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Depoimentos sobre Muito Antes de Lutero Ouvimos com bastante frequência que a doutrina da justificação forense por meio da fé foi uma invenção da Reforma protestante, como se, antes dela, a igreja jamais tivesse ouvido a esse respeito. Nathan Busenitz desafia esse julgamento desequilibrado de forma contundente e, em minha opinião, o faz com êxito, nesta bem fundamentada e acessível contribuição ao estudo da Reforma. Recomendo a leitura tanto a protestantes quanto a católicos. Nenhuma conversa ou polêmica futura entre os dois lados deve ignorar o que Busenitz conseguiu fazer aqui. NICK NEEDHAM Professor de História da Igreja, Highland eological College Autor de 2000 Years of Christ’s Power Neste livro bem escrito após cuidadosa pesquisa, Busenitz desconstrói o mito de que a salvação exclusivamente pela fé e por meio da graça tenha sido inventa- da pelos reformadores. Vemos aqui como o evangelho verdadeiro tem sido fiel à principal proclamação da igreja ao longo dos séculos. Não se trata, contudo, de mera história. O livro soa como um clarim que convoca a igreja de hoje a entender o evangelho da forma correta. STEPHEN J. NICHOLS Presidente do Reformation Bible College e diretor acadêmico de Ligonier Ministries Autor de e Reformation: How a Monk and a Mallet Changed the World Uma pergunta costuma ser apresentada aos protestantes, a qual, se forem sinceros, eles também fazem a si mesmos: onde estava o evangelho antes da Reforma? A igre- ja simplesmente definhou em trevas por mais de um milênio enquanto ninguém compreendia de fato o apóstolo Paulo? A resposta, é claro, exige um estudo cuida- doso dos grandes teólogos da igreja primitiva e da Idade Média, algo que poucos de nós dispõem de tempo para fazer. Devemos, portanto, ser gratos a Busenitz por ter disponibilizado os frutos de sua pesquisa de doutorado de forma tão proveitosa e acessível. Os leitores deste livro encontrarão a resposta à pergunta e terão fortale- cida sua própria confiança na tradição protestante a respeito da salvação. CARL R. TRUEMAN Membro em Religião e Vida Pública da Fundação William E. Simon, Princeton University Autor de Grace Alone. Salvation as a Giſt of God: What the Reformers Taught and Why It Still Maers

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Page 1: Depoimentos sobre Muito Antes de Lutero · mano. A salvação vem somente pela fé no Senhor Jesus, que põe m à ti-rania da lei. Os pecadores, portanto, são salvos pela graça

Depoimentos sobre Muito Antes de Lutero

Ouvimos com bastante frequência que a doutrina da justi#cação forense por meio da fé foi uma invenção da Reforma protestante, como se, antes dela, a igreja jamais tivesse ouvido a esse respeito. Nathan Busenitz desa#a esse julgamento desequilibrado de forma contundente e, em minha opinião, o faz com êxito, nesta bem fundamentada e acessível contribuição ao estudo da Reforma. Recomendo a leitura tanto a protestantes quanto a católicos. Nenhuma conversa ou polêmica futura entre os dois lados deve ignorar o que Busenitz conseguiu fazer aqui.

NICK NEEDHAMProfessor de História da Igreja, Highland )eological CollegeAutor de 2000 Years of Christ’s Power

Neste livro bem escrito após cuidadosa pesquisa, Busenitz desconstrói o mito de que a salvação exclusivamente pela fé e por meio da graça tenha sido inventa-da pelos reformadores. Vemos aqui como o evangelho verdadeiro tem sido #el à principal proclamação da igreja ao longo dos séculos. Não se trata, contudo, de mera história. O livro soa como um clarim que convoca a igreja de hoje a entender o evangelho da forma correta.

STEPHEN J. NICHOLSPresidente do Reformation Bible College e diretor acadêmico de Ligonier MinistriesAutor de "e Reformation: How a Monk and a Mallet Changed the World

Uma pergunta costuma ser apresentada aos protestantes, a qual, se forem sinceros, eles também fazem a si mesmos: onde estava o evangelho antes da Reforma? A igre-ja simplesmente de#nhou em trevas por mais de um milênio enquanto ninguém compreendia de fato o apóstolo Paulo? A resposta, é claro, exige um estudo cuida-doso dos grandes teólogos da igreja primitiva e da Idade Média, algo que poucos de nós dispõem de tempo para fazer. Devemos, portanto, ser gratos a Busenitz por ter disponibilizado os frutos de sua pesquisa de doutorado de forma tão proveitosa e acessível. Os leitores deste livro encontrarão a resposta à pergunta e terão fortale-cida sua própria con#ança na tradição protestante a respeito da salvação.

CARL R. TRUEMANMembro em Religião e Vida Pública da Fundação William E. Simon, Princeton University Autor de Grace Alone. Salvation as a Gi# of God: What the Reformers Taught and

Why It Still Ma$ers

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Este livro é uma defesa bíblica, histórica, equilibrada, cativante e acessível da doutrina de sola %de defendida pela Reforma. Com documentação meticulosa de fontes patrísticas e medievais originais, Nathan Busenitz desmascara de forma convincente a noção de que o ensinamento reformado da justi#cação somente pela fé tenha sido uma novidade do século 16, desconhecido nos 1.500 anos de história da igreja que o antecederam.

WILLIAM WEBSTERPastor da Grace Bible Church, Ba2leground, WA Autor de "e Church of Rome at the Bar of History

Há muito precisávamos de um livro que nos ajudasse a compreender de forma clara quem eram os que se #rmaram nas verdades essenciais do evangelho res-gatadas pela Reforma, antes que esta irrompesse em cena. Agora temos tal livro: Muito antes de Lutero, de Nathan Busenitz. A cada geração, Deus contou com um remanescente #el que se manteve #rme à doutrina central da justi#cação pela fé somente. Eis aqui um livro – pesquisado com esmero, documentado com preci-são, e escrito com maestria – que ajudará você a conhecer os que lançaram esse marco teológico entre os séculos 2º e 15. Você precisa saber o que está contido nestas páginas.

STEVEN J. LAWSONPresidente de OnePassion Ministries, Dallas, TX Autor de Pillars of Grace: AD 100–1564

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A posição doutrinária da Igreja Presbiteriana do Brasil é expressa em seus “símbolos de fé”, que apresentam o modo Refor-mado e Presbiteriano de compreender a Escritura. São esses símbolos a Con ssão de Fé de Westminster e seus catecismos, o Maior e o Breve. Como Editora o'cial de uma denominação confessional, cuidamos para que as obras publicadas espelhem sempre essa posição. Existe a possibilidade, porém, de autores, às vezes, mencionarem ou mesmo defenderem aspectos que re)etem a sua própria opinião, sem que o fato de sua publicação por esta Editora represente endosso integral, pela denominação e pela Editora, de todos os pontos de vista apresentados. A posição da denominação sobre pontos especí'cos porventura em debate poderá ser encontrada nos mencionados símbolos de fé.

Rua Miguel Teles Júnior, 394 – CEP 01540-040 – São Paulo – SP Fones 0800-0141963 / (11) 3207-7099

www.editoraculturacrista.com.br – [email protected]

Superintendente: Haveraldo Ferreira Vargas Editor: Cláudio Antônio Batista Marra

B977m Busenitz, Nathan

Muito antes de Lutero / Nathan Busenitz; tradução Claudia Vassão Ruggiero. – São Paulo : Cultura Cristã, 2019.

192 p.

Tradução: Long before Luther

ISBN 978-85-7622-880-6

1. História 2. Soteriologia I. Ruggiero, Claudia Vassão II. Título

CDU-234

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)Sueli Costa CRB-8/5213

Muito antes de Lutero de Nathan Busenitz © 2019 Editora Cultura Cristã. $is book was %rst published in

the United States by Moody Publishers, 820 N. LaSalle Blvd., Chicago, IL 60610 with the title Long Before

Luther, copyright © 2017 by Nathan Busenitz. Translated by permission. All rights reserved. Este livro

foi publicado originalmente no Estados Unidos pela Moody Publishers, 820 N. LaSalle Blvd., Chicago, IL

60610 com o título Long Before Luther, copyright © 2017 by Nathan Busenitz. Traduzido com permissão.

Conselho Editorial

Antônio Coine

Carlos Henrique Machado

Cláudio Marra (Presidente)

Filipe Fontes

Heber Carlos de Campos Jr

Marcos André Marques

Misael Batista do Nascimento

Tarcízio José de Freitas Carvalho

Produção Editorial

Tradução

Cláudia Vassão Ruggiero

Revisão

André Scordamaglio

Carolina Curassá Rosa de Souza

Sandra Dantas Lima

Editoração

Felipe Marques

Capa

Magno Paganelli

1a edição 2019 – 3.000 exemplares

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Para meu pai

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SUMÁRIO

Prefácio ................................................................................................................. 9

Introdução .......................................................................................................... 13

Parte 1. Os reformadores e a justi%cação1. Invenção ou resgate? .................................................................................. 17

2. O resgate da clareza bíblica ....................................................................... 25

3. Revestidos da justiça de Cristo ................................................................ 35

Parte 2. A igreja antes de Agostinho 4. Salvos pela graça ......................................................................................... 49

5. Justi#cação: uma declaração divina ......................................................... 57

6. A grande permuta ....................................................................................... 67

Parte 3. Agostinho e a justi%cação 7. Um precursor dos reformadores? ............................................................ 79

8. O doutor da graça ....................................................................................... 87

Parte 4. A igreja depois de Agostinho9. Perdoados do pecado ................................................................................. 99

10. Reputados como justos ........................................................................... 107

11. O círculo se completa .............................................................................. 119

Apêndice. Vozes da história ........................................................................... 123

Abreviaturas ..................................................................................................... 139

Agradecimentos .............................................................................................. 145

Notas ................................................................................................................. 147

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PREFÁCIO

Assim como todos os que foram unidos pelo poder da Bíblia e do Espírito no resgate da teologia da Reforma, fui moldado pelos reformadores. Entendo a profunda transformação espiritual que

promoveram, mas há muito tenho curiosidade a respeito de uma questão incômoda: onde estavam as testemunhas do verdadeiro evangelho durante os anos sombrios que precederam a Reforma? Nathan Busenitz oferece a resposta a essa questão crucial da história da igreja.

Nada é mais importante do que a compreensão correta do evangelho. Trata-se da diferença entre a verdade e o engano, a vida e a morte, o céu e o inferno. Na realidade, tão crítico é esse tema, que a Bíblia lança uma maldi-ção a todo aquele que pregar uma versão falsa desse evangelho. O apóstolo Paulo exorta seus leitores: “Se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema” (Gl 1.9).

Duras palavras. A linguagem é tão contundente quanto pode ser a Pa-lavra de Deus e expressa condenação eterna a todo o que distorcer o evan-gelho. Em tempos de tolerância pós-moderna, essas palavras talvez soem perturbadoras ou separatistas. São, contudo, criticamente necessárias, pois a salvação está em risco. Para que os pecadores sejam perdoados e reconci-liados com Deus, é preciso que lhes seja pregado o verdadeiro evangelho. A boa-nova da salvação pela graça somente por meio da fé, e fé em Cristo somente, é o único caminho que permite a qualquer pessoa escapar do in-ferno e entrar no céu.

No século 16, Martinho Lutero e seus companheiros reformadores le-vantaram-se contra a corrupção que dominava o catolicismo romano. Uma

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de suas principais inquietações era a distorção do evangelho por parte de Roma. O catolicismo romano havia subvertido o evangelho da graça, insti-tuindo em seu lugar um sistema sacramental de justiça pelas obras. O estu-do do Novo Testamento conduzido por Lutero, em especial a frase “o justo viverá pela fé” (Rm 1.17; Gl 3.11; Hb 10.38; veja Hb 2.4), divulgou seu entendimento do evangelho e fortaleceu sua posição contra o falso sistema de seu tempo. E Deus usou Lutero como peça-chave no grande resgate do evangelho conhecido como Reforma.

Antes de tornar-se um teólogo de mente esclarecida, Lutero foi um monge confuso. Antes de ser uma poderosa força para o avanço do evan-gelho, foi um homem fracassado e atormentado, vivendo em constante sofrimento espiritual. Mesmo após ter ingressado no monastério, Lutero sentia-se tão profundamente deprimido e fatigado pela culpa, que vivia em constante medo e ansiedade.

Como muitos outros no século 16, Lutero acreditava que a estrada para a salvação dependia de seu próprio esforço. Descobriu que o caminho era incrivelmente árduo. Por mais que #zesse, não conseguia vencer a reali-dade de seu próprio pecado. Convencido de que deveria alcançar um de-terminado grau de mérito para receber a graça de Deus, Lutero chegou a extremos: fome, ascetismo, privação do sono. No esforço de pagar por seus pecados e aplacar a ira divina, Lutero punia a si mesmo. Mesmo assim, não tinha paz – e não tinha salvação.

Por compreender a realidade do juízo divino, ele desejava desesperada-mente acertar-se com Deus. O temor de Deus o levou a buscar reconciliação e perdão. Ele ansiava por uma forma de escapar do inferno e entrar no céu. No entanto, mesmo fazendo tudo que estava a seu alcance como monge, não encontrava alívio para seu medo e sua culpa. “Como posso me apresentar justo diante de Deus?” era a pergunta que atormentava Lutero. É a pergunta que deveria ser feita por todo pecador. Trata-se, todavia, de uma pergunta cuja verdadeira resposta somente pode ser encontrada no evangelho.

A falsa religião, invariavelmente, oferece a resposta errada: “Seja bom. Esforce-se mais. Vá em frente e estabeleça sua própria justiça.” Em Roma-nos 10.3-4, o apóstolo Paulo critica essa perspectiva: “Porquanto, desco-nhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à que vem de Deus. Porque o #m da lei é Cristo, para justiça de

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todo aquele que crê.” A falsa religião enfatiza o esforço humano e estabele-ce seu próprio e super#cial padrão de justiça.

O verdadeiro evangelho, por sua vez, enfatiza o fracasso do esforço hu-mano. A salvação vem somente pela fé no Senhor Jesus, que põe #m à ti-rania da lei. Os pecadores, portanto, são salvos pela graça por meio da fé, independentemente de suas próprias obras. Eles são perdoados não por causa do que alcançaram, mas somente por causa do que Deus realizou através de Cristo – de uma vez por todas.

Esse evangelho de Paulo foi o que Lutero descobriu quando começou a pregar sobre Romanos e Gálatas. Quando o evangelho da graça invadiu a alma de Lutero, o Espírito Santo lhe deu vida, e seu coração foi inundado de paz e alegria. Ele fora perdoado, aceito, reconciliado, convertido, ado-tado, e justi#cado – unicamente pela graça por meio da fé. A verdade da Palavra de Deus iluminou sua mente e soltaram-se as cadeias da culpa e do medo que o prendiam.

Lutero foi salvo da mesma forma como qualquer pecador é salvo. Assim como o coletor de impostos em Lucas 18, ele reconheceu sua total indig-nidade e clamou a Deus por misericórdia. Como o ladrão na cruz, seus pecados foram perdoados independentemente de qualquer obra que hou-vesse feito. Como o antigo fariseu chamado Paulo, Lutero abandonou sua con#ança no esforço de sua justiça própria, preferindo descansar na justiça perfeita de Cristo. Como todo verdadeiro crente, ele abraçou a pessoa e a obra do Senhor Jesus pela fé salvadora. E tendo sido justi#cado pela fé, desfrutou de paz com Deus pela primeira vez em sua vida.

É importante ressaltar que não foi há 500 anos que a questão do evan-gelho foi estabelecida na história da igreja. Isso ocorreu muito antes de Lu-tero. Os reformadores estavam apenas respondendo à verdade retumbante da Bíblia, em submissão à mensagem do evangelho enunciada nas páginas do Novo Testamento. Seguindo os passos de Cristo e dos apóstolos, eles proclamaram o evangelho bíblico com coragem e convicção.

No entanto, seriam Lutero e seus companheiros reformadores os pri-meiros na história da igreja a entender #elmente o evangelho bíblico? A resposta é não, como demonstra Nathan Busenitz com incontestável clare-za neste livro, fruto de cuidadosa pesquisa.

Para aqueles que se perguntam onde estava o evangelho antes da Re-forma, este livro oferece uma resposta bem-vinda. Mais importante ainda,

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num tempo em que a igreja corre o risco de comprometer a pureza da men-sagem bíblica, este livro serve como um lembrete oportuno do evangelho que, em todas as gerações, os verdadeiros crentes estimaram, proclamaram e lutaram para defender.

Minha oração é que, durante a leitura deste livro, seu coração ecoe as palavras de Paulo em Romanos 1.16-17: “(...) não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego; visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: o justo viverá pela fé.”

JOHN MACARTHUR

)e Master’s Seminary

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INTRODUÇÃO

Dia das mães, 2007. Lembro-me bem da data pelo que havia ocorrido dias antes. No dia 5 de maio daquele ano, Francis Beckwith, então presidente da Sociedade Teológica Evangélica, renunciou o#cial-

mente à presidência e anunciou publicamente que deixava o evangelicalis-mo para tornar-se um católico romano. Ao retornar a Roma, alegou, estava retornando à igreja-mãe.

As razões de Beckwith, explicadas por ele mesmo, deviam-se em gran-de parte à sua convicção de que a igreja primitiva era mais católica roma-na do que protestante. Ele defendia, especi#camente, que o entendimento católico-romano sobre a salvação – e sobre a doutrina da justi#cação em particular – estava mais próximo do “entendimento histórico da salvação sustentado pela igreja desde os primeiros séculos até a reforma”.1 O retorno à Igreja Católica Romana era, no seu entender, o retorno à igreja da história.

O anúncio de Beckwith enviou ondas de choque por todo o mundo evangélico, não apenas por ter sido súbito, mas também pela base lógi-ca que o sustentava. Como resposta, poucos dias antes do dia das mães, meu colega Jesse Johnson publicou uma avaliação crítica da declaração de Beckwith. O artigo – intitulado “Mother Church?” (“Igreja-Mãe?”) – censurava Beckwith. Apesar de se tratar apenas de uma mensagem breve, postada em um blogue, sua publicação mudaria o rumo dos meus estudos.

Como costuma acontecer com mensagens provocativas postadas em blogues, a resposta de Johnson gerou inúmeros comentários com uma ampla variedade de pontos de vista. O autor de um desses comentários, contudo, se destaca em minha memória. Defensor convicto do ensino

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católico-romano, ele identi#cou-se apenas como Gerry. Sua participação na conversa on-line começou com uma a#rmação básica – que as princi-pais doutrinas da Reforma do século 16 eram absolutamente desprovidas de respaldo histórico. Articulou seu pensamento dessa forma: “No que se refere ao ‘cristianismo protestante’, este não existia até meados de 1500. Desa#o qualquer pessoa a encontrar antes dessa data as crenças e práticas protestantes atuais.” Quando indagado sobre quais crenças e práticas tinha em mente, Gerry restringiu seu foco às doutrinas de sola Scriptura (“a Bí-blia somente” é a maior autoridade da igreja) e sola %de (os pecadores são justi#cados pela graça de Deus por meio da “fé somente” em Jesus Cristo).2

Tendo iniciado pouco antes meu doutorado sobre a história da igreja, senti-me compelido a responder ao desa#o de Gerry. Nos sete dias seguin-tes, usando como fórum a seção de comentários do blogue, discutimos as evidências pré-reforma dessas doutrinas protestantes fundamentais. A conversa foi direta, porém afável. Também foi bastante abrangente. Todos os comentários, quando colados em um documento do MS-Word, produ-ziram mais de 300 páginas com espaçamento simples. Ao #nal da discus-são, eu estava certo de estar diante de um tópico que apreciaria continuar estudando, tanto para satisfazer minha própria curiosidade quanto para ajudar os evangélicos a responder a perguntas semelhantes.

Pode parecer estranho escrever todo um livro em resposta a um desa#o apresentado por um único comentário de blogue. O ponto de vista de Gerry, contudo, re]ete uma popular a#rmação católico-romana: que o entendimen-to dos reformadores a respeito do evangelho era algo inédito, ausente nos primeiros 1.500 anos da história da igreja. Para os evangélicos, tal alegação representa uma grave acusação, à qual precisamos estar aptos a responder.

Enquanto escrevo essas palavras, muitos protestantes celebram os 500 anos da Reforma. Como eles, sou grato pela coragem e #delidade dos refor-madores do século 16. Nosso entusiasmo por esse período transformador, todavia, talvez tenha um efeito não intencional: os protestantes podem, involuntariamente, dar a impressão de que nossa herança teológica tem apenas 500 anos de idade. Tal impressão não é bené#ca nem exata, como as páginas seguintes demonstrarão.

Venha comigo explorar a forma como a estimada doutrina protestan-te da justi#cação por meio da fé somente – ponto central do evangelho – pode ser encontrada desde Cristo, nosso Senhor e Salvador.

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INTRODUÇÃO 15

PARTE UM

OS REFORMADORES

E A JUSTIFICAÇÃO

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CAPÍTULO UM

INVENÇÃO OU RESGATE?

A doutrina da justi#cação pela graça por meio da “fé somente” (ex-pressa pela frase em latim sola %de) é central para uma compreensão correta do evangelho. Formulada de forma negativa, ela contraria

qualquer ideia de que o perdão dos pecados e a aceitação perante Deus po-dem ser alcançados pelo esforço humano ou pela virtude moral da parte do pecador. Formulada de forma positiva, ela con#rma que o dom da salvação concedido por Deus se baseia inteiramente na obra consumada de Cristo, que é recebida unicamente pela graça, por meio da fé nele depositada. É por essa razão que a resposta apropriada à pergunta do carcereiro de Fili-pos a Paulo e Silas – “Que devo fazer para que seja salvo?” – foi simples-mente: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa” (Atos 16.30-31, destaque acrescentado).

“Somente pela fé” foi um dos principais gritos de guerra da Reforma protestante. Os reformadores reconheceram que essa doutrina estava no centro do evangelho, razão pela qual Martinho Lutero, referindo-se a ela, a#rmou as conhecidas palavras: “Se esse artigo [da justi#cação] permane-cer, a igreja permanece; se esse artigo desmoronar, a igreja desmorona”.1 Juntamente com “somente pela graça” (sola gratia), “Cristo somente” (solus

Christus), e “glória a Deus somente” (soli Deo Gloria), sola %de expressava a convicção dos reformadores de que a salvação é única e exclusivamente pela graça de Deus por meio da fé na pessoa e na obra de Jesus Cristo. Por meio da fé em Cristo, os crentes recebem tanto o perdão dos pecados (pois

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ele levou sobre a cruz a punição que lhes era devida) quanto a justiça satis-fatória (pois sua justiça é creditada em seu favor). Portanto, os pecadores não podem receber crédito por sua salvação. Toda glória é devida a Deus.

É importante observar que, em sua ênfase à “fé somente”, os reforma-dores não negavam a importância das boas obras na vida dos crentes. Eles ensinavam que a fé salvadora é uma fé arrependida e enfatizavam a obe-diência aos mandamentos de Cristo. Mesmo assim, insistiam que as boas obras deveriam ser vistas somente como *uto ou consequência da salvação, e não como sua raiz ou causa. Desse modo, eles podiam a#rmar que, em-bora os crentes fossem salvos pela graça por meio da fé somente, a fé salva-dora jamais vinha sozinha. A verdadeira fé sempre dá provas de si mesma através dos frutos de arrependimento e de obediência.2

No século 16, o entendimento protestante de sola %de ergueu-se em contraste à ênfase católico-romana nos atos sacramentais e nas boas obras como necessários à justi#cação. O catolicismo via a justi#cação como um processo vitalício que dependia, pelo menos em parte, da forma como uma pessoa conduzia sua vida. Reformadores como Martinho Lutero, Filipe Melâncton e João Calvino rejeitaram a visão católica, ensinando, em vez disso, que a justi#cação era obra exclusiva de Deus, na qual ele declarava os crentes instantaneamente justos, não graças às suas boas obras, mas por terem sido revestidos da perfeita justiça de Cristo.

Em resposta ao ensino dos reformadores, os católicos romanos do sé-culo 16 acusaram os teólogos protestantes de criar uma nova versão do evangelho. O Concílio de Trento (1545–1563) anatematizava qualquer um que ensinasse a justi#cação por meio da fé somente. De lá para cá, mui-tos autores católico-romanos denunciaram sola %de como uma inovação herética.3 O conhecido apologista católico-romano Dave Armstrong é um exemplo. Ele escreve: “Princípios emblematicamente protestantes como sola %de (‘fé somente’) [...] estavam praticamente inexistentes ao longo da história da Igreja.”4 E continua: “O protestantismo per se não existia até 1517 d.C.”5 E mais: “Doutrinas radicalmente novas como sola %de [...] não eram reformas, mas simples novidades que supostamente remetiam à ale-gada situação encontrada na igreja primitiva. No entanto, elas simplesmen-te não podem ser encontradas na igreja primitiva.”6

Os acadêmicos protestantes, em contrapartida, defendem sola %de como a representação de um retorno à ortodoxia cristã, tanto bíblica quanto

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histórica. A doutrina da justi#cação pela fé, então, não foi uma invenção, mas uma redescoberta da verdade teológica que estivera obscurecida. R.C. Sproul resume a visão protestante tradicional: “Os reformadores do século 16 não estavam interessados em criar uma nova religião. Não buscavam inovação, mas renovação. Eram reformadores, não revolucionários.”7 Os próprios reformadores teriam concordado com a avaliação de Sproul.8 A única fonte de autoridade para seus ensinamentos era a Palavra de Deus (conceito expresso pela frase “somente as Escrituras”). Como fonte se-cundária, contudo, eles também recorriam aos pais – os líderes cristãos de séculos passados – a #m de demonstrar a comprovação histórica de seus pontos de vista. Como explica João Calvino (1509–1564) no prefácio de sua obra As Institutas, de 1536: “Não menosprezamos os pais da igreja; na verdade, se fosse nosso propósito presente, eu poderia sem qualquer di#-culdade provar que a maior parte do que estamos a#rmando encontra a aprovação daqueles homens.”9 Filipe Melâncton (1497–1560), colega de Martinho Lutero, defendia, da mesma forma, que a Reforma representava um retorno ao ensinamento puro de gerações anteriores. Ele negava qual-quer alegação de que seus companheiros reformadores haviam se distan-ciado dos ensinamentos da igreja primitiva, insistindo, em vez disso, que a Reforma defendia “exatamente o que Ambrósio e Agostinho haviam ensinado”.10

Obras sobre justi#cação publicadas posteriormente por teólogos como Martin Chemnitz (1522–1586),11 John Owen (1616–1683),12 Jonathan Edwards (1703–1758),13 George Stanley Faber (1773–1854)14 e James Buchanan (1804–1870)15 ecoavam essas mesmas alegações da Reforma. Entre esses, é possível que Buchanan seja o mais dogmático em suas a#r-mações de que “a doutrina protestante da justi#cação não foi uma ‘no-vidade’ apresentada pela primeira vez por Lutero e Calvino – antes, fora sustentada e ensinada por alguns, de forma menos ou mais explícita, a cada época sucessiva –, e não há verdade na alegação de que fosse desconhecida durante os 400 anos que precederam a Reforma”.16

Alguns acadêmicos protestantes modernos, no entanto, desa#am tais alegações feitas por gerações anteriores. Em resposta a Buchanan, Anthony Lane diz que “nenhum autor historicamente quali#cado faria tal alegação hoje”.17 Outros, como Ma2hew C. Heckel, são muito mais categóricos. Ele escreve: “O entendimento da justi#cação sola %de defendido pela Reforma

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não está presente na igreja pré-reforma e, portanto, nele não se acreditava até Lutero.”18 E continua: “A doutrina da justi#cação sola %de de Lutero não foi um resgate, mas uma inovação na tradição teológica ocidental.”19 A#r-mações desse tipo nos remetem à pergunta em questão: o entendimento da justi#cação por meio da fé somente defendido pela Reforma é uma in-venção ou um resgate?

ALISTER MCGRATH E A FÉ SOMENTE

Alister McGrath é um dos principais pensadores do cristianismo evan-gélico. Esse professor de Oxford e sacerdote anglicano talvez seja mais conhecido por sua vigorosa defesa do teísmo cristão contra os ataques de ateus como Richard Dawkins. Como mestre de teologia histórica em Oxford, McGrath, seguramente, está quali#cado para traçar a história das discussões doutrinárias ao longo dos séculos. Seu livro sobre a história da justi#cação intitulado Iustitia Dei – que signi#ca “A Justiça de Deus” – é largamente reconhecido como uma das mais abrangentes análises do tema. No entanto, são o notável pedigree e a perspicácia teológica de McGrath que tornam muito decepcionantes suas a#rmações sobre o entendimen-to dos reformadores a respeito da justi#cação. Em muitos de seus livros, inclusive Iustitia Dei, McGrath a#rma que a doutrina da justi#cação exclu-sivamente pela fé defendida pela Reforma foi uma novidade do século 16, sendo desconhecida do pensamento cristão nos 1500 anos que a antecede-ram.20 McGrath é, indiscutivelmente, o mais notável protestante a rati#car a acusação básica dos católicos romanos contra o protestantismo dos últi-mos 500 anos – que Lutero e seus companheiros reformadores inventaram um novo entendimento de justi#cação. Levando-se em consideração que a doutrina da justi#cação é o ponto central do evangelho, são graves as im-plicações dessa acusação (veja Gl 1.6-9).

Para sua argumentação, McGrath identi#ca três características básicas da doutrina da justi#cação defendida pela Reforma.21

1. Justi%cação forense

Primeiramente, os reformadores ensinavam que a justi#cação era foren-

se e não formativa. Em outras palavras, eles entendiam a justi#cação em termos de uma declaração divina de justiça, como um juiz, em um tribunal,

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que expede pleno perdão a um réu. Esse conceito distinguia-se do enten-dimento católico-romano medieval que a#rmava que a justi#cação era um processo por meio do qual os pecadores se tornariam justos ao longo de um extenso período de tempo.

2. Distinção entre justi%cação e regeneração

Em segundo lugar, os reformadores faziam diferenciação entre a doutri-na da justi#cação e as doutrinas de regeneração e da santi#cação progressi-va. Na justi#cação, Deus declara os pecadores como posicionalmente justos, pois foram revestidos da justiça de Cristo. Na regeneração, Deus renova os pecadores para que possam começar a crescer na santidade prática. No catolicismo medieval, essa distinção se perdera. Como resultado, as pes-soas confundiam justi#cação com santi#cação, razão pela qual pensavam que sua justi#cação perante Deus dependia, pelo menos em parte, de sua santidade pessoal.

3. A justiça imputada de Cristo

Terceiro, os reformadores insistiam na justiça imputada de Cristo, em lugar de algum tipo de justiça infusa. O catolicismo romano ensinava que, nos crentes, infundia-se a justiça vinda de Deus, que os capacitava a vi-ver de forma santa e, portanto, a serem progressivamente justi#cados. Os reformadores, por sua vez, ensinavam que as boas obras em nada contri-buíam para a justi#cação de uma pessoa perante Deus. Em vez disso, Deus justi#ca os pecadores, única e exclusivamente, com base na justiça perfeita de Cristo que lhes é creditada. Desse modo, os crentes são salvos pela graça somente, unicamente por meio da fé em Cristo somente, independente-mente das boas obras que possam realizar (veja Ef 2.8-9).

Até esse ponto, a análise de McGrath é proveitosa, haja vista que es-ses três emblemas nos permitem re]etir de forma mais precisa a respeito do que os reformadores ensinavam. Na verdade, retornaremos a essas ca-racterísticas ao longo deste livro. Os problemas surgem, contudo, quan-do McGrath indaga se quaisquer outros cristãos ensinaram essas mesmas doutrinas antes da Reforma.22 Em sua pesquisa dos primeiros 15 séculos da história da igreja, McGrath alega não haver qualquer teólogo ou autor que tenha ensinado esses diferenciais. Assim fundamentado, ele conclui

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