio de coerçãopara que o depositário adimplisse sua obrigação, não se tratando,pois, de pena em si. Foi consagrada ademais no artigo 5º da Constituição da Re-pública Federativa do Brasil de 1988 em seu inciso LXVII, a saber:“não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo ina-dimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e ado depositário infiel”. Entretanto, essa discussão ressonou frente ao Poder Judi-ciário, sendo tratada no histórico julgamento do Habeas Corpus

87585/TO, em que se pacificou a questão em tela e que será tratadanos tópicos seguintes.

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2 TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. Vol. único. 4. ed. Rio de Janeiro: Fo-rense; São Paulo: Método, 2014. p. 788.

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HISTORICIDADE TANGENTE AO DEPOSITÁRIO INFIEL

A escalada histórica do direito civil tupiniquim inicia-se coma outorga da Constituição Imperial de 1824, que, em seu inciso XVIIIdo artigo 179, dispunha sobre a criação, no período de 1 (um) ano,dos códigos civil e criminal, a saber:

A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Políticos (sic) dos Cidadãos Brazi-leiros (sic), que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a pro-priedade, é garantida pela Constituição do Império(sic), pela maneiraseguinte [...] Organizar-se-á (sic) quanto antes um Código (sic) Civil, eCriminal, fundado nas solidas bases da Justiça, e Equidade.

Embora já se elucubrassem mudanças aos institutos do di-reito, estas só se materializaram na Bíblia Política de 1824, onde oconstituinte previu a positivação dos direitos à propriedade privada,à liberdade e à segurança individual. Ainda que no ano de 1855 já estivesse o renomado juristabaiano Teixeira de Freitas encarregado da elaboração do projeto parao Código Civil brasileiro, somente foi finalizado em 1862, como pon-dera Fábio Ulhôa Coelho:

No Brasil, a primeira grande manifestação em prol da unificação legislativado direito privado é de Teixeira de Freitas. Encarregado em 1859 de ela-borar um projeto de Código Civil, o maior jurista brasileiro do século XIXapresentou um esboço contemplando também a matéria tradicionalmentereservada ao direito comercial.3

Conquanto possuísse a alcunha de esboço do Código Civil,continha mais de 5.000 (cinco mil) dispositivos que versavam sobrerevisões contratuais, tutela jurídica do nascituro e ainda da hipótesede dissolução da sociedade matrimonial. Como explica Flávio Tartuce:

A maioria dos autores citados aponta que a origem da teoria está no Esboçode Código Civil elaborado por Teixeira de Freitas, pela previsão constantedo art. 1.º da sua Consolidação das Leis Civis, segundo o qual as pessoasconsideram-se como nascidas apenas formadas no ventre materno; a Leilhes conserva seus direitos de sucessão ao tempo de nascimento. Como

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3 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil: Parte Geral. 5. ed. São Paulo: Saraiva,2012. p. 34.

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é notório, esse Esboço inspirou o Código Civil argentino, que adota ex-pressamente a teoria concepcionista. 4

Todavia, esse projeto foi rejeitado sob a alegação de que erainaplicável e atentaria contra a moral e os bons costumes, negligen-ciando inclusive os ideais contemporâneos à época do ocorrido.Assim, tornou-se a vislumbrar a necessidade da edição da norma civilpátria somente em abril de 1899, ficando a cargo do ilustre jurista cea-rense Clóvis Beviláqua a sua concepção. Dessa maneira, em outubrodo mesmo ano, foi entregue o então anteprojeto para o Código Civil,alvo de discussão e ponderações, o qual só foi sancionado em 19165. Ainda, Fábio Ulhoa Coelho destaca que, na codificação ci-vilista de 1916, a base valorativa desta norma se espelhava nos có-digos francês de 1804 e germânico de 1896, embebidos pelos ideaisliberais, tais como: individualismo e patrimonialismo6. Para fins de análise, faz-se intrínseco o instituto da tutela domenor órfão em família substituta no Código de 1916. O legisladordedicou 23 (vinte e três) dispositivos para zelar sobre o patrimônio,somente 1 (um) sobre o tutor e nenhum sobre o tutelado7. Desse modo, observa-se uma completa dicotomia entre di-reito civil e direito constitucional, ocupando-se respectivamenteaquele com a tutela individual do patrimônio e este com a supremaciado interesse público sobre o privado. Nessa esteira, o direito civil estrutura-se como aquele res-ponsável pelo estudo dos elementos que compõem relação jurídicaentre particulares: sujeito, objeto e vínculo. Destarte, depreende-se a neutralidade e desinteresse dasnormas constituintes em abarcar o direito civil em seus textos, preo-cupadas somente com a vertente pública do direito. Pari passu, houve, nas décadas de 1940 e 1950, o fenô-meno da pulverização de legislações sobre direito privado: Códigode Águas de 1934; Código de Minas de 1940; Estatuto da MulherCasada de 1962, entre outros. Assume então o Código Civil de1916 papel de “Constituição do Direito Privado”, em estrutura de

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4 TARTUCE, 2014, p. 120.5 COELHO, 2012.6 COELHO, 2012.7 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: ParteGeral e LINDB. 12. ed. Salvador: Juspodivm, 2014.

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microssistemas jurídicos que se submetiam às normas gerais pre-vistas no Diploma Civil8. No ano de 1974, o jurista Orlando Gomes, em sua obra “No-víssimos temas de direito civil”, exprimia haver tantos questionamen-tos da vida em sociedade, que seria impossível as normas jurídicassuplantarem todas as hipóteses em um único código. Inferiu a exis-tência de ocaso da legislação civil, perdendo sua generalidade ecompletude, sendo iníqua a elaboração de novo regulamento, poisa este novamente seguiria o fenômeno de ocaso e levaria a obso-lescência. Propôs, assim, pautando-se no exemplo italiano, a com-parência de norma superior estabelecendo os fundamentos do direitocivil, pois essa normativa permitiria maior mobilidade dos demais ins-titutos integrantes do complexo jurídico, e essa norma, à luz da pirâ-mide kelseniana, seria a Constituição. À vista disso, a Constituição da República Federativa doBrasil de 1988, influenciada pelas lições de Orlando Gomes e pelomodelo italiano, cessa a indiferença das cartas anteriores. Com aConstituição Cidadã, ocorre o movimento de constitucionalização doDireito Civil, especado por uma nova base valorativa imposta pelodito constitucional, integrando o direito público e o privado. A constitucionalização do Direito Civil na lição de Farias eRosenvald é a interpretação dos clássicos institutos civilistas conformeos princípios basilares e fundamentos valorativos presentes na MagnaCarta9, ou seja, a tábua axiológica para a compreensão do ordena-mento jurídico será necessariamente a Bíblia Política. A mudança deparadigma pode ser vislumbrada nas relações contratuais pela va-lência do pacta sunt servanda sob o limiar da função social do contratono direito à propriedade privada, a qual era absoluta e perpétua, masque agora deveria necessariamente observar sua função social. Os microssistemas, assim, deixaram como legado o pano-rama interpretativo das cadeias normativas infraconstitucionais se-gundo a Constituição Federal, e esta passou a desempenhar funçãode sistema jurídico principal a guarnecer os demais. Consequente-mente, essa metamorfose hermenêutica trouxe como resultado adesnecessidade da divisão do direito em público e privado, poisambos decorrem da lei maior, como sintetiza Flávio Tartuce:

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8 FARIAS; ROSENVALD, 2014, p. 48.9 FARIAS; ROSENVALD, 2014, p. 55.

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Pode-se demonstrar uma relação direta entre o diálogo das fontes, aconstitucionalização do Direito Civil (com o surgimento do Direito CivilConstitucional), a eficácia horizontal dos direitos fundamentais, a perso-nalização do Direito Civil e o sistema de cláusulas gerais construído pelaontognoseologiarealeana. Ora, a constitucionalização do Direito Civilnada mais é do que um diálogo entre o Código Civil e a Constituição (Di-reito Civil Constitucional). Com isso se vai até a Constituição, onde re-pousa a proteção da pessoa como máxime do nosso ordenamentojurídico (personalização).10

Ante a todos esses fenômenos, o direito civil transpassa ummomento de repersonalização a verter a pirâmide principiológica sobos pilares da dignidade da pessoa humana, do humanismo, da cida-dania e das garantias fundamentais. Essa vicissitude das bases preceituais converge na reformada codificação civil em 2002, ao abandonar os ideais de individua-lismo e patrimonialismo, volvendo-se para diretrizes de eticidade,operabilidade e socialidade, e harmonizando-se com a ConstituiçãoFederal. Assim preconizou Norberto Bobbio, a saber:

O problema da justiça é o problema da correspondência ou não da normaaos valores últimos ou finais que inspiram um determinado ordenamentojurídico. Não tocamos aqui na questão se existe um ideal de bem comumidêntico para todos os tempos e para todos os lugares. Para nós, bastaconstatar que todo o ordenamento jurídico persegue certos fins, e convirsobre o fato de que estes fins representam os valores a cuja realizaçãoo legislador, mais ou menos conscientemente, mais ou menos adequa-damente, dirige sua própria obra.11

Ao examinar essas diretrizes profundamente, pode-se es-tabelecer a acepção quanto à eticidade da interpretação do direitocivil segundo a ética que se exige das partes. É forçosa a necessi-dade de diferenciação ética comportamental à guisa da boa-fé obje-tiva em contraponto à moral, pois esta se compreende na esferapessoal de cada indivíduo, figurando como filosófica, religiosa, se-xual, entre outros. Convém, nesse sentido, atenção ao sentido atri-buído por Flávio Tartuce para eticidade:

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10 TARTUCE, 2014, p. 133.11 BOBBIO, Norberto. Teoria da Norma Jurídica. Trad. Fernando Pavan Baptista eAriani Bueno Sudatti. Bauru, SP: EDIPRO, 2001. p. 46.

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O princípio da eticidade pode ser percebido pela leitura de vários dispo-sitivos da atual codificação privada. Inicialmente, nota-se a valorizaçãode condutas éticas, de boa-fé objetiva – aquela relacionada com a con-duta de lealdade das partes negociais –, pelo conteúdo da norma do art.113, segundo o qual “os negócios jurídicos devem ser interpretados con-forme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração” (função interpreta-tiva da boa-fé objetiva). Ademais, o art. 187 determina qual a sanção paraa pessoa que contraria a boa-fé no exercício de um direito: cometeráabuso de direito, assemelhado a ilícito (função de controle da boa-fé ob-jetiva). Ato contínuo, o art. 422 valoriza a eticidade, prevendo que a boa-fé deve integrar a conclusão e a execução do contrato (função deintegração da boa-fé objetiva).12

Retomando a obra “Teoria da Norma Jurídica” do jusdoutri-nador Norberto Bobbio, extrai-se a dualidade resultante da relaçãojurídica, ao constituírem-se direitos paradoxais aos deveres subme-tidos ao poder e efeitos das normas jurídicas a estes correlatos, asaber:

A relação jurídica, enquanto direito-dever, remete sempre a duas regrasde conduta, dentre as quais a primeira atribui um poder, a outra atribuidever. Que depois de fato, destas duas normas seja suficiente que seenuncie uma só, que o momento em que se atribui um direito a um sujeitoimplica sempre a atribuição de um dever a outros sujeitos, e vice-versa,não altera em nada a questão substancial, isto é, que direito e dever sãoas figuras subjetivas nas quais se refletem a presença de uma regra, eportanto a relação jurídica é aquela que se distingue de todos os outrostipos de relação por ser regulada por uma norma jurídica.13

Já o pilar da operabilidade recebe o significado como sendoa facilitação na aplicação do direito, restando à socialidade ser con-ceituada como a função social do ordenamento jurídico, como res-sona Flávio Tartuce:

No que concerne ao princípio da socialidade, o Código Civil de 2002 pro-cura superar o caráter individualista e egoísta que imperava na codifica-ção anterior, valorizando a palavra nós, em detrimento da palavra eu. Osgrandes ícones do Direito Privado recebem uma denotação social: a fa-mília, o contrato, a propriedade, a posse, a responsabilidade civil, a em-presa, o testamento.14

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12 TARTUCE, 2014, p. 45.13 BOBBIO, 2001, p. 42-43.14 TARTUCE, 2014, p. 46.

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Quem também respira esses ares e patrocina a aplicaçãodo direito civil sob tais liames é o meritório jurista Miguel Reale, vezque consagra as bases axiológicas fundantes dos ideais jurídico-nor-mativos, e não apenas a sua função teleológica ou ontológica, comose verifica nos termos seguintes:

Os valores não possuem uma existência em si, ontológica, mas se ma-nifestam nas coisas valiosas. Trata-se de algo que se revela na experiên-cia humana, através da História. Os valores não são uma realidade idealque o homem contempla como se fosse um modelo definitivo, ou que sópossa realizar de maneira indireta, como quem faz cópia. Os valores são,ao contrário, algo que o homem realiza em sua própria experiência e quevai assumindo expressões diversas e exemplares, através do tempo.15

É nesse cenário que desponta o questionamento sobre aincidência direta dos direitos fundamentais nas relações privadas, in-ferindo-se, inclusive, a teoria da eficácia horizontal dos direitos fun-damentais, que foi apreciada pelo Supremo Tribunal Federal nojulgamento do Recurso Extraordinário n. 201.819/RJ.

DA EFICÁCIA HORIZONTAL DOS DIREITOS HUMANOS NO OR-DENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

A doutrina passou a cuidar, transposto o movimento deconstitucionalização do direito civil, sobre a aplicação dos direitosfundamentais vinculando-os às atividades privadas, como compen-diou o doutrinador Flávio Tartuce:

Para que essa proteção seja possível, deve-se reconhecer a eficácia hori-zontal dos direitos fundamentais, ou seja, que as normas que protegem apessoa, previstas no Texto Maior, têm aplicação imediata nas relações entreparticulares. A porta de entrada dessas normas protetivas, nas relações pri-vadas, pode se dar por meio das cláusulas gerais (eficácia horizontal me-diata), ou mesmo de forma direta (eficácia horizontal imediata). Em síntese,percebe-se que todas essas teorias possibilitam a visão de um sistema uni-tário, em que há mútuos diálogos e o reconhecimento da interdisciplinari-dade. Assim está sendo construído o Direito Civil Contemporâneo.16

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15 REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 208.16 TARTUCE, 2014, p. 138.

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Reocupando da análise do referido julgado, que versavasobre a possibilidade de sociedade sem fins lucrativos promover aexclusão de membro sem a observância do princípio da ampla de-fesa, do princípio do contraditório, reverberando, inclusive, no princí-pio do devido processo legal, é apresentado à baila o dispositivojurisprudencial:

SOCIEDADE CIVIL SEM FINS LUCRATIVOS. UNIÃO BRASILEIRA DECOMPOSITORES. EXCLUSÃO DE SÓCIO SEM GARANTIA DA AMPLADEFESA E DO CONTRADITÓRIO. EFICÁCIA DOS DIREITOS FUNDA-MENTAIS NAS RELAÇÕES PRIVADAS. RECURSO DESPROVIDO. I. EFI-CÁCIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS NAS RELAÇÕES PRIVADAS.17

Como se pode deduzir ainda pela preliminar apreciação daementa do julgamento do Recurso Extraordinário n. 201.819/RJ, háum posicionamento do Egrégio Pretório em admitir a eficácia dos di-reitos fundamentais nas relações contratuais entre particulares, quedesta maneira continua:

As violações a direitos fundamentais não ocorrem somente no âmbitodas relações entre o cidadão e o Estado, mas igualmente nas relaçõestravadas entre pessoas físicas e jurídicas de direito privado. Assim, os di-reitos fundamentais assegurados pela Constituição vinculam diretamentenão apenas os poderes públicos, estando direcionados também à prote-ção dos particulares em face dos poderes privados.

Divisa-se, assim, uma quebra de paradigmas no que tange aosprincípios norteadores das relações particulares, pois reverbera uma re-lativização do princípio da autonomia privada das associações em de-trimento dos princípios decorrentes do princípio do devido processolegal, nos termos do artigo 5º, inciso LIV, da Constituição Cidadã, a saber:“ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido pro-cesso legal”. Nessa esteira, progride o disposto jurisprudencial:

O caráter público da atividade exercida pela sociedade e a dependênciado vínculo associativo para o exercício profissional de seus sócios legi-timam, no caso concreto, a aplicação direta dos direitos fundamentais

143

17 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário n. 201819 RJ. SegundaTurma. Relator: Ministra Ellen Gracie. Data de Julgamento: 11/10/2005, Diário daJustiça, Brasília, DF, 27 out. 2006. Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/paginador-pub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=388784>. Acesso em: 05 fev. 2015.

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concernentes ao devido processo legal, ao contraditório e à ampla defesa(art. 5º, LIV e LV, CF/88).

Assim, edificou-se o entendimento de que, embora não setratasse de relação entre indivíduo e Estado, haveria a aplicação dosdireitos fundamentais a toda aquela relação que figurasse pessoade direitos. Nessa esteira, deparava-se com um conflito axiológicoem que se posicionava o princípio à autonomia privada das institui-ções privadas paradoxalmente ao direito fundamental de associar-se e permanecer associado nos termos da Magna Carta de 1988,inciso XX: “Ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a per-manecer associado”. Conglobou-se no caso em tela que, a despeito da autonomiaconferida pela Bíblia Política às associações privadas, estas pos-suíam como limitação a observância aos direitos e garantias funda-mentais, sob suplício de desvirtuarem todo o ordenamento jurídicovigente pela ineficácia, ao atenderem os seus próprios valores. Nesse sentido, é cristalina a lição de Bobbio:

No caso de se considerar que existam valores supremos, objetivamenteevidentes, a pergunta se uma norma é justa ou injusta equivale a per-guntar se é apta ou não a realizar esses valores. Mas, também no casode não se acreditar em valores absolutos, o problema da justiça ou nãode uma norma tem um sentido: equivale a perguntar se essa norma éapta ou não a realizar os valores históricos que inspiram certo ordena-mento jurídico concreto e historicamente determinado.18

Em face desse arcabouço teórico, o Supremo consagrou atese da eficácia horizontal dos direitos fundamentais, assumindo ocaso em epígrafe o caráter de leading case e servindo como prece-dente aos que se sucederam. Após esse momento, fica estabelecido que toda relação,independendo se pública ou privada, deverá observar os direitos egarantias fundamentais, não se admitindo em hipótese renúncia dequalquer direito pela parte, inclusive, se este ocorrer de maneiraexpressa.

18 BOBBIO, 2001, p. 48.

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OS EFEITOS PARA A ADESÃO A TRATADOS INTERNACIONAISQUE VERSEM SOBRE DIREITOS HUMANOS APÓS A EMENDAN. 45/2004

O texto constitucional prevê em seu artigo 60 a excepcionalpossibilidade de emenda à Carta Maior pelo poder revisor, em faceda hipótese de proposta de emenda de um terço dos membros dascasas integrantes do Congresso Nacional, pelo Presidente da Re-pública ou ainda por mais da metade das Assembleias Legislativas,incluindo-se a Câmara Legislativa do Distrito Federal, em cada umapela maioria relativa de seus pares. Traz-se à baila:

A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados oudo Senado Federal;II - do Presidente da República;III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades daFederação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa deseus membros.

Observado o quorum de aprovação disposto no parágrafo2º do mesmo artigo, a proposta deverá ser alvo de discussão tantona Câmara dos Deputados quanto no Senado Federal, e em cadaum destes deverá obter aprovação de ao menos 3/5 (três quintos)de seus membros em 2 (dois) turnos. Transpostos os requisitos de proposição e aprovação, otexto seguirá para a promulgação e conversão em emenda pelasmesas das casas legislativas componentes do Congresso Nacional. Dessa maneira, de autoria do deputado de São Paulo, HélioBicudo, foi protocolado em 1992 o Projeto de Emenda à Constituiçãode n. 96, que se dedicava, entre outros objetos, à reforma do PoderJudiciário, ao alterar os seguintes dispositivos: artigos 5º, 36, 52, 92,93, 95, 98, 99, 102, 103, 104, 105, 107, 109, 111, 112, 114, 115, 125,126, 127, 128, 129, 134 e 168 da Constituição Federal, bem como aadição dos artigos 103-A, 103-B, 111-A e 130-A. Observada toda a liturgia correlata à sua aprovação, foi pro-mulgada somente em 30 de dezembro de 2004, tornando-se a 45ªemenda à Constituição de 1988. Embora a quantidade de dispositivos seja extensa, é imperiosa

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a atenção ao terceiro parágrafo acrescido ao artigo 5º, que passou a dis-por o seguinte:

Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos queforem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos,por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentesàs emendas constitucionais.

Depreende-se dessa maneira a equiparação ao status cons-titucional os tratados internacionais que versem sobre direitos huma-nos em que a República Federativa do Brasil for signatária, desdeque submetidos ao crivo da Câmara dos Deputados e do SenadoFederal, em duas votações em cada casa, pela maioria de três quin-tos de seus integrantes. À guisa disso, encontra-se a Convenção Internacional sobreos Direitos das Pessoas com Deficiência de New York, integralizadoao ordenamento pátrio em 25 de agosto de 2009 pelo Decreto Pre-sidencial n. 6.949. Desse modo, diferentemente da regra da Constituição daArgentina, que foi concludente sobre os tratados e convenções queversassem sobre direitos humanos, os quais gozariam, após a re-forma de 1994, do status constitucional em paradoxo ao ordena-mento brasileiro lacônico em relação a este ponto, no que se traz àbaila essa legislação alienígena19. É imprescindível a atenção à classificação realizada pelaerudita professora Flávia Piovesan, que classifica os tratados acercade direitos humanos em: materialmente e formalmente constitucio-nais, com hierarquia constitucional e recepcionados pelo ordena-mento nos termos da Emenda n. 45 de 2004; e materialmenteconstitucionais, que, embora cuide de direitos humanos, não sofre-ram o procedimento expresso no parágrafo 3º do artigo 5º da Cons-tituição da República Federativa do Brasil. E assim delineia:

Os direitos neles enunciados receberam assento no texto constitucionalnão apenas pela matéria que veiculam, mas pelo grau de legitimidade po-pular contemplado pelo especial e dificultoso processo de sua aprovação,concernente à maioria de três quintos dos votos dos membros, em cada

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19 ARGENTINA. Constituição Argentina (1994). Constitucion de La Nacion Argentina. Dis-ponível em: <http://www.constitution.org/cons/argentin.htm>. Acesso em: 17 mar. 2015.

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Casa do Congresso Nacional, em dois turnos de votação. Ora, se tais di-reitos internacionais passaram a compor o quadro constitucional, não sóno campo material, mas também formal, não há como admitir que um atoisolado e solitário do Poder Executivo subtraia tais direitos do patrimôniopopular. 20

Esse movimento de convencionalização do Direito Civil, nosdizeres de Valério de Oliveira Mazzuoli exprime:

Na medida em que a Constituição deixa de prever determinados direitose garantias, e encontrando-se tal previsão nos tratados internacionais deproteção dos direitos humanos em que a República Federativa do Brasilé parte, tem-se que tais instrumentos sobrepõem-se a toda legislação in-fraconstitucional interna por ter a Carta Magna equiparado, no mesmograu de hierarquia normativa, os direitos e garantias nela constantesàqueles advindos de tratados internacionais de direitos humanos ratifica-dos pelo Estado brasileiro.21

Presume-se, à luz do disposto acima, que pacificada está aeficácia e hierarquia constitucional dos tratados e convenções inter-nacionais sobre direitos humanos, dado que experimentaram toda aritualística prevista no parágrafo 4º, artigo 5º, da Constituição Federal. Paradoxalmente, os tratados com a mesma natureza jurí-dica que precederam a Emenda Constitucional n. 45 permaneciamsituados perante a pirâmide normativa kelseniana com status de le-gislação infraconstitucional, redundando em diversos conflitos entrenormas-regra. Tal altercação avultou-se de tal maneira, que o SupremoTribunal Federal foi evocado para possibilitar a devida aplicação dodireito e consequente obtenção da prestação jurisprudencial.

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20 PIOVESAN, Flávia. A Constituição de 1988 e os Tratados Internacionais dos Direi-tos Humanos. 1996. Disponível em: <http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/re-vistaspge/revista3/rev6.htm>. Acesso em: 17 set. 2014.21 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Direito Internacional Público: parte geral. 3. ed.São Paulo: RT, 2006. p. 91.

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APLICABILIDADE DA CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DI-REITOS HUMANOS PARA A FIGURA DO DEPOSITÁRIO INFIEL

Com base no Texto Maior, em específico o artigo 5º, incisoLXVII, dispõe-se que não ocorrerá prisão civil por dívida, excetuadosos casos de inadimplemento voluntário e inexcusável de obrigaçãoalimentícia e a do tema em tela, depositário infiel.Coaduna outra vez à previsão normativa contida no Diploma Civil de2002, em seu artigo 652, o qual delibera: “seja o depósito voluntárioou necessário, o depositário que não o restituir quando exigido serácompelido a fazê-lo mediante prisão não excedente a um ano, e res-sarcir os prejuízos”. Esse foi o entendimento da Excelsa Corte no julgamento doHabeas Corpus n. 73.044-2/SP, de relatoria do Ministro Maurício Correia,conforme referida jurisprudência:

A prisão de quem foi declarado, por decisão judicial, como depositário in-fiel é constitucional, seja quanto ao depósito regulamentado no CódigoCivil como no caso de alienação protegida pela cláusula fiduciária. Oscompromissos assumidos pelo Brasil em tratado internacional de que sejaparte (§ 2º do art. 5º da Constituição) não minimizam o conceito de sobe-rania do Estado-povo na elaboração da sua Constituição; por esta razão,o art. 7º, nº 7, do Pacto de São José da Costa Rica, deve ser interpretadocom as limitações impostas pelo art. 5º, LXVII, da Constituição.22

Depreende-se, à luz desse Acórdão, a constitucionalidadeda prisão do depositário infiel, afastando os efeitos normativos pre-vistos no Pacto de San José da Costa Rica de 1969, que em seupreâmbulo expõe:

Os Estados americanos signatários da presente Convenção. Reafir-mando seu propósito de consolidar neste Continente, dentro do quadrode instituições democráticas, um regime de liberdade pessoal e de justiçasocial, fundado nos respeitos essenciais do homem.Reconhecendo que os direitos sociais do homem não derivam do fato deser ele nacional de determinado Estado, mas sim do fato de ter como fun-damento os atributos da pessoa humana, razão por que justificam uma

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22 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus 73044. Segunda Turma. Re-lator: Ministro Maurício Corrêa. Data de julgamento: 19/03/1996, Diário de Justiça,Brasília, DF, 20 set. 1996. Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/pagi-nador.jsp?docTP=AC&docID=74204>. Acesso em: 15 set. 2014.

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proteção internacional, de natureza convencional, coadjuvante ou com-plementar da que oferece o direito interno dos Estados americanos.Considerando estes princípios foram consagrados na Carta da Organi-zação dos Estados Americanos, na Declaração Americana dos Direitose Deveres do Homem e na Declaração Universal dos Direitos do Homeme que foram reafirmados e desenvolvidos em outros instrumentos inter-nacionais, tanto de âmbito mundial como regional.Reiterando que, de acordo com a Declaração Universal dos Direitos doHomem, só pode ser realizado com o ideal do ser humano livre, isentodo temor e da miséria, se forem criadas condições que permitam a cadapessoa gozar dos seus direitos econômicos, sociais e culturais, bemcomo dos seus direitos civis e políticos.E considerando que a Terceira Conferência Interamericana Extraordinária(Buenos Aires, 1967) aprovou a incorporação à própria Carta da Organi-zação de normas mais amplas sobre direitos econômicos, sociais e edu-cacionais e resolveu que uma convenção interamericana sobre direitoshumanos determinasse a estrutura, competência e processo dos órgãosencarregados dessa matéria.

Assim, embora a República Federativa do Brasil tenha sidosignatária da Convenção Americana sobre Direitos Humanos em 22de novembro de 1969, este diploma somente foi incluído no ordena-mento pátrio em 6 de novembro de 1992 pelo Decreto n. 678. Vislumbrou-se a efetiva aplicação dos dispositivos contidos nodiploma assegurador dos direitos humanos por este defesos em seuspaíses pactuantes, em inteligência ao artigo 1º, item 1, que preconiza:

Os Estados-Parte nesta Convenção comprometem-se a respeitar os di-reitos e liberdades nela reconhecidos e a garantir seu livre e pleno exer-cício a toda pessoa que esteja sujeita à sua jurisdição, sem discriminaçãoalguma por motivo de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticasou de qualquer natureza, origem nacional ou social, posição econômica,nascimento ou qualquer outra condição social.

Nesses termos, estaria a Magna Carta a contrario sensu aoadmitir, ainda que excepcionalmente, a hipótese de prisão civil,quando o depositário se recusar a restituir o bem ao depositante. To-davia, o artigo 2º prevê que ao signatário caberá a adoção nos ter-mos de suas normas constitucionais, comportando a hipóteseaugurada. Posto isso, é de evocar o disposto no artigo 7º, item 7, dareferida Carta de Direitos: “Ninguém deve ser detido por dívidas. Este

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princípio não limita os mandados de autoridade judiciária competenteexpedidos em virtude de inadimplemento de obrigação alimentar”. Dessa maneira, o posicionamento permaneceu na SupremaCorte nos julgamentos dos Habeas Corpus n. 74.352, de relatoria doMinistro Sydney Sanches, e Habeas Corpus n. 75.977, de relatoriado Ministro Moreira Alves. Todavia, em 3 de dezembro de 2008, estepanorama foi alterado no julgamento dos Recursos Extraordináriosn. 349.703 e n. 466.343 e dos Habeas Corpus n. 87.585 e n. 92.566.

A APLICAÇÃO PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL DA TEORIADA SUPRALEGALIDADE NO JULGAMENTO DO HABEAS COR-PUS 87.585-8/TO

De relatoria do Ministro Cezar Peluso, esse julgamento rom-peu com toda a sistemática até então vista, ao considerar ilícita qual-quer modalidade de prisão civil de depositário infiel. Segue a ementa:

PRISÃO CIVIL. Depósito. Depositário infiel. Alienação fiduciária. Decre-tação da medida coercitiva. Inadmissibilidade absoluta. Insubsistência daprevisão constitucional e das normas subalternas. Interpretação do art.5º, inc. LXVII e §§ 1º, 2º e 3º, da CF, à luz do art. 7º, § 7, da ConvençãoAmericana de Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica). Re-curso improvido. Julgamento conjunto do RE nº 349.703 e dos HCs nº87.585 e nº 92.566. É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquerque seja a modalidade do depósito. (RE 466343, Relator(a): Min. CEZARPELUSO, Tribunal Pleno, julgado em 03/12/2008, DJe-104 DIVULG 04-06-2009 PUBLIC 05-06-2009 EMENT VOL-02363-06 PP-01106 RTJVOL-00210-02 PP-00745 RDECTRAB v. 17, n. 186, 2010, p. 29-165)

Assim, de igual maneira, foi inequívoca a posição do Ex-celso Pretório ao reconhecer a impossibilidade da prisão civil do de-positário infiel em face dos tratados internacionais sobre direitoshumanos, ao dotar os referidos tratados, submetidos ao rito concer-nente ao disposto no parágrafo 3º do artigo 5º da Magna Carta, apatamar hierárquico-normativo sui generis, com base na pirâmidepreconizada por Kelsen. Seguindo tal inteligência, é inequívoca a submissão dos re-ferentes pactos diplomáticos às balizas axiomáticas e fundantes daLei Maior. Depreende-se dessa maneira a perene hipótese de in-constitucionalidade de tratado, mesmo que devidamente subscrito

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pelo Estado signatário, quando contrariar ideais expressos na normafundamental. Elementar será a compreensão do rigor da correspondênciaprincipiológica entre as normas, em locais distintos de uma mesmahierarquia, à sistemática do ordenamento, figurando a ConvençãoAmericana sobre Direitos Humanos de 1969 em lógica e manda-mento superior à legislação infraconstitucional interna, devendo estaser congruente em seus desígnios, concepções e perspectivas. Por fim, o caso tratado em especial nessa composição pa-radigmática, ao limitar a eficácia de norma infraconstitucional cons-tante no Código Civil de 2002 e Lei Instrumental Civil de 1973, noque tange à prisão do depositário infiel, passa-se a contemplar:

DEPOSITÁRIO INFIEL - PRISÃO. A subscrição pelo Brasil do Pacto deSão José da Costa Rica, limitando a prisão civil por dívida ao descumpri-mento inescusável de prestação alimentícia, implicou a derrogação dasnormas estritamente legais referentes à prisão do depositário infiel. (HC87585, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em03/12/2008, DJe-118 DIVULG 25-06-2009 PUBLIC 26-06-2009 EMENTVOL-02366-02 PP-00237)

Tem-se por ilação aos textos jurisprudenciais a ilicitude daprisão do depositário infiel em qualquer natureza e, paradoxalmente,a sua constitucionalidade. Essa dicotomia foi solucionada nesses jul-gados com a integração ao ordenamento pátrio da Teoria da Supra-legalidade dos Tratados sobre Direitos Humanos, que nãoatravessou a liturgia imposta pela 45ª emenda à Constituição. Todavia, o posicionamento defendido pelo Ministro Celso deMello em seu voto ponderou que as exceções contidas à cláusulaproibitória outorgavam ao legislador infraconstitucional a faculdadede admitir a prisão civil nesses parâmetros e não em imposições.Isso significa que, sem lei veiculadora da disciplina da prisão civil nassituações excepcionais referidas, não se torna juridicamente viávela decretação judicial desse meio de coerção processual, pois a regrainscrita no inciso LXVII do artigo 5º da Constituição não tem aplica-bilidade direta, dependendo, ao contrário, da intervenção concreti-zadora do legislador. Nessa esteira, a baliza conferida pela Magna Carta não serájuridicamente viável, pois, sob o limiar da Teoria da Supralegalidade, a

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sistemática construída pelos Códigos Civil e de Processo Civil será ine-xequível, visto que não encontram guarida no sustentáculo jurídico. Continuou o Ministro o entendimento inferindo ser imperiosaa aplicação da hermenêutica sob o viés de que a inovação legislativada Emenda Constitucional n. 45 de 2004 conduz o entendimentopara o julgamento dos tratados anteriores sob a classe constitucional,abarcados pela conjectura presente no parágrafo 2º do artigo 5º daConstituição Federal de 1988, desde que não contraditórios ao cons-tante na Bíblia Política. Como se depreende, o parecer sustentado pelo MinistroCelso de Mello é que ao referido diploma deve ser atribuído o statushierarquicamente constitucional, como no exemplo argentino, aostratados internacionais que abordem direitos humanos. Esse argumento é defendido por Piovesan, ao conferir aostratados de direitos humanos a qualidade de norma constitucional,pois versam sobre matéria puramente constitucional, isto é, dos co-rolários da dignidade da pessoa humana. Infere residir classificaçãodesses diplomas de proteção de direitos humanos em: material-mente constitucionais e material e formalmente constitucionais, porexegese aos parágrafos 2º e 3º do artigo em análise23. Em outra direção, despontou o Ministro Gilmar Mendes namesma sessão, em julgamento ao RE n. 466.343, sustentando quea tese de equiparação à hierarquia constitucional dos tratados emtela sem a observância à liturgia exigida no parágrafo 3º do artigo 5ºda Constituição Federal causaria instabilidade ao ordenamento, con-siderando a aplicabilidade da Teoria da Supralegalidade. Defendeu o Ministro Mendes ser o escopo do referido pactoprimordialmente a proteção do ser humano, constituído de caráterespecial em face de todo ordenamento jurídico, todavia, incumbidoda harmonização à supremacia da Constituição, a qual impossibilitaa consagração de relevância de norma elementar do Estado. Entretanto, recebe a normativa especial esfera de influênciaao assumir o status supralegal, resultando no efeito paralisante emrelação aos diplomas normativos cuja disciplina reverbere em viola-ção aos fundamentos e parâmetros expressos na referida cártula. E, em consequência, concluiu o Ministro, ao traduzir que

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23 PIOVESAN, 2006.

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no ordenamento jurídico brasileiro, a datar da recepção da Conven-ção Interamericana de Direitos Humanos de 1969, a prisão do de-positário infiel não é guarnecida de qualquer sustentáculo normativoque justifique sua eficácia. Foi divisado o ideal de que, para a aplicabilidade de normasinfraconstitucionais, fazia-se necessário observar, além dos man-damentos constitucionais, a harmonização com instrumentos inter-nacionais celebrados pelo Estado brasileiro e devidamente incluídosno ordenamento pátrio. Outrossim, desse julgamento derivou o can-celamento da Súmula n. 619 do Supremo Tribunal Federal, queenunciava: “a prisão do depositário judicial pode ser decretada nopróprio processo em que se constituiu o encargo, independente-mente da propositura de ação de depósito”. É nesse cenário que surge, nos dizeres de Farias e Rosenvald,o controle de convencionalidade para a eficácia das normas civis,isto é, devem estas ser adequadas aos tratados e convenções inter-nacionais que disponham sobre direitos humanos, que, contudo, nãosofreram o procedimento com vistas a equipará-los hierarquicamentea emendas constitucionais24. À vista disso, foi editada a Súmula Vinculante n. 25 com o texto:“É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidadedo depósito”. Por consequência, o Superior Tribunal de Justiça, pautadonessa diretriz do Excelso Pretório, da mesma forma, editou a Súmula n.419, que formula: “Descabe a prisão civil do depositário judicial infiel”. Dessa maneira, diante dos entendimentos extraídos dasperspectivas legal, doutrinária e jurisprudencial, tem-se a capacidadede concluir que, embora a prisão civil do depositário infiel, permaneçaconstitucional, trata-se de norma de eficácia limitada a propiciar aolegislador infraconstitucional que determine sua possível aplicação. Por sua vez, a norma infraconstitucional para ser dotada de validadedeve ser submetida, além do controle de constitucionalidade, ao con-trole de convencionalidade, onde situam os diplomas internacionaisque tratem de direitos humanos dos quais a República Federativado Brasil seja signatária, pois a estes é dispensado o tratamento denorma supralegal, situando-se abaixo da lei maior, porém, acima detoda a legislação ordinária.

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24 FARIAS; ROSENVALD, 2014, p. 861.

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Por fim, consegue-se vislumbrar defronte ao supramencio-nado as razões que justificaram a inadmissibilidade da prisão civil dodepositário infiel no ordenamento jurídico brasileiro.

CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE

Inicialmente se deve compreender a alteração sofrida pelapirâmide de Kelsen ao passo que a hierarquia normativa deve servislumbrada em diferentes paradigmas desse modo, nos planosconstitucional, legal e supralegal, pugnando pela harmonia dos dis-positivos mandamentais entre todas as esferas.

O sistema forense brasileiro sofre influências de fatores di-versos em suas distintas searas, enquanto norma, fato e valor, deempréstimo da Teoria Tridimensional do Direito, elucubrada porReale, todavia, ainda existem mecanismos jurídicos a serem obser-vados para dotar eficácia a uma norma.

Dessa forma, urge o controle de convencionalidade como ele-mento do complexo regimental para conferir efeito à legislação infracons-titucional, pois, embora verificada pelo Poder Legiferante toda a liturgiacorrespondente ao texto legal e ulterior contemplação pelo Executivo, éimprescindível que atenda aos pilares fundantes do Estado Democráticode Direito situados na Magna Carta, em sede de constitucionalidade,bem como aos axiomas fixados por ocasião da adoção pela RepúblicaFederativa do Brasil de tratado internacional sobre direitos humanos.

Pode-se inferir que, embora uma norma seja plenamenteconstitucional ao ressonar os princípios e regras cuidados pela Leidas Leis, ao ser submetida ao controle de constitucionalidade, do-tando-a de validade em sentido lato sensu, o ordenamento exige aobservância de outros mecanismos para contemplar eficácia.

Nessa esteira, consegue-se perceber a necessidade da aná-lise da norma frente aos instrumentos diplomáticos legitimados pelo Bra-sil que versarem sobre direitos humanos e que não foram acolhidos comhierarquia constitucional, concretizando o controle de convencionalidadecomo estágio imprescindível para dotar eficácia à lei em exame.

Em síntese, para uma legislação atender a escada ponteanano tocante à existência, validade e eficácia, deve ser sujeitada ao con-trole de constituicionalidade e,em caso afirmativo, ao controle de con-vencionalidade, para só então integrar o plano normativo brasileiro.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesse diapasão, iluminado pelo arcabouço jurídico-fac-tual, pode-se coligir a eficácia supralegal dos tratados internacio-nais sobre direitos humanos, não submetidos à ritualística daEmenda Constitucional n. 45/2004, à Constituição da RepúblicaFederativa do Brasil, situando-os em posição inferior às normasconstitucionais, porém, superiores ao restante do ordenamentoinfraconstitucional.

Cabe apontar de maneira terminativa que embora a pri-são do depositário infiel seja constitucional não possui aplicabili-dade por lei ordinária, embora contemple previsão, vez que suaeficácia se encontra condicionada à norma supralegal, que, napresente conjuntura, apresenta expressa vedação, como corolá-rio do padrão normativo-humanístico homenageado pelo sistemajurídico brasileiro.

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